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<p>Organizado por CP Iuris</p><p>ISBN 978-65-5701-089-1</p><p>DIREITO AMBIENTAL</p><p>SISTEMATIZADO</p><p>4ª edição</p><p>Brasília</p><p>2023</p><p>SOBRE O AUTOR</p><p>RAFAEL ROCHA. Procurador Federal em exercício no Núcleo de Atuação Prioritária</p><p>em Improbidade Administrativa da Procuradoria-Regional Federal da 1ª Região. Ex-</p><p>Promotor de Justiça do MPBA.</p><p>SUMÁRIO</p><p>CAPÍTULO 1. MICROSSISTEMA JURÍDICO DE TUTELA AMBIENTAL ..................................... 7</p><p>......................................................................................................................................... 19</p><p>SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE — SISNAMA .................................................. 19</p><p>1.1. CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE HUMANO E CRIAÇÃO DO SISNAMA</p><p>................................................................................................................... 20</p><p>1.2. ESTRUTURA DO SISNAMA ............................................................................................ 21</p><p>1.2.2. Órgão Consultivo e Deliberativo ................................................................... 23</p><p>1.2.3. Órgão Central .............................................................................................. 27</p><p>1.2.4. Órgãos Executores ....................................................................................... 27</p><p>1.2.5. Órgãos Seccionais ........................................................................................ 28</p><p>1.2.6. Órgãos Locais............................................................................................... 29</p><p>1.3. POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE .......................................................................... 29</p><p>1.3.1. Criação e diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente ......................... 30</p><p>1.3.2. Constitucionalização da Tutela Ambiental e da Política Nacional do Meio</p><p>Ambiente .............................................................................................. 38</p><p>1.4. OBJETIVOS ................................................................................................................. 49</p><p>1.5. INSTRUMENTOS ........................................................................................................... 52</p><p>1.5.1. Licenciamento ambiental ............................................................................. 54</p><p>1.5.2. Avaliações de Impacto Ambiental ................................................................ 84</p><p>1.5.3. Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente — Sinima — e</p><p>Cadastro Ambiental Rural — CAR.......................................................... 91</p><p>1.5.4. Cadastro Técnico Federal ............................................................................. 95</p><p>SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA ........................... 99</p><p>2.1. CRIAÇÃO DO SNUC .................................................................................................... 102</p><p>2.5.1. Unidades de Conservação da Natureza ...................................................... 113</p><p>2.5.2. Zonas de Amortecimento ........................................................................... 134</p><p>DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS - DETEPS .................... 136</p><p>2.2.2. Delimitação das Áreas de Reserva Legal .................................................... 167</p><p>SISTEMA NACIONAL E GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS - SNGRH ................. 185</p><p>2.2.1. Conselho Nacional de Recursos Hídricos ..................................................... 192</p><p>2.3. POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS ................................................................... 201</p><p>2.4. OBJETIVOS ............................................................................................................... 207</p><p>2.5. INSTRUMENTOS ......................................................................................................... 208</p><p>2.5.1. Outorgas .................................................................................................... 210</p><p>2.5.2. Cobrança pelos Usos dos Recursos Hídricos ................................................ 217</p><p>SISTEMA DE RESPONSABILIZAÇÃO POR ILÍCITOS AMBIENTAIS...................................... 221</p><p>1. RELEMBRANDO O MICROSSISTEMA JURÍDICO DE TUTELA AMBIENTAL — MTA ......... 222</p><p>2.1. CRIAÇÃO DO SISRESPIA E DEFINIÇÃO DA TRÍPLICE RESPONSABILIZAÇÃO POR ILÍCITOS AMBIENTAIS . 225</p><p>2.2. RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA E EVOLUÇÃO HISTÓRICA ............................................. 228</p><p>file:///C:/Users/EDITORA-CP01/Downloads/E-book%20direito%20ambiental%202022%20revisado%20(2)%20(1)%20(1).docx%23_Toc125527361</p><p>file:///C:/Users/EDITORA-CP01/Downloads/E-book%20direito%20ambiental%202022%20revisado%20(2)%20(1)%20(1).docx%23_Toc125527363</p><p>file:///C:/Users/EDITORA-CP01/Downloads/E-book%20direito%20ambiental%202022%20revisado%20(2)%20(1)%20(1).docx%23_Toc125527381</p><p>file:///C:/Users/EDITORA-CP01/Downloads/E-book%20direito%20ambiental%202022%20revisado%20(2)%20(1)%20(1).docx%23_Toc125527386</p><p>file:///C:/Users/EDITORA-CP01/Downloads/E-book%20direito%20ambiental%202022%20revisado%20(2)%20(1)%20(1).docx%23_Toc125527389</p><p>file:///C:/Users/EDITORA-CP01/Downloads/E-book%20direito%20ambiental%202022%20revisado%20(2)%20(1)%20(1).docx%23_Toc125527397</p><p>2.2.1. Teoria Geral da Responsabilidade Administrativa ...................................... 231</p><p>2.3. RESPONSABILIDADE CIVIL E TUTELA PROCESSUAL ............................................................... 248</p><p>2.3.1. Responsabilidade Objetiva ......................................................................... 251</p><p>2.3.2. Responsabilidade Solidária......................................................................... 256</p><p>2.3.3. Responsabilidade Imprescritível ................................................................. 262</p><p>2.3.4. Inversão do Ônus da Prova ......................................................................... 264</p><p>2.3.5. Desconsideração da Personalidade Jurídica ............................................... 267</p><p>2.3.6. Dano Moral Coletivo .................................................................................. 268</p><p>2.3.7. Obrigação de Fazer, de Não Fazer e de Indenizar ....................................... 270</p><p>2.4. RESPONSABILIDADE PENAL ........................................................................................... 271</p><p>GABARITO ...................................................................................................................... 273</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................... 275</p><p>RAFAEL ROCHA MICROSSISTEMA JURÍDICO DE TUTELA AMBIENTAL • 1</p><p>7</p><p>MICROSSISTEMA JURÍDICO DE</p><p>TUTELA AMBIENTAL</p><p>1</p><p>RAFAEL ROCHA MICROSSISTEMA JURÍDICO DE TUTELA AMBIENTAL • 1</p><p>8</p><p>1. COMPREENDENDO O MICROSSISTEMA JURÍDICO DE</p><p>TUTELA AMBIENTAL</p><p>É cada vez mais urgente e necessária a correta e completa compreensão do</p><p>Direito Ambiental no Brasil, porquanto se trata do ramo do Direito que disciplina</p><p>um dos maiores e mais importantes conflitos mundiais da atualidade e do futuro:</p><p>A necessidade de desenvolvimento econômico para a prosperidade das nações com</p><p>a adequada e suficiente preservação ambiental do planeta.</p><p>A centralidade desse polêmico conflito é constatada diariamente com as</p><p>notícias veiculadas pelos órgãos de imprensa, revelando calorosas discussões e</p><p>guerras de narrativas sobre o acerto ou o desacerto das políticas públicas</p><p>ambientais no Brasil e no mundo.</p><p>Os noticiários demonstram, por exemplo, que países ricos e desenvolvidos</p><p>fazem exigências ambientais ao Brasil como condições para a manutenção e o</p><p>estabelecimento de importantes acordos comerciais internacionais, sobretudo</p><p>envolvendo os Estados Unidos da América, a União Europeia e o Mercosul.</p><p>Empresas multinacionais, bancos internacionais e portentosos fundos financeiros</p><p>também esperam a comprovação da eficácia das políticas públicas</p><p>etc., só se legitimam com a prévia</p><p>autorização dos órgãos do Sisnama4, sob pena de se caracterizar a prática de crime</p><p>ambiental5.</p><p>Outras práticas cruéis certamente também serão proibidas, como a prova</p><p>bulldog em rodeios, que utiliza bezerros e que já deixou um animal tetraplégico na</p><p>festa do peão de Barretos/SP, em 2011, e a produção e comercialização de foie</p><p>gras, que consiste no patê de fígado de gansos submetidos a uma vida confinada e</p><p>com alimentação forçada para que o órgão do animal fique hiperdesenvolvido.6</p><p>Portanto, como visto, em nosso ordenamento jurídico há uma destacada</p><p>preocupação com o bem-estar dos animais, razão pela qual — dentre as</p><p>concepções filosóficas e ético-ambientais abaixo — considera-se que a Constituição</p><p>da República adotou o antropocentrismo moderado (ADI n.º 4983) ou com doses</p><p>do biocentrismo, porquanto conferiu especial proteção aos animais,</p><p>independentemente dos interesses do homem:</p><p>• Antropocentrismo (clássico): A proteção ambiental tem como única</p><p>finalidade servir ao homem;</p><p>• Ecocentrismo: Valor não instrumental dos ecossistemas, que devem ser</p><p>considerados em si mesmos, independentemente de qualquer interesse</p><p>humano, podendo ser defendidos até mesmo contra os seres humanos.</p><p>2 Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou</p><p>domesticados, nativos ou exóticos;</p><p>3 Prevalece que são de propriedade da União.</p><p>4 Nos termos da Resolução n.º 457/13.</p><p>5 Art. 29 da Lei Federal n.º 9.605/98.</p><p>6 Será apreciado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE n.º 1.030.732.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>45</p><p>Foi a opção adotada, por exemplo, pelo art. 72 da Constituição da</p><p>República do Equador de 2008 (a natureza com sujeito de direitos);</p><p>• Biocentrismo: Valor intrínseco dos demais animais,</p><p>independentemente da existência do homem, em especial dos</p><p>mamíferos, que são seres sencientes (percepção de dor e prazer). Foi a</p><p>opção adotada pelo projeto de lei da Câmara 27/2018 que passa a</p><p>considerar os animais não humanos com natureza jurídica sui generis e</p><p>como sujeitos com direitos despersonificados, vedando seu tratamento</p><p>como coisa (já aprovado na Câmara e no Senado, aguardando a revisão</p><p>pela Câmara);</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>46</p><p>QUESTÃO</p><p>14. (Juiz de Direito do TJSP. Vunesp – 2017) (adaptada). Considere a reflexão de</p><p>Michel Serres em O contrato natural: “O retorno à natureza! O que implica</p><p>acrescentar ao contrato exclusivamente social a celebração de um contrato natural</p><p>de simbiose e de reciprocidade em que a nossa relação com as coisas permitiria o</p><p>domínio e a possessão pela escuta admirativa, a reciprocidade, a contemplação e o</p><p>respeito, em que o conhecimento não suporia já a propriedade nem a ação o</p><p>domínio, nem estes os seus resultados ou condições estercorárias. Um contrato de</p><p>armistício na guerra objetiva um contrato de simbiose: o simbiota admite o direito</p><p>do hospedeiro, enquanto o parasita – o nosso atual estatuto – condena à morte</p><p>aquele que pilha e o habita sem ter consciência de que, a prazo, se condena a si</p><p>mesmo ao desaparecimento. O parasita agarra tudo e não dá nada; o hospedeiro</p><p>dá tudo e não agarra nada. O direito de dominação e de propriedade reduz-se ao</p><p>parasitismo. Pelo contrário, o direito de simbiose define-se pela reciprocidade:</p><p>aquilo que a natureza dá ao homem é o que este lhe deve dar a ela, tornada sujeito</p><p>de direito.”</p><p>Pode-se afirmar que, nessa reflexão, o autor propõe</p><p>A) que os fundamentos filosóficos do direito ambiental devem se fundar numa</p><p>ética antropocêntrica clássica, e não numa defesa ingênua do meio ambiente, que</p><p>não existe como uma esfera desvinculada das ações, ambições e necessidades</p><p>humanas.</p><p>B) a predominância do humano deve implicar uma ética utilitarista sobre a</p><p>natureza, uma vez que é situado ele em padrão mais elevado entre os seres do</p><p>mundo, e ser ela essencial para satisfação de suas necessidades.</p><p>C) uma alteração no eixo metodológico e paradigmático do direito ambiental</p><p>do antropocentrismo clássico para um biocentrismo moderado em que a natureza,</p><p>pelos valores que representa em si mesma, venha receber proteção e, por seu</p><p>próprio fundamento, missão jurídica e ética do Homem.</p><p>D) que os fundamentos éticos e filosóficos do direito ambiental devem ter em</p><p>consideração a visão humanística – razão cartesiana centrada no sujeito (ser</p><p>humano) cindido do objeto (natureza) – da qual decorre a circunstância de que a</p><p>dimensão do humano deve ser a medida sob todo o mundo natural.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>47</p><p>Por fim, é importante ressaltar que – aparentemente – essa dose de</p><p>biocentrismo adotada pelo Constituinte originário quando estabeleceu relevante</p><p>tutela constitucional aos animais, ao vedar práticas cruéis contra eles, restou</p><p>mitigada com a aprovação da emenda constitucional n.º 96/17, pela qual o</p><p>Congresso Nacional, em verdadeira reação do Poder Legislativo (efeito backlash) à</p><p>decisão do STF na ADI n.º 4983 (inconstitucionalidade de lei estadual que autorizava</p><p>a vaquejada), buscou readmitir a prática da vaquejada no país, desde que seja</p><p>considerada prática desportiva e manifestação cultural tida como bem de natureza</p><p>imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro:</p><p>Art. 225.</p><p>§1º [...]</p><p>VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as</p><p>práticas que coloquem em risco sua função ecológica,</p><p>provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a</p><p>crueldade. [...]</p><p>§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º</p><p>deste artigo, não se consideram cruéis as práticas desportivas</p><p>que utilizem animais, desde que sejam manifestações</p><p>culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição</p><p>Federal, registradas como bem de natureza imaterial</p><p>integrante do patrimônio cultural brasileiro, devendo ser</p><p>regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar</p><p>dos animais envolvidos. (Incluído pela Emenda Constitucional</p><p>n.º 96, de 2017)</p><p>E a Lei Federal n.º 13.364/16 já havia declarado a vaquejada, o rodeio e o</p><p>laço (o laço foi incluído pela Lei Federal n.º 13.873/19) como manifestações</p><p>culturais nacionais elevadas à condição de bens de natureza imaterial integrantes</p><p>do patrimônio cultural brasileiro, de modo a torná-las práticas constitucionais,</p><p>agora à luz da emenda constitucional n.º 96/17. A Lei ainda delegou às respectivas</p><p>associações responsáveis pela promoção dessas práticas a competência para</p><p>aprovar regulamentos que assegurem o bem-estar dos animais, transferindo a</p><p>elas – portanto – o exercício do poder de polícia ambiental, pasmem!</p><p>Art. 2º O rodeio, a vaquejada e o laço, bem como as respectivas</p><p>expressões artísticas e esportivas, são reconhecidos como</p><p>manifestações culturais nacionais e elevados à condição de</p><p>bens de natureza imaterial integrantes do patrimônio cultural</p><p>brasileiro, enquanto atividades intrinsecamente ligadas à vida,</p><p>à identidade, à ação e à memória de grupos formadores da</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc96.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc96.htm</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>48</p><p>sociedade brasileira. (Redação dada pela Lei n.º 13.873, de</p><p>2019)</p><p>Art. 3º-B. Serão aprovados regulamentos específicos para o</p><p>rodeio, a vaquejada, o laço e as modalidades esportivas</p><p>equestres por suas respectivas associações ou entidades legais</p><p>reconhecidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e</p><p>Abastecimento. (Incluído pela Lei n.º 13.873, de 2019)</p><p>§ 1º Os regulamentos referidos no caput deste artigo devem</p><p>estabelecer regras que assegurem a proteção ao bem-estar</p><p>animal e prever</p><p>sanções para os casos de descumprimento.</p><p>Vale ressaltar que, apesar de a Lei Federal n.º 13.364/16 ter sido aprovada</p><p>antes da EC 96/17, eventual alegação de inconstitucionalidade originária, diante</p><p>da vedação à constitucionalidade superveniente (conforme a jurisprudência do c.</p><p>STF), resta afastada, haja vista que a mencionada lei foi quase que integralmente</p><p>alterada e reafirmada pela Lei Federal n.º 13.873/19, portanto já na égide do novo</p><p>texto constitucional.</p><p>Por fim, cabe destacar que a prática de rodeio também se encontra</p><p>regulamentada na Lei Federal n.º 10.519/02, que veda o uso de apetrechos que</p><p>possam causar injúrias ou ferimentos aos animais, sobretudo de esporas com</p><p>rosetas pontiagudas e de aparelhos de choques elétricos, sob pena de multa de</p><p>até R$ 5.320,00, além de advertência ou suspensão das atividades.</p><p>QUESTÃO</p><p>15. (Procurador do Estado da PGE/PI. Cebraspe – 2014). Na Festa da Farra do Boi,</p><p>realizada em Santa Catarina, tradicionalmente, populares se divertem com o fato</p><p>de submeter animais bovinos a sofrimentos físicos de naturezas diversas. O STF, ao</p><p>julgar a polêmica que envolve essa festividade, manifestou-se, por maioria, pela</p><p>proibição de sua realização. A respeito desse assunto, assinale a opção correta.</p><p>A) A apreciação do tema em tela envolve a análise de dois bens</p><p>constitucionalmente protegidos e contidos no conceito de meio ambiente: as</p><p>manifestações culturais e a fauna nacional.</p><p>B) A caracterização da Festa da Farra do Boi como manifestação cultural não</p><p>tem relevância na análise do referido tema, uma vez que, havendo conflito entre</p><p>normas de proteção ao meio ambiente e normas de proteção ao patrimônio</p><p>cultural, prevalecem as primeiras.</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13873.htm#art2</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13873.htm#art2</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13873.htm#art3</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>49</p><p>C) A crueldade contra animais é um conceito subjetivo, de sorte que só se</p><p>considera cruel a prática que submeta o animal a dor extrema.</p><p>D) A proibição de realização da referida festividade encontra respaldo no</p><p>princípio constitucional da função ecológica da propriedade.</p><p>E) A CF, ao proibir práticas que submetam animais a crueldade, contraria a</p><p>visão antropocêntrica do direito ambiental e passa a considerar os animais, ao lado</p><p>dos seres humanos, como titulares de direitos.</p><p>1.4. Objetivos</p><p>Os órgãos que compõem a estrutura do Sisnama são responsáveis pela</p><p>implementação da Política Nacional do Meio Ambiente — PNMA — e, por isso,</p><p>devem buscar o cumprimento dos seus objetivos específicos.</p><p>São objetivos específicos da Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA:</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>50</p><p>A compatibilização do desenvolvimento econômico social com a</p><p>preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico indica que se</p><p>deve buscar o desenvolvimento sustentável do País, conformando a prosperidade</p><p>da Nação através do desenvolvimento da economia (com avanços tecnológicos e</p><p>industriais etc.) com o respeito à preservação ambiental, tal qual idealizado no</p><p>Relatório Brundtland, Nosso Futuro Comum, elaborado pela Comissão Mundial</p><p>sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento da ONU – CMED – e publicado em</p><p>1987.</p><p>O estabelecimento de critérios e padrões da qualidade ambiental e de</p><p>normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais se constitui em</p><p>relevantíssimo objetivo da PNMA. Conforme visto linhas atrás, a PNMA considera</p><p>como poluição a degradação da qualidade ambiental, ou seja, qualquer atividade</p><p>que – direta ou indiretamente – promova alterações adversas nas características</p><p>do meio ambiente. Desse modo, pelo amplíssimo conceito legal acima destacado,</p><p>qualquer atividade humana causa poluição. O simples sair de casa dirigindo seu</p><p>veículo, movido a gasolina, já promoverá alterações adversas nas características</p><p>do meio ambiente com os gases emitidos pela queima do combustível fóssil.</p><p>Assim, deve-se distinguir a poluição admissível ou minimamente</p><p>necessária para a vida, da poluição inadmissível e que constitui, por isso, infração</p><p>às normas ambientais. Esse processo de distinção se constitui justamente no</p><p>estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental, um dos objetivos</p><p>buscados pela PNMA.</p><p>O desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para</p><p>o uso racional de recursos ambientais e difusão de tecnologias de manejo do meio</p><p>ambiente, divulgação de dados e informações ambientais e formação de uma</p><p>consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e</p><p>do equilíbrio ecológico estabelece que o Poder Público deve fomentar a criação e</p><p>distribuição de equipamentos tecnológicos cada vez mais avançados que possam</p><p>contribuir para a conservação do meio ambiente através do uso mais eficiente dos</p><p>recursos naturais e da diminuição da poluição.</p><p>A preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua</p><p>utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção</p><p>do equilíbrio ecológico propício à vida determina objetivo nuclear da PNMA,</p><p>instituído com a finalidade central de buscar a preservação do meio ambiente e de</p><p>seus recursos naturais, sendo – por isso – necessária a conscientização de que esses</p><p>recursos são esgotáveis, razão pela qual devem ser utilizados de forma eficiente e</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>51</p><p>racional para se manter sua disponibilidade permanente, inclusive para as futuras</p><p>gerações, além de se buscar sua reparação e restauração se eventualmente</p><p>sofrerem algum tipo de degradação.</p><p>A imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou</p><p>indenizar os danos causados, e ao usuário, de contribuição pela utilização de</p><p>recursos ambientais com fins econômicos estabelece um dos objetivos mais</p><p>relevante da PNMA, haja vista que busca garantir a um só tempo a</p><p>responsabilização do poluidor pelos danos ambientais causados e sua obrigação de</p><p>efetivamente reparar esses danos ou, quando impossível sua reparação, indenizá-</p><p>los (princípio ambiental do poluidor-pagador). Esse objetivo ainda estabelece que</p><p>também os usuários de recursos ambientais, extraídos de forma lícita e regular,</p><p>sejam obrigados a contribuir por sua utilização, daí porque esses bens ambientais</p><p>passam a ser dotados de valor econômico para induzir e conscientizar seu uso</p><p>racional e se evitar desperdícios (princípio ambiental do usuário-pagador).</p><p>Por fim, a definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à</p><p>qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos</p><p>Estados, do Distrito Federal, do Territórios e dos Municípios visa a fomentar o</p><p>estabelecimento de áreas que receberão especial ação do Poder Público quanto à</p><p>manutenção, a preservação e a recuperação da qualidade ambiental e do equilíbrio</p><p>ecológico, ou seja, o estabelecimento de espaços territoriais que receberão</p><p>especial ação e proteção do Poder Público, como por exemplo a instituição de</p><p>parques e áreas de proteção ambiental, o que será estudado no segundo sistema,</p><p>no Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC.</p><p>QUESTÃO</p><p>16. (Juiz de Direito do TJSP. Vunesp – 2014). Não é objetivo da Política Nacional do</p><p>Meio Ambiente (PNMA):</p><p>A) desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para</p><p>o uso racional dos recursos ambientais.</p><p>B) promoção da proteção do patrimônio cultural local, observada a ação</p><p>fiscalizadora municipal e estadual.</p><p>C) a compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a</p><p>preservação da qualidade do meio ambiente</p><p>e do equilíbrio ecológico.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>52</p><p>D) definição das áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade</p><p>e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do</p><p>Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios.</p><p>1.5. Instrumentos</p><p>Os órgãos e entidades que compõem a estrutura do Sisnama devem</p><p>implementar a Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA –, cumprindo seus</p><p>objetivos. Para isso, se utilizarão do conjunto de instrumentos ambientais que</p><p>foram disponibilizados pela Lei da PNMA, consistentes em verdadeiras ferramentas</p><p>jurídicas.</p><p>Assim, por exemplo, o IBAMA (entidade da estrutura do Sisnama) poderá</p><p>se utilizar do licenciamento ambiental (um dos instrumentos da PNMA) para</p><p>compatibilizar o desenvolvimento econômico com a preservação do meio</p><p>ambiente (um dos objetivos da PNMA) através do estabelecimento de condições</p><p>(condicionantes) para a autorização do funcionamento de empreendimento que</p><p>é causador de degradação ambiental, propiciando — com isso — a</p><p>implementação da própria Política Nacional do Meio Ambiente.</p><p>São instrumentos da PNMA, a serem utilizados pelos órgãos e entidades do</p><p>Sisnama:</p><p>• O estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;</p><p>• O zoneamento ambiental;</p><p>• As avaliações de impactos ambientais;</p><p>• O licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente</p><p>poluidoras;</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>53</p><p>• Os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou</p><p>absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade</p><p>ambiental;</p><p>• A criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder</p><p>Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção</p><p>ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas;</p><p>• O sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;</p><p>• O Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumento de Defesa</p><p>Ambiental;</p><p>• As penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento</p><p>das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação</p><p>ambiental.</p><p>• A instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser</p><p>divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e</p><p>Recursos Naturais Renováveis – IBAMA;</p><p>• A garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente,</p><p>obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes;</p><p>• O Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras</p><p>e/ou utilizadoras dos recursos ambientais;</p><p>• Os instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão</p><p>ambiental, seguro ambiental e outros.</p><p>É importante ressaltar que as penalidades disciplinares se constituem em</p><p>um dos mais importantes instrumentos da PNMA, porém somente serão estudadas</p><p>no Sisrespia.</p><p>QUESTÃO</p><p>17. (Promotor de Justiça do MPTO. Cebraspe – 2012). Os instrumentos da Política</p><p>Nacional do Meio Ambiente incluem o</p><p>A) licenciamento ambiental, o zoneamento ecológico e o plano de manejo</p><p>econômico das florestas.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>54</p><p>B) estudo de impacto ambiental e o manejo seletivo das espécies endêmicas.</p><p>C) relatório de impacto ambiental e o desenvolvimento de pesquisas</p><p>biotecnológicas.</p><p>D) zoneamento ambiental e o projeto de desenvolvimento de pesquisa</p><p>biomarinha.</p><p>E) licenciamento ambiental e o zoneamento ambiental.</p><p>Vamos estudar os seguintes instrumentos, considerados mais relevantes:</p><p>1.5.1. Licenciamento ambiental</p><p>O licenciamento ambiental se constitui, sem dúvida, no mais importante</p><p>e notório instrumento da PNMA, ferramenta jurídica à disposição dos órgãos do</p><p>Sisnama para que possam viabilizar a implementação dessa Política Nacional e o</p><p>cumprimento dos seus objetivos.</p><p>Trata-se de procedimento administrativo destinado a autorizar ou não</p><p>atividades e empreendimentos que sejam utilizadores de recursos ambientais,</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>55</p><p>efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar</p><p>degradação ambiental.</p><p>Assim, a construção, a instalação, a ampliação e o funcionamento de</p><p>estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou</p><p>potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar</p><p>degradação ambiental dependerão e somente poderão funcionar com o prévio</p><p>licenciamento ambiental promovido pelos órgãos da estrutura do SISNAMA, sob</p><p>pena de crime ambiental7, de multa e de embargo da atividade, nos termos do</p><p>art. 10, caput da Lei Federal n.º 6.938/81:</p><p>Art. 10. A construção, instalação, ampliação e funcionamento</p><p>de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos</p><p>ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes,</p><p>sob qualquer forma, de causar degradação ambiental</p><p>dependerão de prévio licenciamento ambiental.</p><p>Em verdade, o licenciamento ambiental se constitui em legítimo exercício</p><p>do poder de polícia administrativo-ambiental exercido pelos órgãos do Sisnama,</p><p>que poderão, com fundamento na legislação ambiental, restringir direitos</p><p>individuais para fazer preponderar o respeito aos interesses de toda coletividade</p><p>relativos à preservação do meio ambiente, nos termos do art. 78 do Código</p><p>Tributário Nacional:</p><p>[...]</p><p>Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da</p><p>administração pública que, limitando ou disciplinando direito,</p><p>interêsse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de</p><p>fato, em razão de intêresse público concernente à segurança,</p><p>à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do</p><p>mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes</p><p>de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade</p><p>pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais</p><p>ou coletivos. (Redação dada pelo Ato Complementar n.º 31, de</p><p>1966)</p><p>Por meio dele, busca-se prevenir graves danos ao meio ambiente, ou</p><p>mitigá-las por meio de exigências condicionantes à expedição das licenças</p><p>ambientais.</p><p>7 Art. 60 da Lei Federal n.º 9.605/98.</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ACP/acp-31-66.htm#art7segunda</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ACP/acp-31-66.htm#art7segunda</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ACP/acp-31-66.htm#art7segunda</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>56</p><p>Daí porque, por exemplo, se determinada rede de supermercados</p><p>pretender instalar uma nova unidade em imóvel urbano com vegetação nativa</p><p>situado na cidade de Presidente Dutra/BA (Capital mundial da pinha), somente</p><p>poderá fazê-lo após se submeter ao procedimento de licenciamento ambiental</p><p>perante o órgão competente do Sisnama. Da mesma forma, se uma empresa do</p><p>agronegócio pretender implantar um projeto de irrigação para cultivo de mangas e</p><p>uvas em extensa área situada na zona rural de Juazeiro/BA também dependerá de</p><p>prévio procedimento de licenciamento ambiental.</p><p>E isso demonstra a relevância desse instrumento da PNMA, com potencial</p><p>para impactar em quase todas as atividades e empreendimentos a serem</p><p>implementados no Brasil.</p><p>Além disso, todos os casos de pedidos de licenciamento ambiental, sua</p><p>renovação e a respectiva concessão serão publicados no jornal oficial, bem como</p><p>em periódico regional ou local de grande circulação, ou em meio eletrônico de</p><p>comunicação mantido pelo órgão ambiental competente.</p><p>Também é importante destacar que, como sabido, pela prestação de</p><p>serviços administrativos é possível se instituir e cobrar um tributo: A taxa de</p><p>serviço, nos termos do art. 145, inciso II da Constituição da República c/c art. 77</p><p>do Código Tributário Nacional, respectivamente in verbis:</p><p>Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal</p><p>e os Municípios</p><p>poderão instituir os seguintes tributos: [...] II - taxas, em razão</p><p>do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou</p><p>potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis,</p><p>prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição;</p><p>Art. 77. As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo</p><p>Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas</p><p>respectivas atribuições, têm como fato gerador o exercício</p><p>regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou</p><p>potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao</p><p>contribuinte ou posto à sua disposição.</p><p>Com esse fundamento, e para remunerar os serviços de licenciamento</p><p>ambiental federal exercidos pelo IBAMA (órgão executor do Sisnama),</p><p>especialmente quanto às despesas administrativas decorrentes das atividades</p><p>extraordinárias que são realizadas nos processos de licenciamento ambiental, a</p><p>União instituiu a cobrança de taxa de serviço, nos termos do art. 17-A da Lei</p><p>Federal n.º 6.938/81:</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>57</p><p>Art. 17-A. São estabelecidos os preços dos serviços e produtos</p><p>do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos</p><p>Naturais Renováveis - Ibama, a serem aplicados em âmbito</p><p>nacional, conforme Anexo a esta Lei.</p><p>Os serviços, considerados fatos geradores deste tributo, estão relacionados</p><p>no Anexo da respectiva lei (licenciamento para transporte nacional e exportação da</p><p>fauna silvestre, licenciamento ambiental geral, autorização de supressão vegetal</p><p>etc.).</p><p>Registre-se, ainda, que os valores das taxas de licenciamento ambiental</p><p>devem guardar relação de proporcionalidade com o custo e a complexidade do</p><p>serviço prestado, nos termos do art. 13, §3º da Lei Complementar Federal n.º</p><p>140/11:</p><p>Art. 13.</p><p>[...]</p><p>§ 3º Os valores alusivos às taxas de licenciamento ambiental e</p><p>outros serviços afins devem guardar relação de</p><p>proporcionalidade com o custo e a complexidade do serviço</p><p>prestado pelo ente federativo.</p><p>E assim como a União instituiu sua taxa de serviço para remunerar os</p><p>serviços federais de licenciamento ambiental, os Estados, o Distrito Federal e os</p><p>Municípios também poderão fazê-lo nos termos de sua respectiva legislação, para</p><p>remunerar os serviços de licenciamento ambiental de sua competência, haja vista</p><p>que a competência constitucional para instituição de taxas é comum.</p><p>Por fim, é importante destacar a existência de quatro situações nas quais</p><p>a legislação federal dispensou o prévio licenciamento ambiental para o</p><p>desenvolvimento de certas atividades potencialmente poluidoras:</p><p>• Atividades de segurança nacional: Por exemplo, a construção de bases</p><p>militares em localidades estratégicas para a segurança nacional, ainda</p><p>que em área de floresta, desde que caracterizada a urgência</p><p>decorrente, por exemplo, de situação de risco ou de agressão ao</p><p>território nacional;</p><p>• Atividades e empreendimentos previstos no preparo e emprego das</p><p>Forças Armadas: Definidos em ato do Poder Executivo;</p><p>• Obras de defesa civil destinadas à prevenção e mitigação de acidentes</p><p>em áreas urbanas: Desde que esteja caracterizada a urgência, como Por</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>58</p><p>exemplo, a realização de obras de contenção de encostas e de morros</p><p>para se evitar mais deslizamentos decorrentes de fortes chuvas, e se</p><p>prevenir acidente;</p><p>• Atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental em pequenas</p><p>propriedades rurais familiares (até 4 módulos fiscais): Dependerão</p><p>apenas de simples declaração ao órgão ambiental, como por exemplo a</p><p>abertura de pequenas vias de acesso e construção de pontes e</p><p>pontilhões necessários à travessia de cursos d’água ou acesso a eles, em</p><p>área de preservação permanentes ou em reservas legais.</p><p>Além das situações acima, previstas na legislação federal, poderiam os</p><p>Estados, o Distrito Federal e os Municípios aprovar leis dispensando o prévio</p><p>licenciamento ambiental em novos casos?</p><p>Para se responder a essa questão primeiro deve-se compreender as regras</p><p>de competência constitucional para se legislar sobre o meio ambiente e, por</p><p>conseguinte, sobre licenciamento ambiental.</p><p>A Constituição da República estabelece que a competência para se legislar</p><p>sobre o meio ambiente é concorrente entre a União e os Estados-Membros:</p><p>Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal</p><p>legislar concorrentemente sobre: [...] VI - florestas, caça, pesca,</p><p>fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos</p><p>naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;</p><p>[...]</p><p>VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao</p><p>consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,</p><p>histórico, turístico e paisagístico;</p><p>Desse modo, a competência legislativa concorrente criou verdadeiro</p><p>“condomínio legislativo” entre a União, os Estados e o Distrito Federal, cabendo</p><p>à União a aprovação de normas gerais sobre o meio ambiente (conceitos,</p><p>princípios, procedimentos etc.) e aos Estados-Membros o exercício da</p><p>competência complementar quando já existente norma geral sobre o meio</p><p>ambiente, ou a competência legislativa plena (supletiva) quando inexistente</p><p>norma federal de caráter geral.</p><p>Portanto, considerando-se que a União já estabeleceu a norma geral</p><p>sobre a exigência de prévio licenciamento ambiental gravada no art. 10 da Lei</p><p>Federal n.º 6.938/81, a complementação da legislação federal por Estados-</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>59</p><p>Membros para atendimento de interesses regionais não permite a dispensa da</p><p>exigência de prévio licenciamento ambiental para atividades potencialmente</p><p>poluidoras, sob pena de se caracterizar patente inconstitucionalidade formal pela</p><p>violação da norma constitucional que distribui a competência legislativa entre os</p><p>Entes da Federação (ADI 5312).</p><p>Os Estados-Membros poderão editar normas ambientais mais protetivas</p><p>ao meio ambiente para atender suas peculiaridades regionais, no exercício de sua</p><p>competência constitucional concorrente para complementar as normas federais,</p><p>haja vista que a sobreposição de opções políticas por graus variáveis de proteção</p><p>ambiental constitui circunstância própria do estabelecimento de competência</p><p>concorrente sobre a matéria, consoante assentado, à unanimidade, pelo plenário</p><p>do Supremo Tribunal Federal em verdadeira virada jurisprudencial no julgamento</p><p>da ADI 5996.</p><p>Vale ressaltar também que a ampliação indiscriminada dos casos de</p><p>dispensa de prévio licenciamento ambiental implicaria em proteção deficiente ao</p><p>direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, razão pela qual</p><p>poder-se-ia configurar gravíssima inconstitucionalidade material.</p><p>Quanto aos Municípios, vige a mesma restrição, haja vista que possuem</p><p>competência constitucional apenas para legislar sobre assuntos de interesse local</p><p>e suplementar a legislação federal e a estadual, no que couber.</p><p>Portanto, os Municípios poderão suplementar a legislação estadual e</p><p>federal no limite do seu interesse local, desde que esse regramento seja harmônico</p><p>com a disciplina estabelecida pelos demais Entes Federados, sob pena de afrontar</p><p>a norma inserta no art. 24, VI da Constituição da República (RE 586.224/SP).</p><p>E esse raciocínio jurídico deve ser aplicado em quaisquer situações em</p><p>que se constate antinomia entre normas ambientais da União e dos demais Entes</p><p>Federados, conforme se observa das conclusões abaixo:</p><p>• É formalmente inconstitucional lei estadual que autoriza supressão de</p><p>vegetal em Área de Preservação Permanente para a realização de</p><p>construções, pois o Código Florestal (lei federal que prevê as normas</p><p>gerais sobre o tema, nos termos do art. 24, § 1º, da Constituição da</p><p>República) não permite edificação recreativa em área de preservação</p><p>permanente (ADI 4988/TO);</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>60</p><p>• É formalmente inconstitucional lei municipal que reduz o tamanho da</p><p>Área de Preservação Permanente em cursos d’água, pois o Código</p><p>Florestal (lei federal que prevê as normas gerais sobre o tema, nos</p><p>termos do art. 24, § 1º, da Constituição da República) já estabeleceu o</p><p>tamanho mínimo (AREsp 1312435/RJ. STJ);</p><p>• É formalmente inconstitucional lei municipal que proíbe a queima da</p><p>palha da cana-de-açúcar e o uso do fogo em atividades agrícolas, pois o</p><p>Código Florestal (lei federal que prevê as normas gerais sobre o tema,</p><p>nos termos do art. 24, § 1º, da Constituição da República) já disciplinou</p><p>a questão (RE 586.224/SP).</p><p>Por fim, é importante destacar que compete privativamente à União</p><p>legislar sobre águas, energia, jazidas, minas e recursos minerais, e atividades</p><p>nucleares, razão pela qual o raciocínio jurídico acima destacado não se aplica a</p><p>estes casos.</p><p>QUESTÃO</p><p>18. (Juiz Federal do TRF3. 2016). Assinale a alternativa correta. Acerca da</p><p>competência de legislar em matéria ambiental prevista na Constituição:</p><p>A) É de competência concorrente entre União, Estados e Municípios a edição</p><p>de normas gerais acerca de proteção do meio ambiente e controle de poluição.</p><p>B) Inexiste competência da União para legislar sobre proteção ambiental em</p><p>porção territorial limitada a um Estado ou que não tenha alcance em todo o</p><p>território nacional, como, por exemplo, a vedação de pesca em um único estado da</p><p>federação.</p><p>C) Segundo posicionamento firmado pelo Supremo Tribunal Federal, viola a</p><p>Constituição Federal a edição de norma estadual que vise a suprimir requisito legal</p><p>previsto em lei federal mais restritivo para determinada modalidade de</p><p>licenciamento ambiental, sem justificada peculiaridade local.</p><p>D) É de competência concorrente entre União, Estados e Municípios a edição</p><p>de normas de responsabilidade por danos ao meio ambiente.</p><p>E) Todas as alternativas anteriores estão corretas.</p><p>1.5.1.1. Competência no Licenciamento Ambiental</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>61</p><p>Neste tópico estudaremos os cinco importantes aspectos da competência</p><p>relativa aos processos de licenciamento e de fiscalização ambientais.</p><p>1.5.1.1.1. Competência no Processo de Licenciamento</p><p>Ambiental</p><p>Para se compreender corretamente a competência no processo de</p><p>licenciamento ambiental deve-se estudar a competência constitucional material</p><p>sobre o meio ambiente.</p><p>Deveras, a competência constitucional material para a proteção do meio</p><p>ambiente é comum, razão pela qual não só a União, mas todos os demais Entes</p><p>Federados (Estados, DF e Municípios) devem promover ações concretas de</p><p>fiscalização e preservação ambiental, nos termos do art. 23 da Constituição da</p><p>República:</p><p>Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do</p><p>Distrito Federal e dos Municípios: [...] VI - proteger o meio</p><p>ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;</p><p>VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;</p><p>Daí porque os Estados, o DF e os Municípios não devem apenas esperar as</p><p>ações dos órgãos ambientais federais, mas sim promover ações concretas de</p><p>preservação ambiental em seus respectivos territórios.</p><p>Para organizar a distribuição cooperativa dessas competências</p><p>constitucionais materiais, relativas à preservação ambiental, evitando-se</p><p>possíveis conflitos federativos entre os Entes Políticos, o Constituinte estabeleceu</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>62</p><p>a necessidade de aprovação de Leis Complementares para a fixação de normas de</p><p>federalismo cooperativo em matéria ambiental:</p><p>Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do</p><p>Distrito Federal e dos Municípios: [...] Parágrafo único. Leis</p><p>complementares fixarão normas para a cooperação entre a</p><p>União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo</p><p>em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em</p><p>âmbito nacional.</p><p>Sobreveio então a aprovação da Lei Complementar Federal n.º 140/11,</p><p>que promoveu a correta distribuição das competências constitucionais materiais</p><p>relativas à preservação do meio ambiente entre todos os Entes Federados:</p><p>Art. 1º Esta Lei Complementar fixa normas, nos termos dos</p><p>incisos III, VI e VII do caput e do parágrafo único do art. 23 da</p><p>Constituição Federal, para a cooperação entre a União, os</p><p>Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações</p><p>administrativas decorrentes do exercício da competência</p><p>comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis,</p><p>à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em</p><p>qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da</p><p>fauna e da flora.</p><p>Desse modo, a mencionada lei complementar federal promoveu a</p><p>distribuição das competências para o licenciamento ambiental entre os Entes da</p><p>Federação, que serão exercidas exclusivamente pelos órgãos e entidades do</p><p>Sisnama, afastando assim possíveis conflitos de atribuições que, aliás, ocorriam</p><p>frequentemente quando essa distribuição era regida apenas pela Resolução n.º</p><p>237/97 – Conama.</p><p>Na distribuição levou-se em consideração basicamente a conjugação</p><p>gradual de três critérios:</p><p>• Dominialidade do bem público que será afetado: Por esse critério, o</p><p>licenciamento ambiental caberia ao Ente da Federação detentor do bem</p><p>afetado, como por exemplo, no caso de atividades que possam afetar</p><p>terras indígenas cujas propriedade e competência são da União;</p><p>• Da dimensão do impacto ou dano ambiental: Por esse critério, as</p><p>atividades causadoras de mero impacto local seriam licenciadas pelos</p><p>Municípios; as causadoras de impacto regional, pelos Estados; e as</p><p>causadoras de impacto nacional, pela União;</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art23iii</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art23vi</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art23vii</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art23p</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art23p</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>63</p><p>• Do Ente da Federação instituidor da unidade de conservação: Por esse</p><p>critério, o licenciamento ambiental caberia ao Ente da Federação</p><p>responsável pela criação da unidade de conservação da natureza.</p><p>Assim, conforme estabelecido no art. 7º, inciso XIV, da Lei Complementar</p><p>Federal n.º 140/11, compete à União, através do seu órgão executor do Sisnama, o</p><p>IBAMA, promover o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades:</p><p>• localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em país</p><p>limítrofe;</p><p>• localizados ou desenvolvidos no mar territorial, na plataforma</p><p>continental ou na zona econômica exclusiva;</p><p>• localizados ou desenvolvidos em terras indígenas;</p><p>• localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação da natureza</p><p>federais (salvo se a unidade for classificada como Área de Proteção</p><p>Ambiental – APA);</p><p>• localizados ou desenvolvidos em dois ou mais Estados;</p><p>• de caráter militar;</p><p>• destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar,</p><p>armazenar e dispor material radioativo ou que utilizem energia nuclear</p><p>em qualquer de suas formas e aplicações, mediante parecer da</p><p>Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN); ou</p><p>• relativas à implantação, regularização e manutenção de rodovias</p><p>federais ou pavimentação e ampliação de sua capacidade se a rodovia</p><p>federal possuir extensão igual ou superior a 200 quilômetros;</p><p>• relativas à implantação, ampliação da capacidade e regularização de</p><p>ferrovias federais;</p><p>• relativas à implantação e ampliação da capacidade de hidrovias federais</p><p>cujo somatório dos trechos de intervenções seja igual ou superior a 200</p><p>quilômetros</p><p>de extensão;</p><p>• relativas a usinas hidrelétricas e termelétricas com capacidade igual ou</p><p>superior a 300 megawatt, e eólicas nos casos offshore e zona de</p><p>transição terra-mar;</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>64</p><p>• relativas a portos organizados, terminais de uso privado e a exploração</p><p>e produção de petróleo, gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos,</p><p>nas hipóteses definidas no Decreto Federal n.º 8.437/158.</p><p>8 [...] IV - portos organizados, exceto as instalações portuárias que movimentem carga em volume</p><p>inferior a 450.000 TEU/ano ou a 15.000.000 ton/ano; V - terminais de uso privado e instalações</p><p>portuárias que movimentem carga em volume superior a 450.000 TEU /ano ou a 15.000.000</p><p>ton/ano; VI - exploração e produção de petróleo, gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos nas</p><p>seguintes hipóteses: a) exploração e avaliação de jazidas, compreendendo as atividades de aquisição</p><p>sísmica, coleta de dados de fundo (piston core), perfuração de poços e teste de longa duração</p><p>quando realizadas no ambiente marinho e em zona de transição terra-mar (offshore); b) produção,</p><p>compreendendo as atividades de perfuração de poços, implantação de sistemas de produção e</p><p>escoamento, quando realizada no ambiente marinho e em zona de transição terra-mar (offshore); e</p><p>c) produção, quando realizada a partir de recurso não convencional de petróleo e gás natural, em</p><p>ambiente marinho e em zona de transição terra-mar (offshore) ou terrestre (onshore),</p><p>compreendendo as atividades de perfuração de poços, fraturamento hidráulico e implantação de</p><p>sistemas de produção e escoamento;</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>65</p><p>QUESTÃO</p><p>19. (Promotor de Justiça do MPSC. 2016). De acordo com a Lei Complementar n.</p><p>140/11 (Licenciamento Ambiental), encontram-se entre as ações administrativas da</p><p>União, promover o licenciamento ambiental de: empreendimentos e atividades</p><p>localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em país limítrofe;</p><p>localizados ou desenvolvidos em terras indígenas; localizados ou desenvolvidos em</p><p>unidades de conservação instituídas pela União, inclusive em Áreas de Proteção</p><p>Ambiental (APAs).</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>Resposta: errado.</p><p>20. (Delegado de Polícia da PCPE. Cebraspe – 2016). Determinada sociedade</p><p>empresária pretende realizar, no mar territorial que banha o município de Recife-</p><p>PE, atividade potencialmente causadora de significativa degradação ambiental.</p><p>Nessa situação, de acordo com a Lei Complementar n.º 140/2011, o licenciamento</p><p>ambiental dessa atividade será promovido pelo(a)</p><p>a) município de Recife ou, caso ele não possua órgão ambiental capacitado</p><p>para promover esse licenciamento, pelo estado de Pernambuco.</p><p>b) União.</p><p>c) município de Recife.</p><p>d) estado de Pernambuco.</p><p>e) estado de Pernambuco ou, caso ele não possua conselho de meio</p><p>ambiente, pela União.</p><p>Trata-se de rol taxativo, que somente pode ser ampliado com alterações</p><p>no Decreto Federal n.º 8.437/15, após proposição da Comissão Tripartite Nacional</p><p>(formada paritariamente por representantes dos Poderes Executivos da União, dos</p><p>Estados, do Distrito Federal e dos Municípios), considerados os critérios de porte,</p><p>potencial poluidor e natureza da atividade ou empreendimento.</p><p>Registre, por importante, que, além da exigência de prévio licenciamento</p><p>ambiental federal para a implantação de Usinas nucleares, sua localização deve ser</p><p>aprovada por lei federal, sem o que não poderão ser instaladas (art. 225, § 6º da</p><p>CR/88).</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>66</p><p>Aos Municípios, nos termos do art. 9º, inciso XIV, da Lei Complementar</p><p>Federal n.º 140/11, foram reservados apenas dois casos nos quais seus órgãos e</p><p>entidades ambientais locais, integrantes do Sisnama, promoverão o licenciamento</p><p>ambiental de empreendimentos e atividades potencialmente poluidores ou</p><p>utilizadores de recursos ambientais, quais sejam:</p><p>• Atividades que possam causar impacto ambiental de âmbito local,</p><p>conforme tipologia definida pelos respectivos Conselhos Estaduais de</p><p>Meio Ambiente, considerados os critérios de porte, potencial poluidor</p><p>e natureza da atividade: Frise-se que a definição das atividades</p><p>causadoras de mero impacto ambiental local é da competência dos</p><p>Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, órgão colegiado, razão pela</p><p>qual eventual classificação promovida por Decreto Estadual será</p><p>inválida;</p><p>• Empreendimentos localizados ou desenvolvidos em unidades de</p><p>conservação da natureza municipais (salvo se a unidade for classificada</p><p>como Área de Proteção Ambiental — APA).</p><p>Assim, nos termos do art. 8º, inciso XIV, da Lei Complementar Federal n.º</p><p>140/11, compete aos Estados-Membros, através dos seus órgãos e entidades</p><p>seccionais, integrantes do Sisnama, promover o licenciamento ambiental</p><p>residualmente, ou seja, de todos os demais empreendimentos e atividades</p><p>potencialmente poluidores cuja competência não tenha sido expressamente</p><p>distribuída à União e aos Municípios, podendo se destacar ainda a competência</p><p>para:</p><p>• Aprovar o funcionamento de criadouros da fauna silvestre;</p><p>• Aprovar o licenciamento ambiental de atividades localizadas ou</p><p>desenvolvidos em unidades de conservação da natureza estaduais</p><p>(salvo se a unidade for classificada como Área de Proteção Ambiental —</p><p>APA).</p><p>Por fim, nos termos do art. 10 da Lei Complementar Federal n.º 140/11,</p><p>compete ao Distrito Federal, através dos seus órgãos e entidades seccionais,</p><p>integrantes do Sisnama, promover o licenciamento ambiental de todas as</p><p>atividades de competência dos Estados-Membros e dos Municípios, porquanto o</p><p>DF não é dividido em Municípios.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>67</p><p>Com essa rígida distribuição de competências, não deve haver sobreposição</p><p>nos processos de licenciamento ambiental, haja vista que os empreendimentos e</p><p>atividades são licenciados ou autorizados ambientalmente por um único ente</p><p>federativo, em conformidade com a distribuição das competências acima</p><p>demonstrada (art. 13, caput da Lei Complementar Federal n.º 140/11).</p><p>Todavia, admite-se que os demais entes federativos interessados possam</p><p>se manifestar ao órgão competente pelo licenciamento, de maneira não vinculante,</p><p>respeitados os prazos e procedimentos do licenciamento.</p><p>É importante destacar ainda que, quando decorrente de licenciamentos</p><p>ambientais, a supressão de vegetação (desmatamento lícito), que ocorre, por</p><p>exemplo, quando o órgão ambiental autoriza o desmatamento de determinada</p><p>área para a implantação de um projeto de irrigação ou para a implantação de uma</p><p>rodovia, é autorizada pelo próprio ente federativo licenciador, que expedirá, além</p><p>da licença ambiental para aquela atividade, um outro documento denominado</p><p>Autorização de Supressão Vegetal — ASV.</p><p>Concluindo o estudo das competências para licenciamento ambiental, resta</p><p>a definição quanto às atividades que possam impactar ambientalmente as</p><p>Unidades de Conservação da Natureza do tipo Área de Proteção Ambiental — APA</p><p>(serão estudadas no próximo sistema — SNUC).</p><p>Neste caso, não deve prevalecer o critério do Ente da Federação instituidor</p><p>da Unidade, mas sim o critério do grau do impacto ambiental conjugado com outros</p><p>elementos, independentemente, portanto, de se tratar de APA federal, estadual ou</p><p>municipal:</p><p>• Competência municipal: Atividades e empreendimentos que possam</p><p>causar mero impacto local em APAs municipais, estaduais ou federais,</p><p>desde que fora dos casos relacionados no próximo item;</p><p>• Competência federal: Atividades e empreendimentos que possam</p><p>impactar em APAs municipais, estaduais ou federais, desde que sejam:</p><p>a) Desenvolvidos no Brasil e em país limítrofe;</p><p>b) Desenvolvidos na zona econômica exclusiva,</p><p>no mar territorial e na</p><p>plataforma continental;</p><p>c) Desenvolvidos em dois ou mais Estados;</p><p>d) Com caráter militar;</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>68</p><p>• Competência estadual: Em todos os demais casos (residual).</p><p>Assim, por exemplo, o licenciamento ambiental de empreendimento</p><p>desenvolvido em dois ou mais Estados que possa impactar em Área de Proteção</p><p>Ambiental municipal será de competência federal (do IBAMA), e não municipal.</p><p>QUESTÃO</p><p>21. (Promotor de Justiça do MPPI. Cebraspe – 2019). Uma empresa que utiliza</p><p>recursos ambientais efetivamente poluidores pretende construir um</p><p>empreendimento em uma unidade de conservação do tipo área de proteção</p><p>ambiental, criada por decreto estadual e localizada no mar territorial. Nessa</p><p>situação, para o desenvolvimento de suas atividades, a empresa deverá requerer o</p><p>licenciamento ambiental</p><p>A) no IBAMA.</p><p>B) na Secretaria Estadual de Meio Ambiente.</p><p>C) na Secretaria Municipal de Meio Ambiente.</p><p>D) no Ministério do Meio Ambiente.</p><p>E) no Instituto Chico Mendes de Biodiversidade.</p><p>1.5.1.1.2. Competência para Fiscalização e Aplicação</p><p>de Multas Ambientais</p><p>Trata-se da prerrogativa legal que possuem os órgãos e entidades da</p><p>estrutura do Sisnama para lavratura de autos de infração com aplicação de sanções</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>69</p><p>administrativo-ambientais, também como manifestação do poder de polícia</p><p>ambiental.</p><p>Esta prerrogativa não segue a rígida distribuição de competências para o</p><p>licenciamento ambiental, uma vez que aqui a competência para se exercer a</p><p>fiscalização ambiental é comum, de modo que todos os órgãos e entidades da</p><p>estrutura do Sisnama poderão exercê-la livremente, em benefício de uma efetiva</p><p>proteção ambiental.</p><p>Assim, por exemplo, um órgão ambiental municipal poderá exercer</p><p>fiscalização e até mesmo aplicar multas a uma determinada empresa responsável</p><p>por obra pública federal que tenha sido licenciada pelo IBAMA, se restar</p><p>caracterizada infração à legislação ambiental. Da mesma forma, o IBAMA poderá</p><p>exercer fiscalização em atividades licenciadas por qualquer Estado ou Município.</p><p>Questão interessante ocorre quando um determinado infrator é autuado</p><p>simultaneamente pelos órgãos ambientais municipal, estadual e federal em razão</p><p>de um mesmo ato, o que poderia inclusive caracterizar bis in idem.</p><p>Aliás, isso foi o que ocorreu no caso do rompimento da barragem de rejeitos</p><p>de famosa mineradora ocorrido na cidade de Brumadinho/MG, quando foram</p><p>lavrados autos de infrações pelos órgãos ambientais do Sisnama de todos os Entes</p><p>Federados envolvidos, da seguinte forma:</p><p>• IBAMA: Aplicou multas no importe de R$ 250.000.000,00;</p><p>• Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável</p><p>de Minas Gerais – Semad: Aplicou multas de mais de R$ 99.000.000,00;</p><p>• Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do</p><p>Município de Brumadinho/MG – Sema: Aplicou multas de mais de R$</p><p>108.000.000,00;</p><p>• Secretaria de Meio Ambiente de Juatuba/MG (Município vizinho</p><p>impactado): Aplicou multas de mais de R$ 50.000.000,00.</p><p>Partindo-se do pressuposto do que todas as multas foram lavradas em</p><p>razão do mesmo fato, seria legítimo se exigir da famosa mineradora autuada o</p><p>pagamento de todas as multas?</p><p>Neste caso, não, haja vista que ninguém pode ser punido mais de uma vez</p><p>em razão do mesmo ato ilícito, sob pena de se caracterizar o odioso bis in idem.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>70</p><p>Em casos como esse deve prevalecer apenas o auto de infração lavrado</p><p>pelo órgão ambiental do Ente da Federação originalmente competente para o</p><p>licenciamento ambiental, nos termos da Lei Complementar Federal n.º 140/11:</p><p>Art. 17.</p><p>[...]</p><p>§ 3º O disposto no caput deste artigo não impede o exercício</p><p>pelos entes federativos da atribuição comum de fiscalização</p><p>da conformidade de empreendimentos e atividades efetiva ou</p><p>potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais</p><p>com a legislação ambiental em vigor, prevalecendo o auto de</p><p>infração ambiental lavrado por órgão que detenha a</p><p>atribuição de licenciamento ou autorização a que se refere o</p><p>caput.</p><p>Assim, sempre que houver a lavratura simultânea de autos de infração</p><p>por órgãos ambientais municipais, estaduais e federais deve-se apurar qual deles</p><p>tinha a competência privativa para o licenciamento ambiental, pois prevalecerá o</p><p>auto de infração lavrado por ele, independentemente do valor da multa aplicada</p><p>ou de quando o auto de infração fora lavrado.</p><p>QUESTÃO</p><p>22. (Juiz de Direito do TJPR. Cebraspe – 2019). Dentro de um parque municipal que</p><p>consiste em unidade de conservação criada por decreto municipal, o IBAMA</p><p>constatou a existência de habitações particulares licenciadas pelo estado no qual o</p><p>município se encontra inserido. Tanto o IBAMA quanto a secretaria de meio</p><p>ambiente do município lavraram seus respectivos autos de infração.</p><p>Nessa situação hipotética, no que se refere à competência para a autuação,</p><p>A) o auto de infração do IBAMA deve prevalecer sobre o municipal.</p><p>B) o auto de infração do município deve prevalecer sobre o do IBAMA.</p><p>C) nenhum dos autos de infração é válido.</p><p>D) ambos os autos de infração são válidos e exigíveis.</p><p>Todavia, é importante ressaltar que não há na legislação solução jurídica</p><p>para a seguinte situação: Suponhamos que, no exemplo do caso de</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>71</p><p>Brumadinho/MG, os autos de infração tenham sido lavrados apenas pelo IBAMA</p><p>e pela Sema (Secretaria do Meio Ambiente do Município), não obstante a</p><p>competência para o licenciamento ambiental seja da Semad (Secretária do Meio</p><p>Ambiente do Estado de Minas). Portanto, neste caso não teria havido a lavratura</p><p>de auto de infração pelo órgão ambiental que seria originalmente competente</p><p>para o licenciamento, por entender, por exemplo, que não teria havido infração,</p><p>razão pela qual não seria possível a aplicação da regra inserta no art. 17, § 3º, in</p><p>fine da Lei Complementar Federal n.º 140/11.</p><p>Assim, questiona-se: No caso proposto, qual auto de infração prevaleceria?</p><p>Aquele lavrado pelo IBAMA ou pela Sema?</p><p>Como dito, não há resposta para tais questionamentos na Lei</p><p>Complementar Federal n.º 140/11. Creio que, em casos como esse, deve ser</p><p>utilizado o critério do porte, potencial poluidor e natureza da atividade para se</p><p>definir qual auto de infração deve prevalecer, haja vista que esse foi o critério</p><p>residual utilizado em várias passagens na Lei Complementar Federal n.º 140/11</p><p>(art. 7º, inciso XIV, alínea “h”, in fine e parágrafo único, in fine; art. 9º, inciso XIV,</p><p>alínea “a”, in fine). Desse modo, no caso proposto, se da infração ambiental</p><p>decorresse apenas dano ambiental de pequeno porte, local, deveria prevalecer o</p><p>auto de infração lavrado pela Sema, ao passo que, se o dano fosse de grande porte</p><p>e com grande potencial poluidor, então deveria prevalecer o auto de infração</p><p>lavrado pelo IBAMA.</p><p>Questão também importante e que deve ser esclarecida é a parcial</p><p>antinomia existente entre o art. 17, § 3º, in fine da Lei Complementar Federal n.º</p><p>140/11 e o art. 76, caput da Lei Federal n.º 9.605/98, respectivamente in verbis:</p><p>Art. 17.</p><p>[...]</p><p>§ 3º O disposto no caput deste artigo não impede o exercício</p><p>pelos entes federativos da atribuição comum de fiscalização</p><p>da conformidade de empreendimentos e atividades efetiva ou</p><p>potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais</p><p>com a legislação ambiental em vigor, prevalecendo o auto de</p><p>infração ambiental lavrado por órgão que detenha a</p><p>atribuição de licenciamento ou autorização a que se refere o</p><p>caput.</p><p>Art. 76. O pagamento de multa imposta pelos Estados,</p><p>Municípios, Distrito Federal</p><p>ou Territórios substitui a multa</p><p>federal na mesma hipótese de incidência.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>72</p><p>Segundo a regra inserta no art. 76, caput, da Lei Federal n.º 9.605/98,</p><p>quando houver aplicação simultânea de multa por órgão ambiental municipal ou</p><p>estadual e órgão ambiental federal, relativamente ao mesmo fato, o pagamento</p><p>da multa imposta por Estados ou Municípios substituirá a multa federal.</p><p>Ocorre que esta regra fora derrogada pelo art. 17, § 3º, in fine da Lei</p><p>Complementar Federal n.º 140/11 que estabeleceu nova sistemática para os casos</p><p>de lavratura simultânea de autos de infração por órgãos ambientais municipais,</p><p>estaduais e federais, determinando novo critério definidor do auto de infração</p><p>prevalecente. Ora, a norma posterior revoga a anterior quando seja com ela</p><p>incompatível, nos termos do art. 2º, §1º da Lei de Introdução às Normas do Direito</p><p>Brasileiro — LINDB:</p><p>Art. 2º</p><p>[...]</p><p>§ 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o</p><p>declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule</p><p>inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.</p><p>Assim, parece-me que, a partir da entrada em vigor do art. 17, § 3º, in fine</p><p>da Lei Complementar Federal n.º 140/11, o pagamento das multas ambientais</p><p>aplicadas por Estados ou Municípios não deve substituir multa ambiental aplicada</p><p>pelo órgão ambiental federal, sobretudo quando o licenciamento ambiental da</p><p>respectiva atividade também for de competência federal.</p><p>Registre-se, desde já, que a solução adotada pelo c. STJ no REsp</p><p>1.132.682/RJ, publicado em 12/03/2020, não afasta a derrogação aqui defendida e</p><p>nem a nova sistemática adotada pela nova lei, haja vista que o caso objeto do</p><p>mencionado julgamento ocorreu ainda no ano de 2002, portanto antes mesmo da</p><p>aprovação da Lei Complementar Federal n.º 140/11, sendo certo que em casos de</p><p>infração deve-se aplicar a lei então vigente em respeito ao princípio do tempus regit</p><p>actum.</p><p>Vale ressaltar ainda que qualquer pessoa identificada, ao constatar</p><p>infração ambiental, pode dirigir representação aos órgãos e entidades da</p><p>estrutura do Sisnama para efeito do exercício de seu poder de polícia.</p><p>Além disso, nos casos de iminência ou ocorrência de degradação da</p><p>qualidade ambiental, o ente federativo que tiver conhecimento do fato deverá</p><p>determinar medidas para evitá-la, fazer cessá-la ou mitigá-la, comunicando</p><p>imediatamente ao órgão competente para as providências cabíveis.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>73</p><p>1.5.1.1.3. Competência ou Ação Supletiva</p><p>Consoante visto linhas atrás, a Lei Complementar Federal n.º 140/11</p><p>promoveu a distribuição das competências para o licenciamento ambiental entre</p><p>os Entes da Federação de modo a se evitar eventuais conflitos de atribuições,</p><p>razão pela qual os empreendimentos e atividades são licenciados</p><p>ambientalmente por um único ente federativo.</p><p>Não obstante isso, podem surgir situações nas quais os Entes da</p><p>Federação, originalmente competentes, não possam conduzir processos de</p><p>licenciamento ambiental, como por exemplo quando a competência para se</p><p>licenciar determinada atividade for de um determinado Município que ainda não</p><p>instituiu seu órgão ambiental local, da estrutura do Sisnama. Frise-se, cabe aos</p><p>órgãos do Sisnama a competência para o licenciamento ambiental, razão pela</p><p>qual sem eles não será possível a concessão de licenças ambientais.</p><p>O que fazer em situações como essa?</p><p>A própria Lei Complementar Federal n.º 140/11 estabeleceu importante</p><p>mecanismo para afastar eventuais crises, denominado: ação ou competência</p><p>supletiva para o licenciamento ambiental.</p><p>A ação ou competência supletiva consiste na ação do Ente da Federação</p><p>que substitui o Ente Federativo originariamente competente para o</p><p>licenciamento ambiental, nas hipóteses autorizadas pela Lei Complementar</p><p>Federal n.º 140/11.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>74</p><p>Assim, os Entes Federados devem atuar em caráter supletivo</p><p>(substituição) nas ações administrativas de licenciamento e de autorização</p><p>ambiental, nos seguintes casos (art. 15 da Lei Complementar Federal n.º 140/11):</p><p>• Inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente</p><p>no Estado ou no Distrito Federal, a União deve desempenhar as ações</p><p>administrativas estaduais ou distritais até a sua criação;</p><p>• Inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente</p><p>no Município, o Estado deve desempenhar as ações administrativas</p><p>municipais até a sua criação;</p><p>• Inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente</p><p>no Estado e no Município, a União deve desempenhar as ações</p><p>administrativas até a sua criação em um daqueles entes federativos;</p><p>• Quando o órgão ambiental do Ente da Federação originalmente</p><p>competente descumpre os prazos para a conclusão do processo de</p><p>licenciamento ambiental.</p><p>Portanto, nos casos acima, a legislação autoriza a atuação supletiva em</p><p>substituição ao Ente da Federação originalmente competente, para garantir que</p><p>os interessados possam obter o licenciamento ambiental de que necessitam para</p><p>o início de suas atividades.</p><p>Quanto à última hipótese de competência supletiva, quando o Ente da</p><p>Federação originalmente competente descumpre os prazos para a conclusão do</p><p>licenciamento ambiental, é importante ressaltar que estes prazos estão definidos</p><p>na Resolução n.º 237/97 — Conama.</p><p>Em verdade, o Conama estabeleceu prazos máximos, razão pela qual o</p><p>órgão ambiental competente poderá estabelecer prazos de análise diferenciados</p><p>para cada modalidade de licenças, em função das peculiaridades da atividade ou</p><p>empreendimento a ser licenciado, conforme abaixo:</p><p>• Regra geral: Em regra, os órgãos ambientais devem concluir os</p><p>processos de licenciamento ambientais em até 6 (seis) meses;</p><p>• Regra especial: O prazo será de até 12 (doze) meses nos casos de</p><p>licenciamento de atividades que possam causar significativa</p><p>degradação ambiental, que exigirá estudo prévio de impacto</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>75</p><p>ambiental com seu respectivo relatório impacto sobre o meio ambiente</p><p>(EIA/RIMA).</p><p>Assim, os órgãos ambientais licenciadores devem observar os prazos</p><p>estabelecidos pelo Conama para a tramitação dos processos de licenciamento (art.</p><p>14 da Lei Complementar Federal n.º 140/11), sob pena de se instaurar a</p><p>competência supletiva do órgão ambiental do Ente da Federação mais abrangente,</p><p>conforme visto acima.</p><p>Todavia, as exigências de complementação de informações, de</p><p>documentos ou de estudos — que devem ser comunicadas de uma única vez ao</p><p>empreendedor, ressalvadas aquelas decorrentes de fatos novos –, feitas pela</p><p>autoridade licenciadora, suspendem o prazo para tramitação dos processos de</p><p>licenciamento, que continua a fluir após o seu atendimento integral pelo</p><p>empreendedor</p><p>Desse modo, o decurso dos prazos de licenciamento, sem a emissão da</p><p>licença ambiental, não implica emissão tácita nem autoriza a prática de ato que</p><p>dela dependa ou decorra. Nesse caso, como visto acima, surge a competência</p><p>supletiva pela qual Ente da Federação diverso substituirá o Ente Federativo</p><p>originariamente competente para o licenciamento ambiental. Também será</p><p>possível a impetração de mandado de segurança buscando provimento judicial</p><p>que determine ao órgão ambiental competente a apreciação do pedido</p><p>administrativo de licenciamento ambiental no prazo estabelecido pela legislação.</p><p>Registre-se, ainda, que o órgão ambiental somente será considerado</p><p>capacitado para conduzir processos de licenciamento ambiental quando possuir</p><p>técnicos próprios ou em consórcio público, devidamente habilitados e em número</p><p>compatível com a demanda das ações</p><p>administrativas de sua competência (art.</p><p>5º, parágrafo único, da Lei Complementar Federal n.º 140/11).</p><p>Daí porque os Entes da Federação não devem apenas simular a existência</p><p>de órgãos ambientais capacitados, os instituindo sem nenhuma estrutura</p><p>administrativa, sem quadro próprio de servidores que possuam adequada</p><p>qualificação técnica e tenha número suficiente para atender as demandas, sem a</p><p>definição de protocolos estabelecendo procedimentos etc., sob pena de</p><p>perderem suas competências ambientais definidas na Lei Complementar Federal</p><p>n.º 140/11 e de nulificarem os licenciamentos ambientais daí decorrentes.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>76</p><p>É por isso que a existência de órgão ambiental capacitado e de conselho</p><p>do meio ambiente são condições sine qua non para o exercício das competências</p><p>estabelecidas na Lei Complementar Federal n.º 140/11.</p><p>1.5.1.1.4. Competência ou Ação Subsidiária</p><p>Como dito, consoante visto linhas atrás, a Lei Complementar Federal n.º</p><p>140/11 promoveu a distribuição das competências para o licenciamento</p><p>ambiental entre os Entes da Federação de modo a se evitar eventuais conflitos de</p><p>atribuições, razão pela qual os empreendimentos e atividades são licenciados</p><p>ambientalmente por um único ente federativo.</p><p>Porém, isso não quer dizer que os Entes da Federação não possam</p><p>cooperar entre si para viabilizar o adequado licenciamento ambiental de suas</p><p>competências. Ao contrário, essa cooperação é expressamente prevista na</p><p>legislação como ação ou competência subsidiária.</p><p>Trata-se do apoio técnico, científico, administrativo, financeiro ou por</p><p>outras formas de cooperação fornecido por órgão ambiental de outros Entes</p><p>Federados após a solicitação do órgão ambiental do Ente da Federação</p><p>originalmente competente para licenciamento ambiental.</p><p>Ou seja, a ação ou competência subsidiária se constitui na ação do Ente</p><p>da Federação que visa a auxiliar no desempenho de atribuições ambientais</p><p>quando solicitado pelo Ente Federativo originariamente detentor da competência</p><p>para o licenciamento ambiental.</p><p>Assim, por exemplo, o órgão ambiental local do Município de Irecê/BA,</p><p>originalmente competente para o licenciamento ambiental de um</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>77</p><p>empreendimento que funcionará em um dos seus parques municipais (unidade</p><p>de conservação da natureza municipal), pode solicitar apoio técnico, científico,</p><p>administrativo ou financeiro ao órgão ambiental seccional do Estado da Bahia ou</p><p>ao IBAMA (órgão executor da estrutura do Sisnama, da União) de forma a</p><p>viabilizar o licenciamento ambiental demandado.</p><p>QUESTÃO</p><p>23. (Promotor de Justiça do MPSC. 2016). De acordo com a Lei Complementar n.</p><p>140/11, para seus fins, consideram-se: atuação subsidiária: ação do ente da</p><p>Federação que se substitui ao ente federativo originariamente detentor das</p><p>atribuições, nas hipóteses definidas nesta Lei Complementar; atuação supletiva:</p><p>ação do ente da Federação que visa a auxiliar no desempenho das atribuições</p><p>decorrentes das competências comuns, quando solicitado pelo ente federativo</p><p>originariamente detentor das atribuições definidas nesta Lei Complementar.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>1.5.1.1.5. Delegação de Competência</p><p>Concluindo o estudo de todos os aspectos da competência sobre os</p><p>processos de controle, licenciamento e fiscalização ambiental, faremos agora uma</p><p>análise sobre a possibilidade de delegação das competências ambientais previstas</p><p>na Lei Complementar Federal n.º 140/11.</p><p>Apesar da rígida distribuição, entre os Entes da Federação, das</p><p>competências para o licenciamento ambiental estabelecida na Lei Complementar</p><p>Federal n.º 140/11, é certo que eles podem delegar entre si suas competências</p><p>ambientais originais através de convênios que, inclusive, poderão ser firmados</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>78</p><p>por prazo indeterminado (art. 5º, parágrafo único, da Lei Complementar Federal</p><p>n.º 140/11).</p><p>É dizer: O Ente federativo poderá delegar, mediante convênio firmado</p><p>com outro Ente Federado, a execução de ações administrativas e competências</p><p>para licenciamento ambiental a ele atribuídas.</p><p>Todavia, para isso, o Ente Federativo destinatário da delegação</p><p>(delegatário) deve comprovar a existência de:</p><p>• Órgão ambiental capacitado (que possui técnicos próprios ou em</p><p>consórcio público, devidamente habilitados e em número compatível</p><p>com a demanda das ações administrativas a serem delegadas);</p><p>• Conselho de Meio Ambiente (órgão colegiado com poder normativo</p><p>municipal).</p><p>Assim, por exemplo, o órgão ambiental local do Município de Ipirá/BA</p><p>poderá receber, através de convênio, delegação das competências para o</p><p>licenciamento ambiental pertencentes ao IBAMA (órgão executor do Sisnama, da</p><p>União), podendo — por isso — passar a conduzir os processos de licenciamento</p><p>ambiental federais, desde que comprove a existência de órgão ambiental</p><p>municipal capacitado e de conselho municipal de meio ambiente, sob pena de</p><p>serem tidos como inválidos os licenciamentos ambientais concedidos.</p><p>1.5.1.2. Licenças Ambientais</p><p>Após compreendidas todas as lições importantes sobre o procedimento de</p><p>licenciamento ambiental (procedimento administrativo), finalmente passaremos</p><p>ao estudo de todos os aspectos relevantes relativos à licença ambiental, ato</p><p>administrativo expedido ao final dos processos de licenciamento ambiental, e que</p><p>materializa a autorização da implementação de atividades potencialmente</p><p>poluidoras ou utilizadoras de recursos ambientais.</p><p>Neste tópico, portanto, estudaremos os três importantes aspectos relativos</p><p>às licenças ambientais.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>79</p><p>A licença ambiental é conceituada como ato administrativo pelo qual o</p><p>órgão ambiental competente estabelece as condições, restrições e medidas de</p><p>controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física</p><p>ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou</p><p>atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou</p><p>potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar</p><p>degradação ambiental.</p><p>A definição de sua natureza jurídica, porém, ainda é divergente,</p><p>formando-se duas correntes doutrinárias.</p><p>Uma primeira corrente a considera com natureza jurídica de licença</p><p>administrativa, sendo por isso vinculada e não precária. Por outro lado, uma</p><p>segunda corrente a considera como mera autorização administrativa, por isso</p><p>discricionária e precária.</p><p>Ora, se considerarmos que a licença ambiental possui natureza jurídica de</p><p>licença administrativa, então – para sua concessão – o interessado só precisará</p><p>comprovar o preenchimento dos requisitos legais, sendo certo que ela não</p><p>poderia ser posteriormente suspensa sem a comprovação da prática de alguma</p><p>infração ambiental, após o devido processo legal.</p><p>Por outro lado, se a considerarmos como mera autorização, então sua</p><p>concessão seria discricionária, razão pela qual os órgãos ambientais poderiam</p><p>avaliar a conveniência e a oportunidade para sua concessão. Além disso, mesmo</p><p>concedida, poderia vir a ser suspensa por razões de interesse público, porque</p><p>precária.</p><p>Trata-se de questão relevantíssima, pois poderá afetar o princípio da</p><p>segurança jurídica e, por isso, influenciar a tomada de decisões quanto a</p><p>investimentos vultosos relativos a empreendimentos que podem gerar grandes</p><p>benefícios à população (criação de empregos, elevação da renda, geração de</p><p>tributos, sustentabilidade ambiental etc.).</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>80</p><p>Imagine a seguinte situação: Uma grande</p><p>empresa multinacional pretende</p><p>fazer um investimento de 5 bilhões de reais na implantação de grande</p><p>empreendimento na região do semiárido (sertão) baiano, com potencial para</p><p>impulsionar a economia de 10 municípios e gerar benefícios diretos e indiretos para</p><p>uma população de cerca de 500 mil pessoas. Para a implantação do</p><p>empreendimento, como sabemos, exigir-se-á prévio licenciamento ambiental.</p><p>A grande empresa multinacional assumiria o risco desse empreendimento</p><p>se a licença ambiental tivesse natureza jurídica apenas de autorização? É dizer:</p><p>mesmo ciente de que, a qualquer momento, por mera conveniência e</p><p>oportunidade, o órgão ambiental poderia sustar sua licença, a multinacional</p><p>promoveria o empreendimento?</p><p>É uma pergunta reflexiva apenas para se demostrar que não se trata de</p><p>mera discussão acadêmica, mas sim de importante questão, com repercussões</p><p>práticas.</p><p>Tenho que a licença ambiental possui natureza jurídica de licença</p><p>administrativa sui generis, haja vista que – apesar de vinculada, o que assegura</p><p>sua concessão se cumpridos os requisitos da legislação ambiental – é precária, e</p><p>por isso poderá ser suspensa ou cancelada supervenientemente por razões de</p><p>interessa ambiental, consoante prevê o art. 19, inciso III, da Resolução n.º 237/97</p><p>do Conama:</p><p>Art. 19. O órgão ambiental competente, mediante decisão</p><p>motivada, poderá modificar os condicionantes e as medidas de</p><p>controle e adequação, suspender ou cancelar uma licença</p><p>expedida, quando ocorrer:</p><p>I - violação ou inadequação de quaisquer condicionantes ou</p><p>normas legais;</p><p>II - omissão ou falsa descrição de informações relevantes que</p><p>subsidiaram a expedição da licença;</p><p>III - superveniência de graves riscos ambientais e de saúde.</p><p>Esclarecida a questão, ainda devemos conhecer os tipos ou modalidades</p><p>de licenças ambientas previstas na legislação, com seus respectivos prazos de</p><p>vigência.</p><p>As licenças ambientais estão classificadas na legislação ambiental conforme</p><p>os tipos, funções e prazos que passaremos a estudar.</p><p>Em regra, o licenciamento ambiental segue procedimento trifásico, com a</p><p>expedição sucessiva de três licenças distintas.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>81</p><p>Na primeira etapa, será expedida a Licença Prévia (LP). Por essa licença o</p><p>órgão ambiental competente aprova a localização e concepção do</p><p>empreendimento, atividade ou obra que se encontra na fase preliminar do</p><p>planejamento, atestando a sua viabilidade ambiental, estabelecendo os</p><p>requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua</p><p>implantação, bem como suprindo o requerente com parâmetros para lançamento</p><p>de efluentes líquidos e gasosos, resíduos sólidos, emissões sonoras, além de exigir</p><p>a apresentação de propostas de medidas de controle ambiental em função dos</p><p>possíveis impactos ambientais a serem gerados.</p><p>Seu prazo de validade é de, no mínimo, o estabelecido pelo cronograma</p><p>de elaboração dos planos, programas e projetos relativos ao empreendimento,</p><p>sendo certo que não poderá ultrapassar o máximo de 5 (cinco) anos.</p><p>Na segunda etapa, será expedida a Licença de Instalação (LI). Por essa</p><p>licença o órgão ambiental competente autoriza a instalação do empreendimento,</p><p>atividade ou obra de acordo com as especificações constantes dos planos,</p><p>programas e projetos aprovados, fixando cronograma para execução das medidas</p><p>mitigadoras e da implantação dos sistemas de controle ambiental.</p><p>Seu prazo de validade é de, no mínimo, o estabelecido pelo cronograma</p><p>de instalação do empreendimento, sendo certo que não poderá ultrapassar o</p><p>máximo de 6 (seis) anos.</p><p>Na terceira e última etapa do licenciamento, será expedida a Licença de</p><p>Operação (LO). Por essa licença o órgão ambiental competente finalmente</p><p>autoriza a operação (funcionamento) da atividade, obra ou empreendimento,</p><p>após a verificação do efetivo cumprimento das medidas de controle ambiental e</p><p>condicionantes determinadas nas licenças anteriores.</p><p>Seu prazo de validade é de, no mínimo, 4 (quatro) anos e, no máximo, 10</p><p>(dez) anos.</p><p>Essas são as licenças ambientais mais comuns. Todavia, ainda encontramos</p><p>na legislação ambiental outras importantes licenças.</p><p>A Licença de Alteração geralmente está condicionada à existência de</p><p>Licença de Instalação (LI) ou Licença de Operação (LO), concedida quando</p><p>porventura ocorrer modificação no contrato social do empreendimento,</p><p>atividade ou obra, ou qualificação de pessoa física. Nesses casos o interessado</p><p>deverá providenciar a licença de alteração para modificar as licenças de instalação</p><p>ou de operação em seu benefício.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>82</p><p>A Licença de Ampliação poderá ser concedida para a realização de</p><p>ampliações ou ajustes em empreendimento ou atividade já implantados e</p><p>licenciados.</p><p>Há também a Licença de Instalação e de Operação (LIO) que substitui os</p><p>procedimentos administrativos do licenciamento de instalação e do</p><p>licenciamento de operação ordinários, unificando-os.</p><p>Através da LIO o órgão ambiental autoriza, em uma única fase, a</p><p>instalação e a operação de atividade ou empreendimento. Deve ser solicitada</p><p>antes de iniciar-se a implantação do empreendimento ou atividade, estando sua</p><p>concessão condicionada às medidas e condições de controle ambiental</p><p>estabelecidas pelo órgão ambiental.</p><p>Também existe a previsão da Licença Prévia e de Instalação (LPI) que,</p><p>agora, substitui os procedimentos administrativos do licenciamento prévio e do</p><p>licenciamento de instalação ordinários, unificando-os. Antes de iniciar-se a</p><p>implantação do empreendimento ou atividade, em uma única fase o órgão</p><p>ambiental atesta a viabilidade ambiental e autoriza a instalação da atividade ou</p><p>empreendimento, estabelecendo as condições e medidas de controle ambiental</p><p>necessárias. Geralmente será concedida quando a análise de viabilidade</p><p>ambiental não depender de estudos ambientais, podendo ocorrer</p><p>simultaneamente à análise dos projetos de implantação.</p><p>Por fim, também é muito comum a existência de Licença Ambiental</p><p>Simplificada (LAS), concedida antes de iniciar-se a implantação do</p><p>empreendimento ou atividade e, em uma única fase, atesta a viabilidade</p><p>ambiental, aprova a localização e autoriza a implantação e a operação de</p><p>empreendimento ou atividade, estabelecendo as condições e medidas de</p><p>controle ambiental que deverão ser atendidas. A concessão da LAS geralmente</p><p>está associada à classificação do empreendimento quanto ao grau de impacto</p><p>ambiental gerado, sendo aplicada a empreendimentos ou atividades de pequeno</p><p>ou micro porte e baixo potencial poluidor. A Licença Única (LU) substitui os</p><p>procedimentos administrativos ordinários do licenciamento prévio, de instalação</p><p>e operação do empreendimento ou atividade, unificando-os na emissão de uma</p><p>única licença, exigindo-se as devidas condições e medidas de controle ambiental.</p><p>O fundamento para o estabelecimento dessas diversas licenças ambientais</p><p>encontra-se na famosa Resolução n.º 237/97 do Conama.</p><p>Portanto, esses são os tipos de licenças ambientais previstos na legislação.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>83</p><p>Concluindo o estudo das questões importantes relativas à licença</p><p>ambiental, é importante ressaltar a disciplina legal de sua renovação e de sua</p><p>prorrogação automática.</p><p>A Lei Complementar Federal n.º 140/11 determina que, se a renovação das</p><p>licenças ambientais for requerida com antecedência mínima de 120 (cento e vinte)</p><p>dias da expiração de seu prazo de validade, fixado na respectiva licença, sua</p><p>validade prorrogar-se-á automaticamente até a decisão definitiva do órgão</p><p>ambiental competente, ainda que essa decisão só ocorra após o fim do prazo</p><p>original.</p><p>Trata-se da instituição da prorrogação tácita de licenças ambientais</p><p>ambientais</p><p>voltadas à redução de desmatamentos e dos níveis de gases amplificadores do</p><p>efeito estufa como condição para a manutenção ou a realização de investimentos</p><p>em negócios no Brasil, com potencial para elevar os níveis de emprego e de renda</p><p>em nossa sociedade.</p><p>Para além disso, o Brasil possui uma das maiores florestas do mundo, e a</p><p>maior área agriculturável do planeta (com potencial), por isso, há extrema</p><p>importância de analisar influência do efeito estufa e conquistar mercados</p><p>internacionais do agronegócio hoje pertencentes às Nações ricas, como a França e</p><p>os Estados Unidos.</p><p>Internamente, as consequências dos maiores desastres ambientais da</p><p>humanidade, como o que ocorreu na cidade de Brumadinho, em Minas Gerais,</p><p>impulsionam debates para tornar a legislação ambiental ainda mais rigorosa, o que</p><p>conflita com interesses de grupos que detêm poder político e econômico.</p><p>Esse cenário demonstra a essencialidade da compreensão deste ramo do</p><p>Direito no Brasil.</p><p>Em razão disso, o adequado conhecimento do Direito Ambiental é cada vez</p><p>mais exigido nas várias fases e etapas dos concursos públicos, sobretudo das</p><p>RAFAEL ROCHA MICROSSISTEMA JURÍDICO DE TUTELA AMBIENTAL • 1</p><p>9</p><p>carreiras jurídicas, com o consequente aumento do número de questões objetivas,</p><p>a exploração desses temas em questões dissertativas e em peças prático-</p><p>profissionais, bem como a apresentação de aprofundados questionamentos em</p><p>fases orais.</p><p>Porém, a compreensão dessa disciplina não é nada fácil, diante da ausência</p><p>de um Código Ambiental que pudesse organizar, sistematizar e consolidar as</p><p>dezenas de leis federais, estaduais e municipais — algumas até pré-constitucionais</p><p>—, decretos, resoluções e até mesmo posicionamentos extraídos de acórdãos e de</p><p>súmulas dos Tribunais.</p><p>Apenas para exemplificar a complexidade dessa disciplina, sua correta</p><p>compreensão exige uma adequada interpretação, por exemplo, das seguintes leis</p><p>e atos normativos:</p><p>• Constituição da República;</p><p>• Lei Federal n.º 5.197/67: Lei de Proteção à Fauna;</p><p>• Lei Federal n.º 6.938/81: instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente;</p><p>• Lei Federal n.º 7.643/87: criminalização da pesca de cetáceos;</p><p>• Lei Federal n.º 7.661/88: instituiu o Plano Nacional de Gerenciamento</p><p>Costeiro;</p><p>• Resoluções do Conama: resoluções 1/86, 9/87, 237/97 etc. (mais de 500</p><p>resoluções do CONAMA);</p><p>• Lei Federal n.º 9.795/99: instituiu a Política Nacional de Educação</p><p>Ambiental;</p><p>• Lei Federal n.º 10.650/03: disciplinou o acesso público aos dados e</p><p>informações ambientais;</p><p>• Lei Federal n.º 11.428/06: Lei de proteção à Mata Atlântica;</p><p>• Lei Federal n.º 11.794/08: disciplinou o uso de animais em experimentos</p><p>científicos;</p><p>• Lei Federal n.º 12.114/09: instituiu o Fundo Nacional sobre Mudança do</p><p>Clima;</p><p>RAFAEL ROCHA MICROSSISTEMA JURÍDICO DE TUTELA AMBIENTAL • 1</p><p>10</p><p>• Lei Federal n.º 12.187/09: instituiu a Política Nacional sobre Mudança</p><p>do Clima;</p><p>• Lei Federal n.º 12.533/11: Dia de Conscientização Sobre as Mudanças</p><p>Climáticas;</p><p>• Lei Complementar Federal n.º 140/11: definiu as competências</p><p>ambientais das entidades políticas;</p><p>• Decreto Federal n.º 8.437/15: ampliou a competência federal para o</p><p>licenciamento ambiental;</p><p>• Lei Federal n.º 9.985/00: instituiu o Sistema Nacional das Unidades de</p><p>Conservação da Natureza;</p><p>• Lei Federal n.º 13.668/18: aprovou o novo marco legal das unidades de</p><p>conservação da natureza;</p><p>• Lei Federal n.º 11.284/06: Lei de gestão de florestas públicas;</p><p>• Lei Federal n.º 12.651/12: instituiu o novo Código Florestal;</p><p>• Lei Federal n.º 14.119/21: instituiu a Política Nacional de Pagamento por</p><p>Serviços Florestais;</p><p>• Lei Federal n.º 9.433/97: instituiu a Política Nacional de Recursos</p><p>Hídricos;</p><p>• Lei Federal n.º 12.334/10: instituiu a Política Nacional de Segurança de</p><p>Barragens;</p><p>• Lei Federal n.º 11.445/07: instituiu a Política de Saneamento Básico;</p><p>• Decreto Federal n.º 10.588/20: regulamentou a Política de Saneamento</p><p>Básico;</p><p>• Lei Federal n.º 12.305/10: instituiu a Política Nacional de Resíduos</p><p>Sólidos;</p><p>• Decreto Federal n.º 10.240/20: regulamentou a Política Nacional de</p><p>Resíduos Sólidos;</p><p>• Decreto Federal n.º 10.388/20: regulamentou a Política Nacional de</p><p>Resíduos Sólidos;</p><p>RAFAEL ROCHA MICROSSISTEMA JURÍDICO DE TUTELA AMBIENTAL • 1</p><p>11</p><p>• Lei Federal n.º 9.605/98: disciplinou os crimes e infrações ambientais;</p><p>• Lei Federal n.º 13.731/18: disciplinou a destinação de parte dos valores</p><p>das multas ambientais;</p><p>• Decreto Federal n.º 6.514/08: instituiu um verdadeiro código federal de</p><p>infrações ambientais.</p><p>Logo, não é possível se compreender adequadamente desse vastíssimo</p><p>conjunto de normas, que estão unidas por princípios e lógica jurídica comuns, senão</p><p>como um legítimo microssistema jurídico próprio, no qual deve haver um diálogo</p><p>entre suas diversas fontes normativas, de forma coordenada, para garantir</p><p>harmônica e correta aplicação e interpretação dos seus diversos institutos jurídicos,</p><p>que devem ser aplicados reciprocamente, afastando-se assim possíveis antinomias</p><p>e suprindo-se lacunas aparentes.</p><p>Portanto, as diversas normas ambientais só podem ser adequadamente</p><p>compreendidas como elementos integrantes desse genuíno Microssistema Jurídico</p><p>De Tutela Ambiental (MTA), constituído por princípios jurídicos próprios e</p><p>específicos, e que propicia a utilização de institutos previstos isoladamente em leis</p><p>específicas na interpretação, aplicação e integração de todas as demais leis do</p><p>microssistema.</p><p>Veja-se, por exemplo, que a correta e completa aplicação das infrações</p><p>administrativo-ambientais exige a interpretação harmônica de, ao menos, 3 (três)</p><p>normas do MTA. Isso se dá porque as sanções administrativas por ilícitos</p><p>ambientais estão definidas no art. 72 da Lei Federal n.º 9.605/98. Todavia, esse</p><p>diploma legal não estabeleceu o rol das infrações administrativo-ambientais, que</p><p>restou instituído pelo Decreto Federal n.º 6.514/08. Porém o Decreto não</p><p>estabeleceu quais são os órgãos ambientais competentes para lavrar autos de</p><p>infração e aplicar multas ambientais.</p><p>Daí porque deve-se utilizar o art. 6º da Lei Federal n.º 6.938/81 para a</p><p>definição desses órgãos ambientais (IBAMA, ICMBio, órgãos seccionais etc.), apesar</p><p>dessa norma não prever quais são as autoridades competentes (dos órgãos</p><p>ambientais) legitimadas a aplicar sanções administrativas decorrentes de ilícitos</p><p>ambientais, cabendo ao art. 70, §1º da Lei Federal n.º 9.605/98 a indicação das</p><p>autoridades competentes (servidores designados para as atividades de</p><p>fiscalização), e a definição do fundamento legal para a tipificação das infrações</p><p>ambientais em decreto.</p><p>RAFAEL ROCHA MICROSSISTEMA JURÍDICO DE TUTELA AMBIENTAL • 1</p><p>12</p><p>Um outro exemplo que aponta para existência do Microssistema Jurídico</p><p>de Tutela Ambiental – MTA – refere-se à necessidade da interpretação harmônica</p><p>de, ao menos, 4 (quatro) normas do MTA para a correta e completa aplicação do</p><p>instituto do licenciamento ambiental.</p><p>Essa regra se dá porque, muito embora a exigência nacional do prévio</p><p>licenciamento ambiental tenha sido instituída pelo art. 10 da Lei Federal n.º</p><p>6.938/81, seu conceito legal e as regras sobre a distribuição das competências para</p><p>o licenciamento ambiental estão definidas nos arts. 2º, 7º, 8º e 9º (dentre outros)</p><p>da Lei Complementar n.º 140/11. Além disso, exceções à exigência do prévio</p><p>licenciamento estão contempladas no art. 8º, §3º e art. 52, caput da Lei Federal n.º</p><p>12.651/12, e as regras sobre os tipos de licenças ambientais e seus prazos de</p><p>validades foram definidas na Resolução n.º 273/97 – CONAMA.</p><p>Portanto, ocorre aqui o mesmo fenômeno existente entre as diversas</p><p>normas que compõem o microssistema jurídico de tutela coletiva (Lei da ação civil</p><p>pública, Lei da ação popular, título III do código de defesa do consumidor etc.).</p><p>Esses são os motivos do porquê, à semelhança do que ocorre com o</p><p>microssistema</p><p>já</p><p>emitidas, desde que o requerente solicite sua renovação com antecedência</p><p>mínima de 120 dias do fim do prazo original, de modo a manter a continuidade</p><p>das atividades e empreendimentos já regularmente em funcionamento.</p><p>Por fim, ressaltamos que os órgãos ambientais condicionarão a expedição</p><p>de licenças ambientais ao atendimento de certas restrições e medidas de</p><p>controle, de modo a viabilizar a tutela preventiva do meio ambiente, condições</p><p>essas conhecidas como condicionantes ambientais. São, geralmente, medidas:</p><p>• Preventivas: Que buscam evitar o dano ambiental, quando possível;</p><p>• Mitigadoras: Que buscam atenuar esses danos ambientais, quando não</p><p>for possível evitá-los;</p><p>• Compensatórias: Decorrentes dos impactos negativos ao meio</p><p>ambiente.</p><p>Assim, as licenças ambientais somente serão expedidas se o interessado</p><p>conseguir comprovar o cumprimento de todas as condicionantes ambientais</p><p>exigidas pelo órgão ambiental competente.</p><p>QUESTÕES</p><p>24. (Delegado de Polícia da PCGO. UEG – 2018). A empresa “BC Industrial” funciona</p><p>regularmente licenciada há dez anos e está com sua licença de operação vencida</p><p>desde 31 de janeiro de 2017. Munido dos documentos técnicos legalmente</p><p>exigidos, o empreendedor requereu, em 1º de outubro de 2016, a renovação da</p><p>licença perante o órgão estadual de meio ambiente. Não houve, entretanto,</p><p>resposta sobre esse pleito. Neste caso,</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>84</p><p>A) verifica-se a prática de infração administrativa ambiental, pois a licença de</p><p>operação encontra-se vencida há mais de 120 (cento e vinte) dias</p><p>B) o pleito de renovação deverá ser negado pelo órgão ambiental, pois deveria</p><p>haver sido requerido com a antecedência mínima de 120 (cento e vinte) dias úteis</p><p>do vencimento da licença.</p><p>C) a empresa estará em situação regular enquanto o órgão ambiental não se</p><p>pronuncie sobre o pedido de renovação da licença de operação.</p><p>D) há direito líquido e certo do empreendedor à renovação da licença de</p><p>operação, já que comprovou, perante o órgão ambiental, atender a todos os</p><p>requisitos técnicos para o funcionamento da atividade.</p><p>E) deve-se protocolar novo requerimento perante o órgão ambiental, diante</p><p>da prescrição intercorrente que se operou no processo, que está sem decisão há</p><p>mais de 1 (um) ano.</p><p>25. (Juiz de Direito do TJRO. Vunesp – 2019). A construção, instalação, ampliação</p><p>e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos</p><p>ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma,</p><p>de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento ambiental.</p><p>Acerca do tema, pode-se afirmar que</p><p>A) as atividades que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito</p><p>local são licenciadas pelo IBAMA.</p><p>B) compete ao Município licenciar atividades localizadas em Áreas de</p><p>Proteção Ambiental (APAS) instituídas pelo Município.</p><p>C) o decurso dos prazos de licenciamento, sem a emissão da licença</p><p>ambiental, implica sua emissão tácita e autoriza a prática de ato que dela dependa</p><p>ou decorra.</p><p>D) a União é competente para promover o licenciamento ambiental de</p><p>empreendimentos e atividades localizados em terras indígenas.</p><p>E) a licença de localização caracteriza a fase preliminar do processo de</p><p>licenciamento, da qual se segue a licença de operação.</p><p>1.5.2. Avaliações de Impacto Ambiental</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>85</p><p>Passamos agora ao estudo do segundo instrumento da Política Nacional</p><p>do Meio Ambiente — PNMA —, as avaliações de impactos ambientais — AIAs.</p><p>As avaliações de impactos ambientais constituem os estudos relativos aos</p><p>aspectos ambientais relacionados à localização, instalação, operação e ampliação</p><p>de atividade ou empreendimento, apresentados como subsídios para a análise da</p><p>licença requerida.</p><p>Portanto, a AIA é um gênero do qual são espécies: estudo prévio de</p><p>impacto ambiental, relatório ambiental, plano e projeto de controle ambiental,</p><p>relatório ambiental preliminar, diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de</p><p>recuperação de área degradada e análise preliminar de risco, relatório de impacto</p><p>ambiental etc.</p><p>Em verdade, as avaliações de impactos ambientais se constituem em um</p><p>dos requisitos para a obtenção de licenças ambientais, haja vista que é através</p><p>delas que os órgãos ambientais poderão mensurar os impactos ambientais que</p><p>serão causados pelo empreendimento a ser licenciado.</p><p>Considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades</p><p>físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de</p><p>matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou</p><p>indiretamente, afetem a qualidade dos recursos ambientais.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>86</p><p>Assim, por exemplo, se determinada empresa desejar implantar projeto</p><p>de irrigação para cultivo de manga palmer em uma área de 100 Hectares com</p><p>vegetação nativa na zona rural da cidade de Uibaí/BA, deverá apresentar um dos</p><p>tipos de Avaliação de Impacto Ambiental exigidos pelo órgão ambiental</p><p>licenciador como condição para a obtenção do licenciamento ambiental desta</p><p>atividade. Essa Avaliação de Impacto Ambiental deverá demonstrar, por exemplo,</p><p>que naquela área não há espécimes raras da fauna ou da flora, não há nascentes</p><p>ou olhos d’água ou não há paisagens naturais pouco alteradas de notável beleza</p><p>cênica.</p><p>Daí porque essas Avaliações de Impactos Ambientais são tão necessárias,</p><p>pois sem elas não seria possível mensurar os impactos ambientais da atividade que</p><p>se busca licenciar.</p><p>A realização da AIA e seus custos são de responsabilidade exclusiva do</p><p>empreendedor interessado que deverá, após concluída, submetê-la ao órgão</p><p>ambiental competente para análise. Geralmente são contratadas empresas</p><p>especializadas em consultoria ambiental, devidamente inscritas no Cadastro</p><p>Técnico Federal, que serão responsáveis técnica e solidariamente pelas</p><p>conclusões da AIA, podendo inclusive ser responsabilizadas criminalmente10 pela</p><p>eventual inserção de dados falsos no documento.</p><p>É relevantíssimo observar que existe um tipo especial de Avaliação de</p><p>Impacto Ambiental denominada Estudo Prévio de Impacto Ambiental – EIA ou</p><p>Epia.</p><p>Trata-se de um tipo especial de avaliação de impacto ambiental porque é o</p><p>único exigido pela própria Constituição da República, daí porque não poderá ser</p><p>dispensada por ato infraconstitucional em hipótese alguma:</p><p>Art. 225:</p><p>[...]</p><p>IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade</p><p>potencialmente causadora de significativa degradação do</p><p>meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se</p><p>dará publicidade;</p><p>10 Art. 69-A da Lei Federal n.º 9.605/98.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>87</p><p>Todavia, ela somente será exigida nos casos de atividade consideradas</p><p>potencialmente causadora de significativa degradação ambiental, cabendo à</p><p>legislação ambiental definir o alcance dessa expressão.</p><p>Em verdade, significativa degradação ambiental indica que haverá uma</p><p>portentosa degradação ao meio ambiente. Podemos encontrar na Resolução n.º</p><p>1/86 do Conama um rol exemplificativo de atividades consideradas</p><p>potencialmente causadoras de significativa degradação ambiental, razão pela</p><p>qual nesses casos a AIA exigida será necessariamente o EIA.</p><p>Demais disso, para todo EIA exigir-se-á também um Relatório de Impacto</p><p>Ambiental – RIMA –, por isso essa avaliação de impacto ambiental sempre é</p><p>indicada pela abreviação EIA/RIMA, nos termos da Resolução n.º 1/86 do</p><p>Conama:</p><p>Art. 2º Dependerá de elaboração de estudo de impacto</p><p>ambiental e respectivo relatório de impacto ambiental –</p><p>RIMA[...]</p><p>O RIMA, na verdade, se constitui em documento</p><p>que traduz as</p><p>informações do EIA em linguagem acessível, ilustrada por mapas, cartas, quadros,</p><p>gráficos e demais técnicas de comunicação visual, de modo que se possam</p><p>entender as vantagens e desvantagens do projeto, bem como todas as</p><p>consequências ambientais de sua implementação:</p><p>[...] Art. 9º O relatório de impacto ambiental - RIMA refletirá</p><p>as conclusões do estudo de impacto ambiental e conterá, no</p><p>mínimo:</p><p>Vale ressaltar que, nos termos da Lei Federal n.º 10.650/03, os registros</p><p>de protocolo, de aprovação e de rejeição do EIA devem ser permanentemente</p><p>publicados:</p><p>Art. 4o Deverão ser publicados em Diário Oficial e ficar</p><p>disponíveis, no respectivo órgão, em local de fácil acesso ao</p><p>público, listagens e relações contendo os dados referentes aos</p><p>seguintes assuntos:</p><p>[...]</p><p>VII - registro de apresentação de estudos de impacto</p><p>ambiental e sua aprovação ou rejeição.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>88</p><p>Por fim, é importante destacar ainda que a legislação ambiental</p><p>estabelece casos nos quais exigir-se-á a realização de audiência pública para</p><p>apresentação das conclusões do EIA/RIMA à sociedade.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>89</p><p>Resolução n.º 237/97 do Conama:</p><p>Art. 3º A licença ambiental para empreendimentos e atividades</p><p>consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de</p><p>significativa degradação do meio dependerá de prévio estudo</p><p>de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto sobre</p><p>o meio ambiente (EIA/RIMA), ao qual dar-se-á publicidade,</p><p>garantida a realização de audiências públicas, quando couber,</p><p>de acordo com a regulamentação.</p><p>Resolução n.º 1/86 do Conama:</p><p>Art. 11.</p><p>[...]</p><p>§ 2º Ao determinar a execução do estudo de impacto ambiental</p><p>e apresentação do RIMA, o órgão estadual competente ou a</p><p>SEMA ou, quando couber o Município, determinará o prazo</p><p>para recebimento dos comentários a serem feitos pelos órgãos</p><p>públicos e demais interessados e, sempre que julgar necessário,</p><p>promoverá a realização de audiência pública para informação</p><p>sobre o projeto e seus impactos ambientais e discussão do</p><p>RIMA.</p><p>Resolução n.º 9/87 do Conama:</p><p>Art. 1º A Audiência Pública referida na Resolução Conama n.º</p><p>1/86, tem por finalidade expor aos interessados o conteúdo do</p><p>produto em análise e do seu referido RIMA, dirimindo dúvidas</p><p>e recolhendo dos presentes as críticas e sugestões a respeito.</p><p>A realização de audiência pública para apresentar as conclusões do</p><p>EIA/RIMA será obrigatória nos seguintes casos, nos termos da Resolução n.º 9/87</p><p>do Conama:</p><p>• Por determinação do órgão ambiental licenciador;</p><p>• Por solicitação do Ministério Público;</p><p>• Por solicitação de entidade civil;</p><p>• Por solicitação de 50 ou mais cidadãos.</p><p>Trata-se de exigência cuja inobservância nulificará todo o procedimento</p><p>de licenciamento ambiental:</p><p>Resolução n.º 9/87 do Conama:</p><p>Art. 2º</p><p>[...]</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>90</p><p>§ 2º No caso de haver solicitação de audiência pública e na</p><p>hipótese do Órgão Estadual não realizá-la, a licença concedida</p><p>não terá validade.</p><p>QUESTÕES</p><p>2. (Juiz de Direito do TJMS. FCC – 2020). O Ministério Público ajuizou uma</p><p>ação civil pública visando à declaração de nulidade de licenciamento ambiental</p><p>conduzido por estudo ambiental diverso do Estudo de Impacto Ambiental e</p><p>Respectivo Relatório (EIA-RIMA). O Magistrado deverá</p><p>A) julgar, de forma antecipada, a ação procedente, uma vez que o EIA-RIMA é</p><p>obrigatório no licenciamento ambiental.</p><p>B) julgar, de forma antecipada, a ação improcedente, diante da presunção de</p><p>legalidade do ato administrativo.</p><p>C) determinar a produção de prova pericial para aferir a necessidade de</p><p>elaboração do EIA-RIMA no licenciamento ambiental.</p><p>D) determinar a produção de prova testemunhal para aferir a necessidade de</p><p>elaboração do EIA-RIMA.</p><p>E) extinguir o processo, sem resolução de mérito, por verificar a ausência de</p><p>interesse processual.</p><p>3. (Juiz de Direito do TJRJ. Vunesp – 2019). A audiência pública tem por fim</p><p>expor aos interessados o conteúdo do projeto ou empreendimento em exame e do</p><p>seu respectivo RIMA. Sobre essa temática, é correto afirmar que</p><p>A) é realizada quando o órgão de meio ambiente licenciador julgar necessário</p><p>ou quando solicitado por 40 ou mais cidadãos.</p><p>B) o fator político não influi no processo de tomada de decisão.</p><p>C) havendo sua solicitação e, na hipótese do órgão estadual não realizá-la, a</p><p>licença concedida não terá validade.</p><p>D) a participação popular é vinculante e condicionante da decisão</p><p>administrativa.</p><p>E) a ata da audiência pública vincula o parecer final do licenciador quanto à</p><p>admissibilidade do exame do projeto.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>91</p><p>Com isso, concluímos o estudo deste segundo instrumento da PNMA.</p><p>1.5.3. Sistema Nacional de Informações sobre o Meio</p><p>Ambiente — Sinima — e Cadastro Ambiental Rural —</p><p>CAR</p><p>Passamos agora ao estudo do quarto instrumento da Política Nacional do</p><p>Meio Ambiente — PNMA —, o Sistema Nacional de Informações sobre o Meio</p><p>Ambiente — Sinima.</p><p>Trata-se de relevante instrumento da PNMA consistente em plataforma,</p><p>instituída e coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente, que reúne, consolida</p><p>e faz a gestão de todas as informações ambientais existentes nos órgãos e</p><p>entidades da estrutura do Sisnama, para garantir o adequado uso dessas</p><p>informações pelos próprios órgãos ambientais, melhorando assim a gestão do</p><p>meio ambiente, bem como para permitir seu pleno acesso público.</p><p>O Sinima deverá reunir, entre outras, as seguintes informações</p><p>ambientais11:</p><p>11 Lei Federal n.º 10.650/03</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>92</p><p>• Pedidos de licenciamento, sua renovação e a respectiva concessão;</p><p>• Pedidos e licenças para supressão de vegetação;</p><p>• Autos de infrações e respectivas penalidades impostas pelos órgãos</p><p>ambientais;</p><p>• Lavratura de termos de compromisso de ajustamento de conduta;</p><p>• Reincidências em infrações ambientais;</p><p>• Recursos interpostos em processo administrativo ambiental e</p><p>respectivas decisões;</p><p>• Registro de apresentação de estudos de impacto ambiental e sua</p><p>aprovação ou rejeição;</p><p>• Demais informações ambientais relativas à gestão florestal, a resíduos</p><p>sólidos etc.</p><p>Esse sistema nacional é organizado e mantido pela União com a</p><p>colaboração dos Estados-Membros e dos Municípios, que também deverão</p><p>instituir, respectivamente, seus sistemas estaduais e sistemas municipais de</p><p>informações sobre o meio ambiente.</p><p>Também faz parte do Sinima o Cadastro Ambiental Rural – CAR12 –, que</p><p>se constitui em registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para</p><p>todos os imóveis rurais, e que foi instituído pelo Código Florestal (art. 29 da Lei</p><p>Federal n.º 12.651/12).</p><p>O CAR tem a finalidade de integrar as informações ambientais das</p><p>propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle,</p><p>monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao</p><p>desmatamento.</p><p>Assim, a inscrição no Cadastro Ambiental Rural – CAR – é obrigatória para</p><p>todas as propriedades e posses rurais. Sua inscrição, atualmente, é por prazo</p><p>indeterminado nos termos da Lei Federal n.º 13.887/19 que revogou o prazo final</p><p>anteriormente fixado em 31/12/2017 prorrogado até 31/12/2018.</p><p>12 O Sistema do Cadastro Ambiental Rural — SICAR é regulamentado pelo Decreto Federal n.º</p><p>7.830/12.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>93</p><p>Desse modo, não haverá consequências jurídicas diretas pela não</p><p>inscrição dos imóveis rurais no CAR, haja vista que não há mais prazo definido.</p><p>Contudo,</p><p>é importante esclarecer que a inscrição dos imóveis rurais no CAR</p><p>passou a se constituir em requisito exigido em diversos procedimentos com</p><p>repercussões ambientais (licenciamento ambiental, regularização ambiental,</p><p>registro da reserva legal, acesso a programas de apoio governamental, obtenção</p><p>de autorização de supressão vegetal, instituição de servidão ambiental, acesso a</p><p>crédito agrícola e a financiamentos em instituições financeiras oficiais etc.).</p><p>A inscrição no Cadastro Ambiental Rural – CAR – não será considerada</p><p>título para fins de reconhecimento do direito de propriedade ou posse e não</p><p>elimina a obrigatoriedade de inscrição do imóvel no Cadastro Nacional de Imóveis</p><p>Rurais – CNIR – previsto na Lei Federal n.º 5.868/72 e gerido pelo Instituto</p><p>Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA – e pela Secretaria da Receita</p><p>Federal – SRF.</p><p>É importante ressaltar, ainda, que a inscrição deve ser realizada</p><p>preferencialmente nos órgãos ambientais municipais e estaduais, e que foi</p><p>instituído procedimento simplificado13 para a inscrição de pequenas propriedades</p><p>rurais familiares14, assim consideradas aquelas exploradas mediante o trabalho</p><p>pessoal do agricultor familiar e empreendedor familiar rural e com área de até</p><p>quatro módulos fiscais.</p><p>Por fim, registre-se que os proprietários e possuidores dos imóveis rurais</p><p>que os inscreveram no CAR até 31 de dezembro de 2020 passaram a ter o direito</p><p>à adesão ao Programa de Regularização Ambiental (PRA) previsto no novo código</p><p>florestal. Além disso, após 31 de dezembro de 2017, as instituições financeiras só</p><p>concederão crédito agrícola, em qualquer de suas modalidades, para</p><p>proprietários de imóveis rurais que estejam inscritos no CAR (Regra declarada</p><p>constitucional pelo STF na ADC n.º 42) (art. 78-A da Lei Federal n.º 12.651/12).</p><p>QUESTÃO</p><p>4. (Promotor de Justiça do MPSC. 2016). Sobre o Cadastro Ambiental Rural</p><p>(CAR), a Lei n. 12.651/12 estabelece que a inscrição do imóvel rural no CAR deverá</p><p>13 Obrigatória apenas a apresentação de documento de identificação do proprietário ou possuidor</p><p>rural e comprovação da propriedade ou posse, além de croqui indicando o perímetro do imóvel, as</p><p>Áreas de Preservação Permanente e os remanescentes que formam a Reserva Legal.</p><p>14 Art. 3º da Lei Federal n.º 11.326/06.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>94</p><p>ser feita, preferencialmente, no IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e</p><p>dos Recursos Naturais Renováveis), que, nos termos do regulamento, exigirá do</p><p>proprietário ou possuidor rural, entre outras questões, a identificação do</p><p>proprietário ou possuidor rural e a comprovação da propriedade ou posse.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>95</p><p>1.5.4. Cadastro Técnico Federal</p><p>Passamos agora ao estudo do sexto instrumento da Política Nacional do</p><p>Meio Ambiente — PNMA —, o Cadastro Técnico Federal — CTF.</p><p>Trata-se de um cadastro público eletrônico instituído pelo IBAMA, órgão</p><p>executor do Sisnama, para registro obrigatório de todos aqueles que atuam com</p><p>atividades e instrumentos de defesa ambiental ou que sejam potencialmente</p><p>poluidores ou utilizadores de recursos ambientais.</p><p>Para melhor gestão das informações, esse Cadastro Técnico Federal foi</p><p>dividido em dois (art. 17 da Lei Federal n.º 6.938/81):</p><p>• CTF de Atividades e Instrumento de Defesa Ambiental – CTF/AIDA15:</p><p>Para registro obrigatório, por exemplo, de empresas de consultoria</p><p>ambiental, de gerenciamento de resíduos sólidos ou de indústrias de</p><p>equipamentos de controle da poluição ambiental;</p><p>15 Resolução n.º 01/88 do Conama e Instrução Normativa n.º 10/2013 do Ibama.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>96</p><p>• CTF de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos</p><p>recursos ambientais – CTF/APP16: Para registro obrigatório, por</p><p>exemplo, de empresas com atividades de extração, produção,</p><p>transporte e comercialização de produtos potencialmente perigosos ao</p><p>meio ambiente ou de produtos da fauna e da flora (são mais de 400 mil</p><p>empresas cadastradas no Brasil).</p><p>As pessoas naturais e jurídicas que estejam enquadradas nos anexos das</p><p>Instruções Normativas n.º 10/2013 e n.º 06/2013 do IBAMA e que não se inscrevem</p><p>no CTF respectivo incorrerão em infração ambiental punível com multa de:</p><p>• R$ 50,00 (cinquenta reais), se pessoa física;</p><p>• R$ 150,00 (cento e cinquenta reais), se microempresa;</p><p>• R$ 900,00 (novecentos reais), se empresa de pequeno porte;</p><p>• R$ 1.800,00 (mil e oitocentos reais), se empresa de médio porte;</p><p>• R$ 9.000,00 (nove mil reais), se empresa de grande porte.</p><p>É por isso que até mesmo as floriculturas são obrigadas a registro no CTF,</p><p>haja vista que o comércio interno de plantas vivas e outros produtos oriundos da</p><p>flora nativa dependerá da inscrição no Cadastro Técnico Federal de Atividades</p><p>Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais, além da</p><p>respectiva licença ambiental a ser emitida pelo órgão estadual do Sisnama. Para</p><p>exportação de plantas vivas e outros produtos da flora exigir-se-á licença do órgão</p><p>federal do Sisnama (art. 37 da Lei Federal n.º 12.651/12).</p><p>Por fim, é importante destacar que também são obrigados a registro no</p><p>Cadastro Técnico Federal os estabelecimentos comerciais responsáveis pela</p><p>comercialização de motosserras e aqueles que as adquirirem. Para porte e uso de</p><p>motosserras17 exigir-se-á a respectiva licença, que será renovada a cada 2 anos.18</p><p>QUESTÃO</p><p>5. (Juiz de Direito do TJBA. Cebraspe – 2019).</p><p>16 Instrução Normativa n.º 06/2013 do Ibama.</p><p>17 Art. 69 da Lei Federal n.º 12.651/12 (Novo Código Florestal).</p><p>18 Disciplinado no art. 45 do código ambiental de 1965 (Lei Federal n.º 4.771/65).</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>97</p><p>• Víctor é doutor em fauna aquática e pretende trabalhar como consultor em</p><p>estudos para licenciamentos ambientais.</p><p>• Uma empresa pretende extrair minérios e, para isso, solicitou o licenciamento</p><p>ambiental ao órgão estadual competente.</p><p>Considerando essas situações hipotéticas, assinale a opção correta, acerca do CTF,</p><p>previsto na Política Nacional de Meio Ambiente — Lei n.º 6.938/1981.</p><p>A) Víctor e a empresa deverão ter CTFs das respectivas atividades para</p><p>concretizarem suas pretensões.</p><p>B) Apenas Víctor deverá ter CTF, pois não se exige esse instrumento de pessoa</p><p>jurídica.</p><p>C) Apenas a empresa deverá ter CTF, pois não se exige esse instrumento de</p><p>pessoa física.</p><p>D) Nem de Víctor nem da empresa é exigido CTF para concretizarem suas</p><p>pretensões, mas ambos deverão estar inscritos no SINIMA.</p><p>E) Apenas a empresa deverá ter CTF; para Víctor, o CTF poderá ser dispensado</p><p>e substituído pela inscrição da atividade no SINIMA.</p><p>Com isso, concluímos o estudo dos instrumentos mais relevantes da PNMA.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>99</p><p>SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES</p><p>DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA</p><p>3</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>100</p><p>1. RELEMBRANDO O MICROSSISTEMA JURÍDICO DE TUTELA</p><p>AMBIENTAL — MTA</p><p>Estamos estudando o Microssistema Jurídico de Tutela Ambiental — MTA</p><p>—, que, sob uma ótica mais prática, é basicamente formado por quatro sistemas</p><p>principais:</p><p>Com o adequado estudo do Sistema Nacional do Meio Ambiente —</p><p>Sisnama — foi possível compreender os seguintes pontos principais:</p><p>• Sua estrutura: Constituída pelo conjunto de órgãos e entidades públicas</p><p>competentes para as ações de preservação, fiscalização e recuperação</p><p>do meio ambiente no Brasil. Foi possível se apreender a composição e</p><p>as atribuições desses órgãos/entidades ambientais (IBAMA, Conama</p><p>etc.);</p><p>• Políticas</p><p>nacionais correlacionadas: Que deverão ser implementadas,</p><p>total ou parcialmente, pelos órgãos e entidades componentes da</p><p>estrutura do Sisnama. Foi possível se apreender a Política Nacional do</p><p>Meio Ambiente – PNMA – e outras associadas, estudando-se os:</p><p>• Objetivos: Da PNMA, e das demais políticas nacionais ambientais</p><p>associadas, a serem cumpridos, total ou parcialmente, pelos órgãos e</p><p>entidades componentes da estrutura do Sisnama;</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>101</p><p>• Instrumentos: Da PNMA, e das demais políticas nacionais ambientais</p><p>associadas, que se constituem em genuínas ferramentas jurídicas</p><p>disponibilizadas principalmente para os órgãos e entidades</p><p>componentes da estrutura do Sisnama, para propiciar o cumprimento</p><p>dos objetivos da própria PNMA e das demais políticas ambientais</p><p>associadas.</p><p>Agora passaremos a estudar o segundo sistema integrante do MTA, o</p><p>Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza — SNUC —, para se</p><p>compreender os seguintes pontos principais:</p><p>• Sua estrutura: Constituída pelo conjunto de órgãos e entidades públicas</p><p>competentes para administrar, preservar e fiscalizar as unidades de</p><p>conservação da natureza (parques nacionais, por exemplo) no Brasil.</p><p>Será possível se apreender a composição e as atribuições desses</p><p>órgãos/entidades ambientais (ICMBIO etc.);</p><p>• Políticas nacionais correlacionadas: Que deverão ser implementadas,</p><p>total ou parcialmente, pelos órgãos e entidades componentes da</p><p>estrutura do SNUC. Será possível se apreender a Política Nacional de</p><p>Unidades de Conservação – PNUC – e outras associadas, estudando-se</p><p>os:</p><p>o Objetivos: Da PNUC, e do próprio SNUC, a serem</p><p>cumpridos, total ou parcialmente, pelos órgãos e</p><p>entidades componentes da estrutura do SNUC;</p><p>o Instrumentos: Instituídos pela Lei da PNUC, e pelas</p><p>demais políticas ambientais associadas (pelo código</p><p>florestal, por exemplo), que se constituem em</p><p>genuínas ferramentas jurídicas disponibilizadas</p><p>principalmente para os órgãos e entidades</p><p>componentes da estrutura do SNUC, para propiciar o</p><p>cumprimento dos seus objetivos e da PNUC.</p><p>2. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA</p><p>NATUREZA</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>102</p><p>2.1. Criação do SNUC</p><p>A instituição de Unidades de Conservação da Natureza, como espaços</p><p>especialmente protegidos, atualmente disciplinada pela Lei do SNUC, não é</p><p>novidade, haja vista que estava prevista em nossos dois primeiros códigos</p><p>florestais, aprovados respectivamente pelo Decreto Federal n.º 23.793/3419 e pela</p><p>Lei Federal n.º 4.771/6520. Sua criação também foi prevista como um dos</p><p>instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA:</p><p>Art. 9º - São Instrumentos da Política Nacional do Meio</p><p>Ambiente: [...] VI - a criação de espaços territoriais</p><p>especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual</p><p>e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de</p><p>relevante interesse ecológico e reservas extrativistas;</p><p>Posteriormente, foi inserida na Constituição da República de 1988 como</p><p>uma obrigação do Poder Público:</p><p>Art. 225.</p><p>[...]</p><p>§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao</p><p>Poder Público: [...] III - definir, em todas as unidades da</p><p>Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem</p><p>especialmente protegidos [...]</p><p>Todavia, foi somente em 05 de junho de 1992, em meio às discussões da</p><p>Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento –</p><p>Cnumad – (Eco 92 ou Cúpula da Terra), ocorrida no Rio de Janeiro/RJ, que o</p><p>19 Primeiro código florestal brasileiro: Arts. 5º e 9º.</p><p>20 Segundo código florestal brasileiro: Art. 5º.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>103</p><p>Presidente da República encaminhou à Câmara dos Deputados o projeto de lei n.º</p><p>2.892/92 para a instituição de um Sistema Nacional de Unidades de Conservação</p><p>da Natureza, o SNUC.</p><p>Naquele momento havia muitas preocupações com a aceleração do ritmo</p><p>de extinção de espécies vitais ao planeta, especialmente na década anterior. Daí</p><p>porque se buscou o estabelecimento de uma rede de áreas naturais protegidas.</p><p>Tratava-se de uma responsabilidade assumida pelo Estado brasileiro</p><p>perante a Nação e à comunidade internacional, de preservar seu imenso</p><p>patrimônio genético e sua biodiversidade.</p><p>Na elaboração do projeto, desenvolveu-se o trabalho de audiências de</p><p>vários setores da sociedade e do Conselho Nacional do Meio Ambiente –</p><p>CONAMA –, que aprovou a minuta do projeto em sua 24ª Reunião Ordinária.</p><p>Assim, após longos 7 anos de tramitação no Congresso Nacional, finalmente</p><p>foi aprovada e sancionada a Lei Federal n.º 9.985/00 que instituiu o Sistema</p><p>Nacional de Unidades de Conservação da Natureza — SNUC —, ora objeto de nosso</p><p>estudo.</p><p>2.2 Estrutura do SNUC</p><p>O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza — SNUC —</p><p>é constituído pelo conjunto das unidades de conservação federais, estaduais,</p><p>distritais e municipais.</p><p>Assim, com a entrada em vigor da Lei Federal n.º 9.985/00, todas as</p><p>unidades de conservação municipais, estaduais, distritais e federais passaram a</p><p>integrar o SNUC, razão pela qual todas as unidades de conservação e áreas</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>104</p><p>protegidas que haviam sido criadas com base na legislação anterior tiveram que</p><p>ser reavaliadas, no prazo de 2 anos, com o objetivo de definir sua nova</p><p>classificação. Essa reavaliação teria de ser realizada por ato normativo do mesmo</p><p>nível hierárquico que criou as unidades, proposto pelo respectivo órgão executor.</p><p>O SNUC é gerido por um conjunto de órgãos e entidades com estrutura</p><p>funcionalmente particionada, conforme imagem a seguir:</p><p>É importante destacar que os órgãos são classificados em categorias bem</p><p>definidas, cada um deles com sua composição e atribuições próprias, conforme</p><p>veremos nos tópicos abaixo.</p><p>2.2.1. Órgão Consultivo e Deliberativo</p><p>O órgão consultivo e deliberativo do SNUC é o Conselho Nacional do Meio</p><p>Ambiente — CONAMA —, órgão colegiado que integra a estrutura administrativa</p><p>do Ministério do Meio Ambiente, e que detém a competência normativa para</p><p>aprovar resoluções regulamentares à legislação ambiental, de observância</p><p>obrigatória por todos os demais órgãos do SNUC.</p><p>Ou seja, os órgãos ambientais estaduais, distritais e municipais são</p><p>obrigados a cumprir e respeitar as normas ambientais emanadas pelo Conama. Daí</p><p>porque é o Conama, sem dúvida, o órgão mais importante da estrutura do SNUC.</p><p>Trata-se de órgão com atribuições para acompanhar a implementação do</p><p>Sistema.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>105</p><p>Sua composição e suas funções já foram amplamente estudadas no capítulo</p><p>do Sisnama.</p><p>2.2.2. Órgão Central</p><p>Compete ao Ministério do Meio Ambiente as funções de órgão central do</p><p>SNUC, com a finalidade de coordenar o sistema.</p><p>Também deve organizar e manter o Cadastro Nacional de Unidades de</p><p>Conservação da Natureza, com a colaboração do IBAMA e dos órgãos estaduais e</p><p>municipais competentes.</p><p>O Cadastro Nacional de Unidades de Conservação da Natureza conterá os</p><p>dados principais de cada unidade de conservação, incluindo, dentre outras</p><p>características relevantes, informações sobre espécies ameaçadas de extinção,</p><p>situação fundiária, recursos hídricos, clima, solos e aspectos socioculturais e</p><p>antropológicos.</p><p>O Ministério do Meio Ambiente divulgará e colocará à disposição do</p><p>público interessado os dados constantes do Cadastro.</p><p>2.2.3. Órgãos Executores</p><p>São considerados órgãos executores do SNUC as duas autarquias</p><p>ambientais federais vinculadas ao Ministério do Meio Ambiente: O Instituto</p><p>Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA – e o</p><p>Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – Icmbio.</p><p>O Icmbio foi instituído</p><p>em 200721 com as funções de implementar o SNUC,</p><p>subsidiar as propostas de criação e administrar as unidades de conservação</p><p>federais. Portanto, ele é responsável pela gestão das unidades de conservação da</p><p>natureza federais, como por exemplo os parques nacionais.</p><p>Por outro lado, o IBAMA atua apenas em caráter supletivo no SNUC.</p><p>Ainda são considerados órgãos executores todos os órgãos e entidades</p><p>ambientais estaduais, distritais e municipais com as funções de implementar o</p><p>SNUC, subsidiar as propostas de criação e administrar as unidades de conservação</p><p>estaduais e municipais, nas respectivas esferas de atuação.</p><p>21 Lei Federal n.º 11.516/07.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>106</p><p>2.3. Política Nacional de Unidades de Conservação —</p><p>PNUC</p><p>A Política Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – PNUC – se</p><p>constitui em importante política pública ambiental instituída pela Lei Federal n.º</p><p>9.985/00 com a finalidade geral de regular os procedimentos de criação e de</p><p>classificação das unidades de conservação de todas as esferas da Federação.</p><p>Ela definiu importantes diretrizes que devem reger o SNUC (art. 5º da Lei</p><p>Federal n.º 9.985/00):</p><p>• Assegurar que, no conjunto das unidades de conservação, estejam</p><p>representadas amostras significativas e ecologicamente viáveis das</p><p>diferentes populações, habitats e ecossistemas do território nacional e</p><p>das águas jurisdicionais, salvaguardando o patrimônio biológico</p><p>existente;</p><p>• Assegurar os mecanismos e procedimentos necessários ao</p><p>envolvimento da sociedade no estabelecimento e na revisão da política</p><p>nacional de unidades de conservação;</p><p>• Assegurar a participação efetiva das populações locais na criação,</p><p>implantação e gestão das unidades de conservação;</p><p>• Buscar o apoio e a cooperação de organizações não-governamentais, de</p><p>organizações privadas e pessoas físicas para o desenvolvimento de</p><p>estudos, pesquisas científicas, práticas de educação ambiental,</p><p>atividades de lazer e de turismo ecológico, monitoramento,</p><p>manutenção e outras atividades de gestão das unidades de</p><p>conservação;</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>107</p><p>• Incentivar as populações locais e as organizações privadas a</p><p>estabelecerem e administrarem unidades de conservação dentro do</p><p>sistema nacional;</p><p>• Assegurar, nos casos possíveis, a sustentabilidade econômica das</p><p>unidades de conservação;</p><p>• Permitir o uso das unidades de conservação para a conservação in situ</p><p>de populações das variantes genéticas selvagens dos animais e plantas</p><p>domesticados e recursos genéticos silvestres: A conservação in situ é a</p><p>conservação de ecossistemas e habitats naturais e a manutenção e</p><p>recuperação de populações viáveis de espécies em seus meios naturais</p><p>e, no caso de espécies domesticadas ou cultivadas, nos meios onde</p><p>tenham desenvolvido suas propriedades características;</p><p>• Assegurar que o processo de criação e gestão das unidades de</p><p>conservação sejam feitos de forma integrada com as políticas de</p><p>administração das terras e águas circundantes, considerando as</p><p>condições e necessidades sociais e econômicas locais;</p><p>• Considerar as condições e necessidades das populações locais no</p><p>desenvolvimento e adaptação de métodos e técnicas de uso sustentável</p><p>dos recursos naturais;</p><p>• Garantir às populações tradicionais cuja subsistência dependa da</p><p>utilização de recursos naturais existentes no interior das unidades de</p><p>conservação meios de subsistência alternativos ou a justa indenização</p><p>pelos recursos perdidos: A população tradicional é aquela que já residia</p><p>na unidade antes de sua criação e que se mantinha através da</p><p>exploração de recursos naturais por gerações;</p><p>• Garantir uma alocação adequada dos recursos financeiros necessários</p><p>para que, uma vez criadas, as unidades de conservação possam ser</p><p>geridas de forma eficaz e atender aos seus objetivos;</p><p>• Buscar conferir às unidades de conservação, nos casos possíveis e</p><p>respeitadas as conveniências da administração, autonomia</p><p>administrativa e financeira;</p><p>• Buscar proteger grandes áreas por meio de um conjunto integrado de</p><p>unidades de conservação de diferentes categorias, próximas ou</p><p>contíguas, integrando as diferentes atividades de preservação da</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>108</p><p>natureza, uso sustentável dos recursos naturais e restauração e</p><p>recuperação dos ecossistemas.</p><p>Por fim, vale destacar que o Poder Público deve realizar o levantamento</p><p>nacional das terras devolutas com o objetivo de definir áreas destinadas à</p><p>conservação da natureza.</p><p>2.4. Objetivos do SNUC</p><p>Os órgãos responsáveis pela gestão do SNUC devem implementá-lo,</p><p>inclusive observando-se as diretrizes da Política Nacional de Unidades de</p><p>Conservação da Natureza – PNUC –, buscando o cumprimento dos objetivos do</p><p>sistema.</p><p>São objetivos do SNUC, que devem ser perseguidos por seus órgãos</p><p>gestores (art. 4º da Lei Federal n.º 9.985/00):</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>109</p><p>Vamos estudar cada um deles.</p><p>O primeiro objetivo do SNUC é contribuir para a manutenção da</p><p>diversidade biológica e dos recursos genéticos no território nacional e nas águas</p><p>jurisdicionais.</p><p>Considera-se diversidade biológica a variabilidade de organismos vivos de</p><p>todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres,</p><p>marinhos e outros ecossistemas aquáticos, e os complexos ecológicos de que</p><p>fazem parte, compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre</p><p>espécies e de ecossistemas.</p><p>Trata-se da razão principal que justificou a aprovação da lei do SNUC, haja</p><p>vista que existiam muitas preocupações com a aceleração do ritmo de extinção</p><p>de espécies vitais ao planeta.</p><p>Daí porque também se constitui em objetivo do SNUC a proteção das</p><p>espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>110</p><p>Em razão disso, as espécies da fauna e da flora ameaçadas de extinção</p><p>constarão de relação revista e atualizada periodicamente que será elaborada e</p><p>divulgada pelo IBAMA, órgão executor do SNUC. Os órgãos ambientais estaduais</p><p>e municipais serão incentivados pelo IBAMA a elaborem suas relações regionais</p><p>e locais.</p><p>Além disso, sem prejuízo da criação de unidades de conservação da</p><p>natureza, para proteção das florestas e de outras formas de vegetação o Poder</p><p>Público federal, estadual e municipal poderá:</p><p>• Proibir ou limitar o corte das espécies da flora raras, endêmicas, em</p><p>perigo ou ameaçadas de extinção, bem como das espécies necessárias</p><p>à subsistência das populações tradicionais, delimitando as áreas</p><p>compreendidas no ato, fazendo depender de autorização prévia,</p><p>nessas áreas, o corte de outras espécies: Espécies endêmicas são</p><p>aquelas encontradas somente em uma determinada área ou região,</p><p>sendo, portanto, exclusivas daquele local;</p><p>• Declarar qualquer árvore imune de corte por motivo de sua localização,</p><p>raridade, beleza ou condição de porta-sementes;</p><p>• Estabelecer exigências administrativas sobre o registro e outras formas</p><p>de controle de pessoas físicas ou jurídicas que se dedicam à extração,</p><p>indústria ou comércio de produtos ou subprodutos florestais.</p><p>Também em razão do objetivo do SNUC apontado acima, somente</p><p>excepcionalmente o IBAMA poderá permitir a captura de exemplares de espécies</p><p>ameaçadas de extinção, destinadas a programas de criação em cativeiro ou</p><p>formação de coleções científicas.</p><p>É também por isso que o SNUC visa a contribuir para a preservação e a</p><p>restauração da diversidade de ecossistemas naturais e a valorizar econômica e</p><p>socialmente a diversidade biológica.</p><p>A promoção do desenvolvimento sustentável foi também alçada a</p><p>objetivo do SNUC, como forma de se buscar o desenvolvimento sustentável do</p><p>País com respeito à preservação</p><p>ambiental, tal qual idealizado no Relatório</p><p>Brundtland, Nosso Futuro Comum, elaborado pela Comissão Mundial sobre o</p><p>Meio Ambiente e o Desenvolvimento da ONU – CMED – e publicado em 1987.</p><p>A proteção das paisagens naturais e pouco alteradas, de notável beleza</p><p>cênica, consta como importante objetivo do SNUC com a finalidade de preservar</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>111</p><p>também sítios e locais de rara beleza natural, os quais poderão contribuir para a</p><p>promoção da educação e interpretação ambiental, da recreação em contato com a</p><p>natureza e do turismo ecológico que também se constitui em objetivo do SNUC.</p><p>O SNUC previu ainda como objetivo a proteção e recuperação dos</p><p>recursos hídricos e edáficos. Fatores edáficos são aqueles que regulam o solo e</p><p>que influenciam a distribuição e abundância da flora e fauna.</p><p>Esse sistema nacional não pode se descuidar do dever de proteção dos</p><p>recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais,</p><p>respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as</p><p>social e economicamente, haja vista que esse também é um dos seus objetivos.</p><p>A população tradicional é aquela que já residia na área da unidade de</p><p>conservação antes de sua criação e que se mantinha através da exploração de</p><p>recursos naturais, por gerações.</p><p>Por fim, são também objetivos do SNUC a proteção das características</p><p>relevantes de natureza geológica, geomorfológica, espeleológica, arqueológica,</p><p>paleontológica e cultural, e a recuperação e restauração dos ecossistemas</p><p>degradados.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>112</p><p>QUESTÃO</p><p>6. (Promotor de Justiça do MPES. Vunesp – 2013). É objetivo do Sistema</p><p>Nacional de Unidades de Conservação, conforme Lei n.º 9.985/2000.</p><p>A) proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica.</p><p>B) buscar proteger grandes áreas por meio de um conjunto integrado de</p><p>unidades de conservação de diferentes categorias, próximas ou contíguas, e suas</p><p>respectivas zonas de amortecimento e corredores ecológicos, integrando as</p><p>diferentes atividades de preservação da natureza, uso sustentável dos recursos</p><p>naturais e restauração e recuperação dos ecossistemas.</p><p>C) buscar conferir às unidades de conservação, nos casos possíveis e</p><p>respeitadas as conveniências da administração, autonomia administrativa e</p><p>financeira.</p><p>D) oferecer apoio e a cooperação de organizações não governamentais, de</p><p>organizações privadas e pessoas físicas para o desenvolvimento de estudos,</p><p>pesquisas científicas, práticas de educação ambiental, atividades de lazer e de</p><p>turismo ecológico, monitoramento, manutenção e outras atividades de gestão das</p><p>unidades de conservação.</p><p>E) assegurar a participação efetiva das populações locais na criação,</p><p>implantação e gestão das unidades de conservação.</p><p>2.5. Instrumentos do SNUC</p><p>Os órgãos e entidades responsáveis pela gestão do SNUC devem</p><p>implementar a Política Nacional de Unidades de Conservação – PNUC – e, para isso,</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>113</p><p>se utilizarão do conjunto de instrumentos ambientais que foram disponibilizados,</p><p>ou seja, conjunto de ferramentas jurídicas que foram institucionalizadas pela lei do</p><p>SNUC para propiciar a consecução de seus objetivos.</p><p>Assim, por exemplo, o Icmbio (entidade da estrutura do SNUC) poderá se</p><p>utilizar da zona de amortecimento (genuíno instrumento instituído pela Lei da</p><p>PNUC) para ampliar a proteção de paisagens naturais existentes em unidades de</p><p>conservação (um dos objetivos do SNUC) através do estabelecimento de restrições</p><p>ao uso de recursos naturais no entorno das unidades de conservação, propiciando</p><p>– com isso – a implementação da própria Política Nacional de Unidades de</p><p>Conservação.</p><p>Serão estudados os seguintes institutos jurídicos, verdadeiras ferramentas</p><p>jurídicas da PNUC, que devem ser utilizadas pelos órgãos e entidades do SNUC:</p><p>Apesar de não classificados expressamente como instrumentos, na</p><p>prática todos esses institutos jurídicos são instrumentos dessa Política Pública</p><p>Ambiental, porquanto são eles que propiciam a implementação do SNUC e da</p><p>PNUC.</p><p>Vamos estudar cada um deles nos tópicos seguintes.</p><p>2.5.1. Unidades de Conservação da Natureza</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>114</p><p>A lei da PNUC define Unidade de Conservação como sendo espaço</p><p>territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com</p><p>características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com</p><p>objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração,</p><p>ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.</p><p>Assim, as Unidades de Conservação da Natureza possuem natureza jurídica</p><p>de espaços territoriais especialmente protegidos, onde as atividades humanas</p><p>(plantação, construção, desmatamento etc.) sofrem restrições decorrentes da</p><p>legislação ambiental.</p><p>São bons exemplos de unidades de conservação os conhecidos Parques</p><p>Nacionais da Chapada Diamantina, na Bahia, e da Chapada dos Veadeiros, no Goiás.</p><p>Portanto, as Unidades de Conservação são espécies do gênero espaços</p><p>territoriais especialmente protegidos. Outras espécies de espaços territoriais</p><p>especialmente protegidos são as áreas de reserva legal, as áreas de preservação</p><p>permanentes etc. (serão estudadas mais a frente).</p><p>Deveras, a criação de espaços territoriais especialmente protegidos se</p><p>constitui em obrigação constitucional de todas os Entes da Federação:</p><p>Art. 225.</p><p>[...]</p><p>III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços</p><p>territoriais e seus componentes a serem especialmente</p><p>protegidos [...]</p><p>Daí porque não só a União, mas também os Estados, o Distrito Federal e os</p><p>Municípios devem instituir unidades de conservação da natureza em seus</p><p>territórios.</p><p>Por fim, vale ressaltar que os mapas e cartas oficiais devem indicar as</p><p>áreas que compõem unidades de conservação da natureza integrantes do SNUC,</p><p>sendo certo que o Poder Executivo Federal submeterá à apreciação do Congresso</p><p>Nacional, a cada dois anos, um relatório de avaliação global da situação das</p><p>unidades de conservação federais do País.</p><p>Após a correta compreensão da natureza jurídica das unidades de</p><p>conservação, vamos estudar:</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>115</p><p>2.5.1.1. Formas de Criação</p><p>Os órgãos executores responsáveis pela gestão do SNUC poderão propor</p><p>a criação de unidades de conservação, que somente poderão ser instituídas por</p><p>ato do Poder Público, nos termos da Lei da PNUC:</p><p>Art. 22. As unidades de conservação são criadas por ato do</p><p>Poder Público.</p><p>Todavia, a lei não definiu quais atos do Poder Público (decreto, portaria,</p><p>resolução etc.) poderiam instituir unidades de conservação da natureza. Apesar</p><p>disso, entende-se que as unidades de conservação somente podem ser criadas por</p><p>decretos dos Chefes dos Poderes Executivos ou por lei formal.</p><p>Desse modo, por exemplo, com a publicação de decreto de Chefe do Poder</p><p>Executivo se aperfeiçoa a criação da unidade de conservação, uma vez que nele são</p><p>definidos os limites territoriais da unidade, sua finalidade (objeto), o órgão</p><p>responsável por sua administração, sua denominação e as restrições às quais</p><p>estarão sujeitas as atividades nos seus limites territoriais.</p><p>Apesar de aperfeiçoada a criação da unidade com a publicação do seu ato</p><p>de instituição (decreto ou lei), por vezes restarão pendentes relevantes</p><p>providências sem as quais a plena proteção dos recursos naturais da unidade nem</p><p>sempre estará assegurada. A providência relevante, comumente pendente nesses</p><p>casos, é a regularização fundiária.</p><p>É que as propriedades privadas que ficarem inseridas dentro das unidades</p><p>de conservação de posse e domínio público devem ser, em regra, desapropriadas</p><p>com prévia e justa indenização em dinheiro. Porém, o Poder Público nem sempre</p><p>possuirá recursos financeiros suficientes para promover as indenizações</p><p>necessárias às desapropriações, de modo que a regularização fundiária dessas</p><p>áreas pode ficar pendente por anos.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>116</p><p>Já a denominação de cada unidade de conservação deverá basear-se,</p><p>preferencialmente, em sua característica natural mais significativa, ou em sua</p><p>denominação mais antiga, dando-se prioridade, neste último caso, às designações</p><p>indígenas ancestrais.</p><p>Vale ressaltar que o subsolo e o espaço aéreo, sempre que influírem na</p><p>estabilidade do ecossistema, integram os limites das unidades de conservação.</p><p>Por fim, é importante destacar que, excepcionalmente, apenas uma</p><p>categoria de unidade de conservação da natureza poderá ser criada por simples</p><p>termo de compromisso firmado perante o órgão ambiental, e não por decreto ou</p><p>lei. É a Reserva Particular do Patrimônio Natural, que será estudada mais à frente.</p><p>O termo firmado dever ser averbado na margem da inscrição do respectivo imóvel</p><p>no registro público de imóveis competente.</p><p>2.5.1.2. Requisitos para Criação</p><p>A criação ou ampliação de uma unidade de conservação deve ser precedida</p><p>de estudos técnicos e de consulta pública que permitam identificar a localização, a</p><p>dimensão e os limites mais adequados para a unidade (art. 22, § 2º da Lei Federal</p><p>n.º 9.985/00).</p><p>Os estudos técnicos se constituem nas análises científicas conduzidas por</p><p>profissionais capacitados, com a finalidade de fundamentar e motivar o surgimento</p><p>de uma nova unidade de conservação em determinada área.</p><p>Compete ao órgão executor do SNUC proponente da criação da nova</p><p>unidade de conservação elaborar os estudos técnicos preliminares. Para garantir a</p><p>realização desses estudos, o Poder Público poderá decretar limitações</p><p>administrativas provisórias ao exercício de atividades e empreendimentos efetiva</p><p>ou potencialmente causadores de degradação ambiental, quando, a critério do</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>117</p><p>órgão ambiental competente, houver risco de dano grave aos recursos naturais ali</p><p>existentes.</p><p>Ficam ressalvadas da limitação administrativa provisória apenas as</p><p>atividades agropecuárias, outras atividades econômicas em andamento e as obras</p><p>públicas licenciadas. Porém, mesmo assim, na área submetida a limitação</p><p>administrativa provisória, não serão permitidas atividades que importem em</p><p>exploração a corte raso da floresta e demais formas de vegetação nativa.</p><p>Considera-se exploração a corte raso o desmatamento e limpeza total da área.</p><p>A destinação final da área submetida a limitação administrativa provisória</p><p>deve ser definida no prazo de 7 (sete) meses, improrrogáveis, findo o qual ficará</p><p>extinta a limitação.</p><p>Além disso, a consulta pública deve fornecer as informações adequadas e</p><p>inteligíveis (compreensíveis e acessíveis) à população local e a outras partes</p><p>interessadas, tendo como finalidade subsidiar a definição da localização, da</p><p>dimensão e dos limites mais adequados para a unidade. Ela consiste em reunião</p><p>pública ou, a critério do órgão ambiental competente, outras formas de oitiva da</p><p>população local e de outras partes interessadas.</p><p>Daí porque o órgão executor competente para a realização da consulta</p><p>pública deve indicar, de modo claro e em linguagem acessível, as implicações e</p><p>restrições que incidirão sobre a população residente da área que ficará no interior</p><p>e no entorno da unidade da conservação proposta. Cabe ao órgão executor</p><p>proponente de nova unidade de conservação realizar a consulta pública. Registre-</p><p>se que, mesmo para ampliação dos limites de unidade de conservação, a consulta</p><p>pública não pode ser substituída por parecer emitido por conselho consultivo da</p><p>unidade (MS n.º 24.184/STF).</p><p>É importante ressaltar que, excepcionalmente, a consulta pública não será</p><p>obrigatória apenas na criação de duas categorias de unidades de conservação. A</p><p>estação ecológica e a reserva biológica, que serão estudadas mais à frente.</p><p>Por fim, a ampliação dos limites de uma unidade de conservação, sem</p><p>modificação dos seus limites originais, exceto pelo acréscimo proposto, pode ser</p><p>feita por instrumento normativo do mesmo nível hierárquico do que criou a</p><p>unidade, desde que realizados os estudos técnicos e a consulta pública.</p><p>QUESTÃO</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>118</p><p>7. (Juiz de Direito do TJPR. Cebraspe – 2019). Conforme a Lei n.º 9.985/2000,</p><p>que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC),</p><p>os requisitos necessários à criação de uma unidade de conservação, exceto no caso</p><p>de estação ecológica ou reserva biológica, são</p><p>A) a publicação de lei autorizadora, a realização de estudos técnicos para</p><p>identificação da localização, da dimensão e dos limites adequados da unidade, e a</p><p>elaboração de licenciamento ambiental.</p><p>B) a edição de ato autorizador do Poder Executivo e a realização de estudos</p><p>técnicos e de consulta pública para a identificação da localização, da dimensão e</p><p>dos limites adequados da unidade.</p><p>C) a edição de ato autorizador do Poder Executivo, a elaboração de</p><p>licenciamento ambiental, a realização de consulta pública e a verificação da</p><p>existência de população tradicional residente no local.</p><p>D) a publicação de lei autorizadora, a elaboração de licenciamento ambiental,</p><p>a identificação da dimensão e dos limites da unidade e a verificação da existência</p><p>de população tradicional residente no local.</p><p>2.5.1.3. Formas de Alteração e de Extinção</p><p>A extinção, supressão ou qualquer alteração que reduza os limites</p><p>(tamanho da área) ou a proteção de unidades de conservação exigirá aprovação de</p><p>lei específica, ainda que a unidade tenha sido criada por decreto.</p><p>Logo, não se aplica aqui o princípio do paralelismo das formas, consoante</p><p>assentado no texto constitucional e na lei da PNUC, respectivamente in verbis:</p><p>Art. 225.</p><p>[...]</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>119</p><p>III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços</p><p>territoriais e seus componentes a serem especialmente</p><p>protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas</p><p>somente através de lei, vedada qualquer utilização que</p><p>comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua</p><p>proteção;</p><p>Lei Federal n.º 9.985/00:</p><p>Art. 22.</p><p>[...]</p><p>§ 7o A desafetação ou redução dos limites de uma unidade de</p><p>conservação só pode ser feita mediante lei específica.</p><p>Assim, por exemplo, apesar de ter sido criado pelo Decreto Federal</p><p>1.713/37, o parque nacional de Itatiaia (primeira unidade de conservação criada no</p><p>Brasil), não poderá ter seus limites reduzidos por outro decreto federal.</p><p>Por fim, é importante destacar que, por unanimidade, o plenário do</p><p>Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI 4717, decidiu que é</p><p>inconstitucional a diminuição, por meio de medida provisória, de espaços</p><p>territoriais especialmente protegidos.</p><p>Desse modo, nem mesmo por medida provisória (com força de lei) será</p><p>possível se restringir os limites ou a proteção de unidades de conservação da</p><p>natureza, ainda que tenham sido criadas por meros decretos.</p><p>QUESTÃO</p><p>8. (Juiz de Direito do TJPR. Cebraspe – 2019). Considere que, em 1999, a</p><p>União tenha criado, por decreto presidencial, determinada unidade de</p><p>conservação. Nessa situação, de acordo com a CF, a União</p><p>A) poderá alterá-la por meio de decreto.</p><p>B) poderá suprimi-la por meio de decreto.</p><p>C) somente poderá alterá-la ou suprimi-la por meio de lei.</p><p>D) poderá alterá-la por meio de portaria do Ministério do Meio Ambiente.</p><p>E) terá cometido ato nulo, já que o ato de criação dessa unidade deveria ter</p><p>sido a lei.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>120</p><p>2.5.1.4. Classificação</p><p>das Unidades de Conservação</p><p>As unidades de conservação da natureza integrantes do SNUC dividem-se</p><p>em dois grupos com características específicas: Unidades de Proteção Integral e</p><p>Unidades de Uso Sustentável. Além disso, há ainda um modelo adotado</p><p>internacionalmente.</p><p>Em regra, as unidades de ambos os grupos necessitarão de plano de</p><p>manejo, consistente no documento técnico mediante o qual, com fundamento</p><p>nos objetivos gerais de uma unidade de conservação, se estabelece o seu</p><p>zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos</p><p>recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à</p><p>gestão da unidade. Deve ser elaborado em até 5 anos e abranger inclusive a zona</p><p>de amortecimento e os corredores ecológicos.</p><p>O Plano de Manejo aprovado deve estar disponível para consulta pública</p><p>na sede da unidade de conservação e no centro de documentação do respectivo</p><p>órgão executor gestor do SNUC.</p><p>As unidades do grupo de proteção integral possuem as seguintes</p><p>características gerais:</p><p>• Proteção integral: Consiste na manutenção dos ecossistemas livres de</p><p>alterações causadas por interferência humana, admitido apenas o uso</p><p>indireto dos seus atributos naturais: O uso indireto consiste naquele que</p><p>não envolve consumo, coleta, dano ou destruição dos recursos naturais;</p><p>• Objetivo básico: Preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso</p><p>indireto dos seus recursos naturais;</p><p>• Conselho Consultivo: Cada unidade de conservação de Proteção</p><p>Integral disporá de um Conselho Consultivo, presidido pelo órgão</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>121</p><p>responsável por sua administração e constituído por representantes de</p><p>órgãos públicos e de organizações da sociedade civil, além de, quando</p><p>for o caso, representantes de proprietários de terras localizadas na</p><p>unidade e das populações tradicionais residentes, conforme se dispuser</p><p>em regulamento e no ato de criação da unidade;</p><p>• Taxa de visitação: Os recursos obtidos pelas unidades de conservação</p><p>do Grupo de Proteção Integral mediante a cobrança de taxa de visitação</p><p>e outras rendas decorrentes de arrecadação, serviços e atividades da</p><p>própria unidade serão destinados à manutenção da unidade, à</p><p>regularização fundiária e à manutenção de outras unidades de</p><p>proteção integral;</p><p>• Natureza jurídica da área: A área de uma unidade de conservação do</p><p>Grupo de Proteção Integral é considerada zona rural para todos os</p><p>efeitos legais. Sua zona de amortecimento não pode ser transformada</p><p>em zona urbana, conforme estudaremos mais à frente;</p><p>• Categorias: São 5 categorias (Estação Ecológica, Reserva Biológica,</p><p>Parque Nacional, Monumento Natural e Refúgio da Vida Silvestre).</p><p>Serão estudadas logo mais.</p><p>QUESTÃO</p><p>9. (Procurador Jurídico da Prefeitura de Planalto da Serra/MT. 2019)</p><p>(adaptada). É CORRETO afirmar que o uso indireto é aquele que não envolve</p><p>consumo, coleta, dano ou destruição dos recursos naturais.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>Por outro lado, as unidades do grupo de uso sustentável possuem as</p><p>seguintes características gerais:</p><p>• Uso sustentável: Consiste na exploração do ambiente de maneira a</p><p>garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos</p><p>processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos</p><p>ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável:</p><p>Admite-se o uso direto de parcela dos recursos, consistente naquele</p><p>que envolve coleta e uso, comercial ou não, dos recursos naturais</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>122</p><p>• Objetivo básico: Compatibilizar a conservação da natureza com o uso</p><p>sustentável de parcela dos seus recursos naturais;</p><p>• Categorias: São 7 categorias (Área de Proteção Ambiental, Área de</p><p>Relevante Interesse Ecológico, Floresta Nacional, Reserva Extrativista,</p><p>Reserva da Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva</p><p>Particular do Patrimônio Natural). Serão estudadas logo mais.</p><p>Vale ressaltar que as unidades de conservação do grupo de Uso</p><p>Sustentável podem ser transformadas, total ou parcialmente, em unidades do</p><p>grupo de Proteção Integral por instrumento normativo do mesmo nível</p><p>hierárquico daquele que criou a unidade, desde que realizados os estudos</p><p>técnicos e a consulta pública.</p><p>Também é importante apontar que, em regra, as unidades de</p><p>conservação são geridas e administradas por órgão executor do SNUC (Icmbio,</p><p>órgãos ambientais estaduais etc.). Assim, o órgão gestor do SNUC poderá receber</p><p>recursos ou doações de qualquer natureza, nacionais ou internacionais, com ou</p><p>sem encargos, provenientes de organizações privadas ou públicas ou de pessoas</p><p>físicas que desejarem colaborar com a sua conservação, ficando responsável pela</p><p>administração dos recursos obtidos, que serão utilizados exclusivamente na sua</p><p>implantação, gestão e manutenção da unidade.</p><p>Todavia, as unidades também poderão ser geridas por organizações da</p><p>sociedade civil de interesse público — Oscips — com objetivos afins aos da</p><p>unidade,22 mediante instrumento a ser firmado com o órgão responsável por sua</p><p>gestão (termo de parceria). A Oscip deve encaminhar anualmente relatórios de suas</p><p>atividades para apreciação do órgão executor e do conselho da unidade.</p><p>Cada categoria de unidades de conservação integrantes do SNUC será</p><p>objeto de regulamento específico.</p><p>Por fim, é relevante ressaltar que, em regra, é proibida a introdução nas</p><p>unidades de conservação de espécies não autóctones (não nativas ou naturais da</p><p>região que habita).</p><p>22 Lei Federal n.º 9.790/99.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>123</p><p>2.5.1.4.1. Unidades de Proteção Integral</p><p>Compreendidas as regras gerais sobre as unidades de conservação,</p><p>passaremos ao exame específico de cada uma delas, a começar pelas cinco</p><p>categorias de unidades de conservação da natureza do grupo de proteção integral.</p><p>O exame dessas unidades envolve basicamente três critérios: Domínio da</p><p>área, possibilidade de pesquisas científicas e possibilidade de visitação pública.</p><p>A Estação Ecológica (Esec) tem como objetivo a preservação da natureza e</p><p>a realização de pesquisas científicas. Ela possui as seguintes características:</p><p>• Domínio: É de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares</p><p>incluídas em seus limites devem ser desapropriadas;</p><p>• Pesquisa científica: A pesquisa científica depende de autorização</p><p>prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está</p><p>sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como</p><p>àquelas previstas em regulamento;</p><p>• Visitação pública: É proibida a visitação pública, exceto quando com</p><p>objetivo educacional, de acordo com o que dispuser o plano de manejo</p><p>da unidade ou regulamento específico;</p><p>• Só podem ser permitidas alterações dos ecossistemas no caso de:</p><p>Medidas que visem a restauração de ecossistemas modificados; manejo</p><p>de espécies com o fim de preservar a diversidade biológica; coleta de</p><p>componentes dos ecossistemas com finalidades científicas; pesquisas</p><p>científicas cujo impacto sobre o ambiente seja maior do que aquele</p><p>causado pela simples observação ou pela coleta controlada de</p><p>componentes dos ecossistemas, em uma área correspondente a no</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>124</p><p>máximo três por cento da extensão total da unidade e até o limite de</p><p>um mil e quinhentos hectares.</p><p>QUESTÃO</p><p>10. (Analista do SLU/DF. Cebraspe – 2019). Estações ecológicas são unidades</p><p>de posse e de domínio público, porém é vedada a desapropriação de áreas</p><p>particulares que estejam dentro dos limites territoriais de uma estação ecológica</p><p>se tais áreas forem preexistentes à criação dessa unidade de conservação.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>A Reserva Biológica (ReBio) tem como objetivo a preservação integral da</p><p>biota e demais atributos naturais existentes em seus</p><p>limites, sem interferência</p><p>humana direta ou modificações ambientais. Ela possui as seguintes características:</p><p>• Domínio: É de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares</p><p>incluídas em seus limites devem ser desapropriadas;</p><p>• Pesquisa científica: A pesquisa científica depende de autorização</p><p>prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está</p><p>sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como</p><p>àquelas previstas em regulamento;</p><p>• Visitação pública: É proibida a visitação pública, exceto aquela com</p><p>objetivo educacional, de acordo com regulamento específico;</p><p>• Permite, de forma excepcional, interferência humana direta ou</p><p>modificações ambientais, para adoção das medidas de recuperação de</p><p>seus ecossistemas alterados e as ações de manejo necessárias para</p><p>recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os</p><p>processos ecológicos naturais.</p><p>O Parque Nacional (PN) tem como objetivo básico a preservação de</p><p>ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica. Ele possui as</p><p>seguintes características:</p><p>• Domínio: É de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares</p><p>incluídas em seus limites devem ser desapropriadas;</p><p>• Pesquisa científica: A pesquisa científica é possível, dependendo de</p><p>autorização prévia do órgão responsável pela administração da</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>125</p><p>unidade, e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas,</p><p>bem como àquelas previstas em regulamento;</p><p>• Visitação pública: A visitação pública é possível, inclusive com</p><p>desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental,</p><p>de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico,</p><p>estando sujeita às normas e restrições estabelecidas no plano de</p><p>manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por</p><p>sua administração, e àquelas previstas em regulamento;</p><p>• Quando criadas pelo Estado ou Município, serão denominadas,</p><p>respectivamente, Parque Estadual e Parque Natural Municipal.</p><p>QUESTÃO</p><p>11. (Analista do SLU/DF. Cebraspe – 2019). Estações ecológicas são unidades</p><p>de posse e de domínio público, porém é vedada a desapropriação de áreas</p><p>particulares que estejam dentro dos limites territoriais de uma estação ecológica</p><p>se tais áreas forem preexistentes à criação dessa unidade de conservação.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>O Monumento Natural (Monat) tem como objetivo básico preservar sítios</p><p>naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica. Ele possui as seguintes</p><p>características:</p><p>• Domínio: Pode ser constituído por áreas particulares, desde que seja</p><p>possível compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra</p><p>e dos recursos naturais do local pelos proprietários. Havendo</p><p>incompatibilidade entre os objetivos da área e as atividades privadas</p><p>ou não havendo concordância do proprietário às condições propostas</p><p>pelo órgão responsável pela administração da unidade para a</p><p>coexistência do Monumento Natural com o uso da propriedade, a área</p><p>deve ser desapropriada;</p><p>• Pesquisa científica: Não há proibição expressa para pesquisas</p><p>científicas;</p><p>• Visitação pública: A visitação pública é possível, estando sujeita às</p><p>condições e restrições estabelecidas no plano de manejo da unidade, às</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>126</p><p>normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração e</p><p>àquelas previstas em regulamento.</p><p>QUESTÃO</p><p>12. (Promotor de Justiça do MPSC. Consulplan – 2019). A categoria de unidade</p><p>de conservação de proteção integral, denominada Monumento Natural, não pode</p><p>ser constituída por áreas particulares.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>O Refúgio De Vida Silvestre (Rvs) tem como objetivo proteger ambientes</p><p>naturais onde se assegurem condições para a existência ou reprodução de espécies</p><p>ou comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória. Ele possui as</p><p>seguintes características:</p><p>• Domínio: Pode ser constituído por áreas particulares, desde que seja</p><p>possível compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra</p><p>e dos recursos naturais do local pelos proprietários. Havendo</p><p>incompatibilidade entre os objetivos da área e as atividades privadas</p><p>ou não havendo concordância do proprietário às condições propostas</p><p>pelo órgão responsável pela administração da unidade para a</p><p>coexistência do Refúgio de Vida Silvestre com o uso da propriedade, a</p><p>área deve ser desapropriada;</p><p>• Pesquisa científica: A pesquisa científica depende de autorização</p><p>prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está</p><p>sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como</p><p>àquelas previstas em regulamento;</p><p>• Visitação pública: A visitação pública é possível, estando sujeita às</p><p>condições e restrições estabelecidas no plano de manejo da unidade, às</p><p>normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração e</p><p>àquelas previstas em regulamento.</p><p>Com isso, concluímos o estudo das características mais relevantes das</p><p>unidades de conservação do grupo de proteção integral.</p><p>2.5.1.4.2. Unidades de Uso Sustentável</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>127</p><p>Agora passaremos ao exame das sete categorias de unidades de</p><p>conservação da natureza do grupo de uso sustentável:</p><p>O exame dessas unidades envolve basicamente três critérios: Domínio da</p><p>área, possibilidade de pesquisas científicas e possibilidade de visitação pública.</p><p>A Área De Proteção Ambiental (Apa) tem como objetivos básicos proteger</p><p>a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a</p><p>sustentabilidade do uso dos recursos naturais. Ela possui as seguintes</p><p>características:</p><p>• Domínio: É constituída por terras públicas ou privadas. Respeitados os</p><p>limites constitucionais, podem ser estabelecidas normas e restrições</p><p>para a utilização de uma propriedade privada localizada em uma Área</p><p>de Proteção Ambiental;</p><p>• Pesquisa científica: As condições para a realização de pesquisa científica</p><p>nas áreas sob domínio público serão estabelecidas pelo órgão gestor da</p><p>unidade. Nas áreas sob propriedade privada, cabe ao proprietário</p><p>estabelecer as condições, observadas as exigências e restrições legais;</p><p>• Visitação pública: As condições para a realização de visitação pública</p><p>nas áreas sob domínio público serão estabelecidas pelo órgão gestor da</p><p>unidade. Nas áreas sob propriedade privada, cabe ao proprietário</p><p>estabelecer as condições, observadas as exigências e restrições legais;</p><p>• Conselho: Disporá de um Conselho presidido pelo órgão responsável</p><p>por sua administração e constituído por representantes dos órgãos</p><p>públicos, de organizações da sociedade civil e da população residente;</p><p>• É uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana,</p><p>dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>128</p><p>especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das</p><p>populações humanas.</p><p>QUESTÃO</p><p>13. (Perito Criminal Federal do DPF. Cebraspe – 2013). Acerca de legislação</p><p>ambiental aplicada à geologia, julgue o item subsequente. Entre as unidades de uso</p><p>sustentável, a área de proteção ambiental é, em geral, extensa, com certo grau de</p><p>ocupação humana e dotada de atributos abióticos, bióticos e estéticos; a área de</p><p>relevante interesse ecológico é, em geral, de pequena extensão, com pouca ou</p><p>nenhuma ocupação humana, com características naturais extraordinárias.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>A Área De Relevante Interesse Ecológico (Arie) tem como objetivo manter</p><p>os ecossistemas naturais de importância regional ou local e regular o uso admissível</p><p>dessas áreas, de modo a compatibilizá-lo com os objetivos de conservação da</p><p>natureza. Ela possui as seguintes características:</p><p>• Domínio:</p><p>É constituída por terras públicas ou privadas. Respeitados os</p><p>limites constitucionais, podem ser estabelecidas normas e restrições</p><p>para a utilização de uma propriedade privada localizada em uma Área</p><p>de Relevante Interesse Ecológico;</p><p>• Pesquisa científica: Não há proibição expressa para pesquisas</p><p>científicas;</p><p>• Visitação pública: Não há proibição expressa para visitação pública;</p><p>• É uma área em geral de pequena extensão, com pouca ou nenhuma</p><p>ocupação humana, com características naturais extraordinárias ou que</p><p>abriga exemplares raros da biota regional.</p><p>A Floresta Nacional (Flona) tem como objetivo básico o uso múltiplo</p><p>sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos</p><p>para exploração sustentável de florestas nativas. Ela possui as seguintes</p><p>características:</p><p>• Domínio: É de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares</p><p>incluídas em seus limites devem ser desapropriadas;</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>129</p><p>• Pesquisa científica: É permitida e incentivada, sujeitando-se à prévia</p><p>autorização do órgão responsável pela administração da unidade, às</p><p>condições e restrições por este estabelecidas e àquelas previstas em</p><p>regulamento;</p><p>• Visitação pública: É permitida, condicionada às normas estabelecidas</p><p>para o manejo da unidade pelo órgão responsável por sua</p><p>administração;</p><p>• Conselho: Disporá de um Conselho Consultivo presidido pelo órgão</p><p>responsável por sua administração e constituído por representantes dos</p><p>órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da população</p><p>residente;</p><p>• Populações tradicionais: É admitida a permanência de populações</p><p>tradicionais que a habitavam quando de sua criação, em conformidade</p><p>com o disposto em regulamento e no plano de manejo da unidade;</p><p>• É uma área com cobertura florestal de espécies predominantemente</p><p>nativas;</p><p>• Quando criada pelo Estado ou Município, será denominada,</p><p>respectivamente, Floresta Estadual e Floresta Municipal.</p><p>QUESTÃO</p><p>14. (Advogado da União da AGU. Cebraspe – 2015). Acerca da criação e da</p><p>gestão de florestas públicas nacionais, julgue o item subsequente. A floresta</p><p>nacional é unidade de conservação de uso sustentável, de posse e de domínio</p><p>públicos, cuja criação deve ser precedida de estudos técnicos e de consulta pública</p><p>que permitam identificar a localização, a dimensão e os limites mais adequados</p><p>para a unidade, com vistas ao seu objetivo básico de uso múltiplo sustentável dos</p><p>recursos florestais e pesquisa científica.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>A Reserva Extrativista (Resex) tem como objetivos básicos proteger os</p><p>meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos</p><p>recursos naturais da unidade. Ela possui as seguintes características:</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>130</p><p>• Domínio: é de domínio público, com uso concedido às populações</p><p>extrativistas tradicionais através de contrato, sendo que as áreas</p><p>particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas;</p><p>• Pesquisa científica: É permitida e incentivada, sujeitando-se à prévia</p><p>autorização do órgão responsável pela administração da unidade, às</p><p>condições e restrições por este estabelecidas e àquelas previstas em</p><p>regulamento;</p><p>• Visitação pública: É permitida, desde que compatível com os interesses</p><p>locais e de acordo com o disposto no plano de manejo da área;</p><p>• Conselho: Disporá de um Conselho Deliberativo presidido pelo órgão</p><p>responsável por sua administração e constituído por representantes dos</p><p>órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da população</p><p>residente, sendo responsável pela aprovação do plano de manejo;</p><p>• Populações extrativistas: É admitida a permanência de populações</p><p>tradicionais que a habitavam quando de sua criação, em conformidade</p><p>com o disposto em regulamento e no plano de manejo da unidade;</p><p>• É uma área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja</p><p>subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na</p><p>agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte.</p><p>São proibidas a exploração de recursos minerais e a caça amadorística</p><p>ou profissional;</p><p>• A exploração comercial de recursos madeireiros só será admitida em</p><p>bases sustentáveis e em situações especiais e complementares às</p><p>demais atividades desenvolvidas na Reserva Extrativista, conforme o</p><p>disposto em regulamento e no plano de manejo da unidade.</p><p>A Reserva Da Fauna (Refau) é uma área natural com populações animais</p><p>de espécies nativas, terrestres ou aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas</p><p>para estudos técnico-científicos sobre o manejo econômico sustentável de recursos</p><p>faunísticos. Ela possui as seguintes características:</p><p>• Domínio: é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares</p><p>incluídas em seus limites devem ser desapropriadas;</p><p>• Pesquisa científica: não há proibição expressa para pesquisas</p><p>científicas. A comercialização dos produtos e subprodutos resultantes</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>131</p><p>das pesquisas obedecerá ao disposto nas leis sobre fauna e</p><p>regulamentos;</p><p>• Visitação pública: pode ser permitida, desde que compatível com o</p><p>manejo da unidade e de acordo com as normas estabelecidas pelo órgão</p><p>responsável por sua administração;</p><p>• É proibida a caça amadorística ou profissional;</p><p>A Reserva De Desenvolvimento Sustentável (RDS) tem como objetivo</p><p>básico preservar a natureza e, ao mesmo tempo, assegurar as condições e os meios</p><p>necessários para a reprodução e a melhoria dos modos e da qualidade de vida e</p><p>exploração dos recursos naturais das populações tradicionais, bem como valorizar,</p><p>conservar e aperfeiçoar o conhecimento e as técnicas de manejo do ambiente,</p><p>desenvolvido por estas populações. Ela possui as seguintes características:</p><p>• Domínio: é de domínio público, com uso concedido às populações</p><p>tradicionais através de contrato, sendo que as áreas particulares</p><p>incluídas em seus limites serão, quando necessário, desapropriadas;</p><p>• Pesquisa científica: é permitida e incentivada, sendo voltada à</p><p>conservação da natureza, à melhor relação das populações residentes</p><p>com seu meio e à educação ambiental, sujeitando-se à prévia</p><p>autorização do órgão responsável pela administração da unidade, às</p><p>condições e restrições por este estabelecidas e àquelas previstas em</p><p>regulamento;</p><p>• Visitação pública: é permitida e incentivada, desde que compatível com</p><p>os interesses locais e de acordo com o disposto no plano de manejo da</p><p>área;</p><p>• Conselho: disporá de um Conselho Deliberativo presidido pelo órgão</p><p>responsável por sua administração e constituído por representantes dos</p><p>órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da população</p><p>residente, sendo responsável pela aprovação do plano de manejo que</p><p>deve as zonas de proteção integral, de uso sustentável e de</p><p>amortecimento e corredores ecológicos;</p><p>• É admitida a exploração de componentes dos ecossistemas naturais</p><p>em regime de manejo sustentável e a substituição da cobertura vegetal</p><p>por espécies cultiváveis, desde que sujeitas ao zoneamento, às</p><p>limitações legais e ao Plano de Manejo da área;</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>132</p><p>• É uma área natural que abriga populações tradicionais, cuja existência</p><p>baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos</p><p>naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados às condições</p><p>ecológicas locais e que desempenham um papel fundamental na</p><p>proteção da natureza e na manutenção da diversidade biológica.</p><p>A Reserva Particular Do Patrimônio Natural (RPPN) tem como o objetivo</p><p>conservar a diversidade biológica. Ela possui as seguintes características:</p><p>• Domínio: é uma área privada, gravada com perpetuidade;</p><p>• Pesquisa científica: permitida, nos termos do regulamento;</p><p>• Visitação</p><p>de tutelas coletivas, é utilizado o diálogo entre suas fontes para sua</p><p>correta e completa interpretação e aplicação, existindo aqui, também, o mesmo</p><p>fenômeno a fundamentar a existência de um novo microssistema jurídica, desta vez</p><p>de tutela ambiental.</p><p>Logo, somente com esse diálogo entre as diversas fontes, é que será</p><p>possível a adequada compreensão e interpretação das diversas normas ambientais,</p><p>razão pela qual há de se reconhecer a existência deste Microssistema Jurídico de</p><p>Tutela Ambiental.</p><p>Contudo, não é preciso se preocupar em tentar compreender agora as</p><p>interpretações apontadas acima, haja vista que isso só será possível mais a frente,</p><p>com uma visão teórica de todos os institutos.</p><p>Neste momento é preciso compreender apenas a estrutura básica deste</p><p>Microssistema Jurídico, sob uma ótica mais prática, para se entender que ele é</p><p>basicamente formado por quatro sistemas principais:</p><p>• Sisnama: Sistema Nacional do Meio Ambiente;</p><p>• SNUC: Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza;</p><p>• SINGRH: Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;</p><p>RAFAEL ROCHA MICROSSISTEMA JURÍDICO DE TUTELA AMBIENTAL • 1</p><p>13</p><p>• Sisrespia: Sistema de Responsabilização por Ilícitos Ambientais.</p><p>Portanto, na prática, o MTA estrutura-se fundamentalmente apenas com</p><p>esses quatro sistemas principais que, se bem compreendidos, conduzirão ao</p><p>correto raciocínio jurídico necessário para a harmônica e coordenada intepretação</p><p>das diversas leis ambientais, conforme imagem a seguir:</p><p>Desse modo, com o estudo adequado do primeiro sistema integrante do</p><p>MTA (o Sistema Nacional do Meio Ambiente – Sisnama) será possível</p><p>compreender os seguintes pontos principais:</p><p>• Sua estrutura: constituída pelo conjunto de órgãos e entidades públicas</p><p>competentes para as ações de preservação, fiscalização e recuperação</p><p>do meio ambiente no Brasil. Será possível se apreender a composição e</p><p>as atribuições desses órgãos/entidades ambientais (IBAMA, CONAMA</p><p>etc.);</p><p>• Políticas nacionais correlacionadas: deverão ser implementadas, total</p><p>ou parcialmente, pelos órgãos e entidades componentes da estrutura</p><p>do Sisnama. Será possível se apreender a Política Nacional do Meio</p><p>Ambiente – PNMA e outras associadas (Política Nacional sobre Mudança</p><p>do Clima – PNMC, por exemplo), estudando-se os:</p><p>RAFAEL ROCHA MICROSSISTEMA JURÍDICO DE TUTELA AMBIENTAL • 1</p><p>14</p><p>a) Objetivos: da PNMA e das demais políticas nacionais ambientais</p><p>associadas, a serem cumpridos, total ou parcialmente, pelos órgãos</p><p>e entidades componentes da estrutura do Sisnama;</p><p>b) Instrumentos: da PNMA e das demais políticas nacionais ambientais</p><p>associadas, que se constituem em genuínas ferramentas jurídicas</p><p>disponibilizadas principalmente para os órgãos e entidades</p><p>componentes da estrutura do Sisnama, para propiciar o</p><p>cumprimento dos objetivos da própria PNMA e das demais políticas</p><p>ambientais associadas.</p><p>Assim, por exemplo, o IBAMA (entidade da estrutura do Sisnama) poderá</p><p>se utilizar do licenciamento ambiental (um dos instrumentos da PNMA) para</p><p>compatibilizar o desenvolvimento econômico com a preservação do meio ambiente</p><p>(um dos objetivos da PNMA) através do estabelecimento de condições</p><p>(condicionantes) para a autorização do funcionamento de empreendimento</p><p>causador de degradação ambiental, propiciando, com isso, a implementação da</p><p>própria Política Nacional do Meio Ambiente.</p><p>Em seguida, compreendidas as lições iniciais relativas ao Sisnama, será</p><p>estudado o segundo sistema integrante do MTA, o Sistema Nacional de Unidades</p><p>de Conservação da Natureza (SNUC), para se compreender os seguintes pontos</p><p>principais:</p><p>• Sua estrutura: constituída pelo conjunto de órgãos e entidades públicas</p><p>competentes para administrar, preservar e fiscalizar as unidades de</p><p>conservação da natureza (parques nacionais, por exemplo) no Brasil.</p><p>Será possível se apreender a composição e as atribuições desses</p><p>órgãos/entidades ambientais (ICMBIO etc.);</p><p>• Políticas nacionais correlacionadas: deverão ser implementadas, total</p><p>ou parcialmente, pelos órgãos e entidades componentes da estrutura</p><p>do SNUC. Será possível se apreender a Política Nacional de Unidades de</p><p>Conservação – PNUC – e outras associadas, estudando-se os:</p><p>a) Objetivos: da PNUC, e do próprio SNUC, a serem cumpridos, total</p><p>ou parcialmente, pelos órgãos e entidades componentes da</p><p>estrutura do SNUC;</p><p>b) Instrumentos: instituídos pela Lei da PNUC, e pelas demais políticas</p><p>ambientais associadas (pelo código florestal, por exemplo), que se</p><p>RAFAEL ROCHA MICROSSISTEMA JURÍDICO DE TUTELA AMBIENTAL • 1</p><p>15</p><p>constituem em genuínas ferramentas jurídicas disponibilizadas</p><p>principalmente para os órgãos e entidades componentes da</p><p>estrutura do SNUC, para propiciar o cumprimento dos seus</p><p>objetivos e da PNUC.</p><p>Assim, por exemplo, o ICMBIO (entidade da estrutura do SNUC) poderá se</p><p>utilizar da zona de amortecimento (lídimo instrumento instituído pela Lei da PNUC)</p><p>para ampliar a proteção de paisagens naturais existentes em unidades de</p><p>conservação (um dos objetivos do SNUC) através do estabelecimento de restrições</p><p>ao uso de recursos naturais no entorno das unidades de conservação, propiciando,</p><p>com isso, a implementação da própria Política Nacional de Unidades de</p><p>Conservação.</p><p>Em seguida, compreendidas também as lições relativas às unidades de</p><p>conservação da natureza e aos demais espaços territoriais especialmente</p><p>protegidos instituídos pelo novo código florestal, será estudado o terceiro sistema</p><p>integrante do MTA, o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos</p><p>(SINGRH), para se compreender os seguintes pontos principais:</p><p>• Sua estrutura: constituída pelo conjunto de órgãos e entidades públicas</p><p>competentes para a preservar e fiscalizar as águas no Brasil. Será</p><p>possível se apreender a composição e as atribuições desses</p><p>órgãos/entidades ambientais (Agência Nacional de Águas e Saneamento</p><p>Básico (ANA), CNRH, Comitês de Bacias Hidrográficas etc.);</p><p>• Políticas nacionais correlacionadas: deverão ser implementadas, total</p><p>ou parcialmente, pelos órgãos e entidades componentes da estrutura</p><p>do SINGRH. Será possível se apreender a Política Nacional de Recursos</p><p>Hídricos – PNRH – e outras associadas (Política Nacional de Segurança</p><p>de Barragens, Política Nacional de Saneamento Básico e Política</p><p>Nacional de Resíduos Sólidos, por exemplo), estudando-se os:</p><p>a) Objetivos: da PNRH, e das demais políticas nacionais ambientais</p><p>associadas, a serem cumpridos, total ou parcialmente, pelos órgãos</p><p>e entidades componentes da estrutura do SINGRH;</p><p>b) Instrumentos: da PNRH, e das demais políticas nacionais ambientais</p><p>associadas, que se constituem em genuínas ferramentas jurídicas</p><p>disponibilizadas principalmente para os órgãos e entidades</p><p>componentes da estrutura do SINGRH, para propiciar o</p><p>RAFAEL ROCHA MICROSSISTEMA JURÍDICO DE TUTELA AMBIENTAL • 1</p><p>16</p><p>cumprimento dos objetivos da própria PNRH e das demais políticas</p><p>ambientais associadas.</p><p>Assim, por exemplo, a ANA (entidade da estrutura do SINGRH) poderá se</p><p>utilizar da outorga (um dos instrumentos da PNRH) para assegurar à atual e às</p><p>futuras gerações a necessária disponibilidade de água (um dos objetivos da PNRH)</p><p>através do controle do uso da água para consumo humano, irrigação etc.,</p><p>propiciando a implementação da própria Política Nacional Recursos Hídricos.</p><p>Eis o raciocínio que deve prevalecer para se compreender os três primeiros</p><p>sistemas.</p><p>Finalmente, após compreendidas todas as lições relativas ao SISNAMA,</p><p>SNUC e SINGRH, será estudado o quarto sistema integrante do MTA, o Sistema de</p><p>Responsabilização por Ilícitos Ambientais (Sisrespia), que incidirá sobre aqueles</p><p>que descumprirem as regras ambientais estudadas nos três primeiros sistemas,</p><p>para se compreender os seguintes pontos principais:</p><p>• A tríplice responsabilização: cível, administrativa e criminal dos</p><p>infratores da legislação ambiental;</p><p>• Tutela</p><p>pública: permitida com objetivos turísticos, recreativos e</p><p>educacionais, nos termos do regulamento;</p><p>• Criação: é a única unidade que pode ser criada por simples ato do órgão</p><p>competente do SISNAMA. A perpetuidade constará de termo de</p><p>compromisso assinado perante o órgão ambiental, que verificará a</p><p>existência de interesse público, e será averbado à margem da inscrição</p><p>no Registro Público de Imóveis. No âmbito federal, cabe ao IBAMA.</p><p>QUESTÃO</p><p>15. (Promotor de Justiça do MPGO. 2019) (adaptada). Segundo as disposições</p><p>da Lei Federal n.º 9.985/2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de</p><p>Conservação da Natureza - SNUC, é incorreto afirmar que, na Reserva Particular do</p><p>Patrimônio Natural, conforme se dispuser em regulamento, somente serão</p><p>permitidas a pesquisa científica e a visitação com objetivos turísticos, recreativos e</p><p>educacionais.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>Com isso, é concluído o estudo das características mais relevantes das</p><p>unidades de conservação do grupo de uso sustentável.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>133</p><p>2.5.1.4.3. Modelo Internacional</p><p>Por fim, além das unidades de conservação dos grupos de proteção integral</p><p>e de uso sustentável, há ainda uma categoria especial classificada como Reserva da</p><p>Biosfera, não sendo encaixada em nenhum dos grupos.</p><p>A Reserva Da Biosfera (Rebio) consiste em modelo adotado</p><p>internacionalmente de gestão integrada, participativa e sustentável dos recursos</p><p>naturais, com os objetivos básicos de preservação da diversidade biológica, o</p><p>desenvolvimento de atividades de pesquisa, o monitoramento ambiental, a</p><p>educação ambiental, o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de</p><p>vida das populações.</p><p>A Rebio é reconhecida pelo Programa Intergovernamental "O Homem e a</p><p>Biosfera — MAB", estabelecido pela Unesco, organização da qual o Brasil é</p><p>membro. Ela possui as seguintes características:</p><p>• Domínio: é constituída por terras públicas ou privadas;</p><p>• Pesquisa científica: não há proibição expressa para pesquisas</p><p>científicas. O desenvolvimento de atividades de pesquisa é um dos</p><p>objetivos básicos da Rebio;</p><p>• Visitação pública: não há proibição expressa para visitações. A educação</p><p>ambiental é um dos objetivos básicos da Rebio e pode ser promovida</p><p>com visitações;</p><p>• Conselho: disporá de um Conselho Deliberativo constituído por</p><p>representantes de instituições públicas, de organizações da sociedade</p><p>civil e da população residente;</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>134</p><p>• Pode ser integrada por unidades de conservação já criadas pelo Poder</p><p>Público, respeitadas as normas legais que disciplinam o manejo de cada</p><p>categoria específica.</p><p>Vale ressaltar que a finalidade do Programa "O Homem e a Biosfera —</p><p>MAB" é fomentar a criação de espaços territoriais especialmente protegidos em</p><p>vários países do mundo.</p><p>Por fim, após o estudo específico de todas as modalidades de unidades de</p><p>conservação, é importante destacar que a exploração comercial de produtos,</p><p>subprodutos ou serviços obtidos ou desenvolvidos a partir dos recursos naturais,</p><p>biológicos, cênicos ou culturais ou da exploração da imagem de unidade de</p><p>conservação, exceto Área de Proteção Ambiental e Reserva Particular do</p><p>Patrimônio Natural, dependerá de prévia autorização e sujeitará o explorador a</p><p>pagamento.</p><p>Vale ressaltar ainda que as populações tradicionais residentes em unidades</p><p>de conservação nas quais sua permanência não seja permitida serão indenizadas</p><p>ou compensadas pelas benfeitorias existentes e devidamente realocadas pelo</p><p>Poder Público em local e condições acordados entre as partes.</p><p>QUESTÃO</p><p>16. (Procurador do Estado da PGE/AM. Cebraspe – 2016). Acerca de</p><p>competências ambientais legislativas, ação popular e espaços territoriais</p><p>especialmente protegidos, julgue o item a seguir. Segundo o SNUC, a reserva da</p><p>biosfera é constituída por áreas de domínio público ou privado.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>2.5.2. Zonas de Amortecimento</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA • 3</p><p>135</p><p>A zona de amortecimento é conceituada como o entorno de uma Unidade</p><p>de Conservação (UC), onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e</p><p>restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre</p><p>a unidade (art. 2º, inciso XVIII da Lei Federal n.º 9.985/00).</p><p>Seus limites são geralmente definidos no próprio ato de criação da</p><p>respectiva unidade. Também poderão ser definidos posteriormente por ato do</p><p>órgão do SNUC, gestor da unidade.</p><p>Vale ressaltar que o órgão responsável pela administração da unidade</p><p>estabelecerá normas específicas regulamentando a ocupação e o uso dos recursos</p><p>da zona de amortecimento, sendo certo que o plano de manejo da unidade de</p><p>conservação deve abranger sua zona de amortecimento.</p><p>Por fim, com exceção da APA e da RPPN, todas as demais unidades de</p><p>conservação devem possuir uma zona de amortecimento para minimizar os</p><p>impactos negativos sobre a unidade (art. 25 da Lei Federal n.º 9.985/00).</p><p>QUESTÃO</p><p>17. (AGU. Cebraspe – 2013). Com base na Lei n° 9.985/2000, que instituiu o</p><p>Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), julgue o item</p><p>seguinte: As unidades de conservação da natureza, em especial as áreas de</p><p>proteção ambiental e as reservas particulares do patrimônio natural, devem possuir</p><p>uma zona de amortecimento e corredores ecológicos, cujos limites físicos, uso e</p><p>ocupação serão definidos no ato de criação da unidade.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>Zona de Amortecimento</p><p>UC</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>136</p><p>DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS</p><p>ESPECIALMENTE PROTEGIDOS -</p><p>DETEPS</p><p>4</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>137</p><p>1. RELEMBRANDO O MICROSSISTEMA JURÍDICO DE TUTELA</p><p>AMBIENTAL — MTA</p><p>Está sendo estudado o Microssistema Jurídico de Tutela Ambiental (MTA),</p><p>que, sob uma ótica mais prática, é basicamente formado por quatro sistemas</p><p>principais:</p><p>Com o adequado estudo do SISNAMA, foi possível compreender os</p><p>seguintes pontos principais:</p><p>• Sua estrutura: constituída pelo conjunto de órgãos e entidades públicas</p><p>competentes para as ações de preservação, fiscalização e recuperação</p><p>do meio ambiente no Brasil. Foi possível se apreender a composição e</p><p>as atribuições desses órgãos/entidades ambientais (IBAMA, CONAMA</p><p>etc.);</p><p>• Políticas nacionais correlacionadas: deverão ser implementadas, total</p><p>ou parcialmente, pelos órgãos e entidades componentes da estrutura</p><p>do SISNAMA. Foi possível se apreender a Política Nacional do Meio</p><p>Ambiente – PNMA e outras associadas, estudando-se os:</p><p>a) Objetivos: da PNMA, e das demais políticas nacionais ambientais</p><p>associadas, a serem cumpridos, total ou parcialmente, pelos órgãos</p><p>e entidades componentes da estrutura do SISNAMA;</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>138</p><p>b) Instrumentos: Da PNMA, e das demais políticas nacionais</p><p>ambientais associadas, que se constituem em genuínas ferramentas</p><p>jurídicas disponibilizadas principalmente para os órgãos e entidades</p><p>componentes da estrutura do SISNAMA, para propiciar o</p><p>cumprimento dos objetivos da própria PNMA e das demais políticas</p><p>ambientais associadas.</p><p>Também foi estudado o segundo sistema integrante do MTA, o Sistema</p><p>Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), no qual foi possível a</p><p>compreensão dos seguintes pontos principais:</p><p>• Sua estrutura: constituída pelo conjunto de órgãos e entidades públicas</p><p>competentes para administrar, preservar e fiscalizar as unidades de</p><p>conservação da natureza (parques nacionais, por exemplo) no Brasil. Foi</p><p>possível se apreender a composição e as atribuições desses</p><p>órgãos/entidades ambientais (ICMBIO etc.);</p><p>• Políticas nacionais correlacionadas: deverão ser implementadas, total</p><p>ou parcialmente, pelos órgãos e entidades componentes da estrutura</p><p>do SNUC. Foi possível se apreender a Política Nacional de Unidades de</p><p>Conservação – PNUC – e outras associadas, estudando-se os:</p><p>a) Objetivos: da PNUC, e do próprio SNUC, a serem cumpridos, total</p><p>ou parcialmente, pelos órgãos e entidades componentes da</p><p>estrutura do SNUC;</p><p>b) Instrumentos: instituídos pela Lei da PNUC, e pelas demais políticas</p><p>ambientais associadas (pelo código florestal, por exemplo), que se</p><p>constituem em genuínas ferramentas jurídicas disponibilizadas</p><p>principalmente para os órgãos e entidades componentes da</p><p>estrutura do SNUC, para propiciar o cumprimento dos seus</p><p>objetivos e da PNUC.</p><p>Todavia, apesar da análise completa de todos os aspectos relevantes do</p><p>SNUC, ainda se faz necessário o estudo dos Demais Espaços Territoriais</p><p>Especialmente Protegidos (DETEPs), que não estão previstos na Lei do SNUC, mas,</p><p>sim, na Lei Federal n.º 12.651/12 (novo código florestal).</p><p>Esses espaços territoriais especialmente protegidos (Eteps) que ora serão</p><p>estudados, apesar de previstos no novo Código Florestal (CFLO), também seguem</p><p>as mesmas regras gerais para criação, alteração, supressão e extinção dos espaços</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>139</p><p>territoriais protegidos previstos na Lei do SNUC, daí porque os estudaremos neste</p><p>capítulo, após compreendidas as regras gerais da PNUC.</p><p>2. DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE</p><p>PROTEGIDOS — DETEPS</p><p>Antes da análise específica dos espaços territoriais especialmente</p><p>protegidos previstos no novo Código Florestal (CFLO), é importante destacar suas</p><p>normas gerais sobre a proteção da vegetação, as áreas de Preservação</p><p>Permanente, as áreas de Reserva Legal, o controle dos incêndios florestais, e seus</p><p>instrumentos econômicos e financeiros.</p><p>Esse novo código florestal tem como objetivo central o fomento ao</p><p>desenvolvimento sustentável, reafirmando, portanto, objetivos e diretrizes já</p><p>estudados na Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) e na Política Nacional de</p><p>Unidades de Conservação da Natureza (PNUC), buscando atender aos seguintes</p><p>princípios (diretrizes) (art. 1º-A da Lei Federal n.º 12.651/12):</p><p>• Afirmação do compromisso soberano do Brasil com a preservação das</p><p>suas florestas e demais formas de vegetação nativa, bem como da</p><p>biodiversidade, do solo, dos recursos hídricos e da integridade do</p><p>sistema climático, para o bem-estar das gerações presentes e futuras;</p><p>• Reafirmação da importância da função estratégica da atividade</p><p>agropecuária e do papel das florestas e demais formas de vegetação</p><p>nativa na sustentabilidade, no crescimento econômico, na melhoria da</p><p>qualidade de vida da população brasileira e na presença do País nos</p><p>mercados nacional e internacional de alimentos e bioenergia;</p><p>• Ação governamental de proteção e uso sustentável de florestas,</p><p>consagrando o compromisso do País com a compatibilização e</p><p>harmonização entre o uso produtivo da terra e a preservação da água,</p><p>do solo e da vegetação;</p><p>• Responsabilidade comum da União, Estados, Distrito Federal e</p><p>Municípios, em colaboração com a sociedade civil, na criação de</p><p>políticas para a preservação e restauração da vegetação nativa e de suas</p><p>funções ecológicas e sociais nas áreas urbanas e rurais;</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>140</p><p>• Fomento à pesquisa científica e tecnológica na busca da inovação para</p><p>o uso sustentável do solo e da água, a recuperação e a preservação das</p><p>florestas e demais formas de vegetação nativa;</p><p>• Criação e mobilização de incentivos econômicos para fomentar a</p><p>preservação e a recuperação da vegetação nativa e para promover o</p><p>desenvolvimento de atividades produtivas sustentáveis.</p><p>QUESTÃO</p><p>18. (Juiz de Direito do TJPA. Vunesp – 2014). Em relação aos princípios</p><p>aplicáveis à Lei n.º 12.651/2012, que estabelece normas gerais sobre a proteção da</p><p>vegetação, áreas de preservação permanente e áreas de reserva legal, bem como</p><p>a exploração florestal, o suprimento de matéria-prima florestal, o controle da</p><p>origem dos produtos florestais e o controle e prevenção de incêndios florestais, e</p><p>prevê instrumentos econômicos e financeiros para o alcance de seus objetivos, é</p><p>correto afirmar que a lei atenderá, entre outros, ao princípio</p><p>A) das responsabilidades comuns mais diferenciadas da União, Estados,</p><p>Distrito Federal e Municípios, em colaboração com a sociedade civil, na criação de</p><p>políticas somente voltadas para a preservação da vegetação nativa e de suas</p><p>funções ecológicas e sociais nas áreas rurais, urbanas e urbanizáveis.</p><p>B) do fomento à pesquisa científica e inovação tecnológica na busca de novas</p><p>soluções para o uso sustentável do solo, da água e do ar, bem como a preservação</p><p>das florestas e demais formas de vegetação, além de incentivos econômicos para a</p><p>recuperação da vegetação de forma integrada.</p><p>C) da afirmação da função socioambiental da atividade agropecuária e do</p><p>papel das florestas e demais formas de vegetação nativa na sustentabilidade, no</p><p>crescimento econômico, na melhoria da qualidade de vida da população brasileira</p><p>e na presença do Brasil especificamente no mercado internacional de alimentos.</p><p>D) da ação governamental de proteção e uso sustentável das florestas e</p><p>demais formas de vegetação, de forma que o País assuma o compromisso de</p><p>harmonização entre o uso produtivo da terra e a preservação da água, do solo e da</p><p>vegetação de forma ampla, buscando atingir o ideal de sustentabilidade.</p><p>E) da afirmação do compromisso soberano do Brasil com a preservação das</p><p>suas florestas e demais formas de vegetação nativa, bem como da biodiversidade,</p><p>do solo, dos recursos hídricos e da integridade do sistema climático, para o bem-</p><p>estar das gerações presentes e futuras.</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>141</p><p>Daí porque, para contribuir com esses princípios (diretrizes), os órgãos</p><p>central e executores do SISNAMA (Ministério do Meio Ambiente, IBAMA e ICMBIO)</p><p>criarão e implementarão, com a participação dos órgãos estaduais, indicadores de</p><p>sustentabilidade, a serem publicados semestralmente, com vistas a aferir a</p><p>evolução do desenvolvimento sustentável.</p><p>Registre-se, desde já, que o CFLO autorizou a Câmara de Comércio Exterior</p><p>(Camex) a adotar medidas de restrição às importações de bens de origem</p><p>agropecuária ou florestal produzidos em países que não observem normas e</p><p>padrões de proteção do meio ambiente compatíveis com as estabelecidas pela</p><p>legislação brasileira, de modo que a legislação ambiental do Brasil é exemplo para</p><p>o mundo, conforme veremos.</p><p>Assim, compreendidas essas normas gerais do CFLO, será passado a estudar</p><p>os Demais Espaços Territoriais Especialmente Protegidos (DETEPs) consistentes nas</p><p>Áreas de Preservação Permanente (APPs), Áreas de Reserva Legal (RLs) e Áreas de</p><p>Uso Restrito (AURs), além da correta compreensão das Áreas de Uso Alternativo do</p><p>Solo (Auas) e das Áreas Consolidadas (ACs) conforme imagem abaixo:</p><p>2.1. Áreas de Preservação Permanente — APP</p><p>Neste tópico será abordado os três importantes aspectos das áreas de</p><p>preservação permanente — APPs.</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>142</p><p>2.1.1. Conceito e Natureza Jurídica</p><p>São consideradas APPs aquelas protegidas, cobertas ou não por vegetação</p><p>nativa (natural), com função ambiental de preservar os recursos hídricos, a</p><p>paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de</p><p>fauna e da flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.</p><p>QUESTÃO</p><p>19. (Promotor de Justiça do MPSC. Consulplan – 2019). A Lei Federal n.</p><p>12.651/2012, conhecida como Código Florestal, define como área de preservação</p><p>permanente somente a coberta por vegetação nativa, com a função ambiental de</p><p>preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica</p><p>e a</p><p>biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar</p><p>o bem-estar das populações humanas.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>Esses Eteps foram originalmente definidos pelo antigo código florestal de</p><p>196523, no qual atualmente estão contemplados em nosso novo código e,</p><p>consoante apontado linhas atrás.</p><p>Em verdade, são espaços territoriais protegidos em si, mas com finalidade</p><p>ecológica específica de proteção de certas áreas ambientais adjacentes.</p><p>Exemplo: as faixas das margens de rios são consideradas APPs, pois têm a</p><p>função ambiental de evitar o assoreamento (acúmulo de terra) dos leitos dos rios</p><p>(função de preservar recursos hídricos).</p><p>23 Lei Federal n.º 4.771/65.</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>143</p><p>Mata ciliar24</p><p>Da mesma forma, são também consideradas APPs as encostas com</p><p>declividade superior a 45, pois têm a importante função de manter a estabilidade</p><p>geológica para se evitar deslizamentos de terras causadores de acidentes graves.</p><p>Encosta25</p><p>Portanto, cada APP foi instituída com função ambiental protetiva</p><p>específica, conforme será visto pela frente.</p><p>Elas se constituem em limitações administrativas restritivas e genéricas do</p><p>exercício do direito de propriedade, fundadas em sua função socioambiental, razão</p><p>pela qual essas limitações são impostas a todos os proprietários de imóveis,</p><p>urbanos e rurais, nos quais existam essas áreas especialmente protegidas, sem</p><p>gerar nenhum direito à indenização26.</p><p>25 Fonte: <http://www.ciflorestas.com.br/cartilha/APP-localizacao-e-limites_protecao-conservacao-</p><p>dos-solos-manutencao-da-recarga-hidrica.html>. Acessado em: 18/12/2020.</p><p>25 Fonte: <http://www.ciflorestas.com.br/cartilha/APP-localizacao-e-limites_protecao-conservacao-</p><p>dos-solos-manutencao-da-recarga-hidrica.html>. Acessado em: 18/12/2020.</p><p>26 Recurso Especial n.º 1.233.257.</p><p>http://www.ciflorestas.com.br/cartilha/APP-localizacao-e-limites_protecao-conservacao-dos-solos-manutencao-da-recarga-hidrica.html</p><p>http://www.ciflorestas.com.br/cartilha/APP-localizacao-e-limites_protecao-conservacao-dos-solos-manutencao-da-recarga-hidrica.html</p><p>http://www.ciflorestas.com.br/cartilha/APP-localizacao-e-limites_protecao-conservacao-dos-solos-manutencao-da-recarga-hidrica.html</p><p>http://www.ciflorestas.com.br/cartilha/APP-localizacao-e-limites_protecao-conservacao-dos-solos-manutencao-da-recarga-hidrica.html</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>144</p><p>Consequentemente, o CFLO estabeleceu que as florestas existentes no</p><p>território nacional e as demais formas de vegetação nativa, reconhecidas de</p><p>utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os</p><p>habitantes do País, de modo que os direitos de propriedade são exercidos com as</p><p>limitações que a legislação em geral e o próprio código estabelecem:</p><p>• De manter, preservar e recuperar a vegetação nativa da APP;</p><p>• De não realização de construções, plantações e mineração, ou qualquer</p><p>outro tipo de intervenção e supressão da vegetação da APP.</p><p>E o CFLO definiu que estas e outras obrigações ambientais, por ele</p><p>impostas, são propter rem, ou seja, possuem natureza real, razão pela qual se</p><p>aderem ao próprio imóvel e, por isso, são transmitidas ao sucessor no caso de</p><p>transferência de domínio ou posse da área, de modo que eventuais intervenções</p><p>ou desmatamentos promovidos pelo atual proprietário passarão à</p><p>responsabilidade do novo proprietário, adquirente da área a qualquer título, sobre</p><p>quem recairão as obrigações (propter rem) de recuperação da vegetação, de</p><p>mantê-la e preservá-la.</p><p>Por fim, registre-se que as APPs, como espaços territoriais especialmente</p><p>protegidos que são, podem ser criadas ou instituídas por lei (ope legis) ou por</p><p>decreto dos chefes dos Poderes Executivos federal, estaduais, distrital e municipais,</p><p>sendo certo que somente poderão ser extintas por lei em sentido estrito, ainda</p><p>que tenham sido criadas por decreto, em respeito ao disposto no art. 225, §1º,</p><p>inciso III, da Constituição da República:</p><p>Art. 225.</p><p>[...]</p><p>III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços</p><p>territoriais e seus componentes a serem especialmente</p><p>protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas</p><p>somente através de lei, vedada qualquer utilização que</p><p>comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua</p><p>proteção;</p><p>Com isso, é concluída a análise das regras gerais sobre as APPs. Será</p><p>estudado agora cada um desses espaços especialmente protegidos.</p><p>2.1.2. Tipos de Áreas de Preservação Permanente –</p><p>APPs</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>145</p><p>O novo CFLO incorporou, com alterações, o rol de APPs existente no Código</p><p>Florestal de 1965, na Lei Federal n.º 7.511/86, na Lei Federal n.º 7.803/89 e na</p><p>medida provisória n.º 2.166-67/01, definindo as seguintes áreas como de</p><p>preservação permanente:</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>146</p><p>O primeiro tipo de APP definido pelo CFLO é mais conhecido como mata</p><p>ciliar, consistindo nas faixas marginais de qualquer curso d’água natural, perene27</p><p>e intermitente28, excluídos os efêmeros29, desde a borda da calha do leito regular.</p><p>Ela possui as seguintes características:</p><p>Mata ciliar30</p><p>• Largura mínima de:</p><p>a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez)</p><p>metros de largura;</p><p>b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10</p><p>(dez) a 50 (cinquenta) metros de largura;</p><p>c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50</p><p>(cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;</p><p>d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200</p><p>(duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;</p><p>e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura</p><p>superior a 600 (seiscentos) metros;</p><p>27 Corpo de água lótico que possui naturalmente escoamento superficial durante todo o período do</p><p>ano.</p><p>28 Corpo de água lótico que naturalmente não apresenta escoamento superficial por períodos do</p><p>ano.</p><p>29 Corpo de água lótico que possui escoamento superficial apenas durante ou imediatamente após</p><p>períodos de precipitação.</p><p>30 Fonte: <http://www.ciflorestas.com.br/cartilha/APP-localizacao-e-limites_protecao-conservacao-</p><p>dos-recursos-hidricos-dos-ecossistemas-aquaticos.html>. Acessado em: 18/12/2020.</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>147</p><p>• Prática de aquicultura: nos imóveis rurais com até 15 (quinze) módulos</p><p>fiscais31, é admitida a prática da aquicultura e a infraestrutura física</p><p>diretamente a ela associada, inclusive na APP tida como mata ciliar e no</p><p>entorno de lagos e lagoas naturais, desde que não implique em novas</p><p>supressões da vegetação nativa e se adote práticas sustentáveis de</p><p>manejo (regra declarada constitucional pelo STF na ADC n.º 42);</p><p>• Agricultura de vazante: é admitido, para a pequena propriedade ou</p><p>posse rural familiar32, o plantio de culturas temporárias e sazonais de</p><p>vazante de ciclo curto na faixa de terra33 que fica exposta no período de</p><p>vazante dos rios ou lagos, desde que não implique supressão de novas</p><p>áreas de vegetação nativa, seja conservada a qualidade da água e do</p><p>solo e seja protegida a fauna silvestre (Regra declarada constitucional</p><p>pelo STF na ADC n.º 42).</p><p>O segundo tipo de APP definido pelo CFLO refere-se às áreas no entorno</p><p>dos lagos e lagoas naturais, com as seguintes características:</p><p>• Largura mínima de:</p><p>a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com</p><p>até 20 (vinte) hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50</p><p>(cinquenta) metros;</p><p>b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas;</p><p>• Acumulações com superfície inferior a 1 hectare: Nos entornos de</p><p>acumulações naturais ou artificiais de água com superfície inferior a 1</p><p>(um) hectare, não há APP. Contudo, somente será permitida nova</p><p>supressão de áreas de vegetação nativa</p><p>com autorização do órgão</p><p>ambiental competente do SISNAMA (Regra declarada constitucional</p><p>pelo STF na ADC n.º 42).</p><p>O terceiro tipo de APP definido pelo CFLO refere-se às áreas no entorno dos</p><p>reservatórios d’água artificiais, decorrentes de barramento ou represamento de</p><p>31 Módulo fiscal é uma unidade de medida, em hectares, cujo valor é fixado pelo Instituto Nacional</p><p>de Colonização e Reforma Agrária — Incra — para cada município.</p><p>32 Aquela explorada mediante o trabalho pessoal do agricultor familiar e empreendedor familiar</p><p>rural e com área de até quatro módulos fiscais, nos termos do art. 3º da Lei Federal n.º 11.326/06.</p><p>33 Áreas marginais a cursos d’água sujeitas a enchentes e inundações periódicas (várzea de</p><p>inundação ou planície de inundação).</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>148</p><p>cursos d’água naturais, na faixa definida na licença ambiental do empreendimento,</p><p>com as seguintes características:</p><p>• Largura mínima: definida no licenciamento ambiental;</p><p>• Acumulações com superfície inferior a 1 hectare: nos entornos de</p><p>acumulações naturais ou artificiais de água com superfície inferior a 1</p><p>(um) hectare, não há APP. Contudo, somente será permitida nova</p><p>supressão de áreas de vegetação nativa com autorização do órgão</p><p>ambiental competente do SISNAMA (Regra declarada constitucional</p><p>pelo STF na ADC n.º 42);</p><p>• Reservatório artificial para geração de energia ou abastecimento</p><p>público: na implantação de reservatório d’água artificial destinado a</p><p>geração de energia ou abastecimento público, o empreendedor é</p><p>obrigado a adquirir, desapropriar ou instituir servidão administrativa</p><p>nas áreas de preservação permanente criadas em seu entorno,</p><p>conforme estabelecido no licenciamento ambiental, observando-se a:</p><p>a) Faixa mínima de 30 (trinta) metros e máxima de 100 (cem) metros,</p><p>em áreas rurais;</p><p>b) Faixa mínima de 15 (metros) metros e máxima de 30 (trinta) metros,</p><p>em áreas urbanas;</p><p>• Plano ambiental de conservação e uso do entorno do reservatório34:</p><p>na implantação de reservatórios artificiais, o empreendedor, no âmbito</p><p>do licenciamento ambiental, elaborará Plano Ambiental de Conservação</p><p>e Uso do Entorno do Reservatório, em conformidade com o termo de</p><p>referência expedido pelo órgão competente do SISNAMA, não podendo</p><p>o uso dessa área exceder a 10% (dez por cento) do total da APP. Deverá</p><p>ser apresentado ao órgão ambiental concomitantemente com o Plano</p><p>Básico Ambiental35 e aprovado até o início da operação do</p><p>empreendimento, não constituindo a sua ausência impedimento para</p><p>34 Conjunto de diretrizes e proposições com o objetivo de disciplinar a conservação, recuperação, o</p><p>uso e ocupação do entorno do reservatório artificial, respeitados os parâmetros estabelecidos nesta</p><p>Resolução e em outras normas aplicáveis. Disciplinado na Resolução n.º 302/02 do Conama.</p><p>35 Trata-se de estudo ambiental exigido pelos órgãos do Sisnama nos procedimentos de</p><p>licenciamento, geralmente exigido para a liberação da Licença de Instalação. Também conhecido</p><p>como Projeto Básico Ambiental (PBA), deve apresentar, de forma detalhada, as medidas de controle</p><p>e os programas ambientais propostos. Previsto, por exemplo, na Resolução n.º 06/87 do Conama.</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>149</p><p>a expedição da licença de instalação (Regra declarada constitucional</p><p>pelo STF na ADC n.º 42);</p><p>• Reservatórios artificiais não decorrentes de represamento de curso</p><p>naturais: não há APP no entorno de reservatórios artificiais de água que</p><p>não decorram de barramento ou represamento de cursos d’água</p><p>naturais (Regra declarada constitucional pelo STF na ADC n.º 42).</p><p>O quarto tipo de APP definido pelo CFLO refere-se às áreas no entorno das</p><p>nascentes36 e dos olhos d’água37 perenes, qualquer que seja sua situação</p><p>topográfica. Todavia, no julgamento conjunto da ADC 42 e ADIN 4903 o Supremo</p><p>Tribunal Federal promoveu interpretação conforme ao dispositivo para reconhecer</p><p>que também as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água intermitentes</p><p>são APPs. Elas possuem a seguinte característica:</p><p>• Tamanho: raio mínimo de 50 (cinquenta) metros.</p><p>QUESTÃO</p><p>20. (Promotor de Justiça do MPSC. Consulplan – 2019). De acordo com decisão</p><p>proferida pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI n. 4.903, foi</p><p>reconhecida a caracterização das nascentes e olhos d'água intermitentes como</p><p>áreas de preservação permanente, de modo que, atualmente, a proteção do</p><p>entorno destas áreas abrange o raio mínimo de 50 (cinquenta) metros no entorno</p><p>das nascentes e dos olhos d’água perenes e intermitentes, nos termos do art. 4º,</p><p>IV, da Lei Federal n. 12.651/2012.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>O quinto tipo de APP definido pelo CFLO refere-se às áreas de encostas ou</p><p>partes destas com declividade superior a 45º (quarenta e cinco graus), com a</p><p>seguinte característica:</p><p>36 Afloramento natural do lençol freático que apresenta perenidade e dá início a um curso d’água.</p><p>37 Afloramento natural do lençol freático, mesmo que intermitente.</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>150</p><p>Encosta38</p><p>• Tamanho: equivalente a 100% (cem por cento) na linha de maior</p><p>declive.</p><p>O sexto tipo de APP definido pelo CFLO refere-se às restingas, como</p><p>fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues, com as seguintes características:</p><p>Restinga de Jurubatiba, Macaé/RJ39</p><p>• Tamanho: toda extensão;</p><p>• Conceito: é o depósito arenoso paralelo à linha da costa, de forma</p><p>geralmente alongada, produzido por processos de sedimentação, onde</p><p>se encontram diferentes comunidades que recebem influência marinha,</p><p>com cobertura vegetal em mosaico, encontrada em praias, cordões</p><p>arenosos, dunas e depressões, apresentando, de acordo com o estágio</p><p>sucessional, estrato herbáceo, arbustivo e arbóreo, este último mais</p><p>interiorizado;</p><p>38 Fonte: <http://www.ciflorestas.com.br/cartilha/APP-localizacao-e-limites_protecao-conservacao-</p><p>dos-solos-manutencao-da-recarga-hidrica.html>. Acessado em: 18/12/2020.</p><p>39 Fonte: <https://www.ICMBio.gov.br/portal/ultimas-noticias/4-destaques/4857-ICMBio-inaugura-</p><p>complexo-de-visitacao-do-parque-da-restinga-de-jurubatiba>. Acessado em: 18/12/2020.</p><p>http://www.ciflorestas.com.br/cartilha/APP-localizacao-e-limites_protecao-conservacao-dos-solos-manutencao-da-recarga-hidrica.html</p><p>http://www.ciflorestas.com.br/cartilha/APP-localizacao-e-limites_protecao-conservacao-dos-solos-manutencao-da-recarga-hidrica.html</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>151</p><p>• Resoluções do CONAMA: o STF deferiu, à unanimidade, medida cautelar</p><p>para suspender os efeitos da Resolução n.º 500/20 – CONAMA, com a</p><p>imediata restauração da vigência e eficácia da anteriormente revogada</p><p>Resolução n.º 303/2002 – CONAMA que estabelece parâmetros,</p><p>definições e limites para APPs em restingas, em faixa mínima de</p><p>trezentos metros, medidos a partir da linha de preamar máxima.</p><p>O sétimo tipo de APP definido pelo CFLO refere-se aos manguezais, com as</p><p>seguintes características:</p><p>Manguezal40</p><p>• Tamanho: Toda extensão;</p><p>• Conceito: É o ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos,</p><p>sujeitos à ação das marés, formado por vasas lodosas recentes ou</p><p>arenosas, às quais se associa, predominantemente, a vegetação natural</p><p>conhecida como mangue, com influência fluviomarinha, típica de solos</p><p>limosos de regiões estuarinas e com dispersão descontínua ao longo da</p><p>costa brasileira, entre os Estados do Amapá e de Santa Catarina;</p><p>• Resoluções do CONAMA: O STF deferiu, à unanimidade, medida</p><p>cautelar para suspender os efeitos da Resolução n.º 500/20 – CONAMA,</p><p>com a imediata restauração da vigência e eficácia da anteriormente</p><p>revogada Resolução n.º 303/2002 – CONAMA que estabelece</p><p>parâmetros, definições e limites para APPs em manguezais.</p><p>O oitavo tipo de APP definido pelo CFLO refere-se às bordas dos tabuleiros</p><p>ou chapadas, até a</p><p>linha de ruptura do relevo, com as seguintes características:</p><p>40 Fonte: <https://geodireito.com.br/index.php/2018/04/21/ICMBio-lanca-atlas-dos-manguezais-do-</p><p>brasil/>. Acessado em: 18/12/2020.</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>152</p><p>Borda de tabuleiro ou chapada41</p><p>• Tamanho: em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções</p><p>horizontais;</p><p>• Conceito: paisagem topográfica plana, com declividade média inferior a</p><p>dez por cento, aproximadamente seis graus e superfície superior a 10</p><p>(dez) hectares, terminada de forma abrupta em escarpa, e</p><p>caracterizando-se por grandes superfícies a mais de 600 (seiscentos)</p><p>metros de altitude;</p><p>• Resoluções do CONAMA: o STF deferiu, à unanimidade, medida cautelar</p><p>para suspender os efeitos da Resolução n.º 500/20 – CONAMA, com a</p><p>imediata restauração da vigência e eficácia da anteriormente revogada</p><p>Resolução n.º 303/2002 – CONAMA que estabelece parâmetros,</p><p>definições e limites para APPs em chapadas.</p><p>O nono tipo de APP definido pelo CFLO refere-se ao topo de morros,</p><p>montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100 (cem) metros e inclinação</p><p>média maior que 25º, com a seguinte característica:</p><p>41 Fonte: <http://www.ciflorestas.com.br/cartilha/APP-localizacao-e-limites_protecao-conservacao-</p><p>dos-solos-manutencao-da-recarga-hidrica.html>. Acessado em: 18/12/2020.</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>153</p><p>Topo de morros, montes, montanhas e serras42</p><p>• Tamanho: equivalente às áreas delimitadas a partir da curva de nível</p><p>correspondente a 2/3 (dois terços) da altura mínima da elevação</p><p>sempre em relação à base, sendo esta definida pelo plano horizontal</p><p>determinado por planície ou espelho d’água adjacente ou, nos relevos</p><p>ondulados, pela cota do ponto de sela mais próximo da elevação. Ou</p><p>seja, correspondente ao terço superior da elevação.</p><p>O décimo tipo de APP definido pelo CFLO refere-se às áreas em altitude</p><p>superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação, com a</p><p>seguinte característica:</p><p>Áreas em altas altitudes43</p><p>• Tamanho: Toda extensão.</p><p>42 Fonte: <http://www.ciflorestas.com.br/cartilha/APP-localizacao-e-limites_protecao-conservacao-</p><p>dos-solos-manutencao-da-recarga-hidrica.html>. Acessado em: 18/12/2020.</p><p>43 Fonte: <http://www.ciflorestas.com.br/cartilha/APP-localizacao-e-limites_protecao-conservacao-</p><p>dos-solos-manutencao-da-recarga-hidrica.html>. Acessado em: 18/12/2020.</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>154</p><p>O último tipo de APP definido pelo CFLO refere-se às áreas em veredas e</p><p>adjacências, com as seguintes características:</p><p>Veredas44</p><p>• Tamanho: A faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima</p><p>de 50 (cinquenta) metros, a partir do espaço permanentemente brejoso</p><p>e encharcado;</p><p>• Conceito: Espaço brejoso ou encharcado, que contém nascentes ou</p><p>cabeceiras de cursos d`água, onde há ocorrência de solos hidromórficos,</p><p>caracterizado predominantemente por renques de buritis do brejo</p><p>(Mauritia flexuosa) e outras formas de vegetação típica;</p><p>• Resoluções do CONAMA: O STF deferiu, à unanimidade, medida</p><p>cautelar para suspender os efeitos da Resolução n.º 500/20 – CONAMA,</p><p>com a imediata restauração da vigência e eficácia da anteriormente</p><p>revogada Resolução n.º 303/2002 – CONAMA que estabelece</p><p>parâmetros, definições e limites para APPs em veredas.</p><p>44 Fonte: <http://www.ciflorestas.com.br/cartilha/APP-localizacao-e-limites_protecao-conservacao-</p><p>dos-recursos-hidricos-dos-ecossistemas-aquaticos.html>. Acessado em: 18/12/2020.</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>155</p><p>QUESTÃO</p><p>21. (Promotor de Justiça do MPPI. CEBRASPE – 2019). De acordo com o Código</p><p>Florestal, considera-se área de preservação permanente</p><p>A) a faixa marginal de curso d’água efêmero, desde a borda da calha do leito</p><p>maior, em largura mínima de 30 metros, para os cursos d’água de menos de 10</p><p>metros de largura.</p><p>B) a faixa marginal de curso d’água perene, desde a borda da calha do leito</p><p>maior, em largura mínima de 10 metros, para os cursos d’água de menos de 30</p><p>metros de largura.</p><p>C) os manguezais, até o limite de 200 metros, contados da borda da calha do</p><p>leito maior do curso d’água.</p><p>D) a área no entorno das nascentes, intermitentes ou perenes, qualquer que</p><p>seja a sua situação topográfica, em um raio mínimo de 50 metros.</p><p>E) as bordas dos tabuleiros ou chapadas, em toda a sua extensão.</p><p>É importante destacar ainda que são passíveis de indenização as restrições</p><p>impostas com a instituição de APPs declaradas de interesse social por ato dos</p><p>chefes dos Poderes Executivos que inviabilizem o usufruto da propriedade</p><p>particular. O CFLO autoriza a criação dessas APPs exclusivamente com as seguintes</p><p>finalidades:</p><p>• Conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos</p><p>de terra e de rocha;</p><p>• Proteger as restingas ou veredas;</p><p>• Proteger várzeas: São áreas marginais a cursos d’água sujeitas a</p><p>enchentes e inundações periódicas;</p><p>• Abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de extinção;</p><p>• Proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico, cultural ou</p><p>histórico;</p><p>• Formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;</p><p>• Assegurar condições de bem-estar público;</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>156</p><p>• Auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades</p><p>militares.</p><p>• Proteger áreas úmidas, especialmente as de importância internacional:</p><p>São os pantanais e as superfícies terrestres cobertas de forma periódica</p><p>por águas, cobertas originalmente por florestas ou outras formas de</p><p>vegetação adaptadas à inundação.</p><p>Registre-se, por fim, que as APPs são isentas do Imposto Territorial Rural</p><p>(ITR), nos termos do art. 10, §1º, inciso II, alínea “a”, da Lei Federal n.º 9.393/96.</p><p>Assim, concluímos o estudo dos aspectos relevantes relativos a cada uma</p><p>das áreas de preservação permanente.</p><p>2.1.3. Intervenção e Supressão em Áreas de</p><p>Preservação Permanente — APPs</p><p>A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de Preservação</p><p>Permanente (APP), por se tratar de espaço territorial especialmente protegido, só</p><p>pode ocorrer nas excepcionais hipóteses autorizadas pelo próprio CFLO, após</p><p>prévio licenciamento ambiental45, promovido por órgão competente do SISNAMA.</p><p>Em suma, a realização de construções, plantações, atividades</p><p>agropecuárias etc., com a consequente supressão da vegetação nativa em APPs,</p><p>somente serão permitidas nas seguintes situações previstas no CFLO:</p><p>• Casos de Utilidade Pública: previstos no CFLO, desde que se comprove</p><p>a inexistência de alternativa técnica e/ou locacional à atividade</p><p>proposta mediante processo administrativo próprio, nos termos da</p><p>interpretação conforme à Constituição determinada no julgamento da</p><p>ADC n.º 42 pelo STF. Assim, além da necessidade de que a atividade ou</p><p>45 Resolução n.º 369/06 do Conama c/c decisão da ADC 42.</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>157</p><p>empreendimento propostos estejam previstos no rol das hipóteses de</p><p>utilidade pública estabelecidas no CFLO, o interessado deve comprovar</p><p>que não existe uma alternativa técnica ou de localização para a</p><p>atividade pretendida, como condição para a obtenção do licenciamento</p><p>ambiental necessário à intervenção na APP;</p><p>• Casos de Interesse Social: previstos no CFLO, desde que se comprove a</p><p>inexistência de alternativa técnica e/ou locacional à atividade proposta</p><p>mediante processo administrativo próprio, nos termos da interpretação</p><p>conforme à Constituição determinada no julgamento da ADC n.º 42 pelo</p><p>STF. Assim, além da necessidade de que a atividade ou empreendimento</p><p>propostos estejam previstos no rol das hipóteses de utilidade pública</p><p>estabelecidas no CFLO, o interessado deve comprovar que</p><p>não existe</p><p>uma alternativa técnica ou de localização para a atividade pretendida,</p><p>como condição para a obtenção do licenciamento ambiental necessário</p><p>à intervenção na APP;</p><p>• Casos de Baixo Impacto Ambiental.</p><p>QUESTÃO</p><p>22. (Promotor de Justiça do MPSC. Consulplan – 2019). Como regra geral, a Lei</p><p>Federal n. 12.651/2012 somente admite a intervenção ou a supressão de vegetação</p><p>nativa em Área de Preservação Permanente nas hipóteses de utilidade pública e de</p><p>baixo impacto ambiental por esta previstas.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>São casos de utilidade pública que permitem, excepcionalmente e com</p><p>prévio licenciamento ambiental, a supressão da vegetação nativa em APPs:</p><p>• As atividades de segurança nacional e proteção sanitária;</p><p>• As obras de infraestrutura destinadas às concessões e aos serviços</p><p>públicos de transporte, sistema viário, inclusive aquele necessário aos</p><p>parcelamentos de solo urbano aprovados pelos Municípios,</p><p>saneamento, energia, telecomunicações, radiodifusão, bem como</p><p>mineração, exceto, neste último caso, a extração de areia, argila, saibro</p><p>e cascalho;</p><p>• Atividades e obras de defesa civil;</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>158</p><p>• Atividades que comprovadamente proporcionem melhorias na</p><p>proteção das funções ambientais das APPs.</p><p>• Ampliação dos casos: outras atividades similares devidamente</p><p>caracterizadas e motivadas em procedimento administrativo próprio,</p><p>quando inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento</p><p>proposto, definidas em ato do chefe do Poder Executivo federal.</p><p>Portanto, consoante acima, além do rol taxativo, há uma autorização legal</p><p>ao Presidente da República para ampliação dos casos de utilidade pública</p><p>permissivos de supressão da vegetação em APPs via decreto federal e cuja</p><p>constitucionalidade restou declarada no julgamento da ADI 4903 pelo STF.</p><p>Observação: vale ressaltar que a supressão de vegetação nativa protetora</p><p>de nascentes, dunas e restingas em APPs somente poderá ser autorizada e</p><p>licenciada nesses casos de utilidade pública. Logo, não poderá ocorrer nos casos</p><p>de interesse social ou de baixo impacto ambiental.</p><p>Por outro lado, os casos de interesse social que permitem,</p><p>excepcionalmente e com prévio licenciamento ambiental, a supressão da</p><p>vegetação nativa em APPs estão abaixo relacionados:</p><p>• As atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação</p><p>nativa, tais como prevenção, combate e controle do fogo, controle da</p><p>erosão, erradicação de invasoras e proteção de plantios com espécies</p><p>nativas;</p><p>• A exploração agroflorestal sustentável praticada na pequena</p><p>propriedade ou posse rural familiar ou por povos e comunidades</p><p>tradicionais, desde que não descaracterize a cobertura vegetal</p><p>existente e não prejudique a função ambiental da área;</p><p>• A implantação de infraestrutura pública destinada a esportes, lazer e</p><p>atividades educacionais e culturais ao ar livre em áreas urbanas e rurais</p><p>consolidadas;</p><p>• A regularização fundiária de assentamentos humanos ocupados</p><p>predominantemente por população de baixa renda em áreas urbanas</p><p>consolidadas, observadas as condições estabelecidas na Lei n.º 11.977,</p><p>de 7 de julho de 2009;</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11977.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11977.htm</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>159</p><p>• Implantação de instalações necessárias à captação e condução de água</p><p>e de efluentes tratados para projetos cujos recursos hídricos são partes</p><p>integrantes e essenciais da atividade;</p><p>• As atividades de pesquisa e extração de areia, argila, saibro e cascalho,</p><p>outorgadas pela autoridade competente;</p><p>• Ampliação dos casos: outras atividades similares devidamente</p><p>caracterizadas e motivadas em procedimento administrativo próprio,</p><p>quando inexistir alternativa técnica e locacional à atividade proposta,</p><p>definidas em ato do chefe do Poder Executivo federal.</p><p>Outrossim, aqui também há autorização legal ao Presidente da República</p><p>para ampliação dos casos de interesse social permissivos de supressão da</p><p>vegetação em APPs, via decreto federal e cuja constitucionalidade restou declarada</p><p>no julgamento da ADI 4903 pelo STF.</p><p>Por fim, são casos de baixo impacto ambiental que permitem,</p><p>excepcionalmente e com prévio licenciamento ambiental, a supressão da</p><p>vegetação nativa em APPs:</p><p>• Abertura de pequenas vias de acesso interno e suas pontes e</p><p>pontilhões, quando necessárias à travessia de um curso d’água, ao</p><p>acesso de pessoas e animais para a obtenção de água ou à retirada de</p><p>produtos oriundos das atividades de manejo agroflorestal sustentável;</p><p>• Implantação de instalações necessárias à captação e condução de água</p><p>e efluentes tratados, desde que comprovada a outorga do direito de uso</p><p>da água, quando couber;</p><p>• Implantação de trilhas para o desenvolvimento do ecoturismo;</p><p>• Construção de rampa de lançamento de barcos e pequeno</p><p>ancoradouro;</p><p>• Construção de moradia de agricultores familiares, remanescentes de</p><p>comunidades quilombolas e outras populações extrativistas e</p><p>tradicionais em áreas rurais, onde o abastecimento de água se dê pelo</p><p>esforço próprio dos moradores;</p><p>• Construção e manutenção de cercas na propriedade;</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>160</p><p>• Pesquisa científica relativa a recursos ambientais, respeitados outros</p><p>requisitos previstos na legislação aplicável;</p><p>• Coleta de produtos não madeireiros para fins de subsistência e</p><p>produção de mudas, como sementes, castanhas e frutos, respeitada a</p><p>legislação específica de acesso a recursos genéticos;</p><p>• Plantio de espécies nativas produtoras de frutos, sementes, castanhas</p><p>e outros produtos vegetais, desde que não implique supressão da</p><p>vegetação existente nem prejudique a função ambiental da área;</p><p>• Exploração agroflorestal e manejo florestal sustentável, comunitário e</p><p>familiar, incluindo a extração de produtos florestais não madeireiros,</p><p>desde que não descaracterizem a cobertura vegetal nativa existente</p><p>nem prejudiquem a função ambiental da área;</p><p>• Ampliação dos casos: outras ações ou atividades similares,</p><p>reconhecidas como eventuais e de baixo impacto ambiental em ato do</p><p>Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA ou dos Conselhos</p><p>Estaduais de Meio Ambiente.</p><p>Novamente houve uma autorização legal para ampliação dos casos de</p><p>intervenção, desta vez nos casos de baixo impacto ambiental permissivos de</p><p>supressão da vegetação em APPs, porém (neste caso) através de ato do CONAMA</p><p>ou dos Conselhos de Meio Ambiente Estaduais, que poderão aprovar resoluções</p><p>estabelecendo novos casos.</p><p>Observação: é importante apontar que o CFLO autoriza o acesso de pessoas</p><p>e animais às Áreas de Preservação Permanente para obtenção de água e para</p><p>realização de atividades de baixo impacto ambiental (art. 9º do CFLO). Apesar do</p><p>lapso do legislador, considera-se que, mesmo nesses casos, exigir-se-á o prévio</p><p>licenciamento ambiental para se autorizar tais atividades, com fundamento na</p><p>exigência nacional prevista no art. 10 da Lei Federal n.º 6.938/81.</p><p>Com isso, é finalizado o estudo do extenso rol de casos que permitem a</p><p>supressão da vegetação nativa em APPs.</p><p>Contudo, é importante destacar que essas excepcionais hipóteses de</p><p>supressão da vegetação em APP previstas no CFLO não podem ser ampliadas por</p><p>leis estaduais, sob pena de serem declaradas formalmente inconstitucionais por</p><p>violação da regra que determina a competência legislativa concorrente entre União</p><p>e Estados-Membros para se legislar sobre o meio ambiente inserta no art. 24 da</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>161</p><p>Constituição da República, definidora do denominado “condomínio legislativo”,</p><p>consoante assentado pelo STF (ADI 4988/TO).</p><p>Vale ressaltar que, como exceção da exceção, o novo código florestal</p><p>autoriza a intervenção e supressão da vegetação nativa em APPs sem a necessidade</p><p>de prévio licenciamento ambiental, nos seguintes casos:</p><p>• Para a execução, em caráter de urgência, de atividades de segurança</p><p>nacional e obras de interesse da defesa civil destinadas à prevenção e</p><p>mitigação de acidentes em áreas urbanas;</p><p>• A realização de atividades de baixo impacto ambiental46 promovidas</p><p>nas pequenas propriedades e posses familiares47, que dependerão de</p><p>simples declaração ao órgão ambiental competente, desde que esteja o</p><p>imóvel devidamente inscrito no CAR.</p><p>Por fim, o CFLO também autoriza a intervenção ou a supressão de</p><p>vegetação nativa em restingas e manguezais para execução de obras habitacionais</p><p>e de urbanização, inseridas em projetos de regularização fundiária de interesse</p><p>social, em áreas urbanas consolidadas ocupadas por população de baixa renda,</p><p>desde que em locais onde a função ecológica do manguezal esteja comprometida.</p><p>2.2. Áreas de Reserva Legal – RL</p><p>46 Ressalvados os casos de implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e</p><p>efluentes tratados, desde que comprovada a outorga do direito de uso da água, quando couber, e de</p><p>pesquisa científica relativa a recursos ambientais, que necessariamente dependerão de prévio</p><p>licenciamento ambiental.</p><p>47 Aquela explorada mediante o trabalho pessoal do agricultor familiar e empreendedor familiar</p><p>rural e com área de até quatro módulos fiscais, nos termos do art. 3º da Lei Federal n.º 11.326/06.</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>162</p><p>Conforme apontado linhas atrás, além dos espaços territoriais</p><p>especialmente protegidos estudados no SNUC, a Lei Federal n.º 12.651/12 (novo</p><p>CFLO) definiu outros Eteps de igual relevância.</p><p>Esses Demais Espaços Territoriais Especialmente Protegidos – DETEPs –,</p><p>apesar de previsto pelo novo CFLO, também seguem as mesmas regras gerais para</p><p>criação, alteração, supressão e extinção dos espaços territoriais protegidos</p><p>previstos na Lei do SNUC, daí porque iniciamos seu estudo no tópico anterior, após</p><p>a compreensão das regras gerais da PNUC.</p><p>Já concluímos a análise dos aspectos relevantes das APPs, primeiro tipo de</p><p>Espaços Territoriais Especialmente Protegidos (ETEP) instituído pelo novo Código</p><p>Florestal.</p><p>Agora serão abordadas as áreas de Reserva Legal (RLs), que são impostas a</p><p>todos os imóveis rurais do Brasil e que seguem regras específicas estabelecidas pelo</p><p>CFLO.</p><p>Portanto, neste tópico estudaremos os três importantes aspectos das áreas</p><p>de Reserva Legal:</p><p>2.2.1. Conceito e Natureza Jurídica</p><p>São consideradas RLs aquelas localizadas no interior de propriedades ou</p><p>posses rurais, delimitadas nos termos do CFLO, com a função de:</p><p>• Assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais</p><p>do imóvel rural;</p><p>• Auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos;</p><p>• Promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a</p><p>proteção de fauna silvestre e da flora nativa.</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>163</p><p>Esses ETEPs foram originalmente definidos pelo antigo Código Florestal de</p><p>1965 e atualmente estão contemplados no novo Código, consoante apontado</p><p>linhas atrás.</p><p>Em verdade, são espaços territoriais protegidos em si, mas com função</p><p>ecológica geral de contribuir para a manutenção do meio ambiente</p><p>ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo, por isso visando:</p><p>• Ao uso econômico sustentável dos recursos;</p><p>• À conservação e reabilitação dos processos ecológicos;</p><p>• À conservação da biodiversidade;</p><p>• À proteção da fauna silvestre e da flora nativa.</p><p>As RLs se constituem em limitações administrativas restritivas e genéricas</p><p>do exercício do direito de propriedade, fundadas em sua função socioambiental</p><p>(art. 186, inciso II da CR/88), razão pela qual essa limitação foi imposta a todos os</p><p>proprietários de imóveis rurais, que são obrigados a reservar parte de suas</p><p>propriedades para preservar a vegetação nativa, sem direito a nenhuma</p><p>indenização por isso49.</p><p>Daí porque o CFLO estabeleceu que as florestas existentes no território</p><p>nacional e as demais formas de vegetação nativa, reconhecidas de utilidade às</p><p>terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do país,</p><p>de modo que os direitos de propriedade são exercidos com as limitações que a</p><p>legislação em geral e o próprio código estabelecem.</p><p>Assim, aos proprietários, aos possuidores e até mesmo aos meros</p><p>ocupantes, pessoas naturais ou jurídicas, de direito público ou privado, de imóveis</p><p>rurais são impostas as obrigações de manter e preservar a vegetação nativa dessas</p><p>áreas, não podendo promover nelas nenhum tipo de desmatamento. A imagem</p><p>abaixo mostra como a RL deve ser mantida:</p><p>49 Recurso Especial n.º 1.240.122.</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>164</p><p>Reserva Legal50</p><p>É por isso que existem pequenas áreas com florestas naturais preservadas</p><p>em imensas áreas com pastos ou plantações (milho, soja, algodão etc.), muitas</p><p>vezes no meio das plantações, conforme se observa facilmente ao longo de algumas</p><p>rodovias do Brasil. Elas são RLs, conforme mostra a imagem abaixo:</p><p>Reserva Legal51</p><p>O CFLO definiu que estas e outras obrigações ambientais, por ele impostas</p><p>(manter e preservar a vegetação nativa nas RLs), são propter rem, ou seja, têm</p><p>natureza real, razão pela qual se aderem ao próprio imóvel e são transmitidas ao</p><p>sucessor no caso de transferência de domínio ou posse da área, de modo que</p><p>eventuais intervenções ou desmatamentos promovidos pelo atual proprietário</p><p>passarão à responsabilidade do novo proprietário, adquirente da área a qualquer</p><p>50 Fonte: <http://www.ciflorestas.com.br/cartilha/reserva-legal_qual-deve-ser-o-tamanho-da-</p><p>reserva-legal.html>. Acessado em: 20/12/2020.</p><p>51 Fonte: <http://www.mpgo.mp.br/portal/noticia/liminares-determinam-regularizacao-de-areas-</p><p>de-protecao-ambiental-em-propriedades-rurais-de-rio-verde#.X98vuthKiUl>. Acessado em:</p><p>20/12/2020.</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>165</p><p>título, sobre quem recairão as obrigações (propter rem) de recuperação da</p><p>vegetação, de mantê-la e preservá-la.</p><p>Logo, a vegetação da RL não pode ser suprimida ou desmatada.</p><p>Registre-se que as RLs, como espaços territoriais especialmente protegidos</p><p>que são, podem ser criadas ou ampliadas por lei (ope legis) ou por ato do poder</p><p>público federal, sendo certo que somente poderão ser extintas por lei em sentido</p><p>estrito, ainda que tenham sido criadas por decreto, em respeito disposto no art.</p><p>225, §1º, inciso III, da Constituição da República:</p><p>Art. 225.</p><p>[...]</p><p>III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços</p><p>territoriais e seus componentes a serem especialmente</p><p>protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas</p><p>somente através de lei, vedada qualquer utilização que</p><p>comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua</p><p>proteção;</p><p>Observação: por fim, é importante destacar que, diferentemente do que</p><p>ocorre nas áreas de preservação permanente (APPs), onde não se admite nenhum</p><p>tipo de exploração, o CFLO autorizou a exploração florestal econômica em áreas de</p><p>reserva legal – RL.</p><p>Desse modo, apesar de a RL não poder ser suprimida, ela poderá ser</p><p>utilizada para exploração econômica dos seus produtos florestais, desde que se</p><p>observe as seguintes regras:</p><p>• Cobertura vegetal: vedadas a descaracterização da cobertura vegetal e</p><p>a adoção de práticas que prejudiquem a conservação da vegetação</p><p>nativa, devendo-se assegurar a manutenção da diversidade das</p><p>espécies;</p><p>• Exploração comercial: exige-se prévia aprovação de plano de manejo</p><p>florestal sustentável – PMFS52 – por órgão ambiental competente do</p><p>SISNAMA para exploração florestal comercial da RL. Os órgãos do</p><p>SISNAMA deverão estabelecer procedimentos simplificado53 de</p><p>52 Conduzir o manejo de espécies</p><p>exóticas com a adoção de medidas que favoreçam a regeneração</p><p>de espécies nativas.</p><p>53 Obrigatória apenas a apresentação de documento de identificação do proprietário ou possuidor</p><p>rural e comprovação da propriedade ou posse, além de croqui indicando a área a ser objeto do</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>166</p><p>elaboração, análise e aprovação dos PMFS para exploração madeireira</p><p>comercial nas pequenas propriedades ou posses rurais familiares54;</p><p>• Exploração eventual não comercial para consumo no próprio imóvel</p><p>(todas as propriedades): independe de autorização dos órgãos</p><p>competentes, devendo apenas ser declarados previamente ao órgão</p><p>ambiental a motivação da exploração e o volume explorado, limitada a</p><p>exploração anual a 20 (vinte) metros cúbicos;</p><p>• Coleta de produtos não madeireiros: é livre a coleta de produtos</p><p>florestais não madeireiros, tais como frutos, cipós, folhas e sementes</p><p>etc.,55 observando-se os períodos de coleta e os volumes definidos em</p><p>regulamento, a época da maturação dos frutos e sementes e as técnicas</p><p>que não coloquem em risco as espécies coletadas;</p><p>• Pequenas propriedades ou posses rurais familiares56(Apenas as</p><p>pequenas propriedades): a exploração florestal eventual, sem propósito</p><p>comercial direto ou indireto, para consumo no próprio imóvel (o</p><p>suprimento, para uso no próprio imóvel, de lenha ou madeira serrada</p><p>destinada a benfeitorias e uso energético nas propriedades e posses</p><p>rurais), limitada a retirada anual de material lenhoso a 2 (dois) metros</p><p>cúbicos por hectare, não necessita de autorização e nem de prévia</p><p>declaração ao órgão ambiental57;</p><p>• Suspensão imediata das atividades: é obrigatória a suspensão imediata</p><p>das atividades de exploração em RLs desmatadas irregularmente,</p><p>consoante assentado pelo STF (ADC 42).</p><p>manejo seletivo, estimativa do volume de produtos e subprodutos florestais a serem obtidos com o</p><p>manejo seletivo, indicação da sua destinação e cronograma de execução previsto.</p><p>54 Aquela explorada mediante o trabalho pessoal do agricultor familiar e empreendedor familiar</p><p>rural e com área de até quatro módulos fiscais, nos termos do art. 3º da Lei Federal n.º 11.326/06.</p><p>55 Técnicas que não coloquem em risco a sobrevivência de indivíduos e da espécie coletada no caso</p><p>de coleta de flores, folhas, cascas, óleos, resinas, cipós, bulbos, bambus e raízes.</p><p>56 Aquela explorada mediante o trabalho pessoal do agricultor familiar e empreendedor familiar</p><p>rural e com área de até quatro módulos fiscais, nos termos do art. 3º da Lei Federal n.º 11.326/06.</p><p>57 Não podendo comprometer mais de 15% (quinze por cento) da biomassa da Reserva Legal, nem</p><p>ser superior a 15 (quinze) metros cúbicos de lenha para uso doméstico e uso energético, por</p><p>propriedade ou posse rural, por ano, salvo no caso de posse coletiva de populações tradicionais ou</p><p>de agricultura familiar, cujos limites serão adotados por unidade familiar.</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>167</p><p>QUESTÃO</p><p>23. (Advogado da União da AGU. Cebraspe – 2015). De acordo com o Código</p><p>Florestal, julgue o próximo item, referente à proteção de florestas e às</p><p>competências em matéria ambiental, previstas na Lei Complementar n.º 140/2011.</p><p>A regularidade da reserva legal envolve a conservação de sua vegetação nativa, de</p><p>modo que a exploração econômica dessa área deve ser feita mediante plano de</p><p>manejo sustentável previamente aprovado pelo órgão ambiental competente do</p><p>SISNAMA, sem prejuízo da observância das demais normas ambientais pertinentes.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>Como exceção da exceção, o novo Código Florestal autoriza intervenção e</p><p>supressão da vegetação nativa em áreas de RL sem a necessidade de prévio</p><p>licenciamento ambiental, para:</p><p>• A realização de atividades de baixo impacto ambiental58 (estudadas</p><p>linhas atrás) promovidas em pequenas propriedades e posses</p><p>familiares,59 que dependerão apenas de simples declaração ao órgão</p><p>ambiental competente, desde que o imóvel esteja devidamente inscrito</p><p>no CAR.</p><p>Com isso, acaba a análise das regras gerais sobre as RLs. Agora será tratado</p><p>o tamanho desses espaços especialmente protegidos.</p><p>2.2.2. Delimitação das Áreas de Reserva Legal</p><p>58 Ressalvados os casos de implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e</p><p>efluentes tratados, desde que comprovada a outorga do direito de uso da água, quando couber, e de</p><p>pesquisa científica relativa a recursos ambientais, que necessariamente dependerão de prévio</p><p>licenciamento ambiental.</p><p>59 Aquela explorada mediante o trabalho pessoal do agricultor familiar e empreendedor familiar</p><p>rural e com área de até quatro módulos fiscais, nos termos do art. 3º da Lei Federal n.º 11.326/06.</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>168</p><p>O novo CFLO incorporou, com alterações, as regras sobre as áreas de RL</p><p>existentes no código florestal de 1965, na Lei Federal n.º 7.803/89 e na medida</p><p>provisória n.º 2.166-67/01.</p><p>Os tamanhos das RLs foram definidos pelo novo CFLO através do</p><p>estabelecimento de percentuais que devem incidir sobre o tamanho total da área</p><p>dos imóveis rurais.</p><p>Esses percentuais variarão conforme o tipo de bioma e a localização dos</p><p>imóveis rurais.</p><p>Assim, para imóveis rurais situados fora da Amazônia legal, o percentual de</p><p>reserva legal corresponde a 20% (vinte por cento) da sua área total,</p><p>independentemente do tipo de bioma.</p><p>Reserva Legal de 20%60</p><p>Exemplo: os imóveis ruais situados nos Estados da região sul e sudeste,</p><p>bem como aqueles situados no Distrito Federal e na região nordeste (salvo parte</p><p>do Maranhão), devem reservar 20% (vinte por cento) de sua área para manter e</p><p>preservar a vegetação nativa, de modo que nessas áreas resta vedado qualquer tipo</p><p>de desmatamento.</p><p>Por outro lado, para imóveis rurais situados na Amazônia legal, os</p><p>percentuais de reserva legal variam com tipo de bioma da seguinte forma:</p><p>• 80% (oitenta por cento): para áreas com florestas;</p><p>• 35% (trinta e cinco por cento): para áreas com cerrado;</p><p>60 Fonte: <http://www.ciflorestas.com.br/cartilha/reserva-legal_qual-deve-ser-o-tamanho-da-</p><p>reserva-legal.html>. Acessado em: 20/12/2020.</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>169</p><p>• 20% (vinte por cento): para áreas com campos gerais.</p><p>Considera-se Amazônia Legal as áreas dos Estados do Acre, Pará,</p><p>Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapá e Mato Grosso e as regiões situadas ao</p><p>norte do paralelo 13º S, dos Estados de Tocantins e Goiás, e ao oeste do meridiano</p><p>de 44º W, do Estado do Maranhão.</p><p>Amazônia Legal61</p><p>É importante ressaltar que os tamanhos das reservas legais – RL – em</p><p>imóvel situado em área de formações florestais, de cerrado ou de campos gerais na</p><p>Amazônia legal serão definidos considerando-se separadamente os respectivos</p><p>percentuais definidos.</p><p>Assim, por exemplo, para a definição da reserva legal – RL – de um imóvel</p><p>rural situado no Município Porto Velho/RO em que haja os três tipos de bioma</p><p>(floresta, cerrado e campos gerais), os percentuais incidirão separadamente em</p><p>cada um deles, de modo que neste imóvel a RL equivalerá a 80% da sua área com</p><p>floresta, 35% da sua área com cerrado e 20% da sua área com campos gerais.</p><p>61Fonte:<https://ambientes.ambientebrasil.com.br/amazonia/floresta_amazonica/floresta_amazoni</p><p>ca_-_localizacao.html>. Acessado em: 17/01/2023.</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>170</p><p>QUESTÃO</p><p>24. (Juiz de Direito do TJPA. Cebraspe – 2019). Rafael é proprietário de um</p><p>imóvel rural com vegetação de floresta no estado do Pará. Esse imóvel deixou de</p><p>ter área de reserva legal porque o proprietário anterior a suprimiu. Nessa situação,</p><p>Rafael</p><p>A) não tem obrigação de reflorestar a referida área, porque não foi ele quem</p><p>causou a degradação.</p><p>B) deve reflorestar 50% de sua propriedade.</p><p>C) deve reflorestar 30% de sua propriedade.</p><p>D) deve reflorestar 80% de sua propriedade.</p><p>E) deve reflorestar 20% de sua propriedade.</p><p>Isto posto, serão abordados os seis aspectos importantes relativos à RL:</p><p>O primeiro deles refere-se ao seu registro. A área de RL deve ser averbada</p><p>na matrícula do imóvel, no respectivo cartório de registro imobiliário competente</p><p>e com gratuidade, sendo certo que essa averbação ficará dispensada quando a RL</p><p>for registrada no Cadastro Ambiental Rural – CAR. O registro deve observar ainda:</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>171</p><p>• A necessária indicação das coordenadas geográficas da RL, com pelo</p><p>menos um ponto de amarração, mediante apresentação de planta e</p><p>memoria descritivo;</p><p>• No caso de posse do imóvel, sem comprovação de propriedade, a RL é</p><p>assegurada por termo de compromisso, com força de título executivo</p><p>extrajudicial, firmado entre o possuidor e o órgão do SISNAMA, devendo</p><p>constar, no mínimo, sua localização e as obrigações assumidas, sendo</p><p>certo que a eventual transferência da posse implica a sub-rogação das</p><p>obrigações assumidas;</p><p>• Para o registro da RL no CAR de pequenas propriedades rurais</p><p>familiares,62 assim consideradas aquelas exploradas mediante o</p><p>trabalho pessoal do agricultor familiar e empreendedor familiar rural e</p><p>com área de até quatro módulos fiscais, o responsável apresentará os</p><p>dados identificando a área proposta de RL, cabendo aos órgãos</p><p>competentes do SISNAMA, ou instituição por ele habilitada, realizar a</p><p>captação das respectivas coordenadas geográficas, sendo gratuito o</p><p>registro, que deve ser realizado com apoio técnico e jurídico do Poder</p><p>Público.</p><p>O segundo aspecto importante refere-se à localização da RL dentro do</p><p>imóvel rural, cuja definição caberá ao órgão estadual do SISNAMA, ou instituição</p><p>por ele habilitada, após a inscrição do imóvel no CAR.63 A definição da localização</p><p>deve observar ainda:</p><p>• A possibilidade de formação de corredores ecológicos com outras RLs,</p><p>com APPs, com unidades de conservação da natureza e com demais</p><p>espaços protegidos;</p><p>• A existência de zoneamento ecológico-econômico;</p><p>• O plano de bacia hidrográfica;</p><p>• As áreas de fragilidade ambiental e aquelas de maior importância para</p><p>a biodiversidade;</p><p>62 Art. 3º da Lei Federal n.º 11.326/06.</p><p>63 Protocolada a documentação exigida para a análise da localização da área de reserva legal, ao</p><p>proprietário ou possuidor rural não poderá ser imputada sanção administrativa, inclusive restrição a</p><p>direitos, por qualquer órgão ambiental competente integrante do Sisnama, em razão da não</p><p>formalização da área de reserva legal.</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>172</p><p>O terceiro aspecto relevante refere-se à impossibilidade de alteração da</p><p>destinação da área de RL, mesmo quando houver o desmembramento do imóvel</p><p>ou sua transmissão a qualquer título.</p><p>O quarto aspecto que é preciso destacar refere-se à possibilidade de</p><p>diminuição do tamanho das RLs. O CFLO estabelece três possibilidades de redução</p><p>do tamanho da RL, que foi originalmente fixada em 80% (oitenta por cento) para</p><p>áreas de floresta em imóveis situados na Amazônia legal:</p><p>• Redução pelo Município: de 80% (oitenta por cento) para até 50%</p><p>(cinquenta por cento) — o Poder Público poderá promover essa</p><p>redução, para fins de recomposição, quando o Município tiver mais de</p><p>50% (cinquenta por cento) da área ocupada por unidades de</p><p>conservação da natureza de domínio público e por terras indígenas</p><p>homologadas (Regra declarada constitucional pelo STF na ADC n.º 42);</p><p>• Redução pelo Estado-Membro: de 80% (oitenta por cento) para até 50%</p><p>(cinquenta por cento) — o Poder Público Estadual, ouvido o Conselho</p><p>Estadual do Meio Ambiente, poderá promover essa redução, quando o</p><p>Estado tiver Zoneamento Ecológico-Econômico – ZEE – aprovado e tiver</p><p>mais de 65% (sessenta e cinco por cento) do seu território ocupado por</p><p>unidades de conservação da natureza de domínio público, devidamente</p><p>regularizadas, e por terras indígenas homologadas (Regra declarada</p><p>constitucional pelo STF na ADC n.º 42);</p><p>• Redução pela União: De 80% (oitenta por cento) para até 50%</p><p>(cinquenta por cento) — quando indicado pelo Zoneamento Ecológico-</p><p>Econômico (ZEE) estadual, realizado segundo metodologia unificada, o</p><p>Poder Público Federal poderá promover essa redução em imóveis64 com</p><p>área rural consolidada, exclusivamente para fins de regularização,</p><p>mediante recomposição, regeneração ou compensação da RL, excluídas</p><p>as áreas prioritárias para conservação da biodiversidade e dos recursos</p><p>hídricos e os corredores ecológicos.</p><p>O quinto aspecto que é preciso se salientar refere-se à possibilidade de</p><p>aumento do tamanho das áreas das RLs. O CFLO dispõe que, quando indicado pelo</p><p>Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) estadual, realizado segundo metodologia</p><p>64 Neste caso o proprietário ou possuidor de imóvel rural que resolver manter reserva legal — RL —</p><p>conservada e averbada em área superior aos novos percentuais reduzidos, evidentemente poderá</p><p>instituir servidão ambiental sobre a área excedente e solicitar a emissão de cota de reserva</p><p>Ambiental.</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>173</p><p>unificada, o Poder Público Federal poderá ampliar as áreas de RL, em qualquer</p><p>parte do país, em até 50% (cinquenta por cento) dos percentuais normais, para</p><p>cumprimento de metas nacionais de proteção à biodiversidade ou de redução de</p><p>emissão de gases de efeito estufa (redução de GEE em respeito aos compromissos</p><p>assumidos no Protocolo de Kyoto e no Acordo de Paris).</p><p>Por fim, o último aspecto refere-se à possibilidade de se computar as APPs</p><p>no cálculo das RLs nos imóveis já registrados no CAR. Esse cômputo não alterará o</p><p>regime original de restrições das APPs.</p><p>Exemplo: se em um determinado imóvel rural situado na cidade de Morro</p><p>do Chapéu/BA, com área total de 100 (cem) hectares, houver uma APP equivalente</p><p>a 10 (dez) hectares, decorrente das margens de um rio adjacente à propriedade,</p><p>será possível computá-la para alcançar os 20 hectares de RL exigidos pelo CFLO</p><p>(vinte por cento da área total do imóvel fora da Amazônia Legal). Desse modo, a RL</p><p>de 20 (vinte) hectares será constituída por 10 (dez) hectares de área de reserva</p><p>legal propriamente dita e 10 (dez) hectares relativos à APP da margem do rio</p><p>adjacente.</p><p>Esse cômputo deve observar os seguintes requisitos:</p><p>• Esse benefício não pode implicar na conversão de novas áreas para o</p><p>uso alternativo do solo, ou seja, não pode autorizar novos</p><p>desmatamentos de vegetação nativa, salvo quando a soma das APPs</p><p>com as demais florestas e outras formas de vegetação nativa existentes</p><p>no imóvel ultrapassarem 80% (oitenta por cento) área total localizada</p><p>em áreas de floresta na Amazônia Legal;</p><p>• A APP a ser computada65 deve estar conservada ou em processo de</p><p>recuperação, conforme comprovação perante o órgão estadual do</p><p>SISNAMA;</p><p>• O cômputo das APPs em RLs teve sua constitucionalidade declarada pelo</p><p>STF no julgamento da ADC n.º 42.</p><p>65 O cômputo de APPs nas RLs aplica-se a todas as modalidades de cumprimento da reserva legal,</p><p>abrangendo a regeneração, a recomposição e a compensação.</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>174</p><p>QUESTÃO</p><p>25. (Promotor de Justiça do MPSC. 2016). De acordo com a Lei n. 12.651/12,</p><p>será admitido o cômputo da Reserva Legal do imóvel no cálculo do percentual da</p><p>Área de Preservação Permanente, desde que: o benefício previsto neste artigo não</p><p>implique a conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo; a área a ser</p><p>computada esteja conservada ou em processo de recuperação, conforme</p><p>comprovação do proprietário ao órgão estadual integrante do Sisnama; o</p><p>proprietário ou possuidor tenha requerido inclusão do imóvel no Cadastro</p><p>Ambiental Rural (CAR), nos termos da referida</p><p>Lei.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>Ainda é importante apontar que o CFLO instituiu a denominada Reserva</p><p>Legal em Condomínio ou Coletiva, que consiste na possibilidade do</p><p>estabelecimento de uma grande área formada pela soma e unificação de diversas</p><p>áreas de reserva legal adjacentes vinculadas a vários imóveis rurais, que deve</p><p>corresponder ao total de reserva legal exigido de todos os imóveis rurais</p><p>participantes.</p><p>Exemplo: se os imóveis rurais adjacentes “A”, “B”, “C” e “D”, situados no</p><p>Município de Casa Nova/BA, cada um deles com área total de 10 (dez) hectares,</p><p>formarem uma Reserva Legal em Condomínio com área total 8 (oito) hectares, será</p><p>indiferente se os imóveis “A” ou “B”, por exemplo, reservarem uma área de apenas</p><p>10% (dez por cento) (um hectare) para reserva legal, haja vista que a reserva legal</p><p>coletiva de 8 (oito) hectares representa exatamente a soma dos 2 (dois) hectares</p><p>de reserva legal devidos por cada um deles, de modo que a Reserva Legal Coletiva</p><p>compensará as obrigações ambientais de todos.</p><p>Por fim, é relevante esclarecer o que se entende por “Reserva Legal”</p><p>Excedente, que consiste na manutenção facultativa de área de vegetação nativa</p><p>(natural) com tamanho superior a reserva legal mínima exigida. Neste caso, a área</p><p>excedente poderá ser utilizada pelo proprietário para criação de servidão ambiental</p><p>e até mesmo emissão de Cotas de Reserva Ambiental (CRA) que poderão ser</p><p>comercializadas com terceiros para compensar sua RL mínima, conforme já</p><p>estudado no tópico das servidões ambientais.</p><p>Excepcionalmente, as pequenas propriedades rurais familiares,66 assim</p><p>consideradas aquelas exploradas mediante o trabalho pessoal do agricultor familiar</p><p>66 Art. 3º da Lei Federal n.º 11.326/06.</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>175</p><p>e empreendedor familiar rural e com área de até quatro módulos fiscais, poderão</p><p>cumprir a manutenção da área de RJ, não apenas com vegetação nativa (natural),</p><p>mas, também, com os plantios de árvores frutíferas, ornamentais ou industriais,</p><p>compostos por espécies exóticas, cultivadas em sistema intercalar ou em consórcio</p><p>com espécies nativas da região em sistemas agroflorestais.</p><p>2.2.3. Casos de Dispensa da Reserva Legal</p><p>O novo CFLO dispensa a obrigação de instituição de áreas de reserva legal</p><p>em imóveis rurais em alguns casos, nos quais (excepcionalmente) será possível</p><p>explorar e até desmatar a integralidade da vegetação da área do imóvel, sempre</p><p>mediante prévia autorização do órgão ambiental competente.</p><p>Logo, a instituição de área de reserva legal – RL – restou dispensada em três</p><p>casos:</p><p>• Em imóveis rurais adquiridos para a implantação de empreendimentos</p><p>de abastecimento público de água e tratamento de esgoto (regra</p><p>declarada constitucional pelo STF na ADC n.º 42);</p><p>• Em imóveis rurais adquiridos ou desapropriados por detentor de</p><p>concessão, permissão ou autorização para exploração de potencial de</p><p>energia hidráulica, nos quais funcionem empreendimentos de geração</p><p>de energia elétrica, subestações ou sejam instaladas linhas de</p><p>transmissão e de distribuição de energia elétrica (regra declarada</p><p>constitucional pelo STF na ADC n.º 42);</p><p>• Em imóveis rurais adquiridos ou desapropriados com o objetivo de</p><p>implantação e ampliação de capacidade de rodovias e ferrovias (regra</p><p>declarada constitucional pelo STF na ADC n.º 42).</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>176</p><p>QUESTÃO</p><p>26. (Procurador do Estado do Amazonas. Cebraspe – 2016). No que diz</p><p>respeito à PNRH, à proteção da vegetação nativa (Lei n.º 12.651/2012) e à</p><p>gestão de florestas públicas (Lei n.º 11.284/2006), julgue o item que se</p><p>segue.</p><p>A manutenção de área com cobertura vegetal nativa, a título de reserva</p><p>legal, não é obrigatória para imóveis rurais desapropriados com a finalidade</p><p>de exploração de potencial de energia hidráulica (geração de energia</p><p>elétrica) e de ampliação de capacidade de rodovias.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>Portanto, nesses casos a área total (cem por cento) dos imóveis rurais</p><p>poderão ser exploradas e desmatadas, sempre com autorização dos órgãos</p><p>ambientais, sem a necessidade de constituição de uma RL mínima.</p><p>Observação: é importante ressaltar que a inserção do imóvel rural em</p><p>perímetro urbano definido mediante lei municipal não desobriga o proprietário ou</p><p>possuidor da manutenção da área de RL, que só será extinta concomitantemente</p><p>com o registro do parcelamento do solo para fins urbanos, aprovado segundo a</p><p>legislação específica e consoante as diretrizes do plano diretor do Município.</p><p>Assim, ainda que o Município aprove uma lei ampliando os limites de sua</p><p>área urbana para incorporar imóveis que, até então, ficavam em sua área rural,</p><p>esses imóveis permaneceram obrigados a manter e preservar a vegetação nativa</p><p>em suas RLs, pelo menos até que haja alteração de sua destinação com a aprovação</p><p>e o registro de projeto de loteamento urbano nos termos da Lei Federal n.º</p><p>6.766/79.</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>177</p><p>QUESTÃO</p><p>27. (Juiz de Direito do TJPR. PUC-PR – 2014). O novo Código Florestal (Lei</p><p>12.651/2012) traz diversas disposições concernentes à Área de Reserva Legal,</p><p>sendo CORRETO afirmar que:</p><p>A) Os proprietários ou possuidores de imóveis rurais que realizaram supressão</p><p>de vegetação nativa respeitando os percentuais de Reserva Legal previstos pela</p><p>legislação em vigor à época em que ocorreu a supressão são obrigados a promover</p><p>a recomposição, compensação ou regeneração para os percentuais exigidos na</p><p>nova Lei.</p><p>B) A Reserva Legal deve ser conservada com cobertura de vegetação nativa</p><p>pelo proprietário do imóvel rural, possuidor ou ocupante a qualquer título, pessoa</p><p>física ou jurídica, de direito público ou privado, não sendo admitida sua exploração</p><p>econômica.</p><p>C) A inserção do imóvel rural em perímetro urbano definido mediante lei</p><p>municipal desobriga o proprietário ou posseiro na manutenção da área de Reserva</p><p>Legal.</p><p>D) Todo imóvel rural, localizado em qualquer região do País, deve manter área</p><p>com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva Legal, sem prejuízo da</p><p>aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente, observados os</p><p>percentuais mínimos em relação à área do imóvel e excetuados os casos</p><p>expressamente previstos na Lei.</p><p>Essas áreas de RL são isentas do Imposto Territorial Rural (ITR), nos termos</p><p>do art. 10, §1º, inciso II, alínea “a”, da Lei Federal n.º 9.393/96.</p><p>2.3. Áreas de Uso Alternativo do Solo – AUAS</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>178</p><p>Até aqui foi concluída a análise dos aspectos relevantes das áreas de</p><p>preservação permanentes – APPs –, das áreas de reserva legal – RLs – e das</p><p>chamadas áreas de uso restrito – AURs, todas elas previstas no novo Código</p><p>Florestal.</p><p>Agora, em conclusão, serão analisadas as áreas de uso alternativo do solo</p><p>(AUAS), ressaltando os seguintes aspectos:</p><p>2.3.1. Conceito e Regras Gerais</p><p>O primeiro aspecto importante a ser estudado refere-se ao conceito da</p><p>AUAS, que consiste na área remanescente após descontados todas os ETEPs</p><p>eventualmente existentes no imóvel, urbano ou rural, tais coma as APPs, RLs e as</p><p>AURs etc.</p><p>Portanto, excluídas as APPs, a RL e qualquer outro espaço territorial</p><p>protegido, todo o restante da área do imóvel é considerado de uso alternativo do</p><p>solo, conforme imagem abaixo:</p><p>É nessa AUAS que pode haver a substituição de vegetação nativa por</p><p>outras coberturas do solo, como atividades agropecuárias, industriais, de geração</p><p>e transmissão de energia, de mineração e de transporte, assentamentos urbanos</p><p>ou outras formas de ocupação humana.</p><p>Área de uso alternativo do solo</p><p>Reserva Legal</p><p>APP</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>179</p><p>Assim, na AUAS o proprietário efetivamente</p><p>processual ambiental: administrativa, cível e criminal decorrente</p><p>da prática de ilícitos ambientais, inclusive com a adequada compreensão</p><p>dos precedentes e das súmulas do e. STJ e c. STF sobre o meio ambiente;</p><p>• Os princípios ambientais: uma revisão dos princípios tipicamente</p><p>ambientais, com sua aplicação prática, para proporcionar sua adequada</p><p>compreensão.</p><p>Assim, por exemplo, no Sisrespia serão estudadas todas as características</p><p>da responsabilidade civil ambiental (objetiva, solidária, imprescritível, com</p><p>inversão do ônus da prova, com desconsideração da personalidade jurídica, com</p><p>dano moral coletivo, com obrigação de fazer, de não fazer e de indenizar etc.)</p><p>atribuídas pela jurisprudência do e pelo STJ, além de uma completa análise das</p><p>infrações administrativo-ambientais e dos crimes ambientais.</p><p>Dessa forma, compreendendo-se adequadamente cada um dos sistemas</p><p>integrantes do Microssistema Jurídico de Tutela Ambiental (MTA) será possível a</p><p>adequada compreensão e interpretação das seguintes normas ambientais:</p><p>RAFAEL ROCHA MICROSSISTEMA JURÍDICO DE TUTELA AMBIENTAL • 1</p><p>17</p><p>E assim se estabelecerá o necessário raciocínio jurídico sobre o Direito</p><p>Ambiental.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>19</p><p>SISTEMA NACIONAL DO MEIO</p><p>AMBIENTE — SISNAMA</p><p>2</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>20</p><p>1. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE</p><p>1.1. Conferência das Nações Unidas sobre o Meio</p><p>Ambiente Humano e Criação do SISNAMA</p><p>Em junho de 1972, na cidade de Estocolmo, Suécia, foi realizada a</p><p>Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente Humano (CNUMAH), primeira</p><p>reunião global para se discutir os problemas ambientais causados pela degradação</p><p>do meio ambiente no mundo, na qual se reuniram representantes de cerca de 112</p><p>(cento e doze) Países, inclusive do nosso Brasil.</p><p>Também conhecida como Conferência de Estocolmo, a CNUMAH aprovou</p><p>o primeiro documento internacional relevante contendo diretrizes mundiais de</p><p>melhoria e preservação do meio ambiente para as presentes e futuras gerações, a</p><p>Declaração sobre o Meio Ambiente. Trata-se de documento sem força jurídica</p><p>vinculante.</p><p>Embora sem força jurídica vinculante, o documento inspirou a criação do</p><p>Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), instituído em</p><p>dezembro de 1972 como agência da ONU (órgão do sistema ONU), responsável pela</p><p>promoção da conservação ambiental no mundo.</p><p>Isto é, foi por proposta do Pnuma que se criou a importante Comissão</p><p>Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento da ONU (Cmed),</p><p>responsável, por exemplo, pela publicação do famoso Relatório Brundtland —</p><p>denominado Nosso Futuro Comum — em 1987, considerando a fonte do conceito</p><p>de desenvolvimento sustentável no mundo: É o desenvolvimento que atende as</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>21</p><p>necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de</p><p>atender suas próprias necessidades.</p><p>QUESTÃO</p><p>1. (Analista Judiciário do TRF 3. FCC — 2019) (adaptada). O conceito de</p><p>desenvolvimento sustentável, tal como tratado no Relatório Brundtland, elaborado</p><p>pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento criada pela</p><p>Assembleia das Nações Unidas, predica que: se deve satisfazer as necessidades</p><p>presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas</p><p>próprias necessidades.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>Além disso, a Declaração sobre o Meio Ambiente também se tornou fonte</p><p>de inspiração para a instituição e mudanças de marcos legais ambientais dos Países.</p><p>Exemplo: no Brasil, a Declaração sobre o Meio Ambiente inspirou a criação</p><p>da antiga Secretaria Especial do Meio Ambiente, vinculada ao Ministério do Interior</p><p>e aprovada pelo Decreto Federal n.º 73.030/73, primeiro órgão da Administração</p><p>Pública Federal com função específica de promover a conservação do meio</p><p>ambiente e o uso racional dos recursos naturais, razão pela qual é considerado o</p><p>embrião do atual Sisnama.</p><p>A Declaração também se constituiu em fonte de inspiração para a</p><p>aprovação da Lei Federal n.º 6.938/81, que finalmente instituiu o Sistema Nacional</p><p>do Meio Ambiente (SISNAMA), constituído pelo conjunto de órgãos e entidades</p><p>públicas responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental do Brasil,</p><p>tendo como seu órgão central a antiga Secretaria Especial do Meio Ambiente,</p><p>posteriormente convertida no atual Ministério do Meio Ambiente, através da Lei</p><p>Federal n.º 8.490/92.</p><p>1.2. Estrutura do SISNAMA</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>22</p><p>A estrutura do Sisnama é composta pelos órgãos e entidades da União, dos</p><p>Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem como as</p><p>fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da</p><p>qualidade ambiental no Brasil.</p><p>QUESTÃO</p><p>1. (Juiz Federal do TRF3. Cebraspe – 2011). Considerando a Lei n.º</p><p>6.938/1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente e o Sistema</p><p>Nacional do Meio Ambiente, é correto afirmar que o Sistema Nacional do Meio</p><p>Ambiente é constituído pelos órgãos e entidades da União, dos estados, do DF e</p><p>dos municípios, bem como pelas fundações instituídas pelo poder público,</p><p>responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>Assim, todos os órgãos e entidades municipais, estaduais e federais</p><p>destinados à conservação ambiental integram estes sisnama, razão pela qual</p><p>devem atuar de forma coordenada, observando-se as diretrizes emanadas pelo seu</p><p>órgão central e todas as resoluções aprovadas pelo órgão consultivo e deliberativo,</p><p>consoante veremos mais abaixo.</p><p>Trata-se de estrutura funcionalmente particionada, conforme imagem a</p><p>seguir:</p><p>É importante destacar que os órgãos são classificados em categorias bem</p><p>definidas, cada um deles com sua composição e atribuições próprias, conforme se</p><p>observará nos tópicos seguintes.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>23</p><p>QUESTÃO</p><p>2. (Juiz do TJSC. Cebraspe – 2019). O Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina</p><p>(IMA/SC) é o órgão ambiental da esfera estadual catarinense responsável pela</p><p>execução de programas e projetos de proteção ambiental, bem como pelo controle</p><p>e pela fiscalização de atividades potencialmente causadoras de degradação</p><p>ambiental. De acordo com a Lei n.º 6.938/81, o IMA/SC compõe o Sistema Nacional</p><p>do Meio Ambiente (SISNAMA) na qualidade de</p><p>A) órgão superior.</p><p>B) órgão supervisor.</p><p>C) órgão local.</p><p>D) órgão seccional.</p><p>E) órgão consultivo e deliberativo.</p><p>1.2.1. Órgão Superior</p><p>O órgão superior da estrutura do Sisnama é o Conselho de Governo,</p><p>presidido pelo Presidente da República ou, de acordo com sua determinação, pelo</p><p>Vice-Presidente da República, e integrado pelos Ministros de Estado e pelo Chefe</p><p>de Gabinete do Presidente da República, cuja função é assessorar o Presidente na</p><p>formulação da política nacional e diretrizes para a preservação do meio ambiente.</p><p>Pode funcionar de forma plenária ou através de Câmaras temáticas</p><p>instituídas pelo Poder Executivo Federal.</p><p>1.2.2. Órgão Consultivo e Deliberativo</p><p>O órgão consultivo e deliberativo do Sisnama é o Conselho Nacional do</p><p>Meio Ambiente (CONAMA), órgão colegiado que integra a estrutura administrativa</p><p>do Ministério do Meio Ambiente, e que detém a competência normativa para</p><p>aprovar resoluções regulamentares à legislação ambiental de observância</p><p>obrigatória por todos os demais órgãos do Sisnama.</p><p>Ou seja, os órgãos ambientais federais, estaduais, distritais e municipais são</p><p>obrigados a cumprir e respeitar as normas ambientais emanadas pelo Conama. Daí</p><p>porque é o Conama,</p><p>poderá promover livre</p><p>exploração, plantando, construindo, minerando etc., portanto, sendo passível de</p><p>desmatamento lícito, com prévia autorização do órgão competente do SISNAMA</p><p>mediante expedição de Autorização de Supressão Vegetal – ASV.</p><p>QUESTÃO</p><p>28. (Promotor de Justiça do MPRS. 2016) (adaptada). Assinale a alternativa</p><p>que NÃO está de acordo com o disposto na Lei Federal n.º 12.651/2012 do Código</p><p>Florestal.</p><p>A) Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não por</p><p>vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a</p><p>paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de</p><p>fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.</p><p>B) Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse</p><p>urbana com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos</p><p>recursos naturais do imóvel, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos</p><p>ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a</p><p>proteção de fauna silvestre e da flora nativa.</p><p>C) Uso Alternativo do Solo: substituição de vegetação nativa e formações</p><p>sucessoras por outras coberturas do solo, como atividades agropecuárias,</p><p>industriais, de geração e transmissão de energia, de mineração e de transporte,</p><p>assentamentos urbanos ou outras formas de ocupação humana.</p><p>D) Manejo Sustentável: administração da vegetação natural para a obtenção</p><p>de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os mecanismos de</p><p>sustentação do ecossistema objeto do manejo e considerando-se, cumulativa ou</p><p>alternativamente, a utilização de múltiplas espécies madeireiras ou não, de</p><p>múltiplos produtos e subprodutos da flora, bem como a utilização de outros bens e</p><p>serviços.</p><p>E) Área Verde Urbana: espaços, públicos ou privados, com predomínio de</p><p>vegetação, preferencialmente nativa, natural ou recuperada, previstos no Plano</p><p>Diretor, nas Leis de Zoneamento Urbano e Uso do Solo do Município, indisponíveis</p><p>para construção de moradias, destinados aos propósitos de recreação, lazer,</p><p>melhoria da qualidade ambiental urbana, proteção dos recursos hídricos,</p><p>manutenção ou melhoria paisagística, proteção de bens e manifestações culturais.</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>180</p><p>Exemplo: imagina-se a existência de um imóvel rural situado no município</p><p>de Luís Eduardo Magalhães/BA, com área total de 10 (dez) hectares, na qual exista</p><p>uma APP correspondente à um hectare e uma RL também correspondente à um</p><p>hectare. Após a exclusão das áreas relativas à APP e à RL remanescerão 8 (oito)</p><p>hectares que corresponderão à área de uso alternativo do solo. Logo, nesses 8 (oito)</p><p>hectares remanescentes o proprietário do imóvel poderá promover o</p><p>desmatamento lícito da vegetação nativa para a implantação, por exemplo, de</p><p>cultivo de soja, milho, algodão etc.</p><p>Área que possui APP e RL67</p><p>Apesar de ser livre a exploração, a supressão de vegetação nativa em área</p><p>de uso alternativo do solo, pública ou privada, dependerá do cumprimento dos</p><p>seguintes requisitos:</p><p>• CAR: comprovação do registro do imóvel no cadastro ambiental rural –</p><p>CAR;</p><p>• ASV: prévia expedição de Autorização de Supressão Vegetal (ASV), a ser</p><p>emitida pelo órgão estadual competente do SISNAMA, salvo quando a</p><p>supressão for decorrente de procedimento de licenciamento ambiental</p><p>para a implementação de determinada atividade, quando então caberá</p><p>ao próprio órgão licenciador competente do SISNAMA68 (federal,</p><p>estadual, distrital ou municipal) a concessão da autorização de</p><p>supressão;</p><p>67 Fonte: <http://www.ciflorestas.com.br/cartilha/reserva-legal_qual-deve-ser-o-tamanho-da-</p><p>reserva-legal.html>. Acessado em: 20/12/2020.</p><p>68 Art. 13, §2º da Lei Complementar Federal n.º 140/11.</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>181</p><p>• Espécies ameaçadas: a supressão de vegetação que abrigue espécie da</p><p>flora ou da fauna ameaçada de extinção, segundo lista oficial publicada</p><p>pelos órgãos federais, estaduais, distritais ou municipais do SISNAMA,</p><p>ou espécies migratórias, dependerá da adoção de medidas</p><p>compensatórias e mitigadoras que assegurem a conservação da</p><p>espécie;</p><p>• Reposição florestal: as pessoas físicas ou jurídicas que detenham</p><p>autorização para supressão de vegetação nativa – ASV – também são</p><p>obrigadas a promover uma reposição florestal, consoante já estudado.</p><p>QUESTÃO</p><p>29. (Juiz de Direito do TJSP. Vunesp – 2013). A supressão de vegetação nativa</p><p>para uso alternativo do solo depende de</p><p>A) autorização do órgão municipal e cadastramento do imóvel no CAR.</p><p>B) autorização do órgão federal e cadastramento do imóvel no CAR.</p><p>C) autorização do órgão estadual e cadastramento do imóvel no CAR.</p><p>D) domínio exclusivamente privado, autorização do órgão federal e</p><p>cadastramento do imóvel no CAR.</p><p>Especificamente quanto a este último requisito, consoante já estudado,</p><p>trata-se da aplicação prática do princípio ambiental do usuário-pagador, segundo o</p><p>qual aqueles que se utilizam dos recursos naturais, ainda que licitamente, devem</p><p>pagar por sua utilização, haja vista que não são infinitos. Essa ideia fora extraída de</p><p>interpretação evolutiva do princípio 16 da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente</p><p>e Desenvolvimento, aprovada na Conferência das Nações Unidas sobre Meio</p><p>Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) (Eco 92 ou Cúpula da Terra), aliás</p><p>conforme positivado no art. 4º da Lei da PNMA (Lei Federal n.º 6.938/81):</p><p>Art. 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:</p><p>[...]</p><p>VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de</p><p>recuperar e/ou indenizar os danos causados, e ao usuário, de</p><p>contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins</p><p>econômicos.</p><p>Isso porque a supressão da vegetação nativa com base em Autorização de</p><p>Supressão Vegetal (ASV) tem como consequência o desmatamento da área, que se</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>182</p><p>destinará ao uso alternativo do solo — AUAS — para plantações, construções etc.,</p><p>promovendo uma eliminação de toda e qualquer vegetação existente no local. Esse</p><p>é o motivo de se exigir a reposição florestal nesse caso.</p><p>Assim, a reposição florestal deve consistir na compensação do volume de</p><p>matéria-prima extraído de vegetação natural pelo volume de replantio de espécies</p><p>nativas, para geração de estoque ou recuperação de cobertura florestal.</p><p>Exemplo: se determinada pessoa, após a emissão de ASV, promover o</p><p>desmatamento a corte raso de área de uso alternativo do solo equivalente a 80</p><p>(oitenta) hectares, com vegetação nativa esparsa cujo volume equivale a 15</p><p>(quinze) hectares, não necessariamente deverá promover uma reposição florestal</p><p>de 80 (oitenta) hectares, mas sim uma reposição equivalente ao volume da</p><p>vegetação extraída, relativo à 15 (quinze) hectares.</p><p>Na reposição florestal deverão ser priorizados projetos que contemplem a</p><p>utilização de espécies nativas do mesmo bioma de onde ocorreu a supressão da</p><p>vegetação nativa e de deve ser efetivada no Estado-Membro de origem, conforme</p><p>determinações do órgão competente do SISNAMA.</p><p>É por isso que muitas vezes, ao longo das rodovias do Brasil, podemos</p><p>constatar grandes florestas plantadas, sobretudo de eucaliptos, que se destinam à</p><p>reposição florestal obrigatória.</p><p>Floresta de eucaliptos69</p><p>69Fonte:< https://conexaoplaneta.com.br/blog/florestas-do-amapa-correm-risco-de-serem-</p><p>dizimadas-por-plantacoes-de-soja-e-eucalipto/>. Acessado em: 17/01/2023.</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>183</p><p>Observação: somente a supressão de vegetação nativa (natural, não</p><p>plantada pelo homem) é que gerará a obrigação de reposição florestal, daí porque</p><p>eventual desmatamento de florestas plantadas não impõe a reposição.</p><p>É importante ressaltar que o detentor da ASV (dono</p><p>da área rural) fica</p><p>desonerado da obrigação da reposição florestal, desde que tenha sido promovida</p><p>por aquele que comprar e utilizar, como matéria-prima, a madeira e demais</p><p>produtos florestais extraídos da vegetação nativa licitamente desmatada.</p><p>Registre-se que o requerimento de autorização para supressão vegetal</p><p>deve consignar:</p><p>• A localização do imóvel, das APPs, da RL e das AURs, por coordenada</p><p>geográfica, com pelo menos um ponto de amarração do perímetro do</p><p>imóvel: No caso de supressão da vegetação em APPs, não autorizada</p><p>(desmatamento ilícito) e ocorrida após 22 de julho de 2008, é vedada a</p><p>concessão de autorização de supressão vegetal – ASV – para área de uso</p><p>alternativo do solo – AUAS –, enquanto não for efetivamente promovida</p><p>a recomposição da vegetação da APP violada (Regra declarada</p><p>constitucional pelo STF na ADC n.º 42);</p><p>• A reposição ou compensação florestal: Equivalente ao volume de</p><p>madeira e demais produtos que serão extraídos;</p><p>• A comprovação da utilização efetiva e sustentável das áreas que já</p><p>foram convertidas, ou seja, a comprovação de que as áreas desmatadas</p><p>já estão sendo utilizadas para plantação, construção etc.;</p><p>• A destinação da área de uso alternativo a ser desmatada: Para</p><p>plantação, construção etc.</p><p>Por fim, o CFLO proíbe a conversão (desmatamento) de vegetação nativa</p><p>para uso alternativo do solo no imóvel rural que possuir áreas abandonadas.</p><p>Assim, se no imóvel já houver áreas desmatadas não utilizadas para nenhuma</p><p>finalidade, portanto, abandonadas, o órgão ambiental não poderá autorizar novos</p><p>desmatamentos na área de uso alternativo do solo (regra declarada constitucional</p><p>pelo STF na ADC n.º 42).</p><p>RAFAEL ROCHA DEMAIS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 4</p><p>184</p><p>QUESTÃO</p><p>30. (Promotor de Justiça do MPGO. 2019) (adaptada). Segundo o disposto na</p><p>Lei Federal n. 12.651/2012 (Código Florestal), é incorreto afirmar que não é</p><p>permitida a conversão de vegetação nativa para uso alternativo do solo no imóvel</p><p>rural que possuir área abandonada.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>2.3.2. Áreas de Uso Alternativo do Solo e Controle do</p><p>Desmatamento</p><p>O segundo aspecto relevante a ser estudo diz respeito ao controle do</p><p>desmatamento, definido no CFLO.</p><p>Conforme apontado, o desmatamento da vegetação nativa em AUAS só se</p><p>legitima mediante prévia expedição de ASV, observando-se as demais condições</p><p>legais, sob pena de se caracterizar desmatamento ilegal.</p><p>Assim, cabe aos órgãos ambientais do SISNAMA o controle do</p><p>desmatamento ambiental, e o embargo de obras e atividades implementadas</p><p>através de desmatamentos ilícito e uso do solo de forma irregular, como medida</p><p>administrativa voltada a impedir a continuidade do dano ambiental, a propiciar a</p><p>regeneração do meio ambiente e dar viabilidade à recuperação da área degradada.</p><p>Vale ressaltar que o embargo deve restringir-se aos locais onde</p><p>efetivamente ocorreram desmatamentos ilegais, portanto não alcançando as</p><p>atividades de subsistência ou as demais atividades realizadas no imóvel não</p><p>relacionadas com a infração.</p><p>Por fim, consoante já estudado, as informações sobre o imóvel embargado,</p><p>caracterizando o exato local da área embargada e informando em que estágio se</p><p>encontra o respectivo procedimento administrativo, devem ser publicadas,</p><p>inclusive, por meio da internet e no sistema nacional de informações sobre o meio</p><p>ambiente (Sinima), resguardados os dados protegidos pela legislação. O</p><p>interessado poderá solicitar ao órgão ambiental a emissão de certidão em que</p><p>conste a atividade, a obra e a parte da área do imóvel objetos do embargo.</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>185</p><p>SISTEMA NACIONAL E GERENCIAMENTO</p><p>DE RECURSOS HÍDRICOS - SNGRH 5</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>186</p><p>1. RELEMBRANDO O MICROSSISTEMA JURÍDICO DE TUTELA</p><p>AMBIENTAL (MTA)</p><p>Está sendo estudado o Microssistema Jurídico de Tutela Ambiental (MTA),</p><p>que, sob uma ótica mais prática, é basicamente formado por quatro sistemas</p><p>principais:</p><p>Com o adequado estudo do Sistema Nacional do Meio Ambiente</p><p>(SISNAMA) foi possível compreender os seguintes pontos principais:</p><p>• Estrutura: constituída pelo conjunto de órgãos e entidades públicas</p><p>competentes para as ações de preservação, fiscalização e recuperação</p><p>do meio ambiente no Brasil. Foi possível se apreender a composição e</p><p>as atribuições desses órgãos/entidades ambientais (IBAMA, CONAMA</p><p>etc.);</p><p>• Políticas nacionais correlacionadas: deverão ser implementadas, total</p><p>ou parcialmente, pelos órgãos e entidades componentes da estrutura</p><p>do SISNAMA. Foi possível se apreender a Política Nacional do Meio</p><p>Ambiente (PNMA) e outras associadas, estudando-se os:</p><p>• Objetivos: da PNMA, e das demais políticas nacionais ambientais</p><p>associadas, a serem cumpridos, total ou parcialmente, pelos órgãos e</p><p>entidades componentes da estrutura do SISNAMA;</p><p>• Instrumentos: da PNMA, e das demais políticas nacionais ambientais</p><p>associadas, que se constituem em genuínas ferramentas jurídicas</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>187</p><p>disponibilizadas principalmente para os órgãos e entidades</p><p>componentes da estrutura do SISNAMA, para propiciar o cumprimento</p><p>dos objetivos da própria PNMA e das demais políticas ambientais</p><p>associadas.</p><p>Também foi o segundo sistema integrante do MTA: o Sistema Nacional de</p><p>Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), no qual foi possível a compreensão</p><p>dos seguintes pontos principais:</p><p>• Estrutura: constituída pelo conjunto de órgãos e entidades públicas</p><p>competentes para administrar, preservar e fiscalizar as unidades de</p><p>conservação da natureza (parques nacionais, por exemplo) no Brasil. Foi</p><p>possível se apreender a composição e as atribuições desses</p><p>órgãos/entidades ambientais (ICMBIO etc.);</p><p>• Políticas nacionais correlacionadas: deverão ser implementadas, total</p><p>ou parcialmente, pelos órgãos e entidades componentes da estrutura</p><p>do SNUC. Foi possível se apreender a Política Nacional de Unidades de</p><p>Conservação (PNUC) e outras associadas, estudando-se os:</p><p>• Objetivos: da PNUC, e do próprio SNUC, a serem cumpridos, total ou</p><p>parcialmente, pelos órgãos e entidades componentes da estrutura do</p><p>SNUC;</p><p>• Instrumentos: instituídos pela Lei da PNUC, e pelas demais políticas</p><p>ambientais associadas (pelo código florestal, por exemplo), que se</p><p>constituem em genuínas ferramentas jurídicas disponibilizadas</p><p>principalmente para os órgãos e entidades componentes da estrutura</p><p>do SNUC, para propiciar o cumprimento dos seus objetivos e da PNUC.</p><p>Além disso, também foram estudados os Demais Espaços Territoriais</p><p>Especialmente Protegidos (DETEPs) (APPs, RLs, AURs, AUAS etc.) previstos na Lei</p><p>Federal n.º 12.651/12 (novo código florestal), mas que também seguem as mesmas</p><p>regras gerais para criação, alteração, supressão e extinção dos espaços territoriais</p><p>protegidos previstos na Lei do SNUC, com as especificidades definidas pelo CFLO.</p><p>Agora será analisado o terceiro sistema integrante do MTA — o Sistema</p><p>Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGRH), para se compreender</p><p>os seguintes pontos principais:</p><p>• Estrutura: constituída pelo conjunto de órgãos e entidades públicas</p><p>competentes para a preservar e fiscalizar as águas no Brasil. Será</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>188</p><p>possível se apreender a composição e as atribuições desses</p><p>órgãos/entidades ambientais (Agência Nacional de Águas e Saneamento</p><p>Básico (ANA), CNRH, Comitês de Bacias Hidrográficas etc.);</p><p>• Políticas nacionais correlacionadas: deverão ser implementadas, total</p><p>ou parcialmente, pelos órgãos e entidades componentes da estrutura</p><p>do SINGRH. Será possível se apreender a Política Nacional de Recursos</p><p>Hídricos (PNRH) e outras associadas, estudando-se os:</p><p>• Objetivos: da PNRH, e das demais políticas</p><p>nacionais ambientais</p><p>associadas, a serem cumpridos, total ou parcialmente, pelos órgãos e</p><p>entidades componentes da estrutura do SINGRH;</p><p>• Instrumentos: da PNRH, e das demais políticas nacionais ambientais</p><p>associadas, que se constituem em genuínas ferramentas jurídicas</p><p>disponibilizadas principalmente para os órgãos e entidades</p><p>componentes da estrutura do SINGRH, para propiciar o cumprimento</p><p>dos objetivos da própria PNRH e das demais políticas ambientais</p><p>associadas.</p><p>2. SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS</p><p>HÍDRICOS</p><p>2.1. Criação do SINGRH</p><p>A gestão, classificação e uso das águas foram originalmente disciplinados</p><p>pelo nosso código de águas, aprovado pelo vetusto Decreto Federal n.º 24.643/34,</p><p>bem como pelo antigo código de águas minerais, aprovado pela Decreto-Lei n.º</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>189</p><p>7.841/45, em grande parte não recepcionados pela Constituição da República atual</p><p>e, também em grande parte, derrogados pela Lei Federal n.º 9.433/97 e por outras</p><p>leis mais recentes, razão pela qual não serão objeto de nosso estudo.</p><p>O uso racional dos recursos hídricos foi originalmente previsto como um</p><p>dos princípios (diretrizes) da Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA – definida</p><p>na Lei Federal n.º 6.938/81 já estudada:</p><p>Art. 2º. A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo</p><p>a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental</p><p>propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao</p><p>desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança</p><p>nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos</p><p>os seguintes princípios:</p><p>[...]</p><p>II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;</p><p>Posteriormente, a Constituição da República de 1988 atribuiu à União a</p><p>competência para a instituir o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos</p><p>Hídricos (SINGRH), atribuindo também a este ente a competência privativa para</p><p>legislar sobre águas:</p><p>Art. 21. Compete à União:</p><p>[...]</p><p>XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos</p><p>hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso.</p><p>Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:</p><p>[...]</p><p>IV - águas, energia, informática, telecomunicações e</p><p>radiodifusão;</p><p>Além disso, a propriedade das águas também restou disciplinada na</p><p>Constituição da República de 1988:</p><p>Art. 20. São bens da União:</p><p>[...]</p><p>III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos</p><p>de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de</p><p>limites com outros países, ou se estendam a território</p><p>estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos</p><p>marginais e as praias fluviais;</p><p>Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados: I - as águas</p><p>superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>190</p><p>depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as</p><p>decorrentes de obras da União;</p><p>Apesar disso, ainda restava pendente sua regulamentação</p><p>infraconstitucional. Assim, somente em 14 de dezembro de 1991, poucos meses</p><p>antes do início da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e</p><p>Desenvolvimento — CNUMAD (Eco 92 ou Cúpula da Terra) –, ocorrida no Rio de</p><p>Janeiro/RJ, o Presidente da República encaminhou à Câmara dos Deputados o</p><p>projeto de Lei n.º 2.249/91, para a instituição e regulamentação do Sistema</p><p>Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, o SINGRH, em cumprimento ao</p><p>desejo do Constituinte de 1988.</p><p>O projeto visava a assegurar o uso integrado e harmônico dos recursos</p><p>hídricos, considerando a sua crescente importância estratégica para o País, bem</p><p>como a eliminar ou, ao menos, minimizar os conflitos existentes quanto ao seu</p><p>aproveitamento, o que demandava a criação deste sistema nacional.</p><p>A redação final do projeto foi aprovada pelo grupo de trabalho instituído</p><p>pelo Decreto Federal n.º 99.400/90, propondo medidas visando ao</p><p>estabelecimento da Política Nacional de Recursos Hídricos e a instituição do</p><p>Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.</p><p>Assim, após longos 6 (seis) anos de tramitação no Congresso Nacional,</p><p>finalmente foi aprovada e sancionada a Lei Federal n.º 9.433/97, que instituiu o</p><p>Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGRH) e respectiva</p><p>Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH).</p><p>Registre-se, por fim, que a Lei Federal n.º 9.433/97 incorporou diversos</p><p>princípios básicos para gestão da água previstos na Declaração de Dublin, aprovada</p><p>na Conferência Internacional sobre Água e Meio Ambiente realizada em Dublin, na</p><p>Irlanda, em janeiro de 1992.</p><p>2.2. Estrutura do SINGRH</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>191</p><p>O Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGRH) é</p><p>composto pelo conjunto de órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito</p><p>Federal e dos Municípios responsáveis pela coordenação e gestão integrada das</p><p>águas do Brasil.</p><p>A estrutura do SINGRH tem a seguinte composição:</p><p>Conforme será visto, são esses os órgãos e entidades que promovem a</p><p>administração de todas as águas federais e estaduais do Brasil, para manter sua</p><p>disponibilidade, sua qualidade e seu uso múltiplo.</p><p>Assim, todos os órgãos e entidades municipais, distritais, estaduais e</p><p>federais com função de gestão dos recursos hídricos integram a estrutura deste</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>192</p><p>Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGRH), razão pela qual</p><p>devem atuar de forma harmônica para:</p><p>• Coordenar a gestão integrada das águas;</p><p>• Arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos</p><p>hídricos;</p><p>• Implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos;</p><p>• Planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos</p><p>recursos hídricos;</p><p>• Promover a cobrança pelo uso de recursos hídricos.</p><p>Por isso, a partir de agora, será abordada a composição e as atribuições de</p><p>cada um desses órgãos e entidades do SINGRH, nos tópicos seguintes.</p><p>2.2.1. Conselho Nacional de Recursos Hídricos</p><p>O Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) se constitui em órgão</p><p>colegiado, consultivo e deliberativo, que atualmente integra a estrutura</p><p>administrativa do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR)70 e que detém a</p><p>competência normativa para estabelecer diretrizes complementares para a</p><p>implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), de observância</p><p>obrigatória por todos os demais órgãos do SINGRH.</p><p>Exemplo: apesar de se tratar de autarquia estadual, o Instituto do Meio</p><p>Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (INEMA) está obrigado a seguir as diretrizes</p><p>e critérios gerais para fixação de usos de recursos hídricos considerados</p><p>insignificantes estabelecidos na Resolução n.º 184/2016 do CNRH, haja vista que os</p><p>atos normativos do Conselho Nacional são de observância obrigatória por todos os</p><p>demais órgãos e entidades do SINGRH, ainda que estaduais ou municipais.</p><p>Daí porque é o CNRH, sem dúvida, um dos órgãos mais importantes da</p><p>estrutura do SINGRH.</p><p>Logo, diante das relevantíssimas funções exercidas pelo CNRH, é</p><p>importante se perquirir sobre sua composição.</p><p>70 Art. 30, inciso IV da Lei Federal n.º 13.844/19.</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>193</p><p>Ele é presidido pelo Ministro de Estado do Desenvolvimento Regional e</p><p>conta com a composição definida pelo Decreto Federal n.º 10.000/19 na seguinte</p><p>proporção (mandato de quatro anos)</p><p>• 19 (dezenove) representantes dos diversos Ministérios do Poder</p><p>Executivo Federal;</p><p>• 9 (nove) representantes indicados pelos Conselhos Estaduais de</p><p>Recursos Hídricos;</p><p>• 6 (seis) representantes dos usuários71 dos recursos hídricos;</p><p>• 3 (três) representantes das Organizações Civis de recursos hídricos72:</p><p>São os consórcios ou associações de usuários</p><p>de recursos hídricos,</p><p>organizações técnicas e de ensino e pesquisa em recursos hídricos,</p><p>organizações não governamentais da área de recursos hídricos ou</p><p>outras reconhecidas pelos Conselhos de Recursos Hídricos.</p><p>O número de representantes do Poder Executivo Federal não poderá</p><p>exceder à metade mais um do total dos membros do Conselho Nacional de</p><p>Recursos Hídricos, sendo certo que seu Secretário-Executivo será o titular do órgão</p><p>integrante da estrutura do Ministério do Desenvolvimento Regional, responsável</p><p>pela gestão dos recursos hídricos (Departamento de Recursos Hídricos e de</p><p>Revitalização de Bacias Hidrográficas).</p><p>Além de exercer a importante função normativa do sistema, quanto aos</p><p>recursos hídricos, o CNRH ainda exerce as seguintes atribuições:</p><p>• Promover a articulação do planejamento de recursos hídricos com os</p><p>planejamentos nacional, regional, estaduais e dos setores usuários;</p><p>• Arbitrar, em última instância administrativa, os conflitos existentes</p><p>entre Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos;</p><p>• Deliberar sobre os projetos de aproveitamento de recursos hídricos</p><p>cujas repercussões extrapolem o âmbito dos Estados em que serão</p><p>implantados;</p><p>71 A Resolução n.º 126/11 — CNRH — instituiu o Cadastro de Usuários de Recursos Hídricos (COREH)</p><p>para fins de habilitação para atuação no Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH).</p><p>72 A Resolução n.º 106/10 — CNRH — instituiu o Cadastro de Organizações Civis de Recursos</p><p>Hídricos (COREH) para fins de conhecimento da demanda pelo uso da água.</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>194</p><p>• Deliberar sobre as questões que lhe tenham sido encaminhadas pelos</p><p>Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos ou pelos Comitês de Bacia</p><p>Hidrográfica;</p><p>• Analisar propostas de alteração da legislação pertinente a recursos</p><p>hídricos e à Política Nacional de Recursos Hídricos;</p><p>• Estabelecer diretrizes complementares para implementação da Política</p><p>Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), aplicação de seus instrumentos</p><p>e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos</p><p>(SINGRH);</p><p>• Aprovar propostas de instituição dos Comitês de Bacia Hidrográfica e</p><p>estabelecer critérios gerais para a elaboração de seus regimentos: Após</p><p>a aprovação da proposta de decreto de criação pelo CNRH, a instituição</p><p>de Comitês de Bacia Hidrográfica em rios de domínio da União será</p><p>efetivada por ato do Presidente da República;</p><p>• Acompanhar a execução e aprovar o Plano Nacional de Recursos</p><p>Hídricos e determinar as providências necessárias ao cumprimento de</p><p>suas metas;</p><p>• Estabelecer critérios gerais para a outorga de direitos de uso de</p><p>recursos hídricos e para a cobrança por seu uso.</p><p>Por fim, vale destacar que a Secretária-Executiva deve prestar apoio</p><p>administrativo, técnico e financeiro ao CNRH e instruir os expedientes originários</p><p>dos Conselhos Estaduais e dos Comitês de Bacia Hidrográficas, além de elaborar seu</p><p>programa de trabalho e respectiva proposta orçamentária anual a ser submetida à</p><p>aprovação do CNRH.</p><p>Portanto, o CNRH consiste em um dos órgãos mais relevantes do SINGRH.</p><p>2.2.2. Agência Nacional de Águas e Saneamento</p><p>Básico</p><p>A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) consiste em</p><p>autarquia federal sob regime especial, com certa autonomia administrativa e</p><p>financeira, vinculada atualmente ao Ministério do Desenvolvimento Regional</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>195</p><p>(MDR)73 e responsável pela implementação, no âmbito de suas competências, da</p><p>Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH).</p><p>Ela é dirigida por uma Diretoria Colegiada composta por 5 (cinco) membros</p><p>nomeados pelo Presidente da República, após aprovação do Senado Federal, para</p><p>mandatos não coincidentes de 5 (cinco) anos, vedada a recondução, sendo um</p><p>deles o Diretor-Presidente, e terá em sua estrutura uma Procuradoria (da</p><p>Procuradoria-Geral Federal, vinculada à Advocacia-Geral da União), uma Ouvidoria</p><p>e uma Auditoria.</p><p>A atuação da ANA obedecerá aos fundamentos, objetivos, diretrizes e</p><p>instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e será desenvolvida</p><p>em articulação com órgãos e entidades públicas e privadas integrantes do Sistema</p><p>Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGRH).</p><p>Registre-se, por fim, que a ANA poderá delegar ou atribuir a agências de</p><p>água ou de bacia hidrográfica a execução de atividades de sua competência.</p><p>2.2.3. Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos</p><p>Os Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos (CONERH) devem ser</p><p>instituídos pelos respectivos Estados-Membros, com a composição e as atribuições</p><p>definidas pela legislação local.</p><p>Da Lei Federal n.º 9.433/97 é possível se extrair as seguintes atribuições</p><p>mínimas dos Conselhos Estaduais:</p><p>• Instância recursal de decisões dos Comitês de Bacia Hidrográfica</p><p>estaduais;</p><p>• Indicar representantes para o CNRH;</p><p>• Definir captações e lançamentos insignificantes em águas estaduais;</p><p>• Autorizar a criação de agências de águas em bacias estaduais;</p><p>• Demais atribuições fixadas pela legislação estadual.</p><p>Portanto, as atribuições desses Conselhos Estaduais serão definidas pela</p><p>legislação estadual.</p><p>73 Art. 66 da Lei Federal n.º 13.844/19.</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>196</p><p>2.2.4. Comitês de Bacias Hidrográficas</p><p>Os Comitês de Bacia Hidrográfica são órgãos colegiados com atribuições</p><p>normativos, deliberativas e consultivas sobre a respectiva bacia hidrográfica74 cuja</p><p>criação dependerá de aprovação do respectivo Conselho de Recursos Hídricos a</p><p>quem deve se reportar diretamente.</p><p>Esses Comitês terão como área de atuação:</p><p>• A totalidade de uma bacia hidrográfica;</p><p>• A sub-bacia hidrográfica de tributário do curso de água principal da</p><p>bacia, ou de tributário desse tributário;</p><p>• O grupo de bacias ou sub-bacias hidrográficas contíguas.</p><p>Relembre-se que a bacia hidrográfica ou bacia de drenagem é a área por</p><p>onde a água da chuva escorre para um rio principal e seus afluentes, em razão do</p><p>relevo e da geografia local. A geografia da região da bacia conduz a água por</p><p>riachos e rios menores que seguirão para um rio principal situado no ponto mais</p><p>baixo do relevo.</p><p>Daí porque a bacia hidrográfica é formada, muitas vezes, por rios federais</p><p>e rios pertencentes a mais de um Estado-Membro. Assim, é importante destacar</p><p>que somente os Comitês de Bacias Hidrográficas, cujos cursos de água principais</p><p>sejam de domínio da União, serão vinculados ao Conselho Nacional de Recursos</p><p>Hídricos.</p><p>A Resolução n.º 32/03 – CNRH – instituiu a Divisão Hidrográfica Nacional</p><p>para estabelecer uma base organizacional que contemple bacias hidrográficas</p><p>como unidade do gerenciamento de recursos hídricos para a implementação da</p><p>Política Nacional de Recursos Hídricos e do Sistema Nacional de Gerenciamento de</p><p>Recursos Hídricos. Considera-se como região hidrográfica o espaço territorial</p><p>brasileiro compreendido por uma bacia, grupo de bacias ou sub-bacias</p><p>hidrográficas contíguas com características naturais, sociais e econômicas</p><p>homogêneas ou similares, com vistas a orientar o planejamento e gerenciamento</p><p>dos recursos hídricos:</p><p>74 Resolução n.º 5/00 — CNRH</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>197</p><p>Divisões das bacias hidrográficas nacionais (colocar rodapé)</p><p>Os Comitês de Bacia Hidrográfica possuem a seguinte composição:</p><p>• Representantes da União: em bacias compostas por rios fronteiriços e</p><p>transfronteiriços de gestão compartilhada a representação da União</p><p>deverá incluir um representante do Ministério da Relações Exteriores.</p><p>A participação da União nos Comitês de Bacia Hidrográfica de atuação</p><p>restrita a rios estaduais dar-se-á na forma estabelecida nos respectivos</p><p>regimentos;</p><p>• Representantes dos Estados e do Distrito Federal em cujos territórios se</p><p>situem,</p><p>ainda que parcialmente, suas respectivas áreas de atuação;</p><p>• Representantes dos Municípios situados, no todo ou em parte, em sua</p><p>área de atuação;</p><p>• Representantes dos usuários das águas de sua área de atuação;</p><p>• Representantes das entidades civis de recursos hídricos com atuação</p><p>comprovada na bacia;</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>198</p><p>• Representantes da Fundação Nacional do Índio – FUNAI – (como parte</p><p>da representação da União) e das comunidades indígenas ali residentes</p><p>ou com interesse na bacia, nos Comitês cujos territórios das bacias</p><p>abranjam terras indígenas.</p><p>QUESTÃO</p><p>31. (Procurador do Estado da PGE/BA. Cebraspe – 2014). Os comitês de bacia</p><p>hidrográfica são constituídos por usuários das águas e por entidades civis de</p><p>recursos hídricos com atuação comprovada na bacia, entre outros membros,</p><p>conforme dispõe a Lei n.º 9.433/1997.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>É importante destacar que os Comitês de Bacia Hidrográfica serão dirigidos</p><p>por um Presidente e um Secretário eleitos por seus membros.</p><p>Registre-se, ainda, que o número de representantes de cada setor e os</p><p>critérios para sua indicação serão estabelecidos nos regimentos dos comitês,</p><p>limitada a representação dos Poderes Executivos da União, Estados, Distrito Federal</p><p>e Municípios à metade do total de membros.</p><p>As competências dos Comitês de Bacia estão definidas na própria Lei</p><p>Federal n.º 9.433/97:</p><p>• Promover o debate das questões relacionadas a recursos hídricos e</p><p>articular a atuação das entidades intervenientes;</p><p>• Arbitrar, em primeira instância administrativa, os conflitos</p><p>relacionados aos recursos hídricos;</p><p>• Aprovar o Plano de Recursos Hídricos da bacia;</p><p>• Acompanhar a execução do Plano de Recursos Hídricos da bacia e</p><p>sugerir as providências necessárias ao cumprimento de suas metas;</p><p>• Propor ao Conselho Nacional e aos Conselhos Estaduais de Recursos</p><p>Hídricos as acumulações, derivações, captações e lançamentos de pouca</p><p>expressão, para efeito de isenção da obrigatoriedade de outorga de</p><p>direitos de uso de recursos hídricos, de acordo com os domínios destes;</p><p>• Estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos</p><p>e sugerir os valores a serem cobrados;</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>199</p><p>• Estabelecer critérios e promover o rateio de custo das obras de uso</p><p>múltiplo, de interesse comum ou coletivo.</p><p>Por fim, é relevante destacar que, das decisões dos Comitês de Bacia</p><p>Hidrográfica75 caberá recurso ao Conselho Nacional ou aos Conselhos Estaduais de</p><p>Recursos Hídricos, de acordo com sua esfera de competência.</p><p>QUESTÃO</p><p>32. (Juiz Federal do TRF5. Cebraspe – 2017).</p><p>Os comitês de bacias hidrográficas são</p><p>A) competentes para implantar e gerir o Sistema Nacional de Informações</p><p>sobre Segurança de Barragens.</p><p>B) competentes para outorgar o direito de uso de recursos hídricos em corpos</p><p>de água de domínio da União, mediante permissão.</p><p>C) incompetentes para aprovar o Plano de Recursos Hídricos da bacia.</p><p>D) incompetentes para arbitrar administrativamente conflitos relacionados a</p><p>recursos hídricos.</p><p>E) incompetentes para o exercício do poder de polícia.</p><p>2.2.5. Órgãos dos Poderes Públicos Federal,</p><p>Estaduais, do Distrito Federal e Municipais de</p><p>Gestão de Recursos Hídricos</p><p>Todos os órgãos e entidades estaduais, distritais e municipais cujas</p><p>competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos também integram</p><p>o SINGRH, razão pela qual também devem se submeter às normas emanadas do</p><p>Conselho Nacional de Recursos Hídricos.</p><p>2.2.6. Agências de Água</p><p>As Agências de Água são órgãos que exercem as funções administrativas de</p><p>secretaria-executiva do respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica</p><p>cuja criação dependerá de aprovação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos</p><p>75 Os Comitês de Bacia Hidrográfica cujo curso de água principal seja de domínio da União serão</p><p>vinculados ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos, nos termos do art. 1º, §2º da Resolução n.º</p><p>05/00 — CNRH.</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>200</p><p>ou dos respectivos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, mediante solicitação</p><p>de um ou mais Comitês de Bacia Hidrográfica.</p><p>Portanto, são órgãos que se reportam diretamente aos Comitês de Bacia</p><p>Hidrográfica. Sua criação depende da comprovação de viabilidade financeira</p><p>assegurada pela cobrança do uso dos recursos hídricos em sua área de atuação, e</p><p>da prévia existência do respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica que</p><p>serão secretariados.</p><p>Consoante apontado no art. 44 da Lei Federal n.º 9.433/97, compete às</p><p>Agências de Água:</p><p>• Manter balanço atualizado da disponibilidade de recursos hídricos em</p><p>sua área de atuação;</p><p>• Manter o cadastro de usuários de recursos hídricos;</p><p>• Efetuar, mediante delegação do outorgante, a cobrança pelo uso de</p><p>recursos hídricos;</p><p>• Analisar e emitir pareceres sobre os projetos e obras a serem</p><p>financiados com recursos gerados pela cobrança pelo uso de Recursos</p><p>Hídricos e encaminhá-los à instituição financeira responsável pela</p><p>administração desses recursos;</p><p>• Acompanhar a administração financeira dos recursos arrecadados com</p><p>a cobrança pelo uso de recursos hídricos em sua área de atuação;</p><p>• Gerir o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos em sua área de</p><p>atuação;</p><p>• Celebrar convênios e contratar financiamentos e serviços para a</p><p>execução de suas competências;</p><p>• Elaborar a sua proposta orçamentária e submetê-la à apreciação do</p><p>respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica;</p><p>• Promover os estudos necessários para a gestão dos recursos hídricos</p><p>em sua área de atuação;</p><p>• Elaborar o Plano de Recursos Hídricos para apreciação do respectivo</p><p>Comitê de Bacia Hidrográfica;</p><p>• Propor ao respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica:</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>201</p><p>a) o enquadramento dos corpos de água nas classes de uso, para</p><p>encaminhamento ao respectivo Conselho Nacional ou Conselhos</p><p>Estaduais de Recursos Hídricos, de acordo com o domínio destes;</p><p>b) os valores a serem cobrados pelo uso de recursos hídricos;</p><p>c) o plano de aplicação dos recursos arrecadados com a cobrança pelo</p><p>uso de recursos hídricos;</p><p>d) o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou</p><p>coletivo.</p><p>Por fim, destaca-se que, enquanto não estiverem constituídas as Agências</p><p>de Água, o Conselho Nacional de Recursos Hídricos e os Conselhos Estaduais de</p><p>Recursos Hídricos poderão delegar o exercício das funções de competência das</p><p>Agências às organizações civis de recursos hídricos, por prazo determinado.77</p><p>2.3. Política Nacional de Recursos Hídricos</p><p>A Política Nacional de Recursos Hídricos – PNRH – foi instituída pela Lei</p><p>Federal n.º 9.433/97 com as finalidades gerais de assegurar o uso integrado e</p><p>harmônico dos recursos hídricos, considerando a sua crescente importância</p><p>estratégica para o País, e de eliminar ou, ao menos, minimizar os conflitos</p><p>existentes quanto ao seu aproveitamento.</p><p>77 Exemplo: Resolução n.º 38/04 — CNRH — que delegou atribuições que seriam da agência de água</p><p>da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul à Associação Pró-Gestão das Águas da Bacia Hidrográfica</p><p>do Rio Paraíba do Sul, pelo prazo de 2 anos.</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>202</p><p>Ela deve ser implementada pelos órgãos e entidades que compõem a</p><p>estrutura do SINGRH, e se baseia em relevantes fundamentos:</p><p>O primeiro fundamento da PNRH refere-se à dominialidade das águas, que</p><p>são totalmente públicas desde a Constituição da República de 1988. A água,</p><p>portanto, é um bem de domínio público, partilhado entre a União e os Estados-</p><p>Membros, nos termos da Constituição da República:</p><p>Art. 20. São bens da União:</p><p>[...]</p><p>III - os lagos, rios e quaisquer correntes</p><p>de água em terrenos</p><p>de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de</p><p>limites com outros países, ou se estendam a território</p><p>estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos</p><p>marginais e as praias fluviais;</p><p>Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados: I - as águas</p><p>superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em</p><p>depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as</p><p>decorrentes de obras da União;</p><p>Deveras, os rios, lagos e lagoas são bens públicos desde a Constituição da</p><p>República de 1934, nos termos do seu art. 20, incisos I e II, e do seu art. 21, inciso</p><p>I, c/c art. 29 do Decreto n.º 24.643/34 (código de águas). Contudo, somente com a</p><p>Constituição da República atual houve a expressa publicização das águas</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>203</p><p>subterrâneas (aquíferos), das nascentes (águas emergentes) e das águas em</p><p>depósito.</p><p>Registre-se que os Municípios não possuem domínio sobre as águas</p><p>nacionais, que são de propriedade da União e dos Estados-Membros, consoante</p><p>apontado acima.</p><p>É importante ressaltar que pertencem à União os potenciais de energia</p><p>hidráulica (gerada por usinas hidrelétricas), que se destaca da propriedade das</p><p>águas em si, ainda que situados em rios estaduais, nos termos do art. 20 da</p><p>Constituição da República:</p><p>Art. 20. São bens da União:</p><p>[...]</p><p>VIII - os potenciais de energia hidráulica;</p><p>Daí porque compete à União a concessão de potenciais de energia</p><p>hidráulicas para geração de energia elétrica em qualquer curso d’água do Brasil,</p><p>ainda que de propriedade dos Estados-Membros.</p><p>O segundo fundamento da PNRH refere-se à água como recurso natural</p><p>limitado e dotado de valor econômico. Logo, em se tratando de recurso limitado,</p><p>seu uso deve ser racional de modo a manter o nível de sua disponibilidade para as</p><p>atuais e futuras gerações. Daí porque também deve ser dotada de valor econômico,</p><p>pois isso seguramente induzirá o uso sem desperdícios.</p><p>Lembremos aqui que apenas 2,5% da água existente na Terra é doce, e</p><p>somente cerca de 0,7% está disponível para o abastecimento das cidades e</p><p>atendimento dos animais.78</p><p>Portanto, com base neste importante fundamento, a PNRH deve promover</p><p>a conscientização da população sobre a necessidade do uso eficiente dos recursos</p><p>hídricos, e propiciar a efetiva cobrança pelo seu uso, conforme veremos mais à</p><p>frente.</p><p>O terceiro fundamento da PNRH refere-se aos usos prioritários dos recursos</p><p>hídricos em casos de escassez, quais sejam: O consumo humano e a dessedentação</p><p>de animais (saciar a sede dos animais).</p><p>78 Fonte: <https://conselhonacionaldaagua.weebly.com/aacutegua-no-planeta-terra.html>.</p><p>Acessado em: 17/01/2023.</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>204</p><p>Assim, a PNRH deve ser implementada de tal forma que garanta o uso</p><p>prioritário das águas para consumo humano e dessedentação de animais, se</p><p>constatada situação de escassez de água.</p><p>Daí porque, nesses casos (escassez), os demais usos dos recursos hídricos</p><p>destinados a contemplar atividades industriais, de irrigação, de navegabilidade, de</p><p>geração de energia elétrica etc., podem ser suspensos para garantir os usos</p><p>prioritários (consumo humano e dessedentação de animais).</p><p>QUESTÃO</p><p>33. (Promotor de Justiça do MPSC. Consulplan – 2016).</p><p>A Lei Federal n. 9.433/1997, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos,</p><p>prevê o uso prioritário das águas para fins energéticos.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>O quarto fundamento da PNRH estabelece que a gestão dos recursos</p><p>hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas, ou seja, deve</p><p>propiciar os diversos usos das águas para o consumo humano, para saciar os</p><p>animais, para atender a demanda do setor industrial, para as irrigações do setor</p><p>agrícola, para usos recreativos, para a navegabilidade etc.</p><p>QUESTÃO</p><p>34. (Procurador do Estado da PGE/AM. Cebraspe – 2016). No que diz respeito</p><p>à PNRH, à proteção da vegetação nativa (Lei n.º 12.651/2012) e à gestão de</p><p>florestas públicas (Lei n.º 11.284/2006), julgue o item que se segue. Conforme os</p><p>fundamentos da PNRH, a gestão de tais recursos deve sempre proporcionar o uso</p><p>múltiplo das águas.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>Demais disso, o quinto fundamento da PNRH refere-se à bacia hidrográfica</p><p>como unidade territorial básica para implementação desta Política Nacional e</p><p>atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos – SINGRH.</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>205</p><p>Logo, os Municípios não são considerados unidade territorial básica para a</p><p>implementação da PNRH, e sim a bacia hidrográfica.</p><p>QUESTÃO</p><p>35. (Promotor de Justiça do MPSC. Consulplan – 2019). Dentre os</p><p>fundamentos em que a Política Nacional de Recursos Hídricos se baseia, está</p><p>definida a bacia hidrográfica como a unidade territorial para implementação da</p><p>Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de</p><p>Gerenciamento de Recursos Hídricos.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>Relembre-se que a bacia hidrográfica ou bacia de drenagem é a área por</p><p>onde a água da chuva escorre para um rio principal e seus afluentes, em razão do</p><p>relevo e da geografia local. A geografia da região da bacia conduz a água por riachos</p><p>e rios menores que seguirão para um rio principal situado no ponto mais baixo do</p><p>relevo.</p><p>A gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a</p><p>participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades, sendo este o</p><p>último fundamento da PNRH. É exatamente por isso que os órgãos colegiados</p><p>(Conselhos de Recursos Hídricos, Comitês de Bacia etc.) são compostos por</p><p>representantes do Poder Público, dos usuários e de organizações civis de recursos</p><p>hídricos, conforme já estudamos na estrutura do SINGRH.</p><p>Assim, na implementação da PNRH e considerando os fundamentos</p><p>apontados acima, compete ao Poder Executivo federal:</p><p>• Tomar as providências necessárias à implementação e ao</p><p>funcionamento do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos</p><p>Hídricos – SINGRH;</p><p>• Outorgar os direitos de uso de recursos hídricos, e regulamentar e</p><p>fiscalizar os usos, na sua esfera de competência: Em rios federais;</p><p>• Implantar e gerir o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos, em</p><p>âmbito nacional;</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>206</p><p>• Promover a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão</p><p>ambiental.</p><p>Aos Poderes Executivos estaduais e do Distrito Federal, na implementação</p><p>da PNRH em suas respectivas esferas de competência e à semelhança do que ocorre</p><p>com o Poder Executivo Federal, compete:</p><p>• Outorgar os direitos de uso de recursos hídricos e regulamentar e</p><p>fiscalizar os seus usos: Em rios estaduais;</p><p>• Realizar o controle técnico das obras de oferta hídrica;</p><p>• Implantar e gerir o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos, em</p><p>âmbito estadual e do Distrito Federal;</p><p>• Promover a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão</p><p>ambiental.</p><p>Vale ressaltar que os Municípios também participam da implementação</p><p>da PNRH promovendo, com os Poderes Executivos estaduais, a integração das</p><p>políticas locais de saneamento básico, de uso, ocupação e conservação do solo e</p><p>de meio ambiente com as políticas federal e estaduais de recursos hídricos.</p><p>Logo, os Municípios deverão integrar suas políticas urbanas de saneamento</p><p>básico, de ocupação do solo (plano diretor) e de meio ambiente às políticas federal</p><p>e estaduais de uso da água.</p><p>Em conclusão, é importante ressaltar que devem ser observadas as</p><p>seguintes diretrizes gerais de ação para a implementação da PNRH:</p><p>• A gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos</p><p>aspectos de quantidade e qualidade;</p><p>• A adequação da gestão de recursos hídricos às diversidades físicas,</p><p>bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais das diversas</p><p>regiões</p><p>do País;</p><p>• A integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental;</p><p>• A articulação do planejamento de recursos hídricos com o dos setores</p><p>usuários e com os planejamentos regional, estadual e nacional;</p><p>• A articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso do solo;</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>207</p><p>• A integração da gestão das bacias hidrográficas com a dos sistemas</p><p>estuarinos e zonas costeiras.</p><p>Por fim, a União deve se articular com os Estados-Membros para o</p><p>gerenciamento dos recursos hídricos de interesse comum.</p><p>2.4. Objetivos</p><p>Os órgãos e entidades que compõem a estrutura do SINGRH devem</p><p>implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos – PNRH –, respeitando seus</p><p>fundamentos e suas diretrizes gerais de ação, para a consecução dos 4 (quatro)</p><p>objetivos elegidos pelo art. 2º da Lei Federal n.º 9.433/97, consistentes em:</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>208</p><p>O primeiro objetivo da PNRH visa a assegurar à atual e às futuras gerações</p><p>a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos</p><p>respectivos usos, razão pela qual os órgãos da estrutura do SINGRH devem adotar</p><p>todas as medidas de conscientização, fiscalização e controle dos recursos hídricos</p><p>previstas na Lei Federal n.º 9.433/97 para garantir níveis permanentes de águas</p><p>com qualidade suficiente para os diversos usos.</p><p>Trata-se do objetivo fundamental da PNRH, razão pela qual o Constituinte</p><p>originário determinou a instituição do SINGRH.</p><p>Daí porque também se constitui em objetivo da PNRH a prevenção e a</p><p>defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do</p><p>uso inadequado dos recursos naturais, com o propósito de manter a perene</p><p>disponibilidade dos recursos hídricos a longíssimo prazo para atender as demandas</p><p>da sociedade e dos animais, mesmo diante de eventos hidrológicos críticos (secas</p><p>prolongadas etc.).</p><p>Também foi por isso que a Lei Federal n.º 13.501/17 incluiu entre os</p><p>objetivos da PNRH o incentivo e a promoção da captação, da preservação e do</p><p>aproveitamento de águas pluviais, de modo a fomentar e financiar ações que</p><p>propiciem às pessoas o depósito das águas das chuvas, para diminuir a pressão de</p><p>demanda das águas dos rios, lagos, lagoas e aquíferos.</p><p>Por fim, a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo</p><p>o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável é também</p><p>objetivo da PNRH, novamente com o propósito de manter a disponibilidade da</p><p>água de forma permanente, inclusive para a navegação.</p><p>2.5. Instrumentos</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>209</p><p>Consoante vimos, os órgãos e entidades que compõem a estrutura do</p><p>SINGRH devem implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos – PNRH – e</p><p>cumprir seus objetivos.</p><p>Para isso, esses órgãos do SINGRH deverão se utilizar do conjunto de</p><p>instrumentos ambientais que foram disponibilizados pela Lei Federal n.º 9.433/97</p><p>para propiciar o efetivo cumprimentos desses objetivos. Portanto, esses</p><p>instrumentos ambientais se constituem em verdadeiras ferramentas jurídicas</p><p>fundamentais para a efetiva implementação da PNRH e dos seus objetivos.</p><p>Daí porque a correta compreensão desses instrumentos é essencial para se</p><p>estabelecer o adequado raciocínio jurídico-ambiental sobre o tema dos recursos</p><p>hídricos.</p><p>Assim, por exemplo, a ANA (entidade da estrutura do SINGRH) poderá se</p><p>utilizar da outorga (um dos instrumentos da PNRH) para assegurar à atual e às</p><p>futuras gerações a necessária disponibilidade de água (um dos objetivos da PNRH)</p><p>através do controle do uso da água para consumo humano, irrigação etc.,</p><p>propiciando – com isso – a implementação da própria PNRH.</p><p>Portanto, por essas razões passaremos ao estudo dos seguintes</p><p>instrumentos da PNRH:</p><p>Registre, desde já, que a compensação a Municípios, embora prevista no</p><p>rol de instrumentos da PNRH, restou vetada no art. 24 da Lei Federal n.º 9.433/97,</p><p>razão pela qual não está disponível.</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>210</p><p>QUESTÃO</p><p>36. (Juiz Federal do TRF2. 2018). De acordo a Lei n. 9.433/97, são instrumentos</p><p>da Política Nacional de Recursos Hídricos:</p><p>A) a compensação a Estados membros da Federação.</p><p>B) a outorga dos direitos de disposição de recursos hídricos.</p><p>C) a cessão gratuita pelo uso de recursos hídricos.</p><p>D) a gestão centralizada dos recursos hídricos.</p><p>E) os Planos de Recursos Hídricos.</p><p>Vamos ver cada um dos instrumentos nos tópicos seguintes.</p><p>2.5.1. Outorgas</p><p>Consoante vimos linhas atrás, as águas são totalmente públicas desde a</p><p>Constituição da República de 1988, sendo, portanto, bens de domínio público</p><p>pertencentes à União e aos Estados-Membros.</p><p>Assim, sendo bens públicos, as águas só podem ser utilizadas com prévia</p><p>autorização do seu respectivo Ente Federado proprietário.</p><p>Essa prévia autorização estatal traduz-se na outorga dos direitos de uso de</p><p>recursos hídricos, instrumento da PNRH consistente em ato administrativo de</p><p>consentimento estatal necessário para a utilização dos recursos hídricos e que</p><p>confere ao seu beneficiário o simples direito de seu uso, por tempo determinado.</p><p>Logo, a outorga não acarreta a alienação, total ou parcial das águas, que</p><p>são inalienáveis, mas o simples direito de seu uso, condicionado à disponibilidade</p><p>hídrica e a eventual regime de racionamento. Seu prazo de validade não pode</p><p>exceder a 35 (trinta e cinco) anos, renováveis, contados da data da publicação do</p><p>respectivo ato administrativo que confere a outorga, respeitados os seguintes</p><p>limites de prazo79 parciais (intermediários):</p><p>79 Os prazos de vigência das outorgas de direito de uso de recursos hídricos serão fixados em função</p><p>da natureza e do porte do empreendimento, levando-se em consideração, quando for o caso, o</p><p>período de retorno do investimento.</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>211</p><p>• Até dois anos, para início da implantação do empreendimento objeto</p><p>da outorga;</p><p>• Até seis anos, para conclusão da implantação do empreendimento</p><p>projetado.</p><p>O outorgado interessado em renovar sua outorga deverá apresentar</p><p>requerimento, com antecedência mínima de 90 (noventa) dias da data de término</p><p>da outorga, que ficará automaticamente prorrogada até que ocorra deferimento</p><p>ou indeferimento do referido pedido.</p><p>É importante ressaltar que a outorga do direito de uso das águas conferida</p><p>originalmente ao outorgado comporta transferência a terceiros, por alienação ou</p><p>cessão, conservando-se as mesmas características e condições da outorga original,</p><p>podendo ser feita, total ou parcialmente, quando aprovada pela autoridade</p><p>outorgante, que providenciará novo ato administrativo indicando o novo titular.</p><p>Frise-se que o regime de outorga de direitos de uso de recursos hídricos</p><p>tem como objetivos assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos das</p><p>águas e do seu efetivo exercício dos direitos de acesso a ela, e deve preservar seus</p><p>usos múltiplos.</p><p>Assim, estão sujeitos a prévia outorga pelo Poder Público os direitos dos</p><p>seguintes usos de recursos hídricos, atendidos sempre os critérios gerais previsto</p><p>na Resolução n.º 16/01 – CNRH:</p><p>• Derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de</p><p>água para consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo</p><p>de processo produtivo: Derivar significa desviar a água do seu curso</p><p>original através da ação humana;</p><p>• Extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou</p><p>insumo de processo produtivo: Portanto, mesmo para a perfuração de</p><p>poços artesianos se faz necessária a outorga do Poder Público;</p><p>• Lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos</p><p>ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou</p><p>disposição final: O lançamento</p><p>de esgoto em corpos de água deve</p><p>observar as condições e os padrões definidos pelas Resoluções n.º</p><p>357/05 e n.º 430/11 do Conama;</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>212</p><p>• Aproveitamento dos potenciais hidrelétricos: Neste caso a outorga</p><p>estará subordinada ao Plano Nacional de Recursos Hídricos, estudado</p><p>mais à frente. Além disso, para licitar a concessão ou autorizar o uso de</p><p>potencial de energia hidráulica, a Agência Nacional de Energia Elétrica –</p><p>ANEEL – deverá promover, junto à autoridade outorgante competente,</p><p>a prévia obtenção de declaração de reserva de disponibilidade</p><p>hídrica;80</p><p>• Outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água</p><p>existente em um corpo de água: A construção de eclusa ou de outro</p><p>dispositivo de transposição hidroviária de níveis em corpo de água de</p><p>domínio da União serão precedidas de declaração de reserva de</p><p>disponibilidade hídrica81 a ser requerida pelo Ministério dos Transportes</p><p>ou pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários – ANTAQ –,</p><p>conforme o caso. Quando o corpo de água for de domínio dos Estados</p><p>ou do Distrito Federal, a declaração de reserva de disponibilidade hídrica</p><p>será obtida em articulação com a respectiva unidade gestora de</p><p>recursos hídricos, conforme a legislação do Estado-Membro.</p><p>Além disso, a concessão da outorga deverá observar os planos de recursos</p><p>hídricos e, em especial:</p><p>• As prioridades de uso estabelecidas;</p><p>• A classe em que o corpo de água estiver enquadrado, em consonância</p><p>com a legislação ambiental;</p><p>• A preservação dos usos múltiplos previstos;</p><p>• A manutenção das condições adequadas ao transporte aquaviário,</p><p>quando couber.</p><p>Vale ressaltar que a outorga de direito de uso de recursos hídricos para</p><p>concessionárias e autorizadas de serviços públicos e de geração de energia</p><p>hidrelétrica, bem como suas prorrogações, vigorará por prazo coincidente com o</p><p>80 Nos termos do art. 11, §1º da Resolução n.º 16/01 — CNRH — a declaração de reserva de</p><p>disponibilidade hídrica será transformada, pela respectiva autoridade outorgante, em outorga de</p><p>direito de uso de recursos hídricos à entidade que receber da ANEEL a concessão ou a autorização</p><p>de uso do potencial de energia hidráulica.</p><p>81 A declaração de reserva de disponibilidade hídrica será transformada automaticamente pelo</p><p>respectivo poder outorgante em outorga de direito de uso de recursos hídricos à instituição ou</p><p>empresa que for responsável pela construção e operação de eclusa ou de outro dispositivo de</p><p>transposição hidroviária de níveis.</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>213</p><p>do correspondente contrato de concessão ou ato administrativo de autorização,</p><p>sendo ela uma condição para o licenciamento ambiental destas atividades.</p><p>Portanto, é relevantíssimo destacar que, sempre que se tratar de atividades</p><p>ou empreendimentos potencialmente poluidores e que também se utilizarão de</p><p>recursos hídricos (Projetos agropecuários com irrigação, abertura de canais para</p><p>navegação, barragens hidrelétricas etc.82), serão necessários o prévio licenciamento</p><p>ambiental e a outorga de usos de água, sendo certo que a outorga se constituirá</p><p>em uma das condições para o licenciamento ambiental destas atividades .83</p><p>Por fim, a outorga efetivar-se-á por ato da autoridade competente do Poder</p><p>Executivo Federal, dos Estados ou do Distrito Federal, observando-se que o Poder</p><p>Executivo Federal indicará, por decreto, a autoridade responsável pela efetivação</p><p>de outorgas de direito de uso dos recursos hídricos sob domínio da União, conforme</p><p>abaixo:</p><p>• Competência da União: A Agência Nacional de Águas e Saneamento</p><p>Básico – ANA – exercerá essa competência, dará publicidade aos</p><p>pedidos de outorga de direito de uso de recursos hídricos federais por</p><p>meio de publicação em seu sítio eletrônico, e publicará os atos</p><p>administrativos que deles resultarem no Diário Oficial da União e em site</p><p>eletrônico. Serão considerados, nos casos de bacias hidrográficas</p><p>compartilhadas com outros países, os respectivos acordos e tratados</p><p>internacionais;</p><p>• Competência dos Estados-Membros: Exercida pelo órgão gestor dos</p><p>recursos hídricos definido pela legislação do respectivo Estado-Membro.</p><p>O Poder Executivo Federal poderá delegar84 aos Estados e ao Distrito</p><p>Federal a competência para concessão de outorga de direito de uso de recurso</p><p>hídrico de domínio da União.</p><p>A legislação da ANA ainda estabelece a possibilidade de concessão de</p><p>outorgas preventivas de uso de recursos hídricos, que não confere o imediato</p><p>82 Art. 2º, inciso VII da Resolução n.º 001/86 — Conama.</p><p>83 Art. 10, §1º da Resolução n.º 273/97 — Conama: No procedimento de licenciamento ambiental</p><p>deverá constar, obrigatoriamente, a certidão da Prefeitura Municipal, declarando que o local e o</p><p>tipo de empreendimento ou atividade estão em conformidade com a legislação aplicável ao uso e</p><p>ocupação do solo e, quando for o caso, a autorização para supressão de vegetação e a outorga para</p><p>o uso da água, emitidas pelos órgãos competentes.</p><p>84 A ANA poderá delegar ou atribuir a agências de água ou de bacia hidrográfica a execução de</p><p>atividades de sua competência.</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>214</p><p>direito de uso desses recursos, mas tem a finalidade de declarar a disponibilidade</p><p>de água e reservar a vazão passível de outorga, possibilitando, aos investidores, o</p><p>planejamento de empreendimentos que necessitem desses recursos. O prazo de</p><p>validade da outorga preventiva será fixado levando-se em conta a complexidade</p><p>do planejamento do empreendimento, limitando-se ao máximo de três anos.</p><p>Além disso, é importante destacar que a Lei Federal n.º 9.433/97</p><p>estabeleceu casos de uso de recursos hídricos que independem de outorga pelo</p><p>Poder Público, a serem definidos em regulamento, quais sejam:</p><p>• O uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de</p><p>pequenos núcleos populacionais, distribuídos no meio rural;</p><p>• As derivações, captações, acumulações e lançamentos considerados</p><p>insignificantes:</p><p>QUESTÃO</p><p>37. (Analista da CODHAB/DF. Quadrix – 2018). No que diz respeito ao regime</p><p>de outorga de direitos de uso de recursos hídricos, julgue o item subsequente. Estão</p><p>sujeitos à outorga pelo Poder Público os direitos dos seguintes usos de recursos</p><p>hídricos: extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo</p><p>de processo produtivo; utilização da água para a satisfação das necessidades de</p><p>pequenos núcleos populacionais distribuídos no meio rural; e aproveitamento dos</p><p>potenciais hidrelétricos.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>Os critérios específicos de vazões ou acumulações de volumes de água</p><p>consideradas insignificantes, para fins de dispensa da outorga, serão estabelecidos</p><p>nos planos de recursos hídricos, por proposta dos Comitês de Bacia Hidrográfica.</p><p>Para rios federais, a Resolução n.º 1.940/17 – ANA definiu os usos insignificantes</p><p>que independem, portanto, de outorga, ressalvados os casos deliberados de forma</p><p>diversa pelo CNRH.</p><p>Por fim, a definição da natureza jurídica da outorga, porém, ainda é</p><p>divergente, formando-se duas correntes doutrinárias. Uma primeira corrente a</p><p>considera com natureza jurídica de licença administrativa, sendo por isso vinculada</p><p>e não precária. Por outro lado, uma segunda corrente a considera como mera</p><p>autorização administrativa, por isso discricionária e precária.</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>215</p><p>Tenho que a outorga possui natureza jurídica de licença administrativa sui</p><p>generis, haja vista que – apesar de vinculada, o que impõe sua concessão a todos</p><p>que cumprirem os requisitos da legislação ambiental – é precária porque poderá</p><p>ser suspensa, parcial ou totalmente, em definitivo ou por prazo determinado, sem</p><p>gerar qualquer direito de indenização ao usuário, nas seguintes circunstâncias:</p><p>• Não cumprimento, pelo outorgado, dos termos da outorga;</p><p>• Ausência de uso por três anos consecutivos;</p><p>• Necessidade premente de água para atender a situações de</p><p>calamidade, inclusive as decorrentes de condições climáticas adversas;</p><p>• Necessidade de se prevenir ou reverter grave degradação ambiental;</p><p>• Necessidade de se atender a usos prioritários, de interesse coletivo,</p><p>para os quais não se disponha de fontes alternativas;</p><p>• Necessidade de serem mantidas as características de navegabilidade do</p><p>corpo de água.</p><p>A suspensão da outorga só poderá ser efetivada se devidamente</p><p>fundamentada em estudos técnicos que comprovem a necessidade do ato, e</p><p>implica automaticamente no corte ou na redução dos usos outorgados, nos termos</p><p>da Resolução n.º 16/01 – CNRH.</p><p>A outorga de direito de uso de recursos hídricos extingue-se, sem</p><p>qualquer direito de indenização ao usuário, nas seguintes circunstâncias:</p><p>• Morte do usuário, se pessoa física;</p><p>• Liquidação judicial ou extrajudicial do usuário, se pessoa jurídica;</p><p>• Término do prazo de validade de outorga sem que tenha havido</p><p>tempestivo pedido de renovação.</p><p>No caso de morte, os herdeiros ou inventariantes do usuário outorgado,</p><p>se interessados em prosseguir com a utilização da outorga, deverão solicitar, em</p><p>até 180 (cento e oitenta) dias da data do óbito, a retificação do ato administrativo</p><p>da portaria, que manterá seu prazo e condições originais e, posteriormente, será</p><p>emitida nova portaria em nome dos herdeiros.</p><p>QUESTÃO</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>216</p><p>38. (Juiz Federal do TRF2. 2017). Quanto à outorga de direito de uso de</p><p>recursos hídricos, assinale a opção correta:</p><p>A) A outorga é de competência exclusiva da Agência Nacional de Águas.</p><p>B) Em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos deve ser</p><p>destinado ao consumo humano e à dessedentação de animais e, em seguida, às</p><p>prioridades de uso estabelecidas no Plano de Recursos Hídricos aplicável a cada</p><p>corpo hídrico.</p><p>C) A outorga só será suspensa nos casos de não cumprimento, pelo outorgado,</p><p>dos termos estabelecidos ou de necessidade premente de água para atender a</p><p>situações de calamidade, sempre mediante processo administrativo em que se</p><p>assegure ampla defesa.</p><p>D) A outorga deverá observar o uso específico para o qual o corpo hídrico tiver</p><p>sido destinado, vedado o seu uso múltiplo.</p><p>E) Desde que respeite a classe em que o corpo de água estiver enquadrado, a</p><p>outorga não fica condicionada às prioridades de uso.</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>217</p><p>2.5.2. Cobrança pelos Usos dos Recursos Hídricos</p><p>Consoante estudamos no tópico anterior, o uso de recursos hídricos</p><p>pressupõe a prévia outorga do Poder Público. Além disso, o uso desse recurso</p><p>ambiental também exige a correspondente contraprestação financeira do seu</p><p>beneficiário, em respeito ao princípio ambiental do usuário-pagador, segundo o</p><p>qual aqueles que se utilizam dos recursos naturais, ainda que licitamente, devem</p><p>pagar por sua utilização, haja vista que não são infinitos. Essa ideia fora extraída de</p><p>interpretação evolutiva do princípio 16 da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente</p><p>e Desenvolvimento, aprovada na Conferência das Nações Unidas sobre Meio</p><p>Ambiente e Desenvolvimento – CNUMAD – (Eco 92 ou Cúpula da Terra), aliás,</p><p>conforme positivado no art. 4º da Lei da PNMA (Lei Federal n.º 6.938/81):</p><p>Art. 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará: [...] VII -</p><p>à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de</p><p>recuperar e/ou indenizar os danos causados, e ao usuário, de</p><p>contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins</p><p>econômicos.</p><p>Essa contraprestação é exigida através da cobrança pelos usos dos</p><p>recursos hídricos, que se constitui em mais um dos instrumentos da PNRH, com</p><p>os seguintes objetivos:</p><p>• Reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma</p><p>indicação de seu real valor;</p><p>• Incentivar a racionalização do uso da água;</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>218</p><p>• Obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e</p><p>intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos.</p><p>Portanto, todos os usos de recursos hídricos que estão sujeitos à outorga</p><p>serão cobrados pelos Entes da Federação detentores do respectivo corpo d’água.</p><p>Essa cobrança, por óbvio, não tem natureza jurídica de tributo, mas sim de tarifa,</p><p>sendo certo que, na fixação dos valores a serem cobrados, devem ser observados</p><p>os seguintes critérios:</p><p>• Nas derivações, captações e extrações de água, o volume retirado e seu</p><p>regime de variação;</p><p>• Nos lançamentos de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, o</p><p>volume lançado e seu regime de variação e as características físico-</p><p>químicas, biológicas e de toxidade do afluente.</p><p>Vale ressaltar que a Lei Federal n.º 9.433/97 estabelece destinação para a</p><p>aplicação dos valores arrecadados com a cobrança pelos usos de recursos</p><p>hídricos, que deverão ser aplicados prioritariamente na bacia hidrográfica em que</p><p>foram gerados, e serão utilizados:</p><p>• No financiamento de estudos, programas, projetos e obras incluídos nos</p><p>Planos de Recursos Hídricos;</p><p>• No pagamento de despesas de implantação e custeio administrativo</p><p>dos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional de</p><p>Gerenciamento de Recursos Hídricos – SINGRH: Neste caso, a aplicação</p><p>dos recursos fica limitada à 7,5% (sete e meio por cento) do total</p><p>arrecadado.</p><p>QUESTÕES</p><p>39. (Procurador Municipal de Manaus/AM. Cebraspe – 2018) (adaptada).</p><p>Julgue o próximo item, relativo a recursos hídricos e florestais. Valores arrecadados</p><p>com a cobrança pelo uso de recursos hídricos podem ser aplicados em bacia</p><p>hidrográfica distinta daquela em que forem gerados tais valores.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>219</p><p>40. (Técnico da Embasa. Cebraspe – 2013). Acerca da Lei n.º 9.433/1997, que</p><p>institui a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), julgue o item seguinte.</p><p>Serão utilizados no pagamento de despesas de implantação e custeio</p><p>administrativo dos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional de</p><p>Gerenciamento de Recursos Hídricos os valores arrecadados com a cobrança pelo</p><p>uso de recursos hídricos, limitados a 7,5% do total arrecadado.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>Além disso, os valores arrecadados com a cobrança pelos usos dos recursos</p><p>hídricos ainda poderão ser aplicados, a fundo perdido (não reembolsáveis), em</p><p>projetos e obras que alterem, de modo considerado benéfico à coletividade, a</p><p>qualidade, a quantidade e o regime de vazão de um corpo de água.</p><p>Por fim, é importante ressaltar que a cobrança pelos uso dos recursos</p><p>hídricos para o aproveitamento dos seus potenciais hidrelétricos ocorre através dos</p><p>mecanismos de participação no resultado de sua exploração, ou por compensação</p><p>financeira, nos termos do art. 20, §1º da Constituição da República:</p><p>Art. 20. São bens da União:</p><p>[...]</p><p>§ 1º É assegurada, nos termos da lei, à União, aos Estados, ao</p><p>Distrito Federal e aos Municípios a participação no resultado da</p><p>exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos</p><p>para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos</p><p>minerais no respectivo território, plataforma continental, mar</p><p>territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação</p><p>financeira por essa exploração.</p><p>Logo, a participação no resultado da exploração, ou sua respectiva</p><p>compensação financeira, são asseguradas inclusive para os Estados, o Distrito</p><p>Federal e os Municípios, mesmo não sendo eles os detentores dos potenciais</p><p>hidrelétricos, e será de 7% (sete por cento) sobre o valor da energia elétrica</p><p>produzida, a ser paga por titular de concessão ou autorização para exploração de</p><p>potencial hidráulico aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios em cujos</p><p>territórios se</p><p>localizarem instalações destinadas à produção de energia elétrica, ou</p><p>que tenham áreas invadidas por águas dos respectivos reservatórios, e a órgãos da</p><p>administração direta da União, com a seguinte distribuição:</p><p>• 6,25% (seis inteiros e vinte e cinco centésimos por cento) do valor da</p><p>energia produzida serão distribuídos entre os Estados, Municípios e</p><p>RAFAEL ROCHA SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS • 5</p><p>220</p><p>órgãos da administração direta da União, nos termos do art. 1º da Lei</p><p>no 8.001/90;</p><p>• 0,75% (setenta e cinco centésimos por cento) do valor da energia</p><p>produzida serão destinados ao Ministério do Meio Ambiente, para</p><p>aplicação na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos</p><p>e do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, nos</p><p>termos do art. 22 da Lei no 9.433/97.</p><p>Por fim, registre-se que esta última parcela de 0,75% (setenta e cinco</p><p>centésimos por cento) do valor da energia produzida se constitui no pagamento</p><p>pelo uso de recursos hídricos, razão pela qual deve ser aplicada nos termos do art.</p><p>22 da Lei Federal n.º 9.433/97 (aplicação prioritariamente na bacia hidrográfica em</p><p>que foram gerados e para financiamento dos programas previstos nos Planos de</p><p>Recursos Hídricos e de despesas para integração e custeio dos órgãos do SINGRH).</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8001.htm#art1</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8001.htm#art1</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9433.htm#art22</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA DE RESPONSABILIZAÇÃO POR ILÍCITOS AMBIENTAIS • 6</p><p>221</p><p>SISTEMA DE RESPONSABILIZAÇÃO</p><p>POR ILÍCITOS AMBIENTAIS</p><p>6</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA DE RESPONSABILIZAÇÃO POR ILÍCITOS AMBIENTAIS • 6</p><p>222</p><p>1. RELEMBRANDO O MICROSSISTEMA JURÍDICO DE</p><p>TUTELA AMBIENTAL — MTA</p><p>Estamos concluindo o estudo do Microssistema Jurídico de Tutela</p><p>Ambiental – MTA –, que, sob uma ótica mais prática, é basicamente formado por</p><p>quatro sistemas principais:</p><p>Com o adequado estudo do Sistema Nacional do Meio Ambiente –</p><p>Sisnama – foi possível compreender os seguintes pontos principais:</p><p>• Sua estrutura: Constituída pelo conjunto de órgãos e entidades públicas</p><p>competentes para as ações de preservação, fiscalização e recuperação</p><p>do meio ambiente no Brasil. Foi possível se apreender a composição e</p><p>as atribuições desses órgãos/entidades ambientais (IBAMA, Conama</p><p>etc.);</p><p>• Políticas nacionais correlacionadas: Que deverão ser implementadas,</p><p>total ou parcialmente, pelos órgãos e entidades componentes da</p><p>estrutura do Sisnama. Foi possível se apreender a PNMA – e outras</p><p>associadas, estudando-se os:</p><p>• Objetivos: Da PNMA, e das demais políticas nacionais ambientais</p><p>associadas, a serem cumpridos, total ou parcialmente, pelos órgãos e</p><p>entidades componentes da estrutura do Sisnama;</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA DE RESPONSABILIZAÇÃO POR ILÍCITOS AMBIENTAIS • 6</p><p>223</p><p>• Instrumentos: Da PNMA, e das demais políticas nacionais ambientais</p><p>associadas, que se constituem em genuínas ferramentas jurídicas</p><p>disponibilizadas principalmente para os órgãos e entidades</p><p>componentes da estrutura do Sisnama, para propiciar o cumprimento</p><p>dos objetivos da própria PNMA e das demais políticas ambientais</p><p>associadas.</p><p>Também estudamos o segundo sistema integrante do MTA, o Sistema</p><p>Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC –, no qual foi possível</p><p>a compreensão dos seguintes pontos principais:</p><p>• Sua estrutura: Constituída pelo conjunto de órgãos e entidades públicas</p><p>competentes para administrar, preservar e fiscalizar as unidades de</p><p>conservação da natureza (parques nacionais, por exemplo) no Brasil. Foi</p><p>possível se apreender a composição e as atribuições desses</p><p>órgãos/entidades ambientais (ICMBIO etc.);</p><p>• Políticas nacionais correlacionadas: Que deverão ser implementadas,</p><p>total ou parcialmente, pelos órgãos e entidades componentes da</p><p>estrutura do SNUC. Foi possível se apreender a Política Nacional de</p><p>Unidades de Conservação – PNUC – e outras associadas, estudando-se</p><p>os:</p><p>• Objetivos: Da PNUC, e do próprio SNUC, a serem cumpridos, total ou</p><p>parcialmente, pelos órgãos e entidades componentes da estrutura do</p><p>SNUC;</p><p>• Instrumentos: Instituídos pela Lei da PNUC, e pelas demais políticas</p><p>ambientais associadas (pelo código florestal, por exemplo), que se</p><p>constituem em genuínas ferramentas jurídicas disponibilizadas</p><p>principalmente para os órgãos e entidades componentes da estrutura</p><p>do SNUC, para propiciar o cumprimento dos seus objetivos e da PNUC.</p><p>Também foram estudados os Demais Espaços Territoriais Especialmente</p><p>Protegidos – Deteps – (APPs, RLs, AURs, AUAS etc.) previstos na Lei Federal n.º</p><p>12.651/12 (novo código florestal), mas que também seguem as mesmas regras</p><p>gerais para criação, alteração, supressão e extinção dos espaços territoriais</p><p>protegidos previstos na Lei do SNUC, com as especificidades definidas pelo CFLO.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA DE RESPONSABILIZAÇÃO POR ILÍCITOS AMBIENTAIS • 6</p><p>224</p><p>Além disso, fizemos uma completa análise do terceiro sistema integrante</p><p>do MTA, Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos – SINGRH –, para</p><p>se compreender os seguintes pontos principais:</p><p>• Sua estrutura: Constituída pelo conjunto de órgãos e entidades públicas</p><p>competentes para a preservar e fiscalizar as águas no Brasil. Foi possível</p><p>se apreender a composição e as atribuições desses órgãos/entidades</p><p>ambientais (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico – ANA –,</p><p>CNRH, Comitês de Bacias Hidrográficas etc.);</p><p>• Políticas nacionais correlacionadas: Que deverão ser implementadas,</p><p>total ou parcialmente, pelos órgãos e entidades componentes da</p><p>estrutura do SINGRH. Foi possível se apreender a Política Nacional de</p><p>Recursos Hídricos – PNRH – e outras associadas, estudando-se os:</p><p>• Objetivos: Da PNRH, e das demais políticas nacionais ambientais</p><p>associadas, a serem cumpridos, total ou parcialmente, pelos órgãos e</p><p>entidades componentes da estrutura do SINGRH;</p><p>• Instrumentos: Da PNRH, e das demais políticas nacionais ambientais</p><p>associadas, que se constituem em genuínas ferramentas jurídicas</p><p>disponibilizadas principalmente para os órgãos e entidades</p><p>componentes da estrutura do SINGRH, para propiciar o cumprimento</p><p>dos objetivos da própria PNRH e das demais políticas ambientais</p><p>associadas.</p><p>Finalmente, após compreendidas todas as lições relativas ao Sisnama,</p><p>SNUC e SINGRH, será estudado o quarto sistema integrante do MTA, o Sistema de</p><p>Responsabilização por Ilícitos Ambientais – Sisrespia –, que incidirá sobre aqueles</p><p>que descumprirem as regras ambientais estudadas nos três primeiros sistemas,</p><p>para se compreender os seguintes pontos principais:</p><p>• A tríplice responsabilização: Cível, administrativa e criminal dos</p><p>infratores da legislação ambiental;</p><p>• Tutela processual ambiental: Administrativa, cível e criminal decorrente</p><p>da prática de ilícitos ambientais, inclusive com a adequada compreensão</p><p>dos precedentes e das súmulas do e. STJ e c. STF sobre o meio ambiente;</p><p>• Os princípios ambientais: Revisão dos princípios tipicamente</p><p>ambientais, com sua aplicação prática, para proporcionar sua adequada</p><p>compreensão.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA DE RESPONSABILIZAÇÃO POR ILÍCITOS AMBIENTAIS • 6</p><p>225</p><p>2. SISTEMA DE RESPONSABILIZAÇÃO POR ILÍCITOS</p><p>AMBIENTAIS</p><p>2.1. Criação do Sisrespia e Definição da Tríplice</p><p>Responsabilização por Ilícitos Ambientais</p><p>Agora que já compreendemos as regras gerais sobre o meio ambiente</p><p>disciplinadoras da proteção ambiental no Brasil, podemos estudar o Sistema de</p><p>Responsabilização que recairá sobre aqueles que as violarem e cometerem ilícitos</p><p>ambientais.</p><p>Esse Sistema de Responsabilização por Ilícitos Ambientais – Sisrespia –</p><p>surgiu, de forma muito tímida, no antigo código florestal de 1965, pois — apesar da</p><p>tipificação de contravenções penais85 para punir criminalmente aqueles</p><p>sem dúvida, o órgão mais importante da estrutura do Sisnama.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>24</p><p>Assim, por exemplo, apesar de se tratar de autarquia estadual, o Instituto</p><p>do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (Inema) está obrigado a seguir os</p><p>procedimentos da Resolução n.º 237/97 do Conama nos processos de</p><p>licenciamento ambiental de sua competência estadual, sob pena de nulidade, em</p><p>respeito ao poder normativo conferido ao Conama.</p><p>Registre-se que o Supremo Tribunal Federal (STF) tem confirmado esse</p><p>poder normativo do Conama até mesmo quanto a normas que inovam no</p><p>ordenamento jurídico, desde que promovam ampliação da proteção ambiental já</p><p>estabelecida em leis, conforme se observa na decisão unânime de plenário que</p><p>referendou medida cautelar concedida nas ADPFs 747, 748 e 749 para suspender</p><p>os efeitos da Resolução n.º 500/20 do Conama que revogara suas Resoluções n.º</p><p>284/01, 302/02 e 303/02 responsáveis, respectivamente, pela exigência de</p><p>licenciamento ambiental em empreendimentos de irrigação, pela definição de</p><p>limites em áreas de preservação permanente em reservatórios artificiais e pelo</p><p>estabelecimento de proteção em áreas de dunas, manguezais e restingas, mesmo</p><p>ciente de que os temas objeto destas três últimas resoluções foram totalmente</p><p>disciplinados em lei (no código florestal) de forma diversa do que previsto nas</p><p>antigas resoluções do Conama.</p><p>Diante das relevantíssimas funções exercidas pelo Conama é importante se</p><p>perquirir sobre sua composição.</p><p>Deveras, ele é presidido pelo Ministro do Meio Ambiente e conta com a</p><p>composição definida pelo Decreto Federal n.º 99.274/90, haja vista que fora</p><p>concedida medida cautelar nos autos da ADPF 623 para suspender os efeitos do</p><p>Decreto Federal n.º 9.806/19, que havia reduzido a composição do Conama para</p><p>apenas 23 (vinte e três) participantes, conforme abaixo:</p><p>• redução de 11 (onze) para 4 (quatro) representantes de entidades</p><p>ambientalistas com assento no Conselho;</p><p>• redução do mandato das entidades ambientalistas de 2 (dois)</p><p>anos para 1 (um) ano, passando a ser vedada a recondução;</p><p>• substituição do método de escolha das entidades</p><p>representantes desse setor, que se fazia por processo eleitoral</p><p>dentre as organizações cadastradas perante o Ministério do</p><p>Meio Ambiente, pelo método de sorteio;</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>25</p><p>• elegibilidade para o assento no Conselho apenas das</p><p>entidades ambientalistas ditas de âmbito nacional;</p><p>• perda de assento no Conselho de órgãos de ligação</p><p>estreita com o meio ambiente, como o Instituto Chico Mendes</p><p>da Biodiversidade (ICMBio) e a Agência Nacional de Águas</p><p>(ANA), bem como do Ministério da Saúde e de entidades ligadas à</p><p>questão indígena;</p><p>• redução de assentos para os Estados, que tinham</p><p>direito a indicar um representante cada, para apenas cinco,</p><p>sendo um para cada região geográfica;</p><p>• redução dos assentos dos Municípios de oito para</p><p>apenas duas vagas, restritas às capitais (o que desconsidera os</p><p>Municípios do interior);</p><p>• extinção dos cargos de conselheiros sem direito a</p><p>voto, que eram ocupados por representantes do Ministério</p><p>Público Federal, dos Ministérios Públicos estaduais e da</p><p>Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da</p><p>Câmara dos Deputados.</p><p>QUESTÃO</p><p>3. (Promotor de Justiça do MPTO. Cebraspe – 2012). A respeito do SISNAMA,</p><p>assinale a opção correta.</p><p>a) Somente o governo federal possui direito a voto na plenária do CONAMA.</p><p>b) Não compõem o SISNAMA as secretarias de meio ambiente dos municípios.</p><p>c) O CONAMA, órgão colegiado do SISNAMA, possui funções consultivas e</p><p>deliberativas.</p><p>d) O IBAMA não é mais o órgão executor do SISNAMA desde a criação do</p><p>ICMBio.</p><p>e) A presidência do CONAMA é exercida pelo ministro chefe da Casa Civil.</p><p>Outrossim, além de exercer a importante função normativa, o Conama foi</p><p>instituído com a finalidade de:</p><p>• Assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo, diretrizes de</p><p>políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais;</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>26</p><p>• Deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões</p><p>compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e</p><p>essencial à sadia qualidade de vida;</p><p>Também é de competência do CONAMA:</p><p>• Estabelecer normas e critérios para o licenciamento ambiental de</p><p>atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, mediante proposta do</p><p>IBAMA;</p><p>• Determinar a perda ou a restrição de benefícios fiscais, concedidos em</p><p>caráter geral ou condicional, e a perda ou suspensão de participação em</p><p>linhas de financiamentos em estabelecimentos oficiais de crédito,</p><p>mediante representação do IBAMA (como forma de punição por ilícitos</p><p>ambientais);</p><p>• Estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais de controle</p><p>de poluição por veículos automotores, aeronaves e embarcações,</p><p>mediante audiência dos Ministérios competentes;</p><p>• Estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à</p><p>manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional</p><p>dos recursos ambientais, principalmente os hídricos;</p><p>• Determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das</p><p>alternativas e das possíveis consequências ambientais de projetos</p><p>públicos ou privados, requisitando aos órgãos federais, estaduais e</p><p>municipais, bem assim a entidades privadas, as informações</p><p>indispensáveis para apreciação dos estudos de impacto ambiental, e</p><p>respectivos relatórios, no caso de obras ou atividades de significativa</p><p>degradação ambiental, especialmente nas áreas consideradas</p><p>patrimônio nacional.</p><p>QUESTÃO</p><p>4. (Juiz do TJPA. Cebraspe – 2019). O CONAMA faz parte do SISNAMA.</p><p>Considerando-se a composição do SISNAMA e as suas atribuições, é correto afirmar</p><p>que o CONAMA</p><p>a) tem como finalidade deliberar, no âmbito de sua competência, sobre</p><p>normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado</p><p>e essencial à sadia qualidade de vida.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>27</p><p>b) tem a função de assessorar o presidente da República na formulação da</p><p>política nacional e nas diretrizes governamentais para o meio ambiente e os</p><p>recursos ambientais.</p><p>c) tem a finalidade de planejar, coordenar, supervisionar e controlar, como</p><p>órgão federal, a política nacional e as diretrizes governamentais fixadas para o meio</p><p>ambiente.</p><p>d) é órgão federal que detém a responsabilidade de fazer executar a política</p><p>e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente.</p><p>e) é órgão interestadual que detém a responsabilidade de executar programas</p><p>e projetos e controlar e fiscalizar atividades capazes de provocar degradação</p><p>ambiental.</p><p>1.2.3. Órgão Central</p><p>Compete ao Ministério do Meio Ambiente o exercício das funções de órgão</p><p>central do SISNAMA, com a finalidade de planejar, coordenar, supervisionar e</p><p>controlar, como órgão federal, a política nacional e as diretrizes governamentais</p><p>fixadas para o meio ambiente.</p><p>Observação: vale destacar que a pasta do Meio Ambiente fora elevada à</p><p>condição de Ministério ainda em 1992, nos termos do art. 21 da Lei Federal n.º</p><p>8.490, que transformou a antiga Secretaria do Meio Ambiente no atual Ministério</p><p>do Meio Ambiente.</p><p>Portanto, compete ao Ministério do Meio Ambiente coordenar e</p><p>supervisionar a Política Nacional do Meio Ambiente.</p><p>1.2.4. Órgãos Executores</p><p>São considerados órgãos executores do SISNAMA as duas autarquias</p><p>ambientais federais vinculadas ao Ministério do Meio Ambiente:</p><p>• O Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais</p><p>Renováveis – IBAMA;</p><p>• O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBIO.</p><p>RAFAEL ROCHA.</p><p>que</p><p>descumprissem suas regras ambientais — não havia a estruturação de órgãos para</p><p>o exercício do poder de polícia ambiental, nem tampouco existia uma adequada</p><p>caracterização da figura do poluidor. Também não havia ampla definição de</p><p>infrações administrativo-ambientais.86</p><p>Posteriormente, seguindo-se a lógica do código florestal de 1965, foram</p><p>tipificadas originalmente contravenções penais87 no “código” da fauna (Lei Federal</p><p>n.º 5.197/67), e crimes ambientais no código da pesca88 (Decreto-Lei n.º 221/67),</p><p>também com a intenção de punir criminalmente aqueles que descumprissem suas</p><p>regras ambientais.</p><p>85 Revogadas pelo novo CFLO.</p><p>86 Existia uma única previsão de infração administrativa passível de multa ambiental para empresas</p><p>industriais grande consumidoras de matéria prima florestal que não mantivessem plantio de árvores</p><p>para seu consumo (revogada pelo novo CFLO).</p><p>87 Em grande parte derrogadas pelas regras gerais e pelo Capítulo V, seção I da Lei Federal n.º</p><p>9.605/98.</p><p>88 Quase que integralmente revogado pela Lei Federal n.º 11.959/09.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA DE RESPONSABILIZAÇÃO POR ILÍCITOS AMBIENTAIS • 6</p><p>226</p><p>Assim, somente com a publicação da Lei Federal n.º 6.938/81 (Lei da</p><p>Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA) é possível se afirmar que de fato</p><p>surgiu um verdadeiro Sistema de Responsabilização por Ilícitos Ambientais –</p><p>Sisrespia –, haja vista que finalmente houve a estruturação de órgãos ambientais</p><p>para o exercício do poder de polícia ambiental fiscalizador (órgãos e entidades da</p><p>estrutura do Sisnama), a adequada caracterização da figura do poluidor e a</p><p>necessária previsão da tríplice responsabilização administrativa, cível e criminal</p><p>para aqueles que descumprissem as medidas necessárias à preservação ambiental.</p><p>Logo, a constituição do Sisrespia decorreu da definição:</p><p>• De Órgãos com Poder de Polícia Ambiental (órgãos e entidades da</p><p>estrutura do Sisnama);</p><p>• Da Tríplice Responsabilização por Ilícitos Ambientais;</p><p>• Da Adequada Caracterização da Figura do Poluidor.</p><p>Isto posto, com a publicação da Lei Federal n.º 6.938/81 (PNMA), além da</p><p>clara definição e estruturação de órgãos ambientais para o efetivo exercício do</p><p>poder de polícia ambiental, finalmente foi instituído, como instrumento da PNMA,</p><p>um regime de Tríplice Responsabilização administrativa, cível e criminal para</p><p>aqueles que descumprissem as medidas necessárias à preservação ambiental,</p><p>especialmente nos termos do seu art. 14, in verbis:</p><p>Art. 9º - São instrumentos da Política Nacional do Meio</p><p>Ambiente: [...]</p><p>IX - as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não</p><p>cumprimento das medidas necessárias à preservação ou</p><p>correção da degradação ambiental.</p><p>Art. 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação</p><p>federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas</p><p>necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e</p><p>danos causados pela degradação da qualidade ambiental</p><p>sujeitará os transgressores:</p><p>I - à multa simples ou diária, nos valores correspondentes, no</p><p>mínimo, a 10 (dez) e, no máximo, a 1.000 (mil) Obrigações</p><p>Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTNs, agravada em casos</p><p>de reincidência específica, conforme dispuser o regulamento,</p><p>vedada a sua cobrança pela União se já tiver sido aplicada pelo</p><p>Estado, Distrito Federal, Territórios ou pelos Municípios;</p><p>II - à perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais</p><p>concedidos pelo Poder Público;</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA DE RESPONSABILIZAÇÃO POR ILÍCITOS AMBIENTAIS • 6</p><p>227</p><p>III - à perda ou suspensão de participação em linhas de</p><p>financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito;</p><p>IV - à suspensão de sua atividade.</p><p>§ 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste</p><p>artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da</p><p>existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados</p><p>ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O</p><p>Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade</p><p>para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos</p><p>causados ao meio ambiente.</p><p>Desse modo, com a entrada em vigor da Lei da Política Nacional do Meio</p><p>Ambiente – PNMA – (já estudada) as condutas consistentes em ilícitos ambientais</p><p>passaram a ficar sujeitas simultaneamente a uma Tríplice Responsabilização, com</p><p>sanções administrativas (multas, perda de incentivos fiscais e creditícios e</p><p>suspensão de atividades) e criminais previstas na legislação ambiental, além da</p><p>responsabilização cível com a imposição da obrigação de indenizar e/ou reparar os</p><p>danos causados.</p><p>Esse regime de Tríplice Responsabilização do poluidor infrator fora</p><p>constitucionalizado nos termos do art. 225, §3º da Constituição da República de</p><p>1988:</p><p>Art. 225.</p><p>[...]</p><p>§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio</p><p>ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas,</p><p>a sanções penais e administrativas, independentemente da</p><p>obrigação de reparar os danos causados.</p><p>Assim, por exemplo, aquele que, à época, destruísse a vegetação nativa em</p><p>áreas de preservação permanente deveria ser responsabilizado:</p><p>• Administrativamente: Com sanções de multas, perda de incentivos</p><p>fiscais e creditícios e suspensão de atividades, nos termos do art. 14 da</p><p>Lei Federal n.º 6.938/81 c/c art. 36 do revogado Decreto Federal n.º</p><p>88.351/83;</p><p>• Civilmente: Com a obrigação de indenizar e/ou reparar os danos</p><p>ambientais causados, nos termos do art. 14, §1º da Lei Federal n.º</p><p>6.938/81;</p><p>• Criminalmente: Com sanções de prisão simples ou multa, nos termos do</p><p>art. 26, “a” da revogada Lei Federal n.º 4.771/65 (antigo CFLO).</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA DE RESPONSABILIZAÇÃO POR ILÍCITOS AMBIENTAIS • 6</p><p>228</p><p>Logo, a partir da publicação da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente –</p><p>PNMA –, todos que cometerem ilícitos ambientais devem sofrer a incidência do</p><p>Sisrespia e, por isso, ficam sujeitos à Tríplice Responsabilização administrativa, cível</p><p>e penal.</p><p>Além disso, a Lei da PNMA passou a conceituar adequadamente a figura do</p><p>poluidor, o considerando como qualquer pessoa, natural ou jurídica, de direito</p><p>público ou privado, que seja responsável, direta ou indiretamente, pela causação</p><p>de degradação ao meio ambiente.</p><p>Daí porque até mesmo as pessoas jurídicas, inclusive de direito público,</p><p>poderão ser responsabilizadas pela prática de ilícitos ambientais, conforme</p><p>estudaremos nos tópicos seguintes.</p><p>2.2. Responsabilidade Administrativa e Evolução</p><p>Histórica</p><p>Consoante vimos, as regras sobre a Responsabilidade Administrativa</p><p>decorrente de ilícitos ambientais somente foram definidas, de forma ampla, com a</p><p>publicação da Lei Federal n.º 6.938/81 (PNMA), que definiu a Tríplice</p><p>Responsabilização (administrativa, cível e penal) do poluidor infrator e estabeleceu</p><p>as espécies de sanções administrativas aplicáveis, nos termos do seu art. 14, in</p><p>verbis:</p><p>Art. 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação</p><p>federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas</p><p>necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e</p><p>danos causados pela degradação da qualidade ambiental</p><p>sujeitará os transgressores:</p><p>I - à multa simples ou diária, nos valores correspondentes, no</p><p>mínimo, a 10 (dez) e, no máximo, a 1.000 (mil) Obrigações</p><p>Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTNs, agravada em casos</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA DE RESPONSABILIZAÇÃO POR ILÍCITOS AMBIENTAIS • 6</p><p>229</p><p>de reincidência específica, conforme dispuser o regulamento,</p><p>vedada a sua cobrança pela União se já tiver sido aplicada pelo</p><p>Estado, Distrito Federal, Territórios ou pelos Municípios;</p><p>II - à perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais</p><p>concedidos pelo Poder Público;</p><p>III - à perda ou suspensão de participação em linhas de</p><p>financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito;</p><p>IV - à suspensão de sua atividade.</p><p>Além disso, o caput do art. 14 da Lei da PNMA também definiu,</p><p>SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>28</p><p>Foram instituídas com a finalidade de executar e fazer executar a política e</p><p>as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente, de acordo com as</p><p>respectivas competências.</p><p>O IBAMA tem como competências:</p><p>• O exercício do poder de polícia ambiental federal: Fiscalizando</p><p>atividades e lavrando autos de infrações ambientais;</p><p>• O licenciamento ambiental cuja competência pertença à União:</p><p>Concedendo licenças ambientais para o exercício de atividades</p><p>potencialmente poluidoras ou utilizadoras de recursos ambientais.</p><p>Por outro lado, o ICMBIO, que foi instituído em 2007, faz a gestão das</p><p>unidades de conservação da natureza federais, a exemplo dos parques nacionais.</p><p>1.2.5. Órgãos Seccionais</p><p>São considerados órgãos seccionais do SISNAMA todos os órgãos e</p><p>entidades ambientais estaduais e distritais: Conselhos Estaduais do Meio</p><p>Ambiente, Secretarias Estaduais do Meio Ambiente, Autarquias Estaduais do</p><p>Meio Ambiente etc.</p><p>São responsáveis pela execução de programas, projetos e pelo controle e</p><p>fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental.</p><p>Na prática, em cada Estado da Federação e no Distrito Federal há um</p><p>Conselho Estadual do Meio Ambiente, que também exerce o poder normativo</p><p>ambiental no âmbito estadual/distrital e cujas resoluções são de observância</p><p>obrigatória por todos os órgãos ambientais do Estado e dos respectivos Municípios.</p><p>Trata-se dos órgãos e entidades ambientais instituídos pela legislação</p><p>estadual para exercer, ao menos, duas competências:</p><p>• O exercício do poder de polícia ambiental estadual: fiscalizando</p><p>atividades e lavrando autos de infrações ambientais;</p><p>• O licenciamento ambiental cuja competência pertença ao respectivo</p><p>estado: concedendo licenças ambientais para o exercício de atividades</p><p>potencialmente poluidoras ou utilizadoras de recursos ambientais.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>29</p><p>QUESTÃO</p><p>5. (Juiz do TJSC. Cebraspe – 2019). O Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina</p><p>(IMA/SC) é o órgão ambiental da esfera estadual catarinense responsável pela</p><p>execução de programas e projetos de proteção ambiental, bem como pelo controle</p><p>e pela fiscalização de atividades potencialmente causadoras de degradação</p><p>ambiental. De acordo com a Lei n.º 6.938/1981, o IMA/SC compõe o Sistema</p><p>Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) na qualidade de</p><p>a) órgão superior.</p><p>b) órgão supervisor.</p><p>c) órgão local.</p><p>d) órgão seccional.</p><p>e) órgão consultivo e deliberativo.</p><p>1.2.6. Órgãos Locais</p><p>São considerados órgãos locais do SISNAMA todos os órgãos e entidades</p><p>ambientais municipais: Conselhos Municipais do Meio Ambiente, Secretarias</p><p>Municipais do Meio Ambiente, Autarquias Municipais do Meio Ambiente etc.</p><p>Consoante expressamente previsto no art. 6º da Lei da PNMA (Lei n.º</p><p>6.389/1981), esses órgãos são responsáveis pelo controle e fiscalização das</p><p>atividades ambientais, em suas respectivas jurisdições.</p><p>Trata-se dos órgãos e entidades ambientais instituídos pela legislação</p><p>municipal para exercer, ao menos, duas competências:</p><p>• O exercício do poder de polícia ambiental municipal: fiscalizando</p><p>atividades e lavrando autos de infrações ambientais;</p><p>• O licenciamento ambiental cuja competência pertença ao respectivo</p><p>município: concedendo licenças ambientais para o exercício de</p><p>atividades potencialmente poluidoras ou utilizadoras de recursos</p><p>ambientais.</p><p>1.3. Política Nacional do Meio Ambiente</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>30</p><p>1.3.1. Criação e diretrizes da Política Nacional do</p><p>Meio Ambiente</p><p>A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) foi instituída pela Lei Federal</p><p>n.º 6.938/81 com a finalidade geral de preservação, melhoria e recuperação do</p><p>meio ambiente propício à vida, para assegurar, no Brasil, as condições</p><p>necessárias:</p><p>• Ao desenvolvimento socioeconômico;</p><p>• Aos interesses da segurança nacional;</p><p>• À proteção da dignidade da vida humana.</p><p>Com ela foram estabelecidos princípios (diretrizes), objetivos e</p><p>instrumentos jurídicos necessários à adequada fiscalização, ao controle e à</p><p>conservação dos recursos naturais no Brasil. Ou seja, com a instituição da PNMA,</p><p>os órgãos e entidades ambientais foram reestruturados e passaram a contar com</p><p>um conjunto de ferramentas jurídicas destinadas a propiciar uma efetiva</p><p>preservação ambiental no Brasil.</p><p>Assim, cabe aos órgãos e entidades integrantes da estrutura do SISNAMA a</p><p>implementação da PNMA no país, respeitando-se o conjunto de princípios</p><p>(diretrizes) por ela instituídos como orientadores da atuação governamental (art.</p><p>2º da Lei Federal n.º 6.938/81), conforme abaixo:</p><p>• Racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;</p><p>• Planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>31</p><p>• Proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas</p><p>representativas;</p><p>• Controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente</p><p>poluidoras;</p><p>• Incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso</p><p>racional e a proteção dos recursos ambientais;</p><p>• Acompanhamento do estado da qualidade ambiental;</p><p>• Recuperação de áreas degradadas;</p><p>• Proteção de áreas ameaçadas de degradação;</p><p>• Ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico,</p><p>considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser</p><p>necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;</p><p>• Educação ambiental a todos os níveis do ensino, inclusive a educação</p><p>da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na</p><p>defesa do meio ambiente.</p><p>Todavia, vale ressaltar que os princípios definidos pela PNMA, em verdade,</p><p>se constituem em diretrizes para atuação estatal, razão pela qual não são</p><p>considerados e não podem ser confundidos com os princípios tipicamente</p><p>ambientais que serão estudados posteriormente (da prevenção, precaução,</p><p>poluidor-pagador etc.).</p><p>QUESTÃO</p><p>6. (Juiz do TJPR. Cebraspe – 2019). Os princípios expressos na Lei n.º 6.938/1981</p><p>— Política Nacional do Meio Ambiente — incluem</p><p>A) o estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de</p><p>normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais.</p><p>B) a racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar e a recuperação</p><p>de áreas degradadas.</p><p>C) o desenvolvimento sustentável e o poluidor pagador.</p><p>D) o desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para</p><p>o uso racional de recursos ambientais.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>32</p><p>Conforme apontado acima, um dos princípios orientadores da ação</p><p>governamental da PNMA é a promoção da educação ambiental em todos os níveis</p><p>de ensino, posteriormente constitucionalizado como um dos deveres do Poder</p><p>Público, nos termos do art. 225, §1º, inciso VI da Constituição da República:</p><p>Art. 225.</p><p>[...]</p><p>§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao</p><p>Poder Público:</p><p>[...]</p><p>VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de</p><p>ensino e a conscientização pública para a preservação do meio</p><p>ambiente;</p><p>Após a constitucionalização desta diretriz, foi instituída ainda, nos termos</p><p>da Lei Federal n.º 9.795/99, uma Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA),</p><p>finalmente definindo o que se entende por educação ambiental:</p><p>Art. 1º Entendem-se por educação ambiental os processos por</p><p>meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores</p><p>sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências</p><p>voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso</p><p>comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua</p><p>sustentabilidade.</p><p>Logo, seja como um dos princípios (diretrizes) da PNMA, seja como dever</p><p>constitucional do</p><p>Poder Público, a educação ambiental, voltada para a construção</p><p>de valores para a conservação do meio ambiente, deve ser implementada como um</p><p>componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar</p><p>presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo</p><p>educativo, em caráter formal e não-formal.</p><p>Apesar disso, contudo, a educação ambiental não compõe disciplina</p><p>específica no currículo de ensino, salvo quanto aos cursos de pós-graduação e</p><p>extensão, quando então será facultada a criação de disciplina específica, nos</p><p>termos da Lei Federal n.º 9.795/99:</p><p>Art. 10.</p><p>[...]</p><p>§ 1º A educação ambiental não deve ser implantada como</p><p>disciplina específica no currículo de ensino.</p><p>§ 2º Nos cursos de pós-graduação, extensão e nas áreas</p><p>voltadas ao aspecto metodológico da educação ambiental,</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>33</p><p>quando se fizer necessário, é facultada a criação de disciplina</p><p>específica.</p><p>QUESTÕES</p><p>7. (Juiz de Direito do TJMT. Vunesp – 2018) (adaptada). A respeito da Política</p><p>Nacional de Educação Ambiental, pode se afirmar que a educação ambiental deve</p><p>ser implementada como disciplina específica no currículo da educação básica.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>8. (Promotor de Justiça do MPSC. 2016). Segundo recente alteração da Lei n.</p><p>9.795/99, a educação ambiental será desenvolvida como uma prática educativa</p><p>integrada, contínua e temporânea em todos os níveis e modalidades do ensino</p><p>formal, devendo ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>Ela será desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e</p><p>permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal. Deveras, as</p><p>atividades vinculadas à Política Nacional de Educação Ambiental devem ser</p><p>desenvolvidas na educação em geral e na educação escolar, por meio das seguintes</p><p>linhas de atuação inter-relacionadas:</p><p>• Capacitação de recursos humanos;</p><p>• Desenvolvimento de estudos, pesquisas e experimentações;</p><p>• Produção e divulgação de material educativo;</p><p>• Acompanhamento e avaliação.</p><p>Observação: vale ressaltar que a dimensão ambiental deve constar dos</p><p>currículos de formação de professores, em todos os níveis e em todas as disciplinas.</p><p>Registre-se, ainda, que a PNEA deve ser executada, dentre outros, pelos</p><p>órgãos do SISNAMA, nos termos do art. 1º do Decreto Federal n.º 4.281/02:</p><p>Art. 1o A Política Nacional de Educação Ambiental será</p><p>executada pelos órgãos e entidades integrantes do Sistema</p><p>Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA, pelas instituições</p><p>educacionais públicas e privadas dos sistemas de ensino, pelos</p><p>órgãos públicos da União, Estados, Distrito Federal e</p><p>Municípios, envolvendo entidades não governamentais,</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>34</p><p>entidades de classe, meios de comunicação e demais</p><p>segmentos da sociedade. [grifo nosso]</p><p>Por fim, é importante apontar os objetivos fundamentais da educação</p><p>ambiental definidos pela PNEA:</p><p>• O desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente</p><p>em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos</p><p>ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos,</p><p>científicos, culturais e éticos;</p><p>• A garantia de democratização das informações ambientais;</p><p>• O estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a</p><p>problemática ambiental e social;</p><p>• O incentivo à participação individual e coletiva, permanente e</p><p>responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente,</p><p>entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor</p><p>inseparável do exercício da cidadania;</p><p>• O estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis</p><p>micro e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade</p><p>ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade,</p><p>igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e</p><p>sustentabilidade;</p><p>• O fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a</p><p>tecnologia;</p><p>• O fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e</p><p>solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade.</p><p>Portanto, além de ser em um dos princípios (diretrizes) da PNMA, a</p><p>educação ambiental se constitui em dever constitucional do Poder Público e deve</p><p>ser executada através da implementação de sua Política Nacional própria, a PNEA.</p><p>Além disso, a PNMA ainda estabelece importantes conceitos legais que</p><p>devem ser utilizados para a correta interpretação e aplicação das diversas normas</p><p>ambientais do Microssistema Jurídico de Tutela Ambiental, a exemplo do conceito</p><p>do Meio Ambiente, conforme abaixo:</p><p>Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>35</p><p>I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e</p><p>interações de ordem física, química e biológica, que permite,</p><p>abriga e rege a vida em todas as suas formas;</p><p>Em verdade, nos termos da jurisprudência do STF, a defesa do meio</p><p>ambiente deve contemplar não só o meio ambiente natural ou físico (os recursos</p><p>naturais, como a fauna, flora, recursos hídricos etc.), mas também o meio ambiente</p><p>cultural (relativo ao patrimônio cultural definido nos arts. 215 e 216 da CF), o meio</p><p>ambiente artificial (decorrente da ação humana, conforme estabelecido pela</p><p>política urbana prevista no art. 182 da CF) e o meio ambiente do trabalho ou</p><p>laboral (relativo à saúde e a segurança nos locais de trabalho, conforme previsto</p><p>no art. 200, inciso VIII da CF):</p><p>[...] A incolumidade do meio ambiente não pode ser</p><p>comprometida por interesses empresariais nem ficar</p><p>dependente de motivações de índole meramente econômica,</p><p>ainda mais se se tiver presente que a atividade econômica,</p><p>considerada a disciplina constitucional que a rege, está</p><p>subordinada, dentre outros princípios gerais, àquele que</p><p>privilegia a "defesa do meio ambiente" (CF, art. 170, VI), que</p><p>traduz conceito amplo e abrangente das noções de meio</p><p>ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio</p><p>ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente</p><p>laboral. [...] (ADI 3540 MC, Relator(a): CELSO DE MELLO,</p><p>Tribunal Pleno, julgado em 01/09/2005, DJ 03-02-2006 PP-</p><p>00014 EMENT VOL-02219-03 PP-00528).</p><p>QUESTÕES</p><p>9. (Juiz de Direito do TJBA. Cebraspe – 2019) De acordo com a jurisprudência do</p><p>STF, o conceito de meio ambiente inclui as noções de meio ambiente</p><p>a) artificial, histórico, natural e do trabalho.</p><p>b) cultural, artificial, natural e do trabalho.</p><p>c) natural, histórico e biológico.</p><p>d) natural, histórico, artificial e do trabalho.</p><p>e) cultural, natural e biológico.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>36</p><p>A PNMA ainda estabelece os seguintes conceitos legais que também devem</p><p>ser utilizados em todo o Microssistema Jurídico de Tutela Ambiental:</p><p>• Degradação ambiental: a alteração adversa das características do meio</p><p>ambiente;</p><p>• Poluição: a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades</p><p>que direta ou indiretamente:</p><p>a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da</p><p>população;</p><p>b) criem condições adversas às atividades sociais e</p><p>econômicas;</p><p>c) afetem desfavoravelmente a biota;</p><p>d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio</p><p>ambiente;</p><p>e) lancem matérias ou energia em desacordo com os</p><p>padrões ambientais estabelecidos;</p><p>• Recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e</p><p>subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os</p><p>elementos da biosfera, a fauna e a flora;</p><p>• Poluidor: a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,</p><p>responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de</p><p>degradação ambiental.</p><p>QUESTÃO</p><p>10. (Promotor de Justiça do MPSP. 2013) Para</p><p>os fins da Lei n.º 6.938, de 31 de</p><p>agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, entende-</p><p>se por</p><p>I. meio ambiente o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem</p><p>física, química, estética, urbana e paisagística que permite, abriga e rege a vida em</p><p>todas as suas formas;</p><p>II. poluidor a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável,</p><p>direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental;</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>37</p><p>III. poluição a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que</p><p>direta ou indiretamente, entre outras, prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-</p><p>estar da população e criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;</p><p>IV. degradação da qualidade ambiental a alteração, adversa ou não, das</p><p>características do meio ambiente;</p><p>V. recursos ambientais a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas,</p><p>os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna</p><p>e a flora.</p><p>Está CORRETO somente o contido nos itens</p><p>a) I, II e IV.</p><p>b) III, IV e V.</p><p>c) II, III e V.</p><p>d) II, III e IV.</p><p>e) I, IV e V.</p><p>Consoante acima, o conceito legal de poluidor é alargado para alcançar</p><p>qualquer pessoa, natural ou jurídica, de direito público ou privado, que seja</p><p>responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação</p><p>ambiental.</p><p>Exemplo: se o órgão ambiental municipal (órgão local) concede, por meio</p><p>de conluio e fraude, uma licença ambiental inválida (por falta de competência), e o</p><p>beneficiário – de posse dessa licença ambiental – promove o desmatamento de</p><p>grande área de vegetação nativa, ambos serão considerados poluidores. O</p><p>beneficiário da licença, sem dúvida, será o poluidor direto, ao posso que o</p><p>município será o poluidor indireto. Desse modo, ambos poderão figurar no polo</p><p>passivo de uma ação civil pública movida para condená-los na obrigação de reparar</p><p>e indenizar os danos ambientais causados.</p><p>Desse exemplo é possível se extrair a relevantíssima função do conceito</p><p>alargado de poluidor, que também permitirá a responsabilização daqueles que</p><p>contribuírem apenas indiretamente para a poluição ou degradação do meio</p><p>ambiente.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>38</p><p>QUESTÃO</p><p>11. (Promotor de Justiça do MPMT. FCC – 2019). Segundo prevê o art. 225 da</p><p>Constituição Federal “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente</p><p>equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,</p><p>impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo</p><p>para as presentes e futuras gerações”. Nesse caso,</p><p>A) degradação ambiental e poluição são expressões que se equivalem.</p><p>B) como cabe ao Poder Público o dever de defender o meio ambiente, jamais</p><p>poderá ser responsabilizado por sua degradação.</p><p>C) o poluidor será sempre a pessoa física ou jurídica de direito privado,</p><p>responsável, direta ou indiretamente, pela degradação ambiental.</p><p>D) o poluidor será a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,</p><p>responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação</p><p>ambiental.</p><p>E) a poluição será sempre ilícita.</p><p>1.3.2. Constitucionalização da Tutela Ambiental e da</p><p>Política Nacional do Meio Ambiente</p><p>Apesar dos importantes avanços no sistema de proteção ambiental</p><p>promovidos com a aprovação da Lei Federal n.º 6.938/81, que instituiu o SISNAMA</p><p>e o PNMA, é certo que a tutela do meio ambiente somente restou</p><p>constitucionalizada com a aprovação do art. 225 da Constituição da República atual,</p><p>em 1988, que elevou o meio ambiente ecologicamente equilibrado à condição de</p><p>bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, passando a ser</p><p>esse o fundamento constitucional da proteção ambiental em nosso ordenamento</p><p>jurídico:</p><p>Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente</p><p>equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia</p><p>qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à</p><p>coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as</p><p>presentes e futuras gerações. [grifo nosso]</p><p>Dessa forma, o meio ambiente ecologicamente equilibrado passou à</p><p>condição de direito fundamental de terceira geração com o advento da atual</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>39</p><p>Constituição da República, inspirada nos princípios firmados pela Declaração sobre</p><p>o Meio Ambiente aprovada na Conferência de Estocolmo de 1972. Esta é a razão</p><p>do porquê não se poderia, por exemplo, simplesmente extinguir ou revogar a</p><p>PNMA, sob pena de se violar os comandos constitucionais de proteção ambiental.</p><p>Além disso, o Constituinte originário elevou à condição de Patrimônio</p><p>Nacional os seguintes biomas brasileiros:</p><p>• Floresta Amazônica;</p><p>• Mata Atlântica;</p><p>• Serra do Mar;</p><p>• Pantanal Mato-Grossense;</p><p>• Zona Costeira.</p><p>Com isso, esses biomas passaram a ostentar proteção constitucional</p><p>especial, razão pela qual sua exploração está sujeita a regras mais rigorosas</p><p>estabelecidas pela legislação ambiental infraconstitucional. Sua exploração só</p><p>poderá ocorrer dentro de condições que assegurem a preservação dos seus</p><p>recursos naturais:</p><p>Art. 225.</p><p>[...]</p><p>§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra</p><p>do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são</p><p>patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei,</p><p>dentro de condições que assegurem a preservação do meio</p><p>ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.</p><p>Assim, por exemplo, a Lei Federal n.º 11.428/06 (Lei da Mata Atlântica),</p><p>como regra, proíbe a supressão de vegetação primária e secundária em estágio</p><p>avançado e médio de regeneração na Mata Atlântica, cuja intervenção somente</p><p>será excepcionalmente permitida nos casos de utilidade pública, de pesquisas e de</p><p>práticas preservacionistas, sob pena da caracterização crime ambiental (art. 38-A</p><p>da Lei Federal n.º 9.605/98):</p><p>Art. 20. O corte e a supressão da vegetação primária do Bioma</p><p>Mata Atlântica somente serão autorizados em caráter</p><p>excepcional, quando necessários à realização de obras,</p><p>projetos ou atividades de utilidade pública, pesquisas</p><p>científicas e práticas preservacionistas.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>40</p><p>[...]</p><p>Art. 21. O corte, a supressão e a exploração da vegetação</p><p>secundária em estágio avançado de regeneração do Bioma</p><p>Mata Atlântica somente serão autorizados:</p><p>I - em caráter excepcional, quando necessários à execução de</p><p>obras, atividades ou projetos de utilidade pública, pesquisa</p><p>científica e práticas preservacionistas;</p><p>[...]</p><p>Art. 23. O corte, a supressão e a exploração da vegetação</p><p>secundária em estágio médio de regeneração do Bioma Mata</p><p>Atlântica somente serão autorizados:</p><p>I - em caráter excepcional, quando necessários à execução de</p><p>obras, atividades ou projetos de utilidade pública ou de</p><p>interesse social, pesquisa científica e práticas preservacionistas;</p><p>Outro exemplo é o art. 10 da Lei Federal n.º 12.651/12 (novo código</p><p>florestal) que restringe novas supressões da vegetação nativa nos pantanais e</p><p>planícies pantaneiras, situadas sobretudo no Pantanal Mato-Grossense,</p><p>consoante será estudado em tópico futuro:</p><p>Art. 10. Nos pantanais e planícies pantaneiras, é permitida a</p><p>exploração ecologicamente sustentável, devendo-se</p><p>considerar as recomendações técnicas dos órgãos oficiais de</p><p>pesquisa, ficando novas supressões de vegetação nativa para</p><p>uso alternativo do solo condicionadas à autorização do órgão</p><p>estadual do meio ambiente, com base nas recomendações</p><p>mencionadas neste artigo.</p><p>A Lei Federal n.º 7.661/881 também disciplina a utilização racional dos</p><p>recursos da Zona Costeira, que deve observar</p><p>as disposições do Plano Nacional de</p><p>Gerenciamento Costeiro – PNGC:</p><p>Art. 3º. O PNGC deverá prever o zoneamento de usos e</p><p>atividades na Zona Costeira e dar prioridade à conservação e</p><p>proteção, entre outros, dos seguintes bens:</p><p>I - recursos naturais, renováveis e não renováveis; recifes,</p><p>parcéis e bancos de algas; ilhas costeiras e oceânicas; sistemas</p><p>fluviais, estuarinos e lagunares, baías e enseadas; praias;</p><p>promontórios, costões e grutas marinhas; restingas e dunas;</p><p>florestas litorâneas, manguezais e pradarias submersas;</p><p>II - sítios ecológicos de relevância cultural e demais unidades</p><p>naturais de preservação permanente;</p><p>1 Regulamentada pelo Decreto Federal n.º 5.300/04.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>41</p><p>III - monumentos que integrem o patrimônio natural, histórico,</p><p>paleontológico, espeleológico, arqueológico, étnico, cultural e</p><p>paisagístico.</p><p>[...]</p><p>Art. 5º. O PNGC será elaborado e executado observando</p><p>normas, critérios e padrões relativos ao controle e à</p><p>manutenção da qualidade do meio ambiente, estabelecidos</p><p>pelo CONAMA, que contemplem, entre outros, os seguintes</p><p>aspectos: urbanização; ocupação e uso do solo, do subsolo e</p><p>das águas; parcelamento e remembramento do solo; sistema</p><p>viário e de transporte; sistema de produção, transmissão e</p><p>distribuição de energia; habitação e saneamento básico;</p><p>turismo, recreação e lazer; patrimônio natural, histórico,</p><p>étnico, cultural e paisagístico.</p><p>§ 1º Os Estados e Municípios poderão instituir, através de lei,</p><p>os respectivos Planos Estaduais ou Municipais de</p><p>Gerenciamento Costeiro, observadas as normas e diretrizes do</p><p>Plano Nacional e o disposto nesta lei, e designar os órgãos</p><p>competentes para a execução desses Planos.</p><p>§ 2º Normas e diretrizes sobre o uso do solo, do subsolo e das</p><p>águas, bem como limitações à utilização de imóveis, poderão</p><p>ser estabelecidas nos Planos de Gerenciamento Costeiro,</p><p>Nacional, Estadual e Municipal, prevalecendo sempre as</p><p>disposições de natureza mais restritiva.</p><p>Não obstante isso, não há que se confundir Patrimônio Nacional com bem</p><p>federal ou da União, haja vista que aquela locução revela proclamação de defesa</p><p>de interesses do Brasil diante de eventuais ingerências estrangeiras, apenas isso,</p><p>conforme assentado na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. Portanto,</p><p>esses biomas constitucionalmente considerados como patrimônio nacional não</p><p>constituem patrimônio da União, mas sim pertencem aos respectivos Estados e</p><p>Municípios onde estão situados.</p><p>Logo, as infrações decorrentes de violação da vegetação desses biomas</p><p>tidos como patrimônio nacional, por si sós, não são de competência da Justiça</p><p>Federal, conforme será estudado no Sisrespia.</p><p>E frise-se: Os relevantíssimos biomas cerrado e caatinga, que ocupam</p><p>grande parte do território do Brasil, não são considerados patrimônio nacional</p><p>pela Constituição da República, por um verdadeiro lapso do Constituinte</p><p>originário de 1988.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>42</p><p>QUESTÃO</p><p>12. (Juiz de Direito do TJAC. Vunesp – 2019) (adaptada). Todos têm direito ao meio</p><p>ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à</p><p>sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de</p><p>defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (Caput do artigo 225</p><p>da CF/88)</p><p>Nesse sentido, é correto afirmar que a Floresta Amazônica brasileira, a</p><p>Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense, o Cerrado, a Zona da</p><p>Mata e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á na forma</p><p>da lei.</p><p>( ) Certo ( ) Errado</p><p>Ainda é importante ressaltar que, com a constitucionalização da tutela</p><p>ambiental, os animais passaram a ostentar proteção contra práticas cureis, que</p><p>foram vedadas pelo Constituinte originários, nos seguintes termos:</p><p>Art. 225.</p><p>[...]</p><p>VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as</p><p>práticas que coloquem em risco sua função ecológica,</p><p>provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a</p><p>crueldade.</p><p>Daí porque a proibição da caça de animais prevista no art. 2º da Lei Federal</p><p>n.º 5.197/67 e a proibição da pesca de cetáceos (baleias e golfinhos) tipificada como</p><p>crime no art. 2º da Lei Federal n.º 7.643/87 foram recepcionadas pela Constituição</p><p>da República de 1988, haja vista que se constituem em práticas cruéis.</p><p>Assim, somente se admite a caça de controle, haja vista que propicia o</p><p>reequilíbrio do ecossistema contra o aumento desproporcional de certos animais</p><p>predadores em determinadas localidades, com fundamento em estudos</p><p>ambientais, e a caça científica, consoante decidido no julgamento da ADI n.º 5977</p><p>pelo c. STF e previsto na Lei Federal n.º 5.197/67:</p><p>Art. 2º.</p><p>[...]</p><p>§ 2º Será permitida mediante licença da autoridade</p><p>competente, a apanha de ovos, lavras e filhotes que se</p><p>destinem aos estabelecimentos acima referidos, bem como a</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>43</p><p>destruição de animais silvestres considerados nocivos à</p><p>agricultura ou à saúde pública.</p><p>[...]</p><p>Art. 14. Poderá ser concedida a cientistas, pertencentes a</p><p>instituições científicas, oficiais ou oficializadas, ou por estas</p><p>indicadas, licença especial para a coleta de material destinado</p><p>a fins científicos, em qualquer época.</p><p>Assim, práticas conhecidas como “farra do boi”, “briga ou rinha de galos”,</p><p>caça profissional (causadora de extinção de espécies), esportiva ou amadorística</p><p>(TRF4, EI na AC n.º 2004.71.00.021481-2/RS), e a vaquejada, regulamentadas em</p><p>leis estaduais, são proibidas e foram consideradas inconstitucionais pelo Supremo</p><p>Tribunal Federal ante a proteção constitucional dos animais insculpida no art.</p><p>225, §1º, inciso VII da CR/88 (ex.: ADI n.º 4983).</p><p>QUESTÃO</p><p>13. (Procurador do Município da PGM/Inhapi-AL. Copeve/Ufal – 2015). A respeito</p><p>do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado previsto na Constituição</p><p>Federal de 1988 e das regras estabelecidas para proteção da fauna e da flora</p><p>brasileiras, é correto afirmar:</p><p>A) embora a Constituição de 1988 restrinja a prática de atividades que</p><p>impliquem maus-tratos contra animais, a legislação penal em vigor tipifica como</p><p>crime apenas o ato praticado contra animais silvestres nativos.</p><p>B) o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado impede qualquer</p><p>forma de violência ou prática de ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animal</p><p>silvestre, ressalvadas as práticas autorizadas na lei complementar em vigor.</p><p>C) as regras voltadas à proteção do meio ambiente, na Constituição Federal</p><p>de 1988, têm estatura de direito fundamental, tipificando como ilícitas quaisquer</p><p>atividades econômicas que impliquem a emissão de poluentes tóxicos e</p><p>degradação do meio ambiente natural.</p><p>D) a Constituição de 1988 traz regra expressa que veda práticas que</p><p>submetam os animais a crueldade e, já serviu de fundamento para que o STF se</p><p>pronunciasse sobre a inconstitucionalidade da prática de “briga de galo” e da</p><p>manifestação conhecida como “farra do boi”.</p><p>RAFAEL ROCHA. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 2</p><p>44</p><p>E) para assegurar o direito ao meio ambiente equilibrado, a Constituição de</p><p>1988 veda a exploração de recursos minerais que implique degradação do meio</p><p>ambiente natural, devendo ser responsabilizada criminalmente pessoa física ou</p><p>jurídica que desenvolva a atividade.</p><p>Também em razão da tutela constitucional dos animais, o art. 32 da Lei</p><p>Federal n.º 9.605/98 tipificou como crime as práticas que lhes causem maus-</p><p>tratos.2</p><p>Registre-se que o depósito e a guarda de animais silvestres, consistentes</p><p>naqueles que vivem naturalmente fora do cativeiro (considerados propriedade do</p><p>Poder Público3), a exemplo dos micos, papagaios</p>

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