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Análise de Custos 1ª edição 2017 Análise de Custos 5 3 Unidade 5 Custeio baseado em atividades (ABC): Abordagem inicial e aplicabilidade Para iniciar seus estudos Conhecer os conceitos fundamentais sobre o custo baseado em atividades (ABC) e entender o seu desenvolvimento prático dentro das organizações. Objetivos de Aprendizagem • Compreender a contextualização do Custeio Baseado em Ativi- dades (ABC); • Entender o desenvolvimento prático do custeio ABC. Tópicos de estudo • Contabilidade de Custos; • Ferramentas de gerenciamento organizacional; • Custeio Baseado em Atividades (ABC). 4 Análise de Custos | Unidade de Estudo 5 – Custeio baseado em atividades (ABC): Abordagem inicial e aplicabilidade 5.1 Introdução O Custeio Baseado em Atividades (ABC) surgiu em meados dos anos 1980, criado por empresas norte-americanas e europeias de forma independente. As empresas tinham necessidade de controlar as atividades organizacionais visando maior lucratividade. Através dessa busca por maior lucratividade, o Custo Baseado em Atividades (ABC) nasce como um modelo capaz de identificar os melhores meios para a redução dos custos e contribuir para que as empresas tenham maior rentabilidade, pois visa reduzir as distorções causadas pelo rateio dos custos indiretos. Leone (2010), afirma que o progresso acelerado dos meios de comunicação e de preparação de informações rápidas e mais precisas resultou, como era de se esperar, na globalização da economia. Por esse motivo, aumentou muito a competição entre as empresas. O instinto de sobrevivência fez com que as empresas iniciassem um processo intenso e veloz de alterações em seus processos produtivos, no sentido de desenvolverem produtos e serviços de melhor qualidade, de menor custo e conforme as múltiplas exigências de um novo tipo de consu- midor. Sendo assim, os métodos e estilos de gerência tiveram que ser reexaminados para serem adaptados aos novos cenários. A contabilidade de custos, como instrumento de administração, teve que rever seus conceitos, seus sistemas e seus critérios, para começar a produzir informações mais precisas que dessem suporte às muitas decisões gerenciais sobre novas alternativas de produção e de controle que deviam fazer face à concorrência. Surgiu, então, o critério ABC, que veio para atender a essas novas necessidades. O custeio ABC é uma das práticas mais recentes utilizadas pelas empresas. Foi criado devido ao avanço tecnológico, uma vez que as empresas precisam ser competitivas e atrativas para ganhar mercado. Martins (2010) explica que o ABC pode ser aplicado também aos custos diretos, principalmente à mão de obra direta, e é reco- mendável que o seja; mas nesse caso não haverá diferenças significativas em relação aos chamados “sistemas tradicionais”, pois a diferença fundamental está no tratamento dado aos Custos Indiretos (CI). O ABC busca iden- tificar por meio de rastreamento, o agente causador do custo, para lhe imputar o valor. Primeiro atribui os custos às atividades e depois atribui os custos das atividades aos produtos. Martins (2010) explica ainda que, com o avanço tecnológico, a crescente complexidade dos sistemas de produção e com a grande diversidade de produtos e modelos fabricados na mesma planta, os custos indiretos continuam aumentando, tanto em valores absolutos quanto em termos relativos, comparativamente aos custos diretos. Como consequência, um tratamento adequado na alocação dos custos indiretos de fabricação (CIF) aos produtos passa a ser essencial, pois os mesmos graus de arbitrariedade e de subjetividade eventualmente tolerados no passado podem provocar, hoje, enormes distorções. Assim, o levantamento de custos baseado em atividades (ABC) é uma metodologia de custeio que procura reduzir sensivelmente essas distorções encontradas no sistema tradicional de custos. 5 Análise de Custos | Unidade de Estudo 5 – Custeio baseado em atividades (ABC): Abordagem inicial e aplicabilidade Figura 5.1 – A correta identifi cação dos custos contribui para maior efi ciência e rentabilidade das organizações. Legenda – Custos Baseados em Atividades. Fonte: Dutra, 2010. O ABC pode oferecer informações para que as empresas atendam às exigências legais com menor arbitrarie- dade no tratamento dos custos indiretos. O conceito do ABC é simples e se parece com o custeio por absorção, do princípio de que os recursos são consumidos pelas atividades realizadas e estas, por sua vez, são consumidas pelos objetos de custos. Assim, os custos no método ABC são calculados de forma que os indiretos sejam atribu- ídos de fato a um determinado objeto, e que este possa refl etir os serviços indiretos realmente executados para a produção desse objeto ou por ele consumidos. Martins (2010) relata, ainda que na visão departamental, e com o objetivo de atender à legislação, o ABC é um instrumento muito útil da contabilidade de custos no sentido de que o custeio por absorção apresente custos por produtos que tenham sentido mais lógico e não sejam distorcidos por rateios tantas vezes arbitrários. Segundo Martins (2010), a departamentalização apresenta os seguintes passos: • 1º Passo – Separação entre custos e despesas. • 2º Passo – Apropriação dos custos diretos diretamente aos produtos. • 3º Passo – Apropriação dos custos indiretos que pertencem, visivelmente, aos departamentos, agru- pando, à parte, os comuns. • 4º Passo – Rateio dos custos indiretos comuns e dos da administração geral da produção aos diversos departamentos, quer de produção quer de serviços. • 5º Passo – Escolha da sequência de rateio dos custos acumulados nos departamentos de serviços e sua distribuição aos demais departamentos. • 6º Passo – Atribuição dos custos indiretos que agora só estão nos departamentos de produção aos produtos segundo critérios fi xados. 6 Análise de Custos | Unidade de Estudo 5 – Custeio baseado em atividades (ABC): Abordagem inicial e aplicabilidade Contudo, a utilidade do custeio baseado em atividades (ABC) não se limita ao custeio de produtos. Ele é, acima de tudo, uma poderosa ferramenta a ser utilizada na gestão de custos. A implantação do custeio baseado em atividades (ABC) pode ser complexa devido à necessidade do mapeamento de todas as atividades, dos processos, e levantamento de dados relativos a custos. Porém, o modelo conceitual de custeio baseado em atividades é relativamente simples, pois é uma técnica que visa ratear com máxima exatidão os custos diretos e indiretos de uma empresa às atividades executadas com base no consumo dos recursos utili- zados por esta. O maior desafi o da implantação do Ccsteio baseado em atividades (ABC) é adaptar os dados existentes no sistema contábil para atender às necessidades das funções logísticas na empresa, uma vez que os sistemas tradicionais de contabilidade não rastreiam alguns custos logísticos, como, por exemplo, os custos de movimentação interna de material, devido à difi culdade em identifi car e coletar informações relativas a estas atividades. 5.2 Rateio de Custos O rateio é realizado quando não há a possibilidade de utilizar nem a alocação direta, nem o rastreamento. Para Dutra (2010), rateio é uma divisão proporcional por uma base que tenha dados conhecidos em cada uma das funções em que se deseja apurar custos. Tal base deve constituir-se de dados que guardem estreita correlação com o custo, ou seja, o custo ocorre em condições semelhantes aos dados da base. A alocação direta se faz quando há uma identifi cação clara, direta e objetiva de certos itens de custos com certas atividades. O rastreamento é uma alocação com base na identifi cação da relação, causa e efeito, entre a ocor- rência da atividade e a geração de custos. Essa relação é expressa através de direcionadores de custos de primeiro estágio, também conhecidos como direcionadores de custos e recursos. Para o sucesso da implantação do Custeio Baseado em Atividades (ABC), todas as atividades fi m devem ser mapeadas, sem exceção!7 Análise de Custos | Unidade de Estudo 5 – Custeio baseado em atividades (ABC): Abordagem inicial e aplicabilidade Figura 5.2 – Mapeamento de todas as atividades. Legenda: Mapeamento e navegação. Fonte: . 5.3 Considerações Importantes sobre o Custeio Baseado em Atividades (ABC) Como qualquer metodologia gerencial, o método de custeio baseado em atividades (ABC), possui determinadas restrições ou ressalvas. Leone (2010) observa que o critério ABC utiliza a metodologia do custeio por absorção, carregando com esse todas as suas limitações. Para o autor, a aplicação do critério ABC na análise dos custos e despesas indiretos atribui todos os itens indiretos para os estoques dos produtos, o que nem sempre é interessante. Outra desvantagem apresentada por Leone (2010), diz respeito à aparente transformação de custos fixos em custos variáveis, isto é, quando os custos e as despesas são apropriados às atividades, o critério parece não se interessar pela separação dos custos e das despesas em fixas e variáveis, simplesmente, apropriando esses custos e despesas aos produtos ou serviços através dos direcionadores. Para Martins (2010), direcionador de custos é o fator que determina o custo de uma atividade. Como as ativi- dades exigem recursos para serem realizadas, deduz-se que o direcionador é a verdadeira causa dos custos. Para efeito de custeio dos produtos, o direcionador deve ser o fator que determina ou influência a maneira como os produtos “consomem” (utilizam) as atividades. Assim, o direcionador de custos será a base utilizada para atribuir os custos das atividades aos produtos. 8 Análise de Custos | Unidade de Estudo 5 – Custeio baseado em atividades (ABC): Abordagem inicial e aplicabilidade 5.4 Direcionadores de Custos Ainda de acordo com Martins (2010), há que se distinguir dois tipos de direcionador: os de primeiro estágio, também chamados de direcionadores de custos de recurso, e os de segundo estágio chamados de direciona- dores de custo de atividades. O primeiro identifica como as atividades consomem recursos e serve para custear as atividades, ou seja, demonstra a relação entre os recursos gastos e as atividades. As atividades ao serem executadas consomem recursos que devem ser alocados a estas, seguindo a ordem apresentada no subitem anterior. Os direcionadores de recursos responderão às seguintes perguntas: “o que é que determina ou influência o uso deste recurso pelas atividades?” ou “como é que as atividades se utilizam deste recurso?”. Martins (2010) cita o exemplo da compra de materiais de escritório e de que maneira a aquisição deste recurso pode ser mensurada pelos pedidos feitos ao almoxarifado. Assim, as requisições de material identificam as quan- tidades utilizadas deste recurso (material de escritório) para realizar aquela atividade (comprar materiais). O direcionador de recurso, nesse caso é a quantidade necessária, e não as requisições; estas indicam o direcio- nador. O segundo identifica a maneira como os produtos “consomem” atividades e serve para custear produtos (ou outros custeamentos), ou seja, indica a relação entre as atividades e os produtos. Por exemplo, o número de inspeções feitas nas diferentes linhas de produto define a proporção em que a atividade inspecionar produção foi consumida pelos produtos. Vejamos então o exemplo de “como os produtos consomem a atividade Comprar Materiais?”. O número de pedidos e cotações emitidos para comprar um produto em relação ao número total de cotações e pedidos indica a relação da atividade com aquele produto. Assim, o direcionador desta atividade (comprar materiais) para os produtos é o número de pedidos e cotações emitidos. Embora haja pontos de vistas diferentes quanto ao uso do custeio baseado em atividades (ABC), o que importa são as contribuições que este método traz para gestão dos custos das organizações, portanto, é necessário que suas contribuições sejam conhecidas. Todos os custos e despesas serão considerados variáveis diante da unidade de medida que define o direcionador de custos. Assim, o critério ABC identificaria custos unitários excessivamente altos em um período de produção abaixo da capacidade normal da empresa. Ou seja, por ser mais abrangente, este critério possui capacidade de identificar as variáveis que levam à identificação dos custos, contribuindo para que os dirigentes tenham uma atuação mais aprimorada e eficaz sobre o desempenho dos custos empresariais. Figura 5.3 – A alocação direta identifica itens de custos com certas atividades. Legenda: Identificação de custos específicos. Fonte:. 9 Análise de Custos | Unidade de Estudo 5 – Custeio baseado em atividades (ABC): Abordagem inicial e aplicabilidade Os objetos de custo dentro da metodologia de Custeio Baseado em Atividades (ABC) são os elementos que consomem os recursos e as atividades do processo, por exemplo: projetos, clientes, serviços ou produtos. Esses objetos são elaborados pelas atividades que, por sua vez, consomem recursos, gerando custos. Assim, o custo do objeto é a parcela do custo correspondente às atividades que participam da sua produção. 5.5 O que é custeio baseado em atividades (ABC)? O critério ABC é a solução adequada para resolver problemas de custeio resultantes do emprego dos sistemas correntes em novos ambientes de trabalho. Em outras palavras, é uma técnica de custeamento em que os custos e despesas indiretos são apropriados a várias unidades através de algumas bases que não são relacionadas aos volumes dos fatores de produção. A fi nalidade do ABC é apropriar os custos as atividades executadas pela empresa e, então, apropriar de forma adequada aos produtos as atividades segundo o uso que todos os produtos fazem dessas atividades (LEONE, 2010). O centro de interesse dos sistemas concentra-se nos gastos indiretos. Sua fi nalidade é a atribuição mais rigorosa de gastos indiretos do bem ou serviço produzido, permitindo um controle mais efetivo desses gastos. Permite medir os custos de produção em torno da cadeia de valor e podem defi nir como elas agregam valor ao produto em qualquer etapa do processo produtivo. Ainda, para Martins (2010), o uso do sistema ABC na gestão estraté- gica requer o estudo de alguns princípios que, segundo ele, são fundamentais. Vejamos a seguir alguns destes princípios, dividindo-os em: a) princípios de custos; b) princípios de mensuração de desempenho; e c) princípios de gestão de investimentos. a. Princípios de custos: • Custos relevantes devem ser apropriados diretamente aos objetos que pretende custear; • As bases de alocação devem refl etir as relações de causa e efeito entre os recursos consumidos e as ativi- dades, e entre estas e os objetos que se pretende custear; • O custo real deve ser confrontado com o custo-meta; • Devem ser estabelecidos centros de custos com bases em grupos h • A utilização do custeio baseado em atividades deverá melhorar o processo de apropriação. b. Princípios de Mensuração de Desempenho: • Deve existir mensuração de desempenho para as atividades relevantes de duas formas: fi nanceira e não fi nanceira, como por exemplo, a produtividade por hora trabalhada; • A mensuração de desempenho deve ser compatível com os objetivos da empresa; • A mensuração de desempenho deve melhorar a visibilidade dos direcionadores de custos. 10 Análise de Custos | Unidade de Estudo 5 – Custeio baseado em atividades (ABC): Abordagem inicial e aplicabilidade c. Princípios de Gestão de Investimentos: • Deve ser compatível com os objetivos da empresa; • As decisões devem ser tomadas som suporte de múltiplos critérios; • A gestão de investimento deve dar suporte ao processo de redução ou eliminação de atividades que não agregam valor; • Deve dar suporte para atingir o custo-meta;• Deve considerar os impactos da cadeia de valor em que a empresa atua; • Deve levar em consideração os dados relativos às atividades desempenhadas antes e depois da adoção de novas tecnologias; • Ter acompanhamento para que seu desempenho seja comparado com o que fora previsto. Os princípios descritos acima se seguidos podem proporcionar ao gestor uma visão estratégica mais ampla do seu próprio negócio, acompanhando e conhecendo muito mais as atividades da sua empresa, acompanhando, desde a origem, a cadeia de valor dos recursos materiais, humanos, financeiros e tecnológicos utilizados até o consumidor final. 5.6 Características básicas do critério ABC: semelhanças com as técnicas e os sistemas atuais Em primeiro lugar, o critério ABC centraliza seus esforços na busca de uma análise mais ampla e profunda da função industrial, separando as atividades como função meio/função fim. A função meio engloba as funções e atividades envolvidas diretamente no ciclo de transformação de recursos em produtos e de sua colocação no mercado. Já a função fim, congrega as funções e atividades que proporcionam os meios para que haja a transformação de recursos em produtos e serviços e sua colocação no mercado. Nos sistemas atuais, os critérios de custeamento procedem de maneira semelhante, alguns analisam a função industrial fazendo-a através da departamentali- zação. As despesas e os custos são alocados por meios diretos e indiretos aos centros de custos. Em segundo lugar, o critério ABC aloca os custos e as despesas indiretas às atividades. As bases de rateio, em todos os outros critérios de custeamento, têm a mesma natureza. Elas devem representar o uso que as ativi- dades e os centros de responsabilidade fazem dos recursos indiretos ou comuns. Pois bem, identificar os custos e despesas é um processo fácil, porém, a discriminação dessas despesas e custos por áreas (comercial, P&D, manufatura, por exemplo) só poderá ser feito através do critério ABC e dos chamados direcionadores de recursos. Neste caso, surge então uma questão: como identificar o melhor direcionador de recursos ou base de rateio? Sabe-se que toda e qualquer base de rateio é arbitrária, não corresponde à realidade ao se fazer esse tipo de rateio. É extremamente difícil encontrar uma relação válida entre uma base de rateio e um montante dos custos e despesas incorridos. Sendo assim, não há nenhum custo verdadeiro de um produto, exceto se a empresa fabricar apenas um produto ou realizar apenas um serviço. Isso se levar em consideração simplesmente o problema de alocação de custos comuns, porque existem dezenas de outros fatores que contribui para que os verdadeiros jamais existam. 11 Análise de Custos | Unidade de Estudo 5 – Custeio baseado em atividades (ABC): Abordagem inicial e aplicabilidade Figura 5.4 – Identificação dos custos e rentabilidade das organizações. Legenda: Avaliação de custos. Fonte:. O critério ABC quando estiver selecionando os direcionadores deverá analisar a correspondência (se for o caso a correlação) entre o direcionador e a atividade (ou os custos dessa atividade). Em último lugar, o critério de custeamento baseado em atividades não trata a classificação das despesas e custos indiretos em variáveis e fixos. Todos os custos e despesas serão alocados às atividades e, por meio destas, aos produtos e serviços, adotando assim o sistema de custeio por absorção, do modo similar aos demais sistemas de custeamento. 5. 7 Campos de aplicação do critério ABC Leone (2010) aborda situações em que custeio baseado em atividades (ABC) poderá ser aplicado, trazendo bene- fícios gerenciais: a. Quando o montante das despesas e dos custos indiretos acompanham à perda de relevância do montante dos custos da mão de obra direta, diante do custo total de produção; b. Quando os investimentos em equipamentos fabris são altos resultando em mudanças significativas no processo de produção e fazendo com que os custos e despesas indiretos se tornem quase totalmente fixos; c. Quando a fábrica produz grandes volumes de produtos diferentes que atendem às múltiplas necessi- dades de uma grande quantidade de consumidores diferentes; d. Quando as operações, principalmente fabris, podem ser analisadas com facilidade, favorecendo a implan- tação de técnicas mais sofisticadas que atendem a uma relação favorável entre custos e benefícios; 12 Análise de Custos | Unidade de Estudo 5 – Custeio baseado em atividades (ABC): Abordagem inicial e aplicabilidade e. Quando as empresas dispõem de um sistema de informação automatizados que não só controlam os processos produtivos, como também podem controlar o consumo dos diversos insumos. A figura a seguir, extraída dos estudos de Leone, (2010), revela de modo simples e clareza semelhanças entre os critérios correntes e o critério ABC no que diz respeito ao problema de alocação dos custos e despesas às ativi- dades e aos centros de responsabilidade. Figura 5.5 – Comparação entre os sistemas correntes e a técnica ABC. Legenda: Comparação entre os sistemas correntes e a técnica ABC. Fonte: Leone, 2010. Como demonstrado acima, Leone explica que os centros de responsabilidade podem ser, segundo as ativi- dades-meio e as atividades-fim, separados nos centros C1 = Departamento de Manutenção, C2 = Depar- tamento de Materiais, C3 = Departamento de Administração Industrial, Cn = Departamento de Força, como centros pertencentes às atividades-meio, e nos centros C1= Centro de Preparação, C2= centro de Fabricação e Cn= Centro de Acabamento. 13 Análise de Custos | Unidade de Estudo 5 – Custeio baseado em atividades (ABC): Abordagem inicial e aplicabilidade 5.8 Vantagens e desvantagens do Custeio Baseado em Atividades (ABC) O método ABC apresenta algumas vantagens e desvantagens de utilização quando comparado com outros métodos tradicionais. São elas algumas facilidades e vantagens que motivam as organizações a utilizarem um sistema de gerenciamento de custos com base no custeio por atividades. Para melhor entendimento, apresen- tamos as vantagens e desvantagens da aplicação do método de custeio ABC. Leone (2010) ressalta que o critério, a técnica ou o sistema de custos ideal é aquele que tem capacidade de fornecer informações úteis para que os usuários internos das empresas possam avaliar os desempenhos, tanto da empresa, como de seus diversos setores. Deste modo, poderão controlar melhor os próprios custos, diagnos- ticar com facilidade as disfunções, os desequilíbrios, as superposições e os desperdícios, traçar planos e tomar as melhores decisões. O melhor sistema, ainda, é aquele que possa ser implantado e operacionalizado com o emprego mínimo de recursos. Ainda de acordo com Leone (2010), o critério ABC observa a metodologia do conceito de absorção, portanto, leva para si todas as limitações inerentes a esse conceito. Algumas decisões importantes de curto prazo não serão tomadas com base nas informações produzidas pelo critério ABC. A aplicação do critério ABC na análise de custos e despesas indiretas carrega todos os itens indiretos para os estoques. A seguir, apresentaremos algumas situações que podem ser consideradas vantajosas: • As informações gerenciais podem ser mais fidedignas por meio da identificação do rateio; • O critério identifica o custo de cada atividade em relação aos custos totais da organização; • Contribui para que a revisão de controles internos seja permanente; • Proporciona melhor visualização dos fluxos dos processos; • Identifica, de forma mais transparente, onde e quais são os itens que estão consumindo mais recursos; • Permite a eliminação ou redução das atividades que não agregam valor ao produto/serviço. Por outro lado, pode-se enumerar como desvantagens: • Gastos elevados para implantação; • Alto nível de controles internos a serem implantados e avaliados; • Necessita extraçãode muitas informações e em muitos casos, podem ser informações de difícil extração; • Dificuldade na integração das informações entre departamentos; • Necessidade de formulação de procedimentos padrões; • Maior preocupação em gerar informações estratégicas do que em usá-las. 14 Análise de Custos | Unidade de Estudo 5 – Custeio baseado em atividades (ABC): Abordagem inicial e aplicabilidade Você sabia que o ABC pode ser usado em todo tipo de empresa? Para fi xar o conteúdo, acesse o link: . A matéria relata o uso do método ABC, com a fi nalidade de avaliar efi ciência da Integração Lavora-Pecuária-Floresta (ILPF), em que se permite identi- fi car custos de produção. 5.9 ABC e geração de um processo de reestruturação Martins (2010) ressalta que o ABC deveria ser implementado por meio de uma análise de processo, e as infor- mações por ele geradas servem para auxiliar a gestão de processos. Ao analisar os processos para identifi car e selecionar os direcionadores de custo, o ABC poderá, já na fase de implementação, propiciar economias que justifi quem a relação custo-benefício do projeto. Assim, a implantação de um sistema de custos baseado nos conceitos do ABC pode dar origem a uma reenge- nharia de processo. O caminho inverso também é possível, no qual uma empresa que esteja envolvida em um projeto de reengenharia pode desejar conhecer os custos das atividades, dos processos e avaliar as economias obtidas, surgindo a necessidade de um sistema de custos por atividades. O ABC pode ser, nesta situação, um instrumento de mudança. É necessário, porém, que as pessoas tenham disposição e motivação para promover essas mudanças. Para entender melhor o surgimento, a implantação e o uso do custeio baseado em atividades (ABC), assista ao vídeo “Gestão de Custos - Custeio Baseado em Atividades (ABC)”, produ- zido pela Haward Business School – com tema “O poder das ideias no trabalho”, disponível no link: . Agora, pense você é gerente em uma empresa e precisa reduzir imediatamente os custos. Quais estratégias, você poderia implementar nesta empresa, utilizando o custeio ABC? Agora que você já compreendeu o tema, que tal assistir a mais um vídeo para fi xar o conhecimento? Dispo- nível no link: . Agora, refl ita! Baseado nos conhecimentos adquiridos ao longo desse conteúdo, é possível identifi car quais foram as estratégias usadas pele empresa para a redução de custos? 5.10 Exemplo prático de aplicação do critério ABC 15 Análise de Custos | Unidade de Estudo 5 – Custeio baseado em atividades (ABC): Abordagem inicial e aplicabilidade Aplicaremos, a seguir, os conceitos estudados num exemplo prático baseado em Martins (2003, p.271). A empresa Tiquita produz dois produtos, A e B, cujos preços de venda líquidos de tributos são, em média, $ 80 e $ 95, respectivamente, e o volume de produção e de vendas é de 12.000 unidades do Produto “A” e 4.490 unidades do “B”, por período. Em determinado período, foram registrados os seguintes custos diretos por unidade (em $): A B MATERIAL DIRETO 20 27,95 MÃO DE OBRA DIRETA 10 5 Os Custos Indiretos de Produção (CIP) totalizaram $ 500.000 no referido período. Por meio de entrevistas, análise de dados na contabilidade, verificou-se que esses custos indiretos se referem às seguintes atividades mais relevantes: Atividade $ INSPECIONAR MATERIAL 60.000 ARMAZENAR MATERIAL 50.000 CONTROLAR ESTOQUE 40.000 PROCESSAR PRODUTOS (MÁQUINAS) 150.000 CONTROLAR PROCESSOS (ENGENHARIA) 200.000 TOTAL 500.000 Uma análise de regressão e de correlação identificou os direcionadores de custos dessas e de outras atividades, e sua distribuição entre os produtos, a saber: A B N° DE LOTES INSPECIONADOS 3 7 N° DE HORAS-MÁQUINA DE PROCESSAMENTO DE PRODUTOS 4.000 6.000 DEDICAÇÃO DO TEMPO DOS ENGENHEIROS 25% 75% 16 Análise de Custos | Unidade de Estudo 5 – Custeio baseado em atividades (ABC): Abordagem inicial e aplicabilidade Pede-se para calcular: a. O valor dos custos indiretos de produção (CIP) de cada produto, utilizando o custo de mão-de- -obra direta como base de rateio: CUSTOS INDIRETOS DE PRODUÇÃO RATEADOS À BASE DE MOD: MOD DO PRODUTO A $ 10,00 / UN. X 12.000 UN. $ 120.000 MOD DO PRODUTO B $ 5,00 / UN. X 4.490 UN. $ 22.450 TOTAL $ 142.450 TAXA CIP = $ 500.000,00 / $ 142.450,00 = $ 3,51000351 PRODUTO A CIP = $ 421.200,00 [($ 500.000,00 / $ 142.450,00) X $ 120.000] PRODUTO B CIP = $ 78.800,00 [($ 500.000,00 / $ 142.450,00) X $ 22.450] TOTAL $ 500.000 b. Idem, rateando com base no custo de material direto: CUSTOS INDIRETOS DE PRODUÇÃO RATEADOS À BASE DE MATERIAL DIRETO: MD DO PRODUTO A: $ 20,00 / UN. X 12.000 UN. = $ 240.000 MD DO PRODUTO B: $ 27,95 / UN. X 4.490 UN. = $ 125.495,50 TOTAL $ 365.495,50 TAXA CIP = $ 500.000,00 / $ 365.495,50 = $ 1,368005899 PRODUTO A CIP $ 328.320,00 [($ 500.000,00 / $ 365.495,50) X $ 240.000,00] PRODUTO B CIP $ 171.680,00 [($ 500.000,00 / $ 365.495,50) X $ 125.495,50] TOTAL $ 500.000,00 c. Custos indiretos de produção rateados pelo ABC: ATIVIDADES DIRECIONADOR UTILIZADO INSPECIONAR MATERIAL Nº DE LOTES INSPECIONADOS E ARMAZENADOS ARMAZENAR MATERIAL Nº I DE LOTES INSPECIONADOS E ARMAZENADOS CONTROLAR ESTOQUES Nº I DE LOTES INSPECIONADOS E ARMAZENADOS PROCESSAR PRODUTOS Nº DE HORAS-MÁQUINA DE PROCESSAMENTO CONTROLAR PROCESSOS DEDICAÇÃO DO TEMPO DOS ENGENHEIROS 17 Análise de Custos | Unidade de Estudo 5 – Custeio baseado em atividades (ABC): Abordagem inicial e aplicabilidade d. O valor e o percentual de lucro bruto de cada produto, segundo cada uma das três abordagens: ATIVIDADES PRODUTO A PRODUTO B INSPECIONAR MATERIAL 30% 70% ARMAZENAR MATERIAL 30% 70% CONTROLAR ESTOQUES 30% 70% PROCESSAR PRODUTOS 40% 60% CONTROLAR PROCESSOS 25% 75% Vejamos a alocação dos CIP aos produtos (em $): ATIVIDADES PRODUTO A PRODUTO B TOTAL INSPECIONAR MATERIAL 18.000 42.000 60.000 ARMAZENAR MATERIAL 15.000 35.000 50.000 CONTROLAR ESTOQUES 12.000 28.000 40.000 PROCESSAR PRODUTOS 60.000 90.000 150.000 CONTROLAR PROCESSOS 50.000 150.000 200.000 TOTAL 155.000 345.000 500.000 e. Calculemos agora a margem bruta e lucro: 1. CIP à base do custo de MOD: PRODUTOS (EM $) TOTAL A B RECEITA LÍQUIDA 960.000 426.550 1.386.550 CUSTOS DIRETOS MATERIAL 240.000 100.127 340.127 MAO DE OBRA 120.000 22.450 142.450 CUSTOS INDIRETOS 421.200 78.800 500.000 LUCRO BRUTO 178.800 225.173 403.973 MARGEM BRUTA 18,63% 52,79% 29,14% 18 Análise de Custos | Unidade de Estudo 5 – Custeio baseado em atividades (ABC): Abordagem inicial e aplicabilidade 2. CIP com base no custo de mat produtos (em $): PRODUTOS (EM $) TOTAL A B RECEITA LÍQUIDA 960.000 426.550 1.386.550 CUSTOS DIRETOS MATERIAL 240.000 100.127 340.127 MAO-DE-OBRA 120.000 22.450 142.450 CUSTOS INDIRETOS 328.320 171.680 500.000 LUCRO BRUTO 271.680 132.203 403.973 MARGEM BRUTA 28,30% 31,01% 29,14% 3. CIP pelo ABC CIP - CUSTEIO ABC: PRODUTOS (EM $) TOTAL A B RECEITA LÍQUIDA 960.000 426.550 1.386.550 CUSTOS DIRETOS MATERIAL 240.000 100.127 340.127 MAO-DE-OBRA 120.000 22.450 142.450 CUSTOS INDIRETOS INSPECIONAR MATERIAL 18.000 42.000 60.000 ARMAZENAR MATERIAL 15.000 35.000 50.000 CONTROLAR ESTOQUES 12.000 28.000 40.000 PROCESSAR PRODUTOS 60.000 90.000 150.000 CONTROLAR PROCESSOS 50.000 150.000 200.000 LUCRO BRUTO 445.000 (41.027) 403.973 MARGEM BRUTA 46,35% (9,62%) 29,14% 19 Análise de Custos | Unidade de Estudo 5 – Custeio baseado em atividades (ABC): Abordagem inicial e aplicabilidade Apropriação de custos: modo em que os custos serão atribuídos aos produtos. Custeio ABC: éuma metodologia de custeio que procura diminuir as distorções geradas pelo rateio arbitrário dos custos considerados indiretosCusteio por Absorção Custos Indiretos: são os custos que beneficiam toda a produção de um bem ou serviço. São todos os custos de produção, exceto os materiais diretos e mão-de-obra direta. Ex.: aluguel, depreciação, salário de supervisão. Custos Rateados: são os custos indiretos, pois o rateio é realizado mediante o emprego de critérios e taxas, que resultam na divisão proporcional de um montante global. Rateio: divisão proporcional às partes envolvidas no processo Reengenharia de processos: desenho ou redesenho do processo, com o propósito de obter melhorias significativas de desempenho nas atividades. Glossário 20 Considerações fi nais Esta unidade foi destinada ao estudo do método de Custeio Baseado em Atividades (ABC). Vimos que, através deste critério, é possível englobar uma melhor visualização dos custos organizacionais, de acordo com a análise das atividades realizadas dentro da empresa e suas relações com os produtos. A criação do método ABC se fez pela falta de qualidade e efi cácia dos métodos que existiam, devido à necessidade uma metodologia que mostrasse de forma mais ampla onde os custos são atribuídos, obtendo, assim, melhor qualidade nas informações passadas aos administradores. Os custos para uma empresa são essenciais e um fator determinante para a sua competitividade e permanência no mercado. O conhecimento de como as atividades consomem os recursos da empresa e como esta é adminis- trada são de fundamental importância para seu desenho e implementação. Referências bibliográfi cas 21 DUTRA, Rene Gomes. Custos: Uma abordagem prática. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. LEONE, G.S.G. Curso de contabilidade de custos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2010. MARTINS, Eliseu. Contabilidade de Custos. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2003. _______. Contabilidade de Custos. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010.