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<p>Repetições familiares</p><p>O que você chama</p><p>de amor não passa</p><p>de repetições de</p><p>traumas infantis.</p><p>JULIANA SCHAUN MATOS BENFICA</p><p>Sumário</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>O DESCONHECIDO</p><p>SE DIFERENCIAR É O PRIMEIRO PASSO</p><p>APRENDENDO A TER INDEPENDÊNCIA</p><p>AS FERIDAS DA INFÂNCIA</p><p>COMO VOCÊ SE COLOCA NAS RELAÇÕES</p><p>FAMÍLIAS ABUSIVAS</p><p>RESSIGNIFICANDO A RELAÇÃO COM OS PAIS</p><p>O QUE VOCÊ DAR E O QUE RECEBE NAS RELAÇÕES</p><p>CONCLUSÃO: e agora o que fazer com esse saber?</p><p>3</p><p>4</p><p>6</p><p>7</p><p>9</p><p>10</p><p>12</p><p>14</p><p>15</p><p>16</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>A grande pergunta desse livro é, quem é você? Como você se constituiu?</p><p>Como sua história conta sobre seus sofrimentos?</p><p>Objetivos a serem desenvolvidos:</p><p>- Ampliar o seu repertório emocional, a partir da tomada de consciência e</p><p>nomeação dos sentimentos.</p><p>- Delimitar os limites internos e externos, entendendo o que você pode,</p><p>merece e o que você quer.</p><p>- Aprender a comunicar suas necessidades.</p><p>Quem te ensinou o que é ser mulher? quem te ensinou sobre amor,</p><p>respeito e merecimento? Quem são suas referências? Seus mestres?</p><p>Suas inspirações? Quem te ensinou ou ensina algo sobre o mundo? As</p><p>coisas não ditas são as mais importantes. Aquilo que não se vê</p><p>quando se olha é o que mais marca. Aquilo que não se escuta</p><p>quando se ouve é o que tatua a alma. As coisas que não são ditas são</p><p>as mais importantes. Muitas vezes aquilo que mais nos marcou nos</p><p>nossos pais foram ditos, atos, caras e bocas dos quais eles sequer têm</p><p>ideia. Somos feitos de muitas gerações. Aquilo que não se diz de uma</p><p>geração para a outra se transmite de modo inconsciente. Entre a mãe e</p><p>filha existe todo um mundo e é ele, o mundo, o que mais interessa.</p><p>A gente aprende sobre o amor essencialmente na nossa infância. A</p><p>maior parte de nós passa o resto da vida buscando repetir nas nossas</p><p>relações adultas tudo que a gente aprendeu sobre amor lá na atrás.</p><p>Esse é o piloto automático e é o que a maior parte de nós faz. Acontece</p><p>que se na sua infância o que você aprendeu que era amor tiver sido</p><p>construído numa dinâmica de trauma, você tenderá a reproduzir isso na</p><p>vida adulta sem se dar conta. E isso te leva a confundir amor da sua</p><p>vida com repetições de lugares infantis. Por isso tanto sofrimento.</p><p>Uma criança vivencia como uma experiência traumática é diferente de</p><p>estresse pós traumático, ou seja, pode ser bem mais sutil do que você</p><p>pressupõe, como ter figuras de cuidado que são confusas, limitadoras,</p><p>siliciadoras, etc.</p><p>Por ex.: aquele pai extremamente crítico, em relação ao qual era um</p><p>sacrifício para a criança ter uma troca de validação e reconhecimento do</p><p>valor dela. Que condicionava a expressão afetiva dele a que a filha</p><p>atendesse a inúmeros critérios. Qualquer pequeno deslize era punido</p><p>com distanciamento emocional.</p><p>Isso é traumático para uma criança: é um esforço descomunal e</p><p>inseguro demais para ela nunca saber se um deslize que ela desse</p><p>poderia fazê-la perder o reconhecimento e amor por todas as outras</p><p>coisas boas que fez. A adulta que essa criança vai se tornar pode</p><p>acreditar que amor é aquela coisa que ela precisa perseguir</p><p>incansavelmente e que é tão escorregadio que uma pequena</p><p>imperfeição qualquer que ela tenha pode fazê-la perder a chance de ser</p><p>amada. E ela não vai achar que o problema está naquilo que ela</p><p>entende como amor, mas sim nela mesma que não se esforçou o</p><p>suficiente, porque foi isso que ela aprendeu!</p><p>O desconhecido mundo interno</p><p>Nosso mundo interno é como um terreno desconhecido. Não estamos</p><p>conscientes da maior parte das coisas que vivemos. Muitos de nós</p><p>aprendemos a viver orientado para fora, o que nos coloca em</p><p>desvantagem em relação a esse contato necessário com o mundo interno</p><p>para que mudanças possam acontecer.</p><p>Aprender a ocupar nosso mundo interno, a sentir e se apropriar dos</p><p>nossos sentimentos, desejos, necessidades é uma habilidade que</p><p>vamos desenvolvendo ao longo da vida. A dependência, insegurança e</p><p>baixa autoestima é um sintoma de uma dificuldade na tarefa de manejar</p><p>o que é interno ou externo, e faz com que fiquemos dependentes do</p><p>outro para saber como nos sentimos, o que queremos e o que somos</p><p>capazes. Percebe como isso te coloca vulnerável, dependente, vivendo</p><p>em função do outro, com pouca ou nenhuma autonomia?</p><p>Então a proposta dessa aula é que possamos refletir como você construiu</p><p>o seu mundo interno, e quais são os elementos que o constitui. Para isso,</p><p>vamos começar refletindo sobre sua infância.</p><p>Como foi a relação dos seus pais? Como as mulheres da sua família</p><p>falavam e falam sobre relações? como se comportam os homens da</p><p>sua família?</p><p>Precisamos entender que muito do sofrimento que sentimos</p><p>transcende ao biológico, está ligado a esse mundo interno</p><p>desconhecido, sem nos darmos tanto conta disso. A descoberta</p><p>de Freud traz uma constatação dolorosa a todos, ao sabermos que o</p><p>eu de cada um, “não era mais senhor em sua própria moradia”.</p><p>Cada um descobriu que não era dono de toda situação sobre sua</p><p>vida, já que haviam escolhas que estavam relacionadas não com</p><p>sua consciência e sim com o seu inconsciente. Um Outro fala em</p><p>mim. Existe um Outro em mim? Não sou dono de todas as minhas</p><p>escolhas? Existe algo que não entendo em relação ao meu</p><p>sofrimento?</p><p>Foram algumas das formulações feitas. Formulações essas, que</p><p>abalaram o rigor e o narcisismo de alguns, provocaram entusiasmo</p><p>naqueles que descobriram que podiam curar-se, e rechaço em</p><p>outros que não queriam ver nem ouvir o que a psicanálise tinha a</p><p>dizer. Esses sentimentos ainda são atuais.</p><p>Então precisamos entender que apesar dessa repetição ai hoje</p><p>ser um lugar quentinho, ela é um lugar apertado. E despender-</p><p>se dela implica em tolerar a perda de um sofrimento já</p><p>conhecido. E fato é que, preferimos sofrer com algo habitual do que</p><p>corrermos o risco da novidade.</p><p>O que é preciso, é ter coragem de viver, de sair desse lugar</p><p>conhecido e apertado do sofrimento, para o arejado do novo,</p><p>mas pra isso seu desejo precisa reinar. Por isso Lacan disse que o</p><p>melhor remédio para angústia é o desejo. Já que ali onde há só</p><p>repetição, o desejo faz furo e convoca o movimento.</p><p>Se diferenciar é o primeiro passo</p><p>Lacan diz que o inconsciente é o discurso do outro, o que ele quer</p><p>dizer com isso? Que há um outro que fala atráves de nós, que se</p><p>infiltra no nosso discurso, nas nossas opiniões, e principalmente</p><p>nas nossas escolhas.</p><p>Antes mesmo de nascermos, somos idealizados. E sem isso não</p><p>sobreviveriamos, afinal, necessitamos de cuidado, quando nascemos</p><p>somos totalmente dependentes. Mas o capitalismo também está nas</p><p>relações, então existe um preço imbutido desde o nome que</p><p>recebemos.</p><p>O que foi idealizado, seja pra nós, ou pra eles, retorna como</p><p>expectativas, até mesmo exigências, que atravessa nosso eu,</p><p>aparecendo como culpa, a culpa de não dar conta de sustentar o</p><p>peso do ideal do eu, este produzido pelo outro em nós.</p><p>Os pais esperam, e alguns até exigem, gratidão de seus filhos, são</p><p>como agiotas emocionais, eles até investem o capital, contanto</p><p>que recebem os juros depois. E nossa dimensão narcísica somos</p><p>lançados ao perfeccionismo, criando uma armadura na tentativa de</p><p>manter intacta essa imagem ideal. E mesmo que cause dor, prejuízo,</p><p>sofrimento, nunca mantemos um comportamento por fruto do</p><p>acaso, ele tem um ganho, ainda que secundário.</p><p>É um ganho narcísico, baseado no narcisismo infantil, que nada tem</p><p>a ver com patologia, mas segundo o pensamento Freudiano, seria o</p><p>apego a idealização, mais especificamente, o ideal do eu que</p><p>você gostaria de ser. O nosso narcisismo nos leva a nos afogar,</p><p>assim como Narcíso, em nossa própria adoração do ideal do eu, na</p><p>fuga do que a realidade escancara: somos falhos, faltantes,</p><p>incompletos, e imperfeitos.</p><p>O narcisismo não produz só pessoas manipuladoras, mas</p><p>culpadas.</p><p>Ex. Pessoas que fazem tudo pro outro, fazem mil coisas dizendo que</p><p>é para o bem de todos, mas no fundo é pra sustentar a imagem</p><p>boazinha, perfeita, narcísica. Imagem essa que parte muito da</p><p>percepção e idealização de nossos pais e cuidadores.</p><p>A grande parte das culpas que sentimos são narcísicas. Como</p><p>quando nos sentimos culpados</p><p>por não atender as demandas</p><p>alheias, chega a doer e dar desespero algumas vezes. Não que o</p><p>desespero não seja real, é, mas a posição em que nos colocamos é</p><p>narcísica, por isso a rejeição dói tanto, queremos ser o complemento</p><p>do outro, ser insubstituível.</p><p>A culpa então é dos meus pais? De forma nenhuma, mas já</p><p>percebeu como suas relações e suas reclamações tem um ponto</p><p>em comum que se repete? O ponto não é perguntar porque</p><p>acontecem determinadas coisas, mas tomar coragem de se</p><p>perguntar por que você vai sempre pelo mesmo caminho. Estamos</p><p>falando aqui de um processo inconsciente, a busca por uma</p><p>satisfação que ficou suspensa, algo que não foi elaborado, ou um</p><p>desejo não realizado. Você repete sistematicamente na tentativa</p><p>de elaborar a situação anterior.</p><p>Freud diz que, não recordamos o que esquecemos, a gente</p><p>expressa-o pela atuação, não como lembrança, mas como ações</p><p>que se repetem. E suas relações são reflexo disso, é isso que você</p><p>busca nos seus relacionamentos, mas que não tenha consciência.</p><p>Aprendendo a ter independência</p><p>Segundo Stanton e Archie nós aprendemos hábitos dependentes</p><p>ao crescermos numa cultura que nos ensina um senso de</p><p>inadequação pessoal, a buscarmos apoio fora de nós, e a nos</p><p>preocuparmos mais com o que é negativo e com a dor do que com o</p><p>que é positivo e com a felicidade.</p><p>Um fato fundamental quando trabalhamos a</p><p>dependência/codependência e o vício emocional nessas dinâmicas de</p><p>se deparar com o conflito da liberdade e a dependencia, porque</p><p>a liberdade assusta, ela nos apresentam possibilidades para as</p><p>quais não nos sentimos equipadas. E a dependencia por mais</p><p>danosa que seja pra mulher é uma forma de se apoiar em alguém, é</p><p>o nosso conto de fadas, esperando que um dia alguém venha nos</p><p>salvar de nós mesmas, da angústia de ser adulta, e dona da própria</p><p>vida. é entender que o sujeito é produzido pelo seu meio.</p><p>Por isso, nunca podemos pensar o sujeito fora do meio em que está</p><p>inserido e nunca podemos simplesmente individualizar um</p><p>sofrimento culpabilizando o sujeito e colocando exclusivamente nas</p><p>suas mãos a culpa por ter chegado até aquele ponto. Mas</p><p>precisamos nos responsabilizar.</p><p>Como vamos vencer uma batalha se não sabemos contra quem</p><p>estamos lutando, não é mesmo? O caminho a ser percorrido num</p><p>tratamento para a dependência/codependência emocional é o de dar</p><p>ao sujeito condições de reconstruir sua autoestima, se apropriar</p><p>da sua autoeficácia, da crença de que ele é capaz de lidar com a</p><p>vida de maneira criativa, resiliente e potente para garantir</p><p>aquilo que precisa. Você pode confiar em si mesma sem precisar de</p><p>uma fonte superficial de resolução para a própria vida que lhe traga</p><p>uma falsa segurança e reforce sua dependência. Além de que toda</p><p>essa dinâmica tende a ser uma enorme compulsão a repetição de</p><p>traumas vividos na infância.</p><p>E o que seriam traumas? aquilo que te desorganiza, aquilo que te</p><p>acontece sendo interna ou externamente e fica ali de forma fixa te</p><p>fazendo sofrer sem que você consiga mudar a rota, o destino, e está</p><p>sempre indo para o mesmo lugar, ainda que doa. O trauma repete</p><p>compulsivamente demandando do psiquismo uma energia que</p><p>desgasta e te limita. E a vida é traumática, a infância é traumática,</p><p>o nascimento é traumático, ele precisa ser superado.</p><p>As 5 feridas da infância</p><p>Nossa infância e as primeiras experiências afetivas que ela carrega</p><p>influenciam na forma como nos relacionamos e lidamos com o</p><p>mundo hoje. As feridas da infância não ficam na infância. Vamos ver</p><p>se você se identifica com alguma delas? Abandono, rejeição, injustiça,</p><p>traição e humilhação.</p><p>Abandono - Pessoas que experienciam negligências na infância</p><p>podem ter medo de solidão e não desenvolvem a noção de amparo</p><p>saudável; Em relacionamentos podem aparecer através da</p><p>dependência do outro e dificuldade de estar em solitude.</p><p>Rejeição - A criança que só é amada com condições gera no adulto</p><p>um medo de ser quem ele é Isso faz com que essa pessoa busque na</p><p>relação um reconhecimento constantemente do outro.</p><p>Humilhação - Crianças que sofrem humilhação tem dificuldade de</p><p>entender o seu lugar de dignidade no mundo. Quando adultos,</p><p>podem ter a tendência de se vincular ao outro quando são</p><p>humilhados dentro da relação</p><p>Traição - Promessas não cumpridas são uma forma comum de</p><p>traição que gera adultos desconfiados e com necessidade de</p><p>controle. Nos relacionamentos essas pessoas são mais exigentes por</p><p>medo de serem enganadas.</p><p>Injustiça - Exigir de uma criança mais do que ela pode dar, gera um</p><p>sentimento de injustiça que acompanha impotência e raiva. Podem</p><p>se tornar adultos que não confiam em si para tomar decisões.</p><p>Acolher essas feridas pode ser um processo complexo e dolorido,</p><p>né? Mas se não cuidamos dessa ferida, sentimos o medo muito</p><p>intensamente a cada gatilho que cruza nossa jornada, o que só</p><p>aumenta nosso sofrimento e nos afasta de nós mesmos.</p><p>Lidar com essas feridas envolve trabalhar a autoconfiança e o</p><p>autoconhecimento para você precisa entender o que gerou o</p><p>machucado. Se contar a sua história e entender quais são as suas</p><p>faltas é o que te permite se responsabilizar por elas de uma maneira</p><p>mais leve, confiante e autossuficiente. Aos poucos, o medo fica</p><p>menos intenso e você consegue dialogar mais com ele ao invés de</p><p>apenas reagir. É um processo!</p><p>Essas feridas aparecem nas suas relações com o outro e consigo</p><p>mesmo, é quando sentimos desespero e angústia diante da</p><p>ausência do outro. Seja num rompimento, afastamento ou</p><p>qualquer sinal que isso possa acontecer, é como se a angústia</p><p>virasse quem somos, bem como a solidão e uma dor que vai</p><p>além do momento. Se você tem uma ferida de abandono, uma</p><p>situação pode virar um gatilho muito doloroso. Nesse momento, é</p><p>hora de se acolher e focar no que está no seu controle.</p><p>Então quando a ferida doer</p><p>- Lembre-se que você não vai se sentir assim para sempre. Segure na</p><p>sua própria mão e respire fundo. O que você pode fazer por você</p><p>agora? Para cuidar antes da dor...</p><p>- Qual a história da sua ferida? Você compreende que faltas está</p><p>tentando se comunicar com isso? Busque curar a ferida com menos</p><p>culpa e respeitando seus passos.</p><p>Como você se coloca nas relações?</p><p>Sua vida amorosa se beneficia quando você atravessa o infantil</p><p>e se diferencia dos seus pais. Você não precisa buscar relações que</p><p>te façam reviver o infantil. Era comum sentir medo quando criança?</p><p>Ansiedade? Invisível? A agressividade era algo normal? Estas</p><p>referências estão ai, mas você não precisa estar em relações assim.</p><p>Por mais que tenha aprendido que essa é a forma de encontrar o</p><p>amor.</p><p>Influenciando intrinsecamente na nossa noção de bem-estar e</p><p>saúde, mudando até mesmo a visão que temos do nosso próprio</p><p>eu. Eles agem como guias de comportamentos, emoções,</p><p>censuras, desejos, e limites. E como diz Bell Hooks,</p><p>“O patriarcado, como qualquer sistema de dominação, precisa socializar</p><p>todo mundo para acreditar que em todas as relações humanas há um</p><p>lado superior e um inferior, que uma pessoa é forte e a outra, fraca, e,</p><p>consequentemente, é natural que o poderoso domine o que não tem</p><p>poder". E isso define quem merece ou não ser feliz.</p><p>Como poderíamos ser mulheres fortes, independentes e</p><p>autonomas se crescemos recebendo violência, sim,</p><p>silenciamento é violencia! Sejam boazinhas, seja mocinha, cuide de</p><p>tudo e todos, sejam maduras, para de birra, não sejam mimadas.</p><p>Aprendemos que não merecemos ser felizes, porque aprendemos</p><p>a viver em função do outro. E dentro dessa lógica de sempre servir</p><p>ao outro, cuidar, ser maternal. Temos tantas referencias</p><p>traumáticas e violentas que nos apegamos ao menor sinal de</p><p>bondade de um terceiro. E não pense nisso só nas relações</p><p>amorosas, afinal, recebemos menos salários, nos sentimos culpadas</p><p>quando descansamos, quando compramos algo pra nós, quando</p><p>desfrutamos do que conquistamos e trabalhamos duro.</p><p>A nossa criança interior muitas vezes está tão carente de</p><p>cuidados devido ao temor recorrente em que vivemos que</p><p>criamos vínculos alguém minimamente não violentos, ou com</p><p>coisas mínimas.</p><p>Não acessamos nossos desejos. Precisamos acolher o conselho de</p><p>Freud quando ele diz que, não há conselho mais valido do que</p><p>cada um descobrir sua maneira particular de ser feliz. Mas Mas</p><p>para isso precisamos retomar nossa posição de sujeito desejante, de</p><p>mulher autonoma que questiona, que constroi a própria realidade, a</p><p>própria felicidade e a vida que deseja viver. Que apesar de tudo, não</p><p>nos falte coragem de desejar e de usar o tempo para construir novos</p><p>afetos.</p><p>Famílias abusivas</p><p>Na infância não é época de ensinar a criança que o mundo é duro, e</p><p>sim auxiliar e dar elementos pra que ela crie um mundo interno</p><p>seguro. E isso é feito com amor, respeito, espaço pra autonomia,</p><p>limites empáticos e afetos. Não com críticas, violência, punições e</p><p>distanciamento emocional. Afinal, com um mundo interno mais</p><p>seguro essa criança na vida adulta terá base para lidar com as</p><p>dificuldades da vida sem se quebrar ou se destruir. Mas será que</p><p>você recebeu isso?</p><p>Na vida adulta, então, começamos a perceber como alguns</p><p>comportamentos dos nossos pais nos machucaram, nos moldando</p><p>com inseguranças e feridas. O processo de cicatrizá-las começa com</p><p>a compreensão de que podemos criar uma nova relação com eles. E</p><p>mais, recriar a nós mesmos pelos nossos moldes, sendo</p><p>honestos com o que acreditamos e sentimos. Seu passado não</p><p>precisa definir quem você é hoje.</p><p>A criança, assim como precisa de cuidados físicos, também precisa</p><p>dos emocionais. Segurança, limites, atenção e compreensão são</p><p>apenas algumas de suas necessidades. As vezes os pais não</p><p>oferecem porque não são capazes: é o caso de pais imaturos</p><p>emocionais. Ou até abusivos. São pais não conseguem lidar com</p><p>suas emoções, e consequentemente, não sabem lidar com as da</p><p>criança também.</p><p>E assim entramos num ciclo onde essa criança, na vida adulta,</p><p>possivelmente ainda vai ter dificuldades em compreender a si</p><p>própria e seus sentimentos. Por isso, separei alguns tipos de pais</p><p>para ilustrar como isso se dá na infância e se revela na vida adulta.</p><p>Pais "emocionados"</p><p>- Sobrecarregados por sentimentos de ansiedade; Não de super</p><p>protetores à distantes num instante;</p><p>- Tratam chateações diárias como se fossem o fim do mundo.</p><p>Pais "guiadores"</p><p>- Estão sempre ocupados e focados em seus objetivos;</p><p>- Querem que todos a sua volta sejam perfeitos;</p><p>- São controladores e interferem na vida do filho sem levar em conta</p><p>as necessidades dele.</p><p>Pais "passivos"</p><p>- Evitam lidar com chateações;</p><p>- Minimizam problemas e são, muitas vezes, condescendentes em</p><p>relação a eles;</p><p>- Podem ser negligentes e, até mesmo, ignorar situações de violência.</p><p>Pais "passivos"</p><p>- Evitam lidar com chateações;</p><p>- Minimizam problemas e são, muitas vezes, condescendentes em</p><p>relação a eles;</p><p>- Podem ser negligentes e, até mesmo, ignorar situações de violência.</p><p>Pais "rejeitadores"</p><p>- Não apreciam a intimidade com os filhos;</p><p>- Quando interagem, se resume a comandar e ordenar;</p><p>- Preferem ficar sozinhos e, mesmo juntos, não se engajam de</p><p>verdade.</p><p>E pode ser que você carregue isso hoje nas suas relações, sempre</p><p>buscando parceiros que te colocam no mesmo lugar, se sentindo</p><p>inadequada, rejeitada, passiva, abandonada e sem importância. Por</p><p>isso é necessário que você olhe pra isso para ter consciência dessas</p><p>carências existes ai, pra que você saiba das suas próprias armadilhas e</p><p>assim faça escolhas mais conscientes e assertivas.</p><p>Você é diferente deles. Você pode cicatrizar suas feridas e criar novos</p><p>padrões de ser. Se diferenciar é romper com alguma coisa, com um</p><p>padrão antigo, com uma verdade pré-estabelecida.</p><p>Rompimentos trazem conflitos e eles nos assustam, algumas vezes</p><p>sendo dolorosas. Mas eles são válidos. Romper com o que você não</p><p>concorda/é/sente, é válido. Nós não somos a continuidade da</p><p>nossa família ou aquilo que esperam de nós. Carregamos nossos</p><p>próprios valores e subjetividades, dessas diferenças crescem novas</p><p>formas de ser.</p><p>E válido se diferenciar dos membros da sua família. É legitimo e</p><p>necessário trilhar o próprio caminho. É válido querer se afastar de</p><p>algum familiar. Seu valor continuará o mesmo. Só você sabe o que</p><p>viveu e vive. E válido frustrar as expectativas dos seus pais. O ideal</p><p>não existe. A imperfeição é uma forma de ser livre.</p><p>Ressignificando a relação com os pais</p><p>"Você pode ver meu passado através das minhas feridas, mas</p><p>não verá em mim meu passado".</p><p>Já se pode perceber até aqui que o que acontece na infância não fica</p><p>na infância, afinal, a forma como fomos criados ainda nos afetam,</p><p>dessa forma a nossa infância continua presente na vida adulta, e</p><p>isso fica explicito na forma como nos relacionamos com os</p><p>outros (e com nós mesmos).</p><p>Então a sua forma de se relacionar moldada desde que éramos</p><p>crianças, a vida adulta é apenas repetição. E ignorar essas</p><p>influências é tentar mascarar onde verdadeiramente dói. Não há</p><p>como simplesmente tentar varrer para debaixo do tapete, a ferida</p><p>vai continuar pulsando até que a visualizemos para, a partir daí,</p><p>começar o processo de cicatrização.</p><p>Se você foi muito criticado, por exemplo, você pode precisar lidar</p><p>com: Ser muito autocrítico(a), necessidade de agradar os outros</p><p>ja se eles foram indisponiveis é possível que hoje você tenha</p><p>dificuldade em valorizar e entender sentimentos.</p><p>Ou se eles foram super protetores, você pode ter lido o excesso de</p><p>cuidado como incompetência ou incapacidade sua, e hoje ter muito</p><p>medo de experimentar o novo, assim como, se eles foram</p><p>controladores, você pode ter que lidar com a dificuldade de</p><p>estabelecer limites. Ou quem sabe foram pessimistas, e hoje reine ai</p><p>os comportamentos de autossabotagem e sensação de não</p><p>merecimento, você não se autoriza a ser feliz. Há pais que são</p><p>severos e julgam, exigem, levando você a ter pavor do que vão</p><p>pensar. E assim por diante. Não significa que você irá responder</p><p>exatamente dessa forma, mas vale você pensar como foi a relação</p><p>com seus pais e como isso lhe afeta atualmente. Porque a</p><p>compreensão daquilo que te machucou é o primeiro passo para</p><p>ressignificar essas feridas.</p><p>Você é diferente deles. Você pode cicatrizar suas feridas e criar</p><p>novos padrões de ser. Sua felicidade e bem estar não dependem</p><p>mais deles. Você pode escolher como viver e o que é melhor para si.</p><p>Pare de esperar que eles mudem. Você pode mudar a si mesmo/a</p><p>sem precisar mudá-los. Não se culpe pelas experiências traumáticas</p><p>na infância. Você era uma criança e precisava ser protegida, não</p><p>culpada.</p><p>O que você da e recebe nas relações?</p><p>O que eu dou e recebo nas minhas relações, na infância, vai</p><p>construir as minhas expectativas com minhas relações na vida</p><p>adulta.</p><p>Como vejo, la na infância os adultos com quem convivo, se</p><p>relacionarem, são as formas pelas quais vou entender como devo ou</p><p>não me relacionar. As noções de respeito, fidelidade, olhar,</p><p>cuidado, carinho e todos os combos que apareceram na enquete</p><p>são construções criadas lá atrás.</p><p>Todo mundo respondeu que já teve suas expectativas frustradas</p><p>num relacionamento, e é lógico que um dia já nos decepcionamos E</p><p>agora, o que eu faço com esse saber?</p><p>porque as expectativas são projeções daquilo que "eu" acredito que</p><p>uma relação possa me oferecer. Se eu cresci num ambiente de</p><p>respeito e afeto, não vou aceitar menos que isso num</p><p>relacionamento, se eu cresci num meio rígido e autoritário, talvez</p><p>busque relações onde isso se repita porque vejo ali um lugar de</p><p>amor e acabo mergulhando em relações abusivas e não consigo sair</p><p>delas, porque foi dentro delas que cresci fui visto. Se não tive</p><p>estímulos e elogios e não fui visto, vou ter relações onde ele olhar</p><p>não vai chegar.</p><p>Mas isso não quer dizer que o resultado disso é culpa dos pais ou de</p><p>quem nos criou, cada um faz o que dá conta de fazer e cabe à gente,</p><p>na vida adulta voltar a esses lugares e entender que eles não nos</p><p>cabem mais. O que damos e recebemos nas relações depende em</p><p>essência daquilo que podemos dar e receber de nós mesmos. Se</p><p>eu não me valorizo, como posso querer que o outro me valorize? Se</p><p>não acredito em mim, com esperar que o outro acredite.</p><p>Ter uma relação saudável consigo mesmo, nos permite ver o que de</p><p>fato o outro nos dá e não aquilo que esperemos que ele nos dê toda</p><p>relação é projeção e como dizia Lacan "amar é dar o que não se tem,</p><p>para aquele que não quer". Você já se deu algo hoje? Já pensou nisso,</p><p>já viu suas relações por esse olhar?</p><p>E agora, o que eu faço com esse saber?</p><p>É claro que acesso a informação e conhecimento é crucial, e se</p><p>temos acesso a tantas informações por aqui, que possamos fazer</p><p>algum uso delas. O que quero falar com isso, é sobre você tomar</p><p>todo esse conteúdo presente aqui como semente e não como</p><p>produto, ou seja, que germine ai e não que seja algo na lógica do</p><p>consumo, mas da leitura ativa. Porque na lógica do consumidor,</p><p>pegamos um produto pronto, acabado e fazemos uso do mesmo. Na</p><p>lógica da leitura ativa, precisamos colocar algo nosso, somos ativos,</p><p>trabalhamos em cima do texto.</p><p>Então que você tome todo conteúdo aqui de forma reflexiva,</p><p>absorvendo o que faz sentido, produzindo seu próprio saber sobre si</p><p>mesmo.</p><p>Por menos certo ou errado fora de nós e mais investigação de como</p><p>são as coisas para nós. Por menos "entregas" e mais elaborações!</p><p>Somos muito mais complexos e cheios de ambivalências do que o</p><p>nosso narcisismo supõe.</p>