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AULA 2 ALFABETIZAÇÃO, LETRAMENTO E LITERATURA INFANTIL Profª Luciana Zatera 2 INTRODUÇÃO Aprendizagem da língua escrita pela criança Nesta aula, trataremos da relação entre o desenvolvimento infantil e a aprendizagem da leitura e da escrita, bem como das tendências construtivista e histórico-crítica na área da alfabetização. A ênfase recai sobre a tendência construtivista, pois foi com base nessa teoria que Emília Ferreiro desenvolveu sua tese sobre a psicogênese da língua escrita, importante estudo acerca de como a criança compreende a escrita e dela se apropria. TEMA 1 – DESENVOLVIMENTO INFANTIL E ALFABETIZAÇÃO Quando as crianças ingressam no ensino fundamental e iniciam formalmente o processo de alfabetização, elas já dominam com fluência a linguagem oral, que aprenderam com seus pares e em seu contexto familiar, portanto, têm muitos conhecimentos prévios acerca da língua. Faraco (2012) evidencia que nenhuma teoria até hoje foi capaz de explicar a aquisição da língua oral pela criança. Sabe-se que esse processo é universal e acontece com todas as crianças aproximadamente na mesma faixa etária (em torno de dois anos). É também um processo espontâneo, ou seja, não é preciso ensiná-las sistematicamente; o contato contínuo com outros falantes da língua já é suficiente para que ela se torne igualmente um falante proficiente da língua de sua comunidade. Rojo (2006) e Faraco (2012) sintetizam o processo de aquisição da língua oral pela criança, elucidando que os primeiros sons são os balbucios, emitidos por todos os bebês, em todas as línguas, igualmente. Depois, esses sons vão se especializando nos sons da língua da comunidade da criança e, com o auxílio dos jogos interativos de linguagem1, as primeiras palavras vão surgindo – os nomes das coisas (mamã, mamá, nenê, bola, au-au etc.) e palavras operatórias, que funcionam como verbos (dá, tó, qué, ó, cadê, achô etc.). Mais tarde, ela passa a produzir frases com duas palavras, como “péna nenê” (perna do nenê; veja a 1 Referem-se a interações que ocorrem por meio da linguagem entre os bebês e as mães ou outros adultos. Por exemplo, quando a mãe está trocando o bebê, esconde-se atrás da fralda e diz: “Achou!”, ou tantas outras situações em que adultos ou crianças maiores interagem com os bebês, usando palavras ou enunciados do cotidiano, como “Quer mamar?”, “Fez xixi?”, “Pega a bola”, “Vamos nanar?” etc. 3 perna do nenê). Depois, com três elementos, mas sem artigos e preposições, como “dodói péna nenê” (fez dodói na perna do nenê). E, aproximadamente aos dois anos, irá emitir enunciados como “machucou a perna do nenê”, sem sabermos precisamente como isso ocorreu e que procedimentos cognitivos foram responsáveis por esse salto qualitativo da linguagem. Ainda, irá utilizar enunciados mais elaborados, mais tarde, como períodos coordenados e subordinados. Há diferentes teorias que tentam explicar a aquisição da linguagem oral pela criança. Uma delas – vinculada à constatação de que esse processo é universal, pois ocorre igualmente com todas as crianças, falantes de qualquer língua – é a hipótese inatista, propagada especialmente por Noam Chomsky, cuja ideia principal é que “a linguagem verbal está geneticamente inscrita no cérebro humano” (Faraco, 2012, p. 28). Todavia, há teorias que se opõem ao inatismo ou a complementam, porque procuram destacar outros fatores que podem ser responsáveis pela aquisição da linguagem oral pela criança. Faraco (2012) atesta que a criança é capaz de elaborar enunciados novos com o repertório que vai aprendendo com seus pares. “Ela se mostra um ser cognoscente ativo. Há, em seu cérebro, uma atividade cognitiva que opera sobre os dados que recebe do exterior. É esta atividade que ainda não fomos capazes de descrever. Podemos apenas observar indícios de que ela está acontecendo” (Faraco, 2012, p. 30). É notório, portanto, em todo esse processo, a relevância da interação entre a criança e os adultos ou crianças mais velhas, além de sua capacidade cognitiva para a aquisição da oralidade. A interação pode não ser a única responsável pela aquisição da linguagem – pois algo acontece também no cérebro da criança –, mas, sem dúvida, é absolutamente necessária, como confirmam os estudos de Vygotsky (citado por Faraco, 2012, p. 31). Esse grande estudioso mostrou como a atividade cognitiva humana nasce da interação entre os que já dominam certo conhecimento e os que estão em processo de aprendizagem. Pela mediação do outro, a lógica cognitiva social se torna interiorizada e, assim, os sujeitos adquirem autonomia cognitiva (Faraco, 2012). Apesar de não sabermos como isso de fato acontece, podemos observar os gestos dos adultos que contribuem para constituir as bases da interação com a criança que, desde o nascimento, se expressa pelo choro, pelos gestos, sons e 4 pelas ações. Geralmente, é a mãe quem interpreta esses sinais e lhes atribui sentido. Por meio “das ‘conversas’ com o bebê, das cantigas e de muitos jogos de linguagem, os adultos vão tornando presentes e perceptíveis para o bebê, processos e ações do mundo/no mundo” (Rojo, 2006, p. 25). Esses gestos têm função determinante na formação da criança, ao estimular os processos cognitivos, essencialmente na aquisição da linguagem oral. Logo, são duas as condições decisivas nesse processo, de acordo com Faraco (2012): a interação sócio-verbal e o fato de a criança ser um sujeito cognitivamente ativo. Vamos, agora, tratar do desenvolvimento infantil relacionado à aquisição da língua escrita. Por volta dos seis anos, quando ingressam no primeiro ano do ensino fundamental, as crianças já dominam o português falado conforme a variedade de sua comunidade e fazem uso de regras e estruturas da língua aprendidas com outros falantes. Além do conhecimento linguístico, elas se apropriam de uma ou mais culturas, pois advém de grupos sociais diferentes e é “pela linguagem falada que se fazem membros desses grupos e aprendem seus modos de fazer, de agir, de pensar, de sentir” (Gomes; Monteiro, 2005, p. 19). Considerando precisamente a apropriação da escrita, Soares (2020) explica a relação entre o desenvolvimento e a aprendizagem: o nível de desenvolvimento da criança possibilita determinadas aprendizagens, e essas, por sua vez, fazem avançar o desenvolvimento, como representado na Figura a seguir. 5 Figura 1 – Desenvolvimento e aprendizagem no processo de apropriação da escrita Fonte: Zatera, 2023, com base em Soares, 2020, p. 52. Percebe-se que o desenvolvimento e a aprendizagem são processos que ocorrem em mão dupla, ou seja, tanto de “dentro para fora” como de “fora para dentro”. Ao abordarmos os conhecimentos fornecidos pelos professores às crianças, a partir da mediação, é preciso levar em consideração o contexto sociocultural do aprendiz. Por isso, Gomes e Monteiro (2005, p. 24) destacam a necessidade de [...] saber quem são as crianças, seus interesses, seu cotidiano, seus gostos culturais, suas práticas de leitura e de escrita. O que eles já sabem sobre leitura e sobre escrita também são saberes fundamentais a serem considerados nesse processo. Vivemos num mundo de escrita e nossos alunos já chegam com alguns conhecimentos sobre a língua que vivenciam em seu cotidiano. Esses conhecimentos precisam ser valorizados e considerados ao se ensinar a ler e a escrever, tendo em vista os grupos sócio-culturais aos quais os alunos pertencem. Nesse aspecto, aprender a ler e a escrever é atribuir sentido para o que se aprende, “por meio de usos funcionais da linguagem, que sejam relevantes e significativos para os aprendizes” (Gomes; Monteiro, 2005, p. 29). Sendo a escrita uma atividade simbólica, compreende a representação de uma coisa por outra, o uso designos para representar significados. Desse modo, atividades como jogos, gestos e desenhos, mediados pela fala, são aprendizados fundamentais que vão colaborar para a “elaboração do simbolismo na própria escrita, assim como para o progresso na atenção e na memória” (Gomes; Monteiro, 2005, p. 29). Nota-se, portanto, que o ensino e a aprendizagem da leitura e da escrita constitui um processo complexo e requer preparo por parte dos docentes. Cada Desenvolvimento Processo que resulta dos níveis de maturação psicológica da criança em interação com experiências com a língua escrita em seu contexto sociocultural - o desenvolvimento acontece de dentro para fora. Aprendizagem Processo pelo qual a criança, pela mediação dos outros, adquire informações sobre a escrita e habilidades com a escrita, o que possibilita que formule e reformule conceitos a respeito da escrita - a aprendizagem ocorre de fora para dentro. 6 situação de aprendizagem será distinta devido a todos esses fatores citados anteriormente, inclusive às tendências teóricas adotadas pela escola e pelos professores. TEMA 2 – TENDÊNCIA CONSTRUTIVISTA EM ALFABETIZAÇÃO Procurando respostas sobre o que é o conhecimento, o biólogo Jean Piaget elaborou uma teoria chamada epistemologia genética, destacando os mecanismos e processos por meio dos quais é possível progredir de etapas em que há menor conhecimento em relação àquelas com maior conhecimento (Maia, 2017). Essa teoria é a principal base do construtivismo, em suas diferentes formas de expressão. Aplicando o construtivismo ao campo da alfabetização, as estudiosas Emilia Ferreiro e Ana Teberosky buscaram explicar como funciona a aquisição da língua escrita pela criança. Elas adotaram a ideia de sujeito cognoscente2, definido por Piaget, comprovando que a criança busca compreender o mundo ao seu redor de maneira ativa e resolver as questões que esse mundo provoca. Esse sujeito, segundo Martins e Marsiglia (2015), aprende a partir de suas ações sobre os objetos do mundo e constrói suas próprias categorias de pensamento enquanto organiza seu mundo. Nesse processo de aprendizagem, é preciso compreender o conceito piagetiano de esquemas assimilativos. Em seu desenvolvimento, o sujeito passa por vários desequilíbrios e equilibrações. A criança, para se equilibrar, ao se deparar com uma situação nova, aciona dois mecanismos: a assimilação e a acomodação. O primeiro refere-se à incorporação de uma experiência ou objeto aos esquemas pré-existentes do sujeito. O segundo, por sua vez, consiste na reorganização desses esquemas para que o organismo se ajuste aos novos elementos (Martins; Marsiglia, 2015; Palangana, 2015). No contexto escolar, a abordagem construtivista piagetiana enfatiza a relação entre professores e alunos em colaboração para a construção do conhecimento acerca da linguagem escrita. O indivíduo – influenciado pelo meio, mas não passivo – é capaz de aprender a partir de sua própria ação. Sendo assim, 2 O conceito de sujeito cognoscente ou epistêmico “diz respeito ao sujeito que pensa, reflete, elabora hipóteses sobre o mundo que o cerca. É um sujeito ativo no processo de construção do conhecimento, enfim, um sujeito capaz de conhecer” (Gomes; Monteiro, 2005, p. 36). 7 o processo de construção é muito valorizado e os erros são analisados como hipóteses constitutivas do processo de ensino-aprendizagem. A relativização do erro amplia as possibilidades de aprender e de ensinar, como também as possibilidades de intervenção do professor como agente provocador e reequilibrador. A cooperação entre os estudantes é reconhecida e valorizada. (Gomes; Monteiro, 2005, p. 36) Voltando à questão específica da alfabetização, Ferreiro e Teberosky postulam que “é preciso compreender os processos de aprendizagem da criança ao tentar reconstruir a representação do sistema alfabético” (Frade, 2005, p. 40). Para isso, apresentam uma descrição do processo evolutivo da escrita infantil, considerando o aprendiz como um sujeito que - tem acesso à escrita na sociedade antes de passar por um processo sistemático de ensino na escola; - tem um processo lógico de pensamento, de modo que cada “erro” de escrita que produz indica uma hipótese sobre o conteúdo do sistema alfabético de escrita; - constrói conhecimentos em situação espontânea, desde que conviva com o sistema de escrita e obtenha algumas informações sobre seu funcionamento. (Frade, 2005, p. 40) Considerando esses pressupostos e de acordo com Frade (2005), a tendência construtivista em alfabetização postula que: • é necessário considerar o processo, e um método ou uma única direção não determina a aprendizagem da criança; • a escola deve proporcionar experimentação em torno da escrita e deixar de focar apenas nos “erros” dos alunos; • o material utilizado para a alfabetização deve ser diverso e representar o uso social da leitura e da escrita; • os alunos devem expressar o que sabem sem receio de errar; • o professor deve conhecer teorias de como se aprende para compreender o desenvolvimento de cada aluno, além de saber em que nível de compreensão de escrita a criança se encontra. Vale ressaltar a questão do “erro” para a tendência construtivista. Para isso, imagine uma criança em processo de alfabetização que tenha escrito uma lista de nomes de frutas do seguinte modo: 8 ABHT (abacate) LARGA (laranja) MLCA (melancia) KAGU (caju) Essa criança já domina importantes conhecimentos acerca da escrita: conhece as letras do alfabeto e compreende que cada letra possui um valor sonoro específico; por isso, sabe que não basta registrar um conjunto qualquer de letras para escrever uma palavra. Ela já percebe a relação grafema e fonema, no entanto, ainda elabora uma hipótese silábica, ou seja, julga que, uma letra equivale a uma sílaba, ainda que em algumas situações, já consiga compreender a sílaba (LA e GA, em laranja; ME, em melancia; GU, em caju). Para uma tendência tradicional, baseada em métodos alfabéticos, silábicos ou fônicos, esses seriam erros grotescos. Na verdade, dificilmente a criança tentaria escrever uma lista como essa, pois a cópia seria uma solução para evitar desvios à escrita correta. Porém, numa perspectiva construtivista, esses “erros” são importantes para a aquisição da língua escrita, pois a criança elabora hipóteses acerca da realidade e “lança mão de procedimentos próprios para testar e experimentá-las” (Suzuki, 2013, p. 30). Essas hipóteses resultam de seus esforços para aprender, quando aciona seus conhecimentos prévios para chegar a uma resposta que supõe estar correta. Por isso, ao ingressar na lógica do pensamento infantil, o professor pode identificar o erro construtivo da criança e ajudá-la a pensar sobre esse erro, a fim de superá-lo. Essa atitude é uma oportunidade de discutir hipóteses e buscar soluções, diferentemente de outras abordagens, nas quais o erro era evitado a qualquer custo. Impedir a criança de errar lhe confisca as chances de vivenciar o processo de sucessivas aprendizagens e de construir os instrumentos imprescindíveis ao seu pensar. (Suzuki, 2013, p. 30) Entretanto, evidenciar esses aspectos não anula a necessidade de ensinar a relação grafema e fonema nas classes de alfabetização, ou seja, não é possível alfabetizar em uma abordagem construtivista abandonando a especificidade do processo de alfabetização. Infelizmente, o construtivismo foi mal interpretado; muitos propagaram a ideia de que as crianças se alfabetizariam apenas no contato com textos, construindo sozinhas seu próprio aprendizado. Soares (2003, p. 17) esclarece essa incorreção, pois, na década de 1980, junto à mudança conceitual, 9 com a divulgação do construtivismo, “veio a ideia de que não seria preciso haver método de alfabetização [...]. Por equívocos e por inferências falsas, passou-se aignorar ou a menosprezar a especificidade da aquisição da técnica da escrita”. Por isso, a autora salienta que ninguém aprende a ler e a escrever se não aprender relações entre fonemas e grafemas – para codificar e para decodificar. Isso é uma parte específica do processo de aprender a ler e a escrever. Linguisticamente, ler e escrever é aprender a codificar e a decodificar. (Soares, 2003, p. 17) Sendo assim, adotar uma concepção construtivista de ensino inicial da leitura e da escrita não é o mesmo que renunciar a um método, pois, como professores, não conseguiremos atingir os objetivos planejados se não tivermos um caminho, uma direção. Soares (2003) assinala que de toda teoria educacional deve derivar um método que dê um caminho ao professor. “É uma falsa inferência achar que a teoria construtivista não pode ter método, assim como é falso o pressuposto de que a criança vai aprender a ler e escrever só pelo convívio com textos. O ambiente alfabetizador não é suficiente” (Soares, 2003, p. 18). Portanto, o construtivismo aplicado à alfabetização e divulgado por Emilia Ferreiro é uma teoria psicolinguística3, e não uma teoria pedagógica de como ensinar. Ademais, essa perspectiva reconhece a necessidade de abordar unidades menores de análise, como a letra, o fonema ou a sílaba, isto é, sem menosprezar a especificidade da aquisição da técnica da escrita. TEMA 3 – PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA Emília Ferreiro nasceu na Argentina, em 1936. Formou-se em Psicologia pela Universidade de Buenos Aires. Em 1970, estudou na Universidade de Genebra, sob orientação de Jean Piaget. Desenvolveu pesquisas sobre a aquisição da língua escrita pela criança, tomando como base a epistemologia genética. Em 1971, retornou a Buenos Aires, formou um grupo de pesquisa e publicou sua tese de doutorado. Três anos depois, com a pedagoga Ana Teberosky – argentina, nascida em 1944 e doutora em Psicologia pela Universidade de Barcelona –, desenvolveu vários experimentos com crianças, resultando na obra Psicogênese da língua escrita, publicada em 1979, na Argentina, e em 1984, no Brasil. 3 Segundo Frade (2005, p. 41), uma teoria psicolinguística “explicita como os aprendizes organizam psicologicamente a aprendizagem de um conteúdo de escrita”. 10 Embora não apresente nenhum método pedagógico, essa é sua obra mais importante, pois explicita o processo de aprendizagem da língua escrita pela criança, questionando os métodos tradicionais de leitura e escrita. Essas duas estudiosas construíram, de acordo com Soares (2020, p. 55, grifos do original), “uma teoria, a psicogênese da escrita: um modelo explicativo da gênese (da origem) dos processos cognitivos (psíquicos) que conduzem a criança, ao longo de seu desenvolvimento, à progressiva construção do conceito de escrita como um sistema de representação dos sons da língua por letras”. Após a publicação dessa famosa obra de Emília Ferreiro e Ana Teberosky e de outros estudos oriundos da área da Psicologia – como os de Piaget e Vygotsky – serem difundidos no cenário educacional, na década de 1980, os métodos tradicionais foram postos em xeque. Em seus estudos, Ferreiro e Teberosky voltam-se para a pré-história da escrita infantil, ou seja, o período que antecede o ensino formal da escrita. As autoras preocupam-se com o processo da progressiva compreensão da criança acerca do sistema alfabético de escrita, definindo os níveis pelos quais ela passa. O foco da pesquisa de Ferreiro e Teberosky são os processos cognitivos da criança em sua progressiva aproximação ao princípio alfabético de escrita, ou seja, o objeto de conhecimento é a escrita como um sistema de representação, que as pesquisadoras analisam sob a perspectiva da psicogênese, no quadro da teoria piagetiana. (Soares, 2016, p. 62) O destaque é, portanto, à compreensão da natureza do sistema de escrita, realizada pela criança. Isso mostra que a psicogênese da língua escrita não é um método, mas uma teoria que ajuda a entender como o sujeito se apropria desse sistema. Como objeto de conhecimento, a escrita exige reflexão, interação, elaboração de conceitos, tentativas, “erros” e reelaboração de hipóteses, até se chegar à apropriação do sistema alfabético. A Figura a seguir mostra as ideias gerais da psicogênese da língua escrita. 11 Figura 2 – Ideias da psicogênese da língua escrita Fonte: Zatera, 2023, com base em Soares; Batista, 2005. Em suas pesquisas, Ferreiro selecionou crianças de 4 a 6 anos, falantes do espanhol, e as convidou a escrever palavras e frases curtas, por meio do que chama de escrita espontânea ou inventada4. Ela concluiu que “as crianças evoluem em níveis sucessivos, em uma progressiva compreensão da escrita como um sistema de representação. Esses níveis têm sido confirmados em numerosas pesquisas com crianças falantes de outras línguas” (Soares, 2020, p. 56), sobretudo as que têm fronteiras silábicas nitidamente demarcadas, como é o caso do português. TEMA 4 – FASES DO DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA Crianças bem pequenas costumam desenhar acreditando que estão “escrevendo”, porque, se assim o fazem, entendem que escrever é representar aquilo que se fala, isto é, os significados. Aos poucos, vão vivenciando situações de leitura e escrita em seu dia a dia, como ouvir histórias, observar as propagandas, folhear revistas e gibis e manusear os dispositivos móveis, e percebem que a escrita não é o mesmo que desenho. Percebem os traços, os riscos, as linhas que vão de um lado a outro do papel e passam a imitar esses 4 Na escrita espontânea ou inventada, são dadas oportunidades à criança de tentar escrever. Segundo Soares (2020), devem ser frequentes desde a educação infantil, pois revelam-se como atividades periódicas diagnósticas que permitem verificar em que nível de compreensão da escrita está a criança. Podem-se ditar palavras; entregar uma folha com desenhos e solicitar o registro por escrito dos nomes dos objetos; pedir para fazer listas, como dos animais ou comidas de que mais gosta etc. Muito antes de ingressar na escola, a criança inicia seu processo de aprendizado da língua escrita, no contato com a língua em seu cotidiano. O aprendizado da escrita tem natureza conceitual, porque diz respeito à compreensão do que é a escrita e como ela funciona. No contato ou na intervenção direta de adultos, a criança elabora hipóteses baseadas na análise da linguagem escrita, experimentando modos diferentes de ler e escrever. As hipóteses manifestam-se em escritas “espontâneas” das crianças; por isso, não são “erros”, mas as expressões das respostas que elas elaboram. As hipóteses são pouco a pouco reelaboradas pela criança, evidenciando expansão do seu conhecimento sobre a escrita. 12 registros. Esse processo evoluiu progressivamente até chegar à compreensão da escrita como representação dos sons da fala, ou seja, dos significantes. Esse processo evolutivo é apresentado por Ferreiro e Teberosky (1999) em cinco fases do desenvolvimento da escrita, conforme a figura a seguir: Figura 3 – Níveis de aquisição da escrita Fonte: Zatera, 2023. Esses níveis serão detalhados e exemplificados por meio de tentativas de escrita feitas por crianças. Observe a primeira delas e reflita: quais conhecimentos importantes para a aquisição da escrita essa criança já domina? Nível 1 (rabiscos) Nível 2 (pré-silábico) Nível 3 (silábico) Nível 4 (silábico- alfabético) Nível 5 (alfabético) 13 Criança 1 Crédito: Valeriia Soloveva/Shutterstock; Vector Tradition/Shutterstock; hvostik/Shutterstock. A criança 1 já compreende a linearidade da escrita e as formas que usa lembram a escrita cursiva. As linhas são sinuosas, obedecendo a direção da escrita do português: de cima para baixo e da esquerda para a direita. Nessa mesma fase, há crianças que usam garatujas quese assemelham a letras caixa- alta ou, ainda, há aquelas que acabam por representar a escrita das palavras com símbolos que mais parecem desenhos, diferentes dos traços retos ou curvos das letras, como os da imagem a seguir. A criança 2 não percebeu ainda a linearidade da escrita. 14 Criança 2 Crédito: Valeriia Soloveva/Shutterstock; Vector Tradition/Shutterstock; hvostik/Shutterstock. Ambas as crianças encontram-se na fase do rabisco ou das garatujas e ainda não perceberam que, para haver escrita, é preciso usar sinais gráficos, ou seja, as letras. No nível denominado por Ferreiro de pré-silábico – embora a própria autora não tenha dado um nome específico para essa fase –, as crianças passam a substituir os rabiscos por letras, mas sem valor sonoro ou correspondência silábica, como é o caso da criança 3. 15 Criança 3: Mauricio Crédito: Valeriia Soloveva/Shutterstock; Vector Tradition/Shutterstock; hvostik/Shutterstock. A criança 3 já conhece as letras de seu nome. Em vista disso, usa essas letras aleatoriamente para escrever as palavras. Todavia, não as utiliza na mesma sequência em que aparecem na escrita convencional do seu nome. Isso mostra um importante conhecimento: para escrever diferentes palavras é necessário combinar as letras de distintas formas. Então, o princípio da variabilidade foi preservado, além do princípio da quantidade (usa, ao menos três letras para grafar uma palavra). Obviamente, o traçado da letra, nessa fase, ainda não é firme e, às vezes, as crianças traçam-nas de modo espelhado. Também é comum escreverem as letras em caixa-alta bem juntas, sem espaçamento adequado. Acontece, ainda, nessa fase, o realismo nominal, quando a criança associa o tamanho do objeto à quantidade de letras necessárias para escrever a palavra que o nomeia. Por exemplo, escreve “urso” com muitas letras, porque ele é grande, e “abelha” com poucas, porque ela é pequena. OMARICIOAO MICIROAOMAU AOMAUORICIO 16 No nível silábico, há um grande avanço em relação ao domínio do código escrito, porque a criança passa a reparar no significante, ou seja, no som das palavras quando pronunciadas. Esse conhecimento é chamado de consciência fonológica e, conforme Soares (2020, p. 77), é a “capacidade de focalizar e segmentar a cadeia sonora que constitui a palavra e de refletir sobre seus segmentos sonoros que se distinguem por sua dimensão: a palavra, as sílabas, as rimas, os fonemas”. Contudo, no início do nível silábico, a criança representa a quantidade de sílabas da palavra sem atribuir valor sonoro às letras. Após a intervenção sistemática do professor, as crianças passam a escrever silabicamente com valor sonoro. Observe as duas tentativas de escrita a seguir. Criança 4 Crédito: Sketch Master/Shutterstock; Maulana 02/Shutterstock; nutriaaa/Shutterstock. DLP CAM TBO 17 Criança 5 Crédito: Sketch Master/Shutterstock; Maulana 02/Shutterstock; nutriaaa/Shutterstock. A criança 4 está no nível silábico sem valor sonoro, porque usa uma letra para cada sílaba das palavras que escreve, mas ainda não reconhece que as letras correspondem aos sons da fala. Por isso, escolhe as letras que conhece para grafar a quantidade de sílabas que a palavra tem, em uma combinação aleatória. A criança 5 escreve uma letra para cada sílaba das palavras, mas seleciona aquela que corresponde ao som que mais se destaca na pronúncia das palavras. Algumas crianças irão escolher sempre vogais, por serem “as únicas letras cujo nome corresponde ao fonema que representam, são os únicos fonemas pronunciáveis” (Soares, 2020, p. 97), como acontece com a escrita da palavra macaco. Já, quando grafa KAO para cavalo, a criança 5 escreve a sílaba inicial com a letra K (cá), pois se orienta pelo nome da letra e não pelo som da vogal dessa sílaba. Outras crianças nesse nível começam a identificar fonemas consonantais, GRA AAO AAO 18 por exemplo, quando escrevem GRA para girafa, o que indica a evolução para a fase seguinte. O nível silábico-alfabético foi assim nomeado porque a criança oscila entre a escrita silábica e a alfabética. Ela nota que é possível segmentar algumas sílabas em unidades sonoras menores (fonemas) e utiliza mais de uma letra para representá-las. No entanto, em outras situações, continua grafando apenas uma letra para cada sílaba, conforme a tentativa de escrita a seguir. Criança 6 Crédito: Sketch Master/Shutterstock; Maulana 02/Shutterstock; nutriaaa/Shutterstock. A criança 6 segmenta algumas sílabas das palavras em mais de um som, como acontece com a sílaba VA em cavalo; RA e FA em girafa e CA e CO em macaco. Ela percebe que uma sílaba pode ser segmentada em mais de um som, ou seja, já identifica alguns fonemas e relaciona os sons com as letras que os representam. Normalmente, crianças nessa etapa avançam rapidamente para a próxima, quando passam a segmentar todas as sílabas das palavras em fonemas. No nível alfabético, Soares (2020) alerta para a necessidade de ensinar explicitamente todos os fonemas do português brasileiro e todas as letras GRAFA MCACO KVAO 19 correspondentes a eles. A criança precisa realizar a difícil tarefa de decompor as sílabas em unidades menores, que não são facilmente identificáveis em nossa língua. Além disso, precisa “desenvolver a consciência grafofonêmica: a consciência das correspondências entre letras (grafemas) e fonemas” (Soares, 2020, p. 121). A criança 7 está no nível alfabético, como se pode observar a seguir. Criança 7 Crédito: Sketch Master/Shutterstock; Maulana 02/Shutterstock; nutriaaa/Shutterstock. A criança 7 percebe que cada letra corresponde a um fonema. Grafou a palavra girafa com J, pois esta é uma questão ortográfica, como é o caso de S/Z (casa, azul); R/RR (rato/carro); S/SS/C/Ç (doce, açúcar, assa, sede) etc., que são um desafio nesse nível e serão superadas aos poucos, com muita leitura, uso do dicionário e intervenção do mediador. É pertinente destacar que a apropriação da escrita não acontece de modo linear e igual com todas as crianças, pois há diferenças entre os ritmos de desenvolvimento e aprendizagem de cada uma. A turma de alunos será sempre heterogênea: um avançará mais rapidamente que outro; há crianças que não JIRAFA MACACO CAVALO 20 passam por todas as fases; há outras que se encontram em duas fases ao mesmo tempo etc. Por essa razão, há de se conhecer o nível em que cada estudante está; trabalhar em grupos para que os mais avançados auxiliem os que ainda precisam de maior intervenção e preparar atividades para que todos progridam. TEMA 5 – TENDÊNCIA HISTÓRICO-CRÍTICA EM ALFABETIZAÇÃO Esta seção busca explorar aspectos do desenvolvimento da escrita, fundamentados na psicologia histórico-cultural – cujos principais teóricos são Vygotsky, Leontiev e Luria – e pautados na pedagogia histórico-crítica5. Esses três autores destacam a natureza social do desenvolvimento e, consequentemente, o papel fundamental da educação escolar. Segundo a perspectiva histórico-cultural, é fundamental transmitir às novas gerações o que os seres humanos já desenvolveram e conquistaram no decorrer da história. Por essa razão, é preciso desenvolver as funções psicológicas superiores6 para se apropriar da cultura. Essas funções possibilitam aos indivíduos “utilizar o patrimônio humano-genérico exitosamente fazendo das apropriações mediações entre os sujeitos e a realidade” (Martins; Marsiglia, 2015, p. 30). Essa abordagem difere-se da construtivista, sem invalidá-la, porque o sujeito, além de ativo, passa a ser interativo. O professor tem papel fundamental no ato de ensinar – é um mediador. Embora nãose possa desconsiderar a ação individual, a interação entre o mediador e o aluno e deste com outros é instância necessária para a construção do conhecimento, pois a criança, enquanto aprende, desenvolve suas capacidades cognitivas, afetivas e adquire novas habilidades e [...], da mesma forma, ao se desenvolver, constrói estruturas que lhe possibilitam novas aprendizagens. Aprendizagem e desenvolvimento são concebidos como processos interdependentes e contínuos, cuja natureza pressupõe que um seja convertido no outro. Nessa perspectiva, a ação da criança não se dá apenas no nível individual, a fim de construir seu próprio conhecimento, mas sim no nível coletivo, interativamente, na co- construção de conhecimentos. (Gomes; Monteiro, 2005, p. 37) 5 A pedagogia histórico-crítica foi um termo cunhado por Demerval Saviani, em 1978, e “assume um compromisso explícito com a transformação da sociedade e com a luta socialista” (Santos, 2018, p. 45), pois “a questão educacional é sempre referida ao problema do desenvolvimento social e das classes. A vinculação entre interesses populares e educação é explícita” (Saviani, 2013, p. 72 citado por Santos, 2018, p. 45). 6 As funções superiores ou processos psicológicos superiores são capacidades humanas que têm a função de organizar a vida mental dos sujeitos de modo adequado, tais como memória (ativa), atenção (voluntária), imaginação, pensamento, planejamento e linguagem. 21 Por conseguinte, podemos mencionar a importância do conceito de zona de desenvolvimento proximal – base de todo o desenvolvimento da aprendizagem – proposto por Vygotsky, pois a presença do professor-mediador como colaborador e orientador é primordial para que o aprendiz avance daquilo que não consegue fazer sozinho (nível de desenvolvimento potencial) para aquilo que conseguirá fazer sem ajuda (nível de desenvolvimento real). Assim, o mediador, estando entre o conhecimento e os outros sujeitos, “cria pontes” que os auxiliam a atingirem um estágio mais avançado de aprendizagem. Os saberes que ainda estão sendo formados podem ser dominados pelo aprendiz, por meio da mediação fornecida pelo professor, que ativa os processos de desenvolvimento e as capacidades cognitivas do aluno, possibilitando que este internalize o conhecimento partilhado socialmente. Baseadas na perspectiva histórico-cultural, Martins e Marsiglia (2015) citam Luria, que, ao estudar o desenvolvimento da escrita, percebeu que a criança percorre um importante caminho de aquisições culturais até começar a escrever de forma padronizada. As técnicas primitivas de escrita desenvolvidas antes da alfabetização são essenciais para que a escrita se desenvolva como um sistema de signos culturalmente elaborado. Figura 4 – Fases de aquisição da escrita para Luria Fonte: Zatera, 2023, com base em Martins; Marsiglia, 2015. Pré-instrumental (a partir dos 3 anos) - A criança "escreve" imitando o adulto, mas sem atribuir significado ao que a escrita representa e sem função mnemônica. - Atividade gráfica diferenciada (entre 4 e 5 anos) - A criança usa registros gráficos para relembrar a sentença ditada. - O rabisco tem função auxiliar de um signo; uma técnica mais aprimorada. Escrita pictográfica (entre 5 e 6 anos) - O desenho é utilizado como meio de registro, "signo-símbolo". Escrita simbólica (6 a 7 anos) - Uso da escrita dentro do sistema socialmente estabelecido sem recorrer a marcas ou desenhos. - Conhecimento de diferentes gêneros. 22 Na fase pré-instrumental é importante instigar a criança a superar essa mera imitação, fazendo com que use os registros gráficos para se recordar de algum evento, como fazer um desenho, uma pintura ou uma colagem sobre uma história ouvida. Na fase da atividade gráfica diferenciada, sugerem-se atividades como a realização de uma dobradura de um animal, por exemplo, pois ajuda a criança a relacionar essa dobradura a um substantivo concreto, ou seja, é uma maneira de representar o animal. Na fase da escrita pictográfica, é possível solicitar que a criança desenhe substantivos abstratos, verbos, adjetivos etc., pois o desenho deve avançar para a função de registros mais específicos. Também, além de já conhecer letras e números, a criança deve ser apresentada formalmente ao alfabeto, considerando a relação grafema e fonema. Na fase da escrita simbólica, deverá haver a transição das formas primitivas de leitura e escrita para as formas culturais complexas de se expressar graficamente (Martins; Marsiglia, 2015). Portanto, uma prática pedagógica pautada na pedagogia histórico-crítica prevê a possibilidade de se ensinar atribuindo significado àquilo que está sendo apropriado foneticamente. O professor é elemento essencial nesse processo, pois orientará a tarefa de ensino de modo a garantir a apropriação da escrita como instrumento cultural. 23 REFERÊNCIAS FARACO, C. A. Linguagem escrita e alfabetização. São Paulo: Contexto, 2012. FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. A psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed, 1999. FRADE, I. C. A. S. Métodos e didáticas de alfabetização: história, características e modos de fazer de professores. Caderno do professor. Belo Horizonte: Ceale/FaE/UFMG, 2005. Disponível em: . Acesso em: 18 abr. 2023. GOMES, M. F. C.; MONTEIRO, S. M. A aprendizagem e o ensino da língua escrita: caderno do professor. Belo Horizonte: Ceale/FaE/UFMG, 2005. Disponível em: . Acesso em: 18 abr. 2023. MAIA, C. M. Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem. Curitiba: InterSaberes, 2017. MARTINS, L. M.; MARSIGLIA, A. C. G. As perspectivas construtivista e histórico-crítica sobre desenvolvimento da escrita. Campinas: Autores Associados, 2015. PALANGANA, I. C. 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