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<p>Angústia e Repetição: da Filosofia à Psicologia Textos apresentados na Jornada Kierkegaard 200 Anos ORGANIZADORAS Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo Myriam Moreira Protasio IFEN</p><p>Angústia e Repetição: da Filosofia à Psicologia Textos apresentados na JORNADA KIERKEGAARD 200 ANOS: Angústia e Repetição na Psicanálise e na Psicologia Fenomenológico-Existencial Realizado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro dias 23 e 24/05/2013 conteúdo na íntegra, de cada capítulo, é de responsabilidade única e exclusiva do autor. COORDENAÇÃO EDITORIAL Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo e Myriam Moreira Protasio Angústia e CONSELHO EDITORIAL Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo Repetição: Cristine Monteiro Mattar Jorge Miranda de Almeida Myriam Moreira Protasio da Filosofia Alexandre Marques Cabral Marco Antonio Casanova SÉRIE à Psicologia Congressos, Jornadas e Seminários ORGANIZADORES DA SÉRIE Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo Myriam Moreira Protasio Maria Bernadete Medeiros Fernandes Lessa Elaine Lopez Feijoo REVISÃO TÉCNICA E DE PADRONIZAÇÃO: As organizadoras ORGANIZADORAS CAPA. PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Ana Luisa Videira Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo Imagem da capa desenvolvida a partir da obra de Luplau Janssen Myriam Moreira Protasio A595 Angústia e repetição : da filosofia a psicologia / organizadoras Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo, Myriam Moreira 1. ed. Rio de Janeiro : Edições IFEN, 2014. 196 p. : 21 cm. (Congressos, jornadas e seminários) Textos apresentados na Jornada Kierkegaard 200 anos: angústia e repetição na psicanálise e na psicologia Inclui bibliografia. ISBN 978-85-63850-03-4 1. Angústia. 2. 3. Psicologia 4. Kierkegaard, Soren, 1813-1855. I. Feijoo, Ana Maria Lopez Calvo de II. Protasio, Myriam Moreira III. IFEN CDD 142.78 Todos os direitos desta edição reservados ao Edição Instituto de Psicologia Fenomenológico-Existencial do Rio de Janeiro Rio de Janeiro, 2014 Rua Barão de Pirassinunga, 62 Tijuca Rio de Janeiro Brasil www.ifen.com.br e-mail: edicoesifen@ifen.com.br</p><p>Angústia e repetição em Kierkegaard JORGE MIRANDA DE ALMEIDA</p><p>Angústia e repetição em Kierkegaard mais profunda em minha visão é aquela que ocorre como forma- dora da singularidade do homem enquanto concretiza a determi- nação intermediária entre a possibilidade e a liberdade, tornando- JORGE MIRANDA DE ALMEIDA se ela mesma, em liberdade enredada, o concretizar do si mesmo, por isso, justifico com a tese do próprio Kierkegaard de "que quanto mais original é um homem, tanto mais profunda será sua angústia" (Kierkegaard, 2010, 57). mesmo vale para a categoria da repe- tição. Tem-se a repetição enquanto finitude do jovem poeta, que transforma a repetição em não repetição, mas em recordação; tem- Advertências se a repetição do estético, que também não é recordação, e tem-se Duas advertências são imprescindíveis na expectativa de ex- finalmente a repetição existencial, que é a retomada, a recuperação plorar ou escavar adequadamente as categorias da angústia e da de si em si mesmo. A tarefa de escolher qual é o tipo de repetição repetição no manancial da produção direta e indireta de Kierke- adequada, proposta pelo autor pseudônimo de A Repetição, com- Trata-se de um imenso campo de análise carregado de petirá ao leitor, que ao realizá-la estará direcionando seu pensar e armadilhas visando dificultar que os definidores de conceitos e sua opção ou pela mediação ou pela repetição, ou pela existência construtores de sistemas puros aprisionassem o que extrapola os ou pela representação (sistema) da existência. referidos domínios, pois angústia e repetição se situam no cam- Ironicamente as categorias da angústia e da repetição são desenvolvidas por tipos de pseudônimos que assumem ora ser po do existencial e só se permitem capturar no exato momento em que o respectivo movimento que gera a angústia ou a repeti- um "adorador de fetiches" em Conceito de angústia (Kierkega- ard, 2010) ora um bem intencionado Anti-Climacus que escreve ção é concretizado. Kierkegaard oferece ao leitor diversos tipos de angústia: a an- estrategicamente um ensaio de psicologia cristã para edificação e gústia boa e a angústia má, a angústia objetiva e a angústia sub- para acordar o indivíduo singular em A Doença Mortal; ou Cons- jetiva, a angústia da finitude e da imediaticidade e a angústia da tantin Constantius que realiza na obra A Repetição um ensaio em infinitude, a angústia enganadora, falaciosa, a angústia que conduz psicologia experimental com o objetivo de analisar diversos mo- ao suicídio e a angústia que eleva ao mais sublime. Mas, a dimensão dos ou determinações da existência; ou ainda o Frater Taciturnus que desenvolve em Culpado? Não culpado? um experimento psi- cológico em que analisa, na segunda parte, as consequências de 1 Nos Diários de 1850, X3 A 239, ele escreve a respeito do cunhado que uma história de amor desgraçada e os conflitos entre a melanco- vivia no Brasil: "acudiu-me hoje à lembrança a identidade íntima que minha vida tem com a sua. Assim como ele vive lá no Brasil, perdido para o mundo, lia e as exigências religiosas. Pelos títulos ou subtítulos dos livros mergulhado nas escavações dos extratos antediluvianos, assim vivo eu, como e por meio da personalidade de cada pseudônimo, é plausível que fora do mundo, a pesquisar os conceitos cristãos". In: Diario. n.8, Brescia: afirmar que Kierkegaard tinha uma veia psicológica muito forte Morcelliana, 1980, p.51. Em uma carta escreve: "como senhor é feliz, por ter encontrado no Brasil um campo imenso para suas pesquisas, onde, a cada e que foi percebida por Georges Brande quando em 1881 escreve passo, oferecem-se maravilhas e onde os gritos dos sábios não perturbam a sua a Nietzsche afirmando que para ele Kierkegaard era um dos mais tranquilidade". In: REICHMANN, Ernani. Intermezzo 7a parte. profundos psicólogos da sua época. Curitiba: Edição do autor, 1963, p. 239 40 Jorge Miranda de Almeida Angústia e Repetição: da Filosofia à Psicologia 41</p><p>A primeira advertência: pode-se estudar essas categorias No interior dessa primeira advertência, peço um pouco de isoladamente; para isso é necessário investigar o conteúdo da paciência ao leitor para estabelecer uma outra, um tanto quanto obra Conceito de Angústia escrito em 1844 por um pseudônimo contraditória entre os estudiosos de Kierkegaard, pois diz respei- denominado Vigilius Haufniensis, e o conteúdo de A Repetição to ao problema de tornar-se cristão. Alguns dos mais capazes e redigido e publicado em 1843, sob a pena de um outro sérios pesquisadores do pensamento e da obra kierkegaardiana nimo chamado de Constantin Constantius. Pronto. A tarefa foi afirmam que, como o problema é o de tornar-se cristão, então realizada e seria suficiente para compreender os dois conceitos e existe uma limitação à compreensão e à validade da obra como eles se relacionam. Porém intencionalmente, Kierkegaard, gaardiana; ou seja, quem não é cristão não tem nada o que fa- utilizando-se da comunicação indireta, escreve de tal maneira zer com a obra, ou que assim ela não tem nenhuma utilidade ou que os heréticos não entendam, como faz na carta de Agosto de ainda nenhuma edificação haveria com a leitura desse diletante, 1843 de A Repetição. seria pura perda de tempo. Para outros renomados professores e A esse respeito Deleuze, em Diferença e Repetição, afir- profissionais de filosofia, tornar-se cristão manteria a proposta ma que Kierkegaard não escreve para professores (Hegel e os e a intencionalidade de Kierkegaard no âmbito do cristianismo hegelianos), nem para os doutores da lei porque ambos per- e, portanto, na esfera religiosa e manecem presos na generalidade dos conceitos e na mediação Paciência! Como disse parágrafos acima, a obra de Kierke- lógica, isto é, na petrificação dos conceitos, que são incapazes gaard é pura areia movediça, o que exatamente significa tornar-se de apreender o devir do existente no interior da existência. E é cristão? Tornar-se um membro de uma congregação através de exatamente esse momento ou essa concretização do devir que é um batismo e o recebimento de um nome de cristão ou tornar-se possível aproximar do que Kierkegaard apreende por repetição. efetivamente homem individual ou um singular? Ora, Henri-Bernard Vergote, na obra Sens et Répétition, na seção IV se todos são cristãos, ergo, eu não sou cristão, dirá ironicamente intitulada et Répétition, entende que a categoria da repe- Kierkegaard. Tornar-se implica em aprender a ser esse homem tição pertence à segunda filosofia, pois ela é capaz de propor na tensa e descontínua dialética entre finitude e infinitude, tem- ao indivíduo singular, ao frequentar a si mesmo, conviver com poralidade e eternidade, necessidade e liberdade, possibilidade e duas questões que serão determinantes na construção (ou não) liberdade. Incorro numa falta muito grande para a comunidade de sua personalidade, a saber: "como compreender aquilo que acadêmica ao fazer uma citação tão extensa numa introdução; se é e como compreender-se a si mesmo enquanto ser factual mas, a fim de esclarecer um mal entendido que compromete de- (VERGOTE, 1982, V, II, p. 312). E, após essa com- cisivamente a investigação das categorias da angústia e da repeti- preensão da ordem do saber, decidir sozinho como concretizar ção, torna-se as possibilidades em questão. Essas questões são retomadas, Eis a citação: segundo o filósofo tanto na produção pseudonímica quanto na obra edificante e somente o indivíduo singular pode- movimento não vai da simplicidade para o interessante, rá encontrar a resposta na posição singular de tornar-se a ver- mas do interessante para a simplicidade, para o tornar-se dade concretizando-se a si mesmo autenticamente, exatamente cristão: aqui se situa o Post-scriptum conclusivo definitivo como indivíduo singular. não às Migalhas Filosóficas, o ponto crítico de toda a obra o problema e que por outro lado, graças a uma 42 Jorge Miranda de Almeida Angústia e Repetição: da Filosofia à Psicologia 43</p><p>esgrima indireta e a uma dialética socrática, fere de morte o Dogmática, no mesmo sentido em que a ciência imanente ini- Sistema pelas costas, numa luta contra Sistema e a espe- cia com a Metafísica" (Kierkegaard, 2010, p. 22). Como tornar culação, a fim de que o caminho não vá do simples tornar-se essa advertência algo plausível? Simples. A repetição e a angústia cristão ao Sistema e à especulação, mas destes, regredindo, acontecem no interior de um fato absoluto. Mas, se é um fato ao simples tornar-se cristão. [...] há por isso, que como pode ser absoluto? E que fato absoluto acontece no ins- lhe longínquas e excepcionais disposições para se tornar tante em que o indivíduo deixa de ser um indivíduo e mediante o cristão; com a ideia que tem da sua tarefa e da consciência salto torna-se o indivíduo singular, um homem enquanto ser-ca- de estar muito longe da perfeição, não sente outra necessi- paz-de tensão constante na dialética do instante absoluto e do dade senão a de continuar a tornar-se cristão. (Kierkegaard, fato eterno, pois conforme está explicito em Migalhas Filosóficas 1986, pp. 85-86). fato absoluto é um fato histórico" (Kierkegaard, 1995, p. 142), embora um simples fato histórico não seja um fato absoluto e Bem, mas o que é ser cristão em Copenhague entre 1813- não exija necessariamente nenhuma decisão absoluta. 1855? O cristianismo enquanto cristandade é uma fraude, "tor- É no interior do instante que reside, mora, a angústia en- nou-se parecido com a mais inumana crueldade [...] uma carica- quanto formadora da maturidade humana, pois quanto maior é tura do verdadeiro cristianismo ou um imenso conjunto de erros a angústia, maior é o ser humano (Idem, 163) e a repetição qua- e ilusões onde se mistura uma reduzida e fraca dose de cristianis- litativa apropriada a construir o indivíduo singular novo capaz mo autêntico" (Kierkegaard, 1986, p. 73). Nos números da Re- de testemunhar "sou de novo eu mesmo. Este "eu mesmo", que vista O instante é possível construir um diagnóstico preciso do na estrada ninguém apanharia do chão, é outra vez meu [...] sou caráter dos homens da época: defeito de nossa época, é o seu de novo eu mesmo; a maquinaria foi posta em movimento. Des- ser sem caráter, tudo até um certo ponto" (Kierkegaard, 2001, p. feitos estão os laços em que me encontrava preso. Já não há nin- 74) em que "a miséria, a mediocridade, os insultos, o falatório guém que erga as mãos contra mim, a minha libertação é segura, tornam quase impossível a vida real" (Kierkegaard, 2001, p. 99). nasci para mim mesmo" (Kierkegaard, 2009, p. 131-132). Então, o cristianismo foi reduzido a um movimento histórico em Afinal, o que está nas linhas e entrelinhas da tese final de um país em que todos são designados como cristãos, logo, como A Repetição? que significa tornar-se de novo eu mesmo? Por um movimento cultural, retirando o que é essencial em seu fun- favor, observe o movimento, o ritmo empregado na citação, três damento. Esse é o contexto em que Kierkegaard propõe a árdua vezes se repete sou de novo eu mesmo. que seria a repetição tarefa de tornar-se. senão a inauguração de si mesmo? Tornar-se si mesmo em cada A segunda advertência que penso ser necessária para atin- ação é repetir o mesmo com originalidade, inaugurando-se a gir o objetivo proposto é que as categorias da angústia e da re- si mesmo, ganhando-se a si mesmo em cada ação, fortalecen- petição precisam ser estudadas no interior da dogmática, o que do o homem interior (Kierkegaard, 1999). Como ocorre esse Kierkegaard qualifica como sendo a segunda filosofia, isto é, em movimento? Na angústia. Não há repetição sem angústia, pois relação com que e com aquilo que não se encerra na imanên- é exatamente esta categoria que permite incorporar a repetição cia, pois, conforme explicita o autor de A Repetição "a repetição da finitude num lance de extrema ousadia em que se aposta na é e permanecerá transcendência" (Kierkegaard, 2009, p. 91); e possibilidade do eterno e o homem finalmente deixa de ser um em Conceito de Angústia "a nova ciência inicia, pois, com a 44 Miranda de Almeida Angústia e Repetição: da Filosofia à Psicologia 45</p><p>espírito em estado de sonho para ganhar a si mesmo. A repeti- eo ipso não pode ser absoluto, pois seguiria ser o absolu- ção é categoria da dogmática (isto é, da Revelação) exatamente to um casus na vida, um status relativo a outras coisas, en- porque o indivíduo singular repete em si mesmo, mediante si quanto que, embora declinável em todos os casibus da vida, mesmo, a alternativa por uma existência em que cada homem é ele é sempre o mesmo, e embora em constante relação com único na dinâmica entre o criador e a criatura. o outro, é sem dúvida um status absolutus. Mas o fato abso- Essa tese pode ser melhor em Migalhas luto é também ao mesmo tempo um fato histórico. Se não cas, especialmente no apêndice intitulado O escândalo provocado atentarmos para isso, todo o nosso discurso hipotético se pelo paradoxo uma ilusão acústica onde Kierkegaard introduz reduzirá a nada; pois falaríamos apenas de um fato eter- instante ao redor do qual tudo gira" (Kierkegaard, 1995, p. no. o fato absoluto é um fato histórico e, como tal, objeto 78) e torna-se uma importante ferramenta para se compreender da fé. (...) mas histórico não pode ser afastado, de jeito o que enquanto o eterno e o histórico permanecem exteriores nenhum, senão teríamos apenas um fato eterno. (Kierkega- um ao outro; o histórico é meramente ocasião que permite ou ard, 1995, p. 142) possibilita a decisão pelo que realmente transfigura viver em existir, e o autor da obra denomina renascimento "esta passagem pela qual o discípulo vem ao mundo uma segunda vez" (idem, Introdução p. 39). Aqui está o essencial da repetição: a ocasião e a decisão As obras O Conceito de Angústia e A Repetição que inspi- em assumir paradoxo da contemporaneidade, que é a síntese raram esta conversa são elaboradas por Kierkegaard não como do eterno e do histórico na relação entre o Mestre e o discípulo, uma simples reflexão direcionada ao não mais o mestre da imanência, Sócrates, mas o Mestre que é problema dogmático do pecado hereditário e um ensaio em psi- Paradoxo Absoluto. cologia experimental, como constam ironicamente no subtítulo Para concluir as advertências, Álvaro Valls na obra Kierke- das respectivas obras. O propósito é oferecer ao leitor indicações gaard: cá entre nós (2012), no segundo capítulo intitulado fato de como se vive e como é possível transformar a vida em exis- absoluto apresenta ao leitor pelo menos três variações sobre o tência, ou como ele mesmo desenvolve em As Obras do Amor, mesmo tema do que seria possível compreender na perspectiva transformar a vida vegetativa, psico-sensorial em singularidade kierkegaardiana por fato absoluto, tomando especialmente em no âmbito da inconclusividade e da ambiguidade que é a matéria análise para o estudo dessa categoria a obra Migalhas Filosóficas, onde se deve elaborar a si mesmo. Nessa perspectiva, o objetivo como por exemplo a citação extraída da página 142, a qual dei- central é oferecer ao indivíduo singular material (pedagógico, xaremos como aperitivo para que o leitor possa, após a leitura filosófico, estético, teológico, psicológico, simbólico) para que desse texto, sentir-se à vontade para frequentar as Migalhas. Eis ele possa tornar-se próprio experienciador de si mesmo, isto a citação: é, possa entrar em relação consigo mesmo, como estabelece em Se aquele fato é um fato absoluto, (...) então seria uma con- A Doença Mortal (Kierkegaard, 1974) a respeito da compreensão tradição que o tempo pudesse diferenciar, isto é, diferenciar do que é o homem. homem é um eu, mas o que é o eu? eu é em sentido decisivo, a relação dos homens para com aquele uma relação, que não se estabelece com qualquer coisa de alheio fato, pois o que é essencialmente diferenciável pelo tempo a consigo próprio. eu é uma conquista que se realiza na 46 Jorge Miranda de Almeida Angústia e Repetição: da Filosofia à Psicologia 47</p><p>tensa e difícil opção que a ocasião, a decisão, a vontade e a liber- leitor um leque de possibilidades existenciais para que ele possa dade são elevadas ao extremo de suas potencialidades e possibili- escolher e também possa escolher as referências e consequências dades e é por isso mesmo que o indivíduo que vive esteticamente de cada escolha. Afinal a proposta é feita a um entre nós, "pois para e eticamente (primeira ética) não são capazes de realizar. mim não és de modo algum uma pluralidade, antes apenas um, e Talvez seja oportuno lembrar que Freud nasceu (6 de maio assim sendo somos apenas tu e eu" (Kierkegaard, 2009, p. 135). de 1856) sete meses após a morte de Kierkegaard (11 de novem- A repetição pode ser entendida no movimento de voltar- bro de 1855). Os personagens e as situações existenciais em A se sobre si mesmo para recuperar esse si mesmo e na retomada Repetição e em O Conceito de angústia constituem diversos tipos de si tornar-se si mesmo, "lá onde a cada instante se arrisca a de argila para que se possa analisar as condições humanas sob vida, onde a cada instante se perde a vida e se volta a diversos ângulos. Categorias centrais da Psicologia e da Psicaná- la" (Kierkegaard, 2009, p. 135). Especificamente, a repetição não lise como pulsão, projeção, negação do eu, conflitos existenciais é tornar-se, mas é um retomar de si mesmo, uma recuperação entre afirmar a si mesmo e negar a si mesmo, relação da angústia no sentido de escolher a determinação existencial pela qual vale com o desespero, da angústia com a melancolia, da melancolia a pena viver e morrer e que lhe permite tornar-se um homem com o desespero, da angústia com a ansiedade, da angústia com novo. De outra maneira, a repetição é mais precisamente uma o imediato são algumas das ocasiões em que se pode aproximar reduplicação que se concretiza mediante a decisão por aquilo pensador dinamarquês dessas áreas nobres do profundo do hu- que é realizado na temporalidade, mas que tem efeito por toda mano. Não é a toa que ele é considerado como um dos maiores a eternidade. Nessa perspectiva, a repetição não se repete, ela psicólogos do século XIX. Psicologia experimental ou experien- inaugura, ela aprofunda indivíduo singular em si mesmo e o cial para Kierkegaard significa o conjunto de atividades e cate- esquadrinha até o limite para que a educação edificante seja ca- gorias que dizem respeito a alma em constante tensão com as paz de propiciar a escolha do decisivo. No Discurso Edificante manifestações ou modos de existência. Nesse sentido, angústia, Adquirir sua alma na paciência, o pensador nórdico, ao estabe- melancolia, nostalgia, desespero, tédio, culpa, liberdade, possibi- lecer que o homem que se edifica na interioridade adquire a sua lidade, sexualidade, inocência, como que precisam alma na paciência, afirma que enunciado inculca-o de duplo ser entendidas no processo de individualização do si modo, por, na sua brevidade, compreender uma repetição que Em outra oportunidade seria importante relacionar essas se reduplica" (Kierkegaard, 2007, p. 26). Nuno Ferro, tradutor duas obras com outras duas que repetem a temática e estão indis- da obra para a língua portuguesa, numa nota de rodapé exten- sociavelmente relacionadas, mas que, por questão de delimitação sa e muito competente, esclarece que "a reduplicação enfrenta o e de tempo, não o farei, a menos quando se tornar estritamente em-aberto (a nudez) fundamental da própria existência, que está necessário. Estou me referindo a Temor e Tremor publicado no mascarado na vida imediata. Corresponde a um ato do sujeito, mesmo ano de A Repetição e A Doença mortal de 1849 Essas pro- em que este assume a responsabilidade de fundar de raiz a sua duções novamente caminham na direção de que há uma explicita própria vida, conferindo ele mesmo a determinação fundamen- intenção por parte do pensador dinamarquês em permitir ao seu tal" (Ferro, 2007, p. 2 Cf. Estudos sobre Nuno Ferro. São Paulo: LiberArs, 2013. Tive o prazer de fazer o prefácio da qualitativa obra do filósofo 3 Especificamente nota 65, p. 185. 48 Jorge Miranda de Almeida Angústia e Repetição: da Filosofia à Psicologia 49</p><p>Se a escolha não for feita na direção da determinação fun- movimento para diante. Se não houvesse a repetição, o que seria damental, entra-se no âmbito da repetição quantitativa do estéti- a vida? A nova filosofia ensinará que a vida é toda ela uma repe- CO e do desespero. Afinal, uma das ilustrações (com Kierkegaard tição, evidenciará o autor. que ele quer dizer com essas duas não dá para falar em demonstrações) mais significativas a respei- teses? Pode-se aproximar delas a partir da relação entre tempo e to da repetição numérica encontra-se na obra A Doença Mortal: repetição, singularidade e repetição, liberdade e repetição, inte- "nessa última acepção, desespero é, portanto a doença mortal, rioridade e repetição e, o tema dessa conversa, angústia e repe- esse suplicio contraditório, essa enfermidade do eu: eternamen- tição, desde que se movimente com a elasticidade da repetição te morrer, morrer sem, todavia morrer, morrer a morte. Porque e com a elasticidade irônica no caminho em direção à segunda morrer significa que tudo está acabado, mas morrer a morte ética, porque a repetição consiste exatamente na senha "em qual- significa viver a morte; e vivê-la um só instante é vivê-la eter- quer intuição ética, a repetição é conditio sine qua non para todo namente". (Kierkegaard, 1974, p. 341) A repetição da imanência e qualquer problema dogmático" (Kierkegaard, 2009, p. 52). A em Kierkegaard equivale à repetição do mesmo, da rotina e do mesma intensidade ocorre com a angústia e sua relação com a desespero. A repetição na perspectiva da dogmática introduz o segunda ética enquanto tarefa que o indivíduo singular pode eterno como determinação intermediária entre o Absoluto de realizar, ao assumir concretizar a possibilidade que tem"sobre a Deus e o absoluto do homem, deixando sempre que a iniciativa realidade como a tarefa para a realidade" (Kierkegaard, 2010, p. da relação e da escolha seja do indivíduo singular e consequen- 22). A tarefa consiste em retomar a si mesmo em cada ação no temente cada repetição é a instauração do novo porque na cons- interior da máxima tensão da opção pela imanência, isto é, um trução da síntese de si mesmo, não há passado e não há futuro, eu dotado de uma repetição compulsiva, encarnado num Dom apenas o instante da contemporaneidade, que é onde o tempo e Juan, no Judeu errante, em Fausto, personagens do estádio esté- o eterno se fundem e se tornam, como define Johannes Climacus tico, que são incapazes da angústia, mas que vivem imersos no em Migalhas Filosóficas, "a plenitude dos tempos" (Kierkegaard, desespero de não querer ter um verdadeiro eu ou no desespero 1995, p. 38). da escolha da eternidade que se oferece no instante, mas sem- pre respondendo a um convite do indivíduo singular enquanto temporal, realizando a repetição do eterno no tempo por meio A repetição da angústia, que "é a realidade da liberdade como possibilidade Com a intenção de facilitar a tarefa ao leitor, o próprio antes da possibilidade" (Kierkegaard, 2010, p. 45). Kierkegaard afirma que "a repetição é a nova categoria que é Na obra A Repetição, a repetição é utilizada em diversos sentidos. autor da obra é um educador ciente de sua tarefa. preciso descobrir" (Kierkegaard, 2009, p. 50). Ela é mais do que dialética e é a âncora em qualquer intuição e condição ética. A Começa a sua atividade de experimentador com o discípulo, na repetição é polissêmica na estrutura do pensamento e do projeto situação presente, jovem apaixonado, o jovem poeta. É exer- kierkegaardianos. Em primeiro lugar, o autor estabelece um cor- cício da comunicação indireta, uma estratégia (ou uma tática) de te entre a repetição como reminiscência enquanto recordação e esgrimista que sabe manejar muito bem a espada da existência. a repetição propriamente dita, que é a realidade e a seriedade Constantin Constantius exemplifica, por meio de personagens, da existência. Recorda-se para trás enquanto a repetição é um modos de repetição: em primeiro lugar, a repetição estética que 50 Miranda de Almeida Angústia e Repetição: da Filosofia à Psicologia 51</p><p>é a do jovem apaixonado que afirma ser o amor da repetição o observações do jovem enamorado, é possível observar que ele é único verdadeiro e Mas o jovem não entendia a repetição. "destituído de toda a interioridade" (Kierkegaard, 2009, p. 43); Ele carecia de interioridade. Nesse sentido a repetição deve ser "que faltava a sua alma a elasticidade da ironia" (Kierkegaard, compreendida como uma indolente repetição, como consta em 2009, p. 46); "que o amor da recordação torna precisamente um As Obras do Amor "mas quando uma pessoa envelheceu, sua vida indivíduo infeliz" (idem). Das observações do autor Constantin permanece então o mais frequentemente tal como ela se tornou: Constantius, é possível evidenciar que é um ser nostálgico, me- uma indolente repetição e paráfrase da mesma coisa" (Kierkega- lancólico ao extremo e dotado de uma inominável angústia que ard, 2010a, p. 283). E ainda: "quando o desânimo quer mostrar-te admite não entender a repetição, porque esta é "e permanecerá o vazio de todas as coisas e transformar toda a vida numa monó- transcendência", e para ele ela é demasiado transcendente. Ao tona e insignificante repetição" (Kierkegaard, 2010a, p. 338) tomar consciência desse limite, experiencia a dor gradualmente Porém, há uma outra maneira de compreender a repeti- como elemento que proporciona a tomada de consciência de si ção enquanto realidade e a seriedade da existência; pois, con- mesmo (Kierkegaard, 2009, p. 86) Ao construir a consciência so- forme é indicado na própria obra, "aquele que quer a repetição bre si mesmo, essa personalidade constata que é próximo de ser amadureceu em seriedade" (Kierkegaard, 2009, p. 33) Podemos um perturbado mental, conforme ele mesmo explicita: relacionar essa citação com uma outra referência que nos favo- rece na empreitada da aproximação ao que Kierkegaard entende Ou não será uma espécie de perturbação mental ter a tal por repetição: ponto subjugado sob o frio regimento da reflexão todas as paixões, todas as emoções, todas as disposições do espiri- É preciso juventude para ter esperança, juventude para re- to! Não será perturbação mental ser normal dessa maneira, cordar, mas é preciso coragem para se querer a repetição. somente ideia, nada de ser um ser humano, nada de igual Porque aquele que apenas quer ter esperança é covarde; às outras pessoas, flexíveis e transigentes, perdidas e per- aquele que quer recordar é voluptuoso; mas aquele que quer dendo-se! Não será perturbação mental estar assim sempre a repetição é um homem, e quanto mais energicamente for desperto, sempre consciente, nunca na obscuridade ou ab- capaz de a tornar clara para si próprio, tanto maior será a sorto! (Kierkegaard, 2009, p. 94) sua profundidade como criatura humana (Kierkegaard, 2009, p. 33) A relação entre o jovem apaixonado e Constantin Constan- tius ajuda a situá-lo na atmosfera da repetição. Não há no trans- É preciso querer a repetição, portanto. Estabelece-se a von- correr de todas as cenas que compõem a obra A Repetição uma tade como condição. É preciso ter coragem como outra qualida- definição conceitual do que seja a repetição. Kierkegaard joga, de para existir no interior do paradoxo do temporal e do eter- brinca, provoca. Ao final da obra, ele diz, pela boca do autor, no sem tornar-se prisioneiro de um ou de outro. Torna-se claro "que a minha personalidade é um pressuposto de consciência então porque Kierkegaard entende a repetição como a serieda- que é preciso exatamente para obrigá-lo a sair, enquanto minha de da existência e como é impossível definir a existência, o que personalidade nunca poderá chegar aonde ele chega" (Kierkega- nos resta é observar (por isso mesmo as observações psicológi- ard, 2009, p. 140) A mesma tese é retomada em Ponto de vista cas, ou os experimentos psicológicos) a conduta humana. Das explicativo quando afirma que é possível fazer algo pelo homem, 52 Jorge Miranda de Almeida Angústia e Repetição: da Filosofia à Psicologia 53</p><p>mesmo quando este está distraído em meio às festas do carnaval; Retomando a questão central para a compreensão da repe- pode-se obrigá-lo a tornar-se atento (Kierkegaard, 1986, p. 45). tição em Kierkegaard: por que o autor e o jovem poeta não são Em se tratando de atenção, por que o jovem enamorado e o capazes da repetição? Por que cada um em sua respectiva subjeti- autor são incapazes da repetição propriamente dita? Porque eles vidade não foi capaz de decidir pela possibilidade do eterno, isto são personalidades determinadas e que pertencem à É isso é, não ousou concretizar a verdadeira repetição enquanto síntese que Constantin mesmo afirma: "não haverá repetição" (Kierke- do finito e infinito, temporal e eterno, possibilidade e necessida- gaard, 2009, p. 132). E por que não haverá repetição? Porque de. Por que permaneceu refém apenas do temporal, do finito e autor não é livre e jovem enamorado também não é, este últi- da necessidade, isto é, no plano da imanência e da contingência? mo é uma criação do autor. Porém, nesse movimento que não De acordo com Nuno Ferro, executa o legítimo movimento, os dois perdem-se a si mesmos, é preciso que o sujeito se confronte com a rede de alter- porque o jovem poeta se tornou prisioneiro da recordação e o nativas que o fato de estar vivo deixa em tensão; é preciso, autor prisioneiro da ideia. finalmente que o sujeito execute em si mesmo, a possibili- Permitam-me trazer a contribuição de Gilles de Deleuze dade do eterno, ou melhor, que se execute a si mesmo nela, a respeito da sua compreensão da repetição em Kierkegaard. moldando-se completamente por essa arriscada (i.e., não Ela ocorre por meio de quatro "O primeiro, garantida) possibilidade do sentido, entre outras não garan- que venho esboçando nesse contexto, fazer da liberdade o obje- tidas possibilidades de sentido, que é o eterno (Ferro, 2007, to supremo da vontade e da liberdade, trata-se, ao contrário, de notas, p. 185). agir, de fazer da repetição como tal uma novidade, isto é, uma liberdade e uma tarefa para a liberdade" (Deleuze, 1988, p. 28); segundo refere-se ao fato de que "a repetição concerne ao mais interior da vontade, é porque tudo muda em torno da vontade" A angústia (Deleuze, 1988, p. 29); o terceiro: "a repetição aparece como o logos do pensador privado [...] tal como entende Kierkegaard, a Vigilius Haufniensis conhece a obra de Constantin Cons- tantius e a considera um livro engraçado, mas, ao mesmo tempo, repetição é correlato transcendente, comum à contestação e à um livro que conseguiu captar com energia a repetição e o vigor resignação como intenções psíquicas" (Deleuze, 1988, p. 30) e o que tem seu conceito para explicar a relação entre o pagão e o quarto: ao opor repetição, memória e hábito, Deleuze afirma: crístico, ou o essencialmente cristão. Vigilius, autor de Con- é na repetição, é pela repetição que o Esquecimento se tor- ceito de angústia, faz uma advertência importante para o intento na uma potência positiva e o inconsciente, um inconscien- desta conversa, isto é, evidencia que o que Constantin descobriu te superior positivo (por exemplo, o esquecimento, como voltou a esconder, disfarçando conceito sob os gracejos, o hu- força) [...} quando Kierkegaard fala da repetição como mor e as brincadeiras relatadas no experimento do jovem poeta. segunda potência da consciência, "segunda" não significa No interior de A Repetição, é possível estabelecer uma distinção uma segunda vez, mas o infinito que se diz de uma só vez, a importante para a compreensão da angústia. jovem poeta-ena- eternidade que se diz de um instante, o inconsciente que se morado é capaz de vivenciar, por meio da recordação, um tipo de diz da consciência, a potência (Deleuze, 1988, p. 31) 54 Jorge Miranda de Almeida Angústia e Repetição: da Filosofia à Psicologia 55</p><p>ansiedade, mas não é capaz de desenvolver em si a angústia, isto A existência exige primeiro um poder para efetivar-se. porque a angústia acontece mediante uma ação; por isso é fática, Constantin se reconhece como um prosador (Kierkegaard, enquanto que autor (Constantin Constantius) e poeta são 2009, 129), como um homem de ideia, porque esteticamente seres de ideia que mais de uma vez afirmam não existir a repe- "é o que há de mais seguro no mundo" (Kierkegaard, 2009, p. e, mesmo quando atingem uma consciência de si mesmo, 130); a ideia é o critério. Porém, ele de fato não existe, ele des- permanecem na resignação do finito e são vítimas do desespero, creve, ele assiste a sua própria vida. As questões elencadas na da ansiedade, do tédio, da melancolia, de um sofrimento ino- presente carta dão uma noção de quanta reflexão existe em um minável, mas não de angústia como é descrita na carta de 11 de Fausto, quantas recordações em Dona Elvira, quantos suspiros outubro, a qual constitui uma das páginas mais belas de toda a em Don Juan, quanta desesperança, ansiedade e desespero em produção kierkegaardiana. O autor afirma: Ahasverus, Judeu errante; porém em nenhum deles há presen- A minha vida atingiu um ponto extremo; a existência ça de angústia. Constantin descobriu que a tarefa posta ao indivíduo sin- provoca-me náuseas, é insípida, sem sal nem significado. Mesmo que eu estivesse mais faminto do que Pierrot, não gular consiste em converter a repetição em algo de interior, na tarefa própria da liberdade, no seu supremo interesse. Racional- gostaria contudo de engolir a explicação que as pessoas ofe- mente é um movimento por força do absurdo, porque segundo recem. Enfia-se um dedo no solo para cheirar tipo de ter- esse autor, "a eternidade é a verdadeira repetição" (Kierkegaard, ra em que se está; eu enfio o dedo na existência -não cheira 2010, p. 19-29, nota 35). Há uma primeira possibilidade de apro- a nada. Onde estou? Que quer dizer isto: o mundo? Que ximar-se da compreensão de angústia em Kierkegaard. Angústia significa esta palavra? Quem me enganou, metendo-me em é a realidade da liberdade, como define no parágrafo 5 da referi- tudo isto, e me deixa ficar aqui? Quem sou? Como entrei da obra. O que isso quer dizer? Como é que o homem se relacio- neste mundo? Por que não me foi perguntado, por que não na com este poder ambíguo e com sua condição? Ele se relaciona fui informado das regras e costumes, mas metido nas fileiras com a angústia. Si mesmo não pode fugir da angústia porque como se tivesse sido comprado por um vendedor de almas? a ama; amá-la propriamente não pode, porque foge dela. Então, Como foi que me tornei parte interessada nesta grande em- há alternativa? Se se quiser ser verdadeiramente humano, é ne- presa a que se chama realidade? Por que razão hei de ser cessário assumir a angústia como formadora de caráter e, só após parte interessada? Não será matéria de livre decisão? E no o amadurecimento realizado na interioridade, é que a angústia caso de me ser obrigatório sê-lo, onde está o gerente, já que vai erradicar o que ela mesma produz. Encontramos aqui três tenho uma observação a fazer? Não há gerente? A quem problemas. Primeiro, que poder é esse? Segundo, qual é a con- devo dirigir-me para apresentar a minha queixa? Afinal a dição que é oferecida ao homem? Terceiro, por que a angústia é existência é um debate; poderei pedir que a minha observa- ambivalente e, sendo, ambivalente, necessária à construção da ção seja posta à consideração? Se se há de tomar a existência singularidade? Antes de prosseguir, permitam-me apenas uma como ela é, não seria então melhor que nos fosse dado saber observação: Kierkegaard refere-se à condição humana e não à como ela é? (Kierkegaard, 2009, p. 107-108) natureza humana. Essa distinção é capital para o entendimento da relação angústia, liberdade e singularidade. 4 Kierkegaard, 2007, nas páginas 74, 75, 76, 84, 124 56 Jorge Miranda de Almeida Angústia e Repetição: da Filosofia à Psicologia 57</p><p>A liberdade em Conceito de Angústia é em re- que é a angústia? Como ela se relaciona com a repeti- lação a "aquele discrimen rerum, em que o pecado adentra o in- ção? A angústia é a vertigem da liberdade, "que surge quando o divíduo enquanto pessoa individual" (Kierkegaard, 2010, p.54) espírito quer estabelecer a síntese e, a liberdade olha para baixo, (e somente na condição de pessoa singular em que pese a re- para sua própria possibilidade, e então agarra a finitude para nela dundância é que se pode relacionar consigo mesmo e com a firmar-se" (Kierkegaard, 2009, p. 66). Penso que é prudente es- própria condição. E qual é a condição do homem enquanto sin- tabelecer duas observações para poder lidar com a angústia em gularidade? Segundo Vigilius Haufniensis, é ser-capaz-de (Idem, Kierkegaard. A primeira é que ela diz respeito à relação da possi- bilidade com a individualidade em sua luta e mediante a escolha p.48). Mas ser capaz de quê? No Diario (V 56, 2), encontra-se a afirmação de que a liberdade é ser-capaz-de. Tratar-se-ia de uma que essa individualidade realiza. Nessa perspectiva, o que angus- enigma? Não. Ser capaz de concretizar a si mesmo a partir do tia não é a liberdade, é a angústia, pois uma vez concretizada a salto qualitativo em que os contrários do finito e infinito, tempo- liberdade, não há porque angustiar, entra o temor, pois trata-se ral e eterno, necessidade e liberdade, possibilidade e liberdade se de algo já determinado. A segunda: a relação do com concretizem no tornar-se do próprio homem, isto é, na concre- pecado. pecado é fruto de uma decisão pessoal, é por isso tização do dom (gave) em tarefa (opgave) em uma determinada que pecado é posto precisamente pelo fato de que o indivíduo situação. Tarefa essa que será concretizada mediante o poder e o o como indivíduo. Por isso, de acordo com o filósofo dina- risco, porque o saber no que diz respeito ao edificante e ao exis- a angústia significa duas coisas: "a angústia na qual um tente é completamente indiferente. indivíduo pecado, por meio do salto qualitativo, e a angús- Em Conceito de Angústia a possibilidade se identifica tia que sobreveio e sobrevém com o pecado" (Kierkegaard, 2009, com a definição do homem enquanto ser-capaz-de enquanto p. 59). É o salto qualitativo que permite o ser posto do indivíduo forma superior da angústia (Kierkegaard, 2009, p. 48). A pos- enquanto si mesmo, por isso novamente a tese de que "a angústia sibilidade da liberdade, segundo Kierkegaard, não consiste em é, entretanto, uma expressão da perfeição da natureza humana" poder escolher o bem ou mal. A possibilidade consiste em (Kierkegaard, 2009, p. 78). ser-capaz-de. Ser capaz do quê? De assumir a si mesmo como a O pecado surgiu na angústia e trouxe consigo, por sua vez, determinação intermediária. que isto significa? Concretizar a angústia. Ora, o pecado introduz uma questão a que os pro- a síntese entre liberdade e necessidade, ou seja, ter a maturida- fissionais e docentes de filosofia devem ater-se com um pouco de de realizar a síntese em si mesmo, porque "a angústia não é mais de paciência, o pecado revela outra ordem de situações em uma determinação da necessidade, mas tampouco o é da liber- que a pessoa deve confrontar-se: o bem não é um conceito. dade; ela consiste em uma liberdade enredada" (Kierkegaard, bem é a liberdade. Contudo, a liberdade não é uma probabilida- 2009, 53). Angústia é a condição para a condição humana. de da possibilidade; é uma ação que tem valor decisivo por toda a Sem embargo, diz Kierkegaard, "a angústia não é, nem nes- eternidade; portanto, tem um valor decisivo para a subjetividade te caso nem em outro qualquer, uma imperfeição no homem, diante de si mesma e no instante da contemporaneidade do po- e pode-se dizer, ao contrário, que quanto mais original é um der que a pôs. Novamente, o pecado não constitui um problema homem, tanto mais profunda será sua angústia" (Kierkegaard, científico e a única ciência que pode entender alguma coisa é a 2009, 57). Psicologia; mas, segundo Kierkegaard, "ela confessa espontanea- Angústia e Repetição: da Filosofia à Psicologia 59 58 Jorge Miranda de Almeida</p><p>mente que não explica, não pode e nem quer explicar mais além" de angústia, Vigilius afirma que pecado entra, portanto, como (Kierkegaard, 2009, p. 55). o súbito, isto é, pelo salto; mas este salto ao mesmo tempo a É oportuno estabelecer que na obra A Doença Mortal é ana- qualidade; mas, quando a qualidade é posta, no mesmo instante lisada a relação entre pecado e desespero. A segunda parte da o salto está voltado para dentro da qualidade e é pressuposto pela obra é intitulada desespero e pecado. pecado é definido nessa qualidade e a qualidade pelo salto." (Kierkegaard, 2010, 34). É obra numa perspectiva estética, isto é, onde o indivíduo sonha nesse contexto que se pode compreender a afirmação de que o em vez de ser e mantém apenas uma relação estética de imagina- pecado não ocupa lugar algum, pois pecado não é um estado. ção com o bem e a verdade e não ousa concretizar o bem e a ver- Porém, é de suma importância para a Psicologia a afirmação dade reduplicando-os em cada ato. pecado tem no desespero da possibilidade real do pecado, isto porque, considerando o ho- o seu traço mais decisivo: ser desespero. Segundo o autor Anti- mem como de possibilidade e liberdade, a possibilidade climacus, pecado não é o desregramento da carne e do sangue, significa a abertura e a inconclusividade, logo, a não determina- mas consentimento dado pelo espírito a esse desregramento" ção dos atos humanos. Possibilidade significa campo aberto para (Kierkegaard, 1974, p. 385). Do exposto, é possível deduzir que a tornar-se, para fazer-se, para inaugurar-se. A angústia engendra angústia é uma categoria do enquanto a segunda é uma e é engendrada no devir existencial em que a escolha por um categoria da carência do espírito. entre os diversos modos de existência é estabelecida e a decisão Para Kierkegaard, o pecado não é de interesse da Psicologia, por este modo é concretizada. mas ela pode contribuir para compreender a atmosfera em que Antes de estabelecer-se como homem, o homem está em vi- se produz o pecado e suas consequências. Categoricamente ele gília, numa espécie de inocência. Não há angústia, mas também afirma: que pode ocupar a Psicologia e aquilo com que ela não existe homem. A tese de Vigilius é a de que "na inocência, pode ocupar-se é: como o pecado pode surgir, e não: que ele sur- o ser humano não está determinado como espírito, mas determi- ge" (Kierkegaard, 2010, p. 24). A Psicologia, continua afirman- nado psiquicamente em unidade imediata com sua naturalidade. do o pensador nórdico, está, sem saber, a serviço de uma outra espírito está sonhando no homem." (Kierkegaard, 2010, p. 44). ciência, mas essa outra ciência também ajuda a Psicologia, pois Nesse estado há paz e repouso, continua o autor da obra; há, con- enquanto esta última sonda a possibilidade real do pecado, a ou- tudo, outra coisa além da paz e repouso que está latente. que tra explica a possibilidade ideal do pecado. seria então? Mas, nada que efeito provoca? nada faz nas- Por que nem a Psicologia e nenhuma outra ciência pode ex- cer a angústia. Este é, segundo Kierkegaard, o segredo profundo plicar o pecado real? Por que ele acontece mediante um salto, isto da inocência, que ela é ao mesmo tempo angústia. é, mediante a escolha por uma possibilidade que não garante ne- A angústia enquanto identificada com a inocência, isto é, nhuma eficiência ou realidade. A realidade é concretizada após a com a qualificação do espírito que sonha pertence à Psicologia, decisão. Se é correto denominar a Psicologia "a doutrina do espí- pois no estado de vigília é posta a diferença entre mim mesmo e rito subjetivo" (Kierkegaard, 2010, p. 25), existe uma esfera que meu outro (eu). Quando a angústia se torna a realidade da liber- é inapreensível para essa ciência que é exatamente o salto, essa dade como possibilidade da possibilidade, ela extrapola o âmbito "subtaneidade do enigmático" (Kierkegaard, 2010, p. 32). Para se da competência da Psicologia (Kierkegaard, 2010, p. 44) e má- ter uma noção da complexa concepção do pecado em conceito ximo que essa ciência pode atingir é manter-se em sua elástica 60 Jorge Miranda de Almeida Angústia e Repetição: da Filosofia à Psicologia 61</p><p>ambiguidade, isto porque o seu objeto de análise, a subjetivida- à angústia do que o homem; então se a angústia deve ser tomada de, não sendo determinado, é concebido como um-ser-capaz-de na direção da liberdade, a mulher é muito mais propensa à liber- e enquanto tal, capaz dos mais nobres atos como também dos dade do que o homem; estabelece ainda a relação entre a angús- atos mais vis. tia e a sexualidade. Infelizmente por uma questão de tempo para É preciso aprender a Observe-se o a exposição e delimitação da abordagem do tema angústia e não Não está dito é preciso ensinar a angustiar-se; mas aprender a an- a análise da obra Conceito de angústia, não será possível uma gustiar-se, pois quem não se educa em seu movimento perde-se a análise desses tópicos. Porém é importante mencionar que, para si mesmo; por isso, evidencia Kierkegaard: "aquele que aprendeu Kierkegaard, o sexual não é pecaminoso, como era natural se a angustiar-se corretamente, aprendeu o que há de mais eleva- acreditar em sua época e como é para alguns dos seus comenta- do" (Kierkegaard, 2010, p. 163). E que se aprende na angústia? dores; muito pelo contrário, sem a sexualidade não há história; A estabelecer a repetição como meta. O que isto significa? Rom- por isso, na ressurreição, a diferença sexual fica abolida e, por per com a finitude, recuperando-a no movimento de concreti- isso também, os anjos não têm história. Só a partir do sexual, a zação da contradição, isto é, recuperar a finitude no momento síntese é posta como contradição, isto é, como tarefa. em que se decide pelo eterno. Mas, há uma outra observação Para tornar essa tese mais clara, Kierkegaard utiliza exem- importante: precisar que é preciso aprender a angustiar-se corre- plo de Adão. tamente significa que há uma angústia incorreta, qual seria essa? Como se aloja no homem a angústia incorreta? Kierkegaard não Na inocência, Adão, enquanto era um espírito so- desenvolve isso, mas deixa boas pistas. nhando. A síntese não era, portanto, real; visto que o vin- que é fundamental neste estudo é estabelecer mais uma culante é justamente o espírito, e este ainda não foi posto vez, como uma boa repetição, que a angústia é a determinação como No animal, a diferença sexual ode estar de- existencial que humaniza o homem. A tese exposta no caput V senvolvida de modo instintivo, mas deste modo um homem de O Conceito de Angústia esclarece que estamos afirmando, não pode justamente porque ele é síntese. No instante pois "se um humano fosse um animal ou um anjo, não poderia em que o espírito se institui a si mesmo, institui a angustiar-se. Dado que ele é uma síntese, pode angustiar-se, e porém, para instituir a síntese, antes precisa perpassa-la di- quanto mais profundamente se angustia, tanto maior é o ser hu- ferenciando-a e o extremo do está justamente no mano" (Kierkegaard, 2010, p. 163). sexual. Este ponto extremo o homem só pode alcançar no Dessa forma, a angústia é "absolutamente formadora, na instante em que espírito se torna real. Antes desta hora, medida em que consome todas as coisas finitas, descobre todas ele não era um animal, mas não era de modo algum pro- as ilusões" e "aquele que é formado pela angústia é formado pela priamente um homem; apenas no momento em que se possibilidade, e só quem é formado pela possibilidade está for- torna homem, torna-se tal ao ser simultaneamente animal. mado de acordo com sua infinitude. A possibilidade é a mais (Kierkegaard, 2010, p. 53 p. 164). pesada de todas as categorias" (Kierkegaard, 2010, p. 164). Veja bem a importância da sexualidade na constituição Kierkegaard propõe uma distinção entre angústia objetiva e da personalidade do indivíduo singular segundo a interpreta- angústia subjetiva. Esclarece também que a mulher é mais sujeita ção kierkegaardiana: Adão, enquanto não concretizou a síntese 62 Jorge Miranda de Almeida Angústia e Repetição: da Filosofia à Psicologia 63</p><p>que perpassa a sexualidade, não era propriamente um homem, mento dessa nossa conversa teve o propósito de evidenciar situ- era um espírito sonhando; logo, para espírito tornar-se real, é ações ou ocasiões propícias à atmosfera em que essas categorias preciso perpassar pelo sexual. Em relação à questão de pudessem ser evocadas e colocadas à disposição como argila. Kierkegaard afirma "que homem e a mulher são essencialmen- Tentei evidenciar também que Kierkegaard não é um te iguais, apesar da diversidade. A expressão da diferença está autor fácil. Ele decididamente não quer ser fácil. Penso que é em que a angústia é mais refletida em Eva do que em Adão. Isso preciso cultivar a amizade desse pensador estabelecendo com tem sua razão no fato de que a mulher é mais sensual do que o ele uma forma de diálogo íntimo. Quando ele se refere ao seu homem" (Kierkegaard, 2010, p. 68). leitor com tanta intimidade, o bom ouvinte poderia retribuir o convite, dialogando, conversando. De outra forma, pode-se transformar Kierkegaard num de filosofia ou de psi- Considerações em andamento cologia ou de literatura e nesse sentido ele se revira na tumba maior perigo para quem pretende estudar e se relacio- onde já não há mais possibilidade da repetição e da angústia e, na impotência da morte, lamenta que tenhamos entendido nar com Kierkegaard e com a sua produção é querer determinar invertidamente sua proposta. as categorias existenciais conceitualmente. Se alguém com sede de erudição e vigor acadêmico tem essa pretensão, ou incorre Não é possível, a partir do encaminhamento que estabele- ci, a angústia deslocada da repetição. Elas inauguram o huma- numa tremenda falta com a verdade para com os escritos e para no do homem, elas formam as condições para que a contradi- com o propósito do pensador ou desvirtua sua produção, deturpando e manipulando contribuições filosóficas, ção seja estabelecida, elas são as próprias determinações que psicológicas, teológicas, literárias e poéticas de rara profundi- permitam que o homem deixe de ser um sonho ou um projeto dade e beleza. de Deus para que seja uma decisão do homem por Deus e com Em relação às categorias angústia e repetição, a ironia utili- Deus em sua respectiva singularidade. A repetição é a zada propositadamente por Kierkegaard serve como uma garan- da do eterno em minha temporalidade. Repito a mim mesmo, tia de que aquele que consegue dialogar em voz alta com sua pro- pois decidi no meu agora existencial apostar no meu eterno e dução não deve ter a presunção de conceituar o que pede para ser essa ação é realizada mediante a angústia; se não for ela mesma, vivido singularmente. Por exemplo, como conceituar a angústia a própria angústia. Mas nessa conversa não é possível ir tão sem engessá-la em uma determinada situação e transformá-la em longe para afirmar que a repetição é a angústia e a angústia é conceito? Mas, quando se conceitua, representa-se a angústia e ao a repetição... quem sabe numa próxima conversa para darmos continuidade a essas considerações. representá-la não é mais angústia, pois esta acontece mediante o salto qualitativo no momento em que salto é realizado. mesmo valor tem a categoria da repetição. A repetição é um movimento para frente, é a inauguração do eterno no temporal, que também não se deixa enclausurar numa determinação conceitual. É preciso querer o paradoxo. Mais: é preciso realizar o para- doxo para conviver com a angústia e a repetição. encaminha- 64 Jorge Miranda de Almeida Angústia e Repetição: da à Psicologia 65</p><p>Referencias bibliográficas Kierkegaard, S.A. (1980) Diario. Roma: Morcelliana. Tradução Corne- lio Fabro. (Trabalho original publicado em 1844) Deleuze, Gilles. (1988) Diferença e Repetição. (Luiz Orlandi, Roberto VAlls, A. L. M. Kierkegaard cá entre nós. São Paulo: LiberArs, 2012. Machado, Trad.) Rio de Janeiro: Graal. (original publicado em Vergote, H.-B. (1982) Sens et Répétition Essai sur l'ironie kierkegaar- 1968) dienne. V.II. França: Ferro, N. (2007) In: Kierkegaard, Adquirir sua alma na paciência. Tra- dução e notas. Évora: Coleção Teofanias, Edição 1094. Kierkegaard, S.A. (1986). Ponto de vista explicativo da minha obra como escritor, (João Gama Trad.) Lisboa: Edições 70. (Trabalho original publicado em 1859) Kierkegaard, S. A. (1974) A Doença Mortal desespero humano. 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