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<p>D.E.L.T.A., 19:ESPECIAL, 2003 (209-236)</p><p>A INTERPRETAÇÃO DE CONFERÊNCIAS: INTERFACES COM A</p><p>TRADUÇÃO ESCRITA E IMPLICAÇÕES PARA A FORMAÇÃO DE</p><p>INTÉRPRETES E TRADUTORES*</p><p>(Conference Interpreting Interfaces with Written Translation and</p><p>Implications for Interpreter and Translator Training)</p><p>Reynaldo PAGURA</p><p>(PUC-SP, Associação Alumni-SP e ISAT-RJ)</p><p>RESUMO: O presente trabalho faz uma breve retrospectiva da interpretação de confe-</p><p>rências e apresenta semelhanças e diferenças entre o processo de tradução (escrita) e o de</p><p>interpretação (oral). Tomando como base teórica a Teoria Interpretativa da Tradução,</p><p>desenvolvida na Escola Superior de Intérpretes e Tradutores (ESIT) da Universidade</p><p>Paris III (Sorbonne Nouvelle), o trabalho mostra como, apesar de semelhanças teóricas,</p><p>os dois processos são operacionalizados de maneiras bastante diferentes. A seguir, discute</p><p>algumas implicações para a formação de tradutores e de intérpretes resultantes da</p><p>operacionalização dos dois processos.</p><p>PALAVRAS-CHAVE: Tradução; Interpretação; Teoria Interpretativa da Tradução; For-</p><p>mação de Tradutores e de Intérpretes.</p><p>ABSTRACT: This paper aims at presenting an overview of conference interpreting and</p><p>shows similarities and differences between translating and interpreting. From the</p><p>theoretical groundworks of the Interpretive Theory of Translation, developed at the</p><p>ESIT (University of Paris III - Sorbonne Nouvelle), it shows that, despite theoretical</p><p>similarities, the two processes have different operational constraints. The implications</p><p>for translator and interpreter education resulting from these operational differences are</p><p>then discussed.</p><p>KEY-WORDS: Translating; Interpreting; Interpretive Theory of Translation; Translator</p><p>and Interpreter Education.</p><p>* Este trabalho é uma versão bastante modificada e ampliada de outros com tema semelhante</p><p>publicado no periódico Claritas, da PUC-SP, e na BRAZ-TESOL Newsletter. A parte referente à</p><p>história da interpretação foi apresentada em uma exposição durante mesa-redonda da qual o autor</p><p>participou no II CIATI, realizado em 2001 na UNIBERO em São Paulo.</p><p>210 D.E.L.T.A., 19:ESPECIAL</p><p>Introdução</p><p>“Os intérpretes existem desde a antigüidade, assim como os traduto-</p><p>res, com quem são freqüentemente confundidos; o tradutor trabalha com</p><p>a palavra escrita, o intérprete com a palavra falada.”1 Assim começa o livreto</p><p>da União Européia (Commission of the European Communitoes, s/d) com</p><p>informações para os candidatos a seus cursos de formação de intérpretes</p><p>que atende às necessidades da instituição, o maior empregador de traduto-</p><p>res e intérpretes do mundo.</p><p>Embora a diferença seja bem clara para os profissionais dessas duas</p><p>áreas, ainda é bastante comum ouvir referências ao “tradutor-intérprete”,</p><p>hábito talvez criado no Brasil com a edição da Lei 5692/71, também co-</p><p>nhecida como a Lei da Reforma do Ensino, que incluía a formação do “tra-</p><p>dutor-intérprete” como uma das inúmeras possibilidades dos cursos</p><p>profissionalizantes a serem instituídos no ensino de segundo grau (atual</p><p>Ensino Médio), o que era uma proposta bastante insensata, mas cuja aná-</p><p>lise não é objeto do presente artigo.</p><p>Embora não haja dúvidas de que a interpretação simultânea e a conse-</p><p>cutiva envolvam um processo de tradução, no sentido mais amplo do ter-</p><p>mo – a conversão de uma mensagem de um idioma para outro e de uma</p><p>cultura para outra –, a maioria dos teóricos e dos praticantes das duas áreas</p><p>reserva o uso dos termos mencionados acima para duas atividades diferen-</p><p>tes, conforme as delimitações já mencionadas. Quais são as semelhanças</p><p>entre os dois processos que poderiam ter gerado tal confusão? E quais são</p><p>as diferenças que viriam justificar uma separação entre as duas atividades?</p><p>Que implicações essas possíveis semelhanças e diferenças teriam para o</p><p>processo de formação de tradutores e de intérpretes?</p><p>Breve Explicação dos Termos Usados na Prática</p><p>da Interpretação</p><p>Como a terminologia utilizada na Interpretação não é de amplo domí-</p><p>nio dentre aqueles que não se dedicam a essa atividade, parece interessante</p><p>explicar aqui alguns dos termos comumente utilizados. Fala-se comumente</p><p>1 Todas os trechos de citações escritos originalmente em inglês ou francês foram traduzidas pelo</p><p>autor deste artigo.</p><p>PAGURA: A INTERPRETAÇÃO DE CONFERÊNCIAS... 211</p><p>em dois modos de interpretação: consecutiva e simultânea (cd.: AIIC, s/d;</p><p>Child 1992; Jones 1998; Mikkelson 2000; Seleskovitch 1978), aos quais o</p><p>autor deste artigo acrescenta um terceiro – intermitente – que tem carac-</p><p>terísticas diferentes dos outros dois, como se verá a seguir.</p><p>A modalidade consecutiva é aquela em que o intérprete escuta um</p><p>longo trecho de discurso, toma notas e, após a conclusão de um trecho</p><p>significativo ou do discurso inteiro, assume a palavra e repete todo o dis-</p><p>curso na língua-alvo, normalmente a sua língua materna. A época áurea</p><p>da interpretação consecutiva foi o período compreendido entre a Primeira</p><p>e a Segunda Guerra Mundial, em que predominavam o francês e o inglês</p><p>como línguas diplomáticas e de comunicação internacional e o grande fórum</p><p>de debates internacionais era a Liga das Nações, com sede em Genebra, na</p><p>Suíça. (cf.: Seleskovitch 1978: 3) Embora não seja mais comumente utili-</p><p>zada em grandes eventos internacionais, ainda é bastante usada em peque-</p><p>nos grupos, principalmente quando o evento envolve apenas dois idiomas.</p><p>É importante ressaltar também que a consecutiva tem papel preponderante</p><p>no treinamento de intérpretes simultâneos, uma vez que nesse modo se</p><p>desenvolvem as técnicas que serão fundamentais para o desempenho da</p><p>simultânea, tais como a capacidade de compreensão e análise do discurso</p><p>de partida.</p><p>A modalidade simultânea é a mais amplamente utilizada hoje em</p><p>dia, embora só tenha se firmado no pós-guerra, com as necessidades surgidas</p><p>no Julgamento de Nuremberg, em que se utilizaram quatro idiomas (in-</p><p>glês, francês, russo e alemão) e, quase que imediatamente a seguir, com a</p><p>criação da Organização das Nações Unidas, onde se utilizam seis idiomas</p><p>oficiais (inglês, francês, espanhol, russo, chinês e árabe). Nessa modalida-</p><p>de, os intérpretes – sempre em duplas – trabalham isolados numa cabine</p><p>com vidro, de forma a permitir a visão do orador e recebem o discurso por</p><p>meio de fones de ouvido. Ao processar a mensagem, re-expressam-na na</p><p>língua de chegada por meio de um microfone ligado a um sistema de som</p><p>que leva sua fala até os ouvintes, por meio de fones de ouvido ou recepto-</p><p>res semelhantes a rádios portáteis. Essa modalidade permite a tradução de</p><p>uma mensagem em um número infinito de idiomas ao mesmo tempo,</p><p>desde que o equipamento assim o permita. A interpretação simultânea</p><p>não ocorre, de fato, simultaneamente à fala original, pois o intérprete tem</p><p>necessidade de um espaço de tempo para processar a informação recebida</p><p>212 D.E.L.T.A., 19:ESPECIAL</p><p>e reorganizar sua forma de expressão. Esse breve espaço de tempo recebe o</p><p>nome tradicional de “décalage”, termo francês usado em todo o mundo.</p><p>Uma outra forma de se realizar a interpretação simultânea é a chamada</p><p>“interpretação cochichada” ou “chuchotage”– outro termo em francês usado</p><p>por intérpretes de todo o mundo –, em que o intérprete se senta próximo</p><p>a um ou dois ouvintes e interpreta simultaneamente a mensagem apresen-</p><p>tada em outro idioma. Por ser essa a forma mais utilizada atualmente, não</p><p>é nada incomum que as pessoas não familiarizadas com a terminologia</p><p>profissional chamem de “simultânea” a qualquer tipo de interpretação que</p><p>tenham presenciado.</p><p>A modalidade intermitente (ou “sentence-by-sentence”, ou ainda</p><p>“ping-pong”) não é comumente estudada por pesquisadores da área, nem</p><p>é utilizada por profissionais em eventos de caráter internacional. É vista</p><p>mais freqüentemente em reuniões nas quais se pede a uma pessoa que fala</p><p>as duas línguas, via de regra sem qualquer treino em interpretação, para</p><p>que se coloque ao lado de um palestrante estrangeiro e traduza o que ele</p><p>está dizendo. O palestrante fala uma ou duas frases curtas e faz uma pausa</p><p>para que as suas sentenças sejam traduzidas para o idioma</p><p>da platéia. Esse</p><p>processo centra-se basicamente na tradução das palavras ditas, sem levar</p><p>em conta diversos outros fatores importantes no processo interpretativo,</p><p>seja pela própria natureza da situação ou, muito comumente, pela falta</p><p>total de treino da pessoa colocada na posição de “intérprete”. É comum</p><p>algumas pessoas confundirem essa modalidade de interpretação com o que</p><p>os profissionais chamam de consecutiva, já mencionada acima.</p><p>Podemos ainda nos referir a diversos tipos de interpretação, em fun-</p><p>ção de onde e quando ocorram (cf.: Childs 1992; Mikkelson, 2000). Os</p><p>três modos mencionados acima podem ocorrer em todas as situações a</p><p>seguir. Falamos, comumente, em interpretação de conferências, interpre-</p><p>tação comunitária, interpretação em tribunais2 , interpretação na mídia,</p><p>interpretação de acompanhamento ou ligação, interpretação médica, en-</p><p>tre outras. A terminologia ainda não está consagrada em português, e é</p><p>bastante comum os intérpretes se referirem a “escort interpreting” em</p><p>inglês em vez de utilizarem “interpretação de acompanhamento”. Não</p><p>cabe aqui uma explicação sobre cada uma delas, mas deve-se levar em</p><p>2 A interpretação realizada em tribunais durante julgamento no Brasil é, por força da legislação,</p><p>uma atribuição do tradutor público (juramentado). Tal fato corrobora a confusão existente entre</p><p>tradutor e intérprete.</p><p>PAGURA: A INTERPRETAÇÃO DE CONFERÊNCIAS... 213</p><p>conta que as referências feitas à interpretação no corpo deste artigo pres-</p><p>supõem basicamente a interpretação simultânea realizada em conferên-</p><p>cias ou congressos envolvendo participantes que falem línguas diferentes.</p><p>Breve histórico da Interpretação</p><p>A mais antiga referência a um intérprete parece ser um hieróglifo egíp-</p><p>cio do terceiro milênio antes de Cristo. Há registros de intérpretes na an-</p><p>tiga Grécia e no Império Romano. Na Bíblia, o Apóstolo Paulo faz a se-</p><p>guinte admoestação em sua Epístola aos Coríntios: “E se alguém falar em</p><p>língua desconhecida, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e por sua vez, e</p><p>haja intérprete” (I Coríntios 14:28). A atuação de intérpretes também está</p><p>documentada na Idade Média, seja nas Cruzadas ou em encontros diplo-</p><p>máticos. No Novo Mundo, sabe-se que Colombo trouxe intérpretes em</p><p>sua expedição, ainda que das línguas erradas: hebraico, caldeu e árabe.</p><p>Mais conhecido e mais bem documentado é o caso de Doña Marina, famo-</p><p>sa intérprete de Cortez em sua conquista do México (cf.: Hogg 1997).</p><p>Mas a interpretação de conferências mais próxima do que conhecemos</p><p>atualmente teve início com a Primeira Guerra Mundial. Anteriormente, as</p><p>negociações internacionais eram realizadas basicamente em francês, uma</p><p>vez que essa era a língua comum aos diplomatas da época. Foi o que acon-</p><p>teceu, por exemplo, no famoso Congresso de Viena, realizado em 1814-</p><p>1815. Com a entrada dos Estados Unidos na Grande Guerra, torna-se</p><p>necessária a interpretação entre inglês e francês, uma vez que alguns dos</p><p>representantes americanos, como também os da Inglaterra, não falavam</p><p>francês com a fluência necessária para as negociações. Considera-se que o</p><p>primeiro dos intérpretes modernos foi Paul Mantoux. Nascido e educado</p><p>na França, era professor do University College, de Londres. Foi o principal</p><p>intérprete das conferências realizadas na França imediatamente após a Pri-</p><p>meira Guerra, que negociaram o Tratado de Versalhes.</p><p>No período de aproximadamente duas décadas entre as duas Guerras</p><p>Mundiais, ganha ímpeto a interpretação consecutiva entre o inglês e o</p><p>francês, as duas línguas utilizadas na Liga das Nações, sediada em Gene-</p><p>bra, na Suíça. As coisas começam a complicar-se com a criação da Organi-</p><p>zação Internacional do Trabalho, uma vez que alguns representantes sindi-</p><p>cais não falavam francês nem inglês e tinham de expressar-se em sua pró-</p><p>214 D.E.L.T.A., 19:ESPECIAL</p><p>pria língua. Utiliza-se aí uma combinação de interpretação consecutiva e</p><p>“interpretação cochichada” ou chuchotage, como é conhecida nos meios pro-</p><p>fissionais, e um sistema primitivo de simultânea, que não teve grande su-</p><p>cesso. Pouco antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial surge o equipa-</p><p>mento, ainda que embrionário, que viria a possibilitar a interpretação si-</p><p>multânea como conhecida hoje em dia, produzido pela IBM. Com o início</p><p>da Guerra e o fim da Liga das Nações, a idéia foi, inicialmente, abandona-</p><p>da (cf.: Herbert 1978; Gaiba 1998).</p><p>Ao final da Segunda Guerra, com a o advento do Julgamento de</p><p>Nuremberg dos criminosos de guerra alemães, surge o problema de reali-</p><p>zar um julgamento com quatro línguas principais: inglês, francês, russo e</p><p>alemão. A consecutiva seria impensável, pois alongaria imensamente a</p><p>duração das sessões do Tribunal, além de dificultar a mecânica de atuação</p><p>de testemunhas, promotores, advogados, juízes e réus, falantes de diferen-</p><p>tes idiomas. Quem recebeu a incumbência de encontrar a solução para o</p><p>problema foi o Coronel Leon Dostert, intérprete do General Eisenhower.</p><p>A IBM empresta o equipamento gratuitamente, tendo em vista a grande</p><p>propaganda que seria o seu uso em tal ocasião. Dostert convoca jovens</p><p>intérpretes consecutivos e outras pessoas sem experiência em interpreta-</p><p>ção, mas com excelente competência lingüística e, após alguns meses de</p><p>experimentação e treinamento intensos, surge o embrião do que viria a ser</p><p>a interpretação simultânea como a conhecemos hoje em dia (cf.: AIIC 1996;</p><p>Gaiba 1998).</p><p>Segundo o vídeo comemorativo dos cinqüenta anos da profissão de</p><p>intérprete produzido pela Associação Internacional de Intérpretes de Con-</p><p>ferência (AIIC 1996), Dostert acreditava que era possível ouvir uma men-</p><p>sagem e expressá-la ao mesmo tempo, o que não era aceito pelos intérpre-</p><p>tes consecutivos mais experientes que tinham atuado na Liga das Nações.</p><p>Foi também Dostert quem insistiu na importância de os intérpretes serem</p><p>colocados de maneira a ver o que acontecia no recinto para poderem ter a</p><p>compreensão global do que se passava. Esse é um princípio básico do pro-</p><p>cesso da interpretação simultânea, em que os intérpretes continuam a in-</p><p>sistir hoje em dia, uma vez que dependem das expressões faciais e outros</p><p>movimentos corporais tanto quanto das próprias palavras sendo proferi-</p><p>das, para terem uma compreensão global do sentido da mensagem. Os</p><p>intérpretes em Nuremberg foram colocados no fundo do salão, perto dos</p><p>réus, em “cabines” abertas de vidro, semelhantes a um guichê de agência</p><p>PAGURA: A INTERPRETAÇÃO DE CONFERÊNCIAS... 215</p><p>bancária, que logo começam a ser chamadas de “aquários”. Em cada uma</p><p>delas, atuavam três intérpretes com a mesma língua de chegada e com</p><p>três diferentes línguas de partida. Por exemplo, na chamada “cabine de</p><p>inglês”, atuavam três intérpretes que tivessem o inglês como língua A (ou</p><p>língua materna), sendo que um intérprete trabalhava do francês para o</p><p>inglês, outro do russo para o inglês e outro do alemão para o inglês. A</p><p>mesma estrutura era encontrada na cabine de francês, de russo e de ale-</p><p>mão. Assim, as equipes atuavam com doze intérpretes ao mesmo tempo,</p><p>divididos em quatro cabines, com três intérpretes em cada uma, agrupa-</p><p>dos segundo sua língua materna, que era uma das quatro línguas de traba-</p><p>lho do Julgamento. Havia três equipes de doze membros, atuando</p><p>alternadamente (cf.: AIIC 1996; Gaiba 1998). Esse sistema de trabalho</p><p>adotado em Nuremberg era diferente do que se utiliza atualmente, em</p><p>que os intérpretes atuam em duplas nas cabines, ambos com a mesma</p><p>língua de partida e de chegada, aumentando-se o número de cabines (e de</p><p>duplas de intérpretes) de acordo com as necessidades lingüísticas do evento.</p><p>Antes mesmo do fim do Julgamento de Nuremberg, é criada a Orga-</p><p>nização das Nações Unidas (ONU), para a qual são deslocados alguns in-</p><p>térpretes que atuavam em Nuremberg. É interessante notar que a Confe-</p><p>rência de São Francisco, nos Estados Unidos, onde seria organizada a ONU,</p><p>não previa a atuação de intérpretes. Segundo Herbert (1978:7), Stettinius,</p><p>Secretário de Estado americano e anfitrião do evento, faz seu discurso de</p><p>abertura em inglês e, para a sua surpresa, o Ministro das</p><p>Relações Exteri-</p><p>ores da França, George Bidault, que havia providenciado uma equipe de</p><p>intérpretes da delegação francesa, faz um sinal para que iniciem a inter-</p><p>pretação consecutiva para o francês, surpreendendo a todos. Fica claro,</p><p>imediatamente, que a ONU não funcionaria sem intérpretes e que o in-</p><p>glês não seria a única língua da organização. Segundo o vídeo mencionado</p><p>acima (AIIC 1996), ao inglês, somam-se o francês, o espanhol, o russo e o</p><p>chinês como línguas de trabalho da ONU. Na década de 70, acrescenta-se</p><p>o árabe e são essas, até hoje, as seis línguas oficiais da Organização. Aos</p><p>poucos, a interpretação simultânea vai vencendo os preconceitos iniciais,</p><p>ganhando confiança e prestígio, e vai substituindo a consecutiva nos diver-</p><p>sos setores que compõem a família de organizações da ONU.</p><p>Na década de 50, é criada a CECA – Comunidade Européia de Carvão</p><p>e Aço – que foi o embrião do Mercado Comum Europeu, hoje União Euro-</p><p>péia. Segundo um de seus fundadores e seu primeiro presidente, Jean</p><p>Monnet, logo em seu início, reconhece-se a necessidade de um serviço de</p><p>216 D.E.L.T.A., 19:ESPECIAL</p><p>interpretação e é chamada a fazer parte dessa organização inicial uma jo-</p><p>vem intérprete, Danica Seleskovitch, que deixaria profunda impressão nos</p><p>serviços de interpretação da atual União Européia e viria a transformar o</p><p>treinamento e a formação de intérpretes (cf Monnet 1975:iv). Ao contrá-</p><p>rio da ONU, na qual se estabeleceram seis línguas de trabalho fixas, a</p><p>União Européia considera como línguas oficiais a de todos os países-mem-</p><p>bros, chegando hoje a 11 idiomas, com provável aumento à medida que</p><p>outros países venham a ser aceitos como membros da União.</p><p>A formação de intérpretes ontem e hoje</p><p>Os primeiros intérpretes atuantes em Nuremberg, na ONU e na CECA</p><p>foram formados na prática. Nos meios profissionais, diz-se que esses intér-</p><p>pretes foram “formados” pelo método “sink or swim”, expressão em inglês</p><p>que significa literalmente “afogue-se ou nade”, e que se refere ao fato de</p><p>que os intérpretes simultâneos eram colocados na cabine para interpretar</p><p>sem que recebessem previamente qualquer treinamento formal.</p><p>A primeira escola especificamente criada para a formação desses pro-</p><p>fissionais foi a da Universidade de Genebra, na Suíça, em 1941, que a</p><p>partir de 1972 passa a se dedicar também à formação de tradutores.</p><p>(Université de Genève, 2000) . Em finais da mesma década de 40, é fun-</p><p>dada por Dostert a Divisão de Interpretação e Tradução da Universidade</p><p>de Georgetown, nos Estados Unidos, (Gaiba 1998) escola essa que acaba</p><p>de ser extinta. Mas é a chegada de Danica Seleskovitch, à escola de in-</p><p>térpretes da Sorbonne, em 1956, que viria a alterar significativamente os</p><p>métodos de formação de intérpretes. Seleskovitch viria a tornar-se um dos</p><p>maiores nomes no ensino da interpretação e uma das mais conhecidas pes-</p><p>quisadoras da área. A AIIC (Associação Internacional de Intérpretes de</p><p>Conferência) homenageou-a, dando seu nome ao prêmio internacional con-</p><p>cedido a cada dois anos a um intérprete que preste serviços relevantes à</p><p>profissão. Pöchhacker (1992:212), ao analisar o papel da teoria na inter-</p><p>pretação simultânea, é claro: “De fato, Mme Seleskovitch merece total</p><p>reconhecimento por ter feito oposição às estreitas concepções lingüísticas a</p><p>respeito da língua, que ainda prevaleciam no início dos anos 70”. Ainda a</p><p>seu respeito, Christopher Thiery, intérprete-chefe do Ministério das Rela-</p><p>ções Estrangeiras da França e ex-presidente da AIIC, declara em um con-</p><p>gresso realizado na Sorbonne:</p><p>PAGURA: A INTERPRETAÇÃO DE CONFERÊNCIAS... 217</p><p>(...) eu gostaria de propor uma homenagem profissional a respeito da vida de Danica</p><p>[Seleskovitch] e de tudo que ela fez. (...) Creio ser importante dizer três coisas [sic].</p><p>A primeira é que Danica não era nada além de intérprete, uma intérprete notável,</p><p>como podem pressupor. Era também alguém que queria ver as coisas melhorarem.</p><p>Ela quis imprimir sua marca à organização de uma profissão. (...) Em segundo lugar,</p><p>Danica compreendeu que a interpretação era um meio de fazer outra coisa que enri-</p><p>queceria seu trabalho de intérprete e a faria desabrochar plenamente. Foi certamente</p><p>graças ao Professor Gravier que Danica veio a desenvolver sua tese, o que lhe abriu as</p><p>oportunidades. Mas é evidentemente graças a Danica e a tudo o que ela suscitou a</p><p>seguir – a princípio com o seu trabalho de pesquisa e depois com o trabalho que veio</p><p>a se desenvolver a seu redor – que nós, profissionais, nos sentimos atualmente à</p><p>vontade nos meios acadêmicos. (...) (Lederer e Israël 1990:300-301).</p><p>Antes do início de seu trabalho como professora de interpretação e</p><p>pesquisadora na Sorbonne, o treinamento de intérpretes estava associado</p><p>ao ensino de línguas estrangeiras. [Seleskovitch 1975:3] É Seleskovitch</p><p>quem começa a refletir sobre o processo, vindo a desenvolver toda uma</p><p>linha teórica sobre o assunto, a chamada “Teoria Interpretativa da Tradu-</p><p>ção” ou “Théorie du Sens” (Teoria do Sentido), conhecida em todo o mundo</p><p>pelo seu nome original em francês. A inexistência de livros ou artigos tradu-</p><p>zidos para português ocasiona a falta de uma terminologia consagrada em</p><p>língua portuguesa. Essa teoria será discutida mais à frente neste trabalho.</p><p>A maior parte das escolas de formação de intérpretes encontra-se na</p><p>Europa. Além da ETI (Universidade de Genebra) e da ESIT, (Sorbonne</p><p>Nouvelle-Paris III), as mais tradicionais são o ISIT (Instituto Católico de</p><p>Paris), a Universidade de Westminster, em Londres, anteriormente deno-</p><p>minada Polytechnic of Central London e as faculdades que fazem parte da</p><p>Universidade de Heidelberg, na Alemanha e da Universidade de Viena, na</p><p>Áustria. Existem ainda diversos outros programas na Espanha, em Portu-</p><p>gal, na Bélgica, na Itália e nos países do leste europeu. Nos Estados Uni-</p><p>dos, com o fim das atividades da escola de formação de intérpretes da</p><p>Universidade de Georgetown, o único programa pleno, cujo treinamento</p><p>envolve diversos idiomais, restante é o do Monterey Institute of</p><p>International Studies, na Califórnia, embora existam programas menores</p><p>em diversas outras universidades. No Canadá, existe um programa pleno</p><p>na Universidade de Ottawa. É interessante mencionar que praticamente</p><p>todos os programas mencionados neste parágrafo não estão associados a</p><p>cursos de Letras, como ocorre freqüentemente no Brasil, mas constituem</p><p>faculdades dedicadas especificamente à formação de tradutores e intérpre-</p><p>218 D.E.L.T.A., 19:ESPECIAL</p><p>tes, inseridas na estrutura das respectivas universidades em pé de igualda-</p><p>de com as demais que integram o sistema universitário.</p><p>No Brasil, os pioneiros no desenvolvimento de um programa dedica-</p><p>do à formação de intérpretes foram a PUC do Rio de Janeiro e a Associação</p><p>Alumni, em São Paulo. Posteriormente, foram criados programas que com-</p><p>binam a formação de tradutores e intérpretes ao mesmo tempo, como o da</p><p>Faculdade Ibero-Americana, atualmente Unibero. E em 1999, foi criado o</p><p>Curso de Formação de Intérpretes de Conferência de Língua Inglesa da</p><p>PUC São Paulo.</p><p>Teorização: A Teoria Interpretativa</p><p>Há diversas teorias existentes relacionadas à tradução e, em menor</p><p>número, à interpretação. Dentre elas, destaca-se a chamada théorie du sens,</p><p>em francês, ou a Teoria Interpretativa da Tradução, desenvolvida por</p><p>Danica Seleskovitch e sua equipe na ESIT, já mencionada acima. Desen-</p><p>volvida a partir da experiência de décadas de Danica Seleskovitch como</p><p>intérprete de conferências e detendo-se, a princípio, na interpretação de</p><p>conferências, a Teoria Interpretativa da Tradução veio posteriormente a ser</p><p>aplicada à tradução escrita per se, posição essa firmada definitivamente por</p><p>Marianne Lederer (1994) em sua obra La Traduction Aujourd’hui: le modèle</p><p>interprétatif. Tal aplicação consagra definitivamente a idéia de que os fun-</p><p>damentos teóricos são, de fato, os mesmos tanto no processo da tradução</p><p>como no da interpretação.</p><p>Seleskovitch (1980:403) apresenta em alguns poucos parágrafos uma</p><p>introdução aos princípios teóricos da Teoria Interpretativa da Tradução.</p><p>Diz</p><p>ela:</p><p>Se ao ler um jornal ou ouvir um discurso numa determinada língua, uma pessoa</p><p>pensar que basta unicamente o conhecimento da língua em questão para compreen-</p><p>der a mensagem, estará implicitamente acreditando na hipótese levantada por algu-</p><p>mas teorias lingüísticas da tradução. Desde Saussure, os estudos da lingüística</p><p>sincrônica tentam imprimir-lhe um cunho mais científico ao dissociar o estudo das</p><p>línguas e de seu funcionamento do estudo de seu uso, propriamente dito, na dicotomia</p><p>“língua X fala” da teoria saussuriana. No entanto, paralelamente ao aprofundamento</p><p>dos estudos a respeito dos mecanismos e do funcionamento da linguagem em nível</p><p>de língua, vimos surgir nas últimas três décadas a Psicolingüística, a Sociolingüística,</p><p>PAGURA: A INTERPRETAÇÃO DE CONFERÊNCIAS... 219</p><p>as Teorias da Comunicação, as pesquisas empíricas dos Atos de Fala e de Análise do</p><p>Discurso, além da própria LingüísticaTextual, que estuda as estruturas pragmáticas</p><p>da língua. Todas essas áreas de estudo vão muito além do escopo da língua estabele-</p><p>cido pela lingüística pós-saussuriana, sem que, porém, deixem de possuir caráter</p><p>científico.</p><p>Por outro lado, estruturalistas como G. Mounin ou R. Jakobson que viram a tradu-</p><p>ção humana exclusivamente sob o ângulo do funcionamento da língua, e um</p><p>gerativista como N. Chomsky, que trabalhou indiretamente a favor da tradução</p><p>mecânica, não perceberam que para estudar a tradução, deve-se abandonar o domí-</p><p>nio dos sistemas de signos articulados, o domínio da competência lingüística neutra</p><p>de um “native speaker” [em inglês no original francês], a fim de penetrar no domínio</p><p>do ato de comunicação que é, por sua vez, a realização da língua e a expressão de um</p><p>pensamento individual, o domínio das mensagens transmitidas pela fala e que são,</p><p>ao mesmo tempo, compostas da língua e de conteúdos cognitivos ligados aos signos</p><p>lingüísticos apenas de maneira transitória. O estudo da tradução exige que se levem</p><p>em consideração não apenas a competência lingüística do indivíduo que compreende</p><p>e fala, mas também sua bagagem cognitiva e suas capacidades lógicas. (...) Compre-</p><p>ender um texto ou discurso não consiste apenas em identificar os conteúdos semân-</p><p>ticos permanentes dos signos lingüísticos e a eles atribuir a significação que se</p><p>depreende de sua combinação sintática em frases, mas também discernir os demais</p><p>elementos cognitivos não-lingüísticos que, em uma dada situação, estão ligados ao</p><p>enunciado.</p><p>Quais são, então os principais postulados teóricos da Teoria</p><p>Interpretativa da Tradução? Em Seleskovitch (1978:9), a autora apresenta</p><p>os três estágios que formam o arcabouço básico da teoria:</p><p>“1. Percepção auditiva de um enunciado lingüístico que é portador de significado.</p><p>Apreensão da língua e compreensão da mensagem por meio de um processo de</p><p>análise e exegese;</p><p>2. Abandono imediato e intencional das palavras e retenção da representação mental</p><p>da mensagem (conceitos, idéias, etc.);</p><p>3. Produção de um novo enunciado na língua-alvo, que deve atender a dois requisi-</p><p>tos: deve expressar a mensagem original completa e deve ser voltado para o destina-</p><p>tário.”</p><p>Analisemos os três estágios mencionados acima. Nota-se aqui a ori-</p><p>gem da teoria, que deriva da forma oral de tradução, quando a autora</p><p>menciona “percepção auditiva”. A mesma teoria aplica-se à tradução escri-</p><p>ta, como postulado por Lederer (1994) e mencionado mais adiante neste</p><p>220 D.E.L.T.A., 19:ESPECIAL</p><p>trabalho, pois a percepção do enunciado lingüístico pode ser feita tanto</p><p>pela audição como pela leitura. Ainda no primeiro estágio, uma vez apre-</p><p>endida a mensagem por meio de sua forma lingüística, ela será analisada e</p><p>compreendida para que se chegue ao sentido, por meio de uma fusão do</p><p>significado lingüístico das palavras e frases com os “complementos</p><p>cognitivos”.</p><p>Segundo Lederer (1990:56-57), há três tipos básicos de “complemen-</p><p>tos cognitivos”: contexto verbal, contexto situacional e contexto cognitivo.</p><p>A respeito do primeiro deles, diz ela: “A fala é enunciada por meio de um</p><p>fluxo contínuo de palavras, cada palavra contribuindo para o significado</p><p>das palavras a seu redor e tornando-se mais específica pelas demais pala-</p><p>vras que a acompanham. A interação significativa das palavras presentes</p><p>da memória de trabalho é o primeiro nível de complementos cognitivos;</p><p>ela acaba com a polissemia das palavras.” O contexto situacional, explica a</p><p>mesma autora aplicando o conceito à interpretação de conferência, tem a</p><p>ver com o fato de que “os intérpretes fazem parte do evento no qual estão</p><p>interpretando. Eles não somente vêem o participante, mas sabem quem</p><p>são e qual a sua função ao falar. (...) A consciência do contexto situacional</p><p>é mais um complemento cognitivo que faz com que se compreenda signi-</p><p>ficados relevantes, eliminando a polissemia.” Aplicando o mesmo conceito</p><p>à tradução escrita, Lederer (1994:41) diz: “O tradutor identifica a realida-</p><p>de designada, a época em que o texto foi escrito, o autor, o público original</p><p>(...) A bagagem cognitiva do tradutor permite-lhe reencontrar e transmi-</p><p>tir as idéias e as emoções que o texto designa, mais do que aqueles que ele</p><p>exprime.” Por último, o contexto cognitivo é definido como: “um saber</p><p>latente, desverbalizado, que intervém na compreensão das seqüências ver-</p><p>bais sucessivas” (Lederer,1994: 41). Em outras palavras, tanto no processo</p><p>escrito como no oral, o profissional da tradução “faz uso de sua memória</p><p>das coisas ditas anteriormente a fim de compreender as sentenças sendo</p><p>enunciadas” (Lederer 1990: 57) Complementando a noção, a autora expli-</p><p>ca que ele “é cognitivo, uma vez que não mais tem uma forma verbal e</p><p>contextual, uma vez que deriva de coisas já ditas” (Lederer,1990: 57).</p><p>Um conceito relacionado ao dos complementos cognitivos menciona-</p><p>dos acima é o de “bagagem cognitiva” (Lederer 1990: 58; Lederer 1994:</p><p>36). Em outras palavras, a bagagem cognitiva é o “conhecimento de mun-</p><p>do que existe independentemente dos atos da fala. É o todo daquilo que</p><p>conhecemos, quer seja por experiência, quer seja por meio do aprendizado.</p><p>PAGURA: A INTERPRETAÇÃO DE CONFERÊNCIAS... 221</p><p>Partes relevantes desse conhecimento são mobilizadas pela cadeia</p><p>enunciativa e contribuem para a compreensão [do que foi dito]” (Lederer</p><p>1990: 58). A bagagem cognitiva é, essencialmente, o que se chama em</p><p>inglês de encyclopaedic (or world) knowledge (cf.: Lederer 1994: 38). Ela se</p><p>associa aos demais elementos contextuais discutidos acima para, em asso-</p><p>ciação ao significado lingüístico das palavras e frases, possibilitar que o</p><p>tradutor ou intérprete cheguem ao sentido daquilo que está sendo dito.</p><p>É ainda importante mencionar mais um conceito ligado à teoria em</p><p>discussão. Como não há relações previamente estabelecidas entre palavras</p><p>ou expressões de duas línguas diferentes, tais relações são criadas tendo</p><p>em vista como, onde, quando e por que razão alguma palavra ou expressão</p><p>é utilizada, como já mencionado nos parágrafos anteriores. As exceções</p><p>ficam, praticamente, por conta das palavras ditas “técnicas”, dos nomes</p><p>próprios (quer sejam de lugares, pessoas ou organizações) e de expressões</p><p>numéricas. Esse processo recebe o nome de “transcodificação” (do francês,</p><p>transcodage) (cf.: Lederer,1994: 46-48; Seleskovitch,1975: 11-31) e res-</p><p>tringe-se basicamente a palavras que denotem quantidades, a nomes pró-</p><p>prios e a palavras ou expressões de natureza técnica. Inclui exemplos como</p><p>hepatitis (em inglês) sendo traduzido como “hepatite” em português; ou</p><p>ainda London tornando-se “Londres” no texto em português. Nesses casos,</p><p>não há necessidade de “interpretação” (significando aqui o ato de proces-</p><p>sar, interpretar o que foi dito no original usando-se a bagagem cognitiva</p><p>do tradutor e os complementos cognitivos pertinentes) no processo</p><p>tradutório, mas simplesmente utiliza-se a relação previamente estabelecida</p><p>entre os dois idiomas e de domínio de ambas as comunidades lingüísticas.</p><p>O segundo estágio do processo é a chamada “desverbalização”. O con-</p><p>ceito é claramente explicado por Seleskovitch e Lederer (1995:24): “O</p><p>processo</p><p>da interpretação envolve a percepção de idéias, ou sentido, expres-</p><p>sas no discurso. À medida que se percebe o sentido, as formas verbais</p><p>utilizadas para transmiti-lo desaparecem, deixando apenas a consciência a</p><p>partir da qual o intérprete pode espontaneamente expressar o sentido,</p><p>sem estar preso à forma da língua de partida”.</p><p>O terceiro estágio envolve a chamada “reverbalização”. É o momento</p><p>em que o tradutor e o intérprete dão uma nova feição à mensagem já</p><p>compreendida. Como claramente dito por Seleskovitch (1978:9), o novo</p><p>enunciado deverá atender a dois critérios básicos: a mensagem original</p><p>222 D.E.L.T.A., 19:ESPECIAL</p><p>deve ser completa, provida de todos os detalhes e deve refletir as caracte-</p><p>rísticas da língua de chegada. Ao se traduzir do inglês para o português,</p><p>por exemplo, o texto de chegada, quer seja ele escrito ou oral, deverá pare-</p><p>cer ter sido produzido originalmente em português, sem traços que deno-</p><p>tem sua origem no inglês.</p><p>Não se pode deixar de mencionar que existe uma outra linha teórica</p><p>de pesquisa de interpretação, que denomina a si mesma de “comunidade</p><p>das ciências naturais”, e seus estudos são de natureza interdisciplinar com</p><p>forte orientação, principalmente, da psicologia cognitiva e da neurologia e</p><p>dão grande valor à chamada pesquisa empírica. Seus estudos, porém, são</p><p>ainda de natureza bastante heterogênea. Diversos membros dessa comu-</p><p>nidade científica</p><p>“escolheram aspectos bem específicos da interpretação e criaram estudos experimen-</p><p>tais sobre eles. É comum entre os membros dessa comunidade a busca de uma teoria</p><p>da interpretação que seja precisa e verificável, ainda que não necessariamente de</p><p>simples compreensão, que tenha um alto grau de poder de explicação a fim de des-</p><p>crever objetivamente o ato de interpretação e, ao mesmo tempo, atender aos princí-</p><p>pios rígidos da investigação científica.” (Moser-Mercer 1994).</p><p>É ainda a mesma autora, ela própria uma das vozes mais influentes da</p><p>chamada “comunidade das ciências naturais”, quem afirma o seguinte a</p><p>respeito da chamada “comunidade das ciências humanas”, referindo-se ao</p><p>trabalho de teorização e pesquisa desenvolvido pelo grupo encabeçado por</p><p>Seleskovitch e Lederer:</p><p>A consistência geral da teoria (...), sua abrangência e simplicidade, seu valor</p><p>explanatório intuitivo e conseqüente apelo pedagógico somaram-se para dar-lhe ampla</p><p>aceitação. Assim, de várias maneiras, essa teoria atende a muitas das exigências ine-</p><p>rentes a uma teoria em geral. (idem)</p><p>Há ainda inúmeros estudos teóricos relativamente recentes, que se</p><p>ocupam basicamente da tradução em sua forma escrita, tanto no Brasil</p><p>como em âmbito internacional. Podem-se mencionar no Brasil os traba-</p><p>lhos de Arrojo (1986) e Aubert (1994) e, em âmbito internacional, os de</p><p>Baker (1992) e de Snell-Hornby (1995). A semelhança entre esses estudos</p><p>e a teoria interpretativa da interpretação não pode ser de toda descartada,</p><p>pois todos concordam basicamente que o processo tradutório não pode se</p><p>PAGURA: A INTERPRETAÇÃO DE CONFERÊNCIAS... 223</p><p>deter apenas no nível lingüístico, devendo levar em conta o cultural e o</p><p>situacional. Não cabe, aqui, entretanto, uma análise de todos esses estu-</p><p>dos. Uma abordagem detalhada de várias posições teóricas pode ser vista</p><p>em Pöchhacker (1992) e em Shlesinger (1995). Ambos os autores suge-</p><p>rem como estabelecer fundamentos teóricos que se apliquem tanto à tra-</p><p>dução escrita como à oral (interpretação).</p><p>Semelhanças básicas entre a tradução (escrita)</p><p>e a interpretação (oral)</p><p>O propósito principal tanto da tradução quanto da interpretação é</p><p>fazer com que uma mensagem expressa em determinado idioma seja trans-</p><p>posta para outro, a fim de ser compreendida por uma comunidade que não</p><p>fale o idioma em que essa mensagem foi originalmente concebida. Arrojo</p><p>(1986:80) cita a etimologia da palavra “tradução” e explica sua posição:</p><p>“de acordo com a etimologia, tradução (do latim traductione) significa ‘ato</p><p>de conduzir além, de transferir’ (...) Como tentamos demonstrar, traduzir,</p><p>mais do que transferir, é transformar: ‘transformar uma língua em outra, e</p><p>um texto em outro’ (Jacques Derrida).” Pode-se dizer que o tradutor e o</p><p>intérprete são profissionais que permitem que uma mensagem cruze a cha-</p><p>mada “barreira lingüística” entre duas comunidades, sendo comum usar a</p><p>metáfora “ponte” para designar esses profissionais. Tal imagem é mesmo</p><p>utilizada no título de conhecida obra escrita pelo tradutor e ensaísta brasi-</p><p>leiro recentemente falecido, José Paulo Paes, que a intitulou “Tradução: A</p><p>Ponte Necessária – Aspectos e Problemas da Arte de Traduzir” (Paes 1990).</p><p>Alguns autores já apontaram a semelhança essencial entre os proces-</p><p>sos de tradução e interpretação. Harris (1981:154) afirma: “É melhor</p><p>admitirmos logo de início que a tradução e a interpretação têm muito em</p><p>comum. Em resumo, são apenas dois modos daquilo que é, essencialmen-</p><p>te, uma única operação: um processo por meio do qual um enunciado</p><p>falado ou escrito acontece em um idioma, que tem a intenção e a expecta-</p><p>tiva de transmitir o mesmo significado previamente existente no enuncia-</p><p>do de outro idioma.” Lederer (1994:11) também fala a respeito da seme-</p><p>lhança entre a tradução e a interpretação: “A teoria interpretativa (...) esta-</p><p>beleceu que o processo consistia em compreender o texto original,</p><p>desverbalizar sua forma lingüística e expressar em outra língua as idéias</p><p>compreendidas e os sentimentos experimentados. Essa constatação, feita</p><p>224 D.E.L.T.A., 19:ESPECIAL</p><p>inicialmente a respeito da tradução oral, ou interpretação de conferências,</p><p>aplica-se também à tradução escrita.”</p><p>Outra semelhança é que tanto na tradução quanto na interpretação, é</p><p>preciso dominar plenamente os dois idiomas envolvidos no processo, em-</p><p>bora ao tradutor baste o domínio de sua forma escrita e ao intérprete, a sua</p><p>forma oral. Há excelentes tradutores de textos escritos que não são capazes</p><p>de compreender a forma oral da língua da qual traduzem. Em outras pala-</p><p>vras: compreendem perfeitamente um texto lido na língua estrangeira de</p><p>trabalho, mas não são capazes de entender um texto semelhante se apre-</p><p>sentado oralmente por seu autor, em forma de conferência ou palestra, por</p><p>exemplo. Esse tipo de profissional também teria dificuldades para manter</p><p>uma conversa no mesmo idioma do qual traduz muito bem um texto escri-</p><p>to. Caso o profissional tenha o conhecimento da língua-fonte na forma</p><p>escrita para fins de leitura, nada impede um excelente desempenho como</p><p>tradutor para sua língua materna, desde que tenha um bom domínio da</p><p>forma escrita de seu próprio idioma. Paulo Rónai, o fundador da Associa-</p><p>ção Brasileira de Tradutores (ABRATES), afirma: “Muitas vezes nasceram</p><p>traduções relativamente boas feitas de línguas que os tradutores não fala-</p><p>vam. Muitas vezes esses têm da língua de partida apenas um estudo livresco,</p><p>sem conhecerem o país onde ela é falada. (...) E no caso de obras gregas e</p><p>latinas, o conhecimento da língua-fonte, por mais sólido que seja, é quase</p><p>sempre apenas passivo.” (Rónai 1981:27-28) O intérprete, por outro lado,</p><p>recebe toda a mensagem original em forma oral e precisa ter total domínio</p><p>da forma oral da língua de partida, percebendo sutilezas de pronúncia,</p><p>nuances de entonação, sendo capaz de compreender diferentes variantes</p><p>regionais do idioma estrangeiro. Necessita, obviamente, de total domínio</p><p>das formas de expressão oral de seu próprio idioma, mesmo que não tenha</p><p>um bom domínio da escrita em sua própria língua.</p><p>Outra semelhança ainda é que tanto a tradução quanto a interpreta-</p><p>ção devem ser realizadas por profissionais capazes de compreender e ex-</p><p>pressar idéias relacionadas às mais diferentes áreas de conhecimento hu-</p><p>mano, sem ser especialistas nessa área, como o são seus leitores ou ouvin-</p><p>tes. Como diz Seleskovitch (1978:148):</p><p>PAGURA: A INTERPRETAÇÃO DE CONFERÊNCIAS... 225</p><p>Raras são as atividades nos dias de hoje, estejam elas relacionadas à ciência ou</p><p>tecnologia, finanças ou comércio, agricultura ou indústria, tribunais de arbitragem</p><p>ou controle de gafanhotos, que não se estendam para</p><p>além das fronteiras de um país</p><p>e, conseqüentemente, envolvam mais de uma língua.</p><p>Portanto, a interpretação não é mais restrita, como já o foi, a negociações diplomáti-</p><p>cas, e o intérprete pode vir a ser chamado para (...) atuar em qualquer área de ativi-</p><p>dade humana contemporânea.</p><p>Tal constatação, obviamente, aplica-se também à tradução, pois além</p><p>de conferências e palestras, também existirão sempre textos escritos a res-</p><p>peito dos mesmos assuntos. No entanto, não é possível que os profissio-</p><p>nais que realizam a atividade tradutória dominem a área médica, por exem-</p><p>plo, como se fossem médicos. No entanto, os congressos médicos oferecem</p><p>regularmente interpretação simultânea realizada por intérpretes e não por</p><p>médicos. O mesmo se aplica a outras áreas de conhecimento como enge-</p><p>nharia, economia, marketing, etc. No que concerne à forma escrita da</p><p>língua, as traduções de documentos e contratos, por exemplo, são realiza-</p><p>das no Brasil por tradutores juramentados que não são, necessariamente,</p><p>advogados. É por isso que as pessoas envolvidas profissionalmente nas</p><p>atividades de tradução e de interpretação devem manter-se atualizadas no</p><p>desenvolvimento constante das áreas de conhecimento com as quais traba-</p><p>lhem e consultar especialistas da área, quando necessário. Via de regra, o</p><p>tradutor ou o intérprete escreve ou fala a respeito de um assunto que não</p><p>domina plenamente, tendo como audiência especialistas desse assunto, que</p><p>o conhecem muito mais a fundo.</p><p>É interessante mencionar ainda o papel desempenhado pela memória</p><p>nos dois processos, “mais especificamente o papel dos processos de memó-</p><p>ria para fortalecer pressuposições contextuais ma fase de reformulação, tanto</p><p>em interpretação quanto em tradução” (Alves e Pagura 2002:75). Tanto</p><p>na tradução quanto na interpretação pode-se perceber que as pressuposi-</p><p>ções contextuais existentes formam a base dos processos inferenciais nos</p><p>dois processos. “Tanto a interpretação quanto a tradução podem ser vistas</p><p>como processos que fazem parte do espectro de processos inferenciais hu-</p><p>manos e podem ser explicadas como parte de uma visão mais ampla da</p><p>comunicação humana” (Alves e Pagura 2002, 76).</p><p>226 D.E.L.T.A., 19:ESPECIAL</p><p>As diferenças entre os dois processos</p><p>Presumindo-se que os fundamentos teóricos podem ser considerados</p><p>os mesmos como já mencionado acima, conclui-se que as diferenças entres</p><p>os processos de tradução e de interpretação são, basicamente, de</p><p>operacionalização (cf.: Lederer 1994:1; Harris,1981:154). Tanto a fonte</p><p>da mensagem como o resultado do processo se dão em formas distintas –</p><p>escrita e oral, respectivamente – resultando daí diferenças operacionais.</p><p>Seleskovitch (1978:2) também trata do assunto: “Essas profissões gêmeas</p><p>[tradução e interpretação] têm o mesmo objetivo, atuam com base nos</p><p>mesmos princípios e são – ou podem ser – baseadas na mesma teoria. (...)</p><p>A tradução converte um texto escrito em outro texto escrito, enquanto a</p><p>interpretação converte uma mensagem oral em outra mensagem oral. Essa</p><p>diferença é crucial.”</p><p>Como já foi mencionado acima, o domínio dos idiomas de trabalho e</p><p>do assunto por parte do profissional que realiza o ato tradutório deve ser</p><p>excelente. O intérprete, no entanto, tem de ter pleno domínio das formas</p><p>de expressão oral de ambos os idiomas. Não seria arriscado dizer ainda que</p><p>o intérprete terá de ter maior domínio das línguas, do assunto, da cultura-</p><p>fonte e da cultura-alvo do que o tradutor. Tal afirmação não será temerária</p><p>quando se consideram as condições de trabalho em que ocorrem os dois</p><p>processos. Na tradução, o processo pode ser interrompido para a consulta</p><p>de dicionários, enciclopédias, sites da Internet e uma infinidade de obras</p><p>de referência. Podem ainda ser consultados outros profissionais, quer se-</p><p>jam tradutores, quer especialistas da área de conhecimento com a qual</p><p>estejam trabalhando. Além disso, o texto traduzido poderá ser revisado</p><p>diversas vezes, até ser encontrada a melhor forma de expressão ou ainda se</p><p>fazerem mudanças, se posteriormente, for descoberto um termo mais pre-</p><p>ciso para determinado conceito. Como dizem Padilla e Martin (1992:196):</p><p>“O texto escrito é estático porque foi produzido no passado. O tradutor</p><p>pode consultá-lo em seu próprio ritmo, a seu próprio tempo, utilizando os</p><p>recursos que considerar necessários”.</p><p>Na interpretação, por outro lado, todo o conhecimento necessário e o</p><p>vocabulário específico terá de ter sido adquirido antes do ato tradutório</p><p>em si. Durante o processo de interpretação simultânea, fechado em sua</p><p>cabine e tendo que tomar decisões em questão de segundos, não há tempo</p><p>para o intérprete realizar consultas de qualquer natureza. No máximo,</p><p>PAGURA: A INTERPRETAÇÃO DE CONFERÊNCIAS... 227</p><p>poderá ter a ajuda do companheiro de cabine em alguma expressão recor-</p><p>rente no discurso que não lhe tenha vindo à mente a princípio. É claro que</p><p>o intérprete absorve conhecimento do assunto no decorrer da própria pa-</p><p>lestra ou do evento que esteja interpretando, num processo que a Teoria</p><p>Interpretativa da Tradução (cf.: Lederer,1990:56-57) rotula de “contexto</p><p>situacional”, mas as bases sobre as quais tal conhecimento será construído</p><p>têm de ser estabelecidas previamente, em sua preparação para o trabalho</p><p>em questão. Sua bagagem cultural (cf.: Lederer,1990: 58; Lederer 1994:</p><p>36-38) tem de ser imensa, pois é impossível prever quais exemplos ou</p><p>histórias serão utilizados por um palestrante para ilustrar um determinado</p><p>assunto. Como afirmam Padilla e Martin (1992:197)</p><p>“[p]ara o intérprete, o processo de compreensão é muito mais complicado. Ele não</p><p>tem tempo de usar dicionários ou consultar um especialista. A única maneira em que</p><p>o intérprete pode afetar o processo de compreensão é tomando atitudes préviamente,</p><p>antes que a mensagem seja realmente comunicada, por intermédio da preparação</p><p>exaustiva, tanto lexical como conceitual, a respeito do assunto envolvido.</p><p>Outra diferença importante é o ritmo em que se dá o trabalho. Apesar</p><p>de os clientes dos tradutores sempre necessitarem da tradução “com a</p><p>máxima urgência”, o volume de tradução processado em determinado es-</p><p>paço de tempo será sempre muito menor em sua forma escrita do que na</p><p>forma oral. Enquanto nas organizações internacionais, espera-se que os</p><p>tradutores de tempo integral traduzam cerca de 50 linhas a cada duas</p><p>horas, um discurso cujo texto transcrito tenha as mesmas 50 linhas será</p><p>interpretado em cerca de oito minutos, conforme dados apresentados por</p><p>Seleskovitch e Lederer (1995:v). Seleskovitch acrescenta ainda que a inter-</p><p>pretação acontece numa velocidade “30 vezes maior” (1978:2) do que o</p><p>processo de tradução. É óbvio que, nessas condições, não é possível qual-</p><p>quer tipo de revisão da mensagem expressa. Enquanto a tradução é revisa-</p><p>da pelo tradutor e, freqüentemente, por um outro leitor, o resultado do</p><p>trabalho do intérprete é final. Se o que for dito não conseguir transmitir a</p><p>mensagem, dificilmente haverá tempo para que a mensagem seja re-ex-</p><p>pressa de maneira diferente. No entanto, os intérpretes experientes conse-</p><p>guem, na maioria das vezes, corrigir ou emendar algum sentido mal ex-</p><p>presso com uma determinada palavra ou frase, ainda que só o façam nor-</p><p>malmente duas ou três frases adiante. Isso exige, porém, bastante segu-</p><p>rança por parte do intérprete no próprio processo de interpretação. Caso</p><p>228 D.E.L.T.A., 19:ESPECIAL</p><p>ele não se dê conta do eventual erro, não há a figura do revisor, que possa</p><p>corrigir o problema antes que o produto de seu trabalho chegue ao públi-</p><p>co-alvo como, pelo menos teoricamente, acontece com a tradução escrita.</p><p>(cf.: Padilla e Martin,1992:198-199) Uma vantagem do intérprete em</p><p>relação ao tradutor a esse respeito, porém, é que o seu trabalho desaparece</p><p>quando o evento termina, enquanto o trabalho do tradutor, impresso e</p><p>publicado, permanecerá indefinidamente. Seleskovitch (1978:18) ilustra</p><p>esse fato citando um provérbio latino – scripta manent, verba volant – para</p><p>reiterar essa diferença: as palavras escritas permanecem para a posterida-</p><p>de, enquanto a palavra falada desaparece.</p><p>A tradução e a interpretação são normalmente realizadas por pessoas</p><p>com características um tanto diferentes. Na tradução, o trabalho tem ca-</p><p>racterística bastante individual, isolado. É realizado por alguém que traba-</p><p>lha inúmeras horas sozinho, diante de um computador, com seus dicioná-</p><p>rios e livros; só eventualmente troca idéias de seu trabalho com algum</p><p>colega, seja pessoalmente, por telefone ou por e-mail, quando em caso de</p><p>dúvidas ou busca de soluções melhores para determinado problema. A</p><p>interpretação, por outro lado, é eminentemente um trabalho de equipe,</p><p>quer seja em dupla ou em várias duplas, como acontece em eventos que</p><p>envolvam diversas línguas ou que, apesar de envolverem apenas duas lín-</p><p>guas, extendam-se por diversos dias.</p><p>O resultado do trabalho de interpretação é sentido imediatamente nas</p><p>reações da platéia e, principalmente, nas perguntas ou no debate após</p><p>uma conferência. Os bons intérpretes realmente se mostram nas pergun-</p><p>tas e respostas. Quando essa parte da reunião flui sem problemas, fica</p><p>patente que o trabalho do intérprete está sendo bem desempenhado. Essa</p><p>observação foi corroborada por Lederer em comunicação pessoal com o</p><p>autor deste trabalho em 2001 e em publicação, quando afirma: “A melhor</p><p>maneira de julgar a qualidade da interpretação é ouvir o período de discus-</p><p>sões em que as pessoas fazem perguntas umas às outras. Se isso estiver</p><p>acontecendo em duas ou três línguas e as pessoas mostrarem-se satisfeitas</p><p>com as respostas, pode-se afirmar que a comunicação foi estabelecida, que</p><p>a interpretação teve êxito e que o processo envolvido foi representativo”.</p><p>(1978:324)</p><p>Outra diferença fundamental entre a tradução e a interpretação está</p><p>relacionada ao processo de análise e retenção de conteúdo. O texto de</p><p>PAGURA: A INTERPRETAÇÃO DE CONFERÊNCIAS... 229</p><p>partida na interpretação, diferente do que acontece na tradução, não está à</p><p>disposição indefinidamente. O intérprete (simultâneo) tem de ter a capa-</p><p>cidade de concentrar-se no que está ouvindo a fim de processar a informa-</p><p>ção imediatamente e re-expressá-la na língua-alvo, sem se descuidar da</p><p>próxima unidade de sentido sendo expressa pelo palestrante imediatamente</p><p>a seguir. Como mencionado anteriormente neste trabalho, o processo da</p><p>interpretação simultânea é tríplice – ouvir / processar / re-expressar –</p><p>(Seleskovitch:1978; Seleskovitch e Lederer:1995) e as três etapas aconte-</p><p>cem ao mesmo tempo. Na interpretação consecutiva, as duas primeiras</p><p>etapas ocorrem simultaneamente e a terceira (re-expressão) ocorrerá pos-</p><p>teriormente, exigindo ainda mais capacidade de retenção da informação.</p><p>(cf.: Seleskovitch:1975) A capacidade de analisar o conteúdo da mensa-</p><p>gem, depreendendo os elementos de coesão que “amarram” a seqüência de</p><p>pensamento do palestrante, é uma habilidade fundamental a ser utilizada</p><p>no processo. Uma vez compreendida a mensagem, seu conteúdo terá de</p><p>ser lembrado até o momento de ser expresso na língua de chegada, respei-</p><p>tando-se as características desse idioma e dessa cultura. Não é incomum,</p><p>porém, que o sentido de um enunciado só se torne claro após diversas</p><p>frases ou mesmos parágrafos, mas não é obviamente possível que o intér-</p><p>prete espere todo esse tempo para começar a falar. Nesses casos, o processo</p><p>interpretativo exige uma “transposição lingüística ou transcodificação”</p><p>(Lederer 1978:324) de maneira calculada, até que a compreensão da idéia</p><p>permita que o intérprete se liberte das palavras e parta, uma vez mais,</p><p>para a re-expressão da mensagem de forma mais distante da sintaxe e</p><p>léxico da língua de partida e mais adequada à língua de chegada. A con-</p><p>centração tem de ser total, e por essa razão os intérpretes trabalham em</p><p>duplas e se revezam a intervalos entre 20 e 30 minutos. Nada semelhante</p><p>ocorre no processo de tradução escrita, pois o texto original está à disposi-</p><p>ção do tradutor para ser consultado tantas vezes quanto necessárias e pode</p><p>ser lido inteiramente antes de se iniciar a tradução. A forma de expressão,</p><p>por sua vez, poderá ser trabalhada até se chegar ao considerado ideal.</p><p>Implicações para a formação de tradutores e de intérpretes</p><p>Em sua obra clássica, Nida (1964:150) declara a respeito do domínio</p><p>lingüístico por parte dos tradutores:</p><p>230 D.E.L.T.A., 19:ESPECIAL</p><p>O primeiro e mais óbvio dos requisitos de qualquer tradutor é que tenha conheci-</p><p>mento satisfatório de língua de partida. Não basta que ele seja capaz de compreen-</p><p>der o sentido geral do texto, ou que tenha o hábito de consultar dicionários (o que</p><p>terá de fazer de qualquer modo). Ele deverá entender não somente o conteúdo óbvio</p><p>da mensagem, mas também as sutilezas de significado, o valor emotivo significativo</p><p>das palavras e as características estilísticas que determinam o “sabor e sentimento”</p><p>da mensagem (...)Ainda mais importante do que o conhecimento dos recursos da</p><p>língua de partida é o controle completo da língua de chegada. (...) [N]ão há subs-</p><p>tituto para o domínio pleno da língua de chegada.</p><p>Embora Nida refira-se a tradutores, a mesma exigência obviamente</p><p>aplica-se a intérpretes. Jones (1998:12) deixa isso bem claro:</p><p>Ao falarmos de compreesão, referimo-nos não à compreensão de palavras, mas de</p><p>idéias, pois são as idéias que teremos de interpretar. Obviamente, não se podem</p><p>compreender as idéias se não se compreenderem as palavras que o orador está utili-</p><p>zando para expressá-las, or caso não se esteja suficientemente familiarizado com a</p><p>gramática e a sintaxe da língua do orador, para que seja possível acompanhar suas</p><p>idéias.</p><p>Como já foi mencionado anteriormente neste trabalho, a ênfase no</p><p>conhecimento lingüístico necessário ao processo de tradução está na lín-</p><p>gua escrita, ao passo que para a interpretação se faz necessário o domínio</p><p>da língua oral. Esse domínio é condição prévia necessária e indispensável</p><p>para a formação de tradutores e de intérpretes. Os programas de formação</p><p>desses futuros profissionais não têm como seu objetivo o ensino de línguas.</p><p>O domínio das línguas de trabalho antecede a formação de tradutores e</p><p>intérpretes propriamente dita.</p><p>A partir dos princípios teóricos expostos acima, podem-se fazer algu-</p><p>mas recomendações para a formação de tradutores e de intérpretes. Uma</p><p>vez que o primeiro dos três estágios preconizados pela Teoria Interpretativa</p><p>da Tradução está centrado na “apreensão da língua e compreensão da men-</p><p>sagem por meio de um processo de análise e exegese” (Seleskovitch 1978:9),</p><p>o primeiro passo na formação de futuros tradutores e de futuros intérpre-</p><p>tes consiste em “ensinar os alunos a perceberem e analisarem uma mensa-</p><p>gem” (Seleskovitch e Lederer 1995:2). Em outras palavras, tanto o tradu-</p><p>tor quanto o intérprete devem ser capazes de apreender o sentido de uma</p><p>mensagem. Seleskovitch (1984:269) define o que é sentido (sens, em fran-</p><p>cês), princípio fundamental da Teoria Interpretativa da Tradução:</p><p>PAGURA: A INTERPRETAÇÃO DE CONFERÊNCIAS... 231</p><p>“O sentido de uma frase é o que um autor quer deliberadamente exprimir; não é a</p><p>razão pela qual ele fala, nem as causas ou conseqüências do que ele diz. O sentido</p><p>não se confunde com os motivos nem com as intenções. O tradutor que se faça passar</p><p>por exegeta e o intérprete que se faça passar por hermeneuta estará indo além dos</p><p>limites de sua função.”</p><p>Num primeiro estágio de formação, tanto os futuros tradutores como</p><p>intérpretes deverão ser expostos a exercícios que tenham o objetivo de lhes</p><p>ensinar a perceber o sentido de uma mensagem. Esses exercícios estarão</p><p>centrados na língua oral para intérpretes e na língua escrita para traduto-</p><p>res. Em outras palavras, os futuros tradutores deverão trabalhar a partir de</p><p>textos escritos enquanto os futuros intérpretes farão exercícios a partir de</p><p>gravações ou de trechos lidos pelo professor. Os exercícios de compreensão</p><p>auditiva para intérpretes diferem daqueles utilizados comumente em cur-</p><p>sos de ensino de língua estrangeira, chamados comumente em inglês de</p><p>listening comprehension exercises. Seleskovitch e Lederer (1995:2) preconizam</p><p>o seguinte: “O intérprete ouve [da seguinte maneira]: o intérprete</p><p>con-</p><p>centra-se completamente no significado do que o orador quer dizer, cap-</p><p>tando todas as nuanças e sutilezas”. A seguir, o aluno deverá ser capaz de</p><p>reproduzir a mensagem, ainda que de forma resumida, transmitindo o</p><p>sentido, a intenção do original. Exercícios semelhantes podem ser utiliza-</p><p>dos para tradutores, partindo-se de textos escritos, como já mencionado.</p><p>A reprodução, neste estágio, pode ser feita oralmente, pois o objetivo ain-</p><p>da não é o de re-expressar a mensagem em sua forma final, mas sim o de</p><p>treinar o aluno no processo de depreensão do sentido. Esses exercícios tem</p><p>como objetivo precípuo levar o aluno a parafrasear o original, reproduzin-</p><p>do o seu conteúdo na mesma língua que leu o ouviu o texto original. Mais</p><p>uma vez reitera-se: o objetivo aqui é a compreensão do sentido do original</p><p>e não a re-expressão em outra língua.</p><p>Uma vez que o processo de depreensão do sentido tenha sido compre-</p><p>endido pelo aluno, o estágio seguinte concentra-se na re-expressão da</p><p>mensagem. O segundo e o terceiro estágios do processo tendem a se fundir</p><p>aqui, pois o “abandono imediato e intencional das palavras e retenção da</p><p>representação mental da mensagem” só será demonstrado por intermédio</p><p>da “produção de um novo enunciado na língua-alvo, que deve atender a</p><p>dois requisitos: deve expressar a mensagem original completa e deve ser</p><p>voltado para o destinatário” (Seleskovitch 1978:9). Embora, mais uma</p><p>vez, os exercícios enfatizem a língua escrita ou oral conforme o caso, é</p><p>232 D.E.L.T.A., 19:ESPECIAL</p><p>importante que seja salientada sempre a importância da desverbalização,</p><p>ou seja, da retenção e re-expressão das idéias e conceitos, e não de palavras</p><p>da mensagem original, quer seja na forma escrita ou na oral. A esse respei-</p><p>to, sugerem Seleskovitch e Lederer: “A única maneira de combater a inter-</p><p>ferência [da língua de partida na língua de chegada] é insistir na completa</p><p>dissociação das duas línguas em questão (...) Nos primeiros estágios do</p><p>treinamento, um dos mandamentos deve ser o de que nada deva ser dito</p><p>da mesma forma que o original (...)” (1995:26). Esses princípios básicos</p><p>aplicam-se tanto à formação de tradutores quanto de intérpretes, pois são es-</p><p>sencialmente os mesmos, variando apenas quanto à forma oral ou escrita.</p><p>Nesse momento inicial, a formação do tradutor e do intérprete con-</p><p>centra-se em princípios básicos e nada impede que esse estágio inicial seja</p><p>realizado em conjunto. Outro componente que também se aplica a ambos</p><p>é a introdução a princípios teóricos. A teoria pode ser ensinada como um</p><p>componente separado ou ser apresentada em conjunto com os exercícios</p><p>práticos iniciais delineados acima e a eles aplicada continuamente. “Esse é</p><p>um estágio fundamental em seu treinamento, durante o qual adquirem a</p><p>metodologia para dominar as técnicas (...), aprendem a dissociar a língua</p><p>de partida da língua de chegada e a transmitir o sentido. Se entenderem</p><p>esses objetivos desde o início, conseguirão concentrar seus esforços na dire-</p><p>ção certa (...)”(Seleskovitch e Lederer 1995:21).</p><p>A partir desse início, é necessário que a formação se dirija a compo-</p><p>nentes específicos inerentes ao processo de tradução e ao de interpretação.</p><p>O futuro tradutor irá trabalhar os princípios delineados acima em exercíci-</p><p>os específicos de tradução, com ênfase em aspectos inerentes à expressão</p><p>em língua escrita como, por exemplo, a coesão textual. O futuro intérpre-</p><p>te, por outro lado, deverá ser introduzido a princípios de oratória e de</p><p>colocação da voz, além de dedicar muitas horas ao treino específico de</p><p>interpretação consecutiva, que inclui a técnica de tomar notas, e finalmen-</p><p>te o treino específico de interpretação simultânea, em que desenvolverá as</p><p>técnicas necessárias ao trabalho na cabine. Mais uma vez, a ênfase será</p><p>sempre no processo tríplice já mencionado acima, com destaque para a</p><p>desverbalização da mensagem original e sua re-expressão de acordo com a</p><p>língua de chegada.</p><p>Diferentes escolas adotam diferentes currículos. Christoph Renfer</p><p>(1992:175) aponta “quatro modelos básicos de treinamento para traduto-</p><p>res e/ou intérpretes.</p><p>PAGURA: A INTERPRETAÇÃO DE CONFERÊNCIAS... 233</p><p>A. Cursos de tradução e interpretação oferecidos em estágios consecu-</p><p>tivos. (...) Os candidatos a intérpretes têm de ser aprovados no exame final</p><p>de tradução e, a seguir, serem aprovados no teste de admissão ao programa</p><p>de interpretação. (...);</p><p>B. Cursos para tradutores e para intérpretes funcionando paralela-</p><p>mente, com dois exames finais separados;</p><p>C. O ‘modelo-Y’ de treinamento de tradutores e intérpretes. Nesta</p><p>abordagem, o currículo para tradutores e para intérpretes bifurca-se de-</p><p>pois de um currículo comum básico para todos os alunos;</p><p>D. Treinamento de intérpretes em nível de pós-graduação (...) ou trei-</p><p>namento em-serviço intensivo em organizações internacionais.”</p><p>O modelo A, por exemplo, é o adotado pela Universidade de Gene-</p><p>bra, o modelo B pela Sorbonne Nouvelle, o modelo C pelo Monterrey</p><p>Institute e o modelo D pela Universidade Westminster, em Londres, e</p><p>pela União Européia. Não cabe no escopo do presente trabalho uma análi-</p><p>se de cada um desses quatro modelos, o que é feito por Renfer. O que fica</p><p>claro em todos os modelos apresentados é que, quer desde o primeiro</p><p>momento de formação ou em um estágio posterior, a formação do tradu-</p><p>tor e a do intérprete pressupõe o treinamento em técnicas e habilidades</p><p>específicas inerentes às diferenças existentes entre a operacionalização dos</p><p>dois processos. Nada impede, porém, que uma pessoa atue nas duas áreas,</p><p>desde que tenha desenvolvido as técnicas e habilidades utilizadas em ambas.</p><p>Conclusão</p><p>A partir das três perguntas iniciais – Quais são as semelhanças entre</p><p>os dois processos que poderiam ter gerado tal confusão? E quais são as</p><p>diferenças que viriam a justificar uma separação entre as duas atividades?</p><p>Que implicações essas possíveis semelhanças e diferenças teriam para o</p><p>processo de formação de tradutores e de intérpretes? – podemos concluir</p><p>o seguinte: há, de fato semelhanças entre os dois processos, conforme foi</p><p>demonstrado neste trabalho e como concluíram os diversos autores cita-</p><p>dos. Há também diferenças fundamentais entre a operacionalização da tra-</p><p>dução e da interpretação, que deixam claro tratarem-se de duas atividades</p><p>distintas, ainda que semelhantes. Essas diferenças apontam para a necessi-</p><p>234 D.E.L.T.A., 19:ESPECIAL</p><p>dade de formação diferenciada para as duas atividades. Essa formação, no</p><p>entanto, poderá aproveitar-se das semelhanças entre os dois processos e da</p><p>base teórica comum para justificar programas que sigam o modelo “A” e</p><p>“C”, conforme descritos por Renfer (1992) e mencionados acima. Nada</p><p>impede, porém, que uma instituição opte pelo modelo “B” de Renfer (1992)</p><p>e se dedique à formação destinada exclusivamente à tradução ou interpre-</p><p>tação, em programas separados. Tudo dependerá, obviamente, dos inte-</p><p>resses e circunstâncias individuais das instituições e dos interessados na</p><p>formação. Esse último caso é, por exemplo, a situação dos programas exis-</p><p>tentes na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em que os progra-</p><p>mas de formação de tradutores e de intérpretes são separados.</p><p>E-mail: reynaldop@uol.com.br</p><p>Recebido em junho de 2002</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS</p><p>AIIC. (s/d). Advice to students wishing to become conference interpreters. Gene-</p><p>bra: AIIC.</p><p>AIIC. 1996. The interpreters: a historical perspective. (Vídeo). Genebra: AIIC.</p><p>ALVES, F. e R. PAGURA. 2002. 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