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EVOLUÇÃO 
AULA 1 
Prof.ª Silmara Terezinha Pires Cordeiro 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
No decorrer desta aula, trataremos dos questionamentos sobre a 
evolução das espécies biológicas. As explicações para esse tema são mutáveis 
e muitas vezes voláteis, por isso nesse passeio seguiremos uma linha temporal 
objetivando reconhecer os pesquisadores e suas contribuições para o 
reconhecimento das variáveis que ajudaram a construir a evolução biológica dos 
seres vivos. 
A ciência possui como uma de suas características a necessidade 
intrínseca de ser reavaliada e revalidada. Novos testes podem levar a novas 
conclusões, e a teoria evolutiva é dinâmica. Nesse sentido, muitos conceitos 
foram revisitados durante esse período histórico e alguns, considerados 
superados, voltaram ao centro das discussões numa nova perspectiva. 
A construção histórica das teorias evolutivas tem muitos personagens e, 
nesse estudo, iremos conhecer alguns deles, como Platão, que desempenhou 
um papel importante como um dos primeiros a discutir que os seres vivos se 
modificavam. Lamarck reviu as ideias de Platão e tentou desvendar as leis da 
natureza que ocasionariam as modificações e o surgimento de novas espécies 
de forma linear. Além de reconhecer a importância desses grandes pensadores, 
passaremos pela construção do darwinismo, conjunto de ideias que teve início 
com Charles Darwin (1809-1882), que revelou suas ideias sobre a evolução 
gradual e a seleção natural como explicação para o surgimento de novas 
espécies. 
Neste estudo discutiremos ainda o neodarwinismo com a inclusão da 
genética de populações e uma proposta de síntese ampliada para a teoria 
evolutiva que contempla áreas da biologia evolutiva que ficaram de fora na 
síntese neodarwiniana. Apesar de manterem alguns conceitos darwinianos, as 
propostas são divergentes e consideramos importante que sejam reconhecidas 
suas semelhanças e diferenças. Assim, a retomada de discussões antigas deve 
ser reconhecida nas ideias atuais. 
TEMA 1 – PRÉ-DARWINISMO 
Na Grécia antiga, já havia discussões sobre o que era chamado de 
fixismo, a ideia de que tudo que existia no planeta Terra fora criado por uma 
divindade, mas o impulso dos filósofos em descrever a natureza pela observação 
 
 
3 
e indução levaram Platão a propor que os seres vivos poderiam transmitir as 
características que adquirissem durante a vida aos seus filhos. Embora 
controversa, atualmente essa explicação foi aceita por alguns estudiosos como 
foi o caso da Jean Baptiste de Lamarck (1744-1829). 
1.1 Jean Baptiste de Lamarck (1744-1829) 
Lamarck, além das características adquiridas, que seriam hereditárias, 
ponderou que órgãos que fossem bastante utilizados poderiam ter seu tamanho 
ampliado, ao passo que os órgãos pouco utilizados seriam atrofiados, podendo 
desaparecer. As leis de Lamarck que ficaram conhecida são as seguintes: a 
transmissão de características adquiridas e o uso ou desuso de órgãos que 
poderia causar aumento ou atrofia destes. Um dos exemplos mais conhecidos 
dessa análise refere-se ao cérebro humano, que aumentou de tamanho, ao 
passo que a mandíbula se reduziu e pode ser observada no documentário fóssil. 
Figura 1 – Exemplo de transmissão de características adquiridas e uso e desuso 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Tatyana Bakul/Shutterstock. 
Durante a vida, um homem praticante de fisiculturismo adquire músculos 
avantajados (o uso leva ao aumento) sendo que essas características poderiam 
ser transmitidas para a filha (exemplo na Figura 1), que nasceria com músculos 
aumentados, igual ao pai. 
 
 
 
 
4 
Figura 2 – A criação do Planeta Terra e de todos os seres vivos de maneira 
imutável, inclusive o homem, num período de uma semana 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Satina/Shutterstock. 
O livro de Lamarck, Philosophie Zoologique, foi publicado em 1809, 
mesmo ano do nascimento de Charles Darwin. Nesse livro, esse autor propôs 
ainda a ideia de que haveria uma tendência ao aumento de complexidade e o 
surgimento de órgãos por necessidade, algo mais tarde conhecido como 
ortogênese. Nesse período, a principal ideia aceita era a de que a Terra foi criada 
de acordo com os relatos bíblicos. 
Essas ideias foram questionadas após novas descobertas que ocorreram 
durante esse período, como a deriva continental discutida por Lyell (1769-1832) 
em seu livro Principles of Geology (1830-1833), segundo o qual existe uma 
proposta de evolução geológica gradual. Já a ideia da imutabilidade dos seres 
vivos foi abalada com as ideias do anatomista Cuvier (1797-1875), que propôs 
que algumas espécies de seres vivos que existiram no passado haviam sido 
extintas. Ele teve essas ideias observando o registro fóssil em estudos de 
anatomia comparada. Embora ele mesmo fosse um fixista, seu pensamento 
influenciou as mudanças de paradigmas e as ideias evolucionistas. 
 
 
 
 
 
5 
1.2 As descobertas de Cuvier (1769-1832) e Lyell (1797-1875) 
A escola de anatomia da qual Georges Cuvier fazia parte realizava 
estudos anatômicos em animais e desenvolveu uma classificação rudimentar 
para o reino animal dividindo-os quatro grupos. Além disso, concluíram que 
algumas espécies de animais já haviam sido extintas, descoberta que não era 
compatível com a proposta de Lamarck, pois, para este, os seres vivos se 
modificavam linearmente formando novas espécies, ou seja, as espécies não se 
extinguiam e sim transformavam-se em outras. 
O livro de geologia publicado por Charles Lyell chamado Princípios de 
geologia trazia a teoria da deriva continental causada pela movimentação das 
placas tectônicas. Segundo essa teoria, existem placas tectônicas na camada 
da Terra chamada de litosfera e essas placas estão em movimento, sendo esse 
o motivo do afastamento dos continentes que em tempos primordiais estiveram 
unidos num grande continente chamado Pangea. Lyell era adepto do fixismo e 
também contrário às ideias evolutivas de Lamarck embora a deriva continental 
fosse compatível com a evolução biológica. 
TEMA 2 – DARWINISMO 
 A compreensão das ideias darwinianas fica mais fácil quando 
conhecemos o contexto histórico no qual foram forjadas. Para começo de 
conversa, falaremos de Charles Darwin, nascido em 1809 e falecido em 1882 
aos 73 anos. Ele pertencia a uma família de médicos por parte do pai, sendo 
herdeiro da fábrica de porcelanas Wedgwood por parte da mãe. Na época, era 
comum o casamento entre primos e com Charles não foi diferente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
Figura 3 – Ilhas Galápagos, 650 milhas a oeste do Equador. As ilhas têm 
abundante vida selvagem. Local das observações de Charles Darwin em 1835, 
contendo animais e representação do navio Beagle. 
Fonte: Steve Allen/Shutterstock. 
Antes de seu casamento, iniciou os estudos em medicina e acabou 
abandonando para seguir carreira de naturalista. Antes disso, formou-se em 
Cambridge e realizou sua viagem a bordo do Beagle, custeado pelo pai, a qual 
durou cerca de cinco anos. Durante esse período, coletou exemplares de seres 
vivos e de rochas que foram catalogadas e analisadas originando diversas obras. 
Observe a Figura 3, com uma representação dessa expedição. 
2.1 A construção da teoria da evolução por seleção natural 
 Darwin teve diversas influências de seus professores da universidade, de 
seu avô Erasmus Darwin, simpático às ideias evolucionistas, mas foi na volta da 
viagem entre 1837 e 1838, enquanto Darwin catalogava o material resultante da 
expedição, que isso ficou mais claro para ele. Graças à leitura de diversas obras, 
como as discussões entre Lamarck e seus opositores Lyell e Cuvier, que suas 
ideias afloraram. A análise do trabalho de Malthus o levou a refletir sobre as 
causas de controle populacional. 
 Mas foi analisando as aves do gênero Geopiza, que ficaram conhecidos 
como os Tentilhões de Darwin (Figura 4), que percebeu pertencerem a diferentesilhas de Galápagos e pareciam ser de espécies diferentes, possuindo diferenças 
em seus bicos. Resolveu então procurar a explicação para essas transformações 
ocorridas nas espécies, relacionando-as ao que mais tarde chamou de luta pela 
sobrevivência e disputa por alimentos, características da seleção natural. 
 
 
7 
Figura 4 – Gráfico educacional para irradiação adaptativa dos tentilhões de 
Galápagos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Vecton/Shutterstock. 
2.2 O anúncio da conclusões de Darwin sobre a evolução biológica 
Entre 1838 e 1858, Darwin trabalhou em sua teoria, analisou o material 
coletado, recorreu a especialistas para classificação correta dos espécimes, 
confrontou ideias de outros estudiosos por meio de correspondências e, em 
reuniões, durante 20 anos reuniu argumentos e os escreveu no rascunho de sua 
obra mais famosa A origem das espécies por seleção natural. 
Mas a publicação só ocorreu após receber uma carta de Alfred Russel 
Wallace na qual o jovem naturalista expunha ideias similares à sua conclusão 
sobre a evolução biológica. Darwin recorreu aos amigos Charles Lyell e Joseph 
Hooker para solucionar esse impasse e, entrando num acordo com Wallace, 
anunciaram suas ideias em conjunto em 1858. Seu livro foi publicado no ano 
seguinte. 
TEMA 3 – SÍNTESE MODERNA DA EVOLUÇÃO 
 A teoria da evolução por seleção natural não foi aceita por muitos 
estudiosos da época que criticavam a falta de uma teoria de hereditariedade 
 
 
8 
coerente. Os trabalhos do botânico Gregor Mendel foram redescobertos por volta 
de 1900 e coube aos pesquisadores Fisher, Haldane e Wright, que em diversos 
trabalhos sobre genética de populações demonstraram matematicamente que o 
mecanismo da seleção natural era compatível com a hereditariedade proposta 
por Mendel. Dessa forma, seriam abandonadas as macromutações e a 
hereditariedade de caracteres adquiridos. 
3.1 Gregor Mendel e a genética de populações 
A teoria de hereditariedade proposta por Mendel é a base da genética 
moderna e basicamente trata as características herdáveis como arquivos 
contendo instruções, que ele denominou de fatores e que hoje conhecemos 
como genes. Segundo Mendel, esses fatores se separam na formação dos 
gametas de modo que cada indivíduo receba metade dos fatores do pai e metade 
da mãe, ou seja, não é uma mistura de características e sim uma combinação 
desses fatores que daria origem ao seu fenótipo, o que hoje conhecemos como 
expressão gênica. Os fatores (genes) constituem o genótipo, e a expressão 
desses fatores em conjunto com a ação do ambiente é o que conhecemos como 
fenótipo. 
Nos trabalhos desenvolvidos por Fischer, Haldane e Wright, a genética 
mendeliana foi utilizada para calcular a frequência de genótipos (conjunto de 
genes) em populações, possibilitando uma demonstração matemática 
compatível com a ideia de seleção natural. Esses trabalhos levaram a uma 
conciliação entre os cientistas da época, possibilitando o avanço e o surgimento 
de diversas áreas de pesquisa da atualidade. 
TEMA 4 – SÍNTESE ESTENDIDA DA EVOLUÇÃO 
Novas pesquisas levam a novos questionamentos e às vezes ocorrem 
mudanças de paradigmas. Por exemplo, as descobertas de ramos da biologia 
como as áreas de genômica, embriologia e afins levam a discussões e no 
momento discute-se a necessidade de uma nova sistematização para a teoria 
da evolução, algo que, além dos fatores já assimilados, acolha áreas que ficaram 
de fora da proposta neodarwiniana. 
Para saber um pouco mais sobre essas ideias, recorremos ao artigo 
publicado em 2015 “The extended evolutionary synthesis: its structure, 
 
 
9 
assumptions and predictions” (A síntese evolutiva prolongada: sua estrutura, 
suposições e previsões), cujos autores são Laland et al. (2015). Existem outras 
publicações na mesma linha publicadas no Brasil, como é o caso do trecho a 
seguir: 
Os estudos em Biologia englobam uma ampla gama de fenômenos os 
quais perpassam desde os níveis molecular e celular, até os níveis das 
populações, dos ecossistemas e da biosfera, constituindo-se, portanto, 
por fenômenos integrados, complexos e dinâmicos (Meglhioratti et al., 
2008). Não podemos mais atribuir univocidade ao processo de 
transcrição, por exemplo. Sabemos que a linearidade processual de 
que uma sequência de nucleotídeos determina uma proteína 
específica não é mais suficiente, uma vez que essa atividade é co-
depende de vários outros fatores metabólicos e regulatórios e ainda 
das condições ambientais (temperatura, alimentação, ph), as quais 
também podem afetar a atividade genética e, portanto, a expressão 
dos genes. 
Dessa forma, os processos biológicos decorrem de uma pluralidade de 
relações causais. A Teoria Sintética é genecêntrica e foca o poder 
explicativo- causal da evolução apenas na seleção natural. Para essa, 
a seleção natural constitui um mecanismo suficiente para explicar tanto 
a micro quanto a macroevolução, sendo necessário apenas o 
complemento de mecanismos que expliquem a separação de 
populações e a interrupção do fluxo gênico, para dar conta da origem 
de novas espécies (Almeida; El-Hani, 2010, citado por Oliveira; 
Caldeira, 2013). 
Mas todas as publicações encontradas sobre esse tema seguem a 
mesma linha teórica dos autores citados anteriormente e são desenvolvidas 
dentro do Grupo de Pesquisas em Epistemologia da Biologia (GPEB) da UNESP 
e se referem aos mesmos autores já citados anteriormente. A seguir, 
discutiremos os principais pontos da proposta: 
4.1 Reciprocidade de causas na evolução 
Neste tópico, Laland et al. (2015) afirmam que as ações dos indivíduos 
são consideradas como uma interferência na seleção natural, ou seja, a 
interação dos organismos agiria como causa da evolução (coevolução). 
Propõem que os indivíduos atuem de maneira recíproca, sendo causadores da 
própria evolução biológica além de serem agentes modificadores do ambiente, 
dessa forma interferindo na evolução biológica dos seres que partilham esse 
ambiente. Para embasar suas ideias, retoma diversas ideias antigas como 
observado no trecho a seguir: 
Embora a ocorrência de construção de nicho não seja contestada (seu 
reconhecimento remonta a Livros clássicos de Darwin sobre minhocas 
e corais) a perspectiva de construção de nicho, no entanto, permanece 
controversa. Pesquisadores diferem sobre até que ponto a construção 
 
 
10 
de nicho requer mudanças na teoria evolutiva (por exemplo, comparar 
Laland et al. 2014 a Wray et al. 2014). Em particular, a alegação de 
que a construção de nicho é um processo evolutivo, e uma fonte de 
adaptação, gerou controvérsia[...]. As divergências dos autores 
refletem uma disputa mais ampla dentro da teoria evolucionista sobre 
se a síntese neodarwiniana precisa de reformulação, bem como 
diferentes usos de alguns termos-chave (por exemplo, processo 
evolutivo), (Laland et al., 2015). 
Os exemplos dessa interação são denominados de construção de nicho, 
que seriam as alterações ambientais, por exemplo, a construção de um ninho ou 
de uma toca, o que favoreceria os filhotes desse ser vivo para que 
sobrevivessem e dessa forma perpetuassem sua carga genética, nesse mesmo 
ambiente ou colonizando novos ambientes, sendo, nesse caso, eles mesmos um 
fator causador de sua própria evolução. 
4.1.1 Hereditariedade não genética 
Neste outro tópico, Laland et al. (2015) incluem as alterações na 
expressão dos genes (epigenética), heranças ecológica e social, todos fatores 
que não estão relacionados à hereditariedade tradicional. É importante lembrar 
que, para a genética atual, somente são considerados fatores hereditários os 
transmitidos por meio dos genes, sendo que fatores culturais e sociais são objeto 
de estudo de áreas humanísticas e mesmo os genes reguladores da expressão 
gênica são considerados fatores acessórios na hereditariedade e, no caso da 
ecologia, esta é vista como uma área de estudo à parte. 
Laland et al.(2015) incluem um direcionamento na variação dos fenótipos 
atribuídas a mecanismos do desenvolvimento (embrionário ou ontogênico) que 
facilitariam essa variação por uma “indução ambiental” durante esse processo, 
ou seja, propõem que o ambiente possa induzir mudanças nos mecanismos 
reguladores do desenvolvimento embrionário e, dessa forma, surgiriam novos 
fenótipos na população. Essas variações seriam de indivíduos com os mesmos 
genes, mas com uma expressão diferente, apresentando características 
relacionadas ao conjunto de fatores ontogênicos e ambientais. 
4.1.2 A variação de fenótipos direcionada 
Para Laland et al. (2015), a evolução não seria gradual como na proposta 
de Darwin, existindo a possibilidade de grandes saltos evolutivos por meio de 
mutações em genes reguladores (epigênicos), modulando comportamentos ou 
 
 
11 
em resposta a desafios ambientais, o que retoma conceitos que podem ser 
creditados a Lamarck, pois em sua teoria da evolução biológica era considerada 
direcionada, além das ideias de “ortogenética” e do “saltacionismo”, discutidas 
no século XIX. Nesse caso, a evolução, além de direcionada, poderia ocorrer em 
grandes “saltos” evolutivos. 
4.1.3 O organismo como ator principal 
Ainda, Laland et al. (2015) colocam em perspectiva o organismo em vez 
de seus genes, sendo os fatores evolutivos ligados a uma noção amplificada da 
ideia de herança, abrangendo processos de “variação adaptativa e modificação 
ambiental seletiva”, ou seja, uma retomada da herança dirigida, propondo que o 
organismo seja ator e ao mesmo tempo diretor de sua própria evolução biológica, 
algo que se contrapõe às ideias darwinianas, pois nesse caso o indivíduo não 
apresenta capacidade de modificar seu genótipo para adaptar-se ao ambiente. 
4.1.4 Processos evolutivos adicionais na macroevolução 
Nesse ponto, Laland et al. (2015) reinserem a ontogenia, agora como “viés 
de desenvolvimento” e incluem as interações ecológicas com o intuito de dar 
mais subsídios que expliquem a macroevolução, sendo perfeitamente 
compreensível o ponto de vista dos autores com relação a uma busca de 
integração entre as diversas áreas do conhecimento de forma a unificar a teoria 
da evolução biológica. As ressalvas ficam por conta da real possibilidade de 
integrar de maneira interdisciplinar áreas tão distintas para explicar o mesmo 
fenômeno (no caso, a evolução biológica). 
A proposta de uma síntese ampliada para a teoria sintética da evolução 
carece ainda de discussões, sendo que os autores do artigo discutido afirmam 
esperar que esta seja reavaliada, considerando essa nova perspectiva e que 
tanto as pesquisas teóricas quanto as de laboratório e/ou campo contribuam para 
essa reconstrução. 
 
 
 
 
 
12 
TEMA 5 – SUGESTÃO DE LEITURA: A ORIGEM DAS ESPÉCIES, DE CHARLES 
DARWIN 
A opção por este capítulo em especial deve-se ao tema principal que é 
luta pela sobrevivência, um conceito importante para o entendimento geral das 
ideias de Darwin sobre a evolução dos seres vivos. 
No capítulo III de seu livro A origem das espécies, Charles Darwin (1859) 
explica melhor suas ideias sobre a competição que todos os seres vivos 
enfrentam para sobreviver e se reproduzir. Todos conhecemos o ciclo da vida 
em que o indivíduo, nasce, cresce, se reproduz e morre, mas Darwin foi mais a 
fundo propondo que existem leis na natureza que decidem por que um indivíduo 
nasce, mas tem sua vida ceifada antes do período reprodutivo ou por que, 
mesmo tornando-se adultos, alguns indivíduos não conseguem se reproduzir, 
além de tantos outros questionamentos sobre temas adjacentes. 
5.1 Sobrevivendo a uma “competição” 
Darwin foi um naturalista cuja pesquisa utilizou-se de longas observações 
da vida natural, com base nas quais concluiu que os seres vivos vivem uma 
batalha constante para sobreviver buscando alimentos, abrigo e parceiros 
reprodutivos, mas durante sua vida essas necessidades são partilhadas com 
outros seres de mesma espécie e de espécies diferentes, o que leva a uma 
competição por esses recursos. Percebeu que alguns apresentavam maior 
sucesso nessas aquisições e tentou compreender quais eram as leis que regiam 
esses processos. Darwin (1859) exemplifica, em seu livro, a disputa que plantas 
parasitas como a erva-de-passarinho travam entre si e com as demais plantas 
frutíferas, concluindo que o termo mais adequado seria luta pela existência. 
5.1.1 Progressões aritmética e geométrica (alimentos x organismos) 
Neste tópico, Darwin discute a teoria demográfica proposta por Malthus, 
na qual a produção de alimentos não seria suficiente para atender à demanda 
mundial, visto que com as tecnológicas da época essa produção seguiria um 
ritmo de crescimento aritmético, ou seja, cresceria de soma em soma, ao passo 
que a reprodução dos seres vivos seria exponencial, ou seja, aumentava em 
ritmo de multiplicação. 
 
 
13 
A observação das populações naturais contrariava essas expectativas, 
pois as populações biológicas na natureza eram mantidas em equilíbrio, não 
havendo superpopulações, e a competição ou luta que os seres vivos travam no 
dia a dia poderia ser um fator decisivo nessa equação. Deveriam existir fatores 
que controlavam a reprodução. Nesse caso Darwin chega a fazer cálculos para 
tentar prever o que aconteceria com o Planeta Terra caso a reprodução fosse 
contínua, concluindo que não seria possível comportar a quantidade de seres 
gerados. 
5.1.2 Aclimatações em animais e plantas 
Além das observações do tópico anterior, Darwin (1859) narra vários 
episódios de seres do que ele chama de aclimatação de plantas e animais que 
se adaptam a regiões para as quais foram levadas pelo homem, obtendo 
condições privilegiadas em relação aos seres vivos nativos e podem levar à 
extinção as espécies naturais daquele ambiente. 
Hoje conhecemos esse fenômeno como espécies invasoras. Nessa 
narrativa, Darwin (1859) expõe suas conclusões sobre o fenômeno 
argumentando que o fator controlador não estaria presente nesse caso, pois não 
haveria predadores e competidores naturais para essas espécies, concluindo 
que, sem esses fatores, a espécie em questão teria sua população aumentada. 
Como exemplo, cita a reprodução de aves, plantas e moscas, que, em estado 
natural, sofrem com a destruição de suas proles e mesmo indivíduos jovens e 
adultos são destruídos nessa competição, além de verificar que o clima 
desempenha um papel fundamental, definindo a sobrevivência ou não das 
espécies. 
5.1.3 Competição e relações ecológicas entre os seres vivos 
As observações de Darwin sobre as consequências de alterações 
ambientais provocadas pela ação humana o fizeram chegar a algumas 
hipóteses. Nesse caso, ele cita uma propriedade de um de seus parentes, na 
qual um espaço de terra foi cercado e semeado com pinheiros, sendo que por 
vinte e cinco anos nenhuma outra alteração foi feita. Ao analisar as populações, 
percebeu um aumento de biodiversidade de aves e insetos, além do surgimento 
de um grande número de novos pinheiros que não foram plantados, levando-o a 
 
 
14 
indagar o porquê de o restante dessa propriedade permanecer encharcada e 
sem aumento de espécies. 
Numa análise mais aprofundada, encontrou pinheiros que tentavam se 
desenvolver na área não cercada. Analisou seus anéis de crescimento e 
percebeu que possuía vinte e seis anos, concluindo que esta árvore não se 
desenvolveu por causa do gado que se alimentava de seus brotos, impedindo-a 
de crescer. Nesse caso, o gado limitou a presença do pinheiro silvestre. Outros 
exemplos como esse foram por ele citados no livro, que prossegue com outros 
exemplos, como o das moscas parasitas que põem ovos nos umbigos de animais 
de quatro patas (por exemplo, cães e cavalos), e que, segundo o autor, seriam 
o motivo para que no Paraguai esses animais não retornassem ao estado 
selvagem. Conclui que existem muito mais complexidades entre asrelações 
entre animais e plantas de que se tem conhecimento e que essas relações 
interferiam no desenvolvimento mútuo desses seres vivos em ambientes 
naturais. 
5.1.4 Complexidade de relações ecológicas entre os seres vivos 
Darwin (1859) argumenta que a competição dentro da mesma espécie é 
mais acirrada do que entre espécies diferentes. Para provar isso, Darwin (1859) 
usa diversos exemplos de “espécies invasoras”, como a andorinha norte-
americana, o tordo-visgueiro, a barata asiática e a abelha importada, que na 
Austrália estaria exterminando a espécie nativa. 
 Ao fim deste capítulo, observa que essa luta entre as espécies ocorre 
mesmo em locais inóspitos como desertos e geleiras, concluindo que precisava 
aceitar o fato de que não tinha todas as informações sobre as inter-relações entre 
os seres vivos e que “a guerra que se trava na natureza não é incessante, nem 
produz pânico [...], e que os mais fortes, mais saudáveis e os mais afortunados 
conseguiram sobreviver e se multiplicar” (Darwin, 1859). 
NA PRÁTICA 
Saiba mais 
Já imaginou se fosse possível ter acesso aos manuscritos originais de 
Charles Darwin, correspondência além dos livros da biblioteca pessoal? Pois 
 
 
15 
isso é possível e, além do mais, é gratuito, graças ao projeto “Biblioteca de 
Darwin”. Acesse o link a seguir: 
CHARLES DARWIN’ LIBRARY. BHL – Biodiversity Heritage Library, 
2019. Disponível em: 
<https://www.biodiversitylibrary.org/collection/darwinlibrary>. Acesso em: 29 out. 
2019. 
A seguir, um texto explicativo sobre o projeto: 
Charles Darwin’s Library é uma edição digital e uma reconstrução 
virtual dos livros sobreviventes de propriedade de Charles Darwin. Esta 
coleção especial da BHL baseia-se em cópias originais e substitutos 
de outras bibliotecas. Ele também fornece transcrições completas de 
suas anotações e marcas. Neste primeiro lançamento (2011) nós 
fornecemos 330 dos 1480 títulos em sua biblioteca, concentrando-se 
nos livros mais anotados. 
[...] O Projeto de Manuscritos de Darwin sob uma bolsa da National 
Science Foundation [...] está preparando transcrições do material 
manuscrito relevante, com exceção dos Cadernos de Leitura, já 
publicados pelo Darwin Correspondence Project. Por mais importante 
que seja a Biblioteca de Darwin, a fim de refazer e reconstruir 
verdadeiramente a Leitura de Darwin, esses materiais precisarão ser 
integrados, como, sem dúvida, serão (Charles..., 2019, tradução 
nossa). 
Após acessar o projeto e caso tenha dificuldades com o inglês, você pode 
baixar o aplicativo Google Tradutor disponível para o navegador Google Chrome. 
Para testar seus conhecimentos na prática, responda às seguintes questões: 
1. As leituras realizadas por Charles Darwin durante a expedição 
influenciaram suas ideias sobre a evolução biológica? Justifique. 
2. Quais livros ou autores podem ter tido uma influência fundamental no 
trabalho de Darwin? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
FINALIZANDO 
Figura 5 – Síntese das principais ideias do evolucionismo 
 
 
Teoria sintética ou 
Neodarwinismo:
foi desenvolvida entre 
1920 e 1950 
•diversos autores, sendo os principais: 
Fischer, Haldane e Wright 
acomodaram as ideias 
da genética 
mendeliana com 
pesquisas em genética 
de populações, 
um “casamento” entre 
a genética mendeliana 
e a evolução 
darwinista.
Lamarckismo
Iniciou com as ideias de Platão sobre hereditariedade
Lamarck retomou a ideia da herança de caracteres adquiridos em vida proposta por 
Platão, agregando a lei do uso e desuso. 
Darwinismo
Darwin foi influênciado pelas ideias de Malthus sobre o crescimento 
exponencial das populações em contra partida com um crescimento aritmético 
da produção de alimentos;
pelas descobertas sobre a geologia do planeta Terra, o movimento das placas 
tectônicas e a deriva continental, além da existência de fósseis de espécies de 
animais extintos;
Além disso, seu rigor metodológico na observação da natureza, sua experiência na 
criação de pombos, sua vida no campo, além do apoio de taxonomistas e zoólogos 
que classificaram os espécimes coletados fornecendo informações sobre os hábitos 
de vida destes, enfim todo um conjunto de evidências que sustentou e sustenta a 
teoria da evolução por seleção natural;
O anúncio de suas ideias ocorreu em conjunto com Wallace em 1858 e 
posteriormente foi edificada com a publicação da primeira edição do livro A 
origem das espécies em 1859.
 
 
17 
 
 
A “luta pela sobrevivência” proposta por Darwin em seu livro A origem das 
espécies inclui, além da busca por recursos alimentícios e de habitat, fatores de 
inter-relação entre seres vivos, tanto interespecíficas quanto intraespecíficas, as 
adaptações ao clima, as alterações climáticas que causam redução nesses 
indivíduos, a ação do homem sobre o ambiente e seu impacto nas relações entre 
animais e plantas, a ação de parasitas no controle de determinadas espécies, a 
relação das espécies invasoras com as espécies nativas, entre outras complexas 
relações entre os seres vivos. Darwin propõe finalmente que os seres que 
sobrevivem em detrimento de todas essas interações e que ainda se reproduzem 
e se perpetuam seriam os mais adaptados ao ambiente, ou seja, foram 
selecionados pela natureza. 
 
 
Em 2008, surge a proposta 
de síntese ampliada 
propõe que além da 
seleção natural, outros 
fatores ajam promovendo 
a evolução biológica, 
• agrega a genômica, ecologia, embriologia e áreas 
humanísticas, ideias revisitadas do século XIX e tendo os 
conceitos ressignificados
dentre esses fatores destacam a 
interação ecológica, os fatores 
reguladores dos genes que agem na 
formação e desenvolvimento 
embrionário
os fatores reguladores de 
genes durante a vida dos 
seres vivos além de fatores 
culturais como por 
exemplo o aprendizado. 
 
 
18 
REFERÊNCIAS 
CHARLES DARWIN’ LIBRARY. BHL – Biodiversity Heritage Library, 2019. 
Disponível em: <https://www.biodiversitylibrary.org/collection/darwinlibrary>. 
Acesso em: 29 out. 2019. 
DARWIN, C. R. On the Origin of Species. London: John Murray, 1859. 
LALAND, K. N. et al. The extended evolu-tionary synthesis: its structure, 
assumptions and predictions. Royal Society of London B, v. 282, n. 1813, p. 2-
14, 2015. 
OLIVEIRA, T. B.; CALDEIRA, A. M. A. Processo de evolução biológica em um 
Grupo de Pesquisa em Epistemologia da Biologia (GPEB): a contribuição de 
discussões epistemológicas para o ensino de biologia. Atas do IX Encontro 
Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – IX ENPEC. Águas de 
Lindoia/SP, 10-14 nov. 2013. Disponível em: 
<http://www.nutes.ufrj.br/abrapec/ixenpec/atas/resumos/R1624-1.pdf>. Acesso 
em: 29 out. 2019. 
RIDLEY, M. Evolução. 3. ed. Trad. Henrique Ferreira, Luciane Passaglia e Rivo 
Fiescher. Porto Alegre: Artmed, 2006.

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