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Prévia do material em texto

2019
Sintaxe da Língua de 
SinaiS
Profª. Mariana Correia
Copyright © UNIASSELVI 2019
Elaboração:
Profª. Mariana Correia
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
C824s
 Correia, Mariana
 Sintaxe da língua de sinais. / Mariana Correia. – Indaial: 
UNIASSELVI, 2019.
 234 p.; il.
 ISBN 978-85-515-0259-4
1.Língua brasileira de sinais - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo 
Da Vinci.
CDD 419
III
apreSentação
Olá, prezado acadêmico. Bem-vindo ao Livro de Estudos da disciplina 
de Sintaxe da Língua de Sinais. Para a elaboração deste material foram 
utilizados diferentes recursos pedagógicos, como livros, artigos, vídeos, cursos, 
dissertações, revistas, materiais físicos e virtuais, para melhor apresentar a 
você os aspectos relevantes sobre o estudo da sintaxe como área de estudo da 
linguagem e dentro do estudo específico da Libras. O objetivo principal deste 
livro é que você possa ter, ao final dos estudos desta disciplina, um panorama 
sobre os estudos sintáticos e sua aplicação para a compreensão de como a 
Libras se estrutura, desta forma, servindo como base para seus conhecimentos 
acadêmicos e para a sua prática como profissional docente.
A seguir estão os principais pontos abordados nas três unidades que 
compõem este livro de estudos. A Unidade 1 tem como objetivo compreender 
os estudos sintáticos. Para isso, começamos com o Tópico 1, em que são 
retomadas algumas discussões sobre a Linguística como ciência e quais são as 
áreas em que o estudo da língua é dividido. Depois, veremos em quais áreas 
o estudo da língua é dividido, qual é a forma de análise de cada uma delas 
e como a sintaxe se insere neste contexto. No final do tópico teremos, então, 
a definição de sintaxe e da maneira como ela estuda a língua. No Tópico 
2, veremos as abordagens tradicional, formalista e funcional, e como cada 
uma delas interpreta os estudos na área de estudos sintáticos. No Tópico 3, 
vamos estudar os conceitos básicos da Gramática Gerativa a partir do estudo 
das características das línguas naturais, as noções de gramática universal, 
faculdade da linguagem, agramaticalidade, competência e desempenho. Para 
encerrar esta unidade, no Tópico 4 estudaremos a formação das sentenças na 
perspectiva gerativista a partir do estudo dos constituintes, a delimitação e a 
relação deles dentro das sentenças e a ambiguidade estrutural das sentenças.
 
Dando continuidade ao que foi visto na primeira unidade, na Unidade 
2 nos aprofundaremos no estudo dos constituintes das sentenças. No Tópico 
1, estudaremos os sintagmas através das categorias lexicais e funcionais. No 
Tópico 2, os predicados e argumentos, os requisitos sintáticos e os papéis 
temáticos dos argumentos e os verbos monoargumentais são tratados. Após 
isso, o Tópico 3 aborda a ordem das sentenças e como se dá a movimentação 
dos constituintes dentro delas. No Tópico 4, entraremos especificamente no 
estudo das sentenças em Libras, tanto aquelas básicas da língua quanto as 
condições para que esta ordem básica seja alterada.
 
A Unidade 3 continua tratando de elementos específicos da sintaxe 
da Libras. Inicialmente, no Tópico 1, discutiremos alguns aspectos sintáticos 
envolvidos na compreensão da Libras e como o Português Sinalizado 
está relacionado às traduções, bem como o uso de aplicativos de tradução 
IV
automática e os aspectos relacionados à estrutura sintática envolvida. 
Após, veremos elementos da sintaxe espacial com as relações sintáticas e os 
instrumentos espaciais que as reforçam, o uso dos pronomes no espaço, as 
mudanças de referenciais, as marcações não manuais e os classificadores. No 
Tópico 2, estudaremos os efeitos estruturais dos verbos em Libras e as formas 
de concordância. No Tópico 3, observaremos os diferentes sintagmas dentro 
das estruturas frasais da Libras. Para encerrar esta unidade, o Tópico 4 trata 
sobre a construção de frases e a coesão narrativa em Libras.
 
Ao longo de todas as unidades serão colocadas notas, lembretes, 
observações e sugestões de diferentes materiais para destaque, exemplificação 
ou aprofundamento das discussões e estudos realizados.
E para finalizarmos, também gostaria de apresentar o meu sinal. 
Mostro ele de duas maneiras: primeiro uma foto minha alterada digitalmente 
com o movimento do meu sinal (um M que percorre a covinha do meu sorriso), 
o outro, em signwriting, escrito através do site <http://www.signbank.org/
signmaker/#?ui=ptBR&dictionary=bzs>:
SINAL DA AUTORA COM 
INDICATIVO DE MOVIMENTO 
SINAL DA AUTORA EM
ESCRITA DE SINAIS
Bons estudos e boa leitura!
Profª. Mariana Correia
V
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
VI
VII
UNIDADE 1 – COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS ............................................ 1
TÓPICO 1 – O LUGAR DA SINTAXE NOS ESTUDOS DA LINGUAGUEM ............................ 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 O ESTUDO DA LINGUAGEM E A ABORDAGEM LINGUÍSTICA ........................................ 4
2.1 HISTÓRIA DOS ESTUDOS DA LINGUAGEM .......................................................................... 6
2.2 A LINGUÍSTICA COMO CIÊNCIA .............................................................................................. 7
2.3 O OBJETO DE ESTUDO DA LINGUÍSTICA ............................................................................... 9
2.4 LINGUÍSTICA X GRAMÁTICA NORMATIVA .......................................................................... 11
3 AS ÁREAS DA LINGUÍSTICA E OS DIFERENTES ASPECTOS DA LINGUAGEM ........... 13
3.1 FONÉTICA E FONOLOGIA .......................................................................................................... 14
3.2 MORFOLOGIA ................................................................................................................................ 14
3.3 SINTAXE ........................................................................................................................................... 16
3.4 SEMÂNTICA .................................................................................................................................... 17
3.5 PRAGMÁTICA.................................................................................................................................18
4 O QUE ESTUDA A SINTAXE? ........................................................................................................... 19
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 21
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 22
TÓPICO 2 – ESTUDOS SINTÁTICOS ................................................................................................ 23
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 23
2 HISTÓRIA DOS ESTUDOS SINTÁTICOS .................................................................................... 23
3 POSSIBILIDADES TEÓRICAS ......................................................................................................... 24
3.1 GRAMÁTICA TRADICIONAL (NORMATIVA)......................................................................... 25
3.2 FORMALISTA .................................................................................................................................. 27
3.3 FUNCIONALISTA ........................................................................................................................... 29
3.4 FORMALISTA X FUNCIONALISTA ............................................................................................ 30
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 31
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 32
TÓPICO 3 – TEORIA GERATIVA: CONCEITOS BÁSICOS .......................................................... 33
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 33
2 PRESSUPOSTOS DA TEORIA GERATIVA ................................................................................... 34
2.1 O ESTUDO DA LÍNGUA NA PERSPECTIVA GERATIVA ....................................................... 35
2.2 CARACTERÍSTICAS DAS LÍNGUAS NATURAIS .................................................................... 37
3 FACULDADE DA LINGUAGEM E GRAMÁTICA UNIVERSAL ............................................. 43
4 COMPETÊNCIA E DESEMPENHO (PERFORMANCE) .............................................................. 49
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 52
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 53
TÓPICO 4 – A FORMAÇÃO DAS SENTENÇAS .............................................................................. 55
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 55
2 CATEGORIAS GRAMATICAIS ........................................................................................................ 57
3 CONSTITUINTES ................................................................................................................................ 58
Sumário
VIII
4 AMBIGUIDADE ESTRUTURAL....................................................................................................... 60
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 64
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 66
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 67
UNIDADE 2 – ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS ......................................... 69
TÓPICO 1 – OS SINTAGMAS .............................................................................................................. 71
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 71
2 HIERARQUIZAÇÃO DOS SINTAGMAS ...................................................................................... 72
3 DELIMITAÇÃO DOS SINTAGMAS NOMINAIS E VERBAIS ................................................. 74
4 CATEGORIAS DOS NÚCLEOS DOS SINTAGMAS ................................................................... 75
4.1 CATEGORIAS LEXICAIS ............................................................................................................... 76
4.2 CATEGORIAS FUNCIONAIS ........................................................................................................ 80
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 82
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 83
TÓPICO 2 – PREDICADOS E ARGUMENTOS ................................................................................ 85
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 85
2 CONCEITO DE PREDICADOS E ARGUMENTOS ...................................................................... 86
3 SELEÇÃO ARGUMENTAL................................................................................................................. 93
3.1 OS REQUISITOS SINTÁTICOS DOS ARGUMENTOS .............................................................. 94
3.2 PAPÉIS TEMÁTICOS DOS ARGUMENTOS .............................................................................106
4 DELIMITAÇÃO ARGUMENTAL DOS VERBOS........................................................................109
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................112
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................114
TÓPICO 3 – ESTRUTURA DAS SENTENÇAS ...............................................................................115
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................115
2 ORDEM DOS CONSTITUINTES NAS SENTENÇAS ...............................................................115
3 MOVIMENTAÇÃO DOS CONSTITUINTES ..............................................................................118
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................124
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................125
TÓPICO 4 – A ORDEM BÁSICA DAS SENTENÇAS EM LIBRAS ............................................127
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................127
2 ESTRUTURA BÁSICA DAS SENTENÇAS ...................................................................................128
3 RESTRIÇÕES PARA MODIFICAÇÃO DA ORDEM BÁSICA .................................................130
3.1 CONCORDÂNCIA E MARCAS NÃO MANUAIS ..................................................................130
3.2 POSIÇÃO DO OBJETO .................................................................................................................131
3.3 POSIÇÃO DOS ADVÉRBIOS DE TEMPO E FREQUÊNCIA ..................................................133
3.4 TOPICALIZAÇÃO ........................................................................................................................1343.5 FOCO E VERBOS SEM CONCORDÂNCIA ..............................................................................136
3.6 PRIORIZAÇÃO DO OBJETO .......................................................................................................136
3.7 OMISSÃO DE SUJEITO E OBJETO .............................................................................................137
3.8 FOCO CONTRASTIVO .................................................................................................................138
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................139
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................142
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................143
IX
UNIDADE 3 – SINTAXE DA LIBRAS ...............................................................................................145
TÓPICO 1 – SINTAXE ESPACIAL .....................................................................................................147
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................147
2 AS TRADUÇÕES E A QUESTÃO DA ORDEM DAS SENTENÇAS .......................................147
2.1 PORTUGUÊS SINALIZADO X LIBRAS ....................................................................................148
2.2 APLICATIVOS DE TRADUÇÃO .................................................................................................150
3 RELAÇÕES SINTÁTICAS: INSTRUMENTOS ESPACIAIS .....................................................153
3.1 REFERENCIALIDADE ESPACIAL .............................................................................................154
3.2 USO DOS PRONOMES NO ESPAÇO .........................................................................................161
3.3 AMBIGUIDADE ESTRUTURAL NA LIBRAS ...........................................................................164
3.4 MUDANÇA REFERENCIAL .......................................................................................................166
4 MARCAÇÕES NÃO MANUAIS GRAMATICAIS E NÃO GRAMATICAIS ........................167
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................175
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................177
TÓPICO 2 – EFEITOS ESTRUTURAIS DOS VERBOS E CLASSIFICADORES ......................179
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................179
2 CONCORDÂNCIA VERBAL ...........................................................................................................179
2.1 VERBOS SEM CONCORDÂNCIA ..............................................................................................185
2.2 VERBOS COM CONCORDÂNCIA (DIRECIONAIS) ..............................................................187
2.3 VERBOS AUXILIARES ..................................................................................................................189
2.4 VERBOS “MANUAIS” ..................................................................................................................190
3 OS CLASSIFICADORES COMO ELEMENTOS MORFOSSINTÁTICOS.............................191
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................195
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................196
TÓPICO 3 – ESTRUTURAS SINTAGMÁTICAS EM LIBRAS ....................................................197
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................197
2 SINTAGMA NOMINAL ...................................................................................................................199
3 SINTAGMA PREPOSICIONAL ......................................................................................................207
4 SINTAGMA ADVERBIAL ................................................................................................................208
5 SINTAGMA ADJETIVAL .................................................................................................................210
6 SINTAGMA VERBAL ........................................................................................................................211
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................212
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................214
TÓPICO 4 – ESTRUTURAÇÃO DAS SENTENÇAS EM LIBRAS ..............................................215
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................215
2 ESTRUTURAS COM TÓPICO ........................................................................................................215
3 ESTRUTURAS COM FOCO .............................................................................................................217
4 ESTRUTURAS NEGATIVAS ...........................................................................................................219
5 ESTRUTURAS INTERROGATIVAS ..............................................................................................222
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................226
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................228
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................229
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................231
X
1
UNIDADE 1
COMPREENDENDO OS ESTUDOS 
SINTÁTICOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• discutir os estudos da linguagem e a linguística como campo de estudos;
• diferenciar a abordagem linguística da abordagem normativa de estudos 
da linguagem;
• mostrar o papel da sintaxe dentre as diferentes áreas que compõem os 
estudos linguísticos;
• exemplificar as diferentes maneiras como as áreas de estudos linguísticos 
percebem as palavras e sentenças;
• discutir as principais abordagens teóricas para o estudo da sintaxe;
• compreender as características das línguas naturais e a diferença entre as 
línguas naturais e artificiais;
• compreender a Teoria Gerativista e seus pressupostos básicos para o 
estudo da sintaxe;
• apresentar os constituintes que formam as sentenças de acordo com a 
Teoria Gerativa.
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade 
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo 
apresentado.
TÓPICO 1 – O LUGAR DA SINTAXE NOS ESTUDOS DA LINGUAGUEM
TÓPICO 2 – O ESTUDO DA SINTAXE: POSSIBILIDADES TEÓRICAS
TÓPICO 3 – PRESSUPOSTOS DA TEORIA GERATIVISTA
TÓPICO 4 – A FORMAÇÃO DAS SENTENÇAS
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
O LUGAR DA SINTAXE NOS ESTUDOS DA LINGUAGUEM
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, iniciamos nossos estudos sobre a sintaxe. Neste tópico, 
estabeleceremos as bases para a compreensão deste componente do sistema 
linguístico, tendo em vista que a sintaxe é imprescindível para a compreensãodos estudos sintáticos e tem grande importância em relação ao estudo da Libras.
Para que possamos pensar sobre a conceituação da área dos estudos 
linguísticos a que a sintaxe se dedica é importante pensarmos sobre os estudos 
da linguagem e a maneira como a ciência linguística compreende a linguagem. 
Primeiro, apresentaremos uma breve história dos estudos da linguagem, em 
seguida pensaremos sobre a compreensão de ciência e como a Linguística adquiriu 
este estatuto. Para encerrar a primeira parte, faremos uma comparação entre a 
maneira como a Gramática Normativa compreende o estudo da língua e qual é a 
diferença entre esta abordagem, bem como a maneira descritiva e explicativa da 
qual a linguística se utiliza para a compreensão dos fenômenos da língua.
Depois de estabelecermos essas bases, estudaremos brevemente as áreas 
que compõem o estudo da linguagem, das quais a sintaxe é uma delas. A fim 
de melhor compreender como cada uma dessas áreas entende o estudo das 
línguas, faremos dois movimentos, estudaremos como cada uma delas entende 
a linguagem e, após, faremos uma comparação de como cada uma dessas áreas 
compreende um mesmo contexto, dessa maneira, poderemos definir como a 
sintaxe de uma língua se insere nos estudos linguísticos.
Este tópico inicia estabelecendo as bases para o estudo linguístico após 
a compreensão da Linguística como ciência; a diferença entre as percepções das 
áreas dos estudos da linguagem; a comparação entre a forma como ela explica 
os fenômenos linguísticos e o contraste entre as noções normativas/prescritivas 
e descritivas/explicativas. Neste momento, poderemos voltar nossos olhos 
diretamente para a definição de qual parte do fenômeno da língua a sintaxe 
pretende estudar. Encerraremos o Tópico 1 com a compreensão dos pressupostos 
da Teoria Gerativista proposta por Noam Chomsky.
UNIDADE 1 | COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS
4
2 O ESTUDO DA LINGUAGEM E A 
ABORDAGEM LINGUÍSTICA
Ao estudarmos os mitos da criação de várias culturas diferentes, 
percebemos que muitos deles colocam o poder fundador da linguagem que 
estabelece as maneiras como o homem se relaciona com a realidade. Como 
Petter (2010) destaca na citação a seguir, é através desse fascínio e desse poder 
atribuído à linguagem que ela torna possível a experiência humana como forma 
de estabelecer a comunicação e, consequentemente, as relações sociais.
O fascínio que a linguagem sempre exerceu sobre o homem vem 
desse poder [poder mágico de criar] que permite não só nomear/criar/
transformar o universo real, mas também permite trocar experiências, 
falar sobre o que existiu, poderá vir a existir, e até mesmo imagina o 
que não precisa nem pode existir. A linguagem verbal, então, a matéria 
do pensamento e o veículo da comunicação social. Assim como não 
há sociedade sem linguagem, não há sociedade sem comunicação. 
Tudo o que se produz como linguagem ocorre em sociedade, para 
ser comunicado, e, como tal, constitui uma realidade material que se 
relaciona ao que lhe é exterior, com o que existe independentemente 
da linguagem. Como realidade material – organização de sons, 
palavras, frases [sinais] – a linguagem é relativamente autônoma; como 
expressão de emoções, ideias, propósitos, no entanto, ela é orientada 
pela visão de mundo, pelas injunções da realidade social, histórica e 
cultural de seu falante (PETTER, 2010, p. 11, grifo do original).
O poder da linguagem está em criar/transformar o universo e ser o 
instrumento capaz de permitir que imaginemos e, por consequência, criemos 
situações, histórias e mundos que passam a existir apenas através da linguagem. 
Isso fica bastante evidente nas diferentes manifestações da linguagem com as quais 
convivemos, por exemplo, livros de ficção como Harry Potter, de J. K. Rowling, e 
Guerra dos tronos, de J. R. R. Martin, as quais não são apenas histórias contadas, 
mas seus mundos imaginários passaram a ser coletivamente referenciados e 
ganharam representações não apenas no imaginário coletivo, mas também na 
realidade material, quando são temas de séries para a televisão, fantasias para 
aficionados e começam a fazer parte da cultura em que estão inseridos. Dessa 
maneira, demonstram que a linguagem é uma forma de transformar a realidade.
É através da palavra que religiões são fundadas, tratados de guerra 
e de paz são feitos, relações se estabelecem, conhecimentos são difundidos ou 
escondidos. Inclusive, se pensarmos na história dos surdos, podemos perceber 
como a negação do uso de sinais acabou por se mostrar ineficiente e inviável 
porque, mesmo proibida, a linguagem permanece através dos sinais realizados 
clandestinamente, ela perpassa as vivências de modo que é, inclusive, maneira de 
reforçar, refundar e garantir a identidade de povos e culturas.
Num exemplo bastante simples para compreensão de como a linguagem 
serve para criar e recriar a realidade, vamos imaginar uma situação em que 
dois colegas de faculdade estão conversando sobre a reunião de formatura na 
qual apenas um deles compareceu. Ao receber o relato de como foi a reunião, 
TÓPICO 1 | O LUGAR DA SINTAXE NOS ESTUDOS DA LINGUAGUEM
5
o formando que não pôde comparecer fica sabendo quais foram os assuntos 
discutidos e as decisões tomadas, bem como recebe a narração das demais 
situações que ocorreram durante a reunião, com um grau de detalhamento e juízo 
de valor que será modificado a partir da maneira como o colega contará para ele 
os fatos que aconteceram a partir de seu ponto de vista.
Assim, comprovando que “a linguagem é [...] orientada pela visão de mundo” 
da pessoa que está recontando a reunião para ele (PETTER, 2010, p. 11). Ou seja, 
a língua(gem) utilizada para relatar a reunião não apenas é o elemento a partir do 
qual o fato é contado, mas ela carrega marcas culturais, sociais, situacional, de uso da 
língua, dentre outras coisas, daquele momento de comunicação social (reunião), mas 
também da interação que está ocorrendo no momento da fala entre os dois colegas.
Você percebeu o uso da expressão “língua(gem)”, no parágrafo anterior? Essa 
forma de escrita foi elaborada por Coelho, Monguilhott e Martins (2009) no material de estudos 
sobre sintaxe para se referirem, ao mesmo tempo, à definição de linguagem e à definição de 
língua, numa mesma expressão. Acreditamos que essa formulação tem como efeito referir-se 
ao mesmo tempo aos dois conceitos, ficando assim mais próxima da utilização de um único 
termo, da mesma maneira como acontece em língua inglesa com o termo “language”.
NOTA
Segundo Petter (2010), o fenômeno linguístico é extremamente complexo e 
tem desafiado a compreensão de todos aqueles que se dedicam ao seu estudo. Esta 
seção do Tópico 1 tem o objetivo de mostrar brevemente qual é o caminho traçado 
pelos estudos da linguagem até hoje, nos fazendo perceber como o entendimento 
linguístico se insere na atualidade das compreensões do estudo da linguagem.
DICAS
Um filme que traz diretamente este poder fundador da imaginação e de 
experiências é o filme História sem fim (1984). Nele, um menino chamado Bastian acha 
um livro que o fará viver experiências inimagináveis. Assim, a linguagem acaba perpassando 
e alterando a realidade do menino. Uma curiosidade é que o livro, em que este filme é 
baseado, tem duas cores de impressão para separar a ficção da realidade.
Outro filme interessante é Onde está segunda? (2017), disponível no catálogo da Netflix. 
Neste filme de ficção científica, em um futuro distópico, cada pessoa pode ter apenas um 
filho, contudo, um homem (interpretado por Willem Dafoe) perde sua filha durante o parto 
de suas sete netas gêmeas. A partir de então, a vida dele e das crianças é tentar fazer com 
que elas não sejam percebidas pelo governo. Para isso, elas precisam ser iguais, porém 
é possível ser igual em tudo? É interessante, como forma de percebermos as diferentes 
maneiras como cada pessoa utiliza a linguagem e constrói a sua narrativa pessoal, a sua 
característica personalizada de uso da língua(gem).UNIDADE 1 | COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS
6
2.1 HISTÓRIA DOS ESTUDOS DA LINGUAGEM
Segundo Petter (2010), embora o interesse pela linguagem seja muito 
antigo e apareça em inúmeras lendas, mitos, cantos e rituais, os primeiros estudos 
datam do século IV a.C. Organizando de maneira resumida o que a autora Petter 
(2010) escreve sobre o assunto, teremos a seguinte organização da história dos 
estudos da linguagem:
• Estudos hindus para a manutenção da pronúncia dos textos sagrados Vedas.
• Século IV a.C., gramática de Panini para descrição minuciosa da língua.
• Gregos, definição entre conceito e aquilo que a palavra designa, Platão (427 
a.C.) discute isso no diálogo Crátilo.
• Aristóteles (384 a.C.) se preocupa em tentar realizar uma análise precisa da 
estrutura linguística.
• Romanos, Varão (116 a.C.) dedicou-se à gramática, tentando defini-la como 
ciência e arte.
• Idade Média, os modistas diziam que a estrutura gramatical das línguas era 
uma única universal, por isso, as regras serviriam para qualquer língua.
• Século XVI, tradução dos livros sagrados em numerosas línguas.
• Em 1502 surge o mais antigo dicionário poliglota, de Ambrosio Calepino.
• Séculos XVII e XVIII dão continuidade às preocupações clássicas de norma e 
estrutura.
• Em 1660, Lancelot e Arnaud lançam a Gramática de Port Royal (Grammaire 
Générale et raisonnée de Port Royal), um modelo para várias gramáticas do 
século XVII, ela demonstrava que “[...] a gramática se funda na razão e é a 
imagem do pensamento, e que, portanto, os princípios de análise estabelecidos 
não se prendem a uma língua particular, mas servem a toda e qualquer língua” 
(PETTER, 2010, p. 12).
• Século XIX, estudo comparativo entre as línguas, surgimento das gramáticas 
comparadas e da Linguística Histórica em 1816, com a obra de Franz Boop sobre o 
sistema de conjugação do sânscrito, comparado ao grego, latim, persa e germânico.
• Século XIX, compreensão da correspondência entre as mudanças do texto 
escrito e as mudanças observadas na língua falada.
• O início do século XX, 1916, é o marco de fundação da linguística como ciência 
autônoma separada da filosofia, história, retórica. Com a publicação do Curso 
de Linguística Geral, a partir das anotações de aula de dois discípulos de 
Ferdinand de Saussure, “[...] a investigação sobre a linguagem – a Linguística 
– passa a ser reconhecida como estudo científico” (PETTER, 2010, p. 13). Sobre 
o objeto de estudos da Linguística, para Saussure, segundo Petter (2010, p. 14), 
esta seria a língua considerada em si mesma e por si mesma.
• Na segunda metade do século XX, Noam Chomsky lança o livro Syntacti 
Strutuctures (1957), obra em que coloca as bases da Teoria Gerativa para análise 
das sentenças: [...] Noam Chomsky trouxe para os estudos linguísticos uma 
nova onda de transformação. [...] [ao afirmar que] “Doravante considerarei 
uma linguagem como um conjunto (finito ou infinito) de sentenças, cada 
uma finita em comprimento e construída a partir de um conjunto finito de 
elementos” (PETTER, 2010, p. 14). 
TÓPICO 1 | O LUGAR DA SINTAXE NOS ESTUDOS DA LINGUAGUEM
7
ESTUDOS FU
TUROS
Guarde os nomes “Noam Chomsky” e “Teoria Gerativa”, porque serão muito 
importantes para os estudos sintáticos que desenvolveremos ao longo deste livro.
Conforme destacam Quadros e Karnopp (2004, p. 16 e 17), “a área da 
Linguística está crescendo como área de estudo, apresentando impacto nas áreas 
voltadas para a Educação, Antropologia, Sociologia, Psicologia Cognitiva, ensino 
de línguas, Filosofia, Informática, Neurologia e Inteligência Artificial”.
Além disso, na atualidade, os estudos linguísticos englobam estudos 
que abarcam estas visões acumuladas ao longo de sua história, como os estudos 
comparatistas, mas também são desenvolvidas pesquisas em que as áreas de 
estudo da linguagem são misturadas a outras áreas de forma transdisciplinar, 
como a Linguística Aplicada, a Sociolinguística, a Psicolinguística, a Análise do 
Discurso e a Linguística Textual.
Nesta seção, estudamos de forma resumida a história dos estudos da 
linguagem através dos principais momentos desde o século IV a.C. Na próxima 
parte deste tópico, veremos brevemente o que define uma ciência e porque 
a organização da Linguística como ciência foi de extrema importância para 
chegarmos ao atual estágio de estudos da linguagem.
2.2 A LINGUÍSTICA COMO CIÊNCIA
Ao pensarmos na palavra ciência, provavelmente nos lembraremos dos 
estudos feitos na escola sobre as partes do corpo, os diferentes tipos de animais, 
ou talvez tenhamos a visão de um cientista de jaleco branco, em um laboratório, 
fazendo experimentos com diferentes instrumentos de pesquisa. Pode ser 
ainda que nos lembremos do estudo de diferentes reações químicas e físicas, 
ou seja, situações bem distantes daquelas experimentadas durante as aulas de 
língua portuguesa ou língua estrangeira, nas quais, normalmente, estudamos 
interpretação de textos, vocabulário e regras ligadas à Gramática Normativa, 
como o uso dos pronomes oblíquos ou do verbo to be. 
Desse jeito, quando estudantes, a maioria de nós não tem a referência do 
estudo da língua pela visão do método científico, por isso em nosso imaginário ficou 
marcada uma noção de ciência como aquelas disciplinas que se dedicam ao estudo 
de fenômenos do corpo e da natureza. Contudo, se observarmos as etapas do método 
científico, veremos que ele pode ser aplicado também aos fenômenos linguísticos, ou 
seja, coisas que acontecem no uso da língua e são passíveis de observação e análise 
deslocada da visão em que a língua é uma série de regras a serem seguidas.
UNIDADE 1 | COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS
8
FIGURA 1 – ETAPAS DO MÉTODO CIENTÍFICO
FONTE: <https://blog.mettzer.com/o-que-e-metodo-cientifico/>. Acesso em: 15 set. 2018.
Faça uma
pergunta
Faça uma
revisão bibliográfica
MÉTODO CIENTÍFICO
Realize um
experimento
Rejeite a
hipótese
Aceite a
hipótese
Formule uma
hipótese
Um exemplo da aplicação do método científico num contexto linguístico 
seria o seguinte: imaginemos que, em uma dada comunidade, o uso corrente da 
palavra “vôlei” seja “voler”, então, nossa pergunta inicial seria: “Por que, nesta 
comunidade, as pessoas utilizam a palavra ‘voler’ no lugar da palavra ‘vôlei’?”; 
em seguida, deveríamos procurar autores e livros que falassem sobre variação 
linguística, dialetos e a troca de uma vogal por uma consoante. Depois disso, 
pensaríamos nas hipóteses que pudessem responder a esta pergunta, por exemplo: 
por que na comunidade é comum esta troca de vogais pela letra erre final? Para 
comprovarmos ou refutarmos a hipótese pensada, teríamos que elaborar uma 
forma de testarmos a nossa hipótese, seja através de questionários, entrevistas 
ou outras maneiras de observar esse fenômeno linguístico acontecendo. Assim, 
utilizaríamos uma visão descritiva/explicativa e não normativa para a explicação 
das situações observáveis no uso da língua.
No Capítulo 1 do livro Manual de Sintaxe, Mioto, Silva e Vasconcellos (2007, 
p. 15-18) estabelecem uma comparação entre o estudo da Física e da Linguagem 
como ciência. Os autores iniciam a discussão colocando que ambas as ciências 
precisam delimitar seu objeto de estudos dentre todos os fenômenos observáveis; 
também ambas necessitam “[...] fazer observações atentas e acuradas de maneira 
tão objetiva e imparcial quanto possível” (MIOTO; SILVA; VASCONCELLOS, 
2007, p. 13, grifo da autora).
Além disso, as observações atentas e precisas por si só não bastam, porque 
o fenômeno que os cientistas observam não é apenas a realização física dos raios 
ou das sentenças, mas os princípios ou padrões que organizam estes fenômenos, 
TÓPICO 1 | O LUGAR DA SINTAXE NOS ESTUDOS DA LINGUAGUEM
9
ou seja, procuram a base comum entre todos eles e elaboram um “modelo 
teórico” que procura estabelecer estes princípios básicos.
Por fim, segundo Mioto, Silva e Vasconcellos (2007, p. 15), “[...] uma 
das razões para a formulação destes princípios gerais é a predição denovos 
fenômenos, e o poder da predição de uma física [e de uma linguística] formulada 
de modo impreciso estaria seriamente comprometido”. Desta maneira, 
ambas as ciências necessitam de “[...] uma metalinguagem suficientemente 
acurada – não necessariamente matemática, mas igualmente rigorosa – para 
poder garantir que os princípios formulados sejam interpretados de maneira 
inequívoca” (MIOTO; SILVA; VASCONCELLOS, 2007, p. 15, grifo negrito do 
original, sublinhado da autora).
Logo, a ciência da linguagem é semelhante às ciências naturais, pois 
necessita dos mesmos elementos para realizar os estudos dos fenômenos a que 
se dedica:
• Delimitação do objeto de estudos.
• Observação atenta e acurada (exata).
• Procurar uma base comum entre todos os princípios e padrões que organizam 
os fenômenos observados.
• Elaboração de um modelo teórico.
• Metalinguagem, ou seja, conceitos e nomenclaturas, específicos e exatos.
2.3 O OBJETO DE ESTUDO DA LINGUÍSTICA
De acordo com Quadros e Karnopp (2004, p. 15), “a Linguística é o 
estudo científico das línguas naturais e humanas. As línguas naturais podem ser 
entendidas como arbitrárias e/ou como algo que nasce com o homem. Essas duas 
correntes estão relacionadas aos pensamentos filosóficos que se originaram com 
Platão e Aristóteles”. Estes pensamentos também caracterizam as duas principais 
vertentes dos estudos linguísticos, aqueles vinculados à linguística delimitada 
por Saussure e aquela pensada por Chomsky.
Saussure (2012) apresenta no Capítulo 1 do Curso de Linguística Geral 
uma divisão dos estudos da “ciência que se constitui em torno dos fatos da 
língua” em três fases anteriores ao que ele chama de reconhecimento de que “a 
linguística tem por único e verdadeiro objeto a língua encarada em si mesma e 
por si mesma”: Gramática, Filologia e Gramática Comparativa (SAUSSURE 1994 
apud QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 15). Esta última, embora tenha trazido 
grandes contribuições que desembocaram no desenvolvimento do pensamento 
linguístico, tem o problema de, na visão exposta por Saussure, não se preocupar 
em determinar a natureza de seu objeto de estudo e, sem isso, seria incapaz de 
estabelecer um método para si mesma.
 
UNIDADE 1 | COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS
10
Segundo Petter (2010), Saussure estabeleceu os princípios da distinção 
entre linguagem, língua e fala, colocando os estudos da linguística na língua que 
ele define como produto social inserido socialmente no cérebro de cada indivíduo. 
Brevemente, a autora coloca que, para Saussure, a linguagem é extremamente 
complexa e abrange vários domínios, assim é passível de interpretação e 
compreensão pelas mais variadas áreas, sendo a língua uma das partes da 
linguagem. Já “[...] a fala é um ato individual; [que] resulta das combinações 
feitas pelo sujeito falante utilizando o código da língua; expressa-se pelo falante 
e obedece às leis do contrato social estabelecido pelos membros da comunidade” 
(PETTER, 2010, p. 14, grifo da autora).
DICAS
A Linguística tem vários conceitos que são abordados por diferentes teorias, 
autores e obras, por isso, uma dica de livro interessante para todos os profissionais da área 
das Letras é o Dicionário de Linguística, de Jean Dubois et al., Editora Cultrix. A primeira 
edição francesa é de 1973. Este é um livro bastante completo e que traz muita informação 
organizada de modo claro e de fácil acesso a verbetes alfabeticamente ordenados. Cada 
verbete apresenta o conceito do termo na visão de diferentes teorias que o utilizam.
Quadros e Karnopp (2004, p. 16) colocam a mesma compreensão da 
Linguística como ciência apresentada na seção anterior, explicitando aquilo 
que Mioto, Silva e Vasconcellos (2007) enfatizam com a explicação dos fatos 
linguísticos e a percepção dos princípios e padrões da língua que extrapolam o 
uso feito pelos indivíduos:
A linguística está voltada prioritariamente para a explicação dos fatos 
linguísticos. Nesse sentido, observa-se uma tensão entre a descrição 
das línguas e a explicação dos fatos comuns que subjazem à realização 
de tais línguas. A explicação constitui o desafio maior da teoria que se 
defronta com a complexidade e a criatividade da linguagem humana. 
A linguística busca desvendar os princípios independentes da 
lógica e da informação que determinam a linguagem humana. Tais 
princípios são o que há de comum nos seres humanos que possibilitam 
a realização das diferentes línguas. Portanto, nesse sentido, a teoria 
linguística extrapola as questões de uso (QUADROS; KARNOPP, 
2004, p. 16, grifo da autora).
Desta maneira, Quadros e Karnopp (2004) remetem ao estudo dos 
princípios, ou seja, bases que determinam a linguagem humana, ao perceberem 
estes princípios como sendo comuns aos seres humanos e, consequentemente, às 
línguas.
Essas duas formas de compreender os estudos da linguagem são 
importantes, pois ambas contribuem para diferentes maneiras de se compreender 
TÓPICO 1 | O LUGAR DA SINTAXE NOS ESTUDOS DA LINGUAGUEM
11
os fenômenos linguísticos. Mais adiante, neste livro de estudos, veremos como 
cada uma delas entende os estudos da área da sintaxe.
2.4 LINGUÍSTICA X GRAMÁTICA NORMATIVA
A Gramática Normativa ou Tradicional (GT) é aquela pautada nos 
estudos que procuram definir e estabelecer as regras/normas que prescrevem a 
forma de uso da língua. Ela parte da premissa de que a língua falada deve seguir 
as mesmas normas observadas nos textos escritos pelos escritores consagrados ou 
pela parcela da população entendida como culta e mais valorizada socialmente.
Assim, a GT entende os fenômenos da língua dentro de uma noção de 
prescrição, ou seja, as regras estabelecidas por ela determinam as regras da escrita 
correta, e tudo o que não estiver de acordo com estas normas é entendido como 
erro. Em síntese, tudo o que foge daquilo que é prescrito por ela está errado e 
deve ser arrumado. 
A visão proposta pela GT ainda se mantém no imaginário coletivo como 
única forma de estudo sobre a língua graças à manutenção deste pensamento nas 
vivências escolares da maioria das pessoas.
Para a GT, a regra/norma é anterior ao uso da língua e é ela que pretende 
determinar com as regras/normas como a língua será usada pelo indivíduo.
IMPORTANTE
Em contrapartida, a visão da Linguística já explicitada anteriormente neste 
tópico prioriza a observação dos fenômenos linguísticos para a descrição/explicação 
dessas situações. Dessa forma, procura perceber como os fatos da língua se dão, em 
quais contextos e quais situações se dá o uso da língua. Quando Quadros e Karnopp 
(2004, p. 16) se remetem a regras estão utilizando a expressão no sentido de observar 
as produções realizadas para compreender como cada uma funciona, a fim de 
perceber a expressão das generalizações e regularidades da linguagem humana.
A linguística parte de pressupostos básicos que determinam as 
investigações. Um dos mais importantes pressupostos assumidos neste 
livro é o de que a linguagem é restringida por determinados princípios 
(regras) que fazem parte do conhecimento humano e determinam a 
produção oral ou visuoespacial, dependendo da modalidade das 
línguas (falada ou sinalizada), da formação das palavras, da construção 
das sentenças e da construção dos textos. Os princípios expressam 
as generalizações e as regularidades da linguagem humana nesses 
diferentes níveis (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 16).
UNIDADE 1 | COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS
12
Os estudos linguísticos partem da observação/descrição dos fenômenos da 
língua (ou seja, diferentes usos) para observar as regras que surgem a partir destes fenômenos. 
Desta forma, a observação linguística é posterior à observação das sentenças.
IMPORTANTE
Por exemplo, ao observarmos as seguintes sentenças:
O uso do termo sentença na teoria linguística tem como base eliminar as 
confusões que os termos frase, oração e período, utilizados pela Gramática Tradicional, 
trazem, pois o termo sentença é utilizado para um conjunto de constituintes combinados deacordo com as regras sintáticas da língua. Por ora, não vamos entrar em detalhes, pois estes 
conceitos serão explicados mais adiante neste livro.
NOTA
Embora as três sentenças retomem a mesma informação: de que a pessoa 
que a emitiu e mais alguém foram ao cinema no dia anterior à fala, cada uma 
se expressa de uma maneira diferente. Em (1) temos um uso mais reconhecido 
socialmente como correto, aquele que víamos na escola ditando regras e normas. 
Já em (2) aparece um uso que não é o padrão normativo, mas já é reconhecido 
como uma forma correta de uso do pronome. Em (3) temos uma forma que a GT 
entende como incorreta, embora seja corrente em diferentes comunidades.
Numa visão linguística de estudo dos fenômenos da língua, a sentença 
(3) seria estudada de modo descritivo e explicativo, ou seja, descrevendo esta 
e outras sentenças com a mesma formação e fazendo uma tentativa de explicar 
o porquê deste uso. Nesta sentença, poderíamos entender que o verbo “ir” foi 
conjugado a partir do sentido que a expressão “a gente” apresenta ao estar no 
lugar do pronome “nós”. Assim, o verbo foi conjugado a partir do “nós” implícito 
e não do “a gente”.
(1) Nós fomos ao cinema ontem.
(2) A gente foi ao cinema ontem.
(3) A gente fomos ao cinema ontem.
TÓPICO 1 | O LUGAR DA SINTAXE NOS ESTUDOS DA LINGUAGUEM
13
3 AS ÁREAS DA LINGUÍSTICA E OS DIFERENTES 
ASPECTOS DA LINGUAGEM
Como já vimos anteriormente, os estudos linguísticos se dividem em 
diferentes áreas que estudam a partir de diversas perspectivas os fenômenos 
linguísticos observados. Cada uma dessas perspectivas aborda aspectos 
específicos do todo, porque a língua(gem) é extremamente complexa, podendo 
ser estudada em seus muitos aspectos.
 
Voltando às discussões sobre a Linguística como ciência, podemos 
aproveitar a comparação que Mioto, Silva e Vasconcellos (2007) fazem entre a Física 
e a Linguística. É importante termos em mente, neste momento, que o primeiro 
elemento necessário para o estudo é a delimitação do objeto. As diferentes áreas 
da Linguística delimitam seus objetos a partir de diferentes lentes teóricas, cada 
uma se dedicando a observar partes do todo observável da linguagem.
Quadros e Karnopp (2004, p. 17) ainda corroboram:
As áreas da linguística que estudam os vários aspectos da linguagem 
humana são: a fonologia, a morfologia, a sintaxe, a semântica e a 
pragmática. Além dessas, originam-se as áreas interdisciplinares, tais 
como a sociolinguística, a psicolinguística, a linguística textual, [a 
linguística aplicada] e a análise do discurso.
 
Agora, passaremos a um breve estudo dos diferentes aspectos estudados 
pelas áreas da Linguística. Com o objetivo de favorecer a compreensão do 
estudo dos diferentes aspectos, utilizaremos a sentença destacada a seguir para 
exemplificar as diferentes abordagens pelas quais ela pode ser estudada:
(4) João disse que Maria está adoentada.
ATENCAO
Para facilitar a compreensão e evitar problemas de referência aos exemplos, 
todas as sentenças utilizadas neste livro de estudos serão numeradas de maneira sequencial 
contínua dentro de cada unidade, ou seja, a numeração recomeçará do número (1) nas 
unidades 2 e 3.
UNIDADE 1 | COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS
14
3.1 FONÉTICA E FONOLOGIA
No Dicionário de Linguística, “a fonética estuda os sons da língua em sua 
realização concreta, independentemente de sua função linguística” (DUBOIS et 
al., 1973, p. 282, grifo do original). Em relação à fonologia, os autores expõem que:
Fonologia é a ciência que estuda os sons da língua do ponto de vista de sua 
função no sistema de comunicação linguística. Ela estuda os elementos 
fônicos que distinguem, numa mesma língua, duas mensagens de 
sentidos diferentes (a diferença fônica no início das palavras do 
português bala e mala, a diferença de posição do acento, no português, 
entre sábia, sabia e sabiá etc.), e aqueles que permitem reconhecer a 
mensagem igual através de realizações individuais diferentes (voz 
diferente, pronúncia diferente etc.). Nisto se diferencia da fonética, 
que estuda os elementos fônicos independentemente de sua função na 
comunicação (DUBOIS et al., 1973, p. 284-285, grifo do original).
Desta maneira, um estudo fonético sobre a sentença, colocada para 
exemplo, descreveria os sons utilizados nela e analisaria quais são as características 
de articulação, de acústica e de percepção acústica. Já um estudo fonológico 
procuraria observar a diferença que o uso do acento em “está” traz na comparação 
com a palavra “esta”, também existente em língua portuguesa e que apresenta 
uma posição diferente da sílaba tônica, pois em “está” ela se encontra na última 
sílaba e, em “esta”, na penúltima.
Nas línguas de sinais, a fonologia tem duas tarefas. Segundo Quadros e 
Karnopp (2004, p. 47) elas são: “[...] determinar quais são as unidades mínimas 
que formam os sinais” e “[...] estabelecer quais são os padrões possíveis no 
ambiente fonológico”.
 
De acordo com Stokoe (apud QUADROS; KARNOP, 2004, p. 48), “as 
unidades mínimas (fonemas) em ASL são: a) Configuração de mão (CM), b) 
Locação de mão (L) / Ponto de Articulação (PA) e c) Movimento de mão (M)”.
3.2 MORFOLOGIA
Os estudos morfológicos são definidos por Dubois et al. (1973, p. 421-422, 
grifos do original) através de duas abordagens:
1. Em gramática tradicional, a morfologia é o estudo das formas das 
palavras (flexão e derivação), em oposição ao estudo das funções ou 
sintaxe.
2. Em linguística moderna, o termo morfologia tem duas acepções 
principais:
a) ou a morfologia é a descrição das regras que regem a estrutura interna 
das palavras, isto é, as regras de combinação entre os morfemas-
raízes para constituir ‘palavras’ (regras de formação de palavras) e a 
descrição das formas diversas que tomam essas palavras conforme 
a categoria de número, gênero, tempo, pessoa e, conforme o caso 
(flexão de palavras), em oposição à sintaxe que descreve as regras 
TÓPICO 1 | O LUGAR DA SINTAXE NOS ESTUDOS DA LINGUAGUEM
15
de combinação entre os morfemas léxicos (morfemas, raízes e 
palavras) para constituir frases;
b) ou a morfologia é descrita, ao mesmo tempo, das regras da estrutura 
interna das palavras e das regras de combinação dos sintagmas 
em frases. A morfologia se confunde, então, com a formação das 
palavras, a flexão e a sintaxe, e opõe-se ao léxico e à fonologia. Neste 
caso, diz-se, de preferência, morfo-sintaxe [sic].
Desta maneira, a morfologia estuda como as palavras são formadas a 
partir da combinação dos morfemas (unidades mínimas de significado) e quais 
são as regras que regem as diferentes maneiras que estes morfemas podem ser 
combinados para a formação de palavras. Como em nosso exemplo, a palavra 
“adoentada” é formada por:
a- + -doent- + -ada = prefixo + radical + sufixo
Além disso, pode também ser entendida como o estudo das combinações 
para formação de palavras, destas, em sintagmas, e destes, em frases. Ao estudar 
também a formação de frases, a morfologia se mescla com a sintaxe ao ter uma 
compreensão morfossintática, ou seja, que estuda as palavras, os sintagmas e a 
formação das sentenças.
Em Língua de Sinais, estudos linguísticos em morfologia estudam as 
regras para a formação de sinais, pois “assim como as palavras de todas as línguas 
humanas [...] os sinais pertencem a categorias lexicais ou a classes de palavras, tais 
como nome, verbo, adjetivo, advérbio etc. As Línguas de Sinais têm um léxico e um 
sistema de criação de novos sinais [...]” (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 87).
Retomando a sentença que estamos utilizando para análise:
(4) João disse que Maria está adoentada.
Um estudo morfológico que observasse as regras de formação de palavras 
e as categorias de gênero, número, tempo e pessoa poderia observar as partes que 
compõem o verbo conjugado “está”. Ao ser decomposto nas partes que compõem 
esta palavra, teríamos a seguinte análise:
• est-: radical do verbo, parte que traz o sentido dele e se mantém durante o 
processo de conjugação verbal deverbos regulares;
• -á: desinência verbal modo-temporal que demonstra as informações de número-
pessoa (3ª pessoa do singular) e modo-tempo (Presente do Indicativo).
UNIDADE 1 | COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS
16
3.3 SINTAXE
Os estudos sintáticos são definidos por Dubois et al. (1973, p. 559) da 
seguinte maneira:
1. Chama-se sintaxe a parte da gramática que descreve as regras pelas 
quais se combinam as unidades significativas em frases; a sintaxe, que 
trata das funções, distingue-se, tradicionalmente, das da morfologia 
[...]. A sintaxe, às vezes, tem sido confundida com a própria gramática.
2. Em gramática gerativa, a sintaxe comporta vários componentes: 
a base (componente categorial e lexical) e o componente 
transformacional.
Desta maneira, a sintaxe comporta os estudos linguísticos que pretendem 
observar como as sentenças são compostas, ou seja, quais são as regras que 
os usuários da língua utilizam para formar sentenças. Segundo Ferrarezi 
Junior (2018, p. 15), “analisar sintaticamente uma frase não vai muito além de 
compreender como as coisas funcionam ali dentro e dar nomes às diferentes 
partes analisadas”. O autor ainda apresenta o seguinte esquema para explicar os 
níveis de combinação da língua de forma simplificada e com o correspondente 
mais técnico:
FIGURA 2 – NÍVEIS DE INTERAÇÃO DA LÍNGUA
FONTE: Ferrarezi Junior (2018, p. 70)
Vamos observar sintaticamente a construção da frase que estamos 
utilizando para análise nesta seção:
(4) João disse que Maria está adoentada.
(5) *Adoentada disse Maria João.
A frase (5) é agramatical porque a organização dos elementos que a 
compõem não corresponde a uma possibilidade em Língua Portuguesa. Do 
mesmo modo, se pensarmos no sinal e no uso do verbo “DIZER”, em Libras, 
teríamos uma formação agramatical se utilizássemos a estrutura de Língua 
Portuguesa. Isso porque o verbo “DIZER” é um verbo direcional e precisa ter seu 
sujeito e seu objeto marcados no espaço de articulação através do movimento de 
início e fim do movimento de sinalização.
palavras
isoladas
palavras
partes mínimas
textoperíodofrasesintagma
estruturas de
sentido completo
trechos da língua
(com uma ou mais frases)
textos
(faladaos ou escritos)
TÓPICO 1 | O LUGAR DA SINTAXE NOS ESTUDOS DA LINGUAGUEM
17
ATENCAO
Quando as sentenças forem agramaticais, ou seja, não forem reconhecidas 
como possibilidades dentro do sistema linguístico, é comum utilizar o asterisco (*) como 
forma de marcar esta agramaticalidade.
Uma das regras de transcrição utilizadas neste livro de estudos é que, ao fazer 
referência aos sinais, utilizaremos a escrita em letras maiúsculas. Por exemplo, o verbo 
“DIZER”, em Libras, é um verbo direcional.
NOTA
ESTUDOS FU
TUROS
Mais adiante voltaremos ao estudo das construções gramaticais e agramaticais, 
aos verbos direcionais e às estruturas de Libras.
3.4 SEMÂNTICA
Os estudos semânticos priorizam o estudo do significado das palavras e 
das sentenças. De acordo com Quadros e Karnopp (2004, p. 21-22):
A semântica trata da natureza e da função e do uso dos significados 
determinados ou pressupostos. É a parte da linguística que estuda a 
natureza do significado individual das palavras e do agrupamento 
das palavras nas sentenças, que pode apresentar variações regionais 
e sociais nos diferentes dialetos de uma língua. Para além desse tipo 
de significado, há aquele do utente da língua que pode incluir o 
literal e o não literal das expressões (casos de ironia e metáforas, por 
exemplo). Apesar dessas variações, existem limites nos significados de 
cada expressão, ou seja, os utentes não podem usar expressões para 
significar o que bem entendem.
UNIDADE 1 | COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS
18
A palavra “utente”, segundo o Dicionário Online de Português: substantivo 
masculino e feminino, usuário; pessoa que faz uso de alguma coisa; quem se serve ou 
desfruta de algo.
FONTE: <https://www.dicio.com.br/utente/>. Acesso em: 20 set. 2018.
NOTA
Assim, os estudos semânticos priorizam o sentido das palavras e 
expressões tanto de forma separada quanto dentro das sentenças, como destas 
entre si. Na frase que estamos usando para análise, o significado dela é que Maria 
tem uma doença e João é quem nos comunica sobre esta doença ao nos dar esta 
informação.
3.5 PRAGMÁTICA
De acordo com Quadros e Karnopp (2004, p. 22-23):
A pragmática envolve as relações entre a linguagem e o contexto. É uma 
área que inclui os estudos da dêixis (utilização de elementos da linguagem 
através de demonstração -indicação-, que envolve basicamente os 
pronomes), das pressuposições (inferências e antecipações com base 
no que foi dito), dos atos de fala (como se organizam os atos de fala e 
quais as condições que observam, das implicaturas (as coisas que estão 
subentendidas nas entrelinhas, incluindo o significado que não foi dito 
explicitamente e dos aspectos da estrutura conversacional (a estrutura 
das conversas entre duas ou mais pessoas e a organização da tomada de 
turnos durante a conversação).
Ao analisarmos a sentença que estamos usando como exemplo, podemos 
entender os seguintes pressupostos e implicaturas:
(4) João disse que Maria está adoentada.
• João conhece Maria.
• João tem um grau de intimidade com Maria que nos permite saber que ela está 
adoentada.
• João sabe que Maria está doente.
• João está informando alguém que não sabe da doença de Maria.
• A doença de Maria está acontecendo no momento em que João falou sobre sua 
doença.
• A pessoa para quem João falou sobre a doença de Maria conhece tanto João 
quanto Maria.
TÓPICO 1 | O LUGAR DA SINTAXE NOS ESTUDOS DA LINGUAGUEM
19
4 O QUE ESTUDA A SINTAXE?
Neste momento estamos prontos para entender o que a sintaxe estuda. A 
sintaxe é uma das áreas da Ciência da Linguagem – a Linguística – que estuda as 
formas como as palavras se estruturam, em partes mínimas chamadas de sintagmas, 
como os sintagmas se organizam para montar as sentenças e como as sentenças 
simples se juntam para formar sentenças complexas. Em seguida, veremos como 
estas sentenças complexas são agrupadas para a formação de textos.
ESTUDOS FU
TUROS
Nas próximas unidades, estudaremos com mais atenção a formação e os 
conceitos das sentenças, dos constituintes e dos sintagmas.
De acordo com Mioto (2009, p. 9, grifo do original), “a sintaxe estuda 
como é que nós combinamos palavras para formar constituintes maiores, que 
chamamos de sintagmas” O autor também traz uma exemplificação bastante 
interessante sobre as combinações das palavras em sintagmas. A seguir, há 
um exemplo inspirado na maneira como o autor apresenta seu exemplo para a 
combinação de palavras e sintagmas.
Ao combinar as palavras o e gato de forma correta, formamos o sintagma 
[o gato], porém se fizermos a combinação de maneira errada, não teremos a 
formação de um sintagma *[gato o].
 
Se as palavras rabo, peludo, gato, o, preto, de são combinadas de maneira 
certa, elas formam um sintagma [o gato preto de rabo peludo], mas se a combinação 
for feita de modo errado, não é formado um sintagma *[rabo de peludo rabo gato o].
 
Mioto (2009, p. 9) também coloca que “a Sintaxe estuda como é que nós 
combinamos sintagmas para formar sentenças”.
 
Se combinarmos corretamente o verbo miou com [o gato] formaremos a 
sentença [o gato miou]. Porém se fizermos a combinação de forma errada *[gato 
miou o], o que é formado não é sentença.
Ao juntarmos, de forma correta, miou com [o gato preto de rabo peludo], ficaremos 
com a sentença [o gato preto de rabo peludo miou], mas se fizermos a combinação de 
forma errada não teremos uma sentença *[o miou gato rabo o peludo preto].
 
Se combinamos Mingau com miou, de maneira correta, teremos a sentença 
[Mingau miou]. Assim, o autor chama a atenção para a extensão dos constituintes, 
UNIDADE 1 | COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS
20
colocando que as combinações em sentenças corretas independem do tamanho 
do constituinte para a formação das sentenças corretas. Portanto, o autor concluique “[...] o que conta para identificar o que é um sintagma não é a extensão do 
constituinte. O que conta para identificar um sintagma é um núcleo, que no caso 
dos constituintes que combinam com sorriu [miou] é o nome menina [gato] ou o nome 
próprio Maria [Mingau]” (MIOTO, 2009, p. 10). Assim, o autor afirma que o importante 
neste exemplo é o núcleo, é um nome, e não a quantidade de palavras envolvidas.
 
Ainda no mesmo texto, Mioto (2009, p. 10) afirma que “a sintaxe estuda, 
também, como é que combinamos sentenças para formar sentenças maiores, as 
chamadas sentenças complexas”.
Se combinarmos a sentença [o gato preto de rabo peludo miou] com [o dono 
chegou] usando a palavra quando, formamos a sentença complexa:
[[o gato preto de rabo peludo miou] quando [o dono chegou]].
Você se lembra do uso dos colchetes lá na Matemática? Pois é, em Linguística 
também os utilizamos, neste caso, é uma das formas utilizadas para a separação dos 
constituintes e das sentenças.
NOTA
Mioto (2009, p. 10, grifo da autora) coloca que a sintaxe estuda como as 
palavras se juntam em sintagmas, os sintagmas se juntam em sentenças, e as 
sentenças se juntam para formar sentenças complexas, e:
Ao estudar isso, a sintaxe procura saber como é que os sintagmas e 
as sentenças se estruturam. Apesar de sintagmas e sentenças serem 
pronunciados (ou escritos) [ou sinalizados] de forma que uma palavra 
venha depois da outra, a sintaxe busca estabelecer como é que as 
palavras se organizam, quais palavras se juntam com quais outras 
para formar os constituintes maiores. Assim, duas palavras que estão 
uma do lado da outra podem pertencer a constituintes diferentes.
Esta definição de estudos sintáticos apresentada por Mioto (2009) é muito 
importante para nossos estudos sobre sintaxe ao longo desta disciplina!
IMPORTANTE
21
Neste tópico, você aprendeu que:
• A linguagem tem o poder de criar e recriar a realidade, por isso faz parte de 
vários mitos da criação.
• A linguagem é um fenômeno bastante complexo, por isso ela tem sido estudada 
há muito tempo e por muitos teóricos.
• Historicamente, o estudo da linguagem tem registros a partir do século IV a.C. 
e passou por três vertentes principais antes da definição da Linguística como 
ciência: gramática para manutenção das regras, estudos históricos sobre as 
línguas e estudos comparativos entre as línguas entre si.
• A Linguística como ciência nasceu a partir do início de século XX com a 
publicação do livro Curso de Linguística Geral, em que a língua é definida como 
objeto de estudo da Linguística.
• No final do século XX, Noam Chomsky traz uma nova compreensão para a 
Linguística ao apresentar a linguagem como um conjunto finito e infinito de 
sentenças.
• A Linguística é uma Ciência como qualquer das ciências naturais, pois tem os 
mesmos elementos que elas.
• O objeto de estudo da Linguística são os fatos da língua.
• A Gramática Tradicional tem uma visão normativa e prescritiva da língua(gem) 
e a Linguística tem uma visão descritiva/explicativa.
• Para a compreensão dos fenômenos linguísticos, a ciência da linguística 
apresenta diferentes áreas de estudo, tais como a Fonologia, a Fonética, a 
Morfologia, a Pragmática, a Semântica e a Sintaxe.
• A sintaxe é a área de estudos da Linguística que se dedica a estudar a combinação 
das palavras em sintagmas, os sintagmas em sentenças e as sentenças simples 
em sentenças complexas.
RESUMO DO TÓPICO 1
22
1 As áreas da linguagem estudam aspectos diferentes dos fenômenos 
linguísticos. Leia a sentença a seguir e marque V para as afirmações 
verdadeiras e F para as falsas em relação à sentença colocada e à possibilidade 
de estudo dentre as áreas da Linguística:
AUTOATIVIDADE
João disse que largou o cigarro.
( ) Num estudo fonológico deveriam ser estudadas as informações 
subentendidas na frase, por exemplo, João era fumante.
( ) Num estudo sintático dividiríamos esta sentença complexa da seguinte 
maneira: [[João disse] que [largou o cigarro]].
( ) Num estudo semântico estudaríamos o significado das palavras e da 
sentença como um todo.
( ) Num estudo pragmático seriam estudadas as partes que constituem as 
palavras desta sentença.
( ) Num estudo morfológico, o verbo “largou” seria dividido em radical 
“larg-“ mais desinência de modo-tempo e número-pessoa “-ou”.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) F – V – V – F – V.
b) ( ) V – F – F – V – F.
c) ( ) F – V – V – F – F.
d) ( ) V – F – V – F – V.
e) ( ) V – V – V – F – V.
2 A ciência da linguagem se divide em áreas para o estudo dos fenômenos 
linguísticos. Assim, a partir do que estudamos neste tópico, qual é a 
contribuição que o estudo da sintaxe pode trazer para a formação de 
professores e tradutores-intérpretes de Libras?
23
TÓPICO 2
ESTUDOS SINTÁTICOS
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
No Tópico 1, tratamos da Linguística e das áreas de estudo que compõem 
a ciência que estuda a linguagem. Também estabelecemos qual é o objeto de 
estudos da sintaxe. No Tópico 2, estudaremos as possibilidades teóricas de 
estudos especificamente sintáticos. Desta maneira, o Tópico 1 tratou de maneira 
mais geral os estudos da Linguística, e o Tópico 2 trará nosso olhar para os estudos 
sintáticos.
Inicialmente, veremos de uma forma breve a história dos estudos sintáticos. 
Em seguida, estudaremos as noções mais tradicionais (GT), aquelas que você com 
certeza já viu na escola em algum momento, e as duas principais tendências dos 
estudos linguísticos dentro da área de sintaxe: a formalista e a funcionalista.
Ao final deste tópico, faremos uma comparação entre as perspectivas 
formalistas e funcionalistas para as análises sintáticas.
2 HISTÓRIA DOS ESTUDOS SINTÁTICOS
De acordo com Berlick, Augusto e Scher (2011, p. 209), a sintaxe só 
começou a tentar se estabelecer como disciplina independente no final do XIX, 
ou seja, ainda antes da linguística de Saussure ter firmado a língua como objeto 
de estudos. As autoras apontam que o trabalho de John Rien O que é sintaxe?, 
publicado em 1894, é o primeiro sinal do interesse pelos estudos dos fenômenos 
sintáticos da língua.
 
Ainda na visão das autoras, é com a divulgação das ideias de Saussure 
no início do século XX que todos os estudos sobre a linguagem humana se 
desenvolvem de forma mais específica, os campos de estudo se delimitam e a 
sintaxe começa a ser reconhecida como um campo de estudos autônomo.
 
Como já vimos anteriormente, em síntese, a sintaxe estuda como se dá a 
formação das palavras em sintagmas, os sintagmas em sentenças e as sentenças 
em sentenças complexas. Ou seja, tem seu foco na maneira como os elementos se 
organizam para formar elementos maiores. Dessa forma, o objeto de análise da 
sintaxe está bem delimitado, “[...] nem sempre encontramos consenso entre os 
estudiosos sobre a natureza dos processos que ali se desenrolam e a maneira mais 
UNIDADE 1 | COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS
24
adequada de explicá-los” (BERLICK; AUGUSTO; SCHER, 2011, p. 210). Embora 
existam inúmeras teorias que tentam explicar os fenômenos sintáticos, as autoras 
dividem essas diferentes perspectivas em duas grandes vertentes teóricas: o 
Formalismo e o Funcionalismo.
De acordo com Berlick, Augusto e Scher (2011, p. 210), as duas abordagens 
são derivadas da diferenciação feita por Saussure entre as duas partes que 
compõem a linguagem, língua e fala (langue e parole), pois:
No momento em que Saussure propõe a clássica distinção entre langue 
e parole [língua e fala], ou seja, em que define a existência de um sistema 
de convenções, regras e princípios independente do uso linguístico 
[langue ou língua], instaura a possibilidade de se estudar a linguagem 
do ponto de vista estritamente formal ou do ponto de vista de suas 
funções.
Assim, ao colocar a língua como um sistema de convenção, Saussure abre 
espaço para dois tipos de compreensões teóricas: 
1) Aquelas que priorizam um entendimento apenas do sistema de regras 
deslocado de um contexto de uso, ou seja, teoriasque pretendem estudar 
como são as relações da língua dentro dela mesma, de forma independente 
do contexto de uso, ou seja, uma visão de descrição formal destas regras 
adquiridas socialmente.
2) Ao mesmo tempo, outro conjunto de pesquisadores se dedica e prioriza a parte 
destas regras em seu contexto de uso social, ou seja, enfatiza o caráter social da 
língua e se dedica a observar como a língua funciona na relação comunicativa 
entre os usuários da língua.
ATENCAO
A publicação do Curso de Linguística Geral foi de extrema importância para os 
estudos linguísticos, não apenas pela delimitação da Linguística como ciência, mas por toda 
a organização dos estudos linguísticos a partir das ideias de Saussure.
3 POSSIBILIDADES TEÓRICAS
 Nas palavras de Ferrarezi Junior (2018, p. 16, grifo da autora):
Ao nos metermos a descrever uma língua, vamos ter que escolher 
uma forma de fazê-la. Há muitas teorias no ‘mercado’, à disposição 
de quem resolver pagar por elas. Podemos tentar uma descrição 
gerativa [formalista], que se propõe a descobrir como as estruturas 
são geradas em nossa mente. Mas podemos optar por uma descrição 
TÓPICO 2 | ESTUDOS SINTÁTICOS
25
‘seca’ da estrutura da língua, o que seria uma descrição estruturalista. 
Podemos, porém, tentar ver como as coisas funcionam no dia a dia, 
o que seria uma descrição funcional. [...] Também, posso não querer 
explicar nada, mas apenas dizer que tem que ser ‘assim e assado’. Aí, 
estou fazendo uma gramática tradicional com tendência normativa.
Para que possa ficar clara a distinção entre a maneira como as possibilidades 
teóricas compreendem os estudos sintáticos, veremos brevemente como a GT, a 
visão formalista e a visão funcionalista explicam os fenômenos sintáticos.
3.1 GRAMÁTICA TRADICIONAL (NORMATIVA)
Nós já estudamos um pouco sobre a Gramática Tradicional (GT) no 
Tópico 1. Aqui veremos a maneira como ela percebe os estudos sintáticos e 
relembraremos algumas nomenclaturas adotadas por ela. Com certeza, você se 
lembra de ter estudado a língua a partir desta compreensão. Muitos terminaram 
o Ensino Médio acreditando que a GT era a única maneira de estudar a língua. 
Também é devido a estes estudos que muitas pessoas acreditam que a Língua 
Portuguesa é muito difícil porque é cheia de regras que não fazem sentido, pois 
estão lotadas de exceções.
Isso acontece porque todas as formas de se normatizar ou prescrever o 
uso das línguas naturais acaba se tornando inviável, pois o uso social da língua 
sempre terá muitas variações linguísticas que, na maioria das vezes, vão se 
distanciar dos usos consagrados que a GT prescreve.
ESTUDOS FU
TUROS
Estudaremos as características das línguas naturais na Unidade 2 deste livro 
de estudos.
A imagem seguinte representa graficamente a ideia de que as mudanças 
linguísticas das línguas naturais não podem ser contidas pela GT. A tentativa 
de conter o crescimento da árvore (língua) dentro da cerca (GT) não funcionou, 
porque a árvore cresceu a partir de seu desenvolvimento natural sem respeitar as 
barreiras (regras) que a cerca tentou impor:
UNIDADE 1 | COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS
26
FIGURA 3 – REPRESENTAÇÃO DE MUDANÇA LINGUÍSTICA
Gramática Tradicional
Variação Linguística
FONTE: <https://static.boredpanda.com/blog/wp-content/uploads/2014/03/first-world-
anarchists-funny-rebels-16.jpg>. Acesso em: 22 set. 2018.
O entendimento vinculado à GT vai nos remeter a regras predeterminadas 
para a elaboração de frases e períodos. Desta maneira, não se detém a explicar 
ou compreender os fenômenos da língua, sua abordagem, parte daquilo que é 
considerado correto pela tradição gramatical. Por isso, a análise sintática que parte 
da GT é pautada na classificação das partes da oração a partir das regras delimitadas. 
Observe o que uma análise sintática de GT nos diria sobre o seguinte exemplo:
(6) O menino viu estrelas à noite.
• Esta frase é uma oração porque possui verbo.
• O sujeito desta oração é: O menino.
• Este é um sujeito simples porque tem apenas um núcleo: menino.
• O verbo desta oração é transitivo direto, por isso tem como complemento uma 
expressão sem preposição: estrelas.
• Esta oração tem um adjunto adverbial de tempo, ou seja, uma expressão que 
modifica o sentido do verbo dando uma ideia de que em algum momento 
aconteceu a ação dele: à noite.
Observe que nesta parte da explicação adotamos a nomenclatura de frase e 
oração, conforme a GT solicita.
NOTA
TÓPICO 2 | ESTUDOS SINTÁTICOS
27
Caso você ainda se lembre desses conteúdos, normalmente eles eram 
estudados na escola a partir de listas intermináveis de conceitos, classificações 
e frases soltas. Quando o estudo se encaminhava para as sentenças complexas, 
a situação ficava ainda mais complicada, com as orações coordenadas e 
subordinadas.
 
O estudo das classificações nada mais é do que o reconhecimento das 
normas e prescrições colocado em uso para análise das frases da língua. Embora 
os demais modos de estudar a língua também tenham nomes específicos e, às 
vezes, usem uma nomenclatura que reconhecemos da GT, a principal diferença é 
que o foco não está na classificação, mas na descrição e compreensão de como as 
regras aparecem quando observamos as frases/sentenças.
3.2 FORMALISTA
A perspectiva formalista dos estudos da linguagem, segundo Berlick, 
Augusto e Scher (2011, p. 210), estuda as “[...] características internas à língua, tais 
como a natureza de seus constituintes e da relação entre eles, ou seja, do aspecto 
formal da língua [...]”. Desta maneira:
Esta corrente do pensamento linguístico se dedica a questões 
relacionadas à estrutura linguística, sem se voltar especialmente para 
as relações entre a língua e o contexto (situação comunicativa) em que 
se insere. Em outras palavras, para os pesquisadores que seguem esta 
via de análise, a linguagem, ou mais especificamente, a sintaxe deve 
ser examinada como um objeto autônomo (BERLICK; AUGUSTO; 
SCHER, 2011, p. 210, grifo da autora).
Ao afirmar que a sintaxe deve ser examinada de maneira autônoma, 
esta teoria está dizendo que as análises formalistas levarão em conta apenas a 
sentença, sem levar em consideração a situação na qual ela foi utilizada.
Assim sendo, os fenômenos de variação e mudança linguísticas, 
observáveis, por exemplo, na questão da ordem em que se apresentam 
os constituintes sintáticos de uma sentença, deverão ser tratados 
em termos de propriedades internas ao sistema linguístico ou 
possibilidades de variação que se verificam nesse mesmo sistema” 
(BERLICK; AUGUSTO; SCHER, 2011, p. 10).
É interessante notar que na visão formalista as variações e mudanças 
linguísticas são parte do sistema da língua como propriedades internas, ou seja, 
fazem parte do domínio do sistema linguístico ou podem ser verificadas por este 
mesmo sistema. Assim, se diferencia muito da visão da GT, que coloca a variação 
como erro a ser consertado.
 
A visão formalista na Teoria Gerativista de Noam Chomsky “[...] concebe 
as línguas humanas como sistemas constituídos por princípios universais – 
invariáveis que toda e qualquer língua apresentará – e parâmetros de variação, 
UNIDADE 1 | COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS
28
responsáveis por especificar as propriedades variáveis das línguas particulares” 
(BERLICK; AUGUSTO; SCHER, 2011, p. 214). Desta maneira, as análises desta 
teoria pretendem observar o conhecimento internalizado pelo falante a partir 
das sentenças e, para isso, usa uma forma específica para a apresentação dos 
constituintes das sentenças.
 
Como esta perspectiva será melhor estudada no Tópico 3, colocaremos 
um exemplo e explicaremos brevemente esta representação arbórea inicial dos 
constituintes do sintagma verbal: 
FIGURA 4 – SINTAGMA NOMINAL ESTRUTURA ARBÓREA INICIAL
SN
Diadorim
SN
Riobaldo
SV
V'
V0
amar
FONTE: Berlick, Augusto e Scher (2011, p. 216)
Esta representação em formato de árvore representa a delimitação inicial 
dos elementos que constituem o sintagma verbal (SV), é uma representaçãoinicial porque ainda não olharemos a flexão do verbo, apenas elementos que o 
verbo seleciona. O verbo amar seleciona, ou seja, ele precisa de dois elementos 
(argumentos) que são sintagmas nominais (SN) aos quais dá o papel de agente 
e paciente.
É interessante observar que a estrutura de árvore permite que sejam 
organizados hierarquicamente os constituintes dos sintagmas e das sentenças. 
A organização em níveis é muito importante para a perspectiva formalista dos 
estudos sintáticos.
ESTUDOS FU
TUROS
Por enquanto, não nos aprofundaremos nos demais aspectos das análises da 
Teoria Gerativa, tendo em vista que ela será estudada com mais detalhes mais adiante, quando 
retomaremos o estudo de algumas representações em árvore dentro desta perspectiva. Na 
Unidade 2, estudaremos com mais detalhes os conceitos de sintagmas e argumentos.
TÓPICO 2 | ESTUDOS SINTÁTICOS
29
3.3 FUNCIONALISTA
A abordagem funcionalista estuda a sintaxe das sentenças não organizada 
em hierarquias, assumindo que os elementos que constituem a sentença podem 
ser ordenados segundo diferentes padrões que têm o mesmo valor gramatical, 
desta maneira, existe uma coexistência entre as várias construções possíveis. Isso 
se dá porque a ordem é entendida como superficial, por isso:
[...] a ordenação dos constituintes vai depender de como o falante 
avalia a informação de que o ouvinte dispõe – aquilo que já conhece e o 
que é novo para ele – e, a partir disso, organiza sua fala para provocar 
alguma mudança nesse conjunto de informações, fornecendo ao 
destinatário de sua mensagem, algo de novo (BERLICK; AUGUSTO; 
SCHER, 2011, p. 232).
Contudo, de acordo com Berlick, Augusto e Scher (2011, p. 235), é 
necessário que as informações dadas sejam feitas de algum modo para marcação 
de tópico ou “[...] associando determinadas posições na frase com certas funções 
pragmáticas bem específicas”.
Relembrando o que estudamos no Tópico 1, a Pragmática é aquela área de 
estudos da linguagem que se dedica aos estudos da linguagem em uso, dando ênfase 
ao contexto.
NOTA
Assim, são os usos da língua e a análise dos contextos de aparecimento 
destes usos nas sentenças que determinarão o olhar do pesquisador, ou seja, os 
estudos funcionalistas não visam determinar padrões universais, mas observar 
os fenômenos de acordo com a utilização dada pelos falantes em determinados 
contextos, ou seja, no interior das sentenças.
Ainda segundo as autoras, nas teorias que percebem desta forma o estudo 
da sintaxe, existem princípios que interagem dentro da língua para organizar 
os padrões de ordenação das sentenças. Berlick, Augusto e Scher (2011, p. 235) 
destacam três destes padrões:
a) a preferência de que os constituintes com a mesma especificação 
funcional (por exemplo, sujeito ou objeto) ocupem a mesma posição 
estrutural;
b) a tendência a que em certas posições da estrutura da frase ocorram 
sempre as mesmas categorias gramaticais e constituintes com 
função de tópico ou foco;
c) a tendência a organizar a frase da esquerda para a direita, segundo 
um grau crescente de complexidade categorial.
UNIDADE 1 | COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS
30
ESTUDOS FU
TUROS
Mais adiante, veremos os padrões de ordenação das sentenças em Libras e os 
contextos em que eles são modificados.
De acordo com as autoras, é a ação desses padrões que leva a um esquema 
para a ordem das frases, a partir dele cada língua fará a especificação dos padrões 
de ordenação da frase. Desta maneira, as motivações para as variações da 
língua estariam vinculadas à natureza comunicativa e contextual das sentenças 
(BERLICK; AUGUSTO; SCHER, 2011).
3.4 FORMALISTA X FUNCIONALISTA
Mesmo que num primeiro momento pareçam muito diferentes, as 
vertentes teóricas formalistas e funcionalistas podem ser compreendidas como 
maneiras complementares de se estudar as sentenças da língua. Ou seja, mesmo 
parecendo que as visões formalista e funcionalista observam a sintaxe de 
modo muito diferente, na verdade elas podem ser compreendidas como jeitos 
complementares de descrever o funcionamento da língua.
 
Esta visão de complementaridade dos estudos formalistas e funcionalistas 
aparece no texto de Berlick, Augusto e Scher (2011, p. 240):
Dadas certas construções da língua, a análise formalista busca 
descrever e explicar de que modo estão estruturados os mecanismos 
gramaticais que as engendram e, assim fazendo, explica também 
aquilo que a língua não é capaz de gerar. Já a análise funcionalista, 
partindo desse mesmo conjunto de dados, ou seja, do mesmo objeto 
de estudo [...], vai explicá-lo segundo as funções que desempenham no 
uso – se há formas alternativas de expressão, elas devem ter diferentes 
valores comunicativos.
Tendo isso em vista, e lembrando da complexidade da língua e da 
linguagem a que nos referimos no tópico anterior, podemos concluir que as 
diferentes formas de estudo da sintaxe são importantes para o entendimento 
mais abrangente dos diferentes fenômenos observáveis nas sentenças da língua.
Dito de outra maneira, as visões formalista e funcionalista observam o 
mesmo fenômeno sintático de modo que as suas análises se complementam, uma 
olhando aquilo que é observável na sentença por ela mesma e a outra procurando 
as maneiras de explicar pelo uso como as palavras se organizam nas sentenças.
31
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• Os estudos da sintaxe como disciplina independente são do final do século 
XIX.
• Ao dividir a linguagem em língua e fala (langue e parole), Saussure abriu espaço 
para os estudos formalistas e funcionalistas.
• Existem várias teorias que procuram estudar as diferentes compreensões das 
regras sintáticas.
• A Gramática Tradicional (GT) estuda a sintaxe de maneira normativa e 
prescritiva, sem considerar a variação/mudança linguística.
• As mudanças das línguas naturais não são acompanhadas pela GT.
• A GT não consegue barrar as mudanças linguísticas.
• Para os estudos formalistas, a sintaxe deve ser estudada como objeto autônomo, 
ou seja, sem levar em conta o contexto de uso das sentenças.
• Os estudos formalistas pretendem determinar um padrão universal.
• Os estudos formalistas organizam suas análises em árvores para colocar em 
hierarquia os constituintes da sentença.
• Os estudos funcionalistas não hierarquizam os constituintes.
• Os estudos funcionalistas pretendem estudar os padrões observáveis nos 
contextos de uso, ou seja, padrões específicos dentro das línguas analisadas.
• As visões formalista e funcionalista são complementares para o estudo das 
sentenças.
32
1 Analise as seguintes afirmações sobre os estudos sintáticos feitos pela 
Gramática Tradicional, pela Teoria Gerativa (formalista) e pelos estudos 
funcionalistas:
I- A Gramática Tradicional é recorrente nos estudos linguísticos feitos no 
ensino regular das escolas.
II- A visão funcionalista compreende a língua em si mesma desvinculada do 
contexto de uso.
III- A visão formalista é aquela em que os estudos sintáticos são feitos a partir 
da estruturação hierárquica dos constituintes.
IV- As teorias formalista e funcionalista se complementam para o estudo das 
sentenças.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente as afirmações I e II estão corretas.
b) ( ) Somente as afirmações II e III estão corretas.
c) ( ) Somente as afirmações I e IV estão corretas.
d) ( ) Somente as afirmações I, III e IV estão corretas.
2 Leia a seguinte afirmação sobre o uso de diferentes quadros teóricos em sala 
de aula:
Porém, vale lembrar, do professor de língua [...] não pode ser exigido 
um comportamento de cientista, ou seja, a migração de um quadro 
teórico para outro – que seria tomada como indício de despreparo 
se vista apenas do prima do fazer científico – é um recurso que se 
impõe ao professor, já que ele está diretamente ligado à realidade 
linguística do aluno que, não raras vezes, exige compreensão global 
do fenômeno linguístico (FLORES, 2012, p. 58).
Para você, como esta afirmação está relacionada aoestudo sobre as 
visões formalistas e funcionalistas da sintaxe estudadas neste tópico?
AUTOATIVIDADE
33
TÓPICO 3
TEORIA GERATIVA: CONCEITOS BÁSICOS
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, nós começamos o Tópico 1 deste livro com as discussões 
sobre os estudos da linguagem. Vimos os principais momentos da história dos 
estudos linguísticos e compreendemos o objeto que a Linguística estuda. Depois 
disso, vimos as diferentes áreas dos estudos da linguagem e definimos o foco dos 
estudos sintáticos.
 
No Tópico 2, focamos a discussão nas questões específicas dos estudos 
da sintaxe, vimos quando se deu o início da disciplina de maneira autônoma e 
estudamos três das principais formas para compreensão dos fenômenos sintáticos 
observáveis nas sentenças: a Gramática Tradicional, a visão formalista e a visão 
funcionalista.
A fim de darmos continuidade aos nossos estudos sobre sintaxe, como diz 
Ferrarezi Junior (2018), é necessário que façamos uma escolha sobre qual forma 
ou teoria utilizaremos para compreender os fenômenos da língua e da sintaxe 
que pretendemos estudar. Ou seja, é necessário que façamos também a nossa 
escolha para dar continuidade aos estudos sintáticos deste livro de estudos.
Entretanto, um livro de estudos não pode impunemente escolher a teoria 
que mais agrada ao autor dele, porque é um tipo de texto que pretende apresentar 
aos estudantes, que farão uso dele, as tendências às quais a disciplina que ensina 
está ligada.
Assim, depois de pesquisar, ler, estudar e acessar os autores e textos mais 
reconhecidos na área de estudos da Linguística da Libras, pudemos concluir que 
a perspectiva que norteia a maioria dos estudos nesta área é a Teoria Gerativa.
 
De acordo com Quadros e Karnopp (2004, p. 16), no livro Linguística da 
Língua de Sinais Brasileira, “a linguística parte de pressupostos que determinam 
as investigações”, neste momento as autoras apresentam a perspectiva escolhida 
por elas para nortear a escrita do livro e as análises feitas. Resumidamente, o que 
elas colocam é que:
• a linguagem é restringida por determinados princípios (regras) que 
fazem parte do conhecimento humano e determinam a produção 
oral ou visuoespacial;
34
UNIDADE 1 | COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS
• os princípios [regras] expressam as generalizações e as 
regularidades da linguagem humana nos diferentes níveis de 
organização sintática;
• os princípios são universais, ou seja, não dependem do estudo de 
línguas específicas;
• existe a possibilidade dos princípios que regem todas as línguas; 
• as estruturas sintáticas apresentam aspectos comuns, apesar das 
diferenças entre as línguas;
• os aspectos comuns entre as línguas interessam às 
investigações linguísticas porque ajudam a explicar a 
natureza da linguagem humana (QUADROS; KARNOPP, 
2004, p. 16).
Desta maneira, a compreensão das autoras se insere na teoria formalista, 
tendo em vista que pretendem observar as regras que norteiam as construções em 
todas as línguas.
Tendo isso em vista, focaremos os estudos específicos de sintaxe na 
perspectiva da Teoria Gerativa de Noam Chomsky. Neste Tópico 3, estudaremos 
os conceitos básicos a partir das discussões sobre os pressupostos da teoria, a 
forma como a língua é percebida, os conceitos de Gramática Universal, Faculdade 
da Linguagem, gramaticalidade e agramaticalidade, bem como as definições de 
competência e desempenho.
2 PRESSUPOSTOS DA TEORIA GERATIVA
Pense na quantidade de palavras/sinais que você conhece. São muitos, 
não é mesmo? Isso sem contar todos aqueles que você não lembraria num 
primeiro momento, mas que também são seus conhecidos. Além disso, palavras/
sinais estão sempre sendo criados, modificados, emprestados de outras línguas, 
desenvolvidos para um campo específico de estudos, inventados para um 
determinado objeto ou ressignificados por uma comunidade. Não conseguimos 
saber ao certo nem o nosso léxico pessoal (conjunto de palavras/sinais), nem 
o todo da(s) língua(s) que usamos, porque eles estão sempre em processo de 
mudança e variação.
 
Assim, podemos deduzir que o léxico é composto por um conjunto 
infinito de palavras/sinais. Logo, se este conjunto é infinito, as possibilidades de 
combinações das palavras/sinais para formação das sentenças também são infinitas, 
pois elas são formadas a partir das combinações deste mesmo léxico. Não apenas 
as combinações são incontáveis, mas a quantidade de palavras/sinais presentes em 
cada uma das sentenças, a organização interna destas sentenças e a combinação 
entre as sentenças também podem ser realizadas de incontáveis formas.
Mesmo assim, apesar dessas muitas variáveis, podemos perceber que 
existem princípios e parâmetros que orientam a forma como estas combinações das 
palavras/sinais podem ser feitas em sentenças e, destas, em sentenças complexas. 
Ou seja, não podemos combinar de qualquer jeito as palavras/sinais, isso acontece 
TÓPICO 3 | TEORIA GERATIVA: CONCEITOS BÁSICOS
35
porque, de acordo com Coelho, Monguilhott e Martins (2009), existem maneiras 
que são comuns para a organização das sentenças em todas as línguas naturais 
(os princípios) e existem outras que mudam nas diferentes línguas, e existem 
variações dentro de uma mesma língua.
Então, agora que já começamos a pensar sobre o conjunto de palavras/
sinais e as infinitas possibilidades, vamos explorar a maneira como a Teoria 
Gerativa entende o estudo das línguas naturais, como conceitua e caracteriza 
estas línguas.
2.1 O ESTUDO DA LÍNGUA NA PERSPECTIVA GERATIVA
A Teoria Gerativa é uma percepção inatista da aquisição da linguagem, ou 
seja, vê a linguagem como um componente da mente humana, por isso aproxima 
os estudos linguísticos dos estudos da Biologia. Assim, a mente humana, 
nesta perspectiva, tem um componente responsável pelo desenvolvimento 
da linguagem (a Faculdade da Linguagem), que é acionado de acordo com os 
estímulos externos a que as crianças são expostas na interação com usuários 
competentes da língua.
 
De acordo com Berlick, Augusto e Scher (2011, p. 211): 
O programa de investigação da Gramática Gerativa, representado 
na figura de Noam Chomsky, tem seu início no final da década de 
cinquenta [1950] e, constituindo-se de um exemplo de proposta 
de análise linguística voltada para as questões formais da língua. 
Partindo do princípio de que a língua é um sistema de conhecimentos 
interiorizados na mente humana, Chomsky (1986) define tal programa 
[da Teoria Gerativa] como a exploração de quatro questões principais:
a) No que consiste o sistema de conhecimentos do falante de uma 
determinada língua particular?
b) Como se dá o desenvolvimento de tal sistema de conhecimentos na 
mente do falante?
c) De que forma o falante utiliza tal sistema em situações discursivas 
concretas?
d) Que mecanismos físicos do cérebro do falante servem de base a tal 
sistema de conhecimentos?
Para responder a estas perguntas a partir dos dados dos quais se ocupa, o 
método de investigação da Teoria Gerativa adota a perspectiva formalista, tenta 
“[...] pelo estudo da língua em termos de suas partes, determinar os princípios de 
sua organização, para então estabelecer as relações entre elas [partes da língua] 
e seu uso” (BERLICK; AUGUSTO; SCHER, 2011, p. 211). Contudo, não devemos 
confundir aqui a utilização da palavra “uso”. No contexto da Teoria Gerativa, ela 
remete aos contextos de uso nas sentenças em que os termos aparecem, ou seja, 
não deve ser confundida com o uso que os falantes fazem da língua.
 
Além disso, para delimitar a maneira como observará as sentenças, a 
Teoria Gerativa coloca, de acordo com Petter (2010, p. 15), que a tarefa do linguista, 
36
UNIDADE 1 | COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS
nesta perspectiva, é a de descrever a competência linguística que está subjacente ao 
desempenho, ou, dito de outro modo, o pesquisador que escolher esta visão teórica 
procurará observar “a porção do conhecimento do sistema linguístico do falante 
que lhe permite produzir o conjunto desentenças de sua língua”.
Esta parte do conhecimento interno é observável a partir das sentenças e 
deve ser depreendida a partir das realizações observáveis, ou seja, as sentenças 
propriamente ditas são a maneira como o linguista pode compreender a estrutura 
subjacente ou profunda da língua. 
Por isso, o método de pesquisa gerativa da linha desenvolvida por Chomsky 
é dedutivo, baseado na introspecção do linguista e, conforme Berlick, Augusto e 
Scher (2011, p. 211), “argumenta em favor de uma base inatista para o processo de 
aquisição da linguagem e trata os fatores linguísticos de forma modular – todas 
as características de uma abordagem formal de análise linguística”.
No Dicionário de Linguística, Dubois et al. (1973, p. 384) afirmam que:
A descrição chomskyana da língua apresenta [...] duas partes:
(1) uma parte gerativa, descrição sintática das frases de base da 
estrutura profunda;
(2) uma parte transformacional, descrição das operações que 
permitem passar da estrutura de base à estrutura de superfície.
Desta forma, a descrição proposta por Chomsky é estruturada em níveis 
construídos de modo hierárquico, ou seja, nível superior, intermediário e de base. 
Estes níveis são representados em formato de árvore para melhor organizar os 
elementos. Para demonstrar a base de como as árvores são montadas, utilizaremos 
a explicação presente no material de Sintaxe da Língua Portuguesa, escrito por 
Mioto (2009). Nele, o autor explica que é necessário projetar o núcleo X em dois 
níveis, além da projeção máxima (sintagma):
X = projeção mínima
X' = projeção intermediária 
XP = projeção máxima (= sintagma)
Ao ser montada na estrutura de árvore utilizada pela teoria, ela ficaria 
assim, com o nível X’ sendo utilizado “para pendurar um complemento [Compl] 
de X” (MIOTO, 2009, p. 24):
TÓPICO 3 | TEORIA GERATIVA: CONCEITOS BÁSICOS
37
FIGURA 5 – ÁRVORE 1
Compl
X'
X
FONTE: Mioto (2009, p. 24)
A letra X significa qualquer núcleo dentro da teoria, ou seja, um uso parecido 
com o das equações matemáticas em que X pode representar qualquer número.
NOTA
Mioto (2009, p. 24) utiliza a sentença “A menina abraçou o menino com 
carinho.” para explicar como a representação funciona. Ele seleciona o verbo 
abraçar, que pede sempre complemento, que na sentença utilizada é menino, e 
afirma que esta combinação vai produzir a seguinte árvore:
FIGURA 6 – ÁRVORE 2
FONTE: Mioto (2009, p. 24)
ESTUDOS FU
TUROS
Retomaremos as representações arbóreas mais adiante neste livro de estudos, 
estamos apresentando aos poucos essas representações.
2.2 CARACTERÍSTICAS DAS LÍNGUAS NATURAIS
Você consegue identificar em que língua estão estas sentenças retiradas 
de Urbim (2016)?
Compl
o menino
V'
V
abraçar
38
UNIDADE 1 | COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS
(7) Rigardi, tia mirinda afero, kaj plena de graco.
(8) Paw be’hom, ‘ach mevbe’, yittah.
(9) Vanimle sila tiri ed’ i’ear.
A não ser que você seja um estudante de Esperanto, ou talvez um fã muito 
dedicado de Jornada nas Estrelas ou de O senhor dos anéis, provavelmente não 
conseguirá responder à pergunta que abre esta seção, pois estas são sentenças 
escritas em Esperanto, Klingon e Sindarin, e significam, respectivamente:
(10) Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça.
(11) É ela, menina, que vem e que passa.
(12) Num doce balanço a caminho do mar.
Estas são línguas artificiais construídas de forma não natural para fins 
específicos. De acordo com Urbim (2016), o Esperanto junta palavras de várias 
línguas latinas e uma pronúncia eslava. Já o Klingon ganhou vida própria após 
sua criação para o 3º filme de Jornada nas Estrelas e teve inspiração em sons 
guturais que imitariam uma pronúncia alienígena. O Sindarin foi inspirado no 
galês e criado por J. R. R. Tolkien, e serviu de inspiração para todo o mundo 
literário imaginado por ele.
J. R. R. Tolkien levou ou extremo nossa discussão feita no início do livro de 
estudos, pois foi literalmente a criação do Sindarin que serviu para criar um mundo inteiro 
em O senhor dos anéis. Este mundo criado modificou a realidade através de suas histórias a 
ponto de o idioma desenvolvido por ele ter se tornado usual por 20 mil pessoas.
NOTA
A descrição dessas línguas artificiais pode nos ajudar a entender as 
características das línguas naturais, pois ao compreendermos as suas características, 
podemos depreender as características básicas das línguas naturais.
Mesmo com esta descrição bastante rápida do Esperanto, do Klingon 
e do Sindarin, podemos perceber que as línguas artificiais teriam as seguintes 
características:
• são criadas por pessoas específicas para situações determinadas; em 
contraponto, as línguas naturais não são criadas, elas existem com um fato 
linguístico a ser estudado;
TÓPICO 3 | TEORIA GERATIVA: CONCEITOS BÁSICOS
39
• a elaboração delas é feita a partir de línguas naturais, ou seja, precisam se 
apoiar nos elementos preexistentes para definirem sua pronúncia e estrutura. 
Embora as línguas naturais se desenvolvam também a partir da interação entre 
as línguas, esta interação não é tão ordenada ou organizada, ela se dá de forma 
mais caótica, menos ordenada;
• tem sua origem facilmente rastreada e um objetivo específico para criação, 
as línguas naturais são muito mais difíceis de se determinar um momento 
de criação, pois nascem do caos decorrente do contato humano, ou seja, as 
pesquisas em linguística estão, de alguma forma, tentando perceber quais são 
as regras e princípios que regem as línguas naturais.
Até aqui discutimos de modo empírico a definição e as características 
das línguas naturais. Agora, vamos ver algumas definições mais vinculadas ao 
viés teórico que estamos estudando. De acordo com Petter (2010, p. 14-15), nos 
estudos de Chomsky:
[...] todas as línguas naturais são, seja na forma falada, seja na escrita, 
linguagens, no sentido de sua teoria, visto que:
• toda língua natural possui um número infinito de sons (e um 
número finito de sinais gráficos que os representam, se for escrita);
• mesmo que as sentenças distintas da língua sejam em número 
infinito, cada sentença só pode ser representada como uma 
sequência finita desses sons (ou letras).
Dentro desse contexto infinito de sons, numa sentença finita em extensão, 
segundo Petter (2010, p. 14-15, grifo da autora):
Cabe ao linguista, que descreve qualquer uma das línguas naturais, 
determinar quais dessas sequências finitas de elementos são sentenças 
e quais não são, isto é, reconhecer o que se diz e o que não se diz naquela 
língua. A análise das línguas naturais deve permitir determinar as 
propriedades estruturais que distinguem as línguas naturais das 
outras linguagens.
Ainda sobre o modo como o linguista lida com o estudo das línguas 
naturais, as análises determinam as características estruturais que particularizam 
as línguas naturais das demais linguagens. De acordo com Quadros e Karnopp 
(2004, p. 24):
O linguista, a princípio, lida com as línguas naturais, [...] o que o 
linguista quer saber é se as línguas naturais, todas, possuem em 
comum algo que não pertença a outros sistemas de comunicação, 
humano ou não, de tal forma que seja correto aplicar a cada uma 
delas a palavra ‘língua’, negando-se a aplicação deste termo a outros 
sistemas de comunicação.
Quadros e Karnopp (2004) tomam por base os estudos de Hockett (1992, 
p. 11-20), Lyons (1981, p. 30-35) e Lobato (1986, p. 41-47), listados a seguir, para 
nos apresentar os traços que caracterizam as línguas naturais:
40
UNIDADE 1 | COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS
• Flexibilidade e versatilidade: apenas a língua apresenta um grau tão grande 
destas características, pois:
[...] pode-se usar a língua para dar vazão às emoções e sentimentos, 
para solicitar a cooperação de companheiros; para ameaçar ou 
prometer; para dar ordens, fazer perguntas ou afirmações. É possível 
fazer referência ao passado, presente e futuro; a realidades remotas em 
relação à situação de enunciação – até mesmo a coisas que não existem(QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 25).
• Arbitrariedade: refere-se à impossibilidade de prever a forma a partir do 
significado, nem vice-versa, não existindo uma ligação específica entre eles; 
também as questões estruturais, na maioria das vezes, funcionam da mesma 
forma. “Na opinião de Chomsky, os seres humanos são geneticamente dotados 
de um conhecimento dos princípios gerais ditos arbitrários, que determinam 
a estrutura gramatical de todas as línguas” (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 
25). Pensando em Libras, alguns sinais até são icônicos e lembram as formas a 
que se referem, como o sinal de TARTARUGA, mas mesmo ele apenas remete 
a algumas características do nosso animal de exemplo, ou seja, a forma não 
garante a compreensão do significado apenas pela forma.
FIGURA 7 – SINAL E ESCRITA DE SINAIS DE TARTARUGA
FONTE: Capovilla e Raphael (2001, p. 227)
Você já deve ter estudado sobre a classificação de sinais icônicos e arbitrários. 
Os primeiros lembram a forma a que se referem, e os outros não lembram a forma do objeto 
a que se referem. Porém é importante lembrar que os sinais icônicos apenas fazem alusão 
ao objeto, mas, assim como nas línguas orais, eles são apenas representações do objeto que 
tem alguma referência na forma ou outra característica.
NOTA
TÓPICO 3 | TEORIA GERATIVA: CONCEITOS BÁSICOS
41
• Descontinuidade: palavras que se parecem na forma, por exemplo, “vaca” 
e “maca”, são bastante parecidas na forma, mas apresentam uma grande 
diferença de significado, assim demonstrando a característica de que as 
palavras/sinais não têm continuidade entre forma e significado, ou seja, não 
é porque as palavras/sinais têm articulações parecidas que seus significados 
serão também semelhantes (QUADROS; KARNOPP, 2004). Um exemplo em 
Libras seriam os sinais de AMARELO e PERIGO, embora sejam parecidos na 
forma de realização, os seus significados são bastante diferentes:
FIGURA 8 – SINAL E ESCRITA DE SINAIS DE PERIGO
FONTE: Capovilla e Raphael (2001, p. 1728)
FIGURA 9 – SINAL E ESCRITA DE SINAIS DE AMARELO
FONTE: Capovilla e Raphael (2001, p. 227)
• Criatividade/produtividade: a partir de seus conhecimentos linguísticos, os 
usuários podem criar e entender “[...] um número indefinido de enunciados que 
jamais ouviram ou viram antes”. As autoras também afirmam que “Chomsky 
coloca que esta complexidade e heterogeneidade, entretanto, é regida por 
regras, dentro dos limites estabelecidos pelas regras da gramática, que são em 
parte universais e em parte específicos de determinadas línguas” (QUADROS; 
KARNOPP, 2004, p. 26).
• Dupla articulação: os diferentes fonemas da língua não têm um significado 
isoladamente, somente quando combinados com outros fonemas é que adquirem 
significado. Por exemplo, as letras f, g, o, a não têm significado sozinhas, mas se 
combinadas, como em fogo, gado e fado, elas ganham significado. Trazendo um 
exemplo em Libras, pensamos na seguinte configuração de mão:
42
UNIDADE 1 | COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS
FIGURA 10 – SINAL E ESCRITA DE SINAIS DE BANHEIRO
FONTE: Capovilla e Raphael (2001, p. 371)
FIGURA 11 – CONFIGURAÇÃO DE MÃO
FONTE: A autora
Separadamente, a configuração não tem significado, porém, ao juntarmos 
a ela os elementos de Movimento e Ponto de Articulação específicos, teremos o 
sinal de BANHEIRO, ou seja, a composição de elementos passará a ter significado.
• Padrão: os fonemas, as palavras/sinais e sentenças, dentro das línguas naturais, 
têm maneiras possíveis de se organizar que seguem um padrão para a formação 
de constituintes maiores.
• Dependência estrutural: “[...] uma língua contém estruturas dependentes 
que possibilitam um entendimento da estrutura interna de uma sentença, 
independente[mente] do número de elementos linguísticos [que fazem parte 
desta sentença]” (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 28). Observe as seguintes 
sentenças formadas por um sintagma nominal e um sintagma verbal:
QUADRO 1 – EXEMPLOS DE SENTENÇAS
O menino
Ele
O menino é arteiro e feliz
saiu.
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
TÓPICO 3 | TEORIA GERATIVA: CONCEITOS BÁSICOS
43
Mesmo que você nunca tenha visto essas sentenças, será capaz de 
compreender não apenas o que elas dizem, mas também ter noção, a partir da 
estrutura, do papel de cada sintagma dentro delas.
Tendo essas características em vista, percebemos que as línguas naturais 
seguem padrões que, ao mesmo tempo, organizam as línguas e estabelecem a 
forma como estas poderão variar. Dito de outra maneira, as línguas naturais são 
compostas de uma mistura intrincada de padrões e regras que apresentam um 
grau de criatividade e que possibilita elaborações livres dentro de certos padrões.
3 FACULDADE DA LINGUAGEM E GRAMÁTICA UNIVERSAL
Como já destacamos anteriormente, a Teoria Gerativa tem uma visão 
inatista da linguagem, quer dizer, essa teoria enxerga a linguagem como uma 
capacidade inerente aos seres humanos desde o seu nascimento. Segundo vários 
estudos, apenas os seres humanos são dotados da capacidade de "[...] combinar um 
certo número de elementos de acordo com determinados princípios para formar 
sentenças. Essa capacidade que nasce conosco e tem a ver com o tipo específico de 
estrutura e organização da mente humana é denominada Faculdade da Linguagem" 
(COELHO; MONGUILHOTT; MARTINS, 2009, p. 6-7, grifo do original).
 
Dessa forma, a Faculdade da Linguagem é a capacidade que nós, seres 
humanos, temos de organizar diferentes recursos linguísticos conforme bases 
específicas para formar sentenças.
A seguir, organizamos e explicamos as características da Faculdade da 
Linguagem que Coelho, Monguilhott e Martins (2009, p. 6-8) apontam:
• Possibilita a aquisição de várias línguas: a Faculdade da Linguagem não está 
vinculada a uma língua apenas, mas à capacidade de aprender toda e qualquer 
língua, pois é inerente ao ser humano e se desenvolve de acordo com os 
princípios universais e parâmetros específicos a que o indivíduo for exposto. 
Dito de outro modo, é a experiência linguística individual.
•	 É	 dedicada	 especificamente	 à	 língua: é uma capacidade especializada da 
mente humana, ou seja, a Faculdade da Linguagem é uma competência da 
nossa mente que é especialmente dedicada ao desenvolvimento da língua.
• A Gramática Universal é o estágio inicial da Faculdade da Linguagem: 
a Gramática Universal se desenvolve a partir das experiências do ambiente 
linguístico a que o indivíduo é exposto na interação com os membros da 
comunidade da qual faz parte. A Gramática Universal é composta de princípios 
universais a qualquer língua e parâmetros específicos.
• Inicialmente a Faculdade da Linguagem, ou seja, a Gramática Universal, é 
igual para todos os seres humanos: a Gramática Universal é a capacidade da 
mente de aprender qualquer língua, ou seja, não é ligada a nenhuma língua 
específica, ou seja, não é uma gramática de regras prontas, mas a capacidade 
para desenvolver estas regras.
44
UNIDADE 1 | COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS
•	 É	 modificada	 pelos	 estímulos	 externos	 de	 acordo	 com	 as	 experiências	
individuais (ambiente linguístico): se pensarmos em uma criança pequena, 
ela adquire os princípios universais e parâmetros da língua sem que seja ensinada 
sobre eles de maneira específica. Por exemplo, ao testar uma generalização 
como em "Eu fazi", ela está testando uma regularidade percebida através 
das sentenças com as quais teve contato na sua experiência, pois os verbos 
regulares de 2ª conjugação utilizam esta desinência final para formação do 
Pretérito Perfeito, assim como em "Eu comi", "Eu vivi" e "Eu bebi".
De mesmo modo, quando aprendem uma nova língua, adultos também 
"carregam" os parâmetros aprendidos em sua experiência para a língua que estão 
aprendendo, por exemplo, quando utilizamos as regras de Língua Portuguesa 
(LP) para a construção de sentenças em Libras, criando assim as sentenças no 
chamado Português Sinalizado, ou na mistura de LP com espanhol, formando o 
Portunhol.
Tendo isso em vista, podemos compreendercomo é importante o 
estímulo externo para que a Gramática Universal se desenvolva e atinja o estatuto 
de Faculdade da Linguagem.
Relembrando!
Os verbos em Língua Portuguesa são classificados de acordo com a terminação (desinência) 
que apresentam no modo infinitivo, ou seja, quando não estão conjugados em nenhum dos 
Modos/Tempos Verbais.
Amar – 1ª conjugação
Beber – 2ª conjugação
Partir – 3ª conjugação
NOTA
DICAS
O filme Black (2005) é parcialmente baseado na história de Hellen Keller, uma 
menina surdo-cega que desenvolve a Faculdade da Linguagem somente após a intervenção 
nada ortodoxa de um professor que acredita nesta capacidade inata de desenvolvimento 
linguístico da menina. É uma história emocionante e encantadora.
TÓPICO 3 | TEORIA GERATIVA: CONCEITOS BÁSICOS
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UNIDADE 1 | COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS
Os mapas conceituais são formas esquemáticas para síntese dos conceitos 
estudados. Podem ser simples, como este apresentado na Figura 12, ou bastante complexos. 
Os mapas podem ser lidos em qualquer direção, desde que a leitura siga o sentido das setas, 
pois as explicações entre os conceitos são colocadas para estabelecer a relação entre eles.
NOTA
Lendo o mapa conceitual apresentado, vemos que a Faculdade da 
Linguagem é o estágio final da Gramática Universal, ou seja, é após a aquisição da 
língua que a Gramática Universal adquire o estatuto de Faculdade da Linguagem.
A Gramática Universal é formada por duas partes, os princípios e os 
parâmetros. Segundo Coelho, Monguilhott e Martins (2009, p. 7, grifo da autora), 
“os princípios são rígidos, invariáveis e universais, ou seja, válidos para todas as 
línguas e qualquer gramática final (ou língua particular) terá que apresentá-los. 
Os parâmetros são variáveis, ou seja, podem variar de uma língua para outra”.
Com o objetivo de tornar a discussão mais concreta, vamos observar os 
seguintes exemplos inspirados em Coelho, Monguilhott e Martins (2009, p. 7):
(13) A Mariai disse que elai está feliz.
(14) *Elai disse que a Mariai está feliz.
O índice [ i ] subscrito indica que os elementos são correferenciais, quer 
dizer que fazem referência um ao outro. Também destacamos estes elementos nas 
sentenças com o realce em negrito. Na sentença (13), as duas expressões estão 
coindexadas, isto é, fazem referência uma à outra indicando que A Maria e ela 
são a mesma pessoa, o que não é problema algum, faz sentido e parece estar de 
acordo com a formação de sentenças de todas as línguas naturais.
Contudo, se tentarmos fazer a mesma correferência na sentença (14), Ela e 
a Maria não podem fazer referência à mesma pessoa (referente), porque a sentença 
fica sem sentido caso o pronome ela seja correferenciado ao sintagma Maria, por 
isso, a sentença (14) é agramatical. Afirmamos que uma sentença é agramatical 
quando ela está malformada de acordo com os princípios universais ou parâmetros 
específicos de uma língua natural, por isso, a sentença (14) é agramatical, porque 
está mal formulada.
 
TÓPICO 3 | TEORIA GERATIVA: CONCEITOS BÁSICOS
47
Um exemplo deste problema de coindexação em Libras seria da seguinte 
forma: no início de uma conversa marcamos João num ponto específico do espaço 
e, sempre que fizermos referência a João, deveremos apontar para o mesmo espaço; 
se apontarmos para outro lugar usando o pronome ele, isso não fará sentido, pois 
João já está referenciado num ponto específico do espaço. Esse exemplo também 
estará de acordo com o princípio de coindexação pronominal das línguas 
naturais. Conforme Coelho, Monguilhott e Martins (2009, p. 8, grifo da autora), 
“e isso parece acontecer com essas sentenças traduzidas para toda e qualquer 
língua natural. Logo, afirmamos que há um princípio que rege a combinação dos 
elementos na sentença, o qual determina quando um nome pode ou não estar 
coindexado [correferente] a um pronome”.
Também ligado à Gramática Universal e, por consequência, à Faculdade 
da Linguagem, os parâmetros são aquelas características particularmente marcadas 
em cada língua. Ou seja, enquanto os princípios são referentes a características 
percebidas em todas as línguas, os parâmetros são aqueles padrões para formação 
de sintagma e sentenças que variam de acordo com as línguas. Ao falarmos sobre 
os parâmetros, observaremos como cada língua marca o valor deles como presente 
[+] ou ausente [-]. Como exemplo, vamos analisar as seguintes sentenças, retiradas 
de Mioto, Silva e Vasconcellos (2007, p. 34):
(16) Its rains. (Inglês)
(17) Chove. (Português)
Na sentença (16) está sublinhada a palavra que é o sujeito da sentença, 
uma marcação obrigatória em inglês. Já em (17) podemos observar que a sentença 
é construída sem a necessidade da marcação do sujeito, pois em português não 
é obrigatório o aparecimento do sujeito na sentença. Essa característica está 
ligada a um parâmetro porque varia de acordo com a língua. Neste caso, temos o 
parâmetro do sujeito nulo que, em Português, pode existir, por isso tem um valor 
positivo [+] e, em inglês, não pode existir, logo, tem um valor negativo [-].
Outro parâmetro é o de ordem das palavras na sentença. Vamos observar 
a colocação do verbo e do objeto nos seguintes exemplos, também retirados de 
Mioto, Silva e Vasconcellos (2007, p. 35):
(18) Kato compra doce. (Português)
 Sujeito – Verbo – Objeto (SVO)
48
UNIDADE 1 | COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS
(19) Kato okashi kau. (Japonês)
 Kato doce comprar. (Tradução para o Português)
 Sujeito – Objeto – Verbo (SOV)
Em (18) vemos um exemplo da ordem direta das sentenças em português, 
em que o verbo é colocado antes do objeto. No exemplo colocado em (19), temos 
um exemplo da ordem direta das sentenças em japonês, em que o verbo é colocado 
após o objeto. Dessa forma, usando o parâmetro de ordem a partir da posição do 
núcleo verbal, temos a marcação de valor positivo [+] para o português, porque 
o núcleo verbal está antes do objeto, e em japonês o verbo está após o objeto, por 
isso, marcaremos o valor negativo para este parâmetro [-].
Para facilitar a compreensão dos parâmetros, Mioto, Silva e Vasconcellos 
(2007) usam a comparação com um quadro de luz em que os interruptores 
representariam os diferentes parâmetros: ligado para os valores marcados como 
positivos e desligado para aqueles marcados como negativos.
Tendo em vista essa comparação feita por Mioto (2009), imagine que 
o interruptor de duas chaves, que está na figura seguinte, representa os dois 
parâmetros estudados no parágrafo anterior. Na Figura 13, a chave 1 representa 
o parâmetro do sujeito nulo e a chave 2 representa ordem do núcleo verbal.
FIGURA 13 – VALORES DOS PARÂMETROS
1 2
FONTE: A autora
Por meio da observação da figura, podemos concluir que a língua 
representada pela Figura 13 tem marcado valor negativo [ - ] para o sujeito nulo e 
valor positivo [ + ] para a ordem do núcleo verbal. Uma das línguas que apresenta 
esta marcação em relação aos parâmetros vistos é o inglês, logo, esta é uma 
representação que se aplica à língua inglesa, pois nela não podemos ter sujeito 
nulo (logo, o parâmetro de sujeito nulo é negativo)e a ordem do núcleo verbal 
antes do objeto faz parte de sua sintaxe (logo, o parâmetro de ordem é positivo).
 
Com relação à marcação desses parâmetros durante o processo de 
aquisição da língua pela criança, Coelho, Monguilhott e Martins (2009, p. 9, grifo 
do original) afirmam que:
TÓPICO 3 | TEORIA GERATIVA: CONCEITOS BÁSICOS
49
No momento em que a criança passa a fixar ou estabelecer os 
parâmetros da gramática da sua língua particular, com base nos dados 
linguísticos que estão ao seu alcance, a gramática da criança vai se 
constituindo, vai amadurecendo. As gramáticas das línguas particulares 
se constituem, então, de Princípios e Parâmetros já fixados. Como 
dissemos anteriormente, a Gramática Universal (GU) é o estado 
inicial da Faculdade da Linguagem. Já a gramática do indivíduo adulto 
visa como a evolução da Gramática Universal consitui o estado final 
[Faculdade da Linguagem].
Na última parte deste tópico, estudaremos os conceitos que se referem 
“[...] ao conhecimento inato que nos capacita a distinguir se uma sentença faz 
parte de nossa língua materna [ou da gramática das línguas particulares que 
aprendemos]” (COELHO; MONGUILHOTT; MARTINS, 2009, p. 9).
4 COMPETÊNCIA E DESEMPENHO (PERFORMANCE)
Analise as sentenças a seguir:
20) O gato caiu em pé.
(21) Em pé, caiu o gato.
(22) *Em gato caiu o pé.
Observe que as sentenças (20) e (21) são bem formadas em português, 
já a (22) não está bem formada, pois a ordem dos constituintes não está de 
acordo com a gramática desta língua específica. A esta capacidade de julgar a 
gramaticalidade ou agramaticalidade das sentenças em uma língua natural, seja a 
nossa língua materna ou em uma das línguas que aprendemos ao longo da vida, 
dá-se o nome competência. De acordo com Coelho, Monguilhott e Martins (2009, p. 
9, grifo da autora), “a competência, nesse sentido, é o conhecimento mental e inato 
que permite a aquisição de uma língua natural, assim como permite também o 
reconhecimento das estruturas geradas por essa gramática internalizada”.
Em linhas gerais, a língua materna é a primeira língua com a qual temos 
contato nas experiências linguísticas ainda na infância, é aquela língua natural a que temos 
acesso inicialmente em nosso processo de aquisição da linguagem.
NOTA
50
UNIDADE 1 | COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS
Ainda exemplificando a noção de competência, leia as sentenças a seguir, 
tendo em mente o que foi dito no parágrafo anterior:
(23) Joana veio de ônibus.
(24) *Veio ônibus Joana de.
(25) Os alunos saíram ontem.
(26) *Alunos os ontem saíram.
Ao analisarmos estas sentenças, percebemos que (23) e (25) são gramaticais 
e (24) e (26) são agramaticais. Assim, é o nosso conhecimento de português que 
nos possibilita reconhecer que a gramaticalidade das sentenças está vinculada 
à competência dos usuários de português, conforme Coelho, Monguilhott e 
Martins (2009, p. 10), ou seja, “[...] todos nós indistintamente somos capazes de 
avaliar as sentenças de nossa língua, se são gramaticais ou não, se fazem parte da 
nossa língua ou não”.
Mioto, Silva e Vasconcellos (2007, p. 22, grifo da autora) afirma que “a 
competência linguística é a capacidade humana que torna fundamentalmente 
possível que todo ser humano seja capaz de interiorizar um ou vários sistemas 
linguísticos, isto é, uma ou várias gramáticas.” Ou seja, a competência é a 
capacidade que nos permite não apenas julgar a gramaticalidade das sentenças 
em nossa língua, mas também é a responsável pela possibilidade de nos 
apropriarmos de várias línguas naturais e por sermos capazes de utilizar o léxico 
de acordo com as regras específicas da língua para a elaboração das sentenças.
 
Contudo, ao observarmos a maneira como as pessoas utilizam a língua de 
diversas maneiras, alguns dos usuários da língua demonstram um desempenho 
ou performance mais especializado do que os demais.
O que faz com que algumas pessoas sejam mais habilidosas do 
que outras no uso concreto da língua, nesse sentido, faz parte do 
desempenho [performance]. Assim como algumas nascem mais 
habilidosas para nadar, outras nascem com habilidades manuais, 
outras são mais hábeis com o uso da palavra: seja convencendo, como 
é o caso dos publicitários talentosos, seja emocionando, como alguns 
poetas. Essa habilidade, em parte, também pode ser desenvolvida ao 
longo dos anos, seja na escola ou com o estímulo da família, de amigos 
etc., pela leitura e produção textual (COELHO; MONGUILHOTT; 
MARTINS, 2009, p. 10).
Para exemplificar a competência e o desempenho, elaboramos um exemplo 
pautado nos estudos utilizados por Coelho, Monguilhott e Martins (2009) em seu 
texto sobre Sintaxe. Primeiramente, imagine que uma moça está debruçada na 
janela e escreve para uma amiga a seguinte mensagem:
TÓPICO 3 | TEORIA GERATIVA: CONCEITOS BÁSICOS
51
Neste momento estou na janela do apartamento olhando a chuva que cai forte 
lá fora, penso em amanhã, como será quando eu enxergar meu ex-namorado? Será que 
ainda sinto algo por ele? Será que me sentirei mal? Mesmo estando distraída pensando 
no futuro, percebo o movimento das folhas nas árvores e noto que os pássaros estão 
quietos esperando a chuva passar.
Agora leia o seguinte poema de Correia (2017, p. 85), que trata da mesma 
temática:
Devaneio
No ritmo dos pingos da chuva caindo
Descongelo a dor futura do ar
Vivo cada suspiro mudo dos pássaros
Cada balouçar das folhas
Como se meu corpo fosse voar
A partir destes exemplos, podemos ver que tanto o bilhete quanto o 
poema são compostos por sentenças bem formadas. Contudo, o uso concreto da 
língua feito nos dois textos apresenta uma diferença no desempenho, ou seja, na 
performance demonstrada em cada um deles.
 
Então, podemos concluir que competência é a capacidade que o usuário 
da língua tem de se apropriar e utilizar a língua, e o desempenho ou performance 
é a maneira como a competência é utilizada pelo usuário da língua a fim de 
emocionar, persuadir, convencer etc. Dito de outro modo, nossa competência é a 
base para a performance, mas a performance se desenvolve de maneira diferente 
de acordo com as habilidades, experiências e práticas de cada um.
Fazendo uma comparação com algo mais concreto, todos nós temos 
músculos em nosso corpo e conseguimos utilizá-los para diferentes tarefas, ou 
seja, temos competência para o uso dos músculos para julgar quais deles devem 
ser usados para erguer um copo e quais não devem ser acionados para essa ação, 
não adianta mexer a coxa para pegar um copo com a mão, por exemplo. Essa é 
nossa competência para o uso dos músculos. Porém, mesmo sabendo quais são 
os músculos necessários para andar e saber utilizá-los para mover as pernas, não 
adianta querer correr uma maratona se não tiver desenvolvido os músculos para 
realizar esta façanha, ou seja, se não tiver desenvolvido o corpo para isso. Essa 
situação está ligada ao desempenho/performance.
52
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• A quantidade de palavras/sinais da língua é infinita, bem como as possibilidades 
de combinação das sentenças, mesmo assim existem princípios e parâmetros 
que orientam as formas como estas palavras/sinais podem ser combinadas nas 
sentenças.
• A Teoria Gerativa é uma teoria formalista, pois prioriza o estudo dos termos 
e das partes da sentença para compreensão dos princípios e parâmetros que 
orientam a formação das sentenças.
• As línguas naturais possuem características que as distinguem de todas as 
demais formas de linguagem.
• As características das línguas naturais demonstram que certos padrões 
organizam em algum grau as possibilidades de variação dentro da língua.
• A Gramática Universal (GU) é o estágio inicial da Faculdade da Linguagem.
• A Faculdade da Linguagem (FL) é uma capacidade inata e está ligada a um tipo 
específico de organização da mente humana.
• Os princípios são a parte da GU que são características sintáticas válidas para 
todas as línguas e gramáticas.
• Os parâmetros são características sintáticasque variam entre as línguas (como 
o parâmetro do sujeito nulo e da ordem do núcleo do verbo).
• Competência é ser capaz de avaliar a possibilidade de existência de uma 
sentença na língua (gramaticalidade x agramaticalidade).
• Desempenho é a habilidade demonstrada no uso concreto da língua e varia de 
pessoa para pessoa de acordo com vários fatores individuais.
53
Questão única – Leia o texto retirado do livro O tradutor e intérprete de língua 
brasileira de sinais e língua portuguesa e responda à questão que segue:
AUTOATIVIDADE
O que envolve o ato de interpretar?
Envolve um ato COGNITIVO-LINGUÍSTICO, ou seja, é um 
processo em que o intérprete estará diante de pessoas que apresentam 
intenções comunicativas específicas e que utilizam línguas diferentes. O 
intérprete está completamente envolvido na interação comunicativa (social 
e cultural) com poder completo para influenciar o objeto e o produto da 
interpretação. Ele processa a informação dada na língua-fonte e faz escolhas 
lexicais, estruturais, semânticas e pragmáticas na língua-alvo que devem 
se aproximar o mais apropriadamente possível da informação dada na 
língua-fonte. Assim sendo, o intérprete também precisa ter conhecimento 
técnico para que suas escolhas sejam apropriadas tecnicamente. Portanto, 
o ato de interpretar envolve processos altamente complexos.
FONTE: QUADROS, Ronice Müller de. O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e 
língua portuguesa. Brasília: MEC; SEESP, 2004. 94 p. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/
seesp/arquivos/pdf/tradutorlibras.pdf>. Acesso em: 27 set. 2018.
A partir da leitura do texto e dos conteúdos estudados neste tópico, 
como você entende o trabalho do intérprete dentro da perspectiva de 
Princípios e Parâmetros da Teoria Gerativa? Dito de outra maneira, como o 
intérprete precisa utilizar seu conhecimento sobre os princípios universais e 
parâmetros específicos das línguas durante o processo de tradução, ou seja, 
qual a relevância dos princípios e parâmetros durante a interpretação?
54
55
TÓPICO 4
A FORMAÇÃO DAS SENTENÇAS
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, estudaremos as formas de como o nosso léxico mental é 
estruturado para a formação de sentenças através da organização dos constituintes. 
De acordo com Negrão, Scher e Viotti (2010, p. 81): 
Saber que os itens lexicais de uma língua se estruturam em uma 
sentença é parte central da competência dos seres humanos [...]. 
O falante de qualquer língua natural tem um conhecimento inato 
sobre como os itens lexicais de sua língua se organizam para formar 
expressões mais ou menos complexas, até chegar no nível da sentença. 
Quando somos falantes de uma determinada língua, não nos damos conta 
da quantidade de conhecimento e processos mentais linguísticos envolvidos 
durante a formação de sentenças orais, escritas ou sinalizadas. Mais do que 
simplesmente escolher a melhor palavra, nossa mente precisa selecionar o léxico 
específico, quais são as relações sintáticas que este conjunto de palavras/sinais vai 
estabelecer entre si e como elas serão organizadas na sentença.
 
Os processamentos necessários para a elaboração de sentenças ganham 
muito mais destaque quando estamos aprendendo uma nova língua, pois já 
temos os parâmetros da gramática das línguas aprendidas anteriormente. Assim, 
quando vamos aprender uma língua diferente, percebemos que não basta apenas 
se apropriar do léxico da língua, porque os parâmetros sintáticos de organização 
são imprescindíveis para o desenvolvimento da competência linguística na língua 
que está sendo aprendida.
É exatamente por isso que apenas o dicionário não basta para sabermos 
qual é o sentido da palavra dentro de uma sentença, porque é a relação estabelecida 
hierarquicamente com as outras palavras que dará sentido específico a ela, dentro 
do contexto firmado através das relações sintáticas.
 
Um exemplo para demonstrar isso é o do aprendizado da Libras pelos 
falantes de Língua Portuguesa que, muitas vezes, utilizam a sintaxe da LP para a 
elaboração de frases em Libras e que acabam formando sentenças malformadas. 
Observe a seguinte sentença da LP:
(27) A criança sobe na árvore.
56
UNIDADE 1 | COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS
Ao ser traduzida para a Libras, não deverão ser feitos os sinais de CRIANÇA, 
SUBIR e ÁRVORE em sequência, porque deve ser utilizado um classificador que 
unirá a ação de subir ao elemento árvore, devendo ser sinalizados os sinais de 
CRIANÇA e ÁRVORE-SUBIR, como demonstrado em (28). Como o uso dos 
classificadores não faz parte da sintaxe da LP e uma pessoa que está aprendendo 
a Libras ainda não tem domínio do uso deste elemento morfossintático, ela utiliza 
a sintaxe de LP e não elabora a sentença de maneira adequada em Libras.
(28) CRIANÇA ÁRVORE-SUBIR
FIGURA 14 – CRIANÇA ÁRVORE-SUBIR
FONTE: A autora
ATENCAO
Quando for usado um classificador, as palavras estarão escritas com hífen, 
como em ÁRVORE-SUBIR.
ESTUDOS FU
TUROS
Estudaremos mais sobre os classificadores na Unidade 3, mas apresentamos a 
seguir o conceito para que você já reflita um pouco sobre eles.
“Classificadores, em geral, são formas que estabelecem um tipo de concordância, que 
evidenciam uma característica física, atribuindo-lhe uma adjetivação, por meio da qual os 
elementos sinalizados são representados” (DIAS JÚNIOR; SOUSA, s.d., p. 21).
TÓPICO 4 | A FORMAÇÃO DAS SENTENÇAS
57
2 CATEGORIAS GRAMATICAIS
O nosso dicionário mental tem a competência de julgar as palavras de 
uma sentença para saber as categorias gramaticais a que elas pertencem. Este 
julgamento é feito a partir do conhecimento que o usuário tem da língua quanto 
ao léxico e às regras sintáticas que estabelecem as relações entre estas mesmas 
palavras. É importante deixar claro que esta competência para o julgamento 
das sentenças não está relacionada aos estudos classificatórios da Gramática 
Tradicional, mas ao conhecimento inato que faz parte da Faculdade da Linguagem 
e da gramática internalizada das línguas naturais.
 
Assim, um falante da Língua Portuguesa perceberá que a palavra casa é 
do mesmo tipo que as palavras menino, gato ou telefone, diferentemente de beber, 
comprar e sair, que são de um tipo diferente daquelas que fazem parte do primeiro 
grupo. Ou seja, conforme Negrão, Scher e Viotti (2010, p. 82), “[...] os falantes 
de uma língua sabem que um certo item lexical pertence a uma determinada 
categoria gramatical”.
Para demonstrar como esse conhecimento não é vinculado a uma noção 
prévia das palavras, mas de uma análise que o usuário da língua faz a partir 
das características morfossintáticas observadas, discutiremos os exemplos que 
Negrão, Scher e Viotti (2010, p. 83) apresentam em seu texto:
(29) Os meninos plogam sempre aos domingos.
(30) Na minha infância, eu plogava todas as tardes.
(31) Uma vez, um jornalista do Estado plogou vários artistas aposentados.
(32) Quando ele chegou, nós estávamos plogando os convidados todos.
Embora você não conheça o item lexical (palavra) plogar, a partir do 
uso dele nas sentenças você é capaz de perceber que ele tem o comportamento 
semelhante aos das palavras como jogar, caminhar, entrevistar e conversar, ou seja, 
a localização e o uso que é feito dele nas sentenças o coloca junto à categoria 
gramatical dos verbos em Língua Portuguesa.
Para chegar a esta conclusão, observamos os diferentes critérios 
morfossintáticos e distribucionais, por exemplo, a característica de ser modificado 
de acordo com os traços morfológicos apresentados pelo sujeito, como em (29), em 
que a palavra recebe o sufixo -am que é característico dos verbos conjugados na 
3ª pessoa do plural (número-pessoa) do Presente do Indicativo (modo-temporal) 
e combina com “Os meninos”.
 
Assim, de acordo com Negrão, Scher e Viotti (2010, p. 84), “[...] as 
propriedades morfológicas, distribucionais e semânticas próprias de cada um dos 
itens lexicais de uma língua nos permitem agrupá-los em categorias que passam 
a ser definidas exatamente pelofato de que os itens que a integram compartilham 
tais propriedades gramaticais”.
58
UNIDADE 1 | COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS
3 CONSTITUINTES
De acordo com Perini (2001, p. 44 apud COELHO; MONGUILHOTT; 
MARTINS, 2009, p. 14), os constituintes são conjuntos de palavras que se agrupam 
em sequências cada vez maiores e que demonstram um certo grau de coesão entre 
eles.
 
De acordo com Mioto, Silva e Vasconcellos (2007, p. 41, grifo do original): 
Um constituinte é uma unidade sintática construída hierarquicamente, 
embora se apresente aos olhos como uma sequência [sic] de letras 
ou aos ouvidos como uma sequência [sic] de sons [ou de sinais]. Em 
princípio não se pode determinar sua extensão, uma vez que não é fácil 
prever qual o número máximo de itens que podem pertencer a ele. Por 
isso, em vez de procurar estabelecer a extensão de um constituinte, 
a sintaxe procura delimitá-lo a partir de um núcleo. Como o núcleo 
determina certas funções, sabemos que o constituinte compreende, 
além do próprio núcleo, o conjunto de itens que desempenham aquelas 
funções. Um constituinte sintático recebe o nome de sintagma.
Dessa forma, os constituintes sintáticos são os sintagmas, eles se 
apresentam como uma sequência de palavras/sinais que é organizada em forma 
de categorias gramaticais relacionadas entre si. Além disso, a hierarquização dos 
constituintes é feita a partir das palavras/sinais que têm o papel de núcleo em 
torno do qual as demais palavras do constituinte se organizam.
ESTUDOS FU
TUROS
Nas próximas unidades estudaremos mais sobre os diferentes sintagmas em Libras.
Leia a sentença a seguir, elaborada a partir do exemplo colocado por 
Coelho, Monguilhott e Martins (2009, p. 14):
(33) O gato de Mariana é branco e preto.
Ao analisarmos a sentença (33), percebemos que “O gato de Mariana” 
forma uma unidade, o que não aparece em “Mariana é branco”. Dessa maneira, 
observamos que “O gato de Mariana” é um constituinte e “Mariana é branco” não 
forma um constituinte.
 
De acordo com Coelho, Monguilhott e Martins (2009, p. 14), “a ideia é que 
as orações [sentenças] são formadas por constituintes, muitas vezes uns dentro 
TÓPICO 4 | A FORMAÇÃO DAS SENTENÇAS
59
dos outros”. Desse jeito é possível identificar os seguintes constituintes em (33), 
sendo que uns estão inseridos dentro dos outros:
[o gato de Mariana é branco e preto]
[o gato de Mariana]
[gato de Mariana]
[preto e branco]
[é preto e branco]
Segundo a análise feita por Coelho, Monguilhott e Martins (2009, p. 15), 
“esses constituintes são organizados em categorias gramaticais. Desde muito 
cedo (e isto faz parte da nossa competência linguística), embora não tenhamos 
consciência disto, reconhecemos e somos capazes de agrupar as palavras de nossa 
língua de acordo com as suas propriedades gramaticais”.
Para representar a estrutura hierárquica dos constituintes partindo dos 
itens lexicais em direção aos itens maiores, apresentamos a seguinte sentença:
(34) Os meninos fizeram uma tremenda bagunça.
A figura seguinte representa a delimitação dos constituintes de (34) e deve 
ser lida de baixo para cima, na direção que a flecha aponta:
FIGURA 15 – ESTRUTURA DOS CONSTITUINTES
FONTE: Adaptado de Coelho, Monguilhott e Martins (2009, p. 16)
Os meninos fizeram uma tremenda bagunça
Os meninos fizeram uma tremenda bagunça
Os meninos fizeram uma tremenda bagunça
uma tremenda bagunça
tremenda bagunça
Conforme Coelho, Monguilhott e Martins (2009), primeiramente devemos 
juntar as palavras tremenda e bagunça para formar o constituinte superior [tremenda 
bagunça]. Por sua vez, este se junta ao item uma e forma o constituinte [uma 
tremenda bagunça], também meninos e os se juntam e formam o constituinte [os 
meninos]. Após o verbo conjugado fizeram se junta ao constituinte [uma tremenda 
60
UNIDADE 1 | COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS
bagunça] e forma o constituinte [fizeram uma tremenda bagunça]. Para terminar, o 
constituinte [os meninos] se junta a [fizeram uma tremenda bagunça] e formam a 
sentença completa.
A delimitação dos constituintes da sentença deve ser feita do final para 
o início da sentença, a partir do léxico utilizado. Em relação ao núcleo dos 
constituintes, na sentença (34) os núcleos são meninos, fizeram e bagunça, pois 
são aqueles com os quais os demais elementos estabelecem uma relação de 
dependência.
Uma forma prática para delimitar os núcleos dos constituintes é retirar as 
palavras do constituinte e perceber qual é aquela que tem maior influência sobre 
as demais. Por exemplo, com o constituinte [uma tremenda bagunça] fazendo o 
teste de retirada das palavras, temos:
(35) a. [uma tremenda]
 b. [tremenda bagunça]
 c. [uma bagunça]
 d. [bagunça]
 e. [uma]
 f. [tremenda]
A partir destas reelaborações dos constituintes, podemos perceber que a 
palavra bagunça é a que tem maior influência e sua ausência causa maior impacto 
no constituinte. Além disso, a palavra tremenda e a palavra uma são dependentes 
estruturalmente da palavra bagunça. Logo, bagunça é o núcleo do constituinte ou 
sintagma.
4 AMBIGUIDADE ESTRUTURAL
Conforme Mioto (2009, p. 13), “[...] a sintaxe procura saber como ela se 
estrutura, ou seja, como combinamos as palavras para formar sentenças. Uma 
sentença pode ter mais de um sentido e essa ambiguidade pode ser explicada 
se mostramos que os constituintes contíguos podem estar combinados de modo 
diferente”. Ainda conforme o mesmo autor, “a sintaxe não se contenta em observar 
a ordem linear das palavras. Isto porque uma sequência de palavras nem sempre é 
interpretada semanticamente da mesma maneira. Se isso acontece é porque aquela 
sequência de palavras se estrutura de mais de uma forma” (MIOTO, 2009, p. 11).
Desta maneira, a ambiguidade estrutural é aquela que compreende a 
ambiguidade das sentenças a partir da maneira como os sintagmas (constituintes) 
se ligam dentro da sentença. Dito de outro modo, a ambiguidade estrutural é 
aquela que se explica pela maneira como os sintagmas podem ser relacionados.
TÓPICO 4 | A FORMAÇÃO DAS SENTENÇAS
61
As outras áreas de estudos da linguagem também se dedicam ao estudo da 
ambiguidade a partir de pontos de vista diferentes do demonstrado aqui, principalmente os 
estudos semânticos.
NOTA
Para demonstrar a ambiguidade estrutural, utilizaremos um exemplo 
adaptado do material escrito por Mioto (2009, p. 11):
(36) O bêbado bateu na velha de bengala.
(36a) O bêbado bateu na velha que estava de bengala.
(36b) O bêbado usou a bengala para bater na velha.
Em (36a) e (36b) temos duas formas de compreensão da sentença, na 
primeira, a bengala está ligada à velha, na outra, a bengala está ligada ao bêbado. 
Na Figura 16 estão demonstradas graficamente estas formas de entendimento da 
sentença (36):
FIGURA 16 – REPRESENTAÇÃO DE AMBIGUIDADE ESTRUTURAL DA SENTENÇA (36)
FONTE: Mioto (2009, p. 11)
A fim de organizar os constituintes da sentença, devemos utilizar o 
processo de clivagem/destaque. Para mostrar este processo, exemplificaremos 
com a sentença (36) o resumo dos passos delimitados por Mioto (2009, 14-17):
(36a) (36b)
62
UNIDADE 1 | COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS
1) Delimite o constituinte problemático com colchetes:
(36) O bêbado bateu [na velha de bengala].
2) Identifique o verbo e veja qual é o tempo verbal em que ele está: bateu – 
Pretérito Perfeito do Indicativo.
3) Inicie a sentença com o verbo ser conjugado no tempo verbal percebido: Foi.
4) Coloque o constituinte problemático (elemento a ser clivado) após o verbo 
ser conjugado: Foi na velha de bengala.
5) Adicione um que após a expressão formada: Foi na velha de bengala que.
6) Insira o resto da sentença com __ marcando o local de onde foi retirado o 
constituinte clivado/destacado: Foi na velha de bengala que o bêbado bateu __.
7) Assim, chegamos à primeira interpretação possível, a de que o constituinte 
problemático pode ser interpretado sintaticamente como um só constituinte 
(36a).
8) Para destacar/clivar a segunda possibilidade deinterpretação, repetimos os 
passos até 3, após, pegamos apenas uma parte do constituinte problemático, 
neste caso, [na velha].
9) Refaça o passo 4 com a nova hipótese de organização: Foi na velha.
10) Repita o passo 5: Foi na velha que.
11) Faça novamente o passo 6: Foi na velha que o bêbado bateu __ de bengala.
12) Agora, chegamos à segunda forma de composição sintática da sentença, em 
que o constituinte problemático é interpretado como dois constituintes (36b).
Organizando os constituintes de acordo com o teste de clivagem, chegamos 
às seguintes formações de constituintes das duas possibilidades de interpretação 
da estrutura de (36):
(36a) [[O bêbado] [bateu [na velha de bengala]].
(36b) [[O bêbado] [bateu [na velha] [de bengala]]].
Tendo isso tudo em vista, percebemos que a ambiguidade estrutural 
está pautada nas diferentes possibilidades de delimitação dos constituintes da 
sentença. Assim, o processo de clivagem ou destaque serve para evidenciar essas 
alternativas de delimitação dos constituintes/sintagmas.
 
No exemplo estudado, chegamos a duas interpretações: em (36a) a 
expressão de bengala faz parte de um constituinte junto à expressão na velha, 
ficando delimitado o constituinte [na velha de bengala], que liga a bengala à velha, 
por isso, quando o verbo se liga ao sujeito a bengala está junto à palavra velha.
TÓPICO 4 | A FORMAÇÃO DAS SENTENÇAS
63
Já em (36b), a expressão [de bengala] forma um constituinte separado do 
constituinte [na velha] e, por isso, no nível hierárquico apresentado no parágrafo 
anterior, liga-se diretamente ao verbo e participa da ação em conjunto com o sujeito.
Caro acadêmico, discutimos ao longo desta unidade o conceito de língua 
e, no Tópico 3, estudamos várias características das línguas naturais fazendo 
referência às diferenças entre elas e as línguas artificiais. 
A seguir será apresentada uma leitura complementar, em que o texto 
trazido aborda o desenvolvimento inicial de uma linguagem de sinais artificial. 
Lembrando que é uma linguagem porque ainda não tem todas as partes que 
compõem uma língua, como os elementos estruturais próprios bem definidos. 
Além disso, vale também destacar, como você lerá no texto a seguir, que o ator 
Anson Mount afirma que a estrutura desta linguagem inventada por ele para o 
personagem é “copiada” da sintaxe da ASL. Desta maneira, podemos entender 
que a sintaxe dela ainda está vinculada à ASL.
 
Outra coisa interessante é que o desenvolvimento da linguagem ainda 
está bastante embrionário e, por isso, apenas dois personagens interagem através 
dos sinais que o personagem Raio Negro utiliza como forma de comunicação ao 
longo da série. O mais impressionante é que é uma língua artificial que se baseia 
não apenas em um código, mas que tem pretensões de se desenvolver em direção 
a uma língua de sinais artificial. Será que vai funcionar?
Além dessa questão linguística, achamos muito interessante a existência 
de um herói que utiliza uma linguagem de sinais para se comunicar, afinal de 
contas, as percepções sobre inclusão, uso de línguas de sinais e aceitação também 
são perpassadas pelos modelos sociais que temos. Ou seja, um herói que se 
comunica por sinais também reforça o “heroísmo” de todos aqueles que usam 
das línguas de sinais para sua comunicação.
Boa leitura! 
DICAS
Caso você queira assistir à série Inumanos e (assim como nós) se divertir e 
estudar ao mesmo tempo, vale a pena observar os sinais feitos por Raio Negro e Medusa 
(casal de heróis que se comunica através de sinais, pois ele não pode utilizar a voz devido 
ao enorme poder destrutivo que ela apresenta). Acessamos a série em 23/09/2018 e ainda 
estava disponível no catálogo da Netflix.
64
UNIDADE 1 | COMPREENDENDO OS ESTUDOS SINTÁTICOS
LEITURA COMPLEMENTAR
A série “Inumanos” criou uma linguagem de sinais
para o Raio Negro e Medusa
Sydney Bucksbaum 
Como você centra uma série de televisão inteira em torno de alguém que 
não pode falar? Isso pode parecer um feito impossível, sem resposta, mas a Marvel 
realmente enfrentou essa tarefa assustadora quando se tratava do mais recente 
programa da história em quadrinhos, Inumanos. Raio Negro (Anson Mount) é 
o Rei dos Inumanos – a raça alienígena/humana geneticamente projetada que 
vive na cidade de Attilan, na Lua – mas seu poder é extremamente destrutivo. 
Semelhante ao poder de uma bomba atômica destrutiva. Se ele fala, sua voz pode 
acabar com uma cidade inteira. Então, ele aprendeu a controlar seus poderes 
quando jovem, optando por nunca falar em voz alta novamente.
Embora isso seja fácil de descrever em histórias em quadrinhos, a série da 
ABC teve que descobrir uma maneira de permitir que Raio Negro se comunicasse 
com sua esposa Medusa (Serinda Swan) e o resto da família real inumana. A 
Marvel trabalhou com Mount e Swan para criar uma linguagem de sinais para 
usar no programa.
"Eu não posso usar a ASL porque ele não é da Terra", disse Mount Nerdist 
no conjunto de Inumanos no Havaí [local das gravações]. “Eu tenho um consultor 
de sinais; estou desenvolvendo um léxico à medida que vou utilizando os sinais 
[e] estou pegando emprestadas algumas das regras [estruturais] subjacentes da 
ASL [Língua de Sinais Americana] e o que faz com que funcione de maneira 
eficiente: “Embora tenha gostado desse desafio de atuação em particular, não foi 
fácil. Isso exigia horas e horas de trabalho antes mesmo de começar as filmagens. 
"Isso gera trabalhos para casa, cria coreografias e cria coisas para a memória 
muscular", disse Mount. “Eu tenho que colocar isso na minha memória muscular 
porque não posso pensar e agir ao mesmo tempo. Não é fácil".
Não foi apenas Mount que teve que aprender uma nova língua para a 
série Inumanos, também a esposa de Raio Negro, Medusa, Rainha dos Inumanos, 
atua como sua tradutora. Swan sorriu enquanto pensava em todo o trabalho de 
preparação que ela e Mount faziam para aperfeiçoar sua linguagem de sinais. 
“Nós apenas trabalhamos muito antes de começar. Nós trabalhamos muito duro 
e entramos lá com pensamento de que “Tudo bem, vamos fazer isso”, disse ela 
aos repórteres no set. “Encontramos pequenas idiossincrasias, encontramos as 
batidas, encontramos os momentos. Assim que consegui, fiquei muito feliz!”.
No início, Swan foi pega de surpresa quando ela soube que seu parceiro 
de cena não falava nada e que ela essencialmente estaria falando por ele. "Eu 
pensei assim: “Ah, então são dois papéis", disse Swan. “Eu sou sua tradutora. Mas 
TÓPICO 4 | A FORMAÇÃO DAS SENTENÇAS
65
você não pode perder seu personagem quando faz isso. Então é essa dualidade 
realmente interessante entre manter a presença de Medusa e não se desvanecer, 
ao mesmo tempo em que é necessário também honrar o rei e o que ele representa 
para o povo de Attilan. Então nós definitivamente trabalhamos duro”.
O que mais entusiasmou Anson Mont ao interpretar o Raio Negro não foi 
o fato de que ele tinha um poder tão incrível, mas sim o fato de que seu poder era 
tão terrível. "É ótimo porque eu não vejo isso como um poder", disse ele. “Essa é 
uma das grandes coisas e uma das maneiras pelas quais o Raio Negro é realmente 
bem desenhado. É inteligente. Ele é o líder que deve estar ciente do poder e do 
perigo potencial de sua voz. Eu acho que ele é imediatamente encantador dessa 
maneira.
Mount acrescenta: “Os leitores apreciam Raio Negro porque eles o veem 
lutando com um profundo senso de responsabilidade. A identidade de um rei – 
um rei responsável – sua identidade é o Estado. E ele certamente é isso.
Uma das maneiras pelas quais Raio Negro aprendeu a controlar sua voz 
em uma idade tão jovem foi pelo uso de uma Sala Tranquila, onde seu poder podia 
ser contido e que a série Inumanos traz à vida maravilhosamente. A Sala Tranquila 
foi construída para permitir que as câmeras IMAX realmente mostrassem uma 
verdadeira magia do cinema. Vê-lo pessoalmente foi inspirador, e vê-lo em telas 
IMAX certamente dará aos fãs de quadrinhos uma emoção.
“Quando ele saiu [da terrigênese,o processo em que Inumanos se 
transformam e obtêm poderes], seu poder era tão assustadoramente intenso”, disse 
Mount. “Ele espirra, ele sopra metade do mundo. Então, antes que ele aprendesse 
a controlá-lo, ele foi desligado neste Quarto Silencioso que literalmente canaliza 
a energia de sua voz ... para a estratosfera. Ele finalmente conseguiu o controle 
sobre ele e foi capaz de sair, mas ainda está lá e ainda é onde ele vai meditar”.
Na Sala Silenciosa também é onde Raio Negro e Medusa criaram sua 
linguagem de sinais, assim como se apaixonaram. "Medusa, incrível como ela é, e 
a razão pela qual eu amo interpretá-la, entra na câmara onde ele é mantido e eles 
começam a construir uma linguagem juntos", disse Swan. “Com o tempo, através 
do amor e dessa incrível conexão, eles constroem esse tipo de simbiose entre os 
dois, onde ele sinaliza, mas ela já sabe muito mais do que ele está dizendo [...].
FONTE: <https://nerdist.com/inhumans-created-a-whole-new-sign-language-for-black-bolt-and-
medusa/>. Acesso em: 5 set. 2018.
66
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:
• A formação das sentenças está ligada à competência linguística dos usuários 
da língua.
• O conhecimento do léxico e dos parâmetros sintáticos da língua proporciona 
bases para a formação das sentenças.
• A organização das palavras na sentença é construída de forma hierárquica não 
linear.
• Os constituintes são grupos de palavras que se estruturam sintaticamente para 
formar constituintes maiores.
• As sentenças se organizam em constituintes que são formados por constituintes 
menores.
• Os usuários da língua sabem através de sua competência linguística como 
organizar os constituintes na sentença.
• A delimitação dos constituintes é feita a partir das características compartilhadas 
com outros constituintes.
• Os constituintes se organizam em torno de um núcleo.
• Os constituintes sintáticos são chamados de sintagmas.
• A ambiguidade estrutural está ligada à possibilidade de mais de uma 
organização sintática para a mesma sentença.
• O processo de clivagem/destaque é a maneira de testarmos a ambiguidade 
estrutural das sentenças.
• O processo de clivagem é feito através do destaque do constituinte problemático 
a partir de uma reestruturação da sentença que evidencia a compreensão dos 
constituintes/sintagmas.
67
AUTOATIVIDADE
1 As ambiguidades estruturais aparecem quando uma mesma sentença pode 
ser interpretada de mais de uma forma a partir da maneira como seus 
constituintes se organizam. A seguir é colocada uma sentença retirada de 
Mioto (2009, p. 13), que apresenta ambiguidade estrutural sobre a qual 
são feitas afirmações em relação às possibilidades de análise sintática dos 
constituintes que demonstram as ambiguidades observadas. Nesse contexto, 
analise as afirmações:
Ele recebeu uma foto de Manaus.
I- A sentença pode ser entendida das seguintes formas: Ele recebeu uma foto 
vinda de Manaus ou Ele recebeu uma foto em que aparece a cidade de Manaus.
II- O constituinte que causa a ambiguidade é formado apenas pelo léxico 
[Manaus].
III- A ambiguidade desta sentença está baseada em problemas de organização 
estrutural da sentença.
Dentre as afirmações está(ão) CORRETA(S):
a) ( ) Somente I e II.
b) ( ) Somente II e III.
c) ( ) Somente I e III.
d) ( ) Somente III.
e) ( ) Somente II.
2 Para responder a esta pergunta, tenha em vista a necessidade de marcação 
e referenciação existente nas sentenças produzidas na Língua Brasileira de 
Sinais. Como você percebe a noção de ambiguidade estrutural no contexto 
da Libras como sendo mais ou menos frequente do que em LP e por quê?
68
69
UNIDADE 2
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS 
SENTENÇAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• revisar o conceito de constituintes/sintagmas das sentenças de acordo 
com a Teoria Gerativa;
• identificar os sintagmas nominais e verbais nas sentenças;
• delimitar os núcleos dos sintagmas nominais e verbais;
• definir as categorias lexicais e funcionais;
• discutir a transitividade verbal dos verbos monoargumentais;
• analisar a seleção argumental dos predicados;
• explicar o papel temático dos argumentos;
• traçar os requisitos sintáticos dos argumentos;
• apresentar as estruturas arbóreas da sintaxe gerativa para demonstrar as 
exigências dos argumentos;
• examinar a ordem básica dos constituintes dentro das sentenças;
• compreender a maneira como se dá a movimentação dos sintagmas 
dentro das sentenças;
• estudar a estrutura básica das sentenças em Libras;
• demonstrar as condições de modificação da ordem básica das estruturas 
em Libras.
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade 
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo 
apresentado.
TÓPICO 1 – OS SINTAGMAS
TÓPICO 2 – PREDICADOS E ARGUMENTOS
TÓPICO 3 – ESTRUTURA DAS SENTENÇAS
TÓPICO 4 – A ORDEM BÁSICA DAS SENTENÇAS EM LIBRAS
70
71
TÓPICO 1
OS SINTAGMAS
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, iremos retomar os estudos sobre sintaxe e aprofundar 
nossos estudos sobre os sintagmas a partir do estudo das delimitações dos 
núcleos nominais e verbais. Em seguida, relacionaremos estes conhecimentos à 
compreensão das categorias lexicais e funcionais de acordo com a perspectiva 
adotada pela gramática gerativa.
Para o estudo da delimitação dos núcleos nominais e verbais, tomaremos 
como base a comparação entre a maneira como as roupas são colocadas sobre e 
corpo e de que modo este ordenamento das peças de roupa, feito de acordo com a 
maneira usual de utilização, pode auxiliar para a compreensão da hierarquização 
dos constituintes nas sentenças.
Após, veremos as características das categorias lexicais e funcionais, 
delimitaremos como cada uma delas está relacionada ao modo como as sentenças 
se estruturam na formação dos constituintes (sintagmas) que formam as sentenças.
DICAS
Para relembrarmos o que estudamos sobre a linguagem e a perspectiva da 
Teoria Gerativa, recomendamos que você assista ao vídeo em que Noam Chomsky dá uma 
entrevista ao Programa Upon Reflection, em 1989, no canal do Youtube Think about it now!. 
Na descrição do vídeo está o seguinte texto:
“O linguista Noam Chomsky, professor no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, aborda 
as maneiras na qual a linguagem muda ao longo do tempo, e como a ideia de língua nacional 
é um fenômeno moderno. Nesta entrevista na Universidade de Washington, o apresentador 
de Upon Reflection, Al Page, conversa com Chomsky sobre como as linguagens são sistemas 
de comunicação enraizadas na natureza humana (Canal Think about it now!. Publicado em 
18/09/2016).
Link de acesso à entrevista: <https://www.youtube.com/watch?v=W53UvJoLAwI&t=375s>. 
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
72
2 HIERARQUIZAÇÃO DOS SINTAGMAS
Anteriormente já estudamos que a sintaxe é a parte da linguística que 
se dedica ao estudo das relações estabelecidas entre os elementos lexicais e 
estruturais que formam uma sentença. Assim, “fazer sintaxe é recursivamente 
juntar elementos, constituintes, sintagmas, em busca de unidades maiores, mais 
complexas e elaboradas, portanto” (COELHO; MONGUILHOTT; MARTINS, 
2009, p. 17).
É necessário que estes elementos sejam combinados para fazermos a 
junção das palavras de acordo com as regras sintáticas que regem as línguas 
naturais. Mesmo parecendo que as palavras estão ordenadas linearmente uma ao 
lado da outra, e que as relações entre elas são estabelecidas também linearmente, 
na realidade, o léxico se estrutura de modo hierárquico. Ou seja, mesmo que as 
palavras estejam postas em uma linha ou em uma coleção de sinais feitos um 
após o outro/ou justaposto ao outro, a forma como o léxico se estrutura é, na 
realidade, em níveis que são delimitados em constituintes/sintagmas.
Para deixar mais claro o que significa afirmar que os constituintes são 
organizados através de sua hierarquização, gostaríamos que você pensasse 
noseguinte exemplo concreto de aparente linearidade que é, na verdade, 
hierarquizada. Você já pensou em uma aproximação das tendências de moda 
com o uso da língua? O site Bonde (2015, s.p.) define, em seu glossário de termos 
da moda, a palavra look como sendo “a composição de peças, acessórios e estilo”.
Dito de outro modo, a palavra look designa mais do que apenas a roupa, 
pois inclui também os acessórios, o estilo pessoal, o estilo de uma marca ou de 
uma tendência no mundo da moda. Dessa maneira, é um conjunto feito pelas 
pessoas a partir de diferentes influências, mas que organiza certos elementos que 
são concretos e outros que são tendências adquiridas a partir das experiências da 
pessoa que monta o look. Também serão as tendências e as regras de utilização 
que definirão quando e como cada peça de roupa ou acessório é colocada. 
Para explicitar melhor esta comparação, vamos observar os dois looks a 
seguir, um masculino e um feminino:
TÓPICO 1 | OS SINTAGMAS
73
FIGURA 1 – LOOKS DA COLEÇÃO DE INVERNO DA MARCA COCA-COLA
PARA O FASHION RIO DE 2011
FONTE: <https://www.lilianpacce.com.br/moda/14-01-fashion-rio/>. Acesso em: 6 out. 2018.
Num primeiro olhar são apenas roupas desenhadas de maneira vertical 
sobre o corpo de bonecos representando um homem e uma mulher. As peças de 
roupa parecem estar apenas colocadas juntas, mas não estão, foram colocadas 
uma depois da outra de um jeito predeterminado, assim como as palavras que 
compõem uma sentença, que também são organizadas desta mesma forma. 
Quer ver?
Veja a análise do look do boneco com roupas femininas:
QUADRO 1 – ESQUEMA DE ANÁLISE DO LOOK FEMININO
FONTE: A autora
Assim, podemos observar que o look do boneco com roupas femininas 
se divide em duas partes, ou seja, constitui duas partes. Dentro destas partes, as 
peças de roupa são ligadas em partes menores que precisam ser colocadas em 
uma certa ordem para que o look se estruture. Isso porque se as roupas íntimas 
estiverem por cima do casaco, já não seria a mesma composição de roupas, ou se 
as meias fossem colocadas por cima das botas. Essas duas situações não seriam 
apenas diferentes da retratada no look, mas também não estariam de acordo com 
• o casaco está colocado sobre o top e o short;
• o top e o short seriam colocados sobre as roupas íntimas;
• as roupas íntimas estariam em contato com a pele;
• as botas estariam colocadas sobre as meias;
• as meias estariam em contato com a pele.
1ª parte do look
2ª parte do look
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
74
a maneira como usamos as meias ou as roupas íntimas na nossa relação cotidiana 
com essas peças de roupa.
Da mesma forma, com o look do boneco com roupas masculinas também 
é possível fazer o mesmo processo e chegar a um look dividido em partes maiores 
divididas em partes menores que são utilizadas numa ordem preestabelecida em 
sequência: a parte que veste o corpo e a parte que veste os pés. Dito de outra 
maneira, assim como existem normas de uso para que as meias sejam colocadas 
antes dos sapatos, existem regras que determinam a ordem em que as demais 
peças de roupa devem ser colocadas.
O mesmo raciocínio é comparável para a compreensão dos elementos que 
compõem uma sentença, pois a partir da sentença como um todo (ou seja, do look 
completo) é possível dividi-la em partes que a constituem até chegarmos às partes/
constituinte/sintagmas básicos das línguas naturais: os sintagmas nominais e os 
sintagmas verbais. Estes sintagmas poderão ser decompostos em partes menores 
que também terão uma relação hierarquizada (uma após a outra) dentro delas e 
em relação às demais partes.
3 DELIMITAÇÃO DOS SINTAGMAS NOMINAIS E VERBAIS
Os sintagmas nominais são aqueles em que o núcleo do sintagma é um 
nome, já os sintagmas verbais são aqueles em que o núcleo é um verbo. Para 
delimitarmos os núcleos dos sintagmas, precisamos observar qual é a relação 
hierárquica entre as palavras/sinais que compõem a sentença, ou seja, qual é a 
ordem em que elas vão se agrupando.
 
Segundo Coelho, Monguilhott e Martins (2009, p. 17), precisamos dividir 
os vocábulos para classificá-los, porque “[...] o que é muito interessante numa 
possível classificação é que dispomos de diferentes classes de vocábulos (o que 
chamaremos de átomos linguísticos) para, a partir de certa ‘criatividade’, gerar 
um número infinito de sentenças nas mais variadas línguas naturais”. Vamos 
analisar a seguinte sentença:
(1) A menina bonita comprou um doce na loja da Rua da Praia.
A numeração das sentenças reinicia a cada unidade.
NOTA
TÓPICO 1 | OS SINTAGMAS
75
Mesmo que você nunca tenha visto a sentença escrita em (1) você é capaz 
de compreender o que está escrito nela. De acordo com Coelho, Monguilhott e 
Martins (2009, p. 17), um dos motivos dessa possibilidade é porque somos capazes 
de decompor esta sentença em constituintes menores: 
(1a) [a menina bonita] [comprou um doce na loja da Rua da Praia]
(1b) [a menina bonita] [comprou] [um doce na loja da Rua da Praia]
Em (1a) temos a sentença dividida em dois sintagmas, um em que o nome 
é o núcleo, outro em que o verbo é o núcleo. Em (1b) aparece a decomposição em 
três sintagmas, um verbal e dois nominais, com as palavras em torno das quais as 
demais palavras da sentença se organizam (núcleos) também marcadas. Ou seja, 
núcleos são as palavras em torno das quais as demais palavras irão se organizar.
4 CATEGORIAS DOS NÚCLEOS DOS SINTAGMAS
Mioto (2009, p. 26) destaca que “para compor um sintagma ou uma 
sentença não basta ir ao dicionário, escolher um núcleo e combiná-lo com outro 
núcleo. Se queremos ser bem-sucedidos na montagem de uma sentença, devemos 
levar em conta, além do dicionário [léxico], a gramática [funcionais].” O autor 
coloca a sentença (2a) para explicar os itens lexicais e os itens gramaticais, em que 
o autor destaca as informações lexicais e gramaticais (funcionais) da sentença nos 
itens (2b) e (2c): 
(2a) A menina abraçou o menino.
(2b) Lexicais: menina é nome; abraçou é verbo; menino é nome etc. Semânticas: 
menina e menino têm como referentes no mundo um ente [+ humano, + jovem, 
± macho etc.]; abraçar enuncia uma cena em que alguém envolve alguém com 
os dois braços etc.
(2c) Gramaticais: a concorda com menina em gênero e número; o verbo abraçar 
concorda com o sintagma a menina etc.
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
76
Ainda, segundo Mioto (2009, p. 26-27), estas palavras são as que mandam 
no sintagma, porque “[...] tudo o que acontece no sintagma é determinado por eles. 
É o núcleo que ‘decide’ se o sintagma vai conter complemento ou especificador 
e, portanto, o desenho do sintagma; é o núcleo que “governa” as relações que 
se estabelecem dentro do sintagma.” Por isso, o autor afirma que é de extrema 
importância saber determinar os núcleos lexicais e funcionais das sentenças.
Nas próximas seções, estudaremos as características das categorias 
funcionais e lexicais.
Optamos por manter a numeração das sentenças de acordo com a ordem 
corrente nesta unidade de estudos para evitar confusões caso fosse utilizado o número 
original do exemplo do autor.
NOTA
4.1 CATEGORIAS LEXICAIS
De acordo com Coelho, Monguilhott e Martins (2009, p. 18), as categorias 
lexicais são aquelas que fazem parte dos itens lexicais de uma língua, seja ela oral-
auditiva ou espaço-visual, e podem ser classificadas, em um número finito de 
categorias lexicais através de critérios morfológicos, distribucionais e semânticos. 
Os autores também afirmam que “o que parece ser uma propriedade universal 
nas mais variadas línguas naturais é a divisão das palavras (ou do léxico, num uso 
mais técnico do termo) a partir dos traços verbais e nominais”. Ou seja, as línguas 
naturais têm como peculiaridade a divisão do conjunto de suas palavras/sinais 
a partir de características mais verbais e mais nominais. Estas características são 
delimitadas a partir de elementos morfológicos, como os afixos, distribucionais 
ou semânticos.
Segundo Mioto,Silva e Vasconcellos (2004, p. 54), “os núcleos lexicais se 
identificam com as categorias lexicais que são definidas pela combinação de apenas 
dois traços distintivos fundamentais: nominal [N] e verbal [V]. A esses traços são 
associados dois valores: + ou -.” Ao serem combinados os traços nominais e verbais, 
e valores positivos e negativos, temos quatro possibilidades que caracterizam as 
seguintes categorias lexicais, ou seja, categorias de palavras/sinais: 
TÓPICO 1 | OS SINTAGMAS
77
QUADRO 2 – TRAÇOS DOS NÚCLEOS LEXICAIS
[+ NOME] [- NOME]
[- VERBO] NOME PREPOSIÇÃO
[+ VERBO] ADJETIVO VERBO
FONTE: Adaptado de Mioto, Silva e Vasconcellos (2007, p. 53)
Uma explicação para essa tabela pode ser encontrada na seguinte 
definição, adaptada de Mioto (2009, p. 27, grifos da autora):
NOME: [+N, -V], núcleo que tem todas as propriedades de nome e nenhuma 
de verbo.
VERBO: [-N, +V], núcleo que tem todas as propriedades de verbo e nenhuma 
de nome.
ADJETIVO: [+N, +V]: núcleo que tem propriedades de nome e de verbo.
PREPOSIÇÃO: [-N, -V], núcleo que não tem propriedades de nome nem de verbo.
Para fins de explicação dessas categorias, tanto Mioto, Silva e Vasconcellos 
(2007) quanto Coelho, Monguilhott e Martins (2009) abordam primeiro os três 
núcleos lexicais que apresentam propriedades/traços positivos em algum dos 
aspectos. Tendo por base a explicação dada pelos autores, demonstraremos a 
seguir um exemplo retirado da obra de Mioto, Silva e Vasconcellos (2007, p. 53) 
para compreendermos os núcleos lexicais do nome, verbo e adjetivo.
Utilizando um radical como amar-, os autores destacam que a partir dele 
podemos formar um nome, um adjetivo ou um verbo, pois o radical por si só nos 
dá apenas o sentido lexical, “a famosa relação de amor, não estando associado a 
nenhum traço nominal ou verbal” (MIOTO; SILVA; VASCONCELLOS, 2007, p. 
53). Partindo desse radical, podem ser formadas as seguintes palavras:
• Amar: é um verbo no infinitivo, apresenta os traços [+verbo] e [-nome], porque 
tem traços que podem ser reconhecidos como morfemas verbais, -ar, mas não 
apresenta marcas de gênero e número que caracterizam os nomes.
• Amor: é um nome, pois apresenta os traços [-verbo] e [+nome] e tem traços de 
gênero (masculino) e número (singular).
• Amado: é um adjetivo, pois mostra traços [+verbo] e [+nome], tem traços de 
gênero e número quando é uma palavra associada ao verbo ser numa sentença, 
como Maria é amada, porque está se referindo de maneira a caracterizar o nome 
Maria. Mas quando associada ao verbo ter, numa sentença como Maria tinha 
amado, apresenta traços que a aproximam das características dos verbos, por 
isso a categoria dos adjetivos apresenta traços distintivos positivos tanto para 
nomes quanto para verbos.
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
78
Já em relação às preposições, Mioto, Silva e Vasconcellos (2007) destacam 
as seguintes particularidades em relação a esta categoria lexical (a categoria de 
palavras/sinais) que fazem com que seja um grupo separado das categorias de 
nomes, verbos e adjetivos. De acordo com os autores, as preposições:
• não têm marcas nominais de gênero e número, ou seja, têm traço [-NOME];
• não possuem traços verbais de tempo, modo e pessoa, por isso, têm traço 
[-verbo];
• por não apresentarem traços positivos, nem dos nomes nem dos verbos, é a 
única categoria lexical que não se encaixa nas características nominais e/ou 
verbais;
• “[...] não se deriva [...] produtivamente de um radical que dá origem também 
a outra categoria, como pode acontecer com os radicais dos nomes, verbos e 
adjetivos” (MIOTO; SILVA; VASCONCELLOS, 2007, p. 54), e como vimos no 
parágrafo anterior nas formações feitas com o radical am-;
• “[...] constituem uma classe fechada, no sentido de que a classe resiste à criação 
de um novo item [...]” (MIOTO; SILVA; VASCONCELLOS, 2007, p. 54), tanto 
que é uma classe fechada em que existem várias músicas e jogos de memória 
para que os decoremos durante as aulas de Língua Portuguesa, sendo possível 
fazer uma lista contendo todo o grupo de preposições.
Ainda de acordo com Mioto, Silva e Vasconcellos (2007, p. 56), as 
características apresentadas são também atribuídas à	categoria	funcional. Contudo, 
os autores justificam a manutenção da categoria lexical para as preposições 
porque elas têm a capacidade de selecionar semanticamente as palavras que irão 
acompanhar, ou seja, seleciona seus argumentos. Esta peculiaridade de seleção 
dos seus argumentos justifica a manutenção das preposições na categoria lexical, 
pois apenas os núcleos lexicais podem s-selecionar (selecionar semanticamente) 
seus argumentos, porque as categorias funcionais apenas selecionam posições 
sintáticas.
Para exemplificar esta seleção feita pelas preposições, vamos observar os 
seguintes exemplos retirados de Mioto (2009, p. 54):
(3) A Maria desmaiou sobre a mesa.
(4) *A Maria desmaiou sobre a esperança.
Na sentença (3) a preposição sobre seleciona semanticamente uma 
expressão, a mesa, que traz uma informação de local que combina com a 
informação solicitada pela preposição sobre. Já em (4) a expressão a esperança 
não tem as propriedades de lugar que a preposição pede, por isso a sentença 
é agramatical. “Portanto, podemos dizer que há preposições que são núcleos 
lexicais [categorias lexicais] porque são capazes de s-selecionar [selecionar 
TÓPICO 1 | OS SINTAGMAS
79
semanticamente] argumentos de modo paralelo ao que fazem nomes, verbos ou 
adjetivos” (MIOTO, 2009, p. 54).
Assim, as preposições são palavras que selecionam semanticamente as 
palavras que irão combinar com elas, por isso se encaixam na categoria lexical, 
mesmo tendo características da categoria funcional.
Quanto aos advérbios, Coelho, Monguilhott e Martins (2009, p. 22-23) os 
colocam junto à classe dos adjetivos porque “[...] a depender de propriedades 
morfológicas, distribucionais e semânticas [os advérbios] se relacionam a 
nomes (substâncias), adjetivando-os (qualificando-os), ou a verbos (relações) 
caracterizando a relação por eles estabelecida”. Os autores utilizam os seguintes 
exemplos para demonstrar estas características:
(5) A Maria cortou a cebola fininha.
(6) A Maria cortou as cebolas fininhas.
(7) A Maria cortou fininho as cebolas.
Sintetizando as explicações que Coelho, Monguilhott e Martins (2009, 
p. 22-23) nos apresentaram, podemos observar que as palavras selecionadas 
em (5) e (6) estão relacionadas à palavra cebola(s), o que fica evidenciado pela 
concordância morfológica, pois as palavras cebola(s) e fininha(s) concordam 
em número e gênero. Esta mesma relação também ganha destaque no critério 
semântico, porque fininha(s) é uma propriedade da cebola cortada por Maria, ou 
seja, é uma característica na maneira como Maria cortou esta(s) cebola(s), ou seja, 
no verbo cortar.
 
No critério distribucional, em (5) e (6) a palavra fininha(s) está 
acompanhando a palavra cebola(s), já em (7), a palavra fininho está colocada em 
relação ao verbo cortar e “[...] está numa posição privilegiada para o adjetivo no 
português, ou seja, após o substantivo, mas a morfologia de masculino singular 
estabelece a relação desse item como o evento (de cortar a cebola) realizado pela 
Maria”. (COELHO; MONGUILHOTT; MARTINS, 2009, p. 23). Mioto, Silva e 
Vasconcellos (2007, p. 55) também corroboram com algumas ressalvas, dizendo 
que os advérbios seriam tipos especiais de adjetivos.
ESTUDOS FU
TUROS
No próximo tópico deste livro de estudos, estudaremos os predicados e 
argumentos de acordo com a Teoria Gerativa.
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
80
DICAS
Sobre a discussão acerca do uso de preposições em Libras, recomendamos 
que você faça a leitura da dissertação de mestrado intitulada A Interferência do Português 
na Análise Gramatical em Libras: O caso das Preposições”, de Myrna Salete Monteiro, 
apresentada em 2015 ao PPG da UFSC. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/
handle/123456789/169443>. 
4.2 CATEGORIASFUNCIONAIS
São aquelas que estabelecem as relações entre as categorias lexicais. Assim como 
os instrumentos de uma orquestra precisam de uma partitura para se organizarem 
e fazer música, ou seja, embora todos os instrumentos que compõem uma orquestra 
sejam capazes de realizar todas as notas musicais, a música só se realiza de modo 
harmônico quando os elementos seguem a maneira que a partitura estabeleceu. Do 
mesmo modo, as categorias lexicais constituirão sintagmas gramaticais (de acordo 
com as regras inerentes à língua natural) caso sejam realizados os ajustes gramaticais 
de acordo com o estabelecido pelas categorias funcionais.
De acordo com Coelho, Monguilhott e Martins (2009, p. 22-23, grifo da 
autora):
Nossa competência linguística, no entanto, dispõe de um outro 
conhecimento para que possamos fazer sintaxe: reconhecemos 
categorias gramaticais (ou funcionais) nos constituintes complexos 
formados. Pensemos. Temos categorias lexicais (e dentre elas os 
núcleos nominais, verbais, preposicionais e adjetivais que se juntam, 
ou se combinam, na sintaxe. Essa “juntação” [sic] ou “combinação”, 
por sua vez, é guiada, também, por categorias funcionais. Diríamos 
que são as categorias funcionais que fazem a máquina da sintaxe 
efetivamente funcionar; ou, ainda, que a sintaxe é motivada pela 
manifestação dos traços das categorias funcionais.
De acordo com Mioto (2009, p. 27-28), estas categorias flexionais são 
divididas em três núcleos funcionais básicos:
• Flexão verbal – abreviada como I.
• Complementizador – abreviado como C.
• Determinante – abreviado como D.
“A flexão (I) é o núcleo que define uma sentença” (MIOTO, 2009, p. 
27). Para comprovar esta afirmação, o autor coloca o par de sentenças (8) e (9). 
A primeira (8) apresenta o verbo no infinitivo, logo, não é uma sentença; e na 
segunda (9), o verbo está conjugado no Pretérito Perfeito do Indicativo, por isso, 
é uma sentença. Desta maneira, o núcleo flexional de flexão verbal (I) é muito 
importante:
TÓPICO 1 | OS SINTAGMAS
81
(8) João abraçar Maria.
(9) João abraçou Maria.
“O complementizador (C) é o núcleo que permite encaixar uma sentença 
em outra” (MIOTO, 2009, p. 28), desta forma, nos exemplos colocados por este 
autor nas sentenças (10) e (11), os elementos que e se ligam as duas sentenças, 
encaixando-as. Em (10), que liga a sentença [João abraçou Maria] como 
complemento do verbo achar; em (11), se liga a sentença interrogativa [João 
abraçou Maria?] como complemento do verbo perguntar: 
(10) Pedro acha que João abraçou Maria.
(11) Pedro perguntou se João abraçou Maria.
Ainda, conforme Mioto (2009, p. 28), “o determinante (D) é o núcleo que 
opera sobre o nome para permitir que ele funcione como argumento”. De acordo 
com o Manual de Sintaxe, do mesmo autor, “os determinantes podem ser os artigos 
ou os demonstrativos” (MIOTO, 2009, p. 88). Em (12), o é o determinante que 
atribui sentido definido à palavra menino, permitindo que ele seja uma palavra 
que completa o sentido semântico do verbo chorar:
(12) O menino chorou.
“Em resumo, os constituintes ou núcleos funcionais possuem a propriedade 
de selecionar argumentos. Esses núcleos estão associados a funções gramaticais 
(como a de carregar traços de tempo, aspecto, modo e de pessoa, número) nas 
línguas naturais” (COELHO; MONGUILHOTT; MARTINS, 2009, p. 26).
82
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• Os estudos da sintaxe tratam da maneira como os elementos se organizam 
em constituintes maiores e mais complexos para a criação de sentenças, ou 
seja, como a língua se estrutura em constituintes de forma hierarquicamente 
organizada.
• A forma hierárquica de organização dos sintagmas quer dizer que eles não são 
organizados de maneira linear (um após o outro), mas que cada um tem uma 
função em relação ao outro sintagma, então, vão se ligando aos poucos.
• As sentenças são organizadas em níveis que parecem ser lidos linearmente, 
mas também são lidos hierarquicamente.
• Os sintagmas (constituintes) são as partes que formam uma sentença.
• As sentenças são compostas por dois sintagmas principais classificados de 
acordo com o seu núcleo nominal ou verbal.
• As quatro maiores categorias lexicais são os nomes, os adjetivos, as preposições 
e os verbos, e são classificadas de acordo com traços verbais e nominais. 
• As preposições fazem parte das categorias lexicais porque selecionam as 
palavras que irão completar o seu sentido semântico.
• As categorias funcionais ou gramaticais são aquelas que nos permitem perceber 
como as categorias lexicais se relacionaram.
• As categorias funcionais são os traços linguísticos que efetivam a combinação 
das categorias lexicais.
• Os núcleos funcionais são divididos em flexão verbal, complementizador e 
determinante.
83
AUTOATIVIDADE
1 Sobre a hierarquização dos sintagmas e as categorias lexicais e funcionais, 
analise se as afirmações a seguir são verdadeiras (V) ou falsas (F):
( ) Mesmo linear, a estrutura das sentenças é feita em constituintes 
organizados em níveis de acordo com a ordem de ligação dos sintagmas 
(hierarquizados).
( ) As categorias lexicais são classificadas de acordo com os valores positivos 
ou negativos para as características verbais ou nominais.
( ) As preposições fazem parte das categorias flexionais porque selecionam 
seus argumentos semanticamente.
( ) Em “O gato bebeu leite”, o elemento sublinhado é exemplo de uma 
categoria funcional.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) F – V – F – V.
b) ( ) V – V – V – F.
c) ( ) V – V – F – V.
d) ( ) F – F – F – V.
e) ( ) V – F – V – F.
2 Mioto (2009, p. 26) afirma, em sua apostila sobre sintaxe, que “se queremos 
ser bem-sucedidos na montagem de uma sentença, devemos levar em 
conta, além do dicionário [léxico], a gramática [funcionais].” Na perspectiva 
dos estudos sintáticos, como você entende a importância de considerar 
as categorias lexicais e funcionais para a elaboração bem-sucedida das 
sentenças em uma língua natural como a Língua Portuguesa ou a Libras?
FONTE: MIOTO, Carlos. Sintaxe do português. Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, 2009. 126 p. 
Disponível em: <https://edsonsbigstheories.files.wordpress.com/2012/03/mioto1.pdf>. Acesso 
em: 22 set. 2018.
84
85
TÓPICO 2
PREDICADOS E ARGUMENTOS
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, neste tópico, estudaremos os predicados e argumentos, 
conceitos que demonstram as funções que os sintagmas têm dentro das sentenças. 
Contudo, antes de seguirmos para as explicações específicas destes dois conceitos, 
é importante deixar claro que a compreensão da Teoria Gerativa é muito diferente 
daquilo que estudamos como predicados e argumentos dentro da visão aprendida 
na escola.
Como já vimos na Unidade 1, as diferentes abordagens teóricas da sintaxe 
adotam conceitos diversos para a classificação/descrição/análise dos fenômenos 
linguísticos estudados. Provavelmente, você também aprendeu na escola que o 
predicado é a parte da oração que traz uma informação sobre o sujeito, sendo o 
sujeito aquele que faz a ação do verbo. A divisão e a classificação na perspectiva 
da Gramática Tradicional (GT) ficariam como no exemplo (13):
(13) O menino / colocou fogo na lata.
(13a) Sujeito: o menino / Predicado: colocou fogo na lata.
Na visão da Gramática Gerativa, o termo predicado ganha um outro uso 
devido à compreensão, que norteia esta teoria, entender a predicação (ou seja, 
a possibilidade de ser predicado) como uma característica dos núcleos lexicais 
de selecionar os elementos sintáticos necessários para a formação das sentenças 
gramaticais.
Dito de outra maneira, a sintaxe gerativa entende que a predicação é uma 
característica que se manifesta também dentro dos sintagmas a partir dos núcleos 
lexicais, aqueles que estudamos no Tópico 1 desta unidade, e não apenas entre 
os sintagmas nominais e verbais que compõem as sentenças, como é a definição 
da GT.
Quanto ao conceito de argumento, talvez você tenha visto quandoestudou 
os textos de opinião e redações para vestibular. Neste contexto, de acordo com o 
Dicionário Online de Língua Portuguesa, o conceito de argumento é “[O] Meio 
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
86
usado para persuadir, para tentar convencer alguém, fazendo com que esta pessoa 
mude de ponto de vista ou de maneira de agir” (DICIO, 2018, s.p.). Dessa maneira, 
os argumentos são ideias presentes nos textos de opinião na visão dos estudos 
escolares que a maioria de nós teve contato, assim eles não estão vinculados aos 
estudos sintáticos, mas aos estudos de produção textual argumentativa.
Para a sintaxe gerativa, os argumentos fazem parte dos estudos sintáticos, 
sendo os argumentos as palavras que são selecionadas pelos predicados para 
preencher os papéis sintáticos dos núcleos lexicais.
Neste tópico, as palavras predicados e argumentos têm uma conceituação 
própria da sintaxe gerativa, por isso é necessário, em relação a estas duas palavras, 
que nos desapeguemos dos conceitos conhecidos na escola.
Nas próximas seções estudaremos mais detalhadamente como a Teoria 
Gerativa percebe a conceituação e a relação entre os predicados e os argumentos.
Relembrando que os núcleos lexicais são: nome, verbo, adjetivo (advérbio) e 
preposição.
NOTA
2 CONCEITO DE PREDICADOS E ARGUMENTOS
Segundo Negrão, Scher e Viotti (2010, p. 96), “a ideia de que utilizamos 
as línguas naturais para a expressão do pensamento, ou seja, a ideia de que as 
línguas naturais se relacionam a representações mentais não é nova. É com base 
nessa ideia que vamos desenvolver esta seção sobre predicados e argumentos”.
Neste momento é interessante você relembrar nossas discussões da Unidade 1 
sobre as línguas naturais e suas características.
NOTA
Coelho, Monguilhott e Martins (2009, p. 27, grifos do original) destacam a 
ideia de que as sentenças são maneiras de organização das “cenas” mentais que 
utilizamos para a expressão do pensamento. Sobre isso, colocam que: 
TÓPICO 2 | PREDICADOS E ARGUMENTOS
87
[...] a Sintaxe se ocupa de estudar as propriedades de combinação 
de certas expressões linguísticas. Essas propriedades determinam a 
construção e a estruturação das sentenças de uma determinada língua. 
Para a construção de uma sentença acessamos, primeiramente, nosso 
léxico mental, isto é, o conjunto de elementos que temos em nossas 
mentes/cérebro. Esses elementos se combinam formando constituintes 
[sintagmas] e esses se organizam em unidades maiores formando as 
sentenças. As sentenças são como “pequenas cenas” que usamos em 
diferentes situações para a expressão do pensamento.
Dessa maneira, ao relacionarmos o que os dois grupos de autores colocam, 
podemos concluir que:
• a expressão do pensamento é feita com a utilização das línguas naturais;
• a sintaxe das línguas naturais determina as características de construção e 
estrutura que as sentenças terão;
• as sentenças são formadas, inicialmente, a partir de nosso léxico mental;
• os elementos que formam o léxico mental se combinam em sintagmas 
[constituintes];
• os sintagmas se agrupam formando as sentenças;
• as sentenças são as formas como expressamos os nossos pensamentos.
Em síntese, as sentenças representam a materialidade das línguas naturais, 
pois é o modo como podemos ter acesso ao pensamento humano organizado 
através da sintaxe das línguas naturais. As sentenças conseguem expressar apenas 
“pequenas cenas” em cada conjunto de sintagmas estruturalmente organizados, 
pois alcançam partes do todo de uma cena mental e se organizam de acordo com 
o material que nosso conjunto de palavras cognitivo possui e conforme aquilo 
que queremos destacar (COELHO; MONGUILHOTT; MARTINS, 2009, p. 27). 
É importante considerar que essas “pequenas cenas” se organizam, 
principalmente, com aquilo que o léxico mental dispõe. Ele possui, 
por exemplo, informações categoriais sobre as palavras que contém. 
Essas palavras já vêm com informações relevantes a respeito da 
categoria a que pertencem (verbo, nome, adjetivo, por exemplo 
[...]), das possibilidades de aparecerem como núcleos das sentenças 
e das restrições impostas aos elementos que se relacionam com eles 
(COELHO; MONGUILHOTT; MARTINS, 2009, p. 27). 
A fim de relacionar isso às discussões sobre os predicados e os argumentos 
na visão da Teoria Gerativa, observaremos um exemplo adaptado a partir das 
explicações de Negrão, Scher e Viotti (2010). Nesse exemplo, as autoras utilizam 
a descrição de uma imagem para geração das sentenças que servirão de objeto de 
estudos e modelo para as explicações/compreensões dos conceitos de predicados e 
argumentos. Para facilitar nossa discussão, foi escolhida uma imagem semelhante 
à descrita pelas autoras. 
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
88
FIGURA 2 – IMAGEM DE OBSERVAÇÃO PARA ELABORAÇÃO DE SENTENÇAS
FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/-bVv6NJNZQFk/USaghIE3RrI/AAAAAAAAE6o/1dT8zLTHutg/
s1600/para+ti.jpg>. Acesso em: 13 out. 2018.
Descreveríamos esta imagem comparando-a àquela em que uma menina e 
um gatinho desfrutam da companhia um do outro, durante um dia de chuva, para 
a leitura de um bom livro com uma xícara de chá e um novelo de lã. Entretanto, 
ao descrever uma imagem, podemos escolher várias abordagens diferentes de 
acordo com o que é mais relevante para nós. “E cada pessoa que se proponha 
comentar a mesma fotografia poderá descrevê-la de modo diferente, realçando 
uma determinada situação e minimizando a importância de outra. Assim, as 
sentenças que seguem, [...], [14 a 23] são expressões de algumas situações e 
propriedade possivelmente reveladas pela fotografia [imagem]” (NEGRÃO; 
SCHER; VIOTTI, 2010, p. 97, grifo da autora).
(14) Menina adora gatos.
(15) O gato está dormindo no tapete.
(16) O gato desenrolou um novelo de lã.
(17) Um novelo de lã desenrolou.
(18) Nossa! Há uma chuva forte contra o vidro da janela.
(19) Tem uma xícara de chá sobre o tapete.
(20) Esse gato é amigo da criança.
(21) A leitura da menina para o gato vai enternecer a mãe.
(22) O gato é malhado.
(23) O tapete no chão é confortável para a menina.
Inicialmente, Negrão, Scher e Viotti (2010, p. 97-100) dão destaque ao 
núcleo lexical dos verbos na posição de predicados, para isso, as autoras iniciam 
explicando que “situação é um termo geral [utilizado] para descrever atividades, 
estados ou eventos”. Desta maneira, o uso da palavra situação é bastante amplo 
dentro do contexto da análise sintática proposta por elas e não está vinculado 
apenas aos verbos, mas a quaisquer palavras que possam descrever atividades, 
estados ou eventos de movimento ou estáticos.
TÓPICO 2 | PREDICADOS E ARGUMENTOS
89
Conforme explicamos anteriormente, adaptamos o exemplo das autoras 
para a imagem do gato e da menina. Também sintetizamos e ajustamos as 
explicações de acordo com as sentenças elaboradas a partir da imagem inserida 
nesta seção.
ESTUDOS FU
TUROS
Mais adiante, neste tópico, estudaremos a conceituação e a compreensão dos 
papéis temáticos dos argumentos. Por ora, continuemos com a metáfora do teatro, pois 
se as sentenças são pequenas cenas, os constituintes ocupam os papéis necessários para 
que elas ocorram. Assim como no teatro, a cena a ser montada no palco apenas funciona 
com os atores interpretando seus papéis de acordo com o roteiro, a sentença só se realiza 
gramaticalmente quando os seus constituintes se relacionam de acordo com a gramática das 
línguas. Lembrando que o termo aqui tem um uso diferente das regras gramaticais da GT.
Sobre as sentenças (14) a (23), são feitas as seguintes observações quanto 
aos predicados e argumentos presentes nelas. Inicialmente destacamos que as 
sentenças (14), (15), (16) e (17) têm suas situações descritas por verbos. “Essas 
situações envolvem um número de participantes de um certo tipo, desempenhando 
papéis específicos dentro delas” (NEGRÃO; SCHER; VIOTTI, 2010, p. 97). Assim, 
primeiro veremos as situações em que os verbos selecionam argumentos:
• As sentenças (14) e (17) expressamsituações diferentes, cada uma delas é 
descrita por 1 verbo. Em (14) o verbo é adorar e, em (17), desenrolar.
• Na situação que (14) [A menina adora o gato.] descreve, o verbo adorar precisa 
de dois participantes, que são os constituintes menina e gato. Um tem o papel 
de adorar, o outro, de ser adorado. Assim, o verbo adorar, para ter os seus 
elementos sintáticos, semânticos e posicionais satisfeitos, precisa ter estes 
dois participantes, ou seja, dois argumentos ligados a ele. Para representar 
esta relação podemos utilizar duas maneiras: predicado de dois lugares/
argumentos: adorar; argumentos preenchem os lugares do predicado: 1, o que 
adora: a menina e 2, o que é adorado: o gato. Ou, colocando esta informação de 
outra maneira: (14) adorar (menina, gato).
• Na situação expressa em (15) [O gato está dormindo no tapete], o verbo dormir 
solicita apenas um participante que tem o papel específico de ser aquele que 
dorme, ou seja, o gato. O constituinte no tapete não é exigido pelo verbo dormir, 
a sentença poderia ser reescrita como [O gato está dormindo.] e o verbo dormir 
ainda teria o seu argumento preenchido pelo constituinte o gato sem alterações. 
Desse modo, dormir é um predicado de um lugar/argumento, preenchido pelo 
argumento o gato, ou podemos também marcar isso do seguinte modo: (15) 
dormir (gato).
• Em (16) [O gato desenrolou um novelo de lã], fazendo o mesmo raciocínio das 
sentenças destacadas anteriormente, podemos ver que o predicado desenrolou 
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
90
precisa de dois argumentos, o que fez a ação e aquele que foi desenrolado, 
neste caso, o gato e um novelo de lã, ou seja, (16) desenrolou (o gato, um novelo 
de lã).
• Em (17) [Um novelo de lã desenrolou], o verbo desenrolar necessita apena de 
um argumento, aquele que desenrolou, neste contexto, um novelo de lã, ou 
seja, (17) desenrolou (um novelo de lã). Desse modo, o sintagma um novelo de 
lã é argumento tanto em (16) quanto em (17).
“Os verbos são considerados os predicados por excelência, mas todas 
as outras categorias lexicais também podem funcionar como tal. É o caso das 
preposições, dos nomes e dos adjetivos [...]” (NEGRÃO; SCHER; VIOTTI, 2010, p. 
98). A seguir estão as sentenças (18) e (19) para observarmos como as preposições 
selecionam seus argumentos:
• Nas sentenças (18) e (19) podemos observar que as preposições contra e sobre, 
da mesma forma que os verbos, descrevem uma situação estática, ou seja, sem 
uma ideia de ação ou movimento como os verbos de (14), (15), (16) e (17), mas 
também apresentam a necessidade de certos elementos.
• Em (18) [Nossa! Há uma chuva forte contra o vidro da janela.] a expressão 
contra mostra uma situação que seleciona dois participantes “[...] em uma 
relação particular de oposição ou antagonismo [...]” (NEGRÃO; SCHER; 
VIOTTI, 2010, p. 98). Na sentença (18) esta situação de antagonismo se dá entre 
uma chuva forte e o vidro da janela, assim, a preposição contra necessita de 
dois argumentos: uma chuva forte e o vidro da janela. Representada de outro 
modo, essa relação fica: contra (uma chuva forte, o vidro da janela).
• Na sentença (19) [Tem uma xícara de chá sobre o tapete.] a preposição sobre 
tem uma situação de “[...] representação do espaço e envolve dois participantes, 
nesse caso uma xícara de chá e o tapete. Logo, a preposição sobre precisa de 
dois argumentos: sobre (uma xícara de chá/o tapete).
Assim, as preposições também são predicados, pois necessitam selecionar 
argumentos para ter seus critérios sintáticos, semânticos e posicionais satisfeitos, 
como vimos em (18) e (19). Agora, observaremos as sentenças (20) e (21) e 
discutiremos os nomes no papel de predicado.
A situação (20) [Esse gato é amigo da criança.] demonstra também uma 
situação estática, de o gato ser amigo da menina. Embora em (14) também seja 
mostrada uma situação estática, a de que a menina adora o gato, há uma diferença 
importante entre as sentenças. Esta diferença se deve ao tipo de verbo utilizado 
para a construção da sentença. 
Sobre esta diferença entre o verbo adorar e ser, nas sentenças (14) e (20), 
respectivamente:
Podemos dizer que o verbo adorar, em [...] [(14)], é um verbo que tem 
valor predicativo, no sentido de que ele determina três coisas: (i) o 
número de participantes envolvidos na situação que ele descreve; (ii) 
as características que esses participantes devem ter [ + humanos], [ 
TÓPICO 2 | PREDICADOS E ARGUMENTOS
91
+ animado] etc.; e (iii) o papel que cada um desses participantes 
desempenha no evento descrito. Diferentemente, o verbo ser, em 
[...] [(20)], não exibe essa capacidade. Ele é um verbo puramente 
gramatical, no sentido de que sua função é a de simplesmente carregar 
as marcas de flexão de tempo, aspecto, modo e pessoa. Ele não tem 
valor predicativo (NEGRÃO; SCHER; VIOTTI, 2010, p. 99, grifo do 
original).
Dito de outro modo, os verbos de (14) e (20) são diferentes porque o 
verbo adorar tem valor predicativo e necessita de argumentos que ocupem os 
papéis que ele delimita, um adorador e um adorado. Já o verbo ser não tem 
valor predicativo porque sua presença é apenas gramatical para definir o tempo, 
o modo, o aspecto e pessoa da situação apresentada pela sentença. Ou, ainda, 
o verbo adorar seleciona argumentos para se realizar sintaticamente de acordo 
com os parâmetros da Língua Portuguesa, já o verbo ser não apresenta esta 
necessidade.
Provavelmente, nos estudos escolares você também estudou o verbo ser como 
pertencente a uma categoria específica dos verbos e os classificando como os verbos de 
ligação. Segundo a GT, são aqueles verbos que servem apenas para realizar a ligação entre 
o sujeito e uma característica que é ligada a ele pelo verbo de ligação, ou seja, um verbo 
esvaziado de sentido semântico e com utilização apenas gramatical.
NOTA
Tendo isso em vista, na sentença (20) a palavra que funciona como 
predicativo é o constituinte amigo, porque ele descreve a maneira como uma 
situação se dá. Assim, Negrão, Scher e Viotti (2010, p. 99, grifo do original) 
colocam que:
[...] o termo amigo requer pelo menos dois participantes na situação que 
ele descreve, que determina as características que esses participantes 
precisam ter e que estabelece quais os papéis que eles vão ter nas 
situações descritas. Em [...] [(20)] os constituintes esse gato e a criança são 
estes participantes. Dizemos, então, que amigo, na sentença em exame, 
é um predicado de dois lugares, que toma as expressões esse gato e 
a criança como seus argumentos. Portanto, nomes, em determinados 
contextos, também podem ser considerados predicados.
Passemos à sentença (21) [A leitura da menina para o gato vai enternecer 
a mãe.], nela temos uma situação expressa pelo verbo enternecer que tem como 
argumentos dois participantes: a leitura da menina para o gato e a mãe. Logo, 
nesta sentença temos um predicado de dois lugares, ou seja, um verbo que precisa 
de dois argumentos: enternecer (a leitura da menina para o gato, a mãe).
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
92
“Mas esta não é a única relação de predicação que existe nessa sentença” 
(NEGRÃO; SCHER; VIOTTI, 2010, p. 99), porque no interior do argumento a leitura 
da menina para o gato também existe uma relação de predicação relacionada ao 
nome leitura. O constituinte leitura expressa uma situação estática que tem um 
papel claramente definido, respectivamente, o leitor ou o ouvinte da leitura.
Dessa forma, leitura também é um predicado de dois lugares que necessita 
de dois argumentos: da menina e para o gato. Assim, leitura (da menina, para o 
gato). Logo, em (21) teríamos duas predicações encaixadas do seguinte modo: 
enternecer (leitura (da menina, para o gato), a mãe).
 
Até aqui, vimos exemplos em que os verbos, as preposições e os nomes se 
comportam como predicados, pois selecionam argumentos. Agora, para finalizar 
as sentenças elaboradas a partir da imagem da menina e o gatinho, que foi citada 
antes, nos deteremosàs sentenças (22) e (23) com atenção específica aos adjetivos 
malhado e confortável. Mais uma vez são sentenças construídas em torno do verbo 
ser, que é um verbo sem valor predicativo.
Em (22) e (23) os adjetivos expressam propriedades que precisam ser 
atribuídas a entidades sintáticas. Na sentença (22) [O gato é malhado.], para a 
característica malhado é atribuído o argumento o gato, isso fica claro se pensarmos 
o seguinte: Quem é malhado?, a resposta para esta questão é o sintagma o gato. 
Assim, ganha destaque a característica de que o adjetivo malhado precisa de 
um constituinte que preencha esta necessidade do adjetivo. Logo, o predicado 
malhado tem um argumento, gato, ou seja, malhado (gato).
 
Em (23) [O tapete no chão é confortável para a menina.], a propriedade 
confortável necessita de dois argumentos, um que oferece conforto e o outro que 
desfruta do conforto, neste caso, o primeiro é o tapete no chão e, o outro, para a 
menina. Assim, o adjetivo confortável necessita de dois argumentos, nesta situação, 
tapete no chão e para a menina. Logo, confortável (tapete no chão, para menina).
Sintetizando a conceituação de predicado e argumento, Negrão et al. (2003 
apud COELHO; MONGUILHOTT; MARTINS, 2009, p. 27) afirmam que: 
Predicados são itens capazes de impor condições sobre os elementos 
que com eles compõem o constituinte do qual são núcleos (núcleos 
lexicais); são, portanto, itens que possuem a capacidade de selecionar 
elementos.
Argumentos são itens que satisfazem as exigências de combinação dos 
predicados, ou, em outras palavras, são elementos selecionados pelo 
predicado.
Na próxima seção, delimitaremos os papéis temáticos dos argumentos a 
partir das discussões estabelecidas até agora.
TÓPICO 2 | PREDICADOS E ARGUMENTOS
93
3 SELEÇÃO ARGUMENTAL
Na seção anterior, desenvolvemos o nosso entendimento em relação 
à categoria lexical (verbos, nomes, adjetivos e preposições), como ela funciona 
na posição de predicado e de que maneira os argumentos são selecionados por 
estes núcleos lexicais. Também destacamos que a seleção dos argumentos, para 
atender ao que é exigido pelos predicados, se dá de maneira sintática, semântica 
e distribucional.
 
Inicialmente, discutiremos a maneira como os requisitos sintáticos dos 
argumentos são projetados numa estrutura específica delimitada pelos estudos 
da Sintaxe Gerativa. Desse modo, no item 3.1 estudaremos quais são as exigências 
sintáticas para seleção dos argumentos e de que forma os diferentes níveis de 
projeção na estrutura arbórea procuram demonstrar como se dão as relações 
gramaticais dentro da sentença. Além disso, neste item retomaremos as categorias 
funcionais/gramaticais, mesmo não selecionando argumentos, pois elas são 
elementos que também podem encabeçar sintagmas, por isso são representadas 
através das inter-relações sintáticas demonstradas a partir da estrutura arbórea 
definida pela Gramática Gerativa.
Após, no item 3.2, a seleção semântica dos argumentos será enfatizada 
a partir da delimitação dos papéis temáticos atribuídos aos argumentos pelos 
predicados. Quanto ao critério distribucional, ou seja, a ordem em que os 
constituintes se organizam na sentença, ele está envolvido nas considerações 
sintáticas e semânticas. Por isso não será estudado separadamente, ele estará 
subjacente às discussões feitas.
 
Neste momento, é interessante retomarmos a concepção da Teoria 
Gerativa a partir do que Coelho, Monguilhott e Martins (2009, p. 28, grifo do 
original) colocam sobre a relação entre a faculdade da linguagem, os princípios e 
os parâmetros:
Como já vimos, na Teoria Gerativa afirma-se que todas as línguas 
humanas dispõem de um sistema modular inato, a Faculdade da 
Linguagem, formado por categorias, que são determinadas por 
princípios e parâmetros. Vimos também que os princípios gramaticais 
universais são invariantes nas línguas naturais e determinam a 
natureza e a aquisição da estrutura gramatical. Embora haja princípios 
universais que determinam as linhas gerais da estrutura gramatical, 
há também aspectos particulares dela que estão sujeitos à variação 
entre as línguas particulares, os parâmetros. Na medida em que os 
parâmetros vão se fixando, as gramáticas das línguas particulares vão 
se constituindo.
Ao se fixarem, estes parâmetros se manifestam na utilização do léxico para 
a formação de sentenças nas línguas naturais. Estas, por sua vez, são formadas 
por constituintes/sintagmas que podem ser analisados a partir das categorias 
lexicais e funcionais. Quando discutimos as categorias lexicais, percebemos que 
elas podem ocupar a função de predicado e, por isso, selecionam seus argumentos 
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
94
de acordo com as necessidades sintáticas, semânticas e distribucionais específicas 
de cada situação de uso nas sentenças.
A partir disso, passaremos às discussões sobre requisitos sintáticos e 
papéis temáticos dos argumentos.
3.1 OS REQUISITOS SINTÁTICOS DOS ARGUMENTOS
Na constituição das gramáticas particulares de cada língua, “o mapeamento 
das informações contidas no léxico precisa se manifestar nas sentenças de modo 
explícito. A sintaxe fornece um esqueleto estrutural sobre o qual são projetados 
os itens lexicais que trazem para a sintaxe toda a informação semântica a eles 
associada” (NEGRÃO; SCHER; VIOTTI, 2010, p. 101).
 
Com o objetivo de descrever a estrutura gramatical das sentenças presentes 
em uma língua, a Teoria Gerativa utiliza um esquema denominado X-barra. 
“Este esquema é o módulo da gramática que permite representar a natureza 
do constituinte, as relações que se estabelecem dentro dele e o modo como se 
hierarquizam para formar sentenças” (COELHO; MONGUILHOTT; MARTINS, 
2009, p. 27).
Ainda sobre o esquema de representação da teoria X-barra, Coelho, 
Monguilhott e Martins (2009, p. 27) colocam que esta forma para representação 
da natureza e a relação entre os sintagmas “configura-se como um esquema 
geral capaz de projetar [demonstrar] uma estrutura frasal com as principais 
categorias lexicais e funcionais, no qual aparecem distribuídas as posições núcleo, 
especificador e complemento. Essas posições podem ser visualizadas em forma 
de árvore (estrutura arbórea)”.
No Dicionário de Linguística encontramos o seguinte significado para o 
verbete árvore:
Árvore é uma representação da estrutura em constituintes duma frase (esta 
pode ser representada por parentelização).
Consideremos, em Gramática Gerativa, uma frase [sentença] que contenha as 
seis regras abaixo:
F → SN + SV (a frase [sentença] é formada de um sintagma nominal, seguida 
de um sintagma verbal);
SN → D + S (o sintagma nominal é formado por um determinante seguido de 
um substantivo);
SV → V + SN (o sintagma verbal é formado por um verbo, seguindo de um 
sintagma nominal);
TÓPICO 2 | PREDICADOS E ARGUMENTOS
95
D → o (o determinante é o);
S → pai, jornal (o substantivo pode ser pai ou jornal);
V → lê (o verbo é lê)
A frase F é formada da sequência dos símbolos:
D + S + V + D + S
Se substituirmos os símbolos categoriais por seus valores possíveis (estando 
jornal excluído da posição sujeito pelo verbo lê), temos:
o + pai + lê + o + jornal
A estrutura dessa frase pode ser representada (descrita) pela seguinte árvore:
VD S
o opai jornallê
D S
S SV
SN
F
Os traços cheios representam os galhos da árvore, e os pontilhados, a 
substituição dos símbolos categoriais por palavras da língua. Distinguem-se 
assim as regras de formação da árvore, em que um símbolo é reescrito por 
outros símbolos constituintes, e as regras de reescrita lexical, que substituem 
um símbolo por uma palavra da língua (DUBOIS et al., 1973, p. 72-73).
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
96
As representações atuais das árvores têm eliminado os galhos pontilhados e 
colocando a relação entre os símbolos categoriais e as palavras da língua em conjunto. Por 
exemplo, a árvore anterior ficaria assim representada:
IMPORTANTE
VD S
o
o
pai
jornallê
D S
SN SV
SN
F
Nessa árvore, SN e SV são nódulos: cada nódulo é rotulado, i.é. [isto é], recebe um rótulo, 
que é categorial; as linhas cheias que juntam os nódulos são galhos. Diz-se que o nódulo 
F domina os nódulos SN e SV, e que o módulo SN domina D e S. O símbolo à esquerda 
da flecha nas regras é o nódulo dominante; os símbolos à direita da flecha são os nódulos 
dominados.
Essa árvore constitui a representação ou descrição estrutural de F: diz-se também que ela é 
o indicador sintagmático ou marcador sintagmático [do sintagma].
Para o correto entendimento das representações em árvore, devemos fazer 
a leitura dos constituintes de forma a perceber a hierarquia sintagmática dos sintagmas da 
seguinte forma:
• (E ← D) esquerda para a direita, e
• (B ↑ C) baixo para cima.
NOTA
Desta maneira, Dubois et al. (1973, p. 72-73) nos mostram em seu dicionário 
uma explicação da organização básica das árvores a partir dos constituintes (já 
estudados na Unidade 1), e destacam que os pontos de encontro das partes que 
constituem os sintagmas são os nódulos da representação arbórea.
Assim, o que temos no verbete de Dubois et al. (1973) é uma demonstração 
básica da ligação entre os constituintes de uma árvore gerativa com a utilização 
TÓPICO 2 | PREDICADOS E ARGUMENTOS
97
de uma sentença cujo verbo ler é um predicado de dois lugares, ocupados por o 
pai e o jornal, ambos sintagmas nominais formados por um determinante (artigo) 
e um nome.
 
Entretanto, nessa explicação os autores não detalharam como são 
chamadas as posições sintáticas, pois colocam a representação básica dos 
constituintes na estrutura arbórea. Observe as delimitações dos constituintes da 
sentença colocadas a seguir:
(24) O pai lê o jornal.
Delimitação parentelizada: [ [ [o][pai] ] ][lê] [ [o] [jornal] ] ] ]
Delimitação ampliada:
[o pai lê o jornal]
[o pai] [lê o jornal]
[o] [pai] [lê o jornal]
[lê o jornal]
[lê [o jornal]
[o] [jornal]
Direção da leitura
dos constituintes
Ao compararmos a estrutura arbórea reproduzida na citação do verbete 
árvore do Dicionário de Linguística, podemos perceber que a estrutura em árvore é 
uma maneira em que a hierarquização dos constituintes das sentenças fica mais 
evidente devido ao seu “[...] esqueleto estrutural [...]” permitir que as relações entre 
os sintagmas fiquem desenhadas de maneira clara a partir das inserções posicionais 
dentro da estrutura arbórea (NEGRÃO; SCHER; VIOTTI, 2010, p. 102).
Assim, a estrutura em árvore proposta pela sintaxe gerativa é capaz 
de demonstrar não apenas os constituintes de uma sentença, mas também 
a hierarquia desses constituintes a partir dos “galhos” e nódulos que estas 
representações apresentam, ou seja, do desenho dos constituintes, dentro de uma 
estrutura em níveis.
Desta maneira, as árvores têm como objetivo demonstrar os constituintes 
dentro de suas posições sintáticas hierarquicamente organizadas na sentença. 
Segundo Mioto (2009, p. 23), “devemos aprender a fazer árvores porque, quando 
bem-feitas, elas mostram com toda clareza qual é a estrutura da sentença”. A 
fim de que estas localizações fiquem claramente delimitadas, a Teoria Gerativa 
também define uma nomenclatura específica para as posições sintáticas dos 
constituintes.
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
98
Desse modo, para demonstrar como a representação arbórea é feita, 
é necessário observarmos o esquema básico de representação em árvore das 
sentenças, pois “o mapeamento das informações semânticas contidas no léxico 
precisa se manifestar nas sentenças de modo explícito” (NEGRÃO; SCHER; 
VIOTTI, 2010, p. 101).
FIGURA 3 – ESQUEMA BÁSICO DE REPRESENTAÇÃO ARBÓREA
ZPX0
YP
XP
X'
XP
Compl
X'
X0
Spec
FONTE: Coelho, Monguilhott e Martins (2009, p. 28)
Neste esquema as letras correspondem a:
• XP: qualquer núcleo lexical ou funcional que serve de base para estabelecer 
relações sintáticas, projeta uma posição spec e uma posição compl;
• YP: especificador (spec) do núcleo-base;
• ZP: complemento (compl) do núcleo-base.
A partir dessas informações, podemos fazer as substituições na árvore 
básica e o esquema básico ficará da seguinte maneira:
FIGURA 4 – ESQUEMA BÁSICO DE REPRESENTAÇÃO ARBÓREA
FONTE: Coelho, Monguilhott e Martins (2009, p. 29)
De acordo com Coelho, Monguilhott e Martins (2009, p. 29), as categorias 
lexicais e funcionais podem projetar as posições de especificador e complemento, 
também obedecendo ao esquema hierárquico básico de representação em árvore. 
A diferença é que apenas os núcleos lexicais podem selecionar semanticamente os 
seus argumentos, os núcleos funcionais apenas “[...] codificam certas propriedades 
gramaticais que definem se uma sentença é finita ou infinita”. Ou seja, os núcleos 
funcionais não são predicados e não selecionam argumentos, mas têm também as 
posições de especificar e complemento.
 
Sobre as posições na estrutura arbórea, Mioto (2009, p. 28, grifo do 
original) coloca que: 
TÓPICO 2 | PREDICADOS E ARGUMENTOS
99
Um núcleo X fecha sua projeção XP quando é combinado com todos os 
seus Compls e o seu Spec, se ele tiver algum. Spec e Compl são sempre 
sintagmas. Quem determina a presença ou ausência de Spec ou Compl 
é o núcleo. O primeiro é representado na árvore pendendo de XP; o 
segundo pende de X'.
Mioto (2009) está destacando a mesma situação colocada por Negrão, 
Scher e Viotti (2010, p. 102), quando perguntam ao leitor se os dois argumentos se 
ligam ao verbo ao mesmo tempo, e quando Coelho, Monguilhott e Martins (2009, 
p. 30) retomam os níveis hierárquicos e as relações simétricas e assimétricas dos 
sintagmas de acordo com o nível hierárquico observado.
Caro acadêmico, antes de continuarmos é interessante que alguns 
pontos do conteúdo estudado até aqui sejam destacados, pois, assim como em 
nossos conhecimentos escolares sobre sintaxe é preciso que tenhamos as classes 
gramaticais bem determinadas, também em sintaxe gerativa é importante 
organizarmos alguns aspectos:
• Segundo Negrão, Scher e Viotti (2010, p. 102):
O esqueleto estrutural que a sintaxe constrói tem por base [evidenciar] 
as seguintes relações: 
i. a relação que se estabelece entre o núcleo e o complemento;
ii. a relação que existe entre o subconstituinte formado pelo núcleo + 
complemento e o especificador.
• O léxico (palavras/sinais) se organiza em sintagmas, para Mioto (2009, p. 23), 
“cada palavra é núcleo de um sintagma”.
• As palavras/sinais são classificadas na categoria lexical.
• Os núcleos lexicais se dividem em quatro tipos: nomes, preposições, verbos e 
adjetivos.
• A categoria funcional é o conjunto de combinações sintáticas que formam os 
núcleos funcionais e são dos seguintes tipos: “Flexão verbal – abreviada como 
I; Complementizador – abreviado como C e Determinante – abreviado como 
D” (MIOTO, 2009, p. 27).
• As posições sintáticas na árvore delimitam a relação hierárquica entre 
os constituintes: elas podem ser simétricas (mesmo nível hierárquico) ou 
assimétricas (níveis hierárquicos diferentes).
• As posições na estrutura arbórea podem ser rotuladas com siglas derivadas da 
origem da Teoria Gerativa, em língua inglesa, por exemplo, VP é a abreviatura 
de Verbal Phrase, ou seja, Sentença Verbal.
• A posição mais alta na árvore é aquela que o núcleo ocupa, contudo, a posição 
do núcleo se desdobra e perpassa os outros níveis da hierarquia a que estiverem 
relacionados por sua influência. Na Figura 4 observamos que estão marcadas 
as três posições básicas do núcleo lexical.
• A posição X’ é o nível que representa a realização do núcleo lexical (X0) em 
conjunto com o complemento – Compl (argumento interno).
• A posição X’ está numa posição simétrica em relação ao especificador – Spec 
(argumento externo).
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
100
• A posição X0, ou apenas X, é aquela em que a realização material do núcleo 
estará representada.
• A posição X0 estará numa relação assimétrica em relação à posição Spec.
• A posição de complemento (Compl)é o argumento interno do predicado.
• A posição Compl é aquela que primeiro se liga ao núcleo lexical que está na 
posição X0.
• A posição X’ + Spec forma a completude de XP, ou seja, a realização no núcleo 
lexical XP é aquela em que se dá a realização completa do núcleo lexical + seus 
argumentos internos e externos.
• Núcleo + complemento (argumento interno) “[...] formam um subconstituinte, 
ao qual se junta o segundo argumento, denominado ARGUMENTO EXTERNO. 
Chamamos a posição ocupada pelo argumento externo de especificador” 
(NEGRÃO; SCHER; VIOTTI, 2010, p. 102, grifo do original). Isso acontece 
porque [...] o argumento não é subcategorizado pelo núcleo, mas selecionado, 
visto que a relação entre os dois não é de irmandade, e o especificador está 
mais alto que o verbo na estrutura” (COELHO; MONGUILHOTT; MARTINS, 
2009, p. 30).
• A posição X’ é aquela em que o núcleo e o complemento interno estão juntos 
para se unirem ao Spec, ou seja, ao argumento externo.
Para compreender esses conceitos é necessário que observemos novamente 
a sentença proposta por Dubois et al. (1973), ainda sem nos determos à categoria 
funcional, apenas à categoria lexical. Dito de outra maneira, vamos primeiro 
observar a formação arbórea dos núcleos lexicais com o verbo no infinitivo, sem 
as marcas de modo/tempo e número/pessoa e a delimitação do determinante:
(24) O pai ler o jornal.
FIGURA 5 – ÁRVORE (24) LEXICAL VERBAL
Compl
SN
o jornal
V0
V
ler
Spec
SN
O pai
SV
V'
E ← D
B ↑ C
FONTE: A autora
Fazendo a leitura da árvore da (E → D e B ↑ C), temos a seguinte análise:
• inicialmente, na posição de complemento – Compl – do núcleo verbal (V0), 
temos um SN (sintagma nominal) [o jornal] ligado ao verbo presente no nível 
TÓPICO 2 | PREDICADOS E ARGUMENTOS
101
V0 [ler] numa relação simétrica de irmandade;
• Compl [o jornal] + V0 [ler] = V’ [ler o jornal]: o complemento e o nível de 
realização verbal simétrico (irmandade) V0 se juntam e formam a posição V’ 
[ler o jornal];
• V’ [ler o jornal] + Spec [o pai] = VP: [o pai ler o jornal]: o nível V’ (V0 + Compl) 
ao ser relacionado com o especificador forma a sentença verbal (24) completa 
com o núcleo verbal e os dois argumentos que o verbo ler seleciona.
Num comparativo com os conhecimentos da Gramática Tradicional, 
Negrão, Scher e Viotti (2010, p. 103), sobre a relação entre a GT e a Teoria Gerativa, 
destacam:
[...] que, por essa análise [da sentença (24) em nosso caso], o que 
tradicionalmente se conhece por sujeito e objeto resulta de uma 
configuração estrutural ao invés de receber uma definição nocional 
[conceitual]. Dessa forma, o sujeito é o constituinte que ocupa a posição 
de especificador e objeto direto é o constituinte que ocupa a posição 
de complemento do verbo. Com isso, evita-se o uso [de] definições 
problemáticas como as que dizem que sujeito é aquele que pratica a 
ação expressa pelo verbo.
Assim, as autoras colocam que o posicionamento estrutural proposto pela 
Gramática Gerativa impacta na clareza da delimitação dos papéis sintáticos.
O objeto direto (OD) para a compreensão apresentada pela GT é aquela função 
sintática que se liga ao verbo sem o uso de preposições, em oposição ao objeto indireto 
(OI), função que precisa de uma preposição para poder se ligar ao verbo. Dessa maneira, 
correspondem às funções relacionadas à transitividade dos verbos.
NOTA
Negrão, Scher e Viotti (2010) destacam que os demais núcleos lexicais 
são também predicados, assim como o núcleo verbal que observamos na árvore 
elaborada a partir de (24), e fazem a seleção de complemento e especificador.
Assim, a análise proposta pela Teoria Gerativa prevê a maneira de analisar 
todos os núcleos lexicais. Para ilustrar essa afirmação, veja as árvores referentes 
aos núcleos formados por um nome, um adjetivo e uma preposição das seguintes 
sentenças:
(25) A destruição dos novelos pelo gato.
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
102
FIGURA 6 – ÁRVORE (25) NÚCLEO LEXICAL NOMINAL
SN
Compl
SN
os novelos
N'
N0
N
destruição
Spec
SN
o gato
FONTE: A autora
Você deve ter percebido que as preposições de e por (por + o= pelo) não 
foram colocadas na estrutura arbórea, porque elas fazem parte de uma análise 
sintática de categoria funcional, pois [...] em português, não podemos ter 
argumentos de um nome sem que eles sejam introduzidos por uma preposição” 
(NEGRÃO; SCHER; VIOTTI, 2010, p. 103). É interessante notarmos que nem 
sempre a configuração aparente da estrutura sintática (árvore) apresentará 
linearmente as palavras na ordem semelhante à escrita na sentença.
(26) O tapete é confortável para a menina.
FIGURA 7 – ÁRVORE (26) NÚCLEO NOMINAL ADJETIVO
SA
Compl
SP
para a menina
A'
A0
A
confortável
Spec
SN
o tapete
FONTE: A autora
Em (26), o verbo ser não é núcleo (conforme já vimos na seção anterior), 
por isso a seleção é feita pelo adjetivo, no papel de complemento temos um 
sintagma preposicionado (SP).
(27) A xícara de chá está sobre o tapete.
TÓPICO 2 | PREDICADOS E ARGUMENTOS
103
SP
Compl
SN
o tapete
P'
P0
P
sobre
Spec
SN
A xícara de chá
FIGURA 8 – ÁRVORE (27) NÚCLEO LEXICAL PREPOSIÇÃO
FONTE: A autora
Neste caso, o verbo estar não é predicado e, por isso, não seleciona 
argumentos. Para analisarmos durante o desenho das árvores é interessante nos 
atentarmos ao que Negão, Scher e Viotti (2010, p. 104) destacam: “As sentenças 
podem conter constituintes que não são previstos como exigências dos predicados 
no léxico”. Ainda de acordo com as autoras, esses constituintes entram numa 
posição de adjunto (Adjunto), pois não se classificam nem como predicado nem 
como argumentos e, por isso, eles estão numa posição que repete o nível do 
sintagma do núcleo verbal. Vamos observar a árvore lexical da sentença (28):
(28) O gato desenrolou o novelo ontem.
FIGURA 9 – ÁRVORE (28) SENTENÇA COM ADJUNTO
SV
SV
Compl
SN
o novelo
V'
V0
V
desenrolou
Spec
SN
o gato
Adjunto
ontem
FONTE: A autora
Dessa maneia, o Adjunto está no mesmo nível hierárquico do sintagma ao 
qual ele se aplica. De acordo com Negrão, Scher e Vioti (2010, p. 105):
Na sentença em exame, a presença do advérbio de tempo ontem não 
se deve a uma exigência do verbo [...]. Por isso, quando ele é mapeado 
na sintaxe, não há que se falar em uma nova projeção hierárquica 
[nível hierárquico]. Antes, ele é mapeado como um constituinte que 
se aplica a uma projeção fechada do tipo SV, e mantém com mesma 
estruturação hierárquica que ela apresenta anteriormente. Essa é a 
razão pela qual dizemos que um adjunto é um segmento da categoria 
à qual ele se aplica.
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
104
Ainda em relação ao desenho das árvores, vamos observar o desenho 
de uma árvore a partir da seleção funcional dos argumentos. Quanto a eles, é 
importante lembrarmos que os núcleos funcionais, representados pela sigla IP 
(núcleo flexional da sentença), selecionam especificador e complemento apenas 
gramaticais. Vejamos a seguinte sentença adaptada de Mioto (2009, p. 37):
(29) O gato ama a menina com paixão.
FIGURA 10 – ÁRVORE (29) ESTRUTURA FLEXIONAL
IP
SV
SV
SN
ti
SN
a menina
I'
I
ama
j
Spec
O gato
i
Adjunto
com paixão
V'
V
t
j
FONTE: A autora
Nesta árvore, o sintagma flexional (IP) é incluído na representação arbórea 
de maneira a demonstrar que ele está em um nível mais elevado da estrutura 
em relação ao sintagma verbal, fazendo com que ele se desdobre na flexão de 
número-pessoa e modo-tempo. Isso acontece porque estas informações flexionais 
têm influência não apenas sobre o verbo, mas sobre toda a realização do sintagma 
verbal que abarca toda a sentença verbal.
Os movimentos que acontecem nesta árvore (29) podem ser explicados da 
seguinte maneira: os constituintes movidos de seus lugares originais da árvore 
são representados com um índice subscrito, neste caso, [o gato i] e [ama j], nos 
lugares em que estavam originalmente eles deixam um traço ou rastro que é 
marcado com a letra t (traço)e o índice referente aos constituintes movidos. De 
maneira geral, pode-se dizer que o constituinte [o gato i]:
[...] se alçou para a posição de especificador do núcleo funcional 
(IP) para requisitos de Caso nominativo. E o argumento interno [...] 
[a menina], ou o objeto, permanece na posição de complemento. Na 
verdade, o que se conhece como sujeito e como objeto é resultado 
de uma configuração estrutural, de forma que, nessa relação, objeto 
direto é o constituinte que ocupa a posição de complemento do verbo 
e sujeito é o constituinte que ocupa a posição de especificador de IP 
(COELHO; MONGUILHOTT; MARTINS, 2009, p. 31).
TÓPICO 2 | PREDICADOS E ARGUMENTOS
105
Assim, o sujeito e o objeto são posições decorrentes da configuração 
estrutural das sentenças em que o objeto é o constituinte que ocupa a posição 
de complemento do verbo e o sujeito é o constituinte que ocupa a posição de 
especificador do núcleo flexional da sentença (IP). Dessa maneira, de acordo 
com Coelho, Monguilhott e Martins (2009, p. 31, grifo itálico do original, negrito 
da autora):
Como a posição de sujeito – tratada de agora em diante como posição 
de especificador de IP – é obrigatória (constitui um dos princípios das 
línguas naturais), mesmo que um verbo não selecione um argumento 
externo, ela vai ser ocupada, na ES, ou por um argumento interno, 
movido da posição em que recebe papel temático, ou por um pronome 
expletivo (isto é, pronome sem significado referencial, como it do inglês 
em sentenças como em It rains). O movimento de um argumento para 
a posição de especificador de IP é legitimado por questões de Caso.
“Estrutura Superficial (ES) é considerada neste modelo um nível de 
representação de uma sentença que vai ser interpretada fonologicamente por PF (como a 
estrutura é pronunciada) e semanticamente por LF (qual o sentido da sentença)” (COELHO; 
MONGUILHOT; MARTINS, 2009, p. 30).
NOTA
Nesta seção, tratamos dos aspectos básicos para a compreensão e o 
desenho das estruturas arbóreas delimitadas pela Teoria Gerativa.
DICAS
Caso você queira se aprofundar nessas discussões sobre a construção das 
árvores, recomendamos a leitura do texto de Carlos Mioto (2009), 126 páginas, intitulado 
Sintaxe da Língua Portuguesa. Neste material, temos um detalhamento bastante didático da 
Teoria Gerativa aplicada à construção da estrutura arbórea. Disponível no link: 
<https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/296552/mod_resource/content/1/curso%20%20
de%20sintaxe.pdf>. 
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
106
3.2 PAPÉIS TEMÁTICOS DOS ARGUMENTOS
Na seção anterior, vimos como a Teoria Gerativa desenha as posições 
sintáticas dos argumentos numa estrutura específica chamada de árvore. Também 
estudamos os rótulos (classificações) que cada posição apresenta e como os 
argumentos são inseridos nas posições sintáticas de Spec (especificador) e Compl 
(complemento) de acordo com a relação sintática que os argumentos têm com 
o núcleo lexical. Sobre isso, o argumento interno é aquele que está em relação 
simétrica com o núcleo lexical da posição X0 e ocupa a posição de Compl; já o 
argumento externo é aquele que se ligará à posição X’ (X0 + Compl), assim, está 
numa relação assimétrica com o núcleo X0 e ocupa a posição de Spec. Ainda vimos 
que os núcleos lexicais e funcionais projetam posições sintáticas, mas apenas os 
núcleos lexicais são predicados que selecionam semanticamente seus argumentos, 
e são estes argumentos que ocupam as posições sintáticas hierarquicamente 
constituídas de Spec e Compl.
 
Nesta seção, estudaremos os papéis temáticos, ou seja, as “posições” 
semânticas que os predicados delimitam a partir dos traços semânticos que o 
predicado (núcleo lexical) s-seleciona (seleciona semanticamente).
 
Os papéis temáticos são a maneira semântica como os argumentos 
correspondem às exigências dos predicados e apenas os núcleos lexicais podem 
impor argumentos semânticos, ou seja, atribuir papéis temáticos. Já os núcleos 
funcionais não têm essa capacidade, eles projetam apenas as posições sintáticas 
de Spec e Compl.
 
Quanto a essa seleção semântica, segundo Negrão, Scher e Viotti (2010, p. 
100, grifo do original):
No que diz respeito às exigências semânticas, elas estão relacionadas 
aos papéis dos participantes na situação escrita. Tecnicamente, 
chamamos esses papéis de PAPÉIS TEMÁTICOS. Um predicado 
atribui papéis temáticos quantos forem os argumentos associados a 
ele. Papéis desempenhados por todo argumento de um predicado e 
atribuídos a esses argumentos pelo próprio predicado que os seleciona.
Ou seja, cada argumento irá desempenhar um papel em relação ao 
predicado, pois o conjunto de predicados, mais argumentos, forma a sentença 
e mostrará a situação que a sentença pretende demonstrar. A pequena cena 
montada pela sentença apenas fica completa quando os predicados têm seus 
argumentos ocupados pelos papéis temáticos por eles.
Retomando a metáfora da cena de teatro, apresentada inicialmente no 
UNI deste tópico, cada ator assume um papel para que as cenas que compõem 
a peça estejam completas e essas cenas funcionam de acordo com um roteiro 
preestabelecido que necessita que cada ator interprete o papel a ele designado. 
Nas sentenças é a mesma coisa, para que a situação expressa seja realizada é 
preciso que os predicados estejam plenamente satisfeitos em seus argumentos. 
Nas palavras de Coelho, Monguilhott e Martins (2009, p. 41):
TÓPICO 2 | PREDICADOS E ARGUMENTOS
107
Nessas cenas, diferentes entidades desempenham papéis importantes 
e necessários. Esses papéis são, em geral, determinados pelo verbo 
e são mais ou menos fixos. Esses verbos, como já salientamos, são 
considerados predicados e são, por sua vez, os responsáveis pela 
seleção dos argumentos que com eles se relacionam. Além dos verbos, 
esses papéis também podem ser determinados por outras categorias 
lexicais, como nomes, adjetivos e preposições.
Ainda de acordo com Coelho, Monguilhott e Martins (2009, p. 46), 
“é importante você notar que as exigências semânticas estão relacionadas aos 
papéis dos participantes nas pequenas cenas. Esses papéis são conhecidos na 
literatura como papéis temáticos e podem ser assim sumarizados”. Esses papéis 
são definidos de acordo com a seleção semântica do predicado em relação aos 
critérios de s-seleção dos argumentos:
a) agente – papel do ator que tem controle sobre a realização da ação;
b) paciente ou alvo – papel do indivíduo ou objeto afetado pela ação;
c) instrumento – papel do objeto de que o agente se serve para praticar 
a ação;
d) beneficiário – papel do indivíduo a quem a ação traz proveito ou 
prejuízo;
e) experienciador – papel do indivíduo que passa pelo estado 
psicológico descrito pelo predicado;
f) locativo – papel do lugar em que o indivíduo ou o objeto estão;
g) tema – papel neutro do indivíduo ou do objeto.
Na seção anterior, vimos que existe uma grande diferença entre o sujeito 
e o objeto da GT e a compreensão da Gramática Gerativa das posições sintáticas. 
Também em relação à seleção semântica, a visão da GT e da Teoria Gerativa 
são diferentes. Sobre esta questão, Coelho, Monguilhott e Martins (2009, p. 46) 
colocam que:
Os papéis temáticos são distintos do sujeito, do objeto e do adjunto, 
mas há uma hierarquia que dispõe sobre a possibilidade de os 
diferentes papéis coincidirem com o sujeito gramatical. A literatura 
mostra, por exemplo, que o agente tem mais chances de ser o sujeito 
do que o instrumento, que o instrumento tem mais chances do que 
o alvo, que o alvo tem mais chances do que o beneficiário e assim 
por diante. Nessa escala, o tema só seria o sujeito na falta de todos os 
outros papéis.
Para exemplificar esses papéis temáticos, vamos observar as seguintes 
sentenças:
(30) A menina adora o gato.
Predicado: adora
Argumentos: a menina e o gato
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
108
Em (30) temos [a menina] como o constituinte que tem o papel de 
experienciador da situação delimitada pelo verboadorar e [o gato] é o constituinte 
que tem o papel de tema do verbo adorar, pois tem um papel neutro em relação 
à ação do verbo adorar, não sendo necessariamente envolvido na ação de adorar 
que é experienciada pelo constituinte [a menina].
(31) O gato está dormindo no tapete.
Predicado: dormir 
O verbo estar tem um papel meramente gramatical para “carregar” as 
informações sintáticas de modo/tempo e número/pessoa.
Argumento: o gato 
Sobre (31), a expressão [no tapete] é uma expressão que “[...] não se 
caracteriza como argumento, pois não é exigido[a] pelo verbo (é apenas um 
adjunto)] (COELHO; MONGUILHOTT; MARTINS, 2009, p. 44). Por ser uma 
expressão não selecionada semanticamente, a expressão [no tapete] não tem papel 
temático atribuído, ou seja, é uma expressão desenhada sintaticamente junto às 
estruturas de árvore, como vimos na seção anterior ao observarmos na Figura 9.
 
Em relação ao papel temático de [o gato] em (31), o constituinte [dormir] 
s-seleciona o constituinte [o gato] no papel de agente da situação estabelecida por 
[dormir]. 
Esta seleção é baseada em critérios semânticos que especificam quais são 
as características do léxico que podem ocupar este papel. Por exemplo, em relação 
ao verbo [dormir] é necessário que o elemento que preencha este papel seja um 
ser capaz de realizar a ação expressa por este verbo. Observe o seguinte:
(31) O gato dormiu no tapete.
(32) *A mesa dormiu no tapete.
A sentença (32) é agramatical porque a s-seleção argumental do verbo 
[dormir] exige que seu agente tenha características que o constituinte [a mesa] 
não tem. Já na sentença (31), o constituinte [o gato] apresenta as qualidades que 
o verbo [dormir] necessita para que o papel de agente, delimitado por ele, seja 
preenchido semanticamente de acordo com a s-seleção e complete de forma 
gramatical a situação da sentença.
TÓPICO 2 | PREDICADOS E ARGUMENTOS
109
4 DELIMITAÇÃO ARGUMENTAL DOS VERBOS
Para encerrarmos esse tópico, veremos como os sintagmas compostos 
por predicados de núcleos lexicais verbais são divididos em cinco grupos pela 
Teoria Gerativa e de acordo com a maneira como os verbos fazem a sua seleção 
argumental. Dessa forma, são questões que se referem ao que a GT chama de 
transitividade verbal, de acordo com aquilo que a Gramática Gerativa estuda 
dentro daquilo que ficou conhecido como Regência e Ligação (COELHO; 
MONGUILHOTT; MARTINS, 2009).
 
Quanto às restrições que os núcleos verbais apresentam para a seleção dos 
argumentos:
Os núcleos lexicais [verbais] (predicados) têm estrutura argumental 
e selecionam os argumentos que compõem uma sentença, isto é, 
selecionam argumentos para preencher lacunas, impondo-lhes uma 
série de restrições. Essas restrições dizem respeito:
• à categoria [-N, +V];
• aos argumentos selecionados que podem ser externos, quando 
ocupam a posição de especificador do núcleo, ou internos, quando 
aparecem na posição de complemento do núcleo;
• à c-seleção, que se refere à seleção categorial [...] sintática;
• à s-seleção que se refere à capacidade de selecionar semanticamente 
os argumentos (COELHO; MONGUILHOTT; MARTIS, 2009, p. 47).
É importante lembrar que os rótulos das posições na estrutura arbórea são 
colocados em siglas:
VP/SV = sintagma verbal;
X0 ou X = nível de realização do núcleo lexical (nome, verbo, adjetivo, preposição), junta-se 
ao Spec;
X’ = nível intermediário do núcleo lexical, formado por [X + Comple];
SN = Sintagma Nominal;
PP = Sintagma Adjunto;
Spec = especificador ou argumento externo do núcleo lexical;
Compl = complemento ou argumento interno do núcleo lexical.
NOTA
A partir dessas restrições, os verbos são divididos de acordo com as 
estruturas montadas por Coelho, Monguilhott e Martins (2009, p. 48) e adaptadas 
a partir de Mioto (2009, p. 34-35):
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
110
FIGURA 11 – SINTAGMAS VERBAIS (VP)
(a) VP
V'
V
chover
ventar
relampejar
V'
SNV
(c) VP
chegar
sair
morrer
V'SN
V
(b) VP
chorar
dormir
mugir
V'
SN
SN
V
(d) VP
abraçar
amar
gostar
dizer
perguntar
V'
SN
SN
PP
V
V
(e) VP
dar
pôr
FONTE: Adaptado de Mioto (2009, p. 34-35)
Sobre estas possibilidades, Mioto (2009, p. 36, grifo do original) coloca que:
Estes são os desenhos possíveis para o VP. O que eles querem dizer 
é que, no nosso dicionário mental, os verbos podem ter, no máximo, 
três argumentos, no mínimo, nenhum e, intermediariamente, um ou 
dois. O máximo de AE [argumento externo] é um; o máximo de AI 
[argumento interno] são dois.
Dessa maneira, sobre as possibilidades de sintagmas nominais podemos 
afirmar que:
• (11a) apresenta o modelo de árvore dos verbos que não selecionam argumentos, 
por exemplo, na sentença (33), Chove, a situação se realiza plenamente sem a 
necessidade de Spec ou Compl;
• (11b) apresenta os verbos intransitivos, eles são caracterizados por terem 
exigências sintáticas de argumento externo “[...] marcado tematicamente com 
a propriedade de ser o desencadeador da ação manifestada pelo verbo (o 
agente)” (COELHO; MONGUILHOTT; MARTINS, 2009, p. 56). Em (34), Maria 
dormia., por exemplo, o verbo dormir exige um argumento externo no papel 
de agente da ação do verbo dormir;
• (11c) apresenta os verbos inacusativos, eles são caracterizados por necessitarem 
apenas de um argumento interno no papel temático de objeto afetado (tema) e 
sintaticamente só exigem a posição objeto – Compl. Por exemplo, em (35), Maria 
morreu., o constituinte [Maria] não é o agente da ação, pois o verbo morrer não 
tem um argumento externo no papel de agente, mas tem um argumento interno 
que foi afetado pela situação que o verbo delimita. Em (35), o constituinte 
[Maria] tem o papel temático de tema, pois é afetado pela situação do verbo;
• (11d) apresenta a estrutura dos verbos que têm um argumento interno na 
função de Compl e um argumento externo na função de Spec. Por exemplo, em 
(36), Maria perguntou a João., temos [Maria] na posição de Spec e [de João] na 
posição de Compl do verbo [perguntar]. Em relação aos papéis, temos [Maria] 
no papel de agente e [a João] no papel de paciente ou alvo, indivíduo afetado 
pela ação;
TÓPICO 2 | PREDICADOS E ARGUMENTOS
111
• (11e) coloca a estrutura dos verbos que têm três argumentos, conhecidos como 
bitransitivos. Nesse caso, o desenvolvimento das posições sintáticas do núcleo 
na estrutura arbórea, por exemplo, em (37), Maria deu o livro para João., temos 
os constituintes [Maria], [o livro] e [para João] como argumentos do verbo 
[dar]. Sintaticamente, [Maria] tem o papel de Spec, [o livro] tem o papel de 
Compl e [para João] tem o papel de argumento interno da posição de V’. Assim, 
os três argumentos estão em posições diferentes da árvore, como demonstrado 
na figura. Em relação aos papéis temáticos da situação expressa pelo verbo, 
[Maria] = agente, [o livro] = tema, [para João] = beneficiário.
Na GT a classificação dos verbos é feita entre os verbos impessoais, intransitivos 
e transitivos, sendo os últimos divididos em transitivos diretos, transitivos indiretos e 
transitivos diretos e indiretos. A definição dessas classificações é nocional e preposicional, 
pois mistura a compreensão semântica do verbo e a necessidade ou não de preposição para 
a classificação quanto ao tipo de verbo de acordo com o tipo de objeto.
NOTA
112
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• Na sintaxe gerativa, as expressões argumentos e predicados têm um uso bastante 
diferente da Gramática Tradicional.
• O termo situação é um termo genérico que faz referência às descrições de 
atividades, estados ou eventos.
• Os predicados são os núcleos dos sintagmas que podem fazer exigências 
argumentais, ou seja, são aqueles núcleos lexicais que têm a capacidade de 
selecionar elementos.
• Os verbos, preposições, nomes e adjetivos são categorias lexicais que selecionam 
argumentos de acordo com suas características sintáticas, semânticas e 
posicionais.
• Os argumentos são os sintagmas que preenchem funções queos núcleos dos 
sintagmas exigem, ou seja, os argumentos estão ligados a um núcleo que os 
exige.
• As representações arbóreas procuram demonstrar as relações semânticas no 
interior das sentenças de maneira que as relações entre sintagmas fiquem 
evidenciadas visualmente de maneira clara.
• As árvores dentro da Teoria Gerativa devem ser lidas da Esquerda para a 
Direita e de Cima para Baixo.
• A Teoria Gerativa procura esclarecer as relações sintáticas das línguas naturais 
através da delimitação estrutural das posições sintáticas.
• O sujeito e o objeto são posições decorrentes da configuração estrutural das 
sentenças, em que o objeto é o constituinte que ocupa a posição de complemento 
do verbo e o sujeito é o constituinte que ocupa a posição de especificador do 
núcleo flexional da sentença (IP).
• As relações semânticas dos predicados e argumentos são analisadas a partir dos 
papéis temáticos atribuídos pelos predicados aos argumentos, as possibilidades 
são: agente, paciente/alvo, instrumento, beneficiário, experienciador, locativo e 
tema.
• Por meio da Teoria Gerativa, os verbos são divididos em cinco tipos, de acordo 
com sua seleção argumental: sem argumento, com um argumento (intransitivos 
e inacusativos), com dois argumentos, com três argumentos.
113
• Em relação aos verbos que selecionam apenas um argumento 
(monoargumentais), esses verbos são divididos em intransitivos e 
inacusativos: os verbos intransitivos selecionam sintaticamente um Spec 
(objeto externo) e, semanticamente, o argumento externo tem a característica 
de ser o agente da ação do verbo; os verbos inacusativos só têm a posição 
estrutural temática em relação à seleção semântica e o argumento interno tem 
o papel temático de tema.
114
AUTOATIVIDADE
1 A árvore a seguir foi desenhada levando em consideração o seguinte 
sintagma não flexionado: [Maria ver a Lua]. Observe que para cada uma das 
posições sintáticas lexicais foram atribuídos números:
FIGURA 12 – ESTRUTURA ARBÓREA
SV
Spec
1
Compl
3
V0
2
V'
FONTE: A autora
Leia as afirmações feitas sobre os constituintes da sentença e a maneira 
como eles serão inseridos na estrutura arbórea:
I- O verbo ver exige dois argumentos.
II- A posição 1 (Spec) deve ser preenchida pelo constituinte [Maria].
III- A posição 2 (Predicado) deve ser preenchida pelo núcleo lexical verbal 
[ver].
IV- A posição 3 (Compl) deve ser preenchida pelo constituinte [a Lua].
V- A posição SV é composta por [V0 + Compl].
Marque a alternativa que apresenta as afirmações CORRETAS:
a) ( ) I, II, III e IV.
b) ( ) II, III, IV e V.
c) ( ) I, III, IV e V.
d) ( ) I, II, IV e V.
e) ( ) II, III, IV e V.
2 Como você avalia a relevância do uso das estruturas arbóreas para a 
delimitação das relações sintáticas na perspectiva da Teoria Gerativa?
115
TÓPICO 3
ESTRUTURA DAS SENTENÇAS
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, cada pessoa ao relatar uma situação utilizará as 
línguas naturais para descrever o que observou de acordo com sua percepção. 
Contudo, mesmo podendo enfatizar as situações de acordo com sua percepção 
da realidade, a forma como as sentenças serão construídas não é apenas linear 
nem completamente livre, porque os constituintes podem “[...] ser colocados em 
diferentes posições na sentença para expressar diferentes efeitos discursivos. 
Em várias posições sim, mas não em todas ou em qualquer posição” (COELHO; 
MONGUILHOTT; MARTINS, 2009, p. 58). 
Nesta seção veremos, inicialmente, como a Gramática Gerativa entende a 
questão da ordem das palavras nas sentenças. Depois, estudaremos como se dão 
as movimentações dos sintagmas no interior da sentença a partir da perspectiva 
teórica da Gramática Gerativa, ou seja, estudaremos as possibilidades de 
movimentação posicional dos constituintes a partir da compreensão das regras 
de ordenação decorrentes da Teoria dos Princípios e Parâmetros proposta por 
Noam Chomsky.
Desta forma, estudaremos como as relações sintagmáticas estão 
distribuídas nas sentenças e quais são os elementos que permitem ou restringem 
que as movimentações entre os constituintes ocorram para que a situação 
estabelecida pelas sentenças seja mantida. Para isso, estudaremos as noções de 
parâmetro de direcionalidade, seleção argumentativa, topicalização e focalização.
2 ORDEM DOS CONSTITUINTES NAS SENTENÇAS
Sobre o estudo da estrutura das sentenças, Negrão, Scher e Viotti (2010, p. 
106, grifo da autora) colocam que é necessário:
[...] trazer à tona um conhecimento que qualquer falante da língua 
tem. Os alicerces desse conhecimento são:
i. sabermos organizar os itens lexicais em categorias gramaticais, 
estabelecidas de acordo com as características morfológicas, 
distribucionais e semânticas por eles exibidas;
ii. sabermos que a estrutura resulta da projeção dessas categorias em 
constituintes hierarquicamente estruturados, fazendo com que ela 
não seja apenas uma sequência linear de itens lexicais;
iii. sabermos que esses constituintes se organizam a partir de um 
116
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
núcleo cujas exigências sintáticas e semânticas devem ser satisfeitas 
pelos elementos que vão se compor com ele.
Dessa maneira, a estrutura das sentenças, na perspectiva gerativa, é 
a de que a ordem do léxico no interior das sentenças obedece aos três fatores 
elencados pelas autoras: características morfológicas, sintáticas (distribucionais) 
e semânticas; projeção dessas características em constituintes organizados em 
níveis e organização dos sintagmas a partir das exigências dos núcleos lexicais, 
ou seja, a ordem é linear apenas na aparência porque:
• a estrutura interna é gramaticalmente constituída, mas não é linearmente 
definida, ou seja, a estrutura sintática não se realiza de forma linear, mas 
de modo hierárquico em níveis que as estruturas das árvores procuram 
demonstrar;
• a atribuição dos papéis temáticos aos núcleos lexicais não é diretamente 
relacionada à posição das palavras linearmente, mas às exigências semânticas 
dos núcleos lexicais;
• as características distribucionais desenvolvem-se em uma estrutura delimitada 
a partir do núcleo lexical e suas exigências, mais adiante observaremos em 
alguns exemplos que as palavras não podem ser inseridas aleatoriamente 
no interior dos constituintes, nem interromper as relações estabelecidas pelo 
núcleo lexical.
Devido a essas características, a ordenação dos constituintes nas sentenças 
não pode ser aleatória, pois segue as exigências e restrições das gramáticas das 
línguas naturais. Segundo Coelho, Monguilhott e Martins (2009, p. 58), isso se dá 
porque:
[...] o estudo da sintaxe está relacionado à combinação entre palavras 
para formar sentenças. Essa combinação entre as palavras de 
uma língua não é aleatória, pelo contrário, segue algumas regras. 
[basicamente] Unidades menores formam unidades maiores, 
hierarquicamente organizadas, formando os sintagmas. A união dos 
sintagmas forma as sentenças. 
“Na língua portuguesa e na Libras, por exemplo, a ordenação básica dos 
constituintes parece seguir a mesma hierarquia: SVO (sujeito-verbo-objeto), na 
grande maioria dos casos” (COELHO; MONGUILHOTT; MARTINS, 2009, p. 58, 
grifo da autora). Contudo, esta organização pode ser modificada em algumas 
situações de acordo com critérios de movimentação dos constituintes nas 
sentenças, que levam em conta os critérios sintáticos e semânticos delimitados 
pelos parâmetros das línguas naturais.
TÓPICO 3 | ESTRUTURA DAS SENTENÇAS
117
ESTUDOS FU
TUROS
Em Libras, a ordem da sentença já não é tão linearmente constituída, porque 
podemos ter mais de um elemento sintático, semântico e distribucional marcado de 
modos não manuais ou marcados em sobreposição. Veremos isso com mais detalhes na 
próxima seção.
Para exemplificar, vamos observar a seguinte sentença e três de suas 
representações:
• (38) Maria olha a Lua.
Inicialmente, a sentença é apresentada em sua estrutura linear aparente, 
ou seja, com uma palavra lida/escutada/sinalizada apósa outra de E → D, como 
a seta abaixo dela demonstra. Segundo Perini (2005, p. 46), “a posição linear é 
simplesmente a posição que uma unidade ocupa em relação às outras unidades 
do enunciado”.
• (38) Maria olha a Lua.
A situação expressa pelo verbo olhar apresenta, semanticamente, a 
necessidade de dois argumentos: um é aquele que tem o papel de quem tem o 
controle sobre a situação que o verbo expressa, ou seja, agente [Maria], e o outro 
é o papel neutro em relação à situação, neste caso, a Lua é admirada, por isso, 
tema [Lua]. Assim, a relação semântica não é linear, mas parte do núcleo lexical 
em direção aos argumentos. 
Para demonstrar essa atribuição, colocamos as setas partindo do verbo em 
direção aos argumentos. 
• (38) Maria olha a Lua.
118
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
FIGURA 13 – ÁRVORE (38) ESTRUTURA FLEXIONAL
IP
Spec
Maria
j
SV
V'
I
olha
j
SN
ti
SN
a Lua
V
t
j
I'
FONTE: A autora
Nessa representação em árvore, da sentença (38), fica evidenciada a 
estrutura sintática da sentença com representação do núcleo funcional flexional. 
Essa estrutura demonstra os níveis hierárquicos sintáticos da sentença, como já 
estudamos na seção anterior.
 
Tendo essas representações em vista, fica evidenciada a não linearidade 
da organização estrutural das sentenças. Também se evidencia a justificativa de os 
constituintes poderem ser organizados de vários modos, mas não de qualquer modo.
3 MOVIMENTAÇÃO DOS CONSTITUINTES
A movimentação dos constituintes dentro das sentenças está ligada, 
conforme Perini (2005), aos processos de correspondência entre as sentenças. O 
autor também coloca que ela se dá tanto em nível semântico quanto sintático. 
Observe os seguintes exemplos:
(39) A aranha comeu a mosca.
(39a) A mosca, a aranha comeu.
(39b) A mosca comeu a aranha.
As sentenças (39) e (39a) têm um relacionamento semântico e sintático 
entre si, já (39) e (39b) não se relacionam da mesma maneira, pois apresentam 
diferenças semânticas e sintáticas que tornam, tanto a informação semântica 
quanto a informação sintática, bastante diversas entre elas. Dessa maneira, 
podemos concluir que a movimentação dos constituintes dentro da sentença não 
pode ser feita de qualquer modo, pois está influenciada por critérios semânticos 
e sintáticos.
TÓPICO 3 | ESTRUTURA DAS SENTENÇAS
119
Agora, observe os seguintes exemplos adaptados de Coelho, Monguilhott 
e Martins (2009, p. 59):
(40) O João comprou uma roupa nova para o casamento de domingo.
(40a) Para o casamento de domingo o João comprou uma roupa nova.
(40b) O João para o casamento de domingo comprou uma roupa nova.
(40c) O João comprou para o casamento de domingo uma roupa nova.
Observe que o sintagma [para o casamento de domingo] tem uma 
movimentação bastante livre ao longo da sentença, isso acontece porque ele não 
está diretamente ligado ao núcleo lexical [comprar] desta sentença, pois não 
está na posição de argumento deste predicado, e sim de adjunto. Contudo, de 
acordo com Coelho, Monguilhott e Martins (2009, p. 59), “quando o constituinte 
é o argumento do predicado, no entanto, as possibilidades de ordenação ficam 
bastante restritas”.
Nas sentenças a seguir, observe o movimento parcial do constituinte 
[uma roupa nova] que é um argumento do núcleo lexical [comprar] que ocupa a 
posição sintática de complemento:
(41) O João comprou para o casamento no domingo uma roupa nova.
(41a) Uma roupa nova o João comprou para o casamento de domingo.
(41b) *Uma roupa o João nova comprou para o casamento de domingo.
(41c) *O João comprou uma roupa para o casamento nova de domingo.
(41d) *O João comprou uma roupa para o casamento de domingo nova.
A movimentação de partes do constituinte faz com que as sentenças (41b), 
(41c) e (41d) sejam agramaticais em Língua Portuguesa (por isso marcadas pelo *), 
porque “[...] não é possível deslocarem-se partes de constituintes nem sequências 
que não formem um constituinte” (COELHO; MONGUILHOTT; MARTINS, 
2009, p. 60). As palavras que compõem um sintagma apresentam uma relação 
sintática e semântica no interior do constituinte (intrassintagmática). 
 
Entretanto, mesmo a movimentação do constituinte como um todo 
apresenta restrições para posposição ou anteposição do sujeito e do objeto em 
relação ao núcleo lexical. Essas restrições em LP estão relacionadas ao tipo de 
verbo que é núcleo lexical da sentença. Vamos analisar o seguinte conjunto de 
sentenças:
120
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
(42) O João comprou uma roupa nova para o casamento no domingo.
(43) Uma roupa nova o João comprou para o casamento de domingo.
(44) Uma roupa nova comprou o João para o casamento de domingo.
(45) O João uma roupa nova comprou para o casamento de domingo.
Mesmo que nenhuma dessas sentenças seja agramatical, as sentenças (42) 
e (43) são melhor formuladas em LP do que as sentenças (44) e (45), isso acontece 
porque:
• em (42) temos a ordem irrestrita em LP que é a SVO; 
• em (43) aparece a ordem OSV que coloca o objeto no topo da sentença, que 
também é uma ordem recorrente em LP;
• em (44) também pode ser entendida como uma estrutura OVS bastante 
problemática e pouco usual em LP, porque também pode ser vista como 
uma SVO que causa a inversão dos argumentos e a alteração entre os papéis 
temáticos de agente e paciente, deixando a sentença, embora gramatical, não 
correspondente à sentença básica expressa em (42) e sem ter um sentido 
adequado em LP, pois o constituinte [uma roupa nova] não apresenta os traços 
semânticos necessários para preencher o papel de especificador do verbo 
[comprar];
• (45) apresenta uma ordem pouco usual em LP, a SOV, porque o português é 
uma língua que prefere a ordem de núcleo inicial com valor positivo quanto ao 
parâmetro de direcionalidade, ou seja, a posição verbo-complemento é a mais 
utilizada.
De acordo com Coelho, Monguilhott e Martins (2009), o que acontece 
nas sentenças (46) e (47) é reflexo do verbo chegar, um verbo inacusativo que 
seleciona apenas argumento interno. Por isso pode aparecer na posição sintática 
de complemento ou na posição de sujeito sintático. 
(46) A roupa nova chegou.
(47) Chegou a roupa nova.
Ao fazerem a comparação entre os pares de sentenças (44)/(45) e (46)/(47), 
os autores analisam que:
No primeiro caso, temos um verbo de dois lugares (ou transitivo) 
e no segundo caso, um verbo de um lugar (ou inacusativo). Parece 
que o português prefere a ordem posposta para o sujeito quando a 
construção é inacusativa. Há restrições, portanto, de movimento dos 
constituintes atrelado ao tipo de verbo (ou item lexical) (COELHO; 
MONGUILHOTT; MARTINS, 2009, p. 61).
Logo, o tipo de seleção argumental do núcleo influenciará na maneira 
como os constituintes atrelados a eles podem se movimentar no interior da 
TÓPICO 3 | ESTRUTURA DAS SENTENÇAS
121
sentença. Ainda sobre a posposição do sujeito, os autores colocam que “[...] o 
português do Brasil exige marcação da concordância entre sujeito-verbo quando 
o sujeito estiver anteposto ao verbo, e admite não concordância quando ele estiver 
posposto” (COELHO; MONGUILHOTT; MARTINS, 2009, p. 61, grifo da autora). 
De acordo com os autores, observe o seguinte grupo de sentenças:
(48) A Maria e o João compraram uma roupa nova para o casamento.
(49) *A Maria e o João comprou uma roupa nova para o casamento.
(50) O terno e o vestido chegaram.
(51) *O terno e o vestido chegou.
(52) Chegou/Chegaram o terno e o vestido.
O que fica demonstrado nessas frases apresentadas é que, quando o sujeito 
está colocado antes do núcleo verbal, a concordância é obrigatória, como vemos 
nos pares (48)/(49) e (50)/(51). E quando o sujeito está colocado linearmente após 
o verbo, a concordância pode ser feita ou não, como aparece em (52).
 
Quanto aos verbos bitransitivos, aqueles que selecionam três argumentos, 
de acordo com Coelho, Monguilhott e Martins (2009), a ordem regular é SVODOI 
(sujeito – verbo – objeto direto – objeto indireto), mas também são consideradasbem formadas as sentenças em que o objeto direto e o objeto indireto estão na 
ordem SVOIOD. Como em:
(53) João deu um bilhete de amor à Maria.
(54) João deu à Maria um bilhete de amor.
Em relação ao uso dos clíticos (conhecidos na GT como pronomes 
oblíquos) nas sentenças com verbos bitransitivos, “[...] quando o argumento está 
representado por um clítico, o clítico vai necessariamente acompanhar o verbo 
[...]. Agora, quando o clítico é trocado por um pronome tônico, a variação da 
ordem SVODOI/SVOIOD é possível” (COELHO; MONGUILHOTT; MARTINS, 
2009, p. 62). 
(55) João deu-lhe a aliança de casamento.
(56) *João deu a aliança de casamento lhe.
(57) João deu a aliança de casamento para ela
(58) João deu para ela uma aliança de casamento.
A movimentação dos sintagmas na sentença também pode ser utilizada 
como um recurso discursivo, pois o deslocamento dos constituintes para o início 
da sentença faz com que o sintagma deslocado assuma uma posição de tópico da 
sentença, sendo este o processo de topicalização. “De maneira geral, o tópico é um 
122
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
constituinte já conhecido (ou inferível). É sobre ele que vai fazer uma declaração” 
(COELHO; MONGUILHOTT; MARTINS, 2009, p. 64):
• sobre o João, ele comprou as alianças...
• sobre as alianças, o João comprou elas para o casamento...
• para o casamento, o João comprou as alianças para ele...
Outro recurso discursivo utilizado é o de focalização, processo de 
movimentação em que “[...] os constituintes em destaque são informações novas 
e não podem ser retomadas por um pronome” (COELHO; MONGUILHOTT; 
MARTINS, 2009, p. 63). Em (59), o foco é o sujeito, em (60), o objeto, e em (61), o 
adjunto:
59) O João comprou as alianças para o casamento de domingo (e não a Maria).
(60) As alianças o João comprou para o casamento de domingo (e não a 
decoração).
(61) Para o casamento de domingo o João comprou as alianças (e não para o 
casamento de sábado).
Desse modo, podemos concluir que a movimentação dos constituintes está 
ligada às características dos núcleos lexicais, à impossibilidade de movimentação 
parcial dos constituintes, à ordem hierárquica dos sintagmas nas sentenças, aos 
papéis temáticos, às funções sintáticas e aos diferentes efeitos sintáticos, aqui 
vimos os fenômenos de topicalização e focalização. De acordo com Perini (2005), 
existem diversas construções correspondentes em LP, ou seja, diferentes formas 
equivalentes de arranjo da sentença, por isso não é possível darmos conta de 
todas elas.
DICAS
Caso você tenha interesse em estudar mais sobre as equivalências 
entre as sentenças, recomendamos o acesso ao livro Gramática Descritiva do 
Português, de Mário Perini (2005), disponível em: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.
php/4196917/mod_folder/content/0/1%20Bibliografia%20Fundamental/PERINI_
GramaticaDescritivaDoPortugue%CC%82s.pdf?forcedownload=1>. 
TÓPICO 3 | ESTRUTURA DAS SENTENÇAS
123
ESTUDOS FU
TUROS
As noções de tópico e foco serão retomadas ao longo das próximas páginas 
deste livro de estudos por serem importantes para a compreensão das movimentações dos 
constituintes nas sentenças em Libras.
124
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• As estruturas das sentenças são linearmente constituídas apenas na aparência, 
pois a estruturação da sentença é muito mais complexa do que uma organização 
em linha dos elementos lexicais que a compõem.
• A ordem SVO (sujeito-verbo-objeto) é a estrutura básica em LP e Libras.
• A relação de correspondência é aquela em que as sentenças são equivalentes 
semântica e sintaticamente.
• O limite da movimentação entre os constituintes das sentenças está delimitado 
junto às relações semânticas e sintáticas serem mantidas ou não.
• Os adjuntos têm uma movimentação mais livre pelas sentenças.
• Um sintagma só pode ser movido inteiramente na sentença porque existe uma 
relação intrassintagmática das palavras que o compõem.
• O parâmetro de direcionalidade é aquele que dá conta da ordem preferencial 
entre o verbo-complemento (núcleo inicial) ou complemento-verbo (núcleo 
final). Em LP a ordem mais usual é a de núcleo inicial.
• Há restrições ligadas ao tipo de seleção argumental feita pelo núcleo lexical 
verbal.
• Topicalização é o processo pelo qual uma informação já conhecida no discurso 
é destacada como tópico da sentença.
• A focalização é o processo em que uma informação nova ganha destaque 
através do foco contrastivo.
125
1 Observe as seguintes sentenças:
(A) A aranha matou a mosca ontem.
(B) A mosca, a aranha matou ontem.
(C) A aranha, ontem, matou a mosca.
(D) A mosca matou a aranha ontem. 
(E) A aranha matou, ontem, a mosca.
De acordo com os critérios semânticos e sintáticos, apenas a sentença 
(D) não apresenta correspondência às demais sentenças desta lista. Como você 
justificaria essa afirmação sobre a relação entre as sentenças apresentadas?
2 Para a movimentação dos constituintes na sentença devem ser levados em 
conta quais limites, caso queiramos elaborar sentenças correspondentes?
AUTOATIVIDADE
126
127
TÓPICO 4
A ORDEM BÁSICA DAS SENTENÇAS EM LIBRAS
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, até o tópico anterior fizemos discussões e estudamos 
sobre a maneira como a Gramática Gerativa compreende a sintaxe das línguas 
naturais. Deste momento em diante, entraremos no estudo das estruturas em 
Libras, ainda sob a perspectiva teórica gerativa estudada ao longo das páginas 
anteriores deste livro de estudos.
 
No Tópico 4, estudaremos a ordem básica das sentenças e algumas das 
situações em que a ordem dos constituintes no interior delas pode ser alterada 
de acordo com os elementos gramaticais envolvidos e os efeitos de sentido 
pretendidos.
O campo de estudos das línguas de sinais apresenta bastante espaço para 
discussões e pesquisas, pois os estudos gramaticais sobre as línguas de sinais são 
bastante recentes no Brasil. Isso porque a consolidação da legislação específica 
sobre a Língua Brasileira de Sinais também é recente, e se deu através do Decreto 
nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que regulamentou a difusão da Libras, o 
acesso e os direitos das pessoas surdas.
De acordo com Quadros e Karnopp (2004, p. 46), nas pesquisas acadêmicas 
sobre as línguas de sinais é utilizada também a sigla LSB, referente à Língua de Sinais Brasileira 
e “[...] utilizada internacionalmente, seguindo os padrões de identificação para as línguas de 
sinais”. No âmbito deste livro de estudos utilizaremos a sigla Libras, por ser a mais utilizada 
dentro do Brasil.
NOTA
Além disso, no decorrer da história dos estudos linguísticos, os estudos 
específicos das línguas de sinais tiveram pouco desenvolvimento fora dos espaços 
específicos, isso porque ao longo da história dos estudos surdos existiram vários 
momentos em que eram negados o acesso e o uso da própria língua, dentre 
outros fatores, tais como o acesso aos sistemas de ensino e ao espaço de estudo 
nas universidades. Segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 127):
128
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
A língua de sinais brasileira, usada pela comunidade surda brasileira 
espalhada por todo o país, é organizada espacialmente de forma 
tão complexa quanto as línguas orais-auditivas. Analisar alguns 
aspectos da sintaxe de uma língua de sinais requer “enxergar” esse 
sistema que é visuoespacial e não oral-auditivo. De certa forma, tal 
desafio apresenta certo grau de dificuldade aos linguistas; no entanto, 
abre portas para as investigações no campo da Teoria da Gramática 
enquanto manifestação possível da capacidade da linguagem humana. 
DICAS
Recomendamos que você assista ao vídeo Estrutura Gramatical da Libras. 
Neste vídeo, Ronice Muller de Quadros faz um apanhado geral sobre os elementos 
gramaticais da Libras. Embora o vídeo pareça ser mais antigo, a publicação dele no Youtube 
é de 2013 e ele está disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=O66o7BvuYwA&t=
0s&index=18&list=PLvy4BdqbdaWGONo-b4-CnhxJ40EpcAjny>.2 ESTRUTURA BÁSICA DAS SENTENÇAS
A estrutura básica das sentenças em Libras parece ser a ordem SVO 
(sujeito-verbo-objeto). De acordo com Quadros e Karnopp (2004):
Há dois trabalhos que mencionam a flexibilidade da ordem das frases 
na língua de sinais brasileira: Felipe (1989) e Ferreira-Brito (1995). As 
autoras observaram que há várias possibilidades de ordenação das 
palavras nas sentenças, mas que, apesar dessa flexibilidade, parece 
haver uma ordenação mais básica que as demais, ou seja, a ordem 
Sujeito-Verbo-Objeto. Quadros (1999) apresenta evidências que 
justificam tal intuição propondo uma representação para a estrutura 
da frase nesta língua. As evidências surgem de orações simples, de 
orações complexas contendo orações subordinadas, da interação 
com advérbios, com modais e com auxiliares. As demais ordenações 
encontradas na língua de sinais brasileira resultam da interação de 
outros mecanismos gramaticais (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 139, 
grifo da autora).
Desta forma, a ordem básica da Libras é semelhante à de LP, mas também 
apresenta certa flexibilidade decorrente da interação com diferentes elementos 
gramaticais. Algumas dessas possibilidades de flexibilidade serão observadas na 
próxima seção.
Observe a sentença (62) do exemplo a seguir:
TÓPICO 4 | A ORDEM BÁSICA DAS SENTENÇAS EM LIBRAS
129
FIGURA 14 – SENTENÇA SVO – (62) ELE/ELA ASSISTE TV
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
A representação desta sentença feita pelas autoras é a seguinte:
(62) <IXa aASSISTEb bTV>
Sobre a representação que acabamos de exemplificar, Quadros e Karnopp 
(2004) acrescentam: a sentença que está entre < > tem um núcleo verbal [aASSITEb] 
que seleciona dois argumentos marcados por elemento não manual, com as letras 
[a] e [b] na representação, em [IXa] está detalhado o argumento que ocupa a 
posição [a] do núcleo verbal e em [bTV], o argumento que ocupa a posição [b] do 
núcleo verbal. A representação IX é utilizada para indicar a apontação quando o 
referente não for indicado pelo contexto.
Na sentença (62) temos um núcleo lexical [aASSITEb], e os argumentos 
[IXa] e [bTV], a organização dela está na ordem SVO e todas as sentenças com 
esta estrutura são consideradas gramaticais. Nesse exemplo, o verbo [aASSITEb] 
é um verbo com concordância de marca não manual através da direção dos olhos, 
diferente do núcleo verbal da próxima sentença, apresentada em (63), que está na 
ordem SVO, mas tem um verbo diferente do apresentado na sentença anterior:
FIGURA 15 – SENTENÇA SVO – (63) ELE/ELA GOSTA DE FUTEBOL
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
Em (63), a ordem da sentença também é estruturada em SVO e o núcleo 
verbal [GOSTAR] também seleciona dois argumentos, mas ele é um verbo com 
130
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
3 RESTRIÇÕES PARA MODIFICAÇÃO DA ORDEM BÁSICA
De acordo com o levantamento feito por Quadros e Karnopp (2004), a partir 
do estudo de diversos autores, existem quatro ordens possíveis nas sentenças em 
língua brasileira de sinais:
a) Sem restrições:
• Ordem SVO: ordem básica das sentenças.
b) Com restrições:
• Ordem SOV (sujeito-objeto-verbo): verbos manuais e verbos com aspecto.
• Ordem OSV (objeto-sujeito verbo): topicalização e elevação do objeto.
• Ordem (S) V (O): diferente do parâmetro do sujeito nulo, o parâmetro pro-
drop é aquele em que os argumentos do verbo podem ser nulos, ou seja, se 
referem ao apagamento tanto do sujeito quanto do objeto em verbos que 
tenham concordância. Segundo Quadros (1995 apud QUADROS; KARNOPP, 
2004, p. 139), “na Libras esta distribuição acontece, assim como na ASL (Língua 
Americana de Sinais)”.
Neste momento, veremos algumas das situações em que a ordem SVO 
pode ser alterada de acordo com os elementos gramaticais ou características 
específicas dos sinais, marcações não manuais e demais recursos que compõem 
as sentenças em Libras.
3.1 CONCORDÂNCIA E MARCAS NÃO MANUAIS
De acordo com Quadros e Karnopp (2004, p. 140), a partir dos estudos 
de Quadros (1999) observa-se “[...] que a concordância não manual associada à 
marcação não manual é importante para determinar mudanças na ordem básica 
das frases na língua de sinais brasileira”. Isso acontece porque a marca não 
manual parece dar mais peso à sentença e força mudanças na ordem estrutural 
da sentença.
 
As estruturas OSV e SOV podem ocorrer quando existem elementos 
como a concordância e as marcas não manuais. Observe nas sentenças (64) e (65) 
que as setas pontilhadas deixam a marca não manual do olhar em evidência. 
É imprescindível destacar que sem esta marcação as sentenças (64) e (65) se 
tornariam agramaticais (QUADROS; KARNOPP, 2004):
concordância não marcada por elementos não manuais, diferente do verbo 
[aASSITEb], que tem concordância marcada por elementos não manuais. 
TÓPICO 4 | A ORDEM BÁSICA DAS SENTENÇAS EM LIBRAS
131
FIGURA 16 – SENTENÇA OSV – (64) TV ELE/ELA ASSISTE
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
FIGURA 17 – SENTENÇA SOV – (65) ELE/ELA TV ASSISTE
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
3.2 POSIÇÃO DO OBJETO
Mesmo que as ordens SOV e OSV possam ocorrer junto com marcações 
não manuais e de concordância, quando existir uma estrutura complexa (oração 
subordinada) na posição de objeto não será possível modificar a estrutura básica 
SVO das sentenças (QUADROS; KARNOPP, 2004).
132
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
As estruturas complexas, ou sentenças que apresentam orações 
subordinadas (na nomenclatura normalmente utilizada pela GT), são aquelas em 
que um dos constituintes nominais da sentença original é substituído por um 
sintagma com núcleo lexical verbal, sendo que este sintagma verbal assume a 
função sintática e o papel temático que o constituinte substituído ocupava. Ou 
seja, é quando ocorre uma substituição em que o elemento nominal é substituído 
por um constituinte verbal, ficando, assim, uma sentença encaixada na função 
sintática da sentença original. Observe o seguinte par de sentenças:
Em ambas as sentenças, o núcleo lexical verbal [querer] seleciona dois 
argumentos, em (66) eles são [Eu] e [Maria trabalhe melhor]; já em (67), [Eu] e 
[bananas maduras]. Em ambas, o primeiro argumento está na posição de sujeito 
e, o segundo, na posição de objeto. Dessa maneira, a posição sintática de objeto 
em (66) é ocupada pela sentença [Maria trabalhe melhor], e em (67), ela é ocupada 
pelo sintagma nominal [bananas maduras]. Logo, (66) é uma sentença complexa 
e, (67), não.
(66) Eu quero que Maria trabalhe melhor.
(67) Eu quero bananas maduras.
FIGURA 18 – SENTENÇA SVO – (66) EU QUERO QUE MARIA TRABALHE MELHOR
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
TÓPICO 4 | A ORDEM BÁSICA DAS SENTENÇAS EM LIBRAS
133
3.3 POSIÇÃO DOS ADVÉRBIOS DE TEMPO 
E FREQUÊNCIA
Segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 143), “[...] os advérbios temporais 
e de frequência não podem interromper uma relação entre o verbo e o objeto”. 
Os autores também colocam que, de acordo com os estudos de Quadros (1999), a 
posição destes tipos de advérbios varia na sentença, pois os advérbios de tempo 
podem ser colocados antes ou depois da sentença e os advérbios de frequência 
podem estar antes ou depois do complemento verbal. Em outras palavras, os 
advérbios de tempo estarão no início ou final da sentença como um todo e os 
advérbios de frequência antes ou depois do sintagma verbal.
Nos exemplos seguintes, em (68) temos o advérbio temporal [AMANHÃ] 
colocado no final da sentença. Em (69) ele está no início dela. Em (70) o advérbio 
de frequência [ALGUMAS-VEZES] está após o sintagma verbal e, em (71), está 
colocado antes dele:
FIGURA 19 – SENTENÇAS (68) E (69), RESPECTIVAMENTE
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
JOÃO COMPRARÁ O CARRO AMANHÃ AMANHÃ JOÃO O CARRO COMPRARÁ
134
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
3.4 TOPICALIZAÇÃO
A topicalização de elementos nas sentenças causa alterações na ordem 
das construções e as topicalizações em Libras estão associadas a mecanismosnão 
manuais com a elevação da sobrancelha. 
Segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 146), “a marca de tópico associada ao 
sinal topicalizado é seguida por outras marcas não manuais, de acordo com o tipo de 
construção. Ou seja, pode ser seguida por uma marca não manual de foco (se a sentença 
for focalizada), de negação (se for negativa), interrogativa (se for interrogativa)”.
Para Costa (2015, s.p.), “[A topicalização é] Mudar um elemento para uma 
posição na frente da sentença para enfatizar um elemento, nesse caso vai mexer 
na ordem da sentença porque tem alguma coisa na sentença que vai permitir esse 
deslocamento dos elementos”.
FIGURA 21 – SENTENÇA (72) TOPICALIZADA 
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
DE FUTEBOL, JOÃO GOSTA
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
FIGURA 20 – SENTENÇAS (70) E (71), RESPECTIVAMENTE
EU BEBO LEITE ALGUMAS VEZES EU ALGUMAS VEZES BEBO LEITE
TÓPICO 4 | A ORDEM BÁSICA DAS SENTENÇAS EM LIBRAS
135
Ainda sobre as construções topicalizadas, Quadros e Karnopp (2004) destacam 
que os tópicos estão relacionados, na maior parte das vezes, aos argumentos que 
ocupam as posições de sujeito e objeto das sentenças. Entretanto, também podem 
existir tópicos não relacionados a estas posições sintáticas, por exemplo, em (73), 
exemplo retirado de Quadros e Karnopp (2004, p. 150), em que [ANIMAIS] não 
ocupa nenhuma das posições argumentais do núcleo lexical [gostar]:
(73) <ANIMAIS> EU GOSTO GATO.
Para transcrição de sentenças em Libras, Quadros e Karnopp (2004) utilizam 
marcações de escrita para facilitar a compreensão das peculiaridades da Libras. Em (73) as 
autoras colocam o constituinte topicalizado entre < >.
NOTA
Além disso, destacam que são comuns as construções em que ocorrem 
cópias dos tópicos no final das sentenças e afirmam que esta é uma construção 
comum na Língua Brasileira de Sinais, sendo estas sentenças baseadas na ordem 
SVO e podendo gerar as estruturas SOV, OSV, OSVO, SSVO, como aparece na 
sentença (74):
FIGURA 22 – SENTENÇA OSVO (74) – FUTEBOL, JOÃO GOSTAR DE FUTEBOL
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
136
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
3.5 FOCO E VERBOS SEM CONCORDÂNCIA
O foco trata dos elementos duplicados dentro das sentenças, mas não em 
posição de tópico, sendo construções duplicadas que dão origem a estruturações 
diferentes da ordem básica. “O foco é gerado quando há uma informação 
interpretada com entonação mais marcada, ou seja, focalizada. Gramaticalmente, 
essa informação está associada a um traço de foco que licencia o apagamento de 
sua cópia [duplicada]” (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 153). Em (75) aparece 
uma construção com foco, nela o verbo sem concordância (não acompanhado de 
movimento que parte de sujeito) foi duplicado, resultando numa construção de 
sentença com a estrutura SVOV. Já em (75a), temos uma estrutura derivada de 
SVO, que passa a ser uma construção S(V)OV a partir do apagamento do verbo 
em sua posição original e a manutenção daquela que seria a duplicação verbal 
colocada no final da sentença. Dessa forma, a construção da sentença passa a ser 
a construção SOV:
FIGURA 23 – SENTENÇAS (75) E (75A)
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
3.6 PRIORIZAÇÃO DO OBJETO
Segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 153), em verbos com concordância 
é possível a elevação do objeto para uma posição anterior (mais alta) na sentença, 
podendo ficar junto ao sujeito, na posição SOV (sujeito-objeto-verbo).
SVOV
EU PERDER LIVRO PERDER.
SOV
EU LIVRO PERDER.
TÓPICO 4 | A ORDEM BÁSICA DAS SENTENÇAS EM LIBRAS
137
FIGURA 24 – SENTENÇA SOVO (76) – JOÃO MARIA DAR LIVRO NÃO
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
3.7 OMISSÃO DE SUJEITO E OBJETO
Nas sentenças feitas a partir de verbos direcionais com concordância, 
ou seja, aqueles em que podem ser omitidos o sujeito e o verbo, a delimitação 
do sujeito e do objeto é feita através do uso de pontos delimitados no espaço. 
Por exemplo, nas estruturas construídas a partir do verbo [DAR], em que o 
movimento no espaço de articulação é responsável pela delimitação do sujeito e 
do objeto. A sentença (77) demonstra esta possibilidade:
FIGURA 25 – SENTENÇA (77) (S) V (O)
ELE/ELA DERAM ALGO
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
138
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
3.8 FOCO CONTRASTIVO
Para observarmos os elementos que estão postos em foco constrastivo 
devemos realizar o processo clivagem, em que se coloca a palavra a ser testada 
entre o verbo e a conjunção que compõem a expressão “é que” (COELHO; 
MONGUILHOTT; MARTINS, 2009, p. 64). Desta maneira, como demonstrado na 
sentença (78a), poderemos perceber qual das palavras/sinais da sentença está em 
posição de foco constrastivo da sentença.
A seguir, na sentença (78), o foco está no sinal de João. Para confirmarmos a 
posição de foco contrastivo, atribuída a João, e que permite a reestruturação da sentença 
na estrutura VOS, podemos realizar a escrita da sentença de maneira a destacar o termo 
que é foco da sentença, ficando como colocado em (78a) e destacando o termo em foco 
contrastivo que possibilita a reordenação da sentença na estrutura VOS.
FIGURA 26 – SENTENÇA (78) VOS 
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
(78a) Foi João que comprou o carro.
DICAS
Você conhece o desenho “Min e as mãozinhas”? Vale a pena conhecer 
o primeiro desenho totalmente em Libras. É um vídeo muito interessante, além de 
primorosamente desenhado, com um roteiro bem delineado e uma perspectiva didática 
leve e de fácil compreensão por surdos e ouvintes. Ele está disponível no canal do YouTube 
Min e as mãozinhas, que pode ser acessado no link <https://www.youtube.com/channel/
UCJtOTvG4EvBGkvtTVVv8Lpg>. 
No site original está inserido o vídeo do trailer de “Min e as mãozinhas”, mas esta leitura 
complementar que apresentaremos na sequência é um texto escrito, por isso disponibilizamos 
aqui o link para você acessar o vídeo. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=OcdVAQQ1uEo>. 
O texto apresentará um pouco da história desta iniciativa fantástica.
COMPRAR CARRO JOÃO
TÓPICO 4 | A ORDEM BÁSICA DAS SENTENÇAS EM LIBRAS
139
LEITURA COMPLEMENTAR
PRIMEIRO DESENHO ANIMADO TOTALMENTE EM LIBRAS 
CHEGA AO YOUTUBE
Beatriz Vilanova
Foto: Divulgação
Nesta quarta-feira (26), comemora-se o Dia do Surdo. Para prestigiar a 
data, Paulo Henrique dos Santos lança uma animação especial, inteiramente em 
Libras, sobre a deficiência que atinge quase 10 milhões de brasileiros por todo o 
país.
"Min e as Mãozinhas", que acaba de chegar ao YouTube, conta histórias do 
cotidiano e aventuras lúdicas de Min, uma menina surda. Voltado para crianças 
de 3 a 6 anos, o desenho tem a intenção de educar e mostrar que crianças surdas 
também se divertem e brincam tanto quanto crianças que escutam normalmente.
Santos, que está por trás da ideia, conta que a história surgiu a partir 
de situações do cotidiano que o fizeram perceber o quanto a população está 
despreparada para se comunicar com os surdos.
"Eu estava em um casamento, sentado ao lado de uma pessoa surda, e não 
sabia como pedir sal a ela. Notei que precisava de um mediador para conversar 
com uma pessoa que é brasileira. E achei isso muito bizarro", conta. 
Entre essas e outras situações, ele decidiu investir no nicho que parece 
não ter atenção nem no meio acadêmico. "Eu aprendi judô na escola, que não me 
ajudou em nada na minha vida, mas eu não tive Libras", lembra Santos.
140
UNIDADE 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS SENTENÇAS
O episódio piloto foi lançado para buscar patrocínio. Se conseguir o 
apoio, Santos pretende produzir e lançar outros 13 episódios, planejados para 
uma primeira temporada. A cada um deles, assim como o piloto, serão ensinados 
cinco sinais de Libras.
O primeiro episódio chegou a ser exibido para professores e mais de 400 
crianças da rede municipal de Itajaí, além de ter participado de uma exibição no 
Sesc de Brusque nesta terça-feira (25) e de um congresso nacional em JoãoPessoa.
A recepção foi positiva: Santos diz que recebeu elogios e ficou contente por 
emocionar as pessoas. "As crianças estavam bem interessadas e acompanhando 
os ensinamentos. Depois, passamos uma atividade para ver o que elas haviam 
aprendido, e vimos que foi uma absorção quase que total", conta.
Uma das professoras também comentou: "Tem vezes que você não repara 
na realidade do próximo, a menos que alguém venha e mostre para você". 
Como o objetivo do desenho é ensinar, para quem não conhece, e entreter 
os que são surdos, muitas crianças sem audição também estiveram nas exibições. 
"Uma criança que estava no colo da mãe, em especial, me marcou. Quando 
começou o desenho, ela ficou olhando surpresa e abriu um bocão de 'nossa'. Olhou 
para a tela e depois olhou para a mãe, que disse 'sim filho, é em Libras'", relembra 
Santos. "Aconteceu o que estávamos esperando, do surdo pensar 'finalmente, 
uma coisa para mim!’".
Santos trabalha com animação há cerca de sete anos, tendo participado da 
produção de desenhos como "Turma da Mônica" e "Sítio do Pica-Pau Amarelo". 
Ele conta que isso também o fez prestar atenção especialmente nos áudios de 
"Min e as Mãozinhas", para que fizesse sentido tanto para surdos quanto para 
pessoas sem a surdez.
TÓPICO 4 | A ORDEM BÁSICA DAS SENTENÇAS EM LIBRAS
141
"O surdo sente vibração, então nosso áudio é bem pesado, com tambores e 
batuques. Tudo que é som mais sutil, colocamos escrito em onomatopeias", conta.
BRENDA COSTA: MODELO E SURDA
A modelo internacional Brenda Costa nasceu com a surdez, mas é um 
exemplo de como a vida do surdo pode se desenvolver tão bem quanto a de 
qualquer um.
"Estudei em uma escola normal, mas era a única aluna surda da minha 
escola", relembra Brenda sobre sua infância. "Eu tive muita sorte, porque tive pais 
maravilhosos e que me ajudaram muito a ser independente".
A mãe da modelo trabalhou como gerente de loja de roupas e Brenda 
acabava acompanhando os catálogos de roupas e as modelos, que despertaram 
a ideia dela se tornar modelo também. "Eu admirava muitas delas, mas também 
sentia muito o preconceito por ser surda", conta.
A profissão acabou caminhando junto com a surdez e o primeiro trabalho 
surgiu quando ela tinha apenas 16 anos. Hoje, Brenda vive em Londres, onde 
nota uma nítida diferença na questão da acessibilidade, quando comparada ao 
Brasil.
"Acredito que uma das barreiras para quem é surdo é a comunicação, e o 
telefone celular ajuda muito. Seria ótimo se as operadoras do Brasil entendessem 
e fizessem pacotes mais econômicos para os surdos", aponta a modelo.
Para ela, o Dia do Surdo é importante justamente por destacar a questão 
da acessibilidade. "Eu acho maravilhoso que tenha, pelo simples motivo de 
chamar a atenção para a nossa causa. Para as outras pessoas entenderem que 
nós não somos tão diferentes assim, apenas temos uma pequena limitação, e só 
queremos respeito".
FONTE: VILANOVA, Beatriz. Primeiro desenho totalmente em Libras chega ao Youtube. Bahia 
Notícias: 26 set. 2018. Disponível em: <https://www.bahianoticias.com.br/folha/noticia/12895-
primeiro-desenho-animado-totalmente-em-libras-chega-ao-youtube.html>. Acesso em: 15 out. 2018.
142
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:
• A ordem básica das sentenças em Libras é a ordem SVO (sujeito-verbo-objeto), 
por isso todas as frases nesta ordem são gramaticalmente bem construídas.
• Em condições especiais as ordens SOV, OSV e (S) V (O) também aparecem na 
Libras.
• OSV e SOV são ordens que acontecem quando a sentença possui elementos 
como concordância e marcas não manuais.
• Sentenças complexas, mesmo com marcas não manuais ou verbos de 
concordância, mantêm a ordem SVO.
• Advérbios temporais e advérbio de frequência não podem interromper a ligação 
entre verbo e objeto, os primeiros irão no início ou no final das sentenças e, os 
últimos, irão antes ou depois do complemento do verbo.
• A topicalização é o processo em que um elemento ganha destaque como tópico 
da sentença.
• As construções de foco duplicado causam um apagamento do verbo original 
que transforma a ordem da sentença em SOB.
• Com verbos com concordância é possível elevar o objeto na sentença para a 
derivação da ordem SOB.
• A omissão de sujeito e objeto pode ser feita nas sentenças com verbos direcionais 
de concordância, formando a estrutura (S) V (O).
• A ordem VOS ocorre nas sentenças de foco contrastivo e este pode ser destacado 
com o uso da palavra em foco na expressão “é que”.
143
1 De acordo com o que estudamos sobre a ordem das sentenças em Libras 
e suas possibilidades de ordenação e movimentação dentro das sentenças, 
analise as afirmações a seguir:
I- A ordem SVO ocorre sem restrições em Libras, diferentemente das demais 
organizações estruturais que ocorrem com restrições.
II- Em Libras, pro-drop é um parâmetro de apagamento do sujeito e do objeto 
que gera a organização estrutural (S) V (O).
III- A topicalização e a focalização são o mesmo tipo de movimento na sentença, 
demonstrando apenas visões teóricas diferentes.
Qual destas alternativas está correta?
a) ( ) Apenas I.
b) ( ) Apenas I e II.
c) ( ) Apenas I e III.
d) ( ) Apenas II e III.
e) ( ) I, II e III.
2 Observe as sentenças em Libras colocadas a seguir:
AUTOATIVIDADE
SENTENÇA I – ELE/ELA FUTEBOL GOSTAR
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
144
SENTENÇA II – ELE/ELA GOSTAR FUTEBOL
SENTENÇA III – EU ACHAR MARIA IR EMBORA
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
Sobre a ordem estrutural destas sentenças, marque a alternativa que 
apresenta a única informação correta:
a) ( ) Nas três sentenças, a ordem estrutural é SVO, que é a ordem básica com 
Libras e LP.
b) ( ) Na Sentença III aparece uma estrutura complexa, e sua ordem pode ser 
alterada para SOV.
c) ( ) Na Sentença I, a ordem estrutural é SOV devido à marca não manual do 
olhar.
145
UNIDADE 3
SINTAXE DA LIBRAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• estabelecer aspectos para a compreensão das peculiaridades entre a 
estrutura da Libras e da Língua Portuguesa;
• refletir acerca dos aplicativos de tradução da Libras e seus aspectos 
sintáticos;
• delimitar os elementos espaciais da Língua de sinais e as relações 
sintáticas estabelecidas através deles;
• discutir acerca do uso das marcações manuais e não manuais e os efeitos 
na estrutura das sentenças em Libras;
• compreender os efeitos estruturais dos verbos para a construção das 
sentenças em Libras;
• estudar os sintagmas nominais, preposicionais, verbais, adverbiais e 
adjetivais nas sentenças em Libras;
• analisar elementos das construção das frases em Libras;
• compreender as marcações interrogativas e negativas das sentenças em 
Libras.
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade 
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo 
apresentado.
TÓPICO 1 – SINTAXE ESPACIAL
TÓPICO 2 – EFEITOS ESTRUTURAIS DOS VERBOS E CLASSIFICADORES
TÓPICO 3 – ESTRUTURAS SINTAGMÁTICAS EM LIBRAS
TÓPICO 4 – ESTRUTURAÇÃO DAS SENTENÇAS EM LIBRAS
146
147
TÓPICO 1
SINTAXE ESPACIAL
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, neste tópico estudaremos alguns dos elementos 
importantes para a compreensão da sintaxe espacial da Língua Brasileira de 
Sinais. Inicialmente, discutiremos a questão das traduções e da ordem das 
sentenças a partir do chamado Português Sinalizado. Também refletiremos sobre 
o uso dos aplicativos de tradução em relação à Libras. 
Depois, veremos os elementos espaciais que influenciam na compreensão 
das relações sintáticas entre os constituintes das sentenças em Libras. Por fim, 
pensaremos sobre as marcações manuais e não manuais, bem como a utilização 
morfossintática dos classificadores em Língua Brasileira de Sinais.
2 AS TRADUÇÕES E A QUESTÃO DA 
ORDEM DAS SENTENÇAS
“Há como se traduzir simultaneamente qualquer texto em outra língua,sem sobrepor estruturas, desde que se conheça o código linguístico do texto e o 
contexto no qual o código está empregado e desde que sejam utilizadas técnicas 
adequadas à tradução” (FARIA, 2006, p. 263). Dentre os elementos, o conhecimento 
sintático das estruturas e das equivalências semânticas e morfossintáticas 
possíveis entre as duas línguas que entram em contato no processo de tradução 
é imprescindível para que a tradução seja efetivamente realizada com qualidade 
e eficiência.
Dubois et al. (1973, p. 594) definem o ato de traduzir como: “[...] é enunciar 
numa outra língua (ou língua de chegada) o que foi enunciado numa língua-
fonte, conservando as equivalências semânticas e estilísticas”. Como vimos 
nas unidades anteriores, a sintaxe de uma língua para a Teoria Gerativa é uma 
compreensão que leva em conta tanto a seleção semântica quanto a seleção dos 
papéis sintáticos selecionados pelos núcleos lexicais.
O entendimento morfossintático apresentado até aqui delimita também 
a influência da seleção do núcleo lexical para o desenvolvimento semântico das 
situações expressas nas sentenças. Assim, a tradução é o momento em que o contato 
entre duas línguas é realizado para que aquilo que foi enunciado na “língua-fonte” 
tenha uma expressão mais próxima possível na “língua de chegada”.
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
148
A compreensão de que as duas línguas em contato são diferentes e 
necessitam que suas particularidades sejam respeitadas e bem compreendidas 
para a tradução ser bem realizada é um fato dado na interação quando as línguas 
envolvidas são orais-auditivas. 
Entretanto, quando o contato é entre uma língua oral auditiva e uma 
língua de sinais do mesmo país, existem compreensões equivocadas ou mitos 
que permeiam a relação de tradução quando elas são postas em contato. O caso 
é explicado por Quadros e Karnopp (2004, p. 31-37) como mitos associados às 
línguas de sinais. As autoras apontam e problematizam seis deles. 
Elas evidenciam que o senso comum entende as línguas de sinais como 
derivações empobrecidas das línguas orais. A compreensão de dependência 
direta acarreta um entendimento de que bastaria conhecer os sinais, colocá-los 
em uma ordem linear da LP e trocar cada palavra pelo sinal correspondente para 
fazer a tradução de Português para Libras.
Dito de outro modo, a compreensão equivocada se dá com maior ênfase 
no contato entre as línguas orais-auditivas e de sinais (por exemplo, LP e LIBRAS) 
do que entre duas línguas orais-auditivas (por exemplo, Francês e LP) porque 
existe um mito de dependência entre as línguas.
O processo em que os parâmetros de uma língua são traspostos para 
uma outra língua é comum em aprendizes (como vimos na Unidade 1 deste livro 
de estudos) e em contextos de fronteira, sendo mais problemático no contato 
entre línguas orais-auditivas e de sinais porque são reforçados por preconceitos 
linguísticos.
2.1 PORTUGUÊS SINALIZADO X LIBRAS
O português sinalizado é resultante de uma compreensão equivocada da 
relação entre LP e Libras que decorre de um entendimento que coloca as duas 
línguas em contato, ignorando as peculiaridades e parâmetros específicos. De 
acordo com Moraes (2013):
É importante salientar que o sistema gramatical das línguas de sinais 
é independente do sistema gramatical das línguas orais dos países em 
que elas são utilizadas. Por exemplo, a Língua de Sinais Brasileira não 
é um conjunto de sinais que se sobrepõe à gramática do português 
usado pelos ouvintes; este é chamado de português sinalizado, cuja 
gramática nada tem a ver com a gramática da LSB [LIBRAS]; esta, por 
sua vez, possui regras, palavras, ordem de constituintes etc., próprios, 
independentes da língua portuguesa (MORAES, 2013, p. 14-15).
Nos estudos linguísticos, o processo em que o contato entre línguas gera 
uma língua para intermediar a comunicação é conhecido como pidgin. Monteiro 
(2015, p.100) coloca que, segundo Hall Jr (1966): “[...] pidgin é uma língua de 
TÓPICO 1 | SINTAXE ESPACIAL
149
contato que surge da necessidade de comunicação entre falantes de línguas 
ininteligíveis mutuamente”.
 
Para a autora, em relação aos surdos, o processo de pidgin é contínuo, 
não restrito aos meios comerciais, pois envolve todos os contextos de vida dos 
surdos e está relacionado às situações de comunicação precárias recorrentes. 
“Esse contexto social favorece um alto nível de interferência do Português sobre 
a Libras e esse tipo de produção pidginizada [em processo de pidgin] costuma 
ser abordado na comunidade surda como ‘português sinalizado’” (MONTEIRO, 
2015, p. 100).
Faria (2006) coloca que o processo influencia a maneira como os próprios 
surdos traduzem palavra por palavra e “[...] pode ser explicado como resultado 
da prática de interpretação estanque e descontextualizada a qual foram e têm 
sido submetidos os métodos da Comunicação Total que preconizam o Português 
sinalizado como técnica importante para o acesso à língua-alvo para os surdos” 
(FARIA, 2006, p. 262).
Para nossos estudos, é importante termos em mente que a LP e a Libras 
têm diferenças morfossintáticas muito importantes. De acordo com Quadros 
(2004, p. 84, grifo do original), 
Podemos observar as diferenças entre as produções na língua 
portuguesa e na língua brasileira de sinais. A seguir serão listadas 
algumas delas:
(1) A língua de sinais é visuoespacial e a língua portuguesa é oral e 
auditiva. 
(2) A língua de sinais é baseada nas experiências visuais das 
comunidades surdas mediante as interações culturais surdas, 
enquanto a língua portuguesa constitui-se baseada nos sons. 
(3) A língua de sinais apresenta uma sintaxe espacial incluindo os 
chamados classificadores. A língua portuguesa usa uma sintaxe linear 
utilizando a descrição para captar o uso de classificadores. 
(4) A língua de sinais utiliza a estrutura tópico-comentário, enquanto a 
língua portuguesa evita determinado tipo de construção. 
(5) A língua de sinais utiliza a estrutura de foco através de repetições 
sistemáticas. Este processo não é comum na língua portuguesa. 
(6) A língua de sinais utiliza as referências anafóricas através de 
pontos estabelecidos no espaço. São excluídas ambiguidades que são 
possíveis na língua portuguesa. 
(7) A língua de sinais não tem marcação de gênero, enquanto que na 
língua portuguesa o gênero é marcado a ponto de ser redundante. 
(8) A língua de sinais atribui um valor gramatical às expressões faciais 
[marcações não manuais]. Esse fator não é considerado como relevante 
na língua portuguesa, apesar de poder ser substituído pela prosódia. 
(9) Coisas que são ditas na língua de sinais não são ditas usando o 
mesmo tipo de construção gramatical na língua portuguesa. Assim, 
existem vezes que uma grande frase é necessária para dizer poucas 
palavras em uma ou outra língua. 
(10) A escrita da Língua de sinais não é alfabética.
Os itens apontados por Quadros (2004) colocam em evidência as diferenças 
morfológicas e sintáticas perceptíveis entre a LP e a Libras. Os elementos referentes 
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
150
à morfossintaxe da LIBRAS serão retomados ao longo desta unidade do livro de 
estudos. Assim, a discussão sobre o português sinalizado é importante para que 
entendamos o estudo morfossintático da Libras em suas particularidades.
Sintetizando o que vimos na seção, podemos afirmar o contato frequente 
entre a LP a LIBRAS. Em contextos comunicativos diversos há um processo 
de pidgin que resulta no chamado Português Sinalizado. Mesmo que seja um 
processo normal vinculado ao contato entre as línguas, na relação entre as línguas 
de sinais e as orais-auditivas existem peculiaridades decorrentes dos preconceitos 
linguísticos sobre línguas de sinais que reforçam o entendimento do senso comum 
sobre a correspondência direta.
2.2 APLICATIVOS DE TRADUÇÃO
A discussão sobre o uso de meios eletrônicos de tradução, ou tradução 
automática, não é nova dentro dos estudos linguísticos. Dubois et al., em 1973, 
já trazem um verbete em seu dicionárioe destacam os problemas decorrentes do 
uso de meios eletrônicos:
A substituição do homem pela máquina nas atividades de 
tradução é designada em linguística como tradução automática. O 
desenvolvimento dos computadores inspirou muitas esperanças 
na tradução automática nos últimos anos. Estas esperanças não 
desapareceram, mas vão diminuindo à medida que as dificuldades 
têm levado a encarar melhor os problemas teóricos (DUBOIS et al., 
1973, p. 594). 
Mesmo depois de quase cinquenta anos desde a publicação do Dicionário 
de Linguística em que Dubois et al. (1973) colocaram a definição, ainda estamos 
mais ou menos na mesma situação. Embora as tecnologias de informação e de 
comunicação (TIC) estejam cada vez mais desenvolvidas, as traduções automáticas 
ainda são motivo de muita discussão devido a dificuldades que apresentam.
Atualmente, o uso dos smartphones, cada vez mais cheios de possibilidades 
através dos aplicativos de tradução, tem aumentado as discussões sobre a tradução 
automática em relação ao ensino, aprendizagem e contato entre surdos e ouvintes 
através do uso de traduções automáticas de LP para Libras e vice-versa. 
Corrêa, Gomes e Ribeiro (2017) apresentam um artigo bastante interessante 
em que investigam a qualidade da tradução automática feita pelos aplicativos 
Prodeaf móvel e Hand talk. Os autores colocam que os aplicativos de tradução 
são compreendidos como tecnologias assistivas, pois “[...] visam à autonomia 
e à qualidade de vida da pessoa surda. São disponibilizados gratuitamente via 
lojas de aplicativos e suportados por dispositivos móveis smartphones e tablets, 
permitindo que surdos e ouvintes tenham contato com a Libras na modalidade 
digital” (CORRÊA; GOMES; RIBEIRO, 2017, p. 3). 
TÓPICO 1 | SINTAXE ESPACIAL
151
Os autores também destacam que os aplicativos são percebidos, na visão 
do estudo feito por eles, como inovações disruptivas porque:
[...] permitem mudanças interacionais relativas à qualidade de vida 
das pessoas surdas que, sem tais recursos digitais, teriam acesso 
mais restrito à Libras. Neste sentido, essas inovações disruptivas 
caracterizam-se por oferecer acessibilidade, conveniência, viabilidade 
e simplicidade de acesso digital à Libras [...]. Surdos e ouvintes podem 
romper barreiras comunicacionais relativas à autonomia, à ampliação 
do arcabouço linguístico e à socialização [...] (CORRÊA; GOMES; 
RIBEIRO, 2017, p. 3-4, grifo do original).
Ainda, os autores reconhecem que os aplicativos, embora apresentem 
vantagens, eles:
[...] não são bons como intérpretes de Libras e, talvez, não venham a 
ser, haja vista que o objetivo dessas TAs não parece ser o de substituir 
os profissionais da Libras. Porém, acredita-se que os aplicativos Hand 
Talk e ProDeaf Móvel podem ser bons para aqueles que quase não têm 
acesso à Libras ou em situação de input linguístico limitado (CORRÊA; 
GOMES; RIBEIRO, 2017, p. 4).
Assim, os aplicativos de tradução automática seriam importantes em 
situações específicas, mas não substituiriam os intérpretes humanos e nem seriam 
o uso prioritariamente almejado pelos aplicativos Hand Talk e ProDeaf Móvel.
DICAS
Madson e Raquel Barreto são instrutores de Libras que criaram o Instituto 
Libras Escrita. Ele é ouvinte e ela surda. O casal tem uma plataforma chamada LibrasFlix em 
que colocam uma variedade de vídeos referentes a diversos assuntos da Língua Brasileira 
de Sinais. Ainda, também têm um blog com textos e vídeos sobre o estudo da LIBRAS e um 
canal no Youtube que também aborda diferentes aspectos sobre surdez e cultura surda e 
língua. No vídeo intitulado Hand Talk: Qual é melhor Prodeaf ou Hand Talk?, Madson faz um 
comparativo interessante entre os dois aplicativos mais utilizados para a tradução da LIBRAS.
FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=l3YnDJ6Bezk/>. Acesso em: 3 nov. 2018. 
Para explicar a inviabilidade de se utilizar apenas uma tradução 
automática, Dubois et al. (1973) colocam que o diferencial estaria pautado no que 
os autores chamam de intuição dos intérpretes humanos. Contudo, a partir do 
que estudamos anteriormente, podemos observar que a intuição está vinculada 
linguisticamente ao conhecimento que os utentes de uma língua têm sobre os 
parâmetros das línguas que estão em contato no momento da tradução. Segundo 
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
152
Battison (1978) citado por Quadros e Karnopp (2004, p. 34):
[...] no que se refere à organização gramatical, há o equívoco da 
dependência de significado das línguas de sinais em relação à estrutura 
das línguas orais pelo fato de que é possível – mas inconveniente e 
não natural – modelar a estrutura das línguas de sinais na sintaxe e 
morfologia das línguas orais. Um problema é que os sinais, quando 
considerados em sequência ou em contexto, não correspondem 
necessariamente ao sentido literal das palavras das línguas orais. 
Assim, embora exista a possibilidade de se colocarem os sinais da Libras de 
acordo com a estrutura da LP, a independência entre as línguas naturais faz com 
que o principal problema observado na utilização dos aplicativos de tradução 
automática seja em relação ao seguinte: a sentença formada com a estrutura da 
LP e os sinais em LIBRAS não corresponderá na “língua de chegada” à situação 
que está expressa na “língua-fonte” (DUBOIS et al., 1973).
Para exemplificar a independência entre a Libras e a LP, a seguir são 
apresentados exemplos retirados de Strobel e Fernandes (1998, p.17, grifo do 
original) em que são apresentados pares de sentenças comparativas entre LP e 
Libras:
Exemplo 1: LIBRAS: EU IR CASA (verbo direcional). 
Português: “Eu irei para casa”. Para – não se usa em LIBRAS, porque 
está incorporado ao verbo.
Exemplo 2: LIBRAS: FLOR EU-DAR MULHER^BENÇÃO (verbo 
direcional).
Português: “Eu dei a flor para a mamãe”. 
Exemplo 3: LIBRAS: POR QUE ISTO (expressão facial de interrogação). 
Português: “Para que serve isto?”. 
Exemplo 4: LIBRAS: IDADE VOCÊ (expressão facial de interrogação). 
Português: “Quantos anos você tem? 
Nos exemplos, as sentenças em Libras e LP permitem a comparação entre 
a mesma sentença expressa nas duas línguas em contato. Podemos perceber que a 
preposição para, do Exemplo 1, e o pronome eu, do Exemplo 2, estão incorporados 
ao movimento do verbo. 
Ainda, nos Exemplos 3 e 4, a expressão facial, ou seja, uma marcação 
não manual incorpora vários elementos da pergunta em LP. Assim, os exemplos 
deixam em evidência alguns dos elementos que diferenciam a estrutura sintática 
das sentenças em Libras em relação à língua portuguesa. 
TÓPICO 1 | SINTAXE ESPACIAL
153
Strobel e Fernandes (1998) utilizam o sinal gráfico ^ para indicar que os sinais 
referentes às duas palavras transcritas são realizados em sequência. É interessante salientar 
que, ao longo dos diferentes estudos realizados sobre as línguas de sinais, vários sinais 
gráficos foram adotados para a transcrição das peculiaridades das línguas de sinais. Neste 
livro de estudos, é utilizada uma adaptação da sistemática explicitada por Quadros e Karnopp 
(2004, p. 37-46). Assim, quando for feita a transcrição das sentenças em Libras, os sinais 
serão escritos em caixa alta (letras maiúsculas), os sinais realizados simultaneamente serão 
unidos por traço e, quando necessário, serão feitas notas explicativas quanto ao uso de 
outros elementos de transcrição.
IMPORTANTE
3 RELAÇÕES SINTÁTICAS: INSTRUMENTOS ESPACIAIS
De acordo com Quadros e Karnopp (2004), muitas pessoas acreditam que 
exista um empobrecimento estrutural das línguas de sinais devido à não utilização 
aparente de elementos de ligação como preposições e conjunções. De acordo com 
Strobel e Fernandes (1998, p. 17) “[...] na estruturação da LIBRAS, observa-se que 
possui regras próprias; não são usados artigos, preposições, conjunções, porque 
tais conectivos estão incorporados ao sinal”.
Todavia, as línguas de sinais são línguas de modalidade visuoespacial 
[sic] que apresentam uma riqueza de expressividade diferente das 
línguas orais, incorporandotais elementos na estrutura dos sinais através 
de relações espaciais, estabelecidas pelo movimento ou outros recursos 
linguísticos (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 35, grifo do original). 
Por ser uma língua de modalidade visuoespacial, a LIBRAS apresenta 
uma estrutura organizada espacialmente. Tem uma estrutura que se diferencia 
da linearidade de realização das línguas orais-auditivas como a LP, pois os 
sinais, as marcações manuais e as não manuais podem ser realizados de forma 
concomitante, enquanto os sons precisam ser materializados em uma certa ordem. 
Dito de outro modo, os elementos que compõem as línguas de sinais 
são realizados simultaneamente, enquanto os elementos das línguas orais 
necessitam de uma organização pautada na estrutura fonológica. Assim, na LP 
não podemos sobrepor vários sons, porque seria ininteligível, mas podemos 
fazer a sobreposição de diferentes elementos para a realização das sentenças em 
Libras, como na sentença (1A), em que os sinais referentes a ARANHA – SUBIR – 
PAREDE são realizados simultaneamente a partir do uso de um classificador que 
une os três sinais:
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
154
FIGURA 1 – SINALIZAÇÃO DA SENTENÇA
 (1A) ARANHA-SUBIR-PAREDE
(1B) A DONA ARANHA SUBIU PELA PAREDE
FONTE: A autora
ESTUDOS FU
TUROS
Ainda neste tópico, estudaremos melhor os classificadores em Língua Brasileira 
de Sinais.
A conjugação verbal dos verbos em Libras é dada através do contexto 
de comunicação, de elementos não verbais ou de advérbios utilizados no momento da 
sinalização.
IMPORTANTE
3.1 REFERENCIALIDADE ESPACIAL
Segundo Pizzio (2006), a sintaxe especial possibilita o estabelecimento de 
relações gramaticais no espaço de diferentes maneiras, pois:
No espaço em que são realizados os sinais, o estabelecimento 
nominal e o uso do sistema pronominal são fundamentais para tais 
relações sintáticas. Qualquer referência usada no discurso requer a 
especificação de um local no espaço de sinalização (espaço definido na 
frente do corpo do sinalizador) (PIZZIO, 2006, p. 6).
Quadros e Karnopp (2004) colocam que o estabelecimento nominal e o 
sistema de referência pronominal são imprescindíveis para o estabelecimento das 
TÓPICO 1 | SINTAXE ESPACIAL
155
relações sintáticas espacialmente. Assim, os pontos de referência no espaço de 
sinalização devem ser marcados e retomados.
Segundo Quadros (s.d., p. 44), o espaço de enunciação, ou seja, de realização 
linguística/sinalização das línguas de sinais é restringido porque “os sinalizantes 
usam o espaço para compor o discurso, estabelecer os referentes, retomar os 
referentes e estabelecer relações gramaticais entre eles de forma específica e 
restringida pelo sistema linguístico visuoespacial”. 
Contudo, a autora também destaca que o espaço pode se alargar ou se 
restringir de acordo com o contexto discursivo mais ou menos formal e também 
com o tipo de texto que está sendo produzido pelo sinalizante, por exemplo, 
narrativas costumam ser mais abrangentes e textos informativos mais restritos 
aos espaços de enunciação.
A expressão espaço de enunciação refere-se ao espaço em que os enunciados 
são produzidos, ou seja, “[...] toda sequência acabada de palavras de uma língua emitida 
por um ou vários falantes” (DUBOIS et al., 1973, p. 219). Assim, o espaço de enunciação, 
no contexto das línguas de sinais, é o local utilizado pelos utentes para realização das suas 
sentenças.
IMPORTANTE
Embora o espaço de sinalização possa ser representado de maneira 
bidimensional, é necessário termos em mente que o espaço de realização das 
sentenças em Libras é tridimensional e estabelece suas relações morfossintáticas 
a partir da exploração dos movimentos em três eixos.
A compreensão sobre o espaço de sinalização é muito importante para o 
entendimento do relacionamento sintático entre os referentes. As informações nas 
relações entre os constituintes das sentenças em Libras estabelecem-se a partir do 
posicionamento referencial dos elementos manuais e não manuais que compõem 
as sentenças.
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
156
FIGURA 2 – REPRESENTAÇÃO BIDIMENSIONAL
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
FIGURA 3 – REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL DO ESPAÇO DE SINALIZAÇÃO
FONTE: Quadros (1997, p. 49)
Quanto à maneira como as referências podem ser marcadas no espaço 
de sinalização nas línguas de sinais, Quadros e Karnopp (2004, p. 127) destacam 
que “[...] o local [de enunciação] pode ser referido através de vários mecanismos 
espaciais", apresentados a seguir:
• Realizar o sinal em um ponto específico do espaço, caso a forma do sinal 
permita. Como exemplo, as autoras colocam o sinal de CASA feito no espaço. 
Primeiro, realizando no local em que João está referido, depois, fazendo o sinal 
no lugar atribuído ao Pedro. 
Ao deslocarmos o sinal de CASA para o mesmo ponto do espaço em que a 
personagem havia sido colocada, é atribuída, ao sinal CASA, uma adjetivação que 
indica pertencimento do objeto a uma das personagens envolvidas na situação 
referida. Assim, estabelece-se uma relação morfossintática entre o sinal CASA e a 
personagem referenciada através da marcação espacial.
Cabeça
Espaço
Tronco
Braço
Mão
TÓPICO 1 | SINTAXE ESPACIAL
157
FIGURA 4 – SINAL REALIZADO EM UM PONTO ESPECÍFICO DO ESPAÇO
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
Quadros (s.d.) salienta que os pontos no espaço são estabelecidos para que 
evitem a ambiguidade. Assim, são colocados em pontos opostos do espaço de sinalização. 
Normalmente, o número máximo de pontos estabelecidos seria de quatro referentes 
espaciais devido às restrições cognitivas para processamento simultâneo durante uma 
conversa. A modalidade visuoespacial necessita limitar o número de referentes para evitar 
ambiguidades ou dificuldades de compreensão do discurso.
IMPORTANTE
• Direcionar a cabeça, os olhos e/ou o corpo para um ponto específico ao 
mesmo tempo em que realiza o sinal de um substantivo ou aponta para o 
substantivo. Assim, a direcionalidade marca a localização onde o substantivo 
está posicionado, seja com a sinalização para posicionamento no espaço ou 
para referência a um substantivo já posicionado no espaço de enunciação 
anteriormente.
A marcação IX é o elemento adotado para transcrição do pronome resultante 
da apontação quando não for possível identificar o referente pelo contexto (QUADROS; 
KARNOPP, 2004).
IMPORTANTE
CASA (do João) CASA (do Pedro
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
158
FIGURA 5 – DIRECIONALIDADE
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
• Fazer a apontação ostensiva antes da realização de um sinal para determinar 
que aquele ponto será referente ao sinal realizado após a apontação. Na figura 
anterior, exemplo retirado de Quadros e Karnopp (2004, p. 128), o ponto a 
apontado inicialmente passa a ser referência para o sinal de CASA. Assim, 
durante a conversa, sempre que for feita a sinalização para o ponto a, este fará 
referência à CASA. Assim, o local a funcionará como um elemento anafórico 
porque retoma algo que já foi sinalizado no discurso e marcado no espaço.
FIGURA 6 – APONTAÇÃO OSTENSIVA
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
• Quando o referente é claramente definível. Por exemplo, estamos próximos 
a uma casa ou de uma pessoa a qual queremos fazer referência. Podemos 
realizar apenas a apontação pronominal, como no exemplo dado por Quadros 
e Karnopp (2004, p. 129):
a
Ix CASA
CASA Ix (casa)
TÓPICO 1 | SINTAXE ESPACIAL
159
FIGURA 7 – REFERENTE CLARAMENTE DEFINÍVEL
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
O uso dos parênteses demonstra para qual sinal anterior o pronome está 
fazendo referência.
IMPORTANTE
• Também pode ser feito o uso de um classificador, representando o referente 
específico em uma localização particular. Um exemplo colocado por Quadros 
e Karnopp (2004, p. 129) se refere ao sinal de CARRO através das mãos abertas 
que se cruzam ao realizar a ação de PASSAR-UM-PELO-OUTRO.
FIGURA 8 – USO DE CLASSIFICADOR CARRO CL
(CARRO PASSOU UM PELO OUTRO)
FONTE:Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
• Por último, as autoras trazem a capacidade que os verbos com concordância 
ou direcionais têm de incorporar os referentes anteriormente colocados no 
espaço. Como exemplo, colocamos o verbo IR que parte do EU, o sinalizante, 
em direção ao ponto em que previamente foi estabelecida a CASA da pessoa. 
Assim, o verbo IR é realizado através do movimento que parte do local em que 
o EU é marcado em direção ao lugar em que a CASA está marcada.
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
160
FIGURA 9 – VERBOS DIRECIONAIS
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
Observe que o sujeito e o objeto são argumentos incorporados no verbo 
através do movimento. Assim, é feito o uso dos parênteses na transcrição. Marcam que 
os argumentos estão delimitados através do movimento vinculado ao verbo, não sendo 
sinalizados no momento.
IMPORTANTE
As formas de realizar a referência espacial estão de acordo com o processo 
de coindexação em Libra. Se marcamos João no espaço específico, sempre que 
fizermos referência a ele deveremos apontar para o mesmo espaço. Se colocarmos 
outro espaço para João, usando a apontação para um espaço não referente a ele, 
a sentença não terá o sentido pretendido. Logo, a referência não estará de acordo 
com o princípio de coindexação pronominal das línguas naturais e, assim, será 
agramatical.
ATENCAO
Neste livro de estudos, na Unidade 1, Tópico 3, estudamos o princípio de 
coindexação pronominal das línguas naturais.
(eu) IR (casa)
TÓPICO 1 | SINTAXE ESPACIAL
161
3.2 USO DOS PRONOMES NO ESPAÇO
Para a compreensão da maneira como as relações sintáticas/estruturais 
das sentenças se estabelecem em Libras, é necessário saber como se organiza a 
relação pronominal no espaço de sinalização, como afirmado por Pizzio (2006) e 
Quadros e Karnopp (2004). 
As sentenças dependem da forma como os pronomes são utilizados para 
a delimitação das situações. É preciso ter em vista que a gramaticalidade da 
sentença, a coesão e a coerência do discurso dependem, nas línguas de sinais, do 
processo de organização nominal e pronominal no espaço.
Sobre a marcação dos pronomes em Libras, o sistema pronominal de 
referências apresenta peculiaridades específicas de acordo com a presença 
ou ausência do referente no momento da sinalização. É importante, para o 
estabelecimento das relações de anáfora, “[...] um processo sintático pelo qual uma 
palavra [...] remete a outra (s) anteriormente referida (s)” (PIZZIO; REZENDE; 
QUADROS, 2009, p. 12). 
Em relação aos referentes presentes, o estabelecimento dos pontos no 
espaço dá-se a partir da posição em que o sinalizador está em relação ao referente 
e a configuração de mão em D é utilizada para fazer a apontação em direção ao 
referente presente:
As palavras sinalizador e sinalizante são utilizadas como sinônimos neste livro 
de estudos. Os autores consultados usam as duas maneiras para poderem fazer referência 
à pessoa que sinalizam.
IMPORTANTE
De acordo com a figura a seguir, retirada de Quadros (1997, p. 51), as 
formas pronominais utilizadas durante uma conversa quando os referentes estão 
presentes são aquelas que utilizam a apontação em direção ao referente.
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
162
FIGURA 10 – REFERENTES PRESENTES
FONTE: Quadros (1997, p. 51)
Segundo Dubois et al. (1973, p. 350), "interlocutor é aquele que recebe os 
enunciados produzidos por um locutor [sinalizador] ou que responde a eles [enunciados]”. É 
a pessoa com a qual o sinalizador está conversando.
IMPORTANTE
No primeiro quadro (de E→D) da figura anterior, está a figura de um 
sinalizador em uma conversa com três interlocutores presentes. No segundo 
quadro, temos a marcação da primeira pessoa do discurso, o EU. Ainda, no último 
quadro, aparece a forma como o sinalizador faz referência à segunda pessoa, ou 
seja, com quem o sinalizante fala, o TU/VOCÊ. 
Assim, o sinalizador apontará na direção daquele que será o interlocutor 
da sentença a ser sinalizada. Do mesmo modo, poderá ser feita a apontação em 
direção à terceira pessoa quando esta estiver presente no momento de sinalização.
O pronome de primeira pessoa (EU) nem sempre é sinalizado, pois vários 
verbos incorporam o argumento que está na posição sintática de sujeito através 
do movimento. Ainda, partem da premissa de que aquele que sinaliza é sempre 
na primeira pessoa, salvo quando o sinalizante indica outra pessoa do discurso 
como sujeito do verbo. Assim, o parâmetro de sujeito nulo é possível em Libras, 
bem como o parâmetro pro-drop (sujeito e o objeto podem ser apagados da 
sinalização com o uso de um verbo direcional).
ESTUDOS FU
TUROS
Mais adiante, estudaremos os verbos e os efeitos estruturais deles na LIBRAS.
TÓPICO 1 | SINTAXE ESPACIAL
163
Quando os referentes estão ausentes no momento da sinalização, a eles 
são atribuídos pontos arbitrários e particulares no espaço de enunciação. Os 
espaços específicos deverão ser utilizados ao longo de toda a conversa. 
No primeiro quadro da figura a seguir, temos representada a situação em 
que os pontos específicos foram atribuídos a João e a Maria, personagens ausentes 
da conversa e representados com a silhueta pontilhada. Para João, foi atribuído 
o ponto [a] e, para Maria, o ponto [b] no espaço de sinalização. No segundo e 
terceiro quadros é colocada a figura da pessoa que sinaliza para lateral do corpo. 
Demonstra estar fazendo referência primeiro ao ponto [a] que faz referência ao 
João, na direita e, depois, ao ponto [b] em que a referência a Maria está ancorada 
logo na esquerda.
FIGURA 11 – REFERENTES AUSENTES
FONTE: Quadros (1997, p. 52)
ATENCAO
Quando forem feitas citações a pontos de referência estabelecidos (alocados) 
no espaço de sinalização, será utilizada a letra de referência em negrito e destaque em forma 
de colchetes, como feito anteriormente nos pontos [a] e [b].
Nas transcrições das sentenças em LIBRAS, as letras minúsculas subscritas (a) 
representam a posição espacial dos referentes referidos através da marcação espacial. Na 
tradução das mesmas sentenças para a LP, as referências espaciais serão substituídas pelos 
referentes entre parênteses (QUADROS; KARNOPP, 2004). 
IMPORTANTE
a b
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
164
Para a análise sintática é primordial a organização dos referentes no 
espaço de sinalização, tendo em vista que a modificação das referências espaciais 
acarretará, também, em modificações das relações sintáticas estabelecidas. Partindo 
da referência colocada na figura anterior, analisemos as sentenças (1) e (2):
(1) PRESENTE aDARb
(João) deu um presente a (Maria).
(2) PRESENTE bDARa
(Maria) deu um presente a (João).
Na sentença (1), o referente marcado no local [a] é colocado na função 
sintática de sujeito e aquele marcado em [b] está na posição de objeto. Em (2), 
invertidos os locais de apontação, também se invertem as funções sintáticas. 
Maria se torna sujeito e, João, objeto da ação. Logo, as sentenças não estarão em 
uma relação de correspondência, tendo em vista que não equivalem nem sintática 
nem semanticamente. Assim, não apenas a maneira como os referentes estão 
localizados, mas a referencialidade aos pontos no espaço de sinalização fará com 
que as funções sintáticas sejam atribuídas a partir dos pontos referidos no espaço.
DICAS
Caso você queira estudar mais aspectos do sistema pronominal em Libras, 
recomendamos a leitura do livro Educação de Surdos: Aquisição da Linguagem, publicado 
em 1997 por Ronice Müller de Quadros. O livro apresenta o sistema pronominal da Libras de 
maneira completa e bastante detalhada.
3.3 AMBIGUIDADE ESTRUTURAL NA LIBRAS
Como estudamos na Unidade 1, de acordo com Mioto (2009), a 
ambiguidade estrutural ocorre quando uma única sentença apresenta mais de 
um sentido. Acontece devido à combinação dos constituintes dela permitir mais 
de uma forma de organização estrutural. A sintaxe não estuda apenas a forma 
linear de organização das palavras, pois uma mesma sequência de palavras pode 
ser compreendida semanticamentede mais de uma maneira.
Entretanto, devido à estrutura de organização da modalidade 
visuoespacial das línguas de sinais, a ocorrência de sentenças em que aparecem 
ambiguidades estruturais é muito mais rara na Libras. O estabelecimento dos 
pontos de referência no espaço de enunciação acaba por sanar a maior parte das 
TÓPICO 1 | SINTAXE ESPACIAL
165
dificuldades de compreensão do referente especifico, caso sejam respeitados os 
referentes na elaboração das sentenças.
Segundo Quadros (1997, p. 57), “o uso dos indicativos espaciais, 
incluindo os pronomes, permite a correferência explícita e reduz a possibilidade 
de ambiguidade [...]. Conforme Ferreira Brito (em elaboração), o uso do espaço é 
sistemático, favorecendo a identificação clara e correta do referente [...]”. A autora 
ilustra a afirmação com exemplos retirados de Ferreira Brito (em elaboração) para 
demonstrar um comparativo entre sentenças que apresentam ambiguidade em 
LP e que não apresentam a mesma ambiguidade: 
(3) aCONVERSARb.
(3a) [Paulo e João vinham pela rua.] Ele conversou com ele.
(4) PAULOa CONTAR JOÃOb MULHER DELEa CAIR.
(4a) Paulo contou a João que a mulher dele caiu.
(5) PAULOa CONTAR JOÃOb MULHER DELEb CAIR.
(5a) Paulo contou a João que sua mulher caiu.
Como podemos observar nos pares de sentenças:
• Em (3), a sentença em Libras delimita que o referente alocado no ponto espacial 
[a] conversa com o alocado no ponto [b]. Assim, sabemos que o referente [a] é 
o sujeito e o [b] objeto do verbo CONVERSAR.
• Em (3a), ao serem utilizados em LP dois pronomes pessoais masculinos de 
terceira pessoa singular (ele), não é possível determinarmos com exatidão 
a quem cada um deles se refere. Logo, a sentença é ambígua, pois aqueles 
que são os referentes da palavra ele podem estar relacionados tanto a Paulo 
quanto a João.
• Em (4), o pronome DELE está acompanhado do ponto espacial [a], ligado a 
PAULO. Logo, a MULHER que caiu é a de PAULO, não tendo como ser a de 
JOÃO, porque o ponto espacial ligado a JOÃO é o ponto [b].
• Em (5) está demonstrada a situação em que a MULHER que caiu é a de JOÃO, 
pois o ponto alocado é [b].
• Em (4a) e (5a), as duas sentenças apresentam ambiguidade exatamente por não 
ser possível determinar a quem os pronomes dele e sua estão relacionados, 
pois ambos são passíveis de referência.
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
166
3.4 MUDANÇA REFERENCIAL
Como vimos nas seções anteriores, o sistema de referência pronominal 
em Libras está vinculado à posição do sinalizante em relação aos referentes que 
serão utilizados para a elaboração das sentenças. Logo, o estabelecimento e a 
manutenção dos locais atribuídos aos referentes são de extrema importância para 
sintaxe espacial das sentenças. 
Percebe-se que a direcionalidade dos movimentos é um elemento 
imprescindível para a elaboração das sentenças e para a maneira que os diferentes 
constituintes das sentenças em Libras irão se organizar.
Na figura a seguir, aparece a maneira como a mudança de posição de 
sinalização deve manter a posição dos referentes após a fixação dos pontos no 
espaço de sinalização. Após a fixação dos pontos [B] e [G], enquanto durar o 
momento de sinalização, a apontação referencial deverá manter-se no eixo 
referencial delimitado após a fixação dos lugares no espaço. Assim, mesmo no 
caso do sinalizador mudar, a sua posição física de sinalização (mudar de lugar, 
mexer-se mais para a D ou E) e os pontos fixados para os referentes permanecerão 
em seus lugares incialmente fixados.
FIGURA 12 – EIXO REFERENCIAL
FONTE: Adaptado de Lillo-Matin e Klima (1990, p. 195 apud QUADROS, 1997, p. 58)
Observe na figura a seguir que, mesmo com a mudança da posição do 
sinalizador, não são alteradas as posições dos pontos espacialmente fixados [a] e 
[b] para João e Maria:
Assim, podemos compreender que a ambiguidade estrutural pouco ocorre 
em Libras. A modalidade visuoespacial das línguas de sinais tem um sistema 
de referencialidade pronominal marcado no espaço de sinalização que vincula 
espacialmente os constituintes ao seu referente.
TÓPICO 1 | SINTAXE ESPACIAL
167
FIGURA 13 – MUDANÇA REFERENCIAL
a a
a
b
b
b
FONTE: Adaptado de Quadros (1997, p. 58); Lillo-Matin e Klima (1990, p. 195)
• No primeiro quadro (E → D), temos a fixação de João no ponto [a] e Maria no 
ponto [b].
• No segundo quadro, o sinalizador se descola para a posição mais na direita 
(D) em relação à posição originalmente ocupada no momento da fixação dos 
pontos de referência no local de sinalização. Mesmo assim, as posições de João 
e Maria se mantêm nos pontos [a] e [b].
• No terceiro quadro, o sinalizador se descola para uma posição mais para a 
esquerda (E) em relação à posição originalmente ocupada no momento de 
fixação dos pontos de referência. Apesar do colocado, os lugares ocupados por 
João e Maria no espaço de enunciação se mantêm.
Assim, podemos entender que o eixo referencial auxiliará para a 
manutenção dos pontos de referência, mesmo que o sinalizante modifique a sua 
posição em relação ao momento de fixação dos locais dos referentes no espaço de 
enunciação.
4 MARCAÇÕES NÃO MANUAIS GRAMATICAIS 
E NÃO GRAMATICAIS
Na língua de sinais não são apenas os sinais manuais, tais como as 
configurações de mão, as apontações e direcionalidade dos movimentos que são 
importantes para o estabelecimento das relações sintáticas. Isso acontece porque:
Os sinais manuais são frequentemente acompanhados por expressões 
faciais que podem ser consideradas gramaticais.
Em Liddell (1980, p. 13) “a face do sinalizador raramente é neutra ou 
descontraída, também é acompanhada [sintaticamente] pela posição 
da cabeça NÃO NEUTRA, por movimentos de cabeça e movimentos 
do corpo”.
A face, o corpo, contribuem para a organização sintática da LIBRAS 
(VIEIRA; LIMA; LIMA, 2017, s.p.).
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
168
DICAS
O Poliglotar é um evento que acontece anualmente em Fortaleza e 
aborda diferentes temáticas ligadas ao ensino e à aprendizagem de línguas. No ano de 
2017, os professores Luciana Viera, André Almeida e Mariana Lima apresentaram uma 
comunicação conjunta bastante interessante e intitulada Aspectos linguísticos e culturais 
da língua, que está inteiramente disponível no Youtube, no link <https://www.youtube.com/
watch?v=PmvGIuChm40>. Acesso em: 17 nov. 2018.
Não são apenas as mãos e os braços são responsáveis pelas relações sintáticas 
no espaço de sinalização, mas várias expressões não manuais apresentadas pela 
face e pelo corpo do sinalizante. Contudo não são todas as marcações não manuais 
que têm valor gramatical. Arrotéia (2005, p. 63) coloca que: 
Segundo Baker-Shenk, 1983 (apud LILLO-MARTIN, 2003; QUER, 
2003), há uma clara distinção entre marcadores não manuais que 
apresentam função gramatical e marcadores não manuais que 
apresentam função de afetividade (ou seja, que não contribuem 
gramaticalmente para a sentença, mas para a comunicação).
Também é importante delimitar de que modo é possível distinguir as 
marcações não manuais gramaticais das de afetividade. Arrotéia (2005) apresenta 
a distinção baseada na divisão proposta por Baker-Shenk (1983). Os marcadores 
não manuais são analisados em relação ao seu início (onset) e sua finalização 
(offset). Assim, para delimitar quando os marcadores não manuais têm função 
gramatical e quando não contribuem para as relações sintáticas estabelecidas, 
devem ser observados o início e a finalização do marcador analisado.
Sobre as características observadas para a distinção entre marcadores com 
função e marcadores sem função gramatical, Arrotéia (2005, p. 64) destaca que:
Segundo a autora [BAKER-SHENK (2003)], marcadores gramaticais 
apresentam onset [início] e offset [finalização] bastante nítidos. Além 
disso, marcadores gramaticais atingem sua intensidade máxima 
rapidamente, e sua realização é mantida durante todo o intervalo entre 
o onset do marcador e o fim da sentença. Já marcadores de afetividade 
(BAKER-SHENK, 1983 apud LILLO-MARTIN, 2003) apresentam o 
quadroinverso: nos casos, onset e offset são pouco nítidos (ou seja, 
bastante sutis). A intensidade máxima de realização do marcador é 
alcançada apenas gradualmente e, em muitos casos, a realização do 
marcador não é sustentada até o final da sentença.
Assim, os marcadores não manuais gramaticais são aqueles que 
apresentam uma intensidade especificamente posta na sentença, se mantendo 
do momento de inserção até o fim da sentença e tendo uma duração (escopo, 
dimensão) que modifica toda a sentença. 
TÓPICO 1 | SINTAXE ESPACIAL
169
As marcações não manuais gramaticais são necessárias para uma situação 
delimitada pela sentença. Em relação às marcações não manuais de afetividade, 
estas seriam aquelas inseridas aos poucos e sem um momento de início e 
finalização definidos. Como exemplos de marcações não manuais de afetividade, 
ou seja, não gramaticais, vamos analisar as expressões faciais retiradas de Kojima 
e Segala (2012, p. 19):
FIGURA 14 – MARCAÇÕES NÃO MANUAIS DE AFETIVIDADE (NÃO GRAMATICAIS)
FONTE: Kojima e Segala (2012, p. 19)
Todas as expressões, quando utilizadas durante uma conversa, trarão 
informações sobre o modo como o sinalizante expressa a situação da sentença. 
Equivaleriam àquilo que, nas línguas orais, é a entonação do discurso.
Assim, não representam informações sintáticas vinculadas a constituintes 
das sentenças. Uma sentença pode ser sinalizada com um olhar de desconfiança, 
admiração, convencimento ou dúvida da pessoa que sinaliza, mas são 
informações sobre a maneira como ela sinalizou toda a sentença, apenas alguma 
das informações presentes ou de juízo de valor do sinalizante em relação ao que 
é expressado através, não vinculadas às relações sintáticas.
Não confundir uma marcação não manual afetiva de dúvida com a elaboração 
de interrogações através do uso de expressões não manuais gramaticais. Ainda nesta seção 
observaremos a diferença.
IMPORTANTE
Uma mesma sentença pode ser acompanhada de qualquer uma das 
expressões e, mesmo assim, a relação sintática estabelecida entre os constituintes 
não será modificada, nem a estrutura. A relação entre os constituintes ou o tipo 
de sentença sofrerá alterações com o uso.
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
170
Vamos testar a afirmação com a sentença (6). Mesmo ela sendo sinalizada 
com qualquer uma das expressões faciais observadas anteriormente, a relação 
entre o sujeito MULHER, colocado no ponto [a], e o objeto LUA [b], permanecerá 
inalterada, bem como nenhuma das expressões altera o modo afirmativo da 
situação expressa pela sentença:
(6) MULHER aOLHARb LUA
Inicialmente são definidos os locais de referência dos envolvidos na 
sentença: MULHER no ponto [a] e LUA no ponto [b]:
FIGURA 15 – ALOCAÇÃO MULHER NO PONTO [A]
FIGURA 16 – ALOCAÇÃO LUA NO PONTO [B]
Após, inserimos a marcação não manual de desconfiança, admiração, 
convencimento e dúvida (respectivamente) para a sinalização da sentença 
utilizada como exemplo:
FONTE: A autora
[a]
FONTE: A autora
[b]
TÓPICO 1 | SINTAXE ESPACIAL
171
FIGURA 17 – O USO DE MARCAS NÃO MANUAIS DE AFETIVIDADE (NÃO GRAMATICAIS)
MULHER 
A
OLHAR
B
 LUA
FONTE: A autora
Observe a manutenção da direção do olhar para a marcação do objeto do 
verbo OLHAR. Ainda, a posição da mão para demonstrar qual dos pontos refere-se ao sujeito 
e qual está relacionado ao objeto e é obrigatória para verbos com concordância.
IMPORTANTE
Podemos perceber que, embora tenham sido dadas à sentença marcas 
não manuais que destacam um juízo de valor do sinalizante quanto à situação 
expressa pela sentença, a relação sintática estabelecida pelo verbo não se 
modificou, continuando a ser um verbo direcional. O movimento parte do ponto 
[a] para o ponto [b], marcando o sujeito e o objeto, respectivamente. 
Mesmo com diferentes interpretações sobre a afirmação do fato de 
“a mulher olhar a lua”, nenhuma das opções deixou de ser uma afirmação. A 
expressão de dúvida mantém a afirmação, apenas demonstrando uma dúvida 
do sinalizante em relação à mulher ter olhado a lua, mas não transformando 
interrogação ou negação do fato.
Também é interessante percebermos que as marcas não manuais de 
afetividade são particulares do sinalizante, não sendo claramente identificáveis 
e podendo variar muito de acordo com a interpretação dada pelo interlocutor. 
Fazem parte da conversação e não das regras sintáticas das línguas de sinais.
Em relação às marcas não manuais gramaticais, Quadros e Karnopp (2004) 
apresentam exemplos de expressões que estão relacionadas às relações sintáticas 
estabelecidas e ao tipo de sentença sinalizada. A seguir são citadas as expressões 
e acompanhadas de fotos ilustrativas. Junto às fotos das expressões, foi colocada 
a simbologia adotada pelas autoras para transcrição.
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
172
• Expressão que marca a concordância gramatical utilizando o direcionamento 
do olhar:
FIGURA 18 – DIREÇÃO DO OLHAR
< > DO
FONTE: A autora
• Marca não manual, que está associada ao foco, possibilita alterações na 
estrutura sentencial:
FIGURA 19 – FOCO
< > MC
FONTE: A autora
• Marcação das sentenças negativas altera o tipo de sentença que está sendo 
sinalizada, provoca alterações estruturais na sentença e permite a modificação 
da ordem básica da sentença:
TÓPICO 1 | SINTAXE ESPACIAL
173
FIGURA 20 – NEGAÇÃO
FONTE: A autora
• Expressão relacionada à sentença com topicalização:
FIGURA 21 – TOPICALIZAÇÃO
FONTE: A autora
• Marcação que evidencia uma sentença interrogativa:
FIGURA 22 – INTERROGAÇÃO
FONTE: A autora
< > QU > SN
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
174
Assim, as expressões não manuais gramaticais são aquelas que permitem 
modificações na estrutura sintática das sentenças. Na Unidade 2 deste livro de 
estudos já vimos como a estrutura básica das sentenças é alterada a partir das 
marcações que o sinalizante utiliza para a elaboração das situações expressas 
pelas sentenças. Ainda, também discutimos quais as restrições para as alterações 
na forma básica SVO.
Logo, as marcas não manuais gramaticais são parte do sistema das línguas 
naturais. Permitem a reestruturação da ordem básica em Libras exatamente por 
serem gramaticais, ou seja, as marcas não manuais gramaticais permitem que as 
sentenças não apenas sofram alterações, mas façam parte das regras gramaticais 
que regem a estrutura sintática da Libras vinculadas: 
• às relações sintáticas estabelecidas: direção do olhar, marca não manual exigida 
pela sintaxe de alguns verbos para o estabelecimento das funções sintáticas e 
papéis temáticos;
• às relações de destaque/duplicação de constituintes (informações) estruturadas 
pelas marcas não manuas de foco e tópico;
• à elaboração de sentenças de diferentes tipos, como as marcas não manuais 
para formação de sentenças negativas e interrogativas.
175
Neste tópico, você aprendeu que:
• O processo em que os parâmetros de uma língua são traspostos para uma 
outra língua é comum para aprendizes e em contextos de fronteira.
• A transposição de parâmetros é mais problemática quando estão em contato 
línguas orais-auditivas e de sinais de um mesmo país porque são transpostos 
parâmetros orais para as línguas de sinais.
• O pidgin é uma língua de contato que surge da necessidade de comunicação 
entre comunidades linguísticas.
• O português sinalizado é resultante de uma compreensão da relação entre LP 
e Libras. Coloca as duas línguas em contato, ignorando as peculiaridades e 
parâmetros específicos da língua de sinais.
• Os aplicativos de tradução podem ser compreendidos como tecnologias 
assistivas porque possibilitam mais autonomia e qualidade de vida às pessoas 
surdas.
• Os aplicativos de tradução também são inovações disruptivas porque 
permitem mudanças nas interações entre surdos e ouvintes. Rompem barreiras 
de comunicação entre eles.
• As tecnologias que permitem a tradução automática, como os aplicativos de 
tradução, são importantes em situações específicas, mas não substituem os 
intérpretes humanos.
• A Libras tem uma organizaçãoespacial feita através de diversos elementos 
manuais e não manuais.
• O sistema nominal e o uso pronominal são imprescindíveis para o 
estabelecimento das relações morfossintáticas.
• O espaço de sinalização pode ser expandido ou restringido de acordo com o 
caráter mais ou menos formal e o tipo de texto a ser sinalizado.
• As referências podem ser marcadas no espaço através de sinal realizado em 
um ponto específico do espaço, direcionamento do corpo, apontação ostensiva, 
referente claramente definível, classificador e verbo direcional.
RESUMO DO TÓPICO 1
176
• Os pronomes que são relacionados a referentes presentes são marcados por 
apontação ostensiva.
• Aos pronomes relacionados a referentes ausentes são atribuídos locais 
arbitrários e específicos no espaço. Qualquer referência a eles deverá ser feita a 
partir do local definido.
• A ambiguidade estrutural pouco ocorre em Libras devido à modalidade 
visuoespacial ter um sistema de referencialidade pronominal que vincula 
espacialmente os constituintes ao seu referente.
• Os pontos referenciais fixados no espaço devem ser mantidos durante o mesmo 
momento de conversação. Assim, mesmo com a movimentação do sinalizante 
se manterão dentro do eixo referencial.
• As sinalizações em Libras são acompanhadas de expressões não manuais que 
podem ser divididas em gramaticais e não gramaticais (de afetividade).
• As marcas não manuais são gramaticais quando alteram as estruturas, as 
relações sintáticas entre os constituintes e o tipo de sentença sinalizada.
• As marcas não manuais de afetividade (não gramaticais) são utilizadas para 
demonstrar um juízo de valor do sinalizante quanto à situação da sentença 
e não modificam a estrutura, as relações sintáticas ou o tipo de sentença 
sinalizada.
177
1 Analise a sentença a seguir quanto à possibilidade de ambiguidade estrutural 
e responda o que se pede:
Márcia falou para Ana que os seus livros chegaram.
a) Esta sentença apresenta uma ambiguidade estrutural. Por que podemos 
dizer que a afirmação está correta?
b) Qual é o elemento que permite a percepção da ambiguidade?
c) Quais são as duas possibilidades de sentido que a sentença apresenta?
d) Como ficaria a representação da sentença em Libras com a utilização dos 
referentes espacialmente constituídos, de modo a acabar com a ambiguidade 
apresentada?
2 Leia as seguintes afirmações:
I- A estrutura de sinalização das sentenças em Libras não é alterada por 
nenhum tipo de marca não manual.
II- As marcas não manuais gramaticais acarretam mudanças estruturais 
vinculadas ao tipo da sentença.
III- As marcas não manuais de afetividade demonstram juízos de valor do 
sinalizante em relação a informações apresentadas nas sentenças.
Marque a alternativa que faz referência apenas ao que está correto nas 
afirmações:
a) ( ) I.
b) ( ) I e II.
c) ( ) II e III.
d) ( ) III.
e) ( ) I, II e III.
AUTOATIVIDADE
178
179
TÓPICO 2
EFEITOS ESTRUTURAIS DOS VERBOS 
E CLASSIFICADORES
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Os diferentes tipos de verbos, a partir dos argumentos que selecionam, 
foram estudados na perspectiva da Teoria Gerativa na Unidade 2 deste livro de 
estudos. Naquele momento foram divididos pela seleção da posição sintática a 
ser ocupada pelos argumentos selecionados pelo verbo. 
Neste tópico, observaremos as peculiaridades dos verbos na Libras, 
características que são devidas à maneira como as línguas de sinais estabelecem a 
concordância verbal a partir do espaço de sinalização das sentenças.
Inicialmente, veremos como o comportamento dos verbos está relacionado 
à concordância estabelecida na sentença. Depois, discutiremos as características 
dos tipos de verbos e as implicações sintáticas das peculiaridades para a 
estruturação das sentenças em Libras.
Ao final deste tópico, estudaremos as características dos classificadores, 
seus usos morfossintáticos e a utilização deles em contextos de ambiguidade em 
LP que não ocorrem em Libras.
2 CONCORDÂNCIA VERBAL
A concordância verbal estuda as maneiras como os verbos selecionam 
os seus argumentos. Procura perceber de que modo os núcleos lexicais verbais 
atribuem as funções sintáticas e os papéis temáticos aos argumentos selecionados. 
Segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 199), “concordância é um fenômeno 
linguístico no qual a presença de um elemento em uma sentença requer uma 
forma particular de outro elemento que é gramaticalmente ligado a ele”.
Os estudos sobre verbos são importantes para a compreensão das 
relações que estruturam as sentenças (morfossintáticas) nas línguas naturais 
porque são a base da formação das sentenças de línguas como a LP e a Libras. 
Assim, para a estruturação das sentenças, é imprescindível o estudo de como os 
verbos selecionam seus argumentos e quais as características estruturais que são 
envolvidas a partir do uso dos diferentes tipos de verbos.
180
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
O termo morfossintaxe refere-se aos estudos que observam a morfologia, ou 
seja, características e classificações do léxico. Já a sintaxe estuda as relações que estruturam 
as sentenças formadas a partir do léxico. Assim, a morfossintaxe é uma área composta pelos 
estudos que observam como as características do léxico delimitam as relações sintáticas.
IMPORTANTE
De acordo com Quadros e Karnopp (2004, p. 199):
Em muitas línguas, a forma particular do segundo elemento, 
normalmente um verbo, depende de traços-ϕ do primeiro elemento, 
tipicamente o sujeito da sentença. Uma característica comum entre 
as línguas com concordância marcada é que todas apresentam 
concordância com o sujeito. Em alguns casos, há marcação de 
concordância com o objeto. Nas línguas de sinais, a concordância 
é obrigatória com o objeto, podendo ou não ser feita com o sujeito, 
dependendo da seleção do verbo.
A grande questão em relação às línguas de sinais é a seguinte: a 
marcação chamada de concordância nas línguas de sinais é de fato 
concordância?
Para a compreensão da questão sobre as línguas de sinais, primeiro 
precisamos relembrar que em LP o estabelecimento da concordância verbal é 
feito em relação ao sujeito através das desinências (afixos) de número-pessoa que 
são morfologicamente inseridas na palavra, por exemplo, na sentença:
(7) Ela ganhou uma bolsa.
O verbo ganhar está conjugado, ou seja, teve sua apresentação morfológica 
alterada de modo a concordar com o sujeito Maria. A alteração deu-se a partir 
da inserção, no radical do verbo [ganh-], da desinência [-ou], desinência que 
indica a 3ª pessoa do singular. Assim, a concordância dos verbos em LP é sempre 
estabelecida com o sujeito.
Já nas línguas de sinais, o modo de marcação das relações sintáticas 
dá-se através de diferentes processos das relações estabelecidas no espaço de 
sinalização que podem ou não acarretar alterações morfológicas na forma como 
o verbo é sinalizado. 
De acordo com Quadros e Karnopp (2004, p. 199), mesmo que se tenha 
“[...] assumido que a concordância nas línguas de sinais é abertamente marcada 
em verbos do tipo DAR, PERGUNTAR, AJUDAR [...]”, há diferentes análises dos 
linguistas sobre como os verbos estabelecem as relações sintáticas nas línguas de 
sinais. 
TÓPICO 2 | EFEITOS ESTRUTURAIS DOS VERBOS E CLASSIFICADORES
181
Dentre as interpretações, as autoras apresentam a proposta de Liddel 
(1990; 1995) que:
[...] sugere que os pontos no espaço devem ser descritos como 
entidades mentais (pictóricas). Segundo sua análise [Lidell], tais 
entidades [pontos no espaço] não podem fazer parte do sistema 
linguístico, pois envolvem espaços reais contendo uma representação 
mental do objeto/referência em si. Assim não há necessidade de definir 
o lócus [espaço, lugar] fonológica e morfologicamente. Além disso, a 
concordância verbal deixa de existir como concordância do ponto de 
vista linguístico (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 200).
Assim, a proposta coloca que a representação imagética mental dos 
pontos no espaço de sinalização não faria parte do sistema linguístico das línguasde sinais porque faz referência nos espaços reais em que estão referidos objetos/
representações mentais. 
Para a análise, as relações estabelecidas são pictóricas (de imagem) e não 
linguísticas, porque as relações linguísticas se estabelecem através de relações 
sintáticas e não de imagens alocadas em um local específico. 
Por exemplo, na Figura 15, o ponto [a] passaria a representar a imagem 
mental do sinal MULHER e não teria mais a necessidade de sinalização do sinal 
devido à referência por apontação, não tendo existência fonológica (realização 
manual do sinal), morfológica (forma de sinalização do sinal) e não estabelecendo 
relações de concordância verbal, logo, não sendo um elemento linguístico.
FIGURA 23 – ALOCAÇÃO MULHER NO PONTO [A]
FONTE: A autora
Sobre a proposta, Quadro e Karnopp (2004, p. 200) afirmam que ela “[...]
não dá conta das propriedades linguísticas da concordância verbal [...]” nas 
línguas de sinais porque a concordância estabelecida a partir dos verbos deve ser 
compreendida como um elemento de estruturação das sentenças, tendo natureza 
linguística e sendo um elemento de ordem gramatical, ou seja, um elemento que 
está relacionado às relações sintáticas estabelecidas.
Para justificar a compreensão da concordância verbal dos verbos em 
línguas de sinais como elementos sintáticos, as autoras elencam quatro pontos 
[a]
182
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
que fundamentam aspectos gramaticais relacionados à concordância em línguas 
de sinais. Na citação a seguir, foram inseridas imagens com exemplos em Libras 
para exemplificar a compreensão apresentada pelas autoras.
[1] as formas para a primeira pessoa e não primeira pessoa [demais pessoas 
do discurso] são diferentes;
FIGURA 24 – FORMAS PRONOMINAIS
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
[2] a presença de marcação de número nos verbos apresenta múltiplas formas 
em diferentes línguas de sinais;
[3] a existência de auxiliar em algumas línguas de sinais expressa a relação 
sujeito-verbo-objeto nas construções com verbos que não marcam 
concordância
FIGURA 25 – VERBO ENTREGAR COM FLEXÃO DE NÚMERO PARA TRÊS PESSOAS
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
EU ELES/ELAS
TÓPICO 2 | EFEITOS ESTRUTURAIS DOS VERBOS E CLASSIFICADORES
183
[4] Rathmann e Mathur (2002) verificaram que a concordância verbal na 
língua de sinais está associada com diferentes tipos de verbos em relação 
às propriedades semânticas de seus argumentos (seleção de argumentos 
animados e inanimados). A concordância verbal está presente com objetos 
diretos/indiretos animados. Assim caracteriza-se a concordância em 
termos estruturais (QUADROS; KARNOPP, 2004).
FIGURA 26 – AUXILIAR LIGANDO SUJEITO-OBJETO-VERBO
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004) 
JOÃOA AAUXILIARB <NÃO GOSTAR> N
JOÃO NÃO GOSTA DELA.
184
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
ESTUDOS FU
TUROS
Ainda, neste tópico, estudaremos as relações sintáticas que os verbos auxiliares 
realizam e, no Tópico 4, a formação das sentenças negativas.
De acordo com Dubois et al. (1973), os substantivos animados são uma 
categoria dentre os substantivos que se caracterizam por denotar seres vivos com uma 
sintaxe peculiar em relação aos seres não animados. Na seleção verbal, por exemplo, alguns 
verbos apresentam delimitações semânticas que selecionam seus argumentos a partir 
de traços [+ animados] ou [- animados]. Por exemplo, o verbo falar que necessita de um 
argumento no lugar do papel temático de agente [+ animado].
IMPORTANTE
FIGURA 27 – CONCORDÂNCIA COM OBJETO INDIRETO ANIMADO (MARIA)
JOÂOa MARIAb <aDARb LIVRO NÃO> N
JOÃO NÃO DEU O LIVRO A MARIA
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
TÓPICO 2 | EFEITOS ESTRUTURAIS DOS VERBOS E CLASSIFICADORES
185
Assim, a concordância verbal na Libras faz parte dos elementos sintáticos 
que se realizam através de diferentes mecanismos decorrentes da modalidade 
visuoespacial.
A partir das discussões, estudaremos a seguir como se dá o funcionamento 
dos diferentes tipos de verbos em LIBRAS e quais efeitos estruturais que são 
relacionados a eles. Para observar, os verbos foram divididos de acordo com a 
classificação básica proposta por Quadros e Karnopp (2004) em verbos sem e 
com concordância, além das discussões, também colocadas pelas autoras, sobre 
os verbos auxiliares e verbos “manuais”.
2.1 VERBOS SEM CONCORDÂNCIA
De acordo com Moraes (2013, p. 17), “os verbos sem concordância exigirão 
que seus argumentos sejam expressos na sentença porque em si mesmos não há 
evidência de argumentos. São conhecidos também como verbos não flexionados 
pois não se flexionam em pessoa e número [...]”. 
Assim, as sentenças construídas com verbos sem concordância não podem 
apresentar argumentos nulos, ou seja, aqueles em que a referência pronominal é 
feita a partir do movimento entre os pontos estabelecidos no espaço de sinalização. 
A sentença (8) apresenta uma estrutura construída com o verbo GANHAR, em 
que os dois argumentos estão expressos na sinalização da sentença.
FONTE: A autora
SENTENÇA (8) MARIA GANHAR BOLSA
Sujeito Verbo: GANHAR Objeto
O sistema de referenciação pronominal continua sendo utilizado como 
estudamos anteriormente. Os verbos sem concordância não substituem a marcação referencial 
por movimento de partida e de chegada. Assim, não apresentam argumentos nulos. 
Argumentos nulos estão relacionados aos parâmetros de sujeito nulo e de pro-drop. 
Como vimos nas unidades anteriores deste livro de estudos, os parâmetros mostram um 
apagamento do argumento, sendo substituído por elementos morfossintáticos, como a 
desinência verbal em LP e o movimento direcional em Libras.
IMPORTANTE
186
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
As sentenças com verbos sem concordância apresentam uma estrutura 
com menos liberdade de movimentação entre os constituintes (QUADROS; 
KARNOPP, 2004). As movimentações estruturais dos constituintes, na sentença, 
precisam se manter em uma ordem constituída. A delimitação de suas funções 
sintáticas vincula-se ao posicionamento do sinal em relação aos demais sinais 
feitos de maneira mais linearmente constituída do que quando o verbo for com 
concordância. Na sequência de imagens anteriores, a ordem de sinalização dos 
constituintes da frase é importante para a compreensão das funções que cada 
constituinte recebe porque não estão associadas marcações não manuais ou 
movimentações no espaço de sinalização obrigatórias que demonstrem a relação 
entre os elementos que compõem a sentença.
A utilização de marcas não manuais não é obrigatória nas sentenças 
formadas com verbos sem concordância. Elas não são sintaticamente exigidas 
pelo verbo. Logo, poderão ser utilizadas de forma opcional pelo sinalizante 
(QUADROS; KARNOPP, 2004).
De acordo com Quadros e Karnopp (2004), na formação das sentenças 
negativas, a distribuição da negação dentro da sentença não poderá preceder 
o verbo principal e será necessário o uso de um verbo auxiliar entre o verbo 
principal e a negação. Na sentença (9), podemos observar que o verbo auxiliar é 
sinalizado antes da negação e faz a ligação entre o constituinte [JOÃO] que ocupa 
a posição [a] e a função de sujeito e um pronome de terceira pessoa referido no 
espaço de sinalização [b] como o objeto.
(9) JOÃOA AAUXILIARB <NÃO GOSTAR> n
João não gosta dela.
A sinalização da sentença (8) foi mostrada na Figura 26 da seção anterior. Aqui 
utilizamos apenas a transcrição.
IMPORTANTE
TÓPICO 2 | EFEITOS ESTRUTURAIS DOS VERBOS E CLASSIFICADORES
187
2.2 VERBOS COM CONCORDÂNCIA (DIRECIONAIS)
De acordo com Moraes (2013), os verbos com concordância são também 
chamados de verbos flexionais ou verbos direcionais porque estabelecem suas 
relações sintáticas a partir da direcionalidade dos movimentos e de marcas não 
manuais em sua estrutura. Sua concordância apresenta variação em relação 
à flexão de número (quantidade de pessoas envolvidas para a sinalização, 
Figura 25), pessoa (Figura 28, colocada a seguir) e aspecto (Figura 25 a partir da 
distribuição para referentesespecíficos).
FIGURA 28 – VERBO FLEXIONADO
DIREÇÃO DO MOVIMENTO
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2003)
De acordo com Moraes (2013, p. 33), “o aspecto é uma noção que, 
independentemente do tempo [verbal utilizado], acrescentará informações a respeito da 
ação verbal: conclusiva, durativa, pontual, [de frequência] etc.”. 
IMPORTANTE
A estruturação das sentenças com verbos com concordância é mais livre 
em relação à organização, apagamento e reestruturação da sentença. Acontece 
porque a concordância é feita a partir de elementos direcionais e marcas não 
manuais que mantêm as relações sintáticas estabelecidas mesmo que a ordem 
de sinalização seja alterada. Assim, as marcações não manuais e elementos 
direcionais são obrigatórios em relação aos verbos com concordância. Como 
exemplificado por Moraes (2013, p. 17):
Nos verbos com concordância a marcação não manual é necessária. 
No caso do exemplo (1) [aAJUDARb], o olhar deve acompanhar o 
movimento e o corpo a direção do olhar. Há outros tipos de marcação 
Eu entrego tu.
Eu te entrego.
Tu entrega eu.
Tu me entregas.
188
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
FIGURA 29 – MARCAÇÕES OBRIGATÓRIAS DOS VERBOS COM CONCORDÂNCIA
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
As sentenças em Libras com verbos com concordância podem apresentar 
apagamentos dos argumentos tanto com o parâmetro de sujeito nulo quanto em 
relação ao parâmetro pro-drop. A direcionalidade das movimentações manuais 
e não manuais estabelece as relações sintáticas a partir da direcionalidade do 
movimento no espaço de sinalização.
FIGURA 30 – APAGAMENTO PRO-DROP DOS ARGUMENTOS
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
não manual, como: direção do corpo, aceno de cabeça, balanço de 
cabeça, sobrancelhas erguidas (para tópico) etc. A sentença (2) [em que 
as marcas de direcionamento do corpo e do olhar não são realizadas] 
causa estranhamento pela ausência de marcações não manuais, o que 
demonstra uma forte evidência de que seu uso é obrigatório com esse 
tipo de verbo conforme salientado por Quadros (1999). 
Na figura a seguir está sinalizada uma sentença, como a utilizada por 
Moraes (2013), para demonstrar aquilo que a autora afirma: 
JOÃOa <aAJUDARb MARIAb>
AMANHÃ aDARb LIVROa
Amanhã (ele/ela) dará o livro a (ele/ela).
TÓPICO 2 | EFEITOS ESTRUTURAIS DOS VERBOS E CLASSIFICADORES
189
Com o uso de verbos com concordância, a negação poderá ser utilizada 
antes do verbo principal nas frases negativas, sem a obrigatoriedade do uso de 
um auxiliar.
FIGURA 31 – SENTENÇA NEGATIVA COM VERBO COM CONCORDÂNCIA
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004,)
Ainda existem os verbos com concordância que apresentam uma direção 
que parte do ponto relacionado ao objeto em direção ao ponto estabelecido para 
o sujeito. Modificam a estrutura usualmente compreendida para os verbos com 
concordância, em LIBRAS. Os exemplos de verbos com o comportamento são os 
verbos BUSCAR e CHAMAR.
2.3 VERBOS AUXILIARES
Os verbos auxiliares não apresentam informação semântica específica 
e têm um papel morfossintático de relacionar o sujeito ao objeto. De acordo 
com Quadros e Karnopp (2004, p. 163), “o auxiliar é uma expressão pura de 
concordância estabelecida através do movimento de um ponto ao outro (os 
pontos compreendem o sujeito e o objeto da sentença)”. 
JOÃOa <NÃO aDARb LIVRO > n
João não deu para (ele/ela).
190
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
FIGURA 32 – USO DE VERBO AUXILIAR NA SENTENÇA NEGATIVA
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
2.4 VERBOS “MANUAIS”
De acordo com Quadros e Karnopp (2004, p. 204), os verbos “manuais” 
são aqueles em que é utilizada uma configuração de mão que demonstra como se 
o sinalizador estivesse segurando o objeto na mão. São verbos que se localizam 
no final da sentença, e seu uso acontece após a definição do objeto que será 
incorporado ao verbo. Podemos incluir os classificadores que incluem o sentido e 
as características do verbo da sentença. Ainda, de acordo com as autoras, o verbo 
Assim, os verbos auxiliares não poderão ser itens lexicais independentes, 
pois estão sempre acompanhando um verbo sem concordância. Assim, servirão 
para relacionar os argumentos da sentença. Outro aspecto importante salientado 
pelas autoras é que ele não é requerido nas ordenações SVO, apenas nas 
estruturações diferentes da ordem básica da Libras.
Outro aspecto que merece destaque é que os verbos auxiliares devem ser 
utilizados juntamente com marcas não manuais de concordância. Assim, a direção 
dos olhos acompanha a direção do movimento (QUADROS; KARNOPP, 2004).
Na figura a seguir, aparece o uso de verbos auxiliares para a elaboração 
da sentença complexa em que um dos verbos é omitido com o uso do auxiliar na 
segunda sentença, sendo possível a omissão apenas com o uso do verbo auxiliar:
JOÃOa <MARIAb
 
aAUXb> do <[GOSTAR] mc <bAUXa> do <NÃO [e]> n
João gosta de Maria e ela não gosta dele.
TÓPICO 2 | EFEITOS ESTRUTURAIS DOS VERBOS E CLASSIFICADORES
191
FIGURA 33 – USO DE VERBO CLASSIFICADOR COM VERBO MANUAL
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004)
Como os verbos já introduzem a ideia dos classificadores, passaremos à 
seção que especificamente tratará dos elementos morfossintáticos.
3 OS CLASSIFICADORES COMO ELEMENTOS 
MORFOSSINTÁTICOS
Os classificadores são elementos tanto da morfologia quanto da sintaxe. 
Eles modificam a maneira como o sinal é feito, são compreendidos como 
morfológicos, pois alteram a forma do sinal. Ainda, podem ser entendidos como 
sintáticos quando acrescentam argumentos (funções sintáticas) aos sintagmas da 
língua. Preenchem e agregam funções sintáticas, estão no papel de argumentos e 
compõem os predicados complexos.
comporta-se de modo peculiar, porque aparentemente rompe com as regras dos 
verbos no nível da sintaxe, da morfologia e da fonologia.
Na figura a seguir, o sinal de CARRO é incorporado ao verbo BATER 
através de um classificador que passa a representar o CARRO e assume suas 
características dando continuidade à sentença e intensidade da situação 
representada na sentença. 
<JOÃO> t <CARRO>t <CL (CARRO)-BATER-POSTE+> cl
João estava de carro e bateu no poste, destruindo completamente o veículo.
192
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
Assim, “[...] o classificador não parece constituir-se como um mero recurso 
da gramática da língua de Sinais, mas inserido no uso e no funcionamento dessa 
língua, fazendo parte das operações que o sujeito realiza com a linguagem 
(GESUELI, 2008, p. 113)”. Por isso, se justificam como elementos morfossintáticos 
aos estarem relacionados à forma de realização do sinal e às regras sintáticas 
envolvidas. De acordo com Ferreira Brito: 
Um classificador (Cl) é uma forma que estabelece um tipo de 
concordância em uma língua. Na LIBRAS, os classificadores são 
formas representadas por configurações de mão que, substituindo o 
nome que as precedem, podem vir junto de verbos de movimento e 
de localização para classificar o sujeito ou o objeto que está ligado à 
ação do verbo.
Portanto, os classificadores na LIBRAS são marcadores de concordância 
de gênero para pessoas, animais ou coisas. São muito importantes, 
pois ajudam a construir sua estrutura sintática através de recursos 
corporais que possibilitam relações gramaticais altamente abstratas.
Muitos classificadores são icônicos em seu significado pela semelhança 
entre a sua forma ou tamanho do objeto a ser referido. Às vezes, o 
Cl refere-se ao objeto ou ser como um todo, outras refere-se apenas 
a uma parte ou característica do ser (FERREIRA BRITO, 1995 apud 
STROBEL; FERNANDES, 2008, p. 27). 
DICAS
O livro Por uma gramática de língua de sinais, de Ferreira Brito, editora Tempo 
Brasileiro, última edição em 2010, é utilizado como referência em quase todos os trabalhos 
consultados devido à importância como marco dos estudos sobre a língua de sinais 
brasileira. Contudo, as suas edições estão completamente esgotadas e sempre indisponíveis 
nas bibliotecas consultadas, assim, não foi citado diretamente neste livrode estudos. Caso 
você se depare com algum exemplar do livro, recomendamos que o adquira sem hesitação 
devido à importância para a pesquisa em língua de sinais.
Assim, os classificadores são elementos que podem interferir na elaboração 
das diferentes sentenças em Libras através de sua contribuição morfossintática 
para a sentença. Também são elementos que sustentam a referencialidade das 
relações sintáticas entre diferentes elementos, fazendo parte dos elementos que 
evitam a ambiguidade das sentenças em Libras.
Para exemplificar a afirmação, será analisado um exemplo de quando 
estudamos ambiguidade estrutural na Unidade 1. Observaremos a estrutura de 
referencialidade pronominal em Libras, as características do uso de um verbo 
manual e de classificadores e como evitar a ambiguidade estrutural das sentenças.
TÓPICO 2 | EFEITOS ESTRUTURAIS DOS VERBOS E CLASSIFICADORES
193
(10) O bêbado bateu na velha de bengala.
(10a) O bêbado com a bengala bateu na velha.
FIGURA 34 – SENTENÇA (10A) EM LIBRAS
FONTE: A autora.
A sentença reelaborada em LP seria sinalizada com o uso de um 
classificador representando o objeto utilizado pelo sujeito [BÊBADO] para bater 
na [VELHA]. Ocupa a posição de objeto do verbo [BATER] e, assim, o classificador 
não modificou a forma do sinal do verbo [BATER] e incorporou o objeto que 
realiza a ação do verbo ao sinal do verbo. 
Ainda, a alocação dos pontos no espaço delimita que a [BENGALA] 
pertence ao bêbado, pois ela está alocada junto a ele no ponto [a] e não junto à 
[VELHA] no ponto [b]. Na realização do verbo, a direcionalidade do olhar e do 
movimento do verbo demonstra a concordância verbal e o classificador delimita 
que o objeto pertencente ao [BÊBADO] foi utilizado para realizar a ação expressa 
por ele.
(10b) O bêbado bateu na velha que tinha uma bengala.
[a]
[b]
BÊBADO-BENGALAa VELHAb <CLa(BENGALA)-BATER-VELHAb>cl
194
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
FIGURA 35 – SENTENÇA 10B EM LIBRAS
BÊBADOa VELHA-BENGALAb aBATERb
[a]
[b]
FONTE : A autora
Na sentença é feito o uso do direcionamento do olhar e da movimentação 
do corpo para relacionar os elementos referenciados nos pontos [a] e [b] do 
espaço. É preciso estabelecer quem teve o papel temático de agente e quem teve o 
papel temático de paciente. Em relação à [BENGALA], o sinal foi realizado junto 
ao personagem [VELHA] e marcado junto com ele na posição [b], não sendo 
possível a confusão entre quem estava carregando uma [BENGALA], tendo em 
vista que o bêbado já havia sido referenciado no ponto [a].
Assim, podemos concluir que os classificadores fazem parte do grupo de 
elementos característicos das modalidades das línguas de sinais que evitam a 
ambiguidade estrutural, assim como as referencialidades pronominais, a alocação 
espacial e a direção do corpo e do olhar.
195
Neste tópico, você aprendeu que:
• A concordância verbal, na língua de sinais, é obrigatória com o objeto. Em 
relação ao sujeito, ela pode ser realizada ou não, dependendo da relação deste 
com o verbo.
 
• A concordância verbal como elemento sintático é justificada por Quadros e 
Karnopp (2004) a partir de quatro pontos: forma diferente entre a primeira 
e as demais pessoas; marcação de número em alguns verbos, existência de 
verbos auxiliares e concordância estruturalmente marcada através da seleção 
argumental feita pelos verbos.
• A concordância em Libras dependerá do tipo de verbo e de elementos manuais 
e não manuais para se estabelecer de modo adequado.
• Os verbos sem concordância são aqueles que precisam de argumentos 
explícitos porque não têm marcas dos argumentos na sua realização.
• Na estruturação de sentenças negativas com verbos sem concordância, será 
necessário o uso dos verbos auxiliares.
• Os verbos com concordância são aqueles associados a marcas não manuais e 
direcionais obrigatórias que estabelecem a sua relação com os argumentos e 
papéis temáticos.
• Os verbos auxiliares são expressões apenas para concordância estabelecida 
através de movimentação entre dois pontos do espaço de sinalização 
previamente associados a referentes que ocuparão as funções sintáticas de 
sujeito e objeto.
• Os verbos “manuais” são aqueles em que a configuração de mão sofrerá 
alterações com o uso de um classificador para incorporar elementos definidos 
anteriormente na sentença.
• Os verbos “manuais” alteram as maneiras como as sentenças se estruturam 
nos níveis sintáticos, semânticos e morfológicos, dando origem a predicados 
complexos.
• Os classificadores são elementos morfossintáticos que justapõem informações 
para estabelecer a concordância nas sentenças em Libras.
• Os classificadores são elementos que influenciam para que as ambiguidades 
estruturais presentes na LP não aconteçam nas sentenças em Libras.
RESUMO DO TÓPICO 2
196
AUTOATIVIDADE
1 Leia as afirmações a seguir:
I- Os verbos sem concordância são mais livres do que os verbos com 
concordância em relação à estrutura da sentença.
II- Os verbos “manuais” são aqueles que apresentam uma configuração de 
mão verbal. Agregam elementos sinalizados anteriormente.
III- Os verbos com concordância podem formar frases negativas sem o uso de 
verbos auxiliares.
IV- Os verbos auxiliares são apenas elementos de concordância verbal, mas 
podem ser sinalizados sem um verbo principal.
V- Os verbos com concordância têm uma estruturação sentencial mais livre 
devido as suas peculiaridades sintáticas.
Quais delas estão corretas quanto à concordância estabelecida pelos verbos em 
Libras?
a) ( ) I, II e III.
b) ( ) II, III e IV.
c) ( ) II, III e V.
d) ( ) III, IV e V.
e) ( ) I, III e V.
2 Por que os classificadores são elementos morfossintáticos que influenciam 
na estruturação das sentenças?
197
TÓPICO 3
ESTRUTURAS SINTAGMÁTICAS EM LIBRAS
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Nas unidades anteriores deste livro foram estudados aspectos sobre 
o modo como a Teoria Gerativa compreende o estudo da sintaxe das línguas 
naturais, como a LP e a Libras, a partir da teoria dos princípios universais e dos 
parâmetros. 
Os valores positivos ou negativos, para os parâmetros, são característicos 
de cada uma das línguas naturais, como o parâmetro do sujeito nulo (positivo 
em LP, em que o sujeito não aparece na sentença e fica agregado às informações 
verbais) e o pro-drop (positivo em Libras, em que tanto o sujeito quanto o objeto 
são substituídos pela direcionalidade do movimento).
Ainda, estudamos que a teoria classifica os núcleos lexicais de acordo 
com suas características mais nominais ou mais verbais. Também vimos que, na 
compreensão dos autores estudados, os advérbios seriam inseridos como uma 
classe especial de adjetivos:
QUADRO 1 – TRAÇOS DOS NÚCLEOS LEXICAIS
[+ NOME] [- NOME]
[- VERBO] NOME PREPOSIÇÃO
[+ VERBO]
ADJETIVO
(ADVÉRBIO)
VERBO
FONTE: Adaptado de Mioto, Silva e Vasconcellos (2007, p. 53)
Sobre os núcleos dos constituintes, ainda estudamos os núcleos funcionais 
ou gramaticais, que são aqueles que estabelecem as relações de concordância 
entre os itens lexicais, sendo parte dos núcleos funcionais a flexão verbal (I), o 
complementizador (C) e os determinantes (D).
Também vimos como as delimitações dos constituintes/sintagmas são 
feitas de acordo com a seleção que o núcleo lexical faz de seus argumentos para o 
preenchimento dos papéis temáticos e para a atribuição das funções sintáticas. 
Observamos também que os sintagmas são organizados hierarquicamente, e que 
os desenhos das estruturas arbóreas pretendem demonstrar graficamente como 
as estruturas sintagmáticas se organizam nas sentenças.
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
198
Após os estudos sobre a Teoria Gerativa, estudamos que os constituintes 
se movem nas sentenças de acordo com requisitos sintáticos que restringem a sua 
movimentação porque precisam respeitar as relações sintagmáticas do interior 
dos sintagmas. Então, vimos que as sentenças têm uma estrutura de formação 
básica SVO, em LP e Libras. 
Quanto às alterações na ordem básica das sentenças em Libras,foram 
elencados os elementos que podem causar alterações, sendo eles: marcas não 
manuais, de posição do objeto, uso de advérbios de frequência, topicalização, 
foco, verbos sem concordância, priorização do objeto, omissão de sujeito e objeto 
e foco contrastivo.
Nesta Unidade 3, foi dada a continuidade ao estudo das peculiaridades 
da modalidade visuoespacial das línguas de sinais e da ordem da sentença em 
relação às traduções, com discussões sobre o processo de pidgin, que dá origem 
à língua que surge do contato entre os usuários de duas línguas diferentes em 
contextos de fronteira, sendo o português sinalizado encaixado no contexto 
porque utiliza a estrutura sintática da LP e o conjunto com os sinais da Libras. 
Também foram apresentadas discussões sobre os aplicativos de tradução 
automática e seu uso como tecnologias assistivas e classificação como inovações 
disruprtivas porque promovem a melhora na interação entre duas comunidades 
linguísticas diferentes.
Foram estudadas as relações sintáticas espaciais, o uso dos pronomes, 
a marcação da referencialidade, a maneira como a modalidade visuoespacial 
influencia na diminuição das possibilidades de ambiguidade estrutural e as 
marcas não manuais de afetividade e aquelas que apresentam valor gramatical 
para a construção das sentenças. 
Na sequência, foi feito o estudo dos efeitos estruturais dos diferentes 
tipos de verbo para a formação da estrutura sentencial em Libras, como estudo 
dos verbos sem concordância, com concordância, auxiliares e “manuais”, tendo 
em vista que o uso de cada um dos verbos implica em organizações sentenciais 
diversas na língua brasileira de sinais. Aproveitando o gancho feito a partir da 
ligação entre verbos “manuais” e os classificadores, foi apresentada a compreensão 
dos classificadores como elementos morfossintáticos de concordância na Libras. 
O Tópico 3 se estabelece a partir das discussões anteriormente feitas 
neste livro de estudos para apresentar algumas das características específicas das 
construções sintagmáticas, ou seja, da organização, delimitação e compreensão 
dos constituintes em Libras. Ainda, prepara as discussões que encerrarão 
este livro de estudos sobre a formação das sentenças complexas de negação, 
interrogação, tópico e foco, acrescidas de aspectos pontuais sobre coesão nas 
estruturas narrativas em Libras.
TÓPICO 3 | ESTRUTURAS SINTAGMÁTICAS EM LIBRAS
199
Para as discussões do Tópico 3, será apresentada a visão da Teoria 
Gerativa aplicada aos estudos linguísticos dos sintagmas em LIBRAS, encontrada 
na dissertação de Moraes (2013), em que a autora estuda as relações sintáticas em 
Libras na perspectiva gerativista a partir de um amplo estudo teórico pautado em 
exemplos retirados da transcrição e adaptação de sentenças presentes em vídeos 
produzidos para o público surdo, selecionados e transcritos por ela.
DICAS
Caso você tenha interesse em estudar a sintaxe da Libras na perspectiva 
gerativista de maneira detalhada, recomendamos a leitura na íntegra da dissertação de Luciana 
Moraes (UFRGS, 2013), intitulada A gramática da língua brasileira de sinais: aspectos sintáticos. 
Disponível em: <https://lume.ufrgs.br/handle/10183/88341>. 
2 SINTAGMA NOMINAL
O sintagma nominal é formado pelas relações estabelecidas em torno dos 
núcleos lexicais nominais, compostos por palavras/sinais referentes aos nomes 
e pronomes. Assim, a posição de núcleo lexical dos sintagmas nominais será 
ocupada por um sinal pertencente a uma das classes de palavras. 
As classes de palavras correspondem à classificação morfológica das palavras/
sinais. Em relação à sintaxe, a Teoria Gerativa classifica de acordo com as funções sintáticas 
que as palavras/sinais assumem, colocando como categorias lexicais apenas aquelas que 
sempre apresentam o papel de núcleo lexical dos sintagmas.
IMPORTANTE
Os nomes sempre estarão no papel de núcleo lexical nas sentenças, tendo 
em vista que fazem parte das palavras/sinais lexicais. Já o pronome será núcleo 
lexical quando estiver no lugar de um nome e o sintagma se estabelecerá a partir 
dele. Quando estiverem em posição de acompanhar um nome, os pronomes estarão 
em uma categoria funcional de determinante. Por exemplo: o pronome será um 
núcleo funcional quando utilizado na referência espacial para estabelecimento 
de sujeito de um verbo e será um determinante quando acompanhar um nome 
estabelecendo uma noção de posse, como no sinal do pronome possessivo “MEU 
(mão aberta encostando no peito do emissor)” (MORAES, 2013, p. 67).
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
200
A representação dos sinais na transcrição escrita em LP será sempre feita em 
caixa-alta.
IMPORTANTE
A função sintática dos sintagmas nominais é a de ser argumento dos 
verbos, pois ocuparão os papéis temáticos e as funções sintáticas projetadas pelos 
núcleos lexicais verbais. Aparecem encaixados dentro da projeção arbórea de 
outros sintagmas quando estiverem em uma posição superior de estruturação 
arbórea.
É interessante lembrarmos que a elaboração das sentenças se dá a partir 
das relações hierarquicamente construídas pelas projeções de cada sintagma. 
Dito de outro modo, cada sintagma organiza-se em torno de um núcleo lexical e 
apresenta espaços sintáticos que precisam ser preenchidos por outros sintagmas 
que se vinculam. É preciso acontecer assim até que a situação expressa pela 
sentença esteja com todas relações sintáticas estabelecidas conforme os parâmetros 
gramaticais da língua utilizada e, por consequência, com seu sentido semântico 
também finalizado.
Para que os sintagmas nominais sejam formados de modo adequado é 
necessário que se realizem os processos de concordância nominal, ou seja, os 
processos de ajuste funcional entre as palavras e sinais. De acordo com Moraes 
(2013), as flexões de gênero e número dos nomes em Libras se darão do seguinte 
modo:
Em Libras, os	nomes	não	apresentam	a	flexão	de	gênero e, de acordo 
com Moraes (2013), os nomes podem apresentar sinais diferentes para gêneros 
diferentes de modo não flexional, como em PAI e MÃE, no uso do dialeto gaúcho 
da Libras. Ainda, podem ser formadas composições de sinais para a flexão de 
gênero com a utilização dos sinais HOMEM ou MULHER junto aos nomes. 
Assim, o sintagma nominal, quando for organizado a partir de um núcleo lexical 
flexionado em gênero, será composto a partir de uma regra geral. A “formação 
de [NOMES] compostos para marcarem gênero” se dará a partir do esquema 
apresentado na Figura 37. 
TÓPICO 3 | ESTRUTURAS SINTAGMÁTICAS EM LIBRAS
201
FIGURA 36 – SINAIS NÃO FLEXIONAIS DE GÊNERO – MÃE E PAI – DIALETO GAÚCHO
FONTE: Capovilla et al. (2017, p. 1738, 2070)
FIGURA 37 – COMPOSIÇÃO DA FLEXÃO DE GÊNERO
N 
composto
 = [N 
gênero
] + [N 
animado
]
ou
N 
composto
 = [N 
animado
] + [N 
gênero
]
NOME= N
N 
gênero
 é = MULHER - feminino / HOMEM -masculino
Por exemplo: MULHER + IRMÃO = IRMÃ (feminino)
FONTE: Adaptado de Moraes (2013, p. 63)
Em relação à concordância nominal estabelecida pela flexão de número, 
Moraes (2013) coloca que esta pode ter valores singulares, duais ou plurais. O 
singular é feito através da realização básica do sinal; o dual, com a repetição 
do sinal, com a realização deste em semicírculo entre os referentes ou pela 
combinação sintática do numeral DOIS anteposto ao NOME; a flexão de plural é 
feita com a repetição do sinal três vezes ou mais, pelo movimento semicircular ou 
por elementos que agreguem uma ideia de plural ao NOME.
A concordância estabelecida através dos pronomes pessoais já foi 
discutida anteriormente na seção que tratou especificamente das referências 
pronominais no espaço de sinalização. Em relação à concordância nominal, é 
importante relembrarmos que os pronomes pessoais são marcados no espaço 
através de apontação ostensiva. 
Ainda, as movimentações não manuais de direcionamento do olhar, da 
cabeça e do corpo são importantes para o estabelecimento com os referentes, 
sejam presentes ou ausentes. Sobre os pronomes demonstrativos,Moraes (2013) 
coloca que eles têm sinal semelhante aos advérbios de lugar e que o contexto de 
uso irá delimitar as diferenças entre EST@/AQUI, ESS@/AÍ e AQUELE/LÁ e são 
realizados através de apontação. 
A autora destaca que Strobel e Fernandes (1998) delimitam, através da 
distância do emissor, a apontação e o olhar para a diferença de uso entre os 
três pares de pronomes/advérbios. Na relação de concordância nominal com os 
pronomes possessivos, são destacados os sinais específicos como “SEU/DELE 
(mão em “P” direcionada para uma terceira pessoa)” (MORAES, 2013, p. 68).
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
202
O sinal de @ passará a ser utilizado nos contextos em que o gênero do referente 
não estiver estabelecido.
IMPORTANTE
Segundo Moraes (2013), os determinantes seriam, em LP, os artigos 
definidos (a, o, as, os), os artigos indefinidos (uma, umas, um, uns), os 
demonstrativos e os indefinidos. Ela apresenta que alguns autores não reconhecem 
os determinantes nas línguas de sinais porque não existiriam sinais específicos 
nem seriam inseridos manualmente. Contudo, a autora coloca que, em Libras, 
os determinantes não serão necessariamente utilizados nas sentenças. Mesmo 
assim, os nomes próprios sempre poderão ser compreendidos como tendo 
determinantes definidos. 
Os determinantes podem ser usados em modo definido a partir de uma 
apontação breve realizada antes do NOME. Em (11), a apontação antes de 
GAROTO estabelece uma relação de referência e definição demonstrando qual 
das duas crianças entrou primeiro na sala. Ainda, pode-se depreender, pelo 
contexto de enunciação da sentença, caso não for usado este modo de apontação, 
a definição	 ou	 indefinição do núcleo lexical. Em (12), o contexto define que, 
dentre os vários alunos irritados, foi o GAROTO que reclamou muito.
(11) DUAS CRIANÇAS ENTRAR SALA. IXa GAROTOa ENTRAR PRIMEIRO.
Duas crianças entraram na sala. O garoto entrou primeiro.
(12) MUITOS ALUNOS IRRITADOS. GAROTO RECLAMAR MUITO.
Muitos alunos estavam insatisfeitos. Um garoto reclamou muito.
IX é a transcrição para um ponto estabelecido espacialmente.
IMPORTANTE
Caso a apontação seja feita após o NOME, ela estará sendo utilizada 
em uma função demonstrativa que restringe a referência feita agregando uma 
noção adverbial de localização (MORAES, 2013). Na sentença (13), a apontação 
realizada após GAROTO agrega uma noção adverbial de localização sobre onde 
está o GAROTO que gosta de ler. Então, é um determinante do nome GAROTO.
FONTE: Adaptado de Moraes (2013, p.68)
TÓPICO 3 | ESTRUTURAS SINTAGMÁTICAS EM LIBRAS
203
(13) GAROTOa IXa adv GOSTAR LER
O/Um garoto ali/lá gosta de ler.
Os determinantes	definidos por apontação ostensiva também podem ser 
marcações de pronomes demonstrativos quando aparecem antes de um NOME 
a partir do contexto de enunciação. Na sentença (14), a apontação realizada antes 
de BOLSA demonstra para qual bolsa está sendo feita a referência:
(14) EST@ BOLSA MEU
Esta bolsa é minha.
Em relação aos desenhos dos determinantes nas projeções arbóreas, 
Moraes (2013) coloca que o DP (sintagma determinante) é projeção máxima do 
NP (sintagma nominal), ou seja, o sintagma nominal está inserido como uma 
projeção do sintagma determinante. 
De acordo com Mioto (2009, p. 29), no esquema X-barra, utilizado 
pela Teoria Gerativa para o desenho das árvores que representam a estrutura 
sintagmática das sentenças, “o determinante D sempre tem um NP como 
complemento porque é sobre um nome que D opera. O que é determinado por D 
é sempre um NP, quer D seja realizado como o, um, este ou θ [...]”. Na figura a 
seguir está representada a estrutura básica do DP apresentada por Mioto (2009). 
O NP está no papel de Compl do Determinante:
FIGURA 38 – ESTRURA BÁSICA DO DP
DP
NP
D'
D
FONTE: Mioto (2009, p. 29)
É apresentada a seguir uma legenda que foi adaptada de Moraes (2013, 
P. 63-71) e sintetiza os rótulos utilizados na estruturação arbórea a partir do 
esquema X-barra.
FONTE: Adaptado de Moraes (2013, p.68)
FONTE: Adaptado de Moraes (2013, p. 69)
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
204
IP = Inflectional Phrase (corresponde à sentença em nível funcional, ou seja, as 
regras sintáticas de flexão verbal, S).
CP = posição intermediária da estrutura na sentença.
INFL: nível intermediário funcional da sentença em que aparece a flexão 
verbal.
VP = Verb Phrase (corresponde ao sintagma verbal, SV).
NP = Noun Phrase (corresponde à parte do sintagma determinante, SN). 
DP = Determiner Phrase (sintagma determinante).
AGR = Agreement (lugar da concordância verbal).
DP → (Specificador) + D’.
D’ → D + (NP).
NP → (Spec) + N’.
N’ → (Adjunto) + N’. 
N' → N’ + (Adjunto).
N’ → N + (Complemento). 
Adjunto = AP (Adjectival Phrase).
Adjunto = AP ou PP (Prepositional Phrase).
Complemento = PP.
Alguns dos rótulos foram inicialmente apresentados na Unidade 2, ainda com 
seus nomes menos específicos. Moraes (2013, p. 63) destaca a seguinte correspondência:
(1) S = Sentença; S’ = COMP + S; VP = Sintagma Verbal; NP = Sintagma Nominal etc.
(2) IP = Inflectional Phrase (corresponde ao S); CP = Complementizer Phrase (corresponde ao 
S’); VP = Verb Phrase (corresponde ao VP); NP = Noun Phrase (correponde, em parte, ao NP); 
DP = Determiner Phrase (também corresponde, em parte, ao NP etc. 
IMPORTANTE
Para ilustrar o uso da proposta teórica em Libras, Moraes (2013) apresenta 
a sentença (15), acompanhada da estrutura arbórea respectiva (figura a seguir). 
Inicialmente, a autora coloca que a sentença apresenta um verbo direcional 
flexionado e está contextualizada em uma conversação entre duas pessoas. Uma 
delas está contanto uma piada envolvendo um português e um surdo. 
Ainda, o ponto espacial referente ao PORTUGUÊS foi alocado no ponto 
[a] do espaço de sinalização, sendo referido na conversa a partir dos parâmetros 
direcionais de concordância verbal, ou seja, sem o uso de pronomes. O sinal 
referente ao PORTUGUÊS está colocado entre parênteses na transcrição e os 
números escritos para a inserção das personagens na história.
TÓPICO 3 | ESTRUTURAS SINTAGMÁTICAS EM LIBRAS
205
(15) (1PORTUGUÊSa) aVERb 2SURDOb
O português viu o surdo.
FIGURA 39 – ESTRUTURA ARBÓREA
IP
DP
1
INFL
[AGR
1
:a] [AGR
2
:b]
VER D
DP2
VP
NP
SURDO
V'
V
D
I'
def
def
FONTE: Adaptado de Moraes (2013, p. 75)
Sobre a estrutura, podemos fazer as seguintes afirmações, lembrando que 
a leitura das árvores é feita de (E ← D e B ↑ C):
• O nível intermediário D é composto por NP (sintagma nominal, SURDO) + um 
determinante θ e faz parte da projeção de DP2.
• O nível intermediário verbal V’ é composto por DP2 + V (verbo VER sem 
conjugação) e faz parte da projeção do VP (sintagma verbal).
• O nível funcional das flexões verbais INFL é composto pela flexão verbal Agr1 
+ Agr2 (movimento direcional que atribui à flexão verbal as funções sintáticas 
de sujeito (PORTUGUÊS) e objeto (SURDO). 
• O nível funcional I’ projeta (é composto por) VP + INFL.
• O DP1 projeta um D que é preenchido por um elemento nulo na estrutura 
arbórea porque PORTUGUÊS não é sinalizado. 
• Finalmente, a sentença em Libras (15) flexionada, IP, é composta pela projeção 
DP1 e I’, ou seja, pela projeção do determinante nulo de PORTUGUÊS + o 
sintagma flexional verbal.
Com a análise, podemos ver como a estrutura arbórea da sentença (15) 
demonstrada com os determinantes e pronomes, mesmo que nulos, pode ter 
traços [+definidos] (MORAES, 2013). Dito de outro modo, em DP1, o pronome de 
terceira pessoa ELE, referente ao PORTUGUÊS, não é sinalizado, sendo anulado 
SENTENÇA (15) (PORTUGUÊSa) aVERb SURDOb
FONTE: Adaptado de Moraes (2013, p. 72)
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
206
pela direcionalidade do movimento. Mesmo assim, deixa rastro na estrutura 
arbórea porque é possível a definição a partir da direção do movimento do verbo. 
Já em DP2, temos um determinante também nulo, por não ter sinalização, 
mas que deixa rastro na estrutura arbórea, pois pode ser retomado pelo contexto, 
sendo um determinante nulo com traço[+definido]. A personagem [SURDO] 
está sendo inserida no contexto narrativo e não poderá ser um surdo qualquer 
indefinido. Logo, é mantido um traço [+definido] para o determinante. 
Ainda sobre os sintagmas nominais, os complementos e adjuntos são 
posições sintáticas que modificam um NOME, sendo que os complementos são 
exigidos pelos núcleos lexicais. Os adjuntos não apresentam uma ligação de 
exigência e, então, podem ficar mais distantes dos núcleos na projeção. Tanto os 
complementos como adjuntos ocorrem na projeção de N, ou seja, NPs (MORAES, 
2013). 
MEDO, por exemplo, é um nome que exige complemento, pois a informação 
sobre de que se tem medo é projetada por MEDO de modo que a função sintática 
de complemento seja preenchida. Já os adjuntos correspondem às informações 
adjetivas não exigidas pelo núcleo lexical, por exemplo, em [HOMEM FEIO], 
o adjetivo FEIO não é exigido pelo NOME. Assim, está na função sintática de 
adjunto e não de completo.
 
Utilizamos um exemplo de Mioto (2009) para demonstrar a organização 
básica dos complementos (Figura 40) e um exemplo adaptado de Moraes (2013) 
para demonstrar a posição dos adjuntos (Figura 41) na estrutura arbórea:
FIGURA 40 – ESTRUTURA ARBÓREA
N
medo
N'
PP
de cobra
NP
FONTE: Mioto (2009, p. 63) 
COMPLEMENTO
MEDO [DE COBRA]
TÓPICO 3 | ESTRUTURAS SINTAGMÁTICAS EM LIBRAS
207
FIGURA 41 – ESTRUTURA ARBÓREA
IX
det
NP
AP
PEIXE
N'
N'
N ENORME
FONTE: Moraes (2013, p. 76)
3 SINTAGMA PREPOSICIONAL
As preposições (prep.) em Libras são em menor número do que em LP. 
Somente algumas têm sinal correspondente e várias são incorporadas pelas 
informações dos verbos com concordância. A preposição de, por exemplo, 
indicando posse, não tem sinal correspondente, e a preposição para tem sinal 
correspondente, mas é pouco utilizada (MORAES, 2013).
Os sintagmas preposicionais são aqueles em que as preposições são 
necessárias para a concordância nominal ou verbal. Em Libras podem ser projetados 
por alguns verbos, por classificadores ou pelo sinal correspondente a preposições, 
quando estas são sinalizadas (MORAES, 2013). Assim, as relações que as preposições 
estabelecem nem sempre são sinalizadas, ou seja, ficam subentendidas. 
Em (16), Moraes (2013) analisa que a direção do movimento do verbo 
seleciona os argumentos, pois o verbo AVISAR é um verbo direcional em que o 
movimento do verbo estabelece as relações sintáticas entre os pontos do espaço 
de sinalização. “[...] O elemento de significado correspondente a uma preposição 
em português e aparece “incorporado” ao lexema verbal, sendo expresso por 
meio do movimento do sinal verbal” (MORAES, 2013, p. 83).
(16) aAVISARb
Eu avisei (algo) para ele.
Algumas noções de preposição estão relacionadas ao uso de classificadores 
verbais. O verbo CORTAR, por exemplo, apresenta uma relação de instrumento 
que faz com que o objeto utilizado para fazer a ação expressa altere a forma do 
sinal, como nos exemplos (17) e (18), em que a ideia da preposição COM, mesmo 
que não sinalizada, faz parte da relação estabelecida pelo classificador:
[IXa DET PEIXEa ENORME]
FONTE: Adaptado de Moraes (2013, p. 82)
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
208
(17) [CORTAR (COM) FACA] CL
(18) [CORTAR (COM) TESOURA] CL
As relações direcionais e nocionais atribuem uma ideia preposicional que 
fica subentendida na realização do verbo. Logo, não aparece na estrutura arbórea 
em um lugar específico. De acordo com Moraes (2013), as preposições ATÉ, COM 
e SEM são as preposições que têm sinal correspondente em Libras e são de uso 
frequente nas conversações. Na figura a seguir, aparece a estrutura arbórea da 
sentença (19). Nela, pode ser vista a projeção do sintagma preposicionado PP.
FIGURA 42 – (19) EU [SEM DINHEIRO]
Eu estou sem dinheiro.
P
P'
NP
SEM DINHEIRO
PP
FONTE: Moraes (2013, p. 85)
O sintagma preposicionado PP tem P’ em sua projeção intermediária e 
P’ é composto pela preposição (P) SEM + Sintagma Nominal (NP) DINHEIRO. 
Assim, os sintagmas preposicionais são formados por preposição + SN.
4 SINTAGMA ADVERBIAL
Em Libras, a morfologia dos verbos permanece sem alteração de acordo com 
os tempos verbais, como acontece em LP. Assim, a noção adverbial é essencial em 
LIBRAS para a marcação do tempo nas sentenças. As informações adverbiais podem 
ser inseridas através de sinais específicos ou alterações na intensidade do sinal. 
Os advérbios de intensidade alteram morfologicamente o modo como 
o sinal é realizado pelo sinalizante. Por exemplo, ao fazer TRABALHAR, o 
sinalizante pode realizar a movimentação do sinal de modo rápido para indicar 
que a intensidade foi realizada. 
Quanto ao posicionamento na sentença, os advérbios podem ser sinalizados 
no início ou no final, mas nunca interromperão a relação estabelecida entre o verbo 
e objeto. O advérbio de tempo aparece mais frequentemente na posição inicial das 
sentenças em Libras e os advérbios de frequência aparecem na esquerda ou na 
direita do sintagma verbal. Nas sentenças em que os advérbios são utilizados, a 
TÓPICO 3 | ESTRUTURAS SINTAGMÁTICAS EM LIBRAS
209
gramaticalidade está vinculada à existência de marcas não manuais. 
Para observar como são as estruturas arbóreas com sintagmas adverbiais 
(na posição CP), a seguir são colocadas as árvores correspondentes às sentenças 
(20, Figura 43) (21, Figura 44):
FIGURA 43 (20) AMANHÃ EU IR NA PREFEITURA
NP VP
AdvP
AGORA
TRABALHAREU
CP
IP
AMANHÃ
NP
NPV
V'
VP
AdvP
PREFEITURA
EU
CP
CP
IP
IR
FONTE: Moraes (2013, p. 90)
FIGURA 44 – (21) EU TRABALHAR AGORA
Eu trabalho agora.
FONTE: Moraes (2013, p. 90)
Observe que a informação agregada à sentença pelos advérbios AMANHÃ 
e AGORA se projeta sobre toda ela. Assim, o CP está na posição mais alta da 
estrutura arbórea e todos os demais sintagmas que constituem a sentença se 
desenvolvem. Veja também que a posição na esquerda ou na direita da árvore 
está vinculada à posição inicial ou final em que os advérbios foram utilizados na 
sentença.
Fazendo a leitura da árvore (20), temos que:
• NP(PREFEITURA) está no mesmo nível que V (IR, não conjugado) e ambos são 
projetados pelo nível intermediário V’.
UNIDADE 3 | SINTAXE DA LIBRAS
210
• V’ é projetado por VP (sintagma verbal).
• O VP + o NP (pronome EU que traz a informação quanto à flexão verbal) 
formam a sentença flexionada IP.
• IP está dentro de um CP.
• CP projeta um CP intermediário e um AdvP (realização do sintagma adverbial).
A sentença (20) é analisada da seguinte maneira: o CP (sintagma adverbial) 
está no nível mais alto da árvore porque influencia nas relações de sentido 
estabelecidas por toda a sentença (IP), tendo em vista que AMANHÃ determina 
o tempo em que a ação do verbo acontecerá. 
A realização do CP está na esquerda da árvore, porque corresponde à 
posição inicial da sentença. O CP determina as relações que o sintagma verbal (VP) 
estabelece com seus argumentos. Os argumentos do verbo são dois sintagmas 
nominais (NP): o pronome EU e o nome PREFEITURA, um Spec e um Comp. 
Ainda, a flexão da sentença é feita também a partir de EU, pois a concordância do 
verbo se estabelecerá com o pronome.
Em (21), o advérbio AGORA altera a sentença como um todo, pois delimita 
que a ação expressa pelo verbo TRABALHAR está acontecendo no momento em 
que a sentença é sinalizada. O verbo TRABALHAR é um verbo que seleciona 
apenas um Spec na posição de sujeito, e não Comp. A flexão verbal da sentença é 
feita a partir do pronome EU na função de sujeito.
Assim, as árvores das Figuras 43 e 44 demonstram como os sintagmas 
adverbiais (posição CP) apresentados insidem sobre toda a sentença quando 
indicam tempo, comprovando o uso da posição CP para determinação da 
informação de tempo verbal ser acrescida à sentença.
5 SINTAGMA ADJETIVAL
Os sintagmas adjetivais (AP/PP) qualificam os nomes que acompanham 
e normalmente remetem à imagem que querem atribuir ao nome através da 
iconicidade do sinal. Quanto ao uso nas sentenças em Libras, primeiro são 
estabelecidos ossubstantivos e, após, é feita a qualificação através do adjetivo. 
O sintagma adjetival, na estrutura arbórea, é junto ao NP. Pode ser utilizado 
na função de complemento (preposicionado-PP) ou adjunto (AP) do NP. Assim, 
os sintagmas adjetivais acompanham os substantivos que irão modificar e podem 
ser preposicionados (quando na posição de complemento) ou não. Na Figura 41, 
colocada anteriormente, aparece um exemplo de adjetivo encaixado na estrutura 
do NP: [IXa DET PEIXEa ENORME]. No exemplo, PEIXE recebe uma qualificação 
quanto ao seu tamanho através do adjetivo ENORME.
TÓPICO 3 | ESTRUTURAS SINTAGMÁTICAS EM LIBRAS
211
6 SINTAGMA VERBAL
Nos tópicos anteriores já estudamos as peculiaridades da seleção 
argumental feita pelos verbos. Os sintagmas verbais são formados a partir dos 
verbos e suas seleções argumentais, logo, partem da quantidade e modo de 
seleção dos argumentos no espaço de sinalização. Os verbos em Libras podem 
ser sem concordância, verbos com concordância e verbos espaciais ou “manuais”. 
Assim, os sintagmas verbais serão formados a partir de determinados verbos.
As sentenças são formadas a partir das relações estabelecidas vindas das 
relações verbais, como ao estudarmos os sintagmas anteriores dentro da estrutura 
arbórea e na árvore da Figura 39, em que um verbo com concordância formou a 
sentença.
(14) (1PORTUGUÊSa) aVERb 2SURDOb
O português viu o surdo.
DICAS
A história do livro Para sempre Alice, de Lisa Genova (adaptada para o cinema 
em 2015, com Julianne Moore no papel principal), aborda como uma professora de linguística 
vai perdendo, aos poucos, a sua capacidade de comunicação devido ao desenvolvimento 
de Alzheimer precoce. É interessante observar o desenvolvimento da doença e como ela 
vai fazendo com que a professora perca primeiro a percepção do sentido da relação das 
sentenças, das palavras entre si, da estruturação vocabular e, por fim, das próprias palavras. 
É uma história que apresenta uma possibilidade de como se daria a perda da construção da 
linguagem, cabendo em nossa discussão para demonstrar o lugar da construção sintática na 
aprendizagem das línguas naturais, bem como exemplificar o caráter de hierarquização, ou 
seja, “encaixe” do conhecimento do uso das línguas.
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Neste tópico, você aprendeu que:
• Os sintagmas nominais são formados em torno dos nomes e pronomes.
• Os sintagmas nominais funcionam, principalmente, como argumentos dos 
verbos.
• Os nomes em Libras não apresentam flexão de gênero. É necessária a 
composição com os sinais de HOMEM e MULHER para que ela ocorra.
• Os determinantes funcionam de modo peculiar em Libras e servem para 
definir ou indefinir o termo que acompanham ou fazem referência.
• O determinante	 definido é feito por um sinal de apontação antes de um 
NOME. Diferencia-se da referência pronominal por apontação porque ela é 
feita antes de um VERBO.
• O determinante definido ou indefinido deverá ser compreendido a partir 
do contexto de inserção da sentença quando não for feita a apontação do 
determinante definido.
• Se a apontação acontecer depois de um NOME, servirá para localização 
espacial do referente. Assim, terá noção adverbial locativa.
• Os determinantes	 definidos podem ser compreendidos como pronomes 
demonstrativos quando aparecerem antes de um NOME a partir do contexto 
de enunciação.
• Os nomes próprios são acompanhados por determinantes definidos, como em 
LP.
• Os sintagmas nominais estão localizados dentro da projeção dos sintagmas 
determinantes (DP).
• Mesmo que nulos, os pronomes e determinantes deixam rastros na estrutura 
arbórea quando apresentam traços [+definidos].
• Os complementos são exigidos pelos núcleos lexicais e os adjuntos não 
apresentam uma ligação de exigência. Podem ficar mais distantes dos núcleos 
na projeção.
RESUMO DO TÓPICO 3
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• As preposições (prep.) em Libras são em menor número do que as em LP. Nem 
todas têm sinal correspondente e várias são incorporadas pelas informações 
dos verbos com concordância.
• O sintagma preposicional pode ser projetado pela concordância de certos 
verbos, pelos classificadores e pelo uso de algumas preposições em Libras.
• As noções preposicionais não aparecem na estrutura arbórea.
• A projeção do sintagma preposicional engloba uma PREP+SN.
• A noção adverbial é essencial em LIBRAS para a marcação do tempo nos verbos, 
tendo em vista que esta não aparece diretamente vinculada à morfologia dos 
verbos.
• O sintagma adverbial pode ficar no início ou no fim das sentenças.
• O advérbio de tempo aparece mais na posição inicial das sentenças em Libras 
e nunca ficará em uma posição entre o verbo e o objeto.
• Os advérbios de frequência aparecem na esquerda ou na direita do sintagma 
verbal.
• Algumas informações adverbiais, como a de intensidade, podem ser inseridas 
morfologicamente na realização do sinal.
• As sentenças com advérbios têm sua gramaticalidade vinculada à existência de 
marcas não manuais.
• O CP de tempo está em uma posição elevada na estrutura arbórea porque 
incide em toda a sentença.
• Os sintagmas adjetivais acompanham os NOMES qualificados por eles. 
Primeiramente é estabelecido o substantivo e, após, é feita a qualificação 
através do adjetivo.
• Os sintagmas verbais são formados a partir dos verbos e suas seleções 
argumentais. Logo, partem das quantidades e modo de seleção dos argumentos 
no espaço de sinalização.
• Os sintagmas verbais podem ser elaborados a partir de verbos sem 
concordância, verbos com concordância e verbos espaciais ou “manuais”.
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AUTOATIVIDADE
1 Observe a sentença a seguir e sua respectiva árvore:
AGORA HISTÓRIA COMEÇAR
AGORA
NP VP
AdvP
HISTÓRIA COMEÇAR
CP
CP
IP
FONTE: Moraes (2013, p. 89)
a) Faça a leitura da estrutura arbórea montada a partir da sentença.
b) Faça a análise da posição CP (com sintagma adverbial) da estrutura em 
árvore da sentença.
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TÓPICO 4
ESTRUTURAÇÃO DAS SENTENÇAS EM LIBRAS
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Na Unidade 2 deste livro de estudos, vimos que a ordem básica das 
sentenças em Libras é a ordem S-V-O, ou seja, sujeito – verbo – objeto. Também 
vimos as condições para que a ordem básica pudesse ser alterada em construções 
de uso restringido por condições específicas, as ordens OSV (objeto-sujeito-verbo), 
SOV (sujeito-objeto-verbo) e VOS (verbo-objeto-sujeito).
No Tópico 1 desta unidade, estudamos as marcações não manuais de 
afetividade e aquelas que são marcas não manuais com implicação nas relações 
gramaticais das sentenças. As marcas não manuais gramaticais são aquelas 
que estabelecem relações sintáticas (a direção do olhar), destaque/duplicação 
de constituintes (foco e tópico) e elaboração de diferentes tipos de sentenças 
(negativas e interrogativas). De acordo com Arrotéia (2005), apenas as sentenças 
declarativas simples aparecem na estrutura básica SOV. As demais organizações 
ocasionam mudanças na ordem básica e precisam ser evidenciadas através de 
marcas não manuais gramaticais.
Agora, neste Tópico 4, veremos algumas das características das estruturas 
formadas a partir do uso de tópico e foco e também veremos aspectos específicos 
sobre a organização das sentenças negativas e interrogativas. Por fim, serão 
abordadas questões relativas à coesão narrativa em Libras e o modo como são 
feitas as retomadas anafóricas.
2 ESTRUTURAS COM TÓPICO
As estruturas com tópico apresentam as marcações não manuais de 
topicalização e podem ser utilizadas em frases com marcas não manuais de foco, 
negação ou interrogação, de acordo com a sentença. Quando a ideia de tópico é 
colocada nas sentenças, ela faz com que as estruturas sejam alteradas, tendo em 
vista que “puxam” o sinal topicalizado para o início da sentença.
 
De acordo com Quadros e Karnopp (2004, p.148), a alteração estrutural 
ocorre porque “o tópico é o tema do discurso que apresenta uma ênfase especial 
posicionado no início da frase e seguido de comentário a respeito do tema. O 
recurso gramatical é muito utilizado na língua de sinais

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