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DADOS DE ODINRIGHT Sobre a obra: A presente obra é disponibilizada pela equipe eLivros e seus diversos parceiros, com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura. É expressamente proibida e totalmente repudíavel a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo. Sobre nós: O eLivros e seus parceiros disponibilizam conteúdo de dominio publico e propriedade intelectual de forma totalmente gratuita, por acreditar que o conhecimento e a educação devem ser acessíveis e livres a toda e qualquer pessoa. Você pode encontrar mais obras em nosso site: eLivros. Como posso contribuir? 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Preocupado com a qualidade de vida em sociedade, o Senac São Paulo publica agora Vire a página: aprenda a resolver conflitos – terceiro livro do autor, depois de Soltando as amarras: emagrecimento e mudança comportamental e Com a corda toda: autoestima e qualidade de vida –, que analisa como situações comportamentais podem estimular ou encerrar plenamente um conflito. O bom uso e a avaliação adequada da congruência, da assertividade, da empatia, da descrição, da expressão, do acordo e dos resultados são fundamentais para tornar os relacionamentos profissionais e afetivos mais saudáveis e duradouros. Prefácio Conta a lenda que um homem encontrou a lâmpada de Aladin. Esfregou-a, libertando, assim, o gênio, que, como recompensa, concedeu ao seu libertador três pedidos. Certamente o homem foi pego de surpresa, pois não sabia o que pedir; não estava esperando por isso nem estava preparado. Não tinha planos nem estratégias. Pediu a primeira coisa que lhe passou pela cabeça, o que lhe fazia mais falta: “Quero 100 milhões de reais”. — Afinal não estava pedindo esmola, e o gênio não havia imposto limites. Será que o homem precisava de tudo isso? Será que o gênio teria tudo isso para lhe dar? Não haveria outros que necessitavam tanto quanto ele? Vamos nos colocar, por um momento, no lugar do homem e passemos para o segundo pedido. “Estou precisando de tantas coisas!”, pensou o homem. “Será que o gênio poderá atender a mais do que três pedidos? Vou embutir no segundo pedido várias coisas: uma fazenda de 100 mil hectares, com 100 mil cabeças de gado, uma sede com cinquenta quartos, três lagos para criar peixes e pessoal competente para administrar tudo isso.” E pensou: “Acho que abusei um pouco; coloquei muitas coisas juntas; o gênio poderá se zangar; mas não faz mal, eu não o conheço e, se passar, passou, se não passar, paciência”. Quanto ao terceiro pedido, ele pensou: “Vou mostrar ao gênio que sou mais esperto do que ele. Vou lhe fazer um pedido daqueles! Senhor gênio, meu terceiro pedido será poder fazer três outros pedidos”. De repente, ouviu uma risada estrondosa, cínica e viu uma nuvem branca se afastando rapidamente e levando com ela o gênio. O gênio lê pensamentos. Se fosse eu a fazer os três pedidos, o primeiro seria: “Gênio, ensina-me a negociar”. Se atendesse a este primeiro, eu teria aprendido como me comunicar, como negociar. Gostaria de lhe pedir em seguida, sem afugentá-lo: “Ensina-me a viver”. Meu terceiro pedido seria: “Gênio, vamos celebrar”. Em toda essa conversa o gênio me diria: “Dicas e receitas são boas, mas melhor do que elas é a prática. Se você quer ser um bom negociador, negocie, negocie, negocie! Se quer aprender a viver, viva sua vida. A vida é o melhor negócio do mundo”. O gênio desapareceria apontando o dedo para mim, dizendo: “O gênio está dentro de você. Quando precisar dele, procure-o; você o achará”. Contei essa história por vários motivos: Não existe um gênio dentro da lâmpada. O gênio está dentro de cada um de nós. Não precisamos do gênio da lâmpada – que é falso – para viver uma vida digna. Somos seres humanos completos. Se exercermos inteiramente nossa humanidade, saberemos como evitar ou resolver conflitos. Como é um desafio exercer inteiramente, e sempre, nossa humanidade, é bom desenvolvermos habilidades para resolvermos sem perdas e sem dor os conflitos, para elevar o grau de excelência ao qual aspiramos, para que nossa humanidade se revele com esplendor. Albert Khoury MÉDICO Dedicatória O mito de Atenas 1 Filha favorita de Zeus, e deusa da sabedoria e justiça, Atenas simboliza a guerra, mas tem um temperamento pacífico e representa a supremacia da razão sobre a emoção. Prefere usar a inteligência à força para resolver conflitos, mas quando a batalha é inevitável sua especialidade é traçar estratégias e agir como guerreira. Na Grécia antiga ela era invocada por todos aqueles que precisavam de ajuda e proteção. Conta o mito que Atenas está pronta para lutar em nome da verdade e da justiça e combate toda manifestação de força bruta, de ódio e de vingança. Um dos mais belos símbolos desse mito eram os anjos femininos “Nikés”, ou “Vitórias Aladas”. Atenas as enviava aos homens para que aprendessem com elas a sabedoria e a justiça. O mito está repleto de significados. A sabedoria é livre e acessível a todos, e a verdade e a justiça não podem ser aprisionadas. Por esse motivo, as Vitórias são aladas e não podem sobreviver onde não houver liberdade de expressão. A mais bela representação artística desse mito, hoje no Museu do Louvre, em Paris, é a Vitória de Samotrácia. Acredito que todos nós temos potencial para desenvolver essa sabedoria e nos sentirmos autoconfiantes na resolução de conflitos. Dedico este livro a Albert Khoury, com quem aprendi a sabedoria para resolver conflitos e desenvolvi a habilidade de “virar a página” e seguir em frente quando tenho de superar obstáculos; Yara, pelo seu senso de justiça; Robert Daher Nahas; Ricardo Daher Nahas; Kamal Thomas Rifka; Omar Khoury Daher; Valentina El Khoury, que tem toda uma vida para aprender a sabedoria de seguir em frente; Você, leitor, que tem sido fonte inesgotável de inspiração. Que as “Vitórias Aladas” nos acompanhem nos percursos da vida! 1 Adaptado de Victor D. Salis, Mitologia viva: aprendendo com os deuses a arte de viver e amar (São Paulo: Nova Alexandria, 2003), pp. 37-40, e Bons Fluidos Especial. Os Mitos e Você, nº 65, São Paulo, Abril, 2004, pp. 16-18. “É melhor estar preparado para uma oportunidade e não ter nenhuma, do que perdê-la por falta de preparo.” ALBERT KHOURY Resolvendo conflitos Problemas sempre existirão. O problema não é o problema. O problema é como lidamos com ele. É isso que destrói as pessoas, não o problema em si. Quando aprendemos a enfrentar os problemas de outra maneira, lidamos com eles de maneira diferente e eles se tornam diferentes. VIRGINIA SATIR 1 N ão acreditoem fórmulas milagrosas para resolver conflitos. Minha maior inquietação é conseguir expor de forma clara mecanismos que auxiliem você a desenvolver habilidades para resolvêlos e, consequentemente, melhorar sua qualidade de vida. Para facilitar nossa conversa, considerarei os conflitos como um sistema. Entender como ele funciona e como é mantido é um fator fundamental para mudar sua estrutura. Essa estratégia é necessária para detectar onde as mudanças precisam ser feitas para que o sistema possa voltar a operar adequadamente, superando-se, então, o conflito. Isso implica entender também como você contribui para a manutenção de determinada situação conflituosa. O sistema de contribuição Somos responsáveis não só pelo que fazemos, mas também pelo que deixamos de fazer. MOLIÈRE. 2 Imagino que você deve estar pensando que essa ideia é, no mínimo, bizarra: você quer resolver um conflito e ainda tem de entender como contribui para a existência dele? Sim. Calma. Não estou insinuando que você seja o único responsável pelo conflito; quero que você perceba o seu papel dentro desse sistema e identifique o que você e os demais envolvidos fazem para perpetuar uma situação. Suponha que você deseja que seu filho seja mais organizado e pede que ele guarde seus objetos pessoais no armário. Você já sabe que ele raramente guarda as coisas dele no devido lugar e toda vez você mesmo as recolhe e guarda e continua discutindo com ele. O que contribui para a manutenção do problema é o fato de você sempre arrumar as coisas dele. Como ele poderia agir de maneira diferente se você colabora para que ele não desenvolva o hábito da organização? Você poderia pensar: se eu não fizer nada, o quarto dele vai continuar uma bagunça. É bem possível que isso aconteça, mas você só saberá o resultado se tentar novas estratégias, até encontrar uma que funcione. Num contexto empresarial, na direção de uma equipe, por exemplo, você opta por deixar que os conflitos dentro do departamento sejam resolvidos sem sua interferência, desde que o trabalho seja realizado dentro dos prazos estabelecidos e com a qualidade desejada. Apesar da alta produtividade do grupo, você observa muitas discussões e um clima muito tenso no departamento e sente que os conflitos poderiam ser minimizados. O fato de você exercer pouca autoridade sobre sua equipe pode estar contribuindo para aumentar a situação indesejada. Mas isso é apenas uma suposição; experimente, então, mudar de atitude para observar como o sistema reage. Vamos ponderar sobre o fato de que você pode contribuir para a manutenção de um problema, seja agindo ou ficando inerte. De qualquer maneira, agir ou não tomar nenhuma iniciativa diante de uma situação incômoda é uma atitude que afetará o sistema. Partirei do princípio de que nenhum conflito pode ser resolvido sem comunicação, e isso implica não só falar, como também ouvir. Para alcançar uma comunicação eficiente, proponho, a seguir, o desenvolvimento de algumas habilidades. Congruência Uma comunicação congruente significa que, ao falar, suas palavras, seu corpo, seu tom de voz e suas ações transmitem a mesma mensagem. A congruência aumenta muito suas chances de ser escutado porque gera uma informação coerente e sincera. Se você transmitir “falsidade” ao se comunicar, comprometerá sua credibilidade. Assertividade A assertividade supõe que você vai apresentar o seu ponto de vista sem agressividade, respeitando a visão de mundo do seu interlocutor. Isso é particularmente importante em situações de conflito, porque, se você atacar ou acusar o outro, ele ficará tão empenhado em se defender que deixará de prestar atenção no que você tem a dizer e qualquer negociação ficará comprometida. Empatia ou rapport Para desenvolver empatia com o seu interlocutor, respeite seu ponto de vista, o que não significa que você tenha de concordar com ele. Você criará empatia ao transmitir respeito ao se comunicar não só com as suas palavras, mas também com seus gestos e tom de voz. Descrever o conflito Descrever fatos de forma simples, objetiva, usando palavras que denotem respeito pelo seu interlocutor e que não deem margem a ambiguidades, evitando rotular seu interlocutor e usar palavras ofensivas. Exprimir seus sentimentos Exprimir especificamente como você se sente diante dos fatos, assumir a responsabilidade por suas opiniões e sentimentos, não interpretar as razões das atitudes do outro. Acordo Especificar as mudanças desejadas ou os padrões de qualidade esperados de maneira clara, verificar se o acordo é possível levando em conta os impedimentos. Resultados Descrever os resultados do acordo: pode ser um simples agradecimento, referências sobre seus sentimentos, sobre a dinâmica da relação, sobre resultados concretos e/ou recompensas. Diversos autores apresentam a resolução de conflitos a partir da seguinte abordagem: você descreve o que o incomoda, exprime como se sente a respeito, especifica o que quer da outra pessoa e fala sobre as consequências do que foi combinado. Esse modelo foi apresentado por Bower & Bower no livro Asserting Yourself.3 Apresentarei a minha visão pessoal e experiência sobre o tema, acrescentando mais um elemento para a resolução de conflitos: a congruência, pois, dependendo da complexidade da situação, comunicar-se com credibilidade será suficiente para resolvê-los. Neste livro, apresentarei exemplos reais extraídos de treinamentos em liderança, qualidade de vida, motivação e resolução de conflitos. A sigla Dearc representa o modelo para resolução de conflitos: Descreva, Expresse, Acordo, Resultados e Congruência. É um modelo extremamente flexível e permite que você escolha os elementos que considera necessários para a resolução. É possível chegar a um acordo sem descrever o problema, por exemplo. Mesmo que você exprima o seu ponto de vista com muita habilidade e respeito, seu interlocutor poderá ficar na defensiva e contra-atacar. Analisarei diferentes estratégias de ação para diversas reações, desde respostas silenciosas até chiliques. Propor um acordo não é suficiente, você precisa se preparar para manter o seu ponto de vista ou renegociar o acordo se julgar adequado, caso o seu oponente contra-atacar. Outro fator que gera incontáveis desentendimentos são os “conflitos de informação”, que ocorrem quando não conseguimos nos fazer entender. Descreverei como a maledicência deteriora a qualidade de vida e darei os antídotos para neutralizá-la. Apresento propostas para filtrar a qualidade da informação que você recebe, assim como estratégias para não se sentir manipulado ou obrigado a falar algo que você não queira, numa situação de “entrevista” profissional ou informal. No que diz respeito ao contexto profissional, apresentarei outras estratégias para resolução de conflitos: Como organizar, passo a passo, o nosso raciocínio para tomar decisões ampliando nossa opção de escolha. Aplicar conceitos do pensamento sistêmico utilizados na compreensão de como o conflito se estrutura e o que é preciso fazer para modificá-lo. Descrever os valores da empresa para todos os membros e transformá-los em ações. Analisar se algum valor da organização está sendo violado, o que, invariavelmente, poderá gerar conflitos. Apresentar um modelo prático para coletar informações, esclarecer significados, identificar limites e oferecer mais escolhas nas situações abordadas. E para que tudo isso? A habilidade de resolver conflitos pode ser aprendida e traz diversos benefícios, principalmente o fato de oferecer mais instrumentos para construir o tipo de vida desejado. Consequentemente você fortalece sua autoestima, autoconfiança e autorrespeito, além de melhorar muito seu bem-estar e seus relacionamentos ao reduzir o estresse, a tensão e a ansiedade resultantes do conflito. Este trabalho também tem o objetivo de mostrar como a resolução de conflitos contribui para libertá-lo de emoções perturbadorasoriundas de desentendimentos passados e aumentar a sua capacidade de lidar com as adversidades e com os desafios do dia a dia. A ideia é que você possa superar obstáculos e “virar a página” para continuar a viver à sua própria maneira. Você terá controle sobre o seu comportamento e, quando estiver em dúvida sobre quando é o momento adequado para solucionar um conflito, pense que sua qualidade de vida é que está em jogo. Não é adequado resolver o conflito quando você sentir que sua integridade física ou psicológica está ameaçada. Alberti e Emmons estabeleceram alguns critérios que podem ajudá-lo a decidir quando ser assertivo e exprimir o seu ponto de vista: 1. Você sabe o que realmente aconteceu? 2. Quanto isso importa para você? 3. Você vai conseguir o que quer com essa atitude? 4. Deseja somente exprimir o seu ponto de vista? 5. Quais são suas opções? 6. Você quer um resultado positivo? 7. Está preparado para ser assertivo? 8. Contou até dez? 9. Seria melhor esperar? 10. Você vai se culpar se não fizer nada a respeito? 11. Fez tudo que estava ao seu alcance? 12. Quais são as possíveis consequências e riscos? 13. Ser assertivo vai fazer alguma diferença? 4 Depois de se certificar de que está em segurança e deseja exprimir o seu ponto de vista assertivamente, vá em frente. Você encontrará neste livro estratégias para fazê-lo construtivamente. Por ora basta acreditar que é possível; que você é capaz de solucionar conflitos e que você merece que os problemas sejam resolvidos da melhor maneira possível. Acreditamos em muitas coisas sem questionar a utilidade desses pensamentos para nossa vida. Liberte- se dos conceitos que o impedem de agir para melhorar sua qualidade de vida. Não há uma única “fórmula” mágica para resolver os problemas, e agora é o momento de descobrir a estratégia que funciona para você. 1 Virginia Satir, apud Steve e Connirae Andreas, A essência da mente: usando o seu poder interior para mudar (São Paulo: Summus, 1993), p. 192. 2 Molière, apud Cyro Donizete Passos, Pensamentos para uma vida melhor (São Paulo: Madras, 1998), p. 161. 3 Sharon Anthony Bower & Gordon H. Bower, Asserting Yourself: a Practical Guide for Positive Change (Cambridge: Da Capo Press, 1991). 4 Robert E. Alberti & Michael L. Emmons, Your Perfect Right: Assertiveness and Equality in Your Life and Relationships (8ª ed. Califórnia: Impact Publishers, 2001), p. 203. Congruência Fale de acordo com o que pensa e aja de acordo com o que fala. ANÔNIMO 1 A linguagem não verbal, que compreende a linguagem corporal, como gestos e tom de voz, causa enorme impacto no significado da comunicação. Antes de se expressar verbalmente, é essencial que você tenha plena consciência dessa linguagem e controle sobre ela. Sua própria aparência física já manifesta uma intenção ou uma emoção. A comunicação envolve muito mais que simples palavras. Elas são apenas uma pequena parte da nossa capacidade de expressão como seres humanos. Estudos demonstraram que, em uma apresentação diante de um grupo de pessoas, 55% do impacto é determinado pela linguagem corporal – postura, gestos e contato visual –, 38% pelo tom de voz, e apenas 7% pelo conteúdo da apresentação. 2 Observe o gráfico da página seguinte: de acordo com os dados, o impacto da linguagem não verbal (tom de voz e gestos corporais) na comunicação é superior a 90%! Em situações de conflito, para que a “negociação” avance, é fundamental ser capaz de se comunicar de modo que o outro não adote uma postura defensiva. Caso contrário, a comunicação resultará na dinâmica “eu- ataco-e-você-se-defende” e vice-versa. A seguir, apresentarei estratégias para o desenvolvimento da assertividade, ou seja, como apresentar seu ponto de vista sem ser agressivo tampouco passivo, respeitando o ponto de vista do seu interlocutor. Cabe lembrar que o conceito de respeito se refere não somente ao aspecto verbal, mas também à linguagem não verbal. Como a proposta aqui é a de não atacar o interlocutor, será inútil expressar bons argumentos se a maneira utilizada for inadequada. Assim, como a linguagem não verbal é essencial na comunicação “cara a cara”, caso você queira adotar a atitude de ser congruente, todos os aspectos da sua comunicação deverão transmitir a mesma mensagem, respeitando o outro e diminuindo as possibilidades de ele ficar na defensiva. Sobre a congruência O que as pessoas dizem, o que as pessoas fazem e o que elas dizem que fazem são coisas inteiramente diferentes. MARGARETH MEAD 3 Uma habilidade essencial para a comunicação eficiente é a congruência. Você já deve ter ouvido falar de congruência com outras denominações, como poder pessoal, carisma, autoridade, entusiasmo, etc. Congruência é nada mais que a habilidade de “fazer o que se diz”. Em outras palavras: A PNL 4 define congruência como um estado de integridade e de total sinceridade, em que todos os aspectos da pessoa – palavras, corpo, linguagem e ações – se integram e trabalham juntos para atingir um objetivo. Poucas vezes somos congruentes por completo, o que é normal; todavia, quando nos sentimos congruentes, esse estado aumenta muito as nossas chances de sucesso naquilo que estamos fazendo. 5 Uma atitude congruente tem muita influência na comunicação. Se você disser uma coisa e fizer outra, as pessoas vão acreditar no que você estiver fazendo, e não no que estiver dizendo. Imagine a frase “Eu não estou nervoso” dita por uma pessoa aos gritos, entredentes, com gestos agitados e olhos tensionados. Você acreditaria no que essa pessoa diz? Há incongruência, por outro lado, quando existe discordância entre um comportamento exterior (linguagem não verbal) e o estado interior, além da tensão. A incongruência é um sinalizador valioso e pode indicar que “algo não está certo”. Entretanto, não a encare como algo ruim. Como já foi dito, nem sempre somos totalmente congruentes. Em determinadas situações nem sequer nos damos conta de que estamos agindo dessa maneira, e não há nada de errado nisso. O jogo de sedução é um exemplo típico. Você pode, por exemplo, se despedir da pessoa amada dizendo: “Tchau! Estou com pressa e preciso ir embora!” Suponha que essa ação seja acompanhada de muitos beijos e longos abraços, comportamentos não verbais que não condizem com o discurso verbal, isto é, você diz que está com pressa, que precisa ir embora, mas suas ações físicas são lentas. Esse tipo de comportamento é considerado incongruente. Como estamos lidando com conflitos, a proposta é fazê-lo desenvolver a congruência pessoal para aumentar sua credibilidade e suas chances de ser escutado. Desenvolver a congruência é fundamental, pois é inútil ter um ótimo argumento se ele for apresentado de maneira inadequada. Conforme Andreas e Faulkner: Estudos repetidos indicaram que aproximadamente 80% das comunicações são não verbais. Esses estudos também revelaram que as pessoas, diante de uma mensagem verbal que tenha um componente não verbal incongruente (como as palavras “Eu o respeito”, pronunciadas com um sorriso reprimido), em geral respondem à mensagem não verbal, mesmo que não a reconheçam conscientemente! Visto que as pessoas reagem mais à incongruência, esta pode minar ou destruir a comunicação, mesmo quando tudo o mais estiver sendo feito de forma correta. 6 Como desenvolver a congruência Felicidade é quando o que você pensa, o que diz e o que faz estão em harmonia. MAHATMA GANDHI 7 O primeiro passo para desenvolver a congruência pessoal é assegurar-se de que, ao falar, o conteúdo da informação veiculada por você, sua linguagem não verbal e seu tom de voz transmitam a mesma mensagem. Observe alguns exemplos de incongruência. De conteúdo “Seu relatório está uma $@&*!!!!” Seu tom de voz é neutro, sua postura corporal demonstra respeito, mas você diz um palavrão, e o outro se sente agredido. De linguagem não verbal “Seu relatório está insatisfatório. A conclusãoestá confusa e os gráficos têm muitas informações.” (Você atira com violência o relatório na mesa da outra pessoa.) Seu tom de voz é neutro, seu texto é específico e informativo, mas sua linguagem corporal é agressiva, e o outro se sente agredido. De tom de voz “Boa sorte.” Sua postura verbal e o conteúdo da frase denotam respeito, mas seu tom de voz expressa sarcasmo, e o outro se sente agredido. Você deve estar pensando: “Independentemente do que eu disser, o outro vai interpretar a informação do jeito que quiser”; “Não importa o que eu diga ou faça, o outro pode se sentir ofendido”. Tudo bem, concordo: você não é responsável pela reação emocional do outro, mas é totalmente responsável pela maneira como se comunica com ele. E, já que tem consciência disso, por que não aperfeiçoar suas habilidades de comunicação para desenvolver sua congruência e aumentar suas chances de ser bem-sucedido e de resolver conflitos? Neste capítulo, abordarei especificamente os aspectos não verbais da comunicação. Lembre-se de que, qualquer que seja o seu estilo de comunicação, é essencial se fazer entender pelo outro. Para desenvolver a empatia (rapport), você precisa ficar bastante atento ao modo pelo qual as pessoas reagem ao seu estilo de comunicação, e talvez seja necessário fazer algumas adaptações. Linguagem corporal Mente e corpo formam um sistema. Não é possível realizar uma mudança em um sem que o outro seja afetado. PRESSUPOSIÇÃO DA PNL 8 É muito difícil manter-se tranquilo durante uma situação de conflito; em geral, tensionam-se os maxilares, cerram-se os punhos, franze-se a testa e rangem-se os dentes. Diante de uma postura agressiva, o outro tende a reagir da mesma maneira. Não que, em meio a um conflito, você deva ficar calmo como um monge budista, mas, se mantiver uma postura relaxada, isso afetará sua reação psicológica. Se conseguir libertar-se de tensões físicas desnecessárias e recolocar seu corpo no eixo será sensacional! Verifique se, mesmo em situações nas quais esteja relaxado, você acumula tensão em alguma parte do corpo. As tensões corporais são resultado de hábitos, e você pode mudá-los. O fato de assumir uma postura corporal passiva por medo não o ajuda a resolver o conflito. Atitudes como olhar para o chão, encolher-se, adotar uma expressão de medo e não estabelecer contato visual transmitem ao outro a informação de que você não se sente confiante. A linguagem corporal é influenciada por hábitos culturais; assim, o que pode ser considerado um hábito em uma cultura pode ser ofensivo em outra. As ideias apresentadas a seguir não pretendem ser modelos rígidos. Lembre-se de ficar atento ao modo como o outro reage ao seu estilo de comunicação e faça os ajustes necessários. Sem dúvida, em uma situação de confronto, buscar uma linguagem corporal assertiva que não transmita agressividade nem passividade não corresponderá ao seu sentimento momentâneo e isso exigirá certo treino. Aperfeiçoe suas habilidades de comunicação no dia a dia e estará preparado para lidar com conflitos. Pressuponho que você fará mudanças em sua linguagem corporal para aprender a lidar com eles, mesmo que sinta um ódio mortal pela pessoa diante de si ou se sinta apavorado. Postura física Você exerce influência sobre três coisas: o que pensa, o que diz e o modo como se comporta. Para fazer uma mudança em sua vida, é preciso reconhecer que esses dons são as ferramentas mais poderosas que você possui para definir o modelo da sua vida. SONYA FRIEDMAN 9 Em pé, distribua igualmente o peso de seu corpo sobre as duas pernas. Mantenha a postura ereta e os ombros alinhados e relaxados. Puxe sua cabeça para cima, como se tivesse um balão de gás preso a ela, e mantenha seu olhar na linha do horizonte. Não se curve nem encolha o corpo fazendo-se menor que seu interlocutor. Também não eleve muito o queixo, como se quisesse ser maior que ele, nem assuma uma postura ameaçadora, como se fosse dar o bote. Sente-se confortavelmente encostado no dorso da cadeira sem que sua postura “se largue”. Gestos Quando estamos sob tensão, é comum usarmos certos gestos como válvula de escape. O importante é que eles não distraiam seu interlocutor, senão ele acabará prestando mais atenção em seus gestos do que na mensagem que você deseja transmitir. Em razão disso, procure eliminar o excesso de gestos, evitando: brincar com elásticos, clipes, canetas, bijuterias, etc.; alisar os cabelos, a barba, o bigode, as mãos, etc.; morder os lábios, o lápis, os dedos, etc.; roer unhas, palitos de fósforos, colheres de plástico ou madeira (principalmente aquelas com que se mexe o café), etc.; bater ou arrastar os pés (você não está sambando), etc.; cobrir a boca, o rosto, os olhos, etc. Às vezes, um pequeno gesto pode ser interpretado de modo completamente diferente do desejado. Isso pode ser claramente observado no caso de pessoas com tiques nervosos. O fato de você ficar batendo com a caneta na mesa pode ser simplesmente um hábito inocente ou ser interpretado como sinal de ansiedade ou de impaciência. Olhar Os olhos gritam o que os lábios temem dizer. WILL HENRY 10 Estabeleça contato visual suficiente para transmitir sinceridade. Evitar esse tipo de contato pode indicar medo, assim como encarar fixamente alguém e acumular tensão ao redor dos olhos pode causar efeito de intimidação. Se você estiver se dirigindo a um grupo de pessoas, procure estabelecer contato visual com todas elas. Expressão facial Adote uma expressão facial coerente com a mensagem que quer transmitir, evitando os excessos de tensão muscular, manifestados por maxilares rígidos ou testa franzida. Lembre-se de verificar se você mantém a mesma expressão na maior parte do tempo em razão de um hábito inadequado. Algumas pessoas acabam ficando tão marcadas por expressões de preocupação ou tensão que temos a impressão de que elas estão permanentemente sofrendo. Você já perguntou a alguma pessoa com essas características se ela estava com algum problema, e ouviu como resposta: “Eu estou ótima”? Provavelmente isso ocorreu porque a tensão facial dessa pessoa é permanente. Sorria quando – e somente quando – for adequado. Especialmente se alguém rir de você, não procure ser simpático nem retribua com um sorriso. Não há a menor graça no deboche, e esse tipo de reação pode arruinar sua dignidade e sua autoestima. Você pode, sim, assumir uma expressão facial amigável, amável, desde que tome cuidado para não parecer submisso. Tentar conquistar a simpatia dos outros com uma expressão facial frágil, de vítima ou de impotência é algo muito perigoso, pois assim você se comunica de maneira desigual com o outro e se coloca em posição de inferioridade. Se assumir a postura física de vítima, além de isso influenciar seu estado psicológico, você corre maior risco de o outro assumir papel de carrasco. Pense bem: é isso o que você deseja? Movimente-se com confiança Ao caminhar, mantenha os pés paralelos e articule-os. Certifique-se de que seus sapatos lhe permitem caminhar com naturalidade. Mulheres: ao usar salto alto, fiquem atentas para não se desequilibrar nem dar a impressão de que vocês estão pisando em ovos. Cuidado para não voltar os pés exageradamente para fora (ou para dentro!), pois é muito difícil se sentir confiante com um andar desengonçado. Observe a posição de seus pés quando estiver sentado ou parado em pé. Sobre a distância A distância que você mantém ao se comunicar com outra pessoa pode ter efeito intimidador. Avalie se o seu interlocutor se sente confortável com a distância; você pode estar perto ou longe demais. Segundo Pachter: Geralmente as pessoas no Oriente Médio, na América Latina, na Itália, na Rússia, na França e na Espanha ficam mais próximo umas das outras que os norte-americanos. Os árabes podem ficar próximo duas a três polegadas, 11 e se afastar deles pode ser considerado um insulto. Os asiáticos normalmente seafastam mais. É importante saber qual é o seu nível de conforto com relação ao espaço. Esteja preparado, em determinados momentos, para se comunicar na sua zona de desconforto. 12 Sobre o toque Em algumas culturas é natural as pessoas tocarem o seu interlocutor enquanto conversam. Embora em uma conversa amigável a intenção do toque possa ser gerar empatia, tocar em alguém durante enfrentamentos pode ser interpretado como ameaça física, em razão do estresse envolvido na situação. Em uma situação de confronto, um simples toque pode desencadear uma resposta física violenta, ou o outro pode argumentar que você tentou assediá-lo sexualmente. Pense na sua integridade física; vale a pena arriscar? Voz Se grito resolvesse, porco não morreria. FRASE DE PARA-CHOQUE DE CAMINHÃO 13 Suponha que, ao falar, seu tom de voz revele uma incongruência com relação à mensagem que você deseja transmitir. Esse é um aspecto muito delicado, porque pode gerar mais conflitos. Tenha consciência do seu tom de voz, pois ele não passará despercebido pelo outro: Quando você diz... ... o outro, provavelmente, entende “Boa sorte.” (com sarcasmo) “Ele deseja o meu fracasso.” “Seu trabalho está ótimo.” (com desprezo) “Ele despreza o meu trabalho.” “Eu não estou nervoso!” (aos berros) “Ele está nervoso.” Seu tom de voz pode denunciar seu estado emocional, como você se sente a respeito do que está sendo dito e da pessoa com quem está falando. Suas intenções também são expressas pelo tom de voz. Cada pessoa tem um tom de voz, para o qual atribuímos vários significados. Assim, em situações de conflito, quando há muita tensão envolvida, seu tom de voz pode ser decisivo para que uma negociação evolua para um desentendimento ou para um acordo. Fluência A ideia é falar com uma fluência que não comprometa a compreensão. Em conflitos causados por nervosismo, as pessoas falam muito rápido para se livrar logo dessa experiência desagradável. Entretanto, mais rápido, nesse caso, não é sinônimo de melhor. É desnecessário dizer que nem mesmo o texto mais brilhante tem utilidade se não puder ser compreendido. Conclua sempre cada frase e não abuse das pausas, pois isso pode dificultar o acompanhamento de seu raciocínio por parte do seu interlocutor. Inflexão Ao falar, você enfatiza alguma palavra? Observe que efeito isso gera no outro. Exagerar em uma inflexão pode, no mínimo, causar ansiedade. Já há tensão demais envolvida; não acrescente carga emocional ao discurso. Volume Você sussurra para criar um efeito dramático ou grita para demonstrar que exerce poder sobre o outro? Nem gritos nem sussurros – seu objetivo é somente se fazer ouvir. Intenções O inferno está cheio de boas intenções. SAMUEL JOHNSON 14 Embora suas intenções nem sempre sejam claras para o interlocutor, elas são expressas por seu tom de voz e por seus gestos. Dependendo daquilo que intenciona, você pode desencadear um conflito ou liquidá-lo. Em geral, um ótimo discurso com péssimas intenções resulta em conflito, enquanto um discurso inadequado com ótimas intenções pode evitar muitos desentendimentos. Por essa razão, quando necessário, explicite suas intenções. Veja o exemplo a seguir: (No consultório do cirurgião plástico) Médico: O senhor deseja fazer uma cirurgia plástica para ficar em forma e sair com mulheres mais jovens? Cliente: Mulheres mais jovens não, doutor. Talvez rapazes mais jovens. Eu sou gay. Embora o tema escolhido costume gerar conflitos (sexo), nesse caso não aconteceu. O paciente reconheceu que o médico não o agrediu pessoalmente, apenas fez uma interpretação errada. Não estou querendo sugerir com isso que as boas intenções evitam conflitos, mesmo porque até a melhor delas pode ser o estopim de uma grande discussão. Apenas chamo a atenção para o fato de que, pela observação do comportamento não verbal e do tom de voz do outro, podemos fazer uma distinção entre um ataque pessoal e uma dedução errada. Em vez de supor o que o outro está pensando, cheque suas suposições. O médico do nosso exemplo poderia perguntar algo como: Médico: O que o motivou a fazer uma cirurgia plástica? Muitas vezes, embora você suponha saber o que o outro está pensando, pode se enganar. Por outro lado, se você acha que as pessoas têm obrigação de saber como você se sente ou o que você quer sem que tenha exprimido claramente suas vontades, provavelmente se frustrará. Em vez de dizer ao seu interlocutor “Se você realmente se importasse comigo, saberia o que fazer quando me sinto só”, procure ser o mais específico possível e exprimir suas vontades, dizendo algo como “Nós não saímos no fim de semana passado e eu me senti sozinho. Quero passar mais tempo com você. Que tal irmos ao cinema no sábado à noite e depois jantarmos? Eu posso apanhá-lo às 5 horas. Tudo bem?”. Lembre-se: o fato de você exprimir suas vontades não implica que as coisas ocorram conforme seus planos, mas aumenta muito a chance de elas acontecerem e, no mínimo, abre brecha para uma negociação. Sobre o tom de voz O mais importante, na comunicação, é ouvir o que não foi dito. PETER DRUCKER 15 O tom de voz pode ser uma arma perigosa e desencadeadora de uma crítica indireta. Você pode se sentir profundamente desrespeitado, ofendido, com raiva ou frustrado unicamente em razão do tom de voz utilizado pela outra pessoa. Insisto muito nesse aspecto porque vários dos meus clientes acreditam que basta ter bons argumentos para resolver um conflito de maneira eficiente. Ledo engano! Um tom de voz inadequado pode colocar tudo a perder. Veja o exemplo: Cliente: Por favor, eu gostaria de ver o biquíni azul que está na vitrine. Vendedor: Se for para a senhora, eu não tenho a sua numeração. Fique atento à frase do vendedor. Provavelmente, uma declaração desse tipo, feita com tom de voz de desprezo e traduzindo aborrecimento e sarcasmo, poderia ofender a cliente. No caso, a cliente se sentiu tão desrespeitada por causa do tom de voz do vendedor que não comprou o biquíni. Suponha que a conversa continuasse da seguinte forma: Cliente: Você não atende bem os clientes. Vendedor: Mas eu não falei nada... Cliente: Falou, sim. Vendedor: Eu só falei que não temos a sua numeração. Cliente: Você não atende bem os clientes... Esse tipo de diálogo, na grande maioria dos casos, dá margem a discussões infindáveis, estéreis, sem falar no desgaste de energia envolvido. O problema não está no que foi dito pelo vendedor, mas na maneira como foi dito. Para evitar entrar em um bate-boca, em termos de solução de conflitos, é útil ser o mais específico possível, precisando o que gerou o mal-estar. Observe o diálogo conduzido de outro modo: Cliente: Você não atende bem os clientes. Vendedor: Mas eu não falei nada... Cliente: Eu entendo que você não tenha a minha numeração. O problema não foi o que você disse, mas o tom de voz que usou. Eu me senti desrespeitada. Vendedor: Me desculpe. Eu não tive essa intenção. O fato de a cliente explicitar os motivos pelos quais se sentiu desrespeitada não fará, necessariamente, com que o vendedor se desculpe, mas abrirá uma brecha para que a situação seja esclarecida. Com esse exemplo quero ilustrar uma situação com que tenho deparado com bastante frequência: muitas pessoas se sentem desamparadas e confusas quando recebem uma crítica indireta, em razão do tom de voz utilizado ou de outro aspecto da linguagem corporal do interlocutor. E, evidentemente, o tom de voz sempre vem acompanhado de uma forma de linguagem não verbal, que também pode ser ofensiva. De acordo com Paterson: Às vezes, a crítica ocorre sem nenhuma palavra. As pessoas simplesmente franzem as sobrancelhas, desviam o olhar, demonstram desgosto, viram os olhos, tamborilam os dedos impacientemente ou se distanciam. Nada é falado. Se as pessoas falam, não explicitam a crítica. A única pista que você tem de que as pessoas estão descontentes é o comportamento não verbal delas. Essa é uma forma decomunicação muito poderosa. A pessoa pode comunicar descontentamento, mas não precisa assumir responsabilidade por isso. Afinal de contas, não a criticaram! “O que você quer dizer com isso? Eu não falei nada!” A chave, aqui, é a negação. A pessoa pode negar que sente ou pensa algo específico que você tenha questionado. Entretanto, ela pode fazer com que você se sinta preocupado ou insultado. 16 Estratégias para defesa contra ataques não verbais ou indiretos Para compreender as pessoas, devo tentar escutar o que elas não estão dizendo e talvez o que elas jamais venham a dizer. JOHN POWELL 17 Embora mais adiante você vá estudar diversas estratégias para a resolução de conflitos, adiantarei algumas aqui pelo fato de os ataques não verbais ou indiretos apresentarem uma característica peculiar: são mais difíceis de lidar, porque não envolvem palavras que comprovem os ataques, e, quando elas são pronunciadas, em geral, são acompanhadas de um fator não verbal bastante ofensivo, como um gesto ou um tom depreciativo. Essas características também podem deixá-lo confuso, porque você não tem certeza de ter entendido bem a linguagem não verbal, mas de alguma forma se sente atacado. É como se você estivesse investigando um ataque sem estar certo das intenções que o motivaram. Seu sentimento de ter sido desrespeitado é real, você sofre com o ataque, mas só possui pistas sobre a arma usada. A ideia, aqui, é elucidar as pistas sobre o suposto ataque ou simplesmente ignorá-lo. A defesa contra os ataques indiretos ou não verbais também requer o desenvolvimento da habilidade de se defender imediatamente depois de ser atacado. Um tom depreciativo pode ser, ao mesmo tempo, extremamente sutil e violento; se você não se defender logo após a agressão, as chances de o outro distorcer seus argumentos aumentarão. Além disso, se você deixar passar algum tempo, provavelmente não terá energia suficiente nem coragem para se defender. Só ignore a ofensa por opção, e não por falta de habilidade para reagir. Ignorar A arte de ser sábio é saber o que ignorar. WILLIAM JAMES 18 Há diversos motivos para você ignorar ataques não verbais. Alguns deles são: Você decide conscientemente ignorar, porque avalia que não vale a pena reagir ao ataque. Sua integridade física está ameaçada. As intenções do outro são boas, ele só não tem habilidade para se comunicar adequadamente. Falar sobre o impacto da comunicação sobre você sem atacar o outro Em se tratando de críticas não verbais, lembre-se de ser bastante específico para não cair na armadilha de ouvir seu interlocutor dizer: “Mas eu não fiz nada!”. Esteja preparado para a negação do ataque e continue firme na sua posição. Você tem todo o direito de se expressar e de encerrar o diálogo quando julgar necessário. A partir do momento em que você se expressa, o outro consegue esclarecer o ponto de vista dele, reconhecendo que, embora o tenha ofendido, não teve tal intenção. Mas também pode ocorrer de ele negar tudo e continuar ofendendo você. Mesmo assim, você tem opções: vale a pena insistir na resolução desse tipo de conflito ou é mais saudável não cultivar esta relação? A ideia, aqui, não é discutir, mas explicitar as possíveis intenções da outra pessoa. Lembre-se de que a crítica não verbal e a crítica com uso de certo tom de voz, justamente por serem indiretas, geram dúvidas quanto aos seus significados e intenções. Podemos pensar: “Será que esse gesto ou esse tom de voz está sendo dirigido a mim?”. Observe os exemplos a seguir: A: Gostei muito da cor das paredes da sua sala. Acho que, se eu também usar cores fortes em casa, o resultado vai ficar muito bom. B: Cuidado com a cor que você vai usar em sua parede. Você pode ser bom em engenharia, mas não entende nada de decoração. (falado com desprezo) A: Você não precisa falar desse jeito. B: Mas eu não falei nada! A: Não me refiro ao que você falou, mas à maneira como você falou. B: Nossa, mas como você é sensível! A: Eu não me senti bem com o tom de voz que você usou. B: Você precisa fazer um curso de “dessensibilização” comigo! Você se ofende por qualquer coisa. Eu garanto que depois desse curso você não vai se aborrecer com mais nada. A: Ainda assim, a maneira como você fala é importante para mim. B: E você é o único a se importar com isso. A: Pode ser. Mesmo assim, não me senti respeitado com o seu tom de voz. B: Eu não sabia que você se ofendia tão facilmente. Você faz tempestade em copo d’água. A: O ponto não é esse. Só não gostei do seu tom de voz. (Mude de assunto, se necessário.) Estou pensando em viajar neste fim de semana. E você? Réplicas comuns quando o outro não reconhece o ataque “Você se ofende facilmente!” “Você é muito sensível!” “Se você não fosse tão sensível não ligaria para isso.” “Você está imaginando coisas!” “Você é muito suscetível!” “Você é o único que se importa com isso!” “Eu nunca pensei que você fosse se importar com uma bobagem dessas!” “Você se importa com coisas insignificantes!” “Não seja ridículo! Você vai criar caso por uma coisinha dessas?” “Você faz tempestade em copo d’água.” “Você é muito dramático.” “Mas ninguém se importa com isso!” Eu sei que é tentador contra-atacar em situações conflituosas, mas evite reagir com violência. Pode ser que o outro não domine as mesmas habilidades de comunicação que você, porém isso não é motivo para tratá-lo de maneira desrespeitosa. Você sabe como tratá- lo com respeito, e é isso que interessa. Amorteça o ataque Reconheça o ponto de vista do outro sem se sentir desvalorizado ou até mesmo culpado, amortecendo o ataque. A proposta é ouvir o que outro diz sem ter necessariamente de concordar com ele. Observe: Ataque: “Você é muito sensível! Você se aborrece por qualquer bobagem! Réplicas evasivas: “Pode ser (Talvez). De qualquer modo, isso é importante para mim.” “Há uma parcela de verdade no que você falou, mas ainda assim isso é importante para mim.” “É provável que eu esteja exagerando. A minha intenção, entretanto, não é aumentar o problema, mas sim resolvê-lo.” “É possível, mas eu penso de maneira diferente.” Reconheça um comentário ofensivo Reconheça um comentário se considerar que há uma parcela de verdade no que foi dito. Faça-o assertiva e honestamente, lembrando-se de não justificar seus sentimentos. Veja: Ataque Evite Prefira Resposta do outro “Você é o único que se preocupa com isso.” (em tom de desprezo) “Se você tivesse passado o que eu passei, também se preocuparia.” “É muito fácil falar isso não estando no meu lugar.” “Sim, eu me preocupo.” (Reconheça a observação e fale de modo assertivo.) “Tudo bem. Eu não sabia que você se preocupava tanto com isso.” Como lidar com ações e gestos ofensivos Você não pode apertar mãos com o punho cerrado. INDIRA GANDHI 19 Esclareça o significado da comunicação Se você não se sentir à vontade com relação a críticas indiretas, sinais não verbais, tem todo o direito de pedir esclarecimentos. Isso fará com que o outro assuma a responsabilidade pela crítica. Como sugerem Emmons e Alberti: Se uma pessoa lhe dirigir um ataque não verbal, obviamente agressivo, tente fazer com que use palavras em vez de gestos. Você pode dizer a ela assertivamente “Eu não tenho certeza do que está dizendo. Você poderia traduzir esse olhar (gesto) em palavras para mim? Eu tenho dificuldades em compreender o que você está sentindo, a não ser quando me diz diretamente”. 20 Você não tem controle sobre o comportamento do outro nem pode forçá-lo a se comunicar de maneira clara e direta, mas pode se recusar a reagir a críticas feitas por alguém que não assume a responsabilidade por elas. Eu gosto de comparar críticas indiretas a cartas anônimas. Imagine uma carta sem assinatura e cheia de insultos a seu respeito. Sinceramente, vale a pena dar crédito a esse tipo de coisa? Tipo de crítica Esclarecimento Sinal não verbal: Você diz algo e o outro começa a rir sem motivoaparente. “Você está rindo. O que isso significa exatamente?” Tom de voz: “O senhor não tem o perfil do cliente da nossa loja.” (tom de desprezo) “O que você quer dizer com isso?” Silêncio: O silêncio também pode ser um modo de mostrar insatisfação, hostilidade e ressentimento. Se o silêncio o incomoda, vale pedir esclarecimentos sobre ele. “Seu silêncio aumenta a tensão entre nós. Quero que diga o que o incomoda para nos entendermos.” Se o outro não disser, você poderá checar suas impressões: “Suponho que seu silêncio signifique que está de acordo com o combinado. É isso?” Questione o estilo de comunicação A dignidade e o respeito não são vias de mão única. Trate os outros como gostaria de ser tratado. BARBARA BERCKHAN 21 Algumas pessoas preferem se comunicar com seus pares de modo não verbal, considerando esse tipo de comunicação eficiente. Suponha, por exemplo, que seu chefe esteja insatisfeito com seu trabalho e, para fazê-lo notar tal insatisfação, ele passe a bater as portas do escritório quando você estiver olhando. Na certa, ele espera que, com esses sinais, você compreenda o que ele tem a dizer. Na realidade, alguns exageram tanto na utilização dos sinais não verbais que talvez seja adequado perguntar: “Tenho a impressão de que o senhor está insatisfeito comigo. Isso é verdade?” ou “Será que eu disse ou fiz algo que o incomodou?”. Essas perguntas podem abrir espaço para esclarecimentos. Não lhe cabe julgar se essa é ou não uma forma de comunicação eficiente. No caso do chefe em questão, por exemplo, ele pode preferir se comunicar com sinais não verbais mesmo sendo bem-intencionado, ou não sabe se comportar de outra maneira. Além disso, esse método pode ser eficiente com outras pessoas, mas não funcionar com você. Alguns comportamentos não verbais comuns são, além de bater portas ou telefones, bufar, suspirar sonoramente, ficar em silêncio, desviar o olhar, evitar olhar nos olhos do outro, fazer gestos ofensivos ou obscenos, entre muitos outros. Muitas pessoas acreditam que o outro tem obrigação de saber o que desejam mesmo sem pronunciarem uma palavra sequer, expressarem claramente suas vontades ou explicarem o significado de cada gesto. Mais uma vez insisto: essa falta de clareza dá margem a incontáveis desentendimentos e conflitos. Não interprete os fatos antes de checá-los. Em certos casos, você poderá estar completamente equivocado, e isso tenderá a gerar ainda mais conflitos. Se achar que a comunicação não verbal está gerando mal-entendidos e deteriorando relacionamentos importantes para você, exponha seu ponto de vista a respeito desse modo de comunicação de maneira construtiva. Para quem não tem o dom da vidência é muito desgastante tentar adivinhar o que o outro quer dizer quando ele se expressa apenas por meio do silêncio, de gestos, críticas indiretas e inflexões de voz. Para não cair na armadilha das adivinhações e suposições sobre aquilo em que o outro está pensando, fique à vontade para dizer-lhe que tipo de comunicação funciona melhor para você. Embora muitas críticas sejam bastante proveitosas, o modo como são feitas pode ser extremamente ofensivo. Nesse caso, agradeça a crítica e sugira uma alternativa. Suponha que, depois de bater várias portas, seu chefe, enfim, diga que está insatisfeito com seu trabalho. É possível argumentar com algo como: “Obrigado por me dizer. Entretanto, eu reagiria melhor se o senhor fosse específico a respeito do que o aborreceu”.22 Considere um exemplo envolvendo relações íntimas: “É muito desgastante, para mim, ficar adivinhando seus pensamentos. Indiretas dificultam ainda mais nossa comunicação. Nosso relacionamento melhorará muito se você for direto e específico”. Em ataques verbais, essa estratégia é bastante eficaz. Você pode reconhecer sua parcela de responsabilidade no conflito, mas, ao mesmo tempo, estar insatisfeito com a maneira como as pessoas se dirigem a você. Em casos como esse, exprima seu ponto de vista de modo respeitoso; mesmo que o outro o tenha insultado, não assuma um tom de ataque. Imagine que, ao entrar no elevador, você esbarre na pessoa que está saindo: O outro: Você não vê por onde anda? Poderia machucar alguém desse jeito!(em tom agressivo) Você: Me desculpe. É desnecessária toda essa agressão para se fazer entender! Se a conversa prosseguir em um tom muito agressivo, não hesite em interrompê-la, mesmo que esteja disposto a retomá-la em outra situação. Conforme Barbara Pachter, se estiver em uma sala, saia sem bater a porta; ao telefone, desligue sempre de modo respeitoso. Veja os exemplos das autoras sobre argumentação com pessoas que têm maneiras de se comunicar ofensivas: “Esse não é o modo adequado de falar comigo. Quando você conseguir falar com calma, me ligue de novo.” As autoras relatam que essa foi a forma que uma gerente de vendas respondeu a um representante que gritou com ela. Em seguida ele ligou para se desculpar. Observe outro exemplo: “Eu não consigo conversar com você quando grita comigo. Ficarei contente em continuar essa discussão quando você puder falar comigo normalmente.” As autoras ainda sugerem que, nessa situação, se observe se a pessoa se acalma. Se ela continuar tensa, você pode falar algo do tipo: “Eu vou sair agora. Tchau”. 23 1 Apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais (Rio de Janeiro: Ediouro, 2004), p. 146. 2 A. Mehrabian & S. R. Ferris, “Inference of Attitudes from Nonverbal Communication in Two Channels”, em The Journal of Counselling Psychology, v. 31, 1967, pp. 248-252, apud Joseph O’Connor & John Seymour, Introdução à programação neurolinguística: como entender e influenciar as pessoas (São Paulo: Summus, 1995), p. 34. 3 Margareth Mead, apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais, cit., p. 147. 4 PNL é a sigla para Programação Neurolinguística: programação se refere a como sequenciamos as nossas ações para alcançarmos metas; neuro se refere a nossa mente e como pensamos; e linguística se refere a como usamos a linguagem e como ela nos afeta. 5 Karim Khoury, Com a corda toda: autoestima e qualidade de vida (São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2002), p. 50. 6 Steve Andreas & Charles Faulkner (orgs.), PNL – Programação neurolinguística: a nova tecnologia do sucesso (São Paulo: Campus, 1995), pp. 150-151. 7 Apud Helen Exley (org.), Palavras de sabedoria (São Paulo: Arx, 1997), p. 32. 8 Joseph O’Connor, Manual de programação neurolinguística – PNL: um guia prático para alcançar os resultados que você quer (Rio de Janeiro: Qualitymark, 2003), p. 7. 9 Sonya Friedman, apud Franklin Covey, Escolha: escolha a vida proativa que você deseja (Rio de Janeiro: Campus, 2003), p. 82. 10 Will Henry, apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais, cit., p. 144. 11 Aproximadamente 5 a 8 centímetros. 12 Barbara Pachter & Susan Magee, The Power of Positive Confrontation: the Skills You Need to Know to Handle Conflicts at Work, Home and in Life (Nova York: Marlowe & Company, 2000), p. 266. 13 Apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais, cit., p. 159. 14 Samuel Johnson, apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais, cit., p. 37. 15 Peter Drucker, apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais, cit., p. 144. 16 Randy J. Paterson, The Assertiveness Workbook: How to Express Your Ideas and Stand up for Yourself at Work and in Relationships (Oakland: New Harbinger, 2000), p. 123. 17 John Powell, apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais, cit., p. 144. 18 William James, apud Helen Exley (org.), Palavras de sabedoria, cit., p. 34. 19 Indira Gandhi, apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais, cit., p. 159. 20 Robert E. Alberti & Michael L. Emmons,Your Perfect Right: Assertiveness and Equality in Your Life and Relationships (8ª ed. Califórnia: Impact Publishers, 2001), p. 152. 21 Barbara Berckhan, Cómo defenderse de los ataques verbales (Buenos Aires: Del Nuevo Extremo, 2004), p. 33. 22 Randy J. Paterson, The Assertiveness Workbook..., cit., p. 130. 23 Barbara Pachter & Susan Magee, The Power of Positive Confrontation..., cit., p. 133. Descreva O segredo do bom texto consiste em dizer de modo fácil coisas profundas, significativas e reveladoras, e não em dizer coisas simples e óbvias de modo complicado. EDMEIA G. NEIVA 1 Qual o impacto que a comunicação exerce sobre você e sobre o outro? Ao abordar a comunicação oral ou escrita e, mais particularmente, a comunicação eficiente com vistas à resolução de conflitos, é fundamental que você tenha consciência do impacto que a comunicação do outro exerce sobre você e vice-versa. Quando você se comunica, tem consciência parcial de como a pessoa recebe a informação, a menos que ela explicite o impacto que a informação exerceu sobre ela. Para ser mais claro: a reação de seu funcionário ao ouvir que seu trabalho não é satisfatório não está sob seu controle. É provável que ele fique bastante irritado com a sua observação, já que se empenhou muito para se sair bem; entretanto, também é possível que ele fique satisfeito por descobrir como aperfeiçoar seu trabalho. Mesmo que você seja extremamente hábil em se comunicar, sempre corre o risco de o outro (interlocutor) esboçar reação negativa diante de seus comentários. Essa é uma armadilha para a qual se deve ficar atento, pois, mesmo não sendo responsável pela reação do seu interlocutor, não significa que seu modo de se expressar não exerça influência sobre a dinâmica da relação. Por esse motivo, apresentarei a você, leitor, como desenvolver habilidades que o ajudarão a se comunicar de maneira eficaz para evitar que o outro adote uma posição defensiva, criando, com isso, o perigoso círculo vicioso do “eu-ataco-e-você-se-defende” ou do “você- ataca-e-eu-me-defendo”, que não contribui para a resolução do conflito, mas que pode, ao contrário, perpetuá-lo ou acentuá-lo. Uma das maneiras de evitar esse processo é descrever uma situação sem ofender o interlocutor. O resultado da comunicação não é unicamente aquilo que você pretende, mas também aquilo que você obtém. Assuma a responsabilidade pela comunicação. Às vezes, o outro atribui a sua fala um significado completamente diferente daquele que você desejou transmitir. Não considere essa distorção uma “falha” na comunicação – encare-a como um resultado. Se você não conseguir obter o resultado desejado, mude o esquema de comunicação – que envolve palavras, linguagem não verbal e tom de voz. As palavras e a sua influência na comunicação Palavras, palavras, palavras... WILLIAM SHAKESPEARE (HAMLET) 2 As palavras exercem grande influência na comunicação. Isso se dá pelo fato de que a mesma palavra pode ter significados diversos para pessoas diferentes, o que gera inúmeros conflitos. Assim, é preferível escolher palavras que evoquem aquilo que se deseja. Toda a sua experiência, assim como suas atitudes, é representada na forma de imagens, sons e sensações. Ao se comunicar, você cria uma representação mental do que ouve e fala. Para entender melhor esse conceito, imagine se você estabelecesse a seguinte meta: “Não vou mais comer chocolate”. A simples menção da palavra chocolate já o faria pensar no alimento e acessaria tudo o que se relaciona a ele: imagens, sabor, cheiros, etc. Agora pense nessa mesma meta aplicada a uma pessoa: “Não vou mais pensar no meu ex-marido”. Mesmo que você evoque apenas a ideia “meu ex-marido”, é inevitável que faça uma representação mental dele.3 Você deve sempre se lembrar de expressar as coisas que deseja, e não aquelas que quer evitar. Se estiver nervoso, em vez de pensar “Quero ficar menos nervoso”, pergunte-se: “O que eu quero em vez disso?”. Em seguida, formule sua meta com uma frase afirmativa: “Eu quero me acalmar”. Como já foi dito, na comunicação o interlocutor faz uma representação mental daquilo que você diz. Isso é muito importante saber, pois algumas pessoas sentem um impacto emocional tão forte em relação a certas palavras que deixam de prestar atenção no conteúdo. É como se surgisse um bloqueio na compreensão. Tendo por base minha própria experiência na área de treinamento, apresentarei a seguir uma lista de palavras que podem colocar o outro em posição defensiva e algumas sugestões para que se evite o uso de termos que possam desviar a atenção do conteúdo que você deseja comunicar. Contudo, tenha em mente que são somente alguns exemplos – as palavras também estão sujeitas a modismos, e o que hoje pode ser interpretado como algo ruim amanhã pode ter um significado positivo. A proposta é mostrar o mecanismo de substituição das palavras. Fique atento à forma como a outra pessoa recebe a informação, até mesmo aos sinais não verbais. Algumas vezes, os sinais são bastante explícitos, outras vezes, um tanto sutis. Se você perceber que, diante do conteúdo comunicado, o outro tensionou os músculos do rosto, pergunte: “Eu disse ou fiz algo que desviou sua atenção?”. Se você disser... ... provavelmente o outro pensará Sugestões de substituição Se você disser... ... provavelmente o outro pensará Sugestões de substituição “Isso envolve uma mudança.” “Mudança? Não quero mudar nada! Estou realizado do meu jeito!” “Isso envolve um aperfeiçoamento, uma adaptação.” “Quero falar com você a respeito desse problema.” “Mais problemas?” “Quero falar com você sobre as estratégias de ação para este caso (assunto).” A escolha das palavras Os homens de poucas palavras são os melhores. WILLIAM SHAKESPEARE 4 A maneira como você se expressa é muito importante para manter o foco de atenção do outro. Insinuações, por exemplo, tendem a aumentar o conflito e a deixar o interlocutor confuso, pois o significado do que se deseja comunicar não fica claro. As “indiretas” são particularmente ineficazes nas situações de tensão, quando as habilidades de ouvir e falar ficam comprometidas; elas contribuem para diluir a atenção da outra pessoa. Quando você não tiver certeza de algo, reconheça-o (diga um simples “não sei”) e, se for adequado, levante as informações necessárias para prosseguir a negociação. Se possível, faça uma previsão temporal para estabelecer um acordo. Veja os exemplos: Você diz... O outro pode pensar... Melhor optar por... “Talvez seja bom você ler o relatório.” “É bom ou não ler o relatório?” “Leia o relatório.” “Estou pensando em começar às 14 horas.” “Você vai ou não começar às 14 horas?” “Vou começar às 14 horas.” “Pode ser útil ter um telefone com secretária eletrônica.” “É útil ou não?” “É útil ter um telefone com secretária eletrônica para receber recados, caso você não possa atendê-lo.” “Eu não sei se posso entregar a mercadoria até o dia 15.” “Você pode ou não me entregar a mercadoria até o dia 15?” “Posso entregar a mercadoria entre o dia 17 e e o dia 20.” “Sei que não deveria lhe perguntar isso, mas preciso saber se já avaliou o projeto que lhe entreguei.” “Então por que pergunta?” “Você já avaliou o projeto que lhe entreguei?” “Odeio ter de tocar nesse assunto com você, mas nós precisamos conversar...” “Então por que vamos falar sobre isso?” “A resolução desse assunto vai melhorar a qualidade do nosso atendimento.” “Pensei que talvez você estivesse livre na quarta-feira à tarde, ou quem sabe outro dia, para marcarmos uma reunião?” “Vá direto ao ponto.” “Você estará livre terça-feira à tarde?” ou “Quando você estará disponível para uma reunião?” Palavras, expressões e seus significados É fundamental prestar atenção em como o outro reage ao que você diz. Se você perceber que pode substituir suas palavras de forma que melhore a comunicação, vá em frente. Vejaalguns exemplos de frases que podem “abalar” o interlocutor: “Você não consegue entender.” “Você é muito confuso.” “Eu falei a você.” “Será que eu tenho que lhe mostrar tudo de novo?” “Você não sabe o que está fazendo?” “Por que você não consegue fazer nada direito?” 5 O nome das pessoas Lembre-se de que o nome de uma pessoa é, para ela, o mais atraente e importante som em qualquer língua. DALE CARNEGIE 6 Tenho ouvido inúmeras vezes, tanto no contexto empresarial quanto no pessoal, a seguinte queixa: “Odeio quando me chamam de ...........”, ou seja, “quando trocam meu nome”. Esse tipo de atitude interfere bastante na comunicação, pois faz com que o interlocutor não preste atenção no conteúdo da mensagem que lhe está sendo transmitida. Considerando isso, sugiro que, no primeiro contato com seu interlocutor, você pergunte: “Como você gostaria de ser chamado?”. Lembre-se de que o nome de uma pessoa é uma das palavras mais importantes para ela. Assim, se você quiser torná-la mais receptiva ao que você tem a dizer, chame-a da forma que ela preferir. Em um contexto profissional, inicie a conversa o mais formalmente possível; se o outro desejar, sinalizará a você outro modo de ser chamado. Observe o exemplo: Funcionário: Senhor Sérgio, eu gostaria de lhe apresentar uma proposta. Chefe: Você pode me chamar só de Sérgio. Funcionário: Sérgio, eu gostaria de lhe apresentar uma proposta. Você já reparou que, em situações tensas ou conflituosas, tendemos a nos dirigir à mesma pessoa de maneiras diferentes? Suponha que um rapaz tenha o hábito de chamar sua namorada de Rê, mas, em conversas tensas, ele a chame de Renata, isto é, pelo nome inteiro. Sempre que ele utilizar a segunda forma, a namorada, ao perceber que a conversa será séria, ativará seus mecanismos de defesa antes mesmo de o rapaz começar a falar. Em uma situação de conflito, evite qualquer atitude que desvie o foco de atenção da solução do problema. Em treinamentos de atendimento ao cliente, costumo apresentar a situação do seguinte modo: suponha que uma cliente entre em contato com o Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) para se queixar de que não recebeu assistência técnica – para o conserto de sua geladeira, por exemplo – no prazo que havia sido combinado e de que está nervosa com essa situação. Nesse caso, o que a cliente pode estar querendo? Preste atenção na queixa: ela deseja que um técnico conserte sua geladeira e espera solução imediata para a situação. O fato de você usar com seu cliente palavras que denotem intimidade não garante a solução do caso e, na maioria das vezes, tende a agravar ainda mais a situação, pois ele poderá interpretar essa atitude como evasiva. Também de nada adiantará usar palavras difíceis e tom de voz formal, se o problema não for solucionado. Ele continuará a ter a sensação de que não foi atendido e de que seu caso não foi encaminhado. Acredite: se o objetivo do cliente for ter seu problema resolvido (no exemplo, a cliente quer que sua geladeira seja consertada e, até que se prove o contrário, não deseja entabular uma relação sentimental, muito menos ser tratada com extrema formalidade e continuar com a geladeira quebrada), bastará que você se dirija a ele com um tom de voz que denote respeito. Veja a seguir um exemplo desse tipo de conflito: Cliente: Quero saber quando vocês irão mandar alguém para consertar a minha geladeira. SAC: Entendo que a senhora esteja nervosa, dona Marta... Cliente: Sim, eu estou com a geladeira quebrada faz dois dias, e vocês não vieram consertá-la ontem, como havia sido combinado. SAC: Meu anjo, calma... Cliente: Eu não sou anjo de ninguém, muito menos do senhor! A única coisa que eu quero é que vocês consertem a minha geladeira! (mais nervosa ainda) Alguns termos que devem ser evitados são meu anjo, querido(a), paixão, lindo(a), lindinho(a), fofo(a), gato(a), gatinho(a) e outros integrantes do reino animal. Eudósia Quinteiro salienta que: [...] a linguagem doméstica, com todos os seus vícios, representa o grande inimigo do teleoperador [...] aquelas coisinhas tais como: “Olha só”; “Meu amor”; “Vem cá”; “Que nem...”; “Não, é o seguinte”; “Ok”; “Meu, não dá”; “Viu?”; “Alô”; “Cara”; “Oi”; “Ô meu”; “Né?”; “Tá”; “É”; “Tá bom”. 7 Palavrões e palavras de baixo calão Esquece-se muito antes uma ferida do que um insulto. LETTERS TO HIS SON, PH.D. CHESTERFIELD (ESTADISTA INGLÊS, 1694-1773) 8 Você deve estar se perguntando por que escrevi esse item. O motivo é simples: tenho ouvido muitos palavrões em situações conflituosas (e não apenas nessas situações!). Longe de mim qualquer tipo de preconceito ou falso moralismo – cada um pode empregar o vocabulário que bem desejar –, mas quero que você tenha consciência dos resultados que poderá obter ao utilizá-los. Os palavrões podem consistir em armadilhas: alguns deles, em razão de sua banalidade e de sua frequência de utilização, perdem a força para a pessoa que os emprega. Assim, de tanto ouvir e repetir um palavrão, você se acostuma e tende a achar que ele não causa mais impacto. Cuidado: o palavrão pode não ter força para você, mas pode soar como uma enorme agressão para outros, já que cada pessoa atribui um significado diferente às palavras. Alguns clientes me dizem que se sentem à vontade para usar palavrões porque o fazem com tom de voz “respeitoso”, que não soa como agressão, e, em vários casos, os empregam para dar à situação uma pitada de descontração, de humor. Embora eu reconheça essa possibilidade, quero ressaltar que a proposta deste livro é ajudá-lo a refletir sobre os resultados que pode obter com diferentes discursos. Assim, devo enfatizar que, embora você se sinta à vontade falando palavrões, o outro pode se sentir agredido e deixar de prestar atenção no que você tem a dizer. A ideia não é restringir sua expressão – você pode usar a palavra que julgar mais adequada, mas precisa se lembrar de que não está lidando com uma situação informal, descontraída, mas com a resolução de conflitos. A situação já é tensa por si só; para que, então, correr o risco de alimentar essa tensão ainda mais com o uso de palavrões ou palavras de baixo calão? Note que a lista dos palavrões normalmente empregados pelas pessoas não costuma ser extensa – há alguns termos preferidos. Isso implica limitações de vocabulário, pois, muitas vezes, o uso repetido de determinada palavra (um palavrão ou outra palavra qualquer) se dá porque o falante age de forma automática e não busca uma opção melhor para substituí- la por uma palavra mais adequada. A maior dificuldade ao se tentar eliminar palavras de baixo calão dos discursos é que o hábito de utilizá-las se cristaliza. Quando tal hábito é abandonado, em geral as pessoas estranham a mudança de vocabulário. Após dar um treinamento em resolução de conflitos em uma empresa, ouvi duas secretárias comentando, preocupadas: “Deve haver algo de errado com o chefe; não o ouvi falar nenhum palavrão esta manhã!”. Para eliminar esse hábito, você pode utilizar a seguinte estratégia: Faça uma lista dos palavrões que você mais usa. Selecione o palavrão mais empregado. Substitua-o por termos que transmitam a mesma ideia que você quer passar. A elaboração dessa lista pode não ser muito fácil, uma vez que perdemos a noção do emprego de determinadas palavras quando agimos no “piloto automático”. Peça a um amigo que o ajude a enumerar os palavrões que você usa com mais frequência. Trabalhe com uma palavra de cada vez e a substitua por palavras específicas para determinado contexto. Isso lhe permitirá desenvolver seu vocabulário e a qualidade de seu discurso, além de aumentar suas chances de mudar a dinâmica do comportamento pelo fato de o outro entender perfeitamente o significado daquilo que você deseja comunicar. Evite Prefira “Seu relatório está uma @&*$#%!” “Seu relatório está insatisfatório: a conclusão está confusa, e os gráficos apresentados contêm muitas informações.”“Seu quarto é um @&*$#%!” “Suas roupas e sua toalha de banho estão jogadas no chão do seu quarto.” Rótulos, etiquetas e afins Rótulos são para latas, não para pessoas. ANTHONY RAPP 9 Por uma série de fatores, o emprego de rótulos, seja para qualificar uma situação problemática ou as pessoas nela envolvidas, tende a piorar muito a resolução de conflitos. Ao usá-los, você estará se referindo a uma parte do todo e, consequentemente, passa a avaliar um único aspecto da pessoa. Ao rotular uma pessoa, você a transforma em um objeto; esquece o indivíduo e passa a se relacionar unicamente com o rótulo. E é extremamente desgastante comunicar-se com alguém a quem se rotula como demônio, monstro ou picareta. Usar padrões demasiado rígidos para interpretar a realidade arruina a autoestima. “Sua vida se torna um verdadeiro fardo, pois não há margem para ‘erros’ ou ‘enganos’. Quando você pensa de forma extremista, tende a ter uma visão de mundo muito opressiva, na qual a flexibilidade é intolerada.”10 Além disso, quando você julga alguém de forma extremista, acaba por julgar a si próprio com esses mesmos padrões. Desnecessário dizer que, sem flexibilidade, você limita enormemente as chances de resolver conflitos. Uma maneira eficiente de combater o hábito da rotular pessoas é empregar uma linguagem específica e precisa, seja consigo mesmo, seja com os outros. Lembre-se de voltar o foco de sua observação para o comportamento, e não para a pessoa. Isso faz com que ela não se sinta rejeitada e se torne mais receptiva ao que você vai dizer. A descrição do comportamento de uma pessoa dá menos margem a discussões que a descrição de sua personalidade ou dos motivos que a levaram a “fazer o que fez”. Seu objetivo é relatar fatos, e não discutir. Paterson observa: “Além disso, acusar as pessoas de terem um traço de personalidade negativo ou maus motivos tende a deixálas defensivas, e elas irão resistir ao resto da sua mensagem. Sempre coloque o foco no comportamento”.11 Uma maneira simples de focar a atenção no comportamento é descrever o que a pessoa fez, como agiu ou como se comportou, em vez de falar sobre como ela é. Isso também é válido para as descrições que você faz de si mesmo. Ao descrever uma situação, seja específico e o mais claro possível, e mantenha um texto curto. Limite-se a descrever e, sobretudo, não rotule nem julgue ninguém. Evite Prefira “Vocês são desonestos. Comprei vários produtos nesse supermercado e falta uma sacola. Eu tenho a nota fiscal para provar que paguei pelas mercadorias.” “Eu paguei por mercadorias que não levei. Aqui está a nota fiscal.” “Você é um folgado e não tem consideração pelos outros.” “Você ainda não pagou a sua parte referente ao aluguel da casa em que combinamos passar o fim de semana.” “Eu sou uma burra! Fui mal na prova de inglês.” “Não estudei o suficiente para a prova de inglês. Quero me preparar mais para a prova de expressão oral.” “Você é um aproveitador. Você me paga mal porque acha que eu não preciso de um aumento.” “Recebo um salário inferior ao das outras pessoas que fazem o mesmo trabalho que eu.” Esse procedimento também é válido para quando você elogiar alguém ou quando receber elogios. Se você for classificado de forma genérica e imprecisa, crie o hábito de tornar as observações específicas. Se necessário, peça esclarecimentos, principalmente em um contexto profissional. Se você espera que sua equipe reproduza algo que foi bem-sucedido, é preciso que ela saiba com exatidão o significado de sua mensagem. Observe este exemplo: O outro: Seu relatório é tudo de bom. Você: O que você tem em mente quando diz que ele é tudo de bom? O que você quer dizer com isso? Ao que especificamente você está se referindo? Com o que exatamente você ficou mais satisfeito no relatório? Se você achar que foi classificado de maneira inadequada ou depreciativa, não aceite o rótulo. Veja o exemplo: O outro: Esta é uma maneira cretina de abordar o problema. Você: Eu decido como descrever o meu comportamento. Esta é uma opinião que eu não compartilho. Simplifique seu texto A simplicidade da linguagem não é incompatível com a riqueza do conteúdo. CARLOS LEITE VIEIRA 12 No que se refere ao texto, várias pessoas confundem o conceito de refinamento com o de complicação, isto é, muitas acreditam que basta usar expressões complicadas, difíceis, com ares de erudição para obter um bom texto ou discurso. Dessa forma, os textos criados perdem muito em clareza e ganham bastante em confusão. E o que é mais grave, a comunicação se torna ainda mais difícil, e um dos conceitos fundamentais da criação de um texto para resolução de conflitos é esquecido: em situações conflitantes, a habilidade do outro em ouvir se reduz muito. Então, qual é a utilidade de complicar o texto? Depois de escrever seu texto, pergunte-se: “Há forma mais simples de comunicar a mesma coisa?”. Então, não hesite em torná-lo mais simples e claro. Segundo o professor Pasquale: O problema é que a maioria das pessoas alimenta a velha ideia de que em língua formal basta dizer algumas expressões “difíceis” para que o discurso seja bom. Para variar, não se pensa no verdadeiro xis da questão, que é a ordenação das ideias, o pensamento lógico, a estrutura clara, a linguagem adequada. O autor prossegue: No Brasil não é comum o futuro do presente. Não temos o hábito de dizer “faremos”. Dizemos mesmo “vamos fazer”. Na verdade, uma frase como “Vamos estar enviando” poderia ser resumida em “Enviaremos”. “Vamos enviar” é a construção mais comum entre nós. “Vamos estar enviando” é dose! É o rococó do rococó. 13 Carlos Pimentel também chama a atenção para esse problema. O gerundismo “consiste em usar vários verbos no lugar de um só. Problema mais ligado à comunicação oral, começa a aparecer também na linguagem escrita, principalmente nos e-mails”.14 Evite PrefiraEvite Prefira “Nós vamos estar entrando em contato com o senhor.” 15 “Nós entraremos (vamos entrar) em contato com o senhor.” “A empresa vai estar resolvendo o seu problema em pouco tempo.” 16 “A empresa resolverá (vai resolver) o seu problema em pouco tempo.” Armadilhas do estilo O estilo é um modo muito simples de dizer coisas complicadas. JEAN COCTEAU 17 Sua comunicação oral e/ou escrita pode ficar seriamente comprometida caso seu discurso apresente problemas de estilo, e, em consequência disso, o conflito tende a se intensificar. A base de um bom relacionamento é a confiança, que você pode cultivar expressando-se com um estilo claro que não dê margem a mais de uma interpretação. Em situações de conflito, é muito importante que o outro entenda claramente o significado de suas palavras. Observe a seguir algumas armadilhas comuns e evite- as para tornar seu texto o mais claro possível: Ambiguidade A ambiguidade é a grande inimiga da clareza no ato da comunicação, pois gera duplicidade de sentido. Evite PrefiraEvite Prefira “Paulo ficou aborrecido com um amigo e falou mal da sua mãe.” (Ao ler a frase, não é possível saber de quem Paulo falou mal. Nesse caso, é necessário pedir esclarecimentos. O pronome sua pode se referir tanto à mãe de Paulo quanto à do amigo dele.) 18 “Paulo ficou aborrecido com um amigo e falou mal da mãe dele.” (Deixe clara a ideia que você deseja transmitir.) Modismos Várias palavras são usadas simplesmente porque estão na moda. As pessoas nem sequer pensam no significado exato daquilo que estão falando ou escrevendo. Alguns linguistas definem modismos como palavras “muleta”, isto é, termos vazios que significam tudo e nada ao mesmo tempo e são usados indiscriminadamente em qualquer contexto, tais como “show”, “de cinema”, “coisa”, “negócio”, etc. Nem é preciso dizer que o uso de palavras com significados vagos só piora a situação. O antídoto é evitar essas ideias e conceitos vazios usando uma linguagem específica. Evite Prefira “Aquele filme é um negócio!” (Se o texto for lidosem acesso à entonação do interlocutor, não teremos a menor ideia do significado dessa frase.) “Aquele filme é ótimo: os atores interpretam muito bem, e eu adorei o roteiro.” Em resumo, como salienta o professor Pasquale, quando se trata de modismos, “Vá direto ao assunto. Não enrole. Não invente. Não use expressões só porque estão na moda, porque alguém as usou na televisão ou porque parecem sofisticadas”.19 Linguagem abstrata O uso de palavras abstratas suprime do texto ou do discurso detalhes preciosos, o que torna a comunicação bastante imprecisa. Em vez de falar de uma mudança de atitude, fale de uma mudança de comportamento. Evite Prefira “Demonstre respeito por mim.” “Quando você se atrasar, por favor, me telefone avisando. Eu fico preocupada com a sua segurança.” Ao descrever uma situação, lembre-se de ser o mais específico possível. Quando fizer uma comparação, descreva os critérios e os padrões de comparação que foram utilizados. Evite Prefira “Seu vocabulário é inadequado.” “Seu vocabulário é inadequado, se comparado com o dos outros funcionários do departamento.” Ao se referir a uma pessoa ou a um serviço, seja igualmente específico. A não ser que você esteja autorizado a representar uma classe de pessoas, fale exclusivamente por si. Evite Prefira “Muitas pessoas estão insatisfeitas com as negociações.” “Estou insatisfeito com as negociações. Elas poderão ser mais eficientes se todos os envolvidos estiverem presentes nas reuniões.” Mas e seus sinônimos (porém, todavia, entretanto, no entanto, contudo, etc.) Ao descrever um conflito, evite usar a conjunção adversativa mas e seus sinônimos. Como essa conjunção nega o que se disse antes, muitas pessoas deixam de prestar atenção no que vem em seguida e se colocam na defensiva, pensando em como vão se defender. Isso perpetua o círculo vicioso do “eu-ataco-e-você-se- defende”. Para evitar tal situação, substitua o mas por e, sem eliminar a mensagem positiva da primeira parte da frase. Veja o exemplo a seguir, proposto por O’Connor e Lages:20 Evite Prefira “Concordo com você, mas acho que você também poderia considerar este ponto.” “Concordo com você, e acho que você também poderia considerar este ponto.” (Essa mensagem vincula os dois pensamentos, e é mais provável que seja recebida de modo aberto.) Sempre, nunca & cia. Noventa por cento das sérias controvérsias que surgem na vida são resultado de equívocos. LOUIS D. BRANDEIS 21 O emprego de termos como sempre, nunca, jamais, todo mundo, ninguém, tudo, nada, nenhum e cada implica regra. Nesse caso, a avaliação passa a ser aplicada a qualquer situação, independentemente das variáveis de pessoa, tempo ou lugar. Dependendo da forma como são empregadas, essas palavras tendem a gerar muitos conflitos, pois seus significados são tão radicais que se tem a impressão de viver em um mundo sem exceções. Ao descrever uma situação ou um comportamento, evite esses termos. O melhor antídoto para combatê-los é usar uma linguagem específica. Evite Prefira “Você sempre faz isso.” “Você entregou o relatório atrasado na segunda-feira.” “Você faz tudo errado.” “Você não colocou os cartões junto com os presentes.” Reconheço que, em determinadas situações, o uso de termos como nunca ou sempre é legítimo e bastante preciso. Entretanto, em situações de conflito, eles são pouco eficientes, já que uma pessoa pode ter a tentação de se referir a situações mal resolvidas e mágoas passadas, o que aumenta a tensão emocional e dificulta a resolução. Limite-se à situação atual e ao conflito imediato. Um relato honesto se desenrola melhor se o fazem sem rodeios. WILLIAM SHAKESPEARE 22 Gostaria que você memorizasse um conceito sobre a descrição de uma situação: descreva os fatos objetivamente, sem rodeios. Pelo menos em um primeiro momento, faça-o por escrito, até adquirir habilidade. Acredite: uma descrição objetiva feita precipitadamente é capaz de detonar muitos conflitos. Por isso, reflita, escolha bem as palavras. Estamos lidando com conflitos, e há tensão envolvida. Calma! Tudo a seu tempo. Não se atropele: pensar vem antes de escrever. 1 Edmeia G. Neiva, apud Maria Helena Ortiz Assumpção & Maria Otília Bocchini, Para escrever bem (São Paulo: Manole, 2002), p. 6. 2 William Shakespeare, apud Sergio Faraco (seleção), Shakespeare de A a Z: livro das citações (Porto Alegre: L&PM, 1999), p. 100. 3 Karim Khoury, Com a corda toda: autoestima e qualidade de vida (São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2002), p. 130 4 William Shakespeare, apud Roberto Duailibi, Duailibi das citações (5ª ed. São Paulo: Arx, 2004), p. 151. 5 Adaptado de Madelyn Burley-Allen, Managing Assertively: How to Improve Your People Skills: a Self-Teaching Guide (New York: John Wiley & Sons, 1995), p. 151. 6 Dale Carnegie, How to Win Friends and Influence People (New York: Pocket Books, 1981), p. 83. 7 Eudósia Acunã Quinteiro, O poder da voz e da fala no telemarketing: treinamento vocal para teleoperadores (São Paulo: Summus, 1995), p. 45. 8 Ph.D. Chesterfield, apud Ettore Barelli & Sergio Pennacchietti, Dicionário das citações (São Paulo: Martins Fontes, 2001), p. 324. 9 Anthony Rapp, apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais (Rio de Janeiro: Ediouro, 2004), p. 230. 10 Karim Khoury, Com a corda toda..., cit., p. 97. 11 Randy J. Paterson, The Assertiveness Workbook: How to Express Your Ideas and Stand up for Yourself at Work and in Relationships (Oakland: New Harbinger, 2000), p. 161. 12 Carlos Leite Vieira, apud Maria Helena Ortiz Assumpção & Maria Otília Bocchini, Para escrever bem, cit., p. 6. 13 Pasquale Cipro Neto, O dia-a-dia da nossa língua (São Paulo: Publifolha, 2002), p. 97. 14 Carlos Pimentel, Português descomplicado (São Paulo: Saraiva, 2004), p. 206. 15 Ibidem. 16 Ibidem. 17 Jean Cocteau, apud Roberto Duailibi, Duailibi das citações, cit., p. 140. 18 Carlos Pimentel, Português descomplicado, cit., p. 203. 19 Pasquale Cipro Neto, O dia a dia da nossa língua, cit., p. 29. 20 Andréa Lages & Joseph O’Connor, Coaching com PNL: o guia prático para alcançar o melhor em você e em outros: como ser um coach master (Rio de Janeiro: Qualitymark, 2004), p. 105. 21 Louis D. Brandeis, apud Tom Chung, Qualidade começa em mim: manual neurolinguístico de liderança e comunicação (5ª ed., São Paulo: Maltese, 1998), p. 182. 22 William Shakespeare, apud Roberto Duailibi, Duailibi das citações, cit., p. 148. Expresse Quando falar, cuide para que suas palavras sejam melhores que o silêncio. PROVÉRBIO INDIANO 1 A expressão dos sentimentos A falta de habilidade para lidar abertamente com a expressão dos sentimentos gera incontáveis situações de conflito. Acredito que muitas pessoas sejam resistentes para falar sobre os próprios sentimentos, porque interpretam essa atitude como sinal de fragilidade. Essas pessoas já criaram, praticamente, um rótulo para esse tipo de manifestação, o que tem gerado várias distorções e influenciado negativamente o desenvolvimento dessa competência. Stone, Patton e Heen esclarecem: Com frequência confundimos ser emotivos com expressar emoções claramente. São coisas diferentes. Você pode expressar bem suas emoções sem ser emotivo, e pode ser extremamente emotivo sem expressar qualquer coisa que seja. Compartilhar sentimentos claramente e bem requer consideração. 2 A habilidade de exprimir seus sentimentos ou, como é apresentada no meio corporativo, “a habilidade de expressar o impacto que o conflito exerce sobre você”, não tem nada a ver com fragilidade ou romantismo e é, como você verá a seguir, essencial para a resolução de conflitos. A competência de expressar abertamente seus sentimentos de maneira adequada tem inúmeras vantagens: Melhora a qualidade dos relacionamentos. Evita que você afete negativamente sua linguagem corporal e expressão facial aofalar com outra pessoa. Reduz a tensão e o estresse. Faz com que você demonstre sentimentos perturbadores, como raiva e frustração, de modo construtivo. Melhora sua habilidade de escutar. É muito difícil prestar atenção no que o outro está dizendo quando percebemos que não somos ouvidos. O conceito por trás dessa observação é o seguinte: quando você se sente atacado, canaliza sua atenção para se defender, e não para escutar o que outro está dizendo. Em outras palavras, ou você se defende ou reflete para analisar os fatos. Ao expressar seus sentimentos, a tensão ocasionada pelo ataque é diluída, melhorando sua habilidade de escutar. Permite que o outro entenda sua maneira de interpretar a realidade. Isso tende a favorecer a comunicação, porque o outro tem a oportunidade de entender seu ponto de vista. Reduz discussões improdutivas, pois não há como questionar uma informação baseada em sentimentos e sensações, como se se fundamentasse em fatos. É pouco provável que alguém discuta uma informação derivada de um sentimento ou de uma sensação: “Não me sinto à vontade nesta festa” (informação baseada em sentimentos); mas “Esta festa está muito ruim” (informação baseada em fatos) pode dar margem a muitas discussões. Lembre-se de que o outro pode ter um ponto de vista diferente do seu no que diz respeito aos fatos. Ele pode, por exemplo, achar a festa sensacional, mas não pode discutir como você se sente. Os sentimentos são seus, e ponto final. Mitos sobre a expressão dos sentimentos A habilidade de reconhecer uma emoção e saber expressá-la é vista ainda com preconceito. Há pessoas que acreditam que sentir ou exprimir determinada emoção é algo moralmente condenável, e isso, em vez de contribuir para lidarmos saudavelmente com ela, desencadeia sentimentos de culpa, inadequação e insegurança. O primeiro passo para superar esse obstáculo é não julgar seus sentimentos, como você verá mais adiante. Segundo Lelord e André, a expressão intensa das emoções com o único propósito de dar vazão a impulsos reprimidos, sem levar em conta o impacto que isso exerce sobre os outros, pode trazer muitos inconvenientes, além de refletir desfavoravelmente em diversas áreas de sua vida. Por exemplo: Sobre seu humor, aumentando a emoção que, supostamente, você aliviaria. Sobre sua saúde, acentuando suas reações fisiológicas. Sua relação com os outros (a expressão aberta de sua alegria, sem consideração do contexto, pode despertar a cobiça e a inveja). 3 Se, por um lado, a expressão aberta das emoções pode ser inadequada, o mesmo se dá com a repressão da sua manifestação. É essencial exprimir os sentimentos de maneira adequada para que se constituam em recursos úteis na resolução de problemas. Os autores explicam também que exprimir a cólera pode aliviá-la desde que três condições sejam respeitadas: Que a sua cólera seja dirigida à pessoa que lhe causou tal sentimento. Que ela não gere mais cólera ou agressão, pois, nesse caso, produziria uma escalada emocional ainda mais perturbadora. Que a cólera conduza a uma resolução do conflito por meio de desculpas ou de uma negociação. Logicamente, o conflito terá maiores chances de ser resolvido se a cólera não for expressa de maneira insultante. 4 Inteligência emocional Governe sua mente em vez de ser governado por ela. PROVÉRBIO ZEN 5 As emoções exercem grande influência em nossa comunicação, em nossa capacidade de julgamento, em nossa percepção dos acontecimentos e em nossa atitude diante deles. O reconhecimento da importância das emoções resultou no conceito de inteligência emocional, elaborado por Salovoy e Mayer e difundido por Daniel Goleman, que é de grande valia na resolução de conflitos. A inteligência emocional é fundamentada nas seguintes áreas: Autoconsciência: saber reconhecer e diferenciar suas emoções. Considerar os sentimentos no momento de tomar uma decisão. Autogerenciamento: ser capaz de gerenciar suas emoções e de pensar antes de agir, a fim de melhorar a comunicação com os outros em vez de piorá-la. Motivação: ser capaz de se motivar e de motivar os outros usando as emoções de maneira produtiva, sem paralisar nem se deixar dominar por elas. Empatia: saber reconhecer e respeitar as emoções dos outros, e agir e adaptar sua comunicação em função de sua reação emocional. Habilidades sociais: saber lidar com as emoções dos outros, gerando negociação e cooperação. Um dos objetivos deste capítulo é praticar um padrão de comunicação baseado nos princípios da inteligência emocional. Você terá a habilidade de se comunicar respeitando o ponto de vista do outro e, ao mesmo tempo, estará consciente dos sentimentos que as ações desse outro provocam em você. Sua comunicação se dará com o objetivo de gerar uma negociação e um acordo. A habilidade de escutar Saber que preciso escutar e saber como escutar não é o suficiente. A não ser que eu queira escutar, que realmente deseje fazê-lo, isso não se tornará um hábito na minha vida. STEPHEN R. COVEY 6 , “OS SETE HÁBITOS DAS PESSOAS ALTAMENTE EFICAZES” De acordo com Madelyn Allen: As pessoas escutam em diferentes níveis de eficiência ao longo do dia, dependendo das circunstâncias e dos indivíduos envolvidos. Na maioria das vezes, as pessoas têm dificuldade para escutar eficientemente quando se encontram numa situação de conflito; quando lidam com pessoas com reações emocionais exageradas; quando são criticadas; quando são disciplinadas ou quando se sentem ansiosas, com medo ou com raiva. Outras escutam muito bem no trabalho, mas deixam de fazê-lo em casa. 7 Como foi bem observado pela autora, muitas vezes a nossa habilidade de escutar fica comprometida quando nos envolvemos em situações de forte tensão emocional. Conforme já mencionado, exprimir abertamente seus sentimentos é um modo de diluir essa tensão emocional e de melhorar sua habilidade de escutar. A ideia é que você aprenda estratégias para administrar essa “tensão emocional” de maneira produtiva. O julgamento dos seus sentimentos Não queira julgar para não ser julgado. Pois com o juízo com que julgar também será julgado e com a medida com que medir os outros eles também o medirão. EVANGELHO SEGUNDO MATEUS 8 O fato de você julgar o que deveria ou não sentir em dada situação não fará com que o sentimento desapareça. Não julgue o que você sente; você simplesmente sente, e esse sentimento não precisa ser justo nem racional. Não há problema em reconhecer para si mesmo que não se sente à vontade com relação a determinados sentimentos. É bem possível que cada um de nós pense ser mais fácil reconhecer e exprimir determinados sentimentos, e, por outro lado, acredite ser mais difícil constatar e expressar tantos outros. Talvez você tenha mais facilidade para exprimir indignação e dificuldade para manifestar arrependimento. Dominar essa habilidade demanda treino. O importante é, antes, desenvolver a competência de exprimir os sentimentos com os quais você tenha mais dificuldade, diminuindo, assim, a tensão para expressá-los de modo mais construtivo. Ou seja, aceitar o que você sente sem fazer julgamentos ajuda muito a reduzir essa pressão. Assuma a responsabilidade por suas opiniões e sentimentos Prefira expressar seu ponto de vista usando declarações, principiando por “Eu...”. Seu objetivo agora é buscar soluções para os conflitos, e não gerar hostilidades ou colocar o outro na defensiva. Lembre-se de que, toda vez que você agredir alguém, a reação do agredido será a defesa. Ao assumir a responsabilidade por suas emoções e por seus atos, você evita interpretar as intenções de seu interlocutor de maneira equivocada. Suponha que, no teatro, haja alguém sentado na poltrona reservada para você. Em vez de dizer apressadamente “Você está sentado no meu lugar”, supondo que a pessoa agiu de má-fé, você pode simplesmente dizer “Meu assento é o 22”. Evite Prefira “Você está errado.” “Eu vejo a situação de outra forma.” “Você medesapontou.” “Eu fiquei desapontado.” “Você me magoou.” “Eu me senti magoado.” Ao expressar-se em situações de conflitos, prefira frases como “Eu me senti... com o que aconteceu”, em vez de frases do tipo “Você fez... ”. Particularmente, não gosto de descrições que ponham em evidência o que o outro fez, porque esse tipo de declaração tende a ser acusatório. Lembre-se de que a proposta não é acusar o outro, mas reverter a dinâmica da relação. Reconheço, entretanto, que é adequado fazer descrições como “Você fez... ” em determinadas situações. Nesse caso, assuma um tom de voz neutro, informativo e nãoacusatório, sem vestígios de ironia ou de sarcasmo. Observe exemplos de descrições usando, agora, o você em vez do eu: “Ontem você não esteve presente à reunião.” “Você me mandou um e-mail na semana passada fazendo esse pedido.” Exprima suas opiniões Uma coisa da qual não se fala nunca existiu. Somente a expressão torna as coisas reais. OSCAR WILDE 9 Se você esbarrar em uma pessoa ou derramar algo sobre ela, pode pedir desculpas, caso seja a sua vontade. Você é responsável pela ação e desculpa-se pelo que ocorreu. Entretanto, lembre-se de que tem todo o direito de expor seu ponto de vista, e, se o fizer com respeito, por que deverá se desculpar ou se justificar? Ao contrário do que parece, quando você se desculpa ou se justifica por expressar suas opiniões, tal atitude implica culpa, e isso tende a diminuir suas chances de ser escutado. Em quem você prestaria mais atenção: em alguém que acredita ter o direito de ser ouvido ou em quem fala como se se sentisse culpado ou com vergonha de expor as próprias ideias? Ser educado não significa se desculpar ou se justificar ao exprimir opiniões. Observe, nos exemplos a seguir, que não ir direto ao ponto pode desviar o foco de atenção do diálogo e aumentar a ansiedade do interlocutor. Evite Prefira “Desculpe-me por incomodá-lo hoje, mas eu tenho algo importante para lhe dizer.” “Sinto muito por lhe dizer isso, mas...” “Odeio lhe dizer isso, mas...” “Não quero magoá-lo, mas...” “Tenho uma notícia boa e uma ruim. Qual das duas você quer ouvir antes?” “Qual é o horário mais adequado para conversarmos?” Fatos e interpretações Interpretar é empobrecer, diminuir a imagem do mundo – e substituí-lo por um mundo fictício de “significações”. SUSAN SONTAG 10 Uma das possibilidades de apresentar seu ponto de vista sem ser agressivo é descrever os fatos sem interpretá-los ou julgá-los. Em geral, uma interpretação inadequada é suficiente para desencadear mal- entendidos. A proposta é que você seja capaz de separar os fatos das interpretações. Evite Prefira “Seu cunhado não é um bom arquiteto. Ele precisou refazer três vezes a reforma do banheiro.” (você não o julga bom profissional) “Seu cunhado precisou refazer três vezes a reforma do banheiro.” (você se limita aos fatos) Descreva os fatos e exprima como se sente a respeito Ao exprimir o que sente, você permite ao interlocutor entender sua maneira de interpretar a realidade, seu ponto de vista; atitude que tende a melhorar a comunicação. Observe a diferença entre “Quero sair imediatamente desta festa” e “Não estou me sentindo à vontade nesta festa. Você se incomodaria se nós saíssemos?”. A função da tabela 1 não é esgotar todas as possibilidades de uso de adjetivos que você pode utilizar para exprimir seus sentimentos, mas ajudar a traduzir em palavras o que você sente. Optei por disponibilizála neste capítulo pelo fato de que, em situações que envolvem tensão demasiada, temos dificuldade de precisar como nos sentimos, pois, muitas vezes, estão envolvidas várias emoções. Para não sobrecarregar o outro com informações, especifique um ou dois adjetivos para caracterizar seus sentimentos. Tabela 1 – Como você se sente? Abandonado Aborrecido Acomodado Adaptado Admirado Afetuoso Aflito Agitado Agoniado Agradável Agradecido Agredido Aliviado Amado Amargo Ambicioso Ameaçado Amigável Amoroso Angustiado Ansioso Apaixonado Apático Apreensivo Arrependido Arrogante Arrojado Assertivo Assustado Atencioso Atormentado Atraente Atrapalhado Bem-arrumado Briguento Brincalhão Calmo Cauteloso Chocado Competente Compreendido Compreensivo Concentrado Conciliador Confiante Conformado Confortado Confortável Confuso Contente Controlado Cordial Cortês Criativo Criticado Cuidadoso Culpado Curioso Delicado Dependente Deprimido Desacreditado Desamparado Desanimado Desapontado Desconfiado Desconfortável Descontente Descuidado Desejado Desmotivado Desolado Determinado Digno Disciplinado Discreto Dissimulado Divertido Eficiente Egoísta Em forma Embaraçado Encantado Enciumado Encorajado Energizado Enfurecido Enojado Entusiasmado Envergonhado Esclarecido Esperançoso Espontâneo Ético Exasperado Exausto Exigente Exposto Expressivo Extrovertido Feliz Flexível Fortalecido Fragilizado Franco Frustrado Generoso Gentil Grosseiro Histérico Honrado Hostilizado Humilhado Impotente Impulsivo Incapaz Independente Indesejado Indiferente Indignado Infeliz Inferiorizado Informado Ingênuo Injustiçado Inocente Inquieto Inseguro Insensato Inspirado Intrigado Introvertido Intuitivo Invadido Invejado Invejoso Irresponsável Irritado Justo Leal Livre Magoado Manipulado Meditativo Mordaz Nervoso Objetivo Obstinado Ofendido Organizado Orgulhoso Otimista Paciente Pasmado Passivo Perfeccionista Perplexo Persistente Persuasivo Perturbado Poderoso Pontual Prático Preocupado Privado Prolixo Protetor Prudente Querido Razoável Realista Receptivo Reconhecido Reflexivo Respeitado Respeitoso Responsabilizado Ressentido Revoltado Rígido Sarcástico Satisfeito Sedutor Seduzido Seguro Sensível Sereno Sociável Solidário Sozinho Superprotetor Teimoso Tenso Tímido Traído Tranquilo Triunfante Útil Dê informações, não conselhos Conselho é aquilo que pedimos quando já sabemos a resposta, mas gostaríamos que não fosse aquela. ERICA JONG 11 Por uma série de motivos, os conselhos podem ter efeitos devastadores. Em primeiro lugar, quando você dá um conselho, fica subentendido que você tem razão sobre algo que está sendo abordado, quando, na verdade, pode ser que seu ponto de vista seja apenas diferente do da pessoa aconselhada. Nesse caso, seu conselho pode ser interpretado da seguinte maneira: “Quem ele pensa que é para me dar conselhos?”. Dar conselhos é um modo de impor seu ponto de vista, e dar informações é uma maneira de respeitar o ponto de vista de outra pessoa – você informa, mas a decisão é do outro. Mesmo que você dê um conselho com a melhor das intenções, a mensagem nele embutida é “Pense como eu penso” ou “Faça o que eu acho que deve ser feito”. Inicia-se, então, uma disputa pelo poder, e essa atitude impositiva tende a gerar maior resistência no interlocutor. Se lhe derem um conselho e você tiver uma reação emocional intensa, é importante não usá-lo como pretexto para uma briga. É possível informar sem desvalorizar a outra pessoa. Caso você se limite a dar informações sobre determinada situação, parta do princípio de que é o outro quem decidirá como agir dali em diante. Suponhamos que você ache que o modo de se vestir de uma colega de trabalho seja inadequado. Evite dizer a ela frases como: “Você parece uma garota de programa vestida desse jeito”; “Você se veste de modo muito vulgar” ou “Você deveria se vestir de maneira mais discreta”. Lembre-se de que seu conceito de discrição pode ser muito diferente do da pessoa criticada. Restrinja-se aos fatos. Você poderia dizer a ela, por exemplo: “O comprimento da sua saia é muito curto em comparação com o das outras secretárias da empresa”. Resta à pessoa criticada decidir como vai agir após tal observação.12 Se alguém lhe der um conselho indesejado, como “Se eu fosse você...”, reaja dizendo simplesmente: “Nós temos pontos de vista diferentes a respeito disso”. E encerre o assunto. Não interprete a atitude do outro Suponha que, sem motivo aparente,um membro de sua equipe fale com você de maneira agressiva. Nesse caso, o que o incomodará será o modo como ele se dirigiu a você. Por isso, limite-se ao fato, sem interpretar o motivo dessa agressividade. Você O outro Evite Prefira Você O outro Evite Prefira “Bom dia! Tudo bem?” “Você tem coragem de me perguntar se está tudo bem? Não enxerga a quantidade de problemas que temos?” (aos gritos) “Está nervoso?” “Comeu algo que não lhe fez bem?” “Puxa, que mau humor!” “Dormiu mal ontem?” “Está na TPM?” “Seu sapato está apertado?” “Você bebeu?” “Sinto-me desrespeitado quando você fala com esse tom de voz.” “Entendo a sua situação, mas isso não é motivo para você falar comigo dessa maneira.” “Agradeceria se pudéssemos nos comunicar com mais calma.” Não é problema seu se a pessoa estiver de mau humor, se tiver dormido mal, se estiver na TPM, se tiver bebido ou feito qualquer outra coisa que tivesse causado esse estado de humor. No caso, você quer apenas ser tratado com respeito. Limite-se a deixar isso claro de maneira equilibrada. Não descreva os sentimentos do outro Ao expressar determinado conflito, limite-se a falar sobre seus sentimentos. Você já tem segurança para falar de si; então por que correr o risco de dizer algo que o outro possa considerar inadequado? Mantenha o foco em seu objetivo: a proposta é que o outro saiba o impacto das ações dele sobre você. Descrever os sentimentos do outro não é eficiente para alcançar esse fim. Os sentimentos são pessoais. Por isso, descrever como o outro se sente não é condição necessária para se chegar a um acordo. A outra pessoa pode até considerá-lo invasivo e se sentir pouco à vontade com a situação, e, na maioria das vezes, o conflito é intensificado. Reflita: há muita tensão envolvida em uma situação conflituosa, e você e seu interlocutor estão com os nervos à flor da pele. Qual é a utilidade de dizer: “Você está nervoso?”. Provavelmente você ouvirá uma resposta agressiva ou gritos ou algo do tipo: “Eu não estou nervoso!”. Você não é responsável pelo estado emocional do outro Independentemente do que fizer ou deixar de fazer, você não tem controle sobre o que a outra pessoa sente ou pensa. Portanto, não se presuma como causador dos sentimentos dela. Esse tipo de suposição é, por si só, grande fonte de conflitos. Suponha que você encontrou o seu melhor amigo e que ele esteja com uma expressão de preocupação. Não tire conclusões apressadas sem conferir se o que você está pensando tem fundamento. Descubra uma maneira prática de checar suas suposições. Na dúvida, pergunte. A tentativa de interpretar sinais não verbais é um dos fatores que desencadeiam mal-entendidos. Por exemplo, ao conversar com o seu melhor amigo, você interpreta que o fato de ele estar com os braços cruzados significa que está na defensiva. Antes de considerar que entendeu o significado dessa atitude, verifique as hipóteses levantadas. Se necessário, pergunte a ele qual o significado do gesto. Pode ser que ele simplesmente esteja com frio ou com os braços cansados e, por esse motivo, cruzou-os. O mártir e a vítima Abandonamos o papel de vítima quando voltamos a ser nós mesmos. Nós nos alegramos da singularidade das nossas características diferenciais, mas também apreciamos as qualidades que compartilhamos com o resto da humanidade. Nossa vida não é regida exclusivamente pelo que os outros esperam de nós, mas pelo que cremos que seja importante. KHALEGHL QUINN 13 Paterson observa que algumas pessoas tendem a exagerar o sofrimento que sentiram em determinada situação, esperando, com isso, fazer com que o outro se sinta terrivelmente culpado: “Quando você não veio à minha festa, senti que não valia nada, como se tudo o que tivesse feito fosse total perda de tempo.” A esperança é que a atribuição dessa culpa faça com que o outro deseje mudar, porém, geralmente isso não funciona. E, quando dá certo, deteriora o relacionamento. Exprima como se sente, mas não exagere. 14 Exagerar o sofrimento com o objetivo de manipular a outra pessoa, fazendo-a sentir-se culpada, não condiz com a resolução de conflitos. Os papéis do mártir e da vítima têm sido inesgotável fonte de inspiração para autores de teatro, roteiristas de cinema e de televisão, e encontramos vários exemplos na literatura mundial. Enquanto não optar pela carreira de autor, mantenha o papel de mártir aprisionado em um livro, em um filme ou em uma peça de teatro. Esse papel dificulta qualquer tipo de diálogo para a resolução de conflitos. Ressalte as emoções positivas Prefira oferecer um número muito maior de recompensas por um trabalho benfeito ao de penalidades por erros cometidos. KARIM KHOURY 15 Se você não fica à vontade para falar quão mal se sente com determinada situação ou comportamento de determinada pessoa, pode perfeitamente falar como gostaria de se sentir diante de um ou de outro. Lembre-se de usar palavras afirmativas e ressaltar as emoções positivas. Observe a substituição a seguir: Destaque para a emoção negativa Destaque para a emoção positiva “Eu me sinto desprezada quando combinamos um programa e você cancela na última hora.” “Eu me sinto valorizada e muito feliz quando você é pontual com os horários combinados.” É fundamental levar a outra pessoa a perceber o impacto do comportamento dela sobre você. Falar quão bem se sente com algo demonstra que você dá importância à relação e está se empenhando para resolver determinado conflito. Em outras palavras, a expressão dos sentimentos é bastante útil para o reconhecimento das qualidades do outro e tem papel importante no processo de motivação. A expressão dos sentimentos também ajuda a reforçar um comportamento que você deseja que se repita. De modo geral, as pessoas se sentem frustradas quando não são reconhecidas ou quando são ignoradas. Se você é capaz de desenvolver sua habilidade de dizer como se sente mal a respeito de algo, tem também capacidade para fazer o contrário. Então, mãos à obra: comece a praticar essa habilidade o mais rápido possível. Lembre-se de ser bastante preciso e específico ao exprimir como se sente a respeito dos fatos. Evite Prefira “Você foi ‘super’ na reunião.” “Eu fiquei muito satisfeito com o modo como você conduziu a reunião. Você apresentou seus argumentos com objetividade, segurança e clareza, e isso permitiu que a reunião fosse muito produtiva.” 1 Bruno Pacheco (seleção e organização), Oriente-se: 100 provérbios orientais para o dia a dia (Rio de Janeiro: Nova Era, 2004), p. 75. 2 Douglas Stone et al., Conversas difíceis, trad. Miriam Crohmal (8ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 1999), pp. 115-116. 3 François Lelord & Cristophe André, La force des émotions (Paris: Éditions Odile Jacob, 2001), p. 354. 4 Ibid., p. 353. 5 Bruno Pacheco (seleção e organização), Oriente-se: 100 provérbios orientais para o dia a dia, cit., p. 139. 6 Stephen R. Covey, “Os sete hábitos das pessoas altamente eficazes”, em Confiança: compartilhe ideias, insights e percepções (Rio de Janeiro: Campus, 2003), p. 27. 7 Madelyn Burley-Allen, Managing Assertively: How to Improve Your People Skills: a Self- Teaching Guide (Nova York: John Wiley & Sons, 1995), p. 116. 8 Apud Florence Montreynaud & Jeanne Matignon (orgs.), Dictionnaire de citations du monde entier (Paris: Dictionnaires Le Robert, 1990), p. 531. 9 Oscar Wilde, apud Florence Montreynaud & Jeanne Matignon (orgs.), Dictionnaire de citations du monde entier, cit., p. 342. 10 Susan Sontag, apud Florence Montreynaud & Jeanne Matignon (orgs.), Dictionnaire de citations du monde entier, cit., p. 298. 11 Erica Jong, apud Roberto Duailibi, Duailibi das citações (5ª ed. São Paulo: Arx, 2004), p. 150. 12 Karim Khoury, Com a corda toda: autoestima e qualidade de vida (São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2002), pp. 204-205. 13 Khaleghl Quinn, apud Barbara Berckhan, Cómo defenderse delos ataques verbales (Buenos Aires: Del Nuevo Extremo, 2004), p. 17. 14 Randy J. Paterson, The Assertiveness Workbook: How to Express Your Ideas and Stand up for Yourself at Work and in Relationships (Oakland: New Harbinger, 2000), p. 162. 15 Karim Khoury, Com a corda toda..., cit., p. 209. Acordo Bons acordos mudam em função das necessidades da situação e dos sentimentos das pessoas envolvidas. Eles são instrumentos para melhorar a sua vida. – Use-os para este fim! BOWER & BOWER 1 Após descrever a situação de exprimir como você se sente, vem o momento de fazer um acordo. Para isso, você precisa especificar o que deseja que mude na relação. Não pense que o outro possa/deva ler a sua mente e adivinhar o que você quer e aja de acordo com sua vontade. Memorize este conceito: o outro não é capaz de ler a sua mente. Você precisa explicitar o que quer para aumentar as chances de chegar a um acordo com a outra pessoa. No que se refere à resolução de conflitos, não parta do princípio de que suas regras, ou vontades, sejam óbvias para as outras pessoas; no máximo, são óbvias para você! As pessoas omitem informações pela crença em sua obviedade, e esse é o primeiro passo para que o acordo não se estabeleça. Se o seu interlocutor lhe disser que você tem obrigação de conhecer as regras dele por meio de “adivinhações” ou “leituras mentais”, pergunte-lhe como isso seria possível. Observe o exemplo: O outro Você O outro Você “Se você tivesse consideração por mim, saberia o que eu quero.” “Como eu poderia saber?” “Eu não sei ler mentes.” “O que você quer, especificamente?” “Fale o que você quer.” “Se você não me disser o que quer, não tenho como descobrir.” “O que você gostaria que eu fizesse?” “Eu não posso adivinhar.” Decida o que você quer antes de falar com o outro Esse tipo de recurso é útil para fazê-lo se lembrar do que tem a dizer mesmo que fique sob tensão. Seja claro e direto Fique atento para não usar mensagens que possam dar margem a diversas interpretações. Suponha, por exemplo, que você não queira comprar um aparelho de telefone celular oferecido por um operador de telemarketing. Não enrole: se você já sabe que não quer comprar o aparelho, não espere o operador descrever as inúmeras vantagens do equipamento para então recusá- lo. Evite Prefira Evite Prefira “Adoraria comprar o telefone, mas agora não tenho condições, porque ainda estou pagando a prestação do meu equipamento de som. Tenho certeza de que o senhor vai entender e não vai ficar chateado comigo, porque não vou comprar o telefone agora. Qual é mesmo aquela vantagem que o senhor disse que o telefone tem?” “No momento não tenho interesse em comprar. Muito obrigado.” Fale o que você quer, não o que deseja evitar Evite Prefira “Não quero mais que você demore para entregar o relatório.” “Quero que o relatório seja entregue até as 16 horas de amanhã.” Solicite mudanças de comportamento. Não se refira ao que a pessoa pensa ou sente Sempre se diz que o tempo muda as coisas, mas na verdade é você quem tem de mudá-las. ANDY WARHOL 2 Evite Prefira “Não quero que você fique ressentido comigo.” “Se eu fizer algo que o incomodar, por favor, me avise.” Solicite no máximo uma ou duas mudanças por vez Reconheço que esse item possa gerar ansiedade. Calma! Mesmo que esteja insatisfeito com vários comportamentos da outra pessoa, estabeleça quais deles são mais inquietantes para você, aqueles que o incomodam mais. Se você “despejar” sobre o outro uma relação de propostas de mudança, é possível que ele se sinta rejeitado e fique na defensiva, sentindo-se vítima de um ataque ofensivo. Um passo de cada vez: dependendo do conflito, em razão da tensão emocional, pode ser mais adequado falar de uma proposta por vez. O importante é o outro absorver o que você tem a dizer. Não descarto a possibilidade de que se fale a respeito de mais de um aspecto a ser mudado, desde que isso seja feito com extrema empatia e que você esteja certo de que o outro está compreendendo perfeitamente a sua mensagem. Ainda assim, isso não exclui falar sobre o que você considera mais importante. Especifique o que você quer, quando, onde, com quem e como Toda a minha vida eu quis ser alguém, mas percebo agora que deveria ter sido mais específica. JANE WAGNER 3 O quê? Fuja de palavras genéricas ou abstratas. Não solicite mudanças que não estejam sob o controle do outro, tais como “Quero que a sua mãe tenha mais consideração por mim”. Veja o exemplo: Evite Prefira “Você tem de colaborar mais.” “Viajarei na segunda e na terça-feira da semana que vem. Durante a minha ausência, você visitará dois clientes na segunda e outro na terça. Podemos marcar uma reunião para amanhã às 2 horas da tarde para que eu lhe explique detalhes sobre as visitas?” Quando? Em alguns casos, o prazo é decisivo para o estabelecimento de um acordo. Avalie: Qual o prazo necessário para que aconteça o que você está pedindo? Você pode negociar esse prazo? Qual é a frequência desejada para a ocorrência da ação? Que prazo máximo você pode conceder para que a mudança ocorra? Sei que essas opções parecem óbvias, mas você evitará maiores desgastes se estabelecer regras claras. O cérebro aprende por repetição e pela prática; assim, não espere mudanças de hábito imediatas. Elas podem demorar algum tempo. Nesse caso, repetir a informação sobre o comportamento desejado pode ajudar. Um exemplo de como a repetição funciona é o caso das empresas que conseguiram reduzir o consumo de água. Além de terem sido realizadas campanhas de conscientização sobre o tema, colocaram-se, acima de cada torneira, avisos com a seguinte inscrição: “Feche a torneira ao escovar os dentes e ao se barbear”. Imagine a economia resultante se essa informação fosse aplicada em larga escala... Para evitar repetir verbalmente o que você considera óbvio, avalie a possibilidade de criar um folheto ou um manual contendo informações essenciais, além de fotos e ilustrações dos resultados e ações desejados. Evite Prefira “Por favor, lave os cinzeiros.” “Toda vez que você esvaziar os cinzeiros, por favor, lave-os.” “A gente se vê por aí.” (Sua intenção é de se encontrar com o outro.) “Eu queria muito reencontrar você. Qual é o seu telefone?” (Lembre- se: você tem o direito de pedir o que desejar, e o outro tem o direito de recusar o que for pedido. Você só saberá a reação do outro se expuser o que quer.) Onde? Defina os lugares para os quais você deseja algo específico. Embora as regras sejam óbvias para você, podem não ser para os demais. Evite Prefira Evite Prefira “Você não viu que a porta estava fechada? Eu não queria ser incomodado.” “Quando eu estiver no meu quarto com a porta fechada, não quero ser incomodado.” Com quem? Existe uma ou várias pessoas envolvidas no que você deseja? Especifique que pessoa(s) é (são) essa(s). Evite Prefira “Não faça piadas sobre nós na frente dos outros.” (Quem são os “outros”?) “Não faça piadas sobre nós na frente dos seus pais.” Defina o parâmetro de qualidade que você espera O que vale a pena ser feito vale a pena ser bem-feito. NICOLAS POUSSIN 4 Esse item é particularmente importante para profissionais envolvidos com treinamento ou que ocupam posições de liderança. A maioria das pessoas pode exercer as funções que você explicitar, embora com parâmetros de qualidade diferentes. Por isso, estabeleça o padrão de qualidade que você considera aceitável, e avalie os resultados de acordo com esse padrão. Caso você seja professor de inglês, avalie o que considera aceitável no tocante ao aprendizado de seus alunos: quando eles falarem, o que você cobrará: frases gramaticalmente corretas? Fluência? Frases bem pronunciadas? Respeito à musicalidade da língua? Sotaque? Ou todos os aspectos mencionados? Lembre-se de que é possível falar fluentemente uma língua estrangeira e, ao mesmo tempo, cometer vários erros gramaticaise ter um sotaque que torne a língua de difícil compreensão para uma pessoa nativa. Muitas pessoas falam inglês, mas quantas falam eficientemente? Verifique se o acordo é possível Os grandes propósitos são sempre atravessados por diversos obstáculos e dificuldades. VICENTE DE PAULA 5 De nada adianta estabelecer um acordo com uma pessoa sem verificar se esse acordo é possível ou se algo impede sua prática. Segundo Barbara Pachter, “É importante saber se a outra pessoa ouviu você, assim como ouvir seus pensamentos e opiniões. Ela também pode ter boas ideias”.6 Para verificar se o acordo foi estabelecido, basta formular o pedido e depois perguntar algo como: “Tudo bem?”, “Ok?”, “É possível?”, “O que você acha?”, “Você tem condições de realizar o que foi combinado?”, “Você pode fazer isso?”, “É viável?”, etc. Isso permitirá à pessoa dizer se há algum impedimento para a realização da ação. Considere possíveis obstáculos Para que o acordo funcione, verifique se a outra pessoa defrontará os seguintes obstáculos: O outro tem treinamento adequado e acesso às informações necessárias para fazer o que foi combinado? Ele tem autonomia de ação? Se você deseja diminuir o controle sobre o que é feito por ele, preocupe-se em treiná-lo e ensiná-lo a fazer as tarefas sozinho. Supervisionar não implica ter excesso de controle. O microgerenciamento – ou controle excessivo pela direção, por meio da observação e da descrição minuciosa de fatos via relatórios – destrói a autonomia e a criatividade de sua equipe. É uma forma de lhe dizer, indiretamente, que é incompetente. 7 O autogerenciamento e a autonomia de ação aumentam os sentimentos de autoestima e de dignidade. O outro dispõe dos recursos necessários (pessoas, equipamento, tempo e espaço físico) para a mudança? Ele sabe claramente o que fazer? Ele tem habilidade para fazer? O outro terá uma perda muito grande ao mudar? Ele considera que a mudança vale a pena? A mudança vai ao encontro dos valores dele? 1 Sharon Anthony Bower & Gordon H. Bower, Asserting Yourself: a Practical Guide for Positive Change (Cambridge: Da Capo Press, 1991), p. 142. 2 Andy Warhol, apud Roberto Duailibi, Duailibi das citações (5ª ed. São Paulo: Arx, 2004), p. 586. 3 Jane Wagner, apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais (Rio de Janeiro: Ediouro, 2004), p. 244. 4 Nicolas Poussin, apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais, cit., p. 210. 5 Vicente de Paula, apud Cyro Donizete Passos, Pensamentos para uma vida melhor (São Paulo: Madras, 1998), p. 226. 6 Barbara Pachter & Susan Magee, The Power of Positive Confrontation: the Skills You Need to Know to Handle Conflicts at Work, Home and in Life (Nova York: Marlowe & Company, 2000), p. 82. 7 Karim Khoury, Com a corda toda: autoestima e qualidade de vida (São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2002), p. 208. Resultados Não existem erros, apenas resultados. PRESSUPOSIÇÃO DA PNL 1 Outra etapa na estratégia para a resolução de conflitos é descrever os resultados do acordo. Bower e Bower2 definem os resultados como consequências e propõem a possibilidade de exprimir consequências positivas ou negativas no caso do cumprimento ou não cumprimento do acordo. Pessoalmente, não gosto do termo consequência, que tem conotação de punição. A ideia, aqui, não é punir ninguém, mas chegar a um acordo que possa ser cumprido por ambos os lados. Há diversos motivos pelos quais o uso de uma forma de punição para conseguir o que se quer é ineficiente. Em geral, usar recompensas é muito mais eficiente. Como se trata de um assunto delicado, abordarei as vantagens e as desvantagens das punições e dos prêmios. O perigo das punições Educai as crianças e não será preciso punir os adultos. PITÁGORAS 3 Uma das maneiras mais comuns de tentar conseguir o que se quer, tanto na vida pessoal quanto na corporativa, é ter uma estratégia: “Se você não fizer o que eu quero, será punido”. Por que tantas pessoas adotam esse modelo? Porque ele funciona na base da ameaça, gerando resultados que considero inadequados no tocante ao fortalecimento da autoestima e ao desenvolvimento da responsabilidade pessoal. Segundo Paterson: Ao expressar um resultado, você novamente assume a responsabilidade pelo seu comportamento e deixa os outros assumirem a responsabilidade pelo comportamento deles. Você não exige que os outros façam algo. Isso seria uma tentativa de controlar o comportamento deles. Em vez de exigir, você está simplesmente dizendo como se sentirá e o que fará caso se comportem de determinada maneira. Os outros são convidados a avaliar a situação e a decidir por si mesmos o que fazer. 4 Esse conceito é fundamental para a resolução de conflitos. Exigir que o outro faça o que você quer fará com que ele se sinta controlado e manipulado, e isso provavelmente desencadeará uma atitude defensiva; daí para o círculo vicioso ineficaz do “eu-ataco-e-você-se- defende” bastará um passo. Bower e Bower advertem que devemos ficar atentos às punições: Sempre fique ciente, entretanto, de que a punição pode gerar efeitos colaterais indesejados. Quando você pune alguém, essa pessoa tende a sentir raiva e um profundo ressentimento de você. Apesar de sua intenção ter sido meramente mudar um padrão de comportamento que o aborrece, ao punir essa pessoa você pode produzir um rebelde rancoroso que deseje se vingar ou ficar longe de você. Por essas razões, os melhores acordos enfatizam e estabelecem consequências positivas e recompensadoras. 5 Não estou dizendo que, por vezes, as punições não sejam adequadas. O grande problema é sua utilização abusiva, especialmente com crianças. Lance mão de punições somente em último caso, quando forem estritamente necessárias e depois de esgotar todas as alternativas para chegar a um entendimento. Imagine uma gestão ou educação baseada em punições. Além de gerar um clima de intimidação e ressentimento, o uso excessivo de punições (pelos pais ou pela gerência) contribui para a formação de pessoas que, no futuro, não saberão raciocinar sobre os resultados de suas próprias ações. Na verdade elas nem pararão para refletir sobre isso, pois agirão de modo que evitem as punições a que são submetidas. Há, porém, algumas situações em que as punições podem ser adequadas: “É inadmissível não usar equipamento de segurança e capacete em uma obra de construção civil, por exemplo. Se alguém deixar de usá-los será demitido.” “Se vocês continuarem a gritar no cinema, nós iremos embora.” “Se você não parar imediatamente de fumar, correrá sérios riscos de ter um infarto.” Esse é um assunto muito sério em termos de mudança comportamental e desenvolvimento pessoal. Um dos fatores que impulsionam tal mudança é sua capacidade de refletir sobre os resultados de suas ações. Existe uma diferença brutal entre “Não vou fazer... porque não quero responder pelos resultados desse comportamento” e “Não vou fazer... porque serei punido”. Sobre as ameaças O temor do futuro é o pior dos medos. OSWALDO ARANHA 6 Entre as definições de ameaça, o dicionário Houaiss descreve: 1. Ação, gesto ou palavra que intimida; promessa de castigo ou malefício. Ex.: Havia em suas palavras uma ameaça aterradora. 2. Prenúncio ou indício de acontecimento mais ou menos perigoso ou maléfico. Ex.: ameaça de doença. 3. Ato que ficou ou ainda está no princípio, intenção. Ex.: Disse que ia embora, mas só ficou na ameaça. 4. Constrangimento imposto a alguém; intimação, coação. Ex.: Compareceu à reunião sob ameaça. 7 Agora reflita: as palavras intimidar, castigar, constranger e coagir produzem que tipo de resultados? A diferença entre falar sobre um resultado e ameaçar é muito sutil. Por isso, fique duplamente atento ao seu tom de voz – a proposta é que ele possa informar em vez de intimidar. Ameaças geram ansiedade; consequentemente, a criatividade, a livre expressão de ideias eo entusiasmo ficam seriamente comprometidos. Outro cuidado, se você deseja ter credibilidade: cumpra o que prometer. Ameaças não cumpridas arruinam sua autoridade. Por esse motivo: Não estabeleça limites que você não é capaz de manter. Se o seu filho está fazendo muito barulho e está atrapalhando os outros no restaurante, ameaças que nunca serão cumpridas, como “Eu nunca mais vou sair com você”, “O papai e a mamãe vão deixá-lo sozinho no restaurante”, “Se você não parar imediatamente de fazer barulho, vou chamar a polícia”, só contribuem para desacreditar sua assertividade. O seu filho não vai levá-lo a sério. Se você disser que vai embora do restaurante, esteja disposto a realmente ir; caso contrário, não diga nada. 8 Outro exemplo bastante desgastado e nem sempre cumprido nas empresas é “Se você repetir isso, será demitido”. O perigo das recompensas Encontre na vida um propósito tão grande que desafie suas capacidades a serem as melhores. DAVID O. MCKAY 9 O fato de as recompensas serem mais eficientes que as punições não significa que devam ser usadas sem critério; caso contrário, como diz o ditado, “O feitiço se voltará contra o feiticeiro”. Considere os seguintes aspectos sobre elas: As pessoas se adaptam às recompensas, e, facilmente, o que antes era uma bonificação passa a ser algo absolutamente normal. O grande problema disso é quando as recompensas cessam – as pessoas começam a achar que não vale a pena agir de acordo com um padrão se não forem recompensadas. As recompensas para uma equipe podem gerar descontentamento, caso seus integrantes sejam premiados de maneira desigual. Quando decidir valorizar uma equipe, recompense-a como um todo, e não apenas determinado integrante. Em casos de trabalho em equipe é extremamente difícil estabelecer o valor da contribuição de cada integrante para o resultado do trabalho. Os critérios podem ser bastante subjetivos. Como você se sentiria se um integrante de sua equipe recebesse uma bonificação por um trabalho de que você e seus colegas participaram, e você não ganhasse nada? Observe se a recompensa é congruente com o objetivo da pessoa. Depois de concluir um longo regime alimentar, você alcançou o seu peso ideal. Agora seu objetivo é mantê-lo. Como recompensa por essa conquista, você decide comer um bolo de chocolate inteiro. Como se sentirá depois de devorar o bolo? No mínimo, enjoado. O que me preocupa não é o fato de você comer o bolo ou não, mas o resultado que essa recompensa causará em você. Se você se sentir bem e estiver disposto a assumir a responsabilidade pelos seus atos, tudo bem. Agora, se essa recompensa lhe causar um mal-estar físico ou psicológico, ela não será adequada. Avalie os efeitos das recompensas a longo prazo. Estamos tão viciados no conceito de resultados imediatos que, às vezes, perdemos de vista que os efeitos de determinadas ações demoram certo tempo para poderem ser observados. Recompensa imediata não implica necessariamente seu funcionamento a longo prazo. As pessoas não valorizam incentivos que não desejam receber. Esse é um aspecto fundamental para entender um dos fatores que explicam a motivação. Victor Vroom10 apresentou uma “Teoria da Expectativa” sobre a motivação, baseada no seguinte conceito: um indivíduo agirá de determinada maneira com base na expectativa de obter um resultado e na atração que esse resultado exerce sobre ele. Essa teoria também apresenta a motivação baseada nas seguintes ideias: “Se eu tentar, irei conseguir?” “Se eu conseguir, obterei o resultado esperado?” “Esse resultado tem algum valor para mim?” Exemplificando: “Se eu me esforçar no meu trabalho, vou conseguir produzir mais?” “Se eu produzir mais, receberei um aumento de salário?” “O esforço valerá a pena? Eu quero ganhar um salário maior?” De acordo com o exemplo, se a pessoa valorizasse o aumento salarial e tivesse a expectativa de que sendo mais produtiva o receberia, estaria motivada a se empenhar mais em seu trabalho. Sobre seus valores Mantenho positivas as minhas palavras: As palavras se convertem em meus comportamentos. Mantenho positivos os meus comportamentos: Os comportamentos se convertem em meus hábitos. Mantenho positivos os meus hábitos: Os hábitos se convertem em meus valores: Os valores se convertem em meu destino. Não há um ensaio final: o dia de hoje é único, ele não se repetirá na sua vida. MOHANDAS K. GHANDI 11 No que diz respeito aos resultados, se você deseja aumentar as chances de motivar alguém, ofereça incentivos que a pessoa valorize. Descobrir o que os outros e nós mesmos valorizamos é essencial, porque agimos em função do que é importante para nós. Embora costumemos pensar em valores de maneira lógica, eles não o são. Cada pessoa tem determinados valores, valoriza coisas diferentes em contextos diversos. Provavelmente, o que você valoriza em um relacionamento pessoal é diferente do que valoriza na área profissional. Os valores nem sempre são conscientes ou explicitados, por isso, talvez seja necessário fazer algumas perguntas para descobrir os valores do outro: “O que é importante para você?” “O que lhe interessa aqui?” “Qual o proveito que você tira fazendo isso?” “Quando você obtiver este resultado, o que isso lhe proporcionará?” 12 Você também se torna consciente de seus valores quando eles são infringidos, e isso gera conflito. Quando ocorre algo que o faz sentir desconfortável ou ansioso, é porque provavelmente algum de seus valores foi violado. A tabela 2 a seguir13 apresenta alguns valores para ajudá- lo a avaliar o que é importante para si mesmo e para o outro. Tabela 2 – Relação de valores Ajuda Humor Alegria Imparcialidade Amor Inovação Aprendizado Justiça Autoconfiança Liberdade Autonomia Maestria Beleza Ordem Coragem Perseverança Cortesia Proteção Criatividade Revolução Desafio Sabedoria Descontração Satisfação Dignidade Segurança Divertimento Ser único Elegância Serviço Entusiasmo Simplicidade Estímulo a mudanças Sinergia Excelência Solução de problemas Excitação Usar as próprias habilidades Fazer do mundo um lugar melhor Verdade Felicidade Vitalidade Harmonia Vivacidade Honestidade Zelo Prazer, prêmios e recompensas Pessoas responsáveis não culpam circunstâncias, condições ou algum condicionamento por seu comportamento. Seu comportamento é produto de uma escolha consciente. STEPHEN R. COVEY 14 Comida não é prêmio nem recompensa. Muito menos compras, cigarros, bebidas, sexo ou qualquer outra coisa associada ao prazer. O prazer é uma necessidade essencial nas nossas vidas. Por isso, desejo sinceramente que você obtenha o máximo de prazer em suas experiências e também que suas ações sejam resultado de escolhas conscientes, e não consequência de hábitos ou compulsões. Associar a ideia de prazer com prêmio pode ser perigoso, porque você abre mão do seu livre-arbítrio, de seu poder de escolha. Hábitos se adquirem pela repetição e prática de ações específicas. Determinados hábitos resultam em verdadeiros obstáculos para a resolução de conflitos. O conflito, por si só, gera tensão – tudo depende de como você reage ao evento em questão. Essa tensão pode ser direcionada de maneira construtiva para que você resolva a situação. Ou você pode encontrar outros meios para aliviar a tensão, como, por exemplo, a busca do prazer e de prêmios ou recompensas. O perigo dessa atitude é que ela pode desencadear compulsões. Suponha que haja desentendimentos com seu chefe e que, a cada crítica dele, você coma um chocolate. Se você comer chocolate sempre que estiver em uma situação estressante, a partir de um dado momento, isso se tornará um hábito e você passará a agir no “piloto automático”. Assim, toda vez que você estiver tenso, buscará alívio no chocolate. Você abrirá mão do livre-arbítrio e de seu poder de escolha não por opção, mas por hábito. Comer chocolate nessas situações intensifica o conflito por dois motivos: a ação sedá compulsivamente e contra a sua vontade, o que abala sua autoestima, pois você sente que perdeu o controle da situação. Convenhamos: mesmo que você adore chocolate, recorrer a ele em uma situação de conflito não resolverá o problema. Em momento algum abra mão do seu livre-arbítrio. Quando decidir agir, assuma a responsabilidade. O controle está nas suas mãos. Você é responsável por seus atos. Admiti-los coloca-o em uma posição forte, de poder. Você não está mais vulnerável. 15 A partir de agora, liberte-se de qualquer justificativa e assuma a responsabilidade pelos seus atos. Agir conscientemente, sem necessitar de pretextos para suas ações, é uma maneira de redirecionar seu pensamento para não ficar dependente dos prêmios e recompensas. É possível substituir suas declarações. Observe o exemplo: Evite Prefira “Vou comer chocolate porque briguei com o meu chefe.” “Vou comer chocolate porque eu mereço.” “Vou comer chocolate porque tive um dia difícil.” (Essas declarações sugerem que você merece um prêmio.) “Vou comer chocolate porque quero.” (Aqui, você desvincula a ação do prêmio. Não interessa se você brigou com seu chefe, se merece um prêmio ou se teve um dia difícil.) Gullo adverte: Se você usa os alimentos como consolo, confunde prazer imediato com felicidade a longo prazo. O viciado em álcool que toma o primeiro drinque e a pessoa cujo excesso de peso apresenta riscos perigosos para a saúde e que come um pacote inteiro de biscoitos acreditam que estão se entregando a prazeres. Mas são prazeres destrutivos, que irão custar muito mais que os prazeres imediatos. Sempre que você confundir gratificação imediata com felicidade, estará colocando em risco a extensão e a qualidade de sua vida por alguns segundos de prazer. 16 Outra forma de evitar o perigoso jogo das recompensas imediatas, proposta por Rhandy Di Stéfano, é, da próxima vez que ingerir algo, imaginar o efeito do alimento/bebida em seu corpo e questionar: “É essa a minha escolha?”; “Vale a pena?”. O autor prossegue: Que tal se imaginássemos a consequência do nosso hábito imediatamente? Que tal se você, cada vez que fumasse, imaginasse que seu corpo ficasse com enfisema na hora? Você continuaria fumando? E, se cada vez que você comesse bolo de chocolate, seu corpo engordasse na hora, como se você de repente inflasse? Você comeria o bolo? Não seria uma visão interessante estar comendo o bolo e, ao mesmo tempo, ver a sua barriga inchar a cada pedaço que você engolir?. 17 Reflita sobre os resultados das recompensas Para onde as escolhas estão levando a sua vida? ANÔNIMO 18 Não abuse das recompensas. Fique atento aos resultados gerados por elas. Se observar que o outro só age de determinada maneira quando obtém um prêmio em troca é porque, provavelmente, você exagera nas recompensas. Considere as seguintes situações: Seu filho decide que só escovará os dentes se puder assistir televisão até mais tarde. A pessoa encarregada da limpeza do seu escritório decide que só limpará direito se receber um bônus em dinheiro. Sua equipe de vendas decide que só vai se empenhar se, além do salário e das comissões, você conceder um fim de semana prolongado. Existe incongruência entre os termos do acordo e as recompensas? A estratégia, aqui, é reconsiderar se o prêmio concedido faz com que a outra pessoa ultrapasse os limites do acordo e daquilo que você considera razoável e renegociar a recompensa. Sobre a culpa Responsabilidade é diferente de culpa. Culpa está ligada à sensação de falta de poder, à sensação de ter feito algo errado. Responsabilidade está ligada à sensação de poder, à ideia de que “eu posso fazer diferença na minha vida e na vida de outras pessoas”. RHANDY DI STÉFANO 19 Uma habilidade fundamental, a ser desenvolvida para a resolução de conflitos, é partir do pressuposto de que não existem fracassos, apenas resultados. Esse é um dos princípios básicos da programação neurolinguística, e é muito útil para se libertar do sentimento de culpa vinculado ao fracasso. A partir de agora, pense em termos de resultados, e não de fracasso. Isso significa saber onde você está agora, aonde quer chegar e planejar sua estratégia para definir como chegar, usando seus próprios recursos ou criando novos. É evidente que essa abordagem implica que você avalie como determinado resultado afetará sua vida de modo geral. Diante de um evento ou de um conflito, considere se suas ações o aproximam daquilo que você quer. Para isso, questione, conforme o quadro abaixo.20 Evite Prefira “Quem é o culpado?” “O que há de errado?” “Quem vai consertar o erro?” (foco na culpa e no passado) “O que estou tentando realizar agora me leva aos resultados que desejo?” “O que eu posso fazer para sair de onde estou e chegar aonde quero?” “Como posso mudar o que estou fazendo para que isso não volte a acontecer?” (foco no resultado e no futuro) Pensar em termos de resultados, e não de fracasso, lhe permite libertar-se dos sentimentos de culpa, inadequação, rejeição e vergonha a ele associados. Pense por essa perspectiva: um resultado é simplesmente um resultado, e não um fracasso. Com isso, você não se “afundará na culpa” e avaliará o problema em termos de estratégia: se você não chegou ao resultado desejado, poderá desenvolver sua flexibilidade e criar estratégias mais adequadas e eficazes para alcançá-lo. Cultivar sentimentos de fracasso e culpa não contribui para o desenvolvimento de novas estratégias de pensamento e ação. Tenha em mente que cultivar a culpa só aumenta o sentimento de incompetência, e não desenvolve nenhum tipo de habilidade. Considero um verdadeiro desafio deixar de culpar os outros pelos resultados obtidos, porque a culpa, conforme explica O’Connor, tem uma função útil: canalizar sentimentos. Quando culpamos alguém, criamos uma válvula de escape para nossa raiva e nossas frustrações. Sistemas não têm sentimentos, não são como pessoas. Mas culpar indivíduos e zangar-se com eles pelo menos oferece um escoadouro para projetar esses sentimentos. 21 O perigo dessa abordagem é acreditar que, pelo fato de ter encontrado uma válvula de escape para “desabafar”, o conflito esteja resolvido. Isso não é verdadeiro. O fato de você se sentir mais aliviado não fará com que ele se resolva. A maneira mais eficiente de resolvê-lo é entender como ele é perpetuado e o que precisa ser mudado, até mesmo dentro da dinâmica do conflito (incluindo seus comportamentos), para solucioná- lo. As pessoas funcionam perfeitamente As pessoas têm mais opções do que imaginam. No entanto, a maioria passa mais tempo planejando as férias que pensando sobre o que querem fazer das suas vidas. BOB MACDONALD 22 Esse é outro pressuposto da PNL que possibilita pensar em termos estratégicos para alcançar resultados. Considere que ninguém é errado, não tem nenhum tipo de defeito de fabricação nem está quebrado. Todos nós executamos nossas estratégias perfeitamente. Essas estratégias, entretanto, podem ser inadequadas ou ineficientes para o alcance dos resultados desejados. Caso deseje modificar uma estratégia, você precisará descobrir como você e os outros funcionam, a fim de criar algo mais adequado e eficiente. No que diz respeito aos resultados, você tem várias opções para expressá-los. Observe os exemplos: Resultados sobre seus sentimentos Talvez você se sinta melhor com o novo acordo: “Eu me sentirei muito satisfeito com isso.” “Ficarei mais tranquilo.” “Se você fizer isso, eu ficarei seguro.” Resultados sobre a dinâmica da relação “Nós nos entenderemos melhor.” “Resolveremos essas questões rapidamente.” “Teremos maiores chances de chegar a um acordo pacífico.” Resultados concretos “Serei capaz de lhe entregar o relatório no tempo combinado.” “Poderei organizar o departamento até o fim do mês.” “Poderei atender melhor os clientes.” Outros exemplos: Economizar tempo. Aumentar a produtividade. Melhorar o ambiente de trabalho,a imagem da empresa, o trabalho em equipe, o entrosamento entre seus integrantes, etc. Resultados com recompensas (Lembre-se de oferecer algo que o outro valorize.) “Você poderá usar o meu carro no próximo fim de semana.” “Você receberá uma promoção.” “Nós iremos viajar no próximo feriado.” Outros exemplos: Elogios verbais e por escrito sinceros. Promoções. Bônus em dinheiro. Oferta de viagens. Concessão de um treinamento ou curso. Oportunidade de trabalhar em um horário flexível ou em casa. Aquisição de ferramentas ou equipamentos para melhorar o trabalho. Permissão para que um funcionário represente sua empresa em uma reunião de profissionais do setor. Implementação de uma solução criada pelo funcionário na empresa. Aumento da autonomia da pessoa para que tenha mais controle sobre seu trabalho, etc. 1 Adaptado de Andréa Lages & Joseph O´Connor, Coaching com PNL – o guia prático para alcançar o melhor em você e em outros: como ser um coach master (Rio de Janeiro: Qualitymark, 2004), p. 190. 2 Sharon Anthony Bower & Gordon H. Bower, Asserting Yourself: a Practical Guide for Positive Change (Cambridge: Da Capo Press, 1991). 3 Pitágoras, apud Cyro Donizete Passos, Pensamentos para uma vida melhor (São Paulo: Madras, 1998), p. 177. 4 Randy J. Paterson, The Assertiveness Workbook: How to Express Your Ideas and Stand up for Yourself at Work and in Relationships (Oakland: New Harbinger, 2000), p. 164. 5 Sharon Anthony Bower & Gordon H. Bower, Asserting Yourself..., cit., p. 95. 6 Oswaldo Aranha, apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais (Rio de Janeiro: Ediouro, 2004), p. 47. 7 Adaptado de Antônio Houaiss & Mauro de Salles Villar, Dicionário Houaiss da língua portuguesa (Rio de Janeiro: Objetiva, 2001), p. 185. 8 Karim Khoury, Com a corda toda: autoestima e qualidade de vida (São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2002), p. 116. 9 David O. McKay, apud Roberto Duailibi, Duailibi das citações (5ª ed. São Paulo: Arx, 2004), p. 421. 10 A “Teoria da Expectativa” está associada com os trabalhos de Victor Vroom, Edward E. Lawler e Porter. Dados acessados em www.brunel.ac.uk. abril 2005. http://www.brunel.ac.uk/ 11 Mohandas K. Ghandi, apud Stephen R. Covey, Escolha: escolha a vida proativa que você deseja (Rio de Janeiro: Campus, 2003), p. 89. 12 Andréa Lages & Joseph O´Connor, Coaching com PNL – o guia prático para alcançar o melhor em você e em outros..., cit., p. 41. 13 Steve Andreas & Charles Faulkner (orgs.), PNL – Programação neurolinguística: a nova tecnologia do sucesso (São Paulo: Campus, 1995), p. 75. 14 Stephen R. Covey, Escolha: escolha a vida proativa que você deseja, cit., p. 100. 15 Karim Khoury, Soltando as amarras: emagrecimento e mudança comportamental (São Paulo: Editora Senac São Paulo, 1999), p. 46. 16 Stephen P. Gullo, Thin Tastes Better (New York: Dell Publishing, 1996), p. 62. 17 Rhandy Di Stéfano, Manual do sucesso total: o brasileiro do século XXI (São Paulo: Elevação, 2000), p. 151. 18 Apud Stephen R. Covey, Escolha: escolha a vida proativa que você deseja, cit., p. 28. 19 Rhandy Di Stéfano, Manual do sucesso total..., cit., p. 64. 20 Adaptado de Joseph O’Connor, Manual de programação neurolinguística – PNL: um guia prático para alcançar os resultados que você quer (Rio de Janeiro: Qualitymark, 2003), p. 265. 21 Joseph O’Connor, Liderando: técnicas simples e fundamentais para influenciar e administrar pessoas (Rio de Janeiro: Record, 1998), pp. 247-248. 22 Bob MacDonald, apud Stephen R. Covey, Escolha: escolha a vida proativa que você deseja, cit., p. 35. O contra-ataque Nenhum passo para trás. Nem para tomar impulso. CHE GUEVARA 1 Depois de expressar o seu ponto de vista, o que esperar das outras pessoas envolvidas em situação de conflito? Antes de passarmos para as estratégias referentes a esse assunto, devo ressaltar que a mente humana, quando se sente “ameaçada”, é maravilhosamente criativa para buscar meios para “desviar” a atenção do outro. Suponha que você tenha se dirigido a determinada pessoa com todo o respeito, mas, mesmo assim, ela teve uma reação negativa, ficando na defensiva. Esse é o momento mais importante para você manter a sua posição, não recuar e, se julgar adequado, renegociar o acordo. Sobretudo não caia na armadilha de contra- atacar; isso tende a piorar muito a situação. Mantenha-se congruente: quando o seu corpo, o seu tom de voz e o conteúdo da sua fala transmitem a mesma mensagem, você diminui muito as chances de o outro assumir uma postura defensiva. Repita o seu texto de forma assertiva e congruente. Bower & Bower2 elaboraram uma lista de diversas reações que as pessoas podem ter quando você fala de maneira assertiva; eu completei a lista de “reações possíveis” (sem ter a pretensão de esgotá-la) com o objetivo de mostrar estratégias para reagir quando o seu interlocutor tiver uma atitude de contra-ataque. Vejamos: FUGA A outra pessoa: Não quero discutir isso agora. Você: Tudo bem. Quando podemos falar sobre isso? Fale-me especificamente quando podemos conversar. DISTRAÇÃO COM ELOGIOS A outra pessoa: Sabe que os seus olhos ficam ainda mais verdes quando você fica bravo(a)? Você: Obrigado(a). Voltando ao assunto... NEGAÇÃO A outra pessoa: Isso não é verdade. Você: Essa é a forma como eu vejo a situação. CONTRA-ATAQUE Você: Você chegou atrasado para a reunião. A outra pessoa: Você também se atrasou quando visitamos um cliente. Você: Por favor, seja pontual. JUSTIFICATIVAS Você: Você não tem me passado os recados ultimamente. A outra pessoa: Eu estou estressado porque briguei com minha namorada. Você: Isso não é responsabilidade minha. ou Você: O fato de você não me dar os recados gera mais conflito entre nós, e você vai ficar ainda mais estressado. ABUSO VERBAL A outra pessoa: Quem te deu o direito de me passar um sermão? Você: Não estou fazendo sermão, estou te falando como eu me sinto a respeito disso. IRONIA Você: É a segunda vez que você me critica na frente dos convidados. A outra pessoa: Puxa vida só duas? Eu devo estar fora de forma. Você: Eu não vejo graça. JUSTIFICAR OS COMPORTAMENTOS PELAS INTENÇÕES A outra pessoa: Só tive a intenção de fazer uma brincadeira. Você: Pode ser, mas achei sua observação inadequada e isso me magoou. “PSICOANALISAR” OS OUTROS Você encontrará várias pessoas que insistem em saber mais sobre a sua vida do que você mesmo. A outra pessoa: Você só está falando isso porque tem conflitos mal resolvidos com a sua família. Você: Não me analise. A minha família não tem nada a ver com isso. O que me interessa é resolver um problema com você. GESTOS OFENSIVOS Você apresenta o seu ponto de vista, e o outro fica encarando-o fixamente com tensão ao redor dos olhos e uma expressão ameaçadora. Você: Entendo que o que eu estou falando pode aborrecê-lo. De qualquer forma, preciso falar porque isso é muito importante para mim. DESCULPAR-SE EXAGERADAMENTE Você fala o que o incomoda e propõe um acordo, e o outro exagera nas desculpas. Essa pode ser uma estratégia para que você se sinta culpado e arrependido por ter falado. Calma. Lembre-se de que quem se sentiu ofendido foi você e não o seu “oponente”. A estratégia é mudar de assunto rapidamente. A outra pessoa: Desculpe, em momento algum me passou pela cabeça a possibilidade de sugerir que você não estava sendo honesto. Desculpe, eu não tive a intenção de ofender você. A última coisa do mundo que eu queria é que você se sentisse mal com o que eu falei. Desculpe novamente. Você: Desculpas aceitas. Você gostou da sua viagem de férias? Conteme tudo a respeito. AMEAÇAS A outra pessoa: Se você continuar a falar dessa maneira, eu vou te largar. Você: Isso não vai resolver o conflito entre nós. É possível dialogarmos sem ameaças? A outra pessoa: Se você continuar a reclamar, não vou te indicar para o treinamento. Você:Estou tentando chegar a um acordo, quero melhorar o nosso relacionamento. O fato de você não me indicar para o treinamento não vai fazer com que eu mude de opinião nem resolverá o nosso desentendimento. Podemos conversar calmamente? RETALIAÇÕES A outra pessoa: Se você largar a faculdade de direito para estudar arquitetura, eu paro de pagar os seus estudos. Você: Eu me sinto mal quando sou ameaçado. Só quero estudar algo de que eu goste. O fato de você não pagar mais os meus estudos só vai piorar a situação. ESTRANHAMENTO A MUDANÇAS Esteja preparado para que as pessoas estranhem o seu novo “eu”; elas precisam de um tempo para se acostumar com as suas novas atitudes. Se você era uma pessoa passiva e começa a exprimir o seu ponto de vista em diversos contextos, ou se você era agressivo e passa a falar assertivamente, em qualquer um dos casos vai gerar “estranhamento” para aqueles que estavam acostumados com seus velhos hábitos. Este livro ou um curso, que o esteja ajudando nesse sentido, podem ser alvo de ataques. A outra pessoa: Que diabo de ideias as pessoas têm colocado na sua cabeça? Desde que você começou a fazer esse tipo de leitura (ou curso) você está desse jeito. Você é muito influenciável... Você: Estou resolvendo conflitos com respeito. Escolhi ler esse tipo de livro (ou fazer o curso) porque ele me ajuda a me exprimir com respeito. REAÇÕES PSICOSSOMÁTICAS Se você começar a falar e o outro apresentar algum sintoma físico ou psicológico do tipo variações na pressão, desmaio, dor no peito, choro, tontura, etc., não questione se o outro está fingindo ou não nem se o problema é físico ou psicológico. Bower e Bower observam que: Sintomas de doença são frequentemente uma forma hipocondríaca de responder ao estresse. Assim como chorar, esses sintomas manipulam as pessoas ajudando o indivíduo a escapar da situação-problema. 3 Os autores propõem, nesse caso, que você resolva o conflito por escrito; isso permitirá que o seu interlocutor leia o que você tem a dizer, poupando-o da acusação de ser o responsável pelas reações físicas dele. Num contexto de trabalho, pode valer a pena ter uma conversa aberta. Eu já presenciei vários executivos que despediram seus assistentes porque eles choravam cada vez que o “chefe” fazia algum tipo de observação (mesmo de maneira respeitosa). O sistema é o seguinte: o chefe faz uma observação, o assistente chora, o chefe fica irritado porque não se faz entender, o assistente chora mais ainda, o chefe fica mais irritado e despede o funcionário. Em vez de tentar resolver as crises, ele automaticamente despede o assistente, e o conflito não é resolvido. Em geral os executivos são treinados para demonstrar resultados práticos; nesse caso, não se trata de falta de sensibilidade ou de não ter habilidade para lidar com emoções. Eles simplesmente não conseguem se fazer entender com um assistente que “evita” se comunicar porque chora quando o chefe faz determinado tipo de observação. Parece-me pouco prático ter de escrever cada vez que você precisar resolver algo com o seu assistente, por exemplo. Se você concluir que o seu colaborador é competente e que vale a pena investir nele, tente uma nova estratégia: ofereça um lenço de papel, peça que ele se acalme e depois voltem a conversar. Fale também sobre os resultados que esses desentendimentos geram para a relação de vocês. Seja breve e específico e ponto final. Sobre os chiliques Algumas pessoas quando se sentem ameaçadas têm chilique, ataque nervoso ou histérico. Quando a pessoa está fora de si, ou quando está sob ameaça física, não é o momento adequado para resolver conflitos. Quando uma pessoa tem um acesso de fúria, ela perde parcialmente a consciência de si, ou seja, perde o controle, mesmo que temporariamente, sobre as suas emoções e ações, consequentemente se reduz drasticamente a habilidade de escutar e avaliar a situação. A alternativa que considero mais saudável é deixar a crise se dissipar e buscar o momento mais adequado para resolver o conflito. Acessos de fúria em crianças podem ser mais comuns do que em adultos (mas nem sempre), por esse motivo falarei sobre as estratégias para lidar com os chiliques em diferentes faixas etárias. Chiliques infantis (2 a 4 anos) A criança pequena nem sempre tem as habilidades verbais suficientes ou o controle mental e/ou emocional para lidar com sentimentos perturbadores como raiva e frustração, e isso pode desencadear o chilique. O problema não é o ataque nervoso em si, mas a forma que se reage a ele. Michelle Kennedy propõe: Quando o seu filho ficar agressivo, procure não exagerar na reação, senão você poderá assustar violentamente tanto o seu filho como a criança que ele está atormentando. E não passe um pito no seu filho no meio de uma situação dessas – não porque é constrangedor para ele, mas porque você estará dando mais atenção ao fato do que provavelmente é necessário. Além disso, a criança não entenderá a metade do que você está dizendo. Aos ouvidos do seu filho, será mais ou menos assim: “Blá, blá, blá, não... blá, blá, blá morder...”. A melhor maneira de lidar com uma situação dessas é retirar rapidamente seu filho do local ou dizer com firmeza algumas poucas palavras, deixando claro que você não vai tolerar esse comportamento desagradável. 4 Chiliques de adultos A estratégia usada para dissipar os acessos de fúria de adultos é praticamente a mesma usada com crianças. Entretanto, quando a pessoa adulta se tornar inconveniente, nem sempre será possível retirá-la do ambiente. Se não for viável essa manobra, ainda assim você pode retirar-se. O que você vai ganhar em ser o espectador dessa cena? Quando Fábio chegou ao escritório, seu chefe já estava tendo um acesso de fúria; ele culpava toda a equipe por não ter enviado um email para um cliente importante. E a equipe, de cinco pessoas, foi chamada para esclarecer a situação. O chefe gritava, batia os punhos cerrados na mesa e estava furioso com a suposta falha da equipe. Fábio havia enviado o e-mail e imaginou que seria suficiente imprimir uma cópia do envio e outra da resposta para acalmar o chefe, mas esses documentos não foram suficientes para dissipar a tensão, e o chefe ainda continuou a acusá-lo repetidas vezes. O fato era que ele não só havia enviado o e-mail como o cliente havia aceito a proposta. O chefe estava tão nervoso que não foi capaz de encontrar o e-mail na caixa postal da empresa. Estava tão descontrolado que, mesmo com “as evidências nas mãos”, continuava a acusar a equipe. A equipe assistiu ao chilique silenciosamente até que o chefe foi se acalmando mesmo sem reconhecer o que realmente tinha acontecido. A situação se tornou constrangedora, porque, além de ter perdido o controle, o chefe perdeu a autoridade sobre o grupo. Ninguém da equipe precisou usar nenhuma técnica para resolver conflitos; apesar de o chefe nunca ter reconhecido que havia acusado a equipe injustamente nem ter pedido desculpas, o comportamento dele mudou radicalmente. Mesmo que a pessoa não demonstre arrependimento nem se desculpe, o que importa é como ela agirá dali para a frente. Às vezes a pessoa que perde o controle se sente tão mal com o que aconteceu que esse sentimento é suficiente para gerar uma mudança de comportamento. Nesse caso, a discrição é fundamental: o fato de as pessoas que se sentiram acusadas injustamente não falarem mais sobre o assunto traduz a seguinte mensagem: “estamos dispostos a esquecer o que aconteceu se isso não voltar a se repetir”. Em algumas situações o estresse é tão grande que só o fato de tocar no assunto torna a situação ainda mais tensa. Se você se sentir desconfortável com chiliques alheios, é seu direito retirar-se e falar algo do tipo “quando você se acalmar nós voltaremos a conversar”. Um exemplo de contra-ataque Situação: a sua assistente fica conversando durante bastante tempo ao telefone sobre assuntos pessoais, e você quer queela mude de comportamento. Você: Por favor, Sílvia, eu já pedi para você não ficar “batendo papo” ao telefone, com assuntos que não dizem respeito à empresa. Assistente: Mas eu não estava batendo papo agora, senhor Carlos. Eu estava resolvendo o problema da entrega da mercadoria... Você: Não estou me referindo ao que você está fazendo agora. Tentei falar com você duas vezes em dez minutos e o seu ramal estava ocupado. E não é a primeira vez que isso acontece. Assistente: O senhor nunca reclamou do meu trabalho. E os clientes estão satisfeitos com o meu atendimento. Você: Reconheço a sua competência; só quero que você seja breve ao telefone e se limite a falar sobre assuntos relativos à empresa. Assistente: Mas quando eu fiquei falando sobre assuntos pessoais? Você: Sílvia, não vou entrar nessa discussão. Seja breve e vamos nos entender melhor. Assistente: (Começa a chorar.) Você: Acalme-se e, por favor, seja breve ao telefone. Obrigado. O que você precisa saber sobre mudança de comportamento Hábitos são difíceis de serem quebrados. Tenha paciência. Você pode observar que a pessoa é capaz de mudar rapidamente após uma conversa franca, mas, depois de certo tempo, ela retorna aos velhos hábitos. O que fazer? Em primeiro lugar, avise discretamente a pessoa quando ela repetir um velho hábito indesejado. Você pode combinar um sinal discreto como, por exemplo, um olhar ou falar em particular com a pessoa. Estabeleça um prazo para que a mudança ocorra efetivamente. Qual é o seu limite para que o comportamento seja mudado? Se você pediu para o seu funcionário não se atrasar ao trabalho, falou sobre as consequências desse comportamento e, mesmo assim, ele continua chegando atrasado, avalie se vale a pena explicar mais uma vez ou se é melhor tomar outra atitude. Nessas situações é útil inspirarse em pessoas que costumam resolver esses conflitos de maneira tranquila e eficiente. Não se trata de copiar a atitude do outro, mas observar como se faz e adaptar a estratégia para si. Todo comportamento tem uma intenção positiva A PNL pressupõe que qualquer comportamento, por mais terrível ou estranho que possa parecer, tem uma intenção positiva e é a melhor escolha para a pessoa no momento. Se lhe fosse dada uma escolha mais apropriada dentro de determinado contexto, ela automaticamente a faria. Encarando as suas atitudes dessa maneira, o passado deixa de vir carregado de culpa. Todas as situações vivenciadas são importantes e servem como exemplo. 5 Por mais bizarro que possa parecer, o fato é que, muitas vezes, é interessante para a pessoa manter a crise, porque gera algum tipo de ganho. Algumas pessoas discutem porque, dessa forma, ganham atenção; outras gritam para serem reconhecidas, outras são irônicas, porque se divertem; outras agridem para se defender e assim por diante. Os exemplos são inúmeros e precisam ser analisados caso a caso. Enquanto você não encontrar a “intenção positiva”, ou os ganhos que o conflito gera, e não for capaz de substituí-los por comportamentos mais saudáveis não ocorrerá uma mudança eficaz. Pedro teve uma discussão séria com seu irmão Luís, porque se sentia humilhado quando seu irmão fazia comentários irônicos sobre seu estilo de vida, seus relacionamentos, seu trabalho, diante dos amigos e da família. Pedro decidiu falar abertamente com seu irmão e exprimiu como se sentia com os comentários que fazia. Pedro deu exemplos específicos sem acusá-lo. Caso Luís continuasse a ser irônico, Pedro não hesitaria em se afastar dele para evitar uma “briga de família”. Luís reconheceu que se divertia muito sendo irônico e também assumiu que havia outras formas de se divertir que não fosse à custa de seu irmão. A mudança foi rápida? Num primeiro momento, sim. Em seguida Luís voltou a agir da mesma forma com Pedro, e assim que isso acontecia o irmão “sinalizava” o que estava acontecendo. Aos poucos a ironia foi sendo eliminada do relacionamento de ambos. O processo não ocorreu com “um estalar de dedos”. Sobre perdas e ganhos E como prever os resultados que a resolução do conflito e as mudanças vão gerar? Quando falamos em mudança comportamental, é importante lembrar o conceito conhecido em PNL como ecologia. Ser ecológico é poder avaliar como a obtenção do objetivo irá afetar a sua vida, observando todos os aspectos externos e internos decorrentes da mudança. Sempre que quiser ser ou agir diferente, pergunte-se: Que problemas poderiam ser causados pela mudança proposta? O que perderei assumindo o comportamento y? (Sempre que ganhamos alguma coisa, perdemos outra, ainda que trivial.) Que consequências trarão para a minha vida os benefícios obtidos ao alcançar o meu objetivo? 6 No caso, de conflitos pergunte-se: “O que eu ganho e o que o outro ganha com o conflito?” “Quais são ‘os ganhos’ diretos e indiretos que a manutenção do conflito gera?” “Quais são as outras opções mais saudáveis que satisfaçam esse ‘ganho’ de formas diferentes?” Lembre-se de que as respostas a essas perguntas são apenas suposições; você poderá checar se elas fazem algum sentido na sua convivência diária com pessoas. Vale ainda lembrar que cuidados excessivos numa negociação podem ser obstáculos para se chegar a um acordo. Faz parte da negociação assumir certos riscos para qualquer decisão tomada; por esse motivo, estabeleça o resultado desejado. Tenha clareza dos seus limites máximos e mínimos para chegar a um acordo. Estabeleça seu Mapan (Melhor Alternativa para Acordo Negociado) e pense que outras estratégias você poderá adotar, se não houver acordo, pois nem tudo é passível de negociação. É problema seu, não meu! Você também pode ouvir algo do tipo: “Eu não tenho nada a ver com isso”, “Você não é pago para achar nada, só para obedecer”, “E daí?”, “Problema seu”. Considere isso como uma informação valiosa. A pessoa com quem você está procurando resolver o conflito não está disposta a mudar, e muito menos a colaborar com você. Lembre-se: o fato de você falar não é garantia de que o outro mudará de comportamento. Muitas pessoas só estarão dispostas a mudar se tiverem algum ganho com isso. Nesse caso você poderá reafirmar os ganhos na dinâmica da relação: nós vamos nos entender melhor, resolveremos esses assuntos rapidamente, não perderemos tempo com discussões, teremos uma qualidade de vida melhor, etc. ... Lembre-se de que a pessoa deverá valorizar esse ganho; caso contrário, resistirá às mudanças. O que favorece a mudança é o fato de a pessoa sentir que tem opção de escolha. Caso não mude, ela será responsável pelos resultados desse comportamento. Isso é muito mais eficiente em termos de exercer uma influência positiva sobre o outro do que obrigá-lo a mudar fazendo uso de coerção, de ameaça, de punição ou incutindo medo. Vamos supor que a pessoa não esteja disposta a mudar. Qual seria o plano alternativo? Muitas de nossas preocupações são fruto da antecipação de problemas. Focalizar a sua atenção no problema só aumentará a sua preocupação. Pensar no problema torna-o ainda mais difícil de ser resolvido. 7 Experimente a seguinte estratégia. Substitua: “E se o problema x acontecer?” por “O que eu farei se o problema x acontecer?”8 Isto permitirá que você crie alternativas de ação e “não exagere” as consequências dos problemas imaginados.9 O melhor ainda está por vir... Neste capítulo, descrevi algumas reações de defesa que as pessoas costumam ter. Não parta do princípio de que se a pessoa atacá-lo ou ficar na defensiva, num primeiro momento, significa que ela não vá mudar, pois você pode se surpreender com uma súbita mudança de comportamento. E o que fazer se alguém propuser que você altere algum comportamento seu? Você tem várias opções: Estabeleça empatia com o outro. Aja com respeito e certifique-se de que isso se reflita no tom de voz, na linguagem não verbal e no vocabulário. Se o outro estiver certo, agradeça; e, se for o caso, desculpe-se (sem exageros).Renegocie o acordo (se você não estiver de acordo com a proposta). Ceder: não discuta e mude de comportamento com assuntos que você não considera relevantes. Lembre- se do princípio da reciprocidade: se você estiver disposto a ceder, estará motivando o seu parceiro a fazer o mesmo. Mantenha o controle. Se você for pego desprevenido e sentir que vai perder a cabeça, tornar-se agressivo, sugira uma conversa num outro momento. Ou simplesmente seja sincero: “Eu desejo falar sobre isso num outro momento, porque não quero correr o risco de ser agressivo, falar com você de maneira inadequada, não te respeitar, perder a cabeça...”. Qualquer que seja a reação do outro, tenha em mente que qualidade de vida não significa evitar situações estressantes, mas sim saber lidar com a pressão de maneira eficiente. Considere a tensão gerada como uma fase transitória. Mesmo que não seja possível controlar a situação, você pode controlar a maneira como reagir a ela. Quando você se encontrar numa situação que considere difícil, pergunte-se: “Como eu posso influenciar essa situação de maneira positiva?”. Um dos meus clientes, um alto executivo, estava farto de participar das reuniões no trabalho. Segundo ele, nessas ocasiões discute-se muito e não se resolve nada, e ainda por cima perde-se um precioso tempo que poderia ser usado de maneira mais produtiva. Ele, porém, sabia da “necessidade” dessas reuniões e chegou à conclusão de que se sentiria melhor se pudesse reduzir a frequência delas. Esse executivo ocupa um cargo estratégico na empresa e, ao renovar o contrato, pediu que fosse incluída uma cláusula que reduzia a quantidade de reuniões para uma vez por semana. O pedido foi atendido. As reuniões deixaram de ser improdutivas? Não. Os participantes foram substituídos? Não. E não há nenhum problema nisso. A qualidade de vida dele melhorou muito por causa da redução do que ele considerava desgastante? Definitivamente, sim. Use a mesma estratégia na sua vida pessoal. Se você não pode evitar o convívio com pessoas com as quais você não tenha afinidade, você pode, no mínimo, não cultivar esses relacionamentos. O que você pode fazer para influenciar a sua vida positivamente? 1 Che Guevara, apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais (Rio de Janeiro: Ediouro, 2004), p. 98. 2 Sharon Anthony Bower & Gordon H. Bower, Asserting Yourself: a Practical Guide for Positive Change (Cambridge: Da Capo Press, 1991). 3 Ibid., p. 155. 4 Michelle Kennedy, Na hora do chilique: 99 estratégias para não perder a paciência (São Paulo: Publifolha, 2003), p. 57. 5 Karim Khoury, Soltando as amarras: emagrecimento e mudança comportamental (São Paulo: Editora Senac São Paulo, 1999), p. 94. 6 Ibid., p. 58. 7 Joseph O’Connor, The NLP Workbook: the Practical Guidebook to Achieving the Results You Want (Londres: Thorsons, 2001), p. 13. 8 Adaptado de Ian McDermott & Joseph O’Connor, PNL e saúde, recursos da programação neurolinguística para uma vida saudável (São Paulo: Summus, 1997), pp. 54-55. 9 Karim Khoury, Com a corda toda: autoestima e qualidade de vida (São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2002), p. 101. A prática Para fazer um bom trabalho, primeiro afie as ferramentas. PROVÉRBIO CHINÊS 1 Os exemplos a seguir não têm a intenção de apresentar soluções definitivas, uma vez que se podem dar diferentes soluções para um mesmo conflito. A ideia é que você tenha exemplos de como o sistema funciona na prática. Todos eles são baseados em fatos reais. Farei comentários quando julgar necessário. O sistema é extremamente flexível, e dependendo da situação nem todas as etapas do sistema Dearc (descreva, expresse, acordo, resultados e congruência) necessitam ser verbalizadas. Você verá que alguns deles são muito simples, apesar de as situações de conflito que serão usadas envolverem, em geral, tensão. Lembre-se de falar de forma congruente (corpo e tom de voz transmitindo a mesma mensagem) e assertiva; isso aumentará muito as chances de você ser escutado e fará toda a diferença quando quiser falar uma frase simples como “Preciso de um médico; isso é uma emergência”. Resumo do sistema Dearc Escreva as etapas do sistema antes de verbalizá-lo. Descreva O texto é simples, curto e objetivo. Pronuncie o nome das pessoas. Use um vocabulário que o outro entenda. Elimine palavrões e rótulos. Use linguagem específica (se necessário fale sobre a data, o local e a frequência da ação). Descreva o comportamento da pessoa e não a própria pessoa. Elimine: ambiguidades, modismos, palavras abstratas, mas e seus sinônimos, sempre, nunca. Descreva fatos. Não os interprete. Expresse Fale sobre o impacto do conflito sobre você. Não acuse. Fale como você se sente especificamente com relação à situação ou ao comportamento que gerou o conflito (de um a dois sentimentos). Assuma a responsabilidade pelas suas emoções. Prefira: “Eu me senti x”. Evite: “Você me fez sentir x”. Dê informações e não conselhos. Não interprete os porquês da atitude do outro. Não descreva os sentimentos do outro. Acordo Peça por mudanças específicas (de uma a duas no máximo). Especifique o que você quer, quando, onde, com quem e como. Fale sobre os padrões de comportamento esperados. Verifique se o acordo é possível e quais são os obstáculos. Renegocie, se necessário. Resultados Explicite os resultados obtidos com a resolução do conflito em diversos aspectos sobre: os seus sentimentos; a dinâmica da relação; os resultados concretos; as recompensas; as punições (somente em último caso). Congruência Todos os itens apresentados anteriormente serão escritos antes de serem verbalizados: para dar tempo de você refletir até adquirir prática com o sistema. Em situações complexas prefira escrever antes de falar. A congruência se refere à maneira como você se comunicará: o seu tom de voz, a sua linguagem não verbal e o conteúdo da informação transmitem a mesma mensagem. E todos eles demonstram respeito pelo outro. Fale e comporte-se assertivamente: você tem o direito de expressar o seu ponto de vista, respeitando o seu interlocutor. Deixe claras suas intenções. No dia a dia Contratação de um serviço Quero contratar o serviço de um marceneiro para fazer um armário para o meu escritório. Ele já fez esse serviço para minha irmã e, apesar do ótimo resultado, atrasou um mês para entregá-lo. D(descreva): Gostei muito do serviço que o senhor fez para minha irmã. Quero que o senhor faça exatamente o mesmo armário na minha casa. E(expresse): Estou no final da reforma e quero receber os armários no prazo. Ficarei muito nervoso se isso não acontecer. A(acordo): A condição para o senhor fazer o serviço é me entregar os armários no prazo de um mês sem atraso. Eu pago 50% agora e 50% no ato da entrega. O senhor pode cumprir o prazo? R(resultado): Se o senhor atrasar a entrega, procurarei por outro profissional e não pagarei o valor restante. Reconciliação Desejo me reconciliar com meu(minha) companheiro(a) e me sinto deprimido(a), porque não o(a) vejo o suficiente. D: Nas últimas semanas nós não temos nos encontrado nem falado ao telefone. E: Sinto muito a sua falta. A: Quero me encontrar mais vezes com você. O que você acha de jantarmos esta semana? R: Vai ser ótimo te reencontrar. Obs.: Como o texto foi falado ao telefone, tomei o cuidado para que o meu tom de voz não demonstrasse raiva nem ressentimento. Esclarecer regras Uma pessoa fura a fila do cinema na minha frente. A: O começo da fila é ali. Obs.: Embora o texto seja muito curto, ele foi acompanhado do seguinte gesto: eu me coloquei rapidamente na frente da pessoa que furou a fila. Falei a frase assertivamente. Estou na fila do caixa para pagar por uma mercadoria, e o funcionário atende outros clientes que chegaram depois de mim. A: Eu sou o próximo da fila. E agradeço por você me atender agora. Estabelecer acordos1. QUANDO DEIXO MINHA FILHA NA CASA DA MINHA SOGRA, NÃO TENHO CONTROLE SOBRE A ALIMENTAÇÃO DELA E GOSTARIA DE IMPOR ALGUMAS CONDIÇÕES. A: Dona Marta, por favor, não dê chocolate para Carolina esta semana. R: Ela teve diarreia na semana passada e eu não quero que isso se repita. Tudo bem? 2. MEU(MINHA) COMPANHEIRO(A) ME CRITICA NA FRENTE DOS PAIS DELE(A). D e E: Ontem no jantar, quando você me criticou na frente dos seus pais, me senti exposto(a). A: Por favor, não faça comentários sobre a nossa vida pessoal na frente deles. R: Dessa forma preservaremos a nossa intimidade e não vamos dar margem a fofocas. 3. MEU COMPANHEIRO DE QUARTO OUVE SOM MUITO ALTO. D: Eu não consigo dormir com o som a essa altura. A: Você pode diminuir o volume? R: Obrigado. Obs.: Embora eu tenha falado de forma muito simples, precisei aumentar o volume da minha voz para ser ouvido; falei alto, com firmeza e sem agressividade. 4. MEU FILHO NÃO TELEFONA QUANDO ELE SABE QUE VAI SE ATRASAR. D e E: Fico muito preocupado quando você não liga avisando que vai atrasar. Não consigo dormir. A: Por favor, quando isso acontecer, me avise para eu ficar mais tranquilo. R: Eu me preocupo com a sua segurança, e se você me avisar deixaremos de brigar por causa disso. 5. NÃO QUERO MAIS FAZER A CEIA DE NATAL NA MINHA CASA NESSE FINAL DE ANO. D e E: Estou muito cansado de organizar a festa de final de ano aqui em casa. A: O que você acha de fazermos uma reserva num restaurante ou viajarmos com as crianças? R: Teremos um final de ano mais sossegado. 6. NO RESTAURANTE OS MEUS FILHOS SE COMPORTAM MAL, FAZEM MUITO BARULHO E BRIGAM ENTRE ELES. A: Por favor, falem mais baixo e parem de discutir. R: Caso contrário, sairemos imediatamente do restaurante. Obs.: Considerei que o fato de falar alto e discutir no restaurante é inadmissível, por esse motivo o resultado seria uma mudança imediata de comportamento. 7. FAÇO UM ACORDO COM MEU FILHO E MEU(MINHA) COMPANHEIRO(A) AGE DE MANEIRA CONTRÁRIA, DESAUTORIZANDO O QUE EU COMBINEI. D: Eu falei para o Nelson que ele poderia tomar sorvete depois de almoçar. E: Cada vez que você contradiz o que eu falo, perco a autoridade e me sinto desrespeitado(a). A: Não dê uma orientação diferente da minha. E, se você quiser falar algo diferente do que eu disse, me consulte antes. R: A gente vai conseguir disciplinar melhor os nossos filhos. 8. MEU MÉDICO SE ATRASOU MAIS DE UMA HORA PARA ME ATENDER NA MINHA ÚLTIMA CONSULTA. QUERO ME CERTIFICAR DE QUE ISSO NÃO VAI MAIS SE REPETIR. FALO COM A SECRETÁRIA: D: Dona Neide, esperei mais de uma hora na última vez que tive consulta com o doutor Raul. E: Fiquei muito estressado(a) por ter de desmarcar os compromissos que eu teria logo após a consulta. A: Quero me certificar de que o doutor Raul não vai atrasar dessa vez. Se a agenda dele estiver livre, por favor, marque o primeiro horário de atendimento para mim. É possível? R: Muito obrigado pela sua atenção. 9. UMA VENDEDORA RECLAMA O TEMPO TODO SOBRE ASSUNTOS PESSOAIS ENQUANTO ME ATENDE. E NÃO PRESTA ATENÇÃO NO QUE ESTÁ FAZENDO. D: Eu te pedi o tamanho médio e não o grande. E e A: Estou com pressa. Você pode trazer rapidamente o tamanho grande? R: Muito obrigado. 10. MEU(MINHA) COMPANHEIRO(A) SE ATRASA NOVAMENTE PARA O ENCONTRO. D e E: Você se atrasou e perdemos a sessão de cinema mais uma vez. Fico chateado(a) com os seus atrasos. Você sabe o quanto é importante para mim assistir ao filme desde o início. A: Da próxima vez eu entro e te espero dentro do cinema. Vou sentar na última fila e você pode me encontrar facilmente. Tudo bem? R: Eu ficarei mais tranquilo(a) desse jeito. 11. DESEJO USAR O SERVIÇO DE INTERNET NUM HOTEL QUE DISPÕE DE APENAS UM COMPUTADOR PARA USO COLETIVO. UM HÓSPEDE ULTRAPASSOU O PERÍODO PERMITIDO DE QUINZE MINUTOS. D: Por favor, eu gostaria de usar a internet. A: O aviso diz que é permitido usar por quinze minutos por pessoa. Posso usá-la agora? R: Eu agradeço a sua compreensão. Obs.: Não precisei falar que ele já havia ultrapassado o período, pois eu sabia que ele estava há mais de uma hora usando o microcomputador. 12. TIA CECÍLIA ME LIGOU PARA DIZER QUE QUER PASSAR UM MÊS CONOSCO. QUERO PASSAR SOMENTE UMA SEMANA COM ELA DURANTE AS FÉRIAS. D e E: Tia Cecília, vamos ficar contentes se você puder ficar algum tempo conosco nessas férias. A: Outras pessoas irão nos visitar e podemos recebê-la confortavelmente por uma semana. 13. RECEBI UM TELEFONEMA DE ALGUÉM QUE ME OFERECIA ALGO QUE EU NÃO ESTAVA INTERESSADO EM COMPRAR. A: Não tenho interesse em comprar o produto. Muito obrigado. Obs.: Precisei repetir essa frase três vezes para que o vendedor parasse de insistir. 14. MEU(MINHA) COMPANHEIRO(A) NÃO TEM SIDO RECEPTIVO PARA TER RELAÇÕES SEXUAIS. D: Querido(a), nos últimos meses nós temos namorado muito pouco e temos tido sexo raramente. E: Sinto falta de termos mais momentos de intimidade e sexo. A: O que eu posso fazer para melhorar a situação? R: Nós voltaremos a nos aproximar. Obs.: Como meu(minha) companheiro(a) não se sente à vontade para falar sobre sexo, deixei-o(a) à vontade para que ele(a) falasse sobre o ponto de vista dele(a). 15. MEU(MINHA) COMPANHEIRO(A) QUER EXPERIMENTAR UMA PRÁTICA SEXUAL EM QUE EU NÃO ME SINTO À VONTADE. D e E: Eu te adoro e não me sinto à vontade para experimentar isso. 16. A NAMORADA DO MEU PAI FALA SOBRE AS PRÁTICAS SEXUAIS DE AMBOS, E EU ME SINTO POUCO À VONTADE COM ISSO. D e A: Por favor, não fale sobre a sua vida íntima com meu pai quando eu estiver por perto. R: Obrigado. 17. O MOTORISTA DE TÁXI ESTÁ DIRIGINDO MUITO RÁPIDO E ME SINTO INSEGURO. A: Por favor, dirija mais devagar. E: Obrigado. No trabalho Em alguns casos, nas empresas, é preciso levar em consideração as normas e procedimentos para se estabelecer um acordo adequado. Por exemplo: Qual é o procedimento com um cliente que se queixa de um produto que não funciona? Verifique se o produto pode ser trocado ou se é possível reembolsar o cliente. Pedir treinamento Disponho de um novo programa de computador e não posso usá-lo porque não recebi treinamento adequado. D: Já te pedi diversas vezes para você me explicar como usar esse novo programa. E: Sinto-me frustrado porque sei que posso te ajudar a economizar tempo. A: Quero combinar uma data que seja conveniente para ambos para você me treinar. O que você acha de terça às 14 horas? R: Você vai poupar muito tempo. Obrigado. Negociar um pedido Em dezembro as vendas aumentam muito no meu setor, mas a qualidade do atendimento diminui porque fico sobrecarregado de serviço. Quero pedir auxílio para a gerência. D: Fico sobrecarregado de trabalho nessa época do ano. E: Sinto-me frustrado porque não sei por onde começar com tanto serviço. E não tenho atendido os clientes como eu gostaria. A: É possível transferir uma pessoa de outro departamento para me ajudar aos sábados? R: Terei mais tempo para me dedicar aos clientes. Meu chefe me pediu, no final do dia, que eu trabalhasse até mais tarde, mas hoje tenho um compromisso. D: Hoje à noite não posso ficar até mais tarde, porque tenho um compromisso. A: Poderei chegar mais cedo amanhã. Tudo bem? Cobrar um valor devido Um cliente continua a usar nossos serviços e está com alguns pagamentos pendentes. D: As contas referentes aos dias 15 e 20 do mês passado ainda não foram pagas. A: Você pode pagá-las até o final do mês? R: Obrigado. Obs.: Nesse caso, considerei desnecessário exprimir como me sinto. Piadas desrespeitosas Um colega de trabalho fez uma piada que eu considerei desrespeitosa. E: Eu me senti desrespeitado pela piada que você acabou de fazer. A: Por favor, não faça esse tipo de piadas quando eu estiver presente. R: Nós vamos nos entender melhor. Obs.: Esse tipo de resolução exigiu que eu falasse imediatamente após ouvir a piada, para não precisar repetir o pedido. Desculpar-se com um cliente Ontem, tive um dia sobrecarregado e não puderetornar a ligação para um cliente. Imagino que ele tenha se sentido desrespeitado. D: Ontem não pude retornar a sua ligação. E: Eu sinto muito. A: Quero me desculpar pelo que aconteceu e gostaria de marcar uma visita na sua empresa; que tal amanhã às 15 horas? R: Estarei à sua inteira disposição para falarmos sobre o seu projeto. Impor limites para fofocas Um colega faz fofocas a meu respeito para outros membros do departamento. D: Soube que você tem falado mal a meu respeito. R: Isso aumenta os conflitos no nosso departamento. A: Por favor, quando você tiver algo a falar sobre mim, fale diretamente comigo. Tudo bem? R: Nós vamos nos entender melhor. Obs.: Omiti conscientemente quem falou e o que foi dito, porque o que me interessa é acabar com a fofoca. O meu tom de voz “exprimiu claramente que eu não me sentia bem com aquela situação”. Impor limites para comportamentos não verbais Um cliente passa a mão em mim quando faço uma visita para vender produtos. D: O senhor é um dos meus melhores clientes e não gostaria de perdê-lo. E e A: Vou me sentir mais à vontade se o senhor agir de outra forma. Obs.: Segurei a mão do meu cliente antes de ele tocar no meu braço e mostrei com o gesto que não gostaria que ele me tocasse. Impor limites para comportamentos inadequados A loja em que trabalho não entregou a geladeira no prazo combinado, e o cliente se queixa para um dos vendedores. A reclamação acaba em briga uma vez que o vendedor grita e discute com o cliente por este ter insultado a loja e o atendimento. Eu falo com o vendedor. D: Embora você estivesse se defendendo por ter sido insultado, é inadmissível gritar com os clientes. A: Nós fazemos questão de atender bem os clientes. Quando você sentir que vai perder o controle, por favor, avise a gerência. Deixe que a gerência se ocupe do caso. Conto com a sua colaboração para que isso não aconteça mais. Ok? Dar instruções Dei instruções sobre como o novo relatório deveria ser apresentado. O meu assistente mostra algo muito diferente do que eu pedi. D: Você não seguiu os procedimentos para escrever o novo relatório. Pedi para você acrescentar o gráfico das vendas do mês passado e as projeções até o final do ano. Esses dados não constam do relatório. E: Fiquei frustrado porque, além de te falar, escrevi o que eu queria. A: Quero que você me diga o que não entendeu e se tiver alguma dificuldade me pergunte. Tudo bem? Não corrigirei mais o que você fizer. Acrescente o que falta e me entregue o relatório até amanhã às 11 horas. É possível? R: Dessa forma, terei segurança de que você entendeu o que precisa ser feito e não vou mais me aborrecer. Obs.: Precisei me acalmar antes de falar com o meu assistente, porque, além de ter falado o que queria, também escrevi os procedimentos. A conversa foi em particular. A recepcionista da empresa “cheira mal”, e isso gera muitos comentários. Decido falar a respeito dos padrões de comportamento da empresa. D: Sílvia, a recepção da empresa é o nosso cartão de visitas. Receber bem os nossos clientes e fornecedores é essencial. A sua aparência deve estar de acordo com os padrões da empresa. A: Selecionei alguns produtos para que você use no trabalho. A primeira compra é por conta da empresa, depois você mesma irá comprá-los. Use desodorante sem cheiro, perfume suave, cabelos presos, e no estojo de maquiagem você encontrará as cores que são adequadas para um trabalho na recepção de pessoas. R: Conto com o seu profissionalismo e sei que você vai atender ainda melhor os clientes. Obs.: Como vendemos produtos de beleza, é inadmissível uma empresa que trabalha com estética ter uma recepcionista com aparência “descuidada”. Como não me senti à vontade para falar diretamente do problema do cheiro desagradável, aproveitei a oportunidade para falar sobre todos os outros itens da aparência dela. Resolvendo conflitos por escrito A maioria das estratégias apresentadas neste livro visam a uma comunicação cara a cara, porque, como foi visto, a linguagem não verbal transmite grande parte do significado da comunicação. Ao escrever, você limita a sua comunicação para o seu conteúdo e perde a oportunidade de explicitar suas intenções por intermédio do tom de voz e dos gestos. Em alguns casos pode ser adequado comunicar-se por escrito: Se você supor que o outro terá uma reação violenta e sentir que não terá meios para expor o seu ponto de vista. Em razão de dificuldades de se encontrar pessoalmente ou falar ao telefone com a pessoa envolvida. Em conflitos, muitos fugirão do telefone como “o diabo foge da cruz”. Nesse caso, não convém insistir em fazer diversos telefonemas se o outro insiste em não atender. Você pode até ter a confirmação de que o outro tem recebido os seus recados, mas nem por isso vai atendê-lo. Se você não se sentir à vontade em falar, escreva. Respeite suas preferências pessoais. Se você consegue se expressar melhor ao escrever, vá em frente. Caso você não tenha disponibilidade de tempo para falar com o outro pessoalmente, explicite isso na sua carta: “Estive aqui na quarta-feira passada, mas você não estava. Ficarei fora por dez dias e por esse motivo escrevi essa carta...”. Seja sincero, não arrisque blefar. Muitos podem se sentir ofendidos e podem se perguntar: “Mas por que ele não falou diretamente comigo?”. Na nossa cultura, uma forma de demonstrar respeito pelo outro é falar diretamente com ele – naturalmente quando for possível e adequado. Estratégias para resolver conflitos por escrito Prefira uma carta a um e-mail. Embora em situações de conflito você possa precisar de uma confirmação de envio e recebimento de mensagens, lembre-se de que você está resolvendo um conflito e se trata de uma conversa difícil ou delicada. Em virtude da velocidade permitida pelo e-mail, é bem possível que você escreva quando estiver muito nervoso e, por consequência, tenderá a teclar o botão “enviar” impulsivamente; aí o estrago estará feito. E se por acidente você enviar o e- mail para a pessoa errada? Tenho visto tantas “histórias de horror” que ocorreram por causa do uso inadequado de e-mails e tenho certeza de que você também conhece muitas, por isso nem vou me estender nesse assunto. Se precisar de confirmação de envio, use uma carta registrada. Lembre-se de todos os itens usados para descrever um conflito: a) Texto curto, simples e objetivo. b) Escreva a proposta da forma como você fala, a fim de reproduzir um tom amigável e não intimidador. Se escrever à mão, escreva com letra legível. Em treinamentos, muitas vezes, nem os meus clientes conseguem ler o que eles mesmos escreveram! c) Use a pontuação de forma cuidadosa para não criar “um efeito agressivo”. Não exagere nos pontos de exclamação; um ponto final é suficiente. O mesmo vale para letras maiúsculas e itálicos; esses recursos soam agressivos, e as pessoas se sentirão ofendidas com toda a razão. Evite: EU JÁ DEIXEI DIVERSOS RECADOS E ATÉ AGORA NÃO TIVE RETORNO!!!!!! Prefira: Eu já deixei diversos recados e até agora não tive retorno. d) Dê a carta para outra pessoa ler. Peça para que ela se coloque no lugar de quem vai recebê-la e pergunte se ela se sentiu intimidada com o texto. Não se preocupe se essa pessoa tiver uma opinião diferente da sua. Se for detectado algo agressivo no texto, avalie se é necessário alterar a carta. e) Faça um rascunho, releia sua carta para corrigir possíveis erros, assine-a e guarde-a, pelo menos, por um dia até enviá-la. Nada de precipitações; ao reler um texto após algum tempo, você tem um “distanciamento”, criando condições para refletir sobre o que está escrito. Se não estiver do seu agrado, não hesite em reescrevê-lo. f) Em cartas de reclamações procure saber o nome correto do destinatário e o cargo dele. g) Leve em consideração o tipo de relacionamento que você tem com o destinatário. Sua carta tanto pode ter um tom íntimo e se resumir a um simples bilhete, como pode ter umtom mais formal com texto mais detalhado. Ambos os casos são eficientes. EXEMPLO DE UM PEDIDO DE DESCULPAS ENVIADO POR ESCRITO Querida Cris, D: Desculpe ter ficado nervoso com você ontem. E: Fiquei chateado com o fato de você não dar a mínima para os nossos fins de semana. Adoro viajar, planejar e dividir, mas com você isso é impossível. Entendo que você esteja sobrecarregada com a reforma da casa, com seu trabalho e com sua família. Mas quando não planejamos nada acabo ficando sozinho, e isso é muito ruim. Fico ainda (mais) deprimido. Lamento se você ficou mal com o que eu falei. A e R: Adoro estar com você e não quero estragar nosso relacionamento. Desculpe. Te escrevi porque não consegui falar pessoalmente com você. Um beijo, Julio EXEMPLO DE UMA CARTA DE RECLAMAÇÃO Caro sr. Mário Gerente-geral D: Na semana passada, comprei na sua loja um aparelho de micro-ondas, que não está funcionando. Como o produto ainda se encontra na garantia, solicitei que ele fosse trocado. Entrei em contato com o vendedor, mas não obtive nenhum retorno até agora para saber quando poderei trocá-lo. E: Estou me sentindo inseguro em fazer a minha lista de casamento na sua loja, porque não desejo que esse tipo de problema se repita no futuro. A: Quero que o senhor me ligue ainda hoje, o mais tardar amanhã, para me informar quando o aparelho poderá ser trocado. R: Não deixarei minha lista de casamento na sua loja até que esse problema seja resolvido. Conto com a sua colaboração. Atenciosamente, Antonio Barbara Pachter lembra que: Diversas empresas instruem os seus funcionários para responder ao que está escrito; então, se você não pedir o que deseja, você tem poucas chances de conseguir o que quer. O fato de você pedir o que deseja não significa que você vai conseguir, mas aumenta as suas chances de obter alguma coisa. 2 Em outras palavras, a não ser que você seja bem claro a respeito do que você quer, as empresas não vão atendê-lo. Se você desejar o seu dinheiro de volta, deixe explícito o seu desejo. Os itens a seguir o ajudarão a organizar uma carta de reclamação: Descreva: Na data tal, comprei/aluguei/mandei arrumar, ou utilizei o serviço em tal local. Tive o seguinte problema com o produto/ou com o serviço: (seja específico e descreva o problema). Acordo: Explique o que você quer: Para resolver o problema, gostaria de receber o valor de R$ x,00 de volta/trocar a mercadoria/ser atendido por outra pessoa/que o produto seja entregue até sexta-feira próxima, etc. Cópias dos documentos a serem anexados: nota fiscal, ordem de serviço, número de série, certificado de garantia do produto. 1 Bruno Pacheco (seleção e organização), Oriente-se: 100 provérbios orientais para o dia a dia (Rio de Janeiro: Nova Era, 2004), p. 123. 2 Barbara Pachter & Susan Magee, The Power of Positive (Confrontation: the Skills You Need to Know to Handle Conflicts at Work, Home and in Life (Nova York: Marlowe & Company, 2000), p. 168. Conflitos de informação O que vale é a versão, e não o fato. GUSTAVO CAPANEMA 1 Muitas pessoas têm verdadeiro horror em falar em público, porque já tiveram experiências traumatizantes ou com entrevistas, depoimentos, filmagens ou com uma simples declaração. Essa situação pode ser explicada em parte, porque nos sentimos impotentes quando desejamos nos exprimir de determinada forma e o outro atribui um significado completamente diferente ao que desejamos falar. Ter a sensação de que não exercemos controle sobre a nossa vida arrasa a nossa autoestima. Falar ou escrever algo e ter isso interpretado de maneira inadequada é um caso clássico que gera muitos conflitos. É possível ter controle sobre essa situação? Sim, pelo menos em parte. Você não tem controle sobre a forma como o outro vai interpretar o que você diz ou escreve, mas tem domínio sobre a maneira como você vai se comunicar. E isso já o coloca numa situação de controle, que poderá diminuir muito os conflitos. Como melhorar, então, a qualidade da informação? O primeiro passo é evitar a fofoca; entenda o mecanismo e crie antídotos contra ela. Entre as definições de fofoca encontramos: “Dito maldoso, mexerico, disse-me-disse.” “Aquilo que é comentado em segredo sobre outrem.”2 Não me entenda mal; não estou sugerindo que você só elogie as pessoas. Nada disso. Você tem todo o direito de ter a opinião que bem entender. O ser humano é extremamente complexo para ser rotulado de bom ou ruim. Eu mesmo incentivo meus clientes a fazer críticas construtivas e a desenvolver a habilidade de falar sobre como se sentem em diversas situações. E também não vejo nada de errado em “desabafar” sentimentos. Mas sempre com respeito. E muito respeito; sempre com o objetivo de melhorar o relacionamento das pessoas envolvidas no conflito – o que não acontece quando se faz fofoca. Os resultados da maledicência Se alguém fala mal dos outros para ti, falará mal de ti para os outros. PROVÉRBIO PERSA 3 Richard Carlson escreveu: Existem duas razões muito boas para nunca maldizer os outros. Primeiro é horrível e deixa você muito mal. Quando ouço alguém “malhando” uma pessoa pelas costas, isso não me diz nada sobre a pessoa a quem estão se referindo mas me diz muito sobre a necessidade de julgar quem está falando. 4 Concordo com o autor e desejo que você reflita sobre as consequências da fofoca para sua vida, por isso apresento alguns resultados que ela pode gerar: Alívio imediato É importante reconhecer que a fofoca tem um aspecto “positivo” – ela pode ser uma válvula de escape temporário para sentimentos perturbadores, como raiva ou frustração; ao falar mal de algo ou alguém, é possível que você se sinta aliviado temporariamente. O fato de sentir- se aliviado não resolve conflito nenhum. Muito pelo contrário; cair na armadilha de fazer queixas, reclamações e maledicências, sobretudo quando são feitas para a pessoa que não foi a causadora do seu mal- estar, é ótimo para adiar a resolução do conflito e aumentar o sentimento de impotência. Em geral, a pessoa que tem o hábito de se queixar acaba desenvolvendo muito bem essa habilidade; ela se queixa para aliviar-se e passa a fazê-lo com qualquer pessoa que esteja disposta a ouvi-la: companheiro, familiares, amigos, cabeleireiro, massagista, etc., mas não com a pessoa certa nem da forma adequada. Aliviar- se emocionalmente de maneira inadequada pode diminuir a energia necessária para resolver um conflito. Ansiedade A pessoa que fala mal do outro, em geral, “o faz em segredo” e se sente ansiosa, porque teme que ele seja revelado. Insegurança Como você se sente ao ouvir uma pessoa falar mal de alguém para você? Você não acha que ela é capaz de fazer o mesmo com você? Aumento do conflito Cada pessoa interpretará as suas palavras de forma diferente. Se você já começa falando mal, é previsível que esse comportamento seja intensificado, aumentando o clima de insegurança e de atitudes defensivas. Estresse Fofocar não fará com que o conflito evapore nem seja resolvido; é evidente que ele vai continuar influenciando a sua qualidade de vida física e mental. Perda da credibilidade Se a informação for baseada em mentiras, o autor da fofoca perderá a credibilidade quando for desmentido, com o agravante de ficar desacreditado até mesmo quando estiver dizendo a verdade. Os antídotos da fofoca Falam. Que falam? Que falem. GEORGE BERNARD SHAW 5 Ao receber uma informação, é importante que você tenha recursos para avaliar a qualidade do seu conteúdo. Num primeiro momento é útil se perguntar: É verdade? É relevante? Qual o benefício que essa informação vai me trazer? Se a informação estiver baseada em mentiras, não tiver importância e não trouxer nenhum benefício, vale a pena investir o seu tempo nela? Sobre a qualidade das informações Diferentes percepções geram diferentes realidades. KARIM KHOURY Sobre o tema, Edward de Bono reflete: Em geral, nós preferimos nos ater aos fatose tentamos excluir todo o resto. Isto é um erro. Nós devemos reconhecer todo tipo de informação mas, ao mesmo tempo, devemos interpretá-la de acordo com as qualidades que lhe são atribuídas. Você pode reconhecer que um rumor existe mas não precisa acreditar no rumor. Você pode aceitar que uma opinião existe mas não precisa concordar com ela. 6 Acredito que nos tornamos tão obcecados com a ideia da verdade e com a possibilidade de checar as informações que acabamos por perder aspectos importantes que nos permitem ampliar muito a nossa compreensão dos fatos. Lembre-se de que, por mais objetiva que seja a descrição do evento, a própria seleção de informações já pode excluir alguns dados importantes para entender o fato. Nossas percepções sobre um acontecimento são influenciadas pelos nossos valores e pelos nossos sentimentos. Se você deseja explorar mais profundamente a informação a respeito de determinado acontecimento, é possível coletar dados e esclarecer o significado da informação por meio de uma série de perguntas como: Quais são as versões do acontecimento? Essas versões são coerentes ou confusas? Que aspectos foram mais destacados? Que aspectos foram minimizados ou, pelo contrário, foram ressaltados? Em que são baseadas essas informações? Quem julgou os fatos e em que se baseou? A comparação dos fatos foi feita por quem e baseada em que versões? Existe alguma incongruência nas versões? Em que contexto essas versões se inserem? Algumas versões trazem suposições descabidas? Como eu vejo o acontecimento? Quais são as minhas percepções? Como me sinto e avalio esse evento? Como outras pessoas estão interpretando esse acontecimento? Quais intenções percebo nas pessoas ao relatar o acontecimento? Deixei de levar em consideração algum aspecto importante? Minha atenção está dirigida para algo específico? Perguntar ofende? Eu não procuro conhecer as perguntas; procuro compreender as respostas. CONFÚCIO 7 José Nello Marques em seu livro sobre reportagem, Perguntar ofende!,8 faz uma série de reflexões sobre como uma informação maltrabalhada, por diversos motivos, pode gerar perguntas inadequadas. A pressa em transmitir a informação em primeira mão, a falta de habilidade para lidar com situações delicadas, o despreparo do entrevistador para com o entrevistado, a falta de informação ou mesmo a distração podem gerar incontáveis conflitos. O autor faz uma seleção do que chama “perguntas cretinas” que escutamos nos noticiários de rádio e televisão, alertando-nos para não as repetir. 1. “A senhora está triste?” (com a morte do filho) 2. “E aí? Dá para vencer?” (antes do jogo) 3. “Dá para virar o placar?” (no intervalo do jogo) 4. “Está doendo muito?” (para acidentado ou contundido) 5. “Feliz com a vitória?” (depois do jogo ou da eleição) 6. “Como o senhor vê a aprovação?” (para qualquer situação) 7. “Qual a diferença entre o futebol paulista e o futebol carioca?” (na mudança de time) 8. “Você está otimista?” (antes de qualquer disputa) 9. “O que mudou na sua vida?” (depois de ganhar na loteria ou de um grave acidente) 10. “Qual a sua maior esperança?” (para mãe que procura um filho desaparecido) 11. “O senhor esperava por essa tragédia?” (ao comandante depois de um incêndio) 9 O autor sugere várias estratégias para melhorar a interação entre jornalista e entrevistado e cita Parron, que propõe: Não querer resolver logo a entrevista. Apesar de os repórteres de hoje cumprirem várias pautas por dia, todos sabem que a pressa é inimiga da perfeição e da informação precisa. Preparar-se adequadamente para perguntar e debater. O jornalista deverá estar com um mínimo de conhecimento prévio sobre aquilo que irá perguntar e transmitir. Ouvir a resposta do entrevistado com cuidado e atenção. Muitas vezes, o interlocutor está respondendo a determinada pergunta e o repórter não presta a mínima atenção, mentalizando a pergunta seguinte. Nesse instante, por absoluta falta de atenção, poderá surgir uma pergunta cuja resposta já estava contemplada na fala anterior. O que revela fragilidade e expõe o representante da imprensa naquele instante. 10 Avaliando os dois lados Se alguém não está disposto a aceitar o seu ponto de vista, tente ver o ponto de vista dele. PROVÉRBIO LIBANÊS 11 A relação entre entrevistador e entrevistado costuma ser muito delicada, porque pode envolver muita tensão e ambos ficarem “armados”, comprometendo a qualidade da informação. Entenda por que ambos podem se sentir intimidados nessa “relação delicada”. Algumas preocupações: Do entrevistado Sobre os resultados: Uma entrevista malfeita pode prejudicar famílias inteiras e literalmente destruir carreiras construídas com muito empenho e seriedade. Responsabilidade em representar os interesses pessoais e da empresa. Falta de habilidade em lidar com a exposição pública e com gravadores, câmeras, microfones, etc. Medo de como a informação será editada e veiculada. Medo de não saber reagir a algum ataque ou a alguma pergunta inadequada. Do entrevistador Como a entrevista será conduzida: o número de informações pode ser grande, o entrevistado pode se estender na resposta ou fugir do tema. O entrevistado pode ser monossilábico, e o rendimento da entrevista pode ser ruim. Pressão em acabar rapidamente a entrevista. De ambos Esse relacionamento pode ser marcado pela tensão, porque antes da entrevista acontecer é difícil prever as reações de ambos. Falta de habilidade para lidar com situações difíceis. Falta de habilidade no trato com pessoas. O entrevistador pode não se sentir à vontade com personalidades públicas, famosas, celebridades, e, por outro lado, o entrevistado também pode não se sentir à vontade com determinado entrevistador (famoso ou não). Sobre a experiência O mais importante ingrediente na fórmula do sucesso é saber como lidar com as pessoas. THEODORE ROOSEVELT 12 Embora eu concorde que a falta de preparo ou experiência pode resultar em uma entrevista “ruim”, sinto que é dada importância exagerada a esse aspecto. Tenho observado que jovens profissionais podem fazer um trabalho muito competente, e profissionais experientes nem ao menos se dão ao trabalho de prestar atenção no que o entrevistado está falando. Eu mesmo já fui entrevistado por profissionais pouco experientes, e o resultado final foi ótimo; e também já fui entrevistado por profissionais muito experientes, e o resultado final foi, no mínimo, medíocre. Em algumas situações eu quase não falei, porque o entrevistador usou o pouco tempo disponível para falar de si mesmo. Alguns profissionais se esquecem de que uma das qualidades de uma boa entrevista é quando o entrevistado tem a oportunidade de falar. Alguns entrevistadores estão mais preocupados em falar do que em perguntar e ouvir. Não estou sugerindo que o entrevistado fale ininterruptamente e não preste atenção no que o entrevistador pergunta. Convenhamos, é frustrante para o entrevistado (e para o espectador ou ouvinte) não ser capaz de concluir uma frase devido às diversas interrupções do entrevistador. Considero muito delicado o termo “experiência”, porque, como observou Chris Agyris, alguns profissionais desenvolvem a incompetência aprendida,13 ou seja, a capacidade de usar habilidades para produzir o que eles não desejam. Estamos todos sujeitos a desenvolver comportamentos que conduzem a resultados que não desejamos. Entretanto, como pode ser observado nos veículos de comunicação como rádio, televisão, revistas, jornais, muitos profissionais desenvolveram a habilidade de se comunicar sem respeitar o ponto de vista do outro. E nós, ouvintes, telespectadores, leitores, somos submetidos a um festival de desrespeito. O que podemos fazer diante dessa situação? Desenvolver um olhar crítico que nos permita entender e selecionar as informações e também aprender a nos defender quando nos sentimos desrespeitados. Não confunda “fama” ou sucesso com “qualidade”,pois são duas palavras que nem sempre caminham juntas. Lembre-se: esses veículos de comunicação oferecem informações de baixa qualidade porque têm audiência. E essa baixa qualidade permanecerá se os índices continuarem a subir. Você deseja contribuir para aumentar esses índices de audiência? Em busca de respeito Respeito é o amor em roupas simples. FRANKIE BYRNE 14 Mesmo que você não seja um candidato em potencial para ser entrevistado, pense que isso poderá acontecer com você. As estratégias a seguir são úteis para reuniões ou quando lhe perguntam algo que você não deseja responder ou quando você se sente manipulado. Falar sem pensar é disparar sem apontar. GEORGE HERBERT 15 Se você for o entrevistado Mantenha o foco no seu papel de entrevistado: Qual é o seu objetivo? Avalie se os seus objetivos coincidem com os do repórter. Se vocês tiverem objetivos diferentes, pode ser que você não seja a pessoa adequada para ser entrevistada. Você deseja falar sobre o quê? Se você for representar uma empresa, pergunte-se se as informações que você vai apresentar estão alinhadas com os valores e com a filosofia dessa organização. Use frases curtas. Para isso faça uma simulação bem resumida, por escrito, sobre o que você vai falar. Procure criar respostas que durem aproximadamente trinta segundos. (É evidente que o tempo varia de acordo com o tipo de entrevista; estou me referindo ao tempo-padrão no rádio e na tevê.) Uma boa estratégia é pensar antes: Se me perguntarem x, como eu responderia resumidamente? Mande um material resumido sobre o tema da entrevista, assim como um breve currículo. Fale sobre a sua experiência pessoal. Se a reprodução das suas informações com precisão for um aspecto importante na entrevista, tenha você também um gravador ou vídeo para gravar a entrevista. Caso o que você disser seja distorcido a ponto de ter o seu sentido completamente mudado, você terá argumentos concretos para se defender. Em entrevistas para televisão esteja preparado para o entrevistador ignorá-lo quando a câmera estiver voltada exclusivamente para você. Embora essa situação seja muito desrespeitosa, acontece. O fato de você ser “abandonado” temporariamente pode, muitas vezes, ter uma justificativa plausível, como, por exemplo, a necessidade de fazer um ajuste no microfone do repórter ou de retocar a maquiagem dele. Outras vezes, o repórter poderá encobrir o microfone, ignorar você completamente e falar sobre o resultado do jogo de futebol da semana passada, ou fazer piadinhas com a equipe e, ainda por cima, falar alto. Quando a câmera voltar para o apresentador, ele vai se recompor rapidamente e continuar a falar como estivesse prestando atenção no diálogo. Pura encenação. A estratégia para esse tipo de situação é dirigir a sua atenção para a câmera e não mais para o entrevistador. Quando isso aconteceu comigo, eu só me saí bem dessa “saia justa” devido às aulas de interpretação que eu tive anteriormente. Eu já havia ensaiado uma cena, e o diretor começava a sussurrar na primeira fileira, ou, então, lia uma revista intencionalmente, ignorando o que se passava no palco. É verdade que isso nos desconcentrou algumas vezes até que aprendemos a lição: “O show deve continuar!”, você não tem controle sobre as ações do outro, mas tem sobre as suas próprias ações – trate o seu entrevistador com respeito. Gentileza, sim. Mas não subserviência. O repórter deve interromper o entrevistado sempre que ele estiver esticando a resposta ou fugindo da pergunta. Nunca se intimidar mas sempre com respeito. JOSÉ NELLO MARQUES 16 Se você for o entrevistador Apresente-se e fale sobre seu objetivo:17 “Meu nome é...” “Eu sou um repórter (ou produtor) de...” “Estou fazendo uma matéria sobre...” “Eu gostaria de entrevistá-lo porque...” Ajude o seu entrevistado a estar congruente com o “seu” veículo de comunicação: quem é o seu público, que aspectos você gostaria que fossem ressaltados na entrevista, etc. Não exponha o entrevistado a uma situação delicada: não tente arrancar uma informação completamente fora de contexto e não o ridicularize, não o faça falar sobre um assunto para o qual ele não esteja preparado. Lembre-se de que ele é seu convidado e merece todo o respeito. Se o entrevistado der respostas monossilábicas, tenha preparado antes da entrevista um “plano B”: Nesse caso você poderá fazer mais perguntas, exercer maior controle sobre a entrevista, inserir comentários de outras pessoas, pedir que os ouvintes ou telespectadores enviem perguntas, etc. Quando você for atacado Um direito não é o que alguém dá a você, é o que ninguém pode lhe tirar. HAMSEY CLARK 18 Para recuperar seu sentimento de controle, tenha em mente o seguinte princípio: As pessoas têm o direito de perguntar a você o que elas desejarem e você também tem o direito de responder o que bem entender. Por mais absurda que seja a pergunta, ninguém pode obrigá-lo a responder algo que você não queira. Numa situação de entrevista na mídia, o entrevistador tem o poder nas mãos. Câmeras, luzes, público e entrevistador podem intimidá-lo somente se você permitir. Nesse sentido, vale lembrar que você é dono da informação e tem autoridade sobre ela. ESTRATÉGIAS DE RESPOSTAS QUANDO VOCÊ DEPARAR COM: Perguntas fora de contexto: “Não me sinto à vontade para responder a essa pergunta.” “Não me sinto preparado para responder.” Interrupções: “Terei prazer em responder assim que eu concluir esse pensamento.” “Eu já respondo.” Perguntas ridículas e pessoais: “Eu te desculpo por ter perguntado, se você me desculpar por não responder.” 19 Perguntas sobre informações confidenciais: “Não estou autorizado a divulgar esses dados.” Perguntas que o pegam desprevenido e você precisa de tempo para pensar: “Preciso de mais tempo para pensar para poder responder a essa pergunta.” “Eu gostaria de pesquisar para responder a essa pergunta.” Perguntas ou observações vagas – peça informações específicas: Exemplo: O entrevistador: Não entendi sua explicação. Você: Tudo bem. O que especificamente você não entendeu? (Se julgar adequado: Eu ficaria grato se você pudesse me falar como melhorar a minha maneira de explicar o assunto). Perguntas manipulativas: Exemplo: O entrevistador: Você fez uma declaração no jornal x dizendo y. O que você tem a dizer a respeito disso? Você: Essa informação está baseada em especulações. Perguntas mal-intencionadas: “Por que você quer saber?” Perguntas que “jogam você contra o outro”: Normalmente essas perguntas são feitas com o intuito de mostrar outro ponto de vista sobre o assunto. Pode ser alguém com quem você tenha se desentendido ou de quem você não goste, ou alguém que tenha uma visão de mundo completamente diferente da sua. Isso não justifica desrespeitar um colega de profissão ou qualquer outra pessoa que seja. Para não alimentar uma possível situação de conflito, não entre no perigoso jogo das depreciações. Se você deseja minimizar essa situação, dê as informações solicitadas e não faça comentários depreciativos. Exemplo: O entrevistador: O que você acha do trabalho de y? Você: Temos visões diferentes sobre o assunto. Perguntas “cretinas”: Imagine um repórter perguntando para uma mãe que acabou de perder o filho: “Você está triste?” (ou pense em qualquer outra das perguntas cretinas apresentadas anteriormente). Por mais agredido que você se sinta, não parta do princípio de que o repórter esteja mal-intencionado. Pode ser que ele esteja agindo de forma mecânica e acredite que o fato de você falar e “botar para fora tudo que está sentindo” vai confortá-lo. Mesmo que você perceba que a intenção do repórter é arrancar-lhe lágrimas (afinal de contas isso pode aumentar a audiência), lembre-se de que as intenções nem sempre são claras, e uma situação que envolve forte impacto emocional não é o momento mais adequado para identificar as intenções do outro. Muitos iniciam entrevistas comperguntas óbvias e pouco imaginativas, simplesmente porque consideram que é uma forma simples de iniciar um diálogo. Do ponto de vista da comunicação, considero essa atitude problemática. Fazer perguntas óbvias num momento de forte impacto emocional é considerar que as emoções humanas podem ser alteradas como se estivéssemos apertando uma tecla de computador. Não espere que a pessoa que se sentiu atacada se recupere logo no minuto seguinte; essa atitude, ao contrário, ativará todos os mecanismos de defesa dessa pessoa. Para se comunicar bem é preciso ter empatia, e isso só é possível com um mínimo de segurança por parte do entrevistador; porque o que ocorre na grande maioria das vezes, quando se faz uma pergunta óbvia, é uma situação de grande tensão. Outro fator que considero responsável pelo uso abusivo da pergunta óbvia é a possibilidade da edição. É evidente que podemos editar o filme gravado e guardar os melhores momentos da entrevista, mas a pergunta óbvia, embora “não apareça” na tela, deixa seu forte rastro no diálogo. É possível editar filmes, não emoções. A situação pode envolver muito sofrimento, por que aumentá-lo? O resumo da ópera Comunicação é a arte de ser entendido. PETER USTINOV 20 Comunicar-se bem é uma arte e, como qualquer arte, requer treino e dedicação de todas as pessoas envolvidas no processo. O respeito mútuo nessa dinâmica só tende a aumentar a empatia e permite que o público compartilhe informações de qualidade, sinceras e espontâneas, e isso já é sensacional. 1 Gustavo Capanema, apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais (Rio de Janeiro: Ediouro, 2004), p. 37. 2 Antônio Houaiss & Mauro de Salles Villar, Dicionário Houaiss da língua portuguesa (Rio de Janeiro: Objetiva, 2001), p. 1.363. 3 Apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais, cit., p. 150. 4 Richard Carlson, Não faça tempestade em copo d’água no trabalho: maneiras simples de minimizar o estresse e o conflito enquanto aproveita o melhor de si e dos outros (Rio de Janeiro: Rocco, 1999), p. 130. 5 George Bernard Shaw, apud Roberto Duailibi, Duailibi das citações (5ª ed. São Paulo: Arx, 2004), p. 128. 6 Edward de Bono, Teach Yourself to Think (Londres: Penguin Books, 1996), p. 117. 7 Confúcio, apud Roberto Duailibi, Duailibi das citações, cit., p. 137. 8 José Nello Marques, “Perguntar ofende!”: perguntas cretinas que jornalistas não podem fazer (mas fazem) (São Paulo: Disal, 2003). 9 Ibid., pp. 118-119. 10 Ibid. pp. 99-100. 11 Apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais, cit., p. 239. 12 Theodore Roosevelt, apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais, cit., p. 424. 13 Chris Argyris, “Skilled Incompetence”, em Harvard Business Review on Effective Communication (Boston: Harvard Business School Press, 1999), p. 102. 14 Frankie Byrne, apud Roberto Duailibi, Duailibi das citações, cit., p. 649. 15 George Herbert, apud Roberto Duailibi, Duailibi das citações, cit., p. 128. 16 José Nello Marques, “Perguntar ofende!”..., cit., p. 24. 17 Lilyan Wilder, 7 Steps to Fearless Speaking (Nova York: John Wiley & Sons, 1999), p. 176. 18 Hamsey Clark, apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais, cit., p. 364. 19 Barbara Pachter & Susan Magee, The Power of Positive Confrontation: the Skills You Need to Know to Handle Conflicts at Work, Home and in Life (New York: Marlowe & Company, 2000), p. 226. 20 Peter Ustinov, apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais, cit., p. 144. No trabalho “Preciso fazer algo” resolverá mais problemas do que “algo precisa ser feito”. GLENN VAN EKEREN 1 Uma abordagem bastante útil para a resolução de conflitos no meio corporativo (e também no nível pessoal) é a escada de inferência, idealizada por Chris Argyris e Donald Shön, ferramenta que permite organizar o raciocínio passo a passo para tomar decisões sobre como agir. Provavelmente você deve estar se perguntando: “Para que eu preciso saber organizar o meu raciocínio?”. Sei que a vida seria muito entediante se tivéssemos de refletir sobre por que raciocinamos dessa ou daquela maneira. Na realidade, não pensamos sobre o modo como raciocinamos. Isso nos parece extremamente óbvio, e é justamente por isso que não avaliamos os dados em que se baseiam nossas conclusões. Entretanto, em situações complexas ou de conflito, as pessoas chegam a diferentes conclusões e se desentendem, cada uma tentando impor seu ponto de vista, sem refletir sobre os argumentos que as fizeram pensar dessa ou daquela maneira. Entender o que o leva a assumir determinada posição é uma habilidade essencial para a resolução de conflitos e para a tomada de decisões complexas, porque seu raciocínio pode limitar suas chances de encontrar soluções e de avaliar diferentes opções de ação. Ao tornar o nosso processo de pensamento explícito, a escada de inferência nos permite refletir sobre os seguintes aspectos: Nosso modo de pensar contribui para o conflito? As crenças a respeito de determinada situação limitam a compreensão do problema? Existem outras alternativas mais eficientes para se lidar com a situação conflituosa? É necessário levantar mais dados para tomar uma decisão? A escada de inferência2 Passos da escada de inferência Dados observáveis: como um filme seria capaz de registrar. 1. “Seleciono dados a partir do que observei.” 2. “Atribuo significado aos dados que selecionei.” 3. “Crio pressupostos baseados no significado.” 4. “Tiro conclusões com base no significado.” 5. “Adoto crenças.” 6. “Realizo ações com base em minhas crenças.” 7. “Obtenho resultados que criam mais dados observáveis e que influenciarão quais dados selecionarei no futuro, reforçando a minha crença.” Obs.: O loop reflexivo se refere a como nossas crenças influenciam os dados que selecionaremos no futuro. Exemplo prático: conflitos entre integrantes de uma equipe Situação: Conflitos que ocorrem durante a reunião dos integrantes do departamento com a presença da diretoria. Dados observáveis: O que eu observei durante a reunião do departamento (você faz uma observação seletiva, ou seja, observa apenas alguns aspectos da reunião, enfatizando mais determinados aspectos e menos outros). 1. Seleciono dados: “Quando dei uma ideia para melhorar o atendimento aos nossos clientes, o Sérgio desviou o olhar, deu risada e fez um comentário com o Paulo.” 2. Atribuo significado: “O fato de o Sérgio ter desviado o olhar, dado risada e feito comentários paralelos significa que ele despreza as minhas ideias.” 3. Crio pressupostos: “Ele não está disposto a colaborar comigo.” 4. Tiro conclusões: “Se eu apresentar outras ideias, serei ridicularizado por ele.” 5. Adoto crenças: “Ele me ridiculariza e quer me prejudicar.” 6. Realizo ações: “Não falarei mais sobre as minhas ideias com o Sérgio, porque ele quer me prejudicar.” 7. Com essa ação, eu obtenho resultados que tendem a reforçar a minha crença: “Como acho que ele quer me prejudicar, vou tratá-lo mal. Não falo mais com ele. Nosso relacionamento no departamento piora, e eu reforço a crença de que ele realmente quer me prejudicar.” Ao observar o comportamento de Sérgio, você pode concluir: “Ele quer me prejudicar” – conclusão que influenciaria sua maneira de observar o que ele faz. Esse tipo de conclusão é conhecido como salto de abstração, pois há uma passagem tão rápida para as generalizações (“Ele quer me prejudicar”) que não se tem tempo de testá-las. Como você parte do princípio de que Sérgio quer prejudicá-lo, tenderá a observar seletivamente todas as suas ações que se encaixarem nesse conceito ou maneira de pensar. Assim, passará a tratá-lo como se ele fosse uma ameaça e decide: “Já que ele quer me prejudicar, vou tratá-lo mal”; ele, por sua vez, reagiráao seu comportamento, o que eliminará qualquer possibilidade de mudar a dinâmica da relação. Esses saltos de abstração podem contribuir para o agravamento do conflito, pois, mesmo que sua conclusão seja baseada em dados observáveis, não deixará de ser uma inferência, uma suposição, até que você a teste É necessário testar todos os saltos de abstração? Não. Você pode não achar adequado questionar e explorar mais profundamente os dados que o levaram a tirar certas conclusões. No entanto, lembre-se: em conflitos ou em situações complexas, se você achar que suas conclusões podem ser imprecisas ou desejar saber mais sobre os dados em que as conclusões das pessoas envolvidas estão baseadas, vá em frente. Como checar suposições? Preconceito economiza muito tempo, porque você pode formar uma opinião sem fatos. ANÔNIMO 3 Após fazer o exercício da escada de inferência, você terá a oportunidade de checar suas suposições. Imagine que você queira verificar se o fato de Sérgio ter desviado o olhar, dado risada e feito comentários paralelos significa que ele despreza suas ideias. É possível fazer isso de diversas maneiras: Faça uma pergunta aberta: “Sérgio, o que você achou da minha apresentação?”. Teste sua suposição com uma pergunta: “Observei que, durante a reunião, enquanto eu falava, você desviou o olhar, deu risada e fez comentários paralelos. Você discordou de algo que eu falei?”. Questione os significados dos gestos: “O que significaram seus gestos durante a reunião ?”. Fique atento para a forma que você faz a pergunta. Um vestígio de agressividade na sua voz poderá desencadear uma atitude defensiva por parte da outra pessoa. Observe também algum sinal de incongruência nas respostas; o outro pode estar mentindo. Você acreditaria nas respostas, considerando que se trata de um conflito? A ideia é que você faça perguntas exprimindo qual o impacto do comportamento do outro sobre você. Para apresentar seu ponto de vista sem ser agressivo, você pode usar uma das estratégias apresentadas neste livro, dizendo algo como: “Eu me senti desrespeitado com o fato de você desviar o olhar e fazer comentários paralelos durante a minha apresentação. Nós nos entenderemos melhor se pudermos conversar sobre as ideias que eu apresentei. Tudo bem?”. Mesmo que você fale com jeito, Sérgio também pode ficar na defensiva, mas isso não está sob o seu controle. O próximo passo é ficar atento à congruência das respostas dele. Se ele lhe disser que não agirá mais daquela maneira quando você falar, mas continuar a desviar o olhar, a rir e a fazer comentários paralelos, tais sinais de incongruência formarão um conjunto de informações valioso. Você confiaria nas palavras ou nas ações dele? O que você faria nessa situação? Exemplo prático: avaliação de um novo projeto A escada de inferência também é muito útil quando você for iniciar um projeto. Avaliá-lo, antes de iniciá-lo, leva você e os outros integrantes da equipe a assumir determinada posição economizando um tempo, em geral, despendido em discussões e reuniões improdutivas. Suponha que você seja o novo gerente do Serviço de Atendimento ao Cliente e sinta necessidade de incrementar o atendimento. Como você sabe, gerentes de outros departamentos costumam resistir em investir dinheiro na melhoria dos serviços, argumentando que isso é desnecessário, porque acreditam que os clientes compram com base no preço, e não no serviço. Você tem todo o direito de não concordar com esse ponto de vista, mas, se deseja criar empatia e ser ouvido, respeite-o. Respeitar não significa concordar. Lembre- se de que, embora esse tipo de pensamento tenha sido válido no passado, não o é mais. Você pode apresentar seus argumentos sem criar animosidades, utilizando a escada de inferência. Se necessário, fale sobre os resultados a longo prazo, caso não seja tomada nenhuma providência. Situação: Implantar melhorias no Serviço de Atendimento ao Cliente. Dados observáveis: Nosso serviço de atendimento é ineficaz, se considerarmos o número de reclamações recebidas diariamente. 1. Seleciono dados: “Nossas duas principais concorrentes já investiram em treinamento para atender os clientes, e seus preços são quase os mesmos que os nossos”. 2. Atribuo significado: “Hoje a ineficácia do nosso serviço não representa perda de mercado para a empresa, mas em cerca de um ano a situação deverá mudar, porque as outras empresas terão feito melhorias no setor e terão maior vantagem competitiva”. 3. Crio pressupostos: “Precisamos investir em melhorias no atendimento para não ficarmos defasados no mercado”. 4. Tiro conclusões: “Se não investirmos em melhorias no atendimento, perderemos a nossa participação no mercado”. 5. Adoto crenças: “Podemos ganhar maior participação no mercado se melhorarmos o atendimento ao cliente.” 6. Realizo ações: “Proponho algumas estratégias, entre elas a contratação de mais funcionários para o setor de atendimento ao cliente, a fim de tornar o sistema mais ágil”. 7. Com essa ação, obtenho resultados que tendem a reforçar a minha crença: “Estou convencido de que é necessário melhorar o Serviço de Atendimento ao Cliente, e acredito que possamos alcançar o padrão de qualidade dos concorrentes em seis meses”. O exemplo apresentado é um resumo da escada de inferência para fins didáticos, para que você entenda o funcionamento do conceito. Lembre-se de que nesse exemplo as inferências (suposições) são feitas sobre um projeto que ainda não foi concretizado. Na prática, acrescente exemplos específicos e concretos, como, por exemplo: “Quem são as empresas concorrentes?”, “Quais ações as outras empresas realizaram para melhorar o atendimento?”, “Qual o custo básico do projeto?”, “Quais os benefícios a curto, médio e longo prazos?”. Por enquanto, as ações se limitam ao levantamento de dados e propostas para o projeto. Tudo bem: mesmo que a empresa opte por não fazer melhorias no Serviço de Atendimento ao Cliente, pelo menos a ideia foi analisada, e isso já tem grande valor. Sobre as crenças Acreditamos com facilidade no que desejamos. JÚLIO CÉSAR 4 Nossas crenças guiam nossas ações e são as regras que norteiam nossas vidas. Não se trata de fatos, embora muitas vezes nos pareçam tão óbvias que as confundimos com eles. Consideramos muitas de nossas crenças imutáveis, mas não o são; elas influenciam enormemente a maneira como compreendemos o mundo e como fazemos sentido para o que está à nossa volta. As crenças também funcionam como profecias autorrealizáveis e exercem influência no nosso comportamento. Se você se acreditar tímido, agirá de acordo com essa crença, mesmo que não queira que ela seja verdadeira. Pode, por exemplo, falar extremamente baixo e evitar estabelecer contato visual com outras pessoas. Se, por outro lado, se considerar comunicativo, agirá de acordo com isso e poderá se sentir à vontade falando com pessoas que acabou de conhecer. As crenças geram ação; se você não obtiver os resultados que deseja, poderá mudá-las. Você pode escolher no que acreditar. Apesar disso, tendemos a reforçar nossas crenças por meio do que observamos, porque isso nos traz segurança. Declarações como “Eu tinha certeza de que isso iria acontecer”, “Eu não disse?”, “Eu sabia”, “Eu avisei” confirmam que nossas crenças estavam corretas. Nossas crenças formam nossos modelos mentais – “os princípios pelos quais o mundo parece funcionar, com base na nossa experiência”5 –, que podem ser individuais ou coletivos. Segundo David Hutchens: Quando indivíduos estão organizados juntos, os grupos e as organizações que eles formam também desenvolvem modelos mentais. Organizações, famílias, governos... eles são todos governados pelos pressupostos e crenças coletivos, profundamente arraigados nos indivíduos. 6 Imagine que os integrantes de uma equipe desenvolvam o mesmo modelo mental para avaliar uma situação. Isso pode limitar muito sua compreensão, porque todos passama pensar da mesma maneira. Nesse caso, é muito fácil esquecer as perguntas “Como as outras pessoas veem a situação?” ou “Será que nossas crenças são adequadas para avaliar a situação de modo eficaz?”. Lembre-se de que suas crenças não são imutáveis, e o que pode ter sido adequado no passado não o é no presente. Nossas crenças influenciam a maneira como reagimos diante de novas situações, mas nem sempre isso pode ser previsto por pesquisas de mercado. De Bono faz uma reflexão interessante a respeito disso: Em negócios, as pessoas usam muito a pesquisa de mercado para tentar prever se um novo produto será bem-sucedido. A pesquisa de mercado nos fornece boas informações sobre o que as coisas são, e não sobre o que as coisas poderiam ser. A pesquisa de mercado sempre olha para trás, quando as perguntas são projetadas para se olhar para a frente. Quando os clientes de um banco foram questionados sobre se gostariam de sacar dinheiro de uma “máquina”, a maioria deles indicou que gostaria muito mais de ser atendida por um funcionário de carne e osso. Mas, depois que os caixas eletrônicos foram instalados e os clientes se acostumaram com eles, chegaram à conclusão de que preferiam as máquinas aos caixas humanos. Filas se formavam nos caixas eletrônicos mesmo quando os caixas humanos não estavam ocupados. No Japão, as pessoas não usam muito pesquisa de mercado; preferem testar e deixar o mercado decidir. É muito difícil para uma pessoa dizer como ela reagiria a algo que ainda não experimentou. 7 Não estou dizendo que as pesquisas de mercado não são importantes; elas são muito úteis. Entretanto, em alguns casos, pode valer a pena experimentar um produto ou serviço para obter dados testados na prática e poder aperfeiçoá-los ou tirá-los do mercado. É evidente que isso gera custos, mas em alguns setores, como o da moda, enormemente influenciado pela mudança de conceitos dos consumidores, vale a pena correr riscos. Os produtos e serviços que consumimos também são influenciados pelos nossos conceitos, hábitos e costumes. A moda, afinal de contas, não passa de uma epidemia induzida. GEORGE BERNARD SHAW 8 O mercado da moda é um caso clássico que demonstra que somos capazes de nos adaptar rapidamente a vários conceitos diferentes. O que há uma década era considerado extremamente elegante hoje é tido como algo de mau gosto, e vice-versa. Por que aceitamos novos padrões para nos vestir? Porque também mudamos nossos conceitos sobre o que consideramos trivial ou bizarro. Nesse sentido, os hábitos podem ser mudados, e uma pesquisa de mercado nem sempre é capaz de avaliar como as pessoas reagiriam a um novo conceito. Antes de as calças jeans rasgadas estarem na moda, por exemplo, seria pouco provável as pessoas aceitarem pagar caro por uma peça de roupa toda furada, rasgada ou desfiada. Porém, de tanto esse tipo de moda ser veiculado na mídia, nos acostumamos a esse padrão e deixamos de estranhá-lo. Depois da fase de estranhamento, começamos a achar o jeans furado interessante e decidimos até comprá-lo. Eu reelaboraria a declaração de Bono da seguinte maneira: “É muito difícil, para uma pessoa, dizer como reagiria a algo que ainda não experimentou ou a algo a que não está acostumada”. Gostaria de chamar a atenção para o fato de que desconsiderar outras maneiras de abordar os acontecimentos, porque as informações são automaticamente descartadas por não se enquadrarem em nosso modelo mental, pode limitar a criatividade na busca de soluções para os conflitos e para encontrar novas estratégias de ação. Veja o caso do jeans rasgado. Se você partisse do princípio de que as pessoas não comprariam uma calça rasgada, pensaria de maneira completamente diferente do que se partisse do princípio de que as pessoas podem comprar um calça cheia de furos. Sobre o levantamento de dados O cérebro é como um paraquedas. Só funciona quando está aberto. JAMES DEWAR 9 Ao analisar as informações que nos levaram a tirar determinadas conclusões, podemos avaliar conscientemente se é necessário levantar mais dados para entender a situação sob diferentes aspectos. Quando todas as pessoas envolvidas explicitam seu pensamento, tornando-o aberto à investigação, temos diversas vantagens. Como afirma Peter Senge: Eu poderia dizer: “Aqui está o meu ponto de vista e a forma como cheguei até ele. Como ele soa para vocês?” Quando se utiliza apenas a argumentação, a meta é vencer a discussão. Quando se associam indagação e argumentação, a meta deixa de ser “vencer a discussão”e passa a ser encontrar o melhor argumento. 10 Sobre os comportamentos defensivos Você age quase automaticamente com base em crenças, e isso pode se tornar um verdadeiro problema quando suas ações contribuem para produzir o que não deseja – elas podem, inclusive, contribuir para o conflito. Suponha que você tenha provas concretas de que alguns funcionários do seu departamento criticam o que você faz. Você pensa: “Cada vez que eu falo, sou criticado” e age em função disso: “Se cada vez que eu disser algo for criticado, não falarei mais”. Uma das maneiras de se proteger das críticas é evitar expor seu ponto de vista. Não há nada de errado nisso, desde que tal ação leve aos resultados que você deseja. E se o fato de não expor as suas ideias piorar a situação? A escada de inferência permite avaliar suas ações em um contexto específico, e você poderá questionar se, com elas, está obtendo os resultados que deseja. Uma das opções para mudar seu comportamento seria fazer um acordo com os funcionários do departamento e pedir a eles que se comuniquem de maneira construtiva. Você também pode decidir expor suas ideias de outro modo. Será que o seu tom de voz não é demasiado agressivo e coloca os outros na defensiva? Será que você apresenta suas ideias como se fossem a única maneira de encarar o problema, fazendo os outros se sentirem desrespeitados? Será que você tem apresentado suas ideias em momentos inadequados? Sobre as conclusões Independentemente da conclusão a que você chegar por meio da escada de inferência, ela não deixa de ser um conjunto de informações, e só gerará resultados se for transformada em ações. Para reduzir as possibilidades de desentendimento, é bastante útil fazer um levantamento das vantagens e desvantagens das conclusões. Não existe uma conclusão melhor do que outra – cada uma gera um resultado diferente. Qual resultado é o mais adequado para a empresa no momento? Qual é a prioridade atual da empresa? Quais são as consequências dessa decisão a longo prazo? Suponha que duas empresas entrem em conflito e sua equipe faça o exercício da escada de inferência. Imagine que concluam que, em razão do estresse e do desgaste gerados no conflito, a equipe não tem condições de levantar dados de maneira adequada. Os dados já reunidos são profundamente afetados pelos rótulos atribuídos aos oponentes, como “desonestos”, “manipuladores”, “mentirosos”, “incompetentes”, etc. Ao rotular os oponentes, voltamos o foco do conflito para as pessoas, e não para o que elas fizeram. Conforme Cloke e Goldsmith, quando identificamos as pessoas como o problema, isso piora ainda mais as coisas. Como? Se nós definirmos o problema como sendo as pessoas, o único remédio será matá-las ou tirá-las da nossa presença. A primeira opção é ilegal e imoral. A segunda é impossível ou ineficiente, pois transfere o problema para outro lugar, fazendo-nos sentir impotentes e frustrados. 11 Avalie, nesse momento, a possibilidade de contratação de um mediador para dar andamento às negociações. Sobre o pensamento sistêmico e a resolução de conflitos A gente tropeça sempre nas pedras pequenas, porque as grandes a gente enxerga. PROVÉRBIO JAPONÊS 12 Como já foi dito, a escada de inferência permite avaliar os argumentos que sustentam determinadas conclusões para a tomada de decisões. Até o momento, temos somente informações nas quais basearemos nossas ações.É possível resolver o conflito de diversas maneiras: podem-se trabalhar suas causas ou suas consequências. Suponha que você tenha um funcionário que não trabalhe de acordo com os padrões de qualidade da empresa. Uma das maneiras de resolver o problema seria dispensá-lo e contratar um funcionário mais competente. Outra maneira seria investigar os motivos pelos quais seu funcionário não trabalha de acordo com os padrões de qualidade exigidos. Nesse sentido, poderiam ser levantadas várias questões: Foram dadas instruções claras ao funcionário? Ele é informado regularmente sobre essas instruções? Essas instruções lhe são cobradas? Ele recebeu treinamento adequado? Suponha que você tenha chegado à conclusão de que o funcionário não recebeu treinamento adequado e por isso não age de acordo com os padrões de qualidade da empresa. Nesse caso, não seria eficiente despedi-lo e contratar um novo funcionário, pois, se a empresa não oferece um bom treinamento, provavelmente o novo funcionário também não trabalhará com eficiência. É útil, então, aplicar o conceito de pensamento sistêmico na resolução de conflitos. O pensamento sistêmico é a arte de compreender como funciona um sistema – físico, social, vivo ou mecânico, como o sistema digestório, seu sistema de crenças, um trabalho em equipe ou uma campanha de marketing. Um sistema tem as seguintes características: O todo é maior que as partes. Todas as partes estão conectadas e operam conjuntamente. O funcionamento do sistema depende do modo como as partes estão conectadas. Se uma parte não funcionar, isso influenciará o sistema e provavelmente ele não funcionará. Uma pequena mudança afetará todo o sistema; ele poderá voltar a funcionar ou vir a funcionar ainda melhor. Todo sistema tem um tamanho ideal. Aumentá-lo não implica torná-lo necessariamente melhor. Aumentá-lo ou diminuí-lo sem que sejam feitas as devidas mudanças fará com que ele não funcione. Se você não pode descrever o que está fazendo como um processo, você não sabe o que está fazendo. W. EDWARDS DEMING 13 Um sistema é, na verdade, um processo. Depois que você compreender como ele funciona, conseguirá descobrir o que está impedindo a mudança e o que é necessário para que ele volte a funcionar adequadamente, sempre levando em conta as consequências dessa mudança em todo o sistema. Esses conceitos podem ser aplicados em diversos sistemas: saúde, finanças, relacionamentos, negócios, resolução de conflitos, etc. Para compreender o funcionamento de um sistema, devem-se fazer as seguintes perguntas: “Quais as minhas suposições a esse respeito?” “De que outras maneiras eu poderia pensar nisso?” “Como as minhas suposições podem contribuir para o problema?” “Como essa situação tem persistido?” 14 O conceito de pensamento sistêmico aplicado aos negócios desafia muitas de nossas crenças. Não parta do princípio de que reunir profissionais talentosos formará uma equipe sensacional. Nem sempre isso acontecerá, porque os integrantes dessa equipe podem ter personalidades incompatíveis. Um dos princípios do pensamento sistêmico é que o bom funcionamento de um sistema depende da maneira como suas partes estão conectadas. Isso tem inúmeras vantagens: um grupo que funciona bem alcança resultados muito superiores aos dos alcançados pelas partes trabalhando sozinhas. Outro princípio do pensamento sistêmico é que o comportamento dos integrantes do sistema depende da estrutura na qual eles estão inseridos. Embora todos possam funcionar adequadamente em circunstâncias favoráveis, no mundo corporativo, as pessoas ainda são culpadas e recompensadas como se fossem partes independentes do sistema. Culpar os outros pode gerar um circuito circular, que intensifica muito o conflito. Suponha que você seja o gerente de um departamento e que a direção da empresa o culpe por não ter apresentado o relatório de vendas na reunião mensal. Você depende do departamento de vendas para obter o relatório e o culpa por não ter lhe mandado o relatório em tempo. O departamento de vendas, por sua vez, culpa o departamento de informática, que não foi capaz de criar um sistema de levantamento de dados eficiente para obter as informações no tempo necessário. Então, o departamento de informática culpa a direção e a gerência, que aprovaram o sistema de coleta de dados. Reveja o circuito de culpa e observe como culpar os outros gera ainda mais desentendimentos. Na minha opinião, trata-se de uma excelente estratégia para desencadear um conflito. Evidentemente, existem alguns sistemas mais complexos do que outros. Enquanto os integrantes envolvidos no processo forem vistos como entidades independentes, desconexas entre si, alguém será culpado por tal ineficiência e, provavelmente, será punido ou demitido (dependendo da gravidade do problema) para dar o exemplo aos outros. Outra pessoa será contratada, mas isso não garantirá que o sistema funcionará de maneira mais eficiente. O problema não é o que a pessoa faz, mas o que a estrutura do sistema lhe permite fazer. Sobre esse processo, McDermott e O’Connor refletem: Ninguém vai trabalhar para fazer um mau trabalho, mas a estrutura do sistema pode não permitir que um bom trabalho seja feito. Se a administração cair na armadilha da culpa, poderá demitir a pessoa que foi responsabilizada e contratar outra – que talvez não tenha um desempenho melhor. É a estrutura do sistema que cria os resultados. Para obter resultados melhores, mude a estrutura do sistema. 15 Estamos acostumados a pensar em termos de causas e consequências: de maneira linear, a causa x gera a consequência y. Esse tipo de raciocínio é pouco eficiente quando abordamos um sistema, porque as coisas não são tão simples. O que importa, em um pensamento sistêmico, é entender de que forma as partes estão conectadas e qual é a relação entre elas. Ao analisar um sistema, pergunte: “O que causou esse resultado?” (foco nas causas); é menos eficiente que perguntar: “Quais fatores influenciaram esse resultado?” (foco na relação entre as partes do sistema). Lembre-se de que um resultado é gerado pela interação de diversos fatores. Imagine que você queira investigar as causas de sua gripe. Se você pensasse em termos de causa e efeito, perguntaria a si mesmo: “O que causou a minha gripe?”, obtendo como resposta: “um vírus”. Entretanto, o fato de você ter entrado em contato com um vírus não é suficiente para explicar a gripe, pois outras pessoas também foram expostas a ele e somente algumas ficaram gripadas. Outra maneira de investigar a gripe seria perguntar: “Quais fatores influenciaram a minha saúde?”, para o que você obteria diversas respostas. Você poderia estar predisposto à gripe por uma série de fatores, como estresse, má alimentação, desgaste físico e emocional ou a combinação de todos eles. Nesse sentido, a causa da gripe não é o fato de você ter entrado em contato com o vírus, mas o fato de o vírus ter encontrado em seu corpo terreno propício para se desenvolver, em razão da interação de diversos fatores. Sobre a cultura organizacional Nunca derrube uma cerca até saber por que ela foi colocada. ROBERT FROST 16 Investigar os diversos fatores que contribuíram para determinado resultado é um modo de identificar o que precisa ser mudado no sistema. O que é óbvio para os outros pode não ser para você. Eu me sinto bastante à vontade fazendo perguntas para entender o funcionamento de sistemas e esclarecer o significado das informações pelo fato de atuar como consultor e coach de empresas e de pessoal. Contudo, às vezes me surpreendo com a não tradução dos valores e da missão de uma empresa em ações, pelo fato de as pessoas não terem ideia clara do que possam significar. Você já observou, nas recepções das empresas, uma placa brilhante, de aspecto impecável, onde se leem a missão e os valores da organização? Na grande maioria das vezes, elas contêm informações demasiado genéricas, como:“Nossa missão é construir um mundo melhor, oferecendo produtos e serviços de qualidade”; “Nossos valores são integridade e responsabilidade social”. Certamente, na placa não haveria espaço suficiente para detalhar o que essas informações significam na prática. Entretanto, descrever detalhadamente e informar a todos os funcionários a missão e os valores da empresa evitaria diversos conflitos, pois a missão da empresa corresponde à sua identidade ou à sua cultura organizacional, que engloba o conjunto de padrões de comportamento, crenças, conhecimentos e costumes que caracterizam a organização. Tenha em mente que cada vez que um valor ou um padrão de conduta da empresa for violado ocorrerá um conflito. Aqui, é essencial perguntar: “Será que a pessoa que violou esses valores ou padrões tinha consciência disso?”. Lembre-se de que os padrões de conduta variam muito de empresa para empresa e devem ser avaliados dentro do contexto cultural da organização. Ao avaliar, por exemplo, um funcionário que violou uma norma, é preciso considerar o caso de acordo com a cultura da empresa. Conforme Alan Fowler: Por exemplo, se o funcionário trabalha em um ambiente em que é proibido fumar devido ao alto risco de incêndio ou de explosão, o não-cumprimento dessa norma pode constituir falta grave. A mesma infração em um escritório que apenas proíbe o fumo pode merecer apenas repreensão verbal. 17 Fowler cita, ainda, algumas circunstâncias atenuantes quando os funcionários violam algum padrão: inexperiência, doença ou estresse, pressões não usuais no trabalho (ter de fazer jornada dupla, por exemplo), discriminação racial ou intimidação por colegas ou superiores, explicação inadequada das normas ou dos procedimentos da empresa, inconsistência na cobrança do cumprimento de normas ou padrões, não entendimento de instruções causadas por dificuldades da língua. Ao explicar aos funcionários a cultura organizacional da empresa, ou seja, seus valores centrais, seus padrões de qualidade e conduta, tenha o cuidado de fazê-lo com bastante empatia. Não pressuponha que, pelo fato de você ter explicado, eles entenderão. Se julgar necessário, após sua explicação, peça-lhes que digam com suas próprias palavras o que entenderam sobre o que você disse. Ao expor claramente as regras com as quais pretende trabalhar, você gera segurança nos funcionários da empresa e fortalece a autoestima deles. Eles podem até não concordar com os padrões, mas conhecerão as bases do acordo estabelecido de maneira íntegra e honesta. Sobre os questionamentos É melhor perguntar e parecer ignorante do que permanecer ignorante. PROVÉRBIO CHINÊS 18 Assuma a postura de um consultor caso sinta necessidade de coletar informações e esclarecer significados. Isso é demasiado importante na resolução de conflitos, pois, muitas vezes, você precisará fazer perguntas aparentemente óbvias, mas nem tão óbvias para si mesmo, para se certificar de que entendeu o significado do que foi dito. A técnica da escuta ativa é bastante útil. Em um contexto empresarial, se você não se sentir à vontade para perguntar “o óbvio” porque teme criar impaciência nos interlocutores, você pode dissipar a tensão fazendo um comentário antes de esclarecer as dúvidas: ”Como eu ainda não estou familiarizado com a terminologia da empresa, gostaria de fazer algumas perguntas para esclarecer certos conceitos”. Lembre-se de que atualmente cada companhia tende a ter um vocabulário próprio e atribuir diferentes significados para as mesmas palavras. Se desejar entender o assunto em questão, não se intimide em esclarecer o que parecer confuso. Algumas réplicas eficientes são: “Se estou entendendo bem...“, ”Deixe-me ver se compreendi direito o que você está querendo dizer...“, “Tenho a impressão de que o que você está querendo dizer é...“, “Corrija-me se eu estiver errado, mas me parece que...“. 19 Como o ato de perguntar pode desencadear mais conflitos, avalie se você realmente precisa fazê-lo. O metamodelo de linguagem da neurolinguística, desenvolvido por Richard Bandler e John Grinder, identifica os padrões de linguagem que dificultam ou obscurecem a comunicação, permitindo coletar informações, esclarecer significados, identificar limites e oferecer mais opções de pensamento. Lembre-se de que você não precisa saber o significado exato de tudo, seus mínimos detalhes, senão sua vida ficaria muito chata. Apresentarei a seguir um resumo desse metamodelo, que você poderá usar consigo mesmo, para fins de autoquestionamento, ou com os outros. Ressalto a importância de usar muita empatia (rapport) e elegância ao questionar para não criar uma megaconfusão. Resumo do metamodelo de linguagem 20 Deleções Faltam informações. Exemplo: “Isso é importante”. Questionamento: Recupere as informações: “O que, exatamente, é importante?”. Algo aconteceu, mas não está claro quem o fez e quem foi afetado. Exemplo: “Erros foram cometidos”. Questionamento: Recupere as informações: “Quem fez o que, e para quem?”. Algo foi feito, mas não está claro como. Exemplo: “Falhei”. Questionamento: Descubra exatamente como a ação foi realizada: “Como, exatamente, eu falhei?”. Uma comparação está sendo feita, mas o padrão utilizado não está claro. Exemplo: “Eu fiz aquilo muito mal”. Questionamento: Descubra a base e o padrão de comparação: “Mal, comparando com o quê?”. Algo está sendo julgado, mas não está claro quem está fazendo o julgamento nem qual o padrão usado. Exemplo: “Obviamente, isso não é bom o suficiente”. Questionamento: Descubra quem está fazendo o julgamento e qual o padrão que está sendo utilizado: “Quem afirma que isso não é bom o suficiente, e com base em que padrão?”. Generalizações Palavras como nunca, todo mundo e ninguém são usadas como se não houvesse exceções. Exemplo: “Sempre tenho razão”. Questionamento: Dê um exemplo contrário: “Já houve alguma ocasião em que eu tenha cometido um erro?”. Palavras como deveria e não deveria, deve e não deve implicam uma regra necessária. Exemplo: “Eu não deveria ligar ao meio-dia”. Questionamento: Desafie as consequências imaginadas: “O que aconteceria se eu ligasse?”. Palavras como pode, não pode, capaz e incapaz estabelecem regras sobre o que é possível. Exemplo: “Não posso dizer isso a ele”. Questionamento: Questione a regra generalizada e as consequências imaginadas: “O que aconteceria se eu dissesse?”. Questione a impossibilidade presumida: “O que o impede?”. Distorções Duas informações são ligadas como se sempre significassem a mesma coisa. Exemplo: “Ela está sempre atrasada, (portanto) ela não se importa”. Questionamento: Questione a equivalência: “De que maneira isso significa aquilo?”; no caso: “Exatamente como o atraso dela significa que não se importa?”. Dê um exemplo contrário: “Paulo se atrasou, mas ele é claramente responsável, não é?”. Um processo se transformou em um substantivo. Exemplo: “Tenho medo do fracasso”. Questionamento: “Em que especificamente eu tenho medo de fracassar?”. O estado interno de uma pessoa é presumido sem que haja evidências. Exemplo: “Ele não gosta de mim”. Questionamento: Peça evidências: “Como sei que ele não gosta de mim?”. Supõe-se que outros podem (e devem) ler sua mente e agir de acordo com seus pensamentos. Exemplo: “Se você se importasse comigo, saberia o que quero”. Questionamento: Pergunte como poderia saber: “Como ele poderia saber?”. 1 Glenn Van Ekeren, apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais (Rio de Janeiro: Ediouro, 2004), p. 419. 2 Adaptado de David Hutchens, Sombras do homem de Neandertal: trazendo luz às crenças que limitam nossas organizações (2ª ed. São Paulo: Best Seller, 2003), p. 76. 3 Apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais, cit., p. 332. 4 Júlio César, apud Roberto Duailibi, Duailibi das citações (5ª ed. São Paulo: Arx, 2004), p. 285. 5 Joseph O’Connor,Manual de programação neurolinguística – PNL: um guia prático para alcançar os resultados que você quer (Rio de Janeiro: Qualitymark, 2003), p. 20. 6 David Hutchens, Sombras do homem de Neanderthal..., cit., p. 68. 7 Edward de Bono, Teach Yourself to Think (Londres: Penguin Books, 1996), p. 129. 8 George Bernard Shaw, apud Cyro Donizete Passos, Pensamentos para uma vida melhor (São Paulo: Madras, 1998), p. 90. 9 James Dewar, apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais, cit., p. 88. 10 Peter M. Senge, A quinta disciplina: arte e prática da organização de aprendizagem (16ª ed. São Paulo: Best Seller, 2004), p. 227. 11 Kenneth Cloke & Joan Goldsmith, Resolving Conflicts at Work: a Complete Guide for Everyone on the Job (São Francisco: Jossey-Bass, 2000), p. 168. 12 Apud Bruno Pacheco (seleção e organização), Oriente-se: 100 provérbios orientais para o dia a dia (Rio de Janeiro: Nova Era, 2004), p. 104. 13 W. Edwards Deming, apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais, cit., p. 418. 14 Joseph O’Connor, Manual de programação neurolinguística..., cit., p. 32. 15 Joseph O´Connor & Ian McDermott, The Art of Systems: Thinking Essential Skills for Creativity and Problem Solving (Londres: Thorsons, 1997), p. 80. 16 Robert Frost, apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais, cit., p. 241. 17 Alan Fowler, Resolvendo conflitos (São Paulo: Nobel, 2001), p. 52. 18 Apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais, cit., p. 71. 19 Karim Khoury, Com a corda toda: autoestima e qualidade de vida (São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2002), p. 124. 20 Adaptado de Joseph O’Connor, Manual de programação neurolinguística..., cit., pp. 185-188, e de Joseph O’Connor & John Seymour, Introdução à programação neurolinguística: como entender e influenciar as pessoas (São Paulo: Summus, 1995), pp. 107-119. Vire a página Nem sempre é conveniente virar a página, às vezes é preciso rasgá-la. ACHILLE CHAVÉE 1 Parabéns! O fato de você ter chegado até aqui significa muito; qualquer estratégia que você tenha usado para resolver conflitos e qualquer que tenha sido o resultado final, mesmo que tenha sido difícil, você agiu para exercer influência sobre a situação. Você merece celebrar essa conquista e tem toda a responsabilidade sobre essa vitória. O objetivo central deste livro é mostrar estratégias para que você exerça maior influência sobre sua vida por intermédio da resolução de conflitos. O conceito de autoestima está baseado na sua autoconfiança para responder eficazmente às mudanças, e é impossível desenvolvê-la se você não acreditar, de fato, na sua influência sobre tudo que se passa a seu redor. Seguir esse raciocínio contribui para que você construa a vida que deseja para si e é, portanto, uma forma de fortalecer a sua autoestima. Comece a resolver conflitos simples, assim você desenvolverá a sua autoconfiança para resolver situações mais complexas. O conceito de autoestima está intimamente ligado à sua autoconfiança. Como refleti anteriormente, ter um bom conceito de si mesmo não é um remédio para todos os males, mas: É fato que as pessoas que estão de bem consigo mesmas dispõem de maior energia para enfrentar os novos desafios. Desta perspectiva, tendem a ter uma qualidade de vida melhor. Isso não quer dizer que nunca tenham passado por estados emocionais desagradáveis, como a tristeza, a depressão ou a ansiedade, ou que nunca tenham enfrentado dificuldades. Significa apenas que são realistas, sabem reconhecer seus limites, são capazes de avaliar sua vida e conseguem mudar seu comportamento de modo a alcançar os resultados desejados. 2 Não estou sugerindo que ao resolver conflitos o caminho será sempre fácil. Durante essa trajetória você poderá sentir emoções perturbadoras como raiva e ansiedade. Lembre-se de que o problema não é o conflito em si, mas a maneira como você lida com ele. Quando estamos sob estresse tendemos a nos “tornar reféns” das emoções perturbadoras e temos a impressão de que não temos opção de escolha. A proposta é resolver o conflito preservando a sua autoestima e a do seu interlocutor. Isso aumenta muito as suas chances de seguir adiante e “virar a página” quando encontrar um obstáculo. Apresentei formas para desenvolver a sua assertividade para torná-lo capaz de se expressar sem agressividade, respeitando o ponto de vista do seu interlocutor. A assertividade pressupõe ser autêntico e estar disposto a defender as suas ideias de maneira clara e em contextos apropriados. Comunicar-se assertivamente é um meio de fortalecer a sua autoestima; contribui muito para resolver conflitos, e você ainda pode fazer muito para melhorar sua qualidade de vida. Desative bombas Não existe um caminho para a paz. A paz é o caminho. A. J. MUSTE 3 A assertividade permite que demonstre suas emoções perturbadoras de maneira construtiva, pois supõe que você respeitará o ponto de vista do outro – o que não significa concordar com ele. Paterson faz uma observação importante a respeito da comunicação em situações de conflito: agressividade gera agressividade. O resultado usual é um jogo de contra-ataques que aumentam o ódio – o que alguns terapeutas chamam de troca de mísseis. Ele lança um insulto, ela lança uma pedra, ele lança uma granada, ela lança uma bomba, ele lança um míssil, ela lança um míssil nuclear. Nada é resolvido e a situação fica ainda pior. 4 Qualquer um de nós pode perder a cabeça num conflito, e ainda assim é possível interromper a troca de agressões. Você não pode controlar a reação do outro, mas pode controlar-se. Mesmo que tenha perdido a cabeça e agredido o seu “oponente”, interrompa a discussão dizendo algo do tipo: “Não tenho condições de discutir isso agora. Podemos falar sobre isso uma outra hora?”. Não encare essa atitude como uma fuga nem se cobre para ser o super-homem ou a super-mulher e ter condições físicas e psicológicas ideais para enfrentar um conflito. É perfeitamente natural perder a cabeça, reconhecer o que fez e interromper o processo. Se necessário, procure um mediador. Vire a página Concentre-se no que está buscando, não no que está deixando para trás. ALAN COHEN 5 Eu sei que é tentador retornar a conflitos passados quando nos sentimos atacados. Aguente firme, você consegue. Machucar o outro ou tentar vencer a situação trazendo à tona histórias do passado só vai piorar as coisas. A situação já está suficientemente difícil para aumentar a tensão falando sobre conflitos mal resolvidos do passado. Atenha-se à resolução desse conflito específico, senão você corre o risco de entrar numa discussão interminável. Para se lembrar desse conceito, pense na seguinte frase: “Ontem acabou ontem à noite”. Depois de resolver essa situação específica, encerre o assunto e coloque um ponto final no caso. A resolução diz respeito somente às pessoas envolvidas no conflito, e ser discreto também demonstra respeito pelo outro. Se o seu “oponente” agiu de forma inadequada ou agressiva durante a resolução, isso também poderia ter acontecido com você. O que você tem a ganhar expondo a fragilidade do seu “oponente”? Você gostaria que fizessem isso com você? Encerre o caso sem nenhum comentário que possa dar margem a fofocas. Sobre a manipulação Reconheça sempre que indivíduos são fins e não os use como meios para seu fim. IMMANUEL KANT 6 Comunicar-se bem é uma habilidade. Nada mais do que isso. Algumas pessoas a dominam muito bem, outras menos. E todos podem aprender, melhorar e aperfeiçoar essa habilidade. Se você tem facilidade de se expressar bem, use-a com muita ética e critério, pois você poderá encontrar pessoas que se sentirão intimidadas com essa sua capacidade. Lembre-se de que isso não o faz melhor nem pior do que ninguém. Não use essa habilidade de comunicar-se bem como um instrumentode “intimidação” ou “manipulação”; não crie manobras para influenciar os outros contra a vontade deles. Seu objetivo é chegar a um acordo com o seu “oponente” e não obrigá-lo a fazer algo que ele não queira. Você aprendeu uma série de ferramentas neste livro que, por si sós, não são boas nem ruins. Tudo depende da forma como você fará uso delas. Se uma ferramenta pode ser usada para ferir, ela também pode ser usada para curar. Sobre a elegância A lição sabemos de cor. Só nos resta aprender. RONALDO BASTOS 7 (DA CANÇÃO “SOL DE PRIMAVERA”) Aprender uma nova habilidade e dominá-la leva tempo e demanda empenho. Não seja exigente consigo mesmo. Uma pessoa elegante “se caracteriza pela harmonia, leveza ou naturalidade na apresentação e nos movimentos”.8 Usar uma técnica com elegância significa fazê-lo com naturalidade. Você só será “natural” se adaptar as técnicas apresentadas para o seu estilo pessoal, de maneira que a técnica não seja “sentida” e você não precise fazer um “grande esforço” para aplicá-la. Ela será tão natural a partir de um dado momento que você nem se dará conta, pois ela será habitual e automática, e você nem precisará mais pensar nela. Apresentei diversos exemplos neste livro para inspirar você. São só exemplos. Você, melhor do que ninguém, poderá avaliar o que melhor lhe convier. Celebre cada pequena vitória, elas o ajudarão a continuar motivado, e o mérito será todo seu. Tenho repetido diversas vezes para os meus clientes: “O texto está impecável, agora só falta falar com naturalidade.” Para que essas técnicas façam algum sentido, elas devem ser exercitadas; depois, faça as mudanças necessárias e continue praticando. Não espero que isso aconteça com um estalar de dedos, mas ao escrever ou ao falar questione: “Será que existe uma forma mais natural de fazê-lo?”. Ensaie falar ou escrever o seu texto de diversas maneiras e opte pela forma com a qual você se sentir mais confortável. Se você passar a impressão de artificialidade, o que é muito comum quando decora e repete um texto que não tem nada a ver com você, ao mesmo tempo coloca em risco sua credibilidade. Quem vai acreditar que você está sendo sincero se soar artificial? Sobre o respeito Você tem o seu jeito. Eu tenho o meu. O jeito certo, o jeito correto e o único jeito não existem. Eu tenho o meu e você tem o seu. FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE 9 Uma das vantagens de aprender uma nova técnica ou desenvolver uma nova habilidade é ter várias opções de escolha. Agora que você conhece as estratégias de comunicação para resolução de conflitos, pode escolher conscientemente quando deseja usá-las. Reconheça que o seu ponto de vista é mais um entre muitos, e respeite o fato de que os outros podem enxergar de perspectivas diferentes da sua. O intuito do conhecimento é melhorar a sua qualidade de vida. Os conceitos apresentados neste livro são úteis quando usados em contextos apropriados. Procure não se tornar uma pessoa tediosa, que deseja saber o significado exato de tudo nos mínimos detalhes. Basear a sua vida em regras de conduta extremamente rígidas fatalmente o tornará uma pessoa mortalmente aborrecida; e, o que é pior, você eliminará os momentos de espontaneidade da sua existência. O seu companheiro pode ligar para você e não ter nada de específico para falar; o que ele quer é só ouvir sua voz. Evite, então, a todo custo a réplica: “Pra que você ligou?”. Deixe-o exprimir como se sente. A proposta da resolução de conflitos é tornar a sua vida mais leve e repleta de espontaneidade. Seja discreto se o seu “oponente” apresentar momentos de fragilidade ou descontrole; não interessa o que ele disse ou deixou de dizer durante uma situação conflituosa, o que conta é como ele está agindo no presente e ter sempre em mente que você poderia estar no lugar dele. Não espere a gota d’água Os pequenos atos que se executam são melhores que todos aqueles grandes que apenas se planejam. GEORGE C. MARSHALL 10 Resolva os conflitos à medida que eles vão surgindo e faça disso um hábito nas situações que são importantes. Já observei relacionamentos que sofreram muito com o “acúmulo de conflitos” até que uma situação aparentemente sem importância acabou sendo o motivo para desencadear uma sequência de agressões violentas desnecessárias. Uma reação excessivamente emotiva diante de uma situação é um sinal de que pode haver conflitos mal resolvidos e emoções reprimidas, que continuam a perturbá-lo. Exprima as suas emoções de maneira construtiva progressivamente à medida que os conflitos vão ocorrendo; dessa forma a tensão vai se dissipar. Mãos à obra Um grama de ação vale uma tonelada de teoria. FRIEDRICH ENGELS 11 Entenda que a sua qualidade de vida depende de diversos aspectos, e a resolução de conflitos é apenas um deles. Avalie o quanto você está satisfeito com os diversos aspectos da sua vida: meio ambiente (físico), espiritual, saúde, profissional, relacionamentos, amigos, família, sentimental, autodesenvolvimento, finanças, lazer. Equilibre o seu nível de satisfação nas diversas áreas. Você não é só o seu trabalho, nem só a sua família, nem só dinheiro, nem só qualquer coisa que seja. A sua vida é um conjunto de áreas interagindo, e você pode atribuir mais importância para alguns aspectos do que para outros. O aperfeiçoamento em uma das áreas pode gerar melhorias em outras. Se você aperfeiçoar determinada habilidade, na comunicação, por exemplo, poderá sentir os efeitos no relacionamento íntimo, e este poderá, por sua vez, melhorar a sua saúde física e psicológica. Sobretudo cuide do seu corpo. O esgotamento dos seus recursos físicos poderá arruinar a sua autoestima e impedir que você mobilize outros recursos para enfrentar novos desafios. Sendo você mesmo Qual o primeiro dever de um homem? Ser ele mesmo. HENRIK IBSEN 12 Lembre-se de que qualquer mudança na sua vida terá reflexo nas demais áreas. Talvez tenhamos levado muito a sério e desenvolvido muito a habilidade da flexibilidade seguindo o princípio “Se o que você está fazendo não estiver funcionando, faça algo diferente”. Reconheço a importância da flexibilidade para alcançar o sucesso e ressalto que as mudanças na sua vida também devem ser implantadas com critério; avalie como elas influenciarão sua vida como um todo. E somente adote uma mudança se ela estiver alinhada com os seus valores. Como eu descrevi anteriormente, toda vez que você viola um valor profundo, você entra em conflito. Tenha sempre em mente que as mudanças na sua vida são úteis para aproximá-lo da pessoa que você gostaria de ser. Você não poderá desenvolver a habilidade de autoliderança se não agir de acordo com os seus valores. Não se culpe nem se arrependa das situações em que você exerceu pouco controle. Você continua a escrever a história da sua vida e terá muitas oportunidades de construir a vida que deseja para si mesmo. E se você escreveu alguma página que não gostou? Tudo bem. Foi só uma página. Você ainda escreverá muitas. E se o passado ainda o incomoda... vire a página; se for preciso rasgue-a; o importante é que você continue a escrever! Agora é sua vez. Estarei torcendo por você. O texto a seguir permite que você faça uma reflexão sobre sua qualidade de vida: O paradoxo do nosso momento histórico é que temos prédios mais altos, mas menos paciência, auto-estradas mais largas, mas pontos de vista mais estreitos. Gastamos mais, mas temos menos, compramos mais, mas aproveitamos menos. Temos casas maiores e famílias menores, maiores conveniências, mas menos tempo. Temos mais diplomas, mas menos compreensão, mais conhecimento e menos discernimento, mais especialistas, porém maiores problemas, temos mais aparelhos, mas menos satisfação, temos mais remédios, porém menos qualidade de vida, tomamos mais vitaminas, porém vemos menos resultados. Bebemos demais, fumamos demais, gastamos irresponsavelmente; rimos pouco, dirigimos rápido demais; ficamos rapidamentebravos demais, ficamos acordados até tarde demais, levantamos muito cansados, lemos muito pouco, assistimos televisão demais e rezamos muito raramente. Aumentamos nossos bens, mas reduzimos nossos valores [...]. Nós aprendemos como nos sustentar, mas não como construir a nossa vida. Acrescentamos anos à vida, mas não vida aos anos. Chegamos até a Lua, mas temos dificuldade em atravessar a rua para conhecer um novo vizinho. Conquistamos espaço exterior, mas não interior. Fizemos coisas maiores, mas não melhores. Nós limpamos o ar, mas poluímos a alma. Dominamos o átomo, mas não nossos preconceitos. [...] Aprendemos a correr, mas não a esperar [...]. 13 Não importa a qualidade de vida que você tem hoje; o que realmente importa é quanto você pode influenciá- la positivamente. E muito depende de você: conceda tempo para você, não deixe o seu cérebro ficar inativo, cerque-se do que você gosta, cuide da sua saúde, liberte-se dos seus medos, solte suas amarras, viva com a corda toda, resolva conflitos, vire a página e siga adiante! 1 Achille Chavée, apud Roberto Duailibi, Duailibi das citações (5ª ed. São Paulo: Arx, 2004), p. 575. 2 Karim Khoury, Com a corda toda: autoestima e qualidade de vida (São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2002), p. 17. 3 A. J. Muste, apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais (Rio de Janeiro: Ediouro, 2004), p. 375. 4 Randy J. Paterson, The Assertiveness Workbook: How to Express Your Ideas and Stand up for Yourself at Work and in Relationships (Oakland: New Harbinger, 2000), p. 193. 5 Alan Cohen, apud Franklin Covey, Escolha: escolha a vida proativa que você deseja (Rio de Janeiro: Campus, 2003), p. 23. 6 Immanuel Kant, apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais, cit., p. 359. 7 Ronaldo Bastos, apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais, cit., p. 56. 8 Antônio Houaiss & Mauro de Salles Villar, Dicionário Houaiss da língua portuguesa (Rio de Janeiro: Objetiva, 2001), p. 1.108. 9 Friedrich W. Nietzsche, apud Roberto Duailibi, Duailibi das citações, cit., p. 643. 10 George C. Marshall, apud Cyro Donizete Passos, Pensamentos para uma vida melhor (São Paulo: Madras, 1998), p. 92. 11 Friedrich Engels, apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais, cit., p. 56. 12 Henrik Ibsen, apud Paulo Eduardo Laurenz Buchsbaum (pesquisa e seleção), Frases geniais, cit., p. 37. 13 Extraído de Bob Moorehead, Words Aptly Spoken (Kirkland: Overlake Christian Press, 1995), pp. 197-198. ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DO SENAC NO ESTADO DE SÃO PAULO Presidente do Conselho Regional: Abram Szajman Diretor do Departamento Regional: Luiz Francisco de A. Salgado Superintendente Universitário e de Desenvolvimento: Luiz Carlos Dourado EDITORA SENAC SÃO PAULO Conselho Editorial: Luiz Francisco de A. 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Resolução de conflitos : Ciências sociais 303.69 mailto:kkhoury@uol.com.br http://www.karimkhoury.com.br/ Siga a Editora Senac nas redes sociais. Gostou? Confira nosso catálogo completo em www.editorasenacsp.com.br https://www.facebook.com/editorasenacsp https://www.instagram.com/editorasenacsp/ https://twitter.com/editorasenacsp http://www.editorasenacsp.com.br/ Nota do editor Prefácio – Albert Khoury Dedicatória Resolvendo conflitos Congruência Descreva Expresse Acordo Resultados O contra-ataque A prática Conflitos de informação No trabalho Vire a página