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Programa de Pós-Graduação EAD
UNIASSELVI-PÓS
TEORIA E PRÁTICA DA 
PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA
Autora: Anelise Donaduzzi
370.15
D674t Donaduzzi; Anelise 
 Teoria e prática da psicopedagogia clínica/ 
 Anelise Donaduzzi : UNIASSELVI, 2016.
 
 137 p. : il.
 ISBN 978-85-69910-13-8
 
1.Psicopedagogia. 
I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. 
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel
Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Profa. Bárbara Pricila Franz
 Profa. Cláudia Regina Pinto Michelli
 Prof. Ivan Tesck
 Profa. Kelly Luana Molinari Corrêa
Revisão de Conteúdo: Profa. Fernanda Germani de Oliveira Chiaratti
Revisão Gramatical: Profa. Sandra Pottmeier
Revisão Pedagógica: Bárbara Pricila Franz
Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci
Copyright © Editora Grupo Uniasselvi 2016
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial. UNIASSELVI – Indaial.
Possui graduação em Educação Especial 
pela Universidade Federal de Santa Maria (1990), 
Pós Graduação em Psicopedagogia (1999), Pós 
Graduação em Alfabetização (1995) e mestrado em 
Educação pela Universidade do Vale do Itajaí (2003). 
Atualmente é psicopedagoga clínica em Blumenau, 
professor autor da Fundação Universidade Regional de 
Blumenau, professor do Instituto de Pós Graduação 
e Extensão e professor do Instituto Catarinense 
de Pós- Graduação. Tem experiência na área de 
Educação, com ênfase em Educação Especial e 
Psicopedagogia, atuando principalmente nos 
seguintes temas: psicopedagogia clínica, 
difi culdade de aprendizagem, educação 
especial, inclusão, alfabetização.
Anelise Donaduzzi
Sumário
APRESENTAÇÃO ............................................................................ 7
CAPÍTULO 1
A História da Psicopedagogia Clínica: 
uma prática em construção ........................................................ 9
CAPÍTULO 2
O Processo de Investigação Clínica: 
o diagnóstico psicopedagógico ............................................... 27
CAPÍTULO 3
A Intervenção Psicopedagógica Clínica: 
Ressignificando o Aprender ..................................................... 89
CAPÍTULO 4
Perfil, Competências e Habilidades 
do Psicopedagogo Clínico ...................................................... 123
APRESENTAÇÃO
Caro(a) pós-graduando(a):
Bem-vindo à disciplina de Teoria e Prática da Psicopedagogia Clínica.
Este é o nosso caderno de estudos, material elaborado com muito carinho, 
com o objetivo de contribuir para a realização dos seus estudos e para a ampliação 
de seus conhecimentos sobre a Psicopedagogia Clínica.
Os capítulos foram organizados de forma didática e complementar. Eles 
apresentam as informações básicas, com algumas questões para sua reflexão e 
indicam outras referências que irão complementar seus estudos.
O primeiro capítulo trata da história da psicopedagogia clínica, abordando os 
conceitos fundamentais para a prática psicopedagógica. 
Em seguida, no segundo capítulo, abordaremos as questões pertinentes ao 
diagnóstico avaliativo psicopedagógico: em quê consiste este diagnóstico, quais 
as abordagens que fundamentam essa prática e quais os instrumentos que a área 
da psicopedagogia dispõe para a realização de uma avaliação psicopedagógica. 
Fecharemos este capítulo com a apresentação de um caso para ilustrar o que foi 
discutido anteriormente.
No terceiro capítulo, discutiremos sobre a intervenção psicopedagógica na 
perspectiva preventiva e terapêutica. Analisaremos as principais metodologias e os 
principais instrumentos disponíveis para a realização da prática psicopedagógica na 
proposta interventiva. Novamente, encerraremos o capítulo com a apresentação de 
um caso clínico a fim de relacionar a teoria com a prática psicopedagógica.
Finalmente, no último capítulo, fecharemos o nosso caderno com a discussão 
sobre o perfil, as competências e as habilidades que o psicopedagogo clínico 
deve desenvolver para o exercício pleno do seu trabalho. Levaremos você, caro 
(a) aluno (a), à reflexão (ou a refletir) sobre a postura e habilidades pessoais 
inerentes à prática da psicopedagogia.
Espero que esse caderno corresponda às suas expectativas. Desejo a você 
um bom trabalho e que aproveite ao máximo o estudo dos temas abordados nesta 
disciplina!
A autora.
CAPÍTULO 1
A História da Psicopedagogia Clínica: 
uma prática em construção
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
  Conhecer a história da psicopedagogia clínica;
  Compreender os principais conceitos que fundamentam a prática da 
psicopedagogia clínica;
  Relacionar os conceitos da psicopedagogia clínica com a sua prática.
10
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
11
A HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA: 
UMA PRÁTICA EM CONSTRUÇÃOCapítulo 1
ConteXtualiZação
Atualmente, a psicopedagogia é um campo do saber amplamente conhecido e 
divulgado. No contexto escolar, hoje em dia, é muito comum haver uma parceria 
entre a escola e o profi ssional da psicopedagogia, principalmente no trabalho com 
alunos com difi culdades de aprendizagem. Acredito que você, aluno, já deva ter 
ouvido diversas pessoas se referirem à psicopedagogia, não é mesmo? Mas, nem 
sempre foi assim... 
Podemos dizer que esta área do conhecimento ainda é relativamente nova 
e seu corpo teórico encontra-se em permanente construção. Esse saber não está 
pronto e acabado, uma vez que dialoga constantemente com as outras áreas do 
conhecimento e recebe infl uência direta delas.
Afi rmamos então, que a psicopedagogia é uma área do conhecimento 
multidisciplinar por receber infl uência e infl uenciar outras áreas, tais como a 
psicologia, a psicanálise, a linguística, a sociologia, a pedagogia, a neurologia, 
entre outras.
Por esta razão, a psicopedagogia, desde os seus primórdios no Brasil, 
passou por várias fases na sua atuação, marcada pelas diferentes concepções 
que embasaram sua prática.
Então, neste capítulo, aprofundaremos o nosso conhecimento sobre a 
trajetória da psicopedagogia no Brasil, até chegarmos ao momento atual. 
Discutiremos, também, os principais conceitos que se encontram presentes 
no fazer psicopedagógico. Com certeza, teremos um importante caminho de 
refl exões e discussões pela frente. Prontos para darmos início a essa jornada?
A Psicopedagogia Clínica e sua História
A maioria das produções científi cas que discutem as ações da 
psicopedagogia, seja no âmbito educacional ou clínico, foca a sua análise no 
processo de aprendizagem ou, mais especifi camente, na análise dos 
problemas de aprendizagem. Tal fato está intimamente relacionado às 
próprias origens da psicopedagogia enquanto área do conhecimento. 
De acordo com Bossa (2011, p. 20), “a psicopedagogia nasceu de 
uma necessidade: contribuir na busca de soluções para a difícil questão 
do problema de aprendizagem.” Portanto, seu surgimento respondeu, 
em primeira instância, a necessidade de melhor compreender as 
Necessidade 
de melhor 
compreender 
as difi culdades 
decorrentes do 
processo de 
aprendizagem.
12
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
difi culdades decorrentes do processo de aprendizagem, para evitar ou tratar os 
problemas que por ventura pudessem surgir.
Num primeiro momento, as ações da psicopedagogia priorizavam, 
geralmente, a dimensão individual e cognitiva no processo de aprendizagem, 
pois a aprendizagem era concebida como um fenômeno que ocorria no interior do 
sujeito. O papel social, da família e das interações entre sujeitos e seu processo 
de aprendizagem, acabavam não sendo levados em consideração ou eram 
deixados para um segundo plano.
Para compreendermos melhor, vamos buscar as origens destamelhor. 
Não gostei da professora, gritava muito.
• Eu não queria aprender a ler e a escrever. Tenho medo de tirar nota baixa, 
repetir ano e perder os amigos. Tive difi culdade no colégio A, não era bom o 
ensino; aí, minha mãe me tirou e pôs em outra escola; aí, o segundo colégio 
não era bom e minha mãe botou em outro; aí, ela não gostou e eu voltei para 
o primeiro.
44
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
Atividade de Estudos: 
1) Escolha uma das queixas dos exemplos dados acima e elabore 
três hipóteses que possam justifi car tal queixa.
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Devemos receber a queixa trazida pelos pais e pedir que estes desenvolvam 
uma descrição sobre o que querem dizer essas palavras, quem as diz, por que o 
dizem, que pensam eles do por quê disto e o que essa difi culdade signifi ca para 
eles. Podemos solicitar que descrevam alguma cena familiar em que fi que em 
evidência a queixa, para que o profi ssional consiga perceber no concreto 
as situações que causam incômodo para a família e para o paciente.
Para fi nalizar esse primeiro contato, o psicopedagogo deve 
investigar com os pais e com o próprio paciente o que eles esperam 
do atendimento psicopedagógico e quais as suas fantasias sobre 
o trabalho pois, é fundamental que o profi ssional saiba quais são as 
expectativas da família/paciente sobre o seu trabalho. 
b) Anamnese
A realização de uma anamnese completa é um dos pontos cruciais de um 
bom diagnóstico. Ela objetiva colher dados signifi cativos sobre a história de vida 
do paciente.
Da análise do seu conteúdo obtemos dados para o levantamento 
de hipóteses sobre a possível origem do caso, bem como sobre os seus 
desdobramentos. É necessário que a mesma seja bem conduzida e 
registrada. Porém, seu registro não deve inibir ou interferir no momento 
da conversa por isso, orienta-se que durante a sessão, seja registrado 
somente o mais importante para, logo após o término, a conversa ser 
transcrita na íntegra.
O psicopedagogo 
deve investigar com 
os pais e com o 
próprio paciente o 
que eles esperam 
do atendimento 
psicopedagógico.
Da análise do seu 
conteúdo obtemos 
dados para o 
levantamento de 
hipóteses sobre a 
possível origem do 
caso.
45
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
É ela que possibilita a integração das dimensões de 
passado, presente e futuro do paciente, permitindo perceber 
a construção ou não de sua própria continuidade e das 
diferentes gerações [...]. A visão familiar da história de vida 
do paciente traz em seu bojo seus preconceitos, normas, 
expectativas, a circulação dos afetos e do conhecimento, além 
do peso das gerações anteriores que é depositado sobre o 
paciente (WEISS, 1994, p.48). 
Para Weiss (1994), durante a realização dos encontros com a família, 
é importante que o psicopedagogo tenha em mente dois grandes eixos que 
nortearão as conversas e possibilitarão uma posterior análise. Em primeiro lugar, 
deve estar presente o eixo horizontal, onde se explora basicamente o momento 
presente. Este eixo permite que se realize a contextualização do problema 
existente no “aqui e agora”. O eixo vertical é o eixo histórico e onde se busca a 
construção geral do sujeito e do seu problema.
• 1º Horizontal – A-Histórico – Visão do Presente; “AQUI, AGORA, 
COMIGO”.
• 2º Vertical – Histórico – Visão do Passado, Visão da Construção do 
Sujeito (WEISS, 1994, p. 15).
Figura 1 – Eixo Horizontal e Eixo Vertical
Fonte: WEISS (1994, p. 16).
Devemos ter claro que os dados obtidos na anamnese estarão contaminados 
pela percepção que os pais têm dos fatos e o entrevistador estará construindo uma 
imagem do sujeito sob a ótica dos pais, se este momento acontecer nos primeiros 
encontros. Em função de não se “contaminar” pelo que é dito sobre o sujeito que 
a proposta da Epistemologia Convergente opta por realizar a anamnese depois de 
todos os encontros com o sujeito. 
Visão do Presente.
Visão do Passado
46
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
A entrevista deve ser conduzida pelo psicopedagogo, de forma 
que possa deixar a família a vontade, para que não se sintam como 
se estivessem respondendo a um questionário rígido e formal. O 
modelo de anamnese que deve ser seguido é o modelo de entrevista 
semi-aberta, onde o entrevistado tem maior liberdade para falar. Sob 
hipótese alguma a anamnese, em atendimento clínico, pode ser feito 
por meio de perguntas e respostas. 
É importante que o psicopedagogo tenha um roteiro em mãos 
em que possa se basear enquanto realiza a entrevista e onde possa ir 
anotando, à medida que a família vai expondo. De acordo com Sampaio (2012, 
p. 143) “deixá-los falar espontaneamente permite ao psicopedagogo avaliar o que 
eles recordam para falar, qual a sequência e a importância dos fatos”.
ROTEIRO DA ANAMNESE
Gravidez / Parto;
Alimentação;
Primeiras aprendizagens informais;
Desenvolvimento geral da criança;
Sono;
História clínica;
História escolar;
Comportamento;
Independência;
Rotina; 
Aspectos social/afetivo.
Fonte: A autora.
A partir deste roteiro, o psicopedagogo deverá fi car atento ao que é dito e por 
quem é dito, e investigar os seguintes pontos, conforme Sampaio (2012, p. 145):
• Há consciência da família em relação às difi culdades da 
criança?
• A família auxilia o desenvolvimento da autonomia?
• Os pais são muito autoritários e causam medo na criança?
• A família participa e incentiva descobertas pela criança?
• Há estímulos em casa relacionados a aprendizagem?
• Nesta família circula a afetividade, ou só há cobranças?
• Os limites são impostos e como são colocados?
• Qual a forma de punição dada por esta família? 
O modelo de 
anamnese que 
deve ser seguido 
é o modelo de 
entrevista semi-
aberta, onde o 
entrevistado tem 
maior liberdade 
para falar.
47
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
Neste site, você encontra um roteiro bastante completo e detalhado 
de uma anamnese psicopedagógica. Segue o link: .
c) Sessão Lúdica Centrada na Aprendizagem ou “A Hora do Jogo”
Com toda a certeza, podemos afi rmar que observar uma criança brincando 
é uma grande oportunidade para conhecer e compreender seu modo de agir e de 
pensar. Quando uma criança interage com brinquedos, ela expressa a realidade 
do seu mundo interno e a sua relação com o mundo externo através do brincar.
Brincar é uma forma de expressão, pois através do jogo a criança 
defi ne seus papéis, seu espaço, mostrando suas relações interpessoais. 
Concordo com Fernández (1991), quando afi rma que o espaço de 
aprendizagem e o espaço de jogar/brincar são coincidentes, já que a 
criança utiliza as mesmas estruturas mentais em ambos os casos.
De acordo com Caierão (2013, p. 49):
A Psicopedagogia, cuja função é mediar o processo de 
aprendizagem de quem se encontra impossibilitado de fazê-
lo e resgatar o prazer de aprender, fazendo-se autor do seu 
próprio aprender, encontra na ação do brincar os principais 
fundamentos para a sua prática emancipatória com crianças, 
pois não há como fazer Psicopedagogia fora da perspectiva 
lúdica, já que a ludicidade implica construção, autoria e prazer.
A observação lúdica é uma técnica de coleta de dados que auxilia o 
psicopedagogo a investigar os aspectos mais signifi cativos do brincar para a 
formulação das suas hipóteses sobre o quadro de difi culdade de aprendizagem 
que a criança vem enfrentando. Contudo, o profi ssional precisa saber “ler”as 
brincadeiras e esse é um dos maiores desafi os do nosso trabalho.
Na sessão “A Hora do Jogo”, o psicopedagogo deve observar a criança 
brincando, bem como os instrumentos que ela utiliza para determinado fi m. Trata-
se de uma observação espontânea na qual a motivação por brincar deve ser a 
maior preocupação da criança, do que o fato de se sentir observada. É importante 
lembrar que é a criança quem deve conduzir a brincadeira e, neste caso, o 
psicopedagogo só irá participar quando for solicitado.
O espaço de 
aprendizagem 
e o espaço de 
jogar/brincar são 
coincidentes, já que 
a criança utiliza as 
mesmas estruturas 
mentais em ambos 
os casos.
48
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
Caierão (2013) nos alerta que a “Hora do Jogo” não é um método, 
mas sim, uma técnica utilizada para diagnosticar o problema de 
aprendizagem e que o profi ssional deve prestar especial atenção ao 
processo de construção do simbólico presente neste momento.
O psicopedagogo deve possuir objetivos claros ao realizar uma 
sessão lúdica ou uma sessão “A Hora do Jogo”, durante uma avaliação 
psicopedagógica. Listarei, a seguir, os principais objetivos para a 
utilização dessa técnica (WEISS, 1994; FERNÁNDEZ, 1991; PAIN, 1992):
• Conhecer o universo interno da criança e a forma como se relaciona com o 
meio externo;
• Estabelecer um vínculo positivo com a criança;
• Levantar hipóteses sobre a sua modalidade de aprendizagem;
• Levantar hipóteses sobre sua capacidade de simbolização;
• Auxiliar no diagnóstico de crianças que não respondem a outras formas de 
avaliação;
• Auxiliar na investigação dos processos cognitivos e afetivos – sociais da 
criança em questão.
Mas, afi nal, como o psicopedagogo realiza essa técnica durante a avaliação?
Em primeiro lugar, o psicopedagogo deve selecionar brinquedos 
e jogos diversos de acordo com o sexo da criança, o seu interesse 
e o que se quer investigar. Os brinquedos são colocados em uma 
caixa e são oferecidos para que a criança interaja com eles. A criança 
deve sentir liberdade na escolha e na condução das brincadeiras. 
O psicopedagogo deve entrar nas propostas, somente quando for 
solicitado, interferindo o mínimo possível no transcorrer da brincadeira. 
Lembre-se, é a criança quem conduz a situação. 
São exemplos de materiais que podem compor a caixa: quebra-cabeça, 
dominó, pega vareta, outros jogos de regras de acordo com a idade da criança, 
massinha de modelar, folhas e lápis de cor, livrinhos de história, blocos de montar, 
animais em miniaturas, carrinhos e bonecos, entre outros. Mas lembre-se, esta caixa 
tem que ser montada para cada criança, de acordo com as suas particularidades.
Enquanto a criança brinca, o psicopedagogo deverá estar atento e observar 
diversos pontos. Entre eles:
• A interação da criança frente ao brinquedo;
• O repertório cognitivo, afetivo, motor, funcional e social, utilizados durante o 
ato de brincar;
O psicopedagogo 
deve possuir 
objetivos claros 
ao realizar uma 
sessão lúdica ou 
uma sessão “A 
Hora do Jogo”.
Deve selecionar 
brinquedos e 
jogos diversos de 
acordo com o sexo 
da criança, o seu 
interesse e o que 
se quer investigar.
49
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
• O nível e o tipo de linguagem;
• A conduta;
• O uso do brinquedo enquanto função real e/ou função semiótica (ou simbólica);
• A proposta de brincadeiras;
• A centralização de brinquedos regressivos ou superiores a idade da criança;
• O nível de interação com o psicopedagogo (WEISS, 1994; FERNÁNDEZ, 
1991; PAIN, 1992).
O psicopedagogo deve também observar o modo como essa criança brinca, 
conforme Gomes e Azevedo (2016):
• Usa o material mais ao alcance da mão, não explorando os restantes;
• Explora todo o material e depois se fi xa em alguma coisa;
• Escolhe os materiais planejando uma brincadeira;
• Estrutura uma brincadeira com começo, meio e fi m, com coerência interna;
• Tem fl exibilidade no uso dos objetos, modifi cando-o conforme a necessidade; 
• As brincadeiras são criativas ou são repetições de situações convencionais;
• Começa uma atividade e a interrompe passando a outra, sem nunca concluir 
a primeira;
• Permanece concentrado durante a brincadeira;
• Qual o conteúdo das suas brincadeiras;
• Quais os papéis que desempenha durante o jogo simbólico;
• Resolve as situações problemáticas que surgirem;
• Utilização do corpo durante a brincadeira, aspecto motor. 
E fi nalmente, o psicopedagogo deve observar como a criança interage com o 
profi ssional, conforme Gomes e Azevedo (2016):
• Brinca sozinho, concentrado, ignorando o terapeuta;
• Brinca sozinho, mas olhando constantemente para o terapeuta;
• Fica dependendo do terapeuta para brincar, pedindo sempre a sua ajuda;
• Solicita a ajuda somente quando esta é necessária;
• Só escolhe brincadeiras que necessitam da participação do terapeuta como 
parceiro. 
Como o tema do brincar na psicopedagogia, ocupa um lugar 
de destaque, é muito importante que você, futuro psicopedagogo, 
se aprofunde neste tema e aprimore os seus estudos. Sugiro a 
leitura de um pequeno artigo que aponta a dimensão simbólica 
50
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
e afetiva presente no brincar, bem como a sua importância para a 
aprendizagem. Você encontrará o artigo no link: .
Podemos afi rmar que não existe nenhuma prática psicopedagógica que 
não tenha relação direta com o brincar, pois qualquer atividade lúdica implica em 
construção e prazer. Sabemos também, que é através do brincar que as crianças 
se expressam, portanto, será também através do brincar que o psicopedagogo 
estabelecerá um vínculo com ela. Você já viu o quanto é rico o brincar de uma criança? 
Atividade de Estudos: 
1) Que tal você observar uma criança brincando espontaneamente? 
Tente observá-la durante uma brincadeira e não interfi ra. Siga 
o roteiro de observação apresentado anteriormente e anote os 
seus comentários.
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d) Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem – E.O.C.A.
A Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem ou EOCA 
foi desenvolvida pelo psicólogo e psicopedagogo argentino Jorge 
Visca, inspirado na teoria da Psicologia Social de Pichon-Rivière, na 
Psicanálise e no método clínico da Escola de Genebra. De acordo com 
Barbosa (2013, p.69) “[...] o autor relata o surgimento deste Instrumento 
a partir da necessidade de situar seus atendimentos a partir do lugar do 
saber, valorizando o sujeito cognoscente”.
Desta forma, este instrumento possibilita a sondagem da 
problemática da aprendizagem e auxilia o profi ssional a conhecer e construir uma 
imagem do sujeito enquanto aprendente.
O surgimento deste 
Instrumento a partir 
da necessidade 
de situar seus 
atendimentos a 
partir do lugar do 
saber, valorizando 
o sujeito 
cognoscente.
51
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
Três aspectos devem ser observados durante a realização da EOCA 
(BARBOSA, 2013):
 – a temática que é tudo aquilo que o sujeito diz e o signifi cado manifesto e 
latente do conteúdo do que é dito;
 – a dinâmica que é tudo aquilo que o sujeito faz e que é expresso através 
do seu corpo, dos gestos, da entonação de voz, da maneira de sentar, de 
manipular os objetos, e 
 – o produto que é tudo aquilo que o sujeito apresenta, que ele deixa 
registrado, que poderá ser uma escrita, um desenho, contas, a leitura, 
entre outros.
• Objetivos da EOCA:
 – Detectar os sintomas das dificuldades apresentadas;
 – Formular hipóteses sobre as causas das quais emergem os sintomas;
 – Observar seus conhecimentos, atitudes, destrezas, ansiedades, conduta etc; 
 – Obter dados a respeito do paciente nos aspectos afetivos e cognitivos, a 
fi m de formular um sistema de hipóteses e delinear linhas de investigação 
(CHAMAT, 2004, p. 72).
• Materiais para a EOCA:
Os materiais são dispostos sobre uma mesa e apresentados ao paciente. 
Normalmente são utilizados os seguintes materiais:
 – Folhas de papel A4, folhas pautadas;
 – Lápis novo sem ponta;
 – Apontador;
 – Caneta esferográfi ca;
 – Massa de modelar;
 – Borracha;
 – Tesoura e cola;
 – Papéis coloridos;
 – Régua;
 – Revistas e livros;
 – Canetas hidrográfi cas e lápis de cor. 
• Técnica:
A EOCA é uma técnica simples, porém muito rica nos seus 
resultados. Através dela o psicopedagogo consegue reconhecer 
as possibilidades do sujeito diante do conhecimento (VISCA, 1987; 
SAMPAIO, 2012). Ela deve ser aplicada em apenas uma sessão e o 
O psicopedagogo 
consegue 
reconhecer as 
possibilidades do 
sujeito diante do 
conhecimento.
52
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
material deve estar de acordo com a idade do sujeito, pois pode ser utilizada em 
crianças a partir dos 5 anos até a idade adulta. É interessante deixar o material 
dentro da própria embalagem (lápis de cor, canetinhas, massa de modelar), para 
que o profi ssional possa observar a autonomia e a iniciativa do paciente.
Deve-se começar solicitando ao sujeito (consigna) “Gostaria que você me 
mostrasse o que sabe fazer, o que já lhe ensinaram.” “Esse material é para 
você usar e me mostrar o que já aprendeu.” Caso a criança não tome nenhuma 
iniciativa e fi que paralisada diante da proposta, o psicopedagogo pode repetir a 
consigna e acrescentar “Você pode desenhar, escrever, fazer alguma coisa de 
matemática ou qualquer outra coisa que lhe venha à cabeça.” 
• Roteiro de Observação:
ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO
Marque as questões observadas
Em relação à Temática:
( ) fala muito durante todo o tempo da sessão
( ) fala pouco durante todo o tempo da sessão
( ) verbaliza bem as palavras
( ) expressa com facilidade
( ) apresenta difi culdades para se expressar verbalmente
( ) fala de suas ideias, vontades e desejos
( ) mostra-se retraído para se expor
( ) sua fala tem lógica e sequência de fatos
( ) parece viver num mundo de fantasias
( ) tem consciência do que é real e do que é imaginário
( ) conversa com o terapeuta sem constrangimento
 Observação:
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
Em relação à Dinâmica:
( ) o tom de voz é baixo
( ) o tom de voz é alto
( ) sabe usar o tom de voz adequadamente
( ) gesticula muito para falar
( ) não consegue fi car sentado
53
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
( ) tem atenção e concentração
( ) anda o tempo todo
( ) muda de lugar e troca de materiais constantemente
( ) pensa antes de criar ou montar algo
( ) apresenta baixa tolerância à frustração
( ) diante de difi culdades desiste fácil
( ) tem persistência e paciência
( ) realiza as atividades com capricho
( ) possui hábitos de higiene e zelo com os materiais
( ) sabe usar os materiais disponíveis, conhece a utilidade de cada um
( ) ao pegar os materiais, devolve no lugar depois de usá-los
( ) não guarda o material que usou
( ) apresenta iniciativa
( ) ocupa todo o espaço disponível
( ) possui boa postura corporal
( ) deixa cair objetos que pega
( ) faz brincadeiras simbólicas
( ) expressa sentimentos nas brincadeiras
( ) leitura adequada à escolaridade
( ) interpretação de texto adequada à escolaridade
( ) faz cálculos
( ) escrita adequada à escolaridade
 Observação:
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
Em relação ao Produto:
( ) desenha e depois escreve
( ) escreve primeiro e depois desenha
( ) apresenta os seus desenhos com forma e compreensão
( ) não consegue contar ou falar sobre os seus desenhos e escrita
( ) se nega a descrever sua produção para o terapeuta
( ) sente prazer ao terminar sua atividade e mostrar
( ) demonstra insatisfação com os seus feitos
( ) sente-se capaz para executar o que foi proposto
( ) sente-se incapaz para executar o que foi proposto
( ) os desenhos estão no nível da idade do entrevistado
( ) prefere materiais que lhe possibilite construir, montar e criar
( ) fi ca preso ao papel e lápis
( ) executa a atividade com tranquilidade
( ) demonstra agressividade de alguma forma em seus desenhos e 
suas criações ou no comportamento
( ) é criativo(a)
54
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
 Observação:
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 Conclusão:
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
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Fonte: Disponível em: . Acesso em: 01 mar. 2016.
Existem muitos aspectos a serem observados durante a realização da EOCA. 
Este roteiro que acaba de ser apresentado, auxilia o psicopedagogo a dirigir o seu 
olhar para os pontos relevantes desta entrevista. É importante que você, futuro 
psicopedagogo, aprofunde os seus estudos sobre esta proposta, antes de utilizá-la.
 
Vamos agora ler uma parte do texto Diagnóstico Psicopedagógico: O Desafi o 
de Montar um Quebra-cabeça, escrito pela psicopedagoga Simaia Sampaio, para 
conhecer um pouco mais sobre a proposta:
DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO: 
O DESAFIO DE MONTAR UM QUEBRA-CABEÇA
A realização da EOCA tem a intenção de investigar o modelo de 
aprendizagem do sujeito sendo sua prática baseada na psicologia 
social de Pichón Rivière, nos postulados da psicanálise e método 
clínico da Escola de Genebra (BOSSA, 2000, p. 44).
Para Visca, a EOCA deverá ser um instrumento simples, porém 
rico em seus resultados. Consiste em solicitar ao sujeito que mostre 
ao entrevistador o que ele sabe fazer, o que lhe ensinaram a fazer e 
o que aprendeu a fazer, utilizando-se de materiais dispostos sobre a 
55
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
mesa, após a seguinte observação do entrevistador: “este material é 
para que você o use se precisar para mostrar-me o que te falei que 
queria saber de você” (VISCA, 1987, p. 72).
O entrevistador poderá apresentar vários materiais tais como: 
folhas de ofício tamanho A4, borracha, caneta, tesoura, régua, livros ou 
revistas, barbantes, cola, lápis, massa de modelar, lápis de cor, lápis de 
cera, quebra-cabeça ou ainda outros materiais que julgar necessários.
O entrevistado tende a comportar-se de diferentes maneiras 
após ouvir a consigna. Alguns imediatamente pegam o material 
e começam a desenhar ou escrever etc. Outros começam a falar, 
outros pedem que lhe digam o que fazer, e outros simplesmente 
fi cam paralisados. Neste último caso, Visca nos propõe empregar o 
que ele chamou de modelo de alternativa múltipla (1987, p. 73), cuja 
intenção é desencadear respostas por parte do sujeito. Visca nos dá 
um exemplo de como devemos conduzir esta situação: “você pode 
desenhar, escrever, fazeralguma coisa de matemática ou qualquer 
coisa que lhe venha à cabeça...” (1987, p. 73).
Vejamos o que Sara Paín nos fala sobre esta falta de ação na 
atividade “A hora do jogo” (atividade trabalhada por alguns psicólogos 
ou Psicopedagogos que não se aplica à Epistemologia Convergente, 
porém é interessante citar para percebermos a relação do sujeito 
com o objeto):
No outro extremo encontramos a criança que não toma qualquer 
contato com os objetos. Às vezes se trata de uma evitação fóbica que 
pode ceder ao estímulo. Outras vezes se trata de um desligamento 
da realidade, uma indiferença sem ansiedade, na qual o sujeito se 
dobra às vezes sobre seu próprio corpo e outras vezes permanece 
numa atividade quase catatônica. (1992, p. 53).
Piaget, em Psicología de la Inteligência, coloca que:
O indivíduo não atua senão quando experimenta a necessidade; 
ou seja; quando o equilíbrio se acha momentaneamente quebrado 
entre o meio e o organismo, a ação tende a reestabelecer este 
equilíbrio, quer dizer, precisamente, a readaptar o organismo... 
(PIAGET apud VISCA, 1991, p. 41).
De acordo com Visca, o que nos interessa observar na EOCA 
são “...seus conhecimentos, atitudes, destrezas, mecanismos de 
defesa, ansiedades, áreas de expressão da conduta, níveis de 
operatividade, mobilidade horizontal e vertical etc (1987, p. 73).
56
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
É importante também observar três aspectos que fornecerão um 
sistema de hipóteses a serem verifi cados em outros momentos do 
diagnóstico:
A temática – é tudo aquilo que o sujeito diz, tendo sempre um 
aspecto manifesto e outro latente;
A dinâmica – é tudo aquilo que o sujeito faz, ou seja, gestos, tons 
de voz, postura corporal, etc). A forma de pegar os materiais, de sentar-
se são tão ou mais reveladores do que os comentários e o produto.
O produto – é tudo aquilo que o sujeito deixa no papel.
(Id. Ibid., 1987, p. 74)
Visca (1987) observa que o que obtemos nesta primeira 
entrevista é um conjunto de observações que deverão ser submetidas 
a uma verifi cação mais rigorosa, constituindo o próximo passo para o 
processo diagnóstico.
É da EOCA que o psicopedagogo extrairá o 1º Sistema de 
hipóteses e defi nirá sua linha de pesquisa.
Fonte: Disponível em: . Acesso em: 01 mar. 2016.
Para fi nalizar esta etapa, vale ressaltar que a EOCA é um instrumento 
muito rico e que nos dá a possibilidade de conhecer os aspectos operativos e 
a vinculação do sujeito com a aprendizagem. A partir dela, podemos construir 
várias hipóteses sobre o que está interferindo na aprendizagem daquele sujeito. 
Tais hipóteses poderão ser confi rmadas ou descartadas ao longo das 
próximas etapas do diagnóstico avaliativo.
e) Diagnóstico Operatório de Piaget (DOP)
Você, em seus estudos anteriores, já deve ter lido e ouvido 
falar muito em Jean Piaget, não é mesmo? Sem sombra de dúvidas, 
a teoria deste “epistemólogo” é de fundamental importância para 
a psicopedagogia. Foi a partir dos seus estudos e da elaboração da 
teoria da Epistemologia Genética, que começamos a compreender que 
o conhecimento não está previamente no sujeito, mas sim, que ele se 
constrói pela interação entre o sujeito e o meio (objeto). Sendo assim, 
ninguém pode aprender algo que esteja acima do seu nível de estrutura 
cognitiva, pois a construção do conhecimento é gradual e contínua.
O conhecimento 
não está 
previamente no 
sujeito, mas sim, 
que ele se constrói 
pela interação entre 
o sujeito e o meio 
(objeto). Ninguém 
pode aprender algo 
que esteja acima 
do seu nível de 
estrutura cognitiva, 
pois a construção 
do conhecimento é 
gradual e contínua.
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O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
Pensando nisso, Piaget propõe que o desenvolvimento cognitivo de um 
sujeito aconteça seguindo uma sequência de fases, que possuem determinadas 
características cognitivas. Vamos relembrar estas fases ou os estágios do 
desenvolvimento cognitivo proposto por Piaget?
1º Estágio – Sensório-Motor (de 0 a 2 anos aproximadamente): 
é quando se inicia o desenvolvimento da inteligência na criança. Nessa 
fase, as primeiras aprendizagens se dão a partir dos refl exos, que vão 
se transformando em movimentos intencionais. Também, para que o 
conhecimento se construa neste estágio, é necessário que aconteça o contato 
físico com os objetos.
2º Estágio Pré-Operatório (de 2 a 7 anos aproximadamente): 
nesta fase, as crianças já possuem estruturas um pouco mais 
elaboradas e utilizam-se das atividades representativas para interagirem 
com o meio. Esta fase se inicia com a construção da função simbólica, 
que proporciona o desenvolvimento da linguagem, da brincadeira simbólica (ou 
do faz-de-conta) e do desenho. O pensamento da criança, neste estágio, ainda 
não é reversível.
3º Estágio das Operações Concretas (dos 7 aos 12 anos 
aproxima-damente): nesta fase, a criança consegue operar através de 
experiências mentais, sem precisar, necessariamente, da presença do 
objeto concreto. Desta forma, consegue perceber as transformações e 
conservar, alcançando a reversibilidade mental, ou seja, já é capaz de 
fazer uma operação ao contrário, retornando ao seu início.
4º Estágio Operatório Formal (dos 12 anos até a idade adulta): 
a partir desta fase, o adolescente já pode compreender situações mais 
abstratas, pois já é capaz de lidar com hipóteses, deduzindo conclusões 
a partir delas (pensamento hipotético-dedutivo). Esta é a etapa mais 
desenvolvida da inteligência humana.
 Quer saber mais sobre o assunto? Pesquise no livro:
 GOULART, Iris Barbosa. Piaget: experiências básicas para a 
utilização do professor. 29. ed. Florianópolis: Editora Vozes, 2013. 
Com uma linguagem acessível, a autora apresenta a teoria 
piagetiana de uma forma simples e com exemplos práticos.
1º Estágio – 
Sensório-Motor.
2º Estágio Pré-
Operatório.
3º Estágio das 
Operações 
Concretas.
4º Estágio 
Operatório Formal
58
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
Então, vamos agora ao Diagnóstico Operatório?
Inicialmente, é importante assinalar que a utilização deste 
instrumento nos possibilita conhecer o funcionamento cognitivo e 
lógico do sujeito, se existe alguma defasagem em relação à sua idade 
cronológica. De acordo com Sampaio (2012, p. 41):
Uma criança com difi culdades de aprendizagem poderá ter 
uma idade cognitiva diferente da idade cronológica. Esta 
criança encontra-se com uma defasagem cognitiva e esta 
pode ser a causa de suas difi culdades de aprendizagem, pois 
será difícil para a criança entender um conteúdo que está 
acima da sua capacidade cognitiva.
O Diagnóstico Operatório é composto de várias provas que avaliam a 
funcionalidade cognitiva, a forma como o sujeito opera com o conhecimento, bem 
como quais as suas hipóteses sobre determinada situação. Existe uma sequencia 
lógica para a sua utilização, partindo-se da idade do sujeito avaliado. Vamos 
conhecer as provas que compõe o Diagnóstico Operatório? 
Provas de Conservação de: - pequenos conjuntos discretos de 
elementos;
 - superfície;
 - líquido;
 - matéria;
 - peso;
 - volume;
 - comprimento
Provas de Classifi cação: - mudança de critério;
 - quantifi cação da inclusão de 
classes;
 - intersecção de classes.
Prova de Seriação: - seriação de palitos.
Provas de Espaço: - espaço unidimensional;
 - espaço bidimensional;
 - espaço tridimensional.
Provas de Pensamento Formal: - combinação de fi chas;
 - permutação de fi chas;
 - predição.
Fonte: Sampaio (2012, p. 43, 44).
Possibilita conhecer 
o funcionamento 
cognitivo e lógico 
do sujeito.
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O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
Estas provas devem ser selecionadas partindo-se da idade 
cronológica do sujeito. Caso ele não obtenha sucesso nas respostas, 
deve-se realizar as provas do nível anterior à sua idade, e assim 
sucessivamente, até que ele obtenha sucesso nas respostas. Para 
facilitar a compreensão,apresentarei um quadro com a seleção das 
provas de acordo com a idade do sujeito.
Quadro 3 – Seleção do tipo de prova de acordo com a idade cronológica
Idade Cronológica Tipo de prova
Até 6 anos - Seriação.
- Conservação de pequenos conjuntos discretos de elementos.
7 anos - Seriação.
- Conservação de pequenos conjuntos discretos de elementos.
- Conservação de massa.
- Conservação de comprimento.
- Conservação de superfície.
- Conservação de líquido.
- Espaço unidimensional.
8 e 9 anos - Conservação de massa.
- Conservação de comprimento.
- Conservação de superfície.
- Conservação de líquido.
- Conservação de peso.
- Mudança de critério.
- Quantificação de inclusão de classes.
- Intersecção de classes.
- Espaço unidimensional.
- Espaço bidimensional.
10 a 11 anos - Todas as provas de 8 e 9 anos, mais a de Conservação de volume.
Acima de 12 anos - Conservação de volume.
- Combinação de fichas.
- Permutação de fichas.
- Predição.
- Espaço tridimensional.
Fonte: Adaptado de Sampaio (2012).
Para a avaliação das respostas dadas pelos sujeitos, durante a aplicação 
das provas, tais respostas podem ser divididas em três níveis:
• Nível 1: Não há conservação e o sujeito não atinge o nível operatório nesse 
domínio.
Estas provas 
devem ser 
selecionadas 
partindo-se da 
idade cronológica 
do sujeito.
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Teoria e prática da psicopedagogia clínica
• Nível 2 ou intermediário: As respostas apresentam oscilações ou não são 
completas. Em um momento conserva, em outro não.
• Nível 3: As respostas demonstram que o sujeito adquiriu a noção, sem vacilos. 
Conserva (SAMPAIO, 2012).
É importante ressaltar que a utilização das provas, não tem caráter 
de teste de inteligência como, erroneamente, alguns profi ssionais 
utilizam. Como falamos, o seu objetivo é conhecer como o sujeito opera 
e qual a lógica que ele utiliza.
Vamos conhecer um pouco mais sobre o método clínico de 
investigação proposto por Jean Piaget? Este vídeo nos mostra um 
pouco da teoria piagetiana e discute sobre o método utilizado por ele. 
Acesse: .
Em todos os seus estudos, Piaget demonstrou que devemos estar sempre muito 
atentos aos “erros” cometidos pelas crianças, pois, é justamente aí, que reside a sua 
lógica. Portanto, quando o psicopedagogo está aplicando o diagnóstico operatório, ele 
deve questionar a criança sobre as suas ações e ouvir atentamente seus argumentos 
para apropriar-se do seu funcionamento cognitivo. 
Atividade de Estudos: 
1) Pesquise o conceito das seguintes palavras utilizadas pela teoria 
da Epistemologia Genética e escreva o seu signifi cado:
 - Epistemologia:
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 - Interação:
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
A utilização das 
provas, não tem 
caráter de teste de 
inteligência.
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O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
 - Estrutura Cognitiva: 
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 - Função Simbólica: 
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 ____________________________________________________
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 ____________________________________________________
 - Reversibilidade: 
 ____________________________________________________
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 - Abstração: 
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
e) Técnicas Projetivas:
O desenho é um dos principais instrumentos utilizados na 
psicopedagogia para conhecer a estrutura simbólica e subjetiva do 
sujeito. Quando uma criança desenha, ela está projetando no papel a 
sua realidade interior: seus confl itos, seus medos, seus desejos.
Segundo Weiss (1994, p. 113), através das técnicas projetivas:
O que se busca é descobrir como o sujeito usa seus 
próprios recursos cognitivos a serviço da expressão de suas 
emoções, face aos estímulos apresentados pelo terapeuta. O 
fundamental é a “leitura psicopedagógica” dessas situações 
e produtos para assim detectar o que está empobrecendo a 
aprendizagem ou produção escolar.
Quando uma 
criança desenha, 
ela está projetando 
no papel a sua 
realidade interior.
62
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
Podemos dizer que, para a psicopedagogia, estas técnicas têm 
como objetivo investigar os vínculos que o sujeito pode estabelecer 
em três grandes domínios: o escolar, o familiar e consigo mesmo. O 
princípio básico é de que a maneira do sujeito perceber, interpretar e 
estruturar o material ou a situação, refl ete os aspectos fundamentais do 
seu psiquismo (WEISS, 1994). 
Jorge Visca (1995), criador das técnicas projetivas 
psicopedagógicas, observa e recomenda que:
• A interpretação de cada técnica projetiva deve ser realizada em função do 
sujeito em particular;
• Não é necessário aplicar todas as provas, utilizar somente as necessárias em 
função do que se quer observar;
• Não é recomendável aplicar mais do que duas provas projetivas na mesma 
sessão. 
Cada um dos grandes domínios propostos por Visca (1995) é composto por 
algumas provas específi cas, que serão apresentadas logo abaixo:
• Vínculo Escolar: - Par Educativo; 
 - Eu com meus companheiros; 
 - A planta da sala de aula.
• Vínculo Familiar: - A planta da minha casa; 
 - Os 4 momentos do dia; 
 - Família Educativa; 
 - Família Cinética; 
 - Família Projetiva.
• Vínculo consigo mesmo: - O dia do meu aniversário; 
 - Minhas férias; 
 - Fazendo aquilo de que mais gosta; 
 - O desenho em episódios; 
 - Auto-retrato. 
Estas técnicas 
têm como objetivo 
investigar os 
vínculos que 
o sujeito pode 
estabelecer em três 
grandes domínios: 
o escolar, o familiar 
e consigo mesmo.
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O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
Quadro 4 - Nove setores que analisam os vínculos afetivos da criança
Domínio Prova O que investiga Idade
Escolar
Par educativo O vínculo de aprendizagem 6/7 anos
Eu com meus colegas O vínculo com os colegas de sala de aula 7/8 anos
A planta da sala de aula
A representação do campo geográfico da sala e as 
localizações, real e desejada, da mesma
8/9 anos
Familiar
A planta da minha casa
A representação do campo geográfico do lugar em 
que mora e a localização real dentro do mesmo
8/9 anos
As quatro partes de um dia Os vínculos ao longo de um dia 6/7 anos
Família educativa
O vínculo de aprendizagem com o grupo familiar e 
cada um dos integrantes do mesmo
6/7 anos
Consigo 
mesmo
O desenho em episódios
A delimitação da continuidade da identidade psíqui-
ca em função da quantidade dos afetos
4 anos
O dia do meu aniversário
A representação que se tem de si e do contexto fí-
sico e sociodinâmico em um momento de transição 
de uma idade a outra
6/7 anos
Nas minhas férias
As atividades escolhidas durante o período de 
férias escolares
6/7 anos
Fazendo o que mais gosto O tipo de atividadede que mais gosta 6/7 anos
Fonte: Visca (1995, p. 18).
Vamos conhecer as principais provas projetivas utilizadas durante a avaliação 
psicopedagógica? 
• Par Educativo (VISCA, 1995):
 – Objetivo: Investigar o vínculo da aprendizagem (com o professor, com a 
instituição, com os objetos e quem aprende).
 – Procedimento: pedir ao entrevistado que desenhe duas pessoas: uma que 
ensina e outra que aprende. Ao terminar, solicita-se que indique os nomes, 
idades, título do desenho e conte o que desenhou. 
64
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
• Os Quatro Momentos do Dia (VISCA, 1995):
 – Objetivo: Investigar os vínculos ao longo de uma jornada (verifi car os 
momentos escolhidos, pessoas, campo geográfi co, objetos e sequência 
do desenho).
 – Procedimento: O entrevistador dobra uma folha em quatro partes iguais 
e pede-se que desenhe quatro momentos de seu dia, desde a hora que 
acorda até a hora que dorme. Pede-se que relate o que está acontecendo 
em cada desenho, solicita-se os detalhes, se forem omitidos. Faz-se as 
perguntas complementares. 
• Família Cinética (VISCA, 1995):
 – Objetivo: Observar a integração, dinâmica e posição da criança em relação 
à família.
 – Procedimento: Entregar uma folha e solicitar que desenhe a sua família 
fazendo algo. Pede-se que indique as idades, nomes, relação de 
parentesco e que comente sobre o que está acontecendo em seu desenho. 
Perguntas complementares.
• Família Projetiva (VISCA, 1995):
 – Objetivo: Observar a representação que a criança faz de cada membro de 
sua família.
 – Procedimento: Solicitar que o entrevistado desenhe a sua família de uma 
forma diferente, sem a representação por pessoas. Ele deve imaginar as 
pessoas da família representadas de outra maneira, sem ser gente. Que 
coisas no mundo poderiam representar cada membro da sua família? 
Indagar o signifi cado de cada representação e justifi cativa. 
• Auto Retrato (VISCA, 1995):
 – Objetivo: Verifi car a auto-imagem do sujeito que aprende.
 – Procedimento: entregar uma folha e pedir que desenhe a si próprio como 
se fosse uma fotografi a. Explorar o desenho através de perguntas. 
E como devemos analisar esses desenhos? Sampaio (2012) nos dá algumas 
dicas de como pode ser feita esta análise e quais aspectos devemos fi car atentos. 
São eles:
 – O tamanho total do desenho;
 – O tamanho dos personagens;
 – Se o sujeito que desenha está presente nas cenas ou se não se desenha;
 – Quem não aparece nos desenhos;
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O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
 – O distanciamento ou proximidade dos personagens;
 – Se usa a borracha de forma exagerada ou nunca usa;
 – A posição do desenho na folha.
Não se esqueça: quem vai dar o signifi cado para o desenho é a própria 
criança. Portanto, escute com atenção o que vai ser dito sobre o desenho e 
explore todo o contexto do que foi desenhado. 
Você quer estudar mais sobre as técnicas projetivas 
psicopedagógicas? Então, não deixe de ler o livro de Jorge Visca:
 VISCA, Jorge. Técnicas projetivas psicopedagógicas e pautas 
gráfi cas para sua interpretação. 5. ed. Buenos Aires: Visca & 
Visca, 2015.
Atividade de Estudo: 
1) O desenho abaixo é a técnica projetiva do Par Educativo, feito por 
uma menina de 9 anos, aluna do 3º ano. Analise atentamente este 
desenho e escreva as principais características e indicativos de 
como essa aluna se vincula com a escola e com a aprendizagem.
Figura 2 - Desenho do Par Educativo, feito por uma aluna do 3º ano, de 9 anos de idade.
Fonte: Disponível em: . 
Acesso em: 19 mar. 2016.
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f) Provas Pedagógicas:
As provas pedagógicas dependem do nível de escolaridade 
do aluno, portanto são elaboradas para cada caso em específi co e 
constituem-se de situações pedagógicas que visam avaliar os pré-
requisitos para a aprendizagem atual e se existe alguma defasagem 
pedagógica e de conteúdos que justifi que a difi culdade apresentada.
As provas pedagógicas são constituídas de: leitura; interpretação 
da leitura; estruturação de texto; cálculos e situações problemas. Além 
das provas pedagógicas específi cas é importante que o psicopedagogo 
realize uma análise do material escolar da criança. 
Segundo Weiss (1994, p. 90):
É necessário que se pesquise o que o paciente já aprendeu, 
como articula os diferentes conteúdos entre si, como faz uso 
desses conhecimentos nas diferentes situações escolares e 
sociais, como os usa no processo de assimilação de novos 
conhecimentos. É importante defi nir o nível pedagógico para 
se verifi car a adequação à série que cursa.
O fato do psicopedagogo estar investigando os conhecimentos escolares, 
não signifi ca que ele deva reproduzir situações de sala de aula. Muito pelo 
contrário... Essas provas podem ser feitas através de jogos, com a utilização de 
computador ou outros recursos diferentes dos usados na escola.
Visam avaliar os 
pré-requisitos para 
a aprendizagem 
atual e se existe 
alguma defasagem 
pedagógica e 
de conteúdos 
que justifi que 
a difi culdade 
apresentada.
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O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
De acordo com Weiss (1994); Acampora (2012), os itens mais 
importantes para que o psicopedagogo avalie durante as sessões são:
• Alfabetização: quando a queixa escolar diz respeito a crianças em 
fase de alfabetização, este aspecto deve ser investigado. Devem ser 
verifi cadas quais as hipóteses a criança utiliza-se para ler e escrever.
• Leitura / compreensão da leitura: deve ser selecionado um material de 
acordo com a idade e a série da criança e deve ser solicitado que ela leia, 
num primeiro momento, realize uma leitura silenciosa. Ao fi nal da leitura, 
verifi ca-se se ela compreendeu o sentido do texto e se é capaz de sintetizá-lo. 
Finalmente, a criança deve ler uma parte do mesmo texto em voz alta.
• Escrita: solicita-se que a criança escreva uma história, um relato ou algo que 
seja signifi cativo a ela, sempre levando em consideração a sua série e idade. 
Avalia-se a escrita quanto a sua estrutura, organização, ortografi a, pontuação 
e criatividade.
• Matemática: deve-se avaliar o raciocínio matemático, o cálculo, a resolução 
de situações problemas e o cálculo mental. Pode-se colocar desafi os mais 
lúdicos e resolução de situações problemas a partir de jogos.
Também, durante esta etapa do diagnóstico psicopedagógico, é importante 
analisar o material escolar do paciente. Verifi car a sua organização, capricho, 
qualidade da letra, resolução das atividades, tarefas, provas etc. Por meio da análise 
dos cadernos e do material escolar, podemos observar a identifi cação do sujeito 
com o seu instrumento de trabalho e a sua relação vincular com o conhecimento.
g) Levantamento de Dados do Desempenho Escolar:
Este levantamento é feito através de conversa com professores (atuais 
e do ano anterior, se necessário) e com a coordenação e direção da escola 
em que a criança estuda. Esta conversa tem por objetivo colher dados e 
informações sobre o desempenho escolar atual e pregresso, bem como 
do comportamento e interação social no ambiente escolar. Normalmente 
acontece ao fi nal do diagnóstico psicopedagógico, mas pode ser feitaem 
qualquer momento, dependendo do caso.
• O psicopedagogo, durante a sua conversa, deverá investigar os 
seguintes aspectos: 
• Quanto aos aspectos sócio-afetivos, quais os pontos favoráveis e quais 
necessitam melhorar no aluno? (relacionamento com a escola, professores, 
colegas)
Tem por objetivo 
colher dados e 
informações sobre 
o desempenho 
escolar atual 
e pregresso, 
bem como do 
comportamento e 
interação social no 
ambiente escolar.
• Alfabetização, 
• Leitura / 
compreensão da 
leitura,
• Escrita e
• Matemática
68
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
• Como é o desempenho do aluno? - quanto a organização?
 - quanto a responsabilidade? 
 - quanto a atenção?
 - quanto a motivação?
 - ritmo de trabalho?
• Em quais áreas ou disciplinas apresenta difi culdades? 
• Quando estas aparecem? 
• Como é o relacionamento entre a família e a escola? 
h) Informe Psicopedagógico:
Ao fi nal do diagnóstico, o psicopedagogo já deve ter formado uma visão global 
do indivíduo, da sua contextualização na família, na escola e no meio social em 
que vive. Deve ter uma compreensão de seu modelo de aprendizagem, do que 
já aprendeu, o que pode aprender, das suas potencialidades, dos recursos que 
possui, se os utiliza ou não, e quais são seus interesses na busca do conhecimento.
Já de posse de todas estas informações, o psicopedagogo deverá 
formular o Informe Psicopedagógico que tem como fi nalidade resumir 
as conclusões a que se chegou na busca de respostas às perguntas 
iniciais que motivaram o diagnóstico. (WEISS, 1994). É muito 
importante lembrar que o resguardo ético do indivíduo e de sua família 
deve merecer atenção, por isso devemos ter claro que esse informe só 
deverá ser entregue à família e, caso seja solicitado por outros, como 
a escola e outros profi ssionais, só deverá ser entregue mediante a 
autorização da família.
ROTEIRO PARA A ELABORAÇÃO 
DO INFORME PSICOPEDAGÓGICO
Dados Pessoais 
• Motivação da Avaliação – Encaminhamento: é necessário se 
relatar a queixa na visão da família e da escola, quando for o 
caso. Caracterizar o encaminhamento feito para um diagnóstico 
psicopedagógico pela escola, pediatra, neurologista, psicólogo e 
outros.
Informe 
Psicopedagógico 
que tem como 
fi nalidade resumir 
as conclusões a 
que se chegou 
na busca de 
respostas às 
perguntas iniciais 
que motivaram o 
diagnóstico.
69
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
• Período de Avaliação e número de Sessões: ao defi nir o período 
de avaliação, delimita-se a época do ano letivo em que foi feita, a 
sua extensão, as interrupções ocorridas e suas causas.
• Instrumentos Usados: relata-se o tipo de sessão usada (lúdica, 
familiar, EOCA, dramatização etc.), os diferentes testes e seus 
objetivos, bem como as diferentes entrevistas.
• Analisar os Resultados nas Diferentes Áreas: - Pedagógica;
 - Cognitiva;
 - Afetivo
 - social;
 - 
Psicomotora.
• Síntese dos Resultados – Síntese Diagnóstica: é feito uma 
síntese do que foi analisado no item anterior, sendo uma resposta 
mais direta à questão inicial.
• Prognóstico: relata-se a hipótese de como será a evolução do 
caso.
• Recomendações e Indicações: síntese das orientações dadas 
aos pais e à escola. Caso necessário, também serão acrescidos 
os encaminhamentos e indicações feitas.
• Observações: o acréscimo de alguma questão importante que 
não foi colocada ao longo do informe.
Fonte: Weiss (1994).
i) Devolutiva:
Finalmente chegamos a última etapa do nosso processo de 
avaliação psicopedagógica: a devolução. Segundo Weiss (1994, p. 
118) “[...] devolução é a comunicação verbal feita ao fi nal de toda a 
avaliação em que o psicopedagogo relata aos pais e ao paciente os 
resultados obtidos ao longo do diagnóstico”. 
Podemos iniciar a devolutiva, recordando a queixa inicial trazida 
pelos pais. Após esse momento, é importante salientar os aspectos 
Devolução é a 
comunicação 
verbal feita ao 
fi nal de toda a 
avaliação em que 
o psicopedagogo 
relata aos pais e 
ao paciente os 
resultados obtidos 
ao longo do 
diagnóstico.
70
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
positivos do paciente, aqueles aspectos que levam à valorização do que faz 
melhor e da relação destes pontos com a perspectiva de evolução escolar ou seu 
futuro em geral. É sempre importante salientarmos as potencialidades do sujeito.
Em seguida, precisamos analisar os aspectos que estão realmente 
causando a problemática na aprendizagem e interferindo na produção escolar. 
Podemos fi nalizar fazendo as recomendações e indicações necessárias, tanto 
no âmbito familiar, quanto escolar. Este é o momento em que passamos as 
orientações à família.
A construção de um bom vínculo com os pais e com o paciente é 
fundamental para a aceitação das indicações necessárias. É indicado que a 
devolução se encerre, deixando claro o modelo de aprendizagem do paciente, 
suas manifestações saudáveis e suas difi culdades, bem como as possibilidades 
de mudanças do aprender (WEISS, 1994).
Finalmente, concluímos todas as etapas do processo do diagnóstico 
avaliativo. Muita coisa, não é mesmo? 
Atividade de Estudos: 
1) Convido você aluno, a sintetizar e organizar todas essas 
informações em um “mapa conceitual”, colocando a sequência 
dos passos e o objetivo principal de cada um deles.
Chegamos ao fi nal de mais uma etapa deste capítulo... Acredito que até 
este momento você já conseguiu perceber o quão complexo é a realização de 
um diagnóstico avaliativo. Costumo dizer que o psicopedagogo tem uma enorme 
responsabilidade em suas mãos, pois o sucesso do seu trabalho depende em 
grande parte da correta condução da avaliação. E, de certa forma, o futuro 
acadêmico do seu paciente, também!
71
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
A partir deste momento, apresentarei os principais instrumentos utilizados 
durante a realização do diagnóstico avaliativo. Vamos conhecê-los? 
Instrumentos UtiliZados no 
Diagnóstico PsicopedagógicO
Apesar de ser uma área do conhecimento relativamente recente, a 
psicopedagogia já possui uma gama bastante variada de instrumentos que podem 
ser utilizados pelo psicopedagogo. A maioria deles tem objetivos específi cos e 
avaliam determinado aspecto da aprendizagem. 
No momento da elaboração das hipóteses iniciais, o 
psicopedagogo deverá fazer a seleção dos instrumentos, de acordo 
com o caso, levando em consideração a queixa, a idade do paciente, 
nível de escolaridade e áreas que pretende avaliar. Nunca devemos 
utilizar um grande número de instrumentos, pois o excesso em nada 
contribuirá para o “bom” diagnóstico. Concordando com Weiss (1994, 
p. 19) quando afi rma que:
A maior qualidade e validade do diagnóstico 
dependerá da relação estabelecida entre 
terapeuta-paciente: empática, de confi abilidade, 
respeito, engajamento. A relação de confi ança 
estabelecida cria condições para o início de 
qualquer atendimento posterior.
Outro dado importante, que todo o psicopedagogo deve ter clareza, é que 
existem determinados instrumentos que só podem ser utilizados por psicólogos 
e outros que são da área específi ca da fonoaudiologia. Portanto, devemos fi car 
atentos de só utilizarmos os instrumentos da psicopedagogia.
Apresentarei, a seguir, os principais instrumentos que são utilizados durante 
o diagnóstico psicopedagógico. Vamos conhecê-los?
a) Caixa para a realização do Diagnóstico Operatório de Piaget:
Esta caixa deverá conter os materiais necessários para a realização 
das provas do Diagnóstico Operatório, conforme foi explicado na sessão 
anterior. Esse material você poderá encontrar pronto ou confeccioná-lo 
você mesm(o)a.
O psicopedagogo 
deverá fazer 
a seleção dos 
instrumentos, de 
acordo com o 
caso, levando em 
consideração a 
queixa, a idade 
do paciente, nível 
de escolaridade e 
áreas que pretende 
avaliar.
Esta caixa deverá 
conter os materiais 
necessários para 
a realização 
das provas do 
Diagnóstico 
Operatório.72
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
Figura 3 – Materiais que compõe a caixa do Diagnóstico Operatório
Fonte: Disponível em: . Acesso em: 29 fev. 2016.
No link abaixo, você encontrará a descrição do material 
necessário para as provas do Diagnóstico Operatório, bem como 
a forma de aplicação destas provas. Vale a pena conferir! Acesse: 
.
b) Teste de Audibilização:
Este teste foi desenvolvido pela psicopedagoga Clarissa S. Golbert e está 
descrito em detalhes no seu livro intitulado “A Evolução Psicolinguística e suas 
Implicações na Alfabetização”. De acordo com a autora, a audibilização:
[...] é o processo pelo qual a cognição auditiva permite a 
aquisição e o desenvolvimento da linguagem e, mais tarde, 
da leitura e da escrita. [...] consideramos a discriminação 
fonemática, a memória e a conceituação como subprocessos 
da audibilização (GOLBERT, 1988, p. 19).
Este teste é composto pelos seguintes itens e sub-itens (GOLBERT, 1988):
73
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
• Discriminação fonemática: 24 pares de sílabas para serem distinguidos pela 
criança se são iguais ou diferentes.
• Memória: 
 – Memória de frases – 6 frases apresentadas que a criança deverá repetir.
 – Memória de dígitos – conjunto de dígitos para a criança repetir.
 – Memória de relatos – 3,4,5,6 fatos que a criança deve repetir.
• Conceituação: 
 – Identifi cação dos absurdos – 6 frases onde os absurdos são indicados 
pela criança.
 – Identifi cação de objetos e situações – identifi car um objeto ou situação 
apresentada.
 – Defi nição de palavras – palavras que a criança deverá repetir por gestos, 
usos, descrição etc.
 – Organização sintático-semântica: conjunto de três palavras para a 
criança reunir signifi cativamente.
 – Avaliação do vocabulário compreensivo: 23 lâminas com 4 desenhos, a 
criança deve dizer qual desenho de cada lâmina melhor se encaixa com a 
palavra dita pelo examinador.
c) Teste de Desempenho Escolar (TDE):
O Teste de Desempenho Escolar é um instrumento psicométrico 
que foi criado pela psicóloga Lilian Milnitsky Stein. Ele busca “[...] 
oferecer uma avaliação das capacidades fundamentais para o 
desempenho escolar, mais especifi camente da escrita, aritmética e 
leitura.” (STEIN, 1994, p.01).
O TDE é composto por 3 subtestes e pode ser aplicado para 
alunos de 1º ao 7º ano. Os aspectos avaliados são:
• Escrita: escrita do nome próprio e de palavras isoladas apresentadas, sob a 
forma de ditado;
• Aritmética: solução oral de problemas e cálculos de operações aritméticas 
por escrito;
• Leitura: reconhecimento de palavras isoladas do contexto.
Oferecer uma 
avaliação das 
capacidades 
fundamentais para 
o desempenho 
escolar, mais 
especifi camente da 
escrita, aritmética e 
leitura.
74
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
d) Instrumento de Avaliação do Repertório Básico para a Alfabetização (IAR):
Este instrumento avalia o repertório das crianças no que diz 
respeito aos pré-requisitos fundamentais para a aprendizagem da 
leitura e da escrita e possibilita informações que indicarão se a criança 
está em condições ideais de iniciar a alfabetização propriamente dita. 
Pode ser aplicado em crianças no período de pré-alfabetização e 
alfabetização (de 5 a 7 anos), ou em crianças maiores quando existir 
queixa referente a este aspecto.
Com a utilização deste instrumento, podemos conhecer como a criança se 
apropria dos seguintes conceitos: esquema corporal, lateralidade, posição, direção, 
espaço, tamanho, quantidade, forma, discriminação visual, discriminação auditiva, 
verbalização de palavras, análise-síntese e coordenação motora fi na (LEITE, 1984).
e) Análise da Produção Escrita de Textos (APET):
Avaliação do discurso escrito tem a função de verifi car o nível 
de independência, domínio e efi cácia do aprendente com a palavra 
escrita. Este material se propõe a avaliar o discurso escrito e a análise 
discursiva em três diferentes situações: um questionário referente ao 
dia a dia do avaliando, uma produção de texto narrativa e outra de um 
texto dissertativo-argumentativo. A APET é uma avaliação qualitativa e pode ser 
utilizada na avaliação de estudantes do 5º ano do Ensino Fundamental até o 3º 
ano do Ensino Médio (FORTE; SCARPA; KUBOTA, 2014).
Além destes instrumentos, vale lembrar que existem muitos outros, cada 
um com a sua especifi cidade. Portanto, neste momento, o psicopedagogo precisa 
utilizar-se do seu bom senso para selecionar e escolher os instrumentos mais 
oportunos para aquele caso em especial. Caso ele precise utilizar um instrumento 
de outra área (psicologia ou fonoaudiologia), ele deve fazer o encaminhamento para 
esse profi ssional a fi m de complementar a sua avaliação.
Para fi nalizar essa sessão, compartilho aqui uma refl exão importante para 
todo o profi ssional da área da psicopedagogia:
Portanto, o psicopedagogo, neste momento, precisa fazer uso 
do seu bom senso e ética no sentido de não ultrapassar os 
limites de sua prática, ou seja, se existirem casos nos quais 
o diagnóstico necessite da ajuda de outros profi ssionais, o 
psicopedagogo deverá fazê-lo. Isso signifi ca trabalhar de 
maneira multidisciplinar: discutindo, pesquisando e interagindo 
com as diversas áreas de conhecimento que envolvem o 
trabalho psicopedagógico (LOPES, 2008, p. 37).
Avalia o repertório 
das crianças no 
que diz respeito 
aos pré-requisitos 
fundamentais para 
a aprendizagem da 
leitura e da escrita.
Avaliar o discurso 
escrito e a análise 
discursiva.
75
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
Bom, vamos agora sintetizar nosso conhecimento através de um quadro que 
compreende cada uma das etapas do diagnóstico e os instrumentos utilizados em 
cada uma delas.
Quadro 5 – Seleção dos instrumentos a serem utilizados em 
cada etapa do Diagnóstico
ETAPA INSTRUMENTOS
Queixa - Roteiro para a investigação da queixa.
Anamnese - Roteiro para a investigação da história do sujeito.
Sessão Lúdica Centrada 
na Aprendizagem – “Hora 
do Jogo”
- Uma caixa contendo quebra-cabeça, dominó, pega vareta, outros 
jogos de regras de acordo com a idade da criança, massinha de 
modelar, folhas e lápis de cor, livrinhos de história, blocos de montar, 
animais em miniaturas, carrinhos e bonecos, entre outros.
EOCA
- Uma caixa contendo: Folhas de papel A4; folhas pautadas; Lápis 
novo sem ponta; Apontador; Caneta esferográfica; Massa de mode-
lar; Borracha; Tesoura e cola; Papéis coloridos; Régua; Revistas e 
livros; Canetas hidrográficas e Lápis de cor. 
Diagnóstico Operatório
- Uma caixa contendo o material necessário para a aplicação das 
provas selecionadas.
Técnicas Projetivas - Folhas de papel A4, lápis e borracha.
Provas Pedagógicas
- Teste de Audibilização;
- Teste de Desempenho Escolar;
- Instrumento de Avaliação do Repertório Básico para a Alfabetiza-
ção;
- Análise da Produção Escrita de Textos entre outros.
Levantamento dos dados 
do desempenho escolar
- Roteiro para a investigação na escola, com os professores e 
equipe.
Informe Psicopedagógico - Instrumento elaborado pelo psicopedagogo.
Devolutiva - Informe Psicopedagógico.
Fonte: A autora.
ESTUDO DE CASO
Até aqui foram muitas informações, não é mesmo? Você deve estar se 
perguntando agora, como tudo isso funciona na prática. Para que possa fi car 
mais claro para você, apresentamos um caso, retirado do artigo de Haupenthal 
e Theise (2011), intitulado “Quero crescer? Quero ler e escrever? – refl exões 
psicopedagógicas”. O estudo de caso é uma ferramenta muito importante para 
76
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
a formação do psicopedagogo, pois o leva a refl etir sobre os procedimentos 
utilizados, as hipóteses levantadas, bem como sobre o relacionamento 
psicopedagogo/paciente.
Vamos, agora, ao caso?
ESTUDO DE CASO – Parte I
Este estudo de caso objetiva a compreensão das causas que 
geram difi culdadesde aprendizagem, especifi camente relacionadas 
à lecto-escrita. A criança pesquisada, que será chamada de R., tem 
9 anos, é aluna da 4ª série do Ensino Fundamental de uma escola 
pública. R. mora com a mãe, o pai e o irmão. A queixa trazida pela 
família foi de difi culdade na leitura e na escrita e falta de concentração.
Na entrevista para a anamnese, a mãe de R. revelou ter 
descoberto que estava grávida dele, somente quando já estava 
sofrendo um princípio de aborto. Portanto, R. não foi um fi lho 
desejado, a mãe afi rma que a gravidez “aconteceu” e que quando ela 
descobriu omitiu este fato do pai da criança, pois estavam separados, 
contudo, o pai acabou sabendo da notícia por terceiros.
Ao saber da gravidez, a mãe afi rma que o pai de R. aceitou 
tranquilamente e a apoiou. O restante do período gestacional 
ela relata ter sido tranquilo. O parto foi normal e sem nenhuma 
complicação, segundo a mãe. Quando R. nasceu, ela, o pai de R, 
e seu primeiro fi lho, foram morar juntos, e em seguida R. começou 
a apresentar problemas de saúde. Aos 9 meses R. foi operado para 
a remoção de uma hérnia, no entanto, durante o período de espera 
para a realização da cirurgia, R. tinha uma saúde muito debilitada e 
necessitava de cuidados especiais. A cirurgia correu bem, só que a 
mãe revela ter se traumatizado com este problema de saúde do fi lho, 
ela afi rma ter se tornado “neurótica” e diz que passou a superproteger 
o fi lho desde aquela época.
R. tem um irmão de 13 anos, fruto de uma relação anterior da 
sua mãe. Contudo, só aos 9 anos R. fi cou sabendo que o seu irmão 
mais velho não era fi lho do seu pai. Essa revelação aconteceu porque 
R. perguntou por que o irmão não chamava seu pai de pai, então sua 
mãe lhe disse que era porque ele não era pai do irmão. Em trechos 
da entrevista, a mãe de R. fala que ele tem medo do escuro, medo 
77
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
de temporal, medo de fi car doente etc. ela ainda comenta que foi ela 
quem “colocou” esses medos nele. A relação de R. com esse irmão é 
repleta de brigas, pois a mãe diz que eles possuem comportamentos 
opostos, R. é muito ativo, falante, adora brincar, já o irmão é calmo, 
tímido, quieto.
R. mamou até os 3 anos de idade, chupou bico só durante os 
primeiros meses, tomou mamadeira até os 7 anos, falou e caminhou 
com 1 ano de idade, a mãe afi rma que ele só não caminhou antes, 
por causa do seu problema de saúde. Sobre o controle esfi ncteriano 
a mãe relata que R. tinha “nojo” das fraldas sujas e por isso parou 
cedo, por volta dos 2 anos. Aos 9 anos R. ainda dorme com mãe, 
mora a duas quadras da escola e seus pais o levam e buscam, e 
quando ele vai com a mãe, eles vão de mãos dadas até a porta da 
sala de aula.
A característica que a mãe mais ressalta no seu fi lho é a 
facilidade de fazer amizades e se comunicar, no entanto, ela comenta 
que ele não tolera ser “feito de bobo”. Para a mãe, a importância da 
educação e da escola na vida do seu fi lho é possibilitar que ele tenha 
um emprego melhor do que ela e seu marido. Para viver “melhor”.
R. é um menino de estatura baixa, franzino, e isso incomoda 
muito o seu pai que acha que o fi lho “tem problema” porque “não 
cresce”. A mãe diz que já o levou no médico e que isso é normal. 
R. brinca na escola, preferencialmente com crianças menores e na 
4ª série, sente-se deslocado, chegando a pedir até para mudar de 
escola. A mãe diz que R. troca muitas letras quando escreve e é 
desatento, inclusive revela que R. também trocava letras na fala até 
aproximadamente 7 / 8 anos.
Um dos principais momentos da entrevista foi quando a mãe de 
R. falou que “tem medo que ele cresça” e afi rmou ter consciência de 
que estabeleceu uma “relação de dependência com ele”. Outro ponto 
importante do relato da mãe é quando ela desabafa “se eu tivesse 
dinheiro, ia fazer um tratamento, porque depois que ele fi cou doente 
eu mudei, eu não era assim”.
No momento de encontro com R., objetivando avaliar o seu 
desenvolvimento na leitura e na escrita, apresentamos para ele cinco 
livros de historinhas diferentes, para que ele escolhesse o que mais 
despertava o seu interesse, R. optou pelo livro intitulado “A festa 
encrencada”. Pedimos para que ele contasse a história para nós, 
78
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
e ele prontamente iniciou a leitura do livro. R. demonstra ler com 
muita facilidade as palavras que fazem parte do seu cotidiano, do 
seu vocabulário. Contudo, apresenta certa difi culdade para identifi car 
palavras que ele desconhece, parando muitas vezes de ler e pedindo 
aprovação, olhando e perguntando: “está certo?”.
Aconteceram alguns fatos que merecem destaque, durante a 
leitura da historinha. Um deles refere-se ao fato de R. estar lendo uma 
página e já ir folheando a próxima página, demonstrando curiosidade 
e uma ansiedade muito grande em concluir a leitura. Outro detalhe 
diz respeito à leitura da palavra “gruta”, R. não conseguiu ler essa 
palavra, e fez algumas hipóteses. Porém, mais adiante a palavra 
aparece novamente na história, e R. lê com muita facilidade a 
mesma palavra, que ele antes parecia não reconhecer. Também é 
importante pontuar a difi culdade que R. possui de pronunciar a letra 
“r” , quando essa se encontra no meio das palavras, por exemplo, 
a palavra “dragão” ele lia “dagão”. A última consideração, que nos 
despertou a atenção, foi o fato de, em dado momento da história, 
R. trocar a palavra “enorme”, por um sinônimo, “imenso”, com muita 
rapidez e destreza.
Após a R. acabar a leitura do livro, foi feita uma releitura da 
história para ele e, posteriormente, foi solicitado que ele escrevesse 
o que ele havia compreendido sobre aquela história. Ele escreveu 
um resumo, onde privilegiou o início e o fi nal da história. Na escrita, 
verifi caram-se a troca ortográfi ca da letra “m”, pela letra “n” e 
vice-versa; trocas de tempos verbais e outros erros ortográfi cos, 
principalmente dúvidas quanto ao uso das letras “s”, “c” ou “ss”. No 
entanto, o texto apresentou estruturação lógica e organização de 
ideias condizentes com o esperado para um aluno de 4ª série.
Após ler e escrever a história, foi solicitado a R. que ele fi zesse 
um desenho da sua família. Ele demonstrou bastante satisfação 
ao desenhar. R. organizou o desenho da seguinte forma: ele, com 
menor estatura, ao lado do irmão, um pouco mais alto, a mãe, mais 
alta que ele e que o irmão, e o pai, o integrante mais alto da família. 
R. desenhou sua família dentro de uma casa, que ele referiu ser a 
casa que ele morava antes. No desenho da casa, R. fez divisões e 
desenhou um quarto para os seus pais, e um quarto para ele e para 
o seu irmão.
As fi guras humanas desenhadas por R. revelam que o mesmo, 
possui uma boa construção de noção de corpo. Na sua projeção, 
79
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
também fi cam bem claras as diferenças de gênero, sendo que a mãe 
está usando um vestido e tem cabelos compridos e R., seu irmão e seu 
pai, vestem camisas e calças e têm cabelos curtos. Todas as pessoas 
desenhadas encontram-se de braços abertos e muito próximas umas 
das outras, as feições dos rostos são muito parecidas.
R. fez uso da borracha ao desenhar seu rosto, o rosto da mãe 
e o rosto do pai, os braços da mãe e do pai também foram refeitos, 
assim como seus pés, os pés do irmão e da mãe. Observa-se que, 
R. desenhou um rosto que foi apagado. Não fi cando claro, a quem este 
rosto pertenceria. Além disso, ele desenhou seu irmão tão próximo de 
sua mãe, que os desenhos praticamente se sobrepõem.
Após a realização da entrevista com a mãe (história vital), do 
momento de avaliação da leitura e da escrita e da aplicação da 
prova projetiva desenho da família, estas informações serviram para 
delimitarmos nossas hipóteses e construirmos o diagnóstico.
Fonte: Disponível em: . Acesso em: 29 fev. 2016.
No relatoda mãe de R. aparecem vários pontos que merecem destaque e 
que podem estar causando a sua difi culdade de aprendizagem. Você consegue 
identifi cá-los? Esse relato da anamnese deixa claro a super proteção existente 
em torno da criança, bem como a sua falta de autonomia. É importante salientar 
também, que a própria mãe afi rma que tem medo que o fi lho cresça.
Imagine que você é o psicopedagogo que está realizando a avaliação 
psicopedagógica de R. Que hipóteses você construiria a partir do que foi exposto 
acima? E, a partir destas hipóteses, que outros instrumentos de diagnóstico você 
utilizaria?
A seguir, na segunda parte do Estudo de Caso, apresentaremos os resultados 
do diagnóstico, bem como as conclusões e as orientações psicopedagógicas para 
o caso. Você, aluno, poderá fazer o exercício de estabelecer relações entre a 
queixa que a mãe apresentou na primeira conversa e as informações que serão 
apresentadas abaixo.
Vamos retornar ao caso: 
80
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
ESTUDO DE CASO – Parte II
Durante a pesquisa para a elaboração de um diagnóstico, que 
permita compreender, as difi culdades de aprendizagem mencionadas 
pela família e pela escola a respeito do desenvolvimento da lecto-
escrita do sujeito R., percebe-se que a difi culdade de aprendizagem 
de R. está muito mais relacionada ao seu desejo de não mostrar o 
que sabe, para não perder o papel de bebê que a mãe designou a 
ele. Há um contrato de sobrevivência entre R. e sua mãe, o fato dele 
não querer crescer, traz de certa forma vantagens para ambos.
O não-aprender de R. na estrutura familiar que ele se encontra, 
signifi ca manter o lugar que ele ocupa de bebê da casa, que, caso 
venha a aprender e a crescer estará impondo uma reestruturação na 
organização familiar vigente.
R. representa um importante papel dentro da sua família, pois, 
foi ele quem uniu seus pais. Já que, durante a entrevista a mãe disse 
que ela e o pai de R. estavam separados, mas assim que souberam 
que havia “acontecido” a gravidez resolveram morar juntos. Nota-
se, por diversas vezes na fala da mãe, que foi o nascimento de 
R. que motivou e mantém a sua união. Portanto, o fato dele não 
poder crescer, pode representar uma situação positiva: seus pais 
permanecem juntos.
Em dado momento do processo diagnóstico, a mãe verbaliza 
seu sentimento de angústia em relação ao crescimento do fi lho 
dizendo que “tem medo que ele cresça”.
O desejo da mãe, de que R. continue sendo seu bebê, é 
explicitado em diversos momentos da entrevista realizada para 
aquisição de dados acerca da história vital. Ela relata determinados 
fatos, fundamentais para o entendimento do contrato de sobrevivência 
existente entre os dois. Dentre eles: R. ainda dorme na cama com os 
pais; a mãe incentivou R. a parar de tomar mamadeira, mas depois 
tentou fazer com que ele tomasse novamente; ela leva e busca R. 
na escola que é bem próxima da sua casa; R. tem muitos medos 
(escuro, doença, temporal, etc.) e muitos deles só aparecem na 
presença da mãe.
Além disso, R. é “pequenininho” como diz mãe, bem menor 
em relação às outras crianças da sua idade, mas ela justifi ca 
81
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
afi rmando também ser “pequenininha” e diz não se preocupar com 
isso, mas comenta que o pai de R. fi ca muito preocupado com o 
“tamanho” do fi lho.
Sendo assim, R. apenas corresponde à demanda que sua mãe 
lhe designa, em uma díade, onde se estabelece o seguinte acordo: o 
crescimento do fi lho não refl ete o desejo da mãe, para tanto, ele não 
aprende, não cresce e não desaponta essa mãe. Fica bom para todo 
mundo.
Com base na construção da hipótese diagnóstica, que se refere 
ao fato da mãe desejar que R. não cresça e este, ocupar esse “papel” 
de bebê, inclusive fi sicamente (organicamente). Pode-se, perceber 
que apesar de R. estar alfabetizado, ele apresenta difi culdades 
de aprendizagem quanto ao fato de expandir seus conhecimentos 
e consequentemente expandir-se como sujeito. Pois, aprender e 
conhecer para R. pode representar entender seu papel na relação 
de seus pais, desapontar a sua mãe, reconhecer o seu desejo em 
contrapartida ao desejo da mãe. Esse revelar-se através do saber, 
pode signifi car sofrimento para R., que por isso se nega a mostrar o 
que sabe.
Na entrevista devolutiva, sugerimos à família as seguintes ações:
• Oportunizar através do lúdico, que R. desempenhe papéis (jogo 
simbólico) condizentes com a sua idade, e até, por vezes, papéis 
adultos. Favorecendo a aquisição da sua independência;
• Estabelecer que R. tenha seu espaço determinado na sua 
casa, dormindo sozinho, cumprindo tarefas, participando das 
decisões e conversas familiares. Para que, desta maneira ele 
desenvolva responsabilidades, percebendo a sua importância e, 
consequentemente o seu lugar;
• Autorizá-lo a realizar atividades que valorizem seu crescimento. 
Ex.: você pode ir e voltar sozinho da escola, pois você já é 
“grande” o bastante; você pode “dormir” sozinho, porque nada 
de mal lhe acontecerá; você pode acender o fogão, porque você 
vai cuidar etc. Conversar sobre os medos e as questões que lhe 
afl igem;
• Possibilitar momentos de expressão da linguagem oral e escrita, 
contextualizados pelo desejo de R., por exemplo, jogos de 
82
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
videogame, que, por serem momentos de prazer, facilitariam que 
ele revelasse seus saberes.
Com base na entrevista e provas projetivas realizadas, 
chegamos a conclusão de que há um contrato de sobrevivência entre 
R. e sua mãe. Neste contrato R. deve manter-se no seu papel de 
bebezinho da mãe, que admite não desejar que seu fi lho cresça, 
sendo esta, ao nosso ver, a causa dos sintomas apresentados pela 
criança. Esta família também apresenta segredos, começando pela 
omissão da mãe sobre a gravidez, sendo que o pai foi informado por 
terceiros. O fato de R. ter descoberto apenas aos 9 anos que seu 
irmão não é fi lho de seu pai também denota que o segredo é presente 
nesta família, pois esta informação lhe foi omitida por muitos anos, o 
que pode criar em seu imaginário a fantasia de que, já que o irmão 
não é fi lho deste pai, talvez ele também não o seja.
Em seu desenho R. faz um rosto e apaga, fi cando a marca no 
papel, nos revelando a possibilidade de haver mais um segredo, que 
talvez ainda não tenha sido revelado.
Mesmo já estando alfabetizado, R. ainda apresenta difi culdades 
de lecto-escrita, onde quando escreve se esquece de letras no meio 
das palavras, e quando lê omite algumas letras, como o “r”. Em alguns 
momentos em seu caderno, que tivemos a oportunidade de ver, ele 
escreve algumas palavras pela metade, não fazendo isto no texto 
que produziu sobre a história que propomos.
Tendo observado o desenho da família realizado por R., 
concluímos que ele apresenta o desejo de se libertar do papel que 
lhe é imposto pela sua família, pois em seu desenho faz um quarto 
para ele e o irmão separado do quarto dos pais, onde a cama de 
seu irmão fi ca entre a sua cama e o quarto que desenhou para seus 
pais. No mesmo desenho observamos que R. se coloca distante do 
pai, e põe seu irmão entre ele e sua mãe. Isto contradiz a fala da 
mãe, que em dado momento da entrevista nos informa que muitas 
vezes quando ela o leva a escola é ele quem pega na sua mão para 
andar na rua. Acreditamos que para que ocorra o crescimento, e 
consequentemente a aprendizagem de uma forma saudável, se faz 
necessário libertar R. do engolfamento da mãe.
É maravilhoso o olhar que a Psicopedagogia tem sobre o 
sujeito, vendo-o com uma parte de um todo, compreendendo o papel 
que este ocupa no ambiente familiar, podendo assim ajudar não só 
83
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
a este, mas também todo o grupo familiar, como é o caso da família 
de R., onde a estrutura do casamento dos pais se apóia na vida dele, 
foi a gestação dele que uniu este casal, os mantendo juntos até hoje.discussão...
A preocupação com o fracasso escolar e, consequentemente, com as 
difi culdades de aprendizagem é relativamente recente. Somente com a chegada 
da Revolução Industrial, houve preocupação com a produtividade e com tudo o 
que pudesse atrapalhar o desempenho dos funcionários e o ritmo de produção.
Segundo Cordié (1996, p.17), “o fracasso escolar é uma patologia recente. 
Só pôde surgir com a instauração da escolaridade obrigatória no fi m do século 
XIX e tomou um lugar considerável nas preocupações de nossos contemporâneos 
em conseqüência de uma mudança radical na sociedade”. Desde então, a escola 
passa a ser valorizada como um instrumento de ascensão e de prestígio social. 
Entre algumas famílias, a possibilidade de uma escolarização com sucesso 
passou a ser a única forma de vislumbrar um futuro promissor. A partir daí e cada 
vez mais, os alunos com algum tipo de difi culdade na escola passaram a ser 
vistos como os que possivelmente poderiam também, fracassar na vida.
Neste contexto, as difi culdades de aprendizagem se tornam o foco de 
atenção de várias áreas, principalmente da Medicina, que começa a estudar a 
causa dos problemas e suas possíveis correções. A Oftalmologia, a Neurologia, 
a Psiquiatria eram algumas das áreas da Medicina que se ocupavam com esses 
estudos. 
Já no início do século XX, com a primeira guerra mundial em andamento 
na época, existia a oportunidade de se descobrir, no cérebro dos guerrilheiros 
atingidos, a relação das áreas cerebrais danifi cadas com as funções que 
apareciam prejudicadas. Tais descobertas acabaram por alavancar maiores 
pesquisas e publicações na área, chamando atenção de vários profi ssionais, 
entre eles educadores.
Neste sentido, podemos destacar os trabalhos de Janine Mery (1985), 
psicopedagoga francesa que apresenta algumas considerações sobre o termo 
psicopedagogia e sobre a origem dessas ideias na Europa. De acordo com a 
13
A HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA: 
UMA PRÁTICA EM CONSTRUÇÃOCapítulo 1
autora, os primeiros Centros Psicopedagógicos foram fundados na Europa, a 
partir da segunda metade do século XX, e objetivavam, a partir da integração 
de conhecimentos pedagógicos, psicanalíticos e da medicina, encontrar soluções 
para os problemas de comportamento e de aprendizagem. Desde a sua fundação, 
estes centros apoiavam-se nas áreas médica e pedagógica.
Mery (1985) adotou o termo “Pedagogia Curativa” para caracterizar uma ação 
terapêutica que considerava aspectos pedagógicos e psicológicos no tratamento 
de crianças com problemas de aprendizagem. Método este, que favorecia a 
readaptação pedagógica do aluno. Segundo ela, tais crianças “experimentam 
difi culdades ou demonstram lentidão em relação aos seus colegas no que diz 
respeito às aquisições escolares” (MERY, 1985, p. 16).
O nascimento da Psicopedagogia 
A Psicopedagogia nasceu na Europa, ainda no século XIX. 
Inicialmente, pensaram sobre o problema de aprendizagem: os 
fi lósofos, os médicos e os educadores. Na literatura francesa 
– encontra-se, entre outros, os trabalhos de Janine Mery, 
psicopedagoga francesa, que apresenta algumas considerações 
sobre o termo Psicopedagogia e sobre a origem dessas idéias na 
Europa, e os trabalhos de George Mauco, fundador do primeiro centro 
médico-psicopedagógico na França onde se percebe as primeiras 
tentativas de articulação entre Medicina, Psicologia, Psicanálise 
e Pedagogia, na solução dos problemas de comportamento e de 
aprendizagem. Janine Mery (1985) aponta o século XIX como aquele 
em que teve início o interesse por compreender e atender portadores 
de defi ciências sensoriais, debilidade mental e outros problemas que 
comprometessem a aprendizagem. Segundo essa autora, no fi nal 
do século XIX, educadores como Itard, Pereire, Pestalozzi e Seguin 
começaram a se dedicar às crianças que apresentavam problemas 
de aprendizagem em razão de vários tipos de distúrbios. Jean Itard 
mobilizou-se com o caso da reeducação de um enfant sauvage, 
Victor, uma história exemplar sob vários aspectos, entre outros pelo 
choque que esse ser real representava aos olhos do ideal romântico 
rousseauniano. Pestalozzi, inspirado nas idéias de Rousseau, fundou 
na Suíça um centro de educação através do trabalho, onde usou o 
método intuitivo e natural, estimulando, em especial, a percepção. 
Educadores como Pereire, Itard e Seguin também se preocuparam, 
principalmente, com a percepção. Mery aponta esses educadores 
como pioneiros no tratamento dos problemas de aprendizagem, 
14
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
observando porém, que eles se preocupavam mais pelas defi ciências 
sensoriais e pela debilidade mental do que propriamente pela 
desadaptação infantil.
Fonte: extraído de Revista de Psicologia: Interface Educação – 
“Análise Histórica do surgimento da Psicopedagogia no Brasil”.
Fonte: Disponível em: . Acesso em: 10 abr. 2016.
Enfant sauvage, termo francês, que signifi ca criança selvagem. 
São crianças que desde os primeiros anos de vida passaram a viver 
isoladas da humanidade. Por algum motivo, foram privadas do convívio 
sócio-cultural apropriado para o desenvolvimento intelectual e afetivo. 
Nessa mesma época, nos Estados Unidos, o mesmo movimento acontecia, 
porém enfatizava mais os conhecimentos médicos, dando um caráter organicista 
à preocupação com as difi culdades de aprendizagem.
O movimento europeu acabou por originar a Psicopedagogia, 
enquanto que o movimento americano proliferou a crença de que os 
problemas de aprendizagem possuíam causas orgânicas e precisavam 
de atendimento especializado, infl uenciando parte do movimento da 
Psicologia Escolar que, até bem pouco tempo, determinou a forma de 
tratamento dada ao fracasso escolar (BOSSA, 2011).
A corrente europeia infl uenciou a Argentina, que passou a tratar das 
pessoas com difi culdade de aprendizagem, há mais de 30 anos, realizando um 
trabalho na perspectiva reeducativa. “Trabalhavam-se as funções egoicas, como 
memória, percepção, atenção, motricidade e pensamento, medindo-se os défi cits 
e elaborando-se planos de tratamento que objetivavam vencer essas faltas” 
(BOSSA, 2011, p. 62-63).
Nesta mesma época (1956), surge em Buenos Aires, a primeira graduação 
em Psicopedagogia, que também passou por diversas transformações ao longo 
dos anos. 
Na década de 1970, houve a criação dos primeiros Centros de Saúde Mental, 
na cidade de Buenos Aires, na Argentina. Juntamente com outros profi ssionais, 
O movimento 
europeu acabou 
por originar a 
Psicopedagogia.
15
A HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA: 
UMA PRÁTICA EM CONSTRUÇÃOCapítulo 1
os psicopedagogos atuavam fazendo o diagnóstico e o tratamento nos casos 
de problemas de aprendizagem. Neste período, houve uma grande mudança 
na práxis psicopedagógica: os psicopedagogos começaram a incluir o olhar e a 
escuta clínica da psicanálise no seu trabalho, por perceberem que somente um 
olhar médico e pedagógico não dava conta da diversidade de situações envolvidas 
no trabalho. Com isso, então, o perfi l do psicopedagogo muda de uma postura 
reeducativa para adquirir um olhar mais abrangente sobre o sujeito e o sintoma do 
não-aprender (BOSSA, 2011).
No Brasil, a ideia vigente por muito tempo era de que os problemas de 
aprendizagem seriam consequências de fatores orgânicos, tendo como causa 
principal “[...] uma disfunção neurológica não detectável em exame clínico, [...] 
chamada de disfunção cerebral mínima (DCM)” (BOSSA, 2011, p. 76). Tal 
concepção, organicista e patologizante, foi amplamente difundida e utilizada na 
intenção de rotular todo e qualquer aluno que não conseguisse aprender dentro 
do esperado.
Foi no fi nal da década de 1970, impulsionado por essa concepção de 
problemas de aprendizagem na escola, que surgiram os primeiros cursos de 
especialização em Psicopedagogia no Brasil. Eles foram pensados e idealizados 
para complementar a formação de psicólogos e educadores interessados em 
pensarUma mudança no papel que R. ocupa signifi caria a desestruturação 
de todo este movimento familiar, mexendo não só com ele, mas com 
as posições tomadas por todos, principalmente a da mãe. 
Fonte: Disponível em: . Acesso em: 29 fev. 2016.
E então, aproveitaram o caso? Com este exemplo fi ca muito fácil 
percebermos o quanto é rico o trabalho do psicopedagogo e quantas facetas 
vão se abrindo a partir de um olhar atento ao caso. Quando afi rmamos que o 
trabalho do psicopedagogo se assemelha ao trabalho de um detetive que deve 
ir juntando as peças para formar um grande quebra-cabeça, é justamente a isso 
que nos referimos... Uma queixa inicial aparentemente “comum” de difi culdade de 
leitura e de escrita e difi culdade de concentração carregava consigo tantos outros 
aspectos, não é mesmo?
Vamos exercitar um pouco mais o seu “olhar psicopedagógico” com a 
atividade de estudo apresentada a seguir.
Atividade de Estudos: 
1) Agora é a sua vez! Elabore um Informe Psicopedagógico a partir dos 
dados a seguir:
• Identifi cação:
 Nome: V. V. B.
 Idade: 11 anos
 Escola: Particular
 Escolaridade: 5º ano
• Queixas:
 
 Família: difi culdade em matemática e interpretação de texto, 
dispersa com facilidade.
 Escola: difi culdade de aprendizagem. 
84
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
• Aspecto Sócio-Afetivo:
 Consigo: É insegura, mas reconhece as suas difi culdades.
 
 Colegas: Tem bom relacionamento com os colegas e faz novas 
amizades com facilidade.
 Ensinante: tem boa relação com as professoras.
 Família: Apresenta bom relacionamento com os familiares, 
embora tenha difi culdade em aceitar algumas atitudes da mãe e 
possui fantasia da reintegração do pai ao núcleo familiar.
 (Provas Projetivas utilizadas: Par Educativo, Família Cinética, Os 
4 Momentos do Dia, Auto retrato)
• Objeto do conhecimento: Se interessa, tem desejo/prazer em 
aprender. Apresenta difi culdade, entretanto é persistente.
• Predomínio da Aprendizagem: Assistemática.
• Aspectos Cognitivos:
 
 Está no Estágio Operatório Concreto (Diagnóstico Operatório);
 Memória: desempenho médio;
 Atenção: apresentou baixo desempenho;
 Concentração: precisa de estimulação;
 Compreensão: não apresentou bom desempenho;
 Criatividade: Bastante criativa;
 Organização: Seu pensamento é organizado;
 Planejamento: pensa nas etapas do planejamento;
 Estratégia: consegue criar estratégias para a solução das situações 
problemas;
 Antecipação: precisa de estimulação.
• Aspectos Pedagógicos:
 Leitura Silenciosa: faz com movimentos labiais, mas em silêncio.
 Leitura Oral: ritmo médio, expressiva, não assinala a linha 
com o dedo, movimenta a cabeça quando lê, não omite letras, 
substitui palavras por outras parecidas, não demonstra noção de 
pontuação.
85
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
• Conhecimento e Raciocínio Lógico Matemático: possui 
difi culdade de raciocínio lógico matemático, com difi culdade 
para abstrair. Reconhece as suas difi culdades e não desiste com 
facilidade.
• Material Escolar: Não possui uma rotina estruturada, seus 
materiais escolares são desorganizados. Não há explicações 
prévias sobre as atividades de casa. As atividades de casa 
e de sala não são revisadas. Foram observados vários erros 
ortográfi cos.
• Aspecto Psicomotor:
 Orientação temporal: não domina.
 Orientação espacial: não respeita as margens.
 Sequência lógica: Está bem desenvolvida.
 Coordenação motora fi na: Bem estimulada.
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Algumas ConsideraçÕes
Chegamos ao fi nal de uma etapa muito importante do nosso estudo: o 
diagnóstico psicopedagógico. Foi um grande desafi o escrever este capítulo, pois 
considera-se ser o elemento chave para a obtenção de resultados satisfatórios. 
Tentei aliar a teoria com a prática psicopedagógica, tornando-a mais acessível. 
Espero que vocês tenham gostado e aproveitado ao máximo as informações que 
aqui estão contidas.
Talvez, tenham surgido dúvidas ao longo da leitura. Porém, é importante que 
você tenha sempre presente o desejo de buscar mais, de saber mais e o prazer em 
aprender. A temática do diagnóstico psicopedagógico, não se esgota aqui. Muito 
pelo contrário! Espero que essas pinceladas iniciais sejam apenas o início de uma 
grande caminhada em busca de aperfeiçoamento e novos conhecimentos sempre!
86
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
Quero deixar aqui registrado, um pensamento do grande educador Rubem 
Alves e que deve estar presente no dia a dia de todos os psicopedagogos:
“O nascimento do pensamento é igual ao nascimento de uma 
criança: tudo começa com um ato de amor. Uma semente 
há de ser depositada no ventre vazio. E a semente do 
pensamento é o sonho. Por isso os educadores, antes de 
serem especialistas em ferramentas do saber, deveriam ser 
especialistas em amor: intérpretes de sonhos.” 
Rubem Alves
Desejo, para todos nós, que depositemos muitas sementes no pensamento 
das nossas crianças!!!!
Referências
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Rio de Janeiro: Wak Editora, 2012.
BARBOSA, Manuela. Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem – EOCA. 
In: SCICCHITANO, Rosa Maria Junqueira; CASTANHO, Marisa Irene Siqueira. 
Avaliação Psicopedagógica: recursos para a prática. Rio de Janeiro: Wak 
Editora, 2013.
BOSSA, Nádia A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 
Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011.
BRUNNER e ZELTNER. Dicionário de psicopedagogia e psicologia 
educacional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
CAIERÃO, Iara. Hora do Jogo: a arquitetura lúdica como instrumento de 
avaliação psicopedagógica da criança. In: SCICCHITANO, Rosa Maria Junqueira; 
CASTANHO, Marisa Irene Siqueira. Avaliação Psicopedagógica: recursos para 
a prática. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2013.
CHAMAT, Leila Sara José. Técnicas de Diagnóstico Psicopedagógico: o 
diagnóstico clínico na abordagem interacionista. São Paulo: Vetor, 2004.
FERNÁNDEZ, Alicia. A Inteligência Aprisionada: abordagem psicopedagógica 
clínica da criança e sua família. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.
87
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
FORTE, Lilian Kotujansky; SCARPA, Marlene Lopes; KUBOTA, Regina Soga. 
APET – Análise da Produção Escrita de Textos. São José dos Campos, SP: 
Pulso Editorial, 2014.
GOLBERT, Clarissa S. A Evolução Psicolinguística e suas Implicações na 
Alfabetização: teoria – avaliação – refl exões. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988.
GOMES, Luciara; AZEVEDO, Sílvia. Diagnóstico Psicopedagógico Clínico. 
Disponível em: . Acesso em: 05 mar. 2016.
HAUPENTHAL, Muriel; THEISE, Andrea. Quero crescer? Quero ler e 
escrever?: refl exões psicopedagógicas. 2011. Disponível em: . Acesso 
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LEITE, Sérgio Antonio da Silva. Instrumento de Avaliação do Repertório 
Básico para a Alfabetização – IAR. São Paulo: EDICON, 1984.
LOPES, Shiderlene Vieira de Almeida. O Processo de Avaliação e 
Intervenção em Psicopedagogia. Curitiba. 2008. Disponível em: . Acesso em: 05 
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PAIN, Sara. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem. 
Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
RUBINSTEIN, Edith. “Aespecifi cidade do diagnóstico psicopedagógico”. In: 
SISTO, Fermino Fernandes et al. Atuação Psicopedagógica e Aprendizagem 
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SAMPAIO, Simaia. Manual Prático do Diagnóstico Clínico. Rio de Janeiro: 
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STEIN, Lilian Milnitsky. TDE – Teste de Desempenho Escolar: manual para a 
aplicação e interpretação. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1994.
VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica: epistemologia convergente. Porto 
Alegre: Artes Médicas, 1987.
88
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
VISCA, Jorge. Tecnicas Proyectivas Psicopedagogicas. Buenos Aires: AG 
Servicios Gráfi cos, 1995.
WEISS, Maria Lucia L. Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica. Porto 
Alegre: Artes Médicas, 1994. 
CAPÍTULO 3
A Intervenção Psicopedagógica 
Clínica: Ressignificando o Aprender
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
  Conhecer as diversas metodologias possíveis de serem utilizadas na 
intervenção psicopedagógica.
  Diferenciar ações terapêuticas de ações preventivas no contexto da 
psicopedagogia clínica.
  Situar a intervenção psicopedagógica clínica na abordagem com o paciente, a 
família e a escola.
  Analisar as possíveis ações psicopedagógicas a partir de um estudo de caso.
  Construir procedimentos de intervenção psicopedagógica clínica compatíveis 
com o caso apresentado.
90
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
91
A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA CLÍNICA: 
RESSIGNIFICANDO O APRENDERCapítulo 3
ConteXtualiZação
No capítulo passado, estudamos detalhadamente o fazer psicopedagógico no 
processo de diagnóstico, não é mesmo? Neste capítulo, abordaremos as questões 
relacionadas à intervenção psicopedagógica. Em primeiro lugar, é extremamente 
importante que você tenha clareza que ambas as ações, estão interligadas, pois a 
intervenção dependerá do que foi visto no processo de avaliação.
Neste sentido, o estudo deste capítulo, possibilitará a você, aluno (a), 
conhecer a práxis psicopedagógica relacionada ao processo de intervenção, 
destacando a amplitude de possibilidades presentes no nosso fazer.
Para isso, inicialmente, será apresentada uma breve explanação sobre as 
principais metodologias que possibilitam a intervenção psicopedagógica, dando 
o suporte teórico necessário e caracterizando-as. Em seguida, falaremos sobre a 
intervenção psicopedagógica de caráter preventivo e terapêutico, diferenciando-as. 
Falaremos também, sobre a abordagem psicopedagógica no âmbito da família, da 
escola e com o paciente, bem como das principais ações do psicopedagogo em 
cada uma destas instâncias. Depois disso, discutiremos sobre o processo de alta 
no trabalho psicopedagógico e fecharemos o capítulo com um estudo de caso que 
servirá para ilustrar e concretizar tudo o que foi dito anteriormente.
Espero que esse estudo seja muito proveitoso e que desperte várias refl exões 
sobre a prática do psicopedagogo clínico que possam fazer diferença no futuro, 
não só no futuro profi ssional, mas também no pessoal. Vamos então, dar início 
aos nossos estudos?
As Metodologias de Intervenção 
Psicopedagógica
Para darmos início a esse capítulo precisamos, antes de qualquer coisa, refl etir 
sobre o que signifi ca “intervenção psicopedagógica”. A intervenção psicopedagógica 
é muito discutida em todos os cursos de formação em Psicopedagogia, mas muitas 
vezes, as pessoas não têm a verdadeira compreensão do que ela signifi ca. Vamos 
começar com a defi nição da palavra “intervenção”.
De acordo com o “Dicionário de Psicopedagogia e Psicologia 
Educacional” de Brunner e Zeltner (2000), o termo intervenção 
signifi ca:
92
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
1. Designação geral relativa a interações na área peda-
gógica, pedagógico-social e terapêutica, visando a 
modifi cação do comportamento ou características de 
personalidade de indivíduos ou de estruturas, padrões 
e condições socioeconômicas de campos sociais. 2. No 
sentido de teoria da aprendizagem: uma modifi cação 
planejada de determinados comportamentos geralmente 
com base em resultados da psicologia da aprendizagem. 
Desse conceito, duas palavras são fundamentais para pensarmos 
na intervenção psicopedagógica: interações e modifi cações. Quando 
falamos em interações, pensamos imediatamente em “troca”. Troca 
entre sujeitos, troca entre sujeitos e objetos. Contudo, estas trocas 
só acontecem quando existe uma mediação, um “colocar-se no meio”, entre os 
sujeitos ou entre os sujeitos e os objetos.
Quando pensamos no signifi cado das palavras interação e 
mediação, imediatamente nos lembramos das diversas mediações 
que ocorrem com a criança, desde o seu nascimento. Podemos 
dizer que várias pessoas e até instituições “se colocam no meio”, 
entre a criança e o seu mundo físico e mental, propiciando o seu 
desenvolvimento. Dito isso, vamos pensar... Quais seriam as 
mediações que a criança estabelece e que são fundamentais para o 
seu desenvolvimento e aprendizagem?
Sintetizando, podemos pensar o sentido de interação como 
mediação entre dois sujeitos; ação entre duas ou mais pessoas; um 
sistema da ajuda mútuo e um movimento orientado para a busca de 
equilíbrio.
Retornando ao conceito, também aparece a palavra mudança. 
Todo o sujeito encontra-se em contínuo processo de mudança. Uma 
intervenção só acontece quando gera mudanças, quando deixa marcas. 
Pensando na psicopedagogia, qualquer intervenção psicopedagógica 
deve promover mudanças nos sujeitos envolvidos, deixando marcas no 
seu fazer, agir e pensar.
Agora vamos falar em intervenção num sentido mais específi co: a intervenção 
psicopedagógica clínica. 
Interações e 
modifi cações.
Sentido de 
interação como 
mediação entre 
dois sujeitos; 
ação entre duas 
ou mais pessoas; 
um sistema da 
ajuda mútuo e 
um movimento 
orientado para a 
busca de equilíbrio.
93
A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA CLÍNICA: 
RESSIGNIFICANDO O APRENDERCapítulo 3
Na psicopedagogia, falamos em intervenção como uma interferência que 
um profi ssional habilitado realiza sobre o processo de desenvolvimento ou 
aprendizagem de um sujeito. Na intervenção, o procedimento adotado interfere 
nesse processo, gerando mudanças.
No nosso caso, o psicopedagogo intervém quando uma criança apresenta 
problemas na sua aprendizagem. Um dos objetivos da psicopedagogia clínica é a 
intervenção, a fi m de “colocar-se no meio”, de fazer mediação entre a criança e o 
aprender, entre a criança e seus objetos de conhecimento, tornando-se assim, um 
facilitador do processo de aprendizagem.
De acordo com Monereo e Solé (2000), a intervenção psicopedagógica, para 
ser efi caz, deverá levar em consideração as características individuais de cada 
aluno, bem como do meio social em que está inserido e as diversas interações 
que realiza nesse meio.
Toda a intervenção psicopedagógica tem como objetivo abrir 
espaços subjetivos e objetivos, onde a autoria de pensamento seja 
possível, espaço onde pode surgir o sujeito aprendente, o sujeito 
desejante de aprender (FERNÁNDEZ, 2001).
Durante a intervenção psicopedagógica, o profi ssional deverá 
ter muito claro os seus objetivos, o que ele quer alcançar com aquele 
sujeito em questão. Podemos dizer que os principais objetivos da 
intervenção são:
• Conseguir uma aprendizagem que seja realização para o sujeito, resgatando 
seu desejo de aprender;
• Conseguir uma aprendizagem independente por parte do sujeito;
• Proporcionar a revalorização do vínculo com a aprendizagem;
• Proporcionar a auto-valorização e a recuperação da auto-estima;
• Proporcionar meios para que o sujeito supere as difi culdades encontradas no 
diagnóstico (FERNÁNDEZ, 2001; PAIN, 1992; VISCA, 1987).
Nesse sentido, o psicopedagogo poderá fazer uso de vários instrumentos, 
dos mais modernos recursos durante o processo de intervenção, porém, de 
nada adiantará se ele não tiver traçado os objetivos que pretende alcançar 
naquele trabalho.
Agora que você já sabe o que significa intervenção e quais são os seus 
objetivos, vamos conhecer as principais metodologias que embasam o trabalho 
de intervenção psicopedagógica.
Toda a intervenção 
psicopedagógica 
tem como objetivo 
abrir espaços 
subjetivos e 
objetivos, onde 
a autoria de 
pensamento seja 
possível.
94
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
As Metodologias de Intervenção 
Psicopedagógica
Assim como no diagnóstico psicopedagógico, na intervenção também 
existem diferentes teorias que embasam as metodologias que podem ser 
utilizadas no transcorrer deste trabalho. Apresentaremos a seguir, as principais 
metodologias que sustentam o fazer psicopedagógico e abrem caminhos 
possíveis de serem trilhados.
a) Metodologia baseada na Epistemologia Convergente:
A partir da década de 1970, começou a ser divulgada no Brasil a proposta 
teórica de Jorge Visca, denominada de “Epistemologia Convergente”. Esta teoria 
uniu conceitos vindos da Psicanálise, da Epistemologia Genética de Piaget e da 
Psicologia Social. Esta abordagem denomina a intervenção psicopedagógica 
como “Processo Corretor” (VISCA, 1987).
Segundo Visca (1987), processo signifi ca o movimento pelo qual 
as coisas se transformam e o termo correto signifi ca a ação do correto 
funcionamento de um aparelho ou organismo. Portanto, para ele, “[...]
o processo corretor consiste no conjunto de operações clínicas através 
do qual se facilitam o aparecimento e a estabilização de condutas.” 
(VISCA, 1987, p. 87).
O referencial que respalda esta teoria vislumbra o ser humano como 
ser biopsicossocial, isto é, um ser integral no qual todas as suas funções 
e habilidades interagem concomitantemente. Nesse sentido, o ser humano passa a 
ser visto como um todo, como um ser que não pode ser fragmentado.
Visca (2000) construiu seis modelos ou instrumentos psicopedagógicos 
para a investigação e ação: o esquema evolutivo da aprendizagem, o modelo 
nosográfi co, a matriz de pensamento diagnóstica, o processo diagnóstico, a 
entrevista operativa centrada na aprendizagem e o processo corretor. Vejamos 
cada um deles a seguir:
• O esquema evolutivo da aprendizagem: a Epistemologia 
Convergente acredita que a aprendizagem se dá através de 
sucessivas etapas de construção da aprendizagem, que seria uma 
perspectiva evolutiva.
• O modelo nosográfi co: classifi ca os estados patológicos da 
aprendizagem em três níveis complementares: o semiológico 
O processo 
corretor consiste 
no conjunto de 
operações clínicas 
através do qual 
se facilitam o 
aparecimento e a 
estabilização de 
condutas.
• O esquema 
evolutivo da 
aprendizagem.
• O modelo 
nosográfi co.
95
A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA CLÍNICA: 
RESSIGNIFICANDO O APRENDERCapítulo 3
(caracterização dos sintomas objetivos e subjetivos), o patogênico (estruturas 
e mecanismos que provocam a sintomatologia), e o etiológico (causas 
históricas, segundo um princípio construtivista, da confi guração dos 
sucessivos níveis de integração).
• A matriz de pensamento diagnóstica: refere-se ao diagnóstico e 
representa o instrumento conceitual que orienta o que se pretende 
e se busca no processo diagnóstico, para uma melhor análise das 
informações obtidas.
• O processo diagnóstico: seu aspecto focal é o diagnóstico da 
aprendizagem através de instrumentos específi cos, conforme já foi 
visto no capítulo anterior.
• A entrevista operativa centrada na aprendizagem: é um instrumento 
que centra a investigação, no momento do diagnóstico, nas 
difi culdades de aprendizagem assistemáticas e sistemáticas, 
conforme também já visto.
• O processo corretor: consiste na utilização do método clínico para a 
especifi cidade de cada sujeito. É importante ressaltar que o objetivo central 
para esse trabalho não é o critério da supressão dos sintomas, critério 
sintomatológico, mas sim o critério estrutural, de supressão dos obstáculos 
intrapsíquicos, que interferem na aprendizagem. 
Se você tem interesse em conhecer melhor a proposta de Jorge 
Visca e da Epistemologia Convergente, sugiro a leitura do livro:
 VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica: epistemologia conver- 
gente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. 
Apesar deste livro não possuir uma linguagem fácil, ele aborda 
a teoria na íntegra.
b) Metodologia baseada na proposição de situações problemas:
Esta metodologia é baseada na concepção construtivista de Lino 
de Macedo, que sugere que a intervenção possa se dar por meio de 
proposição de situações-problemas, normalmente presentes nos jogos 
de regras. As situações-problemas não são aquelas tradicionalmente 
apresentadas nas aulas de matemática, mas sim, todas as situações 
que nos fazem desenvolver estratégias próprias.
• A matriz de 
pensamento 
diagnóstica.
• O processo 
diagnóstico.
• A entrevista 
operativa centrada 
na aprendizagem.
• O processo 
corretor.
A intervenção 
possa se dar por 
meio de proposição 
de situações-
problemas, 
normalmente 
presentes nos 
jogos de regras.
96
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
De acordo com Lopes (2008, p. 42):
Macedo fundamenta-se em uma visão construtivista da 
psicopedagogia e portanto, estabelece que o conhecimento 
é construído gradativamente na medida em que o sujeito 
interage com o seu meio. E é exatamente a partir desta 
interação contínua que o sujeito irá se deparar com situações-
problemas que irão requerer do mesmo o desenvolvimento de 
procedimentos e estratégias com o objetivo de resolvê-las e 
ultrapassá-las.
Sempre que um sujeito se depara com uma situação-problema, 
ele tende a se desestabilizar e entra em desequilíbrio, o que obriga o 
sujeito a buscar e desenvolver estratégias com o objetivo de solucionar 
o problema proposto. Os jogos de regras são ótimos recursos nesse 
sentido pois, a partir deles, podemos elaborar e propor várias situações-
problemas. 
É importante que você saiba que situações-problemas são todas as situações 
que nos fazem pensar, que nos fazem tentar achar um caminho para chegar a 
uma solução. Porém, o resultado não é o único aspecto que o psicopedagogo 
deve fi car atento. Ele precisa também, compreender o processo: como o sujeito 
chegou aquele resultado? Que caminhos ele percorreu? Qual a sua lógica? Portanto, 
é imprescindível que o psicopedagogo questione o sujeito e compreenda cada um 
dos seus passos para melhor interferir.
Vamos agora, tentar resolver uma situação-problema? Mãos à obra...
Aqui, apresento um desafi o para vocês! 
Três jovens de idades diferentes se interessam por atividades 
também diferentes.
A partir das informações abaixo, tente descobrir o nome de cada 
jovem, sua idade e a atividade pela qual se interessa mais.
Dicas:
Vinicius tem 15 anos.
O rapaz de 17 anos faz parte de uma banda.
Nelson gosta de passar sua horas livres lendo.
Obriga o sujeito 
a buscar e 
desenvolver 
estratégias com 
o objetivo de 
solucionar o 
problema proposto.
98
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
c) Metodologia baseada em Projetos de Trabalho:
A proposta de projetos de trabalho é uma forma de intervenção 
psicopedagógica que inclui fenômenos cognitivos e cria situações 
que possibilitam o desenvolvimento do sujeito como um todo. As 
competências cognitivas desenvolvidas a partir desse trabalho 
são: observação, atenção, planejamento, memória e avaliação 
(MUSSALLAM, 2010).
Ao trabalhar com Projetos de Trabalho, o psicopedagogo poderá 
elaborar um planejamento efi ciente, bem estruturado, que permitirá que 
ele atue mais diretamente sobre as difi culdades encontradas naquele 
sujeito, sendo capaz de transmitir conhecimentos e favorecer aprendizagens de 
forma prazerosa. 
Os Projetos de Trabalho são desenvolvidos através de algumas 
etapas. São elas:
• Determinar a temática a ser estudada, partindo-se do interesse do 
sujeito;
• Defi nir etapas: planejar e organizar as ações (procedimentos e 
delimitação do tempo);
• Apresentar os resultados;
• Estabelecer critérios de avaliação;
• Avaliar cada etapa do trabalho, realizando os ajustes necessários;
• Fazer ofechamento do projeto propondo uma produção fi nal 
(MUSSALLAM, 2010).
Barbosa (2003), uma das principais divulgadoras desse projeto na 
psicopedagogia, afi rma que:
Este projeto de trabalho a ser organizado pode estar 
relacionado a uma atividade de produção concreta ou 
simbólica e procura permitir com que a pessoa viva, desde seu 
planejamento até a sua execução, o sentimento de capacidade 
e de criação de alternativas diante dos erros que podem surgir 
neste processo. Além disto abre o espaço também para a 
busca do ensino, pois quando não se sabe e não se consegue 
criar alternativas, pode-se encontrar naquele que sabe um 
aliado, um mediador entre o saber e o não saber. (BARBOSA, 
2003, p. 22).
A proposta de intervenção psicopedagógica por meio de “Projeto de Trabalho” 
tem como diferencial a possibilidade de uma maior mobilidade do paciente frente 
a suas difi culdades, já que parte dele a organização e construção de algo que 
As competências 
cognitivas 
desenvolvidas 
a partir desse 
trabalho são: 
observação, 
atenção, 
planejamento, 
memória e 
avaliação.
• Determinar a 
temática;
• Defi nir etapas;
• Apresentar os 
resultados;
• Estabelecer 
critérios de 
avaliação;
• Avaliar cada etapa 
do trabalho;
• Fazer o 
fechamento.
99
A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA CLÍNICA: 
RESSIGNIFICANDO O APRENDERCapítulo 3
seja de seu interesse. Nesta proposta, o sujeito é o agente da sua aprendizagem, 
uma vez que cada etapa é construída por ele.
O Projeto de Trabalho deve ser visto como uma proposta propulsora de 
aprendizagens e de mudanças.
Em casos de agressividade, a tônica pode ser no controle, para 
gradativamente, ir possibilitando o autocontrole; nos casos 
em que o sintoma é a chamada hiperatividade ou défi cit de 
atenção, a tônica é no planejamento; o incentivo a autonomia 
é a intenção do trabalho com pessoas dependentes; a 
função da leitura e escrita e das operações mentais, e o seus 
signifi cados, são enfatizados no caso de difi culdade de leitura 
e escrita e pensamento lógico matemático; e a segurança é 
a principal abordagem nos casos que apresentam medos 
excessivos (BARBOSA, 2003, p. 117).
Portanto, através da metodologia de Projeto de Trabalho, é possível 
desenvolver várias habilidades e comportamentos que possam estar interferindo 
em todo o processo de aprender. O profi ssional precisa estar focado em seus 
objetivos e, a partir deles, direcionar o enfoque do trabalho, a fi m de alcançar as 
mudanças esperadas.
Você gostou desta proposta de intervenção psicopedagógica 
por meio de Projetos de Trabalho? Então, sugiro a leitura do livro de 
Laura Monte Serrat Barbosa:
 BARBOSA, Laura Monte Serrat. O projeto de trabalho: 
uma forma de atuação psicopedagógica. Curitiba: Edição 
independente, 2003.
d) Metodologia baseada no Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI):
O Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI) foi desenvolvido pelo Prof. 
Reuven Feuerstein, psicólogo e educador romeno, radicado em Israel, fundador e 
diretor do ICELP - International Center for the Enhancement of Learning Potential 
(Centro Internacional de Desenvolvimento do Potencial de Aprendizagem), na 
cidade de Jerusalém, Israel. Este programa está projetado para desenvolver e 
estabelecer os fundamentos cognitivos da aprendizagem. Feuerstein baseou-se 
nas teorias de Piaget e de Vygotsky para elaborar o PEI.
100
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
De acordo com Ana Maria Martins de Souza (s.d.), no seu artigo “Programa 
de Enriquecimento Instrumental - PEI”, publicado no site do Instituto de 
Desenvolvimento Potencial Humano,
O PEI baseia-se na teoria da modifi cabilidade cognitiva 
estrutural e na experiência de aprendizagem mediada, que 
partem do princípio de que todos podem aprender e de que 
a inteligência pode ser desenvolvida pela mediação, uma vez 
que ela é dinâmica e modifi cável. É um programa que trabalha 
habilidades cognitivas por meio de exercícios estruturados e 
que vão trabalhar funções cognitivas específi cas; as atividades 
partem das mais simples para as mais complexas, do fácil 
para o difícil, do concreto ao abstrato (SOUZA, s.d.).
Para Feuerstein, o conceito de modifi cabilidade cognitiva é o conceito-chave 
para a sua teoria e equivale ao potencial de aprendizagem. A ideia de modifi cabilidade, 
como característica humana, aponta os modos de funcionamento da pessoa e deve 
ser distinta da ideia de mudança (SOUZA, s.d.).
Para essa teoria, a mudança é previsível e está relacionada a diferentes 
fases de desenvolvimento, crescimento e maturação do organismo humano. Em 
contrapartida, a modifi cabilidade é imprevisível e está relacionada ao querer. É 
um ato que depende da vontade e pode levar a pessoa a desviar-se de caminhos 
pré-determinados em função de fatores familiares, pessoais, sociais e ambientais.
Na psicopedagogia, a partir da década de 1990, o PEI passou a ser utilizado 
por muitos profi ssionais, como uma ferramenta possibilitadora de modifi cações 
estruturais no pensar. Para Macionk (2005, p. 01),
Com base no pressuposto de que os seres humanos aprendem 
em diferentes medidas através das suas experiências de vida 
e da exposição aos estímulos do ambiente, a Aprendizagem 
Mediada representa uma modalidade de aprendizagem 
adicional e complementar. Dado o papel central da mediação 
no desenvolvimento da cognição e da metacognição, assim 
como dos pré-requisitos afetivos e sociais do pensamento 
efi ciente e da aprendizagem autônoma, quanto mais o 
indivíduo é capaz de se benefi ciar da interação com o meio 
através da aprendizagem mediada, mais ele será capaz de 
aprender diretamente das suas experiências de vida e das 
situações de aprendizagem formal e informal.
O PEI é composto de uma série de 14 instrumentos cuja aplicação se dá 
por meio da mediação de um profi ssional capacitado e habilitado para tal. 
Os instrumentos buscam o desenvolvimento das funções cognitivas visando 
maximizar o desempenho intelectual e o potencial de aprendizagem dos 
indivíduos.
101
A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA CLÍNICA: 
RESSIGNIFICANDO O APRENDERCapítulo 3
O PEI é um programa bastante completo, tanto no aspecto 
teórico, quanto no instrumental. Assista a esse vídeo e conheça 
mais sobre a teoria do Prof. Reuven Feuerstein. .
O PEI, portanto, busca desenvolver e aumentar as habilidades necessárias 
visando a conquista do pensamento independente por parte do aprendente. 
As tarefas propostas pelo programa nunca são baseadas na repetição ou na 
reprodução, que são tarefas meramente mecânicas, mas sim, visa alcançar o 
pensamento crítico e autônomo. O sujeito, com o trabalho, começa “aprender 
a aprender”, pois o mais importante não é a resposta da tarefa em si, mas o 
processo para chegar até ela.
Atividade de Estudos: 
1) Com qual destas possibilidades metodológicas, apresentadas 
anteriormente, para a intervenção psicopedagógica, você mais se 
identifi cou? Justifi que a sua escolha.
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
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 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
Além destas metodologias apresentadas e discutidas até aqui, existem 
algumas outras possibilidades. É importante que você, aluno (a), tenha clareza de 
que não existe somente uma única possibilidade e nem a “melhor” metodologia. O 
que você precisa levar em consideração, frente a tal escolha, são as características 
102
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
do sujeito a quemvai ser destinada a intervenção psicopedagógica, bem como 
as suas possibilidades de uso e a sua identifi cação com a metodologia. Vale 
lembrar que, para utilizar uma metodologia, é importante que você a estude com 
profundidade, através de cursos de formação, para ter segurança na aplicação e 
colher bons resultados.
Neste sentido, concordamos com Weiss (2015, p.15), quando afi rma que:
Não há modelo rígido de intervenção, não existem duas 
intervenções iguais. Cada caso é um caso, cada terapeuta 
tem a sua individualidade, assim como o paciente. O chamado 
“setting terapêutico” é sempre diverso. É importante não 
perder o objetivo da sessão que é sempre a construção da 
aprendizagem do sujeito, qualquer que seja a atividade em 
realização: brincadeiras, jogos, pinturas, dramatizações, 
passeios, leituras, cálculos, produções diversas. As atividades 
podem ser propostas pelo aprendiz-paciente ou pelo 
psicopedagogo.
Vamos agora sintetizar essas informações em uma atividade de estudo?
Atividade de Estudos: 
1) Escreva o objetivo de cada uma das metodologias utilizadas na 
intervenção psicopedagógica:
 
 - Epistemologia Convergente:
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
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 - Proposição de situações problemas:
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 - Projetos de Trabalho: 
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
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103
A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA CLÍNICA: 
RESSIGNIFICANDO O APRENDERCapítulo 3
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 - Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI): 
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
Dando prosseguimento aos nossos estudos apresentaremos, 
brevemente, alguns dos principais instrumentos possibilitadores da intervenção 
psicopedagógica. Vamos lá?
• Caixa de Trabalho: A proposta de sua utilização no processo de 
intervenção psicopedagógica, partiu, inicialmente, da proposta de 
Jorge Visca. Nela são depositados objetos e materiais escolhidos 
tanto pelo paciente, como pelo psicopedagogo e pode ser composta 
de brinquedos, jogos e materiais que representem o mundo interno 
da criança, suas fantasias e medos frente ao mundo. Deve conter 
também, material básico, como lápis, borracha e papel. Para montar 
a caixa, é preciso considerar alguns aspectos, tais como: estágio de 
pensamento, interesses ou motivações, défi cits de aprendizagem, idade e 
sexo. Cada caixa é única e de uso exclusivo daquele sujeito pois, essa caixa, 
representa o seu vínculo com o trabalho psicopedagógico e com a 
aprendizagem. A caixa pode ser confeccionada pelo próprio sujeito.
• Lúdico/Jogos: Os jogos e as brincadeiras estão presentes em 
diversos momentos do trabalho psicopedagógico e são excelentes 
instrumentos para serem utilizados com crianças com difi culdade de 
aprendizagem. Para Bossa (2011, p. 174) “o jogo é uma atividade 
criativa e curativa, pois permite à criança (re) viver ativamente as 
situações dolorosas que viveu passivamente [...]”. Para ela, “do 
ponto de vista cognitivo, signifi ca a via de acesso ao saber [...] pois 
o saber é a incorporação do conhecimento em uma construção 
pessoal relacionada com o fazer” (BOSSA, 2011, p. 175). Existem 
vários tipos de jogos, e estes devem ser selecionados levando-
se em consideração o sexo, a idade, os interesses, as estruturas 
cognitivas e os aspectos subjetivos do paciente.
• Caixa de Areia: Este instrumento está embasado na Terapia Sandplay, que 
foi desenvolvida por Dora Kalff em 1954, com base na teoria de Jung e, 
Representa 
o seu vínculo 
com o trabalho 
psicopedagógico 
e com a 
aprendizagem.
Do ponto de vista 
cognitivo, signifi ca 
a via de acesso 
ao saber [...] 
pois o saber é a 
incorporação do 
conhecimento em 
uma construção 
pessoal relacionada 
com o fazer.
104
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
posteriormente, adaptado para o uso na psicopedagogia e 
entrelaçando-a com a teoria Piagetiana. Este instrumento consiste 
na possibilidade de criar cenários utilizando-se de miniaturas de 
fi guras e de uma caixa de areia. De acordo com Andion (2013, p. 79) “o 
psicopedagogo vai interagir com o sujeito e abrir ‘espaços’ para brincar 
junto, interferir, dialogar nas ações desse sujeito que pensa, constrói e 
aprende”. Ainda para Andion, (2013, p. 79) “sujeito que brinca de fazer 
estórias, que cria desafi os, confl itos e que resolve problemas, Um 
sujeito-autor, construtor de sua aprendizagem afetiva e cognitiva”. 
• Informática: A informática vem ocupando cada vez um espaço maior 
na educação. E, na psicopedagogia, não é diferente. Sua utilização 
como instrumento de aprendizagem pode ser um recurso bastante 
efi caz no trabalho de intervenção psicopedagógica nas difi culdades 
de aprendizagem escolar. No entanto, o uso deste instrumento 
por si só, não garante a efi cácia do trabalho. O mais importante 
é que o psicopedagogo não esqueça que a sua mediação é mais 
importante que a ferramenta propriamente dita. Para Bernardi 
(2010, p. 09), o uso da informática deve ser vista como “uma nova 
ferramenta que auxilie na aprendizagem, estimule o conhecimento
e a criatividade, e ainda possibilite sempre uma solução possível. Isso mantém 
a criança entusiasmada e concentrada por mais tempo”. Para alcançarmos este 
objetivo, precisamos escolher adequadamente os programas e jogos que podem 
ser utilizados com aquele sujeito, de acordo com as suas necessidades.
Atividade de Estudos: 
1) Você conhece algum outro instrumento que pode ser utilizado 
como ferramenta psicopedagógica, no processo de intervenção? 
Se você conhecer, cite-o e descreva-o aqui. Caso você não 
conheça, faça uma pesquisa e descreva-o abaixo.
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 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
O mais importante 
é que o 
psicopedagogo 
não esqueça que 
a sua mediação é 
mais importante 
que a ferramenta 
propriamente dita.
Este instrumento 
consiste na 
possibilidade de 
criar cenários 
utilizando-se de 
miniaturas de 
fi guras e de uma 
caixa de areia.
105
A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA CLÍNICA: 
RESSIGNIFICANDO O APRENDERCapítulo 3
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
Para fechar essa etapa, é importante que você, caro aluno, tenha clareza 
das várias possibilidades existentes para se realizar um trabalho de qualidade 
na psicopedagogia. Qualquer que seja a sua escolha é necessário que haja um 
aperfeiçoamento e estudo a fi m de que o profi ssional sinta-se mais seguro. E 
nunca se esqueça: o psicopedagogo deve manter-se sempre atualizado e a busca 
por novos conhecimentos deve ser uma constante na sua prática profi ssional.Dando continuidade ao nosso estudo, abordaremos a seguir, as ações 
psicopedagógicas com enfoque terapêutico e também preventivo. Discutiremos 
sobre cada uma destas áreas, conceituando-as e diferenciando-as. Vamos ao 
trabalho?
AçÔes Terapêuticas e Preventivas na 
Psicopedagogia
Você já deve ter ouvido falar e até já ter realizado alguns estudos anteriores 
sobre a Psicopedagogia Terapêutica e sobre a Psicopedagogia Preventiva, 
não é mesmo? Mas, você sabe realmente o que estes termos signifi cam e quais 
ações são desenvolvidas em cada uma destas instâncias? 
Para que isto fi que claro vamos abordar cada uma delas em separado. Neste 
primeiro momento iremos conceituar e traçar os objetivos da psicopedagogia 
terapêutica, bem como da psicopedagogia preventiva.
a) Psicopedagogia Terapêutica:
Quando pensamos em psicopedagogia terapêutica, qual é a primeira ideia 
que surge na sua mente? Acredito que seja a do trabalho psicopedagógico na 
clínica, não é mesmo?
Isto se deve ao fato de a proposta da psicopedagogia terapêutica estar 
intimamente relacionada ao surgimento da prática psicopedagógica, como 
já visto no capítulo 1 deste caderno. Relembrando, inicialmente a prática 
psicopedagógica apresentava um caráter reeducativo e curativo e normalmente 
aconteciam em espaços clínicos. Somente com o passar do tempo, assumiu um 
enfoque terapêutico. 
106
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
Como o próprio nome já diz, o caráter curativo da psicopedagogia dizia 
respeito à concepção do profi ssional que via a difi culdade de aprendizagem como 
um problema individual a ser eliminado, “curado”. Ainda nessa perspectiva, o 
sentido da psicopedagogia seria “recuperar” o que foi perdido ou o que estava 
atrasado, reintegrando e readaptando o aluno à demanda escolar. Bossa (2011, p. 
48), esclarece que:
[...] enfoque terapêutico refere-se à mudança de postura 
do profi ssional frente ao sujeito da aprendizagem. O não-
aprender assume um novo signifi cado, deixando de ser 
compreendido como ‘falta’. Em última instância, essa mudança 
de postura implica uma ampliação do campo de observação do 
psicopedagogo, que passa a buscar a causa dos problemas 
de aprendizagem não mais apenas no sujeito, passando 
a considerar a variedade de fatores que podem interferir no 
processo de aprendizagem.
Neste sentido, o enfoque terapêutico pode acontecer em diferentes 
locais, como na escola, no espaço da clínica, em hospitais e está 
relacionado aos objetivos de trabalho do psicopedagogo. Essa ação 
terapêutica tem como seu principal objetivo a superação de uma queixa 
escolar, de uma difi culdade de aprendizagem, tendo em vista que esta já se 
encontra instalada no sujeito aprendente. 
A postura terapêutica, citada anteriormente por Bossa 
(2011), pode ser compreendida como sendo o modo próprio do 
psicopedagogo analisar a singularidade do sintoma do não-aprender, 
através da sua habilidade de “escuta clínica”. A habilidade de “escuta 
clínica” refere-se à postura investigadora que o psicopedagogo 
assume ao se deparar com situações de fracasso escolar, no qual 
deve desvendar o que está por trás do sintoma de “não-aprender”. 
Que função cumpre, para esse sujeito, o problema de aprendizagem? 
O que ele quer nos dizer com o seu problema? Qual a causa primeira 
para que tal situação tenha se instalado? Estas questões dão rumo 
para que o psicopedagogo possa “escutar” o que não é dito em 
palavras ou o que as palavras querem realmente dizer. Voltaremos a 
falar sobre a “escuta” psicopedagógica no próximo capítulo.
Na ação terapêutica, cabe ao psicopedagogo:
• Intervir, junto ao sujeito com difi culdade de aprendizagem, a partir de uma 
postura investigadora.
Que passa a 
buscar a causa 
dos problemas de 
aprendizagem não 
mais apenas no 
sujeito, passando 
a considerar 
a variedade 
de fatores que 
podem interferir 
no processo de 
aprendizagem. 
107
A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA CLÍNICA: 
RESSIGNIFICANDO O APRENDERCapítulo 3
• Investigar as causas dos problemas de aprendizagem, partindo-se do sujeito 
em questão.
• Considerar a variedade de fatores internos e externos ao sujeito que está com 
difi culdade, objetivando realizar uma leitura mais ampla da situação.
• Analisar a singularidade do sintoma do não-aprender.
• Propiciar o surgimento de espaços de autoria de pensamento, no qual o 
sujeito possa se reconhecer como autônomo.
• Devolver ao sujeito o prazer de aprender e auxiliá-lo a criar estratégias de 
resgate da própria autonomia.
Portanto, prezado (a) aluno (a), a psicopedagogia terapêutica está 
relacionada ao objetivo da atuação que o profi ssional quer alcançar com aquele 
sujeito que já apresenta uma difi culdade de aprendizagem instalada e não com o 
local de atuação.
b) Psicopedagogia Preventiva:
O caráter preventivo da psicopedagogia foi pensado um pouco mais tarde, 
quando o psicopedagogo pôde atuar nos processos educativos.
O termo prevenção, no vocabulário próprio da psicopedagogia, 
refere-se à atitude do profi ssional no sentido de adequar as condições 
de aprendizagem de forma que se evitem comprometimentos nesse 
processo (BOSSA, 2011, p. 52).
No trabalho preventivo, o psicopedagogo atua diretamente nos 
processos educativos com o objetivo de diminuir a frequência dos 
problemas de aprendizagem, prevenindo possíveis situações futuras 
de fracasso escolar. Seu trabalho recai nas questões didáticas e 
metodológicas, na formação e na orientação de professores. Essa 
forma de atuação visa evitar ou diminuir as possíveis situações de 
fracasso escolar.
A psicopedagogia preventiva baseia-se principalmente na 
observação e na análise profunda de uma situação concreta, já 
existente no espaço educacional. Dessa forma, o trabalho com enfoque 
preventivo é de orientar o processo de ensino e aprendizagem, visando favorecer 
No trabalho 
preventivo, o 
psicopedagogo 
atua diretamente 
nos processos 
educativos com o 
objetivo de diminuir 
a frequência dos 
problemas de 
aprendizagem.
108
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
a apropriação do conhecimento e buscando a melhoria das relações com a 
aprendizagem e da construção da própria aprendizagem (BOSSA, 2011).
Na sua ação preventiva, cabe ao psicopedagogo:
• Detectar possíveis perturbações no processo de ensino e aprendizagem.
• Participar da dinâmica das relações da comunidade educativa, a fi m de 
favorecer o processo de integração e de trocas entre os seus membros.
• Promover orientações metodológicas de acordo com as características dos 
alunos e do seu funcionamento, tanto no grupal quanto no individual.
• Realizar orientações aos professores e pais, tanto na forma individual quanto 
em grupo.
• Possibilitar o aprofundamento ou a ampliação dos signifi cados do processo de 
aprendizagem escolar (BOSSA, 2011).
Resumindo, na função preventiva o psicopedagogo atua de forma ampla, 
tanto na escola, como na família e na comunidade. Na escola, o psicopedagogo 
poderá estar próximo aos professores, auxiliando-os na busca de soluções para 
as difi culdades encontradas no processo de ensino e aprendizagem. A partir do 
momento em que o professor está mais seguro das suas ações e mais tranquilo 
para enfrentar os desafi os que a educação lhe propõe, seu aluno também estará 
mais feliz no contexto escolar. E, em última instância, o objetivo fi nal de todas 
as ações psicopedagógicas é sempre o aluno. Aluno que será uma criança mais 
fl exível, mais autônoma, mais motivada e interessada em aprender.
Atividade de Estudos: 
1) Complete o quadro a seguir com a defi nição e os principais 
objetivos da psicopedagogia terapêutica e preventiva:
Psicopedagogia 
Terapêutica
Psicopedagogia 
Preventiva
Defi nição
109
A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA CLÍNICA: 
RESSIGNIFICANDO O APRENDERCapítulo 3
Objetivos de 
Intervenção
Nessa altura dos nossos estudos, você já deve ter percebido o quão abrangente 
é a atuação psicopedagógica, não é mesmo? Você pode estar se perguntando como, 
na prática, estas formas de atuaçãoacontecem, se entrelaçam ou se separam. A 
minha experiência mostra que devemos ter sempre muito claro qual é o objetivo que 
se pretende alcançar naquele dado momento, com aquele sujeito em específi co. Na 
área da psicopedagogia vale a máxima de que “cada caso é um caso” e não existe 
uma receita, somente estudo...
Mais uma etapa concluída e, dando continuidade, vamos refl etir um pouco 
sobre como se dá a intervenção psicopedagógica com o paciente, com a família e 
com a escola. Vamos lá?
A Intervenção Psicopedagógica 
Clínica nas Diferentes InstÂncias: o 
Paciente, a Família e a Escola
Em minha experiência profi ssional, tenho observado que todo o trabalho de 
intervenção psicopedagógica clínica, com um sujeito em específi co, só alcança os 
objetivos na íntegra, quando se estabelece uma parceria entre psicopedagogo, 
a família deste sujeito e a sua escola. Mas, como podemos estabelecer estas 
parcerias e, ao mesmo tempo, proteger o espaço terapêutico do paciente?
De pouco adianta desenvolvermos um trabalho psicopedagógico com 
o nosso paciente, entre quatro paredes, se fora deste ambiente, a situação se 
mantiver a mesma. Sabemos que, muitas vezes, o entrave para os problemas 
de aprendizagem podem estar na dinâmica familiar e/ou nas relações escolares, 
criando ou agravando os problemas de aprendizagem já instalados. Apresentarei, 
a seguir, em separado para ser mais didática, cada uma destas instâncias de 
intervenção psicopedagógica.
110
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
a) O paciente:
A relação entre o psicopedagogo e o seu paciente, como toda 
a relação humana, é marcada pela subjetividade. De acordo com 
Rubinstein (1992, p. 107), “para dar sustentação ao trabalho é 
necessário que se estabeleça, como em qualquer situação clínica, um 
bom vínculo, sem o qual não há condições para o desenvolvimento e a 
criatividade na relação cliente/terapeuta”.
O paciente precisa sentir-se seguro no espaço psicopedagógico 
e perceber que o psicopedagogo está ali para auxiliá-lo. Esta relação 
de confi ança e cumplicidade é fundamental para que o trabalho surta 
efeitos. Portanto, o espaço oferecido ao paciente, deverá ser um espaço sigiloso, 
onde ele sinta-se à vontade para demonstrar suas fraquezas, seus medos e seja 
lhe dada a possibilidade de errar.
Ao longo de todo este caderno de estudos, falamos sobre a importância de 
uma interação positiva entre psicopedagogo/paciente. Por isso, não vamos nos 
aprofundar neste assunto e já partiremos para o enfoque com a família.
b) A família:
No trabalho com a família é importante que fi que claro, desde o início, qual 
é objetivo da intervenção psicopedagógica e verifi car se este vai ao encontro da 
demanda que a família possui sobre o atendimento. Quando este ponto fi ca claro 
com a família, as condições de trabalho são melhores. 
Quando o psicopedagogo conclui o processo de diagnóstico e esclarece a 
natureza da difi culdade trazida pela família, é necessário esclarecer sobre a forma 
de trabalho que será desenvolvida na intervenção. É importante que a família 
concorde com a metodologia utilizada para o caso “[...] a fi m de que expectativas 
diferentes por parte da família não interfi ram no trabalho. Muitas vezes os pais 
esperam que se atenda a criança através de conteúdos pedagógicos 
específi cos, e será necessário informar nossos limites e objetivos no 
atendimento.” (RUBINSTEIN, 1992, p. 109).
 
Incluir os pais no processo de intervenção favorece o 
acompanhamento do trabalho realizado, bem como o sucesso de todo 
esse trabalho. Sabemos que a família também é responsável pela 
aprendizagem da criança, já que os pais são os primeiros ensinantes e 
os primeiros modelos de aprendizagem dos fi lhos. Por isso, não podemos 
pensar em um trabalho psicopedagógico, sem a participação da família.
Incluir os pais 
no processo 
de intervenção 
favorece o 
acompanhamento 
do trabalho 
realizado, bem 
como o sucesso de 
todo esse trabalho.
É necessário que 
se estabeleça, 
como em qualquer 
situação clínica, 
um bom vínculo, 
sem o qual não há 
condições para o 
desenvolvimento 
e a criatividade na 
relação cliente/
terapeuta.
111
A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA CLÍNICA: 
RESSIGNIFICANDO O APRENDERCapítulo 3
O contato sistemático com a família é necessário e fundamental, a fi m de obter 
informações a respeito da evolução ou entraves no trabalho, orientar sobre alguns 
aspectos que poderão auxiliar na evolução do caso, bem como obter informações 
sobre a percepção que a família possui do sujeito e da sua aprendizagem.
Para Rubisntein (1992, p.110),
Às vezes, a difi culdade que a família enfrenta para aceitar o 
limite do fi lho, acrescida pela ansiedade, impede que possam 
com objetividade ajudá-lo. Nas sessões de orientação 
psicopedagógica, existe espaço para falar de questões como 
a lição de casa, o lazer, a estimulação, a sociabilidade, a 
organização da vida diária, as difi culdades nas relações 
com os membros da família, enfi m, questões que atingem 
diretamente o cliente e explicam em parte sua problemática.
Por isso, a criação de uma relação de confi ança e parceria com a família é 
fundamental, pois favorece grandes trocas que resultam em um movimento de 
transformação mútua. 
c) A escola:
Da mesma forma que é necessária uma boa vinculação com a família do 
paciente, o psicopedagogo também precisa estabelecer uma relação positiva e de 
trocas com a escola.
Nem sempre o encaminhamento para o atendimento 
psicopedagógico é feito pela escola. Porém, mesmo assim o contato 
com a escola deve acontecer, com o objetivo de colher informações 
sobre a criança e dar indicações e sugestões para que a escola possa 
compreender e melhor ajudar seu aluno. É necessário que a escola 
consiga ver o seu aluno com “outros olhos” e compreenda o que 
realmente está acontecendo.
Rubinstein (1992, p. 110) afi rma que “no decorrer da intervenção, contatos 
sistemáticos com a escola permitirão ao terapeuta psicopedagogo e à instituição 
subsidiarem-se mutuamente de dados que contribuam à ambos no seu trabalho”.
Outro aspecto importante a ser ressaltado é que, muitas vezes, família 
e escola não conseguem estabelecer uma boa relação de confi ança mútua e 
começam um jogo de “achar culpados” para a difi culdade da criança: a família 
culpabiliza a escola e a escola culpabiliza a família. Esta atitude só prejudica o 
desenvolvimento da criança e, algumas vezes, o psicopedagogo precisa intervir e 
mediar estes desencontros.
Colher informações 
sobre a criança e 
dar indicações e 
sugestões para 
que a escola possa 
compreender e 
melhor ajudar seu 
aluno.
112
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
Poderá ser preciso que o psicopedagogo clínico compre-
endendo essas relações construa encontros entre as partes 
com a sua presença e obtenha a colaboração da família e da 
escola para o crescimento do seu paciente na aprendizagem 
escolar (WEISS, 2015, p.118-119).
O importante é que todo o processo de intervenção seja pautado em 
sentimentos de colaboração e confi ança entre os envolvidos. Se todos tiverem 
um objetivo em comum e conseguirem olhar para a mesma direção, o trabalho 
psicopedagógico dará muitos frutos. Caso contrário, me arrisco a dizer que o 
progresso não será o esperado.
A seguir, dando continuidade aos nossos estudos, faremos algumas refl exões 
acerca do momento de alta e do encerramento do atendimento psicopedagógico.
Para você saber mais sobre a relação família e escola no 
trabalho de intervenção psicopedagógica, leia o artigo indicado no 
link: .
A Reavaliação Psicopedagógica e o 
Processo de Alta
Você já se perguntou quando acontece a alta em psicopedagogia? Quando 
o paciente está preparado para seguir de forma independente? Convido você, 
aluno, a discutir um pouco sobre este assunto.
Quando uma família busca o apoio da psicopedagogia, sempre existe 
uma queixa relacionada ao aprender. Esta demandainicial irá permear todo o 
processo de diagnóstico e de intervenção psicopedagógica, porém não deve ser 
o único aspecto a ser levado em consideração durante o trabalho. As mudanças 
observadas no paciente devem ser muito mais amplas e serem observadas não 
só nas sessões, mas também na escola e na família.
Ao longo do processo de intervenção psicopedagógica, sempre que 
o psicopedagogo observa mudanças positivas no comportamento e na 
aprendizagem, as evoluções devem ser relatadas e compartilhadas com o 
113
A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA CLÍNICA: 
RESSIGNIFICANDO O APRENDERCapítulo 3
paciente, com a sua família e escola. Esses progressos observados e assinalados 
é que irão trilhar a futura alta do sujeito.
Sobre esse assunto, Weiss (2015, p. 107) afi rma que:
Quando o aprendiz-paciente está recuperando o 
prazer e o sucesso na vida escolar, dá-se o reforço 
do desejo de aprender mais na escola e fora dela 
também. Este é o sinal de que está caminhando 
junto o crescimento de sua auto-estima. Ele passa 
a olhar mais à sua volta, a questionar a vida 
escolar, a vida familiar e a social em geral. Está 
se sentindo o verdadeiro autor de seus atos, não 
se percebe mais como sendo apenas “empurrado”, 
cumprindo o desejo do outro. Muitas vezes, essa 
mudança de atitude não é bem compreendida 
pelos familiares que esperam apenas mudanças 
em relação ao foco da produção escolar.
É importante frisar que, algumas vezes, quando a família percebe evoluções 
e mudanças de comportamento por parte do paciente, eles interrompem o 
trabalho de intervenção. Algumas vezes por acreditarem que essas mudanças 
já são sufi cientes e que não precisa mais do acompanhamento e outras vezes 
por não desejarem, mesmo que inconscientemente, as mudanças de certas 
atitudes, que implicariam em mudanças na própria dinâmica familiar. Ainda, outras 
vezes a família aponta que o sujeito “piorou” e esta piora pode estar relacionada 
a mudanças que a família não compreende. Exemplifi cando, uma criança que 
sempre teve uma postura de extrema dependência com os pais, necessitando 
deles para tudo, não conseguindo externalizar as suas próprias opiniões e, a partir 
da intervenção psicopedagógica, tornou-se mais independente, assumindo os 
seus desejos e apontando as suas escolhas. Essa mudança, que é extremamente 
positiva, pode ser vista pela família como um ato de rebeldia e má criação. 
É importante, que ao longo de todo o processo de intervenção 
psicopedagógica, o profi ssional vá realizando reavaliações sobre 
determinados aspectos que foram verifi cados como defasados no 
processo de diagnóstico, para que ele vá verifi cando como se dá a 
evolução ao longo do tempo. Não existe um momento preciso para se 
fazer esta reavaliação. Ela pode ser feita sempre que o psicopedagogo 
sentir necessidade de verifi car as mudanças e traçar novos objetivos 
terapêuticos.
Todas as mudanças positivas precisam ser assinaladas, 
reforçadas para que o paciente vá interiorizando a melhora 
e percebendo que o atendimento caminha para terminar. 
Paralelamente ao ganho no seu processo de busca de novos 
conhecimentos, ele irá perceber a perda futura das sessões 
Quando o aprendiz-
paciente está 
recuperando o 
prazer e o sucesso 
na vida escolar, 
dá-se o reforço 
do desejo de 
aprender mais na 
escola e fora dela 
também. Este é o 
sinal de que está 
caminhando junto o 
crescimento de sua 
auto-estima.
O profi ssional 
vá realizando 
reavaliações sobre 
determinados 
aspectos que 
foram verifi cados 
como defasados 
no processo de 
diagnóstico.
114
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
com todo o acolhimento e as relações que foram aprofundando 
ao longo do tempo (WEISS, 2015, p.109).
Retomando esse pensamento de Weiss, já acompanhei alguns casos que, 
quando fi caram sabendo e perceberam que a alta estava se aproximando, 
retrocederam em alguns aspectos para manter o acompanhamento psicopeda-
gógico. Por isso, é importante que o momento de alta seja acordado tanto com a 
família, quanto com o paciente. Estes vão assinalando sobre o momento certo a 
fazermos tal desligamento. Inicialmente, podemos propor um espaçamento maior 
entre as sessões até que aconteça o desligamento efetivo.
Sempre é importante frisar para a família, para a escola e para 
o paciente a sua trajetória de crescimento, desde o diagnóstico até o 
presente momento.
Após a alta, de tempos em tempos ou sempre que se fi zer 
necessário, o psicopedagogo e o paciente podem se encontrar para 
avaliar como está a evolução nas situações escolares e dar segurança 
ao paciente e a sua família sobre a disponibilidade do terapeuta para 
auxiliá-los no que for preciso.
Vamos agora partir para a parte prática? Apresentarei o estudo de um caso 
para possibilitar a integração de todos os conhecimentos discutidos ao longo 
deste capítulo.
ESTUDO DE CASO
O caso a seguir, consta no artigo intitulado DA AVALIAÇÃO À INTERVENÇÃO 
PSICOPEDAGÓGICA: UM ESTUDO DE CASO, de Emily Ann Francisco Blum e 
outros – PUCPR. Vamos ao caso...
ESTUDO DE CASO
A clientela foi uma criança, do gênero masculino que, a fi m de 
preservar sua identidade, será chamado de Alex, com oito anos e 
sete meses no início da avaliação, cursando o terceiro ano do ensino 
fundamental em uma escola pública do município de Curitiba. Alex 
foi encaminhado pela escola ao Núcleo de Práticas em Psicologia 
da PUCPR com a queixa de difi culdades de aprendizagem que vinha 
apresentado na leitura e escrita.
 
Sempre é 
importante frisar 
para a família, 
para a escola e 
para o paciente a 
sua trajetória de 
crescimento, desde 
o diagnóstico até o 
presente momento.
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A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA CLÍNICA: 
RESSIGNIFICANDO O APRENDERCapítulo 3
A avaliação psicopedagógica teve a duração de nove sessões, 
sendo realizadas uma vez por semana, com duração de 50 minutos 
cada. Foram utilizados os seguintes recursos: Anamnese, EOCA 
(Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem), Técnicas 
Projetivas, Teste de Inteligência WISC–III, Provas Piagetianas, 
Atividades Pedagógicas (leitura, escrita e operações matemáticas), 
entrevista com a pedagoga da escola, observações e a utilização de 
jogos no decorrer do processo. Ao fi nal da avaliação, foi realizada 
uma entrevista devolutiva com o responsável do paciente, sendo 
entregue o laudo da avaliação. Posteriormente, foi dado início à 
intervenção psicopedagógica, que está em andamento, sendo 
realizada uma sessão semanal, com duração de 50 minutos. Até o 
presente momento, foram realizadas onze sessões. Nas sessões 
de intervenção, são realizadas atividades pedagógicas e atividades 
lúdicas. 
Resultados
Com a avaliação, observou-se que Alex apresentou maior 
facilidade em atividades de execução, que envolvem manipulação, 
memória visual e análise-síntese. No entanto, demonstrou acentuada 
difi culdade nas atividades verbais que envolvem a fala e nas que 
exigem que ele mostre os conhecimentos já adquiridos, apresentando 
baixa fl uência verbal. Demonstrou ter falta de concentração e de 
interesse, além de resistência durante a realização da maioria das 
atividades, principalmente nas verbais. Além disso, respondia e 
realizava rapidamente a maioria das atividades, principalmente 
as pedagógicas, o que pode indicar sua vontade de encerrá-las o 
quanto antes. Por esse motivo, foi necessário a avaliadora incentivar 
e lhe explicar várias vezes o motivo pelo qual ele estava ali. Durante 
os jogos, demonstrou ser competitivo e não aceitar perdas. Em 
alguns momentos, quando percebia que estava perdendo, tentava 
atrapalhar o jogo da avaliadora e burlar as regras. Porém, quando 
questionado, aceitava que aquilo não era correto. 
Apresenta escrita alfabética e, na maioria das vezes em que vai 
escrever, Alex diz a palavra em voz alta, fi ca soletrando e repetindo 
a palavra enquanto escreve. Observa-se também difi culdades 
referentes à ortografi a como a troca de letras que apresentam sons 
semelhantes e omissão de letras. Em relação à leitura, lêa maioria 
das palavras de forma pausada, mas corretamente. Durante a 
execução de operações matemáticas, frequentemente fez uso de 
apoio de material concreto, seja contando nos dedos ou usando folha 
116
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
e lápis para “desenhar” riscos. Apresenta difi culdade em reconhecer 
os sinais matemáticos e alguns números. 
O responsável foi orientado a dar continuidade ao reforço 
escolar devido às difi culdades de leitura, escrita e matemática que 
apresenta. Além disso, recomendou-se ao fi nal da avaliação uma 
intervenção psicopedagógica, que poderia contribuir para melhorar o 
seu rendimento acadêmico.
A partir do que foi observado na avaliação psicopedagógica, nas 
sessões de intervenção foram realizadas atividades pedagógicas e 
lúdicas. Ressalta-se que os jogos escolhidos foram utilizados com 
o objetivo de se trabalhar não apenas a motivação de Alex, como 
também para trabalhar o aspecto pedagógico de forma lúdica. Por 
exemplo, utilizar o jogo de boliche para se trabalhar matemática. 
Em todos os casos em que apresentava alguma difi culdade ou não 
sabia como fazer, era possível intervir da forma mais adequada para 
a situação, como auxiliar na leitura de algumas palavras contidas em 
uma história. Além disso, também foram trabalhados aspectos como 
o estabelecimento de limites, tolerância à frustração, cumprimento de 
regras e aumento da auto-estima. 
[...]
Alex demonstrou falta de interesse e resistência em realizar as 
atividades pedagógicas propostas. Contudo, elas são essenciais 
para conhecer o que a criança já aprendeu e como ela age frente a 
situações que envolvem conhecimentos escolares. [...].
Na intervenção psicopedagógica, é possível ter uma maior 
fl exibilidade, trabalhando com aspectos que forem surgindo ao longo 
da sessão. Nessa segunda etapa é necessário ter maior criatividade 
para poder trabalhar as difi culdades do paciente de uma forma lúdica 
e prazerosa, pois é importante que o paciente tenha vontade de 
aprender. O objetivo é a longo prazo. [...].
Além disso, é trabalhada a auto-estima do paciente com 
constantes elogios, pois vários autores como Roeser e Eccles 
(2000 apud STEVENATO et al, 2003) afi rmam que a criança com 
difi culdade de aprendizagem tem uma tendência em apresentar 
baixo auto conceito por se sentir inferior às outras crianças da mesma 
idade. [...].
117
A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA CLÍNICA: 
RESSIGNIFICANDO O APRENDERCapítulo 3
Outra característica da intervenção psicopedagógica é atuar 
nas difi culdades por meio das atividades lúdicas. [...] a utilização 
de jogos em contextos educacionais com crianças que apresentam 
difi culdades poderia ser efi caz em dois sentidos: iria lhes garantir o 
interesse e a motivação, e por outro, estaria atuando com o intuito 
de possibilitar-lhes a construir ou aprimorar seus instrumentos 
cognitivos, facilitando a aprendizagem dos conteúdos. 
Além de se trabalhar a difi culdade que a criança apresenta, 
na intervenção também é possível intervir no comportamento. No 
processo de Alex, foi importante trabalhar com regras e limites, pois 
na maioria dos atendimentos se fazia necessário fazer um acordo 
para que ele realizasse as atividades que não desejava. Porém, nem 
sempre Alex conseguia cumprir o acordo. [...].
Considerações fi nais 
A atuação da psicopedagogia passa por muitos desafi os 
relacionados aos atendimentos com crianças que apresentam 
difi culdade de aprendizagem, pois o número de crianças das quais 
a família e a escola formulam queixas têm crescido cada vez mais. 
Quando não se sabe a causa, são atribuídos diversos rótulos como 
“incapaz” para aprender, “preguiçoso”, “lento”, “distraído”, entre 
outros, o que pode trazer consequências desastrosas tanto para 
o sujeito como para outros que o rodeiam. Por isso, é importante 
olhar todo o contexto em que ele está inserido. As difi culdades para 
aprender podem aparecer de diferentes maneiras e não existe uma 
única causa que possa desencadear essa difi culdade. Por esse 
motivo, a avaliação e a intervenção sempre diferem para cada caso.
Fonte: Disponível em: . 
Acesso em: 13 mar. 2016.
Então, caro aluno, com esse estudo de caso, foi possível estabelecer 
uma relação entre os achados da avaliação psicopedagógica e o processo de 
intervenção? Apesar de serem momentos distintos, os achados da avaliação 
devem servir como norteadores do fazer psicopedagógico durante a intervenção. 
Um “erro” que muitos psicopedagogos cometem é desvincular esses dois 
momentos, sem utilizar tais achados para verifi car os avanços do paciente e 
compartilhar os resultados positivos obtidos.
118
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
Atividade de Estudos: 
1) A seguir, apresentarei um caso em que realizei o diagnóstico 
psicopedagógico, com o resultado de todo esse processo. Leia 
o caso com atenção, analise-o e elabore os objetivos para a 
intervenção psicopedagógica.
 ESTUDO DE CASO
 Nome: E. S.
 Idade: 5a 3m
 Escola particular – Infantil 4
 Queixa Principal: É muito distraído.
 AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
 Período compreendido entre 20/07/2011 e 22/09/2011
 Anamnese com a família – 6 sessões com a criança – Entrevista 
com a professora (escola) – Entrevista devolutiva com a família.
• Dados da Anamnese: 
- Desenvolvimento cedo da linguagem (11 meses).
- Desenvolvimento motor foi mais demorado e mais lento.
- Entrada na escola com 1 ano: desenvolveu poucos vínculos, 
fi cava mais sozinho. Apresentava comportamento diferente das 
outras crianças. Ficou nesta escola até os 4 anos.
- Fev. 2011 mudou de escola: boa adaptação, gosta de ir para a 
escola, pais estão satisfeitos com a mudança. Difi culdade em 
estabelecer vínculo com as outras crianças.
- Faz as tarefas com a mãe. Esta percebe difi culdade na 
concentração.
- Tem ótima memória visual. Lembra de fatos que aconteceram há 
muito tempo.
- Comportamento repetitivo, gosta de rotina e não aceita quebrá-la. 
Difi culdade em aceitar coisas diferentes.
- Quando tinha 2a 6m, nasceu a irmã, que “roubou a cena”. Irmã 
chama muito a atenção por onde passa.
- Desiste do que é difícil. Muitas vezes não quer nem tentar. Espera 
que façam por ele.
- Fica nervoso quando se frustra.
- Ansioso.
- É bastante rígido com as regras.
119
A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA CLÍNICA: 
RESSIGNIFICANDO O APRENDERCapítulo 3
• Imagem do Sujeito:
- Aspectos Cognitivos: excelente capacidade intelectual, ótimo 
vocabulário, excelente memória visual. Boa capacidade de 
compreensão. Difi culdade de concentração (atenção sustentada). 
Difi culdade na organização.
- Aspectos Pedagógicos: difi culdade nos aspectos gráfi cos e na 
execução das propostas. Tendência a não concluir as propostas. 
- Aspectos Motores: Difi culdade na organização viso-motora e na 
coordenação motora fi na. Apresenta difi culdade na organização 
espacial. Apresenta agitação motora.
- Instrumento: Sondagem das Habilidades para a Alfabetização: 
discrepância entre os resultados – linguagem oral (excelente 
resultado) e aspectos gráfi cos e motores (muito rebaixado).
- Aspectos Emocionais: difi culdade de interação, excesso de 
fantasia, tendência ao isolamento, difi culdade em lidar com 
a frustração. Fixação em interesses e rotinas. Ansiedade, 
impulsividade e impaciência.
- Modalidade de aprendizagem: Hiperassimilativo (desrealização 
do pensamento).
- Conversa com a escola: possui a referência de um único amigo, 
tendo difi culdade em interagir com o grupo. Fica nervoso 
quando não consegue realizar certas atividades, agitado e com 
difi culdade de concentração. Fica nervoso frente à elementos 
surpresas, isolando-se.
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120
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
Caro aluno, mais uma importante etapa de estudo concluída... Vimos aqui 
como as ações da psicopedagogia se relacionam e se entrelaçam. O nosso 
fazer nunca pode ser baseado no “fazer por fazer”, isto é, nunca deve ser uma 
prática solta, isolada, não fundamentada. Por isso, volto a frisar a importância 
da formação do psicopedagogo, que deve ser uma formação sólida, baseada em 
muitos estudos, leituras e atualizações.
Algumas ConsideraçÕes
Chegamos ao fi nal de mais um capítulo! Espero que tenham gostado e 
compreendido sobre os elementos que são importantes para a condução de todo 
o processo de intervenção psicopedagógica. O importante é que você sempre 
tenha em mente que a palavra-chave para todo o processo de intervenção é 
SUPERAÇÃO.
Quero lembrar, que o que foi aqui apresentado, são apenas algumas das 
muitas possibilidades existentes na realização de um trabalho de intervenção. 
Neste processo, não só o paciente, mas o psicopedagogo também deve autorizar-
se a pensar e criar a partir das necessidades de cada caso. Não existe uma 
receita pronta e acabada! Como se costuma falar: “cada caso é um caso”!
Para encerrar, deixo aqui um pensamento de Pablo Picasso...
“Há pessoas que transformam o sol em uma simples mancha amarela, 
mas há aquelas que fazem de uma simples mancha amarela, o próprio sol.”
Referências
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instrumento de diagnóstico e intervenção psicopedagógica. In: SCICCHITANO, 
Rosa Maria Junqueira; CASTANHO, Marisa Irene Siqueira. Avaliação 
Psicopedagógica: recursos para a prática. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2013.
BARBOSA, Laura Monte Serrat. O projeto de trabalho: uma forma de atuação 
psicopedagógica. Curitiba: Edição independente, 2003.
BERNARDI, Solange Teresinha. Utilização de Softwares Educacionais nos 
Processos de Alfabetização, de Ensino e Aprendizagem com uma Visão 
Psicopedagógica. Revista de Educação do IDEAU. v.5 - n.10 - Janeiro - Junho 
121
A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA CLÍNICA: 
RESSIGNIFICANDO O APRENDERCapítulo 3
2010 Semestral. Disponível em: . Acesso em: 13 mar. 2016.
BOSSA, Nadia A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 
Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011.
BLUM, Emily Ann Francisco (et al.). Da Avaliação à Intervenção 
Psicopedagógica: estudo de caso. Disponível em: . Acesso em: 13 mar. 2016.
BRUNNER e ZELTNER. Dicionário de psicopedagogia e psicologia 
educacional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
FERNÁNDEZ, Alicia. O saber em jogo: a psicopedagogia proporcionando 
autorias de pensamento. Porto Alegre: Artmed, 2001.
LOPES, Shiderlene Vieira de Almeida. O Processo de Avaliação e 
Intervenção em Psicopedagogia. Curitiba. 2008. Disponível em: . Acesso em: 05 
mar. 2016.
MACIONK, Márcia. PEI – Programa de Enriquecimento Instrumental do Dr. 
Feuerstein: um Programa para a Promoção da Aprendizagem Autônoma. 2005. 
Disponível em: . 
Acesso em: 13 mar. 2016. 
MONEREO, Carles; SOLÉ, Isabel (cols.) O assessoramento psicopedagógico: 
uma perspectiva profi ssional e construtivista. Porto Alegre: Artmed, 2000.
MUSSALAM, Fernanda Limeira. Projeto de Trabalho: uma forma de intervenção 
pscopedagógica em crianças com difi culdade de aprendizagem. 2010. Disponível 
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Acesso em: 13 mar. 2016. 
PAÍN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto 
Alegre: Artes Médicas, 1992.
RUBINSTEIN, Edith. A intervenção psicopedagógica clínica. In: SCOZ, 
Beatriz Judith; BARONE, Leda Maria Codeço (orgs) et al. Psicopedagogia: 
contextualização, formação e atuação profi ssional. Porto Alegre: Artes Médicas, 
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122
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
SOUZA, Ana Maria Martins de. Programa de Enriquecimento Instrumental 
(PEI). (s.d). Disponível em: . Acesso em: 13 
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VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica: epistemologia convergente. Porto 
Alegre: Artes Médicas, 1987.
VISCA, Jorge. Psicopedagogia: novas contribuições. Rio de Janeiro: Editora 
Nova Fronteira, 2000.
WEISS, Maria Lucia L. A Intervenção Psicopedagógica nas Difi culdades de 
Aprendizagem Escolar. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2015.
CAPÍTULO 4
Perfil, Competências e Habilidades 
do Psicopedagogo Clínico
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
  Identifi car o perfi l, as competências e habilidades necessárias para o exercício 
do fazer psicopedagógico.
  Conceituar o olhar e a escuta psicopedagógica.
  Relacionar a construção da autoria de pensamento com a atuação 
psicopedagógica clínica.
124
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
125
PERFIL, COMPETÊNCIAS E HABILIDADES 
DO PSICOPEDAGOGO CLÍNICOCapítulo 4
ConteXtualiZação
Chegamos, fi nalmente, ao último capítulo de nosso caderno de estudos. 
Estudamos, até aqui, muitos assuntos relacionados à psicopedagogia clínica: 
desde a sua história, até a prática psicopedagógica clínica, nos processos 
de avaliação da aprendizagem e intervenção. Sei que são muitas informações 
importantes para serem assimiladas e compreendidas, mas acredito que com 
dedicação aos estudos você, caro aluno (a), chegará lá...
Fecharemos o nosso caderno com o capítulo quatro, que abordará questões 
pertinentes à formação do profi ssional psicopedagogo clínico. Nessa altura 
de seus estudos, você já deve ter se questionado sobre quais habilidades e 
competências serão necessárias para o exercício da profi ssão da psicopedagogia, 
não é mesmo? E de que forma você, aluno (a), poderá desenvolver esse perfi l? 
Essas são perguntas que tentaremos responder ao longo deste capítulo.
Nesse sentido, inicialmente, abordaremos as questões referentes ao perfi l 
do psicopedagogo clínico, bem como as suas competências e habilidades. Em 
seguida, defi niremos o que é a “escuta” e o “olhar” que o psicopedagogo deve ter 
na sua prática profi ssional. E fi nalmente, encerraremos este capítulo, discutindo 
sobre a construção da autoria de pensamento na atuação psicopedagógica.
Espero que o nosso fechamento seja bastante proveitoso e te leve, caro (a) 
aluno (a), a refl etir sobre o perfi l que você precisa desenvolver para seu futuro 
profi ssional, de atuação na psicopedagogia clínica. 
Afinal, Quem É o Psicopedagogo 
Clínico?
A partir de agora, convido você, aluno (a), a mergulhar um pouco mais nesse 
universo mágico que é a psicopedagogia! Pretendo aqui, brevemente, contar a 
você um pouco sobre o meu percurso profi ssional até me tornar especialista em 
psicopedagogia clínica e o motivo pelo qual me apaixonei por essa área.
Desde muito cedo, pensava em atuar com crianças na educação. Mais tarde, 
cheguei a pensar em fazer faculdade de Psicologia ou de Fonoaudiologia... Foi 
quando eu conheci o curso de Educação Especial, oferecidonas alternativas e soluções para estes problemas. O primeiro curso surgiu 
na Clínica Médico-Pedagógica de Porto Alegre e tinha a duração de dois anos.
Podemos dizer que, assim como a literatura francesa infl uenciou 
as ideias sobre psicopedagogia na Argentina, as ideias presentes neste 
país, infl uenciaram o surgimento e a construção da psicopedagogia no 
nosso país. Portanto, o movimento da psicopedagogia no Brasil, remete 
as concepções e práticas trazidas da Argentina.
Alguns autores e psicopedagogos argentinos marcaram fortemente os ideais 
teóricos e constituíram os primeiros esforços para a divulgação e difusão da 
psicopedagogia no Brasil. Dentre estes autores, podemos citar: Sara Paín, Alícia 
Fernandez, Jorge Visca, entre outros.
Sugiro a leitura do livro da Nádia Bossa (2011), “A 
Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática”, 
para que você possa conhecer mais profundamente a história do 
surgimento da psicopedagogia. Este livro aborda várias questões 
importantes para todos os que estão inseridos nesta área.
O movimento da 
psicopedagogia 
no Brasil, remete 
as concepções e 
práticas trazidas da 
Argentina.
16
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
A seguir veremos uma breve evolução histórica da Psicopedagogia no Brasil:
Quadro 1 – Psicopedagogia no Brasil
1979
Em 1979, foi criado o primeiro curso de psicopedagogia no Instituto Sedes Sapien-
tiae, em São Paulo, pela pedagoga e psicodramatista Maria Alice e pela diretora 
do Instituto Madre Cristina Sodré. O objetivo desse curso era valorizar a ação do 
educador. Ele começou abordando o tema da reeducação em psicopedagogia, de-
pois assumiu um caráter terapêutico com aprofundamento nos aspectos afetivos da 
aprendizagem (BOSSA, 2011).
1979/1980
No Rio Grande do Sul, a PUC realizou cursos de especialização relacionados a re-
educação em linguagem em 1979/80 e curso de psicoeducação em 1982/83. Ela 
mantém, ainda, desde 1972 a área de concentração em aconselhamento psicopeda-
gógico dentro do curso de pós-graduação em Educação.
1980
A Associação Brasileira de Psicopedagogia, com sede em São Paulo, foi fundada no 
final de 1980, com a finalidade de promover o aperfeiçoamento de seus associados 
e a qualidade da prática psicopedagógica mediante a realização de cursos e de en-
contros científicos. Além disto, começou a publicação de um periódico especializado 
na área, com o objetivo de trocar experiências e conhecimentos teóricos entre os 
associados. 
Devemos enfatizar aqui os estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul como os 
grandes pioneiros em formação e qualificação de profissionais em psicopedagogia. 
A partir destes estados é que houve a divulgação da profissão e de cursos para os 
outros estados do Brasil.
1984
Em novembro de 1984, aconteceu o primeiro encontro de psicopedagogia em São 
Paulo, inaugurando uma nova etapa no nosso país. Neste encontro, as psicopeda-
gogas Clarissa Golbert e Sonia Kiguel apresentaram trabalhos demonstrando e dis-
cutindo as atividades dos psicopedagogos de Porto Alegre. A partir deste evento foi 
fundado um Grupo de Estudos em Psicopedagogia que se reunia mensalmente, com 
o objetivo de discutir as questões pertinentes ao fazer psicopedagógico. A partir des-
tes encontros criou-se a Associação Brasileira de Psicopedagogia – capítulo gaúcho.
Década de 
1990
Somente na década de 1990, os cursos de especialização Lato Sensu se multiplica-
ram, surgindo cursos por mais estados brasileiros. Hoje, podemos dizer que a psico-
pedagogia está presente em todo o território nacional, seja através da sua atuação 
em vários campos ou de cursos de especialização e aperfeiçoamento.
Fonte: Elaborado pela autora.
17
A HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA: 
UMA PRÁTICA EM CONSTRUÇÃOCapítulo 1
Ao longo destes anos todos, desde que se começou a falar em 
psicopedagogia no Brasil, até os dias de hoje, a forma de conceber 
o fracasso escolar e os problemas de aprendizagem mudaram 
signifi cativamente: passaram de uma concepção organicista, que 
explicava tais problemas como resultado de condições orgânicas 
para uma abordagem que concebe a aprendizagem como resultado 
de múltiplos fatores, dentre eles, emocional, social, relacional. Neste 
sentido, o “não aprender” assume um novo sentido e deixa de ser 
compreendido como uma falta. 
Para você pesquisar e se aprofundar sobre o exercício da 
psicopedagogia no Brasil, sobre a luta da classe dos psicopedagogos 
para regularizar a profi ssão, além de ter acesso a vários textos e 
publicações científi cas da área, acesse o site da Associação Brasileira 
de Psicopedagogia: . Lá você terá informa-
ções muito importantes sobre a psicopedagogia.
A partir do que foi apresentado até agora, podemos concluir que a 
psicopedagogia nasce e se constitui na área clínica. Somente nos últimos 20 
anos é que a atuação do psicopedagogo se expandiu para outras áreas, como a 
institucional, empresarial e hospitalar. Na próxima seção aprofundaremos os conceitos 
atrelados a psicopedagogia clínica, relacionando-os com a sua prática.
Com todas essas informações, encerramos a primeira parte deste capítulo. 
Que tal organizarmos todas essas informações em uma linha do tempo?
Atividade de Estudos: 
1) Elabore uma linha do tempo, marcando os principais aconteci-
mentos que contribuíram para o surgimento e o fortalecimento 
da psicopedagogia, bem como os respectivos anos de tais 
acontecimentos.
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
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 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
Os estados de 
São Paulo e do 
Rio Grande do 
Sul como os 
grandes pioneiros 
em formação e 
qualifi cação de 
profi ssionais em 
psicopedagogia.
18
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
Psicopedagogia Clínica ou Clínica 
Psicopedagógica? - Compreendendo 
Alguns Conceitos.
Conforme vimos na seção anterior, a psicopedagogia é um campo do 
conhecimento relativamente recente no Brasil, apesar de já estar bastante difundida 
e sua prática já ser reconhecida e solicitada. Porém, em função de ser uma ciência 
“jovem”, ainda existem muitas confusões sobre o conceito e o objeto de estudo 
da psicopedagogia, bem como das atribuições do psicopedagogo. Inicialmente, 
apresentaremos alguns conceitos da psicopedagogia como um todo para, em 
seguida, nos aprofundarmos nos aspectos clínicos.
Entendemos a psicopedagogia como área do conhecimento 
que investiga e intervém na relação do sujeito que aprende e o 
conhecimento a ser apreendido. Esta relação pode confi gurar-
se como problemática em razão de seus aspectos pedagógicos, 
cognitivos e/ou afetivos, no âmbito individual e/ ou social/relacional.
Conceituando a Psicopedagogia
De acordo com o que o professor Antonio Joaquim Severino escreveu na 
introdução do livro de Bossa (2011, p. 19):
A Psicopedagogia é tomada como um corpo de conhecimentos, 
construído com vistas a encontrar soluções para os problemas 
da aprendizagem, em uma aplicação que, além da clínica, 
se quer também preventiva. Área recente, multidisciplinar, é 
eminentemente prática, sem deixar de ser simultaneamente, 
campo de investigação e, ainda, saber científi co.
Para aprofundarmos nossa discussão, vamos desmembrar este conceito em 
itens menores e refl etirmos sobre seu signifi cado.
a) Corpo de conhecimentos: este termo nos remete a pensar que a 
psicopedagogia é uma área de caráter multidisciplinar, constituída pelo saber 
de várias outras áreas e não só da psicologia e da pedagogia, como o seu 
nome sugere. As principais teorias que constituem o corpo de conhecimentos 
19
A HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA: 
UMA PRÁTICA EM CONSTRUÇÃOCapítulo 1
da psicopedagogia são: a psicanálise, a psicologia social, a epistemologia, a 
psicologia genética, a linguística, a pedagogia e a neuropsicologia.pela Universidade 
Federal de Santa Maria (UFSM), RS. Neste momento, descobri qual faculdade 
gostaria de cursar. Durante os quatro anos de faculdade, me dediquei ao estudo 
da aprendizagem, principalmente em crianças com defi ciência ou público-alvo 
126
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
da Educação Especial. Na época da minha faculdade, ainda não se falava em 
psicopedagogia e muito menos em inclusão. O trabalho ainda era realizado em 
classes e escolas especiais.
Depois de formada, vim morar em Blumenau-SC, onde comecei a 
trabalhar com crianças especiais em salas de recurso. Neste período, conheci 
outros profi ssionais e comecei a desenvolver um trabalho junto a uma equipe 
multidisciplinar, ainda na área da Educação Especial. Comecei a ler e a conversar 
com outros profi ssionais sobre a psicopedagogia, para complementar a minha 
atuação nesta equipe. Busquei por cursos de formação na área e, na época, não 
existia nenhum no estado inteiro de Santa Catarina. Minha primeira formação na 
área da Psicopedagogia foi no ano de 1995, em São Paulo. Neste período, foi 
necessário muito estudo, dedicação, disposição e motivação para viajar toda a 
semana para tão longe em busca de novos conhecimentos. Mas esse foi só o 
“ponta-a-pé” inicial... Depois desta formação, foram muitos cursos, congressos, 
especializações e mestrado sempre em busca de aperfeiçoamento e novos 
conhecimentos. 
Nesta época, já atuava como psicopedagoga clínica, junto a uma 
equipe multidisciplinar, além de dar aula na universidade em cursos 
de graduação e de pós-graduação. Posso dizer que, nesses mais de 
20 anos como profi ssional da psicopedagogia, não fi quei nem um ano 
sequer, sem realizar novos cursos e aprender um pouco mais... Posso 
resumir essa atitude de busca pelo conhecimento, pelo novo, pelo 
aperfeiçoamento, em uma só palavra: DESEJO. Desejo pelo saber, 
desejo pela psicopedagogia, desejo por ver o progresso dos pacientes 
no trabalho psicopedagógico. E quanto mais eu aprendo, quanto mais eu estudo, 
mais apaixonada eu fi co pelo meu trabalho... Espero que esse meu singelo 
exemplo possa inspirar você, caro (a) aluno (a), a também se tornar “desejoso” 
pela psicopedagogia.
Atividade de Estudos: 
1) Após esse breve relato sobre a minha inserção na psicope-
dagogia, refl ita sobre as questões e registre nas linhas abaixo.
a) Qual o motivo que fez você buscar a Psicopedagogia?
b) Quais são as suas características pessoais que você julga ser 
importante para o exercício da psicopedagogia clínica?
 _____________________________________________________
 _____________________________________________________
Posso resumir essa 
atitude de busca 
pelo conhecimento, 
pelo novo, pelo 
aperfeiçoamento, 
em uma só palavra: 
DESEJO.
127
PERFIL, COMPETÊNCIAS E HABILIDADES 
DO PSICOPEDAGOGO CLÍNICOCapítulo 4
 _____________________________________________________
 _____________________________________________________
 _____________________________________________________
 _____________________________________________________
 _____________________________________________________
 _____________________________________________________
 _____________________________________________________
 _____________________________________________________
O psicopedagogo clínico, enquanto profi ssional que atua nas áreas 
da saúde e da educação, deverá se instrumentalizar teoricamente, mas 
sem deixar de lado a sua formação pessoal. Sua formação deverá ter 
por base sólidos conhecimentos científi cos, a fi m de alcançar um maior 
nível de qualidade, de seriedade e comprometimento em suas ações. 
Além disso, esse profi ssional deverá ter sempre presente a sua grande 
responsabilidade frente a realidade educacional brasileira (SCOZ, 1991).
E o que queremos dizer quando falamos da importância da 
formação pessoal do psicopedagogo? Podemos afi rmar que a melhor 
ferramenta educativa é a própria fi gura do professor. A lógica, na 
psicopedagogia, é a mesma! 
Para obtermos um maior proveito no uso de qualquer ferramenta 
na psicopedagogia, precisamos conhecê-la bem, aprender para que 
serve e conhecer também as suas limitações. Quando afi rmamos que a 
melhor ferramenta psicopedagógica é o próprio psicopedagogo, estamos 
dizendo que para realizar a sua função, o psicopedagogo deve conhecer-
se. Só assim poderá identifi car a maneira que o seu mundo afetivo, 
psicológico, ético e criativo pode ser utilizado em prol do seu trabalho.
Sabemos também que todo o ser humano tem as suas limitações. 
Com o sujeito psicopedagogo não é diferente! É importante que esse 
profi ssional conheça as suas limitações, tanto teóricas quanto pessoais, 
para que consiga saber até onde pode ir. Aprender a conhecer você mesmo, 
respeitando os seus limites é a chave para você se aceitar e ajudar os outros.
De acordo com França (1996, p. 100)
[...] o psicopedagogo não podendo ser autônomo no atendimento, 
pois depende de outros especialistas, também não pode ser 
um “cyborg” intelectual que entenda os aspectos pedagógicos, 
psicológicos, neurológicos, fonoaudiológicos, psicolingüísticos e 
de outras exigências da psicopedagogia.
O psicopedagogo 
clínico, enquanto 
profi ssional que 
atua nas áreas 
da saúde e da 
educação, deverá 
se instrumentalizar 
teoricamente, mas 
sem deixar de lado 
a sua formação 
pessoal.
A melhor 
ferramenta 
psicopedagógica 
é o próprio 
psicopedagogo, 
estamos dizendo 
que para realizar 
a sua função, o 
psicopedagogo 
deve conhecer-se.
128
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
Quando reconhecemos os limites da nossa atuação, estamos sendo éticos 
com a nossa profi ssão. Não podemos “abarcar o mundo com as pernas” e nem 
assumir responsabilidades que não competem a nós. Concordo com Garcia 
(2000, p. 32), quando afi rma que
[...] o psicopedagogo, como o imaginamos hoje, é um 
profi ssional que pode ter sua origem profi ssional em distintas 
áreas das chamadas ciências humanas e sociais. No entanto, 
a sua qualifi cação profi ssional específi ca deve levá-lo a uma 
habilitação que possibilite enxergar no educando aquilo que 
transcende o conhecimento das disciplinas pedagógicas. E 
isto se consegue, ademais, com o cultivo de habilidades, que 
somadas ao conhecimento especializado permitem ajudar 
o outro a elevar-se um degrau em seu processo formativo. 
Seja no diagnóstico ou nas recomendações prescritas, o que 
diferenciará o bom, do mau profi ssional, será esta apurada 
acuidade de operar em uma área onde a seriedade e a 
charlatanice convivem em espaços muito próximos.
Falando-se em ética, é oportuno resgatar os capítulos do Código de Ética 
elaborado pela Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp que tratam das 
responsabilidades do psicopedagogo.
Capítulo IV – Das responsabilidades
Artigo 11

São deveres do psicopedagogo: 
a) manter-se atualizado quanto aos conhecimentos científi cos e 
técnicos que tratem da aprendizagem humana;
b) desenvolver e manter relações profi ssionais pautadas pelo 
respeito, pela atitude crítica e pela cooperação com outros 
profi ssionais;
c) assumir as responsabilidades para as quais esteja preparado e 
nos parâmetros da competência psicopedagógica;
d) colaborar com o progresso da Psicopedagogia;
e) responsabilizar-se pelas intervenções feitas, fornecer defi nição 
clara do seu parecer ao cliente e/ou aos seus responsáveis por 
meio de documento pertinente;
f) preservar a identidade do cliente (paciente) nos relatos e dis-
cussões feitos a título de exemplos e estudos de casos;
g) manter o respeito e a dignidade na relação profi ssional para a 
harmonia da classe e a manutenção do conceito público.
Com o cultivo 
de habilidades, 
que somadas ao 
conhecimento 
especializado 
permitem ajudar o 
outro a elevar-se 
um degrau em seu 
processo formativo.
129
PERFIL, COMPETÊNCIAS E HABILIDADES 
DO PSICOPEDAGOGO CLÍNICOCapítulo 4
Capítulo V – Dos instrumentos
Artigo 12
São instrumentos da Psicopedagogia aqueles que servem ao 
seu objetode estudo – a aprendizagem. Sua escolha decorrerá de 
formação profi ssional e competência técnica, sendo vetado o uso 
de procedimentos, técnicas e recursos não reconhecidos como 
psicopedagógicos.
Fonte: Disponível em: . Acesso em: 03 abr. 2016.
Para fi nalizar essa seção, vamos retomar a pergunta inicial deste capítulo: 
“mas afi nal, quem é o psicopedagogo?” 
Sintetizando, o psicopedagogo é o profi ssional que deve ser capaz de investir 
na sua formação pessoal, de maneira contínua e signifi cativa, de modo a estar 
apto a também desenvolver um papel profi ssional inovador, no qual quem ensina 
deve, inicialmente, ter aprendido e vivenciado o que efetivamente vai ensinar. 
Esse profi ssional deve possibilitar a todos, inclusive a si próprio, a oportunidade 
de lidar com seus próprios processos de aprendizagem (BOSSA, 2011).
Encerramos assim, esta seção para, em seguida, discutirmos sobre alguns 
termos tão utilizados na psicopedagogia: o olhar e a escuta psicopedagógica. 
Convido você a continuar nosso caminhar...
O OlHar e a Escuta Psicopedagógica
Você já deve, por muitas vezes em seus estudos, ter se deparado com esses 
termos: “olhar” psicopedagógico e “escuta” psicopedagógica. Você já parou para 
pensar o que eles signifi cam? Que concepção está por trás destes conceitos? 
Faremos, a seguir, algumas refl exões.
Quando pensamos nas ações de olhar e de escutar, a primeira ideia que 
nos vem à mente é que estas ações estão relacionadas aos nossos órgãos dos 
sentidos (visão e audição) e que são canais receptores de informações do meio 
social. Esta ideia não deixa de estar correta, se pensarmos no nosso organismo 
enquanto aparelho biológico. Porém, sabemos que o nosso corpo é muito mais do 
que isso. E o olhar e a escuta também!
130
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
Em primeiro lugar, podemos considerar que para olhar e escutar, além das 
informações recebidas pelos órgãos sensoriais, está a interpretação e o sentido 
que damos às mensagens que recebemos. Nesse sentido, esta interpretação é 
estritamente pessoal e subjetiva. Será que existe uma única forma de “escutar” o 
que aquele paciente quer nos dizer? Como saber se é isso mesmo?
A psicopedagogia toma emprestado os termos, “olhar e escuta” da psicanálise. 
Para a psicanálise, escutar é diferente de ouvir e a escuta está sempre relacionada 
ao discurso do outro, ao o que o outro quer dizer com as suas palavras e também, ao 
que não é dito. Veremos, neste pequeno texto do psicanalista Marlos Terêncio, a 
diferença entre ouvir e escutar para a psicanálise.
Um conhecido texto de Rubem Alves, intitulado “Escutatória”, 
aborda de maneira criativa e poética a problemática de escutar e 
falar na experiência humana. Diz o escritor, com muito bom humor, 
que todos procuram por cursos de oratória, ou seja, todos querem 
aprender a falar, mas ninguém se interessaria por um curso de 
“escutatória”, isto é, pelo aprendizado da arte de escutar.
Diriam alguns que ouvir é muito fácil, que árduo é aprender a falar, 
a se expressar, a se comunicar. Sem dúvida que a expressão é difícil 
para muitos — em clínica psicanalítica recebemos pacientes com tal 
difi culdade –, mas saber escutar é igualmente trabalhoso e raro.
Sugiro aqui uma distinção entre ouvir e escutar. Ouvir é aquilo 
que fazemos em nossos relacionamentos cotidianos: ouvimos o 
outro, muito embora, com frequência, estejamos apenas esperando 
por nossa oportunidade para falar. Misturamos nossos preconceitos 
e julgamentos com aquilo que ouvimos da boca do próximo e, como 
resultado, compreendemos e acolhemos muito pouco daquilo que 
ele ou ela nos dirige com sua fala. Estamos ávidos por opinar, por 
discordar, por aconselhar.
A escuta, por sua vez, tem uma qualidade diferente. É aquilo que 
se faz, como diz Rubem Alves, quando há silêncio dentro da alma. 
Quando os pensamentos não fazem ruído excessivo em nossa cabeça, 
aí, sim, podemos escutar o outro. Quando abrimos mão de nossos 
preconceitos, certezas e julgamentos, podemos realmente escutar e 
acolher aquilo que o outro nos endereça em sua fala.
[...]
131
PERFIL, COMPETÊNCIAS E HABILIDADES 
DO PSICOPEDAGOGO CLÍNICOCapítulo 4
O psicanalista também está ciente do problema, pois sabe que 
somente se escuta um paciente na ausência de julgamentos e de 
certezas absolutas a respeito do que ele fala. E o paciente, ao sentir-
se verdadeiramente escutado, consegue, fi nalmente, dar expressão 
aos seus pensamentos e sentimentos. Nos idos de 1900, foi Freud o 
primeiro a dar uma escuta às pacientes histéricas, que eram vistas 
como dissimuladas pelos médicos da época. Ninguém realmente as 
escutava, seu discurso era menosprezado. E com esse ato simples, 
porém difícil, de escutar, conseguiu Freud compreender e mostrar-
lhes a dinâmica inconsciente de seus sintomas, livrando muitas delas 
da miséria neurótica.
Muitos profi ssionais se propõem a escutar o sofrimento alheio, mas 
é comum que estejam apenas esperando para aconselhar, com receitas 
prontas, os seus clientes. A escuta do psicanalista é diferente, pois tem 
o compromisso com a singularidade de cada sujeito: cada história de 
vida é única e, assim, também é singular o caminho a ser trilhado pelo 
paciente para a resolução de seus confl itos.
[...]
O que escuta, então, o psicanalista? O analista escuta o 
desejo inconsciente — aquilo que, muitas vezes, difere do que, 
conscientemente, queremos. O analista percebe e pontua essa 
divergência, o que é sufi ciente para abrir ao sujeito uma chance de 
constituir um novo posicionamento em relação a sua vida.
Em um mundo marcado por tantos discursos sobre o sofrimento 
psíquico, cada qual propondo-se como a verdade última e o caminho 
certeiro para a felicidade, há pouco espaço para a escuta sincera de 
cada sujeito em sua singularidade, no intuito lhe facultar o encontro 
de sua própria voz. Essa é a proposta de uma escuta psicanalítica.
Fonte: Disponível em: . Acesso em: 03 abr. 2016.
Do texto acima, destaco uma frase: “o analista escuta o desejo 
inconsciente”. Na psicopedagogia a lógica é a mesma: o psicopedagogo 
deve escutar além das palavras que são ditas e olhar além das ações e 
dos gestos que são feitos. O psicopedagogo deve conseguir escutar e 
olhar o que está por trás das palavras e das ações, o que aquele sujeito 
quer nos dizer e nos mostrar.
O psicopedagogo 
deve escutar além 
das palavras que 
são ditas e olhar 
além das ações e 
dos gestos que são 
feitos.
132
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
E é exatamente o “olhar” e a “escuta” psicopedagógica que nos permitem 
traçar o perfi l de uma atitude clínica. Fernandez (1991) questiona-se sobre 
como ler a produção de um paciente, como conseguir uma escuta-olhar 
psicopedagógicos. Ao fi nal das suas refl exões, a autora sintetiza da seguinte 
maneira “[...] posicionando-se em um lugar analítico e assumindo uma atitude 
clínica, à qual será necessário incorporar conhecimentos, teoria e saber, acerca 
do aprender.” (FERNANDEZ, 1991, p. 126).
Mais adiante, Fernandez (1991, p. 131) continua “o escutar e o olhar 
do terapeuta vai permitir ao paciente falar e ser reconhecido, e ao terapeuta 
compreender a mensagem.”. Vale lembrar que essa escuta deve ser livre de 
preconceitos, de pré-julgamentos, sem contaminação com nossos sentimentos 
pessoais e sempre ser contextualizada com a aprendizagem, que é o campo de 
atuação da psicopedagogia.
Atividade de Estudos: 
1) Defi na, com as suas palavras, o que é a “escuta” e o “olhar” 
psicopedagógico.
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Esta visão mais abrangente que o psicopedagogo deverá ter, não será 
focada somente nas questões cognitivas, nos fracassos. Sempre que o olhar e a 
escuta estiverem presentes em seu trabalho, o foco será o de descobrir e revelar 
possibilidades. 
Para fi nalizar este capítulo, falaremos na próxima sessão sobre a construção 
da autoria de pensamento na atuação psicopedagógica clínica, do ponto de vista 
tanto do ensinante, quanto do aprendente.
133
PERFIL, COMPETÊNCIAS E HABILIDADES 
DO PSICOPEDAGOGO CLÍNICOCapítulo 4
A Construção da Autoria 
de Pensamento na Atuação 
Psicopedagógica
Muitas crianças, adolescentes e até mesmo adultos que vem em busca 
do trabalho psicopedagógico, não conseguem reconhecerem-se como sujeitos 
autores e construtores das suas produções. Não conseguem confi ar no que 
pensam e no que produzem e não acreditam no seu potencial.
Fernández (2001, p. 90) defi ne a autoria “como o processo e o ato de 
produção de sentidos e de reconhecimento de si mesmo como protagonista ou 
participante de tal produção”. Ser autor é reconhecer-se enquanto criador de uma 
obra, seja ela qual for: uma pintura, um desenho, uma escrita, uma construção ou 
um pensamento.
A autora destaca que pensar a autoria de pensamento implica pensar na 
relação entre os sujeitos: eu-outro, ensinante-aprendente, ou seja, pensar 
na inserção do sujeito nesta relação, assumindo-se como participante e 
responsável por suas ações e escolhas, demonstrando sua maneira de pensar 
(FERNÁNDEZ, 2001).
Ensinante – aprendente: são os sujeitos da psicopedagogia, 
ou seja, os sujeitos da autoria de pensamento. Diferencia-se da 
relação professor-aluno, pela posição que cada um ocupa. Na relação 
professor-aluno, existe uma hierarquia entre aquele que transmite um 
conhecimento e o outro que o assimila. A relação ensinante-aprendente 
não diz respeito a papéis sociais, mas sim, ao posicionamento subjetivo 
que cada um ocupa frente ao conhecimento.
Todos nós somos ensinantes e aprendentes simultaneamente, e transitamos 
por esses lugares ao longo da nossa vida. Uma criança com difi culdade de 
aprendizagem, por exemplo, não deve ver-se somente como aprendente, por 
julgar que não tem nada para ensinar ao outro. 
Ao aprender, o sujeito aprendente, precisa conectar-se com o que já sabe a 
respeito do que lhe está sendo ensinado, pois, remetendo-se a si mesmo, poderá 
reconhecer seu saber e mostrá-lo a quem o ensina. Por sua vez, o ensinante deverá 
reconhecer e valorizar o saber do aprendente para que ambos estejam conectados. 
134
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
É preciso que quem estiver ensinando, esteja aberto para conhecer e valorizar 
o outro como possuidor de um saber, reconhecendo-o como sujeito ensinante, 
já que ele mostra ao outro o que sabe. Desta forma, quem ensina também pode 
aprender e quem aprende também pode ensinar. Nesta relação, os lugares não são 
fi xos e proporcionam um espaço de trocas favorável ao ensino e à aprendizagem. 
Com este movimento, o sujeito vai se constituindo como um sujeito autor, pois ele 
consegue transitar entre o ser ensinante e o ser aprendente (POPPOVIC, 2004).
Atividade de Estudos: 
1) Estabeleça as diferenças existentes nas relações entre 
professores / alunos e entre ensinantes / aprendentes.
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 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
 ____________________________________________________
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 ____________________________________________________
E afi nal, quem é esse sujeito autor? Para a psicopedagogia, o sujeito autor 
é o sujeito que constrói a autoria do seu pensamento, que se autoriza a pensar, 
não somente por meio de conteúdos acadêmicos, mas sim, por meio de todas as 
suas experiências de vida: social, familiar, acadêmica. Esse sujeito se autoriza a 
conduzir a sua própria vida, de maneira autônoma, independente. Dessa forma, 
podemos estabelecer uma relação direta entre autoria e autonomia.
Para Fernández (2001), somente através da autoria e da autonomia de 
pensamento é que o sujeito consegue alcançar a liberdade: liberdade de pensar, 
de agir, de sonhar, de comandar a sua vida... 
Indico a leitura do texto “PSICOPEDAGOGIA: OFICINA DE 
JOGOS, UM ESPAÇO PARA A AUTORIA DE PENSAMENTO” de 
Saj Porcacchia, Sonia; Perce Eugenio, Aline Aparecida. Este artigo 
foi apresentado na Universidade de Buenos Aires, em 2011, e trata 
de mostrar como um trabalho com jogos pode propiciar a autoria 
de pensamento. Ao fi nal do texto, as autoras apresentam um caso 
que ilustra suas concepções. O artigo está disponível em: . 
135
PERFIL, COMPETÊNCIAS E HABILIDADES 
DO PSICOPEDAGOGO CLÍNICOCapítulo 4
Para o psicopedagogo, nada é mais gratifi cante do que ver o sujeito aprendente 
desafi ando-se a pensar, criando e construindo novas relações e conexões. Muitas 
vezes, esse sujeito que chega até nós, impregnado pelo não-saber, inseguro 
quanto ao seu pensar e desacreditado quanto as suas possibilidades, consegue, 
com o trabalho psicopedagógico, ver-se como ensinante-aprendente.
Para fi nalizar, compartilho com você, aluno (a), uma poesia escrita por duas 
psicopedagogas sobre a autoria de pensamento. Vale a leitura e a refl exão!
Ser autor é...
...viver no eterno agora deixando a luz da vida,
brilhar em cada passo que dou,
Deixando minha marca pelos caminhos que vou...
 
...buscar no inconsciente a consciência de quem sou,
...se deixar sonhar para poder criar e recriar,
 
...ser livre para se deixar voar...nas asas da imaginação,
realizando-nos como pessoas únicas que somos,
na beleza do momento presente, na eterna dança do amor...
 
...viver no encantamento da vida,
Vivida com todas as cores, luzes, sabores e amores,
...abrindo caminhos para as transformações...
 
Ser ecológico,
Ser que ama,
Ser que se ama,
Ser que soma,
Ser que divide, multiplica.
Ser que age inter-age;
Transforma, forma,
Integra, reintegra,
Ser-mente, semente.
Ser autor: ser com amor.
Ser vida: ser Teia da Vida.
Fonte: Alves e Bossa (2006, s. p.).
136
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
Algumas ConsideraçÕes
Prezado (a) aluno (a), concluímos mais um capítulo e com isso encerramos o 
caderno de estudos da disciplina de “Teoria e Prática da Psicopedagogia Clínica”. 
Foi um longo caminho até aqui, não é mesmo? Muitas informações, novos 
conhecimentos e horas de estudo e dedicação. Espero que tenha sido de muito 
proveito para você!
Para mim, todas as experiências de escrita, produzem novas refl exões, 
novas leituras e, consequentemente, novos saberes. Realmente, escrever e 
aprender não é uma prática, uma tarefa, algo fácil! Existem momentos que nos 
geram angustia e insegurança. Mas, quando o resultado fi nal é positivo, quando o 
autor contempla a sua obra e sente-se orgulhoso, é porque todo o esforço valeu a 
pena!!! Este é o verdadeiro sentido da autoria de pensamento, processo pelo qual 
todos nós, psicopedagogos, aprendentes e ensinantes, deveremos passar.
Como despertar e desenvolver no outro, sentimentos e experiências que não 
estão em mim? Como despertar o desejo do aprender no outro, se eu não me 
reciclo, não estudo, não leio? Como ensinar o outro a pensar, se para mim é tão 
difícil criar e tomar decisões? Como auxiliar o outro a se conhecer melhor, se eu 
não me conheço e nem me reconheço por inteiro?
Portanto, futuro (a) psicopedagogo (a), deixo aqui estas refl exões para que 
você perceba que a formação do psicopedagogo passa tanto pelo conhecimento 
teórico, profi ssional, quanto pelo pessoal. Essa profi ssão implica em muita 
dedicação, mas em contrapartida, é muito gratifi cante!
Desejo a você, prezado (a) aluno (a), um futuro brilhante, com um caminho 
pleno de realizações!!!!!
Referências
ALVES, Maria Dolores Fortes; BOSSA,Nádia. Psicopedagogia: em busca do 
sujeito autor. s.d. Disponível em: . Acesso em: 04 abr. 2016.
BOSSA, Nádia A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 
Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011.
FERNANDEZ, Alicia. A Inteligência Aprisionada: abordagem psicopeda-gógica 
clínica da criança e sua família. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.
137
PERFIL, COMPETÊNCIAS E HABILIDADES 
DO PSICOPEDAGOGO CLÍNICOCapítulo 4
_____. O saber em Jogo: a psicopedagogia propiciando autorias de 
pensamento. Porto Alegre: Artmed, 2001.
FRANÇA, Carlos. Um novato na Psicopedagogia. In: SISTO, Fermino Fernandes; 
OLIVEIRA, Gislene de Campos; FINI, Lucila Diehl Tolaine et al. (orgs). Atuação 
Psicopedagógica e Aprendizagem Escolar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.
GARCIA, Walter E. A psicopedagogia face aos desafi os da transdisciplinaridade. 
In: NOFFS, Neide de Aquino; FABRÍCIO, Nívea de Carvalho; SOUZA, 
Vânia de Carvalho Bueno de. A Psicopedagogia em Direção ao Espaço 
Transdisciplinar. São Paulo: Editora Sterchele, 2000.
POPPOVIC, Ana Maria. Contribuições da Psicopedagogia a Construção do 
Professor. Boletim Clínico, nº 18, setembro de 2004. Disponível em: . Acesso 
em: 03 abr. 2016.
SCOZ, Beatriz Judith Lima. A Identidade do Psicopedagogo: formação e 
atuação profi ssional. In: SCOZ, Beatriz Judith Lima; BARONE, Leda Maria 
Codeço; CAMPOS, Maria Célia Malta; MENDES, Mônica Hoehne (orgs.). 
Psicopedagogia: contextualização, formação e atuação profi ssional. Porto 
Alegre: Artes Médicas, 1991.b) Aprendizagem: atualmente, a psicopedagogia trabalha com a concepção de 
aprendizagem segundo a qual participam deste processo o sujeito individual, 
através do seu equipamento biológico, afetivo e intelectual, e a relação 
deste sujeito com o seu meio. As trocas entre o sujeito e o seu meio são 
infl uenciadas pelas condições socioculturais, e pelas relações familiares, 
grupais e institucionais.
c) Problemas de aprendizagem: podemos dizer que os problemas de 
aprendizagem são todos os entraves que difi cultam signifi cativamente o 
processo de aprender, determinando um desempenho abaixo do esperado, 
levando-se em consideração a idade e série do aprendente, embora o sujeito 
tenha a necessária capacidade intelectual para tal aprendizado.
d) Aplicação clínica: o sentido deste termo no contexto da defi nição de psico-
pedagogia signifi ca o trabalho de resgate da possibilidade da aprendizagem 
quando já existe um problema instalado. Envolve todas as ações que o 
psicopedagogo faz para diagnosticar e intervir com o objetivo de buscar 
soluções e reverter um quadro de difi culdade. Esse termo não signifi ca que o 
trabalho deva acontecer em um espaço clínico, pois a aplicação do trabalho 
psicopedagógico clínico pode acontecer em diversos espaços.
e) Aplicação preventiva: para a psicopedagogia, o termo prevenção refere-
se ao trabalho no sentido de adequar as condições de aprendizagem de 
forma a evitar possíveis comprometimentos nesse processo. Portanto, o 
trabalho com caráter preventivo acontece quando não existe um problema de 
aprendizagem instalado. A intervenção do psicopedagogo tem o objetivo de 
facilitar o processo de aprendizagem.
f) Área prática, sem deixar de ser um campo de investigação e um saber 
científi co: a psicopedagogia já nasce como uma necessidade prática, uma 
vez que existe uma demanda para isso. Porém, essa prática jamais pode 
ser desvinculada de um saber teórico que a embase e a sustente. Quando 
falamos em “práxis psicopedagógica” é justamente a isso que nos referimos: 
a inter-relação entre teoria e prática, capaz de gerar novos conhecimentos, 
abrindo um vasto campo para a investigação.
Agora que o conceito de psicopedagogia já foi aprofundado, vamos continuar 
discutindo os aspectos pertinentes à psicopedagogia clínica.
20
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
ObJeto de Estudo da Psicopedagogia
Como sabemos o objeto de estudo da psicopedagogia é a 
aprendizagem humana e, consequentemente, os problemas de 
aprendizagem. Tanto no trabalho psicopedagógico clínico, quanto no 
trabalho preventivo, a compreensão de como se dá a aprendizagem 
nas diversas idades e quais habilidades são necessárias para que ela 
aconteça, é de fundamental importância para ambos os trabalhos. Por 
isso é equivocada a ideia de que o psicopedagogo deve estudar e se 
aprofundar somente nos transtornos e problemas de aprendizagem. Em 
primeiro lugar, ele deve compreender sobre a aprendizagem como um todo.
De acordo com Bossa (2011, p.33):
[...] a Psicopedagogia estuda as características da aprendizagem 
humana: como se aprende, como essa aprendizagem varia 
evolutivamente e está condicionada por vários fatores, como se 
produzem as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las, 
tratá-las e preveni-las.
 
Conforme foi visto na seção anterior, na sua origem, o trabalho psicopedagógico 
priorizava a reeducação, objetivando vencer as defasagens, pois as difi culdades 
de aprendizagem eram sempre avaliadas em função dos seus défi cits. Atualmente, 
a psicopedagogia vê o “não-aprender” como uma resposta a alguns fatores que 
podem não estar bem por estarem em desacordo com o esperado e estes são 
sempre carregados de signifi cados. Tais fatores podem ser de ordem emocional, 
social, afetivo, pedagógico, cognitivo, relacional, entre outros. Portanto, num 
trabalho de investigação psicopedagógica, deve-se priorizar a busca pelas causas 
da difi culdade e não somente voltar o seu olhar para os défi cits.
A Revista Ciência & Vida Psique (Editora Escala, ano 1, n. 2) 
lançou uma edição especial intitulada PSICOPEDAGOGIA: para 
quê? Esta publicação é formada por diversos artigos escritos 
por psicopedagogos renomados que tratam desde o nascimento 
da psicopedagogia até as contribuições mais recentes da 
neurociência para auxiliar na compreensão de como se processa a 
aprendizagem humana. Vale à pena a leitura!
Agora que já temos claro o conceito de psicopedagogia, bem como o 
seu objeto de estudo, vamos nos aprofundar nos conceitos que constituem a 
psicopedagogia clínica.
O objeto de estudo 
da psicopedagogia 
é a aprendizagem 
humana e, 
consequentemente, 
os problemas de 
aprendizagem.
21
A HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA: 
UMA PRÁTICA EM CONSTRUÇÃOCapítulo 1
Você já deve ter ouvido os termos “psicopedagogia clínica” e 
“clínica psicopedagógica”, não é mesmo? E será que estes termos 
são sinônimos um do outro e querem dizer a mesma coisa? Ou 
será que são expressões com sentido diferente e que, por falta de 
conhecimento, são utilizadas erroneamente?
A Psicopedagogia Clínica e a Clínica 
Psicopedagógica
O primeiro ponto importante para deixarmos claro nestas refl exões 
é que a psicopedagogia é uma área única do conhecimento e que 
abrange algumas ramifi cações, relacionadas aos campos de atuação 
do psicopedagogo. 
No Brasil, a partir da década de 1990, com a proliferação dos 
cursos de especialização por todo o país, tais cursos começaram 
a ser oferecidos com a nomenclatura de “psicopedagogia clínica”, 
“psicopedagogia institucional” e, mais recentemente, “psicopedagogia 
hospitalar” e “psicopedagogia empresarial”. Estes termos acabaram 
sendo divulgados e bastante falados, mas, muitas vezes, não se tem a verdadeira 
conotação do que eles querem dizer.
Podemos afi rmar que todos os campos pertencem a uma só psicopedagogia, 
que compartilham dos mesmos conceitos, dos mesmos referenciais teóricos e a 
mesma conduta ética do psicopedagogo. 
A psicopedagogia clínica refere-se a um dos campos de atuação da 
psicopedagogia. Refere-se também a um saber, a postura clínica que o 
psicopedagogo deve assumir frente ao seu paciente, que envolve o olhar 
e a escuta psicopedagógica clínica. Essa postura deve ser assumida pelo 
psicopedagogo com o seu cliente nos diversos campos de atuação e nos diversos 
espaços que ocupa e não somente no espaço clínico. Portanto, podemos dizer 
que o método utilizado pelo psicopedagogo é o método clínico, por ser um método 
investigativo e de observação da realidade. O psicopedagogo o utiliza como 
instrumento de investigação na coleta de dados para o diagnóstico e intervenção 
nas difi culdades de aprendizagem apresentadas por seus clientes. 
A psicopedagogia 
é uma área única 
do conhecimento 
e que abrange 
algumas 
ramifi cações, 
relacionadas aos 
campos de atuação 
do psicopedagogo.
22
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
O olhar clínico em psicopedagogia é o olhar que tem por objetivo 
compreender como o sujeito aprende, na sua relação com os 
outros sujeitos, com a cultura, com sua história e com os objetos de 
aprendizagem. Este olhar envolve o sujeito como um todo e tenta 
perceber como faz para evitar ou superar suas difi culdades em relação 
à aprendizagem.
De acordo com Fernández (2001a), o termo “psicopedagogia 
clínica” foi utilizado pela primeira vez na década de 1970, pela 
psicopedagoga argentina Blanca Tarnopolsky. Esse enfoque 
passou a reconhecer a existência de fenômenos inconscientes 
e da transferência, ambos os conceitos utilizados pela teoria da 
psicanálise. Para ela, “[...] isso signifi cou um giro de grande importância sobre o 
questionamento de reeducação psicopedagógica que, em geral, está só a serviço 
da exigência de uma adaptação mecanicista” (FERNÁNDEZ, 2001a, p. 49).
• Inconsciente: área do psiquismo que não é acessível à 
consciência do indivíduo. De acordo com a concepção da 
psicanálise, no inconsciente se encontram conteúdos que foram 
reprimidos. O acesso ao inconsciente se abrede preferência 
através de sonhos, atos falhos e sintomas neuróticos.
• Transferência: conceito da psicanálise: processo em grande 
parte inconsciente pelo qual se revivem, nas relações atuais, 
afetos e desejos referentes a relações anteriores (sobretudo 
experiências infantis) dirigidas a objetos (sobretudo pessoas). 
A transferência representa, no âmbito da relação paciente-
terapeuta, um dos meios mais importantes para tornar 
conscientes confl itos inconscientes.
Fonte: Extraído de Brunner e Zeltner (1994).
A postura clínica deve fazer parte do psicopedagogo e de suas ferramentas 
teóricas e deve ser utilizada independente de onde ele estiver trabalhando: seja 
numa escola, num consultório, num hospital ou numa faculdade. Entendemos 
então que, o adjetivo “clínica” faz referência a uma postura, a uma ética e a um 
modo de investigar as situações e de intervir.
Para encerrar esta seção, vamos retomar o questionamento feito 
anteriormente: seria a “psicopedagogia clínica” e a “clínica psicopedagógica” a 
O olhar clínico em 
psicopedagogia 
é o olhar que 
tem por objetivo 
compreender como 
o sujeito aprende, 
na sua relação com 
os outros sujeitos, 
com a cultura, 
com sua história e 
com os objetos de 
aprendizagem.
23
A HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA: 
UMA PRÁTICA EM CONSTRUÇÃOCapítulo 1
mesma coisa? A resposta é NÃO. Na maioria das vezes, estes dois termos são 
utilizados como sinônimos, mas você já compreendeu que a “psicopedagogia clínica” 
refere-se a uma postura ética, a uma forma de conduzir o trabalho psicopedagógico, 
independente do local de atuação. A “clínica psicopedagógica” refere-se a atuação 
psicopedagógica no espaço clínico, no consultório, sendo portanto, o espaço de 
trabalho do psicopedagogo.
O que entendemos por intervenção psicopedagógica clínica
A intervenção psicopedagógica clínica é muito diferente da 
reeducação, já que esta última tende a corrigir e remediar. Assim, 
muitas crianças são submetidas a métodos reeducativos que tentam 
uma “ortopedia mental” como se fosse possível colocar “próteses 
cognitivas”.
O fracasso escolar ou problema de aprendizagem deve ser 
sempre um enigma a ser decifrado que não deve ser calado, 
mas escutado. Desse modo, quando o “não sei” aparece como 
principal resposta, podemos perguntar-nos o que é que não está 
permitido saber.
Nossa escuta não se dirige aos conteúdos não-aprendidos, nem 
aos aprendidos, nem às operações cognitivas não-logradas ou logradas, 
nem aos condicionantes orgânicos, nem aos inconscientes, mas às 
articulações entre essas diferentes instâncias.
Não se situa no aluno, nem no professor, nem na sociedade, 
nem nos meios de comunicação como ensinantes, mas nas múltiplas 
relações entre eles.
Fonte: Fernández (2001b, p. 38).
Atividade de Estudos: 
1) Neste capítulo, apresentamos vários conceitos importantes para 
o trabalho psicopedagógico. Volte ao texto, leia novamente estes 
conceitos, elabore-os e reescreva-os utilizando-se das suas 
palavras:
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Teoria e prática da psicopedagogia clínica
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Algumas ConsideraçÕes
Este primeiro capítulo tem um caráter um pouco mais teórico, mas é 
de fundamental importância para que você possa compreender a prática da 
psicopedagogia clínica. Todos os conceitos que aqui foram apresentados e 
discutidos estarão presentes ao longo desta disciplina e você, aluno, deve 
ter clareza desse referencial. Ressalto a importância da compreensão de 
determinadas teorias, pois serão elas que orientarão a nossa prática futura.
Como estudante da psicopedagogia, futuro profi ssional psicopedagogo que 
trabalhará com a aprendizagem, você precisa estar sempre atento e refl etir sobre 
como se dá a sua própria aprendizagem. Como foi o seu processo de aprender 
ao longo deste capítulo? Com quais sentimentos você se deparou: angústia, 
medo, insegurança, gratifi cação, prazer? Quais as estratégias você utilizou para 
melhor fi xar tantas informações? Durante o nosso trabalho, é importante que estes 
questionamentos estejam presentes para que você possa se conhecer melhor. 
Não podemos mediar a aprendizagem de outras pessoas se não conseguimos 
compreender a nossa própria. Portanto, fi que atento e se observe...
No próximo capítulo abordaremos o processo do diagnóstico psicopedagógico 
clínico, suas características, as etapas para a realização deste, os instrumentos 
utilizados durante esse processo, bem como as diferentes abordagens que 
fundamentam a investigação psicopedagógica.
25
A HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA: 
UMA PRÁTICA EM CONSTRUÇÃOCapítulo 1
Referências
BOSSA, Nádia A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 
Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011.
BRUNNER e ZELTNER. Dicionário de psicopedagogia e psicologia 
educacional. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
CORDIÉ, Anny. Os atrasados na existem: psicanálise de crianças com fracasso 
escolar. Porto Alegre: Artmed, 1996.
FERNÁNDEZ, Alicia. O saber em jogo: a psicopedagogia propiciando autorias 
de pensamento. Porto Alegre: Artmed, 2001a.
______. Os idiomas do aprendente: análise das modalidades ensinantes com 
famílias, escolas e meios de comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2001b.
MERY, Janine. Pedagogia curativa escolar e psicanálise. Porto Alegre: Artmed, 
1985.
26
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
CAPÍTULO 2
O Processo de Investigação Clínica: 
O Diagnóstico Psicopedagógico
A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
  Conhecer as diversas abordagens que fundamentam o diagnóstico 
psicopedagógico.
  Caracterizar as etapas do diagnóstico psicopedagógico clínico.
  Identifi car os principais instrumentos utilizados no diagnóstico psicopedagógico.
  Relacionar as etapas do diagnóstico psicopedagógico, bem como os 
instrumentos utilizados neste processo com o caso apresentado.
  Elaborar o relatório do diagnóstico psicopedagógico a partir da análise dos 
dados apresentados.
28
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
29
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
ConteXtualiZação
Você deve estar lembrado, conforme vimos no capítulo anterior, que a 
psicopedagogia busca encontrar soluções para os problemas de aprendizagem. 
E você já parou para pensar como se dá essa busca? Que instrumentos o 
psicopedagogo utiliza para tal fi m? É justamente este o objetivo principal deste 
capítulo: demonstrar e aprofundar os conhecimentos acerca de todo o processo 
do diagnóstico psicopedagógico.
Num primeiro momento, iremos discutir sobre as diferentes abordagens 
teóricas que embasam os procedimentos do diagnóstico psicopedagógico. Em 
seguida, abordaremos todas as etapas para a realização desse diagnóstico, desde 
o primeiro contato telefônico até a elaboração do relatório fi nal. Posteriormente, 
apresentaremos todos os instrumentos que poderão ser utilizados em cada uma 
das etapas do diagnóstico. Dando continuidade, iremos conhecer como se elabora 
o relatório do diagnóstico psicopedagógico a partir da análise de todos os dados 
coletados durante esse processo. E, fi nalmente, apresentaremos um caso, onde o 
passo-a-passo de diagnóstico psicopedagógico estará presente, com objetivo de 
tornar mais concreto todo o conhecimento apresentado até então. 
Acharam muito conteúdo? Com toda certeza... Porém, todo este conteúdo 
éfundamental para a prática psicopedagógica clínica. Nenhuma intervenção 
psicopedagógica pode surtir o resultado desejado, sem que se tenha realizado um 
bom diagnóstico, com uma correta interpretação dos resultados obtidos. Portanto, 
temos sim, muito estudo pela frente. E espero, que quando você, aluno, chegar 
ao fi nal desse capítulo, possa sentir-se seguro para realizar um diagnóstico 
psicopedagógico. Vamos começar?
As Diferentes Abordagens 
UtiliZadas no Processo do 
Diagnóstico Psicopedagógico
Para introduzir este capítulo, antes de partimos para as diversas abordagens 
que embasam o processo do diagnóstico psicopedagógico, é muito importante 
que tenhamos clareza sobre alguns conceitos. Em primeiro lugar, o que queremos 
dizer quando falamos em diagnóstico? E diagnóstico psicopedagógico? O que 
signifi cam estes termos?
30
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
De acordo com o “Dicionário de psicopedagogia e psicologia 
educacional”, de Brunner e Zeltner (2000, p. 77 e 78), diagnóstico 
é o resultado de exames psicológicos e médicos. Após aplicação de 
métodos diagnósticos, por exemplo, questionários e testes, torna-se 
possível fazer uma avaliação sobre a existência e a extensão de 
um comportamento desviante ou de uma enfermidade. Além disso, 
deve ser descoberta, enquanto possível, a causa da perturbação ou 
da enfermidade. Um diagnóstico pode ser expresso, por exemplo, 
da seguinte forma: “Estado depressivo ocasionado pela morte 
do parceiro”. O diagnóstico é a base principal para o subsequente 
aconselhamento ou tratamento.
Diagnóstico designa também o exame de questões circunscritas 
na área da medicina, psicologia ou pedagogia por meio de métodos 
diagnósticos. Ao mesmo tempo, o diagnóstico abrange uma área 
especial da psicologia que se ocupa com a teoria e a prática da 
aplicação de métodos diagnósticos. Na psicologia se empregam, 
sobretudo, questionário, observação e aplicação de testes, como o de 
pessoalidade, de desempenho e de desenvolvimento. O diagnóstico se propõe o 
seguinte, entre outras coisas:
1. identifi cação do distúrbio;
2. explicação das causas (nosologia);
3. verifi cação das reações das pessoas frente ao distúrbio;
4. diferenciações entre distúrbios orgânicos e funcionais;
5. elaboração de um prognóstico sobre possibilidades de tratamento e;
6. estabelecimento de bases para o aconselhamento ou tratamento.
Diagnóstico Psicopedagógico
A partir do conceito de diagnóstico, será que você consegue inferir o conceito 
de diagnóstico psicopedagógico? Vamos tentar?
Em primeiro lugar, é importante que você, aluno, tenha muito claro que o 
termo diagnóstico, para a psicopedagogia, não signifi ca que o psicopedagogo 
está habilitado para emitir laudos com diagnósticos fechados. Para nós, da 
psicopedagogia, o diagnóstico refere-se a avaliação diagnóstica que compreenderá 
o levantamento de dados ou hipóteses avaliativas. A partir destas hipóteses, 
Diagnóstico 
é o resultado 
de exames 
psicológicos e 
médicos.
31
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
caso haja necessidade, o psicopedagogo pode estabelecer parcerias 
com outros profi ssionais, como neurologistas ou psicólogos, que nos 
amparam na busca de um melhor diagnóstico avaliativo.
O diagnóstico psicopedagógico pode ser entendido como um 
processo contínuo, no qual é analisada a situação do aprendente dentro 
do contexto escolar, familiar e social. Esta análise deverá estar embasada 
nos funda-mentos teóricos, e na utilização de atividades e instrumentos 
específi cos e terapêuticos. Através do olhar e da escuta psicopedagógica, 
numa postura clínica, o profi ssional deverá envolver o aprendiz, os pais e 
a escola, e levantar dados sobre como os fatos ocorreram.
De acordo com Sampaio (2012, p. 17), 
O diagnóstico psicopedagógico clínico tem como 
objetivo identifi car as causas dos bloqueios que se apresentam 
nos sujeitos com difi culdades de aprendizagem. Estes 
bloqueios apresentam-se por meio de sintomas que podem se 
manifestar de diferentes maneiras: baixo rendimento escolar, 
agressividade, falta de concentração, agitação, etc.
O sintoma é o que pode ser percebido pelo próprio indivíduo 
ou pelos outros (familiares, professores, colegas). Todo o sintoma 
está relacionado ao signifi cado que a problemática da difi culdade 
de aprendizagem tem para o sujeito. Um sintoma é um sinal, um 
indício de que algo não vai bem com aquele sujeito, por isso, para 
compreendermos, precisamos recorrer à sua história pessoal. Muitas 
vezes, um sintoma pode ser da ordem do inconsciente.
Para que você compreenda melhor o que representa um 
diagnóstico psicopedagógico, podemos fazer uma analogia com um 
trabalho de investigação. O psicopedagogo seria um detetive a procura 
de pistas que o auxiliem na descoberta do que está por trás das queixas 
e dos sintomas presentes no caso.
Para Weiss (1994) todo o diagnóstico psicopedagógico é uma 
investigação, uma pesquisa sobre o que não vai bem com o sujeito 
em relação ao que é esperado na sua aprendizagem. Ainda para esta 
autora, a investigação não pretende rotular o sujeito, mas sim obter 
uma compreensão global da sua forma de aprender e do que está 
difi cultando este processo.
Todo o diagnóstico 
psicopedagógico é 
uma investigação, 
uma pesquisa 
sobre o que não vai 
bem com o sujeito 
em relação ao que 
é esperado na sua 
aprendizagem.
Diagnóstico 
psicopedagógico 
é analisada a 
situação do 
aprendente dentro 
do contexto escolar, 
familiar e social.
O profi ssional 
deverá envolver o 
aprendiz, os pais e 
a escola, e levantar 
dados sobre como 
os fatos ocorreram.
32
Teoria e prática da psicopedagogia clínica
Realizar um diagnóstico é como montar um grande quebra-
cabeças, pois, à medida que se encaixam as peças, vai se 
descobrindo o que está por trás destes sintomas. As peças 
serão oferecidas pela família, pela escola e pelo próprio 
sujeito, entretanto a maneira de montá-las só depende do 
psicopedagogo e, para que este tenha um bom resultado, 
precisa levar em conta os aspectos objetivos e subjetivos 
observados nos diversos âmbitos: cognitivo, familiar, 
pedagógico e social (SAMPAIO, 2012, p. 17).
Fernández (1991), afi rma que o diagnóstico deve ter a função de dar suporte 
ao psicopedagogo, para que este faça todos os encaminhamentos necessários, 
assim como uma rede dá o suporte para um equilibrista. Destaca ainda, ser um 
processo que permite ao profi ssional investigar, levantar hipóteses provisórias 
que serão ou não confi rmadas ao longo do processo. Para ela, o diagnóstico está 
relacionado a conhecimentos práticos e teóricos.
Atividade de Estudos: 
1) A partir do que foi estudado até agora, elabore, com as suas 
palavras, o conceito de: Diagnóstico e Diagnóstico Psicopedagogo.
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Cabe aqui ressaltar que “o sucesso de um diagnóstico não reside no grande 
número de instrumentos utilizados, mas na competência e sensibilidade do 
terapeuta em explorar a multiplicidade de aspectos revelados em cada situação” 
(WEISS, 1994, p.16).
Gostaria de lembrá-los que muitos profi ssionais também utilizam o termo 
avaliação psicopedagógica para referir-se ao diagnóstico psicopedagógico, por 
considerarem que o termo diagnóstico tem uma forte conotação médica, centrado 
na classifi cação de doenças e que o termo avaliação estaria mais ligado à área 
educacional. Porém, na nossa disciplina, considero que ambos os termos estão 
corretos e podem ser utilizados como sinônimos.
33
O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃOCLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
Abordagens Que Embasam o 
Diagnóstico Psicopedagógico
Retomando ao que já vimos no primeiro capítulo deste caderno 
de estudo, a psicopedagogia é uma área de caráter multidisciplinar, 
constituída pelo saber de várias outras áreas. Este corpo teórico que 
embasa o fazer psicopedagógico, acabou constituindo os diferentes 
caminhos que possibilitam a realização do diagnóstico psicopedagógico. 
Dito de outra maneira, o profi ssional psicopedagogo irá optar por uma 
abordagem que indicará o caminho a ser seguido. Tal abordagem está 
fundamentada em uma ou outra abordagem teórica que servirá como 
pano de fundo para o seu fazer (BOSSA, 2011).
No quadro a seguir, apresentarei todas as teorias que fundamentam o fazer 
psicopedagógico:
Quadro 2 – As teorias que fundamentam a psicopedagogia
TEORIA CONTRIBUIÇÃO
Psicanálise
A Psicanálise encarrega-se do mundo inconsciente, das representações 
profundas, operantes através da dinâmica psíquica que se expressa por 
sintomas e símbolos, permitindo-nos levar em conta a face desejante do 
homem.
Psicologia Social
A Psicologia Social encarrega-se da constituição dos sujeitos, que res-
pondem a relações familiares, grupais e institucionais, em condições 
socioculturais e econômicas específicas e que contextualizam toda a 
aprendizagem.
Epistemologia e 
Psicologia Genética
A Epistemologia e a Psicologia Genética se encarregam de analisar e 
descrever o processo construtivo do sujeito cognoscente em interações 
com os outros e com objetos.
Linguística
A Linguística traz a compreensão da linguagem como um dos meios 
que caracterizam o sujeito como tipicamente humano e cultural: a língua 
enquanto código disponível a todos os membros da sociedade e a fala 
como fenômeno subjetivo, evolutivo e de acesso a toda estrutura simbólica.
Pedagogia
A Pedagogia contribui com as diversas abordagens do processo ensino-
-aprendizagem, da didática e das diversas metodologias, analisando-as do 
ponto de vista de quem ensina e de quem aprende.
Neuropsicologia
Os fundamentos na Neuropsicologia possibilitam a compreensão dos 
mecanismos cerebrais que subjazem ao aprimoramento das atividades 
mentais, indicando-nos a que correspondem, do ponto de vista orgânico, 
todas as alterações ocorridas.
Fonte: Bossa (2011).
Este corpo teórico 
que embasa o fazer 
psicopedagógico, 
acabou constituindo 
os diferentes 
caminhos que 
possibilitam a 
realização do 
diagnóstico 
psicopedagógico.
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Teoria e prática da psicopedagogia clínica
Decorrentes dessa diversidade de campos teóricos, surgiram 
diferentes possibilidades de atuação e “caminhos” a serem trilhados, 
que embasam a ação psicopedagógica, durante o processo diagnóstico 
ou de avaliação. Os caminhos mais conhecidos e utilizados entre os 
psicopedagogos são propostos por:
• Maria Lúcia Weiss;
• Transtorno da clínica psicológica – segue o modelo médico;
• Epistemologia Convergente - Jorge Visca;
• Edith Rubinstein;
• Sara Pain / Alícia Fernandez.
Vamos conhecer, a seguir, cada um desses modelos?
a) Sequência diagnóstica proposta por Weiss (1994):
Este primeiro modelo, proposto por Maria Lúcia Weiss, é apresentado no livro 
“Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica”. Nele, a autora faz um recorte de 
como os aspectos que levam um sujeito ao histórico de fracasso escolar, podem 
ser detectados através do diagnóstico psicopedagógico. Apresentaremos, a 
seguir, a sequência proposta por ela.
1º Entrevista Familiar Exploratória Situacional (E.F.E.S.) (WEISS, 1994)
Nessa entrevista o psicopedagogo reúne-se com os pais e com a criança 
ou adolescente para uma sessão conjunta, com duração de 50 minutos 
aproximadamente.
A E.F.E.S. tem como objetivos a compreensão da queixa 
nas dimensões familiar e escolar, a captação das relações e 
expectativas familiares centradas na aprendizagem escolar, a 
expectativa em relação à atuação do terapeuta, a aceitação e o 
engajamento do paciente e seus pais no processo diagnóstico 
e o esclarecimento do que é um diagnóstico psicopedagógico 
(WEISS, 1994, p. 36).
Para esta entrevista, é necessário que exista um clima de confi ança 
para que haja liberdade de informações e sentimentos. O foco principal 
é o momento presente. O registro fi el do que foi falado também é muito 
importante, para que o terapeuta, em outro momento, possa analisar 
tudo o que foi dito.
É necessário que 
exista um clima 
de confi ança para 
que haja liberdade 
de informações e 
sentimentos.
Diferentes 
possibilidades 
de atuação e 
“caminhos” a serem 
trilhados.
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O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
2º Anamnese (WEISS, 1994)
Essa entrevista tem o objetivo de colher os dados importantes 
e signifi cativos sobre a história de vida do sujeito. Ela possibilita a 
integração das dimensões de passado, presente e futuro do paciente. 
Normalmente é realizada com os pais, mas quando outra pessoa 
(avó, babá, madrinha etc) também acompanhou e participou do 
desenvolvimento da criança, é importante que ela se faça presente, 
sempre que possível. 
3º Sessões Lúdicas centradas na aprendizagem (para crianças) (WEISS, 1994)
Essa sessão tem o objetivo de obter dados sobre os aspectos 
afetivos para a aprendizagem, tais como: exploração do novo, 
criatividade, vinculação com os objetos, modalidade de aprendizagem. 
Além disso, também favorece a interação e a vinculação paciente/
terapeuta.
4º Complementação com provas e testes (WEISS, 1994)
Este momento compreende várias sessões (de 3 a 4 sessões) que 
serão destinadas a realização de provas e testes específi cos para o 
diagnóstico psicopedagógico. Eles serão selecionados de acordo com 
a necessidade e com as hipóteses levantadas nas sessões anteriores.
5º Síntese Diagnóstica – Prognóstico (WEISS, 1994)
Este é o momento em que o profi ssional deve debruçar-se sobre 
todo o material colhido durante as sessões com o paciente e com 
as entrevistas e analisá-los criteriosamente. É o momento em que 
faz a análise de toda a problemática para, em seguida, se chegar às 
conclusões pertinentes ao caso.
6º Devolução - Encaminhamentos (WEISS, 1994)
A devolução é uma comunicação verbal feita ao fi nal de toda a 
avaliação em que o psicopedagogo relata aos pais e ao paciente os 
resultados obtidos ao longo de todo o processo. Esse encontro pode 
ser realizado em conjunto (pais e paciente) ou em momentos separados, 
de acordo com cada caso em específi co. Neste encontro também são 
dadas as orientações necessárias e são feitos os encaminhamentos para 
outros profi ssionais, quando houver necessidade.
Objetivo de 
colher os dados 
importantes e 
signifi cativos sobre 
a história de vida 
do sujeito.
Objetivo de obter 
dados sobre 
os aspectos 
afetivos para a 
aprendizagem.
Serão selecionados 
de acordo com 
a necessidade e 
com as hipóteses 
levantadas nas 
sessões anteriores.
Faz a análise de 
toda a problemática 
para, em seguida, 
se chegar às 
conclusões 
pertinentes ao 
caso.
Relata aos pais 
e ao paciente os 
resultados obtidos 
ao longo de todo o 
processo.
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Teoria e prática da psicopedagogia clínica
Para você conhecer melhor a sequência diagnóstica proposta 
por Weiss, leia o livro:
 WEISS, Maria Lucia L. Psicopedagogia Clínica: uma visão 
diagnóstica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
Lá a autora descreve detalhadamente e com vários exemplos, 
cada uma das etapas do diagnóstico. Vale a pena ler!
b) Sequência Diagnóstica Tradicional – Modelo Médico
O modelo diagnóstico tradicional, segue o modelo médico, com a sequência 
de passos propostos pela medicina. Este foi um dos primeiros modelos utilizados 
na psicologia clínica e também na psicopedagogia.
1º Anamnese
É o momento em que o profi ssional vai entrar em contato com a 
situação e conhecer a história do sujeito. Participam desta entrevista, 
os pais e/ou algum responsável que conheça a história do paciente e 
possa repassar as informações importantes.
2º Testagem e provas pedagógicasEste momento acontece em várias sessões com o paciente, 
individualmente. Tem por objetivo conhecer a situação e tentar identifi car 
que áreas estão comprometidas, difi cultando o aprender. Busca 
compreender a causa da difi -culdade de aprendizagem.
3º Laudo
O momento do laudo é o momento em que o profi ssional elabora 
a síntese das suas conclusões, reunindo todas as informações 
importantes sobre o caso, para ser repassado à família. Esta etapa 
também abrange o momento do prognóstico, isto é, o momento em que 
o psicopedagogo traça o provável desenvolvimento futuro, baseando-
se no desempenho verifi cado a partir dos testes e das provas que 
foram aplicadas durante as sessões de diagnóstico.
Vai entrar em 
contato com 
a situação e 
conhecer a história 
do sujeito.
Tentar identifi car 
que áreas estão 
comprometidas, 
difi cultando o 
aprender.
O profi ssional 
elabora a 
síntese das suas 
conclusões, 
reunindo todas 
as informações 
importantes sobre 
o caso, para 
ser repassado à 
família.
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O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
4º Devolução 
A devolução é o momento da verbalização do laudo ao paciente e/
ou aos pais. Neste momento, são esclarecidas as dúvidas e discutido o 
prognóstico do caso em questão.
c) Sequeência Diagnóstica proposta pela Epistemologia Convergente
O modelo proposto pela Epistemologia Convergente foi, originalmente, 
pensado por Jorge Visca e difundido no Brasil, pelo próprio autor. Hoje, é um 
dos modelos mais utilizados pelos psicopedagogos brasileiros, pois possui 
uma fundamentação teórica bastante consistente. Visca baseou-se nas teorias 
psicanalítica, piagetiana e da psicologia social.
1º Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem - E.O.C.A. (VISCA, 1987)
Esta entrevista é utilizada como um instrumento que possibilita a 
sondagem da problemática da aprendizagem e auxilia o profi ssional 
a delinear o que mais necessita ser investigado. Normalmente se dá 
em uma única sessão. A partir deste momento, o profi ssional elabora 
o seu 1º sistema de hipóteses, defi ne as linhas de investigação e 
escolhe os instrumentos que irá utilizar para confi rmar, ou não, o seu 
1º sistema de hipóteses.
2º Testes (VISCA, 1987)
Neste momento, o psicopedagogo aplica os testes defi nidos na etapa 
anterior, da E.O.C.A. Não existe uma bateria de testes pré-defi nidos 
e fi xos, pois estes são defi nidos a partir de cada caso. O profi ssional 
pode levar várias sessões para concluir esta etapa. Elabora-se, então, 
o 2º sistema de hipóteses a partir do que foi levantado na testagem 
realizada e defi nem-se novas linhas de investigação sobre o caso.
3º Anamnese (VISCA, 1987)
Este modelo propõe que a anamnese seja uma entrevista aberta, 
ou seja, não dirigida; e situacional, isto é, que leve em consideração 
os fenômenos do passado e do presente. Neste modelo, a anamnese 
acontece ao fi nal das sessões com o paciente para que o profi ssional 
não se “contamine” com a história apresentada pelos pais e possa ser o 
mais neutro possível frente ao caso. Neste momento, o psicopedagogo 
irá verifi car o 2º sistema de hipóteses e formular o 3º sistema com as 
hipóteses que se mantiveram.
Momento da 
verbalização do 
laudo.
Que possibilita 
a sondagem da 
problemática da 
aprendizagem 
e auxilia o 
profi ssional a 
delinear o que 
mais necessita ser 
investigado.
Aplica os testes 
defi nidos na etapa 
anterior.
Anamnese seja 
uma entrevista 
aberta, ou seja, 
não dirigida; e 
situacional, isto 
é, que leve em 
consideração os 
fenômenos do 
passado e do 
presente.
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Teoria e prática da psicopedagogia clínica
4º Elaboração do Informe Psicopedagógico (VISCA, 1987)
É o momento em que se elabora a imagem do sujeito que 
articula os aspectos da aprendizagem com os aspectos estruturais e 
emocionais que a condicionam. Essa imagem é repassada aos pais e 
a escola e é a partir dela que se inicia o processo corretor.
Para você conhecer mais sobre a Epistemologia Convergente, 
teoria proposta por Jorge Visca, poderá consultar o livro:
 VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica: epistemologia conver- 
gente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.
Neste livro você encontrará a fundamentação teórica e a 
explicação detalhada de cada um dos momentos propostos acima.
d) Sequência Diagnóstica proposta por Rubinstein
Edith Rubinstein, uma das precursoras da psicopedagogia no Brasil e 
uma grande mestra, também trouxe a sua contribuição sobre o diagnóstico 
psicopedagógico. Para ela, “[...] no diagnóstico psicopedagógico pretende-
se diagnosticar as condições de aprendizagem do aprendiz.” (RUBINSTEIN, 
1999, p. 130).
1º Entrevista com a Família (RUBINSTEIN, 1999)
Este modelo propõe que a entrevista com a família se dê em três momentos 
distintos. Estes momentos são:
• Contatos anteriores a consulta – são os primeiros contatos 
realizados pela família e podem ser via telefone, internet ou mensagem.
• Escuta do motivo da consulta – primeiro contato presencial com 
a família na qual o profi ssional vai escutar o motivo pelo qual estão 
buscando o trabalho psicopedagógico.
• História vital ou anamnese – seria o momento da anamnese 
propriamente dita, onde o profi ssional irá escutar a história do sujeito.
Contatos anteriores 
a consulta, Escuta 
do motivo da 
consulta e História 
vital ou anamnese.
Elabora a imagem do 
sujeito que articula 
os aspectos da 
aprendizagem com os 
aspectos estruturais 
e emocionais que a 
condicionam.
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O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
2º Entrevista com o sujeito (RUBINSTEIN, 1999)
Esta segunda etapa é quando acontecem todos os encontros com o paciente, 
normalmente de 6 a 8 encontros. Este modelo propõe que as sessões sejam 
divididas em três fases:
• Escuta do motivo da consulta – acontece quando o psicopedagogo 
vai escutar do próprio paciente o motivo da procura pelo atendimento 
psicopedagógico.
• Instrumentos escolhidos pelo psicopedagogo com base nas 
necessidades do sujeito – é o momento da aplicação das provas e 
testes selecionados.
• Devolutiva ao sujeito – momento em que o psicopedagogo 
irá conversar individualmente com o sujeito e apontar suas 
potencialidades, seu estilo de aprendizagem e suas habilidades.
3º Contato com a escola (RUBINSTEIN, 1999)
Este é um momento prévio ao fi nalizar, em que o psicopedagogo 
entra em contato com a escola e escuta os professores do aluno em 
questão, sobre as suas queixas escolares.
4º Contato com outros profi ssionais (RUBINSTEIN, 1999)
Posterior e logo em seguida ao contato com a escola, o 
psicopedagogo também entra em contato, para trocar informações, com 
os outros profi ssionais envolvidos no caso (psicólogo, fonoaudiólogo, 
psiquiatra, médico pediatra ou neuropediatra etc). 
5º Devolutiva e encaminhamentos à família (RUBINSTEIN, 1999)
No último momento, após ter conversado e escutado todos os 
outros profi ssionais e professores envolvidos no caso, o psicopedagogo 
conversa com a família para dar a devolutiva do que foi avaliado e fazer 
os encaminhamentos necessários.
e) Sequência Diagnóstica proposta por Pain / Fernández (1992)
A sequência diagnóstica proposta, originalmente, por Sara Pain e, mais tarde, 
complementada por Alícia Fernández, baseou-se nos pressupostos da psicanálise e 
da psicologia genética de Piaget. Para esta proposta, a aprendizagem é o resultado 
da utilização dos aspectos orgânicos, cognitivos, afetivos e culturais (PAIN, 1992). 
Escuta do motivo 
da consulta.
Instrumentos 
escolhidos pelo 
psicopedagogo 
com base nas 
necessidades do 
sujeito.
Devolutiva ao 
sujeito.
O psicopedagogo 
entra em contato 
com a escola 
e escuta os 
professores.
Trocar informações, 
com os outros 
profi ssionais 
envolvidos no caso.
Conversa com a 
família para dar 
a devolutiva do 
que foi avaliado 
e fazer os 
encaminhamentos 
necessários.
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Teoria e prática da psicopedagogia clínica
1º Entrevista de “motivo da consulta” (PAIN, 1992)
Este primeiro momentoé quando o psicopedagogo recebe a 
queixa que a família traz sobre o paciente e explora o que esta queixa 
signifi ca. O profi ssional pode pedir que a família descreva alguma 
situação que fi que evidenciado o que está sendo exposto. Esta 
entrevista “motivo da consulta” também é feita com o paciente.
2º Entrevista “História Vital” (PAIN, 1992)
É o momento em que o psicopedagogo escuta toda a família, 
inclusive os irmãos, sobre a situação “problema de aprendizagem” e 
investiga a história do paciente. Tenta também compreender o lugar 
do sintoma do não-aprender para este grupo familiar.
3º Sessão “Hora do Jogo” (PAIN, 1992)
A “hora do jogo” é utilizada para compreender alguns processos 
que podem ter levado ao surgimento de patologias no aprender. 
Este modelo vê o espaço de aprendizagem e o espaço de jogar 
como coincidentes. Normalmente esse momento é realizado em um 
encontro com o paciente individualmente.
4º Provas Psicométricas (PAIN, 1992)
É o momento em que o psicopedagogo irá fazer uso de alguns 
testes e provas para avaliar as questões intelectuais como, por 
exemplo, a utilização do Diagnóstico Operatório de Piaget (D.O.P.). 
Essas provas oferecem uma visão do sujeito em função do rendimento 
apresentado e do comportamento apresentado.
5º Provas Projetivas (PAIN, 1992)
É o momento em que utilizamos o desenho como um instrumento 
para o diagnóstico psicopedagógico com o objetivo de verifi car 
quais as situações que o sujeito projeta no seu desenho e quais os 
conteúdos estão presentes aí. Estas provas tentam desvendar como 
o sujeito se vê enquanto aprendente e qual a relação que estabelece 
com a aprendizagem.
6º Provas Específi cas (PAIN, 1992)
O momento da utilização das provas específi cas tem como 
objetivo identifi car o nível de conhecimento que o sujeito possui. 
O psicopedagogo 
recebe a queixa que 
a família traz sobre 
o paciente e explora 
o que esta queixa 
signifi ca.
É o momento em que 
o psicopedagogo 
escuta toda a família.
Sobre a situação 
“problema de 
aprendizagem” e 
investiga a história 
do paciente.
Compreender alguns 
processos que 
podem ter levado 
ao surgimento 
de patologias no 
aprender.
Uso de alguns 
testes e provas para 
avaliar as questões 
intelectuais.
Desenho como 
um instrumento 
para o diagnóstico 
psicopedagógico 
com o objetivo de 
verifi car quais as 
situações que o 
sujeito projeta no 
seu desenho e quais 
os conteúdos estão 
presentes aí.
Tem como objetivo 
identifi car o nível de 
conhecimento que o 
sujeito possui.
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O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
Normalmente, são avaliadas as áreas de leitura, escrita, cálculo e, 
quando necessário, algumas provas psicomotoras.
7º Hipótese Diagnóstica (PAIN, 1992)
É o momento em que o psicopedagogo reúne todo o material 
produzido pelo paciente e o analisa, bem como realiza a análise das 
entrevistas e da “hora do jogo”. Desta análise, o psicopedagogo levanta 
hipóteses sobre os motivos da difi culdade e busca compreender o 
sintoma do não-aprender.
8º Devolução Diagnóstica (PAIN, 1992)
É o momento em que o psicopedagogo “devolve” à família o que 
vem a ser a difi culdade de aprendizagem do paciente e resgata a 
queixa inicial trazida na primeira entrevista. 
Para que você possa se aprofundar neste modelo diagnóstico, 
sugiro a leitura de dois livros básicos e de leitura obrigatória para 
todo psicopedagogo. São eles:
 PAIN, Sara. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de 
Aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
 FERNÁNDEZ, Alicia. A Inteligência Aprisionada: abordagem 
psicopedagógica clínica da criança e sua família. Porto Alegre: 
Artes Médicas, 1991.
Quanta informação, não é mesmo? Que tal organizarmos estes 
novos conhecimentos? Então, mãos à obra...
Atividade de Estudos: 
1) Proponho que você complete a tabela abaixo com cada 
um dos momentos propostos pelos modelos de diagnóstico 
psicopedagógico estudados anteriormente.
O psicopedagogo 
levanta hipóteses 
sobre os motivos 
da difi culdade e 
busca compreender 
o sintoma do não-
aprender.
O psicopedagogo 
“devolve” à família 
o que vem a ser 
a difi culdade de 
aprendizagem do 
paciente e resgata 
a queixa inicial 
trazida na primeira 
entrevista.
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Teoria e prática da psicopedagogia clínica
SEQUÊNCIA DIAGNÓSTICA
MOMENTOS
Proposta de 
Weiss
Modelo 
Médico 
Tradicional
Proposta da 
Epistemologia 
Convergente
Proposta de 
Rubinstein
Proposta 
de Pain e 
Fernández
1º momento
2º momento
3º momento
4° momento
5º momento
6º momento
7º momento
8º momento
De acordo com o que estudamos até agora, você pôde conferir que o 
profi ssional da área da psicopedagogia dispõe de diferentes possibilidades que 
nortearão a realização do diagnóstico. Mas, vale lembrar que, independente da 
sua futura escolha, aluno, é importante que o seu “fazer psicopedagógico” seja 
sempre pautado numa postura ética para com o sujeito aprendente. 
Na próxima sessão deste capítulo, vamos conhecer e estudar cada uma 
das etapas que compõe a realização do diagnóstico avaliativo. Espero que esse 
estudo seja muito proveitoso!
Etapas do Diagnóstico Avaliativo
Você já sabe que a realização de um bom diagnóstico é de grande 
relevância para todo o processo de intervenção psicopedagógica, não 
é mesmo? Já estudou também que existem vários caminhos possíveis 
para a realização deste diagnóstico, e que essa escolha depende da 
postura teórica adotada e da concepção que o profi ssional mais se 
identifi ca. É importante aqui ressaltar que as diferenças existentes 
entre uma ou outra abordagem e o modelo de diagnóstico escolhido, 
não devem alterar o resultado da avaliação, porém é preciso que o profi ssional 
acredite na linha que escolheu e se aprofunde nesta abordagem.
A partir de agora, detalharemos cada uma das etapas do diagnóstico 
psicopedagógico, para que você, aluno, consiga compreender e aplicar cada 
uma delas.
Queixa fundamental 
a difi culdade de um 
de seus membros 
diante da sua 
aprendizagem.
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O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: 
O DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICOCapítulo 2
a) A queixa
Como já visto anteriormente, a procura pelo trabalho psicopedagógico 
acontece quando uma família tem como queixa fundamental a difi culdade de um 
de seus membros diante da sua aprendizagem, sendo, portanto, a aprendizagem 
e suas relações a porta de entrada para a compreensão do caso que se apresenta.
Durante a entrevista, na qual o profi ssional está explorando a queixa, é 
importante que ele fi que atento as diferentes formulações feitas pelos pais, pela 
escola e pelo próprio paciente em sua autovisão, para que sejam analisadas nos 
seus diferentes signifi cados. Nessas frases há diversas pistas que contribuem 
para o diagnóstico, trazendo à tona o signifi cado do sintoma da difi culdade no 
aprender. É importante que você perceba, aluno, que a “queixa” não é apenas uma 
frase falada no primeiro contato, ela precisa ser escutada ao longo das diferentes 
sessões, sendo fundamental refl etir sobre o seu signifi cado (WEISS, 1994).
 Durante a conversa para explorar a queixa, o psicopedagogo deve manter 
o foco no paciente e na sua problemática. Uma queixa nunca é isolada, existem 
todos os desdobramentos desta queixa e que devem ser apurados no momento 
do diagnóstico. 
Exemplos de queixas trazidas pelas famílias:
• Ele não faz nada na sala, não fi xa em nada, não presta atenção na aula.
• Lê bem, mas não consegue escrever. É ótimo na matemática, mas sempre foi 
mal em português.
• Vai sempre mal na escola, mas eu também era assim e hoje estou muito bem. 
Estou aqui porque a escola mandou.
Exemplos de queixas trazidas pelo próprio paciente:
• Erro na escrita porque faço muito rápido, não sei fazer devagar. Não gosto de 
ler livro. O que eu gosto mais é da aula de música. Não gosto de dividir, não 
sei conta de dividir.
• Estudo, na hora da prova dá nervoso e eu esqueço. Estou me esforçando. 
Nas matérias não vou nada bem. Não sei se vou conseguir resultado

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