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<p>HISTÓRIA</p><p>DA ARTE</p><p>Priscila Farfan Barroso</p><p>Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB-10/2147</p><p>B277h Barroso, Priscila Farfan.</p><p>História da Arte / Priscila Farfan Barroso, Hudson de</p><p>Souza Nogueira ; [revisão técnica: Max Elisandro dos Santos</p><p>Ribeiro]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018.</p><p>221 p. ; il. ; 22,5 cm.</p><p>ISBN 978-85-9502-297-3</p><p>1. Arte – História. I. Nogueira, Hudson de Souza.</p><p>II. Título.</p><p>CDU 7</p><p>Revisão técnica:</p><p>Max Elisandro dos Santos Ribeiro</p><p>Licenciatura Plena em História</p><p>Especialista em Gestão e Tutoria EaD</p><p>Mestre em Educação</p><p>HA_Iniciais_Impressa.indd 2 12/01/2018 17:08:09</p><p>Barroco</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p>� Identificar as características da arte barroca no contexto europeu.</p><p>� Reconhecer os tipos de manifestações artísticas produzidas no Barroco.</p><p>� Descrever a arte barroca no Brasil e os seus principais artistas.</p><p>Introdução</p><p>Após as reformas religiosas do século XVI, a Igreja Católica retomou a</p><p>valorização de suas ideias por meio do movimento da contrarreforma.</p><p>Assim, as obras de arte barrocas eram consideradas mediadoras</p><p>entre a humanidade e Deus.</p><p>Neste capítulo, você vai entender como o período Barroco desabro-</p><p>chou na Europa e chegou até o Brasil com obras de arte repletas de cores</p><p>e detalhes rebuscados.</p><p>Início da arte Barroca</p><p>O Barroco ocorrei entre o final do século XVI e meados do século XVIII.</p><p>Nesse período, a arte se desenvolveu primeiramente nas artes plásticas e</p><p>depois na música, no teatro e na literatura. Barbara Borngässer (2004, p. 7)</p><p>apresenta o barroco dizendo que:</p><p>A metáfora do “teatro do mundo” percorre toda a chamada época barroca,</p><p>que vai dos finais do século XVI até o último quartel do século XVIII. Época</p><p>marcada por contradições que se entrecruzam tanto no palco quanto nos</p><p>bastidores. Ser e parecer, pompa e despojamento, poder e potência são as</p><p>constantes antagônicas desse período. Num mundo abalado por conflitos</p><p>sociais, por lutas religiosa e todo tipo de guerras, o espetáculo gigantesco do</p><p>teatro do mundo (o Barroco) propunha-se como um esteio. A auto encenação</p><p>do príncipe, fosse ele papa ou rei constituía em si mesmo um programa político.</p><p>O cerimonial a etiqueta deste teatro universal, funcionava como um espelho</p><p>de uma ordem superior pretensamente determinada por Deus.</p><p>HA_U2_C07.indd 87 12/01/2018 15:43:58</p><p>Após as reformas religiosas de XVI, que tiveram início na Alemanha e</p><p>se expandiram por outros países, a Igreja Católica estabeleceu o Concílio de</p><p>Trento, convocado pelo papa Paulo III, em 1542. O Concílio de Trento rea-</p><p>firmava a doutrina católica e a organização da igreja, negando as mudanças</p><p>doutrinais realizadas pelos reformistas e confirmando os sete sacramentos,</p><p>o culto a virgem Maria e aos santos. Portanto, a Itália foi o berço da arte</p><p>Barroca, tendo se disseminado por outros países europeus como a Holanda,</p><p>a Bélgica, a França e a Espanha.</p><p>A Igreja Católica retomou sua força e novas grandes igrejas foram edi-</p><p>ficadas. A arte foi, então, usada para propagar o catolicismo e ampliar suas</p><p>influências, pois uma antiga tradição afirmava que as imagens de santos,</p><p>esculpidas ou pintadas, eram intermediários para uma comunicação plena dos</p><p>homens com as esferas espirituais. Francastel (1973, p. 421) reforça essa questão:</p><p>Maravilhoso meio de propaganda e de expressão, a arte desempenhou a partir</p><p>do final do século XVI um papel considerável na resistência das multidões</p><p>cristãs à difusão de uma religião por demais abstrata, ao mesmo tempo em</p><p>que na resistência dos espíritos livres à difusão de uma doutrina demasiado</p><p>hostil às solicitações da natureza humana.</p><p>Embora tenha sido um movimento de caráter religioso, mudanças em outros</p><p>setores da cultura europeia ocorreram. Diante da disputa religiosa, se deu a</p><p>criação dos Estados nacionais e dos governos absolutos. Essa forma de governo</p><p>propunha que cada nação se libertasse da submissão ao papa e eliminando</p><p>os mosteiros, que eram considerados como medida abusiva e fortalecendo a</p><p>vida espiritual. Assim, além dos católicos, conviviam no continente europeu</p><p>luteranos, calvinistas, anglicanos e outras religiões, conforme você pode</p><p>observar na Figura 1.</p><p>Barroco88</p><p>HA_U2_C07.indd 88 12/01/2018 15:43:58</p><p>Figura 1. Mapa europeu no século XVI.</p><p>Fonte: Wiki Mouse (c2017).</p><p>O estilo Barroco corresponde ao absolutismo da época e chama a atenção</p><p>pelo seu esplendor exuberante. Pode se dizer, que esse estilo deu continuidade</p><p>ao Renascimento, já que os dois estilos tiveram um grande interesse pela arte</p><p>da Antiguidade Clássica, mas há diferenças entre eles:</p><p>O Renascimento é identificado com o imitativo, com as formas construídas e</p><p>fechadas, próprios dos países mediterrâneos; o barroco é decorativo, de formas</p><p>livres, característicos dos países do Norte da Europa. Essas duas categorias</p><p>não têm necessariamente uma referência temporal, reaparecem ciclicamente</p><p>ao longo da história da arte (SILVA, 1989, p. 16).</p><p>O Barroco marca um período histórico e um movimento sociocultural,</p><p>por meio do qual aparecem novos modos de entender o mundo, o homem e</p><p>Deus. Nesse sentido, a arte Barroca faz referência à tradição clássica, e almeja</p><p>ultrapassá-la com a criação de obras originais. As pinturas e esculturas barrocas</p><p>são detalhistas, rebuscadas e expressam emoções do ser humano e da vida,</p><p>conforme representado na Figura 2.</p><p>89Barroco</p><p>HA_U2_C07.indd 89 12/01/2018 15:44:00</p><p>Figura 2. Alegoria da obra missionária dos jesuítas, Andrea Pozzo.</p><p>Fonte: Pozzo (1691).</p><p>O período final do Barroco, no século XVIII, é denominado de Rococó,</p><p>pois apresenta algumas peculiaridades como a presença de curvas e muitos</p><p>detalhes decorativos, como conchas, flores, folhas, ramos e temas ligados a</p><p>mitologia grega e romana. Os temas das obras dos artistas barrocos europeus</p><p>são passagens da bíblia, história da humanidade e questões da mitologia. Os</p><p>artistas desse período, patrocinados pelos clero, burgueses e monarcas, valo-</p><p>rizavam as cores, as sombras e a luz, representando os contrastes. As imagens</p><p>aparecem de um modo dinâmico, valorizando o movimento.</p><p>Tipos de artes no Barroco europeu</p><p>A arquitetura barroca traz as formas clássicas (colunas, arcos, frontões, frisos)</p><p>já estabelecidas em outros períodos, mas as evidencia por meio de um aspecto</p><p>mais fantasioso e subjetivo, que dá a ideia de movimento e elucida as curvas</p><p>em suas edificações. Nessa arte, é fundamental reconhecer a importância do</p><p>uso da luz, aplicadas em fortes contrastes entre o claro iluminado e o escuro,</p><p>sendo uma técnica utilizada em edifícios da época para dar mais dramaticidade</p><p>à atmosfera artística.</p><p>Havia uma preocupação com a integração da obra à urbanidade, de modo</p><p>que suas construções eram mais espaçosas e organizadas, facilitando a circula-</p><p>ção dos cidadãos. Ao mesmo tempo, esse aspecto monumental se aliava a força</p><p>Barroco90</p><p>HA_U2_C07.indd 90 12/01/2018 15:44:00</p><p>visual das imagens pintadas, trazendo novas paisagens na cidade. A magnitude</p><p>expressa na obra também tinha como intenção representar a autoridade papal</p><p>e reforçar os aspectos defendidos pelo movimento da contrarreforma.</p><p>Assim, pode-se dizer que a arquitetura Barroca é caracterizada pela cons-</p><p>trução com efeitos impactantes e teatrais, com o uso de contrastes entre cheios</p><p>e vazios, formas convexas e côncavas, luz e sombra, decorações e integração</p><p>entre as artes e o aspecto ilusionista para compor a obra. Ressalta-se, ainda,</p><p>o rebuscamento e orçamento das obras, como os da cúpula da igreja de São</p><p>Lourenço, em Turim, na Itália, em que o entrelaçar de arcos, leva ao limite da</p><p>forma, mas com base em regras bem definidas, conforme você pode observar</p><p>na Figura 3.</p><p>Figura 3. Interior da cúpula da igreja de São Lourenço, em Turim, Itália.</p><p>Fonte: Eddy Galeotti/Shutterstock.com.</p><p>Na França, o Barroco tem características mais sóbrias do que na Itália. Os</p><p>arquitetos franceses tiveram um estilo mais</p><p>em um sentimento de grande tensão permanente transpa-</p><p>recendo irreal;</p><p>� luz incidindo sobre alguns objetos e figuras, produzindo sombras irreais;</p><p>� os protagonistas da pintura já não mais posicionados no centro da</p><p>perspectiva;</p><p>� rostos melancólicos e misteriosos;</p><p>� corpos representados como figuras esguias e alongadas com contrastes</p><p>cromáticos fortes;</p><p>� expressões fisionômicas densas, acentuando as emoções e os músculos,</p><p>e fazendo contorções impróprias dos seres humanos.</p><p>O Maneirismo foi um estilo muito expressivo, um movimento artístico com</p><p>vestígios da arte moderna. Um desses artistas foi Giuseppe Arcimboldo, que</p><p>pintava as cabeças humanas a partir da soma de materiais, vegetais e outros</p><p>artefatos, conforme você pode observar na Figura 1. Hocke interpreta um</p><p>pouco mais a produção desse artista:</p><p>Arcimboldo é um exemplo típico de imitazione fantástica em que Praga pin-</p><p>tara figuras humanas aproveitando-se de frutas, plantas, animais e de outros</p><p>objetos. [...] Arcimboldo apresenta-se como mestre de uma metamorfose total.</p><p>A força do ‘fantástico’ tem o direito de aproveitar tudo aquilo que é percebido</p><p>pelos sentidos, de reuni-lo, de compô-lo sob nova forma. Arcimboldo não pinta</p><p>coisas tiradas da fantasia, mas ele procura relacionar objetos aparentemente</p><p>incompatíveis (HOCKE, 2005, p. 76).</p><p>Maneirismo e Rococó116</p><p>HA_U2_C09.indd 116 12/01/2018 15:44:26</p><p>Figura 1. As quatro estações, de Arcimboldo.</p><p>Fonte: Ondevivo Delivery (2013).</p><p>Outro artista do período maneirista foi Doménikos Theotokópoulos, conhecido</p><p>como El Greco. Ele criou seu próprio estilo, colocando, em suas pinturas, tons</p><p>expressivos e dramáticos; desenhou pessoas com formas tortuosas e alongadas;</p><p>uniu as tradições artísticas europeias e bizantinas; usou a dramaticidade e valo-</p><p>rizou as emoções e os sentimentos; fez uso de técnicas de luminosidade, em que</p><p>não possível o observador visualizar a luminosa; supervalorizou as cores; e usou</p><p>temas religiosos, retratos e paisagens. Observe uma de suas obras na Figura 2.</p><p>Figura 2. A agonia no jardim, de El Greco.</p><p>Fonte: WahooArt (c2017).</p><p>117Maneirismo e Rococó</p><p>HA_U2_C09.indd 117 12/01/2018 15:44:27</p><p>No link a seguir, veja o programa Pinceladas de arte e</p><p>aprofunde seus conhecimentos sobre a obra O enterro</p><p>do Conde de Orgaz, de El Grego, para compreender as</p><p>peculiaridades desse artista maneirista.</p><p>https://goo.gl/EgZDbq</p><p>Estilo Rococó e suas características</p><p>O Rococó é um movimento artístico que nasceu em Paris no século XVIII.</p><p>Esse movimento surgiu na Europa e migrou para a América, lá permanecendo</p><p>por até meados do século XIX. Para compreender esse movimento, você tem</p><p>que saber que o reinado de Luis XIV, na França, foi autoritário e centralizador,</p><p>de modo que o próprio rei impunha aos artistas da época uma feição mais</p><p>clássica. Neste momento, os clientes desses artistas eram homens de negócios</p><p>e banqueiros, que os incluíam na sociedade aristocrática.</p><p>Portanto, como a produção artística da arte barroca muitas vezes era exa-</p><p>gerada e excessiva, buscou-se um novo estilo, que fosse mais elegante e suave.</p><p>Dessa forma, surge o Rococó, que se constitui como um estilo que expressa</p><p>sensualidade, delicadeza, elegância e graça, além de se preocupar com os</p><p>pormenores decorativos. Nesse estilo também foram produzidos quadros</p><p>pequenos e estatuetas de porcelana de uso doméstico, conforme o gosto do</p><p>público aristocrático, como explica Pifano (1995, p. 401):</p><p>A busca do prazer e a consequente temporalidade reduzida ao instante não</p><p>são observadas apenas na pintura. Encontram-se presentes em meio àquela</p><p>sociedade para a qual a arte rococó é produzida, ou seja, a aristocracia e a</p><p>alta burguesia. Assim, inaugura-se o reino dos salões onde a vida mundana</p><p>é consagrada.</p><p>Os elementos que caracterizam o rococó estão na ouriversaria, na pin-</p><p>tura e no mobiliário. As cores suaves, as linhas curvas, as festas pomposas,</p><p>nos interiores dos hotéis da aristocracia parisienses, os pintores retratavam,</p><p>evidenciando todas as atitudes e costumes da sociedade com suas alegrias,</p><p>tristezas e prazeres. Conforme Eva Baur (2008, p. 9) “A arte de cultivar e</p><p>Maneirismo e Rococó118</p><p>HA_U2_C09.indd 118 12/01/2018 15:44:27</p><p>colocar a questão das aparências superficiais alcança uma maior concentração</p><p>e complexidade no Rococó.”.</p><p>O termo Rococó foi formado da palavra francesa rocaille, que significa</p><p>“concha”, em razão da técnica de incrustação de conchas e pedaços de vidro</p><p>para decoração de grutas artificiais. Os temas são escolhidos em função da</p><p>decoração, sendo em geral assuntos sentimentais e leves. Na composição da</p><p>obra, cabe as cores claras, as linhas curvas e a simetria. A novidade desse</p><p>estilo em relação ao momento anterior é destacada na análise de Proença</p><p>(2003, p. 115):</p><p>De fato, pode-se ver no Rococó um desenvolvimento natural do Barroco. Po-</p><p>rém, há entre esses dois estilos algumas características bem distintas. As cores</p><p>fortes da pintura barroca, por exemplo, na pintura rococó foram substituídas</p><p>por cores suaves e de tom pastel, como o verde-claro e o cor-de-rosa. Além</p><p>disso, o rococó deixa de lado os excessos de linhas retorcidas que expressam</p><p>as emoções humanas e busca formas mais leves e delicadas.</p><p>A arte Rococó mostra a preferência por cores claras, prevalecendo o azul,</p><p>o amarelo e o rosa, que irradiam grande suavidade. A elegância predomina e</p><p>surge a vontade artística de atingir a perfeição. As sedas e as rendas passam a</p><p>vestir as personagens dos quadros e ganham uma expressão significativa. Os</p><p>artistas conseguem o efeito do veludo e a transparência dos vestidos de seda</p><p>que são encontrados, principalmente, em tons pastéis. Observe um exemplo</p><p>na Figura 3.</p><p>119Maneirismo e Rococó</p><p>HA_U2_C09.indd 119 12/01/2018 15:44:27</p><p>Figura 3. A leitora, de Jean Fragonard.</p><p>Fonte: Everett – Art/Shutterstock.com.</p><p>Os escultores fazem obras de tamanhos menores e com cores luminosas,</p><p>focando em souvenir para lembranças, ao mesmo tempo em que abdicam</p><p>totalmente as linhas do barroco. Os materiais usados nesse momento são o</p><p>gesso e a madeira, uma vez que aceitam cores mais suaves em suas superfícies,</p><p>mas também são produzidas obras em mármore.</p><p>Na França, o estilo Rococó foi reconhecido como patrimônio nacional. Esse</p><p>estilo se difundiu com centros importantes de cultivo na Inglaterra, Áustria,</p><p>Itália e Alemanha, mas perdendo um pouco algumas das características ini-</p><p>ciais. Posteriormente, o estilo chegou a Península Ibérica, aos países nórdicos</p><p>e eslavos e, até mesmo, na América.</p><p>Em Portugal, o estilo Rococó aparece nos principais domínios artísticos: na</p><p>construção das talhas douradas de certas igrejas, feitas por notáveis artistas,</p><p>e nas esculturas ganítica (de granito), que decoram os edifícios.</p><p>No Brasil, o estilo Rococó teve início no século XIX, nas esculturas de</p><p>madeira e de pedra sabão, na pintura mural e na arquitetura. Os principais</p><p>nomes da escultura do estilo rococó, são o italiano Antonio Corradini, os</p><p>Maneirismo e Rococó120</p><p>HA_U2_C09.indd 120 12/01/2018 15:44:28</p><p>franceses Guillaume Coustou e Maurice Falconet e o brasileiro Antonio</p><p>Francisco Lisboa, o Aleijadinho, aprendiz do português José Coelho de</p><p>Noronha.</p><p>Para saber mais sobre os desdobramentos do estilo Rococó, leia o artigo “A moda do</p><p>século XVIII e sua relação com a arte Rococó na França”, de Laura Ferrazza de Lima (2012).</p><p>Manifestações artísticas do Rococó</p><p>A arquitetura no estilo Rococó se deu durante o Iluminismo, entre 1700 e</p><p>1780. Esse estilo, manifestou-se principalmente na decoração dos espaços</p><p>interiores, que eram revestidos de uma decoração minuciosa e muito orna-</p><p>mentada, rica em detalhes em grandes ambientes, como demonstra a Figura</p><p>4. Nas grandes construções, nas salas e nos salões, investiu-se nos formatos</p><p>ovais, as paredes foram cobertas com pinturas de cores suaves, luminosas e</p><p>claras. O ambiente ainda possui espelhos, tapeçarias, objetos de porcelana e</p><p>ornamentos nos estuques com motivos florais. A fachada dos edifícios reflete</p><p>um barroco sem exageros.</p><p>121Maneirismo e Rococó</p><p>HA_U2_C09.indd 121 12/01/2018 15:44:28</p><p>Figura 4. A Igreja de Wies, na Alemanha.</p><p>Fonte: Yury Dmitrienko/Shutterstock.com.</p><p>Nesse momento, o centro artístico do Rococó era Paris, sendo chamada</p><p>de “Capital das artes plásticas”. A França se tornou o país mais poderoso da</p><p>Europa em termos militares, culturais e artísticos. O movimento Rococó surgiu</p><p>com a obra do decorador Pierre Lepautre, pois início era apenas decorativo.</p><p>Devido aos edifícios com grandes aberturas, o Rococó ficou conhecido como</p><p>o “estilo da luz”.</p><p>As principais características são: cores em tons pastéis; a luz difusa, que</p><p>tomou conta dos interiores com um grande número de janelas; e umas texturas</p><p>suaves no relevo. A estrutura das construções era mais leve e elegante que o</p><p>Barroco. O estilo Rococó, não foi usado só nos edifícios franceses, mas também</p><p>em construções expressivas em diversas partes da Europa. Na Alemanha, o</p><p>estilo Rococó ficou misturado ao Barroco.</p><p>Na pintura do estilo Rococó, o destaque é para os temas mundanos. As</p><p>personagens representam os membros da aristocracia ociosa antes da Revolução</p><p>Francesa. As tonalidades que dominam a pintura são as claras e luminosas. A</p><p>técnica do pastel era utilizada para dar certos efeitos de leveza e delicadeza.</p><p>Observe um exemplo na Figura 5.</p><p>Maneirismo e Rococó122</p><p>HA_U2_C09.indd 122 12/01/2018 15:44:29</p><p>Figura 5. Detalhe de afresco do interior do palácio Nymphenburg, na Alemanha.</p><p>Fonte: Igor Plotnikov/Shutterstock.com.</p><p>Um dos pintores de destaque desse período foi Antoine Watteau (1684-</p><p>1721), considerado um mestre da pintura Rococó francesa. Suas pinturas</p><p>apresentavam temas amorosos em vez dos temas históricos e religiosos. Os seus</p><p>personagens jovens apresentavam as boas coisas da vida, de modo tranquilo,</p><p>sem demonstrar tédio e melancolia. Jean Baptiste Siméon Chardin (1699</p><p>-1779), tinha uma boa situação financeira, e teve uma criação mais livre e</p><p>independente, não necessitando dos favores da aristocracia e, por esse motivo,</p><p>seus quadros retrataram cenas da vida cotidiana da burguesia da França. Sua</p><p>característica principal era uma composição nítida e unificadora de todos os</p><p>elementos retratados.</p><p>A escultura no estilo Rococó tinha linhas suaves e graciosas, e procurava</p><p>retratar as pessoas mais importantes da época. Por exemplo, o escultor Antoine</p><p>Houdon, retratou personagens da história francesa como Voltaire, Diderot e</p><p>Rosseau. Essa arte se manifestou em dois gêneros: a escultura decorativa, para</p><p>cobrir todas as estruturas e superfícies construídas com relevos de inspiração</p><p>naturalista; e a inovadora, que eram estátuas de pequeno porte destinadas</p><p>sobretudo a interiores, para decorar ou entreter as pessoas, como os bibelôs.</p><p>Os materiais mais utilizados foram a pedra e o bronze (para as grandes</p><p>obras escultóricas de exterior), o ouro e a prata também tiveram seu uso, mas</p><p>123Maneirismo e Rococó</p><p>HA_U2_C09.indd 123 12/01/2018 15:44:30</p><p>o bronze era utilizado para as pequenas esculturas ornamentais. Tiveram uso,</p><p>ainda, a madeira, a argila, o gesso e o estuque, sendo estes dois últimos usados</p><p>para decoração mural dos interiores. A novidade que surgiu foi a porcelana,</p><p>a qual os franceses chamaram de biscuit, muito usado para a produção de</p><p>pequenas esculturas, como apresentado na Figura 6.</p><p>Figura 6. Esculturas de porcelana, de Kandler.</p><p>Fonte: Wikipedia (2017).</p><p>Os escultores alemães, franceses, italianos e espanhóis do estilo Rococó</p><p>criaram modelos com linhas mais leves e suaves para a manufatura (peças</p><p>feitas à mão) de estatuetas que serviam de decoração, com temas mitológicos,</p><p>campestres e sobre a sociedade. Os escultores François Boucher e Étienne</p><p>Maurice Falconet criaram pequenas estatuetas de Vênus, ninfas, banhistas e</p><p>cupidos para a manufatura real de porcelana.</p><p>Maneirismo e Rococó124</p><p>HA_U2_C09.indd 124 12/01/2018 15:44:30</p><p>1. Quais as características</p><p>principais do Maneirismo?</p><p>a) Uso tradicional de cores claras.</p><p>b) Destacar o padrão</p><p>retratista da época.</p><p>c) Deformação da realidade e</p><p>experimentação de elementos.</p><p>d) Retomada dos ideais gregos.</p><p>e) Pinturas simples e diretas.</p><p>2. Sobre a obra de Giuseppe</p><p>Arcimboldo, é correto</p><p>dizer que:</p><p>a) foi um escultor que</p><p>produziu inúmeros anjos.</p><p>b) esteve vinculado a arte</p><p>barroca tradicional.</p><p>c) foi um arquiteto que apostou</p><p>nas decorações das igrejas.</p><p>d) esteve vinculado à arte</p><p>Rococó brasileira.</p><p>e) foi um pintor que retratou</p><p>rostos humanos com</p><p>frutas, flores e objetos.</p><p>3. Qual o contexto do surgimento do</p><p>estilo Rococó?</p><p>a) Se deus após a Revolução</p><p>Francesa e destacou seus líderes.</p><p>b) Havia um governo autoritário e</p><p>era consumido pela aristocracia.</p><p>c) Se deu após o governo de Luis</p><p>XIV e destacou temas de guerra.</p><p>d) Havia um governo autoritário,</p><p>mas era consumido pela plebe.</p><p>e) Se deu ao mesmo tempo</p><p>que o Renascimento.</p><p>4. Sobre a arquitetura Rococó,</p><p>pode se afirmar que:</p><p>a) enfocou nas colunas e nos</p><p>frontões triangulares.</p><p>b) evidenciou os excessos e</p><p>ornamentos exuberantes</p><p>em mármore.</p><p>c) enfocou nas decorações</p><p>interiores e detalhes em</p><p>ambientes amplos.</p><p>d) evidenciou as abóbadas e</p><p>os arcos característicos.</p><p>e) buscou manter os interiores</p><p>das edificações mais</p><p>simples e limpos.</p><p>5. Sobre a pintura no Rococó, é</p><p>correto afirmar que:</p><p>a) valorizava cores fortes</p><p>e contrastantes.</p><p>b) havia forte composição</p><p>de elementos unificados</p><p>na mesma cena.</p><p>c) valorizava personagens</p><p>importantes da</p><p>Revolução Francesa.</p><p>d) havia preferência por pintar</p><p>sobre o mármore.</p><p>e) valorizava temáticas sobre</p><p>guerras e grande conflitos.</p><p>125Maneirismo e Rococó</p><p>HA_U2_C09.indd 125 12/01/2018 15:44:31</p><p>BAUR, E. G. Rococó. Colônia: Taschen, 2008.</p><p>FORZA. Pinceladas de arte: El Greco - O Enterro do Conde de Orgaz. [S.l.]: YouTube,</p><p>2012. 1 vídeo. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=LOVVg4F1QGc>.</p><p>Acesso em: 19 dez. 2017.</p><p>HOCKE, G. R. Maneirismo: o mundo como labirinto. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2005.</p><p>LIMA, L. F. A moda do século XVIII e sua relação com a arte Rococó na França. In: CO-</p><p>LÓQUIO DE MODA, 8., 2012. Anais... São Paulo: FAPESP, 2012. Disponível em: <https://</p><p>goo.gl/BBvskJ>. Acesso em: 19 dez. 2017.</p><p>ONDEVIVO DELIVERY. Primavera, verão, outono e inverno - Giuseppe Arcimboldo. [S.l.]: Por-</p><p>tal Ondevivo, 2013. Disponível em: <http://ondevivodelivery.blogspot.com.br/2013/02/</p><p>primavera-verao-outono-e-inverno.html>. Acesso em: 19 dez. 2017.</p><p>PIFANO, R. Q. Rococó: a expressão do instante. Gávea, Rio de Janeiro, v. 13, p. 397-407,</p><p>set. 1995.</p><p>PROENÇA, G. História da arte. 16. ed. São Paulo: Ática, 2003.</p><p>WAHOOART. A agonia no jardim. [S.l.: s.n.], c2017. Disponível em: <http://pt.wahooart.</p><p>com/@@/85FRAS-El-Greco-(Dom%C3%A9nikos-Theotokopoulos)-A-agonia-no-jar-</p><p>dim>. Acesso em: 19 dez. 2017.</p><p>WIKIPEDIA. Johann Joachim Kändler. [S.l.], 2017. Disponível em: <https://pl.wikipedia.</p><p>org/wiki/Johann_Joachim_K%C3%A4ndler>. Acesso em: 19 dez. 2017.</p><p>Maneirismo e Rococó126</p><p>HA_U2_C09.indd 126 12/01/2018 15:44:31</p><p>Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para</p><p>esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual</p><p>da Instituição, você encontra a obra na íntegra.</p><p>Conteúdo:</p><p>HISTÓRIA</p><p>DA ARTE</p><p>Priscila Farfan Barroso</p><p>Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB-10/2147</p><p>B277h Barroso, Priscila Farfan.</p><p>História da Arte / Priscila Farfan Barroso, Hudson de</p><p>Souza Nogueira ; [revisão técnica: Max Elisandro dos Santos</p><p>Ribeiro]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018.</p><p>221 p. ; il. ; 22,5 cm.</p><p>ISBN 978-85-9502-297-3</p><p>1. Arte – História. I. Nogueira, Hudson de Souza.</p><p>II. Título.</p><p>CDU 7</p><p>Revisão técnica:</p><p>Max Elisandro dos Santos Ribeiro</p><p>Licenciatura Plena em História</p><p>Especialista em Gestão e Tutoria EaD</p><p>Mestre em Educação</p><p>HA_Iniciais_Impressa.indd 2 12/01/2018 17:08:09</p><p>Arte Contemporânea</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p>� Reconhecer as características e os aspectos</p><p>que influenciaram o sur-</p><p>gimento da Arte Contemporânea no após a Segunda Guerra Mundial.</p><p>� Identificar os artistas internacionais de destaque da Arte</p><p>Contemporânea.</p><p>� Definir a Arte Contemporânea no Brasil e seus principais artistas.</p><p>Introdução</p><p>A Arte Contemporânea é atual, diferente e provocadora. Seu intuito é</p><p>estabelecer uma relação de proximidade com o público a partir do es-</p><p>tranhamento que, em um primeiro momento, questiona a arte e convida</p><p>o expectador a fazer parte da obra também.</p><p>Neste capítulo, você irá verificar que as obras de arte da Arte Con-</p><p>temporânea são variadas, podem se valer das inovações tecnológicas</p><p>disponíveis na mídia, na internet, e em tantos outros meios, além de</p><p>apresentarem a intensa criatividade dos seus artistas, devido à liberdade</p><p>que encontram para produzir.</p><p>Características e influências da Arte</p><p>Contemporânea</p><p>Após o término da Segunda Guerra Mundial, em 1945, a humanidade buscava</p><p>encontrar novos caminhos e isso influenciou a arte. Nesse período, surgiram</p><p>muitos movimentos artísticos com estilos diferenciados e técnicas inovadoras,</p><p>apresentando uma maneira diferente de construir a arte, na qual os estilos se</p><p>libertaram dos padrões políticos e religiosos, iniciando livres e espontâneas</p><p>formas de expressão. Nascia, então, a Arte Contemporânea e o termo van-</p><p>guarda, relacionado a essa nova arte.</p><p>HA_U4_C15.indd 195 12/01/2018 15:46:29</p><p>Vanguarda indica tudo que há de original, avançado e atual. Podemos dizer</p><p>que a Arte Contemporânea é um conjunto de diferentes movimentos, estilos,</p><p>vanguardas, técnicas e que faz uso de inúmeros tipos de materiais, criando</p><p>obras de arte desde as mais simples, até as mais complexas. Como nos fala</p><p>Belting (2012, p. 203) “[...] a arte contemporânea oferece uma substância nova,</p><p>cuja assimilação implica mudanças na disciplina.” Temos vários exemplos</p><p>de obras de Arte Contemporânea, principalmente na arquitetura, pintura e</p><p>escultura, sendo um deles “A estrela ferida”, da alemã Rebecca Horn, que</p><p>você pode observar na Figura 1. Essa obra é uma escultura formada por quatro</p><p>cubos desalinhados, que se empilham desordenadamente.</p><p>Figura 1. Escultura A Estrela Ferida, de Rebbeca Horn.</p><p>Fonte: Toda Matéria (c2011-2018a).</p><p>Temos como características da Arte Contemporânea:</p><p>� a originalidade nas criações;</p><p>� as criações de obras de arte sem interferências de religião ou entidades</p><p>governamentais;</p><p>� a liberdade para inovar no momento da criação;</p><p>� o uso de novas técnicas para criar as obras;</p><p>Arte Contemporânea196</p><p>HA_U4_C15.indd 196 12/01/2018 15:46:30</p><p>� a utilização das cores com total liberdade;</p><p>� a utilização dos mais variados materiais para compor as obras de arte;</p><p>� a maior interação entre obra de arte e o público;</p><p>� a aproximação da arte com as classes sociais menos favorecidas;</p><p>� a mistura de diversos estilos artísticos na mesma obra;</p><p>� o uso de sistemas mecânicos e elétricos em algumas produções artísticas.</p><p>Deste modo, a Arte Contemporânea é permeada e influenciada por diferen-</p><p>tes movimentos artísticos, manifestações e expressões. Você pode considerar</p><p>como os mais expressivos movimentos relacionados à Arte Contemporânea</p><p>os seguintes:</p><p>� Arte conceitual: movimento artístico iniciado na Europa e nos Estados</p><p>Unidos durante a década de 1970, que foi uma reação ao formalismo</p><p>da arte.</p><p>� Arte cinética: corrente das artes plásticas que explora efeitos visuais</p><p>por meio de movimentos físicos, ilusão de óptica ou truques de posi-</p><p>cionamento de peças.</p><p>� Action painting (ou gestualismo): técnica de pintura surgida em Nova</p><p>Iorque na década de 1940 que visava à observação do gesto pictórico</p><p>na obra.</p><p>� Arte povera (ou arte pobre): movimento surgido na década de 1960 na</p><p>Itália e que propunha a utilização de materiais inúteis, simples, como</p><p>sucatas (metal, pedra, areia, madeira, trapos, etc.).</p><p>� Expressionismo abstrato: movimento da pintura norte-americana</p><p>desenvolvido a partir da década de 1940 que trazia uma nova tendência</p><p>de caráter simbólico e expressivo.</p><p>� Body art (arte do corpo): manifestação das artes visuais em que até</p><p>o corpo do próprio artista pode ser utilizado como suporte ou meio de</p><p>expressão, surgiu no final da década de 1960.</p><p>� Hiper-realismo: gênero de pintura e escultura que tem um efeito seme-</p><p>lhante ao da fotografia de alta resolução e surgiu nos Estados Unidos</p><p>e na Europa no final da década de 1960.</p><p>� Minimalismo: corrente artística que só utiliza elementos mínimos e</p><p>básicos.</p><p>� Neoconcretismo: movimento artístico surgido no Brasil no final da</p><p>década de 1950, que tem a preocupação de buscar novos caminhos</p><p>dizendo que a arte não é um mero objeto, pois tem sensibilidade, ex-</p><p>pressividade, subjetividade, indo muito além do mero geometrismo.</p><p>197Arte Contemporânea</p><p>HA_U4_C15.indd 197 12/01/2018 15:46:30</p><p>� Land art: corrente artística surgida no final da década de 1960, que</p><p>se utilizava do meio ambiente, de espaços e recursos naturais para</p><p>realizar suas obras.</p><p>� Op-art (ou arte óptica): estilo artístico visual iniciado na década de</p><p>1930 que utiliza ilusões óticas.</p><p>� Pop art: movimento que tem como temática a sociedade de consumo e</p><p>utiliza, além de símbolos e estereótipos da comunicação de massa, objetos</p><p>dessa sociedade, muitas vezes fisicamente incorporados ao trabalho.</p><p>� Street art (ou arte urbana): designa uma arte encontrada nos meios</p><p>urbanos, seja por meio de intervenções, performances artísticas, grafite,</p><p>dentre outras. Veja um exemplo na Figura 2.</p><p>Figura 2. Escada Sélaron, de Jorge Sélaron.</p><p>Fonte: Toda Matéria (c2011-2018b).</p><p>Assista ao documentário o Medo da Arte contemporânea (CRUZ, 2013), produzido pela</p><p>Fundação Joaquim Nabuco, para refletir sobre a produção artística e os seus impactos.</p><p>Disponível no link a seguir.</p><p>https://goo.gl/9EfeTR</p><p>Arte Contemporânea198</p><p>HA_U4_C15.indd 198 12/01/2018 15:46:30</p><p>Artistas internacionais da Arte Contemporânea</p><p>Grant Wood Noblat (1891-1942) foi um pintor norte-americano considerado</p><p>um dos principais regionalistas dos anos de 1930, pintando temas conterrâneos</p><p>em um etilo primitivista e até satírico. Entre suas pinturas mais conhecidas</p><p>esta a obra O Gótico Americano, apresentada na Figura 3, que é considerada o</p><p>marco da Arte Contemporânea, pois representa o movimento conhecido como</p><p>regionalismo. Seu objetivo era valorizar tipicamente o cidadão norte-americano,</p><p>usando um estilo que evitasse a aparência do tipo moderno europeu. O quadro</p><p>retrata um casal de agricultores do centro-oeste norte-americano e está exposto</p><p>no Art Institute of Chicago, nos Estados Unidos.</p><p>Figura 3. O Gótico Americano, de Grant Wood.</p><p>Fonte: Madera (2011).</p><p>Rebecca Horn nasceu em 1944, em Michelstaadt na Alemanha, e é uma</p><p>artista plástica cujas performances exploram a relação do corpo com o espaço.</p><p>Atualmente, ela vive e trabalha em Berlim e Paris. Seus trabalhos são perfor-</p><p>mances, esculturas, instalações, filmes, desenhos e fotos. Rebecca estudou</p><p>199Arte Contemporânea</p><p>HA_U4_C15.indd 199 12/01/2018 15:46:31</p><p>na St Martin’s School, em Londres, tendo também participado das Bienais de</p><p>Veneza e de Sidnei e integrado a mostra Documenta de Kassel, na Alemanha.</p><p>Recebeu a Medalha Imperial de Escultura, em Tóquio, e a Grande Medalha</p><p>de Artes, em Paris. Em 2010, expôs suas instalações e inúmeros vídeos de</p><p>performance no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro.</p><p>Marina Abramovic nasceu em 1946, na Iugoslávia, e é uma artista per-</p><p>formativa que iniciou sua carreira nos anos de 1970. Ela se considera a “avó</p><p>da arte da performance”. Pioneira na arte performativa de longa duração,</p><p>Marina usa o próprio corpo como sujeito e objeto, tema e meio de expressão</p><p>para explorar artisticamente os limites físicos e os potenciais mentais do ser</p><p>humano, como demonstrado na Figura 4. A performer é conhecida por se</p><p>colocar em condições performáticas extremas, penosas e exaustivas, nas quais</p><p>se expõe ao perigo, à dor e à agonia.</p><p>Figura 4. Performance de Marina Abramovic.</p><p>Fonte: Reflexiones</p><p>Marginales (2016).</p><p>Arthur Dove (1880-1946) foi um pintor norte-americano autor das primeiras</p><p>pinturas abstratas da história da arte. Ele decidiu viver da pintura e próximo</p><p>à natureza e, para sustentar a família, explorava uma fazenda. Suas obras de</p><p>arte são pinturas abstratas e colagem, como você pode observar na Figura</p><p>5. Umas das suas últimas telas importantes é a Flat Surfaces, que trazia a</p><p>abstração com uma destilação de formas naturais.</p><p>Arte Contemporânea200</p><p>HA_U4_C15.indd 200 12/01/2018 15:46:31</p><p>Figura 5. O Crítico, de Arthur Dove.</p><p>Fonte: Wikipedia (2009).</p><p>Leonid Afremov nasceu em 1955, na Rússia, mas se estabeleceu em Israel.</p><p>É um pintor de estilo moderno e impressionista e que se caracteriza fortemente</p><p>pela pintura de alto contraste, contraposição das cores e pinceladas marcadas.</p><p>Pode-se dizer que Afremov desenvolveu a técnica de pintura a óleo com</p><p>espátula. As suas obras de arte encantam o público com suas cores vivas,</p><p>retratando belas paisagens de cidades, realçadas por cores fortes e brilhantes,</p><p>conforme representação da Figura 6.</p><p>201Arte Contemporânea</p><p>HA_U4_C15.indd 201 12/01/2018 15:46:31</p><p>Figura 6. A Ponte de Amsterdam, de Leonid Afremov.</p><p>Fonte: Afremov (2017).</p><p>Aprofunde seu conhecimento sobre a Arte Contemporânea e suas relações com a</p><p>estética no artigo “A arte para além da Estética: arte contemporânea e o discurso dos</p><p>artistas”, de Luiza Gontijo Rodrigues (2008).</p><p>https://goo.gl/af7uHF</p><p>Arte Contemporânea no Brasil</p><p>O Marco Inaugural da Arte Contemporânea no Brasil aconteceu com a publica-</p><p>ção do Manifesto Neoconcreto, em março de 1959. Esse manifesto foi assinado</p><p>por Amilcar de Castro, Ferreira Gullar, Franz Weissmann, Lygia Clark, Lygia</p><p>Pape, Reynaldo Jardim e Theon Spanudis, rompendo o movimento concreto</p><p>e apresentando uma nova vanguarda na arte brasileira. Algumas caracterís-</p><p>ticas desse grupo de artistas são: a superação da tela como suporte da arte; o</p><p>rompimento do espaço tradicional e a interação entre o espectador e a arte.</p><p>Arte Contemporânea202</p><p>HA_U4_C15.indd 202 12/01/2018 15:46:31</p><p>A Arte Contemporânea, como manifestações artísticas que acontecem atualmente,</p><p>também pode ser denominada Arte Pós-modernista ou Arte Pós-guerra. Em sua</p><p>diversidade, fica evidente a inquietude do homem atual na sua busca pelo novo,</p><p>pelo único e original.</p><p>Como exemplo da Arte Contemporânea no Brasil, podemos citar a artista</p><p>Lygia Clark (1920-1988) e sua obra “Os Bichos”, em que placas de metal polido</p><p>e articuladas por dobradiças, podem ser manipuladas pelo público, formando</p><p>novas formas de trabalho e permitindo que todos participem da obra por meio</p><p>de uma interação, como você pode ver na Figura 7. Nesse sentido, você pode</p><p>perceber a própria relação entre artista-obra-público como parte da produção</p><p>artística, como própria Clark (1980, p. 31) explica:</p><p>[...] somos os propositores: somos o molde; a vocês cabe o sopro, no interior</p><p>desse molde: o sentido de nossa existência. Somos os propositores: nossa</p><p>proposição é o diálogo. Sós não existimos; estamos a vosso dispor. Somos os</p><p>propositores: enterramos a obra de arte como tal e solicitamos a vocês para</p><p>que o pensamento viva pela ação. Somos os propositores: não lhes propomos</p><p>nem o passado nem o futuro, mas o agora.</p><p>Figura 7. Escultura da Série Bichos, de Lygia Clark.</p><p>Fonte: Oscar Freire Leilões (2016).</p><p>203Arte Contemporânea</p><p>HA_U4_C15.indd 203 12/01/2018 15:46:32</p><p>Aluísio Carvão (1920-2001), nascido em Belém, foi pintor, escultor, ilustra-</p><p>dor, ator, cenógrafo e professor. Iniciou sua atividade artística como ilustrador</p><p>no estado do Pará, passando a se dedicar a pintura em 1946, quando realiza sua</p><p>primeira exposição no Amapá. Participou de inúmeras exposições e bienais</p><p>em vários estados do Brasil e em outros países. Muitas são as obras deixadas</p><p>por ele e você pode ver um exemplo delas na Figura 8.</p><p>Figura 8. Claroverde, de Aluisio Carvão.</p><p>Fonte: Bolsa de Arte (2013).</p><p>Ferreira Gullar (1930-2016) é o pseudônimo de Jose de Ribamar Ferreira,</p><p>o poeta e crítico de arte e ensaísta brasileiro que abriu caminho para a Poesia</p><p>Concreta. Foi um grande observador e crítico de arte e ensaísta brasileiro,</p><p>tendo liderado e organizado o movimento literário Neoconcreto. Em 2010,</p><p>recebeu o prêmio Camões. No poema “Traduzir-se” retirado do livro Na</p><p>Vertigem do Dia, de 1980, diz “Uma parte de mim é todo mundo; outra parte</p><p>é ninguém: fundo sem fundo.” (GULLAR, 1980).</p><p>Marcelo Grassmann (1925-2013) nasceu em São Paulo, na capital, e foi</p><p>desenhista, artista plástico e gravurista. Estudou mecânica, entalhe e fundi-</p><p>ção. Foi ilustrador do Suplemento Literário do jornal Diário de São Paulo.</p><p>Destacou-se como um dos artistas gráficos mais importantes dos últimos</p><p>tempos, inclusive internacionalmente. Dominava os vários processos de gravar:</p><p>litografia, água-forte e água-tinta.</p><p>Arte Contemporânea204</p><p>HA_U4_C15.indd 204 12/01/2018 15:46:32</p><p>Grassmann participou de diversas Bienais de São Paulo (1955/1959/1961), da</p><p>XXX Bienal de Veneza (1960) e da Bienal Internacional de Florença (1972).</p><p>Proença (2003, p. 251) explica mais sobre a obra desse autor: As gravuras de</p><p>Grassmann têm como tema animais estranhos e cavaleiros medievais. Essas</p><p>figuras ricas em detalhes realistas participam de um clima insólito e fantástico</p><p>e criam um universo misterioso, que instiga a imaginação do observador.</p><p>Você pode ver um exemplo de suas gravuras na Figura 9.</p><p>Figura 9. Gravura de Grassmann.</p><p>Fonte: Associação Profissional de Artistas Plásticos de São Paulo (2013).</p><p>Carlos Scliar (1920-2001) nasceu no Rio Grande do Sul e foi desenhista,</p><p>gravador, pintor, ilustrador, cenógrafo, roteirista e designer gráfico. Ao lado</p><p>de outros artistas gaúchos, foi um dos fundadores do Clube da Gravura de</p><p>Porto Alegre, em 1950. Esse clube propunha uma arte comprometida com o</p><p>realismo social, ou seja, uma arte que fizesse do povo o tema e o destinatário</p><p>da pintura, refletindo sobre sua proposta condição. Nessa perspectiva, foram</p><p>explorados os temas regionais, sobretudo os relacionados à vida cotidiana e</p><p>aos trabalhos do homem do campo do Sul do país.</p><p>Depois de compreender os artistas internacionais e nacionais que se des-</p><p>tacam na arte contemporâneo, temos de reconhecer que:</p><p>Para apreender a arte como contemporânea, precisamos, então, estabelecer</p><p>certos critérios, distinções que isolarão o conjunto dito ‘contemporâneo’ da</p><p>totalidade das produções artísticas. Contudo, esses critérios não podem ser</p><p>buscados apenas nos conteúdos das obras, em sua forma, suas composições,</p><p>no emprego deste ou daquele material, também não no fato de pertencerem</p><p>a estou aquele movimento dito ou não de vanguarda. Com efeito, a esse res-</p><p>peito, teríamos ainda que nos defrontar com a dispersão, com a pluralidade</p><p>205Arte Contemporânea</p><p>HA_U4_C15.indd 205 12/01/2018 15:46:32</p><p>incontrolável de agoras [...] A menos que nos contentemos em classificar por</p><p>ordem alfabética as diferentes tendências que se manifestam na esfera artís-</p><p>tica, sempre obrigados a admitir que muitos artistas pertencem, de acordo</p><p>com o momento a muitas dessas tendências (CAUQUELIN, 2005, p. 11-12)</p><p>1. Sobre as características da Arte</p><p>Moderna, é correto afirmar que:</p><p>a) evidencia a abstração como</p><p>sua principal proposta.</p><p>b) envolve a retomada de</p><p>valores greco-romanos.</p><p>c) evidencia edificações com</p><p>abobadas e paredes grossas.</p><p>d) envolve um conjunto de</p><p>diferentes movimentos, estilos,</p><p>vanguardas e técnicas.</p><p>e) evidencia a obra de arte</p><p>a partir da produção</p><p>racional e científica.</p><p>2. O que significa afirmar que a Arte</p><p>Contemporânea é de vanguarda?</p><p>a) Que ela retoma valores antigos</p><p>para expressar a arte.</p><p>b) Que está dirigida para as</p><p>elites e acadêmicos.</p><p>c) Que há uma originalidade,</p><p>um avançado, algo de</p><p>inovador e atual.</p><p>d) Que está dirigida apenas</p><p>para classe popular.</p><p>e) Que ela apresenta obras</p><p>que estavam guardadas.</p><p>3. Sobre os artistas internacionais</p><p>da Arte Contemporânea,</p><p>assinale a alternativa correta.</p><p>a) Grant Wood Noblat evidenciou</p><p>temas regionais para valorizar</p><p>o norte-americano.</p><p>b) Rebecca Horn coloca-se em</p><p>condições performáticas</p><p>extremas, penosas e exaustivas.</p><p>c) Marina Abramovic é arquiteta e</p><p>propõe obras tortas na cidade.</p><p>d) Arthur Dove apresenta em</p><p>seus quadros pinceladas</p><p>coloridas e marcadas.</p><p>e) Leonid Afremov apresenta</p><p>pinturas abstratas e colagem</p><p>em suas obras de arte.</p><p>4. Sobre os artistas nacionais</p><p>da Arte Contemporânea,</p><p>é correto afirmar que:</p><p>a) há reificação da tela</p><p>como suporte da arte.</p><p>b) Lygia Clark criava obras que</p><p>podiam ser manipuladas</p><p>pelo público.</p><p>c) há consideração do limite</p><p>do espaço tradicional.</p><p>d) Marcelo Grassmann foi</p><p>escritor e propôs a criação de</p><p>metonímias como inovação.</p><p>e) há falta de interação entre</p><p>o espectador e a arte.</p><p>5. Sobre as obras de museu</p><p>da Arte Contemporânea,</p><p>pode-se afirmar que:</p><p>a) não se pode tocar nas obras.</p><p>b) o estranhamento do</p><p>espectador acontece quando</p><p>a obra foi má produzida.</p><p>c) não se pode compreender</p><p>a proposta dos artistas.</p><p>d) o estranhamento do</p><p>espectador faz parte da obra.</p><p>e) não se pode valorizar essas</p><p>obras fragmentárias como arte.</p><p>Arte Contemporânea206</p><p>HA_U4_C15.indd 206 12/01/2018 15:46:33</p><p>AFREMOV, L. The bridges of Amsterdam. Twitter, 10 fev. 2017. Disponível em: <https://</p><p>twitter.com/AfremovArt/status/830222577750704130>. Acesso em: 10 jan. 2018.</p><p>ASSOCIAÇÃO PROFISSIONAL DE ARTISTAS PLÁSTICOS DE SÃO PAULO. Marcelo Grass-</p><p>mann: em memória. São Paulo: APAP, 2013. Disponível em: <http://www.apap.art.br/as-</p><p>sociados/343/marcelo-grassmann-em-memoria/#prettyPhoto>. Acesso em: 10 jan. 2018.</p><p>BELTING, H. O fim da história da arte: uma revisão dez anos depois. São Paulo: Cosac</p><p>Naify, 2012.</p><p>BOLSA DE ARTE. Aluísio Carvão na Caixa Cultural Rio. [S.l.], 2013. Disponível em: <http://</p><p>www.bolsadearte.com/oparalelo/aluisio-carvao-na-caixa-cultural-rio>. Acesso em:</p><p>10 jan. 2018.</p><p>CAUQUELIN, A. Arte contemporânea. São Paulo: Martins, 2005. (Coleção Todas as Artes).</p><p>CLARK, L. Nós somos os propositores. In: CLARK, L.; PEDROSA, M.; GULLAR, F. Lygia</p><p>Clark. Rio de Janeiro: Funarte, 1980. (ABC Funarte).</p><p>CRUZ, V. Medo da arte contemporânea. [S.l.]: YouTube, 2013. 1 vídeo. Disponível em:</p><p><https://www.youtube.com/watch?v=qpctlrIoenQ>. Acesso em: 10 jan. 2018.</p><p>GULLAR, F. Traduzir-se. In: GULLAR, F. Na vertigem do dia. Rio de Janeiro: Civilização</p><p>Brasileira, 1980.</p><p>MADERA, J. (Ed.). American-gothic. [S.l.]: Big Other, 2011. Disponível em: <https://</p><p>bigother.com/2011/11/01/artistic-surface-artistic-depth/american-gothic-3/>. Acesso</p><p>em: 10 jan. 2018.</p><p>OSCAR FREIRE LEILÕES. Lygia Clark. São Paulo, 2016. Disponível em: <http://www.</p><p>oscarfreireleiloes.com/peca.asp?ID=2336613>. Acesso em: 10 jan. 2018.</p><p>PROENÇA, G. História da arte. 16. ed. São Paulo: Ática, 2003.</p><p>REFLEXIONES MARGINALES. [Performance de Marina Abramovic]. [S.l.], 2016. Disponível</p><p>em: <http://reflexionesmarginales.com/3.0/wp-content/uploads/2016/07/9.7-862x489.</p><p>png>. Acesso em: 10 jan. 2018.</p><p>RODRIGUES, L. G. A arte para além da estética: arte contemporânea e o discurso dos</p><p>artistas. Artefilosofia, Ouro Preto, n. 5, p. 119-131, jul. 2008. Disponível em: <http://www.</p><p>raf.ifac.ufop.br/pdf/artefilosofia_05/artefilosofia_05_02_arte_filosofia_para_alem_es-</p><p>tetica_04_luzia_gontijo_rodrigues.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2018.</p><p>TODA MATÉRIA. Arte contemporânea. Matosinhos: 7Graus, c2011-2018a. Disponível em:</p><p><https://www.todamateria.com.br/arte-contemporanea/>. Acesso em: 10 jan. 2018.</p><p>TODA MATÉRIA. Arte urbana. Matosinhos: 7Graus, c2011-2018b. Disponível em: <https://</p><p>www.todamateria.com.br/arte-contemporanea/>. Acesso em: 10 jan. 2018.</p><p>WIKIPEDIA. File:Arthur Dove The Critic.jpg. [S.l.], 2009. Disponível em: <https://</p><p>en.wikipedia.org/wiki/File:Arthur_Dove_The_Critic.jpg>. Acesso em: 10 jan. 2018.</p><p>207Arte Contemporânea</p><p>HA_U4_C15.indd 207 12/01/2018 15:46:33</p><p>HA_U4_C15.indd 208 12/01/2018 15:46:33</p><p>Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para</p><p>esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual</p><p>da Instituição, você encontra a obra na íntegra.</p><p>Conteúdo:</p><p>TEORIA E HISTÓRIA</p><p>DA ARQUITETURA E</p><p>URBANISMO III</p><p>Vanessa Guerini Scopell</p><p>As escolas regionais</p><p>do Barroco no Brasil</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p> Reconhecer o papel da Igreja católica no desenvolvimento do estilo</p><p>arquitetônico Barroco no Brasil.</p><p> Enumerar as características do Barroco no Brasil.</p><p> Identificar as obras mais significativas de arquitetura barroca no Brasil.</p><p>Introdução</p><p>Neste capítulo, você estudará sobre o estilo Barroco, que surgiu na Europa</p><p>e influenciou a arquitetura religiosa do Brasil; suas principais características;</p><p>e seus exemplos mais significativos no país.</p><p>Papel da Igreja católica no</p><p>desenvolvimento do estilo Barroco</p><p>O estilo Barroco surgiu na Europa em um cenário de Reformas Religiosas,</p><p>mais precisamente no fi nal do século XVI, no qual a Igreja católica estava</p><p>em decadência, pois havia perdido seu prestígio e poder. Apesar dessa crise,</p><p>o movimento católico ainda tinha bastante infl uência na esfera econômica,</p><p>política e religiosa da Europa.</p><p>Assim como os banqueiros e mercadores de Florença patrocinaram os</p><p>artistas e arquitetos do Renascimento, a Igreja católica foi a principal patroci-</p><p>nadora das artes e da arquitetura dos séculos XVII e XVIII ao redor de Roma.</p><p>As obras encomendadas por ela deram origem a esse novo estilo, o Barroco.</p><p>Quando o Renascimento chegou ao fim, a Igreja tinha muito poder secular,</p><p>mas suas bases morais haviam se deteriorado. O título de cardeal era vendido</p><p>descaradamente; altos e baixos oficiais da Igreja tinham amantes e busca-</p><p>vam benefícios para seus filhos, que eram eufemisticamente chamados de</p><p>“sobrinhos”; e as doações dos devotos eram gastas em projetos que careciam</p><p>totalmente de propósitos espirituais. Os papas viviam em grande luxo, tratando</p><p>o tesouro da Igreja como verba pessoal. Para financiar seus projetos sagrados</p><p>e seculares, a Igreja instituiu práticas de levantamento de fundos questioná-</p><p>veis, como a venda de perdões e indulgências para poupar o pagador – ou um</p><p>parente – de passar um determinado número de dias no Purgatório (FAZIO;</p><p>MOFFETT; WODEHOUSE, 2011, p. 359).</p><p>Segundo Fazio, Moffett e Wodehouse (2011), a corrupção da Igreja ori-</p><p>ginou pedidos de uma reforma religiosa, sendo a mais influente a do monge</p><p>Martinho Lutero, que, no ano de 1517, pregou nas portas da Igreja de Todos</p><p>os Santos, dando início ao movimento que ficaria conhecido como Reforma</p><p>Protestante. Até esse momento, “[...] a Igreja enfrentara os desafios propostos</p><p>por desgarrados de seu próprio exército geralmente declarando-os hereges</p><p>e destruindo-os com a força. Desta vez, porém, o descontentamento era</p><p>generalizado demais para que os métodos da inquisição funcionassem”</p><p>(FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2011, p. 35).</p><p>A resposta da Igreja aos protestos foi a Contrarreforma Católica, um programa</p><p>que envolvia reformas no seu interior e uma campanha para trazer as pessoas</p><p>de volta às crenças do catolicismo. O Concílio de Trento se reuniu em 1545 e</p><p>concluiu que a arte era uma ferramenta essencial para aumentar o prestígio e os</p><p>ensinamentos da Igreja. Assim, todas as artes foram empregadas nessa iniciativa</p><p>de relaç õ es pú blicas, e o estilo artí stico criado para reafirmar os ensinamentos</p><p>cató licos tradicionais foi chamado de Barroco. Seus resultados eram abertamente</p><p>propagandistas e muito emocionais, pois apelavam aos sentidos.</p><p>Baseado em uma elaboraç ã o das formas clá ssicas, já bastante indivi-</p><p>dualizadas por artistas e arquitetos do iní cio do sé culo XVI, o Barroco</p><p>foi um estilo didá tico, teatral, dinâ mico e exuberante, do qual crí ticos</p><p>posteriores atacaram os gestos exagerados, a ornamentaç ã o excessiva e</p><p>o sentimentalismo patente. Porém, no contexto, essas obras eclesiá sticas</p><p>devem ser vistas como projetos que visavam envolver diretamente as</p><p>pessoas e os ideais religiosos.</p><p>Nesse sentido, a arte barroca foi patrocinada na Europa por burgueses,</p><p>monarcas e pelo clero; e as suas obras são destaque por apresentarem muitos</p><p>detalhes e expressarem emoções do ser humano e da vida. O início desse</p><p>estilo ocorreu na Itália, mais precisamente no século XVI, e, em seguida,</p><p>As escolas regionais do Barroco no Brasil2</p><p>espalhou-se para Holanda, Espanha, França, Bélgica e outros países europeus.</p><p>Já na América Latina, ele chegou no século XVII, permanecendo até o final</p><p>do XVIII, trazido por artistas que viajavam até a Europa e portugueses.</p><p>O período final do Barroco, durante o século XVIII, é chamado de Rococó e possui</p><p>algumas peculiaridades, embora as principais características barrocas estejam presentes</p><p>nessa fase. No Rococó, existe a presença de curvas e muitos detalhes decorativos</p><p>(conchas, flores, folhas, ramos); e os temas relacionados à mitologia grega e romana,</p><p>bem como os hábitos das cortes, também aparecem com frequência.</p><p>Fonte: Sua Pesquisa (2018, documento on-line).</p><p>Assim como na Europa, foi o movimento Barroco que colocou em desen-</p><p>volvimento a fé e a religião católica no Brasil.</p><p>Durante o período, a Igreja teve um importante papel como mecenas na arte</p><p>colonial. As diversas ordens religiosas (beneditinos, carmelitas, franciscanos e</p><p>jesuítas) que se instalam no Brasil desde meados do século XVI desenvolvem</p><p>uma arquitetura religiosa sóbria e muitas vezes monumental, com fachadas</p><p>e plantas retilíneas de grande simplicidade ornamental. Com o tempo, as</p><p>confrarias, irmandades e ordens terceiras começam a patrocinar a produção</p><p>artística no século XVIII e surgem as escolas regionais, sobretudo no Norte</p><p>e Sudeste (SANTOS; FERNANDES; SANTOS, 2017, p. 02).</p><p>No Brasil, esse estilo se destacou nas áreas da escultura, pintura, literatura</p><p>e arquitetura — na qual o maior artista foi Aleijadinho. Ele se desenvolveu</p><p>durante o período colonial, denominado Século de Ouro, o qual foi marcado</p><p>pela exploração desse minério como principal atividade de crescimento eco-</p><p>nômico, e teve como influência o Barroco português. Os primeiros indícios do</p><p>estilo Barroco no país aparecem em frontões e fachadas de igrejas, bem como</p><p>nas suas partes internas, ricamente decoradas com anjos, frutas, pássaros,</p><p>figuras, santos, virgens e talhas douradas.</p><p>O Barroco também teve a função de ser um instrumento de doutrina cristã</p><p>no Brasil, o qual, nesse período, não contava com consciência literária, pois</p><p>estava ainda em formação, e não tinha um público leitor que pudesse desfrutar</p><p>3As escolas regionais do Barroco no Brasil</p><p>da literatura barroca. Portanto, o estilo era difundido por intermédio dos</p><p>missionários católicos.</p><p>O desenvolvimento e o conhecimento desse estilo foi ocorrendo e se</p><p>espalhando aos poucos nas áreas, considerando que, nesse início, havia</p><p>poucos artistas brasileiros que apresentavam suas características. Na Bahia,</p><p>por exemplo, ele foi levado pelos jesuítas que ensinavam a religião, a ética</p><p>e os bons costumes.</p><p>Conforme se espalhava, o Barroco se desenvolvia a partir das peculiarida-</p><p>des de cada local juntamente aos aspectos comuns de todas as regiões. Havia</p><p>diversas escolas regionais barrocas, cada uma com suas especificidades que</p><p>se traduziam pelas diferentes culturas existentes no país.</p><p>A vastidão do território, o isolamento das províncias, separadas por distân-</p><p>cias enormes, favorecem o desenvolvimento das Escolas regionais. Uma das</p><p>mais originais é a de Pernambuco: mais original talvez, do que a da Bahia,</p><p>que obedeceu com bastante docilidade às solicitações da Metrópole. Com o</p><p>seu satélite, Olinda e a província próxima da Paraíba, Recife apresenta um</p><p>conjunto de importância capital para a compreensão da arte brasileira dessa</p><p>época tão afortunada (BAZIN, 1983, p. 42).</p><p>O estilo Barroco se desenvolveu profundamente na região de Minas Gerais,</p><p>a qual estava vivendo um bom período em virtude do Ciclo do Ouro, e todos</p><p>queriam ir lá para fazer fortuna. Nesse sentido, muitos se reuniram formando</p><p>confrarias, irmandades e, posteriormente, construindo igrejas.</p><p>Na região nordeste, as fortunas advindas da produção da cana-de-açúcar</p><p>possibilitaram a construção de belas edificações de estilo Barroco e promo-</p><p>veram sua renovação artística. As áreas do território brasileiro nas quais já</p><p>havia uma forte economia e produção foram as que apresentaram construções</p><p>barrocas mais adornadas, com muitos detalhes. Já nas regiões de Minas</p><p>Gerais, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro, que eram, na época, as áreas</p><p>com mais desenvolvimento da mineração e do comércio de açúcar, pode-se</p><p>perceber igrejas com refinadas esculturas e talhas em dourado.</p><p>No Rio de Janeiro, havia diversos artistas de estilo Barroco, sendo o</p><p>principal o Mestre Valentin, que era respeitado assim como Antônio Francisco</p><p>Lisboa. Tanto Antônio como Manuel da Costa Ataíde são referências desse</p><p>movimento na região de Minas Gerais, onde conseguiram representar sua</p><p>integração entre talha, pintura, escultura e arquitetura. Manuel se destacou,</p><p>pois criou um estilo próprio dentro do Barroco por meio do uso de cores</p><p>vivas e alegres — veja na Figura 1 uma de suas obras.</p><p>As escolas regionais do Barroco no Brasil4</p><p>Figura 1. Ascensão de Cristo, Matriz de Santo Antônio</p><p>em Santa Bárbara, por Mestre Ataíde.</p><p>Fonte: Ataíde (2010, documento on-line).</p><p>Já na região de São Paulo, que não se caracterizava pela produção de ouro</p><p>nem de açúcar, as poucas edificações católicas do estilo Barroco eram mais</p><p>modestas, com menos detalhes, assim como a pintura, a qual apresentava</p><p>traços bastante simples em comparação às outras regiões.</p><p>No Barroco brasileiro, destacam-se os artistas:</p><p>Antônio Francisco Lisboa: considerado representante do Barroco mineiro, foi escultor</p><p>e arquiteto, mais conhecido como Aleijadinho. Suas obras, de forte caráter religioso,</p><p>eram feitas em madeira e pedra-sabão, os principais materiais usados pelos artistas</p><p>barrocos do país, e algumas delas incluem Os Doze Profetas e Os Passos da Paixão, na</p><p>Igreja de Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas do Campo (MG).</p><p>Mestre Valentim: artista que embelezou o Rio de Janeiro, filho de um fidalgo português</p><p>e uma africana. Alguns autores defendem que seu pai o levou a Portugal em 1748,</p><p>onde teria aprendido escultura, versão que é historiograficamente controversa. Quando</p><p>voltou para o Brasil, em 1770, ele estabeleceu uma oficina no centro do Rio de Janeiro,</p><p>entrou para a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e realizou</p><p>vários trabalhos de talha dourada para igrejas cariocas até a sua morte.</p><p>5As escolas regionais do Barroco no Brasil</p><p>Conheça outros artistas importantes, como o pintor mineiro Manuel da Costa Ataíde,</p><p>no link a seguir.</p><p>https://goo.gl/VBp3Cz</p><p>Características do Barroco no Brasil</p><p>O estilo Barroco se refere a trê s aspectos diferentes, mas complementares. O</p><p>primeiro está relacionado a um mundo có smico, cuja ideia de universo implica</p><p>a mecanizaç ã o e atomizaç ã o; o segundo, a um mundo artí stico, no qual a luz</p><p>e a modelagem das formas, junto ao jogo de escalas, conduzem ao cená rio;</p><p>e o terceiro, a um mundo de formas arquitetô nicas, a um estilo propriamente</p><p>dito, denominado Barroco. “Os grandes temas em torno dos quais se fi xa a</p><p>atenç ã o do mundo artí stico do Barroco durante mais de um sé culo sã o trê s:</p><p>o movimento, a luz e o ilusionismo cenográ fi co” (PEREIRA, 2010, p. 159).</p><p>Conforme destaca Fazio, Moffett e Wodehouse (2011), em geral, a arquite-</p><p>tura barroca é caracterizada pela complexidade e pelo drama espaciais criados</p><p>pela luz que vem de fontes ocultas. Seus efeitos eram obtidos por meio do jogo</p><p>dinâ mico de formas cô ncavas e convexas; da preferê ncia por espaç os axiais</p><p>e centralizados, a qual se expressou principalmente em elementos elí pticos</p><p>ou ovais; e da integraç ã o criativa entre pintura, escultura e arquitetura para</p><p>criar ilusõ es e dissolver as fronteiras fí sicas. Esse ilusionismo ó tico derivado</p><p>dos binô mios forma-luz e forma-cor tem sua traduç ã o particular no cará ter</p><p>cenográ fico da arquitetura barroca, ao qual se referiu anteriormente.</p><p>Para</p><p>Pereira (2010), o estilo Barroco se manifesta:</p><p>[...] tanto nos elementos como no conjunto do edifício. Nos elementos</p><p>arquitetô nicos, a nota essencial é a liberdade com que sã o tratados, dis-</p><p>cordando das normas renascentistas pelo desejo obsessivo de movimento:</p><p>os entablamentos se curvam e os frontõ es se partem e descrevem curvas,</p><p>contracurvas e espirais. Esse amor desenfreado pelo curvilí neo triunfa na</p><p>coluna salomô nica, exemplo emblemá tico desse estilo. Mas o novo estilo nã o</p><p>apenas altera os elementos como transforma a concepç ã o geral de um edifí cio</p><p>(PEREIRA, 2010, p. 158).</p><p>As escolas regionais do Barroco no Brasil6</p><p>Com a característica das curvas, as paredes externas das edificações deixam</p><p>de ser retas e passam a se cruzar de forma ortogonal, influenciando os espaços</p><p>internos que antes eram quadrados ou retangulares. Segundo Pereira (2010),</p><p>ao oferecerem abundantes planos oblí quos para o olhar, ao mesmo tempo em</p><p>que produzem a sensaç ã o de movimento, as novas plantas criam belos efeitos</p><p>de luz, os quais se tornam uma das preocupaç õ es dos arquitetos ao projetar</p><p>edifí cios e espaç os urbanos.</p><p>Nesse sentido, pode-se destacar como característica do Barroco o con-</p><p>traste entre tons claros e escuros, técnica que intensifica a expressão dos</p><p>sentimentos, e o predomínio da emoção em detrimento da razão. A pintura</p><p>desse estilo, encontrada no interior das igrejas, é bastante realista e com temas</p><p>variados, desde a mitologia até a própria religião, tudo representado em forma</p><p>de retratos e cenas.</p><p>Na escultura, que também está presente nas edificações arquitetônicas</p><p>do Barroco, é possível perceber expressões de sofrimento, alegria e dor, pois</p><p>essa arte exprime movimentos e cenas dramáticas. Nela, há o predomínio da</p><p>linha curva, o uso da cor dourada e o efeito drapeado das vestes. As principais</p><p>características do movimento Barroco no Brasil são:</p><p> o rebuscamento e o exagero em cenas, figuras e detalhes arquitetônicos;</p><p> a valorização e o excesso dos detalhes;</p><p> o jogo de contrastes realizados por meio dos tons das cores e dos efeitos</p><p>de luz e sombra;</p><p> as obras valorizam as cores e os contrastes;</p><p> as artes apresentam movimento;</p><p> os principais temas representados são as passagens bíblicas, a história</p><p>da humanidade e a mitologia;</p><p> as cenas representadas pelos artistas se referem à vida da nobreza e ao</p><p>cotidiano da classe burguesa;</p><p> alguns artistas desse estilo se utilizavam da técnica da perspectiva para</p><p>decorar o interior das igrejas;</p><p> tanto na escultura como na arquitetura havia o predomínio da cor dou-</p><p>rada, os relevos e as curvas.</p><p>Na Figura 2, você pode ver um exemplo de pintura barroca.</p><p>7As escolas regionais do Barroco no Brasil</p><p>Figura 2. As Meninas de Diego Velásquez (1656): exemplo</p><p>de pintura barroca.</p><p>Fonte: Sua Pesquisa (2018, documento on-line).</p><p>Por meio de sua arte, o Barroco tinha por intuito converter, convencer e cate-</p><p>quizar a população, assim, praticamente as suas criações artísticas eram voltadas</p><p>ao ensino dos valores da religião católica. O estilo ressalta a oposição entre o céu e</p><p>o inferno, bem como a contraposição entre o antropocentrismo e o teocentrismo,</p><p>apresentando alguns conflitos dos valores renascentistas, presentes no período</p><p>anterior ao Barroco e à ética cristã, evidenciada nesse movimento. A represen-</p><p>tação nesse estilo demonstra a incerteza e a fragilidade humanas comparadas à</p><p>segurança e ao poder da Igreja católica, além do conflito entre o corpo e a alma</p><p>e o questionamento entre aguardar a eternidade ou aproveitar a vida efêmera.</p><p>Como em cada região do Brasil desenvolveu-se um estilo Barroco adaptado</p><p>à realidade e aos materiais disponíveis nelas, cada escola apresenta algumas</p><p>características peculiares. De acordo com Souza:</p><p>Duas linhas diferentes caracterizam o estilo barroco brasileiro. Nas regiões</p><p>enriquecidas pelo comércio de açúcar e pela mineração, encontramos Igrejas</p><p>com trabalhos e relevos de madeiras - as telhas recobertas por finas camadas</p><p>de ouro, com janelas, cornijas e portadas decoradas com detalhes e trabalhos</p><p>As escolas regionais do Barroco no Brasil8</p><p>de escultura. É o caso das construções barrocas de Minas Gerais, Rio de</p><p>Janeiro, Bahia e Pernambuco e a Paraíba especialmente. Já nas regiões onde</p><p>não existia nem o açúcar nem o ouro, a arquitetura teve outra feição. Aí as</p><p>Igrejas apresentam talhas modestas e trabalhos realizados por artistas menos</p><p>experientes e famosos do que os que viviam nas regiões mais ricas da época</p><p>(SOUZA, 2012, documento on-line).</p><p>Em todas as regiões, cada artista Barroco buscava pintar modelos bíblicos</p><p>de uma forma readaptada à cultura local. Em Pernambuco, por exemplo,</p><p>destacava-se o Barroco litorâneo, caracterizado pelo uso de materiais nobres</p><p>e decorações conforme os padrões ibéricos da época.</p><p>A escola baiana destacou-se pela decoração com elementos exagerados</p><p>principalmente nos interiores das igrejas. Na região de Minas Gerais, essa</p><p>escola regional era bastante forte e bela, apresentando todas as características do</p><p>Barroco, sobretudo os excessos de detalhes e as talhas douradas, e começando</p><p>a usar pinturas no forro em perspectiva.</p><p>Exemplos de arquitetura barroca no Brasil</p><p>Segundo Pereira (2010), a arquitetura religiosa barroca nã o apenas se orienta</p><p>para a criaç ã o de outras construç õ es, mas també m desenvolve um importante</p><p>trabalho de remodelaç ã o de igrejas já construí das, com a intenç ã o de modifi car</p><p>sua linguagem formal (adaptando-a ao novo gosto que imperava na é poca) e,</p><p>principalmente, mudar por completo sua confi guraç ã o espacial, mesmo que se</p><p>trate somente de intervenç õ es de pequena magnitude. Por sua vez, as diversas</p><p>transformaç õ es internas chegam a convertê -las em suas respectivas igrejas</p><p>barrocas, nas quais o edifí cio paleocristã o permanece materialmente, mas sua</p><p>forma, sua espacialidade e seu signifi cado mudam por completo.</p><p>Já no Brasil, a grande produção artística do estilo Barroco se apresenta</p><p>nas cidades do atual estado de Minas Gerais e da Bahia. Como essa região</p><p>se desenvolveu em virtude da mineração e da produção de açúcar, existia</p><p>nela uma intensa vida social que incentivava a produção cultural e artística.</p><p>O escultor e arquiteto Antônio Francisco Lisboa, Aleijadinho, foi o principal</p><p>representante do Barroco nas cidades de Minas Gerais.</p><p>A igreja de Bom Jesus dos Matosinhos (Figura 3), em Congonhas do</p><p>Campo, Minas Gerais, é um exemplo do estilo Barroco mineiro. Construída</p><p>em 1757, essa edificação tem em sua frente a escultura dos doze profetas,</p><p>feita por Aleijadinho, e sua fachada apresenta uma riqueza de detalhes e</p><p>uma imponência que é notada de longe.</p><p>9As escolas regionais do Barroco no Brasil</p><p>Figura 3. Igreja Bom Jesus dos Matosinhos.</p><p>Fonte: Santuário do Bom Jesus de Matosinhos (2017, documento on-line).</p><p>Na Bahia, destacaram-se o pintor Manuel da Costa Ataíde e o escultor</p><p>Mestre Valentim. Nessa região, o estilo Barroco está representado principal-</p><p>mente na parte interna das igrejas, por meio de sua decoração. A Igreja de São</p><p>Francisco de Assis (Figura 4), construída em 1708, apresenta em seu interior</p><p>talhamento dourado e imagens policromadas de mestres santeiros baianos,</p><p>bem como diversas obras primas da arte sacra. Há, ainda, grandes painéis de</p><p>azulejos do século XVIII, que retratam passagens bíblicas.</p><p>Figura 4. Igreja São Francisco de Assis.</p><p>Fonte: Andrade (2013, documento on-line).</p><p>As escolas regionais do Barroco no Brasil10</p><p>Outro importante exemplo da arquitetura barroca na Bahia é a Igreja da</p><p>Ordem Terceira de São Francisco (Figura 5), construída entre os séculos XVII</p><p>e XVIII. Essa edificação religiosa apresenta sua fachada toda em arenito, é o</p><p>único exemplar desse tipo no Brasil e teve como influência o estilo Barroco da</p><p>Espanha. No teto, encontram-se pinturas; e nos espaços internos, um conjunto</p><p>de azulejaria português.</p><p>Figura 5. Igreja da Ordem Terceira de São Francisco.</p><p>Fonte: Igreja da Ordem Terceira de São Francisco (Salvador) (2016,</p><p>documento on-line).</p><p>A Igreja e Mosteiro de São Bento (Figura 6), no Rio de Janeiro, construída</p><p>entre os anos de 1633 e 1691, é um importante exemplo do estilo Barroco</p><p>nessa região do país. Ela se destaca na paisagem, sendo ponto de referência,</p><p>e foi o maior empreendimento ocorrido na cidade no século XVII. Sua parte</p><p>interna apresenta algumas características do Barroco, como as talhas em</p><p>madeira e as esculturas.</p><p>11As escolas regionais do Barroco no Brasil</p><p>Figura 6. Igreja e Mosteiro de São Bento.</p><p>Fonte: Cláudia et al. (2010, documento on-line).</p><p>Já na região sul do Brasil, um exemplo é a Igreja de São Miguel (Figura 7),</p><p>localizada no Sítio Arqueológico dos Sete Povos das Missões. Ela foi construída</p><p>pelo arquiteto Giovanni Battista Primoli e contava com uma grande praça em</p><p>sua frente, na qual saíam as ruas do povoado.</p><p>Figura 7. Igreja de São Miguel.</p><p>Fonte: Câmara (2017, documento on-line).</p><p>Pode-se afirmar que a reforma e o Concílio foram essenciais para despertar</p><p>a fé na população. Já no Brasil, a arte no período Barroco facilitou a absorção</p><p>da doutrina católica e dos costumes tradicionais e foi um eficiente instrumento</p><p>pedagógico e catequético.</p><p>As escolas regionais do Barroco no Brasil12</p><p>ANDRADE, C. 13 de março – Igreja São Francisco. 13 mar. 2013. Disponível em:</p><p><https://365salvador.wordpress.com/2013/03/13/13-de-marco-igreja-sao-francisco/>.</p><p>Acesso em: 04 maio 2018.</p><p>ATAÍDE, M. C. Capela St. Barbara. 2010. Disponível em: <https://commons.wikimedia.</p><p>org/wiki/File:Ata%C3%ADde_-_capela_St_Barbara.jpg>. Acesso em: 04 maio 2018.</p><p>BAZIN, G. A arquitetura religiosa barroca no Brasil. Rio de Janeiro: Record, 1983. v. 1.</p><p>CÂMARA, R. S. São Miguel das Missões: história e turismo no RS. 15 abr. 2017. Disponível</p><p>em: <https://www.360meridianos.com/2017/04/sao-miguel-das-missoes-historia.</p><p>html>. Acesso em: 04 maio 2018.</p><p>CLÁUDIA, A. et al. O Barroco no Brasil. 01 mar. 2010. Disponível em: <https://arquitetu-</p><p>radobrasil.wordpress.com/o-barroco-no-brasil/>. Acesso em: 04 maio 2018.</p><p>FAZIO, M.; MOFFETT, M.; WODEHOUSE, L. A história da arquitetura mundial. 3. ed. Porto</p><p>Alegre: AMGH, 2011.</p><p>IGREJA DA ORDEM TERCEIRA DE SÃO FRANCISCO (SALVADOR). Wikipédia, 2016. Dspo-</p><p>nível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_da_Ordem_Terceira_de_S%C3%A3o_</p><p>Francisco_(Salvador)>. Acesso em: 04 maio 2018.</p><p>PEREIRA, J. R. A. Introdução à história da arquitetura: das origens ao século XXI. Porto</p><p>Alegre: Bookman, 2010.</p><p>SANTUÁRIO DO BOM JESUS DE MATOSINHOS. Wikipédia, 2017. Dsponível em: <https://</p><p>pt.wikipedia.org/wiki/Santu%C3%A1rio_do_Bom_Jesus_de_Matosinhos>. Acesso</p><p>em: 04 maio 2018.</p><p>SANTOS, A. G.; FERNANDES, C. A. C. F.; SANTOS, V. C. B. O barroco no Brasil e as Ima-</p><p>gens devocionais em madeira: intervenção de uma imagem roca. In: SEMINÁRIO</p><p>DE HISTÓRIA DA ARTE. 16., Pelotas, 2016. Artigos... Pelotas: Centro de Artes/UFP,</p><p>2017. Disponível em: <https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/Arte/article/</p><p>viewFile/11550/7390>. Acesso em: 24 abr. 2018.</p><p>SOUZA, J. P. O barroco no Brasil. 19 out. 2012. Disponível em: <https://www.webartigos.</p><p>com/artigos/o-barroco-no-brasil/97838>. Acesso em: 24 abr. 2018.</p><p>SUA PESQUISA. Barroco. 2018. Disponível em: <https://www.suapesquisa.com/bar-</p><p>roco>. Acesso em: 04 maio 2018.</p><p>Leitura recomendada</p><p>BATISTA, L. O Barroco na Europa, no Brasil e em Minas Gerais. 23 nov. 2010. Disponível</p><p>em: <http://apsicologiaonline.com.br/2010/11/o-barroco-na-europa-e-no-brasil-e-</p><p>-em-minas-gerais/>. Acesso em: 04 maio 2018.</p><p>13As escolas regionais do Barroco no Brasil</p><p>Conteúdo:</p><p>HISTÓRIA DA ARTE</p><p>E DO DESIGN</p><p>Jéssica Pinto de</p><p>Souza</p><p>Modernismo no Brasil</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p>� Definir modernismo.</p><p>� Reconhecer os ideais do movimento.</p><p>� Identificar obras modernistas.</p><p>Introdução</p><p>O modernismo brasileiro foi um movimento inspirado nas vanguardas</p><p>artísticas europeias do início do século XX, mas que buscou características</p><p>e uma identidade na cultura nacional. Ele teve um amplo desenvolvimento</p><p>no mundo das artes, atingindo a literatura, a música, as artes plásticas</p><p>e a arquitetura.</p><p>Neste capítulo, você vai estudar como o modernismo surgiu no Brasil</p><p>e quais são as suas principais características. Você também vai conhecer</p><p>os seus principais ideais e algumas obras importantes na pintura, na</p><p>escultura e na arquitetura.</p><p>Surgimento do modernismo no Brasil</p><p>O modernismo foi um movimento artístico e cultural que se desenvolveu no</p><p>Brasil na primeira metade do século XX, transformando a arte, a literatura</p><p>e a arquitetura produzidas no País. Ele surgiu a partir da influência das van-</p><p>guardas artísticas europeias do início do século, culminando na Semana de</p><p>Arte Moderna de 1922, realizada na cidade de São Paulo, que foi um marco</p><p>para o desenvolvimento do movimento no Brasil.</p><p>Ele surge como um movimento de rompimento com as tradições culturais,</p><p>propondo uma linguagem e uma estética novas. Em um primeiro momento, o</p><p>movimento atinge grande repercussão na pintura, com obras de artistas como</p><p>Anita Malfatti e Tarsila do Amaral. Na arquitetura, a expressão do movimento</p><p>moderno demora mais tempo para se formatar, ganhar repercussão e se expandir</p><p>como a estética predominante do século XX.</p><p>O arquiteto de origem russa Gregori Warchavchik foi o pioneiro da intro-</p><p>dução da linguagem modernista na arquitetura brasileira. Em 1927, projetou</p><p>e construiu a sua casa na cidade de São Paulo. Nela, utilizou uma linguagem</p><p>de volumes puros e sem ornamentação, como você pode ver na Figura 1.</p><p>Figura 1. Casa do arquiteto Gregori Warchavchik (1927–1928).</p><p>Fonte: Bruand (2008, p. 66).</p><p>Em 1930, Warchavchik passa a ser delegado para a América do Sul do</p><p>Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), uma das mais</p><p>importantes organizações da arquitetura moderna no mundo. O CIAM foi</p><p>idealizado e era organizado pelo arquiteto Le Corbusier, figura fundamental</p><p>do modernismo internacional.</p><p>A partir dessa projeção mundial, Warchavchik organizou uma grande</p><p>exposição, em 1930, na cidade de São Paulo. Muitas obras de arte e diversos</p><p>mobiliários modernistas foram dispostos em uma de suas residências, que</p><p>chamou de Casa Modernista (Figura 2). A exposição foi um grande sucesso.</p><p>Sua repercussão deu ao arquiteto fama nacional, o que resultou em um convite</p><p>para integrar o corpo docente da Escola de Belas Artes, no Rio de Janeiro,</p><p>sob a direção do arquiteto Lucio Costa (BRUAND, 2008).</p><p>Modernismo no Brasil2</p><p>Figura 2. Casa Modernista (1929–1930), Gregori Warchavchik</p><p>Fonte: Bruand (2008, p. 69).</p><p>No link a seguir, você vai encontrar um raro registro em vídeo da abertura da Exposição</p><p>da Casa Modernista, do arquiteto Gregori Warchavchik, em 1930. O registro mostra</p><p>diversas personalidades e artistas importantes, como o escritor Mário de Andrade, um</p><p>dos idealizadores da Semana de Arte Moderna de 1922.</p><p>https://goo.gl/5DNXtK</p><p>A edificação do Ministério da Educação (Figura 3) também materializou</p><p>um dos ideais da escola de arte e arquitetura alemã Bauhaus: unificação das</p><p>artes a partir da arquitetura. A edificação do Ministério foi complementada</p><p>por murais de Candido Portinari, paisagismos de Burle Marx e esculturas de</p><p>Bruno Giorgi, Jacques Lipchitz e Adriana Janacópulos.</p><p>3Modernismo no Brasil</p><p>Figura 3. Ministério da Educação e Saúde (1936–1943), Affonso Reidy, Carlos Leão, Ernani</p><p>Vasconcellos, Jorge Moreira e Oscar Niemeyer.</p><p>Fonte: Wisnik (2001, p. 52).</p><p>Modernismo no Brasil4</p><p>Características e ideais modernistas</p><p>Desde as primeiras manifestações do modernismo no Brasil, além das influ-</p><p>ências europeias, o movimento apresentou a intenção de buscar e valorizar</p><p>elementos da cultura nacional. Em 1924, Oswald de Andrade publica o Ma-</p><p>nifesto da Poesia Pau-Brasil, valorizando a realidade brasileira com um nova</p><p>estética literária. Em 1928, lança o Manifesto Antropofágico, que se tornou</p><p>um movimento que defendia a transformação das influências europeias em</p><p>uma expressão tipicamente nacional. Desse movimento</p><p>fez parte a pintora</p><p>Tarsila do Amaral, com uma de suas mais importantes obras, Abaporu, que</p><p>você pode ver na Figura 4.</p><p>Figura 4. Abaporu (1928), Tarsila do Amaral.</p><p>Fonte: Proença (2007, p. 236).</p><p>5Modernismo no Brasil</p><p>A intenção de promover a cultura nacional também norteou a arquitetura</p><p>modernista. Os arquitetos brasileiros conseguiram transformar as influências</p><p>europeias em uma estética original. Uma das grandes suas contribuições foi</p><p>a libertação das limitações impostas pelo funcionalismo do modernismo</p><p>europeu, valorizando as questões formais como aspectos tão importantes em</p><p>uma edificação quanto a sua função (BRUAND, 2008).</p><p>O arquiteto Oscar Niemeyer foi o grande nome da arquitetura modernista</p><p>brasileira. Ele se dedicou aos estudos e à inovação formal. Iniciando-se no</p><p>Conjunto da Pampulha (1942–1944), seus estudos formais chegam à maturi-</p><p>dade nas obras desenvolvidas para o projeto de Brasília, a capital brasileira</p><p>projetada por Lucio Costa. Veja, na Figura 5, a liberdade formal da arquitetura</p><p>de Niemeyer na Catedral de Brasília.</p><p>Figura 5. Catedral de Brasília (1958–1959), Oscar Niemeyer.</p><p>Fonte: Angelo Giampiccolo/Shutterstock.com</p><p>Além de inovar nas formas, caso das icônicas curvas da obra de Oscar</p><p>Niemeyer, a arquitetura modernista brasileira também se caracterizou por uma</p><p>forte influência das tradições locais, como elementos da arquitetura colonial</p><p>dos séculos XVI e XVII. Segundo Bruand (2008), quatro elementos essenciais</p><p>da arquitetura colonial foram utilizados e reinterpretados no modernismo</p><p>brasileiro: grandes beirais de telhados de telhas do tipo canal, venezianas e</p><p>Modernismo no Brasil6</p><p>muxarabis (painéis treliçados de madeira), blocos vazados, grandes varandas</p><p>e revestimentos de azulejos.</p><p>O desenho do mobiliário também passou a ser uma preocupação constante</p><p>entre os arquitetos modernistas. Eles se destacaram ainda como designers,</p><p>projetando peças que complementavam a estética da arquitetura moderna e</p><p>que resgatavam a cultura nacional, como é o caso dos móveis de madeira e</p><p>palhinha, que remetem à época colonial. A cadeira de Joaquim Tenreiro, que</p><p>você pode ver na Figura 6, alia o desenho moderno, de linhas simples e limpas,</p><p>com os materiais tradicionais brasileiros (DENIS, 2000). Ainda se destacaram</p><p>no design nomes como Sérgio Rodrigues, Jorge Zalszupin, Zanine Caldas,</p><p>Oscar Niemeyer e Lina Bo Bardi.</p><p>Figura 6. Cadeira de madeira e palha, Joaquim Tenreiro.</p><p>Fonte: Denis (2000, p. 164).</p><p>7Modernismo no Brasil</p><p>A integração da arquitetura com as artes plásticas também foi uma impor-</p><p>tante característica das principais obras do modernismo brasileiro, presente</p><p>desde o projeto do Ministério da Educação e Saúde até o complexo conjunto de</p><p>Brasília. O pintor Portinari e o paisagista Burle Marx foram as figuras centrais</p><p>dessa interdependência entre a arte e a arquitetura modernas (ROSA, 2005).</p><p>Há duas correntes com características distintas que constituem o panorama</p><p>da arquitetura modernista no Brasil: a escola carioca e a escola paulista, como</p><p>você vai ver a seguir.</p><p>Escola carioca</p><p>Escola carioca é o nome dado à corrente de arquitetura modernista influen-</p><p>ciada pelos ideais dos arquitetos Lucio Costa e Oscar Niemeyer, radicados</p><p>na cidade do Rio de Janeiro. Ela tem como características a integração dos</p><p>ideais modernistas do arquiteto Le Corbusier com uma arquitetura resultante</p><p>da cultura nacional e dos estudos formais de Costa e Niemeyer.</p><p>Após alcançar a fama internacional, ficando conhecida como brazilian</p><p>style, a estética carioca se disseminou pelo País entre os anos 1940 e 1950.</p><p>Sua obra icônica é o projeto para a cidade de Brasília. Além dos arquitetos</p><p>já mencionados, também se destacaram na escola carioca Affonso Eduardo</p><p>Reidy, Marcelo e Milton Roberto e Attilio Correia Lima.</p><p>Le Corbusier foi um dos arquitetos mais importantes do século XX e um dos principais</p><p>representantes do movimento modernista. Ele influenciou profundamente a arquitetura</p><p>moderna brasileira, especialmente com sua metodologia de projeto baseada nos cinco</p><p>pontos da arquitetura moderna, que são:</p><p>1. uso de pilotis que retiram a edificação do solo e permitem a utilização do espaço</p><p>liberado;</p><p>2. uso de terraço-jardim, transformando as coberturas das edificações em espaços</p><p>utilizáveis;</p><p>3. planta livre, resultado do uso das estruturas independentes dos fechamentos,</p><p>permitindo flexibilidade nas divisórias internas;</p><p>4. fachada livre, resultado também do uso das estruturas independentes, possibilitando</p><p>a utilização de grandes aberturas para iluminação e ventilação;</p><p>5. janelas em fita, que possibilitam espaços melhor iluminados e melhores visuais</p><p>da paisagem externa.</p><p>Modernismo no Brasil8</p><p>Escola paulista</p><p>A escola paulista é a corrente arquitetônica modernista constituída a partir dos</p><p>ideais do arquiteto Vilanova Artigas. Também chamada por alguns autores</p><p>de brutalismo paulista, se caracteriza pelo uso do concreto aparente, com</p><p>destaque para as questões técnicas e para a solução estrutural.</p><p>O projeto de Artigas para a Faculdade de Arquitetura da Universidade</p><p>de São Paulo (USP), em 1961, se tornou o grande símbolo da escola paulista.</p><p>Nele, a forma é definida pela grande estrutura de concreto aparente. O grande</p><p>vazio central, iluminado por meio de aberturas zenitais (na cobertura), é a</p><p>tradução de um espaço democrático para um novo curso e novas metodologias</p><p>de ensino, que influenciaram a arquitetura brasileira a partir da década de</p><p>1960 (Figura 7).</p><p>Figura 7. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo (1961–1969),</p><p>Vilanova Artigas.</p><p>Fonte: Bruand (2008, p. 302).</p><p>9Modernismo no Brasil</p><p>Obras do modernismo</p><p>O modernismo brasileiro produziu grande número de obras de destaque em</p><p>todos os campos das artes. A seguir, você vai conhecer algumas dessas obras</p><p>que se destacaram nos campos da pintura, da escultura e da arquitetura.</p><p>Pintura</p><p>O pintor Candido Portinari foi um dos principais artistas modernistas</p><p>que trabalhou em conjunto com os arquitetos da época. Ele desenvolveu</p><p>painéis para o Conjunto da Pampulha, para o Ministério da Educação e</p><p>Saúde, para o Memorial da América Latina e para a sede da Organização</p><p>das Nações Unidas em Nova Iorque. Com a obra Café, que você pode ver</p><p>na Figura 8, Portinari ganhou um prêmio internacional de pintura nos</p><p>Estados Unidos. Como era usual em suas pinturas, essa apresenta uma</p><p>distorção nas figuras humanas, destacando os volumes de pés e braços e</p><p>enfatizando a ligação dos personagens retratados com a terra e com a força</p><p>braçal no trabalho do campo.</p><p>Figura 8. Café (1935), Candido Portinari.</p><p>Fonte: Proença (2007, p. 239).</p><p>Modernismo no Brasil10</p><p>Escultura</p><p>O escultor Bruno Giorgi tem uma grande produção associada à arquitetura</p><p>moderna, com obras no Ministério da Educação e Cultura e outros locais de</p><p>Brasília. A obra Os guerreiros (também conhecida como Os candangos), que</p><p>você pode ver na Figura 9, foi desenvolvida para a Praça dos Três Poderes, em</p><p>Brasília, e mostra duas figuras de guerreiros fluidas e alongadas. Além disso,</p><p>essa obra faz homenagem aos homens que trabalharam na construção da cidade.</p><p>Figura 9. Os guerreiros (1959), Bruno Giorgi.</p><p>Fonte: Proença (2007, p. 241).</p><p>11Modernismo no Brasil</p><p>Design</p><p>O arquiteto e designer Sérgio Rodrigues foi um dos responsáveis pela re-</p><p>novação estética do design de mobiliário no Brasil no século XX. Sua obra</p><p>alia a estética modernista a materiais e características da cultura brasileira.</p><p>Ele utilizava madeira, couro, palha e metal em seus projetos. Na cadeira</p><p>Oscar (originalmente Poltrona Leve Jockey), que você pode ver na Figura 10,</p><p>projetada para os interiores do Jockey Clube, do Rio de Janeiro, há a união</p><p>do desenho moderno com madeira e palha. Além disso, há uma referência ao</p><p>desenho das colunas do Palácio da Alvorada, do arquiteto Oscar Niemeyer</p><p>(COSTA JUNIOR, 2014).</p><p>Figura 10. Cadeira Oscar (1956), Sérgio Rodrigues.</p><p>Fonte: Costa Junior (2014, p. 85).</p><p>José Zanine Caldas também foi um designer com um importante papel</p><p>na</p><p>estética do design brasileiro. Ele é considerado um dos pioneiros no ensino do</p><p>design industrial no País devido à sua atuação como instrutor no laboratório de</p><p>maquetes da Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo. Buscando</p><p>Modernismo no Brasil12</p><p>um produto mais acessível à população, Zanini passou a utilizar a madeira</p><p>compensada, como você pode ver na Figura 11, que mostra uma poltrona em</p><p>que essa madeira é combinada com o couro (COSTA JUNIOR, 2014).</p><p>Figura 11. Poltrona (1949), Zanine Caldas.</p><p>Fonte: Costa Junior (2014, p. 83).</p><p>Arquitetura</p><p>O projeto para o Ministério da Educação e Saúde (que você viu na Figura 3)</p><p>foi uma das obras que se tornou ícone da estética modernista brasileira. Pro-</p><p>jetado por uma equipe liderada pelo arquiteto Lucio Costa, a edificação foi</p><p>uma das primeiras a ser construída com cortina de vidro e com a utilização</p><p>em grande escada de brise-soleil, um elemento arquitetônico inventado por</p><p>Le Corbusier para proteção contra a incidêcnia excessiva de sol. Também</p><p>apresenta a estrutura de pilares independentes, que resulta em pavimentos</p><p>livres organizados com divisórias leves. O térreo é elevado sobre pilotis,</p><p>liberando o espaço para uma grande praça pública complementada pelos</p><p>murais de Portinari e jardins de Burle Marx.</p><p>13Modernismo no Brasil</p><p>A edificação do Congresso Nacional, projetada pelo arquiteto Oscar Nie-</p><p>meyer para a cidade de Brasília, representa um importante período na história</p><p>da arquitetura brasileira. Além disso, juntamente ao conjunto de edificações</p><p>projetadas para a nova capital, representa o grande ápice da carreira do ar-</p><p>quiteto. Essa edificação se constitui por duas torres verticais iguais com duas</p><p>cúpulas de posições contrárias sobre um grande platô horizontal. Uma simpli-</p><p>ficação formal que resulta em uma obra monumental e com uma plasticidade</p><p>que marca a paisagem do eixo monumental e da praça dos três poderes.</p><p>A edificação da Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo</p><p>(que você viu na Figura 7 e vê novamente na Figura 12) é uma das mais impor-</p><p>tantes obras do arquiteto Vilanova Artigas, um dos principais representantes</p><p>da escola paulista. Ela é uma grande caixa de concreto aparente apoiada em</p><p>finos pilares que aparentam sustentar todo o peso do volume. As paredes</p><p>cegas da caixa envolvem o espaço interno das salas de aula dispostas em</p><p>torno de um grande átrio central, fluido e iluminado por meio da cobertura</p><p>com transparência. Essa edificação materializa o ideal do arquiteto de uma</p><p>vida comunitária e democrática, com espaços que facilitam as trocas e</p><p>contatos entre as pessoas.</p><p>Figura 12. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo (1961–1969),</p><p>Vilanova Artigas.</p><p>Fonte: Bruand (2008, p. 301).</p><p>Modernismo no Brasil14</p><p>1. A arquitetura modernista brasileira,</p><p>influenciada pelo movimento das</p><p>artes plásticas, busca a valorização</p><p>da cultura nacional, incorporada à</p><p>nova estética proposta. Assinale a</p><p>alternativa que contém os elementos</p><p>utilizados para materializar essa</p><p>intenção nos projetos modernistas.</p><p>a) Blocos vazados, pilotis</p><p>e janelas em fita.</p><p>b) Grandes beirais, venezianas</p><p>e blocos vazados.</p><p>c) Telhados planos, concreto</p><p>aparente e venezianas.</p><p>d) Terraços-jardins, revestimentos</p><p>de azulejos e planta livre.</p><p>e) Janelas em fita, pilotis</p><p>e terraço-jardim.</p><p>2. A edificação projetada para o</p><p>Ministério da Educação e Saúde</p><p>(1936) se tornou um ícone</p><p>da estética e da arquitetura</p><p>modernista brasileira. Assinale</p><p>a alternativa que contém uma</p><p>das características dessa obra</p><p>que se tornou referência para a</p><p>produção arquitetônica moderna.</p><p>a) Utilização do concreto</p><p>aparente típico do brutalismo</p><p>de Le Corbusier.</p><p>b) Valorização da cultural</p><p>nacional por meio da utilização</p><p>dos sistemas construtivos</p><p>tradicionais, como a estrutura</p><p>de tijolo de barro.</p><p>c) Influência da arquitetura</p><p>internacional por meio dos</p><p>cinco pontos da arquitetura</p><p>de Lucio Costa.</p><p>d) Utilização de elementos clássicos</p><p>na ornamentação das fachadas,</p><p>como cornijas e frisos.</p><p>e) União entre a arquitetura e as</p><p>artes plásticas para a composição</p><p>estética da edificação.</p><p>3. A arquitetura moderna brasileira</p><p>se afasta da influência inicial</p><p>da arquitetura internacional</p><p>especialmente com a obra</p><p>do arquiteto Oscar Niemeyer.</p><p>Inicialmente, isso acontece em sua</p><p>obra no Conjunto da Pampulha.</p><p>Posteriormente, no conjunto</p><p>de edificações para a cidade de</p><p>Brasília. Assinale a alternativa</p><p>que contém o grande diferencial</p><p>da obra desse arquiteto.</p><p>a) A obra de Niemeyer se afasta</p><p>da rigidez formal da arquitetura</p><p>europeia, propondo formas</p><p>mais livres que se destacam</p><p>pelo uso das curvas.</p><p>b) A obra de Niemeyer não utiliza os</p><p>materiais comuns na arquitetura</p><p>europeia, propondo o uso dos</p><p>volumes puros e brancos.</p><p>c) A obra de Niemeyer se afasta</p><p>da arquitetura europeia,</p><p>propondo a utilização de</p><p>estruturas em madeira.</p><p>d) A obra de Niemeyer se afasta da</p><p>arquitetura europeia por evitar</p><p>o uso de pequenas aberturas e</p><p>propor grandes janelas em fita.</p><p>e) A obra de Niemeyer se afasta da</p><p>arquitetura europeia por utilizar</p><p>os cinco pontos da arquitetura de</p><p>Le Corbusier em seus projetos.</p><p>4. O arquiteto Gregori Warchavchik</p><p>pode ser considerado um dos</p><p>primeiros arquitetos brasileiros a</p><p>destacar a importância do design</p><p>de interiores aliado à arquitetura</p><p>moderna. Assinale a alternativa</p><p>15Modernismo no Brasil</p><p>BRUAND, Y. Arquitetura contemporânea no Brasil. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 2008.</p><p>COSTA JÚNIOR, J. A. Arquitetos-designers: o mobiliário moderno da Universidade de</p><p>Brasília. 2014. 215 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade</p><p>de Brasília, Brasília, 2014.</p><p>DENIS, R. C. Uma introdução à história do design. São Paulo: Edgard Blücher, 2000.</p><p>PROENÇA, G. História da arte. 17. ed. São Paulo: Ática, 2007.</p><p>ROSA, R. B. Arquitetura, a síntese das artes: um olhar sobre os pontos de contato entre</p><p>arte e arquitetura na modernidade brasileira. 2005. 100 f. Dissertação (Mestrado) – Curso</p><p>de Programa de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura, Universidade Federal do</p><p>Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005. Disponível em: <https://www.lume.ufrgs.br/</p><p>handle/10183/5114>. Acesso em: 27 set. 2018.</p><p>WISNIK, G. Lucio Costa. São Paulo: Cosac & Naify, 2001.</p><p>que contém a justificativa</p><p>correta para essa afirmação.</p><p>a) Gregori Warchavchik</p><p>formatou os cinco pontos da</p><p>arquitetura modernista.</p><p>b) Gregori Warchavchik projetou</p><p>todo o mobiliário para a sua</p><p>exposição da Casa Modernista,</p><p>na cidade de São Paulo.</p><p>c) Gregori Warchavchik se destacou</p><p>como professor da Faculdade de</p><p>Arquitetura da USP, influenciando</p><p>a formação do design brasileiro.</p><p>d) Gregori Warchavchik foi o</p><p>idealizador do plano para a</p><p>cidade de Brasília, em parceria</p><p>com o arquiteto Oscar Niemeyer.</p><p>e) Gregori Warchavchik utilizou o</p><p>mobiliário colonial para valorizar</p><p>a cultura nacional em sua</p><p>exposição da Casa Modernista.</p><p>5. A união entre o design e a</p><p>arquitetura modernista brasileira</p><p>criou um novo repertório de</p><p>mobiliário que busca a valorização</p><p>da cultura nacional. Assinale a</p><p>alternativa que mostra como</p><p>o design moderno brasileiro</p><p>alcançou esse objetivo.</p><p>a) Unindo o desenho moderno</p><p>a materiais tradicionais,</p><p>como a madeira e a palha.</p><p>b) Unindo um desenho tradicional,</p><p>com ornamentação em</p><p>estilo colonial, e materiais</p><p>modernos como o metal.</p><p>c) Utilizando somente reproduções</p><p>de mobiliários tipicamente</p><p>brasileiros do período colonial.</p><p>d) Utilizando apenas a</p><p>produção artesanal em</p><p>peças únicas, baseadas na</p><p>ornamentação e na criatividade</p><p>individual do artesão.</p><p>e) Aproveitando tendências</p><p>internacionais em voga.</p><p>Modernismo no Brasil16</p><p>Conteúdo:</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>AOS ESTUDOS</p><p>DA LITERATURA</p><p>Renan Cardozo Gomes</p><p>da Silva</p><p>O Barroco brasileiro</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p> Analisar um breve panorama do Brasil na época do Barroco.</p><p> Diferenciar as noções de Antonio Cândido e de Haroldo de Campos</p><p>sobre o Barroco brasileiro.</p><p></p><p>comedido, quase clássico, que se</p><p>impôs pouco a pouco como um estilo dominante na Europa. No palácio de</p><p>Versalles, a fachada do lado do jardim revela um único fator de movimento:</p><p>as três pequenas galerias sobrepostas, em dois planos, à própria fachada. O</p><p>recorte do palácio foi pensado como pano de fundo para o imenso parque. Na</p><p>91Barroco</p><p>HA_U2_C07.indd 91 12/01/2018 15:44:00</p><p>Áustria e na Alemanha, o Barroco foi inspirado nos exemplos franceses, e a</p><p>igreja Karlskirche, em Viena, acompanha mais o estilo italiano. O Barroco</p><p>espanhol é repleto de ornamentações em suas arquiteturas, temos como exemplo</p><p>clássico o estilo da Igreja de São Tiago de Compostela.</p><p>A pintura barroca se caracteriza por composições assimétricas, em diagonal,</p><p>conferindo um estilo monumental, retorcido, realista, evidenciando todas as</p><p>camadas; apresenta ainda cenas no ponto auge de sua dramaticidade; e apresenta</p><p>um novo gênero de pintura aos tradicionais, o da natureza-morta, que evidencia</p><p>questões da vida cotidiana, como flores, livros, peças de caça e outros.</p><p>Os principais pintores italianos foram: Caravaggio (1571-1610), que não</p><p>se interessava pela beleza clássica, mas procurava os seus modelos entre os</p><p>vendedores, os músicos ambulantes, os ciganos, ou seja, entre as pessoas do</p><p>povo. Em seus trabalhos, chama a atenção a maneira do uso da luz, como você</p><p>pode observar na Figura 4. Na arte religiosa, pintou os santos como gente</p><p>comum e os milagres, como eventos do cotidiano.</p><p>Figura 4. A crucificação de São Pedro (Caravaggio, 1601).</p><p>Fonte: FXEGS Javier Espuny/Shutterstock.com.</p><p>Barroco92</p><p>HA_U2_C07.indd 92 12/01/2018 15:44:01</p><p>Outros dois pintores importantes dessa época foram: Andrea Pozzo (1642-</p><p>1709), que pintava os tetos das igrejas, em que o céu se abria e os santos e anjos</p><p>convidavam os homens para a santidade, fazendo com que sua composição</p><p>fosse centrífuga ao aglomerar figuras lado a lado; e Diogo Velázquez (1599 -</p><p>1660), pintor espanhol que retratava as pessoas da corte espanhola do século</p><p>XVII, procurando registrar em seus quadros também os tipos populares do</p><p>seus país, documentando o cotidiano do povo espanhol em um momento da</p><p>história. Ele utilizava efeitos luminosos, por meio de uma contínua e gradual</p><p>mudança de intensidade nas várias zonas da tela, para fazer da composição um</p><p>jogo de anotações coloristas simbólicas, escondidas atrás de uma aparência</p><p>de adesão ao tema.</p><p>A escultura barroca, apresenta como características o predomínio das</p><p>linhas curvas, os drapeados das vestes e o uso do dourado. Os gestos e o rostos</p><p>dos personagens revelam emoções violentas e tingem uma dramaticidade que</p><p>não era conhecida no Renascimento. Uma grande preocupação dos escultores</p><p>barrocos é a de se fundirem nas outras artes. As esculturas barrocas são</p><p>concebidas combinando movimentos soltos e vivos das figuras.</p><p>O principal escultor dessa época foi Gianlorenzo Bernini (1598-1610), que</p><p>também foi arquiteto, urbanista, decorador, teatrólogo, compositor e cenógrafo.</p><p>Algumas de suas obras formam usadas como elementos decorativos das igrejas,</p><p>por exemplo, o baldaquino e a cadeira de São Pedro, ambos na Basílica de</p><p>São Pedro, no Vaticano. Pode-se dizer que sua obra mais famosa é o Êxtase</p><p>de Santa Teresa, como explica Proença (2003, p. 107):</p><p>A obra de Bernini que desperta maior emoção religiosa é o Êxtase de Santa</p><p>Teresa, escultura feita para uma capela da igreja de Santa Maria della Vittorio,</p><p>em Roma. O grupo escultórico reproduz, com intensa dramaticidade, o mo-</p><p>mento em que Santa Teresa é visitada por um anjo que lhe fere o peito várias</p><p>vezes com uma flecha. Segundo relato da própria santa, esses ferimentos, que</p><p>lhe causaram profunda dor, transformaram-se na experiência mística do amor</p><p>de Deus. Bernini parece registrar o momento em que o anjo segura a flecha</p><p>pronto para desferir mais um golpe. E ao registrar esse momento que é pura</p><p>expectativa, o artista envolve o observador emocionalmente.</p><p>A produção de escultura do período se desenvolve de um gênero de com-</p><p>posição grupal chamado de “sacro monte”, concebido pela igreja e difundido</p><p>em outros países. É um conjunto que reproduz a Paixão de Cristo e outras</p><p>cenas piedosas, com figuras policromas em atitudes realistas e dramáticas em</p><p>um arranjo teatralizado, destinadas a comover o público. Desse instrumental</p><p>pedagógico católico fazia parte a construção de cenários nos quais eram co-</p><p>93Barroco</p><p>HA_U2_C07.indd 93 12/01/2018 15:44:01</p><p>locadas as estátuas, para criar maior ilusão de realidade, em uma concepção</p><p>mais teatral.</p><p>A literatura barroca foi um período caracterizado pelas oposições, contrastes</p><p>e dilemas. O homem desse período buscava a salvação, mas, ao mesmo tempo,</p><p>queria aproveitar os prazeres mundanos. As principais características desse</p><p>período literário são: uso de recursos como antíteses, metáforas, paradoxo e</p><p>sinestesia; pessimismo; linguagem muito rebuscada e obscura; e intensidade</p><p>com a presença da hipérbole.</p><p>Logo após a primeira parte do século XVII, a literatura deu origem à lite-</p><p>ratura moderna. A herança clássica trazia padrões morais e formas estéticas,</p><p>sendo que a literatura do século anterior era repleta de moral, mas, ao mesmo</p><p>tempo, havia a necessidade cristã de rejeitar o tão prezado modelo clássico,</p><p>por sua origem pagã, considerada uma influência enganosa e corruptora, o</p><p>que explica a rejeição do classicismo em boa parte do Barroco.</p><p>O conflito se estendeu para a área da educação, até então, também pesa-</p><p>damente devedora dos clássicos e com as influências jesuítica, vista como</p><p>primeiro e principal instrumento de reforma social. Em termos estilísticos,</p><p>a literatura barroca dedicou um profundo cuidado à forma e ao virtuosismo</p><p>linguístico, com o objetivo de maravilhar e convencer o leitor, o que im-</p><p>plicava o uso de figuras de linguagem e outros artifícios retóricos, como a</p><p>metáfora, a elipse, a antítese, o paradoxo e a hipérbole, com grande detalhe</p><p>a ornamentação como partes essenciais do discurso para mostrar erudição</p><p>e bom gosto.</p><p>Arte Barroca no Brasil</p><p>No Brasil, o Barroco aconteceu no século XVIII, o chamado “século do ouro”,</p><p>e foi formado por uma complexa influência europeia, principalmente pelo</p><p>Barroco Português, mas com o tempo adquiriu suas próprias características.</p><p>No país essa tendência artística ocorreu na arquitetura, escultura, pintura e</p><p>literatura.</p><p>A maior produção artística barroca ocorreu nas cidades de Minas Gerais,</p><p>ricas em jazidas de ouro. Essas cidades, além de riquezas, possuíam uma</p><p>intensa vida artística e cultural. O principal artista barroco do Brasil foi o</p><p>escultor e arquiteto Antônio Francisco de Lisboa, popularmente conhecido</p><p>como Aleijadinho, em razão de uma doença degenerativa que deixava seu</p><p>corpo progressivamente deformado. As obras possuíam forte caráter religioso</p><p>e eram feitas em madeira e pedra-sabão, principais materiais utilizados pelos</p><p>Barroco94</p><p>HA_U2_C07.indd 94 12/01/2018 15:44:01</p><p>artistas brasileiros no período barroco. Suas principais obras foram Os Doze</p><p>Profetas (veja a Figura 5) e Os Passos da Paixão.</p><p>Figura 5. Os dozes Profetas, de Aleijadinho.</p><p>Fonte: Museu de Ciências da USP (c2017).</p><p>Outros nomes que também se destacaram neste período foram o pintor</p><p>Manuel da Costa Ataíde e o escultor carioca Mestre Valentim. Na Bahia,</p><p>especialmente em Salvador, o barroco teve grande destaque nas decorações</p><p>das igrejas de São Francisco de Assis e a da Ordem Terceira de São Fran-</p><p>cisco. Nessa época, a primeira capital do Brasil, Salvador, foi transferida</p><p>para o Rio de Janeiro. A literatura no Brasil tem início no ano de 1601, com</p><p>a publicação da obra Prosopopeia, de Bento Teixeira, poema épico, com</p><p>94 estrofes, que exalta a obra de Jorge de Albuquerque Coelho, terceiro</p><p>donatário da capitania de Pernambuco. Podemos destacar, ainda, o poeta</p><p>Gregório de Matos Guerra, que se destacou com sua poesia lírica, religiosa,</p><p>erótica e satírica. Ficou conhecido como Boca do Inferno, porque sua poesia</p><p>ironizava diversos aspectos</p><p>Ler de forma crítica as obras desse período.</p><p>Introdução</p><p>O Barroco corresponde ao movimento estético e ao período histórico que</p><p>vigorou na Europa entre o final do século XVI e meados do século XVIII.</p><p>Boa parte dos estudiosos da história, das artes e da literatura consideram</p><p>o Barroco como uma continuação do Renascimento, devido ao interesse</p><p>pela arte da antiguidade clássica. Todavia, ele não está fortemente atento</p><p>à transição cultural do feudalismo para a modernidade, mas sim ao Ab-</p><p>solutismo e à Contrarreforma católica.</p><p>Entre as inovações estéticas e temáticas trazidas pelo Barroco, podem</p><p>ser enumeradas as antinomias bem/mal, Deus/homem, céu/terra; a luta</p><p>entre o sagrado e o profano; o hedonismo; a valorização do presente; o</p><p>uso de metáforas, o gosto pelos pormenores e os malabarismos verbais.</p><p>No Brasil, o Barroco se integra ao período colonial brasileiro, que congrega</p><p>as primeiras manifestações literárias da colônia — basicamente, relatos</p><p>de viagem de cunho informativo e cartas e sermões dos missionários</p><p>catequistas jesuítas.</p><p>Neste capítulo, você vai ter acesso a conhecimentos que lhe permitirão</p><p>traçar um breve panorama do Brasil na época do Barroco. Além disso,</p><p>poderá contrastar a visão de críticos literários sobre o referido movimento,</p><p>especificamente por Antonio Cândido e Haroldo de Campos. Ao final,</p><p>você terá a possibilidade de desenvolver uma leitura crítica de obras</p><p>desse período: o épico Prosopopeia, de Bento Teixeira, o poema A Cristo</p><p>N. S. crucificado, de Gregório de Matos, e o Sermão da Sexagésima, de</p><p>António Vieira.</p><p>Breve panorama do Barroco no Brasil</p><p>O Barroco teve o seu início no fi nal do século XVI na Itália, e logo foi di-</p><p>fundido entre os reinos católicos da Europa e das Américas, alcançando por</p><p>fi m, de maneira modesta e modifi cada, alguns reinos protestantes e o Oriente.</p><p>Derivado do Renascimento, o Barroco mantém a admiração pelas artes e</p><p>pela fi losofi a clássica, embora política e economicamente não tenha como</p><p>cerne a consolidação da modernidade, mas sim a necessidade de fortifi car</p><p>as monarquias absolutistas. Alicerçado sobre o catolicismo, buscava também</p><p>combater a ética protestante que se alastrava pela Europa após a Reforma</p><p>proposta por Lutero na Alemanha.</p><p>Conforme Deleuze (1991), o Barroco é uma tentativa de reconstruir a razão</p><p>clássica e, sob diferentes olhares, diz respeito não somente a um movimento</p><p>estético, mas também a um período cultural e histórico. A vontade de recons-</p><p>truir o ideário greco-romano pautava-se pelo desejo de constituir, a partir dele,</p><p>novas maneiras de entender o homem, o mundo e Deus. Esses conhecimentos</p><p>seriam aplicados com propósitos táticos específicos, como o manejo efetivo</p><p>das massas e a sua doutrinação pela fé. A partir dessa perspectiva, as origens</p><p>do Barroco respondem a três vias principais: a histórica, a religiosa-política</p><p>e a econômica.</p><p>Historicamente, embora mantivesse o estatuto de centro cultural do Oci-</p><p>dente, a Itália estava enfraquecida pelos constantes ataques e pelas invasões</p><p>de inimigos como os germânicos, liderados por Carlos V. Isso culminou, em</p><p>1527, no Saque de Roma. Abalada internamente, a Itália perdeu força, e com</p><p>isso começou a desaparecer a esperança colocada sobre os tempos áureos do</p><p>Renascimento. Da mesma forma, o otimismo humanista entrou em colapso</p><p>frente às guerras constantes, à pavonice da igreja e à dominação do povo por</p><p>uma política cruel e hipócrita. Essas fragilidades deram forma ao Maneirismo,</p><p>uma corrente estética marcada pela excentricidade e pelo elogio ao bizarro,</p><p>cujos questionamentos e desassossegos eram embalados pelo estilo sofisticado</p><p>e experimental. No âmbito religioso, as crises estavam igualmente presentes,</p><p>embora as suas motivações fossem externas: a Reforma Protestante, cujo marco</p><p>é a publicação das 95 teses de Martinho Lutero, em 1517, colocava em risco</p><p>a unidade da Igreja e criticava vorazmente a idolatria católica, a opulência e</p><p>a corrupção do clero.</p><p>Diante da ameaça protestante, a Igreja convocou o Concílio de Trento,</p><p>realizado entre 1545 e 1563, voltado à orquestração da Contrarreforma, uma</p><p>série de medidas voltadas ao combate à ideologia luterana e à inibição da perda</p><p>de fiéis — e, consequentemente, de influência política. Algumas das medidas</p><p>O Barroco brasileiro2</p><p>tomadas foram a revisão da doutrina católica, que se voltou à busca de uma</p><p>nova concepção de Deus e a como o homem se relaciona com ele, à tentativa</p><p>de moralização da classe clerical e ao uso da arte sacra e da literatura como</p><p>instrumentos de catequismo.</p><p>As medidas da Contrarreforma afetaram diretamente a economia dos</p><p>reinos católicos, uma vez que as guerras e o traçado de rotas alternativas de</p><p>comércio demandavam uma reorganização. Por outro lado, devido à expansão</p><p>marítima dos reinos do Oeste europeu, a Itália deixou de ser o centro comercial</p><p>do continente, financiado pelas riquezas subtraídas das colônias.</p><p>Esses fatores, capitaneados pela Contrarreforma, modificaram substan-</p><p>cialmente o cenário sociocultural e econômico, dando origem ao Barroco.</p><p>Baseado pela ética teológica promulgada pelo Concílio de Trento, o Barroco</p><p>visava refrear a excentricidade maneirista, ao passo que buscava a reafirma-</p><p>ção da doutrina católica e a homogeneização de um estilo mais facilmente</p><p>compreensível pelo povo. Para isso, criou-se a figura do censor: geralmente</p><p>membros do clero, cuja função era manter a moralidade nas artes e na literatura.</p><p>Nesse contexto, constituem-se três elementos fundamentais para a estética</p><p>barroca: a ordem dos jesuítas, cujo papel intelectual e político moldou os</p><p>estilos do Barroco; as monarquias absolutistas, que financiavam a arte para</p><p>que esta representasse os seus valores; e a burguesia, classe que se consolidava</p><p>enquanto influência política e econômica, passando a letrar-se e a consumir</p><p>objetos artísticos e livros. Entre os grandes expoentes do Barroco na Europa,</p><p>podemos citar os pintores Caravaggio, Bernini e Velázquez, os compositores</p><p>e músicos Vivaldi e Monteverdi, os arquitetos Borromini e Cortona, e os</p><p>escritores Góngora, Marino, Gregório de Matos, La Fontaine e Dryden.</p><p>Cabe lembrar que, para fins puramente didáticos, o Barroco em Portugal teve início</p><p>em 1580, quando Portugal perdeu a sua autonomia política após a morte de Dom</p><p>Sebastião, passando a ser uma dinastia do Império Espanhol. No mesmo ano, morreu</p><p>Camões, o grande poeta Renascentista. O Barroco português passou a ter forte apelo</p><p>sebastianista, com a crença mística de que Dom Sebastião, “desaparecido” durante</p><p>a batalha de Alcácer-Quibir, regressaria como messias para elevar o povo português</p><p>novamente à sua honra e glória. O movimento teve o seu fim apontado em 1756,</p><p>com a fundação da Arcádia Lusitana, reputada academia literária portuguesa que deu</p><p>origem à tradição subsequente ao Barroco: o Arcadismo.</p><p>3O Barroco brasileiro</p><p>No Brasil, o Barroco iniciou por volta de 1600, final do Quinhentismo e</p><p>início do Seiscentismo. Esses períodos históricos e culturais dizem respeito às</p><p>manifestações artísticas e literárias produzidas no século XVI e XVII, isto é,</p><p>às primeiras manifestações culturais em território colonial. Como movimento</p><p>estético dominante durante boa parte do período colonial brasileiro, os seus</p><p>principais artistas são o pintor Eusébio de Matos e Guerra, o arquiteto Frei</p><p>Jesuíno do Monte Carmelo, o escultor Aleijadinho (Antônio Francisco Lisboa),</p><p>o compositor, dramaturgo e músico Antônio José da Silva (o Judeu) e o poeta</p><p>Gregório de Matos.</p><p>Diferentemente da forma como o Barroco se desenvolveu na Europa, em</p><p>terras brasileiras não havia a figura de uma monarquia própria e tampouco</p><p>de uma burguesia consolidada que pudesse financiar as artes. Assim, o papel</p><p>da Igreja foi fundamental para o desenvolvimento do movimento, e a figura</p><p>dos jesuítas ocupa o lugar central na expansão da estética barroca. Presentes</p><p>no Brasil desde 1549 e liderados por Manuel da Nóbrega, os jesuítas foram</p><p>responsáveis pelo processo de conquista do Sul com os Sete</p><p>Povos da Missões,</p><p>que fundaram a sua primeira redução em 1682, na cidade de São Borja. Em</p><p>função disso, a maior parte do legado do Barroco brasileiro consiste em arte</p><p>sacra e literatura de cunho catequista/religioso, contexto em que o padre An-</p><p>tônio Vieira soma maior vulto. Este é precedido, no âmbito do Quinhentismo,</p><p>pelas contribuições da literatura de informação (ou de viagem) de Manuel</p><p>da Nóbrega e de Pero Vaz de Caminha. Nelas são representadas as visões</p><p>de um expedicionário e de um catequista — ambos colonizadores — sobre</p><p>o Brasil e sobre os seus povos originários, constituindo as primeiras marcas</p><p>da identidade nacional.</p><p>Assim, o Barroco irrompeu junto aos imaginários de conquista do Brasil</p><p>o deslumbramento pela paisagem e pela gentilidade do povo das capitanias,</p><p>tomando forma enquanto estética que tinha como essência as antinomias e o</p><p>maravilhamento. Essa visão é fundadora dos imaginários que se construíram</p><p>sobre a nação brasileira, gerada pelo Barroco. Podemos ler esse imaginário,</p><p>por exemplo, na Carta de Pero Vaz de Caminha a Dom Manuel, em que relata</p><p>a sua expedição ao Brasil e narra, por exemplo, a celebração da primeira missa</p><p>na praia da Coroa Vermelha, no Sul da Bahia:</p><p>Ao domingo de Pascoela pela manhã, determinou o Capitão ir ouvir missa</p><p>e sermão naquele ilhéu. E mandou a todos os capitães que se arranjassem</p><p>nos batéis e fossem com ele. E assim foi feito. Mandou armar um pavilhão</p><p>naquele ilhéu, e dentro levantar um altar mui bem arranjado. E ali com</p><p>todos nós outros fez dizer missa, a qual disse o padre frei Henrique, em</p><p>O Barroco brasileiro4</p><p>voz entoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos outros padres e</p><p>sacerdotes que todos assistiram, a qual missa, segundo meu parecer, foi</p><p>ouvida por todos com muito prazer e devoção.</p><p>Ali estava com o Capitão a bandeira de Cristo, com que saíra de Belém,</p><p>a qual esteve sempre bem alta, da parte do Evangelho.</p><p>Acabada a missa, desvestiu-se o padre e subiu a uma cadeira alta; e nós</p><p>todos lançados por essa areia. E pregou uma solene e proveitosa pregação,</p><p>da história evangélica; e no fim tratou da nossa vida, e do achamento</p><p>desta terra, referindo-se à Cruz, sob cuja obediência viemos, que veio</p><p>muito a propósito, e fez muita devoção. (CAMINHA, [2018?], p. 6).</p><p>Essa cena foi retratada pictoricamente por Victor Meirelles em A primeira</p><p>Missa no Brasil, datada na segunda metade do século XIX.</p><p>Concepções de Barroco segundo a crítica</p><p>literária: as visões de Antonio Cândido e</p><p>Haroldo de Campos</p><p>Traçadas algumas considerações sobre a relevância histórica do Barroco na</p><p>Europa e no Brasil e as suas inovações estéticas, faz-se interessante discutir</p><p>os modos como este é compreendido pela crítica literária. Como colocado</p><p>anteriormente, o Barroco, enquanto período histórico inicia na transição do</p><p>Quinhentismo para o Seiscentismo brasileiro, momento em que se consolidava</p><p>a visão dos expedicionários e dos catequistas sobre a colônia. Entretanto, no</p><p>seio da historiografi a literária, a questão de situar o Barroco enquanto origem</p><p>do sistema literário nacional não é unívoca e, inclusive, é alvo de grande</p><p>disparidade. Como exemplo disso, podemos citar os argumentos de Cândido</p><p>(1997) e de Campos (1989) sobre Matos (2010) e o Barroco.</p><p>Antonio Cândido (1997), nos dois tomos da Formação da Literatura Bra-</p><p>sileira: Momentos Decisivos, mais especificamente nos apontamentos sobre</p><p>a literatura enquanto sistema, na introdução da obra, distingue duas noções:</p><p>a de manifestações literárias e de sistemas literários. Conforme o autor, as</p><p>manifestações literárias dizem respeito a obras que, embora possuam valor</p><p>indiscutível, não constituem parte da tradição literária de uma nação. Já os</p><p>sistemas literários, pautados na perspectiva de que a literatura é um sistema</p><p>formado pela articulação entre autor, obra e público leitor, tem continuidade</p><p>histórica e conforma uma tradição. Visando ilustrar a diferença, Cândido (1997)</p><p>menciona o Barroco — e especialmente Matos (2010) — quando defende que</p><p>5O Barroco brasileiro</p><p>o movimento não representa um sistema no Brasil, uma vez que, no período</p><p>inicial da literatura nacional, havia muitas dificuldades de formar grupos de</p><p>produtores de literatura e um discurso próprio, além do fato de não existir um</p><p>público leitor consolidado.</p><p>Essa constatação leva Cândido (1997) a conjecturar que a existência de</p><p>Gregório de Matos está condicionada à sua recuperação pelos escritores român-</p><p>ticos, ficando em um hiato de esquecimento, sem influenciar qualquer outro</p><p>escritor, isto é, sem contribuir para o sistema literário. Assim, o crítico situa as</p><p>origens do sistema literário nacional sobre as contribuições do Arcadismo e do</p><p>Romantismo. Nesse sentido, concorda com críticos estrangeiros que delegam</p><p>à temática indianista da geração árcade a constituição da verdadeira literatura</p><p>brasileira como expressão da realidade local e elemento positivo na construção</p><p>nacional. Logo, dado que o Barroco é deliberadamente um sistema estético</p><p>lusitano, a literatura brasileira teve o seu legítimo início com o Oitocentismo.</p><p>Campos (1989) se debruça longamente sobre a argumentação de Cândido</p><p>(1997) em seu livro O Seqüestro do Barroco na Formação da Literatura</p><p>Brasileira: o caso Gregório de Matos. Segundo Campos (1989), o conceito</p><p>de formação de um sistema literário defendido por Cândido (1997) não passa</p><p>de um construto teórico que se pauta unicamente em uma lógica de exclusão</p><p>e inclusão de textos. Na visão do autor, a entrada ou não de obras no sistema</p><p>literário está condicionada a um paradigma pré-construído de instituição de</p><p>uma identidade nacional; logo, é arbitrária. Ainda, Campos (1989) defende que</p><p>esse paradigma se sustenta sobre uma visão linear, evolucionista e metafísica</p><p>de história, a qual o autor sugere destituir em razão da construção de uma</p><p>tradição que lhe seja anterior. Para isso, é indispensável retornar ao Barroco e</p><p>considerá-lo enquanto uma das constantes da sensibilidade brasileira.</p><p>Para saber mais sobre a forma como Antonio Cândido vê as relações entre cultura, produção</p><p>e representação simbólica da sociedade, assista à palestra Brasil Século XXI, cedida em 1988</p><p>e disponibilizada pela Secretaria de Comunicação da TV Unicamp, acessando o link abaixo.:</p><p>https://goo.gl/oXsbqS</p><p>Lembremos que o texto de Cândido em questão foi escrito em 1957, ao passo</p><p>que o livro de Campos foi lançado em 1989 — três décadas após o primeiro.</p><p>O Barroco brasileiro6</p><p>Embora seja uma contenda famosa na história da crítica literária brasileira, não</p><p>há um “vencedor” da discussão: tanto a visão de Cândido (1997) quanto a de</p><p>Campos (1989) são entendidas como pontos de vista teóricos distintos sobre o</p><p>mesmo movimento estético.</p><p>O Barroco em análise: um percurso pelas obras</p><p>de Bento Teixeira, Gregório de Matos e António</p><p>Vieira</p><p>Você verá agora uma leitura crítica de três obras do período: o épico Pro-</p><p>sopopeia, de Bento Teixeira, Buscando a Cristo, de Gregório de Matos e o</p><p>Sermão da Sexagésima, de António Vieira. Busca-se relacionar os seus estilos</p><p>com a tradição Barroca.</p><p>Prosopopeia, de Bento Teixeira</p><p>O escritor luso-brasileiro Bento Teixeira, nascido na cidade do Porto, em</p><p>1561, e provavelmente falecido em Lisboa ou em Pernambuco, em 1600, teve</p><p>como única obra o poema épico Prosopopeia, publicado em 1601. De origem</p><p>cripto-judaica (judeus convertidos ao cristianismo) chegada no Brasil em 1567</p><p>(aproximadamente), Teixeira estudou e trabalhou no Brasil, tendo estudado</p><p>no Colégio da Bahia e cursado seminário na mesma capitania. Ao desvelar</p><p>que era judeu, precisou fugir para Pernambuco, onde passou a exercer o papel</p><p>de professor de aritmética. Na cidade de Ilhéus, desposou a senhorita Filipa</p><p>Raposa, a quem assassinou sob alegação de adultério. Devido ao homicídio</p><p>cometido, foi obrigado a fugir novamente, escondendo-se no Mosteiro de São</p><p>Bento, em Olinda, quando escreveu a sua obra. Outras versões da história</p><p>dizem que ele foi acusado de ser judeu pela própria esposa, sendo julgado e</p><p>inocentado</p><p>pela inquisição. A denúncia da esposa teria motivado o crime. Ao</p><p>ser descoberto no Mosteiro de São Bento, foi levado preso para Lisboa, onde</p><p>teria morrido em 1600.</p><p>Como podemos depreender da biografia do autor, são incertos os dados</p><p>sobre a sua vida. Ao longo do tempo, foram-lhe atribuídas as obras Relações</p><p>do naufrágio e Diálogos das grandezas do Brasil, que mais tarde foram</p><p>reconhecidas como escritas por Afonso Luís e Ambrósio Fernandes Brandão,</p><p>respectivamente. Assim, a sua única obra confirmada é Prosopopeia. O épico</p><p>segue a estrutura camoniana empregada em Os Lusíadas, tanto no que se</p><p>refere à organização estrutural da narrativa quanto à métrica empregada.</p><p>7O Barroco brasileiro</p><p>Assim, o texto é construído em rimas oitavas de versos decassílabos, em sua</p><p>maioria distribuídas entre proposição, invocação, dedicatória e narração. As</p><p>seis primeiras rimas são cruzadas (A..B..A..B..A..B), e as duas últimas são</p><p>emparelhadas (C..C).</p><p>Diferentemente de Camões, que pede inspiração às Tágides e dedica a</p><p>sua obra ao rei, Teixeira pede inspiração ao Deus cristão e dedica a obra a</p><p>Jorge d'Albuquerque, que também é ficcionalizado como herói da epopeia.</p><p>Composta por 94 estrofes, a narrativa canta os feitos dos irmãos d’Albuquerque</p><p>nas terras da Nova Lusitânia (Brasil) durante a batalha de Alcácer-Quibir, em</p><p>que estes teriam se destacado. Também é contado o naufrágio dos irmãos a</p><p>bordo da Nau Santo Antônio.</p><p>No que se refere ao nível estético, a obra de Teixeira é desprestigiada, uma</p><p>vez que, segundo críticos, não possui originalidade e tampouco demonstra</p><p>grande habilidade poética. Entretanto, é relevante enquanto obra que marca o</p><p>início do Barroco no Brasil. Para a crítica, é reiterado o interesse pela estrofe</p><p>LX, tida como um prenúncio da temática indianista, base dos movimentos</p><p>estéticos vindouros: o Arcadismo e o Romantismo. Leia a estrofe a seguir e</p><p>veja a sua análise estrutural, em que são apresentadas algumas falhas na me-</p><p>trificação (na estrofe, há apenas três versos decassílabos) e há preponderância</p><p>de rimas pobres entre substantivos.</p><p>LX</p><p>o-lhaio-gran-de-go-zoe-do-ce-gló-(ria) (9 sílabas) A</p><p>que-te-reis-quan-do-pos-tos-em-des-can-(so) (10 sílabas) B</p><p>con-tar-dees-ta-lar-gae-tris-te-his-tó-(ria) (10 sílabas) A</p><p>jun-to-do-pá-trio-lar-se-gu-roe-man-(so) (10 sílabas) B</p><p>que-vai-da-ba-ta-lhaa-ter-vic-tó-(ria) (9 sílabas) A</p><p>o-que-do-mar-in-cha-doaum-re-man-(so) (9 sílabas) B</p><p>is-soen-tãoha-ve-rá-de-vos-soes-ta-(do) (9 sílabas) C</p><p>a-os-ma-les-que-ti-ver-des-já-pas-sa-(do) (11 sílabas) C</p><p>Buscando a Cristo, de Gregório de Matos</p><p>Gregório de Matos Guerra, também conhecido como Boca do Inferno (ou</p><p>Boca de Brasa, em sua juventude), foi um poeta e advogado luso-brasileiro</p><p>tido como um dos maiores expoentes da poesia barroca e satírica no Brasil</p><p>e em Portugal. Descendente de família lusitana burguesa, Gregório estudou</p><p>no Colégio dos Jesuítas, na Bahia, em 1642, e continuou os seus estudos em</p><p>Lisboa, formando-se em “cânones” na Universidade de Coimbra, em 1652. Ao</p><p>O Barroco brasileiro8</p><p>terminar os seus estudos, foi nomeado Juiz de Alcácer do Sal (no Alentejo) e</p><p>acabou por regressar à Bahia em 1679 como desembargador, sendo nomeado,</p><p>em 1692, tesoureiro-mor da Sé por Dom Pedro II. Foi destituído de ambos os</p><p>cargos por não usar batina e por não aceitar ordens de seus superiores pelo</p><p>arcebispo Frei João da Madre de Deus. Em função disso, dedicou-se à escrita</p><p>de poemas satíricos, em que criticava os costumes da época.</p><p>Devido à sua má fama e aos inimigos que arranjou (entre eles o próprio</p><p>governador), Gregório de Matos foi deportado para Angola. Todavia, em função</p><p>dos seus préstimos a D. João de Lencastre, governador da Bahia, após auxiliar</p><p>no combate a uma conspirata militar, Gregório foi autorizado a retornar ao</p><p>Brasil, sem, no entanto, voltar à Bahia.</p><p>O poeta acabou por morrer em Recife, em 1696, devido a uma febre ad-</p><p>quirida em Angola. Gregório é conhecido como um poeta maldito, dadas as</p><p>críticas que fazia à Igreja e aos poemas pornográficos que escreveu, o que lhe</p><p>garantiu o apelido de Boca do Inferno. Entretanto, os seus biógrafos apontam</p><p>para a expressão de culpa e de arrependimento em seus últimos sonetos, escritos</p><p>no leito de morte, em especial no A Cristo N. S. crucificado. Leia o poema:</p><p>A Cristo N. S. crucificado</p><p>Meu Deus, que estais pendente de um madeiro,</p><p>Em cuja lei protesto de viver,</p><p>Em cuja santa lei hei de morrer,</p><p>Animoso, constante, firme e inteiro:</p><p>Neste lance, por ser o derradeiro,</p><p>Pois vejo a minha vida anoitecer;</p><p>É, meu Jesus, a hora de se ver</p><p>A brandura de um Pai, manso Cordeiro.</p><p>Mui grande é o vosso amor e o meu delito;</p><p>Porém pode ter fim todo o pecar,</p><p>E não o vosso amor que é infinito.</p><p>Esta razão me obriga a confiar,</p><p>Que, por mais que pequei, neste conflito</p><p>Espero em vosso amor de me salvar.</p><p>(MATOS, 2010, p. 314).</p><p>9O Barroco brasileiro</p><p>O soneto guarda vários traços estéticos do Barroco. Primeiramente, tem-se</p><p>a dimensão religiosa, que sustenta a visão da dependência do homem frente a</p><p>Deus e a crença no perdão divino. Ainda, tem-se a presença de anomias como</p><p>vida/morte, pecado/perdão, humano/divino e finito/infinito, assim como o jogo</p><p>retórico criado pelo sujeito lírico (um malabarismo verbal): o amor do cristo</p><p>é infinito, o seu pecado, por maior que seja, é finito e menor que o amor do</p><p>Pai; logo, dada a finitude dos seus pecados e a infinitude do amor de Deus, o</p><p>eu-lírico acredita em sua salvação.</p><p>Sermão da Sexagésima, de António Vieira</p><p>António Vieira (ou Antônio Vieira, na grafi a portuguesa ou brasileira) é o maior</p><p>expoente da oratória barroca brasileira e portuguesa. Nascido em Lisboa, no</p><p>ano de 1608, e falecido em Salvador, em 1697, Vieira foi um religioso, fi lósofo,</p><p>orador, escritor e gramático jesuíta. A sua obra é marcada pela catequização dos</p><p>indígenas brasileiros e pelas suas atitudes de proteção aos povos originários, ao</p><p>combater a sua escravização e extermínio. De igual modo, defendeu os judeus</p><p>e a extinção da diferenciação entre os cristãos velhos (católicos tradicionais) e</p><p>novos cristãos (aqueles convertidos à fé católica). Defendeu ainda a abolição</p><p>da escravatura dos povos negros e foi crítico severo da Inquisição, do clero</p><p>corrupto e da sociedade burguesa do Brasil.</p><p>Na literatura colonial, os sermões de António Vieira conformam as prin-</p><p>cipais contribuições luso-brasileiras ao Barroco. Entre seus textos, são mais</p><p>comentados o Sermão da Sexagésima, o Sermão de Santo Antônio aos peixes</p><p>e o Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal Contra as de Holanda.</p><p>Respectivamente, os sermões possuem como temática a arte retórica da pre-</p><p>gação, a crítica à escravização dos indígenas e à burguesia maranhense e, por</p><p>fim, a invasão holandesa no nordeste brasileiro em 1640, em que Vieira toma</p><p>partido a favor de Portugal e contra os holandeses protestantes.</p><p>Dedique um tempo à leitura do seguinte excerto do Sermão da Sexagésima:</p><p>Ecce exiit qui seminat, seminare. Diz Cristo que «saiu o pregador evan-</p><p>gélico a semear» a palavra divina. Bem parece este texto dos livros de</p><p>Deus. Não só faz menção do semear, mas também faz caso do sair: Exiit,</p><p>porque no dia da messe hão-nos de medir a semeadura e hão-nos de</p><p>contar os passos. O Mundo, aos que lavrais com ele, nem vos satisfaz o</p><p>que dispendeis, nem vos paga o que andais. Deus não é assim. Para quem</p><p>lavra com Deus até o sair é semear, porque também das passadas colhe</p><p>fruto. Entre os semeadores do Evangelho há uns que saem a semear, há</p><p>O Barroco brasileiro10</p><p>outros que semeiam sem sair. Os que saem a semear são os que vão</p><p>pregar à Índia, à China, ao Japão; os que semeiam sem sair, são os que</p><p>se contentam com pregar na Pátria. Todos terão sua razão, mas tudo</p><p>tem sua conta. Aos que têm a seara em casa, pagar-lhes-ão a semeadura;</p><p>aos que vão buscar a seara tão longe, hão-lhes de medir a semeadura e</p><p>hão-lhes de contar os passos. Ah Dia do Juízo! Ah pregadores! Os de cá,</p><p>achar-vos-eis com mais paço; os de lá, com mais passos: Exiit seminare.</p><p>(VIEIRA,</p><p>[2018?], p. 1).</p><p>Esse sermão, proferido na Capela Real de Lisboa em 1655, baseia-se na</p><p>passagem bíblica do calendário litúrgico, que era Semen est verbum Dei (S.</p><p>Lucas, VIII, 2), ou, em tradução livre, A semente é a palavra de Deus. No</p><p>parágrafo que você acabou de ler (o segundo da obra), Vieira emprega a esté-</p><p>tica barroca ao fazer da parábola do semeador uma metáfora para as missões</p><p>catequistas e ao comparar os missionários aos trabalhadores que semeavam</p><p>a palavra de Deus. Assim, é desvelada a estética barroca entre a prosa sacra,</p><p>em que a preocupação do locutor se centra no conteúdo (conceptismo) e na</p><p>persuasão do ouvinte. Outra característica barroca presente no parágrafo é</p><p>o malabarismo verbal de refletir sobre o poder e o impacto da pregação da</p><p>palavra de Deus ao realizar um sermão.</p><p>Seguindo a temática bíblica, Vieira ([2018?]) a inverte em pergunta: “Se</p><p>a palavra de Deus é tão eficaz e tão poderosa, como vemos tão pouco fruto</p><p>da palavra de Deus?”. Em resposta a essa pergunta, o jesuíta faz uso de duas</p><p>alegorias. Primeiro, para que uma alma se converta, é necessário que o pregador</p><p>apresente a doutrina e persuada o ouvinte, que o ouvinte compreenda a mensa-</p><p>gem e que Deus permita o entendimento. Segundo, para que o homem se veja,</p><p>é necessário que tenha olhos para enxergar, que tenha um espelho para refletir</p><p>a sua própria imagem, e luz para iluminar o ambiente de forma que ele se veja.</p><p>O orador faz um paralelo entre os olhos e o ouvinte que deve compreender a</p><p>doutrina, tendo para isso o pregador como espelho de virtudes e de aplicação</p><p>prática da palavra de Deus, ao passo que Deus é a luz que ilumina o homem e</p><p>permite que ele veja a si mesmo a partir do espelho, que é o pregador.</p><p>Centrando-se sobre a prática proselitista da catequese e refletindo sobre</p><p>a culpa de haver poucos frutos, Vieira ([2018?]) afirma que a culpa não é de</p><p>Deus, pautando-se na “[...] proposição [...] de fé, definida no Concílio Tridentino</p><p>[...]”, que deu início à Contrarreforma. Sendo Deus inocentado, a culpa cabe</p><p>ou ao pregador, ou ao ouvinte. Usando a parábola evangélica do semeador</p><p>que semeia trigo, Vieira ([2018?]) compara uma vez mais o pregador à figura</p><p>daquele que semeia, ao passo que os lugares em que este semeia, entre os</p><p>11O Barroco brasileiro</p><p>espinhos e as pedras, são os ouvintes: os maus ouvintes que anseiam somente</p><p>por elogios e aqueles ouvintes que têm o coração endurecido para receber a</p><p>palavra de Deus.</p><p>Vieira ([2018?]), encaminhando-se para a conclusão de seu raciocínio, diz</p><p>que o semeador poderia livrar-se dos espinhos e das pedras para dar espaço</p><p>às sementes que germinariam no bom solo. Porém, isso não é necessário,</p><p>uma vez que “virá tempo em que as mesmas pedras o aclamem [ao Cristo]</p><p>e esses mesmos espinhos o coroem”. Os ouvintes também são livrados de</p><p>toda a culpa. A culpa, então, segundo Vieira ([2018?]), é “culpa nossa”, dos</p><p>pregadores, que fazem discursos vazios e hipócritas, cuja lógica é a do “Fazei</p><p>o que eu digo, mas não o que eu faço”. Assim, o Sermão da Sexagésima é,</p><p>em termos de metalinguagem, a materialização da retórica barroca buscada</p><p>pela Contrarreforma, que se centra na necessidade de rever a forma como os</p><p>sacerdotes da Igreja doutrinam os fiéis e na urgência de moralizar o clero.</p><p>CAMINHA, P. V. A carta de Pero Vaz de Caminha. [2018?].</p><p>CAMPOS, H. O seqüestro do barroco na formação da literatura brasileira: o caso Gregório</p><p>de Matos. Bahia: Fundação Casa de Jorge Amado, 1989.</p><p>CÂNDIDO, A. Formação da literatura brasileira. 8. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1997.</p><p>DELEUZE, G. Dobra (a): Leibniz e o Barroco. Campinas: Papirus, 1991.</p><p>MATOS, G. Poemas escolhidos: Gregório de Matos. São Paulo: Companhia das Letras,</p><p>2010. Seleção e organização de José Miguel Wisnik.</p><p>VIEIRA, A. Sermão da sexagésima. [2018?].</p><p>Leituras recomendadas</p><p>BENJAMIN, W. Origem do drama barroco alemão. São Paulo: Brasiliense, 1984.</p><p>BOSI, A. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1994.</p><p>CHUVA, M. Fundando a nação: a representação de um Brasil barroco, moderno e</p><p>civilizado. Topoi, Rio de Janeiro, v. 4, n. 7, p. 313-333, 2003.</p><p>O Barroco brasileiro12</p><p>Conteúdo:</p><p>HISTÓRIA DA</p><p>ARQUITETURA E</p><p>URBANISMO IV</p><p>(NEOCLASSICISMO</p><p>E ECLETISMO)</p><p>Vanessa Guerini Scopell</p><p>O ecletismo no Brasil</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p> Justificar a adaptação do estilo eclético na arquitetura brasileira.</p><p> Reconhecer os princípios do estilo eclético no Brasil no século XIX.</p><p> Relacionar as principais obras ecléticas brasileiras do século XIX.</p><p>Introdução</p><p>Neste capítulo, você vai estudar sobre o surgimento do estilo eclético</p><p>no Brasil, verificando do que se tratava esse movimento, bem como suas</p><p>principais características e definições. Além disso, você poderá identificar</p><p>as principais obras do estilo eclético que marcaram a arquitetura brasileira.</p><p>O surgimento do ecletismo no Brasil</p><p>Ecletismo é o nome dado a um estilo que se traduz na fusão de diversas</p><p>referências artísticas do passado. No movimento eclético, o artista se utiliza</p><p>da mistura e da combinação entre obras desiguais a fi m de chegar a uma</p><p>nova composição, acreditando que a estética pode ser alcançada a partir dos</p><p>melhores pontos de cada momento artístico. O estilo teve seu início na Europa,</p><p>destacando-se principalmente na França.</p><p>Um importante edifício que marcou esse período no continente europeu foi</p><p>o Teatro Ópera de Paris (Figura 1), projetado por Charles Garnier (1825–1898).</p><p>Segundo Montezuma (2002, p. 152), “Por todo o século XIX, o que se viu na</p><p>Europa, matriz cultural de todas as manifestações artísticas que ocorreram</p><p>no mundo naquele período, foi uma busca de uma nova linguagem formal</p><p>que correspondesse às transformações pelas quais passaram as sociedades</p><p>dos países desenvolvidos e industrializados”.</p><p>Figura 1. Teatro Ópera de Paris.</p><p>Fonte: givaga/Shutterstock.com.</p><p>No Brasil, o ecletismo teve início ao final do século XIX por meio da</p><p>Academia de Belas Artes e do academicismo, perdurando até as primeiras</p><p>décadas do século XX. No país, ele também consistiu em ressuscitar antigos</p><p>estilos arquitetônicos e aliá-los às novas técnicas construtivas.</p><p>O ecletismo pode ser compreendido, na arquitetura, como uma mistura</p><p>de estilos arquitetônicos passados que, juntos, contribuem para a criação de</p><p>uma nova linguagem arquitetônica. Portanto, o termo “arquitetura eclética”</p><p>faz referência às construções que, em seu conjunto, apresentam elementos de</p><p>estilos dos séculos passados. Segundo Fabris (1993, p. 134):</p><p>O que a atitude poli estilística do ecletismo denota não é apenas um fato</p><p>artístico, mas uma nova organização social e cultural, que põe fim a toda e</p><p>qualquer ideia de unidade para apontar para o múltiplo, o diversificado, para</p><p>privilegiar o instável e o relativo em detrimento do absoluto e do eterno. Sua</p><p>metodologia fundamental consiste na decupagem, na concepção da arquitetura</p><p>como linguagem dotada de valores simbólicos e emotivos que deveriam ser</p><p>transmitidos a todas as camadas da sociedade.</p><p>No Brasil, o movimento eclético teve seu ápice nos primeiros anos do</p><p>século XX. O momento foi marcado por um crescimento na construção civil</p><p>que, com base nesse estilo, desenvolveu construções com características de</p><p>O ecletismo no Brasil2</p><p>diferentes arquiteturas, realizando essa mistura. Nota-se ainda que, em virtude</p><p>do aumento e da maior facilidade em edificar, o estilo pode estar presente</p><p>desde nas edificações mais complexas até nas mais simplificadas e, de uma</p><p>forma ou de outra, em todas as classes econômicas. Nessa época, as mudanças</p><p>ocorreram na sociedade de forma acelerada, prosseguindo a tendência iniciada</p><p>no período anterior, em que as edificações, principalmente as residenciais,</p><p>passaram a ser afastadas dos recuos, criando jardins e espaços abertos.</p><p>Mignot (1983, p. 309) se refere ao estilo eclético como “[...] duplamente</p><p>retrospectivo e prospectivo [...]”, no qual os artistas e arquitetos</p><p>experimentaram</p><p>novos materiais e novos programas da sociedade industrial, descobrindo, com</p><p>isso, os valores arquitetônicos do passado, adaptando-os às exigências de uma</p><p>sociedade e uma realidade contemporâneas.</p><p>Fabris (1993) acrescenta que o ecletismo era bastante ligado à representação</p><p>da teatralidade da vida. Assim, sua manifestação mais importante referente as</p><p>edificações se concentravam nas fachadas. A ideia do estilo é que a arquitetura</p><p>fosse extremamente representativa, evidenciando suas formas exteriores e o</p><p>status de seus usuários. Com isso, a decoração se tornou um elemento-chave</p><p>indispensável para as obras ecléticas, usada em larga escala e com função</p><p>ilusionista.</p><p>Assim, esse estilo contou com diversas referências e uma multiplicidade de</p><p>modelos. A ampliação dos meios de divulgação na época também colaborou</p><p>para a difusão do estilo, transformando os artistas desse período em pesquisa-</p><p>dores assíduos de novas possibilidades arquitetônicas. Segundo Fabris (1993),</p><p>com base nos mais diversos modelos, os arquitetos do século XIX deixaram de</p><p>lado os ideais absolutos para proporem ideias de um ponto de vista mais relativo,</p><p>levando em conta apenas as exigências arquitetônicas daquele momento da</p><p>história. Ainda segundo Fabris (1993, p. 135), “A arquitetura eclética não é</p><p>apenas representativa: está também atenta ao caráter funcional dos ambientes</p><p>e dos objetos, entendidos antes de tudo como um valor que possa coincidir</p><p>com um conforto estetizante [...]”.</p><p>Portanto, mesmo a arquitetura eclética voltando-se para a retomada e a</p><p>mistura dos estilos do passado, ela foi considerada uma retomada da tradi-</p><p>cionalidade atenta ao momento presente, adequada ao momento do século</p><p>XIX, passível de evolução, de acordo com o desenvolvimento das cidades e</p><p>sociedades.</p><p>3O ecletismo no Brasil</p><p>No período eclético, não só foram retomados os principais estilos arquitetônicos</p><p>do passado, como também foram incorporadas às edificações desse momento as</p><p>referências vindas do oriente. Assim, o surgimento do estilo se deu a fim de se evitar</p><p>a retomada exclusiva do classicismo, integrando também ao movimento o barroco, o</p><p>gótico, entre outros, permitindo que houvesse uma apropriação livre das referências</p><p>dos séculos anteriores. Considerando essa retomada de elementos já criados, pode-se</p><p>considerar o estilo eclético como uma arquitetura historicista.</p><p>Fonte: Educar Brasil (2015, documento on-line).</p><p>Características e princípios do ecletismo</p><p>O ecletismo pode ser considerado como um composto de valores e práticas</p><p>heterogêneas, em que se valorizava profundamente o ornamento, sendo esse</p><p>o elemento principal que diferenciava uma edifi cação da outra. Segundo</p><p>Pereira (2007, documento on-line), o estilo pode ser considerado como uma</p><p>“[...] verdadeira architecture parlante [...]”, em que todo tipo de ornamento</p><p>tinha um valor associativo, que conotava certas linguagens a determinadas</p><p>funções. Assim, segundo a autora, um dos traços recorrentes da arquitetura</p><p>historicista é a associação entre determinados programas e estilos, como os</p><p>prédios religiosos e os estilos medievais, os monumentos públicos e o neo-</p><p>clássico, os pavilhões voltados para o lazer e os estilos exóticos. Por isso, o</p><p>ecletismo pode ser considerado uma relação entre estilo e função.</p><p>O ecletismo apresentou como principal característica a fusão das lin-</p><p>guagens arquitetônicas e, por isso, demonstrava um acentuado interesse por</p><p>novos ícones, atribuindo à arte a ideia de que ela deveria ser mais rica do que</p><p>a realidade. Com isso, demonstrava em seus variados tipos de arte e também</p><p>na arquitetura a noção de abundância. Veja, a seguir, outras importantes</p><p>características do ecletismo:</p><p> edificações compostas de base, corpo e coroamento (Figura 2);</p><p> utilização de princípios de simetria, composição e proporção, sendo</p><p>estes as diretrizes principais dos projetos;</p><p> uso de ornamentos por meio de colunas, flores e formas orgânicas;</p><p> utilização de estátuas vinculadas à estética e à função do prédio;</p><p>O ecletismo no Brasil4</p><p> uso do ferro para estruturas e detalhes das edificações;</p><p> as obras apresentavam dramaticidade, conforto, expressividade, luxo,</p><p>emoção e exuberância.</p><p>Figura 2. Antigo prédio do Banco do Brasil em Pelotas, no Rio Grande do Sul.</p><p>Fonte: Mapio (2010, documento on-line).</p><p>Os princípios e as características mais expressivas desse estilo eram identi-</p><p>ficados em edificações mais importantes, como prédios públicos e residências</p><p>de classe alta. Mas isso não impediu a adoção do estilo para todas as camadas</p><p>da população, mesmo que de maneira mais simplificada. Segundo Fabris</p><p>(1993, p. 139):</p><p>Nos bairros da classe média e mesmo em bairros mais populares, houve</p><p>o surgimento de edificações estruturalmente simples, mas marcados por</p><p>detalhes decorativos, que sintetizavam as aspirações de prestígio e ascensão</p><p>social de seus habitantes e a vontade de contribuir, na medido do possível,</p><p>à qualificação e embelezamento da cidade, patrimônio comum imaginário</p><p>de todo a sociedade.</p><p>Elementos como lambrequins, estuques e ornamentos de ferro fundido</p><p>foram utilizados constantemente na arquitetura eclética, indo ao oposto das</p><p>5O ecletismo no Brasil</p><p>conhecidas edificações tradicionais, demonstrando o gosto pelo exótico e a</p><p>vontade de criar uma arquitetura mais atualizada e utilizar os recursos da</p><p>indústria da época, a fim de valorizá-la.</p><p>Além disso, outra característica marcante do período foi o uso de novos</p><p>materiais e produtos existentes no mercado devido à facilidade de impor-</p><p>tação, o que repercutiu de forma bastante significativa na construção das</p><p>coberturas. Dessa maneira, a sociedade da época contou com um amplo</p><p>leque de soluções possíveis na aparência dos telhados, que puderam adquirir</p><p>diferentes aspectos de acordo com o estilo de inspiração. Isso contribuiu para</p><p>o aprimoramento das técnicas em relação à madeira, por exemplo, resultando</p><p>em uma estrutura de telhado mais perfeita. Além disso, o país pôde contar</p><p>com a importação do cobre; assim, esse material passou a ser usado nas</p><p>platibandas decoradas.</p><p>Principais obras ecléticas do Brasil</p><p>No Brasil, o ecletismo na arquitetura esteve ligado também à evolução e à</p><p>reurbanização das principais cidades no fi nal do século XIX e início do século</p><p>XX. Uma das maiores características do ecletismo brasileiro foi a utilização do</p><p>ferro nas edifi cações. Esse material se tornou muito importante para o período,</p><p>pois permitia construções mais rápidas e funcionais. O ecletismo deixou di-</p><p>versas contribuições de obras arquitetônicas para as cidades, sendo elas cheias</p><p>de exemplares representativos do movimento. Os principais exemplares da</p><p>arquitetura eclética iniciada no século XIX marcaram as cidades brasileiras</p><p>e foram o primeiro passo para a valorização da arquitetura da época.</p><p>A cidade de São Paulo se firmou como província no início do século XIX</p><p>e, com isso, passou a ser um núcleo ainda mais fundamental para as ativida-</p><p>des políticas e intelectuais do país. Nesse momento, também, a cidade teve</p><p>sua produção de café aumentada e, por isso, teve que se adequar a essa nova</p><p>realidade econômica. Nesse contexto, surgiram diversas edificações do estilo</p><p>eclético, além de mudanças urbanas e sociais.</p><p>Nesse momento, destacou-se a Estação da Luz, edificada entre os anos</p><p>de 1895 e 1901. Essa edificação foi construída pelo engenheiro James Ford e</p><p>tinha como principal função abrigar a empresa denominada Companhia São</p><p>Paulo Railway. A Estação teve seu projeto baseado na arquitetura vitoriana,</p><p>e sua construção correu a partir de matéria-prima da Inglaterra. O local foi</p><p>extremamente importante para facilitar a logística de transporte do café, que,</p><p>no período, era o principal produto brasileiro.</p><p>O ecletismo no Brasil6</p><p>Outra obra eclética importante do século XIX foi o Museu Paulista da</p><p>Universidade de São Paulo (Figura 3). Essa edificação foi um marco bastante</p><p>representativo para a Independência do Brasil. Inaugurado em 1895, a edifi-</p><p>cação foi projetada</p><p>11 anos antes, com o objetivo principal de que fosse um</p><p>monumento para a cidade. Sua fachada extremamente detalhada, o uso da</p><p>simetria e de colunas e a mistura típica do estilo eclético tornaram isso possível.</p><p>Figura 3. Museu Paulista da Universidade de São Paulo, ou Museu do Ipiranga.</p><p>Fonte: Wikipedia (2019, documento on-line).</p><p>Na cidade de Manaus, a edificação eclética mais importante do século XIX</p><p>foi o Teatro Amazonas. Esse espaço teve sua inauguração no ano de 1896 e</p><p>foi, já na época, a edificação de maior destaque para a cidade, sendo possível</p><p>perceber sua magnificência. A edificação foi construída em um momento</p><p>extremamente próspero para a cidade, que vivia o auge da riqueza. Sendo uma</p><p>importante herança artística e cultural da cidade, o Teatro ainda hoje está em</p><p>funcionamento, 100 anos após sua inauguração.</p><p>Outro exemplo da arquitetura da época é a Faculdade de Direito do Recife.</p><p>Essa obra, que abrigou uma das primeiras faculdades do Brasil, foi iniciada</p><p>no ano de 1889, sendo concluída somente 22 anos mais tarde.</p><p>Mesmo com obras significantes construídas ainda no século XIX, grande</p><p>parte da produção arquitetônica eclética se deu após a virada do século. Em</p><p>São Paulo, houve a construção do Teatro Municipal (Figura 4), marcado</p><p>também pelas mudanças e pelo desenvolvimento da cidade, que, até então,</p><p>7O ecletismo no Brasil</p><p>estava sem nenhum palco para as grandes apresentações, já que o Teatro São</p><p>José foi consumido por um incêndio no ano de 1898. Percebendo a necessidade</p><p>da metrópole, a Câmara Municipal resolveu liberar alguns recursos para que</p><p>a obra fosse consolidada, e, em 22 de fevereiro do mesmo ano, foi aberto um</p><p>edital de concorrência para que um novo teatro fosse erguido.</p><p>Para dar início aos projetos do teatro, foi convocado o arquiteto Francisco</p><p>de Paula Ramos de Azevedo, que deveria incluir em seu projeto um café, uma</p><p>charutaria e um restaurante de primeira ordem. As obras tiveram início em</p><p>1903 e foram concluídas após oito anos. O estilo eclético da edificação contou</p><p>com a mistura dos estilos renascentista, barroco e art nouveau. A inauguração</p><p>oficial ocorreu em setembro de 1911. Atualmente (Figura 5), o Teatro Municipal</p><p>de São Paulo é composto pela Orquestra Sinfônica Municipal, pela Orquestra</p><p>Experimental de Repertório, pelo Balé da Cidade de São Paulo, pelo Quarteto</p><p>de Cordas da Cidade de São Paulo, pelo Coral Lírico, pelo Coral Paulistano e</p><p>pelas Escolas de Dança e de Música de São Paulo, além do Museu do Theatro.</p><p>Figura 4. Teatro Municipal na época da sua inauguração.</p><p>Fonte: Oliveira (2013, documento on-line).</p><p>O ecletismo no Brasil8</p><p>Figura 5. Teatro Municipal atualmente.</p><p>Fonte: Eneida (2015, documento on-line).</p><p>No Rio de Janeiro, o período de reurbanização foi marcado pelo intuito de</p><p>tornar a cidade o mais semelhante possível às metrópoles da Europa. Nesse</p><p>momento, a transformação da cidade abrangeu a reforma de prédios antigos,</p><p>a proposição de edificações novas, o alargamento de avenidas, a demolição</p><p>de cortiços e a total negação das classes mais pobres. Como exemplos de</p><p>edificações ecléticas da cidade, tem-se o Museu de Belas Artes e o Teatro</p><p>Municipal do Rio de Janeiro.</p><p>O Museu Nacional de Belas Artes (Figura 6) foi, na época, um dos maiores</p><p>exemplos arquitetônicos do período eclético. O prédio fica situado no centro</p><p>histórico do Rio de Janeiro e foi projetado no ano de 1908 pelo arquiteto Adolfo</p><p>Morales de los Rios para sediar a Escola Nacional de Belas Artes, herdeira</p><p>da Academia Imperial de Belas Artes. A edificação foi construída durante as</p><p>modernizações urbanísticas realizadas pelo prefeito Pereira Passos, na então</p><p>capital federal. Com uma coleção de cerca de 16 mil peças, o Museu Nacional</p><p>de Belas Artes no Rio de Janeiro é considerado um dos principais museus do</p><p>Brasil. A Figura 7 traz uma imagem do Museu na atualidade.</p><p>9O ecletismo no Brasil</p><p>Figura 6. Ilustração do Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro).</p><p>Fonte: Wikipedia (2018, documento on-line).</p><p>Figura 7. Museu Nacional de Belas Artes na atualidade.</p><p>Fonte: Wikipedia (2015, documento on-line).</p><p>O ecletismo no Brasil10</p><p>O Teatro Municipal do Rio de Janeiro (Figura 8) foi inspirado na Ópera</p><p>Nacional de Paris de Charles Garnier e se destacou como um cartão postal</p><p>de 1909. Foi projetado por Francisco de Oliveira Passos, com a colaboração</p><p>do francês Albert Guilbert. O Teatro foi inaugurado no ano de 1909, marcado</p><p>por uma arquitetura diferenciada e com muitos detalhes. O Teatro ainda hoje</p><p>possui obras dos mais renomados artistas da época, como Eliseu Visconti,</p><p>Henrique Bernardelli, Rodolfo Amoedo e Rodolfo Bernardelli. A edificação</p><p>ainda é considerada o maior exemplo de arquitetura eclética do Brasil.</p><p>Figura 8. Teatro Municipal do Rio de Janeiro.</p><p>Fonte: Rio de Janeiro (2019, documento on-line).</p><p>11O ecletismo no Brasil</p><p>1. O ecletismo é um estilo</p><p>arquitetônico que surgiu no Brasil</p><p>nos últimos anos do século XIX e</p><p>perdurou nas primeiras décadas</p><p>do século XX. Sobre esse estilo,</p><p>assinale a alternativa correta.</p><p>a) Foi um movimento que</p><p>acreditava que a beleza surgia</p><p>a partir de um único estilo.</p><p>b) Foi um estilo que resultou</p><p>da mistura de estilos</p><p>arquitetônicos anteriores.</p><p>c) Tratava-se da mistura exclusiva</p><p>dos estilos barroco e neoclássico.</p><p>d) Foi um estilo que surgiu</p><p>primeiramente no Brasil e, após</p><p>alguns anos, chegou na Europa.</p><p>e) Foi um estilo que buscou</p><p>uma linguagem informal</p><p>que correspondesse às</p><p>mudanças da época.</p><p>2. A partir do estilo eclético, o Brasil</p><p>pôde contar com mudanças</p><p>significativas nas cidades e na</p><p>própria arquitetura. Sobre as</p><p>transformações ocasionadas</p><p>pelo estilo eclético, assinale</p><p>a alternativa correta.</p><p>a) Resultou em menos</p><p>edificações construídas,</p><p>porém com mais qualidade.</p><p>b) Propiciou a construção</p><p>de edificações alinhadas</p><p>aos limites dos lotes.</p><p>c) Popularizou o estilo e conseguiu</p><p>atingir da classe baixa à alta.</p><p>d) Desvalorizou as fachadas,</p><p>dando mais importância para a</p><p>parte interna das edificações.</p><p>e) Reiterou a fundamental</p><p>importância da presença do</p><p>arquiteto em todas as obras.</p><p>3. O estilo eclético pode ser</p><p>considerado bastante arrojado</p><p>para a época, pois priorizava</p><p>uma nova forma de ver a</p><p>arquitetura. São características</p><p>arquitetônicas desse estilo:</p><p>a) uso de assimetria,</p><p>proporcionalidade e</p><p>verticalidade.</p><p>b) uso de forma leves e puras,</p><p>sem qualquer ornamento.</p><p>c) uso do concreto para estruturas</p><p>e vedações do terreno.</p><p>d) uso de colunas, estátuas</p><p>e formas orgânicas.</p><p>e) predomínio de simplicidade,</p><p>inexpressividade e conforto.</p><p>4. Assim como na arquitetura, o</p><p>período eclético foi marcado por</p><p>mudanças significativas nos centros</p><p>urbanos. Sobre as mudanças</p><p>ocorridas na cidade do Rio de</p><p>Janeiro no período do ecletismo,</p><p>assinale a alternativa correta.</p><p>a) Nesse momento, houve a</p><p>reforma de edificações antigas.</p><p>b) Nesse período, houve a</p><p>valorização dos cortiços</p><p>e da classe baixa.</p><p>c) O período eclético</p><p>transformou as principais</p><p>avenidas, estreitando-as.</p><p>d) Nessa fase, houve a intenção</p><p>de tornar a cidade diferente</p><p>das metrópoles europeias.</p><p>O ecletismo no Brasil12</p><p>e) Nesse momento, houve a</p><p>negação de edificações antigas.</p><p>5. Diversas obras foram construídas no</p><p>período eclético e, ainda hoje, são</p><p>referências dessa arquitetura para ao</p><p>Brasil. Sobre as obras desse período,</p><p>assinale a alternativa correta.</p><p>a) O Museu Nacional de Belas</p><p>Artes foi obra do artista</p><p>francês Charles Garnier.</p><p>b) O Teatro Municipal do Rio de</p><p>Janeiro foi marcado por uma</p><p>arquitetura de poucos detalhes.</p><p>c) O Museu Paulista foi inaugurado</p><p>10 anos após sua construção.</p><p>d) O Museu Paulista da USP foi</p><p>projetado para que pudesse</p><p>ser um monumento.</p><p>e) O Teatro Municipal de São</p><p>Paulo misturou os estilos</p><p>renascentista e neoclássico.</p><p>EDUCAR BRASIL. Arquitetura eclética no Brasil. 2015. Disponível em: http://www.conteu-</p><p>doseducar.com.br/conteudos/arquivos/3192.pdf. Acesso em: 25 abr. 2019.</p><p>ENEIDA, M. O eclético e suas arquiteturas. 2015. Disponível em: http://obviousmag.org/</p><p>arquitetura_e_vida/2015/09/o-ecletico-e-suas-arquiteturas.html. Acesso em: 26 abr.</p><p>2019.</p><p>FABRIS, A. Arquitetura eclético no Brasil: o cenário da modernização. Anais do Museu</p><p>Paulista: História e Cultura Material, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 131-143, 1993. Disponível em:</p><p>http://www.scielo.br/pdf/anaismp/v1n1/a11v1n1.pdf. Acesso em: 25 abr. 2019.</p><p>MAPIO. Pelotas. 2010. Disponível em: https://mapio.net/a/14329952/?lang=fi. Acesso</p><p>em: 25 abr. 2019.</p><p>MIGNOT, C. L 'architecture au XIX siecle. Fribourg: Office du Livre, 1983.</p><p>MONTEZUMA, R. Arquitetura Brasil 500 anos. Recife: Universidade Federal de Pernam-</p><p>buco, 2002.</p><p>OLIVEIRA, A. O símbolo da “Belle Époque” paulistana: O Theatro Municipal de São Paulo.</p><p>2013. Disponível em: http://www.saopauloinfoco.com.br/theatro-municipal-sp/. Acesso</p><p>em: 25 abr. 2019.</p><p>PEREIRA, S. G. A historiografia da arquitetura brasileira no século XIX e os conceitos</p><p>de estilo e tipologia. 19&20, Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, jul. 2007. Disponível em: http://</p><p>www.dezenovevinte.net/arte%20decorativa/ad_sgp.htm. Acesso em: 25 abr. 2019.</p><p>RIO DE JANEIRO. Mapa de Cultura. Theatro Municipal do Rio de Janeiro. 2019. Disponível</p><p>em: http://mapadecultura.rj.gov.br/manchete/theatro-municipal-do-rio-de-janeiro-</p><p>-2#prettyPhoto. Acesso em: 25 abr. 2019.</p><p>13O ecletismo no Brasil</p><p>WIKIPEDIA. Museu do Ipiranga. 2019. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/</p><p>Museu_do_Ipiranga. Acesso em: 26 abr. 2019.</p><p>WIKIPEDIA. Museu Nacional de Belas Artes. 2015. Disponível em: https://pt.wikipedia.</p><p>org/wiki/Ficheiro:Museu_Nacional_de_Belas_Artes_02.jpg. Acesso em: 26 abr. 2019.</p><p>WIKIPEDIA. Museu Nacional de Belas Artes (Brasil). 2018. Disponível em: https://pt.wikipedia.</p><p>org/wiki/Museu_Nacional_de_Belas_Artes_(Brasil). Acesso em: 26 abr. 2019.</p><p>Leituras recomendadas</p><p>ARQUITETURA NO BRASIL. Arquitetura eclética (virada séc. XIX para séc. XX). 2010. Disponí-</p><p>vel em: https://arqbrasil10.wordpress.com/arquitetura-ecletica/. Acesso em: 25 abr. 2019.</p><p>MUSEU NACIONAL DE BELAS ARTES. Histórico. 2019. Disponível em: http://mnba.gov.</p><p>br/portal/museu/historico. Acesso em: 25 abr. 2019.</p><p>SAES, A. São Paulo sob uma visão eclética. 2013. Disponível em: http://magnificahisto-</p><p>riadarte.blogspot.com/2013/07/sao-paulo-sob-uma-visao-ecletica.html. Acesso em:</p><p>25 abr. 2019.</p><p>O ecletismo no Brasil14</p><p>HISTÓRIA DA</p><p>ARQUITETURA E</p><p>URBANISMO IV</p><p>(NEOCLASSICISMO</p><p>E ECLETISMO)</p><p>Jana Cândida Castro dos Santos</p><p>O modernismo no Brasil</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p> Identificar o contexto histórico brasileiro.</p><p> Reconhecer as características das diversas fases do estilo moderno.</p><p> Relacionar as principais obras modernas brasileiras.</p><p>Introdução</p><p>O movimento moderno chegou ao campo da arquitetura e urbanismo,</p><p>formulando um novo estatuto da forma de edifícios e cidades. A ideia</p><p>era unificar a arte, a funcionalidade e a técnica — o fruir, o usufruir e o</p><p>construir — em atendimento às demandas sociais.</p><p>Neste capítulo, você vai estudar o que é modernismo e quais são suas</p><p>origens e seus ideais de adaptação, verificando também seu significado</p><p>e sua importância no processo de desenvolvimento cultural do Brasil.</p><p>O modernismo</p><p>Fazio, Moff ett e Wodehouse (2011, p. 471) avaliam que o desenvolvimento da</p><p>arquitetura moderna se deu de forma complexa. A Primeira Guerra Mundial</p><p>levou à desilusão também os arquitetos, que compartilhavam uma a sensação</p><p>de que a cultura europeia falhara e precisava ser substituída por uma sociedade</p><p>transformada. Acreditava-se que a arquitetura deveria ser um instrumento para</p><p>essa modifi cação. Para isso, o racionalismo, a economia e a funcionalidade</p><p>seriam importantes e necessários, usando a mecanização para gerar edifícios</p><p>efi cientes, feitos a máquina. Os arquitetos modernistas veneravam a aplicação</p><p>direta dos materiais de construção e dos processos de montagem.</p><p>As motivações modernistas eram quase sempre nobres, heroicas e, muitas</p><p>vezes, utópicas. “Muitos arquitetos europeus passaram a ver o projeto de</p><p>edificações como um possível instrumento de transformação social”, apontam</p><p>Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 525). A economia caótica, o déficit de</p><p>habitação levou a utilidade, a eficiência e a mecanização para a indústria da</p><p>construção. Os avanços tecnológicos permitiram o uso do aço e do concreto</p><p>armado, transformando as cidades.</p><p>Jürgen Habermas (1984), em seu ensaio intitulado Arquitectura moderna</p><p>y postmoderna, analisou a arquitetura do século XX, as soluções encontradas</p><p>pelo movimento moderno e os problemas não resolvidos. Para Habermas, a</p><p>Revolução Industrial e as rápidas mudanças sociais por ela desencadeadas</p><p>trouxeram os três principais desafios para a arquitetura e o urbanismo, listados</p><p>a seguir, com base em Malard (2004, p. 5).</p><p> Novos requisitos programáticos, uma vez que o capitalismo industrial</p><p>criou uma expressiva classe média e uma grande demanda por escri-</p><p>tórios, lojas, escolas, bibliotecas, estações ferroviárias, túneis, pontes,</p><p>aeroportos e tudo o mais.</p><p> Avanço da tecnologia de construção, possibilitado pelo desenvolvimento</p><p>de novos materiais, como o ferro, o concreto e o cristal.</p><p> Necessidade de se subordinar o projeto arquitetônico a requisitos fun-</p><p>cionais e econômicos. Isso porque a habitação, devido à alta demanda,</p><p>tinha de ser econômica, funcional e racionalizada, para proporcionar</p><p>lucro. O conceito de racionalização estendeu-se, então, à cidade como</p><p>um todo.</p><p>Segundo Habermas (2004, p. 5), a força do movimento moderno residiria</p><p>no seu discurso social: “Ele foi revolucionário quando se libertou dos estilos,</p><p>símbolos e signos das elites — o ecletismo burguês — e estabeleceu uma nova</p><p>estética, baseada nas demandas populares por habitação, escola e hospitais,</p><p>e inspirada na racionalidade industrial”.</p><p>Contexto histórico brasileiro</p><p>O modernismo foi um movimento artístico-cultural que chegou ao Brasil no</p><p>início do século XX, sobre infl uência da vanguarda europeia. Seu início é</p><p>atribuído inicialmente à exposição de Anita Malfatti em 1916 e, em seguida,</p><p>à Semana de Arte Moderna, ocorrida em fevereiro de 1922, em São Paulo.</p><p>A Semana de 1922 marcou o ápice do movimento, ou do estado de espírito,</p><p>expressão cunhada por Mário de Andrade, escritor que exerceu importante</p><p>papel na consolidação do movimento modernista no Brasil.</p><p>O movimento modernista foi o palco de intensas transformações no cenário</p><p>cultural brasileiro. Teve como propulsoras as influências externas, procedentes</p><p>O modernismo no Brasil2</p><p>do exemplo europeu, e influências internas, geradas pelas mudanças políticas e</p><p>econômicas do início do século. Dentre os primeiros incentivos do movimento,</p><p>destacam-se o crescente ritmo de industrialização pelo qual passava o país,</p><p>sobretudo a cidade de São Paulo e as novidades culturais que chegavam ao</p><p>Brasil pelo Rio de Janeiro.</p><p>Percebe-se que a arquitetura moderna brasileira teve seus traços definidos</p><p>por um período de ruptura, em que o espaço aberto pôde ser preenchido por</p><p>um estilo amadurecido, refletindo influências estrangeiras. Segundo Carvalho</p><p>(2002), os primeiros ensaios da arquitetura moderna no Brasil apareceram em</p><p>1930, nos quais se percebe a influência de países como a França, a Alemanha,</p><p>a Itália e, também, os Estados Unidos. Ao passar essa primeira etapa, em que</p><p>Brasil se familiarizou com a arquitetura moderna internacional e recebeu</p><p>arquitetos estrangeiros que a aplicaram aqui, teve início uma trilha nova e</p><p>original: o caminho do modernismo.</p><p>Fases do estilo moderno</p><p>Desde meados do século XX, arquitetos e historiadores se debruçam sobre</p><p>a arquitetura moderna brasileira, procurando revelar os aspectos que a fi ze-</p><p>ram reconhecida internacionalmente, como ocorreu seu desenvolvimento no</p><p>Brasil e quais foram os protagonistas desse processo. Segundo Santos (2006,</p><p>p. 38), é possível sintetizar a trajetória da arquitetura moderna brasileira a</p><p>partir de quatro conceitos, que listaremos a seguir como as quatro fases do</p><p>modernismo</p><p>no Brasil.</p><p>1. Construção — abrigam-se as ideias de Lúcio Costa e de Vitor Dubu-</p><p>gras. O primeiro, no Rio de Janeiro, criou uma teoria relacionando a</p><p>arquitetura moderna brasileira com a arquitetura colonial. Já em São</p><p>Paulo, a arquitetura moderna se desenvolveu a partir da atuação de</p><p>Vitor Dubugras como arquiteto e como professor da Escola Politécnica.</p><p>2. Consolidação — a arquitetura moderna brasileira se consolidou com</p><p>a construção do Ministério da Educação e Saúde (MES, 1937), cujo</p><p>processo incluiu a participação de Le Corbusier como consultor.</p><p>3. Difusão — evidencia o desenvolvimento da arquitetura moderna em</p><p>outras capitais, relacionado à participação dos arquitetos cariocas,</p><p>principalmente.</p><p>4. Consagração — descreve o processo de criação de Brasília, que con-</p><p>grega as ideias sobre arquitetura e urbanismo no período de forma única.</p><p>3O modernismo no Brasil</p><p>Primeira fase: construção</p><p>A primeira fase é marcada pelo processo de surgimento da arquitetura moderna</p><p>brasileira, no qual são apresentadas as raízes da Escola Carioca, a partir do</p><p>pensamento de Lúcio Costa. Destacam-se também as raízes da arquitetura</p><p>moderna paulista, marcada pela infl uência de Victor Dubugras.</p><p>Em meados dos anos 1920, Lúcio Costa, junto com Fernando Valentin,</p><p>projetou e construiu um grande número de residências no estilo neocolonial,</p><p>como a residência de Raul Pedrosa (1924), no Rio de Janeiro, entre outras.</p><p>Se, em um primeiro momento, Costa estabelecia uma relação com a arquite-</p><p>tura do passado, alguns anos depois tornou-se o precursor, do ponto de vista</p><p>teórico, da arquitetura moderna brasileira. Para Santos (2006), Lúcio Costa</p><p>teria sido influenciado por dois trabalhos escritos de Mário de Andrade, cada</p><p>qual indicando um dos passos do processo que levou à transformação do seu</p><p>pensamento.</p><p>Em São Paulo, a arquitetura moderna seguiu caminhos diferentes, a partir</p><p>da influência de Vitor Dubugras. Sua produção se caracterizou por uma busca</p><p>constante de um racionalismo, como o edifício da Estação de Mayrink, de</p><p>1905. Mas sua contribuição para o desenvolvimento da arquitetura moderna</p><p>consolidou-se na atividade de professor da Escola Politécnica. Por meio de</p><p>Dubugras, os alunos daquela escola puderam apreciar a produção orgânica de</p><p>Frank Lloyd Wright. E aí está, ainda que de forma bastante simplificada, uma</p><p>característica da produção de arquitetura de São Paulo, da qual o paranaense</p><p>João Batista Vilanova Artigas seria o representante exemplar, segundo Santos</p><p>(2006).</p><p>Além do arquiteto mencionado, destacam-se as contribuições de outros</p><p>dois arquitetos para definir um caráter particular à arquitetura moderna de</p><p>São Paulo: Rino Levi — que estudou arquitetura na Real Escola Superior</p><p>de Arquitetura, em Roma — e Gregori Warchavchik — arquiteto russo for-</p><p>mado na Itália e emigrado para o Brasil em 1923. Em 1925, ambos lançaram</p><p>manifestos a favor da arquitetura moderna — um, em São Paulo, e o outro,</p><p>no Rio de Janeiro.</p><p>Rino Levi, em seu manifesto intitulado “A Arquitetura e a Estética das</p><p>Cidades” e publicado no jornal O Estado de São Paulo, em 15 de outubro de</p><p>1925, fez uma apologia à realidade moderna, chamando atenção para os novos</p><p>materiais, que deveriam ser aplicados de forma a compor uma arquitetura</p><p>com traços simples. Já o manifesto de Gregori Warchavchik foi publicado</p><p>em novembro do mesmo ano, no Correio da Manhã, no Rio de Janeiro, com</p><p>o título “Acerca da Arquitetura Moderna”. Nele, Warchavchik proclamava</p><p>O modernismo no Brasil4</p><p>a negação dos estilos do passado e apontava as vantagens da estética das</p><p>máquinas quando aplicada à arquitetura.</p><p>Para saber mais sobre os dois manifestos, acesse o link a seguir e leia o artigo “War-</p><p>chavchik e Levi — dois Manifestos pela Arquitetura Moderna no Brasil”, de Renato</p><p>Luis Sobral Anelli.</p><p>https://qrgo.page.link/6jsH</p><p>A importância dos dois arquitetos ultrapassou a publicação dos manifestos.</p><p>Rino Levi tornou-se referência para jovens profissionais, tanto pela quantidade</p><p>como pela qualidade de suas obras — que incluem desde residências até pro-</p><p>jetos mais complexos, como hospitais, cinemas e teatros. Warchavchik, por</p><p>sua vez, desenvolveu uma série de projetos em São Paulo, antes de se mudar</p><p>para o Rio de Janeiro, onde participou da tentativa de reforma do ensino da</p><p>Escola Nacional de Belas Artes, com Lúcio Costa.</p><p>Warchavchik elaborou o projeto de sete casas em São Paulo, começando pela</p><p>mais polêmica: a Casa da Rua Santa Cruz (1928), que fez para morar após seu</p><p>casamento, considerada a primeira casa modernista do Brasil. A intenção de</p><p>modernidade de suas obras mostrou-se também na Casa da Rua Itápolis, que</p><p>revelava a ideia corrente — advinda da Bauhaus — da integração das artes.</p><p>A casa apresentava móveis de linhas “modernas”, desenhados pelo próprio</p><p>Warchavchik, junto a obras de artistas famosos, como Tarsila do Amaral,</p><p>Regina Gomide Graz, John Graz, Cícero Dias, Di Cavalcanti, Celso Antonio,</p><p>Anita Malfatti e Vítor Brecheret, além de tapeçarias da Bauhaus, conforme</p><p>aponta Santos (2006, p. 44).</p><p>5O modernismo no Brasil</p><p>A Bauhaus foi uma escola de design, artes plásticas e arquitetura de vanguarda que</p><p>funcionou entre 1919 e 1933 na Alemanha. Foi uma das maiores e mais importantes</p><p>expressões do modernismo no design e na arquitetura, sendo uma das primeiras</p><p>escolas de design do mundo. Um de seus principais objetivos era unir artes, artesanato e</p><p>tecnologia. A máquina era valorizada, e a produção industrial e o desenho de produtos</p><p>tinham lugar de destaque, conforme apontam Coelho e Odebrecht (2007).</p><p>Segunda fase: materialização</p><p>A segunda fase evidencia a elaboração do projeto do MES, no Rio de Janeiro,</p><p>cuja linguagem sintetiza as infl uências da arquitetura de Le Corbusier aliadas</p><p>ao processo de criação de uma arquitetura moderna e brasileira, conforme</p><p>Santos (2006). A obra é considerada um marco da materialização da arquitetura</p><p>moderna brasileira, mesclando as infl uências corbusianas com as elaborações</p><p>teóricas de Lúcio Costa, ao lado de talentos como Oscar Niemeyer e de Burle</p><p>Marx. O projeto contou ainda com a participação de Jorge Machado Moreira,</p><p>Carlos Leão, Afonso Eduardo Reidy e Ernani Vasconcelos e a consultoria de</p><p>Le Corbusier.</p><p>Para saber mais detalhes sobre o edifício, acesse o link a seguir e leia o artigo “O</p><p>edifício do Ministério da Educação e Saúde (1836–1945):: museu ‘vivo’ da arte moderna</p><p>brasileira”, de Roberto Segre, José Barki, José Kós e Naylor Vilas Boas.</p><p>https://qrgo.page.link/uVqH</p><p>A contribuição de cada um dos membros foi importante para a definição</p><p>do partido definitivo, contando, entre outros elementos, com as curvas das</p><p>estruturas revestidas em pastilhas de vidro, combinadas aos jardins de Burle</p><p>Marx. A Figura 1 traz uma foto do MES.</p><p>O modernismo no Brasil6</p><p>Figura 1. Ministério da Educação e Saúde Pública (Rio de Janeiro, 1950). Foto de Marcel</p><p>Gautherot.</p><p>Fonte: Gautherot (2018, documento on-line).</p><p>O projeto realizado para o edifício do MES reflete a tentativa do grupo</p><p>brasileiro de incorporar os preceitos racionais da arquitetura corbusiana, que</p><p>se destacam pelas seguintes características:</p><p> adoção de formas simples e geométricas;</p><p> térreo com pilotis;</p><p> terraços-jardim;</p><p> fachada envidraçada;</p><p> aberturas horizontais;</p><p> integração dos espaços interno e externo;</p><p> aproveitamento da ventilação e luz naturais por meio do uso de lâminas</p><p>móveis (brise-soleil);</p><p> trabalho com volumes puros, a partir do cruzamento de um corpo</p><p>horizontal e de um vertical.</p><p>Segundo o historiador Yves Bruand (1982), dentre as soluções definidas</p><p>para o projeto estão o dinamismo e a leveza do conjunto e a forte integração</p><p>entre arquitetura, paisagismo e artes plásticas.</p><p>7O modernismo no Brasil</p><p>Terraço-jardim: transforma a cobertura do edifício em terraços habitáveis, em con-</p><p>traposição aos telhados inclinados das construções tradicionais.</p><p>Pilotis: com o uso dos pilotis, liberou-se o edifício do solo, tornando público o uso</p><p>desse espaço, permitindo a livre circulação de pessoas.</p><p>Brise-soleil: as grandes superfícies de vidro (fachada envidraçada) são protegidas,</p><p>quando necessário, com o uso de brise-soleil, como nesse edifício.</p><p>Terceira fase: difusão</p><p>A terceira fase é representada por exemplares da arquitetura moderna cons-</p><p>truídos entre as décadas de 1940 e 1960, em algumas capitais do país, cujos</p><p>projetos, em sua maioria, foram executados por arquitetos formados no Rio</p><p>de Janeiro ou em São Paulo. Ainda que o edifício do MES seja considerado</p><p>a expressão materializada da arquitetura moderna brasileira, não devem ser</p><p>esquecidas as experiências que ocorreram em outras capitais. Tais experiências</p><p>são listadas a seguir, com base em Santos (2006, p. 46).</p><p>Curitiba</p><p>Ainda em fi ns dos anos 1920, Frederico Kirchgassner projetou e construiu</p><p>sua residência na rua 13 de maio, constituindo um exemplar isolado de uma</p><p>experiência infl uenciada pela arquitetura alemã. Em Curitiba, também atuou</p><p>João Batista Vilanova Artigas, formado pela Escola Politécnica de São Paulo.</p><p>Artigas foi responsável pelos projetos de algumas residências — de José Merhy</p><p>(1941), Joel Artigas (1944) e Álvaro Sá (1945) — e do Hospital São Lucas.</p><p>Destaca-se também a atuação do arquiteto David Xavier de Azambuja, formado</p><p>pela Escola Nacional de Belas Artes, responsável pela obra do Centro Cívico</p><p>(1953) e pelo auditório da Reitoria da UFPR.</p><p>Salvador</p><p>As décadas de 1950 e 1960 foram dominadas, costuma-se dizer, pela atuação</p><p>de Diógenes Rebouças, que executou grande parte dos edifícios modernistas</p><p>O modernismo no Brasil8</p><p>do período na cidade. Entre suas obras, destacam-se: o Hotel da Bahia, pro-</p><p>jetado em 1947 com a coautoria de Paulo Antunes Ribeiro, um dos marcos</p><p>da arquitetura modernista de Salvador, assim como o Centro Educacional</p><p>Carneiro Ribeiro (escola-parque e escola-classe), feito em parceria com o</p><p>carioca Hélio Duarte, entre 1947 e 1956.</p><p>Recife</p><p>Em Recife, a arquitetura moderna se desenvolveu com a participação de dois</p><p>arquitetos: o carioca Acácio Gil Borsoi, conhecido pelo espírito inovador e</p><p>humanista, e o português Delfi m Fernandes Amorim. Apesar de carioca e</p><p>de apresentar uma arquitetura infl uenciada por Niemeyer e Reidy, Borsoi,</p><p>juntamente com o arquiteto Delfi m Amorim, buscou adaptar as novas soluções</p><p>às condições locais, resolvendo os problemas ali existentes.</p><p>Fortaleza</p><p>Sua arquitetura moderna se desenvolveu a partir da segunda metade dos</p><p>anos 1950, quando retornaram os arquitetos cearenses que haviam saído para</p><p>estudar no Rio de Janeiro e em Recife. É o caso do arquiteto José Liberal</p><p>de Castro, que se formou em 1955 pela Faculdade Nacional de Arquitetura</p><p>da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, onde foi aluno do historiador</p><p>Paulo Santos, dentre outros. Retornando à Fortaleza, ajudou a criar o Instituto</p><p>de Arquitetos do Brasil, Departamento do Ceará, e começou a trabalhar no</p><p>Departamento de Obras e Projetos da recém-criada Universidade Federal</p><p>do Ceará, incorporando-se posteriormente no quadro de professores dessa</p><p>universidade. Sua atividade como arquiteto autônomo incluiu projetos de</p><p>residências e edifícios comerciais e a reformulação do antigo campus, com os</p><p>projetos do Anexo da Reitoria e do Centro de Treinamento e Desenvolvimento,</p><p>ambos de 1967.</p><p>Porto Alegre</p><p>A arquitetura moderna em Porto Alegre teve outras infl uências além daquelas</p><p>da Escola Carioca. Destaca-se Edgar Graeff que, em 1947, formou-se pela</p><p>Faculdade Nacional de Arquitetura, sendo um dos participantes da reforma</p><p>do ensino de 1962. Graeff também organizou a Faculdade de Arquitetura no</p><p>Rio Grande do Sul. O desenvolvimento da arquitetura moderna gaúcha foi</p><p>marcado ainda pela atuação dos arquitetos Villamajó, Surraco e Scasso e da</p><p>9O modernismo no Brasil</p><p>Faculdade de Arquitetura de Montevidéu, onde se formou Demétrio Ribeiro.</p><p>Da Europa veio o austríaco Eugênio Steinhof, que se tornou professor de</p><p>Arquitetura no curso da Escola de Engenharia de Porto Alegre.</p><p>Belo Horizonte</p><p>A arquitetura moderna em Belo Horizonte teve início com os projetos de Oscar</p><p>Niemeyer para o novo bairro da Pampulha, em 1940, a convite de Juscelino</p><p>Kubitschek, então prefeito da cidade. O primeiro contato de Juscelino com</p><p>Niemeyer havia sido no projeto do Grande Hotel de Ouro Preto.</p><p>Quarta fase: consagração</p><p>Nessa última fase, apresentam-se alguns elementos da criação de Brasília — a</p><p>partir do Concurso do Plano Diretor, de 1957 —, que congrega ideias sobre</p><p>arquitetura e urbanismo no período de forma única. O próximo passo da</p><p>carreira de Niemeyer, após o conjunto da Pampulha e a consagração defi nitiva</p><p>da arquitetura moderna brasileira, foi Brasília, como viria a se chamar a nova</p><p>capital do Brasil, que signifi cava, naquele momento, a meta-síntese das aspi-</p><p>rações desenvolvimentistas de Kubitschek, conforme aponta Santos (2006).</p><p>Niemeyer foi convocado para projetar os edifícios públicos da futura Capital,</p><p>e, como colocam Coelho e Odebrecht (2007, p. 7):</p><p>A arquitetura de Brasília, prevista nos esboços com que Lúcio Costa con-</p><p>correu ao concurso internacional de projetos para a nova capital do Brasil,</p><p>foi o impulso definitivo de Niemeyer na cena da história internacional da</p><p>arquitetura contemporânea. As cúpulas côncava e convexa do Congresso</p><p>Nacional e as colunas dos palácios da Alvorada, do Planalto e da Suprema</p><p>Corte, configuram signos originais. Agregando-os às espetaculares formas das</p><p>colunas da Catedral e dos palácios Itamaraty e da Justiça, Niemeyer encerra a</p><p>perspectiva ortogonal e simétrica formada pelo ritmo repetitivo dos edifícios</p><p>da Esplanada dos Ministérios.</p><p>Para elaborar o plano piloto de Brasília, foi aberto um concurso público. O</p><p>edital do concurso exigia o traçado básico da cidade, que deveria abrigar uma</p><p>população de até 500 mil habitantes, com a disposição dos principais elementos</p><p>da estrutura urbana, a interligação dos setores e o sistema viário básico.</p><p>A proposta ganhadora do concurso, de Lúcio Costa, foi apresentada em</p><p>uma única planta e um memorial ilustrado com croquis. No trabalho de Costa,</p><p>foram apresentadas as principais influências que nortearam seu estudo e a</p><p>O modernismo no Brasil10</p><p>definição do “gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse”,</p><p>o sinal da cruz; a seguir, as formas retas se curvam levemente para se adaptar</p><p>às formas e à topografia do terreno. Com simplicidade, Costa estabeleceu o</p><p>princípio básico que norteou os eixos principais de Brasília: o eixo monumental</p><p>e o eixo rodoviário-residencial, conforme aponta Santos (2006, p. 51).</p><p>Obras modernas brasileiras</p><p>Dentre algumas das obras modernas brasileiras, destacam-se as abordadas</p><p>a seguir.</p><p>A Casa Modernista (1928) — São Paulo</p><p>A infl uência de arquitetos estrangeiros adeptos do movimento modernista</p><p>instigou a projeção da primeira obra arquitetônica de caráter moderno no</p><p>país — a Casa Modernista — do arquiteto russo Gregori Warchavchik (Fi-</p><p>gura 2). Ressalta-se que os processos de industrialização e de urbanização</p><p>contextualizaram a formação de uma sociedade burguesa, na qual puderam</p><p>ser inseridos os costumes parisienses. É importante lembrar que esse cenário</p><p>era o embalo para a formação de novos bairros em São Paulo, cuja estrutura</p><p>refl etia o desejo da nova burguesia de se aliar aos novos padrões de vida.</p><p>Segundo Oliveira e Alves (2016, p. 100), a Casa Modernista foi:</p><p>Projetada para abrigar a residência do arquiteto, recém-casado com Mina</p><p>Klabin, filha de um grande industrial da elite paulistana, a casa gerou forte</p><p>impacto nos círculos intelectuais e na opinião pública em geral, com a publi-</p><p>cação de artigos em jornais dos mais diversos espectros políticos, favoráveis</p><p>ou contrários à nova orientação estética proposta. Destituída de qualquer</p><p>ornamentação e formada por volumes prismáticos brancos, a obra era tão</p><p>impactante para a época que, para conseguir obter aprovação junto à prefeitura,</p><p>o arquiteto apresentou uma fachada toda ornamentada, e quando concluiu a</p><p>obra, alegou falta de recursos para completá-la.</p><p>11O modernismo no Brasil</p><p>Figura</p><p>2. Casa Modernista, projetada em 1928 pelo arquiteto russo Gregori Warchavchik,</p><p>pioneiro da arquitetura modernista brasileira.</p><p>Fonte: Oliveira e Alves (2016, p. 101).</p><p>O funcionalismo, exigido pelas transformações sociais, econômicas e polí-</p><p>ticas surgidas na Europa desde meados do século XIX, já pode ser sinalizado</p><p>na obra polêmica de Warchavchik. No contexto da modernidade arquitetônica,</p><p>duas premissas nortearam o seu caráter funcionalista: “menos é mais”, frase do</p><p>arquiteto Mies Van der Rohe, e “a forma segue a função”, do arquiteto Louis</p><p>Sullivan. A falta de ornamentação que tais aspectos propunham não significava,</p><p>no entanto, ausência de traços identitários. Era, na verdade, o firmar-se de uma</p><p>nova realidade social e econômica, que se refletia na arquitetura, conforme</p><p>apontam Oliveira e Alves (2016, p. 101).</p><p>Saiba mais detalhes da casa construída por Gregori Warchavchik no artigo “Clássicos da</p><p>Arquitetura: Casa Modernista da Rua Santa Cruz/Gregori Warchavchik” de Igor Fracalossi.</p><p>https://qrgo.page.link/eLCB</p><p>O modernismo no Brasil12</p><p>Conjunto Arquitetônico da Pampulha — Belo Horizonte</p><p>O Conjunto Moderno da Pampulha foi construído entre 1942 e 1943, com pro-</p><p>jeto original do arquiteto Oscar Niemeyer e do paisagista Roberto Burle Marx,</p><p>em colaboração com outros grandes artistas e profi ssionais, dentre eles, o pintor</p><p>Cândido Portinari. O conjunto é composto por quatro edifícios, pelo espelho</p><p>d’água do lago urbano artifi cial e pela orla trabalhada com paisagismo. O lago</p><p>e a orla funcionam como elementos articuladores dos edifícios e reforçam as</p><p>relações que eles estabelecem entre si. Os edifícios da Pampulha abrigam a</p><p>Igreja de São Francisco de Assis, o Cassino (atual Museu da Pampulha),</p><p>a Casa do Baile (atual Centro de Referência em Urbanismo, Arquitetura e</p><p>Design de Belo Horizonte — Figura 3) e o Iate Clube.</p><p>Figura 3. Conjunto Arquitetônico da Pampulha, Oscar Niemeyer, Belo Horizonte.</p><p>Fonte: Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (2017, documento on-line).</p><p>O conjunto arquitetônico se materializa a partir das linhas soltas, da planta</p><p>livre, da amplitude possível graças ao concreto armado, das curvas, dos mate-</p><p>riais tradicionais reinterpretados, enfim, a partir de uma nova maneira de aliar</p><p>a forma à função, sem que uma sacrifique a outra e vice-versa. O programa</p><p>relativamente simples (um cassino, um salão de baile, um restaurante, uma</p><p>13O modernismo no Brasil</p><p>igreja e um iate clube) permitiu a Niemeyer criar com liberdade. Às formas</p><p>esculturais se adicionaram também painéis e murais feitos por Paulo Werneck</p><p>e Cândido Portinari, em uma perfeita integração de arte e arquitetura.</p><p>Para saber mais sobre o conjunto arquitetônico da Pampulha, projeto de Oscar Niemeyer,</p><p>acesse o link a seguir e leia o artigo “Pampulha: Beleza pioneira e intimista de Niemeyer/</p><p>Paul Clemence”, de Igor Fracalossi.</p><p>https://qrgo.page.link/hRrD</p><p>O movimento moderno brasileiro, como vimos, foi palco de intensas trans-</p><p>formações no cenário cultural brasileiro, tendo como propulsoras as influências</p><p>externas, procedentes do exemplo europeu, e influências internas geradas</p><p>pelas mudanças políticas e econômicas do início do século. Assim, a força</p><p>do movimento residiu no seu discurso social, pois se buscou estabelecer uma</p><p>nova estética que respondesse às demandas populares por habitação, escola</p><p>e hospitais, inspirada na racionalidade industrial. A arquitetura moderna se</p><p>configura de modo a unificar a arte, a funcionalidade e a técnica. Tanto o</p><p>emprego de grandes superfícies de vidro, protegidas, quando necessário, por</p><p>brise-soleil, como o uso de estruturas livres, apoiadas sobre pilotis, com o</p><p>térreo aberto, quando possível, são características que mostram a marcante</p><p>influência de Le Corbusier na arquitetura brasileira. Destacam-se, ainda, o uso</p><p>de elementos geométricos simples e a falta de ornamentos, o uso de concreto</p><p>e aço e o desenvolvimento de espaços mais abstratos e geométricos, visando</p><p>a uma organização racional e funcional.</p><p>O modernismo no Brasil14</p><p>1. A partir da Semana de Arte Moderna</p><p>de 1922, realizada em São Paulo, o</p><p>movimento moderno se consolidou</p><p>e se difundiu na década de 1950 em</p><p>diversas capitais brasileiras. Sobre o</p><p>modernismo e o contexto histórico</p><p>brasileiro, assinale a alternativa correta.</p><p>a) O movimento modernista foi o</p><p>palco de intensas transformações</p><p>no cenário cultural brasileiro.</p><p>b) O crescente ritmo de</p><p>industrialização do país e</p><p>as novidades culturais que</p><p>chegavam ao Brasil pelo Rio</p><p>de janeiro foram os primeiros</p><p>empecilhos ao desenvolvimento</p><p>desse movimento.</p><p>c) A força do movimento moderno</p><p>residiu no seu discurso</p><p>social, no entanto, sua nova</p><p>estética não buscou atender</p><p>às demandas populares por</p><p>habitação, escola e hospitais.</p><p>d) As mudanças na arquitetura</p><p>brasileira, durante o modernismo,</p><p>se devem unicamente ao</p><p>desenvolvimento de novos</p><p>materiais e à evolução da</p><p>arte da construção.</p><p>e) Os primeiros ensaios da</p><p>arquitetura moderna no Brasil</p><p>apareceram em 1930, período</p><p>que marca o rompimento</p><p>da nossa arquitetura com a</p><p>influência de países como a</p><p>França, a Alemanha, a Itália</p><p>e os Estados Unidos.</p><p>2. Desde meados do século XX,</p><p>arquitetos e historiadores se</p><p>debruçam sobre a arquitetura</p><p>moderna brasileira, procurando</p><p>revelar os aspectos que a fizeram</p><p>reconhecida internacionalmente,</p><p>como ocorreu seu desenvolvimento</p><p>no Brasil e quais foram os</p><p>protagonistas desse processo,</p><p>como revela Santos A respeito das</p><p>fases do modernismo no Brasil,</p><p>assinale a alternativa correta.</p><p>a) A construção do movimento</p><p>moderno se deu unicamente</p><p>no Rio de Janeiro, por</p><p>meio da atuação de Lúcio</p><p>Costa e Dubugras.</p><p>b) A construção de Brasília</p><p>consolidou a arquitetura</p><p>moderna brasileira.</p><p>c) A fase de difusão do</p><p>movimento no Brasil evidencia</p><p>o desenvolvimento da</p><p>arquitetura moderna em</p><p>outras capitais, relacionado à</p><p>participação dos arquitetos</p><p>estrangeiros, principalmente.</p><p>d) Na primeira fase do movimento,</p><p>o Brasil se familiarizou com a</p><p>arquitetura moderna internacional</p><p>e recebeu arquitetos estrangeiros,</p><p>que a aplicaram aqui.</p><p>e) A fase que evidencia a</p><p>consagração do modernismo</p><p>é marcada pela construção</p><p>do Ministério da Educação</p><p>e Saúde, cujo processo</p><p>incluiu a participação de Le</p><p>Corbusier como consultor.</p><p>3. A força do movimento moderno se</p><p>mostrou por meio de seu discurso</p><p>social, que foi revolucionário quando</p><p>se libertou dos estilos, símbolos e</p><p>signos das elites, estabelecendo</p><p>uma nova estética. Sobre as</p><p>15O modernismo no Brasil</p><p>obras modernistas brasileiras,</p><p>qual a alternativa correta?</p><p>a) A Casa Modernista, projeto de</p><p>Gregori Warchavchik, gerou forte</p><p>impacto nos círculos intelectuais</p><p>e na opinião pública em geral,</p><p>devido ao excesso de ornamentos.</p><p>b) A intenção de modernidade das</p><p>obras de Warchavchik mostrou-se</p><p>também na Casa da Rua Itápolis,</p><p>apesar de apresentar ideias que</p><p>contrariavam as da Bauhaus.</p><p>c) O projeto do MES é composto</p><p>de elementos que buscam</p><p>expressar o caráter peculiar</p><p>da cultura brasileira.</p><p>d) O conjunto arquitetônico da</p><p>Pampulha se materializa a</p><p>partir das linhas geométricas</p><p>e dos volumes rebuscados,</p><p>graças ao concreto armado.</p><p>e) A obra de Oscar Niemeyer na</p><p>Pampulha se configura a partir</p><p>de quatro edificações, sem</p><p>elementos articuladores entre si.</p><p>4. “A nossa arquitetura deve ser apenas</p><p>racional, deve basear-se apenas na</p><p>lógica e esta lógica devemos opô-la</p><p>aos que estão procurando por</p><p>força imitar algum estilo”, afirmava</p><p>Warchavchik. Sobre as características</p><p>da arquitetura moderna brasileira,</p><p>assinale a alternativa correta.</p><p>a) O projeto moderno paisagístico</p><p>tem como marco o trabalho</p><p>de Burle Marx, que, em</p><p>seus projetos, dava ênfase a</p><p>padrões rígidos e simétricos.</p><p>b) O ornamento na arquitetura</p><p>moderna está reduzido ao</p><p>revestimento das paredes,</p><p>em pedra ou azulejos;</p><p>no mais, a arquitetura se</p><p>apresenta sóbria e limpa.</p><p>c) As grandes superfícies de</p><p>vidro não foram empregadas</p><p>na arquitetura moderna</p><p>brasileira, devido aos</p><p>da sociedade e foi considerado o mais importante</p><p>poeta barroco brasileiro. O padre Antonio Vieira também ganhou destaque</p><p>com seus sermões.</p><p>As principais características do barroco brasileiro são: linguagem dra-</p><p>mática, racionalismo, exagero e rebuscamento, uso de figuras de linguagem,</p><p>união do religioso e do profano, arte dualista, jogo de contrastes, valorização</p><p>de detalhes, cultismo (jogo de palavras) e conceptismo (jogo de ideias). Ma-</p><p>noel Botelho de Oliveira foi o primeiro brasileiro a publicar versos no estilo</p><p>barroco, cuja obra Música do Parnaso, de 1705, obteve grande destaque.</p><p>Frei Vicente de Salvador (1564-1636) foi o primeiro prosador do país, suas</p><p>obras de destaque são: História do Brasil e História da Custódia do Brasil.</p><p>Frei Manuel da Santa Maria de Itaparica (1704-1768) foi autor de Eutáquios</p><p>e Descrição da Ilha de Itaparica.</p><p>95Barroco</p><p>HA_U2_C07.indd 95 12/01/2018 15:44:01</p><p>Durante o período colonial, a igreja estava em íntima consonância com</p><p>o Estado, a religião exercia influência no cotidiano de todos, por isso todo o</p><p>legado barroco brasileiro permanece na arte sacra: pintura, estatuária e obra</p><p>de talha para decoração de conventos e igrejas. Os negros, os mulatos, os</p><p>índios e os artesãos populares, deram ao Barroco feições novas e originais, o</p><p>que constituiu uma cultura genuinamente brasileira. Apesar da importância</p><p>da arte barroca brasileira, boa parte do legado desse material encontra-se em</p><p>mau estado de conservação e necessita de restauro, bem como outras medidas</p><p>para conservação, verificando-se frequentemente perdas ou degradação de</p><p>exemplares valiosos em todas modalidades artísticas.</p><p>O documentário Aleijadinho: a arte de um gênio (TVBRASIL, 2014), disponível no link</p><p>a seguir, apresenta a história de Aleijadinho e suas obras feitas em Minas Gerais no</p><p>século XVIII.</p><p>https://goo.gl/YS8a4a</p><p>Barroco96</p><p>HA_U2_C07.indd 96 12/01/2018 15:44:01</p><p>1. Em qual contexto surge a questão</p><p>da arte no Barroco?</p><p>a) Após a Idade Média, trazendo</p><p>uma visão antropocêntrica.</p><p>b) A partir da reforma religiosa,</p><p>sendo a arte mediadora do</p><p>humano e do divino.</p><p>c) Após o Renascimento e se liberta</p><p>da religiosidade da época.</p><p>d) A partir da contrarreforma,</p><p>sendo a arte mediadora do</p><p>humano e do divino.</p><p>e) Após a pré-história, visando a</p><p>construção de figuras abstratas.</p><p>2. Sobre os temas evidenciados</p><p>na arte barroca, assinale a</p><p>alternativa correta.</p><p>a) Apresenta conflitos banais</p><p>da época representados</p><p>de modo satírico.</p><p>b) Mostra passagens da bíblia,</p><p>histórias mitológicas e</p><p>questões humanas.</p><p>c) Demonstra conflitos sociais</p><p>no medievo, representando</p><p>a hipocrisia do clero.</p><p>d) Define a autoridade dos</p><p>burgueses em relação ao clero.</p><p>e) Destaca conflitos entre</p><p>o clero e nobreza.</p><p>3. Quanto à arquitetura barroca, é</p><p>correto afirmar que:</p><p>a) usa contrastes e linhas planas.</p><p>b) foca-se apenas em decorações.</p><p>c) usa contrastes, cheios e</p><p>vazios, curvas e decorações.</p><p>d) foca-se apenas em estatuárias.</p><p>e) usa contrastes, abóbadas e</p><p>vitrais.</p><p>4. Sobre a pintura barroca, é</p><p>correto afirmar que:</p><p>a) expressa figuras</p><p>plácidas e serenas.</p><p>b) utiliza o colorismo,</p><p>composições simétricas e</p><p>enfoca o drama da cena.</p><p>c) expressa os questionamentos</p><p>humanos por meio de</p><p>figuras abstratas.</p><p>d) utiliza claro e escuro,</p><p>composições assimétricas e</p><p>enfoca o drama da cena.</p><p>e) expressa animais, anjos e</p><p>deuses em tons pastéis.</p><p>5. Sobre a arte barroca no</p><p>Brasil, enfatiza-se que:</p><p>a) a cidade berço foi o</p><p>Rio de Janeiro.</p><p>b) a literatura de Gil Vicente</p><p>se destacou.</p><p>c) a música de Aleijadinho foi</p><p>o principal destaque.</p><p>d) as obras de escultura eram</p><p>feitas de madeira e</p><p>pedra-sabão.</p><p>e) não teve influência no país.</p><p>97Barroco</p><p>HA_U2_C07.indd 97 12/01/2018 15:44:02</p><p>BORNGÄSSER, B. O barroco. Königswinter: Könemann, 2004.</p><p>FRANCASTEL, P. A realidade figurativa. São Paulo: Perspectiva, 1973.</p><p>MUSEU DE CIÊNCIAS DA USP. Os 12 profetas. São Paulo, c2017. Disponível em:</p><p><http://200.144.182.66/aleijadinho/os-12-profetas/>. Acesso em: 05 dez. 2017.</p><p>POZZO, A. Alegoria da obra missionária dos jesuítas (detalhe). [S.l.]: WahooArt, 1691.</p><p>Disponível em: <http://pt.wahooart.com/@@/8XZTVM-Andrea-Pozzo--Alegoria-da-</p><p>-Obra-Mission%C3%A1ria-dos-jesu%C3%ADtas-(detalhe)>. Acesso em: 05 dez. 2017.</p><p>PROENÇA, G. História da arte. 16. ed. São Paulo: Ática, 2003.</p><p>SILVA, R. H. D. R. F. da. Wölfflin: estrutura e forma na visualidade artística. In: WÖLFFLIN,</p><p>H. Renascença e barroco. São Paulo: Perspectiva, 1989.</p><p>TVBRASIL. Aleijadinho: a arte de um gênio. [S.l.]: YouTube, 2014. 1 vídeo. Disponível</p><p>em: <https://www.youtube.com/watch?v=3y_HHF9N9U4>. Acesso em: 05 dez. 2017.</p><p>WIKI MOUSE. O barroco. San Francisco: Fandom, c2017. Disponível em: <http://pt-br.</p><p>mouse.wikia.com/wiki/1-_O_Barroco>. Acesso em: 05 dez. 2017.</p><p>Barroco98</p><p>HA_U2_C07.indd 98 12/01/2018 15:44:02</p><p>Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para</p><p>esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual</p><p>da Instituição, você encontra a obra na íntegra.</p><p>Conteúdo:</p><p>HISTÓRIA DA</p><p>ARTE</p><p>Dulce América de Souza</p><p>Barroco</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p> Examinar o contexto de surgimento e as características do Barroco</p><p>na Europa.</p><p> Identificar as principais obras produzidas nos campos da pintura e</p><p>escultura na Europa.</p><p> Sintetizar as características da arte barroca no Brasil.</p><p>Introdução</p><p>O termo “barroco” foi empregado pelos críticos do século XVIII para</p><p>expressar seu repúdio à arte produzida entre o período de 1600 e 1750,</p><p>por considerá-la grotesca, de mau gosto. Esses estudiosos defendiam</p><p>que as formas das construções clássicas não deveriam ser alteradas, mas</p><p>sim mantidas integralmente como adotado pelos gregos e romanos</p><p>e consolidado pelos renascentistas. Desprezar as rigorosas normas da</p><p>arquitetura antiga seria, para eles, uma aberração. Daí surge o termo</p><p>“barroco”, como um rótulo depreciativo.</p><p>A bibliografia de referência da história da arte nos fornece leituras</p><p>apropriadas para o Barroco, que é constituído por um estilo coeso e,</p><p>simultaneamente, híbrido. Carregado das tendências nacionais, o movi-</p><p>mento chegou ao Brasil um século após seu auge europeu, produzindo</p><p>um patrimônio artístico e cultural inigualável em terras brasileiras.</p><p>Neste capítulo, você estudará o Barroco, bem como conhecerá os</p><p>contextos históricos, sociais e artísticos nos quais esse movimento se</p><p>desenvolveu inicialmente e o processo de expansão do estilo por toda</p><p>a Europa. Além disso, estabelecerá conexões entre as manifestações</p><p>do estilo nas principias categorias artísticas.</p><p>O surgimento do Barroco na Europa e suas</p><p>principais características</p><p>Na história da arte, refere-se à arte produzida no século XVII até meados</p><p>século XVIII (consensualmente entre 1600 e 1750) como Barroco. O termo foi</p><p>utilizado pela primeira vez no fi m século XVIII e aplicava-se aos fenômenos</p><p>que, de acordo com a estética classicista predominante, eram considerados</p><p>extravagantes, confusos e bizarros. É importante salientar que o Classicismo</p><p>(o modelo renascentista) não se incluía nesse conceito e permaneceu presente</p><p>nas expressões artísticas até quase o fi m do século XIX — o estilo neoclássico</p><p>atesta sua prevalência.</p><p>Embora não exista consenso quanto ao significado do termo Barroco, uma</p><p>das correntes o identifica como um nome originário da Península Ibérica que</p><p>significa “pérola de origem irregular” (WOLFFLIN, 2000; HAUSER, 2003;</p><p>BAUMGART, 1999). Essa acepção foi utilizada de maneira depreciativa</p><p>para caracterizar as inovações artísticas posteriores ao Renascimento e como</p><p>denúncia aos exageros cometidos pelos artistas pós-renascentistas. Segundo</p><p>Vázquez (1999), o protótipo do bom gosto era a arte linear e racional dos</p><p>mestres renascentistas, de modo que as obras barrocas seriam um desvio ou</p><p>deformação do padrão estético instituído.</p><p>Hauser (2003) atribui aos estudos de Heinrich Wöllf lin (escritor, fi-</p><p>lósofo, crítico e historiador da arte suíço) a compreensão</p><p>aspectos</p><p>climáticos do país.</p><p>d) O uso de materiais como o</p><p>aço e o vidro está presente em</p><p>poucos exemplares modernos.</p><p>e) A fachada livre era uma</p><p>das caraterísticas das obras</p><p>modernistas no Brasil, com o</p><p>intuito de permitir o uso de</p><p>diferentes revestimentos.</p><p>5. Segundo Gnoato (2013), as raízes</p><p>do brutalismo estão presentes</p><p>em algumas obras canônicas</p><p>do movimento moderno. Sobre</p><p>o brutalismo paulista e suas</p><p>características, pode-se afirmar que:</p><p>a) Uma das principais propostas</p><p>do movimento moderno era</p><p>realizar uma arquitetura a ser</p><p>produzida industrialmente em</p><p>larga escala, expressa também</p><p>pela arquitetura brutalista.</p><p>b) A ênfase na estrutura do</p><p>edifício, com diversos tipos</p><p>de revestimentos, é uma das</p><p>características tectônicas</p><p>da arquitetura brutalista.</p><p>c) Em São Paulo, o brutalismo</p><p>vai se definir como didática</p><p>projetual para uma geração</p><p>de arquitetos, influenciando</p><p>também outras cidades brasileiras,</p><p>tendo Le Corbusier como</p><p>liderança desse processo.</p><p>d) Os brutalistas mantêm</p><p>o racionalismo no</p><p>dimensionamento dos espaços,</p><p>mas superdimensionam a</p><p>estrutura, deixando de lado o</p><p>uso do concreto armado para a</p><p>modelagem de suas formas.</p><p>e) Na década de 1950, o brutalismo</p><p>teve diversas manifestações</p><p>na Inglaterra, dentre outros</p><p>países, incluindo o Brasil.</p><p>O modernismo no Brasil16</p><p>ANELLI, R. L. S. 1925 – Warchavchik e Levi: dois manifestos pela Arquitetura Moderna no</p><p>Brasil. Revista de Urbanismo e Arquitetura, v. 5, n. 1, 1999. Disponível em: https://portalseer.</p><p>ufba.br/index.php/rua/article/view/3129. Acesso em: 7 abr. 2019.</p><p>BRUAND, Y. A arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1982.</p><p>CARVALHO, E. E. T. A arquitetura neocolonial: a arquitetura como afirmação de naciona-</p><p>lidade. 2002. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e</p><p>Urbanismo, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2002.</p><p>COELHO, A.; ODEBRECHT, S. Arquitetura moderna: reconhecimento e análise de edifícios</p><p>representativos em Blumenau, SC. Dynamis Revista Tecno-Científica, v.13, n.1, p. 46-58,</p><p>out./dez. 2007. Disponível em: http://proxy.furb.br/ojs/index.php/dynamis/article/</p><p>view/370/347. Acesso em: 7 abr. 2019.</p><p>FAZIO, M.; MOFFETT, M.; WODEHOUSE, L. A história da arquitetura mundial. 3. ed. Porto</p><p>Alegre: AMGH, 2011.</p><p>FRACALOSSI, I. Pampulha: Beleza pioneira e intimista de Niemeyer/Paul Clemence.</p><p>ArchDaily, 25 jan. 2012. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/01-23011/</p><p>pampulha-beleza-pioneira-e-intimista-de-niemeyer-paul-clemence. Acesso em: 7</p><p>abr. 2019.</p><p>GAUTHEROT, M. Ministério da Educação e Saúde – MES: histórico. Enciclopédia Itaú</p><p>Cultural, 17 jul. 2018. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3762/</p><p>ministerioda-educacao-e-saude-mes. Acesso em: 4 abr. 2019.</p><p>HABERMAS, J. Arquitectura moderna y postmoderna. Revista de Occidente, n. 42, p.</p><p>95-104, 1984.</p><p>INSTITUTO ESTADUAL DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE MINAS GERAIS.</p><p>Legislação. 5 jul. 2017. Disponível em: http://www.iepha.mg.gov.br/index.php/insti-</p><p>tucional/legislacao/14-patrimonio-cultural-protegido/bens-tombados/160-conjunto-</p><p>-arquitet%C3%B4nico-da-pampulha. Acesso em: 7 abr. 2019.</p><p>MALARD, M. L. Forma, Arquitetura. Interpretar Arquitetura, Belo Horizonte, v. 5, n. 6, p. 1-15,</p><p>2004. Disponível em: http://www.arq.ufmg.br/eva/art010.pdf. Acesso em: 7 abr. 2019.</p><p>OLIVEIRA, R. C. M. Breve panorama do Modernismo no Brasil – revisitando Mário e</p><p>Oswald de Andrade. Revista de Literatura, História e Memória: Dossiê 90 anos da Semana</p><p>de Arte Moderna no Brasil, v. 8, n. 11, p. 82-95, 2012. Disponível em: e-revista.unioeste.</p><p>br/index.php/rlhm/article/download/6493/5375. Acesso em: 7 abr. 2019.</p><p>OLIVEIRA, R. S.; ALVES, V. L. S. Modernismo: entre o arquitetar do “Estado De Espírito”</p><p>e a Arquitetura Identitária do Brasil. Revista Arredia, Dourados, v. 5, n. 8, p. 97-106, jan./</p><p>jun. 2016.</p><p>17O modernismo no Brasil</p><p>SANTOS, M. G. R. Arquitetura Moderna Brasileira, dos Pioneiros a Brasília (1925-1960).</p><p>Revista da Vinci, v. 3, n. 1, p. 37-56, 2006. Disponível em: https://www.up.edu.br/da-</p><p>vinci/3/304_arquitetura_moderna_brasileira.pdf. Acesso em: 7 abr. 2019.</p><p>Leituras recomendadas</p><p>ANDRADE, M. O movimento modernista. In: ANDRADE, M. Aspectos da literatura brasileira.</p><p>5. ed. São Paulo: Martins, 1978.</p><p>ARGAN, G. C. História da arte como história da cidade. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes,</p><p>2005.</p><p>ARTIGAS, J. B. V. Caminhos da arquitetura. 2. ed. São Paulo: Fundação Vilanova Artigas,</p><p>1986.</p><p>BRANDÃO, C. A. L. A formação do homem moderno vista através da arquitetura. Belo</p><p>Horizonte: Ap Cultural, 1991.</p><p>BUZZAR, M. A. Arquitetura moderna brasileira como representação: o caso da FAU</p><p>USP. In: VI Seminário DOCOMOMO Brasil, 2005, Niterói. Anais [...] p. 1-20. Disponível em:</p><p>http://docomomo.org.br/wp-content/uploads/2016/01/Miguel-Buzzar.pdf. Acesso</p><p>em: 7 abr. 2019.</p><p>FRAMPTOM, K. História crítica da arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1997.</p><p>LE CORBUSIER. Por uma arquitetura. 6. ed. São Paulo: Perspectiva, 2002. (Estudos. Ar-</p><p>quitetura, 27).</p><p>LEMOS, C. A. C. Arquitetura Brasileira. São Paulo: Melhoramentos, 1974. (Série Arte E</p><p>Cultura).</p><p>LUCCAS, L. H. H. Arquitetura moderna e brasileira: o constructo de Lucio Costa como</p><p>sustentação. Arquitextos, São Paulo, ano 06, n. 063.07, Vitruvius, set. 2005. Disponível</p><p>em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.063/437. Acesso em: 7</p><p>abr. 2019.</p><p>SEGRE, R. et al. O edifício do Ministério da Educação e Saúde (1936-1945): museu “vivo”</p><p>da arte moderna brasileira. Arquitextos, São Paulo, ano 6, n. 069.02, Vitruvius, fev. 2006.</p><p>Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.069/376.</p><p>Acesso em: 7 abr. 2019.</p><p>TELES, G. M. Vanguarda europeia e modernismo brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1983.</p><p>O modernismo no Brasil18</p><p>ARTESANATO E</p><p>CULTURA</p><p>BRASILEIRA</p><p>Vanessa Guerini Scopell</p><p>Arte e artesanato</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p> Analisar a influência da arte no artesanato.</p><p> Explicar a importância do artesanato para a consolidação das culturas</p><p>locais e globais.</p><p> Identificar manifestações culturais em artesanatos e suas relações</p><p>com projetos arquitetônicos.</p><p>Introdução</p><p>A arte pode ser entendida como a atividade humana ligada às mani-</p><p>festações de ordem estética ou comunicativa, realizada por meio de</p><p>diversas linguagens. A arte pode ser dividida em diferentes setores e,</p><p>dentro deles, encontra-se o artesanato, um tipo de arte que prioriza as</p><p>atividades manuais.</p><p>Neste capítulo, você vai estudar os conceitos de arte e de artesanato,</p><p>entendendo como essas manifestações colaboram para a manutenção</p><p>das culturas locais. Além disso, você vai identificar exemplos de projetos</p><p>de arquitetura que aliam o design ao artesanato e colaboram para a</p><p>valorização da cultura.</p><p>O artesanato como forma de arte</p><p>O termo “arte”, segundo o Dicionário Informal (2019), tem diversos signi-</p><p>fi cados. Ele pode ser defi nido como uma aptidão ou habilidade para fazer</p><p>alguma coisa ou uma maneira de manifestar um senso estético. Assim, pode-se</p><p>considerar que a arte é uma das melhores formas de o ser humano expressar</p><p>tanto seus sentimentos como suas emoções, principalmente pelo fato de que</p><p>ela pode ser representada de diferentes maneiras. A palavra “arte” se origina</p><p>do vocábulo latino ars, que signifi ca técnica ou habilidade. De acordo com</p><p>Aidar (2019, documento on-line), “Podemos dizer que é uma manifestação</p><p>humana comunicativa muito antiga [...]”.</p><p>A arte não é somente uma forma de representação íntima de cada pessoa,</p><p>mas também faz parte da história e reflete, por meio de objetos artísticos,</p><p>contextos, valores, crenças, beleza, cenas e culturas. Segundo Azevedo Junior</p><p>(2007), a arte sempre foi um meio de o ser humano marcar sua presença,</p><p>expressar suas ideias e se comunicar. Veja:</p><p>A arte surgiu com os primórdios da humanidade, se revelou com suas primei-</p><p>ras ações, principalmente através de seu trabalho, condição</p><p>necessária para</p><p>sua sobrevivência, em que o homem utiliza a natureza transformando-a. As</p><p>pinturas rupestres também caracterizavam essas primeiras formas de ação,</p><p>demonstrando que o homem da caverna, naquele tempo, já tinha interesse em</p><p>se expressar de maneira diferente (FISCHER, 1983, p. 11).</p><p>A arte foi uma das primeiras formas de representação da humanidade.</p><p>Já nas cavernas, surgiram as primeiras manifestações de arte, as pinturas</p><p>rupestres. Essas imagens consistiam principalmente na representação de seres</p><p>humanos, animais e cenas de caçadas. As pinturas eram feitas com pedaços</p><p>de carvão e a marcação nas pedras era realizada com ossos, dentes e chifres.</p><p>Arte rupestre (Figura 1) é o nome dado às primeiras produções artísticas</p><p>realizadas pelos seres humanos durante a Pré-história. Essa produção artística</p><p>surgiu ainda durante o período Paleolítico, em torno de 30 mil anos atrás, e</p><p>continuou a ser praticada durante o período subsequente, o Neolítico (PINTO,</p><p>2019).</p><p>Figura 1. Arte rupestre.</p><p>Fonte: Acrilex Tintas Artísticas (c2019, documento on-line).</p><p>Arte e artesanato2</p><p>Ao longo do tempo, diversas formas de manifestação artística foram sendo</p><p>desenvolvidas nos diferentes contextos, épocas e civilizações. Em cada época,</p><p>prevaleceu algum estilo, com suas características e peculiaridades. Pode-se</p><p>dizer que esse tipo de manifestação tem o objetivo de estimular e despertar o</p><p>interesse dos espectadores, sempre causando algum efeito. Assim, cada obra</p><p>e tipo de expressão possui seus próprios significados, muitos deles relacio-</p><p>nados a fatos da história, momentos econômicos e políticos. Azevedo Junior</p><p>(2007, p. 14) destaca que “[...] cada sociedade apresenta um estilo diferente</p><p>de fazer arte, pois possui seus próprios valores morais, religiosos, artísticos,</p><p>entre outros [...]”.</p><p>Além disso, a arte está ligada ao senso estético e permite ao homem im-</p><p>primir e materializar tudo o que o inspira: “A arte possui um caráter estético</p><p>e está intimamente relacionada com as sensações e emoções dos indivíduos.</p><p>Vale salientar que a arte tem uma importante função social na medida em</p><p>que expõe características históricas e culturais de determinada sociedade,</p><p>tornando-se um reflexo da essência humana [...]” (AIDAR, 2019, documento</p><p>on-line). Como a arte pode ser representada de diversas maneiras, ela foi</p><p>dividida em três principais tipos. Veja a seguir.</p><p> Artes plásticas: essa tipologia se manifesta principalmente a partir de</p><p>escultura, arquitetura, artes gráficas e artesanato.</p><p> Artes visuais: esse segmento refere-se a todos os tipos de arte que</p><p>retratam a realidade ou a imaginação e que têm a visão como um dos</p><p>principais recursos para estudo. Envolve áreas como pintura, cinema,</p><p>decoração, jogos, etc.</p><p> Artes cênicas: esse tipo de arte está relacionado ao estudo de todas as</p><p>formas de expressão realizadas por meio da dança, do teatro ou da música.</p><p>O artesanato faz parte do segmento das artes plásticas e, segundo o Di-</p><p>cionário Informal (2019), ele pode ser definido como “[...] o próprio trabalho</p><p>manual ou produção de um artesão (de artesão + ato)”. Veja:</p><p>O artesanato é tradicionalmente a produção de caráter familiar, na qual o</p><p>produtor (artesão) possui os meios de produção (sendo o proprietário da</p><p>oficina e das ferramentas) e trabalha com a família em sua própria casa,</p><p>realizando todas as etapas da produção, desde o preparo da matéria-prima,</p><p>até o acabamento final; ou seja, não havendo divisão do trabalho ou especia-</p><p>lização para a confecção de algum produto. Em algumas situações o artesão</p><p>tinha junto a si um ajudante ou aprendiz (DICIONÁRIO INFORMAL, 2019,</p><p>documento on-line).</p><p>3Arte e artesanato</p><p>Segundo Dantas (2019), a técnica de fazer artes manuais é praticada desde</p><p>a Antiguidade. Ainda no período Neolítico, os homens passaram a fabricar</p><p>suas ferramentas de forma manual. Eles poliam pedras para transformá-las</p><p>em armas de caça, fabricavam vasos cerâmicos para armazenar alimentos e</p><p>praticavam a tecelagem para fazer suas vestimentas. O artesanato foi sempre</p><p>uma arte que necessitou de bastante dedicação e cuidado, uma forma de arte</p><p>por meio da qual cada povo pôde representar sua história e seus costumes.</p><p>Dantas (2019) acrescenta que foi no momento da Revolução Industrial</p><p>que esse tipo de arte perdeu status, pois nesse período a fabricação industrial</p><p>se tornou destaque. Nesse contexto, “[...] os artesãos eram submetidos a pés-</p><p>simas condições de trabalho e baixa remuneração. Este processo de divisão</p><p>de trabalho recebeu o nome de linha de montagem [...]” (DANTAS, 2019,</p><p>documento on-line). Atualmente, o artesanato voltou a ser valorizado e, por</p><p>meio das matérias-primas naturais e locais, é possível desenvolver produtos</p><p>originais e que detêm as características de cada região.</p><p>Ao longo do tempo, os mais diversos tipos de arte foram desenvolvidos. Veja a seguir</p><p>quais são as artes existentes.</p><p>1. Música</p><p>2. Dança/coreografia</p><p>3. Pintura</p><p>4. Escultura</p><p>5. Teatro</p><p>6. Literatura</p><p>7. Cinema</p><p>8. Fotografia</p><p>9. Histórias em quadrinhos</p><p>10. Jogos de computador e de vídeo</p><p>11. Arte digital</p><p>A importância do artesanato para a</p><p>consolidação da cultura local</p><p>O artesanato é uma atividade que utiliza técnicas tradicionais para criar pro-</p><p>dutos. Segundo Moura (2011), o Conselho Mundial de Artesanato defi ne</p><p>Arte e artesanato4</p><p>o artesanato como “[...] toda atividade produtiva que resulte em objetos e</p><p>artefatos acabados, feitos manualmente ou com a utilização de meios tradi-</p><p>cionais ou rudimentares, com habilidade, destreza, qualidade e criatividade</p><p>[...]” (MOURA, 2011, p. 32).</p><p>Essa atividade está, na maioria das vezes, associada ao uso de materiais</p><p>e técnicas bastante simples e não tecnológicas, pois partem de uma cultura</p><p>ancestral (Figura 2). Os artesãos, em um primeiro momento, trabalhavam</p><p>muitas vezes sem remuneração e com pouco conhecimento. Ao longo do</p><p>tempo, foram se especializando e melhorando suas peças. Atualmente, a</p><p>maioria dos produtos artesanais é comercializada. Assim, Dorfles (1991)</p><p>acredita que o artesanato é um autêntico diferenciador de produtos. Para</p><p>o autor, ele é o resultado de algo que será diferenciado mesmo quando</p><p>submetido a uma repetição. Ou seja, se o artesanato for produzido sequen-</p><p>cialmente, não haverá igualdade nas formas; cada produto será particular</p><p>e especial.</p><p>Figura 2. Artesanato local.</p><p>Fonte: SuaPesquisa.com (c2019, documento on-line).</p><p>No momento da Revolução Industrial, essa atividade foi desvalorizada,</p><p>principalmente por seu valor não ser tão competitivo em relação ao dos objetos</p><p>produzidos em escala. Mas, com o passar dos anos, os artesanatos voltaram</p><p>a estar presentes nas feiras e nas casas das pessoas, justamente por serem</p><p>produtos bastante diferenciados, produzidos com mais esmero e dedicação,</p><p>de forma bastante personalizada e com características de cada cultura local.</p><p>Considere o seguinte:</p><p>5Arte e artesanato</p><p>O artesanato é um exemplo de produção cultural popular que resistiu e resistirá</p><p>a todas e quaisquer alterações impostas pelo tempo. O artesanato acompanha</p><p>o tempo sem querer vencê-lo e não aceitando sua dominação. Assim, na</p><p>atualidade os valores do passado estão mais vivos e são ressaltados no ima-</p><p>ginário que povoa a criação de uma cultura material adaptada ao universo</p><p>contemporâneo (MELO, 2002, p. 11).</p><p>Segundo Bolognini (1988), o artesanato pode ser dividido em duas categorias:</p><p> artesanato erudito — é o tipo de artesanato ensinado;</p><p> artesanato folclórico — é aquele em que a atividade é exercida de ma-</p><p>neira espontânea e o conhecimento sobre as técnicas e os materiais</p><p>utilizados é passado de geração em geração, ou seja, por herança e</p><p>pela história oral.</p><p>Barroso Neto (1999) acrescenta que o artesanato também pode ser visto a</p><p>partir de suas finalidades e funções. Nesse caso, ele é dividido em:</p><p> utilitário — em geral, ferramentas e utensílios desenvolvidos para suprir</p><p>carências e necessidades das populações de menor poder aquisitivo;</p><p> conceitual — objetos cuja finalidade principal é externar uma</p><p>reflexão,</p><p>discurso ou conceito próprio de quem o produz, seja este um indivíduo</p><p>ou comunidade;</p><p> decorativo — artefatos cuja principal motivação é a busca da beleza,</p><p>com a finalidade de harmonizar os espaços de convívio;</p><p> litúrgico — produtos de finalidade ritualística destinados a práticas</p><p>religiosas ou místicas;</p><p> lúdicos — produtos destinados ao entretenimento de adultos e crianças</p><p>intimamente relacionados a práticas folclóricas e tradicionais.</p><p>A arte manifestada pelo artesanato é importante para a sociedade pois por</p><p>meio dela é possível resgatar as particularidades de cada região e as técnicas</p><p>de cada momento da história. O objeto artesanal carrega em si um signifi-</p><p>cado, além da contribuição do artesão, e é uma representação de cultura e de</p><p>memória. Isso o torna capaz de fazer com que a cultura de determinado local</p><p>seja mantida no tempo. Paz (1991) ainda acrescenta que o artesanato pode</p><p>ser considerado uma festa do objeto. Segundo o autor, nesse tipo de arte “[...]</p><p>há um contínuo vaivém entre utilidade e beleza; esse vaivém tem um nome:</p><p>prazer. As coisas dão prazer porque são úteis e belas [...]” (PAZ, 1991, p. 51).</p><p>Arte e artesanato6</p><p>Arquitetura e artesanato</p><p>O artesanato é um tipo de arte relacionado ao design. Apesar de o design</p><p>ser geralmente vinculado a algo moderno e inovador, ele também pode ser</p><p>compreendido a partir das produções dos artesãos, que, afi nal, são projetos</p><p>de arte. Como você viu, o artesanato é uma produção associada aos hábitos</p><p>culturais de um local, mas responde também a aspectos simbólicos e estéticos.</p><p>Além disso, objetos de artesanato podem aparecer integrados a outras formas</p><p>de design, complementando projetos de arquitetura.</p><p>Para Roizenbruch (2009), os projetos que relacionam design e artesanato</p><p>buscam melhorar os processos e técnicas produtivos por meio da valorização</p><p>do trabalho manual e da divulgação dele a todas as classes. Barroso Neto</p><p>(1999) destaca que a adequação do artesanato às mudanças tecnológicas não</p><p>o descaracteriza, pois a autenticidade de um objeto está na forma singular</p><p>com que cada artista ou artesão expressa a sua percepção. Veja:</p><p>A seguir, veja como o Sebrae classifica os artesanatos.</p><p> Artesanato indígena: são os objetos produzidos por uma comunidade indígena.</p><p>Em sua maioria, resultam de uma produção coletiva, incorporada ao cotidiano.</p><p> Artesanato tradicional: é constituído pelos artefatos mais expressivos da cultura</p><p>de determinado grupo, representativos de suas tradições. A produção é, em geral,</p><p>de origem familiar ou de pequenos grupos vizinhos. Os objetos são depositários</p><p>de um passado, acompanhando histórias contadas de geração em geração.</p><p> Artesanato de referência cultural: são produtos que incorporam elementos</p><p>culturais tradicionais da região onde são produzidos. Em geral, resultam de uma</p><p>intervenção planejada de artistas e designers, em parceria com os artesãos. A ideia</p><p>é sempre preservar traços culturais representativos.</p><p> Artesanato conceitual: são objetos produzidos por pessoas com alguma formação</p><p>artística, de nível educacional e cultural mais elevado, geralmente de origem urbana.</p><p>Por trás desses produtos, existe sempre uma proposta, uma afirmação sobre estilos</p><p>de vida e de valores, bem como algum tipo de inovação.</p><p>Como você pode notar, os artesanatos têm importância social. Hoje, tal importância</p><p>decorre também do fato de possibilitarem melhores condições de vida para diversas</p><p>comunidades. Assim, eles funcionam como estímulo econômico e como agente de</p><p>resgate dos traços identitários das culturas das comunidades.</p><p>Fonte: Moura (2011, documento on-line).</p><p>7Arte e artesanato</p><p>A aproximação do design com a arte e o artesanato proporciona soluções</p><p>ainda pouco reconhecidas. Dessa interação, o que era antes para a arte e para</p><p>o artesanato um mero exercício criativo da cultura de um artista ou de um</p><p>artesão fez surgir novas categorias de produtos fortes culturalmente e ricos</p><p>em soluções de projeto. Então, pode-se entender que, da inter-relação design,</p><p>arte e artesanato, surge uma corrente de objetos-conceito feita por designers</p><p>que se apropriam da forma plástica da arte e do artesanato para personificar</p><p>suas soluções de projeto (MOURA, 2011, p. 47).</p><p>O projeto denominado Apartamento Clodomiro (Figura 3), do escritório Todos</p><p>Arquitetura, é um exemplo de projeto contemporâneo que recebeu contribuições</p><p>da arte e do artesanato brasileiros. Localizado em São Paulo, o apartamento</p><p>conta com área aproximada de 140 m², layout flexível e materiais leves que</p><p>compõem com superfícies mais rústicas, como os decks de madeira. Segundo</p><p>Pereira (2019, documento on-line), “[...] a curadoria do mobiliário veio de uma</p><p>mistura de elementos da arte e do artesanato brasileiro com móveis renomados,</p><p>como, por exemplo, a poltrona Mole de Sérgio Rodrigues, e principalmente do</p><p>acervo pessoal de arte dos moradores, com obras de Tarsila do Amaral, Candido</p><p>Portinari, Burle Marx, Iberê Camargo e Picasso [...]”. Ainda é possível perceber na</p><p>decoração dos espaços o uso de cestos de vime, referência ao artesanato indígena.</p><p>Figura 3. Apartamento Clodomiro.</p><p>Fonte: Pereira (2019, documento on-line).</p><p>Arte e artesanato8</p><p>A Casa Obsoleta (Figura 4) é outro exemplo da mistura de arte e artesa-</p><p>nato no design de interiores. Situada na Indonésia, a residência conta com</p><p>ambientes internos compostos por objetos advindos de diferentes culturas</p><p>do mundo. O objetivo do projeto era que ele fosse algo diferenciado, que</p><p>pudesse trazer novas possibilidades por meio do descobrimento da criati-</p><p>vidade e da sabedoria local.</p><p>Figura 4. Casa Obsoleta.</p><p>Fonte: González (2019, documento on-line).</p><p>A Casa da Fazenda Campos Gerais também é um projeto arquitetônico que</p><p>alia o conforto da arquitetura contemporânea com a valorização da cultura</p><p>local por meio de objetos de arte. De autoria do escritório Tavares Duayer</p><p>Arquitetura, o projeto teve como uma de suas premissas, segundo o próprio</p><p>escritório, a valorização da cultura por meio dos mobiliários, acessórios e</p><p>artesanatos: “De maneira geral, todos os itens expostos contribuem para o</p><p>‘décor mineiro’. São peças tradicionais que de fato são utilizadas no dia a dia.</p><p>Dessa forma, percebe-se que a imersão na cultura local contribuiu significati-</p><p>vamente para a criação da atmosfera de fazenda mineira”. Na Figura 5, você</p><p>pode ver luminárias de palha, capas de almofada de crochê, cestos, panelas</p><p>de cobre, entre outros itens de fabricação artesanal.</p><p>9Arte e artesanato</p><p>Figura 5. Casa da Fazenda Campos Gerais.</p><p>Fonte: Vada (2018, documento on-line).</p><p>Como você viu, os projetos de arquitetura podem garantir ambientes mul-</p><p>ticulturais e ricos em simbolismos, capazes de gerar linguagens próprias por</p><p>meio das mais diversas criações e combinações. O artesanato, por ser carregado</p><p>de significado, cria atmosferas interessantes e remete a histórias e culturas</p><p>que podem ser valorizadas e relembradas em propostas atuais.</p><p>ACRILEX TINTAS ARTÍSTICAS. Pinturas rupestres. c2019. Disponível em: https://acrilex.</p><p>com.br/acrilex-cultural/pintura-rupestre/. Acesso em: 5 maio 2019.</p><p>AIDAR, L. O que é arte? 2019. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/o-que-</p><p>e-arte/. Acesso em: 5 maio 2019.</p><p>AZEVEDO JUNIOR, J. G. Apostila de arte: artes visuais. São Luís: Imagética Comunicação</p><p>e Design, 2007.</p><p>BARROSO NETO, E. Design, identidade cultural e artesanato. In: JORNADA IBERO-AME-</p><p>RICANA DE DESIGN E ARTESANATO, 1., 1999, Fortaleza. Anais [...]. Fortaleza: [s. n.], 2000.</p><p>BOLOGNINI, D. Cultura Popular: em busca de nossas raízes. Design e Interiores, São Paulo,</p><p>ano 2, n. 9, p. 100-101, jul./ago. 1988.</p><p>DANTAS, G. C. S. Artesanato. 2019. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/artes/</p><p>artesanato.htm. Acesso em: 5 maio 2019.</p><p>DICIONÁRIO INFORMAL. [Site]. [2019]. Disponível em: https://www.dicionarioinformal.</p><p>com.br/. Acesso em: 5 maio 2019.</p><p>Arte e artesanato10</p><p>DORFLES, G. O design industrial e a sua estética. 3. ed. Lisboa: Editorial Presença, 1991.</p><p>FISCHER, E. A necessidade</p><p>da arte. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.</p><p>GONZÁLEZ, M. F. A casa obsoleta: Omah Amoh. 2019. Disponível em: https://www.</p><p>archdaily.com.br/br/909525/a-casa-obsoleta-omah-amoh-gayuh-budi-utomo. Acesso</p><p>em: 5 maio 2019.</p><p>MELO, M. M. Artesanato e design: fluxos e hibridações na cultura brasileira. 2002. Trabalho</p><p>de Conclusão de Curso (Graduação em Comunicação Social) – Pontifícia Universidade</p><p>Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2002.</p><p>MOURA, A. N. D. A influência da cultura, da arte e do artesanato brasileiros no design</p><p>nacional contemporâneo: um estudo da obra dos Irmãos Campana. 2011. Dissertação</p><p>(Mestrado em Design) – Programa de Pós-Graduação em Design, Universidade do Es-</p><p>tado de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2011. Disponível em: http://www.ppgd.uemg.br/</p><p>wp-content/uploads/2012/08/Adriana-Nely-Dornas-Moura.pdf. Acesso em: 5 maio 2019.</p><p>PAZ, O. Convergências: ensaios sobre arte e literatura. Rio de Janeiro: Rocco, 1991.</p><p>PEREIRA, M. Apartamento Clodomiro. 2019. Disponível em: https://www.archdaily.com.</p><p>br/br/911156/apartamento-clodomiro-todos-arquitetura. Acesso em: 5 maio 2019.</p><p>PINTO, T. S. O que é arte rupestre? 2019. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.</p><p>br/o-que-e/historia/o-que-e-arte-rupestre.htm. Acesso em: 5 maio 2019.</p><p>ROIZENBRUCH, T. A. O jogo das diferenças: design e arte popular no cenário multicultural</p><p>brasileiro. 2009. Dissertação (Mestrado em Design) – Programa de Pós-Graduação em</p><p>Design, Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, 2009.</p><p>SUAPESQUISA.COM. Artesanato. c2019. Disponível em: https://www.suapesquisa.com/</p><p>artesliteratura/artesanato/. Acesso em: 5 maio 2019.</p><p>VADA, P. Fazenda Campos Gerais. 2018. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/</p><p>br/903500/fazenda-campos-gerais-tavares-duayer-arquitetura. Acesso em: 5 maio 2019.</p><p>11Arte e artesanato</p><p>HISTÓRIA DO</p><p>URBANISMO</p><p>Vanessa Guerini Scopell</p><p>As cidades renascentistas,</p><p>clássicas e barrocas</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p> Resumir o contexto histórico.</p><p> Detectar características das cidades da Idade Moderna.</p><p> Identificar cidades com características do urbanismo típico da Idade</p><p>Moderna.</p><p>Introdução</p><p>A Idade Moderna é o período da história que surgiu após a Idade Média,</p><p>durante os séculos XV até XVIII. Nesse momento, as relações comerciais</p><p>se aprofundaram, criando grandes redes e mudando a estrutura das</p><p>cidades. Ainda, o período marcou o surgimento das capitais e dos países,</p><p>em que o Estado passou a vir antes das próprias cidades, diferentemente</p><p>dos períodos anteriores. No aspecto urbano, retomaram-se os preceitos</p><p>da antiguidade clássica e as cidades ganharam vias maiores e espaços</p><p>abertos de caráter monumental.</p><p>Neste capítulo, você vai entender sobre o contexto histórico do perí-</p><p>odo medieval, compreendendo sobre a política, a religião e a economia</p><p>dessa época, bem como os estilos renascentista e barroco, que marcaram</p><p>esse tempo. Você também compreenderá as características das cidades</p><p>da Idade Moderna, identificando exemplos do urbanismo dessa fase.</p><p>Contexto histórico da Idade Moderna</p><p>O período da Idade Moderna foi marcado pelos movimentos renascentista e</p><p>barroco, que foram os responsáveis por grandes transformações para a socie-</p><p>dade da época. Esse momento, que veio após a Idade Média e antes da Idade</p><p>Contemporânea, aproximadamente entre os séculos XV e XVIII, contribuiu</p><p>para a formação das bases socioeconômicas da atualidade.</p><p>Com a queda do sistema feudal, que fora impulsionado com a formação de</p><p>uma nova classe social, denominada burguesia, bem como a intensificação do</p><p>comércio, o Renascimento surgiu para suprir diversas lacunas. Silva (2017) ressalta</p><p>que, nesse momento, cidades da Itália, como Veneza, Gênova, Florença, Roma e</p><p>outras, começaram a se desenvolver e enriquecer com o comércio no Mediterrâneo.</p><p>Esse comércio resultou em uma rica burguesia mercantil, que passou a se dedicar</p><p>às artes, à literatura e à ciência, juntamente com os príncipes e papas.</p><p>A Idade Moderna teve como valores uma oposição aos aspectos presentes</p><p>no período anterior, que era extremamente influenciado pela igreja e pela</p><p>religião. Essa fase foi evidenciada por um movimento econômico, político e</p><p>cultural, que teve origem na Itália. Segundo Farrelly (2014, p. 42), “poucas</p><p>vezes a história da arquitetura passou por mudanças tão rápidas e fundamentais</p><p>em termos de postura como as testemunhadas pela Itália no início do século</p><p>XIV”. Nesse sentido, essa fase foi considerada a retomada da antiguidade</p><p>clássica, caracterizada pelas civilizações dos gregos e romanos, já que naquele</p><p>momento ocorreu o auge cultural da humanidade.</p><p>Para a geração anterior, as obras criadas no mundo clássico antigo pareciam</p><p>ter formas e complexidade inimagináveis. A nova sensibilidade buscava</p><p>compreender a arquitetura clássica com base na validação da capacidade de</p><p>raciocínio do homem e da possibilidade de entender o mundo por meio da</p><p>observação e do intelecto, deixando de lado as explicações predeterminadas</p><p>(FARRELLY, 2014, p. 42).</p><p>Conforme ressalta Chueca Goitia (1992), a dinâmica da sociedade se trans-</p><p>formou por meio do desenvolvimento do comércio marítimo, do comércio entre</p><p>a Europa e as colônias vizinhas e também do mercantilismo. O movimento</p><p>da Idade Moderna foi marcado por um contexto de importantes descobertas</p><p>científicas, notadamente nos campos da astronomia, da física, da medicina,</p><p>da matemática e da geografia. Na medicina, estudos relacionados a métodos</p><p>de cauterização, anatomia e circulação sanguínea também tiveram avanços.</p><p>Fazio, Moffett e Wodehouse (2011) complementam que o movimento literário</p><p>desse período deu origem a autores conhecidos, como, por exemplo, Shakes-</p><p>peare, considerado um dos maiores dramaturgos do mundo, e o poeta Luis</p><p>de Camões. Nas artes, Leonardo da Vinci surgiu como o principal artista</p><p>do Renascimento, trabalhando com pintura, matemática, física, anatomia,</p><p>escultura e arquitetura, além de Michelangelo, que tinha como marca nas</p><p>suas obras o Humanismo, como pode ser observado, a seguir, na Figura 1.</p><p>As cidades renascentistas, clássicas e barrocas2</p><p>Figura 1. Pintura na parte interna da Capela Sistina – Itália, realizada</p><p>por Michelangelo, com ideias humanistas.</p><p>Pereira (2010) ressalta que o Humanismo foi um movimento intelectual,</p><p>que se manifestou nas artes e na filosofia do período renascentista. Nesse mo-</p><p>mento, houve um rompimento referente ao pensamento teocêntrico do período</p><p>anterior e, com isso, surgiram novos paradigmas e maneiras de enxergar o</p><p>mundo. “A Idade do Humanismo volta a empregar os elementos construtivos</p><p>e decorativos clássicos, mas com uma liberdade e certas preferências que</p><p>levam à reformulação da gramática da Antiguidade como disciplina universal”</p><p>(PEREIRA, 2010, p. 145).</p><p>Com o desenvolvimento e a pesquisa voltados à ciência, os defensores</p><p>do Renascimento começaram a perceber que a verdade vinha, também, dos</p><p>seres humanos e não somente de Deus. Com isso, passaram a refletir mais</p><p>profundamente as questões mundanas. Essa ideia confrontou diversos dogmas</p><p>da Igreja Católica, que, aos poucos, foi perdendo seus fiéis, sobretudo, com</p><p>a reforma protestante. Assim, o teocentrismo da Idade Medieval foi sendo</p><p>substituído pelo antropocentrismo do período renascentista.</p><p>Segundo Russell (2004), o Renascimento surgiu na Itália, foi difundido</p><p>por toda a Europa e marcado por três diferentes fases e suas características,</p><p>denominadas Trecento, Quatrocento e Cinquecento. O Trecento se refere</p><p>ao século XIV, em que houve o rompimento das referências medievais.</p><p>Na fase posterior, relacionada ao século XV, o Renascimento se espalhou</p><p>pela Itália e passou a se inspirar nas contribuições dos gregos e romanos.</p><p>A fase chamada de Cinquecento foi na qual o estilo renascentista passou</p><p>a tomar proporções universais, com sua expansão e, após, iniciando sua</p><p>decadência.</p><p>3As cidades renascentistas, clássicas e barrocas</p><p>O movimento denominado Barroco surgiu em um momento no qual havia</p><p>uma aversão à religião Católica, marcado também por mudanças e incertezas.</p><p>Assim, diante de um contexto de reformas religiosas, com a igreja perdendo</p><p>seu prestígio e poder, surgiu esse movimento, aproximadamente, ao final</p><p>do século XVI. É importante ressaltar que, apesar dessa crise, o movimento</p><p>católico ainda tinha bastante influência no cenário econômico, político e</p><p>religioso da Europa.</p><p>Conforme Silva (2017), assim como os banqueiros e mercadores de Florenç a</p><p>patrocinaram os artistas e arquitetos do Renascimento, a Igreja Cató lica foi a</p><p>principal patrocinadora das artes e da arquitetura dos sé culos XVII e XVIII,</p><p>ao redor de Roma. As obras, por ela encomendadas, deram origem a um novo</p><p>estilo, o Barroco.</p><p>Quando o Renascimento chegou ao fim, a Igreja tinha muito poder secu-</p><p>lar, mas suas bases morais haviam se deteriorado. O tí tulo de cardeal era</p><p>vendido descaradamente; altos e baixos oficiais da Igreja tinham amantes e</p><p>buscavam benefí cios para seus filhos, que eram eufemisticamente chama-</p><p>dos de “sobrinhos”; e as doaç õ es dos devotos eram gastas em projetos que</p><p>careciam totalmente de propó sitos espirituais. Os papas viviam em grande</p><p>luxo, tratando o tesouro da Igreja como verba pessoal. Para financiar seus</p><p>projetos sagrados e seculares, a Igreja instituiu prá ticas de levantamento de</p><p>fundos questioná veis, como a venda de perdõ es e indulgê ncias para poupar</p><p>o pagador – ou um parente – de passar um determinado nú mero de dias no</p><p>Purgató rio (FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2011, p. 359).</p><p>Conforme destaca Fazio, Moffett e Wodehouse (2011), a corrupç ã o da</p><p>igreja originou pedidos de uma reforma religiosa. A reação mais influente</p><p>veio do monge Martinho Lutero, que, em 1517, pregou nas portas da Igreja</p><p>de Todos os Santos, localizada na cidade de Wittenberg, na Alemanha, dando</p><p>início ao movimento que ficaria conhecido como Reforma Protestante. Até</p><p>ali, “a igreja enfrentara os desafios propostos por desgarrados de seu pró prio</p><p>exé rcito geralmente declarando-os hereges e destruindo-os com a forç a.</p><p>Desta vez, poré m, o descontentamento era generalizado demais para que os</p><p>mé todos da inquisiç ã o funcionassem” (FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE,</p><p>2011, p. 35). Veja, na Figura 2, a Igreja de Wittenberg, conhecida também</p><p>como Igreja de Todos os Santos.</p><p>As cidades renascentistas, clássicas e barrocas4</p><p>Figura 2. Igreja de Wittenberg, conhecida também como</p><p>Igreja de Todos os Santos.</p><p>A resposta da igreja aos protestos foi a Contrarreforma Cató lica, que, con-</p><p>forme Fazio, Moffett e Wodehouse (2011), foi um programa que envolvia mu-</p><p>danças no interior das igrejas e uma campanha para trazer as pessoas de volta à s</p><p>crenç as do catolicismo. O Concí lio de Trento se reuniu, em 1545, e concluiu que</p><p>a arte era uma ferramenta essencial para aumentar o prestí gio e os ensinamentos</p><p>da igreja. Todas as artes foram empregadas nessa iniciativa de relaç õ es pú blicas</p><p>e o estilo artí stico criado para reafirmar os ensinamentos cató licos tradicionais</p><p>ficou conhecido como Barroco, que foi patrocinado pelo clero, burgueses e</p><p>monarcas desse período. “No século XVI, um novo padrão de vida emergiu do</p><p>novo modo de produção econômica (capitalismo mercantilista), assim como uma</p><p>nova estrutura política, expressa principalmente pelo despotismo centralizado ou</p><p>pela oligarquia, em geral personificada em um Estado Nacional” (MUMFORD,</p><p>2001, p. 67 apud CASTELNOU NETO, 2007, documento on-line).</p><p>Pereira (2010) afirma que o Barroco expressou um contraste do período,</p><p>juntando o racionalismo e antropocentrismo, características do Renascimento,</p><p>juntamente com o teocentrismo e a espiritualidade, típicos da Idade Média.</p><p>Assim, pode-se dizer que os resultados desse estilo eram abertamente propa-</p><p>gandistas e extremamente emocionais, pois apelavam aos sentidos. Baseado</p><p>em uma elaboraç ã o das formas clá ssicas, já bastante individualizadas pelos</p><p>artistas e arquitetos do iní cio do sé culo XVI, o Barroco foi um estilo didá tico,</p><p>teatral, dinâ mico e exuberante. No contexto, poré m, as obras eclesiá sticas</p><p>barrocas devem ser vistas como projetos que visavam envolver diretamente</p><p>as pessoas e os ideais religiosos.</p><p>5As cidades renascentistas, clássicas e barrocas</p><p>Com o nome de Barroco nos referimos ao mesmo tempo a três coisas diferentes,</p><p>mas complementares: em primeiro lugar, a um mundo cósmico, cuja ideia de</p><p>universo implica a mecanização e atomização; em segundo lugar, a um mundo</p><p>artístico, no qual a luz e a modelagem das formas, junto com o jogo de escalas,</p><p>conduzem ao cenário; e em terceiro lugar, a um mundo de formas arquitetônicas,</p><p>a um estilo propriamente dito, denominado “barroco” (PEREIRA, 2010, p. 158).</p><p>O estilo foi marcado por contrastes, oposições e dilemas. O homem, nesse</p><p>momento da história, buscava a salvação e, ao mesmo tempo, queria aproveitar</p><p>os prazeres mundanos.</p><p>Assim, é possível perceber que o contexto da Idade Moderna era de muitas</p><p>mudanças tanto nos aspectos políticos, econômicos e sociais como também</p><p>nas formas de pensamento e de ver o mundo. Foi com o avanço da ciência e</p><p>com as novas perspectivas que se tornou possível desenvolver diversas áreas</p><p>e melhorar as cidades.</p><p>O que foi o Humanismo?</p><p>“O Humanismo foi um movimento de glorificação do homem e da natureza humana,</p><p>que surgiu na Itália ao final do século XIV” (SANTOS, 2016, documento on-line). Nesse</p><p>momento, alguns homens passaram a venerar as contribuições da Idade Antiga e</p><p>decidiram valorizar esse momento da história, relembrando e fazendo releituras de</p><p>suas características.</p><p>O pensamento humanista provocou uma reforma no ensino das uni-</p><p>versidades, com a introdução de disciplinas como poesia, história e</p><p>filosofia. Os humanistas buscavam interpretar o cristianismo, utilizando</p><p>escritos de autores da Antiguidade, como Platão. O estudo dos textos</p><p>antigos despertou o gosto pela pesquisa histórica e pelo conhecimento</p><p>das línguas clássicas como o latim e o grego. A partir do século XIV,</p><p>ao mesmo tempo que os renascentistas se dedicavam ao estudo das</p><p>línguas clássicas, diferentes dialetos davam origem às línguas nacionais.</p><p>Gestado nessa época, o humanismo se tornou referência para muitos</p><p>pensadores nos séculos seguintes, inclusive para os filósofos iluministas</p><p>do século XVIII (SANTOS, 2016, documento on-line).</p><p>Alguns fatores colaboraram para a difusão do Humanismo, como, por exemplo:</p><p> a imprensa – que permitiu que os clássicos da civilização grega e romana pudessem</p><p>ser impressos e facilmente difundidos;</p><p>As cidades renascentistas, clássicas e barrocas6</p><p>Características das cidades da Idade Moderna</p><p>A Idade Moderna foi marcada por dois estilos, o Renascimento e o Barroco, que</p><p>também infl uenciaram o urbanismo. Conforme destaca Chueca Goitia (1992), no</p><p>período renascentista, ao início da Idade Moderna, aproximadamente entre os</p><p>séculos XV e XVI, a atividade urbanística se resumiu em um pequena alteração</p><p>nos centros mais velhos das cidades, modifi cando pontos básicos da sua estru-</p><p>tura geral por meio de abertura de novas vias, construção de alguns edifícios</p><p>uniformes e criação de algumas praças de formatos variados, que serviam para o</p><p>enquadramento de um monumento importante, como, por exemplo, estátuas que</p><p>homenageiam reis ou príncipes. Ainda, as praças foram criadas para servirem</p><p>como locais de manifestações e festejos, por isso, segundo o autor, foram o</p><p>elemento mais usado, nesse momento, que seguiu assim no período Barroco.</p><p>Benevolo (1993) complementa que, para a cidade renascentista, os peque-</p><p>nos melhoramentos, ocorridos no período anterior, já bastavam, por isso, as</p><p>modificações ocorreram apenas em partes específicas.</p><p>O Renascimento é, acima de tudo, um movimento intelectual. No campo do</p><p>urbanismo, as suas primeiras contribuições são insignificantes se as comparar-</p><p>mos com a arquitetura do mesmo período e com as realizações cenográficas,</p><p>com os grandes panos de fundo do final do Barroco (CHUECA GOITIA,</p><p>1992, p. 130).</p><p>Já as novas cidades traziam os aspectos da civilização</p><p>romana impressos</p><p>no seu traçado, por meio da elaboração de cidades geométricas ideais, que,</p><p>segundo Benevolo (1993), eram marcadas pela simetria, rígida proporção e</p><p>traçados regulares. Para o autor, as cidades novas, originárias da Idade Mo-</p><p>derna, seguiam a uniformidade, representando um grande tabuleiro de xadrez,</p><p>com ruas que definiam os quarteirões quadrados, sempre iguais. Segundo</p><p>Fazio, Moffett e Wodehouse (2011), esse traçado estava baseado também nos</p><p>ideais do Humanismo:</p><p> a decadência de Constantinopla – que fez com que os intelectuais fossem morar</p><p>na Itália;</p><p> a expansão marítima e do comércio – alargou horizontes, possibilitou contatos e</p><p>contribuiu para a discussão e difusão de novas ideias.</p><p>Fonte: Santos (2016, documento on-line).</p><p>7As cidades renascentistas, clássicas e barrocas</p><p>Os humanistas estavam certos de que a ordem cósmica divina poderia ser</p><p>expressa na terra por meio de tais proporções matemáticas, que estavam</p><p>inevitavelmente relacionadas às medidas do corpo humano. Os arquitetos</p><p>renascentistas mantiveram o interesse pela geometria que tanto influenciara</p><p>a arquitetura medieval. Em vez de usar as complexas transformações geomé-</p><p>tricas dos mestres-pedreiros medievais, valorizaram especialmente formas</p><p>“ideais”, como o quadrado e o círculo (FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE,</p><p>2011, p. 306).</p><p>Esse traçado em xadrez foi idealizado pelo povo espanhol, que queria</p><p>utilizá-lo na colonização de cidades da América Central e Meridional. Chueca</p><p>Goitia (1992) ressalta que essas ideias de traçados para novas cidades, oriundas</p><p>do povo europeu, conseguiram ser realizadas, pela colonização espanhola,</p><p>em cidades da América.</p><p>A praça ficava localizada no meio da cidade e era incorporada por meio</p><p>da retirada de alguns quarteirões do traçado. Nesse local, também estavam</p><p>os edifícios mais importantes, como, por exemplo, a casa dos mercadores, o</p><p>paço, a igreja e também algumas casas das classes mais ricas da época.</p><p>O conceito do espaço urbano renascentista abandonou a ideia da Baixa Idade</p><p>Média de conjunto vivo e orientou-se para um ideal de perfeição formal pura.</p><p>Passou-se a predominar a uniformidade, os traçados regulares e as ruas ir-</p><p>radiadas de uma praça central, em que canhões defendiam estrategicamente</p><p>as entradas (CASTELNOU NETO, 2007, documento on-line).</p><p>Nesse momento do urbanismo, Castelnou Neto (2007) afirma que a mo-</p><p>tivação relacionada à religião, que influenciava diretamente a vida urbana,</p><p>no período anterior, deu lugar ao cientificismo, que levou a uma racionali-</p><p>dade expressa no uso da geometria. O autor ainda complementa que o uso da</p><p>perspectiva, iniciado no Renascimento, acabou se tornando uma regra a ser</p><p>utilizada nas cidades, de maneira que as vias, as praças e os conjuntos urbanos</p><p>seguiam esses princípios universais de proporção e de simetria.</p><p>Assim, pode-se dizer que as principais características da cidade renascen-</p><p>tista, segundo Castelnou Neto (2007), foram:</p><p> urbanização e concepção da cidade levando em consideração a geome-</p><p>trização, em que os edifícios definiam as ruas e as praças;</p><p> aplicação de regras de perspectiva em que cada elemento se torna</p><p>independente dentro do conjunto;</p><p> experimentação e esforço de interpretação crítica.</p><p>As cidades renascentistas, clássicas e barrocas8</p><p>Ao fim do século XVI, a cidade se tornou um espaço político, que apre-</p><p>sentava um poder estratégico e de decisão. Para Chueca Goitia (1992), a</p><p>transição do Renascimento para o Barroco esteve ligada ao aumento da</p><p>importância das cidades, que adquiriram forte caráter comercial, principal-</p><p>mente as portuárias. Em virtude dessas mudanças constantes, era necessária</p><p>a criação de uma corte permanente. Nesse conceito de permanência, surgiu</p><p>a capital, “que é uma criação inteiramente moderna, uma criação a que</p><p>podemos chamar barroca, dando a este termo a amplitude que se lhe con-</p><p>fere geralmente no campo da cultura” (CHUECA GOITIA, 1992, p. 139).</p><p>Assim, na Idade Moderna, o Estado passou a ser de importância primária,</p><p>enquanto a cidade era considerada uma condensação política que abrigava</p><p>os instrumentos exigidos pelo Estado.</p><p>As teorias renascentistas, segundo Castelnou Neto (2007), possibilitaram</p><p>o melhoramento das cidades, por meio do alargamento das ruas, da criação</p><p>de espaços de lazer, de construções monumentais e de áreas ajardinadas. Essa</p><p>realidade foi desenvolvida no período Barroco, que ocorreu do século XVII</p><p>e XVIII. Kostof (1991) ressalta que as cidades desse momento podem ser</p><p>compreendidas como uma extensão do período anterior, porém, com negação</p><p>a formas rígidas e proporções imutáveis, mas mantendo a perspectiva como</p><p>um importante elemento tanto para a valorização de monumentos como para</p><p>a concepção espacial.</p><p>Chueca Goitia (1992) acrescenta que a cidade do período Barroco teve</p><p>que juntar as expressões de poder, de controle e de ordem, além de expressar</p><p>esteticamente, nas suas obras, os interesses burgueses, sendo compostas por</p><p>traçados radiocêntricos, áreas ajardinadas e grandes planialtimetrias. Con-</p><p>forme Idoeta (1979), o traçado urbano da cidade barroca não se diferencia</p><p>muito do período anterior, mantendo a harmonia geométrica, com a percepção</p><p>visual independente. As principais características eram o uso da linha reta, a</p><p>uniformidade e o uso da perspectiva, com o intuito de fazer transparecer na</p><p>cidade uma obra de arte.</p><p>Assim, Castelnou Neto (2007) complementa que a cidade barroca era</p><p>um espetáculo para os olhos, pois utiliza um repertório mais rico do que os</p><p>renascentistas, proporcionando emoção e dinamicidade. Elas apresentavam</p><p>muitos monumentos, como, por exemplo, chafarizes, obeliscos, estátuas,</p><p>colunatas e arcadas. Veja, na Figura 3, a Piazza del Campidoglio, em Roma.</p><p>9As cidades renascentistas, clássicas e barrocas</p><p>Figura 3. Piazza del Campidoglio, em Roma.</p><p>O Barroco, por meio de sua arte, tinha por intuito converter, convencer</p><p>e catequizar a população. Nesse sentido, praticamente todas as criações ar-</p><p>tísticas do movimento eram voltadas para o ensino dos valores da religião</p><p>Católica. O estilo ressalta a oposição entre o céu e o inferno, e a contraposição</p><p>entre o antropocentrismo e o teocentrismo, apresentando alguns conflitos</p><p>entre os valores renascentistas, presentes no período anterior ao barroco, e</p><p>a ética cristã, evidenciada nesse movimento. A representação, nesse estilo,</p><p>demonstra a incerteza e a fragilidade humanas comparadas à segurança e ao</p><p>poder da Igreja Católica, além do conflito entre o corpo e a alma, bem como</p><p>o questionamento entre aguardar a eternidade ou aproveitar a vida efêmera.</p><p>Como o Barroco é originário de Roma, a cidade sofreu algumas alterações</p><p>na sua estrutura medieval, principalmente, em suas praças. Outras cidades que</p><p>sofreram mudanças foram Turim, ilustrada na Figura 4, e Nápoles.</p><p>Turim (Torino), a capital dos duques de Savóia, ainda mantinha o traçado</p><p>romano em tabuleiro quando sofreu três ampliações sucessivas, as quais</p><p>respeitaram a retícula e anexaram espaços elegantes e a arquitetura inventiva</p><p>de Guarino Guarini (1624-83). Nápoles (Napoli), capital do vice-reino espa-</p><p>nhol, tornou-se a cidade italiana mais populosa do século XVII, cujo centro</p><p>medieval conservou seu traçado reticular greco-romano e as ruas retilíneas</p><p>do século XVI (CASTELNOU NETO, 2007, documento on-line).</p><p>As cidades renascentistas, clássicas e barrocas10</p><p>Figura 4. Traçado da cidade de Turim do século XVII.</p><p>Fonte: Castelnou Neto (2007, documento on-line).</p><p>Segundo Castelnou Neto (2007), os principais elementos das cidades bar-</p><p>rocas são:</p><p> traçados com bases renascentistas, com influências da perspectiva,</p><p>porém, com mais movimento e liberdade, usando a simetria de modo</p><p>relativo e não global;</p><p> busca da grandiosidade e criação de cenários para evidenciar sua mo-</p><p>numentalidade. Isso era feito principalmente pelo alargamento das vias</p><p>e criação de espaços abertos;</p><p> um desenho urbano baseado na composição arquitetônica, o qual uti-</p><p>lizava a simetria e o ritmo;</p><p> ruas e avenidas em</p><p>formato radial, melhoramento de canais, espelhos</p><p>de água e fontes, criando uma paisagem cênica;</p><p> cidades compostas por edificações exuberantes, que também expres-</p><p>savam a monumentalidade, como, por exemplo, os palácios e igrejas.</p><p>11As cidades renascentistas, clássicas e barrocas</p><p>Castelnou Neto (2007) destaca que, entre os séculos XV e XVI, surgiram diversos tratados,</p><p>que, através de aspectos racionais e geométricos, elaboraram traçados de cidades</p><p>ideais. O autor ressalta que todos eles eram baseados em uma utopia, na qual seus</p><p>criadores acreditavam que a forma da cidade e da arquitetura deveria corresponder</p><p>à configuração do arranjo social e político do período.</p><p>Na busca pela forma perfeita, defendia-se que a CIDADE IDEAL de-</p><p>veria ser a ampliação tipológica da unidade-base entre sociedade real</p><p>e utopia social, ou seja, através de um modelo unitário, geométrico e</p><p>rígido, no qual se excluiriam o movimento, a variação e o aconteci-</p><p>mento casual, obter-se-ia ordem e justiça (CASTELNOU NETO, 2007,</p><p>documento on-line).</p><p>Importante ressaltar que esses planos não se concretizaram, justamente por serem</p><p>algo bem distante das realidades urbanísticas e sociais do período.</p><p>As características das cidades da Idade Moderna, tanto do estilo renascen-</p><p>tista como do barroco, estiveram voltadas principalmente para o melhoramento</p><p>da infraestrutura urbana, dando destaque para as vias de circulação e os</p><p>espaços de lazer. Porém, mais que realizar esses melhoramentos, o intuito</p><p>do urbanismo desse período era tornar esses espaços urbanos mais bonitos,</p><p>impressionando os visitantes e habitantes.</p><p>Cidades com características da Idade Moderna</p><p>Na Idade Moderna, diversas cidades se desenvolveram por meio do estilo renas-</p><p>centista e barroco. Tanto seus traçados e características quanto suas principais</p><p>edifi cações são partes da paisagem urbana e demonstram as infl uências desses</p><p>períodos.</p><p>A cidade de Florença é um exemplo que, apesar de ter sido colonizada e</p><p>iniciada pelos romanos, sofreu modificações com base nos ideais renascentistas.</p><p>A cidade, fundada no ano de 59 a.C., se originou a partir de um quadrado, que</p><p>foi orientado segundo os pontos cardeais. Segundo Castelnou Neto (2007),</p><p>As cidades renascentistas, clássicas e barrocas12</p><p>no período da Renascença, essa cidade foi o berço e centro de difusão desse</p><p>novo pensamento. “Os ideais urbanistas do Renascimento somente puderam</p><p>ser aplicados na prática em projetos pontuais e algumas experiências de trans-</p><p>formação urbana, estas ocorridas entre 1460 e 1470, graças a acordos firmados</p><p>entre determinados príncipes e papas” (CASTELNOU NETO, 2007, p. 31).</p><p>Além disso, segundo Pereira (2010), pode-se destacar, como contribuições</p><p>urbanas desse período, três grandes praças de cidades italianas, localizadas</p><p>em Florença, em Pienza e em Roma.</p><p>A praça denominada Annunziata, em Florença, trata-se, conforme ressalta</p><p>Pereira (2010), em um espaço peristilo, com edificações perimetrais. Dentre</p><p>essas edificações, destacam-se “o pórtico da igreja, o do Hospital dos Inocentes</p><p>e o de seu gêmeo na frente – levam ao máximo a regularidade e a harmonia</p><p>arquitetônica, apesar de terem sido concebidas e executadas por autores diversos</p><p>ao longo de quase cem anos” (PEREIRA, 2010, p. 135). Veja, na Figura 5, a</p><p>vista panorâmica da praça de Florença.</p><p>Figura 5. Vista panorâmica da praça Annunziata de Florença.</p><p>Fonte: Aliaksandr Zosimau/Shutterstock.com.</p><p>Outra praça é a Piccolomini, na cidade de Pienza, que, segundo Pereira</p><p>(2010), trata-se de um conjunto harmônico no qual a forma de trapézio da</p><p>planta é dominada pela igreja, que estabelece uma relação entre o mercado</p><p>municipal e os palácios localizados ao lado. Observe, na Figura 6, a praça</p><p>de Pienza.</p><p>13As cidades renascentistas, clássicas e barrocas</p><p>Figura 6. Praça de Piccolomini, em Pienza.</p><p>Fonte: Oliveira ([2013?], documento on-line).</p><p>Já a Piazza del Campidoglio, em Roma, segundo Pereira (2010), é uma obra</p><p>em que a correspondência orgânica entre os elementos e o sentido de unidade</p><p>prevalecem. “Nela culmina toda a série de experiências renascentistas e já se</p><p>antecipa o Barroco; assim, seus elementos e formas arquitetônicas serão retoma-</p><p>dos mais adiante” (PEREIRA, 2010, p. 135). Veja, na Figura 7, a praça de Roma.</p><p>Figura 7. Monumento na Piazza del Campi-</p><p>doglio, em Roma, na Itália, construída pelo</p><p>arquiteto e artista renascentista Michelân-</p><p>gelo Buonarroti, entre 1536 e 1546.</p><p>As cidades renascentistas, clássicas e barrocas14</p><p>No período Barroco, seus principais exemplos se encontram no território</p><p>francês. O urbanismo francês apresenta como fundamental elemento a praça</p><p>de caráter monumental. Um exemplo é a Praça de Concórdia, em Paris, ilus-</p><p>trada na Figura 8.</p><p>Figura 8. Praça de Concórdia, finalizada aproximadamente no</p><p>ano de 1775, em Paris.</p><p>Em Paris, conforme ressalta Castelnou Neto (2007), as guerras religiosas</p><p>acabaram destruindo alguns espaços da cidade. Por isso, Henri IV criou um amplo</p><p>programa, que tinha por intuito realizar obras que embelezassem a capital francesa.</p><p>O autor destaca que, dentre as diretrizes desse programa, estavam a reorganização</p><p>das ruas e das instalações sanitárias, ampliação do Paço do Louvre e abertura de</p><p>novas praças, como, por exemplo, a Place Royale, ilustrada na Figura 9.</p><p>Figura 9. Place Royale, conhecida também como Place des Vosges, inau-</p><p>gurada em 1612, em Paris.</p><p>15As cidades renascentistas, clássicas e barrocas</p><p>Outro exemplo, fora da França, que tem traços do estilo barroco, é a Praça</p><p>de São Pedro, em Roma. Segundo Pereira (2010, p. 163), praça essa que “o Papa</p><p>Alexandre VII encomendou de Bernini como um átrio gigantesco que deveria</p><p>acomodar grandes multidões. A praça é um imenso espaço longitudinal, com</p><p>foco na fachada da igreja, mas que busca ter uma centralidade própria”. Ela</p><p>pode ser observada, a seguir, na Figura 10.</p><p>Figura 10. Praça de São Pedro, em Roma, desenhada por Bernini</p><p>no século XVII.</p><p>Um bom exemplo de urbanismo da Idade Moderna é o esquema paisa-</p><p>gístico do Palais de Versailles, ilustrado na Figura 11, pensado, segundo</p><p>Castelnou Neto (2007), em continuidade compositiva com a arquitetura</p><p>proposta por Louis Le Vau (1612-70) e Jules Hardoin-Mansart (1646-1708).</p><p>Seu traçado retilíneo e radiocêntrico é composto por caminhos pensados</p><p>para o tráfego de carruagens e cavalos. Além disso, o espaço conta com</p><p>cercas vivas, trepadeiras e canteiros, que formam desenhos geométricos,</p><p>bordaduras e bosques. Há ainda canais e lagos artificiais, assim como pers-</p><p>pectivas que destacam as fachadas e os portões de acesso, como pode ser</p><p>observado na Figura 12.</p><p>As cidades renascentistas, clássicas e barrocas16</p><p>Figura 11. Traçado do projeto do Palais de Versailles,</p><p>em Paris, iniciado em 1662.</p><p>Fonte: Castelnou Neto (2007, documento on-line).</p><p>Figura 12. Vista do Palais de Versailles em Paris.</p><p>17As cidades renascentistas, clássicas e barrocas</p><p>Diante desses exemplos, nota-se que as principais contribuições do urba-</p><p>nismo, tanto do renascimento quanto do barroco, dizem respeito ao alargamento</p><p>das vias, ao melhoramento da infraestrutura e, principalmente, a espaços</p><p>abertos, como praças e jardins. A preocupação era o melhoramento da qua-</p><p>lidade de vida das cidades por meio não só de obras de infraestrutura, mas</p><p>de um urbanismo que privilegiasse os visuais, as perspectivas, a arquitetura</p><p>e os monumentos das cidades.</p><p>BENEVOLO, L. História da cidade. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1993.</p><p>CASTELNOU NETO, A. M. N. Teoria do urbanismo. Curitiba: Universidade Federal do Pa-</p><p>raná, 2007. Apostila, 2 v. Disponível em: https://arquitetonica.wordpress.com/2011/08/21/</p><p>apostila-de-urbanismo/. Acesso em: 14 set. 2019.</p><p>CHUECA GOITIA, F. C. Breve história do urbanismo. Lisboa: Presença, 1992.</p><p>FARRELLY, L. Fundamentos de arquitetura. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2014.</p><p>FAZIO, M.; MOFFETT, M.; WODEHOUSE, L. A história da arquitetura mundial. 3. ed. Porto</p><p>Alegre: AMGH, 2011.</p><p>IDOETA, I. Textos dirigidos ao planejamento. Mogi das Cruzes: [s. n.],</p><p>1979.</p><p>KOSTOF, S. The city shaped: urban patterns and meanings through history. London:</p><p>Thames and Hudson, 1991.</p><p>OLIVEIRA, C. de. Praça Pio II - Pienza. 1 fotografia. [2013?]. Disponível em: http://www.no-</p><p>ticiasdabota.com/2013/10/pienza-cidade-do-papa-pio-ii.html. Acesso em: 14 set. 2019.</p><p>PEREIRA, J. R. A. Introdução à história da arquitetura: das origens ao século XXI. Porto</p><p>Alegre: Bookman, 2010.</p><p>RUSSELL, B. História do pensamento ocidental. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.</p><p>SANTOS, J. O Humanismo e o Renascimento. Administradores.com, [s. l.], 31 out. 2016. Dis-</p><p>ponível em: https://administradores.com.br/artigos/o-humanismo-e-o-renascimento.</p><p>Acesso em: 13 set. 2019.</p><p>SILVA, O. V. da. A Idade Moderna e a ruptura cultural com a tradição medieval: re-</p><p>flexões sobre o Renascimento e a reforma religiosa. Revista Científica Eletrônica da</p><p>Pedagogia, [s. l.], v. 16, n. 28, p. 1-7, jan./jun. 2017. Disponível em: http://faef.revista.inf.</p><p>br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/P4zxYBJG5YWskHR_2018-3-17-11-31-51.pdf.</p><p>Acesso em: 13 set. 2019.</p><p>As cidades renascentistas, clássicas e barrocas18</p><p>ARTESANATO</p><p>E CULTURA</p><p>BRASILEIRA</p><p>Vanessa Guerini Scopell</p><p>Arte e cultura</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p> Diferenciar arte de cultura.</p><p> Explicar a importância da arte e da cultura nas diferentes expressões</p><p>arquitetônicas.</p><p> Analisar os traços da arquitetura associada à arte e à cultura brasileira.</p><p>Introdução</p><p>A arte é um dos tipos de manifestações culturais que consegue representar</p><p>através da pintura, da escultura, da arquitetura e de outras maneiras as</p><p>crenças, as tradições, os costumes e o momento histórico de cada cultura.</p><p>Já a cultura é um termo mais amplo, que além de conter as diversas</p><p>representações de arte também é formada pelos ensinamentos, pelos</p><p>rituais, pela culinária, entre outros elementos.</p><p>Neste capítulo, você vai estudar sobre as diferenças entre arte e cul-</p><p>tura, compreendendo também suas relações e a importância da arte</p><p>e da arquitetura na valorização e identificação da cultura. Além disso,</p><p>você poderá identificar tipos de arquitetura brasileira que conseguem</p><p>ser expressões da cultura.</p><p>Diferença entre arte e cultura</p><p>A cultura, segundo o Dicionário Informal (2019, documento on-line), pode</p><p>ser compreendida como um “[...] conjunto de manifestações artísticas, so-</p><p>ciais, linguísticas e comportamentais de um povo ou civilização [...]”. Assim,</p><p>fazem parte da cultura de um povo as atividades de teatro, música, danças,</p><p>a arquitetura, as formas de organização das sociedades, os pensamentos, as</p><p>criações, a língua falada e escrita bem como os rituais religiosos. Assim,</p><p>pode-se afi rmar que a cultura de um povo refere-se a expressão coletiva do</p><p>homem em seu contexto social. Diante disso, observa-se que as manifestações</p><p>de cultura na verdade são tipos de arte, pois a arte pode ser compreendida,</p><p>segundo o Dicionário Informal (2019, documento on-line) como a “[...] aptidão</p><p>ou habilidade para fazer alguma coisa [...]”, estando relacionada a culinária,</p><p>às obras artísticas de uma época ou país, ao artesanato, entre outras áreas.</p><p>A arte possui um caráter estético e está intimamente relacionada com as</p><p>sensações e emoções dos indivíduos. [...] Vale salientar que a arte tem uma</p><p>importante função social na medida que expõe características históricas e</p><p>culturais de determinada sociedade, tornando-se um reflexo da essência</p><p>humana (AIDAR, 2019, documento on-line).</p><p>Enquanto a cultura vai sendo consolidada ao longo do tempo, levando em</p><p>consideração diversos fatores, a arte faz parte da cultura e vai sendo produzida</p><p>pelo homem conscientemente. Nesse sentido, a arte é uma forma de o ser</p><p>humano expressar suas emoções através de diferentes maneiras. Portanto, as</p><p>manifestações artísticas são o reflexo da história e da cultura de um povo e</p><p>dessa forma fazem parte da cultura. Segundo Coli (1995, p. 8), “[...] somos</p><p>capazes de identificar algumas produções da cultura em que vivemos como</p><p>sendo ‘arte’ [...]” É possível dizer que “[...] arte, são certas manifestações da</p><p>atividade humana diante das quais nosso sentimento é admirativo, isto é:</p><p>nossa cultura possui uma noção que denomina solidamente algumas de suas</p><p>atividades e as privilegia [...]” (COLI, 1995, p. 8).</p><p>A arte está presente na humanidade desde a pré-história e advém da ne-</p><p>cessidade do homem em representar os seus anseios, registrar momentos,</p><p>expandir sua criatividade e demonstrar suas visões de mundo. Sendo uma</p><p>das formas de representação da cultura, a arte tem a capacidade de evoluir</p><p>de acordo com contextos e estilos, causando diferentes efeitos.</p><p>Ela pode ser dividida em plástica, cênicas e visuais. As artes plásticas</p><p>estão relacionadas a arquitetura, escultura, artesanato e artes gráficas. As</p><p>artes visuais podem ser determinadas pelas representações artísticas as quais</p><p>usa-se muito a imaginação, como por exemplo, a pintura. Já as artes cênicas</p><p>envolvem o teatro, a música e a dança.</p><p>Conforme Aidar (2019), Aristóteles afirmava que a arte poderia ser en-</p><p>tendida como uma imitação da realidade. “Esse conceito, mais tarde, foi</p><p>duramente refutado por diversas correntes artísticas que compreendiam que a</p><p>arte não era somente baseada na imitação da realidade, e sim, na criação [...]”</p><p>(AIDAR, 2019, documento on-line). Na Idade Média as artes foram divididas</p><p>em artes manuais, conhecidas também como artes mecânicas, e artes liberais,</p><p>nomeadas também como artes intelectuais. Nesse momento valorizava-se mais</p><p>Arte e cultura2</p><p>as artes intelectuais, justamente por seu caráter voltado ao intelecto. A arte,</p><p>assim como a arquitetura, pode ser dividida através de diferentes períodos,</p><p>que produziram formas de arte diversas e voltadas ao contexto histórico.</p><p>A arte vai além de ser uma forma de representação e expressão de cada</p><p>indivíduo, ela serve também para comunicar significados, retratar a história,</p><p>manifestar códigos, podendo envolver a todos e permanecendo viva diante do</p><p>passar do tempo. Assim, as formas de arte são elementos que aproximam as</p><p>pessoas, e colaboram para o reconhecimento de semelhanças e diferenças de</p><p>cada visão, perspectiva e senso estético. Segundo Coli (1995), é muito difícil</p><p>dizer o que é arte e o que não é. Atualmente existem diversos pesquisadores e</p><p>estudiosos que podem atestar se uma produção criativa pode ser considerada</p><p>como arte.</p><p>Nossa cultura também prevê locais específicos onde a arte pode manifestar-se,</p><p>quer dizer, locais que também dão estatuto de arte a um objeto. Num museu,</p><p>numa galeria, sei de antemão que encontrarei obras de arte; num cinema "de</p><p>arte", filmes que escapam à "banalidade" dos circuitos normais; numa sala</p><p>de concerto, música "erudita", etc. Esses locais garantem-me assim o rótulo</p><p>"arte" às coisas que apresentam, enobrecendo-as. No caso da arquitetura,</p><p>como é evidentemente impossível transportar uma casa ou uma igreja para</p><p>um museu, possuímos instituições legais que protegem as construções "ar-</p><p>tísticas" (COLI, 1995, p. 11).</p><p>Ainda, mesmo que uma manifestação criativa não seja efetivamente rotu-</p><p>lada como “arte”, ela consegue, da mesma forma, expressar as identidades de</p><p>quem a criou, do povo, da origem, da história e das visões de mundo de uma</p><p>pessoa e seu local. É também por meio das expressões artísticas que as pessoas</p><p>conhecem outras realidades, expandem sua consciência e conseguem se inserir</p><p>em outros contextos, compreendendo diferentes culturas e valorizando-as.</p><p>Por isso que a arte faz parte de qualquer cultura, possuindo uma função</p><p>muito importante dentro de cada região, comunidade ou povo, pois consegue</p><p>construir e apresentar, através de diferentes formas de expressão e visões de</p><p>mundo, conteúdos e história.</p><p>Diante disso é evidente o quanto a arte e a cultura estão conectadas, pois</p><p>a arte é um dos meios os quais pode-se apreciar, identificar e adquirir conhe-</p><p>cimento de diferentes locais. Além disso, são os diversos tipos de arte que,</p><p>juntamente com outros elementos,</p><p>concebem e fazem parte de uma cultura,</p><p>tornando-se únicas em cada local.</p><p>Apesar de a relação entre arte e cultura ser bastante clara, é importante</p><p>perceber que a cultura não é representada somente pelos diversos tipos de</p><p>3Arte e cultura</p><p>arte, mas é muito mais complexa que isso, abrangendo também os contextos</p><p>históricos, os hábitos de um povo, as técnicas passadas de geração em geração,</p><p>as crenças e tradições, bem como os valores e símbolos de cada povo.</p><p>Estão elencados abaixo alguns elementos que compõem a cultura.</p><p> Conhecimentos: são informações que as pessoas vão acumulando, transmitindo</p><p>e relacionando entre si, de acordo com sua vivência e seu cotidiano. Cada cultura</p><p>privilegia um conjunto de conhecimentos para passar de geração a geração.</p><p> Crenças: é algo em que se acredita como, por exemplo, a fé religiosa.</p><p> Valores: podem ser objetos ou, como queremos destacar aqui, princípios e padrões</p><p>que orientam o comportamento das pessoas.</p><p> Normas: são as regras, em geral não escritas, mas conhecidas por todos, que</p><p>orientam como as pessoas devem agir cotidianamente para facilitar o convívio.</p><p> Símbolos: são representações físicas ou sensoriais, com significados que o ho-</p><p>mem atribui de acordo com o momento histórico ou lugar. Por exemplo, uma</p><p>bandeira é um símbolo, um gesto de mão pode ser um símbolo, um objeto</p><p>pode ser um símbolo.</p><p> Usos: padrões de comportamento reconhecidos e aceitos pelo grupo social de um</p><p>mesmo país, estado ou região; embora bastante adotados, não são obrigatórios.</p><p> Costumes: padrões de comportamento que o grupo social espera que seus in-</p><p>tegrantes adotem. Cada país, região e cidades possuem costumes diferentes que</p><p>além dos aspectos sociais podem ser influenciados por outras questões como, por</p><p>exemplo, aspectos geográficos.</p><p> Leis: são regras de comportamento normalmente escritas, complexas, que cada</p><p>sociedade (nem todas) adota como forma de organizar e facilitar o convívio.</p><p> Tradições: é o conhecimento que se transmite oralmente de geração para geração;</p><p> Hábitos: maneira de ser e agir que se repete com frequência, sem racionalização.</p><p> Personagens: são pessoas que possuem uma representatividade histórica e/ou</p><p>contemporânea, locais e regionais, ligados às artes, à literatura, à história e a política.</p><p>Fonte: Portal Educação (2019, documento on-line).</p><p>Arte e cultura nas diferentes expressões</p><p>arquitetônicas</p><p>A arquitetura é considerada uma arte plástica e uma importante manifestação</p><p>de cultura pois é uma cultura tangível, que pode ser facilmente identifi cada,</p><p>vivenciada e experienciada. A arquitetura, assim como os diversos tipos de</p><p>Arte e cultura4</p><p>arte foi evoluindo ao passar dos anos e sendo legado de diferentes momentos,</p><p>contextos, estilos, inspirações e povos.</p><p>Pode-se dizer que a primeira manifestação arquitetônica relacionada a cultura</p><p>são os monumentos de pedras e as cavernas da pré-história. Esse tipo de arqui-</p><p>tetura teve poucas contribuições do homem, em virtude da falta de ferramentas</p><p>e conhecimento, mas ainda assim nesses locais de abrigo é possível identificar</p><p>traços da cultura através das pinturas rupestres nas próprias pedras do local, do</p><p>posicionamento de outras pedras que serviam como assento e dos próprios materiais</p><p>que compunham esse espaço, que demonstram a cultura do período através deste</p><p>tipo de pintura, da fabricação de ferramentas e dos hábitos desse povo.</p><p>Segundo Aidar (2019, documento on-line):</p><p>“A arte rupestre representa uma das mais antigas manifestações ar-</p><p>tísticas que surgiu a milhões de anos no contexto da pré-história. São</p><p>desenhos ou pinturas, os quais foram produzidos, sobretudo, em ca-</p><p>vernas, por diversos povos antigos. Além das pinturas nas cavernas, é</p><p>sabido que a escultura, a dança e a música também se iniciaram nesse</p><p>período. Sendo assim, podemos refletir sobre a necessidade humana de</p><p>se expressar, expor suas ideias, uma vez que por meio do fazer artístico</p><p>o homem libera suas emoções. Na época paleolítica, por volta de 30.000</p><p>a.C., os desenhos criados tinham muita relação com a natureza. Os</p><p>traços empregados para representar animais temidos eram cheios de</p><p>movimentos e força. Já os animais mais dóceis como renas e cavalos</p><p>eram feitos de forma mais delicada, revelando leveza e fragilidade [...]”.</p><p>Com a evolução das sociedades e povos um outro tipo de expressão arquite-</p><p>tônica que se destacou nas comunidades de diferentes épocas e ainda se destaca</p><p>é a arquitetura sacra, voltada para construções religiosas, como por exemplo</p><p>templos, igrejas e conventos. Esse tipo de arquitetura, segundo Aidar (2019), foi</p><p>bastante explorada na Idade Antiga, Clássica e Medieval, sendo considerada uma</p><p>das principais formas de expressão durante muitos séculos. Através deste tipo de</p><p>edificação é possível identificar traços da cultura que se relacionam com a arqui-</p><p>tetura, como por exemplo, a preocupação com a estética e simetria, como no caso</p><p>dos templos gregos. É importante ressaltar que nesse momento evidenciou-se cada</p><p>vez mais o uso de outros elementos de arte, como as pinturas e as esculturas para</p><p>5Arte e cultura</p><p>enaltecer e complementar os espaços internos dessa arquitetura, sendo uma forma</p><p>de produzir conhecimento e cultura e passar a enraizar cada vez mais esses tipos</p><p>de manifestações artísticas a fim de ser uma maneira de identificação dos povos.</p><p>A arquitetura barroca é um dos fortes exemplos de arquitetura sacra e</p><p>manifestação artística voltada a cultura do momento. O surgimento deste estilo</p><p>arquitetônico se deu em virtude do contexto da época, que era de mudanças,</p><p>incertezas e uma aversão ao catolicismo. Diante dessa realidade surgiu o</p><p>movimento barroco. Este estilo iniciou na Europa em um cenário de Reformas</p><p>Religiosas, que ocorreu mais precisamente no final do século XVI, onde a</p><p>Igreja Católica estava em decadência, pois havia perdido seu prestigio e poder.</p><p>Apesar desta crise, o movimento católico ainda tinha bastante influência no</p><p>cenário econômico, político e religioso da Europa. Foi assim que a arte bar-</p><p>roca, se distanciou, em partes, da Arte Sacra, criando uma arte mais erótica,</p><p>profana, cotidiana e, portanto, não tanto idealizada.</p><p>Figura 1. Arquitetura sacra.</p><p>Fonte: Pereira (2018, documento on-line).</p><p>Com o passar dos anos e o surgimento da Revolução Industrial, aproxi-</p><p>madamente a partir do século XVIII, surgiu uma arquitetura mais moderna,</p><p>que, segundo Aidar (2019), em alguns momentos chegava até a ser uma</p><p>movimento “anti-arte”. Nesse momento a cultura estava sofrendo fortes</p><p>mudanças, tanto nos aspectos sociais, mas principalmente na economia.</p><p>As industriais estavam se estabelecendo nos centros urbanos, as pessoas do</p><p>Arte e cultura6</p><p>campo estavam vindo morar nas cidades e era preciso adequar a arquitetura</p><p>a uma produção mais industrial, padronizada, com menos detalhes, mais</p><p>pratica e funcional para atender àquele momento de transformações.</p><p>Figura 2. Arquitetura moderna.</p><p>Fonte: Wilder (2016, documento on-line).</p><p>Já a arquitetura da atualidade se diferencia de todas a outras manifestações</p><p>artísticas realizadas até então. O momento arquitetônico atual relaciona-se com a</p><p>cultura e com a arte na medida em que faz transparecer nas edificações o contexto</p><p>as novidades e possibilita a criação dos mais diversos tipos e formas de construções.</p><p>Nossa cultura nos dias atuais é marcada pela diversificação, pela incor-</p><p>poração e fusão de culturas, pela transformação e pela aculturação. Esses</p><p>fenômenos são demonstrados pela arquitetura através do uso de materiais</p><p>diferenciados, as mais diversas tecnologias, recursos para otimizar o tempo</p><p>das obras, elementos para facilitar o controle de energia e segurança,</p><p>dentre outras novidades. Além disso, a arquitetura de atualmente é muito</p><p>adequada a personalidade de cada morador, ou seja, o que cada um precisa</p><p>para atender suas necessidades e facilitar sua rotina.</p><p>A arte contemporânea ou arte pós-moderna surgiu no século XX, embora</p><p>muitos estudiosos preferem indicar sua origem no final do</p><p>século XIX. A</p><p>arte contemporânea abrange um conceito de arte mais aberto, sendo pautado,</p><p>portanto, na originalidade, experimentações artísticas e técnicas inovadoras.</p><p>Assim, ela admite diversas modalidades e linguagens artísticas bem como a</p><p>mistura entre elas. Hoje, fala-se em arte performática, arte multimídia, arte</p><p>étnica, dentre outros (AIDAR, 2019, documento on-line).</p><p>7Arte e cultura</p><p>Diante destas relações entre cultura, arte e arquitetura é possível per-</p><p>ceber como as edificações estão voltadas para o momento cultural de</p><p>cada época, sendo um reflexo da rotina, dos anseios e das necessidades</p><p>de cada povo.</p><p>Arquitetura associada à arte</p><p>e à cultura brasileira</p><p>A arquitetura, considerada uma forma de arte, consegue representar de</p><p>forma clara a cultura e costumes de um povo, e, através de seus elementos,</p><p>pode causar sensações e transmitir signifi cados. O Brasil, assim como os</p><p>outros países do mundo, tem a sua arquitetura associada a cultura. Atu-</p><p>almente, a arquitetura é bastante misturada, com elementos de diversas</p><p>culturas, mas a arquitetura vernacular brasileira é um bom exemplo que</p><p>demonstra a essência da cultura do nosso país.</p><p>A cultura vernacular brasileira trata-se, principalmente, das constru-</p><p>ções realizadas pelo povo indígena, antes da colonização do Brasil. Hoje,</p><p>essas edificações ainda existem em algumas áreas do país, e fazem parte</p><p>das culturas regionais e locais. Essa arquitetura, conforme destaca Lopes</p><p>(2012), é rica e cheia de valor, sendo parte fundamental do patrimônio do</p><p>nosso povo, abrangendo diversos aspectos e simbologias. A arquitetura</p><p>vernacular tem esse nome porque trata-se de um estilo próprio de cada local</p><p>ou região, e por isso representa uma identidade cultural tão importante.</p><p>Essa arquitetura é criada pelo povo nativo, sem o uso de tecnologias ou</p><p>qualquer estudo.</p><p>Pereira (2012), destaca que as edificações indígenas são consideradas um</p><p>dos principais exemplos da arquitetura vernacular do Brasil porque foram</p><p>uma das primeiras expressões arquitetônicas deste território, existentes</p><p>muito antes da chegada dos portugueses. A arquitetura vernacular brasi-</p><p>leira é capaz de demonstrar materiais, técnicas construtivas e relacionar</p><p>a construção a outros objetos de arte.</p><p>Primeiramente, esse tipo de arquitetura foi baseada levando em conside-</p><p>ração o local e que seria inserida, e após isso, construída com os materiais</p><p>disponíveis nas proximidades desse local. No caso das edificações indí-</p><p>genas, elas se conformam basicamente de bambu, taquaras, algum outro</p><p>tipo de madeira ou troncos, cipó para amarrações e folhas de palmeira ou</p><p>palha para cobrimento.</p><p>Arte e cultura8</p><p>Figura 3. Oca indígena.</p><p>Fonte: Arjan Ard Studio/Shutterstock.com.</p><p>Os materiais presentes na arquitetura vernacular se relacionam com a arte</p><p>e a cultura pois eram utilizados também na criação de objetos, ferramentas,</p><p>redes, balaios, entre outros. Esses itens representam a cultura brasileira e ainda</p><p>são presentes no artesanato do país.</p><p>O uso do barro na arquitetura brasileira também é um exemplo de material</p><p>que foi utilizado nas primeiras residências após a colonização dos portugueses</p><p>e que também foi utilizado para a produção de objetos artesanais, como por</p><p>exemplo os vasos e utensílios cerâmicos.</p><p>Figura 4. Objetos de arte feitos de barro.</p><p>Fonte: O.PASH/Shutterstock.com.</p><p>9Arte e cultura</p><p>Além da arquitetura vernacular, existem outros tipos de arquitetura bra-</p><p>sileira que conseguem evidenciar a cultura do país ou até mesmo de regiões</p><p>especificas. Um destes exemplos são as Igrejas do Estado de Minas Gerais. Em</p><p>um período chamado “século de ouro” a arquitetura se desenvolveu bastante na</p><p>região e as edificações religiosas além de demonstrarem a cultura da religião</p><p>católica no loca, foram construídas baseadas no estilo barroco, ou seja, cheias</p><p>de entalhes, detalhes em dourado, além de esculturas e pinturas no seu interior.</p><p>Assim, essas arquiteturas conseguiram, não só demonstrar através da</p><p>própria edificação a cultura, mas alia-la aos outros tipos de arte, evidenciando</p><p>cada vez mais essa relação. Como produtores desses outros tipos de arte</p><p>incorporados a edificação destacaram-se Aleijadinho e Mestre Ataíde, onde</p><p>suas obras, consideradas as mais belas do país despontaram com maior encanto</p><p>a partir de 1766. O período barroco brasileiro tem, então, em seus santos e</p><p>suas igrejas a mais significativa manifestação de fé e de arte: não só uma fé</p><p>intimista com que cada pessoa se relacionava com seu santo, mas também,</p><p>como uma expressão ímpar de ver, sentir e vivenciar a arte.</p><p>Figura 5. Santuário Bom Jesus dos Matosinhos.</p><p>Fonte: T photography/Shutterstock.com.</p><p>Através destes exemplos fica evidente o quanto as diversas formas de arte</p><p>e a arquitetura fazem parte e são importantes para as culturas. Além disso, é</p><p>possível perceber a relação e a contribuição entre a arquitetura e a escultura,</p><p>pintura e artesanato. Assim é fundamental compreender que todos os tipos de</p><p>arte conseguem contribuir para as culturas e merecem destaque na sociedade,</p><p>seja na valorização, no mantimento desses elementos sempre vivos, ou apenas</p><p>na divulgação dos mesmos para que mais pessoas possam conhecer e entender</p><p>mais sobre a cultura brasileira.</p><p>Arte e cultura10</p><p>AIDAR, L. O que é arte? 2019. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/o-que-</p><p>e-arte/. Acesso em: 09 jul. 2019.</p><p>COLI, J. O que é arte? 15. ed. São Paulo: Brasiliense, 1995.</p><p>DICIONÁRIO INFORMAL. Cultura. 2019. Disponível em: https://www.dicionarioinformal.</p><p>com.br. Acesso em: 09 jul. 2019.</p><p>LOPES, R. M. Cultura regional é fonte rica de diferenciais criativos e agrega valor. 2012. Dis-</p><p>ponível em: https://economia.uol.com.br/empreendedorismo/colunistas/2012/03/30/</p><p>cultura-regional-e-fonte-rica-de-diferenciais-criativos-e-agrega-valor.htm. Acesso</p><p>em: 09 jul. 2019.</p><p>PEREIRA, A. Roteiro em Nápoles: as atrações de Spaccanapoli. 2018. Disponível em:</p><p>https://www.turistaimperfeito.com/roteiro-em-napoles-as-atracoes-de-spaccanapoli/.</p><p>Acesso em: 09 jul. 2019.</p><p>PEREIRA, C. M. B. Arquitetura Neovernacular em Curitiba: prospecção de suas contribuições</p><p>para a sustentabilidade em três estudos de caso. 2012. 177f. Dissertação (Mestrado em</p><p>Engenharia da Construção Civil) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de</p><p>Construção Civil, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2012.</p><p>PORTAL EDUCAÇÃO. Cultura e arte: conceitos e definições. 2019. Disponível em: https://</p><p>www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao/cultura-e-arte-conceitos-</p><p>-e-definicoes/39630. Acesso em: 09 jul. 2019.</p><p>WILDER, C. On the Bauhaus trail in Germany. The New York Times, New York, 10 Aug.</p><p>2016. Disponível em: https://www.nytimes.com/2016/08/14/travel/bauhaus-germany-</p><p>-art-design.html. Acesso em: 09 jul. 2019.</p><p>11Arte e cultura</p><p>ARTESANATO E</p><p>CULTURA</p><p>BRASILEIRA</p><p>Paula Bem Olivo</p><p>Cultura brasileira</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p> Explicar a formação cultural brasileira.</p><p> Relacionar a cultura brasileira com a arte, o artesanato e a arquitetura.</p><p> Reconhecer aspectos da diversidade cultural brasileira na arquitetura.</p><p>Introdução</p><p>O Brasil é um país que tem fama de ser uma grande mistura de raças. Isso</p><p>acaba se confirmando quando olhamos para nossa cultura e identificamos</p><p>influências de diversos povos, como indígenas, africanos e europeus.</p><p>O fato de termos sido uma colônia de exploração acabou, muitas vezes,</p><p>apagando aspectos que estavam intrinsecamente relacionados ao ter-</p><p>ritório. No entanto, o desenvolvimento da arte e da arquitetura gerou</p><p>movimentos capazes de reconhecer essa identidade e resgatar aspectos</p><p>culturais relacionados à nossa origem.</p><p>Neste capítulo, você aprenderá como se formou o que entendemos</p><p>hoje como cultura brasileira, como seus aspectos aparecem na arte, no</p><p>artesanato e na arquitetura e como a consequência dessa miscigenação</p><p>gerou manifestações arquitetônicas extremamente diversas.</p><p>O princípio da cultura brasileira</p><p>O Brasil é um país conhecido</p><p>do Barroco</p><p>como um estilo estético coerente, organizado ideologicamente e dotado de</p><p>características próprias, as quais foram manifestadas em diferentes cate-</p><p>gorias artísticas em países europeus e em suas respectivas colônias em um</p><p>momento posterior.</p><p>O Barroco foi uma expressão homogênea — do ponto de vista de visão</p><p>de mundo — que se propagou pela Europa, assumindo grande variedade de</p><p>formas nos diferentes países europeus. Englobando várias ramificações do</p><p>fazer artístico, apresentou-se de maneiras distintas nas variadas esferas da</p><p>cultura, sendo impossível reduzi-lo a um denominador comum. Conforme</p><p>esclarece Hauser (2003, p. 442):</p><p>O barroco dos círculos cortesãos e católicos não só é totalmente diferente do</p><p>da classe média e das comunidades protestantes, a arte de um Bernini e de um</p><p>Rubens não só descreve um mundo interior diferente do de um Rembrandt e</p><p>de um Van Goyen, como até mesmo dentro dessas duas grandes tendências</p><p>de estilo, novas e decisivas diferenciações se fazem sentir.</p><p>Barroco2</p><p>As subdivisões mais importantes do Barroco são: o Barroco cortesão-</p><p>-católico e o Barroco classicista. O Barroco cortesão-católico tem uma</p><p>tendência sensualista, monumental e decorativa, é aquilo que se entende pela</p><p>acepção tradicional de “barroco”. Já o Barroco classicista é um estilo mais</p><p>estrito, formalmente mais rigoroso. Nessas duas tendências, os fatores sociais</p><p>que determinam o Barroco geram impactos distintos e serão estudados à luz</p><p>da teoria e das obras produzidas (HAUSER, 2003).</p><p>O contexto do surgimento do movimento na Europa possui estreita ligação</p><p>com a reação da Igreja Católica à Reforma Protestante (século XVI). A Contrar-</p><p>reforma ou Reforma Católica decretou que a arte deveria inspirar os especta-</p><p>dores com temas fervorosamente religiosos. De acordo com Hodge (2018, p. 23):</p><p>“Entre 1545 e 1563, o Concílio de Trento determinou que a arte sacra deveria</p><p>incentivar a devoção, o realismo e a exatidão, e ao atrair a atenção e empatia dos</p><p>espectadores, glorificar a Igreja Católica e fortalecer a imagem do catolicismo”.</p><p>No século seguinte, um estilo completamente inovador incorporou e desen-</p><p>volveu os modelos do Alto Renascimento, abrindo caminhos artísticos tanto</p><p>na arte sacra como nas novas variedades de arte secular, o qual foi designado</p><p>de forma ampla como Barroco. Esse novo estilo ampliou a escala e o alcance</p><p>da arte, desenvolvendo-se primeiro na Itália e propagando-se, em seguida,</p><p>para a França, Alemanha, Holanda, Espanha e Inglaterra.</p><p>O Barroco é reflexo de aspectos importantes desse período da história</p><p>da civilização ocidental (século XVII), em que ocorreram mudanças que</p><p>conferiram novas feições à Europa da Idade Moderna. Embora tenha sido um</p><p>movimento de caráter religioso, a Reforma Protestante teve consequências que</p><p>ultrapassaram os limites da fé, provocando mudanças em outros aspectos da</p><p>cultura europeia. A mais significativa vertente dessas mudanças o surgimento</p><p>dos Estados nacionais e dos governos absolutos, fenômeno em que cada nação</p><p>conseguiu se libertar da submissão exclusiva ao papa (WOLFFLIN, 2000).</p><p>Contudo, para entender os princípios do Barroco, é imperativo conhecer</p><p>os trabalhos conciliados à atuação das grandes ordens religiosas (como a</p><p>Companhia de Jesus) para a retomada de força da Igreja Católica na edifica-</p><p>ção de grandes e novas igrejas, originalmente uma iniciativa italiana. Esses</p><p>princípios serão absorvidos e adaptados às demais categorias artísticas, dentre</p><p>elas: pintura, escultura, literatura e teatro. Além disso, pode-se incluir nessas</p><p>categorias o urbanismo — por meio dos traçados urbanos — e o paisagismo —</p><p>por meio das monumentais arquiteturas da paisagem, realizadas especialmente</p><p>sob o domínio dos governos absolutos, como no caso da França.</p><p>3Barroco</p><p>Conceitualmente, o afresco O juízo final, de Michelangelo (1536–1541),</p><p>realizado na Capela Sistina, no Vaticano, expressa pela primeira vez o ideal</p><p>da Igreja em revigorar seus princípios doutrinários, propagar e ampliar a</p><p>influência do catolicismo (Figura 1). A intensidade expressiva, o movimento</p><p>e o vigor das figuras fazem de Michelangelo o precursor do movimento que</p><p>desabrochará plenamente no século XVII.</p><p>Figura 1. O juízo final (1536–1541), Capela Sistina, Vaticano.</p><p>Fonte: The Last Judgment (2015, documento on-line).</p><p>Tecnicamente, o termo “Barroco” foi empregado pela primeira vez re-</p><p>ferindo-se à arquitetura. Os críticos das novas arquiteturas religiosas que</p><p>surgiam na Itália agrediam as tendências seiscentistas, pretendendo expô-las</p><p>ao ridículo. De acordo com Gombrich (1999, p. 387):</p><p>Barroco significa realmente absurdo ou grotesco, e era empregado por</p><p>homens que insistiam em que as formas das construções clássicas jamais</p><p>deveriam ser usadas ou combinadas a não ser do modo adotado pelos gregos</p><p>Barroco4</p><p>e romanos. Desprezar as severas normas da arquitetura antiga parecia,</p><p>a esses críticos, uma deplorável falta de gosto — daí terem rotulado o</p><p>estilo de barroco.</p><p>Uma das primeiras igrejas barrocas resultante das novas aspirações religio-</p><p>sas foi a Igreja de Il Gesù (Igreja de Jesus), em Roma, projetada pelo arquiteto</p><p>Giacomo Della Porta, em 1575 (Figura 2). A recém-fundada igreja da Ordem</p><p>dos Jesuítas carregava a experiência inédita da nova forma e volumetria das</p><p>edificações como antídoto à Reforma Protestante. O formato da igreja adota</p><p>um novo e incomum plano: a ideia renascentista de construção geométrica</p><p>(frequentemente redonda) e simétrica foi rejeitada e substituída por uma</p><p>composição simples e engenhosa, posteriormente aceita em toda a Europa.</p><p>Figura 2. Il Gesù (1575), Roma. (a) Fachada; (b) corte e planta.</p><p>Fonte: (a) Church of the Gesù (2013, documento on-line); (b) Fazio (2011, p. 361).</p><p>O modo de planejar as igrejas, a partir da Igreja de Jesus, tem sido lar-</p><p>gamente utilizado desde então, pois combina as principais características</p><p>das igrejas medievais — formato alongado, realçando o altar-mor — com as</p><p>realizações do planejamento renascentista — ênfase aos interiores espaçosos,</p><p>iluminados através do zimbório (cúpula). Entretanto, é na fachada que se</p><p>reconhece as primeiras manifestações do estilo Barroco, que serão ampliadas</p><p>e intensificadas nas edificações religiosas posteriores, especialmente na Itália.</p><p>Segundo Gombrich (1999, p. 388–389):</p><p>5Barroco</p><p>Nada existe nessa simples e majestosa fachada para sugerir um desafio de-</p><p>liberado às regras clássicas, em nome de um capricho requintado. Mas o</p><p>modo pelo qual os elementos clássicos se fundem num padrão mostra que</p><p>as regras gregas e romanas, e mesmo as renascentistas, tinham ficado para</p><p>trás. A característica mais impressionante nessa fachada é a duplicação de</p><p>cada coluna ou pilastra, como para incutir a toda a edificação maior riqueza,</p><p>variedade e solenidade. O segundo traço que notamos é o cuidado que o artista</p><p>teve em evitar a repetição e monotonia, organizando as partes de maneira</p><p>a formar um clímax no centro, onde a entrada principal é realçada por uma</p><p>dupla moldura. Se retornarmos a construções mais antigas, compos tas de</p><p>elementos semelhantes, vemos imediatamente a grande mudança no caráter.</p><p>De fato, a arquitetura barroca (tanto a religiosa quanto a cortesã) incorpora</p><p>os elementos da arquitetura clássica, reunindo todas as peças formais já conhe-</p><p>cidas: colunas (novidade na utilização de meias colunas e pilastras), arquitrave</p><p>e frisos. A distribuição dessas peças formais também emprega características</p><p>clássicas, como a vasta entrada central emoldurada por colunas e ladeada</p><p>por duas entradas menores. No entanto, o modo como os elementos clássicos</p><p>passam a ser arranjados indica que as regras greco-romanas e renascentistas</p><p>ficaram para trás. Há, por exemplo, a duplicação de pilastras (em outros</p><p>casos, há duplicação de mais elementos), com objetivo de imprimir maior</p><p>riqueza, solenidade e variedade de linguagem (GLANCEY, 2001)</p><p>Uma importante característica da Igreja de Il Gesù é a cenografia. O arqui-</p><p>teto tratou a fachada de forma a evitar a repetição e</p><p>pela sua miscigenação. É comum que se refi ra ao</p><p>Brasil como um país bastante heterogêneo, que recebeu diversas infl uências e</p><p>acabou com uma cultura montada a partir de um mosaico étnico. Sua história</p><p>é a prova de que a formação cultural brasileira tem bases que permeiam vários</p><p>continentes e povos.</p><p>Os registros dos povos brasileiros iniciaram-se a partir do início da coloniza-</p><p>ção portuguesa, no século XVI. Nesse momento, os europeus — principalmente</p><p>portugueses — pisaram em terras brasileiras, trazendo seus costumes, religião</p><p>e valores. O processo de colonização acarretou a fusão entre as características</p><p>culturais dos povos indígenas brasileiros, dos colonizadores europeus e dos</p><p>escravos africanos. Portanto, é possível resumir a formação da cultura brasileira</p><p>a partir de três eixos principais: o indígena, o ibérico e o africano. Em 1808. a</p><p>família real portuguesa, fugindo das invasões de Napoleão Bonaparte, mudou-</p><p>-se para o Rio de Janeiro, tornando o Brasil sede da monarquia e vice-reino.</p><p>Em 1822, houve a declaração de independência do Brasil, seguida da abertura</p><p>dos portos ao comércio exterior. Essa resolução modificou muito a política e a</p><p>economia do país, e a passagem dos novos comerciantes gerou muitos relatos a</p><p>respeito da vida e dos costumes do Brasil. A maioria dos relatos concentra-se</p><p>no Rio de Janeiro, onde a família real morava, e onde a cultura já era bastante</p><p>variada, de cunho mais burguês, urbano e onde circulada a classe alta. O interior</p><p>do País ainda tinha características culturais diferentes, onde predominavam</p><p>nuances mais relacionadas à população nativa (OLIVEN, 2001).</p><p>A cultura indígena brasileira tem forte influência na formação da identidade</p><p>cultural do brasileiro. Antes da colonização, o índio tinha uma cultura bastante</p><p>adaptada às características climáticas e ao cenário do País, desenvolvendo</p><p>objetos e edificações com qualidades que suprissem as necessidades impostas</p><p>por essas condições. A língua falada era o Tupi-Guarani; entretanto, esta não</p><p>possuía escrita, o que dificultou o registro e a difusão da cultura indígena</p><p>anterior à chegada dos portugueses. O documento escrito mais antigo é a</p><p>carta de Pero Vaz de Caminha, em que este demonstra preocupação com a</p><p>maneira de morar dos índios, classificando as edificações como “choupaninhas”</p><p>sem repartimento e com apenas duas portas, onde moravam 30 a 40 pessoas</p><p>(BRANCO, 1993). Entretanto, sabe-se que a cultura brasileira atual possui</p><p>muitas referências indígenas. Ainda se usam muitos objetos de origem indígena,</p><p>como a rede de descanso. A língua portuguesa tem muitos termos derivados</p><p>do Tupi-Guarani. Durante o século XIX, foi desenvolvido o nheengatu, língua</p><p>derivada do Guarani que foi usada por um tempo como língua geral e foi veículo</p><p>de catequese, ações sociais e políticas, sendo mais falada que o português no</p><p>Amazonas e no Pará até 1877. Atualmente, a língua portuguesa tem muitos</p><p>termos Guaranis incorporados, normalmente designando animais ou plantas,</p><p>como capivara, ipê, jacarandá, entre outros. O folclore indígena é bastante rico</p><p>e ainda muito presente na cultura brasileira, principalmente na Região Norte,</p><p>contando com a presença de personagens fantásticos, como o curupira, o saci-</p><p>-pererê, o boitatá, a iara, entre outros. A colonização representou a destruição</p><p>de grande parte das tradições indígenas por meio de guerras e escravidão.</p><p>A catequese também acabou eliminando algumas tradições e impondo rituais</p><p>relacionados à Igreja Católica.</p><p>Cultura brasileira2</p><p>A língua nheengatu é falada ainda hoje por alguns povos no vale do Rio Negro, na</p><p>Amazônia. Existem algumas iniciativas de recuperar a língua Tupi-Guarani por alguns</p><p>povos, como os potiguaras da Paraíba e do Rio Grande do Norte e os tupiniquins da</p><p>cidade de Aracruz, no Espírito Santo.</p><p>A cultura africana foi inserida no contexto brasileiro por meio dos povos</p><p>escravizados trazidos da África pelos colonizadores europeus. Estes falavam</p><p>línguas diferentes e tinhas tradições distintas. Assim como os indígenas, os</p><p>africanos tiveram sua cultura diluída pelos europeus colonizadores. Eles eram</p><p>obrigados a aprender português, eram batizados com nomes portugueses</p><p>e deveriam se converter ao catolicismo. Mesmo assim, a cultura africana</p><p>conseguiu se inserir no contexto brasileiro e é parte importante da trama que</p><p>compõe a cultura desse país. As religiões de origem africana firmaram raiz</p><p>principalmente na Região Nordeste do Brasil, baseadas em cultos de orixás e</p><p>praticadas ainda hoje. A mais conhecida e difundida é a umbanda. A cultura</p><p>africana também teve muita influência no desenvolvimento da dança e da</p><p>música de identidade brasileira. A música popular, como maxixe, samba,</p><p>choro e bossa nova, tem como base ritmos de origem africana. A capoeira tem</p><p>origem africana, mistura dança e artes marciais, bem como foi responsável</p><p>pela introdução de instrumentos musicais, como o berimbau.</p><p>A cultura ibérica foi a pauta de todas as adaptações culturais decorren-</p><p>tes da colonização do Brasil. A catequização de índios e escravos africanos</p><p>acabou por apagar alguns traços dessas culturas e começar a criar uma iden-</p><p>tidade brasileira, que foi o resultado de uma combinação de várias vertentes.</p><p>A herança mais evidente é a língua portuguesa. Da mesma forma, a mudança</p><p>da família real para o Brasil acabou desenvolvendo uma cultura urbana e</p><p>elitista em algumas áreas, especialmente o Rio de Janeiro. A partir dessa</p><p>relação, acabaram sendo introduzidos no Brasil os grandes movimentos ar-</p><p>tísticos, como renascimento, maneirismo, barroco, rococó e neoclassicismo.</p><p>O Brasil desenvolveu algumas linhas desses movimentos com características</p><p>próprias, mas a influência das características europeias ainda era muito grande.</p><p>O desenvolvimento da cultura brasileira ainda era muito relacionado a pessoas</p><p>formadas na Europa, que voltavam para o Brasil trazendo as tendências de</p><p>comportamento e arte. Além disso, durante os séculos XIX e XX, o Brasil</p><p>recebeu muita imigração europeia de outros locais, principalmente italianos</p><p>3Cultura brasileira</p><p>e alemães. A maioria destes se fixou no sudeste e no sul do País, tentando</p><p>aproximar-se dos climas de seus países e manter suas técnicas de cultivo.</p><p>Dessa forma, o Brasil acaba desenvolvendo culturas bastante distintas nas</p><p>suas diversas regiões, fator facilitado pela larga extensão de seu território.</p><p>O Brasil começa a reconhecer sua identidade cultural específica no iní-</p><p>cio do século XX. Acompanhando as tendências das vanguardas artísticas</p><p>europeias, os artistas brasileiros organizam a Semana de Arte Moderna, em</p><p>1922 (Figura 1). O evento aconteceu no Teatro Municipal, em São Paulo, e</p><p>contou com artistas como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Víctor</p><p>Brecheret, Plínio Salgado, Anita Malfatti, Menotti Del Picchia, Guilherme de</p><p>Almeida, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos, Tácito de Almeida e Di Cavalcanti.</p><p>A pauta era baseada principalmente na intenção de renovação da poesia pro-</p><p>duzida no Brasil, que esse grupo considerava arcaica e excessivamente formal.</p><p>A apresentação do poema Os sapos, de Manuel Bandeira, foi um marco na</p><p>contestação da estrutura literária vigente. Da mesma maneira, outras formas</p><p>de arte foram constatadas durante o evento. Anita Malfati foi uma importante</p><p>personagem para a atualização da pintura, exibindo quadros com influências</p><p>expressionistas e cubistas.</p><p>Figura 1. Cartaz da Semana de Arte Moderna</p><p>de 1922.</p><p>Fonte: São Paulo (1922, documento on-line).</p><p>Cultura brasileira4</p><p>A partir de então, formou-se um grupo de artistas de vanguarda que se</p><p>preocupavam com a produção cultural brasileira. Apesar das influências</p><p>europeias, começou a se identificar uma estética e temática tipicamente bra-</p><p>sileiras. Tarsila do Amaral, apesar de não ter participado da Semana de Arte</p><p>Moderna de 1922, foi uma pintora que representou os cenários e a estética</p><p>brasileira neste novo período. É importante ressaltar que a cultura brasileira,</p><p>tanto erudita quanto popular, já era produzida de</p><p>forma extensa por todo o</p><p>território, cada um com suas nuances. Os grupos de vanguarda tiveram papel</p><p>importante em reconhecer essa cultura como identidade brasileira e incentivar</p><p>a propagação e a exaltação daquilo que é tipicamente deste país.</p><p>Durante o século XX, essa cultura foi se desenvolvendo e o Brasil foi</p><p>se reconhecendo como um país com uma identidade cultural. Nos anos de</p><p>1960, surge o tropicalismo, movimento que enaltece a brasilidade e exalta as</p><p>características culturais brasileiras. O tropicalismo se desenvolveu em diversas</p><p>áreas, sendo a música uma das principais áreas. Em 1968, é lançado o álbum</p><p>Tropicália ou Panis et circencis, por Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil,</p><p>Nara Leão, Os Mutantes e Tom Zé. Esse álbum foi um marco para a música</p><p>popular brasileira e teve como objetivo demonstrar uma produção com identi-</p><p>dade cultural. As artes plásticas contaram com Helio Oiticica, que apresenta,</p><p>em 1969, a obra Tropicália, montando uma instalação com materiais, texturas</p><p>e objetos tipicamente brasileiros, como o tecido de chita, a areia e as palmeiras.</p><p>Da mesma forma, o cinema, o teatro e outras artes se desenvolvem buscando</p><p>esta carga de nacionalismo. Assim, o reconhecimento da identidade brasileira,</p><p>nessa época, é de extrema importância para a formação de uma consciência</p><p>cultural nacional, em que o brasileiro consegue identificar suas características</p><p>e estabelecer uma identidade relacionada com sua história e seu território.</p><p>Arte, artesanato e arquitetura brasileira</p><p>A formação da cultura brasileira ocorreu, portanto, por meio da infl uência</p><p>dos diversos povos que passaram por nosso território. Cada grupo trouxe suas</p><p>referências, e estas foram unifi cadas e adaptadas ao novo contexto. Dessa</p><p>forma, o Brasil teve suas manifestações culturais permeadas de nuances</p><p>de muitas outras culturas, até que reconheceu, nessa mistura, sua própria</p><p>identidade.</p><p>5Cultura brasileira</p><p>A produção do artesanato, por exemplo, é uma manifestação cultural que</p><p>retrata mais comumente as características da cultura popular de um local, e</p><p>está historicamente ligada à produção de utensílios e adornos, trabalhos feitos</p><p>de forma manual, sem a utilização da indústria. No século XIX, os mestres</p><p>criaram as Corporações de Ofício, a fim de transmitir seus conhecimentos a</p><p>respeito de trabalhos manuais. A Revolução Industrial acabou desvalorizando</p><p>muito o trabalho de artesãos, já que a indústria conseguia produzir de forma</p><p>mais rápida e barata. O movimento de Artes e Ofícios, surgido em meados</p><p>do século XIX e liderado pelo inglês William Morris, tinha como objetivo</p><p>a valorização dos trabalhos manuais. Atualmente, ainda existe a dicotomia</p><p>entre artesanato e indústria, porém já parece ser bastante claro a diferença</p><p>entre os dois. Enquanto a indústria produz produtos em larga escala de forma</p><p>utilitária, o artesanato produz em pequena escala, considerando cada objeto</p><p>como único e sendo a tradução dos costumes e das tradições de uma região.</p><p>O artesanato brasileiro é uma grande expressão da cultura local. Ele garante</p><p>o sustendo de muitas famílias e representa bem a história da cultura nacional.</p><p>O artesanato indígena foi um dos primeiros a exprimir a identidade brasileira.</p><p>Existem relatos dos portugueses quando desembarcaram no País e se depara-</p><p>ram com uma grande gama de pigmentos naturais, cestaria e cerâmica. Além</p><p>disso, a arte plumária (i.e., a confecção de cocares e outros adereços com</p><p>plumas de aves) era bastante expressiva. A cerâmica se desenvolveu bastante</p><p>em regiões em que havia barro disponível. No nordeste, é possível encontrar</p><p>representações de barro de figuras locais, como cangaceiros e rendeiras.</p><p>A confecção de rendas ainda é uma das produções de artesanato mais típicas</p><p>e se desenvolveu também no norte, nordeste e sul. O tipo de renda e a forma</p><p>de confecção varia conforme a região. O artesanato em madeira é proveniente</p><p>da confecção de armas, embarcações, instrumentos musicais, etc. Por meio</p><p>do entalhamento, pode-se produzir máscaras e reproduzir cenas. Além disso,</p><p>pode-se usar a técnica na fabricação de móveis e outros utensílios domésticos.</p><p>Os índios também deixaram como herança a técnica de trançar fibras, produ-</p><p>zindo cestas e esteiras. Essa técnica era utilizada na confecção de redes, balaios,</p><p>chapéus, etc. Também foi muito utilizada na decoração, sendo explorado um</p><p>trançado com figuras geométricas ou outros desenhos.</p><p>A arte brasileira começa a criar identidade própria a partir da Semana</p><p>de Arte Moderna de 1922. Antes disso, encontram-se vestígios de pinturas</p><p>rupestres em alguns locais na Região Norte. Existem registros arqueológicos</p><p>de vasos relacionados a figuras mitológicas, mas a falta de um registro escrito</p><p>Cultura brasileira6</p><p>impede que se tenham maiores detalhes do cenário artístico indígena anterior à</p><p>chegada dos portugueses. Com a chegada dos europeus, a arte desenvolveu-se</p><p>muito pautada pelas tendências da Europa. Brasileiros iam para a Europa para</p><p>aprender pintura e voltavam para o País trazendo as novas tendências. Nomes</p><p>como Pedro Américo e Victor Meirelles receberam incentivo do governo</p><p>brasileiro para se formarem na Academia imperial de Belas Artes de Paris, na</p><p>França. Eles voltaram ao Brasil munidos das técnicas de pintura neoclássicas</p><p>e românticas e foram os responsáveis pelo desenvolvimento do academicismo</p><p>no Brasil. Os dois receberam muito reconhecimento de Dom Pedro II, então</p><p>imperador residente no Brasil. Dessa forma, pintaram cenas históricas muito</p><p>importantes na história do País. O quadro A primeira missa no Brasil (Figura</p><p>2), de Victor Meirelles, pintado em 1861, e o quadro Independência ou Morte</p><p>(Figura 3), de Pedro Américo, pintado em 1888, são importantes registros de</p><p>acontecimentos relevantes. Existem algumas manifestações de artistas que</p><p>não tiveram formação na Europa, como é o caso de Antônio Francisco Lisboa,</p><p>mais conhecido como Aleijadinho. Não há muito certeza a respeito de sua</p><p>biografia, mas este teve formação em um seminário em Ouro Preto. Durante</p><p>sua vida, produziu esculturas atreladas a igrejas de caráter barroco e rococó.</p><p>Sua obra é vastamente conhecida e apreciada.</p><p>Figura 2. A Primeira Missa no Brasil, de Victor Meirelles.</p><p>Fonte: Meirelles (1860, documento on-line).</p><p>7Cultura brasileira</p><p>Figura 3. Independência ou Morte, de Pedro Américo.</p><p>Fonte: Meirelles (1860, documento on-line).</p><p>A Semana de Arte Moderna de 1922 deu visibilidade à identidade ar-</p><p>tística brasileira. As vanguardas artísticas do início do século XX tinham</p><p>como pauta o abandono do academicismo e do historicismo. No Brasil,</p><p>isso representou o afastamento da pintura e da literatura mais relacionadas</p><p>ao meio acadêmico europeu e a busca por um nacionalismo e uma identi-</p><p>dade própria. Neste contexto, surgiram pintores como Tarsila do Amaral.</p><p>Ela estudou em academias europeias e teve contato com mestres, como</p><p>Pablo Picasso e Fernand Léger. De volta ao Brasil, em 1924, Tarsila come-</p><p>çou a pintar elementos que considerava tipicamente brasileiros e iniciou</p><p>uma fase que se chama “Pau-Brasil”. Pintava com cores vivas e tropicais,</p><p>enfatizando elementos da fauna e da flora brasileiras. Também retratou má-</p><p>quinas e símbolos da nossa modernidade latente. Seu quadro mais famoso,</p><p>o Abaporu, originou o Movimento Antropofágico no Brasil (Figura 4).</p><p>Esse movimento tinha como objetivo a digestão das características es-</p><p>trangeiras, como um ritual canibal, e a liberação de uma arte com uma</p><p>atmosfera mais brasileira. A partir de então, a arte brasileira começou a</p><p>criar sua feição, e suas manifestações iniciaram um movimento de exaltação</p><p>das características nacionais.</p><p>Cultura brasileira8</p><p>Figura 4. Abaporu, de Tarsila do Amaral.</p><p>Fonte: Amaral (1929, documento on-line).</p><p>Dentro da arquitetura, o movimento ocorreu basicamente da mesma forma.</p><p>A produção arquitetônica estava muito atrelada a influências europeias.</p><p>As manifestações barrocas, neoclássicas e ecléticas são quase cópias do que</p><p>estava sendo produzido na Europa. Pode-se</p><p>destacar o barroco mineiro, que</p><p>teve um desenvolvimento bastante peculiar e com características nacionais.</p><p>A partir do início do movimento artístico moderno brasileiro, a arquitetura</p><p>também se desenvolveu, no sentido de encontrar uma identidade própria.</p><p>A primeira manifestação modernista é a Casa Modernista, de Gregori Warcha-</p><p>vchik, construída em 1928, em São Paulo. Esta ainda tinha um caráter genérico,</p><p>característico do que o movimento moderno pregava. O projeto do Ministério da</p><p>Educação e Saúde, ou Palácio Capanema, feito por Lucio Costa e equipe (entre</p><p>eles Oscar Niemeyer) marca o início do modernismo brasileiro. Le Corbusier</p><p>visitou o Brasil, em 1929, e fez um esboço para esse edifício, porém em um</p><p>terreno que não foi o final. Lucio Costa e equipe, entretanto, desenvolveram</p><p>o projeto de forma bem autoral, criando uma implantação diversificada e</p><p>uma estética própria. Burle Marx teve seu papel em tornar o edifício ainda</p><p>mais brasileiro com os projetos de paisagismo. A partir desse ponto, Lucio</p><p>9Cultura brasileira</p><p>Costa e Oscar Niemeyer foram personagens cruciais para a formação de uma</p><p>arquitetura brasileira. Os dois desenvolveram projetos com características</p><p>nacionais e que se destacavam no cenário arquitetônico mundial. Em 1943, o</p><p>Museu de Arte Moderna de Nova Iorque faz uma exposição chamada “Brazil</p><p>Builds”, que mostra construções brasileiras de 1652 a 1942, uma demonstração</p><p>da consolidação da arquitetura brasileira. A construção de Brasília, em 1960,</p><p>foi o ápice deste nacionalismo. A cidade é a materialização do que significa a</p><p>arquitetura moderna brasileira. A partir de então, esta ganhou características</p><p>próprias muito claras e reconhecidas em todo o mundo.</p><p>Arquitetura brasileira e a diversidade cultural</p><p>A Semana de Arte Moderna de 1922 foi um importante marco nas expressões</p><p>culturais do Brasil. Por um lado, as vanguardas rejeitavam o historicismo e</p><p>as referências a tempos passados. Por outro, o movimento brasileiro buscava</p><p>uma retomada do nacionalismo. Segundo Oliven (2001, p. 5):</p><p>Nesse sentido, a partir da segunda parte do modernismo (1924 em diante), o</p><p>ataque ao passadismo é substituído pela ênfase na elaboração de uma cultura</p><p>nacional, ocorrendo uma redescoberta do Brasil pelos brasileiros. Apesar de</p><p>um certo bairrismo paulista, os modernistas recusavam o regionalismo, pois</p><p>acreditavam que era através do nacionalismo que se chegaria ao universal.</p><p>Assim, para os modernistas, a operação que possibilita o acesso ao universal</p><p>passa pela afirmação da brasilidade.</p><p>Existe, portanto, um viés que tenta negar as diversas manifestações ao longo</p><p>do território e tenta unificar a cultura brasileira como apenas uma. Em 1926, é</p><p>lançado, no Recife, a capital mais desenvolvida da Região Nordeste na época, o</p><p>Manifesto Regionalista de Gilberto Freyre. O manifesto tem como objetivo con-</p><p>testar o modernismo que estava sendo desenvolvido na Região Sudeste. Gilberto</p><p>Freyre enfatiza a importância das regiões como unidades de organização nacional</p><p>e ressalta a importância da valorização das tradições regionais. Ainda, ressalta</p><p>a vastidão do território e demonstra a diversidade de manifestações culturais.</p><p>Freyre traz como exemplo de contribuição à cultura brasileira os mocamos,</p><p>aldeias de escravos (Figura 5). O autor diz que esta é a representação de uma</p><p>edificação econômica, de natureza regional, representada pela materialidade</p><p>(madeira, palha, cipó e capim). Também defende a preservação da culinária</p><p>como tradição. Seu texto é todo voltado para o nordeste, porém pode ser</p><p>compreendido como uma consideração às diferenças regionais que existem</p><p>Cultura brasileira10</p><p>em nosso país. Entretanto, o manifesto acaba tendo uma conotação contrária</p><p>ao modernismo que surgia, apesar de não fazer essa referência específica.</p><p>O território brasileiro, por ser muito vasto, ainda tem esta questão divergente</p><p>a respeito de uma unidade cultural e da valorização do regionalismo. Apesar</p><p>das duas coisas parecerem excludentes, ainda se consegue pensar que o regio-</p><p>nalismo possa ser um caminho para o nacionalismo. Freyre diz que o único</p><p>modo de ser nacional é ser, primeiro, regional. É o que os modernistas a partir</p><p>da segunda fase do movimento (depois de 1924) pensaram quando entenderam</p><p>que a única maneira de ser universal é ser nacional antes (OLIVEN, 2001).</p><p>Figura 5. Mocamos, aldeias de escravos.</p><p>Fonte: Santos (2014, documento on-line).</p><p>Portanto, dentro do Brasil, existem diversas variáveis a serem consideradas</p><p>quando se fala em identidade cultural. Existe a ideia de que nossa cultura é uma</p><p>fusão entre a indígena, a africana e a europeia. Existe a questão de que cada</p><p>região do País tem um clima e, portanto, características diferentes. A mudança</p><p>de clima gerou uma diferença no recebimento de imigrantes — os europeus</p><p>tendiam a ir para o sul, em busca de um clima mais parecido com o de seu</p><p>país. A proximidade com outros países latinos ou com o mar também causou</p><p>diferenças culturais. Além disso, os cenários de fauna e flora são extremamente</p><p>diferentes em todo o País. Outra variável importante é a diferença entre os</p><p>centros urbanos e o interior. Mesmo dentro de uma região, essa diferença pode</p><p>ser bastante considerável em termos de estilo de vida e costumes.</p><p>11Cultura brasileira</p><p>Considerando-se a presença de tantas variações, fica difícil aceitar que</p><p>seria possível produzir apenas uma arquitetura. As mudanças de clima, por</p><p>exemplo, já geram, por si só, situações arquitetônicas completamente dife-</p><p>rentes. A relação com o contexto também pode influenciar muito no processo</p><p>de criação. Além disso, as referências históricas e culturais de proveniências</p><p>diferentes acabam produzindo edificações diferentes.</p><p>É natural, portanto, que tenhamos manifestações arquitetônicas bastante</p><p>distintas. No nordeste, existe uma vertente que valoriza bastante a cultura</p><p>local, enaltecendo o artesanato e técnicas mais manuais. O clima mais quente</p><p>permite edificações com influências de locais onde faz mais calor, como países</p><p>de origem árabe. O sudeste tem uma arquitetura com um caráter bastante</p><p>urbano, diferindo muito, inclusive entre o eixo Rio-São Paulo. A escola Carioca</p><p>produz edificações mais abertas e leves, talvez relacionadas à presença do</p><p>mar na cidade. A Escola Paulista desenvolveu o brutalismo, com edificações</p><p>pesadas de concreto. O norte tem ainda a característica da herança indígena,</p><p>reproduzindo técnicas e estética. O centro-oeste tem um caráter mais rural,</p><p>com exceção da inserção de Brasília, uma manifestação bastante urbana.</p><p>O sul muitas vezes copiou o que estava sendo produzido no eixo Rio-São</p><p>Paulo. Entretanto, existe uma unidade entre as adaptações feitas, muitas vezes</p><p>considerando o clima e a paisagem diferentes. Além disso, os imigrantes</p><p>alemães e italianos tiveram grande influência na produção dos estados do</p><p>sul, principalmente fora dos centros urbanos.</p><p>Apesar de existirem diferenças tão grandes entre as regiões do Brasil, é</p><p>possível entender a arquitetura brasileira como uma constante, com adaptações</p><p>regionais. O que Gilberto Freyre quis dizer em seu manifesto pode ainda</p><p>ser aplicado atualmente, ou seja, a valorização das identidades regionais é o</p><p>caminho para se entender a identidade nacional.</p><p>AMARAL, T. Abaporu. 1929. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Abaporu.</p><p>jpg. Acesso em: 09 jul. 2019.</p><p>AMÉRICO, P. Independência ou morte. 1888. Disponível em: https://commons.wikimedia.</p><p>org/wiki/File:Pedro_Am%C3%A9rico_-_Independ%C3%AAncia_ou_Morte_-_Goo-</p><p>gle_Art_Project.jpg. Acesso em: 09 jul. 2019.</p><p>BRANCO, B. C. Arquitetura indígena brasileira: da descoberta aos dias aluais. Revista de</p><p>Arqueologia, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 69–85, 1993.</p><p>Cultura brasileira12</p><p>MEIRELLES, V. The first mass in Brazil. 1860. Disponível em: https://commons.wikimedia.</p><p>org/wiki/File:Meirelles-primeiramissa2.jpg. Acesso em: 09 jul. 2019.</p><p>OLIVEN, R. G. Cultura e modernidade no Brasil. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v.</p><p>15, n. 2, p. 3–12, abr./jun.</p><p>2001.</p><p>SANTOS, C. G. Mocambos em Santo Amaro, Recife/PE. 2014. Disponível em: https://</p><p>www.researchgate.net/figure/Figura-1-Mocambos-em-Santo-Amaro-Recife-PE_</p><p>fig1_320570129. Acesso em: 09 jul. 2019.</p><p>SÃO PAULO. Prefeitura. Cartaz da Semana de Arte Moderna. Brasil, cidade de São Paulo,</p><p>1922. 1922. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Arte-moderna-8.</p><p>jpg. Acesso em: 09 jul. 2019.</p><p>Leituras recomendadas</p><p>BOSI, A. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.</p><p>MOTA, C. G. Ideologia da cultura brasileira (1933-1974): pontos de partida para uma revisão</p><p>histórica. São Paulo: Editora 34, 2008.</p><p>ORTIZ, R. Cultura brasileira e identidade nacional. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 2006.</p><p>13Cultura brasileira</p><p>HISTÓRIA DA</p><p>ARQUITETURA E</p><p>URBANISMO VI (PÓS-</p><p>MODERNISMO E</p><p>CONTEMPORANEIDADE)</p><p>Mathias Pereira Sant Anna</p><p>A crítica ao Modernismo</p><p>no Brasil</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p> Descrever o contexto histórico da arquitetura moderna no Brasil.</p><p> Reconhecer as críticas à arquitetura moderna no mundo e no Brasil,</p><p>a partir da década de 1960.</p><p> Explicar como a crítica à arquitetura moderna influenciou a busca de</p><p>uma nova linguagem arquitetônica.</p><p>Introdução</p><p>A partir da visita de Le Corbusier ao país, considerada por muitos como a</p><p>inauguração do movimento moderno, os arquitetos brasileiros passaram</p><p>a desenvolver a sua própria linguagem. Esse período é considerado um</p><p>momento de grande projeção internacional da arquitetura brasileira,</p><p>com mestres como Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Affonso Reidy e João</p><p>Batista Vilanova Artigas. À medida que esses arquitetos passaram a re-</p><p>ceber reconhecimento por suas obras e o movimento se consolidou,</p><p>também começaram a surgir críticas e questionamentos, principalmente</p><p>no cenário internacional, a partir do trabalho de arquitetos como Robert</p><p>Venturi, Philip Johnson e Aldo Rossi. Estes passaram a criticar, informar e</p><p>modificar os rumos da arquitetura nacional e internacional.</p><p>Neste capítulo, você vai aprender sobre a evolução do movimento</p><p>moderno no Brasil, bem como as suas influências, críticas e desdobra-</p><p>mentos. Além disso, vai estudar as principais vertentes críticas a esse</p><p>movimento e de que forma elas levaram à busca por um novo modo</p><p>de fazer arquitetura.</p><p>Breve história do movimento moderno no Brasil</p><p>A década de 1930 representa um período de grande transformação no país.</p><p>A partir da Semana de Arte Moderna de 1922 e do Estado Novo de Getúlio</p><p>Vargas, o Brasil começou a buscar uma identidade própria, livre dos ideais</p><p>europeus que há muitos anos vinham sendo importados e infl uenciavam</p><p>a produção cultural local. Coincidiu também com esse período a disse-</p><p>minação de inovações técnicas como o uso do aço e do concreto armado,</p><p>que possibilitaram uma nova forma de pensar e de produzir arquitetura</p><p>(BRUAND, 1981).</p><p>Durante esse período, surgiram na Europa diversos arquitetos que, valendo-</p><p>-se dessas inovações, deram início ao chamado movimento moderno. Entre</p><p>os profissionais da primeira geração moderna, figuram importantes nomes,</p><p>como Mies van der Rohe, Walter Gropius, Frank Lloyd Wright e Le Corbusier</p><p>— este último foi provavelmente a maior influência do movimento no Brasil.</p><p>O sistema Beaux-Arts, ainda vigente no Brasil nas primeiras décadas</p><p>do século XX, já apresentava sinais de esgotamento, e os arquitetos locais</p><p>buscavam a superação desse modelo considerado antiquado. Nesse contexto,</p><p>ocorreu a primeira visita de Le Corbusier ao país, em 1929, para participar</p><p>de conferências em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde disseminou as suas</p><p>ideias entre estudantes e profissionais.</p><p>Na sua segunda visita, em 1936, colaborou com a equipe de arquitetos</p><p>que projetou uma das primeiras e mais importantes obras modernas no país:</p><p>a sede do Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro (Figura 1).</p><p>Essa equipe contava ainda com nomes como Lúcio Costa e Oscar Niemeyer,</p><p>entre outros. A clara influência do mestre suíço nessa obra está evidenciada</p><p>no projeto por meio da linguagem desenvolvida por ele com os seus cinco</p><p>pontos da arquitetura moderna: pilotis, terraço-jardim, planta livre, janela em</p><p>fita e fachada livre. Entretanto, é importante destacar que, ao mesmo tempo</p><p>em que o projeto faz referência à arquitetura de Le Corbusier, ele também já</p><p>apresenta características e sensibilidades próprias do movimento moderno no</p><p>Brasil, como a sua preocupação com a implantação e o respeito ao entorno</p><p>(MONTANER, 2011).</p><p>A tendência para a intensidade do prisma puro e autônomo, para a regularida-</p><p>de, ortogonalidade e frontalidade na arquitetura maquinista de Le Corbusier</p><p>é corrigida no Ministério [...] pela dispersão e o contraste de volumes, pelo</p><p>caráter poroso, expansivo e transparente dos edifícios, pela posição lateral de</p><p>entradas que induzem ao movimento. [...] Tudo isso em busca de uma maior</p><p>expressividade e caráter (MONTANER, 2011, p. 26).</p><p>A crítica ao Modernismo no Brasil2</p><p>Figura 1. Ministério da Educação e Saúde (1936), no</p><p>Rio de Janeiro.</p><p>Fonte: CAU/BR (2018, documento on-line).</p><p>A Escola Carioca</p><p>A partir das visitas de Le Corbusier, a arquitetura moderna nacional começou</p><p>a seguir o seu próprio rumo. Assim, passou a assumir os seus próprios riscos</p><p>e, de certa forma, uma posição crítica, adaptando as ideias modernas ao con-</p><p>texto brasileiro. Por exemplo, é possível perceber que, ao projetar o conjunto</p><p>da Pampulha, em Belo Horizonte, encomendado pelo então prefeito Juscelino</p><p>Kubitschek, Niemeyer começou a acentuar a vocação escultórica e criativa</p><p>da sua obra. Isso fi ca visível no projeto da Igreja São Francisco de Assis, a</p><p>partir do uso plástico do concreto nas suas curvas assimétricas, assim como</p><p>na preocupação do arquiteto em considerar a paisagem no projeto para a Casa</p><p>de Baile. Ao mesmo tempo, em ambas as obras ele também lança mão das</p><p>formas simples e puras defendidas por Le Corbusier (MONTANER, 2011).</p><p>Em 1943, foi realizada uma exposição no Museu de Arte Moderna</p><p>de Nova York, intitulada Brazil Builds, na qual foram expostas obras da</p><p>produção arquitetônica moderna brasileira. No ano seguinte, em relação</p><p>a essa exposição, Andrade (2003, p. 175) escreveu: “[...] a primeira escola,</p><p>o que se pode chamar legitimamente de ‘escola’ de arquitetura moderna</p><p>3A crítica ao Modernismo no Brasil</p><p>no Brasil, foi a do Rio, com Lúcio Costa à frente, e ainda inigualada até</p><p>hoje [...]”. O termo “Escola Carioca” passou a denominar essa primeira</p><p>fase da arquitetura moderna brasileira, produzida principalmente entre os</p><p>anos 1930 e 1950, por arquitetos radicados no Rio de Janeiro, como Lúcio</p><p>Costa, Oscar Niemeyer e Affonso Reidy.</p><p>Além da sede do Ministério da Educação e Saúde e do Conjunto Arqui-</p><p>tetônico da Pampulha, outras obras de importância significativa atribuídas</p><p>a essa fase são o Grande Hotel de Ouro Preto (1938) e o Pavilhão do Brasil</p><p>na Feira Internacional de Nova York (1939), projetados por Niemeyer; o</p><p>Conjunto Habitacional do Pedregulho (1950) e o Museu de Arte Moderna do</p><p>Rio de Janeiro (1954), projetados por Reidy; o edifício sede da Associação</p><p>Brasileira de Imprensa (1936), projetado pelos irmãos Roberto; e o Plano</p><p>Piloto de Brasília (1957), de Lúcio Costa. Este último, embora situado em</p><p>um momento em que começavam a despontar diferentes rumos para a ar-</p><p>quitetura moderna, ainda é considerado uma obra pertencente a esse grupo</p><p>(BRUAND, 1981).</p><p>Brutalismo e a Escola Paulista</p><p>À outra parte da produção arquitetônica do país, produzida originalmente por</p><p>um grupo de arquitetos radicados em São Paulo, atribui-se o nome de Escola</p><p>Paulista. O grupo foi liderado pelo arquiteto-engenheiro paranaense João</p><p>Batista Vilanova Artigas, que defendia que a arquitetura brasileira só podia se</p><p>desenvolver respondendo a problemas brasileiros, sobretudo a questões sociais,</p><p>como o atraso e a pobreza da população. Artigas era crítico da Escola Carioca</p><p>e da infl uência de Le Corbusier, defendendo que esta deixava a arquitetura</p><p>do</p><p>país dependente de uma visão estrangeira.</p><p>A partir de projetos realizados no final da década de 1950, passaram</p><p>a distinguir-se as linhas da escola: uso do concreto aparente, emprego de</p><p>grandes vãos, uso de rampas, horizontalidade, continuidade espacial e</p><p>um sentido de predominância de soluções técnicas em relação às soluções</p><p>estéticas. O edifício da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Uni-</p><p>versidade de São Paulo (FAU/USP), em 1961, projetado em conjunto com</p><p>Carlos Cascaldi, marca o ponto alto dessa escola. Essas características</p><p>revelam a intenção política do arquiteto — fundamental para a compre-</p><p>ensão do movimento paulista — de que a modernização da construção</p><p>civil por meio da racionalização e da industrialização do projeto seriam</p><p>soluções para a superação do subdesenvolvimento. O projeto de Artigas e</p><p>Cascaldi tornou-se um paradigma do brutalismo da escola paulista por seu</p><p>A crítica ao Modernismo no Brasil4</p><p>acabamento primitivo, que dependia de baixo nível de habilidade manual</p><p>para a sua construção, mas altamente sofisticado por sua solução estrutural</p><p>(ANDREOLI; FORTY, 2004).</p><p>Além de projetar o edifício que abrigaria a Faculdade de Arquitetura e</p><p>Urbanismo da USP (Figura 2), Artigas também teve um papel central na</p><p>organização do currículo do curso, criando espaço (tanto de forma literal</p><p>quanto abstrata) para a discussão e a propagação das suas ideias (ANDREOLI;</p><p>FORTY, 2004).</p><p>Figura 2. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (1961), em São Paulo.</p><p>Fonte: Corullon (2017, documento on-line).</p><p>Paulo Mendes da Rocha é outro proeminente arquiteto associado à Escola</p><p>Paulista. Formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade</p><p>Presbiteriana Mackenzie, em 1954, ele teve rápida ascensão e reconhecimento</p><p>profissional. Assim, foi convidado por Artigas, em 1961, a lecionar na FAU/</p><p>USP. Mendes da Rocha é um grande defensor das soluções estruturais de grande</p><p>porte, visíveis em projetos como o Ginásio do Clube Atlético Paulistano (1958),</p><p>a sede social do Jóquei Clube de Goiás (1962), o Edifício Guaimbê (1964) e,</p><p>mais tarde, o Museu Brasileiro da Escultura (1986). As características dessas</p><p>e das demais obras do arquiteto demonstram a chamada “virada brutalista”</p><p>da arquitetura, em que passam a figurar ao redor do mundo, sobretudo no</p><p>domínio de edifícios públicos, projetos que fazem uso do concreto armado</p><p>bruto, evidenciando a sua estrutura (ROCHA, 1999).</p><p>5A crítica ao Modernismo no Brasil</p><p>Acesse o link a seguir e assista ao crítico inglês Kenneth Frampton em entrevista sobre</p><p>a obra de Paulo Mendes da Rocha.</p><p>https://qrgo.page.link/RazA4</p><p>Também integra essa geração a arquiteta italiana radicada no Brasil Lina</p><p>Bo Bardi, em cuja obra, entre outras características, destaca-se a ênfase do</p><p>discurso social no programa da sua arquitetura. Um exemplo disso é o seu</p><p>projeto para o Museu de Arte de São Paulo (1958), um monumento à alta</p><p>cultura, em que Bardi abriu espaço para as massas, removendo o programa</p><p>do andar térreo e dividindo o museu em duas partes. Com esse movimento,</p><p>a rua passou a fazer parte do museu, abrindo-se para a ocupação e a ma-</p><p>nifestação da população. A admiração pela cultura popular tornou-se uma</p><p>das principais influências do seu trabalho, que estabeleceu o diálogo entre</p><p>o moderno e o popular.</p><p>Ao mesmo tempo em que muitas dessas obras estavam sendo produzidas</p><p>no Brasil, começavam a surgir arquitetos e críticos no cenário internacional</p><p>dispostos a avaliar de forma crítica os sucessos e as falhas do movimento mo-</p><p>derno. Grande parte das críticas tinham como seu principal alvo a arquitetura</p><p>racionalista e universal defendida pelo estilo internacional, apontada como</p><p>redutiva. De forma semelhante, no campo do urbanismo, foi o funcionalismo</p><p>do planejamento urbano moderno que passou a ser rejeitado.</p><p>As críticas ao movimento moderno</p><p>Em 1928, foi fundado o Congresso Internacional de Arquitetura Moderna</p><p>(CIAM), responsável pela organização de uma série de eventos e confe-</p><p>rências internacionais com o objetivo de promover o debate e a difusão da</p><p>arquitetura moderna. Na ocasião do quarto CIAM (1933), foram discutidos</p><p>os princípios da “cidade funcional”, expandindo o escopo da organização</p><p>ao urbanismo. Nessa ocasião, foram discutidas diretrizes e soluções para</p><p>os principais problemas enfrentados pelas cidades, os quais poderiam ser</p><p>resolvidos, entre outras medidas, por meio de uma estrita segregação fun-</p><p>cional do espaço urbano.</p><p>A crítica ao Modernismo no Brasil6</p><p>Mais tarde, em 1943, Le Corbusier editou e publicou essas diretrizes em sua</p><p>Carta de Atenas. Na Carta são defendidas a separação das áreas residenciais,</p><p>de trabalho e de lazer, e a distribuição da população em blocos de apartamen-</p><p>tos dispersos na paisagem, espaçados em grandes intervalos. Os diferentes</p><p>setores seriam conectados pela malha viária, reforçando a predominância (ou</p><p>até mesmo dependência) do automóvel (MONTANER, 2011).</p><p>A organização dessas conferências foi suspensa pelo período da Segunda</p><p>Guerra Mundial, sendo retomada após o conflito. Foi nesse período que as</p><p>CIAMs tiveram um momento de expansão e difusão de suas ideias, oferecendo</p><p>propostas de reconstrução das cidades europeias afetadas pelo conflito e de</p><p>desenvolvimento para as cidades norte-americanas. Nesse contexto, surgiram</p><p>alguns dos paradigmáticos projetos de urbanismo moderno, como Chandigarh</p><p>(1951), a nova capital do estado indiano Punjab, projetada por Le Corbusier,</p><p>bem como Brasília (1957), de (JENCKS, 2006).</p><p>A capital planejada do Brasil é uma ilustração perfeita da forma como essas</p><p>ideias abstratas podiam gerar um plano físico. Do ar, é possível identificar</p><p>facilmente as cinco funções purificadas: o domínio público ao sul; o eixo</p><p>de circulação que determina a forma global; os superblocos de habitação</p><p>localizados transversalmente ao eixo; o espaço recreativo, aberto, rodeando a</p><p>cidade; e as áreas de trabalho localizadas ao longo das pontas (JENCKS, 2006).</p><p>Com a independência da Índia do Reino Unido e a subsequente divisão do estado</p><p>do Punjab entre a Índia e o Paquistão, fez-se necessária a criação de uma nova capital</p><p>para a porção indiana, aproveitando a ocasião para promover a noção de uma nova</p><p>Índia, modernizada, próspera e independente.</p><p>Com a inesperada morte de um dos arquitetos da primeira equipe contratada para</p><p>o projeto, contratou-se Le Corbusier, que se dedicou a redesenhar o projeto iniciado</p><p>previamente de acordo com o seu racional, em vez de apenas completá-lo. O arqui-</p><p>teto traçou o sistema viário em forma de grid por onde estaria disperso o programa</p><p>habitacional. O complexo do capitólio, por sua vez, foi posicionado adjacente ao grid,</p><p>usando um vocabulário distinto, com todos os diferentes edifícios fazendo uso do</p><p>concreto para a realização de formas escultóricas, elementos de sombreamento e</p><p>grelhas de brise-soleils fixos.</p><p>Assim como Brasília e outras cidades planejadas, hoje com o triplo da população</p><p>inicialmente estimada, Chandigarh enfrenta desafios de planejamento, expansão</p><p>e adequação da cidade à novas necessidades. Assim, explicitam-se algumas das</p><p>deficiências do urbanismo moderno (JENCKS, 2006).</p><p>7A crítica ao Modernismo no Brasil</p><p>Esse modelo, no entanto, começou a se esgotar a partir do final da década</p><p>de 1950. Então, em 1956, a organização do décimo CIAM, em Dubrovnik</p><p>(ex-Iugoslávia, atual Croácia), passou a defender o “regresso ao lugar” como</p><p>retomada do sentido mais tradicional de cidade, sem uma clara separação de</p><p>funções. Essa corrente começou a se opor às noções ortodoxas estabelecidas</p><p>pelo modernismo. Nesse sentido, defendia a postura de que a separação de</p><p>funções, muito usada pelos planejadores urbanos modernos, acabava reprodu-</p><p>zindo a segregação urbana. Ao rejeitar o racionalismo da cidade funcional de</p><p>Le Corbusier, a Team X, como ficou conhecida a equipe organizadora desse</p><p>evento, defendia a busca por formas mais eficientes de viabilizar a vida em</p><p>sociedade, admitindo a necessidade da complexidade oferecida pelo</p><p>sentido</p><p>mais tradicional de cidade (MONTANER, 2011).</p><p>Outro fator apontado como responsável pela crise do objeto moderno,</p><p>segundo Montaner (2011), é o seu isolamento do contexto. O planejamento</p><p>utópico e radical defendido pelo movimento moderno muitas vezes ignorava</p><p>a relação do objeto com o seu contexto e os benefícios de estabelecer esse</p><p>diálogo. A noção de uma sociedade igualitária e de identidade homogênea</p><p>inspiradas pela racionalidade da máquina e da produção industrial passou a ser</p><p>questionada. Esse modelo falhou em levar em consideração a natureza plural</p><p>da sociedade e a necessidade do encontro, dos espaços de congregação e do</p><p>reconhecimento da história como parte integrante do cotidiano.</p><p>No livro Form Follows Fiasco: why Modern Architecture hasn’t worked,</p><p>Blake (1978) discute as “fantasias” do movimento moderno, criticando muitas</p><p>das ideias principais do Modernismo. Começando pela determinação de fun-</p><p>ções específicas para cada espaço, Blake (1978) critica a postura pela sua falta</p><p>de flexibilidade. “O fato de dispormos espaços programados para o desenvol-</p><p>vimento de uma determinada função garante a melhoria da qualidade de vida</p><p>nesses espaços e qualifica sua relação com o usuário?” (PORTOGHESI, 2002,</p><p>p.48). Admite-se que a modificação do uso original entendido inicialmente</p><p>para um espaço pode significar uma valorização dele.</p><p>Blake (1978) também critica a valorização e o uso indiscriminado da planta</p><p>livre, que se associa à arquitetura japonesa e que, por sua vez, pressupõe uma</p><p>ordem fundamental baseada na desigualdade. Na sociedade japonesa, usa-se</p><p>uma extensa criadagem para conservar a ordem imaculada dos espaços despro-</p><p>vidos de mobília, em que “[...] qualquer elemento fora do lugar constitui uma</p><p>perturbação visual insuportável [...]” (PORTOGHESI, 2002, p.49). Além disso, o</p><p>office landscape (cubículos de estações de trabalho feitas com divisórias móveis),</p><p>muito comum em projetos de escritórios de planta livre, tem comprovado efeitos</p><p>psicológicos negativos pela ausência de privacidade no ambiente de trabalho.</p><p>A crítica ao Modernismo no Brasil8</p><p>As ideias de minimalismo e pureza das formas também são comentadas</p><p>nesse livro. A confiança dos arquitetos modernos na tecnologia pressupõe a</p><p>capacidade da indústria de conceber materiais perfeitos: homogêneos, elásticos</p><p>e resistentes, mas que em última análise não existem. Ademais, a ausência de</p><p>elementos da construção tradicional, como caixilhos, beirais e pingadeiras,</p><p>importantes para promover a resistência contra as intempéries, acaba por</p><p>provocar a intensificada degradação dos edifícios modernos.</p><p>Por fim, critica-se a noção de cidade moderna com as suas utopias urbanas</p><p>e os grandes espaços vazios, como a Ville Radieuse, de Le Corbusier, e a</p><p>Broadacre City, de Frank Lloyd Wright. Segundo Portoghesi (2002, p.53)</p><p>“[...] o homem não deseja grandes espaços desertos, mas sim encontrar os</p><p>seus semelhantes, estar entre eles, e a primeira condição para sentir-se em</p><p>companhia é perceber-se num recinto [...]”. Blake (1978) critica o zonea-</p><p>mento da cidade em funções porque essa ideia assume que os problemas</p><p>da população podem ser resolvidos pelo transporte. Na prática, entende-se</p><p>que surgem novos problemas, como o tempo e a energia gastos em deslo-</p><p>camentos desnecessários entre diferentes zonas de habitação e trabalho.</p><p>Isso, por sua vez, resulta no fato de que essas mesmas zonas acabem tendo</p><p>usos intermitentes durante os diferentes horários do dia, ficando desertas</p><p>enquanto não são utilizadas.</p><p>Por fim, discutem-se alternativas aos fracassos da arquitetura moderna,</p><p>promovendo diferentes medidas:</p><p> o fim da política de destruição dos edifícios existentes, tenham eles</p><p>ou não algum interesse histórico, pois “a política de substituição é um</p><p>contrassenso num mundo que deve mobilizar todos os seus recursos</p><p>para enfrentar o problema do crescimento demográfico e não pode mais</p><p>encarar os problemas econômicos em termos setoriais” (PORTOGHESI,</p><p>2002, p. 55);</p><p> a interrupção da construção das grandes autoestradas, símbolos do</p><p>desperdício de combustível, materiais e tempo humano;</p><p> a reformulação da legislação dos materiais de construção de forma a</p><p>responsabilizar as empresas pelo rendimento dos seus produtos, que</p><p>muitas vezes colocam em risco a solidez e a durabilidade dos edifícios,</p><p>assim como a integridade dos usuários;</p><p> o abandono do zoneamento monofuncional que divide a cidade e destrói</p><p>o entrelaçamento entre as suas diferentes funções;</p><p> o planejamento em escala humana com objetivos modestos e concretos</p><p>como alternativa ao “gigantismo” totalitário dos grandes modelos.</p><p>9A crítica ao Modernismo no Brasil</p><p>A evolução da arquitetura moderna</p><p>A década de 1960 representou, sobretudo nos Estados Unidos, um período</p><p>de adoção em grande escala do estilo internacional em projetos comerciais.</p><p>A estética da racionalidade, da transparência e da austeridade de Mies van</p><p>der Rohe passou a ser replicada indiscriminadamente ao redor do mundo.</p><p>A rapidez e a economia das construções, a opção por materiais baratos e a</p><p>subdivisão do espaço livre em planta denotam uma deturpação dos modelos</p><p>originais, abrindo mão dos seus méritos. Por esses motivos, pode-se dizer</p><p>que a arquitetura moderna, principalmente na expressão funcional do estilo</p><p>internacional, começava gradualmente a se desgastar. Foi nesse contexto que</p><p>começaram a despontar arquitetos interessados em criticar e propor novas</p><p>soluções para esse modelo cada vez mais esgotado.</p><p>A crítica de Venturi ao movimento moderno</p><p>Em Complexidade e contradição na arquitetura, Venturi (2004) critica o</p><p>dogmatismo excessivo da arquitetura moderna do pós-guerra, que repetia</p><p>acriticamente as premissas corbusianas, criando um estilo de caráter reducio-</p><p>nista, universal e abstrato. Venturi defende uma arquitetura que “[...] aceita os</p><p>problemas e explora as incertezas [...]” e que procura “[...] riqueza de signifi cado</p><p>em vez de clareza de signifi cado [...]” (VENTURI, 2004, p.1). Em outras pa-</p><p>lavras, o arquiteto defende a noção de uma arquitetura comunicativa em que</p><p>distintos elementos arquitetônicos têm a capacidade de expressar signifi cados</p><p>e símbolos. Esses signifi cados, por sua vez, podem ser empregados de forma</p><p>simultânea, assim como os espaços podem ter mais de uma função.</p><p>Um dos principais alvos dos críticos dessa geração foi o estilo internacional,</p><p>muito difundido na arquitetura comercial dos Estados Unidos. Arquitetos</p><p>norte-americanos como Venturi, Philip Johnson e Michael Graves defendiam</p><p>uma arquitetura que ia de encontro à noção de um estilo único e universal.</p><p>Opondo-se a essa repetição acrítica do racionalismo, esses arquitetos buscavam</p><p>recuperar elementos na história, a fim de provocar a reflexão crítica. Você</p><p>pode ver essa ideia, por exemplo, no projeto de Philip Johnson para o Edifício</p><p>AT&T, em Nova York (Figura 3). Essa obra utiliza elementos clássicos com</p><p>a tripartição do edifício em base, fuste e entablamento, além da aplicação de</p><p>um frontão interrompido no seu topo. Johnson, que no início da sua carreira</p><p>havia projetado diversas obras alinhados com noções racionalistas, passou a</p><p>adotar uma postura crítica, valendo-se da ironia e de referências históricas</p><p>como forma de se opor ao movimento moderno.</p><p>A crítica ao Modernismo no Brasil10</p><p>Figura 3. Edifício AT&T (1978), em Nova York.</p><p>Fonte: Shankbone (2011, documento on-line).</p><p>Os arquitetos dessa nova geração — que viriam a ser conhecidos como</p><p>pós-modernos — retomaram a busca pelo efeito e pela teatralidade na arqui-</p><p>tetura. Com a declaração “menos é um tédio”, opondo-se à máxima de Mies</p><p>van der Rohe “menos é mais”, Venturi sugeria a retomada do interesse pela</p><p>ornamentação e pela referência à história e ao local. Assim, foram readmitidas</p><p>a simetria, a coluna antiga, a janela com arco. Voltava-se a estudar Vitrúvio,</p><p>Palladio, Ledoux e os demais arquitetos clássicos.</p><p>Surgia também a ideia da narrativa em arquitetura, que podia comunicar</p><p>para arquitetos, conhecedores e</p><p>o público em geral noções de ironia, citação e</p><p>efeito por meio da articulação dos seus elementos. No espaço urbano, por sua</p><p>vez, ocorria uma revalorização da quadra fechada por edifícios, da rua corredor</p><p>e do sentido urbano da cidade pré-moderna, opondo-se às propostas modernistas</p><p>“anti-urbanas” da cidade feita por edifícios isolados em meio ao verde.</p><p>A evolução do movimento moderno no Brasil</p><p>Diversos críticos e teóricos da arquitetura, como Kenneth Frampton, William</p><p>Curtis e Josep Maria Montaner (2011) usam o critério de gerações para tratar da</p><p>11A crítica ao Modernismo no Brasil</p><p>arquitetura do século XX. Segundo essa ideia, a evolução do movimento moderno</p><p>se deu pelo entendimento de que haveria diferentes gerações de arquitetos com</p><p>algumas características comuns na sua produção. Assim, a “primeira geração”</p><p>de arquitetos modernos começou a desenvolver a sua obra no início do século.</p><p>Segundo Montaner (2011), nomes como Walter Gropius, Mies van der Rohe, Le</p><p>Corbusier, Gerrit Rietveld e Hannes Meyer fazem parte dessa geração.</p><p>Já a “segunda geração” é composta pelos discípulos dos mestres da</p><p>primeira, que começaram a desenvolver a sua obra a partir dos anos 1930.</p><p>O modernismo brasileiro surgiu nesse contexto, a partir do trabalho de ar-</p><p>quitetos como Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, que pertencem a essa geração.</p><p>Os demais arquitetos do movimento moderno brasileiro, como Affonso Eduardo</p><p>Reidy, João Batista Vilanova Artigas, Lina Bo Bardi e Paulo Mendes da Rocha,</p><p>passaram a integrar as gerações subsequentes. Segundo Montaner (2011), a</p><p>principal característica dessas novas gerações é a busca de conciliação entre</p><p>a continuidade e a renovação das ideias dos mestres do movimento moderno.</p><p>O destacável exclusivismo do movimento maquinista foi se transformando em</p><p>um modelo aberto em que o contexto, a natureza, o vernáculo, a expressividade</p><p>de formas orgânicas e escultóricas, a textura dos próprios materiais, as formas</p><p>tradicionais e outros fatores passam a predominar (MONTANER, 2011, p. 36).</p><p>É possível notar essa evolução até mesmo na obra de alguns dos arquitetos</p><p>da “primeira geração”, como em Le Corbusier, no seu projeto para a expressiva</p><p>capela de Ronchamp, com suas formas curvas, a expressividade material e os</p><p>valores simbólicos no seu interior.</p><p>[...] falou-se da grande influência de Le Corbusier sobre a arquitetura, mas será</p><p>que Ronchamp teria sido possível sem a contribuição do caráter das formas</p><p>curvas das obras de Oscar Niemeyer ou do espaço ondulado das obras de</p><p>Alvar Aalto, arquiteto mais jovens que Le Corbusier? Indubitavelmente não</p><p>(MONTANER, 2011, p. 46).</p><p>Podemos perceber, portanto, que de forma geral a arquitetura moderna bra-</p><p>sileira representa uma evolução crítica das ideias propostas pelos arquitetos da</p><p>primeira geração. Em seu livro A Modernidade Superada, Montaner (2001) dá o</p><p>título de “o legado brasileiro” ao valor central da expressão arquitetônica na obra</p><p>de alguns dos arquitetos modernos do país. Lúcio Costa, por exemplo, acreditava</p><p>que a arquitetura devia seguir o espírito da época da máquina, sem se esquecer</p><p>da sua pertinência ao lugar e da relação com a natureza (MONTANER, 2001).</p><p>A crítica ao Modernismo no Brasil12</p><p>Ao compararmos a arquitetura da primeira fase de Le Corbusier aos projetos</p><p>desenvolvidos por Costa e Niemeyer, fica claro o pensamento crítico na inten-</p><p>ção dos arquitetos brasileiros em adaptar a arquitetura moderna às condições</p><p>particulares históricas, culturais e regionais do Brasil. A estética da máquina</p><p>introduzida por Le Corbusier tem como características os prismas puros e au-</p><p>tônomos, a frontalidade, o edifício sobre pilotis, a autonomia de cada elemento,</p><p>a regularidade e a ortogonalidade. Essas noções são superadas pelos brasileiros</p><p>desde a inauguração do modernismo no país, com o projeto para o Ministério da</p><p>Educação e Saúde, uma obra “[...] cheia de movimento e itinerários tangenciais,</p><p>com vistas para a vegetação [...] elegantes e abstratas colunas, entre paredes,</p><p>evocando a entrada de um templo ou palácio [...]” (MONTANER, 2001, p. 81).</p><p>Isso é bastante diferente da estética industrial, demonstrando sensibilidades que</p><p>mais se aproximam a uma reinterpretação da arquitetura colonial brasileira.</p><p>Nesse sentido, a crítica ao movimento moderno no campo da arquitetura</p><p>no Brasil se deu principalmente por meio do uso de noções presentes na</p><p>tradição e no vernacular local, conectado a valores universais da arquitetura</p><p>moderna ortodoxa. Em outras palavras, adaptavam-se as ideias dos mestres</p><p>modernos importadas da Europa para o contexto cultural, social e regional</p><p>do Brasil. Essa intenção — que, conforme apontado por autores como Mon-</p><p>taner (2001) e Frampton (2003), já pode ser percebida na inauguração do</p><p>modernismo brasileiro, com a obra de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer — vai</p><p>se especializar e ganhar força nas gerações seguintes por meio das obras de</p><p>muitos outros importantes arquitetos brasileiros, como Affonso Reidy, Lina</p><p>Bo Bardi, Vilanova Artigas e Paulo Mendes da Rocha.</p><p>ANDRADE, M. A. Brazil builds (1944). In: ANDRADE, M. A. Depoimento de uma geração.</p><p>São Paulo: Cosac Naify, 2003.</p><p>ANDREOLI, E.; FORTY, A. Arquitetura moderna brasileira. Londres: Phaidon, 2004.</p><p>BLAKE, P. Form follows fiasco: why modern architecture hasn't worked. Boston: Little</p><p>Brown & Co, 1978.</p><p>BRUAND, Y. Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1981.</p><p>CAU/BR. Palácio Gustavo Capanema será um dos palcos do 27º Congresso Mundial de</p><p>Arquitetos - UIA 2020 Rio. 2018. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/902687/</p><p>palacio-gustavo-capanema-sera-um-dos-palcos-do-27o-congresso-mundial-de-</p><p>-arquitetos-uia-2020-rio. Acesso em: 17 out. 2019.</p><p>13A crítica ao Modernismo no Brasil</p><p>CORULLON, M. Arquitetura pode ser política? 2017. Disponível em: http://www.esquina.</p><p>net.br/2017/10/15/arquitetura-pode-ser-politica/. Acesso em: 17 out. 2019.</p><p>FRAMPTON, K. História crítica da arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 2003.</p><p>JENCKS, C. Movimentos modernos em arquitetura. Lisboa: Edições 70, 2006.</p><p>MONTANER, J. M. A modernidade superada: arquitetura, arte e pensamento do século</p><p>XX. Barcelona: Gustavo Gili, 2001.</p><p>MONTANER, J. M. Depois do movimento moderno. Barcelona: Gustavo Gili, 2011</p><p>PORTOGHESI, P. Depois da arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 2002.</p><p>ROCHA, P. M. Paulo Mendes da Rocha. São Paulo: Cosac & Naify, 1999.</p><p>SHANKBONE, D. Torre Sony em 2007. 2011. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/</p><p>Sony_Building_(Nova_Iorque)#/media/Ficheiro:Sony_Building_by_David_Shank-</p><p>bone_crop.jpg. Acesso em: 17 out. 2019.</p><p>VENTURI, R. Complexidade e contradição em arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 2004.</p><p>Leituras recomendadas</p><p>BENEVOLO, L. História da arquitetura moderna. São Paulo: Perspectiva, 1994.</p><p>GYMPEL, J. História da arquitetura: da antiguidade aos nossos dias. Colonia: Könemann,</p><p>2001.</p><p>JACOBS, J. Morte e vida das grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2000.</p><p>LYNCH, K. A imagem da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 2011.</p><p>SUBIRATS, E. Da vanguarda ao pós-moderno. São Paulo: Nobel, 1991.</p><p>A crítica ao Modernismo no Brasil14</p><p>HISTÓRIA DA ARTE</p><p>OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM</p><p>> Explicar a origem da arte brasileira.</p><p>> Identificar os principais marcos que influenciaram a produção artística</p><p>nacional.</p><p>> Nomear artistas e obras que representam a arte brasileira.</p><p>Introdução</p><p>Cardoso (2013) nos conta uma situação ocorrida nos anos 1990 na Inglaterra. Uma</p><p>conferência abordava a recepção das vanguardas modernistas na América, e não</p><p>fez nenhuma referência ao Brasil. Durante as perguntas, Cardoso (2013) perguntou</p><p>à conferencista como ela relacionava sua tese ao movimento antropofágico bra-</p><p>sileiro, e recebeu a seguinte resposta: “O que é isso? Antropofagia, que eu saiba</p><p>é comer gente” (CARDOSO, 2013, p. 87).</p><p>O episódio narrado por Cardoso (2013) evidencia desconhecimento e falta de</p><p>interesse do público internacional sobre a história da arte brasileira. Felizmente,</p><p>esse panorama tem</p><p>mudado, e a produção artística nacional tem despertado a</p><p>atenção no país e no exterior, em galerias, museus e outros espaços. Não somente:</p><p>a história da arte tem se consolidado como uma área acadêmica em ascensão</p><p>no Brasil. A ampliação desse interesse é reconhecida pelo próprio autor citado</p><p>anteriormente, que afirma, hoje em dia, a “impossibilidade de se acompanhar</p><p>tudo o que é feito” (CARDOSO, 2013, p. 89).</p><p>Neste capítulo, você vai estudar as origens da arte brasileira, bem como al-</p><p>guns desafios para a compreensão da arte rupestre, da arte pré-cabraliana e da</p><p>Arte brasileira</p><p>Caroline Silveira Bauer</p><p>arte indígena nos critérios e moldes da arte ocidental. Acompanhará uma breve</p><p>cronologia da produção artística nacional, do período colonial ao início do século</p><p>XX. Por fim, conhecerá alguns artistas e suas obras, representativos de cada um</p><p>desses períodos.</p><p>Origens da arte brasileira</p><p>Quando falamos em arte brasileira pensamos imediatamente nas obras pro-</p><p>duzidas no Brasil ou por brasileiros, ou seja, por meio de uma caracterização</p><p>proveniente do nosso Estado-nação. No entanto, como devemos nos referir</p><p>às produções artísticas antes de o Brasil ser o Brasil?</p><p>Ao falarmos nas origens da arte brasileira — e sendo a arte uma forma</p><p>de expressão da cultura —, devemos nos atentar para a diversidade étnico-</p><p>-cultural brasileira e considerar as influências provenientes de povos afri-</p><p>canos, indígenas e europeus na formação da nossa cultura. Segundo Dossin</p><p>(2008), são comuns na história da arte brasileira uma invisibilização e um</p><p>silenciamento sobre a influência da cultura africana nas artes visuais bra-</p><p>sileiras, bem como sobre os artistas visuais afro-brasileiros, em diferentes</p><p>períodos da história do Brasil.</p><p>A ocupação humana do território que viria a ser o Brasil teria se iniciado há</p><p>mais de 12 mil anos, por meio de ondas migratórias provenientes dos Andes</p><p>que se disseminaram por esse vasto território. Novas pesquisas realizadas na</p><p>região amazônica afirmam que existia uma pluralidade de sociedades — algumas</p><p>menores e simples, de caçadores e coletores, com grande mobilidade e que</p><p>produziam cestarias, e outras com maior organização social e sofisticadas do</p><p>ponto de vista tecnológico, produtoras de cerâmicas (OLIVEIRA; FREIRE, 2006).</p><p>Eventualmente, esses objetos entram na categoria de objetos artísticos sob a nossa</p><p>ótica, quando o refinamento das técnicas empregadas produz para nós um efeito</p><p>estético que ultrapassa sua finalidade funcional deles (PESSIS; MARTIN, 2015, p. 23).</p><p>Em seus assentamentos, muitos desses povos deixaram registros de suas</p><p>produções artísticas, que chamamos de arte rupestre. De acordo com Pessis</p><p>e Martin (2015, p. 23):</p><p>‘Arte rupestre’ é termo consagrado desde o século XIX, depois das primeiras des-</p><p>cobertas das cavernas paleolíticas pintadas na Espanha e na França. Isso não</p><p>significa que não se conheceram muito antes gravuras e pinturas pré-históricas</p><p>realizadas nas rochas, mas a erudição de tempos passados não as considerou ações</p><p>humanas relevantes para que fossem integradas às ideias estéticas da humanidade.</p><p>Arte brasileira2</p><p>E onde podemos encontrar gravuras e pinturas rupestres no Brasil? Se-</p><p>gundo Pessis e Martin (2015), existem várias províncias rupestres no Brasil,</p><p>das quais se destacam por sua unidade e concentração de sítios a região</p><p>nordeste, a região amazônica, o cerrado goiano e a bacia do alto São Francisco,</p><p>em Minas Gerais. Entretanto, em menor concentração, gravuras e pinturas</p><p>são encontradas por todo o Brasil.</p><p>A mais antiga referência documental de uma gravura rupestre no</p><p>Brasil data de 1598, quando o capitão-mor da Paraíba, Feliciano</p><p>Coelho de Carvalho, encontrou gravuras próximas a um rio chamado Arasoagipe</p><p>(PESSIS; MARTIN, 2015).</p><p>Um dos sítios com arte rupestre mais conhecidos no Brasil é o Parque</p><p>Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, declarado Patrimônio Cultural da</p><p>Humanidade em 1991. Mas também podemos citar as marcas de mãos dese-</p><p>nhadas em Lajeado da Soledade, em Apodi, no Rio Grande do Norte; pinturas</p><p>rupestres em Seridó, também no Rio Grande do Norte; grafismo rupestre da</p><p>Toca do Cosmos, em Central, na Bahia; grafismos rupestres policrômicos, no</p><p>Sítio Arqueológico do Vale do Peruaçu, em Minas Gerais; araras e lagartos no</p><p>Sítio Arqueológico Pousada das Araras, em Serranópolis, Goiás.</p><p>Vamos conhecer um pouco mais sobre os povos que ocupavam o terri-</p><p>tório que posteriormente tornou-se o Brasil. Grosso modo, podemos dividir</p><p>os indígenas entre aqueles povos que ocupavam a região dos Andes e da</p><p>Amazônia, os povos da região do Xingu e do cerrado, e os povos do litoral.</p><p>“Entender quem foram os indígenas no Brasil antes da colonização europeia</p><p>nos ajuda a compreender as suas manifestações estéticas e a sua finalidade”</p><p>(PESSIS; MARTIN, 2015, p. 33).</p><p>Os indígenas que ocupavam a região litorânea, majoritariamente tupis-</p><p>-guaranis, possuíam certa homogeneidade cultural e linguística e foram os</p><p>primeiros a estabelecerem contatos com os portugueses (FAUSTO, 2010).</p><p>Os tupis-guaranis, por sua vez, subdividiam-se em guaranis, que ocupavam</p><p>o território que ia do Uruguai até a região de Cananéia, em São Paulo; e os</p><p>tupinambás, que viviam de Iguapé até o atual território do Ceará (FAUSTO,</p><p>2010). Entretanto, a diversidade cultural e étnica dos povos indígenas que</p><p>ocupavam nosso território é muito maior: estima-se que havia cerca de 1 a 3</p><p>milhões de pessoas de 1.400 etnias vivendo no território do atual Brasil no</p><p>momento da chegada dos portugueses e da conquista do território (OLIVEIRA;</p><p>FREIRE, 2006).</p><p>Arte brasileira 3</p><p>Por essa enorme diversidade, é muito difícil sintetizarmos o que seria a</p><p>arte indígena. Aliás, existe uma forte recomendação por parte das diretrizes</p><p>educativas para que no aprendizado sobre a cultura e a história indígena</p><p>esses povos não sejam homogeneizados, nem reduzidos à alcunha “índio”.</p><p>De acordo com Pessis e Martin (2015, p. 34):</p><p>A visão reducionista fez dos indígenas americanos seres homogêneos sob o ponto</p><p>de vista cultural, linguístico e racial e todos receberam a denominação genérica de</p><p>índios. O denominador comum foi sempre o mesmo: índios eram selvagens e a sua</p><p>estrutura social devia ser modificada e adaptada às normas sociopolíticas da nova</p><p>ordem, seja de forma pacífica ou violenta. [...] A realidade, porém, era diferente, pois</p><p>a heterogeneidade do elemento indígena compreendia, nos tempos da conquista</p><p>e da colonização, um mundo com grande densidade de línguas.</p><p>Hoje, existem 222 povos indígenas étnica e socioculturalmente diferen-</p><p>ciados, que falam 180 línguas distintas (LUCIANO-BANIWA, 2006). Será que</p><p>poderíamos falar em uma arte indígena, já que se trata de inúmeras culturas</p><p>diferentes?</p><p>Nesta seção, você estudou que as origens da arte brasileira, a partir desse</p><p>recorte associado ao Estado-nação, remetem à produção artística dos povos</p><p>indígenas que ocupavam o território que viria a se tornar o Brasil. A partir da</p><p>interação com os colonizadores europeus, e na interação com os diferentes</p><p>povos africanos, que, escravizados, foram trazidos para a América, formou-se</p><p>a cultura brasileira.</p><p>Marcos da história da arte brasileira</p><p>Como vimos na seção anterior, ao falarmos em arte brasileira precisamos</p><p>ter alguns cuidados, já que o Brasil enquanto Estado-nação é posterior a</p><p>diversas manifestações artísticas desenvolvidas nesse território. Nesta seção,</p><p>apresentaremos alguns marcos da história da arte brasileira, que representam</p><p>diferentes momentos ou períodos da produção artística, em consonância com</p><p>os aspectos econômicos, políticos e sociais vividos pela sociedade à época.</p><p>A arte colonial</p><p>Chamamos de arte colonial a produção artística desenvolvida durante o</p><p>período de ocupação colonial de parte do território da América pelos portu-</p><p>gueses. Neste momento, ainda não existia o Brasil como nós o conhecemos</p><p>atualmente, por isso preferimos utilizar o termo América Portuguesa.</p><p>Arte brasileira4</p><p>A produção artística do período colonial esteve diretamente relacionada</p><p>à</p><p>atuação da Igreja Católica na América, em suas diferentes ordens religiosas,</p><p>com a reprodução de temas sacros, e ao poder régio português. De acordo com</p><p>Cattani (1984, p. 116-117), “o dirigismo artístico manifestou-se, inicialmente, na</p><p>imposição de uma arte de caráter religioso, respondendo evidentemente às</p><p>necessidades do jogo político, pois, em última análise, era o rei de Portugal</p><p>que comandava.”</p><p>A arte colonial também foi utilizada como uma forma de reforçar o aspecto</p><p>religioso da colonização, sendo largamente utilizada nas práticas catequistas</p><p>desenvolvidas na colônia.</p><p>Esta era uma forma artística produzida de acordo com preceitos europeus,</p><p>ou seja, da forma como os colonizadores definiam e praticavam como arte.</p><p>Entretanto, é preciso lembrar da produção artística desenvolvida pelos povos</p><p>indígenas, como abordado no tópico anterior, e de africanos e afrodescen-</p><p>dentes, que possuíam tradições culturais e tinham “o domínio sobre o metal,</p><p>o bronze, o ferro, o ouro e o marfim” (DOSSIN, 2008, p. 123).</p><p>A arte barroca no Brasil</p><p>“Barroco” é uma categoria com um longo debate artístico e historiográfico</p><p>no qual não existem consensos, embora o termo seja utilizado para se referir</p><p>às manifestações artísticas luso-brasileiras dos séculos XVII e XVIII. Foi uma</p><p>expressão artística que se observa em Salvador, na Bahia, e em diversas</p><p>cidades de Minas Gerais (BRUNETO, 2001).</p><p>De acordo com o historiador Vainfas (2000), o barroco, nas artes visuais,</p><p>se caracteriza por exuberância das formas, gosto pelas oposições (como</p><p>o uso do claro/escuro), e pela “prevalência da imagem sobre o desenho, a</p><p>integração em profundidade dos planos da composição, e a manipulação</p><p>de volumes que emprestam uma certa dimensão arquitetônica às obras”</p><p>(VAINFAS, 2000, p. 68-69).</p><p>Esse estilo teria sido trazido para a América Portuguesa com os jesuítas,</p><p>que já o praticavam em Portugal. Seria a concepção estilística predominante</p><p>na construção de capelas e igrejas nos arraiais mineiros no século XVIII.</p><p>Segundo Vainfas (2000, p. 69): “favorecido pelo grande número de pequenos</p><p>núcleos urbanos típicos da ocupação de Minas, esse movimento mobilizou</p><p>quantidade extraordinária de recursos e de artesãos especializados, criando</p><p>um ambiente cultural único”.</p><p>Esse estilo teria sido predominante até meados de 1760, quando cedeu</p><p>espaço ao chamado rococó.</p><p>Arte brasileira 5</p><p>Oliveira (2006) propõe uma diferenciação entre o maneirismo e o barroco,</p><p>de origem italiana, e o rococó, de fonte francesa e germânica:</p><p>De modo geral, o termo maneirismo é hoje aplicado à arquitetura e as artes visuais</p><p>do século 17, anteriores às primeiras manifestações do barroco, já no final da</p><p>centúria, de preferência a outros que vigoraram no passado como arte jesuíta ou</p><p>estilo chão. Já o termo barroco, inicialmente empregado em sentido amplo para</p><p>designar as expressões artísticas do século 18, hoje divide essa hegemonia com o</p><p>rococó em particular nas regiões de Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro e São</p><p>Paulo, que conheceram suas expressões mais abrangentes (OLIVEIRA, 2006, p. 97).</p><p>É preciso destacar que muitos artistas barrocos brasileiros eram pessoas</p><p>negras, e que era um estilo praticado em suas confrarias (DOSSIN, 2008).</p><p>A Missão Artística Francesa</p><p>Mudanças significativas ocorreram no território da América Portuguesa em</p><p>1808. “A arte e a cultura produzidas ao longo do século XIX foram amplamente</p><p>marcadas pelas mudanças trazidas pela necessidade da Corte de adequar</p><p>nossa vida cultural a seus padrões de exigência” (ALAMBERT, 2015, p. 15). A</p><p>vinda da família real e o estabelecimento da sede da monarquia lusitana no</p><p>Brasil significou “a transplantação e a adaptação de hábitos, assim como a</p><p>conversão do aparelhamento urbano do Rio de Janeiro aos padrões da realeza</p><p>europeia” (GUIMARÃES, 2010, p. 69).</p><p>De acordo com o historiador Jurandir Malerba (1999, p. 9-10):</p><p>nenhuma região brasileira sentiu mais a chegada da Corte do que o Rio de Janeiro,</p><p>sede do vice-reino desde 1763, escolhida para ser a capital provisória do Império</p><p>luso-brasileiro. Para se ter uma ideia, a população cresceu de sessenta mil ha-</p><p>bitantes em 1808 para cento e doze mil em 1821, quando a família real regressou</p><p>a Portugal.</p><p>Em relação às artes visuais, a presença da corte fez com que viessem ao</p><p>Brasil uma série de profissionais de diversas áreas, entre eles, do campo</p><p>artístico. A chamada Missão Artística Francesa chegou ao Brasil em 1816 para</p><p>montar uma academia de arte e atender aos interesses da corte lusitana.</p><p>De acordo com Francisco Alambert (2015, p. 15):</p><p>A Missão Francesa veio com o intuito de ‘civilizar’ a cultura brasileira – e isso signi-</p><p>ficou também ignorar toda a tradição barroca antecedente, o que só será retomado</p><p>como parte da nossa formação histórica com o modernismo do início do século</p><p>XX. Com ela chegaram pintores como Jean-Baptiste Debret (1768-1848) e Nicolas</p><p>Antoine Taunay (1755-1830) e arquitetos como Grandjean de Montigny (1776-1850).</p><p>Arte brasileira6</p><p>A Missão foi chefiada pelo crítico de arte e museólogo Joaquim Lebreton</p><p>e significou a institucionalização do ensino de arte, na substituição do estilo</p><p>barroco pelo neoclássico (ARCURI, 2015).</p><p>A Academia Imperial de Belas Artes</p><p>A Academia Imperial de Belas Artes foi criada para difundir no Brasil os</p><p>cânones artísticos europeus, em conteúdo e forma, assim como institu-</p><p>cionalizar as artes, em um processo de distinção entre as belas artes e as</p><p>artes populares (DOSSIN, 2008). Na Academia, encontramos a presença de</p><p>alguns artistas negros, como Firmino Monteiro, Estevão Silva e Rafael Pinto</p><p>Bandeira (DOSSIN, 2008).</p><p>Conforme Alambert (2015, p. 15):</p><p>A fundação da Academia Imperial de Belas Artes foi a primeira tentativa de esta-</p><p>belecer uma didática da arte acadêmica culta, de ‘bom gosto’ e zelosa da tradição</p><p>burguesa no país. O exercício estético e político da Academia vinculava a produção</p><p>artística aos ensejos do império e aos ideais de história do Instituto Histórico e</p><p>Geográfico Brasileiro, fortalecendo uma cultura acadêmica que enfatizava a his-</p><p>tória nacional, produzindo versões quer eram fruto tanto de uma tradição clássica</p><p>europeia quanto de ideologias forjadas nos gabinetes do instituto.</p><p>Na Academia, prevaleceu “o método de ensino com traços da arte neo-</p><p>clássica — que retomou os ideais greco-romanos e renascentistas — e tendo</p><p>como fundamento principal o desenho e a escultura” (ARCURI, 2015, p. 15).</p><p>É de Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879) o primeiro texto</p><p>considerado uma “história da arte brasileira”. Publicado na França</p><p>em 1834, em formato de ensaio, foi intitulado État des Beaux-Arts au Brésil. De</p><p>acordo com Alambert (2015, p. 16-17):</p><p>[...] em seu breve ensaio, ele resume as artes nativas anteriores à chegada dos</p><p>colonizadores para, em seguida, tratar do período dito civilizado. Primeiro, teriam</p><p>vindo as ‘artes de necessidade’, pela mão dos colonos, depois as belas-artes, a arte</p><p>e a arquitetura, com os jesuítas. [...] A história da arte, como o resto, era pensada</p><p>de um ponto de vista que tinha no Rio de Janeiro imperial seu lugar central.</p><p>A Semana de Arte Moderna</p><p>A década de 1920 no Brasil foi um período de grande efervescência política e</p><p>social. Em 1922, houve a primeira revolta dos tenentes, dando origem ao movi-</p><p>mento tenentista e reforçando a presença dos militares na política brasileira.</p><p>Arte brasileira 7</p><p>Além disso, foi criado o Partido Comunista do Brasil (PCB) e se celebrou o</p><p>centenário da independência do Brasil. Juntamente a esses eventos, ocorreu</p><p>em São Paulo a chamada “Semana de Arte Moderna”, que representaria uma</p><p>ruptura em relação às manifestações artísticas e culturais dominantes no país.</p><p>A Semana ocorreu entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922, no auditório</p><p>do Teatro Municipal de São Paulo. De acordo com a historiadora Capelato</p><p>(2005, p. 259), a semana foi promovida pelo diplomata e escritor Graça Aranha,</p><p>que, vivendo na Europa, experimentou “a agitação intelectual e artística do</p><p>período e incorporava</p><p>concepções estéticas do ‘espírito moderno’”.</p><p>O objetivo da semana era comemorar o centenário da independência</p><p>do Brasil, mas também divulgar um movimento de renovação da arte e de</p><p>recuperação da temática nativista. Nesses dias, arquitetos, artistas plásticos,</p><p>escultores, intelectuais, literatos e músicos realizaram encontros artísticos,</p><p>literários e musicais, além da exposição no saguão.</p><p>Capelato (2005, p. 263-264) afirma que a Semana ocorreu em São Paulo</p><p>porque a cidade vivia uma série de transformações:</p><p>o significativo desenvolvimento cafeeiro ocorrido em São Paulo, entre o final do</p><p>século XIX e as primeiras décadas do XX incentivou o progresso material do estado</p><p>que, indiretamente favoreceu o desenvolvimento industrial e urbanização acelerada.</p><p>A Semana impactou significativamente o público, que rechaçou muitas</p><p>das obras, consideradas muito ousadas para a realidade brasileira e para os</p><p>hábitos da elite consumidora de arte no Brasil.</p><p>Do ponto de vista do conteúdo, houve uma mescla de tendências das</p><p>vanguardas europeias com temas nativistas, buscando as “raízes culturais</p><p>brasileiras”. A partir da Semana, os então chamados “modernistas” brasileiros</p><p>demonstraram que sua arte se opunha ao romantismo e ao parnasianismo,</p><p>considerados conservadores e ultrapassados, e, de maneira geral, rechaçava</p><p>as tendências artísticas do século XIX (CAPELATO, 2005). Observa-se muitas</p><p>representações de pessoas negras, ainda que de forma estereotipada (DOS-</p><p>SIN, 2008).</p><p>Arte brasileira8</p><p>E no pós-1922? Qual o panorama das artes visuais no Brasil? Sugeri-</p><p>mos que você acesse o site do memorial da Democracia e acompanhe</p><p>a produção artística brasileira contemporânea.</p><p>Nesta seção, você pôde estudar um pouco mais alguns marcos da história</p><p>da arte no Brasil, compreendendo sua interligação com aspectos econômicos,</p><p>políticos e sociais vivenciados no país. A seguir, você conhecerá alguns artistas</p><p>e obras, a fim de exemplificar esses períodos.</p><p>Artistas brasileiros e suas obras</p><p>Com a finalidade de exemplificar a produção artística brasileira, a seguir fa-</p><p>laremos sobre alguns artistas e suas obras e veremos sua importância para o</p><p>contexto das artes visuais brasileiras. Lembramos que se trata de uma seleção</p><p>com o objetivo de exemplificar contextos culturais e históricos, não uma lista</p><p>que esgota a pluralidade de manifestações da história da arte brasileira.</p><p>Iniciamos com a arte rupestre presente no Parque Nacional da Serra da</p><p>Capivara, no Piauí (Figura 1). O parque é composto de 717 sítios arqueológicos</p><p>em que partes rochosas estão cobertas de pinturas rupestres, práticas rituais</p><p>que foram feitas por inúmeros povos. As imagens representam figuras antro-</p><p>pomorfas e zoomorfas reconhecíveis em diferentes ações e cenas. Em relação</p><p>às figuras humanas, a presença de atributos e enfeites em certas imagens</p><p>evidencia diferentes etnias e certa hierarquia. Quanto ao seu tamanho, as</p><p>figuras têm de 5 centímetros até mais de 1 metro.</p><p>Observemos como Pessis e Martin (2015, p. 37) narram a vida dos povos</p><p>produtores desses registros:</p><p>Os grupos étnicos autores dessas pinturas viveram fora dos abrigos, em aldeias</p><p>situadas em lugares planos no alto das chapadas ou perto de fontes de água,</p><p>rios sazonais ou reservatórios naturais, fato que se repete em outras regiões do</p><p>Nordeste. O Parque Nacional da Serra da Capivara é considerado o epicentro de</p><p>difusão de um horizonte cultural que se iniciou há aproximadamente 12 mil anos</p><p>BP [antes do presente] e se espalhou em épocas posteriores [...].</p><p>Arte brasileira 9</p><p>Figura 1. Pintura rupestre do Parque da Serra da Capivara, no Piauí.</p><p>Fonte: Vitor 1234 (2008, documento on-line).</p><p>Passemos agora a um exemplo de arte indígena, do povo Wajãpi do Amapá.</p><p>Os Wajãpi possuem um sistema gráfico que funciona como forma de expres-</p><p>são de conhecimentos e práticas, e que evidencia aspectos de suas relações</p><p>sociais, crenças religiosas e tecnologias, bem como de seus valores estéticos</p><p>e morais. Por meio da arte kusiwa (Figura 2), os Wajãpi conseguem condensar,</p><p>transmitir e renovar os elementos particulares e únicos de seu modo de</p><p>pensar e estar no mundo (VIVAS, 2008).</p><p>A arte kusiwa foi o primeiro registro do Livro dos saberes do Instituto do</p><p>Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), tendo recebido o título de</p><p>“patrimônio cultural do Brasil”. Essa expressão artística evidencia o modo</p><p>particular de conhecer, conceber e agir do povo Wajãpi sobre o mundo. O</p><p>processo de patrimonialização da arte kusiwa iniciou-se em 2002, quando a</p><p>direção do Museu do Índio submeteu ao Ministério da Cultura a solicitação</p><p>dessa arte gráfica e pintura corporal como bem cultural de natureza imaterial</p><p>(VIVAS, 2008).</p><p>Arte brasileira10</p><p>Figura 2. Exemplo de arte kusiwa, grafismo do povo Wajãpi no Amapá.</p><p>Fonte: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (2017, documento on-line).</p><p>Exemplifiquemos, agora, a arte colonial. A Figura 3 apresenta imagens</p><p>sacras localizadas no Museu das Missões, dentro do Sítio Arqueológico São</p><p>Miguel Arcanjo, que representam personagens do cristianismo. Foram esculpi-</p><p>das por indígenas guaranis e jesuítas e, além de adornarem os espaços, eram</p><p>utilizadas na prática de catequese dos povos indígenas. O site do Museu fala</p><p>em “barroco missioneiro” em razão de suas especificidades, por isso é impor-</p><p>tante destacar algumas características da arte barroca, retratadas a seguir.</p><p>Arte brasileira 11</p><p>Figura 3. Exemplo de arte colonial encontrada no Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo,</p><p>São Miguel das Missões, Rio Grande do Sul.</p><p>Fonte: Oliveira (2013, documento on-line).</p><p>Em relação ao barroco e, mais especificamente, ao estilo rococó, encontra-</p><p>mos inúmeras manifestações dessa arte colonial em Minas Gerais. De acordo</p><p>com Oliveira (2006, p. 124), a região foi “um verdadeiro manancial de artistas”.</p><p>Desses artistas, destacamos Antonio Francisco Lisboa (1738-1814), mais</p><p>conhecido como Aleijadinho, um artista afrodescendente. Juntamente com</p><p>sua equipe, elaborou as doze estátuas em pedra-sabão que compõem o</p><p>conjunto escultórico do Santuário do Bom Senhor Jesus de Matosinhos, na</p><p>cidade de Congonhas, Minas Gerais (Figura 4). Essas obras foram tombadas</p><p>pelo IPHAN em 1939 e reconhecidas como Patrimônio Mundial da Humanidade</p><p>pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura</p><p>(UNESCO) em 1985 (OLIVEIRA, 2006).</p><p>Oliveira (2006, p. 9-12) descreve o cenário em que o conjunto escultórico</p><p>está inserido e a relação da arte com a temática religiosa:</p><p>Arte brasileira12</p><p>O plano de fundo do grandioso cenário a céu aberto são as montanhas de Minas,</p><p>banhadas de luz tropical. Os planos próximos descortinam um gramado verde</p><p>com silhuetas esparsas de hibiscos e ipês-amarelos, a série alternada de capelas</p><p>brancas interligadas por um caminho sinuoso e, no eixo da perspectiva ascendente,</p><p>a elegante frontaria da igreja setecentista, precedida pelo Adro dos Profetas e</p><p>enquadrada por palmeiras imperiais. O drama religioso encenado nesse magnífico</p><p>palco natural é o da própria Redenção do Homem, pedra angular do dogma cristão,</p><p>cujo tema central, a crucificação do Cristo Salvador, ocupa o lugar de honra no</p><p>altar-mor da igreja, na invocação luso-brasileira do Bom Jesus de Matosinhos. [...]</p><p>Anunciado pelos patriarcas bíblicos Abraão, Isaac e Jacó, que acolhem o visitante</p><p>na entrada da igreja, o primeiro ato apresenta cenas do Antigo Testamento, fi-</p><p>guradas em pinturas na parte alta da igreja. Seus principais protagonistas são,</p><p>entretanto, as 12 esculturas monumentais de Profetas do Antigo Testamento,</p><p>suntuosamente vestidos “à moda turca”, lançando vaticínios do alto dos suportes</p><p>inseridos nos muros de arrimo e nas escadarias do adro. Cada um deles traz o</p><p>texto de sua profecia gravado na pedra para a eternidade, já que é impermanente</p><p>a memória dos homens.</p><p>Figura 4. Conjunto escultórico de Aleijadinho no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em</p><p>Congonhas, Minas Gerais.</p><p>Fonte: Franca (2022, documento on-line).</p><p>Arte brasileira</p><p>a monotonia, organizando</p><p>as partes de modo a conseguir um clímax no centro da composição, realçando</p><p>a entrada principal por uma dupla coluna. Sobre esse aspecto cenográfico,</p><p>Gombrich (1999, p. 389) observa: “Na fachada de Giacomo della Porta para a</p><p>primeira igreja jesuíta tudo depende do efeito proporcionado pelo conjunto.</p><p>Tudo está fundido num vasto e complexo padrão”.</p><p>Uma forma recorrente na arquitetura barroca de igrejas e completamente</p><p>inédita é o emprego das volutas, ausentes na arquitetura clássica. As volutas</p><p>laterais realizam a conexão entre os andares inferior e superior, e são justamente</p><p>essas formas curvas e espirais as responsáveis por grande parte das censuras aos</p><p>construtores barrocos pelos defensores da pureza das formas clássicas. Na arqui-</p><p>tetura sacra barroca, as volutas operam de modo a conferir coerência e unidade</p><p>às complexas composições das fachadas (GLANCEY, 2001; GOMBRICH, 1999).</p><p>O Barroco é um estilo que abusa dos ornamentos e das decorações, e os inte-</p><p>riores são notadamente espetaculares, como revela o interior de Il Gesù (Figura</p><p>3). A profusão de elementos decorativos marca a estética barroca, criando um</p><p>espaço cenográfico com forte apelo emocional, no qual arquitetura, a escultura</p><p>e a pintura se fundem. Fazio (2011, p. 361) destaca o teto da nave central:</p><p>Barroco6</p><p>Olhando para o teto da nave central, é impossível saber com certeza onde</p><p>termina a arquitetura e começa a escultura ou onde termina a escultura e</p><p>começa o afresco Adoração do Nome de Jesus, pintado por Giovanni Battista</p><p>Gaulli, entre 1675 e 1679. Nuvens, drapeados e corpos humanos flutuam no</p><p>espaço, arrebatando os visitantes com a visão do paraíso.</p><p>Figura 3. (a) Interior de Il Gesù com (b) afresco do teto da nave central.</p><p>Fonte: (a) Rom Il Gesu Hauptorgel (2007, documento on-line); (b) Triumph of the</p><p>Name of Jesus (2015, documento on-line).</p><p>O trabalho de dois importantes arquitetos e escultores italianos foi fundamental</p><p>para a magnitude do Barroco em Roma. Rivais profissionais, Gian Lorenzo Bernini e</p><p>Francesco Borromini competiam constantemente para conseguir os melhores projetos</p><p>arquitetônicos e deixaram um legado exemplar para a compreensão do Barroco na</p><p>Itália e sua influência em toda a Europa. Os artistas desenvolveram exímios projetos em</p><p>Roma. Para aprofundar seus conhecimentos sobre a arquitetura e a escultura barrocas,</p><p>leia o livro A história da arquitetura mundial, de Michael Fazio (2011).</p><p>Comparados às formas barrocas da Itália — complexas, floreadas, extre-</p><p>mamente ornadas e carregadas de apelo emocional —, os edifícios barrocos</p><p>ingleses e franceses eram mais contidos, exceto nas grandes dimensões e nos</p><p>7Barroco</p><p>efeitos espetaculares, resultantes da profusão artística nos seus interiores e</p><p>nos espetaculares projetos de paisagismo.</p><p>A consolidação das monarquias absolutistas foi fundamental para a for-</p><p>mação da estética barroca, em particular na França, cujos valores eram con-</p><p>sagrados por meio da arte. O Barroco passa a ser a exibição do poder e da</p><p>grandeza do Estado centralizado, representado pela monumentalidade dos seus</p><p>palácios, a exemplo do Palácio de Versalhes (iniciado em 1661), construído</p><p>por Luís XIV (Figura 4) (JANSON; JANSON, 2009).</p><p>Figura 4. (a) Palácio de Versalhes e seus (b) jardins (1661–1750), França.</p><p>Fonte: Adaptada de (a) FrimuFilms/Shutterstock.com.; (b) Bartlomiej Rybacki/</p><p>Shutterstock.com.</p><p>Barroco8</p><p>Ícone do Barroco cortesão, o Palácio de Versalhes foi transformado</p><p>em um monumento da arquitetura, que envolveu o projeto paisagístico de</p><p>André Le Nôtre e o projeto de interiores do decorador Charles Le Brun. O</p><p>centro da corte francesa foi acomodado nas imensas edificações projetadas</p><p>por Louis Le Vau e Jules Hardouin-Mansart (após a morte de Le Vau). A</p><p>magnitude do Barroco francês encontrou em Versalhes sua maior expressão.</p><p>De acordo com Janson e Janson (2009, p. 280):</p><p>O projeto, de André Le Nôtre, em uma relação tão estreita com a planta do</p><p>palácio que se torna uma continuação do espaço arquitetônico. Com o interior</p><p>de Versalhes, pretendia-se que esses jardins formais, com terraços, fontes,</p><p>cercas vivas aparadas e estátuas, constituíssem um cenário à altura das aspi-</p><p>rações públicas do rei. A regularidade geométrica imposta a toda uma região</p><p>nos arredores do palácio revela, de forma de ainda mais impressionante no</p><p>palácio em si, o espírito do absolutismo.</p><p>A partir dos exemplos apresentados, que sintetizam os contextos de</p><p>surgimento e os aspectos generalizantes do movimento, pode-se afir-</p><p>mar que o Barroco renovou completamente a iconografia e as formas da</p><p>arte sacra, ao mesmo tempo que foi uma expressão cortesã, refletindo o</p><p>Absolutismo da monarquia no fausto da decoração. Essa grandiosidade</p><p>pode ser explicada pelo contexto histórico, marcado pela reação da Igreja</p><p>à teologia protestante e pela ostentação das cortes que representavam o</p><p>Estado absoluto.</p><p>O Barroco foi uma forma de expressão propagandista, em que a arte estava</p><p>diretamente comprometida com a nova realidade (Contrarreforma Católica</p><p>e Absolutismo), promovendo o anúncio dos seus valores. Nas categorias</p><p>artísticas (arquitetura, escultura e pintura), as obras romperam o equilíbrio</p><p>entre o sentimento e a razão, com o predomínio das emoções.</p><p>O Quadro 1, a seguir, apresenta os princípios caracterizantes do</p><p>Barroco, estabelecendo uma comparação com os princípios renascentistas,</p><p>visando à compreensão da revolução formal e conceitual barroca, sem,</p><p>contudo, adentrar em critério de juízo estético em relação às distintas</p><p>produções.</p><p>9Barroco</p><p>Fonte: Adaptado de Strickland (2002), Janson e Janson (2009).</p><p>Aspectos Estética renascentista Estética barroca</p><p>Racionalidade Profundamente racional:</p><p>Arte é “cosa mentale” (Leo-</p><p>nardo da Vinci)</p><p>Predominância das emoções</p><p>Ornamentação Absolutamente dispensável,</p><p>arte racional, intelectual</p><p>Arte emocional e sensual, opu-</p><p>lência das formas e excesso de</p><p>ornamentação</p><p>Intelectualização Tendência a fixar princípios</p><p>rígidos</p><p>Oposição ao intelecto, apelo ao</p><p>emocional ou dramático</p><p>Disciplina Estruturas artísticas discipli-</p><p>nadas, comedidas, clássicas</p><p>Momento de libertação de formas</p><p>Religiosidade Interpretação idealizada das</p><p>sagradas escrituras, fechada</p><p>Religiosidade ligada a uma visão</p><p>de mundo aberta, combinando</p><p>misticismo e sensualidade</p><p>Temperamento Serenidade Arrebatamento</p><p>Arquitetura Baseada na geometria,</p><p>lógica, simetria, simplicidade</p><p>Cenográfica, populista, atraente,</p><p>com efeitos especiais</p><p>Ordens clássicas Utilizadas para enfatizar a</p><p>estabilidade e o equilíbrio</p><p>Mestres do Barroco, como Bernini</p><p>e Borromini, retorciam cada coluna</p><p>como um saca-rolhas</p><p>Fachadas Achatadas, superfícies</p><p>planas e baixas</p><p>Movimentadas, fluidas, com movi-</p><p>mentos ondulantes</p><p>Simetria Rigorosa Assimetria, noção de espaço infinito,</p><p>movimento contínuo, com o obje-</p><p>tivo de tocar os sentidos e despertar</p><p>as emoções</p><p>Artes Individualizadas Fundem-se na unidade barroca,</p><p>criando um espetáculo dinâmico,</p><p>colorido e brilhante, que se traduz</p><p>em exaltação</p><p>Composição</p><p>pictórica e</p><p>escultórica</p><p>Linha central imaginária Linha diagonal imaginária</p><p>Quadro 1. Princípios caracterizantes</p><p>Barroco10</p><p>O Barroco europeu consolidou-se como um estilo teatral condizente com</p><p>a nova era, na qual o teatro, a ópera e uma opulenta vida urbana floresciam. A</p><p>Igreja Católica captou rapidamente a mensagem que o teatro e a ópera enviavam:</p><p>desejava-se conquistar o espírito das massas e deter o avanço do protestantismo,</p><p>de modo que se deveria oferecer ao público, nos dias de culto, o equivalente da</p><p>ópera e do teatro. Além da Itália, o Barroco se manifestou de formas diversas</p><p>nos demais países europeus, que não se limitaram a reproduzir as obras italia-</p><p>nas, mas sim desenvolveram estilos e ênfases distintas. O Quadro 2, a seguir,</p><p>sintetiza as especificidades do Barroco nos países europeus.</p><p>Fonte: Adaptado de Strickland (2002).</p><p>Italiano Flamengo Holandês Espanhol Inglês Francês</p><p>Auge 1590–1680 1600–1640 1630–1670 1625–1670 1720–1790 1670–1715</p><p>13</p><p>Quanto à Missão Artística Francesa, chegada ao Brasil em 1816, na con-</p><p>juntura de transposição da corte lisboeta para o Brasil, destaca-se o pintor</p><p>francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848). Debret foi o responsável por inúme-</p><p>ras gravuras e pinturas que representaram a cultura e o cotidiano brasileiro.</p><p>Almeida (2009, p. 87) afirma que Debret “iria, como muitos viajantes do século</p><p>XIX, concentrar especial atenção nos costumes da terra, dedicando boa parte</p><p>de sua obra aos nativos da América, cujo exotismo despertava especial inte-</p><p>resse entre intelectuais europeus e americanos”.</p><p>Debret não foi o único artista europeu a representar a cultura e o cotidiano</p><p>brasileiro, mas se diferiu dos demais por ter vivido 16 anos no Brasil e por</p><p>ter se interessado em explicar a realidade que observava, algo que pode</p><p>ser evidenciado pelos textos explicativos que acompanhavam sua produção</p><p>artística (ALMEIDA, 2009).</p><p>Em relação aos textos explicativos presentes junto à obra Caboclo, mos-</p><p>trada na Figura 5, Debret evidencia que pretendeu representar “um caboclo</p><p>de São Lourenço, que vivia em intenso contato com a sociedade colonial,</p><p>porém mantivera a habilidade com o arco e flecha e posicionava-se daquela</p><p>forma para atrair a admiração dos viajantes estrangeiros” (ALMEIDA, 2009,</p><p>p. 91). Ainda, segundo Almeida (2009, p. 91), “devia ser corriqueiro encontrar</p><p>entre os civilizados das aldeias, índios flecheiros, talvez nus, interessados</p><p>em exibir sua destreza aos forasteiros que por ali passavam”.</p><p>Figura 5. Caboclo (1834), Jean-Baptiste Debret (1768-1848).</p><p>Fonte: Debret (1834, documento on-line).</p><p>Arte brasileira14</p><p>A Academia Real de Belas Artes, criada como resultado da Missão Artística</p><p>Francesa, não demorou a produzir seus primeiros artistas e obras. Desta-</p><p>camos o trabalho de Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879) (Figura 6),</p><p>considerado o “aluno predileto de Debret, com quem viajou à França, ele é</p><p>um marco da noção romântica de busca da brasilidade, de um ponto de vista</p><p>‘europeu’, [...]” (ALAMBERT, 2015, p. 16).</p><p>Figura 6. Estudo para a sagração de Dom Pedro II (c. 1840), Manuel de Araújo Porto-Alegre</p><p>(1806-1879).</p><p>Fonte: Porto-Alegre (1841, documento on-line).</p><p>Por fim, falaremos um pouco sobre artistas da Semana de Arte Moderna</p><p>e os representantes do modernismo brasileiro. Foi o caso, por exemplo, de</p><p>Tarsila do Amaral (1886-1973), uma das mais expressivas representantes do</p><p>modernismo no Brasil dos anos 1920 (veja uma de suas famosas obras na</p><p>Figura 7). A artista não participou da “Semana de Arte Moderna” de 1922</p><p>porque estava na Europa, mas depois se integrou ao movimento modernista.</p><p>A Semana de Arte Moderna realizou-se entre os dias 13 e 17 de fevereiro</p><p>de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, em meio às comemorações do</p><p>Centenário da Independência do Brasil. Seus integrantes tiveram contato</p><p>com as vanguardas europeias do pós-Primeira Guerra Mundial, e as críticas</p><p>Arte brasileira 15</p><p>culturais e sociais feitas por esses artistas no Velho Continente inspiraram</p><p>os artistas brasileiros (CAPELATO, 2005).</p><p>Falemos um pouco sobre seus artistas. No campo das artes visuais, par-</p><p>ticiparam Anita Malfatti (1889-1964) e Di Cavalcanti (1897-1976), entre outros.</p><p>Como representantes do campo literário, tivemos a presença de Mário de</p><p>Andrade (1893-1945), Menotti Del Picchia (1892-1988), Oswald de Andrade (1890-</p><p>1954), Manuel Bandeira (1884-1968) e muitos mais. No campo musical, havia</p><p>apresentações noturnas, e o destaque é do compositor Villa-Lobos (1887-1959).</p><p>Retrospectivamente, a Semana teve uma função de criticar o conserva-</p><p>dorismo da produção artística, literária e musical, mais do que apresentar</p><p>o “modernismo brasileiro”, que foi se constituindo, a partir da Semana, ao</p><p>longo do tempo.</p><p>Figura 7. Abaporu (1929), Tarsila do Amaral (1886-1973).</p><p>Fonte: Amaral (1929, documento on-line).</p><p>Os modernistas foram responsáveis por criticar certa forma de naciona-</p><p>lismo e, ao mesmo tempo, uma perspectiva colonial das artes plásticas no</p><p>Brasil. Foi um movimento igualmente importante para refletir sobre a presença</p><p>feminina nos redutos das artes visuais, bem como questões culturais e de</p><p>raça (BARBOSA, 2020).</p><p>Arte brasileira16</p><p>Nesta seção, você conheceu um pouco mais sobre artistas brasileiros e</p><p>suas obras ao longo do tempo. Esperamos que tenha observado a variedade</p><p>de estilos, que evidenciam as mudanças culturais e históricas no campo</p><p>das artes. Reforçamos, novamente, que esta não é uma relação exaustiva</p><p>da produção nas artes visuais brasileiras, pois citamos alguns exemplos e</p><p>esperamos que você queira saber mais.</p><p>O objetivo deste capítulo foi apresentar um grande panorama sobre as</p><p>artes visuais brasileiras, problematizando as noções de arte (a partir da</p><p>produção de povos indígenas) brasileira (já que era uma produção antes</p><p>do Brasil ser Brasil). Trouxemos elementos artísticos pré-cabralianos e uma</p><p>história da arte a partir de marcos do Brasil. Por fim, exemplificamos esse</p><p>período por meio de artistas visuais e suas obras.</p><p>Referências</p><p>ALAMBERT, F. Para uma história (social) da arte brasileira. In: BARCINSKI, F. W. (org.).</p><p>Sobre a arte brasileira da pré-história aos anos 1960. São Paulo: Sesc, 2015. p. 6-21.</p><p>ALMEIDA, M. R. C. Índios mestiços e selvagens civilizados de Debret: reflexões sobre</p><p>relações interétnicas e mestiçagens. Varia história, v. 25, n. 41, p. 85-106, 2009.</p><p>AMARAL, T. Abaporu. 1929. Pintura de óleo sobre tela. Disponível em: https://pt.wikipedia.</p><p>org/wiki/Ficheiro:Abaporu.jpg. Acesso em: 9 out. 2022.</p><p>ARCURI, C. O ensino de arte: da contextualização histórica às artes plásticas e história</p><p>da arte no CAp-UERJ. e-Mosaicos, v. 4, n. 7, p. 14-26, 2015.</p><p>BARBOSA, A. M. (Des)memórias: por uma revisão feminista da História da Arte no Brasil.</p><p>Cartema, n. 8, p. 143-165, 2020.</p><p>BRUNETO, C. J. C. O problema cronológico do barroco artístico brasileiro. Veredas, n.</p><p>4, p. 57-69, 2001.</p><p>CAPELATO, M. H. R. Modernismo latino-americano e construção de identidades através</p><p>da pintura. Revista de História, n. 153, p. 251-282, 2005.</p><p>CARDOSO, R. O Brasil (re--) redescoberto: o olhar estrangeiro sobre a história da arte</p><p>brasileira. Revista Concinnitas, v. 2, n. 23, p. 87-101, 2013.</p><p>CATTANI, I. M. B. A produção artística no Brasil no período colonial e no século XIX.</p><p>Estudos Ibero-Americanos, v. 10, n. 1, p. 115-126, 1984.</p><p>DEBRET, J. B. Caboclo. 1834. Pintura de óleo sobre tela. Disponível em: https://com-</p><p>mons.wikimedia.org/wiki/File:Caboclo_by_Jean-Baptiste_Debret_1834.jpg. Acesso</p><p>em: 9 out. 2022.</p><p>DOSSIN, F. R. Apontamentos acerca da presença do artista afro-descendente na história</p><p>da arte brasileira. DAPesquisa, v. 3, n. 5, p. 121-130, 2008.</p><p>FAUSTO, C. Os índios antes do Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.</p><p>FRANCA, T. M. Santuário do Bom Jesus de Matosinhos. [S. l.]: Wikimedia Commons, 2022.</p><p>Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Santu%C3%A1rio_do_Bom_Je-</p><p>sus_de_Matosinhos_Mg.jpg. Acesso em: 9 out. 2022.</p><p>Arte brasileira 17</p><p>GUIMARÃES, L. M. P. A transferência da corte portuguesa para o Brasil: interpretações</p><p>e linhagens historiográficas. In: MARTINS, I.; MOTTA, M. (org.). 1808: a corte no Brasil.</p><p>Niterói: UFF, 2010.</p><p>INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Arte Kusiwa é revalidada</p><p>como Patrimônio Cultural do Brasil. Brasília: IPHAN, 2017. Disponível em: http://portal.</p><p>iphan.gov.br/noticias/detalhes/4097/arte-kusiwa-e-revalidada-como-patrimonio-</p><p>-cultural-do-brasil. Acesso em: 9 out. 2022.</p><p>LUCIANO-BANIWA, G. S. O índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos</p><p>indígenas no Brasil de hoje. Brasília: MEC, 2006.</p><p>MALERBA, J. O Brasil imperial (1808-1889): panorama da história do Brasil no século</p><p>XIX. Maringá: Eduem, 1999.</p><p>OLIVEIRA, H. P. Sítio arqueológico de São Miguel Arcanjo. [S. l.]: Wikimedia Com-</p><p>mons, 2013. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:S%C3%ADtio_</p><p>Arqueol%C3%B3gico_de_S%C3%A3o_Miguel_Arcanjo_21.jpg. Acesso em: 9 out. 2022.</p><p>OLIVEIRA, M. A. R. O Aleijadinho e o Santuário de Congonhas.</p><p>Ênfase Obras</p><p>sacras</p><p>Altares Retratos,</p><p>naturezas-</p><p>-mortas,</p><p>paisagens</p><p>Retratos</p><p>da corte</p><p>Retratos da</p><p>aristocracia</p><p>Paisagens</p><p>clássicas e</p><p>arquitetura</p><p>decorativa</p><p>Patronos Igreja Igreja,</p><p>monarca</p><p>Povo Monarcas Classe alta Monarcas</p><p>Estilo Dinâmico Floreado Virtuoso Realista Contido Pretencioso</p><p>Dualidades Drama,</p><p>intensidade,</p><p>movimento</p><p>Sensualidade Acurácia</p><p>visual,</p><p>estudos</p><p>de luz</p><p>Dignidade Elegância Ordem e</p><p>ornamentos</p><p>Quadro 2. Estilos e ênfases do Barroco nos países europeus</p><p>A arte barroca combinou a técnica avançada da Renascença com a emoção,</p><p>a intensidade e a dramaticidade, fazendo do estilo Barroco o mais suntuoso e</p><p>ornamentado da história da arte, como se observa por meio de suas produções</p><p>escultóricas e pictóricas.</p><p>A linguagem pictórica e escultórica barroca</p><p>Enquanto as esculturas renascentistas apresentavam um equilíbrio entre os</p><p>aspectos intelectuais e emocionais, as obras barrocas apagaram esse equi-</p><p>11Barroco</p><p>líbrio, dando lugar à exaltação dos sentimentos, com formas recobertas de</p><p>efeitos decorativos que expressam o movimento. Nessas obras predominam</p><p>as linhas curvas, a aplicação do dourado, a movimentação e o drapeado</p><p>das vestes. A expressão das fi guras também revela emoções violentas,</p><p>atingindo uma dramaticidade desconhecida nas obras do Renascimento</p><p>(SANTOS, 2000).</p><p>A escultura barroca pode ser representada pelo nome de Gianlorenzo</p><p>Bernini (1598–1680), que deixou sua marca em Roma: suas fontes, suas</p><p>esculturas religiosas e o seu projeto da Basílica de São Pedro são ícones do</p><p>estilo Barroco. Bernini foi escultor, arquiteto, pintor, teatrólogo, compositor,</p><p>cenógrafo de teatro e um brilhante caricaturista.</p><p>O Baldaquino da Basílica de São Pedro (1624–1633), em Roma, é um tipo</p><p>de dossel sustentado por colunas, esculpido em bronze dourado e mármore</p><p>multicolorido. Medindo 29 metros de altura, as colunas do Baldaquino se</p><p>contorcem em direção à cúpula, e sua estrutura é recoberta com videiras e</p><p>abelhas entalhadas e coroada por anjos (Figura 5).</p><p>Figura 5. (a, b) Baldaquino da Basílica de São Pedro (1624–1633), Roma.</p><p>Fonte: (a) St. Peter's Basilica (2007, documento on-line); (b) Baldachin petersdom (2012, documento on-line).</p><p>Bernini era um mestre em conseguir resultados dramáticos e emocionantes</p><p>na arte barroca, e suas esculturas conseguem apresentar a “[...] acumulação</p><p>de energia ativa no espaço” (JANSON; JANSON, 2009, p. 256), como se</p><p>pode observar no seu David (1623) (Figura 6). Em comparação ao Davi, de</p><p>Barroco12</p><p>Michelangelo, o aspecto barroco da escultura de Bernini é a presença implícita</p><p>de Golias: não estamos à frente de uma figura autônoma, mas de parte de um</p><p>todo, de uma cenografia barroca. Toda a ação de David está dirigida para o</p><p>seu adversário, e ele nos diz com clareza está o seu inimigo. É comum incluir o</p><p>espaço carregado de energia entre David e seu oponente invisível no conteúdo</p><p>da estátua: ele é um “espaço pertencente” à escultura.</p><p>Figura 6. David (1623), Galeria Borghese, Roma.</p><p>Fonte: Galleria Borghese (2017, documento on-line).</p><p>O Êxtase de Santa Teresa (1645–1652) é uma escultura religiosa de Bernini</p><p>que desperta grande emoção religiosa (Figura 7). Com intensa dramaticidade,</p><p>o conjunto escultórico reproduz o momento em que Santa Teresa é visitada por</p><p>um anjo, que lhe fere o peito várias vezes com uma flecha. “Segundo relato da</p><p>própria santa, esses ferimentos que lhe causaram profunda dor, transformaram-</p><p>-se na experiência mística do amor de Deus” (SANTOS, 2000, p. 107).</p><p>Novamente, o escultor consegue nos envolver emocionalmente quando</p><p>registra o momento em que o anjo segura a flecha, pronto para desferir mais</p><p>um golpe em Santa Teresa. A expectativa despertada no observador é escul-</p><p>pida em mármore, no qual Bernini imprimiu a experiência visionária, uma</p><p>sensualidade real (JANSON; JANSON, 2009).</p><p>13Barroco</p><p>Figura 7. O Êxtase de Santa Teresa (1645 –1652), Capela Cornaro,</p><p>Santa Maria della Vittoria, Roma.</p><p>Fonte: Ecstasy of Saint Teresa (2015, documento on-line).</p><p>Os artistas italianos assumiram pioneirismo na instauração da nova</p><p>linguagem renascentista, e, naquele período, foram fundadas academias</p><p>de arte para ensinar as técnicas de representação recém-descobertas. Com</p><p>o domínio da representação — logo expandido para os demais países</p><p>europeus —, deve-se também aos italianos a mudança da ênfase da racio-</p><p>nalidade para a emoção e do estático para o dinâmico. Em diferentes meios,</p><p>os italianos representaram com excelência o fastígio do Barroco. Se, na</p><p>escultura, reverencia-se Gianlorenzo Bernini, na pintura, Michelangelo</p><p>Merisi, conhecido como Caravaggio (1571–1610) é o mais notável artista</p><p>do Barroco italiano.</p><p>Caravaggio se interessava pela beleza que encontrava em modelos inco-</p><p>muns — ao contrário da beleza clássica renascentista —, descobertos entre as</p><p>pessoas do povo. Eram geralmente frequentadores das tabernas, vendedores,</p><p>músicos ambulantes, ciganos. Não havia, para o artista, a distinção entre</p><p>beleza e aristocracia (GOMBRICH, 1999).</p><p>Barroco14</p><p>O que melhor caracteriza a pintura de Caravaggio é o modo revolucionário</p><p>como ele utiliza a luz, fenômeno que foi estudado e assimilado por vários</p><p>outros mestres da pintura barroca. A luz, em Caravaggio, não aparece apenas</p><p>como reflexo da luz natural, mas é intencionalmente criada para dirigir a aten-</p><p>ção do observador: o pintor é conhecido como o criador do estilo luminista.</p><p>Um exemplo referencial do emprego da luz feito por Caravaggio é o quadro</p><p>A vocação de São Mateus (1596–15898) (Figura 8).</p><p>Figura 8. A vocação de São Mateus (1596–1598).</p><p>Fonte: Calling of Saint Matthew (2005, documento on-line).</p><p>Ao analisar a Figura 9, percebe-se que a luz que ilumina a cena vem da</p><p>direita, e não da janela, localizada na parede ao fundo, como seria natural. A</p><p>luz dirige o olhar do observador para o grupo de pessoas sentadas ao redor</p><p>da mesa. O contraste de luz e sombra amplia o efeito plástico da pintura,</p><p>conferindo volume aos corpos e destacando-os do fundo: trata-se da virtuo-</p><p>sidade do artista na utilização do chiaroscuro (claro-escuro). Como corrobora</p><p>Strickland (2002, p. 48, grifo nosso):</p><p>15Barroco</p><p>Caravaggio usa a perspectiva de modo a trazer o espectador para dentro da</p><p>ação. O chiaroscuro captura as emoções e intensifica o impacto da cena por</p><p>meio dos contrastes de luz e sombra. Essa encenação não tradicional, teatral,</p><p>joga um único foco de luz crua sobre o tema em primeiro plano para concen-</p><p>trar atenção do espectador na força do evento e na reação dos personagens.</p><p>Devido ao fundo escuro adotado por Caravaggio, seu estilo foi chamado il</p><p>tenebroso (estilo “das trevas”).</p><p>O Barroco espanhol recebeu influências diretas do Barroco italiano,</p><p>principalmente no uso expressivo da luz e sombra. A pintura espanhola,</p><p>porém, conserva preocupações próprias do espírito nacional, com ênfase no</p><p>domínio técnico e no realismo. Os principais pintores do Barroco espanhol</p><p>são: El Greco (1541–1614), cuja característica é a verticalidade das figuras, e</p><p>Diego Velázquez (1599–1660), que representa as distinções particularizantes</p><p>do Barroco na Espanha.</p><p>Desde muito jovem (com 24 anos), Velázquez foi admitido como pintor</p><p>oficial da corte espanhola, e, a partir de então, passou o resto de sua vida</p><p>pintando a aristocracia da Espanha. Soberbamente talentoso, o artista tam-</p><p>bém retratava os tipos populares do seu país, documentando o dia a dia do</p><p>povo naquele momento histórico. Impressionado com a obra de Caravaggio,</p><p>estudou profundamente a aplicação da luz. “[...] mas, em Velázquez a luz tem</p><p>uma função diferente: ela estabelece um clima mais intimista para as cenas</p><p>retratadas” (SANTOS, 2000, p. 111).</p><p>Além do realismo e do exímio domínio técnico, o que caracteriza a</p><p>obra de Velázquez é a dignidade com a qual ele retratava seus modelos:</p><p>quer pintasse o rei, quer pintasse o bobo da corte. A rígida tradição formal</p><p>dos retratos da nobreza foi humanizada pela pintura do artista, abordando os</p><p>personagens em poses mais naturais, sem acessórios exagerados.</p><p>“Apesar de</p><p>ser um virtuoso na técnica, Velázquez preferia a moderação à ostentação, o</p><p>realismo ao idealismo” (STRICKLAND, 2002, p. 60).</p><p>A obra que exibe de forma mais magistral o estilo amadurecido de Velázquez</p><p>é a imensa pintura As meninas (1656), que representa tanto o retrato de um</p><p>grupo quanto uma cena do cotidiano do pintor em seu estúdio (Figura 9). Na</p><p>pintura, Velázquez retrata-se a si próprio trabalhando em uma enorme tela</p><p>que tem, ao centro, a Princesa Margarida.</p><p>Barroco16</p><p>Figura 9. As meninas (1656), Museu do Prado, Madri.</p><p>Fonte: Meninas (2012, documento on-line).</p><p>A dicotomia da tela é curiosa, no espelho, ao fundo da composição, o reflexo</p><p>do rei e da rainha nos colocam em dúvida se eles estariam posando para o pintor</p><p>ou adentrando no aposento para admirar a cena sendo pintada, com a Princesa</p><p>Margarida como modelo. Essa pintura recebeu muitas interpretações e rendeu</p><p>diversas teorias, sendo considerada a obra mais analisada da pintura ocidental.</p><p>Essa obra complexa estabelece um enigma sobre realidade e ilusão, criando</p><p>uma relação duvidosa entre o observador, o pintor e as figuras representadas</p><p>(GOMBRICH, 1999; ECO, 2004).</p><p>O maior artista dentre os gênios da Idade de Ouro da pintura holandesa</p><p>(Barroco holandês) foi Rembrandt van Rijn (1606–1669), estimulado desde</p><p>o início de sua vida artística por Caravaggio. Suas pinturas possuem menores</p><p>dimensões, são fortemente iluminadas e revelam um realismo intenso. Rem-</p><p>17Barroco</p><p>brandt alcançou um enorme sucesso como pintor de retratos, e o trabalho</p><p>da sua fase final se caracteriza por pinturas sérias, introspectivas, em que o</p><p>sombreado implica uma extraordinária profundidade emocional.</p><p>O estilo luminista de Caravaggio assume em Rembrandt uma das maiores</p><p>expressões, acrescido de particularidades. “O que dirige nossa atenção nos</p><p>quadros deste pintor não é propriamente o contraste entre luz e sombra, mas</p><p>a gradação da claridade, os meios-tons, as penumbras que envolvem áreas de</p><p>luminosidade mais intensa” (SANTOS, 2000, p. 113).</p><p>Uma das obras mais conhecidas do pintor é A lição de anatomia do Doutor</p><p>Tulp (1632), na qual Rembrandt parece surpreender o professor e os estudiosos</p><p>em plena atividade de dissecação (Figura 10). O artista trabalha habilmente a</p><p>penumbra que indefine os espaços e as gradações de luz — intensa no corpo</p><p>do cadáver e amenizada nos rostos atentos e curiosos dos ouvintes.</p><p>Figura 10. A lição de anatomia do Doutor Tulp (1632), Mauritshuis Museum,</p><p>Amsterdam.</p><p>Fonte: The Anatomy Lesson (2014, documento on-line).</p><p>A técnica de Rembrandt evoluiu dos detalhes minuciosos para figuras em</p><p>maiores dimensões, pintadas com grandes borrões de tinta. O efeito é uma</p><p>superfície irregular, que cria um brilho ao refletir e difundir a luz, ao passo</p><p>que as zonas escuras recebem uma fina camada vidrada, que realça a absorção</p><p>da luz (STRICKLAND, 2002). Pintor, desenhista e gravurista extremamente</p><p>Barroco18</p><p>talentoso, Rembrandt pintou cenas bíblicas e históricas em estilo Barroco, com</p><p>requintes e minúcias de detalhes e iluminação dramática.</p><p>Nos Países Baixos, predominam duas direções na pintura barroca: uma</p><p>delas manteve como característica as linhas movimentadas e a forte expressão</p><p>emocional; a outra tendência mantém aspectos mais próximos do espírito</p><p>prático e austero da cultura holandesa. Ambas as vertentes são descritivas,</p><p>cujos temas preferidos são as cenas da vida doméstica e social, trabalhadas com</p><p>minucioso realismo. Além de Rembrandt, os principais pintores do Barroco</p><p>nos Países Baixos são: Peter Paul Rubens (1577–1640), com a expressão da</p><p>força das cores quentes; Frans Hals (1582–1666), com o domínio do uso de</p><p>luz e sombra; Johannes Vermeer (1632–1675), representando a beleza delicada</p><p>da vida cotidiana.</p><p>As manifestações da arte barroca no Brasil</p><p>Os colonizadores portugueses — leigos ou religiosos — foram os responsá-</p><p>veis por trazer o Barroco para o Brasil. Seu desenvolvimento pleno ocorre</p><p>cem anos após o surgimento do Barroco na Europa. No brasil, o período de</p><p>incidência do estilo se dá no século XVIII, estendendo-se até as primeiras</p><p>décadas do século XIX.</p><p>O estilo se manifestou no Brasil como um híbrido de diversas tendências</p><p>barrocas europeias, e as características do Barroco português dos colonizadores</p><p>somam-se aos aspectos estilísticos do Barroco francês, italiano e espanhol. A</p><p>combinação dos elementos característicos do Barroco das diversas origens foi</p><p>acentuada pelas oficinas, que se multiplicaram no decorrer do século XVII,</p><p>nas quais os mestres portugueses se unem aos filhos de europeus nascidos no</p><p>Brasil e seus descendentes caboclos e mulatos, produzindo obras que trazem</p><p>a marca incomparável do Barroco brasileiro (2018).</p><p>Há, então, um amálgama de elementos populares e eruditos produzidos</p><p>nessas confrarias artesanais, cujo resultado traz à tona outros estilos associados</p><p>ao Barroco nacional, como as formas do Gótico Tardio alemão, presentes</p><p>na obra de Aleijadinho (Antônio Francisco Lisboa, 1730–1814). A partir de</p><p>1760, o Barroco atinge o auge artístico no Brasil, com a particular variação</p><p>rococó no Barroco mineiro.</p><p>O catolicismo, no Brasil, estava intimamente relacionado com o estilo</p><p>Barroco — não havia no país outro estilo a ser reproduzido para construir</p><p>uma igreja católica. Os construtores tinham de se adaptar às condições</p><p>geográficas brasileiras: na inexistência de pedras apropriadas para o corte e</p><p>19Barroco</p><p>resistentes ao peso acumulado, o mármore tradicional das pedreiras europeias</p><p>deveria ser substituído (a pedra-sabão foi utilizada em larga escala). Além</p><p>disso, o clima tropical, encontrado no país, difere significativamente do</p><p>clima europeu. Mudanças bruscas do tempo, chuva torrencial e altíssimas</p><p>temperaturas exigiram habilidades construtivas diferentes das originais</p><p>europeias (LEMES, 2012).</p><p>A edificação de grande parte das obras barrocas no Brasil foi um grande</p><p>laboratório de experimentação, visto que eram necessários estudos de adap-</p><p>tação para construir em determinados locais. Conforme afirma Lemes</p><p>(2012, p. 51):</p><p>Era com base em antigos modelos que os profissionais vindos do reino e</p><p>seus colaboradores (caboclos, indígenas e negros) construíam igrejas e</p><p>edifícios públicos. As obras na nova terra funcionavam com protótipos</p><p>para as novas construções; contudo ainda havia variações de acordo com</p><p>o panorama regional.</p><p>Em grande parte da América do Sul, as construções barrocas foram ori-</p><p>ginadas pelos jesuítas, que adequavam os projetos a partes das edificações</p><p>militares, extremamente simples e funcionais. Os edifícios portugueses que</p><p>desempenhavam funções de defesa à beira-mar — como os fortes — deram</p><p>origem às plantas baixas das nossas construções barrocas. Em solo brasileiro,</p><p>a liberdade para edificar e propor novos traçados urbanos foi possível, pois</p><p>não havia um tecido urbano pré-existente, como a morfologia das cidades</p><p>medievais da Europa (OLIVEIRA, 2003),</p><p>Uma particularidade das igrejas barrocas em todas as regiões do Brasil é</p><p>a iconografia adotada na decoração de seus interiores. Nas igrejas europeias,</p><p>particularmente portuguesas e espanholas, os elementos decorativos eram</p><p>arabescos e ornatos em linhas curvilíneas assimétricas, ao passo que, no</p><p>Brasil, os temas tradicionais são combinados com elementos da flora e da</p><p>fauna, motivos indígenas, trançados e tramas. Lemes (2012) sugere que esse</p><p>fenômeno se deve à proximidade dos indígenas ou à intenção de atrair as</p><p>comunidades para os cultos.</p><p>Na época colonial, a cidade de Salvador, na Bahia, assumiu protagonismo</p><p>na construção de igrejas. Grande parte delas eram adaptações de modelos</p><p>portugueses, cujas fachadas típicas possuem duas torres. A Figura 11, a seguir,</p><p>apresenta dois modelos análogos: a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos</p><p>Pretos (século XVIII), no Pelourinho, em Salvador, e o Santuário Bom Jesus</p><p>do Monte (início das obras no século XVII) em Braga, em Portugal.</p><p>Barroco20</p><p>Figura 11. (a) Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, Salvador;</p><p>(b) San-</p><p>tuário Bom Jesus do Monte, Portugal.</p><p>Fonte: (a) Pelourinho (2007, documento on-line); (b) Treppenaufgang Bom Jesus do Monte</p><p>(2009, documento on-line).</p><p>No início do século XVIII, há algumas manifestações de exuberância das</p><p>fachadas no barroco brasileiro, contudo, trata-se de uma exceção. Mesmo</p><p>no seu período áureo, as igrejas barrocas nacionais — a exemplo das igrejas</p><p>portuguesas — são marcadas pelo contraste entre a simplicidade dos exteriores</p><p>e a opulência decorativa dos interiores. Esse aspecto diz respeito à virtude</p><p>do recolhimento, requisito fundamental à alma cristã, pregado pelos jesuítas.</p><p>“Esses primeiros 30 anos marcam a difusão no Brasil do estilo ‘nacional</p><p>português’, sem grandes variações nas diversas regiões” (BARROCO BRA-</p><p>SILEIRO, 2018, documento on-line).</p><p>Em meados do século XVIII, inicia-se um período de estagnação na eco-</p><p>nomia do Nordeste — com exceção de Pernambuco —, coincidindo com o</p><p>surgimento de um novo centro de produção, localizado no Rio de Janeiro, que</p><p>passa a ser capital da colônia (1763). Simultaneamente, na região de Minas</p><p>Gerais, a descoberta de ouro (1695) e diamante (1730) propicia o florescimento</p><p>dos maiores artistas barrocos brasileiros: Mestre Valentim (1745–1813), no</p><p>Rio de Janeiro, e Aleijadinho (1730–1814), em Ouro Preto e adjacências, em</p><p>Minas Gerais. (MACHADO, 1978)</p><p>A riqueza da exploração do ouro trouxe prosperidade para a região de</p><p>Minas Gerais, onde se desenvolveu um núcleo tardio do Barroco riquís-</p><p>simo. Além do valor agregado pelo ouro, o requinte da arquitetura ali</p><p>desenvolvida será referência para o Barroco nacional, que passará a ser</p><p>conhecido como Barroco mineiro. A Igreja de São Francisco de Assis</p><p>(1765–1812), em Ouro Preto, é um exemplar incomparável da tradição</p><p>21Barroco</p><p>do Barroco mineiro (Figura 12). De acordo com Lemes (2012, p. 53–54):</p><p>“[...] possui um traçado curvilíneo ablongado; as paredes externas ora são</p><p>côncavas ora são convexas; as torres são embutidas no corpo da igreja que</p><p>lembra, segundo os guias turísticos locais, uma caravela de cabeça para</p><p>baixo, em um capricho de Aleijadinho que não esqueceu nem mesmo dos</p><p>canhões nas janelas”.</p><p>Figura 12. (a) Fachada e (b) detalhe da porta da Igreja de São Francisco de Assis, Ouro Preto.</p><p>Fonte: (a) Façade of S. Francis Church (2016, documento on-line); (b) Porta da da Igreja de São</p><p>Francisco de Assis (2015, documento on-line).</p><p>Inaugura-se, então, um estilo conhecido como Rococó mineiro (a par-</p><p>tir de 1760), que será a expressão mais original do Barroco brasileiro. As</p><p>associações laicas patrocinavam as construções aspiradas pela extrema</p><p>religiosidade popular, que se manifestavam em um espírito contido e elegante.</p><p>A arquitetura era harmônica e dinâmica, em planos circulares, com graciosa</p><p>decoração de pedra-sabão, a exemplo da Igreja de São Francisco de Assis.</p><p>Os templos intimistas de dimensões singelas e rica decoração interior se</p><p>adequaram à espiritualidade e às condições materiais da população, sendo</p><p>reproduzidos nas demais cidades da região histórica de Minas Gerais (MA-</p><p>CHADO, 1978; ETZEL, 1974).</p><p>A Igreja de São Francisco de Assis é um exemplo primoroso desse estilo,</p><p>cujo traçado, frontispício, retábulos laterais e do altar-mor, púlpitos e lavabo</p><p>são de autoria de Aleijadinho. O teto da nave recebeu uma pintura ilusionista</p><p>Barroco22</p><p>de um dos mais talentosos pintores barrocos, Manoel da Costa Athaide</p><p>(1762–1830). No teto da igreja, Mestre Athaide elaborou uma composição</p><p>em que Nossa Senhora da Porciúncula, com traços mulatos, está cercada por</p><p>anjos músicos (Figura 13).</p><p>Figura 13. (a, b) Teto da Igreja de São Francisco de Assis, pintado por Mestre Athaide.</p><p>Fonte: (a) Mestre Ataíde - Glorificação de Nossa Senhora (2015, documento on-line);</p><p>(b) Ataíde – NSPorciúncula (2011, documento on-line).</p><p>Aleijadinho representa magistralmente o Rococó mineiro como enta-</p><p>lhador, e seu trabalho nessa área contempla, pelo menos, quatro grandes</p><p>retábulos no interior de igrejas em Minas Gerais. Na Igreja Franciscana de</p><p>São João Del Rei (1774–1809), toda talha do retábulo é fortemente escultórica,</p><p>não apenas decorativa (Figura 14). O conjunto realiza uma articulação de</p><p>planos diagonais por meio dos elementos estruturais. A talha exuberante</p><p>se apresenta em todos os altares e púlpitos com influências do Rococó. A</p><p>composição é composta de um grande nicho central para estatuária, com</p><p>outros menores nas laterais. Coroa o conjunto outro dossel, maior, com</p><p>arremate de rocalhas, com grande arranque vertical. Os dois púlpitos, um</p><p>de cada lado da nave, têm dosséis cônicos, onde se apoiam grandes estátuas</p><p>(FRANCISCO LISBOA, 2014).</p><p>23Barroco</p><p>Figura 14. (a) Altares central e (b) lateral da talha da Igreja Franciscana de São João Del Rei.</p><p>Fonte: (a) SFrancis (2011, documento on-line); (b) Igreja de São Francisco de Assis (2015, documento on-line).</p><p>O talento artístico resultante da parceria dos dois artistas mais proeminen-</p><p>tes do Barroco mineiro — Manoel da Costa Athaide e Aleijadinho — ficou</p><p>registrado nas esculturas de madeira policromadas no Santuário do Bom Jesus</p><p>dos Matozinhos (1796–1799), em Congonhas do Campo (Figura 15). A partir</p><p>de 1796, é registrada a atividade de Aleijadinho e sua oficina na elaboração</p><p>das 66 estátuas que compõem o conjunto, divididas em seis capelas, que</p><p>apresentam sete dos Passos da Paixão (IPHAN, 1985).</p><p>Figura 15. Esculturas de madeira policromadas do Santuário do Bom Jesus dos</p><p>Matozinhos, Congonhas do Campo, Minas Gerais.</p><p>Fonte: Prisão de Jesus, Mãos dos Apóstolos e Subida do Calvário (2015, documento on-line).</p><p>Barroco24</p><p>A maior expressão do Barroco brasileiro ocorreu no Brasil colonial, com</p><p>duração de aproximadamente 300 anos. Como em todo o mundo, despindo-o de</p><p>suas expressões estritamente religiosas, o estilo e suas obras consolidaram-se</p><p>como uma grande arte e objeto de estudos acadêmicos universais. No Brasil, sem</p><p>dúvida os estudos se atêm às cidades históricas e às realizações de Aleijadinho.</p><p>O Barroco é o resultado de três séculos de atividades artísticas e construti-</p><p>vas: predominantemente arquitetônicas, esculturais, pictóricas e literárias. Seu</p><p>principal objetivo era captar e devolver ao povo a emoção, assimilar a devoção</p><p>e retornar ao público a visão da eternidade por meio da arte. Com materiais</p><p>nobres, como o ouro e o mármore, o Barroco interage com as pessoas. No Brasil,</p><p>a pedra-sabão substituiu os raros mármores, contudo, os sentimentos ainda</p><p>foram despertados, tocados por meio da experiência estética proporcionada</p><p>por esse inigualável estilo.</p><p>ANATOMY LESSON. In: WIKIPEDIA. [S. l.: s. n.], 2014. Disponível em: https://commons.</p><p>wikimedia.org/wiki/File:The_Anatomy_Lesson.jpg. Acesso em: 13 set. 2019.</p><p>ATAÍDE – NSPORCIÚNCULA. In: WIKIPEDIA. [S. l.: s. n.], 2011. Disponível em: https://</p><p>pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Ata%C3%ADde_-_NSPorci%C3%BAncula.jpg. Acesso</p><p>em: 13 set. 2019.</p><p>BALDACHIN PETERSDOM. In: WIKIPEDIA. [S. l.: s. n.], 2012. Disponível em: https://</p><p>pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Baldachin_petersdom.jpg. Acesso em: 13 set. 2019.</p><p>BARROCO BRASILEIRO. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras.</p><p>São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/</p><p>termo63/barroco-brasileiro. Acesso em: 13 set. 2019. Verbete da Enciclopédia.</p><p>BAUMGART, F. Breve história da arte. São Paulo: Martins Fontes, 1999.</p><p>CALLING OF SAINT MATTHEW. In: WIKIPEDIA. [S. l.: s. n.], 2005. Disponível em: https://</p><p>pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:The_Calling_of_Saint_Matthew_by_Carvaggio.jpg.</p><p>Acesso em: 13 set. 2019.</p><p>CHURCH of the Gesù. In: WIKIPEDIA. [S. l.: s. n.], 2013. Disponível em: https://commons.wiki-</p><p>media.org/wiki/File:Church_of_the_Ges%C3%B9,_Rome_crop.jpg. Acesso em: 13 set. 2019.</p><p>ECO, U. História da beleza. Rio de Janeiro: Record, 2004.</p><p>ECSTASY OF SAINT TERESA. In: WIKIPEDIA. [S. l.: s. n.], 2015. Disponível em: https://</p><p>commons.wikimedia.org/wiki/File:Ecstasy_of_Saint_Teresa_September_2015-2a.jpg.</p><p>Acesso em: 13 set. 2019.</p><p>25Barroco</p><p>ETZEL, E. O barroco no Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1974.</p><p>FAÇADE OF S. FRANCIS CHURCH. In: WIKIPEDIA. [S. l.: s. n.], 2016. Disponível em: https://</p><p>commons.wikimedia.org/wiki/File:SFrancisOuroPreto-CCBY.jpg. Acesso em: 13 set. 2019.</p><p>FAZIO, M. A história da arquitetura mundial. 3. ed. Porto Alegre: AMGH, 2011.</p><p>FRANCISCO LISBOA, A. Igreja de São Francisco de Assis de São João del Rei. São Paulo:</p><p>UNESP, 2014. Disponível em: https://acervodigital.unesp.br/handle/unesp/252184.</p><p>Acesso em: 13 set. 2019.</p><p>GALLERIA BORGHESE. In: WIKIPEDIA. [S. l.: s. n.], 2017. Disponível em: https://commons.</p><p>wikimedia.org/wiki/File:Galleria_Borghese_42.jpg. Acesso em: 13 set. 2019.</p><p>GLANCEY, J. A história da arquitetura. São Paulo: Loyola, 2001.</p><p>GOMBRICH, E. A história da arte. 16. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1999.</p><p>HAUSER, A. História social da arte e da literatura. São Paulo: Martins Fontes, 2003.</p><p>HODGE, S. Breve história da arte: um guia de bolso dos principais movimentos, obras,</p><p>temas e técnicas. São Paulo: Gustavo Gili, 2018.</p><p>IGREJA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS. In: WIKIPEDIA. [S. l.: s. n.], 2015. Disponível em:</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Igreja_de_S%C3%A3o_Francisco_de_Assis_</p><p>-_S%C3%A3o_Jo%C3%A3o_del-Rei_-_altar_lateral_2.jpg. Acesso em: 13 set. 2019.</p><p>IPHAN. Santuário de Bom Jesus de Matozinhos: conjunto arquitetônico, paisagístico e es-</p><p>cultórico (Congonhas, MG). 1985. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/ans/. Acesso</p><p>em: 13 set. 2019.</p><p>JANSON, H. W.; JANSON, A. F. Iniciação à história da arte. 3. ed. São Paulo: Martins Fon-</p><p>tes, 2009.</p><p>LAST JUDGMENT. In: WIKIPEDIA. [S. l.: s. n.], 2015. Disponível em: https://commons.</p><p>wikimedia.org/wiki/File:Last_Judgement_(Michelangelo).jpg. Acesso em: 13 set. 2019.</p><p>LEMES, J. P. B. O barroco no Brasil: arte e educação nas obras de Antonio Francisco</p><p>Lisboa. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual de Maringá, Centro de Ciên-</p><p>cias Humanas, Letras e Artes, Maringá, 2012. Disponível em: http://www.ppe.uem.br/</p><p>dissertacoes/2012%20-%20Jorge%20Pedro.pdf. Acesso em: 13 set. 2019.</p><p>MACHADO, L. G. Barroco mineiro. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 1978.</p><p>MÃOS DOS APÓSTOLOS. In: WIKIPEDIA. [S. l.: s. n.], 2015. Disponível em: https://pt.wikipedia.</p><p>org/wiki/Ficheiro:M%C3%A3os_dos_Ap%C3%B3stolos_-_Aleijadinho_-_Congonhas.</p><p>jpg. Acesso em: 13 set. 2019.</p><p>MENINAS. In: WIKIPEDIA. [S. l.: s. n.], 2012. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/</p><p>wiki/File:Las_Meninas,_by_Diego_Vel%C3%A1zquez,_from_Prado_in_Google_Earth.</p><p>jpg. Acesso em: 13 set. 2019.</p><p>Barroco26</p><p>MESTRE ATAÍDE - GLORIFICAÇÃO DE NOSSA SENHORA. [S. l.: s. n.], 2015. Dispo-</p><p>nível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Mestre_Ata%C3%ADde_-_</p><p>Glorifica%C3%A7%C3%A3o_de_Nossa_Senhora_-_Igreja_de_S%C3%A3o_Fran-</p><p>cisco_2.jpg. Acesso em: 13 set. 2019.</p><p>OLIVEIRA, M. A. R. Rococó religioso no Brasil e seus antecedentes europeus. São Paulo:</p><p>Cosac & Naify, 2003.</p><p>PELOURINHO. In: WIKIPEDIA. [S. l.: s. n.], 2007. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/</p><p>wiki/Ficheiro:Pelourinho1-CCBY.jpg. Acesso em: 13 set. 2019.</p><p>PORTA DA IGREJA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS. In: WIKIPEDIA. [S. l.: s. n.], 2015. Disponível</p><p>em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Portada_da_Igreja_de_S%C3%A3o_Fran-</p><p>cisco_de_Assis_em_Ouro_Preto.jpg. Acesso em: 13 set. 2019.</p><p>PRISÃO DE JESUS. In: WIKIPEDIA. [S. l.: s. n.], 2015. Disponível em: https://pt.wikipedia.</p><p>org/wiki/Ficheiro:A_pris%C3%A3o_de_Jesus_-_Aleijadinho_-_Congonhas.jpg. Acesso</p><p>em: 13 set. 2019.</p><p>ROM IL GESU HAUPTORGEL. In: WIKIPEDIA. [S. l.: s. n.], 2007. Disponível em: https://</p><p>pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Rom_Il_Gesu_Hauptorgel_links_(1).JPG. Acesso em:</p><p>13 set. 2019.</p><p>SANTOS, M. G. V. P. História da arte. São Paulo: Ática, 2000.</p><p>SFRANCIS. In: WIKIPEDIA. [S. l.: s. n.], 2011 Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/</p><p>Ficheiro:SFrancis-SJdelRei2-CCBYSA.jpg. Acesso em: 13 set. 2019.</p><p>ST. PETER'S BASILICA. In: WIKIPEDIA. [S. l.: s. n.], 2007. Disponível em: https://</p><p>pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:StPetersSalomonicColumnsBaldacchino.jpg. Acesso</p><p>em: 13 set. 2019.</p><p>STRICKLAND, C. Arte comentada: da pré-história ao pós-moderno. Rio de Janeiro:</p><p>Ediouro, 2002.</p><p>SUBIDA DO CALVÁRIO. In: WIKIPEDIA. [S. l.: s. n.], 2015. Disponível em: https://pt.wikipedia.</p><p>org/wiki/Ficheiro:A_subida_do_Calv%C3%A1rio_-_Aleijadinho_-_Congonhas.jpg.</p><p>Acesso em: 13 set. 2019.</p><p>TREPPENAUFGANG BOM JESUS DO MONTE. In: WIKIPEDIA. [S. l.: s. n.], 2007. Disponível</p><p>em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Treppenaufgang_Bom_Jesus_do_Monte.</p><p>jpg. Acesso em: 13 set. 2019.</p><p>TRIUMPH OF THE NAME OF JESUS. In: WIKIPEDIA. [S. l.: s. n.], 2015. Disponível em: https://</p><p>commons.wikimedia.org/wiki/File:Triumph_of_the_Name_of_Jesus.jpg. Acesso em:</p><p>13 set. 2019.</p><p>VÁZQUEZ, A. S. Um convite à estética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.</p><p>WOLFFLIN, H. Conceitos fundamentais da história da arte. São Paulo: Martins Fontes, 2000.</p><p>27Barroco</p><p>HISTÓRIA</p><p>DA ARTE</p><p>Priscila Farfan Barroso</p><p>Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB-10/2147</p><p>B277h Barroso, Priscila Farfan.</p><p>História da Arte / Priscila Farfan Barroso, Hudson de</p><p>Souza Nogueira ; [revisão técnica: Max Elisandro dos Santos</p><p>Ribeiro]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018.</p><p>221 p. ; il. ; 22,5 cm.</p><p>ISBN 978-85-9502-297-3</p><p>1. Arte – História. I. Nogueira, Hudson de Souza.</p><p>II. Título.</p><p>CDU 7</p><p>Revisão técnica:</p><p>Max Elisandro dos Santos Ribeiro</p><p>Licenciatura Plena em História</p><p>Especialista em Gestão e Tutoria EaD</p><p>Mestre em Educação</p><p>HA_Iniciais_Impressa.indd 2 12/01/2018 17:08:09</p><p>Maneirismo e Rococó</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p>� Identificar as características da arte maneirista e os artistas que a</p><p>representam.</p><p>� Reconhecer as características do estilo Rococó e suas influências.</p><p>� Descrever os tipos de manifestações artísticas do estilo Rococó e</p><p>seus principais artistas.</p><p>Introdução</p><p>A arte Maneirista se desenvolveu em Roma, de 1520 a 1610, exata-</p><p>mente na transição do Renascimento para o Barroco. Já o Rococó é um</p><p>movimento artístico que surgiu no século XVIII, em Paris, e se difundiu</p><p>em outros países e até no continente americano.</p><p>Neste capítulo, você irá verificar que, no Maneirismo, os pintores de-</p><p>formavam a realidade e, no Rococó, faziam uma decoração monumental</p><p>dos ambientes, destacando suavidade, leveza e elegância.</p><p>Arte Maneirista e seus artistas</p><p>O Maneirismo se desenvolveu em Roma, entre 1520 e 1610. O século XVI, foi</p><p>marcado por mudanças na política, cultura, economia e religião. Na política, a</p><p>Itália invadiu a França, a Alemanha e a Espanha, o que gerou uma alteração no</p><p>equilíbrio das forças do continente, resultando no sangrento Saque de Roma,</p><p>em 1527, o que fez vários artistas e intelectuais fugirem para outros países.</p><p>Em italiano, maneirismo significa “maneira”. Esse termo foi usado pelo</p><p>artista maneirista italiano Giorgio Vasari (1511 - 1574), para se referir à “ma-</p><p>neira” como cada artista trabalha e, assim, destacar as peculiaridades desses</p><p>artistas e seu olhar para as contradições do mundo. Segundo Gustav Hocke</p><p>(2005, p. 25), nesse momento “[...] o enigma da contradição se tornou algo</p><p>HA_U2_C09.indd 115 12/01/2018 15:44:26</p><p>obsessivo. O homem e o universo divorciaram-se. Os olhares se perdem no</p><p>labirinto insondável.”.</p><p>Criaram, então, uma arte com espirais, labirintos e proporções estranhas,</p><p>que são a marca inconfundível do estilo maneirista. A arte do Maneirismo</p><p>acontece na transição do Renascimento ao Barroco. Com a decadência do</p><p>Renascimento, os artistas passam a desenvolver suas habilidades e técnicas,</p><p>adquiridas nesse período, mas buscando novos elementos para renovar a arte.</p><p>Na pintura maneirista, os pintores criam um novo estilo, procurando de-</p><p>formar a realidade, valorizando a arte e suas possibilidades de representação.</p><p>As principais características da arte maneirista são:</p><p>� composição com muitas figuras comprimidas em um espaço reduzido,</p><p>resultando</p>

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