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<p>Caso “A Dama Dourada”</p><p>Maria Altmann, uma mulher comum que dedicou quase uma vida inteira a vender casaquinhos de cashmere em Los Angeles, teria permanecido anônima se não tivesse se decidido, com mais de 80 anos, a travar uma das batalhas judiciais mais famosas do mundo das artes, digna de ser representada pela atriz Helen Mirren – detentora de três Globos de Ouro, quatro Emmys, um Tony e um Oscar – no filme A Dama Dourada.</p><p>Com ajuda apenas de um advogado, Altmann conseguiu obter de volta, em 2006, cinco quadros que haviam sido roubados de sua família pelos nazistas, em 1938. Entre eles estava o “Retrato de Adele Bloch-Bauer”, uma das obras mais famosas de Gustav Klimt, hoje exposta na galeria Neue, em Nova York.</p><p>Sobre a pintura</p><p>A modelo, Adele, era também tia de Altmann. Adele e o marido, o magnata do açúcar Ferdinand, pertenciam a alta classe vienense e viviam sempre cercados por grandes compositores, escritores e artistas da época.</p><p>Gustav Klimt, pintor que presidia o movimento artístico que rompia drasticamente com a arte acadêmica e dava as mãos ao modernismo, já era famoso no início do século 20 e também participava dos jantares na casa do casal.</p><p>Como as mulheres eram o principal tema da sua arte, Klimt recebia muitos pedidos de donzelas que queriam ser retratadas. Os maridos dessas mulheres, como Ferdinand, também engrossavam o coro, apesar de correr em todos os salões que Klimt também seduzia suas musas.</p><p>Teria sido o próprio Ferdinand quem conseguiu convencer Klimt a retratar Adele, a única mulher a ser pintada por ele mais de uma vez. O primeiro retrato oficial dela pelo artista demorou quatro anos para ficar pronto. É bem provável que, nesse período, o pintor e a musa tenham tido um romance. Ainda foram pintadas para a família outro retrato de Adele, assim como três pinturas de paisagem.</p><p>Mal-entendido</p><p>De saúde frágil, Adele morreu de meningite com apenas 44 anos, em 1925. Em seu testamento, ela pedia para para que todas as obras de Klimt fossem doadas para a Galeria de Estado de Viena. E foi esse detalhe que tornou a batalha de Maria Altmann mais árdua.</p><p>O governo da Áustria se apoiou por muitos anos no testamento de Adele para impedir que as obras voltassem para a família Bauer. Altmann, no entanto, sempre teve um contra-argumento ainda mais potente: como morreu em 1925, sua tia jamais saberia que alguns anos depois a Áustria seria invadida pelos nazistas e que todas os pertences da família, incluindo joias e instrumentos musicais, seriam tomados pelo exército alemão.</p><p>Como consequência da invasão, Altmann teve que fugir da Áustria com o marido, o cantor de ópera Fritz Altmann. Conseguiram ir para a Inglaterra dias depois da invasão, e depois foram para Los Angeles, em 1945.</p><p>Batalha judicial</p><p>Na década de 1990, um jornalista austríaco descobriu que Ferdinand Bloch-Bauer, que sobreviveu à invasão e chegou a se exilar na Suíça, colocou em seu testamento que as obras de Klimt deveriam ser devolvidas a sua família.</p><p>Primeiro, Altmann tentou negociar diretamente com a Áustria, mas não foi tratada com seriedade pelas autoridades do país. Anos depois, ela descobriu que era possível processar a Áustria a partir dos Estados Unidos. O caso foi parar na Suprema Corte norte-americana e, em janeiro de 2006, a Áustria foi obrigada a devolver todas as pinturas à herdeira.</p><p>No mesmo ano, as pinturas foram compradas por Ronald Lauder, dono da Neue Galerie, em Nova York, onde as obras estão expostas até hoje. As obras foram estimadas em US$ 150 milhões. Só o “Retrato de Adele” foi comprado por US$ 135 milhões, o que representou o maior retorno único de arte saqueada pelos nazistas.</p><p>Uma grande parte do dinheiro ganho com a venda das pinturas foi destinado ao Museu do Holocausto em Los Angeles e a outras instituições filantrópicas. O restante, Altmann distribuiu para a família.</p>