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Geraldo Thedei Júnior Tiago Zanquêta de Souza Vanessa das Dores Duarte Teruel Biologia celular e bioquímica Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central Uniube Thedei Júnior, Geraldo. T34b Biologia celular e bioquímica / Geraldo Thedei Júnior, Tiago Zanquêta de Souza, Vanessa das Dores Duarte Teruel. – Uberaba: Universidade de Uberaba, 2019. 224 p. : il. Programa de Educação a Distância – Universidade de Uberaba. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7777-825-6 1. Citologia. 2. Biologia celular. 3. Bioquímica. I. Souza, Tiago Zanquêta de. II. Teruel, Vanessa das Dores Duarte. III. Universidade de Uberaba. Programa de Educação a Distância. IV. Título. CDD 571.6 © 2019 by Universidade de Uberaba Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Universidade de Uberaba. Universidade de Uberaba Reitor Marcelo Palmério Pró-Reitor de Educação a Distância Fernando César Marra e Silva Coordenação de Graduação a Distância Sílvia Denise dos Santos Bisinotto Editoração e Arte Produção de Materiais Didáticos-Uniube Revisão textual Erlane Silva Nunes Ilustrações Acervo Uniube Projeto da capa Agência Experimental Portfólio Edição Universidade de Uberaba Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário Sobre os autores Geraldo Thedei Júnior Mestre e Doutor em Bioquímica pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP). Licenciado em Ciências Biológicas pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP – USP). Bacharel em Nutrição pela Universidade de Uberaba (Uniube). Professor titular da Uniube, atuando na graduação (Medicina e Nutrição) e pós -graduação. Desenvolve pesquisas na área de Bioquímica, com ênfase em bioquímica de micro -organismos e metabolismo. Vanessa das Dores Duarte Teruel Mestre em Educação pela Universidade de Uberaba (Uniube). Especialista em Ciências Biológicas pelas Faculdades Integradas de Jacarepaguá (FIJ). Graduada em Pedagogia pela Universidade de Uberaba (Uniube). Licenciada em Ciências Biológicas pela Uniube. Professora do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas e Pedagogia da Uniube – EAD. Tiago Zanquêta de Souza Doutor em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Mestre em Educação pela Universidade de Uberaba (Uniube). Especialista em Gestão Ambiental e em Docência do Ensino Superior pelas Faculdades Integradas de Jacarepaguá (FIJ). Licenciatura Plena em Ciências Biológicas pela Uniube. Atua como docente nos cursos de Engenharia; Licenciaturas e no programa de Pós-graduação em Educação da Uniube. Sumário Apresentação ................................................................................................. IX Capítulo 1 Vida: como tudo começou... ..........................................................1 1.1 Simplesmente uma questão de ponto de vista..............................................................3 1.2 Você enxerga bem? ......................................................................................................5 1.3 Conhecendo o microscópio ..........................................................................................7 1.4 Microscópio: um breve histórico ..................................................................................11 1.5 Como preparar uma lâmina .........................................................................................13 1.5.1 Fixação do material ............................................................................................13 1.5.2 Corte do material ................................................................................................14 1.5.3 Coloração ...........................................................................................................14 1.6 Células: de onde viemos, para onde vamos... ............................................................14 1.7 O que surgiu primeiro? O RNA ou o DNA? .................................................................16 1.8 Procariotos ..................................................................................................................18 1.8.1 Procariotos: domínios eubactéria e arqueobactéria ...........................................19 1.9 Eucariotos....................................................................................................................23 1.9.1 Membrana plasmática ........................................................................................25 1.9.2 Citoplasma .........................................................................................................29 1.9.3 O sistema de endomembranas ..........................................................................29 1.9.4 Complexo de Golgi .............................................................................................30 1.9.5 Núcleo ................................................................................................................31 1.9.6 Ribossomos ........................................................................................................33 1.9.7 Lisossomos ........................................................................................................33 1.9.8 Vacúolos .............................................................................................................34 1.9.9 Mitocôndrias .......................................................................................................34 1.9.10 Citoesqueleto ...................................................................................................36 1.9.11 Cílios e flagelos ................................................................................................38 VI UNIUBE 1.9.12 Célula eucarionte vegetal .......................................................................................39 1.9.13 Plastídios ................................................................................................................40 1.9.14 Cloroplastos............................................................................................................40 Capítulo 2 Núcleo celular: centro do ciclo reprodutivo ..................................45 2.1 Núcleo: centro de memória e comando celular ...........................................................49 2.1.1 Núcleo celular .....................................................................................................50 2.2 Membrana nuclear – guardiã do material genético .....................................................53 2.3 O nucleoplasma e o nucléolo ......................................................................................55 2.3.1 Cromatina se transforma em cromossomo? .....................................................56 2.3.2 Estrutura do cromossomo ..................................................................................57 2.3.3 Cromossomos homólogos, genes alelos e cariótipo: definição de conceitos ....64 2.4 Ciclo de divisão celular – o relógio biológico das células ............................................68 2.4.1 O ciclo de divisão celular e seus períodos G1, S e G2 ........................................69 2.4.2 Mitose ................................................................................................................72 2.4.3 Meiose: Reprodução assexuada e sexuada ......................................................75 2.5 Haploidia e diploidia ....................................................................................................80 Capítulo 3 Estrutura e função das biomoléculas ..........................................85 3.1 Introdução ao estudo das biomoléculas ......................................................................863.2 Moléculas que compõem a matéria viva .....................................................................87 3.3 As moléculas ...............................................................................................................89 3.4 Enzimas .....................................................................................................................117 3.5 Ácidos nucleicos ........................................................................................................124 Capítulo 4 Bioenergética e metabolismo ....................................................131 4.1 Energia: fonte da vida................................................................................................132 4.1.1 A bionérgetica ...................................................................................................133 4.2 Metabolismo dos carboidratos...................................................................................145 4.2.1 Glicólise ............................................................................................................146 4.2.2 Ciclo de Krebs e a fosforilação oxidativa .........................................................153 4.3 Metabolismo de outras moléculas energéticas: gorduras e aminoácidos .................165 4.3.1 Metabolismo de gorduras: visão geral .............................................................165 4.3.2 Metabolismo de aminoácidos: visão geral .......................................................169 UNIUBE VII Capítulo 5 Fotossíntese: a luz da vida ........................................................173 5.1 Introdução à fotossíntese ..........................................................................................174 5.1.1 A fotossíntese: visão geral ................................................................................176 5.1.2 Uma “falha” imperdóavel ..................................................................................186 5.1.3 Metabolismo das plantas C4 .............................................................................186 5.1.4 Metabolismo ácido das crassuláceas ...............................................................188 5.1.5 Síntese de amido e sacarose ...........................................................................191 5.2 O ciclo energético na natureza ..................................................................................193 5.3 Uma visão do ciclo do carbono na natureza .............................................................195 5.3.1 Possíveis interferências na fotossíntese ..........................................................198 5.3.2 Maneira pela qual a energia luminosa pode atingir o planeta ..........................200 Apresentação Prezado(a) aluno(a), é um prazer tê-lo(a) conosco. As habilidades e competências estimuladas neste livro serão importantes para sua formação, seja acadêmica ou profissional. Servirão de subsídio para um melhor aproveitamento que se seguirá à medida em que você evoluir na aprendizagem relativa aos avanços científicos da Biologia celular e da Bioquímica. Com o advento do microscópio óptico em 1590, foi possível observar estruturas ainda não vistas pelo homem e, dentre elas, as células. Essas células foram melhor estudadas com a utilização de técnicas específicas e, mais tarde, com o auxílio também da microscopia eletrônica. Biologia celular, ou Citologia, é o ramo das Ciências Biológicas que estuda as células no que diz respeito à sua morfologia, seus mecanismos de funcionamento, estrutura e sua importância na complexidade e formação dos seres vivos. A Biologia celular explica o funcionamento dos vários sistemas celulares, além de proporcionar o aprendizado sobre os mecanismos de auto- regulação das células e da fisiologia de suas estruturas. É um estudo minucioso e preciso dos componentes celulares, que são de suma importância para a manutenção da vida celular. A Bioquímica é um ramo da ciência que estuda os processos químicos que acontecem nos organismos vivos em geral. Preocupa-se em explicar a estrutura e função metabólica das biomoléculas ou moléculas da vida, tais como as proteínas, lipídeos, ácidos nucleicos e carboidratos. Além de estudar as propriedades das moléculas biológicas, a Bioquímica, em particular, enfatiza o estudo das reações catalisadas por enzimas, proteínas especiais, por meio de diversas áreas de estudo, como a síntese, estrutura e função das biomoléculas, a bioenergética e o metabolismo e, também, a fotossíntese, essencial para a sustentação da vida. No primeiro capítulo, “Vida: como tudo começou...”, apresentaremos alguns tipos de células e suas funções, e as características morfofisiológicas das organelas citoplasmáticas. Limitamo-nos a uma visão geral, panorâmica, das células – as minúcias da estrutura celular –, e alguns aspectos que explicitam as funções das organelas citoplasmáticas. Relatamos, nesse capítulo, as principais funções celulares, evitando estabelecer uma separação entre morfologia e função. O segundo capítulo, intitulado “Núcleo celular: centro do ciclo reprodutivo”, pretende levá-lo(a) ao conhecimento sobre os componentes do núcleo da célula, bem como as funções que desempenham no organismo humano. Dessa forma, descrevemos os resultados do processo de divisão e reprodução celular, seja para gerar células somáticas ou para gerar células reprodutivas. A presença do núcleo é a principal característica que diferencia uma célula eucariótica de uma procariótica. A maior parte da informação genética de uma célula está contida no DNA do núcleo, existindo apenas uma pequena porção fora dele, nas mitocôndrias e cloroplastos. No capítulo 3, “Estrutura e função das biomoléculas”, você irá verificar como a bioquímica busca demonstrar o funcionamento dos seres vivos, partindo do conhecimento de suas moléculas formadoras. Embora uma célula possa parecer muito pequena para ser subdividida em partes, você aprenderá nesse capítulo que ela é formada por muitos tipos de moléculas diferentes, tais como os carboidratos, proteínas, lipídeos, ácidos nucleicos e ainda conta com uma grande quantidade de outras moléculas, tais como as vitaminas e seus derivados. “Bioenergética e metabolismo” é o título do capítulo 4 de nosso livro. Nele, estudaremos como os organismos vivos conseguem a energia de que necessitam para suas atividades vitais. Veremos que muitas rotas metabólicas de obtenção de energia são compartilhadas pela maioria dos organismos, desde uma bactéria até uma célula de mamífero, em uma demonstração de que esses caminhos foram conservados ao longo da evolução dos seres vivos. A obtenção de energia é uma atividade essencial para todos os seres vivos, uma vez que sem energia, não é possível a manutenção da vida. Alguns organismos podem obter energia diretamente do Sol, enquanto outros dependem de “combustíveis” especiais, representados por compostos orgânicos complexos, tais como carboidratos e gorduras. Ao final do capítulo, você terá a oportunidade de conhecer e compreender melhor os mecanismos envolvidos no metabolismo das biomoléculas, já apresentadas no capítulo anterior. Apresentaremos no capítulo 5, “Fotossíntese: a luz da vida“, um dos extraordinários processos da natureza: a fotossíntese. Realizado por algumas espécies, consegue transformar a energia solar em energia química, que será aproveitada para realização de vários processos celulares, como a biossíntese de compostos orgânicos, transporte ativo etc. Na fotossíntese, o oxigênio é produzido. Sem fotossíntese, não existiria matéria orgânica básica para alimentação dos seres vivos. Compreender esse processo é imprescindível, também, do ponto de vista ecológico: o gás carbônico, um dos causadores do efeito estufa, é sequestrado pelos vegetais que, por fotossíntese, absorvem esse gás, proporcionando e mantendo-o permanente, para a manutenção da vida como a conhecemos. Como você pode notar,os cinco capítulos que compõem este livro tratam de aspectos importantes da Biologia celular e da Bioquímica e que, certamente, serão de grande valia para a sua formação acadêmica. Esperamos que você possa aproveitá-los ao máximo. Bons estudos! Newton Gonçalves Garcia / Renata de Oliveira Introdução Iniciamos, aqui, parte fundamental da sua formação como professor de língua inglesa: a fonética. Porém, além de se dedicar ao estudo dessa importante faceta da língua, você deve se preparar para ensiná-la ao seu grupo de alunos. Você que já iniciou ou inicia agora seus estudos da língua inglesa cer- tamente já teve dificuldades com a pronúncia desse idioma. Isso é algo esperado de ocorrer já que se trata de um idioma com origens na língua anglo-saxã, portanto, com características distintas de nosso idioma de origem latina. Apesar desse aspecto, por meio do estudo da fonética, é possível con- seguir uma pronúncia inteligível aos falantes nativos e não nativos do idioma, como frisa Underhill (200?, p.92) em: The aim of pronunciation teaching can no longer be to get students to sound [...] like native speakers, or more like the teacher […]. The primary aim must be to help learners to com- municate successfully when they listen or speak in English, often with other non-native speakers. O objetivo do ensino da pronúncia não pode ser mais fazer com que os alunos soem como falantes nativos ou como seu professor. O objetivo primário deve ser ajudar os aprendizes a se comunicar com Fonética: a sonoridade da língua inglesa Capítulo 1 Vanessa das Dores Duarte Teruel Introdução Por que estudar biologia celular? Vamos iniciar os estudos deste capítulo por meio da seguinte indagação: Você já se perguntou o que significa estar vivo? Sabemos que todo ser vivo realiza diversas atividades metabólicas que lhe permitem permanecer nesse estado. As plantas, bactérias, pessoas e ani- mais podem estar vivos, e todos esses seres possuem, na sua constituição, células. [...] Todas as coisas vivas são feitas de células: pequenas unidades limitadas por membranas preenchidas com uma solução aquosa concentrada de químicos e dotadas de uma capacidade extraordinária de criar cópias delas mesmas pelo seu crescimento e divisão em duas. (ALBERTS, 2006). Por meio do estudo da célula, podemos compreender vários processos fisiológicos que ocorrem com os seres vivos. Mas como nos desenvol- vemos a partir de um óvulo fertilizado? Quais são as semelhanças e diferenças entre nós e os demais animais? Por que ficamos doentes, envelhecemos e morremos? Vida: como tudo começou... Capítulo 1 2 UNIUBE Não há como discorrer sobre as células sem comen- tar sobre o invento que propiciou conhecer a estru- tura de dimensões tão ínfimas: o microscópio. Você já teve contato com um microscópio? E com uma lupa? Todos esses equipamentos têm a finali- dade de aumentar o tamanho da imagem, permitindo a visualização das estruturas internas do material analisado. Neste capítulo, verificaremos os diversos tipos de células e suas funções, e apresentaremos as caracte- rísticas morfofisiológicas das organelas citoplasmáticas. Vamos confe- rir essas informações! Objetivos Ao final deste capítulo, esperamos que você seja capaz de: • descrever, ilustrar, diferenciar e representar as células procarió- tica e eucariótica; • identificar as partes constituintes de um microscópio; • discutir a organização da estrutura celular e seu funciona- mento; • relatar e exemplificar a célula como unidade morfofisiológica dos seres vivos; • listar as unidades de medidas utilizadas na microscopia; • descrever as diferenças e as semelhanças das células nos dife- rentes reinos de seres vivos; • especificar as organelas citoplasmáticas e suas respectivas fun- ções. Esquema 1.1 Simplesmente uma questão de ponto de vista 1.2 Você enxerga bem? 1.3 Conhecendo o microscópio 1.4 Microscópio: um breve histórico 1.5 Como preparar uma lâmina 1.5.1 Fixação do material Microscópio Instrumento óptico que amplia muitas vezes a imagem de objetos minúsculos, permitindo que sejam observados visualmente. UNIUBE 3 1.5.2 Corte do material 1.5.3 Coloração 1.6 Células: de onde viemos, para onde vamos... 1.7 O que surgiu primeiro? O RNA ou o DNA? 1.8 Procariotos 1.8.1 Procariotos: domínios eubactéria e arqueobactéria 1.9 Eucariotos 1.9.1 Membrana plasmática 1.9.2 Citoplasma 1.9.3 O sistema de endomembranas 1.9.4 Complexo de Golgi 1.9.5 Núcleo 1.9.6 Ribossomos 1.9.7 Lisossomos 1.9.8 Vacúolos 1.9.9 Mitocôndrias 1.9.10 Citoesqueleto 1.9.11 Cílios e flagelos 1.9.12 Célula eucarionte vegetal 1.9.13 Plastídios 1.9.14 Cloroplastos Vamos agora iniciar o estudo da célula, desenvolvendo antes alguns conceitos sobre o tamanho dos objetos e o estudo do microscópio. 1.1 Simplesmente uma questão de ponto de vista A questão da percepção é um tema crucial no avanço da ciência. A impossibili- dade da visão das bactérias e vírus a olho nu, ou de outros seres, devido às limitações de nossos instrumentos, não implica que eles não existam ao nosso redor e até dentro de nós. Essa é uma máxima da ciência: “a não confirmação da presença não implica a confirmação da ausência”. 4 UNIUBE Você já reparou como é diferente a imagem que temos quando estamos em pé ou sentados comparando com a que formamos quando estamos deitados? O campo visual se modifica de acordo com a posição em que nos encontramos. Faça este teste: interrompa a leitura por uns instantes e perceba o ambiente ao seu redor. Registre o que percebeu e, posteriormente, discuta com os colegas as suas obser- vações. Exponham como foi essa experiência para cada um. O conhecimento de outros pontos de vista sempre é muito enriquecedor em todos os aspectos da vida. Mas, se você deitar no chão, quais diferenças notará? Consegue notar os mes- mos objetos que via quando estava sentado? Consegue notar algo que não havia visto antes? Note que as dimensões permaneceram constantes, o único diferencial foi a mudança no campo de visão. Proponho outro teste. Caso utilize lentes corretivas (óculos ou lentes de contato), retire -as por alguns instantes. Percebe a diferença? Você consegue visualizar todos os objetos que enxergava antes em diferentes distâncias? Com certeza, não. Nesse caso, além do ponto de vista influenciar na consciência do que lhe rodeia, o uso de um material auxiliar foi de suma importância para a constatação dos objetos que antes se encontravam irreconhecíveis ou imperceptíveis. O microscópio foi providencial na época em que foi aper- feiçoado por Needham, cerca de cem anos depois do seu invento, por Robert Hooke. Ele ampliou nossa visão rumo a um universo minúsculo e, hoje, é um instrumento essen- cial para o estudo de estruturas de proporções diminutas. Robert Hooke Foi um cientista experimental. Realizou diversas observações por meio do microscópio e foi o primeiro a denominar de célula os espaços “vazios” que notou em um pedaço de cortiça. Figura 1: Robert Hooke. Fonte: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Robert_ Hooke_portrait.jpg>. Acesso em: 18 abr. 2019. UNIUBE 5 1.2 Você enxerga bem? Para medir o tamanho do campo visual de um microscópio óptico, podemos utilizar uma régua transparente, dividida em milímetros, enquanto alteramos as objetivas (10X, 40X e 100X). Para compreender melhor, tomaremos como referência a graduação de milímetros dessa régua (Veja Figura 3). Se dividirmos 1 mm (um milímetro) em 1000 partes iguais, saberemos que uma dessas partes (1 mm/1000) corres- ponde a 1 µm (um micrômetro), que é a unidade de medida Objetiva Lente ou sistema de lentes de um instrumento que permite a observação ou registro fotográfico de objetos. Figura 2: Esboço da estrutura do súber conforme visto pelo microscópio de Robert Hooke e descrito em seu livro Micrographia, o qual dá origem à palavra “célula”, usada para descrever a menor unidade de um organismo vivo. Fonte: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Cork_Micrographia_Hooke.png>. Acesso em: 18 abr. 2019. 6 UNIUBE para observarmos bactérias como a Escherichia coli. A maioria das bactérias mede de 0,2 a 2 µm. Inicialmente, essa unidade (micrômetro) recebeu o nome de mícron. Se continuarmos o processo de divisão, segmentamos 1 µm em 1000 partes iguais e, assim, obteremos 1 nm (um nanômetro), que é a unidade de medida para os vírus e moléculas (daí o nome nanotecnologia, usado atualmente para o estudo de moléculas). O nanômetro era inicialmente conhecido como milimicrômetro (nm) e podemos representá -lo também por: 1,0 X 10 -9m. Outra unidade de medida muito utilizada no passado é o ângstron (Å), que corresponde a 1/10 de 1 nm. Essa me- dida é comumente utilizada para trabalhar com grandezas da ordem do átomo. Escherichia coli É uma bactéria gram -negativa que vive na luz intestinal de seres humanos e outros animais de sangue quente. Possui uma relação de simbiose, ou seja, de ajuda mútua, na qual se nutre de restos alimentares e, em troca, sintetiza vitaminas do complexo B e a vitamina K, utilizáveis pelo homem. Figura 3: Esquema demonstrativo das dimensões relativas de diferentes organismos, microrganismos, moléculas, átomos, junto à faixa útil de visualização de distintos instrumentos ópticos. Fonte: Acervo EAD-Uniube. UNIUBE 7 experimentando Que tal testarmos o poder da ampliação da imagem? • Pingue uma gota de água na ponta do dedo indicador. Tente ler, através da gota, uma linha do jornal. O que aconteceu? Anote o resultado. • Utilize um copo de água de vidro transparente e liso, vazio. Tente ler a mesma linha a várias distâncias do papel. O que aconteceu? Anote o resultado. • Coloque água no copo e leia a frase de longe e de perto. O que aconteceu? Anote o resultado. • Pegue um vidro plano liso e transparente. Tente ler uma linha no jornal. O que aconteceu? Anote o resultado. Essa experiência reproduz o que acontece com o microscópio óptico (Figura 3). O microscópio óptico composto é constituído por um conjunto de lentes bicôn- cavas que ampliam a imagem de 50 a 1000 vezes, com capacidade de acuidade visual de até 0,2 µm. Aproveite os resultados obtidos na atividade prática para socializar com os de- mais colegas e observar as respostas desenvolvidas. 1.3 Conhecendo o microscópio O microscópio óptico composto moderno (Figura 4) apresenta uma série de lentes, utilizando a luz visível como fonte de iluminação para formar uma ima- gem focada, muitas vezes maior que o objeto observado. Isso é possível porque os raios de luz de uma fonte iluminadora (chamada iluminador) passam por um condensador, que possui lentes que dirigem os raios de luz através da amostra (que deve ser preparada suficientemente fina para isso). Assim os raios que atravessam a amostra atingem a lente objetiva, logo acima da amostra, que conduz o feixe de luz/imagem pelo corpo do microscópio, que, com auxílio de um prisma ou espelho, reflete para a lente ocular, onde é novamente ampliada até chegar aos nossos olhos. 8 UNIUBE As objetivas podem ser classificadas em: • lentes objetivas de baixa potência (aumento de 10 vezes); • lentes objetivas de alta potência (aumento de 40 vezes); • lentes de imersão em óleo (aumento de 100 vezes). Os dois primeiros tipos de lentes (10 vezes e 40 vezes) também são conhecidos como lentes secas, pois entre a lâmina e a objetiva existe somente o ar. Já a lente de imersão usa a presença do óleo entre a lâmina e a lente. Devido ao índice de refração do óleo ser semelhante ao índice de refração do vidro, o desvio do feixe luminoso para fora da objetiva é evitado e, assim, proporciona a entrada de um grande cone de luz na objetiva (Veja Figura 5). Atualmente, há microscópios com poder de amplificação muito maior, como os microscópios eletrônicos de transmissão (1.000.000 de vezes com poder de resolução de 0,2 nm) e os de varredura (que cria imagens tridimensionais com limite de resolução entre 3 a 20 nm) (veja Figura 6). Figura 4: Microscópio óptico. Fonte: Acervo da autora (fotografado em 2010). UNIUBE 9 Figura 5: Esquema demonstrativo da rota do feixe de luz no microscópio óptico. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Figura 6: Esquema de formação de imagem de um microscópio de transmissão. Fonte: Acervo EAD-Uniube. 10 UNIUBE O comprimento de onda dos elétrons é 100.000 vezes menor que o comprimento de onda da luz visível. Note que os microscópios eletrônicos usam lentes ele- tromagnéticas para focalizar a imagem produzida pela passagem do feixe de elétrons conduzida num tubo a vácuo. No microscópio de transmissão, os objetos de 2,5 nm são ampliados de 10.000 até 100.000 vezes. Porém, é preciso produzir cortes ultrafinos, preparados es- pecialmente para este fim. Esses cortes são colocados sobre uma malha de cobre, em vez da lâmina de vidro usada na microscopia óptica. Na microscopia de varredura, o objeto, normalmente células e vírus, de 20 nm, são ampliados de 1.000 a 10.000 vezes. Neste caso, o objeto é observado inteiro, não em cortes, como na de transmissão. Figura 7: Esquema de formação de imagem de um microscópio eletrônico de varredura. Fonte: Acervo EAD-Uniube. UNIUBE 11 1.4 Microscópio: um breve histórico Em 1590, Zacharias Janssen, fabricante de lentes, inventou um tipo de micros- cópio, mais parecido com uma lupa/luneta, capaz de ampliar imagens de insetos, folhas e outros materiais. Mas o primeiro a elaborar um microscópio e a obser- Figura 9: Ácaro visualizado através de um microscópio eletrônico de varredura. Fonte: Acervo da autora. Desenho de Cilene Castejón. Figura 8: Estes grãos de pólen visualizados em um MEV mostram a característica de profundidade de campo das micrografias de MEV. Fonte: Acervo da autora. Desenho de Cilene Castejón. 12 UNIUBE var as células foi Robert Hooke, em 1665. Ele analisou, com a ajuda de um microscópio bastante simples (tubo com lentes alinhadas e um espelho refletor da luz de uma vela), que ampliava 270 vezes os cortes extremamente finos de cortiça (material vegetal – casca) – veja a Figura 10. Observou pequenos com- partimentos semirretangulares os quais chamou de célula (diminutivo de cellar, do latim, espaço fechado ou sala). No entanto, ele observou um tecido morto dos vegetais formado pelas paredes celulares, e acreditou serem apenas espa- ços vazios delimitados por paredes, teto e piso. Em 1674, Anton van Leeuwenhoek fez observações de células sanguíneas (glóbulos vermelhos), espermatozoides e animálculos microscópicos em uma gota d’água. Somente cem anos depois é que a comunidade científica entendeu o papel das células na vida da Terra. Theodor Schwann observou, em 1830, as células do tecido cartilaginoso em animais. Na mesma época, o botânico Robert Brown analisou tecidos vegetais e descreveu uma estrutura circular na região central das células que denominou núcleo. Pouco depois, em meados de 1800, Mattias Schleiden refinou a obser- vação de plantas e Schwann e Schleiden postularam que a unidade fundamen- Figura 10: Microscópio de Hooke, de uma gravura de seu livro Micrographia. Fonte: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ Ficheiro:Hooke -microscope.png>. Acesso em: 19 abr. 2019. UNIUBE 13 tal da vida é a célula que está presente em todos os seres vivos (plantas e animais) e que nelas ocorrem todos os processos fundamentais à vida. Alguns anos mais tarde, após 1850, Rudolf Virchow observou, pela primeira vez, os fenômenos de divisão celular e completou as bases da teoria celular, definindo que toda célula deve vir de outra preexistente. 1.5 Como preparar uma lâmina Se você nunca viu um microscópio, ao menos já deve ter ouvido falar a respeito. No microscópio, podemos visualizar diversos tipos de células, tecidos e micro- organismos preparados em lâminas. E as lâminas visualizadas neste instru- mento? Você sabe como são fabricadas? Registre o que sabe ou imagina sobre o feitio desse material. O microscópio óptico, como vimos anteriormente, utilizafonte luminosa para a formação da imagem. Portanto, a amostra a ser visualizada deverá ser cortada em fatias muito finas, que possibilitem a passagem da luz. Para isso, a peça a ser utilizada na confecção de lâminas deve passar por algumas etapas sobre as quais discorreremos a seguir. 1.5.1 Fixação do material A fixação do material é primordial para a preservação da morfologia e a compo- sição química dos tecidos e células. A fixação consiste na morte das células de forma que as estruturas que possuíam em vida sejam conservadas com um mínimo de componentes. O fixador adequado depende do estudo que se pretende realizar. Para o núcleo, por exemplo, é recomendada a utilização de fixadores ácidos e, para análise da atividade enzimática no citoplasma, são empregados a acetona, o formaldeído e o glutaraldeído, que produzem a desnaturação mínima e preservam muitos sistemas enzimáticos. 14 UNIUBE 1.5.2 Corte do material Como vimos anteriormente, para a perfeita observação, o tecido deve ser cortado em fatias finas por meio de aparelhos denominados micrótomos. Essa técnica exige que o tecido seja embebido em um material que confira certa resistência. Se o tecido for submetido aos métodos de coloração convencionais, ele deve ser incluído em parafina ou celoidina. 1.5.3 Coloração Como quase todas as organelas são transparentes ou incolores, o estudo atra- vés do microscópio óptico se torna dificultoso. Para driblar esse inconveniente, foram criados numerosos processos de coloração que tornam visíveis as estru- turas celulares. parada para reflexão Para corar células, podemos usar qualquer tipo de corante? Pesquise como os corantes se comportam em contato com os componentes celulares. Registre as informações que obteve em sua pesquisa. Agora, iniciaremos o estudo das células. Não se esqueça de registrar as apren- dizagens mais significativas deste capítulo. Pare e reflita! 1.6 Células: de onde viemos, para onde vamos... Desde os primórdios, o homem busca respostas para a origem do planeta, bem como para as espécies que nele habitam. Dentre tantas teorias, a mais aceita no meio acadêmico considera que a primeira forma de vida derivou dos coacervados existentes nos mares primitivos há, aproximadamente, 3,6 milhões de anos. Micrótomo Instrumento destinado a secionar, em fatias muito finas, fragmentos de órgãos, para estudo microscópico. UNIUBE 15 Coacervados Aglomerado de moléculas organizadas, delimitadas por membranas e que são capazes de se multiplicar devido ao aumento de seu volume. Figura 11: Esquema demonstrativo do experimento de Stanley Miller e Harold Urey. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Aleksandr Oparin, em 1930, foi o primeiro a levantar a hipótese de uma possível evolução química como resposta ao surgimento da vida quando propôs que enormes com- postos, contendo carbono e hidrogênio, foram formados na primitiva atmosfera composta de metano, amônia, vapor d’água, hidrogênio, associados às chuvas e à ener- gia dos relâmpagos. Esta hipótese encontrou um forte aliado que desenvolveu um experimento que comprovou essa teoria: o estudante Stanley Miller e seu orientador Harold Urey, em 1953 (veja a Figura 11). explicando melhor Para a realização desse experimento, foi montado um circuito de tubos de vidro, fe- chado, colocando dentro dele uma combinação de gases (sugerida por Oparin) e água (que era aquecida), e onde eram aplicadas faíscas elétricas para simular os relâmpagos. A partir disso, condensava o vapor d’água para simular chuva e, após alguns dias, analisou -se a água do “oceano” (simulado), obtendo -se aminoácidos e muitos outros compostos orgânicos. Oceano primitivo hipotético Depósito das “chuvas” contendo compostos orgânicos após alguns dias condensador CH4 NH3 H2O(vapor) Descargas elétricas H2 Aquecimento 16 UNIUBE Muitas outras composições da atmosfera primitiva foram feitas e, hoje, acredi- tamos que ela era composta por dióxido de carbono, nitrogênio e vapor d’água. Porém, o mais bem -sucedido experimento desta natureza é outro. Fox et al. (1965) perceberam que inúmeros compostos proteicos têm a ca- pacidade de se agrupar formando gotículas (semelhantes às de óleo na água). Em seus experimentos, eles estudaram as chamadas microsferas proteinoides (micélula), proteínas que se agrupam em gotículas na presença de água e que, à medida que aumentam de volume, são capazes de se dividir, sem que sejam seres vivos. Daí se desenvolveu a teoria que postula a possibilidade de que essas microsferas, com a participação de argila (nutrientes liberados da crosta terrestre, em contato com a água), possam ter sido o microambiente propício ao surgimento da vida (desen- volvimento de moléculas autorreplicantes, bastante estáveis, como o ácido ribonucleico – ARN ou RNA), que pode ter sido o precursor da principal molécula responsável pela hereditariedade, o ácido desoxirribo- nucleico (ADN ou DNA). 1.7 O que surgiu primeiro? O RNA ou o DNA? A microbiologista Margulis (2001) defende a hipótese de que, quando a vida passou a ter o material genético DNA, as formas de vida já estavam muito evoluídas e, provavelmente, já tivessem passado milhares de anos – ou seja, que a vida tenha surgido muito antes disso. O reforço a esta hipótese vem de Thomas Robert Cech, na década de 1980, ao analisar o comportamento de diversas formas de RNA, até encontrar alguns como o RNA mensageiro (RNAm) e RNA ribossômico (RNAr), capazes de sintetizar proteínas asso- ciadas a ribossomos e até mesmo de se autoduplicar, ficando semelhantes à molécula do DNA. saiba mais Thomas Robert Cech E Sidney Altman foram ganhadores do Prêmio Nobel de Química em 1989 pelo descobrimento das propriedades catalíticas do ácido ribonucleico (RNA). Ambos os investigadores da Universidade de Yale demonstraram que o RNA é o suporte químico Micélula Micela, micélula ou, ainda, lipossomo (DE ROBERTIS, 2001, p. 45). UNIUBE 17 da herança, intervindo nas reações químicas que possibilitaram o aparecimento da vida na Terra. Lynn Margulis Nascida em 1938, é bióloga e professora na Universidade de Massachussets. Seu trabalho científico mais importante foi a teoria da origem da mitocôndria por endos- simbiose: a mitocôndria seria um organismo separado que teria entrado em simbiose com células eucarióticas. Dentro das microsferas, o DNA, por ser uma molécula mais estável que o RNA, provavelmente encontrou vantagens para se replicar e aumentou em número. Já o “mundo RNA” desapareceu, restando apenas indícios de uma forma de vida que hoje é até duvidosa, como nos vírus -RNA ou retrovírus. Os primeiros protótipos de vida precisavam de moléculas orgânicas livres para se duplicar, e as obtinham englobando- -as do meio (sopa nutritiva), característica dos seres he- terotróficos. A partir do momento que os protozoários desenvolveram estruturas mais complexas, abriram pre- cedentes para a evolução e o surgimento dos ancestrais dos animais – Reino Animalia. Consequentemente, a nutrição passaria a ocorrer pela ingestão. Com o aumento destes seres e a consequente diminuição dos nutrientes livres nos oceanos, aquelas formas que desenvolveram a capacidade de fixar a energia do Sol em pigmentos conseguiram ficar menos dependentes dos nutrientes do meio, surgindo os seres fotossintetizantes. Daí para a frente, a vida se tornou mais criativa e asso- ciativa (simbiótica) (veja a Figura 12). Segundo Maturana e Varela (2004, p. 40 -61), o sistema vivo mais simples que conhecemos é a célula e, como todo sistema vivo, a característica -chave de uma rede viva é que ela reproduz continuamente a si mesma. Deste modo, o ser e o fazer dos sistemas vivos são inseparáveis. Heterotróficos Organismos incapazes de sintetizar o próprio alimento e cuja nutrição se realiza pela ingestão e digestão de substâncias orgânicas vegetais e/ou animais (FERREIRA, 1986). Simbiótica Associação entre dois ou mais organismos distintos quevivem juntos, em estreita relação (RAVEN, 2001). 18 UNIUBE A autopoiese é um padrão de rede no qual a função de cada componente consiste em participar da produção ou da transformação dos outros componentes da rede. Ela é produzida por seus componentes e, como consequência, produz esses componentes. A partir de agora, conheceremos dois tipos celulares exis- tentes: as células procarióticas e as eucarióticas. 1.8 Procariotos Os seres procariotos possuem estruturas simples, pobres em organelas, e seu material genético está disperso no citoplasma, ou seja, o DNA não está encer- rado em um núcleo delimitado. Autopoiese É um termo cunhado por Maturana e Varela (2004). É citado por Capra em A teia da vida, na p. 136, e também por De Robertis e Hib (2001, p. 40), como capacidade de se automontar. Figura 12: Esquema de agrupamento dos seres vivos segundo a classificação dos reinos de Whittaker. Fonte: Acervo EAD-Uniube. UNIUBE 19 De proporções pequenas (apenas uns poucos micrômetros), pode apresentar diversas formas. Frequentemente, apresentam envoltório externo à membrana plasmática, denominada parede celular. A parede celular confere à bactéria resistência ao ataque e englobamento por leucócitos e outros fagócitos, protegendo -a de possíveis rupturas enzimáticas ou osmóticas, constituindo -se uma proteção mecânica. “A maioria dos procariotos vivem como um organismo unicelular, embora alguns se unam para formar cadeias, grupos ou outras estruturas multicelulares orga- nizadas” (ALBERTS, 2006, p. 14). 1.8.1 Procariotos: domínios eubactéria e arqueobactéria Dentro do grupo dos procariotos, encontramos ainda dois domínios: eubactéria e arqueobactéria. Os membros desses dois domínios se diferem em relação à estrutura molecular e, principalmente, quanto aos seus respectivos habitats. As arqueobactérias têm a particularidade de habitar locais hostis – como água com altos índices de salinidade –, fontes termais, águas ácidas de origem vulcânica, sedimentos marinhos das profundezas com pouco ar, poças abaixo de superfí- cies congeladas da Antártica e o meio ácido livre de oxigênio do estômago de bovinos, onde elas degradam a celulose e geram gás metano. Vários desses meios se assemelham às duras condições que devem ter existido na Terra pri- mitiva, onde os seres vivos começaram a evoluir, antes da atmosfera se tornar rica em oxigênio. O domínio eubactéria (ou bactéria) é composto pelas bactérias propriamente ditas e as cianobactérias, conhe- cidas também como algas cianofíceas. Com cerca de 0,1 nm, as bactérias só podem ser obser- vadas através da microscopia eletrônica, onde consegui- mos diferenciar uma membrana celular (membrana plasmática), sem envoltório nuclear (núcleo diferenciado). Nem todas as bactérias são dotadas de flagelo e parede celular, sendo, portanto, o esquema representado (Figura 13), ocasional. A Escherichia coli (Figura 14) é a célula procarionte mais bem estudada, pois devido a sua estrutura simples e reprodução rápida, tornou -se excelente espé- cime para o estudo de biologia molecular. Bactéria Organismo unicelular procarioto (sem núcleo definido). 20 UNIUBE Figura 14: E. coli. Fonte: Acervo da autora. Desenho de Cilene Castejón. Figura 13: Esquema representando as estruturas de uma célula bacteriana flagelada. Fonte: Acervo da autora. Desenho de Cilene Castejón. mesossomo citoplasma DNA (nucleoide) membrana plasmática parede celular ribossomos cápsula flagelo UNIUBE 21 1.8.1.1 Cápsula Também conhecida como glicocálice, a cápsula é de constituição mucilaginosa ou gelatinosa e é secretada pela superfície da parede celular. O glicocálice desem- penha importante papel na infecção, permitindo que a bactéria patogênica se ligue a tecidos específicos do hospedeiro. 1.8.1.2 Parede celular A parede celular da E. coli é uma estrutura rígida, com 20 nm de espessura, constituída por um complexo de proteínas relacionadas com o transporte trans- membrana e as moléculas da cadeia respiratória. Localizada por fora da mem- brana, a parede celular reveste toda a célula, oferecendo proteção mecânica. 1.8.1.3 Membrana plasmática A membrana plasmática é formada por uma bicamada lipídica similar, em composição química, à da célula eu- cariótica. E, como no caso das células eucarióticas, a membrana plasmática desses seres vivos tem a função de controle de entrada e saída de substâncias na célula. 1.8.1.4 Citoplasma O citoplasma contém uma grande quantidade de molécu- las dispersas. De constituição coloidal, nem sólido, nem líquido, o citoplasma exerce função de comunicação e transporte de substâncias no interior celular. 1.8.1.5 Flagelos bacterianos Diversas bactérias se movem graças aos batimentos de flagelos, filamentos proteicos ligados à membrana e à parede celular. Essas estruturas diferem da- quelas encontradas nos eucariotos por não possuírem microtúbulos e membrana plasmática. Cada flagelo de procarioto é composto por subunidades de uma proteína chamada flagelina. Os flagelos bacterianos têm como característica o Patogênico Causador de doença (RAVEN, 2001). Hospedeiro Um organismo sobre ou dentro do qual os parasitas vivem (RAVEN, 2001). Lipídica Constituída por lipídios (gorduras) e, portanto, insolúveis em água. Célula eucariótica Possui núcleo individualizado, delimitado pela membrana nuclear ou carioteca. 22 UNIUBE crescimento em sua extremidade, em vez de ocorrer em sua base. A quantidade de flagelos é variável de acordo com a espécie. 1.8.1.6 Mesossomo Algumas vezes, encontramos invaginações da membrana formando um com- plexo denominado mesossomo (meso, meio, e soma, corpo). Tais estruturas aumentam a quantidade de membrana plasmática, elevando também o número de moléculas que participam de processos funcionais importantes, como a res- piração. São responsáveis ainda pela formação dos septos e da parede, que aparecem quando a célula se divide. Você sabia que numa mesma espécie bacteriana, o número de cromossomos, por célula, é variável, porém, geralmente existe mais de um? 1.8.1.7 Nucleoide O cromossomo bacteriano é constituído por uma molécula de DNA circular, que fica imersa no citoplasma. A região onde se concentra a molécula de DNA recebe o nome de nucleoide. Esse material genético contém informações necessárias ao crescimento e à reprodução da célula. 1.8.1.8 Plasmídeos Além do DNA presente no nucleoide, a célula bacteriana ainda pode conter pequenos cromossomos, também circulares denominados plasmídeos, locali- zados fora do nucleoide. Os plasmídeos, por possuírem genes próprios para replicação, multiplicam -se independentemente dos cromossomos principais. Eles podem ser trocados entre bactérias nos processos de “reprodução” (trocas de plasmídeos) ou, ainda, na divisão celular. 1.8.1.9 Ribossomos São pequenos grânulos dispersos no citoplasma, responsáveis pela síntese de proteínas. Um conjunto de membranas envolve todo este material, e sobre ele fica a cápsula (que pode estar presente, conferindo resistência a antibióticos). UNIUBE 23 1.8.1.10 Fímbrias e os Pili As fímbrias são muito menores, mais rígidas e mais numerosas que os flagelos. Sua função ainda é desconhecida, entretanto há especulações se essa estrutura teria função de prender o microrganismo à fonte de alimento. Os pili são mais longos que as fímbrias e exercem papel no processo reprodu- tivo, conectando uma célula à outra durante a conjugação. 1.9 Eucariotos Compreendem os seres vivos que apresentam seu mate- rial genético (DNA) delimitado pela membrana nuclear ou carioteca, em forma de estrutura linear, denominada cro- mossomos, e estes, por sua vez, fortemente aderidos a proteínas. Encontramos várias organelas no citoplasma, como po- demos identificar na figura a seguir: Eucariotos Eu = verdadeiro; carioteca = membrana que delimita o núcleo. Figura 15: Esquema de uma célula animal. Fonte: Acervo da autora. Desenho de Cilene Castejón. 24 UNIUBEFigura 16: Esquema de uma célula vegetal. Fonte: Acervo da autora. Desenho de Cilene Castejón. Figura 17: Hifas. UNIUBE 25 As hifas podem ser septadas ou não septadas (cenocíticas). As septadas têm divisões em sua massa citoplasmática, criando células individuais com um ou mais núcleos. As não septadas são destituídas de repartições e possuem centenas de núcleos em uma única massa citoplasmática. Encontramos células eucariontes nos animais, vegetais, protozoários e fungos. Trataremos inicialmente das estru- turas e organelas em comum aos tipos de células eucari- óticas, para, depois, detalharmos as estruturas específicas de cada tipo celular. 1.9.1 Membrana plasmática A membrana plasmática é a grande mediadora do transporte de substâncias tanto para dentro quanto para fora da célula. Altamente seletiva, ela realiza o controle de passagem, proporcionando o equilíbrio perfeito de moléculas, íons e substâncias. Sua estrutura só pôde ser detalhada por Singer e Nicholson, em 1972, que a denominaram Modelo do Mosaico Fluido. Você deve estar se perguntando, como Singer e Nichol- son sabiam que a membrana tinha uma constituição lipoproteica? As primeiras imagens da membrana mostravam três linhas, duas escuras e uma clara, ao centro. Nesta época, acreditava- -se que as faixas escuras eram proteínas e a clara, lipídeos, pois coravam de acordo com essas substâncias, e postula- ram assim a composição lipoproteica. Eles não estavam tão errados, pois de fato as membranas possuem lipídeos e proteínas, só que não em camadas isoladas, mas com os lipídeos formando uma matriz fluida, onde as proteínas se inserem, chamado Modelo Mosaico Fluido. Encontramos também na membrana plasmática as glicoproteínas (carboidratos ligados a proteínas) e os glicolipídeos (carboidratos ligados aos lipídeos), o colesterol e enzimas que atuam na membrana. Este aparato do lado externo da membrana forma o glicocálix (ou glicocálice). Se fossemos fazer uma analogia, a membrana plasmática seria a “portaria” de um grande “condomínio” que é a célula. Hifas Filamentos densamente unidos, compostos por várias células, encontrados na maioria dos fungos. Lipoproteica Constituição de lipídeos e proteínas organizada para auxiliar no transporte transmembrânico. 26 UNIUBE As células se unem para formar os diferentes tecidos do corpo das plantas e dos animais. Para isso, a membrana plasmática desenvolveu especializa- ções, como as microvilosidades (em associação com os microtúbulos), os desmossomos (em associação com os filamentos intermediários), as jun- ções “tight” (finas), as junções GAP (semelhantes aos plasmodesmos, só que por proteínas e em células animais) e os plasmodesmos (em células vegetais em associação com o retículo endoplasmático liso, forma poros na parede celular e uma comunicação direta dos citoplasmas) (AUDERSIK, 1996, p. 120 -121). 1.9.1.1 Mecanismos de transporte pela membrana celular Dependendo do tipo de substância que irá atravessar a membrana, há um modo diferenciado de o processo acontecer. Vamos conferir! Figura 18: Diagrama de membrana celular. Fonte: Acervo da autora. Desenho de Cilene Castejón. UNIUBE 27 1.9.1.2 Difusão É um processo passivo, ou seja, sem gasto de energia (ATP) para a célula, que ocorre de um meio mais con- centrado (hipertônico) para outro menos concentrado (hipotônico). Um exemplo desse mecanismo é a difusão de oxigênio para o interior de nossas células. Como nossas células consomem constantemente oxigênio, a concentração de O2 sempre está baixa no seu interior. Assim, o O2 presente no sangue arterial, que banha as células, terá facilidade para transpor a membrana plasmática e penetrar na célula por difusão. 1.9.1.3 Osmose O processo de osmose ocorre quando há passagem de solvente de um meio menos concentrado (hipotônico) para um segundo mais concentrado (hipertônico). Bus- cando o equilíbrio, o processo de osmose permite a pas- sagem do solvente para que, dessa forma, igualem as concentrações de ambos os meios. Entretanto, há casos em que o solvente penetra em grande quantidade no interior celular. Para evitar que a célula estoure durante a osmose, as células animais, vegetais e os protistas encontraram meios de eliminar as substâncias excedentes (Figura 19). A célula animal mantém a concentração intracelular de solutos baixa pelo bombeamento Meio hipotônico É o meio no qual a mistura se encontra mais dissolvida. Meio hipertônico É o meio no qual a mistura se encontra mais concentrada. Solvente Líquido capaz de dissolver. Figura 19: Célula animal (A). Célula vegetal (B). Protozoário (C). Fonte: Acervo EAD-Uniube. 28 UNIUBE de íons para fora. A célula vegetal é protegida da dilatação e do rompimento devido a sua parede celular. O protozoário evita a dilatação ejetando periodica- mente a água que se desloca para dentro da célula. 1.9.1.4 Transporte ativo Algumas vezes, a célula necessita contrariar a tendência natural da difusão gastando energia no transporte de determinadas substâncias através da mem- brana. Esse transporte contrário à tendência natural de transferência recebe a denominação de transporte ativo. Um exemplo bem conhecido é a bomba de sódio (Na+) e potássio (K+). Natural- mente, a concentração de potássio é menor dentro da célula. Para equilibrar, a membrana lança sódio para fora e potássio para dentro. A concentração de potássio dentro da célula chega a níveis dez vezes maiores do que o meio no qual essa estrutura está inserida. 1.9.1.5 Movimentos de membrana Algumas células são dotadas de maleabilidade para expandir -se e retrair -se, com o intuito de nutrir -se ou até mesmo para se locomover. Temos, como exemplo, a emissão de pseudópodes da Entamoeba histolytica (Figura 20) ou a movimentação com a finalidade de fagocitar partículas dispersas no meio líquido. Figura 20: Representação esquemática da Entamoeba histolytica emitindo pseudópodes. UNIUBE 29 1.9.2 Citoplasma Imersas no citoplasma, encontramos todas as organelas membranosas (formadas por partes e dobras da mem- brana plasmática). Além dessas organelas, está presente o citoesqueleto (proteínas responsáveis pela estrutura, forma e movimento da célula e das organelas), os ribos- somos (estruturas de RNAr + proteínas, responsáveis por ordenar os aminoácidos dos RNAt de acordo com a men- sagem do RNAm), as mitocôndrias (casas de força da célula e também envolvidas por membrana) e o centros- somo com centríolos. Algumas podem apresentar cílios e/ou flagelos. 1.9.3 O sistema de endomembranas 1.9.3.1 Retículo endoplasmático rugoso O retículo endoplasmático rugoso (RER), ou ergasto- plasma, é formado por sacos ou sáculos achatados, re- cobertos por grânulos – os ribossomos – aderidos à sua superfície externa. Os ribossomos são responsáveis pela síntese de proteínas. 1.9.3.2 Retículo endoplasmático liso Já o retículo endoplasmático liso (REL) é constituído de estruturas membrano- sas tubulares, sem ribossomos aderidos, portanto sua superfície é lisa. A transição do retículo endoplasmático rugoso (RER) para o retículo en- doplasmático liso (REL) é gradual, uma vez que ambos estão conectados. Cabe ao REL o transporte, através de seus túbulos, das substâncias produzi- das pelo RER. As vesículas formadas após a síntese levam os lipídeos e as proteínas do retí- culo endoplasmático liso e rugoso para o Complexo de Golgi, onde sofrem al- terações e são novamente empacotadas e transportadas para fora da célula, onde se fundem à membrana, tornando -se parte dela, e seu conteúdo despejado sobre ela forma a parede celular. Cílios Estrutura móvel filamentosa. São encontrados em grande número e são curtos. Flagelos Também possuem estrutura móvel filamentosa como os cílios. Entretanto, diferem deste último por serem encontrados em menor quantidade e serem mais longos. 30 UNIUBE 1.9.4 Complexo de Golgi O Complexo de Golgi é identificado como um conjunto de bolsas achatadas justapostas,semicurvadas em di- reção oposta ao núcleo, que recebem vesículas do retí- culo endoplasmático. Participam de processos de armazenamento, maturação e transporte de substâncias. Partem de suas extremidades vesículas que podem se unir, no citoplasma, a outras vesículas (fagossoma – fago, de fagocitose, e soma, de corpo – ou pinossoma – pino, de pinocitose, e soma, de corpo), podendo ser secretadas para o exterior da célula ou ainda ser trans- portadas para outras partes da célula. Durante a divisão celular dos vegetais, o Complexo de Golgi (ou golgiossomo) começa a formar vesículas que se posicionam exatamente onde ocorrerá a divisão celular. Estas vesículas se achatam e se fundem lateralmente e de forma centrífuga (de dentro pra fora), formando o frag- moplasto, posteriormente a placa celular (lamela média) e a membrana plasmática das duas células. Nos animais ocorre processo semelhante na produção dos espermatozoides. O golgiossomo secreta vesículas que se posicionam na cabeça do espermatozoide, à frente do núcleo, formando uma grande bolsa (chamada acros- somo) cheia de enzimas que vão ser responsáveis pela perfuração da parede da célula reprodutora feminina para que ocorra a fecundação. Fagocitose Processo pelo qual a célula, graças à formação de pseudópodos, engloba no seu citoplasma partículas sólidas. Pinocitose Englobamento de gotículas de líquido. Fragmoplasto Camada de microtúbulos que se forma ao longo do eixo de divisão de uma célula. Lamela média Primeira membrana que separa duas células recém- -originadas após a divisão celular. Acrossomo Segundo De Robertis e HIB (p. 339), o acrossomo corresponde a um derivado lisossômico que contém vários tipos de enzimas hidrolíticas que desempenham importantes papéis durante a fecundação. UNIUBE 31 1.9.5 Núcleo Com o auxílio da microscopia eletrônica foi possível detalhar a membrana nuclear e perceber que ela difere da membrana plasmática em sua constituição, princi- palmente por ser porosa. A carioteca é formada por duas camadas semelhantes à membrana plasmática, com poros nucleares (proteicos), por onde ocorrem trocas de moléculas entre o núcleo e o citoplasma ou com o retículo endoplasmático, que é contínuo à membrana externa do núcleo (veja a Figura 22). Preenchendo o núcleo estão a cariolinfa (semelhante ao citoplasma, só que um pouco mais fluida), o nucleolo (um ou mais corpos esféricos de composição de RNA ribossômico) e a cromatina (DNA e proteínas associadas). A cromatina pode se apresentar em dois estados: • Heterocromatina – condensada, menos ativa e bem visível; • Eucromatina – menos condensada e menos visível, só que mais ativa orien- tando a síntese de RNA e proteínas. No próximo capítulo, você aprofundará os estudos sobre o núcleo e compreenderá o que ocorre nessa central celular, durante o período de multiplicação celular. Figura 21: Complexo de Golgi. Fonte: Acervo EAD-Uniube. 32 UNIUBE importante! Fique atento! No corpo humano, somente as hemácias são anucleadas. Todas as demais células do nosso corpo possuem núcleo. Figura 22: Núcleo. Fonte: Acervo da autora. Desenho de Cilene Castejón. Figura 23: Hemácias humanas. Fonte: Acervo da autora. Desenho de Cilene Castejón. UNIUBE 33 1.9.6 Ribossomos São grânulos responsáveis pela síntese de proteína e observados somente na microscopia eletrônica, presentes tanto nas células procarióticas quanto nas eucarióticas, sendo formados por RNA ribossômico e proteínas. Nos procariontes, assim como nas mitocôndrias e cloroplastos, são encontrados em unidades de 70 S; já no citoplasma dos eucariontes, são encontrados em arranjos de duas partes, que juntas apresentam 80 S. 1.9.7 Lisossomos Os lisossomos são vesículas envolvidas por membrana, que possuem enzimas digestivas. São empacotadas pelo Com- plexo de Golgi e podem se unir, no citoplasma, a outras vesículas (fagossoma – fago, de fagocitose, e soma, de corpo – ou pinossoma – pino, de pinocitose, e soma, de corpo) ou, ainda, eliminando as organelas celulares que devem ser digeridas (recicladas), organelas senis. explicando melhor Peroxissomos Os peroxissomos, ou peroxissomas, são organelas características pela presença de enzimas oxidativas, conhecidas como catalase celular – enzima que converte peróxido de hidrogênio (H2O2), conhecido também como água oxigenada, em água e oxigênio. 2 H2O2 2 H2O + O2 Mas como o peróxido de hidrogênio se forma dentro do organismo? A água oxigenada, ou peróxido de hidrogênio, se forma naturalmente durante a de- gradação de gorduras e aminoácidos, mas, em grande quantidade, pode causar lesões à célula devido a sua toxicidade. S Refere -se ao coeficiente de sedimentação. Coeficiente de sedimentação Valor proporcional à massa, densidade e forma da molécula. Realizado através da ultracentrifugação. Dessa forma é possível classificar, por exemplo, os tipos de ribossomos. 34 UNIUBE Peroxissomos nos vegetais Nos vegetais, os peroxissomos presentes nas folhas das plantas participam, junto com os cloroplastos, da fotorrespiração. “A fotorrespiração é um processo de oxidação de compostos resultantes da atividade fotossintética dos cloroplastos, formando principalmente hidratos de carbono como produto final. Na fotorrespiração há consumo de oxigênio e produção de gás carbônico. Estes peroxissomas possuem, entre outras enzimas, catalase, enzimas da β -oxidação dos ácidos graxos e ácido glicólico -oxidase.” (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2005) 1.9.8 Vacúolos Os vacúolos são cavidades (bolsões) presentes no citoplasma, delimitados por membrana celular. Podem ser encontrados em vários tipos celulares com dife- rentes tamanhos e funções, como: • vacúolo digestivo: formado a partir do acoplamento do lisossomo com pi- nossomo ou fagossomo; • vacúolo pulsátil ou contrátil: presentes em protozoários de água doce – expelem o excesso de água que tende a entrar por osmose no protozoário; • vacúolo vegetal: ocupa grande parte da célula vegetal adulta e tem por fun- ção armazenar água (no caso dos cactos), sais (em plantas à beira -mar), açúcares, amidos, lipídeos e pigmentos. 1.9.9 Mitocôndrias As mitocôndrias são organelas de forma ovoide, constituída por dupla camada lipoproteica. A membrana externa é lisa e contínua, de aparência e composição semelhante à da membrana plasmática da célula. A interna apresenta -se pre- gueada, formando as cristas mitocondriais. Dentro da membrana interna está a matriz mitocondrial, onde estão os ribossomos, DNA e RNA, nos quais ocorre todo o metabolismo “celular” da mitocôndria. UNIUBE 35 As mitocôndrias são responsáveis pela respiração celular, que, em última análise, significa digestão celular propria- mente dita, pois elas oxidam as moléculas finais dos ali- mentos que comemos (glicose), na presença de oxigênio (O2), liberando energia em forma de ATP e descartando como resíduo o dióxido de carbono (CO2). Por que todos nós carregamos apenas as mitocôndrias maternas? Isso acontece porque a mitocôndria paterna localiza -se na porção intermediária do espermatozoide, próximo ao flagelo. Portanto, na hora da fecundação, todo o restante do espermatozoide (com exceção do núcleo) fica do lado de fora da célula reprodutora feminina. Como consequência, apenas a mitocôndria materna prosseguirá com o novo embrião que irá se desenvolver. ATP Adenosina trifosfato. Molécula de energia. Figura 24: Mitocôndria. Fonte: Acervo da autora. Desenho de Cilene Castejón. 36 UNIUBE Acredita -se que as mitocôndrias surgiram quando um procarioto aeróbico foi englobado por uma grande célula eucariótica anaeróbica. parada para reflexão Como uma construção se mantém erguida por anos e anos? Será que a célula pos- sui um mecanismo que a mantém “erguida”? 1.9.10 Citoesqueleto Se à pergunta anterior você respondeu que em uma construção necessitamos de vigas e alicerces, acertou! Com a célula não é diferente. Nesse caso, o alicerce responsável pelaforma da célula, pelos movimentos das organelas na célula (ciclose ou correntes citoplas- máticas), pela contração celular, emissão de pseudópodes, divisão do citoplasma (nas células animais) é o citoesqueleto. O citoesqueleto é formado por três tipos básicos de arranjos proteicos: microfi- lamentos de actina (arranjos de actina globular em filamentos), microtúbulos Anaeróbica Célula, organismo ou processo metabólico que ocorre na ausência do oxigênio molecular. Figura 25: Representação da teoria do surgimento das mitocôndrias. Fonte: Acervo EAD-Uniube. UNIUBE 37 (associações de dímeros de α e β tubulina formando um canudo) e, em algumas células, os filamentos intermediários (arranjos de, pelo menos, cinco outras proteínas em estudo). O citoesqueleto possui arranjos proteicos, de actina e dos dímeros de tubulina, em constante dinâmica (construção/ polimerização e destruição/ despolimerização), ou seja, ocorre um “endurecimento” em determinada região, en- quanto em outra ocorrerá um “amolecimento”. Assim, para uma ameba (protozoário unicelular) emitir pseudópodos, por exemplo, ela precisará “amolecer” (fase sol, solver) algumas áreas do citoesqueleto, próximas à membrana na direção desejada. Com esse afrouxamento, o cito- plasma tende a escorrer, forçando o deslocamento da membrana plasmática (MP). Rapidamente ocorre um reendurecimento (fase gel) do citoesqueleto nesta região e um restabelecimento da forma da membrana plasmática, sucessiva- mente, até que se alcance o objetivo. Os microtúbulos são túbulos formados pela associação em espiral em torno de um círculo de dímeros de α e β tubulina, formando uma volta com 13 dímeros. Em média, tem 25 nm de diâmetro e pode chegar a 50 µm de comprimento. saiba mais Você sabia que os microtúbulos são os alvos principais de alguns tratamentos qui- mioterápicos? Eles impedem ou a polimerização (montagem) do microtúbulo, ou a desmontagem do microtúbulo, fazendo que não seja possível a divisão celular, pois os cromossomos ficam presos pelas fibras do fuso (que são microtúbulos) em deter- minadas fases do ciclo celular. Arranjos especiais dos microtúbulos formam os centríolos (exceto nas an- giospermas), os cílios e os flagelos. As microvilosidades das células intestinais e da orelha também têm estrutura citoesquelética. Os centríolos são estruturas cilíndricas, formadas por nove trincas (conjuntos de três) de microtúbulos que, aos pares e perpendiculares, estão ao centro do centros- soma, próximo e externamente ao núcleo. Sua função está associada à organização do citoesqueleto e orientação do ciclo celular, embora a retirada dos centríolos em amebas e em outras células não tenha afetado estas funções nem foram regene- rados, mantendo a incógnita acerca da sua origem e de suas funções. Dímeros Associação da tubulina alfa e beta. 38 UNIUBE Nas angiospermas, embora não apareçam centríolos, há apenas centrossoma, a organização e divisão celulares ocorrem normalmente (veja a Figura 26). Angiosperma Do grego angion = urna e sperma = semente, plantas que produzem sementes dentro de um ovário desenvolvido – fruto. Figura 26: Os centríolos. Estruturas aos pares próximas ao núcleo, exceto em angiospermas. Fonte: Acervo EAD-Uniube. 1.9.11 Cílios e flagelos Tanto os cílios quanto os flagelos possuem a mesma organização, são estrutu- ras formadas pelos arranjos de nove duplas de microtúbulos dispostos como um cilindro, mais uma dupla de microtúbulos central (9+2). Os cílios são curtos e numerosos, e os flagelos são menos numerosos (1 ou 2) e mais longos. Nor- malmente a célula apresenta um ou dois flagelos e, na base do flagelo (corpús- culo basal), a estrutura fica semelhante à dos centríolos nove trincas sem os microtúbulos centrais (veja a Figura 27). UNIUBE 39 1.9.12 Célula eucarionte vegetal Apesar de comumente representada em formato retangular, a célula vegetal pode apresentar diversas formas. As células vegetais não possuem centríolos, embora apresentem a região do centrossoma mais clara, próxima ao núcleo. Além disso, uma característica das células vegetais é a parede celular (ou membrana celulósica), que é secretada para fora da membrana plasmática. importante! Nas células vegetais, durante o processo de divisão celular e reordenação das orga- nelas e do citoplasma, o retículo endoplasmático não se divide totalmente (em alguns tecidos) e fica esticado como um “canudinho”. No entanto, as células filhas irão formar a lamela média, a membrana celular, e vão começar a secretar a parede celular pri- mária e secundária. Entretanto, nos locais onde o RE está, não se forma nada disso e os citoplasmas das duas células permanecem conectados formando um simplasto (RAVEN, 2001. p. 67). Estas ligações chamam -se plasmodesmos. Figura 27: Cílios e flagelos (A) e o corpúsculo basal do flagelo semelhante à estrutura do centríolo (B). Fonte: Acervo EAD-Uniube. 40 UNIUBE Os vegetais têm suas células conectadas umas às outras e se comunicam, dife- rentemente das células animais que são individualizadas e usam sinais químicos e outros sistemas (como o linfático e o sanguíneo) para se comunicarem. 1.9.13 Plastídios Os plastídios são estruturas ovaladas, podendo ser mais redondas ou mais compridas, comuns nos vegetais e em alguns protozoários (algas unicelulares – diatomáceas e euglenas). Têm funções e pigmentos diferentes. O mais co- nhecido é o cloroplasto, porém, outros tipos podem ser classificados em: • Leucoplastos incolores (responsáveis por aumentar a reserva de alimentos na célula, muitas vezes de amido, aí denominados de amiloplasto, e podem se diferenciar em cloroplastos); • Cromoplastos: plastos coloridos, como os xantoplastos, aqueles com xantofila (carotenos), encontrados nas cé- lulas da raiz da cenoura, que captam comprimento de onda diferenciada, auxiliam a fotossíntese e produzem reservas. Os eritroplastos com carotenoides vermelhos são comuns em células da polpa do tomate. E os cloroplastos, com clorofila, são verdes e comuns no parênquima clorofiliano das folhas e de alguns caules (como nos cactos). 1.9.14 Cloroplastos Os cloroplastos presentes apenas nas células vegetais são organelas seme- lhantes às mitocôndrias, de forma ovoide, delimitadas por dupla membrana li- poproteica. A externa, semelhante à membrana plasmática da célula, é lisa e contínua, e a interna apresenta dobras (invaginações) que se dispõem parale- lamente como se fossem lâminas (veja a Figura 28). As dobras internas recebem o nome de lamela, e sobre elas encontram -se minúsculas bolsas (vesículas) formadas por membrana, achatadas, empilhadas umas às outras como se fossem moedas, denominadas tilacoides. Cada pilha de tilacoides recebe o nome de granum ou grana. Aderida à membrana dos ti- lacoides está a molécula de clorofila que capta a luz solar e realiza a fotossíntese Xantofila Pigmento amarelo do cloroplasto (RAVEN, 2001). Carotenoides Classe de pigmentos lipossolúveis que inclui os carotenos e as xantofilas encontrados em cloroplastos e cromoplastos das plantas (RAVEN, 2001). UNIUBE 41 (produção de oxigênio na presença de luz). No espaço interno do cloroplasto está a matriz ou estroma do cloroplasto, onde estão os ribossomos, os DNAs, os RNAs e as enzimas. (veja a Figura 29). A partir da mesma teoria (teoria endossimbionte) que busca explicar o surgimento da mitocôndria nas células eucariontes, acredita -se que o cloroplasto tenha seguido o mesmo processo. E, assim, a célula eucariótica primitiva foi capacitada para realizar a fotossíntese. Figura 28: Cloroplasto. Fonte: Acervo da autora. Desenho de Cilene Castejón. Figura 29: Os cloroplastos, assim como as mitocôndrias, evoluem a partir de uma célula englobada. Fonte: Acervo EAD-Uniube. 42 UNIUBE Resumo As descobertas avançam a partir da evolução dos meios investigativos, como o microscópio. O estudo da célula iniciou -se com o microscópio óptico ou de luz. O desenvolvimento das técnicasde coloração e feitio de lâminas culminou no progresso do estudo da célula. Podemos encontrar uma grande diversidade de seres vivos, mas todos têm algo em comum, são constituídos de células, que podem ser classificadas em pro- carióticas e eucarióticas. As células procarióticas são mais simples e caracterizadas por não possuírem a membrana nuclear delimitando o material genético e organelas. Seu DNA encontra -se em formato circular e recebe a denominação de nucleoide. Entre os procariotos há uma subdivisão que classifica quanto ao habitat: as arqueobactérias e as eubactérias. As arqueobactérias são bactérias encontradas em ambientes hostis como fontes termais, geleiras, profundezas oceânicas, dentre outros habitats. As células eucarióticas possuem o núcleo individualizado por uma membrana nuclear denominada carioteca. Há teorias que sugerem que esse tipo de célula surgiu da evolução de uma célula semelhante às bacterianas. As inclusões de organelas, como a mitocôndria e o cloroplasto, podem ter ocorrido derivadas de um processo de simbiose entre a célula eucariótica primitiva e organismos pro- cariontes. A membrana plasmática desempenha função seletiva das substâncias que são englobadas ou expelidas pela célula. Para isso, as células contam com meca- nismos de transporte de membrana que possibilitam o equilíbrio da concentração de líquidos e íons, tanto no meio externo quanto no meio intracelular. Todas as organelas estão imersas no citoplasma, que possui uma constituição coloidal. A mitocôndria realiza o processo de respiração celular. Nas células vegetais, os cloroplastos realizam a fotossíntese. Os retículos endoplasmáticos, o complexo de Golgi e os lisossomos participam da síntese, empacotamento e transporte de substâncias para fora da célula. A célula mantém sua conformação devido ao auxílio do citoesqueleto, que sus- tenta a estrutura celular e auxilia na sua movimentação. UNIUBE 43 O núcleo contém a informação genética do organismo armazenada em molé- culas de DNA. Nas células vegetais, a parede celular determina a estrutura da célula e evita o rompimento desta quando está túrgida. Encontramos nas células vegetais os plastídeos, que são sítios da produção de alimentos e armazenamento. Referências ALBERTS, Bruce. Fundamentos da biologia celular. 2 ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2006. AUDERSIK, Teresa. Biology: Live on Earth. 4 ed. São Paulo: Prentice Hall, 1996. CAPRA, F. A teia da vida. Disponível em:<http//bio -livros.blogspot.com/2009/02/teia -da -vida. html>. Acesso em: 26 abr. 2019. DE ROBERTIS, E. M. F.; HIB, José. Bases da biologia celular e molecular. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. FERREIRA, Aurélio B. de Hollanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. 1838 p. FOX, Sidney W. The Origin of Prebiological Systems and of Their Molecular Matrices. New York: Academic Press, 1965. JUNQUEIRA, Luiz C.; CARNEIRO, José. Biologia celular e molecular. 8 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. MARGULLIS, Lynn. Gaia: uma teoria do conhecimento. 2 ed. São Paulo: Gaia, 2000. MARGULLIS, Lynn. O planeta simbiótico: uma nova perspectiva da evolução. São Paulo: Rocco, 2001. 140 p. MATURANA, Humberto R.; VARELA, Francisco J. A árvore do conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. 4 ed. São Paulo: Palas Athena, 2004. RAVEN, Peter. Biologia Vegetal. 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. Tiago Zanquêta de Souza Introdução Iniciamos, neste capítulo, os estudos sobre o núcleo e a divisão celular, pautados num diálogo voltado a reflexões acerca da reprodução e dos desdobramentos no âmbito celular, objetivando a sobrevivência e a perpetuação das espécies. Por isso, devemos considerar, primeiro, as características que definem os seres vivos, durante o ciclo vital, ou seja, durante todo o seu percurso no ambiente, desde o nascimento até o momento da morte. Veja: 1. a capacidade de autopoiese; 2. a capacidade de interagir com o meio para produzir alimento e ener- gia (autotroficamente por fotossíntese e/ou quimiossíntese e, hete- rotroficamente, por absorção ou ingestão de partículas acompanhada de posterior digestão); 3. capacidade de se dividir, assexuada ou sexuadamente e de multiplicar- -se, quando célula componente de um tecido, por mitose; 4. capacidade de realizar trocas gasosas com o ambiente, pelos pro- cessos de respiração; Com base nessas características, devemos, então, considerar que a vida surge de outra preexistente. Uma bactéria, ou até mesmo um vírus, sempre se originam de uma forma de vida organizada anteriormente, por meio de um ancestral. Núcleo celular: centro do ciclo reprodutivo Capítulo 2 46 UNIUBE Dessa forma, existem duas hipóteses que explicam a origem da vida, conforme você poderá ver no texto a seguir. relembrando Biogênese é uma hipótese biológica segundo a qual a matéria viva procede sempre de matéria viva. O primeiro passo na refutação científica da abiogênese aristotélica foi dado pelo italiano Francesco Redi que, em 1668, provou que larvas não nasciam em carne que ficasse inacessível às moscas, protegidas por telas, de forma que elas não pudessem botar lá seus ovos. Em suas “Ex- periências sobre a geração de insetos”, Redi disse: “A evolução do indivíduo deve reproduzir a da espécie”. Ernst Haeckel procurou do mesmo modo explicar transformações ocorridas durante o desenvolvimento mental do indivíduo pelo desenvolvimento intelectual da espécie (SILVA JÚNIOR; SASSON, 2007). Abiogênese (do grego a ‑bio ‑genesis, “origem não biológica”) designa, de modo geral, o estudo sobre a origem da vida a partir de matéria não viva. No entanto, há que se fazer distinções entre diferentes ideias ou hipóteses às quais o termo pode ser atribuído. Atualmente, o termo é usado em referência à origem química da vida a partir de reações em compostos orgânicos origi- nados abioticamente. Esta designação, entretanto, é ambígua, pois muitos pequisadores se referem ao mesmo processo utilizando o termo “biogênese”. Ideias antigas de abiogênese também recebem o nome de geração espon- tânea (SILVA JÚNIOR; SASSON, 2007). A capacidade de perpetuação de uma espécie, em qualquer que seja o ambiente, está diretamente li- gada ao núcleo celular dos organismos eucariontes, ou ao nucleoide, dos organismos procariontes, como você observou no capítulo “Vida: como tudo começou...”. Tanto o núcleo como o nucleoide são o centro de comando responsável pela hereditarie- dade, embasada na “molécula da vida”: DNA. Você deve estar se perguntando: Qual a importância desses estudos para minha formação acadêmica? Nucleoide Material genético dos procariontes que fica disperso no citoplasma pela ausência do envoltório nuclear. UNIUBE 47 É imprescindível entender a célula e seus mecanismos de funciona- mento, uma vez que é a menor unidade funcional que compõe um ser vivo. Além disso, não podemos nos esquecer de que todos nós, seres humanos, somos constituídos por células, e essas células, quando apresentam defeitos em seus mecanismos, por qualquer motivo, podem desencadear várias doenças graves, como o câncer, ou simples, como a gripe, além de várias síndromes (conjunto de características que se manifestam em um indivíduo, não caracterizando doença). Assim, é muito importante obter esse conhecimento, para que, poste- riormente, possa entender de que forma se manifesta a vida. O que você estudará neste capítulo? Neste capítulo serão abordados temas principais, além de assuntos interessantes, que levarão você à reflexão, pesquisa e registro de todas as conclusões a que você chegará. A seguir, estão elencados os assuntos que discutiremos: 1 O núcleo celular e seus principais componentes; 2 O ciclo de reprodução celular; 3 Principais diferenças e funções do nucleoplasma e nucléolo; 4 Estudo da cromatina e dos cromossomos; 5 Cromossomos homólogos, genes alelos e cariótipo; 6 Os processos de mitose emeiose, suas semelhanças, finalidades e diferenças. Ao final deste capítulo, esperamos que você possa compreender os diferentes mecanismos que a célula utiliza para permanecer viva e dar continuidade à vida, entendendo, também, que os momentos de pes- quisa, reflexões e discussões são essenciais para sua formação como acadêmico e futuro educador. Desejo a você bons estudos! 48 UNIUBE Objetivos Ao final deste capítulo, esperamos que você seja capaz de: • detalhar o conhecimento sobre os componentes do núcleo da célula, bem como as funções que desempenham; • demonstrar a presença do DNA nas células; • diferenciar cromossomos em procariotos e eucariotos; • identificar os diferentes resultados do processo de divisão e re- produção celular, seja para gerar células somáticas ou para gerar células reprodutivas; • descrever o processo de reprodução, bem como os aspectos causadores de variabilidade: crossing ‑over; • especificar a diferença entre reprodução assexuada e o processo de multiplicação celular por mitose; • reconhecer que existem duas diferentes finalidades para o pro- cesso de meiose, que se dá para a produção de gametas ou de esporos. Esquema 1º momento: Núcleo – centro de memória e comando celular 2º momento: Membrana nuclear – guardiã do material genético 3º momento: O nucleoplasma e o nucléolo 4º momento: Ciclo de divisão celular – o relógio biológico das células 5º momento: Haploidia e diploidia UNIUBE 49 2.1 Núcleo: centro de memória e comando celular saiba mais Dolly: começo, meio e fim O núcleo da célula contém, como todos sabemos, as informações genéticas respon- sáveis pela expressão das características fenotípicas e genotípicas dos seres vivos. O zigoto que fomos um dia guardava características como a cor dos olhos, cabelo, tipagem sanguínea, formato das orelhas, enfim, todas as informações capazes de nos tornar seres únicos, inigualáveis. Em um organismo adulto, o núcleo de qualquer célula do corpo, seja do pâncreas, estômago, cérebro, intestino ou da pele, contém toda a carga genética orgânica. Isso porque, a partir do zigoto, também conhecido como célula -ovo, ocorrem as primeiras clivagens (divisões) celulares, pela mitose. Desse modo, então, seria possível criar um clone, com base na informação presente em qualquer célula, sendo possível reconstruir um ser vivo idêntico. Essa idealização tornou -se realidade com o nasci- mento da ovelha Dolly: o começo da concretização de um sonho, um meio de confir- mar uma hipótese e um fim, ainda desconhecido. Reflita: Seria mesmo possível efetivar a vida de um clone? Registre as anotações em seu caderno. Fenótipo É a aparência, ou seja, a manifestação física do genótipo. O resultado da interação do genótipo com o meio. Genótipo É a constituição genética de um organismo, isto é, o conjunto de genes que o des- cendente recebe dos pais. Mas você sabe o que são clones? Clones são cópias geneticamente idênticas de um indivíduo, seja ele uma simples bacté- ria, um vegetal ou até mesmo um animal. Um exemplo típico de clone são as bactérias formadas a partir da bipartição (Figura 1), divisão simples, em que uma célula -mãe pode originar duas células filhas, portanto, idênticas geneticamente. 50 UNIUBE Outro caso típico de clone acontece entre os seres humanos: os gêmeos univi- telinos. O fato é que, após a primeira divisão do zigoto, que dá origem a duas células iguais, ocorre a separação dessas células que são idênticas, originando dois organismos gêmeos quanto ao sexo, aspectos físicos e até mesmo com- portamentais. 2.1.1 Núcleo celular A presença de núcleo na célula é a principal característica que distingue as células eucariontes. A maior parte da informação genética da célula está contida no DNA do núcleo, existindo apenas uma pequena porção fora dele, nas mito- côndrias e cloroplastos. Além disso, o núcleo controla o metabolismo celular pela transcrição do DNA nos diferen- tes tipos de RNA (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2005). O núcleo ocupa 10% do volume total da célula e nele encontra -se o DNA, excluindo o mitocondrial. É delimitado pela carioteca ou envoltório nuclear, composta de duas membranas concêntricas que continuam com a membrana do retículo endoplasmático rugoso (Figura 2). A cario- teca apresenta perfurações chamadas poros, que comu- nicam o interior do núcleo com o citossol. É ainda reforçada por duas linhas de filamentos intermediários, uma apoiada na superfície do envoltório, que é a lâmina nuclear, e a outra na superfície externa (Figura 2) (JUNQUEIRA; CAR- NEIRO, 2005). Carioteca ou envoltório nuclear Membrana plasmática que envolve o material genético e dá forma ao núcleo celular. Retículo endoplasmático rugoso Pode também receber outras denominações, como retículo endoplasmático granular e ainda ergastoplasma. Figura 1: Bipartição em bactérias – um exemplo típico de reprodução assexuada. UNIUBE 51 Para saber mais a respeito, releia o capítulo “Vida: como tudo começou...”. No compartimento nuclear, localizam -se: • os cromossomos, cada um formado por uma única molécula de DNA combi- nada com várias proteínas; • o nucléolo, onde estão localizados os RNA e os RNAr (ribossômicos), prontos para serem enviados ao citoplasma; • várias classes de RNA (transferência, ribossômico, mensageiro), que são sinte- tizadas no núcleo e enviadas ao citoplasma, através dos poros da carioteca; • diversas proteínas, que estruturam o DNA, que auxiliam na transcrição, durante a produção dos RNA. Tais proteínas são fabricadas no citoplasma e dão en- trada no núcleo através dos poros da carioteca. O ciclo de vida da célula é dividido em duas fases principais: a divisão e a in‑ térfase. Na divisão, aqui tratada como mitose, ocorre a divisão da célula, en- Figura 2: Representação do núcleo celular. Note a presença da lâmina nuclear (formada por microfilamentos) e a carioteca, como membrana que envolve todo o material genético. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). Adaptado de De Robertis e Hib (2001). Poro nuclear Membrana interna Membrana externa Cromossomas Espaço perinuclear Retículo endoplasmático Nucléolo Lâmina nuclear Filamentos intermediários 52 UNIUBE O aspecto do núcleo durante a intérfase é muito diferente em relação ao obser- vado durante a divisão celular. Durante o processo de divisão, o material gené- tico organiza -se e transforma -se em cromossomas. O núcleo e o nucléolo, que estiveram presentes durante toda a intérfase, desaparecem por completo durante a divisão. Veja o Quadro 1. Células novas, à medida que são formadas, recebem um núcleo com toda a carga genética e informações úteis ao comando vital dos organismos. Dessa forma, um evento fundamental da multiplicação/divisão celular é a duplicação e a “reprodução” do núcleo, de modo que transmita às novas células todas as características da célula parental. Célula parental Que dá origem a outras células. quanto o intervalo entre duas divisões constitui a intérfase. Assim, de acordo com a fase em que a célula se encontra, distinguem -se o núcleo em intérfase e o núcleo em mitose (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2005). O intervalo que antecede o processo de divisão é chamado intérfase. Nela, a célula produz proteínas, aumenta de tamanho e ocorre a duplicação do DNA. Desse modo, podemos considerar que a célula se prepara para a divisão celular. A intérfase é muito mais longa do que todo o processo de divisão propriamente dita. No ciclo de divisão celular – mitose – de uma célula da ponta da raiz de uma ervilha, que dura, no total, cerca de 20 horas. Desse tempo, quase 1/6 é gasto para a divi- são; o restante é gasto pela intérfase. O núcleo é único e está, geralmente, localizado no centro da célula. Mas as células que fazem reserva, como as do pâncreas, por exemplo, precisam de um espaço maior no citoplasma, empurrando o núcleo para a base celular, adqui- rindo, por isso, localização basal. • Você sabia que as células vegetais apresentamnúcleo periférico devido à presença do grande vacúolo citoplasmático? • Você sabia que outras células podem apresentar dois ou mais núcleos? As células dos músculos de contração voluntária, por exemplo, apresentam dezenas de núcleos. UNIUBE 53 Quadro 1: Características da célula em intérfase e em divisão Componentes do núcleo Intérfase Divisão Carioteca Presente Presente em parte do tempo Nucléolos Presentes Presentes em parte do tempo Cromossomos Presentes Ausentes Cromatina Presente Ausente Espaço perinuclear Espaço entre a membrana interna e a membrana externa do núcleo da célula. Agora, vamos estudar os componentes do núcleo e os processos envolvidos na divisão celular. 2.2 Membrana nuclear – guardiã do material genético A membrana nuclear ou carioteca, conforme afirmamos anteriormente, é carac- terística de células eucariontes. Uma de suas funções é separar o núcleo do cito- plasma e fazer manutenção do primeiro, permitindo que a célula regule o acesso ao seu material genético. O núcleo é visível apenas no microscópio eletrônico, porque a espessura de suas membranas está abaixo do poder de resolução do microscópio óptico (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2005). A carioteca é formada por duas membranas concêntricas, unidas por poros, que se encontram espalhados mais ou menos regularmente por todo o espaço perinuclear. A membrana externa é contínua à do retículo endoplasmá- tico rugoso, que sempre se apresenta associado a ribos- somos. saiba mais As proteínas que são produzidas nos ribossomos do ergastoplasma incorporam -se às membranas do envoltório ou ficam no espaço perinuclear. A membrana interna do núcleo é sustentada pela lâmina nuclear, que é interrompida apenas na altura dos poros (Figura 3). As proteínas integrantes da membrana nuclear interna são utilizadas como ponto de apoio para os filamentos laminares (DE RO- BERTIS; HIB, 2001). 54 UNIUBE saiba mais A carioteca é perfurada por cerca de 3.000 a 4.000 poros, formados por um grupo de proteínas que compõe uma estrutura denominada complexo do poro (Figura 4), assim estruturado: 1 oito colunas proteicas, que formam a estrutura cilíndrica do poro. 2 proteínas de ancoragem, que amarram as colunas à cober- tura nuclear. Proteínas radiais que nascem das colunas e se ramificam para o centro do poro, comportam -se como um diafragma, que é um músculo que separa o tórax do abdome humano (aqui, o diafragma está ligado ao movimento de contração e relaxamento que permite a entrada e a saída de substâncias do núcleo celular – Dicionário Aurélio). 3 fibrilas proteicas, que nascem dos anéis externo e interno do poro e se ramificam para o citossol e para o núcleo. As proteínas que formam as fibrilas são chamadas de nucleoporinas. Lâmina nuclear É uma camada de filamentos finos entrelaçados. Figura 3: Desenho do núcleo em intérfase. A carioteca é formada por duas membranas que delimitam a camada perinuclear. Em alguns pontos, as duas membranas se soldam, dando origem aos poros. A carioteca continua no retículo endoplasmático. Alguns ribossomos estão aderidos à membrana nuclear externa. Cc representa cromatina condensada; Cd, cromatina descondensada; F, as porções fibrilares do núcleo, e G, a cromatina a ele ligada. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). Adaptado de Junqueira e Carneiro (2005). UNIUBE 55 2.3 O nucleoplasma e o nucléolo O nucleoplasma é constituído por uma solução aquosa de proteínas, RNAs (sinais), nucleotídeos, nucleosídeos e vários íons, onde estão inseridos os nu- cléolos e a cromatina. Os RNAs são conhecidos como heterogêneos, pois apresentam tamanhos diferentes e, por isso, distintos pesos moleculares (JUN- QUEIRA; CARNEIRO, 2005). Muitas proteínas que estão no citoplasma desempenham atividade enzimática, diretamente envolvida com a transcrição e com a replicação do DNA, como as RNA -polimerases, DNA -polimerases, topoisomerases, helicases, dentre outras (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2005). Os nucléolos são corpúsculos sem membrana, riquíssimos em RNAr, um tipo de ácido nucleico, o qual, associado a proteínas, forma novos ribossomos. Es- tes ribossomos novos migrarão para o citoplasma, sendo, em seguida, distribuí- dos para as células -filhas. Ao final da divisão, os núcleos recém -formados acolhem novos nucléolos, constituídos a partir da atividade do cromossomo organizador do nucléolo. Figura 4: Representação do envoltório nuclear, composto por duas membranas que continuam nos locais dos poros nucleares, que apresentam simetria octogonal radial. A lâmina nuclear não é encontrada nos complexos dos poros. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). Adaptado de De Robertis e Hib (2001). 56 UNIUBE saiba mais O núcleo da célula, assim como o citoplasma, possui endoesqueleto, chamado de matriz nuclear. Essa matriz participa da organização de compartimentos no núcleo interfásico, e tem a função de ancorar as cromatinas, as enzimas envolvidas na re- plicação e transcrição do DNA, e as proteínas envolvidas no transporte de RNAs. 2.3.1 Cromatina se transforma em cromossomo? Cada cromossomo é formado por uma molécula de DNA ligada a diversas pro- teínas. De acordo com o cromossomo, o DNA contém entre 50 e 250 milhões de pares de bases. O complexo formado pelo DNA, proteínas histonas e proteínas não histôni‑ cas, é chamado cromatina. Assim, entendemos que cromatina é o material do qual são compostos os cromossomos. saiba mais Proteínas histonas São as principais proteínas que compõem o nucleossomo. Atuam como a matriz na qual o DNA se enrola. Têm um papel importante na regulação dos genes. São en- contradas no núcleo das células eucarióticas. As histonas das Archaea são seme- lhantes às histonas percursoras nos eucariotas. Proteínas não histônicas Conjunto de proteínas que compõem o nucleossomo, mas não apresentam as carac- terísticas das histonas. Qual a quantidade de DNA presente no núcleo da célula? Nos seres vivos, a análise do conteúdo de DNA mostra incrementos à medida que progride a escala evolutiva (Figura 5). Entre os vertebrados, existem algumas exce- ções entre o nível de evolução e o conteúdo de DNA. Os urodelos são o caso mais evidente, com um teor 30 vezes superior ao humano. Nos peixes pulmonados, existe também uma grande quantidade de DNA, mas desconhece -se o significado biológico desse processo. UNIUBE 57 saiba mais Urodelos Anfíbios que possuem cauda. Exemplo: salamandra. 2.3.2 Estrutura do cromossomo Quando se observa uma célula em intérfase, nota -se a cromatina como um conjunto emaranhado de finos filamentos. Durante o ciclo de divisão celular, cada um dos filamentos espirala -se, enrolando -se sobre si mesmo. Por isso o Figura 5: Quantidade de DNA encontrado na árvore genética de alguns filos. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). Adaptado de Junqueira e Carneiro (2005). Conteúdo de DNA nos organismos mamíferos = 100% mamífero 0,01 105 106 107 108 109 0,1 1,0 1,0 100 réptil anfíbio teleósteo elasmobrânquilo equinoderma celenterado protozoário alga bactéria Número de pares de bases por célula vírus 58 UNIUBE filamento fica mais curto e mais espesso, atingindo o ponto de condensação, caracterizando, dessa forma, a estru- tura cromossômica. Portanto, em linhas gerais, podería- mos dizer que o cromossomo é a cromatina enrolada em histonas e em proteínas não histônicas. Ao todo, são cinco tipos de histonas, classificadas em H1, H2A, H2B, H3 e H4. As histonas H2A, H2B, H3 e H4 são moléculas menores, somando até 135 aminoácidos. Esses quatro tipos de histonas comungam com uma estrutura molecular comum, com as cadeias proteicas formadas por três sequências dis- postas em α ‑hélice e ligadas por duas sequências de filamentos, que se orga- nizam como alças (Figura 6) (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2005). As histonas H3 e H4 apresentam sequências idênticas em organismos de ex- tremos distintos, como a ervilha e o boi, propondo, então, que elas desempenham funçõestambém idênticas em todos os eucariontes (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2005). Já as histonas H1 são caracterizadas como histonas de ligação, uma vez que têm função na compactação da cromatina. A esse grupo incluem -se as histonas H5. Condensação É o ponto máximo de compactação que se dá quando a cromatina se liga a proteínas histonas e não histônicas, adquirindo forma de cromossomo. Figura 6: Estrutura das histonas H2A, H3 e H1. A histona H1 apresenta região globular, entre dois segmentos filamentosos. As histonas H2A e H3 são formadas por três sequências de α ‑hélice, ligadas por duas sequências filamentosas, que apresentam um longo segmento N -terminal, formado por aminoácidos básicos. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). Adaptado de Junqueira e Carneiro (2005). UNIUBE 59 curiosidade Nos espermatozoides de alguns peixes, como salmão, tubarão e truta, outro tipo de proteína básica está ligada à cromatina: são as protaminas. Nesses espermatozoides, as protaminas substituem as histonas (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2005). Mas como é que a cromatina se liga às proteínas, formando, então, o cromossomo? A unidade básica da cromatina é o nucleossomo, também chamado de croma‑ tossomo. O nucleossomo é uma partícula cilíndrica achatada, constituída por cerca de 200 pares de bases de DNA, ligados a um grupo de oito histonas. Esse octâmero é constituído por duas histonas de cada grupo H2A, H2B, H3 e H4. Alguns autores têm afirmado que a H1 não participa da estrutura do nucleos- somo, pois acreditam que essa histona liga -se ao DNA apenas no estágio mais avançado de compactação da cromatina (Figura 7). Dessa forma, as fibras cromatínicas assumem aspecto de colar de contas. Figura 7: Desenho representativo das fibras cromatínicas. A porção central do nucleossomo é formada por um conjunto de oito histonas. A ligação entre os nucleossomos vizinhos, por intermédio do DNA de ligação, forma a fibra de 10 nm. A fibra de 30 nm é formada quando a histona H1 se liga à fibra de 10 nm. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). Adaptado de Junqueira e Carneiro (2005). 60 UNIUBE 2.3.2.1 Enrolamento da cromatina Você já parou para pensar como é que tanto DNA cabe no núcleo da célula, uma vez que, para visualizá -la, precisamos do auxílio de um microscópio? Pois bem, num primeiro momento, os nucleossomos enrolam -se sobre si mes- mos e formam uma estrutura helicoidal chamada solenoide (Figuras 8 e 9). O enrolamento depende das histonas H1, responsáveis pelos ligamentos de umas às outras, contendo, cada volta do solenoide, seis nucleossomos. A intervalos mais ou menos regulares, o enrolamento das fibras é interrompido, de forma que podem ser observadas, a cada espaço de 30 nm, tramas de cromatina mais delgadas. Nesses locais, o DNA encontra -se ligado a proteínas não histônicas, geralmente reguladoras de atividade gênica. A cromatina compacta -se ainda mais. Assim, a fibra forma laços de variados comprimentos, os quais nascem de um cordão proteico constituído por proteínas não histônicas. Figura 8: Representação de uma cromatina de 30 cm de diâmetro. Em destaque, o núcleo do nucleossomo com a histona H1. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). Adaptado de De Robertis e Hib (2001). UNIUBE 61 Figura 9: Representação de um cromossomo com os telômeros, alguns pontos que originam a replicação e o centrômero. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). Adaptado de De Robertis e Hib (2001). Ao final do processo, o cromossomo apresenta -se da seguinte forma (Figura 10): Figura 10: Graus sequentes do enrolamento da cromatina. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). Adaptado de De Robertis e Hib (2001). 62 UNIUBE De acordo com a figura, temos: 1. Centrômero ou constrição primária, que une duas cópias cromossômicas geradas como consequência da replicação do DNA. 2. Telômeros, correspondentes às extremidades do cromossomo, promotor da replicação. 3. Origens de replicação, que permite a síntese de DNA em muitos pontos ao mesmo tempo, acelerando o processo. A Figura 11 mostra: 1. Cromátide/cromátides -irmãs: cada metade desse cromossomo duplo. São absolutamente idênticas, pois se originam da duplicação do material genético. Figura 11: Representação de um cromossomo e suas cromátides -irmãs. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). Adaptado de Silva Júnior e Sasson (2007). Região do centrômero Cromátides-irmãs Cromossomo simples Cromossomo com duas cromátides Dois cromossomos idênticos UNIUBE 63 saiba mais Tipos de cromossomos quanto à posição do centrômero. Observe a Figura 12 e leia abaixo: Figura 12: Desenho representativo dos quatro tipos diferentes de cromossomos, classificados de acordo com a posição do centrômero. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). Adaptado de Junqueira e Carneiro (2005). • Os cromossomos metacêntricos apresentam centrômero central, dividindo o cro- mossomo em dois braços com tamanhos iguais; • Os cromossomos com braços de tamanhos diferentes são chamados submeta- cêntricos; • Os acrocêntricos apresentam centrômero subterminal, deslocado para uma das extremidades; • Os cromossomos telocêntricos apresentam centrômero terminal (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2005). Lateralmente ao centrômero, cada cromátide apresenta uma estrutura proteica associada: o cinetócoro, que se liga ao centrômero, dirigindo a migração dos cromossomos durante a divisão celular. Submetacêntrico Centrômetro dividindo o cromossomo em braços desiguais Centrômetro dividindo o cromossomo ao meio Centrômetro terminal Centrômetro subterminal Metacêndrico Telocêntrico Acrocêntrico 64 UNIUBE 2.3.3 Cromossomos homólogos, genes alelos e cariótipo: definição de conceitos Cromossomos homólogos são dois cromossomos do mesmo tipo – um pro- veniente do ovócito materno (gameta feminino) e outro do espermatozoide pa- terno (gameta masculino). Por ter dois cromossomos de um mesmo tipo, a célula é chamada diploide (2n), sendo n o número de tipos de cromossomos. A Figura 13 representa uma célula diploide. A morfologia dos cromossomos homólogos, no que tange ao tamanho e à po- sição de seu centrômero, é exatamente a mesma. A sequência de genes não é Figura 13: Exemplo hipotético de uma célula 2n = 6. Observe que existem dois cromossomos de cada tipo. Como são três tipos duplicados, temos 2n = duplicado = 6 (número de cromossomos). Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). Adaptado de Silva Júnior e Sasson (2007). diferente, pois ocupam uma mesma posição nos cromos- somos homólogos e desempenham exatamente as mes- mas funções, ou seja, controlam os mesmos caracteres. Esses genes são chamados genes alelos e diz -se que ocupam o mesmo lócus gênico (Figura 14). Não nos esqueçamos, no entanto, que os genes alelos não são necessariamente idênticos, pois podem expressar características fenotípicas diferentes, e até mesmo varia- ção na organização das bases que os constitui. Portanto, o fato de ocuparem a mesma posição nos homólogos, obedecendo a uma mesma sequência, não quer dizer que são exatamente iguais. Lócus gênico É o local fixo num cromossomo onde está localizado determinado gene ou marcador genético. UNIUBE 65 Utilizando ainda a Figura 14 como exemplo, temos: • O cromossomo A cedido pela mãe carrega um gene para cabelos lisos; o cromossomo A’, que o pai forneceu, apresenta, na mesma posição, o gene para cabelos enrolados. Nos cromossomos homólogos, existem, então, genes alelos, ocupando posições correspondentes na localização e na ca- racterística que condicionam, mas que não precisam ser especialmente idênticos. Figura 14: Representação esquemática de um par de cromossomos homólogos. Veja que os genes que determinam o caráter “tipo de cabelo” ficam na mesma posição, ou seja, no mesmo locus. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). Adaptado de Silva Júnior e Sasson (2007). Gene para tipo de cabelo CromossomoA Cromossomo A Gene para cabelos enrolados Gene para cabelos lisos Centrômero relembrando Algumas células, chamadas haploides (n), possuem apenas um cromossomo de cada tipo característico da espécie (Figura 15). As células haploides não apresentam pares de cromossomos homólogos; existe apenas um cromossomo de cada par. Um exem- plo típico de haploidia é o gameta, que assume função reprodutiva e carrega apenas metade da carga cromossômica das células parentais. Considerando o ser humano, 2n = 46, temos o gameta feminino com carga n = 23 cromossomos, bem como o gameta masculino com n = 23 cromossomos. Após a fecundação, tem -se a célula ovo ou zigoto, novamente 2n = 46, caracterizando a formação de um novo ser humano. Ao conjunto de dados sobre o número, tamanho, características e formas dos cro- mossomos de uma espécie, chamamos de cariótipo (Figura 16). Em seguida, veja o Quadro 2, que mostra algumas espécies e seu número 2n de cromossomos (SILVA JÚNIOR; SASSON, 2007). 66 UNIUBE parada para reflexão Como é que os cromossomos se ordenam no cariótipo? • É possível que a célula auto ‑organize seus componentes nucleares? Figura 15: Esquema de núcleo de célula haploide com três tipos de cromossomos (A, B e C). Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). Adaptado de Silva Júnior e Sasson (2007). Figura 16: Cariótipo humano (masculino). UNIUBE 67 Quadro 2: Algumas espécies e seus números de cromossomos duplicados Número 2n de cromossomos em algumas espécies Espécie Número diploide Homem 46 Boi 60 Cachorro 78 Sapo 22 Pernilongo 6 Arroz 12 Tomate 24 Cebola 16 Milho 20 Café 44 Camarão 254 Jiboia 36 importante! Perceba a grande diferença entre os vários exemplos e os filos ou classes a que pertencem! 68 UNIUBE saiba mais Nós estudamos, até agora, o núcleo celular e seus componentes, dentre eles a cro- matina e o cromossomo. Por isso é importante dizer que a cromatina pode se apresentar na forma de eucro- matina ou heterocromatina. • Quais seriam as diferenças entre elas? • São quantos os tipos de heterocromatina? Assumem funções diferentes? indicação de leitura Para fundamentar sua resposta, se for possível, faça uma pesquisa sobre o assunto ou leia os livros didáticos do ensino médio, na parte que trata de genética, ou leia o Capítulo 12 do livro Bases da biologia celular e molecular, dos autores De Rober- tis e Hib, no item 12.10 – “A cromatina pode ser eucromatina ou heterocromatina”. 2.4 Ciclo de divisão celular – o relógio biológico das células A biologia vem tentando entender os mecanismos controladores do ciclo de divisão celular, em que a célula passa por quatro estágios bem definidos. Durante a intérfase, como você já sabe, a célula produz proteínas, duplica seu DNA e aumenta seu tamanho. Logo em seguida, ocorre a divisão: mitose ou meiose, como verá ainda neste capítulo. O ciclo de divisão celular varia conforme o tipo de célula. As células da nossa pele, por exemplo, estão sempre em reprodução, durante toda a vida; células do fígado só se reproduzem quando há necessidade de reparar o tecido. Já as células cardíacas e as neurais, normalmente, não se multiplicam mais, porque são altamente especializadas nas funções que desempenham. Alguns experimentos concretizados em meados de 1970 sugeriam que o controle da divisão era exercido por substâncias químicas. Observando a Figura 17, vemos duas células que cresceram em um mesmo meio de cultura, mas que estão em momentos diferentes da divisão celular. UNIUBE 69 A célula A está no estágio M (de Mitose, ou divisão), enquanto a célula B está no período G1 da intérfase, antes da duplicação do DNA. As células, durante experimento, são estimuladas quimicamente a se unirem, tornando -se uma célula única com dois núcleos. Quase que de imediato, o núcleo interfásico entra em mitose, mesmo sem a ocorrência da duplicação dos cromossomos! O resultado do experimento sugere que alguma substância celular induziu a célula interfásica a também iniciar a mitose. Hoje, já se sabe que as substâncias químicas que funcionam como propulsoras dos estágios de divisão celular podem vir de fora da célula ou se originar dentro dela. Mas o mais importante é entender que todo e qualquer mecanismo de divisão é estimulado por um agente controlador, que obedece a uma cronologia, essencial para a vida das células. 2.4.1 O ciclo de divisão celular e seus períodos G1, S e G2 Como já abordado anteriormente, as células passam por um ciclo que compre- ende dois estágios fundamentais: a intérfase e a divisão celular, ou seja, a mitose ou meiose. A intérfase era considerada uma etapa de “repouso”, mesmo sendo um período em que ocorrem as funções mais importantes do ciclo celular, seja no núcleo ou no citoplasma. saiba mais A maioria das células passa grande parte de sua vida em intérfase e, nesse período, todos os seus componentes são duplicados. Alguns tipos celulares muito diferenciados raramente se dividem, ou não se dividem, como no caso dos neurônios. Dessa maneira, nos neurônios, o período interfásico existe durante todo o período de vida do indivíduo. Figura 17: Esquema representativo da divisão celular induzida por substâncias químicas. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). Adaptado de Silva Júnior e Sasson (2007). Fusão das duas células A divisão é ativada também no núcleo que estava na interfase M G1 70 UNIUBE A síntese de DNA ocorre somente durante uma fase limitada da intérfase, cha- mada fase S (de síntese de DNA), precedida e seguida pelas fases G1 e G2, respectivamente (G – de gap, que significa intervalo), em que não ocorre síntese de DNA. G2 é o período compreendido entre o final da síntese de DNA e o co- meço da mitose (Figura 18). De acordo com Silva Júnior e Sasson (2007), a duração do ciclo varia conforme o tipo de célula. Em uma célula de mamífero em cultivo, com um tempo de vida de 16 horas, a fase G1 dura 5 horas; a fase S, 7 horas; a fase G2, 3 horas, e a fase M, 1 hora. Os períodos S, G2 e M são mais ou menos constantes na maio- ria dos tipos celulares. O que mais varia é o período G1, que pode durar de alguns dias até anos. As células que não se dividem por serem altamente diferenciadas, como as do músculo esquelético e neurônios (como já afirmamos), ou que se dividem pouco (como os linfócitos), permanecem no período G1, que nestes casos é denominado G0, pois as células não estão no ciclo celular. A seguir, estudaremos os eventos da célula em intérfase, de acordo com Jun- queira e Carneiro (2005). • Período G1 Caracterizado pelo reinício da produção de RNA e proteínas, processo que se interrompe quando a célula entra em divisão. Com essa produção, a célula cresce e permanece em crescimento até G2. Do RNA produzido, cerca de 80% é RNAr (ribossômico). Além disso, em G1, a célula produz enzimas imprescindíveis para a fase S durante a duplicação do DNA. É importante salientar que esse período Figura 18: Gráfico da variação da quantidade de DNA na célula durante seu ciclo de vida. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). Adaptado de Silva Júnior e Sasson (2007). Q ua nt id ad e de D N A Intérfase Intérfase Mitose Prófase G2 G1 S 4C 2C C Metáfase Anáfase Telófase Tempo UNIUBE 71 pode continuar proliferando ou sair do ciclo de divisão e entrar em estado de dormência (G0). Essa decisão é controlada por diversos componentes intracelu- lares. Um dos mecanismos de controle que ocorre em G1 é a interrupção tempo- rária do ciclo nesta fase, caso o DNA precise de reparos, dando condições à célula de promover a reparação do material genético antes da fase S (de replicação). • Período S Durante o período S (Figura 18) a célula duplica o seu conteúdo de DNA. Esse processo é a replicação. Isso significa que uma célula com a quantidade de DNA igual a 2K, durante esse período, dobra, passando de 2K para 4K. Neste período, também, novos centríolos são vistos, formando -se perpendicularmentea cada um dos pares de centríolos existentes nas células. Nos eucariotos, além disso, há duplicação das organelas autônomas (com ma- terial genético próprio – mitocôndrias e cloroplastos) e das organelas e mem- branas (retículos, golgiossomos, membrana nuclear etc.). • Período G2 Neste período, ocorrem as preparações necessárias para a divisão celular. A checagem de todos os componentes celulares, de todas as reparações ocorridas e da finalização da replicação do DNA acontece nessa fase. Enquanto todo o genoma não estiver replicado e reparado, a divisão não se inicia. Nessa fase, ainda são produzidas as proteínas não histônicas, além de acumular um com- plexo proteico chamado complexo ciclina ‑CDk (do inglês cyclin ‑dependent kinases). É o regulador da transcrição G2/Divisão por meiose ou mitose. Suas principais funções são: condensação cromossômica, ruptura da carioteca, es- truturação do fuso e degradação da proteína ciclina. curiosidade Você sabia que um indivíduo adulto é formado por cerca de 1013 células? Todas essas células são derivadas do zigoto. Mesmo depois de um indivíduo se tornar adulto, a multiplicação celular continua acontecendo. Um exemplo disso são as células sanguíneas (eritrócitos), que têm vida por apenas 120 dias. Por isso, o organismo produz cerca de 2,5 milhões dessas células por segundo. Esse ritmo deve ser mantido objetivando um equilíbrio perfeito no organismo (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2005). 72 UNIUBE 2.4.2 Mitose Entendemos pelos estudos dos itens anteriores a esse, que a divisão celular compreende uma série de fenômenos nos quais todos os componentes da célula são duplicados e repartidos igualmente entre as duas novas células formadas. pesquisando na web Interessante! Não deixe de acessar o endereço <http://www.cellsalive.com/mitosis.htm> para visua- lizar a figura animada que mostra o processo de divisão celular por mitose. Quando organismos unicelulares se dividem por mitose, originam dois novos indivíduos; nesse caso, divisão celular significa reprodução. Nos pluricelulares, a mitose é constante em algumas estruturas, como a medula óssea, a epiderme e as partes das plantas em que há crescimento, e ocasional em outras, como o fígado ou ossos em regeneração. Nos pluricelulares, a mitose está relacionada com o de- senvolvimento, o crescimento, a renovação, a regenera- ção e a reprodução. Durante a mitose, ou seja, durante a fase de divisão do ciclo, ocorre a formação do fuso no citoplasma celular, no início, e sua desintegração ao final. Os centríolos são os grandes responsáveis pela formação do fuso, composto por micro- túbulos que se ligam ao centrômero dos cromossomos, nos momentos cruciais da divisão. Para saber mais, consulte o capítulo 1 – “Vida: como tudo começou...” De acordo com Junqueira e Carneiro (2005), a mitose é dividida nas seguintes etapas: prófase, prometáfase, me- táfase, anáfase e telófase. A partir da penúltima ocorre a citocinese, ou separação das novas células formadas, que acontece com o término da telófase (Figura 19). Microtúbulos São estruturas proteicas que fazem parte do citoesqueleto nas células. São filamentos com diâmetro de, aproximadamente, 24 nm e comprimentos variados, de vários micrometros até alguns milímetros nos axônios das células nervosas. Microtúbulos são formados pela polimerização da proteína tubulina. UNIUBE 73 • Prófase As cromátides se condensam, forma -se o fuso mitótico e o nucléolo se desinte- gra. A célula torna -se esférica. • Prometáfase É um período muito curto em que o envoltório nuclear se desintegra e os cro- mossomos se ordenam aparentemente. O fuso invade a área nuclear. • Metáfase Os cromossomos se colocam no plano equatorial da célula, orientados pelos centríolos que se dispõem nos polos opostos na mesma. Além disso, os cro- mossomos atingem condensação máxima. Figura 19: Esquema do núcleo de uma célula com quatro cromossomos. Em I, a célula encontra -se em intérfase. Em II, temos o início da prófase, os cromossomos estão finos e praticamente não podemos vê -los duplicados; em III, temos o final da prófase, com os cromossomos duplicados no máximo de sua condensação; em IV, a metáfase, caracterizada pelo alinhamento dos cromossomos na região equatorial da célula; em V, início da anáfase, quando ocorre a ruptura dos centrômeros e a separação das cromátides -irmãs; em VI, final da anáfase; em VII, temos o início da telófase, os cromossomos já estão em polos opostos e em VIII, temos o final da telófase e início da citocinese, quando a membrana nuclear se recompõe. 74 UNIUBE • Anáfase Os cromossomos -filhos se dirigem para os polos da célula, orientados pela re- tração das fibras do fuso. Como o fuso se prende ao centrômero do cromossomo, à medida que se retrai, “puxa” os cromossomos para os polos da célula; e estes assumem aspecto de “V”. A célula adquire forma ovoide. O que controla a formação do fuso e sua retração é a ausência da proteína ci- clina e presença da proteína CDk, e o retorno da ciclina e saída da CDk, res- pectivamente, marcando, então, o início da fase Telófase e, também, o final da divisão, preparando a célula para novamente entrar em intérfase. • Telófase Ocorre a formação dos núcleos -filhos. A célula está um pouco mais larga; os cromossomos começam a descondensar, recapitulando a prófase. Além disso, os nucléolos reaparecem. O retículo endoplasmático se funde às membranas nucleares, formando os núcleos -filhos definitivos. • Citocinese Tem início na anáfase. Ocorre a formação de um sulco na região equatorial do citoplasma, que se intensifica à me- dida que a célula se divide. As fibras do áster assim como as polares, vão diminuindo, até que desaparecem por completo. Ao final, o citoesqueleto é restabelecido, ocorre inserção das organelas citoplasmáticas e as duas novas células adquirem aspecto original da célula -mãe. importante! Chamamos as células que fazem mitose de somáticas, ou seja, células que somam/ multiplicam -se ao longo da vida de um organismo. Ao final desse processo, teremos sempre duas novas células sendo formadas, onde a célula -mãe diploide origina duas células -filhas também diploides, geneticamente idênticas entre si. Fibras do áster São microtúbulos proteicos presentes ao redor dos centríolos, que apresentam, de acordo com alguns cientistas, a forma de uma estrela e, por isso, áster. UNIUBE 75 2.4.3 Meiose: reprodução assexuada e sexuada pesquisando na web Atenção! Para aprofundar seus estudos, acesse o endereço <www.unb.br/ib/cel/microbiologia>. O site da disciplina de microbiologia, alimentado pela professora Cynthia Maria Kyaw, é riquíssimo em artigos, imagens e conteúdos, que certamente irão contribuir sobre- maneira para seu aprendizado. As esponjas são animais que podem se reproduzir assexuadamente por brota- mento. Assim, todos os indivíduos podem ser descendentes de um só indivíduo: são cópias idênticas e possuem, todos, as mesmas informações genéticas. No plantio da cana -de -açúcar, caules selecionados são cortados em pedaços chamados mudas ou toletes. São colocados em sulcos e cobertos com terra, e de cada muda surgem novas plantas, por reprodução também assexuada. O brotamento das esponjas e a plantação do canavial são exemplos de reprodução na qual um só indivíduo pode originar grande número de descendentes, muito se- melhantes entre si, pois têm as mesmas informações genéticas do indivíduo que os originou; não há, portanto, diversidade genética. É reprodução assexuada. De acordo com Silva Júnior e Sasson (2007), nos orga- nismos com reprodução assexuada, as mutações são a única fonte de variabilidade genética. Como são relativa- mente raras, as mudanças nas características desses organismos são, em geral, demoradas. Na reprodução sexuada, é grande o gasto de energia. Nas plantas, ela implica formação de flores bonitas e perfuma- das, capazes de atrair os agentes polinizadores, como os morcegos, por exemplo. Nos animais,para cada filho gerado, os machos produzem milhões de gametas, os espermatozoides. Além disso, a busca e a obtenção do parceiro sexual nem sempre é tranquila. Então, quando falamos em reprodução sexuada, deixamos claro que deve haver a presença de dois indivíduos para formação de um terceiro. Neste caso, cada Mutações São eventos de caráter desconhecido, que acontecem ao acaso, podendo ser provocados por quaisquer alterações nos ambientes externo ou interno dos organismos vivos. 76 UNIUBE um terá que transmitir metade da carga genética, para que o todo permaneça com o valor normal inalterado. Assim, será necessária a formação destas célu- las especiais que chamamos de gametas. Ao processo de divisão celular redu- cional (R!) dá -se o nome de meiose (Figura 20). De acordo com Junqueira e Carneiro (2005), meiose é um tipo especial de di- visão que está relacionada com a formação dos gametas. As células resultantes da meiose são haploides, ou seja, apresentam a metade do número de cromos- somos da célula -mãe. parada obrigatória Acesse o site <http://www.cellsalive.com/miosis.htm> para ver figuras animadas que mostram a ocorrência da meiose. Ainda de acordo com Junqueira e Carneiro (2005), a meiose divide -se em Meiose 1 e Meiose 2: • Meiose 1 Antes do início da meiose 1, os núcleos passam pelo intervalo G1, que precede o período de síntese de DNA, no qual ocorre uma checagem do material gené- tico autorizando o prosseguimento da síntese de DNA, que é o período S. Quando o teor de DNA é duplicado, a célula avança para o chamado intervalo G2, no Figura 20: Esquema do núcleo de uma célula com dois cromossomos em processo de meiose. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). UNIUBE 77 qual ocorre uma nova verificação do material genético produzido. A meiose 1 divide -se em quatro fases: prófase 1, metáfase 1, anáfase 1 e telófase 1. • Prófase 1 Os cromossomos homólogos se associam formando pares, ocorrendo o crossing ‑over, passando pelas seguintes fases: 1 Leptóteno: os cromossomos começam a se condensar; 2 Zigóteno: os cromossomos começam a combinar -se, ocorrendo a sinapse; 3 Paquíteno: os cromossomos se tornam mais espirala- dos, o pareamento é completo. Nesse estágio, ocorre o crossing ‑over; 4 Diplóteno: ocorre o afastamento dos cromossomos homólogos, mas sem que ocorra a separação dos cen- trômeros; 5 Diacinese: ocorre a condensação máxima. • Metáfase 1 Há o desaparecimento da membrana nuclear, formação das fibras do fuso e alinhamento dos cromossomos pareados no plano equatorial. • Anáfase 1 Cada par de homólogos, chamados de bivalentes porque contém quatro cromátides, separam -se e os centrômeros com as cromátides -irmãs são puxados para polos opostos da célula. • Telófase 1 Os dois conjuntos haploides de cromossomos se agrupam nos polos opos- tos da célula. • Meiose 2 A segunda etapa da divisão celular começa nas células resultantes da telófase 1. É constituída por quatro fases: prófase 2, metáfase 2, anáfase 2 e telófase 2. Sinapse Pareamento dos cromossomos homólogos. 78 UNIUBE • Prófase 2 Ocorre a formação das fibras do fuso e o desaparecimento da membrana nuclear. Os cromossomos não perderam a sua condensação na telófase 1. • Metáfase 2 Os cromossomos são divididos em duas cromátides de cada cromossomo, depois eles prendem -se ao fuso. • Anáfase 2 Após a divisão dos centrômeros, as cromátides de cada cromossomo mi- gram para polos opostos. • Telófase 2 Ao redor de cada conjunto de cromátides é formada uma membrana nuclear. A meiose produz variabilidade genética. Como resultado da meiose, são forma- das quatro células com metade do número de cromossomos do núcleo diploide original. Na metáfase 1, os cromossomos são distribuídos ao acaso entre os dois novos núcleos. Se a célula diploide original for a número 2, há quatro modos possíveis de distribuí -los entre as células haploides. A fórmula geral é 2n Em seres humanos, o número (n) é 23. Logo, o número de combinações pos- síveis é de 223, ou seja, 8.388.608. Além disso, por causa da permutação, cada cromossomo possui segmentos originados de ambos os parentes. Evidente- mente, é enorme o potencial de variabilidade genética. agora é a sua vez Recorra ao Quadro 2 deste capítulo, escolha um dos seres vivos que nela constam, veja o número de cromossomos de suas células e, em seguida, verifique o número de combinações possíveis para a formação de seus gametas. Utilize a fórmula acima. Registre em seu caderno. UNIUBE 79 2.4.3.1 Qual a importância do crossing ‑over? O crossing ‑over, fenômeno que acontece durante a meiose 1, ainda não tem suas causas esclarecidas. Não é possível prever em que pontos e em quais cromossomos ocorrerá. dicas Acesse o endereço: <http://engels.genetics.wisc.edu/Holliday/>, no qual você encontrará uma figura com animação dividida em partes, mostrando o processo do crossing ‑over. As figuras 21 e 22, a seguir, comparam os resultados da meiose sem a ocorrên- cia do crossing ‑over, em uma célula com dois cromossomos. Nas figuras estão representados apenas dois pares de genes alelos, A e a; B e b. Na Figura 21 não houve troca de DNA durante o pareamento. Dessa forma, ao final da meiose, têm -se quatro células (que podem ser gametas), duas com carga genética AB e duas com carga ab. Figura 21: Esquema da meiose sem o crossing ‑over. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). Adaptado de Silva Júnior e Sasson (2007). Figura 22: Esquema da meiose com ocorrência do crossing ‑over. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). Adaptado de Silva Júnior e Sasson (2007). 80 UNIUBE Na Figura 22, que mostra a ocorrência do crossing ‑over entre os genes A e B, temos como resultado, após a troca de DNA entre as cromátides homólogas, quatro células de constituição genética diferentes: AB, Ab, aB e ab. Dessa forma, o crossing ‑over possibilitou o aparecimento de cromossomos com combinações gênicas completamente diferentes – Ab e aB – não existentes na célula original. Podemos dizer, então, que o crossing ‑over “embaralhou” os genes dos cromossomos originais AB e ab, caracterizando a recombinação gênica. Por provocar a variabilidade genética dos gametas ou esporos, o crossing ‑over é um fator decisivo para evolução. importante! Meiose espórica e meiose gamética A meiose espórica é aquela que, ao final do processo de divisão, dá origem a quatro novas células n (haploides), formando esporos. É o que acontece com o esporófito das briófitas, como você verá nos capítulos vindouros. A meiose gamética, como o próprio nome diz, é aquela que, ao final do processo, dá origem a quatro novas células n (haploides), formando gametas, masculinos ou fe- mininos, como acontece com o ser humano. saiba mais Esporos Célula haploide (n) que dá condições à formação de novos indivíduos, muito comum no reino vegetal. 2.5 Haploidia e diploidia Os primeiros seres vivos eucariontes seriam, provavelmente, haploides (repre- sentados pela letra n), com apenas um conjunto de cromossomos, assexuados, mas o surgimento da reprodução sexuada abriu caminho ao surgimento da di- ploidia (2n), dois conjuntos de cromossomos (um conjunto de cada precursor). Segundo Maturana e Varela (2001, p. 78): UNIUBE 81 Estamos longe de saber como tudo isso aconteceu (referente à origem do processo de reprodução celular) e, provavelmente, estas origens estejam perdidas para sempre. Tal circunstância, porém, não invalida o fato de que a divisão celular é um caso particular de reprodução que podemos, legitimamente, chamar de autorreprodução. Uma hipótese é de que a diploidia teria surgido pela primeira vez quando duas células haploides se uniram formando um organismo diploide (zigoto). Por um dos incontáveis acidentes evolutivos, essa célula, 2n, pode ter se dividida mito- ticamente, originando indivíduos descendentes diploides que, depois, podem ter sofrido meiose, passando a apresentar a alternânciade gerações. Ao analisarmos os ciclos reprodutivos dos diversos grupos evolutivos, percebe- mos uma tendência na predominância da fase diploide, reduzindo a fase haploide a algumas células. Resumo A informação da carga genética das células está armazenada, em grande parte, no DNA que está no núcleo celular. A célula, durante sua vida, passa por dois estágios, sendo um de divisão, que é a mitose, e outro intercalar, que é a intérfase. O núcleo interfásico, geralmente, é caracterizado nos eucariontes por estar limitado pelo envoltório nuclear (carioteca), constituído por duas unidades de membrana. Esse envoltório contém poros que regulam o transporte de substâncias entre o núcleo e o citoplasma. Diretamente ligada à carioteca, existe a lâmina nuclear. A cromatina está intimamente associada a proteínas histônicas e não histônicas. A unidade básica de formação da cromatina é o nucleossomo, constituído por cerca de 200 pares de bases de DNA. Durante a intérfase, a cromatina pode comparecer em estado condensado, ou seja, na forma de cromossomo, ocu- pando, assim, um lugar restrito dentro do núcleo da célula. A quantidade de DNA por núcleo, nas células dos seres vivos, mostra um incre- mento considerável quando a escala evolutiva progride: quanto mais evoluído o organismo, maior a eficiência do DNA na célula. Os nucléolos são organelas esféricas que se localizam dentro do núcleo, não envoltas por membrana. São constituídos por numerosas proteínas. A região organizadora do nucléolo, ou seja, a porção do DNA que contém os genes que 82 UNIUBE codificam os RNAs ribossômicos pode ser amplificada em outras espécies. Os nucléolos participam da transcrição de RNAs ribossômicos. A alternância dos estados de intérfase e de divisão na vida das células corres- ponde ao ciclo de divisão celular. A intérfase representa o período entre duas divisões, e é formada por três fases: G1, S e G2. Em G1, as células sintetizam RNA e proteínas, aumentando o volume do citoplasma das células. Em S, a célula duplica seu material genético, enquanto que, em G2, ocorre pouca síntese de RNA e de proteínas não essenciais à mitose, preparando a célula para divi- são. Nesse período, ocorre o aumento e ativação do complexo ciclina -CDk, que são os reguladores críticos da mitose em todas as células eucariontes. Saindo da fase de intérfase, o núcleo entra em divisão reducional (meiose) ou mul- tiplicação (mitose) celular. A mitose é dividida em fases que descrevem as principais alterações morfológicas e a movimentação dos cromossomos durante o processo. Na prófase, os cromossomos começam a condensar -se, o nucléolo e o núcleo se desintegram e os centríolos irradiam as fibras de microtúbulos, formando o fuso mitótico. Na metáfase, os cromossomos atingem condensação máxima, e os cromossomos atingem a zona equatorial da célula. Na anáfase, os centrô- meros de cada cromossomo se rompem e as cromátides -irmãs separam -se, seguindo para polos opostos da célula. Na telófase, os cromossomos -filhos chegam aos polos, ocorre a restituição do núcleo e completa -se a divisão do citoplasma, na fase de citocinese. A duração do ciclo mitótico é variável quando se consideram células de diferen- tes tecidos de um organismo, ou até mesmo quando se considera espécies diferentes. As células de linhagem germinativa multiplicam -se por divisões mitóticas de modo semelhante às células somáticas. As células em gametogênese apresen- tam duas divisões nucleares: a meiose 1 e meiose 2. Os cromossomos são duplicados apenas uma vez, quando a célula entra em meiose 1. Durante a prófase I, ocorre o emparelhamento dos cromossomos homólogos que podem trocar pedaços entre si, fenômeno denominado de permutação, recombinação gênica ou crossing ‑over. Os cromossomos homólogos permane- cem unidos em alguns pontos, que chamamos de quiasmas, resultantes da permutação, até a metáfase. Na anáfase da primeira divisão, ocorre a separação dos cromossomos homó- logos, e não o rompimento dos centrômeros, não separando, por isso, as cromátides -irmãs. UNIUBE 83 A segunda meiose ocorre logo após a telófase da primeira, que deu origem a duas novas células, tendo reduzido o número de cromossomos, mantendo -se a quantidade de DNA em relação à célula original. Ao final da segunda divisão, na anáfase 2, tem -se a separação das cromátides- -irmãs pelo rompimento dos centrômeros. Assim, cada célula -filha terá metade do número de cromossomos e, também, a metade da quantidade de DNA que existia na célula -mãe. A meiose forma quatro gametas (células haploides) com metade do número de cromossomos reais da espécie e, por isso, possibilita o encontro de duas delas (desde que antagônicas), pela fecundação, originando um novo ser vivo. A mistura dos cromossomos paternos e maternos que ocorre durante a formação do embrião, além da troca de genes na permutação, aumenta a variabilidade genética dos indivíduos nas populações. É essa variabilidade genética a grande responsável pela evolução dos seres vivos. Referências DE ROBERTIS, E. M. F.; HIB, José. Bases da biologia celular e molecular. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, José. Biologia celular e molecular. 8 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. MATURANA, Humberto R.; VARELA, Francisco. A árvore do conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. São Paulo: Palas Athena, 2001. RAVEN, Peter et al. Biologia vegetal. 7 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. SILVA JÚNIOR, César da; SASSON, Sezar. Biologia. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 1. Referência eletrônica WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2009a. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:TwinGirls.jpg>. Acesso em: 20 abr. 2019. 84 UNIUBE André Luís Teixeira Fernandes / Valeska Guimarães Rezende da Cunha INTRODUÇÃO Sabemos que o estudo é fundamental na vida das pessoas e por meio dele buscamos alcançar os diversos tipos de conhecimento, que serão aplicados em inúmeras situações de nossa vida. Durante sua formação escolar, você encontrará exigências, obstáculos e desafios que o(a) farão ter uma nova postura diante dos estudos. Daí a necessidade de você repensar e avaliar a forma como vem estudando até agora. Muitos(as) alunos(as), apesar de seu esforço, não conseguem obter o sucesso escolar que estaria ao seu alcance, pois trabalham com métodos inadequados. A obtenção de bons resultados escolares, que é o objetivo de todos os estudantes, consegue-se com métodos e estratégias de estudo eficazes. A princípio, é preciso que você se conscientize de que o resultado de todo o processo depende de você mesmo(a), ao assumir uma postura com maior autonomia para a efetivação da aprendizagem. Além disso, você deve empenhar-se num projeto de estudo altamente individu- alizado, apoiado no domínio e na manipulação de uma série de instrumentos, que o(a) auxiliarão na organização de sua vida de estudo e na disciplina de sua vida acadêmica. Neste capítulo, você encontrará orientações para a organização de seus estudos e sobre a melhor forma de registro de sua aprendizagem. Posterior- mente, será orientado aos procedimentos necessários para a leitura e estudo dos textos acadêmicos. Você verá como esses textos são organizados, os procedimentos adequados para a leitura desse tipo de texto e as diversas formas de registro de seus estudos. E, no final do capítulo, você aprenderá as normas para a elaboração e apresentação de trabalhos acadêmicos, utilizando corretamente as formatações de acordo com aquilo que a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) estabelece. Concepções e fatores que intervêm no desenvolvimento humano Capítulo 1 Geraldo Thedei Júnior Introdução A bioquímica busca demonstrar como os seres vivos funcionam, partindo do conhecimento de suas moléculas formadoras. Embora uma célula possa parecer muito pequena para ser subdividida em partes, você aprenderá neste capítulo que ela éformada por muitos tipos de moléculas diferentes, tais como os carboidratos, proteínas, lipídeos, ácidos nucleicos, e ainda conta com uma grande quantidade de outras moléculas, tais como as vitaminas e seus derivados. Todas essas moléculas, das maiores às menores, têm importância fundamental para o funcionamento correto das células. É da interação harmônica de todas as moléculas que formam a célula que depende a sobrevivência da célula, a unidade fundamental que forma os seres vivos. Para compreender de que maneira as moléculas sem vida formam um ser vivo, capaz de se reproduzir e interagir com o meio ambiente, a bioquímica estuda cada uma dessas moléculas inanimadas isoladamente e tenta entender como a interação entre elas permite que a célula se mantenha viva. Objetivos Ao final deste capítulo, você deverá ser capaz de: • identificar as principais biomoléculas existentes no contexto da bio- logia; • explicar a relação existente entre a estrutura e função biológica das moléculas, relacionando-as às situações do cotidiano. Estrutura e função das biomoléculas Capítulo 3 86 UNIUBE Esquema 1o momento: Introdução ao estudo das biomoléculas 2o momento: Moléculas que compõem a matéria viva 3o momento: Resumo 3.1 Introdução ao estudo das biomoléculas Para iniciarmos nossos estudos, vamos relembrar alguns fatos que marcaram a biologia recentemente: • em 1953, James Watson e Francis Crick desvendaram a estrutura química da mo- lécula de DNA e, com ela, explicaram como uma célula, ao se dividir, gera duas células idênticas; • na década de 1980, foi descoberto que a mutação (alteração na forma e na função) de uma proteína chamada p53 leva a vários tipos de câncer. Todas essas descobertas e muitas outras surgiram do estudo das chamadas “biomo- léculas”, ou moléculas encontradas na constituição dos seres vivos, e são originadas de perguntas básicas, que podemos fazer a nós mesmos, como ponto de partida para nossa viagem pelo conhecimento bioquímico. • Qual a constituição das células? • Como todo o trabalho que elas realizam pode ser concretizado de forma tão perfeita? • Como acontece a multiplicação celular, a obtenção de energia, a sobrevivência e susten- tação da vida numa célula? UNIUBE 87 • Como uma célula interage com o meio ambiente e responde às variações do meio extra- celular, tais como a disponibilidade de nutrientes, temperatura e salinidade? • O desempenho de suas funções está relacionado com alguma estrutura biológica em especial? • Como as células mantêm suas características genéticas ao longo do tempo? Para que consigamos entender todos esses mecanismos biológicos, vamos, inicial- mente, conhecer alguns dos constituintes celulares que desempenham este trabalho. Portanto, estudaremos quais são, como são e quais as funções das moléculas presen- tes nas células. Do desempenho das funções de cada uma dessas moléculas é que depende a manutenção da vida da célula. 3.2 Moléculas que compõem a matéria viva Toda matéria viva é composta por: • água (cerca de 70 a 80% do peso celular); • bioelementos como o carbono, o oxigênio, o nitrogênio, o fósforo e o enxofre (im- prescindíveis, pois constituem os principais tipos de moléculas biológicas existentes – açúcares, proteínas, ácidos nucleicos e lipídios); • alguns elementos inorgânicos como o cálcio, sódio, cloro, magnésio, ferro e potássio. Esses elementos são fundamentais à sobrevivência e à perpetuação de todos os seres vivos. Basicamente, a maioria das moléculas orgânicas citadas an- teriormente (açúcares, proteínas, entre outras) é encontrada em sua forma polimérica. Denominaremos de polímeros toda molécula constituída pela união de duas ou mais repetições de sua menor fração, chamada de monômero (Figura 1). Assim, quando esses monômeros se unirem, poderão assim formar: • dímeros (dois monômeros); • trímeros (três monômeros); Forma polimérica Em forma de polímero, ou seja, pela união de várias moléculas similares menores. 88 UNIUBE • oligômeros (até dez monômeros unidos); • polímeros propriamente ditos (acima de 10 monômeros). Através das ligações químicas, a partir de moléculas mono- méricas, ocorrerá a formação de compostos mais complexos e funcionais. Assim, muitas vezes, os átomos de hidrogênio (H) e grupos hidroxila (OH ), pertencentes a duas moléculas diferentes, irão se associar e, por uma reação química de desidratação, formar água (H2O). Essas reações poderão se repetir quantas vezes forem necessá- rias para que uma biomolécula funcional seja criada (Figura 1). Monômero Monômero 2 1 2 Monômero 3 1 2 3 Dímero Trímero H H H HOH OH H2O H2O OH OHH Figura 1: União de monômeros para a formação de moléculas maiores. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). As macromoléculas presentes nas células (polissacarídeos, proteínas e lipídeos) são forma- das pela união de unidades menores – os monômeros. Na maioria dos casos, a união entre monômeros envolve uma reação de desidratação (saída de água). Ligações químicas O mecanismo pelo qual as moléculas se unem. Ocorrem através de interações químicas entre elas, podendo envolver o compartilhamento de elétrons. UNIUBE 89 3.2.1 As biomoléculas As biomoléculas são compostos orgânicos presentes nos organismos vivos. Elas são importantes para a manutenção e propagação da vida, sendo constituídas basicamente por átomos de carbono, enxofre, nitrogênio, oxigênio, fósforo e hidrogênio, como já dissemos. São elas: os carboidratos, as proteínas, os lipídeos e os ácidos nucleicos. Além dessas biomoléculas, a água desempenha um papel muito importante em todos os seres vivos, razão pela qual iniciamos nossos estudos por ela. 3.2.1.1 A água É o composto mais importante para os seres vivos. Sua quantidade varia entre os diferen- tes organismos. As medusas, por exemplo, apresentam 95% de água na sua composição, ao passo que, nos tecidos humanos, sua presença vai de 20%, nos tecidos ósseos, a até 85%, nas células do tecido nervoso (cérebro). Nos seres vivos, esta água está presente em maiores proporções durante o período de desenvolvimento embrionário e no período da juventude, sendo que, ao envelhecermos, sua quantidade irá diminuir. A água é formada por dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio fortemente ligados (Figura 2). Além disso, por possuir um forte caráter polar, a água consegue interagir com uma variedade de outras moléculas, tais como íons carregados negativa ou positivamente. Assim, outras moléculas polares ou íons são facilmente solúveis neste líquido tão abundante nas células. Além disso, a água interage com um grande número de moléculas presentes em nossos sistemas biológicos. Figura 2: Estrutura química de duas moléculas de água e a formação de ligação de hidrogênio entre elas. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). importante! Na molécula de água, o oxigênio, por ser muito eletronegativo, atrai os elétrons comparti- lhados com os hidrogênios. Com isso, ele se torna parcialmente negativo e é atraído pela carga parcial positiva presente no hidrogênio de outra molécula de água. Lembre que esse 90 UNIUBE hidrogênio está parcialmente positivo porque o oxigênio ao qual ele se liga está “puxando” para si os elétrons compartilhados. Um caso particular de ligação química ocorre entre moléculas de água. São as chama- das ligações de hidrogênio, e sua ocorrência mantém as moléculas de água unidas umas às outras. As ligações de hidrogênio (Figura 2) se formam quando o oxigênio de uma molécula de água, por ser muito eletronegativo, atrai o hidrogênio de outra molécula de água. Este hidrogênio é deixado parcialmente positivo pelo oxigênio ao qual está ligado (que como átomo eletronegativo atrai para si os elétrons compartilhados com os hidrogênios presentes na mesma molécula). Essas ligações de hidrogênio se formam e se rompem muito rapidamente entre as moléculas de água vizinhas, de modo que, a qualquermomento, todas as moléculas de água presentes em um ambiente estavam unidas a moléculas vizinhas. pesquisando Tente descobrir por que a água apresenta ponto de ebulição e calor de vaporização muito maiores que o de outros líquidos de peso molecular parecido com o dela. Baseando -se na capacidade que a água possui de formar ligações de hidrogênio com outras moléculas de água e também com outras biomoléculas, tente explicar por que a água é co- nhecida como “o solvente universal”. A ligação de hidrogênio confere à água a capacidade de interagir com a grande maio- ria das biomoléculas, visto que elas possuem componentes orgânicos constituídos de oxigênio e nitrogênio, passíveis de realizarem ligações de hidrogênio com a água. Devido às propriedades ácidas e básicas da água, conclui-se que as interações entre as próprias moléculas de água darão origem a íons H3O+ (hidrônio) e OH (hidroxila), portanto, este processo de formação de dois diferentes íons se dá por meio de uma equação de equilíbrio: UNIUBE 91 2H2O H3O + + OH - Em função deste equilíbrio, pode -se calcular uma constante k de dissociação. k = [H3O + ] [OH - ] A constante (k) tem um valor de cerca de 10 14 moles/litro à temperatura ambiente (25º C). Assim, uma variação na relação entre a concentração destes íons (H3O+ e OH ) pode expressar diferentes condições de pH (acidez, neutralidade ou alcalini- dade) para: [H3O+ ] > [OH- ]; pH ácido [H3O+ ] = [OH- ]; pH neutro [H3O+ ] < [OH•]; pH básico Os valores de pH variam em função da concentração dos íons H3O+ e OH , conforme a tabela a seguir: Tabela 1: Variação de valores de pH em função da concentração dos íons H3O+ ou OH [H3O+] moles/L pH [OH –] moles/L 100 0 10 –14 10 –1 1 10 –13 10 –2 2 10 –12 10 –3 3 10 –11 10 –4 4 10 –10 10 –5 5 10 –9 10 –6 6 10 –8 10 –7 7 10 –7 10 –8 8 10 –6 Constante k de dissociação k = 1014 Mol/L Dissociação É o processo em que se separam os íons que formam determinados compostos. Os íons separados podem voltar a recombinar -se, dando origem novamente ao composto original. No caso da água, a constante de dissociação é muito baixa, da ordem de 1x10 -4 Mol/L. 92 UNIUBE 10 –9 9 10 –5 10–10 10 10 –4 10–11 11 10 –3 10 –12 12 10 –2 10 –13 13 10 –1 10 –14 14 10 –0 Fonte: Acervo EAD-Uniube. sintetizando... A molécula de água está presente e é essencial para a manutenção da vida na célula. Sua estrutura simples (dois átomos de hidrogênio unidos a um átomo de oxigênio) não quer dizer que, na sua função biológica, ela seja apenas coadjuvante. Pela sua capacidade de forma- ção de ligações de hidrogênio, ela é considerada o solvente universal, no qual a maioria das outras biomoléculas está dissolvida e pode, dessa forma, interagir umas com as outras. Sua dissociação gera íons H3O+ e OH – em quantidade tal que o pH da água é neutro, fundamental para o funcionamento das células. 3.2.1.2 Carboidratos Dentre as biomoléculas presentes na natureza, os carboidratos (ou açúcares) estão entre as mais abundantes. Normalmente são utilizados como fonte de energia, formação de estruturas celulares ou proteção para um grande número de seres vivos. Carboidratos são compostos orgânicos constituídos basicamente por átomos de car- bono, hidrogênio e oxigênio, podendo -se aplicar a eles uma fórmula empírica básica. Na natureza, qualquer composto que obedeça a esta relação poderá ser facilmente classificado como um carboidrato: Cn(H2O)m Esta fórmula é obedecida desde o carboidrato mais simples, o gliceraldeído (n = m = 3), até os maiores polímeros que estes compostos podem formar, como a celulose e o amido, entre outros. Como exceção à regra, existem alguns carboidratos que apresentam nitrogênio em sua composição (glicosamino- glicanos), que ainda serão abordados neste capítulo. Gliceraldeído C3(H2O)3 UNIUBE 93 Os carboidratos são classificados, quimicamente, como aldeídos ou cetonas e são, predominantemente, substâncias químicas cíclicas divididas em três classes: monos- sacarídeos, dissacarídeos e polissacarídeos (Quadro 1). Quadro 1: Classificação dos carboidratos, em função do número de carbonos (3, 4, 5 ou 6 carbonos) e da função orgânica (aldeídos ou cetonas) Função Número de carbonos 3 carbonos 4 carbonos 5 carbonos 6 carbonos 7 carbonos Aldeídos Aldotriose Aldotetrose Aldopentose Aldohexose Aldosedoheptulose Cetonas Cetotriose Cetotetrose Cetopentose Cetohexose Cetosedoheptulose a) Monossacarídeos São também denominados açúcares simples, consistindo de unidades monoméricas. O mais importante açúcar deste grupo é a glicose (Figura 3). Figura 3: Estrutura da Beta -glicose. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). Estes açúcares são normalmente solúveis em água, têm baixo peso molecular e, na sua maioria, sabor adocicado, diferentemente dos carboidratos de alto peso molecular cuja solubilidade em água é reduzida e seu sabor adocicado se perde significativamente. Em relação aos monossacarídeos, um aspecto que deve ser levado em conta é a sua classificação quanto ao número de carbonos que constituem estas moléculas (veja o Quadro 1). 94 UNIUBE Também do ponto de vista químico, é importante ressaltar que os monossacarídeos com 5 ou mais carbonos sofrem um processo de ciclização, mostrado na figura abaixo: Figura 4: Ciclização de monossacarídeos. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). Quando a glicose torna -se cíclica, ela pode assumir a conformação beta (OH ligado ao car- bono 1 voltado para cima, como mostrado na figura) ou alfa (OH ligado ao carbono 1 voltado para baixo). Dentro do grupo dos monossacarídeos, nos elementos constituí- dos por 5 átomos de carbono (as pentoses), podem -se destacar duas importantes biomoléculas – a ribose e a desoxirribose –, que fazem parte da molécula de ácido ribonucleico (RNA) e desoxirribonucleico (DNA), respectivamente. Quanto às hexoses (açúcares de 6 carbonos), podemos citar, como exemplo mais comum, a glicose, cujas subunidades repe- titivas formam a maioria dos polissacarídeos (amido, celulose, glicogênio). Além destes, muitos outros organismos sintetizam algumas hexoses como a frutose (açúcar das frutas). Os monossacarídeos, em especial a glicose, têm uma curta etapa de vida dentro das células, visto que a maioria deles é degradada, a fim de liberar sua energia química para manuten- ção das reações celulares ou utilizada para formar polímeros e outras moléculas. Ácido ribonucleico (RNA) É uma molécula intermediária na síntese de proteínas, que faz, entre outras funções, a intermediação entre o DNA e as proteínas. É um polirribonucleotídeo. Ácido desoxirribonucleico (DNA) Polinucleotídeo que serve como depósito da informação genética. UNIUBE 95 b) Dissacarídeos Os dissacarídeos, como o nome sugere, são formados pela união de dois monossa- carídeos. A união desses monossacarídeos resulta na liberação de uma molécula de água, como já mencionado no tópico referente à água. A ligação que une dois monos- sacarídeos é denominada “ligação glicosídica”. Alguns exemplos destes açúcares (dissacarídeos) seriam a sacarose, a lactose e a maltose. • Sacarose A sacarose ou açúcar de cozinha é o resultado da união do carbono 1 de uma glicose com o carbono 2 de uma frutose (que se realiza através de uma ligação glicosídica). É um composto de grande valor energético e um dos principais componentes da cana- -de -açúcar. Assim, a hidrólise da sacarose, realizada por enzimas ou por ácidos, irá fornecer uma mistura de dois monossacarídeos (Figura 5). Figura 5: Síntese (A) e degradação (B) da sacarose. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). a) Formação da sacarose a partir da glicose e frutose, com liberação de uma molécula de água. A ligação glicosídica que une os dois monossacarídeos é chamada de α (pois a glicose participante da reação está na sua forma α) 1 ‑2, pois une o carbono 1 da glicose com o 2 da frutose.b) Hidrólise da sacarose, realizada pela enzima invertase, que se utiliza de uma molécula de água na reação (reação de hidrólise) produzindo uma nova molécula de glicose e outra de frutose. 96 UNIUBE • Lactose A lactose (ou açúcar do leite) é constituída pela ligação glicosídica entre dois monos- sacarídeos: a galactose e a glicose (ambas hexoses). É um açúcar sintetizado pelas glândulas mamárias durante a fase de lactação. Sua hidrólise se dá pela ação da enzima lactase (Figura 6). Figura 6: Síntese (A) e degradação (B) da lactose. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). a) Formação da lactose a partir da D -galactose e D -glucose, com liberação de uma molécula de água. b) Hidrólise da lactose, realizada pela enzima lactase, que se utiliza de uma molécula de água na reação (reação de hidrólise) produzindo uma nova molécula de D -galactose e outra de D -glucose. • Maltose A maltose (Figura 7) é um dissacarídeo formado por duas moléculas de glicose e é obtida, por exemplo, após a digestão do amido (um polissacarídeo constituído por monômeros de glicose). UNIUBE 97 Figura 7: Formação (A) e degradação (B) da maltose. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). c) Polissacarídeos São os carboidratos mais abundantes da natureza, resultando da união de mais de 10 unidades de açúcares (geralmente a glicose) através de ligações glicosídicas. Entre os principais, podem os citar: • o amido e a celulose (presentes em plantas); • o glicogênio (presente em animais). 3.2.1.3 Amido, glicogênio e celulose O amido, nas plantas, e o glicogênio, nos animais, têm a função específica de reserva de energia. Já a celulose desempenha um papel estrutural e protetor e está presente somente nos vegetais. Para os seres humanos e outros mamíferos, a celulose é um importante componente do cardápio alimentar, sendo classificada como fibra alimentar, compostos não digeríveis que auxiliam para o bom e correto funcionamento intestinal. Especificamente para os ruminantes, desempenha também papel de fonte de energia. Além disso, a celulose é considerada o composto orgânico mais abundante no planeta, visto ser um componente estrutural da parede celular dos vegetais. 98 UNIUBE A formação do amido e do glicogênio se dá a partir da molécula de glicose, seu monômero básico. Em ambos os casos, as moléculas de glicose são unidas por dois tipos de ligação glicosídica: α ‑1 ‑4 e α 1 ‑6. Isso significa que as glicoses que participam da reação estão na sua forma α e participam da ligação glicosídica car- bono 1 de uma glicose com o 4 de outra ou o carbono 1 de uma glicose e o 6 da outra glicose. Quando a ligação é a α1 ‑4, forma ‑se uma cadeia linear de moléculas de glicose, denominada amilose. Quando uma molécula apresenta ligações α1 ‑4 e também α1 ‑6, há uma ramificação da cadeia, já que a glicose que participa da reação com o seu carbono 6 possui livres o carbono 1 e também o 4, que podem fazer ligações glicosídicas também. A molécula gerada assim é denominada ami‑ lopectina. O amido é uma mistura, portanto, de amilose (linear) e amilopectina (ramificada) (Figura 8). Figura 8: Estrutura química da amilose (A) e amilopectina (B). No caso da celulose, ocorre a união de moléculas de glicose na sua forma β. A ligação glicosídica formada será chamada, assim, de β1 ‑4. Dessa forma, a celulose é um po- límero linear de glicoses (não há ligações 1 -6). Pelo fato de as ligações serem do tipo β, a celulose é muito diferente do amido, sendo insolúvel em água (o amido é solúvel) e indigerível pelos mamíferos (cujas enzimas digestivas não conseguem romper as ligações β1 ‑4 presentes nesse polissacarídeo), ao contrário do amido, que é dirigível (Figura 9). UNIUBE 99 Figura 9: Estrutura química da celulose. Observe que a simples diferença entre a glicose α e β gera moléculas tão diferentes como a amilose (polímero linear de α glicoses) e a celulose (polímero linear de β glicoses). • Quitina Assim como a celulose, a quitina é também um polissacarídeo formado a partir de ligações glicosídicas entre moléculas de glicose. A única diferença entre a quitina e a celulose está na substituição de um grupo hidroxila no carbono 2 da glicose por um grupamento amino (Figura 10). Figura 10: Estrutura química da N acetil glicosamina (A) e quitina (B). Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). • Lignina Apesar de não ser um carboidrato, a lignina é um polímero vegetal que deve ser lem- brado, devido a algumas propriedades que ela apresenta. Do latim lignum, que significa madeira, ela é um derivado polimérico dos aminoácidos fenilalanina e tirosina (estudados mais adiante) e, assim como a celulose, uma abundante biomolécula presente nos ve- getais. De importante significado para a indústria do papel, por ser um dos componentes 100 UNIUBE a sofrer o processo de clareamento durante a industrialização do papel, a lignina traz altos custos para a indústria. Sua função na formação da parede celular dos vegetais é fundamental visto ser a lignina parte da parede. Além disso, ela é responsável por conferir a dureza da madeira e ser um depósito de CO2. Assim, nos vegetais, toda a celulose e lignina armazenados representam uma grande parcela de estoque de CO2 na própria célula vegetal, que quando liberados interferem no processo denominado efeito estufa. Na classe dos polissacarídeos, alguns polímeros possuem unidades de açúcares modifi- cados (alguns amino -açúcares, açúcares sulfatados, açúcares ácidos ou N acetil deriva- dos). São os mucopolissacarídeos ou glicosamino glicanos (Figura 11). As cadeias de carboidratos dos glicosaminoglicanos existem como repetições de dissacarídeos, nos quais um dos açúcares é sempre a n acetilglicosamina ou a n acetilgalactosamina. Figura 11: Estrutura química de um glicosaminoglicano. Fonte: Acervo EAD – Uniube. Estrutura química de um glicosaminoglicano (ácido hialurônico). É constituída por uma mo‑ lécula de ácido glicohialurônico e n acetilglicosamina. saiba mais Devido a inúmeras possibilidades de arranjo espacial de suas moléculas, originam -se vários isômeros de carboidratos (são carboidratos iguais quanto à fórmula estrutural, porém, com distribuição assimétrica das hidroxilas). Busque na literatura ou na internet a estrutura química da fucose e da ramnose (ou rhamnose) e compare -a com a estrutura da glicose. Partindo dessa comparação, defina o que são isômeros. UNIUBE 101 Tanto o amido quanto a celulose são polímeros de glicose. No entanto, há diferenças mar- cantes entre esses dois carboidratos, sendo o amido digerível pelo homem e a celulose não, só para citar um exemplo. Do ponto de vista químico, a diferença fundamental entre eles é que o amido é formado por moléculas de alfa glicose, enquanto a celulose é formada de beta glicose. Busque a estrutura dessas duas formas de glicose e encontre a diferença entre elas. 3.2.1.4 Lipídeos Os lipídeos são um grupo amplo e heterogêneo de compostos insolúveis em água, sendo esta sua principal característica, que facilita na sua diferenciação dos demais grupos de biomoléculas. Além disso, são solúveis em solventes apolares como o éter e clorofórmio. Suas moléculas contêm predominantemente carbono e hidrogênio, mas apresentam também oxigênio. Nos organismos vivos, desempenham diversas funções, tais como: • são reservas energéticas e utilizados como combustível biológico importante; • proporcionam proteção sobre a superfície de tecidos de plantas e animais, evitando infecções e mantendo o equilíbrio hídrico; • servem como componentes estruturais nas membranas biológicas; • constituem um excelente sistema isolante contra choques térmicos, elétricos e me- cânicos; • podem funcionar como hormônios. Além disso, os lipídeos desempenham um papel importante como precursores de outros compostos complexos, como lipoproteínas e vitaminas lipossolúveis (vitaminas A, D, E e K). Os lipídeos se classificam em três gruposprincipais: • Lipídeos simples: incluem as gorduras saturadas (sólidas à temperatura ambiente), gorduras insaturadas (líquidos à temperatura ambiente) e as ceras (sólidas à tem- peratura ambiente). As gorduras representam nossa maior reserva energética, e as ceras desempenham papel protetor na superfície de vários tipos de vegetais. • Lipídeos complexos: compreendem os fosfolipídeos, os esfingolipídeos. Os fosfo- lipídeos estão presentes na membrana da grande maioria das células, sendo res- ponsáveis pela formação da bicamada lipídica que constitui esta membrana celular. 102 UNIUBE Já os esfingolipídeos são menos abundantes, presentes predominantemente nas membranas celulares dos tecidos nervosos, como é o caso da esfingomielina, um tipo de esfingolipídeo. • Lipídeos derivados: incluem os lipídeos que não se classificam nos grupos an- teriores, como as famílias dos esteroides (colesterol), carotenoides, das vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) e das prostaglandinas. Na grande maioria dos lipídeos, encontramos um componente fundamental denominado ácido graxo. Os ácidos graxos são cadeias hidrocarbonadas apolares, não ramificadas (Figura 12). Figura 12: Estrutura dos ácidos graxos. Geralmente, os ácidos graxos sintetizados pelas células possuem um número par de átomos de carbono e seu tamanho varia de 4 a 24 carbonos. Em sua cadeia, podem estar presentes apenas ligações simples (sendo então denominados saturados) ou duplas (sendo então denominados insaturados), como mostra a Figura 12. a) Lipídeos simples A principal função dos lipídeos simples é a de atuar como reservatório de energia. Locais conhecidos de armazenamento dessas moléculas são o tecido adiposo dos animais e as sementes de muitas plantas, tais como a soja (por isso obtemos óleo de soja, de oliva, de milho...). Nos dois casos, a gordura armazenada fica disponível para quando o organismo necessitar. No caso do tecido adiposo dos animais, ele pode ser empregado durante um período de jejum, quando não há energia oferecida pela alimentação, enquanto que, no caso das sementes, a gordura armazenada pode ser utilizada para o desenvolvimento do embrião, até que a planta gerada tenha condição de obter energia pela fotossíntese. UNIUBE 103 O padrão mais comum de estrutura dos lipídeos simples é uma molécula de glicerol unida a três cadeias de ácidos graxos, formando o composto chamado de triacilglicerol ou TAG (Figura 13). Figura 13: Formação do TAG. Da mesma maneira que a formação de um dissacarídeo liberava a molécula de água, a união de ácidos graxos ao glicerol, formando o TAG também libera água, como mostra a Figura 11. Os triacilgliceróis apresentam características próprias de acordo com a sua composição em ácidos graxos. Além disso, o grau de insaturação (quantidade de ligações duplas entre carbonos da cadeia de ácido graxo) interfere significativamente no estado do TAG formado: havendo predomínio de ácidos graxos saturados, os TAGs formados serão, na maioria dos ca- sos, sólidos à temperatura ambiente, sendo então denominado “gorduras”. Já havendo predomínio de ácidos graxos insaturados, haverá a tendência de o TAG formado ser líquido, recebendo o nome genérico de “óleo”. É possível, tanto em escala laboratorial quanto industrial, converter um lipídeo líquido em sólido. Isso é conseguido pelo meio de um processo denominado “hidrogenação”. Este processo consiste na transformação das duplas ligações existentes entre os átomos de carbono que constituem a cadeia de um ácido graxo insaturado em ligações simples (C C) (veja novamente a Figura 13 para diferenciar um ácido graxo saturado de outro insaturado). Essa transformação se deve à inserção de átomo de hidrogênio em cada um dos carbonos da dupla ligação, num processo químico denominado hidrogenação, mostrado na Figura 14. 104 UNIUBE Figura 14: Hidrogenação de ácido graxo. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). Industrialmente, os triglicerídeos também são utilizados para a fabricação de sabões. Esse processo químico é denominado saponificação (Figura 15) e envolve a separação dos ácidos graxos anteriormente ligados ao glicerol. Figura 15: Processo de saponificação (Δ = calor). b) Estrutura dos lipídeos complexos Os fosfolipídeos são os principais componentes das membranas biológicas, tais como as membranas plasmáticas de procariotos e eucariotos, as membranas das organelas e do núcleo eucariótico. Essas moléculas são semelhantes aos óleos, exceto pelo fato de que contêm apenas duas moléculas de ácidos graxos (e não três como os TAGs), sendo uma saturada e outra insaturada. No glicerol, o carbono que estaria ligado ao terceiro ácido graxo em um TAG recebe um grupo fosfato e, muitas vezes, este último se liga a uma molécula polar pequena como a colina, serina, inositol ou etanolamina, como mostra a Figura 16 A. UNIUBE 105 Figura 16: Estrutura dos fosfolipídeos. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). Dessa forma, os fosfolipídeos adquirem uma característica anfipática, na qual sua es- trutura apresenta uma “cabeça” polar e duas “caudas” hidrofóbicas de ácidos graxos (Figura 16 B). Os esfingolipídeos são componentes da membrana plasmática, juntamente com os fosfolipídeos, porém esses lipídios são menos abundantes. Estruturalmente, são deri- vados de um composto denominado esfingosina (Figura 17). Figura 17: Estrutura química da esfingosina. Nos esfingolipídeos, não há glicerol e encontra -se apenas um ácido graxo. No entanto, do mesmo modo que nos fosfolipídeos, encontramos duas “caudas” apolares (uma da esfingosina e outra do ácido graxo) e uma “cabeça” polar, que pode ser representada por várias moléculas diferentes, como mostra a Figura 18. 106 UNIUBE Figura 18: Estrutura de um esfingolipídeo. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). No quadro, há três diferentes esfingolipídeos em função do grupo R presente na molécula. c) Estrutura dos lipídeos derivados Os lipídeos derivados incluem qualquer tipo de lipídeo que não se classifique nos dois grupos anteriores (lipídeos simples e lipídeos complexos). Dentre estes, podemos citar os esteroides, os carotenoides, as prostaglandinas e as vitaminas lipossolúveis. • Esteroides Os esteroides são lipoderivados que têm como exemplo mais conhecido o colesterol (Figura 19). O teor de colesterol pode variar em diferentes tipos de células, mas, em todas, ele é responsável, dentre outros fatores, por manter a estabilidade da membrana em função da mudança de temperatura. Já em vegetais não existe o colesterol, preva- lecendo outros tipos de esteróis. Outros exemplos de esteroides são os sais biliares, os hormônios sexuais masculinos e femininos e o cortisol. UNIUBE 107 Figura 19: Estrutura do colesterol. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). • Carotenoides Dentre os carotenoides, inclui -se o grupo dos carotenos e das xantofilas. Os primeiros (carotenos) são os mais abundantes e formam um composto de 40 átomos de carbono denominado betacaroteno, que é produzido nas plantas. O betacaroteno é, em nosso organismo, um precursor da vitamina A, essencial à formação das membranas celulares e à nossa boa visão. • Prostaglandinas As prostaglandinas são substâncias derivadas de ácidos graxos poli -insaturados de 20 carbonos. Seu efeito do tipo hormonal interfere na atividade de outros hormônios, visto que estas substâncias são liberadas nos mais diversos tecidos do corpo humano. • Vitaminas lipossolúveis Além da vitamina A, descrita anteriormente, como derivado do betacaroteno, as vitaminas D, E e K são também consideradas como lipídios, por sua insolubilidade em água. saiba mais Você sabia que os vegetais não produzem colesterol? Quando o rótulo de um óleo de soja, por exemplo, traz a mensagem “não contém colesterol”, isso não é um atributo daquela marca em especial, tendo em vista que nenhum vegetal produz colesterol! pesquisando • Pesquise nasInternet ou na bibliografia indicada (Bioquímica Ilustrada, de Pamela Champe) o significado da denominação “ômega 6”, que é dada para o ácido linoleico. Você verá que essa denominação (“ômega”) se refere a nada mais, nada menos, do que a estrutura química do ácido graxo em questão. É mais simples do que parece! 108 UNIUBE • Pesquise a relação entre o número de duplas ligações presentes nos lipídeos e sua sen- sibilidade à oxidação. Você entenderá por que certos alimentos ficam “rançosos” mais facilmente do que outros! 3.2.1.5 Aminoácidos e proteínas As proteínas são as biomoléculas mais diversificadas e complexas presentes numa célula, apresentando inúmeras formas e funções diferentes. Em algumas proteínas podemos encontrar substâncias químicas chamadas grupos prostéticos, que incluem carboidratos, lipídeos, grupos fosfato, íons metálicos, tais como o cobre, o zinco e o ferro. As proteínas possuem formas tridimensionais que se fazem necessárias para suas funções específicas, funcionando como catalisadores biológicos (enzimas), hormônios, transportadores etc. Para entendermos melhor as várias funções das proteínas, necessitamos inicialmente estudar a estrutura e as propriedades de seus componentes fundamentais: os aminoá- cidos. Além disso, devemos entender como os aminoácidos se unem para formar as proteínas e as características das ligações químicas que os unem. As proteínas, assim como os carboidratos, são também um tipo específico de polímero. Como vimos anteriormente, todo polímero é constituído pela união de vários monôme- ros, sendo que, neste caso, as unidades monoméricas que constituem as proteínas são denominadas aminoácidos. Os aminoácidos que formam as proteínas são em número de 20, sendo que cada um possui, especificamente, os seguintes grupamentos químicos: amino ( NH2) e carboxila ( COOH), além de um átomo de hidrogênio e um grupo variável denominado genericamente “grupo R” (Figura 20). Esses quatro grupos se ligam a um carbono central, também denominado quiral. Figura 20: Estrutura química básica para um aminoácido. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). Quiral Carbono que possui quatro ligantes diferentes. UNIUBE 109 Assim, os 20 aminoácidos que compõem as proteínas se diferenciam uns dos outros apenas pelas cadeias laterais. Essas cadeias laterais, por suas diferenças químicas (estrutura, polaridade, presença de carga elétrica), são a base da classificação dos aminoácidos, como mostra a Figura 21. 110 UNIUBE Figura 21: Base de classificação dos aminoácidos. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Como mostra a Figura 21, as características da cadeia lateral dos aminoácidos permitem que eles sejam classificados, basicamente, em quatro grupos, sendo eles: • aminoácidos com grupos R apolares; • aminoácidos com grupos R polares sem carga; • aminoácidos com grupos R ácidos; • aminoácidos com grupos R básicos. UNIUBE 111 a) A formação das proteínas Os diferentes aminoácidos se polimerizam no interior das células para construir as proteínas de acordo com a informação genética que provém do núcleo das células. Este processo de polimerização ocorre nos ribossomos e se inicia com a reação de união entre o grupo carboxila de um primeiro aminoácido com o grupo amino de um segundo aminoácido. Ao se unirem, os dois aminoácidos passam a se chamar “resíduos de aminoácidos”, tendo em vista que um deles perde uma hidroxila e o outro perde um hidrogênio, eliminados na forma de uma molécula de água, como ilustra a Figura 22. A ligação formada dessa maneira é denominada “ligação peptídica”. Figura 22: Estrutura do dipeptídeo valilalanina. Fonte: Adaptada de Champe e Harv (1996). O composto resultante, um dipeptídeo, poderá formar uma nova ligação peptídica entre seu grupo carboxila terminal (COOH) com um grupamento amino (NH2) de um novo aminoácido, formando assim um tripeptídeo. Sempre que uma ligação peptídica se formar, haverá a liberação de uma nova molécula de água. Assim, sucessivamente, ligações peptídicas podem vir a se formar, dependendo da in- formação genética, que prediz a sequência determinada de aminoácidos que irão compor a nova proteína. 112 UNIUBE Por convenção, alguns autores adotam os seguintes critérios de nomenclatura: • união de até 10 aminoácidos: oligopeptídeo; • união de até 40 aminoácidos: polipeptídeo; • união de mais de 40 aminoácidos: proteína. b) A classificação das proteínas As proteínas podem ser classificadas conforme: • sua composição; • sua morfologia e solubilidade; • sua função. Conforme sua composição: • proteínas simples: cuja composição é exclusivamente de aminoácidos; • proteínas conjugadas: possuem uma substância diferente dos aminoácidos em sua composição (carboidrato, lipídeos, ácidos nucleicos etc.). Estas recebem o nome de grupo prostético que, conforme sua composição, irão formar: • glicoproteínas: proteínas com açúcares em sua estrutura; • lipoproteínas: proteínas com lipídeos em sua estrutura; • nucleoproteínas: proteínas associadas a um ácido nucleico; • metaloproteínas: contêm em sua estrutura um ou mais íons metálicos; • hemoproteínas: proteínas que têm em sua molécula o grupo heme. Conforme sua morfologia e solubilidade: • proteínas fibrosas: são insolúveis em água, constituem fibras resistentes com um certo grau de elasticidade e funcionam como proteínas estruturais e de suporte. As mais comuns são a elastina, o colágeno, a queratina e a fibrina. Compõem a unha, tecidos (pele), cabelos, entre outros. UNIUBE 113 • proteínas globulares: tendem a ser solúveis em água devido a sua superfície po- lar. Sua estrutura é compacta e com formato quase que esférico. Estão presentes tanto intra quanto extracelularmente, na forma de enzimas, proteínas carreadoras, proteínas de defesa, entre outras. Conforme sua função biológica: • proteínas estruturais: formam parte das células e tecidos que conferem apoio estrutural. Neste grupo podemos citar o colágeno, a elastina e a queratina da pele, pelos e unhas; • proteínas de transporte: transportam substâncias como o oxigênio (hemoglobina), ácidos graxos (albumina do sangue); • catalisadores orgânicos (enzimas): aceleram a velocidade das reações químicas necessárias para a sobrevivência da célula; • hormônios: participam da regulação das atividades dos diferentes órgãos e tecidos, de modo que o organismo funcione de maneira coordenada e harmônica; • defesa (anticorpos, por exemplo): participam dos processos de defesa do orga- nismo contra agentes estranhos, tais como as bactérias e vírus; • movimento: participam da movimentação de células individuais (movimento de amebas, por exemplo) ou de tecidos, tais como o músculo esquelético; • fonte de energia: atuam como reserva de energia para o desenvolvimento de embriões, tais como a albumina do ovo e outras proteínas presentes em sementes de vegetais. c) A estrutura das proteínas Estruturalmente, as proteínas se organizam em quatro diferentes níveis, cada um apre- sentando um aspecto tridimensional diferente que implica nas suas diferentes interações intramoleculares. Essas quatro diferentes formas recebem o nome de “estrutura” e são as seguintes: • Estrutura primária: é representada pela união dos aminoácidos através das liga‑ ções peptídicas. Na medida em que a estrutura proteica vai sendo formada (pela união peptídica dos aminoácidos), a estrutura primária se organiza espacialmente dando origem a outras estruturas mais complexas (secundária, terciária etc.). Assim, a estrutura primária é um modelo útil para o entendimento das demais estruturas, que se formarão a partir dela. A sequência de aminoácidos que compõem a estrutura primária é extremamente importante, visto que a troca de um único aminoácido, dentre muitos presentes numa proteína, poderia implicar na sua inatividade. 114 UNIUBE • Estrutura secundária: consiste no enrolamento da cadeia peptídica sobre seu próprio eixo longitudinal, formando umaestrutura tridimensional cuja forma mais comum é a de uma espiral semelhante a uma espiral de caderno (alfa hélice). Nessa estrutura, cada volta mede 0,54 nm e comporta 3,6 aminoácidos, como mostra a Figura 23. Esta hélice formada se mantém estável devido às ligações de hidrogênio que se formam entre o hidrogênio de grupos amino do aminoácido de uma certa volta com um grupo carboxila do aminoácido de outra volta da espiral. Como exemplos de proteínas com estrutura secundária evidente, temos o colágeno (componente do tecido conjuntivo e de tendões), a queratina (presente na camada superior da pele) e a elastina (presente nos ligamentos). Uma forma menos comum de estrutura se- cundária é a Beta folha (Figura 23), caracterizada por se apresentar na forma plana e estendida. Essa estrutura consta de várias cadeias peptídicas paralelas em forma de ziguezag. Assim, forma -se uma estrutura laminar que possui muita flexibilidade, mas pouca ou nenhuma elasticidade. Um exemplo clássico dessa estrutura são as proteínas que constituem o fio da seda. Figura 23: Beta -folha e alfa -hélice, as duas estruturas secundárias mais comuns nas proteínas. Fonte: Acervo EAD-Uniube. • Estrutura terciária: raramente as proteínas permanecem em sua estrutura se- cundária (alfa hélice ou beta folha). A maioria delas adquire formas tridimensionais complexas, denominadas estruturas terciárias (Figura 24A). A estrutura terciária é, na verdade, a conformação definitiva e específica da proteína. Durante o enovela- mento da cadeia peptídica, para dar origem à estrutura terciária, novas pontes de hidrogênio, algumas interações iônicas e hidrofóbicas começam a se formar entre as próprias partes da cadeia proteica. Além disso, uma nova força surge: a ligação ou ponte dissulfeto. A ligação dissulfeto consiste na união covalente entre resíduos de aminoácido que contém enxofre (aminoácidos metionina e/ou cisteína). A partir da formação da estrutura terciária, as proteínas passam a exercer sua real função na célula, como é o caso, por exemplo, da lisozima (enzima que degrada a parede UNIUBE 115 bacteriana, presente na lágrima), ou algumas proteínas estruturais da membrana celular. A estrutura terciária compacta tanto as proteínas que, em seu interior, sobra espaço para apenas algumas moléculas de água! • Estrutura quaternária: Algumas estruturas proteicas possuem mais de uma cadeia de proteína. Na estrutura quaternária duas ou mais moléculas proteicas, também chamadas subunidades, associaram -se para formar dímeros, trímeros e até aglomerados maiores que podem ser constituídos por unidades idênticas ou diferentes (Figura 24B). O exemplo mais conhecido de uma estrutura quaternária é o da hemoglobina, na qual as interações hidrofóbicas, as pontes de hidrogênio e as interações iônicas ajudam a manter as quatro subunidades proteicas juntas, formando uma molécula funcional. No caso das proteínas com estrutura quaterná- ria, a retirada de uma das subunidades compromete o funcionamento da proteína como um todo. Figura 24: Estrutura terciária (A) e estrutura quaternária (B) das proteínas. Fonte: Acervo EAD-Uniube. A imagem da esquerda representa uma estrutura terciária de uma proteína que, ao se associar a outra subunidade (imagem da direita), forma uma proteína de estrutura quaternária. d) Fatores que interferem na estabilidade estrutural das proteínas A atividade biológica de uma proteína depende intimamente de sua estrutura. Assim, uma proteína que apresenta uma estrutura terciária, por exemplo, deve manter estável sua estrutura para que desempenhe corretamente sua atividade. Alguns fatores, como o calor, algumas substâncias químicas (detergentes e sais) e mudanças no pH podem interferir nas ligações químicas que mantêm estável as estruturas proteicas. Quando 116 UNIUBE isso ocorre, alteram -se essas estruturas ocasionando o que chamamos de desnatu‑ ração proteica, que pode se reverter, em alguns raros casos, através da renaturação. saiba mais Desnaturação Nome dado ao processo em que uma molécula (usualmente proteína ou ácido nucleico) tem sua estrutura alterada, com consequente perda de função biológica. A desnaturação pode ser originada pela ruptura das ligações fracas (ligações de hidrogênio e interações hidrofóbicas) ou fortes (pontes dissulfeto) que mantêm as moléculas em suas configurações nativas. Renaturação Nome dado ao processo no qual uma molécula (usualmente proteína ou ácido nucleico) que teve sua estrutura alterada por calor, detergente ou outro agente desnaturante, retorna à sua configuração anterior à desnaturação, voltando a ter, inclusive, o papel biológico que desem- penhava antes da desnaturação ter ocorrido. Figura 25: Velocidade de uma reação enzimática em função da variação da temperatura. Após uma determinada temperatura, a enzima pode se desnaturar. Fonte: Acervo EAD-Uniube, adaptado de Tiago Zanquêta de Souza (2010). Observe que existe uma velocidade máxima da reação sob um determinado valor de tempe- ratura. Abaixo ou acima deste valor de temperatura, a enzima não funciona muito bem. UNIUBE 117 saiba mais • Os aminoácidos podem existir em duas configurações (isômeros) diferentes, denominados D e L aminoácidos. No entanto, nas proteínas, ocorre apenas a existência de L -aminoácidos. Pesquise em livros didáticos ou na internet a diferença entre esses dois isômeros. • Pesquise sobre a manutenção da estrutura terciária das proteínas, explicando por que a clara do ovo, cujo principal constituinte proteico é uma proteína chamada ovoalbumina, deixa de ser líquida e transparente e passa a ser sólida e branca após o cozimento. Houve degradação da cadeia de aminoácidos da ovoalbumina? Dica: esse processo se denomina desnaturação. 3.2.2 Enzimas Agora que falamos sobre as proteínas, devemos nos concentrar em uma categoria especial dessas moléculas: as enzimas. Como já dissemos, as enzimas são os catalisadores biológicos, o que significa que elas aceleram a velocidade de reações químicas. Todos os seres vivos produzem reações químicas para sobreviver, tais como as reações da digestão, da produção de moléculas, de obtenção de energia e muitas outras. Dessa forma, as enzimas representam importantes moléculas para a sobrevivência e correto funcionamento das células. Estudaremos a seguir como as enzimas conseguem acelerar a velocidade das reações químicas nos seres vivos e os fatores que podem afetar o seu funcionamento. saiba mais O que é um catalisador? Onde eles são empregados no cotidiano? Procure informações sobre uma doença conhecida como fenilcetonúria. Qual a relação dessa doença com as enzimas? 3.2.2.1 Enzimas: modo de funcionamento As enzimas possuem características importantes e que as distinguem dos catalisadores em geral. Vejamos algumas delas: 118 UNIUBE • aceleram a velocidade de reações químicas importantes para os seres vivos. Isso inclui reações de degradação e de produção de moléculas, de modo que os seres vivos consigam interagir com o meio em que vivem e responder a variações nesse ambiente; • são específicas. Isso significa que cada enzima reconhece um único substrato ou grupo de moléculas muito similares, que participam da reação a ser catalisada; • não são consumidas pela reação. Ao final da reação química, as enzimas são rege- neradas e estão prontas para realizar novamente a reação; • funcionam em condições fisiológicas de temperatura e pH. As enzimas conseguem acelerar a velocidade de reações químicas nas condições existentes nos seres vivos, o que significa, na maioria dos casos, temperatura branda (ao redor de 30 -40°C) e pH neutro (ao redor de 7,0). As enzimas são classificadas de acordo com o tipo de reação que catalisam. Dessa forma, são conhecidas seis classes de enzimas, como mostra o Quadro 2. Quadro 2: Classes de enzimas de acordo com o tipo de reação que catalisam Classe da enzima Tipo de reação catalisada Oxidorredutases Reações de oxidação -reduçãoou transferência de elétrons. Transferases Transferem grupos funcionais entre moléculas. Hidrolases Reações de hidrólise. Liases Catalisam a quebra de ligações covalentes e a remo- ção de moléculas de água, amônia e gás carbônico. Isomerases Transferência de grupos dentro da mesma molécula para formar isômeros. Ligases Catalisam reações de formação de novas moléculas a partir da ligação entre duas pre existentes, sempre às custas de energia. Fonte: Elaborado por Geraldo Thedei Júnior (2010). Passaremos agora a discutir mais detalhadamente o mecanismo de funcionamento das enzimas. Antes disso, releia o material acima sobre enzimas e destaque sua importância para os seres vivos. UNIUBE 119 3.2.2.2 Mecanismo de funcionamento das enzimas A primeira pergunta importante que devemos fazer nesse momento é: “Como as enzimas aceleram a velocidade das reações químicas?” A resposta a essa pergunta requer o conhecimento sobre como se processa uma rea- ção química. Isso está esquematizado, de maneira simples, na Figura 26. Nessa figura podemos ver que para uma molécula “A” se transformar em outra “B”, é necessário que ela adquira uma quantidade de energia (energia de ativação) para elevá -la a um estado de excitação denominado “estado de transição”. Figura 26: Variação da energia ao longo do desenvolvimento de uma reação. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Na Figura 27, vemos que as enzimas nada mais fazem do que diminuir a energia de ativação. Assim, necessitando de menos energia, torna -se mais fácil para o composto “A” romper a barreira energética que o impede de se transformar no composto “B”, qualquer que seja essa reação. Numa reação catalisada por enzima, a Energia de Ativação (EA) é menor do que na mesma reação não catalisada. Então, surge outra pergunta: “Como as enzimas diminuem a energia de ativação?” 120 UNIUBE Figura 27: Reação catalisada por enzima. Fonte: Acervo EAD-Uniube. A resposta a essa pergunta vem de muitos estudos que demonstram que as enzimas requerem contato com seus substratos para acelerar a velocidade da reação. Desses estudos, descobriu -se que o substrato interage com a enzima em um local específico denominado “sítio ativo” (discutido a seguir) e, ao interagir com o substrato, as enzi- mas sofrem uma pequena alteração na sua forma (ou conformação). Essa alteração conformacional é a responsável pela redução na energia de ativação. O sítio ativo, mencionado acima, é o local da enzima onde o substrato se liga. Ele é formado, em geral, por duas áreas distintas: o sítio de posicionamento e o sítio cata‑ lítico. O primeiro, como o nome sugere, é o responsável por manter o substrato preso à enzima, enquanto o segundo faz a catálise propriamente dita. Passaremos agora a estudar os fatores que podem afetar o funcionamento das enzimas. Antes disso, destaque o modo pelo qual as enzimas conseguem acelerar a velocidade das reações químicas nos seres vivos. • Fatores que podem afetar o funcionamento das enzimas Entre os fatores que podem afetar o funcionamento das enzimas, discutiremos a tem- peratura, o pH e a concentração de substrato. Efeito da temperatura no funcionamento das enzimas Como já dissemos, a maioria das enzimas funciona em condições fisiológicas de tempe- ratura. Para a maioria dos seres vivos, isso significa algo ao redor de 30 -40°C. A figura 25 ilustra a atividade de uma enzima quando submetida a diferentes temperaturas. Pode -se observar nessa figura que, em baixas temperaturas, a atividade da enzima é também baixa. Aumentando -se a temperatura, a atividade sobe até atingir um ponto máximo (atividade máxima) e depois decai, se a temperatura continua a aumentar. Em UNIUBE 121 um determinado ponto, variável de enzima para enzima, pode ocorrer um fenômeno denominado “desnaturação”, que, como já mencionamos ao tratar de proteínas, faz com que se rompam importantes ligações químicas que mantêm a estrutura da enzima no seu estado funcional ou ativo. A reversão desse processo é rara e denomina -se renaturação. Observe que, em bai- xas temperaturas, a desnaturação é rara. Normalmente as enzimas são preservadas pelo frio. Efeito do pH no funcionamento das enzimas. De modo muito semelhante ao descrito para a temperatura, as enzimas também pos- suem um pH ideal de funcionamento. Acima desse valor ou abaixo dele, a atividade da enzima é reduzida (Figura 28) e, em ambos os casos, pode ocorrer desnaturação. A tiv id ad e re la tiv a 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 pH ótimo pH 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Figura 28: Efeito do pH na atividade de uma enzima. Em pHs maiores ou menores que o pH ótimo (ou ideal) a atividade decai, podendo haver desnaturação. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Efeito da concentração de substrato A Figura 29 mostra o efeito da variação na concentração de substrato na velocidade de uma reação enzimática. Antes de prosseguir, é interessante que saibamos como se mede a velocidade de uma reação: usualmente, é pelo aparecimento do produto, mas também pode ser medida pelo desaparecimento do substrato (empregado mais raramente) ou outras técnicas. Observamos na Figura 29 que, ao aumentarmos a quantidade de substrato, a velocidade cresce, a princípio rapidamente e depois mais lentamente, quase a ponto de atingir um platô. Esse momento é denominado “velocidade máxima”. 122 UNIUBE Figura 29: Efeito da concentração de substrato na velocidade (vo) de uma reação enzimática. Fonte: Acervo EAD-Uniube. A partir de uma determinada concentração de substrato, atinge -se a Velocidade máxima (Vmax). Se compararmos dois substratos muito parecidos, capazes de reagir com a mesma enzima, eles apresentarão curvas similares, mas com valores distintos, podendo até mesmo apresentar velocidades máximas distintas. O mesmo se aplica quando duas enzimas diferentes (de dois tecidos de um mesmo organismo, por exemplo) atuam sobre o mesmo substrato. Para comparar os dois substratos do exemplo acima, ou as duas enzimas, a velocidade das reações seria um parâmetro interessante. Como é difícil determinar qual concentra- ção de substrato originou a velocidade máxima, dois pesquisadores – Leonor Michaelis e Maud Menten – estudiosos das enzimas, postularam que deveria ser considerada a quantidade de substrato que produz a metade da velocidade máxima. Esse parâmetro ficou conhecido como “constante de Michaelis -Menten, ou simplesmente KM (lê -se “k” “eme”). Assim sendo, a definição de KM é: a concentração de substrato que faz a enzima trabalhar com metade de sua velocidade máxima (veja novamente a Figura 29) e é uma constante para um determinado par enzima -substrato, permitindo assim inúmeros tipos de comparação. A utilidade prática do KM é, por exemplo, na comparação da eficácia de duas enzimas sobre um mesmo substrato. Imagine a situação em que duas enzimas que catalisam a mesma reação em organismos distintos ou em órgãos distintos de um mesmo orga- UNIUBE 123 nismo sejam isoladas. Como atuam sobre o mesmo substrato, pode ser determinado o KM para cada uma delas, ou seja, a concentração de substrato que faz cada uma delas atuar em metade da sua velocidade máxima. Para isso, basta determinar a velocidade máxima e, no gráfico, encontrar qual concen- tração de substrato levou a metade desse valor para cada enzima (veja novamente a Figura 29). Suponha que uma delas (enzima “A”) apresente um KM 10 vezes maior que o KM da outra (enzima “B”). Qual o significado disso? Pela definição de KM a enzima “B” atinge metade de sua velocidade máxima com dez vezes menos substrato que a enzima “A”. Isso significa que ela apresenta maior afini- dade pelo substrato, já que, com um décimo de substrato, ela já atingiu a metade de sua velocidade máxima, se comparado com a enzima “A”. Assim sendo, o KM serve, entre outras utilidades, para compararmos os tipos de situação descritos acima e nos dá uma ideia, por exemplo, de qual poderia ser o substrato mais provável de uma determinada enzimaentre vários possíveis. Isso ocorre quando uma enzima nova é isolada e não sabemos exatamente qual é o seu substrato fisiológico. Nesse caso, podemos realizar o teste de KM com vários substratos possíveis, numa tentativa de identificar qual poderia ser o melhor candidato a substrato fisiológico (aquele que apresentar, entre outras características, o menor valor de KM). saiba mais Baseando -se naquilo que estudou sobre o efeito da temperatura no funcionamento das en- zimas, você consegue explicar o princípio da preservação dos alimentos a baixas tempera- turas? Dica: entre os processos que deterioram os alimentos, destaca -se a ação de enzimas do próprio alimento e de microrganismos tais como bactérias e fungos, que obtêm, desses alimentos, sua energia. Inibição enzimática Uma característica muito importante das enzimas é o fato de poderem ser inibidas. Isso ocorre naturalmente nas células, quando um determinado produto impede que a enzima interaja com seu substrato. Há complexos modelos matemáticos para explicar a inibição enzimática, mas eles fogem do objetivo do nosso estudo. Um tipo interessante de inibição é denominado “inibição competitiva”. Nesse tipo de inibição, uma molécula impede que o substrato se ligue à enzima por ocupar seu sítio ativo. Daí surge o nome “competitiva”, já que substrato e inibidor competem pelo mesmo local de ligação na enzima. Dependendo da concentração e da afinidade de cada um (substrato e inibidor) pelo sítio ativo, pode prevalecer um ou outro. 124 UNIUBE Outros tipos de inibição envolvem a ligação do inibidor em um local diferente do sítio ativo da enzima e são genericamente denominados “inibidores não competitivos”. Em alguns casos, o inibidor, ao se ligar na enzima, fora do sítio ativo, distorce este local, impedindo a correta ligação do substrato e inibindo, desta forma, a ação da enzima. 3.2.3 Ácidos nucleicos Tanto o RNA quanto o DNA são formados pela união de moléculas menores (subunida- des) que recebem o nome de nucleotídeos. Por isso, os ácidos nucleicos são também chamados de polinucleotídeos (poli = muitos). Cada nucleotídeo é formado pelas três outras moléculas, a seguir, que se unem para constituí- lo. a) Fosfato (Figura 30). Figura 30: Estrutura do fosfato. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). b) Açúcar de 5 carbonos que: • para o DNA é a desoxirribose (Figura 31): Figura 31: Estrutura da desoxirribose. UNIUBE 125 • para o RNA é a ribose (Figura 32): Figura 32: Estrutura da ribose. c) Base nitrogenada, que pode variar de nucleotídeo para nucleotídeo. Os nucleotídeos são, então, reconhecidos pela base nitrogenada que contêm e estas bases podem ser: • bases púricas: adenina e guanina (Figura 33): Figura 33: Bases nitrogenadas púricas. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). • bases pirimídicas: timina, citosina e uracila (Figura 34): Figura 34: Bases nitrogenadas pirimídicas. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). 126 UNIUBE A adenina, a guanina e a citosina são comuns às moléculas de DNA e RNA, enquanto que a base timina só ocorre no DNA e a base uracila só ocorre no RNA. A união entre o açúcar (ribose ou desoxirribose), o fosfato e a base nitrogenada forma um nucleotídeo, como ilustra a Figura 35. Os nucleotídeos são unidos uns aos outros por um tipo especial de ligação denominada ligação fosfodiéster. Na ligação fosfodiéster, o fosfato de um nucleotídeo liga -se ao açúcar do nucleotídeo seguinte. Figura 35: Estrutura básica de um nucleotídeo. Fonte: Geraldo Thedei Júnior (2010). Figura 36: Ligação fosfodiéster. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). UNIUBE 127 Dessa forma, os ácidos nucleicos DNA (ácido desoxirribonu- cleico) (Figura 37) e RNA (ácido ribonucleico) são, assim como as proteínas e alguns carboidratos, polímeros. Diferentemente de grupos de biomoléculas, os biopolímeros de DNA ou RNA, são especializados em armazenar, transmitir e expressar a informação genética que está contida dentro das células. Figura 37: Estrutura química helicoidal do DNA. Fonte: Acervo EAD-Uniube. A informação genética armazenada pelo DNA ou RNA se evidencia na síntese de pro- teínas (compostos por aminoácidos ligados uns aos outros), em um fluxo conhecido como “o dogma central da biologia”, representado pelo esquema abaixo: saiba mais Transcrição Nome dado ao processo enzimático no qual uma molécula de DNA serve de molde para a produção de uma molécula de RNA. Replicação Nome dado ao processo enzimático no qual uma molécula de DNA serve de molde para a produção de uma outra molécula de DNA idêntica à que lhe serviu de molde. É a base da manutenção das características genéticas durante o processo da divisão celular ou mitose. Polímero Nome dado a uma molécula formada pela união de várias moléculas menores, iguais entre si (homopolímero) ou diferentes (heteropolímero). 128 UNIUBE Transcrição reversa Nome dado ao processo enzimático no qual uma molécula de RNA serve de molde para a produção de uma molécula de DNA. Raro, esse fenômeno ocorre nos vírus cujo material genético é o RNA e não o usual DNA. Tradução Nome dado ao processo que ocorre nos ribossomos, no qual uma proteína é produzida a partir da informação contida na molécula de RNA mensageiro. Representa a materialização da informação contida na molécula de DNA, transmitida ao RNA mensageiro e que finalmente será usada, com a produção de uma proteína, para executar uma tarefa na célula. O DNA foi descoberto como a principal molécula constituinte no núcleo das células eucarióticas, constituindo os cromossomos. Por volta dos anos de 1900, as proteí- nas é que eram consideradas as maiores responsáveis por armazenar a informação hereditária. Vamos agora estudar as características do DNA e do RNA. DNA: • armazena a informação disponível a qualquer instante; • dá condições à transmissão da informação de geração em geração; • é mais estável que o RNA; • forma duplas cadeias (fitas antiparalelas) que adotam um formato de hélice similar às proteínas, de diâmetro uniforme; • o açúcar que o constitui é uma pentose cujo carbono 2 não possui hidroxila ligada a ele, daí o nome de ácido desoxirribonucleico; • suas bases nitrogenadas púricas são: adenina e guanina; • suas bases pirimidínicas são: timina e citosina. RNA: • existem três tipos de RNA envolvidos na síntese de proteínas (tradução): RNA ribos- sômico (RNAr), RNA mensageiro (RNAm) e RNA transportador (RNAt); UNIUBE 129 • comparado com o DNA, é muito mais facilmente degradado por enzimas, sendo assim pouco estável; • é constituído apenas por uma monocadeia; • o açúcar que o compõe é uma pentose também, mas diferente do DNA. Essa pentose é uma ribose que possui uma hidroxila no carbono 2, daí o nome de ácido ribonucleico; • suas bases nitrogenadas púricas são: adenina e guanina; • suas bases pirimidínicas são: uracila e citosina. curiosidade Os pesquisadores J. Watson e F. Crick propuseram um modelo da molécula do DNA (Figura 35), o qual lhe rendeu um Prêmio Nobel. Em células eucarióticas, o DNA se localiza no núcleo, diferente das células procarióticas, nas quais o material genético se encontra disperso pelo seu citoplasma. Além disso, nos procariotos, pode ser encontrado um tipo diferente de DNA circular (em algumas bactérias), denominado plasmídeo. Esses plasmídeos podem conferir às bactérias características de resistência a alguns antibióticos. saiba mais Busque na literatura ou na internet a diferença entre nucleosídeo e nucleotídeo. O tamanho de uma molécula de DNA excede em centenas de vezes o tamanho das células onde está contida. Pesquise como isso é possível. Resumo Uma das questões fundamentais da biologia é desvendar como moléculas sem vida, quando arranjadas em conjuntos precisamente construídos, permitem o surgimento e a manutenção da vida. Com certeza, a resposta para essa importante questão passa pelacompreensão da função de cada uma das biomoléculas e, em seguida, pela relação existente entre as diferentes biomoléculas no contexto celular. 130 UNIUBE Este capítulo abordou principalmente a descrição de alguns aspectos importantes da estrutura e a função das principais biomoléculas: carboidratos, proteínas, gorduras e ácidos nucleicos. Essas moléculas estão presentes na estrutura dos seres vivos em geral e, como um conjunto, são responsáveis pela manutenção da ordem celular, que é um requisito indispensável para a manutenção da vida. Observa -se que todos os seres vivos são compostos pelas mesmas moléculas básicas: carboidratos, proteínas, gorduras, ácidos nucleicos, entre outras. Além disso, há muita similaridade entre determinadas moléculas presentes em diferen- tes seres vivos, com algumas proteínas apresentando homologia maior que 90% entre espécies tão distintas quanto mamíferos e bactérias. Isso facilita o estudo da relação entre a estrutura e a função dessas moléculas, uma vez que estruturas similares pro- vavelmente desempenhem funções parecidas. Referências CHAMPE, Pámela C.; HARVEY, Richard. A bioquímica ilustrada. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Biologia celular e molecular. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1995. NELSON, David L.; COX, Michael M.; LEHNINGER, A. L. Princípios de bioquímica. New York: Worth Publishers, 2000. André Luís Teixeira Fernandes / Valeska Guimarães Rezende da Cunha INTRODUÇÃO Sabemos que o estudo é fundamental na vida das pessoas e por meio dele buscamos alcançar os diversos tipos de conhecimento, que serão aplicados em inúmeras situações de nossa vida. Durante sua formação escolar, você encontrará exigências, obstáculos e desafios que o(a) farão ter uma nova postura diante dos estudos. Daí a necessidade de você repensar e avaliar a forma como vem estudando até agora. Muitos(as) alunos(as), apesar de seu esforço, não conseguem obter o sucesso escolar que estaria ao seu alcance, pois trabalham com métodos inadequados. A obtenção de bons resultados escolares, que é o objetivo de todos os estudantes, consegue-se com métodos e estratégias de estudo eficazes. A princípio, é preciso que você se conscientize de que o resultado de todo o processo depende de você mesmo(a), ao assumir uma postura com maior autonomia para a efetivação da aprendizagem. Além disso, você deve empenhar-se num projeto de estudo altamente individu- alizado, apoiado no domínio e na manipulação de uma série de instrumentos, que o(a) auxiliarão na organização de sua vida de estudo e na disciplina de sua vida acadêmica. Neste capítulo, você encontrará orientações para a organização de seus estudos e sobre a melhor forma de registro de sua aprendizagem. Posterior- mente, será orientado aos procedimentos necessários para a leitura e estudo dos textos acadêmicos. Você verá como esses textos são organizados, os procedimentos adequados para a leitura desse tipo de texto e as diversas formas de registro de seus estudos. E, no final do capítulo, você aprenderá as normas para a elaboração e apresentação de trabalhos acadêmicos, utilizando corretamente as formatações de acordo com aquilo que a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) estabelece. Concepções e fatores que intervêm no desenvolvimento humano Capítulo 1 Geraldo Thedei Júnior Introdução Todos os seres vivos, unicelulares ou multicelulares, autotróficos ou hetero- tróficos, necessitam de energia para suas atividades. Por atividade, entendemos movimento, excreção, síntese de moléculas ne- cessárias para a manutenção da célula e do organismo, crescimento, divisão celular. Essa energia pode ser obtida diretamente do Sol, pelos organismos capazes de fazer fotossíntese, ou pela degradação de moléculas energéticas, tais como os carboidratos e as gorduras. Em ambos os casos, o conjunto de reações químicas envolvidas na obtenção da energia é denominado metabolismo. É isso que estudaremos neste capítulo: como os organismos vivos obtêm a energia de que necessitam para suas atividades. Veremos que muitas estra- tégias (rotas metabólicas) de obtenção de energia são compartilhadas pela maioria dos organismos, desde uma bactéria até uma célula de mamífero, numa demonstração de que essas rotas foram conservadas ao longo da evolução dos seres vivos. Ao final do capítulo, você terá tido a oportunidade de conhecer e entender melhor os mecanismos envolvidos no metabolismo das biomoléculas, já apre- sentadas no capítulo anterior. Bons estudos. Objetivos Ao final deste capítulo, você deverá ser capaz de: • descrever os fenômenos metabólicos que ocorrem nos organismos vivos; Bioenergética e metabolismo Capítulo 4 132 UNIUBE • relacionar os fenômenos bioquímicos ao âmbito da Biologia; • relacionar as biomoléculas estudadas no capítulo anterior com o me- tabolismo bioenergético; • detalhar o metabolismo energético, mostrando a importância das prin- cipais vias metabólicas para a sobrevivência dos organismos. Esquema 1O momento: Energia: fonte da vida 2O momento: Metabolismo dos carboidratos 3O momento: Metabolismo de outras moléculas energéticas: gorduras e aminoácidos 4.1 Energia: fonte da vida Chegamos a mais um momento de estudo e de reflexões acerca dos aspectos que caracterizam as atividades bioquímicas em seres vivos e seus desdobramentos no âmbito celular. As funções vitais dependem de energia para sua realização. Dessa forma, sem energia não há como existir vida. O ramo da bioquímica que estuda a energia é chamado “Bioenergética”. Seu estudo permite a compreensão de como a energia é obtida e como é utilizada pelas células na manutenção da vida. A bioenergética se relaciona com o assunto que estudamos anteriormente (biomoléculas), uma vez que carboidratos, proteínas e lipídeos são mo- léculas utilizáveis como fonte de energia pelas células. Você se lembra dessas biomoléculas? Volte ao Capítulo 3, que trata do assunto, e relembre a estrutura básica dos carboidratos, proteínas e gorduras, preparando -se para entender como essas moléculas serão empregadas na obtenção de energia pelas células. UNIUBE 133 4.1.1 A bioenergética Segundo as leis físicas, a energia não pode ser criada nem eliminada, mas apenas transformada. Além disso, sem ela não há realização de trabalho, ou seja, supondo que uma célula não tenha energia, esta perde suas funções vitais, ocasionando a sua morte. Várias são as fontes de energia, dentre elas se destacam, nas células, o ATP, os carboidratos e os lipídeos. Essas moléculas fornecedoras de energia são degradadas pelas enzimas (proteí- nas com atividade catalítica), em várias sequências organizadas de reações, denominadas vias ou rotas metabólicas. O metabolismo pode ser subdividido, para fins didáticos, em rotas metabólicas individuais, tais como a que degrada a gli- cose, a que sintetiza lipídeos, entre muitas outras. No entanto, não podemos nos esquecer de que o metabolismo é o conjunto dessas vias e que, isoladamente, nenhuma delas é capaz de manter o funcionamento da célula. saiba mais Um pouco de história... Krebs Sir Hans Adolf Krebs (1900 1981) nasceu em 25 de agosto de 1900 em Hildesheim, Alema- nha. Cursou Medicina, Biologia e Química na Universidade de Gotinga, Hamburgo, Berlim; nesta última trabalhou com Otto Wasburg, Prêmio Nobel de Medicina em 1931. Obteve a cátedra de Medicina Interna da Universidade de Friburgo. Em 1931, emigra para a Inglaterra, nacionalizando -se. Faleceu em 22 de novembro de 1981, em Oxford. Seus principais trabalhos de pesquisa giram em torno das análises do metabolismo celular, principalmente na transfor- mação dos nutrientes em energia dentro das células. Descobriu que certas reações conhecidas dentro das células estavam relacionadas entre si, nomeando esta sucessão de reações de Ciclo do ácido cítrico (1937), mais tarde renomeado em sua honra de Ciclo de Krebs. Obteve o Primeiro Prêmio Nobel de Medicina em 1953, compartilhadocom Fritz Lipmann. Continuando nossos estudos, vamos conhecer a mais importante molécula fornecedora de energia para as reações celulares, o ATP (Figura 1), que juntamente com o ADP formam um sistema importantíssimo no transporte e armazenamento de energia. O ATP é uma estrutura química que transporta energia na célula. Ela é constituída por uma base púrica (a adenina), um açúcar (a ribose) e três grupamentos fosfato com alta energia entre suas ligações. Adenosina Trifosfato ou ATP É uma molécula orgânica responsável pelo armazenamento de energia em suas ligações químicas. É constituída por Adenosina, associada a três radicais fosfatos ligados em cadeia. A energia é armazenada nas ligações entre os fosfatos. 134 UNIUBE Alguns autores consideram o ATP como a moeda energética da célula, visto ser ele uma forma geral de pagamento (energia) pelo trabalho realizado nas células. Figura 1: Estrutura química do ATP, Adenosina Trifosfato. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Os seres vivos em condições normais apresentam -se, sob o ponto de vista termodinâmico, como um “sistema aberto”. Isso significa que eles podem realizar trocas de calor, energia e matéria com o meio externo. Um bom exemplo dessas trocas é dado pela reciclagem do CO2 e do O2 na biosfera: os organismos heterotróficos recebem produtos orgânicos (tais como os carboidratos) e liberam o CO2, que será incorporado pelos organismos autotróficos. Por sua vez, estes doam O2 que os heterotróficos utilizam, numa constante troca de matéria e energia (Figura 2). saiba mais Autotrófico Diz -se de organismo capaz de sintetizar o próprio alimento a partir de fontes inorgânicas simples, como, por exemplo, dióxido de carbono, água, nitratos. As plantas são autotróficas. Heterotrófico Diz -se de organismos (animais em geral, fungos, etc.) incapazes de sintetizar o próprio ali- mento e cuja nutrição se realiza pela ingestão e digestão de substâncias orgânicas vegetais e/ou animais. Sistema aberto O meio ambiente apresenta características de um sistema aberto, visto que recebe e transmite energia para outros sistemas vizinhos. UNIUBE 135 Figura 2: Ciclo de energia. Fonte: Acervo EAD-Uniube, adaptado de Nelson; Cox e Lehninger (2000). Os seres autotróficos produzem oxigênio e produtos orgânicos que são consumidos pelos seres heterotróficos que, por sua vez, fornecem gás carbônico como matéria -prima para os seres autotróficos completarem o ciclo. Note que somente graças à energia solar é possível ocorrer estas transformações. curiosidade O dióxido de carbono foi descoberto pelo escocês Joseph Black em 1754. Durante a respiração, os animais tomam oxigênio da atmosfera e eliminam dióxido de carbono. Por outro lado, as plantas retiram este gás do ar e o utilizam na fotossíntese. Este processo denominado ciclo do carbono é vital para a manutenção dos seres vivos. Essas trocas e transformações energéticas são governadas pelos princípios da ter- modinâmica: Entalpia – a primeira lei da termodinâmica estabelece as condições de indestrutibilidade e impossibilidade da criação de energia, estabelecendo que a energia pode apenas ser transformada. De acordo com o tipo de reação, o calor liberado é chamado de calor de combustão, de reação, ou de hidrólise, como, por exemplo, na combustão da glicose. 136 UNIUBE saiba mais Entalpia É a grandeza física relacionada ao total de energia interna de um sistema por determinada quantidade de substância. A unidade, no Sistema Internacional de Unidades, para a Entalpia, é o Joule (J) por mol. É impossível determinar a entalpia de um sistema, mas é possível de- terminar a variação da entalpia. C6H12O6 + 6O2 ==> 6CO2 + 6 H2O ΔH= -637 Kcal/mol Todo organismo vivo se empenha em manter sua energia in- terna e sua entalpia constantes. Desta forma, os gastos para o seu funcionamento são repostos através da ingestão de nutrientes, tendo sempre um equilíbrio entre a energia obtida dos nutrientes e o trabalho realizado pelo organismo. Enfim, a entalpia de um sistema é uma grandeza que informa a quan- tidade de energia desse sistema (por exemplo, uma célula ou uma reação de uma enzima com seu substrato) que poderia ser transformada em calor em um processo a uma pressão constante. Dessa forma, a variação de entalpia (ΔH) informa a quantidade de calor trocado por este sistema. O sinal ΔH estabelece se o processo é exotérmico (ΔH < 0) ou endotérmico (ΔH > 0). Entropia – a segunda Lei da Termodinâmica, ou lei da entropia, é enunciada como a medida quantitativa da irreversibilidade. saiba mais Entropia A entropia (do grego εντροπία, entropνa), simbolizada pela letra S, é uma grandeza termo- dinâmica associada ao grau de desordem de um sistema. Os organismos do meio ambiente se desgastam e tendem a morrer, por isso é imprescindível que esses sistemas adquiram entropia negativa; para sobreviver, os sistemas abertos precisam mover -se, a fim de deter o processo entrópico; necessitam adquirir entropia negativa – energia transformada de baixa entropia – visando evitar a desorganização do sistema. Kcal Quilocaloria. Valor energético correspondente a 1.000 calorias. Uma caloria é definida como a quantidade de calor (energia) necessária para elevar 1 grama de água da temperatura 14,5°C para a temperatura 15,5°C. UNIUBE 137 A entropia é representada pela quantidade de energia que não é mais capaz de realizar trabalho e também é a medida do grau de desordem na natureza. Fundamentalmente, a termodinâmica exige que haja um transporte ou transformação de energia. Qualquer um desses dois aspectos implica na existência de uma fonte rica e outra pobre de energia, do mesmo modo que não haverá transporte de material para dentro ou para fora da célula se não houver uma diferença de concentração entre os meios; então, chamamos a diferença de energia disponível para o trabalho (transporte) de energia livre. saiba mais Energia livre Energia livre de Gibbs (G) é a quantidade de energia capaz de realizar trabalho durante uma reação a temperatura e pressão constantes. Ela determina a espontaneidade de uma reação. A equação que calcula a variação da energia livre é ΔG = ΔH – T. ΔS, em que ΔH é a variação de entalpia, T é a temperatura absoluta e ΔH é a variação de entropia. Todas as transformações energéticas que ocorrem nos seres vivos simbolizam a própria vida, exigindo, necessariamente, uma fonte rica e outra pobre em energia. Assim, a entropia se manifesta com diferentes tendências ao longo do ciclo vital. No anabolismo (fase de construção do metabolismo), há o armazenamento de energia tendo uma entropia negativa; já no catabolismo (fase de degradação do metabolismo), em que o gasto de energia é menor que a receita, a entropia é positiva. saiba mais Anabolismo Anabolismo é a parte do metabolismo que se refere à complexação de substâncias em um organismo, ou seja, a partir de moléculas mais simples, são criadas moléculas mais complexas. Catabolismo Chama -se catabolismo a parte do metabolismo que se refere à utilização ou processamento da matéria adquirida para fins de obtenção de energia. Refere -se às vias de degradação, ou seja, de quebra das substâncias. O catabolismo se inicia sempre a partir de moléculas grandes, que contêm quantidades importantes de energia (glicose, triglicerídeos etc.). Estas substâncias são transformadas de modo que sobrem, ao final, moléculas menores em tamanho e pobres em energia (H2O, CO2). O organismo consegue aproveitar a energia liberada neste processo. O terceiro e último princípio trata da ordem e desordem, ressaltando principalmente o valor das estruturas na utilização da energia para que ocorram extensas e intensas 138 UNIUBE transformações bioenergéticas, com o mínimo de perda energética e com o máximo de rendimento. Para isso, a natureza utiliza biomoléculas transportadoras e transfor- madoras de energia. Em resumo, a relação entre a energia livre (G), a entalpia (H)e a entropia (S) pode ser expressa em uma notação matemática, na qual T é a temperatura absoluta em graus Kelvin (K = °C + 273). Assim, a bioenergética possui uma vasta aplicabilidade nos estudos de produção e gasto energético dos seres vivos, como nos estudos de transporte através de membranas, res- piração celular, processos de fermentação e fotossíntese. Além disso, a bioenergia desem- penha fundamental importância para a estabilidade e funcionalidade dos sistemas vivos e o estudo desse tema, através da Bioquímica, poderá significar um ganho de conhecimentos das propriedades bioquímicas que permitem o “acontecer” da vida nas células. Praticamente quase todas as reações químicas que ocorrem nas células possuem uma barreira de energia que separa os reagentes dos produtos. Esta barreira recebe o nome de energia livre de ativação (Ea) e consiste na diferença entre a energia dos reagentes e um intermediário de alta energia que surge antes da formação do produto. A Figura 3 mostra estas alterações de energia durante o transcorrer de uma reação em que a molécula reagente (S) transforma- se no produto (P), passando por um estado intermediário (I). Quando estudamos as proteínas, relatamos a existência de uma classe específica destas biomoléculas, chamadas de enzimas. As enzimas são catalisadores proteicos que aumentam a velo- cidade de uma reação química e não são consumidas durante a mesma. Nos seres vivos, as reações químicas dependem das enzimas para que ocorram na velocidade necessária, compatível com as necessidades da célula. De maneira geral, uma reação sem a presença de enzima possui uma Energia de Ativação muito maior do que se a enzima estivesse presente. Figura 3: Caminho reacional em função da energia livre dos reagentes e produtos. Fonte: Acervo EAD-Uniube, adaptado de Nelson e Cox (2000). Enzimas São um grupo de substâncias orgânicas, de natureza proteica, com atividade intra ou extracelular, que tem funções catalisadoras, induzindo reações químicas que, sem a sua presença, dificilmente aconteceriam. Também aumentam a velocidade das reações químicas, possibilitando o metabolismo dos seres vivos. UNIUBE 139 Assim, uma enzima poderá fazer com que uma reação bioquímica ocorra mais rapidamente, oferecendo uma rota de reação alternativa, com menos gasto energético (Figura 4). Figura 4: Variação da energia em uma reação catalisada por enzima e não catalisada. Para o reagente “A” se transformar no produto “B”, é necessário que “A” ganhe uma certa quantidade de energia, que é menor na reação catalisada, o que permite que a reação ocorra mais rápido. Como já dissemos, as enzimas atuam de maneira ordenada e sequencial, em rotas metabólicas que visam a obtenção de energia a partir dos combustíveis disponíveis na célula (carboidratos, por exemplo) ou a partir da luz solar. Em qualquer uma dessas situações, a célula está trabalhando com a energia. Surge, assim, a necessidade de uma molécula energética utilizável nas diversas rotas me- tabólicas e que seja adequada para “pagar” a realização das atividades que a célula necessita, tais como a síntese de proteínas e o transporte de substâncias através da membrana plasmática, entre outras. A molécula que desempenha essa função, na maioria das vezes, é o ATP, estudado anteriormente. Mas outras moléculas transportadoras de energia também são utilizadas pela célula, tais como o NADH, FADH2 e NADPH. Essas três últimas substâncias são carregadores de elétrons e serão abordadas futuramente ainda neste capítulo. Estudamos até agora os princípios fundamentais que regem a bioenergética, represen- tados pelas leis da termodinâmica. Falamos, também, das enzimas e das moléculas transportadoras de energia, elementos essenciais para a compreensão do metabolismo. Discutiremos, agora, como o metabolismo energético se processa, suas etapas e proces- sos. Veremos, também, como ele é traduzido na forma de energia química para as células. O metabolismo é uma atividade celular altamente coordenada, na qual diferentes en- zimas contribuem para o desempenho de quatro funções distintas: 140 UNIUBE • obtenção de energia química através da captura de energia solar ou da degradação de elementos (nutrientes) ricos em energia, provenientes do próprio ambiente, onde as células se encontram; • conversão das moléculas nutritivas em moléculas utilizáveis pelas células; • formação de macromoléculas a partir de precursores, como os aminoácidos e monossacarídeos; • degradação e síntese de novas macromoléculas capazes de desempenhar funções celulares especializadas como a membrana celular, parede celular, DNA, RNA. O metabolismo (Figura 5) ocorre a partir de uma série de eventos enzimáticos que são desempenhados no interior das células. Figura 5: Diagrama metabólico que ilustra a interconversão de energia química entre as fases do anabolismo e do catabolismo. Fonte: Acervo EAD-Uniube, adaptado de Nelson; Cox e Lehninger (2000). Veja que ele se divide em: Anabolismo Um processo metabólico responsável pela construção de ma- cromoléculas (proteínas, polissacarídeos) a partir de moléculas precursoras (aminoácidos, monossacarídeos), utilizando -se da energia química armazenada em transportadores de energia como o ATP, NADH, entre outros. NADH Acrônimo em inglês de Nicotinamide adenine dinucleotide. Composto orgânico encontrado em todos os seres vivos, usado como “transportador de elétrons” nas reações metabólicas. UNIUBE 141 Catabolismo Processo metabólico para a obtenção de energia química (ATP, NADH, entre outros), a partir dos nutrientes energéticos (carboidratos, ácidos graxos etc.). Assim, a energia química obtida no catabolismo será utilizada, inclusive, no anabolismo. A energia química, obtida via processo catabólico, precisa ser transportada e mantida no interior das células, sendo assim disponibilizada para as reações que dela necessitam, mantendo viáveis estas células e, consequentemente, permitindo um aporte energético aos eventos celulares. Assim, surgem algumas moléculas receptoras dessa energia, que serão responsáveis pelo seu transporte dentro das células. O transporte de energia química dentro das células se dá de duas diferentes formas: • na forma de pares de elétrons do átomo de hidrogênio (NADH, NADPH e FADH2); • na forma de compostos fosfatados (ATP, GTP e outros nucelotídeos trifosfatos). Vamos, agora, verificar detalhadamente cada uma das formas. a) Quanto aos transportadores de elétrons Em termos energéticos, elétron equivale à energia para a célula. Logo, reações de oxidação – que liberam elétrons – são catabólicas, pois liberam energia, e reações de redução são anabólicas, pois utilizam elétrons/energia. Os principais transportadores de elétrons na célula são três e funcionam de maneira muito parecida: • Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo – NAD É uma coenzima formada por um dinucleotídeo contendo adenina, capaz de aceitar um par de elétrons do átomo de hidrogênio no catabolismo, e liberar este par de elétrons para produção de energia ou ser utilizado no anabolismo (Figura 6). 142 UNIUBE Figura 6: Estrutura e óxido -redução do NAD+/NADH. A seta indica a vitamina B3 ou niacina, usada na produção desse carregador. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). Observe, na indicação pelas setas, a diferença entre o estado oxidado (esquerda) e reduzido (direita). • Flavina Adenina Dinucleotídeo – FAD É um nucleotídeo de adenina que, como o NAD, atua recebendo elétrons do catabolismo e transferindo -os para a produção de energia ou para o anabolismo. Figura 7: Estrutura e óxido -redução do FAD+/FADH2. Fonte: Acervo EAD-Uniube. UNIUBE 143 Observe, na indicação pelas setas, a diferença entre o estado oxidado (acima) e reduzido (abaixo). • Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo Fosfato – NADP É também muito semelhante, tanto na estrutura (possui um fosfato a mais), quanto na forma de atuação ao NAD. Figura8: Estrutura e óxido -redução do NADP+/NADPH. Observe, na indicação pelas setas, a diferença entre o estado oxidado (acima) e reduzido (abaixo). Fonte: Adaptado por Tiago Zanquêta de Souza (2010). b) Quanto aos transportadores fosfatados de alta energia O principal composto fosfatado de alta energia presente na célula, e que é também o principal transportador de energia, é a ADENOSINA TRIFOSFATO ou ATP. 144 UNIUBE A ATP (Figura 9) é um mononucleotídeo de adenina trifosfatado, que, por hidrólise, libera grande quantidade de energia para a célula. Termodinamicamente, a hidrólise do ATP libera: ATP ADP + Pi Hidrólise do ATP ΔG = 7,3 Kcal/Mol, em que Pi é o fosfato inorgânico. Figura 9: Hidrólise do ATP. Além do ATP, a fosfocreatina também desempenha papel importante no metabolismo energético. Ela está presente no músculo estriado entre outros tecidos. Este composto fosfatado de alta energia atua como uma reserva de grupos fosfato, na regeneração rápida do ATP. Creatina + ATP Creatina -Fosfato + ADP Quando há fartura de ATP, este reage com a creatina, liberando ADP + Creatina -Fosfato. Quando necessário, a Creatina- -Fosfato entrega o fosfato do ADP regenerando o ATP. Existem outros Nucleotídeos Trifosfatados, como o GTP, CTP, UTP e TTP, que também podem atuar como transportadores de energia, de forma idêntica ao ATP, mas com muito menos frequên cia. Suas energias de hidrólise são praticamente idênti- cas à do ATP, e os compostos, energeticamente, se equivalem. GTP, CTP, UTP e TTP Nucleotídeos trifosfatados assim como o ATP. São nucleotídeos formados com as bases nitrogenadas: guanina, citosina, uracila e timina. UNIUBE 145 saiba mais Muitas vitaminas, especialmente as hidrossolúveis, são auxiliares do metabolismo. Um exemplo clássico é a Niacina, também conhecida como Vitamina B3 ou PP. Essa vitamina, que pode ser obtida de uma variedade de alimentos tais como frutas, carnes e verduras, é empregada pelas células na formação dos carregadores de elétrons NADH e NADPH. A carência dessas vitaminas causa uma doença conhecida como pelagra, ou doença dos 4 “d”, por seus sintomas: diarreia, dermatite, demência e morte (death em inglês). Já a riboflavina (vitamina B2) participa da formação da molécula de FADH2. Sua carência causa glossite (um tipo de inflamação da língua), estomatite angular (fissuras nos cantos da boca) e descamação da pele, entre outros sintomas. pesquisando na web Busque na literatura ou na internet a estrutura da fosfocreatina e descubra seu papel na atividade física. Procure na internet e na bibliografia o papel desempenhado por outras vitaminas, tais como a biotina, ácido pantotênico e piridoxina no metabolismo. 4.2 Metabolismo dos carboidratos Vimos, até agora, que o metabolismo se divide em duas partes, o anabolismo e o ca- tabolismo. Estas duas diferentes partes se completam, visto que uma produz energia e a outra consome energia; uma degrada macromoléculas, a outra constrói. Assim, o metabolismo cataboliza e anaboliza biomoléculas celulares incessantemente. Iniciaremos agora o estudo das vias de obtenção de energia, utilizando os carboidratos como matéria -prima, uma vez que eles representam os principais combustíveis para a maioria dos seres vivos. importante! O objetivo do catabolismo é a remoção da energia presente nas moléculas energéticas, entre elas a glicose. Essa energia será retirada gradualmente, em múltiplas etapas catabólicas. Inicialmente, estudaremos três importantes vias catabólicas que são realizadas no interior das células: a glicólise, o ciclo de Krebs e a cadeia respiratória. 146 UNIUBE 4.2.1 Glicólise A glicólise é a via metabólica que promove a degradação da glicose. Ela está no cerne do metabolismo dos carboidratos, pois praticamente todos os açúcares (originários da dieta ou de outras rotas metabólicas celulares) podem ser convertidos em glicose. Assim, a glicose (um monossacarídeo estudado no capítulo “Estrutura e função das biomoléculas”) é o principal substrato para as reações energéticas, sendo a glicólise o principal pro- cesso de utilização energética deste carboidrato, presente em todos os seres vivos, desde as simples bactérias até o mais complexo organismo multicelular. A glicólise é um processo essencialmente anaeróbico e libera apenas uma fração da energia presente na molécula de glicose. A forma na qual ocorre a glicólise permite uma retirada provei- tosa de energia química da glicose. O metabolismo da glicose prossegue com as demais vias pro- dutoras de energia (ciclo de Krebs e cadeia respiratória), desde que a célula possua mitocôndrias funcionais, uma vez que estas outras vias metabólicas ocorrem somente nesta organela. Você pode estar se perguntando: para que tantas etapas envolvidas na degradação da gli- cose, que possui apenas 6 carbonos? O objetivo não é apenas degradar a glicose, mas libe- rar lentamente a energia nela contida, reação por reação, de modo que essa energia possa ser captada pelas moléculas transportadoras de energia (NADH, FADH2, ATP etc.) e, enfim, utilizada pela célula. Glicose Pertencente à classe de biomoléculas denominadas de carboidratos, a glicose ou dextrose é um carboidrato do tipo monossacarídeo. Cristal sólido de sabor adocicado, de fórmula molecular C6H12O6, encontrado na natureza na forma livre ou combinada. Juntamente com a frutose e a galactose, é a unidade fundamental que vai formar carboidratos maiores, como sacarose e maltose. Amido e celulose também são polímeros de glicose. No metabolismo, a glicose é uma das principais fontes de energia celular que dá origem à energia química (armazenada em moléculas de ATP – entre 36 e 38 moléculas de ATP por moléculas de glicose), gás carbônico e água. UNIUBE 147 A glicólise em detalhe A glicólise também é conhecida como via glicolítica ou via de Ebden Meyerhof. Todos os seres vivos realizam, invaria- velmente, a glicólise, seja em condições de aerobiose ou de anaerobiose. Em todos os casos, as enzimas glicolíticas são presentes no citoplasma celular (Figura 10). Figura 10: Via glicolítica. G = Glicose, F = Frutose, PEP = Fosfoenolpiruvato. Fonte: Acervo EAD-Uniube. A glicólise ocorre em uma sequência enzimática de dez reações (Figura 10), divididas em duas fases: a primeira (fase de investimento) vai até a formação de duas moléculas de gliceraldeído 3 fosfato, caracterizando -se como uma fase de gasto energético de 2 ATPs nas duas fosforilações que ocorrem nesta etapa. A segunda fase (fase de paga- mento) caracteriza -se pela produção energética de 4 ATPs e 2NADHs. Anaerobiose Refere -se a situações de utilização de energia através de respiração anaeróbica. Anaeróbico é uma palavra técnica que significa literalmente sem ar e se opõe a aeróbico. A presença ou ausência de ar ou, mais precisamente, a presença ou ausência de oxigênio no ar, afeta várias reações químicas e biológicas. 148 UNIUBE O rendimento energético líquido ao final do metabolismo anaeróbio da glicose, portanto, é de somente 2 ATPs e 2 NADHs, visto que na primeira fase foram investidos 2 ATPs. Em condições de anaerobiose, ao final da via glicolítica, o piruvato é reduzido (recebe elétrons) formando lactato (Figura 10). Em condições de aerobiose, porém, o piruvato não é reduzido e, sim, transportado para dentro das mitocôndrias, sendo oxi‑ dado (perdendo elétrons, que é recebido pelo NAD+, gerando NADH) e formando, então, uma molécula de 2 carbonos, de- nominada acetil CoA, usado para abastecer o Ciclo de Krebs, que irá liberar pouco da energia originalmente presente na molécula de glicose. Esses processos serão detalhados mais à frente no capítulo. Agora que tivemos uma visão geral da glicólise, vamos detalhar essa importante via metabólica. relembrando Antes de começarmos... Relembre aquilo que estudou anteriormente, sobre o objetivo dessa importante via metabólica, para poder entender melhor os detalhes importantesque serão descritos em seguida. Lembre -se também de que essa via metabólica é uma das mais empregadas pela célula para a obtenção de energia, já que a maior parte dos alimentos energéticos que comemos é carboidrato! Dúvida? Olhe para seu prato de comida. O que verá em maior quantidade? Normalmente, o arroz, ou o macarrão, ou qualquer outro carboidrato, como batata, milho etc.! Os carboidratos formam a base da nossa dieta. 4.2.1.1 Fases da glicólise A glicólise é composta de 10 reações enzimáticas. Essas 10 reações são divididas em duas fases ou etapas, para facilitar seu estudo e entendimento. A primeira fase da glicólise é uma fase de gasto energético, na qual os produtos for- mados são mais energéticos que a glicose. Esta é denominada Etapa Preparatória ou de Investimento. A segunda fase resgata a energia investida e libera parte da energia contida na molécula de glicose, sendo denominada Etapa de Pagamento. Acetil ‑CoA Acetil coenzima A. Molécula de dois carbonos gerada na degradação do piruvato e também de ácidos graxos e alguns aminoácidos. Uma de suas funções é abastecer o Ciclo de Krebs, sendo usada, portanto, como fonte de energia. UNIUBE 149 a) Etapa preparatória A primeira etapa enzimática da via glicolítica tem como objetivo fosforilar a glicose (transformando -a em glicose 6 fosfato, carregada negativamente), dando início à sua degradação (Figura 11). Esse trabalho de modificação química da glicose é realizado pela enzima hexocinase, que emprega uma molécula de ATP na reação. Dessa forma, a glicose fica impedida de sair da célula, visto que a membrana celular é impermeável a moléculas carregadas. Figura 11: Reação de transformação de glicose em glicose -6 -P. Esta reação irá ocorrer no citoplasma celular, dando início à glicólise. Após a fosforilação, a glicose fica impossibilitada de sair da célula. Para poder ser utilizada na produção de energia, a glicose 6- fosfato é primeiro isomerizada a frutose 6 fosfato. A frutose- 6 fosfato é depois fosforilada a frutose 1,6 bisfosfato, por uma enzima denominada fosfofrutocinase. Este é o ponto de não retorno desta via metabólica: a partir do momento em que a glicose é transformada em frutose1,6 bisfosfato (F -1,6 -BP), esta já não pode ser usada em nenhuma outra via. Em seguida, a frutose 1,6 -bisfosfato será degradada em duas moléculas de três carbonos cada uma, denominadas gliceraldeído ‑três ‑fosfato e dihidroxiacetona fosfato. Como apenas o gliceraldeído pode continuar na glicólise, a dihidro- xiacetona fosfato será convertida a gliceraldeído -3 -fosfato, finalizando com isso a etapa preparatória da glicólise. Isômero Que ou o que é formado das partes semelhantes. Que ou o que tem a mesma composição química e a mesma massa molecular, mas cujas estrutura atômica e propriedades diferem. 150 UNIUBE sintetizando... A glicose foi convertida em duas moléculas de gliceraldeído -3 -fosfato, a um custo de duas moléculas de ATP. b) Etapa de pagamento É importante lembrar que foram geradas, na etapa preparatória, duas moléculas de gliceraldeído -3 -fosfato. Assim, tudo o que ocorrer na etapa de pagamento se refere a essas duas moléculas. A etapa de pagamento irá transformar os 2 gliceraldeído -3 -fosfato gerados na etapa preparatória em duas moléculas de piruvato. Para isso, mais cinco reações serão realizadas, iniciando -se com a oxidação do gliceraldeído -3 fosfato, gerando uma mo- lécula denominada 1,3 -bisfosfoglicerato. Essa reação remove um par de elétrons do gliceraldeído -3 -fosfato e entrega -o para o NAD+, formando o NADH. A reação seguinte irá remover um fosfato de cada molécula de 1,3 -bifosfoglicerato e transferi -lo para o ADP, formando ATP e 3 -fosfoglicerato. Como foram produzidas, nas reações anteriores, duas dessas moléculas, temos a geração de 2 ATP. A próxima reação transfere o fosfato ligado ao carbono 3 do 3 -fosfoglicerato para o carbono 2, formando 2 -fosfoglicerato. A próxima reação retira uma molécula de água do 2 -fosfoglicerato, transformando -o em fosfoenolpiruvato, reação catalisada pela enzima enolase. Finalmente, na décima reação, o fosfoenolpiruvato doará seu fosfato para o ADP, for- mando piruvato e ATP. sintetizando... Ocorre a transformação da glicose em 2 moléculas de piruvato, gastando 2 ATPs na etapa preparatória e produzindo 4 ATPs e 2 NADHs na etapa de pagamento. Com isso obtivemos um saldo positivo de 2 ATPs, além dos 2 NADHs. UNIUBE 151 4.2.1.2 Destino dos NADHs produzidos na glicólise Os 2 NADHs gerados na glicólise requerem atenção especial. Como dissemos anteriormente, em condições de anaerobiose, ao final da via glicolítica, o piruvato é reduzido (recebe elétrons), formando lactato. Esse processo é denominado fermentação lática e tem como objetivo principal a transformação do NADH novamente em NAD+. Essa necessidade se fundamenta no fato de que a célula pos- sui um estoque limitado de NAD+, que vai gradualmente sendo transformado em NADH na via glicolítica (veja reação 6, na Figura 10). Dessa forma, é necessário que o NADH produzido na reação 6 da glicólise volte a ser NAD+. Uma das maneiras de se conseguir isso é reagindo o NADH com o piruvato (produto da glicólise, veja Figura 10), como mostra a Figura 12. Figura 12: Redução do piruvato a lactato, no processo denominado fermentação lática. Outra maneira de regenerar o NAD+ é empregada por algumas leveduras. Elas fazem a reação entre o piruvato e o NADH, formando etanol, CO2 e NAD+. Esse processo é denominado fermentação alcoólica e é a base de todos os processos que produzem álcool, tais como a fabricação do álcool combustível ou das bebidas alcoólicas. Em condições de aerobiose, porém, o piruvato não é reduzido e, sim, transportado para dentro das mitocôndrias, onde perde um carbono (liberado na forma de CO2), sendo oxidado (perdendo elétrons que são recebidos pelo NAD+, gerando NAD, e formando então uma molécula de 2 carbonos denominada Acetil CoA. O Acetil -CoA é usado para abastecer o Ciclo de Krebs que irá liberar mais da energia originalmente presente na molécula de glicose. É importante observar que, ao oxidarmos o piruvato, o NADH (produzido na glicólise), que seria utilizado para sua transformação em lactato ou etanol, é poupado, o que Anaerobiose Situação onde falta oxigênio para as reações celulares que requerem esse gás, tais como a cadeia respiratória. Aerobiose Situação em que há quantidade suficiente de oxigênio para as reações celulares que requerem esse gás, tais como a cadeia respiratória. 152 UNIUBE possibilita aos elétrons por ele transportados serem utilizados na produção de ATP, na cadeia respiratória, que estudaremos mais adiante. sintetizando... Observamos que a glicose será transformada em piruvato, que poderá seguir três destinos diferentes: em condições de anaerobiose, poderá ser transformado em lactato ou etanol, de- pendendo do organismo em questão. Já em condições de aerobiose, será transformado em acetil -CoA, dando prosseguimento ao processo de degradação ou catabolismo. Quando não há glicose disponível no ambiente, ou nos reservatórios celulares (por exem- plo, o glicogênio), muitos organismos podem sintetizar esse importante carboidrato, que é, como dissemos, o combustível preferencial das células. A via metabólica que produz glicose é denominada neoglicogênese (ou gliconeogênese) que em síntese quer dizer formação de nova glicose (Neo = nova; glico = glicose; gênese = produção, formação). Assim sendo, neoglicogênese quer dizer formação de nova glicose, ou de glicose nova. A neo glicogênese é fundamentalmente a reversão dos 10 passos enzimáticos da via glicolítica. saiba mais Vamos saber um pouco mais sobre neoglicogênese? Neoglicogênese: A maioria dos tecidos é capaz de suprir suas necessidades energéticas a partir da oxidação de vários compostos (aminoácidos, açúcares e ácidos graxos). Em contrapartida, alguns tecidos usam quase que exclusivamentea glicose como fonte de energia, como é o caso do cérebro. Para que o suprimento de glicose não seja interrompido, o organismo tem mecanismos que se destinam a preservar o nível de glicose circulante, mesmo quando em jejum. Quando a concentração de glicose circulante, vinda da alimentação, vai diminuindo, o glico- gênio hepático vai ser degradado, fazendo com que a glicemia volte a valores normais. Contudo, o glicogênio hepático é insuficiente para conseguir manter a concentração de gli- cose normal por um período muito longo. Com isso, vai ser acionada outra via, a da síntese de glicose (neoglicogênese). Nela, a glicose vai ser formada a partir de compostos que não são carboidratos (daí o nome “neo” ou nova) tais como alguns aminoácidos, lactato e glicerol. Como uma via anabólica, a neoglicogênese gasta energia para ocorrer, mas os organismos a realizam porque a glicose é de suma importância para a sobrevivência. UNIUBE 153 ampliando o conhecimento Procure na literatura as reações da neoglicogênese e as compare com as reações da via glicolítica. Quais são as reações comuns às duas vias? Quais são distintas? Quanta energia é gasta no processo? Além disso: Busque na bibliografia as estratégias empregadas pela célula para que carboidratos com 4, 5 ou 7 carbonos possam entrar na via glicolítica. Dica: eles requerem uma etapa anterior à entrada na via glicolítica, chamada Via das Pentoses Fosfato ou Rota da Hexose Monofosfato. Busque na literatura a reação que descreve a fermentação alcoólica e identifique os produtos finais etanol e gás carbônico. Você sabia? A enolase de algumas bactérias causadoras de cárie é inibida pelo flúor. Essa é uma das razões para que a nossa água seja fluoretada e também as pastas dentais contenham esse íon. Ao inibir essa enzima, o fluoreto bloqueia a via glicolítica, principal rota produtora de energia nessas bactérias, impedindo seu crescimento e, consequentemente, evitando o de- senvolvimento da cárie. 4.2.2 Ciclo de Krebs e a fosforilação oxidativa Você sabia que o processo de catabolismo da glicose descrito anteriormente produz cerca de 20 vezes menos energia que o processo aeróbico? Desta forma, o Ciclo de Krebs e a Fosforilação Oxidativa, que são a sequência natu- ral do metabolismo da glicose e dos demais compostos energéticos (ácidos graxos e aminoácidos), são de grande importância para aumentar a eficiência do processo de extração de energia presente nas moléculas combustíveis. 154 UNIUBE No final de tudo, o que se pode observar é que existe uma relativa quantidade de energia química armazenada dentro destas moléculas e que, de forma gradativa, será retirada pelo catabolismo. Esta retirada de energia química deverá ocorrer dentro da célula e de forma lenta, visto que tamanha quantidade de energia, se for abruptamente retirada, poderia levar a célula a um aquecimento indesejável, uma vez que toda a energia química poderia se converter em energia térmica, aquecendo a célula de modo inadequado. 4.2.2.1 Ciclo de Krebs O Ciclo de Krebs (em homenagem ao bioquímico alemão Hans Krebs, que, em 1937, descobriu a sequência dessas reações), também chamado Ciclo dos Ácidos Tricar‑ boxílicos ou Ciclo do Ácido Cítrico, é a mais importante via de metabolismo energético celular. Ocorre sob a ação de enzimas mitocondriais em condições de aerobiose, após a descarboxilação oxidativa do piruvato a acetil CoA (descrita anteriormente). O acetil -CoA não é proveniente somente da descarboxilação do piruvato, mas também é originário da degradação de ácidos graxos (β oxidação) e também dos aminoácidos originários da degradação das proteínas (Figura 13). Figura 13: Esquema simplificado da formação da Acetil -CoA, a partir de diferentes origens. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). Descarboxilação Nome da reação química onde um carbono é removido de uma molécula, sendo usualmente liberado na forma de CO2. UNIUBE 155 Assim, dando continuidade ao produto final da via glicolítica (piruvato), este irá permear-se pelas membranas da mitocôndria (Figura 14), alcançando a matriz mitocondrial, onde irá se converter a Acetil -CoA, que irá, então, iniciar o chamado Ciclo de Krebs. Figura 14: Mitocôndria: usina de energia celular. A mitocôndria desempenha um papel fundamental na bioquímica da energia celular. Fonte: Acervo EAD-Uniube. As enzimas do Ciclo de Krebs estão dispersas na matriz mitocondrial e os transporta- dores de elétrons estão fixos nas cristas mitocondriais (Figura 14). curiosidade Você sabia? As mitocôndrias possuem uma estrutura de membrana peculiar que se assemelha a um orga- nismo particular vivendo dentro de uma célula estranha. De fato, o DNA mitocondrial apresenta diferenças em relação ao DNA nuclear, assemelhando -se mais com bactérias do que como próprio organismo no qual estão inseridas. Isso sugere que a sua origem é resultante de um processo de endossimbiose ocorrido nos primórdios da evolução, o que nos permite inferir que as mitocôndrias foram bactérias que, simbioticamente, passaram a viver dentro de células. 156 UNIUBE O Ciclo de Krebs inicia -se com a união de uma molécula de acetil -CoA (2C) com uma de oxaloacetato (4C), gerando o citrato (6C), que possui três ácidos carboxílicos (daí o nome Ciclo dos Ácidos Tricarboxílicos) (Figura 15). Figura 15: O Ciclo de Krebs. O ciclo inicia -se com a união do acetil ao oxaloacetato. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Em seguida, o citrato formado sofrerá uma série de reações, sendo quatro delas de oxidação. Lembre -se de que esse tipo de reação remove elétrons, que, no caso, serão receptados pelo NAD+ (3 deles) e pelo FAD+ (1 deles). Em duas oxidações ocorre conjuntamente a eliminação de um CO2, tornando essa oxidação especial e denominada “descarboxilação oxidativa”. Finalmente, em uma das reações será produzida uma molécula de GTP (guanosina trifosfato), que pode ser convertida, sem gasto ou lucro de energia, em ATP. Assim sendo, ao final do Ciclo de Krebs (Figura 16), há um saldo positivo de 3 NADH, 1 FADH2 e 1 GTP. UNIUBE 157 Figura 16: Balanço energético da oxidação de uma molécula de glicose. Fonte: Desenho de Tiago Zanquêta de Souza (2010). O Ciclo de Krebs também é chamado de Ciclo dos Ácidos Tricarboxílicos ou Ciclo do Ácido Cítrico, descoberto por Hans Krebs. O GTP, se for convertido a ATP, representa energia pronta para o uso nas atividades celulares, mas o NADH e FADH2 ainda não estão aptos a servir de energia para a con- tração muscular, síntese proteica, transporte ativo ou outra função. Eles seguirão para a próxima etapa metabólica, que é a fosforilação oxidativa. Antes de estudarmos a fosforilação oxidativa, podemos, no entanto, rever o que foi produzido em termos energéticos desde que introduzimos a molécula de glicose na via glicolítica. Para isso, analise atentamente a Figura 16 e tente localizar a origem dos 38 ATPs gerados no processo. 4.2.2.2 Fosforilação oxidativa Na fosforilação oxidativa, os 10 NADH e os 2 FADH2 gerados irão liberar seus elétrons livres na fosforilação oxidativa, formando mais alguns ATPs. Interessante citar aqui que a síntese de ATP promovida pela fosforilação oxidativa (mi- tocôndria) é semelhante à síntese de ATP que ocorre nos cloroplastos (fotofosforilação): ambos os processos envolvem um fluxo de elétrons através de alguns carreadores 158 UNIUBE ligados à membrana, e a energia livre se torna disponível graças ao fluxo de elétrons acoplados ao transporte de prótons através da membrana. saiba mais A cadeia transportadora de elétrons é composta pelos complexos I, II, III e IV. A cadeia trans- portadora de elétrons realiza a produção de ATPs a partir da energia química disponível em moléculas carreadoras de elétrons (NADH e FADH2). O Complexo V, uma enzima que sintetiza ATPs, é também chamado de ATP sintase ou FoF1ATPase. Antes de darmos início a esta etapa final de produção de energia, precisamos identificar, deforma mais detalhada, as membranas mitocondriais, especialmente a membrana interna, pois é lá que irão ocorrer, a partir de agora, todas as reações que envolvem a fosforilação oxidativa. As membranas mitocondriais interna e externa são formadas, como todas as membra- nas celulares, por uma bicamada lipídica com proteínas inseridas nessa bicamada. A membrana externa das mitocôndrias é bastante permeável a substratos (biomoléculas) que servem de elementos para as reações energéticas (por exemplo: piruvato, acetil- CoA, ácidos graxos), porém a membrana interna corresponde a uma barreira para a entrada dessas moléculas para o interior da mitocôndria, bem como para a saída das moléculas localizadas na matriz mitocondrial. Entre as duas bicamadas, há um espaço denominado “espaço intermembranas” (Figura 14). É na membrana mitocondrial interna que estão localizadas proteínas transportadoras responsáveis por introduzir seletivamente os substratos citoplasmáticos na mitocôndria (proteínas lançadeiras), além das proteínas que formam a cadeia transportadora de elétrons. Já na matriz mitocondrial (líquido que preenche a mitocôndria) estão as enzi- mas do ciclo de Krebs, da degradação de ácidos graxos e muitas outras. A cadeia transportadora de elétrons é para onde é conduzida a maioria dos elétrons removidos da glicose e dos outros nutrientes energéticos durante o catabolismo. Lembre -se de que esses elétrons foram removidos ao longo da glicólise e do Ciclo de Krebs (Figura 17). UNIUBE 159 Figura 17: Balanço energético da oxidação de uma molécula de glicose. UQ = Ubiquinona. Fonte: Acervo EAD-Uniube. A cadeia respiratória é composta por um conjunto ordenado de proteínas localizadas na membrana mitocondrial interna e seu funcionamento depende, de maneira impres- cindível, do oxigênio. Ao final da cadeia respiratória, o oxigênio recebe os elétrons e dois íons H+, formando água. Como resultado, a cadeia respiratória produzirá grande quantidade de ATP, como veremos logo mais. Em linhas gerais, os elétrons carregados pelo NADH e FADH2 serão deixados nos com- plexos proteicos que formam a cadeia respiratória. Esses elétrons serão transportados por essas proteínas (daí o nome cadeia transportadora de elétrons) até chegarem ao complexo IV, que entregará os elétrons ao oxigênio, unindo -os com íons H+ e formando água. Por isso, o oxigênio é chamado de “receptor final dos elétrons na cadeia respi- ratória” (Figura 18). 160 UNIUBE Figura 18: Cadeia transportadora de elétrons e o caminho percorrido pelos elétrons até chegar ao oxigênio, formando água. UQ = Ubiquinona; Citc = Citocromo C. Fonte: Geraldo Thedei Júnior (2010). Enquanto os elétrons são transportados, íons H+ deixam a matriz mitocondrial em direção ao espaço existente entre as membranas interna e externa, lá se acumulando. Esses íons H+ retornam para o interior da mitocôndria (matriz mitocondrial) pelo complexo V, conhecido como ATP sintase ou FoF1ATPase. Esse complexo proteico aproveita o fluxo dos H+ como energia para a síntese de ATP, a partir de ADP e fosfato (Figura 18). Os componentes moleculares da cadeia transportadora de elétrons Como podemos observar na Figura 18, a cadeia transportadora de elétrons é formada por vários complexos proteicos, identificados pelos números I a V, além de outras mo- léculas acessórias. Os complexos I, II e III possuem proteínas ferro enxofre, que recebem essa denominação por conter átomos de enxofre inorgânico e de ferro não hêmico associados à cadeia polipeptídica. Os elétrons são recebidos pelos átomos de ferro, que oscilam entre as formas Fe+2 e Fe+3, segundo estejam reduzidos ou oxidados. O número e a localização das proteínas ferro enxofre que participam do transporte de elétrons ainda não são conhecidos com precisão. Coenzima Q ou ubiquinona (ver Figura 18) é uma quinona comum à longa cadeia iso- prênica lateral. As características hidrofóbicas da CoQ permitem sua mobilidade na fase lipídica da membrana, ao contrário dos outros componentes da cadeia de transporte de elétrons, que têm posições fixas. A coenzima Q, ao reduzir -se, recebe 2H+ e 2, e passa, então, à forma CoQH2. UNIUBE 161 Os citocromos, cuja função foi elucidada em 1925, são proteínas que contêm o heme como grupo proteico. O átomo de ferro desse grupo heme funciona como transportador de elétrons, variando entre os estados de oxidação 2+ e 3+. O Complexo IV possui uma enzima denominada citocromo c oxidase, que catalisa a oxidação de quatro moléculas de citocromo c reduzidas e a concomitante redução de 4 elétrons de uma molécula de O2. É no complexo IV que os elétrons serão finalmente deixados no seu receptor final (O2), formando H2O (Figura 18). 4.2.2.3 O transporte dos elétrons na cadeia respiratória e a síntese de ATP O transporte de elétrons A cadeia de transporte de elétrons apresenta dois pontos de entrada dos elétrons carregados pelo NADH e pelo FADH2: os complexos I e II. Os elétrons carregados pelo NADH serão deixados no Complexo I, enquanto os carregados pelo FADH2 serão deixados no Complexo II. Vamos acompanhar o caminho percorrido pelo elétron que entra no Complexo I até que ele chegue ao oxigênio e forme água. Esse processo é mostrado na Figura 18. O NADH deixa seus elétrons no Complexo I, que os transfere, via ubiquinona, para o Complexo III. Observe que a ubiquinona (CoQ) desloca -se do Complexo I em direção ao Complexo III, correspondendo a um transportador móvel. Simultaneamente, há a passagem de um próton proveniente da matriz mitocondrial em direção ao espaço in- termembranas. Com essa passagem do próton, os elétrons são transportados para o Complexo III, denominado também de Complexo dos Citocromos bc1 ou Ubiquinona– citocromo c oxidorredutase. Do Complexo III, os elétrons passarão para o Complexo IV, com a participação de outro transportador móvel, denominado Citocromo C. Também nesse momento um próton proveniente da matriz mitocondrial é levado em direção ao espaço intermembranas. O Complexo IV então manda outro próton proveniente da matriz mitocondrial em direção ao espaço intermembranas e transfere os elétrons ao oxigênio, juntando -os com 2H+ e formando água. Esse processo está mostrado em detalhe na Figura 18. Note que a cadeia respiratória termina com a formação de uma molécula de água. Por esse motivo, como dissemos anteriormente, o O2 é o receptor final dos elétrons na ca- deia respiratória. Repare que os elétrons presentes nessa molécula de água formada são aqueles que percorreram a cadeia respiratória após terem sido introduzidos nessa rota metabólica pelos NADH e FADH2. Assim sendo, são aqueles elétrons que foram retirados ao longo da via glicolítica e do ciclo de Krebs! E os elétrons carregados pelo FADH2? 162 UNIUBE Esses elétrons entram na cadeia respiratória via Complexo II, que possui uma enzima do Ciclo de Krebs. O Complexo II passa seus elétrons para o Complexo III via ubiqui- nona (como I Complexo I também faz), porém nesse caso não há fluxo de prótons da matriz para o espaço intermembranas. Esse transporte é esquematizado na Figura 18. O sistema descrito anteriormente permite que os NADH e FADH2 sejam transformados, respectivamente, em NAD+ e FAD+ ao deixarem seus elétrons na cadeia respiratória. Isso é fundamental, pois há um estoque limitado de NAD+ e FAD+ na célula. Se os NADH e FADH2 não forem regenerados em NAD+ e FAD+, as reações que envolvem essas duas moléculas na via glicolítica e no Ciclo de Krebs seriam paralisadas pela sua falta: não haveria como retirar elétrons dos substratos energéticos sem os receptores temporários desses elétrons, representados pelo NAD+ e FAD+. A síntese de ATP Logicamente, o objetivo do metabolismo não era a produção de água. Leia novamente o texto anterior sobre o transporte de elétrons e observe que nos Complexos I, III e IV há o transporte de íons H+ provenientes da matriz mitocondrial para o espaço entre membranas. Esse transporte causa um acúmulo de H+ noespaço entre membranas, o que cria uma energia potencial e uma diferença de cargas entre o lado de fora e o lado de dentro da mitocôndria. Esses H+ têm, então, tendência a voltar para da matriz mitocondrial, mas a membrana interna, como já dissemos, é bastante impermeável. Há praticamente apenas um caminho por onde os H+ podem retornar para dentro da matriz mitocondrial: por dentro de um túnel formado pelo complexo V ou ATP sintase. Dessa forma, quando os H+ passam por esse túnel, a enzima ATP sintase utiliza esse fluxo de H+ como energia para promover a união de um ADP com um fosfato gerando uma molécula de ATP. Como os elétrons carregados pelo NADH promoveram três saídas de H+ da matriz em direção ao espaço entre membranas, eles promoverão a síntese de três moléculas de ATP quando esses H+ retornarem para a matriz mitocondrial. Já os elétrons carregados pelo FADH2, por entrarem no Complexo II, incapazes de mandar H+ para o espaço entre membranas, gerarão fluxo de H+ suficiente para a síntese de apenas duas moléculas de ATP. importante! Observe que um único par de elétrons transportado sequencialmente pelos Complexos I, III e IV, gera o fluxo de prótons para o espaço intermembrana, com a formação de uma molécula de água. Observe, a seguir, a equação que demonstra a redução do O2 a partir dos elétrons transportados pelo NADH. Ela libera 53,14 kcal de energia. UNIUBE 163 NADH + H + + ½O2 H2O + NAD + �G = - 53,14 kcal A energia necessária para a síntese de uma molécula de ATP, in vivo, corresponde a 12,51 kcal, muito maior que a energia livre padrão de 7,3 kcal necessárias para a síntese de ATP, a partir de ADP e Pi. Isto se dá porque as concentrações dos substratos na célula são diferentes do valor de 1 Mol/L que são utilizados no cálculo, além do que a temperatura intracelular é diferente de 25 graus Celsius, o pH nem sempre é 7,0, nem a pressão é 1 ATM (At- mosfera) constantemente (condições -padrão de temperatura, pressão e pH usadas no cálculo que gerou o valor teórico de 7,3 kcal). Dessa forma, a energia liberada pela redução do O2 pelos elé- trons transportados pelo NADH (53,14 kcal) é suficiente para a síntese de até quatro ATPs (53,14 / 12,51 = 4,25). Restam 3,1kcal, que são convertidos em energia térmica (calor). Esse calor é o que mantém a nossa temperatura ao redor de 37°C, mesmo que o ambiente esteja a uma tempe- ratura menor! Da mesma forma, a redução do O2, a partir do par de elétrons transportados pelo FADH2, libera energia livre na ordem de 36,71 kcal: FADH2 + ½O2 H2O + FAD+ �G = - 36,71 kcal. o que corresponde à energia suficiente para a síntese de quase três ATPs (36,7 / 12,51 = 2,93). De fato, vimos que é convencionado falar que o elétron carregado pelo FADH2 gera apenas 2 ATP. Em outras palavras, as reações entre o NADH e o FADH2 com o oxigênio mostram que energia livre não é problema para a síntese de ATP na mitocôndria, e estudos experi- mentais mostraram que há uma proporção de 3 moles de ATPs formados por cada mol de NADH oxidado (e 1 mol de O2 reduzido em H2O, posteriormente), da mesma forma que 2 moles de ATPs são formados para cada mol de FADH2 oxidado. Mol ou mole É a unidade que define a quantidade de matéria ou de uma substância. Equivale ao “constante de Avogadro”, que indica 6,022x1023 unidades (sejam elas moléculas ou outra entidade). Por exemplo, um mol de glicose é representado por 6,022x1023 moléculas desse açúcar. 164 UNIUBE Esse complexo fluxo de elétrons e bombeamento de H+, que culmina com a produção de ATP, é denominado “Hipótese Quimiosmótica”. Ela admite que os prótons bombea- dos para o espaço intermembranas, durante o fluxo de elétrons na cadeia respiratória, criam um gradiente de pH (com o espaço intermembranas mais ácido do que a matriz mitocondrial) e outro gradiente, com acúmulo de cargas positivas (devido à alta concen- tração de H+) no espaço intermembranas. A partir desses gradientes, há movimentação de prótons, agora no sentido do espaço intermembrana para a matriz mitocondrial, por meio de um complexo proteico denominado complexo V, que corresponde à enzima ATP sintase. Esse complexo recebe este nome justamente porque sintetiza ATP. Curio- samente, quando isolada da membrana mitocondrial interna, esta enzima catalisa a hidrólise de ATP em ADP e fosfato inorgânico (Pi), e não a síntese, mostrando que o contexto em que uma determinada proteína se insere (a membrana mitocondrial interna, nesse caso) afeta suas propriedades catalíticas. relembrando Quando os prótons são jogados pelos Complexos I, III e IV, para o lado de fora da matriz mitocondrial, há a formação de um potencial eletroquímico que favorece a passagem dos prótons de volta para a matriz por dentro do complexo V (ATP sintase). Nessa passagem, há a liberação de energia suficientemente capaz de promover a formação de 3 ATP, a partir da reação do fosfato inorgânico (Pi) com o ADP. Isso porque cada par de elétrons transportado pelo NADH produz um fluxo de 3 prótons para fora da mitocôndria, a entrada desses prótons pelo complexo V, enquanto os elétrons transportados pelo FADH2 produzem apenas 2 fluxos de prótons para fora da mitocôndria e, portanto, somente 2 ATPs são produzidos. Dessa forma, a cadeia respiratória corresponde a um passo fundamental e decisivo no processo de formação de energia química armazenada no ATP, uma vez que há uma grande produção de NADH e FADH2 nos processos exergônicos da célula. Um fato importante, entretanto, é que essa relação de 3 ATPs produzidos por cada NADH só é 100% verdadeira quando se trata de NADH produzido dentro da mitocôndria e que transfere seus elétrons para o Complexo I. Alguns NADH produzidos no citoplasma (como aqueles dois produzidos na glicólise) não entram na mitocôndria e têm que “entregar” seus elétrons para uma lançadeira na membrana interna para poder entrar na cadeia respiratória. Quando a lançadeira é o glicerol 3 Pi desidrogenase, uma proteína superficial da mem- brana interna da mitocôndria, os elétrons carregados pelo NADH citoplasmático são deixados direto no Complexo III, via ubiquinona, e não no Complexo I, como seria “normal”. Dessa forma, esses elétrons “pulam” o Complexo I e, com isso, um dos bom- beamentos de H+. Para efeitos práticos, eles se comportam de forma semelhante aos elétrons transportados pelo FADH2. Dessa maneira, quando há o transporte de elétrons do NADH citoplasmático via lançadeira do glicerol -fosfato, o transporte dos elétrons irá gerar somente 2 ATPs. UNIUBE 165 Porém, a maioria das vezes, o NADH citoplasmático transfere seus elétrons diretamente para o Complexo I, numa lançadeira denominada lançadeira do malato aspartato, com produção energética idêntica ao NADH mitocondrial (lançadeira do malato -aspartato). agora é a sua vez Busque na internet informações sobre a teoria segundo a qual as mitocôndrias eram células independentes, que passaram a viver em simbiose dentro de outras células. Indique, pelo menos, dois argumentos que apoiam essa hipótese. É de conhecimento de todos que não pode haver vida sem oxigênio. Com os conhecimentos que você adquiriu com o estudo desse capítulo, explique esse fato, baseando -se no papel desempenhado pelo oxigênio na cadeia respiratória e na necessidade de ATP originado desse processo. 4.3 Metabolismo de outras moléculas energéticas: gorduras e aminoácidos Sabemos que os seres vivos utilizam os carboidratos como fonte preferencial de energia, mas outras fontes também podem ser empregadas. Entre essas fontes, destacamos as gorduras e as proteínas, moléculas cujos componentes principais (ácidos graxos e aminoácidos, respectivamente) são também ricos em energia e podem ser utilizados nos processos vitais de obtenção de ATP para as atividades celulares. 4.3.1 Metabolismo de gorduras: visão geral As gorduras, especificamente os triacilgliceróis (ou triglicérides ou ainda triglicerídeos) estudados no capítulosobre biomoléculas, são formados pela união de três ácidos graxos a um glicerol. Essas moléculas são a principal reserva de energia de muitos organismos vivos, entre eles os mamíferos, incluindo -se a espécie humana. A obtenção de energia a partir dos triacilgliceróis começa pela separação entre os ácidos graxos e o glicerol. Os ácidos graxos são então submetidos a uma degradação seriada, que os transformará em várias moléculas de 2 carbonos, denominadas Acetil -Coenzima A, já apresentada no tópico anterior. Esse processo se chama beta ‑oxidação. Em se- guida, as moléculas de acetil -coenzima A serão oxidadas no Ciclo de Krebs, descrito anteriormente, e os elétrons (carregados pelo NADH e FADH2) serão encaminhados para a cadeia respiratória, também já estudada. Como vemos, exceto pela beta -oxidação, o metabolismo dos ácidos graxos compartilha as mesmas rotas usadas para metabolizar os carboidratos. Isso revela a estratégia básica do metabolismo, que é transformar todos 166 UNIUBE os substratos energéticos em acetil e, então, oxidá -lo no Ciclo de Krebs, encaminhando os elétrons para a cadeia respiratória. • Beta -oxidação de ácidos graxos Durante a beta -oxidação, os ácidos graxos são “quebrados” a cada 2 carbonos, gerando acetil. Nesse processo, que é uma oxidação, são liberados 1 NADH e 1 FADH2 para cada ligação de ácido graxo desfeita. Em seguida, as moléculas de 2 carbonos formadas (Acetil Coenzima A) entrarão no Ciclo de Krebs, gerando 3 NADH, 1 FADH2 e 1 ATP. Na Figura 19, mostramos as etapas e as moléculas energéticas liberadas pela oxida- ção de um ácido graxo saturado de 16 carbonos (ácido palmítico). Observe a intensa liberação de carregadores de elétrons NADH e FADH2, que faz da beta-oxidação uma via altamente energética. Figura 19: Esquema da oxidação de um ácido graxo, com as etapas envolvidas. Fonte: Desenho EAD-Uniube, adaptado de Geraldo Thedei Júnior (2010). UNIUBE 167 Quando tratamos de organismos tais como os mamíferos, os reservatórios de gordura são localizados no tecido adiposo, distantes, portanto, dos locais que necessitam de energia em grande quantidade, como, por exemplo, o músculo. Nesses casos, a energia armazenada nos triacilgliceróis deve ser transportada pelo sangue até os locais onde é necessária. Isso ocorre por um processo denominado mobilização de ácidos graxos, que engloba a degradação dos TAGs no tecido adiposo e o transporte dos ácidos graxos pelo sangue (ligados a uma proteína transportadora chamada albumina). Ao chegar em uma célula muscular, por exemplo, o ácido graxo penetra no citoplasma e, por meio de um sistema enzimático presente na membrana mitocondrial interna, denominado Sistema Carnitina Acil Transferase, ele adentra a matriz mitocondrial. Lá, como já mencionado, existem vários sistemas enzimáticos envolvidos no metabolismo, entre eles as enzimas que degradam os ácidos graxos, gerando o Acetil Coenzima A, que entrará no Ciclo de Krebs (Figura 20). Figura 20: Visão geral do metabolismo do ácido graxo. SCAT = Sistema Carnitina Acil Transferase. Fonte: Geraldo Thedei Júnior (2010). O Sistema Carnitina Acil Transferase (SCAT) permite a passagem do ácido graxo pela membrana mitocondrial interna, que como já dissemos anteriormente, é bastante imper- meável a qualquer tipo de molécula. Nele, o aminoácido carnitina (C) se liga ao ácido graxo (AG) e o complexo C -AG passa por dentro de uma proteína transportadora, indo para a matriz mitocondrial. Lá, o complexo C -AG se separa e a carnitina sai da matriz mitocondrial pelo mesmo caminho por onde entrou, pronta para se ligar a outro ácido graxo, reiniciando o processo, como é esquematizado na Figura 21. 168 UNIUBE Figura 21: Funcionamento do Sistema Carnitina Acil transferase (SCAT). Fonte: Geraldo Thedei Júnior (2010). O SCAT une, do lado externo da matriz mitocondrial, o ácido graxo à carnitina (1). O complexo AG -C atravessa então a membrana mitocondrial interna (2) chegando na matriz mitocondrial. Na matriz, o complexo AG -C é separado, liberando o AG para o metabolismo e a carnitina para retornar ao seu local de origem e reiniciar o ciclo (3). saiba mais Quando não há glicose disponível para o metabolismo corporal, o organismo emprega um tipo de combustível alternativo denominado “corpos cetônicos”. Essas moléculas são produzidas prin- cipalmente a partir dos ácidos graxos reservados no tecido adiposo, na forma de TAG. Quando necessário, esses TAGs são degradados, os ácidos graxos são encaminhados para o fígado e lá geram acetil, exatamente como descrito acima na beta oxidação. A diferença é que a maior parte do acetil gerado nessas circunstâncias (falta de glicose no sangue) não entra no Ciclo de Krebs, mas, sim, é transformado em uma molécula de 3 carbonos denominada acetona e 2 moléculas de 4 carbonos denominadas acetoacetato e hidroxibutirato. A acetona não pode ser utilizada e é excretada, mas as moléculas de 4 carbonos, ao chegarem em tecidos como o muscular, renal e até mesmo nos neurônios, são transformadas em Acetil Coenzima A e metabolizadas no ciclo de Krebs, estudado anteriormente. Esse fato demonstra a importância da reserva de tecido adiposo. Procure na literatura os inconvenientes da produção do corpos cetônicos e em que patologia comum sua produção é aumentada em muitas vezes, comprometendo, em casos extremos, a sobrevivência da pessoa. UNIUBE 169 4.3.2 Metabolismo de aminoácidos: visão geral Usualmente, os aminoácidos não são empregados como fonte de energia, mas havendo falta de combustíveis preferenciais, tais como a glicose, os aminoácidos podem ser recrutados para a obtenção de energia e sobrevivência do organismo. Outra situação que obriga o metabolismo desses compostos é quando há sobra de aminoácidos no organismo (por exemplo, após uma refeição muito rica em proteínas). Existem 20 tipos de aminoácidos compondo as proteínas, como já estudamos ante- riormente. Para cada um desses 20 aminoácidos, existe uma rota metabólica específica, que pode transformar esses aminoácidos em compostos utilizáveis para liberação de energia para as atividades celulares (quando falta glicose, por exemplo) ou armazenamento na forma de gordura (no caso de excesso de aminoácidos ingeridos, por exemplo). Sempre que for necessário degradar um aminoácido, seja para obtenção de energia, seja para o armazenamento do excedente de aminoácidos como gordura, é necessária a remoção do grupo amino, numa reação denominada desaminação. Esse processo gera amônia, que é um composto bastante tóxico. A amônia deve então ser transformada em um composto menos tóxico, denominado ureia, para poder ser então excretada. A remoção do grupo amino de um aminoácido gera, então, um composto carbônico denominado alfa cetoácido. Esse alfa cetoácido será metabolizado. Para facilitar o estudo, dividiremos os aminoácidos em dois grupos: os denominados glicogênicos e os denominados cetogênicos. Formação da ureia Nosso organismo não dispõe de um sistema ou molécula es- pecializada no armazenamento de nitrogênios. Assim sendo, quando um aminoácido é degradado, seu grupo amino pode ser (i) utilizado para formar outro aminoácido (transaminação), (ii) utilizado para formar um composto nitrogenado não amino- ácido ou, então, (iii) deve ser eliminado. Neste caso, o grupo amino deve ser transformado em ureia, tendo em vista que a amônia, gerada pela remoção simples do grupo amino de um aminoácido qualquer, é bastante tóxica. A ureia é produzida no fígado, em uma via metabólica denomi- nada ciclo da ureia. Resumidamente, o ciclo da ureia inicia -se na matriz mitocondrial pela união de uma molécula de amônia a um CO2, formando o carbamoil fosfato, que se unirá à molécula chamada ornitina, dando início ao ciclo. Ao longo do ciclo, outra Transaminação Reação onde o grupo amino de um aminoácido é retirado de um aminoácido, por exemplo, e ligado a uma outra molécula, gerando outro composto nitrogenado diferentedo aminoácido original. 170 UNIUBE amônia será incorporada e, ao final, a ornitina será regenerada e a molécula de ureia será liberada, como mostra a Figura 22. Figura 22: Ciclo da ureia. A molécula de ureia é formada por dois nitrogênios e um carbono. Os dois nitrogênios são provenientes de duas moléculas de amônia (que, por sua vez, foram geradas na desaminação de aminoácidos). E o carbono vem da molécula de CO2. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Metabolismo dos alfa ‑cetoácidos Como dissemos, ao se remover o grupo amino de um aminoácido, o esqueleto carbônico restante recebe a denominação de “alfa -cetoácido”. Existem dois tipos de alfa -cetoácidos: os glicogênicos e os cetogênicos. Os glicogênicos recebem essa denominação por poderem ser utilizados como matéria- -prima em um processo denominado gliconeogênese ou neoglicogênese, já comentada anteriormente. Esses alfa -cetoácidos irão, então, gerar glicose, como uma maneira de obter esse precioso combustível num período de jejum, quando a glicose não está disponível pela alimentação. Já os alfa -cetoácidos denominados cetogênicos recebem essa de- nominação por gerarem corpos cetônicos (já mencionados anteriormente) durante o período e jejum. Observe, então, que a denominação glicogênico ou cetogênico é dada em função do destino que os alfa -cetoácidos (gerados pela remoção do grupo amino de seus respec- tivos aminoácidos) irão gerar no período de jejum. UNIUBE 171 Durante o período denominado absortivo, ou pós -refeição, quando há glicose vinda da alimentação, não é necessária a produção de glicose ou de corpos cetônicos. Então, nesse caso, os aminoácidos excedentes da dieta vão sofrer desaminação (pois, como dissemos não há como armazenar aminoácidos) e os alfa cetoácidos restantes serão empregados na formação de gorduras (triacilgliceróis, ou TAGs), independente de serem classificados como glicogênicos ou cetogênicos. Então, temos: • No estado de jejum: aminoácidos glicogênicos sofrem desaminação e geram glicose. Aminoácidos cetogênicos sofrem desaminação e geram corpos cetônicos. • No estado absortivo: aminoácidos glicogênicos e cetogênicos sofrem desaminação e geram gordura (TAGs). Resumo A obtenção de energia é uma atividade essencial para todos os seres vivos, uma vez que sem energia não é possível a manutenção da vida. Alguns seres vivos podem ob- ter energia diretamente do Sol, enquanto outros dependem de combustíveis celulares especiais, representados por compostos orgânicos complexos, tais como carboidratos e gorduras, para obterem a energia necessária para a manutenção de suas atividades. Este capítulo abordou o metabolismo celular, que é o conjunto de reações químicas responsáveis pela manutenção da célula, qualquer que seja ela. Essas reações envol- vem a liberação da energia presente nos combustíveis celulares e sua utilização nas atividades celulares, tais como o transporte e a síntese de compostos imprescindíveis ao seu funcionamento. Aqui também observamos impressionantes similaridades entre seres vivos muito dife- rentes: a mesma sequência de 10 reações da via glicolítica, que inicia a degradação da glicose nas células, é praticada tanto por bactérias quanto por neurônios humanos. Descrevemos, neste capítulo, as vias de degradação dos carboidratos, gorduras e ami- noácidos, bem como o processo de síntese da glicose conhecido como gliconeogênese, processos metabólicos importantes para a maioria dos seres vivos. 172 UNIUBE Referências CHAMPE, Pámela C.; HARVEY, Richard. A Bioquímica Ilustrada. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Biologia Celular e Molecular. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1995. NELSON, David L.; COX, Michael M.; LEHNINGER, A. L. Princípios de Bioquímica. New York: Worth Publishers, 2000. André Luís Teixeira Fernandes / Valeska Guimarães Rezende da Cunha INTRODUÇÃO Sabemos que o estudo é fundamental na vida das pessoas e por meio dele buscamos alcançar os diversos tipos de conhecimento, que serão aplicados em inúmeras situações de nossa vida. Durante sua formação escolar, você encontrará exigências, obstáculos e desafios que o(a) farão ter uma nova postura diante dos estudos. Daí a necessidade de você repensar e avaliar a forma como vem estudando até agora. Muitos(as) alunos(as), apesar de seu esforço, não conseguem obter o sucesso escolar que estaria ao seu alcance, pois trabalham com métodos inadequados. A obtenção de bons resultados escolares, que é o objetivo de todos os estudantes, consegue-se com métodos e estratégias de estudo eficazes. A princípio, é preciso que você se conscientize de que o resultado de todo o processo depende de você mesmo(a), ao assumir uma postura com maior autonomia para a efetivação da aprendizagem. Além disso, você deve empenhar-se num projeto de estudo altamente individu- alizado, apoiado no domínio e na manipulação de uma série de instrumentos, que o(a) auxiliarão na organização de sua vida de estudo e na disciplina de sua vida acadêmica. Neste capítulo, você encontrará orientações para a organização de seus estudos e sobre a melhor forma de registro de sua aprendizagem. Posterior- mente, será orientado aos procedimentos necessários para a leitura e estudo dos textos acadêmicos. Você verá como esses textos são organizados, os procedimentos adequados para a leitura desse tipo de texto e as diversas formas de registro de seus estudos. E, no final do capítulo, você aprenderá as normas para a elaboração e apresentação de trabalhos acadêmicos, utilizando corretamente as formatações de acordo com aquilo que a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) estabelece. Concepções e fatores que intervêm no desenvolvimento humano Capítulo 1 Geraldo Thedei Júnior Introdução Apresentaremos, a seguir, um dos mais fantásticos processos da natureza: a fotossíntese. Esse processo, realizado por um seleto número de espécies vivas, consegue transformar a energia solar em energia química, aproveitável para realização de processos celulares, como a biossíntese de compostos orgânicos, transporte ativo etc. Graças a esse processo, o oxigênio foi produzido e permitiu, em eras passa- das, o surgimento dos organismos que realizam o processo de “respiração celular”, estudado no Capítulo 4. Dentre os organismos que surgiram, estamos nós, seres humanos, para os quais o oxigênio é um elemento indispensável, e sem o qual sobreviveríamos por apenas alguns minutos. Os organismos fotossintetizantes estão na base da pirâmide alimentar, pois são os produtores dos quais os herbívoros se alimentam, e, assim, sucessi- vamente, mantendo toda a cadeia alimentar. Você deve estar se perguntando por que estudar a fotossíntese. O título desse capítulo responde a esse questionamento. Sem fotossíntese, como colocamos anteriormente, não existe oxigênio nem existe matéria or- gânica básica para alimentação dos seres vivos. Entender o processo é imprescindível, também, do ponto de vista ecológico: o gás carbônico, um dos causadores do efeito estufa, é sequestrado pelos vege- tais que, por fotossíntese, absorvem esse gás, proporcionando e mantendo -o permanente, para a manutenção da vida como a conhecemos. Fotossíntese: a luz da vida Capítulo 5 174 UNIUBE Objetivos Ao final deste capítulo, você deverá ser capaz de: • analisar e compreender alguns dos fenômenos físicos que ocorrem nos vegetais durante a absorção da luz; • comparar fenômenos bioquímicos envolvidos durante o processo de construção de moléculas energéticas, assim como seu consumo; • analisar a relação entre a produção e consumo de energia nos vegetais e nos ecossistemas. Esquema 1O momento: Introdução à fotossíntese 2O momento: O ciclo energético na natureza 3O momento: Uma visão do ciclo do carbono na natureza 5.1 Introdução à fotossíntese Para a manutenção da vida, uma constante oferta de energia é requerida. Uma dife- rença fundamental entre plantas e animais é a formas como é obtida a energia paraessa manutenção. Os animais (como todos os organismos heterotróficos) obtêm dos alimentos, compostos orgânicos, que serão usados para a obtenção de energia química por meio do processo da respiração celular. Já as plantas verdes (organismos autotróficos) absorvem energia luminosa do sol, convertendo -a em energia química por meio do processo da fotossíntese. Essa con- versão de energia, possibilitada a partir da captura da irradiação solar e sua utilização na síntese de compostos orgânicos, é um processo complexo e o seu impacto sobre o meio ambiente é tema de estudo para fisiologistas, agrônomos, biólogos, entre outros. UNIUBE 175 saiba mais Autotróficos e heterotróficos Autotrofismo (grego trofein, alimentar -se), em biologia, é o nome dado à qualidade do ser vivo de produzir seu próprio alimento a partir de material inorgânico, por meio de fotossíntese ou quimiossíntese. O oposto de heterotrofismo. Os seres vivos com essa característica são chamados de autótrofos ou autotróficos. Sendo assim, o estudo da dependência e impacto da fotossíntese no ambiente implica estudos mais aprofundados que irão envolver o entendimento da relação entre a oferta de energia luminosa e a utilização do gás carbônico pelos organismos fotossintetizantes. saiba mais Na Antiguidade Aristóteles havia observado e descrito que as plantas necessitavam de luz solar para adqui- rir a cor verde. Mas, somente em 1771, o estudo do processo fotossintético começou a ser realizado. Um químico inglês, confinando uma planta numa redoma de cristal, comprovou a produção de uma substância que permitia a combustão, e que, em certos casos, reacendia a chama de um carvão em brasa. Tempos depois, acabou -se descobrindo que a dita substância era um gás, o oxigênio, proveniente de um fenômeno bioquímico chamado fotossíntese. Além das plantas verdes, incluem -se entre os organismos fotossintetizantes certos pro- tistas (como as diatomáceas e as euglenoidinas), as cianófitas (algas verde -azuladas) e diversas bactérias. A fotossíntese é o processo por meio do qual as plantas, seres autotróficos (seres que produzem seu próprio alimento), transformam energia luminosa em energia química, processando o dióxido de carbono (CO2), água (H2O) e com o auxílio dos minerais, em compostos orgânicos e oxigênio gasoso (O2) (Figura 1). 176 UNIUBE Figura 1: Esquema representativo da fotossíntese em vegetais superiores, nos quais a energia solar associada aos elementos água e gás carbônico irão formar reservas de energia (carboidratos) para esses vegetais. Fonte: Acervo EAD-Uniube. 5.1.1 A fotossíntese: visão geral A captura da energia proveniente do Sol pelos organismos fotossintéticos e sua posterior conversão em energia química permitem que exista um balanço vital entre os seres autotróficos e heterotróficos (Figura 2). Figura 2: Absorção de luz pelas plantas superiores. Fonte: Acervo EAD-Uniube. UNIUBE 177 Na fotossíntese, ocorre a conversão de reagentes de baixa energia (H2O e CO2) em produtos de alta energia (NADPH e ATP) a partir da energia solar. Vimos que a cadeia respiratória ou cadeia transportadora de elétrons sintetiza ATPs a partir de um direcionamento de energia (elétrons) ao oxigênio (aceptor final de elétrons). No processo de fotossíntese esse fluxo de elétrons por trans- portadores especializados também vai ocorrer, porém dirigido pela energia luminosa. Apesar de sempre ser representada em uma única equação, a fotossíntese não ocorre apenas com uma única reação quí- mica. Na verdade, são duas etapas que se interligam e cada etapa depende de várias reações químicas sequenciais, como veremos a seguir. É costume dividir a fotossíntese em duas fases: a “fase clara” e a “fase escura”. Na primeira, a luz solar é capturada e utilizada para a síntese de ATP e NADPH nas membranas de uma organela especial denominada cloroplasto (Figura 3). Figura 3: Cloroplastos: assim como as mitocôndrias, os cloroplastos são considerados as usinas de energia nas células de vegetais superiores. Fonte: Acervo EAD-Uniube, adaptado de Nelson; Cox e Lehninger (2000). Cloroplastos Plastos são estruturas encontradas apenas em células de plantas e alguns protistas. São diferenciados em três classes: cloroplastos: que contêm clorofila ou carotenoides como pigmentos; cromoplastos: contém pigmentos carotenoides, mas não clorofila; leucoplastos: não possuem pigmentos, portanto são incolores. 178 UNIUBE Este processo depende de vários pigmentos, entre eles a clo- rofila, molécula especializada em capturar a energia luminosa (fóton de luz) emitida pelo sol. Além disso, esse processo libera o oxigênio como subproduto. Já na segunda fase (“fase escura”), os ATPs e NADPHs produzidos na fase clara são utilizados para a fixação de CO2 (no estroma do cloroplasto), reduzindo este gás e formando compostos orgânicos que serão empregados na síntese da glicose. A fase escura é também denominada “Ciclo de Calvin”, e o composto orgânico nele produzido, o gliceraldeído -3 -P, posteriormente será empregado na produção de glicose e outros carboidratos. Assim, resumidamente: Devemos nos lembrar sempre, para evitar confusão, de que os organismos fotossinte- tizantes, como todos os organismos, necessitam de energia para sobreviver. As plantas, por exemplo, realizam o processo de respiração celular exatamente como nós, mamíferos. No entanto, são capazes de realizar, também, a fotossíntese. A respiração celular, com processos tais como a glicólise, o Ciclo de Krebs e a cadeia respiratória, acontece todo o tempo, independentemente da presença ou ausência de luz. Já a fotossíntese só irá ocorrer se houver energia luminosa suficiente. parada para reflexão Você acha correto chamar a “fase escura” da fotossíntese por esse nome? Pela expressão, parece que ela não depende de luz para acontecer e, portanto, poderia ocorrer até mesmo à noite! Pense bem, lembrando -se de que os NADPHs e ATPs utilizados nela são provenientes das reações que dependem de luz (“fase clara”). Releia o texto introdutório anterior e elabore uma resposta para esse questionamento. Fixação do CO2 Processo em que o CO2 é transformado em compostos orgânicos que gerarão, posteriormente, a glicose. Estroma Matriz que preenche o cloroplasto, onde se localizam enzimas tais como as envolvidas na fixação do CO2. UNIUBE 179 5.1.1.1 Fase clara Como dissemos, a fase clara da fotossíntese é a responsável pela obtenção da energia química necessária para o processo de produção da glicose, a partir do CO2. Essa energia é repre- sentada pelo ATP e pelo NADPH. Se nos lembrarmos de nossos estudos sobre termodinâmica, vimos que a energia não pode ser criada nem destruída, mas apenas transformada. Em outras palavras, é necessário energia para se obter energia. Então, de onde vem a energia necessária para a obtenção dos ATPs e NADPHs empregados na produção de glicose? A fase clara da fotossíntese é a resposta para essa questão, como veremos a seguir. Podemos dividir a fase clara da fotossíntese em dois principais objetivos, realizados em duas etapas sequenciais: a absorção de luz e sua utilização na produção de energia química. A pri- meira etapa da conversão da energia solar em energia química é a absorção de luz. Para isso, pigmentos (tais como a clorofila) localizados em um complexo sistema de membranas que forma os cloroplastos ab- sorvem energia luminosa, permitindo a realização da segunda etapa da fase clara, que seria a fotofosforilação. Nesta etapa, semelhante ao que acontece na respiração celular, o fluxo de elétrons por meio de uma série de transportadores ligados à membrana culminará com a fosforilação do ADP (formando ATP), além da produção de uma molécula com alto potencial redox (capacidade de doar elétrons). saiba mais Clorofila Substância química semelhante ao grupo heme das hemáceas, é um pigmento de cor verde presente nos organismos fotossintéticos capazes de absorvera luz. Existem algumas diferentes variedades deste pigmento classificadas como a e b, presentes em plantas verdes e ciano- bactérias; e clorofila c e d, presentes em algas pardas, diatomáceas e em algas vermelhas. Luz Forma de energia radiante que possui características de partícula e onda ao mesmo tempo: onda eletromagnética e fótons. Alguns pigmentos como a clorofila são capazes de captar a energia presente na luz (fótons) e transferi -la para fotossistemas que realizará, em seguida, a conversão desta energia luminosa em energia química. Pigmentos Qualquer substância que absorve luz pode ser denominada pigmento. No caso específico da fotossíntese, alguns pigmentos são importantes na absorção da luz solar (captação de energia luminosa), como a clorofila, ficobilinas e alguns carotenoides. 180 UNIUBE O nome fotofosforilação surge da essência desse processo: fos- forilação (adição de fosfato ao ADP) dependente de luz (foto). Vamos, agora, estudar o processo da “fase clara” com um pouco mais de detalhe: Chamamos de “fase clara” as reações da fotossíntese que utilizam a luz, para a produção de moléculas energéticas que serão, posteriormente, utilizadas na fixação do CO2. A utilização da energia solar, representada pelos fótons de luz, para a produção de moléculas tais como o ATP e o NADPH é um processo complexo, que envolve uma variedade de molé- culas e reações químicas. Afinal, trata -se da conversão de um tipo de energia (eletromagnética, representada pelos fótons de luz) em outro tipo de energia (química, representada pelas moléculas de ATP e NADPH). A fase clara da fotossíntese ocorre, como já dissemos, nas membranas dos tilacoides que formam um complexo sistema de captura de luz solar nos cloroplastos. Nas membranas dos tilacoides, há dois tipos de agregados mo- leculares especializados na captura e conversão da energia lumi- nosa em química. Esses arranjos moleculares são chamados de centros de reação e funcionam juntos nessa transformação. Os dois tipos de centros de reação são denominados Fotossistema I (PI) e Fotossistema II (PII). Neles, moléculas de clorofila se as- sociam a outros pigmentos e enzimas para realizar um dos mais fenomenais processos da natureza, que é a utilização da energia solar para produzir moléculas energéticas (ATP e NADPH). O fotossistema I ocorre isoladamente apenas nas bactérias fotossintetizantes, enquanto a associação de fotossistema I e II ocorre nos demais organismos fotossintetizantes, tais como as plantas superiores, as algas e as cianobactérias. Vamos olhar em profundidade o funcionamento dos fotossiste- mas e seu papel na síntese do ATP e do NADPH. O processo começa quando os pigmentos que compõem o PII (também chamado P680 pelo comprimento necessário para sua excitação) capturam um fóton de luz. Esse fóton será conduzido até o centro de reação do PII, onde moléculas de clorofila, outros pig- mentos e proteínas darão início a um processo de transformação da energia luminosa em energia química (Figura 4). Tilacoide Discos achatados, presentes dentro dos cloroplastos que estão repletos de clorofila. Eles se organizam dentro dos cloroplastos formando estruturas semelhantes à pilhas de moedas. Cada “pilha” formada recebe o nome de granum e o conjunto destes granum recebe o nome de grana. Os elétrons irão formar um gradiente dentro da tilacoide que será extrusionado por uma enzima (ATP sintase) que, ao realizar este trabalho, concomitantemente irá formar ATPs. Centro de reação Conjunto de moléculas envolvidas no processo fotossintético, responsáveis, entre outras atividades, pela recepção do fóton de luz e sua utilização na produção de ATP/ NADPH. UNIUBE 181 Especificamente, uma molécula de clorofila, após a excitação pelo fóton, irá perder um elétron, que será capturado por outro receptor, dando início a uma cadeia transporta- dora de elétrons semelhante àquela descrita na respiração celular. Esse transporte de elétrons cria um gradiente de H+ do mesmo modo que ocorreu na cadeia transportadora de elétrons e culmina com a síntese de ATP (Figura 4). Uma diferença é quanto ao destino dos elétrons nesse processo: enquanto na cadeia respiratória os elétrons terminam no oxigênio, formando água, na fotofosforilação os elétrons serão receptados pela clorofila do PI, que teve seu elétron excitado e removido por um segundo fóton (Figura 4). O elétron originalmente presente no PI será transportado por outra cadeia de transporte de elétrons, chegando ao NADP+ e formando NADPH, como mostra a Figura 4, uma representação conhecida como “esquema Z”, pelo seu desenho. Figura 4: “Esquema Z” para representação da etapa clara da fotossíntese. Fonte: Geraldo Thedei Júnior (2010). Os elétrons são excitados por fótons de luz tanto no PII quanto no PI. Os elétrons do PII serão transportados por transportadores localizados na membrana do tilacoide à semelhança da cadeia respiratória, gerando um bombeamento de H+ que culminará com a síntese de ATP. Os elétrons que deixaram o PII irão repor, no PI, o elétron removido pela luz e que irá terminar no NADP+ formando NADPH. O elétron do PII será reposto após a reação de fotólise da água, que libera como subproduto o oxigênio. As setas cheias representam o caminho do processo cíclico, que envolve apenas o PI. 182 UNIUBE Vamos, então, rever o processo: o PI perdeu seu elétron que foi capturado pelo NADP+, formando NADPH. O elétron perdido pelo PI será reposto pelo elétron que deixou o PII, também excitado por fóton. Mas quem irá repor o elétron perdido pelo PII? Esse problema também é resolvido com a participação da luz: a água, mediante uma ração denominada fotólise, é rompida, liberando elétrons que irão repor o elétron perdido pelo PII. Esse processo libera também 2H+ e oxigênio como “subprodutos”, como mostra a Figura 4. O processo descrito anteriormente é conhecido também como fotofosforilação acíclica (ou não cíclica) em oposição ao processo conhecido como fotofosforilação cíclica, que não conta com a participação do PII. Nesse processo, os elétrons excitados do PI são desviados de volta para a cadeia transportadora de elétrons e retornam para o próprio PI, sem atingir o NADP+, como mostra a Figura 4. Esse fluxo cíclico de elétrons leva só ao bombeamento de prótons. Esse gradiente de prótons impulsiona, então, apenas a síntese de ATP, sem a formação concomitante de NADPH e oxigênio, já que não tem a participação do PII. Assim, temos: • fotofosforilação cíclica: envolve só o PI e produz apenas ATP. Não libera O2; • fotofosforilação acíclica: envolve o PI quanto o PII e produz ATP e NADPH. Libera O2 com a fotólise (quebra) da água. Como dissemos anteriormente, o processo de síntese de ATP nos cloroplastos é muito semelhante àquele descrito para a síntese de ATP na cadeia respiratória: o fluxo de elétrons gera um bombeamento de H+ que impulsiona a síntese de ATP ao retornarem ao seu local de origem, como mostra a Figura 5. Figura 5: Cadeia de transporte de elétrons presente na membrana tilacoide. Fonte: Acervo EAD-Uniube, adaptado de Nelson; Cox e Lehninger (2000). UNIUBE 183 Basicamente, a fase clara envolve dois processos distintos: • fotofosforilação: em que ao ADP é adicionado fosfato, formando ATP. Nesse pro- cesso, a energia luminosa, captada pelos pigmentos presentes nas membranas dos tilacoides, é convertida em energia química (ATP). Esta será a energia utilizada na fase escura. • fotólise da água: quebra de uma molécula de água por meio da luz, liberando elé- trons utilizados para repor as lacunas deixadas nos fotossistemas após a excitação da clorofila pela luz, hidrogênios para a construção de NADPH a partir de NADP+ e formando, como subproduto, o oxigênio. sintetizando... Em resumo, a luz absorvida pela clorofila e transportada até o centro reacional é convertida em energia elétrica (fluxo de elétrons), que, por sua vez, é convertida em energia químicaque ficará armazenada nas ligações químicas das moléculas de ATP e NADPH. parada obrigatória Os estudos indicam que, há milhões de anos, quando a vida surgiu no nosso planeta, a atmosfera do planeta Terra era praticamente desprovida de oxigênio. As primeiras formas de vida, dessa maneira, não podiam contar com a presença desse gás como nós podemos hoje. Pesquise na internet quais teorias tentam explicar o surgimento do oxigênio na nossa atmosfera. Sem oxigênio, como os primeiros seres vivos deveriam obter energia para seus processos vitais? 5.1.1.2 Fase escura (reações de fixação do carbono) Nesta etapa do metabolismo dos organismos fotossintetizan- tes, as moléculas energéticas produzidas na fase clara (ATP e NADPH) serão empregadas para a fixação do gás carbônico. Essa etapa, apesar de ser independente da luz, não irá ocorrer no escuro, pois necessita do ATP e do NADPH produzidos na fotofosforilação. Nesta fase escura, também chamada de Ciclo de Calvin, há, então, a formação de moléculas orgânicas mais complexas, usando como energia o ATP e o NADPH produzidos na fase clara, conforme a equação a seguir: Calvin Melvin Calvin (1911 -1997), da Universidade da Califórnia, e seus colegas receberam o prêmio Nobel pelos seus elegantes experimentos, ocorridos na década de 50, envolvendo as reações fotossintéticas. 184 UNIUBE O Ciclo de Calvin (Figura 6) é a fase não luminosa da fotossíntese, que ocorre no es- troma, massa amorfa do cloroplasto que envolve os tilacoides. Figura 6: Ciclo de Calvin. Veja o texto para mais detalhes. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Vamos analisar as reações do Ciclo de Calvin para entender o processo de fixação do CO2 nos organismos fotossintetizantes. O ciclo se inicia quando o dióxido de carbono (CO2) combina -se com uma pentose chamada ribulose difosfato (RuDP), sendo então incorporado a um composto orgânico que, no entanto, é altamente instável. A enzima que promove a carboxilação (adição do CO2) à ribulose é denominada ribulose -1,5 -difosfato carboxilase, ou simplesmente rubisco (veja o número 1 da Figura 6). Devido a sua instabilidade, o composto orgânico de 6 carbonos formado pela carbo- xilação da ribulose se quebra imediatamente, sendo então formadas duas moléculas de fosfoglicerato ou ácido fosfoglicérico (PGA ou 3 -fosfoglicerato), constituído por 3 carbonos cada uma (veja o número 2 da Figura 6). UNIUBE 185 Estas moléculas de ácido fosfoglicérico são fosforiladas pelo ATP e, posteriormente, reduzidas pelo NADPH, formando o aldeído fosfoglicérico (PGAL ou gliceraldeído 3 -fosfato), como mostra a Figura 6 (números 3 e 4). Este ponto é importantíssimo no ciclo: parte do gliceraldeído -3 -fosfato gerado será re- convertida a RuDP (veja o número 5 da Figura 6) e parte será utilizada para a produção de glicose, como veremos no exemplo a seguir (número 6 da Figura 6). Para facilitar o entendimento, vamos então fazer a contabilidade de uma volta do Ciclo de Calvin iniciando com 3 moléculas de RuDP, lembrando que cada uma delas tem 5 carbonos: a) iniciamos o ciclo com 3 moléculas de RuDP (15 carbonos, portanto) que vão se unir, cada uma, a 1 CO2, formando 3 moléculas instáveis de 6 carbonos (18 carbonos no total). Essa reação é feita por uma enzima denominada RUBISCO; b) as 3 moléculas de 6 carbonos se quebram ao meio, gerando 6 moléculas de 3 carbonos denominadas PGA ou fosfoglicerato ou ácido fosfoglicérico (observe que ainda continuamos tendo 18 carbonos, porém arranjados de maneira diferente); c) as 6 moléculas de 3 PGA serão fosforiladas pelo ATP e reduzidas pelo NADPH, gerando 6 moléculas de gliceraldeído -3 -fosfato (continuamos com 18 carbonos!); d) das 6 moléculas de gliceraldeído -3 -fosfato formadas, 1 (3 carbonos, portanto) será retirada do ciclo para ser posteriormente empregada na produção de glicose. As outras 5 (15 carbonos, portanto) serão rearranjadas novamente em 3 moléculas de 5 carbonos, podendo reiniciar o ciclo. Lembre -se de que o ciclo iniciou -se exatamente com 15 carbonos. Devemos lembrar nesse momento a importância da fase clara na fotossíntese, pois a produção de ATP e NADPH é realizada nessa fase, e estas substâncias são fonte de energia primária para a fixação do carbono (ciclo de Calvin). Observe, dessa forma, que a fotossíntese, formada pelas etapas clara e escura, só acontece durante o período em que há luz disponível para gerar as moléculas de ATP e NADPH necessárias para a fixação do CO2. Na ausência de luz suficiente para esse processo, os organismos autotróficos têm que recorrer aos mecanismos utilizados pelos organismos heterotróficos para produzir ATP, ou seja, utilizar as vias de degradação já estudadas, tais como: glicólise, Ciclo de Krebs e fosforilação oxidativa. 186 UNIUBE 5.1.2 Uma “falha imperdoável” Estamos tão acostumados a ver os processos celulares quase beirando à perfeição que falar em “falha” nesses processos soa estranho. Um processo que ocorre na fo- tossíntese ilustra a ocorrência de “falhas” nos processos biológicos. A enzima rubisco pode acrescentar tanto CO2 quanto O2 à ri- bulose 1,5 bisfosfato. Se ocorrer a adição do CO2, o processo ocorrerá da forma como estudamos e o Ciclo de Calvin se processará normalmente. No entanto, se for adicionado o O2, o Ciclo de Calvin será impedido de ocorrer e várias reações químicas terão que ser empregadas para “corrigir” o erro da rubisco. A adição “por en- gano” de O2 ao invés de CO2 na molécula de ribulose gera um fenômeno conhecido como “fotorrespiração”, tendo em vista que emprega oxigênio. A fotorrespiração é um processo dependente de luz e, em re- lação à produtividade, é um processo que reduz a fixação de CO2 e o crescimento das plantas. Atualmente, sabe -se que o processo fotorrespiratório é im- portante para remover o excesso de energia (ATP e NADPH) produzido sob altos níveis de radiação solar ou não utilizado sob situação de estresse hídrico. Na fotorrespiração, são consumidos 7 ATPs e 4 NADPHs, para cada molécula de CO2 fixada ou liberada. Dessa forma, a fotorrespiração teria como função dissipar o excesso de ATP e NADPH, produzidos na etapa luminosa da fotossíntese, protegendo a planta da fotoinibição, e permitindo uma rápida recuperação após o período de estresse. 5.1.3 Metabolismo das plantas C4 O mecanismo proposto por Calvin não representa o único mecanismo utilizado pelas plantas verdes para fixação de CO2. Vegetais, como a cana -de -açúcar e outros vegetais de origem tropical, chamaram a atenção de um grupo de pesquisadores, que determinaram que o PGA (fosfoglicerato, com 3 carbonos) não era o primeiro produto fotossintético destes vegetais. A partir daí, outros estudos vieram a revelar que um grupo de vegetais, que incluía também o milho, sintetizava um produto de 4 carbonos (ácido oxalacético) no início da fixação do CO2 e não uma molécula de 3 carbonos, como descrevemos anteriormente. Fotorrespiração É o processo pelo qual os tecidos fotossintetizantes liberam CO2 com maior intensidade na luz do que no escuro, sendo que a respiração ocorre continuamente, tanto no período iluminado quanto no não iluminado. É um fenômeno que ocorre nos peroxissomos, havendo a liberação de CO2 na luz. É funcional e metabolicamente ligado à fotossíntese, envolvendo a oxidação de carboidratos, mas NÃO produz ATP nem NADP reduzido (NADPH). UNIUBE 187 Assim, as plantas que utilizam esta rota metabólica foram denominadas “plantas C4”, distinguindo -as das que sintetizam inicialmente uma molécula de 3 carbonos e, por isso, chamadas de “plantas C3”. Nas plantas denominadas C4, o dióxido de carbono é inicialmente ligado ao fosfo- enolpiruvato (PEP), por uma enzima denominada PEP carboxilase, para produzir o oxaloacetato, um composto de quatro carbonos (Figura 7). O oxaloacetato é rapidamente convertido em malato ou aspartato, por meio dos quais o CO2 é transferido para o RuBP dando início ao ciclo de Calvin, que se processado mesmo modo como descrevemos anteriormente para as plantas C3. Células do Mesófilo Ar atmosférico Células da bainha vascular Figura 7: Via fotossintética das plantas C4. 3PG = 3Fosfoglicerato. Fonte: Acervo EAD-Uniube, adaptado de Nelson; Cox e Lehninger (2000). As plantas C4 apresentariam algum tipo de vantagem sobre as plantas C3? Nas plantas C4, a fixação do CO2 ocorre nas células do mesófilo, enquanto o Ciclo de Calvin ocorre nas células envoltórias do feixe vascular. Isso permite que as plantas C4 utilizem mais eficientemente o CO2 do que as plantas C3, em parte porque a PEP carboxilase não tem afinidade pelo O2 (como a rubisco possui), reduzindo assim a ocorrência de fotorrespiração. Em outras palavras, o mecanismo empregado pelas plantas C4 possibilita que essas plantas capturem o CO2 mais eficientemente. Lembre -se de que a fotorrespiração ocorre porque a rubisco não consegue distinguir bem o CO2 do O2, levando -a a unir o oxigênio à ribulose no lugar onde ela deveria ligar o CO2. 188 UNIUBE Esse processo é minimizado nas plantas C4 tanto porque a PEP -carboxilase não faz esse tipo de confusão (entre O2 e CO2) quanto porque nas plantas C4 o ciclo de Calvin fica restrito às células envoltórias do feixe, um local onde a presença do O2 é menor, gerando menor competição entre esse O2 e CO2 pelo sítio ativo da rubisco. Nas plantas C4, apenas a “captura” do CO2 ocorre nas células do mesófilo, já que o Ciclo de Calvin fica, como dissemos, restrito às células envoltórias do feixe vascular. Como as plantas C4 evoluíram, inicialmente, nas regiões tropicais, elas são especial- mente adaptadas a condições ambientais caracterizadas por altas intensidades lumi- nosas, temperaturas elevadas e à seca e, consequentemente, diferentes das plantas C3. A fotossíntese das plantas C4 é muito maior do que a fotossíntese das plantas C3. Anatomicamente, as plantas C4 diferem das C3 (Figura 8). Além disso, fatores ambien- tais fizeram com que estes vegetais se especializassem em relação ao seu hábitat. Figura 8: Comparação anatômica das plantas C3 (A) e C4 (B). Fonte: Acervo EAD-Uniube. Assim, nas plantas C4, o dióxido de carbono é capturado, inicialmente, pelo fosfoenolpi- ruvato (PEP - 3 carbonos), produzindo o ácido oxalacético (ou oxalacetato, 4 carbonos). Este ácido é, então, convertido em ácido málico ou aspártico, que irá transferir o CO2 para a ribulose -1 -5 -difosfato do Ciclo de Calvin (Figura 7). Estes diferentes modos de capturar o CO2 atmosférico faz com que as plantas C3 sejam menos eficientes que as C4. Um processo descrito como fotorrespiração. 5.1.4 Metabolismo ácido das crassuláceas Outra forma de fixação do CO2 é a empregada por um grupo de vegetais denominados “crassuláceas”. Nelas, um processo denominado “metabolismo ácido das crassuláceas” fixa o CO2 durante o período sem luz em um composto com 4 carbonos. UNIUBE 189 Esse composto, o ácido málico, irá liberar o CO2 para os processos fotossintéticos durante o dia, já que só na presença de luz haverá ATP e potencial redutor (NADPH) suficiente para o processo de produção de glicose. Essa estratégia tem relação ao hábitat dessas plantas: locais de clima muito quente, com alta intensidade luminosa e com restrição de água. Perceba, na Figura 9, que, durante o dia, pelo excessivo calor e para minimizar a consequente perda de água, essas plantas mantêm seus estômatos fechados. Isso minimiza a possibilidade de captura do CO2, necessário para a produção da glicose, mas é necessário para evitar a perda de água, como dissemos. Já durante a noite, com a temperatura ambiente mais amena, seus estômatos se abrem a fim de captar o CO2 atmosférico. Este CO2 capturado será convertido a ácido málico e armazenado para, durante o dia, ser sintetizado a piruvato e, posteriormente, em amido ou sacarose, após sua fixação no Ciclo de Calvin. Figura 9: Metabolismo ácido das crassuláceas (CAM). Fonte: Acervo EAD-Uniube. A fixação de CO2 ocorre à noite, evitando a perda de água através dos estômatos, que ficam abertos somente durante este período, quando a temperatura é mais baixa. As crassuláceas possuem um mecanismo que lhes permite melhorar sua eficiência no uso da água. Tipicamente, essas plantas perdem, aproximadamente, de 50 a 100 gramas de água para cada grama de CO2 obtido. 190 UNIUBE Em contrapartida, as plantas C3 e C4 perdem, aproximadamente, 250 a 300 gramas e 400 e 500 gramas de água, respectivamente, após a obtenção de uma mesma quan- tidade de CO2. Portanto, percebe -se claramente que as crassuláceas possuem uma vantagem extremamente competitiva, sobressaindo -se em ambientes secos, como no caso dos desertos. saiba mais Vamos saber um pouco mais sobre crassuláceas? Uma importante adaptação bioquímica também é observada nestas plantas crassuláceas. Seus estômatos (estruturas se- melhantes a botões presentes nas folhas, que se abrem para a obtenção de gases e transpiração vegetal) não ficam aber- tos durante o dia, impedindo, com isso, a perda de água pela transpiração. Assim, para a fotossíntese, estas plantas captam CO2 através dos estômatos durante a noite, quando as temperaturas são mais amenas, e o armazenam na forma de ácido málico nos vacúolos. Durante o dia, esse ácido málico é utilizado para liberar CO2, que, com o auxílio da energia obtida pelo sol, é fixado na planta formando carboidratos, como a glicose. Este processo especial de fotossíntese nestas plantas é chamado de Metabolismo Ácido das Crassuláceas (Crassulacean Acid Metabolism – CAM). parada obrigatória Procure em livros, revistas e internet outros exemplos de plantas C4. O que elas têm em comum, como grupo vegetal? Procure as reações que descrevem o processo de fotorrespiração e monte um esquema ilustrativo desse processo. Procure exemplos de plantas que realizam o “metabolismo ácido das crassuláceas” e veja o que elas têm em comum com relação ao hábitat em que vivem. CAM Esta abreviatura vem das palavras inglesas Crassulacean Acid Metabolism, que significa metabolismo ácido das crassuláceas. Esse termo ácido se deve a um acúmulo substancial de ácido málico, produto da assimilação do CO2 atmosférico, que tem sido denominado, também, de acidificação noturna da folha. UNIUBE 191 5.1.5 Síntese de amido e sacarose O amido é um carboidrato insolúvel e estável, utilizado como reserva, na maioria das plantas; já a sacarose é a principal forma de transporte de carboidratos na planta, por meio do floema. O amido tem estrutura muito parecida com o glicogênio, em- bora seja menos ramificado. Sua síntese ocorre no interior dos cloroplastos, partindo das moléculas de 3 carbonos liberadas pelo Ciclo de Calvin (Figura 10). Duas moléculas de 3 carbonos são usadas para produzir a frutose -1,6 -bifosfato (6 carbonos), que é usada na síntese do amido, um polímero de glicose. Já a sacarose é produzida no citosol, empregando, como no caso do amido, das trioses liberadas pelo Ciclo de Calvin (Figura 10). Figura 10: Síntese de sacarose e amido. Veja o texto para detalhar essas informações. Fonte: Acervo EAD-Uniube. A síntese de sacarose no citoplasma compete com a de amido nos cloroplastos. O controle que ocorre entre a síntese de amido ou de sacarose é um processo regulado de modo competitivo nos vegetais. Amido Um carboidrato polimérico constituído pela união de moléculas de glicose, que existe como reserva em sementes, tubérculos e raízes. As culturas agrícolas que são fontes de amido para uso industrial incluem: o milho (como fonte principal), seguido do trigo e da batata. Sacarose Também conhecida como açúcar de mesa, é um tipo de carboidrato (dissacarídeo) constituído por uma molécula de glicose e uma de frutose. É produzida pela planta ao realizar o processo de fotossíntese. A sacarose é amplamente distribuída entre as plantas superiores. Encontra -se na cana- -de -açúcar (Sacharum officinarum) e na beterraba(Beta vulgaris). É de sabor adocicado e a sua fermentação por leveduras é muito utilizada comercialmente. 192 UNIUBE Como a sacarose é sintetizada no citosol, a triose fosfato destinada para isso deve vir do cloroplasto. Ao mesmo tempo, a síntese de ATP no cloroplasto requer um suprimento de fosfato vindo do citosol. Quem faz essa troca é uma enzima (translocador de fosfato – TPi na Figura 10). Se há síntese de sacarose no citoplasma, há liberação de fosfato, ou fósforo inorgânico (Pi), que é trocado por triose do cloroplasto. Desse modo, reduz -se a triose disponível para a síntese de amido no cloroplasto (Figura 10). As enzimas -chaves na biossíntese de sacarose no citoplasma são a sacarose fosfato sintase (SPS) e a frutose -1,6 -bisfosfatase (Figura 10). No cloroplasto, a enzima -chave na síntese de amido é a ADP -glicose pirofosforilase. Esta última enzima é inibida por Pi (fosfato inorgânico). Se o nível de Pi é alto no cito- sol, ele será trocado por triose fosfato para síntese de sacarose e a síntese de amido será inibida. • Sínteses energéticas baseadas no transporte de elétrons Finalmente, após abordarmos a respiração celular e a fotossíntese, é prudente que façamos uma correlação entre essas duas rotas metabólicas. Percebemos que a respiração celular ocorre basicamente com a finalidade de ob- termos energia química e transformá -la em carreadores úteis em nossas células (principalmente na forma de ATP, NADH), a partir de nutrientes, como os carboidratos. Já na fotossíntese, os vegetais se encarregam, também, de obter energia útil (ATP ou NADPH). O que diferencia basicamente estas vias metabólicas (fotossíntese e respiração celular) é que, para que haja respiração celular, nutrientes energéticos são necessários (carboidratos, por exemplo). Quanto à fotossíntese, os organismos inicialmente produzem estes nutrientes ener- géticos (amido e sacarose) para, posteriormente, poder consumi -los (através da própria respiração celular). Assim, os organismos fotossintéticos desempenham um papel muito importante para a manutenção da vida na Terra, visto sua habilidade em converter uma molécula prejudicial para a maioria dos eucariotos (CO2) em moléculas mais energéticas, liberando, como um subproduto, o oxigênio que será utilizado no processo da res- piração celular. O Sol é a grande fonte de energia para esse processo e, desse modo, os organismos fotossintetizantes são a base para a sobrevivência da grande maioria dos seres vivos, já que toda a energia necessária à vida provém do Sol, mas não conseguiríamos UNIUBE 193 aproveitá -la, se não fossem os organismos fotossintetizantes que transformam a energia do Sol em energia aproveitável para todos os seres vivos. 5.2 O ciclo energético na natureza Essencialmente, toda a energia livre utilizada pelos sistemas biológicos surge da energia solar capturada pelo processo de fotossíntese. Como já estudamos, a equação global da fotossíntese é simples, sendo que a água e o dióxido de carbono se combinam para formar carboidratos e oxigênio: Você já parou para pensar como a fotossíntese é importante para a nossa biosfera? Ela é fundamentalmente importante no fornecimento de compostos de carbono e do oxigênio, que tornam possível o metabolismo aeróbio. A respiração aeróbica é comum para a maioria dos organismos vivos. Ela é um pro- cesso biológico pelo qual compostos orgânicos reduzidos são mobilizados e oxidados de maneira controlada. Durante a respiração, energia livre é liberada e incorporada na forma de ATP, que pode ser facilmente utilizada para a manutenção e desenvolvimento do organismo. Conforme estudamos anteriormente, no Capítulo 4, os seres vivos, em condições normais, apresentam -se sob o ponto de vista termodinâmico como um sistema aberto, podendo realizar trocas energéticas com o meio à sua volta. Além disso, trabalham de forma cíclica, em que o estado inicial e final são os mesmos, o que significa dizer que, ao final de cada ciclo ou operação vital, o organismo encontra -se nas mesmas condições termodinâmicas para repeti -lo (Figura 11). 194 UNIUBE Figura 11: Ciclo de energia. Fonte: Acervo EAD-Uniube, adaptado de Nelson; Cox e Lehninger (2000). Os seres autotróficos produzem oxigênio e produtos orgânicos que são consumidos pelos seres heterotróficos que, por sua vez, fornecem gás carbônico como matéria -prima para os seres autotróficos completarem o ciclo. Note que somente graças à energia solar é possível ocorrer essas transformações. O metabolismo, sendo uma atividade celular altamente coordenada, irá realizar as diferentes funções, tais como: • obtenção de energia química; • conversão das moléculas nutritivas em moléculas utilizáveis pelas células; • síntese de novas macromoléculas capazes de desempenhar funções celulares especializadas como a membrana celular, parede celular, DNA, RNA, a partir de precursores, como os aminoácidos, bases nitrogenadas e monossacarídeos (para maiores detalhes, consultar o Capítulo 4). Somente com o funcionamento adequado do metabolismo é possível ocorrer o que podemos chamar de ciclo da energia celular. UNIUBE 195 5.3 Uma visão do ciclo do carbono na natureza Agora, de forma comparativa, vamos analisar o que acontece durante a degradação de compostos orgânicos (carboidratos), para que possamos relacionar, compreender e comparar a obtenção de ATP por células autotróficas (por meio da fotossíntese) e a obtenção de ATP por células heterotróficas. Inicialmente, é importante perceber que ambos (auto e heterotróficas) necessitam de ATP para realizar suas funções metabólicas celulares. Assim, percebam que o ATP sempre será um dos produtos obtidos ao final de ambas as vias metabólicas e observe, também, que o ATP poderá ser construído a partir da captura da energia proveniente de fontes diferentes. O Ciclo de Krebs desempenha a função de oxidar compostos de carbono até gás car- bônico (CO2). Esse processo gera elétrons de alta energia (principalmente na forma de NADH) que serão conduzidos por moléculas transportadoras de energia presentes nas membranas mitocondriais internas (recorra ao Capítulo 4, Figura 15, para ver o Ciclo de Krebs). O fluxo destes elétrons de alta energia pela cadeia transportadora de elétrons (fosfo- rilação oxidativa) irá gerar uma força próton motriz que será, então, transferida pela ATPsintase, formando, assim, a tão conhecida molécula de ATP (recorra ao Capítulo 4, Figura 17). Assim, percebemos que, para seres heterotróficos, a produção de energia se dá pela transformação de alguns compostos orgânicos carbonados (principalmente os carboidratos) em CO2. Percebemos, também, que esta formação de energia (ATP) em seres heterotróficos possui um maior rendimento na etapa chamada de fosforilação oxidativa ou cadeia transportadora de elétrons. A fotossíntese também utiliza um fluxo de energia (elétrons) por uma via similar, a fosforilação oxidativa, e, também, gerará uma força próton motriz que será usada na síntese de ATP (Figura 5). A diferença entre o que acontece nos organismos autotróficos e os heterotróficos é a ORIGEM da energia: • nos heterotróficos, a energia vem da oxidação dos compostos orgânicos; • nos autotróficos, a fonte de energia são os fótons, provenientes da irradiação da luz solar. No sistema fotossintético, estes fótons serão empregados pelas células autotróficas para gerar elétrons de alta energia que poderão ser usados para reduzir o NADP+ a NADPH. Ao mesmo tempo, durante a formação de NADPH, por uma via não cíclica, ocorrerá também a formação de um potencial transmembrana de H+, que irá gerar ATPs. Assim, 196 UNIUBE conforme estudado anteriormente, o NADPH e ATPs formados pela ação da luz servirão como elementos energéticos, bases para a redução do CO2 atmosférico em compostos orgânicos mais úteis (Figura 12). Figura 12: Esquema simplificado das reações à luz da fotossíntese. Fonte: Acervo EAD-Uniube. A luz é absorvida e aenergia contida nela é empregada para impulsionar os elétrons da água que irão gerar NADPH e impulsionar prótons por meio uma membrana. Esses prótons impul- sionados irão retornar através da enzima ATPsintase, formando assim o ATP. Podemos empregar, agora, seu entendimento a respeito do Ciclo de Krebs e, também, da fosforilação oxidativa, para entender a relação entre a degradação e a biossíntese fotossintética dos carboidratos. Durante o Ciclo de Krebs, o acetil -CoA, proveniente da degradação dos compostos orgânicos, é transformado em CO2. Esse CO2 não tem função para os organismos heterotróficos e, assim sendo, é libe- rado no meio ambiente. Essa degradação, já estudada anteriormente, é necessária para a liberação da energia presente nos nutrientes energéticos e ocorre em todos os organismos que fazem metabolismo aeróbico – inclusive os organismos autotróficos, como mostra a Figura 11. O CO2 liberado durante a degradação aeróbica dos compostos carbonados ricos em energia será utilizado para o processo da produção de compostos orgânicos pelos organismos autotróficos. UNIUBE 197 Como vimos anteriormente, a cada volta do Ciclo de Calvin, três moléculas de CO2 são incorporadas e transformadas em compostos orgânicos mais complexos, que serão usados, posteriormente, para a síntese de glicose e todos os outros compostos carbonados presentes nos organismos autotróficos. Assim sendo, a cada volta do Ciclo de Calvin, o CO2 liberado durante o processo da respiração celular é novamente incorporado à matéria viva. importante! Percebe -se, assim, que um átomo de carbono pode estar, hoje, fazendo parte da matéria viva e, amanhã, da matéria não viva, formando, assim, um processo cíclico denominado “Ciclo do Carbono” (Figura 13). Figura 13: Ciclo biológico do carbono. No ciclo biológico do carbono na natureza estão envolvidas as trocas de carbono (CO2) entre os seres vivos e a atmosfera através da fotossíntese e da respiração celular. Fonte: Acervo EAD-Uniube. agora é a sua vez Para aprender mais, elabore um esquema que demonstre as vias metabólicas associadas ao ciclo do carbono, tais como a via glicolítica, o Ciclo de Krebs, a cadeia respiratória e as eta- pas “clara” e “escura” da fotossíntese. Para facilitar, represente as diferentes vias por figuras geométricas diferentes (quadrados, círculos, retângulos etc.). 198 UNIUBE 5.3.1 Possíveis interferências na fotossíntese Alguns fatores que influenciam a fotossíntese (velocidade em que ela ocorre) são: • a intensidade luminosa que atinge a planta; • a quantidade de CO2 disponível; • a temperatura do ambiente onde o organismo se encontra; • a presença de alguns minerais. Compreenda que mesmo se três, dentre estes quatro fatores, estiverem com valores satisfatórios, o faltante agirá como fator limitante, impedindo que a fotossíntese ocorra com intensidade máxima. a) Luminosidade Como todo ser vivo, a planta também respira – e faz isso durante as 24 horas do dia. Pela respiração, ela também consome oxigênio, exatamente o contrário do que faz durante a fotossíntese. Uma planta mantida na ausência de luz não realiza a fotossíntese, mas continua con- sumindo oxigênio para completar a oxidação dos carboidratos e outros combustíveis energéticos. Se formos aumentando gradativamente a luz, a fotossíntese será restabelecida, mas, a partir de certa intensidade luminosa, a velocidade da fotossíntese não aumenta mais, chegando ao ponto de saturação. Nesse sentido, a luz raramente torna -se um fator limitante (diferente do que acontece com o CO2). Somente 5% da irradiação solar é aproveitada pelas plantas (absorvida pela clorofila), grande parte da luz é perdida. Apesar disso, vale lembrar que existem algumas plantas que conseguem sobreviver nos extremos destas condições, resistindo a valores de temperaturas que são, na sua maioria, capazes de impedir o crescimento de grande parte dos vegetais (Figura 14). Figura 14: Gráfico de saturação luminosa. Fonte: Acervo EAD-Uniube. UNIUBE 199 As intensidades luminosas abaixo do ponto de saturação luminosa são valores limitantes do processo fotossintético. Acima dessa “intensidade ótima”, já não haverá mais melhoria na taxa de rendimento. b) CO2 Do mesmo modo, aumentando a concentração de CO2, a fotossíntese tem sua taxa au- mentada até determinado limite, e, daí por diante, não haverá aumento da fotossíntese. Se a concentração de CO2 se tornar muito grande, e, por consequência, a concentração de oxigênio se tornar pequena, a planta morrerá por falta de oxigênio (Figura 15). Figura 15: Taxa de fotossíntese em função da saturação de gás carbônico. Fonte: Acervo EAD-Uniube. O gráfico anterior utiliza dados obtidos em condições experimentais de laboratório. Observe que a concentração ótima é atingida em 0,2% de CO2, pois, acima dessa concentração, a taxa de fotossíntese já não poderá melhorar. Consequentemente, qualquer concentração abaixo desse ótimo (0,2%) está funcionando como limitante para o melhor rendimento do processo. c) Temperatura A temperatura, de forma não menos especial, influencia uma atividade nas enzimas envolvidas no processo fotossintético (veja Figura 16), sendo que a velocidade máxima da fotossíntese encontra -se entre valores de 30 a 40º C. Visto isto, em temperaturas muito baixas a taxa fotossintética é pequena, pois algumas enzimas são pouco ativas. Em contrapartida, temperaturas muito altas promovem um efeito de desnaturação enzimática, cessando com o processo. 200 UNIUBE Figura 16: Efeito da temperatura na taxa de fotossíntese. Qualquer temperatura, abaixo ou acima da “ótima”, resulta em condição limitante para as reações de fotossíntese. Abaixo da temperatura “ótima”, a energia cinética das moléculas rea- gentes (CO2, H2O) é insuficiente para conseguir o rendimento químico. Acima da “temperatura ótima”, as enzimas vão se desnaturando, podendo até parar as reações. d) Minerais Os minerais mais importantes para a manutenção do metabo- lismo vegetal são: ferro, manganês, cobre, zinco, boro, alumí- nio, cobalto e magnésio, entre outros. Estes são chamados de micronutrientes e as plantas precisam deles em quantidades mínimas, sendo que sua carência provocará doenças. O ferro é o elemento mais difícil de fixar, já que se oxida com facilidade. Os outros micronutrientes serão repostos pela troca parcial da água e, até mesmo, por meio da alimentação, quando comemos peixe. 5.3.2 Maneira pela qual a energia luminosa pode atingir a planta Inicialmente, estudaremos como a anatomia das folhas e os movimentos dos cloro- plastos e destas folhas podem controlar a absorção de luz, para que aconteça a fotos- síntese. Dessa maneira, descreveremos como os cloroplastos e folhas se adaptam ao seu ambiente e como se dá a resposta bioquímica destes organismos (em relação à fotossíntese) sob diferentes condições de iluminação. Micronutrientes Nutrientes inorgânicos ou orgânicos, necessários em quantidades muito reduzidas para o funcionamento das células. UNIUBE 201 Sabe -se que em algumas situações, as condições de luminosidade ou a quantidade de CO2 podem determinar a resposta fotossintética das folhas, ou seja, em algumas situações a fotossíntese é limitada pela inadequada demanda de CO2 e/ou oferta de luz. Em outras situações, a absorção de muita luz poderá causar danos graves aos sistemas receptores, sendo importante, neste momento, um mecanismo que proteja os sistemas fotossintéticos do excesso de luz e suas consequências, como, inclusive, a morte de algumas células. Vários são os níveis de controle sobre a fotossíntese, permitindo às plantas crescerem e se desenvolverem com sucesso em ambientes cuja inconstância na oferta, tanto de luz quanto de CO2, esteja presente. Controle da absorção de luz São vários os parâmetros que poderão determinar as medidas da luz. Dentre estes, três são de especial importância (Figura 17): • qualidade do espectro; • quantidade de luz; • direçãoda luz emitida pelo fotossistema. Figura 17: Diferentes superfícies da planta em diferentes condições de irradiação solar. Fonte: Acervo EAD-Uniube. A quantidade e direção da luz que alcança a planta requer algumas considerações sobre a geometria da parte da planta onde a luz incide e, neste caso, uma pergunta irá surgir neste instante: o órgão da planta onde a luz incide é o plano (liso) ou cilíndrico? (Figura 17). Se observarmos exatamente a incidência da luz sobre duas diferentes superfícies (plana ou cilíndrica), perceberemos (Figura 17) que para as superfícies cilíndricas a 202 UNIUBE luz incidente é praticamente a mesma durante todo o dia, desconsiderando -se outros fatores ambientais que podem interferir na oferta de luz para a planta. Já para uma planta cujos receptores de luz estão distribuídos em uma superfície plana, a partir do momento em que a luz não incide sobre tal superfície formando um ângulo de 90 graus, haverá uma perda de energia absorvida pela planta. Superfície plana Prezado aluno, para entendermos melhor esta situação, precisaremos recordar um pouco nossos estudos de geometria e aprender um pouco sobre a física da luz. A luz que alcança a planta pode ser medida como energia. A quantidade de energia luminosa incidente sobre uma determi- nada área (no caso sobre a planta) durante um determinado tempo é chamada de energia de irradiância. A energia de irradiância possui unidades de medida, sendo elas a área, o tempo e a potência desta mesma energia. Até o momento, conhecemos bem as medidas de área e de tempo. relembrando Medidas de área: • Metros quadrados = m2 • Centímetros quadrados = cm2 Medidas de tempo: • horas • minutos • segundos Agora, vamos estudar uma outra medida, que é a potência. Potência Em física, potência é a grandeza que determina a quantidade de energia concedida por uma fonte a cada unidade de tempo. Especificamente tratando -se da energia luminosa, a fonte é o Sol. Irradiância É a medida de energia luminosa que chega até um determinado ponto (de área conhecida) em função do tempo e da potência da luz. UNIUBE 203 Neste instante, você será capaz de entender que a irradiância da luz sobre a planta (quantidade de energia emitida durante um determinado tempo em uma área da planta) poderá sofrer alterações devido ao ângulo de incidência desta luz. Conforme podemos observar na Figura 17, há uma situação em que a luz não incide perpendicularmente sobre a planta (à tarde ou pela manhã). Nesta situação, em se tratando de uma super- fície plana, haverá uma perda de energia absorvida devido ao ângulo de incidência da luz sobre o vegetal. Matematicamente, a quantidade de energia captada e a quantidade de energia perdida pode ser calculada dependendo do ângulo de incidência da luz. Mas é importante que você perceba que a irradiância será maior quando o ângulo for igual ou próximo de 90 graus. Acima ou abaixo de 90 graus, haverá uma perda de energia absorvida e esta perda será proporcional ao aumento ou diminuição deste ângulo de incidência (durante o amanhecer ou entardecer). Analisemos a seguinte situação: Meio -dia, o ângulo de incidência da luz sobre a planta, onde a superfície é plana, é igual a 90 graus. Há uma condição em que, mesmo com a superfície plana, podemos ter a incidência da luz em um ângulo diferente de 90 graus: é a condição em que a luz incidente é de 90 graus, mas a superfície da planta não está em um plano perpendicular à luz incidida. Veja esquema (Figura 18), a seguir: Figura 18: Incidência da luz solar sobre a superfície da planta (folha). Fonte: Acervo EAD-Uniube. Observe que, neste caso, mesmo a superfície da planta sendo plana, há um ângulo da luz incidente diferente de 90 graus, devido às condições do próprio vegetal, sua distribuição e posicionamento no solo terrestre. 204 UNIUBE Outra situação: o que ocorre na maioria dos casos – na natureza – é uma incidência de luz em ângulos diferentes de 90 graus e/ou sobre superfícies não planas (cilíndri- cas). Em adição, existe uma situação ainda mais interessante: há a possibilidade da incidência de luz ser proveniente de diferentes direções, em que a luz refletida do solo, água e até mesmo da neve pode alcançar a planta em diferentes ângulos e posições. Inicialmente, é importante que você perceba que, apesar de a luz ser mais bem apro- veitada quando incide sobre a planta em ângulos perpendiculares (90º), há diferentes superfícies (planas ou cilíndricas) para captar esta luz. Além disso, mesmo estas su- perfícies sendo planas, muitas vezes, elas não estarão formando ângulos próximos a 90º, pois sua distribuição ao longo da superfície terrestre, o vento, entre outros, farão com que a luz incidente não tenha irradiância máxima. Em relação à qualidade da luz que provém do sol – luz emitida sobre a superfície ter- restre –, devemos levar em consideração suas características espectrais. Dependendo do clima, por exemplo, a luz emitida terá características diferentes: • luz colimada ou irradiada, de forma difusa: podendo ser irradiada sobre a planta em raios paralelos, emitidos de forma randômica em diferentes direções; • luz composta por um determinado comprimento de onda: deverá ser capaz de foto- excitar os receptores de luz presentes nos fotossistemas do vegetal. Assim, uma emissão de luz na região do espectro, que seja capaz de ativar fotossinteticamente os receptores de luz pre- sentes na planta, é necessária. Esta luz, também chamada de radiação fotossinteticamente ativa (RFA), precisa conter uma luz no comprimento de onda que vai de 400 a 700 nm. Agora que você entendeu a maneira pela qual a energia luminosa pode atingir a planta, vamos tratar de entender quanto da energia chega à planta será aproveitada para realizar a fotossíntese. 5.3.2.1 Quantidade de energia que chega à planta Sabe -se que, aproximadamente, 1,3 Kw (kilowatt) ou 1300 watts de energia irradiada chega a, aproximadamente, 1 metro quadrado da superfície terrestre e que somente 5% desta energia será convertida em carboidratos pelo processo de fotossíntese que acontece nas plantas. Nm Nanômetro: milionésima parte do milímetro. UNIUBE 205 saiba mais Kilowatt O watt (símbolo: W) é a unidade SI (Sistema Internacional de Unidades) para potência. Em física, potência é a grandeza que determina a quantidade de energia concedida por uma fonte a cada unidade de tempo. Em outros termos, potência é a rapidez com a qual certa quantidade de energia é transformada. A unidade do watt recebeu o nome de James Watt pelas suas contribuições para o desenvolvimento do motor a vapor, e foi adotada pelo segundo congresso da Associação Britânica para o Avanço da Ciência, em 1889. Mas sabemos que existem alguns fatores que interferem no aproveitamento da energia luminosa pelas plantas. São eles: • de toda a energia proveniente do sol, emitida na forma de luz, há uma grande par- cela que abrange regiões do espectro que não são aproveitadas pelos fotossistemas presentes nas plantas (abaixo de 400 nm e acima de 700 nm). Dessa forma, esta energia normalmente não é absorvida; • uma outra pequena parcela da energia proveniente da luz solar é perdida na forma de calor; • uma última parcela desta energia será convertida em luz fluorescente, não sendo, também, aproveitada pelas plantas. Dessa forma, somente os fótons de comprimento de onda de 400 a 700 nm serão uti- lizados na fotossíntese e cerca de 85% a 90% desta RFA será absorvida pela folha. O restante será refletido ou transmitido pela superfície da folha (Figura 19). Como já estudamos, a luz branca resulta da combinação de radiações de diversas cores: • vermelho; • laranja; • amarelo; • verde; • azul; • anil; • violeta. 206 UNIUBE Mas nem todas essas radiações têm o mesmo efeito sobre a clorofila, portanto, nem todas agem igualmente estimulando a fotossíntese, não é mesmo? Figura 19: Aproveitamento da luz solar pela fotossíntese. Fonte: Acervo EAD-Uniube. Durantea conversão da energia solar em carboidratos há uma perda de 95% da energia incidente, proveniente da luz solar. A absorção da luz pela clorofila se faz com intensidade máxima nas faixas de compri- mento de onda de 450 nm, que corresponde à cor azul, e 700 nm, que corresponde à cor vermelha. A absorção da cor verde é quase nula, a clorofila reflete -a quase que integralmente e é, por isso, que nós vemos as folhas de uma árvore, por exemplo, dessa cor. Considerando o fenômeno da fotossíntese em termos gerais, a resposta à luz vermelha é ainda maior do que à luz azul, apesar de a absorção ser maior na luz azul. Isso se deve ao espectro de ação da fotossíntese, que não corresponde, rigoro- samente, ao espectro de absorção da luz pelas clorofilas. Inicialmente, tratamos de compreender como a anatomia da planta influencia a absorção de luz. Agora, daremos atenção ao gás carbônico e como suas diferentes concentrações podem interferir no processo da fotossíntese. UNIUBE 207 Gás carbônico Um dos grandes responsáveis pela poluição do ar que respiramos é o gás carbônico. Ele é resultado, principalmente: • da queima de derivados dos combustíveis fósseis (gasolina, diesel); • do carvão; • das queimadas nas florestas. As fábricas, os veículos automotores e as usinas de eletricidade que utilizam combus- tível são, portanto, os grandes poluidores da atmosfera. Além de gerar gás carbônico, toda combustão consome oxigênio, piorando o quadro. O homem, os animais e as plantas, quando respiram, também eliminam gás carbônico. Apesar de as plantas também precisarem de oxigênio para sua subsistência, essa utilização é bem menor do que sua capacidade de produção desse gás. Se não fosse assim, não haveria oxigênio suficiente para os demais seres no planeta. O CO2 se difunde pela atmosfera terrestre indo até as folhas; logicamente, o gás con- segue permear estas folhas (através dos estômatos) e, então, através dos espaços intracelulares, alcançando, no final, as células e os seus cloroplastos. Dessa forma, estando a planta submetida a altas intensidades de luz e CO2, altas taxas de fotossíntese ocorrerão. De forma contrária, o decaimento do CO2, ou da luz, irá implicar, também, num decaimento das taxas fotossintéticas. Apesar de se falar tanto em emissões de CO2 na atmosfera, você sabia que o dióxido de carbono é um gás cujas concentrações presentes na atmosfera variam em torno de 0,04%, ou seja, para cada milhão de litros de ar atmosférico, temos 400 litros de CO2, aproximadamente? Em contrapartida, o nitrogênio se aproxima de 80% da concentração total do ar atmosférico. Apesar de ser tão ínfima sua concentração na atmosfera, sabe -se que, por ser um gás tóxico, o aumento de CO2 pode ser fatal para muitos seres vivos. Estudos realizados recentemente comparam a concentração de CO2 atmosférico atual com a presença deste gás há cerca de 160 anos atrás. Foi demonstrado que os níveis de dióxido de carbono praticamente dobraram até os dias atuais. Percebe -se também que sua concentração tem aumentado cerca de 1 ppm (parte por milhão) a cada ano, devido, principalmente, à queima de combustíveis fósseis. 208 UNIUBE Você conhece como ocorre a difusão do CO2 na atmosfera até as folhas das plantas? Vejamos: a película que envolve a folha, constituída por uma camada cerosa, impede a penetração deste gás e termina por obrigá- lo a encontrar uma forma diferente para permear a folha. Assim, através dos estômatos, o gás irá, literalmente, entrar nas folhas pelos seus poros (estômatos), difundindo -se através da cavidade abaixo dos estômatos, indo até o espaço intercelular existente entre as células do mesófilo, ficando, então, dissolvido na água presente nas células. A concentração do CO2 no ar atmosférico exerce contribuição importante para a tempe- ratura ambiente. Os estudiosos estimam que se essa concentração chegar em torno de 0,05%, o calor será suficiente para descongelar parcela das calotas polares, fazendo subir o nível dos mares, o que provocaria inundações catastróficas. Considera -se que a taxa de gás carbônico é um fator extremamente limitante para a fotossíntese, principalmente em plantas terrestres, visto que este gás se encontra em valores inferiores ao requerido por elas (0,2%). curiosidade Neste sentido, em algumas estufas utilizam -se técnicas de “adubação carbônica”, em que um aumento no teor de CO2 atmosférico é promovido dentro do ambiente da estufa. Isso contribui de forma positiva para o aumento da taxa de fotossíntese. Dessa forma, podemos considerar o gás carbônico, a água, a luminosidade, a tempe- ratura e a oferta de minerais como fatores externos, sendo que podem, também, existir e interferir na fotossíntese fatores internos, como, por exemplo, o grau de abertura dos estômatos, o teor de clorofila nas folhas, entre outros. Como já sabemos, para que a fotossíntese ocorra, é necessário, então, que alguns fatores estejam presentes. São eles: • gás carbônico e água; • luz; • clorofila, entre outros. UNIUBE 209 agora é a sua vez Tente esquematizar agora qual seria a melhor situação para a fotossíntese ocorrer. Pense tanto nos fatores biológicos quanto físicos e químicos para que o processo seja elevado ao seu nível máximo. Resumo Todo ser vivo depende de energia para sobreviver. Um dos processos mais impressio- nantes de obtenção de energia realizados por seres vivos é o fenômeno da fotossíntese, um conjunto de processos que é a base do ciclo energético na natureza. Com a fotos- síntese, a energia solar é aproveitada para a produção de energia química, presente em moléculas como os carboidratos, que irão abastecer as cadeias energéticas na natureza. Além disso, o fenômeno da fotossíntese libera o oxigênio que é utilizado pela maioria dos organismos vivos no fenômeno da respiração celular. Esse capítulo descreveu, inicialmente, as reações fotossintéticas responsáveis pela captura da energia solar e seu armazenamento em transportadores de energia tem- porários, ou seja, a conversão da energia solar em energia química. Em seguida, apresentou como essas moléculas energéticas são utilizadas na síntese da glicose, o principal combustível da maioria dos seres vivos. A compreensão do processo fotossintético é fundamental para uma visão ampla das relações existentes entre os seres vivos, e do fluxo de energia na biosfera. Esses temas são comuns a toda a área das ciências biológicas, bem como à produção sucroalcooleira e engenharias ambiental e química. Referências CHAMPE, Pámela C.; HARVEY, Richard. A Bioquímica Ilustrada. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Biologia Celular e Molecular. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1995. NELSON, David L.; COX, Michael M.; LEHNINGER, A. L. Princípios de Bioquímica. New York: Worth Publishers, 2000, caps. 3, 4, 5, 9, 10 e 11. RAVEN, Peter H.; e EVERT, Ray F. Biologia Vegetal. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Dois, 2001. Anotações _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ ______________________________________________________________ _______________________________________________________________ ______________________________________________________________ Biologia quimíca e bioquimíca_parte 1 Biologia quimíca e bioquimíca_parte 2