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EXCELENTÍSSIMO (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA _ª VARA DO JUIZADOESPECIAL CÍVEL DE LONDRINA. AUTOR, brasileiro, casado, portador do RG - e inscrito no CPF sob o n. -, residente e domiciliado em - vem por seu advogado propor ação de indenização por dano moral, com fulcro nos artigos 5º, V e X, da CRFB/1988, 187 e 926 do Código Civil, em face de BANCO - S. A., pessoa jurídica de direito privado inscrita no CNPJ nº -, estabelecida em -, conforme as razões a seguir aduzidas. I. DOS FATOS E DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS 1. Da relação entre as partes envolvidas: consumidor e fornecedor de produtos e serviços O autor é titular da conta corrente - na agência - da ré e, dentre os produtos e serviços utilizados, tem cartão de crédito bandeira Mastercard. Enquadra-se, assim, no conceito de consumidor. Em 1- foi realizada a compra de produtos, via Internet, junto à empresa -, compra parcelada em três parcelas iguais e sucessivas no valor de R$ 43,29. 2. Da falha na prestação do serviço, pela reclamada Ao tentar utilizar o cartão de crédito, depois da referida data, dentro do limite existente, todas as tentativas de transação foram desautorizadas. Em momento algum a reclamada cientificou o autor acerca de qualquer bloqueio. Ele tomou conhecimento de que o cartão de crédito fora bloqueado muitos dias depois, ao comparecer à agência e falar com o funcionário -, questionando o que havia ocorrido. A reclamada em momento algum informou acerca do bloqueio, falhando seriamente na prestação do serviço, tratando o consumidor com descaso e indiferença, inclusive impedindo a realização de algumas compras valendo-se do crédito parcelado. Evidencia-se, portanto, a falha na prestação do serviço pela ré, vez que não adotou diligência alguma para informar o seu cliente de que houve o bloqueio do cartão de crédito. 2.1. Da responsabilidade pelo Fato do Serviço De acordo com o art. 14, do CDC: “O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos”. Com relação a serviço defeituoso, de se observar o art. 14, § 1º, do CDC: “O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - o modo de seu fornecimento; II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi fornecido. 3. Da indenização por dano moral Uma instituição financeira como a ré, que congloba milhares de empregados em seus quadros, não pode tratar os consumidores com tal descaso. Pelo contrário, espera-se que haja presteza, eficiência e celeridade no atendimento aos usuários, o que não ocorreu no caso em comento. Deixar de informar acerca do bloqueio do cartão para a realização de novas compras é algo que não pode ocorrer. Tal situação, aliás, não pode ser atribuída a qualquer ocaso, se não má prestação dos serviços. O autor expressa assim o grande desrespeito a ele impingido, bem como o desconforto a que foi sujeito, além do sentimento de afronta aos seus direitos por se mostrar impotente diante da situação. Todos os dissabores e, especialmente, o desconforto e a vergonha junto às lojas em que tentou realizar o pagamento com o cartão de crédito seriam evitados com uma única diligência da reclamada, avisando o autor do bloqueio ocorrido. Evidencia-se, assim, o desrespeito a seus direitos de consumidor, bem como o descaso da instituição financeira e o desrespeito à lei. Há, portanto, prova concreta da falha na prestação do serviço. Como o dano moral consiste em ofensa a valores humanos, os quais se identificam por sua imaterialidade, a demonstração do ato ilícito da ré, consubstanciado na narrativa fática exposta, evidencia prática ilícita que enseja a devida reparação em favor do requerente. Assim, a gravidade da conduta da ré deve ser devidamente valorada, porque o autor suportou prejuízo de natureza moral, previsto no art. 5o, incisos V e X, da Constituição Federal. O art. 5º, inciso V, da CF, interpretado em consonância com o histórico preceito contido no art. 927 do Código Civil, trouxe fim a antiga querela doutrinária e jurisprudencial acerca da indenização do dano moral. O dano indenizável pelo art. 927 do Código Civil compreende não só a lesão patrimonial, mas também outros direitos e valores fundamentais, como a honra, a dignidade pessoal, o sentimento religioso, afetivo e familiar, cuja lesão traz à vítima dor e sofrimento maiores do que o simples dano material. A título de subsídio jurisprudencial, merece ser observado o julgado que se anexa, no qual a MMª Juíza Relatora Drª Fabiana Silveira Karam condena a reclamada que bloqueia o cartão de crédito sem cientificação prévia ao consumidor disso. A ementa é a seguinte: “AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – BLOQUEIO DE CARTÃO E CRÉDITO, SOB FUNDAMENTO DE INDÍCIOS DE FRAUDE POR TERCEIROS – AUSÊNCIA CIENTIFICAÇÃO PRÉVIA DO AUTOR SOBRE O BLOQUEIO – TENTATIVA FRUSTRAAD DE UTILIZAÇÃO NA PREENÇA DE TERCEIROS – FALHA NA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS – CONDUTA ABUSIVA – EVER DE INDENIZAR O CONSUMIDOR PELOS DANOS SOFRIDOS – RELAÇÃO DE CONSUMO – RESPONSABILIDADE OBJETIVA – DANO MORAL – OCORRÊNCIA – QUANTUM INDENIZATÓRIO FIXADO EM R$ 2.000,00 – REFORMA DA RESPEITÁVEL SENTENÇA – RECURSO CONHECIDO E PROVIDO” (Recurso inominado 0000747-67.2012.8.16.0014) 3.1. Do dano moral presumido / in re ipsa. Ainda que eventualmente se adote o entendimento segundo o qual não há qualquer meio de prova capaz de evidenciar o sofrimento experimentado pelo indivíduo, vez que o mesmo se processa no âmago, na alma da pessoa, de se considerar que o alegado dano moral prescinde de prova oral porque o sofrimento, a angústia e a dor impingidas à autora são notórias e efetivas, reservados ao recôndito da alma, ao íntimo da pessoa. Tanto que, na seara doutrinária, denomina-se dano in re ipsa, que se presume pelo simples fato de acontecer. 3.2. Do valor a ser arbitrado A quantificação do dano moral é tarefa de grande dificuldade, pois cabe ao julgador, segundo critérios de razoabilidade e proporcionalidade, analisar a repercussão do dano à pessoa e atentar para a possibilidade econômica dos envolvidos. Assim, embora seja tarefa delicada que envolve múltiplos aspectos, considere-se ser imperioso que: 1. A reparação não se presta, meramente, a promover enriquecimento da parte autora mas, antes, em substituição de valores de modo a minorar o prejuízo suportado porque, evidentemente, nunca poderá recompor o dano sofrido. Inclusive, enquanto pena pecuniária e pedagógica que é, deve repercutir no patrimônio do ofensor de tal modo a ponto de ele redimir-se do ato faltoso praticado, além de compensar o ofendido, em pecúnia, pelo prejuízo moralmente experimentado; 2. Cabe ao juiz fixar reparação razoável - em respeito aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade - e não meramente simbólica, de modo a evitar a repetição de eventos semelhantes; 3. Os critérios de arbitramento da quantia indenizatória levem em consideração a intensidade/gravidade do dano sofrido (art. 944 do CC), o grau de culpa do causador do dano ( parágrafo único do art. 944 do CC e art. 945 do CC), a condição econômico-financeira do ofensor e do ofendido, bem como o caráter pedagógico da indenização fixada; 4. Seja examinada a intensidade do sofrimento, a capacidade econômica do ofensor e seu comportamento em relação ao fato. O emérito Dr. Magnus Venicius Rox, Juiz Substituto de Segundo Grau Convocado Relator nos autos de APELAÇÃO CÍVEL Nº 841.908-3, cita em seu voto SÉRGIO CAVALIERI FILHO (Programa de responsabilidade civil. 7. Ed. São Paulo: Atlas, 2007. P. 90), a respeito da quantificação do valor atribuído ao dano moral. Observe-se: "Para que a decisão seja razoável é necessário que a conclusão nela estabelecida seja adequada aos motivos que a determinaram; que os meios escolhidos sejam compatíveis com os fins visados; que a sanção seja proporcional ao dano. Importadizer que o juiz, ao valorar o dano moral, deve arbitrar uma quantia que, de acordo com o seu prudente arbítrio, seja compatível com a reprovabilidade da conduta ilícita, a intensidade e duração do sofrimento experimentado pela vítima, a capacidade econômica do causador do dano, as condições sociais do ofendido, e outras circunstâncias mais que se fizerem presentes. Assim, se de um lado não se deve fixar um valor demasiadamente elevado, a permitir o enriquecimento ilícito, também não se pode aceitar um valor que não represente uma sanção efetiva (função repressora e educativa do dano moral)." O D. Juiz destaca os balizamentos traçados pelo Superior Tribunal de Justiça: CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DANO MORAL. PUBLICAÇÃO EM REVISTA SEMANAL DE CIRCULAÇÃO NACIONAL DE INFORMAÇÃO QUE ATINGE A IMAGEM DE EMPRESA COMERCIAL. DANO AFERIDO NA ORIGEM A PARTIR DOS ELEMENTOS FÁTICO-PROBATÓRIOS CARREADOS NOS AUTOS. IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO. SÚMULA 07/STJ. VIOLAÇÃO DOS ARTS. 165, 458 E 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA. QUANTUM DA INDENIZAÇÃO. VALOR EXORBITANTE. REDUÇÃO. POSSIBILIDADE. [...] 3. O critério que vem sendo utilizado por essa Corte Superior na fixação do valor da indenização por danos morais, considera as condições pessoais e econômicas das partes, devendo o arbitramento operar-se com moderação e razoabilidade, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso, de forma a não haver o enriquecimento indevido do ofendido, bem como que sirva para desestimular o ofensor a repetir o ato ilícito. [...] 9. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, Provido (Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 334.827/SP, 4ª Turma, Relator Honildo Amaral de Mello Castro Desembargador Convocado do TJ/AP - julgamento ocorrido em 03.11.2009, publicação no DJe 16.11.2009). AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. MORTE DE FAMILIAR. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. DEMORA INJUSTIFICADA PARA O FORNECIMENTO DE AUTORIZAÇÃO PARA CIRURGIA. MAJORAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO. PROVIMENTO. I. O valor indenizatório deve ser compatível com a intensidade do sofrimento do recorrente, atentando, também, para as condições sócio-econômicas das partes, devendo ser fixado com temperança. [...] Recurso especial provido (Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.119.962/RJ, 3ª Turma, Relator Ministro Sidnei Beneti, julgamento ocorrido em 01.10.2009, publicação no DJe de 16.10.2009). Na Apelação Cível nº 327.605-5, tendo por Relator o MM. Desembargador J. S. Fagundes Cunha, em julgamento realizado em 04 de março de 2010, tem-se: “[...]. PEDIDO DE REPARAÇÃO DE DANO MORAL. DIREITO DA PERSONALIDADE. RELAÇÃO DE CONSUMO. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. FUNCIONÁRIO DA EMPRESA QUE FORNECE DADOS DA CONTA DE TELEFONE UTILIZADO PELA PARTE AUTORA A DETETIVE PARTICULAR. VIOLAÇÃO DO DIREITO À INTIMIDADE. DEVER DE REPARAR O DANO MORAL. VALOR DA REPARAÇÃO FIXADO EM R$ 25.000,00 (VINTE E CINCO MIL REAIS) CORRIGIDO MONETARIAMENTE E ACRESCIDO DE JUROS A PARTIR DA DATA DO PRESENTE JULGAMENTO. INVERSÃO DO ÔNUS SUCUMBENCIAL. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.” Ante o exposto, dada a peculiaridade de sua situação, requer seja a requerida condenada ao pagamento de indenização por danos morais em favor do promovente, no importe mínimo de R$ 8.000,00 ou sucessivamente outro, ainda que maior. 4. Da aplicação do Código de Defesa do Consumidor. É muito importante destacar, ainda, conforme estabelece o art. 6º, VI, do CDC, deve haver a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos. Portanto, o fornecedor se obriga na prevenção à ocorrência de danos, não praticando condutas causadoras de lesão aos consumidores no mercado de consumo. Em segundo momento, se ainda assim ocorreu o dano, deve haver a efetiva reparação. Há, no caso em tela, direito ao ressarcimento da parte autora, via indenização por danos morais, pelo descaso e desatenção da ré no trato ao consumidor, consubstanciados nas práticas supra descritas. Isso porque a requerente enfrentou situação de aflição psicológica e de impotência ao não ver o seu conflito solucionado agindo por conta própria. Não se trata, portanto, de mero dissabor nem de aborrecimento, mas sim de situação suficientemente grave e apta a ensejar a reparação indenizatória, o que fica desde já requerido. Evocando aqui a responsabilidade civil objetiva, tem-se que, como regra, nas ações de reparação de danos, restam configurados em favor do consumidor o dano, o nexo de causalidade e o defeito. Ainda, conforme a teoria do risco da atividade desenvolvida no mercado de consumo, toda pessoa que exerce alguma atividade empresarial cria um risco de dano para terceiros e deve ser obrigada a repará-lo, ainda que sua conduta seja isenta de culpa. O fornecedor, que tem por objetivo auferir lucro, deve arcar com os riscos da atividade desenvolvida, reparando o consumidor dos eventuais danos. Aquele que aufere os cômodos deverá arcar com os incômodos. E mais, conforme a teoria da responsabilidade pelo Fato do Serviço, de acordo com o art. 14, do CDC: “O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos”. 4.1. Da inversão do ônus da prova. Deve ocorrer a inversão do ônus da prova, o que fica desde já requerido, por figurar o reclamante como a parte mais fraca e destituída de condições econômicas. Nesse sentido, colaciona o seguinte julgado: “REsp 435572 / RJ 03/08/2004. PROCESSUAL CIVIL. ACÓRDÃO. OMISSÃO. OCORRÊNCIA. CONSUMIDOR. ÔNUS DA PROVA. INVERSÃO. INTELIGÊNCIA DO ART. 6º, VIII DA LEI N. 8.078/90. 1 – A inversão ou não do ônus da prova, prevista no art. 6º, VIII da Lei n. 8.078/90, depende da análise de requisitos básicos (verossimilhança das alegações e hipossuficiência do consumidor), aferidas com base nos aspectos fático-probatórios peculiares de cada caso concreto.” II. DO PEDIDO Ante o exposto, requer: 1. A citação da reclamada para apresentar a sua defesa, caso queira, sob pena de sujeitar-se aos efeitos da revelia e à pena de confissão quanto à matéria fática; 2. A procedência da presente ação, para que a requerida seja condenada ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 8.000,00 ou sucessivamente outro, que guarde consonância com os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, ainda que maior. Protesta comprovar o alegado por todos os meios de prova admissíveis em direito, especialmente por meio juntada de novos documentos, sem a exclusão de quaisquer outras que não tenham sido, por ora, mencionadas. Dá-se à causa o valor de R$ 8.000,00 Pede deferimento. Londrina, 16 de fevereiro de 2015. Advogado