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<p>HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA</p><p>MEDIEVAL OCIDENTAL</p><p>AULA 1</p><p>Prof. Douglas Mota Xavier de Lima</p><p>Profª Mariana Bonat Trevisan</p><p>2</p><p>CONVERSA INICIAL</p><p>A Idade Média não existe. […] é uma fabricação, uma construção, um</p><p>mito, quer dizer, um conjunto de representações e de imagens em</p><p>perpétuo movimento, amplamente difundidas na sociedade, de</p><p>geração em geração. (Amalvi, 2006, p. 537)</p><p>Com essa provocadora frase, Christian Amalvi inicia seu verbete do</p><p>Dicionário Temático do Ocidente Medieval lembrando aos leitores que o período</p><p>de 1.000 anos compreendido entre o fim do Império Romano Ocidental (476 d.C.)</p><p>e a conquista de Constantinopla pelos turcos-otomanos (1453 d.C.), comumente</p><p>denominado de Idade Média, é uma fabricação, uma construção social. Como</p><p>toda periodização, essa denominação é um instrumento que orienta a relação do</p><p>homem com o tempo histórico, sendo marcada por subjetividades e mecanismos</p><p>identitários do contexto que a idealizou, ou seja: toda periodização é um recurso</p><p>carregado de uma historicidade própria.</p><p>Pensar a Idade Média em nosso mundo como uma categoria em contínua</p><p>construção de sentido e em constante movimento de (re)apropriação é</p><p>fundamental para o nosso entendimento a respeito da História e Historiografia</p><p>Medieval Ocidental. A partir desse ponto de partida, dividimos esta aula em cinco</p><p>temáticas: a primeira apresenta o conceito de Idade média, abordando o</p><p>surgimento do termo, no século XIV, e o desenvolvimento de sua conotação</p><p>negativa, nos séculos XVII e XVIII.</p><p>Na segunda temática, discutimos o contraponto oferecido pela visão</p><p>idealizada advinda com o Romantismo do século XIX, bem como a</p><p>institucionalização da área de História Medieval no mesmo período. Em seguida,</p><p>abordamos as múltiplas noções de Idade Média surgidas no século XX,</p><p>considerando os usos políticos do passado medieval no início da centúria e as</p><p>renovações historiográficas que ressignificaram a Idade Média ao longo do</p><p>período.</p><p>Nosso quarto tema concentra-se na noção de medievalismo e discute as</p><p>variadas apropriações do medievo, sobretudo pela cultura de massas. Por fim,</p><p>no quinto item, discutimos as demarcações acerca do início e do fim do medievo,</p><p>assim como as periodizações internas da chamada Idade Média Ocidental.</p><p>3</p><p>TEMA 1 – IDADE MÉDIA: A FORMAÇÃO DO CONCEITO</p><p>A periodização da história jamais é um ato neutro ou inocente: a</p><p>evolução da imagem da Idade Média na época moderna e</p><p>contemporânea comprova isso. Por meio da periodização, expressa-</p><p>se uma apreciação das sequências assim definidas, um julgamento de</p><p>valor, mesmo que seja coletivo. Aliás, a imagem de um período</p><p>histórico pode mudar com o tempo. (Le Goff, 2015, p. 29)</p><p>A partir do século XIV, poetas e escritores ligados ao humanismo</p><p>cunharam termos para expressar a distinção entre o tempo em que viviam</p><p>(encarado como o limiar de uma nova era intelectual — moderna) e o passado</p><p>que lhes era imediatamente anterior, o qual viam como um período obscuro que</p><p>os separava de um tempo mais antigo (em que viveram pensadores como</p><p>Cícero, Sêneca, Ovídio, Platão, entre outros). Nesse sentido, podemos lembrar</p><p>algumas expressões que deram origem à noção pejorativa de Idade Média. O</p><p>poeta italiano Petrarca (1304-1374) empregou o termo tenebrae; o bibliotecário</p><p>papal Giovanni Andrea Bussi (1417-1475) falou em media tempestas; e o erudito</p><p>suíço Joachim von Watt (1484-1551) utilizou a expressão media aetas para</p><p>designar um tempo intermediário entre a Antiguidade dos clássicos e o novo</p><p>tempo intelectual que julgavam viver.</p><p>Não obstante, foi preciso esperar o século XVII no Ocidente europeu para</p><p>que um desejo de fixar uma periodização histórica se cristalizasse e a noção de</p><p>uma história humana laica se desprendesse da noção religiosa da história da</p><p>Salvação cristã. Os termos Antiguidade, Idade Média e Idade Moderna já</p><p>existiam desde o humanismo do século XIV, mas foi somente a partir da</p><p>sociedade seiscentista que eles ganharam contornos mais acabados, passando</p><p>a expressar uma divisão da história em três idades. Conforme a consciência da</p><p>modernidade se instaurava, consolidava-se a menção à Antiguidade e a uma</p><p>Idade Média (Koselleck, 2006, p. 21-39).</p><p>O século XVIII generalizou essa visão de história e, por seu viés</p><p>anticlerical e antiaristocrático, acentuou o desprezo ao passado denominado</p><p>medieval, visto como época de superstições, tirania clerical, anarquia feudal,</p><p>ausência de liberdade, ou seja, como Idade das Trevas. Para as revoluções</p><p>burguesas do período, a Idade Média serviu de contraponto ideal, permitindo a</p><p>exaltação de valores iluministas ao mesmo tempo em que legitimava a ruptura</p><p>revolucionária. Como explica Alain Guerreau, o Iuminismo foi uma ideologia de</p><p>luta, uma batalha intelectual para desacreditar e deslegitimar o modelo de</p><p>4</p><p>organização social estratificado até então vigente, redefinindo termos como</p><p>religião, economia e política (Guerreau, 2002, p. 25-29).</p><p>TEMA 2 – O SÉCULO XIX: NOSTALGIA E IDENTIDADE NACIONAL</p><p>Quando somos medievalistas sem nos interrogarmos o que é sê-lo,</p><p>corremos o risco de nos inserirmos numa “grande narrativa”</p><p>autoconstruída que periodizou qualitativa e preconceituosamente um</p><p>determinado passado. A defesa de uma Idade Média não identitária</p><p>implica o projeto de deslocar o “período medieval” da genealogia</p><p>progressista da humanidade, para um local cientificamente construído</p><p>de observação de factos sociais, moldados pelo espaço e tempo.</p><p>(Rosa, 2017, p. 22-29)</p><p>Nessa cronologia da construção do conceito de Idade Média, o século XIX</p><p>ocupa igualmente lugar de destaque. Nesse momento surgiu então a visão de</p><p>Idade Média advinda do movimento do Romantismo, perspectiva que passou a</p><p>idealizar e elogiar o passado medieval. Nesse momento de afirmação dos</p><p>estados nacionais burgueses, estabeleceu-se uma nostalgia que fez da Idade</p><p>Média o momento de origem das nacionalidades, época das tradições, da</p><p>vitalidade dos povos e de heróis virtuosos, como a santa Joana d’Arc, alçada a</p><p>mito nacional na França. Foi no período, por exemplo, que surgiu o modismo da</p><p>construção de igrejas, castelos e prédios no estilo gótico, inspirados em</p><p>construções medievais. Como afirma Guerreau, jamais se construíram tantos</p><p>palácios e igrejas como na Europa do século XIX, embebidas em cultos</p><p>neogóticos. Na literatura, a temática medieval também ganhou destaque, sendo</p><p>emblemáticas as obras de Goethe (1749-1832), Walter Scott (1771-1832) e</p><p>Victor Hugo (1802-1855) (Franco JR., 2006, p. 12-13).</p><p>Paralelamente, o século XIX foi o período de afirmação da história</p><p>científica e, consequentemente, nele se desenvolveu a História Medieval como</p><p>disciplina acadêmica. Tal institucionalização foi favorecida por uma série de</p><p>“políticas de memória” (Delacroix, 2012, p. 13-35) que remetiam ainda ao século</p><p>anterior — com a fundação de academias de história, tal como a Academia Real</p><p>da História Portuguesa, criada em 1720 — e se consolidaram na sociedade</p><p>oitocentista. Multiplicaram-se arquivos e institutos de pesquisa nacionais, como</p><p>a École Nationale des Chartres, na França, em 1821.</p><p>Segundo Marcelo Cândido da Silva, a maior e mais duradoura</p><p>contribuição do Romantismo aos estudos medievais nesse contexto foi a edição</p><p>e publicação de fontes, tal como a Monumenta Germaniae Historica (MGH),</p><p>entre 1819 e 1824, na Alemanha. Essa seria a maior coleção de edição de fontes</p><p>5</p><p>medievais, tornada indispensável para as investigações sobre a Idade Média</p><p>desde então. Com o objetivo de promover a história dos povos germânicos do</p><p>século V ao século XV, as MGH são um claro indicador da associação com o</p><p>nacionalismo germânico do século XIX (Silva, 2019, p. 148). De todo modo, seja</p><p>por meio das aspirações nostálgicas do romantismo, seja pelos pressupostos</p><p>científicos da história metódica, observa-se que no século XIX, ambas as vias</p><p>são expressões</p><p>de um movimento que buscou no medievo as raízes da</p><p>identidade nacional dos Estados europeus.</p><p>Ainda sobre o século XIX, convém assinalar três dimensões relacionadas</p><p>à institucionalização acadêmica da História Medieval: a noção de</p><p>evolução/progresso e civilização que orientou as diferentes ciências; a definição</p><p>de demarcações entre as disciplinas, em especial, entre História Medieval e</p><p>História Moderna; e a organização curricular com suas implicações para os</p><p>sistemas de ensino ocidentais.</p><p>Primeiramente, assinala-se que as Ciências Humanas e Sociais</p><p>passaram a se estruturar numa perspectiva evolucionista, compreendendo que</p><p>a história poderia ser descrita em termos de uma melhoria contínua, o progresso,</p><p>que abarcava desde as primeiras comunidades humanas primitivas aos estágios</p><p>mais avançados das civilizações, que seriam aqui representadas pelos Estados</p><p>europeus. Do mesmo modo, o termo civilização, até então empregado</p><p>principalmente no singular com um significado moral (civilizado como ser bom,</p><p>culto e educado, contrário ao ser inculto, rude e violento), passou a ser utilizado</p><p>no plural, associando-se aos conceitos de povo, cultura e nação. Decorre dessa</p><p>reorientação a divisão da História a partir de uma linha progressiva de</p><p>civilizações, que ocidentaliza a história numa marcha evolucionista. Desse</p><p>movimento de ocidentalização, a constituição da história da Idade Média como</p><p>história do Ocidente medieval, centrada na Europa, particularmente nos reinos</p><p>da França e Inglaterra, orientação que persiste na atualidade.</p><p>Em uma segunda dimensão, cabe ressaltar que foi no século XIX, por</p><p>meio de Jules Michelet (1798-1874) e, principalmente, Jacob Burckhardt (1818-</p><p>1897), que a expressão renascimentos (que geralmente referenciava aspectos</p><p>da história da arte) foi alçada a Renascimento, passando a expressar um período</p><p>histórico que se opunha à Idade Média. Esse mito do Renascimento como</p><p>símbolo de ruptura histórica caiu em desuso ao longo do século passado. No</p><p>entanto, seu enraizamento desde o século XIX difundiu a percepção de que ao</p><p>6</p><p>final da Idade Média, a Europa e, particularmente, a Itália viveram uma</p><p>verdadeira revolução cultural que conseguiu libertar o homem da opressão</p><p>religiosa e de uma sociedade coletivamente condicionada por excessivos</p><p>regulamentos e por uma divisão social corporativa (Blockmans;</p><p>Hoppenbrouwers, 2012, p. 4-5). Ademais, estabeleceram-se as demarcações</p><p>entre as disciplinas de História Medieval e História Moderna, com a primeira</p><p>terminando num cenário de crise generalizada, expressa na tríade guerra-fome-</p><p>peste, e a segunda iniciada com o alvorecer do Renascimento, definida pela</p><p>descoberta do mundo e do homem, como sugeriu Michelet.</p><p>Por fim, insere-se uma terceira dimensão por vezes desconsiderada ao</p><p>se tratar da institucionalização da história: a construção e a organização do</p><p>currículo acadêmico/escolar. Foi ao longo do século XIX que, em termos gerais,</p><p>a organização da escolarização se estruturou (Chervel, 1990), favorecendo a</p><p>promoção dos livros didáticos e a instrução pública oferecida pelo Estado, o que</p><p>contribui para que a escola ganhasse destaque como local onde era possível</p><p>ensinar tudo a todos ao mesmo tempo. Paralelamente, a disciplina de História</p><p>se institucionalizou nas universidades europeias e seu ensino se difundiu pelos</p><p>sistemas escolares criados pelos Estados nacionais. O Estado imperial brasileiro</p><p>se integrou a esse movimento a fim de reafirmar suas raízes ocidentais,</p><p>adotando o modelo curricular francês. Circe Bittencourt, ao investigar o saber</p><p>histórico escolar no Colégio Pedro II, o primeiro colégio público brasileiro de</p><p>ensino secundário, demonstra que, em 1837, a História tornou-se obrigatória e,</p><p>com as propostas curriculares de 1855 e 1857, a História da Idade Média</p><p>começou a figurar como obrigatória ao lado da História Antiga, da História</p><p>Moderna e da História do Brasil (Bittencourt, 2008, p. 99-111).</p><p>Até o momento, buscou-se apresentar a construção do conceito de Idade</p><p>Média, demonstrando a gradativa evolução do termo como instrumento de</p><p>periodização desde o século XIV, as acepções negativas que ele carregou,</p><p>tornando-se contraponto da sociedade burguesa e as múltiplas tendências</p><p>abertas pelo século XIX, ora numa perspectiva identitária, ora num olhar</p><p>nostálgico e valorativo, ou apenas na institucionalização acadêmica e escolar do</p><p>período. Em seguida, serão abordadas as reorientações do conhecimento sobre</p><p>a Idade Média no século XX.</p><p>7</p><p>TEMA 3 – AS MÚLTIPLAS IDADES MÉDIAS DO SÉCULO XX</p><p>A Idade Média ocupa assim, hoje, em nossa memória, o lugar</p><p>problemático crucial em que nossos antepassados colocavam a</p><p>Antiguidade greco-latina. Ela se oferece permanente como um termo</p><p>de referência, servindo, por analogia ou por contraste, ao nível dos</p><p>discursos, tanto racionais quanto afetivos, para esclarecer um ou outro</p><p>aspecto dessa mutabilidade, desta manipulabilidade que somos nós.</p><p>Um recurso tal, sem dúvida, é espontâneo demais para ser</p><p>perfeitamente inocente e poderíamos ver aí a projeção fantasmática de</p><p>alguns de nossos medos. (Zumthor, 2009, p. 17)</p><p>Em geral, as sínteses que apresentam os novos olhares sobre a Idade</p><p>Média no século XX tendem a se concentrar apenas na historiografia, sobretudo</p><p>no movimento da Escola dos Annales, demonstrando como a “Revolução</p><p>francesa da historiografia”, tal como sugeriu Peter Burke, redefiniu a</p><p>compreensão sobre o medievo. No entanto, antes de enveredar pelas questões</p><p>propriamente historiográficas, convém atentar aos usos políticos da Idade Média</p><p>na primeira metade do século passado, usos que ecoam no tempo presente.</p><p>A percepção comum da história europeia costuma compreender que o fim</p><p>do Antigo Regime, nos séculos XVIII e XIX, fez sucumbir as hierarquias e as</p><p>forças sociais que sustentavam o sistema. Em outras palavras, que a sociedade</p><p>de ordens foi implodida pelo avanço do capitalismo e da sociedade de classes,</p><p>que a nobreza perdeu seu prestígio e poder diante do declínio político e</p><p>econômico gerados pela nova ordem socioeconômica e pela afirmação da classe</p><p>burguesa. Na contramão dessa perspectiva, entende-se que a força política e</p><p>patrimonial da nobreza e as hierarquias sociais orientadas pelas referências</p><p>aristocráticas, como o papel da linhagem e as distinções nobiliárquicas,</p><p>continuaram ativas até a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) (Mayer, 1987).</p><p>Tal compreensão permite destacar a importância simbólica da cavalaria</p><p>em inícios do século XX e como elementos e personagens medievais foram</p><p>mobilizadas na Primeira Guerra. Como indicado anteriormente, desde o século</p><p>XIX acentuaram-se os nacionalismos que buscavam no medievo referências</p><p>para o orgulho nacional e raízes de cada Estado-nação. Nessa busca,</p><p>praticamente todos os Estados europeus celebraram heróis medievais, como</p><p>Brian Boru (941-1024), na Irlanda, Alexander Nevsky (1220-1263), na Rússia, e</p><p>a já citada Joana d’Arc (1412-1431), na França (Lynch, 2016, p. 140).</p><p>Essa tendência se consolidou nas décadas seguintes no contexto da</p><p>Segunda Guerra Mundial (1939-1945), sendo comum encontrar referências ao</p><p>medievo na propaganda nazista e soviética (Figura 1) (Lanzieri, 2019, p. 189-</p><p>8</p><p>209). Aliás, a Alemanha de Hitler mobilizou amplamente a memória do Sacro</p><p>Império Romano Germânico de Oto I (912-973) para identificar-se como o III</p><p>Reich e, consequentemente, como herdeira natural do império medieval. O</p><p>brado ein Reich, ein Volk, ein Führer (um Império, um povo, um líder) ecoava</p><p>nas aparições públicas de Hitler junto às multidões, inflamando o patriotismo</p><p>alemão e demonstrando que a Idade Média permanecia como uma fonte</p><p>inesgotável de referências e reapropriações.</p><p>Figura 1 – Propaganda militar nazista com elementos medievais</p><p>Fonte: Hi-Story/Alamy/Fotoarena.</p><p>Frente à imagem de uma obscura Idade Média (vista como a Idade das</p><p>Trevas) e à de uma Idade</p><p>pode-se afirmar que Westeros é um mundo definido pelas</p><p>estruturas vassálicas familiares às da Europa medieval dos séculos X ao XII,</p><p>expressando-se através dos códigos de cavalaria, dos vínculos pessoais de</p><p>dependência e da violência. Não obstante, esse recurso narrativo à violência,</p><p>antes de informar sobre a Idade Média histórica, revela uma das recepções mais</p><p>comuns do medievo, a ideia de uma Idade Média bárbara, época sem lei, de</p><p>força bruta viril, um período de trevas (dark ages) por excelência. Assim, ao</p><p>construir um mundo extremamente violento, George Martin e os produtores do</p><p>canal HBO exploram um dos principais pilares da imagem contemporânea do</p><p>medievo: a ideia de uma sociedade de violência generalizada.</p><p>12</p><p>Paralelamente ao destaque da violência, Game of Thrones reafirma a</p><p>ideia da Idade Média como uma cultura branca uniforme, um dos equívocos mais</p><p>enraizados acerca do medievo. Segundo Helen Yong (2017), “a ideia de que a</p><p>“Idade Média real” foi um período marcadamente branco tem mais a ver com</p><p>fantasias modernas sobre pureza racial do que com a realidade histórica”. As</p><p>representações de uma sociedade medieval patriarcal, branca e deveras violenta</p><p>não são um entretenimento inofensivo ou um modismo; pelo contrário, tais</p><p>representações estabelecem laços forte com a ação política concreta. Elas têm</p><p>sido utilizadas por grupos conservadores autoritários e supremacistas raciais ao</p><p>longo do século XX e XXI, que costumam fazer do medievo o seu referencial</p><p>identitário, nostálgico e instrumento de autorrepresentação (Falconieri, 2015, p.</p><p>16). A partir de tais aportes, a Idade Média de Game of Thrones revela novas</p><p>dimensões a fim de problematizar os usos do passado medieval na</p><p>contemporaneidade, usos que extrapolam o entretenimento e ganham força na</p><p>agenda política internacional, demonstrando a atualidade e a relevância do</p><p>campo de estudos do medievalismo.</p><p>TEMA 5 – A IDADE MÉDIA OCIDENTAL E SUAS PERIODIZAÇÕES</p><p>O termo Idade Média deve ser o mais desastrado de todos esses</p><p>inúmeros rótulos que nós, historiadores, continuamos por hábito a apor</p><p>a cortes arbitrários do passado. Porque toda a época é, se quisermos,</p><p>uma “idade média”, uma transição entre o passado e futuro. Aquela a</p><p>que chamamos medieval — o milénio entre o século IV e o XIV — só</p><p>foi transição verdadeira entre a agonia da civilização mediterrânea</p><p>clássica e a gestação da civilização europeia moderna. (Lopez, 1965,</p><p>p. 11)</p><p>Agora que aprendemos a longa trajetória do conceito de Idade Média e os</p><p>múltiplos olhares sobre o medievo na contemporaneidade, cabe considerar as</p><p>demarcações internas ao período histórico, tendo como foco espacial o Ocidente</p><p>medieval. Nesse sentido, a exposição será dividida inicialmente em dois eixos:</p><p>a questão do fim do mundo antigo e o problema do fim do medievo.</p><p>Após séculos de expansão e esplendor, entre o século III e o século V,</p><p>período conhecido como Baixo Império, o mundo romano vivenciou um profundo</p><p>declínio, uma crise política, econômica, social e cultural, e ruiu em 476, com a</p><p>deposição do último imperador em Roma. Desde o século XVIII, com a obra de</p><p>Edward Gibbon (1737-1794), até meados do século passado, essa noção</p><p>expressava de forma um tanto consensual a compreensão sobre o fim do mundo</p><p>romano e a passagem da Antiguidade para a Idade Média. Com conotações</p><p>13</p><p>claramente negativas acerca dos últimos séculos romanos e sobre os primeiros</p><p>séculos do medievo, tal perspectiva pode ser sintetizada em duas vias: a</p><p>explicação político-institucional e a explicação econômico-social.</p><p>Para a primeira corrente, exemplificada pelas obras de Mikhail Rostovtzeff</p><p>(1870-1952) e Ferdinand Lot (1866-1952), as reformas do Estado romano, em</p><p>vez de sanarem a crise institucional dos séculos II e III, acentuaram a</p><p>desestruturação do Império, sendo agravadas pelas invasões bárbaras. De</p><p>acordo com essa perspectiva, o fim do mundo romano legou uma sociedade</p><p>decadente, corrupta, com poder fragmentado e com uma economia reduzida às</p><p>trocas locais in natura. Para a segunda via, exemplificada pelos estudos de Max</p><p>Weber (1864-1920) e Perry Anderson (1938-), a crise do mundo romano foi,</p><p>sobretudo, uma crise do sistema produtivo, prejudicado pela escassez da mão</p><p>de obra escrava, que inviabilizou a produção e contribuiu diretamente para as</p><p>guerras contínuas que desestruturam o mundo romano. Nesse sentido, usando</p><p>os termos de Anderson, a Idade Média seria o resultado da catastrófica colisão</p><p>do modo de produção primitivo e do modo de produção antigo, que geraram uma</p><p>nova síntese, a ordem feudal fundada no trabalho servil.</p><p>Em ambas as propostas, o mundo romano e a Antiguidade terminam no</p><p>século V, num cenário de crise, declínio que se prolongou aos séculos seguintes.</p><p>No entanto, desde meados do século passado, ocorreu uma profunda</p><p>reavaliação da interpretação histórica sobre os séculos III a V, reorientação que</p><p>pode ser expressa no conceito de Antiguidade Tardia, forjado em contraposição</p><p>à ideia de decadência e ruína romana (Machado, 2015, p. 81-114). Num primeiro</p><p>momento, os estudos de Henri-Irénée Marrou (1904-1977), Arnold Hugh Jones</p><p>(1904-1970) e Santo Mazzarino (1916-1987) propuseram que o Império</p><p>Romano, em vez de sucumbir à crise do século III, se renovou e deu origem a</p><p>uma civilização original e dinâmica. Porém, foi nos anos 1970 que o conceito de</p><p>Antiguidade Tardia ganhou maior expressão e contornos mais precisos com a</p><p>obra The World of Late Antiquity (1971), de Peter Brown. Em síntese, Brown</p><p>definiu o conceito como um período distinto na história do Mediterrâneo, marcado</p><p>por uma revolução social e espiritual (Brown, 1971). Antiguidade Tardia seria o</p><p>período entre os séculos III e VIII, caracterizado, primeiramente, pela redução da</p><p>importância da civitas clássico/helenística e dos valores a ela intrínsecos e pela</p><p>configuração de uma identidade religiosa. Assim, guardadas as variações</p><p>14</p><p>regionais, a Idade Média teria início no fim do I milênio, numa sociedade</p><p>mediterrânica profundamente reestruturada pela afirmação do cristianismo.</p><p>Diferentes autores têm criticado as perspectivas de continuidade histórica</p><p>do conceito de Antiguidade Tardia, enfatizando que nessa leitura culturalista as</p><p>rupturas são minimizadas e as estruturas políticas, econômicas e sociais</p><p>ganham pouca importância. Esse movimento pode ser representado pela obra</p><p>de Andrea Giardina (1949-), que reinterpreta a questão da crise romana,</p><p>dissociando as noções de crise e declínio, e dos estudos de Chris Wickham</p><p>(1950-). Em O legado de Roma, Wickham apresenta uma nova leitura sobre a</p><p>passagem do mundo antigo para a Idade Média, questionando tanto a lógica da</p><p>ruptura como a da continuidade. Com base em documentos escritos e em fontes</p><p>arqueológicas, o autor evidencia a desaceleração da economia mediterrânica e</p><p>o recuo da vida material entre os séculos V e VII, elementos considerados</p><p>indícios da passagem da Antiguidade ao medievo (Wickham, 2019).</p><p>Esses diferentes olhares historiográficos permitem perceber as variadas</p><p>formas de interpretar o fim do mundo antigo e o início da Idade Média. Visa-se</p><p>demonstrar a complexidade presente na seleção de marcos delimitadores e</p><p>reforçar que o historiador deve estar consciente das escolhas que faz. Portanto,</p><p>atualmente, muitas são as demarcações possíveis da passagem da Antiguidade</p><p>para o medievo, cada uma delas remetendo a determinada posição</p><p>historiográfica ou escolha de abordagem: os séculos II e III, entre o reinado de</p><p>Marco Aurélio (161-180) e Dioclesiano (284-305), que expressam a crise do</p><p>sistema produtivo romano; o século III e IV, com a institucionalização do</p><p>cristianismo no Império; o século V, com o fim do Império Romano do Ocidente;</p><p>os séculos VII e VIII, com a expansão do Islã no mediterrâneo; ou ainda o século</p><p>IX, com a organização e desestruturação do Império Carolíngio.</p><p>Como é possível deduzir, o</p><p>fim da Idade Média também é objeto de</p><p>inúmeras controvérsias. Desde o século XVII, a perspectiva político-institucional</p><p>se impôs, resultando na ideia de que o medievo terminou em 1453, com a queda</p><p>do Império Romano do Oriente (Bizâncio) para os turco-otomanos. Assim, o</p><p>medievo seria o milênio entre o declínio de Roma, no século V, e a ruína de</p><p>Bizâncio, no século XV. Ademais, como indicado antes, ao passo que a noção</p><p>de Idade Média se constituiu como contraponto ao mundo moderno e,</p><p>posteriormente, à sociedade burguesa-capitalista, o fim do medievo foi</p><p>15</p><p>interpretado pelo viés de uma crise generalizada, o “outono medieval”</p><p>celebrizado na obra de Johan Huizinga (1872-1945).</p><p>Paralelamente a essa perspectiva de um declínio medieval que seria</p><p>superado pelo Renascimento, as leituras econômico-sociais propuseram outra</p><p>dimensão negativa para o fim do medievo: a crise do feudalismo. Nessa via, o</p><p>final da Idade Média relaciona-se ao momento em que o capitalismo começou a</p><p>dar os seus primeiros sinais, as cidades italianas do século XIII com o capitalismo</p><p>comercial, e os séculos XIV e XV marcariam o início da transição do feudalismo</p><p>para o capitalismo.</p><p>A compreensão de permanências entre o século XV e o século XVIII</p><p>também aparece em estudos sobre o Estado e suas bases jurídicas e</p><p>institucionais. António Manuel Hespanha (1945-2019), por exemplo, defendeu a</p><p>continuidade das estruturas políticas entre os séculos XIII e XVIII, reivindicando</p><p>o pluralismo político e a manutenção de uma sociedade corporativa no Antigo</p><p>Regime. Por outro lado, Perry Anderson, um dos expoentes da historiografia</p><p>marxista, argumenta em Linhagens do Estado Absolutista (1995) que o final da</p><p>Idade Média estaria relacionado ao surgimento do Absolutismo, que deve ser</p><p>visto como um arranjo de forças entre a nobreza e a burguesia em um momento</p><p>de transição do feudalismo para o capitalismo.</p><p>Por fim, temos a noção de “longa Idade Média”, cunhada por Jacques Le</p><p>Goff. Insistindo que o Renascimento do século XVI representou mais um dos</p><p>renascimentos pelos quais a Idade Média passou — como o renascimento</p><p>carolíngio no século IX e o renascimento do século XII —, e não uma ruptura, Le</p><p>Goff propôs que apenas no fim do século XVIII, com a dupla revolução (a</p><p>industrial e a de queda do Absolutismo), a Idade Média terminou. Alain Guerreau</p><p>e Jérôme Baschet aprofundaram tais argumentos, acrescentando que as bases</p><p>da sociedade feudal (religião e economia rural) se prolongaram para além dos</p><p>marcos espaço-temporais da Idade Média, alcançando as Américas coloniais.</p><p>Desse modo, tal como ocorre para o início da Idade Média, o final do</p><p>período comporta diferentes demarcações. Concentrando-se nos séculos XV e</p><p>XVI, pode-se usar a queda de Constantinopla, em 1453, como marco; o ano de</p><p>1492, tanto pela derrota do reino de Granada para os Reis Católicos, como pela</p><p>chegada de Cristóvão Colombo às Américas; ou a primeira metade do século</p><p>XVI, com as Reformas protestante e católica, que romperam a unidade da</p><p>16</p><p>cristandade latina. Novamente, a escolha pelos marcos temporais é uma</p><p>ferramenta carregada de sentidos que cabe ao historiador manusear.</p><p>Para finalizar o presente tema, cabe brevemente apresentar as</p><p>periodizações internas do período medieval, sobretudo em sua experiência</p><p>europeia. Tais divisões variam conforme as tradições historiográficas e, no</p><p>Brasil, usam-se geralmente duas. A primeira delas define duas Idades Médias:</p><p>a Alta Idade Média (séculos V-IX) e a Baixa Idade Média (séculos X-XV). Essa</p><p>proposta ainda persiste em muitos manuais escolares, porém é pouco usual no</p><p>meio acadêmico. Assumindo as referências da escola historiográfica francesa,</p><p>comumente divide-se o medievo em três etapas: a Alta Idade Média (séculos V-</p><p>IX), a Idade Média Central (séculos X-XIII) e a Baixa Idade Média (séculos XIV-</p><p>XV). Tal divisão permite o estabelecimento de maiores nuances entre os</p><p>períodos, ampliando sensivelmente a diversidade interna do milênio medieval.</p><p>No entanto, convém ter em vista que tais periodizações não são neutras,</p><p>expressam um desprezo dentro da própria Idade Média (a Alta Idade Média é</p><p>vista ainda como uma “Idade das Trevas”, em comparação cm o esplendor do</p><p>renascimento das cidades e do comércio do medievo central). Ademais, ainda</p><p>que nossa discussão se centre no Ocidente, devemos compreender a amplitude</p><p>da sociedade medieval mediterrânea — que articula a sociedade muçulmana da</p><p>Península Ibérica, do norte da África, da Península Arábica, a sociedade</p><p>bizantina (cristãos orientais) — e a diversidade de experiências medievais na</p><p>própria Europa, com diferentes núcleos regionais marcados por suas próprias</p><p>particularidades, como a Península Ibérica, a Escandinávia, a Península Itálica,</p><p>a Europa central e o leste europeu.</p><p>NA PRÁTICA</p><p>Como vimos, a noção de Idade Média foi concebida, recebida e</p><p>apropriada de diferentes formas, desde seu advento como classificação</p><p>cronológica até hoje. Nesse sentido, faça o seguinte exercício de reflexão: qual</p><p>a noção que você tinha sobre a Idade Média antes da leitura desse material e</p><p>qual a noção de Idade Média que você tem a partir de agora? O que mudou, o</p><p>que permaneceu? A sua visão de Idade Média estava mais alinhada à</p><p>concepção de uma “idade de trevas” ou de uma época romântica idealizada (de</p><p>valores de honra, da imagem de castelos, cavaleiros, príncipes e princesas)?</p><p>17</p><p>Você consegue compreender agora como diferentes olhares e contextos</p><p>históricos influenciam as concepções sobre as variadas épocas históricas?</p><p>FINALIZANDO</p><p>Com este panorama a respeito do conceito de Idade Média no Ocidente,</p><p>suas distintas possibilidades de periodizações, suas diferentes interpretações e</p><p>apropriações efetuadas o advento de sua noção até hoje, pudemos ampliar</p><p>nosso olhar sobre como um período histórico é enquadrado em uma perspectiva</p><p>cronológica.</p><p>Esse enquadramento nunca é neutro; ele pode ter uma finalidade didática,</p><p>um objetivo acadêmico, escolar, pragmático, mas sempre terá marcas da visão</p><p>social do tempo em que é concebido e demarcado. Ele também pode ser</p><p>utilizado por meios culturais com fins estéticos, de entretenimento, de consumo</p><p>e mercado, bem como pode ser utilizado para fins políticos ligados a propósitos</p><p>de um determinado presente e contexto, podendo estar totalmente alheio a</p><p>concepções éticas e historiográficas comprometidas.</p><p>A nós, profissionais ligados à História e, principalmente, aos medievalistas</p><p>(profissionais acadêmicos da História Medieval), cabe desvendar e compreender</p><p>esses mecanismos de construção, visando a produção e divulgação de um</p><p>conhecimento científico amplo, ético, sério e profissional a respeito das</p><p>experiências humanas vividas no período que costumamos delimitar como o</p><p>milênio medieval.</p><p>18</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>AMALVI, C. Idade Média. In: LE GOFF, J.; SCHMITT, J.-C.(Coord.). Dicionário</p><p>Temático do Ocidente Medieval. São Paulo: EdUSC, 2006.</p><p>BASCHET, J. A civilização feudal: do ano mil à colonização da América. São</p><p>Paulo: Globo, 2006.</p><p>BITTENCOURT, C. Livro didático e saber escolar, 1810-1910. Belo Horizonte:</p><p>Autêntica, 2008.</p><p>BLOCKMANS, W.; HOPPENBROUWERS, P. Introdução à Europa medieval:</p><p>300-1550. Rio de Janeiro: Forense, 2012.</p><p>BROWN, P. The world of late Antiquity: from Marcus Aurelius to Muhammad.</p><p>Londres: Thames and Hudson, 1971.</p><p>CHERVEL, A. A história das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de</p><p>pesquisa. Teoria & Educação, Porto Alegre, n. 2, 1990.</p><p>D’ARCENS, L. (Ed.). The Cambridge companion to medievalism. Cambridge:</p><p>Cambridge University, 2016.</p><p>DELACROIX, C.; DOSSE, F.; GARCIA, P. As correntes históricas na França:</p><p>séculos XIX e XX. Rio de Janeiro: FGV, 2012.</p><p>FALCONIERI, T. di C. Médiéval et Militant: Penser le contemporain à travers le</p><p>Moyen Âge. Paris: Publications de la Sorbonne, 2015.</p><p>FRANCO JÚNIOR, H. A Idade Média, nascimento do Ocidente.</p><p>São Paulo:</p><p>Brasiliense, 2006.</p><p>GUERREAU, A. El futuro de un passado: la Edad Media en el siglo XXI.</p><p>Barcelona: Crítica, 2002.</p><p>KOSELLECK, R. Futuro-passado: contribuição à semântica dos tempos</p><p>históricos. Rio de Janeiro: Contraponto/PUC-RJ, 2006.</p><p>LANZIERI JÚNIOR, C. Ontem e hoje, o porta estandarte. Reflexões sobre os</p><p>usos do passado medieval, a estética bolsonarista e os discursos recentes da</p><p>direita brasileira. Roda da Fortuna - Revista Eletrônica sobre Antiguidade e</p><p>Medievo, v. 8, n. 2, p. 189-209, 2019.</p><p>19</p><p>LE GOFF, J. A história deve ser dividida em pedaços? São Paulo: Unesp,</p><p>2015.</p><p>LE GOFF, J. Para um novo conceito de Idade Média: tempo, trabalho e cultura</p><p>no Ocidente. Lisboa: Estampa, 1980.</p><p>LOPEZ, R. S. Nascimento da Europa (séculos V-XIV). Lisboa: Edições</p><p>Cosmos, 1965.</p><p>LYNCH, A. Medievalism and the ideology of war. In: D’ARCENS, L. (Ed.). The</p><p>Cambridge companion to medievalism. Cambridge: Cambridge University,</p><p>2016.</p><p>MACHADO, C. A. R. A Antiguidade Tardia, a queda do Império Romano e o</p><p>debate sobre o “fim do mundo antigo”. Revista de História, São Paulo, n. 173,</p><p>p. 81-114, jul./dez. 2015.</p><p>MAYER, A. A força da tradição: a persistência do Antigo Regime. São Paulo:</p><p>Companhia das Letras, 1987.</p><p>ROCHEBOUET, A.; SALAMON, A. Les réminiscences médiévales dans la</p><p>fantasy. Un mirage des sources? Cahiers de recherches médiévalistes et</p><p>humanistes, 16, 2008.</p><p>ROSA, M. de L. Fazer e pensar a história medieval hoje: guia de estudo,</p><p>investigação e docência. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2017.</p><p>SILVA, M. C. da. História medieval. São Paulo: Contexto, 2019.</p><p>YONG, H. Where do the “White Middle Ages” come from? The Public</p><p>Medievalist, 21 mar. 2017.</p><p>ZUMTHOR, P. Falando de Idade Média. São Paulo: Perspectiva, 2009.</p>São Paulo: Brasiliense, 2006. GUERREAU, A. El futuro de un passado: la Edad Media en el siglo XXI. Barcelona: Crítica, 2002. KOSELLECK, R. Futuro-passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto/PUC-RJ, 2006. LANZIERI JÚNIOR, C. Ontem e hoje, o porta estandarte. Reflexões sobre os usos do passado medieval, a estética bolsonarista e os discursos recentes da direita brasileira. Roda da Fortuna - Revista Eletrônica sobre Antiguidade e Medievo, v. 8, n. 2, p. 189-209, 2019. 19 LE GOFF, J. A história deve ser dividida em pedaços? São Paulo: Unesp, 2015. LE GOFF, J. Para um novo conceito de Idade Média: tempo, trabalho e cultura no Ocidente. Lisboa: Estampa, 1980. LOPEZ, R. S. Nascimento da Europa (séculos V-XIV). Lisboa: Edições Cosmos, 1965. LYNCH, A. Medievalism and the ideology of war. In: D’ARCENS, L. (Ed.). The Cambridge companion to medievalism. Cambridge: Cambridge University, 2016. MACHADO, C. A. R. 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