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INTRODUÇÃO 
À LINGUÍSTICA 
Aline Azeredo Bizello
História da gramática 
tradicional e da 
reflexão linguística
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Descrever o percurso histórico das gramáticas tradicionais.
  Identificar as diferenças entre gramática como conceito teórico e 
gramática como instrumento linguístico.
  Analisar as diferentes abordagens que fundamentam as gramáticas 
contemporâneas brasileiras.
Introdução
Existem diferentes sentidos para gramática. Conhecê-los é uma forma 
de refletir sobre o funcionamento da língua. Qual é o papel e a origem 
da gramática tradicional? Que outras perspectivas existem? Para refletir 
sobre a língua materna, existe a perspectiva da competência linguística, 
a gramática tradicional e a gramática descritiva. Compreender cada 
perspectiva e avaliar as situações de aprendizagem que auxiliem os 
alunos a desenvolver sua gramática internalizada é o papel do professor 
de língua portuguesa.
Neste capítulo, você vai estudar a gramática tradicional e a reflexão 
linguística, acompanhando o percurso histórico das gramáticas tradicio-
nais, conhecendo as diferenças entre gramática como conceito teórico 
e como instrumento linguístico, além das diferentes abordagens que 
fundamentam as gramáticas contemporâneas brasileiras.
Percurso histórico das gramáticas tradicionais 
Ainda na atualidade, quando se pensa em refl exão linguística sobre a língua 
portuguesa brasileira, recorre-se aos preceitos da gramática tradicional. As 
gramáticas publicadas no século XXI também são oriundas de caminhos 
teórico-metodológicos percorridos pelos autores tradicionais. Para compreender 
esses manuais, é importante conhecer seu percurso histórico.
Os estudiosos da história das ideias linguísticas afirmam que há, desde a 
antiguidade clássica grega até hoje, uma espécie de continuidade nas reflexões 
sobre o uso da língua. Afinal, os pesquisadores costumam conhecer e respeitar 
as obras de seus predecessores. Assim, embora se encontrem alterações em 
teorias, nas definições ou nos métodos, é comum o estabelecimento de uma 
linha ininterrupta de erudição no tratamento da linguagem.
A história das ideias linguísticas é um ramo da linguística que analisa os estudos 
históricos sobre as línguas com ênfase aos dicionários e às gramáticas.
Platão foi um dos precursores nos estudos sobre os problemas linguísticos. 
Sua forma de analisar as questões linguísticas permaneceu até o final da Idade 
Média. Nessa época, o foco da investigação era a imanência e a sincronia do 
sistema linguístico. Pretendia-se descrever determinadas línguas (grego e 
latim) e refletir sobre as categorias linguísticas.
No Renascimento, surgiu o interesse pela história e pela comparação linguís-
tica, isto é, surgiu um olhar para as questões sociais e externas da linguagem. 
Nas palavras de Francisco Eduardo Vieira da Silva (2015, documento on-line):
Nota-se que esse olhar para a história dos estudos linguísticos a cinde em 
dois planos temporais, situados antes e depois do Renascimento, período 
marcado pela formação e consolidação dos estados nacionais modernos e de 
suas respectivas línguas de cultura. É verdade que, nessa época, os horizon-
tes dos estudos linguísticos, antes limitados à realidade greco-latina, foram 
ampliados e novas linhas de pensamento sobre a linguagem começaram a 
surgir, muito por conta da investigação de outras línguas, como o hebreu, o 
árabe, os próprios vernáculos europeus e as línguas ameríndias. 
História da gramática tradicional e da reflexão linguística2
Alguns estudiosos consideram que, ao longo da história dos estudos 
linguísticos, houve duas perspectivas paralelas para tratar sobre a língua. 
Bagno (2009) afirma que, atualmente, essas perspectivas podem ser traduzidas 
como gramática descritiva e gramática prescritiva. A primeira descreve 
o funcionamento e o uso da língua, e a segunda impõe usos considerados 
mais corretos ou elegantes. A origem das duas tendências é a Grécia antiga: a 
primeira, no contexto da filosofia clássica; a segunda, da filologia alexandrina.
De forma geral, Platão, Aristóteles e os estoicos buscaram estabelecer 
categorias de palavras que serviram de inspiração para a criação de uma 
metalinguagem para a descrição e análise de suas línguas. Silva (2015, docu-
mento on-line) considera que:
[…] embora os alexandrinos sejam considerados os primeiros gramáticos do 
Ocidente, […] Dionísio e seus colegas beberam nos estudos linguísticos dos 
precursores […] para criar um modo inédito de se estudar a linguagem, então 
sinônimo de grego homérico. Foi esse modo que chegou posteriormente aos 
gramáticos latinos e, através deles, aos gramáticos medievais e renascentis-
tas, sendo estes últimos os responsáveis por nossa ‘colonização gramatical’.
Com essa forma de pensar a linguagem, os alexandrinos deram continuidade 
à tradição filosófica de estudar a linguagem e criaram uma gramatização das 
línguas. Eles consideravam os literatos os detentores da língua correta, e essa 
forma de falar e de escrever passou a nortear as concepções envolvidas no 
pensamento e na prática gramatical desde essa época. Assim, durante o Império 
Romano e a Idade Média, os latinos absorveram o sistema metodológico e 
ideológico baseado em noções arbitrárias de “certo” e “errado”. Esse fato 
demonstra que, desde a antiguidade clássica, já havia uma discussão: a língua 
seria constituída por regularidades ou irregularidades de forma e sentido?
O fato é que dois campos de estudos ocorreram concomitantemente ao 
longo dos estudos linguísticos desde a antiguidade até hoje: o teórico (refle-
xão sobre a linguagem para descrevê-la) e o doutrinário (estabelecimento de 
prescrições de uso correto da linguagem). Veja na Figura 1 as influências 
mútuas dos dois campos.
3História da gramática tradicional e da reflexão linguística
Figura 1. Perspectiva da ramificação e influências mútuas entre os campos teórico e 
doutrinário. 
Fonte: Silva (2015, documento on-line).
O campo doutrinário se originou no período helenístico, época em que o 
grego falado em Atenas passou a ser tratado como uma língua de prestígio por 
questões de poder político e econômico. Embora houvesse variedades nessa 
língua e surgissem novidades linguísticas a cada nova conquista territorial, 
houve uma manutenção do ideal linguístico-cultural de reverência à tradição 
História da gramática tradicional e da reflexão linguística4
literária anterior também no Império Romano. Na tentativa de preservar a 
língua “correta” de Homero, os gramáticos alexandrinos consideravam todas 
as mudanças da língua como negativas. Para Silva (2015, documento on-line),
Assim, os primeiros filólogos gramáticos da história ocidental estabeleceram 
juízos de valor negativos para as inevitáveis transformações e diferenças do 
grego homérico, cometendo dois equívocos fundamentais: a distorção das 
relações entre fala e escrita, duas entidades sociolinguísticas completamente 
distintas; e a assunção da visão negativa da mudança linguística, considerada 
prejudicial à pureza do idioma grego. É desse modo que os eruditos alexandri-
nos inauguraram a tradição prescritivo-normativa e o preconceito linguístico 
nos estudos gramaticais, dando as primeiras diretrizes epistemológicas e 
ideológicas do PTG.
Francisco Eduardo Vieira da Silva (2015) defende a ideia de que o paradigma tradicional 
de gramatização (PTG) é o modelo responsável por nortear, há mais de dois mil anos, 
a elaboração de gramáticas no Ocidente. 
Nesse contexto e com esses propósitos, surgiu a primeira gramática de 
uma língua europeia que recebeu respaldo como tal, a elaborada por Dionísio 
Trácio (170-90 a.C.). Ele dividiu a gramática em seis partes: leitura e prosódia; 
exegese dos tropos poéticos; restituição de sentido das palavras estranhas e das 
estórias; descoberta da etimologia; cálculo da analogia; crítica dos poemas.
Um dos legados dessa gramática de Dionísio é considerara frase/oração 
como a unidade máxima de análise. Nas gramáticas da língua portuguesa, 
encontra-se uma terminologia gramatical que “[…] advém direta ou indireta-
mente do legado dionisíaco e, consequentemente, das sucessivas gerações de 
filósofos, que deram o mote categorial e terminológico para o surgimento da 
tradição gramatical na Alexandria helênica” (SILVA, 2015, documento on-line).
Dessa forma, tanto a gramática dionisíaca quanto as contemporâneas 
tratam as classes como se fossem fixas e autônomas. Contudo, uma palavra 
não terá sempre a mesma classificação, pois o contexto de uso pode alterá-la. 
Em linhas gerais, nota-se que os gramáticos atuais buscam encaixar definições 
em categorias que já estavam prontas/indicadas pela tradição e não criar uma 
teoria nova que dê conta de novas classes, por exemplo.
5História da gramática tradicional e da reflexão linguística
Conforme alerta Neves (1987), na atualidade, evidencia-se a influência 
gramatical do latino Varrão (I a.C.): seu modelo sistemático serviu para a 
elaboração das primeiras gramáticas vernaculares europeias. No século VI, 
o gramático Prisciano de Cesareia descreveu o latim dos autores clássicos, 
e sua obra chegou ao Ocidente. Até o Renascimento, seu livro serviu como 
base das teorias gramaticais e ainda permanece em nossos dias como base 
do ensino de latim. Nesse sentido, a gramática de Prisciano, representa o elo 
entre a erudição gramatical antiga e medieval. 
Com a Idade Média, a gramática passou a ser parte da doutrina cristã. As 
mudanças linguísticas, então, não receberam atenção nesse período. Desde a 
queda do Império Romano, as formas de falar regionais, chamadas de romances, 
passaram a ganhar mais espaço. Junto com as gramáticas latinas, surgiram 
transcrições fonéticas das línguas populares que aos poucos se organizariam 
em torno de normas mais ou menos consensuais (SILVA, 2015).
De qualquer forma, para todo processo de gramatização das línguas na-
cionais europeias, já na Idade Moderna, o latim esteve presente, e as primei-
ras gramáticas se basearam nos modelos latinos. Como as nações europeias 
precisavam alcançar unidade linguística em função das questões políticas, 
buscaram legitimar um padrão de língua (NEVES, 1987).
Em suma, as normas das gramáticas tradicionais surgiram da necessidade 
de manter um padrão linguístico venerado ou que representasse uma unidade 
política. Como os estudiosos bebem da fonte de seus predecessores, é comum 
que algumas estruturas de descrição e normatização da língua sejam utilizadas 
como modelo, embora os contextos se modifiquem.
Diferenças entre gramática como conceito 
teórico e como instrumento linguístico
É comum que as pessoas identifi quem o termo gramática apenas com um con-
junto de normas de uma língua. Entretanto, há pelo menos duas possiblidades 
de uso dessa palavra: uma como conceito teórico e outra como instrumento 
linguístico.
A primeira possibilidade de sentido de gramática refere-se a um manual 
de regras sobre o bom uso da língua e corresponde ao que se costuma chamar 
de gramática normativa. Nas palavras de Franchi (2006, p. 16),
Gramática é o conjunto sistemático de normas para bem falar e escrever, 
estabelecidas pelos especialistas, com base no uso da língua consagrado 
História da gramática tradicional e da reflexão linguística6
pelos bons escritores. Dizer que alguém ‘sabe gramática’ significa dizer que 
esse alguém ‘conhece essas normas e as domina tanto nacionalmente quanto 
operacionalmente’.
Note que, nessa definição de gramática, considera-se apenas a variedade 
padrão que, como alerta Travaglia (1998), mobiliza argumentos estéticos 
(valorização da elegância; depreciação da cacofonia, por exemplo), elitistas 
(estratificação entre linguagem popular e aristocrática); políticos (valorização 
do purismo e da vernaculidade e perseguição aos estrangeirismos); comuni-
cacionais (adequada expressão do pensamento) e históricos (valorização da 
tradição).
Para essa concepção, é preciso instrução formal, pois há regras específicas 
que diferenciam o uso cotidiano da língua do uso “certo”. 
Enunciados como “Eu vi ela no cinema” e “Me dá um pedaço de bolo” são considerados 
errados, pois não obedecem às regras de uso de pronomes oblíquos e de colocação 
pronominal. De acordo com as regras tradicionais, os pronomes retos (ela) não podem 
funcionar como objeto; essa função é dos pronomes oblíquos. Assim, teríamos: “Eu a 
vi no cinema”. Outra regra diz respeito à colocação de pronomes oblíquos: eles nunca 
podem iniciar uma frase. Assim, teríamos: “Dá-me um pedaço de bolo”.
A origem da construção desse tipo de gramática é bastante antiga: remete 
aos gregos, que pretendiam exaltar a literatura clássica cujos autores produziram 
obras em uma variante linguística não reconhecida pela população. A intenção 
dos gramáticos gregos era garantir ampliar o acesso à leitura dessas obras. 
O uso dessas gramáticas para prescrever o bom uso da linguagem inspirou 
muitos gramáticos e se perpetua até a atualidade. 
Essa é a concepção de gramática que costuma surgir nas avaliações das 
produções textuais dos estudantes brasileiros. Geralmente, os professores 
verificam se os alunos utilizam uma linguagem de acordo com as normas. 
Caso essa sintonia com as regras não ocorra, costuma-se afirmar que o texto 
está mal escrito. Essa valorização de uma modalidade de língua revela pre-
conceitos elitistas, acadêmicos e de classe.
Silva (2015, documento on-line) afirma que há alguns traços constitutivos 
do paradigma tradicional de gramatização:
7História da gramática tradicional e da reflexão linguística
A gramática é um instrumento que constrói um modelo artificial e ideal de 
língua. 
A gramática é um instrumento que regula a língua, prescrevendo suas formas 
legítimas. 
Descrever uma língua se confunde com normatizá-la, prescrevê-la. 
A gramática, independentemente do seu uso escolar, tem função pedagógica. 
A função da gramática é ensinar a língua correta. 
A melhor língua é a língua das camadas dominantes da sociedade. 
O português de Portugal é melhor que o português do Brasil. 
A língua é a expressão do pensamento. 
A língua é um objeto autônomo, independe dos seus usuários. 
A língua equivale à sua modalidade escrita. 
A língua é homogênea. 
Os usos que se afastam das formas legitimadas pela gramática são ignorados 
ou classificados como vícios. 
A língua é estática. 
A língua deve ser preservada. 
A língua literária é a mais bem elaborada e deve, portanto, servir de modelo. 
A língua das gerações pregressas é melhor que a das gerações atuais. 
O aparato conceitual e taxionômico de tradição greco-latina serve para todas 
as línguas. 
A gramática de uma língua se divide em fonologia, morfologia e sintaxe. 
A gramática de uma língua é a gramática das frases (períodos) da língua, 
tomadas como unidade máxima de análise. 
As frases de uma língua têm sentido pleno, bastam-se a si mesmas. 
A exposição do conteúdo da gramática é sistemática: categoria, definição, 
subdivisão e exemplo. 
As categorias gramaticais são fixas, estanques e avessas a controvérsias. 
As fontes teóricas não precisam ser apresentadas no corpo da gramática. 
Há ainda uma concepção de gramática chamada de descritiva, pois ela 
descreve o funcionamento, a forma e a função da língua. Travaglia (1998, p. 
27) a define como “[…] um conjunto de regras que o cientista encontra nos 
dados que analisa, à luz de determinada teoria e método”. Os gramáticos 
descritivos, nas palavras de Franchi (2006, p. 20):
Analisam a estrutura das expressões de uma língua, dividindo-a em unida-
des simples e associando cada uma dessas unidades, por diferentes critérios 
categoriais, a diferentes classes […] organizam essas diferentes classes em 
subclasses […] Verificam quais as relações (os modos de conexão) que se esta-
belecem entre essas diferentes unidades e classes, possibilitando a construção 
de unidades complexas […] Definem os papéis específicos que essas unidades 
desempenham ao entrarnas construções complexas em que se relacionam […] 
Enfim, consultam como se empregam, na língua considerada, as diferentes 
História da gramática tradicional e da reflexão linguística8
palavras […] dizem quais são as expressões autorizadas e quais as expressões 
não autorizadas pela gramática da língua.
Portanto, a gramática descritiva associa-se às variedades linguísticas, isto 
é, tudo que atende às regras de funcionamento da língua em determinada 
variedade linguística é considerado gramática. Nesse sentido, todos os enun-
ciados considerados agramaticais na gramática normativa são gramaticais 
para a gramática descritiva. 
Se o falante pronuncia “Nois voltemo cedo” ou “Isso é pra mim fazê”, é sinal de que 
ele sabe distinguir expressões da língua portuguesa, inserindo-as em categorias e 
funções e estabelecendo relações entre elas. 
Isso demonstra que o usuário da língua está descrevendo a estrutura interna 
da língua a que tem acesso. O critério de gramaticalidade não está na varie-
dade linguística de prestígio ou na variedade utilizada nas obras clássicas e 
sim no atendimento às regras de funcionamento da língua em uma variedade 
específica.
Como se nota, a descrição gramatical e das regras de uso são o foco dessa 
gramática. Essa tendência é baseada em duas correntes teóricas: o estrutu-
ralismo e a teoria gerativa-transformacional, pois privilegia a descrição da 
língua oral e trabalha com enunciados ideais. Nesse sentido, essa gramática 
propõe também uma homogeneidade do sistema linguístico. Travaglia (1998, p. 
28) afirma que: “[…] as duas correntes básicas da gramática descritiva fazem 
o que se pode chamar […] de uma linguística da langue, do sistema formal 
e abstrato da língua, visto como algo uniforme que regula as variedades da 
parole (fala, uso)”.
A terceira possibilidade de uso da palavra gramática vai ao encontro da 
definição de Travaglia (1998, p. 28): gramática é “[…] um conjunto de regras 
que o falante de fato aprendeu e das quais lança mão ao falar”. Isso significa que 
o falante tem uma competência internalizada que se desenvolve gradualmente 
a partir de suas atividades linguísticas. Portanto, é um saber que não depende 
de escolarização. Depende apenas de interações comunicativas que levem o 
falante a ter contato e a utilizar uma variedade condizente com a sua sociedade. 
9História da gramática tradicional e da reflexão linguística
Em outras palavras, depende de ativação e de amadurecimento progressivo, de 
hipóteses sobre o que seja a linguagem, de suspeitas sobre como funcionam 
suas regras e princípios.
Essa gramática internalizada não pode ser descrita em livros: ela está 
atrelada a determinada situação comunicativa. Qualquer falante nativo tem um 
conhecimento implícito sobre sua língua, embora nem sempre consiga explicitá-
-lo. A aquisição desse conhecimento ocorre naturalmente e é o que permite 
ao falante construir diversas frases e textos. É justamente essa competência 
gramatical que oferece princípios que regem a conversação e a interpretação.
Como a gramática internalizada está em sintonia com contexto sócio-
-histórico-ideológico, não há erro na aplicação das regras e sim inadequação, 
ou seja, o texto e sua construção mudam conforme o efeito de sentido que 
se deseja produzir. Nas palavras de Travaglia (1998, p. 30) “[…] a gramática 
internalizada é a que constitui não só a competência gramatical do usuário, 
mas também sua competência textual e sua competência discursiva […] e, 
portanto, a que possibilita a sua competência comunicativa”.
Independentemente da modalidade de linguagem utilizada pelo falante, 
constata-se que toda criança já chega à escola dominando a gramática. Afinal, 
a linguagem não é algo que se aprende: ela surge espontaneamente e amadurece 
ao longo dos anos. Todas as crianças com acesso à linguagem dominam-na 
rapidamente, pois os princípios e regras internalizados lhes permitem cons-
truir ou ativar a gramática da sua língua. Franchi (2006, p. 25) afirma “[…] 
a gramática é uma práxis ou se desenvolve na práxis por um processo de 
balizamento das possibilidades e virtualidades da manifestação verbal, feitas 
ou aceitas pela comunidade linguística de que o falante participa”.
Portanto, não se pode buscar, nas aulas de língua portuguesa, tentar con-
trapor uma linguagem erudita a uma linguagem vulgar, por exemplo, ou 
determinar que uma é melhor do que a outra. Conforme orienta Franchi (2006, 
p. 32), o professor, em matéria gramatical deve:
▪ saber muito bem a gramática da modalidade culta;
▪ saber compreender a gramática da modalidade de seus alunos (e todas as 
questões relativas à variação linguística);
▪ dispor de um bom aparelho descritivo (pelo menos o que nos oferece a 
gramática tradicional) para ser capaz de analisar expressões nesse diferen-
tes modalidades, compará-las, identificar seus contrastes e, eventualmente, 
discorrer sobre tudo isso. 
Um dos papeis do professor é diagnosticar a realidade linguística dos alunos 
e o estágio do desenvolvimento linguístico para auxiliá-los a vivenciar mais 
História da gramática tradicional e da reflexão linguística10
experiências linguísticas. Desse modo, podemos oferecer às crianças não só 
condições de domínio da modalidade culta, mas também condições para que 
ampliem seus recursos linguísticos.
Nesse sentido, no trabalho de desenvolvimento da língua materna e no 
ensino de gramática, é conveniente reconhecer os variados tipos de gramática 
e que atividades podem ser trabalhadas com base neles. 
Diferentes abordagens que fundamentam as 
gramáticas contemporâneas brasileiras 
As diferentes concepções de gramática norteiam as abordagens que funda-
mentam as gramáticas contemporâneas brasileiras. Essas abordagens são: 
gramática normativa, descritiva, internalizada, implícita, explícita, refl exiva, 
contrastiva, geral, histórica e comparada. Vamos conhecer as características 
de cada uma delas?
A gramática normativa se debruça, principalmente, sobre os dados da 
língua escrita, descrevendo os fatos da norma culta. Quando essa abordagem se 
dedica a analisar a língua oral, compara-a à escrita, buscando uma homogenei-
dade entre as duas variedades. Suas descrições referem-se à classificação das 
formas morfológicas e léxicas que servem de parâmetro para o estabelecimento 
de regras que regem a fala e a escrita corretas. Travaglia (1998, p. 31) afirma:
Gramática normativa é uma espécie de lei que regula o uso da língua em uma 
sociedade. A parte de descrição da norma culta e padrão não se transforma 
em regra na gramática normativa até que seja dito que a língua só é daquela 
forma. É preciso, pois, separar a descrição que se faz da norma culta da 
língua, que é apenas gramática descritiva de uma variedade da língua, com 
a transformação do resultado dessa descrição em leis para uso da língua.
Isso significa que o gramático pode constatar, por exemplo, que, na va-
riedade padrão da língua portuguesa, as frases não começam com pronome 
oblíquo e descrever essa constatação. No entanto, quando essa descrição serve 
de base para a construção de regras de uso da língua, surge uma gramática 
normativa.
Esse é o tipo de gramática a que, geralmente, as pessoas se referem na 
escola. Um dos problemas do ensino dessa gramática é o privilégio à nomen-
clatura e à norma em detrimento da descrição. Além disso, as estratégias de 
aprendizagem e os conhecimentos trabalhados se detêm à modalidade escrita. 
11História da gramática tradicional e da reflexão linguística
Contudo, o ponto principal a criticar é que a escola, muitas vezes, entende que 
ensino de língua materna é ensino dessa gramática apenas.
A gramática descritiva descreve determinada variedade da língua em um 
dado momento (abordagem sincrônica). Não trabalha apenas uma variedade, 
como a tradicional. Ela surge das observações dos estudiosos sobre as unidades 
e as categorias linguísticas presentes na realidade e da criação de hipóteses 
que expliquem os mecanismos da língua identificados.
Asgramáticas descritivas se associam a determinadas correntes linguísticas. Podem, por 
isso, receber nomes diferentes, como: gramática estrutural, gerativa-transformacional, 
estratificacional, funcional (TRAVAGLIA, 1998). 
Outra abordagem que fundamenta as gramáticas contemporâneas brasileiras 
é a gramática implícita. Ela se refere à competência internalizada do falante. 
Este não tem consciência dela, por isso também é chamada de inconsciente. 
Travaglia (1998, p. 33) alerta que essa gramática “[…] por possibilitar o uso 
automático da língua, está diretamente relacionada com o que se chama no 
ensino de gramática, no trabalho escolar com a gramática, de gramática de uso”.
Já a abordagem explícita ou teórica pretende explicitar a estrutura, a 
constituição e o funcionamento da língua. Para tanto, são utilizadas atividades 
metalinguísticas relacionadas aos mecanismos dominados pelo falante e que 
possibilitam o uso da língua. Dessa forma, evidencia-se que essa abordagem 
se associa às gramáticas normativas e descritivas.
A gramática reflexiva refere-se às atividades de observação e reflexão “[…] 
sobre a língua que buscam detectar, levantar suas unidades, regras e princípios, 
ou seja, a constituição e funcionamento da língua” (TRAVAGLIA, 1998, p. 33). 
Portanto, é a gramática em explicitação, ou seja, aquela que busca explicar a 
gramática implícita do falante por meio de evidências linguísticas. Travaglia 
(1998) indica ainda mais possibilidades de tipos de gramáticas: contrastiva, 
geral, universal, histórica e comparada, conforme explicitado a seguir.
Há a gramática contrastiva, também chamada de transferencial. Ela 
estuda duas línguas por meio da comparação: os padrões de uma língua 
são verificados na outra língua. Seu uso é comum no ensino de uma língua 
História da gramática tradicional e da reflexão linguística12
estrangeira, mas no ensino de língua materna pode ser útil para a observação 
das variedades linguísticas.
Já a gramática geral compara muitas línguas ao mesmo tempo. A ideia 
é reconhecer todos os fatos linguísticos e as condições para que eles se rea-
lizem. Para tanto, quanto mais línguas em análise, melhor. Diz-se que é uma 
gramática de previsão de possibilidades, pois está centrada em identificar os 
princípios gerais das línguas.
A gramática universal é muito próxima da geral, pois também tem base 
comparativa. Aliás, muitos estudiosos não costumam diferenciá-las. Entre-
tanto, a finalidade da universal é descrever e classificar os fatos linguísticos.
A gramática histórica investiga a história diacrônica de uma língua, isto 
é, pesquisa os fatos e as características de uma língua desde sua origem até 
suas transformações. Nesse sentido, quando se explica, nas salas de aula, a 
origem do português e se remete ao latim vulgar, por exemplo, utiliza-se a 
gramática histórica.
A gramática comparada também oferece um estudo diacrônico, pois 
também investiga as fases evolutivas das línguas, mas de forma comparada. 
Comparam-se pontos comuns entre línguas diferentes.
Essas diferentes abordagens estão presentes nas gramáticas brasileiras 
atuais, como: Gramática Houaiss da língua portuguesa, de José Carlos de 
Azeredo (2008), Gramática do português brasileiro, de Mário Alberto Perini 
(2010) e Gramática pedagógica do português brasileiro, de Marcos Bagno 
(2012). Nas introduções de cada gramática, estão expostas suas pretensões, 
mas se nota que há um desenvolvimento híbrido que não permite delimitar 
uma gramática como pertencente a uma vertente de forma estrita. A gramática 
de Azeredo (2008, p. 26) apresenta os fatores que nortearam a sua construção, 
que estão listados a seguir. 
a) A análise e o ensino do português escrito no Brasil ao longo do último 
século estão amparados numa tradição descritiva que obviamente precisa 
ser revista, mas nunca ignorada. 
b) Continuam a ser indevidamente estigmatizadas como ‘erros gramaticais’ 
muitas formas e construções regularmente empregadas em textos formais de 
circulação pública em território brasileiro escritos em português. 
c) A maioria dos compêndios escolares disponíveis já reconhece a língua de 
jornais, revistas e obras não literárias como expressão do uso padrão, mas 
ainda se revela tímida para a renovação conceitual e descritiva. 
d) Algumas vertentes da linguística contemporânea, muito influentes nos 
meios acadêmicos brasileiros, colocam a atividade discursiva — e o texto 
em que ela se materializa – no centro das preocupações dos pesquisadores. e 
13História da gramática tradicional e da reflexão linguística
e) Consequentemente, a tradicional unidade máxima da análise — a oração — 
perdeu este status e passou a ser descrita no contexto maior de sua ocorrência. 
Note que, pelos fatores que fundamentaram o planejamento da obra, 
evidencia-se que a gramática pretende romper com alguns posicionamentos 
tradicionais, mas também revela a necessidade de garantir os princípios da 
gramática descritiva. Dessa forma, a proposta da Gramática Houaiss é mesclar 
tradição e inovação.
Tanto que ela se constrói em tópicos gramaticais, mas com longos parágrafos 
explicativos que permitem uma reflexão e uma crítica à tradição. Na análise 
de Silva (2015, documento on-line), a Gramática Houaiss
[…] se desloca, em certos pontos, da tradição gramatical conceitual e descri-
tiva, a qual não segue à risca, mas também não ignora. Afirma que pretende 
reconhecer usos não literários como possíveis expressões do padrão linguístico, 
considerar aspectos da atividade textual-discursiva como indispensáveis à 
descrição gramatical e legitimar construções indevidamente estigmatizadas 
mas empregadas amplamente em nosso território.
A Gramática do português brasileiro, de Mário Alberto Perini (2010, p. 
21), nas páginas iniciais, declara uma ruptura com a tradição e uma tendência à 
gramática descritiva, pois se apresenta como uma gramática que “[…] pretende 
descrever como é o PB, não prescrever formas certas e proibir formas erradas”. 
Ao longo da obra, essa ruptura com a gramática tradicional se evidencia 
com, por exemplo, o alerta de que não se pode afirmar exatamente a quan-
tidade de classes gramaticais do português do Brasil. Entretanto, embora o 
autor tente revelar a complexidade da tarefa de descrever o funcionamento 
da língua, não foge das categorias convencionais. Na análise de Silva (2015, 
documento on-line):
Em linhas gerais, digo que a GP descreve a norma culta falada brasileira em 
contexto informal, embora efetue a homogeneização dessa norma, priorizando 
os falares do Sudeste urbano. Se, por um lado, a obra gramatiza aspectos 
morfossintáticos do PB — tais como as mudanças no paradigma dos pronomes 
pessoais e possessivos, o enfraquecimento do paradigma de flexão verbal, a 
possibilidade de ausência de concordância verbal e nominal, as novas estraté-
gias de indeterminação do sujeito, as mudanças nas formas verbais de alguns 
tempos e modos etc. —, por outro lado, opõe dicotomicamente fala e escrita, 
considerando a primeira enquanto sinônimo de PB e a segunda enquanto o 
português padrão, purista, castiço.
História da gramática tradicional e da reflexão linguística14
A Gramática pedagógica do português brasileiro, de Marcos Bagno (2012), 
apresenta uma parte inicial dedicada a revelar a teoria do conhecimento e da 
linguagem que fundamenta os posicionamentos da obra. Estes são relacio-
nados à não finalidade de uso escolar e à intenção de proporcionar reflexões 
sobre mudanças/aprimoramentos da prática do professor no ensino da língua 
materna. Silva (2015, documento on-line) afirma:
[…] a despeito dos muitos pontos em comum entre as regularidades gramaticais 
do PB e as regras da norma-padrão do português (inclusive em se tratando 
dos tópicos listados acima relativos ao verbo), os aspectos morfossintáticos 
em evidência e o modo de abordá-los condizem com a postura militante e 
propositiva da GB em favor do reconhecimento do PB como língua plena e 
autônoma. Em linhas gerais, essa obra se revelauma gramática de contrastes 
entre a prescrição tradicional e a descrição real da língua dos brasileiros, 
focalizada não em sua totalidade, mas sim em seus aspectos essenciais a 
uma pedagogia de ensino de língua que promova a reflexão crítica sobre os 
verdadeiros usos linguísticos contemporâneos dos brasileiros cultos e urbanos.
Em suma, atualmente as gramáticas brasileiras revelam uma intenção em 
romper com a tradição, embora ainda demonstrem alguma relação com as 
convenções da norma culta. O interessante é que elas servem de instrumento 
e objeto de análise para que surjam reflexões sobre a língua portuguesa. 
Portanto, embora esses materiais possam ser utilizados como uma ferramenta 
de trabalho para pesquisa, estudar os fenômenos linguísticos a partir dessas 
gramáticas também demanda uma postura investigativa.
AZEREDO, J. C. de. Gramática Houaiss da língua portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008.
BAGNO, M. Gramática: passado, presente e futuro. Curitiba: Aymará, 2009.
BAGNO, M. Gramática pedagógica do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2012.
FRANCHI, C. Mas o que é mesmo gramática. São Paulo: Parábola, 2006.
NEVES, M. H. de M. Vertente grega da gramática tradicional: uma visão do pensamento 
grego sobre linguagem. São Paulo: Unesp, 1987.
PERINI, M. A. Gramática do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2010.
15História da gramática tradicional e da reflexão linguística
SILVA, F. E. V. Gramáticas brasileiras contemporâneas do português: linhas de continuidade 
e movimentos de ruptura com o paradigma tradicional de gramatização. 2015. 446 f. 
Tese (Doutorado) — Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2015. Disponível em: 
https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/15665/1/TESE%20-%20Francisco%20
Eduardo%20Vieira%20da%20Silva.pdf. Acesso em: 16 dez. 2019.
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 
1º e 2º graus. São Paulo: Cortez, 1998.
Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a 
rede é extremamente dinâmica. suas páginas estão constantemente mudando de 
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade 
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
História da gramática tradicional e da reflexão linguística16
INTRODUÇÃO 
À LINGUÍSTICA
Debbie Mello Noble
Gramática
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Relacionar as diferentes concepções de língua às diferentes concep-
ções de gramática.
  Reconhecer as características das gramáticas prescritiva, descritiva 
e internalizada.
  Interpretar fenômenos de linguagem de acordo com as diferentes 
linhas teóricas.
Introdução
O termo “gramática” pode ter diferentes significados dependendo da 
área da linguística que se propõe a estudá-la. Pode ser considerada um 
conjunto de regularidades que compõem uma língua, as regras da lín-
gua, o que é certo ou errado, de uma maneira mais prescritiva. Pode 
ser também o estudo da língua em uso pelos falantes, de uma maneira 
mais descritiva. Sem contar a gramática internalizada, que é o sistema 
de regras da língua que o falante domina, inato a ele. Além disso, para as 
duas primeiras concepções — prescritiva e descritiva —, há a obra (nor-
malmente um livro) que as registra e também é chamada de gramática. 
O conceito de gramática é, portanto, amplo. 
Neste capítulo, você vai conferir os diferentes conceitos de língua 
e de gramática que determinam suas abordagens, passando também 
pelo conceito de gramaticalização. Também vai estudar as características 
das gramáticas prescritiva, descritiva e internalizada, além de conhecer 
os fenômenos da linguagem segundo diferentes abordagens teóricas.
Gramática: conceito e história
A primeira gramática da língua portuguesa foi publicada em 1536 por Fernão 
de Oliveira, em Lisboa. A Grammatica da lingoagem portuguesa não seguia o 
modelo das gramáticas que até aquele momento eram produzidas, apesar de ter 
um caráter normativo, que buscava “[…] propor uma norma para o português 
do século XVI” (PINTO, 2004, documento on-line). Tinha também um caráter 
linguístico e cultural, aludindo ao modo de falar dos portugueses daquele 
período. A obra era composta de 50 capítulos, contendo normas gramaticais, 
fonéticas, lexicológicas e, sobretudo, estudos etimológicos e sobre a sintaxe.
Tinha o objetivo de ser um primeiro registro da língua portuguesa, a fim 
de perpetuá-la. Naquela época, Portugal estava buscando por uma “autonomia 
nacional”. A gramática, então, seria uma forma de afirmar a identidade do 
povo português, da nação portuguesa (PINTO, 2004).
Acesse o link a seguir e conheça a Grammatica da lingoagem portuguesa.
https://qrgo.page.link/3nN8N
Hoje, o conceito de gramática é muito amplo e debatido por teóricos, que 
possuem distintas concepções sobre ela. É impossível falar de gramática 
sem pensar em língua e sem trazer à tona a necessária relação entre elas. 
As diferentes formas como a língua é concebida apontam para diferentes 
concepções de gramática. 
Uma das acepções de gramática é aquela que designa um livro, que possui 
como assunto “[…] uma apresentação de elementos constitutivos de uma 
língua” (FARACO; VIEIRA, 2016, p. 293). No entanto, os próprios autores 
alertam para a abrangência do termo e da definição, refletindo sobre a ne-
cessidade de se manter aberta a pergunta o que é gramática? Isso ocorre 
porque a língua é um objeto de estudo muito amplo e complexo, que suscita 
diferentes reflexões e enfoques. 
Uma gramática é um livro que, como tal, tem autoria e, consequentemente, 
contém as percepções e os estudos de um determinado autor, sendo produzido 
conforme as necessidades do momento histórico em que se insere. Não há, 
portanto, apenas uma possibilidade de ver a língua, quer dizer, não há um 
único conjunto de regras que a define.
Gramática2
Para estudar a língua, é necessário estudar o seu funcionamento. Segundo 
Nasi (2007), a forma como as diferentes correntes teóricas dos estudos da lin-
guagem estudam os processos de fala e de escrita demonstra suas concepções 
de língua e de gramática. 
Gramatização
A gramatização das línguas foi abordada por Sylvain Auroux no livro A 
revolução tecnológica da gramatização, e é um processo importante para o 
estudo da gramática. A gramatização no mundo ocidental, que se dá a partir 
do Renascimento na Europa, é equivalente a uma revolução tecnológica, como 
o surgimento da escrita. Esse processo “[…] conduz a descrever e a instru-
mentar uma língua na base de duas tecnologias, que são ainda hoje os pilares 
de nosso saber metalinguístico: a gramática e o dicionário” (AUROUX, 1992, 
p. 65). Assim como o dicionário é, ainda hoje, um instrumento de consulta 
sobre o certo e o errado na língua, a gramática também funciona como um 
instrumento linguístico, uma vez que “[…] se torna simultaneamente uma 
técnica pedagógica de aprendizagem das línguas e um meio de descrevê-las” 
(AUROUX, 1992, p. 36).
Da gramaticalização, partem as noções de língua fluida e língua ima-
ginária, propostas por Orlandi e Souza (1988). Refletindo sobre a oposição 
entre a língua “do mundo” — aquela falada no dia a dia, língua da interação 
dos sujeitos — as autoras propuseram a ideia de língua fluida, ou seja, a 
língua que não cabe em um conjunto de normas e, portanto, não é passível de 
normatização. Por outro lado, a língua imaginária seria aquela sistematizada 
pelos estudiosos da linguagem, que, a partir de certos artefatos, torna-se uma 
língua da norma, um instrumento de coerção e de poder por parte daqueles 
que possuem o domínio de seus saberes. 
Essas propostas são relevantes para que você reflita, enquanto professor de língua 
em formação, sobre a necessidade de estudar o funcionamento da língua e sobre o 
papel das gramáticas, evitando abordá-las como um amontoadode regras passíveis 
de serem apreendidas.
3Gramática
Gramáticas prescritiva, descritiva e 
internalizada
Como pode ser observado, as concepções de língua e gramática andam juntas. 
Por isso, é essencial que você compreenda as diferenças entre as formas como 
a língua é compreendida em cada teoria para entender os tipos de gramática 
que delas derivam. A seguir, você vai conferir a distinção entre as gramáticas 
prescritiva (ou normativa), descritiva e internalizada, ao mesmo tempo em que 
vai conhecer os entendimentos sobre a língua que as sustentam. 
Gramática prescritiva (normativa)
A gramática prescritiva, ou normativa, é aquela a que você provavelmente foi 
exposto ao longo de sua escolarização. Isso porque, em geral, é essa a aborda-
gem usada para refl etir sobre a linguística na disciplina de língua portuguesa. 
No entanto, essa gramática pressupõe uma visão de língua homogênea, ou 
seja, um modelo de língua que todo falante de uma língua deve seguir para 
estar de acordo com suas regras. A gramática que acompanha essa visão de 
língua é a prescritiva, ou normativa, aquela que dita normas e regras de um 
certo modelo de língua como se ele fosse o único possível. 
Conforme Franchi (2006, p. 16), alguns professores consideram que a gra-
mática seria “[…] o conjunto sistemático de normas para bem falar e escrever, 
estabelecidas pelos especialistas, com base no uso da língua consagrado pelos 
bons escritores. Dizer que alguém sabe gramática significa dizer que esse 
alguém conhece essas normas e as domina”. 
É nesse ponto que reside o maior problema da abordagem prescritiva da 
gramática na escola. Ao considerá-la o padrão de excelência, a escola leva seus 
alunos a perseguirem esse modelo ao longo da vida escolar. Porém, se esse é o 
único ponto de vista gramatical ao qual se tem acesso, passa-se a acreditar que 
todo o resto que produzimos como falantes em nosso dia a dia está errado. Nesse 
caso, o aluno passa a vida acreditando que fala errado, que a língua é difícil, e 
duvida de sua competência internalizada. Prioriza-se, nessa abordagem, a norma-
-padrão e, portanto, deixa-se de lado as variações da língua, que são muitas e 
dependem de inúmeros fatores — sociais, econômicos, geográficos, entre outros. 
Isso não quer dizer que a gramática normativa não tenha valor escolar, mas o 
ensino de língua baseado somente na norma-padrão não pode desconsiderar as 
variações e uma profunda reflexão linguística que passa, inclusive, pelas regras 
da gramática normativa. Entra em jogo, nesse ponto, outra questão: muitos 
professores afirmam compreender a variação linguística, mas consideram 
Gramática4
que ela deve ficar apenas no âmbito da fala, sendo a escrita normatizada pela 
gramática da norma-padrão. No entanto, os exemplos presentes em Franchi 
(2006) mostram que a escrita escolar também não pode ser somente pautada 
nos padrões de certo e errado da gramática normativa.
Franchi (2006) apresenta dois textos de alunos de 3º ano do ensino fundamental e faz 
algumas análises das percepções de professores sobre eles. Veja um trecho de cada 
um dos textos a seguir.
Texto 1
Era uma vez um passarinho que vivia em uma árvore na frente da casa de João. E o 
João temtava pegalo todos os dias mas não comsiguia. Até que um dia ele temtou 
muito, mas muito, que ele acabou catando o passarinho.
Texto 2
Lá na fazenda do meu avô tem cavalos, galinha, pato, vaca, boi e porcos. Quando eu 
vou lá, eu ando de cavalo e tomo leite de vaca. Os animais gostam muito de carinho 
e amor. Eu gosto muito dos animais.
No primeiro exemplo, os professores consultados consideraram o texto “um de-
sastre”, ressaltando os erros como a troca de letras (m por n nas palavras destacadas) 
e o desconhecimento das regras da língua. O Texto 2, por seu turno, não tem erros 
gramaticais consideráveis e foi considerado um texto “limpinho, em bom português” 
(FRANCHI, 2006). 
Nesse exemplo, a concepção de gramática dos professores citados por 
Franchi (2006) está associada à gramática normativa, que segue uma concepção 
de língua dos escritores e de uma linguagem que seria mais culta e bela do que 
a falada no dia a dia. O “bom português”, no entanto, como mostra Franchi 
(2006), nem sempre garante um texto criativo. 
No Texto 1, apesar dos desvios gramaticais, é possível notar uma maior 
criatividade e, no Texto 2, uma maior contenção. Além disso, Franchi (2006, 
p. 26) ressalta que o texto 1 não deixa de mostrar um “[…] razoável grau de 
amadurecimento linguístico e textual”, considerando a capacidade do aluno 
escritor do Texto 1 de construir uma série de operações complexas com a 
língua, como em “Era uma vez um passarinho que vivia em uma árvore na 
frente da casa de João”, enquanto o Texto 2 tem estruturas bastante simples 
como “Eu gosto muito dos animais”. 
5Gramática
Para Franchi (2006), portanto, esses exemplos evidenciam que o aluno do 
Texto 1 demonstra um “controle” da língua muito superior, de certa forma, 
ao demonstrado pelo aluno do Texto 2. 
Gramática descritiva
A proposta da gramática descritiva tem como base o princípio da observação 
dos fenômenos linguísticos. Ao contrário da gramática prescritiva, ela não 
tem o intuito de prescrever regras, de ditar como a língua deve ser, mas sim 
de observar e descrever como a língua tem sido utilizada pelos falantes. 
Para Ferraz e Olivan (2011), a gramática descritiva é um conjunto de regras 
que descrevem os fatos da língua. Analisando e descrevendo a língua real que os 
falantes utilizam, é possível observar quais fenômenos linguísticos ocorrem, como 
a língua se estrutura, o que é aceitável ou não em termos de língua. Essas regras 
ajudam a observar o que é gramatical e o que é agramatical. Gramatical é aquilo 
que atende “[…] às regras da língua segundo determinada variedade linguística” 
(FERRAZ; OLIVAN, 2011, p. 2236). Em outras palavras, gramaticais são aquelas 
estruturas e frases comuns à comunidade de falantes. Veja o exemplo a seguir.
Todos os motoristas entraram em greve. 
Os motoristas todos entraram em greve. 
Os motoristas entraram todos em greve. 
*Os todos motoristas entraram em greve. 
*Os motoristas entraram em todos greve.
O sinal * significa que a frase é agramatical. Observe o posicionamento linear dos 
elementos que constituem as sentenças. É possível notar que nem toda posição é 
possível do ponto de vista da gramática internalizada do falante. Não se trata, portanto, 
de prescrever o que é certo ou errado, mas de observar que certas construções sintáticas 
não fazem sentido para os falantes; é agramatical (PERINI, 2005).
É necessário eleger certos fatos da língua para observar, já que seria im-
possível dar conta da totalidade de fatos da língua. Estudam-se, então, os fatos 
Gramática6
sintáticos, aqueles de particular interesse à teoria, uma vez que a sintaxe é a 
parte da gramática de organização da língua. Na descrição de um fato sintá-
tico, como a posição linear que os elementos de uma frase ocupam, como no 
exemplo dado, é possível observar que a língua permite certos posicionamentos 
e não outros. Com o exemplo, nota-se que a gramática descritiva considera 
o falante, sua intuição, sua língua internalizada, isto é, as possibilidades e 
impossibilidades da língua por meio de fatos que são bastante intuitivos. O 
autor explica que: “[…] os falantes têm muitas vezes intuições bem definidas 
[…] em outros casos as intuições não são claras, e é preciso lançar mão de 
outros recursos, como tentar observar o comportamento sintático de uma 
sequência em outras frases” (PERINI, 2005, p. 45).
Toda gramática descritiva, portanto, pressupõe hipóteses e observação e, 
consequentemente, constitui-se como resultado de uma pesquisa, argumen-
tando e justificando o caminho tomado. Por isso, do ponto de vista descritivo, 
não é possível estudar gramática sem, ao mesmo tempo, fazer gramática, no 
sentido de refletir, investigar e pensar nos fenômenos da língua. 
Além disso, o trabalho de descrever uma língua inclui a descriçãodos 
seus aspectos formais somados aos significados que eles veiculam. Primeiro, 
é realizada a descrição do aspecto formal e do semântico separadamente, 
posteriormente realizando-se um confronto entre ambos (PERINI, 2005).
No Brasil, a norma considerada oficial está associada à língua escrita, não à língua que é 
falada no país. No entanto, a estrutura da língua que escrevemos é muito diferente da 
estrutura da língua que falamos e, por isso, é muito mais difícil refletir sobre a língua. 
Há, portanto, uma disjunção que não é observada pela gramática normativa e 
que se reflete na forma como o brasileiro escreve. Tentamos reproduzir, na escrita, as 
regras e os padrões de um modelo estabelecido por uma língua diferente daquela 
que falamos no dia a dia. Considerando isso, haveria duas línguas no Brasil, cada qual 
com seu domínio próprio. 
Este fato tem origem não somente na colonização, mas também na tentativa da 
coroa portuguesa de unificar as línguas e tornar o português a única língua oficial 
e obrigatória nas escolas. Isso era feito por meio de decretos, ou seja, por uma via 
não natural. Com essa unificação forçada, não se aplica a gramática internalizada e a 
linguagem inata do falante brasileiro, mas sim a tentativa de escrever nos padrões de 
uma língua forjada como materna (PERINI, 2001).
7Gramática
O gerativismo e a gramática internalizada
A gramática internalizada é entendida como aquela que todos os falantes 
possuem de maneira inata. Essa seria uma predisposição genética que permite 
não somente a aquisição da linguagem, mas também o desenvolvimento de 
uma lógica interna de organização da língua. 
De acordo com essa perspectiva, a linguagem humana, expressa por meio 
de uma língua natural, é entendida como um fenômeno cognitivo. A língua é 
tomada como produto da mente humana, e é este entendimento que sustenta 
a teoria sobre a gramática internalizada. 
Cognição é o termo científico utilizado para fazer referência ao conjunto das inteligên-
cias humanas. Segundo Kenedy (2013), o termo diz respeito aos fenômenos mentais que 
têm relação com a aquisição, o armazenamento, a ativação e o uso do conhecimento. 
Segundo Kenedy (2013), a linguagem é um conhecimento implícito, incons-
ciente no conjunto da cognição humana. Um indivíduo é capaz de produzir uma 
infinidade de sentenças na sua língua materna sem se dar conta de que está 
realizando isso, ou seja, ocorre de maneira inconsciente. Por isso, a linguagem 
é entendida como um conhecimento tácito que os indivíduos possuem. 
Essa concepção está ancorada no gerativismo, que tem como expoente prin-
cipal o cientista Noam Chomsky. Surge nos anos de 1950, quando o Chomsky, 
então professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, formula suas ideias 
sobre a “natureza mental da linguagem humana”. A teoria propunha a descrição 
dos procedimentos mentais que “[…] geram as estruturas da linguagem, como 
as palavras, as frases e os discursos”, sendo as frases organizadas por meio 
de regras inconscientes na mente dos indivíduos (KENEDY, 2013, p. 17).
Além disso, a teoria gerativista entende que as línguas naturais não só são 
produto da mente humana, mas também possuem uma exterioridade; elas só 
se tornam úteis como línguas naturais se puderem ser compartilhadas pelos 
indivíduos. Para que uma língua exista, seu léxico precisa ser compartilhado 
pelos falantes. 
Assim, pode-se dizer que há duas dimensões da língua, as quais foram 
denominadas por Chomsky de língua-I (interna, individual e intensional), ou 
Gramática8
seja, a língua enquanto faculdade cognitiva, e língua-E (externa e extensional), 
a língua como código linguístico. 
Os gerativistas se interessam por estudar a língua-E para descrever os traços do léxico 
das línguas (fonemas, morfemas, palavras) utilizados na formação das representações 
mentais. Sendo a língua-E entendida como um produto sócio-histórico, ela está sujeita 
“[…] às contingências da experiência cultural humana” (KENEDY, 2013, p. 33). Assim, os 
gerativistas entenderam que a mente humana é capaz de adquirir essas informações da 
língua-E para produzir e compreender expressões linguísticas no cotidiano da Língua-I.
É a língua-I, portanto, o principal objeto de estudo da concepção gerativista, 
uma vez que esta faz parte do sistema cognitivo do indivíduo. O estudo da 
língua-I é o estudo da capacidade humana de colocar em prática os códigos 
da língua, como fonemas, morfemas, palavras, frases. 
Entendendo que a língua-I está presente em todos os indivíduos, Chomsky 
percebeu que, em vez de buscar uma descrição de cada língua separadamente, 
era possível investigar as características universais das línguas. Publicou, 
então, em 1965, Aspectos da teoria da sintaxe, em que explica os conceitos 
de competência e desempenho. Competência linguística é o que permite ao 
falante “[…] produzir o conjunto de sentenças de sua língua”. É por meio de 
sua capacidade inata de linguagem que o falante desenvolve essa competência. 
Por outro lado, o desempenho é o comportamento linguístico, são os fatores 
externos ou não linguísticos, de ordens variadas, como inserção social, crenças, 
interlocutores, e também o diferente “[…] funcionamento dos mecanismos 
psicológicos e fisiológicos envolvidos na produção dos enunciados” (PETTER, 
2015, p. 11). Isso quer dizer que o a competência está internalizada no falante, 
enquanto o desempenho depende de outros fatores. Por exemplo, você sabe 
falar em português, tem a competência linguística. Porém, está apresentando 
um trabalho a uma turma cheia de alunos e começa a esquecer palavras e 
gaguejar; seu desempenho está afetado pelo nervosismo.
A teoria desenvolvida por Chomsky para explicar e analisar os dados foi 
denominada de gramática gerativa, uma vez que, segundo ela, o falante pode, 
por meio de um limitado número de regras internas que possui, gerar um 
infinito número de sentenças. A gramática gerativa, portanto, tem por objetivo 
explicar e analisar as frases potencialmente realizáveis em uma língua, cuja 
9Gramática
intuição do falante é o “[…] critério da gramaticalidade ou agramaticalidade 
da frase” (PETTER, 2015, p. 11). Observe a frase a seguir. 
Problema este muito seu difícil é.
Neste exemplo, como falante, você consegue perceber que algo não está 
bem na construção da sentença. Você não precisa ser um especialista em 
linguística para perceber isso. É esse estranhamento que Chomsky entende 
como a intuição do falante. Por menos escolarizado que o falante seja, ele é 
capaz de organizar os elementos linguísticos que compõem esta sentença, 
tornando-a novamente gramatical.
Uma sequência de palavras é agramatical quando, segundo Petter (2015), 
não respeita as regras gramaticais internalizadas pelo falante. Um falante 
pode utilizar sua competência inata para organizar o exemplo acima como: 
Este seu problema é muito difícil. 
Todo falante de uma língua natural possui competência para refletir sobre 
a língua. Dessa forma, na escola, o professor de língua pode fazer valer essa 
competência para proporcionar uma verdadeira reflexão sobre o objeto de 
estudo da sua disciplina, utilizando-se de situações e exemplos do cotidiano 
dos alunos. No entanto, não é isso que ocorre geralmente nas aulas de língua. 
Interpretando fenômenos de linguagem 
A linguagem é um fenômeno que permeia nossa vida social em diversos 
aspectos e é de fundamental importância em nosso dia a dia. É necessário, 
então, entender a gramática como uma forma de refl etir sobre o funcionamento 
da linguagem (e não somente como um amontoado de regras em um livro). 
Dessa forma, estudar gramática na escola é importante, porque proporciona 
um espaço de reflexão e pesquisa, podendo inclusive promover a autonomia, 
a criticidade e a curiosidade científica dos alunos (PERINI, 2005). Uma vez 
que se passe a enxergar a gramática como meio de observar e interpretar os 
fenômenos da linguagem que ocorrem no cotidiano, o sentido e a significação 
do ensino de gramática tomamoutro rumo e abrem caminho para diversas 
oportunidades. No exemplo a seguir, é possível realizar uma interpretação 
muito simples de um fato da linguagem.
Gramática10
O poema Pronominais, de Oswald de Andrade (1972), demonstra a diferença entre a 
gramática descritiva e a prescritiva (normativa). Observe a seguir.
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.
O primeiro verso traz a colocação pronominal de acordo com a norma-padrão, que 
sustenta a interpretação dos fenômenos da linguagem pela gramática normativa 
(Dê-me). Já a língua do último verso representa a língua que sustenta a descrição da 
gramática descritiva, que observa os fenômenos da linguagem pelo uso dos falantes 
(Me dá). Isso quer dizer que, apesar de a gramática prescritiva orientar a não começar 
frases com pronomes oblíquos, a construção da última frase “Me dá um cigarro” é 
completamente possível, pois é compreendida pelos falantes da língua e utilizada 
cotidianamente. Essa possibilidade está relacionada à gramática internalizada dos 
falantes, uma vez que a língua materna, ou seja, aquela que o brasileiro possui inter-
nalizada, permite essa construção.
De acordo com Perini (2001, p. 13), todo falante “[…] possui um conhe-
cimento implícito, altamente elaborado da língua, muito embora não seja 
capaz de explicitar esse conhecimento”. No Brasil, especialmente, em virtude 
da distinção muito evidente entre a língua brasileira falada e a norma culta 
do português, é possível perceber que esse conhecimento da língua é algo 
naturalmente adquirido, e não fruto da instrução escolar. 
A interpretação dos fenômenos linguísticos pode se dar em vários aspectos, 
que compõem as gramáticas de uma língua: a fonologia, a morfologia, a sintaxe 
e a semântica. No entanto, esses aspectos não esgotam as possibilidades de 
interpretação, pois ainda se poderia observar a história das formas linguísticas, 
por exemplo. Esses aspectos “[…] constituem o estudo da estrutura interna 
11Gramática
de uma língua — aquilo que a distingue das outras línguas do mundo, e que 
não decorre diretamente de condições da vida social ou do conhecimento do 
mundo” (PERINI, 2005, p. 50).
Refletindo sobre os fenômenos linguísticos
Na escola, como você já viu anteriormente, não ocorre efetivamente uma 
interpretação dos fenômenos da linguagem. Na maioria das vezes, na aula de 
língua portuguesa, ensinam-se regras que não fazem sentido para o aluno. 
Utilizam-se exemplos de grandes escritores, que geralmente não são do século 
XXI. Portanto, o aluno tem acesso a uma gramática e a exemplos de língua 
que não condizem com a língua conhecida por ele. Muito diferente do que 
muitos estudiosos defendem ser o ideal: 
[…] o que deveríamos esperar do aluno ingressante no ensino médio é a ca-
pacidade de lidar com os aspectos da língua de modo reflexivo, sendo apto 
a selecionar os recursos linguísticos e a estrutura gramatical adequados às 
atividades de produção oral e escrita (FERRAZ; OLIVAN, 2011, p. 2238). 
Em relação a essa postura reflexiva de língua e às concepções de gramática 
que você viu até o momento, considere o fenômeno da regência verbal. A regência 
é a relação entre um elemento, considerado regente e outro que o complementa. 
De acordo com a gramática prescritiva, o verbo é o regente, e seus complementos 
variam de acordo com o que o verbo “pede”. De acordo com a gramática descri-
tiva, a regência de um verbo é variável, dependendo do contexto. Além disso, 
varia segundo ao longo do tempo, “[…] porque os falantes passam a interpretar 
de forma diferente o significado dos verbos” (TENÓRIO; SILVA; SILVA, 2018, 
p. 233). Considera-se, portanto, a gramática internalizada do falante. O verbo 
“assistir”, por exemplo, tem na regência uma importante variação da significação. 
Que variações são essas e como as diferentes linhas teóricas sobre gramática 
a interpretam? No ponto de vista da gramática normativa, o verbo “assistir” é 
apresentado como transitivo indireto ou direto, observando-se a mudança de 
sentido conforme a mudança na transitividade. Observe a seguir:
1. verbo transitivo indireto: aponta para o sentido de presenciar, ver, observar; 
rege a preposição a e não admite a substituição do termo regido pelo pronome 
oblíquo lhe, mas sim o(s) e a(s);
2. verbo transitivo indireto: aponta para o sentido de caber (direito a alguém), 
pertencer; rege a preposição a e admite a substituição do termo regido pelo 
pronome oblíquo lhe(s); 
Gramática12
3. verbo transitivo direto: aponta para o sentido de socorrer, prestar assistência 
e não rege qualquer preposição (A REGÊNCIA…, [200-?], documento on-line).
Assim, quando “assistir” for empregado para indicar os sentidos aponta-
dos em (1) e (2), é obrigatória a presença da preposição regida. Nesse caso, a 
gramática trata da regência e da transitividade do verbo como uma prescrição, 
informando o que é admitido ou não como complemento do verbo. Além disso, 
prescreve como obrigatória a presença da preposição regida pelo verbo nos 
casos 1 e 2. A distinção e a prescrição da regência desse verbo é semantica-
mente determinada, como por exemplo, em:
Assistimos ao jogo (1) 
Não lhe assiste dizer se isto é certo ou errado (2). 
Pela gramática descritiva, por outro lado, é possível entender o verbo 
“assistir” também em suas ocorrências como transitivo direto, que rege um 
objeto direto, sem preposição. Um possível exemplo é a própria acepção de 
assistir em “Assistimos o jogo”. Isso porque observou-se, analisando os fenô-
menos linguísticos, que o uso de grande parte dos verbos vem modificando 
a normatização. Notou-se também que há uma relação mais direta entre o 
falante e a pessoa ou objeto a que ele se refere. Por outro lado, o verbo “assistir” 
com o sentido de ajudar, auxiliar, socorrer, já é normatizado como um verbo 
transitivo direto e é assim utilizado pelos falantes. 
É possível também observar a forma como a gramática internalizada dos 
falantes organiza esses usos. Podemos refletir sobre a voz ativa e a voz passiva 
em relação ao verbo “assistir”. Observe que, pelas regras da gramática nor-
mativa, um verbo só possui voz passiva quando é classificado como transitivo 
direto ou bitransitivo (direto e indireto). No entanto, é perfeitamente coerente e 
bastante utilizada pelos falantes a ocorrência passiva, como na frase a seguir:
O filme de terror foi assistido pelas crianças.
Se, pelo viés da gramática normativa, “assistir” com sentido de ver, olhar, 
deve ser transitivo indireto, tal ocorrência não poderia existir. No entanto, pela 
gramática internalizada do falante, é perfeitamente corriqueira a ocorrência 
da voz passiva nesse caso. Pode-se concluir que há uma discrepância entre 
aquilo que a gramática normativa prescreve e aquilo que o falante entende 
intuitivamente como adequado. 
13Gramática
Por fim, conhecer as regras gramaticais e saber como usá-las é também 
importante. Por meio desse estudo, é possível ensinar as diversas configurações 
da língua para preparar os alunos para as também diversas situações com que 
vão se deparar na vida. Como explica Ferraz e Olivan (2011, p. 2236):
[…] saber gramática depende da ativação e do amadurecimento progressivo 
de hipóteses sobre o que é a linguagem e quais seus princípios e regras. Nela, 
o que pode ocorrer é uma inadequação da variedade linguística em um dado 
momento de interação comunicativa, mas não o erro linguístico. 
Para que possam se adequar às variedades linguísticas, portanto, os alunos 
precisam conhecê-las, como todas as suas diversidades. No entanto, deve-se ter 
como premissa que o aluno já tem conhecimento sobre a língua mesmo antes 
de entrar na escola para ser alfabetizado. Considera-se, assim, sua gramática 
interna, sua capacidade de produzir linguagem a partir do que já conhece. Além 
disso, é fundamental incentivar o estudo da gramática por meio da reflexãodos fenômenos linguísticos, que, como vimos, pode ser feita em certo grau 
por pessoas que não são especialistas em linguística. Mais importante do que 
apontar erros e acertos, é promover a reflexão sobre a língua. 
ANDRADE, O. Obras completas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972. v. 6-7.
A REGÊNCIA e o verbo assistir. In: MINI GRAMÁTICA. Disponível em: http://www.nilc.icmc.
usp.br/nilc/minigramatica/mini/aregenciaeoverboassistir.htm. Acesso em: 8 jan. 2020.
AUROUX, S. A revolução tecnológica da gramatização. Campinas: Unicamp, 1992.
FARACO, C. A.; VIEIRA, F. E. (org.). Gramáticas brasileiras: com a palavra, os leitores. São 
Paulo: Parábola, 2016. 
FERRAZ, M. M. T.; OLIVAN, K. N. Gramática e formação do professor em língua materna: 
refletindo sobre o ensino e ensinando para a reflexão. In: CONGRESSO INTERNACIONAL 
DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LINGUÍSTICA, 7., 2011, Curitiba, Anais… Curitiba, 2011. 
p. 2234-2248.
Gramática14
Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a 
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de 
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade 
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
FRANCHI, C. Mas o que é mesmo “gramática”? In: POSSENTI, S. (org.). Mas o que é 
mesmo gramática. São Paulo: Parábola, 2006. 
KENEDY, E. Curso básico de linguística gerativa. São Paulo: Contexto, 2013.
NASI, L. O conceito de língua: um contraponto entre a gramática normativa e a lin-
güística. Urutágua, n. 13, ago./nov. 2007. Disponível em: http://www.urutagua.uem.
br/013/13nasi.htm. Acesso em: 7 jan. 2020. 
ORLANDI, E. P.; SOUZA, T. C. C. A língua imaginária e a língua fluida: dois métodos 
de trabalho com a linguagem. In: ORLANDI, E. P. Política linguística na América Latina. 
Campinas: Pontes, 1988.
PERINI, M. A. Gramática descritiva do português. São Paulo: Ática, 2005.
PERINI, M. A. Sofrendo a gramática. São Paulo: Ática, 2001.
PETTER, M. Linguagem, língua e linguística. In: FIORIN, J.L. Introdução à linguística: 
objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2015.
PINTO, M. S. Grammatica da lingoagem portuguesa de Fernão de Oliveira: o autor e sua 
obra. Portugal: Biblioteca Nacional, 2004. Disponível em: http://purl.pt/369/1/ficha-
-obra-gramatica.html. Acesso em: 7 jan. 2020.
TENÓRIO, F. J. A.; SILVA, R. S.; SILVA, A. O lugar da reflexão na aula de gramática: por onde 
começar? In: OSÓRIO, P.; LEURQUIN, E.; COELHO, M. da C. (org.). Lugar da gramática na 
aula de português. Rio de Janeiro: Dialogarts, 2018.
Leitura recomendada
BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL. Grammatica da lingoagem portuguesa. Lisboa: 
BNP, 2020. Disponível em: http://purl.pt/120/1/index.html#/1/html. Acesso em: 8 jan. 
2020.
15Gramática
MORFOSSINTAXE I
Patrícia Hoff
Conceitos e interfaces: 
sintaxe e morfologia
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Reconhecer os conceitos de sintaxe e morfologia.
 � Identificar os procedimentos metodológicos na interface.
 � Avaliar a importância da conexão entre sintaxe e morfologia.
Introdução
Livro é um substantivo, certo? Sim, é. E livro também pode ser sujeito 
ou objeto direto, por exemplo. No primeiro caso, a classificação é mor-
fológica; no segundo, é sintática. Esse tipo de análise é possível porque a 
língua é um sistema complexo e pode ser estudada a partir de diferentes 
abordagens e variados enfoques de investigação. O objetivo, no entanto, 
é sempre o mesmo: estudar as funcionalidades da língua. 
Neste capítulo, você vai estudar os conceitos de sintaxe e morfolo-
gia, duas ciências que propõem, respectivamente, a análise da função 
sintática e da classe gramatical dos termos de uma oração como forma 
de estabelecer conexões e significados no texto. Você também vai en-
tender como se dá o funcionamento da formação de palavras, base da 
morfologia, que serve de ferramenta para adaptar palavras em relação 
ao significado que queremos comunicar.
Morfologia vs. sintaxe
Morfologia é a parte da gramática que estuda as palavras de acordo com a 
classe gramatical a que elas pertencem. As classes gramaticais são: substan-
tivos, artigos, pronomes, verbos, adjetivos, conjunções, interjeições, prepo-
sições, advérbios e numerais. Já a sintaxe estuda a função que as palavras 
desempenham dentro da oração, isto é: sujeito, adjunto adverbial, objeto direto 
e indireto, complemento nominal, aposto, vocativo, predicado, entre outros. 
O filho obedece aos pais.
Análise morfológica
 � O: artigo definido masculino singular.
 � Filho: substantivo comum, simples, concreto, masculino singular.
 � Obedece: verbo obedecer, segunda conjugação.
 � Aos: combinação (a – preposição + os – artigo definido masculino plural).
 � Pais: substantivo simples, comum, plural.
Análise sintática
 � O: adjunto adnominal. 
 � O filho: sujeito simples.
 � Filho: núcleo do sujeito simples.
 � Obedece aos pais: predicado verbal.
 � Aos pais: objeto indireto.
O filho tem obediência aos pais.
Análise morfológica
 � O: artigo definido masculino singular.
 � Filho: substantivo comum, simples, concreto, masculino singular.
 � Tem: verbo ter, segunda conjugação.
 � Obediência: substantivo abstrato.
 � Aos: combinação (a – preposição + os – artigo definido masculino plural).
 � Pais: substantivo simples, comum, plural.
Análise sintática
 � O: adjunto adnominal. 
 � O filho: sujeito simples.
 � Filho: núcleo do sujeito simples.
 � Tem obediência aos pais: predicado verbal.
 � Obediência: objeto direto.
 � Aos pais: complemento nominal.
Quando se trata de análise morfológica, os termos da oração são analisados 
isoladamente. Já na análise sintática, eles são analisados de acordo com a sua 
posição, ou seja, de acordo com a função desempenhada.
Conceitos e interfaces: sintaxe e morfologia2
Tradicionalmente, a morfologia estuda os domínios da palavra, enquanto a sintaxe 
estuda os domínios da frase, da oração e do período.
De acordo com o apresentado pelas gramáticas modernas, você deve consi-
derar que a definição de palavra é uma unidade de som composta por vogais, 
consoantes, semivogais, sílabas e acentos que compõem enunciados, além de 
possuírem classificação morfológica. Já a frase trata-se do enunciado em si, 
com capacidade de comunicar, e é analisada sintaticamente.
Estrutura morfológica
Quanto à estrutura, você precisa conhecer alguns elementos importantes na 
formação das palavras:
Morfema: unidade mínima de caráter significativo na palavra. 
Considere a palavra “mesinhas”:
mes — elementos básicos da palavra, radical que a identifica.
inh — indica que a palavra está no diminutivo.
a — indica que a palavra é feminina.
s — indica que a palavra é plural.
Raiz ou radical: é a unidade irredutível da palavra, que concentra o seu 
significado.
Considere a palavra “casa”, cujo radical é cas:
casinha
casebre
casarão
A partir do radical, você pode constituir várias palavras, acrescentado 
outros elementos. 
3Conceitos e interfaces: sintaxe e morfologia
Desinência: é a unidade responsável por caracterizar as flexões. Pode ser 
nominal (indicando gênero e número) ou verbal (indicando modo e tempo).
Desinência nominal — menina, menino, criança, crianças.
Desinência verbal — corri, correu, corremos, 
correram, correrias, correrá.
Prefixos: são morfemas inseridos antes da palavra, modificando seu sentido.
Atemporal
Contraindicação
Desconfigurado
Refeito
Sufixos: são elementos acrescentados ao final da palavra, também dando um 
novo significado.
Panfletagem
Casamento
Rinite
Perfeccionismo
A frase no discurso 
Forma e função
O debate da prioridade da forma sobre a função ou da função sobre a forma 
é antigo, e não se limita somente à área da linguística. Porém, a disposição 
em contrariar as abordagens que privilegiam uma ou outra tem sido forte na 
linguística moderna. 
Na abordagemfuncionalista, a sintaxe é vista como o reflexo das funções 
comunicativas veiculadas pela frase. A partir desse ponto de vista, forma e 
uso não podem ser divididos em partes na explicação dos fenômenos na área 
da sintaxe. Na abordagem da Teoria da Gramática Gerativa desenvolvida 
por Chomsky, ao contrário, a sintaxe é um componente independente, com 
princípios próprios que independem do uso. Todavia, mesmo nessa aborda-
gem, a questão da relação entre forma e função, entre gramática e uso, entre 
Conceitos e interfaces: sintaxe e morfologia4
estrutura e interpretação semântica, constitui-se uma questão central nas 
diversas formulações do modelo ao longo dos anos.
Não faz sentido estudar a morfologia se ela não for aplicada ao enunciado. Por exemplo, 
palavras que isoladamente têm determinado sentido, no texto, podem apresentar outro 
sentido — uma vez que não trabalhamos sem levar em consideração o contexto em 
que as formas e funções estão inseridas. Veja um exemplo muito difundido:
Ele não sabia que a aula terminaria mais cedo naquele dia.
O sabiá nem sempre se aproxima das pessoas.
Ele agora está são.
São duas horas agora.
Hoje é dia de São Jorge.
ABAURRE, M. L.; PONTARA, M. N.; FADEL, T. Português: língua, literatura, produção de 
texto. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2004. 
BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2006. 
CUNHA, C.; CINTRA, L. Nova gramática do português contemporâneo. 6. ed. Rio de Ja-
neiro: Lexikon Editorial, 2013.
FIORIN, J. L. Sintaxe. São Paulo: Contexto, 2009.
ORLANDI, E. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. 4. ed. Campinas: 
Pontes Editores, 2006.
5Conceitos e interfaces: sintaxe e morfologia
Conteúdo:
MORFOSSINTAXE I 
Nádia Castro
Noções básicas de 
morfologia
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Apontar a estrutura interna das palavras através da análise morfológica.
 � Refletir sobre as questões decorrentes dos processos de formação de 
palavras e suas implicações para o ensino.
 � Analisar as contribuições históricas para os estudos de morfologia.
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar as noções básicas de morfologia. Este 
campo de estudo da língua portuguesa objetiva analisar as estruturas 
que compõem o funcionamento interno das palavras. Enquanto a sintaxe 
investiga a relação entre as palavras dentro de uma oração, a morfologia 
desvenda a estrutura, a formação e a classificação de palavras de uma 
determinada língua.
Portanto, neste capítulo, você vai estudar a estrutura interna das 
palavras por meio da análise morfológica, refletindo sobre as questões 
decorrentes dos processos de formação de palavras e suas implicações 
para o ensino e analisando as contribuições históricas para os estudos 
de morfologia.
Estrutura interna das palavras
O léxico é definido, tradicionalmente, como o conjunto de palavras de certa 
língua. Em sua abordagem clássica, o estudo do léxico tem por objetivo uma 
ampliação dos conhecimentos das características e propriedades de cada 
palavra. Isso no passado e no presente, uma vez que há mudança de acordo 
com o espaço, o tempo e a história de constituição de uma língua, uma vez 
que esta não é estática, ela se movimenta conforme as sociedades evoluem. 
Pense, por exemplo, em palavras como: internet, imprimir, escanear, tuitar. 
Há inserção delas no vocabulário de língua portuguesa — algumas ainda sem 
registro formal, por enquanto — pelo senso comum.
Na tradição dos estudos gramaticais, a morfologia concentra-se em es-
tudos da flexão. Os diferentes processos de derivação e de mudança, bem 
como de extensão de palavras, servem para funções predeterminadas, as 
quais se traduzem em estruturas morfológicas lexicais. Lembre-se de que 
a morfologia não existe por acaso, ela é historicamente a subdivisão mais 
antiga da gramática, mas reconhecida como tal apenas na segunda metade 
do século XIX. Os linguistas que iniciaram os estudos sobre morfologia 
não se percebiam, até então, como morfologistas. Dessa forma, o léxico 
representa um depósito de elementos de designação, pois fornece unidades 
básicas para a construção de enunciados e também comporta os processos 
de formação das palavras.
Aqui, o objetivo é fornecer para você, leitor, estudioso da língua, professor 
de português, uma visão articulada dos principais processos de formação 
de palavras. Você sabe por que esse conhecimento é relevante? Porque as 
estruturas morfológicas constituem um instrumento fundamental tanto para 
a aquisição como para a expansão do léxico individual e coletivo. 
Agora, pense: de que forma o léxico se constitui na língua? Cada novo 
conceito passa a ser registrado? Mas, assim, teríamos uma combinação 
de sequências que não conseguiríamos realmente dar conta de guardar na 
memória? Portanto, para máxima eficiência, a expansão do léxico acontece 
através dos processos de formação de palavras. Ou seja, a partir de fórmulas 
padronizadas de construção de novas palavras a partir do que já existe no 
léxico.
Para Basílio (2006, p. 10), o léxico é “ecologicamente correto”, pois 
tem um banco de dados em permanente extensão, mas utilizando material 
já existente, assim, reduzindo a dependência de memória e garantindo a 
comunicação automática. Por exemplo, em palavras como: computacional, 
globalização, etc., percebe-se formas novas de palavras já existentes: o 
verbo computar, por exemplo, já existia, e serviu de base para a formação 
de computador; o sufixo –ção, também já existente, possibilita a constru-
ção da palavra computação, e assim por diante. Para compreender melhor, 
observe a Figura 1.
Noções básicas de morfologia2
Figura 1. Abordagens da morfologia, da semântica e da sintaxe.
Fonte: Machado (2017).
Morfologia
Semântica
Sintaxe
Estrutura, formação e
classi�cação das palavras
Sentido
das palavras
Relações formais
entre os elementos
que constituem
as sentenças
Classes de palavras 
As classes de palavras, ou categorias lexicais, envolvidas em processos de 
formação de palavras são:
 � Substantivo
 � Adjetivo
 � Artigo
 � Pronome
 � Numeral
 � Verbo
 � Advérbio
 � Conjunção
 � Preposição
3Noções básicas de morfologia
A classe de palavras denominada substantivo é definida pela sua proprie-
dade morfológica de apresentar e determinar flexão de gênero e número; além 
de sua propriedade semântica de designar seres ou entidades; e sua propriedade 
sintática de ocupar o núcleo do sujeito e complementos.
A classe dos adjetivos é definida pela propriedade de caracterizar ou 
qualificar os seres designados pelos substantivos e desta forma concordar em 
gênero e número com eles. Já os verbos, são definidos como aquela classe 
de palavras que representa ações e relações (eventos, estados, etc.) no tempo, 
tendo como função a predicação e apresentando flexões de tempo e de modo. 
Os advérbios representam a classe de palavras invariáveis com função de 
modificar verbos, adjetivos e também outros advérbios e enunciados.
O artigo é conhecido como aquele que antecede o substantivo e funciona 
como determinante ou indeterminante deste último. Os artigos podem ser 
flexionados em número e gênero. A classe de palavras denominada pronome 
contempla aquelas palavras que identificam o indivíduo no momento comu-
nicacional, ou seja, evidencia as pessoas do discurso. 
Agora, o numeral é um conjunto representado por palavras com função 
de quantificar numericamente ou indicar ordem de sequência para aquilo a 
que faz referência na construção da comunicação. A conjunção, por sua vez, 
liga elementos dentro da construção dos enunciados. Essa função também é a 
das preposições, ou seja, para que se tenha clareza no discurso, uma palavra 
deve estar ligada à outra. 
Os processos de formação de palavras apresentam funções gramaticais e funções 
semânticas; e os seus produtos, ou seja, as palavras formadas, apresentam propriedades 
morfológicas, sintáticas e semânticas. 
Para segmentar as variaçõesdas palavras, é possível dividi-las em variáveis 
e invariáveis. 
Noções básicas de morfologia4
Variáveis
As palavras variáveis podem ser flexionadas em gênero e número (algumas, 
inclusive, em grau). São elas:
 � Adjetivo
 � Artigo
 � Pronome
 � Substantivo
 � Verbo
Invariáveis 
Já as palavras consideradas como invariáveis são aquelas que não se modificam 
em gênero ou número. Ou seja, independentemente da construção enunciada, 
elas mantêm o mesmo formato. O contexto não interfere e, da mesma forma, 
o arranjo textual não as modifica. São elas:
 � Advérbio
 � Conjunção
 � Preposição
Observe um exemplo no quadro a seguir.
A colaboradora geóloga ficou muito revoltada
Artigo 
feminino 
singular
Substantivo 
feminino 
singular
Adjetivo 
feminino 
singular
Verbo 
conjugado 
no 
feminino 
singular
Advérbio 
invariável
Adjetivo 
feminino 
singular
Neste exemplo, percebemos que todas as palavras que compõem o enun-
ciado concordam em gênero e número, ou seja, estão no feminino singular 
de acordo com o núcleo do sujeito (colaboradora), com exceção apenas para o 
advérbio de intensidade muito. Este, conforme visto anteriormente, é invariável.
Por fim, tenha em mente que o processo de formação de palavras pode 
ocorrer por derivação sufixal ou prefixal; parassintética, conversiva, siglada, 
grafêmica, silábica, fortuita, por composição e onomatopeia.
5Noções básicas de morfologia
Formação de palavras e suas 
implicações para o ensino
O conhecimento acerca dos processos de formação de palavras (que pode 
ocorrer através da reflexão sobre o funcionamento da nossa língua portuguesa) 
possibilita que os indivíduos percebam que a língua existe como meio de 
comunicação entre homens; sendo que as significações linguísticas estão na 
base dessa comunicação. Quanto mais se compreende o funcionamento da 
língua como um sistema vivo e mutante, mais habilitados os sujeitos esta-
rão para compreender o contexto no qual estão inseridos e aumentam-se as 
possibilidades de interpretação e amplia-se a noção do certo e do errado e 
passamos então a perceber a língua como algo que demarca historicamente 
um povo e um tempo. Diz-se com muita intensidade que vivemos na sociedade 
da comunicação e da informação, na qual a palavra dita e, sobretudo, escrita 
é utilizada com grande intensidade. As redes sociais modificaram as relações 
dos indivíduos com o uso da palavra, o domínio dela, por conseguinte, é 
possibilidade de ocupar diferentes espaços de forma adequada e fazendo uso 
da riqueza que a língua oferece.
O processo de formação de palavras traz implicações para o ensino, uma 
vez que é preciso constante atualização e contextualização para que não 
se limite o espaço do aprendiz. Se você parar para pensar, podemos citar 
inúmeras novas palavras na nossa língua: agito, xingo, desmate, carreata, 
entre outras (ROCHA, 1998). A partir dessas novas criações podemos nos 
perguntar: por que algumas causam estranheza e outras não? Por exemplo, 
a palavra desmorrer, já que a forma desmerecer é aceita. Por que razão a 
palavra atingimento não é considerada como uma palavra existente na língua, 
mas possível de ser criada? Por que uma palavra proferida por uma figura 
pública causa tanto comentário? Pense na palavra imexível e o que ela gerou 
após ter sido pronunciada por um ministro do Estado. Por que no Rio Grande 
do Sul temos como forma consagrada lavagem e em Santa Catarina lavação?
Estas e outras perguntas devem ser discutidas no âmbito da morfologia. No 
decorrer do processo de ensino é necessário levantar alguns questionamentos 
com os alunos:
 � Qual o objetivo de formar novas palavras?
 � De que maneira formamos novas palavras?
 � Quando parece ser emergente apropriar-se de novas palavras ou de 
palavras de outras línguas?
Noções básicas de morfologia6
 � Quais são as partes integrantes de uma palavra?
 � A partir de que critério(s) podemos dizer que uma palavra existe em 
uma língua?
Portanto, para os processos de ensino e aprendizagem, uma teoria mor-
fológica da língua objetiva definir como e quais novas palavras podem ser 
formadas. Assim, um falante que escuta uma palavra, quer seja pela primeira 
vez, tem capacidade de reconhecê-la como uma palavra de sua língua e assim 
permite a intuição sobre a estruturação dela e de seus possíveis significados. 
Dessa forma, uma teoria morfológica descreve esses fatos, sobretudo os me-
canismos formais que criam novas palavras e a análise de palavras que já 
circulam nessa língua.
É imperativo que a língua precisa ser ensinada na escola. A gramática 
normativa, então, traz as regras. Mas a norma não pode ser uniforme e rígida. 
Ela precisa ser elástica e contingente, evidenciando a sua adaptação de acordo 
com cada situação social específica em que está inserida. Pense: o professor 
fala em casa da mesma e exata forma que fala em sala de aula ou em uma 
conferência? Se a língua é variável no espaço e na hierarquia social, como 
definir uma única representação como a correta? Reflita sobre essa questão.
Contribuições históricas para os 
estudos de morfologia
Qualquer gramática de língua portuguesa que seja consultada dedica um 
capítulo ao estudo da morfologia, isso quando consideramos as gramáticas 
do tipo normativas. No contexto da linguística, ou seja, no que se refere ao 
estudo científico do funcionamento da linguagem, a morfologia como campo 
de estudo tem, historicamente, dias de valorização e de esquecimento. No 
período da gramática estrutural, ela foi centro de atenção e, portanto, alcan-
çou um progresso. Já no período da linguística gerativo-transformacional, a 
morfologia ficou esquecida se comparada à sintaxe e à fonologia. Observe o 
que diz Bauer (1983 apud ROCHA, 1998, p. 7): 
No momento, o estudo da formação de palavras está sujeito a alterações 
frequentes. Não há um corpo de doutrina pacificamente aceito nesse campo, 
de tal forma que os pesquisadores estão sendo obrigados a estabelecer a sua 
própria teoria e procedimentos à medida que caminham.
7Noções básicas de morfologia
Porém, com o percurso histórico das sociedades e um ensaio cada vez maior 
de compreensão dos fenômenos que estão postos no mundo, este pensamento 
tem dado lugar para estudos cada vez mais aprofundados sobre morfologia. No 
âmbito da língua portuguesa, autores se consagram nesse campo e ampliam a 
visibilidade e a importância do estudo da ciência das linguagens. Margarida 
Basílio, por exemplo, tem uma relevante obra publicada no Brasil, com o título: 
Estruturas Lexicais do Português: uma abordagem gerativa, evidenciando 
assim o interesse crescente pela disciplina.
Quatro são as escolas que estudam e analisam o componente morfológico 
da língua: o descritivismo, o historicismo, o estruturalismo e o gerativismo. 
Para as gramáticas tradicionais, este tema é de menor relevância. No entanto, 
no período de influência do estruturalismo houve um maior interesse, este 
logo ultrapassado pela teoria gerativista (Quadro 1). 
Descritivismo Historicismo Estruturalismo Gerativismo
Relação entre 
lógica e 
linguagem
Filologia 
românica; 
filologia 
germânica
Ferdinand 
Saussure — 
estruturalismo 
europeu
Noam Chomsky
Regularidades vs. 
irregularidades
Língua: 
português, 
francês, espanhol 
e italiano com 
suas origens no 
latim vulgar
O arbitrário do 
signo: a língua 
é um sistema 
de valores 
constituído por 
diferenças puras
Língua inerente 
à condição 
humana
Fixar paradigmas Filologia: um 
estudo histórico
Língua = sistema 
de valores
Capacidade 
criadora de um 
ser pensante
Elemento e 
paradigma
Estudos 
linguísticos com 
abordagem 
diacrônica
A oposição forma 
as estruturas 
da língua 
Instrumento para 
livre expressão 
do pensamento
Descrição 
e fixação
Evolução na 
morfologia 
histórica
Leonard 
Bloomfield — 
estruturalismo 
norte-americano
Linguagem 
não é mero 
instrumento de 
comunicação
Quadro 1. Descrição do componente morfológico das línguas pelas quatro grandes escolas
(Continua)
Noções básicas de morfologia8Quadro 1. Descrição do componente morfológico das línguas pelas quatro grandes escolas
Descritivismo Historicismo Estruturalismo Gerativismo
Aristóteles 
— partes do 
discurso
Privou o estudo 
da língua em uso
Preocupação 
com a filosofia 
da linguagem
Estrutura 
profunda e 
superficial
Estoicos — casos 
nominais
Gramática 
histórica ou 
comparativa: 
preocupada com 
a evolução da 
palavra como 
um todo
Caráter prático 
e utilitarista — 
morfema 
(= menor 
unidade 
da palavra); 
uma visão 
procedimental
Regras 
morfológicas que 
operam dentro 
do componente 
lexical
(Continuação)
No Brasil, em meados da década de 1960, até inícios da década de 1970, 
identificam-se os estágios iniciais da consolidação desse campo, isso com a 
obrigatoriedade do ensino da linguística nos cursos de Letras. Em sua segunda 
fase, a disciplina passa a integrar com as demais um campo desenvolvido de 
pesquisa na graduação e na pós-graduação no país. Trabalhos começam a 
se destacar, entre eles os do estudioso Mattoso Câmara Júnior (1970, 1971). 
É em meados da década de 1970 que a morfologia volta a ser legitimada 
como objeto de estudo na Teoria Gerativa, destacando-se o nome de Noam 
Chomsky (1970). 
Neste período de consolidação não poderia ser diferente, como o estudo 
das estruturas internas da palavra, a morfologia se confronta com dificuldades 
de definição do seu objeto de estudo. Com o decorrer das pesquisas em torno 
dessa temática melhores definições são estabelecidas. Passa-se a trabalhar 
com regras de formação de palavras. A partir dessa interpretação, historica-
mente, consolida-se o foco na competência linguística. Ou seja, parte-se da 
possibilidade de pensar não apenas nas formas existentes das formas lexicais, 
mas potencializar o estudo da ciência linguística a partir da valorização da 
potencialidade das línguas para a formação do novo, com o objetivo principal 
de atender as necessidades comunicativas.
9Noções básicas de morfologia
Conheça melhor a morfologia histórica do português 
fazendo a leitura do artigo disponível no link ou código 
a seguir (FREITAS; AREÁN-GARCÍA, 2010).
https://goo.gl/UHtMjr
BASÍLIO, M. Formação e classe de palavras no português do Brasil. 2. ed. São Paulo: Contexto, 
2006.
CHOMSKY, N. Remarks on nominalization. In: JACOBS, R. A.; ROSENBAUM, P. S. (Orgs.) 
Readings in English transformational grammar. Waltham, Mass: Ginn & Co, 1970. c. 12, 
p. 104-221.
CÂMARA JR., J. M. Estrutura da língua portuguesa. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1970.
CÂMARA JR., J. M. Problemas de linguística descritiva. 5. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1971.
MACHADO, L. B. Morfologia x sintaxe x semântica para nunca mais esquecer. 2017. 
Disponível em: <https://luconcursos.blogspot.com/2017/04/morfologia-x-sintaxe-x- 
semantica-para.html>. Acesso em: 21 dez. 2018.
ROCHA, L. C. A. Estruturas morfológicas do português. Belo Horizonte: UFMG, 1998.
Leituras recomendadas
CAMARA JR, J. M. Estrutura da língua portuguesa. 8. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1977.
CUNHA, C.; CINTRA, L. F. L. Nova gramática do português contemporâneo. 6. ed. Rio de 
Janeiro: Nova Fronteira, 2013.
FREITAS, E. S. S.; AREÁN-GARCÍA, N. Morfologia histórica do português. Revista Philologus, 
ano 16, n. 47, p. 109-118, 2010. Disponível em: <http://www.filologia.org.br/revista/47/07.
pdf>. Acesso em: 21 dez. 2018.
Noções básicas de morfologia10
Conteúdo:
MORFOSSINTAXE
Nádia Castro 
Morfemas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Reconhecer as unidades morfológicas e a estrutura interna das palavras.
 � Definir os morfemas da língua portuguesa.
 � Diferenciar morfemas e sintagmas.
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar alguns aspectos de aprofundamento em 
morfologia. Nesta etapa, você vai conhecer as unidades morfológicas e 
as estruturas internas das palavras, a partir do estudo dos morfemas em 
língua portuguesa. Além desses saberes, você também vai apropriar-se 
das características dos morfemas e da diferença entre eles e os sintagmas.
Unidades morfológicas e estrutura interna 
das palavras 
O primeiro aspecto que você precisa ter em mente está relacionado com o 
surgimento de novas palavras em língua portuguesa. Pense: quando se formam 
novas palavras? Como se formam novas palavras? Por que se formam novas 
palavras?
Primeiro, novas palavras são formadas a todo momento. Isso considerando 
todas as suas modalidades. Mas, quais seriam essas modalidades? Podemos 
destacar as seguintes: coloquial, culta, literária, técnica, científica, de pro-
paganda, entre outras. Dessa forma, a partir do uso e das necessidades dos 
falantes, e também conforme o contexto e o período histórico, novos itens 
lexicais passam a fazer parte de uma comunidade linguística. As formações 
podem ser esporádicas ou institucionalizadas, conforme delimita Rocha (1998). 
As formações esporádicas são aquelas relacionadas com o momento. Por 
exemplo, desmorrer. Nesse caso, uma criança que brinca e diz que a formiga 
desmorreu. Ou seja, o contexto motiva a criação da palavra por associação 
a outras parecidas e já existentes. Mas não significa que ela venha a fazer 
parte do registro de palavras da língua. Esta e outras palavras são criadas por 
impulsos momentâneos.
A forma institucionalizada de criar novas palavras é diferente e por este 
motivo é denominada desta forma. Pense na palavra imexível. Ela foi pronun-
ciada em um contexto de publicidade de ato de um falante. Dessa forma, várias 
pessoas ouviram e passaram a repeti-la. A circunstância era especial e tornou 
o vocábulo familiar para os indivíduos. Por conseguinte, imexível passou a ser 
um vocábulo institucionalizado. No entanto, você precisa saber: um vocábulo 
pode ser institucionalizado dentro de um grupo de falantes de determinada 
língua. Por exemplo, indesmentível está institucionalizada em determinada 
família e determinada residência. Logo, esta formação é institucionalizada 
naquele grupo específico, mesmo que não seja conhecido de outros grupos 
de falantes. O que você precisa se perguntar é: mas por que alguns se tornam 
institucionalizados e outros não?
Conforme Rocha (1998), precisamos considerar a visibilidade do “criador” 
da palavra e, em seguida, o poder da mídia dessa palavra. Ou seja, em que 
proporção esse vocábulo vai ser disseminado. Um vocábulo criado em um 
contexto mais restrito e de forma esporádica, pode até ser institucionalizado, 
isso depende da dimensão que ele atinge. Mantendo-se restrito, não será 
institucionalizado, mas, caso contrário, passe a integrar a fala de um grupo 
maior de pessoas, ele poderá ser registrado. As redes sociais, atualmente, têm 
um papel importante para a fixação de novos vocábulos. Quando compatilhado 
por muitos, a palavra passa a ser conhecida e as pessoas a utilizam fora das 
redes sociais. O poder da mídia é evidente neste exemplo. Palavras como 
sextou e trolar saem das redes sociais e passam a fazer parte dos diálogos 
entre os falantes.
Outra situação que mobiliza a formação de novos vocábulos tem relação 
com o fato de que certos processos são mais apelativos e enfáticos do que 
outros. Por exemplo, dizer fumódromo no lugar de sala de fumantes. Portanto, 
é importante você saber que é difícil responder plenamente à pergunta: tal 
palavra existe? Pense nisso.
No nível morfológico, no entanto, passamos a tentar compreender as uni-
dades de sentido que compõem as palavras. No campo da análise linguística, 
estudamos diferentes níveis, desde aqueles mais amplos, ou seja, os que estudam 
as unidades mais amplas do discurso, até as unidades menores, como as sílabas 
e os sons. Entre eles há um nível intermediário que estuda as unidades da 
língua as quais apresentam certa autonomia formal. Essas unidades podem ser 
encontadas como entradas lexicais do dicionário. Estamos, portanto, falando 
Morfemas2
das palavras. Inserido nisso, temos o estudo em nível morfológico. Ou seja, 
aquele que estuda as unidades de sentido que compõem aspalavras.
Etimologicamente, a palavra morfologia se constitui de dois elementos: 
morfo e logia. Originária do grego, significam, respectivamente, forma e 
estudo. Por conseguinte, definido na gramática como o estudo que descreve 
as formas das palavras. Mais detalhadamente: o estudo que tem como objeto 
de investigação a estrutura interna das palavras.
A morfologia, conforme Bechara (2010), é o estudo dos morfemas que compõem as 
palavras e investiga os seus arranjos no processo de formação de palavras. 
Morfemas da língua portuguesa
Conforme descrito nos parágrafos anteriores, compreender o que é morfolo-
gia pressupõe entender o que é forma, no sentido de sinônimo de estrutura, 
composta esta de partes denominadas morfemas. A primeira informação que 
você precisa internalizar é a de que toda estrutura é composta de elementos que 
estão relacionados. Ou seja, isso explica que: todas as palavras são formadas 
por unidades menores, as quais, quando combinadas, produzem significado. 
Essa combinação não é aleatória. Na verdade, as estruturas internas, quando 
combinadas de determinada forma, estabelecem relação e produzem signifi-
cado. Assim, podemos afirmar que determinadas palavras combinadas com 
outras exercem funções específicas nos enunciados. Conclui-se que forma, 
função e sentido são solidários entre si e, até mesmo, interdependentes (BE-
CHARA, 2010). 
Pense: quando afirmamos que lindos é um adjetivo masculino plural 
ou que trabalhássemos é um verbo de 1ª conjugação que está no pretérito 
imperfeito do subjuntivo e na 1ª pessoa do plural, estamos indicando que há 
marcas formais e gramaticais, as quais delimitam esses enquadramentos, não 
é mesmo? Exatamente, essas marcas formais são chamadas de morfemas.
3Morfemas
Os tipos de morfema: radical e afixos
No exemplo anterior — lindos — a marca do masculino está no final -o, e a 
demarcação de plural está em -s. Já no verbo citado, trabalhássemos, a marca 
do pretérito imperfeito do subjuntivo está em -ss e a marca da 3ª pessoa do 
singular está em -mos. 
Agora, lindos tem um significado diferente de ricos, pequenos ou lisos. 
O que há de comum entre eles, no entanto, são os morfemas -o e -s. Por esta 
similaridade identificamos que ricos, pequenos e lisos também são palavras 
masculinas compostas de plurais. O significado específico desses vocábulos 
está em lin-, ric-, pequen- e lis-. O mesmo ocorre com o verbo trabalhássemos. 
Neste, a diferenciação está em trabalh-. Na comparação com escrev- (escrevês-
semos) e part- (partíssemos). Os responsáveis pelos significados lexicais, nos 
exemplos supracitados, são classificados como radicais (BECHARA, 2010).
Radicais: núcleos contendo o significado relacionado com as noções externas do 
mundo: ações, estados, ofícios, seres, etc. 
Com esta reflexão, podemos concluir que a palavra é constituída de dois 
tipos de morfema: 
 � Aquele que expressa os significados na noção de mundo: lexical ou 
externo (o radical).
 � Outro que expressa o significado gramatical ou interno (os afixos re-
presentados por morfemas de flexão e de derivação).
Vogal temática: o tema
Ainda, saiba que entre o radical e os afixos é permitido inserir uma vogal 
temática (BECHARA, 2010). A missão dela é de classificação, uma vez que 
ela diferencia os nomes e os verbos em grupos ou classes. Estes são conhecidos 
como grupos nominais (casa/livro/ ponte, etc.) e grupos verbais (denominados 
conjugações). 
Morfemas4
Por essa razão, podemos afirmar que o verbo trabalhássemos pertence à 
primeira conjugação: trabalh-á-sse-mos. O verbo escrevêssemos é de segunda 
(escrev-ê-sse-mos) e partíssemos (part-í-sse-mos) é de terceira conjugação.
A união do radical com a vogal temática representa o tema (BECHARA, 
2010). Este é a parte da palavra que está pronta para funcionar no discurso e 
também que está apta para receber os afixos: 
casa + s = casas
linda + s = lindas
livro + s = livros
Em algumas ocorrências, ao receber determinados afixos, a vogal temática 
pode desaparecer — por exemplo em casinha [cas(a)inha]. 
Nos nomes, as vogais temáticas são representadas por -a e -o. Estes dois 
demarcam o grupo nominal e também indicam o gênero: a casa (feminino); 
o livro (masculino). Ainda nos nomes, as vogais temáticas -o e -e podem ser 
representadas por uma semivogal de um ditongo: pão/pães. Enquanto o -o 
pode passar para a variante -u: afeto/afetuoso (afeto + oso = afetuoso).
Os nomes terminados por vogal tônica ou por consoante perdem a vogal temática 
quando presentes no singular — por exemplo, em fé, mar, paz e mal. Nesses casos, 
são chamados de atemáticos.
No caso dos nomes terminados em consoante, a vogal temática -e, destacada 
no singular, reaparece quando a palavra estiver no plural: 
mar/mares (mar-e-s)
paz/ pazes (paz-e-s)
mal/ males (mal-e-s)
Por fim, é importante reforçar que a vogal temática aparece tanto nos temas 
simples (livr-o) quanto nos derivados (livr-eir-o). 
5Morfemas
Morfemas livres e presos
O morfema será livre quando tiver uma forma que pode aparecer de forma 
autônoma no discurso. Caso contrário, será preso. No exemplo agricultura, 
agri- é um morfema preso, pois ele, sozinho, não tem sentido no discurso. 
Para significar campo, ele precisa combinar com outro morfema (agrimensor, 
agrícola, agricultor, etc.). Diferentemente de cultura, por exemplo, pois este 
tem vida independente no discurso (a cultura do campo).
O radical pode ter uma variante que só aparece como forma presa. Este 
é o caso, por exemplo, de caber, que tem variante presa -ceber. Aparecendo 
ela em: receber, perceber e conceber. A variante do morfema nesses caos é 
alomorfe (BECHARA, 2010). 
Os elementos, portanto, podem ser todos livres (compor, apor) ou todos 
presos (agrícola, perceber), ou, ainda, combinados (agricultura, gasoduto). 
Assim, uma só forma pode representar mais de um morfema. O -s, por exemplo, 
pode marcar plural (casa/casas) e também 2ª pessoa do singular nos verbos 
(tu amas, escreves, partes).
Características dos morfemas e 
diferenças dos sintagmas
Outra questão que precisa ser esclarecida está relacionada com a interpretação 
dos sintagmas. Você precisa saber que além dos processos de formação e 
flexão da palavra, à morfologia também cabe certa classificação das palavras. 
Ou seja, deste processo devem ser considerados, além dos critérios formais, 
alguns sintáticos e semânticos. Tudo isso pela possibilidade de classificação de 
uma palavra apenas pela sua forma. Isso mesmo! A forma canto, por exemplo, 
pode desempenhar papel de substantivo ou um verbo. Isso apenas depende da 
função e do sentido em que passa a ser empregada. Observe:
O canto dos pássaros.
Eu canto como um pássaro.
No primeiro exemplo, a palavra funciona como um substantivo. Diferente-
mente da segunda ocorrência, em que canto passa a funcionar como um verbo. 
Nesse caso, o que deve ser considerado é a relação sintagmática. Ou seja, a 
Morfemas6
combinação com outros termos na frase ou no sintagma. Lembre-se de que 
qualquer forma pode desempenhar função substantiva. Por exemplo: não gosto 
do cantar acelerado que ela força. Nesse caso, cantar desempenha função de 
substantivo. Isso é possível de ser concluído pela relação sintagmática que a 
expressão expressa na aproximação com os outros sintagmas.
Para Saussure (2006), o sintagma se compõe sempre de duas ou mais 
unidades consecutivas: re-ler; contra todos; a vida humana. Ou seja, as 
relações sintagmáticas estão baseadas no caráter linear do signo linguístico. 
Nesse entendimento, excluímos a possibilidade de pronunciar dois elementos 
da frase ao mesmo tempo. Os termos se sucedem, um após o outro, de forma 
linear. Isso são os sintagmas. Na cadeia sintagmática, um termo passa a ter 
valor a partir do contraste com os outros; ou aqueles que antecedem ou aqueles 
precedem. Em alguns casos, ocorre com ambos. Tudo isso devido ao caráter 
linear dos sintagmas. Analise:
Hoje faz calor.
Não é possível pronunciar jeho faz lorca. Não há sentido na inversãolinear dos termos. Essa cadeia fônica faz com que se estabeleçam relações 
sintagmáticas entre os elementos que a compõem. A partir dessas análises, 
podemos concluir que morfemas são as menores unidades formais associadas 
e dotadas de significado. Enquanto os sintagmas são as sequências hierarqui-
zadas de elementos linguísticos, os quais compõem uma unidade na sentença; 
linearmente e na cadeia da fala. Dessa forma, a noção de sintagma se aplica 
para além da palavra. A noção de sintagma se aplica aos grupos de palavras 
e também às unidades complexas (palavras compostas, derivadas, frases 
inteiras, etc). As relações sintagmáticas existem em todos os planos da língua: 
fônico, mórfico e sintático. 
Portanto, tenha em mente: morfemas são apenas as menores unidades da 
forma das palavras; sintagmas, no entanto, são todas e quaisquer combinações 
de unidades linguísticas na sequência de sons da fala, a serviço da forma (rede 
de relações + componente semântico) de determinada língua.
Os morfemas são caracterizados, então, por um ou mais fonemas, mas 
diferentemente destes últimos, apresentam significado. Os fonemas isolados 
não apresentam significado. Observe:
/m/ /a/ /r/ /i/ /s/ 
7Morfemas
Isolados, esses fonemas não fazem sentido. Mas, quando combinados, 
constituem unidades mínimas de significado. Veja:
[mar]
[mais]
[mas]
Por fim, podemos afirmar que os morfemas são caracterizados como:
 � elementos mínimos das emissões linguísticas com significado individual;
 � unidade mínima em um sistema de expressões que pode ser correla-
cionada com alguma parte do conteúdo;
 � as menores unidades significativas que podem construir vocábulos ou 
parte deles;
 � a menor parte indivisível da palavra que tem uma relação direta ou 
indireta com a estrutura de significação.
BECHARA, E. Gramática escolar da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.
ROCHA, L. C. A. Estruturas morfológicas do português. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998. 
SAUSSURE, F. Curso de línguística geral. São Paulo: Cultrix, 2006.
Leituras recomendadas
CAMARA JUNIOR, J. M. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. 
CARVALHO, C. Para compreender Saussure: fundamentos e visão crítica. Petrópolis, RJ: 
Vozes, 2003. 
MARGOTTI, F. W.; MARGOTTI, R. C. M. F. Morfologia do português. Florianópolis: LLV/
CCE/UFSC, 2011.
Morfemas8
Conteúdo:
MORFOSSINTAXE
Nádia Castro 
Noção de sintagma e 
tipos de sintagmas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Identificar os fatos sintáticos em língua portuguesa e suas funções.
 � Examinar a estrutura sintática do português como fator de construção 
da gramaticalidade.
 � Classificar os sintagmas através de sua composição.
Introdução
Neste capítulo, você vai aprofundar seus conhecimentos sobre aspectos 
da morfossintaxe. Você vai identificar os fatos sintáticos em língua portu-
guesa e suas funções; vai examinar a estrutura sintática desta língua como 
fator de construção da gramaticalidade e também vai conhecer de que 
forma é possível classificar os sintagmas por meio de sua composição.
O objetivo principal deste capítulo é apresentar os fatos sintáticos da 
língua portuguesa, descritos e analisados de acordo com os pressupostos 
da abordagem tradicional da gramática. A sintaxe é um estudo complexo, 
desenvolvido em diversas etapas. Conhecer cada uma delas é importante 
para a compreensão precisa destes saberes.
A importância desse estudo, em seu caráter descritivo normativo, 
está centrada na observação da língua em uso, ou seja, a partir deste 
tipo de prática é possível promover reflexão sobre os usos reais que o 
falante faz da língua. 
Fatos sintáticos e suas funções
A linguística interpretada como ciência é fundamental para a compreensão 
da natureza e do funcionamento da linguagem humana. A análise sintática 
como tal continua gerando receio para os alunos, muito ainda por causa da 
forma como ela é abordada na escola. 
O primeiro passo para desfazer o mito da análise sintática é compreender 
que sintaxe (do grego syntaxis) significa ordem e disposição. Dessa forma, 
corresponde a um nível (entre outros) de análise da língua. O objetivo desse 
nível de análise é o de descrever as regras responsáveis pela formação das 
sentenças. Portanto, estamos tratando de uma das ramificações da linguística. 
Entre elas, têm-se fonética, fonologia, morfologia e semântica. Cada uma delas 
possui especificidades de análise bem detalhadas, mas com alguns pontos que 
se aproximam e colaboram entre si para explicar certos apontamentos. Assim, 
podemos afirmar que elas tratam de níveis que trabalham em conjunto, mas 
que cada uma representa um nível de análise específico.
A sintaxe, no entanto, se dedica à compreensão da forma de organização 
e de funcionamento das estruturas e os diversos fenômenos gramaticais. Esta 
ramificação da linguística investiga o funcionamento interno da língua, pois 
ela é responsável pela formação das sentenças. É pelas regras da sintaxe que 
se determina a possibilidade e a impossibilidade de determinadas sentenças. 
Por exemplo:
1. No Rio de Janeiro há praias lindas.
2. Praias Rio de Janeiro há lindas no.
Quando realizada a leitura das sentenças, identificamos que a primeira é 
compreensível e a segunda não o é. Neste caso, o nível sintático é o responsável 
por determinar essas regras. Sintaticamente, a construção do exemplo 1 está 
correta e a do exemplo 2 está errada, pois a ordem das palavras não está de 
acordo com o que há de descrição sintática na gramática, segundo a qual a 
ordem para as palavras nas sentenças deve cumprir certas exigências. 
Evidentemente, em contextos específicos, a inversão (como observamos 
no exemplo 2) pode ser realizada como, por exemplo, em um teatro, em uma 
fábula, em um jogo de palavras e frases etc. Entretanto, do ponto de vista da 
gramática tradicional, esta construção apresenta erro sintático ainda que, fo-
nologicamente, sejamos capazes de reconhecer as palavras e, semanticamente, 
identificarmos os significados. 
Noção de sintagma e tipos de sintagmas2
É por meio da análise sintática que podemos explicar, por exemplo, as 
seguintes estruturas:
1. Maria comprou um caderno novo.
2. Um caderno novo, Maria comprou.
3. Comprou um caderno novo, Maria.
4. Comprou, Maria, um caderno novo.
A primeira construção é reconhecida de forma imediata, uma vez que 
está na ordem direta: sujeito + verbo + complemento. Certo? No entanto, as 
outras estruturas são compreensíveis da mesma forma e, inclusive, exigem 
certa pontuação (uso das vírgulas) para que se mantenham gramaticalmente 
corretas. As sentenças 2, 3 e 4 estão em ordem indireta, mas elas se mantêm 
corretas, do ponto de vista da análise sintática. Mas e por que isso acontece? 
Porque há aplicação de regras que possibilitam a formação de algumas unida-
des, limitando a relação entre elas. Observe que em um caderno novo existe 
relação de ordem obrigatória entre as três palavras, pois elas ocorrem sempre 
juntas e na mesma ordem: artigo + substantivo + adjetivo. A ordem é alterada 
nas quatro estruturas, mas essa unidade permanece intacta. Da mesma forma, 
entre Maria e comprar há relação de proximidade obrigatória, não é mesmo? 
Exatamente, e podemos observar essa relação pela própria conjugação que 
o sujeito (Maria) exige do verbo (comprar). A concordância verbal evidencia 
essa questão. Observe:
1. Maria comprou um livro.
2. Maria e João compraram um livro.
A ordem é importante e pode modificar o sentido das frases. Você pode 
estar se perguntando como isso pode ocorrer. Observe esses dois exemplos:
1. O gato correu atrás do rato.
2. O rato correu atrás do gato.
As duas sentenças são compostas pelas mesmas classes de palavras (artigo 
+ substantivo + verbo + advérbio + preposição + substantivo) e apresentam 
estrutura sintática igual (sujeito + predicado), mas você reconhece que elas 
não significam a mesma coisa não é mesmo? Exato, a mudança de posiçãodas palavras gato e rato alterou o significado das frases. Podemos concluir 
3Noção de sintagma e tipos de sintagmas
que, alterando a ordem dos elementos que compõem as frases, neste caso, 
modificamos a interpretação da sentença. 
O que você pôde ver até aqui é que a sentença é o objeto de estudo da 
sintaxe. Mas fique sabendo que há unidades menores que também fazem parte 
dessa análise. Essas unidades, no contexto da análise sintática, são chamadas 
de sintagmas. 
Não confunda erro e acerto, no contexto da análise sintática, com as estruturas pro-
duzidas pelos falantes de uma língua. Certo e errado na produção oral dos falantes é 
diferente! Ficou com dúvida? Analise as frases a seguir:
1. Ontem, Jonas viu Ana.
2. Ontem, Jonas a viu.
3. Ontem, Jonas viu ela.
Com base na gramática normativa, a sentença 3 está errada, enquanto 1 e 2 estão 
corretas. Mas isso apenas com relação ao caráter normativo da gramática, pois a sen-
tença 3 é recorrente entre os falantes e possibilita sucesso no processo de comunicação.
Estrutura sintática e gramaticalidade
As reflexões anteriores evidenciam que a estrutura sintática da Língua Por-
tuguesa é fator de construção da gramaticalidade. Pois bem, Chomsky (1975) 
defende a noção da existência da dicotomia competência X desempenho. Para 
o autor, competência tem relação direta com os conhecimentos internalizados 
que os falantes têm de suas línguas. É essa competência que se manifesta a 
partir do desempenho; ou seja, a partir do uso concreto e particular de cada um 
dos indivíduos de acordo com as exigências das situações de fala. Considere 
a fala de crianças:
1. Eu volti da escolinha.
2. Escolinha da volti eu.
3. Eu tomi a água.
4. Eu água tomi a.
Noção de sintagma e tipos de sintagmas4
Contemplando a gramaticalidade, ou seja, em relação às regras gramaticais, 
e a agramaticalidade (não respeito às regras da gramática de determinado 
sistema linguístico), as sentenças anteriores podem ser analisadas. Porém, não 
confunda os dois conceitos anteriores com “certo” e “errado” da gramática 
normativa. Com relação aos exemplos anteriores, devemos questionar: o 
que motiva as crianças a produzir 1 e 3, mas a não externalizar 2 e 3? Com 
base na teoria da língua, as crianças reconhecem, de forma intuitiva, que 
2 e 3 não estão de acordo com os princípios da gramaticalidade da língua. 
Uma vez que essa ordem de palavras não está presente no mundo de forma 
significativa. Ou seja, a criança reconhece que a ordem dos elementos altera 
o significado, portanto, obedece à ordenação sintática. Mas elas conhecem as 
regras sintáticas? A partir da teoria é evidente que elas não conhecem, mas 
pelo uso que os adultos fazem, elas identificam que há estruturas que ordenam 
adequadamente os elementos que compõem as frases. 
Chomsky (1975) nos apresenta uma frase para entender a gramaticalidade 
na prática:
Incolores ideias verdes dormem furiosamente.
Esta sentença é gramatical do ponto de vista da ordenação dos elementos, 
pois tem-se a ordem básica sujeito + verbo + advérbio. Mas, a frase só é possível 
em um mundo imaginário (plano conotativo). No plano denotativo (mundo 
real) ela não faz sentido. Na frase, ideias não podem ser verdes e incolores 
ao mesmo tempo, por exemplo. Dessa forma, esse conjunto de palavras só é 
frase por causa da estrutura gramatical, mas, com relação à mensagem (fim 
de comunicação), esta mesma frase só pode ser mensagem em um plano me-
tafórico. Concluímos, portanto, que clareza (inteligibilidade) é uma condição 
necessária para que exista gramaticalidade. 
A ideia de gramaticalidade não é interpretada de maneira uniforme entre os falantes de 
determinada língua. Um indivíduo pode considerar como gramatical algo agramatical 
para outro. Portanto, o julgamento que se faz das estruturas depende do ponto de 
vista e do contexto em que ocorrem.
5Noção de sintagma e tipos de sintagmas
Podemos concluir que há certas propriedades já conhecidas pelas crianças, 
as quais são acionadas durante o processo de aquisição da linguagem. Nos 
exemplos citados, percebemos que as crianças identificam que os itens lexicais 
voltar e tomar podem ser flexionados e ocupam certa posição nas frases. Com 
o processo de desenvolvimento da linguagem, os indivíduos passam por um 
processo de maturação da língua e passam a incorporar novos modelos de 
regras, de forma a aperfeiçoar o uso da língua em todas as suas possibilidades. 
Dessa forma, a criança, com o tempo, observa e avalia as diversas com-
binações de regras e depois escolhe o que considera melhor para obter a sua 
intenção de comunicação. Assim, a partir da observação a criança reconhece 
as irregularidades e as regularidades do sistema linguístico e com o tempo 
vai se aproximando da fala dos adultos, fazendo uso daquelas estruturas que 
considera como gramaticais e reduzindo, gradativamente, aquelas que são 
agramaticais. Observamos que, com o tempo, a criança amplia e internaliza 
regras de estruturação sintática das sentenças em língua portuguesa.
Os sintagmas e suas composições
Outro item importante em análise sintática considera a compreensão e a 
classificação dos sintagmas por meio de sua composição. No que se refere aos 
sintagmas é necessário compreender que o eixo sintagmático compreende as 
combinações, ou seja, é na cadeia sintagmática que as palavras têm as funções 
determinadas, por meio do contraste estabelecido entre os elementos, sejam 
eles antecessores ou sucessores. Observe na prática:
1. O cachorro correu atrás do gato.
2. O gato comeu o rato.
3. Jarbas é um gato. 
No eixo paradigmático, palavras como gato, rato, homem, cadeira, entre 
outras tantas, têm propriedades em comum, uma vez que todas são substan-
tivos. Certo? No eixo paradigmático, encontramos um conjunto de unidades 
que podem ser suscetíveis de aparecer em diferentes contextos. Agora, no 
eixo sintagmático, quando selecionamos uma dessas palavras, como gato, por 
exemplo, é que se tem estabelecida a função. É na cadeia sintagmática, ou seja, 
relação com outros sintagmas da frase que definimos qual será a função da 
Noção de sintagma e tipos de sintagmas6
palavra. Retomando os três exemplos anteriores, analise a função da palavra 
gato em cada uma das três construções. Percebeu? 
Exatamente, na primeira sentença (o cachorro correu atrás do gato), gato 
desempenha função de objeto, pois está posicionado depois do verbo. Agora, 
na estrutura da segunda sentença (o gato comeu o rato), o sintagma gato passa 
a desempenhar papel de sujeito; ou seja, formando unidade com o artigo o e 
antecedendo o verbo, ele passa a ter função de sujeito. No último exemplo (3), 
em conjunto com o artigo um, gato passa a desempenhar papel de predicativo 
(observe a presença do verbo de ligação ser). 
Isolado, o sintagma gato pode desempenhar diferentes funções. É apenas na 
relação sintagmática, ou seja, com a ordem/posição que ocupa nas sentenças, 
que é possível definir a função exata deste e de cada um dos sintagmas que 
compõem as sentenças. 
Partindo desse pressuposto, podemos inferir que os falantes de determinada 
língua, a partir da oposição entre as relações paradigmáticas e sintagmáticas 
e a forma como estas se correlacionam, produzem material linguístico (sin-
tagmas, frases, enunciados). Assim, o falante tem consciência de que forma 
são construídas as sentenças. Primeiro, ele recorre ao eixo paradigmático 
(disponibilidade das palavras conforme as propriedades que são inerentes a 
elas) e depois parte para o eixo sintagmático (ordem das palavras nas sentenças 
para representar a função adequada).
Outra inferência que você precisa realizar, a partir dessa reflexão, é a dife-
rença entre classe e função. Exatamente! Há diferença entre elas! Lembra-se 
palavra gato nos exemplos listados acima? Ela pertence à classe de palavras 
denominada substantivo, mas pode desempenhar função diferente em outro 
contexto. Gato pode ser um adjetivo, como exemplificado na terceira frase. 
Portanto, não confunda classe comfunção e lembre-se de que classe pode 
adquirir outra função em outro contexto. Ou seja, o contexto é determinante 
para a noção de função e não de classe. 
O contexto é determinante para a noção de função, não de classe!
7Noção de sintagma e tipos de sintagmas
Composição dos sintagmas
Os sintagmas, então, apresentam certa composição. Primeiramente, lembre-
-se de que os sintagmas designam dois elementos consecutivos. Um deles é 
determinado (principal) e o outro é determinante (subordinado). Na composição 
do sintagma o gato, o elemento determinante é o artigo o (subordinado) e gato 
é o elemento determinado (principal). 
No sintagma básico, seguindo nessa lógica, há presença de sujeito e do 
predicado, sendo que o elemento determinado é o verbo e o determinante é o 
sujeito. Podemos concluir que sintagma é a combinação das formas mínimas 
de uma unidade linguística, a qual é percebível pela linearidade do signo. 
Assim, excluímos a possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo 
tempo, porque um termo só passa a ter função (e valor) a partir do instante 
em que ele estabelece relação com os outros elementos da frase.
De acordo com Saussure (2006), é possível abranger diferentes tipos de 
construções, ainda que exista certa hierarquia entre elas. Observe:
 � Sintagma morfossintático: consiste na combinação dos morfemas em 
uma palavra. Exemplos: re-fa-zer, chá-l-eira.
 � Sintagma suboracional: consiste na combinação das palavras que 
formam um membro oracional. Exemplos: bom dia, leite magro.
 � Sintagma oracional: composto por membros oracionais. Exemplo: 
A vida é bela.
 � Sintagma superoracional: composto por orações. Exemplo: Se fizer 
bom tempo, vou sair.
Assim, os elementos se alinham um após o outro, tanto na fala quanto na 
escrita, e tais combinações, apoiadas na extensão, são chamadas de sintagmas. 
Por fim, indicamos que os sintagmas são compostos de duas ou mais unida-
des consecutivas. A relação sintagmática, portanto, só existe com presença. 
Apenas na presença efetiva que um termo adquire valor, pois é na oposição 
entre os elementos que precedem e que seguem, ou ambos, que o sintagma 
exerce o seu papel.
Noção de sintagma e tipos de sintagmas8
Observe os exemplos de sintagmas como composição de unidades consecutivas:
 � Rever: re-ver (e não ver-re, a inversão das unidades consecutivas faz com que ela 
deixe de ter sentido, portanto, a ordem dos elementos é fundamental).
 � Contra tudo (tudo contra até pode ser aceito, depende do contexto).
 � A vida humana (Humana vida a: esta ordem não faz sentido).
 � Se o tempo estiver bom, sairemos para passear (Passear para estiver bom se o 
sairemos tempo: esta ordem não faz sentido).
CHOMSKY, N. Aspectos da teoria da sintaxe. Coimbra: Arménio Amado, 1975.
SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 2006.
Leituras recomendadas
BECHARA, E. Gramática escolar da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.
CAMARA JUNIOR, J. M. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. 
CARVALHO, C. Para compreender Saussure: fundamentos e visão crítica. Petrópolis, RJ: 
Vozes, 2003. 
9Noção de sintagma e tipos de sintagmas
Conteúdo:
MORFOSSINTAXE
Nádia Castro
Palavras e sintagmas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Descrever itens lexicais e seus aspectos na análise morfossintática.
 � Reconhecer os mecanismos mórficos ou sintáticos para a identificação 
das palavras em classes.
 � Identificar as características do sintagma nominal e do sintagma verbal.
Introdução
A partir da leitura deste capítulo, você compreenderá alguns aspectos 
da morfossintaxe. Vamos tratar do léxico da língua portuguesa, com 
o objetivo de ampliar os conhecimentos sobre as características e as 
propriedades de cada palavra. Observaremos o conjunto arbitrário de 
palavras e conheceremos a relação que se estabelece entre palavras 
e sintagmas, analisando o que isso significa para o funcionamento da 
língua portuguesa.
Os objetivos do capítulo estão centrados na descrição dos itens le-
xicais e nos aspectos que eles englobam na análise morfossintática; na 
demonstração dos mecanismos mórficos ou sintáticos para a identifica-
ção das palavras em classes; e, por último, no exame das características 
do sintagma nominal e do sintagma verbal.
Itens lexicais na análise morfossintática
Segundo Basílio (2004), o léxico apresenta certo teor de regularidade e é 
elemento fundamental da organização linguística da língua, seja do ponto de 
vista semântico ou gramatical. O conhecimento lexical permite analisar certas 
estruturas da língua, seja em uma abordagem textual ou mesmo estilística. 
O que ocorre é que os diferentes processos de derivação, de mudança e de 
extensão das classes das palavras são traduzidos em estruturas morfológicas 
lexicais. É por essa característica que se destaca a relevância do conhecimento 
dos itens lexicais e de seus aspectos no contexto da análise morfossintática. 
Primeiramente, é preciso saber que existe uma vasta possibilidade de 
nomenclatura. De acordo com diferentes estudiosos, é possível encontrar 
semelhanças e diferenças na classificação das palavras, dos vocábulos, dos 
lexemas, das unidades ou itens lexicais. Neste capítulo, o foco se manterá na 
compreensão da palavra, dos itens lexicais e dos sintagmas.
Vamos iniciar com os itens lexicais. Você sabe o que é um item lexical?
A língua existe para que possamos nos comunicar. Logo, é necessário 
identificar as coisas sobre as quais queremos falar. Assim, é possível designar 
pessoas, lugares, objetos, etc. Identificamos a língua como um sistema de 
classificação e de comunicação. Nesse contexto, o papel do léxico apresenta 
dupla função para língua: ele é um banco de dados com uma classificação 
prévia que fornece unidades básicas para que o falante construa enunciados 
(BASÍLIO, 2004). Assim sendo, o léxico categoriza aquelas coisas sobre as 
quais falamos, fornecendo unidades de designação denominadas palavras. A 
palavra, portanto, desempenha papel fundamental no processo de comuni-
cação, pois possibilita identificação, categorização e nomeação da realidade 
que cerca os falantes. É assim que os indivíduos geram o léxico de sua língua.
Consideremos, agora, a seguinte questão: o que é palavra e o que é léxico?
Compreendemos a palavra como unidade de designação utilizada para a 
construção de enunciados. No entanto, um conjunto fechado dessas unidades 
não é suficiente para uma língua. Observe, por exemplo, as palavras que são 
incorporadas ao cotidiano de fala dos indivíduos de determinada língua. Esse 
sistema não é estático, ampliamos as unidades de designação, pois temos 
necessidade de classificar situações, objetos e pessoas de formas não antes 
feitas. Por esse motivo, produzimos (e reproduzimos) novas denominações. 
Precisamos de um sistema dinâmico, que seja capaz de se expandir e de se 
moldar conforme às necessidades dos falantes. Por exemplo, o léxico oferece 
as unidades de designação, como global; a partir delas, elaboramos novos 
itens lexicais, tal como globalização.
O léxico não se limita a um conjunto fechado de palavras. Ele é dinâmico e 
apresenta estruturas que podem ser utilizadas para sua expansão. Dito de outro 
modo, o léxico é mais do que palavra. No léxico, estão as estruturas e os processos 
de formação de palavras que possibilitam a formação de novas unidades lexicais 
e, por conseguinte, permitem a aquisição de palavras novas para os falantes.
Não devemos confundir item lexical com palavra: o primeiro faz referência 
aos itens que estão armazenados na memória do falante; o segundo nomeia o 
Palavras e sintagmas2
termo que é utilizado de acordo com a teoria gramatical. Assim sendo, existe 
o léxico externo e o interno, conforme delimita Basílio (2004). Como conjunto 
de palavras, temos o léxico externo, ou seja, aquele grupo que se verifica 
nos enunciados dos falantes. O conjunto interno, ou mental, correspondeàs 
palavras conhecidas pelo falante e também aos padrões gerais de estruturação 
para interpretação e produção de novas formas. Para a análise morfossintática, 
essa diferenciação é importante. Interpretamos palavra como categoria mais 
genérica. Item lexical, no entanto, deve ser percebido como unidade de nome-
ação de verbos e substantivos e outros, ou seja, como unidade semanticamente 
registrada no léxico de uma língua, com potencial de combinação com outros 
elementos afixais para formação de outras unidades ou sintagmas.
A utilização do termo unidade lexical refere-se a itens com uma sequência fonológica 
e morfológica com significado intrínseco. Dessa forma, considere a indivisibilidade 
do termo.
Para a análise morfossintática, a normalização dos itens lexicais é impres-
cindível, pois esse é o processo que reduz as variações de uma palavra para sua 
forma única. Os componentes formadores de palavras são o radical e os afixos. 
O radical é o elemento básico, enquanto os afixos podem ser incorporados 
às palavras para formar outras. Esses processos afetam significativamente 
a palavra original; podem, inclusive, alterar a sua categoria morfológica. 
Observe o exemplo a seguir:
 � Casa
 � Casebre
 � Casinha
 � Casarão
Nestes exemplos, cas- (cas-a; cas-ebre; cas-inha e cas-arão) é o elemento 
que faz referência ao mundo extralinguístico. Esse é o radical que faz parte de 
todas as palavras e é a significação desse radical que é denominada de lexical. 
Ou seja, a formação de palavras, nesse caso, é chamada de formação lexical. 
3Palavras e sintagmas
Mecanismos mórficos ou sintáticos para a 
identificação das palavras em classes 
Classes de palavras são conjuntos abertos de palavras, os quais podem ser defi-
nidos a partir das propriedades ou funções semânticas e gramaticais. Conhecer 
as classes de palavras é fundamental para a compreensão do funcionamento 
de uma língua, pois elas expressam as propriedades gerais das palavras. De 
fato, só é possível descrever os mecanismos gramaticais mais óbvios, como a 
concordância de gênero e número do artigo com o substantivo, se soubermos 
determinar qual palavra pertence a cada classe.
De acordo com a gramática tradicional, podemos classificar as palavras de 
diversas maneiras. É possível indicar uma classificação conforme acentuação 
(átonas ou tônicas) por exemplo. Entretanto, o que está convencionado como 
classe de palavras (ou categorias lexicais) corresponde a uma classificação 
mais específica, a qual está relacionada com critérios semânticos ou grama-
ticais de análise.
Classes de palavras são necessárias para a descrição gramatical.
Existe um critério ou um conjunto de critérios de classificação de palavras? 
Existem divergências quanto a isso, mas, neste momento, é relevante pensar 
nos critérios, uma vez que as classes de palavras são importantes para a 
descrição gramatical. Dessa forma, pense na definição apenas semântica do 
substantivo, sobre como ele se comportam nos enunciados. Esse critério daria 
conta da explicação? Não. A posição de ocorrência das palavras na elaboração 
dos enunciados é essencial para descrição gramatical. Desse modo, apenas o 
critério semântico não basta para a descrição gramatical. 
A definição sintática do substantivo como núcleo do sujeito, agente da 
passiva ou objeto indica posições estruturais, mas não evidencia as proprie-
dades de concordância do substantivo em relação ao adjetivo, por exemplo. 
Do mesmo modo, a definição sintática ou semântica do verbo não evidencia 
as necessidades das várias formas verbais que expressam tempo, modo, nú-
mero e pessoa. Portanto, conclui-se que os propósitos de descrição gramatical 
Palavras e sintagmas4
exigem das classes de palavras uma definição com diversos critérios. Assim 
sendo, para efeitos da descrição gramatical, as classes de palavras devem ser 
definidas simultaneamente por critérios morfológicos, sintáticos e semânticos.
Principais categorias lexicais
Como elementos do léxico, as classes de palavras podem ser denominadas 
categorias lexicais. Segundo Basílio (2006), as classes de palavras que estão 
envolvidas em processos de formação de palavras são as seguintes:
 � Substantivos
 � Adjetivos
 � Verbos
 � Advérbios
A primeira classe de palavras, substantivos, é definida pela propriedade 
semântica de designação de seres ou entidades; pela propriedade morfológica 
de determinação de gênero e número; e, por fim, pela propriedade sintática 
de ocupar a posição de núcleo do sujeito ou complemento. 
A classe dos adjetivos é definida pela propriedade de caracterização ou 
qualificação, sobretudo dos seres designados pelos substantivos. Os verbos, 
como classe de palavras, representam relações no tempo e têm a função de 
predicação com flexões de tempo e modo. Por último, a classe dos advérbios 
representa aquela composta de palavras invariáveis com função de modificar 
os verbos, os adjetivos e outros advérbios e enunciados.
As classes de palavras (ou categoria lexicais) são a base para a descrição 
dos processos de formação de palavras. Por exemplo, a adição do sufixo 
-dade a um adjetivo forma um substantivo: no caso do adjetivo leal, por meio 
da adição do sufixo -dade, temos o substantivo lealdade. Assim, podemos 
constatar que a definição de classes de palavras deve seguir os requisitos da 
descrição gramatical, bem como aqueles requisitos relacionados ao processo 
de formação de palavras. 
Quando afirmamos que o sufixo -ção é adicionado aos verbos para a for-
mação de substantivos, não se afirma apenas que ele se acrescenta a palavras 
que ocupam o núcleo do predicado para formação de palavras que ocupam o 
núcleo do sintagma nominal; na verdade, consideramos que palavras a que -ção 
é aplicável designam eventos e situações que estão representadas no tempo 
e apresentam flexão de tempo/modo/aspecto e número-pessoa. Portanto, as 
palavras produzidas designam eventos e situações sem a marca de represen-
5Palavras e sintagmas
tação no tempo, sem flexão e com a propriedade de acionar os mecanismos 
de concordância tanto de gênero quanto de número.
Sintagma nominal e sintagma verbal
Sintagma é um termo utilizado para designar dois elementos consecutivos. Um 
deles é o determinado (principal) e o outro é o determinante (subordinado). 
Quem introduziu este termo foi Ferdinand de Saussure (2006). Por exemplo, em 
um sintagma básico, composto de sujeito e predicado, o elemento determinado 
é o verbo; o determinante, o sujeito.
O que o sintagma identifica é a impossibilidade de dois termos serem 
pronunciados ao mesmo tempo, ou seja, existe linearidade na expressão do 
signo. Além disso, um termo apenas passa a ter valor depois de ser contrastado 
com outro.
O sintagma, portanto, trata da combinação de formas mínimas em unidades 
linguísticas superiores. O que existe, em essência, é reciprocidade, coexistência 
e solidariedade entre os elementos presentes na fala. Essa relação é sintagmática 
e concebe o sintagma no plano mórfico e sintático. Dentro desse contexto, 
identifica-se uma subdivisão dos sintagmas, de acordo com o núcleo que os 
compõem. Os tipos de sintagma são: nominal, verbal, adjetival, adverbial e 
preposicional.
Neste momento, vamos centralizar nosso estudo em apenas dois tipos: 
nominal e verbal.
Sintagma nominal
De acordo com Mioto, Silva e Lopes (2005), o sintagma nominal é composto, 
obrigatoriamente, por um nome, seguido de seus determinantes. Esses deter-
minantes podem ser pronomes ou palavras que, em suas origens, pertenciam a 
determinadas classes lexicais, mas que, a partir da recategorização, passaram 
a desempenhar o papel de nomes. 
O núcleo, portanto, pode ser combinado com outros elementos, como 
complementos (a conquista da batalha), modificadores (o vestido azul) e 
também especificadores, que podem ser definidos pelos determinantes e pelos 
quantificadores (muitas balas). Portanto, as funções sintáticas que o sintagma 
nominal pode representar são: sujeito, predicativo, objeto direto, indiretoe 
oblíquo (nominal e verbal), aposto, adjunto adverbial e vocativo.
Palavras e sintagmas6
No caso de o sintagma nominal apresentar apenas um especificador, este 
ocorrerá na posição inicial do sintagma (esta aluna, muitos estudantes, etc.). 
Por outro lado, quando o especificador for um quantificador não determinante, 
este pode acorrer entre um determinante definido e o nome. Por exemplo: as 
várias amigas da Luiza. Neste caso, a posição é intermediária.
Assim sendo, os quantificadores todos e ambos, quando iniciando sintagma 
nominal, não podem preceder diretamente um nome sem a presença de um 
determinante. Por exemplo: todas as ruas, ambas as ruas. Para confirmar essa 
afirmação, pense na possibilidade da estrutura: todas casas e ambas casas. 
Essas duas construções são agramaticais. No entanto, estes quantificadores 
podem ocorrer na posição pós-verbal. Observe os exemplos de substituição:
Todos os carros eram vermelhos → Os carros eram todos vermelhos.
Ambas as meninas comeram doces → As meninas comeram ambas os 
doces.
Com relação à função sintática exercida pelo sintagma nominal, no con-
texto da oração, temos, na maioria dos casos, sujeito e complementos verbais 
da oração. Analise o exemplo e as funções desempenhadas pelos sintagmas 
nominais:
Os estudantes escreveram um texto.
Neste exemplo, são registrados dois sintagmas nominais: um na função 
de sujeito e outro na função de objeto (complemento direto). Primeiramente, 
na função de sujeito temos os estudantes como núcleo; sendo que o núcleo 
está em estudantes, acompanhado do especificador os. Na função de objeto 
(complemento) direto, temos um texto. Nesse segundo sintagma nominal, o 
núcleo é texto, e o especificador determinante, um.
Sintagma verbal
O segundo tipo de sintagma é o verbal, conforme apresenta Mioto, Silva e Lopes 
(2005). Como o nome enuncia, o sintagma verbal é constituído pelo predicado 
da oração. Nesse caso, o núcleo é o próprio verbo. Observe o exemplo a seguir:
As colegas chegaram.
7Palavras e sintagmas
Nesse exemplo, o predicado é o verbo chegaram. Este representa o sintagma 
em evidência. Nesse tipo de sintagma, os elementos relacionados a ele são 
denominados argumentos do verbo, os quais podem ocorrer inclusive na forma 
de sintagma nominal, adjetival, adverbial ou preposicional. Desempenhando 
funções de predicativo (predicação secundária), de objeto (complemento) 
direto, indireto ou oblíquo (adverbial e nominal), os constituintes são exigidos 
pelo verbo. Sem esses determinantes, não há oração com sentido completo; 
tanto sintaticamente quanto semanticamente, são necessários para organização 
coerente das orações. 
Com relação aos argumentos dos verbos, eles podem ser externos (o sujeito) 
ou internos (os complementos). No entanto, nem todos os sintagmas verbais 
apresentam complemento. Os verbos intransitivos, por exemplo, são exemplos 
de sintagmas verbais desse tipo. Observe:
Chove.
Nevou.
Nesses exemplos, as frases são compostas de apenas um membro: o verbo. 
Desse modo, este é autossuficiente e não precisa de complemento para dar 
sentido. Esse tipo de sintagma verbal é denominado sintagma verbal reduzido. 
BASÍLIO, M. Formação e classes de palavras no português do Brasil. São Paulo: Contexto, 
2004. 
MIOTO, C.; SILVA, M. C. F.; LOPES, R. E. V. Novo manual de sintaxe. Florianópolis: Insular, 2005.
SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. 27. ed. São Paulo: Cultrix, 2006.
Leituras recomendadas
BECHARA, E. Gramática escolar da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fron-
teira, 2010.
CARVALHO, C. Para compreender Saussure: fundamentos e visão crítica. 12. ed. Petró-
polis: Vozes, 2003.
MARGOTTI, F. W.; MARGOTTI, R. C. M. F. Morfologia do português. Florianópolis: UFSC, 
2008.
Palavras e sintagmas8
Conteúdo:
MORFOSSINTAXE 
Nádia Castro
Processos de formação 
das palavras
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Reconhecer os processos de formação de palavras.
 � Classificar flexão, derivação e composição.
 � Identificar as contribuições da gramática descritiva como suporte para 
descrição dos fenômenos de formação de palavras no Português. 
Introdução
Neste capítulo, compreenderemos em maior profundidade alguns as-
pectos de morfossintaxe. Em especial, vamos tratar dos processos de 
formação de palavras. Esse é um tema relevante para todos aqueles 
interessados na estrutura interna das palavras e na compreensão crítica 
da língua portuguesa.
Os objetivos do texto estão centrados na classificação da flexão, da 
derivação e da composição, entendidas como processos de formação 
de palavras em língua portuguesa. Nesse contexto, será igualmente 
necessário que reflitamos sobre as contribuições da gramática descritiva, 
interpretada como suporte para descrição de tais fenômenos. 
Formação de palavras
A língua apresenta mecanismos linguísticos de funcionamento por meio dos 
quais se cria a oportunidade de formação de novas palavras. Se pensarmos 
no léxico, ou seja, naquele banco de dados de palavras que apresenta certa 
regularidade (BASÍLIO, 2004), constataremos que este conjunto fechado 
não é suficiente para a designação e a construção dos enunciados em língua 
portuguesa. Os falantes têm necessidade de identificar, classificar e nomear 
as coisas sobre as quais desejam comunicar algo. 
Na prática, é preciso um sistema dinâmico, o qual seja capaz de se expandir 
conforme são necessárias novas unidades de designação para uma construção 
plural de novos enunciados. A partir do momento em que se identificam novos 
objetos, novas práticas, novos sentimentos, entre outros, o léxico precisa ser 
ampliado para fornecer unidades de designação que sejam condizentes com 
a realidade dos falantes. Como exemplo desse processo, pensemos na palavra 
global. Hoje, fala-se em globalização, globalizar, etc. Todas essas novas pa-
lavras foram elaboradas pelas necessidades do contexto atual. Outro exemplo 
diz respeito à palavra internet. Hoje, temos o termo internetês como um 
neologismo para designar a linguagem específica utilizada no mundo virtual.
De fato, o léxico não é apenas um conjunto de palavras. Como sistêmico 
dinâmico, apresenta estruturas a serem utilizadas em sua expansão (BASÍ-
LIO, 2004). Essas estruturas, ou seja, os processos de formação de palavras, 
permitem a formação de novas unidades no léxico como um todo e, assim, a 
aquisição de novas palavras por parte de cada falante.
Entretanto, a língua, como sistema de comunicação, não pode se resumir 
apenas ao aumento do número de símbolos. Fosse assim, o falante precisaria 
decorar uma série de novos símbolos: o sistema seria ineficiente e dependeria 
da memória do falante. Na realidade, o que temos é uma expansão do léxico 
a partir de processos de formação de palavras. 
Flexão, derivação e composição
A língua apresenta alguns mecanismos linguísticos por meio dos quais se 
formam novas palavras. Vamos conhecer a flexão, a derivação e a composição 
de palavras em língua portuguesa. Destacamos que o componente lexical 
de uma gramática, conforme Scalise (1994), é organizado em três blocos de 
regras. São eles: regras de composição, regras de derivação e regras de flexão.
Flexão
A primeira informação considerar é que, no processo de flexão, são conside-
rados o gênero, o número e o grau dos nomes e a pessoa, o número, o tempo 
e o modo dos verbos. Segundo Câmara Jr. (2001), os morfemas flexionais 
apresentam-se de maneira regular e sistemática. Portanto, vamos analisar o 
que acontece com a flexão nominal e verbal.
Processos de formação das palavras2
Nos casos de flexão, lembre-se:
 � Há regularidade.
 � Há concordância.
 � Não é opcional.
As desinências, ou morfemas flexionais, constituem classe fechada, obri-
gatória, e representam as noções gramaticais de gênero, número, modo, tempo 
e pessoa. Dessa forma, as classes de vocábulos que podem ser submetidos aos 
processos de flexão são os nomes e os verbos. Esses dois grupos de vocábulossão variáveis e englobam substantivos, adjetivos, pronomes, artigos, numerais 
e verbos.
Segundo Margotti e Margotti (2008), podemos classificar as desinências 
nominais em: 
 � desinência de gênero (masculino e feminino);
 � desinências de número (singular e plural). 
Já as desinências verbais classificam-se em: desinências modo-temporais 
(tempo e modo do verbo) e desinências de número e de pessoa. Para entender 
melhor, observe a Figura 1.
Figura 1. Flexão nominal e verbal.
Fonte: Adaptada de Margotti (2008).
Flexão
De nomes e
pronomes
De verbos
De gênero
De número
De modo e tempo
De número e pessoa
Masculino
Feminino
Singular
Plural
3Processos de formação das palavras
No processo de flexão, há regularidade, pois o nível sintático impõe normas 
de concordância. Os vocábulos subordinados devem concordar em gênero e 
número. Por exemplo, em uma estrutura em que há presença de vocábulos 
subordinados a um substantivo, eles deverão concordar com este em gênero 
e número. O mesmo ocorre com a presença do verbo em um enunciado: ele 
exige flexão de pessoa e número. 
O número do substantivo evidencia a regularidade. Por exemplo: menino, 
meninos; garoto, garotos. Dessa forma, o número do substantivo deve ser 
considerado como flexão. O gênero é indicado por critério sintático. Nos casos 
dos substantivos como livro, caneta, dente, o masculino e o feminino são 
determinados pelos anexos determinantes flexionais. Observe:
O livro.
Aquela caneta.
Este dente cariado.
Mais detalhadamente, o nome pode ser formado por um morfema, ou seja, 
uma raiz, mas também pode ser ampliado por meio de morfemas flexionais 
(desinências de gênero e número). O número do substantivo deve ser conside-
rado como flexão, pois, emitido determinado substantivo, podemos prever seu 
plural de forma regular. Para Rocha (1998), os casos de substantivos invariáveis 
são muito reduzidos e não impactam na análise linguística (por exemplo: o 
ônibus/os ônibus; o atlas/os atlas). Com relação ao gênero, é preciso análise 
sintática para indicação. É o caso dos exemplos anteriores: livro, caneta, 
dente, pijama, tribo. Estes são femininos ou masculinos pelos determinantes 
flexionados em um dos dois gêneros.
O livro chato.
A caneta vermelha.
Aquele pijama listrado.
Em verdade, há certos substantivos em que, além de o gênero poder ser 
assinalado por um determinante, pode ser indicado por marca morfológica. 
Observe:
Aquele menino preguiçoso.
Aquela menina preguiçosa.
Um gato branco.
Uma gata branca.
Processos de formação das palavras4
Em seus estudos sobre formação de palavras, Rocha (1998) destaca que a 
quase totalidade dos substantivos em língua portuguesa não apresentam marca 
morfológica de gênero. Assim sendo, quase todos os substantivos pertencem 
a um gênero único, o qual é assinalado por um expediente sintático.
Com relação à flexão e ao gênero, lembre-se de que gênero é uma no-
ção gramatical atribuída a todos os substantivos. Por isso, temos: o lápis, o 
computador, o relógio, a caneta, a meia, a maré. Em português, podemos 
encontrar gêneros que variam, por exemplo o/a soja, o/a dinamite, o/a dia-
bete. Alguns substantivos também são indiferentes quanto ao gênero, ou seja, 
podem aparecer tanto no masculino quanto no feminino. Estes são os casos de 
o/a analista, o/a sentinela. O que vai determinar o gênero é a concordância. 
Por último, temos também aqueles substantivos que designam tanto feminino 
quanto masculino. É o caso, por exemplo, de a onça, o jacaré, a cobra.
Sobre a flexão verbal, observamos, nas gramáticas, que as noções de pes-
soa, número, tempo e modo são expressas nos verbos por meio de morfemas 
flexionais. Observe o exemplo:
Estudávamos.
Nessa ocorrência do verbo, -va- é um morfema denominado cumulativo, pois 
ele indica tempo e modo. A desinência -mos também é cumulativa e expressa 
noções de pessoa e de número. Seguindo a mesma lógica, e os preceitos de 
Câmara Júnior (2001), esses dois elementos (-va- e -mos) são classificados 
como morfemas flexionais, pois as desinências modo-temporais e número-
-pessoais apresentam regularidade e sistematização: quando enunciado o 
verbo, podemos constatar sua existência com marcas variadas de pessoa, 
número, tempo e modo. 
Com relação aos verbos, é necessário compreender que existem paradigmas 
distintos:
 � Primeira conjugação: cant-a-r; salt-a-r; grit-a-r.
 � Segunda conjugação: desc-e-r; corr-e-r; perd-e-r.
 � Terceira conjugação: dirig-i-r; sum-i-r; ped-i-r.
Portanto, as desinências verbais, conforme o que foi anteriormente explici-
tado, são cumulativas. Assim sendo, as desinências modo-temporais expressam 
modo e tempo dos verbos; enquanto as desinências número-pessoais indicam, 
respectivamente, número e pessoa. Observe o exemplo:
5Processos de formação das palavras
Infinitivo impessoal: cant-a-r
Primeira pessoa do plural: cant-á-va-mos
Quando utilizamos o recurso da comparação, percebemos de forma di-
reta que cantavam é segmentado da seguinte forma: cant–a–va–m. Desse 
modo, cant é radical, a é vogal temática, va é desinência modo-temporal e 
m é desinência número-pessoal. Portanto, quanto à flexão, todos os tempos e 
modos verbais apresentam desinências modo-temporais e desinências número-
-pessoais. São exceções apenas os tempos infinitivo impessoal, particípio 
e gerúndio; para estes, não há ocorrência de desinências número-pessoais.
Derivação
Com relação à derivação, é preciso considerar os casos em que são utilizados 
os sufixos derivacionais, ou apenas sufixos, como processo de formação de 
novas palavras e ampliação do léxico. Por exemplo: formiga, formigueiro; 
paquerar, paquerador. Nos processos de formação de novos vocábulos por 
derivação, os falantes têm liberdade, sem imposição gramatical. Utilizam-se 
prefixos e sufixos para formação de novos vocábulos.
Nos casos de derivação, lembre-se:
 � Há irregularidade.
 � Não há concordância.
 � Há opcionalidade.
A derivação, como processo de formação de novas palavras, acontece 
quando um vocábulo formado por apenas um radical primário recebe afixos 
(prefixos ou sufixos). Exemplos:
Processos de formação das palavras6
Panela + eiro = paneleiro
Im + possível = impossível
Difícil + mente = dificilmente
No caso da derivação, o acréscimo de prefixos e sufixos realiza-se com 
a adição de um afixo a um radical, o qual pode ou não conter outros afixos. 
Pense, por exemplo, no vocábulo legalização. Este vem de legalizar, que, 
por sua vez, deriva de legal. Resumidamente, a derivação pode ocorrer por 
acréscimo de prefixo, de sufixo ou prefixo e sufixo, modificando o tema ou 
a classe gramatical.
Composição
A composição, como processo de formação de palavras em língua portuguesa, 
ocorre quando se combinam dois ou mais radicais. Exemplos:
 � Dedo-duro 
 � Beija-flor 
 � Auriverde
A composição acontece com a união de vocábulos já existentes na língua, 
como em quebra-nozes. Entretanto, também pode ocorrer pela combinação de 
bases consideradas não autônomas. Diferentemente do processo de derivação, 
no qual se registra apenas um radical primário, nos processos de composição 
existem duas ou mais raízes. Entretanto, no processo de composição, os vocá-
bulos existentes perdem a significação para formar um novo conceito e nomear 
outro objeto da língua. Tomemos o exemplo de beija-flor: separadamente, 
tem-se beija e flor; quando unidos por composição, indicam um pássaro, ou 
seja, criam um novo conceito. Vocábulos compostos comutam com aqueles 
simples, também ocorrendo o movimento contrário. 
Contribuições da gramática descritiva 
Conforme Bechara (2010), a renovação do léxico está associada à criação de 
novas palavras. Para este gramático, as múltiplas atividades dos falantes, no 
convívio em sociedade, favorecem a criação de palavras, de forma a atender 
necessidades culturais, científicas e comunicacionais. Nesse âmbito, encontra-
mos os neologismos, como expressão efetiva dessa necessidade renovadora, 
7Processos de formação das palavras
e os arcaísmos,como aquelas palavras que, por falta de uso, deixam de ser 
utilizadas por determinada comunidade linguística. Em alguns casos, os 
arcaísmos permanecem, demarcando comunidades mais conservadoras. 
Conforme a gramática descritiva, os neologismos, ou criações novas, são 
inseridos na língua por diversos caminhos. O primeiro deles ocorre por meio 
dos elementos que já existem na língua, sendo estes palavras, prefixos ou 
sufixos. Eles podem combinar-se e emitir delimitações com significado usual 
ou mudança de significado. Como processos formais, temos a composição e a 
derivação, mas também os empréstimos. Estes ocorrem por incorporação de 
termos de outras línguas — traduzidos ou não — ao português. 
Portanto, podemos inferir que a gramática descritiva contribui na descrição 
e no registro das variedades linguísticas de certo momento de uma língua. 
Trata-se de uma abordagem sincrônica que descreve as unidades existentes 
na língua, as categorias linguísticas disponíveis, os tipos de construção que 
são possíveis e a função dos elementos. Indica, ainda, as condições de uso 
de cada um deles. Dessa forma, a gramática descritiva contribui para que os 
falantes compreendam a variedade da língua, não apenas da língua culta. 
Sendo assim, o que há de registro oral também é validado por essa abordagem. 
Evitando as noções de erro e de acerto, a gramática descritiva identifica 
as formas de expressão existentes em determinado tempo, evidenciando, 
portanto, que não há língua uniforme.
BASÍLIO, M. Formação e classes de palavras no português do Brasil. São Paulo: Contexto: 
2004. 
BECHARA, E. Gramática escolar da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fron-
teira, 2010.
CAMARA JR., J. M. Estrutura da língua portuguesa. 34. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001
MARGOTTI, F. W.; MARGOTTI, R. C. M. F. Morfologia do português. Florianópolis: UFSC, 2008.
ROCHA, L. C. A. Estruturas morfológicas do português. Belo Horizonte: UFMG, 1998. 
SCALISE, S. Morfologia. Bologna: il Mulino, 1994.
Processos de formação das palavras8
Leituras recomendadas
LEMOS, M. Mecanismo da flexão verbal e desvios do padrão geral. In: MONTEIRO, J. L. 
Morfologia portuguesa. 4. ed. Campinas, SP: Pontes, 2002.
MIOTO, C.; SILVA, M. C. F.; LOPES, R. E. V. Novo manual de sintaxe. Florianópolis: Insular, 2005.
9Processos de formação das palavras
Conteúdo:
MORFOSSINTAXE I
Nádia Castro
Predicação nominal e 
complementos nominais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Identificar a relação entre as classes de palavras e suas funções 
sintáticas.
 � Reconhecer a relação entre morfologia e sintaxe.
 � Analisar a construção do predicado nominal e seus papéis temáticos. 
Introdução
Com a leitura deste capítulo, você vai compreender cada vez mais a 
morfossintaxe. Você vai conhecer alguns aspectos referentes às classes 
de palavras, sobretudo no contexto da predicação nominal e dos com-
plementos nominais.
Os objetivos estão centrados na determinação da relação entre as 
classes de palavras e suas funções sintáticas; no estabelecimento da 
relação entre morfologia e sintaxe e também na análise da construção dos 
elementos que compõem o predicado nominal e seus papéis temáticos 
na estruturação dos textos em língua portuguesa. 
Classes de palavras e funções sintáticas
As classes de palavras, também denominadas categorias lexicais, são elementos 
que pertencem ao léxico. Dessa forma, em língua portuguesa, são encontradas 
dez diferentes classes de palavras. São elas:
 � Substantivo
 � Adjetivo
 � Artigo
 � Pronome
 � Numeral
 � Verbo
 � Advérbio
 � Preposição
 � Conjunção
 � Interjeição 
A classe de palavras denominada substantivo, por exemplo, é definida desta 
forma por sua propriedade semântica de designar seres ou entidades. Pela 
sua propriedade morfológica, apresenta determinação de flexão de gênero e 
número e pela propriedade sintática ocupa o núcleo do sujeito e complementos. 
Portanto, cada uma das categorias lexicais é denominada de acordo com os 
três critérios: morfológico, semântico e sintático. 
Nesta análise, vamos nos valer do critério sintático para a caracterização 
das dez classes gramaticais. Logo, o substantivo é um termo determinado e 
ocupa o núcleo de uma expressão, ou seja, é sintagma nominal. Os adjetivos, 
como segunda classe lexical, é composta de termos determinantes, ou seja, é 
representada por termos que qualificam o substantivo a que fazem referência, 
portanto, concordam em gênero e número com ele.
Substantivo: termo determinado com posição de núcleo (N) de uma expressão 
(sintagma nominal). Exemplo: 
A bola (N) caiu.
Adjetivo: termo determinante do substantivo a que se refere; termos, estes, que 
qualificam o substantivo e concordam em gênero e número com N. Exemplo: 
A pequena (adjetivo feminino singular que determina o substantivo 
feminino bola) bola caiu.
A terceira classe de palavras engloba outros termos determinantes, são 
eles os artigos. Estes determinam ou indeterminam o substantivo (N) a que se 
referem. Esta classe de palavras também concorda em gênero e número com 
o núcleo do sintagma nominal. Em seguida, temos os pronomes, como quarta 
classe de palavras. Estes itens especificam o substantivo, e nesta situação 
são determinantes, ou substituem o substantivo, nesta situação passam a ser 
termos determinados (BECHARA, 2005).
Predicação nominal e complementos nominais2
Artigo: termo (in)determinante do substantivo; concorda em gênero e número. 
Exemplo: 
A (artigo feminino singular, determina o substantivo feminino bola) 
bola (N) caiu.
Pronome: termo determinante do substantivo a que se refere; termo, este, 
que qualifica o substantivo e concorda em gênero e número com N. Exemplo: 
A minha (pronome feminino singular que determina o substantivo fe-
minino bola) pequena bola caiu.
Pode substituir o substantivo. Exemplo: Ela caiu.
Os verbos como classe de palavras, do ponto de vista sintático, são predi-
cadores que selecionam e relacionam os termos da oração. Mas, podem ser, 
também, de ligação, e expressar noções gramaticais de tempo, modo, aspecto 
número e pessoa. Dessa forma, junto com o nome, compõem a predicação. 
Após os verbos, temos o advérbio como sétima classe lexical. Como termos 
determinantes, os advérbios especificam a significação do termo a que se 
referem (BECHARA, 2005).
Verbo: predicadores (selecionam e relacionam os termos da oração) ou de 
ligação (expressam noções gramaticais). Exemplos: 
A bola quebrou (verbo predicador) o vidro.
A bola é (verbo de ligação) pesada.
Advérbio: termo determinante do substantivo a que se refere; este tipo de 
classe, especifica a significação do termo a que se refere. Exemplo: 
A bola furou ontem (noção de tempo para o verbo furar).
A preposição, como classe de palavras, é identificada pela sua característica 
sintática de conexão dos elementos da oração, subordinando-os. A conjunção 
também conecta termos, mas pode subordinar ou coordenar elementos. Já a 
classe lexical composta pelas interjeições tem função sintática de frase, pois 
apresenta sentido completo (BECHARA, 2005).
3Predicação nominal e complementos nominais
Preposição: conecta e subordina elementos da oração. Exemplo: 
A bola da Joana furou. (preposição de + artigo a = da, preposição que 
subordina o elemento bola à Joana)
Conjunção: responsável por conectar termos, mas pode subordinar ou coor-
denar os elementos. Exemplos: 
Ela perdeu a bola porque foi desatenta. (conjunção subordinativa adver-
bial causal; logo, a causa de perder a bola foi a desatenção)
Julia gosta de jogar bola, mas também de ler. (conjunção coordenativa: 
Julia gosta de jogar bola/Julia gosta de ler; logo, conjunção coordenativa 
aditiva)
Interjeição: estes termos apresentam sentido completo, logo, têm função 
sintática de frase. Exemplo:
Puxa! A bola furou! (puxa = interjeição que sintetiza uma frase exclamativa)
Conforme você pode identificar, as classes de palavras em língua portu-
guesasão representadas por dez grupos específicos. Cada um deles apresenta 
determinada classificação conforme critérios semânticos, morfológicos e 
sintáticos. Nesta etapa de leitura, o estudo está concentrado na análise sintática 
das classes lexicais. Certo?
Com relação às funções sintáticas desempenhadas pelas diferentes classes 
gramaticais temos algumas definições. Os substantivos exercem por excelência 
a função de sujeito (ou núcleo do sujeito) da oração e, no domínio da cons-
tituição do predicado, podem exercer função de objeto direto, complemento 
relativo, objeto indireto, predicativo, adjunto adnominal e adjunto adverbial.
Os adjetivos, como classe de palavras que se relaciona diretamente com 
os substantivos, podem desempenhar função sintática de adjunto adnominal 
ou de predicativo. Como predicativo ele é necessário para completar o sentido 
da oração. Observe:
O dia está bonito. (O dia está . Neste caso, o adjetivo funciona 
como predicativo, completa o sentido da oração e qualifica o substantivo 
dia.)
Predicação nominal e complementos nominais4
O dia belo começava com o raiar no horizonte. (Neste caso, o adjetivo 
desempenha função sintática de adjunto adnominal, não sendo um 
termo necessário — O dia começava com o raiar no horizonte — e 
qualifica o substantivo dia.)
Os artigos, como terceira classe de palavras, conforme ordem de apresen-
tação neste material, são termos que sintaticamente desempenham função de 
adjunto adnominal, uma vez que sempre se referem a um substantivo — ou 
a uma palavra por ele substantivada — e indicam seu gênero e seu número. 
Exemplo: 
Ninguém entendeu o porquê dessa fúria.
O pronomes, como classe de palavras que reúne termos que especifi-
cam e que substituem o substantivo, podem desempenhar diversas funções 
quando estabelecidas relações sintáticas entre os elementos que compõem as 
orações. Entre elas, podem desempenhar papel de sujeito. Por exemplo, em 
uma estrutura como: 
Eles chegaram cedo. 
Mas o pronome também pode ser classificado sintaticamente como objeto 
indireto. Exemplo: 
Não fale nada para ele.
E também como predicativo do sujeito: 
As culpadas foram elas. 
Em tempo: os pronomes podem desempenhar função sintática de adjunto 
adnominal. Exemplo: 
Muitos viajantes desistiram da viagem por causa do preço do dólar.
Com relação aos numerais, é preciso observar, primeiramente, se eles estão 
substituindo ou acompanhando o substantivo. Nas orações em que o numeral 
é substantivo, ele pode desempenhar as mesmas funções do substantivo. 
Logo, pode ser sujeito, objeto direto, complemento relativo, objeto indireto, 
5Predicação nominal e complementos nominais
predicativo, adjunto adnominal e adjunto adverbial. Nesta primeira situação, 
temos o seguinte exemplo de numeral substantivo: 
Um é pouco e três é demais. 
Agora, o numeral adjetivo, como aquele que acompanha um substantivo, a 
função sintática possível é de adjunto adnominal. Neste segundo caso, temos 
o exemplo: 
Duas pessoas compareceram à aula. 
Os verbos, como uma extensa classe de palavras, desempenham função 
sintática de núcleo do predicado verbal. Todas as orações são organizadas 
em torno de um verbo (ou ausência de um) ou de uma locução verbal e o 
verbo sempre faz parte do predicado. Logo, os verbos desempenham função 
sintática de núcleo do predicado verbal. Nos casos dos verbos de ligação eles 
não desempenham papel de núcleo do predicado. Neste caso, eles ligam dois 
elementos da oração: o sujeito e o seu predicativo.
Advérbio desempenha na oração papel de adjunto adverbial. Estes termos 
são de natureza nominal ou pronominal e se referem ao verbo, ou ainda, dentro 
de um grupo nominal unitário, a um adjetivo ou um outro advérbio (nesse 
caso como intensificador). Exemplo: 
Maria é muito boa escritora. (o advérbio refere-se ao adjetivo boa)
Maria escreve muito bem. (o advérbio refere-se ao advérbio bem)
A preposição não desempenha papel sintático nas orações. Elas estabelecem 
conexão entre elementos (próximo do descrito anteriormente para os verbos 
de ligação). É por este fato que são classificadas como conectivas ou palavras 
relacionais. Mas lembre-se de que as preposições são fundamentais para a 
coesão textual. Além dessas, as conjunções também desempenham papel 
de elementos de ligação. Nesse caso, a morfossintaxe da língua identifica as 
conjunções como conectivos.
A última classe de palavras, ou seja, a das interjeições, faz o fechamento 
desta etapa da leitura. Esse grupo lexical abrange as expressões com que os 
indivíduos traduzem os seus estados emotivos. As interjeições têm existência 
autônoma e, a rigor, constituem verdadeiras orações. Elas podem assumir 
papel de unidades interrogativas-exclamativas e também de chamamento, 
desempenhando, neste caso, papel de vocativo.
Predicação nominal e complementos nominais6
Relação entre morfologia e sintaxe
Conforme vimos até o momento, a análise desenvolvida para a interpretação 
das possíveis funções sintáticas das classes de palavras está diretamente rela-
cionada com a análise sintática e morfológica dos elementos que compõem a 
língua portuguesa. Apenas é possível delimitar a função sintática das palavras, 
a partir da relação que elas estabelecem com os outros termos da oração. 
À morfologia cabe o estudo da estrutura, da formação e da classificação das 
palavras. Neste campo de estudo, olhamos para as palavras de forma isolada. É 
no contexto da morfologia que identificamos as dez classes de palavras, os seus 
respectivos integrantes e as suas especificidades (ROCHA, 1998). À sintaxe, 
por sua vez, investiga a disposição das palavras que compõem as frases e as 
orações. Ou seja, na relação entre os elementos (relações sintáticas) podemos 
identificar diferentes funções sintáticas para uma mesma classe gramatical. É 
por este caráter de análise relacional que um substantivo pode desempenhar 
função de sujeito e em outra situação pode ser classificado sintaticamente 
como objeto direto.
Logo, a relação entre morfologia e sintaxe é denominada morfossintaxe, ou 
seja, neste contexto, analisamos as palavras e identificamos as classes as quais 
elas pertencem (substantivo, artigo, adjetivo, pronome, numeral, verbo, advérbio, 
preposição, conjunção e interjeição), mas, uma vez complementada pela análise 
sintática, os elementos das classes de palavras podem ser: sujeito, predicado, objeto 
direto, objeto indireto, predicativo do sujeito, predicativo do objeto, complemento 
nominal, agente da passiva, adjunto adnominal, adjunto adverbial e aposto.
Dessa forma, é na análise simultânea que podemos delimitar as funções 
sintáticas das classes gramaticais. Morfologicamente, as classes são estáticas, 
mas sintaticamente se movimentam e um mesmo elemento pode desempenhar 
diferentes funções.
A função sintática que a palavra desempenha é definida pela relação que ela esta-
belece com os outros elementos da oração. Podemos definir essa função apenas por 
meio da análise sintática. É a língua em uso!
A classe gramatical da palavra é definida de forma isolada. Ou seja, é a análise 
morfológica da palavra independentemente da posição dela na oração. É a língua 
fora do uso!
7Predicação nominal e complementos nominais
Predicado nominal
Na relação entre sujeito e predicado temos que o primeiro grupo, corretamente 
identificado, exerce função sintático-semântica chamando-se sujeito, e o se-
gundo grupo exerce função sintático-semântica chamada de predicado. Logo:
Sujeito Predicado
As mulheres desejam paz.
Eu estudo língua portuguesa.
Muitas crianças viram os brinquedos.
O sol é um astro luminoso.
O bom filho reconhece o esforço dos pais.
Neste momento, vamos concentrar a nossa análise para conhecer melhor 
o predicado com seu núcleo e determinantes. A primeira informação que 
você precisa destacar é a de que o núcleo do predicado é constituído pela 
classe de palavras denominada verbo. Segundo, o predicado de uma oração 
pode ser simples ou complexo, conforme o conteúdo léxico doverbo que lhe 
serve de núcleo (BECHARA, 2005, p. 414). Não detalharemos os predicados 
complexos, apenas os citamos, pois nosso objetivo é olhar para a construção 
do predicado nominal e os papéis temáticos que ele pode assumir. Dessa 
forma, como tipos de argumentos determinantes do predicado complexo 
temos o complemento direto ou objeto direto, o objeto direto preposicionado, 
a preposição como posvérbio, o complemento relativo. O complemento objeto 
indireto, o complemento predicativo, entre alguns outros. 
Mas é válido diferenciar o predicado verbal do predicado nominal. O que 
acontece é um esvaziamento do signo léxico representado pelo verbo. O que é 
superado pela inserção de um nome (substantivo ou adjetivo) e a concordância 
do predicativo em gênero e número com o sujeito. Assim, tem-se predicado 
verbal (Paula dança) e predicado nominal (Paula é dançarina). Nos predicados 
nominais retira-se do verbo o status de verbo, pois a sua missão gramatical 
se restringiria a ligar o predicativo ao sujeito. Por este fato, denominados 
copulativos, de ligação ou relacionais. Conclui-se que o predicado nominal 
é composto de um verbo de ligação e do seu complemento, denominado 
predicativo (ALMEIDA, 2009, p. 418). 
Predicação nominal e complementos nominais8
Nesse contexto, a realidade comunicada residiria no nome predicativo e 
o verbo seria apenas o marcador do tempo, modo e aspecto da oração. As-
sim, é possível definir que o predicado do tipo nominal apresenta a seguinte 
constituição:
Predicado nominal:
 � Tem como núcleo um nome (substantivo ou adjetivo).
 � Um verbo de ligação e um predicativo do sujeito fazem parte da sua formação.
 � Tem função de indicar estado ou qualidade dos nomes (dos núcleos).
Nos exemplos a seguir, destaca-se o predicado nominal, conforme exigên-
cias de constituição. Observe:
Ela está feliz.
está = verbo de ligação
feliz = predicativo do sujeito
A natureza é imprevisível.
é = verbo de ligação
imprevisível = predicativo do sujeito
O homem parecia calmo.
parecia = verbo de ligação 
calmo = predicativo do sujeito
Nos predicados nominais percebemos, conforme exemplos acima, um 
núcleo que é sempre um nome, desempenhando a função de predicativo do 
sujeito. Como intermediário dos dois, temos um verbo de ligação que, conforme 
o nome enuncia, estabelece a ligação entre o sujeito e o predicado nominal. 
Agora, é importante destacar a questão do papel temático desempenhado pelo 
predicado nominal. Parte-se do pressuposto de que o sujeito é o ponto de partida 
9Predicação nominal e complementos nominais
e o que se diz dele é o predicado. Dessa forma, conforme Câmara Jr. (2001), 
mesmo sem uma posição extremamente rígida, há colocações mais usuais. 
Ou seja, o princípio básico é a articulação sujeito-predicado, em que se atribui 
ao segundo (predicado) a responsabilidade do valor informativo. O sujeito, 
por esta interpretação, é o tema da informação que está contida no predicado. 
ALMEIDA, N. M. Gramática metódica da língua portuguesa. 46. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.
CAMARA JR., J. M. Estrutura da língua portuguesa. 34. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
ROCHA, L. C. A. Estruturas morfológicas do português. Belo Horizonte: UFMG, 1998.
Leituras recomendadas
BECHARA, E. Gramática escolar da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fron-
teira, 2010.
CEGALLA, D. P. Novíssima gramática da língua portuguesa. 47. ed. São Paulo: Companhia 
Editora Nacional, 2008.
MIOTO, C.; SILVA, M. C. F.; LOPES, R. E. V. Novo manual de sintaxe. Florianópolis: Insular, 2005.
Predicação nominal e complementos nominais10
Conteúdo:
ROBERTA AZEVEDO
2015
Azevedo_Iniciais_ed_Impresso_final.indd iii 30/04/2015 09:34:32
Versão impressa 
desta obra: 2015 
A993p Azevedo, Roberta.
 Português básico [recurso eletrônico] / Roberta 
Azevedo. – Porto Alegre : Penso, 2015.
 e-PUB
Editado como livro impresso em 2015.
ISBN 978-85-8429-055-0
 1. Português - Fundamentos. I. Título. 
CDU 811.134.3
Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094
Azevedo_Iniciais_ed_Impresso_final.indd ii 30/04/2015 09:34:32
25CLASSES GRAMATICAIS
SUBSTANTIVO
Substantivos são palavras que usamos para designar ou nomear seres em geral, se-
jam eles reais ou imaginários.
Formalmente falando, pode-se dizer que os substantivos são palavras que podem 
apresentar fl exões de gênero, número e grau, que podem ou não vir precedidas de 
artigos ou pronomes.
Ao se observar os substantivos do ponto de vista funcional, pode-se dizer que eles 
caracterizam-se por serem núcleos dos sintagmas nominais de nossa língua. Assim, 
os substantivos são as palavras que constituem:
 ▶ Sujeitos (A festa estava ótima.)
 ▶ Objetos diretos (Peguei o bolo da festa.)
 ▶ Objetos indiretos (Dei o presente à criança.)
 ▶ Predicativos do sujeito (Você parecia criança ao ver a festa.)
 ▶ Predicativos do objeto (Considero você uma criança.)
 ▶ Complementos nominais (O choro do menino era horrível.)
 ▶ Adjuntos adnominais (Isto é choro de criança.)
 ▶ Adjuntos adverbiais (Saí com o rapaz.)
 ▶ Agentes da passiva (O vidro da janela foi quebrado pela criança.)
 ▶ Apostos (Minha vida, uma longa história, passou devagar.)
 ▶ Vocativos (Filho, arrume a cama!)
CLASSIFICAÇÃO DOS SUBSTANTIVOS
 ▶ Substantivos concretos ou abstratos
Os substantivos concretos designam seres que têm existência independente de ou-
tros seres, podendo ser reais ou imaginários.
Ex.: livro, Deus, ar, Roberta, vela, etc.
Azevedo_Cap_03.indd 25 29/04/2015 16:24:51
26 português básico
Já os substantivos abstratos estabelecem a designação de seres que possuem exis-
tência dependente de outro. Ou seja, sua ocorrência sempre está vinculada à existên-
cia de um outro ser, sendo portanto, abstrações.
Ex.: amor, ódio, limpeza, doença, colheita, etc.
 ▶ Substantivos próprios, comuns e coletivos
Os substantivos próprios nomeiam seres específi cos dentro de uma determinada es-
pécie, tornando esses seres únicos dentro de um grupo maior (espécie).
Ex.: Roberta, Bom Despacho, Minas Gerais, Brasil.
Os substantivos comuns estabelecem referência a seres em geral, ou seja, todos de 
uma mesma espécie, não havendo, portanto, especifi cações.
Ex.: mulher, cidade, estado, país, lápis, fl or.
Já os substantivos coletivos são aqueles que, embora estejam na forma singular, de-
signam um conjunto de seres/elementos da mesma espécie.
A seguir veja uma lista de substantivos coletivos.
 ▶ SUBSTANTIVO COLETIVO ▶ CONJUNTO DE
ALCATEIA LOBOS
ARQUIPÉLAGO ILHAS
ARSENAL ARMAS, MUNIÇÕES
ATLAS MAPAS
BANCA EXAMINADORES
BANDO AVES, CIGANOS, SALTEADORES
BATALHÃO SOLDADOS
CACHO BANANAS, UVAS
CÁFILA CAMELOS
CARAVANA VIAJANTES
CÂMARA DEPUTADOS, SENADORES, VEREADORES
COLMEIA ABELHAS
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27CLASSES GRAMATICAIS
CONSTELAÇÃO ESTRELAS
DISCOTECA DISCOS
ELENCO ARTISTAS
ESQUADRA NAVIOS DE GUERRA
ESQUADRILHA AVIÕES
EXÉRCITO SOLDADOS
FEIXE LENHA, CAPIM
FLORA PLANTAS DE UMA REGIÃO
FAUNA ANIMAIS DE UMA REGIÃO
JUNTA BOIS, MÉDICOS, EXAMINADORES
LEGIÃO SOLDADOS, ANJOS, DEMÔNIOS
MANADA BOIS, BÚFALOS, ELEFANTES
MATILHA CÃES DE RAÇA
MOLHO CHAVES, VERDURAS
MULTIDÃO PESSOAS
PENCA FRUTOS
QUADRILHA LADRÕES, MALFEITORES
RÉSTIA ALHOS, CEBOLAS
SÉCULO PERÍODO DE CEM ANOS
TRIPULAÇÃO TRIPULANTES
VARA PORCOS
VOCABULÁRIO PALAVRAS
SIMPLES E COMPOSTOS
Os substantivos simples constituem-se de um único radical. 
Ex.: cama, roupa, menino.
Já os substantivos compostos são formados por mais de um radical.
Ex.: guarda-roupa, pé-de-meia, limpa-vidro.
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28 português básico
PRIMITIVOS E DERIVADOS
São chamados de substantivos primitivos aqueles que não se originam de nenhum 
outro radical de nossa língua, ao contrário, eles é que dão origem a novas palavras.
Ex.: pedra, bola, fl or, cabeça.
Os substantivos derivados são aquelesque têm sua origem ligada a algum outro radi-
cal de nossa língua.
Ex.: pedregulho, bolota, fl orista, cabeçote.
FLEXÃO DOS SUBSTANTIVOS
A fl exão é a modifi cação do substantivo de acordo com o gênero (masculino ou femi-
nino), número (singular ou plural) ou grau (aumentativo ou diminutivo).
 ▶ Flexão de gênero
A língua portuguesa apresenta dois gêneros: masculino e feminino.
Pertencem ao gênero masculino os substantivos que podem ser antecedidos pelo 
artigo masculino. Veja o uso dos substantivos masculinos na fábula transcrita a se-
guir.
FÁBULA: O LOBO E O CORDEIRO
Um cordeiro estava bebendo água num riacho. O terreno era inclinado e por isso ha-
via uma correnteza forte. Quando ele levantou a cabeça avistou um lobo, também 
bebendo da água.
– Como é que você tem a coragem de sujar a água que eu bebo - disse o lobo, que 
estava há alguns dias sem comer e procurava algum animal apetitoso para matar 
a fome.
– Senhor - respondeu o cordeiro - não precisa fi car com raiva porque eu não estou 
sujando nada. Bebo aqui, uns vinte passos mais abaixo, é impossível acontecer o 
que o senhor está falando.
– Você agita a água - continuou o lobo ameaçador - e sei que você andou falando mal 
de mim no ano passado.
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29CLASSES GRAMATICAIS
– Não pode - respondeu o cordeiro - no ano passado eu ainda não tinha nascido. O 
lobo pensou um pouco e disse:
– Se não foi você foi seu irmão, o que dá no mesmo.
– Eu não tenho irmão - disse o cordeiro - sou fi lho único.
– Alguém que você conhece, algum outro cordeiro, um pastor ou um dos cães que 
cuidam do rebanho, e é preciso que eu me vingue. Então ali, dentro do riacho, no 
fundo da fl oresta, o lobo saltou sobre o cordeiro, agarrou-o com os dentes e o levou 
para comer num lugar mais sossegado.
MORAL: A razão do mais forte é sempre a melhor.
Fonte: La Fontaine (c2005-2015).
 Fonte: alexjuve/iStock/Thinkstock.
Observe que os substantivos masculinos geralmente estão antecedidos por um ar-
tigo defi nido ou indefi nido “o cordeiro”, “o lobo”, “um pastor”, “um dos cães”. Entre-
tanto, nem sempre a presença do artigo está explícita no texto, cabendo ao leitor 
sua pressuposição.
Existem, ainda, alguns substantivos que podem suscitar dúvidas com relação ao gê-
nero gramatical a que pertencem. É o caso dos seguintes substantivos masculinos:
O ANEURISMA, O CHAMPANHA, O CLÃ, O CONTRALTO, 
O DIABETE, O DÓ (COMPAIXÃO), O ECLIPSE, O ECZEMA, 
O FORMICIDA, O GENGIBRE, O GRAMA (PESO), O GUARANÁ, 
O LANÇA-PERFUME, O SOPRANO, O TELEFONEMA
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30 português básico
 Formação do feminino
A formação do gênero gramatical feminino na língua portuguesa ocorre de duas for-
mas: por meio de processos centrados nos radicais e pela fl exão.
 Processo centrado nos radicais
A diferenciação entre masculino ou feminino é clara, visto que a distinção é feita atra-
vés dos radicais. Isso acontece com os substantivos chamados “heterônimos”, ou seja, 
apresentam uma forma para o masculino e outra forma para o feminino. Observe:
BOI – VACA
HOMEM – MULHER
CAVALO – ÉGUA
Há também a formação do feminino através do acréscimo das palavras “macho” e 
“fêmea” após o radical. Esses são os chamados substantivos epicenos.
A BORBOLETA MACHO – A BORBOLETA FÊMEA
O BESOURO MACHO – O BESOURO FÊMEA
A COBRA MACHO – A COBRA FÊMEA
É possível, ainda, a indicação do gênero de determinado substantivo através da ante-
posição de determinantes aos radicais. Nesse caso, os substantivos recebem o nome 
de “comuns de dois gêneros”.
O DENTISTA – A DENTISTA
O ARTISTA – A ARTISTA
O SELVAGEM – A SELVAGEM
Há também aqueles substantivos que a partir do seu gênero gramatical específi co 
podem designar indivíduos de ambos os sexos. Veja:
A CRIANÇA
O CÔNJUGE
A VÍTIMA
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31CLASSES GRAMATICAIS
 Formação do feminino pela fl exão (mudança na terminação da palavra)
Nos casos em que ocorre a formação do feminino pela mudança na terminação da 
palavra, diz-se que o masculino é o termo não marcado e que o feminino é o termo 
marcado. O morfema específi co para determinar nomes femininos na língua portu-
guesa é o sufi xo –a. Observe como ocorre a formação do feminino na língua através 
do acréscimo do sufi xo –a:
Suprime-se a vogal temática –o e acrescenta-se o morfema feminino –a.
MENINO – MENINA
ALUNO – ALUNA
GATO – GATA
Acrescenta-se o morfema –a àqueles substantivos sem vogal temática na forma mas-
culina e com o radical terminado em consoante.
PROFESSOR – PROFESSORA
DOUTOR – DOUTORA
CHINÊS – CHINESA
Substantivos terminados em –ão formam o substantivo feminino quando terminados 
em –oa, –ã ou –ona:
LEÃO – LEOA
PATRÃO – PATROA
IRMÃO – IRMÃ
COMILÃO – COMILONA
 ▶ Flexão de número
A fl exão de número ocorre quando há manifestação do substantivo sobre a forma 
singular ou plural. As formas marcadas, em termos e fl exão de número, pelo morfema 
–s são as do plural, e as não marcadas, as do singular. Vejamos as regras de formação 
do plural:
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32 português básico
Substantivos terminados em vogal ou ditongo.
Regra geral: acrescenta-se o morfema –s.
BOLA – BOLAS
CARRO – CARROS
BOI – BOIS
A mesma regra deve ser seguida quando o substantivo 
terminar com a letra “m”. Neste caso, troca-se o “m” pelo 
“n” e acrescenta-se o morfema –s.
ATUM – ATUNS
ÁLBUM – ÁLBUNS
SOM – SONS
 
Substantivos terminados em –ão. 
Os substantivos terminados em –ão fazem o plural de três maneiras: troca-se o –ão 
por –ões, troca-se o –ão por –ães ou acrescenta-se o morfema –s à forma singular do 
substantivo.
BALÃO – BALÕES
CAMINHÃO – CAMINHÕES
PÃO – PÃES
ALEMÃO - ALEMÃES
CIDADÃO – CIDADÃOS
MÃO – MÃOS
Substantivos terminados em consoante
Acrescenta-se –es à forma singular dos substantivos terminados em –r, –z ou –n.
AÇÚCAR = AÇÚCARES 
XADREZ = XADREZES
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33CLASSES GRAMATICAIS
Substantivos oxítonos terminados em –s recebem a terminação –es, mas se forem 
paroxítonos ou proparoxítonos são invariáveis.
FREGUÊS = FREGUESES
PORTUGUÊS = PORTUGUESES
LÁPIS = OS LÁPIS
ÔNIBUS = OS ÔNIBUS
Substantivos terminados em –al, –el, –ol, –ul troca-se –l por –is.
JORNAL = JORNAIS
PAPEL = PAPÉIS
ÁLCOOL = ÁLCOOIS
AZUL = AZUIS
Substantivos terminados em –il troca-se –l por –s, se oxítonos, e quando terminados 
em –el troca-se –l por –is, se paroxítonos.
FUZIL = FUZIS
PROJÉTIL = PROJÉTEIS
Substantivos que fazem o diminutivo em –zinho e aumentativo em –zão exigem mar-
cação de plural não somente do sufi xo, mas também no radical (perde-se o –s do 
plural no radical):
PAPELZINHO = PAPEIZINHOS (PAPÉI (S)+ ZINHOS)
BARZINHO = BAREZINHOS (BARE (S) + ZINHOS)
Substantivos compostos
Nos substantivos compostos não ligados por hífen apenas o segundo radical vai para 
o plural.
AGUARDENTE = AGUARDENTES
LOBISOMEM = LOBISOMENS
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34 português básico
Nos substantivos compostos ligados por hífen há três possibilidades de realização do plu-
ral:
Apenas o primeiro radical vai para o plural (quando os radicais são ligados por prepo-
sição ou quando o segundo elemento especifi ca o primeiro).
PÉ-DE-CABRA = PÉS-DE-CABRA
PIMENTA-DO-REINO = PIMENTAS-DO-REINO
Apenas o segundo radical vai para o plural (quando o primeiro radical é verbo ou pa-
lavra invariável).
GUARDA-CHUVA = GUARDA-CHUVAS
VICE-PRESIDENTE = VICE-PRESIDENTES
Ambos os radicais vão para o plural (compostos formados por palavras variáveis).
CARTÃO-POSTAL = CARTÕES-POSTAIS
AMOR-PERFEITO = AMORES-PERFEITOS
 ▶ Flexão de grau
Na língua portuguesa os substantivos podem ser utilizados no grau normal, aumen-
tativo ou diminutivo. Para marcar a variação de grau são utilizados dois processos:
Sintético: a partir do uso de sufi xos aumentativos ou diminutivos acrescentados ao 
radical da palavra.MENINO = MENININHO = MENINÃO
BONECA= BONEQUINHA= BONECONA
Analítico: através do acréscimo de um adjetivo que indique aumento ou redução da 
ideia de tamanho.
MENINO = MENINO PEQUENO = MENINO GRANDE
BONECA= BONECA MINÚSCULA= BONECA GRANDE
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35CLASSES GRAMATICAIS
O uso do aumentativo e diminutivo podem indicar, além 
da redução ou aumento de tamanho, alterações no valor 
semântico do substantivo, manifestando assim a subje-
tividade da linguagem através de conotações afetivas ou 
depreciativas. Veja:
 ▶ Amorzinho = conotação afetiva
 ▶ Amigão= conotação afetiva
 ▶ Jornaleco = conotação depreciativa
 ▶ Mulherzinha = conotação depreciativa
É preciso esclarecer que o valor semântico do aumenta-
tivo ou diminutivo está intimamente ligado ao contexto 
de uso, portanto, é necessário estar atento ao contexto 
no qual estão sendo utilizadas as formas diminutiva e au-
mentativa.
ARTIGO
Artigo é a palavra que, vindo antes de um substantivo, indica se ele está sendo em-
pregado de maneira defi nida ou indefi nida, indicando ao mesmo tempo, o gênero e o 
número dos substantivos.
O artigo defi nido indica um ser determinado no interior de uma espécie. São artigos 
defi nidos: o, a, os, as.
A LÂMPADA ACABOU DE QUEIMAR.
O artigo indefi nido indica um sentido genérico, apresentando um ser/elemento de 
forma indefi nida e muitas vezes vaga. São artigos indefi nidos: um, uma, uns, umas.
UMA LÂMPADA ACABOU DE QUEIMAR.
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36 português básico
Fonte: ratch0013/iStock/Thinkstock.
ADJETIVO
Adjetivos são palavras que caracterizam os substantivos. Assim, pode-se dizer que 
ele é o elemento determinante e o substantivo é o elemento determinado, pois, ao 
adjetivo dá-se a função de ampliar ou limitar o sentido de um substantivo.
Note:
HOMEM HONESTO, MULHER ESPERTA, CRIANÇA CHORONA
Quanto à formação os adjetivos, dividem-se em primitivos ou derivados, simples ou 
compostos.
ADJETIVOS PRIMITIVOS
São aqueles que possuem radicais indicadores de características, independente de 
seres ou ações que os representem.
AZUL, PEQUENO, TRISTE, ESCURO, VERMELHO
ADJETIVOS DERIVADOS
São aqueles formados a partir de outros radicais.
AZULADO, ENTRISTECIDO, DESCONFORTÁVEL, APAVORADO
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37CLASSES GRAMATICAIS
Ainda dentro dos adjetivos derivados é preciso mencionar a existência dos adjetivos 
pátrios, que são substantivos derivados que se referem ao local de origem de deter-
minado elemento.
BRASILEIRO, MINEIRO, PAULISTA, BELO-HORIZONTINO, CATARINENSE
ADJETIVOS SIMPLES
Apresentam um único radical.
GRANDE, ESPECIAL, BRANCO, INFELIZ, AMEDRONTADO
ADJETIVOS COMPOSTOS
Formados por mais de um radical.
VERMELHO-SANGUE, SOCIOECONÔMICO, LUSO-BRASILEIRO
 ▶ Flexão dos adjetivos
Assim como os substantivos, os adjetivos também fl exionam-se em gênero, número 
e grau, pois os adjetivos devem acompanhar e concordar com os substantivos que 
determinam. Logo, se o adjetivo determina um substantivo feminino no plural, ele 
também deve estar na forma feminina e no plural:
AS MENINAS BONITAS.
Fonte: KakigoriStudio/iStock/Thinkstock.
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38 português básico
 Flexão de gênero
Os adjetivos não possuem gênero defi nido, eles adquirem o gênero do substantivo 
que determinam. Assim, quanto ao gênero, podemos dizer que eles classifi cam-se 
como biforme ou uniforme.
Biformes são os adjetivos que apresentam duas formas: uma para o masculino e ou-
tra para o feminino. Observe:
BONITO = BONITA
MAGRO = MAGRA
ALTO = ALTA
Para a formação do feminino dos adjetivos veremos agora algumas regras:
Adjetivos terminados em –o fazem o feminino trocando essa terminação por –a:
MENINO ESPERTO = MENINA ESPERTA
Adjetivos terminados em –u , -ês ou –or recebem o acréscimo do sufi xo –a:
ARROZ CRU = CARNE CRUA
HOMEM PORTUGUÊS = MULHER PORTUGUESA
Alguns adjetivos terminados em –dor e –tor trocam essa terminação por –triz, ou 
substituem –or por –eira:
IMPULSO MOTOR = FORÇA MOTRIZ
HOMEM TRABALHADOR = MULHER TRABALHADEIRA
Adjetivos terminados em –ão fazem o feminino com –ã ou –ona:
HOMEM CRISTÃO = MULHER CRISTÃ
MENINO COMILÃO = MENINA COMILONA
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39CLASSES GRAMATICAIS
Os adjetivos que têm terminação em ditongo –eu fazem o feminino em –eia:
ATOR EUROPEU = ATRIZ EUROPEIA
Os terminados em –éu formam o feminino em –ao:
ILHÉU = ILHOA
É preciso mencionar também a exceção do adjetivo mau, que forma o feminino com 
a forma má.
Quanto aos adjetivos compostos biformes, a maioria fl exiona no gênero feminino ape-
nas o segundo elemento:
Consultório médico-dentário = clínica médico-dentária
 ▶ Azul-marinho (que é uniforme) e surdo-mudo, cujos 
dois elementos fl exionam-se no gênero feminino (sur-
da-muda).
 ▶ Os adjetivos uniformes são aqueles que apresentam 
uma forma única, tanto para o masculino como para o 
feminino. Ex.: especial, forte, insuportável, difícil.
 Flexão de número
Os adjetivos estabelecem a concordância com os substantivos que determinam; as-
sim, se o adjetivo acompanhar um substantivo no singular, ele permanecerá no singu-
lar e se acompanhar um substantivo no plural, será fl exionado no plural. 
A formação do plural dos adjetivos simples ocorre da mesma maneira que se forma o 
plural dos substantivos simples. Já nos adjetivos compostos formados por dois adje-
tivos somente o segundo elemento fl exiona-se no plural:
CLÍNICA MÉDICO-DENTÁRIA = CLÍNICAS MEDICO-DENTÁRIAS
ACORDO LUSO-BRASILEIRO = ACORDOS LUSO-BRASILEIROS
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40 português básico
 ▶ Azul-marinho e azul-celeste (invariáveis) e surdo-
-mudo, cujos dois elementos pluralizam-se (surdos-
-mudos).
 ▶ Adjetivos compostos referentes a cores, cujo segundo 
elemento é um substantivo, também são invariáveis: 
Tinta amarelo-ouro = tintas amarelo-ouro; blusa ver-
de-água = blusas verde-água.
 Flexão de grau
Quanto à variação de grau, os adjetivos modifi cam-se de acordo com os graus em que 
se encontram, comparativo ou superlativo, e variam através das formas sintéticas ou 
analíticas.
 Grau comparativo
Há comparação entre características de dois ou mais seres. Essa comparação pode 
ressaltar igualdade, superioridade ou inferioridade, ocorrendo na maioria das vezes 
na forma analítica. Veja:
O MEU VIZINHO É TÃO RICO QUANTO O SEU. (COMPARATIVO DE IGUALDADE)
O PAI DE JOSUÉ É MAIS ALTO QUE O DE CAMILA. (COMPARATIVO DE SUPERIORIDADE)
O CARRO DE MÁRCIO É MENOS RÁPIDO QUE O DE MARCUS.(COMPARATIVO DE INFERIORIDADE)
Fonte: IgorZakowski/iStock/Thinkstock.
Alguns poucos adjetivos apresentam forma sintética para exprimir o comparativo de 
superioridade: bom e mau (melhor e pior), grande e pequeno (maior e menor).
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41CLASSES GRAMATICAIS
 Grau superlativo
No grau superlativo, uma característica é intensifi cada de forma relativa ou absoluta, 
dessa forma, o superlativo divide-se em superlativo relativo ou superlativo absoluto.
Com a utilização do grau superlativo relativo pretende-se destacar uma característica 
de um ser, em maior ou menor grau, dentro de um conjunto de seres:
ELE É O MENOS ESPERTO DA SUA TURMA.
ANDRÉIA É A MAIS ALTA DA ESCOLA.
Com a forma absoluta do superlativo pretende-se transmitir a ideia de que determina-
do ser/elemento possui uma característica em alto grau. O grau superlativo absoluto 
pode ser expresso na forma sintética ou analítica, observe:
O MENINO É MUITO ESPERTO/ O MENINO É ESPERTÍSSIMO.
O BRINQUEDO É MUITO CARO/ O BRINQUEDO É CARÍSSIMO.
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esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual 
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
MORFOSSINTAXE I
Francisco De Souza 
Gonçalves
Classes de palavras: 
pronome, numeral e verboObjetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Reconhecer as classes de palavras: pronomes, numerais e verbos.
 � Conceituar pronomes, numerais e verbos. 
 � Relacionar e empregar aspectos linguísticos, semânticos e discursivos 
dos pronomes, dos numerais e dos verbos em situações concretas 
de interação verbal, orais ou escritas.
Introdução
O estudo das classes de palavras é marcado pela vontade do homem de 
compreender a realidade na qual está inserido e de tentar, de alguma 
maneira, controlá-la. Compreender a linguagem, em seus imbricados 
processos, sempre foi uma preocupação do ser humano. Analisar e ca-
tegorizar foram os primeiros caminhos encontrados para compreender 
os mecanismos da fala e da escrita. Organizar as palavras em classes, 
mediante suas características, é uma evidência desse ímpeto humano 
(CUNHA; ALTGOTT, 2004).
Neste capítulo, você estudará algumas importantes classes de palavras 
das quais se ocupa o estudo da morfologia, conhecendo, então, um 
pouco mais sobre os pronomes, os numerais e os verbos.
Pronome
A classe dos pronomes é aquela que agrupa palavras cuja função é substituir ou 
acompanhar o substantivo (nome) em uma oração (AZEVEDO, 2015). Primei-
ramente, é possível distinguir dois tipos principais de pronomes: os pronomes 
substantivos e os pronomes adjetivos. Enquanto os pronomes substantivos 
exercem papel similar ao do substantivo, substituindo-o, os pronomes adjetivos 
acompanham ou modificam um substantivo ou um pronome substantivo. Os 
pronomes são flexionáveis em gênero, em número e de acordo com a pessoa 
do discurso. Exemplos:
Ele era meu padrinho. (pronome substantivo)
Minha caneta é azul, aquelas canetas são azuis. (pronome adjetivo)
Classificação dos pronomes 
Os pronomes podem ser classificados de acordo com a função que exercem. 
Pronomes pessoais — Esse tipo de pronome é utilizado para representar as 
pessoas do discurso (1ª, 2ª ou 3ª, tanto do singular quanto do plural). Há os 
pronomes pessoais do caso reto e os pronomes pessoais do caso oblíquo. Os 
primeiros podem exercer função sintática de sujeito; são eles: eu, tu, ele/ela, 
nós, vós, eles/elas. Já os pronomes pessoais do caso oblíquo são aqueles que, 
numa oração, podem complementar os verbos: me, mim, comigo, nos, conosco; 
te, ti, contigo, vos, convosco; o, a, lhe, se, si, consigo, os, as, lhes, etc.
Pronomes de tratamento — São pronomes que indicam o tratamento for-
mal ou informal que é dado a um indivíduo (você, Vossa Excelência, Vossa 
Majestade, Eminência, Vossa Magnificência, etc.).
Pronomes relativos — São aqueles usados para referir-se a um termo anterior-
mente mencionado, sem precisar repeti-lo (que, cuja, cujo, o qual, as quais, 
quem, etc.). Flexionam-se em gênero e número, de acordo com o substantivo. 
Pronomes demonstrativos — Pronomes utilizados para situar algo no tempo 
e no espaço (este, isto, isso, aquilo, etc.).
Pronomes possessivos — São aqueles que expressam uma relação de posse 
(meu, minha, teu, sua, nosso, vosso, etc.). Flexionam-se de acordo com o 
gênero, o número e a pessoa do discurso a que se referem. 
Pronomes indefinidos — São aqueles que substituem ou acompanham um 
nome, expressando de modo vago ou impreciso, a quantidade daquilo que 
representam (alguém, ninguém, qualquer, quaisquer, etc.). 
Classes de palavras: pronome, numeral e verbo2
Pronomes interrogativos — São os pronomes utilizados para a elaboração de 
interrogações. Geralmente, um pronome relativo converte-se em interrogativo 
para a construção de perguntas (quem, que, qual, etc.). 
Numeral
Como o próprio nome já enuncia, nessa classe agrupam-se os termos que dizem 
respeito aos números. Essas palavras são instrumentalizadas para quantificar 
substantivos ou indicar posições numéricas ou ordinais de algo ou alguém. 
A representação gráfica do numeral pode se dar de forma simbólica, pelo 
número, ou em sua escrita por extenso (CEGALLA, 2004).
O que difere o numeral um do artigo um é que, no contexto semântico, o artigo 
indica uma indefinição do substantivo, enquanto o numeral indica a quantidade do 
substantivo.
Classificação dos numerais
Convencionou-se classificar os numerais da seguinte forma:
Cardinal — A forma mais comum, observada quando o numeral indica a 
quantidade do substantivo ou é utilizado para contabilizar alguma coisa. 
Um, três, cinco, quatro, dois. 
Podem cair mil à tua esquerda, 
Dez mil à tua direita
(Livro de Salmos na Bíblia Sagrada)
3Classes de palavras: pronome, numeral e verbo
Ordinal — Ocorre quando o falante ou o narrador deseja ordenar ou sequenciar 
alguma coisa.
Terceiro, décimo-segundo, enésimo, quinquagésimo-sétimo. 
Quando o segundo sol chegar, 
para realinhar as órbitas dos planetas
(O segundo sol — Nando Reis)
Multiplicativo — É utilizado quando se necessita enunciar cômputos 
multiplicativos.
Triplo, dupla, dobro, sêxtuplo, décuplo, duodécuplo, tercio décuplo. 
Nem centavo, nem milhão
Nem o dobro, nem metade
Nem a prata, nem o ouro
Nem o Euro, nem o Dólar
Nem fortuna, nem esmola
Nada do que eu conheço paga o preço 
de viver sem liberdade
(Tudo certo — Gabriel o Pensador)
Fracionário — Aparece na fala ou no texto quando o interlocutor necessita 
enunciar a parte de um todo ou as porções fracionadas deste. 
Classes de palavras: pronome, numeral e verbo4
Terço, quinto, oitavo, sexto, um terço, três quartos.
Quem sabe eu ainda sou uma garotinha,
Esperando o ônibus da escola sozinha
Cansada com minhas meias três quartos
Rezando baixo pelos cantos
Por ser uma menina má
Quem sabe o príncipe virou um chato
Que vive dando no meu saco
Quem sabe a vida é não sonhar.
(Malandragem — Cássia Eller)
Coletivo — Lança-se mão desse tipo de numeral quando se precisa expressar 
um conjunto de algo.
 Dúzia, cento, dezena.
O homem disse para o amigo:
— Breve irei a tua casa 
e levarei minha mulher. 
O amigo enfeitou a casa 
e quando o homem chegou com a mulher, 
soltou uma dúzia de foguetes.
(Sociedade — Carlos Drummond de Andrade)
A língua é dinâmica e fluida, e a criatividade do falante é infinita. Dessa forma, o 
emprego dos numerais pode se dar de diversas formas. Para designar a sucessão de 
papas, de reis, de imperadores, dos séculos e de partes de alguma obra, são utilizados 
5Classes de palavras: pronome, numeral e verbo
os números ordinais até o décimo; depois, são empregados os números cardinais, 
desde que o numeral venha depois do substantivo. Quando se trata de leis, decretos 
e portarias, a gramática preconiza o uso do numeral ordinal até o nono, e do cardinal 
a partir do dez. Para os dias do mês, utilizam-se os cardinais, com exceção da indicação 
do primeiro dia, que é feita tradicionalmente pelo ordinal “primeiro”.
Flexões do numeral
De maneira geral, o numeral pode flexionar-se em gênero (feminino e mascu-
lino) e número (singular e plural), de acordo com o substantivo que o determina, 
ou seja, pode flexionar-se de acordo com sua indicação quantitativa e com 
seu gênero (AZEVEDO, 2015). Os numerais cardinais são majoritariamente 
invariáveis. Todavia, em alguns casos, podem variar em gênero (um/uma, dois/
duas, duzentos/duzentas, trezentos/trezentas) e número (um/uns, milhão/
milhões). No caso dos numerais ordinais, as flexões são mais frequentes, ocor-
rendo em função do substantivo que os determina. Podem ser de gênero e/ou de 
número (segundo/segunda/segundos/segundas). Os numerais multiplicativos 
são invariáveis quando desempenham função substantiva, ou seja, quando 
substituem um substantivo; se atuam em função adjetiva, podem-se flexionar 
em gênero e número (As senhoras leiloaram o dobro das joias para obter 
atenções triplas). Os numerais fracionários também podem variar em gênero 
e em número (um terço/dois terços/a terça parte, um oitavo/sete oitavos). 
Os numerais coletivos são inflexionáveis em gênero, mas flexionam-se em 
número (uma dúzia, duas dúzias, um milheiro).
Verbo 
As palavras que pertencem a essa classe gramatical são aquelas quepossuem 
conteúdo semântico de ação (pôr, comer), estado (permanecer, ser), fenômeno 
da natureza (anoitecer, trovejar) ou ocorrência (aconteceu, sucedeu). Na 
sintaxe, esses termos têm a função de núcleo do predicado de uma oração. 
Os verbos podem flexionar-se de inúmeras maneiras, já que sua conjugação 
é realizada por meio das variações de pessoa, número, tempo, modo, voz e 
aspecto (ALMEIDA, 2009).
A estruturação de um verbo se dá a partir de três elementos básicos: radi-
cal, vogal temática e desinências. O radical é a parte fundamental do verbo, 
Classes de palavras: pronome, numeral e verbo6
uma base a partir da qual ele se edifica morfologicamente. Ele contém a 
significação do termo. 
Radical: AND- (and-ar), CORR- (corr-er), PART- (part-ir).
A vogal temática é a partícula que se une ao radical, a fim de que este possa 
se ligar às desinências e, desta maneira, promover a conjugação dos verbos. 
Ao produto da junção do radical à vogal temática, dá-se nome de tema (tema 
= radical + vogal temática). 
Tema: ANDA- (anda-r), CORRE- (corre-r), PARTI- (parti-r).
É a vogal temática que determinará a conjugação a qual o verbo pertence: 
na primeira conjugação, agrupam-se os verbos cuja vogal temática é -A — 
falar, amar, beijar, dançar —; na segunda conjugação, estão os verbos cuja 
vogal temática são -E ou -O — correr, ler, ter, pôr —; finalmente, na terceira 
conjugação, figuram os verbos cuja vogal temática é -I — partir, definir, ir.
A gramática organiza os verbos em três grupos de flexões, as quais denominamos 
conjugações. Esses grupos identificam-se pelas vogais temáticas -A, -E/-O e -I, respec-
tivamente. Essas conjugações servem para indicar o paradigma, isto é, o modelo pelo 
qual são conjugados os verbos regulares.
7Classes de palavras: pronome, numeral e verbo
As desinências são elementos que, juntamente ao tema (radical + vogal 
temática), facultam as conjugações. Podem ser de dois tipos:
 � Modo-temporais: indicam o modo e o tempo em que uma ação ocorre.
 � Número-pessoais: indicam o número e a pessoa.
Andávamos
va → desinência que indica o tempo pretérito perfeito do modo indicativo
mos → desinência que indica 1ª pessoa do plural (nós)
Correrei
re → desinência que indica tempo futuro do presente do modo indicativo
i → desinência que indica de 1ª pessoa do singular (eu)
Partamos
a → desinência que indica o tempo presente do modo subjuntivo
mos → desinência de 1ª pessoa do plural
Para se conjugar um verbo, é preciso levar em conta as seguintes flexões:
1. Pessoa: 1ª (eu, nós); 2ª (tu, vós) e 3ª (ele, eles).
2. Número: singular (eu, tu, ele) e plural (nós, vós, eles).
3. Tempo: presente, pretérito e futuro.
4. Modo: indicativo, subjuntivo e imperativo.
5. Voz: voz ativa, voz passiva e voz reflexiva.
Classificação dos verbos
A classe dos verbos é a que tem o maior número de flexões em nossa língua. 
Os verbos podem ser classificados como regulares, irregulares, defectivos 
ou abundantes. Essa classificação toma por critério as flexões verbais, e não 
o significado dos verbos. Estes flexionam-se em número (singular e plural), 
pessoa (1ª, 2ª e 3ª), modo (indicativo, subjuntivo, imperativo), tempo (presente, 
pretérito, futuro) e voz (ativa, passiva, reflexiva) (AZEVEDO, 2015).
Classes de palavras: pronome, numeral e verbo8
Verbos regulares — Verbos cujo radical não se altera; seguem um modelo 
de conjugação. Exemplos: falar, torcer, tossir.
Verbos irregulares — Verbos cujo radical altera-se na conjugação; não se-
guem um paradigma de conjugação como os regulares. As irregularidades 
aparecem no radical, nas terminações ou em ambos. Exemplos: dar, caber, 
medir. Observação: se a alteração do radical é muito profunda, esses verbos 
passam a ser chamados de verbos anômalos, casos dos verbos ser e vir.
Verbos defectivos — Verbos que não se conjugam em todas as pessoas, tempos 
e modos. Essas pessoas nas quais os verbos não se flexionam simplesmente 
inexistem.
Os verbos defectivos podem ser de três tipos:
 � Impessoais: aqueles que indicam, especialmente, fenômenos da natureza. Só podem 
ser conjugados na 3ª pessoa do singular, já que não possuem sujeito. Exemplos: 
chover, trovejar, amanhecer.
 � Unipessoais: aqueles que definem sons feitos por animais. São conjugados na 3ª 
pessoa do singular ou do plural. Exemplos: ladrar, miar.
 � Pessoais: verbos que não são conjugados em todos os tempos e todas as pessoas 
do discurso. Exemplos: banir, falir, reaver.
A linguagem conotativa permite que esses verbos sejam usados em outras pessoas do 
discurso, já que outorga a aplicação deles a situações que envolvam seres humanos:
Eu ladrei, mas não pude morder: o divórcio saiu.
9Classes de palavras: pronome, numeral e verbo
Verbos abundantes — São aqueles que permitem ao falante duas ou mais 
maneiras de flexão. Exemplos: aceitado/aceito, inserido/inserto, segurado/
seguro.
Compreender melhor as classes gramaticais, como o numeral, o pronome e o 
verbo é de suma importância para o estudo da língua portuguesa, especialmente 
para os estudos da morfologia vernácula. Os pronomes e os numerais, como 
acessórios linguísticos, complementam o sentido das sentenças. Os verbos 
são o cerne das orações, a alma das línguas, os termos que dão movimento e 
vida aos textos (CUNHA; ALTGOTT, 2004). 
ALMEIDA, N. T. Gramática de língua portuguesa para concursos, vestibulares, ENEM, colégios 
técnicos e militares. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
AZEVEDO, R. Português básico. Porto Alegre: Penso, 2015.
CEGALLA, D. P. Nova minigramática da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Editora 
Nacional, 2004. 
CUNHA, A.; ALTGOTT, M. A. A. Para compreender Mattoso Camara. Petrópolis, RJ: Vozes, 
2004.
Leituras recomendadas
CIPRO NETO, P. Gramática da língua portuguesa. 3. ed. São Paulo: Scipione, 2008.
DICIONÁRIO Priberam da língua portuguesa. c2018. Disponível em: <https://dicionario.
priberam.org>. Acesso em: 5 jan. 2019. 
HOUAISS, A.; VILLAR, M. S. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: 
Objetiva, 2017. 
LIMA, R. Gramática normativa da língua portuguesa. 49. ed. Rio de Janeiro: José Olym-
pio, 2011.
Classes de palavras: pronome, numeral e verbo10
Conteúdo:
MORFOSSINTAXE II 
Francisco De Souza Gonçalves 
Palavras fóricas 
e referenciação 
situacional e textual
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Definir as palavras fóricas e sua função na língua portuguesa. 
 � Descrever os mecanismos de referenciação situacional. 
 � Analisar mecanismos de referencial textual por meio de exemplos.
Introdução
O termo “comunicação” vem do latim communicare e significa tornar 
comum, partilhar, participar alguém de algo. Através dessa habilidade, 
o ser humano compartilha diversas informações, tornando o ato de 
comunicar uma atividade essencial para o âmbito social. 
Para que haja diálogo entre os falantes, é necessário que todos se 
entendam num contexto comunicativo. Com essa finalidade, o homem 
criou inúmeros mecanismos que dão fluidez à comunicação, e um deles 
é o uso da referenciação, processo pelo qual o falante consegue con-
catenar ideias e organizá-las, aludindo a elementos do próprio texto ou 
de fora dele. 
Neste capítulo, você vai conhecer melhor os processos de referencia-
ção e um dos principais instrumentos utilizados para operacionalizá-lo: 
o uso das palavras fóricas.
Mecanismo de referenciação e palavras fóricas 
Um texto pode ser conceituado como sendo, genericamente, um agrupamento 
de vocábulos organizados para composição de sentidos: as palavras formam 
frases, que constituem parágrafos, que, por sua vez, estruturarão o próprio 
texto. A unidade textual edificada apresentará sentido completo e servirá, 
exclusivamente, aos propósitos comunicativos (KESIK, 1987). 
Para argamassar esses feixes semânticos, assim como o cimento une os 
tijolos numa construção, algumas palavras servem para conectá-los e formarem 
um texto. Essas palavras têm a função de referenciar elementosde dentro e/
ou de fora do texto, completando, semanticamente, todas as significações da 
enunciação. Este grupo de vocábulos é chamado de palavras fóricas. Assim, 
podem-se conceituar as palavras fóricas como vocábulos que aludem a outros 
termos de dentro do próprio texto ou de fora dele, com vistas a promover entre-
laçamentos significativos: “fórico é o elemento que tem como traço categorial 
a capacidade de fazer referência” (PERDICOYANNI-PALÉOLOGOU, 2001, 
documento on-line).
Os termos fóricos podem se apresentar por meio de dois grandes meca-
nismos de referenciação: o exofórico e o endofórico. A função exofórica se dá 
quando o referente se remete a um elemento extratextual, isto é, que está fora 
do texto, mas inserido no contexto. Em contrapartida, a função endofórica 
se dá quando o referente alude a um termo que está dentro do próprio texto 
(SANTOLA, [2017]). Os elementos linguísticos que estabelecem a conectivi-
dade e a retomada, e garantem a coesão, são os referentes textuais.
Esses referentes estabelecem uma relação de sentidos e significados tanto 
com os elementos que os antecedem quanto com os que os sucedem, cons-
truindo uma cadeia textual significativa através da referenciação. A evolução 
referencial se dá com base numa complexa relação entre linguagem, mundo 
e pensamento estabelecida no discurso.
Os referentes são construtos alimentados pelas atividades linguísticas que 
podem estar dentro do texto ou não. A referenciação endofórica pode se dar 
quando o objeto designado é localizado no contexto linguístico. Já a referência 
exofórica se dá quando o objeto é localizado na situação extralinguística, porém 
ainda no contexto situacional em que é produzido aquele texto. 
Palavras fóricas e referenciação situacional e textual2
Subtipos de referenciação 
As relações exofóricas se estabelecem entre texto e contexto, portanto elas 
necessitam de informação extratextual para serem compreendidas. A língua 
contará com recursos para sinalizá-las (pronomes, advérbios e até certos 
verbos) que corretamente empregados remetem, de certa forma, a este âmbito 
extratexto. O mecanismo exofórico não se subcategoriza. 
Modernamente, as referências exofóricas são, exclusivamente, denominadas 
dêixis. Dessa forma, a dêixis designa o conjunto de palavras ou expressões fóri-
cas que têm por função apontar para o contexto situacional, isto é, assinalando 
marcas de enunciação: como o narrador, sujeito que enuncia; o interlocutor, 
sujeito a quem se dirige a enunciação; o tempo e o espaço da enunciação etc.
Dêixis, etimologicamente, se relaciona ao ato de mostrar algo, de apontar 
alguma coisa através da linguagem e isso poderia se estender a qualquer meca-
nismo de referenciação. Por isso, ainda hoje, alguns linguistas e semanticistas 
consideram todo processo dessa natureza como um processo dêitico, isto é, o 
pronome (ou dêixis) divide-se em três tipos, de acordo com a posição do termo 
a que ele se refere: dêixis ad oculos, dêixis anafórica, dêixis catafórica. Hoje, 
a maioria dos estudiosos restringe a dêixis ao processo de alusão a elementos 
extratextuais, porém, dentro do contexto da enunciação. Assim, os termos 
como dêixis anafórica e dêixis catafórica são apenas chamados de anáfora e 
catáfora, sendo a dêixis restrita somente ao âmbito da referenciação exofórica 
(PERDICOYANNI-PALÉOLOGOU, 2001).
Já as relações endofóricas, cujo referente alude a um elemento de dentro 
da própria enunciação, se subdividem em duas subcategorias: a anáfora e a 
catáfora. Basicamente, a anáfora é o processo pelo qual as palavras fóricas 
remetem a elementos linguísticos que se localizam em partes anteriores do 
próprio texto, trata-se de um termo ou expressão fóricos que fazem referência 
direta ou indireta a um outro termo anterior. A expressão anafórica retoma 
um termo anterior, total ou parcialmente, de modo que, para apreender sua 
significação completa dependemos de termo antecedente. Todavia, conceituar 
a anáfora em toda sua extensão é, ainda, algo problemático e não consensual 
entre linguistas. 
3Palavras fóricas e referenciação situacional e textual
Anáfora é um termo derivado do grego, anaphorein, que significa lembrar, repetir. Há 
registro de seu uso desde o século II d.C. nos escritos do gramático Apolônio Díscole, 
que empregava sua noção para referir-se aos pronomes que remetem a segmentos 
do discurso (FERREIRA, 2011; O’KELLY, 2004). 
Ferreira (2011, documento on-line), em estudo sobre o tema, sublinha que: 
[…] [a anáfora] é um fenômeno textual de referenciação e de correferenciação 
(mesma referência), de ativação e reativação de referentes ao longo do texto”, 
cujo uso “possibilita a retomada/ repetição pelo viés da pronominalização 
de um elemento do contexto anterior determinando, assim, um trabalho de 
interpretação da referência dos elementos nela envolvidos. 
Os elementos que mais se notabilizam nas operações anafóricas são os 
pronomes. Os pronomes anafóricos são os que apresentam uma referência a 
um termo antecedente. 
A seguir, confira alguns exemplos do uso da anáfora.
1. Alejandro está mal. Encontrei-o no mês passado.
 � O pronome oblíquo o retoma o vocábulo Alejandro.
2. Ana comprou um cão. O animal já conhece todos os cantos da casa.
 � O sintagma o animal refere-se ao termo antecedente o cão.
3. A sala de aula está degradada. As carteiras estão todas riscadas.
 � O sintagma as carteiras é compreendido mediante a compreensão do termo 
anterior sala de aula.
4. Maria é uma moça tão bonita que assusta. Essa sua beleza tem um quê de mistério.
 � O pronome demonstrativo essa refere-se à beleza de Maria, ideia que se encontra 
implícita no enunciado anterior.
Palavras fóricas e referenciação situacional e textual4
Já a catáfora, é o mecanismo linguístico através do qual um pronome ou 
outra expressão fórica faz referência a outro termo procedente, localizado à 
frente no texto, sendo, este, o referente. Como na anáfora, são representados 
prevalentemente pela classe dos pronomes e são aqueles que fazem referência 
a um termo subsequente, estabelecendo com ele uma relação de interdepen-
dência (NEVES, 2000). Para detectar uma expressão catafórica é necessário 
localizar e interpretar o termo ao qual ele faz referência.
A seguir, confira alguns exemplos do uso da catáfora.
1. A aluna olhou-a e disse: — Professora, estás com um ar cansado.
 � O pronome a refere-se ao termo procedente Professora. Observe que só é possível 
compreender quem é o referente, ou seja, a quem o pronome se refere, quando 
se promove toda a leitura da sentença, através de uma apreensão semântica 
completa (KESIK, 1987).
2. Os nomes mais comuns na língua portuguesa são estes: Maria, José e João.
 � O pronome estes faz referência aos vocábulos que o sucedem (Maria, José e 
João). Poder-se-ia dizer que a catáfora é quase uma subcategoria da anáfora, já 
que estabelece os mesmos tipos de relação coesiva entre os termos, porém o 
vocábulo anafórico se encontra antes do seu referente, o oposto do que acontece 
no fenômeno catafórico, em que o referente vem depois da palavra catafórica. 
FERREIRA, L. C. V. Anáfora: mecanismo coesivo de referenciação textual. 2011. Trabalho 
de Conclusão de Curso (Especialização em Gramática e Ensino de Língua Portuguesa) 
— Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011. Disponível em: 
https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/60695/000862143.pdf?sequence=1. 
Acesso em: 12 mar. 2019.
KESIK, M. La distinction exophore: endophore et le fonctionnement de l'adjectif sui-
vant. L'Information Grammaticale, [s. l.], n. 35, p. 3–9, 1987. DOI: https://doi.org/10.3406/
igram.1987.2073. Disponível em: http://www.persee.fr/doc/igram_0222-9838_1987_
num_35_1_2073. Acesso em: 12 mar. 2019.
5Palavras fóricas e referenciação situacional e textual
NEVES, M. H. M. A gramática: conhecimento e ensino. In: AZEREDO, J. C. (org.). Língua 
portuguesa em debate: conhecimento e ensino. Petrópolis: Vozes, 2000. p. 52–73.
O’KELLY, D. Le problèmede l’anaphore sans antécédent. Cycnos, [s. l.], v. 18, n. 2, 15 
juil. 2004. Disponível em: http://revel.unice.fr/cycnos/index.html?id=42. Acesso em: 
12 mar. 2019.
PERDICOYANNI-PALÉOLOGOU, H. Le concept d’anaphore, de cataphore et de déixis. Revue 
québécoise de linguistique, [s. l.], v. 29, n. 2, p. 55–77, 2001. DOI: 10.7202/039441ar. Disponível 
em: https://www.researchgate.net/publication/272893954_Le_concept_d'anaphore_
de_cataphore_et_de_deixis_en_linguistique_francaise. Acesso em: 12 mar. 2019.
SANTOLA, E. Língua portuguesa sem dúvidas! [S. l.: s. n.], [2017].
Palavras fóricas e referenciação situacional e textual6
MORFOSSINTAXE I
Francisco De Souza 
Gonçalves
Classes de palavras: 
advérbio, interjeição, 
preposição e conjunção
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Reconhecer os advérbios, as interjeições, as preposições e as conjun-
ções em contextos comunicativos diversos.
 � Relacionar aspectos linguísticos, semânticos e discursivos de cada 
uma das classes gramaticais em situações concretas de interação 
verbal orais ou escritas.
 � Conceituar advérbios, interjeições, preposições e conjunções de forma 
autônoma e proficiente.
Introdução
O estudo da morfologia é marcado pelo ávido desejo do homem de 
compreender a linguagem em seus complexos processos. Entender, 
analisar, conceituar e categorizar os inúmeros elementos que fazem 
parte do processo comunicativo sempre foi uma preocupação (CUNHA; 
ALTGOTT, 2004). Neste capítulo, você estudará algumas importantes 
classes de palavras das quais se ocupam a morfologia: o advérbio, a 
preposição, a interjeição e a conjunção.
Advérbio
Correspondem à classe de palavras que agrupa termos invariáveis, cuja função 
é modificar, delimitar ou amplificar a significação de um verbo, de um adjetivo, 
de outro advérbio ou de uma oração, expressando circunstâncias como lugar, 
tempo, modo, negação, dúvida, afirmação e intensidade. 
Locução adverbial
A locução adverbial consiste na junção de dois ou mais termos que, juntos, 
passam a ter valor semântico e gramatical de um advérbio. Geralmente possuem 
uma preposição em seu processo de composição.
Graus dos advérbios
Os advérbios não se flexionam em gênero ou número, mas podem variar em 
grau, da mesma forma que os adjetivos. Os graus do advérbio são o comparativo 
e o superlativo. O grau comparativo pode ser de igualdade, de superioridade ou 
de inferioridade. Já o grau superlativo pode ser analítico ou sintético (LIMA, 
2011). Em uma construção analítica, o aumento do grau do termo é efetuado 
com o auxílio de outro advérbio. Em uma sintética, o que promove o aumento 
de grau é o sufixo -íssimo. Observe: 
Grau comparativo de inferioridade: menos que (ou do que). Exemplo:
Jussara fala menos pausadamente que Alexandre.
Grau comparativo de igualdade: tão... quanto; tão... como; tão/tanto... quanto; 
quão. Exemplo:
Jussara fala tão rápido quanto eu.
Grau comparativo de superioridade: mais que (ou do que). Exemplo:
Jussara fala mais lentamente do que Ariane.
Grau superlativo absoluto analítico: acompanhado de outro advérbio (muito 
+ advérbio). Exemplo:
O artista pinta muito bem.
Grau superlativo relativo de superioridade: quando a intensidade do ele-
mento determinado é aumentada. Exemplo:
O cavaleiro mora pertíssimo.
Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção2
Observação: a utilização de formas diminutivas em alguns advérbios — 
pertinho, longinho, pouquinho, cedinho — é bastante utilizada pelos falantes 
do português. Esse recurso transmite ideias como: algo que está muito longe, 
muito perto, muito pouco, muito cedo, etc. 
Grau superlativo absoluto sintético: advérbio + sufixo (normalmente, o 
sufixo -íssimo). Exemplo:
O marinheiro chegou cedíssimo ao embarque.
Advérbio: bem
 � Comparativo: melhor, mais bem
 � Superlativo: otimamente, muito bem
Advérbio: mal
 � Comparativo: pior, mais mal
 � Superlativo: pessimamente, muito mal
Advérbio: muito
 � Comparativo: mais
 � Superlativo: muitíssimo, o mais
Advérbio: pouco
 � Comparativo: menos
 � Superlativo: pouquíssimo, o menos
Classificação dos advérbios
Os advérbios podem ser classificados de acordo com a modificação/comple-
mentação semântica que promovem no termo que acompanham.
Advérbios de lugar
Esse tipo de advérbio traz uma indicação, quase sempre espacial, de lugar 
para o termo que acompanha. Alguns exemplos: aqui, lá, próximo, perto, 
longe, frente, atrás, dentro, fora, abaixo, acima, ali, adiante. Exemplos:
3Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção
Estacione lá!
A menina chegou perto do precipício. 
Advérbios de tempo
Esse tipo de advérbio traz uma indicação de tempo, durativa ou cronológica, 
à palavra que acompanha. Como exemplos, temos: depois, hoje, antes, logo, 
já, amanhã, ontem, desde, agora, finalmente, nunca, às vezes, quando, 
anteontem, de repente, sempre, tarde, jamais, cedo. Exemplos:
Fale hoje, brinque amanhã. 
Jamais mencione o nome dela. 
Advérbios de modo
Esse tipo de advérbio fornece uma indicação da maneira pela qual determinada 
coisa acontecerá. A grande maioria das palavras deste grupo se formam a 
partir da adição do sufixo -mente aos vocábulos. Exemplos: bem, mal, melhor, 
pior, assim, depressa, devagar, debalde, expressamente, infelizmente, 
constantemente, frequentemente. Exemplos:
Mal falou e a mulher chegou.
Andou devagar, atrasou-se.
Advérbios de negação
Este tipo de advérbio indica uma negação. Como exemplos, podemos citar: 
não, nem, tampouco, nunca, jamais. Exemplos:
“Nunca mais sentirei fome!”
Naquele dia, não arrumou a mesa do café.
Advérbios de dúvida
São advérbios de intensidade, de modo, de lugar, de tempo, etc., que possuem 
sua função redirecionada para serem usados em sentenças interrogativas. 
Destacam-se: porventura, quiçá, talvez, provavelmente, possivelmente. 
Exemplos:
Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção4
Quiçá daqui uns anos? 
Porventura escrevestes aquele relatório?
Advérbio de afirmação
Esse tipo de advérbio traz uma indicação de afirmação para o termo que o 
acompanha. São alguns exemplos: sim, deveras, indubitavelmente, decidi-
damente, certamente, realmente, decerto, certo, efetivamente. Exemplos:
Certamente foi um pássaro.
Estamos realmente felizes com a gravidez. 
Advérbios de intensidade
Este tipo de advérbio dá uma indicação de quantidade à palavra que modifica. 
Exemplos: bastante, quão, muito, pouco, demais, mais, meio, tão. Exemplos:
Falaram muito e fizeram pouco. 
“Quão grande és Tu!”
Os advérbios bem, mal, muito e pouco assumem formas irregulares nos graus 
comparativo e superlativo.
Interjeição 
Interjeição é toda palavra invariável que expressa sensações, ações, estados 
de espírito e emoções, de formas variadas. Como exemplo: ah!, ufa!, oba!, 
Credo!, Que horror! (ALMEIDA, 2009). As interjeições aparecem, quase 
sempre, seguidas de um ponto de exclamação, que pode estar imediatamente 
depois delas ou no final da frase. 
5Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção
Droga! Preste atenção quando eu estou falando!
Atente que, no exemplo, o termo Droga! foi utilizado pelo interlocutor para exteriorizar 
a sua raiva: isso se fez no contexto comunicativo por meio do vocábulo. Observe que 
as interjeições são uma espécie de palavra-frase, ou seja, há uma ideia expressa por 
uma palavra (ou um conjunto de palavras), que poderia ser colocada nos termos de 
uma sentença. É um recurso da linguagem afetiva, em que não há uma ideia organizada 
de maneira lógica, como nas sentenças da língua, mas sim a manifestação de um 
suspiro, um estado da alma decorrente de uma situação particular, um momento 
ou um contexto específico. O significado das interjeições está vinculado à maneira 
como elas são proferidas. 
Fonte: Michichelli (2015).
As interjeições são palavras invariáveis, isto é, não sofrem variação de gênero, número 
e grau, como os nomes, nem de número,pessoa, tempo, modo, aspecto e voz, como 
os verbos. No entanto, em usos específicos, algumas interjeições sofrem variação em 
grau. Deve-se ter claro, nestes casos, que não se trata de um processo natural dessa 
classe de palavra, mas tão somente uma variação que a linguagem afetiva permite. 
Exemplos: oizinho, bravíssimo, até loguinho.
Quando a interjeição é expressa por mais de uma palavra, recebe o nome 
de locução interjetiva. Exemplos:
Ora bolas!
Cruz credo! 
Puxa vida!
Desse modo, o tom da fala dita o sentido que a expressão vai adquirir em 
cada contexto de enunciação.
As interjeições cumprem, normalmente, duas funções, podendo ser for-
madas por:
Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção6
a) Simples sons vocálicos: Oh! Ah! Ó! Ô!
b) Palavras: Oba! Olá! Claro!
c) Grupos de palavras (locuções interjetivas): Meu Deus! Ora bolas!
Confira no Quadro 1 os sentidos expressos pelas interjeições.
Sentido Exemplos
Advertência Cuidado! Devagar! Calma! 
Sentido! Atenção! Olha! Alerta!
Afugentamento Fora! Passa! Rua! Xô!
Alegria; satisfação Oh! Ah! Eh! Oba! Viva!
Alívio Arre! Uf! Ufa! Ah!
Estímulo Vamos! Força! Coragem! Eia! 
Ânimo! Adiante! Firme! Toca!
Apelo; chamamento Alô! Olá! Psiu! Socorro! Ei!
Aplauso; aprovação Bravo! Bis! Apoiado! Viva! Boa!
Concordância Claro! Sim! Pois não! Tá! Hã-hã!
Repulsa; desaprovação Credo! Irra! Ih! Livra! Safa! Fora! Abaixo! 
Francamente! Xi! Chega! Basta! Ora!
Desejo; intenção Oh! Pudera! Tomara! Oxalá!
Desculpa Perdão!
Dor; tristeza Ai! Ui! Ai de mim! Que 
pena! Ah! Oh! Eh!
Dúvida; incredulidade Qual! Qual o quê! Hum! Epa! Ora!
Espanto; admiração Oh! Ah! Uai! Puxa! Céus! Quê! 
Caramba! Opa! Virgem! Vixe! 
Nossa! Hem?! Hein? Cruz! Putz!
Impaciência; contrariedade Hum! Hem! Irra! Raios! 
Diabo! Puxa! Pô! Ora!
Medo; terror Uh! Ui! Oh! Credo! Cruzes!
Pedido de auxílio Socorro! Aqui! Piedade!
Quadro 1. Sentidos expressos pelas interjeições
(Continua)
7Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção
Fonte: Adaptado de Michichelli (2015).
Quadro 1. Sentidos expressos pelas interjeições
Sentido Exemplos
Saudação; chamamento; invocação Salve! Viva! Adeus! Olá! Alô! Ei! Tchau! 
Ô! Ó! Psiu! Socorro! Valha-me, Deus!
Silêncio Psiu! Bico! Silêncio!
Surpresa; admiração Puxa! Céus! Caramba! 
Opa! Virgem! Pô! Uai!
(Continuação)
Usadas com muita frequência na língua falada informal, quando empregadas na língua 
escrita, as interjeições costumam conferir um tom inconfundível de coloquialidade ao 
texto. Além disso, elas podem indicar traços pessoais do falante, como escassez de 
vocabulário, temperamento agressivo ou dócil e, até mesmo, origem geográfica. Nos 
textos narrativos, particularmente nos diálogos, é comum fazer uso das interjeições com 
o objetivo de caracterizar personagens. Graças à sua natureza sintética, as interjeições 
são mobilizadas para conferir agilidade às falas. Em razão de sua natureza sintética 
e conteúdo mais emocional do que racional, as interjeições são presença constante 
nos textos publicitários.
Preposição
Preposição é toda palavra invariável que se põe antes de um termo (pré + 
posição), a fim de ligá-lo a outro, estabelecendo, semanticamente, inter-relações 
de sentido e de dependência entre eles. A preposição exerce uma função 
conectiva. A palavra anterior à preposição é chamada de regente, e a que a 
sucede é conhecida como regida (CEGALLA, 2004). Exemplos:
Casaco de Letícia. (exprime relação de posse)
Saiu com a moça. (exprime relação de companhia)
Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção8
Conectivos são palavras que ligam diferentes elementos. Várias palavras podem se 
comportar como conectivos, ligando palavras, orações e parágrafos. 
Classificação das preposições
As preposições podem ser essenciais e acidentais. As preposições essenciais são 
as que só funcionam, morfologicamente, como preposições: a, ante, após, 
até, com, contra, de, desde, em, entre, para, perante, por, sem, sob, sobre, 
trás (CAMARA JR, 2004). 
As preposições acidentais são palavras provenientes de outras classes 
gramaticais que, em algumas sentenças, funcionam como preposição: afora, 
como, conforme, durante, exceto, mediante, menos, salvo, segundo, visto. 
Por exemplo: 
Marina agiu segundo suas convicções.
Observe que o numeral ordinal segundo serviu como preposição. 
As preposições recebem classificação sob o ponto de vista semântico, uma 
vez que, dentro do contexto frasal, podem indicar muitas relações diferen-
tes, como de lugar, tempo, modo, distância, causa, companhia, instrumento, 
finalidade. 
Relações semânticas promovidas pelas preposições:
 � relógio de ouro (material)
 � homem de Piracicaba (origem)
 � livro de Cecília Meireles (autoria)
 � livro de professor (posse)
 � morreu de frio (causa)
 � saiu de manhã (tempo)
 � veio de Lisboa (lugar)
9Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção
 � Breve irei à França. (lugar)
 � O avião pousará em duas horas. (tempo) 
 � A maçã foi comida com ansiedade. (modo) 
A preposição é um morfema gramatical inflexionável, dotado de função conectiva, sem 
papel sintático próprio. Serve para estabelecer, entre palavras, uma relação chamada 
de regência. Exemplo: 
Um homem de coragem
homem → regente
de coragem → regido, subordinado
As palavras homem e coragem são substantivos. Isso significa que funcionam 
como núcleos de um sintagma nominal quando as agrupamos com outras palavras. 
Entretanto, se quisermos fazer com que um desses substantivos se torne regido, 
subordinado ao outro, podemos fazer uso de preposição. Nesse caso, ocorrerá um 
sintagma preposicional (ou preposicionado). 
Outro fato a ser destacado é que a preposição estabelece subordinação entre palavras 
e termos. Observe que, ao passo que o substantivo é o núcleo de um sintagma nominal, 
a preposição não tem uma função sintática própria. Isso não significa que ela não é 
importante, mas que seu papel sintático é ligar ideias, ligar palavras.
Locução prepositiva
Quando a relação entre duas ou mais palavras se estabelece por meio de uma 
expressão, e não por meio de uma única palavra, temos uma locução prepo-
sitiva. Exemplos: abaixo de, atrás de, acima de, por causa de, ao lado, de 
a de, defronte a, de acordo com, até a, perto de.
Conjunção
Gramaticalmente, conjunção é a palavra invariável que tem por função ligar 
orações ou termos de mesmo valor gramatical. Semanticamente, a conjunção 
pode estabelecer relações entre orações e entre palavras. Morfologicamente, 
Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção10
a conjunção é um morfema gramatical que não sofre flexão. Sintaticamente, 
a conjunção é um conectivo e não tem função sintática própria. Serve para 
estabelecer relação de subordinação ou de coordenação entre orações e relação 
de coordenação entre palavras. Conjunção significa ligação, união, junção 
(CAMARA JR, 2004).
Marcia e João saíram. (adição)
Uma ou outra será eleita nossa representante. (alternância, exclusão)
Trabalhe, pois precisas sobreviver! (explicação)
Embora estivesse triste, festejou. (concessão)
Ficou em casa porque estava doente. (causa)
Falei tudo como me pediram. (conformidade)
Diferenciemos coordenação de subordinação. Observe a frase: 
Encontrei Pedro e o irmão.
Os termos Pedro e o irmão são complementos do verbo encontrar, ou 
seja, tanto Pedro quanto o irmão sofrem a ação de serem encontrados. Estão 
conectados por um vocábulo que adiciona um ao outro. Perceba a independência 
sintática entre os dois elementos:
Encontrei Pedro.
Encontrei o irmão.
Os termos em destaque não dependem sintaticamente um do outro, isto é, 
um não se subordina ao outro. São termos ligados por uma conjunção. Vejamos 
a mesma conjunção empregada para ligar orações:
Fui ao colégio. Falei com o professor.
Note que essas duas orações têm independência sintática, tanto que se 
estruturam separadamente. Podemos, porém, conectá-las com a conjunção e.
11Classes de palavras:advérbio, interjeição, preposição e conjunção
Fui ao colégio e falei com o professor.
A relação de independência entre palavras e orações chama-se coordenação.
Agora, observe este exemplo:
Ela saiu de manhã.
O substantivo manhã está subordinado ao verbo sair porque está presente 
na frase para indicar uma circunstância de tempo da ação verbal. Essa relação 
de regência foi estabelecida pela preposição de.
Se quisermos estabelecer relação de subordinação entre orações, faremos 
uso de conjunções. Veja:
Ela saiu quando o galo cantou.
Há duas orações no período acima (duas declarações verbais), porém só 
uma está presente para indicar circunstância de tempo para o verbo da outra 
oração. Essa relação entre orações chama-se subordinação. Observe que a 
preposição subordina palavras, e a conjunção subordina orações. 
Vejamos mais exemplos de coordenação e subordinação:
Ricardo será nomeado como diretor.
Maurício será nomeado como diretor.
Veja que os dois termos independem um do outro. Assim, podemos 
coordená-los.
Ricardo ou Maurício será nomeado diretor.
Podemos usar essa mesma conjunção coordenativa para ligar orações, isto 
é, declarações verbais.
Ele será nomeado diretor.
Ele ficará louco.
Ele será nomeado diretor e ficará louco.
Note que, nesse caso, usamos a conjunção coordenativa e para ligar orações. 
Veja outro exemplo:
Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção12
Ela disse algo. Ela estava cansada.
Se quisermos que ela estava cansada seja equivalente a algo na primeira 
oração apresentada (Ela disse algo), podemos escrever:
Ela disse que estava cansada.
Perceba que que estava cansada passa a ser informação subordinada a Ela 
disse, pois essa informação só aparece para complementar o que foi dito por ela.
Considere agora que a frase fosse:
Ela disse.
Nesse caso, faltaria uma informação nessa oração. Assim, a conjunção 
subordinativa “prende” a segunda ideia à primeira, fazendo com que aquela 
dependa desta. Veja o exemplo:
Ela chegou em determinada hora. Eu estava dormindo.
Ela chegou quando eu estava dormindo.
Agora, a conjunção subordinativa prende a segunda informação à primeira: 
dizemos que eu estava dormindo para indicar o momento em que ela chegou. 
Assim, conjunções subordinativas criam um vínculo de dependência entre 
duas informações. Observe, também, o seguinte:
Quando eu estava dormindo.
Essa informação faz sentido? Sabemos que não. Ela precisa ser atribuída à 
outra ideia, porque é subordinada à outra ideia. Quem estabelece esse vínculo 
de subordinação é a conjunção subordinativa. 
Vejamos o que aconteceria se disséssemos:
Eu estava dormindo.
Não haveria problemas, certo? Mas com a conjunção subordinativa, pre-
cisamos atribuir essa oração à outra.
Quando eu estava dormindo, ela chegou.
13Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção
Classificação das conjunções
Coordenativas
Conjunções coordenativas são aquelas que ligam palavras ou orações sem 
estabelecer vínculos de subordinação entre elas. As conjunções coordenativas 
ligam duas orações independentes. Estão divididas em cinco tipos.
Aditivas — Exprimem soma: e, nem, bem com, não só… como também, 
não só… mas também. Exemplos:
Leu o livro e foi ao cinema.
Os alunos não só foram aprovados como também receberam prêmios.
Não veio aqui nem entregou as notas.
Adversativas — Exprimem oposição: mas, porém, contudo, entretanto, no 
entanto, todavia, não obstante. Exemplos:
Saiu, porém não levou o guarda-chuva.
Estudou; não obteve, todavia, o resultado esperado.
Alternativas — Exprimem escolha de pensamentos: ou, ou... ou, ora... ora, 
já... já, quer... quer, seja... seja, talvez... talvez. Exemplos:
Faça os exercícios ou saia de sala.
Ela ora gritava, ora sorria.
Conclusivas — Exprimem conclusão de pensamento: logo, portanto, por 
isso, pois, por conseguinte, assim. Exemplos:
Penso, logo existo.
Veio de carro, portanto pode nos dar uma carona.
Explicativas — Exprimem razão e motivo: que, porque, pois, porquanto, por 
conseguinte, assim. Exemplos:
Entre, que está frio.
Saiu de casa, pois as luzes estão apagadas.
Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção14
Conjunções subordinativas 
São aquelas que conectam sintaticamente orações dependentes umas das 
outras. São usadas para estabelecer uma melhor coesão e coerência textual. 
As conjunções subordinativas podem ser integrantes ou adverbiais. 
Integrantes — Introduzem uma oração que vai completar o sentido da ou-
tra. São aquelas que introduzem orações substantivas, isto é, orações que se 
põem no lugar de termos substantivos (sujeito, objeto direto, objeto indireto...). 
São apenas duas: que e se. Exemplos:
Ela disse que não virá. (introduz objeto direto)
É preciso que estudemos. (introduz sujeito)
Não sei se ela virá. (introduz objeto direto)
Não respondeu se podia vir. (introduz objeto direto)
Adverbiais — Introduzem um valor semântico circunstancial, portanto adver-
bial, para a ação verbal (CEGALLA, 2004). Podem ser divididas da seguinte 
forma:
1. Causais: introduzem orações que dão ideia de causa: que, porque, 
como, pois que, visto que, uma vez que, porquanto, já que, desde 
que. Exemplos:
Não saí porque não me convidaram.
Como choveu, não saí.
2. Comparativas: introduzem orações que dão ideia de comparação: como, 
qual, que, do que (depois de mais, menos, maior, menor, melhor e 
pior). Exemplos:
Ela estava mais bonita que a mãe.
Fugiu como um condenado.
3. Concessivas: iniciam orações que indicam contradição: embora, ainda 
que, mesmo que, se bem que, posto que, por mais que, apesar de 
que. Exemplos:
Embora fosse professor, ainda tinha muito a aprender.
Irei, mesmo que ela não vá.
15Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção
4. Condicionais: iniciam orações que exprimem hipótese ou condição: 
se, caso, a menos que, contanto que, salvo se, desde que, a não ser 
que. Exemplos:
Irei, caso ele vá.
Ficarás aqui, contanto que fiques quieta.
5. Conformativas: iniciam orações que exprimem acordo: como, con-
forme, segundo, consoante. Exemplos:
Como combinamos, fizemos o livro.
Fez tudo conforme lhe ordenaram.
6. Consecutivas: iniciam orações que indicam consequência: que (pre-
cedido de tal, tanto, tão ou tamanho), de modo que, de forma que, 
de sorte que. Exemplos:
Era tão estudioso que sempre era aprovado.
Tinha tanta fé que nada temia.
7. Temporais: iniciam orações que dão ideia de tempo: quando, mal, 
assim que, logo que, antes que, depois que, sempre que, desde que. 
Exemplos:
Saiu depois que o expulsamos.
Mal começou a falar, todos o vaiaram.
8. Finais: iniciam orações que exprimem finalidade: porque, a fim de 
que, para que. Exemplos:
Saiu para que não encontrasse ninguém.
Venha cá a fim de que conversemos.
9. Proporcionais: iniciam orações que exprimem concomitância: à me-
dida que, à proporção que, ao passo que, quanto menos, quanto 
menor, quanto maior, quanto melhor. Exemplos:
À medida que crescia, tornava-se um diabinho.
Quanto mais estudava, mais aprendia.
Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção16
ALMEIDA, N. T. Gramática de língua portuguesa para concursos, vestibulares, ENEM, colégios 
técnicos e militares. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
CAMARA JR, J. M. Estrutura da língua portuguesa. 36. ed. Petrópolis: Vozes, 2004.
CEGALLA, D. P. Nova minigramática da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Editora 
Nacional, 2004. 
CUNHA, A.; ALTGOTT, M. A. A. Para compreender Mattoso Camara. Petrópolis: Vozes, 2004.
LIMA, R. Gramática normativa da língua portuguesa. 49. ed. Rio de Janeiro: José Olym-
pio, 2011. 
MICHICHELLI, B. Língua portuguesa: aula 04. 2015. Disponível em: <http://docplayer.
com.br/18746509-Portugues-lingua-portuguesa-aula-04-13-02-15-pmerj-2015-tel-22- 
3852-3777-professor-bruna-michichelli.html>. Acesso em: 16 dez. 2018.
Leituras recomendadas
CIPRO NETO, P. Gramática da língua portuguesa. 3. ed. São Paulo: Scipione, 2008.
DICIONÁRIO Priberam da línguaportuguesa. c2018. Disponível em: <https://dicionario.
priberam.org>. Acesso em: 12 dez. 2018. 
HOUAISS, A.; VILLAR, M. S. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: 
Objetiva, 2017. 
17Classes de palavras: advérbio, interjeição, preposição e conjunção
Conteúdo:
MORFOSSINTAXE II 
Francisco De Souza Gonçalves
Marcadores de coerência 
e coesão discursiva
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Analisar a importância dos marcadores de coerência e coesão discur-
siva para a construção e interpretação textual.
 � Descrever os marcadores discursivos e sua função no desenvolvimento 
da coerência textual.
 � Definir os marcadores discursivos relacionados à construção da coesão 
textual.
Introdução
O repertório dos marcadores discursivos é vasto, composto por elementos 
correntes em nosso dia a dia. Trata-se de uma classe funcional heterogênea 
formada por elementos provindos de classes morfológicas diversas. Os 
marcadores do discurso têm como missão vincular fragmentos textuais, 
garantindo a transição entre eles e, consequentemente, a coesão textual. 
Os marcadores discursivos são, além disso, responsáveis por manifestar 
a relação semântico-pragmática que se estabelece entre os elementos 
que ligam.
Caracterização dos marcadores discursivos 
A pragmática é o campo dos estudos linguísticos que busca abordar a linguagem 
sob a perspectiva de sua práxis, isto é, debruça-se sobre a instrumentalização 
concreta desta pelos falantes, levando em conta os seus diversos contextos. 
Ela investiga as relações entre a significação das palavras, a atuação dos 
interlocutores e o contexto. 
Os elementos que entram em conexão através de um marcador discursivo 
são diversos, ele pode estabelecer uma relação entre frases, entre conjuntos 
de sentenças dentro de um parágrafo e até entre parágrafos inteiros. Também 
é possível que o marcador discursivo introduza um elemento linguístico que 
se conecte a um evento extralinguístico (LOUREIRO; CARAPINHA; PLAG, 
2017).
Todavia, a função dos marcadores discursivos não é só integrar estruturas 
sintaticamente, como fazem as conjunções, mas tornar explícitas as relações 
semânticas e pragmáticas que são estabelecidas entre as unidades textuais que 
elas colocam em relação. A tradição linguística considerava que os elementos 
que compunham a classe funcional dos marcadores discursivos eram explícitos, 
isto é, eram tratados como elementos gramaticais sem qualquer função. 
Modernamente, entretanto, os estudos sobre análise do discurso, linguística 
textual e pragmática têm destacado que os marcadores discursivos desempe-
nham diferentes funções, tendendo a explicitar: a relação entre afirmações 
ou pares de afirmações e até as relações entre orador e ouvinte (KOCH, 1990, 
2010). 
O termo marcador discursivo parece prevalecer na bibliografia contem-
porânea; entretanto, essas partículas receberam nomenclaturas diferentes ao 
longo do tempo. Assim, até o início do século XXI, eles foram denominados 
em termos gerais: expressões de preenchimento, inclinações lexicais. Mas 
também aplicaram nomes que se referiam ao seu funcionamento extraoracional: 
partículas extradiscursivas, ordenadores discursivos, operadores conjuntivos, 
operadores textuais, suportes de conversação, links temáticos, conectores de 
parágrafo, conectores extrafala, operadores pragmáticos, operadores discur-
sivos, partículas discursivas.
Os marcadores discursivos são elementos com um significado processual. 
Ou seja, codificam uma instrução destinada a orientar a interpretação do texto 
em que aparecem, funcionam como elementos coesivos, sem função sintática: 
constituem elos supravocais especializados em coesão textual e favorecem a 
interpretação de enunciados (OLIVEIRA, 2012). Do ponto de vista morfológico, 
os marcadores discursivos são caracterizados por serem unidades linguísticas 
invariáveis, pertencentes a diversas categorias gramaticais (FÁVERO, 1991).
Não há unanimidade ao estabelecer uma classificação e categorização para 
os marcadores discursivos. Em grande medida, a dificuldade se dá por tentar 
definir, como classe categorial, o que é uma classe funcional. 
Marcadores de coerência e coesão discursiva2
Os elementos que funcionam como marcadores discursivos provêm de 
diferentes classes de palavras, nem sempre bem estabelecidas nas taxonomias 
gramaticais existentes. O que eles compartilham é uma função. Formando, 
assim, uma classe funcional, não categorial, ou seja, o que os une não é a 
categoria gramatical à qual pertencem, mas a função que desempenham 
(FÁVERO, 1991).
As classificações existentes dos marcadores discursivos são frequentemente 
baseadas em listas muito exaustivas que tentam capturar todas as nuances 
significativas expressas pelos marcadores discursivos. Outros, no entanto, 
tentam fazer agrupamentos gerais, como Loureiro, Carapinha e Plag (2017). 
Então eles distinguem entre: estruturas da informação, conectores, reformu-
ladores, operadores, marcadores de conversação.
Classificação dos marcadores discursivos
 � Estruturadores da informação: elementos que permitem organizar a 
informação dentro do texto.
 ■ Comentadores: bem.
 ■ Computadores: primeiro/segundo; por um lado/por outro lado; 
de um lado/de outro lado.
 ■ Digressores: a propósito, para tudo isso, a propósito disso.
 � Conectores: aparecem ligando um elemento de enunciação a outro, 
anterior, jungido a uma suposição contextual. 
 ■ Aditivos: também, acima, aparte, par.
 ■ Consecutiva: portanto, consequentemente, de lá, então, bem, assim.
 ■ Contra-argumentativo: pelo contrário, porém, no entanto, contudo.
 � Reformuladores: especializados em introduzir uma nova formulação 
do que foi dito no discurso anterior. 
 ■ Explicativos: isto é, ou seja.
 ■ De retificação: melhor dito, melhor ainda, sim.
 ■ Distanciamento: em qualquer caso, de qualquer maneira.
 ■ Recapitulativos: em suma, em conclusão, enfim, afinal.
3Marcadores de coerência e coesão discursiva
 � Operadores: marcadores que não conectam duas unidades e que determi-
nam as possibilidades discursivas do segmento em que estão incluídos.
 ■ Operadores de reforço argumentativo: na verdade, basicamente, 
de fato.
 ■ Operadores de realização: por exemplo, em particular.
 � Marcadores de conversação: típicos da linguagem de conversação.
 ■ De modalidade epistêmica: claro, óbvio, aparentemente.
 ■ De modalidade deôntica: bom, mau, valor.
 ■ Enfocadores da alteridade: homem, olhar, ouvir.
 ■ Metadiscursivos de conversação: bom, eh, isso.
Há, ainda, outras categorizações, que baseiam sua tipificação nos elemen-
tos que intervêm na fala, ou seja, falante, ouvinte e discurso (LOUREIRO; 
CARAPINHA; PLAG, 2017). 
A posição dos conectores dentro dos marcadores discursivos ainda é de-
batida (OLIVEIRA, 2012). Para alguns autores, os conectores são um sub-
conjunto dos marcadores de discurso, mas outros circunscrevem-nos ao nome 
do marcador de discurso que é chamado marcador de conversação, ou seja, 
elementos vazios de conteúdo, muitas vezes monossilábicos (eh, bom, sim), 
que funcionam na interação conversacional.
Também não é fácil estabelecer limites claros entre os elementos que 
compõem a classe de marcadores discursivos. Nem entre estes e outros tipos 
de palavras, como, por exemplo, conjunções. Assim, por exemplo, a diferença 
entre conjunções e conectores é estabelecida pelo escopo de ambos. As con-
junções têm o escopo das sentenças. Os conectores, por outro lado, vinculam 
sentenças ou parágrafos. Mas na prática não é fácil manter essa distinção. 
Assim, as conjunções e/ou, admitem usos que as colocam no campo dos 
marcadores discursivos, vejamos os exemplos:
1. — Ontem Lola me disse que queria separar. 
 — O que você disse?
2. Diga de uma vez. Ou é que você tem medo dele?
Em (1), o que marca a continuidade em relação à primeira afirmação, 
propriedade característica dos marcadores discursivos, e em (2), ou introduz 
uma justificativa argumentativa.Assim, as conjunções podem ter um funcio-
namento discursivo que as liga aos marcadores do discurso.
Marcadores de coerência e coesão discursiva4
O esquema que se segue, baseado em Castilho (2010) e em Fávero (1991), 
ilustra a questão com clareza.
 � Marcadores de estruturação da informação: com função de ordenar a 
informação: por um lado, por outro lado, em primeiro lugar, após, antes, 
depois, em seguida, seguidamente, até que, por último, para concluir.
 � Marcadores reformuladores: reformular o discurso, explicando-o ou 
retificando-o: ou seja, isto é, quer dizer, por outras palavras, quer 
dizer, ou melhor, dizendo melhor, ou antes, como se pode ver, é o 
caso de, como vimos, quer isto dizer, significa isto que, não se pense 
que, pelo que referi anteriormente.
 � Operadores discursivos: servem para reforçar e concretizar ideias: de 
fato, na verdade, na realidade, com efeito, por exemplo, efetivamente, 
note-se que, atente-se em, repare-se, veja-se, mais concretamente, é 
evidente que, a meu ver, creio que, em nosso entender, certamente, 
decerto, com toda a certeza, naturalmente, evidentemente, pretende-
mos, em outras palavras, ou melhor, ou seja, em resumo, em suma.
 � Marcadores conversacionais ou fáticos: prestam-se a gerir a relação 
entre os interlocutores: ouve, olha, presta atenção.
O segundo tipo que Castilho (2010) enumera são os conectores ou articu-
ladores, que têm como função articular, conectar, ligar grupos de palavras; 
unir frases simples, formando frases complexas; estabelecer nexos lógicos 
entre períodos e parágrafos, de modo a construir textos coesos e coerentes. 
Os conectores podem ser classificados com funcionalidades lógicas distintas, 
de acordo com o contexto de uso.
 � Aditivos: agrupar, adicionar ideias, segmentos, sequências, informação: 
e, nem (negativa), bem como, não só… mas também, além disso, mais 
ainda, igualmente, ainda.
 � Alternativos/exclusão: apresentar opções, alternativas: ou, ou… 
ou, ora… ora, seja… seja, alternativamente, em alternativa, 
opcionalmente.
 � Contrastivos: indicar uma oposição, um contraste: mas, porém, todavia, 
contudo, no entanto, contrariamente, pelo contrário.
5Marcadores de coerência e coesão discursiva
 � Concessivos: negar o efeito, a conclusão; exprimir uma concessão: 
embora, ainda que, mesmo que, conquanto, apesar de, malgrado, 
não obstante, mesmo assim, ainda assim.
 � Temporais: exprimir relações de tempo entre os segmentos do texto/
discurso: quando, mal, assim que, logo que, enquanto, entretanto, 
depois que, desde que, antes de, mais tarde, ao mesmo tempo.
 � Finais: traduzir o fim, a intenção, o objetivo: para (que), a fim de, a 
fim de que, de modo/forma a, com o objetivo de.
 � Comparativos: exprimir uma comparação: como, tal como, assim como, 
bem como, também, mais/menos do que. 
 � Causais: exprimir a causa, a razão: porque, visto que, dado que, como, 
uma vez que, já que.
 � Condicionais: introduzir hipóteses ou condições: se, caso, desde que, 
a não ser que, contanto que. 
 � Consecutivos: exprimir a ideia de consequência, resultado, efeito: por 
isso, daí que, de tal forma… que, tanto… que, tal… que, tão… que.
 � Conclusivas: expressar uma conclusão, uma inferência (dedução lógica 
a partir do já exposto): portanto, assim, logo, por conseguinte, con-
cluindo, para concluir, em conclusão, em consequência, daí, então, 
deste modo, por isso, por este motivo. 
 � Completivos: completar o sentido do núcleo do grupo verbal: que, se, 
para.
 � Confirmativos ou exemplificativos: documentar, exemplificar: 
por exemplo, ilustrativamente, documentando, exemplificando. 
Pelos exemplos apresentados, não só preposições, conjunções, advérbios e 
expressões que lhes sejam equivalentes, desempenham a função de conectores 
do discurso. De fato, também os adjetivos, numerais (primeiro, segundo, 
terceiro) e as formas verbais impessoais (também chamadas de não finitas/
gerundivas, como sintetizando, prosseguindo, concluindo, recapitulando) 
ou infinitivas antecedidas de preposição (para começar, para concluir, a 
seguir, a encerrar), também podem funcionar como tal. 
Finalmente, é possível concluir que um texto não é uma soma arbitrária 
de palavras ou frases, mas um todo coeso, coerente e estruturado, isto é, um 
conjunto de elementos interligados de acordo com uma sequência e com as 
regras gramaticais da língua portuguesa.
Marcadores de coerência e coesão discursiva6
Marcadores discursivos e coesão textual
Os marcadores discursivos contribuem para a coesão de um texto (oral ou 
escrito), englobando diversos elementos linguísticos. Eles não desempenham 
qualquer função sintática na frase, mas permitem estabelecer conexões entre 
enunciados, de modo a construir um discurso coeso e coerente. Fazem parte 
dos marcadores discursivos os conectores, que englobam elementos linguís-
ticos pertencentes a diferentes classes de palavras (conjunções, advérbios, 
interjeições, palavras denotativas). 
A coesão integra um dos requisitos imprescindíveis à construção de todo e 
qualquer texto. Os marcadores discursivos são estes elementos com o objetivo 
de promover a materialização da mensagem do emissor de forma clara e precisa 
para o receptor: eles funcionam como os principais operadores coesivos no ato 
comunicativo, decisivos para a atribuição de coesão e coerência às edificações 
textuais. Atuando, ativamente, no processo de construção de enunciados que 
facultam a comunicação entre os falantes. Exemplo: 
“Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir, 
também não deixa olhos para chorar (…)” (ASSIS, 1994, documento 
on-line)
Esta, que e também são marcadores discursivos, através deste exemplo 
podemos avaliar o quão importantes são para estabelecer a coesão na enun-
ciação, dado que marcam uma sequência de ideias. Vejamos: 
1. Esta é a grande vantagem da morte.
2. [A morte] Que não deixa boca para rir, não deixa olhos para chorar.
3. [a morte, que, se não deixa boca para rir] também não deixa olhos 
para chorar.
Constatamos que os marcadores discursivos, em (1), (2) e (3), provêm de 
classes gramaticais diversas. Além de estabelecer ligação entre os termos, 
o valor destes operadores agrega peso semântico decisivo para a enunciação. 
As ideias veiculadas no enunciado se organizam estabelecendo relações 
que atuam na construção do sentido. A seleção dos marcadores discursivos 
corretos, na costura dos significados, é essencial para a construção de textos 
mais coesos e coerentes, sendo estes operadores discursivos instrumentos 
imprescindíveis para a fluidez dos enunciados uma vez que além de os ligarem 
atribuem logicidade, coesão e, por conseguinte, coerência, aos textos.
7Marcadores de coerência e coesão discursiva
ASSIS, M. de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. Disponível em: http://
www.machadodeassis.ufsc.br/obras/romances/ROMANCE,%20Memorias%20Postu-
mas%20de%20Bras%20Cubas,%201880.htm. Acesso em: 19 mar. 2019.
CASTILHO, A. T. de. Nova gramática do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2010.
FÁVERO, L. L. Coesão e coerência textuais. 11. ed. São Paulo: Ática, 1991.
KOCH, I. G. V. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 1990.
KOCH, I. G. V. A coesão textual. 22. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
LOUREIRO, A. P.; CARAPINHA, C.; PLAG, C. (org.). Marcadores discursivos e(m) tradução. 
Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2017. Disponível em: https://digitalis- 
dsp.uc.pt/bitstream/10316.2/43261/1/Marcadores.pdf. Acesso em: 19 mar. 2019.
OLIVEIRA, I. G. O uso de marcadores discursivos em textos redacionais. 2012. Dissertação 
(Mestrado em Linguística) — Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2012. Disponível 
em: http://www.repositorio.ufba.br:8080/ri/bitstream/ri/8374/1/Ilana%20Gomes%20
Oliveira.pdf. Acesso em: 19 mar. 2019.
Leituras recomendadas
ATALIA, M. Nossa vida. Época, São Paulo, 23 mar. 2009.
CAMARA JÚNIOR, J. M. Estrutura da língua portuguesa. 36. ed. Petrópolis: Vozes, 2004.
CEGALLA, D. P. Nova minigramáticada língua portuguesa. São Paulo: Companhia Editora 
Nacional, 2004.
CUNHA, A.; ALTGOTT, M. A. A. Para compreender Mattoso Câmara. Petrópolis: Vozes, 2004.
GARCIA, O. M. Comunicação em prosa moderna: aprenda a escrever, aprendendo a 
pensar. 27. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2010.
Marcadores de coerência e coesão discursiva8
MORFOSSINTAXE II 
Francisco de Souza Gonçalves
Marcadores da 
expressividade 
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Examinar o uso de marcadores da expressividade em produções 
literárias.
 � Determinar as formas de construção de subjetividade e objetividade 
através da presença/ausência de marcadores da expressividade nos 
textos.
 � Relacionar os marcadores da expressividade às características de 
estilo textual.
Introdução
A linguagem, principal instrumento de interação entre os indivíduos, é 
a grande responsável pela convivência e pelas trocas que promovem o 
progresso das diversas áreas do pensamento humano: expressar-se através 
da língua, oral ou escrita, com precisão, para que não haja confusões na 
mensagem a ser entregue ao receptor, sempre foi o objetivo e um grande 
desafio para as comunidades humanas desde os primórdios. A maneira 
decisiva como esta expressão influi na construção da mensagem é o 
objeto de estudo da estilística. 
A expressividade é, por isso, importante elemento da mensagem: 
grande parte do que é dito ou escrito é marcado pela força expressiva 
do locutor. Definida como “qualidade do que é expressivo; intensidade, 
força da expressão” (EXPRESSIVIDADE, 2011, p. 88), a expressividade é 
aquela que deixa suas marcas no texto e atribui a originalidade estilística 
a ele. Neste capítulo, você estudará como a estilística operacionaliza as 
marcas de expressividade nos textos. 
A produção literária e 
os domínios da expressividade
O termo “estilo” vem do latim, stills, e, antigamente, significava “ponta para 
escrever”, e é utilizado em todas as formas de arte para exprimir a maneira 
original que um artista trabalha em um determinado momento. O vocábulo 
também é usado para designar uma característica de um texto de acordo com 
o tipo de expressão com o qual se afilia: pode-se falar de estilo lírico, épico. 
Estilo também se refere à forma como um escritor implementa a linguagem. 
O escritor também pode inspirar-se no estilo de outros escritores (ou de 
outras épocas). Segundo o Aulete, a estilística é a “disciplina que tem por 
objeto o estilo, que estuda os processos literários, os modos de composição 
utilizados por tal autor em suas obras ou as características expressivas pe-
culiares a uma linguagem” (ESTILÍSTICA, 2011, p. 70). O estudo estilístico 
de um texto torna possível destacar os meios implementados por um autor, 
dentro de um determinado quadro genérico, para compartilhar uma visão 
específica do mundo. 
O termo estilística aparece na cena intelectual europeia no século XIX. 
Nos primeiros anos do século XX, passa a designar uma maneira específica 
de estudo da escrita “o estudo do seu estilo, do modo peculiar como em 
cada obra a linguagem está plasmada e utilizada” (AGUIAR E SILVA, 1976, 
p. 201). Um dos pais da estilística é Charles Bally, linguista suíço, discípulo 
de Ferdinand Saussure, cuja paternidade está documentada em seu Traité de 
stylistique française, de 1909, obra considerada o marco inicial desse estudo. 
A análise estilística de um texto baseia-se, geralmente, no estudo da elo-
cução, isto é, na instrumentalização da pontuação, no emprego das figuras 
de linguagem, na organização da sintaxe das orações enquanto reconcilia 
forma e substância, significado e significante. A base do estudo estilístico de 
um escrito é a premissa de que cada texto transmite uma visão subjetiva, isto 
é, “uma visão não neutra e individual” (CÂMARA JÚNIOR, 1977, p. 101).
Marcadores da expressividade110
Enquanto âmbito de investigação, pode-se afirmar que a estilística existe desde a 
antiguidade clássica, com os estudos de Platão e as teorias sobre retórica de Aristóteles, 
Quintiliano e Cícero, que enxergavam na estilística um recurso útil para ornamentar 
o discurso. Essa premissa perdura até o Renascimento. Importante é salientar a an-
tiguidade dessa abordagem investigativa da língua. Antes mesmo de A retórica, de 
Aristóteles (330 a.C.), obra que melhor trata dos mecanismos da comunicação e da 
expressão enunciativa, Górgias de Leontini (483-375 a.C.) abordava a retórica através 
da estilística (CÂMARA JÚNIOR, 1975).
A pontuação como recurso de expressividade
Gramaticalmente, os sinais de pontuação servem para representar pausas ou 
entonações na fala. O ponto, a vírgula e o ponto e vírgula marcariam pausas 
expressivas, já o ponto de exclamação e o de interrogação, por exemplo, 
entonariam, especificamente, um escrito. Entretanto, a estilística mostra que 
a pontuação faz muito mais do que apenas demarcar pausas na fala ou modu-
lações de voz para recitação, estes MARCADORES DE EXPRESSIVIDADE 
reproduzem, na escrita, emoções, intenções e anseios do emissor (GUIRAUD, 
1970).
A vírgula é usada para: separar termos de mesma função sintática na 
oração; isolar um vocativo; isolar o aposto; isolar termos antecipados, como 
complemento ou adjunto; separar expressões explicativas, conjunções e co-
nectivos, como: isto é, ou seja, por exemplo, além disso, pois, porém, mas, no 
entanto, assim; separar os nomes dos locais de datas; isolar orações adjetivas 
explicativas (CEGALLA, 2004). Porém, não possuem somente essa função. 
Podem suprimir verbos para efeito estilístico, provocar pausas dramáticas para 
efeito suspensivo e relacionam termos em poemas e romances, dispensando, 
por vezes, os próprios conectores (CÂMARA JÚNIOR, 1977; CUNHA; 
ALTGOTT, 2004). A vírgula disputa espaço nos escritos modernos com o 
travessão. Este, cada vez mais empregado como marcador da expressividade, 
além de indicar mudança de interlocutor em um diálogo, também separa orações 
intercaladas, desempenhando similares funções às da vírgula e parênteses; além 
disso, coloca em evidência uma frase, expressão ou palavra (TANAKA, 2016).
111Marcadores da expressividade
A vírgula é utilizada para: 
 � Separar uma enumeração de ações verbais:
O menino berrou, chorou, esperneou e, enfim, dormiu. 
 � Isolar um vocativo no meio da frase:
Então, minha cara, não há mais o que se dizer!
 � Marcar um aposto, ou seja, uma explicação sobre o elemento anterior:
O João, ex-integrante da comissão, veio assistir à reunião.
 � Isolar termos como adjuntos ou complementos deslocados:
 ■ Antecipação de complemento verbal: 
Uma vontade indescritível de beber água, eu senti, quando olhei 
para aquele copo suado! 
 ■ Antecipação de adjunto adverbial: 
Nada se fez, naquele momento, para que pudéssemos sair!
 � Suprimir unidade verbal entendida em contexto:
Brasília, 30 de janeiro de 2009: hoje, nada de diferente.
 � Isolar termos restritivos:
O filme, que você indicou para mim, é muito mais do que esperava.
Marcadores da expressividade112
Os pontos, como o final, o de interrogação, o de exclamação, o ponto e 
vírgula, são marcadores com utilizações muito específicas. O ponto-final, 
usado ao final de frases para indicar pausa total e mais demorada e para marcar 
abreviaturas, como nos casos de Sr., a. C., ltda., vv., num., adj., obs. etc. Estilis-
ticamente, produzem efeitos de ideia finalizada, afirmação peremptória e até 
de certeza absoluta do emissor a respeito de algo. É a marca da assertividade 
(CÂMARA JÚNIOR, 1977). O ponto de interrogação é usado para formular 
perguntas diretas. Já a partir da abordagem estilística, pode indicar surpresa, 
expressar indignação, exprimir atitude de expectativa diante de uma determi-
nada situação; vaguidão por parte do emissor, incerteza ou até insegurança. 
O conhecido ponto de exclamação é o mais famoso tipo de pontuação 
expressiva, vindo depois de frases que expressem sentimentos distintos, tais 
como: entusiasmo, surpresa, súplica,ordem, horror, espanto (CÂMARA 
JÚNIOR, 1977); depois de vocativos e de algumas interjeições, também 
empregados nas frases que exprimem desejo (GUIRAUD, 1970).
Não é incomum depararmo-nos com a combinação entre o ponto de inter-
rogação e o de exclamação, isso ocorre, de maneira geral, quando a intenção 
comunicativa expressa, ao mesmo tempo, surpresa, questionamento, admi-
ração. A repetição do ponto de interrogação ou de exclamação, quando se 
deseja intensificar ainda mais a admiração ou qualquer outro sentimento é, 
atualmente, aceito pela gramática (TANAKA, 2016). 
O ponto e vírgula, que é usado para separar itens enumerados, separar um 
período que já se encontra dividido por vírgulas, serve para efeitos estilísticos 
de pausas um pouco mais longas. 
Ele não disse nada, apenas olhou ao longe, sentou por cima da grama; 
queria ficar sozinho com seu cão.
Os dois-pontos (:), amplamente utilizados no discurso, é empregado como 
marcador expressivo quando se deseja entonar uma citação ou introduzir uma 
fala ou, ainda, quando se quer indicar uma enumeração. Pode marcar uma 
suspeição da narrativa, que provoca efeito de suspense. 
As aspas são usadas para indicar, principalmente, a citação de alguém ou 
expressões estrangeiras, neologismos, gírias; estilisticamente, pode marcar 
ironias e termos com significação dúbia ou deslocada. 
113Marcadores da expressividade
As reticências, amplamente utilizadas na linguagem poética, gramatical-
mente, são usadas para indicar supressão de um trecho, interrupção ou dar ideia 
de continuidade ao que se estava falando. No âmbito da análise estilística, as 
reticências são altamente expressivas, especialmente para exprimir a vaguidão 
ou incompletude do que se está enunciando (CUNHA; ALTGOTT, 2004). 
Os parênteses são usados quando se quer explicar melhor algo que foi dito 
ou para fazer simples indicações, muita das vezes representa a intervenção de 
uma estância superior à da voz no texto, explicativa, funcionando, por vezes, 
como o travessão (TANAKA, 2016). 
Cada autor instrumentalizará esses marcadores de acordo com o seu estilo. 
Eles são largamente explorados especialmente na arte literária. A pontuação 
exerce atividade decisiva para que o artista da letra consiga exprimir todas as 
emoções, divagações, pensamentos interrompidos e retomados. 
Construções de objetividade e subjetividade: 
sintaxe e concordância como recursos da 
expressividade
Os recursos de sintaxe também são marcadores da expressividade muito im-
portantes dentro do universo da estilística. A sintaxe é uma fonte inesgotável 
de recursos expressivos. As figuras de sintaxe constroem o significado a partir 
da concatenação de palavras e inversão da ordem direta. Por atuar no nível da 
frase e por sua versatilidade, oferece variada gama de recursos expressivos, 
por isso é um dos campos de estudo estilístico mais fértil. Além disso, cabe 
destacar o relevante impacto que exerce a seleção sintático-tipológica na 
construção enunciativa. As inversões, deslocamentos e reposicionamento de 
vocábulos podem causar efeitos estilísticos de alta relevância (CÂMARA 
JÚNIOR, 1977). 
Marcadores da expressividade114
A sintaxe subdivide-se em três tipos: sintaxe de colocação, sintaxe de regência e 
sintaxe de concordância. 
A sintaxe de colocação ocupa-se do posicionamento correto dos pronomes oblíquos 
átonos numa oração. O enunciado assume diferentes efeitos expressivos, de acordo 
com a posição desses termos. Relembrando que há três possíveis lugares em que 
o pronome oblíquo átono pode estar: em próclise (antes do verbo), em mesóclise 
(intercalado com o verbo) ou em ênclise (depois do verbo). 
A sintaxe de regência se debruça sobre o estudo dos tipos de interligação que 
podem existir entre um verbo e seus complementos (regência verbal) ou entre os 
nomes e seus complementos (regência nominal).
A sintaxe de concordância ocupa-se da relação gramatical entre dois termos; pode 
ser verbal ou nominal.
Na sintaxe de colocação, ressalta-se o caso da mudança de posição do adjetivo, que 
altera a significação do sintagma. O adjetivo funciona como marcador semântico-
-estilístico importante e o sintagma uma só unidade de significado. Exemplo:
Pobre homem = homem infeliz; homem pobre = carente de recursos
Os casos da permutabilidade substantivo/adjetivo constituem uma fonte inesgotável 
de recursos expressivos (CÂMARA JÚNIOR, 1977). 
Na sintaxe de regência, podem ser objeto de estudo não só os exemplos literários, 
mas também os do discurso publicitário, os jogos verbais são feitos no nível da regência 
verbal ligada à significação. Exemplo: 
O Rio de Janeiro assiste à (vê) rede Globo, porque a rede Globo 
assiste o (ajuda) Rio de Janeiro. 
A concordância como recurso da expressividade: 
objetividade versus subjetividade
Também a concordância oferece profícuo material de estudo em matéria de 
marcadores da expressividade textual. Analise o fragmento a seguir, escrito 
pelo padre Antônio Vieira:
Muito trabalhou o diabo e seus ministros para que eu não viesse a Portugal.
115Marcadores da expressividade
O exemplo aqui usado mostra que, ao escrever no singular o verbo ante-
posto ao sujeito composto, o autor quis carregar a responsabilidade sobre o 
diabo, pondo-o em primeiro plano e colocando em condição secundária seus 
“ajudantes”. A subversão da ordem direta somada aos artifícios de plural e 
singular do sujeito, fazem com que o entendimento do leitor se foque exata-
mente onde deseja o autor. Propondo, no mínimo, ambiguidade.
As figuras de linguagem: 
afiadores do estilo textual
Outro recurso importante da estilística, significativos marcadores da ex-
pressividade, são as figuras de linguagem, também chamadas de figuras de 
estilo. São operadores estilísticos utilizados na linguagem oral e escrita que 
aumentam a expressividade da mensagem.
De acordo com o viés do campo da linguagem a que se referem, fonológico, 
semântico ou sintático, as figuras de linguagem podem ser classificadas, em 
linhas gerais, como figuras de palavra, figuras de construção, figuras de 
pensamento e figuras de som.
As figuras de palavras enfatizam o aspecto semântico da linguagem. 
Caracterizam-se principalmente pela substituição, comparação e associação 
de palavras, realçando o seu sentido figurado, podem-se contar entre elas: 
metáfora, metonímia, alegoria, perífrase ou antonomásia, catacrese, compa-
ração ou símile, sinédoque, sinestesia.
Já as figuras de construção (também chamadas de figuras de sintaxe) dão 
ênfase ao aspecto sintático da linguagem. Caracterizam-se por causarem 
mudanças na estrutura natural da oração, como inversão, repetição ou omissão 
de termos. Dentre elas contamos: anacoluto, anáfora, anástrofe ou inversão, 
hipérbato, sínquise, assíndeto, polissíndeto, elipse, zeugma, silepse, hipálage, 
pleonasmo ou redundância.
As figuras de pensamento dão ênfase ao aspecto semântico da linguagem. 
Caracterizam-se principalmente pela exploração do sentido das palavras, 
usando-os para provocar emoções no leitor através de: suavização de termos, 
enfatização de termos, junção de conceitos opostos. As figuras de pensamento 
são: antítese, apóstrofe, eufemismo, gradação ou clímax, hipérbole, ironia, 
paradoxo ou oximoro, prosopopeia ou personificação.
Finalmente, as figuras de som são as que dão ênfase ao aspecto fonológico 
da linguagem. Caracterizam-se principalmente pela repetição ou imitação de 
sons, como: aliteração, assonância, onomatopeia, paronomásia.
Marcadores da expressividade116
Finalmente, como se pode constatar, os marcadores da expressividade 
são artifícios provindos de diferentes campos da língua, mas que servem a 
um só objetivo: enriquecer as enunciações, possibilitando uma infinidade 
de combinações expressivas. Tais marcadores corporificam a capacidade 
criativa do falante o que contribui diretamente para a comunicação de toda 
uma coletividade. 
O estudo da Estilística e de suas bases é indispensável para compreender 
a dinâmica com que se operacionalizamos marcadores da expressividade. 
AGUIAR E SILVA, V. M. Teoria da literatura. São Paulo: Martins Fontes, 1976.
CÂMARA JÚNIOR, J. M. História da linguística. Petrópolis: Vozes, 1975.
CÂMARA JÚNIOR, J. M. Contribuição à estilística portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Ao 
Livro Técnico, 1977.
CEGALLA, D. P. Nova minigramática da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Editora 
Nacional, 2004.
CUNHA, A.; ALTGOTT, M. A. A. Para compreender Mattoso Câmara. Petrópolis: Vozes, 2004.
ESTILÍSTICA. In: NOVÍSSIMO Aulete dicionário contemporâneo da língua portuguesa. 
Rio de Janeiro: Lexikon, 2011.
EXPRESSIVIDADE. In: NOVÍSSIMO Aulete dicionário contemporâneo da língua portu-
guesa. Rio de Janeiro: Lexikon, 2011.
GARCIA, O. M. Comunicação em prosa moderna: aprenda a escrever, aprendendo a 
pensar. 27. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2010.
GUIRAUD, P. A estilística. São Paulo: Mestre Jou, 1970.
TANAKA, G. Em torno da escrita: examinando a pontuação e outros recursos da expressão 
linguística. 2016. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Letras — Portu-
guês) — Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2016. Disponível em: http://
www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?down=74321. Acesso em: 7 abr. 2019.
Leitura recomendada
LIMA, C. H. da R. Gramática normativa da língua portuguesa. 51. ed. Rio de Janeiro: José 
Olympio, 2013.
117Marcadores da expressividade
ACENTUAÇÃO
GRÁFICA
Conteúdo:
Michela Carvalho 
da Silva
2
INTRODUÇÃO
Você sabe qual é a função da acentuação gráfica? Já percebeu que ela 
está relacionada a regras, e não à intensidade com que as palavras são 
pronunciadas? Conhece as suas regras conforme o Novo Acordo Ortográfico? 
O Novo Acordo Ortográfico é um apanhado de normas que visam a unificar as 
regras ortográficas em todos os países lusófonos, passando a vigorar a partir 
de 2009 e sendo obrigatório a partir de 2016. 
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 
Ao final da unidade você deverá ser capaz de:
• Identificar as regras de acentuação gráfica conforme o Novo Acordo 
Ortográfico;
• Demonstrar a utilização dos acentos agudo e circunflexo;
• Selecionar a regra de acentuação adequada a cada palavra.
REGRAS DE ACENTUAÇÃO 
A acentuação gráfica serve para marcar a posição da sílaba tônica de algumas 
palavras que fogem à regra da maioria dos vocábulos da língua portuguesa. 
Acentuamos as palavras para que sejam corretamente lidas e pronunciadas.
Antes de iniciar o estudo das regras de acentuação, é importante definir a 
classificação das palavras conforme a posição da sílaba tônica. Vamos a ela:
Oxítona A sílaba tônica é a 
última Ex: até, sofá
Paroxítona A sílaba tônica é a 
penúltima Ex: cadáver, álbuns
Proparoxítona A sílaba tônica é a 
antepenúltima Ex: trágico, patético
3
Isto posto, passamos às regras de acentuação conforme o Novo Acordo 
Ortográfico, que entrou em vigor com obrigatoriedade a partir de 1º de janeiro 
de 2016 e alterou a acentuação de algumas palavras:
1) São acentuados os monossílabos (palavras compostas por uma única 
sílaba) terminados em: 
a) – a (s): já, lá, vás
b) – e (s): fé, lê, pés 
c) – o (s): pó, dó, pós, sós. 
2) São acentuadas as palavras oxítonas terminadas em: 
a) – a (s): cajás, vatapá, ananás, carajás
b) – e (s): você, café, pontapés 
c) – o (s): cipó, jiló, avô, carijós
d) – em (ens): também, ninguém, vinténs, armazéns. 
3) São acentuadas as palavras paroxítonas terminadas em: 
a) – i (s): júri, cáqui, lápis, tênis 
b) – us: vênus, vírus, bônus
c) – r: caráter, revólver, éter
d) – l: útil, amável, nível, têxtil
e) – x: tórax, fênix, ônix 
f) – n: éden, hífen 
g) – um, – uns: álbum, álbuns, médium 
h) – ão (s): órgão, órfão, órgãos, órfãos 
i) – ã (s): órfã, ímã, órfãs, ímãs
j) – ps: bíceps, fórceps. 
4
IMPORTANTE
1) As paroxítonas terminadas em n são acentuadas, mas as que 
terminam em ens não são. 
Ex: edens, hifens.
2) Os prefixos terminados em i e r não são acentuados. 
Ex: semi, super.
4) Todas as proparoxítonas são acentuadas: cálido, tépido, cátedra, sólido, 
límpido, cômodo. 
5) Casos especiais: 
a) São sempre acentuadas as palavras oxítonas com ditongos abertos -éis, - 
éu(s) ou -ói(s).
Ex: anéis, fiéis, papéis; céu(s), chapéu(s), ilhéu(s), véu(s), herói(s), sóis. 
b) São acentuados o i e u, quando representam a segunda vogal tônica de um 
hiato e desde que não formem sílaba com r, l, m, n, z ou não venham seguidos 
de nh.
Ex: saúde, viúva, saída, caído, faísca, aí. 
c) São acentuadas as vogais tônicas i e u das palavras oxítonas quando, 
mesmo precedidas de ditongo decrescente, estão em posição final, sozinhas 
na sílaba, ou seguidas de s. 
Ex: Piauí, teiú, teiús, tuiuiú, tuiuiús. 
5
IMPORTANTE
Se, neste caso, a consoante final for diferente de s, tais vogais não 
serão acentuadas.
Ex: cauim, cauins.
d) São acentuadas as palavras terminadas por ditongo oral átono.
Ex: ágeis, jóquei, túneis, área, espontâneo, ignorância, imundície, lírio, mágoa, 
régua, tênue. 
e) É acentuada a vogal tônica i das formas verbais oxítonas terminadas em 
- air e -uir, quando seguidas de -lo(s) e -la(s), caso em que perdem o r final. 
Ex: atraí- lo(s), atraí-lo(s)-ia, possuí-la(s), possuí-la(s)-ia. 
f) Leva acento diferencial a sílaba tônica da 3ª pessoa do singular do pretérito 
perfeito pôde, para distinguir-se de pode, forma da mesma pessoa do 
presente do indicativo. 
Observação: A forma verbal pôr continuará a ser grafada com acento 
circunflexo para se distinguir da preposição átona por.
g) A 3ª pessoa de alguns verbos é grafada da seguinte maneira: 
1) quando termina em – em (monossílabos): 
3ª pessoa do singular: ele tem, ele vem
3ª pessoa do plural: eles têm, eles vêm 
2) quando termina em – ém: 
3ª pessoa do singular: ele contém, ele convém
3ª pessoa do plural: eles contêm, eles convêm 
3) quando termina em – ê (crê, dê, lê, vê e derivados): 
3ª pessoa do singular: ele crê, ele revê
3ª pessoa do plural: eles creem, eles reveem 
6
h) As palavras paroxítonas com os ditongos abertos -ei e –oi não são mais 
acentuadas.
Ex: assembleia, boleia, ideia, proteico; alcaloide, boia, heroico, jiboia, paranoico.
SAIBA MAIS
Receberá acento gráfico a palavra que, mesmo incluída neste caso, 
se enquadrar em regra geral de acentuação, como ocorre com 
blêizer, contêiner, destróier, gêiser e outras, porque são paroxítonas 
terminadas em -r.
i) Não se acentuam os encontros vocálicos fechados.
Ex: pessoa, patroa, coroa, boa, canoa; teu, judeu, camafeu; voo, enjoo, perdoo, 
coroo. 
j) Perde o acento gráfico a forma para (do verbo parar) quando faz parte de 
um composto separado por hífen: para-balas, para-brisa(s), para-choque(s), 
para-lama(s). 
j) O trema não é mais utilizado nos grupos gue, gui, que, qui, mesmo quando 
for pronunciado e átono.
Ex: aguentar, arguição, eloquência, frequência, tranquilo. 
Sintetizamos na tabela a seguir as principais regras de acentuação das 
oxítonas e paroxítonas:
TERMINAÇÕES OUTRAS TERMINAÇÕES
a(s), e(s), o(s), em 
e ens
l, n, r, x, os, t, ã(s), ão(s), ei(s), 
i(s), u(s), on(s), um, uns
OXÍTONAS sim não
PAROXÍTONAS não sim
7
REFERÊNCIAS
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: 
Nova Fronteira, 2009.
DESLIGAMENTO
Conteúdo:
João Guterres 
de Mattos
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