Prévia do material em texto
<p>1</p><p>POLÍTICAS PÚBLICAS E A QUESTÃO SOCIAL</p><p>1</p><p>Sumário</p><p>INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 3</p><p>A QUESTÃO SOCIAL ............................................................................................. 5</p><p>OS DIREITOS SOCIAIS ....................................................................................... 10</p><p>POLÍTICA E GASTO SOCIAL NA CONSTITUIÇÃO ............................................ 12</p><p>DESENVOLVIMENTO E O PENSAMENTO ECONÔMICO-SOCIAL ................... 15</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 17</p><p>REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 20</p><p>2</p><p>NOSSA HISTÓRIA</p><p>A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários,</p><p>em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-</p><p>Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo</p><p>serviços educacionais em nível superior.</p><p>A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de</p><p>conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação</p><p>no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.</p><p>Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que</p><p>constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de</p><p>publicação ou outras normas de comunicação.</p><p>A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma</p><p>confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base</p><p>profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições</p><p>modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,</p><p>excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.</p><p>3</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>A quem cabe a gestão das políticas públicas? Quem deve se responsabilizar por</p><p>propor, implementar, gerir e avaliar ações que visam substanciar direitos que todos</p><p>nós consideramos essenciais, como o acesso à educação, a saúde, a moradia, ao</p><p>trabalho, à seguridade e mesmo princípios fundamentais como o direito a uma vida</p><p>digna?</p><p>Esta pergunta não tem uma resposta simples. Não apenas depende de quais</p><p>pressupostos cada uma parte para respondê-la, como da dinâmica de luta de projetos</p><p>diversos a respeito de como deve ser organizada a sociedade, que envolve questões</p><p>políticas e compreensões culturais diversas.</p><p>Uma das respostas, aquela que corresponde aos defensores e apologistas da forma</p><p>atual de ordenamento social em que vivemos - a sociedade capitalista -, é que as</p><p>diferentes demandas sociais devem ser garantidas pelo mesmo mecanismo que</p><p>oferece bens e serviços aos indivíduos, isto é, o mercado. Segundo esta visão liberal,</p><p>na livre concorrência os capitalistas oferecem bens e serviços como mercadorias em</p><p>busca do lucro, mas ao fazer isso oferecem empregos e distribuem salários que</p><p>permitem aos trabalhadores o acesso ás mercadorias e, desta forma, tudo ocorreria</p><p>da melhor forma, no melhor dos mundos, como diria um personagem de Voltaire.</p><p>O mito liberal se desfez na crise do capital e na emergência da fase monopolista,</p><p>mas, sobretudo pela entrada em cena das classes trabalhadores que apresentam</p><p>suas demandas na forma de uma “questão social” que exige respostas. Neste ponto</p><p>o Estado entra como principal protagonista das políticas públicas como parte</p><p>integrante de seu papel de gerir as condições gerais da reprodução que garantissem</p><p>a acumulação capitalista. Este modelo assumiu várias formas que vão desde o pacto</p><p>social-democrata do chamado Estado do bem-estar social, o New deal norte</p><p>americano de inspiração keynesiana e até mesmo as ditaduras militares latino-</p><p>americanas que desenvolviam as políticas públicas de forma a neutralizar o chamado</p><p>inimigo interno na lógica da guerra fria.</p><p>O fato é que este modelo acabou gerando um esgotamento do Estado, uma vez que</p><p>a esperada diminuição da questão social pelo desenvolvimento do mercado (o mito</p><p>4</p><p>liberal ainda sobrevive aqui) não se verificou, pelo contrário, o desenvolvimento</p><p>capitalista aprofundou as desigualdades e a concentração da riqueza. A grande crise</p><p>dos anos 80 e a reestruturação produtiva empreendida pelo capital no período,</p><p>colocaram a “questão social” em um novo patamar explosivo que exigia soluções.</p><p>Em um primeiro momento prevalece um retorno aos preceitos liberais de que o Estado</p><p>deveria se retirar e deixar que o mercado tomasse conta da questão, daí o chamado</p><p>“neoliberalismo”. Mas nada volta ao que era, na fase atual o capitalismo monopolista</p><p>não pode viver sem o Estado, daí que tem se apresentado uma síntese, tão sedutora</p><p>quanto perversa. O Estado deveria atender às demandas sociais por meio de</p><p>“parcerias” com a “sociedade”, envolvendo-as na implementação, gestão e avaliação</p><p>das políticas públicas.</p><p>Parece sedutor, pois mobilizaria a sociedade e desenvolveria políticas mais</p><p>adequadas às necessidades reais e particulares, evitando o centralismo burocrático</p><p>e a gestão autoritária das políticas. No entanto, analisando mais profundamente, este</p><p>caminha leva a uma armadilha.</p><p>Primeiro que particulariza as ações e quebra seu caráter universalizante, ou seja,</p><p>todos tem direito e devem ter acesso às ações. Segundo que sob o manto de dar</p><p>autonomia aos sujeitos (o tal de empowerment) delega o fazer, mas raramente</p><p>partilha a decisão e as ações acabam sendo determinadas pela disponibilidade</p><p>orçamentária, ou seja, “direitos temos, mas é preciso ver se há recursos”!</p><p>Por fim, mais uma vez, caímos na armadilha: o chamado “terceiro setor” desenvolve</p><p>ações com verbas do Estado e este depende da arrecadação de impostos que</p><p>dependem do bom andamento da economia capitalista. A base do consenso é que</p><p>deveríamos todos nos unir para fazer a economia crescer, para depois buscar a</p><p>satisfação de nossas necessidades.</p><p>5</p><p>A QUESTÃO SOCIAL</p><p>A Questão Social é a expressão da contradição fundamental do modo capitalista de</p><p>produção capitalista. Contradição esta, fundada na apropriação privada da riqueza</p><p>produzida coletivamente: os trabalhadores produzem a riqueza e os capitalistas se</p><p>apropriam dela. Sendo assim, o trabalhador não usufrui das riquezas por ele</p><p>produzidas.</p><p>Ao utilizarmos, na análise da sociedade, a categoria questão social, estamos</p><p>realizando uma análise na perspectiva crítica de luta de classes e, deste modo,</p><p>propomos ressaltar os antagonismos, contradições e lutas entre trabalhadores e</p><p>capitalistas, no acesso aos direitos, nas condições de vida. Destacamos a</p><p>necessidade de analisar as causas da desigualdade para melhor projetar a forma de</p><p>superá-la, compreendendo o que estas desigualdades produzem na sociedade e na</p><p>subjetividade dos homens. Sendo a Questão Social uma categoria proveniente do</p><p>movimento da realidade, nós podemos observar suas expressões: o desemprego, o</p><p>analfabetismo, a fome, a miséria, a falta de leitos em hospitais, a violência, dentre</p><p>outros, e, de forma central, a pobreza e a desigualdade (NETTO 2007; CARVALHO</p><p>e IAMAMOTO 1983, SANTOS 2012; MONTAÑO 2012).</p><p>Concordamos com Netto (2007) que a caracterização da pobreza e da desigualdade</p><p>não se reduz a aspectos socioeconômicos, ao contrário, trata-se, nos dois casos, de</p><p>problemáticas pluridimensionais, relacionadas à mediações complexas; às</p><p>determinações de natureza político-cultural e, desta forma, há diferentes padrões de</p><p>desigualdade e de pobreza vigentes nas várias formações econômico-sociais</p><p>capitalistas.</p><p>Portanto, há que sempre ter presente a concepção da pluridimensionalidade.</p><p>Contudo, para explicar e compreender a pobreza e a desigualdade é necessário não</p><p>perder seus</p><p>fundamentos socioeconômicos, pois quando esses fundamentos são</p><p>esquecidos, o resultado é a naturalização ou a culturalização daquelas. Nas</p><p>sociedades em que vivemos, pobreza e desigualdade estão intimamente vinculadas</p><p>à dinâmica econômica do modo de produção capitalista. No entanto, os padrões de</p><p>desigualdade e de pobreza não são meras determinações econômicas: porque é</p><p>6</p><p>necessária à acumulação capitalista, ou seja, à produção capitalista, operar, de forma</p><p>simultânea, produzindo riqueza e pobreza de forma polarizada. Portanto, sobre as</p><p>relações entre crescimento econômico, pobreza e desigualdade, pode-se afirmar que</p><p>estão longe de justificar o discurso segundo o qual somente o crescimento econômico</p><p>pode permitir a redução da pobreza, ou seja, a diminuição da desigualdade.</p><p>Neste terreno contraditório entre a lógica do capital e a lógica do trabalho, a questão</p><p>social representa não só as desigualdades, mas também o processo de resistência e</p><p>luta dos trabalhadores. Sendo a “tensão entre produção da desigualdade e produção</p><p>da resistência e rebeldia” (IAMAMOTO, 1997, p.28), por isto ela é uma categoria que</p><p>reflete a luta dos trabalhadores e dos segmentos mais subalternizados, na luta pelos</p><p>seus direitos econômicos, sociais, políticos, culturais e que sintetiza as determinações</p><p>prioritárias do capital sobre o trabalho, onde o objetivo é acumular capital e não</p><p>garantir condições de vida para toda a população.</p><p>Desta forma, segundo Behring e Boschetti (2006), a generalização dos direitos</p><p>políticos é resultado da luta da classe trabalhadora e, se não conseguiu instituir uma</p><p>nova ordem social, contribuiu significativamente para ampliar os direitos sociais, para</p><p>tencionar, questionar e mudar o papel do Estado no âmbito do capitalismo, a partir do</p><p>final do século XIX e início do século XX. Ainda segundo as autoras, o surgimento</p><p>das políticas sociais como forma de enfrentamendo da questão social foi gradativo e</p><p>diferenciado entre os países, com base nos movimentos e organizações</p><p>reivindicatórias da classe trabalhadora e na correlação de forças no âmbito do Estado.</p><p>Estas transformações afetam as relações de trabalho e o cotidiano do trabalhador,</p><p>em seus direitos como a educação, a saúde, a habitação, o lazer, a vida privada.</p><p>Contudo, o que permanece é o modelo societário capitalista sob o qual ocorrem tais</p><p>modificações.</p><p>Contudo, os chamados “Anos de Ouro” do capitalismo “regulado” e do WelfareState</p><p>começam a entrar em decadência no final dos anos 1960. As taxas de crescimento,</p><p>a capacidade do Estado de exercer suas funções mediadoras entre capital e trabalho</p><p>deixou de ser a mesma, contrariando expectativas de pleno emprego, base</p><p>fundamental daquela experiência. As dívidas públicas e privadas cresceram</p><p>grandemente. A primeira grande recessão – catalisada pela alta dos preços do</p><p>petróleo em 1973/1974 – foram os sinais marcantes de que o sonho do pleno emprego</p><p>7</p><p>e da cidadania, relacionada à proteção social, estava abalado no capitalismo central</p><p>e comprometido na periferia do capital, onde não se realizou efetivamente. As elites</p><p>político-econômicas, então, começaram a questionar e responsabilizar pela crise a</p><p>atuação regulatória do Estado de Bem-Estar Social, especialmente naqueles setores</p><p>que não revertiam diretamente em favor de seus interesses. E aí se incluíam as</p><p>políticas sociais (BEHRING, 2009).</p><p>O neoliberalismo no final dos anos de 1970 e 1980 espraiou-se na década de 1990</p><p>em todo o mundo, foi uma reação teórica e política ao keynesianismo e ao</p><p>WelfareState. A tese neoliberal atribui a crise ao poder excessivo dos sindicatos, com</p><p>sua pressão sobre os salários e os gastos sociais do Estado, ou seja, segundo o</p><p>neoliberalismo a crise é um resultado do keynesianismo e do WelfareState. A</p><p>concepção neoliberal para sair da crise pode ser resumida nas seguintes proposições:</p><p>1) um Estado forte para controlar e/ou destruir o poder dos sindicatos e controlar a</p><p>moeda; 2) um Estado fraco para os gastos sociais e regulamentações econômicas;</p><p>3) Contenção dos gastos sociais e restauração de uma taxa natural de desemprego,</p><p>ou seja, a manutenção de trabalhadores desempregados, “exército industrial de</p><p>reserva” - que com sua fragilidade de sobrevivência permite que o capitalismo faça</p><p>pressões sobre os salários e os direitos, com o objetivo de elevar as taxas de mais-</p><p>valia e de lucro para capital. (BEHRING, 2009).</p><p>Na América Latina, pode-se identificar uma expansão do neoliberalismo no final dos</p><p>anos de 1980. Se na Europa Ocidental, durante o período pós-guerra, foi construído</p><p>um Estado de Bem-Estar-Social, que promovia um sistema universal de provisão</p><p>social, incorporando subalternamente alguns interesses dos trabalhadores, na</p><p>América Latina isso não foi uma realidade.</p><p>O capitalismo tardio e dependente no continente não encontrou nas medidas</p><p>adotadas pelos dirigentes do Estado um direcionamento que garantisse a construção</p><p>de sociedades com menores índices de desigualdades sociais. Assim sendo, o</p><p>impacto provocado pelas políticas de ajuste Neoliberal contribuiu para o</p><p>aprofundamento da concentração de renda, propriedade e poder no continente</p><p>(DRAIBE 1993).</p><p>No Brasil, em comparação com outras partes do mundo, houve uma chegada tardia</p><p>do neoliberalismo, que tem relação com a força do processo de redemocratização e</p><p>8</p><p>saída da ditadura militar. O conceito de Seguridade Social inscrito na Constituição de</p><p>1988 representa um ensaio do Brasil a uma política de Bem estar social, apesar de</p><p>suas restrições a apenas três políticas e da tensão entre universalidade e</p><p>seletividade, que está presente em seus princípios. Contudo, no país, logo após a</p><p>constituinte de 1988, o neoliberalismo começou a sua expansão propositiva na</p><p>década de 1990 (DRAIBE 1993).</p><p>A fase neoliberal diverge com a implementação de políticas sociais universais, porque</p><p>há a alocação de recursos do fundo público, que seriam destinados para a seguridade</p><p>social e maior qualidade das políticas sociais (reprodução da força do trabalho), para</p><p>a reprodução do capital com investimentos na indústria, comércio, agronegócio,</p><p>faculdades particulares, fundações de direito privado, inovações tecnológicas em</p><p>favor das empresas, entre outros.</p><p>A contrarreforma brasileira exerce uma pressão para que a proposta constitucional</p><p>não saia do papel por diversas formas (clientelismo, criação de políticas paralelas,</p><p>desfinanciamento das políticas públicas, criação de uma cultura particularista e</p><p>individualista) reproduzindo a cultura política brasileira de uma sociedade civil</p><p>comportada e sob controle. Portanto, reconhecendo a importância dos espaços</p><p>públicos, muitas vezes utilizam dos Conselhos para exercer uma ação moralizadora</p><p>e controladora da população - segundo Behring e Boschetti (2006), muitas vezes os</p><p>conselheiros são indicados pelo poder governamental.</p><p>A trajetória das políticas sociais brasileiras está trilhando o caminho da privatização,</p><p>focalização e de desresponsabilização do Estado. Esse perfil de política econômica</p><p>e social tem impactos na sociedade brasileira, agravando as expressões da questão</p><p>social, principalmente relacionados à pobreza, desigualdade social e violência, que</p><p>tem seus recortes de cor e gênero, que se misturam para acentuar as diferenças</p><p>sociais, no acesso aos direitos à educação, saúde, moradia, trabalho, infraestrutura</p><p>urbana básica, entre outros. As consequências da suposta falta de recursos do</p><p>Estado, para a cobertura das políticas sociais, são sérias e duradouras e tem levado</p><p>ao retorno do Estado policial.</p><p>9</p><p>Segundo Netto (2007), na atual fase do capital, não estamos diante de uma “nova”</p><p>questão social, mas sim compreendemos que estamos confrontados com novas</p><p>expressões da questão social. A “velha” questão social ainda não foi resolvida e,</p><p>então, com a complexidade da dinâmica capitalista, também temos novas</p><p>problemáticas e complexificação de situações, que antes não eram socialmente</p><p>reconhecidas como significativas (violência urbana, migrações involuntárias, conflitos</p><p>étnicos e culturais, opressão/exploração nas relações de gênero etc). Portanto, esta</p><p>questão social exponenciada comprova a permanência da pobreza e da</p><p>desigualdade, permanência essa que tem desafiado todo o empenho de técnicos e</p><p>profissionais que se comprometeram com políticas de erradicação da pobreza e</p><p>redução das desigualdades.</p><p>Se, de fato, o combate às desigualdades não faz parte do conjunto prático-ideológico</p><p>do neoliberalismo, é seu elemento constitutivo um elenco de programas sociais</p><p>voltados ao enfrentamento da pobreza. O combate à pobreza se estabelece como</p><p>uma política específica que envolve a desresponsabilização do Estado e do setor</p><p>público, concretizada em fundos reduzidos, corresponde à responsabilização abstrata</p><p>da “sociedade civil” e da “família” pela ação assistencial; enorme relevo é concedido</p><p>às organizações não-governamentais e ao chamado terceiro setor com a</p><p>privatização/mercantilização dos serviços a que podem recorrer em conjunto com os</p><p>serviços públicos de baixa qualidade.</p><p>Netto (2007) destaca que - considerando a orientação macroeconômica dos planos</p><p>de ajuste econômico neoliberal, que não deixa destinar maiores recursos para</p><p>investimentos em infraestrutura de saneamento, em serviços socioassistenciais, em</p><p>equipamentos coletivos de saúde e em gastos sociais - o que se tem na América</p><p>Latina neoliberal são ações mínimas no campo dos direitos sociais, para enfrentar</p><p>uma “questão social” cada vez mais generalizada, tendo em vista que essas ações</p><p>minimalistas não evitam ou não reduzem a pobreza.</p><p>10</p><p>OS DIREITOS SOCIAIS</p><p>A longevidade do ser humano é uma conquista concreta da sociedade</p><p>contemporânea considerando-se neste sentido os avanços da ciência e da tecnologia</p><p>alcançados nas últimas décadas do século XX e sua repercussão na primeira década</p><p>do século XXI. Diante destas conquistas perfilaram-se por um lado, direitos</p><p>assegurados a uma população que envelhece a passos largos e de outro, uma gama</p><p>de necessidades que passaram a demarcar o cotidiano da pessoa idosa.</p><p>Ao analisarmos a realidade brasileira perceberemos que o reconhecimento dos</p><p>direitos dos idosos e de suas necessidades é matéria recente contemplada em</p><p>legislações específicas que datam da década de 90 (a Política Nacional do idoso-PNI,</p><p>promulgada em 1994, o Estatuto do Idoso, datado de 2003). Antes dessas legislações</p><p>temos a Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS, de 1993, que reconhece o Idoso</p><p>como um dos sujeitos de atenção prioritária das ações no campo da assistência</p><p>social.</p><p>Como desdobramento deste fundamento legal a área da assistência social passou a</p><p>ser reconhecida como direito do cidadão e dever o Estado, conquistou o estatuto de</p><p>política pública com a promulgação no ano 2004 da Política Nacional de Assistência</p><p>Social – PNAS, definida como política não contributiva, que prevê a provisão de</p><p>mínimos sociais, a ser realizada através de um conjunto integrado de ações de</p><p>iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento das necessidades</p><p>básicas conforme previsto no capítulo da seguridade social constante no texto</p><p>constitucional vigente no país, aprovado no ano de 1988 do século XX.</p><p>A referida política foi implementada no país tendo por base reguladora o Sistema</p><p>Único de Assistência Social - SUAS, concebido como modelo de gestão</p><p>descentralizado e participativo, o qual estabelece como elementos imprescindíveis à</p><p>execução da política os seguintes eixos estruturantes: “a matricialidade sociofamiliar;</p><p>a descentralização político-administrativa e territorialização; novas bases para a</p><p>relação entre Estado e sociedade civil; financiamento; controle social; participação</p><p>popular do cidadão usuário; política de recursos humanos e um sistema de</p><p>informação monitoramento e avaliação”. São eixos que demonstram o estatuto de</p><p>11</p><p>política pública com claro comprometimento do Estado no sentido de assegurar a</p><p>infraestrutura necessária para a sua implementação.</p><p>Constitui público usuário da Política de assistência social, “cidadãos e grupos que se</p><p>encontram em situações de vulnerabilidade e riscos, tais como: famílias e indivíduos</p><p>com perda ou fragilidade de vínculos de afetividade, pertencimento e sociabilidade”,</p><p>conforme os termos concebidos pela legislação que disciplina as ações nesta área de</p><p>políticas públicas. (Brasil, PNAS, p.27.) Os idosos ao lado de outros segmentos</p><p>sociais compõem na política de assistência social o núcleo de atenção prioritária. Ao</p><p>lado das ações da política de Assistência Social a pessoa idosa também figura como</p><p>núcleo de atenção nas políticas de saúde e previdência social, componentes do eixo</p><p>das políticas de seguridade social constantes na Constituição brasileira vigente, e que</p><p>tiveram desdobramentos nos anos subseqüentes. Como se pode perceber são ações</p><p>que passam a compor a agenda pública brasileira apenas nas últimas décadas do</p><p>século XX e na primeira década do novo século, o que passa a demandar políticas,</p><p>programas e projetos que reconheçam a pessoa idosa enquanto sujeito de direitos.</p><p>12</p><p>POLÍTICA E GASTO SOCIAL NA CONSTITUIÇÃO</p><p>A estruturação de acordos políticos que permitem a gestação de um conjunto amplo</p><p>de políticas sociais no âmbito do Estado é muito recente no Brasil, sendo a</p><p>Constituição Federal (CF) de 1988 um importante marco neste processo, tanto em</p><p>possibilidades de ampliação de acesso quanto de tipos de benefícios sociais. A partir</p><p>da Constituição de 1988, as políticas sociais brasileiras têm como finalidade dar</p><p>cumprimento aos objetivos fundamentais da República, conforme previsto no seu Art.</p><p>3º. Assim, por intermédio da garantia dos direitos sociais, buscar-se-ia construir uma</p><p>sociedade livre, justa e solidária, erradicar a pobreza, a marginalização, reduzir as</p><p>desigualdades sociais e regionais e promover o bem de todos sem preconceitos ou</p><p>quaisquer formas de discriminação.</p><p>Para tanto, a Constituição combinou medidas que garantiam uma série de direitos</p><p>sociais, ampliando o acesso da população a determinados bens e serviços públicos</p><p>e garantindo a regularidade do valor dos benefícios. No Capítulo dos Direitos</p><p>Individuais e Coletivos, o Art. 6o estabeleceu como direitos a “educação, a saúde, o</p><p>trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à</p><p>infância, a assistência aos desamparados”.</p><p>A moradia foi reconhecida como direito social pela Emenda Constitucional n o 26, de</p><p>14 de fevereiro de 2000, mas ainda carece de regulamentação para afirmar-se nesse</p><p>patamar. A Constituição estabeleceu ainda, no Art. 7 o (inciso IV), o salário mínimo,</p><p>fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender as necessidades vitais dos</p><p>trabalhadores. Mais importante foi o estabelecimento do princípio da vinculação entre</p><p>salário mínimo e o piso dos benefícios previdenciários e assistenciais permanentes.</p><p>No caso da Previdência Social, o 5 o do Art. 201 estabelece que “nenhum benefício</p><p>que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá</p><p>valor mensal inferior ao salário mínimo”. No caso da Assistência Social, o Inciso V, do</p><p>Art. 203 estabelece “a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa</p><p>portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a</p><p>própria manutenção ou tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei”.</p><p>13</p><p>Na parte da sustentabilidade de recursos, a Constituição criou principalmente o</p><p>Orçamento da Seguridade Social, que deveria primar pela diversidade das bases de</p><p>financiamento, passando a contar com uma série de contribuições sociais. O Art. 195</p><p>da CF dispõe que o financiamento será oriundo de toda a sociedade, de forma direta</p><p>e indireta, mediante recursos</p><p>provenientes dos orçamentos da União, dos estados,</p><p>do Distrito Federal e dos municípios, e de contribuições arrecadadas dos</p><p>empregadores, trabalhadores e sobre as receitas de concursos de prognósticos.</p><p>Reconheceu a importância da área de educação, ao aumentar a vinculação de</p><p>recursos federais para esta política3 e ao manter a contribuição social do salário</p><p>educação.</p><p>Além disso, refletiu o espírito descentralizador do período, mediante o fortalecimento</p><p>fiscal e financeiro de estados e municípios, e ampliação de sua autonomia na</p><p>responsabilidade de gastos em determinadas áreas. Esse conjunto de inovações,</p><p>pelo alcance de seu significado, descortinava perspectivas promissoras para a</p><p>existência de políticas sociais de Estado, com garantia legal de recursos públicos para</p><p>sua implementação. Indicava que o poder público em uma sociedade como a</p><p>brasileira passaria a exercer um papel essencial e intransferível na produção,</p><p>provisão e na regulação de bens e serviços, além da defesa dos interesses coletivos</p><p>e na assunção do social como verdadeiro bem público.</p><p>A Constituição, refletindo os anseios por maior descentralização, produziu um novo</p><p>arranjo das relações federativas. A redefinição de funções e de poderes de decisão</p><p>entre as unidades federadas, que envolveu transferências de recursos da União para</p><p>estados e municípios, trouxe fortes conseqüências para a dinâmica do gasto social</p><p>brasileiro no decorrer dos anos 1990. No tocante às receitas, a Constituição</p><p>aprofunda o movimento de descentralização que já vinha se configurando desde o</p><p>início da década de 1980. Redistribuiu competências tributárias entre as esferas</p><p>governamentais, beneficiando os estados, e principalmente os municípios, além de</p><p>ampliar transferências constitucionais, que alteraram a repartição da arrecadação</p><p>tributária em favor dessas esferas. Com isso, aumentava a capacidade de</p><p>financiamento dos gastos públicos desses entes federados, o que podia significar</p><p>menor dependência em relação à União na cobertura das políticas sociais. Além</p><p>disso, a Constituição manteve os percentuais da receita de impostos vinculados à</p><p>área da educação para estados e municípios.</p><p>14</p><p>Se, por um lado, a Constituição fez com clareza a distribuição das receitas entre os</p><p>entes federados, por outro lado não tratou adequadamente da distribuição de</p><p>responsabilidades relativas aos encargos sociais entre esses mesmos entes,</p><p>submetendo à legislação ordinária os pontos mais polêmicos. Este processo gerou</p><p>desequilíbrios e controvérsias que iriam perdurar durante toda a década de 1990.</p><p>As reações logo se fizeram notar: alguns analistas viram nesse movimento um</p><p>aumento do grau de rigidez orçamentária, uma vez que foram definidas maiores</p><p>vinculações de receitas, incremento das despesas de caráter obrigatório e maiores</p><p>transferências constitucionais a estados e municípios. Com isso, grande parte da</p><p>receita do governo federal ficaria comprometida e a alocação de recursos para</p><p>atender outras e/ou novas prioridades ficaria restringida.</p><p>Argumentava-se ainda que qualquer ampliação do esforço para aumentar a</p><p>arrecadação não necessariamente ajudaria no equilíbrio orçamentário e no controle</p><p>do déficit público, dado que grande parte desses recursos adicionais já teria</p><p>destinação definida – salvo o caso de recursos adicionais oriundos da criação de</p><p>novos impostos.</p><p>15</p><p>DESENVOLVIMENTO E O PENSAMENTO ECONÔMICO-SOCIAL</p><p>O estudo da questão do desenvolvimento assume, no caso brasileiro, dimensões</p><p>históricas bastante particulares e específicas. Sempre associado à idéia de</p><p>modernidade e de mudança o desenvolvimento aparece, de um lado, como elemento</p><p>central do discurso republicano, estruturando uma determinada concepção ideal de</p><p>nação a ser perseguida; de outro lado, como mote elementar do discurso econômico-</p><p>científico à guisa de uma perspectiva evolutiva.</p><p>O apelo à modernidade aparece de forma mais explícita no advento da era</p><p>republicana. Ele pode ser já identificado, porém, no conturbado período imperial,</p><p>sobretudo em seus últimos anos, quando duas questões fulcrais permaneceram sem</p><p>reposta: a exclusão de grande parte da força de trabalho dos setores produtivos,</p><p>notadamente no caso do segmento afrodescendente e, de outro lado, a manutenção</p><p>de uma estrutura fundiária extremamente concentrada. Forjava-se assim um espólio</p><p>de atraso que a nova ordem republicana deveria afrontar.</p><p>A resposta no plano ideológico inicialmente se chamou “progresso” – que se juntou à</p><p>“ordem” na nossa bandeira. O lema de inspiração positivista representa a resposta</p><p>republicana àquelas questões e traz implícita a necessidade do caminhar para um</p><p>outro cenário: o cenário da modernidade e do progresso. Em linhas gerais, a resposta</p><p>continua como uma marca permanentemente perseguida nesta trajetória republicana</p><p>brasileira.</p><p>Na segunda metade do século XX, a situação ideal e limite – de busca de</p><p>modernidade e/ou do progresso – ganha a designação de “desenvolvimento”.</p><p>Desenvolvimento que, em sua trajetória, assume contornos diversos nos discursos</p><p>vigentes sobretudo nas últimas décadas: marcadamente associado ao aspecto</p><p>econômico até os anos 1970, assumindo em seguida um significado mais social nos</p><p>anos 1980, passando, nos anos 1990, a adotar uma conotação de desenvolvimento</p><p>sustentado e, hoje, mais vinculado à questão da maior ou menor inserção do país na</p><p>economia globalizada. De todo modo, a perspectiva modernizante-</p><p>desenvolvimentista tem como base a idéia da mudança, de transição em direção a</p><p>uma nova situação, na qual o perfil social e econômico do país assumiria o tão</p><p>perseguido patamar de modernidade.</p><p>16</p><p>O desenvolvimento como meta denunciaria assim a situação inversa vivenciada: o</p><p>subdesenvolvimento. Subdesenvolvimento que esteve sempre associado à presença</p><p>de um segmento não-moderno – em geral designado de setor de subsistência ou</p><p>setor informal – em convivência com um segmento moderno, percebido como</p><p>capitalista ou setor de mercado (Singer, 1977). O grosso da produção intelectual e/ou</p><p>acadêmica brasileira dos anos 1950 a 1970 também parece ter aderido à perspectiva</p><p>dualista. Inspirados no trabalho pioneiro de Lewis (1954), autores importantes como</p><p>o próprio Singer, além de Celso Furtado, Milton Santos, entre outros, reafirmaram a</p><p>centralidade da análise dual na construção de uma teoria do desenvolvimento e da</p><p>mudança social.3 É portanto nesse contexto que ao binômio progresso-</p><p>desenvolvimento tem sido contraposto o lado arcaico-atrasado da sociedade</p><p>brasileira. O setor não-moderno não é associado apenas à baixa densidade de</p><p>capital, baixa produtividade ou reduzido dinamismo, mas é também portador de</p><p>alguns signos historicamente vistos como pecha. O ideário do Brasil não-moderno é</p><p>permeado de exemplos e/ou figuras emblemáticas, caso do caboclo rural e do mestiço</p><p>urbano, ambos tidos como indolentes e despreparados para o trabalho, legatários do</p><p>caráter negativo atribuído desde há muito ao negro.</p><p>No contexto acadêmico brasileiro, o conceito de desenvolvimento, ao longo de sua</p><p>trajetória, e em seus diferentes matizes, conserva pelo menos três caracteres gerais.</p><p>O primeiro diz respeito à manutenção de uma visão dualista, a despeito das críticas</p><p>renitentes. Com efeito, a visão dual perdura, ainda que implicitamente, e mesmo as</p><p>abordagens mais atuais, como a neoliberal e a da sustentabilidade, não lograram sua</p><p>proscrição. O segundo tem a ver com a permanência do crescimento econômico</p><p>como elemento central dentro de uma perspectiva etapista, ainda que nem sempre</p><p>tão mecânica quanto em Rostow (1960), mas por vezes numa ótica histórico-marxista</p><p>cuja ênfase reside numa pré-traçada trajetória do desenvolvimento das forças</p><p>produtivas. Finalmente, o apelo à modernidade aparece como o traço comum às</p><p>diferentes abordagens: do progresso dos anos 1930 à inserção na globalização dos</p><p>tempos atuais, a</p><p>busca da modernidade constitui o Leitmotiv de um projeto de nação,</p><p>de um talvez eterno “país do futuro”. Nessa perspectiva, forja-se uma idéia de</p><p>desenvolvimento que é dual, etapista e modernizante, além de funcional como núcleo</p><p>do discurso do interesse geral.</p><p>17</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Estamos diante de um contexto em que, se a educação em saúde não puder formar</p><p>profissionais críticos (intelectuais orgânicos para os interesses da população</p><p>trabalhadora ao invés do Complexo Médico Industrial), com certeza o campo do</p><p>trabalho e da formação será cada vez mais apropriado pelos interesses do capital,</p><p>sem a resistência teórica e política dos trabalhadores da saúde.</p><p>Nos termos de Iamamoto (2008), teleologia e causalidade advêm da seguinte</p><p>problemática: o exercício profissional realiza-se pela mediação do trabalho</p><p>assalariado que tem no Estado e nos organismos privados suas bases de</p><p>sustentação. Verifica-se um embate entre o exercício profissional controlado pelos</p><p>empregadores, as necessidades dos usuários e a autonomia do profissional - com</p><p>isso podemos dizer que é neste cenário conflituoso que a prática na saúde ganha</p><p>materialidade; prática está sujeita a determinações históricas que fogem ao controle</p><p>dos profissionais e impõem limites sociais a seus objetivos (causalidade) e, por outro</p><p>lado, existem, na prática profissional, momentos de possibilidades de ações</p><p>planejadas na defesa de um projeto alternativo de prática social (teleologia). Para que</p><p>o profissional tenha condições de perceber as possibilidades existentes na realidade,</p><p>necessita de uma formação que lhe dê condições de conhecer o significado social da</p><p>sua profissão e as possibilidades presentes no real, para além dos seus limites.</p><p>Como orienta Netto (2007), a compreensão do significado social da profissão e da</p><p>dinâmica do capitalismo contemporâneo permite ao profissional reconhecer os limites</p><p>e as possibilidades da intervenção profissional. Segundo o autor, o limite de nenhuma</p><p>ação profissional poder acabar com a pobreza e a desigualdade na sociedade</p><p>capitalista, mas isso não desqualifica o fato de que níveis e padrões de pobreza e</p><p>desigualdade podem variar e, sobre essa redução, pode incidir e contribuir a ação</p><p>profissional.</p><p>Segundo Iamamoto (2008), a condição de venda e compra da força de trabalho</p><p>restringe, em graus variados, a autonomia profissional na direção social de seu</p><p>exercício, com incidências na sua configuração técnico-profissional. A condição</p><p>assalariada – seja como funcionário público ou assalariado de empregadores</p><p>privados, empresariais ou não – envolve, necessariamente, a incorporação de</p><p>parâmetros institucionais e trabalhistas que regulam as relações de trabalho e</p><p>18</p><p>recortam as expressões da “questão social” que podem se tornar matéria da atividade</p><p>profissional. Assim, as exigências impostas pelos distintos empregadores também</p><p>incidem nas requisições feitas ao profissional e estabelecem limites e possibilidades</p><p>à realização dos propósitos profissionais.</p><p>Quando os profissionais estão envolvidos por condições teóricas que dificultam a</p><p>crítica da administração da coisa pública na sociedade capitalista - condições também</p><p>determinadas pela qualidade da graduação -, estes têm grande chance de aderir às</p><p>reformas neoliberais, contribuindo para fortalecer propostas de desmonte do Estado,</p><p>de centralidade do mercado como critério de organização da sociedade; ou seja,</p><p>propostas que enfraquecem e desqualificam o SUS.</p><p>Todas as modalidades de residência em saúde são especializações profissionais na</p><p>área da saúde e devem pensar, criticar e propor sua correlação com o</p><p>desenvolvimento do sistema de saúde de nosso país. Nesse sentido, visualiza-se a</p><p>interface com os estudos e pesquisas da residência, área do conhecimento que</p><p>estuda, constrói e desenvolve tecnologias para a análise de situação de saúde e</p><p>também para a produção de conceitos e práticas no campo da integralidade das</p><p>ações, serviços e sistemas de saúde.</p><p>Diante do enfrentamento de uma política de Contrarreformas, a afirmação de um</p><p>projeto profissional e projeto político pedagógico voltado para uma formação crítica,</p><p>reflexiva, teórico-metodológica, técnico operativa e ético-política é de extrema</p><p>importância para a formação dos profissionais para o fortalecimento do SUS.</p><p>Consideramos que no contexto avesso ao SUS universal e de qualidade a alternativa</p><p>para resistir aos ditames do capital é formar profissionais/intelectuais críticos e</p><p>consonantes com os princípios e diretrizes do SUS para que a relativa autonomia</p><p>reservada aos profissionais de nível superior possa ser aproveitada a favor da luta</p><p>pela saúde coletiva.</p><p>É preciso destacar que enquanto a lógica neoliberal - nesses moldes atuais de</p><p>parasita do SUS - não for enfrentada de forma estrutural, seja com o fim do</p><p>subfinanciamento do nosso sistema de saúde público, seja na disputa do perfil de</p><p>formação dos trabalhadores da saúde, seja na regulação das especialidades e</p><p>residências de acordo com as necessidades de saúde da população e não do</p><p>mercado, seja na criação de estratégias de absorção desses profissionais pelo SUS</p><p>19</p><p>público e não pela rede privada ou pública terceirizada, o caminho de fortalecimento</p><p>do SUS será mais dificultoso.</p><p>Cabe lembrar que o movimento sanitário entendia que o modelo de assistência à</p><p>saúde implementado no Brasil durante a ditadura militar – curativo, individual,</p><p>assistencialista, médico-centrado, hospitalocêntrico, superespecializado, orientado</p><p>para o lucro e favorecimento do complexo médico industrial – era altamente</p><p>excludente, insustentável financeiramente e incapaz de dar resposta às necessidades</p><p>de saúde da população. Como alternativa se propunha a reorientação desse modelo</p><p>assistencial através da criação de um Sistema Único de Saúde estatal orientado pela</p><p>atenção básica e guiado por princípios como a universalidade, integralidade e</p><p>equidade. Esses dois processos – modelo de atenção e recursos humanos – são</p><p>quase impossíveis de discutir separadamente e, ainda que se avalie como de</p><p>imprescindível importância a discussão em torno da formação de recursos humanos</p><p>para o SUS, consideramos essencial buscar meios para garantir que o modelo de</p><p>atenção e o trabalho no SUS atendam aos desafios que estão sendo colocados para</p><p>a implementação do sistema.</p><p>20</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>http://portal.metodista.br/gestaodecidades/publicacoes/artigos/questao-social-</p><p>politicas-publicas-e-a-questao-da-gestao</p><p>http://uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170608151415.pdf</p><p>http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2011/CdVjornada/JORNADA_EIXO_2011/</p><p>MESAS_TEMATICAS/SERVICO_SOCIAL_QUESTAO_SOCIAL_E_POLITICAS_PU</p><p>BLICAS_NO_BRASIL_E_NA_COLOMBIA.pdf</p><p>https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/Cap_6-10.pdf</p><p>https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/Cap_9-10.pdf</p>