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<p>Adenoma pleomórfico</p><p>Seminário Estomatologia II</p><p>Introdução:</p><p>1. O adenoma pleomórfico ou tumor misto benigno é a neoplasia mais comum de glândulas salivares</p><p>a. Esse tumor benigno acomete principalmente glândulas salivares maiores, com predileção pela parótida. Lesões intraorais são menos comuns e ocorrem preferencialmente no palato.</p><p>2. Os adenomas pleomórficos são derivados de uma mistura de elementos ductais e mioepiteliais, uma marcada diversidade microscópica pode existir de uma neoplasia para outra, bem como em diferentes áreas de um mesmo tumor</p><p>3. Independentemente do sítio de origem, ele se apresenta como um aumento de volume, indolor e de crescimento lento, o paciente pode ter notado a presença da lesão há muitos meses ou anos, antes de procurar por um atendimento</p><p>a. Pode ocorrer em qualquer faixa etária, porém é mais comum em adultos jovens e adultos de meia idade, entre as idades de 30 a 60 anos</p><p>b. É também a neoplasia de glândula salivar menor primária mais comum na infância</p><p>c. Há uma predileçõa pelo sexo feminino</p><p>4. Como supracitado, acomete principalmente glândulas salivares maiores, sendo a glândula parótida a mais comum, na região intra-oral as localizações mais comum são palato , seguida de lábio superior e pela mucosa jugal. Nós iremos discutir brevemente as características específicas na região de glândulas parótida e na região de palato</p><p>a. Na parótida:</p><p>i. A maior parte das lesões ocorre no lobo superficial e se apresenta como um aumento de volume no ramo mandibular, à frente da orelha.</p><p>1. A dor e a paralisia do nervo facial são raras. Inicialmente são móveis e tendem a se tornar menos móveis com seu crescimento.</p><p>2. A negligência pode resultar em lesões grotescas.</p><p>ii. 10% se desenvolvem no lobo profundo da glândula, abaixo do nervo facial.</p><p>1. Algumas vezes crescem medialmente, entre o ramo ascendente e o ligamento estilomandibular, resultando em uma lesão com formato de haltere, que se apresenta como um aumento de volume na parede lateral da faringe pi no palato mole.</p><p>iii. Em raras ocasiões adenomas pleomórficos bilaterais têm sido relatados, desenvolvendo em padrão sincrônico ou metacrônico</p><p>b. Bom, com respeito ao palato, representa aproximadamente 50-60% dos exemplos intraorais</p><p>i. São encontradas na região lateral posterior do palato, apresentando-se como um aumento de volume de formato arredondado e de superfície lisa.</p><p>ii. Uma ulceração secundária pode surgir decorrente de traumas na área.</p><p>iii. Em decorrência da mucosa do palato ser firmemente aderido a ele, essa lesão tende a ser imóvel</p><p>5. Características histopatológicas</p><p>a. Lesão normalmente encapsulada e bem circunscrita, a cápsula pode ser incompleta ou exibir infiltração pelas células neoplásicas. Essa falta de encapsulação completa é mais comum nos tumores de glândula salivar menor, especialmente ao longo da porção superficial daqueles do palato, abaixo da superfície epitelial.</p><p>b. O parênquima da lesão é composto de uma mistura de epitélio glandular e células mioepiteliais dentro de um fundo semelhante ao mesênquima. A proporção dos elementos epiteliais e do componente semelhante ao mesênquima é altamente variável dentre as diferentes neoplasias. Algumas consistem quase que inteiramente em um fundo “estromal”. Outras são altamente celulares, com poucas alterações de fundo. Geralmente, o epitélio forma ductos e estruturas císticas, ou pode ocorrer na forma de ilhas ou cordões de células. Células escamosas produtoras de queratina ou células produtoras de muco também podem ser vistas</p><p>c. Algumas células mioepiteliais são arredondadas e possuem núcleo excêntrico e citoplasma eosinofílico hialinizado, lembrando plasmócitos. Essas células mioepiteliais plasmocitoides características são mais proeminentes nas neoplasias oriundas de glândulas salivares menores</p><p>6. Tratamento</p><p>a. O melhor tratamento é a excisão cirúrgica</p><p>i. a. Para lesões localizadas no lobo superficial da glândula parótida, é recomendada a parotidectomia superficial, com identificação e preservação do nervo facial. A enucleação local deve ser evitada, pois a neoplasia pode não ser completamente removida ou a cápsula pode ser violada, resultando na permanência de células no leito tumoral.</p><p>ii. Para lesões localizadas no lobo profundo da glândula parótida, a parotidectomia total geralmente é necessária, se possível com a preservação do nervo facial.</p><p>iii. Os do palato duro são, geralmente, excisados abaixo do periósteo, incluindo a mucosa sobrejacente.</p><p>b. Com a remoção cirúrgica adequada, o prognóstico é excelente, com uma taxa de cura de mais de 95%. O risco de recorrência parece ser menor para os adenomas pleomórficos de glândula salivar menor</p><p>c. Uma complicação potencial é a transformação maligna, resultando em um carcinoma ex-adenoma pleomórfico. O provável risco de transformação maligna é pequeno, mas pode ocorrer em aproximadamente 3% a 4% de todos os casos</p><p>Relato de caso</p><p>7. Paciente A.S.F, sexo feminino, melanoderma, 37 anos de idade, lavradora, natural da cidade de Jacobina-Ba, compareceu a clínica de Estomatologia II na data de 22 de maio de 2023, queixando-se de "Dor no céu da boca, acompanhada de pontada no ouvido e na cabeça, e algumas vezes com pontadas na área lesionada".</p><p>8. Durante a avaliação da história da doença atual foi informado que o aumento de volume localizado em região de palato mole do lado esquerdo, apresentou início há aproximadamente 12 anos, porém a exacerbação do volume e a presença de dor ocorreu nos últimos 3 anos.</p><p>9. Nos últimos 12 meses relatou que ocorreram episódios de otalgia, cefaleia e dificuldade de deglutição.</p><p>10. Com relação a condição sistêmica, não apresenta alterações diagnosticadas.</p><p>11. Durante a consulta apresentou PA com valores de 150/90 mmHg, FC de 40 BPM e FR de 19 IPM.</p><p>12. Ao exame extraoral não apresentou assimetria, aumento de volume ou alterações de cor, relatando sensação dolorosa em linfonodos cervicais (não especificamos, colocar ou não?) do lado esquerdo.</p><p>13. Ao exame intraoral apresentou nódulo arredondado, com coloração arroxeada, superfície lisa, com consistência firme, base séssil, com as proporções de 2 cm x 1,5 cm, localizada em região esquerda de palato mole.</p><p>Discussão</p><p>14. Diagnóstico sugestivo: adenoma pleomórfico</p><p>15. Discussão do Caso: O palato mole é um sítio bem incomum para a maioria das lesões, tornando o exercício de sugestão de diagnóstico mais difícil, porém a características de aumento de volume, de forma nodular e firme, com o crescimento lento e assintomático, pelo menos até o tamanho começar a incomodar em ações como deglutição, assim relatado pela paciente, nos fez pensar em uma neoplasia benigna, e a presença de glândulas salivares menores na região, e a existência de casos nesse sítio, relatada na literatura nos levou a hipótese de Adenoma pleomórfico.</p><p>16. Outras fatos colaboraram a hipótese, como o sexo feminino, o formato arredondado, e a superficie lisa. Pelo fato de se apresentar no palato mole, a lesão, apesar de firme, era móvel, diferentemente de quando ocorre no palato duro. A coloração arroxeada não é comum nesse tipo de lesão, mas pode ser devido a presença de muco salivar nos ductos que podem estar envolvidos na lesão.</p><p>17. A paciente também relatou dores de cabeça e ouvido, mas ao aferir a pressão da paciente, foi constatado um aumento considerável, podendo justificar essas dores como consequência de uma pressão arterial aumentada, a paciente então foi encaminhada para um acompanhamento médico cardiovascular.</p><p>18. Diagnóstico diferencial: Para chegarmos em um diagnóstico final, é necessário algumas etapas, uma delas é a eliminação de possíveis diagnósticos parecidos, algumas lesões podem ser citadas como:</p><p>I. Neoplasias malignas como: carcinoma mucoepidermóide, adenocarcinoma polimorfo - Crescimento lento x rápido, Ulcerações e pontos necróticos ( Lesões malignas tendem ser mais agressivas e de crescimento acelerado, diferente da lesão que encontramos, porém é sempre interessante um exame histopatológico para confirmar)</p><p>II. Carcinoma adenóide cístico: Neoplasia</p><p>com mesmas características do adenoma, incluindo um crescimento mais lento do que o normal para neoplasias malignas, ainda sim 12 anos é muito tempo</p><p>III. Lipoma: Mais comum na mucosa jugal e vestibular, Textura amolecida(Tecido adiposo), e coloração amarelada</p><p>IV. Mucocele: Cor Arroxeada, Mais comum no lábio inferior e ventre de língua, Textura amolecida</p><p>19. Procedimento para diagnóstico: biópsia incisional</p><p>a. Por ser um local de difícil acesso, não sabermos a real extensão da lesão, ser uma área onde a remoção de uma grande parte da lesão, seria ruim pro paciente, e apesar de termos quase certeza que não há malignidade, ainda existe a possibilidade, portanto optamos pela biópsia incisional. O procedimento cirúrgico foi iniciado após anestesia local, com bisturi convencional e lâmina 15C,foi realizada uma manobra que consistia em passar um fio de sutura na região da lesão que iríamos biopsiar, a fim de dar um maior suporte e evitar que a paciente engula a região biopsiada, e então foi feita a incisão com o bisturi, a fim de pegar uma porção da lesão, e o tecido sadio também, em um formato elíptico, após feita a remoção do tecido, foi feito 3 pontos simples de forma que haja uma cicatrização em primeira intenção, e 7 dias depois, a paciente retornou, e retiramos os ponto, e a região estava se comportando como esperado, já cicatrizando.</p>