Prévia do material em texto
ELETROMAGNETISMO Física ELETROMAGNETISMO Física Universidade La Salle Canoas | Av. Victor Barreto, 2288 | Canoas - RS CEP: 92010-000 | 0800 541 8500 | eadproducao@unilasalle.edu.br UNIVERSIDADE LA SALLE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO Reitor Prof. Dr. Paulo Fossatti - Fsc Vice-Reitor, Pró-Reitor de Pós-grad., Pesq. e Extensão e Pró-Reitor de Graduação Prof. Dr. Cledes Casagrande - Fsc Pró-Reitor de Administração Vitor Benites © 2021 por Universidade La Salle Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico (foptocópia, gravação), ou qualquer tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização por escrito da Universidade La Salle. Coordenador de Produção Prof. Dr. Jonas Rodrigues Saraiva Equipe de Produção de Conteúdo Alexandre Briczinski de Almeida Anderson Cordova Nunes Arthur Menezes de Jesus Bruno Giordani Faccio Daniele Balbinot Érika Konrath Toldo Fabio Adriano Teixeira dos Santos Gabriel Esteves de Castro Guilherme P. Rovadoschi Ingrid Rais da Silva João Henrique Mattos dos Santos Jorge Fabiano Mendez Nathália N. dos Santos Patrícia Menna Barreto Sidnei Menezes Martins Tiago Konrath Araujo Projeto Gráfico, Editoração, Revisão e Produção Equipe de Produção de Conteúdo Universidade La Salle - Canoas, RS 1ª Edição Atualizada em: Agosto de 2021 Prezado estudante, A equipe da EaD La Salle sente-se honrada em entregar a você este material didático. Ele foi produzido com muito cuidado para que cada Unidade de estudos possa contribuir com seu aprendizado da maneira mais adequada possível à modalidade que você escolheu para estudar: a modalidade a distância. Temos certeza de que o conteúdo apresentado será uma excelente base para o seu conhecimento e para sua formação. Por isso, indicamos que, conforme as orientações de seus professores e tutores, você reserve tempo semanalmente para realizar a leitura detalhada dos textos deste livro, buscando sempre realizar as atividades com esmero a fim de alcançar o melhor resultado possível em seus estudos. Destacamos também a importância de questionar, de participar de todas as atividades propostas no ambiente virtual e de buscar, para além de todo o conteúdo aqui disponibilizado, o conhecimento relacionado a esta disciplina que está disponível por meio de outras bibliografias e por meio da navegação online. Desejamos a você um excelente módulo e um produtivo ano letivo. Bons estudos! APRESENTAÇÃO Sumário UNIDADE 1 Eletrostática I ..............................................................................................................................................................7 Objetivo Geral ............................................................................................................................................................7 Parte 1 Conceitos Fundamentais da Eletrostática............................................................................................................................9 Parte 2 Cargas Elétricas e Forças .................................................................................................................................................25 Parte 3 Lei de Coulomb ................................................................................................................................................................45 Parte 4 Campo Elétrico .................................................................................................................................................................59 Parte 5 Lei de Gauss ....................................................................................................................................................................83 UNIDADE 2 Eletrostática II ...........................................................................................................................................................91 Objetivo Geral ..........................................................................................................................................................91 Parte 1 Potencial Elétrico ..............................................................................................................................................................93 Parte 2 Capacitores ....................................................................................................................................................................101 Parte 3 Capacitância e Capacitores ............................................................................................................................................119 UNIDADE 3 Eletrodinâmica ........................................................................................................................................................133 Objetivo Geral ........................................................................................................................................................133 Parte 1 Corrente Elétrica e Resistência Elétrica ...........................................................................................................................135 Parte 2 Leis de Ohm, Potência Elétrica e Energia Elétrica ............................................................................................................147 Parte 3 Circuitos Resistivos ........................................................................................................................................................165 Parte 4 Circuitos RC ...................................................................................................................................................................183 UNIDADE 4 Eletromagnetismo ..................................................................................................................................................189 Objetivo Geral ........................................................................................................................................................189 Parte 1 Campo Magnético ..........................................................................................................................................................191 Parte 2 A Lei de Ampère e os Solenóides ....................................................................................................................................205 Parte 3 Forças Magnéticas e Torques .........................................................................................................................................223 Parte 4 A Lei de Lenz e a Lei de Faraday ....................................................................................................................................235 Parte 5 Motores e Transformadores ............................................................................................................................................253 Eletrostática I Prezado estudante, Estamos começando uma unidade desta disciplina. Os textos que a compõem foram organizados com cuidado e atenção, para que você tenha contato com um conteúdo completo e atualizado tanto quanto possível. Leia com dedicação, realize as atividades e tire suas dúvidas com os tutores. Dessa forma, você, com certeza, alcançará os objetivos propostos para essa disciplina. Objetivo Geral Compreender as propriedades das cargas elétricas em repouso, em relação a um sistema inicial de referência. unidade 1 V.1 | 2021 8 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Parte 1 Conceitos Fundamentais da Eletrostática O conteúdo deste livro é disponibilizado por SAGAH. unidade 1 V.1 | 2021 10 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Conceitos fundamentais da Eletrostática Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Compreender a natureza elétrica damatéria. Diferenciar as propriedades entre condutores e isolantes. Conhecer os processos de eletrização. Introdução A carga elétrica é a propriedade fundamental da matéria, disponível em todos os corpos, tornando-os sensíveis a interações. Para iniciarmos nossos estudos, vamos analisar as cargas elétricas em repouso. Porque as cargas elétricas exercem forças umas sobre as outras? Como podemos quantificar e aplicar estes conceitos de carga elétrica e força elétrica? Dois tipos de materiais, como o cobre e a madeira, possuem propriedades diferentes, o primeiro é um material condutor e o segundo é um material isolante, mas o que define isso? Por fim, é possível alterarmos a quantidade de carga elétrica de um corpo através de diferentes processos, por exemplo por contato, quais outros processos podem ser utilizados e como funcionam? A partir dos conceitos apresentados neste capítulo, você será capaz de responder a estas e outras perguntas. Natureza elétrica da matéria Desde o século XIX, cientistas investigam e propõem explicações sobre a constituição da matéria, ou seja, desenvolvem um modelo atômico. Um desses modelos atômicos muito utilizados para compreender a natureza elétrica da matéria é o desenvolvido no decorrer do século XX, por Ernest Rutherford (1871-1937), e aperfeiçoado por Niels Bohr (1885-1962). Nesse Eletrostática I | UNIDADE 1 Conceitos Fundamentais da Eletrostática | PARTE 1 11 modelo, o átomo é formado por partículas menores, como elétrons, prótons e nêutrons. Na visão de Rutherford e Bohr, os elétrons orbitam o núcleo atômico, no qual dispõem-se os prótons e os nêutrons, formando um agrupamento surpre- endentemente coeso. Tal modelo é bastante semelhantemente à representação planetária, onde os astros orbitam o Sol, que analogamente é o núcleo, e os elétrons comportam-se como os astros. A região onde os elétrons encontram-se é definida por eletrosfera. Esse modelo atômico está representado na Figura 1. Figura 1. Modelo atômico proposto por Rutherford. Fonte: Blog do ENEM (c2017). Eletrón Próton Nêutron Por meio de estudos sobre os fenômenos elétricos, foi possível verificar experimentalmente que prótons e elétrons têm comportamentos elétricos opostos. Por exemplo, se confrontarmos um corpo carregado com alguma dessas cargas, e em determinada circunstância um for atraído, o outro será repelido. Se um for desviado para a direita, o outro será para a esquerda. Essas propriedades estão associadas ao poder de atração ou repulsão que essas partículas apresentam. Conceitos fundamentais da Eletrostática2 12 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Por isso, define-se carga elétrica como uma propriedade intrínseca das partículas fundamentais de que é feita a matéria. Em outras palavras, é uma propriedade associada à própria existência das partículas (HALLIDAY; RES- NICK, 2012). A Eletricidade é baseada nos conceitos de carga elétrica e, assim, ela torna- -se tão importante quanto o conceito de massa para a Mecânica. Em todos os objetos, existe uma imensa quantidade de cargas elétricas, todavia raramente observamos essas propriedades, pois a maioria dos corpos contém quantidades iguais de dois tipos de cargas: as cargas positivas e as negativas. Quando ocorre essa igualdade, ou esse equilíbrio, de cargas, dizemos que o objeto está eletricamente neutro. Sendo assim, a carga total do corpo é zero. Utilizando o mesmo raciocínio, quando a quantidade de cargas positivas e negativas de um objeto for diferente, a carga total será diferente de zero. Dizemos, assim, que o corpo está eletricamente carregado. É valido notar que a diferença entre as quantidades de cargas negativas e positivas é sempre muito menor do que as quantidades absolutas dessas cargas em qualquer objeto. Os corpos eletricamente carregados interagem, exercendo uma força sobre outros corpos. Você provavelmente já deve ter tomado um choque ao descer do carro. Isso ocorre porque o carro em movimento atrita-se com as moléculas de ar, carregando-se eletricamente. Quando você encosta nele, as cargas elétricas acumuladas são transferidas a você, produzindo a sensação de choque. Observando esses fenômenos, foi possível determinar a Lei de Atração e Repulsão, ou Lei das Cargas Elétricas, onde partículas com cargas de mesmo sinal repelem-se, e partículas com cargas de sinais diferentes atraem-se. Essas forças são geralmente observadas quando as partículas estão pró- ximas, tendo em vista que a força diminui com o aumento da distância entre as cargas. Vamos considerar as seguintes situações: Dois corpos neutros estão próximos o suficiente para haver atração ou repulsão; não haverá interação entre eles, pois os dois corpos são eletricamente neutros. Dois corpos são eletrizados com cargas de sinais opostos e colocados próximos o suficiente para haver atração ou repulsão; nesse caso, haverá uma atração mútua. 3Conceitos fundamentais da Eletrostática Eletrostática I | UNIDADE 1 Conceitos Fundamentais da Eletrostática | PARTE 1 13 Dois corpos eletrizados com cargas de sinais iguais e próximos o su- ficiente para haver atração ou repulsão repelem-se reciprocamente. Um corpo eletrizado e um outro neutro são colocados próximos o sufi- ciente para haver atração ou repulsão; o corpo eletrizado atrai o neutro. Tais situações são expressas na Figura 2. Figura 2. Atração e repulsão de cargas elétricas. Segundo o modelo de Rutherford-Bohr, elétrons e prótons são as menores partículas integrantes do átomo, e suas cargas elétricas são as menores exis- tentes na natureza. O próton possui uma massa quase 2 mil vezes maior que a do elétron. Apesar disso, a quantidade de carga elétrica dos dois é igual, em valor absoluto. Este valor absoluto foi definido como carga elétrica elementar, simbolizado por “e”, cujo valor foi encontrado de forma experimental, pela primeira vez, pelo físico estadunidense Robert Andrews Millikan (1868-1953), por meio da experiência que levou seu nome, a Experiência de Millikan. Conceitos fundamentais da Eletrostática4 14 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO A Experiência de Millikan A fim de determinar o valor da carga do elétron, Robert Millikan avaliou o comporta- mento de gotículas de água eletrizadas submetidas à força peso e força elétrica, que atuavam simultaneamente. Millikan borrifou gotículas eletrizadas entre duas placas carregadas com sinais con- trários (+ e -), localizadas no interior de um recipiente com vácuo. Consequentemente, as gotículas foram submetidas à força peso e à elétrica. As cargas da placa estavam reguladas de modo que as gotículas ficassem em equilíbrio. Nessa situação, a força elétrica e a força peso são iguais em módulo. Com esse procedimento, pode-se igualar as forças e, assim, calcular a quantidade de carga presente em uma gotícula (VÁLIO et. al., 2016). Um elétron tem uma carga que vale -e, e um próton tem carga +e, ou seja, ambos possuem cargas iguais à carga elétrica elementar, porém com sinais opostos. A quantidade de carga Q de qualquer corpo ou objeto corresponde à quan- tidade total de elétrons que esse corpo recebeu ou doou em relação ao seu estado eletricamente neutro. Para calculá-la, multiplicamos a quantidade de elétrons em ganhados ou cedidos pelo valor absoluto da carga elementar: Q = ±n ∙ e (n ∈Z) O sinal da carga elétrica indicará o estado de eletrização do corpo e, a partir dele, obtemos as seguintes conclusões: Se o corpo tiver carga positiva (+), quer dizer que o número de prótons será maior que o de elétrons; portanto, o corpo perdeu elétrons em relação ao estado eletricamente neutro. Se o corpo tiver carga negativa (-), significa que o número de elétrons é maior que o número de prótons; portanto, o corpo ganhou elétrons em relação ao estado eletricamente neutro. Vamos considerar um corpo neutro: se este perder elétrons, ele ficará carregado positivamente; e se ganhar elétrons, ficará eletrizado negativamente.5Conceitos fundamentais da Eletrostática Eletrostática I | UNIDADE 1 Conceitos Fundamentais da Eletrostática | PARTE 1 15 Observe que tratamos a eletrização como o acúmulo ou a falta de elétrons, pois eles são partículas eletrizadas presentes em todos os átomos e que podem mover-se pela eletrosfera com maior facilidade que os prótons presos ao núcleo. Contudo, não há impedimento para ocorrer a eletrização por recebimento ou doações de partículas elétricas positivas, como, por exemplo, no acréscimo de íons de prata (Ag+) em uma solução iônica, sob condições específicas. A Figura 3 representa corpos eletricamente neutro, eletrizado negativamente e eletrizado positivamente. Figura 3. Corpo a) eletricamente neutro, b) eletrizado negativamente e c) eletrizado positivamente. A soma algébrica das quantidades de carga elétrica contidas em um sistema eletricamente isolado (que não realiza trocas de carga) é uma constante. Isso constitui o princípio de conservação de cargas elétricas. Vamos considerar inicialmente três objetos, A,B e C, eletrizados e com cargas elétricas de QA, QB e QC, respectivamente. Após terem realizado trans- ferências de cargas entre si, em um sistema eletricamente isolado, adquirem os seguintes valores de cargas: Q’A, Q’B e Q’C. Segundo o princípio de conservação de cargas, temos: QA + QB + QC= Q’A+ Q’B +Q’C → ∑Qantes = ∑Qdepois Note que, no decorrer dos processos de eletrização, os elétrons não são criados e nem destruídos; eles são apenas trocados entre um corpo e outro, conforme estabelece o princípio de conservação de cargas. Conceitos fundamentais da Eletrostática6 16 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Três corpos carregados com Q1 = 2µC, Q2 = -4µC e Q3 = 6µC, encontram-se em um sistema eletricamente isolado. Depois de algumas trocas de cargas entre eles, os corpos 2 e 3 ficaram com cargas Q’2 = -2µC e Q’3 = 3µC. Pede-se o seguinte: 1. Determine a carga final do corpo 1 (Q’1). 2. O corpo 1 cedeu ou recebeu elétrons? Calcule o número de elétrons do corpo 1 após as transferências. 3. Após a troca de cargas, haverá atração ou repulsão entre os corpos 1 e 3? Explique. Resolução: 1. Pelo princípio de conservação de cargas elétricas, temos: ∑Qantes = ∑Qdepois Q1 + Q2 + Q3 = Q’1 + Q’2 + Q’3 2µC + (-4µC) + 6µC = Q’1 + (-2µC) + 3µC 4µC = Q’1+ 1µC Q’1 = 3µC 2. A quantidade de carga transferida pelo corpo 1 é dada por: ∆Q1 = Q’1 - Q1 ∆Q1 = 3µC - 2µC ∆Q1 = 1µC Para calcular o número de elétrons envolvidos nessas trocas, temos: ∆Q1 = n ∙ e 1µC = n ∙ 1,6 ∙ 10-19 C n = 6,25 ∙ 1012 elétrons 3. Após as trocas de cargas, Q’1 = +3µC e Q’3 = +3µC, portanto, segundo o princípio de atração e repulsão de cargas elétricas, cargas de mesmo sinal repelem-se. Propriedades de condutores e isolantes As características dos condutores e dos isolantes (não condutores) devem-se à estrutura e às propriedades elétricas dos átomos. 7Conceitos fundamentais da Eletrostática Eletrostática I | UNIDADE 1 Conceitos Fundamentais da Eletrostática | PARTE 1 17 Os materiais podem ser classificados conforme a facilidade com a qual as cargas elétricas deslocam-se no seu interior. Temos, então: Nos condutores — como os metais, o grafite, as soluções eletrolíticas, os gazes ionizados, o corpo humano, a superfície da Terra, entre outros —, as cargas elétricas movem-se com facilidade. Nos não condutores, ou isolantes ou dielétricos — como o ar seco, a água pura, o vidro, o plástico, a seda, a lã, o enxofre, a parafina, a madeira, a cortiça, a borracha, entre outros —, as cargas não se movem. Os semicondutores — como o germânio, o silício, entre outros — têm propriedades elétricas ora iguais aos dos condutores e ora iguais aos dos isolantes. Os supercondutores são condutores perfeitos, ou seja, materiais nos quais as cargas deslocam-se sem qualquer resistência. Durante a formação de um sólido de material condutor, elétrons que estão mais afastados do núcleo — estando, portanto, mais fracamente atraídos — tornam-se livres e vagam pelo material. Esse processo gera átomos positiva- mente carregados, íons positivos. A facilidade de ceder ou receber elétrons livres uns dos outros faz com que conduzam eletricidade. Esses elétrons livres recebem o nome de elétrons de condução. Os materiais isolantes possuem um número muito reduzido, ou mesmo nulo, de elétrons de condução. Os materiais condutores são assim chamados por conduzirem eletricidade — e mesmo que os materiais dielétricos não conduzam eletricidade, eles podem ser eletrizados. Geralmente isso ocorrerá em duas situações: 1. Um material isolante permanece com a carga elétrica localizada na região em que recebeu ou doou elétrons. Essa região atuará como um polo positivo ou negativo e exercerá atração ou repulsão sobre corpos com os quais interagir. 2. Ao submeter-se a forças elétricas externas, substâncias não condutoras formadas de moléculas polares podem orientar-se no interior do dielé- trico. Dessa maneira, o objeto ainda permanece eletricamente neutro, tendo em vista que sua carga total permanece nula, porém agora estará polarizado e poderá atrair ou repelir outros objetos devido às polaridades que o corpo apresentará (Figura 4). Conceitos fundamentais da Eletrostática8 18 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Figura 4. Isolante eletricamente neutro a) antes da polarização e b) polarizado. Processos de eletrização Um corpo é eletricamente neutro quando as quantidades de prótons e elétrons contidas nele forem iguais. Um corpo onde há excesso de uma dessas partículas, dizemos que está eletrizado. Existem diferentes processos para eletrizar corpos neutros, que são: eletri- zação por contato, eletrização por atrito e eletrização por indução. Na eletrização por contato, no mínimo, um dos corpos deve estar pre- viamente eletrizado. Os corpos são aproximados, fazendo com que ocorra o contato entre eles, acarretando, assim, na transferência de carga. É importante entender que, na eletrização por contato, os corpos ficam com cargas do mesmo sinal que o objeto previamente eletrizado. Esse processo de eletrização por contato está representado na Figura 5. 9Conceitos fundamentais da Eletrostática Eletrostática I | UNIDADE 1 Conceitos Fundamentais da Eletrostática | PARTE 1 19 Figura 5. Eletrização por contato, onde a) os corpos atraem-se antes do contato e b) os corpos repelem-se depois do contato. Se o objeto eletrizador A e o eletrizado B forem esféricos e de mesmo material, com raios RA e RB diferentes, parte da carga do corpo A é transferida para o corpo B, obedecendo à proporcionalidade dos raios das esferas. Dessa forma, a relação entre as quantidades de cargas dos corpos (Q’A e Q’B) após o contato será proporcional aos seus raios, ou seja: Q’A = Q’B RA RB Particularmente quando temos duas esferas iguais, de mesmo material e mesmo raio, depois de realizado o contato, cada uma delas terá metade da quantidade de carga total que havia antes do contato. A eletrização por atrito dá-se quando atritamos dois corpos de materiais diferentes, podendo ocasionar trocas de elétrons entre os objetos envolvidos. Após o atrito, um dos corpos estará carregado negativamente, pois recebeu elétrons do outro objeto. Consequentemente, o segundo corpo, que cedeu os elétrons, ficará eletrizado positivamente. Esse tipo de eletrização pode ser facilmente demonstrado da seguinte maneira: atrite uma régua plástica em uma folha de caderno repetidamente e em um único sentido; separe pequenos pedaços de papel picado (eletricamente neutros) e aproxime a régua deles; você verá que os pedaços de papel são atraídos para a régua, comprovando que o objeto está carregado e eletrizado pelo processo de atrito. Conceitos fundamentais da Eletrostática10 20 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Nesse tipo de eletrização, ao final do processo, os corpos adquirem cargas de sinais opostos. A fim de determinar qual dos corpos cederá e qual receberá elétrons,devemos consultar a Série Triboelétrica, conforme a Figura 6. Figura 6. Série Triboelétrica. A Série Triboelétrica informa o material que ficará eletrizado negativamente e o que será carregado positivamente. Os materiais à esquerda ficaram carregados negativamente e os mais à direita eletrizaram-se positivamente. Assim, se atritarmos um isopor contra nossa pele, supondo que os dois corpos estão eletricamente neutros, a pele humana cederá elétrons ao isopor. Sendo assim, o isopor ficará carregado negativamente e a pele, positivamente. 11Conceitos fundamentais da Eletrostática Eletrostática I | UNIDADE 1 Conceitos Fundamentais da Eletrostática | PARTE 1 21 A eletrização por atrito acontece devido aos elétrons dos materiais, que estão mais fracamente ligados aos núcleos — elétrons mais afastados —, serem transferidos para o outro material. Sobre a eletrização por atrito, ainda é importante considerar os seguintes fatos: Nem sempre é possível eletrizar dois corpos por atrito. Por exemplo, quando atritamos dois corpos de mesmo material, poderá não acontecer a troca de elétrons entre eles. Na eletrização por atrito de corpos não condutores ou isolantes, o excesso de cargas permanecerá localizado na região do corpo onde ocorreu o atrito, semelhante ao ocorrido na eletrização por contato. Na eletrização por atrito de materiais condutores, as cargas distribuir- -se-ão por toda a sua superfície. Tal fenômeno ocorre devido à repulsão das cargas elétricas no interior do material, fazendo, assim, com que as cargas fiquem o mais distante possível umas das outras. Para manter um corpo eletrizado, é necessário isolá-lo, utilizando, por exemplo, um material dielétrico como apoio. Na eletrização por indução, é possível eletrizar um corpo neutro sem a necessidade de encostar dois corpos, seja por atrito ou contato. Quando um condutor eletrizado, chamado de indutor, é aproximado de um condutor neutro, denominado “induzido”, ocorre uma indução eletrostática, ou seja, a separação de cargas no corpo neutro. Aproximando os corpos sem contato, ocorrerá uma movimentação de cargas no induzido. A eletrização por indução está representada na Figura 7. Figura 7. Eletrização por indução a) antes da indução e b) durante a indução. Indutor Indutor Induzido Induzido Carga induzida a) b) Conceitos fundamentais da Eletrostática12 22 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO A seguir, na Figura 8, está apresentada uma situação específica com indução eletrostática, em que é colocado um fio no condutor induzido, ligando-o ao solo. A essa ligação dá-se o nome de “aterramento”, pois possibilita o des- locamento de cargas através do fio condutor à Terra. Quando a carga de um objeto é neutralizada pela retirada do excesso de cargas negativas ou positivas através do solo, dizemos que o objeto foi descarregado. O solo, por ser um corpo muito extenso, geralmente pode ser tratado como um corpo infinito em relação à maioria dos objetos, o que significa que a distribuição não altera em nada as propriedades dele, e, portanto, pode comportar-se doando ou recebendo elétrons. Sendo assim, a carga no induzido depende somente do indutor e tem sinal contrário à sua carga. A eletrização por indução é temporária, ocorrendo enquanto o indutor estiver suficientemente próximo ao induzido. Para que o corpo permaneça eletrizado após a retirada do indutor, é necessário que ocorra o aterramento. Assim, ao final de uma eletrização por indução, os corpos envolvidos adquirem cargas de sinais opostos, assim como no processo de eletrização por atrito. Note ainda que esse processo de eletrização dá-se em condutores, pois, em isolantes, as cargas elétricas movimentam-se pouco ou não no interior do objeto. Figura 8. Eletrização por indução com aterramento, a) antes da indução, b) durante a indução e c) após a indução. Indutor Indutor Indutor Induzido Induzido Induzido Aterramento e- a) b) c) 13Conceitos fundamentais da Eletrostática Eletrostática I | UNIDADE 1 Conceitos Fundamentais da Eletrostática | PARTE 1 23 BLOG DO ENEM. Modelos atômicos e partículas: a estrutura do átomo – química ENEM. [S.l.]: Blog do ENEM, [c2017]. Disponível em: <https://blogdoenem.com.br/modelos- -atomicos-particulas-quimica-enem/>. Acesso em: 19 jan. 2018. HALLIDAY, D.; RESNICK, R. Fundamentos de física. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012. (Ele- tromagnetismo, v. 3). VÁLIO, A. B. M. et al. Ser protagonista: Física. 3. ed. São Paulo: Edições SM, 2016. v. 3. Leituras recomendadas BAUER, W.; WESTFALL, G.; DIAS, H. Física para universitários. Porto Alegre: AMGH, 2012. (Eletricidade e Magnetismo, v. 3). FERRARO, N. G.; SOARES, P. A. T.; FOGO, R. Física básica. 3. ed. São Paulo: Atual, 2009. YAMAMOTO, K.; FUKE, L. F. Física para o ensino médio. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. (Eletricidade e Física Moderna, v. 3). YOUNG, H. D.; FREEDMAN, R. A. Física III: eletromagnetismo. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2012. Conceitos fundamentais da Eletrostática14 ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE. PREZADO ESTUDANTE 24 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Parte 2 Cargas Elétricas e Forças O conteúdo deste livro é disponibilizado por SAGAH. unidade 1 V.1 | 2021 26 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Cargas elétricas e forças Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Construir um modelo de carga e explicar fenômenos elétricos básicos. � Diferenciar os processos de eletrização. � Identificar as propriedades elétricas de materiais isolantes e condutores. Introdução O desenvolvimento da eletricidade, assim como a descoberta do fogo, revolucionou completamente o rumo do Homo sapiens no planeta. Seria impossível imaginar o mundo atual sem as premissas de pensadores e os estudos sobre os átomos e as cargas nos últimos séculos. Neste exato momento, no ambiente em que você se encontra, há provavelmente centenas de materiais conduzindo a eletricidade e distribuindo cargas por átomos e moléculas. A consequência disso é o mundo em que vivemos — desde a praticidade que a energia elétrica trouxe até os prazeres que as novas tecnologias possibilitam. Neste capítulo, você vai conhecer um pouco mais sobre eletricidade. Em essência, vai estudar cargas e forças elétricas, bem como os processos de eletrização, que formam o conteúdo base para entender a eletricidade de modo geral. Você vai ler também sobre como alguns materiais se comportam conduzindo eletricidade e classificá-los como isolantes ou condutores. Eletrostática I | UNIDADE 1 Cargas Elétricas e Forças | PARTE 2 27 1 Carga elétrica Para compreender o universo da eletricidade, você precisa conhecer como os materiais que podem ser encontrados no dia a dia são estruturados. Basicamente, toda matéria é formada por elementos fundamentais, conhecidos como átomos, que, quando agrupados, formam moléculas. Veja, por exemplo, que a conhecida molécula da água (H2O), é composta por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. Sabemos, investigando a tabela periódica, que o número atômico do oxigênio é 8. Isso geralmente significa que ele tem oito prótons e oito nêutrons no seu núcleo, assim como possui oito elétrons, sendo considerado um elemento neutro. Perceba na Figura 1 (fora de escala) como um átomo genérico é estruturado. Figura 1. Estrutura de um átomo genérico. Na Grécia Antiga, os filósofos se deparavam com alguns fenômenos até então inexplicáveis. Por exemplo, quando friccionavam um pedaço de âmbar e o aproximavam de pedaços de palhas, estes eram atraídos. A partir dessas observações e da curiosidade de alguns pensadores, a eletricidade começou a ser desenvolvida independentemente, em diversos lugares, por muitos séculos. Hoje sabemos que essa atração é consequência de uma propriedade elétrica intrínseca à matéria, conhecida como carga elétrica. Cargas elétricas e forças2 28 FÍSICA - ELETROMAGNETISMOExistem dois tipos de carga elétrica: as positivas e as negativas. Os seus valores absolutos são iguais e de sinais contrários, anulando-se quando são somados. Portanto, um sistema composto pela mesma quantidade de cargas positivas e negativas é chamado de carga nula. Segundo Alexander e Sadiku (2013), a carga de um único elétron foi definida como o valor negativo de aproximadamente 1,602 × 10−19. O valor absoluto desse número normalmente é representado pela letra “e” e é medido em Coulomb (C), em homenagem a Charles-Augustin de Coulomb (1736–1806). Portanto, e = 1,602 × 10–19 C qe = –e qp = +e qe + qp = 0 onde qe e qp é o valor da carga de um elétron e um próton, respectivamente, em Coulomb. A escolha convencional dos sinais das cargas se deve ao cientista e inventor Benjamin Franklin (1706–1790), um dos pioneiros no estudo da eletricidade. Veio dele também o princípio de conservação da carga, que diz que a carga elétrica total de um sistema isolado é conservada. Em outras palavras, a carga não é criada ou destruída: é simplesmente movida de um objeto para outro. Você viu que um átomo consiste, internamente, de um núcleo contendo prótons e nêutrons e, externamente, de elétrons. Cada próton possui uma carga positiva de valor “e”, que é anulada pela carga negativa de cada elétron. Os nêutrons possuem carga nula e estão fortemente ligados aos prótons, com uma interação que até hoje gera dúvidas aos cientistas. Todos os materiais possuem carga, uma vez que os átomos e as moléculas são formados por partículas carregadas. Contudo, dificilmente notamos os efeitos da carga elétrica, porque a maioria dos objetos é eletricamente neutra, ou seja, possui a mesma quantidade de cargas positivas e negativas. 3Cargas elétricas e forças Eletrostática I | UNIDADE 1 Cargas Elétricas e Forças | PARTE 2 29 Portanto, quando um material é dito carregado negativamente, é porque ele possui mais cargas negativas do que positivas, ou seja, mais elétrons do que prótons. De forma análoga, um material carregado positivamente possui mais cargas positivas do que negativas, ou seja, mais prótons do que elétrons. O carregamento (ou descarregamento) de um material é geralmente ocasio- nado por um processo de eletrização, em que não ocorre a modificação da estrutura nuclear do átomo. Isso significa que um átomo nunca perde prótons nesse processo, apenas recebe (ou perde) elétrons. Veja a representação desse fenômeno na Figura 2. Figura 2. Cargas elétricas. Conforme Bauer, Westfall e Dias (2012), o elétron é uma partícula elementar, e o valor da sua carga é a menor quantidade de carga elétrica já observada. As medições mostram que podem ser encontrados apenas múltiplos inteiros dessa quantidade mínima de carga elementar, e por isso dizemos que a carga elétrica é quantizada. Esses conceitos e as observações dos fenômenos elétricos já haviam sido vistos pelos gregos e pelos mais antigos Homo sapiens, que observavam con- fusamente raios partindo o céu. A partir disso, foi fundamentado o princípio mais crucial da eletricidade: a lei das cargas elétricas. Essa lei diz que cargas de mesmo sinal se repelem, e as de sinais oposto se atraem (Figura 3). Cargas elétricas e forças4 30 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Figura 3. Lei das cargas elétricas: cargas de sinais opostos se atraem e as de sinais iguais se repelem. Ao aproximar um material carregado (tanto positivo quanto negativo) de um objeto neutro, esse material polariza o material neutro, afastando as cargas iguais e atraindo as cargas diferentes da superfície do material. Essa polarização resulta em uma separação das cargas do material neutro, com uma pequena separação entre si, formando um dipolo elétrico. A Figura 4 apresenta a formação do dipolo ao aproximar uma carga externa carregada positivamente de um átomo neutro. Figura 4. Formação do dipolo elétrico. Fonte: Adaptada de Knight (2009). Força resultante sobre o átomo Força sobre os elétrons Força sobre o núcleo Carga externa Centro de carga negativa Centro de carga positiva O átomo é polarizado por cargas externas, gerando um dipolo elétrico. Em um átomo isolado, a nuvem eletrônica está centrada no núcleo. 5Cargas elétricas e forças Eletrostática I | UNIDADE 1 Cargas Elétricas e Forças | PARTE 2 31 A partir dessa separação, foi possível explicar o que acontece com os ma- teriais nos quais os fenômenos elétricos ocorrem. Por exemplo, ao aproximar um balão eletrizado do seu cabelo eletricamente neutro, as cargas do balão vão atrair as cargas opostas do seu cabelo, criando uma força de atração entre os materiais e fazendo o seu cabelo “grudar” no balão, como mostra a Figura 5. Figura 5. Atração do cabelo com o balão eletrizado. Fonte: Livi (2014, documento on-line). Nesta seção, você viu o conceito primordial da eletricidade — a carga elétrica — e como essas cargas se comportam. Viu também que, devido às investigações dos fenômenos elétricos mais básicos, foi possível aos pensado- res concluírem como as forças elétricas se comportavam, bem como as suas consequências para o ambiente. A seguir, você lerá sobre o que ocorre para que os materiais se tornem carregados e como isso ocorre, além de ver outros exemplos de fenômenos elétricos. Cargas elétricas e forças6 32 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO 2 Processos de eletrização Na prática, os átomos dos objetos adquirem carga positiva não por ganharem prótons, mas por perderem elétrons. Os prótons estão extremamente firmes e ligados ao interior do núcleo, e não podem ser adicionados ou removidos do átomo. Por outro lado, os elétrons estão ligados mais frouxamente ao núcleo e podem ser removidos com maior facilidade. O processo de remoção de um elétron do átomo é chamado de ionização e, quando isso acontece, o átomo é chamado de íon positivo, com carga líquida de q = +e. Alguns átomos podem acomodar um elétron extra e, assim, tornarem-se um íon negativo, com uma carga líquida q = –e. Conforme Knight (2009), as forças de atrito geradas pela fricção de dois materiais quebram as ligações moleculares das suas superfícies. As moléculas desses materiais, que até então eram eletricamente neutras por natureza, tornam-se um montante de íons positivos e negativos. Dessa forma, íons positivos permanecem em um material, e íons negativos no outro, de modo que um dos objetos friccionados fica com uma carga líquida positiva e o outro, com uma carga líquida negativa (Figura 6). Figura 6. Processo de eletrização por atrito. Fonte: Adaptada de Knight (2009). Molécula eletricamente neutra Átomos Íon molecular positivo Esta metade da molécula perdeu um elétron na quebra da ligação. Esta metade da molécula ganhou um elétron extra na quebra da ligação. Íon molecular negativo Estas ligações foram quebradas pela fricção. Ligação Fricção Assim, explica-se o fenômeno elétrico resultante da ação de esfregar o pano em um pedaço de âmbar. Com a fricção, são acumulados íons negativos na superfície do âmbar e íons positivos na do pano. Esse processo é denominado de eletrização por atrito e funciona melhor para grandes moléculas orgânicas. Os metais geralmente não podem ser carregados por atrito, apesar de serem ótimos condutores de eletricidade, pois possuem elétrons fracamente ligados aos seus núcleos. A Figura 7 mostra mais detalhadamente esse processo de eletrização. 7Cargas elétricas e forças Eletrostática I | UNIDADE 1 Cargas Elétricas e Forças | PARTE 2 33 Figura 7. Processo de eletrização por atrito. O processo de eletrização por atrito pode acontecer entre diversos tipos de materiais, mas há materiais com maior facilidade em fornecer elétrons (resultando em um corpo positivamente carregado), e outros que são melhores receptores de elétrons (tornando-se corpos negativamente carregado). Para descobrir, entre dois materiais friccionados, qual será o receptor e qual será o doador de elétrons, utiliza-se a tabela da série triboelétrica (Quadro1), que lista materiais de forma ordenada, conforme a sua tendência em doar ou receber elétrons. Por exemplo, no caso da fricção entre um bastão de vidro e pelo de gato, sabemos que o vidro ficará carregado positivamente e o pelo do gato, carre- gado negativamente. Isso se dá porque o vidro está posicionado mais acima da tabela e, portanto, é um material com maior capacidade de liberar elétrons do que o pelo de gato. Existem outros processos de eletrização de materiais, como a eletrização por indução. Essa eletrização ocorre, por exemplo, ao aproximar um bastão de âmbar negativamente carregado a um material condutor neutro, como uma esfera metálica. Nesse caso, essa aproximação gera um movimento dos elétrons da esfera, devido à lei das cargas elétricas, os quais buscam um distanciamento do pedaço de âmbar — mesmo que não ocorra o contato nenhum entre os materiais. Quando isso ocorre, diz-se que a esfera sofreu uma polarização de cargas, como você pode ver na Figura 8. Esse é um estado momentâneo do material neutro e, conforme o bastão é afastado, as suas cargas se distribuem como eram originalmente, e o material continua eletricamente neutro. Cargas elétricas e forças8 34 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Fonte: Adaptado de Netto (2013). + Cabelo Vidro liso Pele humana Poliamida sintética Algodão Seda Papel ou papelão Couro Porcelana Papel de alumínio Madeira Cortiça Pano de acrílico Isopor Saco plástico Canudo plástico Acrílico rígido Tubo de PVC Borracha dura – Quadro 1. Tabela triboelétrica 9Cargas elétricas e forças Eletrostática I | UNIDADE 1 Cargas Elétricas e Forças | PARTE 2 35 Figura 8. Eletrização por indução: polarização do material neutro. Agora, analise o exemplo mostrado na Figura 9. Figura 9. Processo de eletrização por indução. Fonte: Hewitt (2015, p. 414). Segundo Hewitt (2015), em (a) são apresentadas duas esferas metálicas em contato, ambas suspensas necessariamente por um material isolante, formando um único condutor inicialmente neutro. Em (b), ao aproximar um bastão negativamente carregado da esfera A, as cargas negativas das duas esferas, seguindo a lei das cargas elétricas, movem-se para a esfera B, na tentativa de se distanciarem do bastão. As duas esferas de metal estão agora polarizadas. Em seguida, as esferas em (c) são separadas, e ainda há a presença do bastão. As cargas que estavam polarizadas permanecem nas suas respectivas esferas, ou seja, a esfera A está carregada positivamente, e a esfera B, nega- tivamente. Por fim, em (d), ao distanciar o bastão das esferas, as suas cargas permanecem como em (c), e é dito que as esferas sofreram um processo de eletrização por indução. Cargas elétricas e forças10 36 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Caso o bastão negativamente carregado entre em contato com uma esfera metálica inicialmente neutra, como mostra a Figura 10, os elétrons carregados do bastão serão divididos entre os dois materiais, buscando um equilíbrio eletrostático. Assim, ambos tornam-se energizados negativamente. Diz-se, nesse caso, que a esfera sofreu um processo de eletrização por contato. Figura 10. Processo de eletrização por contato. De forma análoga, é possível também que um material carregado positi- vamente entre em contato com um material neutro. Este, então, perde alguns elétrons para que haja um equilíbrio eletrostático entre ambos. Nosso planeta possui uma enorme massa e dimensão e, por isso, funciona como um gigante corpo neutro. Quando qualquer corpo carregado, seja positiva ou negativa- mente, entra em contato com a Terra, essa carga excedente é transferida e distribuída por toda a superfície do planeta (Figura 11). Figura 11. Descarregamento por contato com a Terra. 11Cargas elétricas e forças Eletrostática I | UNIDADE 1 Cargas Elétricas e Forças | PARTE 2 37 O termo aterramento se refere ao descarregamento por contato com a Terra. Ao dizer que o corpo está “aterrado”, queremos dizer que pelo menos uma parte desse corpo está conectado à Terra por meio de um material condutor. A cada instante, incontáveis descargas elétricas ocorrem com o planeta. Porém, devido à sua dimensão, elas se tornam insignificantes, e a sua carga líquida permanece praticamente nula. Podemos dizer que a Terra é considerada eletricamente neutra. Nesta seção, você estudou as formas de se eletrizar um material e o que ocorre, estruturalmente, com os seus átomos. Na seção seguinte, verá como as propriedades estruturais dos átomos influenciam na sua capacidade de conduzir a eletricidade — e, a partir disso, como classificá-los. 3 Propriedades elétricas dos materiais Historicamente, a evolução da humanidade anda lado a lado com a evolução e a descoberta dos materiais. Na Pré-História, os homens eram sujeitos a usar o que a natureza disponibilizava, e as suas descobertas marcaram as etapas da história, como na Idade da Pedra, na Idade do Ferro e na Idade do Cobre ou do Bronze (SMITH; HASHEMI, 2012). Apesar de não ser nomeada dessa forma, a atualidade poderia ser chamada como a Idade do Silício, um material semicondutor que permitiu o grande desenvolvimento da eletrônica, sendo o principal responsável por todo o avanço tecnológico existente na humanidade. Para compreender realmente a eletricidade e o seu vasto universo, não se pode deixar de lado a importância das propriedades elétricas dos materiais utilizados tanto para o seu transporte quanto para a sua proteção e geração. O comportamento físico de um material diante de uma carga elétrica pode classificá-lo em quatro famílias: condutores, isolantes, semicondutores e supercondutores. Condutores e isolantes Os condutores e isolantes são as duas grandes famílias de materiais elétricos e possuem propriedades elétricas, em certo sentido, opostas. Essa classificação é dada em relação à resistência que o material oferece ao movimentar um fluxo de cargas pela sua estrutura. Cargas elétricas e forças12 38 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO A massa de um elétron é muito menor do que a de um próton ou de um nêutron. Portanto, a maior parte da massa de um átomo reside no seu núcleo. Assim, os elétrons podem ser removidos dos átomos com relativa facilidade em certos materiais. Por isso, geralmente os elétrons são os portadores da eletricidade. Uma representação microscópica de um isolante e de um condutor é mostrada na Figura 12. De acordo com Knight (2009), no material isolante, os elétrons estão fortemente conectados ao núcleo atômico, não conseguindo se desprender dele, o que impossibilita que se movimentem livremente. Já no caso dos condutores, os elétrons da camada de valência da eletros- fera (camada mais afastada do núcleo) estão fracamente ligados ao núcleo. A junção de vários átomos de um material condutor faz com que esses elétrons fracamente conectados ao núcleo se desprendam do átomo, movimentando-se livremente pelo material (elétrons livres). Apesar de esses materiais apresen- tarem elétrons se movimentando livremente — criando um “mar de elétrons” —, eles permanecem eletricamente neutros, porque nenhum elétron foi adi- cionado ou removido durante esse processo: eles apenas foram desacoplados do átomo. Assim, os condutores têm uma grande facilidade em movimentar elétrons quando forças elétricas são submetidas ao material. Esse fluxo de cargas é denominado de corrente. Figura 12. Uma visão microscópica dos isolantes e condutores. Fonte: Adaptada de Knight (2009). MetalIsolante Núcleo Elétrons do caroço Elétrons de valência Os elétrons de valência estão fortemente ligados. Os elétrons de valência formam um “mar de elétrons”. Íons positivos do caroço 13Cargas elétricas e forças Eletrostática I | UNIDADE 1 Cargas Elétricas e Forças | PARTE 2 39 Os condutores mais utilizados são os metais, sendo o ouro, a prata e a platina os melhores condutores. No entanto, em função do seu custo alto, são pouco utilizados na transmissão de energia elétrica. Por outrolado, o cobre e o alumínio são muito utilizados, porque apresentam boa condutividade e baixo custo. Como exemplos de bons isolantes, temos a borracha, o vidro, os plásticos, os materiais cerâmicos, a madeira seca, entre outros. Na prática, os isolantes são muito utilizados para isolar os materiais condutores transmissores de grandes quantidades de carga, como no caso dos cabos utilizados para conectar qualquer aparelho elétrico. Internamente, esses materiais são compostos por condutores — na grande maioria, por fios de cobre — e, externamente, esses fios são encapados por um isolante (Figura 13). Este impede que qualquer usuário ou objeto entre em contato com o condutor, sofrendo a descarga da carga que passa pelo fio, o que pode resultar em grandes choques ou até em morte. Figura 13. Fios elétricos compostos por materiais isolantes e condutores. Fonte: Adaptada de Andraplan Consultoria (2010). Cargas elétricas e forças14 40 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Semicondutores As propriedades elétricas dos materiais semicondutores são intermediárias às propriedades dos condutores e isolantes. Esses materiais são compostos por propriedades únicas, capazes de desempenhar funções que revolucionaram a história da eletrônica, possibilitando todo o desenvolvimento tecnológico existente hoje. São exemplos de semicondutores o germânio (Ge) e o silício (Si), que são os materiais semicondutores mais utilizados, em função das suas excelentes propriedades elétricas, bem como da sua abundância na natureza. Esses com- ponentes, na sua forma pura, não são bons condutores nem isolantes; porém, quando se adicionam mínimas impurezas na sua estrutura cristalinas, são capazes de operar ora como condutores, ora como isolantes. Com a descoberta desses semicondutores, nos anos 1970, desenvolveram-se os transistores, que são dispositivos eletrônicos responsáveis pelo desenvolvi- mento de todos os demais dispositivos eletrônicos existentes. A partir da sua criação, foi possível a construção de processadores, computadores, celulares e todas as tecnologias indispensáveis atualmente. Uma forma simples de explicar como funcionam os transistores é compará- -los a um interruptor de luz que controla o fluxo de carga em um sistema. Ao receber um comando elétrico, o transistor se comporta como um condutor; ao receber novamente esse comando, comporta-se como um isolante, contro- lando o momento exato de um fluxo de carga. O Vale do Silício, localizado na costa oeste dos Estados Unidos, é o maior polo de inovação do mundo. Nessa região, estão situadas as maiores empresas de tecnologia nas áreas da eletrônica e da informática, como Facebook, Apple, Google, eBay, San- Disk, Asus, entre outras. Esse polo de inovação recebeu esse apelido em função do semicondutor silício, responsável pela produção e evolução de todas as tecnologias de circuitos integrados e eletrônicos. 15Cargas elétricas e forças Eletrostática I | UNIDADE 1 Cargas Elétricas e Forças | PARTE 2 41 Supercondutores Os condutores, apesar de apresentarem facilidade no transporte de carga elétrica, têm uma pequena resistência, que é responsável por transformar a energia elétrica transmitida em calor — denominado de perda elétrica. Em linhas de transmissão de energia com mais de 400 km de extensão, isso pode resultar em perdas de mais de 10% da energia transferida. Devido a esse e a outros fatores, muitos cientistas tentaram encontrar materiais capazes de realizar o transporte de carga com uma resistência nula. Com isso, em 1911, o físico holandês Heike Kamerlingh-Onnes observou que, ao resfriar um condutor de mercúrio a –269,15°C, a sua resistência elétrica se anulava, o que o tornava um material supercondutor. A utilização de supercondutores ainda está muito limitada aos ramos de transmissão de energia, principalmente porque o material precisa estar operando em temperaturas extremamente baixas. Porém, com o desenvol- vimento de novas tecnologia e o avanço das pesquisas na área, futuramente esses materiais talvez possam ser implementados mais facilmente à realidade. Em função das suas propriedades elétricas, os supercondutores também são capazes de gerar campos magnéticos poderosos. Esses supercampos magnéticos são aplicados, na prática, em trens de levitação magnética, capazes de atingir velocidades de até 600 km/h. ALEXANDER, C. K.; SADIKU, M. N. O. Fundamentos de circuitos elétricos. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. ANDRAPLAN CONSULTORIA. Consultoria para certificação de condutores elétricos. 2010. Disponível em: https://andraplan.com.br/servicos/condutores-eletricos.html. Acesso em: 08 jun. 2020. BAUER, W.; WESTFALL, G. D.; DIAS, H. Física para universitários: eletricidade e magnetismo. Porto Alegre: AMGH, 2012. HEWITT, P. G. Física conceitual. 12. ed. Porto Alegre: Bookman, 2015. KNIGHT, R. D. Física: uma abordagem estratégica. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. (Eletricidade e Magnetismo, v. 3). Cargas elétricas e forças16 42 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO LIVI. Ciência em casa: brincando com a eletricidade estática. 2014. Disponível em: http://baianosnopolonorte.com/coisas-de-mae/ciencia-em-casa-brincando-com-a- -eletricidade-estatica/. Acesso em: 08 jun. 2020. NETTO, L. F. Série triboelétrica dos materiais. 2013. Disponível em: https://pa-rumao. blogspot.com/2013/02/serie-triboeletrica-dos-materiais.html. Acesso em> 08 jun. 2020. SMITH, W. F.; HASHEMI, J. Fundamentos de engenharia e ciência dos materiais. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. Leituras recomendadas ALUNOS ONLINE. Levitação magnética (princípio do Maglev). 2020. Disponível em: https:// alunosonline.uol.com.br/fisica/levitacao-magnetica-principio-maglev.html. Acesso em: 08 jun. 2020. ASSIS, A. K. T. Os fundamentos experimentais e históricos da eletricidade. Quebec: Apeiron. 2018. v. 2. Disponível em: https://www.ifi.unicamp.br/~assis/Eletricidade-Vol-2.pdf. Acesso em: 08 jun. 2020. HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física: eletromagnetismo. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2009. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 17Cargas elétricas e forças ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE. PREZADO ESTUDANTE 44 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Parte 3 Lei de Coulomb O conteúdo deste livro é disponibilizado por SAGAH. unidade 1 V.1 | 2021 46 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Lei de Coulomb Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Determinar as características da força de interação entre cargas elé- tricas e como ela pode ser encontrada. � Definir o princípio da superposição por meio da aplicação de conceitos vetoriais. � Reconhecer a semelhança entre a Lei de Coulomb e a Lei da Gravi- tação Universal. Introdução Eletrostática, ramo da física que estuda cargas elétricas em repouso, é um tema bastante presente no nosso dia a dia. Por exemplo, quando você remove alguma embalagem plástica e esta parece grudar em sua mão, ou em outras aplicações, como impressoras a laser e alguns tipos de pinturas. Neste capítulo, você aprenderá sobre a Lei de Coulomb, que trata da força eletrostática entre duas partículas carregadas, e, posteriormente, como tratar problemas com diversas partículas. Você verá também um ponto curioso, que seria as semelhanças e as diferenças entre a Lei de Coulomb e a Lei de Gravitação. A Lei de Coulomb Antes de falar sobre a Lei de Coulomb, vamos relembrar rapidamente alguns conceitos sobre carga elétrica. Todos os objetos que conhecemos, incluindo nós mesmos, armazenam cargas elétricas (HALLIDAY,RESNICK, WALKER, 1996a). Podemos dizer que as cargas dividem-se em dois tipos: positivas e negativas (HALLIDAY, RESNICK, WALKER, 1996a; TEIXEIRA, 2017). Se um objeto possui a mesma quantidade de cargas positivas e negativas, ele está em equilíbrio de cargas, e o chamamos de neutro (HALLIDAY, RESNICK, WALKER, 1996a). Eletrostática I | UNIDADE 1 Lei de Coulomb | PARTE 3 47 Os objetos que apresentam carga elétrica interagem entre si, exercendo forças sobre os outros. Os que contêm carga com mesmo sinal elétrico repelem- -se, enquanto os que contêm sinais opostos atraem-se, conforme Figura 1. Esse fenômeno também é conhecido como “princípio de atração e repulsão de cargas elétricas”. Figura 1. Princípio de atração e repulsão entre cargas elétricas. Fonte: Menezes e Veras (2016). repulsão repulsão atração Eu ni ce To yo ta A Lei de Coulomb foi introduzida por Charles Augustus Coulomb, em 1785 (HALLIDAY, RESNICK, WALKER, 1996a). Ela diz respeito à força eletrostática entre duas partículas carregadas. Assim, o módulo da força ele- trostática entre duas cargas carregadas é proporcional ao módulo das cargas e inversamente proporcional à distância entre elas ao quadrado. Ou seja: F = k q1q2 r2 Lei de Coulomb2 48 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Onde k é a constante eletrostática, q1 e q2 são os módulos das cargas em Coulomb (C), r é o módulo da distância entre as cargas em metros (m) e F é o módulo da força em Newtons (N). A constante eletrostática k é equivalente a 1 4πƐ0 ≅ 9,0 · 109N · m2/C2, e a grandeza ε0 é chamada de constante de per- missividade, e seu valor é 8,85 ∙ 10-12 C2/N ∙ m2. A equação acima nos dá o módulo da força. A direção de F dá-se ao longo da linha que liga as duas cargas, e o sentido depende do sinal das cargas eletrostáticas. As forças apontarão para fora se as cargas forem iguais, ou apontarão para dentro se as cargas forem opostas, como mostrado na Figura 2. Figura 2. Direção e sentido da força eletrostática para duas cargas com os mesmos sinais ou com sinais opostos. -F -F -FF F F q1 q2 3Lei de Coulomb Eletrostática I | UNIDADE 1 Lei de Coulomb | PARTE 3 49 A Balança de Torção de Coulomb Charles Augustin Coulomb, em junho de 1785, anunciou para a Academia de Ciências de Paris que tinha desenvolvido um aparato experimental altamente sensível para o estudo das forças eletrostáticas (MARTÍNEZ, 2006), que ficou conhecido posteriormente como a Balança de Torção de Coulomb. A balança era composta por uma haste metálica, contendo uma esfera metálica em cada extremidade, suspensa por um fio, os quais poderiam girar livremente. Outra esfera estática ficava posiciona próxima a uma das presas na haste, e todo o aparato era envolto por um cilindro de vidro, conforme representado na figura a seguir. Coulomb, então, carregava eletricamente a esfera estática, que dividia sua carga com a esfera da haste. Consequentemente, devido à força elétrica entre elas, estas se repeliam, provocando uma torção no fio. Medindo o ângulo de torsão, Coulomb foi capaz de determinar a força entre as esferas. Após diversas medidas, Coulomb desenvolveu e formalizou a Lei de Coulomb, a qual estabelece que a força é proporcional ao produto do módulo das cargas e inversamente proporcional à distância entre elas ao quadrado. q2 q1 �o de torção Fontes: Mundo Educação (c2018) e Miranda e Lima (2009). Lei de Coulomb4 50 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Princípio da superposição Imagine agora que temos não apenas 2, mas 3 cargas, como mostrado na Figura 3a. Como poderíamos obter a força resultante em uma dessas partí- culas? A força eletroestática obedece ao princípio da superposição. Ou seja, elas interagem aos pares de maneira independente, como mostrado na Figura 3b, onde F12 é a força que atua na partícula 1 devido à partícula 2, e assim por diante. Então, para sabermos a força resultante, por exemplo, na partícula 1, fazemos uma soma vetorial: FR1 = F12 + F13 Como representado na Figura 3c. Figura 3. Representação do princípio da superposição. a) Sistema com 3 cargas positivas estáticas. b) Forças eletroestáticas entre as três cargas. c) Força eletrostática resultante na carga 1 devido às forças provocadas pelas cargas 2 e 3. F13 F12 ++ + + + 2 F21 F13 FR cba F23 F32 F12 F31 22 3 33 111 + + + + Assim, se tivermos n partículas, a força resultante em cada uma delas é a soma das forças produzidas por todas as outras n ̶ 1 nesta mesma partícula: FR1 = F12 + F13 + ... + F1n = ∑ n i = 2 F1i Para resolvermos problemas com sistema de cargas, teremos, então, que muitas vezes utilizar de decomposição vetorial das forças. Veja o exemplo a seguir. 5Lei de Coulomb Eletrostática I | UNIDADE 1 Lei de Coulomb | PARTE 3 51 Dado o seguinte sistema de cargas, encontre a força resultante na carga 1. Considere que os módulos das cargas são iguais, ou seja, q1 = q2 = q3 = q4 = q, e as distâncias entre cada uma delas à carga 1 seja d e θ=30°. Pelo princípio da superposição, sabemos que a força resultante na carga 1 é a soma vetorial das forças devido às outras cargas do sistema: FR1 = F12 + F13 + F14 Vamos iniciar calculando os módulos das forças: F12 = k q1q2 d2 = k = k qq d2 q2 d2 F13 = k q1q3 d2 = k = k qq d2 q2 d2 F14 = k q1q4 d2 = k = k qq d2 q2 d2 Note que os módulos de todas as forças são iguais. Assim F12 = F13 = F14 = F. Os módulos são iguais, mas as direções não. Observe o esquema das forças a seguir: Lei de Coulomb6 52 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Agora, vamos usar de decomposição das forças para encontrar a resultante. Note que os módulos das componentes em y das forças F12 e F13 são iguais: F12 = F12cosθ = Fcosθ y F13 = F13cosθ = Fcosθ y Assim, essas se cancelam, pois têm sentido contrário: F1R = F13 - F12 = Fcosθ - Fcosθ = 0 y y y Agora, vamos olhar as componentes em x. F12 = F12senθ = Fsenθ x F13 = F13senθ = Fsenθ x F14 = F14 = F x Calculando a resultante em x: F1R = F14 - F12 - F13 = F - Fsenθ - Fsenθ = F - 2Fsenθ = F - 2F = F - F = 0 x x x x 1 2 Assim, a força resultante na carga 1 é zero. Ao resolver problemas com sistema de cargas, fique atento às simetrias. Como visto no exemplo acima, componentes das forças podem cancelar-se, evitando cálculos desnecessários. Cargas em equilíbrio O equilíbrio estático ocorre quando a soma vetorial das forças atuantes no objeto em questão é nula. Dessa maneira, podemos imaginar que existem con- figurações onde cargas estejam em equilíbrio. Suponha duas cargas positivas, q1 e q2, posicionadas ao longo do eixo x, especificamente em x1 e x2, como mostrado na Figura 4a (Bauer). Se inserirmos uma carga negativa q3 entre as duas primeiras (Figura 4b), podemos perguntar-nos qual seria a posição x3 7Lei de Coulomb Eletrostática I | UNIDADE 1 Lei de Coulomb | PARTE 3 53 para que essa carga esteja em equilíbrio. Ou seja, onde deveríamos posicionar q3 para que o módulo da força F31 seja igual ao da força F32? Figura 4. Configuração possível para carga em equilíbrio. a) Cargas positivas, q1 e q2, posicionadas no eixo x em x1 e x2. b) Uma terceira carga é colocada entre as duas primeiras. Essa sofre ação das forças F31 e F32. Fonte: Bauer, Westfall e Dias (2012). q2 x2 q2 x2x3 q1 q1 x1 x1 x x y a) b) y q3 F2→3F1→3 Para responder a essa questão, basta igualar o módulo das forças, ou seja: F31 = F32 Os módulos das forças são dados pela Lei de Coulomb, substituindo: k q1q3 (x3 - x1) 2 q2q3 (x2 - x3) 2= k q1 (x3 - x1) 2 q2 (x2 - x3) 2= q1 (x2 - x3) 2 = q2 (x3 - x1) 2 √q1(x2 - x3) = √q2(x3 - x1) √q1x3 + √q2x3 = √q1x2 + √q2x1 x3 = √q1x2 + √q2x1 √q1 + √q2 Assim, encontramos o valor de x3 para quaisquer valores de q1, q2, x1 e x2. Podemos testar alguns valores. Por exemplo, suponha que q1 = q2 = 4 C, x1 = 0 m e x2 = 10 m. Para esses valores, encontramos que x3 = 5 m, o que é esperado devido à simetria do problema, pois, se as cargas são iguais, os Leide Coulomb8 54 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO módulos das forças que agem na terceira carga serão iguais caso a distância entre elas e a terceira carga também forem iguais. Caso o módulo de uma das cargas seja maior, como, por exemplo, q1 = 4 C e q2 = 16 C, e mantendo as mesmas posições, a posição da terceira carga será mais próxima à carga com menor valor, x3 = 3,3 m. A Lei de Coulomb e a Lei da Gravitação Universal Vamos relembrar brevemente a Lei da Gravitação Universal. Isaac Newton, em 1665, propôs que todas as partículas atraem qualquer outra com uma força gravitacional com módulo dado por (HALLIDAY, RESNICK, WALKER, 1996b): F = G m1m2 r2 Onde m1 e m2 são as massas das partículas, r é a distância entre elas e G é a constante de gravitação universal, G = 6,67 ∙ 10-11N ∙ m2/kg2. A Figura 5 mostra um esquema com duas partículas de massa m1 e m2. A partícula de massa m2 atrai a partícula de massa m1 com força de módulo F e direção de m1 para m2. E a partícula de massa m1 atrai a de massa m2, também com módulo F, mas com sentido oposto. Figura 5. Representação da força de atração sentida por duas partículas. m1 m2 F -F r 9Lei de Coulomb Eletrostática I | UNIDADE 1 Lei de Coulomb | PARTE 3 55 Se voltarmos para a expressão da Lei de Coulomb, podemos ver que ambas têm a mesma forma: as forças são proporcionais à multiplicação do módulo das cargas, ou a multiplicação das massas, e são inversamente proporcionais à distância ao quadrado. Note que, se a distância entre as cargas ou massas for dobrada, ambas as forças diminuirão por um fator de 4. Assim, para cargas ou massas muito distantes, essas forças serão insignificantes. Outra semelhança que podemos citar é que ambas obedecem ao princípio da superposição. A principal diferença entre as duas forças é que as forças gravitacionais são sempre atrativas, enquanto que as forças eletroestáticas podem ser tanto atrativas como repulsivas, dependendo do sinal das cargas elétricas. Podemos comparar as duas forças para partículas que conhecemos. Vamos tentar? A Tabela 1 mostra as características de prótons e elétrons. Se posicionar um próton e um elétron a uma distância de 1 metro, qual você acha que é maior: a força eletrostática ou a gravitacional? Massa (kg) Carga (C) Próton 1,7 ∙ 10-27 1,6 ∙ 10-19 Elétron 9,1 ∙ 10-31 –1,6 ∙ 10-19 Tabela 1. Massa e carga aproximadas de prótons e elétrons (Halliday 2, 3). Usando a Lei da Gravitação, encontramos que: Fg = G m1m2 r2 Fg = 6,7 ∙ 10-11 1.7 ∙ 10-27 ∙ 9,1 ∙ 10-31 12 ≅ 1,0 10-67N Lei de Coulomb10 56 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Agora, usando a Lei de Coulomb, encontramos: q1q2 d2Fel = k Fel = 9,0 ∙ 109 1.6 ∙ 10-19 ∙ 1,6 ∙ 10-19 12 = 2.3 ∙ 10-28 N As duas forças são pequenas, mas comparando as duas: Fel Fg = 2.3 ∙ 10-28 1,0 ∙ 10-67 ~2 ∙ 1039 Vemos que a força eletrostática é 2 ∙ 1039 vezes maior que a força gravita- cional. Ou seja, para partículas como prótons e elétrons, a força gravitacional entre elas é insignificante, diferentemente de corpos que possuem massas muito grandes, como planetas. No caso da Terra e da Lua, a força gravitacional é aproximadamente 2,0 ∙ 1020N. Já a força eletrostática é insignificante, pois eles podem ser considerados quase neutros. 1. O gráfico a seguir mostra a variação do módulo da força eletrostática entre duas cargas com a distância entre elas. Quando o módulo da distância entre elas é d, o módulo da força eletrostática é F. Quais os valores, em função de F, dos módulos das forças para as distâncias d /2 e 2d? F F ? ? 0 d 2 d 2d d 11Lei de Coulomb Eletrostática I | UNIDADE 1 Lei de Coulomb | PARTE 3 57 BAUER, W.; WESTFALL, G.; DIAS, H. Física para universitários: eletricidade e magnetismo. Porto Alegre: AMGH, 2012. HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física: eletromagnetismo. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1996a. ______; ______; ______. Fundamentos de física: gravitação, ondas e termodinâmica. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1996b. MARTÍNEZ, A. A. Replication of Coulomb’s torsion balance. Archive for History of Exact Sciences, v. 60, p. 517-563, 2006. MENEZES, G.; VERAS R. Física no Leonor. Salvador: Física no Leonor, 2016. Disponível em: <http://fisicanoleonor.blogspot.com.br/2016/03/3-ano-principios-da-eletrostatica. html>. Acesso em: 30 jan. 2018. MIRANDA, P. H. R.; LIMA, W. S. Balança de torção. [S.l.]: Eletromagnetismo, 2009. Dispo- nível em: <http://eletromagnetismoifes.blogspot.com.br/2009/03/balanca-de-torcao. html>. Acesso em: 30 jan. 2018. MUNDO EDUCAÇÃO. Charles Coulomb. [S.l.]: Mundo Educação, c2018. Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/fisica/charles-coulomb.htm>. Acesso em: 30 jan. 2018. TEIXEIRA, M. M. O que é carga elétrica? [S.l.]: Brasil Escola, 2017. Disponível em: <http:// brasilescola.uol.com.br/o-que-e/fisica/o-que-e-carga-eletrica.htm>. Acesso em: 30 jan. 2018. Leituras recomendadas DICKMAN, S. Could Coulomb’s experiment result in Coulomb’s law? Science, v. 22, n. 5133, p. 500-501, 1993. EDUCABRAS. Lei de Coulomb. [S.l.]: Educabras, c2018. Disponível em: <https://www. educabras.com/ensino_medio/materia/fisica/corrente_eletrica/aulas/lei_de_cou- lomb>. Acesso em: 30 jan. 2018. GRIFFITHS, D. J. Introduction to electrodynamics. 3rd ed. New Jersey: Prentice Hall, 1999. PORTAL SÃO FRANCISCO. Balança de Coulomb. [S.l.]: Portal São Francisco, c2018. Dis- ponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/fisica/balanca-de-coulomb>. Acesso em: 30 jan. 2018. SANTOS, M. A. S. A balança de torção de Coulomb. [S.l.]: Brasil Escola, 2017. Disponível em: <http://brasilescola.uol.com.br/fisica/a-balanca-torcao-coulomb.htm>. Acesso em: 30 jan. 2018. SILVA, D. C. M. Carga elétrica. [S.l.]: Brasil Escola, 2017. Disponível em: <http://brasilescola. uol.com.br/fisica/carga-eletrica.htm>. Acesso em: 30 jan. 2018. 13Lei de Coulomb ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE. PREZADO ESTUDANTE Parte 4 Campo Elétrico O conteúdo deste livro é disponibilizado por SAGAH. unidade 1 V.1 | 2021 60 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Campos elétricos criados por anéis, discos, planos e esferas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Construir linhas de força para esquematizar os campos elétricos ge- rados por anéis, discos, planos e esferas. � Identificar as simetrias e utilizar o princípio da superposição para simplificar os cálculos de campo elétrico. � Calcular o campo elétrico gerado por anéis, discos, planos e esferas em um determinado ponto do espaço. Introdução O desenvolvimento de toda a tecnologia utilizada atualmente só foi possível graças à compreensão e ao domínio da energia elétrica. Desse modo, a compreensão do campo elétrico e dos seus efeitos transformou todo o sistema de energia, bem como colaborou com várias outras áreas de estudos. Além disso, o campo elétrico é essencial para a sobrevivência de vários seres vivos, como os tubarões, que encontram suas presas a enormes distâncias, ou até mesmo em processos de polinização de flores, o que ajuda a garantir a reprodução de várias espécies do meio ambiente. Neste capítulo, você conhecerá o conceito de campo elétrico e verá como calculá-lo e visualizá-lo. Além disso, conhecerá o conceito de simetria, que é de grande importância para compreender como as cargas são distribuídas em um material. Por fim, verá como utilizar o princípio da superposição para facilitar os cálculos de um campo elétrico. Anéis, discos, planos e esferas carregadas serão o foco deste capítulo, por serem materiais utilizados como base para descrever o campo elétrico em materiais mais complexos. Eletrostática I | UNIDADE 1 Campo Elétrico | PARTE 4 61 1 Campo elétrico Até onde sabemos, os materiais dispostos no nosso universo, em certa di- mensão, são compostos basicamente de elétrons, prótons e nêutrons, os quais carregam cargaelétrica. A diferença de cargas entre os materiais gera uma força elétrica entre eles, com intensidade, direção e sentido. De acordo com uma das leis primordiais da eletricidade — a lei das cargas elétricas —, as cargas de sinais opostos se atraem, ao passo que as de sinais iguais se repelem (Figura 1). Figura 1. Lei das cargas elétricas. Fonte: Adaptada de Knight (2009). Duas cargas positivas 2 sobre 1 1 sobre 2 Duas cargas negativas 2 sobre 1 1 sobre 2 Cargas opostas 2 sobre 1 1 sobre 2 Campos elétricos criados por anéis, discos, planos e esferas2 62 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Segundo Knight (2009), em 1785, Charles Coulomb enunciou que a força elétrica entre os corpos obedecia à lei do inverso do quadrado, análoga à lei de Newton da gravitação. De acordo com a lei de Coulomb, se duas partículas eletrizadas com cargas q1 e q2 (como na Figura 1) estão à uma distância r, o módulo das forças entre si é dado por: (Equação 1) onde k é a constante eletrostática, arredondado, na maioria das vezes, para Observe que a Equação 1 fornece apenas o módulo da intensidade. No caso da Figura 1, as forças estão orientadas ao longo de um eixo que passa pelas duas partículas. Primeiramente, tem-se dois exemplos de cargas de sinais iguais, com forças repulsivas, e, então, cargas de sinais contrários, com forças atrativas. A lei de coulomb é geralmente descrita com o uso da constante eletrostática k, porém, em cálculos de campo elétrico — foco deste capítulo —, é utilizada a constante de permissividade, cuja relação com k é a seguinte: Portanto, reescrevendo a lei de Coulomb em termos da constante de per- missividade ∈o, tem-se que: (Equação 2) 3Campos elétricos criados por anéis, discos, planos e esferas Eletrostática I | UNIDADE 1 Campo Elétrico | PARTE 4 63 Na segunda seção deste capítulo, será descrito com mais detalhes como encontrar o sentido e a direção da força elétrica pela lei de Coulomb. Agora, faz-se necessário apenas conhecer superficialmente a existência dessa força para ser construído o conceito de campo elétrico. Quanto à força elétrica, faz-se a seguinte pergunta: como as partículas afetadas por essa força sabem da existência uma da outra? Em outras palavras, se essas partículas não se encostam, por que são afetadas uma pela presença da outra? Como explicar uma ação a distância, já que não existe interação visível entre as partículas? Michael Faraday, nascido em 1791, ilustrou pela primeira vez a ideia de campo elétrico, com base em estudos sobre as forças de ação a distância, isto é, em que não é necessário haver contato, como a gravidade e as forças elétricas e magnéticas, já estudadas anteriormente por Newton. Segundo Faraday, uma partícula carregada não exerce força sobre outras, e sim causa uma alteração no espaço em sua volta, o qual gera forças em outras cargas. Essa alteração no espaço em torno de si é chamada de campo elétrico, e a partícula causadora da alteração é dita como a carga-fonte desse campo elétrico. De forma análoga, a alteração do espaço em torno de um objeto de massa é chamada de campo gravitacional. A Figura 2, a seguir, apresenta duas cargas puntiformes e seus respectivos diagramas de campo. Observe que as cargas-fonte estão isoladas, ou seja, não existem cargas sofrendo forças em seu campo elétrico. Portanto, a figura apenas exemplifica o conceito do campo elétrico e apresenta a visualização de seus vetores de forças. Figura 2. Diagrama de forças de um campo elétrico: (a) campo elétrico de uma carga positiva; (b) campo elétrico de uma carga negativa. Fonte: Adaptada de Knight (2009). Campos elétricos criados por anéis, discos, planos e esferas4 64 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Para a criação desses vetores, são utilizadas cargas de provas (os pontinhos pretos que geram os vetores), que são cargas positivas utilizadas apenas para indicar a orientação da força neste ponto, suficientemente pequenas a ponto de não afetarem o campo elétrico da carga-fonte. Como o nome diz, elas são cargas com o propósito apenas de verificar como seria nestes pontos o sentido da força elétrica, caso exista ali uma carga positiva. É importante deixar claro que, em todos os pontos do espaço, existe a ação do campo elétrico em questão (e não apenas onde passam os vetores), porém, para uma melhor visualização, é suficiente ilustrar apenas alguns pontos. Em alguns diagramas de campo, a seta indica, além da orientação, a in- tensidade do campo elétrico no ponto da carga de prova. O comprimento dos vetores é relevante somente em comparação aos comprimentos dos outros vetores do diagrama em questão. Observe que, na Figura 2, o comprimento dos vetores é maior nas proximidades da carga-fonte, onde a intensidade do campo é maior. Além dos diagramas de campo, outra forma de se representar um campo elétrico com maior clareza visual é utilizando as chamadas linhas de força do campo elétrico, isto é, curvas contínuas desenhadas tangencialmente aos vetores do campo elétrico (Figura 3). Figura 3. (a) Diagrama de Forças de um Campo; (b) linhas de forças de um campo. Fonte: Adaptada de Knight (2009). 5Campos elétricos criados por anéis, discos, planos e esferas Eletrostática I | UNIDADE 1 Campo Elétrico | PARTE 4 65 Observe que as duas imagens da Figura 3 representam o mesmo campo elétrico, porém é possível ter um entendimento muito melhor com as linhas de forças, em (b). Por convenção, as cargas positivas geram linhas de forças que se distan- ciam da fonte, ao passo que as cargas negativas geram linhas de forças que convergem para a fonte, como mostrado na Figura 2. Por esse motivo, uma carga positiva em um ponto de um campo elétrico sofrerá uma força conforme o sentido de suas linhas de força, ao passo que uma carga negativa sofrerá essa força no sentido contrário. Como visto, o campo elétrico é apenas uma alteração no espaço que causará uma força elétrica na carga que estiver presente. Essa alteração do espaço existe independentemente das cargas que sofrem seus efeitos, pois ela depende apenas da existência da carga-fonte. A Figura 4, a seguir, apresenta uma carga-fonte negativa e suas linhas de campo elétrico. Observe que há a presença de uma carga sofrendo uma força no sentido das linhas de campo, o que indica que essa carga é de sinal positivo. O vetor intensidade desse campo elétrico, E(r), é dado pela seguinte equação: (Equação 3) Figura 4. Vetor campo elétrico. Fonte: Adaptada de Halliday, Resnick e Walker (2009). Campos elétricos criados por anéis, discos, planos e esferas6 66 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Observe que o campo elétrico, E(r), é definido e depende de um ponto vetorial r do espaço — ou seja, dada uma carga-fonte, para cada ponto do espaço neste campo é gerado um campo elétrico com intensidade, direção e sentido —, sendo calculado dividindo-se a força elétrica resultante sobre a carga de prova neste ponto pela própria carga de prova. Portanto, sua unidade é N/C, sua orientação segue a da força elétrica e seu sentido depende do sinal da carga-fonte. Na próxima seção, serão descritos com mais detalhes os cálculos de campo elétrico. Por ora, é suficiente saber que o campo elétrico, por ser uma gran- deza vetorial, sofre o princípio da superposição, ou seja, se diversas fontes de um campo elétrico estiverem juntas, o campo elétrico resultante em um ponto qualquer será determinado pela soma dos vetores dos campos elétricos gerados por cada carga individualmente. A Figura 5, a seguir, mostra o campo elétrico resultante Eres = E1 + E2. Figura 5. Campo elétrico resultante. Fonte: Adaptada de Knight (2009). 7Campos elétricos criados por anéis, discos, planos e esferas Eletrostática I | UNIDADE 1 Campo Elétrico | PARTE 4 67 A partir do princípio de superposição, são construídas as linhas de um campo elétrico com múltiplas cargas (Figura 6). Figura 6. Linhas de forças. Fonte: Adaptada Bauer, Westfall e Dias (2012). Observeque, na Figura 6 (à esquerda), o vetor resultante do campo elétrico na carga de prova em questão é calculado por meio da soma vetorial das forças dos campos atuantes nela, causadas tanto pela carga positiva quanto pela negativa. Com essa técnica, é possível definir que as linhas de forças seguem sempre o sentido da carga de maior intensidade para a carga de menor intensidade, portanto, é dito que as linhas saem das cargas positivas e chegam às cargas negativas. Além disso, pode-se perceber, na Figura 6 (à direita), que não existem linhas de campo elétrico no ponto médio entre as duas cargas positivas, devido à anulação vetorial neste ponto, isso se for considerado que as duas cargas positivas são de mesma intensidade. É importante ressaltar que é apenas neste ponto que há a anulação do campo elétrico, visto que, embora existam forças de atuação nas proximidades do ponto médio, elas são de baixas intensidades. Os campos elétricos estudados na engenharia e na ciência são, em grande parte, compostos de distribuições complexas de cargas, o que requer cálculos bastante complexos. Todavia, em vários casos, é possível compreender a física envolvida apenas por meio de comparações de modelos simplificados de campos elétricos. A Figura 7, a seguir, apresenta diagramas de campos gerados por modelos de cargas essenciais para a compreensão geral desse fenômeno, sendo estes materiais utilizados como modelos que facilitam os cálculos mais estruturados. Campos elétricos criados por anéis, discos, planos e esferas8 68 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Figura 7. Campo elétrico em: (a) anéis; (b) discos; (c) planos infinitos; e (d) esferas. Observe que os materiais da Figura 7 são considerados com cargas posi- tivas e, dessa forma, possuem linhas de campo que saem das cargas-fonte. Na Figura 7a, é representado o diagrama de campo de um anel carregado, no qual as linhas se anulam no centro do anel, pois há o cancelamento das cargas diametralmente opostas. As Figuras 7b e c representam o diagrama de campo de um disco e de um plano infinito, respectivamente. Observe que, no diagrama de campo do plano infinito, as linhas saem ortogonais ao plano, o que também ocorre no disco, exceto próximo às bordas, onde também deve ser considerado o campo gerado pela lateral da borda para encontrar o campo resultante, tornando as linhas curvas nessas regiões. Na Figura 7d, é apre- sentada uma esfera carregada, que gera um diagrama de campo equivalente a uma carga puntiforme. 9Campos elétricos criados por anéis, discos, planos e esferas Eletrostática I | UNIDADE 1 Campo Elétrico | PARTE 4 69 2 O princípio da superposição e da simetria Visando a deixar claro o conhecimento apresentado na seção anterior, serão expostos alguns exemplos mais detalhados de cálculos que abordam a maior parte dos conceitos citados. O conceito de força elétrica é a premissa fundamental para o entendimento do campo elétrico, e é pela lei de Coulomb que se descreve a intensidade dessa força. A lei de Coulomb diz que a força elétrica entre dois corpos é diretamente proporcional ao produto de suas cargas e inversamente proporcional ao qua- drado de sua distância. Em outras palavras, se um corpo A causa uma força F em um corpo B, separados por uma distância d, ao triplicar a sua distância para 3d, sua força será 9 vezes menor, ou seja, F/9. De modo análogo, se os dois corpos forem aproximados de forma que permaneçam a uma distância três vezes menor (d/3), sua força se tornará 9 vezes maior, ou seja, 9F. Contudo, se as cargas permanecerem à mesma distância, porém uma delas tiver a sua carga triplicada, a força, consequentemente, também será triplicada. Observe que a Equação 1 descreve apenas o módulo da intensidade da força e ignora os sinais das cargas, já que estão em módulo. Assim, o sentido será definido sem o uso da equação, apenas de acordo com o sinal das cargas, e a direção será a do eixo entre as cargas. Mas, então, como é calculada a força entre três ou mais cargas? Como se sabe a direção da força em cada uma dessas cargas se não estiverem no mesmo eixo? Para responder a essas perguntas, utiliza-se o princípio da superposição, e é essencial o uso de uma forma vetorial da lei de Coulomb: (Equação 4) A Figura 8, a seguir, descreve com mais detalhes como a Equação 4 é construída. Campos elétricos criados por anéis, discos, planos e esferas10 70 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Figura 8. Equação vetorial da lei de Coulomb. Fonte: Adaptada de Bauer, Westfall e Dias (2012). Para que haja uma melhor compreensão desse assunto, faz-se necessária uma revisão do conteúdo de álgebra linear ou geometria analítica. A Equação 4 descreve a força que a carga q2 causa em q1, portanto, o vetor gerado por essa equação terá origem na carga q1. O vetor r21 é um vetor unitário, apontando de q1 para q2, o qual é calculado como e tem o propósito de descrever o sinal do vetor resultante. É importante destacar que, se as cargas forem de sinais iguais, seu produto (q1 · q2) terá sinal positivo, e a força resultante será de repulsão. De forma análoga, se forem de sinais diferentes, o produto entre as cargas terá sinal negativo, e a força resultante será de atração. É por esse motivo que há um sinal negativo no numerador da equação, pois, conforme o sinal do produto das cargas, define-se o sentido da força resultante, utilizando como referência o vetor r21. Por exemplo, na Figura 8a, o produto das cargas tem sinal positivo, portanto, como há o sinal negativo no numerador da equação, a força resultante tem sentido contrário ao vetor r21. Já na Figura 8b, como as cargas têm sinais contrários, o produto das cargas é negativo, e, como há o sinal negativo no numerador da equação, a força resultante tem o mesmo sinal e sentido de r21. Portanto, essa equação descreve de forma vetorial a força resultante de duas cargas. No caso de várias cargas, faz-se necessário, primeiro, definir em qual carga se deseja saber a força resultante, para então calcular todas as forças atuantes nessa carga em questão. Em seguida, deve-se calcular a soma vetorial das forças atuantes no ponto para se obter a força resultante. 11Campos elétricos criados por anéis, discos, planos e esferas Eletrostática I | UNIDADE 1 Campo Elétrico | PARTE 4 71 É importante ressaltar que as duas formas de equações da lei de Coulomb são corretas, de modo que decidir qual utilizar é uma escolha do leitor. Apesar de a forma vetorial descrever exatamente o sentido e a direção da força, faz-se necessário um maior número de cálculos. No entanto, existem certas situações em que basta apenas o cálculo da intensidade e um pouco de geometria para resolver o que se deseja, conforme o Exemplo 1. Exemplo 1 Considere as quatro partículas carregadas a seguir: q1 = –1C, q2 = +5C, q3 = +1C, q4 = –8C. – –++ q1 q2 q3 q4 d d d 2d Qual é a força resultante na partícula q2? Resolução Observe que existem três forças elétricas atuando em q2. A primeira, a terceira e a quarta cargas causam na partícula q2, respectivamente, as forças F12, F32 e F42. Pode-se perceber que F12 está orientada de q2 para q1, devido ao fato de possuírem sinais contrários e a força gerada por q1 em q2 ser de atração. De forma análoga, F32 é uma força de repulsão gerada por q3, ao passo que F42 é uma força de atração gerada por q4. + F32 q2 F42 F12 Campos elétricos criados por anéis, discos, planos e esferas12 72 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Agora, como as quatro partículas estão no mesmo eixo, é possível utilizar a equação da lei de Coulomb, que trata apenas do módulo da intensidade da força, para encontrar a força resultante analisando geometricamente a situação. Portanto, F12, F32 e F42 são calculadas da seguinte forma: Conforme observado, F12 e F32 estão orientadas para o mesmo sentido (esquerda), levando à somas das forças F12 = e F32 = , de modo que a força gerada na partícula q2 no sentido da esquerda é de . Em contrapartida,para o sentido da direita, há apenas a força F42 = . Portanto, tanto a força para a esquerda quanto a para a direita são iguais, o que torna a força resultante em q2 nula. Observe que, para esse cálculo, utilizou-se apenas a lei de Coulomb, que fornece o módulo da intensidade, bem como uma análise geométrica para encontrar a força resultante em q2. Confira, no Exemplo 2, o cálculo do campo elétrico em uma situação similar ao exemplo 1, porém utilizando a forma vetorial. Exemplo 2 Considere as três partículas mostradas no exemplo anterior, carregadas conforme: q1 = –1C, q2 = +5C, q3 = +1C. Calcule o campo elétrico resultante na carga q2. q1 q2 d 2d q3 y x– + – 13Campos elétricos criados por anéis, discos, planos e esferas Eletrostática I | UNIDADE 1 Campo Elétrico | PARTE 4 73 Resolução Sabe-se que a partícula q2 sofre o efeito dos campos elétricos causados pelas partículas q1 e q4, portanto, o campo elétrico resultante em q2é descrito como As, para calcular F12 e F32, será necessário o auxílio dos vetores unitários r12 e r42, criados da seguinte forma: Assim, Logo, Portanto, o campo elétrico resultante tem uma componente em x, o que indica que, conforme a orientação estipulada do eixo x, o campo é orientado para a esquerda da carga q2, com intensidade de aproximadamente N/C. Dessa forma, ao considerar e a distância d = 1 m, a intensidade terá aproximadamente 2,7 × 1010 N/C. Campos elétricos criados por anéis, discos, planos e esferas14 74 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Formas simétricas Muitas vezes, diversos materiais com formas geométricas distintas possuem estruturas simétricas. Essa simetria está relacionada à semelhança das par- tes que compõem o corpo do material em relação à sua altura, largura ou comprimento. Para o estudo de campos elétricos, a simetria em materiais carregados facilita a identificação de suas linhas de força, que podem ser deduzidas de forma mais simples de acordo com a sua distribuição de cargas. Confira, a seguir, algumas definições sobre campo elétrico: � todo campo elétrico interage com qualquer partícula carregada loca- lizada em sua área; � campos elétricos gerados por cargas positivas apontam para fora da carga-fonte; � campos elétricos gerados por cargas negativas são direcionados para a própria carga-fonte. Essas afirmações serão suficientes para definir as linhas de campo de um material simétrico, ou melhor, não é necessário ter conhecimento de alguma equação ou fazer o cálculo do campo resultante para se calcular o diagrama de campo, pois a simetria do campo elétrico deve refletir a simetria da distribuição de carga (KNIGHT, 2009). Portanto, ao rotacionar uma esfera em qualquer ângulo em torno de algum eixo, ela continuará apresentando o mesmo formato em relação ao espaço, por isso é dito que ela possui uma forma simétrica. Se a distribuição de carga da esfera for considerada regular, ou melhor, se não existem acúmulos de cargas em certos pontos, a esfera pode ser dividida em N fragmentos de cargas iguais, que geram campos elétricos equivalentes, de modo que se torna simples descrever as suas linhas de campo. Dentre os objetos simétricos, três formas geométricas podem ser consi- deradas fundamentais para o entendimento desse conceito: o plano infinito, o cilindro infinito e a esfera. A compreensão da simetria das formas geométri- cas é fundamental para o entendimento de campos elétricos mais complexos. Em um estudo mais aprofundado de física elétrica, a dedução de campos elétricos complexos utilizando as equações da lei de Coulomb para a construção dos campos resultantes em cada ponto é de extrema dificuldade, entretanto, esse cálculo é realizado facilmente se for utilizada a lei de Gauss, que fornece uma perspectiva diferenciada baseada na simetria dos materiais. 15Campos elétricos criados por anéis, discos, planos e esferas Eletrostática I | UNIDADE 1 Campo Elétrico | PARTE 4 75 3 Cálculo do campo elétrico em anéis, discos, planos e esferas A maior parte dos materiais carregados encontrados no nosso dia a dia, seja na área de engenharia, medicina ou até mesmo em eletrodomésticos, são fontes de campos elétricos bastante complexos. Para facilitar a compreensão desses campos elétricos, são estabelecidas distribuições de cargas padrões de alguns materiais que podem ser relacionados com boas aproximações desses campos complexos, como anéis, discos, planos e esferas carregadas. Campo elétrico em anéis O anel carregado é uma das principais distribuições de cargas, pois é a base para a determinação de um disco e de um plano infinito. Para compreender o cálculo do campo elétrico de um anel carregado de carga Q e raio R, observe a Figura 9, a seguir. Figura 9. Campo elétrico de um anel carregado. Fonte: Adaptada de Knight (2009). Campos elétricos criados por anéis, discos, planos e esferas16 76 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO É importante ressaltar que o anel da Figura 9 está uniformemente carregado pela carga total, ou seja, supõe-se que a distribuição de cargas é regular em todo o corpo do material. Além disso, supõe-se que o anel seja fino o suficiente para que seja considerado como uma linha de carga de comprimento 2πR e que sua densidade linear de carga seja λ = Q/2πR. Para encontrar uma equação que descreve o campo elétrico gerado por um anel, é considerado que este tenha centro na origem do plano x ⊥ y. Além disso, faz-se necessário que a carga onde se estipulará o valor do campo esteja em um eixo ortogonal (z) ao centro do anel, referenciado como o ponto P na Figura 9. Em virtude do princípio da superposição, isso é essencial para que haja um cancelamento das componentes x e y dos campos dos fragmentos diametralmente opostos do anel, facilitando, assim, o cálculo do campo elétrico resultante no ponto P. Para a construção da equação, divide-se o anel em N pequenos segmentos, de forma que estes sejam considerados como cargas puntiformes de carga ∆Q. Como para cada par de segmentos diametralmente opostos do anel há o cancelamento das componentes de campo perpendiculares ao eixo, faz-se necessário calcular apenas a componente do eixo z de cada segmento i, que é descrita da seguinte forma: Segue da Figura 9 que, para qualquer segmento do anel, tem-se que . Portanto, o campo gerado por cada segmento do anel é dado por: Agora, para o campo elétrico resultante no ponto P, somando o campo elétrico de todos os N segmentos do anel, tem-se que: 17Campos elétricos criados por anéis, discos, planos e esferas Eletrostática I | UNIDADE 1 Campo Elétrico | PARTE 4 77 Observe que, como z e R são constantes, foi possível tirá-los da somatória. Além disso, como a soma sobre todos os ∆Q dos fragmentos é a carga total Q, tem-se que: Campo elétrico em discos Com a equação do campo elétrico de um anel carregado estabelecida, é possível expandir o seu conceito para a construção da equação do campo elétrico de um disco carregado. Por exemplo, a Figura 10, a seguir, apresenta um disco de raio R uniformemente carregado com uma carga Q, sem espessura e com densidade superficial de carga: Figura 10. Campo elétrico em um disco carregado. Fonte: Adaptada de Knight (2009). Disco de raio R e carga Q A carga do anel é Campo devido ao anel i Anel i com raio r i e área A i . Se desenrolarmos o anel, ele se parecerá como mostrado abaixo. Área Campos elétricos criados por anéis, discos, planos e esferas18 78 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Lembre-se de que, para a construção da equação do campo elétrico do anel carregado, foi utilizada a técnica de dividir o anel em fragmentos de cargas, pois nestes já se sabia como calcular o campo elétrico. Uma vez que o disco pode ser fragmentado em N anéis, é possível utilizar uma estratégia similar para a descrição da sua equação de campo elétrico. Observe, na Figura 10, um desses anéis, com raio ri, carga ΔQi e área ∆Ai. Ao contrário do anel, em que o raio e a cargade cada fragmento eram constantes, agora, tem-se que o campo elétrico criado pelo i-ésimo anel é: E o campo elétrico sobre todo o disco é a soma dos campos elétricos criados por todos N anéis: Segundo Knight (2009), o passo crítico é relacionar ∆Q a uma coordenada, pois, como se trata de uma superfície, a carga do i-ésimo anel é ∆Q = η∆Ai. Como apresentado na Figura 10, para determinar a área do i-ésimo anel basta calcular ∆Ai = 2πri∆r, de modo que o elemento de carga é ∆Qi = 2πηri∆r. Fazendo essa substituição, tem-se que: 19Campos elétricos criados por anéis, discos, planos e esferas Eletrostática I | UNIDADE 1 Campo Elétrico | PARTE 4 79 Com o uso do cálculo integral, quando N → ∞ e ∆r → dr, a soma se torna uma integral. Assim, resolver a somatória de todos os anéis significa integrar de r = 0 até r = R, ou melhor: Com um pouco da manipulação de técnicas do cálculo integral, pode-se simplificar essa integral para a equação a seguir, que descreve o campo elétrico resultante em um ponto z, do eixo ortogonal ao centro do disco: É importante ressaltar que essa equação vale para z > 0. Se z < 0, o cálculo é feito da mesma forma, porém o vetor do campo aponta para o sentido oposto. Campo elétrico em planos Os planos de cargas são uma das distribuições de cargas padrões mais uti- lizados na eletrônica, pois constituem os eletrodos. Apesar de os eletrodos serem de extensão finita, eles são tratados como um plano de carga infinita, devido ao fato de a distância entre o ponto a se calcular o campo até o ele- trodo ser pequena em relação à distância do ponto às extremidades do plano, de modo que as extremidades podem ser consideradas como se estivessem infinitamente distantes. Portanto, o campo elétrico gerado por um plano de carga é determinado partindo-se do cálculo de um campo gerado por um disco carregado de raio infinito, R → ∞. Em outras palavras, um disco de raio infinito é um plano infinito. Agora, ao considerar que: com R → ∞, tem-se que: Campos elétricos criados por anéis, discos, planos e esferas20 80 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Portanto, a intensidade de campo de um plano é diretamente proporcional à sua densidade de carga η. Agora, cabem os seguintes questionamentos: por que a intensidade de campo não depende do ponto onde se deseja calcular o campo? Como a intensidade do campo pode ser igual em todos os pontos do espaço, independentemente da sua distância? A resposta é que, quanto mais distante do plano, menor a intensidade de campo. Entretanto, estamos considerando um plano de carga infinito e, dessa forma, não possuímos uma escala que diferencia algo próximo ou distante. Em outras palavras, qualquer ponto do espaço está próximo de um plano infinito. Campo elétrico em esferas A descrição do cálculo do campo elétrico em uma esfera de carga passa por procedimentos semelhantes aos das linhas e planos de cargas, porém envolve integrações significativamente mais complexas. Sem o conhecimento da lei de Gauss, aceita-se, por ora, o resultado sem demonstrá-lo: onde Q é a carga da esfera de raio R; e r é a distância do ponto onde se deseja calcular o campo até o centro da esfera. Observe que é necessário que r > R para que o ponto esteja externo à esfera. Além disso, a equação é independente do raio da esfera e equivalente ao cálculo de uma carga puntiforme (Figura 11). Figura 11. Campo elétrico em um disco carregado. Fonte: Adaptada de Knight (2009). 21Campos elétricos criados por anéis, discos, planos e esferas Eletrostática I | UNIDADE 1 Campo Elétrico | PARTE 4 81 BAUER, W.; WESTFALL, G. D.; DIAS, H. Física para universitários: eletricidade e magnetismo. Porto Alegre: AMGH, 2012. HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física: eletromagnetismo. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2009. KNIGHT, R. D. Física: uma abordagem estratégica. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. (Eletricidade e Magnetismo, v. 3). Leituras recomendadas ALEXANDER, C. K.; SADIKU, M. Fundamentos de circuitos elétricos. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. HELERBROCK, R. Levitação magnética (princípio do Maglev). Disponível em: https:// alunosonline.uol.com.br/fisica/levitacao-magnetica-principio-maglev.html. Acesso em: 11 jul. 2020. HEWITT, P. G. Física conceitual. 12. ed. Porto Alegre: Bookman, 2015. NETTO, L. F. Eletrização por atrito. 2013. Disponível em: https://pa-rumao.blogspot. com/2013/02/serie-triboeletrica-dos-materiais.html. Acesso em: 11 jul. 2020. SMITH, W. F.; HASHEMI, J. Fundamentos de engenharia e ciência dos materiais. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Campos elétricos criados por anéis, discos, planos e esferas22 ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE. PREZADO ESTUDANTE Parte 5 Lei de Gauss O conteúdo deste livro é disponibilizado por SAGAH. unidade 1 V.1 | 2021 84 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO 852 Física: Uma Abordagem Estratégica Entretanto o campo proposto na figura falha em um teste. Suponha que refletíssemos o campo em relação a um plano perpendicular ao eixo longitudinal do cilindro, uma re- flexão que troca o lado direito pelo esquerdo e vice-versa. Tal reflexão, que não ocasiona qualquer alteração na própria distribuição de carga, produziria o campo mostrado na FIGURA 28.3b. Esta alteração no campo seria detectável, pois uma partícula positivamente carregada teria agora um componente de movimento para a esquerda, ao invés de para a direita. O campo da Figura 28.3a, que permite uma distinção entre esquerda e direita, não é cilindricamente simétrico e, portanto, não é um campo fisicamente possível. Em geral, o campo elétrico criado por uma distribuição de carga com simetria cilíndrica não pode possuir um componente paralelo ao eixo do cilindro. Bem, então que tal o campo elétrico mostrado na FIGURA 28.4a? Aqui supostamente estamos olhando o cilindro transversalmente. Os vetores do campo elétrico estão restri- tos a planos perpendiculares ao cilindro e, portanto, não possuem componentes paralelos ao eixo do cilindro. Este campo é simétrico frente a rotações em torno do eixo de sime- tria, mas não é simétrico em relação a uma reflexão em um plano que contenha o eixo. Após uma reflexão, o campo na FIGURA 28.4b é facilmente distinguível do campo da Figura 28.4a. Portanto, o campo elétrico criado por uma distribuição de carga com simetria cilíndrica não pode possuir um componente tangente à secção transversal circular do cilindro. A FIGURA 28.5 mostra a única forma possível de campo restante. O campo elétrico é radial, apontando diretamente para fora do cilindro, como as cerdas de uma escova cilín- drica Esta é a forma do campo elétrico que se ajusta à forma da distribuição de carga. Vista lateral Vista transversal FIGURA 28.5 Esta é a única configuração de campo elétrico que se ajusta à simetria da distribuição de carga. Quão boa é a simetria? Em vista do pouco que assumimos a respeito da Figura 28.1 – que a distribuição de carga tem simetria cilíndrica e que o campo elétrico aponta para fora de cargas positivas – fo- mos capazes de chegar a conclusões importantes acerca do campo elétrico. Em particu- lar, deduzimos a forma da configuração que o campo elétrico deve ter. Entretanto, a forma da configuração não é tudo. Não descobrimos coisa alguma ain- da a respeito da intensidade do campo ou sobre como a intensidade varia com a distân- cia. Será E constante? Será que o campo diminui proporcionalmente a 1/r ou a 1/r2? Não dispomos ainda de uma descrição completa do campo, todavia conhecer a forma que este campodeve ter certamente facilitará a tarefa de obter sua intensidade. Esta é a coisa boa a respeito das simetrias. Argumentos de simetria nos permitem eliminar possíveis formas de campo simplesmente por causa da incompatibilidade de tais campos com a simetria da distribuição de carga. Saber o que não acontece, ou o que não pode acontecer, geralmente é tão útil quanto saber o que pode ocorrer. Pelo processo de eliminação, somos levados para uma, e possivelmente a única, configuração que o campo pode assumir. A argumentação baseada em simetrias é, algumas vezes, um tanto sutil, mas sempre constitui um método poderoso de raciocínio. As três simetrias fundamentais Três simetrias fundamentais aparecem com freqüência na eletrostática. A primeira linha da FIGURA 28.6 mostra a forma mais simples de cada uma dessas simetrias. A segunda linha ilustra uma situação mais complexa, porém mais realista, com a mesma simetria. Vista transversal do cilindro Plano de reflexão A distribuição de carga não sofre alteração pela reflexão em um plano que contém o eixo. Reflexão Este campo sofreu alteração. Ele não se ajusta à simetria do cilindro, portanto o campo real não pode se parecer com este. FIGURA 28.4 Ou o campo criado por uma distribuição cilíndrica de carga deveria se parecer com este? Eletrostática I | UNIDADE 1 Lei de Gauss | PARTE 5 85 CAPÍTULO 28 ■ Lei de Gauss 853 Podemos não conhecer a intensidade, mas a forma do campo nessas situações mais com- plexas deve se ajustar à simetria da distribuição de carga. NOTA � As figuras devem ter tamanho finito, mas consideramos os planos e cilin- dros da Figura 28.6 infinitos. � Simetria Planar Simetria Básica: O campo é perpendicular ao plano. Exemplo mais complexo: Capacitor de placas paralelas infinitas Simetria cilíndrica O campo aponta radialmente para fora ou para dentro do eixo. Cilindros coaxiais Simetria Esférica O campo aponta radialmente para fora ou para dentro do centro. Esferas concêntricas FIGURA 28.6 As três simetrias fundamentais. De fato existem objetos que são muito parecidos com esferas perfeitas, mas cilindros ou planos reais não podem ser de extensão infinita. Mesmo assim, os campos que seriam criados por planos e cilindros carregados infinitos constituem bons modelos para os campos criados por cilindros e planos carregados finitos naqueles pontos não tão próxi- mos de uma das extremidades do objeto. Eletrodos planos ou cilíndricos são comuns em um grande número de dispositivos práticos, portanto os campos que estudaremos neste capítulo, mesmo que idealizados, possuem aplicações importantes. PARE E PENSE 28.1 Um bastão uniformemente carregado tem um compri- mento finito L. O bastão é simétrico frente a rotações em torno do eixo e sob reflexão em relação a qualquer plano que contenha o eixo. Ele não é simétrico frente a translações ou reflexões em relação a um plano perpendicular ao eixo, a menos que tal plano divida o bastão em duas partes iguais. Que configuração ou configurações de campo identificam a simetria do bastão? 86 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO 854 Física: Uma Abordagem Estratégica 28.2 O conceito de fluxo A FIGURA 28.7a mostra uma caixa opaca que encerra uma região do espaço. Não podemos ver o que há dentro da caixa, mas existe um vetor campo elétrico que sai de cada face da caixa. Você pode adivinhar o que há dentro da caixa? (a) O campo sai de cada face da caixa. Deve haver uma carga positiva dentro dela. Caixa opaca (b) O campo entra em cada face da caixa. Deve haver uma carga negativa dentro dela. (c) Um campo que atravesse toda caixa significa que não há carga líquida dentro dela. FIGURA 28.7 Embora não possamos ver o interior das caixas, os campos elétricos que atravessam suas faces nos dizem algo sobre o que elas contêm. Claro que pode. Devido ao fato de os campos elétricos apontarem para fora de cargas positivas e de o campo elétrico sair de cada uma das faces da caixa, parece claro que a caixa contém carga positiva ou várias cargas positivas. Analogamente, a caixa da FIGURA 28.7b deve conter uma carga negativa. O que podemos afirmar sobre a caixa da FIGURA 28.7c? O campo elétrico aponta para dentro da caixa, a partir da esquerda. Um campo elétrico igual aponta para fora, à direita. Este campo poderia ser o campo elétrico criado por um grande eletrodo positivo posi- cionado em algum lugar fora do campo de visão, à esquerda, e por um grande eletrodo negativo, também não visível, à direita. Um campo atravessa a caixa, mas não vemos evidência de qualquer carga (pelo menos uma carga líquida) dentro dela. Estes exemplos sugerem que o campo elétrico, quando passa para dentro de uma caixa, para fora dela ou através da mesma está, de alguma maneira, relacionado à carga existente dentro da caixa. Entretanto essas simples descrições não nos dizem qual é a quantidade de carga existente dentro da caixa, ou onde, dentro dela, localiza-se a carga. Talvez a escolha de uma caixa melhor seja mais informativa. Suponha que delimitemos uma região do espaço por uma superfície fechada, uma superfície que divida o espaço em duas regiões distintas, o interior e o exterior. No con- texto da eletrostática, uma superfície fechada atravessada por um campo elétrico é cha- mada de superfície gaussiana, assim denominada em homenagem ao matemático do século XIX Karl Gauss, que estabeleceu as fundações matemáticas da geometria. Trata- se de uma superfície matemática imaginária, e não, de uma superfície material, embora ela possa, em certas situações, coincidir com uma superfície material. Por exemplo, a FIGURA 28.8 mostra uma superfície gaussiana esférica que envolve uma carga. Uma superfície fechada deve, necessariamente, ser uma superfície tridimensional. Mas figuras tridimensionais são geralmente difíceis de desenhar, portanto nós desenha- remos secções transversais bidimensionais de superfícies gaussianas, tal como a mos- trada na FIGURA 28.8b. Agora, uma escolha melhor da caixa torna mais claro o que há no interior. Podemos afirmar, a partir dos vetores campo elétrico que saem da superfície com simetria esférica, que a carga positiva interna deve ter uma simetria esférica e estar posicionada no centro de uma esfera. Note duas propriedades que logo serão importan- tes: o campo elétrico é perpendicular à superfície da esfera em qualquer ponto da mesma e possui o mesmo módulo em cada ponto da superfície. A FIGURA 28.9 mostra outro exemplo. Um campo elétrico emerge dos quatro lados do cubo da FIGURA 28.9a, mas não da face superior nem da inferior. Deveríamos ser capazes de adivinhar o que existe dentro da caixa, mas não podemos ter certeza. A FIGURA 28.9b usa uma superfície gaussiana diferente, um cilindro fechado (i.e., paredes cilíndricas e extremidades “tampas” planas), e a FIGURA 28.9c simplifica o desenho, mostrando uma visão bidimensional das tampas e da lateral. Agora, com uma escolha melhor da super- fície imaginária, podemos dizer que a superfície gaussiana cilíndrica encerra algum tipo de distribuição de carga cilíndrica, tal como um fio reto carregado. Novamente, o campo elétrico é perpendicular em qualquer ponto da superfície cilíndrica e tem o mesmo mó- dulo em cada ponto da mesma. Toda superfície gaussiana é uma superfície fechada. É geralmente mais fácil de desenhar uma secção transversal bidimensi- onal de uma superfície gaussiana esférica. FIGURA 28.8 Uma superfície gaussiana envolve uma carga. Geralmente é fácil desenhar uma secção transversal bidimensional da mesma. Eletrostática I | UNIDADE 1 Lei de Gauss | PARTE 5 87 CAPÍTULO 28 ■ Lei de Gauss 855 Superfície gaussiana cúbica Superfície gaussiana cilíndrica Secções transversais bidimensionais de uma superfície gaussiana Lateral Superior FIGURA 28.9 A superfície gaussiana é mais útil quando se ajusta à forma do campo. Para contrastar, considere a superfície esférica na FIGURA 28.10a. Esta tambémé uma superfície gaussiana, e o campo elétrico projetando-se para fora nos diz que há uma carga positiva no seu interior. Poderia ser uma carga puntiforme localizada no lado es- querdo, mas realmente não sabemos. Uma superfície gaussiana que não se ajusta à sime- tria da distribuição de carga não é muito útil. A superfície aberta da FIGURA 28.10b também não é de grande auxílio. O que parece ser um campo elétrico uniforme orientado para a direita poderia ter sido criado por uma grande placa positiva posicionada à esquerda ou por uma grande placa negativa à direita, ou ambos. Uma superfície aberta não fornece informação suficiente. Esses exemplos nos levam a duas conclusões: 1. O campo elétrico, de alguma forma, “flui” para fora de uma superfície fecha- da que delimita uma região do espaço que contém uma carga líquida positiva, e “flui” para dentro de uma superfície fechada que encerra uma carga líquida ne- gativa. O campo elétrico pode atravessar uma superfície fechada onde não exista uma carga líquida, mas, neste caso, o fluxo resultante é nulo. 2. A configuração do campo elétrico através de uma superfície é relativamente sim- ples se a superfície fechada se ajusta à simetria da distribuição de carga interior. O campo elétrico realmente não escoa como um fluido, mas a metáfora é útil. A palavra em latim para fluir é fluxo, e a quantidade de campo elétrico que atravessa uma superfície qualquer é denominada fluxo elétrico. Nossa primeira conclusão, obtida em termos do fluxo elétrico, é Existe um fluxo para fora através de uma superfície fechada em torno de uma carga ■ líquida positiva. Existe um fluxo para dentro através de uma superfície fechada em torno de uma ■ carga líquida negativa. Não existe um fluxo resultante através de uma superfície fechada em torno de uma ■ região do espaço na qual a carga líquida seja nula. Este capítulo tem sido inteiramente qualitativo até onde estabelecemos descritiva- mente o que queremos dizer por simetria, a idéia de fluxo e o fato de que o fluxo elétrico através de uma superfície fechada tem algo a ver com a carga em seu interior. A com- preensão dessas idéias qualitativas é essencial; todavia, para irmos além, precisaremos tornar quantitativas e precisas essas idéias qualitativas. Na próxima seção, você apren- derá como calcular o fluxo elétrico através de uma superfície. Então, na seção seguinte, estabeleceremos uma relação precisa entre o fluxo total através de uma superfície gaus- siana e a carga encerrada por ela. Essa relação, a lei de Gauss, nos permitirá determinar os campos elétricos criados por algumas distribuições de carga interessantes e úteis. PARE E PENSE 28.2 Esta caixa a. Contém uma carga positiva. b. Contém uma carga negativa. c. Não contém carga. d. Contém uma carga líquida positiva. e. Contém uma carga líquida negativa. f. Não contém uma carga líquida. (a) Uma superfície gaussiana que não se ajuste à simetria do campo elétrico não é muito útil. (b) Uma superfície aberta não fornece informação suficiente sobre a carga. FIGURA 28.10 Nem todas as superfícies são úteis para conhecermos a carga. 88 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO 856 Física: Uma Abordagem Estratégica 28.3 O cálculo do fluxo elétrico Vamos começar com uma breve visão panorâmica do caminho pelo qual esta seção vai nos levar. Iniciaremos com uma definição de fluxo que é fácil de compreender e, depois, transformaremos esta definição simples em uma integral de aparência impressionante. Precisaremos da integral porque a definição simples se aplica apenas a campos elétricos uniformes e a superfícies planas. Embora sejam bons pontos de partida, necessitaremos calcular o fluxo de campos não-uniformes através de superfícies curvas. Matematicamente, o fluxo de um campo não-uniforme através de uma superfície curva é descrito por um tipo especial de integral chamada de integral de superfície. É bem provável que você ainda não tenha se deparado com integrais de superfície no seu curso de cálculo, e o “fator novidade” contribui para fazer com que essa integral pareça mais complicada do que ela realmente é. Enfatizaremos cada vez mais que uma integral é apenas uma maneira cheia de estilo de efetuar uma soma, neste caso a soma de peque- nas parcelas de fluxo através de várias pequenas partes de uma superfície. A boa notícia é que toda a integral de superfície que precisaremos calcular neste capí- tulo ou que você precisará calcular nos exercícios propostos, ou é nula ou é tão fácil de efe- tuar que você poderá até fazê-lo de cabeça. Isto pode parecer surpreendente, mas você logo verificará que é verdadeiro. O segredo é fazer uso efetivo da simetria do campo elétrico. Agora que você já foi alertado, não há necessidade de pânico ao ver a notação mate- mática que será introduzida. Avançaremos passo a passo, e você verá que, pelo menos no que concerne à eletrostática, calcular o fluxo elétrico não é difícil. Definição básica de fluxo Imagine-se segurando uma espira retangular de área A em frente a um ventilador. Con- forme mostra a FIGURA 28.11, o volume de fluxo de ar que passa através da espira a cada segundo depende do ângulo entre o plano da espira e a direção do fluxo. O fluxo será máximo através de uma espira que seja perpendicular ao fluxo de ar; e não passará ar através da espira se ela estiver com seu plano paralelo ao fluxo. é o componente da velocidade do ar perpendicular ao plano da espira. Espira Fluxo de ar A quantidade de ar que atravessa a espira é máxima quando Vetor unitário normal ao plano da espira Não há fluxo de ar através da espira quando A espira está inclinada em um ângulo . FIGURA 28.11 A quantidade de ar que passa através de uma espira depende do ângulo formado entre e . A orientação do fluxo é identificada pelo vetor velocidade . Podemos identificar a orientação da espira definindo um vetor unitário normal ao plano da espira. O ângulo �, então, é o ângulo formado entre e . A espira perpendicular ao fluxo da FIGURA 28.11a corresponde a � � 0°; a espira paralela ao fluxo da FIGURA 28.11b corresponde a � � 90°. Você pode pensar em � como o ângulo pelo qual a espira está desviada em relação à perpendicular. NOTA � Toda superfície possui dois lados, portanto pode apontar para qualquer um dos dois. Escolhemos o lado em que � � 90°. � Da FIGURA 28.11C você nota que o vetor velocidade pode ser decomposto em um componente , perpendicular ao plano da espira, e , paralela ao mesmo. Somente o componente perpendicular carrega ar através da espira. Conse- qüentemente, o volume de ar que flui através da espira a cada segundo é Volume de ar por segundo (m3/s) � (28.1) 11.7 Eletrostática I | UNIDADE 1 Lei de Gauss | PARTE 5 89 CAPÍTULO 28 ■ Lei de Gauss 857 O valor � � 0° corresponde à orientação do fluxo para um fluxo máximo através da es- pira, como esperado, e não há fluxo de ar através da mesma se ela estiver com inclinação de � � 90°. Um campo elétrico realmente não flui no sentido literal do termo, entretanto pode- mos aplicar a mesma idéia para um campo elétrico que atravesse uma superfície. A FIGU- RA 28.12 mostra uma superfície de área A em um campo elétrico uniforme . O vetor unitário é normal ao plano da espira e � é o ângulo formado entre e . Somente o componente atravessa a superfície. Com isso em mente, e usando a Equação 28.1 como analogia, definimos o fluxo elétrico �e, como (28.2) O fluxo elétrico mede a quantidade de campo elétrico que atravessa uma superfície de área A quando a normal à superfície está inclinada em relação ao campo em um ângulo �. A Equação 28.2 se parece muito com um produto escalar de dois vetores: . Para essa idéia funcionar, precisamos definir um vetor área com a direção de – ou seja, perpendicular à superfície – e com módulo igual à área A da su- perfície. A unidade do vetor é o m2. A FIGURA 28.13a mostra dois vetores área. O vetor área é perpendicular à superfície. O módulo de é aárea A da superfície. Área A Área A O fluxo elétrico através da superfície é FIGURA 28.13 O fluxo elétrico pode ser definido em termos do vetor área . A FIGURA 28.13b mostra um campo elétrico que atravessa uma superfície de área A. O ângulo formado entre os vetores e é o mesmo ângulo usado na Equação 28.2 para definir o fluxo elétrico, portanto a Equação 28.2 é, de fato, um produto escalar. Podemos definir o fluxo elétrico mais precisamente como (fluxo elétrico de um campo elétrico constante (uniforme)) (28.3) Escrever o fluxo como um produto escalar ajuda a tornar claro como o ângulo � é definido: � é o ângulo entre o campo elétrico e uma linha perpendicular ao plano da superfície. NOTA � A Figura 28.13b mostra uma área circular, mas a forma da superfície não é relevante. Entretanto, a validade da Equação 28.3 está restrita a campos elétricos uniformes que atravessem alguma superfície plana. � EXEMPLO 28.1 Fluxo elétrico no interior de um capacitor de placas paralelas Dois eletrodos paralelos, cada qual com área de 100 cm2, estão espa- çados por 2,0 cm. Um deles está carregado com �5,0 nC, e o outro, com �5,0 nC. A normal a uma superfície de 1,0 cm � 1,0 cm, entre os eletrodos, faz um ângulo de 45° com o campo elétrico. Qual é o fluxo elétrico através da superfície? MODELO Considere que a superfície esteja localizada próxima ao cen- tro do capacitor, onde o campo elétrico é uniforme. O fluxo elétrico não depende da forma da superfície. VISUALIZAÇÃO A superfície é quadrada, e não, circular; de outra for- ma, a situação seria parecida com a da Figura 28.13b. RESOLUÇÃO No Capítulo 27 aprendemos que o campo elétrico no inte- rior de um capacitor de placas paralelas é dado por Uma superfície de 1,0 cm � 1,0 cm possui área A � 1,0 � 10�4 m2. O fluxo elétrico através dessa superfície é AVALIAÇÃO A unidade de fluxo elétrico é o produto da unidade de campo elétrico pela unidade de área: Nm2/C. é o ângulo formado entre e . � Ecos é o componente do campo elétrico que atravessa a superfície. Normal ao plano da espira Superfície de área A FIGURA 28.12 Um campo elétrico atravessa uma superfície. ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE. PREZADO ESTUDANTE Eletrostática II Prezado estudante, Estamos começando uma unidade desta disciplina. Os textos que a compõem foram organizados com cuidado e atenção, para que você tenha contato com um conteúdo completo e atualizado tanto quanto possível. Leia com dedicação, realize as atividades e tire suas dúvidas com os tutores. Dessa forma, você, com certeza, alcançará os objetivos propostos para essa disciplina. Objetivo Geral Compreender potencial elétrico e identificar as funções do capacitor em um circuito elétrico. unidade 2 V.1 | 2021 92 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Parte 1 Potencial Elétrico O conteúdo deste livro é disponibilizado por SAGAH. unidade 2 V.1 | 2021 94 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO 890 Física: Uma Abordagem Estratégica RESOLUÇÃO A molécula inicia a �i � 0o e termina a �f � 90o. O au- mento da energia potencial é �Udipolo � Uf � Ui � � pE cos 90o � (� pE cos 0o) � pE � 6,2 � 10�23 J Essa é a energia necessária para girar a molécula em 90o. AVALIAÇÃO Na temperatura ambiente, �Udipolo é significantemente me- nor do que kBT. Portanto, as colisões com outras moléculas podem, facilmente, suprir as moléculas da água com energia para girarem, impedindo-as de manterem um constante alinhamento com o campo elétrico. 29.4 Potencial elétrico Introduzimos o conceito de campo elétrico, no Capítulo 26, por causa das forças de ação a distância, que originaram preocupações e dificuldades conceituais. O campo desem- penha o papel de um agente intermediário através do qual duas cargas exercem forças a distância uma sobre a outra. A carga q1 de algum modo altera o espaço ao redor de si com a criação de um campo elétrico . A carga q2, então, responde ao campo, experi- mentando uma força . Enfrentamos o mesmo tipo de dificuldade quando tentamos compreender a energia potencial elétrica. Para uma massa sobre uma mola, podemos conceber como a energia é armazenada na mola distendida ou comprimida. Mas quando dizemos que duas partícu- las carregadas possuem uma energia potencial, uma energia que pode ser convertida em energia cinética de movimento perceptível, onde se encontra a energia? É incontestável que duas cargas positivas se afastam quando você as solta, ganhando energia cinética, mas não há um lugar óbvio no qual a energia esteja armazenada. Na definição do campo elétrico, fizemos distinção entre as cargas que constituem as fontes do campo e as cargas que sofrem ação por parte do campo. A força sobre a carga q está relacionada ao campo elétrico criado pelas cargas-fonte por força sobre q � [carga q] � [alteração do espaço produzida pelas cargas-fonte] Vamos tentar um procedimento similar para o caso da energia potencial elétrica. A ener- gia potencial elétrica deve-se às interações da carga q com outras cargas, portanto vamos dividir a energia potencial do sistema de modo que energia potencial de q � fontes � [carga q] � [potencial de interação das cargas-fonte] A FIGURA 29.17 mostra essa idéia esquematicamente. Em analogia com o campo elétrico, definiremos o potencial elétrico V (ou apenas, para ser breve, o potencial) como (29.20) A carga q é usada como carga de prova para determinar o potencial elétrico, mas o valor de V é independente de q. O potencial elétrico, como o campo elétrico, é uma pro- priedade das cargas-fonte. Na prática, geralmente estaremos mais interessados em conhecer a energia potencial de uma carga q quando ela se encontrar em um ponto do espaço onde o potencial elétrico das cargas-fonte é V. Invertendo a Equação 29.20, vemos que a energia potencial é Uq�fontes � qV (29.21) Uma vez que o potencial tenha sido determinado, é muito fácil determinar a energia potencial correspondente. A unidade de potencial elétrico é o joule por coulomb, que é chamado de volt, sím- bolo V: 1 volt � 1 V � 1 J/C O nome dessa unidade é uma homenagem a Alessandro Volta, que inventou a pilha elé- trica no ano de 1800. Microvolts (�V), milivolts (mV) e quilovolts (kV) são unidades também comumente usadas, pois os potenciais elétricos usados em aplicações práticas diferem significantemente em valor. 11.11 O potencial nesse ponto é igual a V. As cargas-fonte alteram o espaço em volta delas através da criação de um potencial elétrico. Cargas-fonte Se a carga q encontra-se sob a ação do potencial, sua energia potencial elétrica é igual a U q�fontes � qV. FIGURA 29.17 As cargas-fonte alteram o espaço ao seu redor através da criação de um potencial elétrico. Eletrostática II | UNIDADE 2 Potencial Elétrico | PARTE 1 95 CAPÍTULO 29 ■ O Potencial Elétrico 891 NOTA � Mais uma vez, os símbolos comumente usados estão em conflito. O símbo- lo V é amplamente usado para representar volume e, agora, estamos introduzindo o mesmo símbolo para representar potencial. Para tornar a coisa mais confusa ainda, V também é a abreviatura para volts. Em texto impresso, V para potencial está em itá- lico, e V para volts não está, todavia você não pode fazer tal distinção em trabalhos escritos à mão. Trata-se de uma situação desconfortável, mas esses são os símbolos comumente aceitos. Você está incumbido de ficar especialmente alerta para o con- texto no qual um determinado símbolo é usado. � Para que serve o potencial elétrico? O potencial elétrico é uma idéia abstrata e demandará alguma prática você entender exatamente o que ele significa e como ele é útil. Usaremos múltiplas representações – palavras, desenhos, gráficos e analogias – para explicar e descrever o potencial elétrico. Começamos com duas idéias essenciais: O potencial elétrico depende apenas das cargas-fonte e de sua geometria. O potencial ■ é a “capacidade” das cargas-fonte em interagir se uma carga qaparecer. Essa capa- cidade, ou potencial, está presente em todo o espaço independentemente de haver uma carga q lá, ou não, para experimentá-la. Se conhecermos o potencial elétrico ■ V em qualquer lugar de uma região do espa- ço, conheceremos imediatamente a energia de interação correspondente U � qV de qualquer carga naquela região com as cargas-fonte. NOTA � É uma infelicidade que os termos potencial e energia potencial sejam tão parecidos. É fácil confundir um com o outro. Apesar dos nomes parecidos, eles são conceitos muito diferentes e não são intercambiáveis. A Tabela 29.1 o ajudará a dis- tinguir entre os dois. � As cargas-fonte exercem influência através do potencial elétrico que elas estabe- lecem em qualquer ponto do espaço. Uma vez que conheçamos o potencial – e o resto deste capítulo discute como calcular o potencial –, podemos ignorar as cargas-fonte e trabalhar apenas com o potencial. As cargas-fonte permanecem nos bastidores. A energia potencial de uma partícula carregada é determinada pelo potencial elétri- co: U � qV. Conseqüentemente, partículas carregadas aceleram ou desaceleram enquan- to se movem através de uma região onde o potencial é variável. A FIGURA 29.18 ilustra essa idéia. Vale a pena mencionar que a partícula se move através de uma diferença de potencial, a diferença �V � Vf � Vi entre o potencial em um ponto inicial i e em um ponto final f. A diferença de potencial entre dois pontos normalmente será chamada de voltagem. Nas ilustrações, a diferença de potencial entre dois pontos será representada por uma seta azul com duas pontas. Uma carga positiva acelera à medida que se move através de uma diferença de potencial negativa. A energia potencial é transformada em energia cinética. Sentido em que há aumento V Uma carga positiva desacelera ao se mover através de uma diferença de potencial positiva. Sua energia cinética diminui e é transformada em energia potencial. FIGURA 29.18 Uma partícula carregada acelera ou desacelera enquanto se move através de uma diferença de potencial. Se uma partícula se move através de uma diferença de potencial �V, sua energia potencial varia em �U � q�V. Podemos escrever a conservação da energia, em função do potencial elétrico, na forma �K � �U � �K � q�V � 0 ou, como é geralmente mais prático, na forma Kf � qVf � Ki � qVi (29.22) A conservação da energia é a base de uma eficiente estratégia para resolução de pro- blemas. Esta bateria está especificada como de 1,5 volt. Como veremos logo adiante, toda bateria é uma fonte de potencial elétrico. TABELA 29.1 Distinguindo o potencial elétrico da energia potencial O potencial elétrico é uma propriedade das cargas-fonte e, como você logo verá, está relacionado ao campo elétrico. O potencial elétrico estará presente havendo ou não uma carga q em um ponto para experimentá-lo. O potencial é medido em J/C ou V. A energia potencial elétrica é a energia de interação de uma partícula carregada com as cargas-fonte. A energia potencial é medida em J. 96 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO 892 Física: Uma Abordagem Estratégica ESTRATÉGIA PARA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS 29.1 Conservação da energia em interações entre cargas MODELO Verifique se existem quaisquer forças dissipativas presentes que poderiam fazer variar a energia mecânica. VISUALIZAÇÃO Desenhe uma representação pictórica do tipo antes-e-após da situa- ção. Defina os símbolos que serão usados no problema, liste os valores conhecidos e identifique o que você deve determinar. RESOLUÇÃO A representação matemática é baseada no princípio de conservação da energia mecânica: Kf � qVf � Ki � qVi O potencial elétrico é fornecido no enunciado do problema? Se não, você preci- ■ sará usar um potencial conhecido, como o de uma carga puntiforme, ou calcular o potencial usando um procedimento que será visto mais tarde, na Estratégia para Resolução de Problemas 29.2. K ■ i e Kf representam, respectivamente, a soma das energias cinéticas iniciais e finais de todas as partículas em movimento. Em alguns problemas, serão necessários princípios de conservação adicionais, ■ como o de conservação da carga ou o de conservação do momentum. AVALIAÇÃO Verifique se o seu resultado está expresso nas unidades corretas, se é plausível e se responde à questão. EXEMPLO 29.6 Movimento através de uma diferença de potencial Um próton com velocidade inicial de 2,0 � 105 m/s entra em uma região do espaço onde as cargas-fonte criaram um potencial elétrico. Qual é o módulo da velocidade do próton após ter se movido através de uma diferença de potencial de 100 V? Qual será a velocidade final se o próton for substituído por um elétron? MODELO A energia é conservada. O potencial elétrico determina a energia potencial. VISUALIZAÇÃO A FIGURA 29.19 é uma representação do tipo antes-e- após do movimento de uma partícula carregada através de uma di- ferença de potencial. Uma carga positiva desacelerará enquanto se move para dentro de uma região onde o potencial é mais alto (K → U). Na mesma situação, uma carga negativa acelerará (U → K). Antes: Após: Diferença de potencial FIGURA 29.19 Uma partícula carregada move-se através de uma diferença de potencial. RESOLUÇÃO A energia potencial da carga q é U � qV. A conservação da energia, agora expressa em termos do potencial elétrico V, é Kf � qVf � Ki � qVi, ou Kf � Ki � q�V onde �V � Vf � Vi é a diferença de potencial através da qual a partí- cula se move. Em termos de velocidade, a conservação de energia é Isolando a velocidade final, obtemos: Para um próton, com q � e, a velocidade final é De qualquer forma, um elétron com q � � e e com massa diferente acelera e atinge (vf)e � 5,9 � 106 m/s. AVALIAÇÃO O potencial elétrico sempre existiu no espaço devido às ou- tras cargas que não são explicitamente vistas no problema. O elétron e o próton não estão relacionados à produção do potencial. Ao contrário, eles respondem ao potencial adquirindo uma energia potencial U � qV. Eletrostática II | UNIDADE 2 Potencial Elétrico | PARTE 1 97 CAPÍTULO 29 ■ O Potencial Elétrico 893 PARE E PENSE 29.3 Um próton parte do repouso no ponto B, onde o potencial é de 0 V. De- pois disso, o próton a. Permanece em repouso em B. b. Move-se em direção a A com velocidade constante. c. Move-se em direção a A com velocidade crescente. d. Move-se em direção a C com velocidade constante. e. Move-se em direção a C com velocidade crescente. 29.5 Potencial elétrico no interior de um capacitor de placas paralelas Começamos esse capítulo discutindo a energia potencial de uma carga no interior de um capacitor de placas paralelas. Agora vamos investigar o potencial elétrico. A FIGURA 29.20 mostra dois eletrodos paralelos, separados por uma distância d, com densidade superfi- cial de carga ��. Como um exemplo específico, consideraremos que d � 3,00 mm e que � � 4,42 � 10�9 C/m2. O campo elétrico dentro do capacitor, como você aprendeu no Capítulo 27, é (29.23) Esse campo elétrico é criado pelas cargas-fonte sobre as placas do capacitor. Na Seção 29.1, encontramos que a energia potencial elétrica da carga q no campo elétrico uniforme de um capacitor de placas paralelas é Uelet � Uq�fontes � qEs (29.24) Escolheremos o termo constante U0 igual a zero. Uelet é a energia de q devida às suas interações com as cargas-fonte sobre as placas do capacitor. Nossa nova abordagem da interação é separar o papel desempenhado pela carga q do papel desempenhado pelas cargas-fonte através da definição do potencial elétrico V � Uq�fontes /q. Portanto o potencial elétrico dentro do capacitor de placas paralelas é V � Es (potencial elétrico dentro do capacitor de placas paralelas) (29.25) onde s é a distância em relação ao eletrodo negativo. O potencial elétrico, como o campo elétrico, existe em todos os pontos internos ao capacitor. O potencial elétrico é criado pelas cargas-fonte distribuídas sobre as placas do capacitor e existe quer a carga q estejalá ou não. A FIGURA 29.21 ilustra um aspecto importante: o potencial elétrico aumenta linear- mente, da placa negativa, onde V� � 0, para a placa positiva, onde V� � Ed. Vamos de- finir a diferença de potencial �VC entre as duas placas do capacitor como �VC � V� � V� � Ed (29.26) Em nosso exemplo específico, �VC � (500 N/C) (0,0030 m) � 1,5 V. A unidade está correta, pois 1,5 (Nm)/C � 1,5 J/C � 1,5 V. NOTA � Pessoas que trabalham com circuitos chamariam �VC de “a voltagem atra- vés do capacitor” ou simplesmente de “a voltagem do capacitor”. � A Equação 29.26 tem uma implicação interessante. Até aqui, determinamos o campo elétrico dentro de um capacitor a partir da especificação da densidade superficial de carga � sobre as placas. , , FIGURA 29.20 Um capacitor de placas paralelas. FIGURA 29.21 O potencial elétrico de um capacitor de placas paralelas aumenta linearmente da placa negativa para a placa positiva. 98 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO 894 Física: Uma Abordagem Estratégica Alternativamente, poderíamos especificar a voltagem do capacitor �VC (isto é, a di- ferença de potencial entre suas placas) e, então, determinar a intensidade do campo elétrico como (29.27) De fato, esta é a maneira pela qual o campo E é determinado em aplicações práticas, pois é fácil medir �VC com um voltímetro, mas é difícil, na prática, conhecer o valor de �. A Equação 29.27 implica que a unidade de campo elétrico é o volt por metro, ou V/m. Estamos usando como unidade de campo elétrico o newton por coulomb. De fato, você pode mostrar, como tarefa para casa, que essas unidades se equivalem, ou seja, 1 N/C � 1 V/m NOTA � O volt por metro é a unidade de campo elétrico usada na prática por cien- tistas e engenheiros. Vamos adotá-la agora como nossa unidade padrão de campo elétrico. � Retornando ao potencial elétrico, podemos substituir E, da Equação 29.27, por V, dado pela Equação 29.25. Com isso, o potencial elétrico dentro do capacitor assume a forma (29.28) O potencial aumenta linearmente de V� � 0 V na placa negativa (s � 0) para V� � �VC na placa positiva (s � d). Vamos explorar o potencial elétrico no interior de um capacitor observando-o por vários meios diferentes, mas relacionados, através dos quais o potencial pode ser repre- sentado graficamente. Gráfico do potencial Superfícies equipotenciais Mapa de contorno Gráfico de elevação placa placa pl ac a pl ac a placa Representações gráficas do potencial elétrico dentro de um capacitor Gráfico do potencial versus s. Você pode verificar que o potencial aumenta de 0,0 V na placa negativa para 1,5 V na placa positiva. Vista tridimensional mostrando as superfícies equipotenciais. Essas são superfícies matemáticas, e não, superfícies físicas, em que o potencial V é igual em todos os pontos da mesma. No caso de um capacitor de placas paralelas, as superfícies equipotenciais são planos paralelos às placas do capacitor. As placas do capacitor também constituem superfícies equipotenciais. Mapa de contorno bidimen- sional. As placas do capacitor e as superfícies equipotenciais são vistas de cima, portanto você deve imaginá-las estendendo-se acima e abaixo do plano da página. Gráfico de elevação tridimen- sional. O potencial é desenhado verticalmente em função da coordenada s sobre um eixo de e uma coordenada yz geral sobre outro eixo. A vista a partir do lado direito do gráfico de elevação fornece o valor do gráfico do potencial. , , , , , , , , , , , , , , , , placa ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE. PREZADO ESTUDANTE 100 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Parte 2 Capacitores O conteúdo deste livro é disponibilizado por SAGAH. unidade 2 V.1 | 2021 102 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Capacitores Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir capacitância e funcionamento de um capacitor, relacionando- -os mutuamente. � Descrever o raio como quebra de um dielétrico – o ar – e relacionar a sua alta letalidade. � Criar circuitos capacitivos, como armazenadores de carga e energia. Introdução Capacitores são altamente usados em circuitos eletrônicos e suas princi- pais funções são armazenar cargas e energia potencial elétrica, opor-se a mudanças de tensão e discriminar frequências, útil em circuitos de corrente alternada (ALEXANDER; SADIKU, 2013). Muitos equipamentos utilizam capacitores, como desfibriladores, nobreaks e estabilizadores de tensão, sendo essenciais para seu funcionamento. Neste capítulo, você entenderá como um capacitor funciona e qual é o conceito de capacitância. Aprenderá a calcular a capacitância de capacitores de placas paralelas, entendendo do que ela depende. Verá, também, como encontrar a energia potencial acumulada nos capacitores e qual a função dos dielétricos. Capacitância A capacitância é uma propriedade dos condutores (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012). Os capacitores são basicamente formados por dois condutores isolados, que, independentemente de sua forma, são chamados de placas. A Figura 1a mostra um exemplo genérico de capacitor, e a Figura 1b mostra alguns tipos de capacitores encontrados, com diversos tamanhos e formas. 103 Eletrostática II | UNIDADE 2 Capacitores | PARTE 2 Figura 1. Capacitores: a) dois condutores isolados sem geometria específica formando um capacitor; b) exemplos de condutores encontrados, com diversos tamanhos e formas. Fonte: Halliday, Resnick e Walker (1996, p. 92) e Bauer, Westfall e Dias (2012, p. 98). (a) (b) Nos capacitores, as placas são carregadas com cargas opostas, +q e –q. Como elas são condutoras, cada uma delas constitui uma superfície equipoten- cial, com uma diferença de potencial V entre elas. Essa diferença de potencial V em um capacitor é proporcional à carga q, ou seja: q = CV cuja constante de proporcionalidade C é chamada de capacitância do ca- pacitor, e depende da geometria das placas. A unidade em SI da capacitância é C/V, que é equivalente ao farad (F), ou seja: 1 F = C/V O capacitor pode ser carregado ligando-o a uma bateria ou alguma outra fonte de energia que tenha tensão constante. O capacitor, então, carregará até atingir uma diferença de potencial entre as placas igual à tensão da fonte. Capacitores2 104 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Garrafa de Leyden Fonte: Queiroz (2000). A garrafa de Leyden é considerada o primeiro modelo de capacitor. Ela foi inventada por Pieter van Musschenbroeck (1692-1761), docente na Universidade de Leyden na Holanda, no ano de 1745. Inicialmente, ela consistia apenas em uma garrafa preenchida com água e um fio, como terminal interior, e a mão do experimentador, como terminal exterior. Existem algumas versões da garrafa de Leyden, mas os principais componentes são: 1) garrafa de vidro com dois eletrodos, que podem ser lâminas tipo papel alumínio, uma forrando o interior da garrafa e outra o exterior; 2) o vidro é o dielétrico que separa as duas placas metálicas; 3) haste metálica com contato com o eletrodo interno, com rolha ou borracha isolante; 4) esfera na haste. A garrafa é carregada por contato, via esfera na haste. Esse tipo de garrafa alcança altas tensões, sendo visíveis faíscas ao se descarregarem. Fonte: Allain (2017). Fonte: Fouad A. Saad/Shutterstock.com. 3Capacitores 105 Eletrostática II | UNIDADE 2 Capacitores | PARTE 2 Calculando a capacitância: capacitor de placas paralelas Nesta seção, vamos calcular a capacitância de um capacitor, escolhendo a geometria de placas paralelas. Lembre-se que existem outras geometrias, como cilíndricas, esféricas, dentre outras. A Figura 2a mostra um esquema de um capacitor de placas paralelas, carregado com carga. Figura 2. Esquemas de capacitores de placas paralelas: a) capacitor com placas de área A e carregado com carga +q e –q. Pode-se notar que as linhas de campo centrais são uniformes, e as da borda destorcem-se;b) representação ignorando a distorção das bordas, com as placas separadas por uma distância d. A região pontilhada em vermelho representa a superfície Gaussiana e a flecha em azul representa o caminho de integração, usados para o cálculo da capacitância. Fonte: Halliday, Resnick e Walker (1996, p. 92) e Bauer, Westfall e Dias (2012, p. 101). (a) (b) Capacitores4 106 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Para calcularmos a capacitância das placas paralelas, vamos inicialmente encontrar a carga q. A carga está relacionada com o campo elétrico E via lei de Gauss. A lei de Gauss é expressa como: ∫E · dA = q ϵ0 ou seja, a integral de E · dA sobre uma superfície Gaussiana é igual à carga interna a essa região q dividida pela constante de permissividade ∈0. A Figura 2b mostra a seção transversal da superfície Gaussiana em vermelho pontilhado. Para os cálculos, iremos ignorar o efeito de borda e considerar o campo uniforme dentro do capacitor. Para resolvermos a lei de Gauss, devemos considerar as contribuições de todas as faces da superfície Gaussiana. As faces laterais não contribuem para a integral, pois são muito pequenas e podem ser desprezadas. A face superior encontra-se dentro do condutor e, pelo fato de o campo elétrico ser nulo, não há contribuição para a integral. Resta-se, então, a superfície inferior. Nesta, o campo elétrico aponta para baixo, e o vetor normal à superfície dA também. Assim, ficamos com: ∫E · dA = ∫∫ E dA cos (0º) Borda inferior = E ∫∫ dA = EA Portanto: q ϵ0 EA = q = ϵ0EA Dessa maneira, encontramos a carga em função do campo elétrico e da área da placa. A diferença de potencial entre as placas pode ser encontrada como: ΔV = – ∫ E ∙ ds f i 5Capacitores 107 Eletrostática II | UNIDADE 2 Capacitores | PARTE 2 Os pontos i e f são os pontos iniciais e finais de uma trajetória escolhida, no caso da placa negativa para a positiva marcada pela flecha em azul na Figura 2b. Resolvendo a integral, obtemos: ΔV = – ∫ E ds cos(180º) = E ∫ ds = Ed f i f i Tínhamos que: q = CV Ou seja: C = q V = ϵ0EA Ed ϵ0A d= Essa é a capacitância de um capacitor de placas paralelas. Note que a capacitância só depende da geometria do capacitor, ou seja, de sua área e distância entre as placas. A capacitância não é influenciada pela diferença de potencial entre as placas, e nem pela quantidade de carga presente. Outras geometrias afetam a capacitância de maneira diferente. Veja a tabela a seguir. Tipo de Capacitor Capacitância Observações Placas paralelas ϵ0 A d A: área das placas d: distância entre as placas Cilíndrico 2�ϵ0 L ln(b/a) L: comprimento do cilindro a: raio do cilindro interno b: raio do cilindro externo Esférico 4�ϵ0 ab b – a a: raio da esfera interna b: raio da esfera externa Esfera isolada 4�ϵ0R R: raio da esfera Capacitores6 108 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Capacitores em paralelo e em série Os capacitores podem ser distribuídos em série ou paralelo em circuitos eletrônicos. Assim, um grupo de capacitores em série ou em paralelo pode ser substituído por um capacitor equivalente, ou seja, um único capacitor que tenha capacitância igual ao do grupo em questão. A Figura 3a mostra um exemplo de circuito com três capacitores de ca- pacitâncias C1, C2 e C3, ligados em paralelo, e uma bateria, responsável por manter uma diferença de potencial V. Dizemos que os capacitores estão ligados em paralelo quando a mesma diferença de potencial fornecida pela bateria é mantida em todos eles. Assim, temos que: q1 = C1V q2 = C2V q3 = C3V Figura 3. Figura representativa de capacitores em paralelo: a) esquema de três capacitores com capacitâncias C1, C2 e C3, ligados em paralelo, e uma bateria, cuja diferença de potencial é V; b) esquema equivalente à Figura 3a, mas com o capacitor equivalente substituindo os outros três. Fonte: Bauer, Westfall e Dias (2012, p. 104-105). A carga total dos capacitores será dada por: q = q1 + q2 + q3 Substituindo cada uma das cargas por q = CV, encontramos que: q = q1 + q2 + q3 = C1V + C2V + C3V = (C1 + C2 + C3)V = CeqV 7Capacitores 109 Eletrostática II | UNIDADE 2 Capacitores | PARTE 2 Portanto, a capacitância equivalente para o circuito em paralelo com carga total q e diferença de potencial V, como mostrado na Figura 3b, é dada por: Ceq = C1 + C2 + C3 Assim, se tivermos n capacitores em paralelo, teremos: Ceq = ∑ n i = 1 Ci Ou seja, a capacitância equivalente de capacitores ligados em paralelo é a soma de cada uma das capacitâncias. Mas se os capacitores estiverem ligados em série? A Figura 4 mostra um esquema de três capacitores com capacitâncias C1, C2 e C3, ligados em série e a uma bateria, que mantém uma diferença de potencial V. A bateria produz uma carga +q na placa ligada ao terminal positivo, e uma carga –q à placa ligada ao terminal negativo. Essas placas carregadas induzem cargas de sinais opostos nas placas mais próximas, como o que ocorre nos capacitores C1 e C3. As cargas das placas do capacitor C2 são induzidas pelas placas mais próximas de C1 e C3, cuja carga líquida entre as placas mantém-se zero, como mostrado na Figura 4. Figura 4. Esquema de circuito com três capacitores. Fonte: Bauer, Westfall e Dias (2012, p. 105). Capacitores8 110 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Após os capacitores estarem carregados, a diferença de potencial mantida pela bateria será igual à soma das diferenças em cada capacitor: V = V1 + V2 + V3 Mas, para cada um deles, temos que: V1 = q C1 V2 = q C2 V3 = q C3 Substituindo, ficamos com: V = V1 + V2 + V3 = q C1 q C3 q C2 + + = q ( )1 C1 1 C2 1 C3 + + Ou seja, Ceq = q v , então: 1 C1 1 C2 1 C3 1 Ceq = + + Se tivermos n capacitores em série, ficamos com: 1 Ceq ∑ n i = 1 1 Ci = Ou seja, o inverso da capacitância equivalente para capacitores em série é igual à soma do inverso das capacitâncias. Falamos, nesta seção, de capacitores associados em paralelo ou em série, mas podemos encontrar combinações mais complicadas. Estas combinações podem ser subdivididas em partes com combinações em série ou paralelo, facilitando os cálculos para se encontrar um capacitor equivalente. 9Capacitores 111 Eletrostática II | UNIDADE 2 Capacitores | PARTE 2 Suponha o circuito mostrado na figura a seguir: Qual a capacitância equivalente? Considere C1 = C2 = 1μF e C3 = 2μF. Podemos resolver essa questão por partes. Primeiramente, podemos ver que os capacitores 1 e 2 estão em paralelo. Assim, a capacitância equivalente C12 será: C12 = C1 + C2 = 1 + 1 = 2μF. O resultado está mostrado na figura a seguir. Como podemos ver, agora ficamos com dois capacitores em série. Assim, a capacitância equivalente C123 será: 1 C123 1 C12 1 C3 1 2 1 2 2 2 = + = + = = 1 C123 = 1 μF Assim, a capacitância equivalente para o circuito inicial é 1μF. Fonte: Halliday, Resnick e Walker (1996, p. 98). Capacitores10 112 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Armazenamento de energia em um capacitor Os capacitores são muito importantes para o armazenamento de energia po- tencial elétrica. Para o seu carregamento, a bateria tem que realizar trabalho. A carga tem que se mover contra o potencial existente entre as placas do capacitor. Assim, o trabalho realizado pela bateria para o carregamento é armazenado sob a forma de energia potencial elétrica U no campo elétrico entre as placas. Essa energia pode ser recuperada quando o capacitor for usado e descarregar. Suponha que uma carga q’ tenha sido transferida de uma placa para a outra. Neste momento, a diferença de potencial é igual a V’ = q’/C. O trabalho infinitesimal dW necessário para transferir mais carga infinitesimal dq’ será: dW = V´dq´ = q´ C dq´ Assim, o trabalho necessário para carregar totalmente o capacitor até uma carga q é dado por: W = ∫ dW = 1 C ∫ q 0 q´dq´ = q2 2C Trabalho que é armazenado como energia potencial elétrica, ou seja: U = q2 2C Usando a relação q = CV, encontramos que: U = = = q2 2C CV2 2 qV 2 Portanto, temos três relações para a energia armazenada em um capacitor. Essas equações são válidas para qualquer tipo de geometria de capacitores. 11Capacitores 113 Eletrostática II | UNIDADE 2 Capacitores | PARTE 2 Como foi visto ao longo deste capítulo, os capacitores podem armazenar carga e energia potencial elétrica. Para isso, o circuito básico necessário é ligar o capacitor a uma fonte constante de tensão constante, como uma bateria, como mostrado no esquema a seguir. Assim, dado dV = 160,0 V, e C = 80,0μF, qual a carga e energia potencial elétrica acumuladas no capacitor? Sabemos que q = CdV. Então: q = 80,0 ∙ 10–6 160,0 = 12,8 ∙ 10–3 C A energia acumulada é dada por U = q² / 2C. Então: U = = = 1,0 J (12,8 ∙ 10–3 )2 2 × 80,0 ∙ 10–6 163,8 ∙ 10–6 160,0 ∙ 10–6 Dielétricos Os capacitores que foram mostrados e discutidos até esta seção teriam ar ou vácuo entre as suas placas. Mas os capacitores usados na prática são preen- chidos por um tipo de material chamado dielétrico. Dielétricos são materiais isolantes, como, por exemplo, o plástico. Há várias finalidades para a presença dos dielétricos em capacitores, dentre elas: garantir a separação entre as placas e isolá-las eletricamente, manter uma diferença de potencial maior do que quando preenchido por ar ou vácuo, e aumentar a capacitância do capacitor (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012). O capacitor que é preenchido por um dielétrico tem sua capacitância igual a: C = kCar, onde Car é a capacitância do dielétrico quando preenchido com ar, e k é a constante dielétrica do material de preenchimento. A Tabela 1 mostra a constante k para alguns materiais comumente encontrados. Note que a Capacitores12 114 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO constante do vácuo é considerada exatamente 1, por definição, e a constante do ar é aproximadamente 1. Fonte: Bauer, Westfall e Dias (2012). Material Constante dielétrica Rigidez dielétrica (kV/mm) Vácuo 1 Ar (1atm) 1,00059 2,5 Nitrogênio líquido 1,454 Teflon 2,1 60 Polietileno 2,25 50 Benzeno 2,28 Isopor 2,6 24 Lexan 2,96 16 Mica 3-6 150-220 Papel 3 16 Mylar 3,1 280 Plexiglas 3,4 30 Policloreto de vinila (PVC) 3,4 29 Vidro 5 14 Neoprene 16 12 Germânio 16 Glicerina 42,5 Água 80,4 65 Titanato de estrôncio 310 8 Tabela 1. Valores das constantes dielétricas k e rigidez dielétrica de materiais comumente encontrados (valores aproximados para temperatura ambiente). 13Capacitores 115 Eletrostática II | UNIDADE 2 Capacitores | PARTE 2 O campo elétrico no capacitor preenchido com um dielétrico diminui, permitindo que mais cargas sejam armazenadas nas placas. Para um capacitor de placas paralelas, temos que: E = Ear k q kϵ0A q ϵA= = onde tivermos ∈0 será substituído por k∈0, que é igual a ∈, permissividade elétrica do dielétrico: ∈ = k∈0. Dessa maneira, usando ∈, podemos encontrar a diferença de potencial entre as placas de um capacitor de placas paralelas: ΔV = Ed = qd ϵA Assim, a capacitância será dada por: C = q ΔV = = =ϵA d kϵ0A d kCar como havíamos comentado anteriormente. Os materiais dielétricos possuem uma rigidez dielétrica, que é a capacidade do material em resistir a uma diferença de potencial aplicada (Bauer). Assim, se a intensidade do campo elétrico ultrapassar esse limite, ele é rompido, podendo ser destruído. A Tabela 1 mostra os valores da rigidez dielétrica para diversos materiais dielétricos comumente encontrados. Capacitores14 116 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Considere um capacitor de placas paralelas, preenchido por ar, com capacitância de C = 10,0μF. Esse capacitor é ligado a uma bateria que mantém uma diferença de potencial de V = 20,0 V, como mostrado na figura a seguir. Qual é a carga armazenada nesse capacitor? Agora, suponha que esse mesmo capacitor seja preenchido por um material dielétrico de constante dielétrica k = 3,0. Qual a carga armazenada nessa nova configuração? Sabemos que: C = q V Assim, q = CV = 10,0 × 20,0=200,0 μC =2,0 ∙ 10–4 C Na nova configuração, temos que a constante dielétrica é: C = kCar = 3,0 ∙ 10,0 = 30,0μF. Usando novamente que q = CV, encontramos que: q = 30,0 × 20,0 = 600,0 μC = 6,0 ∙ 10–4 C Ou seja, a carga do capacitor aumenta. Mantendo ∆V constante e aumentando C, a carga q aumenta. A bateria fornece carga extra até carregar o capacitor totalmente. Fonte: Bauer, Westfall e Dias (2012, p. 114). O raio que vimos durante as tempestades é um exemplo de ruptura da rigidez dielétrica. As cargas, ao se acumularem nas nuvens, geram uma diferença de potencial muito alta entre ela e a superfície da Terra. Assim, há uma ruptura da rigidez dielétrica do ar, e uma corrente elétrica é conduzida, formando os relâmpagos que vemos. A elevada corrente provoca aquecimento, podendo levar a consequências explosivas e incendiárias. 15Capacitores 117 Eletrostática II | UNIDADE 2 Capacitores | PARTE 2 Para saber mais sobre correntes elétricas de raios, acesse o link ou o código a seguir: https://goo.gl/FJkQzb Aplicações Os capacitores são muito utilizados em circuitos eletrônicos. Eles têm três características relevantes que os fazem tão úteis (ALEXANDER; SADIKU, 2013): � A capacidade de armazenar energia e, por consequência, podem ser fontes de tensão ou corrente por um dado período de tempo, como já visto neste capítulo. O segundo exemplo mostra um esquema de circuito para armazenamento de energia em um capacitor. � Capacitores opõem-se a variações de tensão e, assim, podem ser utili- zados em conversores de tensão pulsante para uma tensão mais suave. � Capacitores também são sensíveis a frequências, sendo úteis para de- terminadores de frequências. As duas primeiras características são utilizadas em circuitos de corrente contínua, enquanto que a última é utilizada em circuitos com corrente alternada. Portanto, pelas características acima citadas, os capacitores são encontrados em diversos equipamentos, como nobreaks, estabilizadores de tensão, antenas, desfibriladores, flash de máquina fotográfica, dentre outros, sendo essenciais para seu funcionamento. Capacitores16 118 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO ALEXANDER, C. K.; SADIKU, M. N. O. Fundamentos de circuitos elétricos. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. ALLAIN, R. Let’s geek out on the physics of leyden jars. 24 jan. 2017. Disponível em: <ht- tps://www.wired.com/2017/01/the-physics-of-leyden-jars/>. Acesso em: 15 fev. 2018. BAUER, W.; WESTFALL, G.; DIAS, H. Física para universitários: eletricidade e magnetismo. Porto Alegre: AMGH, 2012. v. 3. GARRAFA de Leyden. [200-?]. Disponível em: <http://www.rc.unesp.br/showde- fisica/99_Explor_Eletrizacao/paginas%20htmls/Garrafa%20de%20Leyden.htm>. Acesso em: 15 fev. 2018. HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física 3: eletromagnetismo. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1996. QUEIROZ, A. C. M. A garrafa de Leyden. 2000. Disponível em: <http://www.coe.ufrj. br/~acmq/leydenpt.html>. Acesso em: 15 fev. 2018. Leitura recomendada HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física 2: gravitação, ondas e termodinâmica. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1996. 17Capacitores ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE. PREZADO ESTUDANTE Parte 3 Capacitância e Capacitores O conteúdo deste livro é disponibilizado por SAGAH. unidade 2 V.1 | 2021 120 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Capacitância e capacitores Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Descrever as propriedades de um capacitor. � Determinar a capacitância na associação de capacitores em circuitos elétricos. � Investigar as propriedades físicas de um capacitor. Introdução Os capacitores são elementos armazenadores de energia amplamente utilizados em circuitos eletrônicos, transmissão de sinais, correção de fator de potência em sistemas de alimentação elétricas, sistemas de potência, entre outros. Embora eles não dissipem energia,os capacitores são elementos passivos nos circuitos elétricos. Ao conhecer as suas pro- priedades, é possível analisar como as grandezas elétricas se relacionam nesse elemento. Além disso, os capacitores podem ser associados, a fim de obter diferentes valores de tensão ou corrente. Portanto, são elementos muito úteis na aplicação de circuitos elétricos. Neste capítulo, você conhecerá as propriedades de um capacitor. Além disso, verá como ocorre a capacitância na associação de capacitores em circuitos elétricos. 1 Propriedades dos capacitores Os capacitores são elementos passivos que armazenam energia na forma de campo elétrico. Eles são formados por duas placas paralelas de materiais con- dutores, sem contato físico entre elas, pois uma camada de material dielétrico é posicionada entre as placas (ALEXANDER; SADIKU , 2013). A Figura 1, a seguir, apresenta a configuração de um capacitor de placas paralelas típico. 121 Eletrostática II | UNIDADE 2 Capacitância e Capacitores | PARTE 3 Figura 1. Capacitor de placas paralelas e suas dimensões. Fonte: Adaptada de Knight (2009). Placa de área A do capacitor d ε Em elementos passivos, a capacitância depende das dimensões físicas do capacitor. Para um capacitor de placas paralelas, a capacitância pode ser escrita como: onde ε é a permissividade do material dielétrico entre as placas; A é a área das placas; e d é a distância entre as placas condutoras, conforme as indicações na Figura 1. Quando as placas de material condutor são conectadas em uma fonte de tensão, cargas positivas e negativas depositam-se em cada lado dessas placas (Figura 2). Por essa razão, o capacitor armazena uma carga elétrica que, quando necessária ao circuito, pode ser descarregada, realizando algum tipo de trabalho onde está acoplado. A quantidade de carga elétrica acumulada dependerá proporcionalmente da tensão aplicada: q = Cv Capacitância e capacitores2 122 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO A proporcionalidade entre carga e tensão é determinada pela capacitância do capacitor, com unidade de medida Farad (F), em homenagem ao físico inglês Michael Faraday (1791–1867) (ALEXANDER; SADIKU, 2013). Figura 2. Tensão aplicada em um capa- citor de placas paralelas. Fonte: Adaptada de Alexander e Sadiku (2013). + + + + + + + +q q v Quando um capacitor é conectado a uma fonte de tensão, inicia-se o pro- cesso de carregamento do elemento, que estará completo quando a diferença de potencial entre as placas do capacitor for igual à diferença de potencial da fonte (HEWITT, 2015; KNIGHT, 2009). A Figura 3, a seguir, apresenta alguns tipos de capacitores encontrados no mercado. Comercialmente, os capacitores possuem valores da ordem de picofarads (pF) até microfarads (µF) (ALEXANDER; SADIKU, 2013). 3Capacitância e capacitores 123 Eletrostática II | UNIDADE 2 Capacitância e Capacitores | PARTE 3 Figura 3. Capacitores. Fonte: Helerbrock (2020, documento on-line). A Figura 4, a seguir, apresenta uma representação dos elementos capacitivos nos circuitos elétricos. Figura 4. Símbolos gráficos de capacitores: (a) capacitor polarizado; (b) capacitor não polarizado. Fonte: Adaptada de Igoe e Feddersen (2020). Capacitor polarizado Capacitor não polarizado a) b) Capacitância e capacitores4 124 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Além da relação de carga e tensão nos capacitores, é possível escrever a relação de corrente e tensão nesses elementos. Como a corrente é descrita como a derivada primeira da carga, no tempo: A relação q = Cv, pode ser derivada nos dois lados da igualdade. Como C é um valor constante, ele pode multiplicar a derivada que aparecerá no lado direito dessa equação. Assim, tem-se que: Substituindo a derivada da carga pela corrente elétrica, tem-se que: 1. Um capacitor de 5μF recebe 12 V em seus terminais. Determine a carga armazenada no capacitor. Como: q = Cv q = 5× 10–6 ∙ 12 Logo, q = 6 × 10–5 C ou q = 60μC 2. Um capacitor de 9nF é submetido a uma tensão de v(t) = 5cos(2t)V. Determine a corrente através do capacitor. Como: Logo, i = –90 sen 2t nA 5Capacitância e capacitores 125 Eletrostática II | UNIDADE 2 Capacitância e Capacitores | PARTE 3 Dependendo da capacitância (ou da carga ou tensão) necessária para de- terminada aplicação, os capacitores podem ser associados, de modo a obter as grandezas pretendidas. Assim como os circuitos resistivos, os capacitores podem ser associados em série e em paralelo. A seguir, será explicado como ocorrem as associações de capacitores. 2 Associação de capacitores Em circuitos elétricos, os capacitores podem ser associados de diversas formas. Qualquer forma de associação é baseada em duas formas diferentes: associação em série e associação em paralelo. Na associação em série, os capacitores estão conectados por apenas um terminal em comum. Já na associação em paralelo, dois capacitores, por exemplo, compartilham a ligação dos dois terminais simultaneamente. A Figura 5, a seguir, apresenta três capacitores conectados em paralelo, mantendo-se a diferença de potencial (tensão) da bateria a que estão igualmente ligados (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012). Figura 5. Capacitores conectados em paralelo. Fonte: Adaptada de Bauer, Westfall e Dias (2012). + V C1 C2 C3 Observando-se que a tensão é a mesma em cada um dos capacitores, a carga em cada um deles pode ser descrita por: q1 = C1V q2 = C2V q3 = C3V Capacitância e capacitores6 126 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO onde q1, q2 e q3 são as cargas dos capacitores C1, C2 e C3, respectivamente. A carga total (qT) que esse circuito é capaz de armazenar é dada pela seguinte relação: qT = q1 + q2 + q3 Logo, qT = C1V + C2V + C3V qT = (C1 + C2 + C3)V Os três capacitores em paralelo podem ser considerados como se fossem um único capacitor equivalente (Ceq). Sendo assim, Ceq = C1 + C2 + C3 Esse resultado pode ser estendido para qualquer quantidade de capacitores em paralelo, para fins de cálculo da capacitância equivalente: Já para os capacitores associados em série, conforme o circuito mostrado na Figura 6, a soma de todas as quedas de tensões ocorridas em cada um dos capacitores deve ser idêntica à tensão fornecida pela fonte. Figura 6. Capacitores conectados em série. Fonte: Adaptada de Bauer, Westfall e Dias (2012). V + C1 C2 C3 V3V2V1 7Capacitância e capacitores 127 Eletrostática II | UNIDADE 2 Capacitância e Capacitores | PARTE 3 Assim, V = V1 + V2 + V3 Substituindo a tensão em cada um dos capacitores pela relação que a carga tem com a diferença de potencial e levando em consideração que a carga está uniformemente distribuída entre os elementos que estão em série, tem-se que: Assim, Em termos de capacitância equivalente, a relação de tensão e carga em um circuito em série pode ser escrita da seguinte forma: De modo que, Ou, de forma mais genérica, para n capacitores em paralelo: Capacitância e capacitores8 128 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO A associação de capacitores é importante para a obtenção de capacitâncias que talvez não estejam disponíveis comercialmente. Qualquer associação parte do princípio básico das associações em série e em paralelo. Se houver uma associação mista, deve-se verificar por partes como simplificar a associação, a fim de obter o equivalente. Na prática, os capacitores possuem diversas configurações, e não somente as de placas paralelas. Cada tipo de capacitor é utilizado com uma finalidade diferente, mas sempre com o mesmo princípio de funcionamento: acumular cargas elétricas na parte condutora do elemento. 3 Propriedades físicas dos capacitores Os capacitores de placas paralelas possuem um material dielétrico entre as placas condutoras, conforme apresentado na Figura 7. Esse material isola as placas, de modo que não haja contato físico entre elas. Sendo assim, não há passagem de carga elétrica de uma placa para outra. Figura 7. Característica construtiva de um ca- pacitor de placasparalelas. Fonte: Adaptada de Knight (2009). Dielétrico Q0+ 9Capacitância e capacitores 129 Eletrostática II | UNIDADE 2 Capacitância e Capacitores | PARTE 3 Os materiais dielétricos utilizados entre as placas permitem que os ca- pacitores mantenham certa diferença de potencial, dependendo do material utilizado, o que pode aumentar ou diminuir a sua capacitância. Como visto, a permissividade dielétrica (Ɛ) tem relação direta com a capacitância dos capacitores: A permissividade dos materiais é relacionada por meio da constante dielé- trica (k) em relação à constante dielétrica do vácuo, que é igual a ε0 = 8,85 × 10–12 C2/Nm2 (KNIGHT, 2009). Assim, à temperatura ambiente, a constante dielétrica, ou permissividade relativa, é dada por: onde εr é a permissividade relativa do material, ou constante dielétrica (k); ε é a permissividade do meio; e ε0 é a permissividade dielétrica do vácuo. O Quadro 1, a seguir, apresenta a constante e a rigidez dielétricas de alguns materiais à temperatura ambiente (25℃). Material Constante dielétrica (k) Rigidez dielétrica (kv/mm) Vácuo 1 Ar (1 atm) 1,00059 25 Nitrogênio líquido 1,454 Teflon 2,1 60 Polietileno 2,25 50 Benzeno 2,28 Isopor 2,6 24 Lexan 2,96 16 Quadro 1. Constante e rigidez dielétricas de alguns materiais (Continua) Capacitância e capacitores10 130 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Ao preencher o espaço entre as placas com um material dielétrico, é pos- sível conseguir diminuir o campo elétrico entre as placas, o que permite que o capacitor seja capaz de armazenar uma maior quantidade de carga elétrica (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012). O campo elétrico (E) entre as placas de um capacitor de placas paralelas é descrito por: onde E é o campo elétrico entre as placas; q é a carga armazenada; ε é a permissividade do material dielétrico; e A é a área, com todas as unidades no Sistema Internacional de Unidades (SI). Fonte: Adaptado de Bauer, Westfall e Dias (2012). Material Constante dielétrica (k) Rigidez dielétrica (kv/mm) Mica 3–6 150–220 Papel 3 16 Mylar 3,1 280 Plexiglas 3,4 30 Policloreto de vinila (PVC) 3,4 29 Vidro 5 14 Neoprene 16 12 Germânio 16 Glicerina 42,5 Água 80,4 65 Titanato de estrôncio 310 8 Observe que esses valores são aproximados e para temperatura ambiente. Quadro 1. Constante e rigidez dielétricas de alguns materiais (Continuação) 11Capacitância e capacitores 131 Eletrostática II | UNIDADE 2 Capacitância e Capacitores | PARTE 3 Existem diversos tipos de capacitores, como os capacitores cerâmicos, eletrolíticos, de Mica, variáveis, de poliéster. A aplicação de cada um deles é o que lhes torna diferentes. Por exemplo, o capacitor eletrolítico torna os níveis de tensões em fontes mais estáveis, funcionando como filtros de ruídos. Já os capacitores cerâmicos são os mais utilizados em circuitos CC. Assim, antes de utilizá-los, deve-se conhecer as suas aplicações. ALEXANDER, C. K.; SADIKU, M. Fundamentos de circuitos elétricos. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. BAUER, W.; WESTFALL, G. D.; DIAS, H. Física para universitários: eletricidade e magnetismo. Porto Alegre: AMGH, 2012. HELERBROCK, R. O que é capacitor? 2020. Disponível em: https://brasilescola.uol.com. br/o-que-e/fisica/o-que-e-capacitor.htm. Acesso em: 13 jul. 2020. HEWITT, P. G. Física conceitual. 12. ed. Porto Alegre: Bookman, 2015. IGOE, T.; FEDDERSEN, J. Electricity: the basics. 2020. Disponível em: https://itp.nyu.edu/ physcomp/lessons/electronics/electricity-the-basics/. Acesso em: 13 jul. 2020. KNIGHT, R. D. Física: uma abordagem estratégica. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. (Eletricidade e Magnetismo, v. 3). Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Capacitância e capacitores12 ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE. PREZADO ESTUDANTE Eletrodinâmica Prezado estudante, Estamos começando uma unidade desta disciplina. Os textos que a compõem foram organizados com cuidado e atenção, para que você tenha contato com um conteúdo completo e atualizado tanto quanto possível. Leia com dedicação, realize as atividades e tire suas dúvidas com os tutores. Dessa forma, você, com certeza, alcançará os objetivos propostos para essa disciplina. Objetivo Geral Verificar os efeitos das cargas elétricas em movimento, compreender os circuitos elétricos e suas aplicações no cotidiano. unidade 3 V.1 | 2021 134 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Parte 1 Corrente Elétrica e Resistência Elétrica O conteúdo deste livro é disponibilizado por SAGAH. unidade 3 V.1 | 2021 136 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Corrente elétrica e resistência Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir o conceito de corrente elétrica. � Reconhecer o conceito de resistência elétrica. � Identificar as consequências da resistividade elétrica, com destaque para a condutividade e o efeito Joule. Introdução Corrente elétrica e resistores estão corriqueiramente presentes em nossas vidas. Quer ver como? Usamos corrente elétrica todos os dias, ao acender uma luz em casa, ao ligar um equipamento doméstico, ou ao trabalhar em nosso computador para as tarefas diárias. Os resistores também fazem parte de nossa vida cotidiana. Além de estarem presentes em circuitos de nossos equipamentos eletrônicos, são os elementos-chaves para o funcionamento de chuveiros elétricos, aquecedores, ferro de passar, dentre outros. Neste capítulo, você vai estudar corrente elétrica e algumas pro- priedades de materiais condutores — dentre elas, a resistência elétrica, a resistividade e a condutividade. Entenderá, também, o conceito de velocidade de deriva e o que é o efeito Joule. Corrente elétrica Corrente elétrica nada mais é do que cargas em movimento. Provavelmente, o primeiro exemplo que virá em sua mente é a corrente elétrica usada em nosso dia a dia e empregada para acender lâmpadas e ligar equipamentos eletrônicos e domésticos. Mas, na realidade, correntes elétricas estão presentes em diversos Identificação interna do documento 81GBRFQ7MA-LBBFVD1 Eletrodinâmica | UNIDADE 3 Corrente Elétrica e Resistência Elétrica | PARTE 1 137 fenômenos, como raios, vento solar e até dentro de nossas células, como as correntes responsáveis pelas atividades neuronais e contrações musculares. Podemos definir a corrente elétrica i = dq dt A carga líquida total que passa em um determinado ponto durante um intervalo de tempo de 0 a t é dada pela integral de dq, ou seja: q = ∫ dq = ∫0 i dtt onde i pode ser uma função do tempo. Se a corrente for estacionária, isto é, uma corrente que não é função do tempo, a corrente será a mesma em qualquer ponto do condutor em questão. Outro fato importante é que a carga é conservada. Assim, cada carga que entrar em um condutor, por uma extremidade, sairá pela outra extremidade. A unidade do SI para corrente é o Ampère (A). Assim: 1 A = 1 C/s Embora correntes sejam representadas por uma seta em circuitos ou fios, elas são grandezas escalares. As setas não representam vetores, mas apenas o sentido do fluxo ao longo do condutor. A Figura 1 mostra um exemplo de esquema com as setas de corrente. No esquema, um fio condutor é conectado a uma bateria, e as setas vão do polo positivo para o negativo. Mas as cargas que se movem no condutor são os elétrons, que circulam no sentido oposto ao da seta. Embora as cargas que se movam sejam negativas, a seta da corrente sempre é desenhada como se as cargas fossem positivas. Isso ocorre por uma convenção histórica, pois, quando foi definidaa direção da seta na segunda metade do século XIX, não Em um fio condutor, passa uma corrente de i = 50,0 mA. Em um minuto, quantas cargas passam pelo fio? Sabemos que 1 A é igual a 1 C/s. Convertendo o valor da corrente dada para o Sistema Internacional de Unidades, temos que 50 mA = 0,05 A, logo i = 0,05 C/s. A relação entre carga e corrente é dada por: i = dq dt Dessa maneira, podemos escrever que: dq = i dt = 0,05 ∙ 1 min = 0,05 ∙ 60s = 3 C C s C s Assim, em um minuto, passam 3 C de carga no fio condutor. Corrente elétrica e resistência2 Identificação interna do documento 81GBRFQ7MA-LBBFVD1 138 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO se sabia que os elétrons eram os responsáveis pela corrente nos condutores (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012). Figura 1. Exemplo de um fio condutor ligado a uma bateria e setas indicativas da corrente elétrica. + – i i i i i A Figura 2 traz uma representação de diversas situações onde existem correntes e suas ordens de grandeza. As representações vão desde pA, como no caso de correntes em neurônios, a GA, no caso das correntes heliosféricas no vento solar. 3Corrente elétrica e resistência Identificação interna do documento 81GBRFQ7MA-LBBFVD1 Eletrodinâmica | UNIDADE 3 Corrente Elétrica e Resistência Elétrica | PARTE 1 139 Figura 2. Ordem de grandeza de correntes presentes em diversas situações, como em ativação de neurônios, marca-passos e leds. Os exemplos vão desde pA até GA. Fonte: Bauer, Westfall e Dias (2012, p. 131). Densidade de corrente e velocidade de deriva Em um condutor, as cargas irão se movimentar seguindo o sentido do campo elétrico, quando, por exemplo, estiver ligado a uma bateria. Cargas positivas fluirão no sentido do campo e cargas negativas fluirão no sentido oposto. A densidade de corrente J → é uma grandeza vetorial, que aponta na direção do campo, e foi introduzida para descrever o fluxo. O módulo da densidade de corrente é o valor da corrente i dividida pela área da seção transversal A do ponto no condutor em questão: J = i A A unidade no SI é Ampère por metro quadrado (A/m2). A corrente i, então, que passa por uma seção transversal de um condutor, está relacionada com a densidade de corrente por: i = ∫ J � dA onde dA é o vetor perpendicular ao elemento de área dA. A multiplicação escalar significa que apenas o fluxo que chega à direção de dA será contabi- lizado para a corrente que passa naquela área do condutor. Corrente elétrica e resistência4 Identificação interna do documento 81GBRFQ7MA-LBBFVD1 140 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Se pudéssemos olhar um condutor bem de perto, veríamos que os elétrons não se movem todos no sentido da corrente. Na verdade, eles movem-se em sentidos aleatórios. Mas, quando se considera todo o conjunto de elétrons, em uma dada região, verá que eles apresentam uma velocidade resultante no sentido oposto do campo elétrico, formando a corrente i, muito menor que a velocidade individual de cada elétron. Essa é a chamada velocidade de deriva vd. A Figura 3 mostra um esquema dos elétrons movendo-se em um fio condutor de corrente i, campo elétrico E , densidade de corrente J → e velocidade de deriva vd. De fato, os elétrons em um condutor de cobre têm módulo de velocidade da ordem de 106 m/s, enquanto que a corrente em uma casa tem velocidade de deriva da ordem de 10-3 m/s (HALLIDAY; RESNICK, R.; WALKER, 2016). Figura 3. Esquema de uma corrente de elétrons i em um fio condutor com campo elétrico E , densidade de corrente J e velocidade de deriva vd. Fonte: Bauer, Westfall e Dias (2012, p. 133). i JE vd A velocidade de deriva relaciona-se com a densidade da seguinte forma: J = (ne)vd → → onde n é o número de cargas, ou portadores de carga, por unidade de volume, e e é o valor da carga. Assim, ne é a densidade volumétrica de carga, cuja unidade no SI é Coulomb por metro cúbico (C/m3). Para cargas positivas, J → e vd apontam para a mesma direção; já, para cargas negativas, J → e vd apontam para direções opostas. 5Corrente elétrica e resistência Identificação interna do documento 81GBRFQ7MA-LBBFVD1 Eletrodinâmica | UNIDADE 3 Corrente Elétrica e Resistência Elétrica | PARTE 1 141 Em um condutor de largura a = 3,0 mm e espessura b = 200,0μm, passa uma corrente i de 12,0 mA. Sabendo que o número de portadores de carga é n = 2,0 ∙ 1024 m-3, qual é a densidade de corrente no condutor e a velocidade de deriva? A densidade de corrente é J = i ÷ A. A área da seção transversal do condutor é dada pela largura multiplicada pela espessura. Substituindo os valores, temos que: J = 12,0 ∙ 10–3 3,0 ∙ 10–3 200,0 ∙ 10–6 = 2,0 ∙ 104 A/m2 A velocidade de deriva é dada por vd = J ÷ ne. Substituindo os valores, encontramos: vd = 2,0 ∙ 104 2,0 ∙ 1024 1,6 ∙10-19 = 6,2 ∙ 10–2 = 6,2 cm/s Resistência e resistividade Se, em condutores de materiais diferentes, for aplicada a mesma diferença de potencial, a corrente resultante em cada um deles será diferente. Esse fato ocorre devido à resistência do material, ou seja, quanto o material resiste à passagem da corrente. Podemos definir a resistência R de um condutor como a Voltagem V aplicada entre dois pontos, dividida pela corrente R = Vi A unidade no SI para a resistência é Volt por Ampère, o que é chamado de Ohm (Ω). Ou seja: 1 Ω = 1V/A Um condutor pode ser utilizado para fornecer uma resistência específica em um circuito. Tal condutor é chamado de resistor. Quanto maior o resistor, menor será a corrente elétrica, o que pode ser visto reescrevendo a equação anterior como i = V ÷ R. Assim como, quanto menor a resistência, maior será a corrente elétrica. Outra maneira de interpretar essa questão da resistência seria olhando para o campo elétrico e a densidade e corrente, ao invés da voltagem e corrente — ou Corrente elétrica e resistência6 Identificação interna do documento 81GBRFQ7MA-LBBFVD1 142 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO seja, pensando nas propriedades elétricas do material. Podemos daí, definir a resistividade do material ρ como: ρ = EJ A unidade da resistividade no SI seria a unidade de E dividida pela unidade de J, o que nos leva à unidade de Ohm-metro (Ωm). Ou seja: V/m A/m2 = = = V m V A m2 A m Ωm Lembremos que o campo elétrico e a densidade de corrente são grandezas vetoriais. Ou seja, a equação da resistividade pode ser reescrita na forma vetorial como: E = ρJ Uma observação importante a ser feita é que as equações da resistividade só são válidas para materiais considerados como isotrópicos, ou seja, materiais cujas propriedades elétricas são iguais em todas as direções. Outra grandeza bastante utilizada é a condutividade σ. A condutividade de algum material é o inverso da resistividade. Assim: σ = 1 ρ E sua unidade no SI é (Ωm)-1. A resistência de um fio condutor, por exemplo, pode ser obtida a partir do conhecimento da resistividade do material. Suponha um fio condutor de comprimento L, área de seção transversal A, e diferença de potencial entre suas extremidades é V. Se as linhas de corrente forem uniformes nesse fio, podemos dizer que o campo elétrico e a densidade de corrente serão constantes, e dados por: E = VL e J = i A 7Corrente elétrica e resistência Identificação interna do documento 81GBRFQ7MA-LBBFVD1 Eletrodinâmica | UNIDADE 3 Corrente Elétrica e Resistência Elétrica | PARTE 1 143 Como a resistividade é dada por ρ = E/J, substituindo as equações de E e J, encontramos que: V/L i/A = V i A Lρ = Sabemos que R = V ÷ i, então: ρ = R A L R = ρ L A Um fio condutor de cobre tem área de seção transversal A = 2,0 ∙ 10-4 m2 e comprimento L = 0,5 m. Qual a sua resistência? Use ρ = 1,7 ∙ 10-8 Ωm. A L Sabemos que a relação entre a resistividade e a resistência é dada por: R = ρL A Assim, substituindo os valores: R = 1,7 ∙ 10–8 0,5 2,0 ∙ 10–4 = 42,5 ∙ 10–6 = 42,5μΩ Efeito Joule Quando uma corrente elétrica flui por um condutor, este transforma energia elé- trica em energia térmica,esquentando o material. Olhando microscopicamente o fenômeno, os elétrons da corrente elétrica, ao passarem por um condutor, Corrente elétrica e resistência8 Identificação interna do documento 81GBRFQ7MA-LBBFVD1 144 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO chocam-se com os átomos do mesmo. Por causa dos choques existentes, parte da energia cinética é transferida para os átomos do material, aumentando a agitação e consequentemente, a temperatura. Esse efeito é conhecido como efeito Joule. Esse fenômeno foi essencial para a criação de diversos equipamentos que precisam de aquecimento, utilizados por nós. Como exemplo, podemos citar ferros de passar, aquecedores, fornos elétricos, chuveiro, dentre outros. As desvantagens estariam no aquecimento indesejado, como fios e toma- das que aquecem demais e podem derreter. O próprio condutor pode sofrer alterações devido a altas temperaturas. De fato, a resistividade do material tem uma dependência com a temperatura. Quanto maior a temperatura, maior a resistividade, ou seja, a altas temperaturas, a resistência à passagem da corrente aumenta. A Figura 4 mostra a variação da resistividade do cobre em função da temperatura. Figura 4. Dependência da resistividade ρ do cobre com a temperatura T. A linha vertical marca o ponto referente à temperatura ambiente, T0 = 293 K e ρ0 = 1,69 ∙ 10-8Ωm. Fonte: Halliday, Resnick e Walker (2016, p. 120). Te m pe ra tu ra a m bi en te Temperatura (K) Re si st iv id ad e (1 0–8 Ω .m ) 0 2 4 6 8 10 0 200 T0 , ρ0 400 600 800 1000 1200 9Corrente elétrica e resistência Identificação interna do documento 81GBRFQ7MA-LBBFVD1 Eletrodinâmica | UNIDADE 3 Corrente Elétrica e Resistência Elétrica | PARTE 1 145 BAUER, W.; WESTFALL, G. D.; DIAS, H. Física para universitários: eletricidade e magne- tismo. Porto Alegre: AMGH, 2012. HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física: eletromagnetismo. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016. v. 3. Leitura recomendada EFEITO JOULE. O efeito Joule. [S.l.]: Efeito Joule, 2008. Disponível em: <https://www. efeitojoule.com/2008/04/efeito-joule.html>. Acesso em: 19 fev. 2018. Corrente elétrica e resistência10 Identificação interna do documento 81GBRFQ7MA-LBBFVD1 ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE. PREZADO ESTUDANTE 146 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Parte 2 Leis de Ohm, Potência Elétrica e Energia Elétrica O conteúdo deste livro é disponibilizado por SAGAH. unidade 3 V.1 | 2021 148 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Leis de Ohm, potência e energia Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Calcular a resistência elétrica de resistores e materiais condutores. � Definir a potência elétrica e a energia elétrica dissipada por resistores elétricos. � Identificar o consumo de energia elétrica em equipamentos elétricos. Introdução Em 1827, o físico alemão, Georg Ohm, desenvolveu trabalhos envolvendo materiais condutores e seu comportamento elétrico, encontrando a relação, válida para materiais ôhmicos, entre a corrente elétrica, tensão e resistência. Ela, por sua vez, diz que a corrente elétrica que percorre um condutor é inversamente proporcional à resistência deste material e diretamente proporcional à diferença de potencial aplicada. A taxa de transferência de energia em um determinado tempo, de- nominada potência elétrica, também pode ser calculada por meio das grandezas elétricas de tensão, corrente e resistência. Quando conhecemos a potência de um equipamento e a tensão de alimentação, como é o caso dos eletroeletrônicos domésticos, podemos calcular a quantidade de energia consumida por eles. A partir das relações de potência e de corrente elétrica, comumente chama- das de Primeira Lei de Ohm, é possível determinar a potência dissipada por um resistor em forma de energia térmica, processo que se denomina efeito Joule. Neste capítulo, você vai compreender os conceitos de resistência e re- sistividade e será capaz de calcular esses valores para materiais condutores; entenderá, também, os conceitos de potência elétrica e energia elétrica, verá o efeito Joule presente nos condutores submetidos à passagem de corrente e, por fim, você aprenderá a calcular o consumo de energia elétrica em equipamentos elétricos. 149 Eletrodinâmica | UNIDADE 3 Leis de Ohm, Potência Elétrica e Energia Elétrica | PARTE 2 Resistência elétrica e resistividade de um material Materiais condutores e isolantes são classificados assim conforme a sua afini- dade em conduzir ou não corrente elétrica. Os materiais isolantes necessitam de um campo elétrico muito intenso para que o material se torne condutor. Já o material condutor conduz corrente elétrica, mesmo que para campos elétricos menos intensos. Se aplicarmos uma mesma diferença de potencial em um material condutor e em um isolante, supondo que os mesmos possuam as mesmas características geométricas, teremos resultados distintos. A propriedade dos objetos que determinam tais discrepâncias é a resistência elétrica. Esta pode ser definida como a característica de um corpo opor-se à passagem de corrente. Podemos determinar a resistência entre dois pontos de um condutor, apli- cando-se uma diferença de potencial V nesses pontos e medindo a corrente i que resulta. A resistência R é dada por: V iR = Como pode ser observada pela equação, a unidade de resistência é Volt por Ampère no sistema internacional. Para homenagear o cientista que estudou e realizou diversas descobertas na área, criou-se uma unidade especial para a resistência elétrica, o Ohm (Ω). Dessa maneira, temos que: V A11 ohm = 1 volt por ampère = 1 Ω = Condutores que possuem a única função de introduzir certa resistência a um circuito são chamados de resistores. A Figura 1 apresenta um resistor e a sua representação em circuitos elétricos. Leis de Ohm, potência e energia2 150 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Figura 1. Resistor (a) e sua representação em circuitos (b). Fonte: Sergiy Kuzmin/Shutterstock.com. A resistência de um condutor depende do modo como a diferença de po- tencial é aplicada (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2012). A resistividade ρ é a relação entre o campo elétrico E → existente em um ponto do material e a densidade de corrente J → neste mesmo ponto. A resistividade nos dá uma visão melhor sobre o material e é dada pela equação a seguir: E Jρ = Dessa maneira, teremos a unidade de ρ como: = = m = Ω • munidade [E] unidade [J] V/m A/m2 V A A partir da resistividade, podemos reescrever sua equação em termos vetoriais, assim: E = ρ J → → A resistência é uma propriedade de um dispositivo; a resistividade é uma propriedade de um material (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2012). 3Leis de Ohm, potência e energia 151 Eletrodinâmica | UNIDADE 3 Leis de Ohm, Potência Elétrica e Energia Elétrica | PARTE 2 A densidade J → de corrente em um condutor depende do campo elétrico E → e das propriedades do material. Essa dependência, em geral, é muito com- plexa. Porém, para certos materiais, especialmente para os metais, em uma dada temperatura, J → é quase diretamente proporcional a E → , e a razão entre os módulos E e J permanece constante. Essa relação, chamada de Lei de Ohm, foi descoberta em 1826, pelo físico alemão, Georg Simon Ohm (1787-1854). A palavra “lei” deveria, na verdade, estar entre aspas, porque a Lei de Ohm, assim como a Lei dos Gases Ideais e a Lei de Hooke, fornece um modelo idealizado que descreve muito bem o comportamento de alguns materiais, porém não fornece uma descrição geral para todos eles (YOUNG; FREEDMAN, 2012). A Lei de Ohm é a afirmação de que a corrente que atravessa um disposi- tivo é sempre diretamente proporcional à diferença de potencial aplicada ao dispositivo, porém isso ocorre em apenas alguns materiais e a certas condições controladas, como a temperatura. Dessa maneira, um dispositivo obedeceà Lei de Ohm se a resistência dele não depende do valor absoluto, nem da polaridade da diferença de potencial aplicada. Para os componentes que obedecem à Lei de Ohm, damos o nome de dispositivos ôhmicos ou lineares. Por sua vez, os que não obedecem são denominados de dispositivos não lineares ou não ôhmicos. Georg Ohm verificou que, em certos materiais condutores, a relação entre a diferença de potencial aplicado e a corrente que percorria o elemento eram sempre iguais (Tabela 1). Tensão (V) Corrente (mA) Razão V/I 1 5 200 2 10 200 3 15 200 ... ... 200 10 50 200 11 55 200 12 60 200 13 65 200 Tabela 1. Experimentos de Georg Ohm. Leis de Ohm, potência e energia4 152 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Com esse experimento, podemos verificar a equação que, por muitas vezes, é denominada Primeira Lei de Ohm, que é: U = R • i Nesta equação, podemos concluir que a corrente de um determinado compo- nente será diretamente proporcional à tensão aplicada sobre ele e inversamente proporcional à resistência. A equação é válida para qualquer componente, em determinadas condições, porém, para que as proporcionalidades sejam válidas, o material deve ser condutor e definido em uma gama limitada de temperaturas. A Lei de Ohm refere-se mais à característica dos componentes, diferente do que muitos definem como a Primeira Lei de Ohm, sendo a relação entre a tensão, corrente e resistência. Na Figura 2, podem ser observadas duas curvas comportamentais de dois componentes distintos. Figura 2. Curva característica de um dispositivo (a) ôhmico e (b) não ôhmico. Na curva (a), é possível observar um comportamento linear, a tensão e a corrente crescem proporcionalmente, a relação entre o crescimento das duas nos dá a resistência do componente. Esse é um dispositivo ôhmico, que, no caso, é um resistor de 100 Ω. Na curva (b), é possível observar que, antes de uma tensão limite, a corrente praticamente não cresce; após esse valor limite, a corrente cresce em ritmo 5Leis de Ohm, potência e energia 153 Eletrodinâmica | UNIDADE 3 Leis de Ohm, Potência Elétrica e Energia Elétrica | PARTE 2 muito acelerado para cada incremento de tensão. O comportamento observado é não linear, portanto podemos dizer que esse é um dispositivo não ôhmico. O dispositivo, no caso, é um diodo retificador. Para os dispositivos ôhmicos, uma observação da curva característica, extremamente importante, pode ser feita: a inclinação da reta apresenta o valor da resistência do componente. Observe o detalhe da curva a seguir. Figura 3. Detalhe da curva característica de um com- ponente ôhmico. Temos, então, que: ∆V ∆itgα = de onde é possível concluir que a inclinação da curva, tgα, é numericamente igual à resistência elétrica do componente. tgα = R A resistividade é uma propriedade do material. Se conhecermos o seu valor para o material aplicado e, também, as características geométricas do dispositivo, podemos calcular sua resistência de maneira simples. Considere o corpo da Figura 4 para determinarmos sua resistência: seja A a área da seção transversal, L o comprimento do dispositivo e V a diferença de potencial entre as extremidades do corpo. Supondo que a densidade de corrente Leis de Ohm, potência e energia6 154 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO seja uniforme ao longo de toda a seção reta, e o campo elétrico uniforme em todos os pontos, temos que: V LE = e i AJ = Aplicando esses valores na equação de resistividade, teremos: V/L i/A V A i Lρ = = Desta equação, podemos destacar que o termo V/i é a resistência elétrica do corpo e, portanto, teremos que: L AR = ρ Note que esta equação se aplica apenas a condutores isotrópicos, materiais com as mesmas características em todas as direções, como é o caso dos metais e de seção reta uniforme. Para configurações geométricas diferentes, onde o campo elétrico e/ou a densidade de corrente são variáveis, faz-se necessário calcular a resistência para cada seção, assim como apresentado acima, e, en- tão, somá-los na forma de uma integral no comprimento do dispositivo. Essa equação, por muitas vezes, é apresentada como a Segunda Lei de Ohm, ou seja, a lei que determinaria a resistência elétrica de um condutor isotrópico de seção reta. Se analisarmos os conceitos de resistividade e resistência, entenderemos que todo condutor apresentará certa resistência, podendo ser ela mais elevada ou com valores praticamente desprezíveis. Em circuitos eletrônicos, por exemplo, a resistência dos fios que conectam os elementos do circuito é considerada desprezível. Já em instalações elétricas, a queda de tensão que ocorre devido à resistência dos condutores deve ser considerada. Dessa maneira, os fios devem ser dimensionados para ter uma queda de tensão máxima, e, conforme observamos na equação de resistência e resistividade, as duas relacionam-se com o inverso da área da seção. Portanto, para maiores seções, teremos menores resistências e, consequentemente, menores quedas de tensão. A resistividade, assim como a maioria das grandezas físicas, sofre varia- ção com a temperatura. A relação entre temperatura e resistividade para os metais em geral é quase linear para uma larga faixa de temperaturas. Como a resistividade de um material varia com a temperatura, a resistência de um condutor específico também varia com a temperatura. 7Leis de Ohm, potência e energia 155 Eletrodinâmica | UNIDADE 3 Leis de Ohm, Potência Elétrica e Energia Elétrica | PARTE 2 Na Tabela 2, é possível observar valores de resistividade para materiais condutores, isolantes e semicondutores. Material Resistividade ρ (Ω ∙ m) Prata 1,62 × 10-8 Cobre 1,69 × 10-8 Ouro 2,35 × 10-8 Alumínio 2,75 × 10-8 Manganin 4,82 × 10-8 Tungstênio 5,25 × 10-8 Ferro 9,68 × 10-8 Platina 10,6 × 10-8 Silício puro 2,5 × 103 Silício tipo n 8,7 × 10-4 Silício tipo p 2,8 × 10-3 Vidro 1010 - 1014 Quartzo fundido ~1016 Tabela 2. Resistividade de alguns materiais à temperatura ambiente (20ºC). Dentro da família de materiais que se comportam como condutores, temos os semicondutores, que apresentam características de condutores e isolantes, dependendo da aplicação, e os supercondutores, que são condutores perfeitos, encontrados em situações especificas. Os semicondutores são os principais responsáveis pela revolução da mi- croeletrônica, que nos trouxe a era da informação. O silício possui um número muito menor de portadores de carga, uma resistividade muito maior e um coeficiente de temperatura da resistividade que é, ao mesmo tempo, elevado e negativo. Assim, enquanto a resistividade do cobre aumenta quando a tem- peratura aumenta, a resistividade do silício diminui (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2012). Leis de Ohm, potência e energia8 156 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO O silício puro tem uma resistividade tão alta que se comporta quase como um isolante e, portanto, não tem muita utilidade em circuitos eletrônicos. Todavia, ao receber impurezas, essa resistividade pode ser reduzida — o processo de adicionar impurezas ao material chama-se dopagem. Em condutores, existem alguns elétrons fracamente presos aos átomos da rede cristalina. Com pouca energia, é possível libertá-los e criar corrente elétrica. Essa energia geralmente é proveniente de energia térmica ou de um campo elétrico aplicado ao corpo. Nos isolantes, os elétrons estão fortemente ligados aos átomos da rede cristalina, sendo necessária muita energia para libertá-los e colocá-los em movimento. A energia térmica não é suficiente para que isso ocorra, e seria necessário um campo elétrico muito intenso para tornar esse material condutor. Para os semicondutores, alguns dos elétrons conseguem desprender-se dos átomos da rede cristalina com menos energia que nos isolantes. Ainda para melhorar a condutibilidade desses materiais, são realizadas dopagens com impurezas que possam ceder elétrons ou criar buracos que funcionam como portadores de carga positiva. Dessa maneira, conseguimoscaracterísticas muito interessantes para esses componentes semicondutores. Em 1911, o físico holandês Kamerlingh Onnes descobriu que a resistivi- dade do mercúrio desaparece totalmente quando o metal é resfriado abaixo de 4 K. Esse fenômeno, conhecido como supercondutividade, é de grande interesse tecnológico, porque significa que as cargas podem circular em um supercondutor sem perder energia na forma de calor. Correntes criadas em anéis supercondutores, por exemplo, persistiram durante vários anos sem perdas; é preciso uma fonte de energia para produzir a corrente inicial, mas, depois disso, mesmo que a fonte seja removida, a corrente continua a circular indefinidamente (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2012). As aplicações tecnológicas para materiais supercondutores eram muito restritas antes de 1986 devido ao alto custo para atingir baixas temperaturas. Em 1986, porém, foram descobertos materiais cerâmicos que atingiam a supercondutividade com temperaturas mais altas que as anteriores, mas ainda menores que a temperatura ambiente. A supercondutividade pode ser explicada segundo a hipótese de que, em um supercondutor, os elétrons responsáveis pela corrente movem-se em pares. Um dos elétrons do par distorce a estrutura cristalina do material, criando, nas proximidades, uma concentração temporária de cargas positivas; o outro elétron do par é atraído por essas cargas. Por meio dessa teoria, a coordenação de movimentos dos pares de elétrons impede que se choquem com os átomos da rede cristalina, eliminando, assim, a resistência elétrica. Essa teoria é capaz 9Leis de Ohm, potência e energia 157 Eletrodinâmica | UNIDADE 3 Leis de Ohm, Potência Elétrica e Energia Elétrica | PARTE 2 de explicar bem os supercondutores descobertos antes de 1986, porém será necessária uma nova teoria ou inserções na antiga, para explicar o compor- tamento dos novos supercondutores cerâmicos. Potência elétrica e energia elétrica dissipada Observe a Figura 4, onde temos o circuito de um bipolo, que é todo elemento de um circuito elétrico que possui dois terminais. Figura 4. Bipolo submetido a uma diferença de potencial. Os fios que ligam o circuito possuem resistência desprezível, e é aplicado um potencial Va no ponto a e um potencial Vb no ponto b. Portanto, a diferença de potencial sobre o bipolo é dada por: Vab = (Va – Vb) Leis de Ohm, potência e energia10 158 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO O trabalho realizado por uma partícula que se desloca do ponto a para o ponto b é dado por: τab = Q ∙ (Va – Vb) A variação de energia potencial elétrica dU entre os pontos a e b é igual ao trabalho realizado pela carga entre esses potenciais. A variação de ener- gia potencial elétrica nos dá o valor de energia dissipada pelo componente. A equação que nos dá a energia dissipada pelo componente é: dU = dQ • Vab Então, a potência P associada a essa conversão de energia é a taxa de transferência de energia dU/dt, da seguinte maneira: dU dt dQ dt= • Vab Se verificarmos que o termo dU/dt é a nossa potência P e o termo dQ/dt nada mais é que a corrente elétrica i. Substituindo estes termos, temos que a potência elétrica dissipada por este elemento é: P = i • Vab A unidade de i é o Ampère, ou Coulomb por segundo, e a unidade de Vab é o Volt, ou um Joule por Coulomb. Portanto, a unidade de P é o Watt (W), como era de esperar: J c1 1 = 1 = 1W c s J s( ( )) • Pelo princípio fundamental de conservação da energia, a energia elétrica dissipada pelo elemento deve ser convertida em outra forma de energia. No caso de condutores, esta energia é transformada em energia térmica, gerando calor e fazendo com que o condutor eleve sua temperatura. A transformação específica de energia elétrica em energia térmica, motivada pela passagem de corrente elétrica em um dispositivo, é o que se chama Efeito Joule. Uma explicação para o fenômeno: os elétrons livres, impulsionados pelo campo elétrico, percorrem o condutor de uma extremidade à outra. Os átomos da rede cristalina, que compõem o metal, já possuem energia associada, 11Leis de Ohm, potência e energia 159 Eletrodinâmica | UNIDADE 3 Leis de Ohm, Potência Elétrica e Energia Elétrica | PARTE 2 por exemplo, à sua própria agitação térmica. Com a passagem dos elétrons livres, ocorrem inúmeras colisões entre os elétrons e os átomos do material condutor. A cada colisão, há uma transferência de energia dos elétrons para a rede, aumentando ainda mais a oscilação da rede e da energia de vibração dos átomos. Esse aumento contínuo da energia de vibração dos átomos manifesta- -se como um aumento da temperatura do condutor, ou seja, seu aquecimento (VÁLIO et al., 2016). A partir da equação que define a resistência, podemos encontrar a potência dissipada por um resistor, ou condutor ôhmico, ou, ainda, a taxa de transferência de energia para o resistor, ou, por fim, a mensuração do Efeito Joule. Considere: V RV = R • i e i = Substituindo na equação de potência, temos que: )(V RP = i • (R • i) e P = • V Por fim: V2 RP = i2 • R e P = O Efeito Joule e seu consequente aumento de temperatura são responsáveis por fundir o material condutor em níveis intensos de corrente elétrica. Por isso, os condutores de qualquer instalação, como os fios de alimentação de uma tomada, devem ser dimensionados pela mínima seção transversal que pode ser utilizada, visto que um condutor mais fino (menor seção), utilizado para levar grandes correntes, aquecerá tanto que levará o condutor à fusão. Leis de Ohm, potência e energia12 160 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Um aquecedor elétrico de água tem seu funcionamento baseado na dissipação da potência em forma de calor, o que causa o aumento de temperatura da água no compartimento. Quando o aquecedor é ligado, a corrente elétrica percorre a resistência e, devido ao Efeito Joule, ocorre o aumento da temperatura no condutor, que, por sua vez, está imerso em água, transferindo, então, o calor para a água. Sabe-se que certo aquecedor tem resistência de 12,1 Ω e é conectado a uma tensão de 110 V. O compartimento de água do aparelho tem 1L de volume e está completo de água. Desprezando perdas, ou seja, considerando que toda a energia elétrica é convertida em calor cedido para a água, determine quanto tempo será necessário para elevar a temperatura da água em 50°C. Resposta: Para determinarmos o tempo necessário para aquecer essa quantidade de água, devemos, então, calcular a quantidade de calor absorvido pela água e, em seguida, a potência do equipamento e, só então, poderemos calcular o tempo. Da termodinâmica, temos que a quantidade de calor absorvida é dada por: Q = m ∙ c ∙ ∆T onde m é a massa de água (para a água, 1kg =1L), c é o calor específico da água, e vale 4200 J/kg ∙ ºC , e ∆T é a variação de temperatura. Então, para o exemplo, temos: Q = 1kg • 4200 • 50 = 210.000J A potência dissipada pela resistência é dada por: U2 R = 1.000W=P = 1102 12,1 Assim, podemos, então, relacionar a potência dissipada pela resistência, que, por Efeito Joule, se dissipa na forma de calor, sendo que, por definição, a potência é dada pela variação e energia, pela variação do tempo. Assim temos: ∆E ∆tP = No caso, a potência é a potência dissipada pela resistência, e a variação de energia é o calor absorvido pela água, então: t = 210 segundos ou 3,5 minutos 210.000 t1.000 = Sendo assim, a água desse aquecedor elétrico eleva a sua temperatura em 50ºC em 3,5 minutos. 13Leis de Ohm, potência e energia 161 Eletrodinâmica | UNIDADE 3 Leis de Ohm, Potência Elétrica e Energia Elétrica | PARTE 2 Consumo de energia elétrica Todo aparelho movido à eletricidade consome certa quantidade de energia elétrica. Veja que isso é a aplicação do princípio de conservação de energia, pois esta que é gerada para nosso uso em forma de calor, luz, movimento, entre outros, deve ser originária de alguma fonte. Essa energia elétrica pode vir de diferentes fontes,como de uma usina hidrelétrica, que gera energia elétrica a partir da conversão da energia potencial da água represada; de sistemas fotovoltaicos, que produzem energia elétrica por meio da energia solar; de usinas eólicas, que são capazes de produzir energias elétricas a partir da energia mecânica dos ventos, entre outras fontes de energia. A energia elétrica é um meio muito eficaz de transmitir energia de um lugar a outro, com menos perdas e com equipamentos relativamente menores e menos complexos. Imagine transmitir a energia mecânica de Itaipu até São Paulo, por meio de engrenagens e eixos. Para calcular o consumo de energia, ou a energia potencial elétrica U fornecida ao sistema, podemos utilizar a definição da potência elétrica. Sendo conhecida a potência em W de cada equipamento, basta multiplicarmos ela pelo tempo de funcionamento do aparelho em segundos, da seguinte forma: U = P • ∆t Utilizando a potência em W, o tempo em s, a unidade da energia é o Joule. Esse valor em Joule não é muito usual, pois, para pequenos valores de potência e consumos em tempo moderado, geram valores numericamente grandes. Para solucionar esse problema, foi criada uma unidade de medida, que não está no SI, a fim de atender aos níveis de consumo de energia elétrica. Essa unidade é o Quilowatt-Hora (kWh). Para o cálculo do consumo em kWh, a potência deve estar em kW (quilowatt = 103 W), e o tempo de utilização deve estar em h (hora = 3600s). A equação deve ser a mesma utilizada para calcular a energia em J, apenas deve-se utilizar as unidades de forma correta. Por esse consumo, em kWh, que pagamos à concessionária de luz de nossa região, para calcular o custo mensal de um aparelho, precisamos saber a energia que ele consome em kWh e o preço da tarifa de luz. Esse valor é dado em reais/kWh. Sendo assim: Customensal (reais) = preço do kWh • energia kWh • 30 Leis de Ohm, potência e energia14 162 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO A multiplicação por 30 é referente a um mês médio de 30 dias. Portanto, resumidamente, para calcular o consumo de energia de um equi- pamento elétrico, devemos saber a sua potência, em W ou kWh, e multiplicar pelo tempo em que ele fica ligado, em s ou em h. Assim, teremos a energia consumida pelo aparelho em J ou kWh (conforme a unidade utilizada para o cálculo). A Tabela 3 apresenta alguns aparelhos de uma residência com suas respectivas potências e o tempo de utilização diário deles. Equipamento Tempo médio de uso diário (h) Potência do equipamento (W) Ar-condicionado 8 1000 Chuveiro elétrico 0,5 5800 Geladeira 24 50 Secador de cabelo 0,2 1400 Tabela 3. Dados para o exemplo. a) Calcule a energia elétrica consumida em um mês (30 dias), em J, com todos os aparelhos funcionando conforme a tabela. U = P ∙ ∆t Uar-condicionado = 1.000 ∙ 8 ∙ 3.600 = 28.800.000 J [energia consumida em um dia] Uchuveiro = 5800 ∙ 0,5 ∙ 3.600 = 10.440.000 J [energia consumida em um dia] Ugeladeira = 50 ∙ 24 ∙ 3.600 = 4.320.000 J [energia consumida em um dia] Usecador = 1.400 ∙ 0,2 ∙ 3.600 = 1.008.000 J [energia consumida em um dia] Utotal = 28.800.000 + 10.440.000 + 4.320.000 + 1.008.000 = 44.568.000 J b) Calcule a energia elétrica consumida em um mês (30 dias), em kWh, com todos os aparelhos funcionando conforme a tabela. 15Leis de Ohm, potência e energia 163 Eletrodinâmica | UNIDADE 3 Leis de Ohm, Potência Elétrica e Energia Elétrica | PARTE 2 U = ∙ ∆t ∙ 30 Uar-condicionado = 1.000 ∙ 8 ∙ = 240 kWh [energia em kWh no mês] Uchuveiro = 5800 ∙ 0,5 ∙ = 87 kWh [energia em kWh no mês] Ugeladeira = 50 ∙ 24 ∙ = 36 kWh [energia em kWh no mês] Usecador = 1.400 ∙ 0,2 ∙ = 8,4 kWh [energia em kWh no mês] Utotal = 240 + 87 + 36 + 8,4 = 371,4 kWh [energia em kWh no mês] 30 1.000 P( W) 1.000 30 1.000 30 1.000 30 1.000 c) Calcule o custo mensal em reais, com todos os aparelhos funcionando conforme a tabela; a tarifa kWh é R$ 0,6613. Customensal (reais) = preço do kWh ∙ energia kWh Custoar-condicionado = 0,6613 ∙ 240 = R$ 158,72 Custochuveiro = 0,6613 ∙ 87 = R$ 57,53 Custogeladeira = 0,6613 ∙ 36 = R$ 23,81 Custosecador = 0,6613 ∙ 8,4 = R$ 5,55 Custototal = 0,6613 ∙ 240 = R$ 245,61 O custo mensal dessa casa, utilizando esses aparelhos, será de R$ 245,61. HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física: eletromagnetismo. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012. v. 3. VÁLIO, A. B. M. et al. Ser protagonista: física 3. 3. ed. São Paulo: Edições SM, 2016. YOUNG, H. D.; FREEDMAN, R. A. Física III: eletromagnetismo. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2012. Leis de Ohm, potência e energia16 164 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Leituras recomendadas BAUER, W.; WESTFALL, G. D.; DIAS, H. Física para universitários: eletricidade e magnetismo. Porto Alegre: AMGH, 2012. FERRARO, N. G.; SOARES, P. A. T.; FOGO, R. Física básica. 3. ed. São Paulo: Atual, 2009. YAMAMOTO, K.; FUKE, L. F. Física para o ensino médio 3: eletricidade e física moderna. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. 17Leis de Ohm, potência e energia ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE. PREZADO ESTUDANTE Parte 3 Circuitos Resistivos O conteúdo deste livro é disponibilizado por SAGAH. unidade 3 V.1 | 2021 166 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Circuitos resistivos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Compreender como funcionam as associações em série, em paralelo e mista. Analisar a função dos geradores e receptores em circuitos elétricos. Verificar como se fazem as medidas elétricas. Introdução Os circuitos elétricos, indubitavelmente, mudaram o mundo. A eletrônica moderna continua mudando a sociedade humana, a um ritmo cada vez mais rápido. Por isso, estudar os circuitos resistivos é muito importante. Os circuitos resistivos são circuitos elétricos específicos, onde só há elementos resistivos, como resistores, geradores, baterias e receptores. As resistências podem ser conectadas de diferentes formas — dessa maneira, é possível conseguir valores de resistências equivalentes diversas. Quais tipos de conexões podemos realizar com resistências? Como se calcula a resistência equivalente em um circuito elétrico? Em circuitos, temos componentes como fontes, fios de conexão e resistores, sendo que alguns deles comportam-se como geradores e outros como receptores. Como verificar se um equipamento é receptor ou gerador? Em circuitos elétricos, como medimos grandezas elétricas? Que equipamentos e cuidados devemos ter para obter tais medidas? A partir dos conceitos apresentados neste capítulo, você será capaz de responder essas e outras perguntas. Aqui, você vai aprender a identificar associações de resistores dos tipos série, paralela e mista, vai aprender a encontrar a resistência equivalente em associações de resistores e a identificar geradores e receptores em circuitos elétricos. Por fim, você será capaz de identificar os aparelhos utilizados para medir grandezas elétricas e saberá os cuidados que devem ser tomados na manipulação de cada equipamento. 167 Eletrodinâmica | UNIDADE 3 Circuitos Resistivos | PARTE 3 Associações de resistores em série, em paralelo e mista Os circuitos elétricos estão em praticamente tudo que observamos no carro que nos movimentamos, na geladeira onde guardamos nossos alimentos, e até no forno elétrico, onde preparamos algumas refeições. Os circuitos resistivos têm apenas fontes de alimentação, elementos que fornecem uma força eletromotriz ao circuito, e resistores, elementos condutores que possuam a única função de introduzir certa resistência a um circuito. É importante salientar que, neste texto, vamos nos atentar a circuitos de corrente contínua, ou seja, qualquer corrente que flui em um mesmo sentido durante o tempo todo. Para analisar circuitos elétricos de modo geral, devemoster em mente a diferença entre o sentido das correntes real e convencional, assim, esta última sempre deve ser adotada. Na corrente convencional, supõe-se o movimento das cargas positivas, ou seja, nesse sentido, a corrente flui do polo positivo para o polo negativo da fonte. A corrente real, por sua vez, considera que somente as cargas negativas deslocam-se no circuito, do polo negativo para o polo positivo. Para que uma corrente flua por um resistor, é preciso que uma diferença de potencial seja estabelecida entre as extremidades dele. Tal diferencia de potencial, fornecida por uma bateria ou outro dispositivo análogo, é denomi- nada força eletromotriz (fem). Um dispositivo que mantém uma diferença de potencial é chamado de fonte de fem e realiza trabalhos sobre os portadores de carga. Exemplos de fontes de fem são as baterias, as pilhas, os geradores elétricos e as células solares (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012). Um circuito elétrico sempre começa e termina na fonte de fem, a qual provoca diferenças de potencial a um circuito, e as quedas de potencial nos resistores reduzem esse potencial ao longo do circuito. Todavia, a ddp total ao longo de qualquer caminho condutor fechado é zero. Esse fato é uma consequ- ência direta do princípio de conservação de energia e pode ser observado da seguinte maneira: cada ponto de uma montanha possui apenas uma altitude em relação ao nível do mar; se partirmos de um ponto qualquer e voltarmos ao mesmo ponto depois de passear pela montanha, a soma algébrica das mu- danças de altitude durante a caminhada é necessariamente zero (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2012). Circuitos resistivos2 168 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO A partir dessas observações, foi proposta a Lei de Kirchhoff das malhas, que estabelece que a soma algébrica das variações de potencial ao longo de qualquer malha fechada de um circuito deve ser igual a zero. Um circuito pode conter mais de um resistor e/ou mais de uma fonte de fem. A análise de um circuito com múltiplos resistores requer diferentes técnicas. Associação em série No circuito mostrado na Figura 1, dois resistores, R1 e R2, são conectados em série, ou seja, um em seguida do outro, com uma fonte de fem ε. Figura 1. Associação de resistores em série. Quando uma diferença de potencial V é aplicada a resistências em série, a corrente I é a mesma em todas as resistências. Num circuito sem ramificação, a corrente deve fluir por todo ele, de maneira que a corrente que entra é a mesma que sai. Uma analogia com o fluxo de água em um cano pode ajudar: não importa quão longo seja o tubo, toda a água que fluir para dentro dele por uma das extremidades fluirá para fora pela outra (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012). 3Circuitos resistivos 169 Eletrodinâmica | UNIDADE 3 Circuitos Resistivos | PARTE 3 A diferença de potencial em cada resistor é dada por V1 e V2, sendo: V1 = R1 · I e V2 = R2 · I Como visto, a soma das diferenças de potencial em um caminho condutor fechado deve ser igual a zero. Dessa maneira, para o circuito em série, a soma das tensões nos resistores deve ser igual à força eletromotriz: ε = V1 + V2 Combinando as duas equações, poderemos encontrar a corrente I que percorre o circuito, sendo: ε = R1 ∙ I + R2 ∙ I ε = I (R1 + R2) I = ε (R1 + R2) Para podermos encontrar uma resistência equivalente para o circuito, devemos encontrar uma resistência que, quando submetida a ddpε, produza uma corrente equivalente ao circuito anterior. Então, temos: ε = R1 · I + R2 · I = Req · I Comparando as duas igualdades, temos que: Req = R1 + R2 Desse modo, dois resistores associados em série podem ser substituídos por um único resistor de resistência equivalente igual à soma das duas resistências. Podemos estender esse pensamento e expandir a expressão para resistência equivalente de n resistores associados em série, de tal modo que: Req = ∑ n i = 1 Ri Circuitos resistivos4 170 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Sendo assim, em resistores conectados formando um único caminho, sem ramificações, a resistência equivalente total do conjunto será exatamente a soma de suas resistências individuais. Associação em paralelo Dois resistores podem ser conectados de outra forma diferente, como pode ser visto na Figura 2. Nesse tipo de conexão, colocamos os componentes em paralelo, ou seja, lado a lado, de tal forma que os pontos de conexão sejam coincidentes. Figura 2. Associação de resistores em paralelo. Nesse tipo de conexão, os elementos resistivos ficam todos submetidos à mesma ddp. Assim, temos que: ε = V1 = V2 = R1 · I1 = R2 · I2 Este circuito possui ramificações, ou seja, a corrente ramifica-se, indo uma parte para o resistor 1 e outra para o resistor 2. A Lei de Kirchhoff dos nó s estabelece que a soma algébrica das correntes em qualquer nó de um circuito 5Circuitos resistivos 171 Eletrodinâmica | UNIDADE 3 Circuitos Resistivos | PARTE 3 deve ser igual a zero (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012). Dessa forma, en- contramos que a corrente total do circuito é a soma das correntes nos resistores: I = I1 + I2 Utilizando a mesma lógica de encontrar uma resistência equivalente que produza a mesma corrente, temos: ε Req ε R1 ε R2 = + Sendo assim, a resistência equivalente de uma associação em paralelo para dois resistores é: 1 Req 1 R1 1 R2 = + Ou então: Req = R1 · R2 R1 + R2 Generalizando essa expressão para n resistores ligados em paralelo uns com os outros, temos a resistência equivalente dada por: 1 Req ∑ n i = 1 1 Ri = Associação mista Uma associação mista é composta quando são associados resistores em série e paralelo em um mesmo circuito. Para caracterizar uma associação mista, devemos ter, no mínimo, três resistências. Na Figura 3, é possível observar uma associação mista. Circuitos resistivos6 172 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Figura 3. Associação mista de resistores. Para realizarmos a resolução desse circuito e encontrar a resistência equiva- lente, por exemplo, precisamos entender como os resistores estão conectados. Na Figura 3, vemos que os resistores R2 e R3 estão conectados em paralelo, em seguida, essa ligação é conectada em série a um resistor R1. Para esse circuito, a resistência equivalente é dada por: Req = R1 + 1 R2 1 R3 +( ) –1 O termo em parênteses é a resistência equivalente da associação paralelo entre os resistores R2 e R3. Veja agora a Figura 4, com os mesmos três resistores e outra conexão foi realizada. Temos também, nesse caso, uma associação mista, onde os resistores R2 e R3 encontram-se, agora, em série e, depois, conectados em paralelo com o resistor R1. 7Circuitos resistivos 173 Eletrodinâmica | UNIDADE 3 Circuitos Resistivos | PARTE 3 Figura 4. Associação mista de resistores, segunda configuração. Sendo assim, podemos calcular a resistência equivalente do circuito como: Req = 1 R1 1 R2 + R3 +( ) –1 O termo R2 + R3 é a resistência equivalente da associação série, que, em seguida, é colocada em paralelo com o resistor R1. Para cada caso de associação mista, devemos observar as conexões entre os resistores. Dessa forma, cada associação produz uma resistência equivalente diferente e deve ser observada individualmente. Geradores e receptores em circuitos elétricos O gerador é um componente que transforma outra forma de energia em energia elétrica. Como exemplo, temos: baterias, que transformam energia química em energia elétrica; placas fotovoltaicas, que transformam energia solar em energia elétrica; geradores de corrente continua, que transformam energia mecânica em energia elétrica; entre outros dispositivos. O gerador é o componente que fornece energia elétrica ao circuito. Ao ser atravessado por esta corrente, o Circuitos resistivos8 174 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO gerador apresenta uma resistência à passagem dos portadores de carga — essa resistência é conhecida como resistência interna do gerador (r). A corrente nos geradoresé sempre percorrida no sentido do potencial menor (polo negativo) para o potencial maior (polo positivo). A diferença de potencial no gerador é chamada de força eletromotriz (fem.), representada por ε. Um gerador ideal é aquele que não apresenta resistência à passagem da corrente elétrica. A resistência interna dele é nula (r = 0), portanto toda energia gerada é fornecida ao circuito, ou seja, o gerador ideal tem um rendimento, ɳ, de 100%. A representação de um gerador ideal é exatamente igual à representação de uma fonte fem, como pode ser visto na Figura 5a. Figura 5. Representação de um gerador: a) gerador ideal, b) gerador real; c) curva carac- terística do gerador. Um gerador real é aquele que apresenta resistência à passagem da corrente elétrica, o seu rendimento é menor que 100% e, portanto, a sua resistência interna é diferente de zero (r ≠ 0). A representação de um gerador real é a associação de uma fonte de fem ε em série com a sua resistência interna r, como pode ser visto na Figura 5b. A tensão nos polos de um gerador, U, é sempre menor ou igual à força eletromotriz, ε. A tensão nos polos pode ser determinada em função da corrente I, a tensão nos polos é igual a fem menos a queda de tensão na resistência interna, ou seja: U = ε – rI 9Circuitos resistivos 175 Eletrodinâmica | UNIDADE 3 Circuitos Resistivos | PARTE 3 Quando um gerador não está conectado, dizemos que está em aberto, isto é, não há passagem de corrente elétrica, portanto: I = 0 e U = ε Quando conectamos os dois polos de um gerador, dizemos que está em curto-circuito, logo a diferença de potencial entre seus polos é zero. Sendo assim: U = 0 e I = ICC = ε r Onde Icc é denominada corrente de curto-circuito. Com estas duas condições, gerador em aberto e em curto-circuito, podemos traçar a curva característica do gerador real, sendo o eixo vertical a tensão e o eixo horizontal a corrente. A curva é caracterizada, dada na Figura 5c, por uma reta descendente, onde a sua inclinação é dada pela resistência interna do gerador. O rendimento ɳ de um gerador pode ser determinado por meio da razão entre a potência fornecida Pf ao sistema e a gerada pela fem Pg. Desse modo, temos que a potência dissipada pela resistência interna Pd do gerador, em W, é dada por: Pd = r · I2 A potência fornecida ao circuito, em W, é: Pf = U · I A potência gerada pela fem, em W, é: Pg = ε · I O rendimento elétrico, em %, é dado por: η = Pf Pg × 100% = × 100% U ε Um receptor é um componente que transforma energia elétrica em outra forma de energia. Por exemplo, temos: um motor elétrico de corrente contínua transforma energia elétrica em energia mecânica; uma bateria sendo recarre- Circuitos resistivos10 176 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO gada transforma energia elétrica em energia química; entre outros. O receptor é um componente que consome energia elétrica. A corrente nos receptores é sempre percorrida no sentido do potencial maior (polo positivo) para o potencial menor (polo negativo). A diferença de potencial interna no receptor é chamada de força contra-eletromotriz (fcem), representada também por ε. A representação de um receptor é a associação de uma fonte de fem ε em série com uma resistência interna r, semelhante ao gerador, como pode ser visto na Figura 6a. Figura 6. Representação de um receptor: a) circuito equivalente de um receptor; b) curva característica de um receptor. A tensão nos polos de um receptor, U, é sempre maior ou igual à força contra-eletromotriz, ε. A tensão nos polos pode ser determinada em função da corrente I, a tensão nos polos é igual a fcem mais a queda de tensão na resistência interna, ou seja: U = ε + rI A curva característica de um receptor pode ser encontrada plotando-se a tensão no eixo vertical e a corrente no eixo horizontal. A curva é caracterizada por uma reta ascendente e pode ser vista na Figura 6b. 11Circuitos resistivos 177 Eletrodinâmica | UNIDADE 3 Circuitos Resistivos | PARTE 3 O rendimento ɳ de um receptor pode ser determinado por meio da razão entre a potência útil na fecm Pu, e a potência consumida Pc. Desse modo, temos que a potência dissipada pela resistência interna Pd do receptor, em W, é dada por: Pd = r · I2 A potência consumida, em W, é: Pc = U · I A potência útil na fcem, em W, é: Pu = ε · I O rendimento elétrico, em %, é dado por: η = Pu Pc × 100% = × 100% ε U Para identificar se um elemento do circuito está atuando como gerador ou receptor, temos que analisar o circuito elétrico, verificando se ele está consumindo ou cedendo energia. Aparelhos e medidas elétricas Os dispositivos que medem corrente, diferença de potencial e resistência são chamados de amperímetros, voltímetros e ohmímetros, respectivamente. Muitas vezes, os três medidores estão incluídos em um único instrumento denominado multímetro, que pode ser selecionado para ser utilizado em alguma dessas funções. Circuitos resistivos12 178 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Figura 7. Multímetro digital. Fonte: Volodymyr Krasyuk/Shutterstock.com. O amperímetro tem seu funcionamento baseado na indução magnética que a passagem de corrente gera sobre determinado elemento, denominado galvanômetro. Nos amperímetros analógicos, o elemento sensor, galvanômetro, pode ser composto por uma bobina sob a influência de um imã permanente. Com a bonina livre para girar sobre um eixo, medindo-se a deflexão angular que ela sofre, é possível determinar a corrente que atravessa o circuito. Nos amperímetros digitais, o galvanômetro é um circuito eletrônico que funciona comparando o valor de corrente medido com um valor gerado pelo próprio aparelho. A Figura 8 mostra a configuração básica de um amperímetro. Os galva- nômetros possuem um valor máximo limite de corrente elétrica para que não sejam danificados ou inutilizados. Dessa maneira, a resistência RA tem como função limitar a corrente que vai para o galvanômetro. Com esse pensamento, quando se objetiva medir valores de correntes cada vez mais elevados, o valor de RA deve ser cada vez menor. Para medir a corrente em um resistor de um circuito simples, você deve colocar o amperímetro em série com o resistor, para que a corrente seja a mesma no amperímetro e no resistor. 13Circuitos resistivos 179 Eletrodinâmica | UNIDADE 3 Circuitos Resistivos | PARTE 3 Figura 8. Configuração de amperímetro: a) configuração básica de um amperímetro; b) para medir a corrente em um resistor R, um amperímetro A é colocado em série com o resistor. A configuração básica de um voltímetro é mostrada na Figura 9a. Com o galvanômetro, é possível determinar a corrente que passa no ramo. Sabendo- -se a resistência equivalente do voltímetro, é possível calcular a diferença de potencial medida. Quando se objetiva medir valores de tensão cada vez mais elevados, o valor de RV deve ser cada vez maior. A diferença de potencial em um resistor é medida colocando-se um voltí- metro no resistor, em paralelo com ele, como mostrado na Figura 9b, para que a queda de potencial seja a mesma no voltímetro e no resistor. O voltímetro deve ter uma resistência extremamente elevada para que seu efeito na corrente do circuito seja desprezível. Figura 9. Configuração básica de um voltímetro. Para medir a queda de potencial em um resistor, um voltímetro V é colocado em paralelo com o resistor. Circuitos resistivos14 180 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO O princípio de funcionamento de um ohmímetro é mostrado na Figura 10a. Uma fonte de tensão interna gera uma corrente elétrica medida por meio do galvanômetro. Conhecendo os valores de εi e r, podemos determinar a resistência elétrica do elemento resistivo a partir da Lei de Ohm. Quanto maior o valor da resistência medida, maior deverá ser a tensão εi para produzir alterações sentidas pelo galvanômetro. Para efetuar uma medida com ohmímetro, deve-se desconectar o elemento que se deseja mediar do restante do circuito. O aparelhodeve ser ligado em paralelo com o componente que se deseja medir, conforme a Figura 10b. Figura 10. a) princípio de funcionamento do ohmímetro; b) para medir a resistência de um resistor, deve-se desconectá-lo do circuito em questão. O wattímetro é o instrumento utilizado para medir potência elétrica em Watts. Seu funcionamento é a combinação de um voltímetro e um amperímetro. A corrente medida é multiplicada pela tensão também medida, e o resultado é a potência do circuito. 15Circuitos resistivos 181 Eletrodinâmica | UNIDADE 3 Circuitos Resistivos | PARTE 3 Um amperímetro ideal possui uma resistência interna nula. Porém, em um amperímetro real, sua resistência é finita. Observe o circuito da Figura 11, onde a resistência interna do amperímetro é de 1 Ω, a tensão ε vale 10 V e o resistor R vale 10 Ω, e determine: Figura 11. Circuito com fonte, resistor e amperímetro. 1. Qual a corrente que circularia no sistema se o amperímetro fosse ideal? 2. Qual o valor de corrente que o amperímetro vai medir? 3. Se o amperímetro fosse ligado em paralelo com o resistor, qual seria o valor de corrente medido? Resposta a) Se o amperímetro for ideal, os elementos que sobram no circuito são apenas a fonte e o resistor; dessa forma, a corrente no circuito pode ser dada por: I = ε R = 10 10 = 1A b) Com o amperímetro no circuito, a corrente é calculada a partir da associação em série das resistências, sendo: I = ε r + R 10 1 + 10 = = 0,909 A c) Se o amperímetro for ligado em paralelo com o resistor, a corrente medida é igual à corrente que passa pela resistência interna do amperímetro, dada por: I = ε r = 10 1 = 10 A Circuitos resistivos16 182 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO BAUER, W.; WESTFALL, G. D.; DIAS, H. Física para universitários: eletricidade e magne- tismo. Porto Alegre: AMGH, 2012. HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física: eletromagnetismo. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012. v. 3. YOUNG, H. D.; FREEDMAN, R. A. Física III: eletromagnetismo. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2012. Leituras recomendadas BARIATTO, M. Laboratório de circuitos elétricos: experiência nº. 2: associação de resistores. São Paulo: FATEC-SP, [2010?]. Disponível em: <http://www.lsi.usp.br/~bariatto/fatec/ labcir/Exp-2_Assoc_Resistores.pdf >. Acesso em: 14 dez. 2017. FERRARO, N. G.; SOARES, P. A. T.; FOGO, R. Física básica. 3. ed. São Paulo: Atual, 2009. VÁLIO, A. B. M. et al. Ser protagonista: física 3. 3. ed. São Paulo: Edições SM, 2016. 17Circuitos resistivos ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE. PREZADO ESTUDANTE Parte 4 Circuitos RC O conteúdo deste livro é disponibilizado por SAGAH. unidade 3 V.1 | 2021 184 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO CAPÍTULO 32 ■ Fundamentos de Circuitos 987 EXEMPLO 32.13 Um circuito aterrado Suponha que o circuito da Figura 32.33 seja aterrado no nó entre os dois resistores em vez de na base. Encontre o potencial em cada canto do circuito. VISUALIZAÇÃO A FIGURA 32.34 mostra o novo circuito. (É costumeiro de- senhar o símbolo terra de modo que ele “aponte” sempre para baixo.) , FIGURA 32.34 Circuito da Figura 32.33 aterrado no nó entre os resistores. RESOLUÇÃO Trocar o ponto de aterramento não afetará o comporta- mento do circuito. A corrente será ainda 0,50 A, e as diferenças de potencial sobre os dois resistores, 4 V e 6 V. Tudo o que aconteceu foi que movemos o ponto de referência correspondente a V � 0 V. Devido à Terra corresponder a VTerra � 0 V, o próprio nó encontra-se no potencial de 0 V. O potencial diminui em 4 V enquanto as cargas fluem através do resistor de 8 �. Uma vez que ele termina em 0 V, o potencial acima do resistor de 8 � deve ser de � 4 V. Analogamente, o potencial diminui em 6 V através do resistor de 12 �. Uma vez que ele inicia em 0 V, o potencial abaixo do resistor de 12 � deve ser de � 6 V. O terminal negativo da bateria encontra-se no mesmo potencial que o abaixo do resistor de 12 �, pois eles estão conectados por um fio. Logo, Vneg � � 6 V. Finalmente, o potencial aumenta em 10 V quando que as cargas fluem através da bateria, portanto Vpos � �4 V, em concordância, como deveria ser, com o potencial acima do resistor de 8 �. Talvez você queira saber a respeito de voltagens negativas. Uma voltagem negativa significa apenas que o potencial naquele ponto é menor do que o potencial em algum outro ponto que escolhemos como correspondente a V � 0 V. Somente diferenças de potencial são fisicamente significativas, e apenas diferenças de potencial entram na lei de Ohm: I � �V/R. A diferença de potencial através do resistor de 12 � deste exemplo é de 6 V, diminuido do topo à base, independentemente de qual ponto escolhamos como correspondente a V � 0 V. 32.9 Circuitos RC Até agora temos considerado somente os circuitos nos quais a corrente é estável e contí- nua. Existem muitos circuitos nos quais a dependência da corrente com o tempo é uma característica crucial. O carregamento e o descarregamento de um capacitor constitui um exemplo importante. A FIGURA 32.35a mostra um capacitor carregado, um interruptor e um resistor. O capa- citor possui uma carga Q0 e está sob uma diferença de potencial �VC � Q0/C. Não há corrente, assim a diferença de potencial sobre o resistor é zero. Então, em t � 0, o inter- ruptor é fechado e o capacitor começa a descarregar através do resistor. Um circuito desse tipo, com resistores e capacitores, é chamado de circuito RC. Quanto tempo leva o capacitor para descarregar? Como a corrente através do resistor varia em função do tempo? Para responder a essas questões, a FIGURA 32.35b mostra o circuito depois que o interruptor foi fechado. Agora, a diferença de potencial através do resistor é �VC � �IR, onde I é a corrente de descarga do capacitor. A lei de Kirchhoff das malhas é válida para qualquer circuito, e não, apenas para circuitos com baterias. A lei das malhas, aplicada ao circuito da Figura 32.25b, percor- rendo-se a malha em sentido horário, é (32.28) Nesta equação, Q e I são, respectivamente, os valores instantâneos da carga do capacitor e da corrente do resistor. A corrente I é a taxa segundo a qual as cargas fluem através do resistor: I � dq/dt. Mas as cargas que fluem pelo resistor são aquelas que foram removidas do capacitor, ou seja, uma carga infinitesimal dq flui através do resistor quando a carga do capacitor diminui em dQ. Portanto, dq � � dQ, e a corrente no resistor está relacionada à carga instantânea do capacitor por (32.29) 12.6–12.8 Antes do interruptor ser fechado O interruptor é fechado em t � 0. Carga Q 0 Após o interruptor ter sido fechado Carga Q A corrente reduz a carga do capacitor. FIGURA 32.35 Um circuito RC. 185 Eletrodinâmica | UNIDADE 3 Circuitos RC | PARTE 4 988 Física: Uma Abordagem Estratégica Agora, I é positivo quando Q está diminuindo, como se espera. O raciocínio que levou à Equação 32.29 é bastante sutil, mas muito importante. Mais tarde, você o verá sendo usado em outros contextos. Substituindo a Equação 32.29 na Equação 32.28 e, depois, dividindo o resultado por R, a lei das malhas para o circuito RC assume a forma (32.30) A Equação 32.30 é uma equação diferencial de primeira ordem para a carga Q do capa- citor, mas uma das que podemos resolver por integração direta. Primeiro rearranjamos a Equação 32.20 para que todos os termos que contenham a carga fiquem de um mesmo lado da equação: O produto RC é uma constante para qualquer circuito particular. A carga do capacitor era Q0 em t � 0, quando o interruptor foi fechado. Desejamos integrar desta condição inicial até uma carga Q em um instante t posterior, ou seja, (32.31) Ambas são integrais bem-conhecidas, resultando em Podemos isolar a carga Q do capacitor obtendo a função exponencial de cada lado da equação e, depois, multiplicando a equação obtida por Q0. Ao final, obtemos (32.32) Note que Q � Q0 em t � 0, como deve ser.O argumento de uma função exponencial deve ser adimensional; assim, a grandeza RC deve ter dimensões de tempo. É útil difinir a constante de tempo � de um circuito RC como (32.33) Podemos, então, escrever a Equação 32.32 na forma (32.34) O significado da Equação 32.34 é mais fácil de compreender quando se representa a equação graficamente. A FIGURA 32.36a mostra a carga do capacitor em função do tempo. A carga decai exponencialmente, iniciando com Q0, em t � 0, e se aproximando assinto- ticamente de zero quando t → �. A constante de tempo � é o tempo decorrido para que o valor da carga decresça para e�1 (cerca de 37%) de seu valor inicial. No tempo t � 2�, a carga decrescerá para e�2 (cerca de 13%) de seu valor inicial. NOTA � A forma do gráfico de Q é sempre a mesma, independentemente do valor específico da constante de tempo t. � Obtemos a corrente do resistor usando a Equação 32.29: (32.35) onde I0 � Q0/� é a corrente inicial, imediatamente após o interruptor ter sido fechado. A FIGURA 32.36b é o gráfico da corrente do resistor versus t. Você pode ver que a corrente sofre o mesmo decaimento que a carga do capacitor, com a mesma constante de tempo. O pisca-pisca traseiro de um capacete de ciclista liga e desliga intermitantemente. O sincronismo é controlado por um circuito RC. Carga Q Curva de decaimento exponencial Em t � , a carga decresceu para 37% do seu valor inicial. Em t � 2 , a carga decresceu para 13% do seu valor inicial. Corrente I Em t � , a corrente decresceu para 37% de seu valor inicial. , , , FIGURA 32.36 A curva de decaimento da carga do capacitor e da corrente no resistor. 186 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO CAPÍTULO 32 ■ Fundamentos de Circuitos 989 NOTA � Não existe um valor bem-definido de tempo decorrido no qual o capacitor se descarregue completamente, pois Q se aproxima de zero assintoticamente, todavia em t � 5� a carga e a corrente caíram para menos de 1% de seus valores iniciais. As- sim, 5� constitui uma resposta prática razoável para a questão “quanto tempo decorre para o capacitor descarregar?” � EXEMPLO 32.14 Decaimento exponencial em um circuito RC O interruptor da FIGURA 32.37 encontra-se na posição a há um longo tempo. Em t � 0 s, ele é trocado para a posição b. Qual será a carga do capacitor e a corrente através do resistor em t � 5,0 �s? FIGURA 32.37 Um circuito RC. MODELO A bateria carrega o capacitor a 9,0 V. Então, quando o inter- ruptor é trocado para a posição b, o capacitor se descarrega através do resistor de 10 �. Considere os fios como ideais. RESOLUÇÃO A constante de tempo do circuito RC é O capacitor está inicialmente carregado a 9,0 V, portanto Q0 � C�VC � 9,0 �C. Em t � 5,0 �s, a carga do capacitor é A corrente inicial, imediatamente após o interruptor ser fechado, é I0 � Q0/� � 0,90 A. Em t � 5,0 �s, a corrente no resistor é AVALIAÇÃO Esse capacitor estará quase inteiramente descarregado em 5� � 50 �s após o interruptor ter sido fechado. Carregando um capacitor A FIGURA 32.38a mostra um circuito para carregar um capacitor. Depois que o interruptor é fechado, a escada rolante de carga da bateria move as cargas da placa inferior do capa- citor para sua placa superior. Pela limitação à corrente que o resistor produz, ele atrasa o processo, mas não o detém. O capacitor carrega até que �VC � �; e então a corrente de carregamento cessa. A carga completa do capacitor é Qmax � C(�VC)max � C�. O interruptor fecha em t � 0 s. Carga Q FIGURA 32.38 Um circuito para carregar um capacitor. Como tema para casa, você pode mostrar que a carga do capacitor, no instante t, é dada por (32.36) onde, outra vez, � � RC. Este “decaimento invertido” para Qmax é mostrado grafica- mente na FIGURA 32.38b. Circuitos RC que, alternadamente, carregam e descarregam um capacitor estão no cerne dos circuitos de registro de tempo em computadores e diversos aparelhos eletrônicos digitais. PARE E PENSE 32.6 A constante de tempo do descargamento deste capacitor é a. 5 s b. 4 s c. 2 s d. 1 s e. O capacitor não descarrega, pois os resitores se cancelam. ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE. PREZADO ESTUDANTE 188 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Eletromagnetismo Prezado estudante, Estamos começando uma unidade desta disciplina. Os textos que a compõem foram organizados com cuidado e atenção, para que você tenha contato com um conteúdo completo e atualizado tanto quanto possível. Leia com dedicação, realize as atividades e tire suas dúvidas com os tutores. Dessa forma, você, com certeza, alcançará os objetivos propostos para essa disciplina. Objetivo Geral Reconhecer os fenômenos magnéticos , suas interações com os fenômenos elétricos e aplicações. unidade 4 V.1 | 2021 190 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Parte 1 Campo Magnético O conteúdo deste livro é disponibilizado por SAGAH. unidade 4 V.1 | 2021 192 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Campo magnético e fontes de campo magnético Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Explicar o conceito de campo magnético e suas propriedades. � Exemplificar as diferentes fontes de campo magnético. � Relacionar a forma funcional do campo magnético em regiões do espaço dependente da geometria da fonte que gera o campo. Introdução O magnetismo está presente em muitas situações cotidianas, seja de forma explicita — como no caso dos ímãs de geladeira, no uso de bússolas, etc. — seja de forma menos evidente — como no funcionamento de aparelhos de alto-falantes, televisões, telefones, entre outras (Válio, 2016). Desde as primeiras descobertas do material magnetita, na Grécia, capaz de atrair certos metais, até o desenvolvimento da teoria do eletro- magnetismo, passou-se um grande período. Hoje, somos capazes de criar eletroímãs, dispositivos que utilizam corrente elétrica para gerar campos magnéticos, capazes de elevar toneladas de metais por vez. Dos ímãs permanentes, como a magnetita, até os eletroímãs, compor- tam-se segundo algumas leis, como a de atração e repulsão magnética, lei de Ampère e outras que serão discutidas aqui. Neste capítulo, você vai entender o que é o campo elétrico, quais as propriedades do campo que é possível gerar campos magnéticos de diferentes fontes e, por fim, como traçar as linhas de campo magnético e encontrar a intensidade dele em algumas configurações geométricas definidas. Eletromagnetismo | UNIDADE 4 Campo Magnético | PARTE 1 193 Campo magnético Em uma região da Magnésia (na Grécia central), os gregos antigos encontraram diversos tipos de minerais naturais capazes de atrair e repelir uns aos outros e certos tipos de metal, como o ferro (BAUER, 2012). Aos materiais que, em seu estado natural, produzem campo magnético, damos o nome de “ímãs permanentes”. As interações entre ímãs permanentes e agulhas de bússolas podem ser explicadas por meio do conceito de polos magnéticos. Dessa maneira, quando suspenso pelo centro de gravidade, um ímã permanente tende a se orientar com os polos terrestres. Assim, definimos polo norte como a parte do ímã que aponta próximo ao norte geográfico da Terra; utilizando o mesmo raciocínio, a parte que aponta ao sul geográfico é denominada polo sul. Esse é o princípio de funcionamento de uma bússola, que aponta sempre ao norte geográfico da Terra. Observe a Figura 1. Agora, vamos analisar as forças de atração e repulsão magnéticas que ocorrem entre os polos e, depois, aprofundaremos o estudo do campo magnético terrestre e suas orientações geográficas. Figura 1. Definição de polo norte e polo sul. Campo magnético e fontes de campo magnético2 194 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO A partir desses ímãs permanentes, e semelhante ao observado com as cargas elétricas, podemos definir a Lei de Atração e Repulsão Magnética. Desta maneira, os polos diferentes atraem-se, e polos iguais repelem-se. Ainda sobre a atração e repulsão magnética,um material ferromagnético é atraído por um ímã permanente ou temporário, independentemente da polaridade em que o ímã é posicionado. Veja a representação na Figura 2. Figura 2. (a) Polos opostos atraem-se; (b) Polos iguais repelem-se; e (c) Qualquer polo de um ímã atrai um objeto não imantado. No século 18, o físico dinamarquês, Hans Christian Orsted, fez as primeiras observações de campos magnéticos gerados por corrente elétrica. Em uma demonstração aos seus alunos, Oersted mostrou que uma bússola variava sua indicação quando um condutor, próximo a ela, era percorrido por corrente elétrica. Mas foi somente o físico francês André-Marie Ampère que propôs que toda partícula carregada em movimento gera um campo magnético próprio. Ou seja, cargas elétricas em movimento geram campos magnéticos. O campo magnético B pode ser definido como a região em volta de um ímã, onde ocorrem interações magnéticas. O campo magnético, similar ao campo elétrico, consegue produzir forças magnéticas em um corpo a distância, ou seja, existe uma força de interação mesmo sem o contato dos corpos. Cargas elétricas em movimento geram campos magnéticos. Portanto, correntes elétricas, percorrendo condutores, são capazes de gerar campo 3Campo magnético e fontes de campo magnético Eletromagnetismo | UNIDADE 4 Campo Magnético | PARTE 1 195 magnético. Aos componentes que produzem campo magnético a partir de corrente elétrica dá-se o nome de eletroímã. O conceito de polo magnético pode parecer semelhante ao de carga elétrica. O polo norte e o polo sul podem parecer análogos a uma carga positiva e uma negativa. Porém, essa analogia é capaz de causar confusão. Embora existam cargas negativas e positivas isoladas, não existe nenhuma evidência experimental da existência de um polo magnético isolado. Os polos magnéticos sempre existem formando pares. Quando uma barra imantada é partida ao meio, cada extremidade de cada pedaço constitui um polo (YOUNG, 2012). Fontes de campo magnético A Terra possui um campo magnético próprio. Dessa maneira, as agulhas das bússolas são imantadas e alinham-se com as posições geográficas da Terra. Conforme já mencionado, os polos iguais repelem-se e polos diferentes atraem-se. Dessa maneira, quando definimos a parte da agulha da bússola que aponta para o norte geográfico como sendo o polo norte, temos que os polos magnéticos na Terra são contrários aos polos geográficos. Assim, o polo norte geográfico é o polo sul magnético da Terra, e o polo sul geográfico é o polo norte magnético. Campo magnético e fontes de campo magnético4 196 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO O campo magnético da Terra já é conhecido há muitos séculos, porém, a expli- cação dele não é conhecida precisamente e constitui um tema de pesquisa corrente. Com maior probabilidade, ele é causado por correntes elétricas intensas no interior da Terra, devido à rotação do núcleo líquido de ferro e níquel. A rotação é chamada com frequência de efeito geodínamo (BAUER, 2012). Esse campo magnético é importantíssimo, pois nos protege de um tipo de energia radiante de alta energia oriunda do espaço. Essa energia radiante é constituída principalmente de partículas eletrizadas que são desviadas da superfície terrestre devido ao seu campo magnético. O campo magnético da Terra é distorcido por vento solar, um fluxo de partículas ionizadas, principalmente prótons, emitidas pelo Sol a cerca de 400 km/s. Duas faixas dessas partículas carregadas que foram capturadas do vento solar circulam em volta da Terra. Elas são denominadas cinturões de radiação de Van Allen, em homenagem a James A. Van Allen (1914-2006). Os cinturões de radiação de Van Allen são mais próximos da superfície da Terra ao redor dos polos magnéticos norte e sul, onde as partículas carregadas mantidas dentro dos cinturões colidem com frequência com os átomos da atmosfera do planeta, excitando-os. Esses átomos excitados emitem luz de cores diferentes e perdem energia; o resultado é a fabulosa Aurora Boreal (“luzes do Norte”), em altas latitudes norte, e Aurora Austral (“luzes do Sul”), em altas latitudes sul. As auroras não são exclusivas da Terra; elas também têm sido observadas em planetas externos dotados de campos magnéticos intensos, como Júpiter e Saturno. Fonte: Euro Dicas, c2018 (texto) e Simone Gramegna/Shutterstock.com (imagem). 5Campo magnético e fontes de campo magnético Eletromagnetismo | UNIDADE 4 Campo Magnético | PARTE 1 197 Temos, então, as fontes de campo magnético, os ímãs permanentes, como a magnetita, os eletroímãs, como sendo qualquer condutor percorrido por corrente elétrica, os astros e planetas, com os ventos solares e o campo mag- nético terrestre. Assim, para calcular o campo magnético resultante, causado por mais de uma fonte de campo magnético, ou, então, pelo movimento de conjuntos de cargas elétricas, devemos entender o princípio de superposição dos campos magnéticos. Analogamente ao campo elétrico, o campo magnético total produzido por diversas fontes de campo magnético é a soma vetorial dos campos produzidos pelas fontes individuais. Dessa maneira, temos: B = B1 + B2 + ... + Bn As semelhanças entre o campo elétrico e o campo magnético não se restrin- gem apenas a isso. Vamos relembrar que o campo elétrico total, associado a uma distribuição genérica de cargas, pode ser encontrado calculando o campo elétrico elementar produzido por cada elemento de carga, sendo em geometrias complexas, mas com distribuições simétricas podem ser encontradas pelo uso da lei de Gauss. O campo magnético produzido por uma distribuição de elementos com simetria pode ser calculado pela lei de Ampère, análoga à lei de Gauss, que diz o seguinte: ∫B ∙ ds = μ0ienv Sendo assim, é possível encontrar o campo magnético em distribuições de corrente, necessitando conhecer a geometria de invólucro das cargas e a intensidade da corrente envolvida. Campo magnético e fontes de campo magnético6 198 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO A Figura 3 mostra um fio longo retilíneo percorrido por uma corrente i. O campo magnético produzido pela corrente tem o mesmo módulo em todos os pontos situados a uma distância do fio, com uma simetria cilíndrica em relação a este. Figura 3. Corrente elétrica e campo magnético em um fio. Aplicando as devidas simetrias, vemos que a integral do campo magnético dá-se por: ∫ B ∙ ds = ∫ B ∙ cos θ ds = B ∫ ds = B(2πr) Sendo a corrente envolvida pela curva igual a i, temos o lado direito da lei de Ampère dado por: B(2πr) = μ0 ∙ i Então, o campo magnético, produzido por uma corrente elétrica em um fio condutor retilíneo a uma distância r, é dado por: B = μ0i 2πr 7Campo magnético e fontes de campo magnético Eletromagnetismo | UNIDADE 4 Campo Magnético | PARTE 1 199 Linhas de campo magnético e campo magnético em geometria definidas Assim como no caso do campo elétrico, podemos representar o campo mag- nético por meio de linhas de campo. As regras são as mesmas: (1) a direção da tangente a uma linha de campo magnético em qualquer ponto fornece a direção de B neste ponto; (2) o espaçamento das linhas representa o módulo de B — quanto mais intenso o campo, mais próximas estão as linhas e vice- -versa (HALLIDAY, 2012). Observe as Figuras 4 e 5, que representam, respectivamente, a direção do campo magnético, que é tangente às linhas de campo, e a relação entre a quantidade de linhas de campo e a intensidade do campo magnético. Figura 4. Campo magnético e linhas de campo. Figura 5. Distribuição de linhas de campo. Campo magnético e fontes de campo magnético8 200 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO As linhas de campo magnético são sempre fechadas. O sentido das linhas de campo é saindo dos polos norte e entrando nos polos sul. Dessa maneira, é simples fazer uma analogia entre as linhas de campo elétrico e as polaridades das cargas elétricas envolvidas. Observe as linhas de campo em um ímã permanente do tipo barra: as linhassão fechadas e saem do polo norte do ímã e entram no polo sul, como visto na Figura 6, a seguir. Figura 6. Linhas de campo em um ímã da barra. Para um ímã do tipo U, os mesmos princípios devem ser seguidos. Dessa maneira, podemos verificar que o campo magnético produzido por um ímã permanente do tipo U é dado conforme representação da Figura 7. Figura 7. Linhas de campo em um ímã do tipo U. 9Campo magnético e fontes de campo magnético Eletromagnetismo | UNIDADE 4 Campo Magnético | PARTE 1 201 Um condutor elétrico percorrido por corrente elétrica possui um campo magnético circular a ele e que pode ter sua direção e seu sentido determinados pela regra da mão direita. Se apontarmos o dedo polegar na direção da corrente e fecharmos os demais dedos, teremos que o campo magnético é circular ao condutor e tem o mesmo sentido que apontam os dedos fechados. Veja a representação da Figura 8. Figura 8. Linhas de campo em um condutor retilíneo. A intensidade do campo magnético em um ponto que dista r do condutor pode ser determinada por: B = μ0 ∙ i 2� ∙ r As linhas de campo em uma espira condutora podem ser determinadas também pela regra da mão direita, sendo que o campo magnético resultante é a soma dos campos magnéticos de cada segmento do fio condutor. Assim, o campo magnético no centro de uma espira tem a direção do seu eixo central, e sentido saindo para cima, quando a espira é percorrida por uma corrente elétrica no sentido anti-horário. Veja na Figura 9. Campo magnético e fontes de campo magnético10 202 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Figura 9. Linhas de campo em uma espira. A intensidade do campo magnético no centro da espira geralmente é o valor mais importante para um projeto com esse dispositivo. Sendo assim, a intensidade do campo magnético no centro da espira circular é: B = μ0 ∙ i 2� ∙ r Ao unirmos várias espiras, criamos um dispositivo chamado solenoide. O campo magnético produzido por este componente é de grande aplicação. No interior do dispositivo, o campo magnético tem intensidade praticamente constante e pode ser determinado por: B = μ0 ∙ i ∙ N L Esse dispositivo é muito utilizado, pois o seu intenso campo magnético é capaz de produzir forças magnéticas também muito intensas, sendo apli- cadas em relés eletromecânicos, disjuntores termomagnéticos, entre outras aplicações. A Figura 10, a seguir, apresenta um exemplo de linhas de campo em um solenóide. 11Campo magnético e fontes de campo magnético Eletromagnetismo | UNIDADE 4 Campo Magnético | PARTE 1 203 Figura 10. Linhas de campo em um solenoide. BAUER, W.; WESTFALL, G.; DIAS, H. Física para universitários: eletricidade e magnetismo. Porto Alegre: McGraw-Hill, 2012. HALLIDAY, D.; RESNICK, R. Fundamentos de física, volume 3:eEletromagnetismo. 9. ed.Rio de Janeiro: LTC, 2012. YOUNG, H. D.; FREEDMAN, R. A. FÍSICA II : eletromagnetismo. São Paulo: Pearson, 2012. Leituras recomendadas FERRARO, N. G.; SOARES, P. A. T.; FOGO, R. FÍSICA básica. São Paulo: Atual, 2009. VÁLIO, A. B. M.; FUKUI, A.; FERDINIAN, B.; OLVIVEIRA, G. A. ; MOLINA, M. M.; VENÊ. Ser protagonista: fíica – 3. São Paulo: Edições SM, 2016. Campo magnético e fontes de campo magnético12 ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE. PREZADO ESTUDANTE Parte 2 A Lei de Ampère e os Solenóides O conteúdo deste livro é disponibilizado por SAGAH. unidade 4 V.1 | 2021 206 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO A lei de Ampère e os solenoides Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Analisar a lei de Ampère, identificando os termos que compõem a equação. � Resolver o campo magnético de uma distribuição de corrente que apresenta simetria. � Determinar o campo magnético de um solenoide. Introdução Tão importante quanto compreender os efeitos dos campos magnéticos em partículas e materiais é entender o que produz campo magnético e como calculá-lo. Os estudos e as experiências de Ampère levaram ao desenvolvimento de uma lei que relaciona o campo magnético com correntes elétricas, proporcionando uma maneira simples de determinar esse campo e explorando as simetrias do problema. Neste capítulo, você estudará a lei de Ampère e os termos que com- põem a equação. Por meio de exemplos, você aprenderá a aplicar essa importante lei em inúmeras situações e presenciará todo o seu poder matemático ao explorar simetrias. Por fim, você conhecerá o solenoide e o toroide, que são arranjos de enrolamentos de fios de corrente muito utilizados em equipamentos industriais, circuitos elétricos e outras apli- cações, e calculará o campo magnético em seu interior. 207 Eletromagnetismo | UNIDADE 4 A Lei de Ampère e os Solenóides | PARTE 2 1 A lei de Ampère Um dos objetivos dos cientistas no século XIX era encontrar a relação entre a eletricidade e o magnetismo. Em 1819, o físico Hans Oersted fez um experi- mento simples, mas que revelou uma fonte de campo magnético diferente do ímã: a corrente elétrica. Ao colocar uma bússola próxima a um fio retilíneo conduzindo corrente, ele percebeu que a agulha indicava um campo magné- tico circulando ao redor desse fio em um plano perpendicular ao sentido da corrente, conforme representação da Figura 1. Ampère estava presente na reunião em que Oersted apresentou seus resultados à comunidade científica, em um congresso em Paris. A partir desse evento, Ampère deu sequência a uma série de experimentos relevantes para o eletromagnetismo (Figura 1) (HAYT; KEMMERLY; DURBIN, 2014). Figura 1. Representação do experimento realizado por Oersted, mostrando que há campo magnético circulando ao redor de um fio de corrente. Fonte: Adaptada de Knight (2009). Como pode ser visto no experimento, a corrente elétrica é fonte de circulação de campo magnético, sempre ao longo de uma curva fechada. Os trabalhos e as experiências levaram Ampère a chegar à conclusão de que essa circulação ao longo de um caminho fechado é proporcional à intensidade de corrente englobada por essa curva, e a constante de proporcionalidade é μ0, a permeabilidade magnética do vácuo, onde μ0 = 4π × 10–7 H/m. A maneira que essa descoberta se equaciona é a chamada lei de Ampère, definida como: A lei de Ampère e os solenoides2 208 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Essa equação integral, aparentemente complicada, pode ser utilizada para calcular o campo magnético de maneira bastante simples em sistemas de distribuição de corrente com algum tipo de simetria. A grandeza permeabilidade magnética (μ) não possui uma unidade de medida es- pecífica. No SI, pode ser representada por H/m (Henrys por metro), N/A2 (Newton por Ampère ao quadrado) ou, ainda, em Tm/A (Tesla metro por Ampère), sendo as três unidades de medida equivalentes. Use a que achar conveniente. Termos que compõem a equação No primeiro termo da lei de Ampère, você deve calcular uma integral de linha do produto escalar do campo vetorial B⃗ — o campo magnético — com o ele- mento de linha dl⃗ . O que isso significa geometricamente? Para cada pequeno elemento diferencial de comprimento da linha escolhida, você multiplicará apenas pela componente do campo magnético perpendicular a ela. No exemplo a seguir, você encontrará quatro curvas tomadas em uma região de campo magnético uniforme e linear — duas abertas e duas fechadas — e verá como o cálculo de ∮ΓB⃗ ⋅ dl⃗ é feito. Como você viu, os dois primeiros exemplos mostraram integrais de linhas abertas, e os dois posteriores, integrais de linhas fechadas, que iniciam e terminam no mesmo ponto. É esse último tipo de integral que você usará nos cálculos deste capítulo. Ampère descobriu que, quando uma curva fechada — também chamada ampèriana — envolve uma quantidade de corrente i, o resultado do integral de linha é proporcional à quantidade de corrente envolvida. No exemplo anterior, tínhamos um campo constante e uniforme B⃗ = Bî, onde qualquer curva fechada levariaao mesmo resultado — ∮B⃗ ⋅ dl⃗ = 0 —, pois não há distribuição líquida de corrente que, envolvida pela curva, seja capaz de gerar esse tipo de campo magnético. 3A lei de Ampère e os solenoides 209 Eletromagnetismo | UNIDADE 4 A Lei de Ampère e os Solenóides | PARTE 2 Para cada uma das curvas escolhidas, calcule a integral de linha ∮ΓB⃗ ⋅ dl⃗ . Resposta: Para o caso (a), a linha de integração é aberta e, em todo o trajeto, é paralela às linhas de campo. Dessa forma: Para o caso (b), a linha de integração é aberta e composta por duas seções retas, fazendo um ângulo φ e α, respectivamente, com o campo magnético. Para o caso (c), a linha de integração é fechada, em formado retangular. Podemos dividir a curva em quatro trechos, analisá-los individualmente e somá-los em seguida. Nos trechos 1 e 3, o campo magnético é paralelo à curva, sendo o primeiro no mesmo sentido, e o terceiro em sentido oposto. Já nos trechos 2 e 4, o campo magnético é perpendicular à curva. Logo: A lei de Ampère e os solenoides4 210 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Por fim, no caso (d), a linha de integração é fechada e tem formato circular. O campo magnético aponta sempre no mesmo sentido: B⃗ = Bî. Já o elemento de linha muda de sentido dependendo do ângulo φ, ou seja, dl⃗ = dl · âφ = rdφ · âφ = rdφ(–sen φ î + cos φ j ̂). Logo: Portanto: O segundo ponto importante que você deve compreender para aplicar essa lei de forma correta é: o que é e como calcular a corrente envolvida (ienv)? A seguir, você verá alguns exemplos de ampèrianas enlaçando fios de corrente e, em seguida, como determinar a corrente envolvida. Para que esse cálculo seja possível, é importante que você saiba que o sentido da curva ampèriana determina o sentido positivo das correntes. Com os dedos da sua mão direita, acompanhe o sentido da curva de integração: � se a curva for no sentido anti-horário, seu polegar apontará para cima — nesse caso, correntes que saem da página são positivas, e as que entram, negativas; � se a curva for no sentido horário, seu polegar apontará para baixo — logo, as correntes positivas são aquelas que entram no plano da página, enquanto as que saem são negativas. 5A lei de Ampère e os solenoides 211 Eletromagnetismo | UNIDADE 4 A Lei de Ampère e os Solenóides | PARTE 2 Aplicando a lei de Ampère, calcule a integral de linha ∮ΓB⃗ ⋅ dl⃗ para cara uma das ampèrianas a seguir em função das correntes envolvidas. Resposta: Primeiramente, você deve definir o sentido positivo de corrente para cada ampèriana. Para as curvas C1 e C2, ambas no sentido anti-horário, o sentido positivo da corrente é quando ela “sai” da página, enquanto para a curva C3, no sentido horário, a corrente positiva é aquela que “entra” na página. Com o sentido positivo bem definido, podemos calcular ∮ΓB⃗ ⋅ dl⃗ para cada curva. � Curva C1: � Curva C2: � Curva C3: A lei de Ampère e os solenoides6 212 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Certamente você deve ter percebido que é bastante simples determinar a corrente envolvida por qualquer curva escolhida. No entanto, no exemplo anterior, as curvas englobam todo o condutor. Como você deve proceder quando a curva envolve apenas uma parte dele? Nesse caso, é importante que você tenha em mente o conceito de densidade superficial de corrente. Vetor densidade superficial de corrente – J⃗ Quando um condutor transporta determinada quantidade de corrente i, não sabemos, em princípio, por onde os elétrons (ou outros portadores de carga) fluem com relação à seção transversal do fio. O vetor densidade superficial de corrente é que traz essa informação. Se um condutor circular de raio R, como o da Figura 2, transporta corrente de forma uniformemente distribuída, então o módulo da densidade de corrente é constante e definido como: Sua unidade de medida, no SI, é A/m2. Figura 2. Fio de seção transversal circular, transportando cor- rente uniformemente distribuída. 7A lei de Ampère e os solenoides 213 Eletromagnetismo | UNIDADE 4 A Lei de Ampère e os Solenóides | PARTE 2 A corrente envolvida por uma curva ampèriana Γ interna ao condutor é o fluxo da densidade de corrente que atravessa a superfície delimitada por essa curva. Ou seja: onde dS é o elemento diferencial de área. Se J⃗ é constante e perpendicular à superfície, então: Dependendo do condutor, essa distribuição de fluxo de cargas pode não ser uniforme. É bastante comum que a corrente elétrica seja conduzida com mais intensidade quando mais próxima das bordas do condutor — efeito que acontece principalmente em condutores de corrente alternada. Nas linhas de transmissão CA de energia elétrica e nos condutores de corrente alternada de alta frequência, a corrente elétrica não flui de forma uniforme. Ela se concentra nas bordas do condutor, a uma “profundidade de penetração”. Por conta do efeito pelicular (do inglês skin effect), o centro do condutor de alumínio em linhas de transmissão é substituído por uma alma de aço, aumentando a resistência mecânica e diminuindo custos, sem influenciar na resistência elétrica. Saiba mais em Fundamentos de Eletricidade (FOWLER, 2013, v. 2, p. 300). A lei de Ampère e os solenoides8 214 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Em um condutor circular de raio R, a densidade superficial de corrente varia com o quadrado do raio. Ou seja, J = cr2, onde c é uma constante. Qual é a corrente total que percorre o condutor? Resposta: Para encontrar a corrente total, basta calcular a integral: i = ∫Γ J · dS, de r = 0 até r = R. O elemento de superfície em coordenadas polares é dS = rdθdr = 2πrdr. Substituindo na integral, temos: Na próxima seção, você verá como aplicar essa equação e verá que ela é especialmente útil por facilitar o cálculo do campo magnético em sistemas que apresentam simetrias. 2 Campo magnético de uma distribuição de corrente simétrica Como você já deve saber, correntes elétricas são fontes de campo magnético, que circulam ao seu redor no sentido dado pela regra da mão direita. A lei de Ampère proporciona uma maneira fácil e eficaz de calcular uma expressão para esse campo magnético quando o sistema apresenta simetrias que podem ser exploradas. Um fio reto, longo, de seção reta circular e corrente i é um exemplo, como mostrado na Figura 3, a seguir. 9A lei de Ampère e os solenoides 215 Eletromagnetismo | UNIDADE 4 A Lei de Ampère e os Solenóides | PARTE 2 Figura 3. Fio de seção transversal circular, transportando corrente uni- formemente distribuída. Em qualquer ampèriana de simetria cilíndrica tomada, centrada no eixo, seja ela externa ou interna ao condutor, as linhas de campo magnético têm a mesma direção que o elemento de linha e o módulo constante. O fio possui simetria cilíndrica, e o campo magnético gerado pela corrente tem mesmo módulo em todos os pontos ao redor do condutor à mesma distância r. Logo, é conveniente que você escolha uma ampèriana de mesma simetria — no caso, uma curva fechada circular — e se aproveite de o campo magnético ser constante em todos os pontos e ter mesma direção de dl⃗ . Quando r > R, ampèriana na região externa do condutor, temos que: Logo, o campo magnético externo a um condutor reto e longo é: onde r é a distância radial calculada a partir do centro do fio. A lei de Ampère e os solenoides10 216 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Para a região interna ao fio, ou seja, quando r < R, você precisa determinar a corrente envolvida. Considerando um condutor maciço com distribuição uniforme de corrente, temos que: Ao isolar B na equação, você obterá o campo magnético em um condutor reto, longo e de distribuição uniforme de corrente: Quando r = R, na borda do fio condutor, ambos os resultados devem levar à mesma resposta, o que ocorre nesse caso e garante a continuidade do campo magnético. Podemos representar esse campo em um gráfico. Na Figura 4, você pode observar que, na região interna do fio, o campo magnético cresce linearmentecom r. Ao atravessar a borda, o campo começa a decrescer com o inverso do quadrado da distância, como já era esperado. Figura 4. Gráfico do campo magnético de um fio de seção transversal circular, transportando corrente uniformemente distribuída, em função da distância radial a partir de seu eixo de simetria. 11A lei de Ampère e os solenoides 217 Eletromagnetismo | UNIDADE 4 A Lei de Ampère e os Solenóides | PARTE 2 Na próxima seção, você explorará mais simetrias e determinará o campo magnético de solenoides e toroides — enrolamentos típicos em muitas apli- cações práticas. 3 Campo magnético de solenoides Quando você observar um circuito eletrônico, um transformador, indutores, motores elétricos, dentre outros dispositivos, é muito provável que você en- contre um enrolamento de fios em formato helicoidal, como várias espiras circulares muito próximas. Em alguns casos, você verá esses enrolamen- tos, também conhecidos como bobinas, com eixo retilíneo — os solenoides. Em outros casos, você verá enrolamentos em formato de rosquinha ou pneu, com eixo circular. Este último tipo de enrolamento é chamado de toroide, pois, matematicamente, essa geometria é conhecida como “toro” ou torus. Essas geometrias são interessantes para se gerar campo magnético uniforme no seu interior — você aprenderá como calculá-lo. Solenoides Quando queremos gerar um campo magnético uniforme, com mesmo módulo e mesma orientação em qualquer ponto de determinada região do espaço, utilizamos os solenoides — bobinas de fios enrolados de forma helicoidal transportando uma corrente i, que circula por cada espira do enrolamento. Quando maior for o número de voltas e camadas, mais intenso será o campo magnético em seu interior. Quando as espiras de um solenoide estão muito próximas, e seu compri- mento é muito maior que o diâmetro, você poderá considerá-lo como ideal. Nesse caso, o campo magnético pode ser considerado uniforme em sua região interna e nulo na região externa. Ao aplicar a lei de Ampère, você encontrará de forma simples uma expressão para o campo magnético dentro desse dispositivo. A lei de Ampère e os solenoides12 218 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Figura 5. Representação gráfica de um solenoide ideal, onde o campo é uniforme em seu interior e nulo no exterior. A Figura 5 mostra uma seção transversal de um solenoide ideal, onde a corrente elétrica que circula nos fios “sai” da página na região superior e “entra” na parte inferior. Pela regra da mão direita, você deve recordar que o sentido da corrente proverá o sentido do momento de dipolo magnético de cada espira e, como consequência, o sentido do vetor campo magnético. Para calcular o campo magnético, você pode desenhar uma ampèriana como a da figura, retangular e orientada no sentido anti-horário, e analisar o campo magnético em cada trecho: Como na região dos trechos 4 → 1 o campo é nulo, as integrais também se anularão. Os elementos de linha das integrais de 1 → 2 e 3 → 4 são per- pendiculares às linhas de campo magnético, fazendo com que as integrais também se anulem, já que se trata de um produto escalar. Resta apenas a integral entre 2 → 3: 13A lei de Ampère e os solenoides 219 Eletromagnetismo | UNIDADE 4 A Lei de Ampère e os Solenóides | PARTE 2 onde N é o número de espiras envolvidas pela ampèriana. Portanto, o campo magnético em um solenoide ideal é dado por: onde n = N/l é a densidade linear de espiras, informadas usualmente por voltas/espiras por metro, no SI. Apesar de ser um resultado idealizado, ele continua válido para as regiões mais próximas ao eixo central de um solenoide real e longe das extremidades. A Figura 6, a seguir, mostra como se comportam as linhas de campo magnético em um solenoide real, semelhante ao ímã permanente em barra. Figura 6. Linhas de campo de um solenoide real de 600 espiras. A corrente no topo é dirigida para fora da página, enquanto na parte de baixo está orientada para dentro da página. Veja que, no centro do solenoide, as linhas de campo são bem mais intensas e praticamente uniformes, com distorções nas regiões próximas às extremidades. Fonte: Adaptada de Bauer, Westfall e Dias (2012). A lei de Ampère e os solenoides14 220 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Por esse motivo, solenoides são muito utilizados para a construção de ele- troímãs, substituindo a função dos ímãs em motores elétricos, geradores de energia, relés, fechaduras eletrônicas, cabeças de leitura e gravação de discos rígidos, válvulas eletromecânicas, dentre diversas outras aplicações. Os cálculos aqui apresentados consideram que, no interior do solenoide, há ar, e, por isso, a constante utilizada é a permeabilidade magnética do vácuo (μ0). Caso haja um núcleo ferromagnético em seu interior, muito comum em várias das aplicações citadas, é necessário substituir a constante original pela permeabilidade mag- nética do material (μ) que, em geral, é bem maior que a do vácuo. Toroides Se você pegar as extremidades de um solenoide e uni-las, formará o que conhecemos como toroide, muito utilizado como transformador em circuitos elétricos. Calcular o campo magnético em um toroide é bastante simples, pois você pode explorar a simetria do problema escolhendo uma curva ampèriana adequada. O exemplo a seguir mostra o cálculo do campo magnético no eixo central de simetria do dispositivo. Um toroide de raio médio rm = 2 cm é montado utilizando 1000 voltas de um condutor transportando uma corrente i = 200 mA. Qual é o campo magnético no centro do toro? 15A lei de Ampère e os solenoides 221 Eletromagnetismo | UNIDADE 4 A Lei de Ampère e os Solenóides | PARTE 2 Neste capítulo, você conheceu a lei de Ampère e aprendeu a utilizá-la, compreendendo com detalhes o significado de cada um de seus termos. A aplicação dessa lei facilita o cálculo do campo magnético de configurações que apresentam simetria. Com ela, você pode calcular o campo produzido por um fio longo e retilíneo de corrente, além de determinar a expressão do campo no interior de solenoides e toroides, que são configurações utilizadas em diversas aplicações práticas. Com esse conhecimento, você será capaz de projetar equipamentos que necessitem de fontes de campo magnético — como as grandes bobinas em equipamentos de ressonância magnética —, calcular o campo gerado por outros tipos de geometria e compreender o funcionamento de diversos dispositivos que fazem uso dos conceitos aqui estudados. Resposta: Para calcular o campo magnético no interior de um toroide, você pode aproveitar a simetria e utilizar uma ampèriana circular que passe por qualquer ponto interno, concêntrico a ele. A curva enlaçará todos as voltas do condutor, mas apenas em um sentido. Definindo corretamente o sentido positivo da corrente com base na sua escolha de ampèriana e, em seguida, utilizando a lei de Ampère, você terá: Portanto: onde r é a distância entre o eixo que passa pelo centro da curva de integração e o ponto de interesse até o limite do interior do dispositivo. Na região externa, o campo magnético é nulo, pois a corrente total envolvida também é nula. Substituindo os valores, temos que: A lei de Ampère e os solenoides16 222 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO BAUER, W.; WESTFALL, G. D.; DIAS, H. Física para universitários: eletricidade e magnetismo. Porto Alegre: AMGH, 2012. HAYT JR., W. H.; KEMMERLY, J. E.; DURBIN, S. M. Análise de circuitos em engenharia. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. KNIGHT, R. D. Física: uma abordagem estratégica. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. (Eletricidade e Magnetismo, v. 3). Leituras recomendadas FEYNMAN, R. B.; LEIGHTON, R. B.; SANDS, M. Lições de física de Feynman: a nova edição do milênio. Porto Alegre: Bookman, 2019. 3 v. FOWLER, R. Fundamentos de eletricidade. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. (Corrente Alternada e Instrumentos de Medição, v. 2). WENTWORTH, S. M. Eletromagnetismo aplicado: abordagem antecipada das linhas de transmissão. PortoAlegre: Bookman, 2008. 17A lei de Ampère e os solenoides ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE. PREZADO ESTUDANTE Parte 3 Forças Magnéticas e Torques O conteúdo deste livro é disponibilizado por SAGAH. unidade 4 V.1 | 2021 224 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO 1018 Física: Uma Abordagem Estratégica 33.7 Força magnética sobre uma carga em movimento É hora de mudarmos nosso foco de como os campos magnéticos são gerados para como os campos magnéticos exercem forças e torques. Oersted descobriu que uma corrente em um fio causa um torque magnético exercido sobre uma agulha de bússola posicio- nada próxima. Tendo ouvido sobre a descoberta de Oersted, Andrè-Marie Ampère, de quem é tirado o nome da unidade de corrente do SI, argumentou que a corrente atuava como um ímã. Se isso fosse verdadeiro, os dois fios condutores de corrente deveriam exercer forças magnéticas um sobre o outro. Para descobrir a verdade, Ampère confeccionou dois fios paralelos que podiam con- duzir grandes correntes, no mesmo sentido ou em sentidos opostos (“correntes antipara- lelas”). A FIGURA 33.32 mostra o resultado de seu experimento. Note que as correntes “iguais” atraem os fios, e as “opostas”, os repelem. Isto corresponde ao oposto do que esperávamos de dois fios eletricamente carregados quanto a exercerem forças magnéti- cas um sobre o outro. O experimento de Ampère mostrou que todo campo magnético exerce força sobre uma corrente. Força magnética Toda corrente consiste de cargas em movimento. O experimento de Ampère implica que um campo magnético exerce força sobre uma carga em movimento. Isto é verdadeiro, embora a forma exata da lei de força não fosse descoberta até fins do século XIX. A for- ça magnética revela-se dependente não apenas das cargas envolvidas e de suas velcida- des, mas também da orientação do vetor velocidade em relação ao campo magnético. A FIGURA 33.33 mostra o resultado de três experimentos para observar a força magnética. Não há força sobre uma carga que se move paralelamente a A força magnética é perpendicular a e Seu módulo é qvBsen�. A força magnética é máxima quando a carga se move perpendicularmente a Plano que contém e FIGURA 33.33 A relação entre , e . Se você comparar o experimento da direita na Figura 33.33 com o da Figura 33.9, verá que a relação entre , e é exatamente a mesma relação geométrica entre , e . A força magnética sobre uma carga q enquanto ela se move através do campo magnético com uma velocidade depende do produto vetorial entre e . A força magnética sobre uma partícula carregada em movimento pode ser escrita (qvBsen�, orientação dada pela regra da mão direita) (33.17) onde � é o ângulo formado entre e . A regra da mão direita é a do produto vetorial, ilustrada na FIGURA 33.34. Note que a força magnética sobre uma partícula carregada em movimento é simultaneamente perpendicular a e a . A força magnética possui diversas propriedades importantes: 1. Somente uma carga em movimento experimenta uma força magnética. Não existe força magnética exercida sobre cargas em repouso (v � 0) na presença de um campo magnético. 2. Não há força sobre uma carga em movimento paralelo (� � 0�) ou antiparalelo (� � 180�) a um campo magnético. 3. Quando existir uma força, ela será perpendicular a e simultaneamente. 4. A força exercida sobre uma carga negativa tem sentido oposto ao de . 5. Para uma carga em movimento perpendicular a (� � 90�), o módulo da força magnética é F � |q|vB. Correntes de mesmo sentido se atraem Correntes de sentidos opostos se repelem FIGURA 33.32 O experimento de Ampère para estudar as forças entre fios condutores de corrente. 13.4 FIGURA 33.34 A regra da mão direita para forças magnéticas. 225 Eletromagnetismo | UNIDADE 4 Forças Magnéticas e Torques | PARTE 3 CAPÍTULO 33 ■ O Campo Magnético 1019 A FIGURA 33.35 mostra a relação entre , e para cinco cargas em movimento. (A fonte do campo magnético não é mostrada na figura, somente o próprio campo.) Você pode verificar a inerente tridimensionalidade do magnetismo, com a força perpendicular a e simultaneamente. A força magnética é muito diferente da força elétrica, que é sempre paralela ao campo elétrico. aponta para dentro da página FIGURA 33.35 Forças magnéticas sobre cargas em movimento. EXEMPLO 33.10 A força magnética sobre um elétron Um fio longo conduz uma corrente de 10 A no sentido da esquerda para a direita. Um elétron desloca-se para a direita 1,0 cm acima do fio, com velocidade de 1,0 � 107 m�s. Quais são o módulo, a direção e o sentido da força magnética exercida sobre o elétron? MODELO O campo magnético é o gerado por um fio longo e reto. Elétron Campo magnético criado pela corrente IF B B v I - FIGURA 33.36 Um elétron em movimento paralelo a um fio condutor de corrente. VISUALIZAÇÃO A FIGURA 33.36 mostra a corrente e um elétron que se move para a direita. A regra da mão direita nos diz que o campo mag- nético criado pelo fio está orientado para fora da página e, portanto, o elétron está se movendo perpendicularmente ao campo. RESOLUÇÃO A carga do elétron é negativa; assim, a direção da força é oposta a . A regra da mão direita mostra que aponta para baixo, em direção ao fio e, assim, aponta para cima, para longe do fio. O módulo da força é |q|vB � evB. O campo é o de um fio longo e reto: Assim, o módulo da força exercida sobre o elétron é A força sobre o elétron é � (3,2 � 10�16 N, para cima) AVALIAÇÃO Esta força desviará o elétron para longe do fio. Neste ponto, podemos chegar a uma interessante e importante conclusão. Você viu que o campo magnético é criado por cargas em movimento. Agora você também sabe que as forças magnéticas são exercidas sobre cargas em movimento. Assim, parece que o magnetismo é uma interação entre cargas em movimento. Quaisquer duas cargas, em movimento ou estacionárias, interagem uma com a outra através do campo elétrico. Além disso, duas cargas em movimento também interagem entre si através do campo magnético. Esta observação fundamental é facilmente esquecida à medida que falamos sobre correntes, ímãs, torques e outros fenômenos do magnetismo. Mas a característica mais básica subjacente a todos estes fenômenos é que eles envolvem uma interação entre as cargas em movimento. Movimento ciclotron Muitas aplicações importantes do magnetismo envolvem o movimento de partículas car- regadas em um campo magnético. Todo tubo de imagem de televisão funciona através do emprego de campos magnéticos para direcionar os elétrons enquanto eles se movem atra- vés do vácuo, dentro do canhão de elétrons, até chegar à tela. Geradores de microondas, usados em aplicações que vão desde fornos a radares, empregam um dispositivo denomi- nado magnetron, no qual elétrons oscilam rapidamente em um campo magnético. Você acabou de ver que não existe força exercida sobre uma partícula que tenha ve- locidade paralela ou antiparelela a um campo magnético. Conseqüentemente, nenhum campo magnético tem efeito sobre uma carga que se movimente paralela ou anti- paralelamente ao campo. Para compreender o movimento de partículas carregadas na presença de campos magnéticos, basta considerar apenas seu movimento perpendicular ao campo. Um feixe de elétrons descreve um movimento circular na presença de um campo magnético. 226 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO 1020 Física: Uma Abordagem Estratégica A FIGURA 33.37 mostra uma carga positiva q movendo-se com velocidade em um plano perpendicular a um campo magnético uniforme . De acordo com a regra da mão direita, a força magnética sobre essa partícula é perpendicular à sua velocidade . Uma força que é sempre perpendicular a faz variar a orientação de movimento, desviando a partícula lateralmente, mas não é capaz de fazer variar a velocidade da partícula. Assim, toda partícula em movimento perpendicular a um campo magnético uniforme des- creve a um movimentocircular uniforme. Esse movimento é chamado de movimento ciclotron da partícula carregada em um campo magnético. NOTA � Se a carga for negativa, ela orbitará em sentido oposto àquele mostrado na Figura 33.37 para o caso de uma carga positiva. � Você já viu muitas analogias para o movimento ciclotron neste texto. Para uma mas- sa em movimento na extremidade de uma corda, a tensão é sempre perpendicular a . Para um satélite em uma órbita circular, a força gravitacional é sempre perpendicular a . Agora, para uma partícula carregada se movendo em um campo magnético, é a força magnética de intensidade F � qvB que aponta em direção ao centro do círculo e faz com que a partícula tenha uma aceleração centrípeta. A segunda lei de Newton para o movimento circular, que você aprendeu no Ca- pítulo 8, é (33.18) Assim, o raio da órbita ciclotron é (33.19) A dependência inversamente proporcional a B indica que o tamanho da órbita pode ser diminuído por meio do aumento da intensidade do campo magnético. Podemos também determinar a freqüência do movimento ciclotron. De seu recente estudo sobre o movimento circular, lembre-se de que a freqüência de revolução f está relacionada à velocidade e ao raio por f � v�2�r. Um rearranjo da Equação 33.19 nos fornece a freqüência ciclotron: (33.20) onde a razão q�m é a razão carga-massa da partícula. Note que a freqüência ciclotron depende da razão carga-massa e da intensidade do campo magnético, mas não, da velo- cidade da carga. EXEMPLO 33.11 O raio do movimento ciclotron Na FIGURA 33.38, um elétron é acelerado, desde o repouso, por meio de uma diferença de potencial de 500 V e, a seguir, é injetado em um cam- po magnético uniforme. Uma vez na presença do campo magnético, ele completa meia revolução em 2,0 ns. Qual é o raio de sua órbita? FIGURA 33.38 Um elétron é acelerado e, depois, é injetado em um campo magnético. MODELO A energia é conservada enquanto o elétron é acelerado pela diferença de potencial. Na presença do campo magnético, o elétron, então, passa a descrever o movimento ciclotron, embora complete apenas meia revolução até colidir com o eletrodo de ace- leração. RESOLUÇÃO O elétron acelera desde o repouso (vi � 0 m�s), onde Vi � 0 V, para vf, onde Vf � 500 V. Podemos usar a conservação da energia, Kf � qVf � Ki � qVi, para determinar a velocidade vf com a qual ele entra no campo magnético: é perpendicular a entra na página A força magnética é sempre perpendicular a v, fazendo com que a partícula se mova em um círculo. FIGURA 33.37 O movimento ciclotron de uma partícula carregada em um campo magnético. 13.7, 13.8 227 Eletromagnetismo | UNIDADE 4 Forças Magnéticas e Torques | PARTE 3 CAPÍTULO 33 ■ O Campo Magnético 1021 O raio ciclotron no campo magnético é rcic � mv�eB, mas primeiro precisamos determinar a intensidade do campo. Se não fosse o ele- trodo, o elétron completaria o movimento circular com período T � 4,0 ns. Portanto, a freqüência ciclotron é f � 1�T � 2,5 � 108 Hz. Podemos usar a freqüência ciclotron para determinar a intensidade do campo magnético como Assim, o raio da órbita do elétron é A FIGURA 33.39a mostra uma situação mais geral, em que a velocidade da partícula carregada não é paralela nem perpendicular a . O componente de paralelo a não é afetada pelo campo, portanto a partícula carregada gira ao redor das linhas de campo magnético em uma trajetória helicoidal. O raio da hélice é determinado por , o compo- nente de perpendicular a . As partículas carregadas espiralam ao redor das linhas de campo magnético. Próximo aos pólos, o campo magnético da Terra conduz as partículas para dentro da atmosfera, produzindo a aurora. A aurora vista do espaço FIGURA 33.39 Em geral, partículas carregadas giram em trajetórias helicoidais ao redor das linhas de campo magnético. Este movimento é responsável pela aurora da Terra. O movimento de partículas carregadas em um campo magnético é responsável pela aurora da Terra. Partículas de alta energia e radiação que jorram para fora do Sol, formando o que se chama de vento solar, criam íons e elétrons ao se chocarem com as moléculas da alta atmosfera. Algumas dessas partículas carregadas ficam presas no campo magnético da Terra, criando o que é conhecido como o cinturão de radiação de Van Allen. Como mostra a FIGURA 33.39b, os elétrons giram ao longo das linhas do campo mag- nético até que o campo os conduza para dentro da atmosfera. A forma do campo magné- tico da Terra é tal que a maioria dos elétrons adentra na atmosfera em uma região circu- lar ao redor do pólo norte magnético e em outra equivalente, ao redor do pólo sul magnético. Lá, eles colidem com os átomos de oxigênio e nitrogênio, excitando-os e fazendo com que emitam a luz da aurora. A FIGURA 33.39c mostra uma imagem obtida do espaço, em cores falsas, da luz ultravioleta emitida pela aurora. PARE E PENSE 33.5 Um elétron se move perpendicularmente a um campo magnético. Qual é o sentido de ? a. Para a esquerda b. Para cima c. Para dentro da página d. Para a direita e. Para baixo f. Para fora da página A bonita aurora boreal, ou luzes do norte, deve-se ao campo magnético da Terra. 228 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO 1024 Física: Uma Abordagem Estratégica condutores pobres, com menores densidades de portadores de carga. Um teste de labo- ratório para medição de intensidades de campo magnético, chamado de teste Hall, mede �VH para um condutor pobre cuja densidade de portadores de carga seja conhecida. O campo magnético, então, é determinado a partir da Equação 33.24. EXEMPLO 33.12 Medindo o campo magnético Um teste Hall é realizado com uma tira do metal bismuto com es- pessura de 0,15 mm e largura de 5,0 mm. O bismuto é um condutor pobre, com densidade de portadores de carga de 1,35 � 1025 m�3. A voltagem Hall no teste é de 2,5 mV quando a corrente através da amostra é de 1,5 A. Qual é a intensidade do campo magnético e qual é a intensidade do campo elétrico no interior do bismuto? VISUALIZAÇÃO A tira de bismuto se parece com a da Figura 33.42a. A espessura é t � 1,5 � 10�4 m e a largura é w � 5,0 � 10�3 m. RESOLUÇÃO A Equação 33.24 fornece a voltagem Hall. Rearranjando a equação, obtemos que o campo magnético é O campo elétrico criado no interior do bismuto pelo excesso de carga sobre sua superfície é AVALIAÇÃO Uma intensidade de 0,54 T é típica de um ímã de labora- tório. 33.8 Forças magnéticas sobre fios condutores de corrente A observação de Ampère sobre as forças magnéticas entre fios condutores de corrente motivou-nos a examinar as forças sobre cargas em movimento. Agora estamos prontos para aplicar este conhecimento ao experimento de Ampère. Como primeiro passo, va- mos encontrar a força exercida por um campo magnético uniforme sobre um longo fio reto pelo qual flui uma corrente I em presença do campo. Como mostra a FIGURA 33.43a, não existe força sobre um fio condutor de corrente paralelo ao campo magnético. Isso não deveria constituir uma surpresa, pois vem do fato de que não existe força sobre uma partícula carregada que se move paralelamente a . A FIGURA 33.43b mostra um fio perpendicular ao campo magnético. Pela regra da mão direita, cada carga da corrente experimenta uma força de módulo igual a qvB, direciona- da para a esquerda. Conseqüentemente, todo o comprimento do fio no interior do campo magnético experimenta uma força orientada para a esquerda que é simultaneamente per- pendicular à direção da corrente e à direção do campo. Para determinar o módulo da força, devemos relacionar a corrente I no fio à carga q que se move pelo mesmo. A FIGURA 33.44 mostra um segmento de um fio, de comprimen- to l, que conduz uma corrente I. Esta corrente, por definição, é a quantidade de carga q em movimento neste segmento dividida pelo tempo �t decorrido para que ela flua atra- vés do segmento: I � q��t. O tempo requerido é �t � l�v, resultando em Assim, Il � qv. Se definirmos o vetor com módulo igual al e com a orientação de , a da corrente, temos então . Substituindo isto por na equação da força , obtemos que a força magnética sobre um fio condutor de corrente é dada por (IlBsen�, orientação dada pela regra da mão direita) (33.25) onde � é o ângulo formado entre (com a orientação da corrente) e . Como aparte, você pode verificar na Equação 33.25 que o campo magnético B deve ter como unidade o N�A. Isto se deve ao que definimos na Seção 33.3, ou seja, 1 T � 1 N�A. NOTA � A familiar regra da mão direita se aplica ao fio condutor de corrente. Orien- te seu polegar na direção e sentido da corrente (paralelo a ) e seu dedo indicador na direção de . Seu dedo médio, então, apontará na direção e no sentido da força exercida sobre o fio. � Não existe força sobre uma corrente paralela ao campo magnético. Uma corrente perpendi- cular ao campo experi- menta uma força com a orientação dada pela regra da mão direita. FIGURA 33.43 Força magnética sobre um fio condutor de corrente. Carga q Uma corrente é formada por portadores de carga q que se movem com velocidade v. FIGURA 33.44 Duas maneiras de conceber uma corrente. 229 Eletromagnetismo | UNIDADE 4 Forças Magnéticas e Torques | PARTE 3 CAPÍTULO 33 ■ O Campo Magnético 1025 EXEMPLO 33.13 Levitação magnética O campo magnético uniforme de 0,10 T da FIGURA 33.45 é horizontal, paralelo ao chão. Um segmento reto de fio de cobre, com diâmetro de 1,0 mm e também paralelo ao chão, é perpendicular ao campo mag- nético. Que corrente fluindo através do fio, e em que sentido, fará o mesmo “flutuar” no campo magnético? FIGURA 33.45 Levitação magnética. MODELO O fio flutuará no campo magnético se a força magnética exercida sobre o fio apontar para cima e tiver módulo igual a mg, permitindo-lhe equilibrar a força gravitacional orientada para baixo. RESOLUÇÃO Podemos usar a regra da mão direita para determinar qual orientação da corrente resultará em uma força orientada para cima. Com apontando para longe de nós, o sentido da corrente deve ser da esquerda para a direita. As forças se equilibrarão quando onde � � 8.920 kg�m3 é a densidade do cobre. O comprimento l do fio é simplificado, levando-nos a Uma corrente de 0,69 A orientada da esquerda para a direita levitará o fio no campo magnético. AVALIAÇÃO Uma corrente de 0,69 A é bastante plausível, mas esta idéia será útil apenas se pudermos ter a corrente dentro e fora deste segmento de fio. Na prática, o faríamos com fios que viessem por baixo da página. Os fios de entrada e de saída seriam paralelos a e não experimentariam uma força magnética. Embora este exemplo seja muito simples, ele constitui a base para aplicações como a levita- ção magnética de trens. Força entre dois fios paralelos Agora consideremos o arranjo experimental de Ampère, com dois fios paralelos de com- primento l distanciados por d. A FIGURA 33.46a mostra as correntes I1 e I2 no mesmo sen- tido; a FIGURA 33.46b mostra as correntes em sentidos opostos. Assumiremos que os fios sejam suficientemente longos para nos permitir o uso do resultado anterior para o campo magnético criado por um longo fio reto: B � �0I�2�d. Correntes no mesmo sentido Campo magnético B 2 criado pela corrente I 2 2 sobre 1 2 sobre 1 1 sobre 2 1 sobre 2 2 sobre 1 2 sobre 1 1 sobre 2 1 sobre 2Campo magnético B 1 criado pela corrente I 1 Correntes em sentidos opostos FIGURA 33.46 Forças magnéticas entre fios condutores de corrente paralelos. Como mostra a Figura 33.46a, a corrente I2 no fio inferior cria um campo magnético na posição do fio superior. O campo aponta para fora da página, perpendicular- mente à corrente I1. É o campo , criado pelo fio inferior, que exerce uma força magnética sobre o fio superior. Usando a regra da mão direita, você pode verificar que a força exercida sobre o fio superior está orientada para baixo, atraindo-o, deste modo, em direção ao fio inferior. O campo criado pela corrente inferior não é uniforme, mas é igual em todos os pontos ao longo do fio superior, pois entre si os dois fios são paralelos. Conseqüentemente, pode- mos usar o campo criado por um fio longo e reto para determinar a força magnética exer- cida pelo fio inferior sobre o superior quando eles estão separados por uma distância d: (força entre dois fios paralelos) (33.26) 13.5 230 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO 1026 Física: Uma Abordagem Estratégica Como exercício, tente convencer-se de que a corrente no fio superior exerce uma força magnética orientada para cima sobre o fio inferior, com exatamente o mesmo mó- dulo. Você pode também convencer-se, por meio do uso da regra da mão direita, de que as forças são repulsivas e tendem a afastar os fios um do outro quando as duas correntes tiverem sentidos opostos. Assim, dois fios paralelos exercem forças de mesma intensidade e opostas, um sobre o outro, como requerido pela terceira lei de Newton. Fios paralelos que conduzem correntes no mesmo sentido se atraem; fios paralelos conduzindo correntes em sen- tidos opostos se repelem. EXEMPLO 33.14 Uma balança de corrente Dois fios rígidos e paralelos, com 50 cm de comprimento cada, estão co- nectados a molas em suas extremidades. Cada mola tem 5,0 cm de com- primento, quando não estão esticadas, e uma constante de mola igual a 0,025 N�m. Os fios se empurram para longe um do outro quando uma corrente flui ao longo do caminho fechado. Que intensidade de corrente será necessária para esticar as molas até um comprimento de 6,0 cm? Fsp Fsp Fmola I FIGURA 33.47 Os fios condutores de corrente do Exemplo 33.14. VISUALIZAÇÃO A FIGURA 33.47 mostra o “circuito”. As molas são condu- toras, permitindo que uma corrente flua ao longo do caminho fechado. Em equilíbrio, as forças magnéticas repulsivas entre os fios são com- pensadas pelas forças restauradoras Fmola � k�y exercidas pelas molas. RESOLUÇÃO A Figura 33.47 representa as forças exercidas sobre o fio inferior. A força resultante é nula, portanto Fm � 2Fmola. A força repul- siva entre os fios é dada pela Equação 33.26, com I1 � I2 � I: onde k é a constante da mola e �y � 1,0 cm é a quantidade pela qual cada mola é esticada. Isolando a corrente, obtemos AVALIAÇÃO Dispositivos em que uma força magnética equilibra uma força mecânica são chamados de balanças de corrente. Eles podem ser usados para medir correntes com muita precisão. 33.9 Forças e torques sobre espiras de corrente Você já viu que uma espira de corrente possui um dipolo associado, assim como um ímã permanente. Examinemos agora algumas características importantes da maneira como as espiras de corrente se comportam em presença de campos magnéticos. A discussão será amplamente qualitativa, mas realçará algumas das importantes propriedades dos ímãs e dos campos magnéticos. Na próxima seção usaremos essas idéias para fazer a conexão entre eletroímãs e ímãs permanentes. A FIGURA 33.48a mostra duas espiras de corrente. Usando o que aprendemos sobre forças entre correntes paralelas ou antiparalelas, você pode notar que espiras paralelas exercem forças magnéticas atrativas entre si, se as correntes circularem no mesmo sentido, e forças repulsivas, se as correntes forem antiparalelas. Correntes paralelas se atraem, correntes antiparalelas se repelem. Pólos opostos se atraem, pólos iguais se repelem. FIGURA 33.48 Duas maneiras alternativas, mas equivalentes, de considerar as forças magnéticas. 13.6 231 Eletromagnetismo | UNIDADE 4 Forças Magnéticas e Torques | PARTE 3 CAPÍTULO 33 ■ O Campo Magnético 1027 É conveniente refletir sobre essas forças em termos de pólos magnéticos. A FIGURA 33.48b mostra os pólos magnéticos norte e sul de uma espira de corrente. Se as correntes circularem no mesmo sentido, um pólo norte e outro pólo sul, face a face, exercerão forças atrativas entre si. Se as correntes circularem em sentidos opostos, os dois pólos iguais se repelirão. Aqui, afinal, temos a conexão real sobre o comportamento dos ímãs que abriunossa discussão sobre o magnetismo – a saber, que pólos iguais se repelem e pólos opostos se atraem. Agora dispomos de uma explicação para tal comportamento, ao menos no caso dos eletroímãs. Pólos magnéticos se atraem ou se repelem devido ao movimento de cargas em correntes, que exercem forças magnéticas atrativas ou repulsivas sobre as cargas em movimento de outra corrente. Nosso caminho através da interação das cargas em movimento está finalmente começando a revelar alguns resultados práticos! Agora consideremos as forças sobre uma espira de corrente em presença de um cam- po magnético uniforme. A FIGURA 33.49 mostra uma espira de corrente quadrada em um campo magnético uniforme. A corrente em cada um dos quatro lados experimenta uma força magnética exercida pelo campo . As forças frontal e posterior são opostas uma à outra e se anulam. As forças topo e base também se adicionam, dando uma força resul- tante nula, mas, visto que não atuam ao longo da mesma linha, elas farão a espira girar por exercerem um torque sobre ela. As forças exercidas sobre os segmentos do topo e da base formam o que chamamos, no Capítulo 12, de um binário. O torque devido ao binário é igual ao módulo da força multiplicado pela distância d entre as linhas de ação das duas forças. Note que d � l sen�; portanto, o torque sobre a espira – exercido pelo campo magnético – é (33.27) onde � � Il2 � IA é o módulo do momento de dipolo magnético da espira. Embora tenhamos derivado a Equação 33.27 para o caso de uma espira quadrada, o resultado obtido é válido para uma espira de corrente com qualquer formato. Note que a Equação 33.27 se parece com outro exemplo de produto vetorial. Anteriormente, definimos o vetor momento de dipolo magnético como um vetor perpendicular à espira de corrente com sentido determinado pela regra da mão direita. A Figura 33.49 mostra que � é o ângulo formado entre e ; portanto, o torque exercido sobre o dipolo magnético é (33.28) O torque é nulo quando o momento de dipolo magnético é paralelo ou antiparalelo ao campo magnético e é máximo quando é perpendicular ao campo. Este é o torque magnético que causa a rotação da agulha de uma bússola – que constitui um momento magnético – até que ela se alinhe com o campo magnético. Um motor elétrico O torque exercido sobre uma espira de corrente ao redor de um campo magnético cons- titui o príncípio de funcionamento de um motor elétrico. Como mostra a FIGURA 33.50, a armadura do motor é uma bobina de fio enrolada em torno de um eixo. Quando uma corrente flui pela bobina, o campo magnético exerce um torque sobre a armadura e a faz girar. Se a corrente fosse estável, a armadura oscilaria para trás e para a frente, em torno de sua posição de equilíbrio, até (supondo que exista algum atrito ou amortecimento) parar por completo, com o plano da bobina perpendicular ao campo. A fim de manter o motor em rotação, um dispositivo chamado comutador inverte o sentido da corrente na bobina a cada 180� de giro da mesma. (Note que o comutador é dividido em duas partes, de modo que o terminal positivo da bateria envia uma corrente para qualquer fio que toque a metade direita do comutador.) A corrente invertida impede que a armadura atinja a posição de equilíbrio, e assim o torque magnético mantém o motor girando enquanto houver uma corrente. F topo e F base exercem um torque que faz a espira girar em torno do eixo x. topo frontal posterior baseLinhas de ação sen FIGURA 33.49 Um campo magnético uniforme exerce um torque sobre uma espira de corrente. 232 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO 1028 Física: Uma Abordagem Estratégica Ímã Rotação Força magnética orientada para cima, sobre o lado esquerdo da espira Armadura Força magnética orientada para baixo, sobre o lado direito da espira O comutador inverte a corrente na espira a cada meio ciclo, de modo que a força está sempre orientada para cima sobre o lado esquerdo da espira. FIGURA 33.50 Um motor elétrico simples. PARE E PENSE 33.6 Qual é o sentido da corrente na espira? a. Para fora da página no topo da espira, para dentro da página na base. b. Para fora da página na base da espira, para dentro da página no topo. 33.10 Propriedades magnéticas da matéria Nossa teoria concentrou-se, principalmente, nas propriedades magnéticas das corren- tes, ainda que nossa experiência diária seja, em grande parte, com ímãs permanentes. Vimos que as espiras de corrente e os solenóides possuem pólos magnéticos e exibem comportamentos parecidos com o de ímãs permanentes, todavia ainda falta uma conexão específica entre eletroímãs e ímãs permanentes. A meta desta seção é completar nossa compreensão por meio de desenvolvimento de uma perspectiva em nivel atômico das propriedades magnéticas da matéria. Ímãs atômicos Uma explicação plausível para as propriedades magnéticas exibidas pelos materiais é baseada no movimento orbital dos elétrons atômicos. A FIGURA 33.51 mostra um modelo atômico clássico simples em que um elétron negativamente carregado orbita um núcleo positivamente carregado. Nesta figura do átomo, o movimento do elétron equivale a uma espira de corrente! Trata-se de uma espira de corrente microscópica, com certeza, mas uma espira de corrente, mesmo assim. Conseqüentemente, um elétron em órbita se com- porta como um minúsculo dipolo magnético, dotado de um pólo norte e de um pólo sul. Você pode imaginar o dipolo magnético como um ímã do tamanho característico de um átomo. Experimentos realizados com átomos individuais de hidrogênio mostram que eles são, realmente, minúsculos ímãs. Entretanto, os átomos da maioria dos elementos contêm muitos elétrons. Diferen- temente do Sistema Solar, em que todos os planetas orbitam em um mesmo sentido, as órbitas dos elétrons estão arranjadas de modo a se oporem umas às outras: para cada elétron que se move em sentido anti-horário existe outro elétron que se move em sentido horário. Dessa maneira os momentos magnéticos das órbitas individuais tendem a se cancelar, e o momento magnético resultante é nulo ou muito pequeno. Repulsão O momento magnético deve-se ao movimento orbital dos elétrons Núcleo Elétron FIGURA 33.51 Um elétron clássico em órbita constitui um minúsculo dipolo magnético. ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE. PREZADO ESTUDANTE 234 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Parte 4 A Lei de Lenz e a Lei de Faraday O conteúdo deste livro é disponibilizado por SAGAH. unidade 4 V.1 | 2021 236 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO A lei de Lenz e a lei de Faraday Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Relacionar a lei de Faraday à força eletromotriz fem induzida em uma espira e à variação do fluxo magnético através de uma espira. � Determinar o sentido de uma fem induzida. � Calcular a fem induzida em um condutor que se move através de um campo magnético. Introdução A energia elétrica é, para todos nós, não apenas uma realidade, mas uma necessidade. Ela nos garante melhores condições de tratamento de saúde, trabalho, segurança alimentar e tantos outros aspectos da nossa sociedade, sem os quais não conseguiríamos viver. Neste capítulo, você estudará as leis de Faraday e de Lenz, que des- crevem matematicamente o fenômeno da indução eletromagnética. Elas revelam que a variação de fluxo de campo magnético através de um condutor induz força eletromotriz fem, ou seja, uma tensão entre os terminais de um condutor que pode gerar corrente elétrica, que é o princípio de funcionamento de geradores de energia e motores elétricos de corrente alternada. Você também saberá identificar o sentido de uma fem induzida e calculá-la em um condutor que se move através de um campo magnético. 237 Eletromagnetismo | UNIDADE 4 A Lei de Lenz e a Lei de Faraday | PARTE 4 1 A indução eletromagnética Você deve lembrar-se de que o campo magnético afeta a trajetória de partículascarregadas em movimento, por meio da força de Lorentz. Certamente, você também se recorda que cargas em movimento, ou corrente elétrica, são fontes de campo magnético. No entanto, como podemos gerar corrente elétrica com o campo magnético? Era isso que Michael Faraday, físico britânico, tentava descobrir no início do século XIX. Faraday realizou uma série de experimentos na tentativa de mostrar que campo magnético poderia gerar corrente elétrica, mas sem sucesso. No en- tanto, ele percebeu que, durante a abertura e o fechamento do interruptor de uma bobina primária, como mostrado na Figura 1a, uma corrente surgia em um curtíssimo intervalo de tempo na bobina secundária, percebida por um galvanômetro. Quando ele fechava o interruptor, a corrente elétrica era induzida em um sentido e, quando abria a chave, ela era induzida no sentido oposto, de forma praticamente instantânea. Ele intuiu que a causa daquele pico de corrente pudesse ser a variação do campo magnético. Para testar a hipótese, Faraday propôs outros experimentos, como os representados nas Figuras 1b, 1c e 1d. Em todos eles, a corrente elétrica foi observada. Isso explicava o porquê de seus experimentos anteriores não terem dado resultados promissores, pois, enquanto ele tentava produzir correntes a partir de campos magnéticos uniformes e constantes, era necessário que houvesse variação de campo magnético (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012). O cientista americano John Henry também fez as mesmas descobertas de forma independente e na mesma época de Faraday, mas foi este que publicou e formalizou seus achados. Para compreender como o processo de indução eletromagnética acontece, é necessário entender o conceito de fluxo magnético, que será visto a seguir. A lei de Lenz e a lei de Faraday2 238 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Figura 1. Ilustração dos experimentos realizados por Faraday para demonstrar o fenômeno de indução eletromagnética. (a) Ao manter o interruptor fechado, a corrente elétrica na primeira bobina gera campo magnético no anel de ferro, mas nenhuma corrente é medida no enrolamento secundário. No entanto, no instante em que fecha e abre o interruptor, uma corrente momentânea é observada. O mesmo efeito é observado sem o anel de ferro, como em (b); movendo um ímã, como em (c); ou movendo a bobina, como em (d). Fonte: Adaptada de Knight (2009). Fechar o interruptor do circuito esquerdo... Abre ou fecha o interruptor. Medidor de corrente b)a) c) d) Anel de ferro S N S N Interruptor Empurra ou puxa o ímã. Empurra ou puxa a bobina. produz uma corrente momentânea no circuito direito. Fluxo magnético Quando você pensa em fluxo, o que vem à sua mente? Fluxo de ar, fluxo de água? Quando falamos em fluxo, do ponto de vista físico, estamos analisando um campo vetorial que atravessa determinada área de superfície. Podemos pensar em um fluido em uma tubulação, no ar em uma turbina, ou mesmo no campo elétrico através de uma superfície gaussiana. Quando você estudou a lei de Gauss, era necessário que calculasse o fluxo de campo elétrico através de uma superfície escolhida e igualasse a carga envolvida dividindo pela permissividade elétrica do vácuo. 3A lei de Lenz e a lei de Faraday 239 Eletromagnetismo | UNIDADE 4 A Lei de Lenz e a Lei de Faraday | PARTE 4 Para definir o fluxo de campo elétrico, denotado por ΦB, devemos calcular: ou seja, o fluxo de campo magnético que atravessa uma superfície S delimitada por um condutor é dado pela integral do campo magnético com respeito ao diferencial de superfície dS⃗. A unidade de medida de fluxo magnético no SI é o Weber: 1 weber = 1 Wb = 1 Tm2. Se o campo magnético é uniforme, o fluxo magnético é simplesmente definido por: ΦB = B⃗ ⋅ A⃗ = BA cos θ, onde |A⃗ | = A é a área da superfície, apontando na direção perpendicular ao ponto do plano formado pela espira ou pelo circuito, com sentido definido seguindo a regra da mão direita para corrente positiva, e θ é o ângulo entre esses vetores. Parece complicado, mas a discussão a seguir ajudará a com- preender esse conceito. Na Figura 2, você pode observar um campo uniforme e constante sendo aplicado em uma região do espaço, onde há uma espira retangular de lados a e b. Como o vetor dS⃗ = dA n̂ aponta na direção perpendicular à superfície, quando o campo magnético também é perpendicular ao plano da espira, te- mos que o fluxo magnético é máximo: ΦB = B⃗ ⋅ A⃗ = Bab. Já, quando a espira está inclinada de um ângulo θ com relação à direção do campo magnético, o produto escalar é dado por: ΦB = B⃗ ⋅ A⃗ = Bab cos θ. Isso significa que a área efetiva da espira é a que é vista segundo a direção do campo. Finalmente, se o campo magnético estiver aplicado na mesma direção do plano da espira, sendo paralelos, não há linhas de campo que atravessem a superfície, e o fluxo magnético é nulo. Portanto, sempre que o campo magnético for uniforme em todos os elementos de área da superfície, não é necessário realizar nenhuma integral, apenas multiplicar o campo pela área efetiva. A lei de Lenz e a lei de Faraday4 240 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Figura 2. Linhas de campo magnético que atravessam uma espira em diferentes ângulos. Fonte: Knight (2009, p. 1049). Existem situações simples em que o campo magnético não uniforme dobre uma espira, como o campo magnético gerado por um fio condutor próximo. Veja o exemplo a seguir e compreenda como efetuar o cálculo do fluxo mag- nético para esse caso. No exemplo anterior, o campo magnético não era uniforme com relação à superfície, mas era constante, ou seja, não variava no tempo. Como a espira também estava fixa, o fluxo magnético encontrado é constante. Faraday conclui – e como você viu – que apenas a variação do fluxo magnético é capaz de produzir uma corrente na espira. Veja, a seguir, como a variação do fluxo relaciona-se com a força eletromotriz e a corrente. Um fio condutor longo transporta uma corrente I = 1ª, conforme ilustrado na figura a seguir. Uma espira quadrada é colocada a seu lado, com dimensões a = 15 cm e b = 20 cm e a uma distância c = 5 cm do centro do condutor. Qual é o fluxo magnético que atravessa essa espira? 5A lei de Lenz e a lei de Faraday 241 Eletromagnetismo | UNIDADE 4 A Lei de Lenz e a Lei de Faraday | PARTE 4 Resposta: O campo magnético gerado por um fio condutor pode ser calculado pela lei circuital de Ampère: ∮B⃗ ⋅ dl⃗ = μ0ienv. Logo: O sentido do campo Bfio é para dentro da página, como podemos concluir usando a regra da mão direita no fio condutor. Veja que o campo magnético não é uniforme dentro da espira; ele depende da distância r que o elemento de área de encontro do eixo do condutor. O elemento de superfície em coordenadas cartesianas é dS = dydx, e o sentido é definido por quem está resolvendo o problema. Nesse caso, você pode escolher que o sentido de fluxo positivo é saindo da página, no sentido contrário ao campo. Por conta da simetria do problema, o campo não depende da coordenada y da espira, apenas da coordenada x. Dessa forma: A lei de Lenz e a lei de Faraday6 242 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Portanto, o fluxo magnético concatenado pela espira retangular é: ΦB = –0,55 × 10–7 Wb, e o sinal negativo diz que o fluxo é contrário àquele que você havia definido como positivo. Lei de Faraday e força eletromotriz Como você observou nos experimentos de Faraday, a variação do fluxo magnético através de uma espira gerou uma corrente induzida. De alguma forma, forças eletromagnéticas atuam sobre as partículas portadoras de carga, induzindo corrente elétrica em um ou outro sentido do circuito fechado. Ape- sar de ainda não compreender muito bem qual é o mecanismo que produz essas forças, podemos relacioná-las ao que chamamos de força eletromotriz. A força eletromotriz fem, geralmente denotada pela letra grega ε, é uma grandeza escalar medida em Volts (V), no SI. Apesar de ser chamada de força eletromotriz, a unidade de medida da fem é Volts(V). Por apresentar a mesma unidade de medida que uma diferença de potencial (U), é muito comum achar que se trata do mesmo conceito, mas seus significados físicos são distintos. A força eletromotriz é o trabalho que uma força eletromagnética realiza quando transporta uma carga de um ponto a outro por um caminho específico, por unidade de carga. Já a diferença de potencial elétrico é independente de caminho. A lei de Faraday oferece a relação matemática entre a fem induzida (εind) e a variação do fluxo magnético por meio da expressão: 7A lei de Lenz e a lei de Faraday 243 Eletromagnetismo | UNIDADE 4 A Lei de Lenz e a Lei de Faraday | PARTE 4 Ou seja, a taxa de variação do fluxo magnético no tempo é igual ao módulo da fem induzida no circuito. Se o circuito é composto por um condutor de resis- tência R, podemos determinar a intensidade de corrente Iind que o circula como: Nesta seção, você observou os experimentos de Faraday e compreendeu como o cientista chegou à conclusão de que a variação do fluxo de campo magnético através de uma espira, ou um conjunto delas, é capaz de gerar uma fem e induzir corrente elétrica. No entanto, ainda não sabe como definir o sentido da corrente elétrica induzida. Na próxima seção, você conhecerá a lei de Lenz e as regras que determinam o sentido da indução de corrente. Sentido de uma fem induzida Um pouco depois de Faraday propor a lei da indução, o cientista Heinrich Lenz desenvolveu uma regra, conhecida como lei de Lenz, para determinar o sentido da corrente induzida em uma espira pela variação do fluxo de campo magnético. De forma conceitual, significa que a corrente gerada pela fem induzida circula no sentido necessário para produzir campo magnético que se oponha ao sentido de variação dele. De forma matemática, ela pode ser representada pelo sinal negativo na lei de Faraday, como: Essa lei também é, por vezes, chamada de lei de Faraday-Lenz. Quando o campo magnético está aumentando com relação ao tempo, e a área da espira é mantida fixa, a taxa de variação do fluxo magnético é positiva na direção do campo. Logo, a corrente induzida provoca um campo induzido em sentido oposto. Já, quando o campo magnético está diminuindo ao longo do tempo, e a área é mantida fixa, o campo magnético produzido pela corrente induzida tem o mesmo sentido do campo magnético externo. A Figura 3, a seguir, ilustra esse conceito, onde o campo produzido pela corrente no sole- noide no instante em que o interruptor é fechado aumenta momentaneamente, até atingir seu valor máximo, e induz corrente elétrica no sentido contrário. A lei de Lenz e a lei de Faraday8 244 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Figura 3. Quando o interruptor da bobina primária é fechado, há um aumento do campo magnético induzido até alcançar o limite máximo. Enquanto o campo está aumento, um campo magnético e uma corrente são induzidos na bobina secundária, em sentido contrário. Quando o campo na primeira bobina atinge o limite e não mais varia, o campo induzido desaparece. bobina 1 bobina 2 Interruptor aberto Interruptor recém-fechado Campo magnético aumentando Corrente induzida Campo induzido A variação do campo magnético no tempo não é a única maneira de se variar o fluxo magnético através de uma espira. A outra maneira é alterar a área efetiva pela qual as linhas de campo fluem. No início do capítulo, quando você estudou o conceito de fluxo magnético, você viu que, dependendo da posição da espira com relação ao campo, o fluxo magnético pode variar. Desse modo, se uma força externa produz um torque em uma espira e faz com que ela obtenha um movimento de rotação em meio a um campo magnético uniforme, também há corrente induzida. Sendo o fluxo magnético dado por ΦB = BA cos θ, onde θ = ωt + ϕ, sendo ω a frequência angular de rotação da espira e ϕ uma fase arbitrária, a força eletromotriz é dada por: 9A lei de Lenz e a lei de Faraday 245 Eletromagnetismo | UNIDADE 4 A Lei de Lenz e a Lei de Faraday | PARTE 4 Esse é o princípio de funcionamento dos geradores elétricos de energia, como os utilizados em usinas hidrelétricas, termoelétricas, nucleares e eólicas (CHAPMAN, 2013). Em usinas hidrelétricas, a energia da água é responsável por fornecer potência me- cânica ao gerador, que a converte em potência elétrica. Em usinas termoelétricas e nucleares, o fluido responsável também é a água, mas em forma de vapor. A queima de combustíveis fósseis, biomassa ou liberação de calor pelo processo de fissão nuclear fazem com que a água receba energia em uma caldeira e se transforme em vapor à alta pressão, movendo uma turbina presa ao rotor do gerador, produzindo energia elétrica da mesma maneira. Outro fluido que também é utilizado para a geração de energia elétrica é o ar, nas usinas eólicas. Em regiões próximas às áreas litorâneas (ou offshore), em corredores entre montanhas e outras regiões, sujeitas a ventos de alta velocidade, podem ser aproveitadas para geração de energia elétrica (CHAPMAN, 2013). Ainda sobre as maneiras possíveis de variação de fluxo de campo mag- nético, não só a posição da espira com relação ao campo pode variar, mas também a área do circuito, por meio do movimento de uma haste, por dilatação, dentre outras possibilidades. Para que não fique muito abstrato para você, veja os exemplos mostrados na Figura 4, a seguir. Eles ilustram três maneiras de variar o fluxo de campo magnético e o sentido da corrente induzida. Para que você fixe bem os conceitos na mente, veja e analise o exemplo a seguir. Perceba que apenas a componente do campo perpendicular a ela contribui para o fluxo magnético sobre uma superfície, na direção do vetor normal. Quando o campo é variável no tempo, mas não há dependência com a posição da espira, o cálculo da fem induzida é simples, e você não terá difi- culdades em desenvolvê-lo. A lei de Lenz e a lei de Faraday10 246 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Figura 4. A indução eletromagnética ocorre: a) porque o campo magnético está variando no tempo; b) porque a espira está se movendo em torno do eixo; c) porque a espira está transladando no espaço. Uma espira circular de corrente, de raio 10 cm, é inserida em uma região de campo mag- nético variável B⃗ = (t2 + 5)î – (2t + 2)k ̂T. A espira é posicionada no plano xy, mantendo-se fixa. Em seus terminais, é colocado um medidor de tensão para obter a força eletromotriz produzida. Qual é a leitura da fem induzida em t = 30s? Supondo que o circuito como um todo tenha uma resistência R = 100Ω, qual é a corrente que circula nele? 11A lei de Lenz e a lei de Faraday 247 Eletromagnetismo | UNIDADE 4 A Lei de Lenz e a Lei de Faraday | PARTE 4 Resposta: Como o campo magnético não varia com a posição, o fluxo magnético é simplesmente ΦB = B⃗(t) ⋅ S⃗ . Primeiramente, você deve observar a posição da espira e identificar qual é o vetor S⃗ . Como a espira está no plano xy, o vetor de superfície aponta para a direção perpendicular ao plano da espira. Considerando uma corrente positiva no sentido anti-horário, o vetor S⃗ pode ser definido como: Portanto: Para determinar a fem induzida, basta aplicar a lei de Faraday-Lenz: Como você definiu que o sentido positivo da corrente é anti-horário, e o sinal obtido para a fem é positivo, a corrente circulará no sentido definido. De fato, o sentido está de acordo com o esperado pela Lei de Lenz. Para calcular a corrente elétrica, basta dividir a fem pela resistência do circuito: Nesta seção, você se aprofundou na lei de Faraday e, por meio da lei de Lenz, determinou o sentido da fem induzida e da corrente elétrica numa espira. Você compreendeu que não é apenas a variação temporal do campo magnético que é capaz de induzir correntes, mas também a variação da posição do circuito com relação às linhas de campo. Agora que você já sabe como calcular a fem em uma espira imersa em uma região de campo magnético variável, na próxima seção, estudaremos problemas em que a femé induzida pelo movimento de uma haste condutora em meio ao campo, variando a área do circuito. A lei de Lenz e a lei de Faraday12 248 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO 2 Força eletromotriz de movimento Como você viu, a indução eletromagnética ocorre quando há variação do fluxo magnético, o que pode ocorrer quando há variação do campo magnético ou da área que ele atravessa. Você verá um caso em que uma barra condutora que desliza sobre um circuito, sob ação de uma força externa, provoca uma variação da área atravessada pelo campo magnético, gerando uma fem e uma corrente induzida. Considere o aparato magnético da figura a seguir. A barra que se encontra sobre os trilhos é condutora e desloca-se à velocidade constante v, devido à ação de uma força externa F⃗ ext. O aparato está imerso em uma região de campo magnético constante e perpendicular ao plano da página, conforme orientação da figura. a) Determine a queda de tensão e no resistor R. b) Qual deve ser a força externa para que a barra se desloque à velocidade constante? Resposta: Para resolver o exercício, primeiramente devemos definir o sentido da corrente positiva e, consequentemente, do fluxo positivo. Mantendo a polaridade da queda de tensão e no resistor, supomos que a corrente positiva está no sentido anti- -horário, o que leva a S⃗ = A k .̂ O campo magnético também é perpendicular ao plano 13A lei de Lenz e a lei de Faraday 249 Eletromagnetismo | UNIDADE 4 A Lei de Lenz e a Lei de Faraday | PARTE 4 da página, logo: B⃗ = B k .̂ Veja que o comprimento do circuito varia com a velocidade. Como v = Δx/Δt, Δx = x – x0 = vt, tomando t0 = 0, a área do circuito é, portanto: Para calcular o fluxo magnético ΦB, basta fazer: Por meio da lei de Faraday-Lenz, podemos calcular a fem induzida: O sinal negativo para a fem significa que o sentido da corrente é contrário ao que havíamos considerado positivo, o que está de acordo com o esperado pela lei de Lenz. a) Como a fem é, para este circuito, igual à queda de tensão (e) no resistor R, concluímos que e = –Bhv [V ]. b) Para calcularmos a força externa necessária para que a barra se movimente com velocidade constante, é necessário que a resultante das forças nessa posição seja nula. Por conta da corrente no condutor imerso em um campo magnético, haverá força magnética dada por: Como concluímos que a corrente está circulando no sentido horário na barra des- lizante l⃗ = h(–ĵ), portanto: – resultado que está de acordo com a regra da mão direita. Como a corrente I pode ser calculada por: e a força externa é o oposto da força magnética (Fext = –Fm), temos que: A lei de Lenz e a lei de Faraday14 250 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Outra maneira de compreendermos a força eletromotriz em um fio con- dutor movimentando-se em um campo magnético é pensar na dinâmica das cargas em seu interior. Observe o movimento da barra do exemplo anterior. Quando a barra se desloca para a direita com velocidade v em meio ao campo magnético, cada um dos portadores de carga também estará à velocidade v, sentindo a ação da força magnética: Fm = qv⃗ × B⃗ Para o caso do exemplo, a força magnética apontaria no sentido negativo do eixo y, fazendo com que as cargas positivas se acumulassem na parte inferior da barra, e as negativas na parte superior. As cargas se movimentariam até o limite em que a força elétrica, gerada justamente por essa separação de cargas, anulasse a força magnética. Ou seja, quando: Fel = qE = qvB O campo elétrico E⃗ = vB(–ĵ ) [N/C] provoca uma diferença de potencial entre as extremidades da barra condutora. Como V = Ed, onde d é a distância — na mesma direção do campo elétrico — entre os pontos em que se quer medir a diferença de potencial, você poderá concluir que, para uma distância h da barra em movimento, a diferença de potencial induzida é: V = –Bhv – resultado idêntico ao calculado no exemplo anterior, utilizando a lei de Faraday-Lenz para o cálculo de ε. A barra condutora em movimento produz uma diferença de potencial devido ao trabalho realizado pelas forças magnéticas para separar as cargas. Você pode imaginar que, enquanto o condutor se mantém em movimento, ele atua como uma bateria carregada, que se descarrega imediatamente assim que ele para. Enquanto, em uma bateria, a fem representa o trabalho realizado, por unidade de carga, para separar as cargas por meio de reações químicas, a fem no condutor deve-se a seu movimento. Por isso, é também chamada de fem de movimento (KNIGHT, 2009). 15A lei de Lenz e a lei de Faraday 251 Eletromagnetismo | UNIDADE 4 A Lei de Lenz e a Lei de Faraday | PARTE 4 Neste capítulo, você estudou os princípios da indução eletromagnética, conheceu os experimentos que levaram Faraday a concluir que a variação de fluxo magnético no tempo provoca o surgimento de uma força eletromotriz. Você também aprendeu que, para determinar o sentido da fem e da corrente induzida em um circuito, basta utilizar a regra definida por Lenz, em que a corrente elétrica circula no sentido de produzir campo magnético que se contrapõe ao sentido de variação do fluxo magnético. Com exemplos visuais e problemas práticos, você é capaz de aplicar os conceitos aqui solidificados para compreender os princípios de funcionamento de geradores de energia elétrica em corrente alternada e de motores de indução, fundamentais para qualquer carreira profissional. BAUER, W.; WESTFALL, G. D.; DIAS, H. Física para universitários: eletricidade e magnetismo. Porto Alegre: AMGH, 2012. CHAPMAN, S. J. Fundamentos de máquinas elétricas. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. KNIGHT, R. D. Física: uma abordagem estratégica. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. (Eletricidade e Magnetismo, v. 3). Leituras recomendadas HAYT JR., W. H.; KEMMERLY, J. E.; DURBIN, S. M. Análise de circuitos em engenharia. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. PETRUZELLA, F. D. Motores elétricos e acionamentos. Porto Alegre: AMGH, 2013. WENTWORTH, S. M. Eletromagnetismo aplicado. Porto Alegre: Bookman, 2008. A lei de Lenz e a lei de Faraday16 252 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE. PREZADO ESTUDANTE Parte 5 Motores e Transformadores O conteúdo deste livro é disponibilizado por SAGAH. unidade 4 V.1 | 2021 254 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Motores e transformadores Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Apontar os circuitos ou equipamentos que operam com corrente alternada. Explicar o funcionamento de transformadores e motores. Identificar situações que envolvem aumento/diminuição da tensão em transformadores. Introdução Os motores elétricos são de grande utilidade no nosso dia a dia. Os mes- mos podem ser encontrados nos mais diversos equipamentos eletrônicos, como, por exemplo, em máquina de lavar roupas, forno de micro-ondas (fazendo o prato girar), ventiladores, motor de geladeira, entre vários outros. Para eles funcionarem, precisam ser alimentados com uma cor- rente alternada, proveniente da geração de energia. No Brasil, a grande parte da geração de energia acontece por meio de usinas hidrelétricas. A partir da geração, a energia precisa ser transmitida a altas tensões e, posteriormente, transformada em uma tensão menor, para enfim chegar à sua residência. Essa transformação de tensão acontece por meio dos transformadores de energia elétrica. Neste capítulo, você vai aprender o que é uma corrente alternada e como ela pode ser transformada em valores mais altos ou baixos de tensão, por meio do uso de transformadores. Também, será discutida a relação de potência que existe em um transformador e como essa corrente alternada é usada para fazer um motor elétrico funcionar. 255 Eletromagnetismo | UNIDADE 4 Motores e Transformadores | PARTE 5 Corrente alternada Hoje, quase a totalidade da energia elétrica é produzida por geradores elétricosna forma de corrente alternada (AC – alternating current), que tem uma grande vantagem frente aos geradores de corrente contínua (DC – direct current). A corrente alternada varia sua tensão e corrente de maneira senoidal, ou seja, ora a corrente está em uma direção, ora em outra. Dessa forma, a energia elétrica pode ser distribuída para diferentes regiões com altos valores de tensões e baixas correntes, de modo a diminuir as perdas energéticas por meio do efeito Joule (dissipação de calor em um condutor). A distribuição por meio de AC permite, também, que ela seja transformada, praticamente sem perdas energéticas, para valores maiores e menores de tensões. Esse princípio é muito importante quando se gera energia a tensões relativamente baixas (digamos em uma usina hidrelétrica), depois, se aumenta a tensão para transmissão a longas distâncias, e, por fi m, ser novamente transformada em baixa tensão para ser usada nos equipamentos eletrodomésticos de sua casa. Essa mudança nos valores de tensões é promovida por meio dos conhecidos transformadores de energia elétrica, que funcionam com base nos princípios de indução da lei de Faraday-Lenz. Mas, por que a corrente alternada parece ser mais interessante do ponto de vista de sua geração, distribuição e uso frente à corrente contínua? A resposta para essa pergunta já foi dada, em parte, no parágrafo anterior. O fato de que, com AC, se consegue transformar um valor de tensão em outro é de grande praticidade, uma vez que esse efeito não é conseguido a partir de uma fonte DC. Nesta, a corrente flui somente em um sentido, ou seja, se uma fonte geradora de energia DC fosse usada para iluminar uma cidade, a tensão, praticada desde a sua geração até o seu uso, permaneceria constante. Como veremos mais adiante, a potência dissipada na forma de calor pelos fios condutores, quando a tensão é baixa, é maior do que quando a transmissão acontece por meio de altas tensões. Isso ficará mais claro quando tratarmos do funcionamento dos transformadores. Por ora, vamos entender como a corrente alternada comporta-se a partir de uma visão atômica. Você já deve ter ouvido dizer que a energia elétrica da sua casa funciona com uma frequência de 60 Hz. Isso quer dizer que, internamente ao fio condutor, os elétrons livres mudam de sentido 120 vezes por segundo. Isso porque o valor de 60 Hz faz jus ao movimento de um ciclo completo de vai e vem dos elétrons no fio condutor. Ou seja, os elétrons mudam de sentido duas vezes em um ciclo completo: uma vez de ida e outra de volta. Se você tivesse uma câmera que filmasse mais de 120 quadros por segundos, você seria capaz Motores e transformadores2 256 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO de ver uma lâmpada incandescente brilhando e apagando numa taxa de 120 vezes por segundos. Essa frequência de operação AC faz com que os elétrons em um metal se movam ora em um sentido, ora em outro. Experimentalmente, sabe-se que os elétrons que se movem em um metal têm uma velocidade típica de 4 × 10-5 m/s. Caso, considerarmos que os elétrons mudam de direção a cada 1/120 segun- dos, descobrimos que os mesmos se deslocam em torno de 3 × 10-7 m em um meio ciclo. Isso quer dizer que os elétrons não se movem muito mais do que algumas centenas de átomos ao longo do fio condutor antes de começarem a sua trajetória de volta. Isso parece estranho: como, então, os elétrons podem chegar a algum lugar, se essa frequência faz com que eles vão e voltem em torno de um ponto médio dentro de sua trajetória? Ainda, como podemos dizer que está passando uma corrente elétrica em um fio condutor? A resposta é: os elétrons não chegam a lugar algum! Quando dizemos que uma corrente em um fio é de 1A, queremos dizer que cargas passam por uma secção transversal em um fio, em um determinado tempo. Por exemplo: 1A de corrente quer dizer que 1 Coulomb de carga passa por uma área transversal em um período de 1 segundo. A velocidade com que os elétrons se movem pouco quer dizer, podendo ela ser de algumas cargas a uma velocidade alta ou, ainda, muitas cargas a uma velocidade menor. Além do mais, o gerador de corrente alternada, na verdade, gera uma força eletromotriz, que, por sua vez, é responsável por induzir uma corrente elétrica em um circuito. Essa força eletromotriz é uma onda eletromagnética propagando-se em um fio condutor com uma velocidade próxima da luz. Todos os elétrons do fio recebem sua instrução para mudar de direção praticamente no mesmo instante. O trabalho útil com o uso de corrente alternada é aquele referente ao des- locamento dos elétrons ao longo da atuação de uma força eletromotriz, que, por sua vez, é criada a partir dos geradores de corrente alternada. Portanto, os elétrons, tanto na ida como na volta, realizam trabalho. Um gerador de corrente alternada nada mais é que do que um conjunto de espiras girando em meio a um campo magnético uniforme, conforme ilustrado na Figura 1 (para o caso de uma espira). A força eletromotriz (fem) induzida é proporcional à variação do fluxo magnético no interior da espira. Para uma área e um campo magnético constantes, a lei de Faraday nos dá a equação para a fem induzida Vind: Vind = BAsenθ dθ dt (1) 3Motores e transformadores 257 Eletromagnetismo | UNIDADE 4 Motores e Transformadores | PARTE 5 Figura 1. Representação de um gerador de corrente alternada, constituído de uma espira imersa em um campo magnético uniforme E = Vind. Fonte: Adaptado de Walker, Halliday e Resnick (2014, p. 913) Espira Sendo θ o ângulo que o vetor campo magnético faz com o vetor elemento de área dA (perpendicular ao plano da espira). Como dθ/dt = ω é a velocidade angular de rotação do gerador, e θ = ωt, podemos reescrever a equação acima como: Vind = �BAsen (�t) (2) Quando a espira encontra-se em uma posição em que ωt é π/2, 3π/2, 5π/2... (ou seja, quando θ é múltiplo de 90°), a fem induzida é máxima e tem valor de Vm = ωBA. E, assim, podemos reescrever novamente a equação, de modo que representamos a fem induzida como sendo: Vind = Vm · sen (�t) (3) Note que a função é senoidal e tem a fem induzida máxima quando a espira (ou o conjunto delas) está alinhada com o campo magnético (θ = 90°). Esse é o princípio básico de funcionamento de um gerador de corrente alternada. A partir daí, a fem gerada pode ser aumentada ou diminuída, conforme a necessidade. Na geração da energia elétrica proveniente de uma usina hidrelétrica, ela é aumentada para algumas dezenas de kV e, depois, diminuía, em geral, para 110 V ou 220 V. Essa transformação acontece a partir dos transformadores. Motores e transformadores4 258 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Como os transformadores funcionam? A transmissão de energia elétrica por meio de fi os de alta tensão só é possível graças aos transformadores. Estes equipamentos convertem uma tensão baixa em uma alta, ou vice-versa. Por questões de segurança e efi ciência, é inte- ressante que tanto a geração como o uso da energia elétrica aconteçam com baixas tensões de operação. Se já é um perigo trabalhar com essas tensões relativamente baixas em sua residência (110 ou 220 V), imagine se ela fosse alimentada por uma tensão ainda mais alta. Ninguém gostaria de passar a sua roupa utilizando uma tensão de 10 kV, por exemplo. Porém, no caminho intermediário da fonte de geração de energia e sua casa, a energia elétrica é transmitida com a menor corrente possível, diminuindo as perdas por aque- cimento resistivo (I2R, sendo I a corrente elétrica, e R a resistência da linha de transmissão). Apesar da baixa corrente elétrica, na prática, tem-se um alto valor de tensão na linha. A regra para linhas de transmissão é a seguinte: quanto maior a tensão e menor a corrente, menor é a perda energética na linha de transmissão. Vamos a um exemplo para que isso fique mais claro para você. Digamos que a transmissão de uma usina hidrelétrica aconteça com uma tensão gerada de 500 kV, a 1000 km de distância de sua residência.Supomos que, pela linha de transmissão, passe uma corrente de 400. Nesse caso, a energia fornecida na usina hidrelétrica tem uma taxa média (potência média) de Pmédia = VI = (5x105 V) . (400 A) = 200 MW (megawatts). Esta é a capacidade da usina em produzir energia. Se os cabos da linha de transmissão têm uma resistividade em torno de 0,3 Ω/km, a resistência total na linha é de 300 Ω. A potência média dissipada pela linha de transmissão é de Pdissipada = I2R = 4002 . 300 = 48 MW. Ou seja, 24% da energia é dissipada na forma de aquecimento resistivo na linha. Vamos supor, agora, que a corrente na linha de transmissão seja aumentada para 800 A, mantendo a mesma potência média de geração de energia (a produção de energia não muda, o que muda é como essa energia é injetada nas linhas de transmissão). Para 800 A na linha de transmissão, a potência dissipada é de Pdissipada = 192 MW. Ou seja, dobrando-se a corrente elétrica, a potência dissipada corresponde a 96% da potência total fornecida pela usina. Esses resultados são impraticáveis na realidade, devido à imensa perda de energia. Dessa forma, é desejável que as linhas de transmissão conduzam a energia elétrica com a maior tensão e a menor corrente elétrica possíveis. Assim, diminuímos a potência dissipada e aumentamos a eficiência na transmissão de energia elétrica para o caso de grandes distâncias. 5Motores e transformadores 259 Eletromagnetismo | UNIDADE 4 Motores e Transformadores | PARTE 5 Um transformador é constituído de um núcleo de ferro com formato igual ao ilustrado na Figura 2a. Em um lado do núcleo de ferro, são enroladas espiras para formar um indutor. No outro lado, também são enroladas espiras, porém em menor ou maior número de voltas, dependendo se é desejado aumentar ou diminuir a tensão transmitida. O núcleo de ferro é importante porque serve como guia do fluxo magnético de um indutor para o outro. Ou seja, ele conduz o campo magnético induzido pelo indutor primário (da esquerda) para o indutor secundário (da direita). Na situação ideal, todo o campo magnético gerado pelo indutor primário passa pelo interior do indutor secundário. Na figura, o indutor primário é alimentado por uma fonte de corrente alternada (~). Enquanto essa fonte de AC varia a corrente no indutor, este, por sua vez, induz uma fem no indutor secundário. Note que isso não seria possível com uma fonte de corrente DC, uma vez que não existiria variação no fluxo magnético e, portanto, não induziria uma fem no indutor secundário. Um exemplo de um transformador comumente utilizado em subestações de energia está ilustrado na Figura 2b. Figura 2. a) Princípio de funcionamento de um transformador. b) Fotografia de uma subestação de energia elétrica, na qual o transformador aparece na esquerda da imagem. Fonte: a) Adaptada de Walker, Halliday e Resnick (2014, p. 931) e b) Paolo Diani/Shutterstock.com. Primária Secundária Vind = Como o fluxo magnético no indutor primário varia com o tempo, induz uma fem em cada uma das voltas do indutor secundário. Como a variação do fluxo magnético é a mesma em cada um dos indutores, a fem total induzida também deve ser a mesma para os dois. Dessa forma, a tensão Vp no primeiro indutor é dada por Vp = Np.Vind, e é Vs = Ns.Vind no segundo, onde Np e Ns são o número de espiras nos indutores primário e secundário, respectivamente. Por fim, podemos igualar o Vind de ambas as equações e escrever: Motores e transformadores6 260 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO Vind = (4) Vp Np VS NS = Ou, ainda: VS = Vp ∙ (5) Ns Np Assim, obtemos a equação que relaciona a transformação da tensão em um transformador. Um transformador pode ser utilizado tanto para aumentar uma tensão (Ns > Np) ou diminuí-la (Ns < Np). Tensão e potência em um transformador A saída de um transformador é usada para ligar algum eletrodoméstico ou aparelho que necessite de uma tensão diferente daquela oriunda da alta tensão, para o caso onde temos uma diminuição da tensão entre a entrada e saída do transformador. Nessa situação, uma resistência (ou um conjunto delas) é ligada com a saída do transformador. Quando isso acontece, uma corrente Is começa a fl uir pelo circuito secundário. Essa é a situação da Figura 2a para o segundo indutor. Quando a chave S é fechada, uma resistência R é ligada ao indutor secundário. A corrente que fl ui por esse circuito é correspondente à taxa de energia dissipada pela resistência. Essa corrente, por sua vez, produz sua própria variação do fl uxo magnético no núcleo de ferro, que se opõe à variação do fl uxo magnético produzido pela fem do primeiro indutor. Como VP é proporcional ao número de espiras e da fem proveniente do gerador, esta permanece inalterada. O fato de a chave S ser fechada e um resistor ser adicionado ao circuito secundário não muda a resposta da fem fornecida pelo gerador. Mas o fluxo magnético produzido pelo segundo cir- cuito, em uma primeira análise, mudaria o fluxo magnético passando pelo primeiro circuito. Para, então, manter Vp, o primeiro circuito precisa produzir uma corrente alternada Ip. Esta corrente é somada à de Imag que passa pelo indutor, proveniente da fem produzida pelo gerador. Dessa maneira, Ip produz uma variação no fluxo magnético, que acaba cancelando a variação deste proveniente da corrente Is, fazendo com que Vp permaneça constante (também a variação do fluxo magnético proveniente da fem do gerador). 7Motores e transformadores 261 Eletromagnetismo | UNIDADE 4 Motores e Transformadores | PARTE 5 Pelo princípio da conservação da energia, você pode notar que, quando uma resistência R é adicionada ao segundo circuito, surge tanto uma corrente Is no segundo circuito como também uma Ip no primeiro circuito. A taxa com que o gerador transfere energia para o primeiro indutor é igual a IpVp, a mesma com que o primeiro indutor transfere energia para o segundo indutor, por meio do campo magnético variado, interligando os dois indutores. O segundo indutor transfere IsVs de energia para o circuito que contém uma resistência. Logo a potência (ou taxa de energia transferida no tempo) gerada entre os dois indutores obedece a seguinte relação: IpVp = ISVS (6) Ou, ainda: IS = Ip · (7) Np NS Essa última equação nos diz que a corrente Is no indutor secundário pode diferir da corrente Ip do primário, dependendo da razão entre Np/Ns. Como os motores elétricos funcionam Os motores elétricos são muito parecidos com um gerador de energia, tipo um rotor de uma turbina em uma usina hidrelétrica. A utilidade de motores elétricos é imensurável, sendo encontrados exemplos nos mais diversos equi- pamentos elétricos e úteis do seu dia a dia. O que é importante destacar aqui é o princípio de funcionamento deles. Ao contrário dos geradores elétricos, que transformam energia mecânica em elétrica, os motores elétricos transformam energia elétrica em mecânica. Suponha que você dobre um fio em um formato quadrado tipo um U, de modo que haja dois fios paralelos que atravessam um campo magnético. Se uma fonte de corrente contínua é ligada à espira, um lado dela leva a corrente elétrica em uma direção, e o outro a traz no sentido contrário, conforme já ilustrado na Figura 1. Como a corrente flui em direções opostas nos fios, a regra da mão direita nos diz que os dois fios mover-se-ão em direções opostas, devido à força magnética de interação entre o campo magnético uniforme e o sentido da corrente. Você pode notar a força magnética de interação por meio da regra da mão direita, direcionando o polegar no sentido da corrente, Motores e transformadores8 262 FÍSICA - ELETROMAGNETISMO o indicador no sentido do campo magnético e, por fim, o dedo médio indicará a força magnética atuante sobre cada um dos lados do fio condutor. Final- mente, teremos uma força atuando em cada um dos fios, conforme ilustrado na Figura 3a. No caso de uma corrente contínua, o resultado é a espira posicionando-se na vertical.A força resultante, nesta posição, é nula. A partir de então, o mo- vimento cessa. Para que o movimento continue, a corrente pelo fio condutor precisa mudar de direção. Dessa forma, novamente uma força magnética atuará em cada parte do fio, porém com o fio posicionado na parte superior do motor — agora com uma força magnética atuando para baixo e no fio posicionado na parte inferior, com uma força atuando para cima. Para o caso de fontes de tensão contínua, a utilização de um comutador é requerida. O comutador é um objeto rígido metálico com o formato de meia-lua, ligado ao final de cada um dos fios que compõem a espira. A Figura 3b indica a posição dos comutadores em uma espira. Assim que a espira é rotacionada na vertical, o comutador é responsável por mudar a direção da sua corrente, mesmo que ela seja alimentada por uma fonte de corrente contínua. Dessa maneira, novamente uma força magnética atua sobre cada um dos fios que compõem o U, de modo a rotacionar a espira novamente, até que uma volta seja completada. A partir de então, novamente a polaridade na espira é trocada por meio do comutador, fazendo fluir corrente na direção contrária. E, assim, a espira gira, tendo sua corrente trocada de direção a cada meia volta. Figura 3. a) a força magnética F atuando sobre cada lado do fio de uma espira imersa em um campo magnético uniforme; b) a representação da espira com comutadores ligados em seus terminais. Fonte: NAVE (2016). 9Motores e transformadores 263 Eletromagnetismo | UNIDADE 4 Motores e Transformadores | PARTE 5 Em um motor de corrente alternada, os ímãs permanentes são substituídos por eletroímãs. A utilização de comutadores não é mais necessária, somente os contatos metálicos arredondados, que possibilitem o contato de cada final da espira com a fonte AC. Nesse tipo de motor, tanto as espiras como os ele- troímãs são ligados à fonte AC, de modo que a corrente fluindo pelas espiras esteja sempre em fase com a mudança de polaridade dos eletroímãs. Dessa maneira, uma força magnética atuando na espira sempre estará direcionada corretamente, fazendo com que as espiras do motor AC girem sob a influência da força magnética atuante em cada um dos lados das espiras. Motor elétrico trifásico Quando o torque necessário de um motor elétrico para realizar uma determinada tarefa é maior, os motores trifásicos são comumente utilizados. Esse tipo de motor é como se fosse a soma da força gerada por três motores elétricos monofásicos. Para entender um pouco melhor sobre este tipo de motor, você pode consultar o link a seguir. https://goo.gl/iFPDGu ATHOSELECTRONICS.COM. Como funcionam os motores elétricos trifásicos. [201?]. Disponível em: <https://athoselectronics.com/motores-eletricos-trifasicos/>. Acesso em: 25 fev. 2018. BAUER, W.; WESTFALL, G.; DIAS, H. Física para universitários: eletricidade e magnetismo. Porto Alegre: McGraw-Hill, 2012. NAVE, R. How does an eletric motor work? 2016. Disponível em: <http://hyperphysics. phy-astr.gsu.edu/hbase/magnetic/mothow.html>. Acesso em: 3 mar. 2018 WALKER, J.; HALLIDAY, D.; RESNICK, R. Fundamentals of physics. New Jersey: Wiley, 2014. Leitura recomendada TIPLER, P. A.; MOSCA, G. Physics for scientists and engineers. W. H. Freeman and Com- pany, 2008. Motores e transformadores10 ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE. PREZADO ESTUDANTE Av. Victor Barreto, 2288 | Canoas - RS CEP: 92010-000 | 0800 541 8500 eadproducao@unilasalle.edu.br