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<p>A INTERVENÇÃO NO</p><p>TRABALHO</p><p>PSICOPEDAGÓGICO CLÍNICO</p><p>AULA 5</p><p>Profª Tânia Mara Grassi</p><p>2</p><p>CONVERSA INICIAL</p><p>Nesta aula, abordaremos a organização do trabalho psicopedagógico</p><p>clínico com foco nos recursos objetivos de intervenção. Esses recursos são os</p><p>instrumentos materiais utilizados no processo de intervenção psicopedagógica</p><p>clínica. O objetivo é propiciar conhecimentos sobre esses recursos para que</p><p>você possa fazer sua escolha no processo de intervenção.</p><p>Os objetivos específicos são:</p><p>• conhecer a caixa de trabalho e identificar os materiais que a compõem;</p><p>• compreender a organização e utilização da caixa de trabalho;</p><p>• compreender os critérios utilizados na seleção dos materiais que vão</p><p>compor a caixa de trabalho;</p><p>• conhecer a caixa de areia e as miniaturas, compreendendo sua dinâmica</p><p>no processo de intervenção psicopedagógica;</p><p>• identificar os materiais que compõem a caixa de areia/miniaturas de modo</p><p>a organizar esse instrumento de intervenção;</p><p>• conhecer o projeto de aprender de modo a compreender sua importância</p><p>no processo de intervenção;</p><p>• compreender a organização do projeto de aprender de modo a promover</p><p>instrumentalização para sua elaboração e desenvolvimento.</p><p>Vamos agora conhecer os recursos utilizados no processo de intervenção.</p><p>TEMA 1 – A CAIXA DE TRABALHO</p><p>A caixa de trabalho é uma das constantes do enquadramento e recurso</p><p>central no processo corretor proposto por Visca (2010), quando desenvolvemos</p><p>um trabalho psicopedagógico fundamentado na epistemologia convergente.</p><p>Utilizamos uma caixa de papelão, uma caixa de madeira (MDF) ou uma</p><p>caixa de plástico não transparente (um organizador) com tampa. É possível</p><p>substituir as caixas, em função do custo, por pastas de uso individual com</p><p>tamanho suficiente para acomodar os materiais e as produções feitas pelo</p><p>aprendiz, mas a caixa ainda é o mais indicado. Ela se configura em um</p><p>continente, local onde o sujeito coloca seus conteúdos relacionados ao saber e</p><p>ao “não saber”; é de uso exclusivo do sujeito ou de um grupo de sujeitos (nos</p><p>atendimentos grupais), portanto, é única, inclusive porque os materiais</p><p>3</p><p>escolhidos para serem utilizados são específicos àquele aprendiz ou àquele</p><p>grupo de aprendizes, pois atendem à especificidade do diagnóstico e às</p><p>necessidades do(s) sujeito(s).</p><p>Os materiais em seu interior possibilitam que o aprendiz vivencie o</p><p>processo de aprendizagem e são utilizados para desenvolver o processo</p><p>corretor, sendo escolhidos pelo psicopedagogo considerando as características</p><p>do aprendiz. Entre os materiais que devem ser colocados temos:</p><p>• instrumentos – tesoura, lápis, grafite, lápis de cor, borracha, apontador,</p><p>régua, canetas esferográficas, canetas hidrográficas, pincel, giz de cera,</p><p>folhas de papel sulfite etc.</p><p>• material estruturado – jogos, livros, revistas, gibis etc.</p><p>• material semiestruturado – sucata, cubos de encaixe, miniaturas etc.</p><p>• material não estruturado – argila, massa de modelar, tinta etc.</p><p>A seleção leva em consideração as características de funcionamento do</p><p>aprendiz, portanto alguns materiais devem se relacionar ao nível atual de</p><p>desenvolvimento; outros ao nível que se objetiva alcançar e que são</p><p>desafiadores; e outros aos níveis já alcançados e superados, uma vez que</p><p>podem servir de apoio e lhe dar segurança.</p><p>Nesse processo de escolha, Visca (2010) destaca que é fundamental</p><p>considerar que alguns materiais podem ser considerados “reativos de conduta”,</p><p>sendo classificados em:</p><p>• distrativos – afastam o sujeito da tarefa;</p><p>• reativos – afastam o sujeito do foco de suas necessidades ou</p><p>desencadeiam resistências em relação à tarefa;</p><p>• reativos de conduta propriamente ditos – adequados à intervenção,</p><p>independentemente de o tratamento ser focalizado (emergência da</p><p>dificuldade) ou não focalizado.</p><p>A caixa representa o mundo interno do aprendiz e, por isso, deve ser</p><p>manipulada apenas por ele. É fundamental que ele tenha certeza disso, ou seja,</p><p>que a caixa não será aberta ou utilizada por outras pessoas e, também, que nada</p><p>vai ser retirado ou colocado sem sua presença. O aprendiz deposita em seu</p><p>interior, além de seus conhecimentos, seus sentimentos, dificuldades e</p><p>habilidades. Esses aspectos são representados pelos objetos colocados nela e</p><p>pelas produções guardadas ali.</p><p>4</p><p>Ao longo do processo corretor, alguns materiais serão adicionados à caixa</p><p>e outros vão sair dela, decisão tomada pelo psicopedagogo e discutida com o</p><p>aprendiz quando necessário.</p><p>TEMA 2 – UTILIZAÇÃO DA CAIXA DE TRABALHO NO PROCESSO CORRETOR</p><p>Organizamos o processo corretor definindo a utilização da caixa de</p><p>trabalho, que é de papelão, com tampa e de tamanho suficiente para acomodar</p><p>os materiais escolhidos para trabalhar com o aprendiz, além de suas produções.</p><p>O ideal é escolher um tamanho e um modelo padrão e utilizá-lo para todos os</p><p>sujeitos atendidos.</p><p>Considerando as necessidades do aprendiz, sua faixa etária, dificuldades,</p><p>interesses, habilidades e seu nível de pensamento, selecionamos os materiais</p><p>que vão compor a caixa de trabalho. Ressaltamos que não é necessário colocar</p><p>muitos materiais na caixa; é preciso deixar espaço para as escolhas do sujeito,</p><p>espaço para inserir materiais à medida que o processo corretor se desenvolve</p><p>e, também, é preciso ter espaço para guardar suas produções.</p><p>Os materiais escolhidos são entregues ao aprendiz na primeira sessão,</p><p>acondicionados em uma sacola plástica, indicando que são novos, sem história</p><p>prévia e, portanto, iniciam o processo corretor com ele. A caixa é também</p><p>recebida nessa sessão com a orientação de que ele pode decorá-la e</p><p>personalizá-la para então guardar os materiais em seu interior. Comunica-se ao</p><p>sujeito que a caixa é de uso exclusivo dele e ninguém vai mexer no seu material</p><p>em sua ausência.</p><p>Há a possibilidade de colocar um cadeado ou uma fita de fechamento na</p><p>caixa, principalmente no caso de sujeitos mais inseguros ou desconfiados, mas</p><p>isso não é essencial, pois é preciso o estabelecimento de um vínculo de</p><p>confiança entre profissional e aprendiz, o que é firmado pela palavra. Você pode</p><p>oferecer a ele a opção e deixá-lo decidir. Alguns usam a fita de fechamento nas</p><p>primeiras sessões e depois a deixam de lado, à medida que se vinculam ao</p><p>psicopedagogo e este conquista sua confiança.</p><p>Disponibilizamos materiais para a decoração da caixa: cola colorida,</p><p>adesivos de personagens de interesse do aprendiz, giz de cera, tinta guache,</p><p>figuras, retalhos de tecido, caneta hidrocor, lápis de cor, cola, tesoura, retalhos</p><p>de papel, entre outros. Após a decoração da caixa, ele coloca os materiais</p><p>recebidos e ela é guardada em um armário ou estante na sala. Só será aberta</p><p>5</p><p>na próxima sessão, por ele. Ela pode estar sobre a mesa, no chão ou no armário,</p><p>esperando que ele abra e escolha o material que vai utilizar a cada sessão, ou</p><p>aquele que é indicado pelo profissional.</p><p>O aprendiz vai utilizar o material da caixa de trabalho após a apresentação</p><p>das consignas pelo psicopedagogo. Essas consignas norteiam as tarefas que</p><p>serão realizadas, podendo deixá-lo livre para fazer escolhas. Podem dar-lhe</p><p>opções específicas de escolha ou podem direcioná-lo a uma tarefa determinada.</p><p>Devemos escolher alguns instrumentos para compor a caixa de trabalho:</p><p>materiais estruturados, semiestruturados e não estruturados. É importante</p><p>lembrar que, na escolha dos materiais, devemos considerar o nível atual de</p><p>desenvolvimento do sujeito, o nível a ser alcançado e os níveis já alcançados e</p><p>superados. São necessários materiais que se relacionem a cada um dos níveis.</p><p>Considera-se, também, as modalidades de aprendizagem do sujeito, o</p><p>que direciona a escolha de mais ou menos materiais estruturados. Visca</p><p>menciona que no caso de sujeitos em que há o predomínio da assimilação, a</p><p>colocação de muitos materiais semiestruturados fará com que</p><p>funcionem como</p><p>distrativos, o que o afastará da tarefa e dificultará a atenção, a concentração e a</p><p>acomodação. No caso de sujeitos em que predomina a acomodação, devemos</p><p>escolher maior quantidade de materiais semiestruturados, que ampliam</p><p>possibilidades de utilização, e pelo menos um material estruturado, que pode ser</p><p>um jogo de regras. Depois, outros materiais podem ser acrescentados, retirados</p><p>ou substituídos, o que depende da demanda e das necessidades do aprendiz.</p><p>Modificações na caixa e materiais são discutidas com o aprendiz e operadas na</p><p>sua presença. Instrumentos podem ser repostos sempre que necessário.</p><p>No processo corretor, o psicopedagogo faz uso da caixa de trabalho de</p><p>modo efetivo e operativo, utilizando os recursos subjetivos para as mediações.</p><p>Ele observa a relação vincular do sujeito com sua caixa, seus materiais e</p><p>produções, o que reflete seu vínculo com a aprendizagem e o conhecimento,</p><p>norteando as intervenções do psicopedagogo. Carlberg (2012) menciona que há</p><p>aprendizes que são descuidados; outros são muito cuidadosos, ou possessivos,</p><p>ou obsessivos; há os que não abrem a caixa no começo do processo ou ao longo</p><p>das sessões; há aqueles que abrem a caixa de imediato e iniciam as atividades;</p><p>há os que retiram tudo de seu interior e não conseguem decidir o que fazer; há,</p><p>ainda, os que se aproximam da caixa aos poucos e vão utilizando os materiais</p><p>progressivamente.</p><p>6</p><p>Essas observações devem ser registradas por meio de anotações,</p><p>filmagens, gravações de áudio, fotografias etc. Isso é definido no</p><p>enquadramento, pois demanda ciência e autorização dos responsáveis pelo</p><p>sujeito, e nos possibilita acompanhar e analisar o processo corretor, fazendo as</p><p>adaptações, modificações e intervenções necessárias.</p><p>Na análise do processo corretor com a caixa de trabalho e também com</p><p>outros recursos objetivos, considera-se:</p><p>• dinâmica: tudo aquilo que é feito, todas as ações, movimentos e</p><p>expressões faciais e corporais;</p><p>• temática: tudo aquilo que é dito, verbalizado – os conteúdos,</p><p>pensamentos e sentimentos expressos pela fala ou pela representação</p><p>gráfica;</p><p>• produto: tudo o que é produzido pelo sujeito a cada sessão.</p><p>Durante a intervenção, o profissional faz a mediação, se utiliza dos</p><p>recursos subjetivos fazendo assinalamentos, pontuações, indicações,</p><p>interpretações, dando informações, provocando desequilibrações, estimulando</p><p>reflexões, tomada de decisões, levantamento de hipóteses, tomada de</p><p>consciência de erros, dificuldades e sentimentos. Pode-se, também, combinar o</p><p>uso da caixa de trabalho com outros recursos de intervenção.</p><p>Ao término do processo corretor, quando se decide pelo desligamento do</p><p>aprendiz, em função do encerramento da intervenção, o profissional e o sujeito</p><p>conversam sobre a destinação que será dada à caixa de trabalho: pode ser</p><p>deixada no consultório ou levada pelo aprendiz; pode levar apenas suas</p><p>produções, pode levar suas produções e materiais, pode levar os materiais e</p><p>deixar suas produções. É um momento de exercício de autonomia e marca a</p><p>superação de suas dificuldades.</p><p>TEMA 3 – A CAIXA DE AREIA E AS MINIATURAS</p><p>A caixa de areia e as miniaturas são recursos de intervenção</p><p>psicopedagógica que podem ser utilizados no processo corretor, combinados</p><p>com outros instrumentos. Esse recurso se fundamenta no jogo de areia ou caixa</p><p>de areia, método projetivo que, segundo Acampora e Acampora (2016), permite</p><p>a expressão de conteúdos do inconsciente. Por meio dessa técnica, o sujeito é</p><p>7</p><p>convidado a organizar cenários em uma caixa de areia com miniaturas, o que</p><p>permite a projeção de seus desejos, sentimentos e pensamentos.</p><p>A caixa de areia se configura em um espaço em que há liberdade e</p><p>também proteção, ou seja, o sujeito pode construir cenários livremente, pode</p><p>criar e expressar seus desejos, mas há um limite de espaço, imposto pela caixa,</p><p>que determina também a quantidade de miniaturas que esse espaço comporta,</p><p>oferecendo segurança e proteção. Além disso, há o acolhimento por parte do</p><p>profissional que acompanha o processo e lhe oferece seu olhar e sua escuta.</p><p>Utilizamos uma caixa de madeira em formato retangular, cuja medida</p><p>padrão é de 72 cm por 50 cm, com 7,5 cm de profundidade. O revestimento</p><p>interno é de fórmica impermeável na cor azul. É importante seguir esse padrão</p><p>porque, como destaca Weinrib (1983), esse tamanho ao mesmo tempo</p><p>possibilita a liberdade de criação, coloca um limite espacial que dá segurança e</p><p>permite a visualização total do cenário criado. O fundo deve ser azul porque é</p><p>uma cor que lembra a água do mar ou dos rios, e impermeável porque podemos</p><p>fazer uso de água sem preocupação com vazamentos.</p><p>No interior da caixa colocamos areia fina, que deve ser tratada</p><p>(esterilizada) e peneirada, em uma profundidade de 3 cm, para que não</p><p>transborde quando for manipulada. A caixa é colocada sobre um suporte de</p><p>modo que fique na altura da cintura do sujeito, o que facilitará sua visualização</p><p>e manipulação. É possível utilizar duas caixas de areia, uma para areia seca e</p><p>outra para areia molhada, o que depende de espaço para guardá-las. Tocar a</p><p>areia seca possibilita ao sujeito sentir sua textura e experimentar a sensação</p><p>dela escorrendo pelos dedos, o que pode ser relaxante, e tocar a areia molhada</p><p>oportuniza experimentar a modelagem, percebendo sua transformação e</p><p>plasticidade, o que facilita a montagem dos cenários.</p><p>Utilizamos também miniaturas que são organizadas em estantes abertas,</p><p>classificadas e colocadas nas prateleiras segundo determinados critérios. As</p><p>miniaturas representam objetos e figuras variadas, agradáveis, bonitas, feias,</p><p>repulsivas, claras, coloridas, escuras, assustadoras, possibilitando a construção</p><p>de diversos cenários, bem como a projeção e expressão de diferentes</p><p>sentimentos: animais, meios de transporte, utensílios domésticos, mobília,</p><p>personagens e heróis de histórias atuais, contos de fadas, desenhos, histórias</p><p>em quadrinhos, folclore regional, pessoas, casas, árvores e plantas, entre outros.</p><p>8</p><p>Esse acervo pode ser ampliado, progressivamente, com o acréscimo de objetos</p><p>específicos, ou de interesse dos aprendizes ou necessários à intervenção.</p><p>Além das miniaturas, devemos incluir acessórios que ampliam as</p><p>possibilidades de representação nos cenários, com diferentes elementos e</p><p>simbolismos, podendo expressar de forma mais rica os pensamentos e</p><p>sentimentos do sujeito: palitos de sorvete, bolas de gude, conchas, pedras,</p><p>sucata etc. O acervo pode ser ampliado progressivamente, com o acréscimo de</p><p>objetos específicos, de interesse do aprendiz ou necessários à intervenção.</p><p>TEMA 4 – A INTERVENÇÃO COM A CAIXA DE AREIA E AS MINIATURAS</p><p>O trabalho de intervenção com a caixa de areia e as miniaturas é</p><p>organizado em etapas que se desenvolvem ao longo das sessões:</p><p>1. Apresentação da caixa de areia e de uma consigna que convida o</p><p>aprendiz a explorar e manipular a areia seca, a areia molhada ou ambas.</p><p>2. Apresentação das miniaturas e acessórios acompanhada pela consigna</p><p>que orienta o aprendiz a observá-las e escolher aquelas que vai colocar</p><p>na caixa de areia e construir um cenário.</p><p>3. O aprendiz é orientado a brincar com as miniaturas e com os acessórios</p><p>e montar cenas na caixa de areia.</p><p>4. Quando o aprendiz não souber o que é um cenário é preciso mediar</p><p>explicando seu significado.</p><p>5. O aprendiz vai, então, construir seu cenário, escolhendo as miniaturas e</p><p>colocando-as na caixa de areia, momento acompanhado pelo olhar atento</p><p>e pela escuta do psicopedagogo, que fará mediações se for pertinente.</p><p>6. Quando o aprendiz finalizar seu cenário inicia-se uma etapa de mediação</p><p>e intervenção em que o psicopedagogo estabelece um diálogo com o</p><p>aprendiz sobre o cenário construído, solicitando a elaboração e o registro</p><p>de uma história sobre ele. O registro, que deve ser arquivado, pode ser</p><p>oral e gravado, ou escrito pelo aprendiz</p><p>ou pelo profissional.</p><p>7. Após a construção dos cenários, Andion (2015) sugere que se proponham</p><p>atividades complementares como a escrita de palavras, frases ou textos,</p><p>a produção de desenhos, a escolha de títulos, a descrição oral do cenário,</p><p>o estabelecimento de relação do cenário com histórias conhecidas, a</p><p>realização de palavras-cruzadas ou caça-palavras relacionadas ao</p><p>9</p><p>cenário e a proposição de situações-problemas, de acordo com as</p><p>necessidades, habilidades e/ou dificuldades de cada aprendiz.</p><p>8. O cenário é registrado por meio de fotografias e/ou filmagem, para</p><p>arquivamento e análises posteriores sobre as construções e o processo</p><p>de intervenção e aprendizagem do sujeito. Esse arquivamento pode ser</p><p>feito em um álbum físico ou virtual, que será mantido na caixa de trabalho</p><p>ou na pasta do aprendiz ou em um computador ou pen drive.</p><p>9. O cenário será desmontado somente após a saída do aprendiz da sala,</p><p>informação que ele recebeu quando foram apresentadas a ele as</p><p>constantes do enquadramento;</p><p>10. Higienização das peças, guarda dos materiais (caixa, miniaturas e</p><p>acessórios) e reorganização do espaço;</p><p>11. Análise pelo psicopedagogo sobre o cenário construído e a história</p><p>elaborada, que simbolizam questões específicas do sujeito relacionadas</p><p>à sua história de vida e experiências. Essa análise norteia as próximas</p><p>ações de intervenção.</p><p>A criação dos cenários possibilita a simbolização de conteúdos internos</p><p>de um sujeito que está enfrentando dificuldades no processo de aprendizagem.</p><p>Esse recurso cria um espaço em que o sujeito pode se expressar usando sua</p><p>imaginação, organizar-se progressivamente e alcançar autonomia e autoria. Ao</p><p>psicopedagogo cabe observar e analisar o sujeito, suas relações com os</p><p>materiais, a construção do cenário e da história, enfim, a dinâmica, a temática e</p><p>o produto.</p><p>Listamos alguns aspectos que devem ser observados na intervenção com</p><p>a caixa de areia e as miniaturas:</p><p>• quais as miniaturas escolhidas e a quantidade;</p><p>• como manuseou a areia e que tipo de areia (seca, molhada, ambas);</p><p>• como foi a construção do cenário, como foi utilizado o espaço e como</p><p>foram colocadas as miniaturas na composição do cenário;</p><p>• como brincou com as miniaturas na composição do cenário;</p><p>• foi impulsivo; organizado, desorganizado, lento, rápido;</p><p>• houve planejamento na escolha das miniaturas e montagem do cenário;</p><p>• que critérios foram utilizados na seleção das miniaturas e na organização;</p><p>• como construiu o cenário e se houve sua desconstrução ou modificações;</p><p>10</p><p>• quais as mudanças ocorridas com o aprendiz ao longo de todo o processo</p><p>de intervenção em relação à utilização do material;</p><p>• quanto à história elaborada sobre o cenário, considera-se: a organização</p><p>espaço temporal, sequência lógica, planejamento, detalhes, expressão de</p><p>sentimentos e pensamentos, expressão de conflitos, forma de registro</p><p>(escrito, oral), vocabulário, criatividade, imaginação, entre outros.</p><p>Ao longo do processo corretor, com a caixa de areia e as miniaturas, o</p><p>aprendiz evolui em relação a aspectos como organização, planejamento,</p><p>criação, autonomia, o que possibilita a superação das dificuldades e a</p><p>aprendizagem. Nesse processo, a mediação por parte do psicopedagogo é um</p><p>fator preponderante. Ela se efetiva por meio da utilização dos recursos subjetivos</p><p>e da atitude operativa, aspectos essenciais à intervenção psicopedagógica.</p><p>TEMA 5 – O PROJETO DE APRENDER</p><p>O projeto de aprender é um recurso de intervenção desenvolvido por</p><p>Barbosa (1998/2006) e definido pela autora como uma “atitude educativa” (2012,</p><p>p. 95) que considera os interesses do sujeito e nos oferece conhecimentos sobre</p><p>suas modalidades de aprendizagem e as mudanças que precisam acontecer no</p><p>processo de aprender.</p><p>Inicia-se a intervenção psicopedagógica com o projeto de aprender por</p><p>meio do enquadramento, momento em que são firmados acordos e são dadas</p><p>informações sobre o desenvolvimento do projeto. Informa-se o aprendiz sobre o</p><p>que é um projeto, sobre a importância de considerar interesses e desejos na</p><p>escolha de temas, sobre a necessidade de organização e elaboração de um</p><p>planejamento.</p><p>O projeto de aprender se desenvolve nas seguintes etapas:</p><p>• Confecção de um painel e/ou estabelecimento de uma conversa: o sujeito</p><p>e o psicopedagogo confeccionam cada um o seu painel sobre o que já foi</p><p>aprendido, sobre o que mais gostaram de aprender e sobre o que desejam</p><p>aprender. Ele é construído com imagens, figuras, fotos, recortes, registro</p><p>escrito, sendo disponibilizados para o aprendiz materiais como papel Kraft</p><p>ou cartolina, revistas, canetas hidrográficas, lápis de cor, giz de cera, lápis</p><p>grafite, caneta esferográfica, cola e tesoura etc.. Após a conclusão,</p><p>haverá um diálogo sobre o que foi produzido e aspectos como</p><p>11</p><p>aprendizagem, interesses, desejos, elementos em comum e diferenças.</p><p>Eventualmente pode ser feita apenas a conversação.</p><p>• Descoberta do que é um projeto: o psicopedagogo apresenta fotos de</p><p>projetos já desenvolvidos, dialoga sobre seus conhecimentos sobre o</p><p>assunto, além de possíveis experiências no desenvolvimento de projetos;</p><p>pode definir o que é um projeto, explicar suas características e destacar a</p><p>importância do desejo e comprometimento para sua realização e sua</p><p>aprendizagem.</p><p>• Escolha do tema do projeto: após refletir sobre gostos, interesses e</p><p>desejos, escolhe-se o tema do projeto de aprender que será desenvolvido.</p><p>• Elaboração do projeto: elabora-se o projeto (planejamento), discutindo</p><p>sua organização em função do tema, define-se o que será desenvolvido,</p><p>quais serão os materiais necessários, seu custo, o tempo que levará para</p><p>seu desenvolvimento, qual será seu objetivo e sua utilidade, o que ele</p><p>possibilitará aprender. Esses elementos são então registrados. Nessa</p><p>etapa, mobiliza-se o sujeito para a ação, provocando uma desequilibração</p><p>ou, segundo a autora, conflitos cognitivos e vinculares que são essenciais</p><p>ao processo de aprendizagem.</p><p>• Execução do projeto: o desenvolvimento do projeto de aprender leva o</p><p>número de sessões previstas no planejamento e nessa etapa algo será</p><p>construído pelo sujeito por meio do investimento de seu desejo, sua</p><p>energia e de seu tempo. O psicopedagogo acompanha o processo,</p><p>providencia o material junto com o sujeito e faz as mediações.</p><p>• Registro de dinâmica, temática e produto: o psicopedagogo faz o registro</p><p>de cada etapa do projeto, das observações e análises em cada sessão, o</p><p>que pode ser feito por escrito, fotografias ou filmagens, e é definido no</p><p>enquadramento e com a autorização dos responsáveis pelo aprendiz.</p><p>• Avaliação do projeto: encerra-se o projeto e seus resultados são</p><p>analisados, refletindo-se sobre o processo de desenvolvimento do projeto,</p><p>sobre as aprendizagens e dificuldades, o que possibilita reelaborações.</p><p>• Apresentação do projeto: pode ser feita uma apresentação, quando o</p><p>projeto foi concluído, para os pais, para a escola ou para os colegas.</p><p>A mediação exercida pelo psicopedagogo dará ao projeto de aprender o</p><p>caráter de instrumento de intervenção. Por meio da intervenção, o profissional,</p><p>utilizando-se dos recursos subjetivos, promoverá situações que provocarão as</p><p>12</p><p>mudanças necessárias nas condutas do sujeito, levando à superação de</p><p>dificuldades e à aprendizagem.</p><p>NA PRÁTICA</p><p>Mariana tinha oito anos e estava no terceiro ano do ensino fundamental I</p><p>quando passou a ter dificuldades de aprendizagem, momento marcado pela</p><p>separação dos pais, pela mudança de escola e de cidade. A menina era muito</p><p>tímida e calada. Após a avaliação psicopedagógica decidiu-se pela intervenção</p><p>com a caixa de areia. No começo do processo ela demorava muito tempo para</p><p>escolher as miniaturas, geralmente duas ou três. Depois de longo tempo</p><p>observando cada miniatura da estante, não conversava. Montava o cenário e o</p><p>descrevia como se fosse uma fotografia. Com a mediação</p><p>do psicopedagogo,</p><p>que, com uma atitude operativa, fazia indicações e dava informações, essa</p><p>dinâmica foi se modificando progressivamente, o que refletiu em seu</p><p>desempenho escolar.</p><p>Ela passou a escolher mais miniaturas e mais rapidamente, montando</p><p>cenários e elaborando histórias mais detalhadas sobre a cena montada, mas</p><p>isso levou um ano e meio de trabalho psicopedagógico. A menina passou a</p><p>expressar seus sentimentos em relação à separação dos pais, à mudança de</p><p>escola e à dificuldade de fazer amigos à medida que se sentia mais segura e</p><p>estabelecia o vínculo com o profissional. Atualmente ela está em processo de</p><p>desligamento do atendimento psicopedagógico, pois superou as dificuldades de</p><p>aprendizagem e seguirá com acompanhamento psicológico por sua decisão e</p><p>para trabalhar sua timidez.</p><p>Convidamos você a refletir sobre o trabalho de intervenção com a caixa</p><p>de areia e as miniaturas escolhido para Mariana e a importância dos recursos</p><p>subjetivos usados na mediação e que de fato operam a intervenção.</p><p>FINALIZANDO</p><p>Nesta aula, vimos os recursos objetivos utilizados no processo de</p><p>intervenção psicopedagógica clínica, entre eles a caixa de trabalho, instrumento</p><p>proposto por Visca na epistemologia convergente, de uso individual e exclusivo</p><p>do aprendiz, organizado especificamente para ele de acordo com suas</p><p>necessidades, interesses e características. Conhecemos a caixa de areia e as</p><p>13</p><p>miniaturas, utilizadas para a montagem de cenários que expressam os</p><p>sentimentos e pensamentos do sujeito, em que a mediação do profissional é</p><p>fundamental.</p><p>Também vimos o projeto de aprender proposto por Barbosa. Nele, o</p><p>sujeito elabora um projeto em que a pesquisa e a construção estão presentes, e</p><p>o desenvolve com o acompanhamento e mediação do psicopedagogo,</p><p>exercitando a autonomia e autoria. Esses recursos podem ser utilizados em</p><p>conjunto ou separadamente na intervenção, dependendo da concepção teórica</p><p>que fundamenta a práxis do profissional e das necessidades e demandas do</p><p>aprendiz.</p><p>14</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ACAMPORA, B.; ACAMPORA, B. Intervenção psicopedagógica com práticas</p><p>de ludoterapia e arteterapia. Rio de Janeiro: WAK, 2016.</p><p>ANDION, T. M. Jogo de areia: intervenção psicopedagógica à luz da teoria</p><p>piagetiana na caixa de areia. Rio de Janeiro: WAK, 2015.</p><p>BARBOSA, L. M. S. O projeto de trabalho: uma forma de atuação</p><p>psicopedagógica. Curitiba: L.M.S. Barbosa, 1998.</p><p>BARBOSA, L. M. S. (Org.). Intervenção psicopedagógica no espaço da</p><p>clínica. Curitiba: InterSaberes, 2012.</p><p>CARLBERG, S. Caixa de trabalho. In: BARBOSA, L. M. S. (Org.). Intervenção</p><p>psicopedagógica no espaço da clínica. Curitiba: InterSaberes, 2012, p. 6-53.</p><p>KÜSTER, S. A caixa de areia e as miniaturas como recurso de intervenção</p><p>psicopedagógica. In: BARBOSA, L. M. S. Intervenção psicopedagógica no</p><p>espaço da clínica. Curitiba: InterSaberes, 2012, p. 59-90.</p><p>VISCA, J. Clínica psicopedagógica: epistemologia convergente. São José dos</p><p>Campos: Pulso, 2010.</p><p>WEINRIB, E. L. Imagens do self: o processo terapêutico na caixa de areia. São</p><p>Paulo: Summus, 1993.</p>