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Direito das Sucessões: Conceitos e Modalidades

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Thiago Mahued

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1
DIREITO DAS
SUCESSÕES
4a EDIÇÃO/2024
1. INTRODUÇÃO 2
1.1. CONCEITOS IMPORTANTES 2
1.2. MODALIDADES DE HERDEIROS 6
2. TRANSMISSÃO DO PATRIMÔNIO 8
3. CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS 9
4. MODALIDADES DE SUCESSÃO 11
4.1. SUCESSÃO LEGÍTIMA OU AB
INTESTATO (na falta de testamento) 11
4.1.1. ORDEM DE VOCAÇÃO
HEREDITÁRIA (Art. 1.829 e ss) 12
4.1.2. FORMAS DE RECEBIMENTO DA
HERANÇA NA SUCESSÃO LEGÍTIMA
18
4.2. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA 19
4.2.1. CARACTERÍSTICAS DO
TESTAMENTO 20
4.2.2. ESPÉCIES DE TESTAMENTO 21
4.2.2.1. TESTAMENTO
PARTICULAR/HOLÓGRAFO/PRIV
ADO 21
4.2.2.1.1. CONFECÇÃO DO
TESTAMENTO PARTICULAR
EM CIRCUNSTÂNCIAS
EXCEPCIONAIS 23
4.2.2.2. TESTAMENTO PÚBLICO 23
4.2.2.3. TESTAMENTO
CERRADO/SECRETO/MÍSTICO 24
4.2.2.4. TESTAMENTO MARÍTIMO
25
4.2.2.5. TESTAMENTO
AERONÁUTICO 25
4.2.2.6. TESTAMENTO MILITAR 26
4.2.2.7. TESTAMENTO VITAL 27
4.2.2.8 TESTAMENTO
CONJUNTIVO 28
4.3. HERANÇA JACENTE E HERANÇA
VACANTE 28
4.4. DOS LEGADOS 29
5. DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA E OS
LEGITIMADOS A SUCEDER 32
6. ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA
33
6.1. ACEITAÇÃO OU ADIÇÃO DA
HERANÇA 33
6.2. RENÚNCIA 35
7. PETIÇÃO DE HERANÇA 36
8. EXCLUSÃO DA SUCESSÃO 38
8.1. MODALIDADES DE EXCLUSÃO DA
SUCESSÃO: INDIGNIDADE E
DESERDAÇÃO 38
8.2. DIREITO DE REPRESENTAÇÃO 41
9. QUADRO SINÓTICO 41
10. JURISPRUDÊNCIA RELEVANTE 44
2
1. INTRODUÇÃO
Enquanto um fenômeno jurídico, a expressão
“sucessão” vem do latim sub + cedere e significa “uns
depois dos outros”. O direito das sucessões, portanto,
corresponde à substituição do sujeito de uma relação
jurídica em razão de sua morte.
Assim, o direito das sucessões é o conjunto
de regras e princípios que disciplinam a transmissão
das relações jurídicas patrimoniais, ativas e passivas,
de alguém que faleceu para os seus sucessores.
Tendo em mente que a sucessão representa
uma substituição no polo ativo/passivo de relações
jurídicas patrimoniais, deve-se lembrar do benefício
de inventário, previsto no art. 1.792, do CC, segundo o
qual: o herdeiro não responde por encargos
superiores às forças da herança; incumbe-lhe, porém,
a prova do excesso, salvo se houver inventário que a
escuse, demostrando o valor dos bens herdados.
De mais a mais, não se deve esquecer que no
Brasil o direito à herança é direito fundamental (art.
5º, XXX, CF/88), portanto, uma universalidade de
direito manifestada em cláusula pétrea.
Aqui, também, é preciso delimitar que nem
todos os direitos patrimoniais são transferíveis com a
morte de seu titular. Estão nesse rol de hipóteses, o
direito autoral (art. 41, da Lei 9.610/98), o usufruto, o
uso e a habitação (art. 1.412, CC), o alvará judicial (art.
666, CPC) e a enfiteuse, cuja previsão estava
disciplinada no CC/16, mas permanecem válidas, se
constituídas à época.
No ordenamento jurídico essa substituição
pode se dar de duas formas:
a) Ato inter vivos: Nos casos, por exemplo, de
cessão de contrato, sucessão de empresas,
casamento, contrato de compra e venda; ou
b) Evento mortis causa: É relacionada à morte,
seja por disposição de última vontade ou
legítima. Sendo esta o objeto de estudo do
Direito das Sucessões.
“Contudo, a sucessão inter vivos importa mais
para o direito de família, o direito das coisas, dentre
outros ramos do direito civil. Não obstante, para o
direito das sucessões, o que importa para a sua
fundamentação é a sucessão causa mortis, também
chamada de sucessão hereditária”, conforme explica o
doutrinador Rubem Valente1.
Flávio Tartuce2 conceitua o direito das
sucessões como “o ramo do Direito Civil que tem como
conteúdo as transmissões de direitos e deveres de uma
pessoa a outra, diante do falecimento da primeira, seja
por disposição de última vontade, seja por determinação
da lei, que acaba por presumir a vontade do falecido.”
1.1. CONCEITOS IMPORTANTES
Para o início do estudo do Direito das
Sucessões é necessário, antes, definir alguns
conceitos que se tornarão base da matéria. São eles:
● “DROIT DE SAISINE”: Conforme a doutrina,
trata-se de um verdadeiro princípio sucessório
previsto no art. 1.784 do Código Civil:
Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança
transmite-se, desde logo, aos herdeiros
legítimos e testamentários.
A origem da expressão é uma máxima
gaulesa que é “le mort saisit levif” (o morto é
substituído pelo vivo). Está previsto no art. 1.784 do
CC diz que aberta a sucessão (pela morte) a
2 Tartuce, Flávio. Direito Civil - Direito das Sucessões - Vol. 6. Disponível
em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2021.
1 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado . Disponível em: Minha Biblioteca,
(2ª edição). Grupo GEN, 2022.
3
herança transmite-se desde logo aos herdeiros
legítimos e testamentários, independentemente
de qualquer ato (inclusive aceitação) ou de
registro. Consiste, assim, na transmissão
automática da posse e propriedade dos bens que
compõem a herança para o espólio.
Para Carlos Roberto Gonçalves3 existem dois
pressupostos da sucessão:
a) De cujus tenha falecido;
b) Que lhe sobreviva herdeiro.
Se o autor da herança estiver vivo, não haverá
sucessão (viventis nulla hereditatis). Abre-se a sucessão
somente com o óbito, real ou presumido.
Importante dizer, ainda, que referido
princípio possui reflexos no direito intertemporal, na
medida em que o art. 1.787, CC, dispõe que a lei
vigente ao tempo da abertura (morte) regula a
sucessão e a legitimação para suceder.
● LOCAL DE ABERTURA DA SUCESSÃO: Nos
termos do art. 1.785 do CC, a sucessão abre-se no
lugar do último domicílio do falecido e, conforme art.
48 do CPC, o foro de domicílio do autor da herança,
no Brasil, é o competente para o inventário, a partilha,
a arrecadação, o cumprimento de disposições de
última vontade, a impugnação ou anulação de partilha
extrajudicial e para todas as ações em que o espólio
for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no
estrangeiro.
Assim, não se considera o local da morte nem
nos bens, mas o local do último domicílio do autor da
herança.
Ademais, importante lembrar que, pelo
parágrafo único do art. 48 do CPC, se o falecido não
possuía domicílio certo, é necessário seguir a
3Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 3 -
Responsabilidade Civil - Direito de Família - Direito das Sucessões.
Disponível em: Minha Biblioteca, (9th edição). Editora Saraiva, 2022.
seguinte ordem de competência:
1º. O foro de situação dos imóveis;
2º. Havendo imóveis em foros distintos,
qualquer destes;
3º. Não havendo imóveis, o foro de
qualquer dos bens do espólio.
“Como é possível a pluralidade domiciliar,
nada obsta que exista mais de uma opção para a
abertura da sucessão. Nos termos do art. 71 do
CC/2002, se a pessoa natural tiver diversas
residências, onde, alternadamente, viva,
considerar-se-á domicílio seu qualquer delas.
Assim, a título de exemplo, imagine-se que alguém
tenha duplo domicílio, residindo em São Paulo e no
Rio de Janeiro de forma fracionada, semana a
semana. Em caso de seu falecimento, o inventário
poderá ser aberto em qualquer uma das duas
Comarcas, observada a competência territorial
interna, de foros centrais e regionais, de acordo com a
organização judiciária respectiva”, ensina o Professor
Flávio Tartuce4.
⚠ ATENÇÃO
PRINCÍPIO DO PRÉLÈVEMENT: Tal qual nos
ensina Luciano Figueiredo e Roberto Figueiredo, “na
forma do art. 10, §1º, da LINDB e art. 5º, XXXI, da CF88,
aplicar-se-á nesse processo a norma mais benéfica,
entre a brasileira e a do domicílio do de cujus, ao
cônjuge ou filhos brasileiros, ou daqueles que os
representem”5. Trata-se, portanto, de princípio a ser
observado nas hipóteses de sucessão que envolva o
Direito Internacional, tendo em vista a diversidade de
domicílios entre os herdeiros e o próprio de cujus. Tal
norma advém do Direito Francês, como o próprio
5 FIGUEIREDO, Luciano e FIGUEIREDO, Roberto. Direito Civil. 6ª ed. Bahia:
Juspodivm, 2016, p. 77
4Tartuce, Flávio. Direito Civil - Direito das Sucessões - Vol. 6. Disponível
em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupode
que, para o aprovar, precisa lê-lo.”
4.2.2.4. TESTAMENTO MARÍTIMO
Existem testamentos especiais que são
utilizados quando não são viáveis a realização na
forma ordinária (arts. 1.886 a 1.896). Uma das formas
de testamento especial, é o testamento marítimo,
feito perante o comandante, que lavrará o testamento
no diário de bordo. São necessárias 2 testemunhas.
Não é necessário que seja uma embarcação militar.
35 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 3 -
Responsabilidade Civil - Direito de Família - Direito das Sucessões.
Disponível em: Minha Biblioteca, (9th edição). Editora Saraiva, 2022.
Rubem Valente36, ensina que, “o testamento
marítimo é aquele feito em viagem, a bordo de navio
nacional, de guerra ou mercante. Pode testar perante
o comandante, na presença de duas testemunhas,
por forma que corresponda ao testamento público ou
ao cerrado (art. 1.888), sendo registrado no diário de
bordo (parágrafo único do art. 1.888). Ressalta-se que
o testamento marítimo não será válido quando o
testador se encontrava em porto em que pudesse
desembarcar e testar de forma ordinária, mesmo que
feito no curso de uma viagem (art. 1.892).”
⚠ ATENÇÃO
O testamento caduca em 90 dias do
desembarque em local em que se possa testar. Isso
porque tem caráter precário.
4.2.2.5. TESTAMENTO AERONÁUTICO
Art. 1.889. Quem estiver em viagem, a bordo
de aeronave militar ou comercial, pode testar
perante pessoa designada pelo
comandante, observado o disposto no artigo
antecedente.
Outra forma de testamento especial, o
testamento aeronáutico, “consta do art. 1.889 do
Código Civil brasileiro de 2002, pelo qual quem estiver
em viagem, a bordo de aeronave militar ou comercial,
pode testar perante pessoa designada pelo
comandante, nos termos do artigo anterior, ou seja,
perante duas testemunhas e por forma que
corresponda ao testamento público ou cerrado. Do
mesmo modo, o testamento aeronáutico deve ser
registrado no diário de bordo. O surgimento dessa
36 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado . Disponível em: Minha
Biblioteca, (2ª edição). Grupo GEN, 2022.
26
nova modalidade tem origem no incremento do
transporte aéreo, principalmente após a Segunda
Guerra Mundial.”37
Devem ser aplicadas ao testamento
aeronáutico as mesmas regras do testamento
marítimo.
4.2.2.6. TESTAMENTO MILITAR
Art. 1.893. O testamento dos militares e
demais pessoas a serviço das Forças Armadas
em campanha, dentro do País ou fora dele,
assim como em praça sitiada, ou que esteja
de comunicações interrompidas, poderá
fazer-se, não havendo tabelião ou seu
substituto legal, ante duas, ou três
testemunhas, se o testador não puder, ou não
souber assinar, caso em que assinará por ele
uma delas.
§ 1.º Se o testador pertencer a corpo ou seção
de corpo destacado, o testamento será escrito
pelo respectivo comandante, ainda que de
graduação ou posto inferior.
§ 2.º Se o testador estiver em tratamento em
hospital, o testamento será escrito pelo
respectivo oficial de saúde, ou pelo diretor do
estabelecimento.
§ 3.º Se o testador for o oficial mais graduado,
o testamento será escrito por aquele que o
substituir.
Testamento especial feito perante um oficial
superior. São necessárias duas ou três testemunhas.
Três testemunhas quando for necessária a assinatura
a rogo. Aqui também se aplica o prazo de 90 dias do
fim da inviabilidade de se fazer na forma ordinária.
37 Tartuce, Flávio. Direito Civil - Direito das Sucessões - Vol. 6. Disponível
em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2021.
⚠ ATENÇÃO
TESTAMENTO MILITAR NUNCUPATIVO
VERBAL (art. 1896): Feito perante duas testemunhas,
que irão levar a vontade expressa pelo testador como
mensageiros (Núncio). Todavia, só caberá essa
modalidade quando o testador estiver em combate
ou ferido em combate.
Haverá caducidade se o testador
sobreviver.
Vistas essas modalidades, é importante
atentar para uma questão: o STJ tende a flexibilizar as
formalidades do testamento com fundamento de que
a finalidade do testamento é garantir a fidedignidade
das declarações. Assim, se no caso concreto temos
ausência de indícios de fraude, deve-se ser mais
flexível.
Inclusive, o CC/02 admite uma hipótese em
que o testamento dispensa testemunhas. Essa
hipótese está no art. 1.879 e é o chamado testamento
de emergência e que será feito de próprio punho
além de haver circunstância excepcional declarada no
próprio testamento.
Sobre isso, o STJ admitiu testamento
particular apenas com a impressão digital do testador
(REsp. 1.633.254). No caso concreto não havia
suspeitas.
Por fim, vale mencionar que o STJ também já
aceitou casos com apenas 1 testemunha, pois
também não havia suspeitas (AgRg no AREsp.
773.835), e também testamento público de cego feito
sem leitura da testemunha e que não havia indicação
da cegueira do testador (REsp. 1.677.931).
É válido o testamento particular que, a
despeito de não ter sido assinado de
próprio punho pela testadora, contou com
a sua impressão digital.STJ. 2ª Seção. REsp
1.633.254-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi,
27
julgado em 11/03/2020 (Info 667)38.
Na elaboração de testamento particular, é
possível sejam flexibilizadas as
formalidades prescritas em lei na hipótese
em que o documento foi assinado por
testador e por testemunhas idôneas. STJ. 4ª
Turma. AgInt no REsp 1521371/MG, Rel. Min.
Marco Buzzi, julgado em 28/03/201739.
O descumprimento de exigência legal para
a confecção de testamento público –
segunda leitura e expressa menção no
corpo do documento da condição de cego –
não gera a sua nulidade se mantida a
higidez da manifestação de vontade do
testador. STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.931-MG,
Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
15/8/2017 (Info 610)40
4.2.2.7. TESTAMENTO VITAL41
O denominado “testamento vital” ou
“biológico” constitui uma declaração unilateral de
vontade em que a pessoa manifesta o desejo de ser
submetida a determinado tratamento, na hipótese de
se encontrar doente, em estado incurável ou terminal,
ou apenas declara que não deseja ser submetida a
nenhum procedimento que evite a sua morte.
41 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 3 -
Responsabilidade Civil - Direito de Família - Direito das Sucessões.
Disponível em: Minha Biblioteca, (9th edição). Editora Saraiva, 2022.
40 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Validade de testamento feito por
cego mesmo sem que tenham sido realizadas duas leituras e ainda
que não tenha sido feito o registro da condição de cego no
instrumento. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
. Acesso em: 08/12/2023
39 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Flexibilização das formalidades
do testamento particular. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível
em:
. Acesso em: 08/12/2023
38 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É válido o testamento particular
que, a despeito de não ter sido assinado de próprio punho pela
testadora, contou com a sua impressão digital. Buscador Dizer o
Direito, Manaus. Disponível em:
. Acesso em: 08/12/2023
Enquanto capaz, a pessoa escolhe, por
escrito, o tratamento médico que deseja receber ou
manifesta o desejo de não se submeter a nenhum.
Com esse documento, o paciente visa influir sobre a
conduta médica e a limitar a atuação da família, caso
a doença progrida e venha a se tornar impossibilitado
de manifestar a sua vontade.
🚨 JÁ CAIU
Na prova para Juiz de Direito Substituto do Tribunal
de Justiça do Estado do Pará (Ano: 2019, CEBRASPE),
ao ser questionado sobre o testamento vital, foi
considerada correta alternativa que dizia ser “ato de
disposição de última vontade sobre questões que
envolvam o uso ou não de terapias para prolongar, de
forma artificial,o processo natural de morte, em
casos de doenças terminais.”
Não se trata, verdadeiramente, de um
testamento ou ato causa mortis, uma vez que não se
destina a produzir efeitos após a morte, mas sim
antes desta, aos pacientes terminais. Por essa razão
mostra-se mais adequada a expressão “Diretivas
Antecipadas de Vontade”, utilizada na Resolução n.
1.995/201, do Conselho Federal de Medicina, cujo art.
1º dispõe que o referido Conselho resolve:
“Definir diretivas antecipadas de vontade
como o conjunto de desejos, prévia e
expressamente manifestados pelo paciente,
sobre cuidados e tratamentos que quer, ou
não, receber no momento em que estiver
incapacitado de expressar, livre e
autonomamente, sua vontade”.
Na V Jornada de Direito Civil, realizada pelo
Conselho da Justiça Federal, aprovou-se o Enunciado
28
528, do seguinte teor:
“É válida a declaração de vontade, expressa
em documento autêntico, também chamado
‘testamento vital’, em que a pessoa estabelece
disposições sobre o tipo de tratamento de
saúde, ou não tratamento, que deseja no caso
de se encontrar sem condições de manifestar
a sua vontade”.
Ressalte-se que o objeto do documento
portado pelas Testemunhas de Jeová não é a renúncia
ao direito à vida, mas o direito de escolherem
antecipadamente o tipo de tratamento médico que
desejam receber. A jurisprudência internacional tem
reconhecido a validade do documento de diretivas
antecipadas portado por pacientes seguidores dessa
religião.
🚨 JÁ CAIU
Na prova para Promotor de Justiça do Estado de São
Paulo (Ano: 2022, Banca própria), ao ser cobrado o
conceito de testamento vital, foi considerada correta
a alternativa que dizia que este “é tido como uma
espécie de diretiva antecipada de vontade.”
4.2.2.8 TESTAMENTO CONJUNTIVO
Trata-se de espécie legalmente vedada pelo
Código Civil:
Art. 1.863. É proibido o testamento
conjuntivo, seja simultâneo, recíproco ou
correspectivo.
Conforme se pode depreender do texto
legal, consiste na hipótese de duas (ou mais) pessoas
realizarem disposição de vontades através de um
único ato testamentário.
🚨 JÁ CAIU
Na prova para Juiz de Direito Substituto do Estado de
Santa Catarina (Ano: 2022, FGV), o tema foi cobrado
da seguinte forma:
“Silmara e Edson são bastante rigorosos na disciplina
de seu filho, Bruno, de 16 anos. Em razão da
inflexibilidade dos pais, o jovem Bruno consulta um
advogado para saber, dentre as medidas descritas
abaixo, qual delas, se tomada por seus pais, viola uma
norma jurídica: (...)”
Resposta: “nomear um tutor por testamento
conjuntivo para o caso de ambos morrerem;”
4.3. HERANÇA JACENTE E HERANÇA
VACANTE
Tratam-se de hipótese em que não há
herdeiros sucessíveis (não há testamento nem
legítimos).
Rubem Valente42 ensina que “conforme
disposto no art. 1.819, com o falecimento do autor da
herança, sem que tenha deixado herdeiros legítimos
conhecidos ou testamento, os seus bens ficarão, após
a sua arrecadação, sob a guarda e administração de
um curador até a sua entrega ao sucessor que se
encontrar habilitado ou com a declaração de sua
vacância, de acordo com art. 739 do Código de
Processo Civil de 2015. A arrecadação dos bens da
herança jacente se fará, em consonância com art. 738
do CPC/2015. O magistrado da comarca do domicílio
do falecido deverá proceder com a arrecadação
destes. Este procedimento serve para a preservação
de tais bens, visando a entrega aos herdeiros que se
42 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado . Disponível em: Minha
Biblioteca, (2ª edição). Grupo GEN, 2022.
29
apresentarem, ou então, quando não se
apresentarem herdeiros, os bens serão entregues ao
Poder Público. Esta última, somente com a declaração
da vacante da herança.”
⚠ CUIDADO
Não se confundem bens vacantes com
coisas ou bens vagos. Estes constituem coisa alheia
perdida, que deve ser devolvida ao dono por quem a
encontrar.
É válida a leitura dos artigos 1.819 a 1.823, do
Código Civil:
Art. 1.819. Falecendo alguém sem deixar
testamento nem herdeiro legítimo
notoriamente conhecido, os bens da herança,
depois de arrecadados, ficarão sob a guarda e
administração de um curador, até a sua
entrega ao sucessor devidamente habilitado
ou à declaração de sua vacância.
Art. 1.820. Praticadas as diligências de
arrecadação e ultimado o inventário, serão
expedidos editais na forma da lei processual,
e, decorrido um ano de sua primeira
publicação, sem que haja herdeiro habilitado,
ou penda habilitação, será a herança
declarada vacante.
Art. 1.821. É assegurado aos credores o
direito de pedir o pagamento das dívidas
reconhecidas, nos limites das forças da
herança.
Art. 1.822. A declaração de vacância da
herança não prejudicará os herdeiros que
legalmente se habilitarem; mas, decorridos
cinco anos da abertura da sucessão, os bens
arrecadados passarão ao domínio do
Município ou do Distrito Federal, se
localizados nas respectivas circunscrições,
incorporando-se ao domínio da União quando
situados em território federal.
Parágrafo único. Não se habilitando até a
declaração de vacância, os colaterais ficarão
excluídos da sucessão.
Art. 1.823. Quando todos os chamados a
suceder renunciarem à herança, será esta
desde logo declarada vacante.
📌 OBSERVAÇÃO
O procedimento da herança jacente é
diferente do procedimento de inventário
4.4. DOS LEGADOS
Segundo Flávio Tartuce, “O legado constitui
uma disposição específica sucessória, realizada a
título singular. Contrapõe-se ao testamento pelo fato
de ser este uma disposição da herança a título
universal. Em suma, pode-se dizer que no legado há
uma especificidade dada pela autonomia privada. São
partes do instituto sucessório em questão: o legante
ou testador que faz a disposição de última vontade a
título singular; e o legatário, aquele que é beneficiado
pela disposição”43.
O legado admite várias espécies ou formas,
que serão analisadas conforme os ensinamentos do
professor Flávio Tartuce44:
1. Legado de coisa alheia: “O legado de coisa
alheia está tratado pelo art. 1.912 da
codificação privada em vigor, segundo o qual
é ineficaz o legado de coisa certa que não
pertença ao testador no momento da
liberalidade. A título de exemplo, imagine-se a
disposição: “deixo o carro Ferrari que ainda
comprarei do meu irmão para meu filho
44Tartuce, Flávio. Manual de Direito Civil - Volume Único. Disponível em:
Minha Biblioteca, (12th edição). Grupo GEN, 2022.
43Tartuce, Flávio. Manual de Direito Civil - Volume Único. Disponível em:
Minha Biblioteca, (12th edição). Grupo GEN, 2022.
30
Pietro”. Ou: “deixo minha mansão no Rio de
Janeiro, localizada na Rua X, n.º Y, para meu
filho Enzo”, sendo certo que o legante não é o
proprietário do bem, mas um primo seu.”
2. Legado de coisa comum: “Nos termos do art.
1.914 do Código Civil de 2002, se a coisa
legada pertencer somente em parte ao
testador, só quanto a essa parte valerá o
legado em benefício do legatário. Trata-se de
limite imposto pela lei ao legado de coisa
comum, que está em condomínio entre o
legante e terceiro. A título de ilustração, se o
imóvel estiver em condomínio igualitário com
o irmão do legante e ele fizer a seguinte
disposição: “deixo minha casa no Guarujá
para meu filho Carlos”, apenas na metade a
deixa testamentária gerará efeitos.”
3. Legado de coisa genérica: “A lei privada
admite o legado de coisa genérica, sendo o
seu objeto determinável, indicado pelo
gênero e pela quantidade, a exemplo da
obrigação de dar coisa incerta, tratada pelo
art. 243 do CC/2002. Conforme o art. 1.915 da
codificação civil, se o legado for de coisa que
se determine pelo gênero, será ele cumprido,
ainda que tal coisa não exista entre os bens
deixados pelo testador.”
4. Legado de coisa singular: “Trata-se de
hipótese em que a coisa está individualizada,
sendo o objeto do legado determinado, não
havendo a necessidade de qualquer escolha,
ao contrário da categoria anterior. Equivale,
portanto, à obrigação de dar coisa certa ou
específica,tratada entre os arts. 233 a 242 do
Código Civil em vigor. A título de exemplo,
pode ser citada a disposição: “Deixo minha
única casa em São Paulo, localizada no bairro
de Moema, na Rua X, n.º Y, para o meu filho
Carlos”.”
5. Legado de coisa localizada: “Pode ocorrer
que o testador faça disposição de coisa que
deva ser encontrada em determinado lugar,
como no caso a seguir: “Deixo meu relógio de
ouro, que está no cofre da minha casa, para o
meu sobrinho José”. Em casos tais, a
disposição só terá eficácia se nele for achada,
salvo se removida a título transitório (art.
1.917 do CC/2002).”
6. Legado de crédito e de quitação de dívida:
“Ambas as categorias estão tratadas no atual
art. 1.918 da codificação privada,
prescrevendo o seu caput que “O legado de
crédito, ou de quitação de dívida, terá eficácia
somente até a importância desta, ou daquele,
ao tempo da morte do testador”. Mais uma
vez, festeja-se a menção à eficácia, e não à
validade, como estava no art. 1.685 da lei
anterior, ora revogada.”
7. Legado de alimentos: “O legado de
alimentos está regulado pelo art. 1.920 do
Código Civil em vigor, abrangendo o sustento,
a cura, o vestuário e a casa, enquanto o
legatário viver, além da educação, se ele for
menor. (...) Não se olvide que o legado de
alimentos tem natureza personalíssima ou
intuitu personae, assim como ocorre com as
duas categorias confrontadas. Sendo assim, o
falecimento do legatário-beneficiário gera a
extinção da categoria, nos termos expressos
31
do que consta do art. 1.920 da codificação
privada em vigor.”
8. Legado de usufruto: “Em relação ao legado
de usufruto, estabelece o art. 1.921 da
codificação civil em vigor que, sendo realizado
pelo testador sem fixação de tempo,
entende-se como vitalício, ou seja, deixado
para toda a vida do legatário. Concretizando,
o legante estabelece que um imóvel será
atribuído aos seus filhos, com o
estabelecimento do usufruto a favor de um
primo seu. Ou ainda, com o intuito de
substituir o usufruto vidual, extinto pelo
Código Civil de 2002, o testador pode atribuir
a nua propriedade de seus imóveis aos filhos,
com a reserva do usufruto de tais bens para
sua esposa ou companheira.”
9. Legado de imóvel: “O legado de bem imóvel
tem regra específica no Código Civil de 2002,
prevendo o seu art. 1.922 que, se aquele que
legar um imóvel lhe ajuntar depois novas
aquisições, estas, ainda que contíguas, não se
compreendem no legado, salvo expressa
declaração em contrário do testador.
Conforme o seu parágrafo único, tal premissa
não se aplica às benfeitorias necessárias,
úteis ou voluptuárias feitas no prédio legado,
que devem ser tidas como incorporadas ao
legado.”
10. Legado de dinheiro: “Conforme o art. 1.925
do Código Civil de 2002, é possível que a coisa
legada seja dinheiro, só vencendo os juros
desde o dia em que se constituir em mora a
pessoa obrigada a prestá-los. Imagine-se a
seguinte disposição: “Deixo R$ 100.000,00 do
meu patrimônio ao meu amigo Simão”. Os
juros, que são frutos civis ou rendimentos,
somente serão contados a partir da
constituição em mora do herdeiro, e não do
falecimento do legante.”
11. Legado alternativo: “Conceito similar à
obrigação alternativa – arts. 252 a 256 da
codificação privada –, o legado alternativo é
aquele em que o herdeiro tem a opção de
escolher entre alguns bens, de gêneros
distintos, descritos pelo autor da herança (art.
1.932 do CC). Diante da menção à opção do
herdeiro, o testamento pode prever o
contrário, de que caberá ao legatário ou até a
um terceiro essa escolha, presente uma
presunção relativa ou iuris tantum.”
12. Legado puro ou simples: “De início, o legado
puro ou simples é aquele que não contém
qualquer elemento acidental. A título de
exemplo, podem ser citadas as disposições
comuns de bens móveis ou imóveis para
determinadas pessoas, sem qualquer
imposição: “Deixo meu carro para meu filho
João”, “deixo minha casa no Guarujá para meu
amigo José Fernando Simão”, “deixo as
minhas joias de família para minha esposa”,
entre outras.”
13. Legado condicional: “O legado condicional é
aquele cuja eficácia depende de evento futuro
e incerto. Assim: “deixo meu carro para Carlos
se ele se formar em Direito”; “deixo minha
casa em São Paulo para meu filho Pietro
enquanto ele estudar”; “deixo meu
32
apartamento no Rio de Janeiro para meu
amigo Zeno Veloso se ele realizar o caminho
de Santiago de Compostela a pé”; entre
outras disposições.”
14. Legado a termo ou a prazo: “O legado a
termo ou a prazo tem a sua eficácia
subordinada a evento futuro e certo, como
nos seguintes exemplos: “deixo o meu carro
para meu amigo Carlos quando o seu pai
morrer” ou “deixo minha casa em Passos,
Minas Gerais, quando meu filho atingir a
maioridade”. Quanto a essas situações, vale
lembrar a previsão constante do art. 1.898 do
Código Civil, segundo a qual a designação do
tempo em que deva começar ou cessar o
direito do herdeiro, salvo nas disposições
fideicomissárias, ter-se-á por não escrita.”
15. Legado modal ou com encargo: “no legado
modal ou com encargo, a liberalidade
testamentária vem acompanhada de um ônus
ou fardo, o que é plenamente possível, sem
maiores discussões. A título de concreção:
“deixo meu carro para que meu filho o utilize
para o trabalho”; “deixo meu terreno em
Santos, São Paulo, para o meu primo
construir ali um asilo” e “deixo meu avião para
a instituição caridade X, com o fim de
distribuir alimentos para os pobres”.”
5. DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA E
OS LEGITIMADOS A SUCEDER
“No que tange à vocação hereditária, as
pessoas nascidas ou já concebidas no momento da
abertura da sucessão possuem a legitimidade para
suceder, tanto na sucessão legítima quanto na
testamentária, em conformidade com art. 1.798.
Entretanto, aquelas pessoas que se encontram,
expressamente, impedidas por lei não possuem
legitimidade para a sucessão”45.
O professor Flávio Tartuce46 (assim como
Diogo Leite De Campos e Silmara Chinellato) entende
que o nascituro tem direito sucessório desde
concebido. Todavia, a DOUTRINA MAJORITÁRIA
entende que esse direito sucessório está sob
condição, pois ele precisa nascer com vida. Portanto,
somente tem direitos sucessórios se nascer com vida
(seria na verdade uma personalidade condicional
quanto à herança). Este é o entendimento de Maria
Helena Diniz, Pablo Stolze, José Fernando Simão e
Francisco Cahali.
PODERÃO SUCEDER
NÃO PODERÃO SER
NOMEADAS COMO
HERDEIROS E
LEGATÁRIOS
Art. 1.799. Na sucessão
testamentária podem
ainda ser chamados a
suceder:
I - os filhos, ainda não
concebidos, de pessoas
indicadas pelo testador,
desde que vivas estas ao
abrir-se a sucessão;
II - as pessoas jurídicas;
III - as pessoas jurídicas,
Art. 1.801. Não podem
ser nomeados herdeiros
nem legatários:
I - a pessoa que, a rogo,
escreveu o testamento,
nem o seu cônjuge ou
companheiro, ou os
seus ascendentes e
irmãos;
II - as testemunhas do
testamento;
46 Tartuce, Flávio. Manual de Direito Civil - Volume Único. Disponível em:
Minha Biblioteca, (12th edição). Grupo GEN, 2022.
45 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado . Disponível em: Minha
Biblioteca, (2ª edição). Grupo GEN, 2022.
33
cuja organização for
determinada pelo
testador sob a forma de
fundação.
III - o concubino do
testador casado, salvo
se este, sem culpa sua,
estiver separado de fato
do cônjuge há mais de
cinco anos;
IV - o tabelião, civil ou
militar, ou o
comandante ou
escrivão, perante quem
se fizer, assim como o
que fizer ou aprovar o
testamento.
📌 OBSERVAÇÕES
■ O art. 1.801, CC prevê as pessoas não
legitimadas a suceder por testamento, sob pena de
nulidade absoluta, conforme expresso no art. 1.802,
CC:
Art. 1.802. São nulas as disposições
testamentárias em favor de pessoas não
legitimadas a suceder, ainda quando
simuladas sob a forma de contrato oneroso,
ou feitas mediante interposta pessoa.
Parágrafo único. Presumem-se pessoas
interpostas os ascendentes,os descendentes,
os irmãos e o cônjuge ou companheiro do não
legitimado a suceder.
■ O art. 1.801, III, CC, não se aplica se houver
união estável, conforme o enunciado 269, CJF. Se
separado de fato, não importa o período. Ademais,
é válida a disposição feita ao filho do concubino
que também o for do testador, conforme Art.
1.803, CC.
Art. 1.803. É lícita a deixa ao filho do
concubino, quando também o for do testador.
⚠ ATENÇÃO
■ O embrião possui legitimidade para
suceder? A posição majoritária é que o embrião tem
direito sucessório (En. 267, CJF) e está submetido às
regras de petição de herança (prazo de 10 anos).
Nesse sentido, a regra do art. 1.798 do Código Civil
deve ser estendida aos embriões formados mediante
o uso de técnicas de reprodução assistida,
abrangendo, assim, a vocação hereditária da pessoa
humana a nascer. Todavia, a doutrina majoritária
somente considera o embrião implantado, e que,
obviamente, nascer com vida.
Por outro lado, é importante examinar os
legitimados para a sucessão testamentária, os quais
estão previstos no Art. 1.799, CC, e consistem no
concepturo (aquele sequer foi concebido), o qual,
após a abertura da sucessão, possui o prazo de 2
anos para ser concebido (muitos entendem que esta
regra se aplica ao embrião – para ser implantado); e
nas pessoas jurídicas que já estão constituídas ou
que ainda serão, inclusive fundações.
■ Pessoa jurídica só pode ser sucessora
testamentária e não legítima.
6. ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA
HERANÇA
6.1. ACEITAÇÃO OU ADIÇÃO DA
HERANÇA
Utilizando as palavras do doutrinador
34
Rubem Valente47: “Com a abertura da sucessão,
conforme o art. 1.784, a herança será transmitida logo
aos herdeiros, tanto os legítimos quanto os
testamentários. Todavia, o Código Civil concede a
esses herdeiros a faculdade de aceitar ou renunciar à
herança. No que se refere à aceitação da herança,
esta trata-se de uma confirmação, uma vez que a
aquisição dos direitos sucessórios não depende da
aceitação.”
Discute-se acerca da necessidade ou não
desse instituto. Para Maria Berenice Dias, não é
necessário, pois o “droit de saisine” é suficiente.
Todavia, o professor Zeno Veloso (posição
majoritária) entende que sim, já que “ao
constrangido ou a quem não quer, não se dá o
benefício”; assim, ninguém pode ser herdeiro contra a
sua vontade.
Quando a herança é aceita, opera-se o
efeito retroativo (ex tunc), tornando-se definitiva com
a sua transmissão ao herdeiro logo após a abertura
da sucessão, com base no art. 1.804, do Código Civil:
Art. 1.804. Aceita a herança, torna-se
definitiva a sua transmissão ao herdeiro,
desde a abertura da sucessão.
Parágrafo único. A transmissão tem-se por
não verificada quando o herdeiro renuncia à
herança.
Conforme os Arts. 1.805 e 1.807, CC, existem
três modalidades de aceitação:
EXPRESSA TÁCITA PRESUMIDA
Se dá por meio
de declaração
Se dá mediante
comportament
Se dá por
comportament
47 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado . Disponível em: Minha
Biblioteca, (2ª edição). Grupo GEN, 2022.
escrita do
herdeiro
mediante
escritura
pública, escrito
particular ou
manifestação
no inventário.
▸ Art. 1.805, 1.ª
parte, CC.
o POSITIVO da
qualidade de
herdeiro. Como
exemplo
podemos citar:
pagamento de
impostos e
atuação efetiva
no inventário.
o negativo.
Decorre do
silêncio do
herdeiro. O
art. 1.807, CC,
estabelece o
prazo de 20
dias a contar
da abertura
da sucessão
para que um
herdeiro possa
notificar o
outro para que
se manifeste,
podendo este
prazo ser
adiado por não
mais que 30
dias. Caso não
haja
manifestação, a
herança será
tida por aceita
(exceção ao
Art. 111, CC).
Artigos 1.805 e 1.807, do CC, in litteris:
Art. 1.805. A aceitação da herança, quando
expressa, faz-se por declaração escrita;
quando tácita, há de resultar tão-somente de
atos próprios da qualidade de herdeiro.
§ 1 o Não exprimem aceitação de herança os
atos oficiosos, como o funeral do finado, os
meramente conservatórios, ou os de
administração e guarda provisória.
35
§ 2 o Não importa igualmente aceitação a
cessão gratuita, pura e simples, da herança,
aos demais co-herdeiros.
Art. 1.807. O interessado em que o herdeiro
declare se aceita, ou não, a herança, poderá,
vinte dias após aberta a sucessão, requerer
ao juiz prazo razoável, não maior de trinta
dias, para, nele, se pronunciar o herdeiro, sob
pena de se haver a herança por aceita.
⚠ ATENÇÃO
Atos oficiosos, como é caso do funeral do
finado, os meramente conservatórios ou de
administração e guarda provisória não expressam o
aceite da herança (§ 1º do art. 1.805).
6.2. RENÚNCIA
A renúncia é o ato que afasta a transmissão,
recusa a herança, repudia a herança ou legado.
Somente pode ser expressa por instrumento
público ou termo judicial, sob pena de NULIDADE
ABSOLUTA (Art. 1.806, CC).
Art. 1.806. A renúncia da herança deve
constar expressamente de instrumento
público ou termo judicial.
Nas palavras de Flávio Tartuce48: “A renúncia
deve ser sempre expressa, constando de instrumento
público ou termo judicial (art. 1.806 do CC). Não se
admite a renúncia tácita, presumida ou verbal; muito
menos que o ato seja feito por instrumento particular,
mesmo que com assinaturas com firmas
reconhecidas. Cabe lembrar que a escritura pública é
lavrada perante o Tabelionato de Notas, sem
qualquer competência territorial no ato a ser
48 Tartuce, Flávio. Direito Civil - Direito das Sucessões - Vol. 6. Disponível
em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2021.
celebrado.”
🚨 JÁ CAIU
Na prova para Promotor de Justiça do Estado de Santa
Catarina (Ano: 2021, CEBRASPE), foi considerada
incorreta a seguinte afirmativa: “É válida a renúncia à
herança realizada por mandatário constituído para tal
fim por instrumento particular.”
Ainda, na prova para Promotor de Justiça do Estado
do Amapá (Ano: 2021, CEBRASPE), ao ser questionada
a forma de comprovação da renúncia, a resposta
correta foi “por termo judicial.”
⚠ ATENÇÃO
É possível por procuração desde que a
outorga de poderes seja por escritura pública. Nesse
sentido: REsp 1.236.671/SP.
Pode ser classificada em duas modalidades:
1. Renúncia Abdicativa: Se dá de forma pura
ou simples. É aquela sem a indicação do
beneficiário. É a REGRA se nada for dito e o
bem é destinado ao acervo hereditário.
2. Renúncia Translativa: Chamada também de
in favorem. Aqui temos a indicação do
beneficiário. Entende-se que ela equivale a
uma cessão gratuita ou doação.Há quem
entenda que incide imposto de
transmissão inter vivos.
Vale dizer que a renúncia apresenta regras
específicas, estando uma delas prevista no art.
1.810, CC, o qual estabelece que a parte do
renunciante acresce à dos outros herdeiros de
mesma classe (ou grau) e, sendo ele o único desta (e),
devolve aos da (o) subsequente.
36
⚠ ATENÇÃO
Conforme o Enunciado 575 do CJF,
concorrendo herdeiros de classes diversas, a renúncia
de um deles devolve a sua parte aos que integram a
mesma ordem.
Outra regra está contida no art. 1.811,CC, o
qual estabelece que a renúncia à herança afasta o
direito de representação. Conforme Zeno Veloso, é
como se o renunciante nunca tivesse existido.
Todavia, temos uma ressalva: Se o renunciante for o
único sucessor legítimo da sua classe (grau também),
ou se todos da mesma classe ou grau renunciarem,
poderão seus filhos vir à sucessão, por direito próprio
(cabeça).
Há ainda, regras em comum entre a
aceitação e a renúncia, quais sejam:
a) Tanto a aceitação como a renúncia são
irrevogáveis (Art. 1.812, CC).
b) Não se aceita ou se renuncia, conforme o
Art. 1.808, CC, em parte, sob comissão ou a
termo ( exceto o herdeiro chamado na
mesma sucessão a mais de um quinhão
hereditário, sob títulos sucessórios diversos, o
qual pode livremente deliberar quanto aos
quinhões que aceita e aos que renuncia).
🚨 JÁ CAIU
Na prova para Procurador do Estado de Alagoas (Ano:
2021, CEBRASPE), foi considerada correta a
alternativaque dizia que “os atos de aceitação ou de
renúncia de herança são irrevogáveis.”
Trata-se, pois, da redação do art. 1.812, do Código
Civil, que vimos acima.
Ainda, na prova para Promotor de Justiça Substituto
do Estado do Paraná (Ano: 2021, Banca Própria), foi
considerada incorreta, em questão sobre a renúncia,
a alternativa que diz que “o renunciante à herança de
uma pessoa não poderá representá-la na sucessão de
outra.”
Isso porque, nos termos do art. 1.856, do Código Civil,
“o renunciante à herança de uma pessoa poderá
representá-la na sucessão de outra.”
7. PETIÇÃO DE HERANÇA
A petição de herança é uma ação judicial
condenatória a ser proposta por aquele que foi
privado da participação em uma partilha realizada em
juízo ou em cartório, a fim de reclamar a sua
qualidade sucessória.
Perceba que o objeto da petição de herança
é dúplice, pois além de reclamar a qualidade
hereditária, visa a condenação daqueles que
preteriram o autor a devolver a parte que a este
pertencia.
Art. 1.824. O herdeiro pode, em ação de
petição de herança, demandar o
reconhecimento de seu direito sucessório,
para obter a restituição da herança, ou de
parte dela, contra quem, na qualidade de
herdeiro, ou mesmo sem título, a possua.
Ainda, a petição de herança pode ser
exercida por um só herdeiro e pode compreender
todos os bens hereditários (art. 1.825, do CC) – do que
é exemplo a petição proposta por filho não
reconhecido contra seus avós, após falecimento de
seus pais sem deixar outros filhos, pois, aqui,
demandar-se-á a herança na integralidade.
Ponto interessante nesta ação é a
necessidade de citação dos réus junto com seus
37
cônjuges ou companheiros, isso porque, embora não
se trate de uma ação real imobiliária, o objeto da
demanda vai reclamar a posse e a propriedade que
foram transmitidas.
Quanto à legitimidade ativa para a
propositura da petição de herança, temos que ela
pode ser do herdeiro, do legatário, dos credores e dos
cessionários. Essa legitimidade alcança, também, o
síndico da falência e o curador do incapaz/ausente.
Por outro lado, a legitimidade passiva será dos
herdeiros ou legatários que estiverem na posse da
herança.
Perceba que o espólio não pode ser
legitimado passivo, pois ele somente representa a
herança no que tange aos interesses patrimoniais.
Neste sentido, o STJ no REsp 331.842/AL, segundo o
qual: na ação de investigação de paternidade post
mortem, partes legítimas passivas são os herdeiros e
não o espólio.
Ademais, em razão de sua natureza
condenatória, a ação de petição de herança se
submete a prazo prescricional, que, neste caso, será
de 10 anos, ainda que esteja cumulada com a
investigação de paternidade, que é imprescritível.
Neste sentido, a Súmula 149 do STF, segundo a qual: é
imprescritível a ação de investigação de paternidade,
mas não o é a de petição de herança.
A contagem do prazo acima é feita a partir
da abertura da sucessão, se o autor já tem o título
sucessório. No entanto, se não há título, não há
consenso na jurisprudência quanto ao início da
contagem do prazo, vejamos:
O prazo prescricional só começa a ser
contado com o trânsito em julgado da decisão
que reconheceu a paternidade. Na hipótese
em que ação de investigação de paternidade
post mortem tenha sido ajuizada após o
trânsito em julgado da decisão de partilha de
bens deixados pelo de cujus, o termo inicial
do prazo prescricional para o ajuizamento de
ação de petição de herança é a data do
trânsito em julgado da decisão que
reconheceu a paternidade, e não o trânsito
em julgado da sentença que julgou a ação de
inventário. STJ. 3ª Turma. REsp 1475759-DF,
Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
17/5/2016 (Info 583).
O prazo prescricional começa a ser contado
com a abertura da sucessão (data da morte
do autor da herança), ou, em se tratando de
herdeiro absolutamente incapaz, da data em
que completa 16 anos, momento em que, em
ambas as hipóteses, nasce para o herdeiro,
ainda que não legalmente reconhecido, o
direito de reivindicar os direitos sucessórios
(actio nata). STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp
479648/MS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em
10/12/2019.
Ainda sobre o tema, temos que embora o
herdeiro possa demandar os bens da herança mesmo
em poder de terceiros, sem prejuízo da
responsabilidade do possuidor originário pelo valor
dos bens alienados, as alienações feitas por herdeiro
aparente a terceiros de boa-fé, a título oneroso, são
juridicamente eficazes (art. 1.827, do CC).
Também, o herdeiro aparente, que de
boa-fé houver pago um legado ou dívidas do falecido,
não está obrigado a prestar o equivalente ao
verdadeiro sucessor, ressalvado a este o direito de
proceder contra quem o recebeu (art. 1.828, do CC).
Por fim, o valor da causa é a extensão da
vantagem a ser obtida.
38
8. EXCLUSÃO DA SUCESSÃO
“Existem situações previstas em lei,
somadas ou não a ato de última vontade do autor da
herança, em que é excluído o direito sucessório do
herdeiro ou legatário. Nesse contexto, surgem os
conceitos de indignidade sucessória e deserdação
como penas civis.”49
8.1. MODALIDADES DE EXCLUSÃO DA
SUCESSÃO: INDIGNIDADE E
DESERDAÇÃO
A professora Giselda Hironaka aponta que
tanto a indignidade quanto a deserdação consistem
em modalidade da exclusão da herança por razão
subjetiva, de cunho pessoal. Não se confundem com a
falta de legitimação sucessória em que se tem uma
razão objetiva.
Carlos Roberto Gonçalves50 afirma que “o
herdeiro ou legatário pode, com efeito, ser privado do
direito sucessório se praticar contra o de cujus atos
considerados ofensivos, de indignidade. Não é
qualquer ato ofensivo, entretanto, que a lei considera
capaz de acarretar tal exclusão, mas somente os
consignados no art. 1.814, que podem ser assim
resumidos:
▸ Atentado contra a vida;
▸ Atentado contra a honra; e
▸ Atentado contra a liberdade de testar do
de cujus.”
Vejamos a diferença dos institutos por meio
de uma tabela:
50 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 3 -
Responsabilidade Civil - Direito de Família - Direito das Sucessões.
Disponível em: Minha Biblioteca, (9th edição). Editora Saraiva, 2022.
49 Tartuce, Flávio. Direito Civil - Direito das Sucessões - Vol. 6. Disponível
em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2021.
INDIGNIDADE (Art.
1.814 a 1.818, CC)
DESERDAÇÃO (Art.
1.961 a 1.965, CC)
Matéria de sucessão
legítima e
testamentária.
Matéria apenas de
sucessão testamentária.
Alcança herdeiros
necessários e
facultativos.
Só atinge herdeiros
necessários.
Podem ser considerados
indignos os herdeiros ou
legatários:
1. que houverem sido
autores, co-autores
ou partícipes de
HOMICÍDIO
DOLOSO, ou
tentativa deste,
contra a pessoa de
cuja sucessão se
tratar, seu cônjuge,
companheiro,
ascendente ou
descendente;
2. que houverem
acusado
CALUNIOSAMENTE
em juízo o autor da
herança ou
incorrerem em
CRIME CONTRA A
SUA HONRA, ou de
seu cônjuge ou
companheiro;
3. que, por violência
ou meios
Além das causas
mencionadas para a
indignidade, autorizam
a deserdação dos
descendentes por seus
ascendentes:
1. ofensa física;
2. injúria grave;
3. relações ilícitas com
a madrasta ou com
o padrasto
4. desamparo do
ascendente em
alienação mental
ou grave
enfermidade.
Igualmente, autorizam a
deserdação dos
ascendentes pelos
descendentes:
1. ofensa física;
2. injúria grave;
3. relações ilícitas com
a mulher ou
companheira do
39
fraudulentos,
inibirem ou
obstarem o autor
da herança de
dispor livremente
de seus bens por
ato de última
vontade.
As hipóteses de
indignidade também
servem para a
deserdação, conforme o
próprio CC.
filho ou a do neto,
ou com o marido
ou companheiro da
filha ou o da neta;
4. desamparo do filho
ou neto com
deficiência mental
ou grave
enfermidade.
Assim, percebe-se que
existem hipóteses de
deserdação que não
alcançam a indignidade.
Decorre de
decisão judicial.
Decorre de
testamento,com
expressa declaração de
causa, o qual necessita
de posterior
confirmação judicial.
Prazo decadencial de 4
anos, contados da
abertura da sucessão,
para proposição de ação
de exclusão de herdeiro
por indignidade.
Prazo decadencial de
quatro anos, a contar da
data da abertura do
testamento, para
proposição de ação de
confirmação da
deserdação.
O Ministério Público tem
legitimidade para
demandar a exclusão do
herdeiro ou do
legatário.
Alguns autores
sustentam a
inconstitucionalidade,
pois o MP não deveria
cuidar de causas que
levem em conta o
interesse particular.
🚨 JÁ CAIU
Quanto à deserdação, na prova para Procurador da
Câmara Municipal de Aracaju/SE (Ano: 2021, FGV), o
tema foi abordado da seguinte forma: “Paulo e seu
filho, Mário, sempre tiveram um relacionamento
difícil. Em meio a uma discussão mais acalorada,
Mário chegou a dar um soco no pai, e desde então
nunca mais se falaram. Agora que Paulo morreu, seus
outros filhos, irmãos de Mário, querem que ele seja
excluído da sucessão por ter cometido agressão
contra o pai. A ofensa física de Mário ao falecido
exclui Mário da sucessão de Paulo: (...)”
Resposta: “após sentença judicial, se Paulo
determinou isso em testamento, indicando
expressamente a causa da deserdação, e se a
veracidade dessa causa for provada por um dos
demais herdeiros.”
Ainda, na prova para Promotor de Justiça do Distrito
Federal e Territórios (Ano: 2021, Banca Própria), foi
considerada correta a seguinte afirmativa:
“denomina-se de bem ereptício aquele que é retirado
do indigno, devendo ser devolvido à pessoa que o
recebe como se o indigno nunca tivesse sido
herdeiro.” No mesmo certame, também foi
considerada correta a alternativa que dizia que “A
deserdação somente se aplica aos herdeiros
necessários.”
Por fim, vale ressaltar que tanto os efeitos
da indignidade quanto da deserdação são pessoais,
não afastando o direito de representação,
40
diferente do que acontece com a renúncia.
🚨 JÁ CAIU
Quanto ao tema, na prova para o cargo de Juiz de
Direito do Tribunal de Justiça de Pernambuco (Ano:
2022, FGV), foi cobrada a seguinte questão:
“Emengarda faleceu, deixando muitos bens e péssimo
relacionamento com seus cinco filhos. Fábio a injuriou
em um jantar de família há muitos anos e nunca mais
se falaram desde então. Guilherme a coagiu a
modificar seu testamento, ameaçando divulgar
informações íntimas suas se não lhe deixasse a parte
disponível da herança. Henrique caluniou o homem
com quem ela vivia há muitos anos em união estável.
Igor tentou matá-la por envenenamento, estando
preso desde então pelo seu crime. Enfim, Júlio, foi
quem efetivamente a matou, buscando contê-la em
uma discussão que chegou às vias de fato, tendo sido
condenado por homicídio culposo.
O herdeiro que pode pretender excluir por
indignidade todos os demais e ficar com a herança
toda de Emengarda para si é: (...)”
Resposta: Júlio.
Isso porque o homicídio decorreu de conduta culposa,
o que não é causa de indignidade. O art. 1.814, inciso
I, do CC, refere-se somente a homicídio doloso.
O herdeiro que seja autor, coautor ou
partícipe de ATO INFRACIONAL análogo ao
homicídio doloso praticado contra os
ascendentes fica excluído da sucessão. É
juridicamente possível o pedido de exclusão
do herdeiro em virtude da prática de ato
infracional análogo ao homicídio, doloso e
consumado, contra os pais, à luz da regra do
art. 1.814, I, do CC/2002. STJ. 3ª Turma. REsp
1938984-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 15/02/2022 (Info 725).
Indignidade são situações previstas no Código
Civil nas quais o indivíduo que normalmente
iria ter direito à herança, ficará impedido de
recebê-la em virtude de ter praticado uma
conduta nociva em relação ao autor da
herança ou seus familiares. Trata-se,
portanto, de uma causa de exclusão da
sucessão.
A indignidade é considerada uma sanção civil
aplicada ao herdeiro ou legatário acusado de
atos reprováveis contra o falecido. As
hipóteses de indignidade estão previstas no
art. 1.814 do Código Civil, que traz um rol
taxativo, que não admite analogia nem
interpretação extensiva. Veja o que diz o
inciso I:
Art. 1.814. São excluídos da sucessão os
herdeiros ou legatários:
I - que houverem sido autores, co-autores ou
partícipes de homicídio doloso, ou tentativa
deste, contra a pessoa de cuja sucessão se
tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente
ou descendente;
Imagine que o filho, adolescente de 17 anos,
ceifa dolosamente a vida dos pais. Neste caso,
o filho, tecnicamente, não praticou homicídio,
mas sim ato infracional análogo a homicídio.
Mesmo assim, a presente situação poderá ser
enquadrada no inciso I do art. 1.814 do CC?
Sim. A regra do art. 1.814, I, do CC/2002, se
interpretada literalmente, induziria ao
resultado de que o uso da palavra “homicídio”
possuiria um sentido único, importado
diretamente da legislação penal para a civil,
razão pela qual o ato infracional análogo ao
homicídio praticado pelo filho contra os pais
não poderia acarretar a exclusão da sucessão,
pois, tecnicamente, homicídio não houve.
41
Ocorre que não se pode fazer uma mera
interpretação literal.
A partir de uma perspectiva
teleológica-finalística conclui-se que o objetivo
do enunciado normativo do art. 1.814, I, do CC
é o de proibir que tenha direito à herança
quem atentar, propositalmente, contra a vida
de seus pais. Logo, apesar de existir uma
diferença técnico-jurídica entre homicídio e
ato análogo a homicídio, essa distinção tem
importância apenas no âmbito penal, mas
não possui a mesma relevância na esfera
cível, não devendo ser levada em
consideração para fins de exclusão da
herança, sob pena de ofensa aos valores e às
finalidades que nortearam a criação da norma
e de completo esvaziamento de seu
conteúdo. STJ. 3ª Turma. REsp 1943848-PR,
Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
15/02/2022 (Info 725)51.
8.2. DIREITO DE REPRESENTAÇÃO
Consiste no direito de uma pessoa em
receber o quinhão de um herdeiro pré-morto, indigno
ou deserdado. O representante deve ser um parente
de grau mais distante.
Só temos 2 casos em que se aplica o Direito
de Representação:
a. Na linha reta descendente: os descendentes
de grau mais próximo preferem os de mais
distantes.
b. Sobrinhos: irão representar um irmão
pré-morto.
Se houver mais de um representante,
haverá uma divisão pro rata do quinhão do herdeiro
51 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O herdeiro que seja autor, coautor
ou partícipe de ato infracional análogo ao homicídio doloso praticado
contra os ascendentes fica excluído da sucessão. Buscador Dizer o
Direito, Manaus. Disponível em:
. Acesso em: 08/12/2023
representado.
🚨 JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Promotor de Justiça
Substituto do Estado de Minas Gerais (Ano: 2022,
FUNDEP (Gestão de Concursos)), o tema foi abordado
da seguinte maneira: “O Título I do Livro V do Código
Civil de 2002 disciplinou, na sucessão em geral, o
direito de representação. Considerando os critérios
legislativos, assinale a alternativa CORRETA: (...)”
Resposta: Ocorre na linha transversal somente em
favor dos filhos de irmãos do autor da herança,
quando com irmãos deste concorrerem.
Ainda, na prova para o cargo de Juiz de Direito do
Estado de Goiás (Ano: 2021, FCC), foi considerada a
“representação” foi questionada da seguinte forma:
“Em sucessão legítima, o direito de representação
dar-se-á apenas (...)”
Resposta: “na linha reta descendente e, na linha
transversal, em favor dos filhos de irmãos do falecido,
quando com irmãos deste concorrerem.”
⚠ ATENÇÃO
■ No caso de RENÚNCIA não se fala no
direito de representação.
■ Quando todos os herdeiros de uma classe
renunciarem, a próxima classe herdará, mas não por
direito de representação (estirpe), mas por direito
próprio.
9. QUADRO SINÓTICO
Com base no quadro sinótico expresso no
42
livro do professorRubem Valente52:
DIREITO DAS SUCESSÕES
NOÇÕES GERAIS
A sucessão após a morte
(causa mortis) é o ato
realizado após o falecimento
do autor da herança (ou de
cujus), transmitindo aos seus
sucessores o respectivo
patrimônio.
A sucessão pode ser feita a
título universal (transmissão
de um conjunto de bens não
individualizados) e a título
singular (transmissão de um
bem específico).
O herdeiro pode ser legítimo
(aquele indicado pela lei
como sucessor – art. 1.829)
ou testamentário (indicado
em testamento, observadas
as regras para dispor do
patrimônio). Observa-se que
o herdeiro legítimo se divide
em herdeiros necessários e
facultativos. O herdeiro
necessário é o parente ou o
cônjuge com direito a uma
quota-parte da herança, da
qual não pode ser privado.
Incluem-se os descendentes,
os ascendentes e o cônjuge.
Por outro lado, o herdeiro
facultativo é aquele que
52 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado . Disponível em: Minha
Biblioteca, (2ª edição). Grupo GEN, 2022.
herda na falta de herdeiros
necessários e de testamento
que disponha sobre o
destino do espólio. Essa
espécie de herdeiro pode ser
excluída da sucessão quando
o falecido deixar os seus
bens por meio de
testamento para outro
herdeiro.
CLASSIFICAÇÃO
1. Legítima: decorre da
disposição de lei,
observando a ordem de
vocação hereditária. Se
uma pessoa vier a
falecer sem deixar
testamento, a herança
será transmitida aos
herdeiros legítimos.
2. Testamentária: a
sucessão testamentária
se dá por disposição de
última vontade. É
cabível ao testador
dispor de sua herança
para quem ele quiser.
Todavia, havendo
herdeiros necessários,
somente poderá dispor
de metade da herança,
sendo a outra metade
dividida entre os
herdeiros necessários.
DA VOCAÇÃO
HEREDITÁRIA
Poderão suceder:
I.Os filhos, ainda não
43
concebidos, de pessoas
indicadas pelo testador,
desde que vivas estas ao
abrir-se a sucessão.
II.As pessoas jurídicas.
III.As pessoas jurídicas, cuja
organização for determinada
pelo testador sob a forma de
fundação.
DA ACEITAÇÃO E
RENÚNCIA DA
HERANÇA
No que se refere à aceitação
da herança, esta trata-se de
uma confirmação, uma vez
que a aquisição dos direitos
sucessórios não depende da
aceitação.
Quando a herança é aceita,
opera-se o efeito retroativo
(ex tunc), tornando-se
definitiva com a sua
transmissão ao herdeiro logo
após a abertura da sucessão
(art. 1.804), mas, quando o
herdeiro renuncia à herança,
a transmissão da herança
ter-se-á por não verificada
(parágrafo único do art.
1.804).
Quando a herança é aceita,
opera-se o efeito retroativo
(ex tunc), tornando-se
definitiva com a sua
transmissão ao herdeiro logo
após a abertura da sucessão
(art. 1.804), mas, quando o
herdeiro renuncia à herança,
a transmissão da herança
ter-se-á por não verificada
(parágrafo único do art.
1.804).
Tanto a aceitação quanto a
renúncia, não admitem a
manifestação de vontade
parcial ou sob condição ou
termo (art. 1.808). Ambas
correspondem a atos
irrevogáveis, sendo aceita ou
renunciada a herança, não
poderão ser revogadas
posteriormente (art. 1.812).
DOS EXCLUÍDOS
DA SUCESSÃO
O Código Civil elenca as
hipóteses de indignidade,
instituto distinto da
ilegitimidade. A exclusão por
indignidade somente
obstaculiza a conservação da
herança, enquanto a falta de
legitimação para suceder
impede que surja o direito à
sucessão.
Causas de exclusão dos
herdeiros ou legatários:
I.que houverem sido autores,
coautores ou partícipes de
homicídio doloso, ou
tentativa deste, contra a
pessoa de cuja sucessão se
tratar, seu cônjuge,
companheiro, ascendente ou
descendente.
II.que houverem acusado
44
caluniosamente em juízo o
autor da herança ou
incorrerem em crime contra
a sua honra, ou de seu
cônjuge ou companheiro.
III.que, por violência ou
meios fraudulentos, inibirem
ou obstarem o autor da
herança de dispor livremente
de seus bens por ato de
última vontade.
10. JURISPRUDÊNCIA
RELEVANTE
Subsistindo o condomínio sobre determinado
bem imóvel após a partilha, por ato voluntário
dos coerdeiros que aceitaram a herança, os
sucessores coproprietários do imóvel
respondem solidariamente pelas respectivas
despesas condominiais, independentemente
da expedição do formal de partilha,
resguardado o direito de regresso constante
do art. 283 do CC. STJ. 3ª Turma. REsp
1.994.565-MG, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 26/9/2023 (Info 789).53
É ônus do credor não admitido no inventário
o ajuizamento da ação de conhecimento, não
competindo ao juiz a conversão do pedido de
habilitação de crédito em ação de cobrança,
em substituição às partes. STJ. 3ª Turma. REsp
2.045.640-GO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
53 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Se, após a partilha, os herdeiros
decidem manter um imóvel em conjunto, todos eles são responsáveis
solidários pelas dívidas condominiais, mesmo sem um documento oficial
de divisão (formal de partilha), e quem pagar pode cobrar dos outros a
sua parte. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
. Acesso em: 08/12/2023
julgado em 25/4/2023 (Info 772).54
É lícito ao juiz proferir nova decisão para
ajustar questão sucessória, existente em
inventário ainda não concluído, à orientação
vinculante emanada do Supremo Tribunal
Federal. STJ. 3ª Turma. REsp 2.017.064-SP, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/4/2023
(Info 770).55
Na hipótese excepcional em que ficar
evidenciada a condição de investimento de
plano de previdência privada complementar
aberta, operado por seguradora autorizada
pela Superintendência de Seguros Privados
(Susep), os valores devem ser trazidos à
colação no inventário, como herança,
devendo ainda ser objeto da partilha, desde
que antes da conversão em renda e
pensionamento do titular. STJ. 4ª Turma. REsp
2.004.210-SP, Rel. Min. João Otávio de
Noronha, julgado em 7/3/2023 (Info 767).56
É válido o testamento público que, a despeito
da existência de vício formal, reflete a real
vontade emanada livre e conscientemente do
testador, aferível diante das circunstâncias do
caso concreto, e a mácula decorre de conduta
atribuível exclusivamente ao notário
responsável pela prática do ato. STJ. 2ª Seção.
56 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Os valores depositados em plano de
previdência privada aberta – no caso, o VGBL – devem compor o acervo
hereditário?. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
. Acesso em: 08/12/2023
55 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É lícito ao juiz proferir nova decisão
para ajustar questão sucessória, existente em inventário ainda não
concluído, à orientação vinculante emanada do STF. Buscador Dizer o
Direito, Manaus. Disponível em:
. Acesso em: 08/12/2023
54 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É ônus do credor não admitido no
inventário o ajuizamento da ação de conhecimento, não competindo ao
juiz a conversão do pedido de habilitação de crédito em ação de
cobrança, em substituição às partes. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em:
. Acesso em: 08/12/2023
45
AR 6.052-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 8/2/2023 (Info 775).57
O pronunciamento do juiz que defere ou nega
a habilitação do crédito no inventário é uma
decisão interlocutória contra a qual cabe
agravo de instrumento - O pronunciamento
judicial que versa sobre a habilitação do
crédito no inventário é uma decisão
interlocutória a que se impugna por meio de
agravo de instrumento com base no art.
1.015, parágrafo único, do CPC/2015. No caso
concreto, o juiz indeferiu o pedido de
habilitação de crédito no inventário,
remetendo o eventualcredor às vias
ordinárias e reservando bens suficientes para
pagar a dívida por ele cobrada, nos termos do
art. 643 do CPC. Esse pronunciamento judicial
é uma decisão interlocutória recorrível
mediante agravo de instrumento. STJ. 3ª
Turma. REsp 1963966-SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 03/05/2022 (Info 744).58
58 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O pronunciamento do juiz que
defere ou nega a habilitação do crédito no inventário é uma decisão
interlocutória contra a qual cabe agravo de instrumento. Buscador Dizer
o Direito, Manaus. Disponível em:
.
57 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O rigor formal do testamento deve
ser flexibilizado, considerando-o válido quando representar a verdadeira
vontade do testador, expressa de maneira livre e consciente. Buscador
Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
. Acesso em: 08/12/2023GEN, 2021.
4
nome sugere.
● TEMPO DA ABERTURA DA SUCESSÃO:
Conforme dispõe o art. 1.787, do Código Civil, “regula
a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente
ao tempo da abertura daquela.”
🚨 JÁ CAIU
Na prova para Promotor de Justiça do Estado de
Sergipe (Ano: 2022, CEBRASPE), o tema foi abordado
da seguinte forma: “Caso o inventário judicial para a
divisão de uma herança seja aberto algum tempo
depois do falecimento da pessoa que deixou os bens
a serem herdados, a sucessão será regulada pela lei
vigente ao tempo do(a) (...)”
Resposta: “falecimento da pessoa.”
● AUTOR DA HERANÇA OU DE CUJUS:
Refere-se ao falecido, ao inventariado, à pessoa que
morreu e deixou patrimônio.
● SUCESSOR: É o herdeiro – aquele que
recebe a título universal (recebe um percentual do
patrimônio transmitido) – ou legatário – aquele que
recebe a título singular (recebe um bem certo e
determinado).
● HERDEIROS LEGÍTIMOS: São aqueles
beneficiados por força de lei (art. 1.829, CC –
descendentes, ascendentes, cônjuge e companheiro
(STF, RE 878.694/MG) e colaterais).
● HERDEIROS NECESSÁRIOS: São aqueles
que não podem ser afastados por força de
testamento, pois herdarão, necessariamente, pelo
menos 50% do patrimônio deixado pelo de cujus (art.
1.846, CC). São eles, os descendentes, ascendentes e
o cônjuge.
● HERDEIROS TESTAMENTÁRIOS: São
aqueles que recebem um percentual da herança por
força de testamento.
● HERANÇA: Trata-se do conjunto de bens
formado com o falecimento do de cujus. Trata-se de
um ente despersonalizado, que não pode ser sujeito
de uma relação processual, apenas objeto. Quanto à
natureza jurídica, a herança é um bem imóvel por
determinação legal, conforme o art. 80, II do CC.
Além disso, é um bem indivisível (há, portanto, um
condomínio pro indiviso entre os herdeiros) antes da
partilha, conforme o Art. 1.791, CC:
Art. 1.791. A herança defere-se como um todo
unitário, ainda que vários sejam os herdeiros.
Parágrafo único. Até a partilha, o direito dos
co-herdeiros, quanto à propriedade e posse
da herança, será indivisível, e regular-se-á
pelas normas relativas ao condomínio.
Jurisprudência em Teses STJ, Ed.133:
3. Os herdeiros possuem legitimidade ativa
para atuarem diretamente em juízo em ações
de direito real, enquanto não aberto o
inventário, por aplicação do princípio de
saisine.
Para Rubem Valente, “A herança, em
conformidade com art. 1.791 do CC/2002, será deferida
como um todo unitário, mesmo que existam vários
herdeiros. Nesse sentido, o direito à propriedade e posse
da herança pertencentes aos coerdeiros será indivisível
até a partilha, sendo estes direitos regulados pelas
5
normas referentes ao condomínio (parágrafo único do
art. 1.791).”
Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves6
“a herança é um somatório, em que se incluem os bens e
as dívidas, os créditos e os débitos, os direitos e as
obrigações, as pretensões e ações de que era titular o
falecido, e as que contra ele foram propostas, desde que
transmissíveis. Compreende, portanto, o ativo e o passivo
(CC, arts. 1.792 e 1.997).”
Por fim, salienta-se que a administração da
herança cabe ao inventariante que atua com um
mandato legal, desde o compromisso até o fim do
inventário judicial.
⚠ ATENÇÃO
O direito à herança é um direito fundamental
por previsão expressa do Art. 5º, XXX da CF/88
● ESPÓLIO: Ente despersonalizado que tem
legitimidade ativa e passiva do ponto de vista
processual (Art. 75, VII do CPC) para representar a
herança.
O espólio não possui legitimidade passiva
ad causam na ação de ressarcimento de
remuneração indevidamente paga após a
morte de ex-servidor e recebida por seus
herdeiros.
A restituição de quantia recebida
indevidamente é um dever de quem se
enriqueceu sem causa (art.884 do CC). De
acordo com as alegações do ente público, a
vantagem econômica foi auferida pelos
herdeiros do ex-servidor.
O ex-servidor público não tinha mais
personalidade jurídica quando o Distrito
6 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 3 -
Responsabilidade Civil - Direito de Família - Direito das Sucessões.
Disponível em: Minha Biblioteca, (9th edição). Editora Saraiva, 2022.
Federal depositou a quantia ora pleiteada
considerando que estava morto (art. 6º do
CC). Se o saque indevido da quantia
disponibilizada pelo Poder Público não pode
ser imputado ao falecido (não foi decorrente
de qualquer ato do falecido), o espólio não
pode ser obrigado a restituir. Isso porque o
espólio é obrigado a cumprir as dívidas do
autor da herança por força do art. 796 do
CPC/2015.
Logo, se o espólio não pode ser vinculado,
nem mesmo abstratamente, ao dever de
restituir, ele não pode ser considerado parte
legítima nesta ação nos termos do art. 17 do
CPC/2015. O espólio não possui legitimidade
passiva ad causam na ação de ressarcimento
de remuneração indevidamente paga após a
morte de ex-servidor e recebida por seus
herdeiros. STJ. 2ª Turma. REsp 1805473-DF,
Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado
em 03/03/2020 (Info 667)7.
Havendo conflito de interesses entre os
herdeiros, as despesas de verba honorária
do advogado constituído pelo
inventariante não devem ser suportadas
pelo espólio - Não havendo interesses em
conflito entre os interessados, os honorários
do advogado contratado pela inventariante
constituem encargo da herança. Por outro
lado, havendo conflito de interesses entre os
herdeiros, as despesas de verba honorária do
advogado constituído pelo inventariante não
devem ser suportadas pelo espólio. Se os
interesses dos demais herdeiros eram
antagônicos em relação ao inventariante, os
honorários do advogado por este contratado,
7 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O espólio não possui legitimidade
passiva ad causam na ação de ressarcimento de remuneração
indevidamente paga após a morte de ex-servidor e recebida por seus
herdeiros. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
. Acesso em: 08/12/2023
6
não constituem ônus do espólio, cada qual
respondendo pelo pagamento do trabalho
dos respectivos procuradores. Obs: no caso
concreto, o conflito de interesses não estava
relacionado diretamente com divergências
entre os herdeiros a respeito da herança, mas
sim com a discordância quanto à
representação realizada pelo escritório de
advocacia.STJ. 4ª Turma.AgInt no AREsp
1924962-CE, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti,
julgado em 08/08/2022 (Info 746).8
● INVENTÁRIO E PARTILHA: Procedimento
especial de jurisdição contenciosa para transmissão
da herança.
1.2. MODALIDADES DE HERDEIROS
“O herdeiro ou sucessor é aquele que é
beneficiado pela morte do de cujus, seja por
disposição de ato de última vontade, seja por
determinação da norma jurídica”9.
São modalidades de herdeiros:
a. Herdeiros necessários, forçados ou
reservatários: Aqueles que tem em seu favor
a proteção da legítima (quota reservada – 50%
do patrimônio).
b. Previstos expressamente na lei: São os
descendentes, os ascendentes e o cônjuge.
Para Flávio Tartuce10, “os herdeiros necessários,
forçados ou reservatários são aqueles que têm, a seu
favor, a proteção da legítima, composta por metade do
patrimônio do autor da herança.”
10 Tartuce, Flávio. Direito Civil - Direito das Sucessões - Vol. 6. Disponível
em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2021.
9 Tartuce, Flávio. Direito Civil - Direito das Sucessões - Vol. 6. Disponível
em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2021.
8 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Havendo conflito de interesses entre
os herdeiros, as despesas de verba honorária do advogado constituído
pelo inventariante não devem ser suportadas pelo espólio. Buscador
Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
.
Dispositivos que tratam sobre os herdeiros
necessários no Código Civil:
Art. 1.845. São herdeirosnecessários os
descendentes, os ascendentes e o cônjuge.
Art. 1.846. Pertence aos herdeiros
necessários, de pleno direito, a metade dos
bens da herança, constituindo a legítima.
Art. 1.847. Calcula-se a legítima sobre o valor
dos bens existentes na abertura da sucessão,
abatidas as dívidas e as despesas do funeral,
adicionando-se, em seguida, o valor dos bens
sujeitos a colação.
Art. 1.848. Salvo se houver justa causa,
declarada no testamento, não pode o
testador estabelecer cláusula de
inalienabilidade, impenhorabilidade, e de
incomunicabilidade, sobre os bens da
legítima.
§ 1º Não é permitido ao testador estabelecer a
conversão dos bens da legítima em outros de
espécie diversa.
§ 2º Mediante autorização judicial e havendo
justa causa, podem ser alienados os bens
gravados, convertendo-se o produto em
outros bens, que ficarão sub-rogados nos
ônus dos primeiros.
Art. 1.849. O herdeiro necessário, a quem o
testador deixar a sua parte disponível, ou
algum legado, não perderá o direito à
legítima.
Cônjuge supérstite casado em regime de
separação convencional e sucessão "causa
mortis"
O cônjuge, qualquer que seja o regime de
bens adotado pelo casal, é herdeiro
necessário (art. 1.845 do CC). No regime de
separação convencional de bens, o cônjuge
sobrevivente concorre com os descendentes
7
do falecido. A lei afasta a concorrência apenas
quanto ao regime da separação legal de bens
previsto no art. 1.641 do CC. STJ. 2ª Seção
REsp 1382170-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel.
para acórdão Min. João Otávio de Noronha,
julgado em 22/4/2015 (Info 562)11.
O cônjuge sobrevivente, casado sob o
regime de comunhão parcial de bens,
somente concorrerá com os descendentes
do cônjuge falecido com relação aos bens
particulares eventualmente constantes do
acervo hereditário. STJ. 2ª Seção REsp
1.368.123-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, Rel. para
acórdão Min. Raul Araújo, julgado em
22/4/2015 (Info 563)12.
A cláusula de incomunicabilidade imposta a
um bem transferido por doação ou
testamento só produz efeitos enquanto viver
o beneficiário, sendo que, após a morte deste,
o cônjuge sobrevivente poderá se habilitar
como herdeiro do referido bem, observada a
ordem de vocação hereditária.
A cláusula de incomunicabilidade imposta a
um bem não interfere na vocação hereditária.
Assim, se o indivíduo recebeu por doação ou
testamento bem imóvel com a referida
cláusula, sua morte não impede que seu
herdeiro receba o mesmo bem. STJ. 4ª Turma
REsp 1552553-RJ, Rel. Min. Maria Isabel
Gallotti, julgado em 24/11/2015 (Info 576)13.
13 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Herança de bem gravado com
cláusula de incomunicabilidade. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em:
. Acesso em: 08/12/2023
12 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Sucessão do cônjuge em
concorrência com os descendentes e regime da comunhão parcial.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
. Acesso em: 08/12/2023
11 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Cônjuge supérstite casado em
regime de separação convencional e sucessão "causa mortis".
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
. Acesso em: 08/12/2023
⚠ ATENÇÃO
Discute-se se o companheiro também
deveria ser considerado diante da decisão do STF que
declarou o Art. 1.790 inconstitucional, devendo ser o
companheiro incluído no Art. 1.829, CC. O professor
FLÁVIO TARTUCE entende que deve ser considerado,
bem como o professor PAULO LÔBO.
c. Herdeiros facultativos: Aqueles que não têm
a proteção da legítima e podem ser
totalmente excluídos por testamento, a
exemplo dos colaterais até o 4º grau (irmãos,
tios, sobrinhos, primos, tios-avós e
sobrinhos-netos), conforme o art. 1.850 do
CC:
Art. 1.850. Para excluir da sucessão os
herdeiros colaterais, basta que o testador
disponha de seu patrimônio sem os
contemplar.
“O art. 1.850 do Código Civil em vigor preceitua
que, para excluir da sucessão os herdeiros colaterais,
basta que o testador disponha sem os contemplar. Assim
sendo, são herdeiros facultativos reconhecidos pela
dicção expressa da lei os colaterais até o quarto grau. Na
literalidade, a norma alcança os colaterais de segundo
grau, que são os irmãos, sejam bilaterais ou germanos
(mesmo pai e mesma mãe) ou unilaterais (mesmo pai ou
mesma mãe). Abrange também os tios e sobrinhos
(colaterais de terceiro grau), bem como os primos,
tios-avós e sobrinhos-netos (colaterais de quarto grau).”14
⚠ ATENÇÃO
14 Tartuce, Flávio. Direito Civil - Direito das Sucessões - Vol. 6. Disponível
em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2021.
8
O herdeiro somente responde nos limites da
herança que receber. Ou seja, não responde além das
forças da herança (ultra vires hereditatis), conforme
Art. 1.792, CC.
2. TRANSMISSÃO DO
PATRIMÔNIO
A transmissão da herança é automática e se
dá no momento da abertura da sucessão – que é o
momento da morte (art. 1.784, CC). Esse fenômeno
representa a regra do droit de saisine.
Perceba, aqui, que a partir da abertura da
sucessão todos os interesses patrimoniais devem ser
demandados do espólio. No entanto, os interesses
existenciais – como é o caso da investigação de
paternidade pós-morte – devem ser pleiteados contra
os herdeiros, ainda que venham cumulados com o
pedido de herança.
A transmissão de patrimônio (ope legis) é o
principal efeito de saisine, mas são também efeitos: i)
a fixação da lei sucessória (STF, Súmula 112), que é
aquela que estiver em vigor na data da sua abertura;
ii) a fixação do lugar da sucessão (arts. 1.785 do CC e
48 do CPC) e iii) a averiguação da legitimidade
sucessória (art. 1.798, CC).
A respeito do lugar para se processar a
sucessão, algumas regras precisam ser observadas.
De início, temos que é competente o foro do último
domicílio do de cujus para o processo de inventário e
partilha, no entanto, na hipótese de o falecido ter
vários domicílios, a competência será fixada a partir
da prevenção.
Por outro lado, se o domicílio do de cujus for
desconhecido ou incerto, a competência será do local
dos bens imóveis; aqui, se houver mais de um bem
imóvel, qualquer um deles será o competente.
Finalmente, se não houver bens imóveis, é
competente qualquer dos lugares onde estejam os
bens móveis (art. 48, parágrafo único, do CPC).
Todas essas hipóteses são regras de
competência relativa, portanto, o juiz não pode
conhecer de ofício (STJ, Súmula 33), mas o Ministério
Público, como fiscal da ordem jurídica, pode argui-las
(art. 65, parágrafo único, do CPC).
Também, deve-se ter atenção ao artigo 23
do CPC, que dispõe sobre a competência exclusiva da
justiça brasileira para processar o inventário e a
partilha dos bens imóveis situados no Brasil, mesmo
que pertençam a um estrangeiro. Temos, aqui, uma
disposição que busca preservar a soberania do país.
Entretanto, não se pode esquecer que essa regra não
é absoluta, nos termos dos artigos 5º, XXXI, da CF/88 e
10 da LINDB, eis que se a norma estrangeira for mais
favorável ao herdeiro brasileiro, deve ser ela a
aplicada ao procedimento que acontecerá no Brasil –
ou seja, o juiz brasileiro julgará de acordo com a lei
estrangeira.
Já no que se refere à legitimidade
sucessória, temos que ela representa a aptidão para
ser herdeiro ou legatário de uma herança. Portanto,
qualquer pessoa pode aqui se enquadrar, mesmo que
se trate de um incapaz.
No ponto, não se deve confundir a
legitimidade sucessória com a capacidade jurídica
geral, tampouco com a capacidade testamentária, que
representa o atributo que permite a alguém a
possibilidade de elaborar um testamento.
A legitimidade sucessória é verificada na
abertura do testamento, momento no qual se
constata se o herdeiro é nascido ou concebido(art.
1.798, CC). Aqui, segundo doutrina majoritária,
deve-se considerar concebido o embrião de
9
laboratório, neste sentido o Enunciado 267 do CFJ:
A regra do art. 1.798 do Código Civil deve ser
estendida aos embriões formados mediante o
uso de técnicas de reprodução assistida,
abrangendo, assim, a vocação hereditária da
pessoa humana a nascer cujos efeitos
patrimoniais se submetem às regras previstas
para a petição da herança.
Aqui, no entanto, é preciso atenção ao que
diz o art. 1.799, do CC, eis que na sucessão
testamentária podem ser chamados para suceder os
filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas
pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se à
sucessão. Também, deve essa prole eventual ser
concebida em até dois anos após a morte do de cujus
(art. 1.800, § 4º, CC), sob pena de caducidade da
cláusula que beneficiou o concepturo.
Ainda sobre a sucessão testamentária,
podem também ser chamadas para suceder as
pessoas jurídicas – inclusive as determinadas pelo
testador sob a forma de fundação.
Por outro lado, não podem ser nomeados
herdeiros nem legatários: I - a pessoa que, a rogo,
escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou
companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos; II - as
testemunhas do testamento; III - o concubino do
testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver
separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos; IV
- o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou
escrivão, perante quem se fizer, assim como o que
fizer ou aprovar o testamento (art. 1.801, CC).
No que se refere ao inciso III, deve-se ter em
conta que o art. 1.723, § 1º, do CC, permite o
reconhecimento da união estável de pessoas que
ainda não se divorciaram, desde que haja separação
de fato – independente do prazo desta. Por essa
razão, tem-se que o prazo de cinco anos exigidos no
art. 1.801, III, do CC não se aplica à união estável.
Neste sentido é o enunciado 269 do CJF, segundo o
qual: a vedação do art. 1.801, inc. III, do Código Civil
não se aplica à união estável, independentemente do
período de separação de fato (art. 1.723, § 1º, CC).
As disposições testamentárias feitas em
favor de pessoas que não possuem legitimidade para
suceder são nulas, ainda quando simuladas sob a
forma de contrato oneroso, ou feitas mediante
interposta pessoa. Aqui, presumem-se pessoas
interpostas os ascendentes, os descendentes, os
irmãos e o cônjuge ou companheiro do não
legitimado a suceder (art. 1.802, parágrafo único, CC).
Por outro lado, é lícita a deixa ao filho do concubino,
quando também o for do testador (art. 1.803. CC).
3. CESSÃO DE DIREITOS
HEREDITÁRIOS
A herança é um bem jurídico imóvel,
indivisível, universal e possui valor patrimonial
disponível, portanto, admite circulação após
disposição total ou parcial, a título oneroso ou
gratuito.
Para a cessão de direitos hereditários, faz-se
necessário o preenchimento de alguns requisitos de
natureza temporal, subjetiva, objetiva e formal,
vejamos:
● Requisito temporal - A cessão de direitos
hereditários deve ser celebrada dentro de um
determinado tempo, que é o compreendido
entre a abertura da sucessão e a efetiva
partilha. Isso se dá porque não é permitido
dispor de herança de pessoa viva e, depois da
10
partilha, não se estará mais diante da cessão
de direitos hereditários, mas de cessão de
direitos próprios, que pode se materializar,
por exemplo, pela doação ou pela compra e
venda.
● Requisito subjetivo - Também, para ceder a
herança, é necessária capacidade do cedente
e outorga do cônjuge, na hipótese dele ser
casado, exceto no regime de separação
absoluta e se, no regime de participação final
nos aquestos, houver previsão do pacto nesse
sentido.
● Requisito objetivo - A cessão deve incidir
sobre frações ideais (cotas partes), pois é
vedada a cessão de bens específicos, nos
termos do art. 1.793, § 2º, do CC, segundo o
qual: é ineficaz a cessão, pelo co-herdeiro, de
seu direito hereditário sobre qualquer bem
da herança considerado singularmente.
CUIDADO! A jurisprudência admite, em
alguns casos, a cessão de coisa específica,
mas, nestes casos, todos os interessados
devem consentir e o juiz deve autorizar (STJ,
REsp 1.072.511).
● Requisito Formal - A herança é bem imóvel,
portanto, o negócio jurídico a ela vinculado
deve ser celebrado por escritura pública ou
termo judicial, sob pena de nulidade. Veja o
que diz do Código Civil a respeito do tema:
Art. 1.793. O direito à sucessão aberta, bem
como o quinhão de que disponha o co-herdeiro,
pode ser objeto de cessão por escritura pública.
Feita a cessão de direitos hereditários, alguns
efeitos se produzem. Inicialmente, temos que é efeito
natural da cessão, a ocupação pelo cessionário do
lugar do cedente na herança, no todo ou em parte.
Disso decorrem algumas consequências processuais,
dentre as quais está a possibilidade do cessionário
pedir a abertura do inventário, defender a herança e
ser inventariante.
Sobrevindo direitos hereditários ao cedente
após a celebração do negócio jurídico com o
cessionário, serão eles considerados como
pertencentes àquele – salvo disposição em sentido
contrário, nos termos do art. 1.793, § 1º, do CC,
segundo o qual: os direitos, conferidos ao herdeiro
em consequência de substituição ou de direito de
acrescer, presumem-se não abrangidos pela cessão
feita anteriormente.
Também, se o autor da herança impôs uma
cláusula de inalienabilidade, é possível se falar em
limitação da cessão de direitos hereditários, no
entanto, essa imposição para os herdeiros legítimos
necessita de justa causa.
Ainda, considera-se ineficaz a cessão
celebrada sem respeito à preferência dos demais
herdeiros. Aqui, em face da inobservância desta regra,
há possibilidade de manejo da ação judicial, a fim de
que haja adjudicação compulsória.
Art. 1.794. O co-herdeiro não poderá ceder a
sua quota hereditária a pessoa estranha à
sucessão, se outro co-herdeiro a quiser, tanto
por tanto.
Aqui, embora o Código Civil seja omisso
quanto à forma de concretização do direito de
preferência, a doutrina usa o art. 27 da lei de locações
para dizer que ele se dá por meio de notificação
escrita. Para o STJ, é possível, também, notificação por
e-mail. Indo além, leciona o professor Cristiano
Chaves que é possível que a preferência se dê por
meio de WhatsApp, uma vez que se pode provar o
11
envio da mensagem com ata notarial.
Feita a notificação escrita, o co-herdeiro
notificado terá o prazo – no mínimo – de 30 dias para
dizer se quer ficar com a herança tanto por tanto – ou
seja, nas mesmas condições propostas para o
terceiro, uma vez que o co-herdeiro notificante não é
obrigado a negociar a proposta.
Havendo mais de um herdeiro querendo
exercer a preferência, entre todos eles se distribuirá o
quinhão cedido, na proporção das respectivas quotas
hereditárias (art. 1.795, parágrafo único).
Ainda, o co-herdeiro, a quem não se der
conhecimento da cessão, poderá, depositado o preço,
haver para si a quota cedida a estranho, se o requerer
até cento e oitenta dias após a transmissão (art.
1.795, CC).
4. MODALIDADES DE SUCESSÃO
O ordenamento jurídico brasileiro prevê a
existência de duas modalidades básicas de sucessão
quais sejam: a sucessão legítima ou a sucessão
testamentária, previstas no art. 1.786, CC:
Art. 1.786. A sucessão dá-se por lei ou por
disposição de última vontade.
Por oportuno, vejamos suas respectivas
análises isoladamente.
🚨 JÁ CAIU
Na prova para Juiz de Direito Substituto do Estado do
Mato Grosso do Sul (Ano: 2020, FCC), no que diz
respeito à sucessão, foi considerada correta a
seguinte alternativa: “o herdeiro não responde por
encargos superiores às forças da herança;
incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se
houver inventário que a escuse, demonstrando o
valor dos bens herdados.”
4.1. SUCESSÃO LEGÍTIMA OU AB
INTESTATO (na falta de testamento)
“A sucessão legítima é aquela que decorre de
imposição da norma jurídica, uma vezque o legislador
presume a vontade do morto, ao trazer a ordem de
vocação hereditária que deve ser observada no caso de
seu falecimento sem testamento”, nas palavras de Flávio
Tartuce15.
Em outras palavras, tal modalidade de
sucessão decorre da Lei, que enuncia a ordem de
vocação hereditária presumindo a vontade do
morto, com base no art. 1.829 do Código Civil:
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na
ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o
cônjuge sobrevivente, salvo se casado este
com o falecido no regime da comunhão
universal, ou no da separação obrigatória de
bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no
regime da comunhão parcial, o autor da
herança não houver deixado bens
particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o
cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.
Se o herdeiro renunciou a herança, não
tem legitimidade para ação que busca a nulidade
de uma alienação realizada pelo de cujus em vida
considerando que, mesmo se anulada a venda,
não terá qualquer direito sobre esse bem. Aquele
15 Tartuce, Flávio. Direito Civil - Direito das Sucessões - Vol. 6. Disponível
em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2021.
12
que renuncia a herança não tem legitimidade para
pleitear eventual nulidade de negócio jurídico que
envolva um dos bens que integram o patrimônio do
de cujus.
Exemplo hipotético: João, Pedro, Tiago e
Regina são irmãos. Em 2010, Regina, que
tinha sérios problemas de saúde, vendeu um
apartamento para seu irmão Tiago por preço
bem abaixo do mercado. Os demais irmãos
não souberam dessa venda. Em 2011, Regina
faleceu. Não tinha cônjuge, descendentes ou
ascendentes. Diante disso, os únicos
herdeiros eram seus irmãos. João optou por
renunciar a herança em favor do monte. Logo
depois que fez isso, João tomou
conhecimento da venda do apartamento
ocorrida em 2010. Ele ficou revoltado porque
considerou que sua irmã não estava em sua
perfeita condição mental, tendo sido,
portanto, “enganada” por Tiago. João
ingressou com ação declaratória de nulidade
do negócio jurídico. O juiz deverá extinguir o
processo sem resolução do mérito porque
João não possui legitimidade ativa ad causam
considerando que ele renunciou
expressamente a herança deixada por Regina,
de sorte que, mesmo se anulada a venda, não
teria nenhum proveito econômico com isso.
STJ. 4ª Turma. REsp 1433650-GO, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 19/11/2019 (Info
664)16.
Enunciado 270-CJF: O art. 1.829, inciso I, só
assegura ao cônjuge sobrevivente o direito de
concorrência com os descendentes do autor
16 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Se o herdeiro renunciou a herança,
não tem legitimidade para ação que busca a nulidade de uma alienação
realizada pelo de cujus em vida considerando que, mesmo se anulada a
venda, não terá qualquer direito sobre esse bem. Buscador Dizer o
Direito, Manaus. Disponível em:
. Acesso em: 08/12/2023
da herança quando casados no regime da
separação convencional de bens ou, se
casados nos regimes da comunhão parcial ou
participação final nos aquestos, o falecido
possuísse bens particulares, hipóteses em
que a concorrência restringe-se a tais bens,
devendo os bens comuns (meação) ser
partilhados exclusivamente entre os
descendentes.
4.1.1. ORDEM DE VOCAÇÃO
HEREDITÁRIA (Art. 1.829 e ss)
Na sucessão legítima, a ordem de vocação
hereditária é aquela que a lei estabelece para o
recebimento da herança por classe de herdeiros.
Nas palavras de Rubem Valente17 “o
chamamento dos sucessores é feito por meio da
ordem da vocação hereditária, por meio de classes.
Entre os descendentes, os em grau mais próximo
excluem os mais remotos, salvo o direito de
representação, em conformidade com art. 1.833. (...)
além dos descendentes, ascendentes e cônjuge (os
chamados herdeiros necessários), serão chamados
para suceder também os companheiros e os
colaterais até o quarto grau (herdeiros legítimos). A
depender do caso concreto, a sucessão deste último
grupo ocorrerá da seguinte forma: a sucessão por
cabeça ou a sucessão por estirpe.”
É dizer: se há herdeiros da primeira classe,
nada irá para os herdeiros das outras classes. Quanto
aos herdeiros da mesma classe, teremos uma divisão
aqui “pro rata”, ou seja, igualitária. Desse modo, se
houver 3 filhos (herdeiros da primeira classe),
teremos uma divisão pro rata entre esses filhos, salvo
algumas exceções.
O art. 1.829, do CC, estabelece quatro classes
17Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca,
(2nd edição). Grupo GEN, 2022.
13
de sucessores. “Na primeira classe estão os
descendentes – até o infinito –, o cônjuge e agora
também o companheiro. Na segunda classe, os
ascendentes – também até o infinito –, o cônjuge e o
companheiro. Na terceira classe, estão o cônjuge e o
companheiro, isoladamente. Por fim, a quarta classe
é composta pelos colaterais, até o quarto grau. Vale
lembrar que, expressamente na lei, os herdeiros que
estão até a terceira classe são herdeiros
necessários, tendo a seu favor a proteção da legítima
(art. 1.845 do CC). A norma não menciona
expressamente o companheiro, mas é o caso de
incluí-lo também nessa previsão, repise-se, por
interpretação do decisum do STF, aqui tão
comentado”18.
🚨 JÁ CAIU
Na prova para Defensor Público do Estado do
Amazonas (Ano: 2021, FCC), foi cobrada a seguinte
questão: “Sobre os direitos sucessórios na união
estável e o entendimento do Supremo Tribunal
Federal acerca do tema, é correto afirmar: (...)”
Resposta: “A sucessão dos/as companheiros/as
sobreviventes segue a ordem de vocação hereditária.”
Ainda, na prova para Promotor de Justiça do Distrito
Federal e Territórios (Ano: 2021, Banca Própria), foi
considerada correta a alternativa que dizia que “no
sistema constitucional vigente, é inconstitucional a
diferenciação de regime sucessório entre cônjuges e
companheiros devendo ser aplicado em ambos os
casos o regime estabelecido no artigo 1.829 do Código
Civil.”
Em caso de sucessão causa mortis do
companheiro deverão ser aplicadas as
18Tartuce, Flávio. Direito Civil - Direito das Sucessões - Vol. 6. Disponível
em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2021.
mesmas regras da sucessão causa mortis
do cônjuge. No sistema constitucional
vigente, é inconstitucional a diferenciação de
regimes sucessórios entre cônjuges e
companheiros, devendo ser aplicado, em
ambos os casos, o regime estabelecido no
artigo 1.829 do Código Civil. STF. Plenário. RE
646721/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o
ac. Min. Roberto Barroso e RE 878694/MG,
Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em
10/5/2017 (Repercussão Geral - Tema 809)
(Info 864)19.
Para facilitar o entendimento, vejamos as
possibilidades de classes e divisão entre elas na
sucessão legítima realizada pela ordem de vocação
hereditária por meio da seguinte tabela:
VIÚVO (A) +
DESCENDENTES
O viúvo não concorrerá
com os descendentes
nestes casos:
1. Regime da
separação legal de
bens (obrigatória).
A ideia aqui é que o
legislador quis
prestigiar os
descendentes nessa
hipótese;
2. Regime da
comunhão
universal de bens:
Conforme Reale, o
motivo é a força da
meação. A viúva já
19 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Em caso de sucessão causa mortis
do companheiro deverão ser aplicadas as mesmas regras da sucessão
causa mortis do cônjuge. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível
em:
. Acesso em: 08/12/2023
14
terá metade do
patrimônio (salvo os
bens particulares) e o
direito real de
habitação (art.
1.831);
3. Regime da
comunhão parcial
sem bens
particulares: O
CC/02 usou essa
redação e isso gerou
muita controvérsia
na doutrina.
📌 OBSERVAÇÕES
■ O STJ adotou a seguinte
interpretação, baseado na
força da meação: só
haverá concorrênciahereditária entre o
viúvo(a) e os
descendentes sobre o
patrimônio particular
do falecido. Não haverá
concorrência quanto ao
patrimônio comum
(rectius: sobre a meação
do falecido).
■ O legislador estabelece
o direito real de
habitação sobre o imóvel
residencial (art. 1.831,
CC). Destaque-se que o
viúvo deve HABITAR, ou
seja, não pode alugar ou
emprestar. Haverá
extinção do direito real de
habitação pela não
moradia assim como pela
morte.
■ Há um quinhão mínimo
ao cônjuge viúvo (art.
1.832, CC). Esse quinhão é
de no mínimo ¼ da
herança, mas só é
aplicável quando TODOS
OS DESCENDENTES
forem filhos comuns, ou
seja, filhos do falecido
com o cônjuge. O motivo
dessa regra é garantir a
dignidade do cônjuge e
também o fato de que os
descendentes
futuramente herdarão os
bens desse cônjuge
sobrevivente.
⚠ ATENÇÃO
Os descendentes nessa
classe são TODOS os
descendentes, mas os de
grau mais próximo
excluem os demais.
VIÚVO (A) +
ASCENDENTES
Devemos separar da
seguinte forma:
1. Viúvo X Ascendente
de primeiro grau: A
repartição aqui será
PRO RATA.
15
📌 OBSERVAÇÕES
■ é irrelevante o regime
de bens do cônjuge
sobrevivente.
■ se o falecido estava em
situação de
multiparentalidade: Há
controvérsia doutrinária.
O professor José
Fernando Simão entende
que se deve aplicar a
regra da repartição pro
rata.
2. Viúvo X Ascendente
de segundo grau ou
superior: Nesse
caso, o legislador
reservou 50% para o
cônjuge. A outra
metade irá para os
ascendentes.
📌 OBSERVAÇÃO
■ A distribuição entre
esses ascendentes leva
em consideração duas
regras:
1) os ascendentes de grau
mais próximo excluem os
demais
independentemente da
linha;
2) ascendentes de mesmo
grau, teremos a divisão
pro rata, mas observando
que metade será para a
linha materna e metade
para a linha paterna. Ou
seja, dos 50% que vão
para os ascendentes,
havendo ascendentes de
linhas distintas (do
mesmo grau), cada linha
receberá 25%.
VIÚVO (A)
Não havendo
descendentes ou
ascendentes, o cônjuge
sobrevivente herdará
sozinho,
independentemente do
regime de bens.
IRMÃOS
O Código Civil estabelece
que o irmão BILATERAL
tem direito a receber o
dobro do quinhão devido
ao irmão unilateral.
Temos aqui uma
discriminação entre os
irmãos (não se confunde
com a regra entre filhos,
que é vedada). A ideia é
manter o patrimônio no
mesmo núcleo familiar.
Salvo na hipótese da
observação mencionada,
teremos uma divisão pro
rata.
16
PARENTES DE
TERCEIRO GRAU
São parentes de terceiro
grau os tios e os
sobrinhos.
O legislador deu
preferência ao sobrinho,
por presumir que o
patrimônio será mais útil
nas mãos do sobrinho já
que é mais novo e poderá
gerar riqueza a partir do
patrimônio.
Assim, a quinta classe é a
dos sobrinhos.
COLATERAIS DE
QUARTO GRAU
Haverá divisão pro rata
entre os primos e os
sobrinhos-netos.
🚨 JÁ CAIU
Na prova para Procurador da Câmara do Município de
Aracaju, em Sergipe (Ano: 2021, FGV), o tema “ordem
hereditária” foi cobrado da seguinte maneira:
“Disputam a herança de Ademir: Isaías, pai de Ademir;
Djalma, filho de Ademir; e Vilma, neta de Ademir e
filha de Djalma. A herança de Ademir deve ser
recebida por: (...)”
Resposta: “somente Djalma.”
Ainda, na prova para Juiz de Direito de Santa Catarina
(Ano: 2022, FGV), o assunto em comento foi cobrado
da seguinte forma: “Genésio, casado com
Hermenegilda pelo regime da comunhão parcial de
bens, com quem teve dois filhos, Hugo e José Carlos,
faleceu no início deste mês, tendo deixado bens
particulares. Quando de sua morte, deixou vivos,
além da esposa e de Hugo, seu pai, Heráclito, seu
irmão, Alcebíades, e dois netos, Luiz e Paula. Seus
dois netos são filhos de José Carlos, falecido no ano
passado. Hermenegilda teve um filho antes de
conhecer Genésio, chamado Artur. Considerando que
Genésio não deixou testamento, sobre a sua
sucessão, é correto afirmar que: (...)”
Resposta: “Heráclito herdaria se Genésio não tivesse
deixado descendentes vivos;”
“Os descendentes, o cônjuge e o companheiro
são herdeiros de primeira classe, em um sistema de
concorrência, presente ou não de acordo com o
regime de bens adotado no casamento ou na união
estável com o falecido”20, Flávio Tartuce apresenta,
ainda, uma uma tabela sobre os regimes em que o
cônjuge ou companheiro herda ou não herda em
concorrência:
REGIMES EM QUE O
CÔNJUGE OU
COMPANHEIRO
HERDA EM
CONCORRÊNCIA
REGIMES EM QUE O
CÔNJUGE OU
COMPANHEIRO NÃO
HERDA EM
CONCORRÊNCIA
1. Regime da
comunhão parcial
de bens, havendo
bens particulares
do falecido.
2. Regime da
participação final
nos aquestos.
3. Regime da
separação
convencional de
bens, decorrente
de pacto
1. Regime da
comunhão parcial
de bens, não
havendo bens
particulares do
falecido.
2. Regime da
comunhão
universal de bens.
3. Regime da
separação legal ou
obrigatória de
bens.
20 Tartuce, Flávio. Direito Civil - Direito das Sucessões - Vol. 6. Disponível
em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2021.
17
antenupcial.
O cônjuge ou companheiro sobrevivente
possui direito real de habitação mesmo
que seja proprietário de outros bens. O
reconhecimento do direito real de habitação,
a que se refere o art. 1.831 do Código Civil,
não pressupõe a inexistência de outros bens
no patrimônio do cônjuge/companheiro
sobrevivente. Em outras palavras, mesmo que
o cônjuge ou companheiro sobrevivente
possua outros bens, ele terá direito real de
habitação.
Isso se justifica porque o objetivo da lei é
permitir que o cônjuge/companheiro
sobrevivente permaneça no mesmo imóvel
familiar que residia ao tempo da morte como
forma, não apenas de concretizar o direito
constitucional à moradia, mas também por
razões de ordem humanitária e social, já que
não se pode negar a existência de vínculo
afetivo e psicológico estabelecido pelos
cônjuges/companheiros com o imóvel em
que, no transcurso de sua convivência,
constituíram não somente residência, mas um
lar. STJ. 3ª Turma. REsp 1582178-RJ, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
11/09/2018 (Info 633)21.
Não há direito real de habitação sobre
imóvel comprado pelo falecido em
copropriedade com terceiro. O direito real
de habitação possui como finalidade precípua
garantir o direito à moradia ao
cônjuge/companheiro supérstite, preservando
o imóvel que era destinado à residência do
casal, restringindo temporariamente os
21 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O cônjuge ou companheiro
sobrevivente possui direito real de habitação mesmo que seja
proprietário de outros bens. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível
em:
. Acesso em: 08/12/2023
direitos de propriedade originados da
transmissão da herança em prol da
solidariedade familiar.
A copropriedade anterior à abertura da
sucessão impede o reconhecimento do direito
real de habitação, visto que de titularidade
comum a terceiros estranhos à relação
sucessória que ampararia o pretendido
direito. Como o direito real de habitação já é
uma exceção criada pelo legislador, não pode
haver interpretação extensiva para incluir no
mesmo tratamento situações não previstas
em lei, como, por exemplo, a hipótese em que
o imóvel seja objeto de copropriedade
anterior com terceiros. O direito real à
habitação limita (restringe) os direitos de
propriedade e, portanto, só quem deve
suportar tal limitação são os herdeiros do de
cujus (quem recebeu o bem na herança), e
não quem já era proprietário do imóvel antes
do óbito.
Caso concreto: o STJ negou o pedido de uma
viúva que pretendia ver reconhecido o direito
real de habitação sobre o imóvel em que
morava, comprado pelo seu falecido marido
em copropriedade com um filho dele, antes
do casamento. STJ. 2ª Seção. EREsp
1520294-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti,
julgado em 26/08/2020 (Info 680). No mesmo
sentido é a Tese 10 do Jurisprudência em
Teses (Ed. 50):10) Não subsiste o direito real
de habitação se houver copropriedade sobre
o imóvel antes da abertura da sucessão ou se,
àquele tempo, o falecido era mero
usufrutuário do bem22.
Tem direito ao recebimento de aluguéis a
parte que, sem vínculo de parentalidade
22 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não há direito real de habitação
sobre imóvel comprado pelo falecido em copropriedade com terceiro.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
. Acesso em: 08/12/2023
18
com a cônjuge supérstite, possuía imóvel
em copropriedade com o de cujus - Situação
hipotética: João faleceu. Regina, a viúva, ficou
morando no apartamento a título de suposto
direito real de habitação. Esse imóvel
pertencia a João e sua filha Letícia, em
copropriedade. Letícia não é filha de Regina.
Letícia terá direito de receber alugueis
referente à sua fração ideal. Vale ressaltar que
“a copropriedade anterior à abertura da
sucessão impede o reconhecimento do direito
real de habitação, visto que de titularidade
comum a terceiros estranhos à relação
sucessória que ampararia o pretendido
direito” (STJ. 2ª Seção. EREsp 1.520.294/SP, Rel.
Min. Maria Isabel Gallotti, DJe 02/09/2020. Info
680). Em verdade, o direito de habitação só
existe sobre bem que pertence, em sua
integralidade, ao de cujus. A existência de
coproprietários impede o uso pelo
sobrevivente. No caso, além da preexistente
copropriedade, a parte, filha do primeiro
casamento do de cujus, não guarda nenhum
tipo de solidariedade familiar em relação à
cônjuge supérstite, não havendo se falar em
qualquer vínculo de parentalidade ou até
mesmo de afinidade. Nessa linha de
intelecção, portanto, não lhe cabe suportar
qualquer limitação ao seu direito de
propriedade, que é, justamente, a essência do
direito real de habitação. STJ. 3ª Turma.REsp
1830080-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 26/04/2022 (Info
734).23
🚨 JÁ CAIU
Na prova para Juiz de Direito Substituto do Estado de
23 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Tem direito ao recebimento de
aluguéis a parte que, sem vínculo de parentalidade com a cônjuge
supérstite, possuía imóvel em copropriedade com o de cujus. Buscador
Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
.
São Paulo (Ano: 2021, VUNESP), sobre o direito real de
habitação, foi considerada incorreta a alternativa
que dizia que “Exige-se o registro imobiliário para
constituição do direito real de habitação do viúvo.”
Isso porque o Superior Tribunal de Justiça no
julgamento do REsp 565.820/PR, reafirmou o
entendimento da Corte no sentido da
“desnecessidade de inscrição do bem no cartório de
registro de imóveis''.
4.1.2. FORMAS DE RECEBIMENTO DA
HERANÇA NA SUCESSÃO LEGÍTIMA
1. Por cabeça: Cada integrante da classe herda
por direito próprio.
2. Por estirpe: Herda-se não por direito próprio.
Ocorre nos seguintes casos:
a) Representação: os herdeiros
representam o que era integrante da
classe aquinhoada beneficiada. Ou
seja, os herdeiros herdam com
parentes de outra classe.
b) Transmissão: Aqui há uma situação
de pós-morto e não pré-morto.
Assim, temos uma nova sucessão
causa mortis, onde o herdeiro do
pós-morto reivindica o patrimônio do
falecido.
Nas palavras de Rubem Valente24 “a sucessão
por cabeça é aquela que ocorre entre herdeiros da
mesma classe e grau, em que a divisão dos bens é
feita de forma igualitária. Por outro lado, a sucessão
por estirpe é aquela que ocorre entre herdeiros da
mesma classe e graus diferentes ou de classes
diferentes, como nos casos em que, após receber a
24 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado. Disponível em: Minha
Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022.
19
transmissão da herança, o sucessor morre e
transmite seus direitos a seus sucessores, de modo
que serão chamados à primeira sucessão herdeiros
de classes diferentes, ou de graus diferentes, na
mesma classe. Os herdeiros que herdam por estirpe
dividem entre si aquilo que couber a seu ramo.”
4.2. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA
“O testamento representa, em sede de Direito
das Sucessões, a principal forma de expressão e
exercício da autonomia privada, da liberdade
individual, como típico instituto mortis causa”25.
Para Márcio Cavalcante26, “o testamento é um
negócio jurídico unilateral (traz obrigações somente
para quem elabora), solene (deve obedecer
formalidades previstas em lei, personalíssimo (ato
elaborado exclusivamente pelo testador) e revogável,
por meio do qual o testador, observada a legislação
vigente, determina quem irá ficar com seu patrimônio
depois que ele vier a falecer podendo ainda prever
outras regras de caráter não patrimonial.”
Princípio da soberania da vontade do
testador. Na existência de cláusula
testamentária duvidosa, que remete a
interpretações distintas, deve-se
compreendê-la de modo que melhor se
harmonize com a vontade manifestada pelo
testador, em atenção ao princípio da
soberania da vontade desse, insculpido nos
arts. 112 e 1.899 do Código Civil. Para a
aplicação do princípio da soberania da
vontade do testador na interpretação dos
26 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É válido o testamento particular
que, a despeito de não ter sido assinado de próprio punho pela
testadora, contou com a sua impressão digital. Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em:
. Acesso em: 08/12/2023
25 Tartuce, Flávio. Direito Civil - Direito das Sucessões - Vol. 6. Disponível
em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2021.
testamentos deverão ser adotadas as
seguintes premissas:
▸Naquelas hipóteses em que o texto escrito
ensejar várias interpretações, deverá
prevalecer a que melhor assegure a
observância da vontade do testador;
▸ Na busca pela real vontade do testador,
deve ser adotada a solução que confira maior
eficácia e utilidade à cláusula escrita;
▸ Para poder aferir a real vontade do testador,
torna-se necessário apreciar o conjunto das
disposições testamentárias, e não
determinada cláusula que, isoladamente,
ofereça dúvida; e
▸A interpretação buscada deve ser
pesquisada no próprio testamento, isto é, a
solução deve emergir do próprio texto do
instrumento. STJ. 4ª Turma. REsp 1532544/RJ,
Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em
08/11/201627.
Tem origem em ato de última vontade do
autor da herança, por exercício da autonomia privada
e que possui primazia em relação à sucessão
legítima. Prestigia-se a vontade do falecido,
aplicando-se aqui o princípio da vontade soberana
do testador, observando-se disposições de ordem
pública. Pode ocorrer de 2 formas:
a) A título universal: Testamento
b) A título singular: Legado e Codicilo
(testamento de pequena monta). Não
tem a mesma formalidade que o
testamento, bastando que seja escrito
(até mesmo particular) e não necessita
de testemunha. Todavia, só serve para
bens de pequeno valor e questões não
27 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Princípio da soberania da vontade
do testador (art. 1.899 do Código Civil). Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em:
. Acesso em: 08/12/2023
20
patrimoniais (exemplo: cremação, etc).
📌 OBSERVAÇÕES
■ O codicilo é revogável automaticamente
com a superveniência de um testamento, salvo
ressalva expressa no próprio testamento, mesmo que
não haja incompatibilidade. Isso decorre de ser o
testamento mais formal, absorvendo tudo da vontade
do testador.
■ O testamento também é revogável a
qualquer tempo pelo testador. Para isso, só poderá
ser revogado por um testamento posterior e que
possua revogação expressa. Todavia, há uma
possibilidade de revogação tácita total ou parcial,
quando o novo testamento tem incompatibilidades
com o anterior.
■ Nobrasil, a pessoa pode ser sucessora
legítima e testamentária? SIM. A exemplo de um filho
contemplado com testamento ou legado também
herdará como sucessor legítimo.
■ No caso de testamento, após a morte da
pessoa, o CC/02 exige que se ingresse com uma ação
judicial de confirmação, abertura e registro de
testamento (Art. 735 a 737, CPC). Essa ação serve
para que o juiz junto com o MP fiscalize se o
testamento é válido ou não, ou seja, se as
formalidades legais foram observadas ou não e
principalmente se há indício de fraude. Na sentença o
juiz confirmará o testamento e ordenará que seja
registrado no cartório judicial para que se dê
publicidade para que terceiro tenham acesso ao
testamento.
■ É vedada a produção de testamento por
incapaz, o qual nem mesmo pode ser representado (o
testamento é ato personalíssimo). Há, entretanto,
uma única exceção: aqueles que têm idade igual ou
superior a 16 anos, não precisando ser assistido ou
representado (art. 1.860, §único). Inclusive, dessa
exceção decorre que a pessoa com 16 anos pode
reconhecer filhos, pois pode testar. No ponto,
ressalta-se que a incapacidade superveniente do
testador não invalida o testamento, nem o
testamento do incapaz se valida com a superveniência
da capacidade. Ademais, destaca-se que, além dos
incapazes, não podem testar quem não tenha pleno
discernimento.
■ O testamento não pode ser invalidado
(nem mesmo no caso de nulidade absoluta) após a
decadência. Assim, temos uma exceção à regra geral
do negócio jurídico de que o negócio nulo não
convalesce. O prazo decadencial é de 5 anos do seu
registro (art. 1.859, CC).
■ O testamento poderá ser revogado a
qualquer tempo enquanto o testador estiver vivo, por
outro testamento.
■ Previu o legislador a exigência de
testemunhas para a realização do testamento,
devendo, em regra, tratarem-se de 3 pessoas que
tenham visto a manifestação da vontade do testador.
4.2.1. CARACTERÍSTICAS DO
TESTAMENTO
Para Rubem Valente28, o referido negócio
jurídico possui algumas particularidades;
características que são essenciais:
1. UNIVERSALIDADE: somente pela
manifestação de última vontade do testador,
isto é, somente este poderá constituir o
testamento, que permite dispor até a
totalidade do patrimônio;
2. PERSONALÍSSIMO: conforme art. 1.858, o
testamento é ato personalíssimo, sendo
28 Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado . Disponível em: Minha
Biblioteca, (2ª edição). Grupo GEN, 2022.
21
permitida a sua mudança a qualquer tempo;
3. CAUSA MORTIS: o efeito do testamento
somente se produzirá após a morte do
testador;
4. REVOGÁVEL: como disposto no art. 1.858, o
testamento pode ser revogado a qualquer
tempo;
5. GRATUITO E SOLENE: é gratuito por não
admitir contraprestação do beneficiário e
solene por observar as formas prescritas em
lei.
🚨 JÁ CAIU
Na prova para Procurador do Estado do Mato Grosso
do Sul (Ano: 2021, CEBRASPE), houve questão na
prova objetiva cobrando o tema, escrita da seguinte
forma: “Bruno, brasileiro, solteiro, sem filhos,
escreveu, aos 17 anos de idade, testamento no qual
deixou a integralidade de seus bens ao seu primo,
Guilherme. O testamento foi elaborado por processo
mecânico, não contém rasuras ou espaços em branco
e foi assinado pelo testador depois de ele ter lido o
documento na presença de três testemunhas, que
igualmente o assinaram. Nessa situação hipotética, o
testamento elaborado por Bruno é (...)”
Resposta: válido, devendo ser confirmado.
4.2.2. ESPÉCIES DE TESTAMENTO
Quanto à forma, os testamentos
podem ser classificados em ordinários e especiais,
conforme ensina Márcio Cavalcante29:
29 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É válido o testamento particular
que, a despeito de não ter sido assinado de próprio punho pela
testadora, contou com a sua impressão digital. Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em:
. Acesso em: 08/12/2023
ORDINÁRIOS
(COMUNS,
VULGARES)
ESPECIAIS
(EXTRAORDINÁRIOS)
São aqueles elaborados
em condições normais,
isto é, sem qualquer
situação que possa
implicar vício na
vontade.
São aqueles elaborados
em situação de
anormalidade.
Espécies de testamento
ordinário:
a. Testamento
público;
b. Testamento
cerrado
(místico);
c. Testamento
particular
(hológrafo).
Espécies de testamento
extraordinário:
a. Testamento
marítimo;
b. Testamento
aeronáutico;
c. Testamento
militar.
🚨 JÁ CAIU
Na prova para Promotor de Justiça de Pernambuco
(Ano: 2022, CEBRASPE), o assunto foi cobrado da
seguinte forma: “As modalidades ordinárias de
testamento previstas em nosso ordenamento jurídico
são: (...)”
Resposta: “testamento particular, público e cerrado.”
4.2.2.1. TESTAMENTO
PARTICULAR/HOLÓGRAFO/PRIVADO
Escrito pelo testador à mão ou por meio
mecânico, sendo a assinatura de PRÓPRIO PUNHO.
Aqui, não cabe assinatura a rogo. São necessárias 3
testemunhas.
22
Carlos Roberto Gonçalves30 conceitua como
“denomina-se testamento particular ou hológrafo o
ato de disposição de última vontade escrito de
próprio punho, ou mediante processo mecânico,
assinado pelo testador, e lido por este a três
testemunhas, que o subscreverão, com a obrigação
de, depois da morte do disponente, confirmar a sua
autenticidade.”
As formalidades do testamento particular
estão elencadas no art. 1.876 do Código Civil.
Vejamos:
Art. 1.876. O testamento particular pode ser
escrito de próprio punho ou mediante
processo mecânico.
§ 1.º Se escrito de próprio punho, são
requisitos essenciais à sua validade seja lido e
assinado por quem o escreveu, na presença
de pelo menos três testemunhas, que o
devem subscrever.
§ 2.º Se elaborado por processo mecânico,
não pode conter rasuras ou espaços em
branco, devendo ser assinado pelo testador,
depois de o ter lido na presença de pelo
menos três testemunhas, que o subscreverão.
É válido o testamento particular que, a
despeito de não ter sido assinado de
próprio punho pela testadora, contou com
a sua impressão digital.
O art. 1.876, § 2º do Código Civil afirma que
um dos requisitos do testamento particular é
que ele seja assinado pelo testador. Vale
ressaltar, contudo, que o STJ decidiu que:
É válido o testamento particular que, a
despeito de não ter sido assinado de próprio
punho pela testadora, contou com a sua
30 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 3 -
Responsabilidade Civil - Direito de Família - Direito das Sucessões.
Disponível em: Minha Biblioteca, (9th edição). Editora Saraiva, 2022.
impressão digital.
Caso concreto: a falecida deixou um
testamento particular elaborado por meio
mecânico; o testamento foi lido na presença
de três testemunhas, que o assinaram; vale
ressaltar, no entanto, que esse testamento
não foi assinado pela testadora em razão de
ela se encontrar hospitalizada na época e
estar com uma limitação física que a impedia
assinar; para suprir essa falta de assinatura, a
testadora colocou a sua impressão digital no
testamento; as testemunhas, ouvidas em
juízo, confirmaram o cumprimento das
demais formalidades e, sobretudo, que
aquela era mesmo a manifestação de última
vontade da testadora; o STJ considerou válido
o testamento. STJ. 2ª Seção. REsp
1633254-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 11/03/2020 (Info 667).
Por outro lado, não se admite o cumprimento
de testamento PÚBLICO que não foi assinado
por tabelião:
Embora a jurisprudência do STJ admita que,
para a preservação da última vontade do
autor do testamento, é possível flexibilizar
alguns requisitos formais no registro do
documento, a assinatura do tabelião, ou de
seu substituto legal, é requisito indispensável
de validade. Isso porque o notário (tabelião) é
quem possui fé pública para dar
autenticidade ao testamento.
A ausência da assinatura e identificação do
tabelião que teria presenciado ou lavrado o
instrumento é vício externo grave que
compromete a higidez do testamentoe não
permite aferir, com segurança, a real vontade
do testador. Logo, não pode ser considerado
juridicamente eficaz. STJ. 3ª Turma. REsp
1703376/PB, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado
23
em 06/10/202031.
4.2.2.1.1. CONFECÇÃO DO
TESTAMENTO PARTICULAR EM
CIRCUNSTÂNCIAS EXCEPCIONAIS
O art. 1.879 do Código Civil prevê que:
Art. 1.879. Em circunstâncias excepcionais
declaradas na cédula, o testamento particular
de próprio punho e assinado pelo testador,
sem testemunhas, poderá ser confirmado, a
critério do juiz.
Segundo Carlos Roberto Gonçalves32 "Tal
dispositivo introduz em nosso direito a possibilidade
excepcional de se admitir como testamento válido um
simples escrito particular pelo qual o declarante
dispõe de seus bens para depois de sua morte, sem
observância das formalidades e tipos legais. (...)
Trata-se, em verdade, de nova modalidade de
testamento especial, na qual se exige que a
excepcionalidade seja declarada na cédula. Não se
admite que esta seja redigida por meios mecânicos,
pois deve ser elaborado “de próprio punho e assinado
pelo testador”. A responsabilidade de decidir se o
testamento particular excepcional poderá ser
confirmado, ou não, recai sobre o juiz. A ele compete
decidir, na falta de previsão expressa do legislador, se
tal testamento será cumprido e terá eficácia, ainda
que o testador tenha falecido muito tempo depois da
cessação da situação excepcional que justificou a
utilização da forma simplificada, tendo desfrutado de
32 Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 3 -
Responsabilidade Civil - Direito de Família - Direito das Sucessões.
Disponível em: Minha Biblioteca, (9th edição). Editora Saraiva, 2022.
31 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É válido o testamento particular
que, a despeito de não ter sido assinado de próprio punho pela
testadora, contou com a sua impressão digital. Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em:
. Acesso em: 08/12/2023
tempo mais do que suficiente para testar de outra
forma.”
4.2.2.2. TESTAMENTO PÚBLICO
O testamento público é feito pelo tabelião
ou substituto de notas (por meio de escritura pública).
São necessárias 2 testemunhas e obrigatoriamente
devemos ter LEITURA EM VOZ ALTA. Além disso, deve
ter a assinatura do testador, das testemunhas e do
tabelião.
Márcio Cavalcante33, ensina que, “o
testamento público (também chamado de aberto) é
aquele no qual o testador faz as suas declarações de
última vontade perante o tabelião de notas (ou seu
substituto legal) ou o agente consular, na presença
de duas testemunhas, devendo a autoridade lavrar
(redigir) o testamento e registrá-lo em livro próprio”.
Continuando com os ensinamentos de
Márcio Cavalcante, são requisitos essenciais do
testamento público:
1. O testamento deve ser escrito pelo tabelião
(ou por seu substituto legal) em seu livro de
notas, de acordo com as declarações do
testador. O testador pode servir-se de minuta,
notas ou apontamentos. Em outras palavras,
o testador pode levar as suas declarações por
escrito (levar uma “cola”) e com base nesse
texto ir declarando para o testador.
📌 OBSERVAÇÕES
■ O art. 18 da LINDB autoriza que as
autoridades consulares brasileiras, fora do território
nacional, celebrem testamento público.
33 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Validade de testamento feito por
cego mesmo sem que tenham sido realizadas duas leituras e ainda que
não tenha sido feito o registro da condição de cego no instrumento.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
. Acesso em: 08/12/2023
24
■ O testamento público pode ser escrito
manualmente ou mecanicamente, bem como ser feito
pela inserção da declaração de vontade em partes
impressas de livro de notas, desde que rubricadas
todas as páginas pelo testador, se mais de uma.
2. Depois que o tabelião terminar de lavrar
(escrever) o instrumento, ele deverá ser lido
em voz alta pelo tabelião para o testador e
para as duas testemunhas, a um só tempo. O
testador poderá também preferir ler ele
próprio em voz alta na presença das
testemunhas e do oficial do tabelionato.
3. Depois da leitura, o instrumento deverá ser
assinado pelo testador, pelas testemunhas e
pelo tabelião.
4. Se o testador não souber assinar (ex:
analfabeto) ou não puder (ex: sofre de alguma
doença que o impede), quem assinará pelo
testador será uma das testemunhas
instrumentárias (art. 1.865).
Validade de testamento feito por cego
mesmo sem que tenham sido realizadas
duas leituras e ainda que não tenha sido
feito o registro da condição de cego no
instrumento.
O art. 1.867 do Código Civil traz as seguintes
exigências adicionais no caso de testamento
feito por pessoa cega. Exige-se:
▸ Que o testamento seja público;
▸ Que sejam realizadas duas leituras do
testamento (se não for cego, basta uma);
▸ Que o tabelião declare expressamente no
testamento que o testador é cego.
Em um caso concreto, indivíduo cego
procurou o tabelionato de notas para fazer
um testamento público. O testamento foi
produzido no cartório pelo tabelião. Ocorre
que houve apenas uma leitura em voz alta
pelo tabelião na presença do testador e de
duas testemunhas. Além disso, não houve
expressa menção no corpo do documento da
condição de cego do testador.Apesar disso, o
STJ entendeu que não houve nulidade.
O descumprimento de exigência legal para a
confecção de testamento público – segunda
leitura e expressa menção no corpo do
documento da condição de cego – não gera a
sua nulidade se mantida a higidez da
manifestação de vontade do testador. STJ. 3ª
Turma.REsp 1677931-MG, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 15/8/2017 (Info 610)34.
4.2.2.3. TESTAMENTO
CERRADO/SECRETO/MÍSTICO
Art. 1.868. O testamento escrito pelo testador,
ou por outra pessoa, a seu rogo, e por aquele
assinado, será válido se aprovado pelo
tabelião ou seu substituto legal, observadas
as seguintes formalidades:
I - que o testador o entregue ao tabelião em
presença de duas testemunhas;
II - que o testador declare que aquele é o seu
testamento e quer que seja aprovado;
III - que o tabelião lavre, desde logo, o auto de
aprovação, na presença de duas
testemunhas, e o leia, em seguida, ao
testador e testemunhas;
IV - que o auto de aprovação seja assinado
pelo tabelião, pelas testemunhas e pelo
testador.
Parágrafo único. O testamento cerrado pode
34 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Validade de testamento feito por
cego mesmo sem que tenham sido realizadas duas leituras e ainda que
não tenha sido feito o registro da condição de cego no instrumento.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
. Acesso em: 08/12/2023
25
ser escrito mecanicamente, desde que seu
subscritor numere e autentique, com a sua
assinatura, todas as paginas.
O testador não quer que ninguém saiba,
nem mesmo o tabelião. Aqui, será feito instrumento
particular que será entregue ao tabelião. O tabelião
lavrará um auto de aprovação do testamento cerrado.
Esse auto será feito com duas testemunhas, e ao final
o tabelião lacrará o testamento que somente será
aberto após a morte.
Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves35
“testamento cerrado, secreto ou místico, outrora
também chamado de nuncupação implícita, é o
escrito pelo próprio testador, ou por alguém a seu
rogo e por aquele assinado, com caráter sigiloso,
completado pelo instrumento de aprovação ou
autenticação lavrado pelo tabelião ou por seu
substituto legal, em presença do disponente e de
duas testemunhas idôneas. (...) Se o testador permitir,
o oficial público poderá lê-lo e verificar se está de
acordo com as formalidades exigidas. Mas isso é a
exceção. O testador tem direito a esse segredo, que
não lhe pode ser negado por aquele, a pretexto

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