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DIREITO PROCESSUAL PENAL 
Dr. Wagner Camargo Gouveia 
Gouveiaernandes 
GUIA DA 
DISCIPLINA 
 
 
 
1 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
1. PRINCÍPIOS E GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO 
PENAL 
 
Objetivos: 
 Identificar o conceito de Direito Processual Penal; 
 Conhecer as principais características e os princípios que norteiam a aplicação 
do Direito Processual Penal. 
 
Palavras-Chave: Princípios; Processo; Características. 
 
O Direito Processual Penal é o ramo jurídico que estuda o conjunto de princípios e 
regras que envolvem a aplicação jurisdicional do Direito Penal material. Vamos iniciar este 
primeiro bloco com a conceituação do Processo Penal e os fundamentos de sua existência. 
Em seguida, passaremos a analisar os princípios que regem a prática do Direito Processual 
Penal, como o contraditório, a ampla defesa, o devido processo legal e a presunção da 
inocência. 
 
Fonte da imagem: http://www.diariojurista.com/2013/11/controversia-curtir-processo-penal-e.html 
 
1.1. Conceito de Direito Processual Penal 
O Direito Processual Penal é o ramo do direito público que normatiza a função do 
Estado de julgar as infrações penais. Em outras palavras, o processo penal pode ser visto 
como o meio que possibilita o exercício do direito de punir do Estado (o Direito Penal). O 
processo funciona por meio de um complexo de atos coordenados que visa à apuração de 
infrações penais e à aplicação das respectivas penas. Em suma, o Processo Penal visa 
concretizar o direito estatal de punir, ele materializa o Direito Penal. 
http://www.diariojurista.com/2013/11/controversia-curtir-processo-penal-e.html
 
 
2 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Dessa definição, extraímos algumas características. Trata-se de um ramo do Direito 
autônomo, com normas e princípios próprios. O Direito Processual Penal é instrumental, 
pois operacionaliza o exercício do Direito Penal. A finalidade a que se propõe o Direito 
Processual Penal é a de tornar efetivo e atuante o Direito Penal. 
 
A ideia de que toda pena desnecessária seria tirânica não é algo novo. Desde a 
Revolução Francesa e do Iluminismo já existia o entendimento de que a pena tem que ser 
necessária. Assim, uma vez constatada a culpabilidade do agente, que é o primeiro 
fundamento da pena, o juiz precisa avaliar a necessidade concreta de imposição da pena, 
nos termos do que dispõe o artigo 59 do Código Penal (o juiz deve aplicar a pena suficiente 
e necessária para a prevenção e reprovação do crime). 
 
Há casos em que o juiz reconhece a culpabilidade do agente, reconhece o fato 
punível, mas deixa de aplicar a pena por ser desnecessária. É o caso do perdão judicial, 
aplicável, por exemplo, no caso do pai que mata filho em acidente de trânsito culposo. O 
juiz irá proferir uma sentença que reconhece o crime e ao mesmo tempo a extinção da 
punibilidade (em razão do perdão judicial). 
 
1.2. Princípios e Garantias Constitucionais 
 
1.2.1. Princípio da Intervenção Mínima ou da Necessidade 
O Princípio da Intervenção Mínima, também chamado de princípio da 
necessidade, exerce enorme influência sobre o Direito Processual Penal (assim como no 
próprio Direto Penal). Por limitar um dos bens mais caros aos cidadãos, que é o da 
liberdade, o processo penal é apenas indicado quando outras esferas do direito não forem 
suficientes. Do ponto de vista da pena, esse princípio tem sido cada vez mais aplicado. 
Assim, sempre que há possibilidade de aplicação de outras formas de pena que não a 
privativa de liberdade, que possam funcionar de forma eficaz, o juiz deverá aplica-las. 
 
1.2.2. Sistemas acusatório e inquisitório 
Há diferentes tipos de processo penal. O primeiro deles é o inquisitório. Nessa 
modalidade, o processo é sigiloso, não contraditório e reúne em uma mesma pessoa as 
funções de acusar, defender e julgar. O réu, nesse sistema é mero objeto de persecução e 
comumente a tortura é aceita. 
 
 
3 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
O segundo sistema que destacamos é o acusatório: é contraditório, público, imparcial 
e assegura ampla defesa. Nesse sistema há distribuição das funções de defender, de 
acusar e de julgar a órgãos distintos. É o sistema que adotamos atualmente. 
 
Por fim, o sistema misto envolve uma fase inicial que é inquisitiva, em que há uma 
investigação preliminar e uma instrução preparatória. Em seguida, há uma fase final, na 
qual se procede ao julgamento com todas as garantias do processo acusatório. 
 
1.3. Princípio da Jurisdicionalidade 
O princípio também é conhecido como reserva da jurisdição. Significa que as práticas 
de determinados atos podem apenas resultar de decisão de um juiz. A discriminação 
material de competência jurisdicional está fixada no texto da Constituição Federal. 
 
Assim, por exemplo, no caso das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI), 
embora possuam “poderes de investigação próprios das autoridades judiciais”, pelo 
princípio da Jurisdicionalidade é que se veda às CPIs a prática de atos exclusivos do 
magistrado, tais como: 
 A prisão, salvo flagrante (CF, art. 5°, LXI); 
 A busca domiciliar (CF, art. 5°, X); - a interceptação ou escuta telefônica (CF, art. 5°, 
XII); 
 Exercer o poder geral de cautela judicial: isso significa que a CPI não pode adotar 
nenhuma medida assecuratória real ou restritiva ao direito de liberdade, incluindo-se 
a apreensão, sequestro ou indisponibilidade de bens ou mesmo a proibição de se 
afastar do país. 
 
1.3.1. Imparcialidade e poderes instrutórios 
Não haveria justiça se o magistrado designado para um processo fosse parcial ou 
se não se colocasse em situação de equidistância entre as partes. 
 
A isenção, em relação às partes e aos fatos da causa é condição indispensável para 
que se tenha um julgamento justo. O juiz deve se colocar entre os litigantes e acima deles: 
é a primeira condição para que possa exercer sua função dentro do processo. 
 
A imparcialidade do juiz é pressuposto para que a relação processual seja válida. 
Nesse sentido é que se diz que o órgão jurisdicional deve ser subjetivamente capaz. 
 
 
4 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
O juiz subjetivamente capaz é aquele que não tem sua imparcialidade afastada pelo 
impedimento ou pela suspeição. A imparcialidade do juiz resulta em garantia de ordem 
pública. É garantia não só das partes, que terão o conflito solucionado de forma justa, como 
também do próprio Estado, que possui interesse em que lei seja aplicada corretamente, e 
do próprio juiz, que ficará coberto de qualquer suspeita sobre seus atos (arbítrio ou 
parcialidade). Para garantir a imparcialidade do juiz, a Constituição lhe estipula garantias 
(CF, art. 95); vedações (art. 95, § único) e proíbe juízos e tribunais de exceção (art. 5º, inc. 
XXXVII). No mesmo sentido, o Código de Processo Civil, em seus artigos 134 e 135, 
enumera os motivos de impedimento e de suspeição do juiz. 
 
A imparcialidade do juiz é uma garantia de justiça para as partes. Por isso, têm elas 
o direito de exigir um juiz imparcial; e a esse direito subjetivo da parte, corresponde o dever 
do Estado, que reservou para si o exercício da função jurisdicional, de agir com 
imparcialidade na solução das causas que lhe são submetidas. 
 
1.4. Princípio do Devido Processo Legal 
O devido processo legal está previsto no art. 5°, inciso LIV, da Constituição Federal. 
O dispositivo diz que “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido 
processo legal”. Em outras palavras, trata-se do direito de não ser privado da liberdade ou 
de algum bem, sem a garantia que supõe a existência de um processo desenvolvido nos 
termos legais. 
 
Esse princípio está intrinsicamente relacionado a outros princípios como o 
contraditório, a igualdade das partes,o contraditório é postergado para o 
processo. 
 
O Princípio da Ampla Defesa implica em duas regras básicas: a) Possibilidade de 
produzir provas; b) Possibilidade de recursos. 
 
 
38 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Já o Princípio da Verdade Real relaciona-se à regra da liberdade de provas da 
seguinte forma: todos os meios probatórios em princípio são válidos para comprovar a 
verdade real. Mas esta regra é absoluta? Não. Esta regra não é absoluta, existem exceções, 
pois não são admitidas: 
a) Prova ilícita: são as provas adquiridas por meios ilícitos. Ex.: prova mediante 
tortura. 
b) Prova Ilegítima: são as provas colhidas com violação de normas processuais. 
Ex.: busca domiciliar sem ordem do juiz. 
 
O Princípio da Presunção de Inocência postula que todo acusado é presumido 
inocente até que se comprove a sua culpabilidade. Dele decorrem duas regras: 
 
a) Cabe a quem acusa o ônus de provar a culpabilidade; 
b) Regra de tratamento ao acusado: ele não poder ser tratado como condenado. 
 
Mas, tendo em vista este princípio, pode o acusado ser preso durante o processo? 
Seria está prisão inconstitucional? O acusado pode sim ser preso durante o processo, 
desde que o juiz fundamente a necessidade da sua prisão cautelar. Isso não fere nenhum 
princípio constitucional. 
 
Outro princípio relevante é o Princípio das fundamentações das decisões. Ele se 
funda na garantia que tem o acusado de saber quais os motivos do convencimento do juiz, 
ou seja, quais os motivos que levaram o juiz a decidir desta ou daquela maneira. É por meio 
deste princípio, aliado ao princípio da publicidade, que o acusado pode exercer o amplo 
exercício de princípios como o contraditório e a ampla defesa. 
 
Alguns autores também destacam a existência de alguns princípios específicos 
como: 
a) Imediatidade do juiz: a prova deve ser colhida perante o juiz e, como regra, esse 
juiz irá julgar (identidade física do juiz); 
b) Concentração: em regra as provas devem ser produzidas em uma única audiência; 
- Comunhão das provas: uma vez produzida, a prova pode ser utilizada por ambas 
as partes; ela não pertence apena à parte que a produziu. 
 
 
 
 
39 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
6.3. Provas Ilegítimas e Ilícitas 
Outro princípio que merece grande destaque no processo penal é o Princípio da 
inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos. Antes da Constituição Federal 
atual (CF/88), não havia, no país, regras claras impeditivas de produção da prova obtida 
por meio ilícito. A única regra nesse sentido era o Artigo 233 do CPP “As cartas particulares, 
interceptadas ou obtidas por meios criminosos, não serão admitidas em juízo”. 
 
No entanto, após a Carta Magna de 1988, tais condutas não são mais possíveis, em 
face do disposto no art. 5°, LVI. Assim, uma busca e apreensão feita de forma ilegal, uma 
interceptação telefônica, uma gravação de conversa, uma fotografia de pessoa ou pessoas 
em seu círculo íntimo, uma confissão obtida por meios de tortura e, enfim, toda e qualquer 
prova obtida ilicitamente, seja em afronta à Constituição, seja em desrespeito ao direito 
material ou processual, não será admitida em juízo. 
 
Trata-se de uma demonstração de respeito não só à dignidade humana, como, 
também, à seriedade da Justiça e ao ordenamento jurídico. 
 
6.4. Princípio da Contaminação 
O princípio da contaminação condena a prova ilícita por derivação. A prova ilícita 
por derivação é aquela que é lícita se tida isoladamente, mas que por se originar de uma 
prova ilícita, contamina-se também de ilicitude (Artigo 157, § 1º, do CPP). 
 
O princípio se baseia em uma teoria com origem no Direito norte-americano, 
chamada “fruits of poisonous tree”, ou seja, teoria dos “frutos da árvore envenenada”. Trata-
se de uma metáfora que ilustra com propriedade a ideia da prova ilícita: se a árvore é 
envenenada, seus frutos serão contaminados. 
 
Mas há exceções. Se não evidenciado o nexo de causalidade entre a prova 
subsequente e a prova anterior tida como ilícita, então ela será considerada lícita. Da 
mesma forma, se a prova em questão puder ser obtida por fonte independente da ilícita, 
também não será contaminada (Artigo 157, § 1º, do CPP). 
 
6.5. Teorias da Fonte Independente e descoberta 
A teoria da fonte independente postula que se o órgão de persecução penal 
demostrar que alcançou de forma legítima novos elementos com base em uma fonte 
 
 
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Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
autônoma de prova, ou seja, que não tenha qualquer relação de dependência, decorrência 
ou vínculo causal com a prova originariamente ilícita, tais dados probatórios são 
admissíveis, porque não foram contaminados pelo vício da ilicitude originária. 
 
Há ainda a teoria do descobrimento inevitável. De acordo com ela, não se impede 
a admissão de provas obtidas por meios ilícitos se essas provas teriam sido descobertas 
inevitavelmente por meio de atividades investigatórias lícitas, sem qualquer relação com a 
violação. 
 
 
 
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 22ed. São Paulo: Saraiva, 2015. 
DELMANTO, Celso; DELMANTO JR., Roberto; DELMANTO, Roberto. Código 
Penal Comentado. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010. 
GARCIA, Ismar Estulano. Inquérito – Procedimento Policial. 12ª. Ed. Goiânia: 
AB, 2009. 
 
 
 
 
41 Direito Processual Penal 
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7. PROVAS EM ESPÉCIE NO PROCESSO PENAL 
 
Objetivos: 
 Explorar os princípios e teorias que orientam as provas no nosso processo 
penal; 
 Analisar cada uma das principais espécies de prova. 
 
Palavras-chave: Provas; Partes: Documentos 
 
Eugênio Pacelli Oliveira define prova como reconstrução dos fatos investigados no 
processo, buscando a maior coincidência possível com a realidade histórica, isto é, com a 
verdade dos fatos, tal como efetivamente ocorridos no espaço e no tempo. (OLIVEIRA, 
2003, p. 301). 
 
7.1. Prova Pericial 
É o exame realizado por profissional com conhecimentos técnicos, a fim de contribuir 
com o julgador na formação de sua convicção. O laudo pericial é o documento elaborado 
pelos peritos, com base no que foi examinado na perícia. 
 
A perícia pode ser realizada na fase de inquérito policial ou do processo, a qualquer 
dia e horário. Os peritos têm o prazo de dez dias para a elaboração do laudo, prorrogável 
em casos excepcionais. A autoridade que determinar a perícia e as partes poderão oferecer 
quesitos até o ato (quesitos são perguntas a serem respondidas). 
 
A perícia deve ser feita por perito oficial, com diploma de curso superior. Se a perícia 
for complexa, envolvendo mais de uma área de conhecimento especializado, poderão ser 
designados dois peritos, nos termos do art. 159, § 7º, do CPP. Nota-se que tal designação 
é excepcional; a regra é a realização do exame por apenas um perito. 
 
Se não houver perito oficial, será elaborada a perícia por duas pessoas idôneas, 
portadoras de diploma de curso superior e, de preferência, com habilitação na área em que 
for realizado o exame. 
 
 
42 Direito Processual Penal 
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Além de oferecer quesitos, as partes podem indicar assistente técnico. Este deve ser 
admitido pelo juiz e atuará após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelo perito 
oficial. 
 
7.2. Exame de Corpo de Delito 
É o conjunto de vestígios deixados pelo crime. O exame de corpo de delito, direto ou 
indireto, é indispensável nas infrações que deixam vestígios, não podendo supri-lo nem 
mesmo a confissão do acusado, nos termos do art. 158 do Código de Processo Penal. 
Exceção: de acordo com o art. 167 do Código de Processo Penal, se não for possível a 
realização do exame, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhalpoderá 
suprir-lhe a falta. 
 
Se não for possível o exame direto, isto é, no próprio corpo do delito, admite-se 
a realização pela via indireta, por meio de elementos periféricos, como a análise de 
ficha clínica de paciente que foi atendido em hospital. 
 
7.3. Interrogatório 
Interrogatório é o ato no qual o acusado é ouvido sobre a imputação a ele dirigida. 
Tem dupla natureza jurídica: é meio de prova, pois assim inserido no Código de Processo 
Penal e porque leva elemento de convicção ao julgador; é também meio de defesa, pois o 
interrogatório é o momento essencial para que o acusado possa exercer sua autodefesa, 
dizendo o que quiser e o que entender que lhe seja favorável. 
 
O interrogatório é ato não preclusivo, isto é, pode ser realizado a qualquer tempo. É 
permitida também a renovação do ato a todo tempo, de ofício pelo juiz ou a pedido das 
partes. 
 
O acusado será interrogado sempre na presença de seu defensor. Se não tiver um, 
deve ser nomeado um defensor público ou um defensor dativo, nem que seja apenas para 
acompanhar o ato. Antes do interrogatório, o juiz deve assegurar o direito de entrevista 
reservada com seu defensor. Antes ainda de se iniciar o ato, o acusado deve ser alertado 
do seu direito ao silêncio, podendo se recusar a responder às perguntas, sem que isso seja 
utilizado em seu desfavor (art. 5º, LXIII, da CF e art. 186 do CPP). 
 
 
43 Direito Processual Penal 
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A regra para o interrogatório do réu preso é que ele seja realizado no 
estabelecimento prisional, em sala própria, desde que seja garantida a segurança para os 
profissionais que ali estarão presentes e a publicidade do ato. 
 
7.4. Confissão 
Consiste na aceitação da acusação por parte do acusado. A confissão não é tida 
como prova de valor absoluto. Veja que uma pessoa pode confessar um crime que não 
cometeu por vários motivos (ex.: para proteger alguém, porque está sendo ameaçado, para 
obter vantagem financeira, etc). Por isso, ela deve ser avaliada em conjunto com os demais 
elementos de prova do processo, verificando-se sua compatibilidade ou concordância com 
eles. 
 
A confissão ocorre normalmente no ato do interrogatório, mas pode também ser 
realizada em outro momento do processo. Não existe confissão ficta no processo penal, ou 
seja, mesmo que o acusado não exerça a sua autodefesa, não se presumem verdadeiros 
os fatos a ele imputados. 
 
Estipula ainda o Código que a confissão será divisível, ou seja, o juiz pode aceitá-la 
apenas em parte, e será também retratável, isto é, o acusado pode voltar atrás na sua 
admissão de culpa. 
 
Costuma-se apontar duas espécies de confissão: a) simples, na qual o réu apenas 
reconhece a prática delituosa, sem qualquer elemento novo; b) qualificada, em que o réu 
reconhece que praticou o crime, mas alega algo em seu favor, como alguma causa 
excludente de ilicitude ou de culpabilidade. 
 
7.5. Das Declarações do Ofendido 
Sempre que possível o juiz deverá ouvir o ofendido, pois em muitos casos ele pode 
fornecer informações essenciais em relação ao fato criminoso. Se for regularmente intimado 
e não comparecer, o réu poderá ser conduzido de forma coercitiva. 
 
O ofendido será indagado sobre as circunstâncias de crime, se sabe quem é o autor 
e quais as provas que pode indicar, por exemplo. 
 
 
44 Direito Processual Penal 
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O ofendido será comunicado dos atos processuais relativos ao ingresso e à saída do 
acusado da prisão, à designação de data para audiência e à sentença e respectivos 
acórdãos que a mantenham ou modifiquem. 
 
O Código de Processo penal se preocupa também com a proteção do ofendido, 
dispondo que antes do início da audiência e durante a sua realização, será reservado 
espaço separado para ele. O juiz é obrigado a tomar providências necessárias à 
preservação da intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido, podendo, inclusive, 
determinar o segredo de justiça em relação aos dados, depoimentos e outras informações 
constantes dos autos a seu respeito para evitar sua exposição aos meios de comunicação. 
 
Caso o juiz entenda necessário, poderá encaminhar o ofendido para atendimento, 
especialmente nas áreas psicossocial, de assistência jurídica e de saúde, à custa do 
ofensor ou do Estado. 
 
7.6. Da Prova Testemunhal 
Testemunhas são as pessoas, diversas das partes, que conhecem e são capazes 
de narrar os fatos em comento na causa penal. 
 
Características da prova testemunhal: 
a) oralidade: o depoimento é oral, não pode ser trazido por escrito (a lei apenas permite 
a consulta a apontamentos); 
b) objetividade: a testemunha deve responder o que sabe a respeito dos fatos, sem 
emitir sua opinião a respeito da causa; 
c) retrospectividade: a testemunha responde sobre fatos já ocorridos e não faz 
previsões. 
 
Toda pessoa poderá ser testemunha. A regra geral, porém, comporta algumas 
exceções. Estão dispensados de depor, o cônjuge, o ascendente, o descendente e os afins 
em linha reta do réu. Eles só serão obrigados a depor caso não seja possível, por outro 
modo, obter-se a prova. Neste caso, eles não terão compromisso de dizer a verdade; serão 
ouvidos apenas como informantes. O mesmo ocorre com os doentes mentais e as pessoas 
menores de 14 anos. 
 
 
45 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Estão proibidas de depor as pessoas que devam guardar sigilo em razão de função, 
ministério, ofício ou profissão, salvo se, desobrigadas pelo interessado, quiserem dar seu 
depoimento (ex. psicólogo, advogado). 
 
Tecnicamente, testemunha é aquela pessoa que faz a promessa, sob o comando do 
juiz, de dizer a verdade sobre aquilo que lhe for perguntado, ou seja, a que assume o 
compromisso de dizer a verdade, sob pena de ser processada pelo crime de falso 
testemunho. As demais pessoas que venham a depor, sem prestar referido compromisso, 
conforme já adiantado anteriormente, são denominadas informantes do Juízo ou ainda 
declarantes. 
 
Na audiência, as testemunhas deverão ser ouvidas sem que uma ouça o depoimento 
da outra, para que não exista a possibilidade de influência. Se o juiz verificar que a presença 
do réu poderá causar humilhação, temor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao 
ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a inquirição por 
videoconferência e, somente se não for possível, determinará a retirada do réu da sala de 
audiências, permanecendo seu defensor. 
 
A testemunha suspeita de parcialidade ou indigna de fé poderá ser contraditada, 
devendo o juiz, se for o caso, dispensar a testemunha ou ouvi-la como informante. 
 
7.7. Reconhecimento de Pessoas e Coisas 
No reconhecimento, uma pessoa reconhece como certa a identidade de outra ou a 
característica de algo. Há um procedimento a ser seguido para o reconhecimento. Primeiro, 
a pessoa deve descrever aquele que será reconhecido. Sempre que possível o que será 
reconhecido deverá ser colocado junto com outras parecidas, para que o reconhecedor 
possa apontá-la, tomando-se cuidado para que uma não veja a outra, se houver temor. 
 
Entende-se que a semelhança deve ser física, não exatamente de fisionomia. Se 
forem várias as pessoas que irão fazer o reconhecimento, cada uma o fará em separado. 
 
Após o reconhecimento, é feito um termo por escrito, assinado pela autoridade, pela 
pessoa chamada para efetuar o reconhecimento e por duas testemunhas. O mesmo 
procedimento deve ser observado no que diz respeito e no que couber ao reconhecimento 
de coisas que tiverem relação com o delito. 
 
 
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7.8. Reconstituição do Crime 
A reconstituição do crime ou reprodução simulada dos fatos está prevista no art. 7º 
do Código de Processo Penal: 
 
"Para verificara possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado 
modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, 
desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública". 
 
Veja que se trata de um instituto usado pela autoridade investigadora para esclarecer 
determinados aspectos do fato supostamente delituoso de difícil elucidação quanto à forma 
de operar do agente. 
 
7.9. Acareação 
É o ato processual em que se colocam frente a frente duas ou mais pessoas que 
fizeram declarações conflitantes sobre o mesmo fato. Pode ser realizada entre acusados, 
testemunha e vítimas. 
 
É pressuposto essencial que as declarações já tenham sido prestadas, caso 
contrário não haveria possibilidade de se verificar ponto conflitante entre elas. 
 
7.10. Da Prova Documental 
O art. 232 do Código de Processo Penal considera como documentos: quaisquer 
escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares. Instrumento é o documento 
constituído especificamente para servir de prova para o ato ali representado, por exemplo, 
a procuração, que tem a finalidade de demonstrar a outorga de poderes. 
 
O Código adotou o conceito de documento em sentido estrito. Mas, em sentido amplo 
podem ser considerados documentos: vídeos, fotos, CDs etc. 
 
Em regra, os documentos podem ser juntados em qualquer fase do processo. Dispõe 
a lei processual, contudo, que não será permitida a juntada de documentos no Plenário do 
Júri, sem comunicar à outra parte com antecedência mínima de três dias. Se o juiz tiver 
notícia da existência de documento referente a ponto relevante do processo, providenciará 
a sua juntada aos autos, independentemente de requerimento das partes. Os documentos 
em língua estrangeira deverão ser traduzidos por tradutor público. 
 
 
47 Direito Processual Penal 
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7.11. Dos Indícios 
Indício, na definição legal, é toda circunstância conhecida e provada, a partir da qual, 
mediante raciocínio lógico, chega-se à conclusão da existência de outro fato. 
 
Em nosso Direito, a prova indiciária tem o mesmo valor que qualquer outra. Há quem 
sustente que um conjunto de fortes indícios pode levar à condenação do acusado, tendo 
em vista o sistema do livre convencimento motivado do juiz. 
 
7.12. Da Busca e Apreensão 
A busca e apreensão é a ordem determinada por autoridade policial ou pelo juiz que 
visa conservar pessoas ou bens relacionados ao fato criminoso. É uma medida cautelar e 
coercitiva que pode ser tomada antes mesmo da instauração do inquérito. Ela pode ser 
determinada de ofício ou a requerimento das partes. 
 
O art. 240 do CPP autoriza a busca domiciliar, quando houver fundadas razões, para, 
por exemplo: prender criminosos; aprender coisas achadas ou produtos de crime; 
apreender instrumentos ou produtos de falsificação ou de adulteração; apreender armas e 
munições ou outros instrumentos destinados à prática de crime; descobrir objetos 
necessários à prova de crime ou defesa do réu; entre outras. 
 
O agente deve respeitar os limites das garantias constitucionais da inviolabilidade de 
domicílio (art. 5°, XI da CF). Mas se o morador se recusar a permitir a execução da medida, 
a entrada da autoridade poderá ser forçada. A busca pessoal consiste na revista do corpo 
da pessoa, suas roupas e demais acessórios e deve ser realizada quando houver fundada 
suspeita de que alguém oculte consigo arma ou algum dos objetos mencionados nos 
parágrafos anteriores. Em regra, a busca pessoal em mulher deve ser feita por outra mulher, 
salvo se não havendo outra mulher, sua não execução possa acarretar em prejuízo da 
defesa. 
 
7.13. Da Cadeia de Custódia 
 
Art. 158-A. Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os procedimentos utilizados para 
manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, para 
rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte. 
 
 
48 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
§ 1º O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação do local de crime ou com procedimentos 
policiais ou periciais nos quais seja detectada a existência de vestígio. 
§ 2º O agente público que reconhecer um elemento como de potencial interesse para a produção da 
prova pericial fica responsável por sua preservação. 
§ 3º Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou recolhido, que se relaciona 
à infração penal. 
 Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas seguintes etapas: 
I - reconhecimento: ato de distinguir um elemento como de potencial interesse para a produção da prova 
pericial; 
II - isolamento: ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo isolar e preservar o ambiente 
imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de crime; 
III - fixação: descrição detalhada do vestígio conforme se encontra no local de crime ou no corpo de 
delito, e a sua posição na área de exames, podendo ser ilustrada por fotografias, filmagens ou croqui, sendo 
indispensável a sua descrição no laudo pericial produzido pelo perito responsável pelo atendimento; 
IV - coleta: ato de recolher o vestígio que será submetido à análise pericial, respeitando suas 
características e natureza; 
V - acondicionamento: procedimento por meio do qual cada vestígio coletado é embalado de forma 
individualizada, de acordo com suas características físicas, químicas e biológicas, para posterior análise, com 
anotação da data, hora e nome de quem realizou a coleta e o acondicionamento; 
VI - transporte: ato de transferir o vestígio de um local para o outro, utilizando as condições adequadas 
(embalagens, veículos, temperatura, entre outras), de modo a garantir a manutenção de suas características 
originais, bem como o controle de sua posse; 
VII - recebimento: ato formal de transferência da posse do vestígio, que deve ser documentado com, no 
mínimo, informações referentes ao número de procedimento e unidade de polícia judiciária relacionada, local 
de origem, nome de quem transportou o vestígio, código de rastreamento, natureza do exame, tipo do 
vestígio, protocolo, assinatura e identificação de quem o recebeu; 
VIII - processamento: exame pericial em si, manipulação do vestígio de acordo com a metodologia 
adequada às suas características biológicas, físicas e químicas, a fim de se obter o resultado desejado, que 
deverá ser formalizado em laudo produzido por perito; 
IX - armazenamento: procedimento referente à guarda, em condições adequadas, do material a ser 
processado, guardado para realização de contraperícia, descartado ou transportado, com vinculação ao 
número do laudo correspondente; 
 
 
49 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
X - descarte: procedimento referente à liberação do vestígio, respeitando a legislação vigente e, quando 
pertinente, mediante autorização judicial. 
 Art. 158-C. A coleta dos vestígios deverá ser realizada preferencialmente por perito oficial, que dará o 
encaminhamento necessário para a central de custódia, mesmo quando for necessária a realização de 
exames complementares. 
§ 1º Todos vestígios coletados no decurso do inquérito ou processo devem ser tratados como descrito 
nesta Lei, ficando órgão central de perícia oficial de natureza criminal responsável por detalhar a forma do 
seu cumprimento. 
§ 2º É proibida a entrada em locais isolados bem como a remoção de quaisquer vestígios de locais de 
crime antes da liberação por parte do perito responsável, sendo tipificada como fraude processual a sua 
realização. 
 Art. 158-D. O recipiente para acondicionamento do vestígio será determinadopela natureza do 
material. 
§ 1º Todos os recipientes deverão ser selados com lacres, com numeração individualizada, de forma a 
garantir a inviolabilidade e a idoneidade do vestígio durante o transporte. 
§ 2º O recipiente deverá individualizar o vestígio, preservar suas características, impedir contaminação 
e vazamento, ter grau de resistência adequado e espaço para registro de informações sobre seu 
conteúdo. 
§ 3º O recipiente só poderá ser aberto pelo perito que vai proceder à análise e, motivadamente, por 
pessoa autorizada. 
§ 4º Após cada rompimento de lacre, deve se fazer constar na ficha de acompanhamento de vestígio o 
nome e a matrícula do responsável, a data, o local, a finalidade, bem como as informações referentes ao novo 
lacre utilizado. 
§ 5º O lacre rompido deverá ser acondicionado no interior do novo recipiente. 
 Art. 158-E. Todos os Institutos de Criminalística deverão ter uma central de custódia destinada à 
guarda e controle dos vestígios, e sua gestão deve ser vinculada diretamente ao órgão central de perícia 
oficial de natureza criminal. 
§ 1º Toda central de custódia deve possuir os serviços de protocolo, com local para conferência, 
recepção, devolução de materiais e documentos, possibilitando a seleção, a classificação e a distribuição de 
materiais, devendo ser um espaço seguro e apresentar condições ambientais que não interfiram nas 
características do vestígio. 
 
 
50 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
§ 2º Na central de custódia, a entrada e a saída de vestígio deverão ser protocoladas, consignando-se 
informações sobre a ocorrência no inquérito que a eles se relacionam. 
§ 3º Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio armazenado deverão ser identificadas e deverão 
ser registradas a data e a hora do acesso. 
§ 4º Por ocasião da tramitação do vestígio armazenado, todas as ações deverão ser registradas, 
consignando-se a identificação do responsável pela tramitação, a destinação, a data e horário da ação. 
 Art. 158-F. Após a realização da perícia, o material deverá ser devolvido à central de custódia, devendo 
nela permanecer. 
Parágrafo único. Caso a central de custódia não possua espaço ou condições de armazenar 
determinado material, deverá a autoridade policial ou judiciária determinar as condições de depósito do 
referido material em local diverso, mediante requerimento do diretor do órgão central de perícia oficial de 
natureza criminal. 
 
 
 
 
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 22ed. São Paulo: Saraiva, 2015. 
DELMANTO, Celso. Código Penal Comentado. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010. 
GARCIA, Ismar Estulano. Inquérito – Procedimento Policial. 12ª. Ed. Goiânia: 
AB,2009. 
 
 
 
 
51 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
8. PRISÃO 
 
Objetivos: 
 Explorar os tipos de prisão existentes no ordenamento jurídico-penal 
 Identificar os procedimentos adotados para o cumprimento da prisão 
 
Palavras-chave: Prisão; espécies; pena 
 
Você sabe a diferença entre prisão cautelar e definitiva? Quando um juiz permite que 
um réu responda ao processo em liberdade, quais são os fundamentos legais para tanto? 
 
Primeiramente, vamos entender o conceito de prisão: Segundo Fernando da Costa 
Tourinho em sua obra Manual de Processo Penal, prisão pode ser entendida como a 
privação, mais ou menos intensa, da liberdade ambulatória. 
 
Esse conceito abrange duas espécies de prisão: A prisão-pena, aquela decorrente 
de sentença penal condenatória irrecorrível e a prisão sem o caráter de pena, também 
conhecida como genérica de prisão sem pena. 
 
Mas o que é prisão-pena ou definitiva? Prisão-pena é aquela resultante da 
condenação transitada em julgado. 
 
Conforme leciona Tourinho é o sofrimento imposto pelo Estado ao infrator, em 
execução de uma sentença penal, como retribuição ao mal praticado, a fim de reintegrar a 
ordem jurídica injuriada. 
 
A finalidade da pena é reeducar, inserir novamente e reintegrar o condenado na 
sociedade. 
 
Tratando - se de contravenção, a única pena restritiva deliberada é denominada 
prisão simples, que, nos termos do artigo 6°da Lei das Contravenções Penais, deve ser 
cumprida sem rigor penitenciário, em estabelecimento especial seção especial de prisão 
comum, em regime semiaberto ou aberto, casa de albergado. 
 
 
52 Direito Processual Penal 
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8.1. Prisão sem Pena 
Ao lado prisão decorrente de sentença penal condenatória irrecorrível, temos ainda 
a prisão sem pena, que, como o próprio nome diz, não decorre de condenação. 
 
8.2. Prisão Civil 
Atualmente no Brasil as únicas hipóteses previstas são para compelir alguém ao 
cumprimento da obrigação alimentar ou ao dever de devolver a coisa que está em seu 
poder em virtude de ser fiel depositário. O Supremo Tribunal Federal, em recente decisão, 
reconheceu estar revogada, conforme súmula 619 do Supremo Tribunal Federal, não mais 
se admitindo a prisão do depositário infiel, pouco importando tratar-se de depósito 
necessário ou voluntário. E em seguida foi editada a Súmula Vinculante n° 25 que dispõe: 
“É ilícita a prisão civil do depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito”. 
 
Em respeito ao princípio constitucional da inviolabilidade do domicílio, a prisão só 
pode ser efetuada no interior de residência durante o dia em razão de flagrante ou mediante 
apresentação de mandado judicial. Durante a noite, só pode haver prisão no interior da 
residência em caso de flagrante delito. 
 
Para que alguém seja recolhido à prisão, é necessário que seja apresentado o 
respectivo mandado ao diretor ou carcereiro responsável. O artigo 300 do CPP estabelece 
que os presos provisórios fiquem separados dos definitivamente condenados. 
 
Até o trânsito em julgado da sentença, o acusado deve ser considerado inocente. 
Por isso, a prisão temporária (ou processual) não pode ser encarada como um castigo. 
Assim, como já apontado, apenas a prisão cautelar é que pode ser considerada 
 
 
53 Direito Processual Penal 
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constitucional. Ela não busca castigar, mas serve como instrumento para garantir o bom 
andamento do processo. 
 
Os artigos do Código de Processo Penal que tratam da prisão provisória precisam 
ser analisados com muito cuidado, pois tal diploma foi elaborado em regime não 
democrático, no qual era aceita a prisão processual como juízo de antecipação de 
culpabilidade. 
 
8.3. Prisão Processual (Provisória) 
Provém de determinação judicial ou de flagrante, em virtude da persecução penal ou 
processo penal. Esse tipo de prisão visa garantir o bom desempenho do processo. Só é 
compatível com os princípios Constitucionais se tiver fundamento cautelar. 
 
8.4. Procedimentos Adotados para o Cumprimento da Prisão 
Contempla a carta Magna em seu artigo 5º, caput, que “todos são iguais perante a 
lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros 
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança 
e à propriedade”. 
 
Por isso, os atos praticados pela Polícia Judiciária devem ser pautados na 
legalidade, sem excessos, sob pena de causarem danos irreparáveis. 
 
Ensina o Professor Luiz Carlos Rocha que “o combate à criminalidade deve ser feito 
de uma posição eminentemente ética. O Delegado deve resguardar os direitos humanos, 
observando que o limite da função investigatória está nos direitos individuais do suspeito”. 
 
Segue dizendo que “uma sociedade hoje desperta para os seus direitos, - e o 
primeiro deles é a cidadania, o direito de ter direitos – já não convive com práticas abusivas”. 
 
Nos termos do artigo 282, I, do Código de Processo Penal, coma redação dada pela 
Lei 12.403/11 no que tange a aplicação das medidas cautelares, dever-se-á atentar, por 
primeiro, à sua necessidade para a aplicação da lei penal, para a investigação ou instrução 
criminal. E, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais. 
 
 
 
54 Direito Processual Penal 
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O artigo 319, II, VI e VII do Código de Processo Penal dispõe sobre esses casos. 
 Para você entender melhor, descrevo abaixo o texto legal: 
 
Artigo 319. São medidas cautelares diversas da prisão: (Alterado pela L-012.403-
2011) 
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, 
para informar e justificar atividades; (Alterado pela L-012.403-2011) 
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por 
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer 
distante desses locais para evitar o risco de novas infrações; (Alterado pela L-
012.403-2011) 
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por 
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer 
distante; (Alterado pela L-012.403-2011) 
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente 
ou necessária para a investigação ou instrução; (Acrescentado pela L-012.403-
2011) 
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o 
investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos; 
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza 
econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática 
de infrações penais; 
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com 
violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-
imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração; 
VIII - fiança, nas infrações que a admitem para assegurar o comparecimento a atos 
do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência 
injustificada à ordem judicial; 
IX - monitoração eletrônica. 
 
O artigo 283 do CPP estabelece que a ordem deverá ser fundamentada pela 
autoridade judiciária competente. Se não for dessa forma, se não houver ordem, o agente 
incidirá no crime de exercício arbitrário ou abuso de autoridade, definido como crime na 
letra “a” da Lei n° 4898/65. Excetuam-se os casos de prisão em flagrante, bem como a 
recaptura do réu foragido, a qual poderá ser efetuada por qualquer do povo. 
 
As formalidades previstas no artigo 285 do mesmo diploma legal estabelece que a 
ordem deverá ser escrita e que fará expedir o respectivo mandado. Deverá ser expedido 
com cópia, e o executor deverá entregar ao preso, logo depois da prisão um dos 
http://www.dji.com.br/leis_ordinarias/2011-012403/2011-012403.htm
http://www.dji.com.br/leis_ordinarias/2011-012403/2011-012403.htm
http://www.dji.com.br/leis_ordinarias/2011-012403/2011-012403.htm
http://www.dji.com.br/leis_ordinarias/2011-012403/2011-012403.htm
http://www.dji.com.br/leis_ordinarias/2011-012403/2011-012403.htm
http://www.dji.com.br/leis_ordinarias/2011-012403/2011-012403.htm
http://www.dji.com.br/leis_ordinarias/2011-012403/2011-012403.htm
http://www.dji.com.br/leis_ordinarias/2011-012403/2011-012403.htm
 
 
55 Direito Processual Penal 
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exemplares, com declaração do dia, hora e lugar da diligência. Do recebimento o preso 
deverá assinar a cópia, e se se recusar, não souber ou não puder escrever o fato será 
certificado na declaração que será assinada por duas testemunhas. Procedimento 
importantíssimo, pois garante o cumprimento da ordem e que a cópia foi entregue ao preso. 
 
Há casos em que a pessoa que deva ser presa se encontre em qualquer lugar do 
território nacional, exceto naquele do Juiz que expedir o mandado. 
 
O momento para a realização da prisão conforme estabelece o parágrafo 1º do artigo 
283 do CPP poderá ser em qualquer dia e a qualquer hora, respeitadas as restrições 
relativas à inviolabilidade do domicílio. 
 
O artigo 236 do Código Eleitoral dispõe que nenhum eleitor poderá ser preso cinco 
dias antes e 48 horas depois das eleições, salvo se for flagrante delito ou mandado de 
prisão decorrente de sentença penal condenatória irrecorrível. Tratando-se de mesários e 
candidatos, esse prazo é de 15 dias. 
 
Quando da realização da prisão, a regra geral é de que não será permitido o emprego 
da força. Mas o artigo 284 do Código de Processo Penal estabelece as exceções a esta 
regra. Poderá ser usada a força indispensável no caso de resistência; e, no caso de 
tentativa de fuga do preso. 
 
 
 
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 22ed. São Paulo: Saraiva, 2015. 
DELMANTO, Celso. Código Penal Comentado. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010. 
GARCIA, Ismar Estulano. Inquérito – Procedimento Policial. 12ª. Ed. Goiânia: 
AB,2009. 
 
 
 
 
56 Direito Processual Penal 
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9. PRISÃO DE NATUREZA PROCESSUAL - REQUISITOS E ESPÉCIES 
 
Objetivos: 
 Identificar as espécies de prisão provisória 
 Identificar o conceito de conceito de liberdade provisória 
 Conhecer os procedimentos adotados para se realizar a prisão em flagrante 
 
Palavras-chave: Prisão; Liberdade; Espécies. 
 
9.1. Prisão por Flagrante 
A Prisão em flagrante justifica-se pela possibilidade da reação social imediata à 
prática da infração e à captação, também imediata, da prova. Dessa forma, a necessidade 
de parar a agressão, a facilidade na coleta das provas e a força dos indícios são os aspectos 
que justificam à princípio a custódia cautelar. As hipóteses de flagrantes estão descritas no 
artigo 302 do Código de Processo Penal. 
 
Nas infrações permanentes, o agente é visto em flagrante delito enquanto não cessar 
a permanência. É o caso do sequestro, por exemplo. Caso não haja testemunhas com o 
condutor (quem conduz o acusado à prisão), é preciso que pelo menos duas pessoas que 
tenham testemunhado a apresentação do preso assinem o auto da prisão em flagrante. Da 
mesma forma, se o acusado se recusar a assinar o auto, duas testemunhas assinarão após 
a leitura do conteúdo em voz alta ao acusado. 
 
O auto tem o prazo de 24 horas para ser lavrado e devem ser respeitados os direitos 
constitucionais, tais como o direito de permanecer em silêncio. Também existe o dever de 
comunicação à família e ao juiz. O preso tem ainda, o direito a um advogado e a 
identificação dos responsáveis por seu interrogatório. Se esses direitos forem 
desrespeitados, caberá a medida de relaxamento da prisão em flagrante ou habeas corpus. 
 
Vale ainda conceituar algumas modalidades de flagrante: 
Flagrante Preparado ou Provocado: Ocorre quando o agente é induzido à prática 
de um crime pelo agente provocador (“vitima”, policial ou terceiro). De acordo com os 
julgados do Supremo Tribunal Federal (STF), trata-se de uma hipótese de crime impossível, 
não se configurando o flagrante, pois não há verdadeira infração criminal. 
 
 
57 Direito Processual Penal 
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Flagrante Esperado: Trata-se de hipótese em que não há provocação para o crime. 
A polícia captura o agente ao executar a infração porque obteve informações sobre a prática 
do crime ou porque já vigiava o agente. Nesse caso a prisão em flagrante é admitida. 
 
Flagrante Forjado: É aquele em que a polícia ou terceiro qualquer planta prova falsa 
de um crime inexistente. O exemplo típico é o de quem tem substância entorpecente 
colocada em seu carro, que está sendo revistado. Veja que não há, nesse caso, crime 
consumado ou tentado, de forma que o flagrante não é admitido. 
 
Flagrante Postergado, Retardado ou Diferido: É aquele em que o agente policial 
pode não efetuar a prisão em flagrante no momento de seu acontecimento,nos crimes 
praticados por organizações criminosas. É possível que o policial retarde a prisão em 
flagrante para outro momento mais eficaz, visando obter melhores provas e informações 
contra os autores do delito. 
 
9.2. Prisão Temporária 
A prisão temporária é modalidade de prisão provisória, de natureza cautelar, 
decretada pelo juiz, com o objetivo de investigar crimes mais graves. 
 
Essa modalidade de prisão não pode ser decretada de ofício pelo juiz. Ela somente 
pode ser decretada no curso da investigação criminal, antes de instaurado o processo penal 
judicial. Em outras palavras, nunca pode ser decretada durante a ação penal. 
 
O prazo de duração é de 5 (cinco) dias, prorrogáveis por mais cinco, em caso de 
extrema e comprovada necessidade. Se o crime investigado for hediondo (estupro, tráfico, 
tortura e terrorismo), o prazo será de 30 dias, prorrogável por mais 30, em caso de extrema 
e comprovada necessidade. 
 
Será solicitada e encaminhada ao juiz por requerimento do Ministério Público ou de 
representação da Autoridade Policial. A partir do recebimento da representação ou do 
requerimento, o juiz terá o prazo de 24 horas para decretá-la e fundamentá-la. 
 
Se houver representação da autoridade policial para solicitar a prisão temporária, o 
Juiz ouvirá o Ministério Público, titular da ação, antes de decidir, para opinar sobre a 
necessidade da prisão para a investigação. 
 
 
58 Direito Processual Penal 
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Há três hipóteses de cabimento da prisão temporária: 
I. Quando imprescindível para as investigações do inquérito policial; 
II. Quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos 
necessários ao esclarecimento de sua identidade; 
III. Quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na 
legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos crimes de homicídio 
doloso; sequestro ou cárcere privado; roubo; extorsão; extorsão mediante sequestro; 
estupro; atentado violento ao pudor; epidemia com resultado de morte; 
envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado 
pela morte; quadrilha ou bando; genocídio; tráfico de drogas; crimes contra o sistema 
financeiro. 
 
A doutrina e a jurisprudência majoritária entendem, no entanto, que a prisão 
temporária somente será cabível quando combinados os incisos I ou II, com a hipótese do 
inciso III. 
 
Requisitos criados pelo STF: 
 
1) for imprescindível para as investigações do inquérito policial, constatada a partir de 
elementos concretos, e não meras conjecturas, vedada a sua utilização como prisão para 
averiguações, em violação ao direito à não autoincriminação, ou quando fundada no mero 
fato de o representado não ter residência fixa; 
2) houver fundadas razões de autoria ou participação do indiciado nos crimes descritos no 
artigo 1°, inciso III, da Lei 7.960/1989, vedada a analogia ou a interpretação extensiva do 
rol previsto; 
3) for justificada em fatos novos ou contemporâneos; 
4) for adequada à gravidade concreta do crime, às circunstâncias do fato e às condições 
pessoais do indiciado; 
5) não for suficiente a imposição de medidas cautelares diversas, previstas nos artigos 319 
e 320 do Código de Processo Penal (CPP). 
 
 
 
 
59 Direito Processual Penal 
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A prisão temporária somente pode ser decretada para investigar um dos delitos 
taxativamente elencados. Qualquer outro delito fora desse rol taxativo não admite prisão 
temporária. 
 
O Juiz não pode decretá-la de ofício. Mas uma vez que o réu esteja preso, o Juiz 
poderá determinar de ofício que o preso lhe seja apresentado, solicitar informações e 
esclarecimentos da Autoridade Policial e submetê-lo a exame de corpo de delito. 
 
Decretada a prisão temporária, ela somente poderá ser executada depois da 
expedição de mandado judicial, devendo o preso ser informado de seus direitos 
constitucionais. Decorrido o prazo de cinco dias, o preso deverá ser posto imediatamente 
em liberdade, salvo se já tiver sido decretada sua prisão preventiva. Os presos temporários 
deverão permanecer separados dos demais detentos. 
 
Constitui crime de abuso de autoridade prolongar a execução de prisão temporária, 
de pena ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir 
imediatamente ordem de liberdade. Em síntese, o atraso na liberação configura crime de 
abuso de autoridade. 
 
De acordo com o entendimento sólido do Superior Tribunal de Justiça, a prisão 
temporária não pode ser mantida após o recebimento da denúncia pelo juiz. Nesse 
momento, deve cessar imediatamente. 
 
Mesmo no caso da prorrogação da prisão temporária, não pode o juiz determiná-la 
de ofício; devendo, portanto, aguardar a provocação do Delegado de Polícia ou do membro 
do Ministério Público, pedindo a prorrogação. Na hipótese de pedido de prisão temporária 
realizado pelo Delegado de Polícia, o Juiz deverá, antes de decretá-la, ouvir o Ministério 
Público, titular da ação penal. 
 
Em todas as comarcas, deve existir plantão permanente de vinte e quatro horas do 
Poder Judiciário e do Ministério Público para apreciação dos pedidos de prisão temporária. 
 
 
 
60 Direito Processual Penal 
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9.3. Prisão Preventiva 
A prisão preventiva é outra modalidade de prisão provisória, de natureza cautelar, 
somente devendo ser decretada pelo juiz nas hipóteses legais, comprovada a sua 
necessidade. 
 
Esse tópico deve ser tratado com algum cuidado, pois após a entrada em vigor da 
Lei 12.403/2011, ocorreram significativas alterações no Código de Processo Penal, 
principalmente com relação às prisões, fiança, liberdade provisória e as outras Medidas 
Cautelares, diferentes da Prisão. 
 
Uma das principais mudanças ocorridas na prisão preventiva é que ela passa a ser 
determinada apenas em último caso. Isto porque no ordenamento jurídico brasileiro, a regra 
é a liberdade e a prisão é uma exceção. Essa máxima decorre do Princípio da Presunção 
de Inocência (art. 5°, LVII, da Constituição Federal) e do Princípio do Devido Processo Legal 
(art. 5°, LIV, da CF). Assim, as mudanças introduzidas pela nova lei impõem que a prisão 
preventiva deve ser decretada pelo juiz apenas em caso muito extremos, de maneira 
fundamentada e cumpridas as exigências legais. 
 
De acordo com as alterações no CPP, a prisão preventiva apenas será decretada 
pelo juiz, de forma fundamentada, quando não for cabível a sua substituição por outra 
medida cautelar (art. 282, § 6°, CPP). Isso porque, dentre as medidas cautelares, a prisão 
preventiva é a mais gravosa de todas. 
São três as exigências legais para que a prisão preventiva possa ser decretada. 
Devem ser observados: (a) os requisitos legais; (b) os pressupostos e; (c) os fundamentos. 
Vou elencar cada um deles de forma separada: 
 
9.4. Requisitos Legais da Prisão Preventiva 
(Previstos no art. 313, do CPP): 
I. Só se aplica prisão preventiva a crimes 1) Dolosos, punidos com 2) Pena 
Privativa de Liberdade, 3) superior a 4 (quatro) anos. (art. 313, I, CPP); 
II. Se há condenação anterior por outro 1) crime doloso, 2) transitado em julgado, 
salvo o prazo de 5 anos do 3) Art. 64, I, CP3. (art. 313, II, CPP); 
III. Quando o crime envolver 1) violência doméstica e familiar contra 2) a mulher, 
criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, 3) para garantir 
a execução das medidas protetivas de urgência; (art. 313, III, CPP); 
 
 
61 Direito Processual Penal 
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IV. Quando houver 1) dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando 2) esta 
não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la. (art. 313, § ún., CPP). 
 
9.5. Fundamentos da Prisão Preventiva 
I. Como Garantia Da Ordem Pública, 2) Da OrdemEconômica, 3) Por 
Conveniência Da Instrução Criminal, 4) Ou Para Assegurar A Aplicação Da Lei 
Penal. (Artigo 313, Caput, Cpp); 
II. Caso O Acusado Descumpra Qualquer Obrigação Imposta Como Medida 
Cautelar. (Artigo 313, § Ún., Cpp) 
 
9.6. Pressupostos da Prisão Preventiva 
I. Exigência de que haja 1) prova da existência do crime e 2) indício suficiente de 
autoria. (artigo 313, parte final, CPP) 
 
A prisão preventiva poderá ser decretada em qualquer fase da investigação policial, 
por meio de representação da autoridade policial, requerimento do Ministério Público, do 
assistente de acusação ou do querelante. Mas ela nunca pode ser determinada de ofício 
pelo Juiz, quando ainda não existe processo. Assim, o Juiz só poderá decretá-la de ofício 
no curso da ação penal. 
 
A lei manda que seja feito um contraditório prévio sempre que se apliquei uma 
medida cautelar (art. 282, § 3°, CPP), salvo nos casos de urgência ou se isso implicar em 
risco de ineficácia da medida. O juiz não pode decretar a prisão preventiva, de forma 
alguma, se as provas indicar que o agente praticou o fato em uma das hipóteses de 
excludentes de ilicitude, previstas no artigo 23 do Código Penal. 
 
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; 
II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício 
regular de direito. 
 
Não existe prazo fixado na Lei para a duração da prisão preventiva. Veja o caso 
recente do goleiro Bruno que ficou preso por tempo indeterminado, até o seu julgamento. 
 
Essa modalidade de prisão pode ser revogada a qualquer tempo, desde que não 
subsista mais a razão da sua decretação. 
 
 
62 Direito Processual Penal 
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Uma vez concedida a liberdade provisória, o juiz pode decretar nova prisão 
preventiva, desde que novas razões a justifiquem. O despacho que decretar ou negar a 
prisão preventiva deverá ser sempre fundamentado. 
 
9.7. Outras Medidas Cautelares Previstas do Artigo 319 do Cpp 
Como afirmei anteriormente, a prisão preventiva é cabível quando não outra medida 
cautelar não for suficiente. Vou então falar apenas brevemente sobre as demais medidas 
cautelares previstas no artigo 319 do CPP. 
 
As medidas cautelares podem ser aplicadas durante o processo, isolada ou 
cumulativamente. Por exemplo: a) comparecimento periódico em juízo, por prazo 
determinado pelo juiz; b) proibição de frequentar determinados lugares (estádio, boate); c) 
proibição de manter contato com pessoa determinada; d) de ausentar-se da comarca; e) 
recolhimento domiciliar no período noturno e etc. Mas, como você já viu, além destas, 
continuam vigentes as medidas cautelares extremas de segregação, ou seja, prisão em 
flagrante, preventiva e temporária. 
 
Medidas cautelares podem ser decretadas durante o processo (por ordem judicial, 
de ofício ou a requerimento das partes); ou também durante a investigação criminal (por 
ordem judicial, mediante representação do Delegado ou requerimento do Ministério 
Público). 
Objetivo da nova lei (12.403/11) foi o de estender algumas proteções da Lei Maria 
da Penha para outros casos e evitar a aplicação da prisão provisória por falta de alternativa. 
Em outras palavras, essa lei positivou as medidas cautelares, ou seja, medidas de cunho 
judicial que visam resguardar a eficácia e utilidade do processo principal, visando, assim, 
aplicar apenas excepcionalmente a prisão processual provisória (prisão preventiva e 
temporária). 
 
Para decretar a cautelar o juiz deve ouvir a parte contrária. As cautelares são regidas 
pelo princípio da Fungibilidade. O juiz pode substituir a medida aplicada, cumular com 
outros e, excepcionalmente, decretar a preventiva. 
 
 
 
63 Direito Processual Penal 
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9.8. Liberdade Provisória com e sem Fiança 
Como já vimos anteriormente, até que haja sentença condenatória definitiva, a 
liberdade é a regra e a prisão, a exceção. Você também viu que, apesar de antes da 
sentença penal condenatória com trânsito em julgado a liberdade ser a regra, há casos em 
que a lei autoriza que o acusado seja privado de sua liberdade antes disso, ou antes, 
mesmo da existência de um inquérito. São as hipóteses do artigo 283 do Código de 
Processo Penal que estudamos até agora: prisão em flagrante, prisão temporária e prisão 
preventiva. 
 
Para todos os demais casos, em atendimento ao art. 5°, LXVI, da Constituição 
Federal, ninguém será preso quando for possível a concessão da liberdade provisória, com 
ou sem fiança. 
 
Portanto, a concessão de liberdade provisória é obrigatória nos casos em que a 
decretação de prisão preventiva não for possível, mas isso não impede que outras medidas 
cautelares sejam aplicadas, desde que haja adequação e necessidade dessas medidas. 
 
Podemos dividir a liberdade provisória em 3 (três) categorias genéricas: obrigatória, 
permitida e proibida. 
 
9.8.1. Obrigatória 
A liberdade provisória será obrigatória, sempre que estiverem ausentes os requisitos 
da prisão preventiva (artigo 312 e artigo 313, CPP), conforme previsão legal do Artigo 321, 
CPP. O Juiz deverá decretar a liberdade provisória, com ou sem fiança (Artigo. 310, III, 
CPP), ou verificando tratar-se de uma das excludentes de ilicitude do Artigo 23 do Código 
Penal. 
Artigo 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão 
preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso, 
as medidas cautelares previstas no Artigo 319 deste Código e observados os 
critérios constantes do art. 282 deste código. 
 
Mas a liberdade provisória também pode ser encontrada em outras leis. Na lei dos 
Juizados Especiais, o acusado permanecerá em liberdade, caso comprometa-se a 
comparecer ou caso seja encaminhado ao Juizado Especial. Na lei de trânsito também o 
acusado permanecerá em liberdade nos casos de acidentes de que resultem vítimas, se 
 
 
64 Direito Processual Penal 
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prestar socorro à vítima. Por fim, na lei Antidrogas também o acusado permanece em 
liberdade quando for surpreendido com drogas para consumo próprio. 
 
Em suma, a obrigatoriedade da Liberdade Provisória, significa que o Juiz é obrigado 
a decretá-la, pois se trata de direito subjetivo do acusado, e não faculdade do Juiz. 
 
9.8.2. Permitida 
Trata-se dos casos em que a liberdade provisória é faculdade, a ser decidida pelo 
juiz. Em outras palavras, são casos em que ela não é nem obrigatória, e nem proibida. 
Assim, por exemplo, o art. 282, § 4°, no caso de descumprimento de medidas cautelares, 
o juiz poderá substituir a medida por prisão preventiva. A decisão, é claro, deve sempre ser 
motivada. 
 
9.8.3. Proibida 
São hipóteses em que a liberdade provisória não poderá ser concedida por dois 
motivos: (a) caso seja cabível prisão preventiva e; (b) caso a concessão da liberdade 
provisória seja expressamente proibida em lei (há casos previstos na Lei de Drogas e na 
Lei das Organizações Criminosas, etc.) 
 
 
 
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 22ed. São Paulo: Saraiva, 2015. 
DELMANTO, Celso. Código Penal Comentado. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010. 
GARCIA, Ismar Estulano. Inquérito – Procedimento Policial. 12ª. Ed. Goiânia: 
AB,2009. 
 
	1. PRINCÍPIOS E GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO PENAL
	1.1. Conceito de Direito Processual Penal
	1.2. Princípios e Garantias Constitucionais
	1.2.1. Princípio da Intervenção Mínima ou da Necessidade
	1.2.2. Sistemas acusatório e inquisitório
	1.3. Princípio da Jurisdicionalidade
	1.3.1. Imparcialidade e poderes instrutórios
	1.4. Princípio do Devido Processo Legal
	1.5. Princípio da Presunção de Inocência
	1.5.1. Contraditório e ampla defesa
	1.5.2. Fundamentação das Decisões Judiciais
	2. LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO
	2.1.Lei Processual Penal
	2.2. Lei Processual no tempo
	2.3. Lei processual penal no espaço.
	2.3.1. Investigação Preliminar
	2.3.2. Natureza Jurídica do inquérito policial
	2.3.3. Características e eficácia probatória do inquérito policial
	2.3.4. Forma dos atos
	2.3.5. Ação Penal Pública Condicionada
	2.3.6. Ação Penal Privada
	3. AÇÃO PROCESSUAL PENAL
	3.1. Ação Processual Penal
	3.2. Condições da Ação Processual Penal
	3.3. Possibilidade jurídica do pedido.
	3.4. Interesse de agir
	3.5. Legitimidade “ad causam”.
	3.6. Espécies de Ação Penal
	3.6.1. Ação Penal de Iniciativa Pública
	3.6.2. Ação penal pública condicionada
	3.6.3. Ação Penal de Iniciativa Privada
	3.7. Ação Civil “ex delicto”
	4. JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA
	4.1. Jurisdição
	4.2. Princípios da Jurisdição Penal
	4.3. Competência
	4.4. Competência de Foro ou Territorial
	4.5. Competência em Razão da Matéria (Natureza da Infração)
	4.6. Competência da Justiça Especial Militar e Eleitoral
	4.7. Competência da Justiça Comum: Federal e Estadual
	4.8. Competência por Prevenção e Distribuição
	4.9. Competência por Prerrogativa de Função (Em Razão da Pessoa)
	4.10. Conexão e Continência
	4.11. Conexão
	4.12. Continência
	5. QUESTÕES PREJUDICIAIS E PROCESSOS INCIDENTAIS
	5.1. Questões ou Incidentes Processuais
	5.2. Questões Prejudiciais
	5.3. Processos Incidentes
	5.4. Exceções Processuais
	5.5. Exceções de Suspeição e Impedimentos
	5.6. Exceção de Incompetência
	5.7. Exceção de Litispendência
	5.8. Exceção de Ilegitimidade da Parte
	5.9. Exceção De Coisa Julgada
	5.10. Conflito de Jurisdição e de Competência
	6. TEORIA GERAL DAS PROVAS
	6.1. Teoria Geral das Provas
	6.2. Princípios da Prova
	6.3. Provas Ilegítimas e Ilícitas
	6.4. Princípio da Contaminação
	6.5. Teorias da Fonte Independente e descoberta
	7. PROVAS EM ESPÉCIE NO PROCESSO PENAL
	7.1. Prova Pericial
	7.2. Exame de Corpo de Delito
	7.3. Interrogatório
	7.4. Confissão
	7.5. Das Declarações do Ofendido
	7.6. Da Prova Testemunhal
	7.7. Reconhecimento de Pessoas e Coisas
	7.8. Reconstituição do Crime
	7.9. Acareação
	7.10. Da Prova Documental
	7.11. Dos Indícios
	7.12. Da Busca e Apreensão
	7.13. Da Cadeia de Custódia
	8. PRISÃO
	8.1. Prisão sem Pena
	8.2. Prisão Civil
	8.3. Prisão Processual (Provisória)
	8.4. Procedimentos Adotados para o Cumprimento da Prisão
	9. PRISÃO DE NATUREZA PROCESSUAL - REQUISITOS E ESPÉCIES
	9.1. Prisão por Flagrante
	9.2. Prisão Temporária
	9.3. Prisão Preventiva
	9.4. Requisitos Legais da Prisão Preventiva
	9.5. Fundamentos da Prisão Preventiva
	9.6. Pressupostos da Prisão Preventiva
	9.7. Outras Medidas Cautelares Previstas do Artigo 319 do Cpp
	9.8. Liberdade Provisória com e sem Fiança
	9.8.1. Obrigatória
	9.8.2. Permitida
	9.8.3. Proibidaa imparcialidade do juiz, entre outros. A ofensa a esse 
princípio acarreta uma consequência comum que consiste na nulidade. É possível também 
que a ofensa ao devido processo legal dê ensejo à impetração de habeas corpus para 
garantir a liberdade do preso. 
 
O devido processo legal é um princípio que não admite exceções. Falando em âmbito 
processual, esse princípio garante o direito de ser ouvido; à informação dos atos do 
processo e de sua publicidade; à defesa técnica; à manifestação posterior à acusação e 
em todas as oportunidades, à motivação das decisões; a ter um juízo natural; ao duplo grau 
de jurisdição; à revisão criminal e ao respeito à coisa julgada. 
 
 
5 Direito Processual Penal 
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Fonte da imagem: http://direito.folha.uol.com.br/blog/category/presuncao%20de%20inocencia34a22a89fe 
 
1.5. Princípio da Presunção de Inocência 
O princípio da presunção da inocência está previsto pelo art. 5°, inciso LVII da 
Constituição Federal. De acordo com ele, o indiciado e o acusado são considerados 
inocentes até que haja o trânsito em julgado da sentença condenatória. 
 
Do princípio da inocência decorrem duas regras que o Estado deve cumprir em 
relação ao acusado. A primeira refere-se ao tratamento: o réu não pode sofrer restrições 
pessoais fundadas exclusivamente na possibilidade de condenação. 
 
A outra regra é de caráter probatório: estabelece que todo o ônus da prova relativo 
à existência do fato e à sua autoria deve recair exclusivamente sobre a acusação, restando 
à defesa a demonstração da eventual presença de fato caracterizador de excludente de 
ilicitude e culpabilidade. 
 
O estado de inocência proíbe a antecipação dos resultados finais do processo, 
inadmitindo toda privação de liberdade antes do trânsito em julgado que não tenha natureza 
cautelar, com a imposição de ordem judicial devidamente motivada. Mesmo para o 
indiciamento é possível reclamar a presença de justa causa. 
 
1.5.1. Contraditório e ampla defesa 
O art. 5°, inciso LV da Constituição Federal, combinado com os artigos. 261 e 263 
do Código de Processo Penal garantem a ampla defesa do acusado. De acordo com os 
dispositivos, o acusado deve ter assegurado seu direito de defesa sem qualquer restrição, 
assim como a acusação tem o direito de contraditar os argumentos colocados pelo réu. 
 
http://direito.folha.uol.com.br/blog/category/presuncao%20de%20inocencia34a22a89fe
 
 
6 Direito Processual Penal 
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O contraditório não apenas representa a garantia do direito à informação de qualquer 
fato ou alegação contrária ao interesse das partes e o direito à contrariedade, como também 
a oportunidade de a resposta se realizar na mesma intensidade e extensão. 
 
Constitui verdadeiro requisito de validade do processo, na medida em que a sua 
inobservância pode inclusive gerar uma nulidade absoluta (ou seja, uma nulidade que não 
pode ser corrigida), quando em prejuízo do acusado. Isto porque, para garantir a proteção 
do cidadão diante do aparato persecutório penal, é preciso que os processos se 
desenvolvam de maneira justa e equitativa. 
 
Vale ressaltar que o contraditório apenas tem fundamento no processo penal, de 
forma que na fase pré-processual do inquérito não cabe o contraditório. Trata-se de um 
direito indisponível (ou seja, não é possível abrir mão desse direito). Dessa forma, caso o 
réu seja revel, o juiz irá nomear um defensor (chamado defensor dativo). 
 
A ampla defesa se realiza por meio da defesa técnica, da autodefesa, da defesa 
efetiva e por qualquer meio de prova hábil a demonstrar a inocência do acusado. 
 
1.5.2. Fundamentação das Decisões Judiciais 
A fundamentação das decisões judiciais é uma garantia constitucional prevista no 
artigo 93, inciso IX, entre outros dispositivos. Como instrumento técnico processual, o 
princípio da motivação das decisões judiciais permite às partes avaliar a conveniência de 
recorrer. Também permite que os juízes de instâncias superiores compreendam melhor os 
fundamentos da sentença recorrida, pois a ausência de fundamentação dificulta andamento 
do processo na instância superior. Afinal, os juízes dos tribunais superiores poderiam 
enfrentar dificuldades para visualizar as razões que levaram o magistrado de primeira 
instância a decidir da forma que o fez, se isso não estivesse claramente disposto na 
motivação. Além disso, a decisão deficiente de motivação transforma-se num verdadeiro 
obstáculo ao exercício do direito ao contraditório pela parte que se sentir prejudicada, pois 
impede a formulação adequada das razões de um recurso. 
 
A interpretação do Direito é um contínuo exercício de persuasão. O juiz ao decidir, 
como todo comunicador, tenta convencer o seu interlocutor a acatar a sua argumentação. 
A decisão judicial, como ato de comunicação, precisa conter uma racionalidade, devendo 
 
 
7 Direito Processual Penal 
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está não apenas ser demonstrada, mas comprovada, mediante um discurso bem construído 
em termos racionais. 
 
 
 
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 22ed. São Paulo: Saraiva, 2015. 
DELMANTO, Celso; DELMANTO JR., Roberto; DELMANTO, Roberto. Código 
Penal Comentado. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010. 
GRECCO FILHO, Vicente. Manual do Processo Penal. 9 ª ed. São Paulo: Saraiva, 
2012. 
 
 
 
8 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
2. LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO 
 
Objetivos: 
 Identificar a lei processual no tempo e no espaço; 
 Reconhecer os mecanismos de atuação do Estado para a persecução penal; 
 Identificar as diferenças entre as fases do inquérito policial e a ação penal. 
 
Palavras-chave: Lei; Tempo; Espaço. 
 
2.1. Lei Processual Penal 
Uma vez praticada uma infração penal, nasce para o Estado o que chamamos de 
pretensão punitiva. Mas o que é isso? Trata-se de um direito e ao mesmo tempo um dever 
de aplicar a sanção penal ao autor da conduta ilegal. É nesse momento em que o direito de 
liberdade é subordinado ao direito de punir. 
 
Mas, a sanção penal, como todos sabemos, não pode ser aplicada de forma 
imediata. É necessário que haja um controle jurisdicional por meio de um processo. Nesse 
sentido destaco a máxima em latim segundo a qual “não há pena sem processo” (“nulla 
poena sine judicio”). 
 
Veja que o processo acaba funcionando como garantia aos acusados, pois assegura 
a defesa e protege o direito de liberdade. Para chegar a aplicação da pena, o Estado precisa 
percorrer duas fases: a investigação e a ação penal como veremos nos itens subsequentes. 
 
2.2. Lei Processual no tempo 
Com relação à lei processual no tempo, foi adotado o princípio da aplicabilidade 
imediata. Isso significa dizer que todas as leis processuais terão aplicação imediata, assim 
que entrarem em vigor. 
 
A doutrina apenas faz uma ressalva. Se a lei processual penal trouxer matéria penal 
também, nesse caso ela é denominada lei processual penal mista e deverá observar as 
regras do direito penal. Ou seja, será necessário verificar se o procedimento beneficia ou 
prejudica o réu. Se prejudicar, somente se aplicará aos novos processos, permanecendo 
os anteriores até encerramento. 
 
 
9 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
2.3. Lei processual penal no espaço. 
O artigo 1º do Código de Processo Penal determina que as regras processuais 
penais gerais sejam aplicadas apenas dentro do território nacional independente das 
regras de direito penal da extraterritorialidade. Isso porque em território estrangeiro poderá 
ser aplicada a lei penal, se compatível, porém jamais será aplicada a lei processual. 
 
A partir de agora, para agilizar nosso estudo, a expressão Código Processual Penal 
será abreviada para CPP. 
 
2.3.1. Investigação PreliminarA investigação constitui atividade preparatória da ação penal e tem caráter preliminar 
e informativo. Ela visa fornecer fundamento para a propositura da ação penal, que por sua 
vez enseja o desenvolvimento de um devido processo legal. 
 
A ação penal implica um constrangimento da liberdade do acusado. Assim, para que 
ela seja proposta e instaurada, exige-se que haja uma justa causa, sob pena de a coação 
ser considerada ilegal. 
 
Mas o que seria essa justa causa? 
A justa causa significa a existência de elementos de convicção que ofereçam suporte 
fático e demonstrem a viabilidade de acusação. Em outras palavras, é necessário que haja: 
 Prova da materialidade do crime, ou seja, prova de que o crime existiu; 
 Indício de autoria (razões concretas que apontem o acusado como o autor do 
crime). 
 
Essa é a relevância do inquérito policial. Ele é o instrumento de investigação que 
verifica a existência de justa causa para a propositura da ação penal e protege os indivíduos 
contra perseguições e acusações levianas. 
 
2.3.2. Natureza Jurídica do inquérito policial 
A fase de investigação tem natureza administrativa. Nesta fase o juiz deve 
permanecer absolutamente alheio, somente intervindo para tutelar violação ou ameaças de 
lesões a direitos e garantias individuais das partes, ou para resguardar a efetividade da 
função jurisdicional. 
 
 
 
10 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
O inquérito policial é um procedimento administrativo, com caráter inquisitivo e cunho 
investigatório, desenvolvido pela Polícia Judiciária para apurar infrações penais e suas 
respectivas autorias. Dessa forma, ele fornece subsídio para a propositura de ação penal. 
 
O inquérito é o principal instrumento por meio do qual se realiza a investigação. De 
forma imediata ele se destina ao titular da ação penal: que é o Ministério Público (nos casos 
de ação penal pública) ou o titular do direito de queixa (nos casos de ação penal privada). 
 
Mas o inquérito também se destina ao Juiz de Direito, que irá levar em conta seu 
conteúdo para decidir se recebe ou rejeita uma denúncia, se defere ou não uma medida 
cautelar e etc. 
 
2.3.3. Características e eficácia probatória do inquérito policial 
Inquisitividade (unilateralidade): 
Dizer que o inquérito policial é inquisitivo significa reconhecer que ele não é regido 
pelos princípios do contraditório e ampla defesa. Diferente do que ocorre na ação penal, no 
inquérito as investigações são conduzidas unilateralmente pela autoridade policial, com 
discricionariedade da autoridade policial para deferir ou não as diligências requeridas pelo 
ofendido ou pelo indiciado. 
 
Já que não possui contraditório, o inquérito não possui valor probatório em ação 
penal. O art. 155 do CPP determina que o juiz deva formar sua convicção com base na 
apreciação de provas produzidas em contraditório judicial. O artigo ainda reforça que o juiz 
não pode embasar sua decisão em elementos informativos colhidos na investigação, exceto 
se eles forem provas cautelares, antecipadas que não possam ser repetidas, como por 
exemplo, as interceptações telefônicas, a busca e apreensão, entre outras. 
 
Obrigatoriedade 
Uma vez instaurado o inquérito policial que verse sobre crime de ação penal pública, 
a autoridade não pode mais arquivá-lo ao seu critério, pois o inquérito serve a alguém e 
não tem um fim em si mesmo. Somente o juiz pode determinar o arquivamento do inquérito 
policial, a requerimento do Ministério Público. Mesmo que a autoridade policial verifique a 
existência de extinção de punibilidade, atipicidade ou excludente de antijuridicidade, por 
exemplo, ele não poderá extinguir o inquérito. Ele deve apenas relatar e remeter o inquérito 
 
 
11 Direito Processual Penal 
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ao juiz competente que decidirá, uma vez provocado pelo Ministério Público, já que a ação 
penal pública é obrigatória. 
 
Dispensabilidade 
O inquérito policial pode ser dispensável caso o titular da ação penal já possua 
elementos de convicção suficientes para evidenciar indícios de autoria e materialidade (ou 
seja, indícios de que a acusação é viável). Dessa maneira, é possível que a ação penal 
seja proposta sem que tenha havido um inquérito. Se a função do inquérito é justamente 
apurar tais indícios, é natural que se eles já existam não haja necessidade mais da 
instauração do inquérito. 
 
É possível que autoridades administrativas também investiguem a existência de 
infrações penais por procedimentos diversos do inquérito policial, como é o caso das CPIs 
– Comissões Parlamentares de Inquérito. Qualquer pessoa também pode fornecer peças 
de informação ao Ministério Público para que esse ofereça uma denúncia. 
 
Escrito 
Os atos do inquérito policial devem ser escritos e reunidos no que chamamos de 
autos do inquérito policial. 
 
Sigiloso 
Por fim, o inquérito pode ser sigiloso. A finalidade é resguardar a imagem e a honra 
do acusado, assim como assegurar o sucesso da investigação. Mas esse sigilo exclui o 
Ministério Público, o juiz e o advogado do indiciado. 
 
2.3.4. Forma dos atos 
A instauração do inquérito policial pode ocorrer de formas diversas, dependendo da 
espécie de ação penal aplicável a cada tipo de infração penal. 
 
Ação Penal Pública Incondicionada 
A. Ex officio, por Portaria do Delegado de Polícia (art. 
5°, I, CPP): A autoridade policial, quando toma 
conhecimento de uma infração penal, de forma direta 
Fonte da imagem: http://www.viamaxi.com.br/2011/07/rejeitada-permissao-para-acusado-interferir-no-inquerito-policial/ 
 
http://www.viamaxi.com.br/2011/07/rejeitada-permissao-para-acusado-interferir-no-inquerito-policial/
 
 
12 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
ou indireta, pela comunicação de qualquer cidadão ou pela prática em sua rotina, 
tem a obrigação de instaurar o inquérito. Nessa situação a instauração é feita por um 
instrumento chamado Portaria. 
 
B. Por requisição do Ministério Público ou do Juiz (art. 5°, I, CPP): Os juízes ou 
Tribunais, ao tomarem conhecimento por documentos da ocorrência de crime de 
ação pública, devem enviá-los ao Ministério Público para que seja oferecida a 
denúncia, caso os documentos possuam os requisitos básicos para a propositura da 
denúncia. Se o documento carecer desses requisitos, o juiz poderá remeter a 
documentação à autoridade policial ordenando a instauração de inquérito policial. O 
mesmo ocorre com o Ministério público quando toma conhecimento de documentos 
que demonstrem uma prática criminosa. 
 
C. Por requerimento do ofendido ou de seu representante legal (art. 5°, I, 2ª parte, CPP): 
Os legitimados, neste caso, darão a notícia de um crime à autoridade policial, que 
solicitará a instauração do inquérito. O requerimento do ofendido deverá conter, 
sempre que possível, a narração dos fatos, a individualização do indiciado ou sua 
caracterização, indicar testemunhas e etc. 
 
D. Por auto de prisão em flagrante: Com a prisão em flagrante, a autoridade policial 
toma conhecimento de uma infração penal e de sua possível autoria. Assim, deve 
instaurar o inquérito policial de ofício. Caso o crime seja de ação penal pública 
condicionada ou privada, o Delegado deverá esperar a manifestação do ofendido ou 
de seu representante legal para instaurar o inquérito. 
 
2.3.5. Ação Penal Pública Condicionada 
Nos crimes de ação penal pública condicionada, a representação do ofendido ou de 
seu representante legal é requisito indispensável para a instauração do inquérito policial. 
 
2.3.6. Ação Penal Privada 
Nos crimes de ação penal privada, o requerimento escrito ou verbal (reduzido a 
termo) do ofendido ou de seu representante legal é requisito indispensável para a 
instauração do inquérito policial. 
 
 
 
13 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília- Educação a Distância 
Prazos para o encerramento do Inquérito Policial: O art. 10, caput, do CPP fixa a 
regra geral com relação ao prazo para o encerramento do inquérito policial. A regra fixa o 
prazo de acordo com o estado de liberdade do indiciado: 
 Se preso: 10 dias (contados da data da prisão em flagrante ou da prisão preventiva). 
Esse prazo é improrrogável. 
 Se solto: 30 dias (contados da data da instauração do inquérito policial). Esse prazo 
é prorrogável a pedido fundamentado da autoridade policial. 
 
Como veremos adiante, essa regra é geral e vale quando não houver previsão 
específica diversa. Vejamos um exemplo de caso especial: 
Legislação de Drogas (11.343/06): 
 Preso: 30 dias 
 Solto: 90 dias 
 
Em ambas as circunstâncias esses prazos podem ser duplicados, por requisição da 
autoridade policial e ouvido o membro do Ministério Público. 
 
Em caso de indiciado, o excesso de prazo para o encerramento do inquérito policial 
enseja a medida de Habeas Corpus (art. 648, II, CPP) para o relaxamento da prisão. A 
medida pode ser impetrada perante qualquer juiz criminal contra o Delegado de Polícia. 
 
A situação jurídica do sujeito passivo. 
Mas vale salientar que o inquérito policial é um procedimento administrativo e não um 
processo. Não há nessa fase uma acusação formal, mas sim um “suspeito” ou um 
“indiciado”, se assim declarado pela autoridade policial no curso das investigações. 
 
A acusação formal apenas surge com o oferecimento da denúncia ou com o 
ajuizamento da queixa-crime. Nesse momento o órgão da acusação oficializa e fixa os 
limites da imputação a ser abordada na ação penal (processo propriamente dito). 
 
 
 
 
 
 
 
14 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 22ed. São Paulo: Saraiva, 2015. 
 
DELMANTO, Celso; DELMANTO JR., Roberto; DELMANTO, Roberto. Código 
Penal Comentado. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010. 
 
GARCIA, Ismar Estulano. Inquérito – Procedimento Policial. 12ª. Ed. Goiânia: 
AB, 2009. 
 
 
 
 
 
 
15 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
3. AÇÃO PROCESSUAL PENAL 
 
Objetivos: 
 Identificar o conceito de Ação Penal; 
 Identificar as condições da Ação Penal; 
 Conhecer as espécies da Ação Penal. 
 
Palavras-chave: Ação; Condições; Espécies 
 
3.1. Ação Processual Penal 
Toda pessoa possui o direito de invocar a prestação jurisdicional penal ao Poder 
Judiciário. O direito à ação penal é a faculdade de proceder em juízo contra o autor de uma 
infração penal, visando que as sanções penais previstas em lei lhe sejam aplicadas. 
 
3.2. Condições da Ação Processual Penal 
Para exercício do direito de ação penal, é necessário que se verifique a existência 
de alguns requisitos. A presença dessas condições não significa um juízo de condenação, 
mas sim a admissibilidade de apreciação da procedência ou improcedência da pretensão 
punitiva estatal. 
 
Supondo que um juiz receba um processo ignorando a inexistência de uma das 
condições da ação, tal processo será considerado nulo desde o início. Vou elencar essas 
condições de admissibilidade da ação abaixo: 
 
3.3. Possibilidade jurídica do pedido. 
A primeira das condições da ação que iremos analisar é a possibilidade jurídica do 
pedido. Mas o que significa dizer que um pedido é juridicamente possível? Significa dizer 
que o pedido (pretensão formulada) é admitido pelo ordenamento jurídico. Afinal de contas, 
como vimos no primeiro módulo, o princípio da reserva legal prevê que “não há crime sem 
lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal” (art. 5°, XXXIX, CF e art. 
1°, CP). 
 
Assim, por exemplo, se a acusação postular a imposição de uma sanção não 
contemplada ou vedada pelo ordenamento jurídico (como a pena de morte, pena de caráter 
 
 
16 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
perpétuo, de trabalhos forçados) o pedido será juridicamente impossível. Assim, desde logo 
já se evita a perda de tempo que seria examinar os fatos narrados na inicial já que uma das 
condições da ação não estaria presente. O mesmo também ocorre quando o fato narrado 
na denúncia ou na queixa não constitui crime. 
 
Também se considera como impossibilidade jurídica do pedido a ausência das 
condições específicas da ação penal pública condicionada (representação do ofendido e 
requisição do Ministro da Justiça). 
 
3.4. Interesse de agir 
O interesse de agir se subdivide em três aspectos: necessidade, utilidade e 
adequação. A necessidade consiste na obrigatoriedade do devido processo legal para a 
imposição da sanção penal ao acusado. A utilidade refere-se à potencialidade de o Estado 
exercer seu direito de punir e, para isso, é preciso que não haja causa de extinção de 
punibilidade. A adequação exige que a ação penal seja promovida de acordo com o 
procedimento estabelecido na legislação processual penal (exemplo: exige-se que a 
denúncia exponha os fatos minuciosamente, exige-se que haja justa causa, ou seja, 
indícios de autoria e materialidade, etc.). 
 
3.5. Legitimidade “ad causam”. 
Significa a pertinência subjetiva (refere-se aos sujeitos ativos e passivos) da ação. A 
legitimidade ativa pertence ao titular da ação penal de acordo com a sua modalidade (se 
pública, a iniciativa da ação penal pertence ao Ministério Público; se privada, cabe ao titular 
do direito de queixa). 
 
Posto que o Estado possui o direito de punir, em princípio, a legitimação ordinária 
para promover a ação penal é do Ministério Público. Assim, nos casos em que a lei nada 
diz, o Ministério Público será o titular do direito de ação. 
 
Mas, em alguns casos, a lei transfere o direito de acusar a um ente privado (via de 
regra o ofendido). Trata-se de uma legitimação extraordinária. Na ação penal privada 
subsidiária, por exemplo, há uma legitimação extraordinária sucessiva, pois somente se 
admite a iniciativa do ofendido depois de o Ministério Público não ter se manifestado 
durante o prazo para oferecimento da denúncia. 
 
 
 
17 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
A legitimidade passiva recai sobre a pessoa contra quem foram reunidos, durante a 
fase de investigação, os indícios de autoria ou de participação na infração penal. A pessoa 
precisa ser passível de receber a sanção penal. Assim, os menores de 18 anos, por 
exemplo, não possuem legitimidade passiva (estão submissos ao Estatuto da Criança e do 
Adolescente e não ao Código Penal e de Processo Penal). 
 
3.6. Espécies de Ação Penal 
 
3.6.1. Ação Penal de Iniciativa Pública 
A ação penal pública é aquela cujo titular é o Estado. Como eu já disse, é a regra 
geral. O Estado exerce este poder através do Ministério Público. A ação penal pública pode 
ser incondicionada ou condicionada. 
 
Esta modalidade de ação é regida pelos seguintes princípios: 
 Obrigatoriedade: presentes os elementos probatórios (indícios de autoria e 
materialidade), o Ministério Público é obrigado a promover a ação penal pública, por 
meio do oferecimento da denúncia. Ele não pode deixar de oferecer a denúncia por 
razões de conveniência e oportunidade. 
 Indisponibilidade: após o oferecimento da denúncia, o Ministério Público também 
não pode dispor, ou seja, desistir da ação penal pública. Isso se aplica também aos 
recursos. O Ministério Público não é obrigado a recorrer, mas uma vez que o fez, 
não pode desistir do recurso. – 
 Oficialidade e oficiosidade: oficialidade significa que a ação penal pública é movida 
por um órgão oficial (Ministério Público). Oficiosidade consiste no fato de que a 
autoridade pública deve agir de ofício, ou seja, independentemente de qualquer 
provocação. 
 Intranscendência: a sanção penal não pode transcender a pessoa do acusado. 
 Divisibilidade: em caso de concurso de agentes,a ação penal deve abranger todos 
aqueles que cometeram a infração penal. Há, contudo, possibilidade de 
desmembramento do processo. 
 
A ação penal pública se inicia com o recebimento, pelo juiz, da denúncia oferecida 
pelo Ministério Público. A denúncia é, portanto, a petição inicial da ação penal pública, que 
formaliza a acusação. Ela determina o início da ação para o juiz e para o Ministério Público. 
 
 
18 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Para o acusado, no entanto, a ação penal apenas se inicia com a citação válida. É a partir 
daí que ele se torna réu. 
 
A Ação penal pública incondicionada chama-se incondicionada justamente porque 
nessa modalidade de ação penal o Ministério Público não está condicionado, ou seja, 
não depende de qualquer autorização prévia para o oferecimento da denúncia. Ele 
age de ofício. É a regra geral. Em outras palavras, quando o Código de Processo Penal 
silenciar sobre a espécie de ação penal, o crime será de ação penal pública incondicionada. 
 
3.6.2. Ação penal pública condicionada 
Nessa modalidade, a lei sempre exige uma condição para o exercício da ação penal. 
Ela é condicionada: (a) à representação do ofendido ou de seu representante legal; ou (b) 
à requisição do Ministro da Justiça. Quando for essa a modalidade cabível, a lei sempre 
dirá de modo explícito sob a expressão: “somente se procede mediante representação”. 
 
A representação é a manifestação da vontade do ofendido ou de seu representante 
legal no sentido de ter interesse em ver punido o autor do crime, autorizando assim, o 
Ministério Público a iniciar a ação penal. Trata-se, como já disse (acima), de uma condição 
específica para a propositura da ação penal. A partir dela, se houver indícios de autoria e 
materialidade, o Promotor de Justiça fica obrigado a oferecer a denúncia. 
 
A representação pode ser escrita ou oral (nesse caso deve ser reduzida a termo) e 
dirigida ao juiz, ao membro do Ministério Público ou à autoridade Policial. Via de regra, a 
representação é feita pelo ofendido. No caso de menor ou deficiente mental, contudo, o 
titular passa a ser o seu representante legal. Há possibilidade de nomear um curador caso 
os interesses do ofendido colidam com os de seu representante legal. Se o ofendido for 
morto, há possibilidade de direito de representação passar ao cônjuge, ascendente, 
descendente ou irmão. 
 
O prazo para o exercício do direito de representação como regra é de 6 (seis) meses, 
contados do conhecimento da autoria delitiva. É possível se retratar da representação 
(desfazer), desde que isso ocorra antes do oferecimento da denúncia. Como já mencionei, 
a ação penal pública é indisponível e por isso, uma vez que o Promotor oferecer a denúncia, 
ele não poderá mais desistir da ação. 
 
 
 
19 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Esse prazo é chamado de decadencial. Por se tratar de direito material ele é regido 
pelos termos do artigo 10 do Código Penal (inclui-se o dia do começo no cômputo do prazo), 
diferente da regra do artigo 798 Código de Processo Penal (que exclui o primeiro dia da 
contagem). O prazo nesse caso não se interrompe e não se suspende. 
 
Há exceção: no caso da Lei Maria da Penha (11.340/06) está retratação pode ocorrer 
até o recebimento da denúncia (ou seja, momento posterior ao oferecimento da denúncia). 
 
Vou falar um pouco em específico da (b) ação penal pública condicionada à 
requerimento do Ministro da Justiça. A requisição é um ato político. Há certos casos em 
que a conveniência da propositura de ação penal fica sujeita a um juízo político. Assim 
como a representação, a requisição é condição de procedibilidade, mas não obriga o 
Ministério Público a oferecer denúncia. A requisição é destinada diretamente ao chefe do 
Ministério Público, que é o Procurador-Geral. Como o Código de Processo Penal não 
menciona prazo, entende-se que pode ser exercida a qualquer tempo. Ela também é 
retratável até o oferecimento da denúncia. 
 
3.6.3. Ação Penal de Iniciativa Privada 
A ação penal privada é aquela em que o Estado transfere a legitimidade da 
propositura da ação para o ofendido ou seu representante legal. 
 
A ação penal privada se inicia com o ajuizamento do que chamamos queixa-crime, 
que deve ser oferecida em juízo, por advogado habilitado na Ordem dos Advogados do 
Brasil, autorizado por procuração com poderes especiais. 
 
Via de regra o ofendido é o titular do direito de queixa, mas pode ocorrer a 
modificação do direito de queixa nas mesmas circunstâncias que mencionei quando tratei 
da representação. 
 
O prazo para o oferecimento de queixa é de 6 (seis) meses, contados a partir da data 
em que for conhecido o autor do crime. Mas há exceções que mencionam prazos diferentes. 
 
A ação penal privada é regida pelos seguintes princípios: 
 Oportunidade e Conveniência: o ofendido pode ou não exercer o direito de queixa 
de acordo com sua conveniência (diferente da pública, que é obrigatória). 
 
 
20 Direito Processual Penal 
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 Disponibilidade: a ação penal privada é disponível, mesmo depois de instaurada, 
até o trânsito em julgado da sentença condenatória. 
 Intranscendência: assim como na ação penal pública, na privada a ação penal só 
pode ser instaurada contra a pessoa a quem se atribui a prática do crime. 
 
3.7. Ação Civil “ex delicto” 
Além de despertar a pretensão punitiva do Estado, a prática de uma infração penal 
também pode ensejar o surgimento da pretensão de reparação do dano ex delicto, ou seja, 
do dano resultante da prática da infração penal. Essa obrigação de reparar é amparada 
pelo Código Civil (artigos 186 e 927). 
 
A pessoa lesada pela prática do dano ex delicto tem duas alternativas para buscar a 
reparação: (a) propor uma ação de conhecimento com pedido de condenação de 
indenização na esfera cível; ou (b) aguardar o término da ação penal para, em seguida, 
ingressar diretamente com uma ação de execução fundamentada em sentença penal 
condenatória com trânsito em julgado. 
 
A propositura da ação cível de conhecimento independe da instauração de qualquer 
processo penal. Caso exista ao mesmo tempo a ação penal e a ação civil ex delicto, é 
facultado ao juiz cível suspender o curso da ação até que haja julgamento em definitivo da 
ação penal. O prazo para a suspensão é de um ano. Com isso, visa-se evitar que haja 
decisões conflitantes. 
 
Se, contudo, já houver uma sentença penal condenatória transitada em julgado, essa 
decisão exercerá ingerência sobre a esfera civil da reparação do dano ex delicto, por força 
do art. 91, inc. I do Código Penal (veja que aqui há uma exceção à autonomia entre as 
jurisdições cível e criminal). 
 
Bom, falei do caso de haver condenação na ação penal. Mas e se houver 
absolvição? Qual seria a repercussão civil da absolvição criminal? Em regra, a absolvição 
em ação penal em nada prejudica a pretensão de reparação civil do dano ex delicto. Veja 
que o réu pode ser absolvido, por exemplo, por falta de provas. Isso não fornece qualquer 
certeza ao âmbito civil e, portanto, não afeta a possibilidade de na ação civil de 
conhecimento ser provada e reconhecida a existência do direito ao ressarcimento, de 
acordo com o grau de percepção e convicção próprios da esfera civil. 
 
 
21 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Mas há duas hipóteses em que a absolvição penal impede a propositura da ação 
civil ou gera a sua extinção em razão da superveniência de coisa julgada. Isso acontece 
quando: (a) ficar reconhecida a inexistência material do fato (art. 66 do CPP); (b) 
reconhecida a excludente de ilicitude real (art. 65 do CPP). 
 
A legitimidade ativa para ingressar com a ação civil de conhecimento ou é execução 
para a reparação do dano ex delicto é conferida ao MinistérioPúblico, caso o titular do 
direito ao ressarcimento não tenha meios para propor e o requeira. Trata-se de uma 
legitimação extraordinária, na qual o Ministério Público irá atuar como substituto, agindo em 
nome próprio e em defesa de direito alheio. 
 
 
 
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 22ed. São Paulo: Saraiva, 2015. 
DELMANTO, Celso; DELMANTO JR., Roberto; DELMANTO, Roberto. Código 
Penal Comentado. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010. 
GARCIA, Ismar Estulano. Inquérito – Procedimento Policial. 12ª. Ed. Goiânia: 
AB, 2009. 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
4. JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA 
 
Objetivos: 
 Reconhecer a organização da justiça penal no Brasil e os princípios que norteiam 
essa organização 
 Identificar o conceito de Jurisdição e Competência 
 
Palavras-chave: Jurisdição; Competência; Constituição. 
 
4.1. Jurisdição 
A palavra jurisdição vem do latim jurisdictio. Significa a prerrogativa de dizer o direito, 
de decidir. Em outras palavras, a jurisdição envolve a atribuição de um poder e, ao mesmo 
tempo, uma das funções do Estado. 
 
A jurisdição pode ser conceituada como um poder-dever do Estado de solucionar 
conflitos de interesses que são trazidos a sua apreciação, por meio de um processo. A 
finalidade última é, portanto, agir em prol da segurança jurídica para garantir a paz social. 
 
O poder jurisdicional é privativo do Estado-Juiz. Mas, em face de uma expansão 
territorial, de determinadas pessoas e de determinas matérias, o exercício desse poder de 
aplicar o direito (abstrato) ao caso concreto sofre limitações, nascendo daí a noção de 
competência jurisdicional. 
 
Já a competência pode ser brevemente definida como a medida da jurisdição. A 
competência delimita o âmbito de atuação de cada órgão jurisdicional no exercício de sua 
função. 
 
4.2. Princípios da Jurisdição Penal 
A atividade jurisdicional é regida pelos princípios fundamentais. 
O Princípio do juiz natural diz que “ninguém será processado nem sentenciado 
senão pela autoridade competente (art.5º, LIII, da Constituição Federal)”. Este princípio 
ainda garante a proibição do juízo ou tribunal de exceção (art. 5º, XXXVII, CF). Em outras 
palavras, a garantia do juiz natural significa que: (a) não haverá juízo ou tribunal ad hoc, 
isto é, tribunal de exceção; (b) todos têm o direito de submeter-se a julgamento (civil ou 
 
 
23 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
penal) por juiz competente, pré-constituído na forma da lei; (c) o juiz competente tem de ser 
imparcial. 
 
Destaco também a influência do Princípio do devido processo legal, segundo o 
qual, “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal 
(art.5º, LIV, CF)”. 
 
Há ainda o Princípio da investidura, segundo o qual a jurisdição só pode ser 
praticada por quem tenha sido regularmente investido no cargo e por quem esteja em 
exercício desse cargo. 
 
O Princípio da indeclinabilidade da prestação jurisdicional diz que nenhum juiz 
poderá se negar ao exercício da sua função jurisdicional. Este princípio ainda determina 
que o legislador não pode produzir leis que restrinjam o acesso ao Poder Judiciário (art.5º, 
XXXV, CF). 
 
O Princípio da improrrogabilidade, veda ao juiz invadir ou ter sua competência 
invadida por outro juízo. 
 
Conforme o Princípio da indelegabilidade, o juiz não poderá delegar sua jurisdição 
a outro órgão, exceto nos casos taxativamente permitidos. 
 
O Princípio da inevitabilidade ou irrecusabilidade, determina que as partes não 
poderão recusar o juiz que o Estado designou, salvo nos casos de incompetência, 
impedimento e suspeição. Há ainda o Princípio da inércia ou da titularidade. Significa 
que o poder jurisdicional só pode atuar se for evocado pelas partes. Ou seja, o juiz não 
pode instaurar ações penais de ofício (por sua iniciativa), pois dessa forma estaria agindo 
com parcialidade. 
 
O Princípio da correlação ou da relatividade, postula que deva haver uma 
congruência entre o objeto da ação e o objeto da sentença. Nesse sentido, o réu não pode 
ser condenado sem antes saber exatamente do que está sendo acusado. Isso porque a 
acusação vai determinar a abrangência da prestação jurisdicional. O que quero dizer com 
isso é que o juiz não poderá decidir além ou fora do pedido em que o órgão de acusação 
 
 
24 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
formula. Assim, os fatos e o pedido narrados na denúncia ou queixa irão delimitar o poder 
jurisdicional. 
 
Por fim, destaco o Princípio da unidade e identidade da jurisdição. Ele significa 
que a jurisdição é única em si e em seus fins, diferenciando-se apenas no julgamento de 
ações penais ou cíveis. 
 
 
Fonte da imagem: http://www.positivoteceduc.com.br/palavra-do-especialista/competencia-materializacao-
acao/ 
 
4.3. Competência 
A legislação define a competência (âmbito dentro do qual o órgão irá exercer seu 
poder jurisdicional), de acordo com os seguintes critérios: 
 
 Competência de foro (competência territorial): comarca ou seção judiciária 
competente, de acordo com a circunscrição territorial, para apreciação da 
infração penal. 
 Competência de juízo: no caso de haver mais de uma vara (ou juízo) no mesmo 
foro. 
 Competência de Justiça (em razão da matéria): Justiça Especial (Eleitoral ou 
Militar) ou Justiça Comum (Federal ou Estadual). 
 Competência originária por prerrogativa de função: casos em que o acusado será 
processado e julgado, originariamente, perante o Tribunal competente. 
 
4.4. Competência de Foro ou Territorial 
Trata-se da competência fixada pelo lugar da infração (art.69, I e II, do CPP). Em 
regra, é fixada pelo lugar em que se consumar o delito, ou, no caso de tentativa, pelo lugar 
em que for praticado o último ato de execução. 
http://www.positivoteceduc.com.br/palavra-do-especialista/competencia-materializacao-acao/
http://www.positivoteceduc.com.br/palavra-do-especialista/competencia-materializacao-acao/
 
 
25 Direito Processual Penal 
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A competência de foro ou territorial (lugar da infração) determina qual será a comarca 
competente para o julgamento do fato criminoso. 
 
Competência pelo domicílio ou residência do réu também é conhecida como 
competência de foro subsidiário. Ela está descrita no artigo 72 do CPP. 
 
4.5. Competência em Razão da Matéria (Natureza da Infração) 
Uma vez fixada a competência pelo lugar da infração ou pelo domicílio ou residência 
do réu, será necessário fixar a justiça competente em razão da natureza da infração, ou 
seja, em razão da matéria. 
 
A jurisdição (Justiça) pode ser Especial, que se divide em Justiça Militar e Justiça 
Eleitoral; e Comum, que se divide em Justiça Federal e Justiça Estadual. A competência 
pela natureza da infração será regulada pelas leis de organização judiciária (federal ou 
estadual), salvo a competência privativa do Tribunal do Júri, que é atribuída pela 
Constituição Federal. 
 
O Tribunal do Júri tem a competência para julgar os crimes dolosos contra a vida, 
por exemplo, o homicídio doloso, o infanticídio, previstos nos artigos. 121 e 123 do Código 
Penal. 
 
4.6. Competência da Justiça Especial Militar e Eleitoral 
Em relação à jurisdição especial, a Constituição Federal determina que compete à 
Justiça Eleitoral (artigo 121, da Constituição Federal), julgar os crimes eleitorais e os seus 
conexos. A Constituição Federal também prevê a competência da Justiça Militar (artigo 124, 
da Constituição Federal), qual seja, processar e julgar os crimes militares previstos em lei. 
 
4.7. Competência da Justiça Comum: Federal e Estadual 
A Constituição Federal também prevê a competência da jurisdição comum (federal 
ou estadual). Por exemplo, compete à JustiçaFederal processar e julgar os crimes 
cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar 
(art.109, IX, da Constituição Federal). 
 
 
 
26 Direito Processual Penal 
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A Justiça Comum Estadual tem a competência residual. Em outras palavras, tudo o 
que não for de competência das jurisdições federal e especial será de competência da 
Justiça Estadual. 
 
4.8. Competência por Prevenção e Distribuição 
Pode haver casos em que mais de um juiz é competente para uma mesma 
circunscrição judiciária. Nesse caso, a competência será fixada pela distribuição (Artigo 69, 
IV, do Código de Processo Penal). Dessa forma, se na mesma comarca existirem vários 
juízes igualmente competentes para o julgamento do caso, será considerado competente 
pelo critério da prevenção aquele que se adiantar aos demais quanto à prática de alguma 
providência processual ou extraprocessual (exemplo: a decretação da prisão preventiva, a 
concessão de fiança, etc.) 
 
4.9. Competência por Prerrogativa de Função (Em Razão da Pessoa) 
A competência por prerrogativa de função (artigo 69, VII, do CPP) ou competência 
em razão da pessoa é determinada pela função da pessoa, ou melhor, é garantia inerente 
ao cargo ou função. A prerrogativa surge da relevância do desempenho do cargo pela 
pessoa e por isso, não pode ser confundida com o privilégio, já que privilégio consiste em 
um benefício concedido à pessoa. Tanto é que, a tal prerrogativa exige que a pessoa esteja 
exercendo aquela determinada função. 
 
A competência pela prerrogativa de função referente, por exemplo, ao Supremo 
Tribunal Federal (STF), está prevista na Constituição Federal. Vejamos: 
 
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da 
constituição, cabendo-lhe: 
I – processar e julgar, originariamente: (...) 
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice- Presidente, os 
membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da 
República; 
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de 
Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o 
disposto no artigo 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de 
Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente; (...). 
 
 
 
27 Direito Processual Penal 
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4.10. Conexão e Continência 
Veja que a continência e a conexão são causas de prorrogação de competência 
e não de fixação. A existência de continência e conexão gera a reunião de processos e 
prorrogação da competência. Trata-se de uma medida de conveniência que viabiliza a 
compreensão completa da atividade criminosa e a produção conjunta de provas. Com isso 
também se evita a superveniência de decisões conflitantes sobre infrações penais que na 
prática estão intimamente vinculadas. 
 
4.11. Conexão 
A conexão pressupõe a existência de uma pluralidade de infrações penais, que estão 
atreladas por um dos nexos inscritos no artigo 76 do CPP. Ocorre quando duas ou mais 
infrações estão ligadas por um liame, sendo que estes crimes devem ser julgados em um 
só processo em virtude da existência desse nexo. 
 
O inciso I do referido artigo elenca elos intersubjetivos de conexão entre infrações 
penais, que estão unidas pelo fato de terem sido praticadas: 
a) Por sujeitos ocasionalmente reunidos (ex.: ato de vandalismo praticado 
ocasionalmente por torcedores); 
b) Em concurso (ex: organizações criminosas como o pcc – primeiro comando da 
capital); 
c) Uns contra os outros (ex: lesão corporal recíproca); 
 
No inciso II, do artigo 76, o legislador trata da conexão com base nos elos objetivos 
que unem a infrações penais (e não mais nos sujeitos ativos). Por isso é denominada 
conexão material. Ele elenca 4 (quatro) possibilidades. Havendo duas ou mais infrações, 
se elas forem sido praticadas para: 
a) Facilitar umas às outras (ex. Criminoso que mata o marido para facilitar a 
execução do estupro da esposa); 
b) Ocultar umas às outras (ex. Agende provoca incêndio para destruir provas de um 
crime praticado anteriormente); 
c) Conseguir impunidade em relação a qualquer delas (ex. Agente sequestra uma 
pessoa e em seguida mata a única testemunha do fato como intuito de assegurar 
a impunidade); 
d) Conseguir vantagem e relação a qualquer delas (ex. Agente mata seu comparsa 
para usufruir sozinho do produto de um assalto que realizaram juntos). 
 
 
28 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Veja que a conexão material ou objetiva ganha especial relevância nos crimes contra 
a vida, porque a competência do Tribunal do Júri se estende sobre os demais crimes, 
mesmo que eles não constituam crimes dolosos contra a vida. 
 
Por fim, no inciso III ocorre o que chamamos de conexão probatória ou 
instrumental. São hipóteses em que a prova de uma infração penal exerce influência sobre 
a prova de outras. Exemplo: no crime de receptação, é necessário que o objeto material da 
conduta de receptar seja produto de crime. Então, sem a prova do crime antecedente (ex. 
DVD pirata), não se comprova existência do crime de receptação. Outro exemplo é o crime 
de uso de documento falso em relação ao crime de falsificação de documentos. O primeiro 
não persiste sem a comprovação do outro praticado anteriormente. 
 
4.12. Continência 
A continência estabelece uma relação entre o continente (algo mais abrangente, que 
contém outro objeto) e o conteúdo (algo menos abrangente, que é contido). Diferente da 
conexão, a continência não pressupõe a existência de uma pluralidade de infrações, mas 
sim uma unidade de infração penal (um único crime). Ela está descrita pelo Artigo 77 do 
CPP: 
 
O inciso I pressupõe prevê a hipótese de uma infração (praticada em concurso de 
agente) (uma ou mais pessoas). É a chamada continência por cumulação subjetiva. 
(Uma infração mais pluralidade de agente). 
 
Já o inciso II elenca as hipóteses de continência por cumulação objetiva. Ou seja, 
esse inciso reúne os casos de concurso formal ou ideal de infracções penais. Em suma, o 
inciso II pressupõe a pluralidade de infrações penais (cumulação objetiva), deflagrada por 
uma única conduta (concurso formal ou ideal de infracções penais). (Pluralidade de 
infrações + uma conduta). 
 
Em havendo mais de um crime praticado em conexão ou continência, são 
necessários critérios para fixar qual será o juízo competente. 
1) Se houver crime de competência do Tribunal do Júri (crimes dolosos contra a vida), 
este deverá prevalecer. 
2) Senão, prepondera: 
a) o local da infração mais grave (pena mais grave); 
 
 
29 Direito Processual Penal 
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b) se de igual gravidade, o local onde ocorreu o maior número de infrações; 
 
Se os requisitos acima não forem suficientes, a competência será fixada em razão 
da prevenção. 
 
 
 
 
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 22ed. São Paulo: Saraiva, 2015. 
DELMANTO, Celso; DELMANTO JR., Roberto; DELMANTO, Roberto. Código 
Penal Comentado. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010. 
GRECCO FILHO, Vicente. Manual do Processo Penal. 9 ª ed. São Paulo: Saraiva, 
2012. 
 
 
 
 
30 Direito Processual Penal 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
5. QUESTÕES PREJUDICIAIS E PROCESSOS INCIDENTAIS 
 
Objetivos: 
 Identificar as questões prejudiciais e processos incidentais, bem como as 
exceções processuais; 
 Reconhecer as espécies de incidentes processuais definidas pelo Código de 
Processo Penal; 
 Identificar os impedimentos que afetam a imparcialidade do Juiz. 
 
Palavras-chave: Juiz; Impedimento; Incompetência 
 
É possível que, no curso do processo penal, a gente se depare com determinadas 
situações que são degrande relevância para a solução do conflito no processo principal. 
São situações secundárias, mas precisam ser solucionadas antes do desfecho da causa 
principal. É o que chamamos de questões ou incidentes processuais. 
 
5.1. Questões ou Incidentes Processuais 
Os incidentes são pontos essenciais e vinculados ao direito material, que impedem o 
desenvolvimento normal do processo. Eles acarretam sua suspensão do processo até que 
sejam analisados e decididos pelo juízo competente, os pontos secundários referentes ao 
processo principal. 
 
Os incidentes processuais possuem algumas espécies que são definidas pelo Código 
de Processo Penal: questões prejudiciais; exceções; incompatibilidade e impedimentos; 
conflitos de jurisdição; restituição das coisas apreendidas; medidas assecuratórias e, por 
fim, incidente de falsidade. 
 
Vou abordar abaixo apenas algumas dessas espécies. Como você sabe, o processo 
penal tem como objetivo a resolução de conflitos e se preocupa com a materialidade e a 
autoria. Mas antes de adentrar no mérito desses conflitos, é preciso analisar os 
procedimentos secundários que incidem sobre o procedimento principal e que precisam ser 
decididos antes da causa principal. É o que chamamos de questões prejudiciais e 
processos incidentes. 
 
 
 
31 Direito Processual Penal 
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5.2. Questões Prejudiciais 
As questões prejudiciais são os pontos estratégicos, relacionados ao direito material, 
que necessitam ser decididos antes do mérito da causa. Dessa forma, são considerados 
impedimentos ao desenvolvimento regular do processo. 
 
Em outras palavras, trata-se de um antecedente lógico que condiciona a decisão 
sobre a existência da infração penal. A decisão da questão prejudicada (posterior) depende 
da solução da questão prejudicial (anterior). 
Podemos classificar as questões prejudiciais em: 
a) questões prejudiciais homogêneas 
b) questões prejudiciais heterogêneas 
 
As homogêneas tratam da mesma matéria da causa principal, e devem ser 
decididas no próprio juízo penal (ex. no crime de calúnia, o juiz precisa primeiro verificar se 
não é o caso da exceção da verdade, pois se o fato criminoso que se imputa à outra parte 
realmente restou comprovado em outro processo, não há que se falar em calúnia). 
 
 As heterogêneas vinculam-se a outras áreas do direito e devem ser decididas por 
outro juízo. (exemplo A acusa B de invadir a posse de seu imóvel – esfera civil. O juiz 
primeiro verifica se A realmente tem a posse do imóvel, pois se não tiver, a ação principal 
resta prejudicada). 
 
5.3. Processos Incidentes 
 Os procedimentos incidentes, por sua vez, compreendem: as exceções, conflitos de 
competência, restituição de coisas apreendidas, medidas assecuratórias, Incidente de 
falsidade e Incidente de Insanidade mental. Por limitação de espaço e tempo, elenquei 
apenas alguma para efeito do nosso estudo. 
 
5.4. Exceções Processuais 
A parte, em um determinado processo, pode basear sua defesa em dois aspectos: 
a) atacando diretamente a acusação que lhe é feita (negando a autoria, por exemplo); ou 
b) atacando indiretamente o processo, com o objetivo de extingui-lo sem o julgamento do 
mérito ou de retardar o seu prosseguimento. A exceção é uma dessas formas de ataque ao 
processo. 
 
 
32 Direito Processual Penal 
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Mas há casos também, em que a exceção é conhecida pelo magistrado de ofício. 
Nessa hipótese ela é chamada de objeção. É o caso da exceção de impedimentos, de 
coisa julgada, incompetência, etc. 
 
De uma forma bem genérica, vou explicar o procedimento que o Código de Processo 
Penal adota para as exceções: apresentada a exceção, o juiz, se puder examiná-la de plano 
ou apenas com prova documental, pode fazê-lo nos próprios autos. Se entender que é o 
caso, ele irá se declarar suspeito ou incompetente, ou irá extinguir o processo 
independentemente da formação onerosa de procedimento em separado. 
 
Na primeira situação - Suspeito: previsto em lei, esta situação impede o juiz de atuar 
em determinado processo, por haver dúvida com relação à sua imparcialidade e 
independência. Exemplo: Juiz envolvido em causa em que uma das partes é seu irmão. 
 
Na segunda situação – Incompetente – Não faz parte da competência atribuída pela 
lei a determinado juiz. 
 
Se houver recusa da alegação e a necessidade de apresentação de prova, então o 
juiz determinará a autuação em anexo (apenso), a fim de que não atrapalhar o 
desenvolvimento do processo principal. Neste apenso serão juntadas as provas especiais 
daquela questão. E o que acontece, por exemplo, no caso de exceção de coisa julgada. 
 
Exceção de coisa julgado ocorre quando a mesma matéria já foi avaliada e houve 
trânsito em julgado em outro processo anterior. 
 
Via de regra, as exceções não suspendem o andamento do processo principal. Mas 
esse andamento poderá ser sustado se a parte contrária reconhecer o fundamento da 
alegação. O importante é que na decisão sobre a suspensão ou não, o juiz leve em conta 
o estado da causa e fatores como o possível perecimento da prova, a ocorrência da 
prescrição, etc. 
 
O artigo 95 do Código de Processo Penal prevê as seguintes exceções: suspeição, 
incompetência do juízo, litispendência, ilegitimidade de parte e coisa julgada. Vou avaliar 
cada uma de forma breve, para que você tenha uma noção do conceito, tudo bem? 
 
 
 
33 Direito Processual Penal 
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5.5. Exceções de Suspeição e Impedimentos 
A suspeição e o impedimento afetam a imparcialidade do juiz. 
A suspeição pode ocorrer, por exemplo: (a) quando há um vínculo do julgador com 
uma das partes (ex: amizade íntima ou inimizade, parentesco, relação de débito ou crédito, 
tutela ou curatela, dentre outros); ou (b) quando há um vínculo ao assunto debatido na ação 
(por si ou por parente seu que responda por fato semelhante). 
 
O impedimento, quando o julgador tem vínculo direto ou indireto com o processo 
em julgamento (quando ele tenha participado do feito diretamente ou por parente seu). As 
exceções podem ser feitas de ofício pelo juiz que se declare suspeito ou impedido, por 
escrito e de forma fundamentada; ou podem também ser requeridas pelas partes. 
 
A exceção de suspeição e os impedimentos também podem ser dirigidos contra o 
órgão do Ministério Público e auxiliares da justiça. 
 
5.6. Exceção de Incompetência 
A exceção de incompetência é a defesa indireta que a parte pode interpor contra o 
juízo, alegando sua incompetência para julgar a causa. Ela pode ser oposta verbalmente 
ou por escrito. Em outras palavras, trata-se de uma circunstância em que há inadequação 
do foro ou do juízo em face das regras de determinação da competência. 
 
O Código de Processo Penal em seu artigo 109 abre a possibilidade de 
reconhecimento da incompetência do juízo em qualquer fase do processo. Assim, por 
exemplo, se ao tomar conhecimento dos fatos no curso do processo o juiz (Justiça comum) 
perceber que se trata de um crime doloso contra a vida, ele irá se declarar incompetente e 
remeter os autos para o Tribunal do Júri. 
 
A incompetência do juízo anula somente os atos decisórios, persistindo os atos 
instrutórios (provas), que serão ratificados pelo Juiz competente. 
 
5.7. Exceção de Litispendência 
É outra forma de defesa indireta e que pode apresentada por qualquer das partes. A 
litispendência consiste na existência paralela de duas ações penais (processos) que 
versam sobre o mesmo fato (vale aqui a ocorrência da realidade, pouco importante se as 
tipificações dadas pela acusação forem diversas). 
 
 
34 Direito Processual Penal 
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Nesse sentido, a exceção de litispendência, visa demonstrar que existe já uma causa 
idêntica em outro foro, aindanão julgada, razão pela qual o processo deve ser extinto. Pode 
ser feita a qualquer tempo, pois sua matéria não reclui. Pode ser feita de ofício. Ela visa 
evitar que haja decisões conflitantes para o mesmo impasse. 
 
5.8. Exceção de Ilegitimidade da Parte 
A ilegitimidade da parte é a inadequação da titularidade legal da ação penal, ativa e 
passiva, à que, de fato, está sendo colocada no processo. Exemplo: autor entra com ação 
fundada em direito que não possui. 
 
A exceção de ilegitimidade da parte visa à extinção do processo ou o seu 
retardamento até que seja corrigido o vício de legitimidade. Ela pode ser feita a qualquer 
tempo. Também ocorre quando os pressupostos de validade do processo não foram 
preenchidos. Uma vez decretada a ilegitimidade, o processo pode ser o não anulado, 
conforme seja possível ou impossível a retificação do erro. 
 
5.9. Exceção De Coisa Julgada 
A coisa julgada impede a repetição do processo penal sobre o mesmo fato contra o 
mesmo réu. É outra forma de defesa indireta contra o processo, visando sua extinção, tendo 
em vista que idêntica causa já foi definitivamente julgada em outro foro. 
 
Ela impede que ocorra o que em processo chamamos de bis in idem, ou seja, a dupla 
punição ou o duplo processo pelo mesmo fato, garantindo maior proteção ao indivíduo 
contra eventual abuso do Estado. 
 
As partes podem apresentar a exceção da coisa julgada a qualquer tempo, ou de 
ofício, em petição em separado, por qualquer das partes, sempre determinando a oitiva da 
outra. Admite-se a suscitação verbal, porém é mais incomum. 
 
5.10. Conflito de Jurisdição e de Competência 
O conflito de competência é denominado no Código de Processo Penal como 
conflito de jurisdição. Ele ocorre quando dois ou mais juízes entendem ser competentes 
para apreciar a mesma causa, ou ainda quando nenhum juiz se declara competente. Na 
primeira hipótese acontece o que chamamos de conflito positivo; e no segundo caso, 
temos o chamado conflito negativo. 
 
 
35 Direito Processual Penal 
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Parte da doutrina prefere denominar conflito de jurisdição aquele que se estabelece 
entre juízes de diferentes órgãos, como ocorreria entre o juiz federal e o juiz estadual. Para 
eles, a expressão conflito de competência refere-se a conflitos entre magistrados do mesmo 
órgão, como ocorreria entre juízes estaduais de determinada Comarca. 
 
O conflito pode ser levantado pela parte interessada, pelo Ministério Público e por 
qualquer dos juízos ou tribunais que divergirem. Se positivo, será suscitado por 
requerimento da parte ou do Ministério Público, ou por representação do juízo ou tribunal 
envolvido diretamente perante o tribunal competente para dirimi-lo. Ao recebê-lo, o tribunal 
poderá determinar a suspensão do processo principal a fim de evitar a nulidade, 
requisitando informações dos órgãos jurisdicionais em divergência. Se negativo, poderá ser 
suscitado nos próprios autos, os quais serão remetidos ao tribunal para julgamento. Na 
instrução do incidente poderá ser determinada diligência probatória. 
 
O conflito de competência pode decorrer de atribuição quando a divergência é entre 
autoridades administrativas ou entre estas e autoridade judiciária. Quando se tratar de 
autoridade do mesmo estado, cabe o Tribunal de Justiça dirimi-los. Não havendo 
magistrado, cabe a instituição à qual pertencem. 
 
É de competência do Superior Tribunal de Justiça julgar os conflitos entre tribunais, 
ressalvada a competência do Supremo Tribunal Federal, ou entre tribunais e juízes a eles 
não vinculados e entre juízes subordinados a tribunais diferentes, como por exemplo, um 
juiz federal e um estadual. E compete ao Supremo Tribunal Federal a resolução dos 
conflitos de competência entre os Tribunais Superiores ou entre estes e qualquer outro 
tribunal. 
 
 
 
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 22ed. São Paulo: Saraiva, 2015. 
DELMANTO, Celso; DELMANTO JR., Roberto; DELMANTO, Roberto. Código 
Penal Comentado. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010. 
GARCIA, Ismar Estulano. Inquérito – Procedimento Policial. 12ª. Ed. Goiânia: 
AB, 2009. 
 
 
 
 
 
36 Direito Processual Penal 
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6. TEORIA GERAL DAS PROVAS 
 
Objetivos: 
 Conhecer as teorias que explicam as provas no Processo Penal 
 Identificar a finalidade das provas 
 
Palavras-chave: Provas; Princípios; Teoria. 
 
6.1. Teoria Geral das Provas 
O objetivo do Processo Penal é reconhecer e estabelecer uma verdade jurídica. As 
provas são justamente o meio que possibilita tal objetivo. 
 
Mas o que exatamente são provas? 
As provas são todos os dados produzidos pelas partes e pelo juiz em um processo 
com a finalidade de revelar a existência dos fatos. 
 
Assim a finalidade da prova é formar a convicção do magistrado, para que ele 
possa, baseado nas provas, proferir a decisão da causa. A decisão do juiz fica vinculada 
às provas dos autos, embora ele julgue de acordo com o sistema da livre apreciação (artigo 
157 do CPP). Mas o que é a livre apreciação? Trata-se do sistema de apreciação de provas 
adotado como regra no Brasil, conforme artigo 155, caput, do Código de Processo Penal, 
conjugado com o art. 93, IX, da Constituição da República. 
 
Para você entender melhor transcrevo abaixo o texto da lei: 
 
Artigo 93, IX, da CF: todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão 
públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei 
limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, 
ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do 
interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação. 
Art. 155, caput, do CPP: O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova 
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão 
exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas 
as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas 
 
 
 
37 Direito Processual Penal 
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É fonte de prova tudo aquilo que possa fornecer indicações úteis das quais sejam 
necessárias comprovações. Pode ser considerado como meio de prova, tudo aquilo que 
servir, direta ou indiretamente, para a comprovação da verdade. 
 
O ônus da prova incumbe àquele que fizer a alegação (artigo 156 do CPP). O que 
isso quer dizer é que quem faz uma acusação é quem terá que provar o que está alegando, 
ou seja, não é o acusado que precisa comprovar o contrário. 
 
Com relação ao momento das provas, elas têm um tempo certo para serem 
propostas: (a) pela acusação, na denúncia ou queixa. A autoridade pode ou não deferi-la, 
ou seja, não autorizá-la; (b) pela defesa, em um momento processual chamado defesa 
prévia. Da mesma forma, a autoridade pode ou não deferi-la. 
 
 Mas, atendendo aos princípios da verdade real e da ampla defesa, as provas 
também podem ser determinadas de ofício pelo juiz ou pela autoridade policial a qualquer 
tempo, se preciso. Se necessário à preservação da prova, ou seja, quando há risco de 
perecimento, é possível determinar a produção antecipada de provas (artigos 225 e 366 do 
CPP). 
 
6.2. Princípios da Prova 
Os princípios constitucionais estudados no primeiro texto trazem algumas 
implicações práticas que se aplicam às provas. Vou destacar algumas abaixo: 
 
De acordo com o Princípio da Imparcialidade do Juiz, não há jurisdição sem 
imparcialidade. O juiz deve ser imparcial, neutro entre as partes. 
 
O Princípio do Contraditório permite que argumentos e provas sejam contrariados, 
contestados. Existem provas que são colhidas sem o contraditório, são as chamadas 
provas cautelares, como por exemplo, as perícias. Dizemos que as provas cautelares 
possuem o contraditório diferido, ou seja, adiado,

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