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<p>AULA 01 - Introdução ao Direito das Obrigações (14/10/2020)</p><p>· Conceito de obrigação >> Obrigação é a relação transitória de direito que nos constrange a dar, fazer ou não fazer alguma coisa em proveito de alguém que por ato nosso ou de uma pessoa conosco juridicamente relacionada adquiriu o direito de nos exigir essa ação ou omissão.</p><p>(Elaborado por Clóvis Beviláqua no final do séc. 19)</p><p>Destrinchando o conceito:</p><p>- Obrigação é uma relação de direito: Obrigação não é a dívida ou crédito a ser satisfeito, não é nenhum dos lados, e sim, a relação jurídica como um todo. = Relação Jurídica Obrigacional. Liga o polo ativo do credor e o passivo do devedor.</p><p>- Relação TRANSITÓRIA: Pelo contexto histórico, há uma preocupação com a perseverança da escravidão (presente da época). Não podia definir uma relação perpétua. Era finita. Porém, algumas podem ser duradouras. Ex.: Contrato com fornecedor de energia elétrica. Relação jurídica duradoura.</p><p>- “constrange a dar, fazer ou não fazer alguma coisa” – Apresenta a classificação das obrigações quanto à natureza do objeto: DAR, FAZER ou NÃO FAZER.</p><p>-> DAR – ato de entrega de algo ou alguma coisa</p><p>-> FAZER – conduta humana lícita, que não envolva “entrega de coisas”;</p><p>-> NÃO FAZER – obrigação negativa, relaciona-se com o compromisso de abster-se;</p><p>- “em proveito de alguém” – Ação do devedor em proveito do credor.</p><p>- “por ato nosso ou de uma pessoa conosco juridicamente relacionada” - Obrigações, geralmente, nascem da minha ação para com o outro- surgem de conduta dos próprios obrigados. (Há exceções. Ex.: Eu me obrigo diretamente. Mas posso vir a me obrigar em nome do meu filho, caso este cause dano a alguém)</p><p>EXCEÇÕES: Responsabilidade por parte de terceiro (art 932, CC)- pais pelos filhos, curador pelo curatelado, mentor pelo pupilo. Responsabilidade por fato das coisas (art 936,937,938, CC)- Ex. conduta do meu animal de estimação. objeto em queda livre de edifício.</p><p>- “adquiriu o direito” – o credor tem um direito adquirido. O art. 5º, XXXVI da CF versa sobre o direito adquirido: as leis posteriores não podem suprimir o direito adquirido.</p><p>DIREITO ADQUIRIDO: é um direito que já se completou. Um direito em que seus requisitos já foram preenchidos. Um direito já incorporado ao patrimônio do particular.</p><p>- “ação ou omissão” – as obrigações podem ser dotadas de ações positivas (dar e fazer) ou negativas (não fazer)</p><p>Elementos da Obrigação>></p><p>Sujeito Objeto e Vínculo: Reducionista.</p><p>Elementos Subjetivos: Sujeitos da Obrigação.</p><p>Não existe relação jurídica entre relação e coisa. Apenas entre pessoas, ou entes que representem pessoas. Entre pessoas naturais e pessoas jurídicas.</p><p>Ex. de entes que não recebem personificação do ordenamento: condomínio, massa falida e espólio (personalidade civil do homem se extingue com a morte, herança do morto. Espólio é a continuação do patrimônio do decujo até o momento da partilha).</p><p>Os sujeitos para fazerem parte da relação obrigacional devem ser capazes?</p><p>Sim! Ex.: Crianças de três anos podem ser credoras de alimentos do pai.</p><p>Os requisitos do artigo 104 não figuram numa relação obrigacional. Não há óbice contra o incapaz.</p><p>Elemento Objetivo: Objeto da relação é sempre uma prestação (objeto imediato), uma conduta humana (dar, fazer ou não fazer).</p><p>Qualidades do objeto: possível (exequibilidade, possibilidade, possível no meio físico, realizável, factível ao alcance do devedor), lícito (admissível a luz do Ordenamento, licitude) e determinável (não precisa estar previamente determinado, mas deve ser determinável. Ex.: Fazendeiro vende 10 cabeças de gado; quem escolhe? O comprador ou vendedor?)</p><p>Elemento Espiritual (Normativo): Vínculo. (Elo entre as partes do polo ativo e passivo. Credor x Devedor)</p><p>Ligação entre a parte credora e devedora. Ligação dos pólos da relação jurídica obrigacional. Vínculo que confere força à relação obrigacional.</p><p>· Teoria Dualista da Obrigação:</p><p>· Débito (Schuld) x Responsabilidade (Haftung) - Katy Brianezi</p><p>· Débito: O que o devedor deve e que pode ser cobrado pelo devedor. Reside no espírito da dívida;</p><p>· Responsabilidade: Manto protetor que protege o débito, princípio de responsabilidade que mune o credor do direito de cobrar o cumprimendo da divida. Mude credor de um direito a recorrer ao Estado Juiz, que pode invadir a posse do devedor e apropriar dessa posse para suprir a dívida do credor.</p><p>Um não depende do outro. Débito sem responsabilidade (Nos casos de que o prazo da prescrição é vencida e o credor já não pode mais cobrar a execução de um direito a seu favor).</p><p>Responsabilidade sem débito (Fiador x Afiançado X Locatário. O fiador nada deve, mas tem a responsabilidade de cumprir com a dívida porque aceitou ser locatário).</p><p>Diferenças entre Betti e Carnelutti quanto a Teoria Dualista:</p><p>Betti - Débito e Responsabilidade Juntos. Obrigação = Débito+Responsabilidade.</p><p>Surgem ao mesmo tempo. Nascem quando a obrigação é criada. Desde a Gênese da obrigação.</p><p>Carnelutti - Débito da Relação e Responsabilidade (fruto de uma relação jurídico processual. Direito público- Cidadão x Estado). Obrigação=Débito.</p><p>Ele pensa que num primeiro só existe o Débito (que compõe a responsabilidade jurídica) e a Responsabilidade só surge após o inadimplemento.</p><p>São teorias inconciliáveis e ambas são muito bem fundamentadas.</p><p>Normalmente, na Obrigação Civil, ambos os conceitos andam juntos (“Quem deve responde”). Existe, também, no Ordenamento, a Obrigação Natural.</p><p>Obrigação Natural: Em seu surgimento, nasce apenas com o débito. O Ordenamento não permite a Responsabilidade. Mecanismo de sanção do ordenamento. Não abre as portas do Judiciário para a credor da obrigação natural. É uma exceção.</p><p>Ex.: Dívida de Jogo (em jogos ilegais); Prostituição (não é viável que uma profissional do sexo vá recorrer no Judiciário com a pretenção de pedir o pagamento de seu serviço).</p><p>Na Obrigação Prescrita, a Responsabilidade nasce juntamente ao Débito, mas, caso passado o prazo, a responsabilidade é afastada. O fenômeno da Prescrição (o tempo passou e o credor ficou inerte. O devedor ainda deve, porém, o Judiciário já não compele mais nesse caso).</p><p>Há como ter relação em que há a Responsabilidade, mas não o débito. (Ex.: Fiança numa relação Fiador x Locatário).</p><p>RESUMO DO TEXTO:</p><p>Betti: acredita que a responsabilidade nasce junto com Débito e são inseparáveis, sendo a relação Jurídica de Direito Merial.</p><p>Carnelutti: Acredita que a responsabilidade surge apenas com o inadimplemento .</p><p>Este não concorda que obrigação seja caracterizada por Débito + Responsabilidade, isso porque a responsabilidade encontra-se fora da obrigação e não dentro.</p><p>Para carnelutti o débito vem da relação credor x devedor e integra a relação processual.</p><p>Betti acredita que obrigação é a síntese de débito + responsabilidade um se origina junto com o outro sendo garantia de Direito Substancial que não faz parte do processo, mas através dele pode ser colocada em prática. Carnelutti encerra responsabilidade como a sujeição do devedor ao Estado</p><p>AULA 02 - Fontes das Obrigações (21/10/2020)</p><p>Comentários realizados inicialmente:</p><p>Tradição Jurídica Lusitana: Lei da Boa-Razão de Marquês de Pombal, governante esclarecido, buscando modernizar o Direito português e influenciando o Brasil.</p><p>O que é Fonte? “Lugar de onde provém alguma coisa”.</p><p>Fonte da Obrigação> O que constitui uma obrigação, a causa da obrigação.</p><p>[3 fases do Direito Romano> Pré-clássica (inicial, arcaico, inicial. Costume> fonte de direito), Clássica (Jurisprudência se materializa como fonte de direito), Pós-Clássica (fragmentação do Império. Lei aparece como fonte principal e surgem as primeiras codificações).]</p><p>Que conduta humana pode criar uma obrigação?</p><p>· O Direito Civil, Direito Romana, se encarregaram disso></p><p>· D. Romano antigo: apenas 2 fontes de obrigação: Contrato (engajamento bilateral, acordo de vontades- rev francesa-, relação entre 2 ou mais pessoas) e Delito (conduta humana violadora das normas, transgride o Ordenamento; quem causa o dano deve repará-lo. Mediante Dolo, intencional).</p><p>· Percebendo</p><p>a circulação desse crédito não necessita de forma específica. Ex.: transferir um ingresso de teatro para outra pessoa.</p><p>Art. 289, CC: “O cessionário de crédito hipotecário tem o direito de fazer averbar a cessão no registro do imóvel”. Hipoteca é um direito real de garantia sobre um bem imóvel. Tudo referente a um imóvel é levado ao registro de imóveis. O novo credor cessionário tem o direito de averbar o nome dele no registro. Afinal, antes o nome do credor primário é o que estava no registro de imóveis, situação na qual esse artigo remedia.</p><p>Art. 290, CC: “A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a este notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em escrito público ou particular, se declarou ciente da cessão feita”. Este artigo não interfere no campo da validade (nem nulidade, nem anulabilidade), e sim no campo da eficácia. Se por qualquer outro meio o devedor tomou ciência da cessão de crédito, o devedor não pode alegar a ineficácia baseada nesse artigo.</p><p>Podem ocorrer várias cessões de um mesmo crédito. Isso pode gerar alguma dificuldade com o passar do tempo. Se forem múltiplas cessões, pode haver uma dificuldade de saber quem é o atual credor. Isso é de interesse especialmente do devedor, que deve saber para quem ele deve prestar a obrigação. O Art. 291 busca encontrar uma solução: “Ocorrendo várias cessões do mesmo crédito, prevalece a que se completar com a tradição do título do crédito cedido”. Em outras palavras, o atual credor é aquele que tem o título de crédito em mãos. Isso não resolve todos os problemas, pois nem sempre existe um crédito que possa circular em mãos. Ex.: A é o primeiro credor , que maliciosamente cede o mesmo crédito a B e a C. Óbvio que o devedor não vai pagar o crédito 2 vezes. Quando não existe um documento que materialize o crédito, se faz notório o problema. Essa problemática se refere no artigo posterior:</p><p>Art. 292, CC: “Fica desobrigado o devedor que, antes de ter conhecimento da cessão, paga ao credor primitivo, ou que, no caso de mais de uma cessão notificada, paga ao cessionário que lhe apresenta, com o título de cessão, o da obrigação cedida; quando o crédito constar de escritura pública, prevalecerá a prioridade da notificação”. Se o devedor não tem conhecimento da cessão e paga ao credor primário, ele se vê livre da obrigação. Tentando solucionar o exemplo anterior, esse artigo prevê que o devedor deve pagar ao cessionário que apresentar o título de cessão e o título da obrigação cedida. Pelo entendimento lógico, quem notificar primeiro vai receber o crédito. Por fim, o artigo diz que o crédito lavrado em escritura pública terá prevalência na notificação.</p><p>Art. 293, CC: “Independentemente do conhecimento da cessão pelo devedor, pode o cessionário exercer os atos conservatórios do direito cedido”. Atos conservatórios são mecanismos urgentes que visam preservar o crédito. O Código não condiciona o prévio aviso ao devedor.</p><p>EXCEÇÕES (no sentido jurídico do Direito Civil, significa defesa de mérito do direito material): pessoais e reais.</p><p>· Pessoais: são ligadas às pessoas envolvidas. Ex.: suscitar a compensação.</p><p>· Reais: são ligadas às características do objeto da obrigação. Ex.: prescrição.</p><p>Art. 294, CC: “O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem, bem como as que, no momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o cedente”. Se a obrigação estava prescrita quando o credor era o cedente, permanecerá prescrita quando o credor for o cessionário. O que o artigo veda é a alegação da exceção pessoal. Ex.: não cabe suscitar uma compensação referente a um crédito que você tinha contra um cedente. Afinal, o novo titular do polo ativo é outra pessoa.</p><p>Responsabilidade do cedente (ponto mais importante da cessão de crédito): quem tem que pagar a obrigação? O devedor, que antes deveria pagar ao credor cedente, e que agora deve pagar ao credor cessionário. Não cabe ao cedente pagar a obrigação que ele cedeu. Todavia, o cedente pode se tornar responsável. Normalmente, se espera que o pagamento venha do devedor, contudo a lei pode atribuir a responsabilidade ao cedente. Tal conceito se ramifica em duas vertentes:</p><p>· Responsabilidade pela existência do crédito (Art. 295, CC): “Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize, fica responsável ao cessionário pela existência do crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões por título gratuito, se tiver procedido de má-fé”. O crédito cedido tem que existir, afinal não há negócio jurídico sem objeto. Se ficar provado que o crédito supostamente cedido não existia, há a responsabilidade do cedente: na cessão gratuita, a responsabilidade do cedente é minúscula, muito restrita. O cedente só responde ao cessionário na cessão gratuita em caso de má-fé em prol de prejudicar o cessionário. Na cessão onerosa, o cedente, ainda que não se responsabilize, fica responsável ao cessionário pela existência do crédito. A lei ordena essa responsabilidade.</p><p>· Responsabilidade pela solvência do devedor (Arts. 296-297, CC): Ex.: O cessionário paga bem para receber o crédito, e no dia seguinte ficou sabendo que o cedente era um sujeito insolvente (não tem patrimônio suficiente para pagar suas obrigações). “Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do devedor. O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do devedor, não responde por mais do que daquele recebeu, com os respectivos juros; mas tem de ressarcir-lhe as despesas da cessão e as que o cessionário houver feito com a cobrança”. Em regra, não se pode responsabilizar o cedente. Só é possível se houver cláusula contratual na cessão de crédito prevendo a responsabilidade do cedente, o que normalmente não acontece. Mesmo que exista a estipulação em contrário, a lei limita essa responsabilização para evitar o enriquecimento sem causa. Ex.: O cessionário paga 30% para receber o crédito, não é justo que o cedente tenha que ressarcir a integridade do crédito. Ele deve pagar apenas esses 30%, acrescidas das despesas da cessão.</p><p>Limitação à possibilidade de cessão de crédito: Art. 298, CC: “O crédito, uma vez penhorado, não pode mais ser transferido pelo credor que tiver conhecimento da penhora; mas o devedor que o pagar, não tendo notificação dela, fica exonerado, subsistindo somente contra o credor os direitos de terceiro”. No processo de execução, a penhora é um ato processual que vincula um determinado bem para o pagamento do exequente. O crédito também pode ser objeto de penhora, e a lei veda que tal crédito seja cedido. Ex.: Caio propõe uma execução em face de Tício. O bem de Tício encontrado na execução é um crédito que Tício tem contra Mévio. O crédito de Tício é objeto de penhora. O crédito de Tício não pode ser mais cedido, a partir do momento de sua intimação da penhora. O juiz dessa execução deve intimar Mévio para que ele não pague diretamente a Tício o crédito, e sim deposite em juízo esse pagamento. Caso Mévio não tenha sido intimado da penhora, ele pode pagar tranquilamente a Tício, sem ter que pagar esse crédito novamente. Dessa forma, Mévio é isento, cabendo somente a Tício a cobrança.</p><p>· ASSUNÇÃO DE DÍVIDA</p><p>-> Previsto pela 1ª vez no CC/2002, mas já previsto pela doutrina a possibilidade dessa transmissão de obrigação, em virtude dos princípios da paridade de armas e igualdade.</p><p>-> O devedor pode transferir a titularidade do polo passivo da obrigação para quem quiser assumi-la. O devedor originário dá lugar a um novo devedor.</p><p>-> Embora o CC tenha disciplinado este instituto, o fez de uma forma tímida que não abrange todas as possibilidades do instituto. Isso não impede que essas outras possibilidades sejam possíveis, em consonância com o princípio da autonomia privada.</p><p>A assunção de dívida se ramifica em duas possibilidades:</p><p>- Assunção liberatória (prevista no CC): o antigo devedor deixa de sê-lo, sendo integralmente substituído pelo novo devedor. Art. 299, CC: “É facultado a terceiro assumir a obrigação do</p><p>devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava”.</p><p>- Assunção cumulativa: o antigo devedor não vai embora da obrigação, mas é acompanhado por um novo devedor. Não se pode dizer que o devedor primitivo fica isento da obrigação.</p><p>A assunção de dívida pode ocorrer de diferentes formas:</p><p>- Assunção por delegação (prevista no CC): é o acordo celebrado visando a transmissão do débito entre o devedor originário e o novo devedor. É indispensável o consentimento do credor, sendo um requisito de validade (Art. 299, CC).</p><p>- Assunção por expromissão: expromissão = expulsão. O negócio jurídico é celebrado entre o credor e o novo devedor. É um acordo de transmissão do débito que tem como partes o credor e o novo devedor. O antigo devedor deixa de ser o devedor sem considerar a sua vontade. A expromissão pode formar uma assunção de dívida ou uma novação subjetiva passiva (Art. 360, CC).</p><p>Art. 299, § único, CC: “Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa”. Esse dispositivo está em sintonia com o Art. 111 do CC: silêncio NÃO É manifestação de vontade. Há uma exceção em que o silêncio é valorado como concordância, prevista no Art. 303 do Código Civil: “O adquirente de imóvel hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido; se o credor, notificado, não impugnar em trinta dias a transferência do débito, entender-se-á dado o assentimento”. A instituição bancária não pode impugnar a assunção de dívida, findado o prazo de 30 dias previstos no artigo.</p><p>Garantias da assunção de dívida: Arts. 300-301, CC: “Salvo assentimento expresso do devedor primitivo, consideram-se extintas, a partir da assunção da dívida, as garantias especiais por ele originariamente dadas ao credor. Se a substituição do devedor vier a ser anulada, restaura-se o débito, com todas as suas garantias, salvo as garantias prestadas por terceiros, exceto se este conhecia o vício que inquinava a obrigação”. Ex.: Eu era fiador do Domingos, que acabou por ceder seu débito à Débora. As garantias permanecem? Se essa garantia foi dada pela próprio devedor originário, essa garantia fica extinta. Da mesma forma, a garantia dada por terceiros também é extinta.</p><p>Exceções (defesas) que podem ser alegadas: Art. 302, CC: “O novo devedor não pode opor ao credor as exceções pessoais que competiam ao devedor primitivo”. As exceções pessoais só cabem às pessoas a quem competem. As exceções reais permanecem, mesmo com a substituição do devedor.</p><p>AULA 09 - Extinção das obrigações: PAGAMENTO (09/12/2020)</p><p>· INTRODUÇÃO</p><p>O pagamento é o meio normal e buscado / desejado pelo ordenamento para que se finde a obrigação. O cumprimento das obrigações pelo pagamento é espontâneo e natural no dia a dia. O pagamento é o fenômeno positivo da obrigação, e o inadimplemento é o fenômeno negativo, é indesejável, sancionado pelo ordenamento. Pagamento é sinônimo de cumprimento, execução e satisfação. Há muitas maneiras de identificar que a prestação é realizada e a obrigação extinta.</p><p>Conceitualmente, o que é pagamento? Devemos desviar de algumas confusões da linguagem comum. Devemos evitar um conceito que seja muito amplo (pagamento como sendo extinção da obrigação. O pagamento é apenas um dos modos de extinção da obrigação) e que seja muito restrito (apenas a satisfação em dinheiro).</p><p>Pagamento é o cumprimento de qualquer obrigação, seja uma obrigação pecuniária, ou quaisquer das diversas subespécies da obrigação de dar, fazer ou não fazer.</p><p>Pagamento da obrigação de dar -> entregar a coisa devida.</p><p>Obrigação de fazer -> realizar o ato.</p><p>Obrigação de não fazer -> permanência de um estado de abstenção.</p><p>CONCEITO: Pagamento é a satisfação voluntária e exata, pelo devedor ou por terceiro, da prestação devida no tempo, no lugar e pelo modo previstos no título da obrigação.</p><p>- “Pagamento é a satisfação voluntária” -> às vezes, o cumprimento não acontece de modo espontâneo, pois o devedor pode ser impelido a prestar a obrigação. O “cumprimento forçado” (execução da obrigação) não se caracteriza como pagamento.</p><p>- “exata” -> o devedor só se libera quando cumpre TUDO aquilo que deve. A satisfação precisa ser plena, correta e exata para que a obrigação se extinga plenamente.</p><p>OBS.: “Adimplemento substancial” será abordado mais adiante. Entrou no direito brasileiro por influência dos EUA.</p><p>- “pelo devedor ou por terceiro” -> o pagamento pode ser efetuado pelo devedor, mas também pode ocorrer por um terceiro.</p><p>- “da prestação devida no tempo, no lugar e pelo modo previstos no título da obrigação” -> não são elementos essenciais da obrigação. São elementos secundários que influem no cumprimento da obrigação. Ex.: alguém que cumpre a obrigação em um lugar adverso não pode se considerar adimplente.</p><p>· CONDIÇÕES SUBJETIVAS DO PAGAMENTO</p><p>Referem-se aos sujeitos da obrigação. Como visto, a obrigação pode ser paga pelo devedor ou por um terceiro, alheio à obrigação.</p><p>SOLVENS: “Quem solve” - o pagador, aquele que paga. Não se fala em devedor, pois o pagamento pode vir de um terceiro.</p><p>ACCIPIENS: “Quem aceita” - quem recebe a prestação devida. Também pode se referir a um terceiro.</p><p>· Condições subjetivas do SOLVENS:</p><p>* Quem são as pessoas que podem efetuar o pagamento?</p><p>1- Devedor: é o ocupante do polo passivo, o primeiro e maior interessado em quitar o pagamento, a fim de obter sua libertação do vínculo obrigacional.</p><p>2- Terceiro [juridicamente] interessado: não é originalmente parte, mas alguém que tem interesse jurídico (NÃO É interesse econômico ou moral). Considera-se juridicamente interessado o terceiro que pode sofrer consequências no seu próprio patrimônio com a não realização do pagamento.</p><p>Exemplos.:</p><p>- Fiador em um contrato de locação;</p><p>- Relação de sub locação: o locatário ficou inadimplente. O locatário havia locado para o sublocatário. A discussão envolvida nesse caso é se o sublocatário poderia pagar diretamente ao locador o aluguel devido pelo locatário. O locador não quis receber, pois ele não havia celebrado contrato com ele originalmente. Nesse caso, o sublocatário é um terceiro interessado;</p><p>- Cessão de dívida não comunicada (alteração da titularidade de débito não comunicada ao credor): o cessionário é um terceiro interessado em relação à dívida que o cedente tinha frente ao credor.</p><p>3- Terceiro não interessado que paga em nome do devedor: terceiro com interesse meramente econômico ou moral, que paga como se fosse o próprio devedor. Não há como recuperar com o devedor o valor pago.</p><p>Exemplos.:</p><p>- Pessoa que paga a fatura de cartão de crédito do cônjuge (interesse moral);</p><p>- pai que paga a dívida do filho maior de idade (interesse moral);</p><p>- grupos empresariais (interesse econômico).</p><p>4- Terceiro não interessado que paga em seu próprio nome: terceiro com interesse meramente econômico ou moral, que paga no próprio nome, com as devidas provas de quitação em nome próprio. Há como recuperar com o devedor o valor pago.</p><p>* Efeitos da quitação do pagamento:</p><p>-> Pagamento feito pelo próprio devedor: a obrigação se extingue.</p><p>-> Pagamento feito por um terceiro interessado: a obrigação NÃO se extingue, apenas acarreta a sub-rogação. O terceiro interessado se sub-roga no direito do credor (Art. 346, III, CC). Acarreta a transmissão da titularidade do crédito. NÃO SE CONFUNDE COM CESSÃO DE CRÉDITO, pois esse fato está alheio à vontade das partes. A própria lei provoca essa transmissão.</p><p>-> Pagamento feito por um terceiro não interessado que paga em nome do devedor: a obrigação fica extinta, e o devedor, liberado. O terceiro que fez o pagamento não tem nenhuma aspiração de recuperar o que pagou. Assemelha-se ao fenômeno da doação.</p><p>-> Pagamento feito por um terceiro não interessado que paga em seu próprio nome: Art. 305, CC: “O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas não se sub-roga nos direitos do credor”. A obrigação</p><p>original se extingue, e é criada uma nova obrigação (credor: terceiro interessado que pagou; devedor: o mesmo devedor da obrigação original).</p><p>* Quem pode consignar o pagamento (depositar judicialmente a prestação devida e se exonerar da obrigação)? Quem tem legitimidade ativa para tal? (de modo geral, os credores aceitam o pagamento, mas há a possibilidade de que o credor se recuse por diversos motivos)</p><p>1- Devedor: ele PODE consignar o pagamento e detém legitimidade para essa ação.</p><p>2- Terceiro [juridicamente] interessado: ele PODE consignar o pagamento e detém legitimidade para essa ação, sem problemas (Art. 304, CC).</p><p>3- Terceiro não interessado que paga em nome do devedor: ele PODE consignar o pagamento e detém legitimidade para essa ação. Contudo, o devedor pode se opor à intromissão desse terceiro não interessado (Art. 304, § único, CC).</p><p>4- Terceiro não interessado que paga em seu próprio nome: ele NÃO PODE consignar o pagamento, não há previsão legal para tal ato.</p><p>· Condições subjetivas do ACCIPIENS:</p><p>* Quem são as pessoas que podem receber o pagamento?</p><p>1- Credor originário: o pagamento deve ser feito originalmente ao credor, para que a obrigação se extinga.</p><p>2- Representante do credor: pessoa que, recebendo o pagamento, gera efeitos idênticos como se o pagamento fosse feito diretamente ao credor. A representação pode ser voluntária (mediante procuração) ou legal (através da lei) (Arts. 115 e 120, CC). “O representante é como um alter ego, um outro eu”. (Caio Mário)</p><p>3- Terceiro não representante: não tem poderes representativos. A lei admite que o pagamento seja feito a esse terceiro (Art. 308, CC). O cumprimento da obrigação fica subordinado a duas possíveis condições, sendo que apenas uma delas é necessária para ser cumprida: a) se o credor ratificar o recebimento ou b) comprovação do pagamento por parte do solvens. Ex.: recebimento de encomenda dos Correios por uma vizinha.</p><p>4- Terceiro autorizado: Art. 311, CC: “Considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da quitação, salvo se as circunstâncias contrariarem a presunção daí resultante”. Antigamente, era até vista como uma “profissional”, remunerado para receber a prestação.</p><p>5- Credor putativo: Parece credor, mas depois se descobre que não é credor. Cabe ao credor legítimo demandar ao credor putativo. Art. 309, CC: “O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor”.</p><p>· CONDIÇÕES OBJETIVAS DO PAGAMENTO</p><p>- Identidade: O devedor só se libera pagando aquilo que for de fato devido. Art. 313, CC: “O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa”. EXCEÇÃO: Dação em pagamento.</p><p>- Integridade: O devedor só se libera quando paga tudo o que deve, não pode faltar nenhuma parte do que é devido.</p><p>- Indivisibilidade: Não se confunde com a indivisibilidade da obrigação. Se refere à indivisibilidade do pagamento. Art. 314, CC: “Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou”. Salvo estipulação em contrário, o pagamento deve ser feito por inteiro, de uma só vez.</p><p>· PROVA DO PAGAMENTO</p><p>O pagamento é um fato ato ou até um negócio jurídico, podendo ser provado por todos os meios lícitos no ordenamento. Porém, existe um meio em excelência para comprovar o pagamento. É uma prova de natureza documental: a QUITAÇÃO, que é uma declaração do credor que libera o devedor, culminando na extinção da obrigação.</p><p>A mora do credor que se recusa a conceder a quitação ao devedor que efetua o pagamento, não afeta a esse (Solvens tem direito de retenção enquanto a quitação não lhe for dada (Art 320, CC/02: A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante).</p><p>O ônus da prova de pagamento é do devedor (do Solvens) a falta de prova de quem diz que pagou acarreta em um segundo pagamento. Há diversos meios para provar que o pagamento foi efetuado, sendo a quitação prova por excelência. Até mesmo uma quitação defeituosa (incompleta), se pode comprovar que o pagamento foi efetuado (Art 320, parágrafo único, CC/02: Ainda sem os requisitos estabelecidos neste artigo valerá a quitação, se de seus termos ou das circunstâncias resultar haver sido paga a dívida).</p><p>O Art 321 trata da hipótese de provável extravio: “Nos débitos, cuja quitação consista na devolução do título, perdido este, poderá o devedor exigir, retendo o pagamento, declaração do credor que inutilize o título desaparecido”</p><p>Ex.: Cheques extraviados e furtados.</p><p>· PRESUNÇÕES DE PAGAMENTO</p><p>Existem 3 presunções de Pagamento segundo o Código Civil brasileiro. A presunção é supor que algo é verdadeiro, dispensar a prova porque nos termos da lei tenho uma presunção de que algo, de fato, aconteceu. A lei indica que o pagamento tenha, realmente, acontecido, favorecendo ao solvens. Porém, há também a possibilidade de presunção negativa.</p><p>Há a presunção:</p><p>· absoluta: não admite prova em contrário (ad iuris)</p><p>· reativa: Cede diante de eventual prova em contrário (iuris tantum). Subdivide-se em 3:</p><p>· Art 322, CC/02: Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da última estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores.</p><p>Presunção de cotas periódicas, de trato sucessivo, nas quais o objeto se renova em períodos de tempo determinado. Presunção legal: se tiver o devedor, pago a cota mais recente, há a presunção de que pagou as cotas anteriores. Isso dá a presunção de que as cotas anteriores foram cumpridas, favorecendo o devedor. Se houver uma prova contrária, o ônus da prova negativa é do credor.</p><p>Ex.: Contrato de locação; Trato periódico, mensalidade do plano de saúde.</p><p>· Art 323, CC/02: Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes presumem-se pagos.</p><p>Pagamento do capital sem reserva dos juros: o devedor pagou o capital, pagou o principal, porém não pagou os juros, entretanto,ainda assim, o credor recebeu, sem reserva dos juros. Nesse caso, a lei presume que o credor não vai mais cobrar os juros (perdoando-os) ou que os já recebeu. Tal presunção segue o “bom e velho” princípio de que acessório segue o principal (no caso, o juro é acessório à obrigação principal).</p><p>Sendo assim, passado tempo sem a reserva desses juros, não cabe mais ao credor cobrá-los do dever.</p><p>· Art 324, CC/02: A entrega do título ao devedor firma a presunção do pagamento.</p><p>Parágrafo único. Ficará sem efeito a quitação assim operada se o credor provar, em sessenta dias, a falta do pagamento.</p><p>Presunção decorrente da entrega de título: Decorre da presunção de que o título foi quitado mediante comprovação do credor, que caso não tenha recebido o pagamento, terá o prazo de 60 dias para levar a pleito seu ônus negativo.</p><p>· ACESSÓRIOS DO PAGAMENTO</p><p>São as despesas acessórios ao pagamento, créditos que caem em cima da relação, acordados entre as partes. Geralmente, de acordo com a sabedoria popular, fica à cargo do devedor pagar a estes acessórios.</p><p>Ex.: Juros, Taxa de Frete, Taxa de pagamento referente à mudanças de banco.</p><p>Havendo, porém, omissão das partes quanto ao acerto das condições referentes ao pagamento dos acessórios do título, opera o Art 325, CC/02: Presumem-se a cargo do devedor as despesas com o pagamento e a quitação; se ocorrer aumento por fato do credor, suportará este a despesa acrescida.</p><p>Essa regra legal coincide com o ocorrido na prática: o devedor assume as despesas. Mas, se for o credor o gerador de despesa acessório, não é justo que se obrigue o devedor a arcar com essa despesa, sendo essa, portanto, responsabilidade do credor.</p><p>“Quem paga o frete? Quem paga o envio? Quem paga o tributo gerado no banco decorrente do título?” etc...</p><p>· MEDIDAS DO PAGAMENTO</p><p>Geralmente as medidas utilizadas no pagamento do título são universais (KG, Moeda, Litro, Unidade), mas algumas são tradicionais e têm variações</p><p>regionais como, por exemplo, o arroba (@) e o alqueire que possuem diferenças de medida segundo a região na qual se firma o acordo. (compreensão geral do @ é 15kg. Mas o alqueire varia bastante, em um local pode se uma medida enquanto em outro lugar é o dobro)</p><p>O Art 326 observa essa questão e prevê: Se o pagamento se houver de fazer por medida, ou peso, entender-se-á, no silêncio das partes, que aceitaram os do lugar da execução. Logo, a medida tradicional utilizada será a do local acordado entre as partes.</p><p>· LUGAR DO PAGAMENTO</p><p>É um aspecto secundário, que pode interferir/impactar na efetuação do pagamento. O lugar do pagamento geralmente é acordado pela vontade das partes, porém, havendo omissão das mesmas, fica previsto pelo Art 327 que: Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias.</p><p>Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles.</p><p>Logo, caso não seja devidamente acordado entre as partes o lugar do pagamento, ficará estabelecido que o mesmo será efetuado no lugar de domicílio do devedor. Mais uma aplicação do iuris debitoris, como uma regra legal supletiva emergente do silêncio dos acordantes do título da obrigação.</p><p>Quanto ao lugar do pagamento, deparamo-nos com mais um tipo de classificação da obrigação, em relação ao lugar em que se paga:</p><p>· Quesível (do francês quèrble): deve ser paga no domicílio do devedor;</p><p>· Portável (do francês portable): deve ser paga no domicílio do credor.</p><p>Tratando-se do pagamento de bem imóvel, o mesmo ocorrerá, em regra, no local onde situa-se o imóvel, conforme previsto no Art 328: Se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em prestações relativas a imóvel, far-se-á no lugar onde situado o bem.</p><p>Há, porém, nesse sentido, uma exceção prevista no Art 330 (O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato) no caso de o credor aceitar pagamento em local diverso do combinado ou do previsto, considerando essa atitude uma renúncia do que foi previamente acertado entre as partes. Isso pode ocorrer quando, no caso de um imóvel, por exemplo, há ocorrência de tradição simbólica com o evento da entrega das chaves na presença de tabelião, produzindo o mesmo efeito.</p><p>A regra constituída no artigo 330 mostra-se muito inteligente, no que diz respeito a traduzir a dinamicidade da obrigação, visto que a mesma pode ser moldada segundo a variação de comportamento das partes, segundo o princípio da boa-fé objetiva.</p><p>Ex.: o contrato estipulou que o título da obrigação estava previsto para ser pago no local X, mas o devedor o estava recorrentemente pagando no local Y e este pagamento estava sendo aceito pelo credor, sem ressalvas. Nesse caso, a atitude do credor nos faz crer que ele renunciou o que foi acordado quanto ao local de pagamento, não podendo, portanto, recusar pagamentos feitos em Y por conta do acerto inicial de que seria em X. Não é razoável que o credor tenha essa atitude.</p><p>Isso não seria considerada uma Intervenção Estatal, porém, uma auto-manutenção própria do caráter dinâmico da obrigação que, não sendo estática, vai de encontro ao comportamento das partes. Ajustando-se às novas circunstâncias empíricas. Dessa forma, há ação do princípio de vedação ao comportamento contraditório (venire contra factum proprium).</p><p>Outra exceção quanto a local de pagamento prevista em lei, é encontrada no Art 329: Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor. Nesse caso, algum motivo muito grave ocorreu, impedindo o devedor de efetuar o pagamento no local combinado. Não se é listado o conjunto de motivos razoavelmente aceitáveis para que isso ocorra, mas entende-se que o pagamento será realizado em local diferente daquele originalmente previsto, sem que se acarrete problema ao credor.</p><p>· TEMPO DO PAGAMENTO</p><p>Refere-se a quando a obrigação deve ser cumprida; sendo a obrigação matéria patrimonial privada, são as partes que acordam prazos e vencimentos. Contudo, em caso de omissão das partes no que tange um vencimento da obrigação, o Art 331 diz: Salvo disposição legal em contrário, não tendo sido ajustada época para o pagamento, pode o credor exigi-lo imediatamente. Dessa maneira, está previsto em lei que: no silêncio das partes quanto à prazos, o credor pode solicitar pagamento IMEDIATO.</p><p>Há exceção prevista no artigo no Art 322, em caso de ocorrência de uma condição (evento futuro e incerto), cumpre-se a quitação na hora do implemento dessa condição. “As obrigações condicionais cumprem-se na data do implemento da condição, cabendo ao credor a prova de que deste teve ciência o devedor.”</p><p>Em hipóteses mais gravosas, sérias e raras, há possibilidade de antecipação de vencimento do título da obrigação: mesmo que as partes tenham fixado a data de vencimento para o futuro, pode vir a ocorrer fato grave que fará com que a lei exija a antecipação do vencimento da obrigação, nas hipóteses previstas pelo Art 333:</p><p>Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado neste Código:</p><p>I - no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores;</p><p>> Falência quando o devedor for empresário;</p><p>> Concurso de credores quando for de natureza civil, devedores insolventes- processo civil de execução coletiva contra o insolvente, não importando os créditos.</p><p>II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor;</p><p>> Penhor (bem móvel);</p><p>> Hipoteca (direito real de garantia que incide sobre a coisa imóvel);</p><p>> Penhora (ato processual na execução que toma bem do devedor para que satisfazer o exequente, terminando a execução).</p><p>III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las.</p><p>> A garantia deixa de ser suficiente ou deixou de existir.</p><p>Parágrafo único. Nos casos deste artigo, se houver, no débito, solidariedade passiva, não se reputará vencido quanto aos outros devedores solventes.</p><p>AULA 10 - Extinção das obrigações: PAGAMENTOS ESPECIAIS (16/12/2020)</p><p>· CONSIGNAÇÃO (Arts. 334-345, CC)</p><p>Consignar é sinônimo de empregar, depositar. Apesar de não ter exatamente o mesmo sentido de pagar, a consignação produz efeitos semelhantes ao pagamento: o depósito gera o efeito da libertação do vínculo obrigacional. Antigamente, só existia a consignação judicial, mas recentemente, quando ainda vigoravam os antigos CC e CPC, uma lei especial alterou os Códigos e trouxe a consignação extrajudicial, em estabelecimento bancário. Em lei, atualmente, temos as duas modalidades.</p><p>Consignação é um instituto tanto do Direito Civil, regulados pelo Art. 334 e seguintes do CC, quanto do Processo Civil, previsto no CPC, em um rito especial regulado pelo Art. 539 e seguintes do CPC.</p><p>Um conceito antigo dispõe que a consignação é um depósito judicial da coisa devida. Afinal, desde 1994, temos a modalidade extrajudicial. O legislador quis criar um meio fácil de consignação, contudo, na prática, a consignação extrajudicial não vingou, sendo um instituto raramente utilizado. O devedor que deseja consignar geralmente se utiliza das vias judiciais para concretizar seu objetivo.</p><p>OBS.: Na consignação judicial, quando envolve pecúnia, o recurso é recolhido em uma conta judicial impessoal (não se vincula à figura do juiz), plenamente rastreável. O dinheiro depositado deve ser remunerado, tal como em qualquer conta bancária.</p><p>Art. 334, CC: “Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e forma legais”. Dito isso, pode-se consignar qualquer modalidade da obrigação? NÃO, só se admite a consignação quando se tratar de uma obrigação de dar. É válido ressaltar que é cabível a consignação de qualquer bem, seja ele móvel ou imóvel. Quando o CC diz “nos</p><p>casos e formas legais”, ninguém pode sair consignando como bem entender. A consignação só é viável nas hipóteses previstas de modo taxativo na lei.</p><p>Art. 335, CC: “A consignação tem lugar: I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma; II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos; III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento; V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento”.</p><p>No inciso I, temos três hipóteses: a) se o credor não puder receber. Ex.: o credor está internado com COVID-19, e o devedor precisa da quitação imediata. b) se o credor se recusar a receber o pagamento. Ex.: quando há uma divergência nos parâmetros do pagamento: o devedor diz que só deve 100 e o credor diz que tem que receber 200, se recusando a receber os 100 oferecidos pelo devedor. c) se o credor se recusar a dar a quitação. Tem relação com o Art. 319 do CC. Nesse caso, a mora é do credor.</p><p>No inciso II, temos a espécie de obrigação quesível. Caso o credor não vá buscar a prestação, o devedor não é obrigado a se deslocar e entregar ao credor. Nessa hipótese, é facultado ao devedor a realização da consignação, a fim de obter a sua liberação.</p><p>No inciso III, temos hipóteses mais específicas de que o credor pode não ter como receber o pagamento.</p><p>No inciso IV, trata de uma hipótese de dúvida de quem detém a titularidade do polo ativo. A consignação do pagamento faz com que o devedor se exima da dúvida, que será sanada judicialmente.</p><p>No inciso V, já está instaurado um litígio em que ambas as partes se pretendem credoras de uma obrigação. Art. 344, CC: “O devedor de obrigação litigiosa exonerar-se-á mediante consignação, mas, se pagar a qualquer dos pretendidos credores, tendo conhecimento do litígio, assumirá o risco do pagamento”. Esse risco envolve ter que pagar de novo ao credor verdadeiro. Art. 345, CC: “Se a dívida se vencer, pendendo litígio entre credores que se pretendem mutuamente excluir, poderá qualquer deles requerer a consignação”. É uma medida de cautela para evitar que o devedor pague diretamente. É a única hipótese em que a proposta de consignação não vem de parte do devedor ou de um terceiro, e sim de um dos possíveis credores que estão envolvidos no litígio.</p><p>A consignação tem requisitos, só sendo cabível nas hipóteses que a lei autoriza. Todos os requisitos do pagamento em geral se estendem no instituto da consignação, tal como prevê o Art. 336 do CC, além de um requisito adicional: Art. 337, CC: “O depósito requerer-se-á no lugar do pagamento, cessando, tanto que se efetue, para o depositante, os juros da dívida e os riscos, salvo se for julgado improcedente”. Quando se deposita a dívida, os efeitos da mora (juros, correção, multa, honorários) cessam imediatamente.</p><p>· Efeitos da consignação:</p><p>1º) Se o consignante tiver razão (efeitos da PROCEDÊNCIA):</p><p>a) A obrigação fica extinta e o devedor fica liberado;</p><p>b) O devedor não suporta nenhum efeito da mora. Ao contrário, caracteriza-se a mora do credor;</p><p>c) O credor responde pelas despesas processuais: custas e honorários (Art. 343, CC)</p><p>2º) Se o consignante não tiver razão (efeitos da IMPROCEDÊNCIA): Ex.: Quando foi provado em juízo que o devedor devia mais do que o que foi depositado em juízo.</p><p>a) A obrigação não se extingue e o devedor não fica liberado, ainda deve;</p><p>b) É ratificada a mora do devedor, que responde pelas consequências da mora;</p><p>c) O consignante suporta as despesas processuais.</p><p>· SUB-ROGAÇÃO (Arts. 346-351, CC)</p><p>Sub-rogação é o mesmo que substituição. Aqui, se substitui tão apenas o credor. Quando se fala em sub-rogação de um modo geral, se fala em qualquer dos elementos essenciais da obrigação. Todavia, no instituto do pagamento com sub-rogação se substitui apenas o credor.</p><p>Pagamento com Sub-rogação acontece quando o credor satisfeito é substituído pelo terceiro interessado que efetuou o pagamento OU por alguém que tenha emprestado ao devedor a quantia necessária para efetuar o pagamento (hipótese incomum). O novo credor - credor sub-rogado - substitui o credor originário, sendo na absoluta maioria das vezes o terceiro interessado que efetuou o pagamento.</p><p>A sub-rogação se divide em legal (a própria lei determina) e voluntária (depende da vontade das partes).</p><p>Sub-rogação legal é uma hipótese automática, instantânea, e é prevista no Art. 346, CC: “A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor: I - do credor que paga a dívida do devedor comum; II - do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel; III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte”.</p><p>Sub-rogação voluntária / convencional: Art. 347, CC: “A sub-rogação é convencional: I - quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os seus direitos; II - quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito”. No inciso I, aplicam-se as regras da cessão de crédito (Art. 348, CC).</p><p>OBS.: Apesar de ser uma espécie de pagamento, a sub-rogação não gera o efeito de extinção da obrigação, causando apenas uma modificação no polo ativo da obrigação.</p><p>· Efeitos da sub-rogação:</p><p>a) Transmissão da titularidade do crédito, que deixa de ser do credor originário e passa para o credor sub-rogado. Todas as cláusulas acessórias acompanham o principal e se transmitem ao novo credor (Art. 349, CC).</p><p>b) Na sub-rogação legal, há o limite que veda o enriquecimento sem causa, só podendo exigir do devedor o mesmo que ele tenha reembolsado (Art. 350, CC).</p><p>c) “O credor originário, só em parte reembolsado, terá preferência ao sub-rogado, na cobrança da dívida restante, se os bens do devedor não chegarem para saldar inteiramente o que a um e outro dever” (Art. 351, CC).</p><p>· IMPUTAÇÃO (Arts. 352-355, CC)</p><p>Imputar significa escolher. É a situação que ocorre em que, de duas obrigações, qual delas deve ser extinta pelo pagamento. Ex.: um devedor deve 1000 reais a título de aluguel e mais 1000 reais a título de empréstimo. Art. 352, CC: “A pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o direito de indicar a qual deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos”. Aqui se materializa o princípio do favor debitoris, em que o devedor escolhe qual obrigação ele está cumprindo. É um direito potestativo do devedor.</p><p>Se o devedor não fizer a escolha que lhe cabe (que deve ser feita no momento do pagamento), a escolha é passada para o credor. Art. 353, CC: “Não tendo o devedor declarado em qual das dívidas líquidas e vencidas quer imputar o pagamento, se aceitar a quitação de uma delas, não terá direito a reclamar contra a imputação feita pelo credor, salvo provando haver ele cometido violência ou dolo”. A coação e o dolo geram anulabilidade através das vias judiciais.</p><p>Há a possibilidade incomum em que a imputação é feita pela própria lei. Art. 355, CC: “Se o devedor não fizer a indicação do art. 352, e a quitação for omissa quanto à imputação, esta se fará nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa”. A despeito da lei ser subsidiária e só se aplicar mediante ausência de manifestação das partes, dispomos de alguns critérios: 1º) liquidez - a primeira obrigação que já foi definida em seu valor exato; 2º) vencimento - a obrigação que receberá a imputação será aquela que já venceu há mais tempo; 3º) onerosidade - superados os critérios anteriores, a imputação deve recair na obrigação mais onerosa. Devem ser levados em conta vários fatores para identificar a onerosidade: taxa de juros, cláusula penal,</p><p>garantias etc..</p><p>Art. 354, CC: “Havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros vencidos, e depois no capital, salvo estipulação em contrário, ou se o credor passar a quitação por conta do capital”. É uma regra específica de uma mesma obrigação que inclua capital e juros. Ex.: Um empréstimo que rendeu juros ao decorrer do tempo. No dia de hoje (16/12/2020), o devedor deve 1000 reais -> 500 reais do capital emprestado + 500 reais de juros. O indivíduo procura o credor e paga 500 reais. O que o devedor pagou? Vale lembrar que, previamente, as partes definem isso contratualmente. Caso haja a omissão das partes, esse valor é imputado aos juros. Nessa hipótese, fica claro que a lei beneficia o credor. A regra tributária (que divide meio a meio o pagamento do capital e juros) é diversa do estabelecido no CC.</p><p>· DAÇÃO (Arts. 356-359, CC)</p><p>Dação é o ato ou o efeito de dar. Dação em pagamento é o contrato / negócio jurídico pelo qual o devedor oferece e o credor aceita, em pagamento, uma coisa diversa da prestação devida. Art. 356, CC: “O credor pode consentir em receber prestação diversa da que lhe é devida”. O Art. 313 do CC prevê a regra da identidade do pagamento, e a dação prevê uma exceção que só é possível quando ambas as partes concordam com a substituição da prestação originalmente devida.</p><p>O legislador, para ser sucinto, não definiu regras para a dação em pagamento, preferindo assim aplicar as regras do contrato de compra e venda (Art. 357, CC).</p><p>Na compra e venda, há um instituto chamado evicção, que é um fenômeno que se apresenta quando o vendedor vende algo que não é seu. A ação de evicção é movida pelo proprietário do bem, em que o comprador prejudicado é o réu. Na dação em pagamento, não há como cobrar esse preço de volta. Então, para que o credor não seja prejudicado, existe uma regra especial: Art. 359, CC: “Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento, restabelecer-se-á a obrigação primitiva, ficando sem efeito a quitação dada, ressalvados os direitos de terceiros”. A obrigação ressurge, como se nunca tivesse sido extinta.</p><p>Art. 358, CC: “Se for título de crédito a coisa dada em pagamento, a transferência importará em cessão”. Se aplicam as regras da cessão de crédito a dação em pagamento que tenha objeto o título de crédito.</p><p>AULA 11 - Extinção das obrigações: MODOS DE EXTINÇÃO DA OBRIGAÇÃO DIVERSOS DO PAGAMENTO (06/01/2021)</p><p>No CC são previstos 4 institutos de modos indiretos de extinção da obrigação: a NOVAÇÃO, a COMPENSAÇÃO, a CONFUSÃO e a REMISSÃO.</p><p>· NOVAÇÃO</p><p>Novação é a extinção de uma obrigação mediante a criação de outra obrigação. É um instituto que tem uma dupla força, um duplo efeito: extingue uma obrigação existente e cria uma obrigação nova: força extintiva da obrigação velha e força criadora da obrigação nova. Ex.: 2 pessoas celebram um contrato de empreitada. A obra começa e o cumprimento do contrato se inicia. O construtor percebe então uma dificuldade extraordinária, o que não havia sido constatado, que eleva consideravelmente os custos da obra. Visto isso, as 2 partes celebram um novo contrato em prol da realização de uma obra completamente diferente da vista anteriormente.</p><p>Para que aconteça a novação, é imprescindível a presença de 2 elementos cruciais: elemento objetivo (aliquid novi - “algo de novo”) e o elemento subjetivo (animus novandi - “intenção de novar”). Fica claro que a obrigação nova não pode ser igual a velha. É necessário que tenha “algo de novo” que seja diferente da obrigação velha.</p><p>O que NÃO É novação? Ex.: um contrato que previa como vencimento do pagamento o dia 30/01. Ao se aproximar da data, o devedor vê que não pode pagar a tempo, negocia com o devedor e posterga a data de pagamento para o dia 30/03. NÃO É NOVAÇÃO quando as partes alteram o tempo do pagamento, lugar do pagamento, modo de execução etc..</p><p>O animus novandi pode ser expresso (direito ao fim pretendido) ou tácito (pode ser percebido nas circunstâncias, no contexto em que se insere). Na forma expressa, a novação é percebida de forma bem explícita no contrato estabelecido entre as partes. Na forma tácita, a 2ª obrigação extingue a 1ª, quase como se a velha não tivesse existido, sendo “ignorada” (Art. 361, CC).</p><p>OBS.: Dação em pagamento e Novação NÃO SE CONFUNDEM.</p><p>· Classificação da NOVAÇÃO (Art. 360, CC)</p><p>1º) Novação OBJETIVA (Art. 360, I, CC): Obrigação com o objeto distinto da anterior, porém com o mesmo credor e devedor. O aliquid novi desta classificação é o objeto da obrigação.</p><p>2º) Novação SUBJETIVA-PASSIVA (Art. 360, II, CC): É celebrado um acordo entre o novo devedor e o credor em que o primeiro devedor (da obrigação antiga) fica liberado da obrigação, tendo em vista que a obrigação antiga é extinta. Esse instituto quase não é usado, pois a prática da assunção de dívida é muito mais utilizada, pela permanência de suas garantias. Existem dois mecanismos para formação da novação subjetiva-passiva: por delegação e por expromissão (sem a participação do antigo devedor -> Art. 362, CC). Esses mecanismos servem tanto para a formação da novação subjetiva-passiva quanto para a assunção de dívida.</p><p>3º) Novação SUBJETIVA-ATIVA (Art. 360, III, CC): O objeto e o devedor são os mesmos, porém surge um novo credor. Só é possível com o consentimento do credor antigo. Tal ato não configura uma cessão de crédito, pois na cessão de crédito ocorre a troca de credores dentro de uma única obrigação. Já na novação, a 1ª obrigação é extinta e uma 2ª obrigação é estipulada.</p><p>· Efeitos jurídicos da NOVAÇÃO:</p><p>1º) Extinção da obrigação novada, inclusive com todos os acessórios que a compõem (Art. 364, CC); Para que a garantia prestada por terceiro permaneça, somente com o consentimento desse terceiro (cf. Art. 364 e 366, CC);</p><p>2º) Criação da obrigação nova;</p><p>3º) Atinge apenas quem novou. Na solidariedade, quem não foi parte da novação, não será parte da nova obrigação (Art. 365, CC).</p><p>· Impedimentos à NOVAÇÃO (Art. 367, CC)</p><p>1º) Obrigação extinta: não cabe criar uma obrigação para extinguir uma obrigação já extinta.</p><p>2º) Obrigação nula: não cabe novação em obrigação nula, mas é cabível na obrigação anulável, porque a nulidade é fundamentada na ordem pública, mas a anulabilidade é fundamentada no interesse privado. Novar uma obrigação nula seria um jeito de “burlar” o que o ordenamento estabeleceu.</p><p>Cabe novação de uma obrigação prescrita? SIM. A prescrição é uma exceção substancial. Vale lembrar que, se o devedor quiser, ele pode pagar a obrigação prescrita. Nada impede que ele celebre um contrato em prol de extinguir uma obrigação antiga e prescrita e cumprir uma obrigação nova.</p><p>· COMPENSAÇÃO</p><p>Na compensação, coexistem entre as mesmas partes duas obrigações: quem é credor da 1ª é devedor da 2ª, e quem é devedor da 1ª é credor da 2ª. As obrigações se extinguem no que elas se encontrarem (Art. 368, CC). É um instituto tanto lógico, quanto econômico. A compensação só é viável quando se tratam de duas obrigações de dar.</p><p>· Requisitos da COMPENSAÇÃO (Art. 369, CC):</p><p>1º) Liquidez: o montante de ambas as obrigações já estão precisamente acertadas. De acordo com a jurisprudência, as obrigações ilíquidas e facilmente liquidáveis também são passíveis de compensação.</p><p>2º) Vencimento: ambas as obrigações devem estar vencidas. Ex.: Se a 1ª obrigação venceu 05/01/2021 e a 2ª obrigação vence somente em 31/01/2021, só será possível a compensação a partir de 01/02/2021. Uma obrigação não vencida não pode exigir compensação. A doutrina critica, dizendo que em vez de vencimento, deveria pautar o requisito da exigibilidade. Só cabe compensar obrigações que sejam, ambas, exigíveis (depois do vencimento e antes da prescrição).</p><p>3º) Fungibilidade: “São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade” (Art. 85, CC). ATENÇÃO! “Embora sejam do mesmo gênero as coisas fungíveis, objeto das duas prestações, não se compensarão, verificando-se que diferem na qualidade, quando especificada no contrato” (Art. 370, CC).</p><p>4º) Identidade de partes: “O devedor somente</p><p>pode compensar com o credor o que este lhe dever; mas o fiador pode compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado” (Art. 371, CC).</p><p>OBS.: O que são prazos de favor? Ex.: A obrigação venceu dia 05/01/2021. O devedor pede pro credor não aplicar juros, sem os acréscimos da mora, e o credor aceita. Isso configura um prazo de favor, e não impede o instituto da compensação.</p><p>Cabe compensar a obrigação prescrita?</p><p>Primeiramente, cabe diferir a compensação legal da obrigação voluntária. A legal, a lei determina que a compensação aconteça, ocorrendo de pleno direito (automática, não depende da vontade das partes). A compensação legal é um elemento eficacial do próprio crédito (Pontes de Miranda). A compensação voluntária tem um outro perfil, e depende do acordo entre as partes, só acontecendo em situações em que falte pelo menos um requisito legal. Ex.: Coexistem duas obrigações, sendo que uma delas não é líquida. Ora, nada impede que as partes celebrem um acordo para realizar uma compensação voluntária.</p><p>Cabe compensação de obrigação prescrita? NÃO CABE a compensação legal de obrigação prescrita, pela ausência do requisito da exigibilidade. Porém, pode acontecer se a vontade das partes assim desejar, configurando a compensação voluntária.</p><p>· Impedimentos da COMPENSAÇÃO (Art. 373, CC)</p><p>1º) Se provier de esbulho, furto ou roubo: são atos ilícitos na esfera civil e penal</p><p>2º) Se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos.</p><p>3º) Se uma for de coisa não suscetível de penhora: normalmente, o que é impenhorável também é inalienável.</p><p>· Efeitos da COMPENSAÇÃO:</p><p>1ª) Extinção das obrigações até onde ambas se encontrarem;</p><p>· CONFUSÃO</p><p>Ocorre quando o credor e o devedor são a mesma pessoa. “Extingue-se a obrigação, desde que na mesma pessoa se confundam as qualidades de credor e devedor” (Art. 381, CC). Em vez de “mesma pessoa”, é melhor dizer a confusão deve ocorrer no mesmo patrimônio. Ex.: PJs que se dedicam à construção imobiliária: o edifício em construção e as unidades construídas integram patrimônios separados.</p><p>A confusão é um evento superveniente, não originário. Nenhuma obrigação nasce com a mesma pessoa ocupando os dois polos.</p><p>Ex.: Pessoa Jurídica “A” e Pessoa Jurídica “B”, ambas atuam como fabricantes de chocolate. Ambos chegam à conclusão de que é melhor unir forças e estabelecer uma única PJ para atuar no mercado (PJ “C”), também conhecida como fusão de empresas. Caso ambas PJs integravam uma relação obrigacional, crédito e débito estarão contidas na PJ “C”. Logo, é extinta a obrigação.</p><p>Ex.: Um pai empresta um valor monetário para o filho. O pai morre, e o filho herda o crédito que o pai detinha em face do filho. Assim, a obrigação se extingue. Se o pai tinha 2 filhos e emprestou para 1 filho, metade do crédito se transmite para o filho que recebeu e a outra metade para o filho que não recebeu. É a incidência da confusão parcial, nos termos do Art. 382 do CC.</p><p>Confusão e solidariedade: “A confusão operada na pessoa do credor ou devedor solidário só extingue a obrigação até a concorrência da respectiva parte no crédito, ou na dívida, subsistindo quanto ao mais a solidariedade” (Art. 383, CC). É uma exceção à solidariedade.</p><p>A confusão pode ser transitória/passageira. “Cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus acessórios, a obrigação anterior” (Art. 384, CC). Ex.: Empresa “A” e Empresa “B” se fundem, criando a Empresa “C”. “A” é credor e “B” é devedor. Depois, o CAD declara a nulidade da fusão por desrespeito a certas regras. Com o desfazimento da fusão, também ocorre o desfazimento da confusão.</p><p>· REMISSÃO</p><p>Remissão é sinônimo de perdão. (É DIFERENTE de remição, que é sinônimo de pagamento). “A remissão da dívida, aceita pelo devedor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro” (Art. 385, CC). A remissão tem uma conotação bilateral: ela deve ser aceita pelo devedor. Com a expressão “sem prejuízo de terceiro”, o CC remete à fraude contra credores, exposta no Art. 158 do CC.</p><p>“A devolução voluntária do título da obrigação, quando por escrito particular, prova desoneração do devedor e seus co-obrigados, se o credor for capaz de alienar, e o devedor capaz de adquirir” (Art. 386, CC) -> presunção de perdão do devedor.</p><p>Devolução do objeto empenhado: “A restituição voluntária do objeto empenhado prova a renúncia do credor à garantia real, não a extinção da dívida” (Art. 387, CC).</p><p>“A remissão concedida a um dos co-devedores extingue a dívida na parte a ele correspondente; de modo que, ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não pode cobrar o débito sem dedução da parte remitida” (Art. 388, CC).</p><p>AULA 12 - Inadimplemento das obrigações (PARTE 1/2) (13/01/2021)</p><p>· INTRODUÇÃO</p><p>Inadimplemento é o fenômeno negativo que recebe do ordenamento jurídico uma resposta de sancionamento ao devedor inadimplente. Ele, em razão do seu inadimplemento, é logo sancionado.</p><p>O inadimplemento, segundo os livros clássicos / mais antigos, é conceituado como a falta culposa da prestação devida. Esse conceito, embora tenha sido correto por muito tempo, atualmente merece ser atualizado no que se refere, especificamente, à menção da culpa. A ideia de culpa no Direito Civil (séc. 19-20) foi perdendo espaço no decorrer do tempo, dando lugar à responsabilidade civil objetiva, que hoje é predominante. Os autores antigos, na época, queriam fazer uma diferença entre inadimplemento e impossibilidade de cumprimento. A culpa era o critério distintivo entre o inadimplemento e a impossibilidade de cumprimento. Não parece justo impor ao devedor as sanções do inadimplemento ao devedor que não cumpre porque não pode cumprir, sobretudo se essa possibilidade pode ser averiguada objetivamente. Ex.: Não pode atravessar a ponte, porque a ponte caiu. Os autores queriam realçar que no inadimplemento, o devedor poderia realizar a obrigação, mas assim não o quis.</p><p>É lógico que, ainda atualmente, essa separação é necessária. Inadimplemento leva à sanção. Impossibilidade leva à extinção da obrigação. “Ad impossibilia nemo tenetur”: ninguém é obrigado ao impossível. Atualizando o conceito, sem citar o elemento da culpa, temos que: o inadimplemento é a falta de uma prestação possível. Por outro lado, a impossibilidade de cumprimento é a não realização de uma prestação tendo em vista fatores objetivos que impedem o devedor de executá-la. É preciso cautela, pois essa impossibilidade deve ser aferida apenas mediante critérios objetivos. Ex.: Indivíduo ficou desempregado e não tem dinheiro para pagar o aluguel. O inquilino não pagou o aluguel. Nesse caso, temos um inadimplemento! Afinal, a prestação, objetivamente, era algo possível. Talvez não fosse possível para esse sujeito em específico nesse momento, mas para qualquer outro poderia ser possível. Não se fala em impossibilidade do sujeito, e sim em impossibilidade do objeto propriamente dito. Ex.: não há como fazer uma entrega quando a ponte caiu. Aqui sim, há uma impossibilidade objetiva, física, material.</p><p>O inadimplemento é um fenômeno negativo que acarreta consequências danosas ao devedor, e são apresentadas no Art. 389 do Código Civil: “Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado”.</p><p>Perdas e danos -> expressão sempre colocada no plural, sinônima de indenização. O inadimplemento do devedor causa danos ao credor, por conta da ausência da prestação devida da obrigação. Tem a finalidade de indenizar ao credor em razão do inadimplemento do devedor. “Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar” (Art. 402, CC). As perdas e danos se dividem em danos emergentes (desfalque patrimonial, diminuição do patrimônio do credor) e lucros cessantes (tudo aquilo que o credor deixou de ganhar). Ex.: Ocorreu um acidente de trânsito em que a vítima foi um motorista de táxi, tendo que gastar R$ 2000,00 no conserto</p><p>de seu carro (esses são os danos emergentes). Por conta disso, o táxi ficou 5 dias parado. Levando em conta que o taxista fatura R$ 200,00 por dia, ele deixou de ganhar R$ 1000,00 (esses são os lucros cessantes).</p><p>Juros -> indenização ao credor pelo decurso do tempo. A lógica é: quanto mais tempo, mais juros. Os juros têm essa característica de remédio para cuidar desses efeitos do tempo. Afinal, quanto mais tempo o credor ficar sem ter a obrigação satisfeita, mais prejudicado ele fica.</p><p>Atualização monetária -> surgiu em 1964 no governo militar com o pressuposto de ser um remédio para repor a perda do poder aquisitivo da moeda. Ao longo do tempo, o dinheiro vai se “esvaziando”, perdendo em demasia seu valor econômico.</p><p>Honorários de advogado -> é a remuneração do advogado da parte credora por conta da parte devedora, sendo assim remunerado duplamente: ele é remunerado pelo seu cliente (honorários contratuais) e é remunerado pela parte contrária.</p><p>· CLASSIFICAÇÕES DO INADIMPLEMENTO</p><p>· Inadimplemento total e parcial</p><p>Ex.: um devedor deve 100 reais e paga apenas 50 reais -> inadimplemento parcial.</p><p>Ex.: um devedor deve 100 reais e não paga nada -> inadimplemento total.</p><p>Ex.: um devedor deve 100 reais e pagou 99 reais -> friamente, trata-se de um inadimplemento parcial, por mais que seja por muito pouco. Contudo, não parece em conformidade com o nosso sentimento de justiça tratar esse devedor como se não tivesse pagado nada. Há situações que se aproximam muito mais do adimplemento completo do que do inadimplemento. Há uma criação do Direito Civil americano, o “substancial performance”, que foi adotado no Brasil como sendo o adimplemento substancial, dispondo que as consequências do inadimplemento sejam mitigadas. No entanto, isso não é uma “desculpa” ou um álibi para que o devedor deixe de cumprir integralmente a obrigação. A finalidade dessa criação é amenizar, atenuar as consequências do inadimplemento. Tomando como exemplo um instituto que só será estudado em Direito Civil IV: exceção de contrato não cumprido (exceptio nom adimpleti contractus), que é uma defesa que pode ser alegada pelo réu um processo de cobrança. Ex.: Um contrato de empreitada em que o empreiteiro foi contratado para realizar uma obra. O dono da obra, sendo réu, alega que não pagou porque o empreiteiro não concluiu a obra. Remete à ideia de bilateralidade da obrigação, em que ambas as partes têm deveres a se cumprir. Caso a obra tenha ficado 99% pronta, faltando apenas alguns detalhes de acabamento. O réu alega que não cumpriu 100% da obra. Atualmente, se entende que nesse caso há um adimplemento substancial. Exemplo real: contrato de seguro de responsabilidade civil envolvendo veículo. O segurado optou por parcelar o seguro em 4 meses, pagando apenas as 3 primeiras parcelas. Ele sofreu um acidente quando já estava inadimplente com a 4ª parcela. O contrato de seguro se destinava a cumprir 12 meses, e o segurado tinha pago 3 de 4 parcelas, sendo assim suficiente para cobrir até 9 meses. O STJ condenou a seguradora a cobrir os danos causados no veículo, aplicando assim a teoria do adimplemento substancial. Uma dificuldade envolvida é que não temos previsão legal para essa teoria, sendo assim não temos uma escala predeterminada para definir o que é, quanto do cumprimento da prestação é substancial. A jurisprudência, com toda sua instabilidade, fornece as respostas ao longo do tempo. O exemplo do seguro “impõe um limite mínimo” de 75%.</p><p>· Inadimplemento absoluto e relativo</p><p>Considera-se inadimplemento absoluto aquele quando não tendo o devedor cumprido no tempo esperado, já não é mais viável o cumprimento ou deixou de ser útil ao credor. Art. 395, § único, CC: “Se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao credor, este poderá enjeitá-la, e exigir a satisfação das perdas e danos”. Ex.: Uma mulher encomenda um vestido para se casar, sendo devidamente encomendado com antecedência. Na véspera do casamento, o vestido não é entregue. O casamento acontece, mesmo com outro vestido. Embora seja possível, a prestação não é mais útil à credora para os fins que ela desejava. Ex.: Pessoa com viagem marcada em um horário difícil (véspera de feriado à noite, tendo que chegar no aeroporto em pleno horário do rush). A pessoa contratou um carro para uma cooperativa de táxi para esta hora. Na hora marcada, o táxi não chegou. Passou o tempo devido para que o indivíduo pegasse seu voo a tempo.</p><p>O inadimplemento relativo ocorre quando, apesar de não ter sido cumprida no tempo esperado, ainda é viável e permanece útil ao credor. Ex.: o inquilino não pagou o aluguel até o período de vencimento. O pagamento, mesmo atrasado, permanece útil ao credor.</p><p>Referente ao inadimplemento absoluto, cabem as consequências do Art. 389 do CC. No relativo, cabem as consequências do Art. 395 do CC. Uma grande diferença é que, quando o inadimplemento é absoluto, as perdas e danos substituem a prestação devida (função sub-rogatória). Quando o inadimplemento é relativo, as perdas e danos complementam a prestação devida (função complementar/subsidiária). Outra grande diferença diz respeito à cláusula penal, que é aquela disposição contratual que comina uma pena (multa, normalmente) decorrente do descumprimento. A cláusula penal se subdivide em compensatória e moratória. Para o inadimplemento absoluto, tem-se a cláusula penal compensatória. Ex.: Em um contrato de locação: na devolução do imóvel, o inquilino deverá devolver o imóvel pintado. Caso não cumpra o dever previsto nesta cláusula, o inquilino ficará sujeito a pagar a pena de 1 mês de aluguel. Para o inadimplemento relativo, tem-se a cláusula penal moratória. Ex.: O aluguel venceu 30/12 e só conseguiu pagar 13/01. Ele pagará o valor original + 10% de multa, pois há previsão contratual para tal.</p><p>Inadimplemento relativo é o mesmo que mora? SIM e NÃO. Eles são o mesmo instituto? DE JEITO NENHUM! Contudo, há uma zona de intersecção entre eles. “Nem todo inadimplemento é mora”. O inadimplemento absoluto NÃO É MORA. O inadimplemento relativo É MORA. “Nem toda mora é inadimplemento”. Há dois tipos de mora: a mora do devedor e a mora do credor (Art. 394, CC). A do devedor é inadimplemento e a do devedor não.</p><p>· MORA</p><p>Mora é atraso, sinônimo de demora. A demora pode ser do devedor, mas também pode ser do credor. “Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer” (Art. 394, CC).</p><p>Mora debitoris / Mora solvendi -> A mora do devedor se classifica em mora ex re e mora ex persona. A mora ex re é automática, e a mora ex persona depende de uma providência do credor. Hipóteses de mora ex re:</p><p>1ª) Inadimplemento da obrigação positiva e líquida, com vencimento estipulado -> Art. 397, caput, CC -> hipótese de mora ex re;</p><p>2ª) Inadimplemento da obrigação positiva e líquida, sem vencimento estipulado -> quando o credor pode exigir o cumprimento nesse caso? RESPOSTA: Art. 331, CC -> Art. 397, § único, CC -> hipótese de mora ex persona;</p><p>3ª) Inadimplemento da obrigação positiva e não líquida, porém tem origem aquiliana (origem de ato ilícito) -> Art. 398, CC -> hipótese de mora ex re;</p><p>4ª) Inadimplemento da obrigação positiva e não líquida, de origem contratual -> Art. 405, CC -> hipótese de mora ex persona;</p><p>O entendimento majoritário da doutrina é de que não há mora na obrigação negativa, hipótese inclusive adotada pelo nosso Código Civil. Tanto é que o Código Civil prevê o inadimplemento das obrigações negativas em uma seção fora do capítulo que trata da mora: “Nas obrigações negativas o devedor é havido por inadimplente desde o dia em que executou o ato de que se devia abster” (Art. 390, CC).</p><p>O Art. 399 do CC dispõe que o devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação.</p><p>Mora creditoris / Mora accipiendi -> é a mora do credor, que pode levar ao fenômeno da consignação em pagamento. Os efeitos da mora do credor estão previstas no Art. 400 do CC: “A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela</p><p>conservação da coisa, obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebê-la pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação”.</p><p>1º) Se o credor estiver em mora, o devedor não responde pela perda e deterioração da coisa no período da mora do credor. Contudo, é necessário que o devedor esteja isento de dolo. O devedor não pode destruir a coisa.</p><p>2º) Caso o devedor tenha conservado a coisa, e para isso tenha realizado despesas, o devedor tem direito ao ressarcimento pelos gastos com a preservação da coisa.</p><p>3º) O credor terá que receber a coisa pelo valor mais favorável ao devedor se o valor da coisa oscilar entre o dia em que a prestação era devida e o dia, afinal, em que houve o pagamento. Ex.: Compra e venda internacional: a coisa é importada, com direção ao Brasil, com valor originário em dólar. Ora, a cotação do dólar é variável. O contrato prevê que o valor será convertido em reais levando em conta o câmbio do dia da retirada da mercadoria do cais do Porto de Santos.</p><p>Purgação da mora (Art. 401, CC): purgar é sinônimo de limpar. Purgar a mora significa reconduzir a obrigação à normalidade. Há duas hipóteses: a purgação da mora pelo devedor (Art. 401, I, CC) e a purgação da mora pelo credor (Art. 401, II, CC). É importante citar que a doutrina e a jurisprudência dispõem que o credor e o devedor tem o direito de purgar a mora, sendo assim um direito potestativo. Caso a obrigação tenha sido extinta, até por conta de atos do credor, não cabe mais ao devedor purgar a mora.</p><p>· PERDAS E DANOS</p><p>“Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar” (Art. 402, CC). A palavra “razoavelmente” traz a ideia do ganho habitual, esporádico, aquilo que normalmente se realizaria sem a conduta do devedor.</p><p>“Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual” (Art. 403, CC). O elemento subjetivo é descartado, ou seja, a aplicação da indenização independe do dolo do devedor. A indenização se quantifica pela extensão do dano (Art. 944, caput, CC). O Art. 403 também é importante pois define o nexo de causalidade entre a indenização e as perdas e danos. Adota-se a teoria da causalidade necessária (direta e necessária), em decorrência da teoria da causalidade adequada, que era a teoria clássica.</p><p>AULA 13 - Inadimplemento das obrigações (PARTE 2/2) (27/01/2021)</p><p>· JUROS</p><p>· CLÁUSULA PENAL</p><p>· CLÁUSULA DE ARRAS</p><p>a insuficiência dessas fontes, os juristas romanos compuseram mais duas fontes: Quase-Contrato (Obrigação que surge de uma pessoa só, ex: promessa de recompensa) e Quase-Delito (Violações culposas da Lei; Ato Ilícito culposo. Negligência ou Imprudência).</p><p>· Doutrina Francesa fez uma contribuição através de Pothier, mais uma fonte: a Própria Lei.</p><p>· Código Civil Alemão, BGB, sua maior contribuição: Negócio Jurídico. Reconhece apenas duas fontes de obrigação: Negócio Jurídico (fonte de obrigações voluntárias) e a Lei (fonte de obrigações que não são voluntária).</p><p>Direito Brasileiro bebeu muito dessas fontes! Clóvis Beviláqua usou um novo quadro de fontes: Contrato, Declaração Unilateral de Vontade (figura romana do “Quase-Contrato” e Ato ilícito (figura que une Delito e Quase-Delito).</p><p>Doutrina Brasileira se questionou se deveríamos incluir mais uma fonte no Código Civil de 16.</p><p>Logo, 2002, chegou o segundo código Civil, o atual código civil que promoveu uma leve mudança no quadro de fontes (Contrato, Ato Unilateral e a Responsabilidade Civil- Nem sempre é fruto de ato ilícito, por isso substitui o delito e quase delito). Campo da Responsabilidade Civil surge.</p><p>E a Lei?? (vamos pensar segundo Caio Mário)</p><p>Qualquer obrigação sempre é a conjugação de dois aspectos indissociáveis: a Lei e a Vontade. Do que adianta a norma adjacente se não há conduta humana. Sempre aplicando a norma jurídica numa conduta humana.</p><p>Filosoficamente, a fonte parte de duas origens: A norma e a conduta.</p><p>· Artigo 1101, Código Civil Francês- Contrato é uma convenção no qual 2 ou mais pessoas se obrigam a fazer, dar ou não fazer alguma coisa.</p><p>CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES:</p><p>Classificação das Obrigações quanto ao conteúdo:</p><p>[ livro de Renné Demoge, jurista francês ] Objetificou a responsabilidade civil.</p><p>· Obrigações de Meio: Devedor deve apenas os esforços, meios à sua disposição para alcançar o resultado alcançado, mas não deve o próprio fim, o resultado esperado. Falta do resultado não enseja a responsabilidade. Objetificou a responsabilidade, retirou a culpa.</p><p>Ex.:Obrigação do Transportador.</p><p>· Obrigações de Resultado: Devedor deve o próprio resultado esperado pelo credor. Tem culpa, há responsabilidade quando não há entrega do fim.</p><p>Ex.: Advogado é contratado para entregar a minuta de contrato, logo, ele DEVE entregá-lo.</p><p>Responsabilidade Civil Médica: Meio ou Resultado?</p><p>Obrigação de Meio! Contudo, nos anos mais recentes, cresce cada vez mais a respeito de atos médicos que relacionam-se a Obrigação de Resultado, a respeito de exames e procedimentos com alto grau de êxito. (Área de Cirurgia- polêmica)</p><p>· Classificação / Modalidade das obrigações</p><p>- Classificação das obrigações quanto ao objeto (classificação + extensa, será tratada em um outro momento).</p><p>- Classificação (não romana, elaborada na França, elaborada por Demogue) das obrigações quanto ao conteúdo:</p><p>-> Obrigações de meio: o devedor deve apenas os esforços, os meios à sua disposição para obter o resultado, não o resultado em si. O devedor deve se esforçar, fazer o que for possível para obter o resultado esperado, mas não deve o próprio fim, o resultado pretendido. Caso ele não atinja o resultado mesmo empregando todos os meios possíveis, isso não enseja responsabilidade.</p><p>-> Obrigações de resultado: o devedor deve o próprio resultado esperado pelo credor. Caso ele não alcance o resultado, o devedor é responsável.</p><p>Essa distinção tem um grande impacto na responsabilidade. Exemplo clássico: o transportador deve levar à pessoa ou a conta transportada ao seu destino. Não bastam os seus esforços. O transportador deve o próprio resultado.</p><p>Antes, não se falava de obrigação de resultado. Sempre tentava se comprovar a culpa do devedor. O devedor responde mediante culpa, se ele não é culpado, não responde. A culpa era um elemento indispensável para a responsabilidade. Todas as obrigações eram tratadas como de meio. Com o advento da obrigação de resultado, foi afastado o instituto da culpa como um elemento da responsabilidade.</p><p>Exemplos:</p><p>-> Advogado criminalista é contratado a defender um réu. A obrigação do advogado é de meio, de dedicar os seus conhecimentos e habilidades em favor do cliente. Interpor os recursos possíveis, juntar as provas possíveis, etc.</p><p>-> Advogado civilista contratado para escrever uma minuta de contrato tem uma obrigação de resultado. Ele deve entregar o texto pronto.</p><p>-> Os médicos, de modo geral, têm obrigação de meio. Contudo, recentemente, vem crescendo um entendimento a respeito de certas práticas, atos médicos, cirurgias, de que os médicos têm obrigação de resultado. Ex.: exames de imagem, procedimentos de elevado grau de êxito etc. Ponto de conflito: cirurgia plástica. Seria obrigação de meio ou resultado? De acordo com a jurisprudência:</p><p>* Cirurgia plástica reparadora: destina a corrigir uma doença, uma questão de nascença (ex.: fenda leporina). Uma pessoa que sofre queimaduras, um acidente grave etc. → obrigação DE MEIO.</p><p>* Cirurgia plástica estética: caráter eletivo, referentes a um ideal de beleza. → obrigação DE RESULTADO.</p><p>Crítica dos profissionais de medicina: TODA cirurgia plástica tem um propósito restaurador e um propósito estético. Ainda que a cirurgia seja estética, o médico continua sendo um profissional que não pode causar danos à saúde do paciente. Apesar da preponderância de reparação ou estética em alguns exemplos, não há como simplificar e fazer essa separação em todos. Ex.: cirurgia de redução dos seios: além da questão estética visual, é requerida por intensas dores na coluna.</p><p>Será que a obrigação é de meio ou resultado em razão da natureza do ato médico ou em razão do que o médico promete para o paciente? Pela jurisprudência, é pela natureza da atividade, logo, obrigação de resultado. Questionamento: Contudo, se o médico é cauteloso, não promete resultados mirabolantes, deixa claro os riscos da cirurgia, pedindo ainda a ciência do paciente por um termo de consentimento antes da realização do procedimento, será que é razoável a responsabilização pelo resultado? Independentemente dessa questão, a jurisprudência permanece assim. Outro exemplo: cirurgia de redução de estômago. Apesar de aconselhada a não optar pela cirurgia, a pessoa optou pelo procedimento ao atingir a maioridade. A pessoa recebeu uma indicação de um médico, onde foi convencida mais ainda de que a única opção seria a cirurgia. O médico deu um termo de consentimento apenas a caminho do centro cirúrgico, e não com a devida antecedência. A cirurgia foi desastrosa, a pessoa quase morreu devido a uma incomum reação de descolamento do estômago, esôfago e hemorragia. Ela sobreviveu, o comportamento do médico foi deplorável. Ela era uma estudante de direito, e seus colegas descobriram que o dito médico tinha algumas ações penais por homicídio culposo. Logo, o médico não era nada habilitado para esse tipo de cirurgia. O médico ético tem a obrigação de expor as consequências da cirurgia, deixando tudo bem claro. O médico que promete o resultado, deve o resultado. Com base nesse exemplo, o grande critério deveria ser a conduta do profissional, e não a natureza da atividade.</p><p>-> Os advogados que prometem causa ganha aos seus clientes também se enquadram nessa questão. Não existe causa ganha. O advogado NÃO PODE prometer o resultado.</p><p>Observação: LER O TEXTO DA PRESCRIÇÃO PARA A PRÓXIMA AULA.</p><p>AULA 03 - Prescrição e Decadência (28/10/2020)</p><p>· INTRODUÇÃO</p><p>Ideia principal de Prescrição e Decadência -> Efeitos do tempo sobre a relação jurídica. “O Direito não socorre aos que dormem”. Quem fica inerte e não exerce o seu direito, não cabe mais ser protegido. As situações não podem ficar em aberto por longos períodos de tempo, em prol do princípio da Segurança Jurídica e a estabilidade que dela provém. É necessária uma baliza temporal estabelecida por lei para o exercício do direito.</p><p>OBS.: Para fins de aprendizado da matéria, os prazos não importam muito. O que devemos perceber é que: o CC/1916 chamava tudo de prescrição. Não havia uma distinção formal entre prescrição</p><p>e decadência. Já o CC/2002 fez uma distinção bem específica desses dois conceitos. Então, é fundamental entendermos as diferenças doutrinárias e conceituais entre prescrição e decadência.</p><p>Entender a prescrição e decadência é uma tarefa da doutrina. O estabelecimento dos prazos independe de decisões políticas e arbitrárias, e sim de uma decisão técnica. O legislador partiu do pilar doutrinário para determinar a prescrição e a decadência.</p><p>DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO: Na 1ª metade do século XX, dizia-se que a decadência representava a perda do direito (direito civil) e a prescrição representava a perda da ação (processo civil). Foi um entendimento que vigorou por décadas, mas hoje em dia majoritariamente não se aplica mais, tratando-se de um equívoco. Tanto a prescrição quanto a decadência são fenômenos do direito material (direito civil). Inclusive, o CPC reconhece que são temas de mérito, e não argumentos processuais. A prescrição não atinge a ação, como foi dito, por se tratar de direito material.</p><p>IMPORTANTE: Prescrição e decadência são originários do direito civil, contudo, os efeitos do tempo na relação jurídica podem se dar em quaisquer ramos do direito. Esses institutos recebem um tratamento legislativo diferenciado, portanto em outros ramos diversos do direito civil, pode-se ter uma abordagem diferente. Em outros ramos do direito, há outras definições/regras.</p><p>Quase sempre, o que se aprende no direito civil, se aplica nos demais ramos do direito. Afinal, o direito civil é um ramo originário do direito. MAS, isso não se aplica à prescrição e decadência.</p><p>O autor Agnelo Amorim Filho foi responsável por grandes mudanças e reorganizações no direito civil brasileiro. Ele partiu de duas premissas:</p><p>1º) A distinção entre direito subjetivo e direito potestativo:</p><p>· Direito subjetivo: é o direito/faculdade de exigir o cumprimento de um dever. Ex.: fui vítima de um ato ilícito e sofri um dano. Tenho direito subjetivo de reclamar uma indenização. Ex.: Celebrei um contrato de empréstimo e emprestei um objeto para uma pessoa. Tenho direito subjetivo de exigir que a pessoa, no tempo estabelecido em contrato, me devolva. No âmbito do polo ATIVO: o titular do direito subjetivo tem uma faculdade de agir. Ao polo PASSIVO (devedor), cabe o cumprimento do dever jurídico. Quem realiza o comportamento que é objeto da relação jurídica é o polo passivo, o devedor. Quem exige é o credor, mas quem pratica é o devedor.</p><p>· Direito potestativo: é o poder de interferir na esfera jurídica alheia. Ao titular do direito potestativo, cabe o poder. Ao devedor, cabe se sujeitar à aplicação do direito. Ex.: quem é casado, pode se divorciar, inclusive sem a concordância do cônjuge, pois tem o direito potestativo ao divórcio. Ex.: No CC: “A todo tempo é lícito ao condômino exigir a divisão da coisa em comum”. Relação de Poder e Sujeição: Ao polo ATIVO, é incumbido um poder. Ao polo PASSIVO, é atribuída uma sujeição. Quem realiza o objeto da relação jurídica é o polo ATIVO da relação. Cabe ao devedor se sujeitar apenas.</p><p>2º) Classificação das ações:</p><p>OBS.: Há mais de uma classificação das ações, pois há uma pluralidade de interpretações nesse assunto. A classificação alemã é pentapartite (italiana + mandamental e executiva lato sensu). No direito brasileiro, a classificação alemã é bem mais aceita. Mas para fins de estudo de prescrição e decadência, a classificação italiana é suficiente.</p><p>Classificação italiana das ações (tripartite): declaratória, constitutiva e condenatória:</p><p>· Ação declaratória: ocorre quando o autor pede ao juiz para que simplesmente declare/reconheça a existência ou inexistência da relação jurídica ou autenticidade ou falsidade de um documento. Não cria nada de novo, apenas reconhece se algo existe ou não existe. Não intervém no mundo dos fatos. Tem o caráter de reconhecer, conformar, declarar a veracidade do que é apresentado. Ex.: Não importa o tempo que passar, posso declarar que tiradentes morreu enforcado, é um fato histórico. Nesse tipo de ação, a passagem do tempo não importa.</p><p>· Ação constitutiva: o autor pede ao juiz que na sentença determine a criação, modificação ou extinção de uma relação jurídica. Meio processual para o exercício do direito potestativo. Ex.: Ação de divórcio. Divisão da coisa comum. (são direitos que não tem previsão de prazo)</p><p>· Ação condenatória: o autor postula que o juiz obrigue o réu ao cumprimento de uma prestação. Acolhido o pedido do autor, o juiz impõe ao réu uma prestação. Meio processual para o exercício do direito subjetivo. Ex.: ação de indenização, ação de responsabilidade civil, ação para aplicação de contrato de empréstimo.</p><p>Como visto, há uma ligação entre as espécies de direito individual e espécies de ação:</p><p>· Direito subjetivo -> ação condenatória -> prazo de prescrição -> prazo para exercício de um direito subjetivo.</p><p>· Direito potestativo -> ação constitutiva -> prazo de decadência. prazo para exercício de um direito potestativo.</p><p>· DECADÊNCIA</p><p>CONCEITO: É a extinção/perda do direito potestativo em razão do seu não exercício no prazo disponível. O direito potestativo “morre”, se encerra, se extingue. O direito potestativo seria um “direito que nasce com o germe da destruição” (Caio Mário).</p><p>O prazo de decadência começa a correr quando o direito potestativo nasce.</p><p>Apesar disso, os exemplos apresentados relacionados à ação constitutiva (ação de divórcio e divisão da coisa comum) não estabelecem um prazo decadencial. Um bom exemplo que apresenta tal prazo seria o de anulação do negócio jurídico em virtude de erro, dolo, coação, estado de perigo -> prazo legal de 4 anos de decadência para que a vítima do defeito do negócio requeira a anulação por meio de ação anulatória. (Art. 178, CC)</p><p>· PRESCRIÇÃO</p><p>A prescrição não tem nada a ver com extinção e nem perda do direito subjetivo ou da ação. A doutrina atual tem um entendimento pacificado de que a prescrição fulmina a pretensão. Pretensão é a possibilidade de reagir à violação de um direito subjetivo. Ex.: sou titular de um direito de crédito. Esse direito não foi cumprido, o devedor não me pagou. Eu, credor, posso ajuizar uma ação de cobrança (que é condenatória, vale ressaltar). Não posso abrir essa ação a qualquer tempo. Para quase todas as cobranças, há um prazo de 5 anos. A prescrição afasta a possibilidade do credor reagir à violação de seu direito subjetivo.</p><p>CONCEITO: É o convalescimento da lesão a um direito subjetivo (Santiago Dantas). O ordenamento jurídico abre a possibilidade de quem foi violado à reagir, mas não para sempre. Deve-se respeitar o prazo prescricional.</p><p>Caso não haja um prazo especial para o caso concreto, o Código estabelece um prazo geral (art. 205, CC) -> 10 anos.</p><p>O prazo de prescrição começa a correr quando o direito subjetivo é violado, pois só surge a pretensão de reação com a violação do direito.</p><p>Por que a prescrição não atinge o direito subjetivo? Porque mesmo com a prescrição, o direito subjetivo não é extinto. Ex.: eu tenho direito de crédito e tenho um prazo de 5 anos para cobrar. Prescreveu, logo não posso cobrar. Porém, ainda sou titular do direito. Trata-se de um direito modificado, um direito enfraquecido pela prescrição. O credor não é mais munido do aparato estatal para executar esse débito. Na relação entre o débito e a responsabilidade: com a prescrição, a responsabilidade é afastada, mas o débito permanece.</p><p>Por que a prescrição não fulmina o direito de ação? Antigamente, a ação não era um direito autônomo. Então fazia sentido dizer que a prescrição extingue a ação. Porém, atualmente, o direito de ação é um direito subjetivo que é constitucionalmente garantido, como sendo um direito do indivíduo de obter uma resposta do Judiciário para a definição de seu caso concreto. Isso acontece porque o direito de ação é exercido pelo autor contra o ESTADO, e não contra o réu. Como os advogados peticionam a ação: “Ação do autor contra o estado em face do réu”. Um reflexo disso é que muitas pessoas entram com uma ação sem ter plena certeza de que o indivíduo tem de fato esse direito.</p><p>O direito de ação é abordado pelo ramo processual, por isso não cabe falar em impedimento por prescrição do direito de ação.</p><p>Art. 189, CC: “Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 (prazo geral) e 206 (prazos especiais)”. Os demais prazos do CC são de decadência.</p><p>O professor Barbosa Moreira critica esse artigo por crer que a prescrição na verdade não extingue a pretensão, e sim, encobre a eficácia da pretensão. A prescrição traduz uma ideia de escudo, barreira. Vale dizer que no direito civil, “exceção” quer dizer “defesa”. Ex.: Sou devedor, e o credor quer cobrar uma pretensão prescrita. Eu posso usar a prescrição como um “escudo” para não quitar a dívida. A prescrição é uma defesa substancial, defesa de mérito. Porém, isso não impede que o devedor renuncie ao seu direito de prescrição para pagar o que deve.</p><p>* Causas de interrupção e de prazo prescricional e decadencial:</p><p>· suspensão (parar de contar por uma causa impeditiva, e cessada essa causa, voltar a contar de onde tinha parado): Art. 197-201, CC.</p><p>· interrupção (parar de contar para no mesmo dia da interrupção, reiniciar a contagem do zero): Art. 202-204, CC.</p><p>AULA 04 - Classificação das obrigações quanto ao objeto (PARTE 1/2) (04/11/2020)</p><p>É a principal classificação dentro do direito das obrigações. Classificação romana. Identifica 3 espécies de objeto para a prestação jurídica obrigacional: DAR, FAZER (ações - obrigações positivas) ou NÃO FAZER (abstenção - obrigação negativa).</p><p>· INTRODUÇÃO - Noções iniciais de dar, fazer e não fazer</p><p>-> DAR: entregar coisa. O legislador dá uma atenção especial à coisa;</p><p>-> FAZER: abrange qualquer obrigação positiva, ação humana lícita, menos entrega de coisa. O que chama atenção nesse caso são as qualidades pessoais do devedor.</p><p>-> NÃO FAZER: abstenção/omissão/inação. O devedor promete que não vai realizar certo comportamento. Ex.: um empresário não vai disputar em certo ramo do mercado, o indivíduo não vai realizar uma construção etc.</p><p>· OBRIGAÇÃO DE DAR</p><p>O que é o objeto da obrigação de dar? Seria a própria coisa? NÃO! Qualquer que seja a obrigação, o objeto é uma conduta humana, o comportamento, a conduta esperada do devedor. Apenas em caráter indireto e mediato, poderíamos tratar o objeto como sendo a coisa. Em primeiro plano, direto e imediato, o objeto é a conduta do devedor. Ex.: Em uma compra e venda, o que se espera é que o vendedor realize a entrega do produto.</p><p>Nesse exemplo, a entrega da coisa não é um requisito da compra e venda, e sim um efeito obrigacional. A compra e venda gera dois efeitos: obriga o comprador a pagar o preço em dinheiro e obriga o vendedor a entregar a coisa, geralmente uma coisa certa.</p><p>Aqui encontramos 4 subespécies da obrigação de dar:</p><p>1) Obrigação de entregar coisa certa (Arts. 233 a 237, CC):</p><p>O que é uma coisa certa? É um corpo certo, bem definido, delimitado, determinado, um bem inconfundível com qualquer outra coisa. É algo infungível. Ex.: Um carro. Existem milhares de carros do mesmo modelo, mas cada carro tem suas especificidades. Um livro autografado também seria um bem infungível, portanto, uma coisa certa.</p><p>Uma 1ª questão a se analisar nesta subespécie, diz respeito aos acessórios. Conforme dito no Art. 233 do CC: “A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso”. “Mas a lei não prevalece?” NÃO, pois aqui não estamos diante de uma norma de ordem pública.</p><p>Normas COGENTES: preservam a ordem pública, logo, são inafastáveis pela vontade das pessoas interessadas.</p><p>Normas DISPOSITIVAS: preservam a ordem privada. São disponíveis, privilegiando o interesse patrimonial e privado. -> AUTONOMIA PRIVADA</p><p>Em seguida, o Código Civil entra num problema: o perecimento da coisa. O que significa a coisa perecer? Significa se perder, se esgotar, se destruir, se exaurir, deixar de existir. O devedor não tem como mais cumprir com a obrigação com o perecimento da coisa. O código faz uma distinção muito sensível: perecimento sem culpa e com culpa do devedor. Se não é culposo, extingue-se a obrigação (resolução simples). Se o comportamento do devedor tiver gerado o perecimento, a obrigação converte-se em perdas e danos através do pagamento de uma indenização. Art. 234, CC: “Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos”. “Equivalente” (id quod interest) -> estimativa pecuniária do valor da coisa na data em que ela se perdeu. Para fins de estudo, a expressão “perdas e danos” é sinônimo de indenização.</p><p>O próximo problema que o legislador regula nos arts. 235 e 236 é a deterioração da coisa, logicamente, algo menos grave do que a perda. Deterioração significa diminuição, desgaste, perda de qualidade/funcionalidade.</p><p>- Deterioração SEM culpa (Art. 235, CC): não há indenização nesse caso. “Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu”. O credor tem duas opções:</p><p>a) o credor não quer mais a coisa -> extingue-se a obrigação, sem perdas e danos;</p><p>b) o credor quer a coisa, mesmo deteriorada -> receber a coisa no estado em que ela se encontra, descontado do preço o desgaste equivalente à deterioração.</p><p>- Deterioração COM culpa (Art. 236, CC): “Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das perdas e danos”. O credor tem duas opções, lembrando que em ambos os casos ele poderá reclamar perdas e danos:</p><p>a) o credor não quer mais a coisa -> exigir o equivalente.</p><p>b) o credor quer a coisa, mesmo deteriorada -> receber a coisa no estado em que ela se encontra.</p><p>Outra questão a ser tratada: E se a coisa melhorar no tempo entre a constituição e o cumprimento da obrigação? Ex: é celebrada a compra de uma vaca, porém no meio tempo entre a constituição e o cumprimento da obrigação, a vaca encontra-se esperando filhotes, logo, ela valeria mais.</p><p>Art. 237, CC: “Até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação”. Nesse caso, a tradição é um marco temporal que define quando algo pertence ao devedor ou ao credor. O devedor pode exigir o correspondente aumento do preço, proporcional ao melhoramento da coisa. Caso o credor não concorde em pagar o acréscimo, o devedor tem a opção subsidiária de extinguir a obrigação, sem perdas e danos.</p><p>Art. 237, Parágrafo único, CC: “Os frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os pendentes”. Os frutos percebidos são os que já foram separados da coisa principal. Ex.: maçãs colhidas antes da entrega de uma macieira localizada num terreno vendido.</p><p>2) Obrigação de restituir coisa certa (Arts. 238 a 242, CC):</p><p>Qual a diferença entre entregar e restituir? Entregar remete a ideia de que a coisa era só devedor. Restituir traz a ideia de “dar coisa que já pertence a quem vai receber”. Ex.: fim de contrato de locação.</p><p>Direito Romano: res perit domino (a coisa perece para o dono). Ex.: a compra e venda foi devidamente cumprida. O cavalo, 1 semana depois, sofreu um acidente. Quem suporta o prejuízo? O atual dono, o comprador.</p><p>O titular do objeto sempre será o credor. Se, por acaso, a coisa pereça e não haja culpa do devedor, quem sofre o prejuízo é o credor. Num contrato de locação, o locador é quem sofre o prejuízo.</p><p>-> Perecimento da coisa:</p><p>- SEM culpa: Art. 238, CC. “Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda”. Ex.: Em uma locação, um dano</p><p>sofrido no 15º dia do mês, o devedor pagará o aluguel proporcional ao uso da coisa. No caso, metade do aluguel. (“pro rata die”)</p><p>- COM culpa: Art. 239, CC. “Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos”.</p><p>-> Deterioração da coisa: Art. 240, CC: “Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239”. Ex.: aluguei um imóvel, fiquei nele no tempo estabelecido no contrato, e irei devolvê-lo. Devo realizar a pintura para devolver como recebi? Pelo art. 240, a resposta é um sonoro NÃO. Claro, nada impede que isto esteja disposto em uma cláusula contratual. Se a deterioração for culposa, a regra legal expressa determina a aplicação das regras do art. 239. A doutrina unânime afirma que a remissão foi feita incorretamente. O legislador queria remeter ao art. 236, e não ao 239. O art. 239 só remete a uma solução, logo não satisfaz as hipóteses abrangentes requeridas nesse caso.</p><p>-> Melhoria da coisa:</p><p>a) Se a melhora veio espontaneamente (Art. 241, CC): “Se, no caso do art. 238, sobrevier melhoramento ou acréscimo à coisa, sem despesa ou trabalho do devedor, lucrará o credor, desobrigado de indenização”. O devedor estava com a coisa, mas não teve nenhum investimento envolvido. O credor lucrará sem ter que pagar indenização.</p><p>b) Se a melhora veio por trabalho do devedor (Art. 242, CC): “Se para o melhoramento, ou aumento, empregou o devedor trabalho ou dispêndio, o caso se regulará pelas normas deste Código atinentes às benfeitorias realizadas pelo possuidor de boa-fé ou de má-fé”. Essas normas estão nos arts. 1.219 e 1.220 do Código Civil. Resumindo: o possuidor de boa-fé tem direito à indenização, o de má-fé não tem direito.</p><p>Art. 242, Parágrafo único, CC. “Quanto aos frutos percebidos, observar-se-á, do mesmo modo, o disposto neste Código, acerca do possuidor de boa-fé ou de má-fé”. O possuidor de boa-fé tem direito a frutos, o de má-fé não tem direito (Arts. 1.214, 1.216, CC).</p><p>3) Obrigação de entregar coisa incerta (Arts. 243 a 246, CC):</p><p>Chama-se também de “dívida de gênero”. A lei não admite uma total indeterminação da coisa. A lei exige que a coisa, apesar de não definida, a lei requer que a coisa seja identificada pelo gênero e pela quantidade (Art. 243, CC). Ex.: lata de refrigerante, salgados etc.. Posteriormente, há a individualização da coisa dentro do gênero. Nesse momento, a coisa deixa de ser incerta.</p><p>Ex.: fazendeiro que possui uma fazenda com 20000 cabeças, vendendo 100 animais destinados ao matadouro. Ora, quais são os animais que serão abatidos dentre esses 20000, como será feita essa escolha? Quem vai fazer a escolha, quem comprou ou quem vendeu?</p><p>Quem vai fazer a escolha: 244, CC: “Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação [...]”. Claro, as partes podem combinar previamente como se dará essa escolha, afinal essa não é uma norma cogente. É feita a especificação (individualização) da coisa, o acertamento da coisa, que era incerta e se tornará uma coisa certa. É um direito potestativo.</p><p>Como é feita a escolha? 244, CC: “[...] mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor”. Critério “in fine”: a escolha deve recair sobre a coisa média (não pode escolher nem a melhor, nem a pior).</p><p>A escolha se torna irreversível e irrevogável, pois a coisa deixa de ser incerta e se torna certa. Deixa de se tratar de uma obrigação de dar coisa incerta para obrigação de dar coisa certa. Art. 245, CC: “Cientificado da escolha o credor, vigorará o disposto na Seção antecedente”.</p><p>Ideia de “genus non perit”. Art. 246, CC: “Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito”. O que perece e se deteriora é uma coisa certa. Quando tenho um gênero inteiro, não se pode alegar a deterioração.</p><p>4) Obrigação pecuniária / de pagar / solver em dinheiro (Arts. 315 a 318, CC):</p><p>Espécie do gênero dar ou fazer? Hoje não há mais essa discussão. É do gênero “dar”. Afinal, entregar dinheiro é entregar coisa. A discussão se fazia presente, pois a discussão sobre perecimento, deterioração e melhoria da coisa não fazem sentido no âmbito da obrigação pecuniária. Alguns autores chegaram a sugerir a aplicação das normas referentes à obrigação de fazer. Esse debate foi superado, pois o legislador do CC/2002 apresentou normas próprias e específicas para a obrigação pecuniária.</p><p>Obrigação pecuniária: obrigação de pagar em dinheiro. Ex. O vendedor tem que entregar uma coisa certa e o comprador deve pagar pela coisa em dinheiro. Pai deve pagar pensão alimentícia para o filho menor.</p><p>- Subespécies da obrigação pecuniária (ambas são pagas em dinheiro, é claro):</p><p>a) dívida de dinheiro: a quantia é fixa, rígida, não oscila, não é sujeita à variação.</p><p>b) dívida de valor: a quantidade de dinheiro oscila para espelhar o conteúdo econômico em jogo. Há um mecanismo que permite a variação, para que o importe econômico em jogo seja espelhado com precisão.</p><p>Ex.: Obrigação alimentar. Quase sempre, quando o magistrado define sentença nas ações de alimentos, são preferidas as dívidas de valor. É definido um percentual sobre os ganhos do pai. Na sentença: “Condeno o pai pagar a cada mês 20% do seu salário em favor do alimentando”. Logo, se o pai ganha 1000 reais, é promovido no trabalho e passa a ganhar 2000, a pensão é reajustada proporcionalmente, definido o percentual alimentício.</p><p>No caso em que o réu não tem um emprego fixo, é definida uma dívida de dinheiro. Na sentença: “Condeno o pai a pagar 2000 reais por mês”. Não há alteração no valor da pensão.</p><p>A dívida do dinheiro se subordina ao princípio do nominalismo (Art. 315, CC). 100 reais em 1994 não compram as mesmas coisas que 100 reais em 2020. Em 1994, 1 real comprava 1 frango assado. A moeda tem suas oscilações, mas nominalmente e formalmente 1 real sempre será 1 real. Não importa o poder aquisitivo, o que se pode fazer com o dinheiro, só importa se permanece o mesmo nome. Só importa a mera forma, sem que se busque o aporte econômico em jogo.</p><p>As dívidas de valor escapam do princípio do nominalismo, já que elas podem oscilar, tanto se valorizando quanto se desvalorizando. Nela é inserida uma cláusula de escalonamento / cláusula de escala móvel (Art. 316, CC): atrela à prestação algum preço, salário ou índice. Ex.: A CF dispõe que tudo é tributado na origem, exceto o petróleo (que é tributado na saída). Para compensar os estados produtores, um senador propôs na constituinte o pagamento de royalties. Contudo, na prática isso é falso. A arrecadação de ICMS é bem maior que os royalties. Pra piorar, os estados não produtores (que formam maioria no C.N.) resolveram querer uma parcela dos royalties. O RJ ajuizou uma ADI no STF, obtendo uma liminar suspendendo essa lei de divisão dos royalties. A lei ainda será julgada em definitivo pelo Supremo. Os royalties são um exemplo de prestação que depende diretamente do preço do petróleo. Quando o petróleo sobe, o RJ recebe muito dinheiro em royalties. Quando o petróleo despencou, o RJ teve um enorme prejuízo, pois os royalties representam mais de 1/5 da receita do estado.</p><p>Ex.: vinculação de salário: vinculação da pensão alimentícia ao salário do pai.</p><p>Ex.: vinculação à índice: alteração de preços de produtos de acordo com a inflação.</p><p>Nenhum país do mundo adota a correção monetária, uma “jabuticaba” inventada pelo governo militar em 1964. A correção monetária “neutraliza” a inflação, porém ocasiona mais inflação.</p><p>Algumas cláusulas são vedadas pelo ordenamento jurídico:</p><p>· Art. 7º, IV, CF: vedação da vinculação do salário mínimo para qualquer fim. Mas na prática, não funciona bem assim. Ex.: competência dos JEC limitada a “x” salários mínimos. O legislador pretendia que ao longo do tempo, o salário mínimo crescesse para poder realizar todos os fins estabelecidos na CF. Se outras obrigações</p><p>fossem atreladas ao salário mínimo, haveria uma pressão para a variação de seu poder aquisitivo. Em sentenças referentes ao pagamento de pensão alimentícia, o STF tem acórdão que abre uma exceção, baseando-se no percentual sobre o salário mínimo.</p><p>Sentenciar um réu a pagar um valor vinculado ao salário mínimo constante no dia da sentença não viola a Constituição. Pagar um valor vinculado ao salário mínimo constante no dia efetivo do pagamento é inconstitucional, pois da sentença até o pagamento, o valor do salário mínimo pode ter sido alterado.</p><p>· Vedação à vinculação ao ouro e à moeda estrangeira (Art. 318, CC)</p><p>-> Revisão das prestações: Art. 317, CC: “Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação”. Será estudado melhor em Direito Civil III e IV.</p><p>AULA 05 - Classificação das obrigações quanto ao objeto (PARTE 2/2) (11/11/2020)</p><p>· OBRIGAÇÃO DE FAZER (Arts. 247-249, CC)</p><p>Relembrando que “fazer” = realizar qualquer conduta humana positiva e lícita, exceto entrega de coisa. No Direito brasileiro, tem sido tradicional tratar separadamente as obrigações positivas (dar e fazer). Na obrigação de fazer, o que chama a atenção é o devedor.</p><p>“Fazer” envolve qualquer conduta positiva e lícita, seja ela um trabalho físico ou intelectual. Ex.: redigir uma minuta de contrato, um médico prestar uma consulta, um pintor pintar uma parede etc.</p><p>Há situações em que o fazer e o dar andam juntos. O devedor se obriga a ambos. Qual norma aplicar nesse caso? Ex.: Um marceneiro é contratado para fazer um armário, e quando ele terminar de confeccionar o móvel, ele deve fazer a entrega da coisa. O que é mais importante, confeccionar o móvel (fazer) ou entregar quando estiver pronto (dar)? Nesse caso, prevalece o fazer. O dar seria apenas uma consequência. Podemos dizer que o fazer envolve a “atividade-fim”. A entrega seria uma “atividade-meio”, ele pode delegar essa função a um terceiro.</p><p>Existem 2 problemas que a lei procura solucionar: eventual impossibilidade do fato prometido e o inadimplemento. Há regras próprias para esses casos, que serão tratados posteriormente.</p><p>Na obrigação de fazer, também há uma subdivisão das obrigações:</p><p>1) Obrigação de fazer impessoal / fungível: o fato prometido pode ser desempenhado pelo devedor ou por outra pessoa. Pode de modo útil o fato ser desempenhado por outra pessoa. Ex.: pintar uma parede (não é algo que exige uma técnica extraordinária).</p><p>2) Obrigação de fazer personalíssima (intuitu personae): as qualidades pessoais do devedor são relevantes. Não comporta substituição do devedor por outra pessoa. Envolve ou o talento artístico, o renome, ou as qualificações exigidas, algo que ocasione não ser razoável a substituição por outra pessoa.</p><p>Sobre o problema do inadimplemento: caso o devedor não realize o fato prometido, o que acontece?</p><p>Sendo uma obrigação personalíssima, a única solução viável seria condenar o devedor a pagar perdas e danos (Art. 247, CC). Porque não é viável forçar o devedor a realizar o fato prometido? Porque o resultado provavelmente não seria satisfatório. Se o devedor não cumprir o fato prometido, ele fica sujeito a pagar perdas e danos, sendo uma solução adequada exposta pelo Código Civil. Também não faz sentido pedir que outra pessoa cumpra a obrigação, já que ela é personalíssima.</p><p>Sendo uma obrigação impessoal, o Art. 249 do CC estabelece que “se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível”. Logo, percebe-se que as perdas e danos somam-se à prestação custeada pelo devedor. “Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido” (Art. 249, § único, CC). É uma norma excepcional, devendo ser interpretada restritivamente. No caso de urgência, deve-se estabelecer um prisma objetivo. É necessário estabelecer o que é urgência, de forma que seja razoável para o “homem médio”, aquilo que é pacífico de entendendimento do que seja urgência. Por mais que seja o juiz a determinar se a causa é urgente ou não, o magistrado deve adotar um critério razoável. O parágrafo único do Art. 249 traz um método de autotutela de que o credor pode se resguardar.</p><p>Ex.: O seu apartamento está com vazamento de água. Constata-se que o vazamento vem do apartamento de cima. É necessário fazer o conserto o quanto antes, sob risco de danos ao imóvel. O morador falou com o condômino do apartamento de cima, em que demorou mais de uma semana para resolver. Nesse caso, aplica-se o parágrafo único para que não sejam causados mais danos.</p><p>Sobre o problema da impossibilidade do fato prometido. Uma coisa é o devedor puder cumprir e mesmo assim, não fazer. Esse é o inadimplemento. Mas, mesmo que o devedor queira realizar o fato e não pode, ocorre a impossibilidade do fato prometido. Assim como na interpretação do parágrafo único do Art. 249, é necessária prudência para analisar se a impossibilidade procede ou não.</p><p>O Art. 248 do Código Civil estabelece a mesma solução para a obrigação personalíssima e para a obrigação impessoal:</p><p>· Impossibilidade SEM CULPA: extingue-se a obrigação, sem perdas e danos (resolução simples da obrigação). Ex.: um artista foi internado em um estado crítico de saúde no dia do show. A obrigação do cantor em relação à casa de shows se extingue. Em caso do cachê já ter sido recebido, obviamente o artista deve devolver o cachê. Vale ressaltar que, caso haja previsão contratual entre as partes em que seja estabelecida uma alternativa, permanece o estabelecido no contrato. Afinal, essas normas não são cogentes.</p><p>· Impossibilidade CULPOSA: serão cobradas perdas e danos do devedor. Na prática, tal caso se equivale ao inadimplemento. Ex.: No dia do show, o cantor bebeu uma bebida com gelo, causando danos à sua voz.</p><p>· OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER (Arts. 250-251, CC)</p><p>O devedor promete uma abstenção. Não se pode tratar de uma abstenção genérica. Nesse caso o “não fazer” é bem delimitado, o devedor se compromete a não realizar determinado fato / adotar determinada conduta.</p><p>Exemplos.:</p><p>· O devedor se compromete a não construir em um determinado terreno, mediante um pagamento.</p><p>· Constituição de um contrato de franquia. O franqueador (proprietário da marca) e o franqueado (lojista que se obriga a revender produtos do franqueador e não comprar e revender produtos de outras origens).</p><p>· Contrato de trespasse (alienação do estabelecimento comercial): há uma cláusula de não-concorrência. há um medo de que o alienante tome o lugar da outra parte no mercado. O alienante se obrigou a não disputar no mercado.</p><p>O CC trata dos mesmo dois problemas da obrigação de fazer: impossibilidade do fato prometido (250, CC) e o inadimplemento (251, CC).</p><p>IMPOSSIBILIDADE: Art. 250, CC: “Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar”.</p><p>· Impossibilidade SEM CULPA: extingue-se a obrigação.</p><p>· Impossibilidade CULPOSA: serão cobradas perdas e danos do devedor.</p><p>Ex.: um perfumista foi contratado por uma empresa de perfumes para realizar uma nova fragrância. No contrato, foi prevista uma cláusula de sigilo (obrigação de não fazer). A oficina do perfumista é assaltada, momento na qual é vazada a fórmula do perfume criado. Não houve culpa do devedor nesse caso.</p><p>Ex.: um perfumista quis agradar a namorada, e no dia de seu aniversário, deu uma caixa do perfume que seria divulgado em breve. Por descuido, foi deixado um papel da fórmula da fragrância com a namorada, que sem saber do que se tratava, mostrou para as amigas. Nesse caso, o devedor é culpado e responde por perdas e danos.</p><p>INADIMPLEMENTO: Art. 251, CC: “Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir’ dele que o desfaça, sob pena de se desfazer</p><p>à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos”. O devedor que se obrigou a não fazer, o credor pode obrigá-lo a retornar ao status quo, às custas do devedor, sem prejuízo da cobrança cabível de perdas e danos.</p><p>Da mesma forma como na obrigação de fazer, é prevista uma cláusula de urgência, em que ocorre a autotutela: “Em caso de urgência, poderá o credor desfazer ou mandar desfazer, independentemente de autorização judicial, sem prejuízo do ressarcimento devido” (Art. 251, § único, CC).</p><p>AULA 06 - Classificação das obrigações quanto à pluralidade das prestações (do objeto) (18/11/2020)</p><p>-> DO QUE SE TRATA ESSA CLASSIFICAÇÃO? Uma única prestação? Mais de uma? Há a possibilidade de alteração/alternatividade?</p><p>· OBRIGAÇÃO SIMPLES</p><p>Tem por objeto uma única prestação devida. O devedor deve uma só prestação. A obrigação só se extingue mediante cumprimento dessa única prestação devida. O conceito é bem objetivo, nesse caso.</p><p>· OBRIGAÇÃO CUMULATIVA / CONJUNTIVA</p><p>Há mais de uma prestação como objeto do vínculo (2 ou mais). Todas as prestações previstas no título da obrigação são devidas. O devedor só se libera cumprindo TODAS, sem que falte nenhuma.</p><p>· OBRIGAÇÃO ALTERNATIVA</p><p>Modalidade importante, prevista nos Arts. 252 a 256 do Código Civil. Há uma grande peculiaridade nesta modalidade: são previstas 2 prestações, para ser cumprida apenas uma. O título da obrigação (contrato, por exemplo) prevê 2 prestações, com a grande singularidade de que o devedor se libera cumprindo apenas uma delas. A obrigação se extingue ao cumprir uma das duas prestações devidas. A alternatividade é algo que na vida econômica e na disciplina legal é identificada usualmente.</p><p>Exemplo contratual: um proprietário de uma fazenda arrenda esse espaço para alguém que deseja produzir. É combinado que, a cada ano, o produtor deverá pagar determinada quantia em reais OU entregar metade da safra. Ele não vai pagar dinheiro e safra, é necessária uma escolha. Já a quem cabe fazer essa escolha, será tratado posteriormente.</p><p>Exemplo criado pelo CC: Art. 236, CC: deterioração culposa da coisa na obrigação de entregar coisa certa. “Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, OU aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um OU em outro caso, indenização das perdas e danos”.</p><p>A quem cabe a escolha? Art. 252, caput, CC: “Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou.” A regra legal é supletiva à vontade das partes. Ou seja, nada impede que as partes acordem como lhes forem mais adequados para escolher. -> Princípio favor debitoris. O benefício se dá ao devedor, porque a lei quer que a obrigação se extinga. É mais fácil que a obrigação se extinga se o devedor puder fazer essa escolha. Apesar disso, como foi dito, a lei não impede que as partes acordem de outra forma. Essa escolha é chamada de “concentração do débito”. Uma vez efetuada, essa escolha é irreversível, vinculante. O devedor não pode voltar atrás. Esse direito de escolha tem caráter potestativo, logo o credor fica sujeito ao que o devedor escolher (da mesma forma se o contrato definir que o credor escolha).</p><p>Art. 252, § 1º, CC: “Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra”. A escolha tem que recair integralmente entre uma das duas prestações. Caso as partes não cheguem a um novo acordo, essa escolha é indivisível.</p><p>Art. 252, § 2º, CC: “Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período”. Obrigação de trato sucessivo/prestações periódicas: uma obrigação que se renova em períodos de tempo determinado. Ex.: contrato de locação. No exemplo do contrato agrário, a cada ano (período), o produtor escolhe se pagará em safra ou em dinheiro.</p><p>Art. 252, § 3º, CC: “No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz, findo o prazo por este assinado para a deliberação”. Pluralidade de optantes: não quer dizer que a escolha caiba ao devedor e credor ao mesmo tempo. O que pode ocorrer é que no polo de escolha exista mais de uma pessoa (independente de ser o polo ativo ou passivo). Caso não haja acordo unânime entre as partes, a solução será mediante decisão judicial.</p><p>Art. 252, § 4º, CC: “Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não houver acordo entre as partes”. Caso não haja acordo, de igual forma a solução será mediante decisão judicial.</p><p>Os Arts. 253 a 256 do CC cuidam do mesmo problema: a impossibilidade das prestações. Os critérios são: Impossibilidade de uma ou das duas prestações; Impossibilidade sem ou com culpa. Escolha do credor ou do devedor.</p><p>1ª hipótese: Impossibilidade de UMA das duas prestações, sem culpa do devedor: concentração do débito na prestação remanescente (Art. 253, CC). Ex.: num contrato de prestação de serviços, um turista celebrou contrato com empresa turística. Cláusula: “no dia de domingo, iremos ao Pão de Açúcar OU ao Corcovado”. O bondinho do Pão de Açúcar estava com problemas, logo a obrigação recai sobre a ida ao Corcovado.</p><p>2ª hipótese: Impossibilidade das DUAS prestações, sem culpa do devedor: resolução simples da obrigação, extinção da obrigação sem perdas e danos (Art. 256, CC). Ex.: retomando o exemplo anterior, uma forte chuva impossibilitou o passeio. A obrigação se extingue, sem perdas e danos, somente sendo possível o estorno do preço pago pelo passeio.</p><p>3ª hipótese: Impossibilidade de UMA das duas prestações, com culpa do devedor, sendo a escolha do próprio devedor: Não tem previsão no CC. Do ponto de vista lógico, o devedor deve necessariamente cumprir a outra obrigação, SEM perdas e danos. Se ele impossibilitou uma obrigação, ele por consequência escolhe a outra, por isso não ocorre perdas e danos. Aqui não há ato ilícito.</p><p>4ª hipótese: Impossibilidade de UMA das duas prestações, com culpa do devedor, sendo a escolha do credor: Nesse caso, o credor foi prejudicado, afinal ele não terá mais como exercer o direito de escolha. O devedor deve pagar o equivalente pela obrigação impossibilitada OU cumprir a outra obrigação, acrescidos de perdas e danos (Art. 255, 1ª parte, CC). Ex.: No exemplo do turista, por irresponsabilidade da agência turística, a viagem ao Pão de Açúcar não se tornou possível. O turista pode optar por viajar ao Corcovado, ou o valor equivalente da viagem ao Pão de Açúcar, mais perdas e danos.</p><p>5ª hipótese: Impossibilidade das DUAS prestações, com culpa do devedor, sendo a escolha do próprio devedor: Ao impossibilitar a 2ª obrigação, o devedor cometeu ato ilícito. Nesse caso, o devedor deverá pagar o valor da 2ª obrigação que se impossibilitou, acrescidas das perdas e danos que o caso determinar (Art. 254, CC).</p><p>6ª hipótese: Impossibilidade das DUAS prestações, com culpa do devedor, sendo a escolha do credor: É a pior das hipóteses. Nesse caso, o credor poderá reclamar o valor de qualquer das duas, acrescidas de perdas e danos (Art. 255, 2ª parte, CC). O preço a ser cobrado será o preço determinado na cobrança, o valor atual na época do perecimento da coisa, quando a obrigação se impossibilitou.</p><p>Uma hipótese que não está no CC: caso o próprio credor impossibilita a prestação, o devedor não tem que suportar nenhuma condenação por conduta alheia. Logo, a responsabilidade recairia sobre a outra prestação.</p><p>· OBRIGAÇÃO COM PRESTAÇÃO FACULTATIVA / FACULDADE DE SOLUÇÃO</p><p>A doutrina se ocupa de indicar alguns caminhos para esse instituto, pois não há um tratamento no Código Civil.</p><p>Como objeto, são previstas 2 prestações. Apenas uma delas é devida, e a outra se apresenta como uma faculdade de solução, um mecanismo destinado ao devedor para facilitar o cumprimento da obrigação. Em outras palavras: no vínculo, há 2 prestações: a 1ª delas é chamada de prestação “in obligatione”: essa prestação é devida. O credor só tem direito a essa prestação. A 2ª é chamada de prestação “in facultate solutiones”: prevista pela lei ou pelo contrato para facilitar o adimplemento</p><p>pelo devedor, em prol de promover a extinção da obrigação. O CREDOR NÃO TEM DIREITO À 2ª PRESTAÇÃO.</p><p>Exemplo para comparar com a obrigação alternativa: contrato de prestação de serviços turísticos. Cláusula: “No 3º dia faremos uma visita ao Corcovado ou ao Pão de Açúcar” (obrigação alternativa). Se a cláusula trouxesse uma obrigação com prestação alternativa: “Faremos uma visita ao Corcovado. Ao critério da agência, poderá ser substituída por uma visita ao Pão de Açúcar”.</p><p>A diferença entre essas duas modalidades de obrigação decorre do impacto da impossibilidade da obrigação. Caso a impossibilidade aconteça na prestação devida sem culpa, a obrigação se extinguiria pois a 2ª prestação é facultativa. Se houver culpa do devedor, a prestação facultativa NÃO PODE ser exigida, pois não é devida. O devedor responde pelo equivalente da prestação impossibilitada, acrescidas de perdas e danos. Porém, pode ocorrer a possibilidade do devedor optar por prestar a prestação facultativa, para cumprir a obrigação. É um benefício que se estabelece ao devedor, se configurando como um direito potestativo: ou cumpre a prestação alternativa, OU paga o equivalente da prestação devida acrescida de perdas e danos. Caso o credor se recusar de receber a prestação, o devedor pode consignar em pagamento.</p><p>OBS.: Atualmente, tem ocorrido com muita frequência o exagero na utilização da obrigação com prestação facultativa. Pode-se pensar na aplicação do Art. 51 do CDC por conta da abusividade da obrigação estabelecida. Afinal, esse tipo de contrato que pode ser enquadrado como abusivo, gerando a invalidade das cláusulas abusivas, sem prejuízo de uma possível reparação de danos.</p><p>AULA 07 - Classificação das obrigações quanto à pluralidade de sujeitos (25/11/2020)</p><p>-> Será necessário investigar dois fenômenos: a indivisibilidade e a solidariedade (TEMA IMPORTANTE!). É uma classificação expandida. As obrigações podem ser divisíveis ou indivisíveis. Solidárias ou não solidárias.</p><p>OBS. 1: Esses fenômenos destacados só despertam interesse quando há mais de um sujeito, seja no pólo ativo ou no passivo da relação obrigacional. Se tivermos apenas um credor e um devedor, não temos nem que aplicar a classificação estudada hoje. Essa classificação só se aplica mediante a premissa da pluralidade do sujeito.</p><p>OBS. 2: Nas obrigações indivisíveis ou solidárias, cabe a apenas um dos devedores arcar com a obrigação. O profissional do direito deve saber distinguir esses fenômenos, percebê-los e conceituá-los.</p><p>· INDIVISIBILIDADE</p><p>Obrigação divisível - Art. 257, CC: “Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores”. A divisibilidade é a regra. Se houver mais de um sujeito credor, cada um só tem direito a sua parte no crédito. Se houver mais de um sujeito devedor, cada um só deve o seu pedaço a sua parte. A obrigação é dividida em tantas partes quantas sejam presentes no polo ativo ou no polo passivo.</p><p>Obrigação indivisível - Art. 258, CC: “A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico”. Ex.: duas pessoas são donas de um cavalo de raça. Celebram um contrato de compra e venda e vendem o cavalo. No outro pólo, temos apenas um comprador. Os vendedores são devedores da entrega do animal e credores da entrega do preço. O comprador é devedor da entrega do preço e é credor do animal. Dado que a obrigação é indivisível, o comprador pode exigir a entrega do animal de qualquer um dos vendedores. Esse artigo nos permite identificar a origem da indivisibilidade. Esse fenômeno surge em 3 origens diferentes. A indivisibilidade pode ser natural (natureza do objeto), legal (lei) ou voluntária (vontade das partes - fruto de uma cláusula estabelecida entre as partes). Esse exemplo do cavalo é um exemplo de indivisibilidade natural. Essa indivisibilidade natural não deriva só da natureza, mas também pode ser um objeto que o homem cria. Ex.: relógio, carro. É o que o texto legal aborda como sendo um objeto indivisível “por motivo de ordem econômica”. A indivisibilidade pode vir da própria lei, mas é raro. Ex.: servidão predial. Pode-se ter uma servidão que onere um ou vários imóveis (Art. 1.386, CC). Indivisibilidade do módulo rural - área mínima em que pode ter um imóvel rural (Lei 4.504/64 - Estatuto da Terra). Destaca-se que quase sempre a indivisibilidade será natural. Também temos a indivisibilidade voluntária, quando é acertado pelas partes mediante cláusula contratual.</p><p>Se houver a indivisibilidade, teremos o cumprimento da obrigação de modo peculiar. Temos comandos legais para solucionar os problemas que aparecem.</p><p>· Se a indivisibilidade estiver ligada à pluralidade de devedores -> Art. 259, CC. Ex.: dois devedores para entregar um cavalo. Cada indivíduo será obrigado pela dívida toda mediante a inviabilidade decorrente da natureza dessa obrigação. O devedor da obrigação indivisível só deve pela sua parte, mas responde pela sua parte e a do outro devedor.</p><p>Art. 259, § único, CC: sub-rogação: direito que o devedor que pagou sozinho tem de obter dos outros devedores que não pagaram a devida compensação.</p><p>· Se a indivisibilidade estiver ligada à pluralidade de credores - Art. 260, CC. Ex.: um vendedor de cavalo para dois compradores, os credores do recebimento do animal. Os incisos I e II protegem o devedor que paga e o credor que não recebeu. Um credor pode receber sozinho, mas deve assegurar que os outros estão de acordo (II). O devedor que paga fora das hipóteses dos incisos I e II corre o risco de ter que pagar novamente. Caso o devedor perceba uma discordância entre os credores, o credor poderia consignar a prestação para se livrar da obrigação.</p><p>OBS.: Interessante ressaltar que a maioria das obrigações tem um caráter de bilateralidade (sinalagma). Ex.: um credor de receber uma entrega é devedor de pagar o preço. Claro que também não se nega a existência de relações unilaterais. Ex.: doação. Para fins didáticos, essas classificações são feitas, mas isso não quer dizer que a obrigação se duplique.</p><p>· SOLIDARIEDADE</p><p>Conceito: “Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado, à dívida toda” (Art. 264, CC). A solidariedade representa um reforço do vínculo obrigacional. Reforça o elo entre o polo ativo e o pólo passivo. A solidariedade acarreta que cada credor tenha direito a tudo, e cada devedor deva tudo. Podemos citar a conta corrente conjunta que permita a movimentação individual é solidária.</p><p>Ex.: Caio e Teresa abriram a conta no banco Z, os dois optaram pela conta conjunta solidária. Para abrir a conta, os dois depositaram 1000 reais. Quando Caio e Teresa deixaram 1000 reais no banco, os dois se tornaram credores da quantia que deixaram no banco, e o banco se tornou devedor daquela quantia que está depositada. Caio e Teresa receberam cartões magnéticos para movimentar a conta. Caio, no dia seguinte, sacou os 1000 reais. Um credor pode receber sozinho todo o crédito. Como a solidariedade é ativa, qualquer dos credores solidários pode sozinho receber todo o crédito.</p><p>Ex.: O CC prevê a solidariedade entre os autores e coautores do ato ilícito. Quando um ato ilícito tem mais de um autor, a lei determina que os autores são solidários com a vítima referente ao pagamento de danos que a vítima sofreu (Art. 942, § único, CC).</p><p>Ex.: Um paciente internado num hospital sofre um grande dano fruto de um erro médico. Esse médico integra o corpo clínico do hospital. Aqui há uma solidariedade passiva (entre os devedores). O paciente pode demandar a indenização, tanto do hospital, quanto do próprio médico. O credor pode exigir a prestação de um dos devedores solidários, de mais de um dos devedores, ou de todos os devedores. Contudo, só cabe o recebimento de uma indenização, através da sentença proferida pelo</p><p>magistrado (princípio ius variandi). Na relação externa, cada um deve a totalidade da dívida.</p><p>Para entender a solidariedade, devemos separar a relação externa da relação interna. Externa é a relação entre o polo ativo e o polo passivo ligados pelo vínculo. Relação interna é a relação que se estabelece entre os sujeitos de cada polo. É importante pois quando dizemos que quando um credor deve receber tudo ou quando um devedor deve pagar tudo, pensamos apenas na relação externa. Quem recebe o crédito, na relação interna, cada credor só tem direito ao seu quinhão. Quem quita o débito, na relação interna, cada devedor deve se acertar para equilibrar as dívidas. A presunção legal é que na relação interna haja quinhões iguais. Porém, é possível termos hipóteses em que se possa determinar a parte de cada devedor. Ex.: Fiança em um contrato de locação, relação de um credor e dois devedores. Pela lei, não haveria solidariedade na locação e na fiança. Mas na prática os devedores são solidários. Quando o inquilino não paga, o credor vai tirar satisfações com o fiador. O fiador paga tudo sozinho e tem o direito de reembolso contra o inquilino que não pagou os aluguéis. Contrariando a presunção legal, o fiador deve ser reembolsado na totalidade (é o âmbito da relação interna no polo passivo).</p><p>· COMPARAÇÃO ENTRE INDIVISIBILIDADE E SOLIDARIEDADE</p><p>Fazendo essa comparação pensando primariamente no polo passivo:</p><p>INDIVISIBILIDADE</p><p>SOLIDARIEDADE</p><p>É um fenômeno de caráter preponderantemente objetivo, pois na maioria das vezes decorre da natureza do objeto da obrigação. A indivisibilidade na maioria das vezes parte do objeto.</p><p>Tem um perfil subjetivo. A solidariedade configura uma relação especial entre os sujeitos da obrigação. Representa um reforço do vínculo obrigacional entre os polos. Não tem nada a ver com o objeto da obrigação.</p><p>Tem um sentido dinâmico. Afinal, caso se mude o objeto da obrigação, o fenômeno pode desaparecer. Ex.: conversão da obrigação de dar um objeto indivisível em obrigação pecuniária (dinheiro é divisível).</p><p>Tem um aspecto estático. A solidariedade se preserva, ainda que o objeto da obrigação seja alterado. A obrigação pode mudar, mas a solidariedade é imutável, pois representa meramente uma ligação entre os polos.</p><p>Na obrigação indivisível o devedor deve pagar tudo, não porque ele deve tudo, mas porque ele não tem como pagar apenas a sua parte. Ele responde por tudo.</p><p>Na relação externa da obrigação, cada devedor solidário deve o mesmo tudo. Na relação interna, cada devedor deve apenas a sua parte.</p><p>Tem como origem 3 fontes distintas: indivisibilidade natural, legal ou voluntária.</p><p>Tem como origem 2 fontes distintas: resultar da lei ou da vontade das partes. (Art. 265, CC)</p><p>Não precisa constar de modo expresso, não precisa constar uma cláusula contratual, aviso prévio entre as partes ou determinação legal anterior. Pode ser fruto da interpretação / compreensão do intérprete.</p><p>Nunca se presume. Deve estar expressa pela lei ou na vontade das partes (Art. 265, CC).</p><p>Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se converter em perdas e danos (caso em que o objeto pereceu pela culpa). (Art. 263, CC)</p><p>A conversão em perdas e danos em nada afeta a solidariedade.</p><p>Persiste mesmo após a morte de qualquer um dos sujeitos da obrigação.</p><p>Se desfaz. A solidariedade não se transmite aos herdeiros do devedor solidário falecido (Art. 276, CC). O crédito ou o débito se transmite aos herdeiros, a qualidade de solidário, não.</p><p>Ex.: Obrigação pecuniária de pagar 90 reais, com 3 devedores solidários. Ninguém morreu: o credor pode exigir dos 3 devedores unidos, OU individualmente, OU de 2 devedores em específico -> 90 reais. Um dos 3 devedores morre e deixa 2 herdeiros. Quanto o credor pode cobrar de um herdeiro sozinho do credor solidário morto? -> 15 reais. (Art. 276, CC)</p><p>O devedor que paga sozinho se sub-roga no direito do credor em relação aos demais devedores (Art. 259, § único, CC). O mecanismo de recuperar o que o devedor pagou sozinho é a sub-rogação, em que o devedor “toma para si” as prerrogativas e vantagens do credor.</p><p>O devedor solidário que paga tudo sozinho, tem o direito de reembolso contra os demais devedores que não pagaram (Art. 283, CC). Em relação à indivisibilidade, o devedor solidário tem um mecanismo inferior, cabendo apenas o reembolso.</p><p>Observação: estudar com profundidade o Art. 276 do Código Civil.</p><p>AULA 08 - Transmissão das obrigações (02/12/2020)</p><p>· INTRODUÇÃO</p><p>-> Característica do Direito Civil atual / contemporâneo.</p><p>-> Diferente do Direito Romano, em que dominou o caráter personalíssimo da obrigação, no direito atual ocorre o oposto: As obrigações, de modo geral, são transmissíveis: comportam a alteração tanto do polo ativo como do polo passivo.</p><p>-> Por que é tão importante essa possibilidade de transmissão das obrigações? Por que essas obrigações são impessoais? É um dos pilares do capitalismo: o sistema capitalista não perdura sem a circulação de recursos. A transmissão de créditos e débitos é uma ferramenta fundamental para o estabelecimento da economia capitalista.</p><p>-> Portanto, entendemos que no Direito contemporâneo há a ampla transmissibilidade das obrigações. Tanto no polo credor, quanto no polo devedor, a titularidade pode ser transmitida.</p><p>-> A transmissão ocorre mediante a aplicação de certos institutos, alguns previstos no Código Civil: cessão de crédito e assunção de dívida.</p><p>· CESSÃO DE CRÉDITO</p><p>É um contrato pelo qual o credor cedente aliena seu crédito ao credor cessionário. É a modalidade de transmissão em que há a troca de titularidade do credor. É composto pelo CEDENTE (credor original/primitivo) e pelo CESSIONÁRIO (novo credor). A cessão pode ser gratuita ou onerosa. Importante ressaltar que o devedor não é parte da cessão de crédito, mas é necessário que o devedor seja notificado para que a cessão seja eficaz (Art. 290, CC), mas a não notificação não afeta sua validade. A cessão de crédito é um negócio jurídico / contrato.</p><p>Na cessão onerosa, é comum haver um desconto no crédito. Ex.: Eu tenho um crédito de R$ 100,00 que vence em 2022. Eu posso ceder esse crédito ao cessionário por R$ 80,00. Geralmente, o crédito cedido vale menos nominalmente do que o valor a ser pago pelo devedor. Quanto maior a chance de recebimento do crédito, mais próximo do valor original do crédito será o custo dessa cessão.</p><p>A cessão de crédito é um mercado com disparidades e com ganhos substanciais, mas que envolvem muitos riscos.</p><p>A ampla cessão de créditos nas obrigações tem previsão legal no Art. 286 do CC: “O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação”. A intransmissibilidade é possível caso se trate de uma obrigação personalíssima (obrigações intuito personae). Além disso, a lei pode restringir a cessão do crédito (ex.: recebimento de alimentos). Além disso, a obrigação pode ser intransferível se houver previsão contratual e explícita que a vede.</p><p>Art. 287, CC: “Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito abrangem-se todos os seus acessórios”. Ex.: Se o crédito era acoplado a uma garantia (essa garantia, que pode ser uma cláusula de juros, cláusula prioritária etc., é acessória ao bem jurídico principal), essa garantia também é transmitida ao novo credor.</p><p>Art. 288, CC: “É ineficaz, em relação a terceiros, a transmissão de um crédito, se não celebrar-se mediante instrumento público, ou instrumento particular revestido das solenidades do § 1º do art. 654”. É um requisito de forma da cessão de crédito que atinge a eficácia. É uma sanção muito branda perante a terceiros, de retirada de efeitos. Isso acontece porque não há como se provar a um terceiro algo que não se possa mostrar. É por isso que a cessão deve ser escrita mediante instrumento público ou particular. EXCEÇÃO À EXIGÊNCIA DE FORMA: título de crédito que admite simples passagem de mãos para facilitar</p>