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<p>O PROBLEMA MENTE-CÉ REBRO</p><p>E O INTERACIONISMO CARTESIANO</p><p>How can the soul of man determine</p><p>the spirits of the body, so as to produce</p><p>voluntary actions (given that the soul</p><p>is only a thinking substance)*</p><p>(Elisabeth da Boêmia apud Kim, 2005. p. 73)</p><p>A epígrafe, trazendo-nos a objeção da prin-</p><p>cesa da Boêmia ao seu preceptor, serve aqui</p><p>de manifestação do impasse entre teoria</p><p>psicológica e filosófica versus prática médi-</p><p>ca e científica na modernidade. Descartes,</p><p>conhecedor da obra de Harvey e ele mes-</p><p>mo engajado na dissecação de animais, em</p><p>especial de seus cérebros, muito oportuna-</p><p>mente para sua própria condição palacia-</p><p>na e cortesã, não questionava os dogmas</p><p>católicos que poderiam gerar anátemas,</p><p>excomunhões de diversos níveis e mesmo</p><p>a fogueira, como aconteceu com Giordano</p><p>Bruno, caso conhecido e temido por Des-</p><p>cartes a ponto de fazê-lo pe-</p><p>dir a seus discípulos que pu-</p><p>blicassem seu primeiro livro,</p><p>um tratado sobre ótica que</p><p>desafiava o geocentrismo,</p><p>apenas postumamente. No</p><p>entanto, o próprio Descartes</p><p>poderia ser incluído no rol dos precursores</p><p>da neuropsicologia pela via da relação en-</p><p>tre filosofia psicológica e fisiologia (mes-</p><p>mo que contingenciada pelos pressupostos</p><p>ontológicos da noção de alma ainda vice-</p><p>jante naquele então), como se pode notar</p><p>pela seguinte citação de seu último livro,</p><p>As paixões da alma:</p><p>Enfim, sabe-se que todos esses movimen-</p><p>tos dos músculos, assim como todos os</p><p>sentidos, dependem dos nervos, que são</p><p>como pequenos fios ou como pequenos</p><p>tubos que procedem, todos, do cérebro, e</p><p>contêm, como ele, certo ar ou vento muito</p><p>sutil que chamamos espíritos animais [...]</p><p>(Descartes, 1979, p. 229).</p><p>Descartes entende que a relação do</p><p>cérebro com o corpo e a mente é mediada</p><p>por esses espíritos animais. Assim, sua posi-</p><p>ção poderia ser considerada uma forma de</p><p>interacionismo. No entanto, como se pode</p><p>ver pela citação seguinte, na obra cartesia-</p><p>na, ainda que à alma seja res-</p><p>guardada uma natureza dis-</p><p>tinta, a de res cogitans, coisa</p><p>pensante, aos espíritos ani-</p><p>mais é conferida uma condi-</p><p>ção puramente material:</p><p>[...] pois o que denomino aqui</p><p>espíritos não são mais do que</p><p>corpos e não têm qualquer outra pro-</p><p>priedade, exceto a de serem corpos muito</p><p>pequenos e se moverem muito depressa,</p><p>Descartes entende que a rela-</p><p>ç ã o do cé rebro com o corpo e</p><p>a mente é mediada por esses</p><p>espíritos animais. Assim, sua</p><p>posiç ã o poderia ser conside-</p><p>rada uma forma de interacio-</p><p>nismo.</p><p>* Como pode a alma do homem determinar / o humor</p><p>do corpo, de modo a produzir / ações voluntárias (uma</p><p>vez que a alma / é apenas uma substância pensante).</p><p>1</p><p>Aspectos históricos da neuropsicologia</p><p>e o problema mente-cérebro</p><p>DANIEL C. MOGRABI</p><p>GABRIEL J. C. MOGRABI</p><p>J. LANDEIRA-FERNANDEZ</p><p>20 Fuentes, Malloy-Diniz, Camargo & Cosenza (orgs.)</p><p>assim como as partes da chama que sai</p><p>de uma tocha; de sorte que não se detêm</p><p>em nenhum lugar e, à medida que entram</p><p>alguns nas cavidades do cérebro, também</p><p>saem outros pelos poros existentes na sua</p><p>substância, poros que os conduzem aos</p><p>nervos e daí aos músculos, por meio dos</p><p>quais movem o corpo em todas as diversas</p><p>maneiras pelas quais esse pode ser movi-</p><p>do [...] (Descartes, 1979,</p><p>p. 230).</p><p>No entanto, de que ma-</p><p>neira a interação entre alma</p><p>e espíritos se daria? Descartes</p><p>afirma que há uma diminuta</p><p>glândula no meio do cérebro</p><p>que perfaz o papel de locus</p><p>principal da interação da alma com o cor-</p><p>po pela via dos espíritos:</p><p>Concebamos, pois, que a alma tem a</p><p>sua sede principal na pequena glândula</p><p>que existe no meio do cérebro, de onde</p><p>irradia para todo o resto do corpo, por</p><p>intermédio dos espíritos, dos nervos e</p><p>mesmo do sangue, que, participando das</p><p>impressões dos espíritos, podem levá-los</p><p>pelas artérias a todos os membros [...]</p><p>(Descartes, 1979, p. 240).</p><p>A glândula mencionada é a pineal. A</p><p>escolha de Descartes pela glândula pineal</p><p>se dá por dois motivos: trata-se de uma es-</p><p>trutura única e centralizada, em vez de du-</p><p>pla e dividida em hemisférios, que, assim,</p><p>por razões analógicas e quase geométricas,</p><p>é vista pelo autor como a melhor candidata</p><p>para ser um centro de unificação das repre-</p><p>sentações e impressões. Numa carta a Mer-</p><p>senne, datada de 24 de dezembro de 1640,</p><p>Descartes (1979) afirma que o caráter de</p><p>unicidade é também pertinente à glândula</p><p>hipófise, mas que esta “não dispõe da mo-</p><p>bilidade da pineal”, referindo-se ao fato de</p><p>que a hipófise está presa à face superior do</p><p>osso esfenoide por meio da sela túrcica (ou</p><p>sela turca), uma pequena fosseta em forma</p><p>de sela árabe. É notável a ideia de que uma</p><p>alteração do corpo na alma (ou mente) ou</p><p>vice-versa dependa de um movimento, no</p><p>sentido tradicional de deslocamento, ge-</p><p>rado pela impulsão de espíritos. Além dis-</p><p>so, mesmo que esse movimento pudesse se</p><p>dar em pequenas dimensões, ele é concebi-</p><p>do ainda de maneira extensa, vetorial e com</p><p>todas as demais propriedades que possamos</p><p>atribuir à matéria condensa-</p><p>da.</p><p>No entanto, não foram</p><p>os arroubos de materialismo</p><p>de Descartes recém-descri-</p><p>tos que ficaram consagrados</p><p>na história da filosofia, e sim</p><p>o seu dualismo de substân-</p><p>cias: a ideia de que a realidade é cindida em</p><p>dois mundos – um pensante; outro, exten-</p><p>so e material. Assim, o imaterialismo e racio-</p><p>nalismo se coadunavam em uma decisão fi-</p><p>losófica clara de sobrepor a racionalidade da</p><p>mente às paixões, devendo esta ser sua guia e</p><p>determinante. Esses mesmos racionalismo e</p><p>primazia do pensamento podem ser abstraí-</p><p>dos da popularizada máxima cartesiana “co-</p><p>gito ergo sum”. A existência é descoberta pe-</p><p>la primazia epistemológica do pensamento, e</p><p>o pensamento se configura como substância</p><p>imaterial e inextensa. Até hoje sofremos in-</p><p>fluências desse dualismo cartesiano, que se-</p><p>gue reverberando em algumas das tendên-</p><p>cias explicativas presentes no senso comum</p><p>e mesmo no debate filosófico, menos afei-</p><p>to à interdisciplinaridade com ciências em-</p><p>píricas. Pode-se afirmar, inclusive, de acordo</p><p>com Searle (1992), que o uso desse vocabu-</p><p>lário antiquado condiciona o debate de tal</p><p>forma espúria que muitos dos alegados pro-</p><p>blemas filosóficos da relação mente-corpo</p><p>seriam pseudoproblemas.</p><p>No trecho a seguir, será feito um ma-</p><p>peamento de algumas das mais importan-</p><p>tes correntes contemporâneas de análise do</p><p>problema mente-cérebro. Não se pretende</p><p>exibir em caráter exaustivo todas as corren-</p><p>tes e suas subdivisões, mas apenas criar uma</p><p>É notá vel a ideia de que uma</p><p>alteraç ã o do corpo na alma (ou</p><p>mente) ou vice-versa depen-</p><p>da de um movimento, no senti-</p><p>do tradicional de deslocamen-</p><p>to, gerado pela impulsã o de es-</p><p>píritos.</p><p>Neuropsicologia 21</p><p>possibilidade de entendimento das diferen-</p><p>tes postulações no que concerne essa rela-</p><p>ção para melhor compreensão da funda-</p><p>mentação histórica da neuropsicologia.</p><p>ALGUMAS TESES CORRENTES</p><p>SOBRE A RELAÇ Ã O MENTE-CÉ REBRO</p><p>Raros são os dualistas de substâncias na</p><p>contemporaneidade. A maioria das teorias</p><p>filosóficas, na atualidade, re-</p><p>pudia essa postura tida como</p><p>ultrapassada diante de nos-</p><p>so vigente quadro de referên-</p><p>cias, tanto filosófico como</p><p>científico. Ainda assim, exis-</p><p>tem filósofos que, apelando</p><p>para a noção de possibilidade</p><p>lógica (ou, ainda, para a no-</p><p>ção mais geral de possibilida-</p><p>de metafísica), argumentam</p><p>que não se pode em princípio excluir a pos-</p><p>sibilidade de que haja uma substância não</p><p>física que corresponda à natureza da mente</p><p>ou de uma suposta alma.</p><p>No lado diametralmente oposto do</p><p>espectro de posições sobre a relação mente-</p><p>-cérebro, encontra-se o eliminativismo ou</p><p>materialismo eliminativo. Uma das princi-</p><p>pais teses do eliminativismo é a de que a folk</p><p>psychology (psicologia popular) trabalha</p><p>com categorizações falsas, terminologias</p><p>herdadas de um passado remoto que pre-</p><p>cisam ser eliminadas para um progresso da</p><p>compreensão da relação cérebro-mente. As-</p><p>sim como a teoria do phlogiston foi supera-</p><p>da cientificamente e tornada obsoleta pelas</p><p>pesquisas empíricas em oxidação, também</p><p>muitas classes de supostos estados</p><p>mentais</p><p>seriam apenas ilusões. Ainda que permane-</p><p>çam em nosso vocabulário explicativo, esses</p><p>entia non-gratia não possuiriam qualquer</p><p>capacidade causal, nem sequer existiriam,</p><p>tal como bruxas, almas, elán vital, etc. Entre</p><p>as entidades mentais que essa linha de pen-</p><p>samento pretende eliminar, encontram-se,</p><p>por exemplo, atitudes proposicionais: rela-</p><p>ções entre conteúdos proposicionais e uma</p><p>determinada postura mental com implica-</p><p>ções práticas (p. ex., acreditar, desejar, espe-</p><p>rar) (P. M. Churchland, 1981; P. S. Church-</p><p>land, 1986). Também foi proposto por</p><p>eliminativistas (Dennett, 1992) que a no-</p><p>ção de qualia (sensações e experiências co-</p><p>mo estados subjetivos qualitativos) poderia</p><p>ter um caráter ilusório e não ter a existência</p><p>que lhes é atribuída na psicologia popular.</p><p>Em sua grande maioria, po-</p><p>sições eliminativistas enten-</p><p>dem que uma neurociência</p><p>em alto grau de maturidade</p><p>e desenvolvimento irá substi-</p><p>tuir essa terminologia da psi-</p><p>cologia popular que se refe-</p><p>riria a objetos não existentes</p><p>por uma descrição científica</p><p>de fato.</p><p>Voltando a outro lado</p><p>do espectro de posições, mais comuns são</p><p>aqueles que defendem alguma versão de</p><p>dualismo de propriedades. Eles entendem</p><p>que propriedades mentais não podem, em</p><p>princípio, ser reduzidas às propriedades fí-</p><p>sicas ou cerebrais; no entanto, acreditam</p><p>que os componentes últimos da realida-</p><p>de sejam todos de natureza física, diferen-</p><p>temente dos dualistas de substâncias. Entre</p><p>os dualistas de propriedades, poderíamos</p><p>distinguir dois grupos majoritários de po-</p><p>sições: aqueles que acreditam em causação</p><p>mental, ou seja, que é possível que proprie-</p><p>dades mentais tenham poder causal nesse</p><p>mundo constituído de uma substância fí-</p><p>sica; e os epifenomenalistas – aqueles que</p><p>acreditam que propriedades mentais se-</p><p>riam epifenômenos e, assim, desprovidas de</p><p>qualquer papel causal (Jackson, 1982).</p><p>Além das tendências teóricas já descri-</p><p>tas, existem várias formas mais ou menos</p><p>redutivas de fisicalismo ou materialismo.</p><p>Por redutivo, entende-se, aqui, a capaci dade</p><p>de uma teoria explicar predicados mentais</p><p>em termos de predicados neurais ou criar</p><p>Existem filó sofos que, apelan-</p><p>do para a noç ã o de possibili-</p><p>dade ló gica (ou, ainda, para a</p><p>noç ã o mais geral de possibili-</p><p>dade metafísica), argumentam</p><p>que nã o se pode em princípio</p><p>excluir a possibilidade de que</p><p>haja uma substâ ncia nã o física</p><p>que corresponda à natureza da</p><p>mente ou de uma suposta alma.</p><p>22 Fuentes, Malloy-Diniz, Camargo & Cosenza (orgs.)</p><p>reduções interteóricas do vocabulário ex-</p><p>plicativo mental em termos de um voca-</p><p>bulário neural por via de leis de ponte, ou,</p><p>ainda, funcionalizar propriedades mentais</p><p>em termos de sua estrutura causal física.</p><p>Além dessas posições, existem teorias iden-</p><p>titárias que defendem a ideia de que pro-</p><p>cessos mentais seriam idênticos a processos</p><p>neurais. Além de outras variantes, as teo-</p><p>rias identitárias podem ser classificadas em</p><p>duas famílias de posições: a identidade de</p><p>tipo (Lewis, 1966) e a identidade de ocor-</p><p>rência (token) (Kim, 1966). No primeiro ca-</p><p>so, cria-se uma identidade estável entre um</p><p>tipo mental e um tipo físico. No entanto, o</p><p>argumento da múltipla realizabilidade (Fo-</p><p>dor, 1974; Putnam 1967) – a defesa da pos-</p><p>sibilidade de que um estado mental (funcio-</p><p>nal) possa ser realizado por diversos estados</p><p>cerebrais – coloca o argumento da identi-</p><p>dade de tipo em maus len-</p><p>çóis. No caso da identi dade</p><p>de ocorrência, esse problema</p><p>parece estar, pelo menos, mi-</p><p>tigado, já que as identidades</p><p>se dariam entre ocorrências</p><p>individuais de estados cere-</p><p>brais e mentais. Muitos fun-</p><p>cionalistas acabam por ade-</p><p>rir a essa posição, visto que</p><p>visões mais algorítmicas de</p><p>funcionalismo acreditam que</p><p>uma função pode ser instan-</p><p>ciada, por exemplo, tanto in silico como in</p><p>vivo. Assim, para tal linha de argumentação,</p><p>o suporte material que sustenta o algoritmo</p><p>não faria grande diferença. Como será co-</p><p>mentado a seguir, tal postura pode até ser</p><p>entendida como uma forma de dua lismo, já</p><p>que a mente pode ser vista como uma es-</p><p>trutura meramente formal.</p><p>Mais promissoras são as pesquisas in-</p><p>terdisciplinares que coadunam filosofia da</p><p>mente e da ciência com neuropsicologia,</p><p>neurociência e ciência cognitiva, entenden-</p><p>do que qualquer capacidade mental deve ter</p><p>um correlato neural. A ideia de correlatos</p><p>neurais pode ter várias versões e variações;</p><p>entretanto, algumas dessas versões não se</p><p>comprometem com uma postura necessa-</p><p>riamente identitária, o que é uma vanta-</p><p>gem. Trata-se, aqui, de encontrar o conjun-</p><p>to mínimo de eventos e processos cerebrais</p><p>que possa ser correlacionado a uma capa-</p><p>cidade mental como seu substrato neural.</p><p>Variações dessa ideia se dispõem funda-</p><p>mentalmente em um eixo no qual postu-</p><p>ras mais localizacionistas (Zeki et al., 1991)</p><p>ou globalistas/conexionistas (Baars, 1988;</p><p>Mesulam, 2012) são postuladas. Por loca-</p><p>lizacionismo, entende-se, aqui, o poder de</p><p>imputar a áreas bem determinadas do cére-</p><p>bro capacidades distintas e específicas. Por</p><p>globalismo/conexionismo, considera-se a</p><p>possibilidade de que as correlações sejam</p><p>estabelecidas entre capacidades funcionais e</p><p>áreas em interação e reverbe-</p><p>ração informativa, como será</p><p>abordado mais adiante neste</p><p>mesmo capítulo. Entende-se</p><p>aqui que a fidelidade respon-</p><p>sável ao projeto de uma neu-</p><p>ropsicologia há de congre-</p><p>gar o entendimento dessas</p><p>propriedades sistêmicas que</p><p>emergem da interação com-</p><p>plexa entre diferentes níveis</p><p>de processamento de infor-</p><p>mação em áreas distintas do</p><p>cérebro, sem, no entanto, perder de vista a</p><p>especificidade inerente a cada parte ou sub-</p><p>sistema constituinte do sistema. Essa dupla</p><p>vinculação da neuropsicologia será discuti-</p><p>da nas duas seções seguintes.</p><p>O MÉ TODO ANATOMOCLÍNICO E O</p><p>SURGIMENTO DA NEUROPSICOLOGIA</p><p>Ainda que não seja possível determinar o</p><p>exato surgimento de uma disciplina com-</p><p>plexa como a neuropsicologia, um de seus</p><p>A fidelidade responsá vel ao</p><p>projeto de uma neuropsicolo-</p><p>gia há de congregar o enten-</p><p>dimento dessas propriedades</p><p>sistê micas que emergem da</p><p>interaç ã o complexa entre di-</p><p>ferentes níveis de processa-</p><p>mento de informaç ã o em á reas</p><p>distintas do cé rebro, sem, no</p><p>entanto, perder de vista a es-</p><p>pecificidade inerente a cada</p><p>parte ou subsistema consti-</p><p>tuinte do sistema.</p><p>Neuropsicologia 23</p><p>atos de fundação pode ser considerado o</p><p>trabalho de Pierre Paul Broca (1824-1880)</p><p>na localização de um centro dedicado pa-</p><p>ra produção da fala no cérebro. Em meio à</p><p>controvérsia sobre a localização das funções</p><p>cerebrais – que persistia desde a Antiguida-</p><p>de, mas havia ganhado força a partir do sé-</p><p>culo XVII –, Broca faz uma breve comuni-</p><p>cação, em 1861, no Boletim da Sociedade de</p><p>Antropologia (que na época discutia temas</p><p>tão diversos quanto arqueologia, mitologia,</p><p>anatomia e psicologia), sobre o caso de um</p><p>paciente com um compro-</p><p>metimento específico na ca-</p><p>pacidade de produção de fa-</p><p>la, em meio a um quadro de</p><p>relativa preservação cogniti-</p><p>va (Sagan, 1979). Essa publi-</p><p>cação é acompanhada de ou-</p><p>tra, mais extensa, no Boletim da Sociedade</p><p>Anatômica, também em 1861. O paciente,</p><p>Sr. Leborgne, havia “perdido o uso da pa-</p><p>lavra” e era incapaz de “pronunciar mais do</p><p>que uma sílaba, que ele repetia duas vezes</p><p>seguidas” (tan tan) (Broca, 1861). Leborgne</p><p>morreu pouco tempo depois do exame clí-</p><p>nico, e sua autópsia revelou uma lesão espe-</p><p>cífica no giro frontal inferior esquerdo. Bro-</p><p>ca (1861) conclui em seu relato que “[...]</p><p>tudo permite crer que, neste caso específico,</p><p>a lesão do lobo frontal foi a causa da perda</p><p>da palavra [...]”. O quadro clínico específico</p><p>de perda de produção da fala e o giro fron-</p><p>tal inferior se tornaram epônimos de Broca,</p><p>sendo chamados, respectivamente, de afasia</p><p>de Broca e área de Broca.</p><p>Broca (1891) utilizava em seus estudos</p><p>o método anatomoclínico, o esteio da neu-</p><p>rologia científica no final do século XIX. Es-</p><p>se método consistia em um exame em dois</p><p>estágios com o intuito de vincular sinais clí-</p><p>nicos a</p><p>neurológicos.</p><p>TRAZENDO A NEUROPSICOLOGIA</p><p>PARA O SÉ CULO XXI</p><p>Em que pese o impacto da obra de Luria na</p><p>formação da neuropsicologia como disci-</p><p>plina, alguns de seus insights não foram ple-</p><p>namente incorporados por autores que o</p><p>seguiram. De forma geral, a neuropsicolo-</p><p>gia ainda hoje subscreve a um campo con-</p><p>ceitual em descompasso com algumas das</p><p>vias mais frutíferas para se pensar a rela-</p><p>ção entre funcionamento mental e cerebral.</p><p>Por exemplo, a noção de modularidade, um</p><p>dos pilares da abordagem neuropsicológica,</p><p>vem sendo relativizada diante de achados</p><p>empíricos novos. Especificamente, o au-</p><p>mento de estudos sobre conectividade es-</p><p>trutural, funcional e efetiva</p><p>entre regiões cerebrais (Me-</p><p>sulam, 2012) sugere que, ain-</p><p>da que a especialização fun-</p><p>cional de regiões cerebrais</p><p>seja inegável, é somente da</p><p>interação entre áreas que</p><p>funções complexas podem</p><p>emergir. Além disso, paradig-</p><p>mas recentes para o entendi-</p><p>mento do funcionamento ce-</p><p>rebral calcam-se em modelos dinâmicos,</p><p>em que o processamento de informação,</p><p>mesmo em níveis básicos, é influenciado</p><p>por processos de ordem superior (Fris-</p><p>ton, 2010). Um exemplo privilegiado dessas</p><p>perspectivas é o estudo da consciência, que</p><p>ganhou nova força a partir da adoção dos</p><p>conceitos de conectividade (Tononi, 2007)</p><p>e predição probabilística (Friston, 2010).</p><p>Paralelamente, as últimas décadas trou-</p><p>xeram um gradual abandono da metáfora da</p><p>O aumento de estudos sobre</p><p>conectividade estrutural, fun-</p><p>cional e efetiva entre regiõ es</p><p>cerebrais (Mesulam, 2012) su-</p><p>gere que, ainda que a espe-</p><p>cializaç ã o funcional de regi-</p><p>õ es cerebrais seja inegá vel,</p><p>é somente da interaç ã o entre</p><p>á reas que funç õ es complexas</p><p>podem emergir.</p><p>26 Fuentes, Malloy-Diniz, Camargo & Cosenza (orgs.)</p><p>mente como um computador. Fundamental</p><p>para a discussão promovida neste capítulo,</p><p>o cognitivismo estrito sugeria que a mente</p><p>funcionaria tal como um software, que po-</p><p>deria ser instalado em diferentes suportes,</p><p>não importando as características do hard-</p><p>ware (i. e., o corpo e o cérebro) no qual fun-</p><p>cionava. Essa perspectiva, considerada ad</p><p>extremum, cai em uma posição dualista, em</p><p>que a mente é um conjunto de regras for-</p><p>mais que pode ser instanciado independen-</p><p>temente de sua base orgânica (Searle, 1980).</p><p>Em oposição a essa perspec-</p><p>tiva, acompanha-se a incor-</p><p>poração nas neurociências de</p><p>um paradigma biológico que</p><p>considera todos os processos</p><p>cognitivos como calcados em</p><p>uma base material (o cére-</p><p>bro) e motivados em última instância por</p><p>questões referentes à adaptação do organis-</p><p>mo. De um ponto de vista clínico, a adesão</p><p>da neuropsicologia a esse paradigma bioló-</p><p>gico enfatiza o caráter adaptativo dos sinto-</p><p>mas e respostas de pacientes neurológicos,</p><p>em vez de considerá-los meramente expres-</p><p>sões de déficits.</p><p>Além dessas questões de ordem teóri-</p><p>ca, uma neuropsicologia para o século XXI</p><p>precisa reinventar-se metodologicamente.</p><p>Estudos de lesão formaram o cerne da abor-</p><p>dagem neuropsicológica ao longo do sécu-</p><p>lo XX. Nas últimas décadas, os campos mais</p><p>amplos da neurologia clínica e das neuro-</p><p>ciências cognitivas beneficiaram-se de ino-</p><p>vações técnicas, como procedimentos de</p><p>neuroimagem de alta resolução espacial (p.</p><p>ex., fMRI, PET, DTI). Essas técnicas possibi-</p><p>litam evitar as limitações associadas com es-</p><p>tudos de lesão, como, por exemplo, o fato de</p><p>que raramente o dano cerebral está limita-</p><p>do a áreas corticais específicas e a dificulda-</p><p>de em determinar as habilidades pré-mór-</p><p>bidas de pacientes (Fotopoulou, 2013).</p><p>Além disso, essas técnicas permi-</p><p>tem de forma mais eficaz a investigação</p><p>de objetos de estudo que tradicionalmente</p><p>foram excluídos da neurociência cogniti-</p><p>va, em parte por dificuldades metodoló-</p><p>gicas. O estudo da emoção em humanos é</p><p>um exemplo princeps dessa mudança. Uma</p><p>explo ração científica da emoção é compli-</p><p>cada pelo fato de que estados emocionais</p><p>são subjetivos e acessados de forma privi-</p><p>legiada a partir de uma perspectiva de pri-</p><p>meira pessoa. Ainda que essa limitação não</p><p>se aplique a aspectos comportamentais da</p><p>emoção (p. ex., expressões faciais), o estudo</p><p>objetivo de sentimentos e estados internos</p><p>ganhou novo impulso com</p><p>técnicas de imagem (Ekman,</p><p>1992). As evidências conver-</p><p>gentes sobre o processamen-</p><p>to emocional em humanos e</p><p>a extensa litera tura sobre mo-</p><p>delos animais e estudos com-</p><p>parados fizeram emergir nas últimas dé-</p><p>cadas o campo das neurociências afetivas</p><p>(Panksepp, 2004).</p><p>Diante desse panorama, um dos desa-</p><p>fios atuais da neuropsicologia é acompanhar</p><p>os últimos desenvolvimentos do campo mais</p><p>amplo das neurociências, encampando posi-</p><p>ções que possam revitalizar seus métodos e</p><p>teorias. Ao mesmo tempo, a neuropsicologia,</p><p>amparada na vasta riqueza de seus dados clí-</p><p>nicos, pode informar produções futuras nas</p><p>neurociências. Sendo assim, esse desafio de-</p><p>ve ser encarado com otimismo.</p><p>REFERÊ NCIAS</p><p>Baars, B. J. (1988). A cognitive theory of consciousness.</p><p>New York: Cambridge University.</p><p>Broca, P. P. (1861). Perte de la parole, ramollissement</p><p>chronique et destruction partielle du lobe antérieur</p><p>gauche du cerveau. Bulletin de la Societé Anthropo-</p><p>logique, 2, 235-238.</p><p>Churchland, P. M. (1981). Eliminative materialism</p><p>and the propositional attitudes. Journal of Philoso-</p><p>phy, 78(2), 67-90.</p><p>Churchland, P. S. (1986). Neurophilosophy: toward</p><p>a unified science of the mind/brain. Cambridge:</p><p>MIT.</p><p>Uma exploraç ã o científica da</p><p>emoç ã o é complicada pelo fato</p><p>de que estados emocionais sã o</p><p>subjetivos e acessados de for-</p><p>ma privilegiada a partir de uma</p><p>perspectiva de primeira pessoa.</p><p>Neuropsicologia 27</p><p>Cosmides, L., & Tooby, J. (1994). Beyond intuition</p><p>and instinct blindness: toward an evolutionarily</p><p>rigorous cognitive science. Cognition, 50(1-3), 41-77.</p><p>Dennett, D. C. (1992). Quining qualia. In A. Marcel,</p><p>& E. Bisiach (Eds.), Consciousness in contemporary</p><p>science (pp. 42-77). New York: Oxford University.</p><p>Descartes, R. (1979). As paixões da alma. In Abril</p><p>Cultural, Os Pensadores (2. ed., pp. 213-294). São</p><p>Paulo: Abril.</p><p>Dunbar, R. (1998). The social brain hypothesis.</p><p>Evolutionary anthropology, 6(5), 178-90.</p><p>Ekman, P. (1992). An argument for basic emotions.</p><p>Cognition and emotion, 6, 169-200.</p><p>Fodor, J. (1974). Special sciences: or the disunity</p><p>of science as a working hypothesis. Synthese, 28(2),</p><p>97-115.</p><p>Fotopoulou, A. (2013). Time to get rid of the</p><p>‘Modular’ in neuropsychology: a unified theory of</p><p>anosognosia as aberrant predictive coding. Journal</p><p>of Neuropsychology, doi: 10.1111/jnp.12010. [Epub</p><p>ahead of print].</p><p>Friston, K. (2010). The free-energy principle: a</p><p>unified brain theory? Nature Reviews Neuroscience,</p><p>11, 127-138.</p><p>Goetz, C. G. (2010). Chapter 15: Jean-Martin Char-</p><p>cot and the anatomo-clinical method of neurology.</p><p>Handbook of Clinical Neurology, 95, 203-212.</p><p>Jackson, F. (1982). Epiphenomenal qualia. The Phi-</p><p>losophical Quarterly, 32, p. 127-136.</p><p>Jasper, H., & Penfield, W. (1954). Epilepsy and the</p><p>functional anatomy of the human brain (2nd ed.).</p><p>New York: Brow.</p><p>Kim, J. (1966). On the psycho-physical identity the-</p><p>ory. American Philosophical Quarterly, 3(3), 227-235.</p><p>Kim, J. (2005). Physicalism, or something near enou-</p><p>gh. New York: Princeton University.</p><p>Kleist, K. (1934). Gehirnpathologie. Leipzig: J.A. Barth.</p><p>Kramer, S. N. (1981). Appendix B: the origin of the</p><p>cuneiform writing system. In S. N. Kramer, History</p><p>Begins at sumer: thirty-nine firsts in man’s recorded</p><p>history (3rd ed., pp. 381-383). Philadelphia: Univer-</p><p>sity of Pennsylvania.</p><p>Lewis, D. (1966). An argument for the identity the-</p><p>ory. Journal of Philosophy, 63(1), 17-25.</p><p>Luria, A. R. (1976). The working brain: an intro-</p><p>duction to neuropsychology. New York: Basic Books.</p><p>Mesulam, M. (2012). The evolving landscape of</p><p>human cortical connectivity: facts and inferences.</p><p>Neuroimage, 62(4), 2182-2189.</p><p>Panksepp, J. (2004). Affective neuroscience: the foun-</p><p>dations of human and animal emotions. New York:</p><p>Oxford University.</p><p>Putnam, H. (1967). Psychological</p><p>predicates. In</p><p>W. H. Capitan, & D. D. Merrill (Eds.), Art, mind,</p><p>and religion (pp. 37-48). Pittsburgh: University of</p><p>Pittsburgh.</p><p>Sagan, C. (1979). Broca’s brain. New York: Random</p><p>House.</p><p>Searle, J. (1980). Minds, brains and programs. Beha-</p><p>vioral and brain science, 3(3), 417-457.</p><p>Searle, J. (1992). The rediscovery of the mind. Cam-</p><p>bridge: MIT.</p><p>Stringer, C. (2012). Origin of our species. London:</p><p>Penguin Books.</p><p>Tononi, G. (2007). The information integration the-</p><p>ory of consciousness. In M. Velmans, & S. Schneider</p><p>(Eds.), The Blackwell companion to consciousness (pp.</p><p>287-299). Malden: Blackwell.</p><p>Zeki, S., Watson, J. D., Lueck, C. J., Friston, K. J.,</p><p>Kennard, C., & Frackowiak, R. S. (1991). A direct de-</p><p>monstration of functional specialization in human</p><p>visual cortex. Journal of Neuroscience, 11(3), 641-649.</p><p>As diferentes regiões do sistema nervoso</p><p>central contribuem para a coordenação do</p><p>comportamento e da cognição – objetos de</p><p>interesse da neuropsicologia –, mas é no cé-</p><p>rebro que se encontram os principais gru-</p><p>pamentos neuronais e circuitos envolvidos</p><p>nessa mediação, destacando-se nesse aspec-</p><p>to o córtex cerebral, que será o foco princi-</p><p>pal deste capítulo.</p><p>ESTRUTURA E DIVISÕ ES</p><p>DO CÓ RTEX CEREBRAL</p><p>O córtex cerebral é visualizado macroscopi-</p><p>camente como uma camada de substância</p><p>cinzenta que reveste todo o cérebro. Este,</p><p>no caso da espécie humana, é girencefáli-</p><p>co, pois tem sua superfície marcada por sul-</p><p>cos e giros, de tal forma que a maior parte</p><p>do córtex permanece oculta a uma inspe-</p><p>ção externa. Anatomicamente, o córtex ce-</p><p>rebral costuma ser fracionado em regiões,</p><p>denominadas lobos, a saber: frontal, parie-</p><p>tal, temporal, occipital e lobo da insula, es-</p><p>te último visível quando se examina a pro-</p><p>fundidade do sulco lateral do cérebro (Fig.</p><p>2.1). Em cada um desses lobos podem ser</p><p>localizados sulcos, giros e regiões que têm</p><p>importância na coordenação de diferentes</p><p>funções. Para uma descrição mais detalha-</p><p>da, recomenda-se a consulta a obras de neu-</p><p>roanatomia geral, uma vez que isso escapa</p><p>aos objetivos do presente texto (ver, por</p><p>exemplo, Cosenza, 2013; Clark, Boutros &</p><p>Mendez, 2010).</p><p>Microscopicamente, o córtex é cons-</p><p>tituído, na sua maior parte, por seis cama-</p><p>das de células que têm aspecto morfológi-</p><p>co diferente. Essas camadas se dispõem, da</p><p>superfície para o interior, na seguinte se-</p><p>quência: camada molecular, granular ex-</p><p>terna, piramidal externa, granular inter-</p><p>na, piramidal interna e camada das células</p><p>fusiformes. Esse córtex de seis camadas é</p><p>chamado de isocórtex; contudo, existem</p><p>FIGURA 2.1 Os grandes lobos da superfície cortical.</p><p>Frontal</p><p>Frontal</p><p>Temporal Temporal</p><p>Parietal Parietal</p><p>Occiptal Occiptal</p><p>Neuroanatomia funcional básica</p><p>para o neuropsicólogo</p><p>RAMON M. COSENZA</p><p>2</p>predicates. In 
W. H. Capitan, & D. D. Merrill (Eds.), Art, mind, 
and religion (pp. 37-48). Pittsburgh: University of 
Pittsburgh.
Sagan, C. (1979). Broca’s brain. New York: Random 
House.
Searle, J. (1980). Minds, brains and programs. Beha-
vioral and brain science, 3(3), 417-457. 
Searle, J. (1992). The rediscovery of the mind. Cam-
bridge: MIT. 
Stringer, C. (2012). Origin of our species. London: 
Penguin Books.
Tononi, G. (2007). The information integration the-
ory of consciousness. In M. Velmans, & S. Schneider 
(Eds.), The Blackwell companion to consciousness (pp. 
287-299). Malden: Blackwell.
Zeki, S., Watson, J. D., Lueck, C. J., Friston, K. J., 
Kennard, C., & Frackowiak, R. S. (1991). A direct de-
monstration of functional specialization in human 
visual cortex. Journal of Neuroscience, 11(3), 641-649.
As diferentes regiões do sistema nervoso 
central contribuem para a coordenação do 
comportamento e da cognição – objetos de 
interesse da neuropsicologia –, mas é no cé-
rebro que se encontram os principais gru-
pamentos neuronais e circuitos envolvidos 
nessa mediação, destacando-se nesse aspec-
to o córtex cerebral, que será o foco princi-
pal deste capítulo.
ESTRUTURA E DIVISÕ ES 
DO CÓ RTEX CEREBRAL
O córtex cerebral é visualizado macroscopi-
camente como uma camada de substância 
cinzenta que reveste todo o cérebro. Este, 
no caso da espécie humana, é girencefáli-
co, pois tem sua superfície marcada por sul-
cos e giros, de tal forma que a maior parte 
do córtex permanece oculta a uma inspe-
ção externa. Anatomicamente, o córtex ce-
rebral costuma ser fracionado em regiões, 
denominadas lobos, a saber: frontal, parie-
tal, temporal, occipital e lobo da insula, es-
te último visível quando se examina a pro-
fundidade do sulco lateral do cérebro (Fig. 
2.1). Em cada um desses lobos podem ser 
localizados sulcos, giros e regiões que têm 
importância na coordenação de diferentes 
funções. Para uma descrição mais detalha-
da, recomenda-se a consulta a obras de neu-
roanatomia geral, uma vez que isso escapa 
aos objetivos do presente texto (ver, por 
exemplo, Cosenza, 2013; Clark, Boutros & 
Mendez, 2010).
Microscopicamente, o córtex é cons-
tituído, na sua maior parte, por seis cama-
das de células que têm aspecto morfológi-
co diferente. Essas camadas se dispõem, da 
superfície para o interior, na seguinte se-
quência: camada molecular, granular ex-
terna, piramidal externa, granular inter-
na, piramidal interna e camada das células 
fusiformes. Esse córtex de seis camadas é 
chamado de isocórtex; contudo, existem 
FIGURA 2.1 Os grandes lobos da superfície cortical.
Frontal
Frontal
Temporal Temporal
Parietal Parietal
Occiptal Occiptal
Neuroanatomia funcional básica 
para o neuropsicólogo
RAMON M. COSENZA
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