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<p>1</p><p>DOS FATOS JURÍDICOS</p><p>(Livro III do Código Civil)</p><p>(arts. 104 a 232, CC)</p><p>1. INTRODUÇÃO</p><p>“FATO”, é qualquer ocorrência desprovida de consequência jurídica, ou seja, não tem</p><p>qualquer relevância para o direito (Ex.: posição das nuvens).</p><p>“FATO JURÍDICO” (“em sentido amplo”): é qualquer ocorrência com repercussão para</p><p>o direito, produzindo efeitos jurídicos (ex.: acidente de trânsito, agressão física, etc.).</p><p>FATO + DIREITO = FATO JURÍDICO.</p><p>2. CLASSIFICAÇÃO DOS FATOS JURÍDICOS EM SENTIDO AMPLO</p><p>Os FATOS JURÍDICOS podem ser classificados de duas formas, em NATURAIS e</p><p>HUMANOS.</p><p>2.1. FATO JURÍDICO NATURAL / FATO JURÍDICO STRICTO SENSU: advém de fenômeno</p><p>natural, independe da atuação da vontade humana (não volitivo), mas produz efeitos</p><p>jurídicos.</p><p>O Fato Jurídico Natural (strictu sensu) pode ser subdividido em:</p><p>-FATO JURÍDICO NATURAL ORDINÁRIO: é o evento comum, costumeiro,</p><p>cotidiano, que ocorre naturalmente com decurso do tempo (Ex.:</p><p>nascimento; maioridade; morte; prescrição, decadência, etc.). Sofre grande</p><p>influência do elemento tempo.</p><p>-FATO JURÍDICO NATURAL EXTRAORDINÁRIO: É o fato que foge à normalidade</p><p>e produz efeitos (em regra prejuízos), ou seja, é o “caso fortuito” ou “força</p><p>maior” (Ex.: desabamento de um edifício em razão de fortes chuvas; incêndio</p><p>de uma casa provocado por um raio; terremoto; etc.).</p><p>Obs.: Não há consenso na doutrina acerca da conceituação do “caso fortuito”</p><p>e da “força maior”, devendo, para muitos autores serem tratados como</p><p>sinônimos. No entanto, temos também a definição de ORLANDO GOMES, no</p><p>seguinte sentido:</p><p>-CASO FORTUITO é o evento totalmente imprevisível.</p><p>-FORÇA MAIOR é o evento previsível, mas inevitável.</p><p>2</p><p>O Código Civil trata do caso fortuito e da força maior no art. 393, como excludente de</p><p>responsabilidade.</p><p>2.2. FATO JURÍDICO HUMANO / FATO JURÍGENO: é toda ação humana que visa a</p><p>criação, extinção, modificação ou conservação de direitos e deveres. Acaba sendo um</p><p>“ato”, pois a partir do momento em que há o elemento volitivo (vontade) do ser</p><p>humano, inegavelmente, temos um “ato”.</p><p>O que diferencia o FATO JURÍDICO NATURAL e o HUMANO é o “elemento volitivo”, ausente</p><p>no primeiro e presente no segundo.</p><p>Questão polêmica é a que diz respeito a classificação do fato jurídico humano em LÍCITO</p><p>e ILÍCITO, tendo em vista as seguintes teses doutrinárias:</p><p>1ª corrente: entende que o ato ilícito NÃO É ATO JURÍDICO, pois o que é antijurídico não</p><p>é jurídico, para esta corrente, somente os atos lícitos são considerados jurídicos.</p><p>Comungam deste entendimento: Flávio Tartuce, Rodolfo Pamplona, Pablo Stolze,</p><p>Orosimbo Nonato e Vicente Ráo).</p><p>2ª Corrente: entendem que ato ilícito também é ato jurídico, tendo em vista as</p><p>consequências de sua violação. Comungam deste entendimento: Sílvio Venosa, José</p><p>Carlos Moreira Alves e Pontes de Miranda.</p><p>- Ato Jurídico Humano Ilícito = é todo ato contrário ao ordenamento jurídico.</p><p>Para o Direito Penal, a importância do ato ilícito está na caracterização do crime e sua</p><p>punição.</p><p>Para o Direito Civil, a importância do ato ilícito está na apuração da responsabilidade</p><p>civil pelos danos causados.</p><p>O ato ilícito está previsto no art. 186 do Código Civil. Para a configuração do ato jurídico</p><p>ilícito há necessidade de uma LESÃO DE DIREITO + DANO.</p><p>- ATO JURÍDICO HUMANO LÍCITO: é o ato que está de acordo com o ordenamento</p><p>jurídico. Pode ser classificado em (espécies):</p><p>1ª) ATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO / STRICTO SENSU: também denominado de “ato</p><p>não negocial”, traduz um simples comportamento humano voluntário e consciente,</p><p>cujos efeitos estão previamente determinados em lei, e não da vontade das partes.</p><p>Segundo Tartuce, “há uma manifestação de vontade do agente, mas suas consequências</p><p>são previstas em lei e não da vontade das partes”.</p><p>3</p><p>Exemplo: Reconhecimento de paternidade. Reconhecida uma paternidade, os efeitos (o direito do</p><p>filho em usar o nome do pai; o dever do pai de pagar alimentos, etc.) decorrentes deste ato não</p><p>dependem da vontade da pessoa que fez o reconhecimento. Assim, não pode o suposto pai dizer</p><p>que reconhecerá um filho se não tiver que pagar alimentos.</p><p>Outros exemplos são: emancipação, notificação, ocupação de um imóvel, pagamento de</p><p>uma obrigação.</p><p>2ª) Negócio jurídico: É um ato jurídico em que há uma composição de interesses com</p><p>finalidade específica. Decorre do princípio da autonomia privada e da liberdade</p><p>negocial.</p><p>- Ordinário</p><p>- F.J. NATURAIS</p><p>(F.J. em sentido estrito) - Extraordinário</p><p>FATOS JURÍDICOS</p><p>EM SENTIDO AMPLO - Negócio Jurídico</p><p>- Lícito - Ato Jurídico em sentido estrito</p><p>- F.J. HUMANO</p><p>- Ilícitos - Ilícitos civis</p><p>- ilícitos penais</p><p>4</p><p>3. NEGÓCIO JURÍDICO</p><p>3.1. INTRODUÇÃO</p><p>Para Maria Helena Diniz, negócio jurídico “é o poder de autorregulação dos interesses</p><p>que contém a enunciação de um preceito, independentemente do querer interno”.</p><p>Para Flávio Tartuce, negócio jurídico é “toda ação humana, de autonomia privada, com</p><p>o qual os particulares regulam por si os próprios interesses, havendo uma composição de</p><p>vontades, cujo conteúdo deve ser lícito”.</p><p>3.2. CLASSIFICAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO</p><p>Os negócios jurídicos são classificados de diversas formas pela doutrina brasileira, sendo</p><p>relevante apontar, as seguintes classificações:</p><p>I. Quanto ao número de partes, poderão ser:</p><p>a) UNILATERAIS: quando apenas uma pessoa manifesta sua vontade (Ex.:</p><p>testamento; aceitação de herança; promessa de recompensa).</p><p>Os negócios jurídicos unilaterais podem ser classificados ainda em:</p><p>-RECEPTÍCIOS: quando a outra parte precisa tomar conhecimento para</p><p>que seja válido (Ex.: revogação de mandato);</p><p>-NÃO RECEPTÍCIOS: quando o conhecimento da declaração de</p><p>vontade pelo destinatário é irrelevante para que o negócio produza</p><p>efeitos (Ex.: testamento).</p><p>b) BILATERAIS: são aqueles em que duas pessoas manifestam sua vontade com o</p><p>mesmo intuito (Ex.: contratos em geral; compra e venda, locação, etc.).</p><p>c) PLURILATERAIS: são os negócios jurídicos que envolvem mais de duas partes,</p><p>com interesses coincidentes no plano jurídico. (Ex.: contrato de consórcio;</p><p>contrato de sociedade entre várias pessoas)</p><p>II. Quanto às vantagens patrimoniais para os envolvidos, poderão ser:</p><p>a) GRATUITOS: são atos de mera liberalidade, ou seja, quando apenas uma das</p><p>partes aufere benefícios, sem qualquer contraprestação (ex.: doação pura).</p><p>b) ONEROSOS: são os negócios em que ambas as partes auferem benefícios e</p><p>suportam ônus (ex.: contratos de compra e venda; locação). Deve ser lembrando</p><p>que quando o negócio jurídico é oneroso o patrimônio de ambas é afetado.</p><p>5</p><p>c) BIFRONTES: podem, conforme a vontade das partes, ser tanto onerosos como</p><p>também, gratuitos. O melhor exemplo de negócio bifronte é o contrato de</p><p>mútuo (empréstimo de coisa fungível; contrato de depósito) que, dependendo</p><p>da forma que foi ajustado, pode ser gratuito ou não.</p><p>d) NEUTROS: quando não houver atribuição patrimonial específica no negócio</p><p>jurídico, não podendo ser enquadrado como onerosos nem como gratuitos. (Ex.:</p><p>ato de instituição de bem de família voluntário por meio de escritura pública –</p><p>art. 1.711, CC).</p><p>III. Quanto ao momento em que produzirão efeitos, poderão ser:</p><p>a) INTER VIVOS: são aqueles destinados a produzir efeitos durante a vida dos</p><p>interessados (ex.: contratos de compra e venda; casamento).</p><p>b) MORTIS CAUSA: pactuados para produzir efeitos após a morte de determinada</p><p>pessoa (testamento; contrato de seguro de vida, etc.)</p><p>Obs.: art. 426 do CC “não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva”.</p><p>IV. Quanto à forma, poderão ser:</p><p>a) SOLENES: devem obedecer a forma prevista em lei para que sejam considerados</p><p>válidos (ex.: casamento; testamento; escritura pública para compra</p><p>de bem imóvel</p><p>superior a 30 salários mínimos).</p><p>b) NÃO SOLENES: não exigem forma legal para sua efetivação, admitindo forma</p><p>livre. É a regra. (ex.: compra e venda de bens móveis).</p><p>V. Quanto à existência ou autonomia, poderão ser:</p><p>a) PRINCIPAIS: são os negócios jurídicos que não dependem de qualquer outro</p><p>negócio para que possam existir e ser válidos, possuem vida própria. Ex.: contrato</p><p>de locação; compra e venda; mútuo, etc.</p><p>b) ACESSÓRIOS: têm sua existência e validade vinculada a um outro negócio</p><p>jurídico considerado principal. Ex.: fiança, penhor.</p><p>VI. Quanto às condições pessoais especiais dos negociantes, poderão ser:</p><p>a) IMPESSOAIS: não dependem de qualquer condição especial dos envolvidos,</p><p>podendo a prestação ser cumprida tanto pelo obrigado quanto por um terceiro.</p><p>Ex.: contrato de compra e venda.</p><p>b) PERSONALÍSSIMO (Intuitu personae): são aqueles dependentes de uma</p><p>condição especial de um dos negociantes, havendo uma obrigação infungível.</p><p>Ex.: a contratação de um pintor famoso, com talento único, para fazer o retrato</p><p>de uma família.</p><p>6</p><p>Essa classificação não é exaustiva, uma vez que a doutrina cuida de apresentar outros</p><p>subtipos, de acordo com os mais variados critérios.</p><p>3.3. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO NEGÓCIO JURÍDICO</p><p>Para que o negócio jurídico EXISTA, seja VÁLIDO e EFICAZ é necessário verificar</p><p>determinados requisitos legais. Todavia, não existe consenso na doutrina brasileira sobre</p><p>o objeto deste estudo. Vamos seguir os ensinamentos deixados por Pontes de Miranda,</p><p>que desenvolveu uma teoria simples e direta, batizada, posteriormente, de “escada</p><p>ponteada”. Segundo esta teoria, todo e qualquer negócio jurídico deve sempre ser</p><p>analisado sob três planos:</p><p>a) Plano da Existência;</p><p>b) Plano da Validade;</p><p>c) Plano da Eficácia.</p><p>Vamos à análise desses planos da “escada ponteana”:</p><p>O PLANO DA EXISTÊNCIA é o primeiro degrau da escada ponteana, compreende os</p><p>elementos mínimos, os elementos essenciais do negócio jurídico.</p><p>Nesse plano temos substantivos sem adjetivação. Esses substantivos são:</p><p>1. PARTES (ou AGENTES);</p><p>2. OBJETO;</p><p>3. VONTADE;</p><p>4. FORMA.</p><p>Segundo os adeptos desta teoria, não havendo algum desses elementos o negócio</p><p>jurídico é tido por inexistente.</p><p>Preenchidos os requisitos do plano da existência, o negócio é tido por existente, mas</p><p>não significa que é válido, para tanto é necessário analisar o preenchimento dos</p><p>requisitos do segundo degrau da escada (plano da validade).</p><p>No segundo degrau da escada, temos o PLANO DA VALIDADE, onde os substantivos</p><p>mencionados no plano da existência ganham adjetivos, da seguinte forma:</p><p>1. PARTES ou AGENTES CAPAZES e LEGITIMADAS;</p><p>2. OBJETO LÍCITO, POSSÍVEL, DETERMINADO ou DETERMINÁVEL;</p><p>3. VONTADE LIVRE/ SEM VÍCIOS;</p><p>4. FORMA PRESCRITA OU NÃO DEFESA EM LEI.</p><p>Tais elementos estão previstos no art. 104 do Código Civil.</p><p>A ausência de um dos elementos do plano de validade do negócio jurídico ocasiona a</p><p>sua invalidade (nulidade absoluta ou nulidade relativa/anulabilidade).</p><p>7</p><p>No terceiro e último degrau da escada ponteana temos o PLANO DE EFICÁCIA, neste</p><p>plano estão os efeitos gerados pelo negócio jurídico, ou seja, suas consequências</p><p>jurídicas práticas.</p><p>Em regra, uma vez considerado existente e válido, o negócio jurídico deve produzir</p><p>efeitos automaticamente. Todavia, essa produção de efeitos pode estar limitada ou</p><p>suspensa por algum elemento acidental, como é o caso da: 1. CONDIÇÃO; 2. TERMO; 3.</p><p>MODO ou ENCARGO.</p><p>Assim, a escada ponteana pode ser simbolizada:</p><p>3.3.1. ELEMENTOS ESSENCIAIS DO NEGÓCIO JURÍDICO:</p><p>“Elementos essenciais” são aqueles imprescindíveis à existência do ato negocial, por</p><p>formarem sua substância, englobando tanto os requisitos de existência (partes, objeto,</p><p>vontade e forma), como também os requisitos de validade (partes capazes e</p><p>legitimadas; objeto lícito; possível, determinado ou determinável; vontade livre (sem</p><p>vícios); forma prescrita ou não defesa em lei). Vamos a sua análise:</p><p>As PARTES devem ser:</p><p>a) CAPAZES: são as partes que têm pleno discernimento para assumir direitos</p><p>e deveres.</p><p>No caso de o negócio ser celebrado pelo incapaz sem ser representado ou</p><p>assistido, o negócio será nulo (incapacidade absoluta – art. 166, I, CC), ou</p><p>anulável (incapacidade relativa - art. 171, I, CC);</p><p>8</p><p>b) LEGITIMADAS: aquelas que são titulares dos direitos que pretendem</p><p>negociar, ou que estão autorizadas para tanto. Ex.: Pessoa casada no regime</p><p>comum, plenamente capaz, não poderá vender o imóvel sem outorga de seu</p><p>cônjuge, pois lhe falta legitimação. O descumprimento tornará anulável o ato</p><p>(art. 1.649, CC); só o dono do imóvel pode vendê-lo.</p><p>Obs.: é proibida a venda a non domino (por aquele que não é dono) no nosso</p><p>Código Civil.</p><p>O OBJETO deve ser:</p><p>a) LÍCITO: o que não contraria a lei, a moral, os bons costumes e a ordem</p><p>pública. Ex. inverso: contrato de transporte de entorpecente (O contrato</p><p>existe, mas é ilícito, sendo nulo de pleno direito – art. 166, II, CC); compra e</p><p>venda de objeto roubado.</p><p>b) POSSÍVEL: É humanamente possível? A possibilidade do negócio jurídico</p><p>deve ser analisada de uma forma geral, isto é, em relação a todas as pessoas.</p><p>Para que seja impossível deve ser irrealizável por quem quer que seja. Ex.</p><p>inverso: dar a volta ao mundo em 2 horas; alienação de terreno situado em</p><p>marte; venda de herança de pessoa viva (art. 426, CC). Em tais casos, o</p><p>contrato existe, mas é impossível, sendo nulo – art. 166, II, CC.</p><p>c) DETERMINADO ou DETERMINÁVEL: determinado é o objeto que está</p><p>individualizado, não deixando dúvidas. Ex.: em uma alienação de imóvel, as</p><p>partes devem descrevê-lo minuciosamente, informando as suas dimensões e</p><p>confrontações, na escritura pública de compra e venda.</p><p>Determinável é o objeto que possui elementos mínimos para a</p><p>individualização no futuro: individualização de gênero (caneta) e quantidade</p><p>(01 – uma).</p><p>Ex.: Em uma venda de cereais, admite-se até não especificar, no instrumento</p><p>negocial, qualidade do café (se do tipo A ou B), mas o seu gênero (café) e quantidade</p><p>(em sacas) devem ser indicados.</p><p>A VONTADE deve ser LIVRE: ou seja, não podem as partes estar sob qualquer forma de</p><p>ameaça ou pressão (coação).</p><p>A FORMA deve ser: PRESCRITA OU NÃO PROIBIDA EM LEI: Assim, se houver previsão</p><p>legal impondo determinado revestimento ao ato, sob pena de não valer, diz-se que o</p><p>negócio jurídico é solene. Ex.: necessidade de escritura pública para a venda e compra</p><p>de bens imóveis com valor acima de 30 salários mínimos – art. 108, CC.</p><p>Vale lembrar que, como regra, os negócios jurídicos são informais, não necessitando de</p><p>formalidade, conforme art. 107, CC.</p><p>9</p><p>3.3.2. ELEMENTOS NATURAIS DO NEGÓCIO JURÍDICO:</p><p>Significa que os efeitos decorrem naturalmente do negócio jurídico, sem que seja</p><p>necessária sua previsão. A própria lei define os efeitos do ato (Ex.: no contrato de compra</p><p>e venda, a entrega do bem (tradição), que é objeto do contrato, é um efeito natural).</p><p>3.3.3. ELEMENTOS ACIDENTAIS DO NEGÓCIO JURÍDICO:</p><p>São cláusulas que as partes podem adicionar em seus negócios para modificar uma ou</p><p>algumas de suas consequências naturais, como condição, termo e modo ou encargo.</p><p>A análise dos elementos acidentais é feita dentro do plano da eficácia.</p><p>Significa que, excepcionalmente, procurando alterar as consequências naturais do</p><p>negócio jurídico, ou regulamentar a produção dos seus efeitos, podem as partes inserir</p><p>elemento acidental, estipulando as seguintes clausulas: CONDIÇÃO, TERMO, MODO ou</p><p>ENCARGO. São chamados de elementos acidentais, pois são dispensáveis para a</p><p>existência e validade do negócio. Em regra, essas cláusulas podem ser inseridas em</p><p>qualquer negócio jurídico, mas em alguns é expressamente vedada a sua utilização,</p><p>como ocorre com o casamento (pois ninguém pode se casar sob condição ou termo);</p><p>também na aceitação ou renúncia da herança (art.1808, CC); reconhecimento de filho;</p><p>emancipação, dentre</p><p>outros.</p><p>Obs.: são declarações acessórias da vontade, incorporadas a outra que é a principal.</p><p>Aplicando-se, portanto, o princípio da gravitação jurídica, ou seja, tais cláusulas</p><p>seguem o destino do negócio jurídico principal, se este for nulo, as cláusulas acidentais</p><p>também serão.</p><p>A. CONDIÇÃO</p><p>É a clausula que subordina a eficácia do negócio jurídico a um evento futuro e incerto</p><p>(art. 121, CC). Ex.: eu compro o seu carro se chover no sábado, ao meio dia.</p><p>A condição pode ser classificada de várias formas, sendo a mais importante a</p><p>classificação em suspensiva e resolutiva:</p><p>a) SUSPENSIVA: quando as partes protelam, temporariamente, o início da</p><p>eficácia do negócio jurídico a um evento futuro e incerto.</p><p>Exemplos: Compro o seu cavalo se ele vencer o evento (corrida); doarei o</p><p>meu sítio se você se casar;</p><p>Obs.: enquanto estiver pendente a condição suspensiva NÃO há direito</p><p>adquirido, havendo mera expectativa de direito (ou direito eventual).</p><p>10</p><p>b) RESOLUTIVA: quando verificada põe fim a eficácia (subordina a ineficácia) do</p><p>negócio jurídico. Ex.: Constituo uma renda em seu favor, enquanto você</p><p>estudar; cedo-lhe esta casa, para que nela resida, enquanto for solteiro.</p><p>ATOS DESTINADOS À CONSERVAÇÃO: ao titular do direito eventual (expectativa de</p><p>direito), nos casos de condição suspensiva ou resolutiva é permitido praticar os atos</p><p>destinados a conservação (art. 130, CC). Ex.: se alguém promete um apartamento a</p><p>outrem, para quando se casar, este poderá reformá-lo, se necessário.</p><p>Obs.: a venda a contento é hipótese de condição suspensiva!</p><p>B. TERMO</p><p>É a clausula que subordina a eficácia do negócio jurídico a um evento futuro e certo.</p><p>É o momento (dia, mês, ano) em que começa ou termina a eficácia do negócio jurídico.</p><p>De acordo com Vicente Ráo (Ato jurídico, p. 301): “termo é o evento futuro e certo cuja</p><p>verificação se subordina o começo ou fim dos efeitos dos atos jurídicos”.</p><p>Podemos então afirmar que o início ou o fim da eficácia do negócio jurídico ficam</p><p>vinculados a um evento futuro e certo.</p><p>Dentre as classificações mais importantes, o termo também pode ser classificado em</p><p>suspensivo e resolutivo:</p><p>a) TERMO SUSPENSIVO/ “TERMO INICIAL” (OU DIES A QUO): fixa o momento em que</p><p>a eficácia do negócio jurídico deve iniciar (art. 131, CC).</p><p>Exemplo: Dar-te-ei este carro quando você completar a maioridade.</p><p>Obs.: o termo inicial suspende apenas o exercício, mas não a aquisição do</p><p>direito (já há direito adquirido).</p><p>b) TERMO RESOLUTIVO/ “TERMO FINAL” (OU DIES AD QUEM): quando verificado</p><p>põe fim a eficácia do negócio jurídico, ou seja, determina a data da cessação</p><p>dos efeitos do negócio (art. 127, CC)</p><p>Ex.: Eu te empresto meu carro até junho (termo resolutivo).</p><p>OBS.: Em determinados casos podemos ter o termo suspensivo (inicial) e resolutivo</p><p>(final) juntos, no mesmo contrato. Ex.: Alugo uma chácara no dia x (termo suspensivo)</p><p>para devolver no dia y (termo resolutivo).</p><p>O termo ainda pode ser certo ou incerto, de acordo com a certeza:</p><p>a) CERTO (certus an certus quando): se sabe que ocorrerá e se sabe quando</p><p>ocorrerá (Ex.: data futura - 12/11/2015);</p><p>11</p><p>b) INCERTO (certus an incertus quando): é aquele certo que ocorrerá, mas não se</p><p>sabe quando ocorrerá (Ex1.: vou lhe doar um guarda-chuva quando chover</p><p>em Boituva (é fato que um dia irá chover em Boituva); Ex2.: quando o fulano</p><p>morrer)</p><p>TERMO X PRAZO</p><p>É rotineira a confusão acadêmica entre as expressões “termo” e “prazo”. O prazo é</p><p>justamente o intervalo temporal que se tem entre o termo inicial e o termo final.</p><p>TERMO INICIAL ---------------------------PRAZO------------------------TERMO FINAL</p><p>(Dies a quo) (Dies ad quem)</p><p>C. MODO OU ENCARGO</p><p>Os doutrinadores baianos Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona conceituam modo ou</p><p>encargo da seguinte forma: “é determinação acessória acidental do negócio jurídico que</p><p>impõe ao beneficiário um ônus a ser cumprido, em prol de uma liberalidade maior.”</p><p>Assim, modo ou encargo consiste na prática de uma liberalidade subordinada a um</p><p>ônus. Ex.: Doação modal (onerosa) - uma pessoa doa um terreno a outro, mas com o</p><p>encargo de que construa em parte dele uma escola.</p><p>Se o encargo não for cumprido pode ocorrer duas situações:</p><p>a) o doador poderá pedir a revogação da doação do bem;</p><p>b) o doador poderá exigir (executar) o cumprimento do encargo.</p>