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Há várias definições para o termo alienação. Podemos dizer que se um ser humano está alienado, ele está incapaz de pensar e agir por si próprio, ou seja, é uma anulação das ideias e pensamentos próprios do ser humano. O papel da televisão, do rádio, ou de qualquer outro modo de transmissão de informações é repassar informações para a população de modo que todos fiquem “antenados” em tudo o que está ocorrendo no seu país e no mundo. Mas a cobiça pelo poder e pelo dinheiro é tanta que os transmissores não se importam com o que os outros vão acreditar. Apenas repassam uma informação qualquer para todos. A alienação através da mídia ocorre quando uma pessoa esta no poder, e assim passa a não se importar com os fatos reais, os quais precisam de extrema atenção. Tais fatos acabam sendo encobertos por outros que não precisam de tanta importância; como os assuntos do Congresso Nacional (polêmicos) que se tornam indiscutíveis frente os assuntos da Copa do Brasil. Isso ocorre quando a pessoa que comanda, no caso, a televisão, não está preocupada em passar para os telespectadores os fatos reais, então as pessoas acreditam naquilo que a televisão mostra, sem saber se é ou não verdade. Desse modo, a sociedade que necessariamente precisaria estar informada dos acontecimentos atuais, se tornam alienadas. Claro, não podemos generalizar, há muitas fontes confiáveis. Mas para que não nos tornemos alienados, precisamos sempre nos manter informados, questionar aquilo que é nos passado através da mídia. Sempre lendo e procurando saber de outras fontes de informações. Pois só é alienado, aquele que é ignorante o suficiente para aceitar tudo o que é transmitido de forma confortável e inquestionável. Crédito da imagem: Nathan Creigton-Kelly Neste artigo, o autor discute questões fundamentais acerca de desinformação, censura e outros fenômenos de crescente importância na ecologia comunicacional das redes sociais digitais. Recomendamos a leitura! Por: Alisson Andrey Puska Você com certeza já sofreu censura online e nem percebeu. Veja como as redes sociais, governos autoritários e algoritmos controladores impõem as suas vontades ao fluxo de informações online de forma inconsequente, promovendo a desinformação e a alienação. A desinformação no ambiente digital, em especial nas redes sociais, tem um potencial prejudicial que afeta a sociedade organizada, desde relações pessoais até as fundações do Estado democrático de direito. Esse fenômeno endógeno – intrínseco às relações humanas – sempre existiu, revelando-se por meio das limitações cognitivas do indivíduo ao tentar compreender o que seus sensores biológicos capturam [1]. Na era da informação, a desinformação se ampara na tecnologia de comunicação para emergir como um fenômeno sócio-técnico, ou seja, que possui aspectos sociais e técnicos provenientes da interação entre pessoas e tecnologias. Essa relação tem o poder de ampliar ou limitar a capacidade e o alcance da expressão humana, incluindo o conteúdo falso [2]. Recentemente, empresas privadas que controlam as redes sociais, pressionadas por soluções capazes de mitigar os efeitos da desinformação online, tomaram para si o papel de moderadoras do fluxo das informações em suas plataformas, retirando conteúdo falso e restringindo o acesso de usuários. Isso tem sido feito sem uma discussão abrangente com os membros da sociedade sobre a explícita violação da neutralidade da rede, e sem consideração ao funcionamento saudável do Estado democrático. A Figura 1 exemplifica o caso em que as redes sociais agiram de forma inconsequente bloqueando as contas do ex-presidente dos Estados Unidos. Figura 1 – Decisões arbitrárias de censura. Fonte: BBC. Na falta de uma regulação do Estado que seja adequada e eficiente para lidar com os impactos da desinformação, a censura parece ser o procedimento digital que mais traz resultados, ao menos no curto prazo. Tal censura representa o controle da expressão humana, exercido através da tecnologia no meio de comunicação digital. Quem censura quem? No meio de comunicação das redes sociais, a censura simboliza um controle absurdo por parte da sociedade privada sobre o que os usuários podem ou não consumir. Ao retirar de circulação um conteúdo falso, as redes sociais se transformam em árbitros do conteúdo fornecido para seus usuários. Isso significa que a distribuição de conteúdo pode ser enviesada por decisões unilaterais, que consideram a perspectiva daquele que tem esse poder de veto. Obviamente as redes sociais não são os únicos atores moderadores a utilizar esse procedimento. Os mecanismos digitais automatizados criados para facilitação do processo de comunicação nessas plataformas, como os algoritmos de distribuição de conteúdo, também simbolizam entidades “arbitrais” do fluxo de informação, introduzindo seus próprios vieses com potencial para alienar comunidades digitais inteiras [3]. A diferença desses dois procedimentos está na ideologia que distribuem: um é informado por escolhas dos usuários, o outro informa essas próprias escolhas. No ambiente digital, o número de dados gerados diariamente ultrapassa a compreensão humana de quantidade. Assim, a censura é um procedimento que necessita de estratégias e ferramentas que amparem a tarefa de detectar, avaliar e decidir sobre essa imensa quantidade de conteúdo gerado pelas pessoas nas redes sociais. Não há como organizações humanas sozinhas lidarem com tanta informação em tempo hábil para mitigar impactos não desejados. Nesse sentido, cientistas e desenvolvedores investigam maneiras de agilizar essa tarefa, buscando soluções para facilitar o processo de comunicação. Muitas iniciativas tecnológicas encontram na censura – seja ela explícita na forma de um moderador humano, ou implícita em uma ferramenta digital – um jeito de controlar os impactos da desinformação na sociedade em um curto prazo. A Figura 2 apresenta um exemplo de um mecanismo digital automático de detecção e bloqueio que censurava conteúdo legítimo no Instagram. Figura 2 – Algoritmo do Instagram com viés na seleção e bloqueio de conteúdo. Fonte: The Verge. A censura não é um procedimento restrito aos aspectos tecnológicos da plataforma de comunicação. O mundo social possui aspectos igualmente impactantes. Em situações particulares, atores populares que censuram um conteúdo em seus canais de comunicação, falso ou não, podem levar a audiência a buscar por ele em outros canais [4], correndo o risco de consumir ainda mais conteúdo falso em mídias alternativas e predatórias. Quando autoridades sociais, como presidentes com perfis públicos e verificados em redes sociais, bloqueiam o acesso de outras contas em seus perfis, acabam promovendo somente ideologias favoráveis à sua própria. Isso tem o potencial de alienar os seguidores, como em uma câmara de eco ideológica que se retroalimenta com perspectivas polarizadas e unilaterais [3]. A censura exerce controle sobre a percepção e expressão das pessoas que se comunicam pelo meio digital. Assim, a censura não promove o silêncio sobre um assunto, mas instiga a desinformação sobre ele. Outra forma de moderação ocorre quando autoridades do Estado agem sobre os meios de comunicação digitais, impondo restrições e obrigações às redes sociais. A determinação judicial de vetar um conteúdo específico fomenta a discussão de ideias enviesadas pela perspectiva permitida. Isso caracteriza o controle estatal sobre os meios de comunicação, acarretando a alienação da comunidade em um contexto autoritário e antidemocrático. Dessa forma, a censura opera em diferentes aspectos da comunicação, tanto tecnológicos quanto sociais, com consequências na liberdade de pensamento e expressão das pessoas. Quais as consequências? O fato é que a censura nas mídias sociais tem um potencial de alienação [5]. Privar uma comunidade do contato com perspectivas diferentes sobre temas da sociedade, sejam essas perspectivas embasadas em falsidades ou não, pode trazer consequências prejudiciais a longo prazo. Nesse contexto, a censura priva o indivíduo de avaliar suasperspectivas, de reformular seus ideais sobre sua realidade à luz de novas informações, de aprender e expandir sua base de conhecimento, e construir uma interpretação abrangente de sua realidade. Dessa forma, a alienação significa a redução da capacidade dos indivíduos em pensar ou agir por si próprios. Não é de hoje que “assuntos-tabus” desencadeiam consequências relevantes na vida das pessoas. Por exemplo, não falar sobre sexualidade com jovens ou então sobre sexo com crianças priva-as do conhecimento sobre si e sobre o consentimento do que pode ou não ser feito com seus corpos, o que acarreta muitas vezes dor e sofrimento [6]. Não discutir abertamente os problemas mais incômodos em uma sociedade, como o suicídio ou a igualdade de direitos dos membros de uma comunidade, limita a capacidade dessa mesma sociedade em perceber, prosperar e encontrar soluções responsáveis, dignas e sustentáveis. Dessa forma, a censura oculta vulnerabilidades na organização social, que podem abalar suas próprias estruturas com o passar do tempo. A Figura 3 mostra um exemplo em que a censura autoritária do Estado causou consequências prejudiciais à individualidade em uma comunidade. Figura 3 – Exemplo de consequência da censura online. Fonte: O Globo. Em uma sociedade altamente conectada, que se informa cada vez mais em seus círculos sociais digitais exclusivos, a censura limita a capacidade da comunidade discutir um tema complexo, de diferentes atores se posicionarem, da comunidade transformar seus valores e de corrigir os erros. Essa alienação pode fazer com que uma perspectiva unilateral sobre um tema atravesse gerações em uma sociedade. O que pode ser feito? A censura, aparentemente, serve a um propósito iminente que traz resultados em detrimento de uma ideologia em um contexto social imediato. No curto prazo, esse tipo de controle pode ajudar, de forma pontual, a diminuir os prejuízos da desinformação na vida das pessoas. Por outro lado, o potencial de perdurar uma visão desinformada da realidade, ou no mínimo enviesada, também resulta em consequências devastadoras para a prosperidade da vida em sociedade a longo prazo. Se a sociedade for condescendente com algoritmos e ferramentas digitais automatizadas, desenvolvidas sem cuidado e ponderação, corre-se o risco de a comunidade digital humana ficar desamparada para perceber e lidar com seus problemas endógenos, empoderando a máquina ao invés das pessoas. Claramente, o árduo e desgastante trabalho de debater perspectivas conflitantes, sobre temas delicados em um círculo social, pode nos impulsionar na direção de soluções confortáveis e atrativas, como essa da censura, sem responsabilidade ou consideração sobre suas consequências na vida das pessoas no futuro. Porém, limitar a expressão dos indivíduos pode se tornar um tremendo tiro no pé para a prosperidade das comunidades. Nesse sentido, surge a necessidade de entender e considerar a desinformação de forma mais abrangente, de revelar as armadilhas que esse fenômeno esconde, nas diferentes dimensões de interação entre pessoas, tecnologias e conteúdos [7]. É preciso ter cuidado no desenvolvimento de estratégias e ferramentas para mitigar os impactos da desinformação online, sem ocasionar ainda mais problemas sociais. Talvez a maturidade das organizações sociais e das entidades que constituem a democracia seja ainda infantil e condescendente demais para lidar com a pluralidade de perspectivas da diversidade dos indivíduos que constituem as sociedades. Se esse for o caso, precisamos ampliar o debate sobre a mitigação da desinformação online para além dos legisladores, políticos e cientistas. Deve-se dar crédito à capacidade das pessoas em compreender seu contexto, em entender o que é uma solução ou decisão benéfica para sua comunidade, promovendo sua autonomia. Nesse sentido, o poder da comunicação, do debate, da construção do conhecimento e da conscientização pavimenta o caminho para uma organização humana mais sustentável, socialmente responsável e consciente. Como cientistas e desenvolvedores, é necessário cuidado ao propor e criar soluções contra a desinformação no ambiente digital. Seria mais adequado construir ferramentas digitais que capacitem os usuários de tecnologias de comunicação. Devemos buscar respostas que auxiliem na educação das pessoas, que instiguem sua plena conscientização como membros da comunidade global digital humana, ao invés de produtos que elegem a máquina como um ator controlador disfarçado de facilidade e induzem cada vez mais o usuário a um estado de dormência social. O que é alienação digital e como evitar que ela influencie estas eleições Uma interpretação genérica sugere uma sobreposição histórica entre disponibilidade de acesso à linguagem digital e ascensão de formas autocráticas de governo. Isso pode decorrer da tensão entre lógica comunitária e horizontal, predominante nas redes sociais com os dispositivos tradicionais da política, de natureza institucional e verticalizado. Ou seja, o atraso em traduzir a velocidade, a flexibilidade e o "participacionismo" das redes em termos de renovação de nossas estruturas representativas ofereceu a oportunidade ideal para o ressurgimento de movimentos antipolíticos, que ao final mostraram-se apenas formas mais regressivas de política. De toda forma, nos vimos diante de um novo tipo de alienação, de corte digital, associada com a guerra híbrida e com a parasitagem de instituições jurídicas e midiáticas. Democracia e liberalismo sempre tiveram um casamento conturbado, desde que a aurora da modernidade colocou no centro da preocupação política a ideia de representação. Com ela esperava-se que líderes carismáticos, feitores personalistas e indivíduos notáveis cedessem espaço para administradores anônimos, projetos coletivos e políticas públicas capazes de sobreviver às variações entre governos. Contra a soberania da representação ergueu-se outro princípio digital baseado na expressão. A cada transformação nos nossos modos de trabalhar, desejar e usar a linguagem equivale uma nova forma de ideologia, necessária para negar e inverter relações de privilégio e poder. O estilo expressivo rapidamente transformou-se em critério monetizável, produzindo uma popularidade sem equivalente formal fora da rede. Poder sem representação é o caminho mais simples para revolta e turbulência política. De forma inédita este processo parecia colocar a direita como motor de popa para a transformação exigida por nossa época: líderes que dispensam mediações, que desrespeitam autoridades científicas ou sanitárias, que instrumentalizam preconceitos e nacionalismos para defender identidades majoritárias. A alienação na identidade digital trouxe novidades formais importantes: uso de pseudônimos, fake news, retóricas de cancelamento, robôs e algoritmos de distorção. Lembremos que a noção de alienação ressurgiu, simultaneamente, na filosofia de Hegel e no alienismo de Pinel, precursor das formas modernas de psicopatologia. Alienar-se quer dizer perder a capacidade de reconhecer-se nos efeitos de nossos atos e palavras, mas também ser incapaz de reconhecer o estrangeiro que nos habita, bem como o outro como representante de nossa própria divisão subjetiva. Ou seja, alienar-se é negar as contradições da realidade e inverter o sentido de sua determinação. Isso vale também para a concepção de alienação, trazida por Pinel, para redefinir a loucura como perda temporária da razão e processo de sua recuperação por atos de reconhecimento (o que ele chamava de terapia moral). É possível que o que se vem enfrentando como negacionismo não seja mais do que uma combinação entre novas formas de alienação com novas maneiras de sofrer, com déficits ou distorções em experiências de reconhecimento. Contudo, agora parece emergir uma série de dispositivos e práticas que criam uma espécie de estabilização da ideologia, ou seja, que sejamos capazes de perceber a presença da ideologia ou de ilusões delirantes em nós mesmos e nos outros. Isso não significa que sejamos capazes de prescindir delas.Situação diferente de quando o coeficiente de distorção ainda não é aplicado. Por exemplo, durante os primórdios da propaganda, na sociedade de consumo de massa era preciso esclarecer as pessoas de que a propaganda "mente", que ela não era a expressão real de promessas e predicados de um produto. Nossa relação com ilusões e imagens segue o mesmo processo, pensemos por exemplo nas pessoas saindo correndo dos teatros onde os irmãos Lumière projetavam imagens de um trem chegando, nos primórdios do cinema. Primeiro nos alienamos em imagens, depois descobrimos a realidade simbólica destas imagens e finalmente nos separamos destas imagens ao percebermos que elas são apenas suportes para localizarmos o desejo do outro. Separar-se, portanto, é o antídoto básico contra a alienação. Deixar-se entrar em dúvida, inverter perspectivas, lembrar-se do processo ou das condições de produção de um determinado estado de mundo são procedimentos críticos que costumam compor esta vacina. image3.png image4.png image5.jpeg image1.jpeg image2.png