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1 DIREITO DAS SUCESSÕES 4a EDIÇÃO/2024 1. INTRODUÇÃO 2 1.1. CONCEITOS IMPORTANTES 2 1.2. MODALIDADES DE HERDEIROS 6 2. TRANSMISSÃO DO PATRIMÔNIO 8 3. CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS 9 4. MODALIDADES DE SUCESSÃO 11 4.1. SUCESSÃO LEGÍTIMA OU AB INTESTATO (na falta de testamento) 11 4.1.1. ORDEM DE VOCAÇÃO HEREDITÁRIA (Art. 1.829 e ss) 12 4.1.2. FORMAS DE RECEBIMENTO DA HERANÇA NA SUCESSÃO LEGÍTIMA 18 4.2. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA 19 4.2.1. CARACTERÍSTICAS DO TESTAMENTO 20 4.2.2. ESPÉCIES DE TESTAMENTO 21 4.2.2.1. TESTAMENTO PARTICULAR/HOLÓGRAFO/PRIV ADO 21 4.2.2.1.1. CONFECÇÃO DO TESTAMENTO PARTICULAR EM CIRCUNSTÂNCIAS EXCEPCIONAIS 23 4.2.2.2. TESTAMENTO PÚBLICO 23 4.2.2.3. TESTAMENTO CERRADO/SECRETO/MÍSTICO 24 4.2.2.4. TESTAMENTO MARÍTIMO 25 4.2.2.5. TESTAMENTO AERONÁUTICO 25 4.2.2.6. TESTAMENTO MILITAR 26 4.2.2.7. TESTAMENTO VITAL 27 4.2.2.8 TESTAMENTO CONJUNTIVO 28 4.3. HERANÇA JACENTE E HERANÇA VACANTE 28 4.4. DOS LEGADOS 29 5. DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA E OS LEGITIMADOS A SUCEDER 32 6. ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA 33 6.1. ACEITAÇÃO OU ADIÇÃO DA HERANÇA 33 6.2. RENÚNCIA 35 7. PETIÇÃO DE HERANÇA 36 8. EXCLUSÃO DA SUCESSÃO 38 8.1. MODALIDADES DE EXCLUSÃO DA SUCESSÃO: INDIGNIDADE E DESERDAÇÃO 38 8.2. DIREITO DE REPRESENTAÇÃO 41 9. QUADRO SINÓTICO 41 10. JURISPRUDÊNCIA RELEVANTE 44 2 1. INTRODUÇÃO Enquanto um fenômeno jurídico, a expressão “sucessão” vem do latim sub + cedere e significa “uns depois dos outros”. O direito das sucessões, portanto, corresponde à substituição do sujeito de uma relação jurídica em razão de sua morte. Assim, o direito das sucessões é o conjunto de regras e princípios que disciplinam a transmissão das relações jurídicas patrimoniais, ativas e passivas, de alguém que faleceu para os seus sucessores. Tendo em mente que a sucessão representa uma substituição no polo ativo/passivo de relações jurídicas patrimoniais, deve-se lembrar do benefício de inventário, previsto no art. 1.792, do CC, segundo o qual: o herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança; incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse, demostrando o valor dos bens herdados. De mais a mais, não se deve esquecer que no Brasil o direito à herança é direito fundamental (art. 5º, XXX, CF/88), portanto, uma universalidade de direito manifestada em cláusula pétrea. Aqui, também, é preciso delimitar que nem todos os direitos patrimoniais são transferíveis com a morte de seu titular. Estão nesse rol de hipóteses, o direito autoral (art. 41, da Lei 9.610/98), o usufruto, o uso e a habitação (art. 1.412, CC), o alvará judicial (art. 666, CPC) e a enfiteuse, cuja previsão estava disciplinada no CC/16, mas permanecem válidas, se constituídas à época. No ordenamento jurídico essa substituição pode se dar de duas formas: a) Ato inter vivos: Nos casos, por exemplo, de cessão de contrato, sucessão de empresas, casamento, contrato de compra e venda; ou b) Evento mortis causa: É relacionada à morte, seja por disposição de última vontade ou legítima. Sendo esta o objeto de estudo do Direito das Sucessões. “Contudo, a sucessão inter vivos importa mais para o direito de família, o direito das coisas, dentre outros ramos do direito civil. Não obstante, para o direito das sucessões, o que importa para a sua fundamentação é a sucessão causa mortis, também chamada de sucessão hereditária”, conforme explica o doutrinador Rubem Valente1. Flávio Tartuce2 conceitua o direito das sucessões como “o ramo do Direito Civil que tem como conteúdo as transmissões de direitos e deveres de uma pessoa a outra, diante do falecimento da primeira, seja por disposição de última vontade, seja por determinação da lei, que acaba por presumir a vontade do falecido.” 1.1. CONCEITOS IMPORTANTES Para o início do estudo do Direito das Sucessões é necessário, antes, definir alguns conceitos que se tornarão base da matéria. São eles: ● “DROIT DE SAISINE”: Conforme a doutrina, trata-se de um verdadeiro princípio sucessório previsto no art. 1.784 do Código Civil: Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários. A origem da expressão é uma máxima gaulesa que é “le mort saisit levif” (o morto é substituído pelo vivo). Está previsto no art. 1.784 do CC diz que aberta a sucessão (pela morte) a 2 Tartuce, Flávio. Direito Civil - Direito das Sucessões - Vol. 6. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2021. 1 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado . Disponível em: Minha Biblioteca, (2ª edição). Grupo GEN, 2022. 3 herança transmite-se desde logo aos herdeiros legítimos e testamentários, independentemente de qualquer ato (inclusive aceitação) ou de registro. Consiste, assim, na transmissão automática da posse e propriedade dos bens que compõem a herança para o espólio. Para Carlos Roberto Gonçalves3 existem dois pressupostos da sucessão: a) De cujus tenha falecido; b) Que lhe sobreviva herdeiro. Se o autor da herança estiver vivo, não haverá sucessão (viventis nulla hereditatis). Abre-se a sucessão somente com o óbito, real ou presumido. Importante dizer, ainda, que referido princípio possui reflexos no direito intertemporal, na medida em que o art. 1.787, CC, dispõe que a lei vigente ao tempo da abertura (morte) regula a sucessão e a legitimação para suceder. ● LOCAL DE ABERTURA DA SUCESSÃO: Nos termos do art. 1.785 do CC, a sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido e, conforme art. 48 do CPC, o foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro. Assim, não se considera o local da morte nem nos bens, mas o local do último domicílio do autor da herança. Ademais, importante lembrar que, pelo parágrafo único do art. 48 do CPC, se o falecido não possuía domicílio certo, é necessário seguir a 3Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 3 - Responsabilidade Civil - Direito de Família - Direito das Sucessões. Disponível em: Minha Biblioteca, (9th edição). Editora Saraiva, 2022. seguinte ordem de competência: 1º. O foro de situação dos imóveis; 2º. Havendo imóveis em foros distintos, qualquer destes; 3º. Não havendo imóveis, o foro de qualquer dos bens do espólio. “Como é possível a pluralidade domiciliar, nada obsta que exista mais de uma opção para a abertura da sucessão. Nos termos do art. 71 do CC/2002, se a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas. Assim, a título de exemplo, imagine-se que alguém tenha duplo domicílio, residindo em São Paulo e no Rio de Janeiro de forma fracionada, semana a semana. Em caso de seu falecimento, o inventário poderá ser aberto em qualquer uma das duas Comarcas, observada a competência territorial interna, de foros centrais e regionais, de acordo com a organização judiciária respectiva”, ensina o Professor Flávio Tartuce4. ⚠ ATENÇÃO PRINCÍPIO DO PRÉLÈVEMENT: Tal qual nos ensina Luciano Figueiredo e Roberto Figueiredo, “na forma do art. 10, §1º, da LINDB e art. 5º, XXXI, da CF88, aplicar-se-á nesse processo a norma mais benéfica, entre a brasileira e a do domicílio do de cujus, ao cônjuge ou filhos brasileiros, ou daqueles que os representem”5. Trata-se, portanto, de princípio a ser observado nas hipóteses de sucessão que envolva o Direito Internacional, tendo em vista a diversidade de domicílios entre os herdeiros e o próprio de cujus. Tal norma advém do Direito Francês, como o próprio 5 FIGUEIREDO, Luciano e FIGUEIREDO, Roberto. Direito Civil. 6ª ed. Bahia: Juspodivm, 2016, p. 77 4Tartuce, Flávio. Direito Civil - Direito das Sucessões - Vol. 6. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupode que, para o aprovar, precisa lê-lo.” 4.2.2.4. TESTAMENTO MARÍTIMO Existem testamentos especiais que são utilizados quando não são viáveis a realização na forma ordinária (arts. 1.886 a 1.896). Uma das formas de testamento especial, é o testamento marítimo, feito perante o comandante, que lavrará o testamento no diário de bordo. São necessárias 2 testemunhas. Não é necessário que seja uma embarcação militar. 35 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 3 - Responsabilidade Civil - Direito de Família - Direito das Sucessões. Disponível em: Minha Biblioteca, (9th edição). Editora Saraiva, 2022. Rubem Valente36, ensina que, “o testamento marítimo é aquele feito em viagem, a bordo de navio nacional, de guerra ou mercante. Pode testar perante o comandante, na presença de duas testemunhas, por forma que corresponda ao testamento público ou ao cerrado (art. 1.888), sendo registrado no diário de bordo (parágrafo único do art. 1.888). Ressalta-se que o testamento marítimo não será válido quando o testador se encontrava em porto em que pudesse desembarcar e testar de forma ordinária, mesmo que feito no curso de uma viagem (art. 1.892).” ⚠ ATENÇÃO O testamento caduca em 90 dias do desembarque em local em que se possa testar. Isso porque tem caráter precário. 4.2.2.5. TESTAMENTO AERONÁUTICO Art. 1.889. Quem estiver em viagem, a bordo de aeronave militar ou comercial, pode testar perante pessoa designada pelo comandante, observado o disposto no artigo antecedente. Outra forma de testamento especial, o testamento aeronáutico, “consta do art. 1.889 do Código Civil brasileiro de 2002, pelo qual quem estiver em viagem, a bordo de aeronave militar ou comercial, pode testar perante pessoa designada pelo comandante, nos termos do artigo anterior, ou seja, perante duas testemunhas e por forma que corresponda ao testamento público ou cerrado. Do mesmo modo, o testamento aeronáutico deve ser registrado no diário de bordo. O surgimento dessa 36 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado . Disponível em: Minha Biblioteca, (2ª edição). Grupo GEN, 2022. 26 nova modalidade tem origem no incremento do transporte aéreo, principalmente após a Segunda Guerra Mundial.”37 Devem ser aplicadas ao testamento aeronáutico as mesmas regras do testamento marítimo. 4.2.2.6. TESTAMENTO MILITAR Art. 1.893. O testamento dos militares e demais pessoas a serviço das Forças Armadas em campanha, dentro do País ou fora dele, assim como em praça sitiada, ou que esteja de comunicações interrompidas, poderá fazer-se, não havendo tabelião ou seu substituto legal, ante duas, ou três testemunhas, se o testador não puder, ou não souber assinar, caso em que assinará por ele uma delas. § 1.º Se o testador pertencer a corpo ou seção de corpo destacado, o testamento será escrito pelo respectivo comandante, ainda que de graduação ou posto inferior. § 2.º Se o testador estiver em tratamento em hospital, o testamento será escrito pelo respectivo oficial de saúde, ou pelo diretor do estabelecimento. § 3.º Se o testador for o oficial mais graduado, o testamento será escrito por aquele que o substituir. Testamento especial feito perante um oficial superior. São necessárias duas ou três testemunhas. Três testemunhas quando for necessária a assinatura a rogo. Aqui também se aplica o prazo de 90 dias do fim da inviabilidade de se fazer na forma ordinária. 37 Tartuce, Flávio. Direito Civil - Direito das Sucessões - Vol. 6. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2021. ⚠ ATENÇÃO TESTAMENTO MILITAR NUNCUPATIVO VERBAL (art. 1896): Feito perante duas testemunhas, que irão levar a vontade expressa pelo testador como mensageiros (Núncio). Todavia, só caberá essa modalidade quando o testador estiver em combate ou ferido em combate. Haverá caducidade se o testador sobreviver. Vistas essas modalidades, é importante atentar para uma questão: o STJ tende a flexibilizar as formalidades do testamento com fundamento de que a finalidade do testamento é garantir a fidedignidade das declarações. Assim, se no caso concreto temos ausência de indícios de fraude, deve-se ser mais flexível. Inclusive, o CC/02 admite uma hipótese em que o testamento dispensa testemunhas. Essa hipótese está no art. 1.879 e é o chamado testamento de emergência e que será feito de próprio punho além de haver circunstância excepcional declarada no próprio testamento. Sobre isso, o STJ admitiu testamento particular apenas com a impressão digital do testador (REsp. 1.633.254). No caso concreto não havia suspeitas. Por fim, vale mencionar que o STJ também já aceitou casos com apenas 1 testemunha, pois também não havia suspeitas (AgRg no AREsp. 773.835), e também testamento público de cego feito sem leitura da testemunha e que não havia indicação da cegueira do testador (REsp. 1.677.931). É válido o testamento particular que, a despeito de não ter sido assinado de próprio punho pela testadora, contou com a sua impressão digital.STJ. 2ª Seção. REsp 1.633.254-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, 27 julgado em 11/03/2020 (Info 667)38. Na elaboração de testamento particular, é possível sejam flexibilizadas as formalidades prescritas em lei na hipótese em que o documento foi assinado por testador e por testemunhas idôneas. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1521371/MG, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 28/03/201739. O descumprimento de exigência legal para a confecção de testamento público – segunda leitura e expressa menção no corpo do documento da condição de cego – não gera a sua nulidade se mantida a higidez da manifestação de vontade do testador. STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.931-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/8/2017 (Info 610)40 4.2.2.7. TESTAMENTO VITAL41 O denominado “testamento vital” ou “biológico” constitui uma declaração unilateral de vontade em que a pessoa manifesta o desejo de ser submetida a determinado tratamento, na hipótese de se encontrar doente, em estado incurável ou terminal, ou apenas declara que não deseja ser submetida a nenhum procedimento que evite a sua morte. 41 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 3 - Responsabilidade Civil - Direito de Família - Direito das Sucessões. Disponível em: Minha Biblioteca, (9th edição). Editora Saraiva, 2022. 40 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Validade de testamento feito por cego mesmo sem que tenham sido realizadas duas leituras e ainda que não tenha sido feito o registro da condição de cego no instrumento. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 08/12/2023 39 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Flexibilização das formalidades do testamento particular. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 08/12/2023 38 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É válido o testamento particular que, a despeito de não ter sido assinado de próprio punho pela testadora, contou com a sua impressão digital. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 08/12/2023 Enquanto capaz, a pessoa escolhe, por escrito, o tratamento médico que deseja receber ou manifesta o desejo de não se submeter a nenhum. Com esse documento, o paciente visa influir sobre a conduta médica e a limitar a atuação da família, caso a doença progrida e venha a se tornar impossibilitado de manifestar a sua vontade. 🚨 JÁ CAIU Na prova para Juiz de Direito Substituto do Tribunal de Justiça do Estado do Pará (Ano: 2019, CEBRASPE), ao ser questionado sobre o testamento vital, foi considerada correta alternativa que dizia ser “ato de disposição de última vontade sobre questões que envolvam o uso ou não de terapias para prolongar, de forma artificial,o processo natural de morte, em casos de doenças terminais.” Não se trata, verdadeiramente, de um testamento ou ato causa mortis, uma vez que não se destina a produzir efeitos após a morte, mas sim antes desta, aos pacientes terminais. Por essa razão mostra-se mais adequada a expressão “Diretivas Antecipadas de Vontade”, utilizada na Resolução n. 1.995/201, do Conselho Federal de Medicina, cujo art. 1º dispõe que o referido Conselho resolve: “Definir diretivas antecipadas de vontade como o conjunto de desejos, prévia e expressamente manifestados pelo paciente, sobre cuidados e tratamentos que quer, ou não, receber no momento em que estiver incapacitado de expressar, livre e autonomamente, sua vontade”. Na V Jornada de Direito Civil, realizada pelo Conselho da Justiça Federal, aprovou-se o Enunciado 28 528, do seguinte teor: “É válida a declaração de vontade, expressa em documento autêntico, também chamado ‘testamento vital’, em que a pessoa estabelece disposições sobre o tipo de tratamento de saúde, ou não tratamento, que deseja no caso de se encontrar sem condições de manifestar a sua vontade”. Ressalte-se que o objeto do documento portado pelas Testemunhas de Jeová não é a renúncia ao direito à vida, mas o direito de escolherem antecipadamente o tipo de tratamento médico que desejam receber. A jurisprudência internacional tem reconhecido a validade do documento de diretivas antecipadas portado por pacientes seguidores dessa religião. 🚨 JÁ CAIU Na prova para Promotor de Justiça do Estado de São Paulo (Ano: 2022, Banca própria), ao ser cobrado o conceito de testamento vital, foi considerada correta a alternativa que dizia que este “é tido como uma espécie de diretiva antecipada de vontade.” 4.2.2.8 TESTAMENTO CONJUNTIVO Trata-se de espécie legalmente vedada pelo Código Civil: Art. 1.863. É proibido o testamento conjuntivo, seja simultâneo, recíproco ou correspectivo. Conforme se pode depreender do texto legal, consiste na hipótese de duas (ou mais) pessoas realizarem disposição de vontades através de um único ato testamentário. 🚨 JÁ CAIU Na prova para Juiz de Direito Substituto do Estado de Santa Catarina (Ano: 2022, FGV), o tema foi cobrado da seguinte forma: “Silmara e Edson são bastante rigorosos na disciplina de seu filho, Bruno, de 16 anos. Em razão da inflexibilidade dos pais, o jovem Bruno consulta um advogado para saber, dentre as medidas descritas abaixo, qual delas, se tomada por seus pais, viola uma norma jurídica: (...)” Resposta: “nomear um tutor por testamento conjuntivo para o caso de ambos morrerem;” 4.3. HERANÇA JACENTE E HERANÇA VACANTE Tratam-se de hipótese em que não há herdeiros sucessíveis (não há testamento nem legítimos). Rubem Valente42 ensina que “conforme disposto no art. 1.819, com o falecimento do autor da herança, sem que tenha deixado herdeiros legítimos conhecidos ou testamento, os seus bens ficarão, após a sua arrecadação, sob a guarda e administração de um curador até a sua entrega ao sucessor que se encontrar habilitado ou com a declaração de sua vacância, de acordo com art. 739 do Código de Processo Civil de 2015. A arrecadação dos bens da herança jacente se fará, em consonância com art. 738 do CPC/2015. O magistrado da comarca do domicílio do falecido deverá proceder com a arrecadação destes. Este procedimento serve para a preservação de tais bens, visando a entrega aos herdeiros que se 42 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado . Disponível em: Minha Biblioteca, (2ª edição). Grupo GEN, 2022. 29 apresentarem, ou então, quando não se apresentarem herdeiros, os bens serão entregues ao Poder Público. Esta última, somente com a declaração da vacante da herança.” ⚠ CUIDADO Não se confundem bens vacantes com coisas ou bens vagos. Estes constituem coisa alheia perdida, que deve ser devolvida ao dono por quem a encontrar. É válida a leitura dos artigos 1.819 a 1.823, do Código Civil: Art. 1.819. Falecendo alguém sem deixar testamento nem herdeiro legítimo notoriamente conhecido, os bens da herança, depois de arrecadados, ficarão sob a guarda e administração de um curador, até a sua entrega ao sucessor devidamente habilitado ou à declaração de sua vacância. Art. 1.820. Praticadas as diligências de arrecadação e ultimado o inventário, serão expedidos editais na forma da lei processual, e, decorrido um ano de sua primeira publicação, sem que haja herdeiro habilitado, ou penda habilitação, será a herança declarada vacante. Art. 1.821. É assegurado aos credores o direito de pedir o pagamento das dívidas reconhecidas, nos limites das forças da herança. Art. 1.822. A declaração de vacância da herança não prejudicará os herdeiros que legalmente se habilitarem; mas, decorridos cinco anos da abertura da sucessão, os bens arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da União quando situados em território federal. Parágrafo único. Não se habilitando até a declaração de vacância, os colaterais ficarão excluídos da sucessão. Art. 1.823. Quando todos os chamados a suceder renunciarem à herança, será esta desde logo declarada vacante. 📌 OBSERVAÇÃO O procedimento da herança jacente é diferente do procedimento de inventário 4.4. DOS LEGADOS Segundo Flávio Tartuce, “O legado constitui uma disposição específica sucessória, realizada a título singular. Contrapõe-se ao testamento pelo fato de ser este uma disposição da herança a título universal. Em suma, pode-se dizer que no legado há uma especificidade dada pela autonomia privada. São partes do instituto sucessório em questão: o legante ou testador que faz a disposição de última vontade a título singular; e o legatário, aquele que é beneficiado pela disposição”43. O legado admite várias espécies ou formas, que serão analisadas conforme os ensinamentos do professor Flávio Tartuce44: 1. Legado de coisa alheia: “O legado de coisa alheia está tratado pelo art. 1.912 da codificação privada em vigor, segundo o qual é ineficaz o legado de coisa certa que não pertença ao testador no momento da liberalidade. A título de exemplo, imagine-se a disposição: “deixo o carro Ferrari que ainda comprarei do meu irmão para meu filho 44Tartuce, Flávio. Manual de Direito Civil - Volume Único. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Grupo GEN, 2022. 43Tartuce, Flávio. Manual de Direito Civil - Volume Único. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Grupo GEN, 2022. 30 Pietro”. Ou: “deixo minha mansão no Rio de Janeiro, localizada na Rua X, n.º Y, para meu filho Enzo”, sendo certo que o legante não é o proprietário do bem, mas um primo seu.” 2. Legado de coisa comum: “Nos termos do art. 1.914 do Código Civil de 2002, se a coisa legada pertencer somente em parte ao testador, só quanto a essa parte valerá o legado em benefício do legatário. Trata-se de limite imposto pela lei ao legado de coisa comum, que está em condomínio entre o legante e terceiro. A título de ilustração, se o imóvel estiver em condomínio igualitário com o irmão do legante e ele fizer a seguinte disposição: “deixo minha casa no Guarujá para meu filho Carlos”, apenas na metade a deixa testamentária gerará efeitos.” 3. Legado de coisa genérica: “A lei privada admite o legado de coisa genérica, sendo o seu objeto determinável, indicado pelo gênero e pela quantidade, a exemplo da obrigação de dar coisa incerta, tratada pelo art. 243 do CC/2002. Conforme o art. 1.915 da codificação civil, se o legado for de coisa que se determine pelo gênero, será ele cumprido, ainda que tal coisa não exista entre os bens deixados pelo testador.” 4. Legado de coisa singular: “Trata-se de hipótese em que a coisa está individualizada, sendo o objeto do legado determinado, não havendo a necessidade de qualquer escolha, ao contrário da categoria anterior. Equivale, portanto, à obrigação de dar coisa certa ou específica,tratada entre os arts. 233 a 242 do Código Civil em vigor. A título de exemplo, pode ser citada a disposição: “Deixo minha única casa em São Paulo, localizada no bairro de Moema, na Rua X, n.º Y, para o meu filho Carlos”.” 5. Legado de coisa localizada: “Pode ocorrer que o testador faça disposição de coisa que deva ser encontrada em determinado lugar, como no caso a seguir: “Deixo meu relógio de ouro, que está no cofre da minha casa, para o meu sobrinho José”. Em casos tais, a disposição só terá eficácia se nele for achada, salvo se removida a título transitório (art. 1.917 do CC/2002).” 6. Legado de crédito e de quitação de dívida: “Ambas as categorias estão tratadas no atual art. 1.918 da codificação privada, prescrevendo o seu caput que “O legado de crédito, ou de quitação de dívida, terá eficácia somente até a importância desta, ou daquele, ao tempo da morte do testador”. Mais uma vez, festeja-se a menção à eficácia, e não à validade, como estava no art. 1.685 da lei anterior, ora revogada.” 7. Legado de alimentos: “O legado de alimentos está regulado pelo art. 1.920 do Código Civil em vigor, abrangendo o sustento, a cura, o vestuário e a casa, enquanto o legatário viver, além da educação, se ele for menor. (...) Não se olvide que o legado de alimentos tem natureza personalíssima ou intuitu personae, assim como ocorre com as duas categorias confrontadas. Sendo assim, o falecimento do legatário-beneficiário gera a extinção da categoria, nos termos expressos 31 do que consta do art. 1.920 da codificação privada em vigor.” 8. Legado de usufruto: “Em relação ao legado de usufruto, estabelece o art. 1.921 da codificação civil em vigor que, sendo realizado pelo testador sem fixação de tempo, entende-se como vitalício, ou seja, deixado para toda a vida do legatário. Concretizando, o legante estabelece que um imóvel será atribuído aos seus filhos, com o estabelecimento do usufruto a favor de um primo seu. Ou ainda, com o intuito de substituir o usufruto vidual, extinto pelo Código Civil de 2002, o testador pode atribuir a nua propriedade de seus imóveis aos filhos, com a reserva do usufruto de tais bens para sua esposa ou companheira.” 9. Legado de imóvel: “O legado de bem imóvel tem regra específica no Código Civil de 2002, prevendo o seu art. 1.922 que, se aquele que legar um imóvel lhe ajuntar depois novas aquisições, estas, ainda que contíguas, não se compreendem no legado, salvo expressa declaração em contrário do testador. Conforme o seu parágrafo único, tal premissa não se aplica às benfeitorias necessárias, úteis ou voluptuárias feitas no prédio legado, que devem ser tidas como incorporadas ao legado.” 10. Legado de dinheiro: “Conforme o art. 1.925 do Código Civil de 2002, é possível que a coisa legada seja dinheiro, só vencendo os juros desde o dia em que se constituir em mora a pessoa obrigada a prestá-los. Imagine-se a seguinte disposição: “Deixo R$ 100.000,00 do meu patrimônio ao meu amigo Simão”. Os juros, que são frutos civis ou rendimentos, somente serão contados a partir da constituição em mora do herdeiro, e não do falecimento do legante.” 11. Legado alternativo: “Conceito similar à obrigação alternativa – arts. 252 a 256 da codificação privada –, o legado alternativo é aquele em que o herdeiro tem a opção de escolher entre alguns bens, de gêneros distintos, descritos pelo autor da herança (art. 1.932 do CC). Diante da menção à opção do herdeiro, o testamento pode prever o contrário, de que caberá ao legatário ou até a um terceiro essa escolha, presente uma presunção relativa ou iuris tantum.” 12. Legado puro ou simples: “De início, o legado puro ou simples é aquele que não contém qualquer elemento acidental. A título de exemplo, podem ser citadas as disposições comuns de bens móveis ou imóveis para determinadas pessoas, sem qualquer imposição: “Deixo meu carro para meu filho João”, “deixo minha casa no Guarujá para meu amigo José Fernando Simão”, “deixo as minhas joias de família para minha esposa”, entre outras.” 13. Legado condicional: “O legado condicional é aquele cuja eficácia depende de evento futuro e incerto. Assim: “deixo meu carro para Carlos se ele se formar em Direito”; “deixo minha casa em São Paulo para meu filho Pietro enquanto ele estudar”; “deixo meu 32 apartamento no Rio de Janeiro para meu amigo Zeno Veloso se ele realizar o caminho de Santiago de Compostela a pé”; entre outras disposições.” 14. Legado a termo ou a prazo: “O legado a termo ou a prazo tem a sua eficácia subordinada a evento futuro e certo, como nos seguintes exemplos: “deixo o meu carro para meu amigo Carlos quando o seu pai morrer” ou “deixo minha casa em Passos, Minas Gerais, quando meu filho atingir a maioridade”. Quanto a essas situações, vale lembrar a previsão constante do art. 1.898 do Código Civil, segundo a qual a designação do tempo em que deva começar ou cessar o direito do herdeiro, salvo nas disposições fideicomissárias, ter-se-á por não escrita.” 15. Legado modal ou com encargo: “no legado modal ou com encargo, a liberalidade testamentária vem acompanhada de um ônus ou fardo, o que é plenamente possível, sem maiores discussões. A título de concreção: “deixo meu carro para que meu filho o utilize para o trabalho”; “deixo meu terreno em Santos, São Paulo, para o meu primo construir ali um asilo” e “deixo meu avião para a instituição caridade X, com o fim de distribuir alimentos para os pobres”.” 5. DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA E OS LEGITIMADOS A SUCEDER “No que tange à vocação hereditária, as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão possuem a legitimidade para suceder, tanto na sucessão legítima quanto na testamentária, em conformidade com art. 1.798. Entretanto, aquelas pessoas que se encontram, expressamente, impedidas por lei não possuem legitimidade para a sucessão”45. O professor Flávio Tartuce46 (assim como Diogo Leite De Campos e Silmara Chinellato) entende que o nascituro tem direito sucessório desde concebido. Todavia, a DOUTRINA MAJORITÁRIA entende que esse direito sucessório está sob condição, pois ele precisa nascer com vida. Portanto, somente tem direitos sucessórios se nascer com vida (seria na verdade uma personalidade condicional quanto à herança). Este é o entendimento de Maria Helena Diniz, Pablo Stolze, José Fernando Simão e Francisco Cahali. PODERÃO SUCEDER NÃO PODERÃO SER NOMEADAS COMO HERDEIROS E LEGATÁRIOS Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder: I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão; II - as pessoas jurídicas; III - as pessoas jurídicas, Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários: I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos; II - as testemunhas do testamento; 46 Tartuce, Flávio. Manual de Direito Civil - Volume Único. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Grupo GEN, 2022. 45 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado . Disponível em: Minha Biblioteca, (2ª edição). Grupo GEN, 2022. 33 cuja organização for determinada pelo testador sob a forma de fundação. III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos; IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o testamento. 📌 OBSERVAÇÕES ■ O art. 1.801, CC prevê as pessoas não legitimadas a suceder por testamento, sob pena de nulidade absoluta, conforme expresso no art. 1.802, CC: Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas não legitimadas a suceder, ainda quando simuladas sob a forma de contrato oneroso, ou feitas mediante interposta pessoa. Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes,os descendentes, os irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado a suceder. ■ O art. 1.801, III, CC, não se aplica se houver união estável, conforme o enunciado 269, CJF. Se separado de fato, não importa o período. Ademais, é válida a disposição feita ao filho do concubino que também o for do testador, conforme Art. 1.803, CC. Art. 1.803. É lícita a deixa ao filho do concubino, quando também o for do testador. ⚠ ATENÇÃO ■ O embrião possui legitimidade para suceder? A posição majoritária é que o embrião tem direito sucessório (En. 267, CJF) e está submetido às regras de petição de herança (prazo de 10 anos). Nesse sentido, a regra do art. 1.798 do Código Civil deve ser estendida aos embriões formados mediante o uso de técnicas de reprodução assistida, abrangendo, assim, a vocação hereditária da pessoa humana a nascer. Todavia, a doutrina majoritária somente considera o embrião implantado, e que, obviamente, nascer com vida. Por outro lado, é importante examinar os legitimados para a sucessão testamentária, os quais estão previstos no Art. 1.799, CC, e consistem no concepturo (aquele sequer foi concebido), o qual, após a abertura da sucessão, possui o prazo de 2 anos para ser concebido (muitos entendem que esta regra se aplica ao embrião – para ser implantado); e nas pessoas jurídicas que já estão constituídas ou que ainda serão, inclusive fundações. ■ Pessoa jurídica só pode ser sucessora testamentária e não legítima. 6. ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA 6.1. ACEITAÇÃO OU ADIÇÃO DA HERANÇA Utilizando as palavras do doutrinador 34 Rubem Valente47: “Com a abertura da sucessão, conforme o art. 1.784, a herança será transmitida logo aos herdeiros, tanto os legítimos quanto os testamentários. Todavia, o Código Civil concede a esses herdeiros a faculdade de aceitar ou renunciar à herança. No que se refere à aceitação da herança, esta trata-se de uma confirmação, uma vez que a aquisição dos direitos sucessórios não depende da aceitação.” Discute-se acerca da necessidade ou não desse instituto. Para Maria Berenice Dias, não é necessário, pois o “droit de saisine” é suficiente. Todavia, o professor Zeno Veloso (posição majoritária) entende que sim, já que “ao constrangido ou a quem não quer, não se dá o benefício”; assim, ninguém pode ser herdeiro contra a sua vontade. Quando a herança é aceita, opera-se o efeito retroativo (ex tunc), tornando-se definitiva com a sua transmissão ao herdeiro logo após a abertura da sucessão, com base no art. 1.804, do Código Civil: Art. 1.804. Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão ao herdeiro, desde a abertura da sucessão. Parágrafo único. A transmissão tem-se por não verificada quando o herdeiro renuncia à herança. Conforme os Arts. 1.805 e 1.807, CC, existem três modalidades de aceitação: EXPRESSA TÁCITA PRESUMIDA Se dá por meio de declaração Se dá mediante comportament Se dá por comportament 47 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado . Disponível em: Minha Biblioteca, (2ª edição). Grupo GEN, 2022. escrita do herdeiro mediante escritura pública, escrito particular ou manifestação no inventário. ▸ Art. 1.805, 1.ª parte, CC. o POSITIVO da qualidade de herdeiro. Como exemplo podemos citar: pagamento de impostos e atuação efetiva no inventário. o negativo. Decorre do silêncio do herdeiro. O art. 1.807, CC, estabelece o prazo de 20 dias a contar da abertura da sucessão para que um herdeiro possa notificar o outro para que se manifeste, podendo este prazo ser adiado por não mais que 30 dias. Caso não haja manifestação, a herança será tida por aceita (exceção ao Art. 111, CC). Artigos 1.805 e 1.807, do CC, in litteris: Art. 1.805. A aceitação da herança, quando expressa, faz-se por declaração escrita; quando tácita, há de resultar tão-somente de atos próprios da qualidade de herdeiro. § 1 o Não exprimem aceitação de herança os atos oficiosos, como o funeral do finado, os meramente conservatórios, ou os de administração e guarda provisória. 35 § 2 o Não importa igualmente aceitação a cessão gratuita, pura e simples, da herança, aos demais co-herdeiros. Art. 1.807. O interessado em que o herdeiro declare se aceita, ou não, a herança, poderá, vinte dias após aberta a sucessão, requerer ao juiz prazo razoável, não maior de trinta dias, para, nele, se pronunciar o herdeiro, sob pena de se haver a herança por aceita. ⚠ ATENÇÃO Atos oficiosos, como é caso do funeral do finado, os meramente conservatórios ou de administração e guarda provisória não expressam o aceite da herança (§ 1º do art. 1.805). 6.2. RENÚNCIA A renúncia é o ato que afasta a transmissão, recusa a herança, repudia a herança ou legado. Somente pode ser expressa por instrumento público ou termo judicial, sob pena de NULIDADE ABSOLUTA (Art. 1.806, CC). Art. 1.806. A renúncia da herança deve constar expressamente de instrumento público ou termo judicial. Nas palavras de Flávio Tartuce48: “A renúncia deve ser sempre expressa, constando de instrumento público ou termo judicial (art. 1.806 do CC). Não se admite a renúncia tácita, presumida ou verbal; muito menos que o ato seja feito por instrumento particular, mesmo que com assinaturas com firmas reconhecidas. Cabe lembrar que a escritura pública é lavrada perante o Tabelionato de Notas, sem qualquer competência territorial no ato a ser 48 Tartuce, Flávio. Direito Civil - Direito das Sucessões - Vol. 6. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2021. celebrado.” 🚨 JÁ CAIU Na prova para Promotor de Justiça do Estado de Santa Catarina (Ano: 2021, CEBRASPE), foi considerada incorreta a seguinte afirmativa: “É válida a renúncia à herança realizada por mandatário constituído para tal fim por instrumento particular.” Ainda, na prova para Promotor de Justiça do Estado do Amapá (Ano: 2021, CEBRASPE), ao ser questionada a forma de comprovação da renúncia, a resposta correta foi “por termo judicial.” ⚠ ATENÇÃO É possível por procuração desde que a outorga de poderes seja por escritura pública. Nesse sentido: REsp 1.236.671/SP. Pode ser classificada em duas modalidades: 1. Renúncia Abdicativa: Se dá de forma pura ou simples. É aquela sem a indicação do beneficiário. É a REGRA se nada for dito e o bem é destinado ao acervo hereditário. 2. Renúncia Translativa: Chamada também de in favorem. Aqui temos a indicação do beneficiário. Entende-se que ela equivale a uma cessão gratuita ou doação.Há quem entenda que incide imposto de transmissão inter vivos. Vale dizer que a renúncia apresenta regras específicas, estando uma delas prevista no art. 1.810, CC, o qual estabelece que a parte do renunciante acresce à dos outros herdeiros de mesma classe (ou grau) e, sendo ele o único desta (e), devolve aos da (o) subsequente. 36 ⚠ ATENÇÃO Conforme o Enunciado 575 do CJF, concorrendo herdeiros de classes diversas, a renúncia de um deles devolve a sua parte aos que integram a mesma ordem. Outra regra está contida no art. 1.811,CC, o qual estabelece que a renúncia à herança afasta o direito de representação. Conforme Zeno Veloso, é como se o renunciante nunca tivesse existido. Todavia, temos uma ressalva: Se o renunciante for o único sucessor legítimo da sua classe (grau também), ou se todos da mesma classe ou grau renunciarem, poderão seus filhos vir à sucessão, por direito próprio (cabeça). Há ainda, regras em comum entre a aceitação e a renúncia, quais sejam: a) Tanto a aceitação como a renúncia são irrevogáveis (Art. 1.812, CC). b) Não se aceita ou se renuncia, conforme o Art. 1.808, CC, em parte, sob comissão ou a termo ( exceto o herdeiro chamado na mesma sucessão a mais de um quinhão hereditário, sob títulos sucessórios diversos, o qual pode livremente deliberar quanto aos quinhões que aceita e aos que renuncia). 🚨 JÁ CAIU Na prova para Procurador do Estado de Alagoas (Ano: 2021, CEBRASPE), foi considerada correta a alternativaque dizia que “os atos de aceitação ou de renúncia de herança são irrevogáveis.” Trata-se, pois, da redação do art. 1.812, do Código Civil, que vimos acima. Ainda, na prova para Promotor de Justiça Substituto do Estado do Paraná (Ano: 2021, Banca Própria), foi considerada incorreta, em questão sobre a renúncia, a alternativa que diz que “o renunciante à herança de uma pessoa não poderá representá-la na sucessão de outra.” Isso porque, nos termos do art. 1.856, do Código Civil, “o renunciante à herança de uma pessoa poderá representá-la na sucessão de outra.” 7. PETIÇÃO DE HERANÇA A petição de herança é uma ação judicial condenatória a ser proposta por aquele que foi privado da participação em uma partilha realizada em juízo ou em cartório, a fim de reclamar a sua qualidade sucessória. Perceba que o objeto da petição de herança é dúplice, pois além de reclamar a qualidade hereditária, visa a condenação daqueles que preteriram o autor a devolver a parte que a este pertencia. Art. 1.824. O herdeiro pode, em ação de petição de herança, demandar o reconhecimento de seu direito sucessório, para obter a restituição da herança, ou de parte dela, contra quem, na qualidade de herdeiro, ou mesmo sem título, a possua. Ainda, a petição de herança pode ser exercida por um só herdeiro e pode compreender todos os bens hereditários (art. 1.825, do CC) – do que é exemplo a petição proposta por filho não reconhecido contra seus avós, após falecimento de seus pais sem deixar outros filhos, pois, aqui, demandar-se-á a herança na integralidade. Ponto interessante nesta ação é a necessidade de citação dos réus junto com seus 37 cônjuges ou companheiros, isso porque, embora não se trate de uma ação real imobiliária, o objeto da demanda vai reclamar a posse e a propriedade que foram transmitidas. Quanto à legitimidade ativa para a propositura da petição de herança, temos que ela pode ser do herdeiro, do legatário, dos credores e dos cessionários. Essa legitimidade alcança, também, o síndico da falência e o curador do incapaz/ausente. Por outro lado, a legitimidade passiva será dos herdeiros ou legatários que estiverem na posse da herança. Perceba que o espólio não pode ser legitimado passivo, pois ele somente representa a herança no que tange aos interesses patrimoniais. Neste sentido, o STJ no REsp 331.842/AL, segundo o qual: na ação de investigação de paternidade post mortem, partes legítimas passivas são os herdeiros e não o espólio. Ademais, em razão de sua natureza condenatória, a ação de petição de herança se submete a prazo prescricional, que, neste caso, será de 10 anos, ainda que esteja cumulada com a investigação de paternidade, que é imprescritível. Neste sentido, a Súmula 149 do STF, segundo a qual: é imprescritível a ação de investigação de paternidade, mas não o é a de petição de herança. A contagem do prazo acima é feita a partir da abertura da sucessão, se o autor já tem o título sucessório. No entanto, se não há título, não há consenso na jurisprudência quanto ao início da contagem do prazo, vejamos: O prazo prescricional só começa a ser contado com o trânsito em julgado da decisão que reconheceu a paternidade. Na hipótese em que ação de investigação de paternidade post mortem tenha sido ajuizada após o trânsito em julgado da decisão de partilha de bens deixados pelo de cujus, o termo inicial do prazo prescricional para o ajuizamento de ação de petição de herança é a data do trânsito em julgado da decisão que reconheceu a paternidade, e não o trânsito em julgado da sentença que julgou a ação de inventário. STJ. 3ª Turma. REsp 1475759-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 17/5/2016 (Info 583). O prazo prescricional começa a ser contado com a abertura da sucessão (data da morte do autor da herança), ou, em se tratando de herdeiro absolutamente incapaz, da data em que completa 16 anos, momento em que, em ambas as hipóteses, nasce para o herdeiro, ainda que não legalmente reconhecido, o direito de reivindicar os direitos sucessórios (actio nata). STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 479648/MS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 10/12/2019. Ainda sobre o tema, temos que embora o herdeiro possa demandar os bens da herança mesmo em poder de terceiros, sem prejuízo da responsabilidade do possuidor originário pelo valor dos bens alienados, as alienações feitas por herdeiro aparente a terceiros de boa-fé, a título oneroso, são juridicamente eficazes (art. 1.827, do CC). Também, o herdeiro aparente, que de boa-fé houver pago um legado ou dívidas do falecido, não está obrigado a prestar o equivalente ao verdadeiro sucessor, ressalvado a este o direito de proceder contra quem o recebeu (art. 1.828, do CC). Por fim, o valor da causa é a extensão da vantagem a ser obtida. 38 8. EXCLUSÃO DA SUCESSÃO “Existem situações previstas em lei, somadas ou não a ato de última vontade do autor da herança, em que é excluído o direito sucessório do herdeiro ou legatário. Nesse contexto, surgem os conceitos de indignidade sucessória e deserdação como penas civis.”49 8.1. MODALIDADES DE EXCLUSÃO DA SUCESSÃO: INDIGNIDADE E DESERDAÇÃO A professora Giselda Hironaka aponta que tanto a indignidade quanto a deserdação consistem em modalidade da exclusão da herança por razão subjetiva, de cunho pessoal. Não se confundem com a falta de legitimação sucessória em que se tem uma razão objetiva. Carlos Roberto Gonçalves50 afirma que “o herdeiro ou legatário pode, com efeito, ser privado do direito sucessório se praticar contra o de cujus atos considerados ofensivos, de indignidade. Não é qualquer ato ofensivo, entretanto, que a lei considera capaz de acarretar tal exclusão, mas somente os consignados no art. 1.814, que podem ser assim resumidos: ▸ Atentado contra a vida; ▸ Atentado contra a honra; e ▸ Atentado contra a liberdade de testar do de cujus.” Vejamos a diferença dos institutos por meio de uma tabela: 50 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 3 - Responsabilidade Civil - Direito de Família - Direito das Sucessões. Disponível em: Minha Biblioteca, (9th edição). Editora Saraiva, 2022. 49 Tartuce, Flávio. Direito Civil - Direito das Sucessões - Vol. 6. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2021. INDIGNIDADE (Art. 1.814 a 1.818, CC) DESERDAÇÃO (Art. 1.961 a 1.965, CC) Matéria de sucessão legítima e testamentária. Matéria apenas de sucessão testamentária. Alcança herdeiros necessários e facultativos. Só atinge herdeiros necessários. Podem ser considerados indignos os herdeiros ou legatários: 1. que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de HOMICÍDIO DOLOSO, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente; 2. que houverem acusado CALUNIOSAMENTE em juízo o autor da herança ou incorrerem em CRIME CONTRA A SUA HONRA, ou de seu cônjuge ou companheiro; 3. que, por violência ou meios Além das causas mencionadas para a indignidade, autorizam a deserdação dos descendentes por seus ascendentes: 1. ofensa física; 2. injúria grave; 3. relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto 4. desamparo do ascendente em alienação mental ou grave enfermidade. Igualmente, autorizam a deserdação dos ascendentes pelos descendentes: 1. ofensa física; 2. injúria grave; 3. relações ilícitas com a mulher ou companheira do 39 fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade. As hipóteses de indignidade também servem para a deserdação, conforme o próprio CC. filho ou a do neto, ou com o marido ou companheiro da filha ou o da neta; 4. desamparo do filho ou neto com deficiência mental ou grave enfermidade. Assim, percebe-se que existem hipóteses de deserdação que não alcançam a indignidade. Decorre de decisão judicial. Decorre de testamento,com expressa declaração de causa, o qual necessita de posterior confirmação judicial. Prazo decadencial de 4 anos, contados da abertura da sucessão, para proposição de ação de exclusão de herdeiro por indignidade. Prazo decadencial de quatro anos, a contar da data da abertura do testamento, para proposição de ação de confirmação da deserdação. O Ministério Público tem legitimidade para demandar a exclusão do herdeiro ou do legatário. Alguns autores sustentam a inconstitucionalidade, pois o MP não deveria cuidar de causas que levem em conta o interesse particular. 🚨 JÁ CAIU Quanto à deserdação, na prova para Procurador da Câmara Municipal de Aracaju/SE (Ano: 2021, FGV), o tema foi abordado da seguinte forma: “Paulo e seu filho, Mário, sempre tiveram um relacionamento difícil. Em meio a uma discussão mais acalorada, Mário chegou a dar um soco no pai, e desde então nunca mais se falaram. Agora que Paulo morreu, seus outros filhos, irmãos de Mário, querem que ele seja excluído da sucessão por ter cometido agressão contra o pai. A ofensa física de Mário ao falecido exclui Mário da sucessão de Paulo: (...)” Resposta: “após sentença judicial, se Paulo determinou isso em testamento, indicando expressamente a causa da deserdação, e se a veracidade dessa causa for provada por um dos demais herdeiros.” Ainda, na prova para Promotor de Justiça do Distrito Federal e Territórios (Ano: 2021, Banca Própria), foi considerada correta a seguinte afirmativa: “denomina-se de bem ereptício aquele que é retirado do indigno, devendo ser devolvido à pessoa que o recebe como se o indigno nunca tivesse sido herdeiro.” No mesmo certame, também foi considerada correta a alternativa que dizia que “A deserdação somente se aplica aos herdeiros necessários.” Por fim, vale ressaltar que tanto os efeitos da indignidade quanto da deserdação são pessoais, não afastando o direito de representação, 40 diferente do que acontece com a renúncia. 🚨 JÁ CAIU Quanto ao tema, na prova para o cargo de Juiz de Direito do Tribunal de Justiça de Pernambuco (Ano: 2022, FGV), foi cobrada a seguinte questão: “Emengarda faleceu, deixando muitos bens e péssimo relacionamento com seus cinco filhos. Fábio a injuriou em um jantar de família há muitos anos e nunca mais se falaram desde então. Guilherme a coagiu a modificar seu testamento, ameaçando divulgar informações íntimas suas se não lhe deixasse a parte disponível da herança. Henrique caluniou o homem com quem ela vivia há muitos anos em união estável. Igor tentou matá-la por envenenamento, estando preso desde então pelo seu crime. Enfim, Júlio, foi quem efetivamente a matou, buscando contê-la em uma discussão que chegou às vias de fato, tendo sido condenado por homicídio culposo. O herdeiro que pode pretender excluir por indignidade todos os demais e ficar com a herança toda de Emengarda para si é: (...)” Resposta: Júlio. Isso porque o homicídio decorreu de conduta culposa, o que não é causa de indignidade. O art. 1.814, inciso I, do CC, refere-se somente a homicídio doloso. O herdeiro que seja autor, coautor ou partícipe de ATO INFRACIONAL análogo ao homicídio doloso praticado contra os ascendentes fica excluído da sucessão. É juridicamente possível o pedido de exclusão do herdeiro em virtude da prática de ato infracional análogo ao homicídio, doloso e consumado, contra os pais, à luz da regra do art. 1.814, I, do CC/2002. STJ. 3ª Turma. REsp 1938984-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/02/2022 (Info 725). Indignidade são situações previstas no Código Civil nas quais o indivíduo que normalmente iria ter direito à herança, ficará impedido de recebê-la em virtude de ter praticado uma conduta nociva em relação ao autor da herança ou seus familiares. Trata-se, portanto, de uma causa de exclusão da sucessão. A indignidade é considerada uma sanção civil aplicada ao herdeiro ou legatário acusado de atos reprováveis contra o falecido. As hipóteses de indignidade estão previstas no art. 1.814 do Código Civil, que traz um rol taxativo, que não admite analogia nem interpretação extensiva. Veja o que diz o inciso I: Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários: I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente; Imagine que o filho, adolescente de 17 anos, ceifa dolosamente a vida dos pais. Neste caso, o filho, tecnicamente, não praticou homicídio, mas sim ato infracional análogo a homicídio. Mesmo assim, a presente situação poderá ser enquadrada no inciso I do art. 1.814 do CC? Sim. A regra do art. 1.814, I, do CC/2002, se interpretada literalmente, induziria ao resultado de que o uso da palavra “homicídio” possuiria um sentido único, importado diretamente da legislação penal para a civil, razão pela qual o ato infracional análogo ao homicídio praticado pelo filho contra os pais não poderia acarretar a exclusão da sucessão, pois, tecnicamente, homicídio não houve. 41 Ocorre que não se pode fazer uma mera interpretação literal. A partir de uma perspectiva teleológica-finalística conclui-se que o objetivo do enunciado normativo do art. 1.814, I, do CC é o de proibir que tenha direito à herança quem atentar, propositalmente, contra a vida de seus pais. Logo, apesar de existir uma diferença técnico-jurídica entre homicídio e ato análogo a homicídio, essa distinção tem importância apenas no âmbito penal, mas não possui a mesma relevância na esfera cível, não devendo ser levada em consideração para fins de exclusão da herança, sob pena de ofensa aos valores e às finalidades que nortearam a criação da norma e de completo esvaziamento de seu conteúdo. STJ. 3ª Turma. REsp 1943848-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/02/2022 (Info 725)51. 8.2. DIREITO DE REPRESENTAÇÃO Consiste no direito de uma pessoa em receber o quinhão de um herdeiro pré-morto, indigno ou deserdado. O representante deve ser um parente de grau mais distante. Só temos 2 casos em que se aplica o Direito de Representação: a. Na linha reta descendente: os descendentes de grau mais próximo preferem os de mais distantes. b. Sobrinhos: irão representar um irmão pré-morto. Se houver mais de um representante, haverá uma divisão pro rata do quinhão do herdeiro 51 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O herdeiro que seja autor, coautor ou partícipe de ato infracional análogo ao homicídio doloso praticado contra os ascendentes fica excluído da sucessão. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 08/12/2023 representado. 🚨 JÁ CAIU Na prova para o cargo de Promotor de Justiça Substituto do Estado de Minas Gerais (Ano: 2022, FUNDEP (Gestão de Concursos)), o tema foi abordado da seguinte maneira: “O Título I do Livro V do Código Civil de 2002 disciplinou, na sucessão em geral, o direito de representação. Considerando os critérios legislativos, assinale a alternativa CORRETA: (...)” Resposta: Ocorre na linha transversal somente em favor dos filhos de irmãos do autor da herança, quando com irmãos deste concorrerem. Ainda, na prova para o cargo de Juiz de Direito do Estado de Goiás (Ano: 2021, FCC), foi considerada a “representação” foi questionada da seguinte forma: “Em sucessão legítima, o direito de representação dar-se-á apenas (...)” Resposta: “na linha reta descendente e, na linha transversal, em favor dos filhos de irmãos do falecido, quando com irmãos deste concorrerem.” ⚠ ATENÇÃO ■ No caso de RENÚNCIA não se fala no direito de representação. ■ Quando todos os herdeiros de uma classe renunciarem, a próxima classe herdará, mas não por direito de representação (estirpe), mas por direito próprio. 9. QUADRO SINÓTICO Com base no quadro sinótico expresso no 42 livro do professorRubem Valente52: DIREITO DAS SUCESSÕES NOÇÕES GERAIS A sucessão após a morte (causa mortis) é o ato realizado após o falecimento do autor da herança (ou de cujus), transmitindo aos seus sucessores o respectivo patrimônio. A sucessão pode ser feita a título universal (transmissão de um conjunto de bens não individualizados) e a título singular (transmissão de um bem específico). O herdeiro pode ser legítimo (aquele indicado pela lei como sucessor – art. 1.829) ou testamentário (indicado em testamento, observadas as regras para dispor do patrimônio). Observa-se que o herdeiro legítimo se divide em herdeiros necessários e facultativos. O herdeiro necessário é o parente ou o cônjuge com direito a uma quota-parte da herança, da qual não pode ser privado. Incluem-se os descendentes, os ascendentes e o cônjuge. Por outro lado, o herdeiro facultativo é aquele que 52 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado . Disponível em: Minha Biblioteca, (2ª edição). Grupo GEN, 2022. herda na falta de herdeiros necessários e de testamento que disponha sobre o destino do espólio. Essa espécie de herdeiro pode ser excluída da sucessão quando o falecido deixar os seus bens por meio de testamento para outro herdeiro. CLASSIFICAÇÃO 1. Legítima: decorre da disposição de lei, observando a ordem de vocação hereditária. Se uma pessoa vier a falecer sem deixar testamento, a herança será transmitida aos herdeiros legítimos. 2. Testamentária: a sucessão testamentária se dá por disposição de última vontade. É cabível ao testador dispor de sua herança para quem ele quiser. Todavia, havendo herdeiros necessários, somente poderá dispor de metade da herança, sendo a outra metade dividida entre os herdeiros necessários. DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA Poderão suceder: I.Os filhos, ainda não 43 concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão. II.As pessoas jurídicas. III.As pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador sob a forma de fundação. DA ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA No que se refere à aceitação da herança, esta trata-se de uma confirmação, uma vez que a aquisição dos direitos sucessórios não depende da aceitação. Quando a herança é aceita, opera-se o efeito retroativo (ex tunc), tornando-se definitiva com a sua transmissão ao herdeiro logo após a abertura da sucessão (art. 1.804), mas, quando o herdeiro renuncia à herança, a transmissão da herança ter-se-á por não verificada (parágrafo único do art. 1.804). Quando a herança é aceita, opera-se o efeito retroativo (ex tunc), tornando-se definitiva com a sua transmissão ao herdeiro logo após a abertura da sucessão (art. 1.804), mas, quando o herdeiro renuncia à herança, a transmissão da herança ter-se-á por não verificada (parágrafo único do art. 1.804). Tanto a aceitação quanto a renúncia, não admitem a manifestação de vontade parcial ou sob condição ou termo (art. 1.808). Ambas correspondem a atos irrevogáveis, sendo aceita ou renunciada a herança, não poderão ser revogadas posteriormente (art. 1.812). DOS EXCLUÍDOS DA SUCESSÃO O Código Civil elenca as hipóteses de indignidade, instituto distinto da ilegitimidade. A exclusão por indignidade somente obstaculiza a conservação da herança, enquanto a falta de legitimação para suceder impede que surja o direito à sucessão. Causas de exclusão dos herdeiros ou legatários: I.que houverem sido autores, coautores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente. II.que houverem acusado 44 caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro. III.que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade. 10. JURISPRUDÊNCIA RELEVANTE Subsistindo o condomínio sobre determinado bem imóvel após a partilha, por ato voluntário dos coerdeiros que aceitaram a herança, os sucessores coproprietários do imóvel respondem solidariamente pelas respectivas despesas condominiais, independentemente da expedição do formal de partilha, resguardado o direito de regresso constante do art. 283 do CC. STJ. 3ª Turma. REsp 1.994.565-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/9/2023 (Info 789).53 É ônus do credor não admitido no inventário o ajuizamento da ação de conhecimento, não competindo ao juiz a conversão do pedido de habilitação de crédito em ação de cobrança, em substituição às partes. STJ. 3ª Turma. REsp 2.045.640-GO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, 53 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Se, após a partilha, os herdeiros decidem manter um imóvel em conjunto, todos eles são responsáveis solidários pelas dívidas condominiais, mesmo sem um documento oficial de divisão (formal de partilha), e quem pagar pode cobrar dos outros a sua parte. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 08/12/2023 julgado em 25/4/2023 (Info 772).54 É lícito ao juiz proferir nova decisão para ajustar questão sucessória, existente em inventário ainda não concluído, à orientação vinculante emanada do Supremo Tribunal Federal. STJ. 3ª Turma. REsp 2.017.064-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/4/2023 (Info 770).55 Na hipótese excepcional em que ficar evidenciada a condição de investimento de plano de previdência privada complementar aberta, operado por seguradora autorizada pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), os valores devem ser trazidos à colação no inventário, como herança, devendo ainda ser objeto da partilha, desde que antes da conversão em renda e pensionamento do titular. STJ. 4ª Turma. REsp 2.004.210-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 7/3/2023 (Info 767).56 É válido o testamento público que, a despeito da existência de vício formal, reflete a real vontade emanada livre e conscientemente do testador, aferível diante das circunstâncias do caso concreto, e a mácula decorre de conduta atribuível exclusivamente ao notário responsável pela prática do ato. STJ. 2ª Seção. 56 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Os valores depositados em plano de previdência privada aberta – no caso, o VGBL – devem compor o acervo hereditário?. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 08/12/2023 55 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É lícito ao juiz proferir nova decisão para ajustar questão sucessória, existente em inventário ainda não concluído, à orientação vinculante emanada do STF. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 08/12/2023 54 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É ônus do credor não admitido no inventário o ajuizamento da ação de conhecimento, não competindo ao juiz a conversão do pedido de habilitação de crédito em ação de cobrança, em substituição às partes. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 08/12/2023 45 AR 6.052-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 8/2/2023 (Info 775).57 O pronunciamento do juiz que defere ou nega a habilitação do crédito no inventário é uma decisão interlocutória contra a qual cabe agravo de instrumento - O pronunciamento judicial que versa sobre a habilitação do crédito no inventário é uma decisão interlocutória a que se impugna por meio de agravo de instrumento com base no art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015. No caso concreto, o juiz indeferiu o pedido de habilitação de crédito no inventário, remetendo o eventualcredor às vias ordinárias e reservando bens suficientes para pagar a dívida por ele cobrada, nos termos do art. 643 do CPC. Esse pronunciamento judicial é uma decisão interlocutória recorrível mediante agravo de instrumento. STJ. 3ª Turma. REsp 1963966-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/05/2022 (Info 744).58 58 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O pronunciamento do juiz que defere ou nega a habilitação do crédito no inventário é uma decisão interlocutória contra a qual cabe agravo de instrumento. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . 57 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O rigor formal do testamento deve ser flexibilizado, considerando-o válido quando representar a verdadeira vontade do testador, expressa de maneira livre e consciente. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 08/12/2023GEN, 2021. 4 nome sugere. ● TEMPO DA ABERTURA DA SUCESSÃO: Conforme dispõe o art. 1.787, do Código Civil, “regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao tempo da abertura daquela.” 🚨 JÁ CAIU Na prova para Promotor de Justiça do Estado de Sergipe (Ano: 2022, CEBRASPE), o tema foi abordado da seguinte forma: “Caso o inventário judicial para a divisão de uma herança seja aberto algum tempo depois do falecimento da pessoa que deixou os bens a serem herdados, a sucessão será regulada pela lei vigente ao tempo do(a) (...)” Resposta: “falecimento da pessoa.” ● AUTOR DA HERANÇA OU DE CUJUS: Refere-se ao falecido, ao inventariado, à pessoa que morreu e deixou patrimônio. ● SUCESSOR: É o herdeiro – aquele que recebe a título universal (recebe um percentual do patrimônio transmitido) – ou legatário – aquele que recebe a título singular (recebe um bem certo e determinado). ● HERDEIROS LEGÍTIMOS: São aqueles beneficiados por força de lei (art. 1.829, CC – descendentes, ascendentes, cônjuge e companheiro (STF, RE 878.694/MG) e colaterais). ● HERDEIROS NECESSÁRIOS: São aqueles que não podem ser afastados por força de testamento, pois herdarão, necessariamente, pelo menos 50% do patrimônio deixado pelo de cujus (art. 1.846, CC). São eles, os descendentes, ascendentes e o cônjuge. ● HERDEIROS TESTAMENTÁRIOS: São aqueles que recebem um percentual da herança por força de testamento. ● HERANÇA: Trata-se do conjunto de bens formado com o falecimento do de cujus. Trata-se de um ente despersonalizado, que não pode ser sujeito de uma relação processual, apenas objeto. Quanto à natureza jurídica, a herança é um bem imóvel por determinação legal, conforme o art. 80, II do CC. Além disso, é um bem indivisível (há, portanto, um condomínio pro indiviso entre os herdeiros) antes da partilha, conforme o Art. 1.791, CC: Art. 1.791. A herança defere-se como um todo unitário, ainda que vários sejam os herdeiros. Parágrafo único. Até a partilha, o direito dos co-herdeiros, quanto à propriedade e posse da herança, será indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio. Jurisprudência em Teses STJ, Ed.133: 3. Os herdeiros possuem legitimidade ativa para atuarem diretamente em juízo em ações de direito real, enquanto não aberto o inventário, por aplicação do princípio de saisine. Para Rubem Valente, “A herança, em conformidade com art. 1.791 do CC/2002, será deferida como um todo unitário, mesmo que existam vários herdeiros. Nesse sentido, o direito à propriedade e posse da herança pertencentes aos coerdeiros será indivisível até a partilha, sendo estes direitos regulados pelas 5 normas referentes ao condomínio (parágrafo único do art. 1.791).” Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves6 “a herança é um somatório, em que se incluem os bens e as dívidas, os créditos e os débitos, os direitos e as obrigações, as pretensões e ações de que era titular o falecido, e as que contra ele foram propostas, desde que transmissíveis. Compreende, portanto, o ativo e o passivo (CC, arts. 1.792 e 1.997).” Por fim, salienta-se que a administração da herança cabe ao inventariante que atua com um mandato legal, desde o compromisso até o fim do inventário judicial. ⚠ ATENÇÃO O direito à herança é um direito fundamental por previsão expressa do Art. 5º, XXX da CF/88 ● ESPÓLIO: Ente despersonalizado que tem legitimidade ativa e passiva do ponto de vista processual (Art. 75, VII do CPC) para representar a herança. O espólio não possui legitimidade passiva ad causam na ação de ressarcimento de remuneração indevidamente paga após a morte de ex-servidor e recebida por seus herdeiros. A restituição de quantia recebida indevidamente é um dever de quem se enriqueceu sem causa (art.884 do CC). De acordo com as alegações do ente público, a vantagem econômica foi auferida pelos herdeiros do ex-servidor. O ex-servidor público não tinha mais personalidade jurídica quando o Distrito 6 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 3 - Responsabilidade Civil - Direito de Família - Direito das Sucessões. Disponível em: Minha Biblioteca, (9th edição). Editora Saraiva, 2022. Federal depositou a quantia ora pleiteada considerando que estava morto (art. 6º do CC). Se o saque indevido da quantia disponibilizada pelo Poder Público não pode ser imputado ao falecido (não foi decorrente de qualquer ato do falecido), o espólio não pode ser obrigado a restituir. Isso porque o espólio é obrigado a cumprir as dívidas do autor da herança por força do art. 796 do CPC/2015. Logo, se o espólio não pode ser vinculado, nem mesmo abstratamente, ao dever de restituir, ele não pode ser considerado parte legítima nesta ação nos termos do art. 17 do CPC/2015. O espólio não possui legitimidade passiva ad causam na ação de ressarcimento de remuneração indevidamente paga após a morte de ex-servidor e recebida por seus herdeiros. STJ. 2ª Turma. REsp 1805473-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 03/03/2020 (Info 667)7. Havendo conflito de interesses entre os herdeiros, as despesas de verba honorária do advogado constituído pelo inventariante não devem ser suportadas pelo espólio - Não havendo interesses em conflito entre os interessados, os honorários do advogado contratado pela inventariante constituem encargo da herança. Por outro lado, havendo conflito de interesses entre os herdeiros, as despesas de verba honorária do advogado constituído pelo inventariante não devem ser suportadas pelo espólio. Se os interesses dos demais herdeiros eram antagônicos em relação ao inventariante, os honorários do advogado por este contratado, 7 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O espólio não possui legitimidade passiva ad causam na ação de ressarcimento de remuneração indevidamente paga após a morte de ex-servidor e recebida por seus herdeiros. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 08/12/2023 6 não constituem ônus do espólio, cada qual respondendo pelo pagamento do trabalho dos respectivos procuradores. Obs: no caso concreto, o conflito de interesses não estava relacionado diretamente com divergências entre os herdeiros a respeito da herança, mas sim com a discordância quanto à representação realizada pelo escritório de advocacia.STJ. 4ª Turma.AgInt no AREsp 1924962-CE, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 08/08/2022 (Info 746).8 ● INVENTÁRIO E PARTILHA: Procedimento especial de jurisdição contenciosa para transmissão da herança. 1.2. MODALIDADES DE HERDEIROS “O herdeiro ou sucessor é aquele que é beneficiado pela morte do de cujus, seja por disposição de ato de última vontade, seja por determinação da norma jurídica”9. São modalidades de herdeiros: a. Herdeiros necessários, forçados ou reservatários: Aqueles que tem em seu favor a proteção da legítima (quota reservada – 50% do patrimônio). b. Previstos expressamente na lei: São os descendentes, os ascendentes e o cônjuge. Para Flávio Tartuce10, “os herdeiros necessários, forçados ou reservatários são aqueles que têm, a seu favor, a proteção da legítima, composta por metade do patrimônio do autor da herança.” 10 Tartuce, Flávio. Direito Civil - Direito das Sucessões - Vol. 6. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2021. 9 Tartuce, Flávio. Direito Civil - Direito das Sucessões - Vol. 6. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2021. 8 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Havendo conflito de interesses entre os herdeiros, as despesas de verba honorária do advogado constituído pelo inventariante não devem ser suportadas pelo espólio. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Dispositivos que tratam sobre os herdeiros necessários no Código Civil: Art. 1.845. São herdeirosnecessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge. Art. 1.846. Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima. Art. 1.847. Calcula-se a legítima sobre o valor dos bens existentes na abertura da sucessão, abatidas as dívidas e as despesas do funeral, adicionando-se, em seguida, o valor dos bens sujeitos a colação. Art. 1.848. Salvo se houver justa causa, declarada no testamento, não pode o testador estabelecer cláusula de inalienabilidade, impenhorabilidade, e de incomunicabilidade, sobre os bens da legítima. § 1º Não é permitido ao testador estabelecer a conversão dos bens da legítima em outros de espécie diversa. § 2º Mediante autorização judicial e havendo justa causa, podem ser alienados os bens gravados, convertendo-se o produto em outros bens, que ficarão sub-rogados nos ônus dos primeiros. Art. 1.849. O herdeiro necessário, a quem o testador deixar a sua parte disponível, ou algum legado, não perderá o direito à legítima. Cônjuge supérstite casado em regime de separação convencional e sucessão "causa mortis" O cônjuge, qualquer que seja o regime de bens adotado pelo casal, é herdeiro necessário (art. 1.845 do CC). No regime de separação convencional de bens, o cônjuge sobrevivente concorre com os descendentes 7 do falecido. A lei afasta a concorrência apenas quanto ao regime da separação legal de bens previsto no art. 1.641 do CC. STJ. 2ª Seção REsp 1382170-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 22/4/2015 (Info 562)11. O cônjuge sobrevivente, casado sob o regime de comunhão parcial de bens, somente concorrerá com os descendentes do cônjuge falecido com relação aos bens particulares eventualmente constantes do acervo hereditário. STJ. 2ª Seção REsp 1.368.123-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão Min. Raul Araújo, julgado em 22/4/2015 (Info 563)12. A cláusula de incomunicabilidade imposta a um bem transferido por doação ou testamento só produz efeitos enquanto viver o beneficiário, sendo que, após a morte deste, o cônjuge sobrevivente poderá se habilitar como herdeiro do referido bem, observada a ordem de vocação hereditária. A cláusula de incomunicabilidade imposta a um bem não interfere na vocação hereditária. Assim, se o indivíduo recebeu por doação ou testamento bem imóvel com a referida cláusula, sua morte não impede que seu herdeiro receba o mesmo bem. STJ. 4ª Turma REsp 1552553-RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 24/11/2015 (Info 576)13. 13 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Herança de bem gravado com cláusula de incomunicabilidade. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 08/12/2023 12 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Sucessão do cônjuge em concorrência com os descendentes e regime da comunhão parcial. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 08/12/2023 11 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Cônjuge supérstite casado em regime de separação convencional e sucessão "causa mortis". Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 08/12/2023 ⚠ ATENÇÃO Discute-se se o companheiro também deveria ser considerado diante da decisão do STF que declarou o Art. 1.790 inconstitucional, devendo ser o companheiro incluído no Art. 1.829, CC. O professor FLÁVIO TARTUCE entende que deve ser considerado, bem como o professor PAULO LÔBO. c. Herdeiros facultativos: Aqueles que não têm a proteção da legítima e podem ser totalmente excluídos por testamento, a exemplo dos colaterais até o 4º grau (irmãos, tios, sobrinhos, primos, tios-avós e sobrinhos-netos), conforme o art. 1.850 do CC: Art. 1.850. Para excluir da sucessão os herdeiros colaterais, basta que o testador disponha de seu patrimônio sem os contemplar. “O art. 1.850 do Código Civil em vigor preceitua que, para excluir da sucessão os herdeiros colaterais, basta que o testador disponha sem os contemplar. Assim sendo, são herdeiros facultativos reconhecidos pela dicção expressa da lei os colaterais até o quarto grau. Na literalidade, a norma alcança os colaterais de segundo grau, que são os irmãos, sejam bilaterais ou germanos (mesmo pai e mesma mãe) ou unilaterais (mesmo pai ou mesma mãe). Abrange também os tios e sobrinhos (colaterais de terceiro grau), bem como os primos, tios-avós e sobrinhos-netos (colaterais de quarto grau).”14 ⚠ ATENÇÃO 14 Tartuce, Flávio. Direito Civil - Direito das Sucessões - Vol. 6. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2021. 8 O herdeiro somente responde nos limites da herança que receber. Ou seja, não responde além das forças da herança (ultra vires hereditatis), conforme Art. 1.792, CC. 2. TRANSMISSÃO DO PATRIMÔNIO A transmissão da herança é automática e se dá no momento da abertura da sucessão – que é o momento da morte (art. 1.784, CC). Esse fenômeno representa a regra do droit de saisine. Perceba, aqui, que a partir da abertura da sucessão todos os interesses patrimoniais devem ser demandados do espólio. No entanto, os interesses existenciais – como é o caso da investigação de paternidade pós-morte – devem ser pleiteados contra os herdeiros, ainda que venham cumulados com o pedido de herança. A transmissão de patrimônio (ope legis) é o principal efeito de saisine, mas são também efeitos: i) a fixação da lei sucessória (STF, Súmula 112), que é aquela que estiver em vigor na data da sua abertura; ii) a fixação do lugar da sucessão (arts. 1.785 do CC e 48 do CPC) e iii) a averiguação da legitimidade sucessória (art. 1.798, CC). A respeito do lugar para se processar a sucessão, algumas regras precisam ser observadas. De início, temos que é competente o foro do último domicílio do de cujus para o processo de inventário e partilha, no entanto, na hipótese de o falecido ter vários domicílios, a competência será fixada a partir da prevenção. Por outro lado, se o domicílio do de cujus for desconhecido ou incerto, a competência será do local dos bens imóveis; aqui, se houver mais de um bem imóvel, qualquer um deles será o competente. Finalmente, se não houver bens imóveis, é competente qualquer dos lugares onde estejam os bens móveis (art. 48, parágrafo único, do CPC). Todas essas hipóteses são regras de competência relativa, portanto, o juiz não pode conhecer de ofício (STJ, Súmula 33), mas o Ministério Público, como fiscal da ordem jurídica, pode argui-las (art. 65, parágrafo único, do CPC). Também, deve-se ter atenção ao artigo 23 do CPC, que dispõe sobre a competência exclusiva da justiça brasileira para processar o inventário e a partilha dos bens imóveis situados no Brasil, mesmo que pertençam a um estrangeiro. Temos, aqui, uma disposição que busca preservar a soberania do país. Entretanto, não se pode esquecer que essa regra não é absoluta, nos termos dos artigos 5º, XXXI, da CF/88 e 10 da LINDB, eis que se a norma estrangeira for mais favorável ao herdeiro brasileiro, deve ser ela a aplicada ao procedimento que acontecerá no Brasil – ou seja, o juiz brasileiro julgará de acordo com a lei estrangeira. Já no que se refere à legitimidade sucessória, temos que ela representa a aptidão para ser herdeiro ou legatário de uma herança. Portanto, qualquer pessoa pode aqui se enquadrar, mesmo que se trate de um incapaz. No ponto, não se deve confundir a legitimidade sucessória com a capacidade jurídica geral, tampouco com a capacidade testamentária, que representa o atributo que permite a alguém a possibilidade de elaborar um testamento. A legitimidade sucessória é verificada na abertura do testamento, momento no qual se constata se o herdeiro é nascido ou concebido(art. 1.798, CC). Aqui, segundo doutrina majoritária, deve-se considerar concebido o embrião de 9 laboratório, neste sentido o Enunciado 267 do CFJ: A regra do art. 1.798 do Código Civil deve ser estendida aos embriões formados mediante o uso de técnicas de reprodução assistida, abrangendo, assim, a vocação hereditária da pessoa humana a nascer cujos efeitos patrimoniais se submetem às regras previstas para a petição da herança. Aqui, no entanto, é preciso atenção ao que diz o art. 1.799, do CC, eis que na sucessão testamentária podem ser chamados para suceder os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se à sucessão. Também, deve essa prole eventual ser concebida em até dois anos após a morte do de cujus (art. 1.800, § 4º, CC), sob pena de caducidade da cláusula que beneficiou o concepturo. Ainda sobre a sucessão testamentária, podem também ser chamadas para suceder as pessoas jurídicas – inclusive as determinadas pelo testador sob a forma de fundação. Por outro lado, não podem ser nomeados herdeiros nem legatários: I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos; II - as testemunhas do testamento; III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos; IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o testamento (art. 1.801, CC). No que se refere ao inciso III, deve-se ter em conta que o art. 1.723, § 1º, do CC, permite o reconhecimento da união estável de pessoas que ainda não se divorciaram, desde que haja separação de fato – independente do prazo desta. Por essa razão, tem-se que o prazo de cinco anos exigidos no art. 1.801, III, do CC não se aplica à união estável. Neste sentido é o enunciado 269 do CJF, segundo o qual: a vedação do art. 1.801, inc. III, do Código Civil não se aplica à união estável, independentemente do período de separação de fato (art. 1.723, § 1º, CC). As disposições testamentárias feitas em favor de pessoas que não possuem legitimidade para suceder são nulas, ainda quando simuladas sob a forma de contrato oneroso, ou feitas mediante interposta pessoa. Aqui, presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os descendentes, os irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado a suceder (art. 1.802, parágrafo único, CC). Por outro lado, é lícita a deixa ao filho do concubino, quando também o for do testador (art. 1.803. CC). 3. CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS A herança é um bem jurídico imóvel, indivisível, universal e possui valor patrimonial disponível, portanto, admite circulação após disposição total ou parcial, a título oneroso ou gratuito. Para a cessão de direitos hereditários, faz-se necessário o preenchimento de alguns requisitos de natureza temporal, subjetiva, objetiva e formal, vejamos: ● Requisito temporal - A cessão de direitos hereditários deve ser celebrada dentro de um determinado tempo, que é o compreendido entre a abertura da sucessão e a efetiva partilha. Isso se dá porque não é permitido dispor de herança de pessoa viva e, depois da 10 partilha, não se estará mais diante da cessão de direitos hereditários, mas de cessão de direitos próprios, que pode se materializar, por exemplo, pela doação ou pela compra e venda. ● Requisito subjetivo - Também, para ceder a herança, é necessária capacidade do cedente e outorga do cônjuge, na hipótese dele ser casado, exceto no regime de separação absoluta e se, no regime de participação final nos aquestos, houver previsão do pacto nesse sentido. ● Requisito objetivo - A cessão deve incidir sobre frações ideais (cotas partes), pois é vedada a cessão de bens específicos, nos termos do art. 1.793, § 2º, do CC, segundo o qual: é ineficaz a cessão, pelo co-herdeiro, de seu direito hereditário sobre qualquer bem da herança considerado singularmente. CUIDADO! A jurisprudência admite, em alguns casos, a cessão de coisa específica, mas, nestes casos, todos os interessados devem consentir e o juiz deve autorizar (STJ, REsp 1.072.511). ● Requisito Formal - A herança é bem imóvel, portanto, o negócio jurídico a ela vinculado deve ser celebrado por escritura pública ou termo judicial, sob pena de nulidade. Veja o que diz do Código Civil a respeito do tema: Art. 1.793. O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que disponha o co-herdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública. Feita a cessão de direitos hereditários, alguns efeitos se produzem. Inicialmente, temos que é efeito natural da cessão, a ocupação pelo cessionário do lugar do cedente na herança, no todo ou em parte. Disso decorrem algumas consequências processuais, dentre as quais está a possibilidade do cessionário pedir a abertura do inventário, defender a herança e ser inventariante. Sobrevindo direitos hereditários ao cedente após a celebração do negócio jurídico com o cessionário, serão eles considerados como pertencentes àquele – salvo disposição em sentido contrário, nos termos do art. 1.793, § 1º, do CC, segundo o qual: os direitos, conferidos ao herdeiro em consequência de substituição ou de direito de acrescer, presumem-se não abrangidos pela cessão feita anteriormente. Também, se o autor da herança impôs uma cláusula de inalienabilidade, é possível se falar em limitação da cessão de direitos hereditários, no entanto, essa imposição para os herdeiros legítimos necessita de justa causa. Ainda, considera-se ineficaz a cessão celebrada sem respeito à preferência dos demais herdeiros. Aqui, em face da inobservância desta regra, há possibilidade de manejo da ação judicial, a fim de que haja adjudicação compulsória. Art. 1.794. O co-herdeiro não poderá ceder a sua quota hereditária a pessoa estranha à sucessão, se outro co-herdeiro a quiser, tanto por tanto. Aqui, embora o Código Civil seja omisso quanto à forma de concretização do direito de preferência, a doutrina usa o art. 27 da lei de locações para dizer que ele se dá por meio de notificação escrita. Para o STJ, é possível, também, notificação por e-mail. Indo além, leciona o professor Cristiano Chaves que é possível que a preferência se dê por meio de WhatsApp, uma vez que se pode provar o 11 envio da mensagem com ata notarial. Feita a notificação escrita, o co-herdeiro notificado terá o prazo – no mínimo – de 30 dias para dizer se quer ficar com a herança tanto por tanto – ou seja, nas mesmas condições propostas para o terceiro, uma vez que o co-herdeiro notificante não é obrigado a negociar a proposta. Havendo mais de um herdeiro querendo exercer a preferência, entre todos eles se distribuirá o quinhão cedido, na proporção das respectivas quotas hereditárias (art. 1.795, parágrafo único). Ainda, o co-herdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão, poderá, depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o requerer até cento e oitenta dias após a transmissão (art. 1.795, CC). 4. MODALIDADES DE SUCESSÃO O ordenamento jurídico brasileiro prevê a existência de duas modalidades básicas de sucessão quais sejam: a sucessão legítima ou a sucessão testamentária, previstas no art. 1.786, CC: Art. 1.786. A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade. Por oportuno, vejamos suas respectivas análises isoladamente. 🚨 JÁ CAIU Na prova para Juiz de Direito Substituto do Estado do Mato Grosso do Sul (Ano: 2020, FCC), no que diz respeito à sucessão, foi considerada correta a seguinte alternativa: “o herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança; incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse, demonstrando o valor dos bens herdados.” 4.1. SUCESSÃO LEGÍTIMA OU AB INTESTATO (na falta de testamento) “A sucessão legítima é aquela que decorre de imposição da norma jurídica, uma vezque o legislador presume a vontade do morto, ao trazer a ordem de vocação hereditária que deve ser observada no caso de seu falecimento sem testamento”, nas palavras de Flávio Tartuce15. Em outras palavras, tal modalidade de sucessão decorre da Lei, que enuncia a ordem de vocação hereditária presumindo a vontade do morto, com base no art. 1.829 do Código Civil: Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III - ao cônjuge sobrevivente; IV - aos colaterais. Se o herdeiro renunciou a herança, não tem legitimidade para ação que busca a nulidade de uma alienação realizada pelo de cujus em vida considerando que, mesmo se anulada a venda, não terá qualquer direito sobre esse bem. Aquele 15 Tartuce, Flávio. Direito Civil - Direito das Sucessões - Vol. 6. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2021. 12 que renuncia a herança não tem legitimidade para pleitear eventual nulidade de negócio jurídico que envolva um dos bens que integram o patrimônio do de cujus. Exemplo hipotético: João, Pedro, Tiago e Regina são irmãos. Em 2010, Regina, que tinha sérios problemas de saúde, vendeu um apartamento para seu irmão Tiago por preço bem abaixo do mercado. Os demais irmãos não souberam dessa venda. Em 2011, Regina faleceu. Não tinha cônjuge, descendentes ou ascendentes. Diante disso, os únicos herdeiros eram seus irmãos. João optou por renunciar a herança em favor do monte. Logo depois que fez isso, João tomou conhecimento da venda do apartamento ocorrida em 2010. Ele ficou revoltado porque considerou que sua irmã não estava em sua perfeita condição mental, tendo sido, portanto, “enganada” por Tiago. João ingressou com ação declaratória de nulidade do negócio jurídico. O juiz deverá extinguir o processo sem resolução do mérito porque João não possui legitimidade ativa ad causam considerando que ele renunciou expressamente a herança deixada por Regina, de sorte que, mesmo se anulada a venda, não teria nenhum proveito econômico com isso. STJ. 4ª Turma. REsp 1433650-GO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/11/2019 (Info 664)16. Enunciado 270-CJF: O art. 1.829, inciso I, só assegura ao cônjuge sobrevivente o direito de concorrência com os descendentes do autor 16 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Se o herdeiro renunciou a herança, não tem legitimidade para ação que busca a nulidade de uma alienação realizada pelo de cujus em vida considerando que, mesmo se anulada a venda, não terá qualquer direito sobre esse bem. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 08/12/2023 da herança quando casados no regime da separação convencional de bens ou, se casados nos regimes da comunhão parcial ou participação final nos aquestos, o falecido possuísse bens particulares, hipóteses em que a concorrência restringe-se a tais bens, devendo os bens comuns (meação) ser partilhados exclusivamente entre os descendentes. 4.1.1. ORDEM DE VOCAÇÃO HEREDITÁRIA (Art. 1.829 e ss) Na sucessão legítima, a ordem de vocação hereditária é aquela que a lei estabelece para o recebimento da herança por classe de herdeiros. Nas palavras de Rubem Valente17 “o chamamento dos sucessores é feito por meio da ordem da vocação hereditária, por meio de classes. Entre os descendentes, os em grau mais próximo excluem os mais remotos, salvo o direito de representação, em conformidade com art. 1.833. (...) além dos descendentes, ascendentes e cônjuge (os chamados herdeiros necessários), serão chamados para suceder também os companheiros e os colaterais até o quarto grau (herdeiros legítimos). A depender do caso concreto, a sucessão deste último grupo ocorrerá da seguinte forma: a sucessão por cabeça ou a sucessão por estirpe.” É dizer: se há herdeiros da primeira classe, nada irá para os herdeiros das outras classes. Quanto aos herdeiros da mesma classe, teremos uma divisão aqui “pro rata”, ou seja, igualitária. Desse modo, se houver 3 filhos (herdeiros da primeira classe), teremos uma divisão pro rata entre esses filhos, salvo algumas exceções. O art. 1.829, do CC, estabelece quatro classes 17Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022. 13 de sucessores. “Na primeira classe estão os descendentes – até o infinito –, o cônjuge e agora também o companheiro. Na segunda classe, os ascendentes – também até o infinito –, o cônjuge e o companheiro. Na terceira classe, estão o cônjuge e o companheiro, isoladamente. Por fim, a quarta classe é composta pelos colaterais, até o quarto grau. Vale lembrar que, expressamente na lei, os herdeiros que estão até a terceira classe são herdeiros necessários, tendo a seu favor a proteção da legítima (art. 1.845 do CC). A norma não menciona expressamente o companheiro, mas é o caso de incluí-lo também nessa previsão, repise-se, por interpretação do decisum do STF, aqui tão comentado”18. 🚨 JÁ CAIU Na prova para Defensor Público do Estado do Amazonas (Ano: 2021, FCC), foi cobrada a seguinte questão: “Sobre os direitos sucessórios na união estável e o entendimento do Supremo Tribunal Federal acerca do tema, é correto afirmar: (...)” Resposta: “A sucessão dos/as companheiros/as sobreviventes segue a ordem de vocação hereditária.” Ainda, na prova para Promotor de Justiça do Distrito Federal e Territórios (Ano: 2021, Banca Própria), foi considerada correta a alternativa que dizia que “no sistema constitucional vigente, é inconstitucional a diferenciação de regime sucessório entre cônjuges e companheiros devendo ser aplicado em ambos os casos o regime estabelecido no artigo 1.829 do Código Civil.” Em caso de sucessão causa mortis do companheiro deverão ser aplicadas as 18Tartuce, Flávio. Direito Civil - Direito das Sucessões - Vol. 6. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2021. mesmas regras da sucessão causa mortis do cônjuge. No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a diferenciação de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no artigo 1.829 do Código Civil. STF. Plenário. RE 646721/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso e RE 878694/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 10/5/2017 (Repercussão Geral - Tema 809) (Info 864)19. Para facilitar o entendimento, vejamos as possibilidades de classes e divisão entre elas na sucessão legítima realizada pela ordem de vocação hereditária por meio da seguinte tabela: VIÚVO (A) + DESCENDENTES O viúvo não concorrerá com os descendentes nestes casos: 1. Regime da separação legal de bens (obrigatória). A ideia aqui é que o legislador quis prestigiar os descendentes nessa hipótese; 2. Regime da comunhão universal de bens: Conforme Reale, o motivo é a força da meação. A viúva já 19 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Em caso de sucessão causa mortis do companheiro deverão ser aplicadas as mesmas regras da sucessão causa mortis do cônjuge. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 08/12/2023 14 terá metade do patrimônio (salvo os bens particulares) e o direito real de habitação (art. 1.831); 3. Regime da comunhão parcial sem bens particulares: O CC/02 usou essa redação e isso gerou muita controvérsia na doutrina. 📌 OBSERVAÇÕES ■ O STJ adotou a seguinte interpretação, baseado na força da meação: só haverá concorrênciahereditária entre o viúvo(a) e os descendentes sobre o patrimônio particular do falecido. Não haverá concorrência quanto ao patrimônio comum (rectius: sobre a meação do falecido). ■ O legislador estabelece o direito real de habitação sobre o imóvel residencial (art. 1.831, CC). Destaque-se que o viúvo deve HABITAR, ou seja, não pode alugar ou emprestar. Haverá extinção do direito real de habitação pela não moradia assim como pela morte. ■ Há um quinhão mínimo ao cônjuge viúvo (art. 1.832, CC). Esse quinhão é de no mínimo ¼ da herança, mas só é aplicável quando TODOS OS DESCENDENTES forem filhos comuns, ou seja, filhos do falecido com o cônjuge. O motivo dessa regra é garantir a dignidade do cônjuge e também o fato de que os descendentes futuramente herdarão os bens desse cônjuge sobrevivente. ⚠ ATENÇÃO Os descendentes nessa classe são TODOS os descendentes, mas os de grau mais próximo excluem os demais. VIÚVO (A) + ASCENDENTES Devemos separar da seguinte forma: 1. Viúvo X Ascendente de primeiro grau: A repartição aqui será PRO RATA. 15 📌 OBSERVAÇÕES ■ é irrelevante o regime de bens do cônjuge sobrevivente. ■ se o falecido estava em situação de multiparentalidade: Há controvérsia doutrinária. O professor José Fernando Simão entende que se deve aplicar a regra da repartição pro rata. 2. Viúvo X Ascendente de segundo grau ou superior: Nesse caso, o legislador reservou 50% para o cônjuge. A outra metade irá para os ascendentes. 📌 OBSERVAÇÃO ■ A distribuição entre esses ascendentes leva em consideração duas regras: 1) os ascendentes de grau mais próximo excluem os demais independentemente da linha; 2) ascendentes de mesmo grau, teremos a divisão pro rata, mas observando que metade será para a linha materna e metade para a linha paterna. Ou seja, dos 50% que vão para os ascendentes, havendo ascendentes de linhas distintas (do mesmo grau), cada linha receberá 25%. VIÚVO (A) Não havendo descendentes ou ascendentes, o cônjuge sobrevivente herdará sozinho, independentemente do regime de bens. IRMÃOS O Código Civil estabelece que o irmão BILATERAL tem direito a receber o dobro do quinhão devido ao irmão unilateral. Temos aqui uma discriminação entre os irmãos (não se confunde com a regra entre filhos, que é vedada). A ideia é manter o patrimônio no mesmo núcleo familiar. Salvo na hipótese da observação mencionada, teremos uma divisão pro rata. 16 PARENTES DE TERCEIRO GRAU São parentes de terceiro grau os tios e os sobrinhos. O legislador deu preferência ao sobrinho, por presumir que o patrimônio será mais útil nas mãos do sobrinho já que é mais novo e poderá gerar riqueza a partir do patrimônio. Assim, a quinta classe é a dos sobrinhos. COLATERAIS DE QUARTO GRAU Haverá divisão pro rata entre os primos e os sobrinhos-netos. 🚨 JÁ CAIU Na prova para Procurador da Câmara do Município de Aracaju, em Sergipe (Ano: 2021, FGV), o tema “ordem hereditária” foi cobrado da seguinte maneira: “Disputam a herança de Ademir: Isaías, pai de Ademir; Djalma, filho de Ademir; e Vilma, neta de Ademir e filha de Djalma. A herança de Ademir deve ser recebida por: (...)” Resposta: “somente Djalma.” Ainda, na prova para Juiz de Direito de Santa Catarina (Ano: 2022, FGV), o assunto em comento foi cobrado da seguinte forma: “Genésio, casado com Hermenegilda pelo regime da comunhão parcial de bens, com quem teve dois filhos, Hugo e José Carlos, faleceu no início deste mês, tendo deixado bens particulares. Quando de sua morte, deixou vivos, além da esposa e de Hugo, seu pai, Heráclito, seu irmão, Alcebíades, e dois netos, Luiz e Paula. Seus dois netos são filhos de José Carlos, falecido no ano passado. Hermenegilda teve um filho antes de conhecer Genésio, chamado Artur. Considerando que Genésio não deixou testamento, sobre a sua sucessão, é correto afirmar que: (...)” Resposta: “Heráclito herdaria se Genésio não tivesse deixado descendentes vivos;” “Os descendentes, o cônjuge e o companheiro são herdeiros de primeira classe, em um sistema de concorrência, presente ou não de acordo com o regime de bens adotado no casamento ou na união estável com o falecido”20, Flávio Tartuce apresenta, ainda, uma uma tabela sobre os regimes em que o cônjuge ou companheiro herda ou não herda em concorrência: REGIMES EM QUE O CÔNJUGE OU COMPANHEIRO HERDA EM CONCORRÊNCIA REGIMES EM QUE O CÔNJUGE OU COMPANHEIRO NÃO HERDA EM CONCORRÊNCIA 1. Regime da comunhão parcial de bens, havendo bens particulares do falecido. 2. Regime da participação final nos aquestos. 3. Regime da separação convencional de bens, decorrente de pacto 1. Regime da comunhão parcial de bens, não havendo bens particulares do falecido. 2. Regime da comunhão universal de bens. 3. Regime da separação legal ou obrigatória de bens. 20 Tartuce, Flávio. Direito Civil - Direito das Sucessões - Vol. 6. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2021. 17 antenupcial. O cônjuge ou companheiro sobrevivente possui direito real de habitação mesmo que seja proprietário de outros bens. O reconhecimento do direito real de habitação, a que se refere o art. 1.831 do Código Civil, não pressupõe a inexistência de outros bens no patrimônio do cônjuge/companheiro sobrevivente. Em outras palavras, mesmo que o cônjuge ou companheiro sobrevivente possua outros bens, ele terá direito real de habitação. Isso se justifica porque o objetivo da lei é permitir que o cônjuge/companheiro sobrevivente permaneça no mesmo imóvel familiar que residia ao tempo da morte como forma, não apenas de concretizar o direito constitucional à moradia, mas também por razões de ordem humanitária e social, já que não se pode negar a existência de vínculo afetivo e psicológico estabelecido pelos cônjuges/companheiros com o imóvel em que, no transcurso de sua convivência, constituíram não somente residência, mas um lar. STJ. 3ª Turma. REsp 1582178-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 11/09/2018 (Info 633)21. Não há direito real de habitação sobre imóvel comprado pelo falecido em copropriedade com terceiro. O direito real de habitação possui como finalidade precípua garantir o direito à moradia ao cônjuge/companheiro supérstite, preservando o imóvel que era destinado à residência do casal, restringindo temporariamente os 21 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O cônjuge ou companheiro sobrevivente possui direito real de habitação mesmo que seja proprietário de outros bens. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 08/12/2023 direitos de propriedade originados da transmissão da herança em prol da solidariedade familiar. A copropriedade anterior à abertura da sucessão impede o reconhecimento do direito real de habitação, visto que de titularidade comum a terceiros estranhos à relação sucessória que ampararia o pretendido direito. Como o direito real de habitação já é uma exceção criada pelo legislador, não pode haver interpretação extensiva para incluir no mesmo tratamento situações não previstas em lei, como, por exemplo, a hipótese em que o imóvel seja objeto de copropriedade anterior com terceiros. O direito real à habitação limita (restringe) os direitos de propriedade e, portanto, só quem deve suportar tal limitação são os herdeiros do de cujus (quem recebeu o bem na herança), e não quem já era proprietário do imóvel antes do óbito. Caso concreto: o STJ negou o pedido de uma viúva que pretendia ver reconhecido o direito real de habitação sobre o imóvel em que morava, comprado pelo seu falecido marido em copropriedade com um filho dele, antes do casamento. STJ. 2ª Seção. EREsp 1520294-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 26/08/2020 (Info 680). No mesmo sentido é a Tese 10 do Jurisprudência em Teses (Ed. 50):10) Não subsiste o direito real de habitação se houver copropriedade sobre o imóvel antes da abertura da sucessão ou se, àquele tempo, o falecido era mero usufrutuário do bem22. Tem direito ao recebimento de aluguéis a parte que, sem vínculo de parentalidade 22 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não há direito real de habitação sobre imóvel comprado pelo falecido em copropriedade com terceiro. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 08/12/2023 18 com a cônjuge supérstite, possuía imóvel em copropriedade com o de cujus - Situação hipotética: João faleceu. Regina, a viúva, ficou morando no apartamento a título de suposto direito real de habitação. Esse imóvel pertencia a João e sua filha Letícia, em copropriedade. Letícia não é filha de Regina. Letícia terá direito de receber alugueis referente à sua fração ideal. Vale ressaltar que “a copropriedade anterior à abertura da sucessão impede o reconhecimento do direito real de habitação, visto que de titularidade comum a terceiros estranhos à relação sucessória que ampararia o pretendido direito” (STJ. 2ª Seção. EREsp 1.520.294/SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, DJe 02/09/2020. Info 680). Em verdade, o direito de habitação só existe sobre bem que pertence, em sua integralidade, ao de cujus. A existência de coproprietários impede o uso pelo sobrevivente. No caso, além da preexistente copropriedade, a parte, filha do primeiro casamento do de cujus, não guarda nenhum tipo de solidariedade familiar em relação à cônjuge supérstite, não havendo se falar em qualquer vínculo de parentalidade ou até mesmo de afinidade. Nessa linha de intelecção, portanto, não lhe cabe suportar qualquer limitação ao seu direito de propriedade, que é, justamente, a essência do direito real de habitação. STJ. 3ª Turma.REsp 1830080-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/04/2022 (Info 734).23 🚨 JÁ CAIU Na prova para Juiz de Direito Substituto do Estado de 23 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Tem direito ao recebimento de aluguéis a parte que, sem vínculo de parentalidade com a cônjuge supérstite, possuía imóvel em copropriedade com o de cujus. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . São Paulo (Ano: 2021, VUNESP), sobre o direito real de habitação, foi considerada incorreta a alternativa que dizia que “Exige-se o registro imobiliário para constituição do direito real de habitação do viúvo.” Isso porque o Superior Tribunal de Justiça no julgamento do REsp 565.820/PR, reafirmou o entendimento da Corte no sentido da “desnecessidade de inscrição do bem no cartório de registro de imóveis''. 4.1.2. FORMAS DE RECEBIMENTO DA HERANÇA NA SUCESSÃO LEGÍTIMA 1. Por cabeça: Cada integrante da classe herda por direito próprio. 2. Por estirpe: Herda-se não por direito próprio. Ocorre nos seguintes casos: a) Representação: os herdeiros representam o que era integrante da classe aquinhoada beneficiada. Ou seja, os herdeiros herdam com parentes de outra classe. b) Transmissão: Aqui há uma situação de pós-morto e não pré-morto. Assim, temos uma nova sucessão causa mortis, onde o herdeiro do pós-morto reivindica o patrimônio do falecido. Nas palavras de Rubem Valente24 “a sucessão por cabeça é aquela que ocorre entre herdeiros da mesma classe e grau, em que a divisão dos bens é feita de forma igualitária. Por outro lado, a sucessão por estirpe é aquela que ocorre entre herdeiros da mesma classe e graus diferentes ou de classes diferentes, como nos casos em que, após receber a 24 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022. 19 transmissão da herança, o sucessor morre e transmite seus direitos a seus sucessores, de modo que serão chamados à primeira sucessão herdeiros de classes diferentes, ou de graus diferentes, na mesma classe. Os herdeiros que herdam por estirpe dividem entre si aquilo que couber a seu ramo.” 4.2. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA “O testamento representa, em sede de Direito das Sucessões, a principal forma de expressão e exercício da autonomia privada, da liberdade individual, como típico instituto mortis causa”25. Para Márcio Cavalcante26, “o testamento é um negócio jurídico unilateral (traz obrigações somente para quem elabora), solene (deve obedecer formalidades previstas em lei, personalíssimo (ato elaborado exclusivamente pelo testador) e revogável, por meio do qual o testador, observada a legislação vigente, determina quem irá ficar com seu patrimônio depois que ele vier a falecer podendo ainda prever outras regras de caráter não patrimonial.” Princípio da soberania da vontade do testador. Na existência de cláusula testamentária duvidosa, que remete a interpretações distintas, deve-se compreendê-la de modo que melhor se harmonize com a vontade manifestada pelo testador, em atenção ao princípio da soberania da vontade desse, insculpido nos arts. 112 e 1.899 do Código Civil. Para a aplicação do princípio da soberania da vontade do testador na interpretação dos 26 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É válido o testamento particular que, a despeito de não ter sido assinado de próprio punho pela testadora, contou com a sua impressão digital. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 08/12/2023 25 Tartuce, Flávio. Direito Civil - Direito das Sucessões - Vol. 6. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2021. testamentos deverão ser adotadas as seguintes premissas: ▸Naquelas hipóteses em que o texto escrito ensejar várias interpretações, deverá prevalecer a que melhor assegure a observância da vontade do testador; ▸ Na busca pela real vontade do testador, deve ser adotada a solução que confira maior eficácia e utilidade à cláusula escrita; ▸ Para poder aferir a real vontade do testador, torna-se necessário apreciar o conjunto das disposições testamentárias, e não determinada cláusula que, isoladamente, ofereça dúvida; e ▸A interpretação buscada deve ser pesquisada no próprio testamento, isto é, a solução deve emergir do próprio texto do instrumento. STJ. 4ª Turma. REsp 1532544/RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 08/11/201627. Tem origem em ato de última vontade do autor da herança, por exercício da autonomia privada e que possui primazia em relação à sucessão legítima. Prestigia-se a vontade do falecido, aplicando-se aqui o princípio da vontade soberana do testador, observando-se disposições de ordem pública. Pode ocorrer de 2 formas: a) A título universal: Testamento b) A título singular: Legado e Codicilo (testamento de pequena monta). Não tem a mesma formalidade que o testamento, bastando que seja escrito (até mesmo particular) e não necessita de testemunha. Todavia, só serve para bens de pequeno valor e questões não 27 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Princípio da soberania da vontade do testador (art. 1.899 do Código Civil). Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 08/12/2023 20 patrimoniais (exemplo: cremação, etc). 📌 OBSERVAÇÕES ■ O codicilo é revogável automaticamente com a superveniência de um testamento, salvo ressalva expressa no próprio testamento, mesmo que não haja incompatibilidade. Isso decorre de ser o testamento mais formal, absorvendo tudo da vontade do testador. ■ O testamento também é revogável a qualquer tempo pelo testador. Para isso, só poderá ser revogado por um testamento posterior e que possua revogação expressa. Todavia, há uma possibilidade de revogação tácita total ou parcial, quando o novo testamento tem incompatibilidades com o anterior. ■ Nobrasil, a pessoa pode ser sucessora legítima e testamentária? SIM. A exemplo de um filho contemplado com testamento ou legado também herdará como sucessor legítimo. ■ No caso de testamento, após a morte da pessoa, o CC/02 exige que se ingresse com uma ação judicial de confirmação, abertura e registro de testamento (Art. 735 a 737, CPC). Essa ação serve para que o juiz junto com o MP fiscalize se o testamento é válido ou não, ou seja, se as formalidades legais foram observadas ou não e principalmente se há indício de fraude. Na sentença o juiz confirmará o testamento e ordenará que seja registrado no cartório judicial para que se dê publicidade para que terceiro tenham acesso ao testamento. ■ É vedada a produção de testamento por incapaz, o qual nem mesmo pode ser representado (o testamento é ato personalíssimo). Há, entretanto, uma única exceção: aqueles que têm idade igual ou superior a 16 anos, não precisando ser assistido ou representado (art. 1.860, §único). Inclusive, dessa exceção decorre que a pessoa com 16 anos pode reconhecer filhos, pois pode testar. No ponto, ressalta-se que a incapacidade superveniente do testador não invalida o testamento, nem o testamento do incapaz se valida com a superveniência da capacidade. Ademais, destaca-se que, além dos incapazes, não podem testar quem não tenha pleno discernimento. ■ O testamento não pode ser invalidado (nem mesmo no caso de nulidade absoluta) após a decadência. Assim, temos uma exceção à regra geral do negócio jurídico de que o negócio nulo não convalesce. O prazo decadencial é de 5 anos do seu registro (art. 1.859, CC). ■ O testamento poderá ser revogado a qualquer tempo enquanto o testador estiver vivo, por outro testamento. ■ Previu o legislador a exigência de testemunhas para a realização do testamento, devendo, em regra, tratarem-se de 3 pessoas que tenham visto a manifestação da vontade do testador. 4.2.1. CARACTERÍSTICAS DO TESTAMENTO Para Rubem Valente28, o referido negócio jurídico possui algumas particularidades; características que são essenciais: 1. UNIVERSALIDADE: somente pela manifestação de última vontade do testador, isto é, somente este poderá constituir o testamento, que permite dispor até a totalidade do patrimônio; 2. PERSONALÍSSIMO: conforme art. 1.858, o testamento é ato personalíssimo, sendo 28 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado . Disponível em: Minha Biblioteca, (2ª edição). Grupo GEN, 2022. 21 permitida a sua mudança a qualquer tempo; 3. CAUSA MORTIS: o efeito do testamento somente se produzirá após a morte do testador; 4. REVOGÁVEL: como disposto no art. 1.858, o testamento pode ser revogado a qualquer tempo; 5. GRATUITO E SOLENE: é gratuito por não admitir contraprestação do beneficiário e solene por observar as formas prescritas em lei. 🚨 JÁ CAIU Na prova para Procurador do Estado do Mato Grosso do Sul (Ano: 2021, CEBRASPE), houve questão na prova objetiva cobrando o tema, escrita da seguinte forma: “Bruno, brasileiro, solteiro, sem filhos, escreveu, aos 17 anos de idade, testamento no qual deixou a integralidade de seus bens ao seu primo, Guilherme. O testamento foi elaborado por processo mecânico, não contém rasuras ou espaços em branco e foi assinado pelo testador depois de ele ter lido o documento na presença de três testemunhas, que igualmente o assinaram. Nessa situação hipotética, o testamento elaborado por Bruno é (...)” Resposta: válido, devendo ser confirmado. 4.2.2. ESPÉCIES DE TESTAMENTO Quanto à forma, os testamentos podem ser classificados em ordinários e especiais, conforme ensina Márcio Cavalcante29: 29 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É válido o testamento particular que, a despeito de não ter sido assinado de próprio punho pela testadora, contou com a sua impressão digital. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 08/12/2023 ORDINÁRIOS (COMUNS, VULGARES) ESPECIAIS (EXTRAORDINÁRIOS) São aqueles elaborados em condições normais, isto é, sem qualquer situação que possa implicar vício na vontade. São aqueles elaborados em situação de anormalidade. Espécies de testamento ordinário: a. Testamento público; b. Testamento cerrado (místico); c. Testamento particular (hológrafo). Espécies de testamento extraordinário: a. Testamento marítimo; b. Testamento aeronáutico; c. Testamento militar. 🚨 JÁ CAIU Na prova para Promotor de Justiça de Pernambuco (Ano: 2022, CEBRASPE), o assunto foi cobrado da seguinte forma: “As modalidades ordinárias de testamento previstas em nosso ordenamento jurídico são: (...)” Resposta: “testamento particular, público e cerrado.” 4.2.2.1. TESTAMENTO PARTICULAR/HOLÓGRAFO/PRIVADO Escrito pelo testador à mão ou por meio mecânico, sendo a assinatura de PRÓPRIO PUNHO. Aqui, não cabe assinatura a rogo. São necessárias 3 testemunhas. 22 Carlos Roberto Gonçalves30 conceitua como “denomina-se testamento particular ou hológrafo o ato de disposição de última vontade escrito de próprio punho, ou mediante processo mecânico, assinado pelo testador, e lido por este a três testemunhas, que o subscreverão, com a obrigação de, depois da morte do disponente, confirmar a sua autenticidade.” As formalidades do testamento particular estão elencadas no art. 1.876 do Código Civil. Vejamos: Art. 1.876. O testamento particular pode ser escrito de próprio punho ou mediante processo mecânico. § 1.º Se escrito de próprio punho, são requisitos essenciais à sua validade seja lido e assinado por quem o escreveu, na presença de pelo menos três testemunhas, que o devem subscrever. § 2.º Se elaborado por processo mecânico, não pode conter rasuras ou espaços em branco, devendo ser assinado pelo testador, depois de o ter lido na presença de pelo menos três testemunhas, que o subscreverão. É válido o testamento particular que, a despeito de não ter sido assinado de próprio punho pela testadora, contou com a sua impressão digital. O art. 1.876, § 2º do Código Civil afirma que um dos requisitos do testamento particular é que ele seja assinado pelo testador. Vale ressaltar, contudo, que o STJ decidiu que: É válido o testamento particular que, a despeito de não ter sido assinado de próprio punho pela testadora, contou com a sua 30 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 3 - Responsabilidade Civil - Direito de Família - Direito das Sucessões. Disponível em: Minha Biblioteca, (9th edição). Editora Saraiva, 2022. impressão digital. Caso concreto: a falecida deixou um testamento particular elaborado por meio mecânico; o testamento foi lido na presença de três testemunhas, que o assinaram; vale ressaltar, no entanto, que esse testamento não foi assinado pela testadora em razão de ela se encontrar hospitalizada na época e estar com uma limitação física que a impedia assinar; para suprir essa falta de assinatura, a testadora colocou a sua impressão digital no testamento; as testemunhas, ouvidas em juízo, confirmaram o cumprimento das demais formalidades e, sobretudo, que aquela era mesmo a manifestação de última vontade da testadora; o STJ considerou válido o testamento. STJ. 2ª Seção. REsp 1633254-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/03/2020 (Info 667). Por outro lado, não se admite o cumprimento de testamento PÚBLICO que não foi assinado por tabelião: Embora a jurisprudência do STJ admita que, para a preservação da última vontade do autor do testamento, é possível flexibilizar alguns requisitos formais no registro do documento, a assinatura do tabelião, ou de seu substituto legal, é requisito indispensável de validade. Isso porque o notário (tabelião) é quem possui fé pública para dar autenticidade ao testamento. A ausência da assinatura e identificação do tabelião que teria presenciado ou lavrado o instrumento é vício externo grave que compromete a higidez do testamentoe não permite aferir, com segurança, a real vontade do testador. Logo, não pode ser considerado juridicamente eficaz. STJ. 3ª Turma. REsp 1703376/PB, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado 23 em 06/10/202031. 4.2.2.1.1. CONFECÇÃO DO TESTAMENTO PARTICULAR EM CIRCUNSTÂNCIAS EXCEPCIONAIS O art. 1.879 do Código Civil prevê que: Art. 1.879. Em circunstâncias excepcionais declaradas na cédula, o testamento particular de próprio punho e assinado pelo testador, sem testemunhas, poderá ser confirmado, a critério do juiz. Segundo Carlos Roberto Gonçalves32 "Tal dispositivo introduz em nosso direito a possibilidade excepcional de se admitir como testamento válido um simples escrito particular pelo qual o declarante dispõe de seus bens para depois de sua morte, sem observância das formalidades e tipos legais. (...) Trata-se, em verdade, de nova modalidade de testamento especial, na qual se exige que a excepcionalidade seja declarada na cédula. Não se admite que esta seja redigida por meios mecânicos, pois deve ser elaborado “de próprio punho e assinado pelo testador”. A responsabilidade de decidir se o testamento particular excepcional poderá ser confirmado, ou não, recai sobre o juiz. A ele compete decidir, na falta de previsão expressa do legislador, se tal testamento será cumprido e terá eficácia, ainda que o testador tenha falecido muito tempo depois da cessação da situação excepcional que justificou a utilização da forma simplificada, tendo desfrutado de 32 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 3 - Responsabilidade Civil - Direito de Família - Direito das Sucessões. Disponível em: Minha Biblioteca, (9th edição). Editora Saraiva, 2022. 31 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É válido o testamento particular que, a despeito de não ter sido assinado de próprio punho pela testadora, contou com a sua impressão digital. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 08/12/2023 tempo mais do que suficiente para testar de outra forma.” 4.2.2.2. TESTAMENTO PÚBLICO O testamento público é feito pelo tabelião ou substituto de notas (por meio de escritura pública). São necessárias 2 testemunhas e obrigatoriamente devemos ter LEITURA EM VOZ ALTA. Além disso, deve ter a assinatura do testador, das testemunhas e do tabelião. Márcio Cavalcante33, ensina que, “o testamento público (também chamado de aberto) é aquele no qual o testador faz as suas declarações de última vontade perante o tabelião de notas (ou seu substituto legal) ou o agente consular, na presença de duas testemunhas, devendo a autoridade lavrar (redigir) o testamento e registrá-lo em livro próprio”. Continuando com os ensinamentos de Márcio Cavalcante, são requisitos essenciais do testamento público: 1. O testamento deve ser escrito pelo tabelião (ou por seu substituto legal) em seu livro de notas, de acordo com as declarações do testador. O testador pode servir-se de minuta, notas ou apontamentos. Em outras palavras, o testador pode levar as suas declarações por escrito (levar uma “cola”) e com base nesse texto ir declarando para o testador. 📌 OBSERVAÇÕES ■ O art. 18 da LINDB autoriza que as autoridades consulares brasileiras, fora do território nacional, celebrem testamento público. 33 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Validade de testamento feito por cego mesmo sem que tenham sido realizadas duas leituras e ainda que não tenha sido feito o registro da condição de cego no instrumento. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 08/12/2023 24 ■ O testamento público pode ser escrito manualmente ou mecanicamente, bem como ser feito pela inserção da declaração de vontade em partes impressas de livro de notas, desde que rubricadas todas as páginas pelo testador, se mais de uma. 2. Depois que o tabelião terminar de lavrar (escrever) o instrumento, ele deverá ser lido em voz alta pelo tabelião para o testador e para as duas testemunhas, a um só tempo. O testador poderá também preferir ler ele próprio em voz alta na presença das testemunhas e do oficial do tabelionato. 3. Depois da leitura, o instrumento deverá ser assinado pelo testador, pelas testemunhas e pelo tabelião. 4. Se o testador não souber assinar (ex: analfabeto) ou não puder (ex: sofre de alguma doença que o impede), quem assinará pelo testador será uma das testemunhas instrumentárias (art. 1.865). Validade de testamento feito por cego mesmo sem que tenham sido realizadas duas leituras e ainda que não tenha sido feito o registro da condição de cego no instrumento. O art. 1.867 do Código Civil traz as seguintes exigências adicionais no caso de testamento feito por pessoa cega. Exige-se: ▸ Que o testamento seja público; ▸ Que sejam realizadas duas leituras do testamento (se não for cego, basta uma); ▸ Que o tabelião declare expressamente no testamento que o testador é cego. Em um caso concreto, indivíduo cego procurou o tabelionato de notas para fazer um testamento público. O testamento foi produzido no cartório pelo tabelião. Ocorre que houve apenas uma leitura em voz alta pelo tabelião na presença do testador e de duas testemunhas. Além disso, não houve expressa menção no corpo do documento da condição de cego do testador.Apesar disso, o STJ entendeu que não houve nulidade. O descumprimento de exigência legal para a confecção de testamento público – segunda leitura e expressa menção no corpo do documento da condição de cego – não gera a sua nulidade se mantida a higidez da manifestação de vontade do testador. STJ. 3ª Turma.REsp 1677931-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/8/2017 (Info 610)34. 4.2.2.3. TESTAMENTO CERRADO/SECRETO/MÍSTICO Art. 1.868. O testamento escrito pelo testador, ou por outra pessoa, a seu rogo, e por aquele assinado, será válido se aprovado pelo tabelião ou seu substituto legal, observadas as seguintes formalidades: I - que o testador o entregue ao tabelião em presença de duas testemunhas; II - que o testador declare que aquele é o seu testamento e quer que seja aprovado; III - que o tabelião lavre, desde logo, o auto de aprovação, na presença de duas testemunhas, e o leia, em seguida, ao testador e testemunhas; IV - que o auto de aprovação seja assinado pelo tabelião, pelas testemunhas e pelo testador. Parágrafo único. O testamento cerrado pode 34 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Validade de testamento feito por cego mesmo sem que tenham sido realizadas duas leituras e ainda que não tenha sido feito o registro da condição de cego no instrumento. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: . Acesso em: 08/12/2023 25 ser escrito mecanicamente, desde que seu subscritor numere e autentique, com a sua assinatura, todas as paginas. O testador não quer que ninguém saiba, nem mesmo o tabelião. Aqui, será feito instrumento particular que será entregue ao tabelião. O tabelião lavrará um auto de aprovação do testamento cerrado. Esse auto será feito com duas testemunhas, e ao final o tabelião lacrará o testamento que somente será aberto após a morte. Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves35 “testamento cerrado, secreto ou místico, outrora também chamado de nuncupação implícita, é o escrito pelo próprio testador, ou por alguém a seu rogo e por aquele assinado, com caráter sigiloso, completado pelo instrumento de aprovação ou autenticação lavrado pelo tabelião ou por seu substituto legal, em presença do disponente e de duas testemunhas idôneas. (...) Se o testador permitir, o oficial público poderá lê-lo e verificar se está de acordo com as formalidades exigidas. Mas isso é a exceção. O testador tem direito a esse segredo, que não lhe pode ser negado por aquele, a pretexto