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1 Cristian Porto – Tutoria – 6 º Semestre – Medicina SP 2.5 – DESDE CEDO OBJETIVOS ESPECÍFICOS 1. Estudar a classificação das leucemias; 2. Compreender a LMA (epidemiologia, fisiopatologia, fatores de risco, quadro clínico, diagnóstico e tratamento); 3. Compreender a LLA (epidemiologia, fisiopatologia, fatores de risco, quadro clínico, diagnóstico e tratamento); 4. Explicar a interpretação e indicação do mielograma; 5. Elucidar a indicação dos concentrados de plaquetas; 6. Entender as alterações hidroeletroliticas pós quimioterapia; 7. Entender o papel da equipe multiprofissional no suporte em pacientes com leucemia; 1. ESTUDAR A CLASSIFICAÇÃO DAS LEUCEMIAS ; As leucemias são agrupadas em quatro tipos principais: • Leucemia linfocítica aguda • Leucemia mieloide aguda • Leucemia linfocítica crônica • Leucemia mieloide crônica Os tipos são definidos de acordo com a rapidez do seu progresso e com o tipo e as características dos glóbulos brancos que se tornam cancerosos. As leucemias agudas progridem rapidamente e consistem em células imaturas. As leucemias crônicas progridem lentamente e consistem em células mais maduras. As leucemias linfocíticas se desenvolvem a partir de alterações cancerosas em linfócitos ou em células que normalmente produzem linfócitos. Sua forma pode ser aguda ou crônica. As leucemias mieloides (mielocíticas ou mielogênicas) se desenvolvem a partir de alterações cancerosas em células que normalmente produzem neutrófilos, basófilos, eosinófilos e monócitos. Sua forma pode ser aguda ou crônica. LLA Leucemia linfoblástica aguda (LLA) é o câncer pediátrico mais comum; também afeta adultos de todas as idades. A transformação maligna e a proliferação não controlada de uma célula progenitora hematopoiética de longa vida anormalmente diferenciada, resultam em alto número de blastos circulantes, substituição da medula normal por células malignas e potencial para infiltração leucêmica no SNC e testículos. Os sintomas são fadiga, palidez, infecção, dor óssea, sintomas do SNC (p. ex., cefaleia) hematoma fácil e sangramento. O exame do esfregaço do sangue periférico e da medula óssea fornece, geralmente, o diagnóstico. O tratamento tipicamente inclui uma combinação quimioterápica para alcançar a remissão, quimioterapia intratecal, quimioterapia e/ou corticoides para profilaxia do SNC e, às vezes, irradiação cerebral para nfiltração leucêmica intracerebral, quimioterapia de consolidação com ou sem transplante das células-tronco e manutenção da quimioterapia por até 3 anos para evitar recidiva. LMA Na leucemia mieloide aguda (LMA), a transformação maligna e a proliferação não controlada de uma célula progenitora mieloide de longa vida anormalmente diferenciada resultam em números circulantes altos das células sanguíneas imaturas e substituição da medula óssea por células malignas. Os sintomas incluem fadiga, palidez, hematomas fáceis e sangramento, febre e infecção; os sintomas de infiltração leucêmica extramedular estão presentes em apenas 5% dos pacientes (frequentemente com manifestações cutâneas). O diagnóstico é obtido por exame do esfregaço do sangue periférico e da medula óssea. O tratamento é feito com quimioterapia de indução para obter remissão e quimioterapia pós-remissão (com ou sem transplante de células-tronco) para evitar recidiva. LLC A leucemia linfocítica crônica (LLC) é caracterizada pelo acúmulo progressivo de linfócitos B malignos fenotipicamente maduros. Os locais primários da doença incluem sangue periférico, medula óssea, baço e linfonodos. Os sinais e sintomas podem estar ausentes ou podem incluir linfadenopatia, esplenomegalia, hepatomegalia, febre sudorese noturna, perda ponderal não intencional e saciedade precoce. O diagnóstico é por citometria de fluxo e imunofenotipagem do sangue periférico. O tratamento é adiado até que os sintomas se desenvolvam e geralmente envolve quimioterapia e imunoterapia. Mas os tratamentos estão evoluindo e os esquemas de primeira linha podem incluir agentes direcionados como inibidores da tirosina quinase de Bruton (Btk) e Bcl-2, com ou sem quimioterapia. 2 Cristian Porto – Tutoria – 6 º Semestre – Medicina LMC A leucemia mieloide crônica (LMC) ocorre quando a célula- tronco pluripotente sofre transformação maligna e mieloproliferação clonal, causando superprodução de granulócitos maduros e imaturos. Inicialmente assintomática, a progressão da leucemia mieloide crónica é insidiosa, com estádio “benigno” não específico (fraqueza, anorexia, perda ponderal), acaba abrindo caminho para uma fase acelerada ou blástica com sinais mais perigosos, como esplenomegalia, palidez, hematomas fáceis e sangramento, febre, linfadenopatia e alterações cutâneas. Esfregaço de sangue periférico, punção de medula óssea e demonstração de cromossomo Filadélfia são diagnósticos. O tratamento é com inibidores da tirosina quinase (TKI) como imatinibe, nilotinibe, bosutinibe e ponatinibe que melhoram de modo significativo a resposta e prolongam a sobrevida. Fármacos mielossupressores (p. ex., hidroxiureia), transplante de células-tronco e interferona-alfa também são às vezes utilizados. 2. COMPREENDER A LMA (EPIDEMIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, FATORES DE RISCO, QUADRO CLÍNICO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO); EPIDEMIOLOGIA O Instituto Nacional de Câncer (INCA) aponta que para cada ano, entre 2020 e 2022, sejam diagnosticados 10.810 novos casos de leucemias no Brasil, sendo 5.920 em homens e 4.890 em mulheres. A leucemia mieloide aguda é um dos tipos mais comuns de leucemia em adultos, mas mesmo assim é bem rara: o risco médio de alguém apresentar a doença durante a vida é de aproximadamente 1%. População mais atingida – a LMA pode atingir adultos ou crianças, mas é rara em pessoas com menos de 45 anos. A média de idade dos pacientes com a doença é de 68 anos. Mortalidade - segundo um estudo feito pelo Observatório de Oncologia, em dez anos (2008-2017) o Brasil teve cerca de 63 mil mortes por leucemias, sendo que 36% foram causadas pela LMA. FISIOPATOLOGIA Nesse caso, o clone neoplásico capaz de proliferar-se descontroladamente advém de uma linhagem mieloide, também apresentando o bloqueio de maturação que caracteriza as leucemias agudas e aprisiona as células malignas sob a forma de blastos. Como na LLA, a imensa maioria dos casos será idiopática, de novo, ainda que existam casos secundários, associados a fatores como exposição a benzeno, radiação ionizante ou quimioterápicos. Algumas vezes, o paciente desenvolve a LMA a partir de uma evolução clonal de outra doença mieloide: LMC, mielofibrose e mielodisplasias são algumas condições que classicamente podem se transformar em LMA a partir do acúmulo de mutações em precursores mieloides já doentes. É importante conhecer as alterações genéticas mais frequentes que influenciam as classificações. Entre elas temos as mutações NPM1, as duplicações internas em Tandem do gene FLT3 e duplicações parciais em Tandem do gene MLL. Semelhante à leucemia linfoblástica aguda, a causa da leucemia mieloide aguda é uma série de aberrações genéticas adquiridas. A malignização costuma ocorrer nas células-tronco pluripotentes, embora, de vez em quando, ocorra na célula-tronco diferenciada com capacidade mais limitada de autorrenovação. Proliferação anormal, expansão clonal, diferenciação aberrante e diminuição da apoptose (morte celular programada) levam à substituição dos elementos sanguíneos normais por células malignas. FATORES DE RISCO Existem poucos fatores de risco conhecidos para a leucemia mieloide aguda: • Idade. A leucemia mieloide aguda pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum à medida que as pessoas envelhecem. • Gênero. A leucemia mieloide aguda é maisfrequente em homens do que em mulheres, mas a razão para isso é desconhecida. • Tabagismo. O único fator de risco comprovado para a leucemia mieloide aguda relacionado ao estilo de vida é o tabagismo. Muitas pessoas sabem que o tabagismo está relacionado ao câncer de pulmão, boca, garganta e laringe, mas poucos sabem que também pode afetar as células que não entram em contato direto com a fumaça. 3 Cristian Porto – Tutoria – 6 º Semestre – Medicina As substâncias causadoras de câncer no fumo do tabaco são absorvidas pelos pulmões e se espalham através da corrente sanguínea para muitas partes do corpo. • Exposição a produtos químicos. A exposição a agentes quimioterápicos e determinados produtos químicos, incluindo benzeno, aumentam o risco de uma pessoa desenvolver leucemia mieloide aguda. O benzeno é um solvente usado na indústria da borracha, refinarias de petróleo, fábricas de produtos químicos, fabricação de sapatos e gasolina e também está presente na fumaça do cigarro, bem como algumas colas, produtos de limpeza, detergentes, material de arte e tintas. • Medicamentos quimioterápicos. Os pacientes tratados com determinados medicamentos quimioterápicos são mais suscetíveis de desenvolver leucemia mieloide aguda. Os agentes alquilantes e de platina estão ligados a um aumento no risco de leucemia mieloide aguda. Muitas vezes, o paciente terá síndrome mielodisplásica antes da leucemia mieloide aguda. Exemplos de agentes alquilantes incluem a ciclofosfamida, mecloretamina, procarbazina, clorambucil, melfalano, bussulfano, carmustina, cisplatina e carboplatina. Os inibidores de topoisomerase II também estão associados à leucemia mieloide aguda. Exemplos de inibidores de topoisomerase II incluem etoposide, teniposide, mitoxantrona, epirrubicina e doxorrubicina. • Exposição às radiações. Evidências em sobreviventes das bombas atômicas e acidentes de reatores nucleares mostram que a exposição às radiações ionizantes tem um risco aumentado de desenvolver a leucemia mieloide aguda. A radioterapia também tem sido associada a um risco aumentado da leucemia mieloide aguda. No entanto, esse risco varia com a dose administrada e a área tratada. • Doenças do sangue. Pacientes com doenças crônicas mieloproliferativas, como policitemia vera, trombocitopenia essencial e mielofibrose idiopática têm um risco aumentado de desenvolver leucemia mieloide aguda. Esse risco aumenta se essas enfermidades forem tratadas com alguns tipos de quimioterapia ou radioterapia. Alguns pacientes com síndrome mielodisplásica (condição pré-leucêmica) podem desenvolver a doença. • Síndromes hereditárias. Algumas síndromes hereditárias com alterações genéticas parecem aumentar o risco de leucemia mieloide aguda, por exemplo, síndrome de Down, anemia de Fanconi, síndrome de Bloom, ataxia-telangiectásica, síndrome de Blackfan-Diamond, síndrome de Schwachman-Diamond, síndrome de Li-Fraumeni, neurofibromatose tipo 1, neutropenia congênita grave (síndrome de Kostmann) e trissomia 8. • Histórico familiar. Embora a maioria dos casos de leucemia mieloide aguda não tenha uma causa genética, ter um parente próximo, como um pai ou irmão, com a doença aumenta o risco de ter leucemia mieloide aguda. Pessoas que tem um gêmeo idêntico com leucemia mieloide aguda antes de 1 ano de idade têm um risco aumentado de ter a doença. LPA Antigamente chamada de LMA M3, a leucemia promielocítica aguda (LPA) é uma das mais estudadas formas de leucemia e uma grande história de sucesso na onco-hematologia: antigamente letal, hoje essa condição é altamente curável, algumas vezes com terapias que nem mesmo utilizam quimioterapia! Justamente por isso, é o tipo de LMA mais cobrado nas provas. Isso porque a LPA está associada a uma grave complicação que ocasiona grande mortalidade precoce: a coagulação intravascular disseminada (CIVD). A maioria das células leucêmicas está bloqueada na forma de promielócitos, células grandes e repletas de grânulos, consideradas as responsáveis pelo mecanismo fisiopatológico básico do quadro: a liberação do conteúdo pró-coagulante dos grânulos promielocíticos desencadeia a ativação da cascata de coagulação, com consequente consumo de fatores séricos e desenvolvimento de múltiplas complicações hemorrágicas. Sempre devemos pensar em LPA quando estivermos diante de um quadro suspeito de leucose aguda, como pancitopenia ou leucocitose a custa de blastos, associado a queixas hemorrágicas marcantes, como hemoptise, hematúria, melena, hematêmese, hemorragia pulmonar e sangramento intracraniano. O laboratório da coagulação mostra as alterações típicas esperadas da CIVD: alargamento de TAP e TTPA, além de aumento de D- dímero e consumo de fibrinogênio. 4 Cristian Porto – Tutoria – 6 º Semestre – Medicina Geneticamente, a LPA é associada à translocação entre os cromossomos 15 e 17, a t(15;17), responsável pela transcrição da proteína de fusão PML-RARα, que leva ao bloqueio de maturação sob a forma de promielócitos. Um análogo da vitamina A, o ácido transretinóico (ATRA), é capaz de ligar-se à PML-RARα, impedindo sua ação e, assim, induzindo a maturação dos promielócitos anômalos, que se diferenciam em granulócitos maduros e sofrem apoptose. QUADRO CLÍNICO O quadro clínico da LMA incluirá sintomas decorrentes da falência da medula óssea em produzir os elementos sanguíneos. Sinais e sintomas sugestivos de anemia (por exemplo, falta de ar, dispneia aos esforços, palidez), sangramento ou hematomas em excesso. O paciente também pode apresentar leucopenia, que faz com que haja predisposição a infecções e a quadros de febre, tanto pela própria leucemia ou em decorrência dos quadros infecciosos. Ao hemograma, há uma redução acentuada de glóbulos vermelhos, plaquetas e neutrófilos maduros. Há acúmulo de formas leucêmicas no sangue periférico, medula óssea e/ou outros tecidos. Os sintomas da leucemia mieloide aguda podem se manifestar apenas por alguns dias ou semanas antes do diagnóstico. Os sintomas iniciais mais comuns são decorrentes da hematopoiese alterada, com consequente • Anemia • Trombocitopenia • Granulocitopenia A anemia pode se manifestar com fadiga, fraqueza, palidez, mal-estar, dispneia ao esforço, taquicardia e dor no peito por esforço. A trombocitopenia pode causar sangramento de mucosas, hematomas que ocorrem com facilidade, petéquias/púrpura, epistaxe, gengivas com sangramento e sangramento menstrual intenso. Hematúria e sangramento gastrintestinal não são comuns. Os pacientes podem apresentar hemorragia espontânea, incluindo hematomas intracranianos ou intra-abdominais. Granulocitopenia (neutropenia) pode levar a alto risco de infecções, incluindo aquelas de etiologia bacteriana, fúngica e viral. Os pacientes podem apresentar febre e infecção grave e/ou recorrente. Em geral, a causa da febre não é encontrada, embora a granulocitopenia possa ocasionar infecção bacteriana rapidamente progressiva e potencialmente fatal. A leucemia cutânea pode ter várias aparências, incluindo pápulas ou nódulos e placas, e pode ser eritematosa, marrom, hemorrágica ou violácea/azul acinzentada. DIAGNÓSTICO A leucemia mieloide aguda (LMA) é diagnosticada por biópsia da medula óssea usando análise morfológica, citoquímica, imunofenotípica e citogenética / molecular. De forma simplificada, o diagnóstico de LMA é dado quando é encontrado mais de 20% de mieloblastos leucêmicos no sangue periférico ou no mielograma. Deve haver diminuição de células das outras linhagens (menor número de hemácias, plaquetas e leucócitos 5 Cristian Porto – Tutoria – 6 º Semestre – Medicina normais sendo produzidos). Em alguns casos, há atipiase displasias das células. Um achado patognomônico da LMA é a visualização de Bastones de Auer, vistos como pequenas linhas dentro do citoplasma celular. TRATAMENTO O tratamento da LMA é feito pelo uso de quimioterápicos. Primeiramente, é realizada a indução da remissão. Essa etapa é feita em um ou dois ciclos de um esquema quimioterápico chamado de 3+7, isto é, por 3 dias é usado um agente antracíclico, seguido por 7 dias de uso de citarabina. Posteriormente, é feita a etapa de consolidação da remissão. Ela é composta por 2 a 4 ciclos de citarabina em altas doses ou pelo transplante de medula óssea alogênico caso haja fatores de mau prognóstico, falha na indução, fator de risco intermediário ou cariótipo adverso. O curso clínico do tratamento da LMA é complexo e a anemia, a infecção e o sangramento são quase universais durante a terapia de indução da remissão. Fatores de mau prognóstico incluem idade avançada, acima de 60 anos, a baixa contagem de leucócitos ao diagnóstico, quando a doença evoluiu a partir de uma síndrome mielodisplásica preexistente e quando o paciente já fez uso de terapia citotóxica anteriormente. Alteração cariotípica é um sinal de mau prognóstico independentemente da existência de outras comorbidades. • Para pacientes clinicamente compatíveis: quimioterapia (indução e consolidação) com ou sem transplante alogênico de células-tronco hematopoiéticas • Para pacientes clinicamente frágeis: terapias menos intensivas • Para todos: cuidados de suporte O tratamento da leucemia mieloide aguda depende da doença clínica geral do paciente. Pacientes clinicamente compatíveis tendem a ser mais jovens e apresentam anomalias citogenéticas de menor risco, melhor status funcional e menos comorbidades do que pacientes clinicamente frágeis. Cuidados de suporte O cuidado de suporte é similar nas leucemias agudas e pode incluir • Transfusões • Antimicrobianos • Hidratação e alcalinização da urina • Suporte psicológico Administram-se transfusões de eritrócitos e plaquetas conforme necessário a pacientes com anemia e sangramento. Realiza-se a transfusão plaquetária profilática quando as plaquetas caem paralinfoide aguda não parece ser uma doença hereditária, por isso o risco de uma pessoa não aumenta se um membro da família tem a doença. Mas existem algumas síndromes hereditárias com alterações genéticas que aparentemente aumentam o risco de leucemia linfoide aguda, como síndrome de Down, síndrome de Klinefelter, anemia de Fanconi, síndrome de Bloom, ataxia- telangiectasia, síndrome de Li-Fraumeni e neurofibromatose. • Idade. A leucemia linfoide aguda é mais provável de ocorrer em crianças e em adultos com mais de 50 anos. • Etnia. A leucemia linfoide aguda é mais frequente em brancos do que em negros, mas as razões para isso não estão claras. Etiologia A LLA pode estar associada a fatores ambientais ou genéticos: • Contato com agentes químicos (ex: benzeno, agrotóxicos, tintas, solventes); • Exposição a radiações ionizantes ou tratamento com quimioterapia por neoplasias prévias; • História familiar de leucemia; • Alta incidência de leucemia em gêmeos idênticos; • Mutações no gene p53; • Peso mais elevado ao nascimento; • Síndrome de Down; • Síndrome de Bloom; • Anemia de Fanconi; • Ataxia telangiectasia; QUADRO CLÍNICO Os sintomas iniciais mais comuns são decorrentes da hematopoiese alterada, com consequente • Anemia • Trombocitopenia • Granulocitopenia A anemia pode se manifestar com fadiga, fraqueza, palidez, mal-estar, dispneia ao esforço, taquicardia e dor no peito por esforço. A trombocitopenia pode causar sangramento de mucosas, hematomas que ocorrem com facilidade, petéquias/púrpura, epistaxe, gengivas com sangramento e sangramento menstrual intenso. Hematúria e sangramento gastrintestinal não são comuns. Os pacientes podem apresentar hemorragia espontânea, incluindo hematomas intracranianos ou intra-abdominais. Granulocitopenia ou neutropenia pode levar a alto risco de infecções, incluindo aquelas de etiologia bacteriana, fúngica e viral. Os pacientes podem apresentar febre e infecção grave e/ou recorrente. Infiltração de órgãos por células leucêmicas resulta em aumento do fígado, baço e linfonodos. A infiltração periosteal e da medula óssea pode causar dores ósseas e nas articulações, em especial nas crianças com leucemia linfoblástica aguda. A penetração no SNC e a infiltração meníngea são comuns e podem resultar em paralisia de nervos cranianos, cefaleia, sintomas visuais ou auditivos, estado mental alterado e ataque isquêmico transitório/acidente vascular encefálico. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de LLA é feito pelo exame de sangue periférico e esfregaço de medula óssea. Em 15% dos pacientes a aspiração de medula óssea é insatisfatória para diagnóstico, por conta disso, às vezes se torna necessário realizar biópsia. 8 Cristian Porto – Tutoria – 6 º Semestre – Medicina O diagnóstico definitivo da leucemia é baseado no exame da medula óssea. O diagnóstico adequado depende dos seguintes parâmetros: • Hemograma: observa-se anemia normocítica normocrômica, mais frequentemente leucocitose, com presença de blastos circulantes, neutropenia e plaquetopenia. • Mielograma (estuda a morfologia dos blastos leucêmicos): A presença de células atípicas no sangue periférico, depressão inexplicada em mais de uma série no sangue periférico, linfonodomegalia ou hepatoesplenomegalia inexplicada, associada a citopenia sugerem necessidade de realizar mielograma. Observa a presença de 30% ou mais de blastos. • Imunofenotipagem dos blastos da medula óssea e/ou sangue periférico. Esse exame estuda as características imunológicas das células hematopoiéticas normais e das doentes, por meio da adição de anticorpos monoclonais que detectam os marcadores moleculares citoplasmáticos e os antígenos de superfície das células pesquisadas. Esse exame permite o diagnóstico entre LLA e LMA (leucemia mieloide aguda). • Liquor cefalorraquidiano: Deve ser coletado, de preferência sob sedação, por profissional capacitado, já que qualquer blasto presente no líquor da LLA pode piorar o prognóstico. Nos casos de comprometimento do sistema nervoso central, irá mostrar pleocitose e células leucêmicas no exame do sedimentado citológico. Outros exames podem ser considerados para avaliar a extensão da leucemia: • Fundo de olho • USG de abdome: Avaliar se existe possível infiltração renal, hepatoesplenomegalia, gânglios. Nos casos de suspeita de infiltração testicular, a ultrassonografia pode corroborar a observação clínica. • Perfil metabólico do sangue não apresenta substancialmente alterado na LLA, porém é comum a elevação da desidrogenase láctica e do ácido úrico — ambos representando rápida destruição e regeneração celular. • Coagulação: Na maioria dos casos é normal. O fibrinogênio em geral está elevado, refletindo uma resposta infamatória inespecífica. Raramente em pacientes com leucemia linfoblástica do tipo T podem haver sinais sugestivos de coagulopatia. O distúrbio de coagulação é resultado da presença de material procoagulante na célula leucêmica e pode ser agravado se existir alta contagem leucocitária. Para confirmar o diagnóstico de LLA, devemos comprovar a presença de pelo menos 20% de blastos linfoides na medula óssea através do mielograma. Muitas vezes, apenas a análise morfológica do mielograma é incapaz de distinguir os blastos linfoides de blastos mieloides, já que a característica dos blastos é justamente serem células jovens e indiferenciadas. Por isso, a imunofenotipagem por citometria de fluxo tem um papel importante nessa distinção, ao conseguir identificar a presença de antígenos de cada linhagem. Mais ainda, a imunofenotipagem consegue separar a LLA- B marcada pela presença do CD19, CD20 e CD22, da LLA-T, com antígenos como CD3, CD7, CD4 e CD8. Essa classificação, inclusive, tem valor prognóstico: enquanto as LLAs-B são responsáveis por mais de 85% dos casos e possuem prognóstico favorável, a minoria dos casos compostos por LLA-T evoluiu marcadamente mal. Em adultos, há uma incidência discretamente maior da LLA-T, perfazendo até 25% dos casos, o que explica em parte o pior prognóstico da doença nessa população. Você pode lembrar-se de que a LLA-B é a LLA-Boa, com bom prognóstico. No entanto, essa não é uma regra muito rígida: como veremos a seguir, muitas outras circunstâncias influenciam o prognóstico das LLAs, como observamos na tabela a seguir. 9 Cristian Porto – Tutoria – 6 º Semestre – Medicina TRATAMENTO Tratamento de suporte: Antes do tratamento específico com quimioterapia, é importante considerar possíveis problemas que frequentemente complicam as condições clínicas iniciais dos pacientes com leucemia. • Veia central: A tomada de uma veia central que permita um bom fluxo é essencial, principalmente em pacientes de baixa idade. Preferência pela colocação de um cateter de Hickman ou Broviak. Deve atentar para a possibilidade de infecção. Antibióticos de amplo espectro são administrados para cobrir bactérias gram- negativas e positivas, bem como se o paciente tem febre, mesmo quando não se observa evidência de um foco infeccioso. • Transfusão de derivados sanguíneos: Transfusão de derivados sanguíneos devem ser utilizadas para corrigir valores anormais de plaquetas e hemoglobina. Tratamento específico para LLA: • O tratamento inicial (indução da remissão) da leucemia consiste na utilização de pelo menos 3 medicamentos — Prednisona, Vincristina e L- Asparaginase — e, em casos de risco elevado de recidiva, uma quarta medicação, em geral uma antraciclina. Com esse esquema terapêutico, mais de 95% dos pacientes obtêm a remissão completa. Consolidação da indução é normalmente realizada com Antimetabólicos, em geral Metotrexate e 6-Mercaptopurine. Seguindo a consolidação,os pacientes recebem a manutenção. Nas semanas iniciais da manutenção, tratamento similar ao da indução (reindução) é repetido 2 vezes, em geral com um intervalo de 8 semanas entre uma reindução e outra. O tratamento de manutenção varia dependendo do risco da LLA. Na leucemia de alto risco, de modo geral, recebem uma manutenção bastante intensiva. Na de baixo risco, a manutenção consiste de Metotrexate semanal e 6- Mercaptopurina diário. A esse regime, ciclos de Vincristina com Prednisona ou Metotrexate são agregados. A duração do tratamento de manutenção ainda não está bem definida. A maioria dos casos será tratada com esquemas quimioterápicos complexos, combinando diversas drogas em estágios sucessivos chamados de indução da remissão (eliminação das células neoplásicas), consolidação da remissão (eliminação de quaisquer células residuais) e manutenção da remissão (prevenção de recaída). Em pacientes de alto risco, como com LLA Ph-positiva, considera-se o transplante alogênico de células-tronco hematopoiéticas como terapia de primeira linha, em conjunto à quimioterapia. Mas calma, Estrategista, você não precisa saber a fundo o tratamento da LLA nas provas: esse é um tópico raro nas questões. Mais importante é focar-se no quadro clínico e fatores prognósticos dessa doença, sem esquecer-se da característica epidemiológica de incidir principalmente em crianças. Com isso, você garantirá a maioria das questões sobre a LLA! 4. EXPLICAR A INTERPRETAÇÃO E INDICAÇÃO DO MIELOGRAMA; O mielograma é o resultado da punção aspirativa da medula óssea, sendo indicado apenas quando o conjunto de alterações clínicas e hematológicas sugerem doença associada a um distúrbio de origem medular. Em muitas ocasiões, entretanto, é utilizado como parte da investigação de quadros de febre de origem indeterminada, hepato/esplenomegalias de causas não esclarecidas ou alterações hematológicas não necessariamente decorrentes de comprometimento ou causa medular. Por ser um exame invasivo, apesar de ser realizado na grande maioria das vezes com sedação apropriada, é causa de grande angústia por par te dos pais, sendo fundamental a avaliação por parte do médico em qual aspecto ele irá contribuir para o diagnóstico. Idealmente, sua indicação deve ser feita por médico especialista, seja oncologista ou hematologista pediátrico A interpretação adequada do mielograma nunca é feita de forma isolada, pois depende da correlação entre o quadro clínico, idade e o hemograma do paciente 10 Cristian Porto – Tutoria – 6 º Semestre – Medicina A interpretação deve ser feita associada com histórico, hemograma de mesma data e a celularidade da medula óssea, com a contagem diferencial de células e a relação mieloide:eritróide. Para uma interpretação conclusiva de hiperplasia, hipoplasia ou aplasia, esses fatores devem estar bem definidos. Para diagnósticos, como a síndrome mielodisplásica e leucemia por exemplo, critérios de classificação devem ser seguidos. As leucemias agudas recebem este nome pois seu curso clínico é agudo e grave. No mielograma há predomínio de células precursoras - os blastos - e o prognóstico normalmente é de ruim a desfavorável. As leucemias crônicas têm curso clínico crônico e brando. No mielograma há predomínio de células maduras bem diferenciadas e o prognóstico clínico é favorável. A interpretação do **mielograma** envolve a análise de uma amostra de medula óssea coletada através de aspirado. O exame é utilizado para avaliar a função e a composição da medula óssea, sendo importante no diagnóstico de diversas condições hematológicas, como leucemias, anemias, trombocitopenias e distúrbios da produção de células sanguíneas. A seguir estão os principais aspectos a serem considerados na interpretação de um mielograma: OS19652B_DocCient_Hemograma.indd (sbp.com.br) Avaliação Celular Geral - Celularidade: Avalia-se a proporção entre células hematopoiéticas e gordura. A celularidade varia com a idade (em crianças, normalmente é mais elevada). - Mielopoiético/Eritropoiético (M/E): Relação entre a quantidade de precursores de granulócitos (mielopoese) e precursores de eritrócitos (eritropoese). A relação normal é aproximadamente de 2:1 a 4:1. Séries Celulares - Série eritroide (eritropoese): Verifica-se a morfologia e a proporção das células precursoras dos eritrócitos (pró- eritroblastos, eritroblastos basófilos, eritroblastos policromáticos, etc.). Alterações morfológicas ou desvio na maturação podem indicar anemias megaloblásticas ou outras doenças. - Série granulocítica (mielopoese): Análise dos precursores dos granulócitos (mieloblastos, promielócitos, mielócitos, metamielócitos, bastonetes, segmentados). Alterações podem sugerir infecções, leucemias ou outras condições mieloproliferativas. - Série megacariocítica: Avaliação da quantidade e morfologia dos megacariócitos, responsáveis pela produção de plaquetas. Alterações podem estar associadas a trombocitopenias ou trombocitoses. - Outras células: Em alguns casos, células incomuns, como linfócitos, plasmócitos ou células neoplásicas, podem estar presentes e devem ser identificadas. Morfologia das Células - Alterações morfológicas: Anomalias no tamanho, forma ou maturação das células podem ser indicativas de doenças específicas. Por exemplo, a presença de mieloblastos com alterações nucleares pode indicar leucemia mieloide aguda. - Desvio à esquerda: O aumento de células jovens (imaturas) no aspirado pode indicar leucemias ou infecções graves. Avaliação de Células Anômalas ou Infiltrativas - Presença de células anômalas: A presença de células não esperadas na medula óssea, como células tumorais metastáticas ou células de linfoma, deve ser notada. - Infiltração neoplásica: Em alguns casos, a medula pode ser infiltrada por células de cânceres sólidos ou linfomas. Aspectos Quantitativos - Blastos: A presença de blastos (células precursoras imaturas) em excesso é um sinal de alerta. No contexto de leucemias, a contagem de blastos é fundamental para o diagnóstico. - Displasia: Alterações no processo de maturação celular (displasia) podem ser indicativas de síndromes mielodisplásicas. Testes Complementares - Biópsia de medula óssea: Em alguns casos, a biópsia pode ser realizada para complementar o mielograma, especialmente quando há hipocelularidade ou fibrose medular. - Citoquímica e imunofenotipagem: Esses testes ajudam a caracterizar melhor as células presentes na medula, sendo importantes no diagnóstico diferencial de leucemias e outras neoplasias hematológicas. Considerações Clínicas A interpretação do mielograma deve sempre ser feita em conjunto com a história clínica do paciente, exames https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/2017/05/OS19652B_DocCient_Hemograma.pdf 11 Cristian Porto – Tutoria – 6 º Semestre – Medicina laboratoriais (hemograma) e, quando necessário, exames de imagem ou testes moleculares. A consulta com um hematologista é fundamental para a avaliação adequada do quadro. Exemplo de Interpretação - Paciente com suspeita de leucemia: O mielograma pode mostrar uma medula hiperproliferativa, com excesso de blastos, favorecendo o diagnóstico de leucemia aguda. Indicação É realizado para diagnosticar cânceres que atacam as células sanguíneas, como linfoma, mieloma e leucemia, ou o surgimento de um câncer secundário em quem já foi diagnosticado com tumor na mama ou próstata, por exemplo. O mielograma é indicado para investigar diversas condições que afetam a medula óssea, a produção de células sanguíneas e o sistema hematopoiético em geral. Ele é realizado quando há suspeita de distúrbios que envolvem a produção, maturação ou funcionamento das células do sangue. Leucemiase Neoplasias Hematológicas • Suspeita de leucemias agudas ou crônicas: A presença de blastos no sangue periférico ou pancitopenia pode indicar necessidade de mielograma para confirmar o diagnóstico. • Monitoramento de tratamento de leucemia: Para avaliar a resposta à quimioterapia ou outros tratamentos. • Linfomas: Para verificar o comprometimento da medula óssea por linfoma. 5. ELUCIDAR A INDICAÇÃO DOS CONCENTRADOS DE PLAQUETAS; Basicamente as indicações da transfusão de concentrado de plaquetas (CP) estão associadas às plaquetopenias desencadeadas por falência medular, raramente em plaquetopenias por destruição periférica ou alterações congênitas da função plaquetária. Em plaquetopenias por tempo determinado, frequentemente associadas a métodos terapêuticos para doenças oncológicas como quimioterapia, radioterapia e transplante de medula óssea, indica-se transfusão de CP profilática: 1- Se plaquetas abaixo de 10.000 sem fatores de risco; 2- Se plaquetas abaixo de 20.000 na presença de fatores de risco como: febre acima de 38 graus, manifestações hemorrágicas menores (petéquias, equimoses, gengivorragias), GVHD, esplenomegalia volumosa, utilização de medicamentos que encurtam a sobrevida das plaquetas (alguns antibióticos e antifúngicos), hiperleucocitose (contagem de leucócitos maior que 30.000), presença de outras alterações da hemostasia (CIVD) ou queda rápida da contagem das plaquetas. Em pacientes com plaquetopenia crônica (por exemplo, aplasia da medula ou síndrome mielodisplásica), os pacientes devem ser observados sem transfusão. Esta estaria indicada profilaticamente se plaquetas abaixo de 5.000 ou abaixo de 10.000 com manifestações hemorrágicas. Pacientes pediátricos toleram contagens mais baixas e está indicada transfusão profilática quando plaquetas abaixo de 10.000 em pacientes estáveis Pacientes adultos com tumores sólidos que farão quimioterapia ou radioterapia, transfundir se plaquetas abaixo de 20.000. Alteração da função plaquetária: Trombastenia de Glanzmann, Síndrome de Bernard Soulier, Síndrome da plaqueta cinza: transfundir se procedimentos cirúrgicos ou no caso de sangramentos, apenas se não houver resposta ao uso de antifibrinolíticos ou DDAVP. Diminuição das plaquetas por diluição ou destruição periférica: Transfusão maciça: transfundir se plaquetas abaixo de 50.000 se duas volemias forem trocadas. Neste caso, transfundir se plaquetas abaixo de 50.000 ou abaixo de 100.000 com alterações graves da hemostasia, trauma múltiplo ou de sistema nervoso central. CIVD: transfundir apenas se presença de sangramentos mesmo sem gravidade repondo fatores de coagulação (plasma fresco congelado) e CP objetivando contagens acima de 20.000. Imunes: transfundir apenas se sangramentos graves com risco de vida para o paciente. A reposição deve ser agressiva e sempre associada com altas doses de corticóides e imunoglobulina. 12 Cristian Porto – Tutoria – 6 º Semestre – Medicina Dengue hemorrágica: mesma situação da PTI, então não se transfunde profilaticamente. Mesmo caso na leptospirose e Riquetsioses. Procedimentos Cirúrgicos: Existe consenso que contagens plaquetárias acima de 50.000 são suficientes para a maioria dos casos com exceção de neurocirurgias ou procedimentos oftalmológicos que exigem contagens entre 80.000- 100.000. Punção lombar: plaquetas devem estar acima de 30.000 Biópsia de medula óssea: acima de 20.000 EDA e broncoscopia: com biópsia acima de 50000 e sem biópsia entre 20.000-40.000 Biópsia hepática: acima de 50.000 Cirurgias de médio e grande porte: acima de 50.000 Cirurgias neurológicas e oftalmológicas: acima de 100.000. Cirurgias cardíacas com circulação extracorpórea por mais de 90-120 minutos: podem ter a função plaquetária comprometida e nesta situação se ocorrer sangramento difuso intraoperatório deve-se transfundir CP mesmo se contagens acima de 50.000 plaquetas. Púrpura trombocitopênica trombótica e na plaquetopenia induzida por heparina: transfundir apenas se sangramento grave com risco de vida e a profilaxia com transfusão está contra-indicada mesmo para realização de procedimentos cirúrgicos devido ocorrência de eventos tromboembólicos. Dose 1U de plaquetas para cada 7-10Kg de peso do paciente. Infundir em 30 minutos não excedendo a velocidade de 20-30ml/Kg/hora.. Referências Bibliográficas: Guia para o uso de Hemocomponentes – segunda edição, Ministério da Saúde – 2014. Gibson, B. E. et al. Transfusion guidelines for neonates and older children. Br J Haematol, 2004. Roseff, S.D. et al. Guidelines for assessing appropriateness of pediatric transfusion. Transfusion, 2002. 42 (11), p.1398-1413. 6. ENTENDER AS ALTERAÇÕES HIDROELETROLITICAS PÓS QUIMIOTERAPIA; Distúrbios Eletrolíticos Distúrbios hidroeletrolíticos estão entre os problemas clínicos mais comuns em pacientes em Unidade de Terapia Intensiva e estão associados ao aumento de morbidade e mortalidade entre os pacientes críticos6. Dessa forma, é importante que os profissionais capacitados possam observar e identificar alterações de desequilíbrios hidroeletrolíticos que comprometem os diversos órgãos e sistemas do organismo do paciente crítico3. A análise e a investigação clínica dos distúrbios hidroeletrolíticos contemplam uma série de avaliações, como: avaliação da pressão sanguínea, do pulso, da respiração, do edema, do turgor da pele, do volume de diurese, da necessidade de infusão endovenosa, dos medicamentos que alteram o equilíbrio hídrico/eletrolítico e, também, da observação da prescrição médica quanto à frequência de controles e/ ou os cuidados com a ingestão e a eliminação, a cada hora, turno e a cada 24 horas7. Fique atento: alterações de peso a curto prazo, normalmente indicam alterações no estado hídrico e não mudanças do ponto de vista nutricional. Cada quilograma de peso equivale a 1 litro de líquido8. Reposição Hidroeletrolítica Com o desequilíbrio hídrico se faz necessário a reposição hidroeletrolítica, ou seja, a reposição dos fluidos e eletrólitos perdidos em 24 horas, seja através da pele, dos pulmões, urina e outros fluidos corporais. A necessidade básica de líquidos e eletrólitos corresponde à somatória das perdas ocorridas nas últimas 24 horas. A reposição normalmente acontece via endovenosa, mas alguns pacientes que necessitam de reposição hidroeletrolítica podem precisar de reposição por outras vias, como a hipodermóclise, que se trata de um acesso para administração subcutânea. São eles9: • Pacientes desidratados (leve a moderada); • Pacientes com difícil acesso venoso periférico; • Pacientes com restrições para a administração de medicamentos via oral; • Pacientes com nível de consciência alterado ou com dano cognitivo grave; 13 Cristian Porto – Tutoria – 6 º Semestre – Medicina • Pacientes em que a desidratação que não exija reposição rápida de volume. A quimioterapia pode causar diversas alterações hidroeletrolíticas, principalmente devido aos efeitos tóxicos que os medicamentos quimioterápicos exercem sobre as células e os órgãos. Estas alterações variam dependendo do tipo de quimioterapia, da dose e do estado geral do paciente. Aqui estão algumas das principais alterações hidroeletrolíticas observadas: 1. Hiponatremia (Baixo sódio no sangue) • Síndrome de secreção inapropriada de hormônio antidiurético (SIADH), especialmente com quimioterápicos como a ciclofosfamida, vincristina e platinas. • Vômitos intensos, diarreia e uso de diuréticos como suporte. Sintomas: • Fadiga, fraqueza muscular, confusão mental, convulsões. 2. Hipocalemia (Baixo potássio no sangue) • Uso de diuréticos, diarreia induzida por quimioterapia ou alterações renais. • Agentes como cisplatina podem causar nefrotoxicidade,resultando em perda de potássio. Sintomas: • Fraqueza muscular, cãibras, arritmias cardíacas, fadiga. 3. Hipercalcemia (Alto cálcio no sangue) • Tumores que causam liberação de hormônios relacionados ao metabolismo do cálcio, como câncer de pulmão e mieloma múltiplo. • Pode ser exacerbada pelo uso de certos quimioterápicos. Sintomas: • Náusea, vômito, fraqueza muscular, confusão mental, coma. 4. Hipofosfatemia (Baixo fósforo no sangue) • Pode ocorrer devido à desnutrição ou ao uso de medicamentos que aumentam a excreção renal de fósforo. Sintomas: • Fraqueza muscular, dificuldade respiratória, comprometimento cardíaco. 5. Hipomagnesemia (Baixo magnésio no sangue) • Causada pela toxicidade renal de drogas como a cisplatina. Sintomas: • Fraqueza muscular, tremores, arritmias, convulsões. 6. Distúrbios Ácido-Base • Alcalose Metabólica: Pode ocorrer por perda de íons hidrogênio em vômitos intensos ou uso de diuréticos. • Acidose Metabólica: Associada à função renal prejudicada devido à nefrotoxicidade da quimioterapia. 7. Desidratação • Causada por náuseas, vômitos, diarreia e redução da ingestão de líquidos. Isso pode levar a desequilíbrios de sódio, potássio e outros eletrólitos. Monitoramento e Tratamento • Monitoramento frequente dos eletrólitos no sangue é essencial durante o tratamento quimioterápico. • Reposição adequada de eletrólitos (sódio, potássio, magnésio, etc.) e controle rigoroso da função renal são cruciais. • Ajustes na dieta e medicamentos podem ser necessários para prevenir ou corrigir essas alterações. 7. ENTENDER O PAPEL DA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL NO SUPORTE EM PACIENTES COM LEUCEMIA; É exatamente por isso que o tratamento oncológico é baseado em uma equipe multidisciplinar de cuidados. O objetivo é oferecer suporte ao paciente em todos os âmbitos que envolvem o corpo e a mente, disponibilizando profissionais especializados em diferentes áreas da saúde. Além do tratamento do câncer em si, a equipe multidisciplinar também volta-se 14 Cristian Porto – Tutoria – 6 º Semestre – Medicina para a manutenção da qualidade de vida do paciente oncológico e de sua família. A comunicação entre os profissionais da equipe multidisciplinar, o paciente e os familiares é essencial para que o tratamento humanizado, completo e de qualidade seja possível. Afinal, durante o tratamento oncológico, o paciente conta com esse suporte médico para tirar todas as dúvidas e aliviar possíveis incômodos. O tratamento da leucemia envolve um processo complexo que vai muito além das intervenções médicas, exigindo o apoio de uma equipe multiprofissional. Cada membro dessa equipe desempenha um papel fundamental, garantindo uma abordagem holística para o paciente, não apenas no tratamento da doença, mas também no manejo dos sintomas, na qualidade de vida e no suporte emocional e social. 1. Médico Hematologista/Oncologista • Papel principal: Diagnóstico e tratamento da leucemia. • Funções: Definir o plano de tratamento, incluindo quimioterapia, imunoterapia, transplante de medula óssea, e monitoramento da resposta ao tratamento. • Colaboração: Trabalha junto com outros profissionais para ajustar o tratamento conforme as necessidades específicas do paciente. 2. Enfermeiro Oncológico • Papel principal: Cuidados diários e suporte contínuo ao paciente. • Funções: Administrar quimioterapia, monitorar sinais vitais e sintomas, e educar o paciente e a família sobre o tratamento e os cuidados necessários. • Colaboração: Atende às necessidades físicas imediatas, oferece apoio emocional e comunica mudanças ao médico e à equipe. 3. Farmacêutico • Papel principal: Gerenciamento e supervisão dos medicamentos. • Funções: Preparar e ajustar a dose dos quimioterápicos e de outros medicamentos; educar sobre possíveis interações medicamentosas e efeitos colaterais. • Colaboração: Trabalha com a equipe médica para ajustar a medicação de acordo com a resposta do paciente ao tratamento. 4. Nutricionista • Papel principal: Garantir o estado nutricional adequado do paciente. • Funções: Desenvolver planos nutricionais que ajudem a fortalecer o sistema imunológico, prevenir a perda de peso e tratar efeitos colaterais como náuseas, vômitos e mucosite. • Colaboração: Trabalha com a equipe médica para ajustar a dieta conforme os efeitos colaterais do tratamento e a evolução da doença. 5. Fisioterapeuta • Papel principal: Promover a mobilidade e reabilitação física. • Funções: Ajudar o paciente a manter a força e a mobilidade durante e após o tratamento, prevenir complicações como trombose e melhorar a capacidade respiratória. • Colaboração: Trabalha em conjunto com os médicos para estabelecer limites seguros de atividade física. 6. Psicólogo • Papel principal: Apoio emocional e psicossocial ao paciente e sua família. • Funções: Oferecer suporte para lidar com o impacto emocional da doença, ansiedade, depressão e estresse relacionados ao tratamento. • Colaboração: O psicólogo integra o plano de cuidados para garantir que as necessidades emocionais do paciente sejam atendidas, promovendo bem-estar mental. 7. Assistente Social • Papel principal: Apoio social e financeiro ao paciente e à família. • Funções: Ajudar o paciente a acessar recursos de saúde, como medicamentos, transporte para tratamentos e suporte financeiro. 15 Cristian Porto – Tutoria – 6 º Semestre – Medicina • Colaboração: Facilita a comunicação entre o paciente, a família e a equipe de saúde, além de garantir acesso a benefícios sociais e legais. 8. Terapeuta Ocupacional • Papel principal: Reabilitação funcional e reintegração à vida cotidiana. • Funções: Ajudar o paciente a manter a independência nas atividades diárias e adaptar- se a possíveis limitações físicas ou cognitivas decorrentes da doença ou do tratamento. • Colaboração: Trabalha junto com o fisioterapeuta e o médico para garantir que o paciente tenha suporte na adaptação a novas realidades funcionais. 9. Cuidador ou Equipe de Cuidados Paliativos • Papel principal: Cuidado integral e alívio do sofrimento. • Funções: Focar no controle da dor, dos sintomas e na qualidade de vida, especialmente para pacientes em fases mais avançadas ou com complicações do tratamento. • Colaboração: Trabalha com toda a equipe multiprofissional para assegurar que o conforto do paciente seja uma prioridade. Importância da Integração da Equipe O tratamento da leucemia é dinâmico e requer uma abordagem integrada e colaborativa. A comunicação entre os profissionais é essencial para ajustar o tratamento, gerenciar complicações e garantir que o paciente e sua família recebam o suporte necessário. Além disso, o apoio emocional e social desempenha um papel crítico no enfrentamento da doença, e a equipe multiprofissional é fundamental para fornecer esse suporte. Benefícios do Cuidado Multiprofissional • Melhora da qualidade de vida: O tratamento não se limita à cura da leucemia, mas ao bem- estar geral do paciente. • Suporte emocional: Ajuda a lidar com o impacto psicológico da doença. • Adaptação funcional: Auxílio na recuperação física e manutenção da independência. • Prevenção de complicações: Monitoração constante para antecipar e manejar efeitos colaterais.