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Informações Gerais Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição 1 Notas Explicativas Esta terceira edição do Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas contém 16 Capítulos constituídos por 82 Seções, apresentadas no formato de fascículos individuais, com o objetivo possibilitar a contínua revisão e atualização dos textos, conforme estabelecido na sua primeira edição. A Tabela a seguir apresenta a relação de capítulos e seções que compõe a estrutura da 3ª Edição do Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas, o estado de desenvolvimento de cada seção e a sua última versão publicada. Esses Capítulos e Seções estão de acordo e abrangem todo o conteúdo da Lei do Estado de São Paulo 13.577/2009 e do seu Decreto Regulamentador 59.263/2013, além da Resolução Conama 420/2009, que foram frutos da aplicação dos conhecimentos difundidos graças à publicação das três primeiras edições do Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas (1999, 2001 e 2021). Os Capítulos e respectivas Seções foram elaboradas por técnicos da CETESB e das entidades representadas na Câmara Ambiental de Áreas Contaminadas, cuja autoria está registrada em cada uma das Seções e em Autores. A publicação do Manual é realizada na página eletrônica da CETESB (https://cetesb.sp.gov.br/) após o encaminhamento da proposta pela Câmara Ambiental de Áreas Contaminadas e a aprovação por meio de Decisão de Diretoria da CETESB n° xxx/2023/P. Informações Gerais Apresentação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição 2 Tabela – Estrutura do Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas SEÇÃO ESTADO VERSÃO Capítulo 1 – Introdução ao Gerenciamento De Áreas Contaminadas 1.1 Introdução Publicado 3.1 1.2 Conceituação Publicado 3.1 1.3 Histórico do Gerenciamento de Áreas Contaminadas no Estado de São Paulo Publicado 3.1 1.4 Conceitos de Hidrogeologia Publicado 3.1 1.5 Conceitos sobre Transporte de Substâncias nas Zonas não Saturada e Saturada Publicado 3.1 1.6 Metodologia de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Publicado 3.1 1.7 Procedimento de Averbação na Matrícula do Imóvel Publicado 3.1 1.8 Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Críticas Publicado 3.1 1.9 Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas em Regiões Prioritárias Publicado 3.1 1.10 Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Órfãs Publicado 3.1 1.11 Medidas Emergenciais em Áreas Contaminadas Publicado 3.1 1.12 Procedimento de Reutilização de Áreas Reabilitadas e Revitalização de Regiões Degradadas Publicado 3.1 1.13 Metodologias para Prevenir a Geração de Áreas Contaminadas Publicado 3.1 1.14 Procedimento de Desativação de Atividades Potencialmente Geradoras de Áreas Contaminadas Publicado 3.1 Capítulo 2 – Bases Legais 2.1 Introdução Publicado 3.1 2.2 Legislação Paulista Publicado 3.1 2.3 Legislação Brasileira Publicado 3.1 2.4 Legislação Estadunidense Publicado 3.1 2.5 Legislação Europeia Publicado 3.1 Capítulo 3 – Cadastro de Áreas Contaminadas e reabilitadas 3.1 Introdução Publicado 3.1 3.2 Sistema de Informações sobre Áreas Contaminadas e Reabilitadas (SIACR) Publicado 3.1 3.3 Divulgação das Informações Publicado 3.1 Capítulo 4 – Identificação de Áreas com Potencial de Contaminação 4.1 Introdução Publicado 3.1 Informações Gerais Notas Explicativas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição 3 SEÇÃO ESTADO VERSÃO 4.2 Atividades Potencialmente Geradoras de Áreas Contaminadas Publicado 3.1 4.3 Consulta a Dados Cadastrais Existentes Publicado 3.1 4.4 Consulta a Fotografias Aéreas ou Imagens de Satélite Multitemporais Publicado 3.1 4.5 Classificação 1 e Priorização de Áreas com Potencial de Contaminação Publicado 3.1 Capítulo 5 – Avaliação Preliminar 5.1 Introdução Publicado 3.1 5.2 Levantamento de Informações Existentes Publicado 3.1 5.3 Levantamento de Informações em Campo Publicado 3.1 5.4 Elaboração do Primeiro Modelo Conceitual e Classificação 2 Publicado 3.1 5.5 Relatório de Avaliação Preliminar Publicado 3.1 Capítulo 6 – Investigação Confirmatória 6.1 Introdução Publicado 3.1 6.2 Elaboração do Plano de Investigação Confirmatória Publicado 3.1 6.3 Execução do Plano de Investigação Confirmatória Publicado 3.1 6.4 Elaboração do Segundo Modelo Conceitual e Classificação 3 Publicado 3.1 6.5 Relatório de Investigação Confirmatória Publicado 3.1 Capítulo 7 – Investigação Detalhada 7.1 Introdução Publicado 3.1 7.2 Elaboração do Plano de Investigação Detalhada Publicado 3.1 7.3 Execução do Plano de Investigação Detalhada Publicado 3.1 7.4 Elaboração do Terceiro Modelo Conceitual e Classificação 4 Publicado 3.1 7.5 Relatório de Investigação Detalhada Publicado 3.1 Capítulo 8 – Avaliação de Risco 8.1 Introdução Publicado 3.1 8.2 Identificação e Caracterização dos Riscos e Danos aos Bens a Proteger Publicado 3.1 8.3 Elaboração do Quarto Modelo Conceitual e Classificação 5 Publicado 3.1 8.4 Relatório de Avaliação de Risco Publicado 3.1 8.5 Planilha de Avaliação de Risco Publicado 3.1 8.6 Comunicação de Risco Publicado 3.1 Capítulo 9 – Elaboração do Plano de Intervenção Informações Gerais Apresentação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição 4 SEÇÃO ESTADO VERSÃO 9.1 Introdução Publicado 3.1 9.2 Definição das Medidas de Intervenção e Técnicas Constituintes Publicado 3.1 9.3 Elaboração do Quinto Modelo Conceitual da Área e Classificação 6 Publicado 3.1 9.4 Plano de Intervenção Publicado 3.1 Capítulo 10 – Execução do Plano de Intervenção 10.1 Introdução Publicado 3.1 10.2 Implantação, Operação e Avaliação do Desempenho das Medidas de Remediação Publicado 3.1 10.3 Implantação e Acompanhamento das Medidas de Controle de Engenharia Publicado 3.1 10.4 Implantação e Acompanhamento das Medidas de Controle Institucional Publicado 3.1 10.5 Elaboração do Sexto Modelo Conceitual e Classificação 7 Publicado 3.1 10.6 Relatório da Execução do Plano de Intervenção Publicado 3.1 Capítulo 11 – Monitoramento para Encerramento 11.1 Introdução Publicado 3.1 11.2 Planejamento e Execução do Monitoramento para Encerramento Publicado 3.1 11.3 Elaboração do Sétimo Modelo Conceitual e Classificação 8 Publicado 3.1 11.4 Relatório de Monitoramento para Encerramento Publicado 3.1 Capítulo 12 – Emissão do Termo de Reabilitação para o Uso Declarado 12.1 Introdução Publicado 3.1 12.2 Procedimento Publicado 3.1 12.3 Elaboração do Oitavo Modelo Conceitual e Classificação 9 Publicado 3.1 Capítulo 13 – Acompanhamento das Medidas de Controle de Engenharia e de Controle Institucional 13.1 Introdução Publicado 3.1 13.2 Medida de Controle de Engenharia Publicado 3.1 13.3 Medida de Controle Institucional Publicado 3.1 13.4 Elaboração do Nono Modelo Conceitual e Classificação 10 Publicado 3.1 13.5 Relatório de Acompanhamento das Medidas de Controle de Engenharia e de Controle Institucional Publicado 3.1 Capítulo 14 – Técnicas de Investigação de Áreas Contaminadas Informações Gerais Notas Explicativas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição 5 SEÇÃO ESTADO VERSÃO 14.1 Introdução Publicado 3.1 14.2 Técnicas para a Caracterização Geológica e Hidrogeológica Publicado 3.1 14.3 Técnicas para a Caracterização da Contaminação Publicado 3.1 14.4 A Importância do Controle de Qualidade na Amostragem e nas Análises Químicas para a Tomada de Decisão Publicado 3.1 14.5 Técnicas para Investigação do Ar Ambiente Publicado 3.1 Capítulo 15 – Medidas de Intervenção em Áreas Contaminadas 15.1 Introdução Publicado 3.1 15.2 Medidas de Remediação por Tratamento Publicado 3.1 15.3 Medidas de Remediação por Contenção 3.1 15.4 Medidas de Controle de Engenharia Publicado 3.1 15.5 Medidas de Controle Institucional Publicado 3.1 Capítulo 16 – Instrumentos 16.1 Introdução Publicado 3.1 16.2 Valores Orientadores Publicadotambém deve conter as técnicas e protocolos de amostragem, de controle de qualidade, de preparação de amostras e de análises, além de plano de infraestrutura, de segurança e o cronograma. b. Executar o plano definitivo de Investigação Confirmatória O plano definitivo de Investigação Confirmatória deve ser executado de acordo com o planejamento e cronograma proposto, destacando-se, entretanto, que esses podem ser alterados em razão da obtenção de novas informações durante a sua execução. As informações obtidas durante a execução da etapa de Investigação Confirmatória devem ser interpretadas pelo responsável técnico, com o objetivo de aperfeiçoar o MCA 1, elaborado na etapa de Avaliação Preliminar e gerar o segundo modelo conceitual da área (MCA 2). c. Revisar as hipóteses de liberação das SQI a partir das fontes de contaminação primárias para os compartimentos do meio ambiente Durante a execução da etapa de Investigação Confirmatória devem ser revistas e complementadas as hipóteses de liberação das SQI descritas na etapa anterior de Avaliação Preliminar, pois agora com informações adicionais provenientes das investigações indiretas e diretas, será possível melhorar a interpretação dos fenômenos de transporte das SQI, a partir da sua saída da fonte de contaminação primária, até o atingimento de compartimentos do meio ambiente adjacentes. Essa atividade pode alterar ou confirmar as hipóteses levantadas na etapa anterior de Avaliação Preliminar, como por exemplo, a explicação dos eventos e fenômenos que provocaram a liberação não desejada de substâncias para os compartimentos do meio ambiente, assim como a definição da posição e dimensões do ponto ou área onde ocorreu a saída da SQI da fonte de contaminação primária. As hipóteses revisadas serão importantes para subsidiar a caracterização mais precisa das fontes de contaminação primárias e dos compartimentos do meio ambiente contaminados (plumas de contaminação), na etapa seguinte de Investigação Detalhada. d. Verificar a possibilidade da área em avaliação ser atingida por contaminação gerada em fonte de contaminação externa, em fonte de contaminação difusa, ou apresentar fonte de contaminação natural Na etapa de Investigação Confirmatória, para verificar a possibilidade da área em avaliação ser atingida por contaminação gerada em fonte de contaminação externa, devem ser realizadas investigações, utilizando-se de métodos diretos e indiretos, em locais a montante, onde as fontes de contaminação internas não são capazes de alterar a qualidade dos compartimentos do meio ambiente. Para verificar a possibilidade da área ser atingida por fonte de contaminação difusa ou apresentar fonte de contaminação natural, além da porção de montante, pode ser necessário considerar outros locais a serem investigados na área em avaliação, dependendo da hipótese de distribuição difusa dos contaminantes nos compartimentos do meio ambiente. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 25 A identificação desses outros tipos de fontes de contaminação é importante para a definição da classificação da área na etapa de Investigação Confirmatória, e para a definição do responsável legal pela execução da etapa seguinte de Investigação Detalhada. e. Identificar os bens a proteger que podem ser efetivamente atingidos pela contaminação. Na etapa de Investigação Confirmatória, os bens a proteger identificados na etapa anterior de Avaliação Preliminar devem passar por nova avaliação, com o objetivo de identificar aqueles que efetivamente podem ser atingidos pela contaminação confirmada, sendo o foco nesse momento aqueles posicionados no interior da área em avaliação. Essas informações são importantes para definir os caminhos potenciais de exposição e, principalmente, para subsidiar o planejamento das etapas seguintes de Investigação Detalhada e Avaliação de Risco. f. Identificar os caminhos de exposição Os caminhos de exposição são os percursos que as SQI podem percorrer, a partir das fontes de contaminação primárias identificadas na etapa de Investigação Confirmatória até os receptores ou bens a proteger identificados na área em avaliação ou na sua vizinhança. Depois da execução da etapa de Investigação Confirmatória, algumas SQI podem ser detectadas nos compartimentos do meio ambiente investigados, em seu percurso até os receptores, trazendo mais evidências de que o caminho de exposição potencial definido no MCA 1 pode se completar ou ser real. Portanto, essas informações são importantes para uma caracterização mais precisa do caminho de exposição, durante execução das etapas seguintes de Investigação Detalhada e Avaliação de Risco, ou mesmo para descartar aqueles que não foram confirmados. g. Definir o segundo modelo conceitual da área (MCA 2) O segundo modelo conceitual da área (MCA 2) é o relato escrito, acompanhado de ilustrações, dos resultados obtidos na execução da etapa de Investigação Confirmatória, contendo principalmente as características das fontes de contaminação primárias, das SQI, dos caminhos potenciais ou reais de exposição e dos bens a proteger. A partir das informações compiladas no MCA 2, serão planejados os trabalhos das etapas seguintes de Investigação Detalhada e Avaliação de Risco. h. Propor nova classificação da área em avaliação Em termos práticos, o objetivo da etapa de Investigação Confirmatória é verificar se a AS em avaliação pode ser classificada como ACI, ou outra classificação possível (Classificação 3, na Figura 1.2-1). A área em avaliação será classificada como ACI, após a execução da etapa de Investigação Confirmatória, quando nessa houver a constatação da presença de: Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 26 I. SQI no solo ou na água subterrânea ou em outro compartimento do meio ambiente em concentrações acima dos valores de intervenção (VI); II. produto ou substância em fase livre; III. substâncias, condições ou situações que, possam representar perigo ou riscos agudos aos bens a proteger; IV. resíduos perigosos dispostos em desacordo com as normas vigentes; V. SQI nos gases e vapores do solo que superem os VI; VI. fonte de contaminação primária atual ou pretérita dentro dos limites da área em avaliação. As situações I a V citadas devem estar relacionadas com fonte de contaminação primária identificada na área em avaliação, para que essa seja classificada como ACI. Em resumo, a área é classificada como ACI quando constatada a contaminação em um ou mais dos compartimentos do meio ambiente, por meio da utilização de métodos diretos de investigação, e como resultado, apresente quantidades ou concentrações das SQI em condições que possam causar riscos aos bens a proteger acima dos níveis aceitáveis. Dessa forma, na etapa de Investigação Confirmatória, para se confirmar a existência de contaminação no compartimento do meio ambiente investigado são utilizados como orientação os valores de intervenção, definidos pelo órgão ambiental gerenciador. Destaca-se, a título de esclarecimento, que os valores de investigação estabelecidos na Resolução CONAMA nº 420/2009 equivalem aos valores de intervenção estabelecidos na Lei do Estado de São Paulo nº 13.577/2009 e em seu Decreto Regulamentador nº 59.263/2013. Portanto, o valor de intervenção ou de investigação, é definido como a concentração de uma determinada SQI, no compartimento do meio ambiente em avaliação, acima da qual há a indicação de que pode haver risco ao bem a proteger acima do nível aceitável, para um cenário conservador. Outras situações ou condições adversas também podem ser utilizadas para cumprir o mesmo papel do valor de intervenção, como, por exemplo, a constatação da presençade fase livre, assim como a constatação da presença de resíduos perigosos depositados ou armazenados de forma inadequada e a identificação de situações que possam representar perigo ou risco agudo. Fase livre é a ocorrência de uma substância, como, por exemplo, gasolina, óleo diesel, tetracloroetileno ou tricloroetileno, em fase separada, imiscível e móvel no subsolo. Resíduos perigosos são aqueles que, em razão de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade, apresentam significativo risco à saúde pública, quando manejados de forma inadequada. Perigo são situações ou condições adversas que implicam ou que podem implicar em riscos agudos ou danos aos bens a proteger. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 27 Cabe ser destacado, que a classificação da área em avaliação como ACI (uma das espécies de AC) não implica no encerramento do Processo de Identificação de Áreas Contaminadas, mas sim, indica a necessidade de sua continuidade, com a realização das etapas de Investigação Detalhada e Avaliação de Risco. A obtenção dessa classificação indica que na área em avaliação existe a possibilidade de ocorrência de riscos aos bens a proteger acima dos níveis aceitáveis, embora ainda não haja comprovação efetiva desse fato. A área em avaliação, durante a etapa de Investigação Confirmatória, pode receber outras classificações, além da classificação como ACI, em razão dos resultados obtidos nessa etapa, resumidos no MCA 2. Caso não sejam identificadas as situações citadas nos incisos I a VI deste item, a área em avaliação é classificada como AP, quando nessa área permanecer funcionando uma atividade potencialmente geradora de áreas contaminadas, ou seja, nela está em atividade uma fonte de contaminação potencial. Caso não sejam identificadas as situações citadas nos incisos I a VI, a área em avaliação é classificada como Área não Contaminada (AN), quando nessa área não permanecer funcionando uma atividade potencialmente geradora de áreas contaminadas, ou seja, nela não está em atividade fonte de contaminação potencial. Caso não sejam identificadas as situações citadas nos incisos I a VI, nem mesmo, fontes de contaminação potenciais atuais ou pretéritas, a área em avaliação será retirada do Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas, uma vez que a sua classificação inicial como AP ou AS foi provocada devido a algum erro ocorrido na etapa de Identificação de Áreas com Potencial de Contaminação ou na etapa de Avaliação Preliminar. Caso sejam identificadas as situações citadas nos incisos I a V deste item, mas a contaminação identificada em pelo menos um dos compartimentos do meio ambiente tem origem constatada em fonte de contaminação externa, em fonte de contaminação difusa ou em fonte de contaminação natural, a área em avaliação deve ser classificada como AFe, AFd ou AQN, respectivamente, conforme a situação. i. Verificar a necessidade de continuidade do Gerenciamento de Áreas Contaminadas O responsável legal pela área classificada como ACI, na etapa de Investigação Confirmatória, deve realizar as etapas seguintes do GAC, ou seja, as etapas de Investigação Detalhada e de Avaliação de Risco. Quando a área for classificada como AP na etapa de Investigação Confirmatória, o GAC, ou mais especificamente, o Processo de Identificação de Áreas Contaminadas será encerrado, podendo ser retomado quando houver interesse na desativação da atividade licenciada ou na reutilização da AP ou por exigência do órgão ambiental gerenciador. Quando a área for classificada como AN na etapa de Investigação Confirmatória, o GAC, ou mais especificamente, o Processo de Identificação de Áreas Contaminadas será encerrado. Quando a classificação inicial como AP ou AS foi provocada devido a algum erro ocorrido na etapa de Identificação de Áreas com Potencial de Contaminação ou de Avaliação Preliminar, o GAC, ou mais especificamente, o Processo de Identificação de Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 28 Áreas Contaminadas será encerrado e a área em avaliação deverá ser retirada da Relação de Áreas com Potencial de Contaminação ou da Relação de Áreas com Suspeita de Contaminação. Quando a área em avaliação for classificada como AFe, AFd ou AQN na etapa de Investigação Confirmatória, o órgão ambiental gerenciador deverá coordenar as ações para identificar a fonte de contaminação externa, difusa, ou a origem da contaminação natural que atinge os compartimentos do meio ambiente na área em avaliação. j. Propor plano preliminar para a execução da etapa de Investigação Detalhada O responsável técnico, designado pelo responsável legal pela área classificada como ACI na etapa de Investigação Confirmatória, deve elaborar plano preliminar para a execução da etapa seguinte do Processo de Identificação de Áreas Contaminadas, ou seja, a etapa de Investigação Detalhada. O MCA 2 deve ser utilizado como base para a elaboração do plano de amostragem preliminar para a execução da etapa de Investigação Detalhada. O plano preliminar para a execução da etapa de Investigação Detalhada deve conter, basicamente, a indicação dos compartimentos do meio ambiente a serem investigados, as estratégias a serem adotadas para a definição da localização e profundidade dos pontos de amostragem e a indicação das SQI a serem consideradas, visando caracterizar as plumas de contaminação presentes nos compartimentos do meio ambiente. A elaboração de planos preliminares para a etapa posterior do GAC é uma ação importante de ser adotada, pois permite melhorar o planejamento de todo o gerenciamento da área, prevendo ações e possíveis dificuldades, além de demonstrar para o órgão ambiental gerenciador qual é estratégia de gestão futura pensada para a área em avaliação. k. Identificar os responsáveis legais e solidários Os responsáveis legais e solidários são as pessoas físicas ou jurídicas candidatas a arcar com a responsabilidade de executar as etapas subsequentes do GAC, quando os resultados da etapa de Investigação Confirmatória indicarem essa necessidade. Entre os responsáveis legais e solidários identificados durante as etapas de Avaliação Preliminar e Investigação Confirmatória (o causador da contaminação e seus sucessores, o proprietário da área, o superficiário, o detentor da posse efetiva ou quem dela se beneficiar direta ou indiretamente), deve ser indicado aquele, ou aqueles, que responderão pelas demandas do órgão ambiental gerenciador a executar a etapa de Investigação Detalhada e de Avaliação de Risco. Nessa situação, cabe ser destacado que o responsável legal pela execução das etapas do Processo de Identificação de Áreas Contaminadas, em primeiro lugar na ordem de prioridade, é do causador da contaminação, ou seja, o responsável pelas operações da área onde se localiza ou onde se localizou a fonte de contaminação primária a partir da qual foi originada a contaminação confirmada na área em avaliação. Quando a área em avaliação for classificada como AFe ou AFd, o causador da contaminação externa ou difusa, identificado pelo órgão ambiental gerenciador, será Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 29 demandado a realizar as etapas do Processo de Identificação de Áreas Contaminadas nas áreas atingidas e na área onde foram identificadas as fontes de contaminação. Entretanto, quando não identificado o causador da contaminação, o próprio responsável legal pela AFe, AFd ou AQN, poderá ser demandado pelo órgão ambiental gerenciador a realizar as etapasseguintes do Processo de Identificação de Áreas Contaminadas em sua área, ou mesmo realizá-las de forma espontânea, caso o causador da contaminação ou o responsável legal pela fonte de contaminação externa ou difusa não seja identificado ou esse não atenda às exigências efetuadas pelo órgão ambiental gerenciador. 3.1.4. Investigação Detalhada A realização da etapa de Investigação Detalhada na área classificada como ACI tem como objetivo geral determinar as características das fontes de contaminação primárias e das contaminações nos compartimentos do meio ambiente (plumas de contaminação), identificadas na etapa anterior de Investigação Confirmatória. Considera-se pluma de contaminação o espaço nos compartimentos do meio ambiente onde existe massa ou concentração da SQI, que pode provocar riscos acima dos níveis aceitáveis aos bens a proteger da área em avaliação ou na sua vizinhança. Esse trabalho de investigação em maior detalhe compreende a coleta e interpretação de uma quantidade de informações suficientes para entender a distribuição da massa ou concentrações das SQI, seus limites e sua dinâmica de propagação nos compartimentos do meio ambiente. Assim como na etapa de Investigação Confirmatória, a etapa de Investigação Detalhada utiliza-se também de métodos diretos e indiretos de investigação (ver Capítulo 7 e Capítulo 14), em pontos estrategicamente posicionados na área em avaliação ou na sua vizinhança. A responsabilidade pela realização da etapa de Investigação Detalhada é do responsável legal, que deve designar um responsável técnico para propiciar a sua execução. Em alguns casos, quando houver o interesse em iniciar um processo de reutilização da ACI ou um processo de desativação da atividade licenciada, ou quando achar pertinente em seu sistema de gestão ambiental, o responsável legal pela ACI poderá executar espontaneamente a etapa de Investigação Detalhada. As informações obtidas na etapa de Investigação Detalhada são utilizadas para subsidiar a execução das etapas subsequentes do Processo de Identificação de Áreas Contaminadas, especialmente, no planejamento da etapa seguinte de Avaliação de Risco. Também é extremamente importante para o desenvolvimento das etapas do Processo de Reabilitação de Áreas Contaminadas. Cabe ao órgão ambiental gerenciador avaliar o Relatório de Investigação Detalhada apresentado pelo responsável legal com os resultados dessa etapa e a gestão das novas informações obtidas. Os resultados da etapa de Investigação Detalhada serão inseridos no Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas, complementando assim a Relação de Áreas Contaminadas sob Investigação, ou até mesmo a Relação de Áreas Contaminadas com Risco Confirmado, quando constatados danos aos bens a proteger nessa etapa. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 30 A seguir, as principais atividades da etapa de Investigação Detalhada são listadas em uma ordem lógica de execução, e descritas com um pouco mais de detalhe nas alíneas subsequentes: Elaborar o plano definitivo de Investigação Detalhada; Executar o plano definitivo de Investigação Detalhada; Descrever as características das fontes de contaminação primária e secundária e das plumas de contaminação; Identificar os bens a proteger que podem ser atingidos por contaminações; Caracterizar os caminhos potenciais e reais de exposição; Definir o terceiro modelo conceitual da área (MCA 3); Propor nova classificação da área em avaliação; Verificar a necessidade de continuidade do Gerenciamento de Áreas Contaminadas; Propor plano preliminar para a execução da etapa de Avaliação de Risco; Identificar os responsáveis legais e solidários. a. Elaborar o plano definitivo de Investigação Detalhada O plano definitivo de Investigação Detalhada deve conter, em resumo, a indicação dos compartimentos do meio ambiente a serem investigados, a definição da localização e profundidade dos pontos de amostragem e a indicação das SQI a serem consideradas. Cabe ser destacado que nessa etapa é comum haver modificações no plano de Investigação Detalhada, sendo esperado modificar o escopo de investigação ao longo do trabalho, algumas vezes em tempo real, com decisões sobre a ampliação ou encerramento das investigações feitas em campo. O plano definitivo de Investigação Detalhada deve ter como base o MCA 2 e o plano preliminar para a execução da etapa de Investigação Detalhada, definidos na etapa de Investigação Confirmatória, além das informações coletadas durante a realização da própria Investigação Detalhada. Conceitualmente, as investigações ou pontos de amostragem, na etapa de Investigação Detalhada, devem estar posicionados: na fonte de contaminação primária ou secundária ou em locais próximos a essas, visando à caracterização das fontes de contaminação; em locais próximos aos pontos onde foi identificada a fonte de contaminação primária ou secundária, visando à caracterização do centro de massa ou do “hot spot” da pluma de contaminação; em locais a jusante da fonte de contaminação primária e dos pontos onde foram constatadas contaminações nos compartimentos do meio ambiente, Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 31 visando à determinação da distribuição da SQI no espaço e à definição dos limites da pluma de contaminação; em locais a montante da fonte de contaminação primária ou secundária e dos pontos onde foram constatadas contaminações nos compartimentos do meio ambiente, visando à determinação da distribuição da SQI no espaço e a definição dos limites da pluma de contaminação; em locais próximos aos bens a proteger, visando à determinação da massa ou da concentração da SQI a qual podem estar expostos; em locais onde foram constatadas anomalias, por meio da utilização de métodos indiretos ou diretos de investigação para a elaboração do plano definitivo da etapa de Investigação Detalhada, ou mesmo por meio de outros métodos aplicados para proporcionar o direcionamento da amostragem. O centro de massa é a parte da pluma de contaminação na qual está concentrada a maior parte da massa da SQI. O “hot spot” é o local onde foi identificada a maior concentração da SQI na pluma de contaminação. O plano da etapa de Investigação Detalhada também deve conter as técnicas e os protocolos de amostragem, de controle de qualidade, de preparação de amostras e de análises, além de plano de infraestrutura e de segurança e o cronograma. b. Executar o plano definitivo de Investigação Detalhada O plano de Investigação Detalhada deve ser executado de acordo com planejamento e cronograma proposto, destacando-se novamente, entretanto, que esse pode ser alterado, em razão da obtenção de novas informações durante a sua execução, como, por exemplo, a descoberta de uma nova fonte de contaminação potencial ou primária. c. Descrever as características das fontes de contaminação primária e secundária e das plumas de contaminação Em resumo, os resultados da execução da etapa de Investigação Detalhada devem representar, o mais próximo possível da realidade, a distribuição da massa ou das concentrações das SQI, no espaço e no tempo, nas fontes de contaminação primária e secundária e nos compartimentos do meio ambiente contaminados (plumas de contaminação). Assim, dentre os resultados da etapa de Investigação Detalhada, de uma forma geral, devem ser obtidos: os limites e as características das fontes de contaminação primárias existentes ou que existiram na área em avaliação; a definição, se as fontes de contaminação primárias estão ativas ou não; os limites e as características das fontes de contaminação secundárias; a definição, se asfontes de contaminação secundárias estão ativas ou não; a localização do centro de massa e do “hot spot”; Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 32 os limites das plumas de contaminação, que podem ser de fase livre, fase retida, fase dissolvida e fase vapor; a caracterização do transporte da SQI pelos compartimentos do meio ambiente; a caracterização da transferência da SQI entre os compartimentos do meio ambiente; a definição da massa ou das concentrações da SQI para as quais os bens a proteger identificados estão ou podem estar expostos. Os limites das plumas de contaminação são definidos com base nos VI, uma vez que esses expressam o valor da SQI acima do qual podem ocorrer riscos aos bens a proteger acima dos níveis aceitáveis em um cenário conservador. Os conceitos apresentados a seguir, de forma resumida, são explicados de forma detalhada na Seção 1.4 e Seção 1.5 do Capítulo 1. As plumas de contaminação podem ser dos seguintes tipos: em fase livre; em fase retida; em fase dissolvida; em fase vapor. A pluma de contaminação em fase livre se caracteriza pela presença da substância ou produto puro, como, por exemplo, a gasolina ou o tetracloroeteno, preenchendo os poros ou fraturas das zonas não saturada ou saturada, apresentando mobilidade. A pluma de contaminação em fase retida se caracteriza pela presença da substância ou produto puro, como, por exemplo, a gasolina, o tetracloroeteno, ou metais retidos na matriz sólida entre os poros ou fraturas das zonas não saturada ou saturada, sem apresentar mobilidade. A pluma de contaminação em fase dissolvida se caracteriza pela presença da substância, como, por exemplo, o benzeno, o tetracloroeteno ou o cromo hexavalente, dissolvido na água subterrânea, existente nos poros ou fraturas das zonas não saturada e principalmente na zona saturada. A pluma de contaminação em fase vapor se caracteriza pela presença de vapores da substância no ar dos poros da zona não saturada. A zona não saturada é a parte dos compartimentos do meio ambiente, como o solo, as rochas, os aterros, onde as suas descontinuidades, como os poros, na forma de espaços entre grãos e fraturas, encontram-se preenchidos com ar e água, enquanto, que na zona saturada, esses estão preenchidos com água. d. Identificar os bens a proteger que podem ser atingidos por contaminações Durante a identificação dos bens a proteger deve-se selecionar, dentre aqueles indicados nas etapas de Avaliação Preliminar e de Investigação Confirmatória, quais Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 33 efetivamente podem ser atingidos pela contaminação, com base nas informações obtidas durante a etapa de Investigação Detalhada, ou seja, aqueles que estejam localizados próximos, sobre ou a jusante das fontes de contaminação primárias ou secundárias e das plumas de contaminação caracterizadas na etapa de Investigação Detalhada. e. Caracterizar os caminhos potenciais e reais de exposição Os caminhos reais de exposição são os percursos que as SQI percorreram, a partir das fontes de contaminação primárias e secundárias caracterizadas na etapa de Investigação Detalhada, dentro dos limites da área em avaliação, até os receptores ou bens a proteger identificados na área em avaliação ou na sua vizinhança. Depois da execução da etapa de Investigação Detalhada, a caracterização dos caminhos potenciais e reais de exposição deve estar próxima da realidade. f. Definir o terceiro modelo conceitual da área (MCA 3). O terceiro modelo conceitual da área (MCA 3) é um relato escrito, acompanhado de ilustrações, dos resultados obtidos na execução da etapa de Investigação Detalhada. A sua representação deve buscar ao máximo se aproximar da realidade, por meio da combinação de informações sobre a posição das fontes de contaminação primárias e secundárias, hidrogeologia, plumas de contaminação, bens a proteger e caminhos reais de exposição, em plantas e seções transversais, ou mesmo em representações tridimensionais elaboradas por “softwares” específicos. Essas informações compiladas e interpretadas são importantes para subsidiar a execução da etapa de Avaliação de Risco e fundamentais para o planejamento e execução das etapas do Processo de Reabilitação de Áreas Contaminadas. g. Propor nova classificação da área em avaliação Em termos práticos, o objetivo da etapa de Investigação Detalhada é verificar, em razão dos resultados obtidos, se a área em avaliação pode ser mantida com a classificação de ACI estabelecida na etapa de Investigação Confirmatória, ou pode receber outra classificação possível (Classificação 4, na Figura 1.2-1). A classificação da área em avaliação será mantida como ACI, após a execução da etapa de Investigação Detalhada, quando nessa for confirmada a manutenção da presença de pelo menos uma das situações identificadas anteriormente na etapa de Investigação Confirmatória, descritas na alínea h, do item 3.1.3 desta Seção, ou seja: I. SQI no solo ou na água subterrânea ou em outro compartimento do meio ambiente em concentração acima do VI; II. produto ou substância em fase livre; III. substâncias, condições ou situações que possam representar perigo ou riscos agudos aos bens a proteger; IV. resíduos perigosos dispostos em desacordo com as normas vigentes; V. SQI nos gases e vapores do solo que supere o VI; Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 34 VI. fonte de contaminação primária atual ou pretérita dentro dos limites da área em avaliação. Caso não sejam identificadas as situações citadas nos itens I a VI, nem mesmo, fontes de contaminação potenciais, a área em avaliação será retirada do Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas, uma vez que a sua classificação inicial como AP ou AS ou ACI foi provocada devido a erros ocorridos nas etapas de Identificação de Áreas com Potencial de Contaminação, de Avaliação Preliminar ou de Investigação Confirmatória. Em algumas situações, a área em avaliação poderá ser classificada como Área Contaminada com Risco Confirmado (ACRi) após a execução da etapa de Investigação Detalhada, quando nessa etapa for confirmada a ocorrência de danos aos bens a proteger, provocados a partir da fonte de contaminação primária identificadas na área em avaliação, como, por exemplo, a constatação da ocorrência de contaminação de um aquífero utilizado para abastecimento público de água. h. Verificar a necessidade de continuidade do Gerenciamento de Áreas Contaminadas O responsável legal pela área classificada como ACI ou ACRi na etapa de Investigação Detalhada, deve ser demandado, pelo órgão ambiental gerenciador, a realizar a etapa seguinte do GAC, ou seja, a etapa de Avaliação de Risco. No caso específico da área já ter sido classificada como ACRi nas etapas anteriores, o objetivo de se realizar a etapa de Avaliação de Risco é complementar a identificação e caracterização de outros possíveis riscos ou danos aos bens a proteger na área em avaliação ou na sua vizinhança. Quando a área em avaliação não for classificada como ACI ou ACRi na etapa de Investigação Detalhada, uma vez que a sua classificação inicial como AP, AS ou ACI foi provocada devido a algum erro ocorrido nas etapas anteriores do Processo de Identificação de Áreas Contaminadas, o GAC poderá ser encerrado e a área em avaliação retirada da Relação de Áreas com Potencial de Contaminação, da Relação de Áreas com Suspeita de Contaminação ou da Relação de Áreas Contaminadas sob Investigação. Os Responsáveis Legais pela ACI também deverão executar a etapa de Avaliação de Riscoquando o órgão ambiental gerenciador indicar essa necessidade, por meio de exigência técnica efetuada em processos administrativos. Os Responsáveis Legais pela ACI poderão executar espontaneamente a etapa de Avaliação de Risco, quando, por exemplo, tiverem interesse em iniciar um processo de reutilização da ACI ou um processo de desativação da atividade licenciada, ou quando acharem pertinente em seu sistema de gestão ambiental. Quando a área em avaliação for classificada como AFe, AFd ou AQN, na etapa de Investigação Detalhada, o órgão ambiental gerenciador deverá coordenar as ações para identificar o responsável pela fonte de contaminação, externa ou difusa, ou a origem da contaminação natural, detectada nos compartimentos do meio ambiente na área em avaliação. i. Propor plano preliminar para a execução da etapa de Avaliação de Risco Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 35 Com os dados disponíveis após a realização da etapa de Investigação Detalhada, o responsável técnico por uma ACI tem condições de elaborar um plano preliminar para a execução da etapa final do Processo de Identificação de Áreas Contaminadas, ou seja, a etapa de Avaliação de Risco. O MCA 3 elaborado na etapa de Investigação Detalhada deve ser utilizado como base para a elaboração do plano preliminar para a execução da etapa de Avaliação de Risco. Dessa forma, o plano preliminar para a execução da etapa de Avaliação de Risco deve considerar o seguinte: as características das fontes de contaminação primária e secundária; as características dos compartimentos do meio ambiente contaminados ou das plumas de contaminação; as características dos caminhos potenciais ou reais de exposição; as características dos bens a proteger. A elaboração de planos preliminares para a etapa posterior do GAC é uma ação importante de ser adotada, pois permite melhorar o planejamento de todo o gerenciamento da área, prevendo ações e possíveis dificuldades, além de demonstrar para o órgão ambiental gerenciador qual é estratégia de gestão futura pensada para a área em avaliação. j. Identificar os responsáveis legais e solidários Os responsáveis legais solidários são as pessoas físicas ou jurídicas candidatas a arcar com a responsabilidade de executar as etapas subsequentes do GAC, quando os resultados da etapa de Investigação Detalhada indicarem essa necessidade. Entre os responsáveis legais solidários identificados durante as etapas de Avaliação Preliminar, Investigação Confirmatória e Investigação Detalhada (o causador da contaminação e seus sucessores, o proprietário da área, o superficiário, o detentor da posse efetiva ou quem dela se beneficiar direta ou indiretamente), deve ser indicado aquele, ou aqueles, que responderão pelas demandas do órgão ambiental gerenciador a executar a etapa de Avaliação de Risco. Cabe ser destacado que a responsabilidade pela execução das etapas do Processo de Identificação de Áreas Contaminadas, em primeiro lugar na ordem de prioridade, é do causador da contaminação, ou seja, o responsável legal pela área onde se localiza ou onde se localizou a fonte de contaminação primária a partir da qual foi originada a contaminação que atingiu a área em avaliação. Quando a área em avaliação for classificada como AFe ou AFd, o causador da contaminação externa ou difusa, identificados pelo órgão ambiental gerenciador, serão demandados a dar continuidade das ações de Gerenciamento de Áreas Contaminadas na área atingida e em sua própria área ou região, conforme o caso. Entretanto, quando não identificado, o responsável legal pela AFe, AFd ou AQN, mesmo não sendo o causador da contaminação, poderá ser demandado pelo órgão ambiental gerenciador para realizar as etapas seguintes do Processo de Identificação de Áreas Contaminadas, ou mesmo realizá-las de forma espontânea nos limites de sua área atingida, caso o causador da contaminação externa ou difusa não seja Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 36 identificado ou esse não atenda às exigências efetuadas pelo órgão ambiental gerenciador. 3.1.5. Avaliação de Risco A etapa de Avaliação de Risco é a última etapa do Processo de Identificação de Áreas Contaminadas. A realização da etapa de Avaliação de Risco em cada ACI tem como objetivo geral definir se haverá a necessidade da implementação de medidas de intervenção na área em avaliação ou na sua vizinhança, com o objetivo de viabilizar seu uso seguro. As medidas de intervenção são ações previstas nas etapas seguintes do GAC, ou seja, nas etapas do Processo de Reabilitação de Áreas Contaminadas. Essas serão necessárias quando na etapa de Avaliação de Risco, ou mesmo em qualquer etapa do GAC, forem observadas as seguintes situações: identificação de fonte de contaminação primária ou secundária ativas; identificação de riscos aos bens a proteger acima dos níveis aceitáveis; identificação de danos aos bens a proteger. A etapa de Avaliação de Risco contempla, basicamente, a identificação e caracterização dos riscos acima dos níveis aceitáveis ou mesmo dos danos gerados pela exposição dos bens a proteger às SQI (ver Capítulo 8). A responsabilidade pela realização da etapa de Avaliação de Risco é do responsável legal, que deve designar um responsável técnico para executá-la. As informações e resultados obtidos na etapa de Avaliação de Risco são determinantes para subsidiar a execução das etapas subsequentes do GAC, ou seja, as etapas do Processo de Reabilitação de Áreas Contaminadas, especialmente, a etapa seguinte de Elaboração do Plano de Intervenção e embasar a comunicação de risco. Em alguns casos, quando não são confirmados riscos acima dos níveis aceitáveis ou danos aos bens a proteger na etapa de Avaliação de Risco, a gestão da área também é encaminhada para o Processo de Reabilitação de Áreas Contaminadas, porém nessa situação para a etapa de Monitoramento para Encerramento (ver item 3.2.3). Cabe ao órgão ambiental gerenciador avaliar o Relatório de Avaliação de Risco apresentado pelo responsável legal e realizar a gestão das novas informações obtidas. Essas informações devem ser inseridas no Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas, complementando a Relação de Áreas Contaminadas com Risco Confirmado ou a Relação de Áreas em Processo de Monitoramento para Encerramento, conforme o caso. A seguir, as principais atividades da etapa de Avaliação de Risco são listadas em uma ordem lógica de execução e descritas com um pouco mais de detalhe nas alíneas subsequentes: Elaborar plano definitivo de Avaliação de Risco; Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 37 Executar o plano definitivo de Avaliação de Risco: Identificar os bens a proteger; Indicar os caminhos de exposição potenciais e reais; Identificar e caracterizar os riscos aos bens a proteger; Identificar e caracterizar os danos aos bens a proteger. Definir o quarto modelo conceitual da área (MCA 4); Propor nova classificação da área em avaliação; Verificar a necessidade de continuidade do GAC; Identificar os responsáveis legais e solidários. a. Elaborar o plano definitivo de Avaliação de Risco O plano definitivo de Avaliação de Risco deve ser elaborado com base nas informações das etapas anteriores do Processo de Identificação de Áreas Contaminadas, consolidadas no MCA 3. Basicamente, esse plano será uma avaliação e atualização conduzida pelo responsável técnico do plano preliminar da etapa de Avaliação de Risco, elaborado ao final da etapa de Investigação Detalhada. Em alguns casos pode ser necessáriaa realização de investigações complementares na etapa de Avaliação de Risco. Nesse caso, o plano definitivo da etapa de Avaliação de Risco também deve conter as técnicas e protocolos de amostragem, de preparação de amostras e de análises, além de plano de infraestrutura, controle de qualidade, de segurança e cronograma. b. Executar o plano definitivo de Avaliação de Risco. O plano definitivo de Avaliação de Risco deve ser executado de acordo com planejamento e cronograma proposto, destacando-se, entretanto, que esses podem ser alterados, em razão da obtenção de novas informações durante a sua execução. c. Identificar os bens a proteger Na identificação dos bens a proteger, devem ser considerados aqueles indicados nas etapas de Avaliação Preliminar, Investigação Confirmatória e de Investigação Detalhada, visando identificar quais efetivamente estão expostos ou que podem estar expostos à contaminação. A abrangência dessa consolidação deve levar em conta os bens a proteger localizados dentro dos limites da área em avaliação e na sua vizinhança e a extensão das plumas de contaminação determinada na etapa de Investigação Detalhada. Os bens a proteger são aqueles que podem ser expostos a quantidades ou concentrações de substâncias provenientes de uma ACRi, e por isso sofrerem danos ou estarem sob risco acima dos níveis aceitáveis. Conforme destacado anteriormente no item 2.2 desta Seção, são considerados bens a proteger: Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 38 receptores humanos (saúde e vida humana); receptores ecológicos; ecossistemas naturais; recursos naturais; recursos ambientais; patrimônio público, privado, coletivo, ambiental, cultural e histórico; ordenação territorial. d. Indicar os caminhos de exposição potenciais ou reais Os caminhos potenciais ou reais de exposição são os percursos que a SQI pode percorrer, a partir da fonte de contaminação, passando pelos compartimentos do meio ambiente, até os receptores ou bens a proteger. A definição dos caminhos potenciais ou reais de exposição, na etapa de Avaliação de Risco, é fundamental para a identificação e quantificação dos riscos ou dos danos aos bens a proteger. A representação de cada caminho potencial ou real de exposição pode ser realizada por meio da descrição das seguintes informações, obtidas durante as etapas do Processo de Identificação de Áreas Contaminadas e consolidadas na etapa de Avaliação de Risco. a potência da fonte de contaminação primária, caracterizada pela massa ou concentração da SQI nela determinada; a potência da fonte de contaminação secundária, caracterizada pela massa ou concentração da SQI nela determinada; a distribuição da massa ou concentração da SQI nas plumas de contaminação, especialmente, no centro de massa; a definição dos limites das plumas de contaminação; a descrição da dinâmica das plumas de contaminação identificadas; a descrição dos fenômenos de transferência da massa da SQI das fontes de contaminação primárias ou secundárias identificadas para os compartimentos do meio ambiente; a descrição dos fenômenos de transferência da massa da SQI entre os compartimentos do meio ambiente ou entre as plumas de contaminação; A descrição dos fenômenos causadores da exposição potencial ou real do bem a proteger com a SQI (via de ingresso), como, por exemplo, a ingestão, inalação de vapores ou contato dérmico. e. Identificar e caracterizar os riscos aos bens a proteger Conforme citado no item 2.2 desta Seção, risco é definido como a probabilidade ou a possibilidade de ocorrência de um dano devido à exposição potencial ou à exposição Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 39 real do bem a proteger a uma determinada substância presente no compartimento do meio ambiente contaminado. A identificação e caracterização dos riscos normalmente é realizada por meio da execução de cálculos ou comparações, utilizando-se de vários tipos de parâmetros ou de informações consolidadas no MCA 3, na etapa anterior de Investigação Detalhada. Os parâmetros ou as informações a serem utilizados para a caracterização dos riscos ou danos dependem do tipo da contaminação e do bem a proteger em avaliação. Por exemplo, podem ser citadas: as concentrações das SQI nas vias de ingresso de cada bem a proteger, ou no centro de massa da pluma de contaminação; os parâmetros de exposição específicos para cada tipo de receptor; as informações toxicológicas das SQI para cada tipo de receptor; o nível de risco considerado aceitável aos bens a proteger (ver alínea h deste subitem 3.1.5); os padrões legais aplicáveis aos bens a proteger. Os parâmetros de exposição são valores determinados para cada tipo de receptor e de caminho exposição, os quais permitem determinar, por exemplo, a quantidade da SQI que adentra um bem a proteger, ou seja, a dose absorvida. As informações toxicológicas, como o próprio nome diz, indica quão tóxica é uma determinada SQI, quando essa interage com o metabolismo de determinado receptor humano ou ecológico. No âmbito da etapa de Avaliação de Risco, quando detectado um risco acima do nível aceitável a um bem a proteger, haverá a possibilidade da ocorrência de um dano significativo, o que demandará a implementação de medidas de intervenção. f. Identificar e caracterizar os danos aos bens a proteger Conforme citado no item 2.2 desta Seção, dano é definido como a ocorrência de um efeito adverso a um bem a proteger, o qual provoca a perda da sua função ou utilidade, ou até mesmo a sua destruição, devido à exposição real do bem a proteger a substância presente no compartimento do meio ambiente contaminado. No caso dos receptores humanos, os danos são caracterizados pela ocorrência de doenças ou morte, provocadas pela exposição crônica ou aguda a uma determinada SQI proveniente de uma AC. Como exemplo de danos para recursos ambientais ou para recursos naturais, pode-se citar a contaminação de parte de um aquífero utilizado para abastecimento de água potável de uma cidade ou de um bairro, causada pela exposição desse recurso a uma determinada SQI proveniente de uma AC. g. Definir o quarto modelo conceitual da área (MCA 4) O quarto modelo conceitual da área (MCA 4) é o relato escrito, acompanhado de ilustrações, dos resultados obtidos na execução da etapa de Avaliação de Risco, sendo descritas, resumidamente, as características das fontes de contaminação Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 40 primárias e secundárias e as SQI, e, em detalhe, os caminhos potenciais e reais de exposição, os receptores da contaminação e os riscos ou danos identificados. O MCA 4 deve ser uma representação similar da realidade, uma vez que será utilizado como base no planejamento da primeira etapa do Processo de Reabilitação de Áreas Contaminadas, ou seja, a etapa de Elaboração do Plano de Intervenção. h. Propor nova classificação da área em avaliação Em termos práticos, o objetivo da etapa de Avaliação de Risco é verificar se a área em avaliação, classificada como ACI após a etapa de Investigação Detalhada, pode ser classificada como Área Contaminada com Risco Confirmado (ACRi), ou outra classificação possível (Classificação 5, na Figura 1.2-1). Finalizada a etapa de Avaliação de Risco, a área em avaliação será classificada como ACRi, quando nessa ou na sua vizinhança houver a constatação da presença de pelos menos uma das situações descritas a seguir, ou seja: I. Realizada a Avaliação de Risco foi constatado que os valores definidos para risco aceitável à saúdehumana foram ultrapassados, sendo adotado o valor de 1x10-5 como o limite aceitável de risco total à saúde humana para exposição a substâncias carcinogênicas, e o valor correspondente ao limite de aceitação para o quociente de risco total igual a 1 (um) para substâncias não carcinogênicas, conforme Resolução CONAMA nº 420/2009. II. Quando for observado risco inaceitável para organismos presentes em ecossistema natural, assim entendido para o Estado de São Paulo como fragmento de vegetação legalmente protegida, seja de Cerrado ou Mata Atlântica, localizado dentro de Unidade de Conservação de Proteção Integral, sendo o nível aceitável de risco definido caso a caso em razão do tipo de organismo presente. III. Nas situações em que as substâncias identificadas em uma área tenham atingido compartimentos do meio ambiente e determinado a ultrapassagem dos padrões legais aplicáveis (PLA) existentes para a proteção dos bens a proteger, como, por exemplo, os padrões de qualidade dos corpos de água superficiais e de potabilidade ou outros padrões legais existentes para outros bens a proteger. IV. Nas situações em que as substâncias identificadas em uma área possam atingir os bens a proteger, determinando a ultrapassagem dos PLA, comprovadas por modelagem do transporte das substâncias. V. Nas situações em que haja risco à saúde ou à vida em decorrência de exposição aguda a substâncias, ou à segurança do patrimônio público, privado, coletivo, ambiental, histórico ou cultural. VI. Nas situações em que sejam identificados danos aos bens a proteger. VII. As situações dos incisos I a VI devem estar relacionadas com fonte de contaminação primária que existe ou que existiu na área em avaliação. Em razão dos resultados obtidos durante a etapa de Avaliação de Risco, a área em avaliação pode receber outras classificações, além da classificação como ACRi. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 41 Caso não sejam identificadas as situações citadas nos incisos I a VII, a área em avaliação é classificada como AME. A área em avaliação também pode ser classificada como AFe, AFd ou AQN na etapa de Avaliação de Risco, caso as situações citadas nos incisos I a VII tenham sido geradas por fonte de contaminação externa, difusa ou natural. i. Verificar a necessidade de continuidade do Gerenciamento de Áreas Contaminadas O responsável legal pela área classificada como ACRi deve realizar a etapa seguinte do GAC, ou seja, a etapa de Elaboração do Plano de Intervenção. O responsável legal pela ACRi poderá executar espontaneamente a etapa de Elaboração do Plano de Intervenção, quando tiver interesse em iniciar um processo de reutilização da ACRi ou um processo de desativação da atividade licenciada ou quando achar pertinente em seu sistema de gestão ambiental. Quando a área em avaliação for classificada como AME, o responsável legal deve realizar a etapa de Monitoramento para Encerramento. Quando a área em avaliação for classificada como AFe, AFd ou AQN, na etapa de Avaliação de Risco, o órgão ambiental gerenciador deve coordenar as ações para a continuidade do caso. j. Identificar os responsáveis legais e solidários Os responsáveis legais e solidários são as pessoas físicas ou jurídicas candidatas a arcar com a responsabilidade de executar as etapas subsequentes do GAC, quando os resultados da etapa de Avaliação de Risco indicarem essa necessidade. Entre os responsáveis legais solidários identificados durante as etapas do Processo de Identificação de Áreas Contaminadas (o causador da contaminação e seus sucessores, o proprietário da área, o superficiário, o detentor da posse efetiva ou quem dela se beneficiar direta ou indiretamente), deve ser indicado aquele, ou aqueles, que responderão pelas demandas do órgão ambiental gerenciador a executar a primeira etapa do Processo de Reabilitação de Áreas Contaminadas, ou seja, a Elaboração do Plano de Intervenção. Cabe ser destacado que a responsabilidade pela execução das etapas do Processo de Reabilitação de Áreas Contaminadas, em primeiro lugar na ordem de prioridade, é do causador da contaminação, ou seja, o responsável legal pela área onde se localiza ou onde se localizou a fonte de contaminação primária a partir da qual foi originada a contaminação que atingiu a área em avaliação. Quando a área em avaliação for classificada como AFe ou AFd na etapa de Avaliação de Risco, o causador da contaminação externa ou difusa, identificados pelo órgão ambiental gerenciador serão demandados a dar continuidade das ações de GAC na área atingida e em sua própria área ou região, conforme o caso. Entretanto, o responsável legal pela AFe, AFd ou AQN, mesmo não sendo o causador, poderá ser demandado pelo órgão ambiental gerenciador para realizar as etapas seguintes do Processo de Reabilitação de Áreas Contaminadas ou mesmo realizá-las de forma espontânea nos limites de sua área atingida, caso o causador da Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 42 contaminação externa ou difusa não seja identificado, ou esse não atenda às exigências efetuadas pelo órgão ambiental gerenciador. 3.2. O Processo de Reabilitação de Áreas Contaminadas Das etapas previstas no GAC, aquelas pertencentes ao Processo de Reabilitação de Áreas Contaminadas buscam implementar as medidas de intervenção em AC, com o objetivo de viabilizar o uso proposto ou implementado de forma segura. O Processo de Reabilitação de Áreas Contaminadas é constituído por cinco etapas: Elaboração do Plano de Intervenção; Execução do Plano de Intervenção; Monitoramento para Encerramento; Emissão do Termo de Reabilitação para o Uso Declarado; Acompanhamento da Medida de Controle de Engenharia (MCE) ou da Medida de Controle Institucional (MCI). 3.2.1. Elaboração do Plano de Intervenção A etapa de Elaboração do Plano de Intervenção inicia o Processo de Reabilitação de Áreas Contaminadas. O plano de intervenção é o documento onde são definidas e planejadas as medidas de intervenção necessárias para viabilizar o uso seguro da ACRi e sua vizinhança, tornando-a uma AR. A etapa de Elaboração do Plano de Intervenção envolve, basicamente, a realização das seguintes ações (ver Capítulo 9): definir o objetivo geral e os objetivos específicos do plano de intervenção; definir as medidas de intervenção a serem adotadas; selecionar as técnicas a serem empregadas em cada uma das medidas de intervenção definidas. Para isso, são utilizadas informações consolidadas no MCA 4, sobre as características das fontes de contaminação primárias ou secundárias, das SQI, dos caminhos potenciais e reais de exposição e dos bens a proteger identificados, além da definição do uso pretendido para a área em avaliação. A responsabilidade pela realização da etapa de Elaboração do Plano de Intervenção é do responsável legal, que deve designar um responsável técnico para a sua execução. As informações obtidas na etapa de Elaboração do Plano de Intervenção são utilizadas para subsidiar a execução das etapas subsequentes do Processo de Reabilitação de Áreas Contaminadas, especialmente, a etapa seguinte de Execução do Plano de Intervenção. Cabe ao órgão ambiental gerenciador a avaliação do relatório da etapa de Elaboração do Plano de Intervenção apresentado pelo responsável legal e a gestão das novas informações obtidas. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 43 Essas informações devem ser inseridas no Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas, de forma a complementar a Relação de Áreas Contaminadas com Risco Confirmado, ou formar uma novaRelação de Áreas Contaminadas em Processo de Reutilização, conforme o caso. A seguir, as principais atividades da etapa de Elaboração do Plano de Intervenção são listadas em uma ordem lógica de execução e descritas com um pouco mais de detalhe nas alíneas subsequentes: Definir o objetivo geral e os objetivos específicos do plano de intervenção; Definir as medidas de intervenção a serem adotadas; Selecionar as técnicas a serem empregadas para implementação de cada medida de intervenção; Descrever o plano de intervenção; Definir o quinto modelo conceitual da área (MCA 5); Propor nova classificação da área em avaliação; Verificar a necessidade de continuidade do GAC; Identificar os responsáveis legais e solidários. a. Definir o objetivo geral e os objetivos específicos do plano de intervenção Inicialmente, antes da escolha das medidas de intervenção a serem implementadas na área em avaliação ou na sua vizinhança é necessário definir o objetivo geral e os objetivos específicos do plano de intervenção. O objetivo geral do plano de intervenção de uma ACRi é estabelecer as condições necessárias para proporcionar o uso seguro definido na área em avaliação. Dessa forma, a primeira condição a ser estabelecida no plano de intervenção de uma ACRi é definir o uso a ser dado para a área em avaliação, que pode ser o uso atual ou outro futuro. Tendo em vista o objetivo geral, os objetivos específicos do plano de intervenção são definidos caso a caso, com base nos resultados das etapas do Processo de Identificação de Áreas Contaminadas. Na escolha dos objetivos específicos, deve-se sempre ter em mente o foco principal do GAC, que é transformar a ACRi em uma AR, por meio do gerenciamento dos riscos ou dos danos identificados. Os objetivos específicos possíveis em um Plano de Intervenção são apresentados a seguir: I. Objetivos específicos relativos às fontes de contaminação primárias e secundárias identificadas: isolar a fonte de contaminação primária ativa; conter a fonte de contaminação primária ativa; Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 44 eliminar a fonte de contaminação primária ativa; isolar a fonte de contaminação secundária ativa; conter a fonte de contaminação secundária ativa; eliminar a fonte de contaminação secundária ativa. II. Objetivos específicos relativos aos caminhos de exposição identificados: eliminar ou interromper o caminho de exposição; reduzir a concentração e tamanho da pluma de contaminação; eliminar a pluma de contaminação. III. Objetivos específicos relativos aos bens a proteger identificados: atingir o nível de risco aceitável ao bem a proteger presente; eliminar o risco identificado aos bem a proteger; remover o receptor ou o bem a proteger. IV. Objetivos específicos relativos aos danos identificados: recuperar totalmente o dano identificado ao bem a proteger; recuperar parcialmente o dano identificado ao bem a proteger. De acordo com a situação da área em avaliação, um ou mais dos objetivos específicos citados podem ser selecionados. b. Definir as medidas de intervenção a serem adotadas Para se atingir os objetivos geral e específicos de um plano de intervenção, existem diversas medidas de intervenção que podem ser adotadas na fonte de contaminação primária, secundária, no compartimento do meio ambiente contaminado ou no bem a proteger. Esse rol de medidas se divide em quatro tipos, descritos a seguir: medidas de remediação por tratamento: envolvem a aplicação de técnicas de remediação que propiciam a redução da concentração da contaminação até a meta de remediação estabelecida, ou mesmo a eliminação da sua massa; medidas de remediação por contenção: envolvem a aplicação de técnicas de remediação que propiciam a contenção ou o isolamento da contaminação; medidas de controle de engenharia: envolvem a utilização das partes constituintes das obras civis, como pisos, paredes e fundações, como um dispositivo para evitar a exposição do bem a proteger à contaminação presente; medidas de controle institucional: envolvem o estabelecimento de restrições de uso e ocupação em uma determinada área, ou de exploração dos compartimentos do meio ambiente contaminados, visando evitar a exposição do bem a proteger à contaminação. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 45 No decorrer da execução do plano de intervenção, as medidas de intervenção podem ser implementadas de forma isolada ou em conjunto e sua escolha deve ser feita pelo responsável técnico com base nas seguintes informações: o uso a ser dado à área em avaliação; as informações contidas no MCA 4; os objetivos específicos do plano de intervenção; o prazo disponível para se atingir a reabilitação da área, definido por meio de exigência estabelecida pelo órgão ambiental gerenciador ou em razão dos interesses do responsável legal; a sustentabilidade das medidas de intervenção propostas, ou seja, a escolha e avaliação das medidas, ou do conjunto de medidas, que proporcionem a melhor solução nas dimensões ambientais, econômicas e sociais; a possibilidade de proporcionar a revitalização da região onde a área se insere. c. Selecionar as técnicas a serem empregadas para implementação de cada medida de intervenção Depois da definição das medidas de intervenção, deverá ser selecionada a técnica, ou o conjunto de técnicas correspondente, para a implementação de cada medida de intervenção. Para tanto, o responsável técnico deverá estabelecer critério de seleção que considere o seguinte: a disponibilidade da técnica; a sua aplicabilidade, considerando as características da fonte de contaminação primária e secundária, da SQI, do compartimento do meio ambiente contaminado ou da pluma de contaminação e do bem a proteger envolvidos, além das características do uso atual e futuro da área; as concentrações máximas aceitáveis (CMA) a serem consideradas; a sustentabilidade da técnica (melhor solução ambiental, que seja economicamente viável e represente ganhos sociais); o histórico de utilização da técnica para casos similares; o tempo disponível para reabilitação da área em avaliação. Alguns exemplos de técnicas de remediação são o bombeamento e tratamento, extração de vapores do solo, implantação de barreiras permeáveis reativas, oxidação química in situ, tratamento termal e atenuação natural monitorada. A comparação de diferentes técnicas é essencial quando se trata das medidas de remediação. Para as medidas de controle institucional, é importante descrever a forma e parâmetros de sua implantação, como, por exemplo, as dimensões do polígono de restrição de uso da água subterrânea, sua profundidade e forma de acompanhamento. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 46 No caso de uma medida de controle de engenharia é importante definir suas características, como a extensão, espessura e durabilidade de um piso da própria edificação que será utilizado para eliminar a exposição da contaminação a um bem a proteger. d. Descrever o plano de Intervenção No plano de intervenção deverão ser apresentadas as seguintes informações: o uso pretendido para a área em avaliação; os objetivos específicos a serem alcançados com a implementação do plano de intervenção; a descrição das medidas de intervenção e os critérios adotados para a sua seleção; a descrição das técnicas a serem utilizadas na implementação de cada uma das medidas de intervenção, e os critérios adotados para a sua seleção; a indicação das metas deremediação propostas para as medidas de remediação; A indicação das CMA para as medidas de controle de engenharia e das medidas de controle institucional; o mapa de intervenção especificando as áreas de atuação das medidas de intervenção selecionadas, e a localização dos pontos de conformidade de cada uma delas; o projeto básico das medidas de remediação, das medidas de controle de engenharia e das medidas de controle institucional selecionadas; o plano preliminar de monitoramento da eficiência e eficácia das medidas de remediação para tratamento, da eficácia das medidas de remediação por contenção e do acompanhamento e/ou monitoramento das medidas de controle de engenharia e de controle institucional propostas; o plano preliminar para a execução da etapa de Monitoramento para Encerramento; o cronograma do plano de intervenção; o plano de aplicação de recursos, de infraestrutura, de segurança e de logística; a relação dos responsáveis legais identificados, com a indicação das obrigações cabíveis a cada um deles na etapa seguinte de Execução do Plano de Intervenção. Os pontos de conformidade são pontos, áreas ou volumes dos compartimentos do meio ambiente, definidos no plano de intervenção, em que será verificado o atingimento das metas de remediação e/ou a manutenção da aplicação das medidas de intervenção. e. Definir o quinto modelo conceitual da área (MCA 5) Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 47 O quinto modelo conceitual da área (MCA 5) é o relato escrito, acompanhado de ilustrações, dos resultados obtidos na execução da etapa de Elaboração do Plano de Intervenção, contendo resumidamente, as características das medidas de intervenção propostas, das SQI, dos caminhos potenciais e reais de exposição e dos bens a proteger. Os resultados representados no MCA 5 são fundamentais para a realização da etapa seguinte de Execução do Plano de Intervenção. f. Propor nova classificação da área em avaliação Em termos práticos, na etapa de Elaboração do Plano de Intervenção a área em avaliação mantém sua classificação como ACRi, obtida após a realização da etapa de Avaliação de Risco, ou pode ser classificada como ACRu (Classificação 6, na Figura 1.2-1). Observa-se que a área em avaliação somente será classificada como ACRu, quando o plano de intervenção elaborado for aprovado pelo órgão ambiental gerenciador e prever em seu escopo a reutilização da ACRi. O processo de reutilização de uma AC é aquele onde o responsável legal pretende encerrar uma atividade potencialmente geradora de áreas contaminadas, a partir da qual foi gerada uma AC e implementar outro uso nessa área após a sua reabilitação, seja ele um uso com ou sem potencial de contaminação (ver Seção 1.12). g. Verificar a necessidade de continuidade do GAC O responsável legal pela área classificada como ACRi ou ACRu na etapa de Elaboração do Plano de Intervenção, deve realizar a etapa seguinte do GAC, ou seja, a etapa de Execução do Plano de Intervenção. Os responsáveis legais pelas ACRi poderão executar espontaneamente a etapa de Execução do Plano de Intervenção, quando tiverem interesse em iniciar um processo de reutilização ou um processo de desativação da atividade licenciada, ou quando acharem pertinente em seu sistema de gestão ambiental. h. Identificar os responsáveis legais e solidários Os responsáveis legais e solidários são as pessoas físicas ou jurídicas candidatas a arcar com a responsabilidade de executar as etapas subsequentes do GAC, quando os resultados da etapa de Elaboração do Plano de Intervenção indicarem essa necessidade. Entre os responsáveis legais e solidários identificados durante as etapas do Processo de Identificação de Áreas Contaminadas (o causador da contaminação e seus sucessores, o proprietário da área, o superficiário, o detentor da posse efetiva ou quem dela se beneficiar direta ou indiretamente), deve ser indicado aquele, ou aqueles, que responderão pelas demandas do órgão ambiental gerenciador a executar a etapa de Execução do Plano de Intervenção. 3.2.2. Execução do Plano de Intervenção A Execução do Plano de Intervenção em cada ACRi ou ACRu tem como objetivo geral implementar as medidas de intervenção definidas na etapa anterior de Elaboração do Plano de Intervenção, visando torná-la uma AR. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 48 A etapa de Execução do Plano de Intervenção envolve a realização das seguintes ações, em conjunto ou isoladamente, quando previstas no plano de intervenção (ver Capítulo 10): implantação, operação e avaliação do desempenho das medidas de remediação por tratamento ou por contenção; implantação das medidas de controle de engenharia; implantação das medidas de controle institucional. A responsabilidade pela realização da etapa de Execução do Plano de Intervenção é do responsável legal, que deve designar um responsável técnico para propiciar a sua execução. As informações obtidas na etapa de Execução do Plano de Intervenção são utilizadas para subsidiar a realização da etapa seguinte de Monitoramento para Encerramento. Observa-se que, na etapa de Execução do Plano de Intervenção, a área será classificada como Área Contaminada em Processo de Remediação (ACRe) quando for iniciada uma medida de remediação prevista no plano de intervenção. Cabe ao órgão ambiental gerenciador a avaliação do Relatório da etapa de Execução do Plano de Intervenção apresentado pelo responsável legal e a gestão das informações obtidas, que devem ser inseridas no Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas, complementando a Relação de Áreas em Processo de Remediação ou a Relação de Áreas em Processo de Monitoramento para Encerramento. A seguir, as principais atividades da etapa de Execução do Plano de Intervenção são listadas em uma ordem lógica de execução e descritas com um pouco mais de detalhe nas alíneas subsequentes: Implantação, operação e avaliação do desempenho das medidas de remediação por tratamento ou por contenção; Implantação das medidas de controle de engenharia; Implantação das medidas de controle institucional; Definir o sexto modelo conceitual da área (MCA 6); Propor nova classificação da área em avaliação; Verificar a necessidade de continuidade do GAC; Identificar os responsáveis legais e solidários. a. Implantação, operação e avaliação do desempenho das medidas de remediação Um dos objetivos específicos da etapa de Execução do Plano de Intervenção é implantar, quando previstas, as medidas de remediação selecionadas na etapa de Elaboração do Plano de Intervenção. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 49 Geralmente, as medidas de remediação compreendem sistemas de tratamento ou de contenção da contaminação, que utilizam uma ou mais técnicas de remediação de forma conjunta ou isolada. Os sistemas de remediação funcionam na área por um período necessário para se atingir as metas de remediação, o que demanda, portanto, atividades de operação. Essas são necessárias para garantir o funcionamento do sistema de remediação dentro dos parâmetros previstos em projeto. Juntamente com as atividades de operação é realizado o monitoramento da eficiência e eficácia do sistema de remediação, que consiste na avaliação do seu desempenho e verificação do atingimento das metas de remediação nos pontos de conformidade. b. Implantação das medidas de controle de engenharia Um dos objetivos específicos da etapa de Execução do Plano de Intervenção é implantar, quando previstas, as medidas de controle de engenharia selecionadasna etapa de Elaboração do Plano de Intervenção. Por definição, a implantação dessa medida ocorre durante a construção das obras civis previstas no projeto futuro proposto para a área. Quando prontas, as medidas de controle de engenharia também demandam acompanhamento nos pontos de conformidade e, principalmente, comprovação de execução de acordo com o projeto apresentado e aprovado no plano de intervenção, conforme descrito na etapa a seguir de Acompanhamento da Medida de Controle de Engenharia ou da Medida de Controle Institucional. c. Implantação das medidas de controle institucional Um dos objetivos específicos da etapa de Execução do Plano de Intervenção é implantar, quando previstas, as medidas de controle institucional selecionadas na etapa de Elaboração do Plano de Intervenção. Depois de ocorrer a aprovação do órgão ambiental gerenciador, a implantação das medidas de controle institucional é imediata, pois necessita-se apenas de uma formalização documental que especifique a área ou volume de abrangência. As medidas de controle institucional geralmente são propostas, aprovadas e implementadas com uma configuração inicial definida na etapa de Elaboração do Plano de Intervenção, podendo posteriormente serem aperfeiçoadas ou, dependendo da qualidade do meio quando da reabilitação, serem encerradas. Quando uma AR requer a manutenção de uma medida de controle institucional, essa também precisa ser acompanhada nos pontos de conformidade aprovados no plano de intervenção, conforme a etapa de Acompanhamento da Medida de Controle de Engenharia ou da Medida de Controle Institucional. d. Definir o sexto modelo conceitual da área (MCA 6) O MCA 6 é o relato escrito, acompanhado de ilustrações, dos resultados obtidos na realização da etapa de Execução do Plano de Intervenção, sendo descritas basicamente as condições em que se encontram as fontes de contaminação primária e secundária, as SQI, os caminhos potenciais e reais de exposição e os bens a proteger, após implantação e execução das medidas de intervenção. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 50 Os resultados dessa etapa são fundamentais para a realização da etapa seguinte de Monitoramento para Encerramento. e. Propor nova classificação da área em avaliação Em termos práticos, o objetivo a ser atingido ao final da etapa de Execução do Plano de Intervenção é verificar se a área em avaliação, classificada como ACRi ou ACRu ou ACRe, pode ser classificada como Área em Processo de Monitoramento para Encerramento (AME), ou outra classificação possível (Classificação 7, na Figura 1.2- 1). As situações para classificar uma ACRi, ACRu ou ACRe como AME, são descritas a seguir: quando for constatado o atingimento das metas de remediação, pela aplicação de medidas de remediação, e as medidas de controle de engenharia e as medidas de controle institucional, quando previstas, tenham sido implantadas; quando o plano de intervenção indicar somente a necessidade de implementação de medidas de controle de engenharia e/ou de medidas de controle institucional e essas tenham sido implantadas. f. Verificar a necessidade de continuidade do Gerenciamento de Áreas Contaminadas O responsável legal pela área classificada como AME na etapa de Execução do Plano de Intervenção deve realizar a etapa seguinte do GAC, ou seja, a etapa de Monitoramento para Encerramento. O Monitoramento para Encerramento pode ser executado espontaneamente pelo responsável legal da AME, quando houver o interesse em iniciar um processo de reutilização ou um processo de desativação da atividade licenciada, ou quando acharem pertinente em seu sistema de gestão ambiental. g. Identificar os responsáveis legais e solidários Os responsáveis legais solidários são as pessoas físicas ou jurídicas candidatas a arcar com a responsabilidade de executar as etapas subsequentes do GAC, quando os resultados da etapa de Execução do Plano de Intervenção indicarem essa necessidade. Entre os responsáveis legais solidários identificados durante as etapas do Processo de Identificação de Áreas Contaminadas (o causador da contaminação e seus sucessores, o proprietário da área, o superficiário, o detentor da posse efetiva ou quem dela se beneficiar direta ou indiretamente), deve ser indicado aquele, ou aqueles, que responderão pelas demandas do órgão ambiental gerenciador a executar a etapa de Monitoramento para Encerramento. 3.2.3. Monitoramento para Encerramento A realização da etapa de Monitoramento para Encerramento, na área classificada como AME, tem como finalidade verificar a manutenção da situação obtida após a Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 51 realização da etapa de Execução do Plano de Intervenção, condição essa necessária para possibilitar a classificação da área em avaliação como AR. A etapa de Monitoramento para Encerramento é executada, basicamente, a partir da realização de campanhas de monitoramento nos pontos de conformidade das medidas de intervenção, definidas no plano de intervenção (ver Capítulo 11). A responsabilidade pela realização da etapa de Monitoramento para Encerramento é do responsável legal, que deve designar um responsável técnico para propiciar a sua execução. Os resultados obtidos na etapa de Monitoramento para Encerramento são utilizados para subsidiar a execução da etapa subsequente do GAC, ou seja, a etapa de Emissão do Termo de Reabilitação para o Uso Declarado. Cabe ao órgão ambiental gerenciador a avaliação dos relatórios de monitoramento para encerramento apresentados pelo responsável legal e a gestão das informações obtidas na etapa de Monitoramento para Encerramento, que devem ser inseridas no Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas, formando e complementando a Relação de Áreas em Processo de Monitoramento para Encerramento e da Relação de Áreas Reabilitadas para o Uso Declarado. A seguir, as principais atividades da etapa de Monitoramento para Encerramento são listadas em uma ordem lógica de execução e descritas com um pouco mais de detalhe nas alíneas subsequentes: Realizar campanhas de monitoramento nos pontos de conformidade; Definir o sétimo modelo conceitual da área (MCA 7); Propor nova classificação da área em avaliação; Verificar a necessidade de continuidade do Gerenciamento de Áreas Contaminadas; Identificar os responsáveis legais e solidários. a. Realizar campanhas de monitoramento nos pontos de conformidade A etapa de Monitoramento para Encerramento é realizada por meio da execução de campanhas de amostragem nos pontos de conformidade, visando: comprovar a permanência de um estado de equilíbrio e estabilidade da massa ou concentração da SQI no tempo, após a implantação e encerramento das medidas de remediação. ratificar a ausência de risco e o encerramento da aplicação da medida de remediação; ratificar a necessidade de manutenção da medida de controle de engenharia; ratificar a necessidade de manutenção da medida de controle institucional. Na maioria dos casos o monitoramento para encerramento é focado no acompanhamento das concentrações das SQI em água subterrânea da zona saturada ou na fase vapor da zona não saturada, mas pode abranger a amostragem de Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 52 qualquer outro compartimento do meio ambiente cujo monitoramento se mostrar necessário, como o solo, sedimentos, água superficial, pisos e paredes. b. Definir o sétimo modelo conceitual da área (MCA 7) O MCA 7 é o relato escrito, acompanhado de ilustrações, dos resultados obtidos na execução3.1 16.3 Fundo Estadual para a Prevenção e Remediação de Áreas Contaminadas (FEPRAC) Publicado 3.1 16.4 Educação Ambiental Publicado 3.1 Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas - 3ª Edição – Versão 3.1 1 Seção 1.1: Introdução Autor: Fernando R. Scolamieri Pereira O Capítulo 1, Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas, apresenta os principais conceitos, bem como a introdução às diferentes metodologias atualmente adotadas durante as etapas do Gerenciamento de Áreas Contaminadas. Por meio de quatorze Seções, o Capítulo 1 busca apresentar de forma prática e resumida os principais fundamentos à implementação do Gerenciamento de Áreas Contaminadas, sendo recomendada a sua leitura, de forma sequencial, como ponto de partida para todos aqueles interessados no assunto, em especial, para órgãos ambientais gerenciadores, responsáveis legais e responsáveis técnicos. As Seções do Capítulo 1 estão dividas da seguinte maneira: 1.1 Introdução 1.2 Conceituação 1.3 Histórico do Gerenciamento de Áreas Contaminadas no Estado de São Paulo 1.4 Conceitos de Hidrogeologia 1.5 Conceitos sobre Transporte de Substâncias nas Zonas não Saturada e Saturada 1.6 Metodologia de Gerenciamento de Áreas Contaminadas 1.7 Procedimento de Averbação na Matrícula do Imóvel 1.8 Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Críticas 1.9 Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas em Regiões Prioritárias 1.10 Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Órfãs 1.11 Medidas Emergenciais em Áreas Contaminadas 1.12 Procedimento de Reutilização de Áreas Reabilitadas e Revitalização de Regiões Degradadas 1.13 Metodologias para Prevenir a Geração de Áreas Contaminadas 1.14 Procedimento de Desativação de Atividades Potencialmente Geradoras de Áreas Contaminadas Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 1 Seção 1.2: Conceituação Autores: Elton Gloeden e André Silva Oliveira Sumário 1. Introdução ............................................................................................................ 2 2. Área com Potencial de Contaminação (AP) e Área Contaminada (AC) ........... 4 2.1. Fonte de contaminação .................................................................................. 5 2.2. Danos e riscos aos bens a proteger em áreas contaminadas ......................... 8 3. Gerenciamento de Áreas Contaminadas ......................................................... 10 3.1. O Processo de Identificação de Áreas Contaminadas .................................. 15 3.1.1. Identificação de Áreas com Potencial de Contaminação ....................... 15 3.1.2. Avaliação Preliminar .............................................................................. 16 3.1.3. Investigação Confirmatória .................................................................... 22 3.1.4. Investigação Detalhada ......................................................................... 29 3.1.5. Avaliação de Risco ................................................................................ 36 3.2. O Processo de Reabilitação de Áreas Contaminadas ................................... 42 3.2.1. Elaboração do Plano de Intervenção ..................................................... 42 3.2.2. Execução do Plano de Intervenção ....................................................... 47 3.2.3. Monitoramento para Encerramento ....................................................... 50 3.2.4. Emissão do Termo de Reabilitação para o Uso Declarado .................... 53 3.2.5. Acompanhamento da Medida de Controle de Engenharia ou da Medida de Controle Institucional ...................................................................................... 55 3.3. Aspectos Legais ........................................................................................... 57 4. Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas: instrumento principal do GAC ........................................................................................................................... 57 5. Procedimento de Averbação de Informações na Matrícula do Imóvel ........... 58 6. Gerenciamento de Áreas Contaminadas Críticas ........................................... 58 7. Gerenciamento de Áreas Contaminadas em Regiões Prioritárias ................. 59 8. Gerenciamento de Áreas Contaminadas Órfãs ............................................... 59 9. Medidas Emergenciais em Áreas Contaminadas ............................................ 59 10. Procedimento de Reutilização de Áreas Contaminada e Revitalização de Regiões Degradadas ................................................................................................ 59 11. Metodologias Utilizadas para Prevenir a Geração de Áreas Contaminadas 60 12. Procedimento de Desativação de Atividades Potencialmente Geradoras de Áreas Contaminadas ................................................................................................ 60 Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 2 1. Introdução Nesta Seção 1.2 são apresentados os conceitos básicos e as definições relacionados ao tema “áreas contaminadas”, com o objetivo de proporcionar melhor entendimento do conteúdo apresentado nos Capítulos e Seções deste Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas. Como definição, uma Área Contaminada (AC) é uma área onde existe ou existiu fonte de contaminação primária e, como resultado, contém quantidades de matéria ou concentrações de substâncias, em ao menos um dos compartimentos do meio ambiente, capazes de causar danos aos bens a proteger. Os compartimentos do meio ambiente são os solos, os sedimentos, as rochas, os materiais utilizados para aterrar os terrenos, as construções, as águas subterrâneas e superficiais, o ar e os organismos vivos. O Gerenciamento de Áreas Contaminadas (GAC) é o conjunto de ações de identificação, caracterização e implementação de medidas de intervenção em AC localizadas em uma região de interesse, com o objetivo de viabilizar o uso seguro proposto ou implementado em cada uma delas, culminando na sua classificação como Área Reabilitada para o Uso Declarado (AR) ao final do desenvolvimento das etapas do GAC. Portanto, uma AR é aquela em que os riscos acima dos níveis aceitáveis ou os danos identificados e caracterizados aos bens a proteger foram gerenciados satisfatoriamente após a execução das etapas do GAC. Observa-se que o uso declarado em uma AR deve estar em consonância com o permitido pela legislação de uso e ocupação do solo vigente na região onde ela se insere. O GAC foi introduzido no Estado de São Paulo e no Brasil por meio da publicação da primeira edição deste Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas em 1999 (ver Seção 1.3 deste Capítulo 1). Atualmente, o GAC é amplamente aplicado, uma vez que foi incorporado na legislação ambiental vigente, sendo descrito na Resolução CONAMA nº 420/2009, na Lei do Estado de São Paulo nº 13.577/2009 e no seu Decreto Regulamentador nº 59.263/2013 (ver Capítulo 2). Nesta Seção 1.2 também é apresentado um resumo da Metodologia de Gerenciamento de Áreas Contaminadas, contendo basicamente uma descrição das suas etapas, visando explicar de forma simples e clara como se dá o funcionamento do GAC. A Metodologia de Gerenciamento de Áreas Contaminadas baseia-se em uma estratégia constituída por etapas sequenciais, em que a informação obtida em cada etapa é a base para a execução da etapa posterior. As ações previstas na Metodologia de Gerenciamento de Áreas Contaminadas compreendem a realização de investigações, que visam identificar e caracterizar as AC dentro da região de interesse eda etapa de Monitoramento para Encerramento, sendo descritas basicamente as condições atingidas e permanentes das fontes de contaminação primária e secundárias, das SQI, dos caminhos potenciais e reais de exposição e dos bens a proteger, que demonstrem a manutenção da ausência de danos ou riscos acima no nível aceitável. Os resultados dessa etapa são fundamentais para a realização da etapa seguinte de Emissão do Termo de Reabilitação para o Uso Declarado. c. Propor nova classificação da área em avaliação Em termos práticos, o objetivo da etapa de Monitoramento para Encerramento é verificar se a área em avaliação, classificada como AME, pode ser classificada como AR (Classificação 8, na Figura 1.2-1). Uma AR é aquela em que os riscos acima dos níveis aceitáveis ou os danos caracterizados aos bens a proteger foram gerenciados satisfatoriamente, por meio da execução de medidas de intervenção, cujos resultados proporcionam condições seguras e permanentes para o uso declarado da área, atual ou pretendido, em consonância com a legislação de uso e ocupação do solo vigente da região. Dessa forma, quando realizada satisfatoriamente a etapa de Monitoramento para Encerramento, a área classificada como AME passa a ser classificada como AR nas seguintes situações: quando for comprovada a manutenção do atingimento das metas de remediação pela aplicação de medidas de remediação, e as medidas de controle de engenharia e/ou as medidas de controle institucional, quando previstas no plano de intervenção, tenham sido implementadas; quando o plano de intervenção indicar somente a necessidade de implementação de medidas de controle de engenharia e/ou de medidas de controle institucional, e essas tenham sido implementadas. Se durante o monitoramento para encerramento for constatado um desequilíbrio e aumento repentino das concentrações, o monitoramento pode ser estendido para melhor entendimento da situação, persistindo a área em avaliação classificada como AME. Caso os aumentos de concentração sejam recorrentes, de forma que uma estabilidade não seja comprovada, a área recebe novamente a classificação como ACRi, devendo as medidas de intervenção necessárias serem revistas ou retomadas pelo Responsável Legal. d. Verificar a necessidade de continuidade do Gerenciamento de Áreas Contaminadas O responsável legal pela área classificada como AR deve fornecer ao órgão ambiental gerenciador os documentos e as informações necessárias para a realização da etapa Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 53 de Emissão do Termo de Reabilitação para o Uso Declarado. Além dos resultados do monitoramento para encerramento, é importante fornecer e destacar as seguintes informações: cópia atualizada das matrículas dos imóveis da área em avaliação; coordenadas georreferenciadas do polígono da medida de controle de engenharia; coordenadas georreferenciadas do polígono da medida de controle institucional e profundidade, quando a restrição se aplica a um sistema tridimensional, como um aquífero por exemplo; frequência do acompanhamento das medidas de controle de engenharia e de controle institucional; uso futuro pretendido na área. Nos casos das áreas que foram reabilitadas sob a condição de se implantar medidas de controle institucional e/ou medidas de controle de engenharia, o responsável legal deverá realizar a etapa seguinte do GAC, ou seja, a etapa de Acompanhamento da Medida de Controle de Engenharia ou da Medida de Controle Institucional. e. Identificar os responsáveis legais e solidários Os responsáveis legais e solidários são as pessoas físicas ou jurídicas candidatas a arcar com a responsabilidade de executar as etapas subsequentes do GAC, quando os resultados da etapa de Monitoramento para Encerramento indicarem essa necessidade. Entre os responsáveis legais solidários identificados durante as etapas do Processo de Identificação de Áreas Contaminadas (o causador da contaminação e seus sucessores, o proprietário da área, o superficiário, o detentor da posse efetiva ou quem dela se beneficiar direta ou indiretamente), deve ser indicado aquele, ou aqueles, que fornecerão os documentos e as informações necessárias para o órgão ambiental gerenciador executar a etapa de Emissão do Termo de Reabilitação para o Uso Declarado, e aqueles que deverão executar a etapa de Acompanhamento da Medida de Controle de Engenharia ou da Medida de Controle Institucional, caso necessário. 3.2.4. Emissão do Termo de Reabilitação para o Uso Declarado A etapa de Emissão do Termo de Reabilitação para o Uso Declarado tem como objetivo geral emitir o documento denominado Termo de Reabilitação para o Uso Declarado para uma determinada AR. O Termo de Reabilitação para o Uso Declarado é um documento que comprova a classificação de uma determinada área como AR (ver Capítulo 12). A responsabilidade pela realização da etapa de Emissão do Termo de Reabilitação para o Uso Declarado é do órgão ambiental gerenciador. Por isso, o responsável legal por uma AR deve fornecer os documentos e informações necessárias para que seja possível emitir o Termo de Reabilitação para o Uso Declarado (ver alínea d do subitem 3.2.3 desta Seção). Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 54 Quando a área é reabilitada sob a condição de se manter implantada uma medida de controle institucional e/ou medida de controle de engenharia, as informações obtidas na etapa de Emissão do Termo de Reabilitação para o Uso Declarado são utilizadas para subsidiar a execução das etapas subsequentes do GAC, ou seja, a etapa de Acompanhamento das Medidas de Controle de Engenharia ou das Medidas de Controle Institucional. Cabe ao órgão ambiental gerenciador a avaliação do documento apresentado pelo Responsável Legal que deve solicitar formalmente a emissão do Termo de Reabilitação. Caso a reabilitação seja possível nas condições colocadas, as novas informações sobre a área em avaliação devem ser inseridas no Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas, atualizando a Relação de Áreas Reabilitadas para o Uso Declarado. A seguir, as principais atividades da etapa de Emissão do Termo de Reabilitação para o Uso Declarado são listadas em uma ordem lógica de execução e descritas com um pouco mais de detalhe nas alíneas subsequentes: Descrever o conteúdo do Termo de Reabilitação para o Uso Declarado; Consolidar o oitavo modelo conceitual da área (MCA 8); Consolidar a classificação da AR; Verificar a necessidade de continuidade do GAC; Identificar os responsáveis legais e solidários. a. Descrever o conteúdo do Termo de Reabilitação para o Uso Declarado No Termo de Reabilitação para o Uso Declarado devem constar as seguintes informações: as características do uso declarado, ou seja, o uso para o qual a área foi classificada como AR; as características da medida de controle de engenharia ou da medida de controle institucional, caso essas tenham sido implantadas. Observa-se que as características do uso declarado a serem registradas no Termo de Reabilitação devem especificar a atividade ou ocupação a ser desenvolvida, como, por exemplo, a de comércio varejista de combustíveis, condomínio residencial, farmácia, indústria química, e não somente a sua tipologia como residencial, comercial ou industrial. Esse detalhamento é importante para que a reutilização de áreas reabilitadas seja feita de forma segura. b. Consolidar o oitavo modelo conceitual da área (MCA 8) O MCA 8 é o relato escrito, acompanhado de ilustrações, dos resultados obtidos na execução da etapa de Emissão do Termo de Reabilitação para o Uso Declarado, que representa as condições seguras de ocupação daárea, após passar por todas as etapas do GAC que antecedem a emissão do Termo de Reabilitação. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 55 O MCA 8 é fundamental para a execução da etapa seguinte de Acompanhamento da Medida de Controle de Engenharia ou da Medida de Controle Institucional, quando essas forem necessárias. c. Consolidar a classificação como AR Em termos práticos, o objetivo da etapa de Emissão do Termo de Reabilitação para o Uso Declarado é documentar a classificação da área como AR e emitir um documento formal e oficial, atrelado à área e matrícula do imóvel em avaliação, que ateste a regularidade ambiental frente ao GAC e as condições seguras para uso (Classificação 9, na Figura 1.2-1). d. Verificar a necessidade de continuidade do Gerenciamento de Áreas Contaminadas O responsável legal pela área classificada como AR deverá realizar a etapa seguinte do GAC, ou seja, a etapa de Acompanhamento da Medida de Controle de Engenharia ou da Medida de Controle Institucional, quando essas estiverem previstas no Termo de Reabilitação emitido. e. Identificar os responsáveis legais e solidários Os responsáveis legais solidários são as pessoas físicas ou jurídicas candidatas a arcar com a responsabilidade de executar as etapas subsequentes do Gerenciamento de Áreas Contaminadas (GAC), quando na etapa de Emissão do Termo de Reabilitação para o Uso Declarado for emitido um termo de reabilitação com medida de controle institucional e/ou medida de controle de engenharia. Entre os responsáveis legais solidários identificados durante as etapas do Processo de Identificação de Áreas Contaminadas (o causador da contaminação e seus sucessores, o proprietário da área, o superficiário, o detentor da posse efetiva ou quem dela se beneficiar direta ou indiretamente), deve ser indicado aquele ou aqueles que serão demandados pelo órgão ambiental gerenciador a executar a etapa seguinte do GAC, ou seja, a etapa de Acompanhamento da Medida de Controle de Engenharia ou da Medida de Controle Institucional, do Processo de Reabilitação de Áreas Contaminadas. 3.2.5. Acompanhamento da Medida de Controle de Engenharia ou da Medida de Controle Institucional A etapa de Acompanhamento da Medida de Controle de Engenharia ou da Medida de Controle Institucional é a última do Processo de Reabilitação de Áreas Contaminadas e, consequentemente, encerra o GAC. O seu objetivo geral é verificar a eficácia da medida de controle de engenharia ou da medida de controle institucional implementada e determinar a necessidade de sua continuidade. A execução dessa etapa envolve basicamente o acompanhamento da medida implementada nos pontos de conformidade, sendo de responsabilidade do responsável legal, que deverá designar responsável técnico para esse fim. (ver Capítulo 13). Cabe ao órgão ambiental gerenciador a avaliação dos resultados apresentados pelo responsável legal nos Relatórios de Acompanhamento da Medida de Controle de Engenharia ou da Medida de Controle Institucional, sendo as novas informações Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 56 obtidas inseridas no Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas, complementando a Relação de Áreas Reabilitadas para o Uso Declarado. A seguir, as principais atividades da etapa de Acompanhamento da Medida de Controle de Engenharia ou da Medida de Controle Institucional são listadas em uma ordem lógica de execução, e descritas com um pouco mais de detalhe nas alíneas subsequentes: Avaliar a eficácia da medida de controle de engenharia ou da medida de controle institucional. Definir o nono modelo conceitual da área (MCA 9). Consolidar a classificação como Área Reabilitada para o Uso Declarado. Verificar a necessidade de continuidade do Gerenciamento de Áreas Contaminadas. a. Avaliar a eficácia da medida de controle de engenharia ou da medida de controle institucional implantada A avaliação da eficácia das medidas de controle de engenharia ou da medida de controle institucional implantada pode ser realizada por meio das seguintes ações: realizar campanhas de monitoramento no compartimento do meio ambiente contaminado ou no bem a proteger, em seus pontos de conformidade; realizar inspeções para verificar a manutenção e eficácia das medidas. b. Definir o nono modelo conceitual da área (MCA 9) O nono modelo conceitual da área (MCA 9) é o relato escrito, acompanhado de ilustrações, dos resultados obtidos na execução da etapa de Acompanhamento da Medida de Controle de Engenharia ou da Medida de Controle Institucional, sendo descritas, basicamente, as condições em que estão sendo mantidas e acompanhadas as medidas de controle institucional e de engenharia. c. Consolidar a classificação como AR Em termos práticos, o objetivo da etapa de Acompanhamento da Medida de Controle de Engenharia ou da Medida de Controle Institucional é consolidar e garantir a classificação da área como AR (Classificação 10, na Figura 1.2-1). Os resultados da etapa de Acompanhamento da Medida de Controle de Engenharia ou da Medida de Controle Institucional podem propiciar a modificação do conteúdo do Termo de Reabilitação para o Uso Declarado, quando esses indicarem que: as dimensões da área ou volume que abrange as medidas de controle de engenharia ou medidas de controle institucional implementadas podem ser reduzidas; as medidas de controle de engenharia ou medidas de controle institucional implementadas podem ser encerradas. d. Verificar a necessidade de continuidade do GAC Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 57 Durante a etapa de Acompanhamento da Medida de Controle de Engenharia ou da Medida de Controle Institucional, o responsável legal pela área classificada como AR com medidas de controle de engenharia ou com medidas de controle de institucional deve ser demandado pelo órgão ambiental gerenciador a manter essas medidas enquanto houver necessidade ou, caso contrário, finalizá-las ao final do período proposto para sua execução. A partir do momento em que é possível tomar essa decisão, o Processo de Reabilitação de Áreas Contaminadas do GAC se dá por encerrado. 3.3. Aspectos Legais O GAC é um processo técnico e administrativo previsto na legislação federal, por meio da Resolução CONAMA nº 420/2009 e em algumas legislações estaduais, como, por exemplo, a Lei Estadual nº 13.577/2009 e seu Decreto Regulamentador nº 59.263/2013, vigentes no Estado de São Paulo (ver Capítulo 2). Destaca-se que a Lei Estadual nº 13.577/2009 dispõe sobre diretrizes e procedimentos para o GAC e, portanto, estabelece procedimentos para “recuperar o meio ambiente degradado”. Nesse mesmo sentido, trata analogamente o §2º do artigo 225 da Constituição Federal de 1988, que determina que as atividades que explorem recursos minerais sejam obrigadas a recuperar o meio ambiente com a solução técnica definida pelo órgão competente. A Lei Estadual nº 13.577/2009 também está em consonância com o artigo 2º da Lei Federal nº 6.938/1981 (PNMA – Política Nacional do Meio Ambiente), especialmente, com o seu inciso VIII, que traz o atendimento ao princípio da recuperação de áreas degradadas (ou contaminadas). Destaca-se que a regulamentação do inciso VIII do artigo 2º da Lei Federal nº 6.938/1981 (PNMA) é dada pelo artigo 3º do Decreto Federal nº 97.632/1989, ao esclarecer que o objetivo da recuperação de áreas degradadas (ou contaminadas) é o retorno “a uma forma de utilização, de acordo com um plano preestabelecido para o uso do solo, visando à obtenção de uma estabilidade do meio ambiente”. Frisa-se,novamente, que a Lei Estadual nº 13.577/2009 e seu Decreto Regulamentador nº 59.263/2013 estão de acordo com os textos legais federais citados, que versam sobre a necessidade de estabelecimento de procedimento específico para recuperação ambiental, ou seja, o “Procedimento para Gerenciamento de Áreas Contaminadas (GAC)”, conforme citado no artigo 1º da Lei Estadual nº 13.577/2009. 4. Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas: instrumento principal do GAC O Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas compreende o conjunto de informações obtidas durante a realização das etapas do GAC nas áreas avaliadas na região de interesse (ver Capítulo 3). Essas informações devem ser armazenadas e organizadas em um sistema informatizado, que propicie o seu tratamento, visando: Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 58 embasar decisões específicas a serem tomadas pelo órgão ambiental gerenciador, em cada área em avaliação na região de interesse; embasar decisões abrangentes a serem tomadas pelo órgão ambiental gerenciador na região de interesse; compartilhar as informações obtidas com os órgãos públicos e demais instituições que possuem obrigações relativas ao GAC; fornecer as informações para os responsáveis legais e para os responsáveis técnicos pela área em avaliação; fornecer as informações para os diversos setores da atividade produtiva, da sociedade civil e da população em geral ou afetada. identificar os principais problemas causados pelas AC na região de interesse; identificar as regiões prioritárias para a identificação de AC ou para a implementação de medidas de intervenção de caráter regional. 5. Procedimento de Averbação de Informações na Matrícula do Imóvel Durante a execução das etapas do GAC podem ser identificadas situações que implicam na adoção de procedimentos específicos, como é o caso da averbação de informações na matrícula do imóvel quando a área em avaliação é classificada como AC ou AR, conforme procedimento descrito na Seção 1.7 deste Capítulo 1. O órgão ambiental gerenciador coordena a execução desse procedimento e o responsável legal pela área em avaliação deve fornecer todas as informações necessárias para viabilizar as averbações. 6. Gerenciamento de Áreas Contaminadas Críticas Outra situação que implica na adoção de procedimentos específicos de GAC é o caso da identificação de uma Área Contaminada Crítica (ACC). Uma ACC é aquela onde há dano ou risco agudo (iminente) à vida ou à saúde humana ou a outros bens a proteger e a ocorrência de dificuldades de natureza administrativa, jurídica ou de comunicação (com outros órgãos públicos ou com a população envolvida), prejudiciais à implementação das medidas de intervenção necessárias. Na Seção 1.8 deste Capítulo 1 são descritos os procedimentos específicos a serem aplicados nos casos em que a área em avaliação é classificada como ACC. O Gerenciamento de Áreas Contaminadas Críticas inicia-se a partir do momento que o órgão ambiental gerenciador indica as áreas a serem classificadas como ACC, de acordo com critérios por ele estabelecidos, baseados nas características dos riscos ou dos danos identificados, nas características dos bens a proteger presentes e nas dificuldades encontradas para o desenvolvimento das etapas do GAC (administrativas, jurídicas ou de comunicação dos riscos). O órgão ambiental gerenciador deve coordenar as ações de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Críticas, colaborando com o responsável legal na elaboração do plano de intervenção, além de envolver órgãos públicos ou outras entidades que possam auxiliar na implementação do plano de intervenção, entre outras ações necessárias. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 59 7. Gerenciamento de Áreas Contaminadas em Regiões Prioritárias A execução do GAC pelo órgão ambiental gerenciador pode revelar problemas de caráter regional aos bens a proteger, provocados a partir de uma ou várias AC, levando à classificação de uma determinada região como prioritária para a realização do GAC. Uma região prioritária é uma parte da região de interesse administrada pelo órgão ambiental gerenciador, em que foram constatados danos ou riscos acima dos níveis aceitáveis aos bens a proteger de caráter regional. A região prioritária é definida pelo órgão ambiental gerenciador, em razão de critérios por ele estabelecidos. Na Seção 1.9 deste Capítulo 1 são descritos os procedimentos específicos a serem adotados nos casos em que são identificados problemas de caráter regional aos bens a proteger. O Gerenciamento de Áreas Contaminadas em Regiões Prioritárias inicia-se pela indicação das regiões a serem enquadradas como regiões prioritárias pelo órgão ambiental gerenciador, de acordo com critérios por ele estabelecidos, baseados nas características dos riscos ou dos danos regionais identificados. O órgão ambiental gerenciador deve coordenar as ações de Gerenciamento de Áreas Contaminadas em Regiões Prioritárias, elaborando as ações necessárias em conjunto com os responsáveis legais, órgão públicos ou outras entidades que possam auxiliar na implementação do plano de intervenção regional. 8. Gerenciamento de Áreas Contaminadas Órfãs Uma Área Contaminada Órfã é aquela em que o responsável legal não foi identificado ou esse não atende às exigências do órgão ambiental gerenciador, não havendo recursos, portanto, para a realização das investigações e implementação de medidas de intervenção necessárias. Durante a execução das etapas do GAC essa situação pode ser identificada, implicando na adoção de procedimentos específicos. Na Seção 1.10 deste Capítulo 1 são descritos os procedimentos específicos a serem adotados nos casos em que foi identificada uma Área Contaminada Órfã. A implementação do Gerenciamento de Áreas Contaminadas Órfãs é possível quando existem instrumentos econômicos endereçados para resolver esse tipo de problema na região de interesse. 9. Medidas Emergenciais em Áreas Contaminadas Na Seção 1.11 deste Capítulo 1 são descritos os procedimentos específicos a serem aplicados nos casos com danos ou riscos agudos ou iminentes identificados aos bens a proteger em uma AC, em que é necessária a adoção de medidas emergenciais para eliminá-los ou minimizá-los. 10. Procedimento de Reutilização de Áreas Contaminada e Revitalização de Regiões Degradadas Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 60 Na Seção 1.12 deste Capítulo 1 são descritos os procedimentos específicos a serem adotados nos casos de reutilização de AC. O procedimento de reutilização de uma AC é aplicado onde o responsável legal pretende encerrar uma atividade potencialmente geradora de áreas contaminadas, a partir da qual foi gerada uma AC, para dar lugar a um outro uso após a sua reabilitação. O novo uso pretendido pode não ter potencial de contaminação, como o uso residencial, o uso de lazer e práticas de atividades esportivas e até certos tipos de uso comercial e industrial, ou mesmo ser prevista outra atividade potencialmente geradora de áreas contaminadas. A aplicação do procedimento de reutilização em várias AC de uma mesma região é a base para a revitalização de regiões degradadas. Esse procedimento também é necessário quando o responsável legal pretende reutilizar uma área reabilitada, principalmente, naquelas com medidas de controle institucional e de controle de engenharia implantadas, propondo a alteração das edificações e da atividade desenvolvida. 11. Metodologias Utilizadas para Prevenir a Geração de Áreas Contaminadas Embora não estejam no âmbitodo GAC é fundamental a implementação de ações preventivas para evitar a geração de novas AC. As metodologias existentes para prevenir a geração de AC, ou mesmo evitar o agravamento dos problemas por elas causados, são descritas na Seção 1.13 deste Capítulo 1. Entre essas metodologias podem ser citadas: o monitoramento preventivo em atividades potencialmente geradoras de áreas contaminadas; a aplicação de práticas de produção mais limpa (P+L). O monitoramento preventivo compreende a realização de campanhas de amostragem e análise dos compartimentos do meio ambiente, em pontos de conformidade estrategicamente posicionados, onde são desenvolvidas atividades potencialmente geradoras de áreas contaminadas, com o objetivo de verificar se essas estão gerando algum tipo de contaminação. As práticas de produção mais limpa, por sua vez, são ações sustentáveis aplicadas nos processos produtivos de atividades potencialmente geradoras de áreas contaminadas, com o objetivo de proporcionar maior eficiência, por meio da economia de matérias-primas e insumos, diminuição da geração de resíduos e efluentes e prevenção da contaminação dos compartimentos do meio ambiente. 12. Procedimento de Desativação de Atividades Potencialmente Geradoras de Áreas Contaminadas Na Seção 1.14 deste Capítulo 1 são descritos os procedimentos específicos a serem aplicados nos casos de desativação de atividades potencialmente geradoras de áreas contaminadas. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 61 O procedimento de desativação ou de encerramento da atividade é adotado onde o responsável legal pretende encerrar uma atividade potencialmente geradora de áreas contaminadas. O procedimento de desativação envolve ações como a destinação adequada dos materiais a serem removidos e a caracterização da situação ambiental da área em termos de contaminação na qual foi deixada. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 1 Seção 1.3: Histórico do Gerenciamento de Áreas Contaminadas no Estado de São Paulo Autores: Elton Gloeden e André Silva Oliveira Sumário 1. Introdução .............................................................................................................. 1 2. O Arqueano ........................................................................................................... 1 3. O Proterozoico ....................................................................................................... 2 4. O Paleozoico ......................................................................................................... 2 5. O Mesozoico .......................................................................................................... 5 6. O Cenozoico .......................................................................................................... 6 1. Introdução O Gerenciamento de Áreas Contaminadas (GAC) é o conjunto de medidas que visa identificar e caracterizar as áreas contaminadas existentes em uma região de interesse, com o objetivo de implementar as medidas de intervenção necessárias para viabilizar o seu uso de forma segura (ver Seção 1.2). A CETESB vem desenvolvendo o GAC no Estado de São Paulo há 40 anos, aproximadamente, com resultados bastante positivos, conforme histórico apresentado a seguir. 2. O Arqueano Os primeiros registros da ocorrência de áreas contaminadas no Estado de São Paulo e no Brasil foram efetuados pela CETESB no final da década de 1970 e início da década de 1980 do século XX, como, por exemplo, os casos de disposição inadequada de resíduos organoclorados na Baixada Santista, casos de atendimento emergencial em postos de combustíveis, como o caso ocorrido em 1984 em Vila Antonieta, em São Paulo - SP, e em depósito clandestino de solventes clorados usados, em 1983, em Porto Feliz - SP. Naquela época, a CETESB não possuía procedimentos técnicos ou administrativos definidos para lidar com essa questão. Os casos eram atendidos por diferentes setores da CETESB, que não tinham como atribuição principal o assunto GAC. Esses setores lidavam com o gerenciamento de resíduos sólidos, com a qualidade das águas subterrâneas, com a pesquisa sobre a qualidade dos solos e com o atendimento a emergências químicas, além das Agências Ambientais. Para avaliar os casos a CETESB buscava informações sobre os procedimentos técnicos adotados em outros países, especialmente nos Estados Unidos da América. Também não existiam nessa época empresas de consultoria especializadas no assunto GAC, o que dificultava o desenvolvimento dos trabalhos de investigação e remediação. As primeiras empresas de consultoria que começaram a trabalhar com o GAC tinham outras áreas de atuação principais, como, por exemplo, a mineração, a construção civil e a extração de águas subterrâneas. Para realizar a investigação e remediação das Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.3: Histórico do Gerenciamento de Áreas Contaminadas no Estado de São Paulo Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 2 áreas contaminadas, essas empresas de consultoria adaptavam as técnicas que estavam utilizando na sua rotina de trabalho. A legislação existente sobre o assunto era limitada, sendo aplicados os artigos do Decreto Estadual nº 8.468/1976, ou seja, o artigo 2º e o inciso V do artigo 3º. 3. O Proterozoico No final da década de 1980 e início da década de 1990 do século XX a CETESB identificou diversos casos importantes, como por exemplo, o aterro Mantovani, em Santo Antônio de Posse - SP, a Solvay em Santo André - SP e a Shell da Vila Carioca, em São Paulo - SP, além de inúmeros casos relacionados a vazamentos ocorridos em postos de combustíveis. O acompanhamento desses casos propiciou o acúmulo de experiência e de conhecimento pelos técnicos da CETESB na questão do GAC. Nesse momento ocorreu um marco importante na história do GAC no Estado de São Paulo, que foi o início do Projeto CETESB/GTZ (Recuperação do Solo e das Águas Subterrâneas em Áreas de Disposição de Resíduos Industriais), em 1993. Para o desenvolvimento desse projeto a CETESB firmou um acordo com a Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (GTZ), órgão do governo alemão, para obtenção de apoio técnico e financeiro. Os objetivos principais do Projeto CETESB/GTZ foram a capacitação do corpo técnico da CETESB, a criação de uma estrutura administrativa específica na CETESB e a construção das bases para a elaboração de legislação específica sobre o assunto GAC. No âmbito do Projeto CETESB/GTZ, iniciou-se a construção da metodologia de gerenciamento de áreas contaminadas, com base nos modelos existentes em outros países, como, por exemplo, os Estados Unidos da América, a Alemanha, a Holanda e Espanha (País Basco). Concomitantemente ao avanço da CETESB, começaram a surgir empresas de consultoria especializadas, que introduziram técnicas de investigação e de remediação utilizadas à época em outros países. 4. O Paleozoico O final da década de 1990 do século XX e início da década de 2000 foram marcados pela ampla divulgação de casos pela imprensa, como, por exemplo, os casos da Shell em Paulínia - SP, da Vila Carioca em São Paulo - SP, do Condomínio Residencial Barão de Mauá em Mauá - SP, da Solvay em Santo André - SP e do Aterro Mantovani em Santo Antônio de Posse - SP. Além desses, diversos outros casos foram provocados por vazamentos em postos de combustíveis, quando houve um expressivo número de atendimentos emergenciais com situação de risco iminente como, por exemplo, em 1999, quando foram registrados 76 casos. Esse período também foi marcado pela publicação, em 1999, da primeira edição do Manual de Gerenciamento de ÁreasContaminadas, produto do Projeto CETESB/GTZ, documento que apresenta uma metodologia de gerenciamento de áreas contaminadas, ou seja, a base técnica a ser adotada pela CETESB para a execução das etapas do GAC, que deflagrou várias ações importantes descritas a seguir. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.3: Histórico do Gerenciamento de Áreas Contaminadas no Estado de São Paulo Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 3 No meio acadêmico, a metodologia de gerenciamento de áreas contaminadas desenvolvida pela CETESB foi objeto de estudo por meio da Tese de Doutoramento “Gerenciamento de Áreas Contaminadas na Bacia Hidrográfica do Reservatório Guarapiranga”, publicada em 1999 e apresentada no Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (IGUSP). Destaca-se que em 2000 a CETESB implementou uma estrutura técnica e administrativa para o desenvolvimento do GAC, com a criação de uma área específica para a avaliação dos casos. Também em 2000 a CETESB publicou duas Decisões de Diretoria, a 023/C/E/2000 e a 007/C/E/2000, apresentando, pela primeira vez, os procedimentos técnicos e administrativos para o GAC, com base no “Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas”. Outra publicação importante ocorreu em 2001, com a produção do Relatório de Estabelecimento de Valores Orientadores para Solos e Águas Subterrâneas no Estado de São Paulo, cujo conteúdo apresenta as bases para a identificação de áreas contaminadas e para a implementação de ações preventivas, visando evitar o surgimento de áreas contaminadas. Esses valores orientadores foram atualizados pela CETESB em 2005 e em 2014. Outro destaque nesse período foi o início, em 2002, da publicação da Relação de Áreas Contaminadas e Reabilitadas no Estado de São Paulo pela CETESB na sua página na internet. No âmbito municipal, faz-se um destaque ao município de São Paulo, que criou em 2002 uma estrutura técnica e administrativa específica para acompanhar o GAC, quando foi instituído o Grupo Técnico de Áreas Contaminadas (GTAC) da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente. Em 2003, houve a criação do Grupo Interinstitucional de Áreas Contaminadas (GIAC), que contou com a participação de representantes da CETESB, do Ministério Público do Estado de São Paulo e da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente do Município de São Paulo, para a criação de procedimentos entre as instituições para melhoria do GAC. Entre os produtos dos trabalhos do GIAC destaca-se a publicação da Decisão CG N. 167/2005, da Corregedoria Geral de Justiça do Estado de São Paulo, decisão com caráter normativo, publicada no Diário Oficial do Estado de São Paulo em 2006, sobre a necessidade de averbação da contaminação e da reabilitação das respectivas áreas à margem do competente registro imobiliário. Os trabalhos do GIAC também resultaram no estabelecimento de procedimentos administrativos entre a CETESB e a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente do Município de São Paulo. Nesse período fértil também foram criados vários dispositivos legais importantes, que passaram a ser aplicados no GAC, conforme descrição a seguir. Na Lei Estadual nº 9.999/1998, que altera a Lei Estadual nº 9.472/1996, que disciplina o uso de áreas industriais, em seu artigo 1º, foi estabelecido que poderiam ser admitidos os usos residencial, comercial, de prestação de serviços e institucional quando se tratar de zona de uso predominantemente industrial (ZUPI) que tenha Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.3: Histórico do Gerenciamento de Áreas Contaminadas no Estado de São Paulo Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 4 sofrido descaracterização significativa do uso industrial e não haja contaminação da área, mediante parecer técnico da CETESB, desde que o uso pretendido seja permitido pela legislação municipal. Destaca-se que o artigo 1º da Lei Estadual nº 9.999/1998 foi o primeiro dispositivo legal que incluiu a necessidade de investigação da presença de contaminação em uma área industrial, visando verificar a viabilidade de uma proposta de mudança de uso. Com isso, a CETESB criou o parecer técnico de mudança de uso, para ser aplicado inicialmente nas ZUPI, que foi a base inicial do procedimento de reutilização de áreas reabilitadas atual, previsto no Decreto Estadual nº 59.263/2013. Posteriormente, a aplicação do parecer técnico de mudança de uso foi ampliada, visando atender à demanda decorrente da requalificação urbanística ocorrida na capital, em virtude de alterações promovidas no tecido urbano-territorial pelo Plano Diretor do Município de São Paulo e pelo Plano Diretor Estratégico. Esses regramentos disciplinaram, a partir de 2002, o ordenamento do uso do solo, instituindo um novo zoneamento territorial urbano, com a exclusão de áreas industriais e sua transformação em áreas de uso misto e residencial, alterando assim, significativamente, a demanda por construções não industriais e a remodelação urbanística de várias regiões (tais como, a Vila Leopoldina, a Lapa de Baixo, o Butantã e outros tantos das zonas oeste, sul e leste da capital). Esse fenômeno também está ocorrendo em outras regiões do estado de São Paulo, fruto da dinâmica do uso e ocupação de solo que, ao longo do tempo, vai provocando ou mesmo requerendo a mudança de uso nas várias regiões das cidades. O parecer técnico para mudança de uso permitiu a recuperação e a reutilização de inúmeros terrenos pela iniciativa privada, que promoveu verdadeira revolução urbanística, inicialmente, na capital e, em um segundo momento, em todo o território do estado de São Paulo, conferindo segurança e garantia aos usuários de novos empreendimentos instalados em terrenos outrora ocupados por indústrias ou atividades comerciais e de serviços, agora reabilitados. Em 2013, o parecer técnico de mudança de uso foi substituído pelo parecer técnico sobre plano de intervenção para reutilização, conforme estabelecido no Decreto Estadual nº 59.263/2013. Outro dispositivo legal importante, publicado em 2000, foi a Resolução CONAMA nº 273/2000, que estabeleceu o licenciamento ambiental de postos revendedores, postos de abastecimento, instalações de sistemas retalhistas e postos flutuantes de combustíveis, além da necessidade de reforma das instalações existentes, da necessidade de investigação e adoção de medidas de intervenção nas áreas contaminadas. O Estado de São Paulo, por meio da CETESB, cumpriu à risca a Resolução CONAMA nº 273/2000, convocando na época cerca de 8.500 empreendimentos para o licenciamento ambiental. Com efeito, a CETESB passou a licenciar os postos de combustível, atividade que até então só era objeto de atendimento corretivo, por ocasião de acidentes e atendimento a reclamações em virtude de incômodo à população. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.3: Histórico do Gerenciamento de Áreas Contaminadas no Estado de São Paulo Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 5 Como destacado anteriormente, a CETESB chegou a registrar 76 casos de atendimento emergencial em postos de combustíveis em 1999, com situação de risco iminente. Os resultados dessas ações foram extremamente importantes do ponto de vista ambiental, uma vez que hoje a CETESB registra mais de 9.000 licenças de operação emitidas para postos de combustíveis no estado de São Paulo, que realizaram reformas em suas instalações, substituindo as antigas instalações em estado precário por novas instalações seguras e atualizadas. Outro resultado importante foi a realização de investigação e adoção de medidas de intervenção em mais de 4.500 áreas contaminadas relativas a postos de combustíveis e a redução para zero no ano de 2020 do número de atendimentos a situações emergenciais, com riscos iminentes, em postos de combustível. O DecretoEstadual nº 47.397/2002, que altera dispositivos do Decreto Estadual nº 8.468/1976, em seu artigo 69-A, estabeleceu a necessidade do equacionamento de eventual contaminação existente na área, antes do seu licenciamento ambiental. Destaca-se que essas orientações foram posteriormente incorporadas ao Decreto Estadual nº 59.263/2013. Merece, também, destaque os artigos 5º, 6º e 7º do Decreto Estadual nº 47.400/2002, que regulamenta a Lei Estadual nº 9.509/1997, que institui o procedimento obrigatório de notificação de suspensão ou encerramento de atividade passível de licenciamento pela CETESB, tornando obrigatória a apresentação de plano de desativação e, se necessário, a recuperação da qualidade ambiental da área, visando propiciar a sua utilização futura de forma segura. Tal procedimento, somado às ações preventivas preconizadas no licenciamento, constitui mais uma importante ferramenta na prevenção e controle de áreas contaminadas no estado de São Paulo. Destaca-se que os procedimentos de desativação de atividades potencialmente geradoras de áreas contaminadas foram atualizados em 2013, com a publicação do Decreto Estadual nº 59.263/2013. Embora a evolução observada nos procedimentos técnicos, administrativos e legais tenha sido muito significativa nesse período, o objetivo principal da CETESB à época era a implementação de uma lei estadual específica sobre o assunto GAC. Os esforços empreendidos pela CETESB nesse sentido foram recompensados, com a publicação do Projeto de Lei nº 168 de 2005, tramitado na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. 5. O Mesozoico O final da década de 2000 e início da década de 2010 foram marcados pela consolidação da estrutura técnica, administrativa e legal referente ao GAC. Em 2007 foi publicada a Decisão de Diretoria da CETESB nº 103/2007/C/E, com a consolidação dos procedimentos técnicos e administrativos e a criação do Grupo Gestor de Áreas Contaminadas Críticas. Finalmente, em 2009, foi publicada a Lei Estadual nº 13.577/2009 específica sobre o assunto de áreas contaminadas, grande marco na história do GAC no Estado de São Paulo e no Brasil, coroando os esforços empreendidos pela CETESB nesse sentido. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.3: Histórico do Gerenciamento de Áreas Contaminadas no Estado de São Paulo Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 6 A Lei Estadual nº 13.577/2009 unificou os procedimentos já criados na legislação ambiental sobre o GAC, como os procedimentos relacionados à prevenção da contaminação, à identificação, à investigação e à remediação de áreas contaminadas, à adoção de ações emergenciais, à desativação de empreendimentos, à reutilização de áreas contaminadas e à revitalização de regiões, ao cadastro de áreas contaminadas e reabilitadas, assim como à responsabilização e às infrações e penalidades. O grande destaque da Lei nº 13.577/2009 foi a criação do Fundo Estadual para Prevenção e Remediação de Áreas Contaminadas (FEPRAC), a ser aplicado, principalmente nas “áreas contaminadas órfãs”. No mesmo ano, no âmbito federal, foi publicada a Resolução CONAMA nº 420/2009, nos moldes da Lei Estadual nº 13.577/2009. Em 2011, foi criado o Departamento de Áreas Contaminadas da CETESB, aperfeiçoando a estrutura administrativa e técnica existente, que é semelhante à atual. Em 2013, ocorreu outro grande marco na história do GAC, consolidando a legislação existente, que foi a publicação do Decreto Estadual nº 59.263/2013, que regulamenta a Lei Estadual nº 13.577/2009, cujo destaque foi a regulamentação do procedimento de reutilização de áreas contaminadas. 6. O Cenozoico O final da década de 2010 foi marcado pela publicação da Decisão de Diretoria nº 038/2017/C e da Instrução Técnica nº 039/2017/C da CETESB em 2017, documentos esses que detalham e aperfeiçoam os procedimentos técnicos e administrativos existentes sobre o GAC. Também em 2017 foram publicadas as Resoluções da Secretaria Estadual do Meio Ambiente nº 10 e nº 11, sendo que na primeira são apresentadas as atividades potencialmente geradoras de áreas contaminadas e na segunda as regiões prioritárias para a identificação de áreas contaminadas. Essas resoluções são a base para a identificação de áreas contaminadas e a realização do GAC em regiões onde há problemas de cunho regional provocados por elas. Depois de quase 40 anos de história, o GAC no Estado de São Paulo mostra resultados expressivos como pode ser observado na “Relação de Áreas Contaminadas e Reabilitadas no Estado de São Paulo”, publicada anualmente, a partir de 2002, no “site” da CETESB. A última atualização, com informações coletadas até o final de 2020, mostra forte tendência de crescimento do número de Áreas Reabilitadas. Os resultados mostram que a soma do número de Áreas Reabilitadas para Uso Declarado (1.902 – 30% do total das áreas cadastradas) e de Áreas em Processo de Monitoramento para Encerramento (1.369 – 21% do total das áreas cadastradas), representam 51% das áreas cadastradas (total de áreas cadastradas: 6.434), ou seja, praticamente metade das áreas cadastradas já estão aptas para o uso declarado, não sendo mais classificadas como “áreas contaminadas”. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.3: Histórico do Gerenciamento de Áreas Contaminadas no Estado de São Paulo Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 7 Os outros 49% são representadas pelas Áreas Contaminadas em Processo de Remediação (1.463 – 23% das áreas cadastradas, ou seja, as áreas onde estão sendo aplicadas técnicas de remediação), Área Contaminada com Risco Confirmado (780 – 12% das áreas cadastradas, ou seja, as áreas que onde está em execução ou foram realizadas a investigação detalhada e avaliação de risco), as Áreas Contaminadas sob Investigação (635 – 10% das áreas cadastradas, ou seja, as áreas onde foi realizada a etapa de Investigação Confirmatória ou de Investigação Detalhada) e, finalmente, as Áreas Contaminadas em Processo de Reutilização (285 – 4% das áreas cadastradas, ou seja, aquelas onde a proposta de reutilização foi aprovada pela CETESB). Os dados armazenados no Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas também permitem estimar que em mais de 3.774 áreas já foram aplicadas técnicas de remediação. Também é estimado que em mais de 3.500 áreas foram implementadas medidas de controle institucional, especialmente a restrição de uso das águas subterrâneas, e em mais de 110 casos foram implantadas medidas de controle de engenharia. Em relação à adoção de medidas emergenciais, essas já ocorreram em mais de 1.835 áreas. Estima-se haver um número superior a 1.049 áreas onde o processo de reutilização já foi aplicado. É importante mencionar como parte desses resultados o papel das consultorias ambientais, que evoluíram bastante nesses anos, disponibilizando técnicas de investigação e de remediação atualizadas e mais eficientes e eficazes. Outro destaque é a ação do Grupo Gestor de Áreas Contaminadas Críticas, criado em 2007, por meio da Decisão de Diretoria nº 103/2007/C/E, que vem conseguindo bons resultados. Como exemplo, pode ser citada a reabilitação da área da Shell na Vila Carioca em São Paulo - SP e a implementação de medidas de intervenção, com a eliminação dos riscos iminentes e a viabilização do uso de forma segura, na maior parte das áreas contaminadas críticas, como ocorreu no Condomínio Residencial Barão de Mauá em Mauá-SP, no Shopping Center Norte em São Paulo - SP, no Aterro Mantovani em Santo Antônio de Posse - SP, no Bairro do Itatinga em São Sebastião- SP, no caso da Concima em Campinas-SP e em várias áreas na região de Jurubatuba em São Paulo - SP. Outro caso amplamente divulgado pela imprensa, também equacionado com a implementação de medidas de intervenção, é o caso da USP Leste em São Paulo - SP. Visando obtermais melhorias, atualmente, a CETESB está realizando uma revisão do Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas, com a participação dos setores envolvidos no assunto na Câmara Ambiental de Áreas Contaminadas, criada no início de 2020. Conforme a descrição resumida feita nessa seção dos 40 anos de história do GAC no Estado de São Paulo, é possível verificar que a CETESB vem buscando constantemente melhorar os procedimentos, com o objetivo de viabilizar o uso seguro do maior número possível de áreas contaminadas. As ações proativas tomadas geraram um arcabouço técnico, legal e administrativo dos mais avançados no mundo, que está sendo aplicado de forma eficiente e eficaz pela CETESB na solução dos casos de áreas contaminadas identificados no estado de São Paulo. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.3: Histórico do Gerenciamento de Áreas Contaminadas no Estado de São Paulo Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 8 Entretanto, embora o GAC esteja sendo executado de forma eficiente e eficaz, e as medidas preventivas, como o licenciamento ambiental, estejam funcionando de forma adequada, ainda há um desafio enorme a ser vencido, uma vez que o estado de São Paulo possui o maior parque industrial do país e um grande número de atividades comerciais com potencial de contaminação, sem contar com a possibilidade da ocorrência de acidentes, que são capazes de provocar o surgimento de novas áreas contaminadas. Dessa forma, para o enfrentamento dessas questões é necessário o aperfeiçoamento contínuo do GAC pela CETESB, assim como a contribuição de todas as partes envolvidas. O equacionamento da questão relativa às áreas contaminadas vai se dar a partir da mobilização de diversos setores da sociedade, cabendo à CETESB o gerenciamento do processo, com a participação efetiva dos órgãos responsáveis pela saúde, recursos hídricos e planejamento urbano, nos âmbito estadual e municipal. Em decorrência dessa mobilização e do gerenciamento adequado, os problemas atualmente existentes poderão ser solucionados ou mesmo transformados em ações de incentivo ao desenvolvimento econômico e à geração de empregos. O sucesso do programa de GAC no futuro, que já demonstra resultados bastante positivos atualmente, também depende do engajamento das empresas que apresentam potencial de contaminação, dos investidores, dos agentes financeiros, das empresas do setor imobiliário, da construção civil, das empresas de consultoria ambiental, das universidades, do poder público em todos os níveis (legislativo, executivo e judiciário) e da população em geral. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 1 Seção 1.4: Conceitos de Hidrogeologia Autores: Veronica Gonsalez, Chang H. Kiang, Pedro Dib, Juliana G. Freitas Sumário 1. O meio subterrâneo ............................................................................................. 1 1.1. Propriedades físicas do solo/sedimentos ........................................................ 2 1.1.1. Textura .................................................................................................... 2 1.1.2. Estrutura .................................................................................................. 3 1.1.3. Permeabilidade e condutividade hidráulica .............................................. 3 1.1.4. Porosidade .............................................................................................. 4 1.1.5. Densidade do solo e densidade das partículas ........................................ 5 1.2. Propriedades químicas e mineralógicas dos solos/sedimentos....................... 5 1.2.1. Mineralogia .............................................................................................. 6 1.2.2. Presença de matéria orgânica ................................................................. 6 1.2.3. pH ............................................................................................................ 6 1.2.4. Capacidade de troca catiônica (CTC) ...................................................... 6 1.3. Propriedades das rochas ................................................................................ 7 1.4. Propriedades dos materiais antrópicos ........................................................... 8 2. Distribuição e fluxo de água em subsuperfície ................................................. 8 2.1. Águas subterrâneas e o Ciclo Hidrológico ...................................................... 8 2.2. Aquíferos e aquitardes .................................................................................... 9 2.3. Aquíferos confinados e livres .......................................................................... 9 3. Fluxo de água subterrânea em meios porosos ............................................... 10 4. Fluxo de água subterrânea em meios fraturados ............................................ 12 5. Referências bibliográficas ................................................................................ 13 Anexo 1 – Exemplos de fraturas em testemunhos de rochas ............................... 15 1. O meio subterrâneo No meio subterrâneo são encontradas rochas, sedimentos, materiais antrópicos e o solo, localizado entre a superfície e a rocha sã ou em decomposição. As rochas existentes na superfície da Terra estão sujeitas ao intemperismo, que é o conjunto das modificações de natureza física (desagregação) e química (decomposição) que elas sofrem e que dependem de vários fatores, como clima, relevo, fauna, flora, tipo de rocha e tempo de exposição, gerando os sedimentos e os solos. Essa transformação das rochas pode formar minerais secundários como argilominerais e óxidos de ferro e alumínio, o que é comum nas zonas tropicais úmidas. Os materiais antrópicos são aqueles depositados pelas atividades humanas, como aterros e edificações. Junto com o intemperismo, os processos pedogenéticos (adições, remoções e movimentos internos de matéria e energia) causam a formação dos solos, que são compostos por sólidos (materiais intemperizados reorganizados e associados à matéria orgânica), líquidos e gases. A cobertura de materiais inconsolidados sobre as rochas duras das quais derivam são chamadas de manto de alteração ou regolito. O solo se organiza em horizontes (Figura 1), sendo que horizontes do perfil mais próximos a superfície (horizontes O, A e B) são cada vez mais diferentes em relação à rocha original, em termos de composição, estrutura e textura, por estarem há mais tempo sujeitos à ação do intemperismo. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.4: Conceitos de Hidrogeologia Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 2 Figura 1 - Esquema da sucessão de materiais em perfil de alteração ou perfil de solo genérico, constituído, de baixo para cima, pela rocha inalterada ou sã, pelo saprolito ou alterita (horizonte C) e pelo solum. Fonte: Autores e AESAS, adaptado de: Toledo et al. 2000. Os sedimentos são partículas de rocha e matéria orgânica que também resultam do processo de intemperismo. Sedimentos podem variar amplamente em tamanho, desde grãos microscópicos de argila até pedras maiores, e são transportados e depositados por diversos agentes geológicos, como água, vento, gelo e gravidade. Os materiais inconsolidados, por sua vez, referem-se a camadas de sedimentos que ainda não foram compactadas e cimentadas o suficiente para se tornarem rochas sedimentares. Esses materiais mantêm uma estrutura solta e porosa, permitindo a fácil circulação de água e outros fluidos subterrâneos. O regolito é uma camada composta principalmente por materiais inconsolidados, tendo um papel crucial na dinâmica do meio subterrâneo, interferindo na recarga de aquíferos e na qualidadeda água subterrânea. Portanto, no ambiente subterrâneo, os sedimentos, materiais inconsolidados e solos desempenham um papel interligado na formação e evolução do meio ambiente, influenciando a hidrologia, a qualidade da água subterrânea, a estabilidade geotécnica e muitos outros aspectos cruciais para a compreensão e gestão desse ambiente complexo. 1.1. Propriedades físicas do solo/sedimentos As propriedades físicas do solo/sedimentos (como textura, estrutura, densidade, porosidade, permeabilidade) controlam o fluxo da água subterrânea e o transporte de poluentes, definindo também as condições para os processos de atenuação química e biológica. Serão descritas a seguir as principais características físicas do meio subterrâneo relacionadas ao fluxo de água subterrânea. 1.1.1. Textura Dependendo da espécie mineralógica que deu origem ao solo/sedimento e dos mecanismos de intemperismo e transporte, os solos apresentam diferentes proporções entre partículas de diferentes tamanhos: areia grossa (0,2 - 2 mm), areia fina (0,05 - 0,2mm), silte (0,002 - 0,05 mm) ou argila (são essencialmente argilominerais (filossilicatos) ou oxi-hidróxidos (de ferro ou de alumínio) e, em casos excepcionais, ocorrem outros tipos de minerais, de outros grupos químicos, como carbonatos e fosfatos. A mineralogia interfere na composição da água subterrânea, que contém uma grande variedade de constituintes químicos inorgânicos, resultantes das interações quıḿicas e bioquı́micas com materiais geológicos através dos quais flui, e em menor grau devido às contribuições da atmosfera e dos corpos de águas superficiais. A geoquímica da água subterrânea também é influenciada pela dissolução de gases do solo (como O2 e CO2). A soma da concentração dos íons principais (Na+, Mg2+, Ca2+, Cl-, HCO3 -, SO4 2-) compreende mais de 90% dos sólidos totais dissolvidos na água. 1.2.2. Presença de matéria orgânica A matéria orgânica do solo, além de estar associada a fertilidade do solo próximo a superfície, tem grande influência nas reações químicas, liberando CO2, por exemplo, e afetando o pH da água, o que tem reflexos na solubilidade do alumínio e outros metais. Além disso, a presença de material orgânico pode alterar a estrutura do solo e as ligações entre agregados com consequências para a porosidade efetiva e permeabilidade do meio poroso. Também tem um grande impacto no comportamento de poluentes (principalmente hidrofóbicos), pois tem grande potencial de sorção. 1.2.3. pH O pH (potencial hidrogeniônico) define a acidez ou alcalinidade do meio. Os solos possuem pH variando de 3,0 a 9,0 tipicamente, a depender da região e formação geológica. O termo pH do solo refere-se ao pH de uma solução formada pela mistura de uma amostra do solo com água que é agitada e depois passa por um processo de decantação ou filtração. Portanto, está diretamente ligado ao pH da água subterrânea e aos processos químicos e biológicos que ocorrem na água. No Brasil, grande parte dos solos é fortemente ácida (pH entre 5,0 e 5,5). Assim, para corrigir o pH do solo, é muito comum a adição de calcário (carbonato de cálcio, CaCO3), em um processo que é denominado calagem. Para os processos de remediação de águas subterrâneas, o pH pode interferir em técnicas que dependem de reações químicas de oxirredução, além de alterar a atividade microbiológica essencial nas técnicas de biorremediação e atenuação natural monitorada. Além disso, o pH alterado pode ser um indicador de influência antrópica na água subterrânea se comparado a medições de background. 1.2.4. Capacidade de troca catiônica (CTC) CTC do solo é a sigla para Capacidade de Troca Catiônica e está relacionada a quantidade de cargas negativas que o solo possui. Ela é uma medida da capacidade de Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.4: Conceitos de Hidrogeologia Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 7 troca entre um cátion em solução por outro que está adsorvido na partícula sólida, sendo estimada pela quantidade dos principais cátions como Ca²+(cálcio), Mg²+(magnésio), K+ (potássio), Na+ (sódio), Al+3 (alumínio) e H+ (hidrogênio). Solos argilosos ou com maior quantidade de matéria orgânica em geral possuem maior CTC devido à maior concentração de cargas negativas em suas superfícies que atraem cátions. A capacidade de troca catiônica (CTC) influencia na estabilidade do solo, disponibilidade de nutrientes, pH do solo e nas reações do solo com outros compostos químicos. Quanto maior o pH do solo, maior tende a ser a sua CTC e sua capacidade de adsorção, que impacta no transporte de poluentes e atenuação natural. 1.3. Propriedades das rochas As rochas são compostas por diferentes minerais e apresentam texturas e estruturas variadas. As rochas podem ser classificadas conforme sua gênese em três tipos principais: ígneas ou magmáticas, metamórficas e sedimentares. Rochas ígneas ou magmáticas: se originam a partir da solidificação do magma ou da lava vulcânica. Costumam apresentar uma maior resistência e subtipos geologicamente recentes e de formações antigas. Elas dividem-se em dois tipos: o Rochas ígneas extrusivas ou vulcânicas: surgem a partir do resfriamento do magma expelido em forma de lava por vulcões. Exemplo: basalto. o Rochas ígneas intrusivas ou plutônicas: se formam no interior da Terra, geralmente nas zonas de encontro entre a astenosfera e a litosfera, em um processo constitutivo mais longo. Elas surgem na superfície somente através de afloramentos relacionados ao movimento das placas tectônicas. Exemplo: gabro. Rochas metamórficas: surgem a partir de outros tipos de rochas previamente existentes (rochas-mãe) sem que essas se decomponham durante o processo, que é chamado de metamorfismo. Quando a rocha original é transportada para outro ponto da litosfera de temperatura e pressão diferentes do seu local de origem, ela altera as suas propriedades mineralógicas. Exemplo: mármore. Rochas sedimentares: se originam a partir do acúmulo de sedimentos, que são partículas de rochas. Uma rocha preexistente sofre com as ações dos agentes exógenos de transformação do relevo, desgastando-se e segmentando-se em inúmeras partículas (meteorização); em seguida, esse material (pó, argila, etc.) é transportado pela água e pelos ventos para outras áreas, onde se acumulam e, a uma certa pressão, unem-se e solidificam-se novamente (diagênese), formando novas rochas. Exemplo: calcário. As propriedades físicas das rochas que controlam o escoamento de águas subterrâneas e transporte de poluentes são intimamente relacionados ao tipo de rocha que constitui o substrato da área de interesse. Em rochas ígneas e boa parte das metamórficas, por não possuírem poros intergranulares, a água flui somente pelas fraturas que as cortam, geradas por processos intempéricos e/ou tectônicos. A porosidade nesses casos é baixa, e a permeabilidade ao longo das fraturas é elevada. Assim, a condutividade hidráulica do substrato rochoso depende da densidade e conectividade das fraturas. As rochas sedimentares, por serem formadas a partir do acúmulo e litificação dos grãos, possuem porosidade intergranular herdada dos sedimentos formadores da rocha. A depender do grau de compactação e cimentação, a porosidade e a permeabilidade podem ser bastante variáveis. Adicionalmente, estas podem ser incrementadas por fraturas, cujos mecanismos de formação são os mesmos descritos para as rochas Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.4: Conceitos de Hidrogeologia Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 8 ígneas e metamórficas. Os aquíferos do tipo karst constituem um clássico exemplo de aquíferos formados em rochas sedimentares calcárias, cujas cavernas e fendas são geradas por dissolução de fraturas pela percolação de águas. O Anexo 1 apresenta exemplos de fraturas, que ilustram a complexidade do fluxo e transporte de poluentes nesses meios. 1.4. Propriedades dos materiais antrópicos Resultados de atividades humanas como construção, deposição de resíduos e aterros sanitários, os materiais antrópicos possuem propriedades que variam amplamente com base na sua composição e no processo de deposição. Materiais antrópicos podem incluir concreto, asfalto, resíduos sólidos, resíduos químicos e muitos outros. Suas características físicas e químicas podem afetar a qualidade da água subterrânea e o comportamento hidrogeológico da região. A porosidade e permeabilidade dos materiais antrópicos são características críticas a serem consideradas nas intervenções em meio ambiente subterrâneo. Enquanto o concreto e o asfalto geralmente são impermeáveis, os resíduos sólidos podem ser altamente porosos, permitindo a percolação de água e a lixiviação de poluentes para o subsolo. Além disso, a presença de substâncias tóxicas em materiais antrópicos, como metais pesados ou produtos químicos industriais, pode representar um sério risco à qualidade da águasubterrânea. 2. Distribuição e fluxo de água em subsuperfície 2.1. Águas subterrâneas e o Ciclo Hidrológico A água subterrânea é fundamental para manutenção da água em forma líquida na Terra. As suas reservas são formadas a partir da infiltração da precipitação e de águas superficiais em zonas de recarga. A água subterrânea migra no meio subterrâneo e aflora para corpos d’água superficiais em zonas de descarga, onde ocorre escoamento e evaporação. Parte da água subterrânea também é transpirada pelas plantas para a atmosfera por evapotranspiração. As águas subterrâneas são de grande importância, destacando-se o seu papel como fonte de água para abastecimento e fornecendo um fluxo de água em subsuperfície que impacta nas reservas de água superficiais conforme apresentado na Erro! Fonte de referência não encontrada.. No meio subterrâneo, a água pode estar na zona não-saturada (ou zona vadosa) ou na zona saturada. Na zona não-saturada, os poros (espaços vazios do solo, rochas ou aterros) estão preenchidos por ar e água. Na zona saturada, os poros estão completamente preenchidos por água. A superfície imaginária que separa essas duas zonas é definida como nível d’água, correspondente a superfície onde a pressão efetiva é igual a zero (pressão igual a pressão atmosférica). A região acima do nível d’água onde os poros estão virtualmente preenchidos com água (saturação próxima de 100%) é chamada de franja capilar. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.4: Conceitos de Hidrogeologia Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 9 Figura 5 - Representação esquemática da importância do ciclo hidrológico para as águas subterrâneas. Fonte: Autores e AESAS, adaptado de: Freeze e Cherry, 2017. 2.2. Aquíferos e aquitardes Um aquífero é definido como uma unidade litológica, ou combinação de unidades litológicas, permeável saturada que pode transmitir quantidades significativas de água sob gradientes hidráulicos comuns (Freeze e Cherry, 2017). Um aquífero pode apresentar várias formações geológicas de rochas, sedimentos ou solos de variadas permeabilidades, sendo as formações mais comuns de aquíferos as que apresentam maior condutividade hidráulica: areias não consolidadas e cascalhos, rochas sedimentares permeáveis como arenitos e calcários, e rochas vulcânicas e cristalinas fortemente fraturadas. As camadas menos permeáveis de uma sequência estratigráfica são importantes no estudo regional de fluxo das águas subterrâneas e formam os aquitardes. São formados em geral por folhelhos, argilitos, siltitos, xistos e rochas cristalinas, cuja permeabilidade não é suficiente para permitir a produção de água em poços. As definições de aquífero e aquitarde baseadas em relação à capacidade de produzir água permitem a utilização desses termos de forma relativa. Por exemplo, em uma sequência intercalada de areia-silte, os siltes podem ser considerados aquitardes, enquanto num sistema silte-argila, os siltes podem ser considerados aquíferos. Além dos aquitardes, que permitem a acumulação de água com o transporte lento, uma camada geológica de baixa permeabilidade pode ser classificada como aquifugo, quando constitui um material totalmente impermeável à água, incapaz de armazenar ou transmitir água bloqueando seu fluxo; ou ainda um aquiclude, uma formação geológica que contém limitada capacidade de armazenar água no seu interior, mas sem a capacidade de transporte. 2.3. Aquíferos confinados e livres Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.4: Conceitos de Hidrogeologia Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 10 Os aquíferos são classificados em função da carga de pressão da sua superfície limítrofe superior (camada topo). O aquífero livre, também chamado de freático ou não confinado, é aquele cujo limite superior é o nível d’água (todos os pontos se encontram à pressão atmosférica). O aquífero confinado, que também é chamado de aquífero sob pressão ou artesiano, tem camadas confinantes no topo e base, sendo que a pressão da água em seu topo é maior do que a pressão atmosférica e, portanto, o nível d´água num poço instalado nesse aquífero se localiza acima do contato litológico. Um resumo ilustrativo é apresentado na Erro! Fonte de referência não encontrada.. Figura 6 - Diagrama esquemático de um aquífero confinado e um livre separados por aquitarde. Fonte: Autores e AESAS, adaptado de Cohen e Cherry, 2020. A percolação da água no solo propicia a formação dos aquíferos e aquitardes. A natureza e distribuição de aquíferos e aquitardes em um sistema geológico são controladas pela litologia, estratigrafia e estrutura dos depósitos geológicos e suas formações, definidas de forma resumida na Erro! Fonte de referência não encontrada.. Figura 7 – Definições para descrição do solo. Fonte: Autores e AESAS. 3. Fluxo de água subterrânea em meios porosos O estudo dos fenômenos de fluxo de água em solos se apoia em três pilares: a conservação da energia (Bernoulli), a conservação de massa e a permeabilidade dos solos (Lei de Darcy). Devido à conservação de energia, o fluxo de água subterrânea é regido pela diferença de potencial energético entre dois locais no aquífero e é representado pelas linhas de fluxo. As linhas equipotenciais são as linhas perpendiculares ao fluxo (em meios homogêneos e isotrópicos), que representam os locais com mesmo potencial energético. O potencial energético da água corresponde a sua carga hidráulica (h). A carga hidráulica total (comumente expressa em altura de •composição física, incluindo a composição mineralógica, tamanho e empacotamento dos grãos, dos sedimentos ou das rochas que compõem o sistema geológico Litologia •descreve as relações geométrica e temporal entre as diversas lentes, camadas e formações nos sistemas geológicos de origem sedimentar Estratigrafia •são as propriedades geométricas dos sistemas geológicos produzidas por deformação após deposição ou cristalização. Exemplos: clivagens, fraturas, dobras e falhas Feições estruturais Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.4: Conceitos de Hidrogeologia Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 11 coluna d'água) em um ponto é a soma da carga piezométrica e da carga altimétrica, dada pela elevação em relação a um plano de referência único, considerado para todo o sistema (Figura 6). O fluxo da água subterrânea (�), também chamado de vazão específica ou velocidade de darcy, corresponde ao volume de água que flui por uma seção por tempo (com unidades de m3 m-2 s-1, por exemplo). Pode ser obtido pela aplicação da Lei de Darcy (Equação 2), formulada por Henry Darcy com base nos resultados de experimentos publicados em 1856 sobre o fluxo de água através de leitos de areia. � � � � � −� �� �� � −� �� �� � −� ∙ � (2) Onde ℎ a carga hidráulica, �ℎ/�� o gradiente hidráulico, que também é representado por �; � a condutividade hidráulica Ressalta-se que q é diferente da velocidade do fluido (também chamada de velocidade linear, v) pois o fluxo ocorre somente nos poros que são interconectados, indicados pela porosidade efetiva (ne). Assim, as velocidades microscópicas reais são maiores do que a velocidade de Darcy, podendo ser obtida pela equação 3. � � !" (3) O fluxo no meio subterrâneo pode ser representado pelo mapa potenciométrico, que é um mapa do contorno de cargas hidráulicas num plano horizontal para um aquífero, também chamado de superfície potenciométrica (Figura 8). Um mapa da superfície potenciométrica de um aquífero fornece uma indicação das direções de fluxo horizontal de suas águas subterrâneas. O conceito de superfície potenciométrica só é rigorosamente válido para fluxo horizontal (linhas isopotenciais verticais), ou em aquíferos com condutividade hidráulica horizontala implementação de medidas de intervenção em cada uma delas, quando necessário, conforme descrito na Seção 1.6 deste Capítulo 1. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 3 As informações obtidas durante a execução das etapas do GAC são armazenadas no Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas, visando dar subsídios para a sua execução e para dar publicidade às informações geradas (ver Capítulo 3). Em resumo, a seguir são apresentadas as etapas do GAC e seus objetivos gerais. Identificação de Áreas com Potencial de Contaminação: identificar áreas na região de interesse nas quais podem existir fontes de contaminação potenciais (ver Capítulo 4). Avaliação Preliminar: identificar as fontes de contaminação potenciais e indícios de contaminação em cada Área com Potencial de Contaminação (AP) constatada na região de interesse (ver Capítulo 5). Investigação Confirmatória: identificar as fontes de contaminação primárias e a contaminação nos compartimentos do meio ambiente, em cada Área Suspeita de Contaminação (AS) constatada na região de interesse (ver Capítulo 6). Investigação Detalhada: caracterizar as fontes de contaminação primárias e secundárias e as contaminações identificadas nos compartimentos do meio ambiente (plumas de contaminação), em cada Área Contaminada sob Investigação (ACI) constatada na região de interesse (ver Capítulo 7). Avaliação de Risco: avaliar a necessidade de implementação de medidas de intervenção, com base nos riscos ou danos aos bens a proteger identificados e caracterizados, em cada ACI constatada na região de interesse (ver Capítulo 8). Elaboração do Plano de Intervenção: definir e planejar as medidas de intervenção a serem implementadas, visando estabelecer as condições de uso seguro, atual ou futuro, em cada Área Contaminada com Risco Confirmado (ACRi) constatada na região de interesse (ver Capítulo 9). Execução do Plano de Intervenção: implementar as medidas de intervenção planejadas, visando propiciar o uso seguro, atual ou futuro, em cada ACRi constatada na região de interesse (ver Capítulo 10). Monitoramento para Encerramento: verificar a manutenção das condições atingidas pela implementação das medidas de intervenção executadas, que propiciam o uso declarado de forma segura em cada Área em Processo de Monitoramento para Encerramento (AME) constatada na região de interesse (ver Capítulo 11). Emissão do Termo de Reabilitação para o Uso Declarado: emitir o Termo de Reabilitação para o Uso Declarado para cada área classificada como Área Reabilitada para o Uso Declarado (AR), após a Execução do Plano de Intervenção e do Monitoramento para Encerramento (ver Capítulo 12). Acompanhamento da Medida de Controle de Engenharia (MCE) ou da Medida de Controle Institucional (MCI): acompanhar a MCE ou a MCI registradas no Termo de Reabilitação para o Uso Declarado, caso essas tenham sido implementadas em uma área classificada como AR (ver Capítulo 13). Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 4 Durante a execução das etapas do GAC podem ser identificadas situações que implicam na necessidade de adoção de procedimentos técnicos e administrativos específicos, citados a seguir: Procedimento de Averbação na Matrícula do Imóvel (ver item 5 desta Seção e Seção 1.7); Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Críticas (ver item 6 desta Seção e Seção 1.8); Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas em Regiões Prioritárias (ver item 7 desta Seção e Seção 1.9); Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Órfãs (ver item 8 desta Seção e Seção 1.10); Medidas Emergenciais em Áreas Contaminadas (ver item 9 desta Seção e Seção 1.11); Procedimento de Reutilização de Áreas Reabilitadas e Revitalização de Regiões Degradadas (ver item 10 desta Seção e Seção 1.12); Metodologias Utilizadas para Prevenir a Geração de Áreas Contaminadas (ver item 12 desta Seção e Seção 1.13); Procedimento de Desativação de Atividades Potencialmente Geradoras de Áreas Contaminadas (ver item 11 desta Seção e Seção 1.14). No Capítulo 14 são descritas as técnicas de investigação de áreas contaminadas que podem ser aplicadas durante a realização das etapas do Processo de Identificação de Áreas Contaminadas. No Capítulo 15 são descritas as medidas de intervenção que podem ser utilizadas durante a realização das etapas do Processo de Reabilitação de Áreas Contaminadas. No Capítulo 16 são descritos instrumentos que podem ser aplicados na implementação do GAC. 2. Área com Potencial de Contaminação (AP) e Área Contaminada (AC) Uma Área com Potencial de Contaminação (AP) é definida como uma área onde são ou foram desenvolvidas atividades potencialmente geradoras de áreas contaminadas, ou seja, nela existe ou existiu pelo menos uma fonte de contaminação potencial. Uma atividade potencialmente geradora de área contaminada é uma atividade humana em cujo processo e utilidades se empregam, são transportadas ou são manejadas determinadas substâncias que por suas características são capazes de gerar uma Área Contaminada (AC). Uma AC é definida como uma área onde existe ou existiu fonte de contaminação primária e, como resultado, contém quantidades de matéria ou concentrações de substâncias, em ao menos um dos compartimentos do meio ambiente, capazes de causar danos aos bens a proteger. Essa definição de AC apresentada é condensada, mas contém conceitos importantes, cujo conhecimento é fundamental para o entendimento do funcionamento do procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas (GAC). Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 5 Na parte inicial da definição é destacada uma primeira condição obrigatória para classificar uma área como AC, que é se nela “existe ou existiu fonte de contaminação primária”, cujos conceitos envolvidos são apresentados no item 2.1 desta Seção. Na parte final da definição é destacada uma segunda condição obrigatória para classificar uma área como AC, que é se ela “contém quantidades de matéria ou concentrações de substâncias nos compartimentos do meio ambiente capazes de causar danos aos bens a proteger”, cujos conceitos envolvidos são apresentados no item 2.2 desta Seção. Além das classificações de AP e AC, o GAC prevê a adoção de outras classificações, a serem definidas oportunamente nesta seção e em outras seções deste Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas. 2.1. Fonte de contaminação As fontes de contaminação são divididas de acordo com os seguintes critérios: tipo de fonte de contaminação; origem; forma de entrada das substâncias no compartimento do meio ambiente. Os compartimentos do meio ambiente podem ser entendidos como os solos, sedimentos, rochas, materiais utilizados para aterrar os terrenos, construções, águas subterrâneas e superficiais, ar e organismos vivos. a. Tipo de fonte de contaminação Em função do tipo, as fontes de contaminação são classificadas de acordo com as seguintes classes: fonte de contaminação potencial; fonte de contaminação primária; fonte de contaminação secundária. Uma fonte de contaminação potencial é uma utilidade, como por exemplo, uma máquina, um equipamento, um dreno, um tanque, uma tubulação, um poço ou um local utilizado para armazenar ou dispor materiais, que existe ou que existiu dentro de uma AP, a partir da qual pode ser liberada quantidade significativa de substâncias para os compartimentos do meio ambiente, tornando-os contaminados. São exemplos clássicos de fontes de contaminação potenciais: máquinas e equipamentos; bem maior do que aquelas das camadas confinantes associadas. Mapas potenciométricos que contém poços em diferentes aquíferos são essencialmente um mapa de contornos de cargas hidráulicas e podem não representar adequadamente o fluxo da água subterrânea devido a presença de relevantes componentes verticais de fluxo. A interpretação adequada dos fluxos é feita através de um conjunto de poços de monitoramento em diferentes camadas estratigráficas, onde é possível avaliar componentes verticais do fluxo e gerar seções verticais considerando a geologia da subsuperfície. Um exemplo de seção vertical também é apresentado na Figura 8Erro! Fonte de referência não encontrada.. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.4: Conceitos de Hidrogeologia Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 12 Figura 8 - Mapa potenciométrico (a) e seção vertical mostrando linhas de fluxo próxima a zona de descarga (b). Fonte: Autores e AESAS, adaptado de: Cohen e Cherry 2020; e Woessner e Poeter, 2020. 4. Fluxo de água subterrânea em meios fraturados Aquíferos fraturados ou fissurados são caracterizados por possuírem fraturas abertas que acumulam água e resultam de deformações sofridas por uma rocha quando esta é submetida a esforços tensionais. Os aquíferos fraturados estão associados com rochas do tipo ígneas e metamórficas, além das sedimentares que podem ter porosidade por fratura e granular. Nos meios fraturados o fluxo acontece principalmente pela rede de fraturas interconectadas, já que na maioria dos casos a matriz rochosa é muito menos permeável que a rede de fraturas. No entanto, quantificar o fluxo por uma rede de fraturas é bastante complexo. Apesar de serem conceitualmente diferentes dos aquíferos porosos granulares, há situações em que aquíferos fraturados se assemelham aos granulares simplificando e viabilizando estudos neste meio. Valores espacialmente definidos de condutividade hidráulica, porosidade e compressibilidade podem ser atribuídos desde que a ocorrência de fraturas seja suficientemente densa para que o meio fraturado funcione de uma forma hidraulicamente semelhante aos meios porosos granulares, sendo definido então um meio poroso equivalente. Nesta abordagem cada abertura de fissura é considerada muito pequena em relação ao volume total do domínio sobre o qual a condutividade hidráulica (K) é medida. Portanto, o número de fraturas neste domínio deve ser grande. Se os espaçamentos de fratura são irregulares em um determinado local, o meio vai apresentar tendências de heterogeneidade. Se os espaçamentos de fratura são distintos em diferentes direções, o meio vai apresentar anisotropia. A porosidade efetiva de rochas fraturadas e de materiais coesivos consolidados fraturados, tais como tilitos (depósitos de sedimentos finos), siltitos ou argilitos, é normalmente muito pequena. Como as porosidades são pequenas, as velocidades das águas subterrâneas tendem a ser grandes. A razão para isso pode ser deduzida da relação de Darcy modificada: �̅ � $% !& �� �� (4) Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.4: Conceitos de Hidrogeologia Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 13 Onde �̅ é a velocidade linear média da água nas fissuras, � a condutividade hidráulica bruta do meio fraturado, '( a porosidade da fratura e )� )� o gradiente hidráulico. Em aquíferos cuja densidade de fraturas é extremamente baixa, pode ser necessário analisar-se o fluxo em fissuras individuais. Uma fratura é comumente representada pelo modelo de planos paralelos, sendo a fratura o espaço vazio entre dois planos que representam a parede da matriz rochosa. A distância entre os planos (b) é a abertura da fratura. Nesse caso, a vazão na fratura (Q) pode ser dada pela lei cúbica, que mostra que a vazão é proporcional ao cubo da abertura da fratura: * � − +, . /0 123 45 67 )� )� � − +, . 8 /9 123 )� )� (5) Onde: 8 é a densidade da água, g é a aceleração da gravidade, : é a viscosidade da água, w é o comprimento da fratura perpendicular ao fluxo, e )� )� é o gradiente hidráulico. Repara-se que a Equação 5 segue o mesmo formato da Lei de Darcy, sendo a condutividade hidráulica da fratura igual a: � � +, . /0 123 (6) Outras condições impedem a adoção do modelo de meio poroso equivalente além da baixa densidade de fraturas. Por exemplo, a grande abertura de algumas fraturas pode incorrer em fluxo laminar não linear ou turbulento, invalidando a Lei de Darcy e alterando as condições de mistura nos vazios do aquífero. 5. Referências bibliográficas COHEN, A. J. B.; CHERRY, J. A. Conceptual and Visual Understanding of Hydraulic Head and Groundwater Flow. Guelph, Ontario, Canada: The Groundwater Project, 2020. EMBRAPA. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. 2. ed. Rio de Janeiro: EMBRAPA-SPI, 2006. EMBRAPA. Propriedades do Solo. Disponível em: http://www.embrapa.br/solos/sibcs/propriedades-do-solo. Acesso em: Outubro, 2022. FREEZE, A. R.; CHERRY, J. A. Groundwater. Englewood Cliffs, New Jersey: Prentice- Hall, Inc., 1979. LEMOS, R. C.; SANTOS, R. D. Manual de descrição e coleta de solo no campo. 3. ed. Campinas-SP: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo - Centro Nacional de Pesquisa de Solos, 1996. MORRIS, B. L. et al. Groundwater and its susceptibility to degradation: A global assessment of the problem and options for management. Early Warning and Assessment Report Series, RS.03-3. Nairobi, Kenya: United Nations Environment Programme, 2003. OSMAN, K. T., Soils: Principles, Properties and Management. Dordrecht: Springer Netherlands, 2013. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.4: Conceitos de Hidrogeologia Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 14 SCHWARTZ, F.; ZHANG, H. Fundamentals of Groundwater. New York: John Wiley & Sons, 2003. TOLEDO, M. C. M. et al. Intemperismo e Formação do Solo. In: TEIXEIRA, W. et al. Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Textos p. 139-166, 2000. WOESSNER, W. W.; POETER, E. P. Hydrogeologic Properties of Earth Materials and Principles of Groundwater Flow. Guelph, Ontario, Canada: The Groundwater Project, 2020. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.4: Conceitos de Hidrogeologia Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 15 Anexo 1 – Exemplos de fraturas em testemunhos de rochas Foto 1a: padrão de fraturamento em testemunho de sondagem de argilito do Grupo Itararé, Bacia do Paraná, era glacial neopaleozóica. Foto 1b: PFH (plano de fratura horizontal); PFV (plano de fratura vertical); PFSV (plano de fratura sub- vertical). Foto 2a: padrão de fraturamento em testemunho de sondagem com intercalações de arenitos e argilito do Grupo Itararé, Bacia do Paraná, era glacial neopaleozóica. Foto 2b: PFH (plano de fratura horizontal); notar indícios de oxidação em fratura aberta, que mostram a percolação de água subterrânea e fraturas fechadas com orientação horizontal / sub-horizontal (seta azul). Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.4: Conceitos de Hidrogeologia Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 16 Foto 3a: testemunho de sondagem com arenito fino do Grupo Itararé, Bacia do Paraná, era glacial neopaleozóica. Foto 3b: PFV (plano de fratura vertical) com oxidação, indicando percolação de água subterrânea nesse sentido e PFH (plano de fratura horizontal) sem indícios de percolação de água subterrânea. Foto 4a: testemunho de sondagem mostrando argilito com clastos irregulares de arenito fino. Grupo Itararé, Bacia do Paraná, era glacial neopaleozóica. Foto 4b: fraturas verticais descontínuas (setas laranjas) e contínua (seta azul)preenchidas por calcita. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.4: Conceitos de Hidrogeologia Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 17 Foto 5a: testemunho de sondagem mostrando fratura no contato entre argilito (cinza) e arenito fino (bege). Grupo Itararé, Bacia do Paraná, era glacial neopaleozóica. Foto 5b: Fraturas subverticais abertas (em branco) e fechadas (em laranja). Foto 6a: Fratura subvertical aberta com oxidação mostrando indícios de percolação de água subterrânea. Foto 6b: Notar dois planos de fraturas subverticais com direções de mergulho distintas (laranja e branco) ambos com oxidação e mostrando indícios de percolação de água subterrânea. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.4: Conceitos de Hidrogeologia Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 18 Foto 7a: testemunho de sondagem mostrando arenito com camadas francamente horizontais. Grupo Itararé, Bacia do Paraná, era glacial neopaleozóica. Foto 7b: Notar variação das camadas centimétricas a sub-centimétricas, mostrando arenitos desde finos a muito finos até médios sem nenhum indício de fraturas condicionando o fluxo de água subterrânea. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 1 Seção 1.5: Comportamento e transporte de contaminantes em subsuperfície Autores: Juliana G. Freitas, Miguel A. A. Soto, Elias H. Teramoto, Veronica Gonsalez e Chang H. Kiang Sumário 1 Partição e fases dos contaminantes .................................................................. 1 1.1 Dissolução / Precipitação ................................................................................ 1 1.2 Volatilização ................................................................................................... 2 1.3 Sorção ............................................................................................................ 2 2 Comportamento de fases líquidas não aquosas - NAPLs ................................ 3 2.1 Migração de LNAPLs ...................................................................................... 4 2.2 Migração de DNAPLs ..................................................................................... 4 3 Transporte de plumas dissolvidas ..................................................................... 6 3.1 Advecção e dispersão .................................................................................... 6 3.2 Retardamento ................................................................................................. 8 4 Transporte da fase vapor .................................................................................... 8 4.1 Modelo conceitual ........................................................................................... 9 4.1.1 Fonte de contaminação secundária ......................................................... 9 4.1.2 Meio físico ............................................................................................. 10 4.1.3 Mecanismos de transporte da fase vapor .............................................. 10 4.1.4 Pontos de exposição ............................................................................. 11 4.1.5 Vias de exposição e Receptores............................................................ 12 5 Reações .............................................................................................................. 13 5.1 Biodegradação de hidrocarbonetos .............................................................. 14 5.2 Degradação de compostos halogenados ...................................................... 15 6 Referências ........................................................................................................ 16 1 Partição e fases dos contaminantes O meio subterrâneo é composto pela fase sólida e pelos poros, que podem conter diferentes fluidos (como água e ar). A fase sólida inclui partículas minerais e matéria orgânica de solos, sedimentos e rochas. Em áreas contaminadas, os contaminantes podem se distribuir entre os sólidos e os fluidos, estando em diferentes fases. Até três fluidos podem estar presentes nos poros: a fase gasosa, a fase aquosa e uma fase líquida não aquosa, também chamada de NAPL (non-aqueous phase liquid). Os contaminantes também podem estar retidos nos sólidos, denominada de fase adsorvida ou sorvida. Cada fase pode ser composta por uma variedade de compostos. A fase aquosa, por exemplo, é composta principalmente de água, mas contém compostos orgânicos e inorgânicos dissolvidos. Ao contaminante presente na fase aquosa, dá-se o nome de fase dissolvida. Os contaminantes se distribuem entre essas diferentes fases dependendo das suas propriedades e das condições do meio. A transferência de massa entre fases (partição) ocorre até que sejam atingidas condições de equilíbrio químico. 1.1 Dissolução / Precipitação Os processos de dissolução e precipitação se referem à partição entre a fase aquosa e o contaminante em fase separada, podendo ser como NAPL ou um sólido. A propriedade que descreve essa partição é a solubilidade (S), que expressa a concentração da substância em fase dissolvida quando em equilíbrio com a sua fase pura (líquida ou sólida). Se a fase separada não é um composto puro, mas uma Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.5: Comportamento e transporte de contaminantes em subsuperfície Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 2 mistura de substâncias, o equilíbrio químico multicomponente é mais complexo e, de forma geral, dependente da fração molar do composto na mistura. A solubilidade varia ligeiramente com a temperatura, mas também pode variar dependendo da presença de outras substâncias em solução e das condições físico- químicas. Para compostos orgânicos, destaca-se que substâncias conhecidas surfactantes ou cossolventes (como etanol) podem causar um grande aumento da solubilidade. No caso de algumas substâncias inorgânicas, as condições físico- químicas (como pH e potencial redox) da solução têm um grande impacto na solubilidade. Quando a concentração na fase dissolvida é inferior ao que seria esperado em condições de equilíbrio, o contaminante presente em fase separada vai se dissolver até que seja atingido o equilíbrio, ou até a fase separada se extinguir. 1.2 Volatilização O contaminante presente como fase dissolvida ou fase separada (NAPL ou sólido) pode particionar para a fase gasosa, pelo processo conhecido como volatilização. Esse processo acontece comumente com compostos orgânicos na zona não saturada ou saturada. A tendência de volatilização de um contaminante pode ser avaliada por duas propriedades: a pressão de vapor e a constante de Henry. A pressão de vapor, que indica a pressão do contaminante em equilíbrio com sua fase pura, líquida ou sólida, é uma medida da tendência de evaporação dessa substância. Em misturas de compostos orgânicos (como no caso da gasolina), a pressão de vapor de uma substância na mistura será menor que da substância pura, e pode ser aproximada pela Lei de Raoult, que determina que a pressão de vapor da substância na mistura é o produto da pressão de vapor da substância pura e da fração molar do composto na mistura. A segunda propriedade é a constante da Lei de Henry, que descreve a partição entre a fase dissolvida e a fase vapor. A Lei de Henry considera que existe uma relação linear entre as concentrações de equilíbrio na fase vapor e em uma solução aquosa diluída. A constante de Henry é então definida como a razão entre a concentração na fase vapor e na fase líquida. Portanto, quanto maior a constante de Henry mais volátil é o composto. 1.3 Sorção Sorção é definida como a interaçãode um contaminante com um sólido (como solo, sedimento ou matriz rochosa), sendo dividida em adsorção e absorção. De forma geral, adsorção se refere a um acúmulo do contaminante na superfície do sólido, enquanto absorção implica na penetração do contaminante na fase sólida, de forma relativamente uniforme. Uma série de processos pode resultar em sorção, como reações químicas nas superfícies (hidrólise, complexação, troca iônica, formação de pontes de hidrogênio), interações eletrostáticas e interações hidrofóbicas. A sorção depende das propriedades físicas e químicas do contaminante, da composição da fase sólida e das propriedades do fluido em que se encontra o contaminante e o sólido. Na fase sólida, destaca-se a importância da fração argila (grãosO primeiro é que o DNAPL precisa ter pressão suficiente para superar as forças capilares no material de menor permeabilidade (mecanismo de barreira capilar). O segundo é a maior resistência ao fluxo na camada menos permeável. Em meios fraturados, para que o DNAPL consiga penetrar uma fratura precisa ter uma pressão suficiente para vencer a pressão capilar na fratura. Essa pressão necessária depende das propriedades do DNAPL (como densidade e tensão interfacial) e da fratura (como tamanho da abertura). A migração de um DNAPL em meio poroso é ilustrada na Figura 2. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.5: Comportamento e transporte de contaminantes em subsuperfície Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 5 Figura 1 - Exemplos de NAPLs de diferentes densidades em frascos com água: a) gasolina (0,75 g cm-3); b) tricloroeteno (TCE) (1,46 g cm-3); c) Gasolina + TCE - proporção 2:1 (» 0,9 g cm-3); d) Gasolina + TCE - proporção 1:2 (» 1,2 g cm-3). Fonte: Juliana G Freitas Figura 2 - Migração de LNAPL e DNAPL em meios porosos e detalhe da fase residual nas zonas não-saturada e saturada. Fonte: Autores e AESAS, adaptado de: Domenico & Schwartz (1998), Mayer et al. (2005). Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.5: Comportamento e transporte de contaminantes em subsuperfície Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 6 Figura 3 - Perfis típicos de saturação de água, LNAPL e total (água + NAPL) num meio homogêneo. Fonte: modificado de Lenhard & Parker (1990). 3 Transporte de plumas dissolvidas 3.1 Advecção e dispersão O transporte de substâncias dissolvidas é determinado por dois processos básicos: a advecção e a dispersão. A advecção corresponde ao transporte da substância pelo fluido no qual ela se encontra, na mesma direção e sentido do fluxo do fluido, com velocidade igual à velocidade média do fluido. Assim, um contaminante dissolvido na água subterrânea é transportado por advecção com uma velocidade igual à velocidade média da água subterrânea, como definido no Item 1.4. A dispersão hidrodinâmica, ou somente dispersão, corresponde a todos os processos que causam espalhamento dos contaminantes ao redor do centro de massa da pluma. Assim, a dispersão causa mistura com água subterrânea não contaminada, causando diluição e expansão da pluma de contaminação para zonas além das que seriam impactadas baseado somente na advecção. A dispersão pode ocorrer na direção do fluxo do fluido, chamada de dispersão longitudinal, ou normal à direção do fluxo, sendo denominada de dispersão lateral ou transversal. A dispersão é causada por processos macroscópicos e microscópicos, e é uma somatória dos processos de difusão molecular e dispersão mecânica. A difusão molecular é causada pelo movimento aleatório das moléculas, que gera o transporte de soluto da região de maior concentração para as regiões de menor concentração. Assim, a difusão molecular independe do fluxo do fluido, podendo ser o processo dominante em situações em que o gradiente hidráulico é zero ou a condutividade hidráulica muito baixa. Por exemplo, uma situação em que a difusão molecular adquire grande importância é no transporte em meios fraturados onde a Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.5: Comportamento e transporte de contaminantes em subsuperfície Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 7 matriz rochosa possui baixa condutividade hidráulica de tal forma que o fluxo advectivo é insignificante. Nesses casos, o transporte nas fraturas ocorre por advecção e dispersão, mas parte da massa pode migrar para a matriz rochosa por difusão molecular devido ao gradiente de concentração que se estabelece. O processo de difusão molecular é descrito pela Lei de Fick, que determina que o fluxo de um soluto (F) é proporcional ao gradiente de concentração (dC/dx), como indicado na Equação 1, para uma dimensão. Em meios porosos a difusão ocorre mais lentamente que na água, pois o transporte somente ocorre pelos poros, resultando em colisões das moléculas com os sólidos e percursos mais longos. Para considerar esse efeito utiliza-se o coeficiente de difusão molecular efetivo (D*), que se relaciona ao coeficiente de difusão pela multiplicação por um coeficiente empírico, usualmente estimado com base na porosidade e tortuosidade do meio, ou determinado experimentalmente. F = −D∗ �� �� (1) Onde: F: fluxo do soluto [M L-2 T-1]; D* coeficiente de difusão molecular efetivo [L² T-1]; C: concentração [M L-3]; �� �� : gradiente de concentração na direção x. A dispersão mecânica ocorre devido a variações locais de velocidade, que são desvios em relação à velocidade média do fluxo de água. Essas variações podem ocorrer, por exemplo, dentro de um poro, pois no centro do poro a velocidade é maior que próximo à superfície dos grãos. A diferença no tamanho dos poros também causa gradientes de velocidades, pois a velocidade tende a ser maior nos percursos por poros maiores. Além disso, o contaminante pode seguir diferentes percursos, alguns apresentando maiores comprimentos pela presença de maior tortuosidade, ou ainda causando ramificações laterais. Heterogeneidades do aquífero também podem causar dispersão mecânica, quando a pluma atinge regiões com diferentes condutividades hidráulicas, por exemplo. Assim, a dispersão tende a ser maior quanto maior a extensão da pluma, sendo dependente da escala. A dispersão mecânica é expressa de forma similar à difusão molecular, empregando o coeficiente de dispersão mecânica, Dm. Esse coeficiente é proporcional à velocidade média de fluxo da água subterrânea e à dispersividade, um coeficiente dependente das propriedades do meio. A Equação 2 representa o cálculo do coeficiente de dispersão mecânica em uma direção. De forma geral, a dispersão na direção longitudinal é maior que nas direções perpendiculares ao fluxo de água subterrânea (diferença de pelo menos uma ordem de magnitude), gerando um maior espalhamento nessa direção. D = α� v � (2) Onde: D coeficiente de dispersão mecânica [L2 T-1]; α� dispersividade na direção x [L]; v �: velocidade média da água subterrânea na direção x [L T-1]. Como a dispersão hidrodinâmica é a somatória dos processos de difusão molecular e dispersão mecânica, define-se o coeficiente de dispersão hidrodinâmica como a soma do coeficiente de difusão molecular efetivo e do coeficiente de dispersão mecânica (Eq. 3). O processo de advecção e dispersão ocorrem conjuntamente, fazendo com que o centro de massa da pluma de contaminação se mova com velocidade igual a velocidade média do fluxo de água subterrânea, e os solutos se espalhem ao redor desse ponto. A junção desses processos é descrita pela equação de advecção- Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.5: Comportamento e transporte de contaminantes em subsuperfície Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 8 dispersão (Eq. 4), ilustrada na Figura 4. Ressalta-se que heterogeneidades no meio causam desvios no fluxo, gerando plumas de contaminação com geometrias distintas do que seria observado num meio homogêneo. D� = α� v� � �∗ (3) �� �� = �� ��� ��� − �� �� �� (4) Figura 4 - Exemplo da migração de plumas de contaminação a partir de (a) uma fonte tipo pulso, instantânea e b) uma fonte contínua. Maior densidade de pontos representa maior concentração na fase dissolvida. Fonte: Adaptado de Fetter (2001). 3.2 Retardamento A sorção de contaminantes dissolvidos nos sólidos resulta em uma redução na velocidade de transporte das substâncias dissolvidas, mas não na remoção de massa. Assumindo equilíbrio na sorção e comportamento linear (Kd – coeficiente de distribuição – não varia significativamente com a concentraçãoda substância), a velocidade da pluma será menor do que a velocidade média da água subterrânea e é estimada utilizando o fator de retardamento (R). O fator de retardamento é a razão entre a velocidade do centro de massa da pluma do contaminante e a velocidade média de fluxo da água subterrânea e pode ser estimado pela Equação 5. R = �� �� = 1 � ��∙�� (5) Onde: vi: velocidade de migração do poluente [L T-1]; v : velocidade média da água subterrânea [L T-1]; R: fator de retardamento [-]; ρ": densidade aparente do meio [M L- 3]; K�: coeficiente de partição [L3 M-1]; θ: porosidade do meio [-] Ressalta-se que essa simplificação em geral é aplicável para compostos orgânicos hidrofóbicos. Para substâncias iônicas, como metais, esse modelo não gera uma boa aproximação, pois a sorção varia muito com as propriedades do meio, como pH, força iônica etc. A equação que governa o transporte de substâncias dissolvidas é derivada da lei de conservação de massa considerando os processos de advecção, dispersão mecânica, difusão molecular, transformações bioquímicas (representadas pelo coeficiente de decaimento de 1ª ordem ) e transferência de massa entre fases (sorção). Assim, o transporte unidirecional de solutos pode ser expresso pela equação abaixo: %� %& = '( ) %�� %�� − �( ) %� %� − λC (6) 4 Transporte da fase vapor O transporte da fase vapor pode gerar riscos significativos principalmente pela intrusão de vapores, que consiste em um processo de migração de determinados compostos químicos orgânicos e/ou inorgânicos voláteis desde uma contaminação subsuperficial até o interior de construções sobrejacentes. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.5: Comportamento e transporte de contaminantes em subsuperfície Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 9 4.1 Modelo conceitual A Figura 5 ilustra o modelo conceitual padrão para explicar a intrusão de vapor proveniente de solo ou água subterrânea contaminada. O modelo conceitual conta com uma Rota de Exposição que compreende o percurso desde a origem da contaminação até o destino final, sendo constituída por: fonte de contaminação secundária, meios físicos, mecanismos de transporte, ponto de exposição, vias de exposição e receptores atuais e futuros. Figura 5 - Intrusão de vapor proveniente de água subterrânea (Adaptado de ITRC, 2014) 4.1.1 Fonte de contaminação secundária A fonte de vapores é emanada do solo ou da água subterrânea contaminada com produtos químicos voláteis em concentrações elevadas, cuja magnitude é capaz de oferecer riscos imediatos à segurança (potencial de incêndio ou explosão de vapores de petróleo ou metano) ou possíveis efeitos adversos à saúde humana, pela inalação a longo prazo em ambientes internos sobrejacentes. Substâncias voláteis são consideradas produtos químicos com constante da lei de Henry maior que 10-5 atm m3 mol-1 à temperatura ambiente, ou com pressão de vapor maior que 1 mm Hg à temperatura ambiente. Entre os produtos químicos formadores de vapor podem ser citados os mais comuns: hidrocarbonetos encontrados na gasolina, diesel e combustível de aviação (e.g., benzeno, trimetilbenzenos, naftaleno); produtos químicos voláteis de aditivos de combustível (e.g., álcoois, éter metil Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.5: Comportamento e transporte de contaminantes em subsuperfície Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 10 terciário-butílico, álcool terciário-butílico, dibrometo de etileno e 1,2-dicloroetano); metano, produzido pela biodegradação anaeróbica de contaminantes orgânicos e matéria orgânica no solo, bem como compostos halogenados (e.g., cloreto de vinila, 1,2-dicloroetano e hexaclorobenzeno). 4.1.2 Meio físico O levantamento detalhado de dados sobre o meio físico, incluindo características geológicas, físicas, físico-químicas, mecânicas e hidrodinâmicas, permite compreender o trajeto dos contaminantes na fase vapor. Adicionalmente, devido a sua interação com a atmosfera, são necessários dados hidrológicos e meteorológicos. Ainda, a migração de contaminantes em forma de vapor pode ser impedida ou facilitada por diversos fatores, tais como: espessura da zona não saturada, trincas e fraturas, grau de saturação, densidade do vapor, condutividade hidráulica de solo não saturado, permeabilidade ao vapor, granulometria, curva de retenção de água no solo, entre outros. Por exemplo, solos podem apresentar maiores graus de saturação e inibir a magnitude do transporte difusivo, devido ao coeficiente de difusão dos compostos químicos, formadores do vapor, ser substancialmente menor na água em comparação com o ar. A variabilidade do grau de saturação da zona não saturada está sujeita não somente à precipitação e infiltração (às vezes impermeabilizados superficialmente por fundações), mas também às flutuações no nível da água subterrânea. Solos ou camadas de baixa permeabilidade na zona não saturada também podem restringir a migração ascendente de vapores, sendo o efeito acentuado com o aumento de umidade e profundidade da zona contaminada. Além disso, alguns compostos (e.g., benzeno, metano, cloreto de vinila) podem apresentar reduções em suas concentrações de gás no solo devido à biodegradação na zona vadosa. 4.1.3 Mecanismos de transporte da fase vapor Levando em consideração o modelo conceitual padrão da Figura 5 podem ser identificados três processos de transporte de vapor após a volatilização de substâncias químicas a partir do solo ou água subterrânea: i) difusão na zona não saturada, desde a fonte até o solo adjacente à fundação do edifício; ii) advecção e difusão através de fissuras, trincas e juntas entre a laje e muros da construção; e iii) mistura com o ar interno no ponto de exposição. Difusão – já definida anteriormente, consiste no movimento de substâncias químicas das áreas de maior concentração para as de menor concentração. A magnitude do fluxo difusivo guarda relação direta com o gradiente de concentração, com o coeficiente de difusão molecular efetivo do composto no meio poroso e com a umidade da zona não saturada. O coeficiente de difusão efetiva em um meio poroso, de acordo com Nielsen et al. (1972), pode ser expresso pela Equação 7. Nessa equação é considerado o conteúdo volumétrico de ar, pois, em um solo não saturado, o espaço poroso é composto por uma parcela de ar e outra de água que se complementam. Além disso, é considerada a tortuosidade do meio. Algumas expressões são apresentadas na literatura para estimar a tortuosidade, considerando parâmetros como a porosidade e o conteúdo volumétrico de água. D,-- = θ.. τ. D. (7) Onde Deff representa a difusão efetiva [L2 T-1]; qa, o conteúdo volumétrico de ar disponível no meio poroso [-]; t, a tortuosidade da fase do ar que é responsável pela Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.5: Comportamento e transporte de contaminantes em subsuperfície Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 11 diminuição da área da seção transversal e aumento do comprimento do caminho induzido por um meio poroso [-]; e Da, a difusividade no ar [L2 T-1]. Caso a fonte de contaminação esteja localizada na água subterrânea é necessário levar em conta a difusão efetiva desde a franja capilar (como uma camada adicional). Nesse caso, a difusão efetiva pode ser determinada com a seguinte expressão: D-1 ,-- = D.(θ.3-1 4.44 /n-1 7 ) � (D9/H;de água no solo pelo ajuste com o modelo de van Genuchten [-]; e θ.3-1, que representa o conteúdo volumétrico de ar na franja capilar, e que resulta da diferença entre a porosidade total e o conteúdo volumétrico de água na franja capilar [-]; Dw, a difusividade da água [L2 T-1]; HTS, a constante de Henry para a temperatura do sistema [-]. Logo, o coeficiente de difusão efetivo total, levando em consideração o total de camadas de solo, é representado como: D; ,-- = >? ∑ >� A �BC ∕'� EFF (10) Onde D; ,-- representa o coeficiente global de difusão efetiva da fase vapor de todas as camadas de solo [L2 T-1]; LT, a distância vertical compreendida entre a face inferior da fundação ou laje (adjacente ao ambiente interno) e a fonte de vapores [L]; n, o número de camadas de solo; Li, espessura da camada de solo i [L]; e DG ,--, a difusão efetiva através da camada de solo i [L2 T-1]. Advecção – movimento das substâncias químicas ocorre com o movimento da massa do gás do solo devido a diferenças de pressão. As diferenças de pressão podem ser geradas por mudanças de pressão atmosférica, mudanças de temperatura ou devido a sistemas de ventilação de edifícios, criando convecção natural no solo, isto é, essencialmente fluxo advectivo vertical, conforme o modelo de Johnson e Ettinger (1991), que por ser um modelo unidimensional, conta apenas com a componente vertical e a inexistência da difusão. Cabe ressaltar que esse tipo de transporte é o processo mais significativo nas proximidades da fundação, sendo menos importante distante dela. Mistura – Os vapores intrudidos podem ser misturados e diluídos com o ar dentro da edificação, a depender da taxa de ventilação. Esses valores podem ser ainda facilitados pelo grau de ventilação que possua o prédio, e.g., ar-condicionado e aquecedores. 4.1.4 Pontos de exposição O contato dos receptores com as substâncias químicas em forma de vapor poderá ocorrer em diversos tipos de espaços internos ou pontos de exposição, tais como: residências, comércio, escolas, igrejas etc. O tipo de uso, características construtivas e geométricas da edificação e qualquer outra característica que envolva algum tipo de interação com os meios contaminados (temperatura, diferencial de pressão com o Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.5: Comportamento e transporte de contaminantes em subsuperfície Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 12 solo, distância com a fonte etc.) influenciarão nas magnitudes das doses de ingresso na população afetada nos pontos de exposição. De acordo com API (2005), a migração do gás do solo e intrusão de vapores pode ser representada por três diferentes cenários construtivos, que possuem desde maior contato (e.g., porão) a menor contato com a superfície do solo (e.g., laje), tal como mostrado na Figura 6. Nessas circunstâncias, levando em consideração apenas o tipo de construção, se pressupõe uma relação direta entre a proximidade da fundação e do solo e a concentração dos contaminantes nos pontos de exposição. Isso porque há uma relação entre essa distância e a advecção (maior ou menor probabilidade de fissuras e interfaces piso-muro) e difusão (maior ou menor proximidade com a fonte). No entanto, o tipo de fundação por si só não determina a capacidade de intrusão de vapores, pois dependerá também dos processos construtivos. Por exemplo, em climas frios e secos, determinados países optam pelas fundações tipo entrepiso (crawlspace) com pouco espaço interno e uma rigorosa vedação, para evitar congelamento de dutos e otimização de calor. Porém, essa estrutura permite o acúmulo dos gases, mesmo com a aplicação de membranas supostamente impermeáveis no solo, por permitirem a passagem dos contaminantes por difusão. Figura 6. Intrusão de vapor em ambientes internos para três cenários de construção de acordo com API (2005) 4.1.5 Vias de exposição e Receptores As vias de exposição e os receptores serão tratados com detalhes no Capítulo 8 (Avaliação de Risco). Neste item são abordados parte dos conceitos, por estarem relacionados com a determinação da concentração final das substâncias químicas de interesse (SQI) em ambientes internos, como consequência da intrusão de vapores. Como observado no modelo conceitual, a única via de exposição ou via de entrada dos contaminantes nos receptores é pela inalação de vapores. No entanto, os receptores têm características diferentes (como massa corpórea, frequência de exposição, taxa de contato etc.) inclusive de exposição. Os dados específicos associados à concentração final de cada SQI disponível para o receptor conformam a dose de ingresso, que é o parâmetro que, junto com o fator de risco (RF) e a dose de referência (RfD) permitem a quantificação do Risco à Saúde Humana do tipo carcinogênico ou não carcinogênico, respectivamente. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.5: Comportamento e transporte de contaminantes em subsuperfície Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 13 A quantificação da concentração final que receberão os receptores por meio da inalação (via de exposição) poderá ser obtida com auxílio de modelos analíticos, numéricos ou por medição direta por meio de amostragem de vapores. Modelagem analítica A avaliação de risco à saúde humana, dependendo do modelo conceitual, requer uma grande quantidade de dados e, em alguns casos, cálculos complexos, comumente realizados com auxílio de softwares e planilhas de cálculo. Quando se trata de estimativas relacionadas com o mecanismo de transporte de gases por volatilização, a maioria desses programas (RISC, RBCA Tool Kit, SADA, CETESB entre outros) emprega o modelo de Johnson e Ettinger (1991), que embora tenha limitações (fonte infinita de contaminação; mistura do ar uniforme; não leva em consideração caminhos preferenciais nem biodegradação; considera distribuição do gás e taxas de ventilação uniformes; a entrada do gás é apenas por rachaduras da laje e juntas da laje-parede; análise unidimensional) é ainda um dos mais usados mundialmente. A expressão que relaciona a concentração no interior da edificação ou em ambiente interno (Cai) e concentração na fonte (Cf) é dada por: C.G = α. C- (11) No entanto, a fonte pode estar localizada tanto na água subterrânea como no solo. Para esses casos, a estimativa da concentração de vapor pode ser obtida pelas equações (12) e (13), respectivamente: C- = HI?J���K LM����MHI?J N (12) C- = H′;original, Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.5: Comportamento e transporte de contaminantes em subsuperfície Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 14 e podem gerar substâncias inertes ou de menor risco, mas também podem gerar a formação de substâncias mais tóxicas. Diferentes tipos de reações podem ocorrer, destacando-se as reações químicas abióticas (sem o auxílio de microrganismos) e reações bióticas (mediadas por microrganismos). As reações bióticas também são chamadas de biodegradação, e ocorrem de forma natural através de microrganismos que estão presentes na maioria dos solos. Os contaminantes orgânicos podem participar dessas reações de diversas formas. Em alguns casos, os contaminantes podem ser a fonte de carbono e energia para os microrganismos. Em outros casos, o contaminante é cometabolizado junto com a degradação de outro substrato primário. Ainda, o contaminante pode ser usado como aceptor de elétrons. A biodegradação é um importante processo de abatimento de massa de contaminantes, e por isso é explorado nas Medidas de Remediação por Tratamento (Seção 15.2) por meio das técnicas de biorremediação, incluindo a atenuação natural monitorada, método em que a biodegradação ocorre naturalmente sem intervenções além do monitoramento das condições do meio; e pelo bioestímulo e bioaumento, técnicas que induzem maiores taxas de biodegradação por meio da adição de receptores ou doadores de elétrons, nutrientes, controle das condições físico-químicas ou adição de culturas de microrganismos. Diferentes tipos de reações abióticas podem ocorrer no meio subterrâneo, como hidrólise, reações de oxi-redução, dehalogenação, eliminação, precipitação e outras. A ocorrência dessas reações é dependente das propriedades da solução e da fase sólida, como temperatura, pH, potencial de oxirredução, presença de outros compostos químicos e composição química da fase sólida. Por exemplo, alguns minerais de ferro e manganês, e alguns grupos funcionais da matéria orgânica podem propiciar a ocorrência de redução química abiótica. Essas reações abióticas em subsuperfície podem ser utilizadas como Medidas de Remediação por Tratamento (Seção 15.2) através da Redução Química in Situ (ISCR) e Oxidação Química in Situ (ISCO). Alguns exemplos de reações importantes são descritos na sequência. 5.1 Biodegradação de hidrocarbonetos A redução da massa de compostos orgânicos é mediada pelo metabolismo microbiano. As rotas metabólicas envolvidas na mineralização de hidrocarbonetos são dependentes da disponibilidade de aceptores de elétrons. Quando o oxigênio está disponível em concentrações suficientemente elevadas, existem condições propícias para a biodegradação aeróbica, descrito abaixo para o tolueno: CPHQ � 9O7 � 3H7O → 7HM � 7HCO4 3 (14) Na ausência do oxigênio, a biodegradação de hidrocarbonetos vai se suceder anaerobicamente a partir das reações de redução do nitrato, redução do Fe(III), redução do sulfato e metanogênese (que formam metano); apresentadas nas Equações 15 a 18, respectivamente. Essas reações ocorrerão prioritariamente a partir de reações termodinamicamente mais favoráveis (maior energia livre de Gibbs). Quando os aceptores de elétrons não estão mais disponíveis no aquífero, as reações de metanogênese (Equação 18) são dominantes. CPHQ � 7,2NO4 3 � 0,2HM → 0,6H7O � 7HCO4 3 � 3,6N7 (15) CPHQ � 36FeOOH � 65HM → 51H7O � 7HCO4 3 � 36Fe7M (16) CPHQ � 4,5SO_ 73 � 3H7O → 2,5HM � 7HCO4 3 � 4,5HS3 (17) CPHQ � 5H7O → 4,5CH_ � 2,5CO7 (18) Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.5: Comportamento e transporte de contaminantes em subsuperfície Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 15 Nas reações de biodegradação anaeróbica, acima apresentadas, é possível verificar que a biodegradação de hidrocarbonetos resulta na produção de CO2, N2, Fe(II), HS- e CH4. O Fe(II) e o CH4, produzidos respectivamente por redução do Fe(III) e metanogênese, representam indicadores comumente empregados para comprovação da ocorrência de biodegradação. Cabe destacar que embora a metanogênese seja tradicionalmente classificada como uma reação com energia livre amplamente reduzida, as relações de sintrofia podem tornar essa reação eficiente do ponto de vista termodinâmico. Concentrações elevadas dessas espécies são correlacionáveis com concentrações elevadas de compostos BTEX na água subterrânea. 5.2 Degradação de compostos halogenados A desalogenação redutiva é um modo importante de degradação de vários compostos, incluindo pesticidas organoclorados, solventes alquílicos e haletos de arila, podendo ocorrer a partir de rotas metabólicas abióticas ou bióticas. A ação metabólica de alguns microrganismos possui a capacidade de remover halogênios (Cl-, Br-, F- e I-) de compostos orgânicos halogenados em ambientes anóxicos. A desalogenação pode ocorrer por meio de uma variedade de reações, incluindo oxidação, redução ou hidrólise. O processo de remoção de um halogênio de um composto orgânico halogenado por uma reação redutiva é conhecido como desalogenação redutiva. A reação de desalogenação redutiva com hidrogênio como o doador de elétrons é altamente exergônica, sendo que a maioria dos organohaletos são termodinamicamente favoráveis como aceptores de elétrons em condições anaeróbias (Judger et al. 2016, Holliger et al., 1998). Nas reações redutivas, os elétrons são transferidos para a ligação carbono-halogênio, diminuindo assim o estado de oxidação do composto original, podendo ser classificados em dois processos distintos: hidrogenólise e dihaloeliminação. Reação de Hidrogenólise A hidrogenólise também ocorre para compostos aromáticos clorados, incluindo benzenos clorados, bifenilos policlorados (PCBs), dioxinas cloradas (por exemplo, 2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina ou TCDD), furanos e fenóis policlorados (por exemplo, pentaclorofenol). Para esses compostos, as vias de degradação são complexas, pois a redução ocorre por meio de vários isômeros, dependendo da posição no anel em que cada átomo de cloro específico é removido e, por esse motivo, as reações não serão apresentadas. No caso dos etanos e metanos clorados, a hidrogenólise de compostos aromáticos clorados raramente é completa, e a taxa de redução frequentemente diminui com a diminuição do número de ligações cloro-carbono. O processo normalmente ocorre por meio de um processo respiratório conhecido como respiração organohalide. A hidrogenólise de etenos clorados, tal como o tetracloroeteno (PCE), prossegue em duas etapas por meio de tricloroeteno (TCE), dicloroetenos (cis- ou trans-1,2-DCE), cloreto de vinila e eteno, conforme representado na Figura 7. A presença de 1,1-DCE no meio ambiente está mais tipicamente associada à contaminação prévia por 1,1,1- tricloroetano, que sofre diversos tipos de transformação, incluindo o processo abiótico de desidrohalogenação em 1,1-DCE. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.5: Comportamento e transporte de contaminantes em subsuperfície Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 16 Figura 7 Decaimento de PCE para TCE, cis- ou trans-1,2-DCE, cloreto de vinila e eteno a partir de reações de hidrogenólise O estado de oxidação do carbono em um composto orgânico varia de -4 (CH4) a +4 (CO2), verificando-se a tendência de a oxidação ocorrer mais intensamente nos compostos mais reduzidos. O estado de oxidação do carbono em PCE é +4. Com cada etapa de redução sucessiva (por meio de uma entrada de 2e-), o estado de oxidação do carbono diminui em 2, de modo que o carbono em TCE tem um estado de oxidação de +2, DCE tem 0, o cloreto de vinila tem -2 e eteno tem -4. Para essa categoria de contaminantes, a etapa final é crítica doponto de vista ambiental, uma vez que o cloreto de vinila possui propriedades carcinogênicas e elevada volatilidade, enquanto o eteno e o etano não apresentam riscos à saúde humana. Como os etenos clorados, os etanos clorados são reduzidos por hidrogenólise. Um dos compostos mais amplamente avaliados é o 1,1,1-tricloroetano, que sofre redução sequencial para 1,1-dicloroetano e cloroetano. Embora seja possível uma redução adicional em etano, é uma reação muito mais lenta e o cloroetano é tipicamente considerado como o produto terminal. Esse exemplo serve para ilustrar que a hidrogenólise nem sempre resulta em descloração completa. Outros etanos clorados comumente encontrados sofrem hidrogenólise, incluindo redução de 1,2-dicloroetano em cloroetano e 1,2-dicloropropano em 1- ou 2-cloropropano. Os metanos clorados, como o tetracloreto de carbono (tetraclorometano) sofrem hidrogenólise para clorofórmio (triclorometano) e depois cloreto de metileno (diclorometano). Essas reações também são catalisadas pela redução do ferro, que pode ser gerado por bactérias redutoras de ferro. Reação de Dihaloeliminação A redução dos compostos orgânicos halogenados pode ser conduzida pela dihaloeliminação, uma reação descrita por Sulita et al. (1982) e menos abundante do que a hidrogenólise. Essa reação consiste na remoção de átomos de halógenos de carbono adjacentes, resultando na formação de uma ligação dupla de carbono e liberação de duas moléculas de halógenos. Um exemplo de reação de dihaloeliminação a partir da redução do 1,1,2-tricloroetano para cloreto de vinila é expresso na equação abaixo. H7ClC − CHCl7 → H7C = CHCl � 2Cl3 (19) 6 Referências API - AMERICAN PETROLEUM INSTITUTE. A Practical Strategy for Assessing the Subsurface Vapor-to-Indoor Air Migration Pathway at Petroleum Hydrocarbon Sites: Collecting and Interpreting Soil Gas Samples from Vadose Zone. Publication 4741. Washington D. C: Regulatory Analysis and Scientific Affairs. 2005. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.5: Comportamento e transporte de contaminantes em subsuperfície Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 17 CETESB. Companhia Ambiental do Estado de São Paulo. Planilhas para avaliação de risco em áreas contaminadas sob investigação. 2013. Disponível em: https://cetesb.sp.gov.br/areas-contaminadas/documentacao/planilhas-para-avaliacao/. Acesso em: 08 de dezembro de 2020. CETESB. Cia. de Tecnologia e Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo. 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Introdução .............................................................................................................. 1 2. Metodologia de Gerenciamento de Áreas Contaminadas ...................................... 2 1. Introdução Como definição, uma Área Contaminada (AC) é uma área onde existe ou existiu fonte de contaminação primária e, como resultado, contém quantidades de matéria ou concentrações de substâncias, em ao menos um dos compartimentos do meio ambiente, capazes de causar danos aos bens a proteger. O Gerenciamento de Áreas Contaminadas (GAC) é o conjunto de ações de identificação, caracterização e implementação de medidas de intervenção em AC localizadas em uma região de interesse, com o objetivo de viabilizar o uso seguro proposto ou implementado em cada uma delas, culminando na sua classificação como Área Reabilitada para o Uso Declarado (AR) ao final do desenvolvimento das etapas do GAC. Portanto, uma AR é aquela em que os riscos acima dos níveis aceitáveis ou os danos identificados e caracterizados aos bens a proteger foram gerenciados satisfatoriamente após a execução do GAC. Observa-se que o uso declarado em uma AR deve estar em consonância com o permitido pela legislação de uso e ocupação do solo vigente na região onde ela se insere. Os conceitos envolvidos nas definições apresentadas são descritos na Seção 1.2 do Capítulo 1 deste Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas. A Metodologia de Gerenciamento de Áreas Contaminadas baseia-se em uma estratégia constituída por etapas sequenciais, em que a informação obtida em cada etapa é a base para a execução da etapa posterior. Nesta Seção 1.6 é descrita, de forma resumida, a Metodologia de Gerenciamento de Áreas Contaminadas e indicados os capítulos e seções deste Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas a serem consultados, visando à obtenção das orientações específicas sobre cada uma das suas etapas. A responsabilidade pela execução das etapas do GAC cabe ao responsável legal e ao responsável técnico, com exceção da etapa de Identificação de Áreas com Potencial de Contaminação e da etapa de Emissão do Termo de Reabilitação para o Uso Declarado, que cabe ao órgão ambiental gerenciador. Também cabe ao órgão ambiental gerenciador coordenar todas as ações do GAC a serem desenvolvidas na região de interesse, fiscalizar o cumprimento das exigências previstas nesse procedimento, por meio da avaliação dos relatórios apresentados pelo responsável legal e pelo responsável técnico, além da realizar auditorias. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.6: Metodologia de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 2 Durante a execução do GAC podem ser identificadas situações que implicam na necessidade de adoção de procedimentos técnicos e administrativos específicos, que são descritos no Capítulo 1, nas seguintes seções: Seção 1.7 – Procedimento de averbação das informações na matrícula do imóvel. Seção 1.8 – Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Críticas. Seção 1.9 – Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas em Regiões Prioritárias. Seção 1.10 – Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Órfãs. Seção 1.11 – Medidas emergenciais em Áreas Contaminadas. Seção 1.12 – Procedimento de Reutilização de Áreas Reabilitadas e Revitalização de Regiões Degradadas. Seção 1.13 – Metodologias utilizadas para prevenir a geração de Áreas Contaminadas. Seção 1.14 – Procedimento de desativação de atividades potencialmente geradoras de áreas contaminadas. 2. Metodologia de Gerenciamento de Áreas Contaminadas A Metodologia de Gerenciamento de Áreas Contaminadas é composta de dois processos: o Processo de Identificação de Áreas Contaminadas e o Processo de Reabilitação de Áreas Contaminadas. O Processo de Identificação de Áreas Contaminadas é o conjunto de etapas que tem por objetivos identificar as Áreas Contaminadas (AC), determinar suas características, identificar e caracterizar os riscos ou danos aos bens a proteger a elas associados, possibilitando a decisão sobre a necessidade de adoção de medidas de intervenção. As demais etapas pertencentes ao Processo de Reabilitação de Áreas Contaminadas buscam implementar as medidas de intervenção em AC, com o objetivo de viabilizar o uso proposto ou implementado de forma segura. Como regra básica da Metodologia de Gerenciamento de Áreas Contaminadas, todas as informações obtidas em suas etapas devem ser armazenadas no Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas (ver Capítulo 3). O Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas é utilizado para dar publicidade às ações de GAC na região de interesse e subsidiar o planejamento, a fiscalização e demais ações necessárias por parte do órgão ambiental gerenciador. As informações no Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas também são úteis para apoiar as demais instituições que possuem obrigações relativas ao GAC. O Processo de Identificação de Áreas Contaminadas é constituído por cinco etapas: Identificação de Áreas com Potencial de Contaminação (ver Capítulo 4); Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.6: Metodologia de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 3 Avaliação Preliminar (ver Capítulo 5); Investigação Confirmatória (ver Capítulo 6); Investigação Detalhada (ver Capítulo 7); Avaliação de Risco (ver Capítulo 8). O Processo de Reabilitação de Áreas Contaminadas é constituído por cinco etapas: Elaboração do Plano de Intervenção (ver Capítulo 9); Execução do Plano de Intervenção (ver Capítulo 10); Monitoramento para Encerramento (ver Capítulo 11); Emissão do Termo de Reabilitação para o Uso Declarado (ver Capítulo 12); Acompanhamento da Medida de Controle de Engenharia ou da Medida de Controle Institucional (ver Capítulo 13). Durante a realização do GAC, em razão do nível das informações obtidas, dos riscos existentes ou das medidas de intervenção adotadas, as áreas podem ser classificadas como: Área com Potencial de Contaminação (AP); Área Suspeita de Contaminação (AS); Área Contaminada sob Investigação (ACI); Área Contaminada com Risco Confirmado (ACRi); Área Contaminada em Processo de Remediação (ACRe); Área Contaminada em Processo de Reutilização (ACRu); Área em Processo de Monitoramento para Encerramento (AME); Área Reabilitada para o Uso Declarado (AR); Área Atingida por Fonte Externa (AFe); Área Alterada por Fonte Difusa (AFd); Área com Alteração de Qualidade Natural (AQN); Área não Contaminada (AN). A Figura 1.6-1 mostra esquematicamente a Metodologia de Gerenciamento de Áreas Contaminadas. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.6: Metodologia de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 4 Figura 1.6-1: Fluxograma do Gerenciamento de Áreas Contaminadas Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 1 Seção 1.7: Procedimento de Averbação na Matrícula do Imóvel Autores: Elton Gloeden, Thiago Marcel Campi, André Silva Oliveira e Maria da Glória Figueiredo Sumário 1. Introdução ..............................................................................................................1 2. Procedimento de averbação das informações do GAC na matrícula dos imóveis .. 2 2.1. Procedimento de averbação para Área Contaminada sob Investigação (ACI) 2 2.2. Procedimento de averbação para Área Contaminada com Risco Confirmado (ACRi)4 2.3. Procedimento de averbação para Área Reabilitada para o Uso Declarado (AR) 5 1. Introdução Durante a execução das etapas do Gerenciamento de Áreas Contaminadas (GAC) podem ser adotados procedimentos específicos, como é o caso da averbação de informações sobre o GAC na matrícula do imóvel. Conforme a legislação do Estado de São Paulo, especificamente o Decreto Estadual nº 59.263/2013, a adoção desse procedimento está prevista quando a área em avaliação é classificada como Área Contaminada sob Investigação (ACI), Área Contaminada com Risco Confirmado (ACRi) ou Área Reabilitada para o Uso Declarado (AR) (Definições apresentadas na Seção 1.2 do Capítulo 1). Essa orientação, pioneira no Brasil, proposta em conjunto pelo Ministério Público do Estado de São Paulo e pela CETESB, foi implementada no Estado de São Paulo em cumprimento à Decisão com Caráter Normativo CG nº 167/2005 da Capital, emitida pela Corregedoria Geral da Justiça e publicada no Diário Oficial do Estado de São Paulo em 12.06.2006. Dentre as atribuições estabelecidas, coube à CETESB providenciar que as informações sobre as Áreas Contaminadas (AC) identificadas durante a execução do GAC sejam averbadas à margem do competente registro imobiliário. Além disso, à CETESB também foi atribuído o dever de emitir, quando for o caso, o competente Termo de Reabilitação da Área para Uso Declarado (ver Seção 1.2), o qual deverá ser averbado nas matrículas do imóvel pelo Cartório de Registro de Imóveis, por solicitação do responsável legal. O objetivo das averbações da contaminação e do Termo de Reabilitação para o Uso Declarado é dar publicidade à situação atual das áreas que estejam em processo de GAC. Em 2007 essas orientações foram incorporadas ao Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas, publicado na Decisão de Diretoria da CETESB nº 103/2007/C/E. Posteriormente, em 2009, essas orientações foram incluídas na Lei Estadual nº 13.577/2009 (inciso III do artigo 24 e inciso II do artigo 27) e em 2013, em seu Decreto Regulamentador nº 59.263/2013 (inciso V do artigo 30, inciso III do artigo 41 e inciso II do artigo 54) e na Decisão de Diretoria da CETESB nº 038/2017/C, de 2017. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.7: Procedimento de averbação na matrícula do imóvel Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 2 O órgão ambiental gerenciador tem a atribuição de coordenar a execução do procedimento de averbação das informações do GAC na matrícula dos imóveis, sendo que o responsável legal pela área em avaliação tem a obrigação de fornecer todas as informações necessárias para viabilizar essas averbações. 2. Procedimento de averbação das informações do GAC na matrícula dos imóveis Conforme o Decreto Estadual nº 59.263/2013, no Estado de São Paulo, durante a execução das etapas do Gerenciamento de Áreas Contaminadas (GAC) as averbações das informações devem ser realizadas nas seguintes situações: quando a área em avaliação é classificada como Área Contaminada sob Investigação (ACI); quando a área em avaliação é classificada como Área Contaminada com Risco Confirmado (ACRi); quando a área em avaliação é classificada como Área Reabilitada para o Uso Declarado (AR). 2.1. Procedimento de averbação para Área Contaminada sob Investigação (ACI) Com base na etapa de Investigação Confirmatória (ver Capítulo 6), uma vez confirmada pelo órgão ambiental gerenciador a classificação da área em avaliação como Área Contaminada sob Investigação (ACI), será providenciada sua atualização no Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas (ver Capítulo 3). Em seguida o órgão ambiental gerenciador, no caso do Estado de São Paulo, a CETESB, deverá providenciar o envio de correspondência, conforme o Modelo de Correspondência 1.7-1, ao Cartório de Registro de Imóveis competente, informando sobre a necessidade da averbação da contaminação identificada na área em avaliação em suas matrículas, conforme está previsto no inciso V do artigo 30 do Decreto Estadual nº 59.263/2013. A solicitação do órgão ambiental gerenciador ao Cartório de Registro de Imóveis deverá ser subsidiada pelas informações contidas no Relatório de Investigação Confirmatória (ver Seção 6.5), quais sejam: matrículas atualizadas do imóvel no qual se insere a ACI; descrição das situações que embasaram a classificação da área em avaliação como ACI. A seguir é apresentada uma transcrição do Modelo de Correspondência 1.7-1 enviada pelo órgão ambiental gerenciador ao Cartório de Registro de Imóveis, para averbação das informações sobre Área Contaminada sob Investigação (ACI): Ao Cartório de Registro de Imóveis "...Assunto: Declaração de Área Contaminada sob Investigação (ACI) para averbação na matrícula imobiliária. A CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, constituída pela Lei Estadual nº 118, de 29 de junho de 1973, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 43.776.491/0001-70, e com sede nesta capital na Avenida Professor Frederico Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.7: Procedimento de averbação na matrícula do imóvel Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 3 Hermann Júnior, nº 345, Alto de Pinheiros, é órgão delegado do Governo do Estado de São Paulo para, dentre outras atribuições, exercer o gerenciamento de áreas contaminadas em todo o território do Estado de São Paulo, nos termos da Lei Estadual nº 13.577/2009, cujo regulamento foi aprovado pelo Decreto Estadual nº 59.263/2013, publicado no Diário Oficial do Estado em 6 de junho de 2013. Conforme (documento que motivou a classificação como ACI), de (data do documento), elaborado pela empresa (nome da empresa), apensado ao Processo / Pasta Administrativa CETESB (número), foi constatado que o imóvel localizado na (endereço completo), de propriedade de (nome), e registrado nesse Cartório sob matrícula nº (número da matrícula), encontra-se classificado como Área Contaminada sob Investigação (ACI), conforme artigo 28 do Decreto Estadual nº 59.263/2013, contaminação ocasionada por (discriminar contaminantes). Em vista do exposto e em cumprimento ao que determina o inciso V do artigo 30 do Decreto Estadual nº 59.263/2013, requeremos a averbação dessa informação na matrícula do imóvel em referência. Por oportuno, esclarecemos que o(s) proprietário (s) do imóvel em questão foi (foram) notificado(s) por via postal / publicação no Diário Oficial do Estado de São Paulo / está ciente do ato a ser praticado, conforme correspondência (número da correspondência), na qual informa ter ciência / ou na qual solicita a averbação que ora se requer. Solicitamos ainda, o encaminhamento de cópia da matrícula, após a averbação da informação indicada, para juntada ao Processo de Áreas Contaminadas da CETESB... A Figura 1.7-1 contém um esquema do procedimento de averbação das informações do GAC na matrícula dos imóveis, para o caso de classificação da área como ACI. Figura 1.7-1: Fluxograma do procedimento de averbação das informações do GAC de na matrícula dos imóveis, para uma área classificada como ACI. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.7: Procedimento de averbação na matrícula do imóvel Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 4 2.2. Procedimento de averbação para Área Contaminada com Risco Confirmado (ACRi) Com base na etapa de Avaliação de Risco (ver Capítulo 8), uma vez confirmada pelo órgão ambiental gerenciador a classificação da área em avaliação como Área Contaminada com Risco Confirmado (ACRi), será providenciada sua atualização no Cadastro detanques de armazenamento de combustíveis ou solventes; tubulações para transporte de combustíveis, óleos ou efluentes; locais de disposição ou tratamento de resíduos ou efluentes; depósitos para armazenamento de produtos, matérias-primas e insumos; Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 6 redes de drenagem de efluentes industriais ou urbanos; tanques sépticos; chaminés industriais; equipamentos utilizados em atividades em que são aplicadas substâncias no solo (efluentes, resíduos, fertilizantes e defensivos agrícolas). Uma fonte de contaminação potencial se torna uma fonte de contaminação primária quando durante a sua utilização ou operação está ocorrendo ou ocorreu a liberação de quantidade significativa de determinada substância para os compartimentos do meio ambiente, tornando-os contaminados. Dessa forma, uma fonte de contaminação primária é definida como a utilidade a partir da qual está sendo ou foi gerada uma contaminação, identificada em um ou mais compartimentos do meio ambiente existentes na própria área em avaliação ou na sua vizinhança. Entende-se por “área em avaliação”, a área onde estão sendo desenvolvidas as etapas do GAC. São exemplos clássicos de fontes de contaminação primárias: máquinas para desengraxe de peças com solventes clorados, com vazamento; tanques de armazenamento de combustível, com vazamento; transformadores, com vazamento; tubulações para transporte de combustíveis avariadas; poços para infiltração de efluentes mal planejados e operados; aterros sanitários e industriais, ou lagoas de tratamento de efluentes, com projeto inadequado e com vazamentos nos sistemas de contenção; lixões; redes de efluentes industriais e urbanos danificadas; tanques sépticos danificados; fossas negras; acidentes rodoviários e ferroviários envolvendo combustíveis, solventes, efluentes e resíduos; chaminés industriais emitindo gases, vapores e material particulado em desacordo com os padrões existentes; equipamentos utilizados em atividades em que são aplicadas substâncias no solo (efluentes, resíduos, fertilizantes e defensivos agrícolas) de forma inadequada. Uma fonte de contaminação secundária é um compartimento do meio ambiente contaminado por substância liberada de uma fonte de contaminação primária, cujo Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 7 acúmulo da substância é tal que atua como fonte de contaminação para outro compartimento do meio ambiente, tornando-o também contaminado. São exemplos clássicos de fontes de contaminação secundárias: presença de fase retida de substância na zona não-saturada; presença de fase livre de DNAPL (“dense non-aqueous phase liquid”) na zona saturada; presença de fase livre de LNAPL (“light non-aqueous phase liquid”) na interface da zona não-saturada e saturada. b. Origem Em função da sua origem, as fontes de contaminação são classificadas, de acordo com as seguintes classes: fonte de contaminação antrópica; fonte de contaminação natural. Uma fonte de contaminação antrópica é aquela decorrente das atividades humanas, construída artificialmente. Uma fonte de contaminação natural é aquela em que as condições impróprias identificadas na área em avaliação tem origem natural. São exemplos clássicos de fontes de contaminação naturais: a cunha salina; a concentração natural elevada de cromo nas águas subterrâneas na região de Urânia, no Estado de São Paulo. c. Forma de entrada das substâncias no compartimento do meio ambiente Em função da forma de entrada das substâncias no compartimento do meio ambiente, as fontes de contaminação são classificadas de acordo com as seguintes classes: fonte de contaminação pontual; fonte de contaminação difusa ou multipontual. Uma fonte de contaminação pontual é aquela em que a liberação da substância para o compartimento do meio ambiente ocorre em uma área relativamente pequena, normalmente restrita à propriedade ou a uma parte da propriedade em avaliação. São exemplos clássicos de fontes de contaminação pontuais: tanques de combustível ou solventes; áreas de disposição de resíduos. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 8 Uma fonte de contaminação difusa ou multipontual é aquela em que a liberação da substância para o compartimento do meio ambiente ocorre em uma área relativamente grande, que normalmente abrange várias propriedades, ou grandes propriedades, ou regiões urbanas ou rurais. São exemplos clássicos de fontes de contaminação difusas: rede de esgoto urbano danificada em inúmeros pontos; inúmeras fossas negras em municípios sem rede de esgoto; aplicação de substâncias no solo em áreas agrícolas (efluentes, resíduos, fertilizantes, defensivos agrícolas). 2.2. Danos e riscos aos bens a proteger em áreas contaminadas Em uma AC ou em sua vizinhança podem existir bens, seres vivos, recursos naturais ou ambientais, entidades ou situações que se deseja proteger ou recuperar, os quais genericamente são chamados de bens a proteger. A exposição desses bens a proteger a substâncias químicas de interesse (SQI), geradas a partir de uma AC, podem gerar danos efetivos ou a possibilidade de ocorrência de danos (riscos). As SQI são as substâncias presentes na fonte de contaminação potencial, ou primária, identificada na área em avaliação, que por suas características e quantidades liberadas são capazes de gerar a contaminação dos compartimentos do meio ambiente. a. Bens a proteger Podemos definir os bens a proteger como a saúde e a vida humana, além de bens públicos, privados, coletivos ou ambientais. Os bens públicos são aqueles de propriedade das pessoas jurídicas públicas, já os bens privados pertencem às pessoas jurídicas, privadas ou às pessoas físicas. Os bens coletivos pertencem a uma comunidade, enquanto os bens ambientais são aqueles de uso comum do povo. Dessa forma, são considerados bens a proteger, para fins de gerenciamento de áreas contaminadas: receptores humanos (saúde e vida humana): são as pessoas, por exemplo, moradores, estudantes, comerciantes e trabalhadores; receptores ecológicos: são os organismos presentes em ecossistemas naturais; ecossistemas naturais: são fragmentos de vegetação legalmente protegida, como por exemplo, Cerrado ou Mata Atlântica, localizados dentro de Unidade de Conservação de Proteção Integral; recursos naturais: são os compartimentos do meio ambiente com utilização econômica pelo homem, como por exemplo, o solo, os sedimentos, as rochas, as águas subterrâneas e superficiais, o ar, os minerais, os minérios, o petróleo, o vento, a energia solar e os organismos vivos; Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 9 recursos ambientais: são os compartimentos do meio ambiente, definidos na Política Nacional de Meio Ambiente (Lei Federal nº 6.938/1981), ou seja, “a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora”; patrimônio: são os bens públicos, privados, coletivos e ambientais; ordenação territorial: organização da ocupação e do uso do solo. Os bens a proteger existentes em uma AC ou em sua vizinhança podem ser expostos a uma ou várias SQI, caracterizando um evento de exposição. A exposição, portanto, é o contato da substância presente no compartimento do meio ambiente contaminado com o bem a proteger,Áreas Contaminadas e Reabilitadas (ver Capítulo 3). Em seguida, o órgão ambiental gerenciador deverá providenciar o envio de correspondência ao responsável legal, conforme o Modelo de Correspondência 1.7- 2, informando sobre a necessidade de se providenciar, no competente Cartório de Registro de Imóveis, a averbação dos riscos acima dos níveis aceitáveis nas matrículas da área em avaliação, conforme está previsto no inciso III do artigo 41 do Decreto Estadual nº 59.263/2013. A solicitação de averbação ao Cartório de Registro de imóveis deverá ser subsidiada pelas informações contidas no Relatório de Avaliação de Risco, (ver Seção 8.4) quais sejam: matrículas atualizadas do imóvel onde se insere a ACRi; descrição das situações que embasaram a classificação da área em avaliação como ACRi. A seguir é apresentada uma transcrição do Modelo de Correspondência 1.7-2 enviada pelo órgão ambiental gerenciador ao responsável legal, para averbação das informações sobre Área Contaminada com Risco Confirmado (ACRi): Ao responsável legal "...Assunto: Declaração de Área Contaminada com Risco Confirmado (ACRi) para averbação na matrícula imobiliária. A CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, constituída pela Lei Estadual nº 118, de 29 de junho de 1973, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 43.776.491/0001-70, e com sede nesta capital na Avenida Professor Frederico Hermann Júnior, nº 345, Alto de Pinheiros, é órgão delegado do Governo do Estado de São Paulo para, dentre outras atribuições, exercer o gerenciamento de áreas contaminadas em todo o território do Estado de São Paulo, nos termos da Lei Estadual nº 13.577/2009, cujo regulamento foi aprovado pelo Decreto Estadual nº 59.263/2013, publicado no Diário Oficial do Estado em 6 de junho de 2013. Em razão dessa atribuição, verificado o documento (documento que motivou a classificação), datado (data do documento), elaborado pela empresa (nome da empresa), apensado ao Processo / Pasta Administrativa CETESB (número), foi constatado que o imóvel de sua propriedade, localizado na (endereço completo), sob matrícula nº (número da matrícula), no (Cartório de Registro de Imóveis), encontra-se classificado como Área Contaminada com Risco Confirmado (ACRi), conforme artigo 36 do Decreto Estadual nº 59.263/2013, para os seguintes cenários de exposição: 1) (cenário de exposição); 2) (cenário de exposição); 3) ... Diante do exposto, cumpre-nos informar que, de acordo com o inciso III do artigo 41 Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.7: Procedimento de averbação na matrícula do imóvel Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 5 do Decreto Estadual nº 59.263/2013, deverá ser providenciada a averbação do risco confirmado para os cenários supracitados junto ao devido Cartório de Registro de Imóveis. A partir da ciência desta, os senhores deverão enviar no prazo de até 60 (sessenta) dias, cópia da(s) matrícula(s) com a informação averbada, em atendimento ao Comunique-se enviado por meio do processo digital. O não cumprimento desta exigência no prazo estabelecido o(s) acarretará na aplicação das sanções legais cabíveis... A Figura 1.7-2 contém um esquema do procedimento de averbação das informações do GAC na matrícula dos imóveis, para o caso de classificação da área como ACRi. Figura 1.7-2: Fluxograma do procedimento de averbação das informações do GAC de na matrícula dos imóveis, para uma área classificada como ACRi. 2.3. Procedimento de averbação para Área Reabilitada para o Uso Declarado (AR) Com base no relatório de comprovação da execução das medidas de intervenção, uma vez confirmada pelo órgão ambiental gerenciador a classificação da área em avaliação como Área Reabilitada para o Uso Declarado (AR), será emitido o Termo de Reabilitação para o Uso Declarado e providenciada sua atualização no Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas (ver Capítulo 3). Em seguida, o órgão ambiental gerenciador, no caso do Estado de São Paulo, a CETESB, deverá enviar correspondência ao responsável legal pela área em avaliação, conforme o Modelo de Correspondência 1.7-3, informando sobre a necessidade de providenciar, no Cartório de Registro de Imóveis competente, a averbação do Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.7: Procedimento de averbação na matrícula do imóvel Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 6 conteúdo do Termo de Reabilitação para o Uso Declarado nas matrículas correspondentes, conforme está previsto no inciso II do artigo 54 do Decreto Estadual nº 59.263/2013. A solicitação de averbação ao Cartório de Registro de Imóveis, deverá ser subsidiada pelas informações constantes no Termo de Reabilitação para o Uso Declarado (ver Seção 12.2), quais sejam: as matrículas atualizadas do imóvel no qual se insere a AR; a descrição das situações que embasaram a classificação da área em avaliação como AR; a descrição das medidas de controle de engenharia a serem mantidas; a descrição das medidas de controle institucional a serem mantidas. A seguir é apresentada uma transcrição do Modelo de Correspondência 1.7-3 enviada pelo órgão ambiental gerenciador ao responsável legal, para averbação das informações sobre Área Reabilitada para o Uso Declarado (AR): Ao responsável legal "...Ref.: Processo / Pasta Administrativa CETESB (número) A CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, constituída pela Lei Estadual nº 118, de 29 de junho de 1973, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 43.776.491/0001-70, e com sede nesta capital na Avenida Professor Frederico Hermann Júnior, nº 345, Alto de Pinheiros, é órgão delegado do Governo do Estado de São Paulo para, dentre outras atribuições, exercer o gerenciamento de áreas contaminadas em todo o território do Estado de São Paulo, nos termos da Lei Estadual nº 13.577/2009, cujo regulamento foi aprovado pelo Decreto Estadual nº 59.263/2013, publicado no Diário Oficial do Estado em 6 de junho de 2013. De acordo com o Processo / Pasta Administrativa CETESB acima referido(a) foi constatado que o imóvel localizado n (endereço completo), de sua propriedade, e registrado sob matrícula nº (número da matrícula), no (Cartório de Registro de Imóveis), foi classificado como Área Contaminada sob Investigação (ACI), conforme artigo 28 do Decreto 59.263/2013, por (discriminar contaminantes), e (se for o caso) classificada como Área Contaminada com Risco Confirmado (ACRi), conforme artigo 36 do Decreto 59.263/2013 nos (discriminar cenários de exposição). Posteriormente, foi objeto de reabilitação para o uso (uso declarado), com / sem (restrições), tendo sido emitido o respectivo Termo de Reabilitação para o Uso Declarado. Diante do exposto, cumpre-nos informar que, de acordo com o artigo 54 do Decreto Estadual nº 59.263/2013, os senhores deverão providenciar a averbação da informação acerca da reabilitação do imóvel de sua propriedade na(s) matrícula(s) supramencionada(s), apresentando ao Cartório de Registro de Imóveis o Termo de Reabilitação para o Uso Declarado (número), anexo. A partir da ciência desta, os senhores deverão enviar no prazo de até 15 (quinze) dias, o protocolo do requerimento de averbação emitido pelo Cartório de Registro de Imóveis, em atendimento ao Comunique-se enviado por meio do processo digital. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.7: Procedimento de averbação na matrícula do imóvel Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 7 Para encerramento / continuidade (no caso de acompanhamento de medidas de controle institucional ou de medida de controle de engenharia) do processo, os senhores deverão enviar cópia da(s) matrícula(s) com o termo averbado, em resposta a outro comunique-se aberto para este fim específico, no prazo de 60 (sessenta) dias. Cabe salientar que o nãocumprimento dessas exigências nos prazos estabelecidos o(s) sujeitará às sanções legais cabíveis... A Figura 1.7-3 contém um esquema do procedimento de averbação das informações do GAC na matrícula dos imóveis, para o caso de classificação da área como AR. Figura 1.7-3: Fluxograma do procedimento de averbação das informações do GAC de na matrícula dos imóveis, para uma área classificada como AR. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 1 Seção 1.8: Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Críticas Autores: Elton Gloeden, Thiago Marcel Campi e André Silva Oliveira Sumário 1. Introdução ............................................................................................................ 1 2. Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Críticas estabelecido pela CETESB ......................................................................................... 2 2.1. Indicação da área a ser classificada como Área Contaminada Crítica ............ 3 2.2. Execução das ações necessárias para a implementação do plano de intervenção na ACC .................................................................................................. 3 2.3. Divulgação das informações sobre as Áreas Contaminadas Críticas ............. 4 1. Introdução Durante a execução das etapas do Gerenciamento de Áreas Contaminadas (GAC) podem ser identificadas situações que impliquem na necessidade de adoção de procedimentos específicos, como é o caso da identificação de uma Área Contaminada Crítica (ACC), conforme conceituado no item 6 da Seção 1.2 deste Capítulo 1. Uma ACC é aquela onde há dano ou risco agudo à vida ou à saúde humana ou a outros bens a proteger, juntamente com dificuldades de gestão de natureza administrativa, jurídica ou de comunicação (com outros órgãos públicos ou com a população envolvida), que prejudicam a implementação das medidas de intervenção ou emergenciais necessárias. O Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Críticas foi estabelecido de forma pioneira no Brasil em 2007, pela CETESB, órgão ambiental gerenciador do Estado de São Paulo, por meio da publicação da Decisão de Diretoria nº 103/2007/C/E. Posteriormente, este procedimento foi incorporado ao Decreto Estadual nº 59.263/2013, em seus artigos 65 e 66 e na Decisão de Diretoria da CETESB nº 038/2017/C. Com o objetivo principal de aprimorar a coordenação entre as diferentes instituições envolvidas, o Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Críticas traz agilidade ao processo de tomada de decisão sobre o conjunto de medidas emergenciais e de intervenção a ser adotado para mitigar os danos e/ou controlar situações de risco agudo. O Gerenciamento de Áreas Contaminadas Críticas inicia-se pela indicação das áreas a serem classificadas como ACC pelo órgão ambiental gerenciador, de acordo com critérios por ele estabelecidos, baseados nas características dos riscos ou dos danos identificados, nas características dos bens a proteger presentes e nas dificuldades encontradas para o desenvolvimento das etapas do GAC. Cabe ao órgão ambiental gerenciador coordenar o Gerenciamento de Áreas Contaminadas Críticas, colaborando com o responsável legal no estabelecimento de diretrizes para elaboração do plano de intervenção, além de envolver órgãos públicos ou outras entidades que possam auxiliar na sua implementação, entre outras ações necessárias. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.8: Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Críticas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 2 A seguir, é apresentado, como exemplo, o Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Críticas estabelecido pela CETESB. 2. Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Críticas estabelecido pela CETESB Para coordenar a execução das etapas do Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Críticas, foi criada pela Decisão de Diretoria da CETESB nº 103/2007/C/E a figura do Grupo Gestor de Áreas Contaminadas Críticas. O Grupo Gestor de Áreas Contaminadas Críticas (GACr) é constituído por representantes das Diretorias de Controle e Licenciamento Ambiental (Dir. C), Diretoria de Engenharia e Qualidade Ambiental (Dir. E), Diretoria de Avaliação de Impacto Ambiental (Dir. I) e da Presidência (P) da CETESB, podendo-se destacar a participação do Departamento de Áreas Contaminadas (pertencente à Dir. I), do Departamento Jurídico (pertencente à P) e do Departamento de Comunicação Social (pertencente à P). O Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Críticas estabelecido pela CETESB é constituído pelas seguintes etapas: Indicação das áreas a serem classificadas como Área Contaminada Crítica (ACC); Execução das ações necessárias para a implementação do plano de intervenção na ACC; Divulgação das informações sobre as ACC. Na Figura 1.8-1 pode ser visualizado um fluxograma do procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Críticas da CETESB. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.8: Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Críticas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 3 Figura 1.8-1: Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Críticas 2.1. Indicação da área a ser classificada como Área Contaminada Crítica As Áreas Contaminadas (AC) candidatas a Área Contaminada Crítica (ACC) podem ser indicadas, inicialmente, pelas áreas técnicas da CETESB, como, por exemplo, pelos setores do Departamento de Áreas Contaminadas ou pelas Agências Ambientais. A proposta de classificação da área em avaliação como ACC deve ser encaminhada para o GACr, que avaliará a indicação de acordo com os critérios por ele estabelecidos, quais sejam: características do dano ou risco agudo à vida ou à saúde humana ou a outros bens a proteger identificados; características das dificuldades de gestão de natureza administrativa, jurídica ou de comunicação encontradas, que prejudicam a implementação das medidas de intervenção. Caso os argumentos apresentados pela área técnica sejam aceitos pelo GACr, a área em avaliação será classificada como ACC, devendo ser incluída na Relação de Áreas Contaminadas Críticas, existente no Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas (ver Capítulo 3). 2.2. Execução das ações necessárias para a implementação do plano de intervenção na ACC Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.8: Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Críticas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 4 Nos casos em que a área em avaliação seja classificada como ACC, a CETESB, por meio do GACr, comunicará o responsável legal, por correspondência ou pelo processo administrativo existente, a respeito de tal decisão. Uma vez classificada como ACC, todos os resultados obtidos durante a realização das etapas do Gerenciamento de Áreas Contaminadas (GAC) devem ser apreciados pelo GACr, por meio das manifestações técnicas elaboradas pelos setores do Departamento de Áreas Contaminadas. Ressalta-se que, especificamente no que se refere ao Plano de Intervenção, a etapa de sua execução fica condicionada à aprovação prévia do GACr. Os responsáveis legais por uma ACC deverão cumprir todas as etapas que compõem o GAC a partir da Avaliação Preliminar, com exceção da etapa e Emissão do Termo de Reabilitação, que cabe à CETESB realizar. Para as ACC, o plano de intervenção (ver Capítulo 9 e Capítulo 10) deve conter plano de comunicação dos riscos identificados e das medidas de intervenção a serem executadas Durante esse processo, as dificuldades de gestão de natureza administrativa, jurídica ou de comunicação (com outros órgãos públicos ou com a populaçãoenvolvida), que prejudicam a implementação das medidas de intervenção necessárias, devem ser gerenciadas pelo GACr. A área pode deixar de ser classificada como ACC caso atinja a condição necessária para ser reabilitada, ou caso as situações de risco ou dano, bem como as dificuldades de gestão existentes, sejam superadas por uma atuação efetiva do GACr e dos demais atores envolvidos. Nesse segundo caso a área volta a ser acompanhada como qualquer outro caso de área contaminada. 2.3. Divulgação das informações sobre as Áreas Contaminadas Críticas A divulgação das informações sobre as ACC é realizada por meio da Página de Áreas Contaminadas Críticas no sítio eletrônico da CETESB, onde são mostradas as seguintes informações: razão social ou nome dado à ACC; endereço; coordenadas; histórico das ações de GAC; riscos acima dos níveis aceitáveis ou danos identificados; principais problemas a serem enfrentados. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 1 Seção 1.9: Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas em Regiões Prioritárias Autores: Elton Gloeden, André Silva Oliveira e Fernando R. Scolamieri Pereira Sumário 1. Introdução ............................................................................................................ 1 2. Gerenciamento de Áreas Contaminadas em Regiões Prioritárias ................... 1 2.1. Indicação da região prioritária ......................................................................... 2 2.2. Investigação da Região Prioritária .................................................................. 2 2.3. Elaboração do Plano de Intervenção Regional ............................................... 3 2.4. Execução do Plano de Intervenção Regional .................................................. 3 1. Introdução A execução do Gerenciamento de Áreas Contaminadas (GAC) pelo Órgão Ambiental Gerenciador pode revelar problemas de caráter regional aos bens a proteger, provocados a partir de uma ou várias Áreas Contaminadas (AC), levando à classificação de uma determinada região como prioritária para a realização do GAC. A região prioritária é definida pelo Órgão Ambiental Gerenciador, em razão de critérios por ele estabelecidos. Nesta seção, são descritos os procedimentos específicos a serem adotados nos casos em que são identificados problemas de caráter regional aos bens a proteger. 2. Gerenciamento de Áreas Contaminadas em Regiões Prioritárias Uma região prioritária é uma parte da região de interesse administrada pelo Órgão Ambiental Gerenciador (ver Seção 1.2), em que foram constatados danos ou riscos acima dos níveis aceitáveis aos bens a proteger de caráter regional. O Gerenciamento de Áreas Contaminadas em Regiões Prioritárias inicia-se pela identificação e posterior indicação das regiões a serem enquadradas como regiões prioritárias pelo Órgão Ambiental Gerenciador, de acordo com critérios por ele estabelecidos, baseados nas características dos riscos ou dos danos regionais identificados. O Órgão Ambiental Gerenciador deve coordenar as ações de Gerenciamento de Áreas Contaminadas em Regiões Prioritárias, elaborando as ações necessárias em conjunto com os responsáveis legais, órgãos públicos ou outras entidades que possam auxiliar na implementação do Plano de Intervenção Regional. Dessa forma, o Gerenciamento de Áreas Contaminadas em Regiões Prioritárias apresenta as seguintes etapas: Indicação da Região Prioritária. Investigação da Região Prioritária. Elaboração do Plano de Intervenção Regional. Execução do Plano de Intervenção Regional. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.9: Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas em Regiões Prioritárias Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 2 2.1. Indicação da região prioritária A proposta inicial de indicação da região prioritária pode ser feita pelo próprio Órgão Ambiental Gerenciador, por órgãos públicos municipais, estaduais ou federais, ou mesmo por entidades privadas, que tenham identificado algum problema de caráter regional relacionado à existência de uma ou várias AC. São exemplos de problemas de caráter regional, utilizados para a identificação de Regiões Prioritárias, relacionados à existência de uma ou várias AC: Região com identificação de contaminação regional das águas subterrâneas ou superficiais utilizadas para abastecimento, que possa ter sido gerada a partir de uma ou várias AC. Região com presença de Áreas com Potencial de Contaminação (AP) ou AC abandonadas, sem ações de GAC. Regiões onde ocorreram alterações de uso de AP ou AC sem a aplicação de procedimentos para reutilização apropriados. Regiões com histórico de disposição irregular de resíduos, posteriormente ocupadas por bairros residenciais, comerciais ou industriais. Regiões com identificação de problemas de saúde da população ou com receptores ecológicos. O processo de indicação da região prioritária deve ser coordenado pelo Órgão Ambiental Gerenciador. Dessa forma, a entidade que identificou o problema deve apresentar a proposta ao Órgão Ambiental Gerenciador. O Órgão Ambiental Gerenciador, por sua vez, poderá reunir as entidades que tenham relação com o problema, como os responsáveis legais pelas AP ou AC, órgãos de saúde, órgãos responsáveis pela gestão de recursos hídricos, Prefeitura, Ministério Público, universidades, representantes de classe ou setorial, representantes da população ou outros, para decidir sobre a indicação da região como prioritária. Em caso positivo, deve-se publicar ato administrativo do Órgão Ambiental Gerenciador, como Decisão de Diretoria da CETESB, que culmine com o início do gerenciamento regional, por meio da execução da etapa de Investigação da Região Prioritária. 2.2. Investigação da Região Prioritária Na etapa de Investigação da Região Prioritária devem ser levantadas informações sobre os problemas das AP e AC inseridas na região indicada, necessárias para embasar a elaboração do Plano de Intervenção Regional. Nesta etapa, devem ser definidos os tipos de informações a serem coletadas em razão do problema regional identificado, o cronograma e os responsáveis pela execução. Estes devem indicar um responsável técnico para levantamento e interpretação das informações. O processo de Investigação da Região Prioritária deve ser coordenado pelo Órgão Ambiental Gerenciador. Esse deverá solicitar os dados necessários para o seu diagnóstico às entidades públicas, quando couber, bem como exigir os trabalhos Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.9: Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas em Regiões Prioritárias Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 3 necessários das etapas específicas do GAC aos responsáveis legais por AP e AC envolvidos no problema regional identificado. Em posse dessa informação o Órgão Ambiental Gerenciador deve promover a sua integração e análise, para assegurar que os resultados obtidos nesta etapa sejam suficientes para a elaboração do Plano de Intervenção Regional. 2.3. Elaboração do Plano de Intervenção Regional O Plano de Intervenção Regional tem como objetivo definir as ações a serem adotadas e cronograma para a resolução dos problemas identificados e caracterizados, bem como definir os responsáveis legais pela sua execução. A responsabilidade pela Elaboração do Plano de Intervenção Regional é do Órgão Ambiental Gerenciador, o qual pode contemplar a implantação de medidas de intervenção, em conjunto ou isoladamente entre os responsáveis legais e entidades públicas, como medidas de controle institucional, remediação, revogação de licenças, isolamento da área, proposta de alterações de zoneamento público, remoção da população,dentre outros. As medidas de intervenção regionais propostas, dado o seu caráter de interesse local, devem observar o Plano Diretor Municipal, quando existente, ou quando necessário, propor as suas alterações em razão dos problemas identificados na região. O Plano de Intervenção Regional deverá conter: Os problemas de contaminação regional identificados. Inventário de AP e AC na Região Prioritária. Objetivos e metas a serem atingidos com o Plano de Intervenção Regional. Ações a serem deflagradas na Execução do Plano de Intervenção Regional. Cronograma de ações do Plano de Intervenção Regional. Pontos de monitoramento que embasam o atingimento das metas e objetivo do Plano de Intervenção Regional. Responsáveis pela Execução do Plano de Intervenção Regional. O Órgão Ambiental Gerenciador deve demandar os responsáveis pelas ações necessárias à Execução do Plano de Intervenção Regional, para que iniciem as atividades conforme cronograma estabelecido. 2.4. Execução do Plano de Intervenção Regional A Execução do Plano de Intervenção Regional tem como objetivo implantar as medidas definidas na etapa anterior e comprovar o atingimento das metas estabelecidas. Os responsáveis pela sua execução deverão apresentar relatórios técnicos ao Órgão Ambiental Gerenciador que demonstrem o cumprimento das ações, atingimento das Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.9: Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas em Regiões Prioritárias Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 4 metas e medidas de acompanhamento definidas no Plano de Intervenção Regional sob sua responsabilidade. Depois da comprovação do atingimento das metas e execução das medidas de acompanhamento do Plano de Intervenção Regional, o Órgão Ambiental Gerenciador deverá publicar novo ato administrativo dando publicidade sobre a solução dada ao problema e sua exclusão da classificação como Região Prioritária. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 1 Seção 1.10: Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Órfãs Autores: André Silva Oliveira, Elton Gloeden. Sumário 1. Introdução .............................................................................................................. 1 2. Gerenciamento de Áreas Contaminadas Órfãs ...................................................... 2 3. Financiamento de trabalhos em Áreas Contaminadas Órfãs no caso do Estado de São Paulo ..................................................................................................................... 2 4. Referências ........................................................................................................... 3 1. Introdução Nesta Seção é descrito o procedimento específico a ser adotado nos casos em que foi identificada uma Área Contaminada Órfã (ACO). Uma ACO é definida como uma área contaminada cujo responsável legal não foi identificado ou esse, apesar de identificado, não possui capacidade financeira ou não adotou as medidas necessárias para o enfrentamento do problema apesar das ações administrativas do Órgão Ambiental Gerenciador. Sem um responsável legal capaz ou interessado em arcar com os custos de investigação e execução de medidas de intervenção, na maioria das vezes, a ACO permanece abandonada, podendo causar danos à população do entorno e outros bens a proteger. O surgimento de uma ACO pode ter diversas causas: a falta de planejamento ambiental; adoção de más práticas ambientais; descumprimento da legislação ambiental; falta de interesse econômico na área; falência da atividade que gerou a contaminação; gravidade da contaminação e custos envolvidos na investigação e intervenção. Verifica-se, portanto, que a solução para uma ACO necessariamente exige procedimentos de gestão diferenciados, os quais podem demandar a execução das medidas de investigação e intervenção com apoio financeiro total ou parcial do poder público. A rede europeia Cabernet (Rede de ação conjunta para regeneração econômica e de Brownfields) desenvolveu um modelo gráfico para essa situação, denominado modelo A-B-C, o qual compara o valor da área com o custo de sua reabilitação (Figura 1.10-1) (CABERNET, 2006 apud SPÍNOLA, 2011): Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.10: Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Órfãs Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 2 Figura 1.10-1 Modelo A-B-C. Fonte: Adaptado de CABERNET, 2006, apud SPÍNOLA, 2011. A partir desse modelo, verifica-se que as ACO se enquadram nas regiões B e C do gráfico, principalmente na região C. 2. Gerenciamento de Áreas Contaminadas Órfãs O Órgão Ambiental Gerenciador, durante a execução das etapas do Gerenciamento de Áreas Contaminadas (GAC), pode identificar a existência de uma ACO e propor a adoção de procedimentos específicos. A partir do momento em que uma ACO é identificada, deve-se realizar o seu registro no Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas e informar os demais órgãos e gestores públicos e privados potencialmente envolvidos com a solução do caso. Em seguida, a condução do caso pode se iniciar com uma reunião entre o Órgão Ambiental Gerenciador e os órgãos públicos e privados potencialmente envolvidos, para que estes tomem conhecimento da situação e demonstrem seu interesse em solucionar o caso e suas capacidades em arcar com os custos envolvidos. Não havendo recursos técnicos e financeiros imediatos para solucionar o problema, o Órgão Ambiental Gerenciador e os Responsáveis Legais podem recorrer a instrumentos econômicos específicos, como fundos financeiros voltados para projetos de investigação e reabilitação de áreas contaminadas. 3. Financiamento de trabalhos em Áreas Contaminadas Órfãs no caso do Estado de São Paulo No Estado de São Paulo, com a publicação da Lei nº 13.577/2009, foi criado o Fundo Estadual para Prevenção e Remediação de Áreas Contaminadas - FEPRAC, cuja finalidade, dentre outras, é de fornecer apoio técnico e financeiro na solução de Áreas Contaminadas Órfãs (ver Seção 16.3). Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.10: Procedimento de Gerenciamento de Áreas Contaminadas Órfãs Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 3 Os recursos do FEPRAC podem ser pleiteados tanto pelo próprio Estado, por intermédio da CETESB, como por pessoas físicas e jurídicas, de direito público ou privado. No caso das ACO, as seguintes opções de utilização de recursos estão disponíveis no FEPRAC: Pessoa Física - Financiamento reembolsável. Pessoa Jurídica de Direito Público ou Privado - Financiamento reembolsável. Estado de São Paulo - Financiamento não reembolsável (recursos aplicados a fundo perdido). O incentivo do financiamento reembolsável pode se dar com a aplicação de taxas de juros e prazos de pagamento diferenciados, promovidos pelo Agente Financeiro do FEPRAC, a Desenvolve SP, além do suporte técnico dado pela CETESB como Agente Técnico do projeto. A opção de financiamento a fundo perdido é considerada como uma última opção para solucionar uma ACO, quando não se vislumbra a capacidade dos Responsáveis Legais em arcar nem mesmo com um financiamento por meio do FEPRAC a juros subsidiados e prazos diferenciados, e se tratar de situação emergencial. Quando trabalhos em uma ACO forem financiados totalmente pelo Estado, a CETESB terá a prerrogativa de pleitear recursos do FEPRAC a fundo perdido. Esse seria um caso em que a CETESB deixa de atuar como Agente Técnico, passando a figurar como tomadora de recursos. O papel do Agente Técnico então será desempenhado por empresa contratada pela Secretaria Executiva, mediante aprovação prévia do Conselhode Orientação. A indicação das ACO prioritárias para receberem recursos do FEPRAC é feita pela CETESB, que as informa à Secretaria Executiva do fundo, tendo como base o Sistema de Áreas Contaminadas e Reabilitadas (SIACR). De posse dessa lista de prioridades, juntamente com outras demandas de captação de recursos, a Secretaria Executiva elabora o Plano de Aplicação de Recursos, a ser submetido à aprovação do Conselho de Orientação. Aprovado o Plano de Aplicação, os recursos estarão disponíveis para a CETESB realizar os trabalhos de investigação ou execução de medidas de intervenção em ACO. A CETESB pode com seus próprios recursos técnicos e humanos desenvolver os trabalhos ou, alternativamente, contratá-los, como estabelece o artigo 71 do Decreto Estadual nº 59.263/2013. Informações adicionais sobre o funcionamento do fundo podem ser consultadas no site da CETESB, na página do FEPRAC. 4. Referências SPÍNOLA, A. L. S. Inserção das áreas contaminadas na gestão municipal: desafios e tendências. Faculdade de Saúde Pública. Universidade de São Paulo. Tese de Doutorado. 2011. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 1 Seção 1.11: Medidas Emergenciais em Áreas Contaminadas Autores: Agnaldo Ribeiro de Vasconcellos, Carlos Ferreira Lopes, Edson Haddad, Mauro de Souza Teixeira, Sérgio Greif. Sumário 1. Introdução ............................................................................................................ 1 2. Atendimento a emergências Químicas .............................................................. 2 2.1. Etapas do atendimento ................................................................................... 4 2.1.1. Aproximação inicial .................................................................................. 4 2.1.2. Organização da resposta ......................................................................... 5 2.1.3. Avaliação da situação .............................................................................. 6 2.1.4. Medida de controle .................................................................................. 7 2.1.5. Descontaminação .................................................................................... 8 2.1.6. Ações de rescaldo ................................................................................... 9 3. Acidentes em Postos e Sistemas Retalhistas de Combustíveis e sua Relação com as Áreas Contaminadas ..................................................................................... 9 3.1. Avaliação inicial na emergência ...................................................................... 9 3.2. Investigação em postos de revenda durante as ações emergenciais ........... 11 3.3. Ações emergenciais em Postos e Sistemas Retalhistas de Combustíveis .... 12 4. Atendimento à Emergência em Indústrias Abandonadas e Massas Falidas e sua Relação com as Áreas Contaminadas ............................................................. 14 5. Acidentes no Transporte Terrestre de Produtos Perigosos como Possíveis Fontes Geradoras de Áreas Contaminadas ............................................................ 18 5.1. Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos .............................................. 19 5.2. Transporte ferroviário de produtos perigosos ................................................ 21 5.3. Transporte dutoviário de produtos perigosos ................................................ 22 6. Fontes Geradoras de Metano ............................................................................ 26 7. Descarte de Produtos Químicos ....................................................................... 27 7.1. Avaliação ...................................................................................................... 28 7.2. Controle ........................................................................................................ 29 8. Considerações finais ......................................................................................... 30 9. Referências ........................................................................................................ 30 1. Introdução A produção dos bens de consumo que tornam mais confortável a vida moderna envolve a extração de matérias-primas ou sua síntese a partir de elementos mais simples, seu armazenamento, seu transporte (seja rodoviário, ferroviário, aquaviário, aéreo ou por dutos), a transformação dessa matéria-prima, sua mistura, seu processamento, sua incorporação a outros processos, sua distribuição etc. Nas situações em que todas essas atividades são conduzidas de maneira controlada e dentro de certos limites toleráveis, nos quais nem o meio ambiente nem a saúde e a segurança da população são prejudicados, entende-se que os produtos químicos trazem benefícios à sociedade. No entanto, mesmo nesses casos em que todas as etapas do processo são conduzidas de forma diligente, eventualmente, uma falha humana, uma falha operacional, uma falta de manutenção adequada, a fadiga dos equipamentos ou outros motivos quaisquer podem levar a que produtos químicos fujam do controle, extrapolando os limites daquilo que era considerado tolerável. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.11: Medidas Emergenciais em Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 2 Quando esses eventos ocorrem de forma fortuita, não planejada, não intencional e repentina, diz-se que se trata de “Acidentes envolvendo Produtos Químicos”, ou simplesmente “Emergências Químicas”, sendo que muitos deles podem ocasionar em prejuízos para o meio ambiente, para a saúde e para a segurança da população. Acidentes industriais, no armazenamento, nas diferentes categorias de transporte terrestre, ou em postos e sistemas retalhistas de combustível, podem resultar na formação de áreas contaminadas, caso as ações de rescaldo não sejam suficientes para restabelecer as condições de meio ambiente e segurança normais nas áreas afetadas pelo vazamento durante a fase emergencial. Nesses casos haverá demanda por um trabalho de acompanhamento pós-emergencial. Há, ainda, situações em que uma emergência química se inicia em uma área contaminada já conhecida ou suspeita, especialmente, quando os trabalhos de remediação e acompanhamento não são realizados a contento. São exemplos desses casos as massas falidas e os postos e sistemas retalhistas de combustíveis, quando os sistemas de extração de produtos e resíduos deixam de funcionar, ou quando pessoas estranhas à área passam a fazer uso delas; ou os lixões e aterros sanitários, que podem ocasionar desde deslizamentos de resíduos sólidos até a contaminação de áreas por chorume, ou a geração de gás metano. Embora não se possa classificar como “acidentes” stricto sensu, por não se tratarem de situações não planejadas ou não intencionais, deve se considerar outros eventos emergenciais envolvendo produtos químicos que podem ocorrer, e que podem resultar em áreas contaminadas, tais como o descarte clandestino de produtos e resíduos químicos em regiões ermas ou diretamente na rede pública de esgoto e no sistema de águas pluviais e outras ações criminosas, como as tentativas de roubo de cargas, trepanações em dutos, ações de vândalos, atentados terroristas utilizando armas químicas, biológicas, radiológicas etc. Independente de se tratar de uma área contaminada conhecida ou não; de se tratar de produtos químicos inflamáveis, explosivos, reativos, tóxicos, asfixiantes, corrosivos, oxidantes, ou aparentemente inofensivos para o ser humano, mas danosos para o meio ambiente; de se tratar de um evento acidental ou provocado propositalmente, o atendimento à emergência química necessitará de um padrão de resposta. Dessa forma, este capítulo abordará primeiramenteos aspectos comuns de resposta a qualquer emergência química, posteriormente abordando especificamente os cenários mais comuns onde podem ocorrer emergências químicas em áreas contaminadas, tais como emergências em postos e sistemas retalhistas de combustíveis, em indústrias e massas falidas, no transporte terrestre de produtos perigosos, em áreas com geração de metano e no descarte de produtos químicos. 2. Atendimento a emergências Químicas O atendimento às emergências químicas é uma atividade de elevado risco e envolve situações críticas de tomada de decisão. Independente do cenário, o atendimento às emergências químicas deverá ter suas atividades planejadas de modo a proporcionar ações rápidas e seguras, tanto para as equipes de resposta, como para a população e ao meio ambiente (CETESB, 2014). O objetivo de um atendimento emergencial é o de prevenir e/ou reduzir as consequências do evento às pessoas, às propriedades e ao meio ambiente restaurando, o mais breve possível, as condições de normalidade. Dessa forma, é necessário que as equipes de resposta sejam capacitadas para atuar em distintos cenários e situações, possuam adequado conhecimento e percepção de riscos, disponham de recursos materiais compatíveis com os diversos cenários que poderão enfrentar e, por fim, que saibam atuar de forma integrada com outras instituições públicas e privadas. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.11: Medidas Emergenciais em Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 3 Há uma variedade de equipamentos que podem ser utilizados nas ações de resposta às emergências químicas, porém, considerando que a prioridade em um atendimento é a segurança das próprias equipes de resposta, torna-se evidente que os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e os equipamentos portáteis de detecção são recursos indispensáveis para que os trabalhos sejam desenvolvidos dentro de padrões de segurança. Os EPIs utilizados em atendimento a emergências químicas foram padronizados e classificados em quatro níveis de proteção, conforme Tabela 1. Tabela 1 – Níveis de proteção química Nível de proteção Características Roupa de proteção Proteção respiratória Nível A Máxima proteção cutânea e respiratória. Traje de encapsulamento completo, luvas internas e externas resistentes a produtos químicos e botas resistentes a produtos químicos. Equipamento autônomo de respiração com pressão positiva interna à roupa. Nível B Máxima proteção respiratória e menor proteção cutânea. Traje não encapsulado, luvas e botas resistentes a produtos químicos. Equipamento autônomo de respiração com pressão positiva externa à roupa. Nível C Mínima proteção cutânea e respiratória. Traje não encapsulado, luvas e botas resistentes a produtos químicos. Máscara facial panorama com filtro combinado. Nível D Roupas de trabalho Macacão, uniformes, aventais, luvas, sapatos de segurança, óculos de segurança e viseiras. Nenhuma Fonte: Adaptado de Manual de Atendimento a Emergências Químicas, CETESB (2014). Cabe à equipe de resposta definir o nível de proteção que será utilizado na emergência de acordo com o cenário apresentado. Na maioria das emergências, há especial preocupação com os cenários envolvendo gases, vapores tóxicos ou inflamáveis, uma vez que eles podem colocar em risco a saúde e a segurança das pessoas, ou provocar danos ao meio ambiente. Há grande variedade de equipamentos portáteis de detecção no mercado brasileiro, havendo destaque para os detectores multigases, uma vez que eles podem portar simultaneamente até cinco sensores. Assim, com sua utilização, pode-se monitorar a maioria dos parâmetros de maior interesse em uma emergência. A Tabela 2 apresenta os principais perigos normalmente monitorados nas emergências, o equipamento utilizado e o parâmetro de referência. Tabela 2 - Perigos monitorados, equipamentos e parâmetros utilizados no processo de avaliação Perigo Monitorado Equipamento Utilizado Parâmetro Monitorado e Unidade Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.11: Medidas Emergenciais em Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 4 Inflamabilidade Detector multigás LII - Limite Inferior de Inflamabilidade (% do LII) Oxigênio Detector multigás Concentração da substância no ambiente (% em volume) Gás sulfídrico e de monóxido de carbono Detector multigás Concentração da substância no ambiente (ppm - partes por milhão) Compostos Tóxicos Fotoionizador ou Detector multigás Concentração de Compostos Orgânicos Voláteis (ppm - partes por milhão) Compostos Tóxicos Industriais Detector portátil de gases e radiação (GDA) Presença de compostos orgânicos e inorgânicos (ppm – partes por milhão) Metano Detector específico (GEM 5000) Concentração de metano (% em volume) 2.1. Etapas do atendimento As emergências químicas ocasionam situações muito diferenciadas, necessitando, na maioria das vezes, o desencadeamento de ações específicas para cada caso (CETESB, 2014). No entanto, de forma geral, as seguintes etapas são desenvolvidas em um atendimento: aproximação inicial; organização da resposta; avaliação da situação; medidas de controle; descontaminação; ações de rescaldo. 2.1.1. Aproximação inicial A aproximação consiste no primeiro contato com a ocorrência em campo. Durante essa etapa é possível, normalmente, realizar uma avaliação preliminar do evento. A aproximação deve ser realizada de maneira segura, com posicionamento e distanciamento adequados no tocante ao local da emergência. A equipe envolvida no atendimento deverá realizar observações visuais e atentar-se às condições atmosféricas na região da emergência. Dentre as principais regras para uma aproximação segura destacam-se: aproximar-se lenta e cuidadosamente; manter-se sempre de costas para o vento, tomando como referência o ponto do vazamento; Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.11: Medidas Emergenciais em Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 5 evitar manter qualquer tipo de contato com o produto químico (tocar, inalar, pisar etc.); se o produto for inflamável, todas e quaisquer fontes de ignição deverão ser eliminadas, como: cigarros acesos, motores ligados, desenergização de sistemas de alimentação elétrica, remoção de veículos que estejam nas imediações, arraste de ferramentas, de peças e acessórios metálicos, de geradores de calor e centelhas, entre outras. A equipe poderá identificar algum risco que julgue ser merecedor do desencadeamento de ações imediatas, tais como a evacuação de pessoas da área de risco, ação essa que, sempre que possível, deve ser realizada por representantes da Polícia Militar e da Defesa Civil. Ainda nessa etapa a área poderá ser sinalizada e isolada com faixas, cones e placas, de modo a restringir a circulação de pessoas e veículos. Porém, antes de realizar o isolamento, a equipe deverá determinar os riscos principais com potencialidade para causar lesões às pessoas e impactos ao meio ambiente. O isolamento poderá ser feito num raio a partir do ponto de vazamento ou, de forma parcial, abrangendo uma ou mais direções. 2.1.2. Organização da resposta Dependendo do cenário da emergência, muitas instituições públicas poderão atuar, entre elas Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, órgão ambiental, vigilância sanitária e epidemiológica, Polícia Militar, dentre outras. Assim, é conveniente estabelecer uma sistemática de trabalho para essas situações, por meio da definição de zonas de trabalho (Figura 1) (CETESB, 2014). É recomendável estabelecer quatro zonas de trabalho: zona quente: trata-se de uma área imediatamente adjacente ao acidente cujo ingressoe permanência exigem proteção adequada. Nessa área devem ingressar apenas os técnicos que estiverem realizando as ações de controle da emergência. Concluída sua atividade, o técnico, mesmo estando devidamente protegido por EPIs, deverá se retirar imediatamente para uma zona mais segura; zona morna: trata-se da área adjacente à zona quente, onde está situado o corredor de redução de contaminação e, de forma eventual, o pessoal de apoio às ações de controle da emergência. Técnicos na zona morna devem utilizar o mesmo nível de proteção da equipe que ingressou na zona quente ou, no mínimo, um nível de proteção abaixo, pois nessa zona pode haver concentração perigosa do produto envolvido na emergência; zona fria: trata-se da área perimetral à zona morna, onde não poderá haver concentração do produto envolvido na emergência. É nessa zona que ficam instaladas as áreas de apoio, viaturas e pessoal envolvidos com o atendimento; zona de exclusão: nessa área permanecerão as pessoas e instituições que não possuem qualquer envolvimento direto com a ocorrência, como imprensa e comunidade, entre outros. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.11: Medidas Emergenciais em Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 6 Figura 1– Zonas de trabalho para emergências químicas. Fonte: CETESB. Sempre que possível, o estabelecimento dessas zonas deverá ser realizado com o apoio de equipamentos portáteis de detecção. Deve-se evitar o estabelecimento de zonas de trabalho de forma empírica. A não disponibilidade desses recursos exigirá das equipes, conhecimentos técnicos associados à identificação de vários elementos no cenário acidental para embasar a definição das zonas de trabalho. Outro aspecto importante refere-se ao fato de que as instituições possuem diferentes atribuições e responsabilidades na emergência, necessitando de articulação entre si para desempenharem suas funções. Assim sendo, a integração entre as equipes de diferentes campos de atuação é de fundamental importância para uma adequada qualidade na resposta emergencial. Dessa forma, torna-se necessário o estabelecimento de um Posto de Comando – PC, o qual deverá ser coordenado por um ou mais representantes de cada entidade envolvida no atendimento. O Posto de Comando é uma organização no local da ocorrência, de função gerencial, com a finalidade de planejar, organizar, dirigir e controlar as ações de resposta (CETESB, 2014). 2.1.3. Avaliação da situação Avaliação é o processo de coleta e análise das informações sobre a ocorrência. Essa etapa tem por finalidade dimensionar a natureza e a gravidade do evento, de modo a permitir a identificação de frentes de trabalho, seus respectivos níveis de prioridade, ações de controle a serem adotadas para cada frente levantada e os recursos humanos e materiais necessários para a sua realização. Todos esses elementos são as bases para o desenvolvimento das ações de controle da emergência. Portanto, é absolutamente necessário que a avaliação inicial do cenário (e as avaliações subsequentes) seja desenvolvida e executada por pessoal técnico devidamente capacitado para tal, uma vez que erros de avaliação poderão agravar a situação, acarretando consequências inesperadas. Além disso, a equipe encarregada dessa avaliação deverá dispor de equipamentos de proteção individual e de detecção ambiental adequados para essa tarefa. Equipes sem recursos apropriados podem ter desempenho limitado em sua capacidade de avaliar e controlar a emergência. Via de regra, a prioridade na avaliação é a de identificar rapidamente situações que possam gerar incêndios, explosões e formação de nuvens tóxicas, assim como consequências adversas em áreas afastadas ou externas a uma instalação fixa. Geralmente, para locais que apresentam pouca ventilação, como edificações, em que a equipe deve ingressar, o monitoramento deverá ser orientado primeiro para a existência Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.11: Medidas Emergenciais em Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 7 de vapores ou gases inflamáveis, deficiência ou excesso de oxigênio e concentração de vapores tóxicos. Para ambientes abertos e bem ventilados, a presença de gases inflamáveis e deficiência de oxigênio representam um risco em menor escala. Locais que apresentam depressões topográficas ou mesmo baixo relevo, ainda que abertos e ventilados, poderão reter a nuvem de produto. 2.1.4. Medida de controle A partir dos resultados obtidos na etapa de avaliação, deverão ser definidas as ações para o controle da emergência, que envolverá métodos, procedimentos e técnicas para prevenir ou reduzir a dispersão de produto no ambiente. Essas medidas de controle podem incluir extinção de fogo, queima controlada, neutralização, construção temporária de barragens e diques de contenção, aplicação de materiais para estancar vazamentos, aplicação de neblina-d’água, utilização de materiais absorventes e outras. As técnicas frequentemente utilizadas pelas equipes de resposta para o controle de uma emergência química são estanqueidade do vazamento e contenção de produto vazado. Estanqueidade consiste de métodos e técnicas utilizadas para restringir o produto ao seu recipiente ou embalagem. Dentre os recursos mais comumente utilizados destacam-se os batoques confeccionados em madeira, PVC, teflon, latão e alumínio, as massas de vedação, as tiras de borracha e as fitas adesivas especiais. Contenção consiste de métodos utilizados para eliminar ou restringir o espalhamento do produto liberado no meio. As técnicas de contenção a serem adotadas dependem das características do produto vazado, da quantidade envolvida, do cenário da ocorrência e do compartimento ambiental atingido, podendo ser o solo, a atmosfera, o corpo de água (incluindo mar e águas interiores, como lagos, lagoas, córregos) ou a água subterrânea. Para a contenção de produto no solo pode-se realizar o desvio controlado de um líquido de uma área para outra, na qual os efeitos ao homem e ao ambiente possam ser substancialmente reduzidos. Outra possibilidade é a construção de diques para conter ou controlar o deslocamento de líquidos de uma área para outra (Figura 2). A melhor técnica a ser utilizada em cada caso dependerá de fatores como tempo disponível para as ações, recursos humanos e materiais disponíveis, e potencial de risco oferecido pelo produto. Figura 2 – Diques para a contenção de produto químico no solo. Fonte: CETESB. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.11: Medidas Emergenciais em Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 8 Para a contenção de produto na atmosfera pode-se aplicar neblina-d’água para abater e/ou dispersar uma nuvem de gás ou vapor. Essa ação será mais efetiva se o produto envolvido for solúvel em água, como ocorre com a amônia, ou se o produto reagir com a água, como ocorre com o cloro, cuja reação gera a formação de ácido clorídrico. Nesse caso, ao se aplicar neblina-d’água sobre a nuvem ocorrerá a sua solubilização e deposição no solo, podendo assim ser contido, por exemplo, em um dique, e recolhido para disposição adequada. É importante considerar a possibilidade de ocorrer a evaporação do produto depositado no solo, caso não esteja bem diluído em água. A contenção de produto em corpos de água poderá ocorrer por meio da utilização de barreiras de contenção e/ou absorção, desde que o produto seja insolúvel e menos denso que a água. Para os demais produtos, a intervenção será passiva e vai requerer ações de monitoramento e definição de procedimentos específicos para cada caso, cabendo ao órgão ambiental coordenar tais ações. Evidentemente, há uma grande variedade de ações de controle de emergências, sendo que algumas delas serão abordadasnos cenários específicos neste capítulo. Ressalta-se que a empresa geradora de uma emergência química tem a responsabilidade legal de atender às demandas dos órgãos públicos e, portanto, deverá disponibilizar recursos humanos e materiais para suprir todas as necessidades do atendimento, com a devida brevidade que a situação requer. 2.1.5. Descontaminação Mesmo com a adoção de boas práticas de trabalho, a contaminação da equipe de resposta que realiza a entrada na zona quente pode ocorrer devido ao contato com vapores, gases, névoas ou material particulado, respingos ou contato direto com poças do produto químico, contato com solo contaminado e manipulação de instrumentos ou equipamentos contaminados (CETESB, 2014). Dessa forma, é necessário adotar ações para restringir o espalhamento da contaminação. A sistemática mais utilizada para essa finalidade é o estabelecimento de um processo de descontaminação que consiste na remoção física de contaminantes ou na alteração de sua natureza química para substâncias mais inócuas. O termo é comumente empregado para se referir à descontaminação de EPIs, instrumentos, equipamentos ou vítimas que estiveram na zona quente. O processo de descontaminação tem por objetivo principal evitar a ampliação da contaminação, ou seja, evitar que pessoas que estiveram na zona quente carreiem o contaminante para áreas não contaminadas. Tem também como objetivo evitar a contaminação tanto da equipe de entrada quanto da equipe que estiver ajudando na retirada dos equipamentos de proteção individual. (CETESB, 2014) Para tal finalidade, deve-se estabelecer um Corredor de Redução de Contaminação (CRC), o qual deve ser instalado entre a zona quente e a zona fria, na chamada zona morna. Nesse corredor, de maneira sequencial lógica, ocorrerá a lavagem com água e detergente (na maioria dos casos) e posterior remoção de luvas, botas, roupas de proteção química e equipamento de proteção respiratória. A água de lavagem deve ser coletada e tratada como resíduo da ocorrência. O CRC é rota obrigatória de saída da zona quente. Com relação aos equipamentos portáteis de detecção utilizados durante o atendimento emergencial, deverão ser adotadas ações de modo a prevenir sua contaminação, pois, uma vez que eles tenham sido contaminados, torna-se muito difícil limpá-los sem danificá-los. Os veículos utilizados nos atendimentos, tais como caminhões, pás-carregadeiras e outros equipamentos pesados, na maioria das vezes, são de difícil descontaminação. Normalmente, o método de descontaminação mais utilizado consiste, basicamente, em Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.11: Medidas Emergenciais em Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 9 se lavar o veículo com água pressurizada ou esfregar as áreas acessíveis com uma solução de detergente e água pressurizada. 2.1.6. Ações de rescaldo A última etapa do atendimento, porém não menos importante, tem por finalidade o desenvolvimento de atividades voltadas para o restabelecimento das condições normais nas áreas afetadas pelo produto envolvido na emergência, tanto do ponto de vista da segurança como do ponto de vista ambiental. Caso esta etapa não seja realizada a contento o contaminante permanecerá no local, podendo ocasionar em área contaminada. 3. Acidentes em Postos e Sistemas Retalhistas de Combustíveis e sua Relação com as Áreas Contaminadas Das atividades que armazenam e comercializam combustíveis automotivos, destacam- se os postos de combustíveis que, no Brasil, somam 40.970 estabelecimentos, sendo que deste total, 20,8% se concentram no Estado de São Paulo (ANP, 2020). Entre os anos de 1978 e 2003, a CETESB atendeu a 522 ocorrências em postos de combustíveis, o que representou 9,6% dos atendimentos emergenciais realizados. Por outro lado, durante o ano de 2021, foram atendidas oito ocorrências, ou 2,89% do total de emergências atendidas pela Companhia. Essa redução no número guarda relação com o processo de licenciamento ambiental e com a adoção da Resolução CONAMA nº 273/2000 (Brasil, 2000), que tornou esses estabelecimentos mais seguros e com menos chances de ocasionar vazamentos. A atividade de comercialização de combustíveis automotivos, quando realizada sem os requisitos técnicos, bem como sem a observação às boas práticas de trabalho, oferece um risco potencial à segurança da população circunvizinha, ao patrimônio público e privado e ao meio ambiente (CETESB, 2021a). Ainda que essas instalações operem dentro de requisitos técnicos mais seguros por força da legislação, esses eventos se manifestam, em sua maioria, tanto como contaminações superficiais provocadas por constantes e sucessivos derrames junto às bombas e bocais de enchimentos dos reservatórios de armazenamento, como pelos vazamentos em tanques e tubulações subterrâneas. Os vazamentos de combustíveis são geralmente percebidos após o afloramento do produto em galerias de esgoto, redes de drenagem de águas pluviais, no subsolo de edifícios, em túneis, escavações e poços de abastecimento de água, interior de residências ou estabelecimentos comerciais, razão pela qual as ações emergenciais requeridas durante o atendimento a essas situações requerem a participação de diversos órgãos públicos, além do envolvimento do agente poluidor e suas respectivas subcontratadas (CETESB, 2021a; Gouveia, 2004). A partir da notificação da ocorrência ou suspeita de vazamento, seja pela população, seja por outros órgãos públicos ou privados, cabe à CETESB, por meio do Setor de Atendimento a Emergências, desencadear o atendimento à reclamação, por meio de uma avaliação da situação e realização de um minucioso trabalho de investigação, de forma a identificar o contaminante envolvido, avaliar o risco instalado, identificar a fonte geradora do fato e supervisionar e coordenar as ações emergenciais e corretivas a serem desencadeadas. 3.1. Avaliação inicial na emergência Uma primeira ação consiste na realização de uma minuciosa inspeção do local suspeito de estar contaminado, a fim de constatar, ou não, a existência de odor característico de Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.11: Medidas Emergenciais em Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 10 produto combustível, a presença de gases ou vapores inflamáveis ou a presença de produto combustível em fase livre, com a medição dos seguintes parâmetros: índices de inflamabilidade; concentrações de compostos orgânicos voláteis - COV; concentração de oxigênio em ambientes confinados; fase livre sobrenadante de hidrocarbonetos. Normalmente, o sistema hidráulico e sanitário no interior das edificações são os pontos mais vulneráveis à emanação dos odores por estarem diretamente ligados às redes públicas de esgoto e águas pluviais. São exemplos desses pontos vulneráveis os ralos, pias, lavabos, vasos sanitários e as caixas de inspeção doméstica de esgotos e águas pluviais. As inspeções e monitoramentos no interior das edificações não devem se restringir unicamente aos pontos citados, podendo se estender para outros pontos, como orifícios e fissuras nos pisos e paredes, quadros de força, tomadas, interruptores e condutos de redes elétricas e de telefonia, caixas de rebaixamento de lençol freático em subsolo de edifícios, porões, poços de elevadores etc. Constatadas irregularidades ou avarias nos pontos mencionados, os moradores ou proprietários devem ser orientados para manter o local ventilado e providenciarem os reparos para evitar a penetração dos odores e vapores ao interior da edificação. Uma vez que existam indícios de contaminantes nas edificações, procede-se à avaliação nas galerias públicas subterrâneas, pois, em sua grande maioria, elas não são estanques estando, portanto, sujeitas às infiltrações de vapores ou fase líquida dos combustíveispresentes no subsolo e no aquífero freático (Figura 3). Devem então ser monitorados caixas de inspeção de esgotos e de águas pluviais, poços, fossas sépticas, redes subterrâneas de esgoto, águas pluviais, de energia elétrica, telefonia ou de outras concessionárias (GOUVEIA, 2004). Figura 3 - Monitoramento realizado em galeria subterrânea de telefonia para verificação da presença de gases/vapores inflamáveis. Fonte: CETESB. Por meio dos monitoramentos com equipamentos portáteis, são avaliados os riscos associados às substâncias presentes em tais sistemas, o que vai nortear as ações de controle emergenciais mais pertinentes para cada caso. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.11: Medidas Emergenciais em Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 11 A partir da observação da topografia do terreno e da área circunvizinha, é possível estabelecer os empreendimentos suspeitos de gerar uma contaminação a partir de vazamentos. Os estabelecimentos situados em cotas mais elevadas, relativamente ao ponto de origem da investigação, são os mais prováveis geradores da contaminação. Dentre essas fontes pode-se citar os postos e sistemas retalhistas de combustíveis automotivos, oficinas mecânicas, lava-rápidos, geradores de condomínios, gráficas, entre outras fontes. Em muitos casos, com a migração pelo sistema hidrogeológico, o produto pode atingir galerias públicas subterrâneas não estanques que, uma vez saturadas por vapores, podem ocasionar a contaminação de edificações devido ao retorno dos vapores pelos sistemas subterrâneos ligados às redes públicas. Complementando os trabalhos de avaliação inicial na emergência, deve também ser realizada uma inspeção no empreendimento suspeito ou causador do vazamento do combustível, sendo avaliadas as condições das instalações e os diferentes aspectos construtivos e operacionais do empreendimento. 3.2. Investigação em postos de revenda durante as ações emergenciais Caso a fonte suspeita recaia sobre um posto de revenda, deve ser avaliada a infraestrutura do estabelecimento e alguns dos seus aspectos construtivos. Em razão de serem poucas as formas de se constatar os vazamentos de produto nos equipamentos enterrados, convém solicitar informações detalhadas ao proprietário do empreendimento ou seu representante, durante as inspeções, a respeito da quantidade e das condições dos seguintes equipamentos: Tanques: devem apresentar parede dupla com sensor intersticial para monitoramento e câmaras de acesso à boca de visita impermeável; Unidades de abastecimento (bombas): câmara de contenção estanque e impermeável; Tubulações enterradas: flexíveis e não metálicas; Respiro dos tanques: tubulações aéreas e metálicas; Tubulações de descarga: enterradas, flexíveis e não metálicas; Sistema de armazenamento de resíduos oleosos: tanques subterrâneos de parede dupla ou aéreos providos de bacia de contenção coberta e impermeável; Filtros de óleo diesel: com câmara de contenção e tubulações enterradas flexíveis e não metálicas; Piso: pista em concreto armado e provido de drenagem localizada sob a área protegida pela cobertura. A drenagem deve convergir para o sistema de separação de água e óleo (SAO); Área de descarga: piso em concreto armado provido de drenagem convergindo para o sistema de SAO; Área de lavagem de veículos: providas de caixa de areia e caixa SAO. Durante a inspeção, tais dispositivos devem estar manutenidos, limpos, livres da presença de combustíveis ou resíduos oleosos. A pista não deverá possuir trincas ou fissuras, de modo a evitar a infiltração de combustíveis em razão de eventual derramamento. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.11: Medidas Emergenciais em Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 12 Caso seja constatada a presença de poços de monitoramento ao longo do piso, deverá ser realizado monitoramento nesses poços a fim de constatar possível presença de vapores orgânicos ou inflamáveis, bem como a presença de fase livre de combustível (Figura 4). Figura 4 - Inspeção em poço de monitoramento para verificação de combustível em fase livre. Fonte: CETESB Outra possibilidade a ser investigada, é a existência de tanques subterrâneos desativados o que pode ser um forte indício da existência de passivo ambiental. 3.3. Ações emergenciais em Postos e Sistemas Retalhistas de Combustíveis As ações emergenciais são desencadeadas e implementadas pelos órgãos públicos envolvidos, nos primeiros momentos do atendimento. A responsabilidade pela realização das medidas necessárias à eliminação dos riscos é imputada ao agente causador da contaminação sob a orientação e coordenação de instituições competentes afetas ao tema. As características físicas do produto envolvido, tais como a pressão de vapor, densidades do líquido e do vapor, solubilidade na água, limites de inflamabilidade e ponto de fulgor, permitem prever o comportamento do produto no meio, definir as técnicas mais adequadas que devem ser adotadas e determinar quais equipamentos devem ser utilizados nas monitorações. Uma vez que as áreas sob risco tenham sido delimitadas após os monitoramentos, procede-se ao imediato isolamento e sinalização delas. As áreas evacuadas podem ser ampliadas ou reduzidas em razão de monitoramentos realizados no transcorrer do atendimento emergencial. Em ambientes confinados, sobretudo, convém desativar todos os sistemas elétricos, inclusive os equipamentos mecânicos com princípio de funcionamento à base de queima de combustível. O tráfego de veículos em garagens subterrâneas de edifícios deve ser evitado, bem como qualquer outra atividade que possa gerar centelhamento por atrito. A abertura de caixas de inspeção e caixas de rebaixamento do lençol freático, bem como, a remoção de tampas de poços de visita de acesso às galerias subterrâneas, são operações críticas, para as quais uma boa forma de prevenir riscos de explosão é a utilização de neblina-d’água, para abater os vapores e evitar a geração de centelhas. Quando do afloramento de combustíveis automotivos em qualquer ambiente, uma das primeiras medidas é a realização do imediato recolhimento da fase líquida do produto. Para produtos miscíveis, como é o caso do álcool etílico, ele é recolhido juntamente com Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.11: Medidas Emergenciais em Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 13 a água. No caso da gasolina e óleo diesel que formam fase líquida sobrenadante, o produto pode ser seletivamente recolhido evitando-se o recolhimento indiscriminado de água e, em consequência, gerando-se uma menor quantidade de resíduo. Nos casos em que ocorre o aparecimento de pequena quantidade de produto combustível em pequenos ambientes, tais como caixas de captação do lençol freático, poços de água tipo cacimba, caixas de inspeção de esgoto doméstico e caixas de inspeção de águas pluviais, entre outros, o produto pode ser recolhido e acondicionado em tambores, utilizando-se baldes e mantas absorventes oleofílicas, sendo que, após seu uso são acondicionadas em sacos plásticos apropriados, para posterior destinação final adequada. Ocorrendo o aporte contínuo de volumes consideráveis de produto combustível nos ambientes citados, pode-se optar pela sucção do produto, por meio de caminhões-vácuo ou bombas de transferência, sendo que os equipamentos e veículos devem possuir características que evitem a geração de calor ou centelhas. O aterramento de todo o conjunto, veículo e bomba, para evitar ignições geradas pela diferença de potencial elétrico, é fundamental. Os trabalhos de recolhimento de combustível podem ser otimizados com a utilização de equipamentos flutuantes, conhecidos como skimmers. Entretanto,sua principal limitação operacional refere-se às lâminas de produtos sobrenadantes de espessuras muito delgadas ou iridescentes, para as quais os materiais absorventes oleofílicos são mais eficientes (LOPES, et. al. 2005). Nos corpos de água superficiais são utilizadas várias técnicas de combate, dentre as quais destacam-se a instalação de barreiras de contenção e/ou barreiras absorventes, direcionamento do produto e recolhimento com caminhões-vácuo e a aplicação de materiais absorventes granulados. Uma vez que os vapores inflamáveis dos derivados de petróleo possuem densidade maior que a do ar atmosférico, e dependendo do grau de confinamento, dificilmente ocorrerá a expulsão desses vapores de forma natural. Assim sendo, deve-se promover o arraste dos vapores do produto, por vias mecânicas, sendo a exaustão e a ventilação por meio de equipamentos fixos ou móveis, as técnicas mais utilizadas. O sistema elétrico ou mecânico de acionamento dos equipamentos deve ser à prova de explosão. A presença de fase líquida de combustível no ambiente é um fator limitante a esse processo, pois a exaustão ou ventilação sobre a superfície do líquido provocará o aumento da sua taxa de evaporação devido à constante renovação de ar no local, propiciando a continuidade da volatilização do produto. Por outro lado, a ventilação forçada somente deve ser utilizada em locais onde a concentração dos vapores inflamáveis esteja abaixo do Limite Inferior de Inflamabilidade (LII), já que pode ocorrer a geração de eletricidade estática pelo atrito das partículas presentes no ar ambiente, e sempre criando pontos de alívio satisfatório para a dispersão dos vapores, como por exemplo, abrindo-se as janelas e portas dos imóveis. Entretanto, não se deve realizar a ventilação forçada em redes de esgoto, uma vez que esse procedimento promoverá o espalhamento dos vapores inflamáveis, com a consequente migração deles para o interior das edificações, através das suas redes hidráulicas. Os ambientes confinados afetados devem ser drenados e em seguida lavados com água a alta pressão, para reduzir a impregnação do produto nas paredes, inclusive com a utilização de detergentes biodegradáveis, para facilitar sua remoção. Se o ambiente for estanque como, por exemplo, as caixas subterrâneas de passagem de cabos de telefonia, recomenda-se a sucção da água e do contaminante. Outra técnica largamente empregada para evitar o acúmulo de vapores inflamáveis em ambientes confinados, sobretudo nas galerias subterrâneas, é a aplicação de líquido gerador de espuma - LGE. Uma vez preenchido todo o ambiente, evita-se a Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.11: Medidas Emergenciais em Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 14 continuidade da evaporação pela criação de uma barreira física, bem como a eliminação dos espaços passíveis de serem ocupados pelos vapores. Concomitante às medidas acima descritas, pode-se lançar mão de outras estratégias de controle destacando-se a eliminação da fonte do vazamento, a interceptação da pluma de contaminação e a instalação de barreiras físicas de contenção. A eliminação da fonte do vazamento de combustível compreende os reparos ou as substituições necessárias, sendo que se tratando de tanques, recomenda-se seu esvaziamento e, em seguida, desativação e remoção. Havendo impossibilidades técnicas para a remoção, eles podem ser desativados definitivamente, mantidos enterrados no local e preenchidos com material inerte (por exemplo, areia). A escavação de trincheiras ao longo do possível caminho preferencial do produto combustível no subsolo apresenta resultados positivos na interceptação do produto, pois impede a continuidade da migração para os ambientes que se almeja proteger. A implantação de um sistema de ponteiras, com bombeamento a vácuo, normalmente provoca o rebaixamento do aquífero freático e, em consequência, a reversão do fluxo preferencial do lençol, com a atração da pluma de contaminação, bem como a implantação de uma linha de poços de bombeamento, entre a origem da contaminação e os demais pontos afetados, cujos efeitos, dependendo do porte e das características hidrológicas e geológicas da área, são bem eficientes. A instalação de barreiras físicas que impeçam a continuidade da migração do produto infiltrado no subsolo, como por exemplo, o envolvimento externo das redes subterrâneas ou das caixas ou poços de visita de acesso às redes com mantas impermeáveis, resistentes aos combustíveis automotivos, também surtem efeitos satisfatórios. Outro método é o bloqueio dos condutos das redes subterrâneas, evitando a ampliação das áreas afetadas e restringindo o risco. Esses procedimentos, em sua maioria, são paliativos e visam à eliminação ou à redução imediata de riscos acentuados, não sendo encarados como solução da contaminação ocorrida, para a qual, são necessárias medidas de médio e longo prazo, que possibilitem a remediação do local e das áreas adjacentes impactadas e seu restabelecimento às condições normais. Caso ocorra o aumento das concentrações de vapores e dos índices de inflamabilidade, os procedimentos devem ser imediatamente revistos, em razão do cenário e dos resultados das monitorações realizadas e, se necessário, diferentes procedimentos emergenciais podem ser aplicados, simultaneamente. Em casos em que haja suspeita de vazamentos, pode ser solicitada a realização de sondagens investigativas na área do empreendimento e em áreas adjacentes, para amostragem do solo e da água subterrânea, com a finalidade de comprovar a contaminação da área, seja ela proveniente de um vazamento atual ou de vazamentos pretéritos. Ainda, pode ser solicitada a realização de testes de estanqueidade no Sistema de Armazenamento Subterrâneo de Combustíveis - SASC, com o intuito de confirmar se o mesmo se encontra estanque, os quais também permitem definir qual parte do sistema apresenta perda do produto. 4. Atendimento à Emergência em Indústrias Abandonadas e Massas Falidas e sua Relação com as Áreas Contaminadas Áreas industriais abandonadas ou massas falidas, que no passado utilizaram substâncias químicas, ao encerrarem suas atividades, seja por razões econômicas, comerciais ou ambientais, podem deixar um passivo ambiental na área. Esse passivo ambiental é composto de produtos químicos e resíduos perigosos que podem estar armazenados de forma inadequada (Figura 5), muitas vezes lançados diretamente Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.11: Medidas Emergenciais em Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 15 sobre o solo ou em condições precárias de armazenamento e, não raro, próximo à ocupação humana (VASCONCELLOS, 2018). Figura 5 - Galpão abandonado com resíduo contaminado. Fonte: CETESB. Os resíduos comumente negligenciados em indústrias abandonadas e massas falidas, sejam na forma líquida ou sólida, em geral, representam perigos associados à inflamabilidade, corrosividade e toxicidade, normalmente decorrentes da emanação de compostos orgânicos voláteis - COV e, até mesmo, da reatividade de determinadas substâncias com a água, o que pode proporcionar sérios riscos à saúde, à vida da população e ao meio ambiente (VASCONCELLOS, 2018). Os atendimentos emergenciais em indústrias abandonadas ou massas falidas onde se encontram ou se encontraram armazenados produtos químicos e resíduos perigosos têm como finalidade reduzir os danos provocados por esse tipo de ocorrência, evitando a formação de áreas contaminadas. Antes mesmo de proceder qualquer intervenção em locais com tais características, é importante, primeiramente, realizar o acionamento dos responsáveis legais, seja ele o proprietário da empresa, o proprietário do imóvel ou, em caso de massas falidas, o síndico administrador. Tal acionamento objetiva, antes da adoção de qualquerque pode ser potencial, quando existe a possibilidade desse contato acontecer, ou real, quando esse contato ocorreu efetivamente. Eventos de exposição real ou potencial são capazes de causar riscos acima dos níveis aceitáveis ou danos aos bens a proteger. b. Dano em áreas contaminadas Dano é definido como a ocorrência de um efeito adverso a um bem a proteger, o qual provoca a perda da sua função ou utilidade, ou até mesmo a sua destruição, devido à exposição real do bem a proteger a uma SQI presente no compartimento do meio ambiente contaminado. No caso dos receptores humanos, os danos são caracterizados pela ocorrência de doenças ou morte, provocadas pela exposição crônica ou aguda a uma SQI proveniente de uma AC. c. Risco em áreas contaminadas Risco é definido como a probabilidade ou a possibilidade de ocorrência de um dano, devido à exposição potencial ou à exposição real do bem a proteger a uma determinada SQI presente no compartimento do meio ambiente contaminado de uma AC. A intensidade do risco depende do grau de toxicidade da substância, da quantidade e do tempo ao qual o bem a proteger está exposto ou pode estar exposto. Considerando o aspecto temporal e de quantidade, os riscos aos bens a proteger podem ser classificados em risco crônico ou risco agudo. O risco é crônico, quando a exposição é crônica, ou seja, a exposição é caracterizada pelo contato ou potencial contato do bem a proteger com pequenas quantidades ou concentrações da substância durante um longo período (anos). O risco é agudo, quando a exposição é aguda, ou seja, a exposição é caracterizada pelo contato ou potencial contato do bem a proteger com grandes quantidades da substância durante um curto período (horas ou menos). d. Nível de risco aceitável em áreas contaminadas O nível de risco aceitável é definido em função das características do bem a proteger identificado na área em avaliação ou na sua vizinhança, bem como dos efeitos tóxicos carcinogênicos ou não carcinogênicos da SQI. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 10 Considerando a exposição real ou a exposição potencial a substâncias carcinogênicas, o valor definido na Resolução CONAMA nº 420/2009 para risco total aceitável à saúde dos receptores humanos é menor ou igual a 1x10-5. Considerando a exposição real ou exposição potencial a substâncias não carcinogênicas, o valor definido na Resolução CONAMA nº 420/2009 para risco total aceitável à saúde dos receptores humanos, corresponde ao quociente de risco total menor ou igual a 1 (um). O risco total à saúde humana é a soma dos riscos quantificados na AC aos receptores humanos, considerando todos os caminhos potenciais ou reais de exposição. O nível aceitável de risco para receptores ecológicos deve ser definido caso a caso, em função do tipo de organismo identificado, considerando a exposição real ou exposição potencial à SQI caracterizada na AC. O nível aceitável de risco para ecossistemas naturais, recursos naturais e recursos ambientais deve ser definido caso a caso, com base nos padrões legais aplicáveis (PLA). Os PLA são padrões definidos em legislação, que tem como objetivo a proteção de um bem a proteger específico, como por exemplo, os padrões de potabilidade e os padrões para enquadramento dos corpos de água superficiais. Para o patrimônio ou a ordenação territorial, o nível de risco aceitável deve ser definido caso a caso, com base no valor monetário do bem ou no valor dos prejuízos esperados, no caso de ocorrência de dano. O nível aceitável de risco também pode ser expresso na forma de concentração máxima aceitável (CMA) de uma SQI em contato com o bem a proteger, ou em um determinado compartimento do meio ambiente. Esse valor, expresso na maioria das vezes em forma de concentração, é determinado na etapa de avaliação de risco, e representa também, indiretamente, o nível de risco aceitável para o bem a proteger em avaliação. Assim, caso o valor da concentração da SQI, determinada em contato com o bem a proteger, ou no compartimento do meio ambiente, seja igual ou menor que o valor da sua CMA, o risco a esse bem a proteger está abaixo do nível de risco aceitável. Depois desse detalhamento dos conceitos de risco e dano em AC, vemos que, além da necessidade da existência de uma fonte de contaminação primária, conforme a sua definição, também há a necessidade de se comprovar a existência de um dano a um bem a proteger ou a existência de risco acima do nível aceitável a um bem a proteger, para que uma área seja classificada como AC. 3. Gerenciamento de Áreas Contaminadas O Gerenciamento de Áreas Contaminadas (GAC) é o conjunto de ações de identificação, caracterização e implementação de medidas de intervenção em Áreas Contaminadas (AC) localizadas em uma região de interesse, com o objetivo de viabilizar o uso seguro proposto ou implementado em cada uma delas, culminando na sua classificação como Área Reabilitada para o Uso Declarado (AR). Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 11 Portanto, uma AR é aquela em que os riscos acima dos níveis aceitáveis ou os danos identificados e caracterizados aos bens a proteger foram gerenciados satisfatoriamente após execução das etapas do GAC. Observa-se que o uso declarado em uma AR deve estar em consonância com a legislação municipal de uso e ocupação do solo vigente na região onde ela se insere. A definição de GAC apresentada é condensada, mas contém conceitos importantes, cujo conhecimento é fundamental para o entendimento do seu funcionamento. Conforme destacado a seguir, podemos dividir o GAC em dois conjuntos de ações. O primeiro conjunto de ações do GAC envolve a identificação e caracterização de AC, cujos conceitos envolvidos são apresentados no item 3.1 desta Seção. Esse primeiro conjunto de ações é conhecido como Processo de Identificação de Áreas Contaminadas. O segundo conjunto de ações do GAC visa implementar as medidas de intervenção em AC, com o objetivo de viabilizar o uso seguro proposto ou implementado em cada uma delas, culminando na sua classificação como AR, cujos conceitos envolvidos são apresentados no item 3.2 desta Seção. Esse segundo conjunto de ações é conhecido como Processo de Reabilitação de Áreas Contaminadas. No item 3.3 desta Seção são apresentadas as bases legais do GAC. A Metodologia de Gerenciamento de Áreas Contaminadas descreve os métodos a serem utilizados para a execução das etapas do Processo de Identificação de Áreas Contaminadas e do Processo de Reabilitação de Áreas Contaminadas de forma detalhada. Com o objetivo de otimizar recursos técnicos e econômicos, a Metodologia de Gerenciamento de Áreas Contaminadas, baseia-se em uma estratégia constituída por etapas sequenciais, em que a informação obtida em cada etapa é a base para a execução da etapa posterior. O Processo de Identificação de Áreas Contaminadas é constituído por cinco etapas: Identificação de Áreas com Potencial de Contaminação; Avaliação Preliminar; Investigação Confirmatória; Investigação Detalhada; Avaliação de Risco. O Processo de Reabilitação de Áreas Contaminadas é constituído por cinco etapas: Elaboração do Plano de Intervenção; Execução do Plano de Intervenção; Monitoramento para Encerramento; Emissão do Termo de Reabilitação para o Uso Declarado; Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 12 Acompanhamento da Medida de Controle de Engenharia ou da Medida de Controle Institucional. O Processo de Identificação de Áreas Contaminadas se inicia com a procura de Áreas com Potencial de Contaminaçãoprocedimento, resgatar o histórico das atividades desenvolvidas no local, e assim tentar identificar os tipos de substâncias que possivelmente estejam ou estiveram ali armazenadas. Outra possibilidade de identificação dos resíduos ali depositados é tentar buscar informações contidas nos rótulos das embalagens, contudo deve-se ter extremo cuidado, pois em muitos casos o que está indicado no rótulo não condiz com o produto que se encontra armazenado nos contentores. Rótulos de identificação de produtos podem fornecer dados referentes ao fabricante ou distribuidor desses produtos, que devem responder solidariamente pelos contêineres, caso o responsável legal não se apresente ou não tenha condições de arcar com os custos do processo. Nestes casos, o fabricante ou o responsável pela distribuição poderão ser acionados para auxiliar na adoção de medidas de intervenção para eliminar os riscos. Nos casos de atendimentos emergenciais envolvendo, principalmente, massas falidas, normalmente não se tem informações a respeito dos produtos armazenados, o que obriga as equipes de resposta a planejar a estratégia de atuação para avaliação dos riscos instalados de forma mais cautelosa. A etapa de avaliação inicial deve ser realizada de maneira segura, e para isso as equipes devem, com auxílio de detector multigás, averiguar se há presença de gases Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.11: Medidas Emergenciais em Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 16 ou vapores inflamáveis, bem como mensurar as concentrações de oxigênio no interior das instalações. (Figura 6). Figura 6 – Avaliação inicial da área, utilizando detector multigás. Fonte: CETESB. Valores do LII (Limite Inferior de Inflamabilidade) acima de 20% indicam risco de incêndio ou explosão, requerendo de imediato a eliminação de fontes de ignição e a adoção de procedimentos para diminuição dessas concentrações, como ventilação ou exaustão do local, principalmente em se tratando de ambientes fechados. Outra condição de risco a ser monitorada são as concentrações de vapores tóxicos (Compostos Orgânicos Voláteis - COV), o que deve ser realizado com o auxílio de um fotoionizador. O monitoramento deve ser realizado periodicamente, principalmente no início das operações quando da movimentação das embalagens, pois é nesse momento que as substâncias tendem a evaporar com mais intensidade. Os níveis de concentração obtidos no monitoramento devem servir de referência às equipes no planejamento das ações, como por exemplo, no estabelecimento das zonas de trabalho, como também definir os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) a serem utilizados nas diversas etapas da operação. O processo de avaliação inicial, além de considerar os aspectos relacionados aos riscos associados aos resíduos e sua classificação, deve estimar a quantidade de material armazenado na área. É importante que se realize inventário do material armazenado nas instalações, mesmo que estimado, e se verifique as condições nas quais as embalagens estão dispostas, pois esse embasará, com as informações necessárias, a elaboração de um plano estratégico de intervenção para a remoção e destinação dos resíduos. O referido plano tem por objetivo definir, com critérios, quais atividades deverão ser desenvolvidas, quem são os responsáveis por cada etapa da operação e a forma como ela deverá ser executada, além do que, determinar quais recursos humanos e materiais serão necessários para a execução dos trabalhos. Cabe lembrar que o atendimento à emergência química em áreas abandonadas, como nesses casos, pode envolver a participação de diversos órgãos como Defesa Civil, Setor Saúde, Agência Ambiental, Polícia, empresas de iniciativa privada, dentre outros. É aconselhável que todas essas instituições participem da elaboração do plano, e que ele contemple minimamente alguns aspectos importantes, tais como: contratação de empresa especializada e mão de obra qualificada para realização da operação; Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.11: Medidas Emergenciais em Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 17 disponibilização de infraestrutura (maquinário, embalagens, transporte) e equipamentos de proteção individual (EPI) destinado às equipes de operação; esclarecimento à população vizinha quanto aos procedimentos adotados durante a realização dos trabalhos; implementação de sinalização de segurança na área de trabalho e acesso ao local (zonas de trabalho); comunicação ao órgão de trânsito local sobre a movimentação de caminhões; emissão de documentação necessária exigida pelos órgãos competentes, principalmente para destinação dos resíduos; manutenção de comunicação direta com os órgãos competentes em caso de situações de emergência durante o transcorrer dos trabalhos; realização de registro diário das atividades e ocorrências; apresentação de relatórios periódicos de expedição dos resíduos destinados; realização de procedimento de raspagem do solo e limpeza superficial da área; destinação do solo resultante da raspagem e limpeza superficial como resíduo perigoso; apresentação, ao final dos trabalhos, de relatório com o registro das atividades desenvolvidas e resultados alcançados, com registro fotográfico. Por se tratar de resíduos químicos armazenados por longo período, é comum que as embalagens se encontrem em condições precárias (amassadas, enferrujadas ou abertas), e estocadas de forma a oferecer risco, muitas delas apresentando vazamento. Consequentemente, isso significa que os resíduos poderão estar em contato direto com o solo, o que aumenta o risco e dificulta todo o processo de remoção. Dependendo do estado das embalagens e recipientes, caso esses apresentem problemas de integridade ou não atendam à legislação vigente, pode haver necessidade da transferência de produto para novas embalagens antes do início das operações de movimentação. Tal procedimento deve ser realizado com extremo cuidado, utilizando sempre equipamento compatível, como por exemplo, bombas de transferência intrinsicamente seguras (à prova de explosão), no caso de produtos inflamáveis. O risco de inflamabilidade poderá ser verificado por meio de equipamento adequado. Durante o processo de transferência, a atenção deverá estar voltada para a incompatibilidade entre produtos, evitando-se misturar produtos e resíduos com características diversas ou desconhecidas, evitando-se assim a ocorrência de reações violentas, exotérmicas ou que gerem subprodutos tóxicos. Uma vez removidos do local de armazenamento, as embalagens devem ser encaminhadas a um espaço previamente definido como zona morna ou “área de expedição”. A área de expedição deve ser um local facilmente acessível para a entrada de maquinários que atuaram na zona quente, assim como dos caminhões que serão utilizados para o transporte dos produtos e resíduos para sua destinação final. Ela deve ter, ainda, espaço suficiente para acondicionar os produtos e resíduos de forma segura, sobre paletes, com contenções e para se proceder o adequado manuseio dos recipientes (movimentação interna, a segregação dos resíduos, a avaliação das condições dos frascos, a identificação, o registro fotográfico etc.). Atentar para que as embalagens utilizadas no envase dos resíduos perigosos e sua identificação estejam em conformidade com a legislação vigente. É importante que as embalagens sejam identificadas no mínimo com as seguintes informações: Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.11: Medidas Emergenciais em Áreas Contaminadas Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 18 Designação do nº ONU; Código de Identificação - NBR 10.004; Denominação/Caracterização; Gerador; Destinatário;(AP) (etapa de Identificação de Áreas com Potencial de Contaminação), em uma região de interesse, ou seja, as áreas onde podem existir ou ter existido atividades potencialmente geradoras de áreas contaminadas. Em seguida, em cada AP identificada na região de interesse, devem ser realizadas avaliações e investigações, que visam identificar os locais onde existe a possibilidade da ocorrência de contaminação nos compartimentos do meio ambiente. Essas avaliações e investigações se iniciam com a realização de levantamento de informações históricas e interpretação dos resultados de inspeções e entrevistas, que visam identificar as fontes de contaminação potenciais existentes ou que possam ter existido na área, e levantar indícios de contaminação nos compartimentos do meio ambiente (etapa de Avaliação Preliminar). Utilizando-se, em seguida, de métodos diretos e indiretos, são realizadas investigações, com o objetivo de confirmar a existência de contaminação nos compartimentos do meio ambiente e a existência de fontes de contaminação primárias na área em avaliação (etapa de Investigação Confirmatória). Depois da confirmação da existência de contaminação nos compartimentos do meio ambiente e da existência de fontes de contaminação primárias e secundárias, as investigações continuam, com o objetivo de caracterizar as fontes primárias de contaminação e as plumas de contaminação identificadas (etapa de Investigação Detalhada). O Processo de Identificação de Áreas Contaminadas é encerrado com a verificação da ocorrência de riscos acima dos níveis aceitáveis aos bens a proteger identificados na área em avaliação ou na sua vizinhança, que podem estar expostos ou que foram expostos à contaminação observada nos compartimentos do meio ambiente. Nesse momento já se pode constatar também danos aos bens a proteger (etapa de Avaliação de Risco). O Processo de Reabilitação de Áreas Contaminadas tem início quando, ao final do Processo de Identificação de Áreas Contaminadas, forem identificados riscos acima dos níveis aceitáveis ou danos aos bens a proteger, devendo ser elaborado e executado um plano de intervenção (etapa de Elaboração do Plano de Intervenção). Nessa etapa são selecionadas e planejadas as medidas de intervenção sustentáveis (nas dimensões econômica, social e ambiental), que serão implementadas nas etapas seguintes para viabilizar o uso seguro, atual ou futuro da área em avaliação. Destaca- se que o uso seguro da área em avaliação deve estar de acordo com a legislação de uso e ocupação do solo vigente na região onde ela se insere. Como regra básica da Metodologia de Gerenciamento de Áreas Contaminadas, todas as informações obtidas em cada uma de suas etapas devem ser armazenadas no Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas. O Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas é utilizado para dar publicidade às ações de Gerenciamento de Áreas Contaminadas na região de interesse. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 13 As informações armazenadas no Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas também são úteis para apoiar as demais instituições que possuem obrigações relativas ao GAC. Durante a realização das etapas do GAC, em razão do nível das informações obtidas, dos riscos ou danos aos bens a proteger identificados ou das medidas de intervenção adotadas, as áreas podem receber as seguintes classificações: Área com Potencial de Contaminação (AP); Área Suspeita de Contaminação (AS); Área Contaminada (AC): Área Contaminada sob Investigação (ACI); Área Contaminada com Risco Confirmado (ACRi); Área Contaminada em Processo de Remediação (ACRe); Área Contaminada em Processo de Reutilização (ACRu). Área em Processo de Monitoramento para Encerramento (AME); Área Reabilitada para o Uso Declarado (AR); Área Atingida por Fonte Externa (AFe); Área Alterada por Fonte Difusa (AFd); Área com Alteração de Qualidade Natural (AQN); Área não Contaminada (AN). Destaca-se que existem quatro tipos ou espécies de AC, ou seja, ACI, ACRi, ACRe e ACRu. A classificação recebida após a execução de cada uma das etapas do GAC (Classificação 1 a 10 na Figura 1.2-1) é importante para definir a necessidade de continuidade ou de encerramento do GAC. A Figura 1.2-1 mostra esquematicamente as etapas do GAC. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 14 Figura 1.2-1: Etapas do Gerenciamento de Áreas Contaminadas (GAC) A responsabilidade pela execução das etapas do GAC cabe ao responsável legal e ao responsável técnico, com exceção das etapas de Identificação de Áreas com Potencial de Contaminação e de Emissão do Termo de Reabilitação para o Uso Declarado, que cabe ao órgão ambiental gerenciador. O responsável legal é uma pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, pela área em avaliação (AP, AC ou qualquer classificação possível). O responsável técnico é uma pessoa física ou jurídica, com capacidade e conhecimento técnico específico sobre o assunto, designada pelo responsável legal para planejar e executar as etapas do GAC. Cabe ao órgão ambiental gerenciador coordenar a execução do GAC na região de interesse, fiscalizar o cumprimento das exigências previstas, além de gerir e divulgar as informações obtidas durante a sua execução. Normalmente, o órgão ambiental gerenciador é o órgão ambiental responsável pelo licenciamento das atividades potencialmente geradoras de áreas contaminadas na região de interesse. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 15 A região de interesse é a região onde o GAC está sendo desenvolvido, cujos limites compreendem a abrangência de atuação do órgão ambiental gerenciador. A CETESB, por exemplo, é o órgão ambiental gerenciador que coordena a execução do GAC no Estado de São Paulo, de acordo com a Lei Estadual nº 13.577/2009 e Decreto Estadual Regulamentador nº 59.263/2013. 3.1. O Processo de Identificação de Áreas Contaminadas Como explicado anteriormente, o Processo de Identificação de Áreas Contaminadas é o conjunto de etapas do GAC que tem por objetivos identificar as AC na região de interesse, determinar suas características, identificar e caracterizar os riscos ou danos aos bens a proteger a elas associados, possibilitando a decisão sobre a necessidade de adoção de medidas de intervenção. O Processo de Identificação de Áreas Contaminadas é constituído por cinco etapas listadas a seguir, conforme pode ser observado na Figura 1.2-1: Identificação de Áreas com Potencial de Contaminação; Avaliação Preliminar; Investigação Confirmatória; Investigação Detalhada; Avaliação de Risco. 3.1.1. Identificação de Áreas com Potencial de Contaminação O objetivo geral da etapa de Identificação de Áreas com Potencial de Contaminação é identificar as áreas, dentro de uma região de interesse, onde podem existir ou ter existido fontes de contaminação potenciais, ou seja, as áreas que podem ser classificadas como AP (Classificação 1, na Figura 1.2-1). A etapa de Identificação de Áreas com Potencial de Contaminação é executada, basicamente, a partir do cruzamento de informações existentes sobre as atividades econômicas desenvolvidas na região de interesse, com a relação de atividades potencialmente geradoras de áreas contaminadas. Esse trabalho permite identificar os endereços e/ou os locais onde as atividades potencialmente geradoras de áreas contaminadas são ou foram desenvolvidas, os quais receberão a classificação de AP (ver Capítulo 4). A responsabilidade pela execução da etapa deIdentificação de Áreas com Potencial de Contaminação é do órgão que coordena a execução do GAC na região de interesse, denominado como órgão ambiental gerenciador. As AP identificadas na etapa de Identificação de Áreas com Potencial de Contaminação devem ser registradas no Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas, formando a Relação de Áreas com Potencial de Contaminação. As informações obtidas na etapa de Identificação de Áreas com Potencial de Contaminação são utilizadas para subsidiar a execução das etapas subsequentes do Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 16 Processo de Identificação de Áreas Contaminadas de responsabilidade do Responsável Legal. Em razão do grande número de AP normalmente identificadas nessa etapa, pode ser necessária a realização de priorização, com o objetivo de definir as AP onde é prioritária a realização da próxima etapa do Processo de Identificação de Áreas Contaminadas. A priorização de AP deve ser executada conforme critérios estabelecidos pelo órgão ambiental gerenciador. Dessa forma, os responsáveis legais pelas AP consideradas prioritárias devem ser demandados, pelo órgão ambiental gerenciador, a realizar a etapa seguinte do GAC, ou seja, a etapa de Avaliação Preliminar. 3.1.2. Avaliação Preliminar A realização da etapa de Avaliação Preliminar em cada AP tem como objetivo geral identificar fatos, evidências, indícios ou incertezas que levem a suspeitar da existência de contaminação nos compartimentos do meio ambiente, gerada a partir de fonte de contaminação primária localizada dentro dos limites da área em avaliação. A sua execução compreende basicamente a realização de um levantamento de informações em documentos existentes sobre a área em avaliação e a coleta de informações em campo, por meio de inspeções e entrevistas (ver Capítulo 5). A responsabilidade pela realização da etapa de Avaliação Preliminar é do responsável legal, que deve designar um responsável técnico para executá-la. Os responsáveis legais pelas AP também podem ser demandados a executar a etapa de Avaliação Preliminar quando o órgão ambiental gerenciador indicar essa necessidade, por meio de exigência técnica em processos administrativos. Também é possível os responsáveis legais pelas AP executarem espontaneamente a etapa de Avaliação Preliminar, quando tiverem interesse em iniciar um processo de reutilização da AP ou um processo de desativação da atividade licenciada, ou quando acharem pertinente em seu sistema de gestão ambiental. Quando os resultados da etapa de Avaliação Preliminar identificar fatos, evidências, indícios ou incertezas que levem a suspeitar da existência de contaminação nos compartimentos do meio ambiente, a área em avaliação terá sua classificação alterada de AP para Área com Suspeita de Contaminação (AS). A AS identificada deve prosseguir para a realização da próxima etapa de Investigação Confirmatória e ser registrada pelo órgão ambiental gerenciador no Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas, complementando a Relação de Áreas Suspeitas de Contaminação. É importante que essa etapa seja realizada adequadamente, pois as informações obtidas na etapa de Avaliação Preliminar são utilizadas para subsidiar a execução das etapas subsequentes do Processo de Identificação de Áreas Contaminadas, especialmente, o planejamento da etapa seguinte de Investigação Confirmatória. Cabe ao órgão ambiental gerenciador avaliar o relatório de avaliação preliminar apresentado pelo responsável legal e realizar a gestão das informações obtidas. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 17 A seguir, as principais atividades da etapa Avaliação Preliminar são listadas em uma ordem lógica de execução, e descritas com um pouco mais de detalhe nas alíneas subsequentes: identificar as fontes de contaminação potenciais; identificar as substâncias químicas de interesse (SQI); constatar situações que permitam suspeitar da existência de fontes de contaminação primárias dentro da área em avaliação; constatar situações que permitam suspeitar da existência de contaminação nos compartimentos do meio ambiente; descrever as hipóteses de liberação das SQI a partir das fontes de contaminação potenciais identificadas para os compartimentos do meio ambiente; verificar a possibilidade da área em avaliação ser atingida por contaminação gerada em fonte de contaminação externa, por fonte de contaminação difusa ou apresentar contaminação por fonte de contaminação natural; identificar os bens a proteger; identificar os caminhos de exposição potenciais; definir o modelo conceitual inicial da área (MCA 1); propor nova classificação da AP; verificar a necessidade de realização da etapa de Investigação Confirmatória; propor plano preliminar da etapa de Investigação Confirmatória; identificar os responsáveis legais solidários. a. Identificar as fontes de contaminação potenciais A identificação e caracterização das fontes de contaminação potenciais existentes ou que existiram dentro da AP visa dar os subsídios necessários para a identificação e caracterização das fontes de contaminação primárias, na etapa seguinte de Investigação Confirmatória. b. Identificar as SQI A identificação das SQI compreende avaliar, para cada fonte de contaminação potencial identificada, quais substâncias são armazenadas, os seus produtos de degradação, e dentre elas, quais podem provocar a contaminação dos compartimentos do meio ambiente quando liberadas. Essa relação de SQI visa dar os subsídios para a identificação e caracterização das fontes de contaminação primárias e dos compartimentos do meio ambiente contaminados, na etapa seguinte de Investigação Confirmatória. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 18 c. Constatar situações que permitam suspeitar da existência de fontes de contaminação primárias dentro da área em avaliação O responsável técnico, diante das diversas informações e situações que se depara no decorrer da etapa de Avaliação Preliminar, deve se atentar aos fatos, evidências, indícios ou incertezas que permitam suspeitar da existência de fontes de contaminação primárias dentro da área em avaliação. Alguns exemplos dessas situações são descritos a seguir: a constatação da suspeita de ocorrência de vazamentos na fonte de contaminação potencial; a ocorrência de vazamentos na fonte de contaminação potencial; a constatação de manejo inadequado de matérias-primas, produtos, insumos, resíduos ou efluentes, durante o funcionamento da fonte de contaminação potencial; a constatação de inadequações no projeto da fonte de contaminação potencial; a observação de indícios de contaminação nos compartimentos do meio ambiente, localizados nas proximidades da fonte de contaminação potencial; a constatação de incertezas sobre a localização da fonte de contaminação potencial; a constatação de incertezas sobre a existência da fonte de contaminação potencial. A constatação de uma ou mais das situações citadas é suficiente para classificar a AP, identificada na etapa anterior de Identificação de Áreas com Potencial de Contaminação, como AS, na etapa de Avaliação Preliminar, além de subsidiar o planejamento da etapa seguinte de Investigação Confirmatória. d. Constatar situações que permitam suspeitar da existência de contaminação nos compartimentos do meio ambiente Seguindo na mesma linha de trabalho da alínea "c" anterior, durante as atividades da etapa de Avaliação Preliminar, o responsável técnico também deve ser capaz de constatar fatos, evidências,indícios ou incertezas que permitam suspeitar da existência de contaminação nos compartimentos do meio ambiente, conforme exemplos descritos a seguir: a ocorrência de matérias-primas, produtos, insumos, resíduos e efluentes, relacionados à fonte de contaminação potencial, dispostos sobre os pisos ou sobre o solo, impregnados nas paredes das construções, misturados no material de aterro, nas águas subterrâneas, no sedimento ou em outro compartimento do meio ambiente; a constatação da presença de odores ou vapores no ar ambiente, no solo, ou mesmo nas águas subterrâneas, nas águas superficiais ou outros compartimentos do meio ambiente, relacionados às SQI identificadas na fonte de contaminação potencial. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 19 A constatação de uma ou mais das situações citadas é suficiente para classificar a AP, identificada na etapa anterior de Identificação de Áreas com Potencial de Contaminação, como AS, na etapa de Avaliação Preliminar, além de subsidiar o planejamento da etapa seguinte de Investigação Confirmatória. e. Descrever as hipóteses de liberação das SQI a partir das fontes de contaminação potenciais identificadas para os compartimentos do meio ambiente As hipóteses de liberação das SQI tratam da descrição dos fenômenos de transporte da SQI a partir da sua saída da fonte de contaminação potencial até atingir os compartimentos do meio ambiente adjacentes. Essa atividade pode envolver também a descrição dos eventos e fenômenos capazes de provocar essa liberação não desejada, assim como da possível posição e dimensões do ponto ou área onde pode ocorrer a saída da SQI da fonte de contaminação potencial. A descrição do ponto e forma de contato da SQI com o compartimento do meio ambiente adjacente é importante para se definir os locais a serem investigados na etapa seguinte de Investigação Confirmatória. f. Verificar a possibilidade da área em avaliação ser atingida por contaminação gerada em fonte de contaminação externa, por fonte de contaminação difusa ou apresentar contaminação por fonte de contaminação natural Para verificar a possibilidade da área em avaliação ser atingida por contaminação gerada em fonte de contaminação externa, ou por fonte de contaminação difusa, é necessário que sejam obtidas informações sobre a eventual presença de fontes de contaminação potenciais ou primárias localizadas na vizinhança a montante. Essa avaliação, quando feita na etapa de Avaliação Preliminar, normalmente se baseia na topografia do terreno ou na direção predominante do vento, dependendo da situação. Para verificar a possibilidade de ocorrer contaminação natural na área sob avaliação é necessário que sejam obtidas informações sobre a existência de fonte de contaminação natural na região, normalmente obtida em literatura especializada. Essas informações são importantes para a classificação correta da área na etapa de Avaliação Preliminar, e para a definição do responsável legal pela execução da etapa seguinte de Investigação Confirmatória. g. Identificar os bens a proteger A identificação dos bens a proteger dentro dos limites da área em avaliação e na sua vizinhança envolve a consulta a mapas de uso e ocupação do solo e fotografias aéreas multitemporais. Nesses vários tipos de documentos é possível observar, por exemplo, a localização dos corpos de água superficiais, assim como as áreas ocupadas predominantemente por residências ou indústrias, entre outros bens a proteger. Essas informações são utilizadas para definir os caminhos potenciais de exposição importantes durante a execução das etapas de Investigação Detalhada e Avaliação de Risco. h. Identificar os caminhos de exposição potenciais Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 20 Os caminhos de exposição potenciais são os percursos que as SQI podem fazer, a partir da fonte de contaminação potencial, passando pelos compartimentos do meio ambiente, até atingirem os receptores ou bens a proteger identificados. Essas informações são importantes para subsidiar, principalmente, a execução das etapas de Investigação Detalhada e Avaliação de Risco. i. Definir o modelo conceitual inicial da área (MCA 1) O primeiro modelo conceitual da área (MCA 1) é um relato escrito, acompanhado de ilustrações, dos resultados obtidos na etapa de Avaliação Preliminar. O seu conteúdo descreve, basicamente, as características das fontes de contaminação potenciais, das SQI, dos caminhos de exposição potenciais e dos bens a proteger. As informações compiladas no MCA 1 são importantes para facilitar a visualização de como as SQI podem atingir os receptores, indicando claramente os locais a serem investigados na etapa de Investigação Confirmatória. j. Propor nova classificação da AP Em termos práticos, o objetivo principal da etapa de Avaliação Preliminar é verificar se a AP pode ser classificada como AS, ou outra classificação possível (Classificação 2, na Figura 1.2-1). Assim, uma AP passa a ser classificada como AS quando, durante a execução da etapa de Avaliação Preliminar, forem identificados: fatos, evidências, indícios ou incertezas que permitam suspeitar da existência de fontes de contaminação primárias, dentro dos limites da AP em avaliação; fatos, evidências, indícios ou incertezas que permitam suspeitar da existência de contaminação nos compartimentos do meio ambiente, gerada dentro dos limites da AP em avaliação. Cabe ser destacado que durante a etapa de Avalição Preliminar, a área em avaliação pode receber outras classificações, além da classificação como AS, em razão dos resultados obtidos. Caso não sejam identificados fatos, evidências, indícios ou incertezas da existência de fonte de contaminação primária e nem da contaminação dos compartimentos do meio ambiente, a área em avaliação mantém a sua classificação como AP se nessa área permanecer funcionando uma atividade potencialmente geradora de áreas contaminadas, ou seja, quando nela continuam em atividade fontes de contaminação potenciais. Alternativamente, se nessa área não permanecer funcionando uma atividade potencialmente geradora de áreas contaminadas, ou seja, se nela não continuarem em atividade fontes de contaminação potenciais, a área será classificada como Área não Contaminada (AN). Caso os resultados da Avaliação Preliminar demonstrem que na área nunca houve fontes de contaminação potenciais, a área em avaliação será removida do Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas (removida da Relação de Áreas com Potencial de Contaminação), uma vez que a sua classificação inicial como AP foi provocada, provavelmente, devido a algum erro ocorrido na etapa de Identificação de Áreas com Potencial de Contaminação. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 21 A área avaliada na etapa de Avaliação Preliminar, em que foi constatada a possibilidade de essa ser atingida por contaminação gerada em fonte de contaminação externa, ou por fonte de contaminação difusa, ou apresentar fonte de contaminação natural, deve ser classificada como AS e prosseguir para a próxima etapa de Investigação Confirmatória. k. Verificar a necessidade de realização da etapa de Investigação Confirmatória O responsável legal pela área classificada como AS após a etapa de Avaliação Preliminar deve realizar a etapa seguinte do GAC, ou seja, a etapa de Investigação Confirmatória. Quando a área for classificada como AP após a etapa de Avaliação Preliminar, o GAC, ou mais especificamente, o Processo de Identificação de Áreas Contaminadas deverá ser encerrado, podendo ser retomado quandohouver interesse na desativação da atividade licenciada ou na reutilização da AP, ou por exigência do órgão ambiental gerenciador. Quando a área for classificada como AN após a etapa de Avaliação Preliminar, o GAC, ou mais especificamente, o Processo de Identificação de Áreas Contaminadas deverá ser encerrado. Quando após a etapa de Avaliação Preliminar verifica-se que a sua classificação inicial como AP foi provocada devido a algum erro ocorrido na etapa de Identificação de Áreas com Potencial de Contaminação, o GAC, ou mais especificamente, o Processo de Identificação de Áreas Contaminadas deverá ser encerrado e a área em avaliação será retirada da Relação de Áreas com Potencial de Contaminação. Com o objetivo de agilizar os trabalhos, o responsável legal poderá executar espontaneamente a etapa de Investigação Confirmatória em uma AS, mesmo antes de receber essa demanda do órgão ambiental gerenciador, especialmente quando tiver interesse em iniciar um processo de reutilização da AS ou um processo de desativação da atividade licenciada. l. Propor plano preliminar da etapa de Investigação Confirmatória O responsável técnico, designado pelo responsável legal pela área classificada como AS, deve elaborar plano preliminar para a execução da etapa seguinte do Processo de Identificação de Áreas Contaminadas, ou seja, a etapa de Investigação Confirmatória. O MCA 1 serve como base fundamental para a elaboração desse plano preliminar da etapa de Investigação Confirmatória. O plano preliminar da etapa de Investigação Confirmatória deve conter, basicamente, a indicação dos compartimentos do meio ambiente a serem investigados, as estratégias a serem adotadas para a definição da localização e profundidade dos pontos de amostragem, a indicação das SQI a serem consideradas e seus respectivos valores de intervenção (VI) a serem utilizados. A elaboração de planos preliminares para a etapa posterior do GAC é uma ação importante de ser adotada, pois permite melhorar o planejamento de todo o gerenciamento da área, prevendo ações e possíveis dificuldades, além de demonstrar Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 22 para o órgão ambiental gerenciador qual é estratégia de gestão futura pensada para a área em avaliação. m. Identificar os responsáveis legais solidários Os responsáveis legais solidários são as pessoas físicas ou jurídicas candidatas a arcar com a responsabilidade de executar as etapas subsequentes do GAC, quando os resultados da etapa de Avaliação Preliminar indicarem essa necessidade. Entre os responsáveis legais solidários identificados durante a etapa de Avaliação Preliminar (o causador da contaminação e seus sucessores, o proprietário da área, o superficiário, o detentor da posse efetiva ou quem dela se beneficiar direta ou indiretamente), deve ser indicado aquele, ou aqueles, que responderão pelas demandas do órgão ambiental gerenciador e executarão a etapa de Investigação Confirmatória. 3.1.3. Investigação Confirmatória A realização da etapa de Investigação Confirmatória na área classificada como AS tem o objetivo geral de identificar situações que permitam confirmar ou não a existência de contaminação nos compartimentos do meio ambiente, gerada a partir de fontes de contaminação primária localizadas dentro dos limites da área em avaliação. A sua execução envolve, basicamente, a realização de investigações em pontos estrategicamente posicionados nos compartimentos do meio ambiente, utilizando-se de métodos diretos de investigação (ver Capítulo 6). Os métodos diretos de investigação são aqueles em que são obtidas amostras diretamente do compartimento do meio ambiente avaliado para determinação das suas características ou para a determinação da concentração ou quantidade da SQI nele presente. O responsável legal tem a prerrogativa de realizar a etapa de Investigação Confirmatória, devendo para isso, designar um responsável técnico para a sua execução. Cabe ao órgão ambiental gerenciador avaliar o Relatório de Investigação Confirmatória apresentado pelo responsável legal, com os resultados dessa etapa, e a gestão das novas informações obtidas. Quando confirmada a contaminação de pelo menos um dos compartimentos do meio ambiente após essa etapa, a área será classificada como Área Contaminada sob Investigação (ACI) e suas informações registradas pelo órgão ambiental gerenciador no Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas, complementando a Relação de Áreas Contaminadas Sob Investigação. As informações obtidas na etapa de Investigação Confirmatória são utilizadas para subsidiar a execução das etapas subsequentes do Processo de Identificação de Áreas Contaminadas, especialmente, para o planejamento da etapa seguinte de Investigação Detalhada. A seguir, as principais atividades da etapa de Investigação Confirmatória são listadas em uma ordem lógica de execução e descritas com um pouco mais de detalhe nas alíneas subsequentes: Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 23 elaborar o plano definitivo de Investigação Confirmatória; executar o plano definitivo de Investigação Confirmatória; revisar as hipóteses de liberação das SQI a partir das fontes de contaminação primárias para os compartimentos do meio ambiente; verificar a possibilidade da área em avaliação ser atingida por contaminação gerada em fonte de contaminação externa, em fonte de contaminação difusa ou apresentar fonte de contaminação natural; identificar os bens a proteger que podem ser efetivamente atingidos pela contaminação; identificar os caminhos de exposição; definir o segundo modelo conceitual (MCA 2); propor nova classificação da área em avaliação; verificar a necessidade de continuidade do GAC; propor plano preliminar para a execução da etapa de Investigação Detalhada; identificar os responsáveis legais e solidários. a. Elaborar o plano definitivo de Investigação Confirmatória Inicialmente, cabe ser destacado que, a partir do plano preliminar para a execução da etapa de Investigação Confirmatória e MCA 1, elaborados na etapa de Avaliação Preliminar, deverá ser elaborado o plano definitivo de Investigação Confirmatória, o qual poderá conter alterações, com base nos resultados da aplicação dos métodos diretos e indiretos de investigação (por exemplo: geofísica e sondagens de reconhecimento - ver Capítulo 14), quando adotados na execução da própria Investigação Confirmatória. Esse plano definitivo de Investigação Confirmatória deve conter, em resumo, a indicação dos compartimentos do meio ambiente a serem investigados, a definição da localização e profundidade dos pontos de amostragem, a indicação das SQI a serem consideradas e seus respectivos Valores de Intervenção a serem utilizados para comparação. Conceitualmente, as investigações na etapa de Investigação Confirmatória devem estar posicionadas: em locais onde foram identificadas fontes de contaminação potenciais; em locais onde foram constatados fatos, evidências, indícios ou incertezas que levaram a suspeitar da existência de fontes de contaminação primárias; em locais onde foram observados fatos, evidências, indícios ou incertezas que levaram a suspeitar da existência de contaminação nos compartimentos do meio ambiente; nos locais onde foram constatadas anomalias, por meio da utilização de métodos diretos ou indiretos de investigação, durante a elaboração do plano definitivo da etapa de Investigação Confirmatória. Capítulo 1: Introdução ao Gerenciamento de Áreas Contaminadas Seção 1.2: Conceituação Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – 3ª Edição – Versão 3.1 24 O plano definitivo da etapa de Investigação Confirmatória