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PRISÃO Conceito e fundamento constitucional A prisão é a privação do indivíduo através do seu recolhimento ao cárcere. → O art 5º, LXI, CF, preceitua que: “ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei”. - A regra é de que a prisão deve se basear em decisão de magistrado competente, motivada e reduzida a escrito, ou necessita decorrer de flagrante delito. Controle de legalidade da prisão Dispõe o art. 5º, LXV, CF, que “a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária”. Ainda, “conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder” (art. 5º, LXVIII, CF). ● Considera-se abuso de autoridade o ato de efetuar prisão ilegal, deixar de relaxar prisão ilegalmente realizada, bem como deixar de comunicar ao magistrado a prisão efetivada, ainda que legal. Caso a prisão seja indevidamente realizada por pessoa não considerada autoridade, trata-se de crime comum. Formalidades da prisão ● Indispensabilidade de mandado de prisão, expedido por autoridade judiciária, que proferiu decisão escrita e fundamentada nos autos do inquérito ou do processo (art. 283, caput, CPP). De forma excepcional, admite-se a formalização da prisão por ato administrativo, como ocorre na prisão em flagrante. ● Inexiste fixação de dia e hora para prender alguém, quando há ordem judicial para tanto, dessa forma, o indivíduo deve ser preso onde for encontrado. A exceção é determinada pelo direito da inviolabilidade de domicílio. Assim, ainda que a autoridade policial tenha mandado de prisão, expedido por autoridade judiciária, deve invadir o domicílio apenas durante o dia. No entanto, caso alguém, procurado, se esconda na residência de pessoa que permita a entrada da autoridade policial, durante a noite, a prisão pode ser efetivada. - “O morador que se recusar a entregar réu oculto em sua casa será levado à presença de autoridade, para que se proceda contra ele como for de direito” (art. 293, parágrafo único, CPP), tal artigo tem aplicação quando o dono da casa impedir a entrada da polícia durante o dia ou logo que amanhece. ● O emprego de algemas, tratando-se de instrumento de implementação da violência indispensável para conter a fuga ou a resistência, deve ser utilizado em situações excepcionais. Caso sejam utilizadas, deve ser lavrado um auto, por escrito, justificando a medida. Em salas de audiência ou no recinto do fórum, pode o juiz controlar o emprego de algemas, porém, sempre, valendo-se dos informes prestados pela escolta policial. - Súmula 11, STF: “só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte de preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado”. - art. 292, parágrafo único, CPP: “é vedado o uso de algemas em mulheres grávidas durante atos médicos-hospitalares preparatórios para a realização do parto e durante o trabalho de parto, bem como em mulheres durante o período de puerpério imediato”. ● O mandado de prisão será expedido em duas vias, ambas assinadas pelo juiz, uma delas ficará com o preso, o qual deverá passar assinar o outro exemplar; recusando-se ou quando não souber assinar ou estiver impossibilitado de fazê-lo, tal situação será comunicada à parte, devendo conter a assinatura de duas testemunhas (art. 286, CPP). ● De forma excepcional, autoriza-se a prisão de alguém sem a exibição imediata de mandado de prisão, como no caso de infrações inafiançáveis, devendo o preso ser imediatamente apresentado ao juiz que tiver expedido o mandado, em audiência de custódia (art. 287, CPP). ● Art. 288, CPP - “ninguém será recolhido à prisão, sem que seja exibido o mandado ao respectivo diretor ou carcereiro, a quem será entregue cópia assinada pelo executor ou apresentada a guia expedida pela autoridade competente, devendo ser passado recibo da entrega do preso, com declaração de dia e hora.” ● Prisão por precatória: recebida a precatória, o juiz do local coloca o “cumpra-se”, tornando legal a prisão. ● A urgência pode impor a remessa da ordem de prisão por qualquer meio de comunicação, do qual deverá constar o motivo da prisão e o valor da fiança, se arbitrada. ● Art. 289-A, CPP - “juiz competente providenciará o imediato registro de mandado de prisão em banco de dados mantido pelo Conselho Nacional de Justiça para essa finalidade”, com isso fica viabilizada a prisão do procurado em todo o país, por qualquer policial. ● Prisão por perseguição: faz-se a prisão no lugar onde for alcançado o procurado, mas ele será imediatamente apresentado à autoridade local para que esta possa certificar-se da regularidade do mandado de prisão ou mesmo para que lavre o APF (art. 290, CPP). - Legitima-se a perseguição em duas hipóteses: a) quando a autoridade policial avista o procurado e vai ao seu encalço sem interrupção, ainda que possa perdê-lo de vista; b) quando fica sabendo, por indícios ou informações confiáveis que o procurado passou, há pouco tempo, e determinada direção (art. 290, §1º, CPP). ● Súmula 717, STF: “não impede a progressão de regime de execução da pena, fixada em sentença não transitada em julgado, o fato de o réu se encontrar em prisão especial”. Prisões cautelares Prisão temporária É uma modalidade de prisão cautelar, cuja finalidade é assegurar uma eficaz investigação policial, quando se tratar de apuração de infração penal de natureza grave. ● Situações que autorizam a prisão temporária (art. 1º, I, II e III, da Lei n. 7.960/89, c/c art. 2º§4º, da Lei n. 8.072/90): - Quando imprescindível para as investigações do inquérito policial, associando-se ao fato de haver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes: a) homicídio doloso; b) sequestro ou cárcere privado; c) roubo; d) extorsão; e) extorsão mediante sequestro; f) estupro; g) estupro de vulnerável; h) sequestro qualificado (para fins libidinosos); i) epidemia com resultado morte; j) envenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado pela morte; k) associação criminoso; l) genocídio; m) tráfico de drogas; n) crimes contra o sistema financeiro; o) crimes previstos na Lei de Terrorismo; p) tortura. - Quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade em combinação com os crimes de a) homicídio doloso; b) sequestro ou cárcere privado; c) roubo; d) extorsão; e) extorsão mediante sequestro; f) estupro; g) estupro de vulnerável; h) sequestro qualificado (para fins libidinosos); i) epidemia com resultado morte; j) envenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado pela morte; k) associação criminoso; l) genocídio; m) tráfico de drogas; n) crimes contra o sistema financeiro; o) crimes previstos na Lei de Terrorismo; p) tortura. ● O prazo da prisão temporária, em regra, será de 5 dias, podendo ser prorrogado por outros 5, em caso de extrema e comprovada necessidade. Quando se tratar de crimes hediondos e equiparados, o prazo sobe para 30 dias, prorrogáveis por outros 30. ● NÃO há decretação da prisão temporária de ofício pela autoridade judiciária, devendo haver requerimento do MP ou representação da autoridade policial. ● Terminando o prazo estipulado pelo juiz, deve o indiciado ser imediatamente libertado, pela própria autoridade policial, independentemente da expedição de alvará de soltura pelo juiz. ● A única ressalva para manter a prisão é quando é feita a decretação da prisão preventiva, iniciando sua vigência após o término datemporária (art. 2º, §7º, da Lei n. 7.960/89). ● Durante o prazo da prisão temporária, a autoridade policial, constando que prendeu a pessoa errada ou não mais havendo a necessidade da custódia cautelar, liberte o suspeito, sem autorização judicial. ● A prisão apenas pode ser realizada diante de flagrante ou porque um juiz expediu ordem nesse sentido. Prisão em flagrante A prisão em flagrante é a modalidade de prisão cautelar, de natureza administrativa, realizada no instante em que se desenvolve ou termina de se concluir a infração penal. Conforme o art. 5º, LXI, CF, autoriza-se essa forma de prisão sem a expedição de mandado de prisão pela autoridade judiciária. Ainda, essa prisão está sujeita à avaliação imediata do magistrado, que poderá relaxá-la, quando vislumbrar ilegalidade (art. 5º, LXV, CF). A natureza jurídica da prisão em flagrante é de medida cautelar de segregação provisória do autor da infração penal. Dessa forma, exige-se apenas aparência de tipicidade, sem exigência de valoração sobre a ilicitude e a culpabilidade (tipicidade fumus boni iuris). Essa modalidade de prisão tem caráter administrativo. O APF é realizado pela Polícia Judiciária (civil), tornando-se jurisdicional, quando o juiz, tomando conhecimento, prefere mantê-la. Ao receber o APF, o magistrado deve decidir entre as seguintes medidas: a) relaxar a prisão ilegal; b) converter a prisão em flagrante em preventiva, desde que presentes os requisitos do art. 312, CPP e se forem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP; c) conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. Recebendo o APF, deve o magistrado promover a realização da audiência de custódia, presentes o acusado, seu defensor e o membro do MP. Cabe ao MP manifestar-se quanto à conversão do flagrante em preventiva, a concessão de medidas cautelares alternativas ou se manifestar pela liberdade provisória. Caso proponha a prisão cautelar, o juiz poderá transformar o flagrante em preventiva. NÃO cabe a conversão do flagrante em preventiva sem requerimento do MP ou representação da autoridade policial. A única hipótese de manter a prisão, com base na prisão em flagrante, decorre da revogação da liberdade provisória, pelo não cumprimento de suas condições. ● Para infrações de menor potencial ofensivo, o APF não precisa ser formalizado, desde que o detido se comprometa a comparecer no JEC (art. 69, parágrafo único, da Lei n. 9.099/95). Flagrante facultativo ou obrigatório ● Flagrante facultativo - possibilidade de qualquer pessoa do povo prender aquele que for encontrado em flagrante delito; ● Flagrante obrigatório - para autoridades policiais e seus agentes (sob pena de responder criminal e funcionalmente pelo descaso). → Exceções - existem pessoas que, em razão do cargo ou função exercida, não podem ser presas em flagrante, sendo o caso de: - Diplomatas - Parlamentares federais e estaduais (apenas para crimes inafiançáveis) - Magistrados e membros do MP (apenas para crimes inafiançáveis) - Presidente da República Flagrante próprio ou perfeito Ocorre quando o agente está em pleno desenvolvimento dos atos executórios da infração penal. Pode se dar quando o agente é impedido de prosseguir com a execução do ato ou quando conclui de praticar a infração, mas ainda não se desligou da cena do crime. Flagrante impróprio ou imperfeito Ocorre quando o agente conclui a infração ou é interrompido no meio, mas não é preso no lugar do delito, pois consegue fugir, normalmente ocorre nos casos em que há perseguição (“a perseguição deve ser imediata e ininterrupta, não restando ao indigitado autor do delito qualquer momento de tranquilidade”). Flagrante presumido Situação em que o agente, logo depois da prática do crime, embora não tenha sido perseguido, é encontrado portando instrumentos que demonstram, por presunção, ser ele o autor da infração penal. ● O bloqueio feito em via pública ou estrada por policiais em atuação fiscalizatória pode validar uma hipótese de flagrante presumido, caso seja encontrado alguém em procedimento de fuga ou trazendo consigo objeto ou instrumento do crime recém-praticado. Flagrante preparado ou provocado Quando um agente provocador induz ou instiga alguém a cometer uma infração penal, somente para assim poder prendê-lo. ● Crime impossível - Súmula 145, STF: “não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação”. Flagrante forjado É um flagrante totalmente artificial, pois é integralmente composto por terceiros. Considerado um fato atípico, visto que a pessoa jamais pensou ou agiu para compor qualquer trecho da infração. Flagrante esperado Hipótese que autoriza a prisão em flagrante. Nesse caso, chega à polícia a notícia de que um crime será cometido. Deslocando agentes para o local, aguarda-se a sua ocorrência, que pode se dar ou não como a notícia foi transmitida. - Caso a polícia consiga proteger o bem jurídico tutelado, de modo que o crime não seja consumado, não é punível. Flagrante diferido ou retardado É a possibilidade que a polícia possui de retardar a realização da prisão em flagrante para obter maiores dados e informações a respeito do funcionamento, dos componentes e da atuação de uma organização criminosa. Flagrante nos crimes permanentes e habituais ● Crimes permanentes - são aqueles que se consumam com uma única ação, mas o resultado tem a potencialidade de se arrastar por largo período, continuando o processo de consumação da infração penal. Cabe a prisão em flagrante em qualquer momento. ● Crimes habituais - são aqueles cuja consumação se dá através da prática de várias condutas, em sequência, de modo a evidenciar em comportamento, um estilo de vida do agente que é indesejável pela sociedade. Inexiste precisão para determinar ou justificar o momento do flagrante, tornando inviável a prisão. Formalidades para o APF Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta o condutor e as testemunhas que o acompanharem, bem como interrogará o indiciado, lavrando-se auto por todos assinados. O condutor, após ser ouvido e ter assinado o auto, recebendo cópia do recibo de entrega do preso, poderá deixar o local. Na sequência, serão ouvidas as testemunhas e o indiciado, dispensando-se cada um que já tiver prestado seu depoimento. É preciso haver, pelo menos, o condutor e uma testemunha. O interrogatório do indiciado não é obrigatório, visto que este possui direito ao silêncio. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao MP e à família do preso ou a pessoa por ele indicada. Nas 24h seguintes à prisão, o APF será encaminhado ao juiz competente acompanhado de todas as oitivas colhidas. O preso receberá, no mesmo período, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e o das testemunhas. o APF é hábil para dar início ao Inquérito. Caso o indiciado seja mantido preso pelo juiz, o inquérito deve ser concluído em 10 dias; caso colocado em liberdade, o prazo aumenta para 30 dias, podendo ser prorrogado. Prisão preventiva Essa modalidade de prisão possui quatro pressupostos: a) natureza da infração b) probabilidade de condenação c) perigo na demora d) controle jurisdicional prévio Ela pode ser decretada em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, em razão de requerimento do MP, do querelante ou do assistente, ou mediante representação da autoridade policial. Inexiste um prazo determinado para sua duração, a regra é que perdure enquanto for necessário, durante a instrução, não podendo ultrapassar eventual decisão absolutória, bem como o trânsito em julgado da decisão condenatória. → A prisão preventiva tem a finalidade de assegurar o bom andamento da instrução criminal, não podendo esta se prolongar indefinidamente, por culpa do juiz ou por atos procrastinatórios do órgão acusatório ● O posterior requerimento da autoridade policial pela segregação cautelar ou manifestação do Ministério Público favorável à prisão preventivasuprem o vício da inobservância da formalidade de prévio requerimento. STJ. 5ª Turma. AgRg RHC 136.708/MS, Rel. Min. Felix Fisher, julgado em 11/03/2021 (Info 691). Requisitos para a decretação da prisão preventiva Devem existir, no mínimo, as seguintes: materialidade + indícios suficientes de autoria + garantia da ordem pública ou garantia da ordem econômica ou conveniência da instrução criminal ou garantia da aplicação da lei. Circunstâncias legitimadoras da prisão preventiva ● Crimes dolosos, punidos com pena máxima superior a 4 anos; reincidente em crime doloso; ou no caso de violência doméstica e familiar, contra pessoa vulnerável, para garantir a execução das medidas protetivas. ● Quando houver dúvida quanto à identidade civil da pessoa suspeita ou quando esta não oferecer elementos suficientes para esclarecê-la. Circunstâncias impeditivas da prisão preventiva ● hipóteses de exclusão da ilicitude do delito, bem como as de exclusão da culpabilidade.