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CURSO DE SUPORTE AVANÇADO DE VIDA EM ENDOSCOPIA SAVE 2018 Sumário 1. Legislação versus Sedação .....................................................................3 2. Sedação para procedimentos endoscópicos: fármacos e técnicas de administração ......................................................................................7 3. Abordagem das vias aéreas em endoscopia digestiva .......................... 12 4. Complicações em endoscopia .............................................................. 22 5. Diretrizes em RCP ................................................................................ 32 6. Suporte Básico de Vida do adulto para profissionais da saúde............. 34 7. Suporte Avançado de Vida no Adulto .................................................. 44 Bibliografia consultada ............................................................................ 52 Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 3 1. Legislação versus Sedação A realização de sedação para procedimentos endoscópicos, em ambiente fora do centro cirúrgico, exige cuidados especiais. O ambiente, geralmente hostil, e as peculiaridades dos mais variados tipos de procedimentos exigem critérios de segurança bastante rígidos. A maioria dos pacientes são ASA 1 e 2 e os procedimentos têm duração menor que 60 minutos, de modo que as complicações não costumam acontecer comumente. É fundamental que o médico que está realizando a sedação conheça a legislação que envolve o procedimento, tenha técnica apurada e capacidade para resolver as complicações e efeitos adversos advindos dos procedimentos. É cada vez mais frequente a presença do anestesiologista durante a realização dos precedimentos endoscópicos. A presença deste profissional permite que o médico endoscopista se dedique exclusivamente à realização do procedimento. Onde a presença do anestesiologista ainda não é possível, é fundamental que sejam obedecidas as resoluções do Conselho Federal de Medicina, que exige a presença de um médico exclusivo para realizar a sedação profunda. A seguir são discutidas as principais resoluções do Conselho Federal de Medicina que regulamentam a prática da endoscopia digestiva. Resolução CFM n0 1.802/2006 Essa resolução substituiu a 1363/93. É considerada a norma magna da prática da anestesiologia no país. Lista as condições mínimas e atribui responsabilidades para a realização do ato anestésico. Os principais pontos da resolução são: • Deve ser realizada avaliação pré-anestésica e aplicado termo de consentimento informado. • É proibida a realização de anestesia simultânea. • É obrigado o registro hospitalar do ato anestésico. • Há responsabilidade compartilhada do Diretor Médico da instituição. Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 4 • Representa monitorização mínima obrigatória: monitoração da circulação, incluindo pressão arterial e batimentos cardíacos determinação contínua do ritmo cardíaco, incluindo cardioscopia; monitoração contínua da oxigenação arterial. • Estabelece condições mínimas do local. • Exige sala de recuperação pós-anestésica. Resolução CFM n0 1.886/2008 Essa resolução substituiu a 1409/94. Ela normatiza os procedimentos com internação de curta permanência, atribuindo condições mínimas do local, do paciente e do procedimento. Os principais pontos da resolução são: • Define os procedimentos de curta permanência. • Classifica as unidades em: tipo I, II, III e IV. • Define as condições mímimas e materiais para cada unidade. Determina critérios de seleção dos pacientes: • ASA I e II; • A extensão e a localização do procedimento a ser realizado, que permitam o tratamento com internação de curta permanência; • Não há necessidade de procedimentos especializados e controles estritos no pós- operatório; • Nas Unidades tipo II, III e IV o paciente deverá estar acompanhado de pessoa adulta, lúcida e responsável; • Aceitação do tratamento proposto pelo paciente. • Determina critérios de exclusão dos pacientes: • Pacientes graves; • Procedimentos extensos; • Alto risco de sangramento; • Necessidade de imobilização prolongada no pós-operatório; Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 5 • Procedimento de difícil controle da dor pós-operatória. O procedimento deverá ser suspenso se o paciente comparecer ao serviço sem acompanhante. Procedimento também deverá ser suspenso se o estabelecimento não apresentar as condições mínimas exigidas. O médico deverá orientar o paciente ou o seu acompanhante, por escrito, quanto aos cuidados pré e pós-operatório/procedimento necessários e complicações possíveis, bem como a determinação da Unidade para atendimento das eventuais ocorrências. A alta do serviço será dada por um dos membros da equipe médica responsável. Condições de alta: • Orientação no tempo e espaço; • Estabilidade dos sinais vitais há, pelo menos, sessenta minutos; • Ausência de náusea e vômitos; • Ausência de dificuldade respiratória; • Capacidade de ingerir líquidos; • Capacidade de locomoção como antes, se a cirurgia o permitir; • Sangramento ausente ou mínimo; • Ausência de dor importante; • Sem retenção urinária. Funcionamento após liberação da vigilância sanitária: • Habilitação e inscrição no conselho regional de medicina; • Garantia de apoio hospitalar, incluindo a remoção do paciente sem agravar a sua condição clínica. Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 6 Resolução CFM n0 1.670/2003 Essa resolução define sedação e determina as condições mínimas para realizá-la, levando em consideração o local, o paciente, o profissional que a realiza e o tipo de procedimento. A sua entrada em vigor determina: “Sedação profunda só pode ser realizada por médicos qualificados e em ambientes que ofereçam condições seguras para sua realização, ficando os cuidados do paciente a cargo do médico que não esteja realizando o procedimento que exige sedação”. Define sedação em leve, moderada e profunda. Sedação é um ato médico, mas não exclusivo dos anestesiologistas. Os odontólogos não estão autorizados a realizarem sedação. Determina que o local, onde se realiza sedação, possua requisitos mínimos, os seguintes materiais, drogas e equipamentos: equipamentos para manutenção das vias aéreas e administração de oxigênio; medicamentos para tratar intercorrências e eventos adversos sobre o sistema cardiovascular e respiratório; material para registro do procedimento e do uso das medicações; orientações ao paciente; médico dedicado exclusivamente à sedação profunda/analgesia e garantia de suporte hospitalar. Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 7 2. Sedação para procedimentos endoscópicos: fármacos e técnicas de administração Introdução Sedação pode ser definida como uma depressão no nível de consciência induzida por fármacos. Os procedimentos, em endoscopia digestiva, são por vezes dolorosos e desconfortáveis, necessitando frequentemente da administração de sedativos para a sua realização. Diferentes níveis de sedação podem ser necessários, a depender do procedimento endoscópico realizado e do grau de colaboração do paciente. Didaticamente, podem ser descritos quatro níveis de sedação: leve, moderada, profunda e anestesia geral. Na sedação leve existe apenas ansiólise, de forma que o paciente encontra-se acordado e respondendo normalmente às solicitações verbais. Também conhecida como “sedação consciente”, na sedação moderada, o paciente habitualmente está dormindo, porém é capaz de responder a estímulo tátil ou verbal vigoroso, e mantém normalmente a função cardiorrespiratória preservada. Em caso de sedação profunda, o paciente encontra-se inconsciente, respondendo apenas a estímulos dolorosos, e a função cardiorrespiratória (principalmente respiratória) pode estar inadequada.a qualidade da RCP e com o retorno da circulação espontânea (RCE). Durante a PCR não tratada, a produção de CO2 é mantida, porém não existe liberação pelos pulmões, sendo a presença de débito cardíaco a maior determinante da liberação do PETCO2. Os valores do PETCO2 têm sido correlacionados com o RCE e com a pressão de perfusão coronária. Valores Já na anestesia geral, o paciente encontra-se irresponsivo mesmo a estímulos dolorosos e a função cardiorrespiratória está frequentemente comprometida. Para a realização da maior parte dos procedimentos endoscópicos diagnósticos, a sedação moderada é suficiente. Em procedimentos mais complexos (Ex.: CPRE, Ecoendoscopia, Procedimentos endoscópicos terapêuticos) pode ser necessária à realização de sedação profunda, ou até mesmo anestesia geral. Os indivíduos respondem de maneira diferente à sedação. Então, pacientes podem requerer diferentes níveis de sedação para um mesmo procedimento, bem como diferentes doses de um determinado fármaco para atingir um nível específico de sedação. Por isso, o conhecimento do perfil farmacológico de cada medicamento, assim como a aquisição de habilidades para conduzir situações de emergência é fundamental. Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 8 Infraestrutura para sedação segura De acordo com a resolução 1802/06 do Conselho Federal de Medicina (CFM), existem pré-requisitos mínimos para a realização de qualquer procedimento sob sedação (em qualquer nível) com segurança. É imprescindível, por exemplo, a monitorização dos sinais vitais do paciente sedado, sendo considerados parâmetros básicos a eletrocardioscopia contínua, a oximetria de pulso e a aferição periódica da pressão arterial (manual ou automática). Em situações com anestesia geral, é ainda obrigatória a monitorização contínua do gás carbônico expirado por meio de um capnógrafo. Além de um monitor adequado, é preciso que haja no ambiente onde está sendo realizada a sedação equipamentos para o manejo das vias aéreas. Pontos de vácuo para aspiração de secreções, ponto de oxigênio com fluxômetro, cateteres/máscaras para ofertar oxigênio, dispositivos com bolsa e máscara para ventilação com pressão positiva, laringoscópios e tubos orotraqueais são equipamentos básicos. Podem ainda auxiliar no manejo das vias aéreas cânulas orofaringeanas (Guedel) e nasofaringeanas, máscaras laríngeas, vídeo-laringoscópios, entre outros dispositivos. Pelo menos no mesmo pavimento onde são realizados os procedimentos endoscópicos, é preciso que existam medicamentos de emergência e um desfibrilador cardíaco (preferencialmente com marcapasso transcutâneo). Estes devem estar de acesso fácil e rápido, habitualmente em um “carro de emergência”. Avaliação pré-procedimento Seguindo a resolução CFM 1802/06, é fundamental que o paciente que vai ser submetido a qualquer procedimento sob sedação passe por algum tipo de avaliação médica prévia. Ainda que seja feita poucos minutos antes do procedimento, é recomendado que seja realizada uma história clínica breve, em busca das principais comorbidades (ex.: hipertensão arterial, diabetes, asma, coronariopatia), questionar existência de alergias conhecidas, avaliar critérios para dificuldade para ventilação ou intubação orotraqueal, e confirmar o adequado jejum pré-procedimento. Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 9 A Sociedade Americana de Anestesiologia recomenda o período mínimo de jejum (em pacientes sem fatores de risco para gastroparesia) antes de qualquer sedação conforme a tabela abaixo: MATERIAL INGERIDO PERÍODO Mínimo DE JEJUM Líquidos claros sem resíduos 2 horas Leite materno 4 horas Fórmula infantil 6 horas Leite não materno 6 horas Refeição leve 6 horas Principais fármacos para sedação endoscópica As drogas mais utilizadas para sedação em endoscopia são os benzodiazepínicos (diazepam e midazolam), os ópioides (fentanil e meperidina), além do propofol (hipnótico venoso). Em algumas situações específicas podem ainda ser utilizados o droperidol, agonistas alfa-2 adrenérgicos (clonidina ou dexmedetomidina) e a cetamina. Mais importante do que o fármaco a ser utilizado, é o modo de administração do mesmo. Benzodiazepínicos Induzem hipnose e amnésia no paciente, facilitando o procedimento. Se utilizados em conjunto com opióides, podem causar depressão respiratória. São os exemplos mais conhecidos o diazepam e o midazolam. O midazolam é preferido por conta da menor duração de ação e por ser mais potente, promovendo uma sedação mais adequada e amnésia anterógrada. Não é infrequente a ocorrência de agitação psicomotora após a utilização de benzodiazepínicos (notadamente o midazolam), especialmente em pacientes mais ansiosos ou com distúrbios psiquiátricos. Esses pacientes devem ser devidamente contidos, aguardando passar o efeito do fármaco, ou pode-se tentar sedar com medicamentos de outra classe (ex.: clonidina, propofol). As doses do midazolam variam de 0,5 mg a 10 mg, a depender dos fatores Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 10 relacionados ao paciente (idade, peso, grau de ansiedade, etc). O antagonista específico dos Benzodiazepínicos é o Flumazenil, que não deve ser utilizado de rotina pelo alto custo e risco de síndrome da retirada (agitação, cefaléia, náuseas e vômitos). Ópioides Os ópioides são analgésicos potentes, que atuam em receptores específicos do sistema nervoso central, aumentando o limiar de dor e alterando a sua percepção. Essas características promovem uma menor reatividade do paciente durante a realização do procedimento endoscópico. O ópioide mais utilizado ainda é a meperidina, em doses de 20 mg a 100 mg, mas o fentanil é preferível porque não libera histamina, tem duração curta, e está menos associado a náuseas e dependência. As doses de fentanil variam de 25 mcg a 100 mcg, de acordo com as características do paciente e do procedimento realizado. Fármacos ópioides são potenciais depressores centrais da respiração, e devem ser utilizados com cautela. Também possuem um antagonista específico, que é a naloxona. Esta medicação pode causar liberação de catecolaminas, com risco de crise hipertensiva, congestão pulmonar e infarto agudo do miocárdio. Propofol Fármaco utilizado habitualmente para promover sedação profunda, podendo ser aplicado tanto para procedimentos curtos (endoscopia digestiva alta) como para procedimentos complexos de longa duração (colonoscopia, CPRE, Ecoendoscopia). São vantagens do propofol: início de ação rápido, sedação e despertar tranqüilos e efeito antiemético. Causa depressão respiratória e diminuição do tônus das vias aéreas, com aumento da resistência à ventilação, podendo ainda levar à apnéia. Causa queda da pressão arterial, e deve ser utilizado com cautela em pacientes com algum grau de instabilidade hemodinâmica ou disfunção cardíaca. Devido a todas essas características, o propofol é um fármaco com baixo índice terapêutico, e apenas deve ser utilizado por médico familiarizado com sua Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 11 farmacologia. Não é prática segura a utilização do propofol pelo mesmo médico que está realizando o procedimento endoscópico. O propofol pode ser utilizado de várias formas, como injeção em bolus intermitentes, infusão venosa contínua ou infusão alvo-controlada. Não existe consenso quanto às doses a serem utilizadas, sendo muito variadas de acordo com as características clínicas do paciente. Endoscopia sem sedação ou sedação consciente Existem algumas situações em que pode ser mais seguro manter o paciente consciente durante o procedimento endoscópico. Nesses casos, doses baixas de opioides e anestesia tópica da orofaringe com lidocaína spray podem ser utilizados. Uma boa conversa explicando os motivos pelos quais a sedação deve ser evitada e os passos para a realização do exame ajudam na melhor tolerância do paciente. Pacientes com características sugestivas de via aérea difícil para ventilar (obesidade mórbida, apnéia obstrutiva do sono, malformações craniofaciais, etc) são candidatos a fazer exame acordado ou com sedação leve. Nas situações em que existe risco de broncoaspiração (hemorragia digestiva,corpo estranho, obstrução intestinal, etc) também é mandatório manter o paciente consciente durante o procedimento endoscópico. Caso não seja possível, é melhor que esses pacientes sejam submetidos a anestesia geral e intubação orotraqueal para proteção da via aérea, habitualmente em ambiente de centro cirúrgico. Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 12 3. Abordagem das vias aéreas em endoscopia digestiva Introdução As habilidades mínimas para o bom manejo de vias aéreas compreendem a identificação dos pacientes de risco para via aérea difícil (VAD), identificação da obstrução da vias aéreas durante o procedimento, as manobras básicas de abertura de vias aéreas, uso de dispositivos simples para abertura de vias aéreas, ventilação bolsa-máscara e dispositivo supraglótico (Máscara laríngea). A intubação traqueal e a cricotiroidostomia serão também abordadas, pois se fazem necessárias em situações específicas. Obstrução das vias aéreas é uma consequência previsível da sedação. A maioria das complicações relacionadas à sedação em endoscopia são complicações respiratórias relacionadas à obstrução das vias aéreas. Avaliação médica prévia à endoscopia digestiva pode reduzir a taxa de complicações relacionadas com a sedação em endoscopia. A avaliação de vias aéreas é uma avaliação qualitativa, multifatorial, que busca a identificação de risco relativo de complicações relacionadas às vias aéreas ou VAD através da observação de sinais e indicadores clínicos. A identificação de VAD possibilita a programação do tipo de sedação possível para cada tipo de paciente e a disponibilização do aparato necessário para a segura abordagem às vias aéreas do caso em questão. O médico que executa a sedação e o endoscopista devem ter expectativas claras quanto à sedação, e estar ciente dos riscos relacionados à perda de patência das vias aéreas. COMO RECONHECER UMA VIA AÉREA DIFÍCIL? Achados que genericamente atentam para à suspeição de VAD Historia de VAD (muito importante), diabetes (extensão cervical difícil), hipotireoidismo (língua grande, o que dificulta a intubação), acromegalia, obesidade, passado de radiação cervical, arcadas dentárias protrusas, língua grande, tamanho das amígdalas (podem obstruir as vias aéreas e dificultar a colocação da cânula de Guedel), alterações anatômicas de face e pescoço, e patologias que impeçam a abertura da boca. Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 13 Previsão de intubação traqueal difícil (ITD) Teste de Mallampati / Classificação Samsoon e Young (Figura 1) Com paciente em posição sentada, observador deve estar de frente para o paciente, boca totalmente aberta e língua totalmente protraída, sem fonação, a intubação traqueal provavelmente será difícil nos paciente que somente o palato mole seja visível, ao contrário daqueles nos quais essas estruturas são facilmente visíveis. • Classe I - palato mole, fauce, úvula e pilares visíveis; • Classe II - palato mole, fauce e úvula visíveis; • Classe III - palato mole e base da úvula visíveis; • Classe IV -palato mole totalmente não visível. Figura 1. Teste Mallampati, classificação. Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 14 A ASA (American Society Of Anesthesiologists) estabelece onze parâmetros a serem analisados na predição de VAD, estes achados (tabela 1) devem ser considerados em conjunto. Um único achado não define por si VAD. É a associação desses achados confere força à predição de VAD. Tabela 1- Achados da avaliação pré-anestésica das vias aéreas - preditores de VAD (adaptação do algoritmo "ASA" de via aérea difícil). Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 15 Idade > 55--57 anos IMC ≥ 26--30 kg.m--2 Barba Ronco Ausência de dentes Mallampati III ou IV Protrusão mandibular limitada Previsão de ventilação sob máscara difícil O quadro abaixo enumera os principais indicadores de dificuldade de ventilação sob máscara: Os achados abaixo estão associados a ventilação sob máscara impossível, quando associados em conjunto ou mais de dois achados atentar para o risco durante sedação. O que fazer diante de suspeita de VAD? Evitar sedação. Em caso de necessidade imperiosa de sedação, preparo para VAD com materiais para VAD e profissional com experiência em abordagem da VAD. Pacientes com estômago cheio ou sangramento, como abordar a via aérea? Estes pacientes não devem ser sedados para endoscopia sem proteção de vias aéreas. profissionais habilitados e experientes devem ser envolvidos nestes casos; provavelmente intubação traqueal esteja indicada. A abordagem das vias aéreas neste contexto foge ao escopo deste capítulo. Sexo masculino Barba Apneia do sono Mallampati III ou IV Deformidades do pescoço por radioterapia Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 16 Manuseio das vias aéreas durante sedação. Uso de oxigênio durante sedação - uso de oxigênio posterga a hipoxemia e, portanto, deve ser recomendado durante sedação. A forma mais utilizada é através de cateteres nasais. O diagnóstico de obstrução das vias aéreas com paciente sedado, sem intubação traqueal, é primordialmente clinico. A hipoxemia e dessaturação é evento tardio. Devem ser observados durante sedação a inspiração e expiração, a movimentação torácica e do abdome, os sons respiratórios e a musculatura ventilatória acessória e finalmente a oximetria. Durante a sedação, o que ocorre mais frequentemente é a obstrução alta das vias aéreas por queda de língua, quando se verificam roncos, utilização de musculatura acessória como esternocleidomastoideo, retração da fúrcula esternal, retração dos espaços intercostais e respiração paradoxal abdominal, a ventilação pode ter frequência elevada ou normal e com amplitude diminuída. Outro tipo de alteração ventilatória, que deve ser diferenciada da obstrução, é a depressão por sedativos, mais comum, mas não somente, com uso de derivados opióides. Neste caso, nota-se frequência respiratória baixa ou ausência de movimentação do tórax e do uso de musculatura acessória. Nestes casos, somente a abertura de vias aéreas não melhorará a ventilação. Ventilação com pressão positiva, através de dispositivo bolsa- máscara ou outro dispositivo equivalente supraglótico, far-se-á necessária até a cessação do efeito do sedativo. Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 17 obstrução dinâmica de vias aéreas pós sedação Manobras de abertura de vias aéreas: hiperextensão cervical e elevação do mento e protrusão da mandíbula Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 18 Dispositivos simples para abertura de vias aéreas. Cânula orofaríngea ou de Guedel Procedimento indicado para abertura de vias aéreas em pacientes profundamente sedados e cujas manobras simples anteriores falharam. Inserção de cânula orofaríngea ou de Guedel: (a) medida correta do canto da boca ao ângulo da mandíbula (b) inserção com curvatura cranial, introdução girando 180 graus para afastar a lingua corretamente e posição final. Cânula nasofaríngea Procedimento indicado para abertura de vias aéreas em pacientes sedados e cujas manobras simples anteriores falharam. A cânula nasofaríngea é mais bem tolerada que a guedel em pacientes com nível intermediário de sedação. Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 19 Ventilação com bolsa-válvula máscara Dispositivos padrão: (a) conjunto de máscaras de diversos tamanhos (b) bolsa auto-inflável -válvula-máscara facial (c)- bolsa (não auto-inflável)-válvula-mascara facial (d) ventilação sob máscara com 01 pessoa; (e)com duas, modo de segurar máscara D E Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 20 Máscara laríngea Dispositivo supraglótico utilizado para ventilação.Serve para resgate de via aérea obstruída não resolvida por manobras e dispositivos simples, assim como pode substituir o tubo endotraqueal traqueal na falha de intubação. Intubação traqueal convencional. A intubação traqueal é o procedimento padrão para garantir a segurança ventilatória de pacientes que têm diagnóstico de estômago cheio ou sangramento alto na sedação endoscópica. Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 21 figura 2 Cricotireoidostomia. A cricotiroidostomia está indicada nos casos emergenciais quando a ventilação não foi possível pelos dispositivos habituais e há falha de intubação, constituindo-se recurso final de resgate ventilatório. Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 22 4. Complicações em endoscopia As complicações em endoscopia podem ser desencadeadas pelo procedimento ou decorrentes do ato anestésico. São elas: • Depressão respiratória • Obstrução de vias aérea • Laringoespasmo • Broncoaspiração • Reação alérgica • Depressão cardiovascular • Reflexo autonômico Depressão respiratória Geralmente causada pela utilização inadequada de sedativos. É a segunda complicação mais comum. A principal causa é a obstrução das vias aéreas, podendo ser provocada por qualquer medicação sedativa utilizada. Todo médico que realiza sedação deve ser capaz de manejar adequadamente as vias aéreas, tanto no reconhecimento de um paciente com via aérea hostil (dificuldade de ventilação sob mascara, dificuldade de intubação orotraqueal, e principalmente, de obstrução de via aérea ao relaxamento), quanto na condução de uma eventual complicação. A pesquisa sobre ronco noturno e apnéia do sono é especialmente eficiente em predizer dificuldade na via aérea. Deve-se ter muito cuidado quando há necessidade de modificar a posição de exame para decúbito dorsal, por ser a posição mais propensa à obstrução de via aérea. O material básico das vias aéreas deve estar disponível para pronta utilização. Antes de iniciar o processo a anestésico, checar se encontra-se disponível laringóscopio, cânulas orofaringeas e nasofaringeas, tubos orotraqueais, mascara laríngea. Com relação aos fármacos, o propofol é um depressor respiratório de ação central que deprime a frequência e profundidade da respiração. Os opióides associados ao propofol aumentam seu efeito depressor. Pode produzir apnéia transitória dependendo das doses e Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 23 velocidade de indução. Os benzodiazepínicos também produzem depressão respiratória central dose dependente. A apnéia ocorre com maior frequência quando utilizados em conjunto com opióides. Idosos, pacientes debilitados clinicamente apresentam uma maior resposta depressora aos benzodiazepínicos. Os opióides provocam redução de resposta dos centros respiratórios bulbares à hipoxemia e à hipercapnia, de modo relacionado à dose. Eles deprimem o controle da frequência respiratória induzida por aumento do PaCO2, causando bradipnéia. Em doses maiores podem provocar apnéia, principalmente quando utilizados conjuntamente com medicações hipnótico-sedativas, como propofol e midazolam. Em caso de utilização da meperidina ou morfina, pode haver liberação de histamina na musculatura lisa brônquica provocando broncoconstrição. Obstrução de vias aéreas A obstrução das vias aéreas superiores (VAS) é uma emergência de ocorrência comum, com necessidade de manipulação sem intubação ou com a utilização de algum outro dispositivo para o controle da via aérea (CVA). O reconhecimento da obstrução das vias aéreas é essencial e se alicerça em observação, suspeição e dados clínicos. Em endoscopia geralmente a causa de obstrução da VAS se dá ao nível da faringe, por conta de perda do tônus da musculatura dessa região, decorrente de alteração de origem central, provocada por sedativos. A obstrução laríngea está mais frequentemente relacionada a reação a substâncias estranhas (secreções, corpos estranhos). A obstrução das vias aéreas pode ser parcial ou completa. A parcial é reconhecida por sons inspiratórios ruidosos. Dependendo da localização e do grau da obstrução, o tom dos sons pode variar. Roncar é o som típico da obstrução parcial, tanto da nasofaringe quanto da orofaringe, e geralmente é mais audível durante a expiração. O estridor sugere obstrução glótica (laríngea) ou laringoespasmo e é mais audível na inspiração. Podem ainda estar presentes sinais e sintomas de hipoxemia ou hipercarbia, ou ambos, podendo evoluir para arritmias e PCR. A obstrução completa das vias aéreas é uma emergência médica. Seus sinais Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 24 em um indivíduo que esteja ventilando espontaneamente são: ausência de sons ventilatórios ou incapacidade de perceber os movimentos ventilatórios; uso da musculatura acessória do pescoço; retração esternal, intercostal e epigástrica, com esforço inspiratório sem expansão torácica com inspiração; e agitação. Há manobras simples e rápidas que podem ser empregadas com o objetivo de prevenir e aliviar a obstrução das vias aéreas: • Hiperextensão da cabeça, com elevação do mento e tração da mandíbula: quando os músculos do assoalho da boca e a língua relaxam, esta repousa na parede posterior da orofaringe, causando obstrução. Também pode ocorrer à altura da epiglote, de modo que a língua pode repousar e obstruir a abertura glótica ou parede posterior da faringe. Isso se torna mais exarcebado quando se flete a cabeça e o pescoço ou se abre a boca ou ambas as manobras. A primeira manobra é a de hiperextensão da cabeça com a boca fechada. • Tração da mandíbula: obtida com o avanço da mandíbula por meio de uma subluxação, que a projeta anteriormente, deslocando também a língua, de tal forma que os incisivos inferiores se posicionem anteriores aos incisivos superiores, produzindo elevação da língua, do palato e da glote. • Dispositivos artificiais de via aérea: quando as manobras para manter as vias aéreas patentes falham, é com frequência, necessário o emprego de algum dispositivo artificial de VA. • Cânulas orofaríngeas (Guedel) e Cânulas nasofaríngeas: em algumas situações o paciente apresenta dificuldade na ventilação mesmo quando utilizados tais dispositivos, sendo imperativo muitas vezes ventilação positiva sob máscara facial com dispositivo bolsa-válvula- máscara, até o reestabelecimento de uma condição favorável, sem hipoxemia. Laringoespasmo É um exagero do reflexo de fechamento fisiológico da glote que persiste mesmo após cessado estímulo. Reflexo de fechamento da glote é um reflexo estável produzido pelo estímulo do nervo laríngeo superior. Laringoespasmo é um exagero desta resposta Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 25 estimulado pela presença de sangue, secreções de vias aéreas ou provenientes de regurgitação, principalmente na presença de anestesia superficial. Durante planos anestésicos superficiais de anestesia, estímulos ou manipulações bucais, faringeanas, laringeanas e de abdome superior tem sido implicados na produção de laringoespasmo. A incidência deste evento é maior em crianças do que adultos e a infecção respiratória também aumenta o risco de ocorrência. É mais frequente depois de procedimentos de vias aéreas superiores. Manifesta-se com estridor que pode evoluir com obstrução respiratória completa. Pode ocorrer hipoxemia com cianose, em algumas situações edema agudo por pressão negativa (devido a obstrução). Em casos mais graves, pode ocorrer PCR por hipoxemia. Estratégias para reduzir a incidência de laringoespamo incluem lidocaína venosa, tópica, extubação em plano profundo, magnésio. A conduta terapêutica envolve imediata aspiração da secreção na via aérea, CPAP com FIO2 100%, manobra de Larson (compressão digital bilateral no corpo da mandíbula imediatamente anteriorao processo mastoideo. Se as manobras iniciais falharem em fornecer o fluxo adequado, e a dessaturação ocorrer, um aumento da profundidade da anestesia é requerido com propofol, com objetivo de diminuir o reflexo exarcebado da glote. Se persistir o quadro a despeito das medidas, incluindo aplicação de pressão positiva contínua em via aérea, pequenas doses de succinilcolina devem ser consideradas (0,1mg- 0,5mg/kg) Broncoaspiração Essa complicação geralmente relaciona-se com a depressão dos reflexos protetores da laringe, ocorrendo a aspiração de forma passiva, como regurgitação, ou de forma ativa, como vômito. A regurgitação é dita “silenciosa” quando não há sinais imediatos ou não ocorrem sintomas, e quando não há conteúdo gástrico aparente na orofaringe. A maioria dos casos ocorre durante a indução da anestesia e um pouco menos frequentemente durante a extubação e despertar, sendo que as consequências clínicas dependem da quantidade, tipo e distribuição do material aspirado. O principal mecanismo contra a regurgitação e aspiração é o esfíncter Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 26 gastroesofágico que normalmente previne o refluxo do conteúdo gástrico para o esôfago. Principais fatores que diminuem o tônus do esfíncter esofagiano inferior são: opióides, anticolinérgicos, propofol, obesidade, pressão de cricóide, hérnia hiatal e gravidez. Os principais fatores que aumentam o tônus são: colinérgicos, acetilcolina, anticolinesterásicos, succinilcolina, anti-ácidos, metoclopramida, bromoprida. Fatores de risco maiores para regurgitação e aspiração incluem gestação a partir do terceiro trimestre, doença esofageana e gástrica, obstrução intestinal e íleo paralítico. Outros fatores de risco incluem a estase gástrica encontrada na diabetes, obesidade, no trauma e durante o uso de opióides; posição em cefalodeclive, hérnia de hiato, refluxo gastro-esofágico, insuficiência renal, procedimentos de urgência, agentes farmacológicos que alteram a consciência, doenças neuromusculares. Jejum por 6 horas após refeições leve e 2 horas após líquidos claros é prática segura para pacientes sem fatores de risco. Por outro lado, regurgitação pode ocorrer mesmo em pacientes sem fatores de risco, por isso o anestesiologista deve estar sempre preparado. O diagnóstico definitivo, com frequência, é difícil de estabelecer, sendo a história extremamente importante. Na maioria dos casos, ocorre aspiração silenciosa que não é diagnosticada até o paciente estar na sala de recuperação e ocasionalmente na enfermaria. O sinal mais precoce e confiável é a hipóxia, o que indica a solicitação de gasometria arterial sempre que houver suspeita. Outras manifestações clínicas são dispnéia, cianose, taquipnéia, roncos e sibilos Achados radiográficos para o diagnóstico são inadequados, pois podem não surgir em muitas horas e mesmo estar ausentes em 10% ou mais dos pacientes. O meio mais eficaz de prevenir a aspiração é a manutenção do paciente em estado alerta com os reflexos vigentes, evitando a anestesia geral. Quando a anestesia geral ou sedação moderada a profunda são necessárias, é importante jejum adequado; fármacos podem ser úteis para promover redução da acidez e do volume do fluido gástrico, como antiácidos, antagonistas do receptores H2 da histamina e inibidores de bomba de prótons; além de fármacos que promovam aceleração do esvaziamento gástrico. A pneumonite por aspiração geralmente é atribuída a uma lesão química dos pulmões causada pela aspiração de conteúdo gástrico. Quanto mais ácido o pH e maior o volume do conteúdo gástrico, mais grave é a queimadura química. As partículas de Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 27 alimentos, independente da acidez, também podem causar lesão química. A pneumonite por aspiração tem 2 fases: a primeira fase atinge o auge nas primeiras horas após a aspiração e está relacionada principalmente ao efeito cáustico do baixo pH do aspirado sobre as células de revestimento da interface alvéolo-capilar; a segunda fase geralmente tem seu ponto máximo em cerca de 6 horas, e caracteriza- se por infiltração de neutrófilos nos alvéolos e no interstício pulmonar e por um processo idêntico àquele observado em outros tipos de lesão pulmonar aguda. Quando há suspeita de aspiração incline rapidamente a mesa cirúrgica para que a laringe fique num nível mais alta que a faringe. Peça ajuda, pressione a cartilagem cricóide, aspire a boca e faringe o mais rápido possível. Avalie intubação orotraqueal em caso de regurgitação de grande monta, para evitar novas aspirações e para aspirar através do tubo o contéudo. Administre O2 a 100% inicialmente. O tratamento é de suporte. Antibióticos profiláticos não diminuem mortalidade nem as taxas de infecção secundária. Não está indicado o uso de corticoide. Reação alérgica Reações anafilática/anafilactóides podem ser de origem imunológica ou não imunológica, mas é muito difícil distinguir pelo quadro clínico qual deles está envolvido. As reações imunológicas têm duas características principais: interação específica antígeno- anticorpo e desencadeamento da reação por reexposição ao antígeno (resposta anamnéstica). Estas reações podem ser em virtude da mediação de IgE – reação anafilática; ou da mediação de IgG/IgM com ativação da via clássica do complemento. As reações não imunológicas podem ser em virtude da ativação da via alternativa do complemento, ou da liberação direta de histamina. As reações em razão da ativação da via clássico-alternativa do complemento e da liberação direta de histamina são denominadas reações anafilactóides. O sistema nervoso autônomo (SNA) tem ação preponderante sobre degranulação dos mastócitos e basófilos, o que é de fundamental importância na terapêutica dos casos graves. Independente do mecanismo de origem, o quadro clínico mais ou menos exuberante é em decorrência de degranulação do interior dos mastócitos e basófilos de substâncias vasoativas e consequente liberação na corrente sanguínea. As substâncias vasoativas Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 28 incluem os constituintes dos mastócitos e os grânulos dos basófilos. Estas substâncias podem atuar conjuntamente por estímulo de receptores do músculo liso, coração e pulmões; ativação de outras células inflamatórias e potencialização dos efeitos de mediadores secundários. Dentre os mediadores armazenados, o mais importante é a histamina. Age nos receptores H1, H2 e H3, promovendo permeabilidade capilar, dilatação de arteríolas terminais, broncoconstricção, alterações da frequência cardíaca, arritmias ventriculares e controle inibitório da sua liberação e síntese tanto no SNC como em diferentes órgão e sistemas. É rapidamente metabolizada, tendo efeitos de curta duração. No momento da ativação dos mastócitos e basófilos, são sintetizados os metabólitos do ácido araquidônico, fator de ativação plaquetária e cininas. O acido araquidônico é metabolizado em seus produtos: leucotrienos (através da lipo-oxigenase), e prostaglandinas, tromboxano A2 e prostaciclina (através da ciclo-oxigenase). O quadro clínico das reações anafiláticas/anafilactóides pode variar, na dependência do órgão e/ou sistema comprometido e da via de contato, verificando-se com maior frequência, em anestesia, manifestações cutâneas, cardiovasculares e respiratórias. • Manifestações gastrointestinais são menos importantes, mas podem ocorrer náuseas, vômitos e diarreia. No quadro mais grave chamado choque anafilático, há uma resposta generalizada imediata, por comprometimento de vários sistemas (cutâneo/cardiovascular/respiratório) e muitas vezes sobrevêm a PCR e óbito. • Manifestações cardiovasculares: hipotensão arterial, provocado por diminuição da resistência vascular sistêmica e redução do volume intravascular por extravasamento. Alterações diversas do ritmo cardíaco, vasoconstricçãocoronariana e pulmonar. Quadro mais grave é o choque anafilático. • Manifestações do sistema respiratório: são frequentes, e muitas vezes de evolução grave com reação inflamatória de vias aéreas, edema de mucosa respiratória e broncoespasmo, vasoconstricção e hipertensão pulmonar. • Manifestações cutâneas: variam de leves a graves. Urticárias e edemas de mucosas. Fármacos e substâncias utilizadas no ato anestésico desencadeadoras, em ordem decrescente de frequência: bloqueadores neuromusculares, látex, antibióticos. Incidência Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 29 baixa com anestésicos locais, opióides, benzodiazepínicos e propofol. É descrito na literatura que pacientes com alergia a ovo e a soja não devem ser submetidos a anestesia com propofol, mas este fato não foi confirmado ainda. Em relação aos bloqueadores neuromusculares, todos estão envolvidos, sendo a incidência maior com succinilcolina, em sua maioria anafiláticas. Morfina e meperidina são fármacos que liberam diretamente histamina, geralmente sem muita importância clinica. Há relatos de reações alérgicas graves ao fentanil e meperidina, apesar de infrequentes. Em anestésicos locais, do grupo amida (por exemplo a lidocaína), as reações alérgicas são raras. Os anestésicos com vasoconstrictor contém antioxidantes, o sulfito ou metabissulfito de sódio, que também são alergênicos. Em relação aos antibióticos, os que induzem mais reação alérgica são as penicilinas e cefalosporinas. Anti- inflamatórios não hormonais (AINE’s) levam a uma incidência alta de reações anafilactóides. A reação ao látex é mediada por IgE, portanto, tipo anafilática, que pode ser branda a muito grave. Hemoderivados também estão relacionados a reações alérgicas Tratamento • Suspensão da administração do agente • Interrupção dos agentes anestésicos no caso de colapso circulatório • Administração do oxigênio a 100%, verificar a necessidade de intubação e ventilação de suporte. Em caso de edema laríngeo deve- se prever dificuldades na intubação. Máscara laríngea pode não ser a escolha certa. • Expansão volêmica, especialmente em casos de hipotensão • Epinefrina preferencialmente venosa (1 ampola diluída em 20ml, doses fracionadas, 1- 5min, guiados pela hemodinâmica, até obtenção de resposta). Se via muscular 0,5ml a cada 5min até normalização da hemodinâmica. Infusão contínua venosa – começar com 1mcg/min. • Esteróides (hidrocortisona 0,25 a 1g ou metilprednisolona 1-2g) podem reduzir resposta inflamatória • Antagonistas da histamina (anti-H1 - difenidramina 50mg IV, e anti- H2 ranitidina 50mg IV) podem ser úteis como terapia de segunda linha. Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 30 • Sempre após tratamento inicial, se não houver resposta resposta adequada, outros fármacos podem ser utilizados como azul de metileno. Reflexos autonômicos São as complicações mais comuns geradas pelo procedimento de colonoscopia. Acontece com maior frequência em mulheres de meia idade que já foram submetidas a algum procedimento ginecológico. São causadas pela manipulação do próprio cólon ou sua distensão por ar, sendo mais frequentes na passagem do aparelho pelo sigmoide e ângulo esplênico, ou associadas à formação de “alças” do aparelho. Podem levar a intensa e persistente bradicardia, com frequência menor que 30 bpm, associadas ou não a sinais de baixo débito, como palidez cutâneo-mucosa, sudorese fria, hipotensão. Seu aparecimento exige um rápido diagnóstico e intervenção, que consiste em solicitar a imediata retirada do aparelho e utilização de fármacos parassimpaticolíticos, especialmente a atropina e escopolamina. Esta última, preferencialmente, por ter latência mais rápida e apresentar efeitos de relaxamento da musculatura lisa colónica, reduzindo os espasmos e, consequentemente, a chance de novos episódios de bradicardia. Importante frisar que há relato de PCR na literatura. Depressão cardiovascular Complicação relacionada à técnica anestésica escolhida. A associação do propofol, em doses inadequadas, administradas a pacientes que se submetem à colonoscopia, desidratadas pelo “preparo do cólon”, idosos, e com função cardíaca já deprimida é a principal causa de severa hipotensão, neste procedimento. A administração desse fármaco deve ser sempre realizada na menor dose possível para cada paciente, individualmente, capaz de se obter a melhor sedação possível. Todo paciente deve ser reidratado durante o procedimento, especialmente com cristaloides. O uso de vasopressores deve ser deixado como alternativa para hipotensão, sejam eles de ação indireta, como etilefrina e efedrina, como os de ação direta, que são mais efetivos. É obrigatório a disponibilidade de desfibrilador e marca-passo transcutâneo. Os benzodiazepínicos, como midazolam, quando utilizados como agentes únicos Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 31 produzem efeitos hemodinâmicos muito modestos, uma pequena redução da pressão arterial. A combinação com opióides por exemplo produz maior repercussão na pressão (efeito sinérgico, potencializador). O propofol diminui débito cardíaco, a resistência vascular sistêmica, a pressão arterial sistêmica e o volume sistólico de ejeção. Além disso, reduz pré-carga e pós- carga por ação direta na musculatura lisa vascular e por diminuição do tônus simpático. Cautela com uso de propofol em pacientes hipovolêmicos, já que as repercussões são mais exuberantes. Quando o propofol é administrada por infusão contínua ou pequenas doses consecutivas a alteração hemodinâmica é bem mais suave. Os opióides em doses baixas e administrados unicamente provocam mínima depressão cardiovascular. Atenção aos opióides que promovem liberação de histamina, como morfina e meperidina, que podem causar hipotensão. Os opióides quando administrados com outros agentes, como hipnóticos, tais como propofol e midazolam, promovem potencialização do efeito hipotensor, já apresentado naturalmente por esses hipnóticos. Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 32 5. Diretrizes em RCP Apesar dos avanços em relação à prevenção, atendimento precoce, divulgação do conhecimento e tratamento, o Brasil ainda possui elevadas taxas de mortalidade anual relacionadas à Parada Cardiorrespiratória (PCR) e aos agravos cardiovasculares. A prestação de um serviço saúde por meio de uma equipe capacitada tecnicamente, especializada no tratamento em ressuscitação, de acordo com as mais recentes diretrizes, aliada a ações que intensifiquem o controle de fatores de risco, são elementos primordiais para redução da mortalidade e aumento de sobrevida com qualidade. A evolução das diretrizes internacionais do Suporte Avançado de Vida de 2015, as recomendações da “Atualização das Diretrizes da AHA 2015 para Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP)”, embasadas nas diretrizes americanas, europeias e no International Liaison Committeeon Resuscitation (ILCOR). O SBV envolve o atendimento às emergências cardiovasculares principalmente em ambiente pré-hospitalar, enfatizando o reconhecimento e a realização precoce de manobras de Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP), com ênfase nas compressões torácicas de boa qualidade e na rápida desfibrilação, intervenção esta, facilitada por meio da implementação de programas de educação e de acesso público a desfibriladores automáticos. Seguidamente o Suporte Avançado de Vida em Cardiologia (SAVC) prioriza a alta qualidade das compressões torácicas, adequado manejo da via aérea, tratamento específico dos diferentes ritmos de PCR, desfibrilação precoce quando indicada, avaliação e tratamento das possíveis causas. Após o Retorno à Circulação Espontânea (RCE) os cuidados pós-ressuscitação objetivam a redução da mortalidade. As recomendações nesta fase estão direcionadas ao reconhecimento e tratamento da causa determinante do evento,prevenindo sua recorrência. A implementação de intervenções como a modulação terapêutica da temperatura (MTT) é um recurso que tem demonstrado impacto significativo na diminuição do dano neurológico e deve ser indicado naqueles que após o RCE apresentam algum grau de coma. Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 33 Alguns dos destaques das diretrizes de Suporte Básico e Avançado de Vida: • Ênfase contínua na alta qualidade em RCP. • Ventilações ainda recomendadas para equipes de resgate treinadas. • Confirmação da mudança na sequência de A-B-C para C-A-B. • RCP somente com compressão. • Dispositivos de feedback de RCP. • Educação, implementação e treinamento em equipe. • Estratégias de desfibrilação. Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 34 6. Suporte Básico de Vida do adulto para profissionais da saúde Em uma PCR, o profissional pode verificar a responsividade da vítima, chamar por ajuda e logo em seguida checar seu pulso e ventilação simultaneamente, se não houver pulso e respiração, deverá iniciar as compressões e ventilação, em uma relação de 30 compressões para 02 ventilações. O acionamento do SME pode ser feito por telefone sem que o profissional saia de perto da vítima. A seguir a sequência completa de atendimento a uma vítima que se encontra em colapso súbito Segurança do Local Primeiramente, avalie a segurança do local. Certifique se o local é seguro para você e para a vítima, para não se tornar uma próxima vítima. Se o local estiver seguro prossiga o atendimento. Avalie a responsividade da vítima Avalie a responsividade da vítima chamando-a e tocando-a pelos ombros. Se a vítima responder, se apresente e converse com ela perguntando se precisa de ajuda. Se a vítima não responder, chame ajuda imediatamente. Chame ajuda Em ambiente extra-hospitalar, ligue para o número local de emergência (por exemplo, Sistema de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU 192) e, se um DEA estiver disponível no local, vá buscá-lo. Se não estiver com sozinh, peça para uma pessoa ligar e conseguir um DEA, enquanto continua o atendimento à vítima. Em ambiente intra-hospitalar, após avaliar a resposividade da vítima e, se ela não responder, o profissional deverá chamar por ajuda, na tentativa de que outros profissionais lhe auxiliem no atendimento, bem como levar o carro de emergência até o local do Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 35 atendimento. Quando o profissional de saúde estiver sozinho, ao verificar que a vítima está inconsciente, pode acionar imediatamente o Time de Resposta Rápida ou verificar o pulso e a respiração simultaneamente antes de acioná-los, desta forma poderá passar informações mais precisas, o que otimizaria tempo. Cheque respiração e pulso Cheque respiração e pulso carotídeo simultaneamente, observando se há elevação do tórax da vítima e se há pulso, em no mínimo 5 e não mais que 10 segundos. Se a vítima não respirar, ou apresentar “gasping” e o pulso estiver ausente, inicie RCP. Se a vítima não apresentar respiração e pulso, o profissional deverá sinalizar que é uma Parada Cardiorrespiratória e iniciar as compressões torácicas. Inicie ciclos de 30 compressões e 2 ventilações Inicie ciclos de 30 compressões e 2 ventilações, considerando que existe um dispositivo de barreira (por exemplo, máscara de bolso para aplicar as ventilações). Se o profissional não possuir máscara de bolso ou não se sentir preparado para aplicar as ventilações, o mesmo poderá realizar as compressões contínuas de 100 a 120 por minuto. Compressões torácicas: Os aspectos principais a serem observados nas compressões são: � Frequência: 100 – 120 por minuto � Profundidade: 5 – 6 cm � Retorno do tórax a cada compressão � Interrupção mínima: minimizar as interrupções das compressões torácicas em menos de 10 segundos Para a oxigenação adequada dos tecidos, é essencial minimizar as interrupções das compressões torácicas e, portanto, maximizar a quantidade de tempo que as compressões torácicas geram fluxo de sangue. A fração das compressão torácica (FCT) é a proporção de tempo que as compressões são realizadas durante uma PCR. Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 36 Para realização das compressões torácicas (figura 1): � Posicione-se ao lado da vítima e mantenha seus joelhos com certa distância um do outro para que tenha melhor estabilidade. � Afaste ou corte a roupa da vítima (se uma tesoura estiver disponível), para deixar o tórax desnudo. � Coloque a região hipotênar de uma mão sobre a metade inferior do esterno da vítima e a outra mão sobre a primeira, entrelaçando-a.12,13 � Estenda os braços e os mantenha cerca de 90º acima da vítima. � Comprima na frequência de 100 a 120 compressões/minuto.12,13 � Comprima com profundidade de, no mínimo 5 cm (evitando compressões com profundidade maior que 6 cm).14,15 � Permita o retorno completo do tórax após cada compressão, evitando apoiar-se no tórax da vítima.16,17 � Minimize interrupções das compressões, pause no máximo 10 segundos para realização de duas ventilações.Considere obter uma fração de compressão torácica maior possível, tendo como objetivo um mínimo de 60%.18,19 � Reveze com outro socorrista a cada dois minutos para evitar o cansaço e compressões de má qualidade.20,21 Figura 1 – Posicionamento adequado das mãos para realização das compressões torácicas. RCP somente por compressão Se um socorrista não souber realizar o atendimento de SBV (por exemplo, um leigo) ou for treinado em SBV, porém não ter boa habilidade ou não quiser realizar as ventilações Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 37 boca-boca, deverá fornecer somente as compressões. Neste caso, não há pausa para realizar ventilações. O socorrista deverá realizar compressões contínuas por dois minutos e se houver outros socorristas, deverão reversar- se para cada um deles realizar compressões por 02 minutos. Abertura das vias aéreas Independentemente da técnica utilizada para aplicar ventilações, será necessária a abertura de via aérea, que poderá ser realizada com a manobra da inclinação da cabeça e elevação do queixo (figura 2) e, se houver suspeita de trauma, a manobra de elevação do ângulo da mandíbula (figura 3). Figura. 2 – Manobra da inclinação da cabeça e elevação do queixo. Figura.3 – Manobra de elevação do ângulo da mandíbula. Quando o socorrista não conseguir realizar a manobra de elevação do ângulo da mandíbula e suspeitar de trauma cervical, sem evidência de lesão na cabeça, deve-se utilizar Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 38 a manobra de inclinação da cabeça e elevação do queixo, pois apenas 0,12 a 3,7% das vítimas apresentam lesão espinhal, sendo o risco elevado quando há lesão craniofacial ou Glasgow(poket mask) para realização das ventilações. A técnica de posicionamento e vedação da máscara de bolso à face da vítima deve ser realizada rapidamente. Depois disso, deve-se abrir a via aérea e realizar as ventilações em um segundo cada, sem causar hiperventilação. Ressalta-se que o socorrista não deve atrasar as compressões torácicas em favor da ventilação (Figura. 4). Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 39 Figura. 4 –Posicionamento, utilizando máscara de bolso com hiperextensão da cabeça. Ventilação com bolsa-válvula-máscara O uso da bolsa-válvula-máscara requer considerável prática e deve ser empregada na presença de dois socorristas: um responsável pelas compressões e outro por aplicar as ventilações com o dispositivo (figuras 5 e 6). Se disponível oxigênio complementar conecte-o na bolsa-válvula-máscara, assim que possível, de modo que ofereça maior porcentagem de oxigênio para a vítima. Figura. 5 – Demonstração da ventilação utilizando bolsa-válvula-máscara, com 1 socorrista Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 40 Figura. 6 – Demonstração da ventilação utilizando bolsa-válvula-máscara, com 2 socorristas Ventilação com via aérea avançada Quando uma via aérea avançada (p. ex., intubação endotraqueal, tubo esofagotraqueal, tubo laringeo ou máscara laríngea) estiver instalada, o primeiro socorrista deve administrar compressões torácicas contínuas e o segundo deve aplicar uma ventilação a cada 6 segundos (10 ventilações por minuto), em vítimas de qualquer idade. Assim, no caso de via aérea avançada posicionada, não se deve pausar as compressões para aplicar as ventilações. Desfibrilação Desfibrilação precoce é uma intervenção associada ao RCE com aumento das taxas de sobrevida e alta hospitalar. O tempo ideal para a aplicação do primeiro choque no caso de uma PCR em fibrilação ventricular (FV) compreende os primeiros 3 a 5 minutos da PCR. O DEA é um equipamento portátil, capaz de interpretar o ritmo cardíaco, selecionar o nível de energia e carga automaticamente, cabendo ao operador apenas pressionar o botão de disparo do choque, quando indicado pelo aparelho, após verificar que ninguém está em contato com a vítima. Os passos para utilização do DEA são descritos a seguir: 1. Ligue o DEA, apertando o botão on-off (alguns dispositivos ligam automaticamente ao abrir a tampa), isto ativará os alertas verbais que orientarão todas as etapas subsequentes Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 41 2. Conecte as pás (eletrodos) ao tórax desnudo da vítima, observando o desenho contido nas próprias pás do posicionamento correto (selecionar pás do tamanho correto, adulto ou pediátrico, para o tamanho/idade do paciente. Remover o papel adesivo protetor das pás). 3. Encaixe o conector das pás (eletrodos) ao aparelho. Em alguns aparelhos, o conector do cabo das pás já vem conectado. 4. Quando o DEA indicar “analisando o ritmo cardíaco, não toque no paciente”, solicitar para que todos se afastem e observar se há alguém tocando na vítima, inclusive se houver outro socorrista aplicando RCP. 5. Se o choque for indicado, o DEA emitirá a frase: “choque recomendado, afaste-se do paciente”. O socorrista que estiver manuseando o DEA deve solicitar para que todos se afastem, (anunciando rápido e em voz alta uma mensagem de “isolar o paciente”, “afastem-se, vou aplicar o choque no três: um, dois, três, choque” ou, simplesmente, “afastem-se”) observar se realmente não há ninguém (nem ele mesmo) tocando na vítima. 6. Pressionar o botão indicado pelo aparelho para aplicar o choque, o qual produzirá uma contração repentina dos músculos do paciente. 7. A RCP deve ser iniciada pelas compressões torácicas, imediatamente após o choque. A cada 2 (dois) minutos, o DEA analisará o ritmo novamente e poderá indicar novo choque, se necessário. Se não indicar choque, deve-se reiniciar a RCP imediatamente, caso a vítima não retome a consciência. 8. Mesmo se a vítima retomar a consciência, o aparelho não deve ser desligado e as pás não devem ser removidas ou desconectadas até que o SME (Serviço Médico de Emergência) assuma o caso. 9. Se não houver suspeita de trauma e a vítima já apresentar respiração normal e pulso, o socorrista poderá lateralizar a vítima, porém deverá permanecer no local até que o SME chegue. Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 42 Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 43 Algoritmo de Suporte Básico de Vida para profission ais de saúde Verificar a segurança do local Avaliar responsividade da vítima, chamando-a e tocando-a nos ombros Se a vítima não responder, chamar por ajuda. Ligue 192 e solicitar um DEA Verificar a respiração e checar o pulso carotídeo simultaneamente (em 5 a 10 segundos) A vítima não respira (ou somente gasping) e pulso ausente Iniciar ciclos de 30 compressões e 2 ventilações Chegada do DEA Seguir os passos do DEA e analisar do ritmo cardíaco Chocável Administrar o choque. Reiniciar RCP, iniciando pelas compressões torácicas por 2 minutos A cada 2 minutos o DEA realizará nova análise de ritmo. Seguir as instruções do DEA. Trocar as funções dos socorristas a cada 2 minutos para manter a qualidade da RCP Manter a RCP e análise do DEA até que o SAV assuma ou a vítima se movimente. Manter o DEA ligado e as pás conectadas Não Chocável Reiniciar RCP, iniciando pelas compressões torácicas por 2 minutos A vítima não respira (ou somente gasping) e pulso presente Realizar 1 ventilação a cada 5-6 segundos e checar pulso a cada 2 minutos Se após 2 minutos a vítima NÃO tiver pulso, iniciar RCP Em ambiente intra-hospitalar, solicitar ajuda e o carrinho de emergência DEA: Desfibrilador Externo Automático; RCP: Ressuscitação Cardiopulmonar; SAV: Suporte Avançado de Vida Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 44 7. Suporte Avançado de Vida no Adulto No ambiente intra-hospitalar, grande parte dos adultos apresenta PCR em ritmo inicial de AESP (37%) e assistolia (39%). Os ritmos de Fibrilação Ventricular (FV) e Taquicardia Ventricular sem pulso (TVSP) são responsáveis por 23% a 24% dos eventos neste ambiente, com uma sobrevida geral considerando todos os ritmos de PCR de 18%. Entretanto, no ambiente extra-hospitalar, a maior parte das PCRs, (80% aproximadamente), ocorre em ritmo FV/TV sem pulso. Os índices de reversão inicial desses ritmos são encorajadores, mas as taxas de sobrevida a alta hospitalar permanecem em torno de 5%. É fundamental que haja um suporte básico precoce, um eficiente e adequado suporte avançado seguido de recursos para oferecer cuidados após RCE. A finalidade é direcionada para alta hospitalar com qualidade de vida e redução dessas taxas de mortalidade. Sinalizando aqui a necessidade reforçar todos os elos da cadeia de ressuscitação. A divulgação do conhecimento através de treinamento em larga escala para a população, seja ela leiga ou composta por profissionais de saúde, é fundamental e necessária. Manejo da via aérea Com a chegada do SAVC, a escolha do melhor método de ventilação deve ser feita com base na experiência do socorrista, sendo aceitável a utilização do dispositivo de bolsa- válvula-máscara, isoladamente ou em combinação com a cânula orotraqueal, assim como a máscara laríngea. O uso de oxigênio a 100% é razoável durante as manobras de RCP com o objetivo de aumentar a oxi-hemoglobina arterial e a oferta de oxigênio. Embora a exposição prolongada à oxigenação a 100% seja tóxica, não existem evidências que ocorra toxicidade com a exposição breve, como no cenário da RCP em adultos. Manejo da parada cardíaca A PCR pode ser causada por quatro ritmos: FV, TV sem pulso, AESP e assistolia. A sobrevida dos pacientes depende da integração do SBV, SAV e dos cuidados pós-ressuscitação.Desta forma, as pausas durante as manobras de RCP devem ser minimizadas e restritas a checagem de ritmo, desfibrilação, checagem de pulso quando houver ritmo organizado e breve Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 45 pausa para obtenção e confirmação de uma via aérea avançada. A monitorização da qualidade da RCP é fortemente recomendada. O atraso no início da administração de vasopressores para além dos primeiros cinco minutos de PCR, bem como a demora em instalar via aérea avançada, podem estar associados ao pior prognóstico. Durante a ressuscitação, o socorrista deve tentar identificar a causa da PCR - diagnóstico diferencial. A maioria das causas pode ser resumida na memorização mnemônica "5 Hs e 5 Ts", como descrito na Tabela 1. Tabela 1: Principais causas de PCR: "5Hs e 5Ts" Hs Ts Hipóxia Tóxicos Hipovolemia Tamponamento cardíaco H+ (acidose) Tensão no tórax (pneumotórax hipertensivo) Hiper/hipocalemia Trombose coronária (infarto agudo do miocárdio) Hipotermia Tromboembolismo pulmonar Tratamento da PCR conforme o ritmo FV/TVSP Para pacientes em FV/TVSP, a prioridade deve ser a desfibrilação, mais precocemente possível. A duração da arritmia é fator prognóstico para o sucesso da desfibrilação, o ideal é que a desfibrilação ocorra em até 10 a 30 segundos do início da FV, pelo grau de organização do impulso elétrico. Considerando o ambiente hospitalar, é aceitável que a desfibrilação ocorra em até três minutos do início da PCR. Após 2 min, todos devem se afastar do paciente para que o ritmo seja reavaliado. Idealmente, a pausa para análise do ritmo não deve exceder 10 segundos. Os socorristas responsáveis pelas compressões devem-se revezar a fim de manter a boa qualidade da RCP. Caso o paciente ainda apresente ritmo chocável (FV ou TVSP), nova desfibrilação deve ser aplicada, seguida por novo ciclo de compressões e ventilações por dois minutos. Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 46 Durante a reanimação, deve ser considerada a administração de adrenalina e antiarrítmicos, bem como identificar e tratar causas potencialmente reversíveis (Algoritmo de FV/TVSP). Medicações utilizadas na FV/TVSP Após o primeiro choque, compressões torácicas e ventilações devem ser executadas por dois minutos, seguidas por checagem de ritmo ao monitor. Se a FV/TV persistir, administre um novo choque de alta energia (200 J para desfibriladores bifásicos ou 360J para desfibriladores monofásicos) e reinicie a RCP por 2 minutos. A adrenalina deverá ser administrada, na dose de 1 mg a cada 3 a 5 minutos (ou cada 2 minutos), após o segundo choque, ou seja depois de avaliar que a FV é refratária ao primeiro choque e às manobras de RCP de alta qualidade. Na PCR com ritmos chocáveis, não Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 47 houve benefício com a administração precoce de Epinefrina, mas houve associação negativa de desfecho com administração tardia. Caso haja persistência de FV ou TVSP, apesar da RCP, desfibrilação e adrenalina, indica-se um antiarrítmico, podendo ser amiodarona (antiarrítmico de escolha) ou lidocaína. A amiodarona (classe IIb, nível de evidência A), um antiarrítmico classe III de Vaughan- Williams, é a medicação antiarrítmica de escolha a ser considerada para o tratamento da FV/TVSP refratária, após a administração da adrenalina e nova desfibrilação. A amiodarona deverá ser administrada em bolus e em 2 doses: a primeira de 300 mg e uma segunda de 150mg. Entre a primeira e a segunda dose, deve-se intercalar uma dose de 1 mg de adrenalina. A lidocaína pode ser considerada uma alternativa à amiodarona para VF / TVSP. AESP E ASSISTOLIA São ritmos em que a desfibrilação não está indicada. O tratamento consiste em RCP de alta qualidade, administração de adrenalina e tratamento das causas reversíveis (Algoritmo de AESP e Assistolia). Assistolia, como ritmo inicial de parada, está associada a um prognóstico ruim. Entre os pacientes que apresentam o quadro, somente cerca de 7% recebem alta hospitalar. A assistolia geralmente é um evento secundário na evolução tardia da FV, ou via final de hipóxia prolongada, acidose ou necrose miocárdica. Uma vez que a amplitude do traçado da FV no monitor é dependente das reservas de ATP do miocárdio, a visualização de uma linha reta deve levantar duas hipóteses: assistolia ou FV fina. Deixar de desfibrilar a FV impede o RCE, desfibrilar a assistolia piora seu prognóstico, portanto, o diagnóstico de assistolia sempre deve ser confirmado. Chamamos de Protocolo de linha reta a verificação dos cabos de monitorização, se estão devidamente conectados, aumento o ganho do aparelho (em ganho máximo, espera-se identificar com facilidade uma FV) e mudança da derivação de monitorização, seja no aparelho, seja mudando a posição das pás para abaixo da clavícula esquerda e paraesternal direita. Caso a linha reta se mantenha, o ritmo é assistolia. Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 48 Todas essas manobras de confirmação na avaliação de uma linha reta devem ser feitas em menos de 10 segundos, pois as manobras de RCP estarão suspensas. Quando assistolia já é o ritmo em tratamento (o protocolo da linha reta foi realizado anteriormente), pode-se checar apenas a posição dos cabos. Após dois minutos contínuos de RCP, se houver um ritmo organizado no monitor, procede-se à checagem do pulso carotídeo por 5 a 10 segundos. Caso não haja pulso palpável identifica-se AESP. Medicações utilizadas na AESP e Assistolia Para ritmo de assistolia ou AESP, a adrenalina deve ser administrada assim que possível com o objetivo de aumentar o fluxo sanguíneo cerebral e miocárdico. A dose é de 1 mg a cada 3 a 5 minutos. Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 49 A vasopressina não mostrou benefício em relação à adrenalina e não deve ser utilizada. O uso rotineiro de atropina também não é recomendado. Tratamento para causas reversíveis AESP e assistolia podem ser causadas por condições reversíveis e tratadas com sucesso, se essas condições forem detectadas. Durante os dois minutos de RCP, os socorristas devem pensar nos “5H e 5T” (descritos anteriormente). A ecocardiografia pode ser utilizada durante a PCR, para auxiliar no diagnóstico de causas reversíveis da PCR, como tamponamento cardíaco, pneumotórax, hipovolemia, tromboembolismo pulmonar. Para tanto, é necessário um profissional qualificado e o uso da ecocardiografia não deve interferir no atendimento da PCR. MONITORIZAÇÃO DURANTE A PCR Parâmetros mecânicos Dispositivos mecânicos de feedback de RCP podem auxiliar na melhoria da qualidade das técnicas de RCP. Estes podem ser desde dispositivos simples, como os metrônomos visuais ou auditivos, até mais sofisticados, como monitores desfibriladores que fornecem retorno da frequência, profundidade e pausa das compressões torácicas, todos os parâmetros em tempo real. Parâmetros fisiológicos Dióxido de Carbono Exalado no Final da Expiração A monitorização de parâmetros fisiológicos durante da RCP tem sido recentemente encorajada, podendo prover informações importantes sobre a condição do paciente e sua resposta às manobras. A maioria dos parâmetros utilizados se relacionam com o débito cardíaco. Uma elevação abrupta de algum dos parâmetros pode indicar o RCE. Embora nenhum estudo clínico tenha avaliado se seguir parâmetros fisiológicos durante a RCP melhora prognóstico, quando disponíveis devem ser considerados para monitorar e otimizar a RCP, guiar a infusão de vasopressores e detectar o RCE (Classe IIb Nível de evidência B). Suporte Avançado de Vida em Endoscopia - SAVE 50 O dióxido de carbono exalado no final da expiração (expressado em mmHg - PETCO2), detectado pela capnografia quantitativa em pacientes intubados, tem sido correlacionado com