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<p>Inserir Título Aqui</p><p>Inserir Título Aqui</p><p>Cuidados</p><p>Farmacêuticos:</p><p>Gestação e</p><p>Amamentação</p><p>Aspectos Gerais da Farmacologia na Gravidez e Amamentação</p><p>Responsável pelo Conteúdo:</p><p>Profa. Esp. Flávia Bonfim Lima</p><p>Prof. Dr. Fabio Mitsuo Lima</p><p>Revisão Textual:</p><p>Profa. Ms. Natalia Conti</p><p>Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:</p><p>• Introdução</p><p>• Aspectos Farmacológicos da Gravidez e da Amamentação</p><p>• Riscos Relacionados ao Uso de Medicamentos</p><p>Durante a Gravidez</p><p>• Conclusão</p><p>Fonte: iStock/Getty Im</p><p>ages</p><p>Objetivos</p><p>• Compreender a importância do cuidado na farmacoterapia de gestantes e lactantes, quais</p><p>os riscos e a criticidade de cada um, associando os efeitos, a farmacologia da gestação e da</p><p>amamentação. E como o farmacêutico participa no processo terapêutico.</p><p>Caro Aluno(a)!</p><p>Normalmente com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o</p><p>último momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material</p><p>trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas.</p><p>Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você</p><p>poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns</p><p>dias e determinar como o seu “momento do estudo”.</p><p>No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões</p><p>de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e</p><p>auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados.</p><p>Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de</p><p>discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de</p><p>propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de</p><p>troca de ideias e aprendizagem.</p><p>Bons Estudos!</p><p>Aspectos Gerais da Farmacologia</p><p>na Gravidez e Amamentação</p><p>UNIDADE</p><p>Aspectos Gerais da Farmacologia na Gravidez e Amamentação</p><p>Contextualização</p><p>Para contextualizarmos nosso estudo a seguir, assista ao vídeo abaixo, uma reportagem</p><p>muito importante mostrando a relevância do segmento farmacoterapêutico durante a</p><p>gestação e a amamentação, um caso clássico mundialmente conhecido.</p><p>Vitimas da Talidomida Parte 1: https://youtu.be/83PL-3Pqi9A</p><p>6</p><p>7</p><p>Introdução</p><p>A preocupação com o uso de medicamentos durante a gestação e amamentação</p><p>ganhou grande destaque após o trágico episódio do medicamento Talidomida, nos anos</p><p>60. A Talidomida é um medicamento que foi desenvolvido em 1954 na Alemanha,</p><p>que quimicamente tratava-se de uma mistura racêmica e era um medicamento de</p><p>venda livre, amplamente empregado (OLIVEIRA et al, 1999).</p><p>Nesta época, acreditava-se que, em uma mistura racêmica, um isômero possuía a</p><p>atividade farmacológica esperada, enquanto que o outro isômero era essencialmente</p><p>inativo (BARREIRO et al, 1997). Em 1957 começou a ser comercializada e utilizada,</p><p>inclusive por gestantes, e foi quando começaram a surgir os primeiros efeitos da droga</p><p>sobre os fetos: a focomelia. A focomelia é caracterizada por causar o encurtamento</p><p>dos membros no sentindo do tronco, deixando o corpo com aspecto de foca (MOORE</p><p>E PERSAUD, 2003).</p><p>Observe no link a seguir os efeitos causados pela Talidomida: https://goo.gl/Vhh1Le</p><p>Posteriormente, outros efeitos foram observados, como defeitos auditivos, visuais</p><p>e cardíacos. Os efeitos da talidomida foram observados desde o uso no início até no</p><p>final da gestação, e em todos os períodos se observou o impacto sobre a formação</p><p>dos bebês.</p><p>Um questionamento que surgiu durante o aparecimento dos efeitos da droga foi</p><p>“como isso não foi visto nos estudos clínicos?” Pois bem, na época em que a talido-</p><p>mida foi desenvolvida, não havia qualquer tipo de fiscalização pelos órgãos governa-</p><p>mentais, e o efeito de teratogênese não foi observado nos ratos e cobaias (OLIVEIRA</p><p>et al, 1999).</p><p>Após o efeito da má formação ser atribuído à droga, é que se começou a perceber</p><p>que, o que se imaginava do ponto farmacológico a respeito da isomeria, muito</p><p>provavelmente não era verdade. Então, foi descoberto que o isômero (R) possui</p><p>propriedades sedativas e hipnóticas, e auxilia na redução de náuseas pela manhã,</p><p>uma das grandes queixas das gestantes. Em contrapartida, o isômero (S) possui efeito</p><p>teratogênico (BARREIRO et al, 1997).</p><p>Figura 1 – Isômeros óticos da talidomida</p><p>Fonte: BARREIRO, 1997</p><p>7</p><p>UNIDADE</p><p>Aspectos Gerais da Farmacologia na Gravidez e Amamentação</p><p>A talidomida foi banida mundialmente entre 1962 a 1965, exceto no Brasil, onde</p><p>começou a ser comercializada em 1958 e os primeiros casos de má formação foram</p><p>relatados por volta de 1960, e somente em 1965 foi retirada do mercado brasileiro</p><p>(ABPST, 2017). Durante esse período, estima-se que 12.000 pessoas foram afetadas</p><p>com as más formações em consequência ao uso da talidomida.</p><p>No Brasil, nos últimos 20 anos, já foram registrados 7.000 novos casos (ABVT, 2017).</p><p>A talidomida continua sendo comercializada no Brasil, após estudos demonstrarem</p><p>seus efeitos positivos para o tratamento de hanseníase, Síndrome da Imunodeficiência</p><p>Adquirida (AIDS), Lúpus entre outras.</p><p>Observe no link a seguir a embalagem da talidomida com informações de restrição às</p><p>gestantes: https://goo.gl/9bHQVS</p><p>Esse reposicionamento da talidomida no mercado Brasileiro, assim como de outras</p><p>drogas teratogênicas, traz um sinal de alerta aos profissionais farmacêuticos, pois se</p><p>tornam necessários a orientação e o acompanhamento da farmacoterapia em gestantes</p><p>e lactantes.</p><p>Aspectos Farmacológicos</p><p>da Gravidez e da Amamentação</p><p>Gravidez</p><p>A fisiologia da maternidade envolve a alteração de aspectos que são importantes para</p><p>compreendermos a dinâmica materno-fetal, como alterações cardiovasculares (aumento</p><p>de volume sanguíneo e do débito cardíaco, aumento da produção de medicações da</p><p>regulação da pressão arterial como renina, angiotensina e aldosterona). Também ocorre</p><p>redução do volume pulmonar, alterações gastrointestinais entre outros. Este cenário</p><p>nos mostra que a gestação é um momento crítico no que tange a farmacoterapia, pois</p><p>o organismo materno está passando por várias alterações que estão acontecendo ao</p><p>mesmo tempo.</p><p>8</p><p>9</p><p>Figura 2</p><p>Fonte: iStock/Getty Images</p><p>Essas alterações refletem diretamente na farmacoterapia, uma vez que muitas delas</p><p>aparecem em pontos importantes, como por exemplo, na absorção do medicamento,</p><p>durante a gestação o trato gastrointestinal apresenta alteração de motilidade, de pH e</p><p>diminuição de secreções gástricas (CAVALLI et al, 2006). No fígado, por exemplo, o</p><p>fluxo permanece o mesmo, apesar da volemia e do dé bito cardí aco estarem aumentados.</p><p>Já o sistema enzimático, que é fundamental para metabolização de fármacos, encontra-se</p><p>alterado, em decorrência do aumentos da produção de hormônios. Um destes hormônios</p><p>que aparecem alterados, os estrogênios, interferem na metabolização dos fármacos, por</p><p>meio da redução da capacidade de metabolização enzimática. A consequência observada</p><p>é o acúmulo do fármaco no organismo materno.</p><p>Figura 3</p><p>Fonte: iStock/Getty Images</p><p>9</p><p>UNIDADE</p><p>Aspectos Gerais da Farmacologia na Gravidez e Amamentação</p><p>Quando falamos de uso de medicamentos durante a gravidez e seus efeitos, preci-</p><p>samos ter em mente de que forma o fármaco interage com o sistema materno e como</p><p>ele pode atingir o embrião ou feto. Esta interação envolve um órgão elementar nesse</p><p>processo, a placenta. “O que é denominado placenta seria a estruturaç ã o de um ó rgã o</p><p>efê mero constituí do por conjunto de estruturas, maternas em parte, e fetais, por outra”</p><p>(DOUGLAS, 2006). A placenta liga-se ao feto por meio do cordão umbilical e exerce</p><p>funções essenciais para o desenvolvimento do feto, como nutrição, respiratória, excre-</p><p>tória, endócrina e imunológica. A interface que a placenta apresenta como característica</p><p>acaba por ser a principal via de chegada do fármaco até o feto. A barreira placentária</p><p>é composta por uma membrana semipermeável, que atua de forma seletiva, isto é,</p><p>nem todas as substâncias são capazes de passar por ela.</p><p>Os mecanismos de passagem</p><p>de substâncias da mãe para o feto, por meio da placenta, são basicamente por difusão</p><p>simples, difusão facilitada, transporte ativo e endocitose. A concentração de fármaco a</p><p>atingir o feto é diretamente proporcional à concentração deste na corrente sanguínea da</p><p>mãe. As características físico-químicas do fármaco são importantes na determinação do</p><p>nível de exposição ao risco. Por exemplo, moléculas de alto peso molecular e hidrofílicas</p><p>têm uma baixa taxa de passagem pela placenta, como é o caso de bloqueadores neu-</p><p>romusculares e insulina. No entanto, a maioria das drogas parece atravessar a barreira</p><p>placentária, causando graus variáveis de exposição fetal (CAVALLI et al, 2006).</p><p>O principal risco associado ao uso de medicamentos durante a gravidez é a baixa</p><p>segurança de determinados fármacos. Isso reflete de forma devastadora no feto, podendo</p><p>causar má formações de órgãos e membros, outras deficiências e até mesmo o aborto.</p><p>Assim como na amamentação, a escolha de fármacos para o uso na gestação deve ser</p><p>feita com base na compatibilidade do fármaco e a segurança do mesmo. A orientação e</p><p>o acompanhamento da farmacoterapia se tornam as ferramentas mais importantes no</p><p>cuidado com a paciente gestante. O Ministério da Saúde lista algumas das orientações</p><p>que são fundamentais:</p><p>• “Na gravidez, nunca tome nenhum medicamento por conta própria, consulte</p><p>o médico responsável pelo pré-natal. Até mesmo os medicamentos que são</p><p>comprados sem receita médica podem ser prejudiciais ao bebê”.</p><p>• “Quando souber que está gravida, leve ao médico responsável o nome de todos os</p><p>medicamentos que você faz uso”.</p><p>• “Caso o medicamento receitado cause algum efeito colateral procure o médico</p><p>imediatamente”.</p><p>• Não use receita antiga para comprar medicamentos, mesmo que os sintomas</p><p>sejam parecidos com que você teve no passado, neste momento o médico fará uma</p><p>reavaliação.</p><p>• Caso haja conflito de informações entre o medicamento prescrito e as informações</p><p>da bula, retorne ao médico e questione.</p><p>10</p><p>11</p><p>Figura 4</p><p>Fonte: iStock/Getty Images</p><p>As informações sobre a indicação ou contraindicação devem ser informadas na</p><p>bula do medicamento. De acordo com a RDC Nº 60, DE 17 DE DEZEMBRO DE</p><p>2010, os medicamentos são categorizados conforme recomendação do Food and</p><p>Drug Administration (FDA), e devem receber as frases de alerta de acordo com o</p><p>respectivo risco. A mesma classificação é aplicada para medicamentos utilizados durante</p><p>a amamentação. A consulta desta RDC é importante para orientar e acompanhar no</p><p>momento da dispensação dos medicamentos.</p><p>Amamentação</p><p>Sabe-se que o leite materno é a fonte de alimento essencial para o recém-nascido,</p><p>por meio dele, o bebê obtém os nutrientes necessários para seu desenvolvimento. O</p><p>leite materno é produzido nos alvéolos, e é levado até os seios lactíferos por uma rede</p><p>de ductos galactófaros. O estímulo da liberação do leite é mediada por hormônios, em</p><p>especial a oxitocina e a prolactina (DOUGLAS, 2006). A composição do leite materno</p><p>é, basicamente, formada de proteínas, carboidratos, vitaminas, minerais, enzimas</p><p>digestivas e hormônios, além das células imunológicas e anticorpos que se apresentam</p><p>em grande quantidade (MARTIN et al., 2016). De acordo com o Ministério da Saúde e</p><p>a Organização Mundial de Saúde, recomenda-se que o aleitamento materno ocorra de</p><p>forma exclusiva até os seis meses de vida do bebê (BRASIL, 2015).</p><p>11</p><p>UNIDADE</p><p>Aspectos Gerais da Farmacologia na Gravidez e Amamentação</p><p>Figura 5</p><p>Fonte: iStock/Getty Images</p><p>Um ponto relevante é que muitas vezes observamos a necessidade de a mãe ser</p><p>medicada durante o período de amamentação. Para que esse evento ocorra com a maior</p><p>margem de segurança possível, é necessário avaliar os riscos das medicações a serem</p><p>empregadas, bem como a farmacologia durante a amamentação. Durante o período de</p><p>lactação, a composição do leite pode variar (proteínas, lipídeos etc.).</p><p>Fases do leite materno:</p><p>Colostro: Ocorre nos primeiros dias após o parto e é rico em proteínas, vitaminas e</p><p>minerais, imunoglobulinas e agentes antimicrobianos, além de ser mais viscoso quando</p><p>comparado ao leite maduro. Nesta fase, os fármacos são transferidos com maior facilida-</p><p>de para o leite, pois as células alveolares são menores e o espaço intersticial é maior. A</p><p>quantidade de fármaco que passa do plasma para o leite e que chega até o bebê no caso</p><p>do colostro é pequena, devido ao baixo volume de produção (CHAVES et al, 2007).</p><p>Leite de transição: É o leite produzido após o quinto dia até o décimo dia após o</p><p>parto; a composição deste leite sofre mudanças de forma gradual, e por esse motivo</p><p>é denominado leite de transição. É o leite produzido entre intermedia a passagem do</p><p>colostro para o leite maduro (CALIL et al, 2003).</p><p>Leite maduro: Por convenção, é o leite produzido a partir do décimo quinto dia de</p><p>vida do bebê.</p><p>12</p><p>13</p><p>Figura 6</p><p>Fonte: iStock/Getty Images</p><p>Quando falamos do emprego de fármacos durante a fase de amamentação, é impor-</p><p>tante recordar que as características físico-químicas dos fármacos são fatores importan-</p><p>tes nesse processo de passagem, do plasma para o leite materno, e deve-se considerar:</p><p>• Peso molecular;</p><p>• Lipossolubilidade;</p><p>• Capacidade de ligação às proteínas;</p><p>• Grau de ionização;</p><p>• Meia vida de eliminação;</p><p>• Biodisponibilidade;</p><p>• Concentração plasmática materna.</p><p>A passagem do fármaco para o leite materno é bidirecional, e o fato retirar o leite</p><p>e descartar, não necessariamente acelera a eliminação do fármaco, esse é um ponto</p><p>importante embora as quantidades que efetivamente alçam o leite materno de uma</p><p>forma geral sejam baixas (CHAVES et al, 2007).</p><p>Existem algumas formas de quantificar o fármaco que passa do plasma para o leite;</p><p>embora tenham limitações na aplicação prática, servem de base para estimativa.</p><p>13</p><p>UNIDADE</p><p>Aspectos Gerais da Farmacologia na Gravidez e Amamentação</p><p>Razão leite – plasma Dose relativa do lactente (%)</p><p>Concentração do fármaco no leite/</p><p>Concentração do fármaco no plasma</p><p>Dose absoluta no lactente (μg/kg/dia)/dose materna</p><p>(μg/kg/dia)x100</p><p>O resultado expressa o número de vezes</p><p>da concentração do fármaco no leite</p><p>em relação à concentração no plasma</p><p>O resultado em % expressa o quanto da dose materna</p><p>de fármaco é recebido pelo lactente</p><p>Não leva em consideração</p><p>a toxicidade do fármaco</p><p>Considera que a mãe e o lactente possuem a mesma absorção,</p><p>excreção e metabolização, o que sabemos que na prática não acontece.</p><p>Fonte: CHAVES et al, 2007</p><p>Os fármacos, de forma geral, podem passar do plasma para o leite, e devemos</p><p>considerar os possíveis meios (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010):</p><p>• Difusão transmembrana - moléculas pequenas não ionizadas e hidrossolúveis</p><p>(etanol, ureia) atravessam os poros da membrana celular por difusão.</p><p>• Difusão passiva - moléculas pequenas ionizadas e proteínas menores atravessam a</p><p>membrana celular basal pelos canais aquosos; sendo este o principal mecanismo</p><p>para passagem de um fármaco para o leite materno.</p><p>• Difusão intercelular - moléculas grandes podem aparecer no leite humano, por</p><p>exemplo, imunoglobulinas, interferon, cuja passagem ocorre entre as células e não</p><p>através delas.</p><p>• Ligação com proteínas carreadoras - substâncias polares penetram nas membranas</p><p>celulares ligadas a proteínas carreadoras.</p><p>Figura 7</p><p>Fonte: iStock/Getty Images</p><p>Os fármacos podem ser classificados de acordo com a sua margem de segurança</p><p>para o uso durante a amamentação como: Nível 1, 2, 3, 4 e 5, sendo o Nível 1 mais</p><p>seguro e o 5, o nível mais contraindicado (CHAVES et al, 2007).</p><p>14</p><p>15</p><p>Para a prescrição de medicamentos a lactantes, é importante tomar medidas de</p><p>segurança tendo em vista que o fármaco pode atingir, mesmo que em pequenas doses, o</p><p>lactente. No caso dos medicamentos isentos de prescrição médica, o cuidado farmacêutico</p><p>deve ser muito maior. Vale lembrar que a medicação, em caso de amamentação, deve</p><p>ser feita somente quando há necessidade do uso.</p><p>É importante que o profissional farmacêutico tenha essas informações</p><p>para auxiliar</p><p>no momento da dispensação do medicamento e na orientação ao paciente. Dessa forma,</p><p>é importante para conscientizar da importância do uso racional de medicamentos, e dos</p><p>possíveis impactos no bebê, por meio da amamentação.</p><p>Para saber quais os medicamentos que o Ministério da Saúde classifica como compatíveis</p><p>com a amamentação, consulte o link: https://goo.gl/FUeKN9</p><p>Não deixe de conhecer quais são os medicamentos mais prescritos,</p><p>isso é muito importante para a prática farmacêutica.</p><p>Riscos Relacionados ao Uso de</p><p>Medicamentos Durante a Gravidez</p><p>Teratogenicidade e Mutagenicidade e Carcinogenicidade</p><p>Quando falamos de fármacos empregados durante a gravidez, é necessário lembrar</p><p>que o organismo é dinâmico e o processo de desenvolvimento do feto está acontecendo</p><p>em paralelo à exposição aos agentes potencialmente nocivos.</p><p>De acordo com Toralles et al (2009) “Agente teratogênico é definido como qualquer</p><p>substância, organismo, agente físico ou estado de deficiência que, estando presente durante</p><p>a vida embrionária ou fetal, produz alteração na estrutura ou função da descendência”.</p><p>Os “Carcinó genos genotó xicos sã o agentes iniciantes que causam danos ao DNA.</p><p>Podem ser subdivididos de acordo com sua reatividade, isto é , carcinó genos diretos –</p><p>aqueles que se ligam diretamente ao DNA sem serem previamente metabolizados –, e</p><p>carcinó genos indiretos – aqueles que requerem metabolizaç ã o para se tornarem reativos</p><p>com o DNA. Os agentes mutagênicos atuam durante o ciclo celular, podendo provocar</p><p>um erro de leitura de DNA ou quebra das fitas de DNA (KLAASSEN e WATKINS, 2009).</p><p>15</p><p>UNIDADE</p><p>Aspectos Gerais da Farmacologia na Gravidez e Amamentação</p><p>Figura 8</p><p>Fonte: iStock/Getty Images</p><p>Os mecanismos de teratogênese e mutagêse e carcinogênese estão diretamente</p><p>relacionados com alterações em nível celular, em especial no DNA, e incluem mutaç õ es,</p><p>quebras cromossô micas, mitoses alteradas, alteraç õ es na integridade ou funç ã o do á cido</p><p>nucleico, diminuiç ã o do fornecimento de precursores ou substratos, diminuiç ã o do</p><p>fornecimento de energia, alteraç ã o das caracterí sticas da membrana, desequilí brio osmolar</p><p>e inibiç ã o enzimá tica (KLAASSEN e WATKINS, 2009). As lesões celulares causadas por</p><p>fármacos teratogênicos podem ocorrer em outras etapas do desenvolvimento, mas em</p><p>geral o efeito no início do desenvolvimento do embrião pode gerar rápidas respostas</p><p>patogências no embrião (KLAASSEN e WATKINS, 2009). Os efeitos observados podem</p><p>ser variados de acordo com o nível de exposição ao agente teratogênico e o estágio</p><p>de desenvolvimento do embrião ou feto, e o mecanismo de patogenia do fármaco e</p><p>fatores genotípicos da mãe e do bebê, podendo ocorrer aborto, deficiência mental, má</p><p>formação de membros superiores e ou inferiores, retardo no crescimento intra-uterino,</p><p>entre outros (TORALLES et al, 2009).</p><p>Como vimos anteriormente com o caso da talidomida, pode também ocorrer com</p><p>outros fármacos que apresentam este efeito, e precisam ser monitorados quanto ao</p><p>uso em mulheres em idade fértil. Outro exemplo é o Misoprostol (Cytotec), um análogo</p><p>sintético da prostaglandina E1, utilizado para prevenção e tratamento de úlceras</p><p>estomacais. Foi identificado seu efeito abortivo, e por isso a sua comercialização é</p><p>proibida por lei, desde 2005, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).</p><p>Qualquer tipo de comercialização que não seja hospitalar deste medicamento implicará</p><p>em infração sanitária gravíssima, podendo ser enquadrada no código penal art. 273</p><p>(ANVISA, 2017).</p><p>16</p><p>17</p><p>Eventualmente você pode receber na drogaria alguém em busca do Cytotec sobre algum</p><p>tipo de pretexto, fique alerta sobre a proibição de compra e venda deste medicamento e</p><p>aproveite para orientar sobre os ricos à saúde e as punições previstas por lei.</p><p>Para saber mais sobre os últimos acontecimentos envolvendo o Cytotec, acesse:</p><p>https://goo.gl/KBzo9z</p><p>Outros exemplos de medicamentos teratogênicos:</p><p>• Talidomida</p><p>• Misoprostol</p><p>• Antialérgicos</p><p>• Antifúngicos</p><p>• Anti-hipertensivos</p><p>• Anticoagulantes</p><p>• Retinoicos sistêmicos</p><p>De acordo com o FDA, os medicamentos devem ser categorizados de acordo com os</p><p>riscos que oferecem em relação ao seu uso durante a gravidez. A ANVISA adotou esta</p><p>definição para regulamentação dos medicamentos comercializados no Brasil. A RDC</p><p>Nº 60, DE 17 DE DEZEMBRO DE 2010 “Estabelece frases de alerta para princípios</p><p>ativos e excipientes em bulas e rotulagem de medicamentos”, descreve as cinco</p><p>categorias, conforme estabelecido pelo FDA:</p><p>Categoria A de risco na gravidez: em estudos controlados em mulheres grávidas, o</p><p>fármaco não demonstrou risco para o feto no primeiro trimestre de gravidez. Não há</p><p>evidências de risco nos trimestres posteriores, sendo remota a possibilidade de dano fetal;</p><p>Categoria B de risco na gravidez: os estudos em animais não demonstraram risco</p><p>fetal, mas também não há estudos controlados em mulheres grávidas; ou então, os</p><p>estudos em animais revelaram riscos, mas que não foram confirmados em estudos</p><p>controlados em mulheres grávidas;</p><p>Categoria C de risco na gravidez: não foram realizados estudos em animais e nem em</p><p>mulheres grávidas; ou então, os estudos em animais revelaram risco, mas não existem</p><p>estudos disponíveis realizados em mulheres grávidas;</p><p>Categoria D de risco na gravidez: o fármaco demonstrou evidências positivas de risco</p><p>fetal humano, no entanto, os benefícios potenciais para a mulher podem, eventualmente,</p><p>justificar o risco, como, por exemplo, em casos de doenças graves ou que ameaçam a</p><p>vida, e para as quais não existem outras drogas mais seguras;</p><p>Categoria X de risco na gravidez: em estudos em animais e mulheres grávidas, o</p><p>fármaco provocou anomalias fetais, havendo clara evidência de risco para o feto, que é</p><p>maior do que qualquer benefício possível para a paciente (ANVISA, 2010).</p><p>17</p><p>UNIDADE</p><p>Aspectos Gerais da Farmacologia na Gravidez e Amamentação</p><p>É fundamental que o profissional farmacêutico entenda e conheça os riscos e os</p><p>impactos do uso de medicamentos durante a gravidez, para que seja eficiente e eficaz na</p><p>execução do seu papel de orientar e educar a população quanto ao uso de medicamentos</p><p>nesta condição, e ainda, sobre os perigos da automedicação.</p><p>Não deixe de consultar a RDC Nº 60, DE 17 DE DEZEMBRO 2010: https://goo.gl/HqCj9V,</p><p>para obter mais informações, inclusive o anexo desta resolução, pois lá você encontrará a</p><p>categorização dos medicamentos comercializados no Brasil, uma ferramenta útil para o</p><p>exercício da sua profissão.</p><p>Conclusão</p><p>Durante muito tempo, não se conheceu completamente os efeitos adversos dos</p><p>medicamentos, bem como seus impactos antes de sua comercialização. Com o advento</p><p>do desenvolvimento de novas moléculas, esse risco ficou ainda maior. Com a introdução</p><p>dos testes clínicos, muitos efeitos foram conhecidos, puderam ser monitorados e a partir</p><p>dos resultados decisões importantes foram tomadas.</p><p>Com a tragédia da Talidomida, as atenções se voltaram para uma área pouco</p><p>explorada por conta das limitações experimentais, a farmacoterapia na gravidez. Foi</p><p>o início de grande mobilização mundial no sentido de garantir a segurança e a eficácia</p><p>do medicamento. A indústria farmacêutica passou a ser cobrada por parte dos órgãos</p><p>governamentais, e o alerta ficou para todos, a automedicação pode trazer sérios prejuízos</p><p>à saúde, e quando tratamos de gestante, esse agravo é ainda maior.</p><p>Todo esse cenário, resgatou a importância de adotar medidas preventivas a fim</p><p>de orientar a população quanto ao uso racional de medicamentos. Neste contexto, o</p><p>profissional farmacêutico surge como um orientador, sendo capaz de entender os riscos</p><p>e de acompanhar a farmacoterapia aplicada a gestantes.</p><p>18</p><p>19</p><p>Figura 9</p><p>Fonte: iStock/Getty Images</p><p>Os aspectos farmacológicos observados durante a gravidez e a amamentação são</p><p>ferramentas importantes para a escolha do fármaco ideal e para a tomada de decisões.</p><p>Atualmente, com a classificação dos medicamentos quanto ao risco, a prescrição</p><p>médica</p><p>se torna mais segura e a dispensação mais responsável. E mais uma vez fica</p><p>evidenciada a importância do profissional farmacêutico no acompanhamento da</p><p>farmacoterapia aplicada a gestantes e lactantes, somando esforços para garantir a</p><p>segurança do tratamento e a promoção da saúde.</p><p>19</p><p>UNIDADE</p><p>Aspectos Gerais da Farmacologia na Gravidez e Amamentação</p><p>Material Complementar</p><p>Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:</p><p>Sites</p><p>Proibida Venda Online de Cytotec</p><p>ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária.</p><p>https://goo.gl/KBzo9z</p><p>Transferência Placentária de Drogas</p><p>CAVALLI, Ricardo de Carvalho; BARALDI, Cláudia de Oliveira; CUNHA, Sérgio Pereira</p><p>da. Transferência placentária de drogas. Rev. Bras. Ginecol. Obstet., Rio de Janeiro, v.</p><p>28, n. 9, p. 557-564, Sept. 2006.</p><p>https://goo.gl/vcDYio</p><p>A Importância do Serviço de Informações sobre Agentes Teratogênicos, Bahia, Brasil, na</p><p>Prevenção de Malformações Congênitas: Análise dos Quatro Primeiros Anos de Funcionamento</p><p>TORALLES, Maria Betânia, TRINDADE, B. M. C., FADUL, L. C., PEIXOTO JUNIOR,</p><p>C. F., SANTANA, M. A. C. C. D., & ALVES, C. D. A importância do Serviço de In-</p><p>formações sobre Agentes Teratogênicos, Bahia, Brasil, na prevenção de malformações</p><p>congênitas: análise dos quatro primeiros anos de funcionamento. Cad. Saúde Pública,</p><p>Rio de Janeiro, v.25, n.1, p.105-110, 2009.</p><p>https://goo.gl/obKV85</p><p>Leitura</p><p>Medicamentos e Amamentação</p><p>CHAVES, Roberto Gomes; LAMOUNIER, Joel Alves; CÉSAR, Cibele Comini.</p><p>Medicamentos e amamentação: atualização e revisão aplicadas à clínica materno-infantil.</p><p>Revista Paulista de Pediatria, v. 25, n. 3, p. 276-288, 2007.</p><p>Talidomida no Brasil</p><p>OLIVEIRA, Maria Auxiliadora; BERMUDEZ, Jorge Antônio Zepeda; SOUZA, Arthur</p><p>Custódio Moreira de. Talidomida no Brasil: vigilância com responsabilidade compartilhada?</p><p>Cadernos de Saúde Pública, v. 15, n. 1, p. 99-112, 1999.</p><p>20</p><p>21</p><p>Referências</p><p>ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RESOLUÇÃO - RDC Nº 60,</p><p>DE 17 DE DEZEMBRO DE 2010. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/</p><p>saudelegis/anvisa/2010/res0060_17_12_2010.html>. Acessado em 21 de agosto</p><p>de 2017.</p><p>ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Informações sobre Cytotec.</p><p>Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/>. Acessado em 5 de agosto de 2017</p><p>ABPST - Associação Brasileira de Portadores da Síndrome da Talidomida. O que é</p><p>talidomida. Disponível em: <http://www.talidomida.org.br/oque.asp>. Acessado em</p><p>10 de agosto de 2017.</p><p>ABVT - Associação Brasileira das Vítimas da Talidomida. Vítimas da Talidomida.</p><p>Disponível em: <https://abvt.wordpress.com/vitimas-da-talidomida/>. Acessado em</p><p>10 de agosto de 2017.</p><p>BARREIRO, Eliezer J.; FERREIRA, Vitor F.; COSTA, Paulo RR. Substâncias</p><p>enantiomericamente puras (SEP): a questão dos fármacos quirais. Química nova, v.</p><p>20, n. 6, p. 647-655, 1997.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de</p><p>Atenção Básica. Saúde da criança: aleitamento materno e alimentação complementar</p><p>/ Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção</p><p>Básica. – 2ª ed. – Brasília: Ministério da Saúde, 2015.</p><p>CALIL, Valdenise Martins Laurindo Tuma; FALCÃO, Mário Cícero. Composição do</p><p>leite humano: o alimento ideal. Revista de Medicina, v. 82, n. 1-4, p. 1-10, 2003.</p><p>CAVALLI, Ricardo de Carvalho; BARALDI, Cláudia de Oliveira; CUNHA, Sérgio</p><p>Pereira da. Transferência placentária de drogas. Rev. Bras. Ginecol. Obstet., Rio</p><p>de Janeiro, v. 28, n. 9, p. 557-564, Sept. 2006. Disponível em: <http://www.</p><p>scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-72032006000900009&lng=</p><p>en&nrm=iso>. Acessado em 22 Aug. 2017. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-</p><p>72032006000900009.</p><p>CHAVES, Roberto Gomes; LAMOUNIER, Joel Alves; CÉSAR, Cibele Comini.</p><p>Medicamentos e amamentação: atualização e revisão aplicadas à clínica materno-</p><p>infantil. Revista Paulista de Pediatria, v. 25, n. 3, p. 276-288, 2007.</p><p>DOUGLAS, Carlos Roberto. Tratado de Fisiologia Aplicada às Ciências Médicas.</p><p>6ª edição, Guanabara Koogan, 2006. ISBN: 9788527717816.</p><p>KLAASSEN, Curtis D.; WATKINS III, John B. Fundamentos em Toxicologia de</p><p>Casarett e Doull (Lange). AMGH Editora, 2009.</p><p>KULAY JR., Luiz; KULAY, Maria Nice Caly, LAPA, Antonio José. Medicamentos na</p><p>Gravidez e na Lactação: Guia Prático, 3ª edição, Editora Manole, 2012.</p><p>21</p><p>UNIDADE</p><p>Aspectos Gerais da Farmacologia na Gravidez e Amamentação</p><p>MARTIN, Camilia R.; LING, Pei-Ra; BLACKBURN, George L. Review of infant fee-</p><p>ding: key features of breast milk and infant formula. Nutrients, v. 8, n. 5, p. 279, 2016.</p><p>MINISTÉRIO DA SAÚDE. Amamentação e Uso de Medicamentos e Outras Substâncias.</p><p>Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas, 2ª edição, Série A. Normas e</p><p>Manuais Técnicos. Brasília – DF, 2010.</p><p>MOORE, Keith; PERSAUD, Trivedi Vidhya Nandan. Embriologia clínica. Elsevier</p><p>Brasil, 2016.</p><p>OLIVEIRA, Maria Auxiliadora; BERMUDEZ, Jorge Antônio Zepeda; SOUZA, Arthur</p><p>Custódio Moreira de. Talidomida no Brasil: vigilância com responsabilidade comparti-</p><p>lhada? Cadernos de Saúde Pública, v. 15, n. 1, p. 99-112, 1999.</p><p>TORALLES, Maria Betânia, TRINDADE, B. M. C., FADUL, L. C., PEIXOTO JUNIOR,</p><p>C. F., SANTANA, M. A., & ALVES, C. D. A importância do Serviço de Informações</p><p>sobre Agentes Teratogênicos, Bahia, Brasil, na prevenção de malformações congênitas:</p><p>análise dos quatro primeiros anos de funcionamento. Cad. Saúde Pública, Rio de</p><p>Janeiro, v. 25, n. 1, p. 105-110, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/</p><p>scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2009000100011&lng=en&nrm=i</p><p>so>. Acessado em: 22 de agosto de 2017. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-</p><p>311X2009000100011.</p><p>22</p>