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<p>Copyright	©	Maytê	Carvalho,	2022</p><p>Copyright	©	Editora	Planeta	do	Brasil,	2022</p><p>Todos	os	direitos	reservados.</p><p>PREPARAÇÃO: Renata	Mello</p><p>REVISÃO: Algo	Novo	Editorial	e	Franciane	Batagin</p><p>PROJETO	GRÁFICO	E	DIAGRAMAÇÃO: Nine	Editorial</p><p>CAPA: Leticia	Quintilhano</p><p>ILUSTRAÇÕES: Bia	Lombardi</p><p>ADAPTAÇÃO	PARA	EBOOK: Hondana</p><p>Dados	Internacionais	de	Catalogação	na	Publicação	(CIP)</p><p>Angélica	Ilacqua	CRB-8/7057</p><p>Carvalho,	Maytê</p><p>Ouse	argumentar	[livro	eletrônico]	:	comunicação	assertiva	para	sua	voz	ser</p><p>ouvida	/	Maytê	Carvalho	;	prefácio	de	Leandro	Karnal.	-	São	Paulo	:	Planeta	do</p><p>Brasil,	2022.</p><p>ePUB</p><p>ISBN	978-65-5535-740-0	(e-book)</p><p>1.	Desenvolvimento	pessoal	2.	Retórica	3.	Argumentação	I.	Título	II.	Karnal,</p><p>Leandro</p><p>22-1643 CDD	158.1</p><p>Índices	para	catálogo	sistemático:</p><p>1.	Desenvolvimento	pessoal</p><p>Ao	escolher	este	livro,	você	está	apoiando	o	manejo	responsável	das	florestas	do	mundo</p><p>2022</p><p>Todos	os	direitos	desta	edição	reservados	à</p><p>EDITORA	PLANETA	DO	BRASIL	LTDA.</p><p>Rua	Bela	Cintra,	986,	4o	andar	–	Consolação</p><p>São	Paulo	–	SP	–	CEP	01415-002</p><p>www.planetadelivros.com.br</p><p>faleconosco@editoraplaneta.com.br</p><p>http://www.planetadelivros.com.br</p><p>mailto:faleconosco@editoraplaneta.com.br</p><p>Agradecimentos</p><p>Obrigada,	Ian,	por	me	lembrar	de	quem	eu	sou.</p><p>Fátima,	por	me	inspirar.</p><p>Cláudio,	por	me	encorajar.</p><p>Paula,	por	me	acolher.</p><p>E	Bruno,	por	me	provocar	reflexões.</p><p>Obrigada	ao	meu	orientador	Eugênio	Trivinho	e	aos	colegas	do	Grupo	ERA,	da</p><p>PUC.</p><p>Obrigada	aos	meus	alunos,	mentorados	e	leitores.</p><p>Vocês	são	os	coautores	da	minha	obra.</p><p>Prefácio</p><p>por	Leandro	Karnal</p><p>Retórica	e	democracia	são	termos	gregos	e	nossa	maneira	de	entender	seus</p><p>conteúdos,	até	hoje,	passa	pelo	pensamento	helênico.</p><p>Um	cidadão	clássico	era	um	indivíduo	pleno	quando	podia	falar	com	os	outros</p><p>na	Ágora.	Isócrates	(436	a	338	a.C.),	na	obra	O	panegírico,	elogia	a	eloquência</p><p>ateniense,	pois	ela	representa	a	capacidade	de	extrair	a	civilização	pelas	palavras.</p><p>Fazer	discursos	organizados	e	bem	construídos	distinguia,	aristotelicamente,	o</p><p>cidadão	grego	dos	animais	e	dos	bárbaros.	A	democracia	precisava	da	arte	de</p><p>discursar	em	público,	dominar	as	normas	da	fala	e	ser	capaz	de	persuadir.</p><p>Desaparecendo	o	argumento	teocrático	que	marcava	o	poder	entre	os	não	gregos,</p><p>surgiu	a	necessidade	racional	de	redefinir	uma	razão	do	poder.	Tudo	isso</p><p>constituía	a	arte	de	falar.</p><p>Sabemos	que	o	berço	da	retórica	foi	mais	forense	do	que	uma	idealizada</p><p>cidadania	democrática.	A	discussão	jurídica,	em	última	instância,	era	a	busca	de</p><p>assegurar	o	direito	à	propriedade	muito	mais	do	que	o	direito	ao	voto.	O	orgulho</p><p>ateniense	apagou	outras	origens	retóricas	na	Magna	Grécia	e	na	Jônia.	Não	é</p><p>nosso	objetivo	o	debate	sobre	berço/função	da	arte/techné	retórica.	Queremos</p><p>outro	enfoque.</p><p>Observemos	dois	campeões	da	oratória	do	mundo	clássico.	De	um	lado,	o	grande</p><p>Demóstenes	(384	a	322	a.C.),	reverberando	os	sentimentos	contra	Filipe	da</p><p>Macedônia	(382	a	336	a.C.)	em	orações	de	brilho	único.	Avancemos	quase	dois</p><p>séculos	e	veremos	Cícero	(106	a	43	a.C.)	brilhando	no	senado	contra	Catilina</p><p>(108	a	62	a.C.)	e	todas	as	mudanças	na	República	Romana.	Estudamos	As</p><p>filípicas	e	As	catilinárias	como	peças	quase	modelares	de	uso	da	palavra	em</p><p>favor	de	uma	causa	política.	Destaco	a	seguir	outra	semelhança.</p><p>Demóstenes	e	Cícero	são	homens.	A	vida	política	excluía	escravizados,</p><p>mulheres,	estrangeiros	e,	em	determinado	momento,	pessoas	sem	renda.	A	arte</p><p>oratória	tem	gênero	e	é	masculina.	A	retórica	é	a	testosterona	togada.</p><p>As	mulheres,	os	metecos	(estrangeiros)	e	os	escravizados	não	possuem	voz.	Seu</p><p>silêncio	público	é	uma	forma	de	exclusão	e	de	controle.	Quando	Aristófanes</p><p>(447	a	385	a.C.)	quer	imaginar	uma	situação	hilária	ao	extremo,	algo	que	fará	o</p><p>público	ateniense	desabar	em	gargalhadas,	cria	a	comédia	As	mulheres	na</p><p>assembleia.	Tal	como	na	peça	Lisístrata,	a	grande	graça	é	ver	mulheres...</p><p>falando.	Mais	ainda,	mulheres	debatendo	no	espaço	sacrossanto	da	assembleia,</p><p>núcleo	duro	da	democracia	e	do	sistema	político	da	Ática.	O	público	delirava</p><p>com	a	inversão	do	mundo,	uma	carnavalização	do	real.	Sabemos	que	as</p><p>comédias	possuíam	(e	possuem)	uma	discreta	aliança	com	o	reacionarismo.</p><p>Tanto	os	esforços	de	Lisístrata	pela	paz	como	as	mulheres	lideradas	por</p><p>Praxágora	na	assembleia	apresentam	medidas	absolutamente	inteligentes	e</p><p>inovadoras.	As	barbas	falsas	das	mulheres	que	querem	falar	e	votar	na</p><p>assembleia	garantiam	o	humor	extra.	Fascinante	e	irônico	naquele	humor	era	ver</p><p>mulheres	com	barbas	falsas	debatendo	boas	medidas	como	a	paz.</p><p>O	humor	se	dirige	a	um	público	conservador.	Os	romanos	deveriam	rir	dos</p><p>novos	ricos	na	cena	da	ceia	na	obra	Satyricon.	Os	nobres	de	Luís	XIV	de	França</p><p>(1638-1715)	desopilavam	o	fígado	ao	verem	burgueses	enobrecidos	de	forma</p><p>ridícula	nas	peças	de	Molière	(1622-1673).	Rimos	da	diferença	e	rimos	daquilo</p><p>que	deve	ser	exorcizado.	O	teatro	grego	se	assustava	com	mulheres	matando</p><p>(Medeia)	e	gargalhava	com	mulheres	falando.	Falar	era	o	grande	risco;	o	grande</p><p>outro,	o	medo	e	o	ridículo	daquele	grupo.</p><p>Uma	mulher	que	fala	é	um	desafio.	A	luta	feminista	produziu	o	voto	das</p><p>mulheres	no	século	XX.	Foi	uma	porta	de	entrada.	Faltava	a	retórica	real.</p><p>Recolhidas	ao	seu	universo,	as	mulheres	tiveram	sua	voz	dublada	pelos	homens.</p><p>Madame	Bovary,	Capitu	e	Ana	Karênina	são	mulheres	que	dialogam	conosco</p><p>pela	imaginação	masculina	que	as	concebeu.	A	literatura	discutia,	no	século</p><p>XIX,	a	infidelidade	das	esposas.	A	medicina	tratava	da	histeria	feminina.	Em</p><p>comum?	Ambas	levadas	adiante	por	homens.	Silenciadas,	ridicularizadas,</p><p>estigmatizadas:	esses	eram	alguns	dos	efeitos	da	falta	de	uma	retórica	feminina,</p><p>de	fato.</p><p>Maytê	Carvalho	lança	o	desafio	de	Ouse	argumentar.	É	uma	obra	sobre	a	arte	de</p><p>argumentar	e	de	elaborar	falas	públicas.	Contém	técnicas	práticas,	reflexões	bem</p><p>amarradas	e,	acima	de	tudo,	um	público-alvo.	O	texto	é	corajoso	e	passa	até	pela</p><p>experiência	impactante	da	autora	em	um	programa	de	televisão.</p><p>Quais	são	os	recursos	que	uma	mulher	pode	lançar	mão	para	estruturar	a	sua</p><p>fala?	Você,	mulher,	precisa	ter	opinião	clara	e	direta	a	respeito	de	tudo?	Como</p><p>analisar	os	diversos	estilos	de	pensamento	e	utilizá-los	a	seu	favor?	Como	evitar</p><p>o	adversário	abusivo	ou,	termo	sofisticado,	o	argumento	solipsista?	Como	uma</p><p>mulher	deve	escapar	de	discursos	pessoais	e	de	gênero	como	a	fatídica	frase	da</p><p>oratória	masculina:	“Você	é	tão	dramática”?	Como	se	estrutura	o	debatedor	que</p><p>usa	o	recurso	passivo-agressivo?</p><p>Em	Atenas,	o	salto	para	a	democracia	foi	a	ampliação	da	voz	dos	cidadãos	na</p><p>assembleia.	No	mundo	do	século	XXI,	o	grande	pulo	será	o	domínio	da	arte	de</p><p>argumentar	em	público	em	um	ambiente	misógino	e	excludente	do	feminino.</p><p>Não	se	trata	apenas	do	ingresso	em	uma	arena	definida,	tradicionalmente,	por</p><p>valores	masculinos.	Estamos	diante	da	chance	de	uma	revolução	tripla.</p><p>Primeiramente,	a	inclusão	de	mais	da	metade	da	população	no	jogo	do	debate</p><p>público.	Segundo	lugar,	a	inclusão	de	pautas	que,	por	serem	femininas,	os</p><p>homens	observam	de	forma	imperfeita	ou	até	podem	ser	cegos	a	elas.	Por	fim,	e</p><p>mais	importante,	ao	reconhecer	a	importância	da	retórica	feminina,	damos	uma</p><p>chance	de	redefinir	um	campo	à	arte	de	falar	em	público,	acrescentando	um</p><p>aporte	distinto	com	seus	modos	específicos.	Assim,	não	se	trata	de	ensinar	a</p><p>tradição	masculina	da	retórica	às	mulheres,	porém	de	reconhecer	o	limite	de	seus</p><p>universos	patriarcais	e	redefinir	a	própria	arte	da	argumentação	a	partir	do</p><p>feminino.	Em	outras	palavras,	não	se	busca	somente	colocar	mulheres	na</p><p>política,	mas	também	reorientar	o	tratado	da	política	a	partir	da	contribuição</p><p>feminina.	Não	se	espera	apenas	a	expansão	numérica	de	um	termo,	mas	sim	a</p><p>redefinição	de	temas,	pautas	e	conteúdos.</p><p>Maytê	Carvalho	não	foi	a	primeira	a	falar	de	uma	eloquência	feminina.	O</p><p>importante	é	que	não	seja	a	última.	As	mulheres	são	muito	diferentes	nas	suas</p><p>concepções	políticas,	afetivas,	nas	orientações	sexuais	e	nas	inclinações</p><p>religiosas.	Para	que	essas	diferenças	enriqueçam	o	mundo,	é	necessário	ousar</p><p>argumentar.	Maytê	ousou,	amparada	em	pioneiras	notáveis.</p><p>Reconheço</p><p>com	os	líderes	de	culto</p><p>ou	seita,	mas	estes	são	ainda	mais	perigosos.</p><p>5.	Líder	de	culto	ou	seita:	Trata	o	próprio	pensamento	e	crença	como</p><p>verdade	absoluta.	Sua	argumentação	é	marcada	por	afirmações	do	tipo:</p><p>“Eu	estou	sempre	certo”,	“Eu	conheço	a	verdade”	etc.	Como	apela	para	o</p><p>divino	em	alguns	casos,	seus	ultimatos	não	podem	ser	justificados	com</p><p>provas	lógicas,	o	que	torna	esse	tipo	de	discurso	ainda	mais	difícil	de	contra-</p><p>argumentar.	Eu	sei	que	você	pensou	no	Charles	Manson,	mas	tem	muito</p><p>CEO	líder	de	culto	por	aí,	viu?	Nós,	o	banco	revolucionário	versus	os</p><p>bancos	do	passado.	Nós,	do	coworking	descolado	versus	os	escritórios	do</p><p>passado.	Em	startup	então,	vish,	tá	cheio.</p><p>Esteja	atenta,	principalmente,	com	os	últimos.	São	os	condutores	das	massas.</p><p>Mais	adiante	vamos	falar	desse	tipo	de	pessoa	no	capítulo	sobre	com	quem	não</p><p>debater.</p><p>Porém,	há	alguns	tipos	específicos	de	debatedores	que	extrapolam	a	pirâmide	do</p><p>Adam	Grant.	É	que	o	Adam	Grant	não	conhece	o	Brasil,	e	o	Brasil	não	é	para</p><p>amadores!	Aqui	temos	uma	fauna	e	uma	flora	diferentes.	Saca	só.</p><p>Debatedor	solipsista</p><p>Sabe	aquela	pessoa	que	justifica	todas	as	suas	opiniões	no	microcosmo	e	nas</p><p>experiências	individuais	dela?	Em	geral,	esse	espécime	adora	dizer	frases	como:</p><p>“Comigo,	foi	assim”,	ou	“Mas	o	meu	pai	conseguiu”,	ou	ainda	“É,	mas	eu	nunca</p><p>vi	nada	disso	que	você	está	falando”.	Quer	ver	um	exemplo	bem	clássico?</p><p>Alguém	chega	e	diz	assim:	“Precisamos	adotar	políticas	públicas	que	aumentem</p><p>a	presença	de	mulheres	e	outros	grupos	minoritários,	como	pessoas	negras,</p><p>indígenas	e	com	deficiência	física,	no	conselho	das	empresas.	Por	quê?	A	minha</p><p>mãe	veio	de	outro	estado,	sem	um	centavo	no	bolso,	começou	a	trabalhar	na</p><p>primeira	empresa	como	estagiária,	trabalhou,	trabalhou,	trabalhou	e	hoje	é</p><p>presidente	de	conselho.	Esse	negócio	de	querer	cotas,	espaço	ou	políticas</p><p>públicas	é	vitimismo.	Se	a	minha	mãe	conseguiu,	todo	mundo	consegue”.</p><p>Veja	que	o	solipsista	é	aquele	que	vê	o	mundo	pelo	próprio	umbigo,	sobretudo</p><p>baseado	nas	próprias	experiências.	É	como	se	o	universo	fosse	seu	quintal,	e	os</p><p>acontecimentos	que	ocorrem	com	ele	ou	com	pessoas	do	seu	círculo	imediato</p><p>fossem	paradigmáticas	de	fenômenos	coletivos.	Ele	não	costuma	se	interessar</p><p>por	estatísticas	ou	outros	dados,	porque	enxerga	as	coisas	pelo	prisma	individual.</p><p>E	isso	é	muito	perigoso!</p><p>Vamos	analisar	os	dados?</p><p>Uma	pesquisa	revelou	que	apenas	10%	das	668	maiores	empresas	da	Europa</p><p>com	participação	na	bolsa	têm	uma	quantidade	equilibrada	de	homens	e</p><p>mulheres	em	cargos	de	coordenador,	diretores	e	CEOs.⁵</p><p>O	Brasil	está	em	38o	lugar	na	lista	da	Delloite	de	países	cujas	empresas	possuem</p><p>mulheres	ocupando	cadeiras	em	conselhos	de	diretoria.</p><p>Segundo	pesquisa	do	IBGE,	mulheres	ganham	menos	que	homens	mesmo	sendo</p><p>maioria	com	ensino	superior.⁷</p><p>Olha	só:	analisando	os	dados	socioeconômicos,	fica	evidente	que	a	sua	mãe	faz</p><p>parte	de	uma	exceção	e	que	a	história	dela,	portanto,	apesar	de	legítima	e</p><p>inspiradora,	não	pode	ser	tratada	como	regra.</p><p>A	regra	de	ouro	para	ousar	argumentar	com	solipsistas	é	pedir	dados	e	confrontar</p><p>suas	falas.	Muitas	vezes	a	pessoa	não	faz	por	mal,	ela	simplesmente	ignora	uma</p><p>realidade	fora	da	própria	bolha.	Infelizmente,	nem	todo	mundo	segue	o</p><p>Quebrando	o	Tabu	no	Instagram.</p><p>Conselho	aos	solipsistas</p><p>Se	você	é	solipsista,	vou	te	dar	um	conselho:	a	vida	fica	muito	mais	fácil	quando</p><p>você	entende	que	comparar	suas	necessidades,	desejos	emocionais,	físicos	ou</p><p>crenças	com	qualquer	outra	dinâmica	ou	relacionamento	que	teve	é	prejudicial	à</p><p>saúde	–	e	inútil.</p><p>Você	não	é	o	outro.	O	outro	não	é	você.	O	que	o	outro	precisa	emocionalmente</p><p>pode	não	ser	o	que	você	precisa	emocionalmente.	Você	pode	ouvir	e	prestar</p><p>atenção	de	qualquer	maneira?	Sim,	especialmente	em	relacionamentos,	sejam</p><p>pessoais	ou	profissionais.	O	que	seu	parceiro	gosta,	por	exemplo,	pode	ser</p><p>totalmente	diferente	do	que	você	gosta	ou	do	que	outro	parceiro	pode	ter</p><p>gostado.	O	que	cria	segurança	para	você	pode	não	ser	o	que	cria	segurança	aos</p><p>seus	colegas	de	trabalho.	O	que	você	quer	e	precisa	não	deve	ser	confrontado</p><p>com	o	que	algum	ex-parceiro,	ex-chefe,	ex-qualquer	coisa	queria	e	precisava.</p><p>Ficar	argumentando	“É	que	eu	sou	assim…”,	“Meu	ex	foi	assado”,	“Meu	pai</p><p>com	a	minha	mãe	era	xis”,	“O	coleguinha	do	outro	emprego	fazia	desse	jeito”,	e</p><p>por	aí	vai,	não	significa	que	você	aprendeu	com	seu	passado,	mas	que	você	está</p><p>projetando	sua	experiência	particular.</p><p>Você	me	entende?</p><p>Esperar	que	o	outro	viva,	pense,	experimente	e	seja	da	mesma	maneira	que	nós</p><p>ou	de	quem	está	no	nosso	entorno	imediato	é	desastroso,	porque	não	dá	espaço</p><p>para	que	os	outros	se	mostrem,	se	revelem,	surpreendam	e	nos	toquem.	É</p><p>verdade	que	o	que	vivemos	é	importante	para	entendermos	nossos	desejos	e</p><p>padrões.	E	a	experiência	é	uma	boa	professora	para	evitarmos	cair	nas	mesmas</p><p>furadas.	Mas	não	é	um	script	das	atitudes	alheias.	Abra-se	para	a	verdadeira</p><p>intimidade.	Vai	lá	e	reserve	um	tempo	para	conhecer	o	mundo	interno	do	outro.</p><p>Quando	você	tem	esse	mapa	interno	do	próximo,	sua	capacidade	de	ver	e</p><p>respeitar	as	diferenças	uns	dos	outros	pode	salvar	sua	relação	de	decepções,</p><p>frustrações	e	ressentimentos.</p><p>O	debatedor	abusivo</p><p>O	debatedor	abusivo	mal	merece	o	nome,	porque	é	do	tipo	com	o	qual	não	há,	de</p><p>fato,	um	debate,	muito	menos	um	diálogo.	Porém,	é	importante	reconhecer	seus</p><p>mecanismos,	sobretudo	a	marca	distintiva	da	alternância	de	abordagem	de</p><p>comunicação,	para	identificar	se	estamos	numa	discussão	com	alguém	desse</p><p>tipo.</p><p>A	argumentação	não	é	um	jogo	de	comparação.</p><p>Relações	são	uma	profunda	exploração	e	expressão	de</p><p>nós	mesmos	e	um	convite	para	que	outros	possam</p><p>fazer	o	mesmo	conosco.</p><p>Em	geral,	o	abusivo	passa	da	sedução	–	parece	ser	charmoso	e	intrigante,</p><p>enaltecendo	as	qualidades	do	interlocutor	–	para	a	intimidação	–	ganha</p><p>contornos	assustadores	e	agressivos,	apresentando-se	como	uma	ameaça	–,	e	da</p><p>intimidação	para	a	sedução.</p><p>É	importante	entender	como	essa	dinâmica	funciona	na	prática,	porque	ela	pode</p><p>aparecer	de	diferentes	maneiras.	Uma	delas	é	o	famoso	“se	você	não	fizer	o	que</p><p>eu	quero,	você	vai	ver”,	ou	seja,	ou	você	obedece,	ou	sofrerá	uma	retaliação.</p><p>Esse	é	o	princípio	da	intimidação,	que	pode	aparecer	em	frases	como:	“Se	você</p><p>não	comer	a	salada,	não	vai	ter	sobremesa”;	“Se	você	não	for	comigo	no</p><p>churrasco	do	meu	amigo,	não	vou	no	jantar	da	sua	família”;	“Se	você	não	for</p><p>comigo,	não	gosta	de	mim”;	“Se	você	for	embora,	eu	vou	me	matar”;	e	por	aí</p><p>vai.	Tudo	o	que	tiver	um	“se	tananam”,	você	está	sendo	intimidada.</p><p>Para	seduzir,	por	outro	lado,	o	debatedor	diz	algo	como:	“Já	que	você	é	tão	legal,</p><p>você	fará	isso	para	mim”.	Isso	pode	surgir	em	frases	como:	“Você	é	tão</p><p>obediente,	eu	tenho	certeza	de	que	vai	comer	a	salada	pra	depois	comer	a</p><p>sobremesa”;	“Eu	tenho	certeza	de	que	você,	que	é	tão	querida,	vai	entender”;</p><p>“Você	é	tão	inteligente,	tenho	certeza	de	que	vai	concordar	comigo”.</p><p>O	debatedor	abusivo	pode,	e	provavelmente	vai,	misturar	a	sedução	com	a</p><p>intimidação,	num	modelo	híbrido	que	pode	não	ser	tão	explícito.</p><p>Então,	o	que	isso	gera	para	quem	está	envolvido	numa	dinâmica	assim?	A</p><p>sensação	é	de	ultimato	quando	você	combina	um	falso	dilema	com	uma</p><p>abordagem	de	intimidação.</p><p>O	falso	dilema	é	quando	eu	apresento	a	você	possibilidades	restritas	–	ou	isso,</p><p>ou	aquilo	–,	quando,	na	realidade,	há	um	grande	espectro	de	opções.	A	pessoa	te</p><p>constrange,	te	coage	para	que	você	escolha	um	aspecto:	eu	ou	seus	amigos;	eu</p><p>ou	o	seu	trabalho;	ou	o	seu	filho,	ou	a	festa;	ou	tudo,	ou	nada;	e	por	aí	vai.	A</p><p>consequência	é	que	você	é	posta	diante	de	um	dilema	que	não	existe,	porque</p><p>essa	dicotomia	não	é	obrigatória	ou	pressuposta.	Há	alternativas	que	não	são</p><p>apresentadas,	ou	a	escolha	não	é	colocada	como	um	ato	de	liberdade,	e	você</p><p>acaba	ignorando	um	espectro	de	possibilidades	em	vez	de	uma	situação	binária.</p><p>Diante	de	falsos	dilemas	e	intimidações,	a	vítima	passa	a	sentir	que	está	sendo</p><p>constantemente	ameaçada,	diante	de	um	ultimato,	e,	ao	flertar	com	a	sedução,</p><p>pode	até	desenvolver	codependência	afetiva	ou	medo	de	escapar.</p><p>Abusadores	costumam	reproduzir</p><p>com	frequência	este	padrão:	criam	dilemas</p><p>que	não	são	dilemas,	e	decisões	que	poderiam	ser	acompanhadas	de	um</p><p>“também”	e	não	só	“ou”.	É	possível	sair	com	as	amigas	e	também	estar	num</p><p>relacionamento	amoroso.	É	possível	amar	o	trabalho	e	também	se	dedicar	aos</p><p>filhos.	O	principal	é	que	nem	todo	abusador	vem	com	um	porrete	na	mão.	Ele</p><p>pode	ter	um	sorriso	doce.	Pode	ser	extremamente	sedutor.</p><p>Via	de	regra,	não	aceite	ultimatos.</p><p>O	truco	do	ad	hominem	e	ad	misericordiam</p><p>Há	outra	falácia,	muito	comum	no	debatedor	abusador,	chamada	ad	hominem.</p><p>Agora,	cuidado:	essa	falácia	é	tão	popular	que	você	pode	descobrir	que	também</p><p>cai	nela,	em	especial	nos	comentários	de	internet.	E	aí,	bem,	não	tem	como	eu</p><p>passar	açúcar	em	você:	é	bem	possível	que	sua	postura	seja	abusiva.</p><p>O	ad	hominem	é	quando	a	pessoa	não	se	engaja	na	argumentação,	mas,	ao</p><p>contrário,	ataca	o	argumentador.	Em	vez	de	discutir	o	tema	em	questão,	ela	ataca</p><p>o	ethos,	o	caráter	do	interlocutor.</p><p>Imagine	que	você	está	desenrolando	com	um	gatinho	do	Tinder.	Vocês	estavam</p><p>conversando	bastante,	mandando	mensagem	até	tarde	da	noite.	Porém,	durante</p><p>dois	dias,	você	desaparece:	seja	porque	o	trabalho	pesou,	você	ficou	doente	ou</p><p>simplesmente	perdeu	o	interesse.	Daí,	o	boy	começa	a	mandar	mensagem.	Se	ele</p><p>for	um	cara	legal,	vai	dizer	como	se	sente:	“Olha,	queria	saber	por	que	você</p><p>sumiu.	Pensei	que	iríamos	nos	encontrar.	Eu	ainda	estou	a	fim,	então,	se	você</p><p>quiser,	podemos	marcar	algo.	Se	não,	eu	entendo.	De	todo	modo,	se	algo	de	ruim</p><p>aconteceu,	posso	te	ouvir”.	Cara	dos	sonhos,	né?</p><p>Mas	o	que	o	boy	trabalhado	no	ad	hominem	vai	fazer?	Te	escorraçar.	“Pensei</p><p>que	você	era	uma	pessoa	legal,	mas	obviamente	te	falta	empatia.	Você	é	uma</p><p>teaser:	me	deixa	a	fim	e	depois	some.	Péssimo	da	sua	parte.”	Soa	familiar?</p><p>Ou	seja,	o	problema	não	é	o	que	aconteceu	–	o	sumiço	–	nem	como	ele,	o</p><p>locutor,	se	sente	em	relação	ao	sumiço.	O	problema	é	você.	Sabe	qual	é	o</p><p>supertrunfo	do	ad	hominem?	“Você	tá	louca.”	Estudo	estatística	DataMaytê</p><p>comprova	que	99,9%	de	um	“Você	tá	louca”	é	falácia	ad	hominem,	rs.</p><p>Agora,	cuidado,	porque	há	uma	pegadinha.	O	ad	hominem	tem	um	primo,	o	ad</p><p>misericordiam.	Neste	caso,	o	abusivo	não	quer	te	atacar,	mas	provocar	pena.	Ele</p><p>não	trabalha	com	o	ataque	direto,	mas	com	a	culpa.	E	diz	coisas	como:	“Eu	estou</p><p>aqui	trabalhando,	estou	exausto,	faço	tudo	por	você,	mas	você	não	me	olha,	não</p><p>ajuda,	não	me	vê”.</p><p>Atenção:	só	porque	algumas	dessas	frases	são	utilizadas	em	conversas	ou</p><p>debates,	não	significa	que	se	trata	obrigatoriamente	de	um	debate	abusivo.</p><p>Isoladas	e	em	contextos	diferentes,	elas	podem	significar	coisas	diferentes.	Em</p><p>geral,	o	importante	é	observar	a	frequência	desses	mecanismos	e	padrões,	que</p><p>muitas	vezes	aparecem	juntos,	e	como	eles	fazem	você	se	sentir.</p><p>Acho	que	estou	numa	dinâmica	abusiva.	O	que	eu</p><p>faço?</p><p>Bom,	se	você	identificou	uma	dinâmica	abusiva,	o	primeiro	passo	é	procurar</p><p>ajuda	profissional	–	preferencialmente,	de	um	terapeuta	ou	psicólogo	–	e</p><p>construir	uma	rede	de	apoio.	Se	houver	pessoas	da	sua	confiança	com	as	quais</p><p>pode	contar,	peça	ajuda.	Se	não	houver,	ou	se	elas	não	agirem	de	maneira	a	fazer</p><p>você	se	sentir	segura,	saiba	que	há	institutos,	programas	e	comunidades</p><p>dedicadas	a	ajudar	pessoas	que	sofreram	abuso.</p><p>Do	ponto	de	vista	do	debate,	é	importante	entender	que	não	há	muita	conversa</p><p>com	um	debatedor	abusivo.	Seja	cônjuge,	parente,	chefe	ou	até	uma	amizade,	o</p><p>ideal	é	desenhar	limites	no	convívio	com	essa	pessoa,	escolher	as	batalhas	(nem</p><p>sempre	se	engajar	em	confronto)	e,	se	for	o	caso,	procurar	reparações	legais.</p><p>Pode	parecer	duro,	mas	é	necessário,	pelo	menos,	ganhar	um	distanciamento</p><p>crítico	e	reflexivo	do	que	estava	vivendo.</p><p>Agora,	e	se	você	achar	que	outra	pessoa	está	lidando	com	abuso?	Primeiro,	não</p><p>jogue	medo	ou	force	a	barra.	Você	não	quer	que	a	pessoa	fique	reativa	ou	se</p><p>assuste.	Acolha,	antes	de	tudo,	para	que	ela	possa	enxergar	em	você	uma	aliada.</p><p>Não	é	ser	falsa,	mas	escutá-la	ativamente	e	ajudá-la	a	enxergar	as	possibilidades</p><p>de	saída.</p><p>Não	é	recomendado,	portanto,	adotar	uma	postura	ostensiva.	Ofereça	amor.</p><p>Lembre-a	de	que	ela	é	uma	pessoa	maravilhosa,	cheia	de	qualidades	e	opções</p><p>para	que	ela	se	aproprie	de	si,	seja	mais	livre	e	entenda	que	não	merece	ficar</p><p>ligada	a	uma	pessoa	que	a	faça	mal.</p><p>Acima	de	tudo,	ajude-a	a	criar	uma	rede	de	apoio	com	profissionais,	familiares	e</p><p>amigos,	com	os	quais	ela	pode	contar.	E	jamais,	jamais,	diga:	“Eu	te	falei”.	Isso</p><p>não	ajuda	em	nada.	Nada.</p><p>E	se	eu	sou	uma	debatedora	abusiva?</p><p>Uma	coisa	é	certa:	você	é	responsável	pela	sua	fala	e	suas	ações.	E	também	por</p><p>como	você	se	coloca.	E,	embora	não	seja	possível	se	responsabilizar	pelas	ações</p><p>dos	outros,	é	importante	lembrar	que	o	debate	é	como	um	jogo	de	xadrez:	o</p><p>outro	vai	se	posicionar	de	acordo	com	a	sua	jogada,	e	vice-versa.</p><p>Em	outras	palavras,	é	importante	que	você	entenda	que	suas	falas	e	ações	geram</p><p>consequências,	reações	e	repercussões.	Mesmo	que	não	seja	possível	prever</p><p>todas,	nem	saber	como	elas	vão	afetar	especificamente	aquele	interlocutor,	você</p><p>pode,	no	mínimo,	pensar	se	o	que	está	dizendo	é	ético,	agressivo	ou	não,	e	quais</p><p>suas	reais	intenções	por	trás	de	uma	fala.	Quais	são	suas	crenças?	Seu	modus</p><p>operandi?	Suas	atitudes?</p><p>Por	isso,	diariamente,	é	importante	praticar	esse	exercício	e	não	ser	uma</p><p>debatedora	abusiva.	Compartilhe	seus	questionamentos	com	outros	–	em</p><p>especial,	um	profissional,	que	é	insubstituível	–	e	tente	definir	se	estão	fazendo</p><p>você	achar	que	é	“louca”,	ou	se,	de	fato,	precisa	trabalhar	em	si	mesma.	E	se	a</p><p>resposta	é	sim,	assuma	seus	problemas	e	as	consequências	das	suas	ações.	Faça</p><p>emendas,	reconheça	a	humanidade	do	outro	e,	antes	de	qualquer	outra	coisa,</p><p>mude.</p><p>Acima	de	tudo,	esteja	muito	atenta	e	conectada	com	a	sua	intuição.	Quando	falo</p><p>da	intuição,	quero	que	você	considere	a	conexão	com	a	sua	ancestralidade,	com</p><p>a	sua	história	–	o	que	trouxe	você	até	onde	está.	É	se	apropriar	de	você.	Não	tem</p><p>fórmula	mágica.	Se	te	parece	estranho,	investigue.	Nossa	intuição	é	muito</p><p>potente,	tem	uma	sabedoria	ali	que	muitas	vezes	a	gente	desconsidera.</p><p>A	intuição	pode	ser	uma	grande	aliada	para	que	a	gente	tome	decisões	na	nossa</p><p>vida.	Seja	a	decisão	de	terminar	um	relacionamento	ou	de	conversar	sobre	o	que</p><p>está	acontecendo.</p><p>AS	CINCO	FRASES	FAVORITAS	DOS</p><p>DEBATEDORES	ABUSIVOS</p><p>1.	“Eu	não	sei	do	que	você	está	falando.”</p><p>Essa	frase	faz	com	que	você	se	sinta	paranoica,	confusa	ou	que	está	viajando	na</p><p>maionese.	É	quando,	diante	de	um	fato	declarado	ou	uma	afirmação,	o	debatedor</p><p>desmerece	a	interlocutora	como	se	ela	estivesse	imaginando	as	coisas,	não</p><p>interessa	quão	forte	seja	seu	argumento.	Diante	de	uma	atitude	dessa,	diga	a	si</p><p>mesma	e	a	quem	deveria	ouvir	que	sabe,	sim,	e	não	desista	do	seu	ponto	de	vista.</p><p>Atacar	ethos	não	é	argumentar!</p><p>2.	“Você	acredita	neles	ou	em	mim?”</p><p>Ah,	nada	mais	poderoso	do	que	um	debatedor	abusivo	do	tipo	eu	versus	eles.</p><p>Esse	tipo	de	recurso	separa	o	mundo	em	times	e	força	a	interlocutora	a	escolher</p><p>um	lado.	Neste	caso,	é	importante	afirmar	que	não	se	trata	de	acreditar	em	fulano</p><p>ou	sicrano,	mas	de	analisar	o	que	está	em	jogo	e	chegar	às	próprias	conclusões.</p><p>Ninguém	pensa	por	você!</p><p>3.	“Por	que	você	é	sempre	tão	dramática?”</p><p>Mulheres,	quem	nunca	ouviu	isso?	Em	2021,	durante	a	CPI	da	covid,	mesmo</p><p>sem	alterar	nenhum	tom	de	voz,	senadoras	foram	acusadas	de	serem	agressivas</p><p>ou	descompensadas.	Infelizmente,	as	mulheres	são	sempre	desmerecidas	–	a</p><p>palavra	de	uma	mulher	é	mais	combatida	do	que	o	soco	de	um	homem.	A</p><p>estratégia	aqui	é	fazer	você	perder	seu	tempo	tendo	que	se	justificar	para	desviar</p><p>do	assunto.	Tome	cuidado	para	não	cair	nessa.	Com	o	tempo,	você	vai</p><p>aprendendo	a	perceber	quando	é	importante	se	defender	e	quando	é	preciso</p><p>voltar	ao	ponto.</p><p>4.	“Todo	mundo	acha	que	você	é	louca,	menos	eu...”</p><p>Ah,	que	alma	bondosa!	Que	alecrim	dourado	do	campo!	Obrigada	pela	sua</p><p>misericórdia	em	amar	um	ser	tão	desprezível	como	eu!	Ninguém	tem	o	direito	de</p><p>fazer	você	se	sentir	difícil	de	ser	amada,	ok?	Se	alguém	te	acha	doida,	existe</p><p>uma	chance	enorme	de	você	estar	sofrendo	gaslighting.</p><p>Assim	como	no	item</p><p>anterior,	aprenda	a	perceber	quando	você	tem	que	se	defender	e	quando	você	tem</p><p>que	voltar	ao	ponto.	Gaslighting	é	a	prática	de	abusar	psicologicamente	de</p><p>alguém	por	meio	da	omissão	ou	distorção	de	informações,	fazendo	com	que	o</p><p>interlocutor	questione	a	verdade	de	seus	sentimentos.</p><p>5.	“Depois	de	tudo	o	que	eu	fiz	por	você!”</p><p>Por	último,	mas	não	menos	importante,	a	favorita	dos	abusadores!	Isso	só	releva</p><p>que,	seja	lá	o	que	foi	feito,	não	foi	por	você,	mas	para	satisfazer	algum	desejo	do</p><p>próprio	locutor.	A	suposta	generosidade	–	que,	muitas	vezes,	é	uma	obrigação	ou</p><p>o	mínimo	–	impõe	uma	espécie	de	contrato	imaginário	que	não	pode	ser</p><p>quebrado.	Aqui,	não	tem	muito	jeito:	fuja.</p><p>O	debatedor	passivo-agressivo</p><p>Sabe	aquela	pessoa	que	dá	um	jeito	de	dar	uma	alfinetada	em	tudo	que	fala?</p><p>Imagina	o	seguinte:	sua	amiga	te	chamou	para	uma	festa.	Você	tem	um</p><p>imprevisto	e	não	pode	ir.	Aí	ela	chega	lá	no	grupo	do	WhatsApp	e	joga:	“Pô,	tá</p><p>metida,	hein!	Virou	famosa?!	Nem	vai	nas	festinhas	da	galera...”.	E	você	sabe</p><p>que	não	é	piada,	porque	ela	faz	isso	toda	vez.</p><p>Imagine	outra	situação.	Você	está	numa	reunião	de	trabalho,	discutindo	o</p><p>próximo	passo	de	um	projeto.	Você	dá	sua	opinião	e	defende	sua	posição.	Daí</p><p>aquele	coleguinha	sonso	faz	uma	cara	de	“méh”.	Você	nota	que	tem	algo	de</p><p>errado,	pergunta	o	que	foi.	O	sujeitinho	diz	algo	como:	“Hum...	não	sei...	quer</p><p>dizer,	pode	ser,	mas	não	sei,	não,	não	sei	se	eu	faria	assim”.</p><p>Apresento	a	você	as	pessoas	passivo-agressivas.	Haja	paciência!</p><p>São	aquelas	que	poderiam	simplesmente	falar	usando	comunicação	não	violenta</p><p>(ou,	sei	lá,	né,	só	um	pouco	de	educação).	Por	meio	dela,	é	possível	se	posicionar</p><p>de	uma	maneira	assertiva,	mas	cuidadosa:	“Poxa,	amiga,	da	última	vez	você</p><p>também	não	pôde	ir!	Sentimos	a	sua	falta.	Será	que	não	dá	para	ir	dessa	vez?”.	E</p><p>até	se	colocar	com	coragem:	“Olha,	entendo	seu	ponto,	mas	eu	não	faria	desse</p><p>jeito,	porque	acho	que	pode	trazer	consequências	ruins.	E	se	tentássemos	da</p><p>seguinte	forma?”.</p><p>A	comunicação	não	violenta	parte	da	premissa	que	nós	temos	que	cumprir	quatro</p><p>fases.</p><p>1.	Realizar	observações:	Basicamente,	observar	o	que	está	acontecendo	sem</p><p>fazer	avaliações	ou	julgamentos.	O	que	aconteceu?	Quais	são	os	fatos?	O</p><p>que	você	realmente	sabe	sobre	o	que	está	em	jogo?	O	que	não	sabe?</p><p>2.	Atribuir	sentimentos:	Para	se	comunicar	de	maneira	eficaz,	você	precisa</p><p>saber	como	está	se	sentindo.	Agora,	isso	não	é	adicionar	um	sufixo	-ida	ou	-</p><p>ada	do	lado	de	algum	sentimento,	como	esquecida,	abandonada,	rejeitada,</p><p>porque	essa	abordagem	já	pressupõe	que	o	outro	é	responsável	por	como</p><p>você	se	sente.	Dizer	“Me	sinto	triste”	é	diferente	de	dizer	“Me	senti</p><p>rejeitada”,	certo?	Rejeitada	já	é	você	contando	uma	história	para	si.</p><p>3.	Estabeleça	suas	necessidades:	O	que	está	gerando	esses	sentimentos	em</p><p>você?	O	que	você	precisa	que	não	está	conseguindo	dessa	troca?	Você	pode</p><p>determinar	que	precisa	se	sentir	reconhecida,	amada,	vista,	ouvida,</p><p>valorizada,	e	por	aí	vai.	É	sobre	isso,	e	tá	tudo	bem.</p><p>4.	Pedido	para	agir:	Você	faz	um	pedido	ao	seu	interlocutor.	Pede	que	ele	vá</p><p>à	festa,	ouça	sua	opinião,	considere	seu	lado,	e	assim	por	diante.	Não	fale</p><p>algo	e	depois	saia	correndo,	como	quem	joga	uma	granada	e	foge.	Peça	e</p><p>esteja	preparada	para	a	resposta	–	ela	pode	não	ser	a	que	você	gostaria,</p><p>mas,	prometo,	você	vai	se	sentir	muito	melhor	por	ter	tentado.</p><p>O	perigo	das	narrativas</p><p>Eu	vou	ser	bem	sincera:	há	uma	grande	chance	de	eu,	você	e	a	torcida	do</p><p>Flamengo,	em	ao	menos	um	momento	da	vida,	ter	se	comportado	como	um</p><p>debatedor	passivo-agressivo.	Especialmente	em	ambientes	em	que	sentimos	que</p><p>não	podemos	compartilhar	nossas	opiniões	e	visões	de	mundo	de	maneira	direta,</p><p>mas	nos	quais	é	importante	se	colocar,	como	no	trabalho.</p><p>Mas	a	real	é	que	a	passivo-agressividade	é	limitada,	porque	não	estabelece	um</p><p>processo	efetivo	e	eficiente	de	comunicação.	Não	resolve	nem	cumpre	nada,	só</p><p>piora.	E,	falando	em	piorar,	vivemos	num	mundo	cheio	de	crises	–	política,</p><p>social,	econômica,	de	saúde	–	e	ninguém	está	em	condições	normais	de</p><p>temperatura	e	pressão.	Estamos	tentando	sobreviver	mais	um	dia	e,	quase</p><p>sempre,	acumulamos	camadas	de	problemas	que	nos	deixam	estressadas.	Na</p><p>hora	de	se	comunicar,	é	normal	acabar	despejando	nossos	problemas	nos	outros.</p><p>Mas	é	preciso	se	vigiar,	né?</p><p>E	para	conseguir	se	vigiar,	é	preciso	se	perguntar,	antes	de	qualquer	discussão:</p><p>que	história	você	está	contando	para	si	mesma?	Muitas	vezes	criamos	narrativas</p><p>e	embarcamos	nelas.	Não	paramos	para	pensar	que	aquela	amiga	teve	um</p><p>problema	com	seu	cachorro,	ficou	triste	ou,	simplesmente,	nem	curte	baladas</p><p>tanto	assim.	Nem	que	a	colega	de	trabalho	está	tentando	resolver	um	problema</p><p>da	melhor	maneira	que	pode	e	que,	ao	menos,	teve	a	coragem	de	propor	alguma</p><p>ideia.</p><p>O	problema	da	passivo-agressividade	é	que	ela,	em	geral,	consiste	em	uma</p><p>mistura	de	narrativa	de	coitadismo	com	rancor.	Você	se	sente	atacada,	ferida	ou</p><p>vitimizada,	mas	não	se	impõe.	Ou	é	uma	narrativa	que	inclui	uma	bela	dose	de</p><p>medo,	o	que	é	compreensivo,	mas	desnecessário	e,	como	vimos,	inútil.</p><p>Em	seguida,	uma	vez	que	você	manja	qual	é	a	narrativa	que	está	sustentando,</p><p>precisa	avaliar:	como	você	vai	se	comunicar	com	esta	pessoa?	É	o	caso	de	fazer</p><p>uma	acusação	formal	ou	de	trazê-la	para	a	comunicação	não	violenta?</p><p>Isso	significa	também	pensar	na	resolução	do	conflito.	A	passivo-agressividade</p><p>peca	porque	não	resolve	nada,	só	cria	mais	desconforto	e	atrito.	E	claro,	parte-se</p><p>da	premissa	de	que	ambas	as	partes	estão	interessadas	em	resolver	a	situação	em</p><p>questão.</p><p>Eu	sei	que	é	difícil	conseguir	contar	até	dez	na	hora	do	fervo,	respirar	fundo	e	se</p><p>comunicar	de	boa.	Mas	eu	garanto	a	você:	a	comunicação	pode	ser	fluida,</p><p>orgânica	e	eficiente	mesmo	nos	debates	mais	esquentados!</p><p>O	debatedor	polarizador</p><p>Esse	é	um	pé	no	saco.	Vou	começar	pelo	exemplo,	porque	com	esse	tipo	de</p><p>debatedor	meu	signo	de	áries	com	ascendente	em	escorpião	nem	sabe	lidar.</p><p>Imagine	aquela	comunidade	de	Facebook,	climão	de	fórum	de	internet,	tendo	um</p><p>debate	sobre	aborto.</p><p>Aí	você	comenta	lá:	“Eu	acredito	que	o	Estado	deveria	repensar	as	políticas</p><p>sobre	a	criminalização	do	aborto”.	Então,	o	debatedor	polarizador	aparece</p><p>dizendo:	“Ah,	então	você	está	dizendo	que	é	a	favor	de	matar	crianças?”.</p><p>Pacientemente,	você	tenta	se	explicar:	“Não,	só	estou	propondo	que	o	aborto	seja</p><p>tratado	como	uma	questão	de	saúde	pública	e	que	possamos	oferecer	assistência</p><p>a	mulheres	em	situação	de	vulnerabilidade”.	Aí	a	pessoa	só	manda	um:	“Mesmo</p><p>que	isso	seja	homicídio	de	bebês?”.</p><p>Gente...	Por	onde	começar?!</p><p>O	debatedor	polarizador	divide	o	mundo	de	forma	binária,	maniqueísta	e,	como</p><p>diz	o	nome,	polarizada.	Para	ele,	o	universo	é	composto	de	mocinhos	ou	vilões.</p><p>Bons	e	maus.	Certo	ou	errado.	Pior:	ele	tira	sua	fala	de	contexto	e	cria	máximas</p><p>baseadas	no	que	você	nunca	falou,	extrapola	o	limite	e	reduz	sua	linha	de</p><p>raciocínio	a	esse	lugar	estereotipado.</p><p>Com	frequência,	não	entende	as	nuances	das	discussões.	Não	entende	que	não</p><p>existe	rigidez,	e	que	não	há	solução	fácil	e	simples	para	problemas	complexos.</p><p>Esse	tipo	de	debatedor	está	sempre	desenhando	linhas	imaginárias	para	sustentar</p><p>suas	ideias,	reduzindo	as	dos	outros	ao	absurdo.</p><p>Conclusão:	o	debatedor	polarizador	tende	a	polemizar	um	tema	sem	tratá-lo	sob</p><p>o	prisma	científico	ou	social,	e	frequentemente	é	visto	de	mãos	dadas	com	o</p><p>debatedor	solipsista.	Sua	incapacidade	de	lidar	com	a	complexidade	das	coisas	o</p><p>frustra	e	a	única	forma	que	ele	tem	de	reagir	é	recorrendo	à	redução	ao	absurdo,</p><p>carregando	nas	tintas	entre	o	bom	e	o	mau,	o	certo	e	o	errado.	Quando	estiver</p><p>debatendo	com	um	polarizador,	espelhe	o	que	ele	diz.	Faça	com	que	ele	mesmo</p><p>ouça	as	palavras	dele	saindo	da	própria	boca	em	tom	de	pergunta,	a	fim	de	que</p><p>ele	tenha	que	se	justificar	pela	fala	dele,	e	não	invertendo	o	ônus	da	prova	para</p><p>você.	Esse	tipo	de	debatedor	adora	terceirizar	a	responsabilidade	da	fala	dele</p><p>para	o	outro.	Não	caia	nessa.	Espelhe!</p><p>8.</p><p>Corpo	e	voz:	como	passar	confiança	na	sua</p><p>argumentação</p><p>Quando	falamos	em	argumentação,	sempre	pensamos	em</p><p>ordem	de	razões,	como</p><p>construir	argumentos	infalíveis,	estatísticas	e	dados	etc.	E,	é	claro,	essas	coisas</p><p>são	importantes	–	como,	espero,	você	tem	aprendido	até	aqui!	Porém,	para	que	a</p><p>comunicação	seja	eficiente,	é	importante	levar	em	consideração	que	ela	se	dá	por</p><p>meio	de	um	corpo	.	Portanto,	a	forma	como	você	se	movimenta	e	modula	sua</p><p>voz	são	muito	importantes	para	poder	passar	uma	mensagem.</p><p>A	melhor	maneira	de	entender	isso	é	pensar	na	sua	mãe,	no	seu	pai	ou	no</p><p>responsável	que	te	criou.	Muito	provavelmente,	você	tem	alguma	memória	de</p><p>como	essa	pessoa	chamava	sua	atenção.	Sempre	que	a	minha	mãe	queria	puxar</p><p>minha	orelha,	ela	falava	meu	nome	pausadamente	e	de	maneira	enfática,	focando</p><p>em	ca-da	sí-la-ba,	mas	alongando	a	última.	Ela	também	colocava	as	mãos	na</p><p>cintura,	como	quem	dizia	“agora	a	senhorita	vai	ver!”.	Eu	podia	estar	em	outro</p><p>cômodo,	mas,	quando	ouvia	aquele	“May-têêêêêêê”,	sabia	que	ia	levar	bronca!</p><p>Não	é	só	sobre	o	que	é	dito,	mas	como	é	dito</p><p>Você	já	ouviu	falar	em	psicodinâmica	vocal?	Aprendi	esse	conceito	com	a	minha</p><p>fonoaudióloga,	a	Letícia.	Basicamente,	a	psicodinâmica	vocal	é	a	imagem</p><p>comunicativa	da	fala.	Ela	é	o	reino	do	como,	que	informa	o	teor	do	que	é	dito.</p><p>Ou	seja,	se	a	construção	lógica	da	argumentação,	no	estilo	do	Aristóteles,	é	o</p><p>teor	da	fala,	a	psicodinâmica	vocal	é	o	impacto	psicológico	que	a	qualidade</p><p>vocal	causa	nas	pessoas.</p><p>Sendo	assim,	a	qualidade	vocal	é	um	elemento	fundamental	da	comunicação.	O</p><p>tom	de	voz	tem	que	estar	de	acordo	com	a	impressão	que	se	pretende	causar	e	é</p><p>um	elemento	facilitador	para	a	melhor	compreensão	de	conteúdos.	Quando	você</p><p>assiste	a	vídeos	antigos	da	Michelle	Obama,	por	exemplo,	você	vê	que	o	tom	de</p><p>voz	dela	mudou	muito.	É	sabido	e	público	que	ela	contratou	um	voice	coach	(e	o</p><p>seu	marido,	o	ex-presidente	Obama,	também).</p><p>Outro	ponto	a	se	entender	é	que,	muitas	vezes,	o	tom	e	o	conteúdo	não</p><p>combinam,	gerando	ruídos	importantes.	Bons	exemplos	são	a	arrogância	ou	o</p><p>desrespeito.	Tem	gente	que	acha	que,	só	porque	falou	num	tom	de	voz	manso,</p><p>não	está	sendo	arrogante;	ou	que,	só	porque	não	está	gritando,	não	está	sendo</p><p>agressivo.	Por	isso,	é	importante	também	deixar	os	ouvidos	atentos	para	quando</p><p>o	tom	e	o	teor	estiverem	desafinados	–	esse	descasamento	pode	ser	típico	de</p><p>debatedores	do	tipo	abusador	ou	passivo-agressivo,	que	vimos	no	capítulo</p><p>anterior.</p><p>Principais	tipos	de	qualidade	vocal</p><p>Agora,	vamos	analisar	possíveis	impressões	de	tipos	diferentes	de	qualidade</p><p>vocal.	Leve	em	consideração	que,	obviamente,	a	sua	voz	pode	ser	de	uma</p><p>maneira	–	por	exemplo,	você	pode	ter	um	timbre	tipicamente	rouco	–	e,	daí,</p><p>pode	acabar	se	sentindo	preocupada.	Leve	em	consideração	que,	aqui,	se	trata	de</p><p>qualidade	vocal,	não	de	tipos	de	voz.	Seguindo	o	exemplo	da	voz	rouca,	não</p><p>estamos	nos	referindo	a	timbres	específicos	–	vozes	como	a	da	Elza	Soares	ou	a</p><p>do	Louis	Armstrong	–,	mas	sim	a	modulações	eventuais	–	quando	você</p><p>amanhece	e	a	sua	voz	está	rouca,	com	aquele	aspecto	de	cansado.	Então	fique</p><p>tranquila,	tá	bom?	Você	não	precisa	mudar	a	maneira	que	é,	deve	apenas</p><p>perceber	os	diferentes	jeitos	que	a	sua	voz	se	manifesta	na	hora	de	passar	uma</p><p>mensagem.</p><p>Voz	rouca:	Sabe	quando	você	sai	de	um	show	em	que	gritou	muito	e	sua	voz</p><p>fica	bem	rouca?	Então,	se	você	usar	esse	tipo	de	qualidade	vocal	num</p><p>debate,	pode	causar	a	impressão	de	que	está	cansada	ao	argumentar,	ou	que</p><p>não	tem	forças	para	defender	seu	ponto	de	vista.</p><p>Voz	áspera:	Aquela	qualidade	de	voz	da	mãe	brava	que	quer	puxar	a	sua</p><p>orelha!	Ela	passa	o	sentimento	de	agressividade	e	ameaça.	Por	isso,	atenção</p><p>quando	estiver	sendo	áspera	na	comunicação.</p><p>Voz	sussurrada:	A	fala	em	sussurro	passa	a	impressão	de	confidência	e</p><p>intimidade,	um	conselho	particular,	como	quando	alguém	sussurra	um</p><p>segredo	no	seu	ouvido.</p><p>Voz	soprosa:	Este	tipo	de	voz	é	quando,	ao	falar,	você	solta	um	pouco	de	ar.</p><p>É	quase	uma	mistura	de	fala	com	sussurro.	O	exemplo	mais	clássico	é	de</p><p>Marilyn	Monroe,	que	fazia	uso	da	voz	soprosa	para	dar	o	exemplo	de</p><p>sensualidade	típica	de	um	sex	symbol.	Mas,	atenção,	porque	a	voz	soprosa</p><p>também	pode	dar	impressão	de	fragilidade.</p><p>Voz	gutural:	É	aquela	que	surge	bem	da	garganta,	tipo	aquelas	vozes	que</p><p>parecem	que	vêm	do	âmago,	do	fundo	da	alma	da	pessoa.	Ela	é	muito	usada</p><p>por	vocalistas	de	heavy	metal,	porque	dá	a	impressão	de	agressividade.</p><p>Voz	trêmula:	Aquela	vozinha	que	carrega	um	tremor.	Em	geral,	passa	a</p><p>ideia	de	insegurança,	fragilidade,	medo	e	problemas	emocionais.</p><p>Voz	infantil:	Sabe	como	você	fala	com	seu	cachorro	ou	gato?	Esta	voz.	Ela</p><p>pode	ser	ótima	para	transmitir	carinho	e	ser	engraçada,	mas	passa	a	ideia</p><p>de	infantilidade	e	ingenuidade.</p><p>Voz	nasal:	É	aquela	voz	que	parece	que	sai	pelo	nariz	e	pode	ser,	inclusive,</p><p>um	tanto	irritante	–	a	famosa	voz	fanhosa.	Se	usada	de	maneira	exagerada,</p><p>pode	transmitir	a	impressão	de	ser	uma	pessoa	mimada.</p><p>A	psicodinâmica	vocal	também	pode	ser	analisada	a	partir	da	frequência	vocal</p><p>do	indivíduo,	assim,	vozes	graves	transmitem	maior	autoritarismo	e	energia,</p><p>enquanto	vozes	agudas	dão	a	impressão	de	fragilidade	e	infantilidade.	Para</p><p>discursos	mais	uplifting	e	alegres,	costumamos	usar	tom	de	voz	mais	agudo,	ao</p><p>passo	que,	para	assuntos	mais	sóbrios	ou	tristes,	o	tom	costuma	ser	mais	grave.</p><p>Mais	uma	vez,	é	importante	tomar	cuidado	para	o	tom	e	o	teor	combinarem.	Por</p><p>exemplo,	se	você	transmite	uma	mensagem	de	teor	denso	e	difícil	em	um	tom</p><p>alegre,	você	fica	parecendo	um	psicopata	do	nível	do	Coringa.	Consegue</p><p>imaginar	alguém	falando	“Lamento	pela	sua	perda”	num	tom	mega	agudo	e	alto?</p><p>Cruz-credo!	E,	de	igual	maneira,	se	você	passar	uma	mensagem	de	teor	alegre</p><p>num	tom	monótono	e	grave,	alguém	vai	achar	que	você	precisa	de	ajuda	médica</p><p>urgente.</p><p>E,	é	claro,	o	volume	é	importante	–	se	você	fala	baixo	demais,	pode	passar	a</p><p>ideia	de	submissão;	e,	se	fala	muito	alto,	pode	soar	agressiva	ou	intransigente.</p><p>Assim	como	todo	código	comunica	alguma	coisa	e	deve	ser	intencionalmente</p><p>alocado	no	seu	discurso,	eu	recomendo	sempre	a	quem	quer	melhorar	sua</p><p>capacidade	de	comunicação:</p><p>Exercícios	de	voz:	Descubra	o	poder	mágico	de	uma	fono!	Eu	mesma	tinha</p><p>uma	voz	verticalizada,	muita	dificuldade	em	articular,	abrir	a	boca,	sabe?</p><p>Com	muitos	exercícios	de	abertura	vocal,	consegui	articular	a	minha	voz	e,</p><p>assim,	a	minha	audiência	passou	a	me	compreender	melhor.</p><p>Melhore	sua	postura:	A	postura	não	é	só	importante	no	sentido	de</p><p>aparências,	mas	também	no	sentido	de	ajudar	a	sua	voz	a	ser	mais	ou	menos</p><p>projetada,	mais	ou	menos	clara.	Os	cantores	sabem	disso	muito	bem:	existe</p><p>uma	diferença	anatômica	em	falar	sentado	ou	em	pé,	deitado	ou	dançando.</p><p>A	sua	postura	afeta	a	sua	voz	e,	por	isso,	você	deve	beneficiar	posições	que</p><p>fazem	sentido	para	a	qualidade	vocal	que	você	quer	transmitir.</p><p>Trabalhe	a	respiração:	É	tudo	sobre	respiração.	Falar,	cantar,	fazer	as</p><p>cordas	vocais	vibrarem,	reverberar	o	som	pela	boca	e	fazê-lo	sair	pelos</p><p>lábios	para	fora.	Aprender	a	respirar	melhor,	saber	quais	são	os	tipos	de</p><p>respiração	necessários	para	cada	tipo	de	qualidade	vocal	é	muito</p><p>importante.	Fonoaudiólogos	ajudam	muito	nisso,	mas	também	exercícios</p><p>físicos	que	podem	fortalecer	e	aumentar	o	controle	do	sistema	respiratório,</p><p>como	ioga,	natação	e	companhia.	Aprenda	a	respirar!</p><p>O	corpo	comunica</p><p>Com	a	voz,	é	muito	importante	prestar	atenção	na	sua	linguagem	corporal	–	seus</p><p>gestos,	sua	postura,	as	caretas	que	você	faz	quando	fala.	Por	isso,	é	importante</p><p>soltar	o	seu	corpo,	saber	como	ele	se	movimenta,	ampliar	seu	repertório	de</p><p>movimentos	e,	acima	de	tudo,	relaxar.</p><p>Quando	o	assunto	é	psicoterapia	corporal,	a	gente	pensa	em	Wilhelm	Reich,	um</p><p>grande	pensador	que	transitou	por	diferentes	áreas	do	conhecimento	–	ele	foi</p><p>psiquiatra,	sexólogo,	psicanalista,	biólogo	e	físico.	Nada	mal,	né?</p><p>Reich	é	muito	importante	para	quem	é	da	área	de	bioenergética,	como	meu</p><p>professor,	o	Pedro,	que	me	ensinou	bastante	sobre	o	assunto.	A	terapia</p><p>bioenergética	foi	criada	em	1955	por	Alexander	Lowen,	paciente	e	aluno	do</p><p>Reich.	A	bioenergética	é	uma	técnica	de	integração	corporal	que	ensina	como	o</p><p>corpo,	a	partir	de	respiração</p><p>e	vibração,	produz	energia	e	vitalidade.	Ela	entende</p><p>que	corpo	e	mente	criam	uma	unidade	e,	portanto,	é	importante	você</p><p>desenvolver	o	self	corporal	tanto	quanto	o	psíquico	(porque,	bem,	no	fundo,	eles</p><p>são	partes	de	um	mesmo	todo).⁸</p><p>Uma	noção	importante	do	conceito	reichiano	é	aprender	a	soltar	o	corpo.</p><p>Basicamente,	segundo	essa	teoria,	tudo	que	ocorre	em	nosso	psiquismo	acontece</p><p>de	exata	maneira	no	nosso	corpo,	e	vice-versa.	Nosso	psiquismo	afeta	a	postura</p><p>corporal	e	a	postura	afeta	o	psiquismo.	Pesquisas	revelam	que	depressão	e</p><p>ansiedade	podem	ser	provocadas	por	má	postura. 	Ao	mesmo	tempo,	expressões</p><p>não	verbais	são	importantes,	inclusive,	para	diagnosticar	transtornos	mentais.¹</p><p>Reich	também	ensinou	que,	muitas	vezes,	as	pessoas	trazem	na	fala	um</p><p>conteúdo,	mas	o	corpo	expressa	outra	coisa.	Por	exemplo,	você	diz	que	sua</p><p>relação	com	sua	sogra	é	maravilhosa,	vocês	se	dão	superbem,	mas,	na	hora	que</p><p>você	abre	a	boca,	seu	corpo	se	tenciona,	seu	olho	fecha	e	você	solta	um	sorriso</p><p>amarelo.	Opa!	Tem	algo	que	não	bate	aí.	Teor	e	postura	não	estão	casando.</p><p>A	mente	influencia	o	corpo	e	o	corpo	influencia	a</p><p>mente.</p><p>A	melhor	parte	é	que	o	trabalho	do	Reich	teve	sequência	na	obra	do	Lowen,	que</p><p>nos	ensinou	alguns	exercícios	de	bioenergética	que	você	pode	fazer	sempre	que</p><p>tiver	que	falar	em	público;	ou	no	dia	a	dia,	se	falar	com	outras	pessoas,	em	geral,</p><p>é	algo	com	que	você	luta.</p><p>Exercícios	para	melhorar	sua	psicodinâmica	corporal</p><p>Vamos	melhorar	nossa	psicodinâmica	corporal	e	vocal	com	alguns	exercícios?</p><p>Vou	compartilhar	dois	do	Lowen	que	gosto	muito	de	fazer	toda	vez	que	preciso</p><p>realizar	uma	palestra,	dar	aula	ou	me	expor	na	frente	de	várias	pessoas,	ou</p><p>quando	só	quero	me	sentir	uma	boss	bitch.	Há	outras	opções	por	aí,	então	espero</p><p>que	eles	sejam	os	primeiros	de	muitos	que	você	venha	a	descobrir	no	futuro!</p><p>O	arco</p><p>Fique	em	pé,	separe	os	seus	pés	em	linhas	paralelas	–	não	precisa	ser	demais,</p><p>mantenha-os	mais	ou	menos	na	linha	do	quadril.	Depois,	flexione	levemente	os</p><p>joelhos,	só	um	tiquinho.	Daí	você	fecha	ambos	os	punhos	e	os	posiciona	na</p><p>cintura.	Essa	é	a	postura	do	arco.¹¹	Você	vai	perceber	que	começará	a	vibrar</p><p>(louco,	né?).	Não	se	assuste:	inspire	e	respire	por	vinte	segundos	–	conte	1,	2,	3,</p><p>4...	–,	olhando	para	o	alto,	como	quem	está	procurando	uma	de	aranha	no	teto.</p><p>Veja	se	sua	ansiedade	não	vai	diminuir	e	se	você	não	vai	se	sentir	mais	aterrada!</p><p>Grounding	invertido</p><p>Essa	é	a	postura	do	aterramento.	De	novo,	coloque	os	pés	paralelos,	na	linha	do</p><p>quadril.	Dê	aquela	semiflexionada	com	os	joelhos	afastados	–	você	não	quer	que</p><p>eles	se	batam	um	com	o	outro	ou	fiquem	virados	um	para	o	outro.	Tem	que	ficar</p><p>para	fora,	criando	linhas	paralelas	imaginárias	com	o	chão.	Feito	isso,	com</p><p>cuidado	e	devagar,	enquanto	expira	o	ar,	abaixe	a	cabeça	até	a	altura	dos	pés	–</p><p>ou	o	máximo	que	conseguir.	Pelo	amor	de	Deus,	não	se	machuque.	Solte	a</p><p>tensão	dos	ombros.	Relaxe,	se	entregue.	Se	conseguir,	pode	colocar	as	mãos	no</p><p>chão.	Se	não,	deixe-as	leves,	livres	e	soltas.	Inspire	e	respire	nessa	posição	por</p><p>vinte	segundos.	Na	hora	de	subir,	volte	devagar,	arredondando	a	coluna	de	cima</p><p>para	baixo	e,	por	último,	levante	a	cabeça.</p><p>Lembre-se	sempre	de	respirar.	Respirar	é	vida.	Nossa	vida	é	do	tamanho	da</p><p>nossa	respiração.	É	o	primeiro	ato	vital	do	ser	humano,	que	está	presente	durante</p><p>toda	a	nossa	existência.	Ao	ser	cortado	o	cordão	umbilical,	o	ser	humano	entra</p><p>em	contato	com	o	mundo	por	meio	da	respiração.	É	a	forma	que	temos	de	sentir</p><p>os	outros	e	o	ambiente.	Sempre	que	estamos	tensos	e	estressados,	ficamos	com	a</p><p>respiração	cortada,	ofegante	ou	acelerada.	Relaxe,	respire	fundo	–	livre-se	das</p><p>couraças	musculares,	conecte-se	com	seu	centro	e	descubra	a	sua	voz.</p><p>Grounding	invertido.</p><p>Caminhar	livre</p><p>Esse	eu	fazia	muito	nas	minhas	aulas	de	teatro!	Bora	liberar	essa	couraça</p><p>muscular!	Essa	é	a	hora	de	aterrar	o	pé	no	chão.	Caminhe	descalça	de	cinco	a</p><p>dez	minutos,	mas	caminhe	consciente.	Sinta	cada	dedo	do	pé	tocando	o	chão,</p><p>caminhe	com	os	calcanhares,	caminhe	na	ponta	dos	pés,	alterne.	Esteja	mindfull</p><p>de	qual	parte	dos	seus	pés	está	tocando	o	chão.	Sinta	o	peso	do	seu	corpo.	Sinta</p><p>o	seu	corpo.	Você	nunca	vai	tocar	o	chão,	o	que	você	sente	é	o	seu	próprio	pé</p><p>sendo	tocado	pelo	chão.	Mas	você	nunca	vai	sentir	o	chão.	Meio	lacaniano,	mas</p><p>vem	comigo.	Pra	mim,	é	o	melhor	exercício	de	aterramento	que	tem.	Me	sinto</p><p>mais	segura	e	presente	para	encarar	apresentações	e	palestras	quando	faço	esse</p><p>exercício.	Pode	ser	em	casa,	na	natureza,	onde	for:	caminhe	de	forma	livre	por</p><p>cinco	a	dez	minutos,	mas	caminhe	consciente.</p><p>Exercício	de	respiração</p><p>Estudos	de	Stanford	demonstram	que	respirar	de	maneira	presente	e	devagar</p><p>melhora	a	ansiedade	e	te	tranquiliza	aos	poucos.¹²	Esse	é	o	meu	favorito!	Deite-</p><p>se	ou	sente-se	confortavelmente,	coloque	a	mão	direita	na	barriga	e	a	mão</p><p>esquerda	no	peito	e,	então,	inspire	em	quatro	tempos	(in,	in,	in,	in),	segure	em</p><p>quatro	tempos	(confia,	confia,	confia,	confia)	e	expire	em	quatro	tempos	(ex,	ex,</p><p>ex,	ex).	Repita	de	quatro	a	seis	vezes.	O	ato	de	confiar	que	o	ar	estará	ali,	que	ele</p><p>existirá,	é	muito	potente	para	acalmar	a	nossa	ansiedade.	Por	isso	é	importante</p><p>segurar	antes	de	expirar.	Quando	vamos	falar	em	público,	é	muito	normal	nos</p><p>sentirmos	nervosos,	e	acabamos	esquecendo	de	respirar	direito,	engatilhando	o</p><p>pânico.	Essa	respiração	sempre	me	ajuda	a	estar	presente	no	aqui	e	no	agora	e	o</p><p>resultado	é	uma	fala	sem	estar	ofegante	e	sem	passar	nervosismo	para	o	meu</p><p>interlocutor,	mas	transmitindo	segurança	e	potência.</p><p>9.</p><p>A	ousada	arte	de	usar	a	própria	voz</p><p>Que	jornada	maravilhosa	estamos	trilhando!	Mentalidade,	retórica,	oratória,</p><p>psicodinâmica	vocal,	corporal…	Ninguém	te	segura!	Temos	todas	as	ferramentas</p><p>necessárias	para	nos	apropriarmos	do	poder	da	fala.	Agora	vou	compartilhar	com</p><p>vocês	como	ter	uma	voz	autêntica.	Mas,	antes,	preciso	que	você	me	prometa</p><p>uma	coisa.	Vamos	fazer	um	pacto?	Vamos	combinar	que	a	gente	não	vai	ser</p><p>aquela	pessoa	smilinguida	,	sem	voz	definida,	que	topa	tudo,	que	só	diz	sim,	que</p><p>não	se	coloca?	Apenas...	não.	Sim,	eu	sei	que	tem	situações	em	que	ficamos</p><p>tímidas.	Entendo	que	nem	sempre	a	gente	tem	forças	para	dialogar.	Tudo	bem	ter</p><p>momentos	de	fragilidade	e	vulnerabilidade,	dias	amuados	e	pra	baixo	–	eu</p><p>entendo,	e	tá	tudo	bem.	O	que	não	quero	é	que	você	seja	esta	pessoa:</p><p>Emily	Murname</p><p>@emily_murname</p><p>Todos	os	e-mails	de	trabalho	que	enviei:</p><p>Ei!</p><p>Desculpa	te	incomodar.</p><p>Eu	estava	me	perguntando</p><p>(se	não	for	nenhum	incômodo)...</p><p>Será	que	você	poderia	fazer	aquela	coisa	que	disse	que	iria	fazer?</p><p>Tudo	bem	se	não	der!</p><p>Provavelmente	é	minha	culpa	mesmo,	eu	sou	uma	idiota.</p><p>Desculpa	o	incômodo!</p><p>Mil	desculpas!</p><p>Só	me	avisa!</p><p>Emily</p><p>Para	te	ajudar,	vou	dar	algumas	dicas	espertas	sobre	como	recuperar	seu	senso	de</p><p>poder	e	governança.	Todo	mundo	tem	uma	voz,	às	vezes	você	só	perdeu	a	sua.</p><p>Mas	não	se	preocupe,	nós	vamos	achá-la	de	novo	e	da	maneira	mais	autêntica</p><p>que	existe.	Venha	comigo!</p><p>Seja	irreverente</p><p>Sei	que	isso	parece	coisa	de	publicitário,	mas	tem	uma	palavra	que	os	norte-</p><p>americanos	usam	e	abusam	que	não	tem	uma	tradução	literal.	Te	apresento:</p><p>unapologetic.	Significa	sem	remorso,	dor	na	consciência,	vergonha	–	sem	se</p><p>desculpar	(o	tal	“desculpa	pelo	incômodo”).	É	o	que	eu	decidi	chamar	neste	livro</p><p>de	irreverente.</p><p>Na	língua	portuguesa,	irreverente,	às	vezes,	é	visto	como	aquele	que	não	tem</p><p>muito	respeito,	é	pouco	educado,	sem	apreço	pelas	regras	sociais.	Mas</p><p>irreverente	para	nós,	aqui,	é	unapologetic	–	do	jeitinho	da	Rihanna.	Significa</p><p>projetar	a	sua	voz	com	protagonismo	e	impacto,	sem	ser	tomada	por	culpa	ou</p><p>remorso	por	ser	uma	badass.	É	ousar	argumentar.</p><p>Para	que	você	possa	descobrir	sua	verdadeira	voz,	vou	te	ensinar	dois	exercícios</p><p>e	conceitos	que	me	ajudam	muito:	a	Roda	da	Voz	e	o	Journaling.	Com	eles,	você</p><p>terá	duas	ferramentas	poderosíssimas	para	ousar	encontrar	e	utilizar	a	própria</p><p>voz,	de	acordo	com	o	objetivo	que	você	quer	alcançar,	além	de	entender	com</p><p>maior	profundidade	como	a	comunicação	funciona	e	como	ser	mais	persuasiva.</p><p>A	Roda	da	Voz</p><p>Há	um	teórico</p><p>da	comunicação	que	eu	amo	chamado	Kenneth	Burke.	Ele</p><p>mostrou	que	as	relações	entre	cinco	elementos	–	ato,	cena,	agente,	agência	e</p><p>propósito	–	organizam	a	interação	humana.	Inspirada	em	Burke,	criei	a	Roda	da</p><p>Voz,	um	framework	poderoso	que	ajuda	você	a	ter	consciência	da	sua	voz,</p><p>controle	da	sua	performance	e	domínio	de	falas	públicas.	Com	ela,	você</p><p>consegue	se	tornar	esse	mulherão	potente	que	eu	sei	que	você	pode	ser!</p><p>Vou	partir	de	um	exemplo	pessoal	para	você	entender	como	a	Roda	da	Voz	pode</p><p>ser	usada.	Com	o	passar	do	tempo	e	prática,	esse	exercício	vai	se	tornar	tão</p><p>natural	e	intrínseco	que	você	nem	vai	ter	que	pensar	muito	nele.	A	princípio,	vou</p><p>fornecer	um	pequeno	formulário	para	você	preencher	e	conseguir	sacar	como</p><p>articular	cada	elemento	para	comunicar	o	que	você	quer.</p><p>No	primeiro	exemplo,	eu	tenho	que	dar	uma	palestra	sobre	persuasão	no</p><p>colóquio	de	retórica	de	uma	universidade	(o	que	acontece	com	frequência).</p><p>No	caso	da	universidade,	preciso	pensar:	qual	é	a	minha	audiência?	Acadêmicos,</p><p>pesquisadores,	professores	e	alunos.	Diante	desse	público,	qual	é	a	personalidade</p><p>mais	adequada?	Decido	que	é	a	sóbria	–	ainda	que,	é	claro,	mantendo	a</p><p>irreverência.	“Ah,	Maytê,	então	você	vai	pagar	de	falsiane	e	interpretar	um	papel</p><p>para	agradar	o	mundo	acadêmico?”	Acalme-se,	não	é	isso.	Nossa	personalidade</p><p>é	feita	de	várias	subpersonalidades,	vamos	assim	dizer.	Essas	subpersonalidades</p><p>são	as	personas;	você	não	age	exatamente	igual	quando	está	apresentando	um</p><p>projeto	para	um	cliente	e	quando	está	conversando	com	o	seu	sobrinho	de	5</p><p>anos,	certo?	E	tá	tudo	bem.	Eu	também!	Existe	a	persona	Maytê	acadêmica,</p><p>Maytê	filha,	Maytê	irmã,	Maytê	colega	de	festa...	Eu	só	escolhi	a	que	faz	mais</p><p>sentido	para	essa	ocasião.</p><p>Em	seguida,	penso	em	qual	emoção,	tom	e	linguagem	utilizar	–	neste	caso,</p><p>decido	que	tem	que	ser	algo	próximo	de	um	ceticismo	(que	não	é	uma	emoção</p><p>per	se,	mas	implica	não	querer	ser	nem	excessivamente	alegre,	nem	raivosa,	nem</p><p>odiosa),	um	tom	alarmista	e	uma	linguagem	mais	formal.	Afinal	de	contas,	quero</p><p>levar	uma	reflexão	crítica	e	ética	sobre	o	uso	da	persuasão.	Euzinha	estudo	o</p><p>impacto	da	persuasão	homem-máquina	(que	é	basicamente	o	estudo	de	como	o</p><p>fazer	persuasivo	se	dá	no	mundo	digital),	sabendo	que	a	pesquisa	pressupõe	uma</p><p>visão	bem	crítica	e	um	vocabulário	específico	dos	estudantes	da	retórica.	Posso</p><p>usar	palavras	bonitas	como	inventio,	por	exemplo,	porque	a	galera	vai	saber	do</p><p>que	estou	falando.</p><p>E	aí	chegamos	ao	propósito.	Qual	é	o	ponto	disso	tudo?	O	que	eu	pretendo	nessa</p><p>fala?	Meu	propósito	é	informar	e	promover	uma	reflexão	sobre	a	persuasão,	em</p><p>especial	no	recorte	da	minha	pesquisa,	e	iniciar	um	debate	teórico	com</p><p>graduados	e	graduandos,	mestres	e	mestrandos,	doutores	e	doutorandos.</p><p>Resultado?	Ela:	a	minha	voz.</p><p>Agora,	eu	te	pergunto:	e	se,	depois,	eu	quisesse	fazer	um	reels	sobre	persuasão?</p><p>Ou	sobre	a	relação	homem-máquina	na	persuasão?	Será	que	o	resultado	seria	o</p><p>mesmo?	Claro	que	não!	A	minha	audiência	no	Instagram	é	bem	mais</p><p>heterogênea	–	maioria	de	mulheres	e/ou	profissionais	liberais.	Estamos	falando</p><p>de	mulheres	entre	25	e	45	anos,	que	podem	ter	só	um	diploma	de	ensino	médio</p><p>ou	Ph.D.	em	Medicina.</p><p>Elas	não	necessariamente	manjam	de	persuasão	–	eu	posso	ser	seu	primeiro</p><p>contato	com	o	assunto	–	e	consomem	um	conteúdo	cujo	propósito	é	o</p><p>crescimento	pessoal	e	profissional	por	meio	da	comunicação.	Isso	exige	uma</p><p>Maytê	mais	crua,	acessível	e	informal	(como	a	deste	livro).	Preciso	ser	afetuosa,</p><p>dar	acolhimento	e	falar	de	uma	maneira	coerente	com	um	momento	de	lazer	ou</p><p>ócio,	típico	de	quem	está	passando	tempo	nas	redes	sociais.	E,	claro,	preciso	ser</p><p>rápida:	coisa	de	cinco	minutos,	não	cinquenta.	O	propósito	é	inspirar	e	prestar</p><p>um	serviço	utilitário,	e	não	discutir	o	sexo	dos	anjos	(não	que	seja	isso	que	a</p><p>gente	faz	na	Academia,	mas	você	me	entende!).</p><p>PEQUENO	FORMULÁRIO	PARA	DOMINAR	A</p><p>RODA	DA	VOZ</p><p>Para	se	preparar	para	uma	fala	pública,	ou	para	descobrir	sua	voz	num	ambiente</p><p>específico	–	como	o	de	trabalho	–,	ou	para	entender	como	se	comunicar	numa</p><p>situação	particular	–	como	educar	os	filhos	–,	tente	preencher	o	formulário	a</p><p>seguir.	Não	precisa	escrever	nada,	só	pense	e	reflita	sobre	os	cinco	elementos	do</p><p>pentagrama	do	Burke	e	tente	encontrar	a	sua	voz.</p><p>1.	Qual	é	a	minha	audiência?</p><p>Com	quem	você	está	falando?	Quem	é	seu	público?	No	caso	de	eventos</p><p>profissionais	ou	falas	públicas,	seja	numa	rede	social	ou	numa	palestra,	tente</p><p>averiguar	qual	é	a	demografia	de	quem	vai	te	ouvir	em	nível	psicográfico	–</p><p>atributos	de	personalidade	e	emoção	–	ou	biopsicossocial	–	dimensões</p><p>biológicas,	sociais	e	psicológicas.</p><p>2.	Qual	modulação	de	personalidade	preciso	assumir</p><p>diante	dessa	audiência?</p><p>Qual	versão	de	você	precisa	aparecer	ou	é	mais	condizente	com	esse	contexto?</p><p>Será	que	uma	versão	mais	descolada	e	divertida	ou	clássica	e	sóbria?	É	preciso</p><p>ser	mais	acessível	ou	se	apresentar	como	uma	especialista?</p><p>3.	Quais	emoções	quero	transmitir	na	minha	fala?</p><p>Quero	transmitir	quais	emoções?	Não	só	em	relação	a	mim	mesma,	mas	quais</p><p>emoções	quero	provocar	na	minha	audiência?	Amor?	Raiva?	Revolta?	Alegria?</p><p>Indignação?</p><p>4.	E	o	tom	de	voz?	Qual	é	o	mais	adequado?</p><p>Aqui	entram	as	qualidades	de	voz	que	falamos	antes,	mas	na	medida	em	que	elas</p><p>traduzem	as	emoções	que	quero	passar.	É	importante	que	o	tom	seja</p><p>motivacional,	uplifting	e	otimista?	Ou	talvez	apaziguador,	calmo,	que	refreia</p><p>ânimos?	Ou,	não,	ele	precisa	ser	raivoso	e	agressivo?	Ou	alarmista	e	crítico?</p><p>5.	E	a	linguagem?	Qual	registro	linguístico	eu	quero</p><p>utilizar?</p><p>É	preciso	usar	uma	linguagem	mais	culta,	acadêmica,	sem	palavrões,	mais</p><p>preocupada	com	gramática	e	que	aloque	conceitos	específicos?	Ou	posso	usar</p><p>dialetos,	gírias	e	falar	de	maneira	informal,	talvez	até	usando	expressões</p><p>coloquiais	aqui	e	ali?</p><p>6.	Qual	é	o	propósito	da	sua	fala?</p><p>Gata,	o	que	você	quer?	É	se	engajar?	É	educar?	Talvez	vender	um	produto	ou</p><p>serviço?	É	informar	e	disseminar	informações?	Ou	é	inspirar?	No	fim	das</p><p>contas,	o	que	você	quer	que	a	sua	audiência	sinta	ao	término	da	sua	fala?	Se</p><p>sinta	aprendendo	algo	novo,	inspirada	a	mudar	de	atitude,	a	fim	de	comprar	um</p><p>serviço/produto?	Abaixo,	anote	o	que	você	quer	para	as	principais	áreas	da	sua</p><p>vida	(se	tiver	mais,	é	só	desenhar	um	novo	círculo	e	escrever	nele	também).</p><p>Resultado	=	você	dominando	a	ousada	arte	de	usar	a	sua	voz,	a	chamada</p><p>irreverência.</p><p>Destrave	o	seu	potencial</p><p>O	que	Albert	Einstein,	Marie	Curie,	Mark	Twain,	Charles	Darwin,	Thomas</p><p>Edison,	Frida	Kahlo,	Marco	Aurélio	e	Sêneca	tinham	em	comum?	Todos	faziam</p><p>journaling:	atividade	contínua,	quando	não	diária,	de	escrever	o	que	aconteceu</p><p>no	dia,	como	você	se	sente,	quais	são	os	seus	pensamentos	e	ideias.	O	bom	e</p><p>velho	diário.	É	uma	maneira	muito	eficaz	de	destravar	o	seu	potencial,	porque</p><p>cria	um	fluxo	de	reflexão	que	pode	revelar	muito	sobre	quem	você	é	e	o	que</p><p>deseja	–	ou	seja,	ajuda	a	descobrir	a	sua	voz.</p><p>Escritores,	cientistas	e	filósofos	relatam	os	benefícios	do	journaling	em	sua</p><p>criatividade	e	produtividade.	Um	estudo	de	Harvard¹³	concluiu	que	a</p><p>performance	de	pessoas	que	praticam	o	journaling	é	25%	superior	em</p><p>comparação	a	de	quem	não	mantém	um	diário.</p><p>E	produtividade	não	é	tudo!	Escrever	é	importante	para	fazer	o	que	a	professora</p><p>Julia	Cameron	chama	de	“drenagem	cerebral”:¹⁴	liberar	demônios,	pensamentos</p><p>sabotadores	e	crenças	limitantes.	De	Marco	Aurélio	a	Tim	Ferriss,	escrever	tira</p><p>as	ideias	da	cabeça	e	as	emoções	do	coração	para	sublimá-las	no	papel.</p><p>Para	começar	a	prática	do	journaling	amanhã	mesmo,	vou	te	passar	um	exercício</p><p>que	vai	ajudá-la	a	entrar	no	flow	e	ganhar	tração	para	iniciar	esse	processo!</p><p>Palavra	é	ação	e	pode	gerar	mudanças	no	mundo.</p><p>1.	Compre	um	caderno	bem	bonito.	Aqui,	vamos	fazer	o	estilo	analógico.</p><p>Pode	ser	uma	agenda	diária	ou	qualquer	caderno	pautado.	Se	você	é	mais</p><p>da	tecnologia,	há	aplicativos	específicos	para	journaling	,	ou	basta	escrever</p><p>um	e-mail	para	você	mesma!	De	toda	maneira,	se	puder	ser	por	escrito,	na</p><p>sua	letra,	é	bem	mais	gostoso	e	pessoal!</p><p>2.	Durante	trinta	dias,	você	vai	acordar	e	escrever	de	uma	a</p><p>três	páginas</p><p>logo	pela	manhã.	Não	interessa	o	assunto.	Pode	ser	“Acordei	e	não	sei	o	que</p><p>escrever”	até	o	sonho	doido	que	você	teve,	uma	lista	de	coisas	que	gostaria</p><p>de	fazer	ou	os	planos	para	o	fim	de	semana.	O	importante	é	se	esforçar	para</p><p>preencher	ao	menos	uma	página	–	vai,	não	é	tão	difícil!	Exercícios	de	livre</p><p>associação	podem	ajudar	aqui:	mesa,	cadeira,	caneca,	café…	escreva	o	que</p><p>você	vê	pela	frente	e	em	que	estiver	pensando,	sem	filtros.</p><p>3.	Na	sua	descrição,	é	necessário	incluir	como	você	se	sente.	De	entediado</p><p>até	com	raiva,	de	ansiosa	até	nas	nuvens.	Dê	nome	aos	seus	sentimentos	e	a</p><p>como	as	atividades	listadas	fazem	você	se	sentir.</p><p>4.	Finalizados	os	trinta	dias,	quero	que	você	reserve	um	dia	para	reler	tudo</p><p>o	que	escreveu.	Perceba	quais	palavras	são	mais	recorrentes;	quais	desejos	e</p><p>vontades	aparecem	com	frequência;	o	que	te	surpreendeu	e	o	que	era	óbvio.</p><p>Quanto	mais	você	escrever	no	journaling,	mais	perto	estará	de	encontrar	a	sua</p><p>verdadeira	voz.	Sua	voz	autêntica.	O	exercício	do	journaling	traz	à	tona	emoções</p><p>e	desejos.	Nos	mostra	as	palavras	que	gostamos	de	usar	para	descrever	nossos</p><p>sentimentos.	Ao	escrever,	nos	apropriamos	da	nossa	narrativa.	Saber	narrar	a</p><p>nossa	história	está	intrinsecamente	ligado	ao	ato	de	encontrar	a	própria	voz.	Ao</p><p>se	tornar	um	narrador	melhor	da	própria	história,	você	se	torna	um	protagonista</p><p>melhor.	Não	somente,	descobre	como	usar	com	sabedoria	a	voz	que	possui.</p><p>E	se	eu	conheço	minha	voz,	mas	ninguém	me	entende?</p><p>Conta-se	que	Cassandra,	filha	de	Príamo,	o	rei	de	Troia,	após	um</p><p>desentendimento	com	o	deus	Apolo,	foi	amaldiçoada:	ninguém	nunca	mais	iria</p><p>entender	o	que	ela	dizia,	sendo	condenada	a	ser	vista	como	louca.	Por	isso,</p><p>quando	ela	passou	a	avisar	ao	seu	pai	e	irmão,	Heitor,	que	Troia	estava</p><p>condenada	à	destruição,	ninguém	deu	ouvidos	–	porque	ninguém	a	entendeu.</p><p>Muitas	vezes,	no	processo	de	comunicação,	nos	sentimos	verdadeiras</p><p>Cassandras.	Até	sabemos	usar	a	nossa	voz,	mas	falamos	A	e	o	povo	entende	B.	E</p><p>não	é	que	isso	acontece	uma	vez	na	vida	e	outra	na	morte.	Diariamente,	toda	vez</p><p>que	alguém	abre	a	boca	e	outra	pessoa	escuta,	esbarramos	com	ruídos	de</p><p>comunicação.	Isso	porque	a	comunicação	nunca	é	100%	clara,	óbvia	e</p><p>transparente.	A	comunicação	é,	antes	de	mais	nada,	uma	expectativa.	Mesmo</p><p>quando	conseguimos	nos	fazer	entender,	sempre	tem	alguma	coisinha	que	não	é</p><p>exatamente	bem	compreendida.	A	boa	notícia	é	que	esses	ruídos	são</p><p>oportunidades	de	aprendizado.</p><p>Pare	e	pense	num	balão.</p><p>Pensou?</p><p>Descreva	pra	mim	o	seu	balão.</p><p>Como	ele	é?	É	um	balão	tipo	uma	bexiga?	Ou	mais	que	nem	um	balão	de</p><p>aniversário?	Ou	tipo	aqueles	balõezinhos	da	Turma	da	Mônica	(foi	o	que	eu</p><p>pensei)?	De	que	cor	é	o	seu	balão?</p><p>Provavelmente	você	pensou	num	balão	de	aniversário,	mas	se	esqueceu	de	que</p><p>há	esculturas	de	bexiga,	balão	de	ar	(desses	usados	para	transporte),	e	deve	ter</p><p>tido	aquele	momento	de	“Ahhhhhhh”.</p><p>Se	isso	é	verdade	para	algo	tão	simples	quanto	um	balão,	o	que	você	acha	que</p><p>acontece	no	dia	a	dia,	com	ideias	complexas?</p><p>“Maytê,	peraí.	Então	você	tá	me	dizendo	que	não	importa	o	quanto	eu	estude,	a</p><p>comunicação	sempre	vai	ser	ruidosa?	O	que	eu	estou	fazendo	aqui,	então?”</p><p>Calma.	É	verdade	que	há	ruídos,	mas	você	não	concorda	que	tem	ruídos	que	são</p><p>baixinhos	e	leves,	que	podem	até	atrapalhar	um	pouquinho,	mas	não	te	impedem</p><p>de	ouvir	os	sons	ao	redor?	E	que	há	outros	que	são	ensurdecedores,	tipo	quando</p><p>a	música	da	balada	está	tão	alta	que	é	impossível	ouvir	o	que	a	outra	pessoa	está</p><p>dizendo,	mesmo	que	ela	berre	no	seu	ouvido?</p><p>A	mesma	coisa	serve	para	os	ruídos	de	comunicação.	Eles	são	uma	oportunidade</p><p>para	nós	ajustarmos	e	afinarmos	a	nossa	voz,	criando	pontes	mais	ou	menos</p><p>fortes	com	os	outros.	Também	é	um	convite	para	o	autoconhecimento	e	também</p><p>para	conhecer	o	outro.</p><p>Cada	pessoa	tem	uma	formação	biopsicossocial	diferente.	Por	isso,	diante	de	um</p><p>ruído,	você	precisa	tentar	entender	como	o	outro	está	percebendo	o	mundo.</p><p>Claro,	a	conclusão	pode	ser	desagradável:	você	pode	aprender	que	a	sua	esposa</p><p>não	está	ouvindo	você	ou	que	seu	colega	não	é	dos	mais	atenciosos.	Mas	existe</p><p>uma	grande	possibilidade	de	que	a	sua	mensagem	não	tenha	sido	tão	clara	para</p><p>aquela	pessoa;	que	ela	não	tinha	todas	as	informações	possíveis;	que	a</p><p>linguagem	estivesse	inadequada	para	aquela	audiência,	e	por	aí	vai.</p><p>Ferramentas	de	retórica	são	importantes	justamente	porque	diminuem	esses</p><p>ruídos	de	maneira	que	ainda	seja	possível	estabelecer	uma	conversa,	o	que	é</p><p>essencial	para	a	argumentação.	Em	um	debate,	o	excesso	de	ruídos	pode	ser</p><p>desastroso	e	pode	fazer	com	que,	em	vez	de	aproximar	as	pessoas,	elas	se</p><p>afastem	e	não	consigam	estabelecer	um	diálogo.</p><p>E	como	nunca	é	possível	saber	do	outro	a	não	ser	o	que	ele	nos	revela,	você	tem</p><p>que	começar	o	trabalho	por	você.	Precisa	se	autoconhecer,	entender	o	que	quer</p><p>dizer	e	de	onde	está	partindo,	porque	o	outro,	muito	provavelmente,	vai	se</p><p>posicionar	a	partir	daquilo	que	você	apresentar.	Isso	não	só	é	verdade	para	a</p><p>relação	familiar	ou	de	um	casal,	mas	também	para	qualquer	tipo	de	troca	entre</p><p>duas	ou	mais	pessoas.	Eu	posso	até	entender	(ou	achar	que	entendo,	né,</p><p>convenhamos)	como	alguém	se	sente	ou	o	que	quer	dizer,	mas,	no	fundo,	a	gente</p><p>só	sabe	mesmo	de	si.	Então,	a	partir	dos	ruídos,	vamos	ajustando	a	conversa,</p><p>estabelecendo	limites	e	contornos	para	continuar	trocando	ideias.</p><p>Estabelecer	essa	linha	tênue	entre	escuta	e	imposição	de	limites	é	o	grande</p><p>segredo	da	vida	–	é	saber	andar	nessa	corda	bamba,	a	expressão	máxima	da</p><p>irreverência	e	ousadia.	Acima	de	tudo,	é	se	comunicar	com	clareza	e	eficiência</p><p>(o	que	espero	que,	ao	fim	deste	livro,	você	já	tenha	dominado)	para	minimizar</p><p>esses	ruídos,	pedindo	de	forma	clara	e	objetiva	o	que	se	quer.</p><p>10.</p><p>Como	você	reage	em	uma	discussão?</p><p>Ao	falar	de	argumentação,	também	é	preciso	falar	de	como	a	gente	reage.	Em</p><p>geral,	a	forma	como	você	lida	com	o	que	é	dito	é	sintomático	do	tipo	de	debate</p><p>no	qual	você	está	inserida.	Há	um	mito	de	que	uma	discussão	acalorada	não	é</p><p>eficiente,	mas	eu	discordo.	Raiva,	cólera	e	medo	são	indicadores	poderosos	de</p><p>limites	sendo	desrespeitados	–	contanto	que	não	sejam	nossos	mestres.	Da</p><p>mesma	forma,	nem	toda	discussão	aparentemente	pacífica	está	indo	para	algum</p><p>lugar.	Vou	abrir	um	parênteses	aqui:	pessoalmente	vejo	a	raiva	como	uma</p><p>poderosa	aliada,	como	um	combustível,	pois	ela	me	aponta	a	direção	e	me	leva	a</p><p>agir.	Se	eu	sinto	raiva,	é	porque	algo	me	atingiu	e	eu	preciso	descobrir	de	onde</p><p>vem	essa	minha	reação.	Enxergue	suas	reações	não	como	uma	ação,	e	sim	como</p><p>um	convite	à	ação.</p><p>Por	isso,	neste	capítulo,	vamos	trabalhar	as	possíveis	reações	num	debate.	O</p><p>importante	é	que	você	tenha	clareza	de	como	está	respondendo	–	não	só	em	teor,</p><p>mas	também	em	qualidade	vocal	e	postura	corporal.	E	de	que	maneira	a	sua</p><p>reação	pode	reforçar	ou	completamente	destruir	a	sua	irreverência.</p><p>Nada	é	o	que	parece	ser</p><p>Como	você	deve	ter	percebido,	entender	o	seu	lugar	num	debate	tem	muito	a	ver</p><p>com	a	sua	história,	quem	você	é	e	sua	capacidade	de	se	conectar	com	a	sua</p><p>essência.	No	caso	das	reações,	não	é	nem	um	pouco	diferente.	A	maneira	como	a</p><p>mensagem	é	compreendida	e	atravessada	pode	ter	mais	a	ver	com	você	do	que</p><p>com	o	locutor.	Por	isso,	antes	de	mais	nada,	quero	que	você	reflita	um</p><p>pouquinho	em	como	reagiu	numa	discussão,	num	debate	ou	numa	argumentação</p><p>qualquer.</p><p>DIAGNÓSTICO	DE	REAÇÃO	EM	DEBATES</p><p>1.	O	que	estou	apreendendo	do	que	foi	dito?</p><p>Quando	alguém	diz	alguma	coisa,	qualquer	coisa,	o	que	você	realmente	está</p><p>absorvendo?	O	que	fica	contigo?	Qual	história	está	sendo	contada,	ou	qual</p><p>argumento	está	sendo	construído?	O	que	está	sendo	posto	diante	de	você?</p><p>2.	Já	me	senti	assim	antes?</p><p>Diante	disso	que	está	sendo	absorvido,	volte	o	olhar	para	dentro	e	analise	seus</p><p>sentimentos.	Como	você	se	sente?	É	raiva,	ódio,	desprezo,	ansiedade,	medo,</p><p>excitação,	alegria?	E	onde,	ou	em	quais	situações,	você	se	sentiu	assim	antes?</p><p>Qual	é	o	gatilho	denominador	comum	que	te	leva	para	esse	lugar?	É	alguma</p><p>palavra	específica,	um	contexto?</p><p>3.	Como	esse	tipo	de	situação	foi	tratado	no	seu</p><p>sistema	familiar?</p><p>É,	não	tem	jeito:	muito	de	como	reagimos	tem	a	ver	com	a	nossa	história</p><p>familiar.	Traumas	infantis,	dinâmicas	e	padrões	vivenciados	dentro	de	uma</p><p>família,	ou	até	mesmo	a	ausência	de	uma,	tendem	a	ser	reproduzidos.	Muitas</p><p>vezes,	você	pode	reagir	de	uma	forma	porque	é	a	gramática	que	aprendeu,	possui</p><p>feridas	que	não	cicatrizaram	ou	que	precisam	ser	separadas	do	debate	em</p><p>questão.	Seu	pai	sempre	interrompia	sua	fala	e	dizia	que	você	estava	equivocada;</p><p>um	dia,	um	colega	de	trabalho	faz	o	mesmo	e	você	acessa	essa	memória	e	acaba</p><p>reagindo	de	uma	forma	desproporcional.	Na	realidade,	você	só	embarcou	nessa</p><p>narrativa.</p><p>4.	O	que	eu	preciso	investigar	sobre	a	minha	reação</p><p>para	avançar	e	aprender	com	ela?</p><p>Uma	vez	que	você	respondeu	às	perguntas	anteriores,	é	hora	de	avaliar	o	que	nas</p><p>respostas	precisa	ser	tratado.	O	que	não	parece	estar	coerente	ou	proporcional	à</p><p>discussão	específica?	Ou,	pelo	contrário,	será	que	você	já	domina	a	arte	do</p><p>debate?</p><p>Essas	perguntas	devem	ser	especialmente	consideradas	diante	de	discussões</p><p>acaloradas	ou	se	você	sair	de	um	debate	se	sentindo	muito	mal.	Sabe	quando	a</p><p>gente	tem	uma	altercação	pesada	com	um	chefe,	uma	discussão	tensa	com	uma</p><p>grande	amiga,	uma	briga	com	o	cônjuge	ou	estresse	com	os	filhos?	Pois	é.	Mas,</p><p>se	debates,	em	geral,	te	deixam	nervosa,	tímida,	insegura,	inclusive	com	reações</p><p>físicas,	como	suor	nas	mãos,	pressão	baixa,	dor	de	barriga,	formigamento	ou</p><p>algum	sintoma	psicossomático,	responda	às	perguntas	anteriores	e	tente</p><p>descobrir	o	que	tá	pegando.</p><p>A	maneira	como	a	gente	reage	também	é	um	poderoso	indicador	de	que	algum</p><p>limite	foi	ultrapassado.	Pode	ser	que	o	problema	não	esteja	em	você,	mas,</p><p>inadvertidamente	ou	na	base	da	má-fé,	você	está	presa	numa	dinâmica	que	não	é</p><p>muito	legal.</p><p>Como	vimos	no	Capítulo	7,	há	debatedores	que	possuem	mecanismos	sutis,</p><p>híbridos,	que	não	são	transparentes	naquilo	que	querem	dizer,	ou	misturando</p><p>sedução	e	intimidação,	como	no	caso	do	abusivo,	ou	emitindo	meias	palavras,</p><p>como	no	passivo-agressivo.	Por	isso,	atenção!</p><p>Como	saber	quando	ser	mais	ou	menos	reativa?</p><p>A	partir	das	perguntas	anteriores,	você	também	vai	conseguir	delimitar	algo</p><p>fundamental:	quando	ser	mais	ou	menos	reativa?	Infelizmente,	não	há	uma</p><p>receita	de	bolo	que	sirva	para	todos	os	debates,	tendo	em	vista	que	o	contexto,	a</p><p>mensagem,	a	audiência	e	os	interlocutores	são	fatores	decisivos.</p><p>Mas,	ao	ter	maior	clareza	do	que	está	sendo	emitido	e	dos	seus	padrões	de</p><p>resposta,	é	possível	entender	até	que	ponto	é	preciso	se	impor	mais	ou	quando</p><p>você	pode	estar	tendo	uma	reação	completamente	desproporcional,	que	não</p><p>condiz	com	aquela	situação	em	especial.	Lembre-se:	a	ousadia	é	saber	caminhar</p><p>numa	corda	bamba.</p><p>O	importante	é	não	deixar	que	as	suas	reações	deixem	de	ser	endereçadas.	Você</p><p>precisa	fazer	o	esforço	de	se	conhecer	melhor.	Inclusive,	sentimentos	tidos	como</p><p>negativos,	como	a	raiva	que	já	comentei,	podem	ser	aliados	poderosos	–	se	bem</p><p>canalizados,	podem	ser	grandes	fontes	de	energia.	Além	disso,	falas	podem	ser</p><p>violentas	e	reações	à	altura	do	golpe	desferido	evitam	traumas.</p><p>Não	perca	de	vista,	entretanto,	que	um	debate	é	uma	troca	entre	mundos,</p><p>repertórios,	maneiras	de	ser	e	de	estar,	que	costumam	ser	fundamentalmente</p><p>diferentes.	Mesmo	quando	há	semelhanças	enormes	entre	você	e	a	sua	audiência,</p><p>ninguém	sente	e	pensa	da	mesma	forma,	porque	cada	um	tem	a	sua	história.</p><p>Entender	a	linha	entre	o	mais	e	o	menos,	o	aceitável	e	o	inaceitável,	o	certo	e	o</p><p>errado	não	é	simples,	porque	depende	muito	da	alteridade,	da	nossa	capacidade</p><p>de	presumir	que	cada	pessoa	é	única.	E,	na	maioria	das	vezes,	achar	a	medida</p><p>correta	entre	reações	virá	com	muita	tentativa	e	erro,	experiência	e,	sobretudo,</p><p>autoconhecimento	(eu	sei,	eu	falo	isso	toda	hora,	mas	é	porque	é	verdade).</p><p>Ousada,	mas	com	limites</p><p>Mas	é	aquilo,	né,	a	gente	pode	fazer	o	dever	de	casa	e	mesmo	assim...	dá	tudo</p><p>errado.	Isso	acontece	porque,	infelizmente,	é	impossível	agradar	a	todos.	Repita</p><p>comigo,	leia	em	voz	alta,	anote	num	post-it,	pregue	na	geladeira	e,	se	necessário,</p><p>tatue	no	seu	braço:	É	impossível	agradar	a	todos.</p><p>Por	isso,	tome	cuidado	para,	na	análise	das	suas	performances	em	debate,	não</p><p>confundir	sucesso	com	aprovação.	Se	a	sua	parada	for	um	desejo	de	validação,</p><p>ou	se	constatar	que	um	limite	foi	ultrapassado,	você	precisa	questionar	se	está</p><p>“desapontando”	as	pessoas	certas	(spoiler:	se	elas	forem	certas,	não	se	sentirão</p><p>desapontadas,	mas	não	estamos	prontas	para	essa	conversa	–	ainda;	fica	para	o</p><p>próximo	livro).</p><p>Parte	de	estabelecer	limites	saudáveis	numa	discussão	é	delimitar	quem	você</p><p>está	disposto	a	desagradar.	A	quem	você	dá	o	poder	de	autorizar	suas	emoções,</p><p>seus	pensamentos,	suas	ideias,	seus	projetos	e	seus	argumentos.	No	fim	do	dia,</p><p>muito	provavelmente	você	vai	descobrir	que	a	única	pessoa	que	deveria	ser</p><p>capaz	de	fazer	isso	é	você.</p><p>Tem	uma	frase	que	vi	circulando	na	internet	um	dia	desses	que	dizia:	“Mulheres</p><p>levantam	a	voz	quando	sentem	que	não	estão	sendo	ouvidas.	Homens	levantam	a</p><p>voz	quando	sentem	que	não	estão	sendo	obedecidos”.	Acho	que	isso	é	bem</p><p>verdade,	como	também	poderia	ser	para	outros	grupos	minoritários,	como</p><p>pessoas	negras,	em	especial	mulheres	negras,	pessoas	com	deficiência,	membros</p><p>da	comunidade	LGBTQIA+	e	todo	mundo	que	fica	na	interseção	de	alguns	ou</p><p>todos	esses	grupos.</p><p>É	impossível	agradar	a	todos.</p><p>Bota	a	mão	na	consciência	e	pensa	comigo:	quando	você	levantou	a	sua	voz,	se</p><p>sentiu	invalidada?	Reflita.	A	pessoa	do	outro	lado	tinha	uma	posição	de</p><p>autoridade,	como	uma	chefia	ou	um	dos	seus	pais?	Ou,	talvez,	não	era	uma</p><p>pessoa	de	autoridade,	mas	importante	para	você,	como	o	cônjuge	ou	um	amigo?</p><p>Pois	é,	estabelecer	limites	é	importante	para	podermos	ousar	argumentar.	E</p><p>lembre-se:	na	dúvida,	você	pode	usar	o	silêncio	(o	ativo,	que	aprendemos	láááá</p><p>atrás,	não	o	passivo,	tá?).	Você	pode	silenciar	para	não	ser	silenciada.</p><p>E	veja	bem:	limites	são	diferentes	de	violência	ou	vulgaridade	(não	no	sentido</p><p>moralista	da	palavra,	mas	de	não	ser	educada).	Dá	para	ter	firmeza	sem	ser	uma</p><p>agressora;	dá	para	ser	enérgica	e,	ainda	assim,	polida.	Um	“não”	bem	dito	meio</p><p>tom	mais	baixo	pode	reverberar	mais	do	que	um	grito.	A	ousadia	e	a	irreverência</p><p>não	são	sobre	desrespeito,	mas	autenticidade,	autocuidado	e	empatia.	Afinal,</p><p>meu	objetivo	aqui	é	fazer	você	se	tornar	uma	rainha	autêntica,	não	uma	otária,</p><p>rs.</p><p>RESPONSABILIDADES</p><p>SUAS DO	OUTRO</p><p>Suas	palavras Palavras	do	outro</p><p>Seu	comportamento Comportamento	do	outro</p><p>Seu	modus	operandi Modus	operandi	do	outro</p><p>Seus	esforços Esforços	do	outro</p><p>Seus	erros Erros	do	outro</p><p>Suas	ideias Ideias	do	outro</p><p>Consequências	de	suas	ações Consequências	das	ações	do	outro</p><p>Outro	ponto	importante	para	ser	ousada	sem	ser	vulgar	é	entender	quais	são	as</p><p>narrativas	imaginárias	que	você	está	trazendo	para	a	mesa	(a	famosa	neurose).</p><p>Quantas	vezes	adiamos	alguma	conversa,	término	ou	começo,	hesitantes	da</p><p>reação	do	outro?	Ou,	diante	de	uma	reação	inesperada,	a	gente	começa	o	delírio:</p><p>“Fulano	disse	isso,	mas,	no	fundo,	eu	sei	que	ele	quer	dizer	aquilo”,	ou	“Ela</p><p>disse	que	tá	tudo	bem,	mas	eu	sei	que	não	está,	é	tudo	culpa	minha”.</p><p>Para	evitar	cair	nesse	lugar,	num	plano	prático,	tratando-se	de	um	debate	factual,</p><p>você	pode	tentar	responder	a	algumas	perguntas:</p><p>1.	O	que	eu	falei?</p><p>2.	O	que	eu	fiz?</p><p>3.	O	que	eu	falei	e	fiz	é	condizente	com	meus	valores?</p><p>Como	já	vimos,	em	qualquer	situação	de	conflito,	debate,	oposição	de</p><p>pensamentos,	valores	ou	desejos,	muitas	vezes	imprimimos	os	nossos</p><p>julgamentos	e	nossa	régua	nas	ações	do	outro.	Essa	dissonância	cognitiva	gera</p><p>frustrações.	Mas,	como	eu	já	te	disse	e	repito,	somos	responsáveis	única	e</p><p>exclusivamente	pelas	nossas	ações	e	falas.	Assumir	isso	é	perturbador	porque</p><p>revela	que,	bem,	não	controlamos	muita	coisa	e,	certamente,	como	o	outro</p><p>entende	a	minha	mensagem.</p><p>No	fim,	gata,	para	ser	ousada,	mas	não	vulgar,	tenha	valores	–	e	aja	de	acordo</p><p>com	eles.</p><p>11.</p><p>Quando	não	há	debate</p><p>Cada	vez	mais	o	mundo	está	polarizado.	Na	internet,	a	gente	vê	uns	debates</p><p>repletos	de	teoria	da	conspiração	e	com	pessoas	que	já	vêm	com	quatro</p><p>pedras</p><p>na	mão.	Por	isso,	é	importante	se	perguntar:	quando	é	que	vale	a	pena	debater?</p><p>É	como	diz	o	ditado:	escolha	suas	batalhas.	Antes	de	se	engajar	numa	discussão,</p><p>eu	paro	uns	cinco	segundos	e	penso:	Faz	sentido	comprar	essa	briga?	Se	a</p><p>resposta	é	não,	eu	sigo	em	frente.	Até	porque	não	nasci	para	ser	Madre	Teresa	de</p><p>Calcutá.	Não	dá	para	tomarmos	para	nós	todas	as	dores	do	mundo	e	achar	que</p><p>conseguimos	lidar	com	todos	os	adversários.</p><p>Num	mundo	ideal,	nós	conseguimos	dialogar	com	pessoas	de	sentimentos	e</p><p>ideias	dos	mais	diversos.	Seria	possível	abrir	campos	de	discussão	com	qualquer</p><p>um,	sem	treta,	sem	xingamento,	sem	falácia,	sem	se	sentir	ameaçada.	O</p><p>problema	é	que	a	realidade	é	muito	mais	complicada,	e	há	brigas	que	não	cabem</p><p>a	nós	–	porque,	como	vimos	no	capítulo	anterior,	estabelecer	limites	é	essencial</p><p>para	ousar	argumentar.</p><p>Por	exemplo,	quando	estou	no	meio	de	uma	discussão	e	percebo	que	a	pessoa</p><p>acredita	em	teorias	da	conspiração,	é	terraplanista	ou	negacionista,	antivacina,</p><p>anticiência,	adoradora	fervorosa	de	determinado	político	ou	partido,	eu	não	me</p><p>engajo	–	de	verdade.	E	aconselho	que	você	não	perca	o	seu	tempo.	Esse	tipo	não</p><p>está	disposto	a	mudar	de	ideia;	não	está	genuinamente	a	fim	de	promover	uma</p><p>troca	saudável.	Em	especial,	se	cultua	um	líder	de	forma	quase	religiosa.</p><p>Não	dá	para	se	engajar	com	quem	tá	procurando	um</p><p>pai</p><p>Galera	assim	só	quer	ser	amada	e	pertencer.	Essa	é	a	real.	Freud	diz	que	o	amor	é</p><p>responsável	pelas	ligações	existentes	nos	grupos	humanos.	Baseiam-se	na</p><p>solidariedade	entre	os	membros	do	grupo	e	seu	líder.	Nesse	sentido,	o	amor	se</p><p>alimenta	das	idealizações	intragrupais,	responsáveis	pelo	estabelecimento	do</p><p>processo	de	identificação.	Ou	seja,	a	partir	do	momento	que	um	grupo	de</p><p>indivíduos	tem	interesses,	objetivos	e	propósitos	comuns,	partilham	também	um</p><p>ideal	de	“eu”.</p><p>Segundo	Freud,	a	massa	é	o	reflexo	da	horda	primitiva	e	é	o	primeiro	pai,	um</p><p>líder	narcisista,	incapaz	de	amar	alguém,	temido	e,	mesmo	assim,	considerado</p><p>como	ideal	para	governar	as	massas.	Nessa	linha	da	psicanálise	de	Freud,	os</p><p>membros	das	massas	partilham	entre	si	essa	ilusão	de	serem	amados	ou	odiados</p><p>por	esse	líder.</p><p>As	massas	artificiais,	a	título	de	exemplificação,	estão	muito	presentes	no</p><p>exército	e	na	igreja,	universos	com	regras	estabelecidas	e	lugares	demarcados</p><p>para	líderes,	chefes,	guias	e	outras	figuras	de	autoridade,	que	podem	ser</p><p>facilmente	entendidas	como	encarnações	de	mestre.	Esse	mestre	assume	o	papel</p><p>de	construir	o	discurso	unificante	–	que	é	violenta	e	arduamente	defendido</p><p>quando	confrontado.</p><p>Ao	longo	do	tempo,	o	laço	civilizador	do	“discurso	do	mestre”	atribui	à	sua</p><p>palavra	as	orientações	dominantes	e	responsáveis	pela	estruturação	dos	laços</p><p>sociais.	Ele	expõe	em	seu	modo	de	organização	um	conjunto	de	regras	(mesmo</p><p>que	não	democráticas)	com	a	função	de	promover	a	coesão	social.	E	é	aí	que</p><p>mora	o	perigo.	O	laço	social	levado	ao	grau	extremo	pode	dar	vazão	à</p><p>constituição	de	regimes	totalitários,	como	nos	casos	de	Hitler	e	Stálin.	E	vale</p><p>lembrar	que	ambos	eram	extremamente	carismáticos.</p><p>Esses	momentos	históricos	revelam	a	necessidade	de	muitos	em	ter	um	pai</p><p>primevo.	Ah,	como	queremos	um	pai!	O	desejo	por	um	pai/mestre	que	forneça</p><p>respostas	e	tenha	certezas,	no	campo	de	verdades	estabelecidas,	indica	o</p><p>comportamento	neurótico.	E	quando	o	neurótico	ocupa	o	espaço	de	autoridade</p><p>definido	pelo	papel	de	pai/mestre,	é	aí	que	tá	o	babado.	É	aqui	que	começa	a</p><p>formação	de	problemas	no	campo	da	paranoia.	Os	delírios	paranoicos</p><p>compartilhados	às	massas,	a	partir	do	fortalecimento	do	ciúme	e	da	traição,</p><p>abrem	espaço	para	a	concretização	de	golpes	e	conspirações	e,	por	conseguinte,</p><p>implantação	de	regimes	totalitários.</p><p>E	não	dá	para	discutir	com	paranoicos.</p><p>Fuja	das	garotas	malvadas</p><p>Outra	dica	é	evitar	debater	com	pessoas	que	fazem	parte	de	um	grupo</p><p>psicológico,	formado	por	indivíduos,	independentemente	dos	seus	modos	de</p><p>vida,	que	se	unem	numa	mentalidade	coletiva	–	mesmo	que,	no	cotidiano,</p><p>pensem,	ajam	e	sintam	de	maneira	diferente.	É	tipo	aquela	galera	da	escola	que,</p><p>quando	se	une,	parece	que	perde	a	personalidade?	Tipo	em	Garotas	malvadas,</p><p>quando	a	personagem	da	Lindsay	Lohan	parece	que	esqueceu	qual	era	a	tarefa,	é</p><p>contagiada	pelo	“ritmo	ragatanga”	e	começa	a	agir	que	nem	a	patotinha	da</p><p>Regina	George?	Pois	é.	Em	um	grupo	psicológico,	o	indivíduo	perde	suas</p><p>características	específicas	e,	provisoriamente,	absorve	novas,	vindas	do</p><p>inconsciente.	É	nesse	momento	que	temos	o	apagamento	do	senso	de</p><p>responsabilidade	social	e	individual,	ou	seja,	dá	babado.</p><p>Em	casos	assim,	a	capacidade	intelectual	do	indivíduo	pode	ser	reduzida.	Por</p><p>exemplo,	um	homem	pode	ser	muito	culto,	letrado,	erudito,	ter	todo	o	discurso</p><p>progressista,	mas	se	transformar	em	um	bárbaro	quando	inserido	em</p><p>determinado	grupo,	conforme	os	interesses	coletivos	em	vigência.	Eu	vi	muito</p><p>isso	na	minha	timeline	das	redes	sociais	nas	últimas	eleições.	Chega	a	ser</p><p>assustador	a	quantidade	de	gente	inteligente	e	bem	formada	compartilhando	fake</p><p>news	e	vociferando	discursos	de	ódio	como	animais.</p><p>Os	interesses	coletivos	são	determinados	pelo	inconsciente.	Dessa	forma,	o</p><p>grupo	e	o	inconsciente	não	esperam	pela	realização	dos	seus	desejos,	apenas</p><p>sentem	o	anseio	de	serem	dirigidos.	E	acredite:	não	desejam	a	verdade.</p><p>De	acordo	com	Ricardo	Salztrager,	a	transitoriedade	é	um	dos	componentes</p><p>cruciais	dos	fenômenos	de	massa,	pois	a	velocidade	com	que	esses	grupos	se</p><p>formam	é	a	mesma	com	que	se	diluem,	dando	espaço	a	uma	nova	massa.	E,	em</p><p>um	mundo	em	que	as	informações	se	espalham	à	velocidade	da	luz	na	internet,</p><p>isso	tudo	só	amplia	as	possibilidades	para	aproximar	ou	construir	interesses</p><p>comuns.	A	geração	de	dados	e	metadados	nas	plataformas	digitais	pode</p><p>colaborar	para	a	constituição	de	uma	mente	coletiva.</p><p>Vimos	isso	no	Brexit	e	na	eleição	do	Trump,	quando	estourou	o	escândalo	da</p><p>Cambridge	Analytica.	Tem	um	documentário	maravilhoso	sobre	isso	na	Netflix,</p><p>chamado	Privacidade	hackeada,	que	mostra	exatamente	como	o	Steve	Bannon</p><p>usou	os	dados	fornecidos	nas	redes	sociais	para	manipular	as	eleições	norte-</p><p>americanas	e	o	resultado	do	referendo	do	Brexit.</p><p>Cuidado:	nenhum	de	nós	está	a	salvo.	É	importante	entender	como	se	dá	essa</p><p>lavagem	cerebral	e	separar	os	afetos	na	hora	de	argumentar	com	seguidores</p><p>fervorosos	de	determinado	político,	terraplanistas	e	negacionistas.	No	fundo,	eles</p><p>já	foram	pessoas	racionais	um	dia	e	foram	seduzidos	por	esse</p><p>pseudopertencimento.	Eu	acolho,	explico,	mas	se	não	há	reciprocidade,	não	me</p><p>demoro.	Não	é	sobre	“vencer	debates”.	Você	não	tem	que	provar	nada	para</p><p>ninguém.	Escolha	suas	batalhas.</p><p>Não	corra	riscos	desnecessários</p><p>É	importante	ressaltar	que,	em	alguns	casos,	insistir	em	um	debate	quando	não</p><p>há	nenhuma	possibilidade	da	escuta	pode	te	colocar	em	perigo.	E,	cara,	na	boa,</p><p>tem	risco	que	não	vale	a	pena.	Riscos	existem	desde	uma	batida	policial	até	se</p><p>traduzir	de	maneiras	mais	indiretas.	No	mercado	de	trabalho,	muitas	vezes,</p><p>estamos	desprotegidas	por	uma	cultura	extremamente	arraigada	no	servilismo.</p><p>Nós	sabemos	que,	em	alguns	lugares,	a	situação	é	tão	precária	que	respirar	de</p><p>uma	maneira	que	desagrade	alguém	em	posição	de	poder	pode	fazer	com	que</p><p>você	perca	o	seu	emprego	ou	acabe	com	a	sua	carreira.	Nesses	casos,	o	segredo	é</p><p>buscar	uma	autoridade	competente,	o	RH,	o	Ministério	Público,	ou	pular	fora	e</p><p>trocar	de	emprego	imediatamente,	se	tiver	condições	para	fazer	isso.</p><p>Sejamos	honestas:	o	mundo	não	é	justo	e,	muitas	vezes,	não	estamos	em	posição</p><p>de	igualdade.	Já	falamos	que	ousadia	não	é	desrespeito,	e	também	não	é	colocar</p><p>sua	sobrevivência	e	integridade	física	e	emocional	sob	riscos	desnecessários.	São</p><p>admiráveis	as	pessoas	que	possuem	força	para	combater	injustiças	sozinhas	–</p><p>quando	Rosa	Parks	se	recusou	a	dar	seu	assento	a	uma	pessoa	branca,	esse	ato</p><p>simples,	mas	perigoso,	contribuiu	para	mudar	a	história	do	mundo.	Mas	ser	uma</p><p>heroína	tem	um	ônus	que	você	tem	que	estar	disposta	a	pagar.	Rosa	vivia	nos</p><p>Estados	Unidos	segregados	e	foi	presa.	Por	isso,	reflita	sobre	entrar	em</p><p>discussões	se	elas</p><p>cobrarem	um	preço	que	você	não	está	disposta,	ou	não	tem</p><p>como	pagar.</p><p>Mas,	então,	com	quem	vale	a	pena	debater?</p><p>Em	poucas	palavras?	Com	quem	estiver	disposto	a	ouvir.	E,	na	boa,	a	gente	sabe</p><p>quem	essas	pessoas	são;	a	gente	reconhece	porque,	mesmo	quando	há	pontos	de</p><p>conflito,	não	bate	aquele	desespero	no	peito,	aquele	temor	súbito,	aquela	raiva</p><p>descontrolada.</p><p>Veja	o	exemplo	da	terra	plana.	Tem	uma	galera	na	internet	que	ainda	defende</p><p>que	existe	terraplanismo	(se	você	é	dessas,	assim,	por	favor,	dá	uma	estudada).</p><p>Vamos	supor	que,	numa	discussão	com	um	parente,	na	ceia	de	Natal,	que</p><p>defende	besteiras	como	essa,	você	utilize	as	ferramentas	que	aprendeu	aqui	e,</p><p>por	meio	de	dados	e	provas	lógicas,	apresente	as	informações	que	desbancam</p><p>esse	argumento.</p><p>Se	a	pessoa	ouve,	aprende	e	se	sente	estimulada	a	saber	mais,	ainda	que	ela	não</p><p>termine	a	discussão	concordando	com	você,	show,	parabéns,	você	fez	uma</p><p>contribuição	para	deixar	o	mundo	um	tanto	menos	insuportável.	Agora,	se</p><p>depois	de	tudo,	o	alecrim	dourado	insiste	no	papo,	o	que	resta	a	fazer?	Não	perca</p><p>seu	tempo.</p><p>Onde	não	há	escuta,	não	há	debate.</p><p>E	se,	de	antemão,	você	sabe	que	esse	espécime	não	está	a	fim	de	ouvir,	que	há</p><p>grandes	chances	de	só	te	tirar	do	sério,	sem	possibilidade	de	mudança,	e	você</p><p>não	está	com	forças	emocionais	para	barganhar	e	apostar	que	talvez,	talvez,	vai</p><p>ser	diferente...	pule	fora	e	gaste	a	sua	energia	em	outro	lugar.</p><p>Lembre-se	de	que	ser	irreverente	também	significa	saber	quando	dar	as	costas	e</p><p>ir	embora.</p><p>12.</p><p>Qual	debatedora	você	quer	ser?</p><p>Agora	que	você	já	sabe	tudo	sobre	como	ser	uma	debatedora	irreverente	e</p><p>ousada,	se	apropriando	da	sua	voz	de	uma	forma	autêntica,	quero	compartilhar</p><p>tipos	de	debatedoras	que	são	verdadeiras	inspirações.	Vale	a	pena	pesquisar	nas</p><p>redes	e	maratonar	os	vídeos	dessa	mulherada	porque	elas	são	potentes!</p><p>A	debatedora	ousada</p><p>A	debatedora	ousada	questiona	o	status	quo.	Com	ela,	não	tem	certo	ou	errado,</p><p>não	existem	normas:	ela	banca	o	rolê	dela.	Uma	personalidade	que	exemplifica</p><p>bem	esse	perfil	é	a	Maria	da	Conceição	de	Almeida	Tavares.</p><p>Maria	da	Conceição	de	Almeida	Tavares¹⁵	é	uma	economista,	matemática	e</p><p>escritora.	Trabalhou	na	elaboração	do	de	e	atualmente	é	da	(Unicamp)	e</p><p>professora-emérita	da	(UFRJ).	E	com	todos	esses	títulos,	ela	usa	jargões</p><p>populares	e	coloquiais,	gesticula,	fala	alto,	fuma	cigarro.	Uma	rockstar!</p><p>Conheci	Maria	da	Conceição	Tavares	pela	minha	querida	editora	Clarissa!</p><p>Fiquei	obcecada.	Quando	ela	foi	ao	Roda	Viva,	eu	tinha	apenas	5	anos,	então</p><p>seria	difícil	mesmo	me	lembrar	de	algo.	Independentemente	da	sua	orientação</p><p>política,	não	podemos	negar	a	capacidade	retórica	de	Maria.	Que	eloquência!</p><p>Sua	voz	rouca,	a	forma	como	ela	gesticula,	como	grita.	Sim,	ela	grita.	kkkkk</p><p>“Mas,	Maytê,	você	explicou	sobre	psicodinâmica	vocal…	como	assim	ela,</p><p>rouca,	grita	e	tá	tudo	bem?”	Tudo	depende	de	como	você	banca	o	seu	rolê.</p><p>Foi	justamente	por	isso	que	quis	trazê-la	como	exemplo.	Se	você	ler	esses	livros</p><p>de	oratória	tradicionais,	vão	te	dizer:	“Não	grite.	Não	mexa	as	mãos	demais.	Não</p><p>aponte	o	dedo	na	cara	de	alguém”.	E	ela	faz	tudo	isso	e	muito	mais.</p><p>Eu	diria	para	não	fazer	mesmo	nada	disso…	a	não	ser	que	você	banque.	E	ela</p><p>banca!	Se	qualquer	outra	pessoa	fizesse,	não	seria	igual.	Mas	ela	foi	lá	e	fez	o</p><p>checklist,	bingo	completo,	cartela	cheia	do	que	NÃO	fazer,	e	deu	muito	certo!</p><p>Odeio	cagação	de	regra.	Não	pode	isso,	não	pode	aquilo…	Pode	tudo!	É	preciso</p><p>ousar,	mas,	para	quebrar	a	regra,	tem	que	conhecê-la	antes.	Por	isso	deixei	esse</p><p>exemplo	para	o	fim	do	livro.</p><p>A	irreverência	de	Maria	da	Conceição	é	sua	marca	registrada.	No	Roda	Viva	(por</p><p>favor,	assista!	É	uma	verdadeira	aula	de	ousadia),	ela	questiona	o	editor	da	Folha</p><p>de	S.Paulo	da	época,	Carlos	Sardenberg,	e	diz:	“Cê	tá	brincando,	Sardenberg?”;</p><p>até	mesmo	sua	entrevista	ao	Jô	Soares	é	genial.	Siga	@acervotavares	no	Twitter</p><p>para	entender	do	que	estou	falando.</p><p>A	debatedora	imponente</p><p>Sabe	aquela	pessoa	que,	ao	expor	sua	opinião,	a	roupa,	o	jeito	de	gesticular	já</p><p>falam	antes	mesmo	de	ela	abrir	a	boca?	Todo	código	comunica!	Quem</p><p>personifica	essa	debatedora	muito	bem	é	a	Bozoma	St.	John.</p><p>Já	fiz	dois	cursos	dela,	a	sigo	nas	redes	sociais,	acompanhei	palestras	dela	em</p><p>Cannes	e	em	Austin,	no	SXSW	(sim,	sou	groupie	da	BOZ).	BOZ!	Ela	reduziu	o</p><p>seu	nome	e	fez	um	trocadilho	com	“boss”	–	que	significa	“chefe”	em	inglês.	Mas</p><p>não	somente.	BAD	ASS	BOZ	é	a	sua	@	no	Instagram,	tem	ideia?	A	mulher	é</p><p>Chief	Marketing	da	Netflix,	já	foi	Head	de	marketing	na	Beats	e	na	Uber	e	ela	se</p><p>autointitula	Bad	Ass	Boz.	Mais	que	isso.	Bozoma	é	uma	celebridade,	além	de	ser</p><p>professora	em	Harvard!</p><p>A	habilidade	em	entender	que	todos	os	códigos	comunicam	de	uma	forma</p><p>intencional	é	o	que	a	transformou	em	uma	das	CMOs	mais	influentes	do	mundo,</p><p>de	acordo	com	a	Forbes.¹ 	Sua	fala	é	enérgica,	seu	tom	de	voz	é	otimista,	ela</p><p>sabe	rir	de	si	mesma	e	não	se	leva	tão	a	sério.	Conta	histórias	de	quando	chorou</p><p>em	reunião	do	conselho	de	empresa,	abre	sua	vulnerabilidade	de	uma	forma</p><p>humana	e	real	e	por	isso	se	tornou	esse	fenômeno	com	mais	de	380	mil</p><p>seguidores	no	Instagram.	Recomendo	que	assista	ao	seu	Ted	Talks:	o	carisma	do</p><p>bom	orador	atravessa	os	afetos	da	audiência,	e	Boz	sabe	conduzir	o	storytelling	e</p><p>a	narrativa	de	sua	vida,	carreira	e	palestras	como	ninguém.	Acho	importante</p><p>ressaltar	que	ela	possui	estudos	de	caso	relevantes	em	sua	carreira	para	além	de</p><p>saber	trabalhar	o	seu	branding	pessoal.	É	uma	CMO	proficiente	no	dia	a	dia	para</p><p>além	de	uma	poderosa	influencer	digital.</p><p>A	debatedora	carismática</p><p>Nem	todo	mundo	nasce	com	carisma	e	irreverência.	E	isso	é	uma	excelente</p><p>notícia.	Porque	significa	que	você	pode	aprender!	É	difícil	acreditar	que	um	dia</p><p>Michelle	Obama	já	virou	os	olhos	durante	uma	entrevista	e	inclusive	era</p><p>passivo-agressiva	com	os	repórteres,	não	é?</p><p>Quem	assiste	aos	vídeos	do	comecinho	da	vida	pública	dela	vai	perceber	a</p><p>grande	diferença	entre	a	Michelle	de	hoje	em	dia	e	a	do	passado.	Sisuda,</p><p>eyerolling,	dedo	em	riste,	fala	tensa,	sem	fazer	contato	visual	com	as	pessoas…</p><p>A	boa	notícia	é	que	se	ela	se	tornou	esse	furacão,	você	também	consegue!</p><p>Nature	×	nurture	(natureza	×	cultura).</p><p>Existe	um	ditado	americano	que	diz	que	todos	os	dons	são	ou	vindos	da	natureza</p><p>ou	nutridos	e	adquiridos	durante	a	vida.	No	caso	da	Michelle	foi	treinado,</p><p>adquirido.	E	não	por	isso	vale	menos.</p><p>When	they	go	low,	we	go	high	(quando	eles	descem,	nós	subimos).</p><p>Essa	frase	marcou	a	carreira	da	Michelle,	ovacionada	numa	conferência	do</p><p>partido	democrata.	A	sua	postura,	gesticulação,	a	forma	como	interage	e	faz</p><p>contato	visual	com	a	audiência,	tudo	foi	lapidado	em	Michelle.	Humanizaram	a</p><p>imagem	da	Michelle	mãe,	mostraram	seus	filhos,	ela	dançando	para	fazer</p><p>campanha	de	conscientização	contra	a	obesidade	e	o	sedentarismo	na	TV	aberta,</p><p>ela	em	turnê	com	a	Oprah	pelos	Estados	Unidos	para	promover	seu	livro.</p><p>Michelle	tornou-se	a	imagem	da	amiga	conselheira,	de	mulher	sábia	que	todas</p><p>nós	gostaríamos	de	ser	ou	de	pelo	menos	ter	uma	amiga	assim.	Com	ela</p><p>podemos	aprender	que	é	possível,	SIM,	se	tornar	uma	grande	oradora,	ainda	que</p><p>não	tenhamos	nascido	com	essa	aptidão.</p><p>“Já	estive	na	mesa	das	pessoas	mais	poderosas	do	mundo	e	elas	não	são	tão</p><p>inteligentes	assim,	acredite”,	Michelle	citou,	certa	vez.	Toda	vez	que	fico</p><p>nervosa	antes	de	uma	apresentação,	eu	mentalizo	e	faço	a	Michelle.	Se	ela</p><p>conseguiu,	a	gente	também	consegue.</p><p>A	debatedora	sábia</p><p>Sabe	aquela	pessoa	que,	ao	expor	seus	argumentos,	parece	o	mestre	dos	magos?</p><p>Para	mim,	a	personificação	dessa	debatedora	é	a	Oprah.	Ela	é	um	fenômeno.	Seu</p><p>vídeo	com	o	discurso	do	Globo	de	Ouro	de	2018,	em	que	foi	premiada,	tem	dez</p><p>milhões	de	views	no	YouTube!	Uau!</p><p>Oprah	é	a	minha	musa	inspiradora,	não	vou	fingir	costume.	Choro	assistindo	às</p><p>suas	entrevistas.	Ela	tem	uma	habilidade	incrível	de	extrair	verdades	fortes	de</p><p>seus	entrevistados,	principalmente	por	demonstrar	atenção	e	interesse	genuínos</p><p>aos	seus	interlocutores.	Ela	os	espelha.	No	tom	de	voz,	na	linguagem	corporal,</p><p>na	fala.	E,	ao	espelhar	o	entrevistado,	tira	absolutamente	tudo</p><p>o	esforço	dela	de	refazer	a	retórica	por	novos	caminhos	mais</p><p>inclusivos,	menos	agressivos	e	salvar	a	todos	de	uma	masculinidade	tóxica	ruim</p><p>no	trânsito,	na	família	e	no	tratado	das	empresas	e	do	meio	ambiente.	Quer</p><p>ousar?	Pensa	em	redefinir	sua	fala	em	um	mundo	agressivo	e	cruel?	Leia!</p><p>Sumário</p><p>Carta	à	leitora,	ou	melhor,	coautora</p><p>1.	Insubordinada,	irreverente	e	má:	desmistificando	a	argumentação</p><p>2.	Não	ateie	fogo	em	si	mesma	para	os	outros	ficarem	aquecidos</p><p>3.	A	arte	do	falar	bem</p><p>4.	Como	construir	uma	fala	impactante</p><p>5.	Os	sete	passos	para	estruturar	a	sua	fala</p><p>6.	Você	não	precisa	ter	uma	opinião	sobre	tudo</p><p>7.	Quem	é	você	no	debate?</p><p>8.	Corpo	e	voz:	como	passar	confiança	na	sua	argumentação</p><p>9.	A	ousada	arte	de	usar	a	própria	voz</p><p>10.	Como	você	reage	em	uma	discussão?</p><p>11.	Quando	não	há	debate</p><p>12.	Qual	debatedora	você	quer	ser?</p><p>13.	Quem	é	o	que	é	não	precisa	performar</p><p>Carta	à	leitora,	ou	melhor,	coautora</p><p>Eu	vejo	você	como	uma	coautora	deste	livro,	não	leitora.	Toda	leitora	é	coautora</p><p>do	texto	que	lê.	Toda	leitura	é	uma	releitura.	Quanto	a	mim,	me	considero	um</p><p>instrumento.	O	que	trago	aqui	não	é	inédito.	Afinal,	só	se	fazem	livros	sobre</p><p>outros	livros,	e	este	é	sobre	um	conhecimento	poderoso	e	transformador:	o	poder</p><p>da	fala,	isto	é,	das	palavras.</p><p>As	palavras	vêm	do	mundo	social.	Ninguém	nasce	falando,	a	gente	aprende	a</p><p>falar	com	o	outro:	nossa	mãe,	nosso	pai,	nossa	professora…	Ou	seja,	as	pessoas</p><p>são	nossas	tradutoras	do	mundo.	Ouvimos,	ouvimos,	ouvimos	e,	depois,</p><p>repetimos.	E,	por	isso,	não	seria	estranho	pensar	que	a	própria	origem	do	nosso</p><p>pensamento	e	da	nossa	fala	é	exterior	a	nós	mesmos.	Nossa	maneira	de	falar</p><p>nasce	da	polifonia	em	que	estamos	inseridos.	Em	outras	palavras,	nada	do	que</p><p>pensamos	ou	falamos	é	neutro.	É	construído	em	relação	àquilo	que	está	ao	nosso</p><p>redor.</p><p>Por	isso,	toda	produção	intelectual	é	ideológica,	porque	está	atrelada	à</p><p>linguagem.	E	toda	enunciação	de	uma	ideia	tem	uma	dimensão	de</p><p>enfrentamento,	porque,	ao	falar,	você	toma	para	si	o	que	antes	foi	dado	a	você.</p><p>Não	repete	passivamente	as	palavras	que	aprendeu,	mas,	antes,	as	reúne	de</p><p>maneira	própria.	Passa	a	narrar.</p><p>Mas	isso	não	é	tudo:	a	palavra	tem	uma	flexibilidade	mágica	que	autoriza	a</p><p>comunhão	de	almas.	Ela	nos	liga	enquanto	membros	falantes,	membros	de	uma</p><p>sociedade,	com	uma	humanidade	em	comum.	Expressa	o	nosso	mundo</p><p>intersubjetivo,	inconsciente,	que	conecta	nossos	desejos	individuais	a	ações</p><p>coletivas.	A	palavra	nos	trouxe	até	aqui,	como	bem	coloca	o	autor	Yuval	Harari</p><p>em	Sapiens.	As	habilidades	linguísticas	que	os	sapiens	modernos	adquiriram	há</p><p>mais	de	setenta	milênios	permitiram	que	chegássemos	até	aqui	e	formássemos</p><p>bandos.	O	avanço	da	linguagem	também	nos	ajudou	a	conquistar	territórios,</p><p>preservar	a	hegemonia	da	espécie	humana	e	possibilitou	a	criação	de	histórias	e</p><p>mitos.	A	linguagem	é	uma	ferramenta	poderosa	e	anda	de	mãos	dadas	com	o</p><p>poder.</p><p>Historicamente,	os	maiores	líderes	da	humanidade	usam	o	poder	da	palavra	para</p><p>que	sejam	realizadas	transformações	sociais.	Martin	Luther	King,	Mandela,	os</p><p>Obama,	Greta	Thunberg.	Vozes	de	uma	geração	que	representam	um	zeitgeist¹	e</p><p>o	ecoam	politicamente.</p><p>E	quando	nem	todos	nós	somos	apresentados	ao	poder	da	fala	da	mesma</p><p>maneira?	Para	alguns,	ela	é	ensinada	como	símbolo	de	poder,	conquista	e</p><p>domínio.	Outros	são	ensinados	a	se	calar	tão	logo	aprendem	a	falar;	são	tidos</p><p>como	geniosos,	complicados,	irrequietos,	insubordinados,	difíceis	–	inclusive,	e</p><p>sobretudo,	nós,	mulheres.	Para	nós,	abrir	a	boca	–	quem	dirá	argumentar,</p><p>defender	ideias	e	ideais	–	é	sempre	um	ato	de	rebeldia.	De	irreverência.</p><p>No	meu	primeiro	livro,	Persuasão,	queria	que	você	aprendesse	a	ser	protagonista</p><p>da	própria	história.	Agora,	quero	que	você	dê	um	passo	a	mais:	passe	a	ter	voz</p><p>ativa	na	sua	vida,	nas	suas	relações	e	na	sua	carreira.	Te	convido	a	ressignificar	o</p><p>poder	da	fala.	Quero	que	tenha	a	ousadia	de	argumentar:	dizer	de	onde	as	coisas</p><p>vêm,	compreender	como	elas	se	apresentam	e	decidir	sobre	como	elas	serão</p><p>amanhã.	De	ser	também	narradora	da	própria	história,	alguém	que	conhece,	que</p><p>sabe,	que	se	expõe,	que	se	apropria	do	poder	das	palavras	para	conquistar	o	que</p><p>deseja.</p><p>Quero	que	você	se	torne	mais	potente	ao	aprender	a	contar	a	sua	história,</p><p>realmente	desenvolvendo	seu	lugar	de	agente	no	mundo,	quer	dizer,	sendo	ativa,</p><p>e	não	passiva.	Sabemos	que	o	mundo	é	difícil;	já	é	fato	que	ele	é	repleto	de</p><p>injustiças,	dificuldades	e	obstáculos	–	uns	maiores	do	que	outros.	Mas	o	que</p><p>você	pode	fazer	diante	disso?</p><p>Nada	aconteceu	para	mim;	eu	tive	que	me	virar	com	o	que	me	foi	dado.	Ao</p><p>ponto	de	todas	as	minhas	batalhas	e	lutas	terem	sido	ressignificadas,	e	pude	fazer</p><p>da	minha	história	um	conto	de	redenção.	Ter	tomado	a	minha	fala,	a	minha</p><p>palavra	e	a	minha	vida	como	responsabilidade	minha	foi	meu	maior	ato	de</p><p>liberdade.	E	quero	que	seja	para	você	também.</p><p>Do	múltiplo	–	conversas,	vínculos,	textos,	códigos	–	criamos	algo	nosso	e</p><p>avançamos.	Mas	o	primeiro	passo	é	negar	que	as	coisas	são	como	são	e	não</p><p>continuar	engolindo	em	seco	o	que	nos	tentam	empurrar	goela	abaixo.	Ouse</p><p>questionar.	Ouse	debater.	Ouse	expressar	a	sua	visão	de	mundo,	apropriando-se</p><p>do	poder	das	palavras	em	alto	e	bom	som.	Sua	voz	importa	–	e	será	ouvida.</p><p>1.</p><p>Insubordinada,	irreverente	e	má:	desmistificando	a</p><p>argumentação</p><p>Infelizmente,	nós,	mulheres,	crescemos	ouvindo	que	temos	que	colocar	a</p><p>necessidade	dos	outros	acima	da	nossa.	Para	nos	sentarmos	assim	ou	assado,</p><p>falarmos	baixo,	como	toda	menina	deve	fazer.	Sorrir	sempre,	ser	doce	e,	de</p><p>quebra,	não	ficar	com	a	cara	fechada.	E	ai	de	nós	se	soltarmos	um	palavrão	ou</p><p>dissermos	“não”!</p><p>Para	você	ter	uma	ideia	do	quanto	isso	é	real,	segundo	o	Informe	de	percepção</p><p>de	gênero,	divulgado	pelo	LinkedIn	em	2018,²	mulheres	são	mais	seletivas	ao	se</p><p>candidatarem	a	uma	vaga	de	emprego:	elas	tentam	20%	menos	vagas	que	os</p><p>homens	–	porque	elas	sentem	que	precisam	cumprir	100%	dos	requisitos</p><p>solicitados	pelos	empregadores.	A	maior	parte	dos	homens,	no	entanto,</p><p>simplesmente	se	arrisca	e	se	inscreve,	mesmo	tendo	apenas	60%	dos	requisitos.</p><p>São	60%	versus	100%.</p><p>Quantas	vezes	você	foi	bem	em	uma	prova	e	disse:	“Fui	bem	porque	a	prova</p><p>estava	fácil”?	E	os	homens	provavelmente	disseram:	“Fui	bem	na	prova	porque</p><p>sou	inteligente”?	Passamos	no	concurso	público	e	pensamos:	Deve	ser	porque</p><p>poucos	se	candidataram.	Os	homens?	Passei	porque	mereci,	estudei	e	sou	capaz.</p><p>Desde	muito	cedo	aprendemos	que	devemos	ser	educadas	e	controladas.	E	que</p><p>não	devemos	nos	gabar	de	nossas	conquistas	porque	é	feio.	Sua	aparecida!</p><p>Eu	mesma,	quando	consegui	o	meu	visto	de	gênio	(estrangeiro	com	habilidades</p><p>extraordinárias)	para	poder	trabalhar	nos	Estados	Unidos,	costumava	falar	o</p><p>seguinte	para	as	pessoas:	“Deve	ser	porque	poucas	pessoas	se	aplicaram	no	meu</p><p>ano!	Por	isso	eu	consegui”.	Cara,	olha	isso!	Significa	que	sou	melhor	do	que</p><p>alguém	por	ter	esse	visto?	Não!	Significa	que	preciso	ter	vergonha	de	contar	em</p><p>voz	alta?	Também	não!	Qual	é	a	história	que	a	gente	conta	para	nós	mesmos</p><p>sobre	as	nossas	conquistas?	Quanto	do	seu	mérito	você	não	atribui	à	sorte	ou	a</p><p>fatores	externos?</p><p>Quero	que	você	se	inscreva	para	aquela	vaga	de	trabalho	com	que	tanto	sonha,</p><p>mas	para	qual	se	acha	incapaz.	Eu	quero	que	você	se	aproprie	da	sua	nota	alta	e</p><p>das	suas	conquistas	porque	mereceu,	e	não	porque	a	avaliação	“estava	fácil”.</p><p>Quero	que	poste	sobre	isso.	Que	conte	para	todos	em	voz	alta	e	com	orgulho.	E</p><p>quem	não	souber	lidar	com	isso	não	é	um	problema	seu.	Não	tem	como	ter	uma</p><p>vida	próspera	e	saudável	estando	rodeado	de	pessoas	que	não	vibram	pelas</p><p>nossas	conquistas.	Pode	fazer	ayurveda,	yoga,	acupuntura…	mas	se	você	chegou</p><p>em	casa	e	não	pôde	celebrar	suas	conquistas	com	o	próprio	namorado	porque	ele</p><p>te	chamaria	de	metida,	reveja	seu	relacionamento.	A	nossa	qualidade	de	vida</p><p>depende	da	qualidade	das	nossas	relações.</p><p>Você	é	sujeito	da	sua	vida	ou	só	responde	a	demandas?	O	que	você	quer?	Pense:</p><p>O	que	eu	quero?	Essa	pergunta	tem	sujeito	(eu)	e	desejo	(quero).	Não	há	desejo</p><p>fora	do	movimento	do	discurso.</p><p>Quando	você	começar	a	reclamar</p><p>aquilo	que	a</p><p>pessoa	talvez	estivesse	hesitante	em	falar.</p><p>Essa	capacidade	de	transbordar	paixão,	experiência	e	sabedoria	faz	a	diferença</p><p>na	hora	de	assistirmos	a	uma	entrevista	sua	ou	fala	pública.	Oprah	é	o	tipo	de</p><p>gente	à	vontade	no	mundo.	Ela	que,	mesmo	tendo	passado	por	tudo	que	já</p><p>passou	(abandono	na	infância,	abusos,	pobreza	e	miséria),	SEMPRE	andou	de</p><p>queixo	e	cabeça	erguida.	Ela	é	uma	espécie	de	mágica	da	comunicação,	uma</p><p>maga	capaz	de	manipular	a	atenção	da	audiência	e	levar	a	gente	para	onde</p><p>quiser.	Ela	fala	devagar,	não	demonstra	ansiedade,	não	quer	acabar	a	história.	E</p><p>você	também	não	quer	que	acabe!</p><p>A	Oprah	é	meio	pastora,	meio	reverenda.	O	Obama	tem	essa	vibe	também.	Eles</p><p>terminam	de	falar	e	você	se	coça	para	não	responder:	“Amém,	eu	recebo,</p><p>irmão!”.	As	pausas	que	ela	faz	são	pausas	de	pregação.	Ela	pausa	para	receber</p><p>aplauso	e	segura	o	próprio	aplauso	da	audiência	com	as	mãos;	ela	conduz.	Oprah</p><p>repete	e	reitera	frases	como	um	pastor	repete	um	versículo,	uma	ideia	central.</p><p>Quem	já	foi	a	uma	igreja	batista	ou	evangélica	sabe	do	que	estou	falando.	Toda</p><p>pregação	tem	uma	ideia	central	e	a	partir	daquela	ideia,	que	geralmente	é	um</p><p>versículo,	eles	desenvolvem	a	pregação.	A	Oprah	sempre	tem	uma	ideia</p><p>principal	e	ela	repete	essa	ideia	duas,	três	vezes.</p><p>Tem	uma	palestra	da	Oprah,	em	Atlanta,	em	que	ela	tira	os	sapatos	no	meio	da</p><p>fala.	Ela	está	usando	um	salto	alto	Louboutin,	então	os	remove	lentamente	e	diz:</p><p>“Todo	mundo	gosta	de	se	achar	especial,	importante,	chique	e	tal…	a	gente	é</p><p>tudo	igual.	Eu	posso	estar	usando	sapatos	caros,	mas	são	só	sapatos”.	Cara.</p><p>Gênia.	E	ela	sempre	faz	perguntas	que	aproximam	a	plateia:</p><p>“Mais	alguém	aqui	já	passou	por	isso?”</p><p>“Levanta	a	mão	quem	sabe	do	que	eu	tô	falando.”</p><p>“Vocês	entendem	do	que	estou	falando?”</p><p>Quem	mais	faz	isso?	Pastores!	Quem	mais	tem	oratória	de	pastor?	Obama!</p><p>Martin	Luther	King!	Grande	MLK.	“Eu	tenho	um	sonho”	me	faz	arrepiar	toda</p><p>vez.</p><p>Talvez	o	tipo	que	você	goste	não	esteja	contemplado	aqui	–	essa	lista	não	é</p><p>absoluta.	E	que	bom!	O	importante	é	você	ver	que	há	mulheres	incríveis	que</p><p>estão	criando	os	próprios	paradigmas	e	mostrando	que	há	outras	possibilidades.</p><p>E	você	pode	também.</p><p>13.</p><p>Quem	é	o	que	é	não	precisa	performar</p><p>Eu	sou	a	coisa	feia	da	terra	dos	indígenas	barrigudos.	Quando	fui	fazer	faculdade</p><p>em	São	Paulo,	resolvi	fingir	que	era	paulistinha	porque,	na	minha	época,	pessoas</p><p>de	Guarulhos,	que	nem	eu,	sofriam	bullying	.	Falava-se	que	éramos	de	Bagulhos.</p><p>Para	não	ouvir	besteira,	eu	dizia	que	morava	na	“Grande	São	Paulo”,	rs.	Não	me</p><p>entenda	mal:	eu	sempre	soube	que	guarulhense	era	povo	forte	e	guerreiro.	Quem</p><p>pega	cartão	BOM	pode	tudo	nesta	vida.	Mas,	sabe	como	é,	né,	eu	estava	no	meio</p><p>do	pessoal	descolado	da	ESPM	e	queria	me	encaixar.	Eu	lembro	que	pensava</p><p>comigo:	Porra,	e	pra	piorar	o	nome	da	cidade	significa	terra	do	indígena</p><p>barrigudo...</p><p>Pior	que	isso...	só	o	significado	do	meu	próprio	nome.</p><p>Coisa	feia.	É,	Maytê	significa	coisa	feia	em	tupi-guarani.	Vocês	têm	noção	do</p><p>que	é	saber	que	você	se	chama	coisa	feia?	Aparentemente	era	uma	carranca,</p><p>aquela	escultura	de	cara	feia.	Assim	como	elas,	li	uma	vez	que	as	Maytês</p><p>protegiam	as	aldeias	dos	maus	espíritos	e	eram	muito	importantes	na	tribo.</p><p>Ainda	assim,	que	esculacho…	Hoje	ainda	nascem	um	monte	de	Maitês/Maytês</p><p>por	aí,	mas	na	minha	época…	só	tinha	eu	na	sala.	Não	era	um	nome	muito	pop</p><p>nos	anos	1990,	mas	amo	meu	nome	hoje	em	dia!</p><p>Quer	saber?	Depois	de	muita	porrada	que	levei	nesta	vida,	resolvi	assumir	quem</p><p>eu	sou.	Em	vez	de	fingir	ser	outra	coisa,	simulando	a	voz	dos	outros	e	abaixando</p><p>a	cabeça	para	quem	me	faz	mal,	resolvi	me	assumir	como	a	coisa	feia	da	terra</p><p>dos	indígenas	barrigudos.	E	o	que	antes	era	motivo	de	desconserto,	hoje,	é	de</p><p>onde	eu	tiro	toda	a	minha	força	(aqui	é	Guarulhos,	porra!).</p><p>Antes	de	falar	em	público	–	seja	para	dar	aula,	palestrar,	fazer	um	stories	–,	eu</p><p>medito	e	repito	meu	mantra:	“Eu	sou	a	coisa	feia	da	terra	dos	indígenas</p><p>barrigudos,	não	tenho	nada	a	perder”.	Eu	dou	o	melhor	de	mim.	Pareço	aqueles</p><p>atletas	de	fim	das	Olimpíadas:	estou	ali,	me	concentrando	para	não	errar	o	salto.</p><p>Não	perder	a	onda.	Não	tropeçar	nos	últimos	metros	da	corrida.	Eu	dou	tudo,	e</p><p>se	eu	pensar:	Ah,	o	que	vão	pensar	de	mim?,	bem,	tudo	dá	errado.	O	segredo	é	se</p><p>lembrar	de	quem	você	é.	Eu	sou	a	coisa	feia	da	terra	dos	indígenas	barrigudos	–</p><p>queiram	vocês	ou	não.</p><p>Escolhi	não	me	negar,	mas	me	assumir.</p><p>Quando	criança,	sempre	gostei	de	falar.	Colocava	meus	bichinhos	de	pelúcia</p><p>como	dignatários	perfilados	em	uma	solenidade	na	escada	do	sobrado	em	que</p><p>morávamos.	Como	filha	de	professores,	dava	aula,	obviamente.	Também</p><p>cantava,	dançava,	apresentava	um	programa	de	TV	sem	pé	nem	cabeça	–	e	eles</p><p>amavam.	Eu	acho,	rs.	Eu	até	fazia	o	ticket	do	ingresso	com	minha	irmã,	nos</p><p>preparávamos	para	a	apresentação	e,	às	vezes,	o	meu	pai	e	minha	mãe	se</p><p>juntavam	ao	público	de	pelúcia.</p><p>Eu	era	tão	matraca	que	meus	pais	diziam	que,	quando	a	gente	ia	ao	shopping,	eu</p><p>pedia	para	comprar	balão	de	gás	hélio,	daqueles	bonitos	que	se	vendia	muitos</p><p>anos	atrás,	mas	não	porque	eu	gostava	de	balão.	Não!	É	porque,	com	um	balão</p><p>em	mãos,	as	pessoas	faziam	contato	visual	comigo	e	eu	aproveitava	para	me</p><p>apresentar:	“Oi,	eu	sou	a	Maytê,	tudo	bem?”.</p><p>Mais	tarde,	quando	eu	tinha	uns	9	ou	10	anos,	eu	organizei	sozinha	uma</p><p>excursão	para	um	show	de	Sandy	&	Junior	em	São	Paulo.	Só	quem	já	morou	em</p><p>Guarulhos	sabe	o	que	é	cruzar	a	Dutra.	Gente,	a	Dutra:	cai	uma	jaca	de	um</p><p>caminhão	no	meio	da	Dutra	e	você	nunca	mais	vai	conseguir	sair	da	cidade.</p><p>Cruzar	a	Dutra	é	atravessar	o	rio	Hudson.</p><p>Bom,	euzinha	fretei	um	ônibus	e	convenci	a	tia	Vanilda,	a	diretora	do	meu</p><p>colégio,	a	me	deixar	passar	de	sala	em	sala	para	ver	quem	mais	tinha	interesse</p><p>em	ir	ao	show.	Bati	na	porta	de	cada	sala	e	apresentei	a	oportunidade	incrível:</p><p>um	ônibus,	que	levaria	a	gente	para	o	show	das	nossas	vidas,	da	maneira	mais</p><p>segura	possível,	para	o	outro	lado	do	mundo	que	era	São	Paulo.	Consegui	o</p><p>número	mínimo	para	a	conta	fechar,	separei	meu	look	(provavelmente	uma</p><p>camiseta	do	Animaniacs	e	uma	calça	da	Side	Play)	e	lá	fomos	nós!</p><p>Essa	sem-vergonhice	também	foi	determinante	nos	meus	12	anos,	quando	fui</p><p>eleita	a	representante	da	sala	da	sexta	série.	Fiz	uma	campanha	que	deixaria</p><p>muito	candidato	à	presidência	no	chinelo,	com	direito	a	logo,	slogan	e	nome</p><p>artístico	–	Maytê	Tyler,	porque	eu	amava	o	Steven	Tyler	(que,	por	sinal,	conheci</p><p>anos	mais	tarde).</p><p>Mais	velha	é	que	fiquei	com	menos	coragem.	Às	vezes,	a	vida	pisa	na	gente,	ou</p><p>a	gente	ainda	está	tentando	entender	como	funciona	o	mundo,	e	daí	perdemos</p><p>aquilo	que	temos	de	mais	precioso:	nossa	própria	voz,	nossa	capacidade	de	ir	lá</p><p>e	verbalizar	nossos	desejos,	nos	abrir	para	o	mundo,	dividir	nossas	ideias,</p><p>estabelecer	trocas.	O	bom	é	que	o	processo	é	reversível	–	como,	eu	espero,	você</p><p>tenha	aprendido	neste	livro.</p><p>Hoje,	toda	vez	que	preciso	dar	uma	opinião	em	voz	alta	numa	reunião</p><p>importante,	numa	palestra	ou	evento,	eu	sintonizo	na	frequência	da	Maytê	que</p><p>curtia	conversar	com	estranhos,	organizava	fretado	para	o	show	e	tinha	a</p><p>pachorra	de	se	intitular	Maytê	Tyler.	A	coisa	feia	da	terra	dos	indígenas</p><p>barrigudos.	Essa	menina	não	tinha	medo	de	nada.	Ela	nunca	hesitou.	Ela	estava</p><p>preparadíssima,	afinal	de	contas,	treinou	muito	com	seus	bichos	de	pelúcia.	Ela</p><p>se	jogava!	Ela	sabia	um	segredo	poderoso:	se	você	é,	você	não	precisa</p><p>performar.	Eu	sou,	não	performo.	Larguei	mão	de	buscar	a	validação	dos	outros.</p><p>Eu	ouso	argumentar.</p><p>Esse	é	o	mindset	que	eu	quero	que	você	tenha	na	sua	próxima	reunião	das</p><p>galáxias,	na	entrevista	dos	sonhos,	na	peça	da	escola,	no	vídeo	de	YouTube	–</p><p>aonde	for,	sempre	que	precisar.	Conecte-se	com	aquela	criança,	adolescente	ou</p><p>adulta	destemida	que	um	dia	você	foi.	E,	se	você	não	conseguir	pensar	num</p><p>momento	assim	(embora,	eis	a	minha	dica,	pense	direitinho,	eu	sei	que	ele</p><p>existe),	conecte-se	com	aquilo	que	faz	você	se	sentir	você.</p><p>Para	isso,	vou	passar	as	últimas	dicas	para	acessar	esse	estado	de	presença!</p><p>1.	No	dia	de	uma	apresentação	ou	evento	público,	faça	uma	playlist	com	as	suas</p><p>músicas	favoritas	da	infância	(músicas	que	você	curtia,	que	seus	pais	ouviam	no</p><p>carro,	trilha	sonora	do	Rei	Leão,	o	que	for).</p><p>2.	Coma	as	coisas	de	que	você	gostava	quando	pequena	(Ana	Maria	de	baunilha,</p><p>chocolate	de	desenho,	macarrão	gravatinha).</p><p>3.	Medite	e	converse	com	o	seu	“eu	criança”.	Visualize	como	você	era	quando</p><p>mais	novinha.	Como	você	agia?	Você	daria	algum	conselho	à	adulta	que	se</p><p>tornou?</p><p>4.	Enumere	seus	prêmios.	Quando	eu	falo	isso	eu	digo:	a	olimpíada	de	História</p><p>que	você	venceu,	o	campeonato	de	boliche	que	você	arrasou,	aquele	dia	na	aula</p><p>em	que	o	professor	te	elogiou	e	você	se	sentiu	especial.	Esquece	essa	papagaiada</p><p>de	Forbes	500,	pense	nos	prêmios	no	seu	hall	da	fama.	Aproprie-se	de	como</p><p>você	se	sentiu	majestosa	e	importante.</p><p>5.	Ande	descalça,	na	ponta	dos	pés,	no	calcanhar,	com	o	pé	de	lado.	Tipo	como</p><p>você	fazia	quando	criança.	Aterre-se.</p><p>6.	Respire	pelo	nariz	e	solte	pela	boca.	Desafie	sua	criança	interior	a	fazer	os</p><p>barulhos	mais	engraçados	do	mundo	ao	soltar	o	ar.	Brrrrr	com	os	lábios.	Barulho</p><p>de	hummmmm.	Risadas	ou	vozinhas	engraçadas.</p><p>7.	Cante	em	voz	alta.	Desafinado	mesmo,	ninguém	está	te	avaliando.	Não	é	o</p><p>The	Voice.	Eu	te	autorizo,	se	é	isso	que	você	precisa	para	se	sentir	bem.</p><p>8.	Preste	atenção.	Atenção	é	conexão.	Aqui,	agora.	Nada,	nenhum	movimento</p><p>sob	o	Sol	é	desprovido	de	beleza.	Até	mesmo	a	Dutra	engarrafada	numa</p><p>segunda-feira	de	chuva.	Olhe	em	volta:	o	que	você	vê	ao	seu	redor?</p><p>9.	Use	uma	roupa	inusitada.	Troque	o	par	de	meias	(ninguém	vai	ver	mesmo).</p><p>Sabe	quando	você	é	mais	novo	e	acha	incrível	uma	roupa	que	os	adultos	acham</p><p>espalhafatosa?	É	essa	que	eu	quero	que	você	use!	Não	precisa	usar	uma	capa	de</p><p>chuva	rosa-choque	na	reunião.	Mas	que	tal	usar	pantufas	de	Star	Wars	com	um</p><p>terno	durante	uma	reunião	de	Zoom?</p><p>Voilà,	você	está	preparada	para	sua	reunião	com	os	c-level	sóbrios	e	poderosos</p><p>da	sua	empresa,	porque	todos,	sem	exceção,	já	foram	crianças	um	dia.</p><p>A	criança	dá	tudo	de	si.	A	criança	não	tem	medo	da	vulnerabilidade,	ela	a</p><p>transforma	em	potência.	A	criança	só	é.	Ela	imagina.	Cria.	Faz	o	próprio	mundo,</p><p>e	eu	te	digo:	ele	é	muito	bom.</p><p>Eu	nem	acredito	que	tô	contando	isso	para	vocês.	Desde	o	meu	primeiro	livro,</p><p>tenho	vontade	de	contar	o	meu	segredo	para	ousar	argumentar	por	aí,	mas	eu</p><p>pensava:	Que	mico!	Como	meus	amigos	do	mestrado	em	Semiótica	da	PUC	vão</p><p>reagir?	Preciso	de	substância!	Se	eu	falar	“acesse	sua	criança	interior”,	minha</p><p>editora	vai	tirar	meu	livro	da	categoria	negócios	e	colocar	em	autoajuda.	Ah,</p><p>não!	Eu	sou	séria	demais	para	ser	autora	de	autoajuda!	Imagina	eu	posando	de</p><p>braço	cruzado	vociferando	algo	motivacional	ao	lado	de	algum	charlatão	barato!</p><p>Eu,	não.	Eu	tenho	pedigree.	Eu	estudei	pós-estruturalismo!	Lacan!	Hegel!	Escola</p><p>de	Frankfurt!	Quanta	bobagem.	Quanto	ego.	Quanta	vaidade!</p><p>A	criança	não	nutre	nada	disso.	Ela	não	precisa	de	títulos.	Cargos.	Chief</p><p>Escorregador	Officer.	Head	of	Amarelinha.	Já	pensou?	Criança	brinca	com</p><p>papelão	e	Lego,	e	se	diverte	igual.	Imagina	mundos	de	fantasia,	interpreta</p><p>papéis,	corre,	dança,	se	joga.	Criança	respira!	Não	existe	performance	review</p><p>por	quarter	no	mundo	das	crianças.	Quer	dizer,	talvez	em	algumas	escolas	hoje</p><p>em	dia	até	tenha	isso;	coitadas	das	crianças!	Mas,	tirando	essas	más	influências,</p><p>o	barato	é	fazer	ciranda	e	abraçar	jabuti	ouvindo	“O	carimbador	maluco”	do</p><p>Raul	Seixas	(ou	isso	foi	só	eu	que	fiz?).</p><p>Sabe	o	que	eu	mais	gosto	sobre	acessar	a	criança?	Além	da	criatividade,	claro.</p><p>As	crianças	são	espontâneas.	Elas	não	tratam	o	gari	diferente	do	senador.	Elas	te</p><p>contam	quando	tem	salsinha	no	seu	dente.	Elas	são	autênticas!	Não	existe</p><p>encontrar	a	própria	voz	sem	se	apropriar	da	sua	autenticidade.	E	a	sua</p><p>autenticidade	está	dentro	de	você,	protegida	por	sua	criança	interior.</p><p>Muito	prazer,	eu	sou	a	Maytê	de	Guarulhos.</p><p>E	você,	quem	é?</p><p>©Gerson	Lopes	Mayete</p><p>Mayté	Carvalho	é	diretora	de	estratégia	de	negócios	na	TBWA	Los	Angeles,</p><p>uma	das	cinco	maiores	agências	de	publicidade	do	mundo;	autora	do	best-</p><p>seller	Persuasão	–como	usar	a	retórica	e	a	comunicação	persuasivana	sua</p><p>vida	pessoal	e	profissional	(Buzz);	fellowresearcher	no	Instituto	de</p><p>Tecnologia	e	Inovação	na	Universidade	de	Berkeley,	Califórnia;	mestranda</p><p>em	Comunicação	e	Semiótica	na	PUC-SP;	pesquisadora	do	Grupo	de</p><p>Estudos	Retóricos	Argumentativos	da	PUC-SP	e	professora	na	ESPM	e	na</p><p>Casa	do	Saber.	Tem	o	visto	americano	de	estrangeiro	com	habilidades</p><p>extraordinárias	nos	Estados	Unidos,	onde	trabalha	e	reside.</p><p>Além	de	experiência	na	comunicação,	acumula	background	empreendedor.	Foi</p><p>vencedora	da	edição	especial	de	O	Aprendiz	e	participante	das	demais	edições.</p><p>Participou	do	reality	Sharktank	Brasil,	por	onde	conquistou	investimento	para	a</p><p>sua	startup.	Foi	eleita	Top	6	empreendedoras	do	Brasil	pela	Revista	GQ	com	seu</p><p>app	“Beleza	de	farmácia”,	que	alcançou	o	posto	de	#1	na	App	Store.</p><p>@maytecarvalhos</p><p>www.maytecarvalho.com.br</p><p>maytecarvalhos</p><p>PlanetaLivrosBR</p><p>planetadelivrosbrasil</p><p>planetadeLivrosBrasil</p><p>planetadelivros.com.br</p><p>#acrditamosnoslivros</p><p>1	Basta	saber	que	é	uma	expressão	alemã	que	significa,	grosso	modo,	“espírito</p><p>do	tempo”.	A	gente	usa	para	falar	da	vibe	cultural	de	uma	época.	Em	português,</p><p>pronunciamos	como	“zaitigasti”.</p><p>2	LINKEDIN	TALENT	SOLUTIONS.	Gender	Insights	Report:	How	Women</p><p>Finds	Jobs	Differently	.	Disponível	em:</p><p>https://business.linkedin.com/content/dam/me/business/en-us/talent-solutions-</p><p>lodestone/body/pdf/Gender-Insights-Report.pdf	.	Acesso	em:	03	fev.	2022.</p><p>3	KANTAR.	The	Reykjavik	Index	for	Leadership	2020/2021:	Measuring</p><p>Perceptions	of	Equality	for	Men	and	Women	in	Leadership	.	Disponível	em:</p><p>https://www.kantar.com/campaigns/reykjavik-index	.	Acesso	em:	03	fev.	2020.</p><p>4	Em	tradução	livre:	“Venham,	escritores	e	críticos,	/	que	profetizam	com	suas</p><p>canetas/	E	mantenham	seus	olhos	abertos,	/	a	chance	não	virá	novamente/	E	não</p><p>falem	cedo	demais,/	pois	a	roda	ainda	está	girando/	E	não	há	como	prever	quem</p><p>ela	vai	escolher/	Pois	o	perdedor	de	agora	logo	mais	irá	vencer/	Porque	os</p><p>tempos,	eles	estão	mudando”.	(N.E.)</p><p>5	VILELA,	Luisa.	Percentual	de	mulheres	em	cargos	de	liderança	dobrou	nos</p><p>últimos	anos.	Consumidor	Moderno	,	23	fev.	2021.	Disponível	em:</p><p>https://www.consumidormoderno.com.br/2021/02/23/percentual-mulheres-</p><p>cargos-lideranca-dobra/	.	Acesso	em:	22	dez.	2021.</p><p>6	MULHERES	no	conselho.	Deloitte	.	Disponível	em:</p><p>https://www2.deloitte.com/br/pt/pages/risk/articles/mulheres-no-conselho.html	.</p><p>Acesso	em:	22	dez.	2021.</p><p>7	CAVALCANTE,	Talita.	IBGE:	mulheres	ganham	menos	que	homens	mesmo</p><p>sendo	maioria	com	ensino	superior.	IBGE	,	7	mar.	2018.	Disponível	em:</p><p>https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-03/ibge-mulheres-ganham-</p><p>menos-que-homens-mesmo-sendo-maioria-com-ensino-superior	.	Acesso	em:	22</p><p>dez.	2021.</p><p>8	MINISTÉRIO	DA	SAÚDE.	Bionergértica:	Conhecendo	as	práticas</p><p>integrativas	e	complementares	em	saúde	.	Disponível	em:</p><p>https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/praticas_integrativas_saude_bioenergetica_1ed.pdf</p><p>.	Acesso	em:	24	dez.	2021.</p><p>9	LIMA,	Adriana.	Má	postura	pode	causar	estresse	e	até	depressão.	Jornal	NH	,</p><p>Cotidiano	|	Viver	com	Saúde,	30	maio	2020.	Disponível	em:</p><p>https://www.jornalnh.com.br/cotidiano/viver_com_saude/2020/05/29/ma-</p><p>postura-pode-causar-estresse-e-ate-depressao.html	.	Acesso	em:	24	dez.	2021.</p><p>10	AG��NCIA	FAPESP.	Expressão	não	verbal	ajuda	a	diagnosticar	a	depressão	.</p><p>22	fev.	2016.	Disponível	em:	https://agencia.fapesp.br/expressao-nao-verbal-</p><p>ajuda-a-diagnosticar-a-depressao/22712/	.	Acesso	em:	24	dez.	2021.</p><p>11	SOBAB.	Exercícios	de	bioenergética	–	o	caminho	para	uma	saúde	vibrante.</p><p>Disponível	em:	https://www.analisebioenergetica.com.br/exercicios-de--</p><p>bioenergetica-o-caminho-para-uma-saude-vibrante/	.	Acesso	em:	22	dez.2021.</p><p>12	GOLDMAN,	Bruce.	Study	shows	how	slow	breathing	induces	tranquility.</p><p>Stanford	Medicine	,	30	mar.	2017.	Disponível	em:</p><p>https://med.stanford.edu/news/all-news/2017/03/study-discovers-how-slow-</p><p>breathing-induces-tranquility.html	.	Acesso	em:	22	dez.	2021.</p><p>13	HARVARD	BUSINESS	SCHOOL.	Making	Experience	Count:	The	Role	of</p><p>Reflection	in	Individual	Learning</p><p>.	Disponível	em:</p><p>https://www.hbs.edu/ris/Publication%20Files/14-093_defe8327-eeb6-40c3-aafe-</p><p>26194181cfd2.pdf	.	Acesso	em:	22	dez.	2021.</p><p>14	CAMERON,	Julia.	O	caminho	do	artista	:	Desperte	seu	potencial	criativo	e</p><p>rompa	seus	bloqueios.	Rio	de	Janeiro:	Sextante,	2017.</p><p>15	MARIA	da	Conceição	Tavares.	In	:	Wikipedia.	Disponível	em:</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_da_Concei%C3%A7%C3%A3o_Tavares	.</p><p>Acesso	em:	22	dez.	2021.</p><p>16	FORBES	Ranks	World’s	Most	Influential	CMOs,	Featuring	Preeminent	Chief</p><p>Marketing	Officers	Who	Are	Challenging	The	Status	Quo	To	Create	Lasting</p><p>Impact.	Forbes,	29	set.	2021.	Disponível	em:</p><p>https://www.forbes.com/sites/forbespr/2021/09/29/forbes-ranks-worlds-most-</p><p>influential-cmos-featuring-preeminent-chief-marketing-officers-who-are-</p><p>challenging-the-status-quo-to-create-lasting-impact/	.	Acesso	em:	07	jan.	2022.</p><p>Cover Page</p><p>Capa</p><p>Carta à leitora, ou melhor, coautora</p><p>1. Insubordinada, irreverente e má: desmistificando a argumentação</p><p>2. Não ateie fogo em si mesma para os outros ficarem aquecidos</p><p>3. A arte do falar bem</p><p>4. Como construir uma fala impactante</p><p>5. Os sete passos para estruturar a sua fala</p><p>6. Você não precisa ter uma opinião sobre tudo</p><p>7. Quem é você no debate?</p><p>8. Corpo e voz: como passar confiança na sua argumentação</p><p>9. A ousada arte de usar a própria voz</p><p>10. Como você reage em uma discussão?</p><p>11. Quando não há debate</p><p>12. Qual debatedora você quer ser?</p><p>13. Quem é o que é não precisa performar</p><p>em	voz	alta	o	seu	poder,	conflitos	irão	surgir.	E</p><p>isso	é	bom!	O	conflito	não	é	necessariamente	algo	ruim.	Devemos	olhar	para	o</p><p>conflito	como	uma	oportunidade	de	requalificar	relações	e	dinâmicas.	De	mudar</p><p>as	cláusulas	do	contrato	tácito	da	amizade	e	do	amor	(e	da	família!).	De	mudar</p><p>as	cláusulas	de	uma	educação	e	uma	socialização	que	nos	ensinaram	que	ser</p><p>quem	se	é	não	é	bom,	que	falar	em	voz	alta	o	que	se	quer,	colocar	limites	e</p><p>celebrar	conquistas	deve	ser	evitado.</p><p>Essa	educação	estrutural	machista	é	refletida	na	nossa	maneira	de	nos	expressar</p><p>–	tanto	pessoal	quanto	profissionalmente.	Muitas	vezes,	por	sermos	silenciadas,</p><p>nem	sequer	temos	coragem	de	abrir	a	boca.</p><p>Nada	comunica	mais	do	que	o	silêncio.	A	ausência.	A	morte.	A	entropia.	O</p><p>vazio.	Tanto	é	que,	quando	não	queremos	nos	comunicar	com	o	outro,	apenas</p><p>falamos.	Falamos,	falamos,	falamos,	falamos,	falamos...	O	famoso	blablablá.	O</p><p>silêncio	é	poderoso	demais	para	ser	sustentado.</p><p>Ser	silenciada	é	diferente	de	escolher	o	silêncio	como</p><p>resposta.</p><p>Porém,	há	dois	tipos	de	silêncio.	Às	vezes,	ao	não	proferir	uma	palavra,	você</p><p>pode	estar	aceitando	ou	recusando	alguma	coisa.	Por	exemplo,	quando	presos</p><p>políticos	ficam	em	silêncio,	recusando-se	a	denunciar	seus	companheiros,	eles</p><p>estão	protestando	sem	emitir	uma	única	palavra.	Nesses	casos,	o	silêncio	é	uma</p><p>forma	de	se	posicionar.</p><p>Por	outro	lado,	a	comunicação	também	é	um	sistema	de	sobrevivência.</p><p>Escolhemos	falar	porque	queremos	nos	proteger,	nos	sentir	confiantes,	dividir</p><p>ideias,	lutar	por	direitos	e	veicular	nossos	desejos.	Nesse	sentido,	a	fuga	para	a</p><p>comunicação	é	a	fuga	para	a	liberdade;	e	o	silêncio,	a	morte	simbólica.</p><p>O	silêncio	pode	ser	tudo	ou	nada.	Por	quem	você	se	cala?</p><p>Entender	a	diferença	entre	os	dois	é	muito	importante.	Se	você	não	diz	nada</p><p>porque,	assim,	coloca	limites,	defende	um	posicionamento	e	se	recusa	a	dobrar-</p><p>se	ao	poder:	maravilhoso.	Mas	você	pode	acabar	se	silenciando	porque	tem</p><p>medo	de	perder	alguma	coisa	–	pessoas	que	ama	ou	oportunidades.	Teme	que,	se</p><p>disser	algo,	não	vão	ouvir	ou	entender	você;	pior,	podem	até	te	xingar	ou	te</p><p>desmerecer.	O	problema	é	que,	ao	fazer,	você	não	percebe	que	aos	poucos	está</p><p>perdendo	a	si	mesma.</p><p>Ainda	que	não	de	maneira	direta	e	explícita,	quantas	vezes	você	foi	coagida	ao</p><p>silêncio?	Quantas	vezes	não	ouviu:	“Você	é	muito	geniosa,	cheia	de	opiniões!”.</p><p>Ou	ousou	usar	sua	voz	e	as	palavras	esmaeceram	e	sumiram	na	mesa	de	reunião?</p><p>No	jantar?	Daí,	ao	vê-las	ressurgir	na	boca	de	um	colega,	todos	prestaram</p><p>atenção,	alguns	até	acharam	“genial”?	Só	que,	quando	saiu	da	sua	boca,	ninguém</p><p>deu	a	menor	bola.	E	então	você	se	encolheu	–	e	aprendeu	que	é	melhor	ficar</p><p>calada.</p><p>Isso	aconteceu	comigo.	Eu	tinha	medo	de	ser	grande	demais.	Das	minhas	ideias</p><p>destoarem.	Da	minha	fala	causar	tumulto.	Da	minha	opinião	ser	controversa	e</p><p>polêmica.	Das	minhas	roupas	incomodarem.	Fingi	não	saber	uma	resposta	para</p><p>não	chamar	a	atenção.	Já	banquei	a	pequena	para	não	incomodar	ninguém.	Em</p><p>reuniões	de	trabalho,	em	jantares	com	amigos,	até	mesmo	em	reuniões</p><p>familiares.</p><p>Sabe	o	que	o	mundo	ganhou	quando	eu	banquei	a	pequena?	Nada.	Por	que</p><p>escolher	vibrar	na	mediocridade	(do	latim,	“estar	na	média”)	se	você	pode</p><p>brilhar	sendo	do	seu	tamanho?	Você	já	se	encolheu	para	caber?	Em	algum</p><p>relacionamento?	Dinâmica	de	trabalho?	Sala	de	aula?	Com	amigos?	Pois	agora,</p><p>chega:	quando	você	brilha,	você	autoriza	a	todos	ao	seu	redor	a	brilharem</p><p>também.</p><p>E	se	excluírem,	rirem,	condenarem	suas	ideias,	apequenarem	você,	lembre-se:</p><p>você	não	foi	feita	para	caber.	Você	foi	feita	para	transbordar!	Se	sacar	que	é</p><p>grande	demais	para	aquele	lugar,	não	demore:	vá	embora!	Eu	não	me	encolho</p><p>mais.	Dá	dor	nas	costas	e	inaugura	um	lento	suicídio	espiritual.	Vale	para</p><p>amores,	amizades,	trabalho	e	vida	acadêmica.</p><p>Fonte:	Adaptada	da	ilustração	de	Liana	Finck.</p><p>Mas	eu	sei,	eu	sei.	Sei	que,	muitas	vezes,	você	ainda	vai	se	encolher.	Afinal,</p><p>conforme	o	tempo	foi	passando,	começou	a	ser	elogiada	e	reconhecida	por</p><p>diminuir	de	tamanho:	“Mas	olha	como	a	Maria	é	uma	querida!	Guerreira.	Ela</p><p>sacrifica	as	próprias	vontades	pelas	vontades	da	família,	dos	irmãos,	do</p><p>marido!”.	E	é	muito	difícil	se	desfazer,	do	dia	para	a	noite,	da	vontade	de</p><p>pertencer,	dos	juízos	morais	que	fizeram	com	que	você	acreditasse	que	ser</p><p>menos	era	o	melhor	para	todos.</p><p>A	gente	sempre	cresce	vendo	essa	dicotomia	da	mulher	boa,	que	se	coloca	à</p><p>disposição	do	outro	e	anula	os	próprios	desejos	e	vontades,	e	a	mulher	má,	a</p><p>bruxa	que	se	coloca	como	prioridade	e	tem	coragem	de	ser	detestada.	Que	não</p><p>está	ali	para	servir	e	agradar	ao	outro,	mas	coloca	os	seus	desejos,	a	sua	opinião,</p><p>o	que	serve	para	ela	em	primeiro	lugar.	Fomos	socializadas	para	escolher	a</p><p>primeira	opção;	para	sermos	dóceis	e	queridas.	Manda	quem	pode,	obedece</p><p>quem	tem	juízo,	não	é	mesmo?</p><p>Pois	quero	te	fazer	um	convite:	seja	irreverente.	Quem	manda?	Quem	pode</p><p>mandar?	Você!	Eles	que	obedeçam.	Sim,	vão	dizer	de	novo	que	você	é	geniosa.</p><p>Mas	você	pode	fazer	o	que	te	parece	melhor.	Se	posicione.</p><p>Ao	ler	a	obra	A	coragem	de	não	agradar,	de	Ichiro	Kishimi	e	Fumitake	Koga,</p><p>tive	uma	epifania.	O	livro	é	uma	espécie	de	conversa	entre	um	jovem	e	um</p><p>filósofo.	Em	dado	momento,	o	filósofo	diz	o	seguinte	ao	aprendiz:	“Você	só	será</p><p>livre	de	verdade	quando	tiver	a	coragem	de	ser	detestado”.</p><p>Faço	essa	provocação:	você	tem	coragem	de	ser</p><p>detestada?</p><p>O	índice	The	Reykjavik	Index	for	Leadership,	de	2020,	feito	pela	consultoria</p><p>Kantar,	mostra	que	59%	dos	brasileiros	não	se	sentem	confortáveis	quando	veem</p><p>uma	mulher	liderando	uma	empresa.³	Mais	da	metade	dos	homens	não	quer	ver</p><p>uma	mulher	líder.</p><p>É	uma	verdade	dura,	mas	sustentada	por	dados:	você	não	vai	agradar	quando</p><p>exercer	protagonismo.</p><p>Esse	mesmo	estudo	ainda	apontou	que	existem	setores	considerados	pelas</p><p>pessoas	como	mais	adequados	para	o	comando	de	uma	mulher,	como	beleza	e</p><p>moda.	O	setor	automotivo	e	o	de	engenharia,	porém,	são	vistos	como	mais</p><p>masculinos.</p><p>Você	está	pronta	para	causar	desconforto	ao	ser	uma	líder?	Não	agradar?	Nem</p><p>todas	nós	estamos	prontas.	As	pessoas	me	falam:	“Ahhhh…	sabe	o	que	falta	nas</p><p>mulheres?	Autoconfiança”.	Eu	discordo.	Não	é	falta	de	confiança	em	si	mesma,</p><p>é	medo	de	não	pertencer.	De	não	ser	acolhida	pelo	grupo.	De	não	ser	amada.	E</p><p>isso	tem	a	ver	com	séculos	de	machismo	estrutural,	em	que	nossos	direitos</p><p>individuais	e	até	mesmo	políticos	só	eram	legítimos	se	atrelados	à	figura	de	um</p><p>homem:	conta	no	banco,	voto,	compra	de	imóvel.	“Como	posso	arriscar	ser</p><p>detestada?	Se	eu	for	detestada,	não	terei	acesso	a	bens	e	oportunidades,	minha</p><p>voz	não	será	ouvida!”	É	aí	que	está	a	armadilha.	É	uma	ilusão	de	pertencimento.</p><p>E,	ao	silenciarem	as	nossas	vozes,	nos	deram	a	ilusão	de	que	tínhamos	uma.</p><p>Fui	detestada	ainda	muito	jovem.	Fui	cancelada	antes	mesmo	de	a	cultura	do</p><p>cancelamento	existir.	Quando	O	Aprendiz	passou	na	televisão	dez	anos	atrás,	na</p><p>primeira	edição	de	que	participei,	eu	tinha	18	anos;	na	segunda,	eu	tinha	22	anos</p><p>e	fui	trending	topics	do	Twitter.	Fui	a	mulher	má.	Megera	–	era	assim	que	me</p><p>chamavam.	Sabe	por	quê?	Porque	ousei	argumentar.</p><p>Fui	detestada	em	vários	momentos	pelos	participantes,	pelos	apresentadores,</p><p>pela	mídia,	pela	internet.	E	digo	a	você:	foi	uma	das	melhores	coisas	que	me</p><p>aconteceram.	A	partir	desse	momento,	entendi	que	o	meu	valor	não	era	dado</p><p>pelo	outro.	O	fato	de	não	gostarem	da	minha	atitude,	de	como	falo	e	penso	é	um</p><p>problema	deles.	Eu	me	libertei!	Aí	consegui	exercer	a	minha	própria</p><p>autenticidade.	Quando	vivemos	buscando	a	validação	externa,	confiamos	aos</p><p>outros	o	nosso	bem	mais	valioso:	a	vida.</p><p>Fora	que	existe	sempre	a	possibilidade	de	culpar	as	outras	pessoas	por	desejos</p><p>não	realizados.	É	muito	mais	fácil	dizer:	“Ah,	não	tô	fazendo	o	que	eu	realmente</p><p>quero	porque	o	meu	pai	me	obrigou	a	fazer	isso”;	“Eu	não	corto	meu	cabelo</p><p>porque	sei	que	as	pessoas	vão	achar	que	enlouqueci”;	“Se	fizer	isso,	o	que	os</p><p>outros	vão	dizer?”.</p><p>De	todas	as	maneiras,	você	fica	retroalimentando	uma	narrativa	que	coloca,	na</p><p>mão	alheia,	o	poder	sobre	você	e	suas	escolhas.	Quando	você	se	liberta,	assume</p><p>a	coragem	de</p><p>ser	detestada.	Você	diz	ao	mundo:	“Pode	mandar	ver,	eu	sei	que</p><p>não	sou	megera,	não	sou	arrogante	nem	irritante.	Eu	não	me	encolho	para</p><p>caber!”.	Você	assume	a	sua	narrativa	e	se	apropria	de	quem	é	de	verdade.</p><p>Fonte:	FARIA,	Tiago.	Maytê	é	demitida	em	‘Aprendiz	–	O	Retorno’	e</p><p>desabafa:	“Não	sou	uma	megera”.	Veja	São	Paulo,	São	Paulo,	04	dez.	2013.</p><p>Disponível	em:	https://vejasp.abril.com.br/blog/pop/mayte-e-demitida-em-</p><p>8216-aprendiz-8211-o-retorno-8217-e-desabafa-8220-nao-sou-uma-megera-</p><p>8221/.	Acesso	em:	03	dez.	2021.</p><p>Imagine	ser	chamada	de	herege	na	televisão	por	apresentar	um	modelo	de</p><p>negócios	que	democratiza	o	acesso	à	beleza?	Foi	assim	comigo,	no	Shark	Tank</p><p>Brasil.	Vocês	acham	que	me	encolhi	ou	enfrentei?	Tive	coragem	de	desagradar</p><p>uma	das	investidoras	ali	–	meus	valores	eram	radicalmente	acessíveis	para	a</p><p>visão	elitista	dela	–,	mas	consegui	investimento	com	outra	no	mesmo	programa,</p><p>que	tinha	valores	alinhados	aos	meus.	Sempre	vai	ter	alguém	que	entende	você	e</p><p>te	acompanha,	e	é	assim	que	você	deve	agir:	“Esses	são	os	meus	valores,	e	quem</p><p>se	identificar	vem	comigo”.	Não	se	encolha	para	caber	em	quem	te	reprime	ou</p><p>censura.</p><p>Por	isso,	o	primeiro	passo	é:	tenha	coragem	de	não	agradar!	A	pessoa	que	tem	a</p><p>coragem	de	não	agradar	exerce	a	sua	mais	plena	potência.	Ela	não	está	fazendo</p><p>aquilo	por	ninguém,	a	não	ser	ela	mesma!	Para	ter	a	sua	voz	ouvida	e</p><p>reconhecida,	você	precisa	estar	disposta	a	encarar	o	desafio	de	desagradar</p><p>algumas	pessoas.	Especialmente	alguns	homens	que,	como	a	pesquisa	bem</p><p>mostrou,	não	vão	gostar	de	te	ver	exercendo	o	seu	poder.</p><p>Por	isso,	para	todas	as	mulheres	que	são	chamadas	de	agressivas:	continuem</p><p>sendo	assertivas.</p><p>Mandonas?	Continuem	liderando.</p><p>Briguentas?	Continuem	dizendo	a	verdade.</p><p>Espaçosas?	Continuem	ocupando	espaços	e	impondo	limites.</p><p>Complicadas?	Continuem	fazendo	as	perguntas	difíceis.</p><p>Continuem.	Sigam.	Resistam.</p><p>E	quando	for	o	sinônimo	de	resistência	–	quando	o	seu	silêncio	reverberar	mais</p><p>do	que	gritar	“não”	–	aí,	sim,	se	calem.</p><p>Aponte	a	câmera	do	seu	celular	ou	utilize	a	URL	https://youtu.be/69CA9EEX1bs	para	acessar.</p><p>2.</p><p>Não	ateie	fogo	em	si	mesma	para	os	outros	ficarem</p><p>aquecidos</p><p>Antes	de	desenvolver	a	atitude	necessária	para	argumentar,	precisamos	aprender</p><p>a	falar	não,	porque	argumentar	é	diferente	de	se	justificar.	Como	vimos,	fomos</p><p>criadas	para	sermos	pacatas,	gentis	e	subordinadas.	Além	disso,	nos	ensinaram</p><p>desde	cedo	que	precisamos	merecer	o	amor.	Ou	seja,	que	o	amor	está	atrelado	à</p><p>performance.	Você	é	boa	quando	tira	notas	altas	na	escola,	quando	ganha	troféu,</p><p>quando	é	elogiada	pela	professora,	quando	vence	o	concurso	de	redação	ou	passa</p><p>no	vestibular.</p><p>E	nós	acreditamos	nisso,	porque	temos	medo	de	que,	a	qualquer	momento,	a</p><p>pessoa	que	cuida	da	gente	nos	abandone.	E	aí	a	gente	aprende	a	se	justificar,	a</p><p>pedir	desculpas,	a	se	explicar,	mesmo	na	vida	adulta:	“Tenho	que	ir,	porque	se</p><p>não	vou	perder	o	emprego!”;	“Ela	vai	ficar	chateada	se	eu	disser	não”.</p><p>Se	você	já	pensou	ou	disse	algo	do	tipo,	saiba	que	não	é	a	única.	Eu	mesma	me</p><p>pego	autojustificando	ou	pensando	que	deveria	me	justificar!	Um	pouco</p><p>neurótica	(haha).	Especialmente	quando	desenho	um	limite.	Quando	digo	não:</p><p>“Não	quero	ir	a	esse	evento”;	“Não	quero	fazer	essa	viagem”;	“Não	tenho</p><p>disponibilidade	para	esse	projeto”.	Lá	vem	a	vozinha	dizendo:	“Eita,	vão	te</p><p>detestar	por	conta	disso!”.</p><p>Fico	imaginando	coisas	horríveis	que	o	outro	vai	pensar	sobre	mim.	No	fundo,	é</p><p>como	se	me	tornasse	aquela	criança	assustada	de	novo,	que	não	se	acha	boa	o</p><p>suficiente.	Mas	a	verdade	é	que	a	gente	não	precisa	provar	o	nosso	valor.	A	gente</p><p>não	precisa	pedir	desculpas	por	impor	limites	e	desenhar	contornos.	Tampouco</p><p>pelas	nossas	ambições,	necessidades,	sonhos	e	desejos.	Mesmo	que	eles	tragam	à</p><p>tona	as	inseguranças	das	pessoas	ao	nosso	redor.</p><p>A	gente	só	precisa	ser.</p><p>Ser	basta.</p><p>Ser	é	suficiente.</p><p>Por	muito	tempo,	estabeleci	uma	dinâmica	na	minha	vida	chamada	performance</p><p>based	love,	ou,	em	bom	português,	amor	pautado	em	performance.	Sempre	quis</p><p>ser	a	primeira	da	classe,	a	ganhar	prêmio	e	ser	reconhecida.	Tudo	isso	para	ser</p><p>amada	pelos	meus	pais,	pela	professora,	pelos	amigos	–	para	pertencer.</p><p>O	problema	é	que,	por	conta	disso,	pedia	desculpas	antes	mesmo	de	falar,	me</p><p>justificava	o	tempo	todo.	Se	eu	negava	uma	oportunidade	de	trabalho,	me	sentia</p><p>uma	pessoa	cruel	e	pedia	desculpas.	Se	negava	um	convite	de	um	amigo,	me</p><p>achava	a	bruxa	e	pedia	desculpas.	Cheguei	ao	ponto	de	prestar	serviços	aos	meus</p><p>ex-namorados:	fazia	site,	escrevia	resenha,	virava	empresária	da	carreira	deles	só</p><p>para	que	me	valorizassem.</p><p>Diga	não	para	os	outros	e	sim	para	você.</p><p>Mas	com	o	passar	do	tempo,	e	muita	terapia,	eu	aprendi	a	abdicar	desse	padrão,</p><p>desse	esquema	desnecessário.	Aprendi	a	separar	autossacrifício	de	amor.	E	é	isso</p><p>que	faremos	agora:	aprenderemos	a	dizer	não	para	os	outros	e	sim	para	você.</p><p>Primeiro	passo:	Esteja	atenta	aos	folgados	e</p><p>manipuladores</p><p>Tem	gente	que	vai	tirar	vantagem	da	sua	baixa	capacidade	de	dizer	não.</p><p>Identifique	e	enumere	quem	são	essas	pessoas.	Às	vezes	é	um	colega	de	trabalho</p><p>que	se	aproveita	e	te	sobrecarrega,	às	vezes	é	um	irmão	folgado	que	não	ajuda</p><p>em	casa	ou	uma	amiga	que	não	sabe	a	hora	de	ir	embora.	Comece	a	colocar</p><p>limites.	Não	adianta	reclamar	e	não	fazer	nada	sobre	isso:	comunique	e	peça.</p><p>Qual	é	a	sua	responsabilidade	na	desordem	da	qual	você	se	queixa?</p><p>Segundo	passo:	Seja	sempre	transparente</p><p>Não	invente	desculpas	para	dizer	não,	pois	serão	facilmente	desmentidas	pelo</p><p>Instagram,	amigos	em	comum	etc.	Seja	sincera.	Use	comunicação	não	violenta</p><p>se	for	necessário	(fato	+	observação	+	sentimento	+	pedido).	A	comunicação	não</p><p>violenta	consiste	em	trazer	para	si	a	responsabilidade	das	necessidades	no	lugar</p><p>de	acusar	o	outro.	Em	vez	de:	“Você	atrasou	para	vir	me	buscar	e	agora	vamos</p><p>chegar	atrasados	no	evento”,	use:	“Quando	combinamos	às	oito	e	você	chega	às</p><p>nove,	eu	me	sinto	triste.	Preciso	de	antecedência	e	de	organização	para	cumprir</p><p>meus	compromissos	profissionais.	Você	poderia	me	pegar	no	horário	combinado</p><p>da	próxima	vez?”.	É	sobre	você,	e	não	sobre	o	outro.	Saiba	nomear	seus</p><p>sentimentos.</p><p>Eu	sei,	parece	difícil…	Às	vezes	você	acha	que	está	com	raiva,	mas	era	fome.</p><p>Inconformada,	mas	era	sono.	Por	isso,	o	mindfulness	é	tão	importante	na	jornada</p><p>do	autoconhecimento:	vai	te	ajudar	a	nomear	seus	sentimentos	com	clareza.</p><p>Terceiro	passo:	Comece	com	uma	frase	positiva</p><p>Antes	de	dizer	não,	reconheça	o	pedido	da	outra	pessoa	e	faça	uma	observação</p><p>positiva.	Comece	dizendo:	“Eu	entendo	que...”,	“Fico	feliz	por	ter	lembrado	de</p><p>mim”	e,	em	seguida,	explique	por	que	não	pode	atender	ao	pedido.	Assim	fica</p><p>claro	que	você	tem	uma	boa	intenção	e	fica	mais	fácil	de	o	outro	respeitar	a	sua</p><p>decisão.</p><p>Quarto	passo:	Você	em	primeiro	lugar</p><p>Pergunte-se:	o	que	você	perde	com	isso?	Ou	ganha?	Faça	prós	e	contras	do	não.</p><p>Como	diz	o	escritor	Stephen	Covey	no	livro	Os	7	hábitos	das	pessoas	altamente</p><p>eficazes:	“Toda	vez	que	você	diz	sim	para	uma	situação	em	que	deveria	ter	dito</p><p>não,	você	disse	sim	para	o	outro	e	não	para	você	mesmo”.</p><p>Para	prosseguirmos,	vou	propor	um	exercício.	Na	página	a	seguir,	anote	o	nome</p><p>de	cinco	pessoas	ou	situações	às	quais	você	tem	que	começar	a	dizer	não.	Podem</p><p>ser	situações	de	trabalho	–	seu	chefe,	seus	colegas	–	ou	pessoais	–	parceiros,</p><p>familiares,	amigos.	Pode	ser	desde	“dizer	não	à	minha	sogra”	até	“minha	chefe”.</p><p>Ao	lado,	quero	que	você	escreva	como	se	sentiu	ao	colocar	limites.	Releia</p><p>depois.	E	faça	esse	exercício	quantas	vezes	for	preciso!</p><p>Nome	da	pessoa	ou	situação O	que	eu	disse	para	a	pessoa	ou	na	situação</p><p>1.</p><p>2.</p><p>3.</p><p>4.</p><p>5.</p><p>Lembre-se:	você	não	pode	atear	fogo	em	si	mesma	para	manter	os	outros	ao</p><p>seu	redor	aquecidos.</p><p>3.</p><p>A	arte	do	falar	bem</p><p>Agora	que	você	já	entendeu	a	importância	de	usar	a	própria	voz,	não	tema.</p><p>Estamos	só	no	início.	Fiz	questão	de	enfatizar	a	potência	de	ressignificarmos	o</p><p>poder	da	fala	nos	dois	primeiros	capítulos,	expondo	as	armadilhas	da	nossa</p><p>socialização,	para	agora	oferecer	ferramentas	que	irão	te	auxiliar	na	jornada	de</p><p>encontrar	sua</p><p>voz	–	e	se	apropriar	dela!</p><p>Existe	uma	ciência	prática	chamada	retórica	que	pode	ajudar	você	a	manusear	a</p><p>linguagem	e	se	tornar	excelente	com	as	palavras.	É	a	arte	do	falar	bem	com	a</p><p>finalidade	de	alcançar	o	convencimento	–	ou	seja,	perfeita	para	quem	quer	ter	a</p><p>ousadia	de	usar	a	própria	voz.	Por	isso,	vou	introduzi-la	nessa	prática,	com	uma</p><p>pitada	de	irreverência.</p><p>A	retórica	nasceu	no	século	V	a.C.,	no	campo	do	direito.	O	primeiro	tratado	é	de</p><p>465	a.C.,	escrito	por	Córax	e	seu	pupilo	Tísias.	Ambos	eram	dois	oradores	que</p><p>se	destacavam	na	defesa	das	vítimas,	diante	dos	horrores	cometidos	por</p><p>Trasíbulo,	uma	espécie	de	tirano.	Inaugurava-se	nesse	momento	o	fundamento</p><p>filosófico	da	retórica:	o	verossímil	é	mais	arrebatador	do	que	a	verdade.	Em</p><p>outras	palavras,	o	que	parece	ser	verdade	é	mais	verdadeiro	que	a	própria</p><p>verdade.	Maluco,	não	é?	Imagine	o	que	os	antigos	gregos	diriam	das	fake	news!</p><p>Mais	ou	menos	na	mesma	época,	Péricles,	reconhecido	publicamente	como	um</p><p>dos	principais	líderes	democráticos	de	Atenas,	possibilita	mudanças	altamente</p><p>contributivas	e	transformadoras	para	a	retórica.	O	discurso,	ou	gênero	judiciário,</p><p>consistia	no	orador	tomar	para	si	a	função	de	acusar	ou	defender	alguém.	Esse</p><p>tipo	de	argumentação	era	pautado	em	valores	que	variavam	entre	o	justo	e	o</p><p>injusto,	como	um	advogado	hoje	faz	diante	de	um	tribunal	do	júri.</p><p>A	base	de	sua	argumentação	sustentava-se	no	entimema,	um	nome	difícil	para</p><p>uma	coisa	simples.	Algo	que	seria	definido	como	argumento	no	qual	uma	das</p><p>premissas	está	implícita.	Por	exemplo:</p><p>1.	Paulo	veio	me	visitar.</p><p>2.	Paulo	está	faminto	[implícita,	porque	Paulo	não	falou	nada!].</p><p>3.	Logo,	Paulo	veio	me	visitar	porque	precisa	comer.</p><p>Soa	familiar,	não	é?	Ok,	mas	segura	aí	que	vamos	avançar	um	pouquinho	na</p><p>história.</p><p>Tempos	depois,	um	cara	chamado	Górgias	eleva	o	discurso	demonstrativo	à</p><p>mesma	categoria	do	discurso	judiciário,	este	aí	inventado	por	Córax,	Tísias	e</p><p>com	a	participação	especial	de	Péricles.	Tá,	Maytê,	mas	o	que	é	discurso</p><p>demonstrativo?	É	um	discurso	com	função	de	louvar	ou	censurar,	prestar</p><p>homenagens	ou	repudiar	as	pessoas	merecedoras	de	elogios	ou	críticas	perante	o</p><p>público.	Seus	valores	transitavam	entre	o	belo	e	o	feio,	sendo	compreendido</p><p>como	o	gênero	das	festas	públicas.	Era	algo	do	tipo:	“Fulano	de	Tal	é	um</p><p>excelente	cidadão,	que	pratica	ações	maravilhosas;	é	um	dos	nossos	melhores</p><p>guerreiros	e	salvou	o	Sicrano	em	batalha”.	Seja	lá	o	que	os	gregos	falavam	nessa</p><p>época.</p><p>Quero	mostrar,	assim,	que	a	retórica	nasce	da	necessidade	de	convencer	alguém</p><p>de	alguma	coisa,	sobretudo	na	vida	pública,	para	defender	ou	repudiar	ações</p><p>consideradas	morais	ou	imorais	tanto	em	situações	jurídicas	como	em	festas	ou</p><p>homenagens.	E,	por	isso,	ela	é	uma	excelente	ferramenta	para	você	argumentar	e</p><p>defender	ideias	em	todas	as	esferas	da	sua	vida.</p><p>A	retórica	surge	de	uma	necessidade	do	orador	em</p><p>conquistar	a	adesão	de	seu	auditório,	em	situações</p><p>públicas;	em	reuniões	políticas,	tribunais	do	júri	ou</p><p>ocasiões	festivas.</p><p>A	retórica	era	utilizada	frequentemente	pelos	sofistas,	uma	vez	que	seus</p><p>objetivos	se	dirigiam	ao	encontro	de	conquistar	vitórias	em	debates	políticos,	na</p><p>Grécia	antiga.	Obtinham	muitos	lucros,	vindos	da	fama	e	do	dinheiro,	para	que</p><p>ensinassem	os	jovens	atenienses.	Era	tipo	um	coach	da	Grécia	antiga	(existem</p><p>coaches	sérios,	mas	nesse	caso	estou	falando	dos	charlatões).	Os	sofistas	faziam</p><p>“gol	de	mão”,	tudo	pelo	aplauso,	vamos	assim	dizer.</p><p>Eles	se	preocupavam	especificamente	com	o	convencimento,	não	importava	se	o</p><p>que	era	dito	era	verdadeiro	ou	falso.	Por	isso	que	um	filósofo	chamado	Sócrates</p><p>ficou	receoso	com	eles,	assim	como	seu	pupilo	mais	importante,	Platão,	pois	não</p><p>levariam	em	conta	a	verdade	e	a	essência	das	coisas.	Climão.</p><p>Massss…	corta	a	cena	para	um	pouco	mais	pra	frente,	quando	surge	Aristóteles</p><p>em	cena.	Aristóteles	foi	aluno	e,	depois,	professor	de	retórica	na	academia	de</p><p>Platão.	Aristóteles	organizou	a	retórica	a	partir	da	filosofia.	Como	Atenas	era</p><p>um	estado	democrático,	em	que	os	cidadãos	deveriam	participar	ativamente	no</p><p>governo	da	pólis,	era	muito	importante	saber	argumentar	sobre	seus	projetos	e</p><p>ideias	–	quem	fizesse	isso	bem,	levava.</p><p>Aristóteles	organizou	o	rolê	e	determinou	o	seguinte:	sem	razão	(que	ele</p><p>chamava	de	logos)	não	há	retórica,	o	que	não	significa	deixar	de	lado	a	emoção	e</p><p>a	credibilidade.	Afinal	de	contas,	é	necessário	tentar	sensibilizar	o	outro	para</p><p>agir.	Se	você	persuadir	alguém,	essa	pessoa	faz	o	que	você	deseja.	Persuadir,</p><p>então,	refere-se	à	possibilidade	de	fazer	com	que	o	outro	aceite	as	suas</p><p>conclusões	como	verdadeiras.</p><p>Por	isso,	vai	ser	com	nosso	amigo	Aristóteles	que	vamos	aprender	um	pouco</p><p>mais	sobre	argumentação.	A	noção	aristotélica	se	ancorava	em	reflexões	sobre	o</p><p>que	é	verdade	e	o	que	parece	ser	verdade	(representação),	a	possibilidade	de</p><p>refutação	–	e,	como	sempre,	era	guiada	pelo	questionamento.</p><p>Qual	é	o	seu	objetivo	ao	argumentar?</p><p>Antes	de	tudo,	é	preciso	entender	o	que	você	busca	ao	argumentar.	Você	pode,</p><p>por	um	lado,	tentar	convencer	o	outro	de	uma	dada	representação	da	verdade.</p><p>Por	outro,	na	ausência	de	certezas	ou	evidências	lógicas,	é	possível	polemizar	e</p><p>discutir	conhecimentos	prováveis,	inclusive	crenças	e	valores	responsáveis	por</p><p>moldar	relações	sociais,	políticas	e	econômicas.</p><p>Nesse	contexto,	é	indispensável	o	domínio	do	orador	diante	do	discurso,	para</p><p>cativar	a	adesão	do	seu	auditório	em	favor	das	suas	causas.	A	partir	dessa	linha</p><p>de	raciocínio,	compreendemos	a	primeira	missão	da	retórica:	persuadir	ou</p><p>convencer.	Para	ter	êxito,	o	orador	faz	uso	de	ferramentas	para	que	o	outro</p><p>concorde	com	ele.</p><p>Mas	olhe	lá:	persuadir	e	convencer	não	são	a	mesma	coisa.	O	convencimento	é</p><p>feito	a	partir	de	provas	lógicas,	no	âmbito	da	racionalidade,	a	partir	de	usos</p><p>discursivos	promovidos	de	apelo	à	razão	do	outro	para	convencê-lo	de	uma</p><p>verdade.	Por	exemplo,	quando	alguém	diz	algo	como:	“Se	dois	mais	dois	é	igual</p><p>a	quatro,	e	depois	eu	subtraio	um,	óbvio	que	o	resultado	é	três!”.</p><p>Já	o	persuadir	refere-se	às	ações	voltadas	ao	ato	de	levar	o	outro	a	aceitar	um</p><p>ponto	de	vista,	por	meio	do	uso	habilidoso	das	palavras,	sem	que	haja</p><p>imposições.	Move-se	o	interlocutor	a	partir	da	razão,	mas	também	da	paixão	e	da</p><p>credibilidade	por	meio	de	uma	fala	impactante.	E	é	sobre	isso	que	nós	vamos</p><p>falar	neste	livro	(e	tá	tudo	bem).</p><p>Por	isso,	a	primeira	coisa	que	você	tem	que	se	perguntar	é:	qual	é	o	intuito	da</p><p>sua	argumentação?	O	que	você	quer	por	meio	dela?</p><p>A	tríade	da	retórica</p><p>Ok,	vamos	supor	que	você	foi	convencida	por	mim	e	pelo	Aristóteles	à	prática</p><p>da	persuasão.	Agora,	você	precisa	saber	o	que	é	necessário	para	argumentar	em</p><p>primeiro	lugar.	No	campo	retórico,	é	indispensável	a	presença	de:</p><p>1.	Um	orador	–	representado	pelo	ethos	.	Quem	leu	o	meu	primeiro	livro,</p><p>sabe	bem	do	que	estou	falando.	Segundo	Aristóteles,	o	orador	possui</p><p>credibilidade	constituída	em	seu	caráter,	em	sua	virtude,	em	sua	honra.</p><p>2.	Um	auditório	–	representado	pelo	pathos.	Deve	ser	convencido	por	meio</p><p>de	acordos	centrados	em	suas	crenças	ou	paixões.</p><p>3.	Um	discurso	–	representado	pelo	logos	.	E	há	diferentes	tipos	de	discurso.</p><p>Podemos	dizer,	com	isso,	que	a	argumentação	vincula	a	retórica,	“a	arte	de</p><p>falar	bem”,	à	lógica,	“a	arte	de	pensar	corretamente”.</p><p>Conhecer	a	origem	da	retórica	e	a	sua	dimensão	política	nos	ajuda	a	entender	o</p><p>poder	dessa	disciplina	não	somente	na	Antiguidade,	mas	principalmente	nos	dias</p><p>atuais.	De	grandes	líderes	como	Alexandre,	o	Grande,	mentorado	por</p><p>Aristóteles,	que	mobilizou	as	massas	nas	praças	públicas,	aos	grandes	oradores</p><p>da	atualidade	que	mobilizam	milhares	de	pessoas	nas	redes	sociais,	quem</p><p>domina	o	poder	da	fala	e	exerce	a	capacidade	retórica	é	capaz	de	definir	o</p><p>destino	da	sua	vida	e	da	comunidade	em	que	está	inserido.	Só	fala	bem	quem</p><p>pensa	bem	(como	já	dizia	Aristóteles).	É	preciso	ser	estratégica	e	intencional	na</p><p>hora	de	usar	a	sua	voz.	É	preciso	conhecer	seu	auditório	para	construir	um</p><p>discurso	eficiente	e	valorizar	seu	ethos	como	oradora.	Sem	uma	oradora	digna	de</p><p>fé,	não	há	nada.</p><p>4.</p><p>Como</p><p>construir	uma	fala	impactante</p><p>Para	ser	percebida	como	uma	oradora	digna	de	fé,	você	precisa	construir	uma</p><p>fala	que	gere	impacto.	Antes	de	entender	como	construir	uma	fala	impactante,	é</p><p>importante	aprender	a	diferença	entre	retórica	e	oratória.	Muita	gente	acha	que	é</p><p>a	mesma	coisa,	mas	não	é.</p><p>A	retórica	é	a	arte	do	falar	bem	quando	nos	referimos	à	composição	do	texto	em</p><p>si,	tanto	é	que,	na	Grécia	antiga,	a	pessoa	que	escrevia	o	discurso	não	era	a	que	o</p><p>apresentava;	quem	fazia	isso	era	o	orador.	Veja,	então,	que	você	pode	ter	um</p><p>bom	encadeamento	de	ideias,	ou	seja,	uma	boa	retórica,	mas	pode	não	saber</p><p>como	realizar	o	delivery	da	mensagem,	com	tom	de	voz,	postura	e	gestos</p><p>adequados,	que	seriam	quesitos	de	oratória.</p><p>Aristóteles,	como	a	gente	viu	no	capítulo	anterior,	fala	que	um	bom	orador</p><p>precisa	cativar	a	atenção	da	audiência,	e	não	só	se	apresentar.	E	Joshua	Gunn,</p><p>um	comunicólogo	da	atualidade,	endossa	o	que	o	filósofo	grego	disse	milênios</p><p>atrás.	Gunn	é	chefe	do	Departamento	de	Comunicação	na	Universidade	de</p><p>Austin,	no	Texas,	e	cita	que	existem	seis	formas	de	você	introduzir	qualquer</p><p>discurso	persuasivo,	que	são	os	attention	getters,	que	aqui	chamaremos	de	iscas</p><p>de	atenção.</p><p>Já	falei	no	meu	primeiro	livro,	mas	vale	a	pena	repetir:	ninguém	está	tão</p><p>interessado	na	sua	ideia	quanto	você.	Você	passou	anos	da	sua	vida	pesquisando</p><p>sobre	literatura	inglesa,	vamos	supor,	sobre	Shakespeare.	Você	vai	apresentar	um</p><p>seminário	para	leigos	e…	puxa!	Shakespeare	e	literatura	inglesa	são	a	sua	vida.</p><p>Você	vai	lá	achando	que	todo	mundo	sabe	tudo	sobre	Shakespeare.	Achando	que</p><p>todo	mundo	está	tão	interessado	no	autor	quanto	você…	só	que	não.	Eu	sei,	dói.</p><p>Mas	é	a	verdade.</p><p>Então,	para	que	as	pessoas	passem	a	ficar	tão	entusiasmadas	quanto	você,	é</p><p>preciso	das	iscas	de	atenção.	Sabe	aquela	hora	antes	de	começar	a	aula,	iniciar</p><p>uma	apresentação,	um	pitch	ou	uma	reunião	em	que	todo	mundo	está	no	celular</p><p>ou	pensando	nos	boletos?</p><p>As	iscas	de	atenção	servem	para	tirar	a	pessoa	da	apatia	e	fazê-la	se	interessar</p><p>pelo	que	você	está	falando.	Se	você	só	começa	falando:	“Oi,	meu	nome	é	Maytê</p><p>Carvalho”,	provavelmente	a	pessoa	está	lá	pensando:	“Será	que	tirei	a	roupa	do</p><p>varal?	Parece	que	vai	chover...”.	Com	a	isca	certa,	você	quebra	a	objeção	da</p><p>audiência	e	faz	com	que	ela	preste	atenção	em	você.</p><p>De	acordo	com	Gunn,	estas	são	as	seis	formas	de	introduzir	um	assunto	e	cativar</p><p>a	audiência:</p><p>1.	Citação:	A	primeira	é	a	citação	ou	frase	de	efeito.	Então	vamos	supor	que</p><p>eu	tô	falando	sobre	Shakespeare,	tá?	Eu	começaria	o	meu	discurso,	post,	ou</p><p>seja	lá	o	que	for,	dizendo:	“‘Ser	ou	não	ser,	eis	a	questão’.	Nenhuma	outra</p><p>fala	resume	melhor	Hamlet	,	uma	das	peças	mais	famosas	de	William</p><p>Shakespeare”,	e	por	aí	vai.</p><p>2.	Dados	numéricos:	Outra	possibilidade	é	cativar	a	sua	audiência	com</p><p>números	surpreendentes.	Eu	poderia	começar	dizendo:	“Há	três	mil</p><p>palavras	da	língua	inglesa	usadas	até	hoje	que	são	atribuídas	a	William</p><p>Shakespeare”.	Uau!	Esse	número	impressionante	mostra	a	dimensão	do</p><p>legado	de	Shakespeare.	Começar	com	números	grandes	é	meter	o	pé	na</p><p>porta.</p><p>3.	Piada:	Há	sempre	a	possibilidade	de	começar	de	maneira	leve,</p><p>descontraindo	a	audiência.	Por	exemplo,	você	poderia	dizer:	“Esses	dias	fui</p><p>num	encontro	do	Tinder	e	perguntei	ao	boy:	‘Já	leu	Shakespeare?’.	Ele	me</p><p>respondeu:	‘Não,	quem	escreveu?’”.	E	a	partir	daí	falo	mais	sobre	o	poeta	e</p><p>dramaturgo	inglês.	Só	cuidado,	viu?	A	piada	tem	que	ter	graça!</p><p>4.	Visualização:	A	visualização	nem	sempre	funciona	em	todos	os	ambientes,</p><p>então	deve	ser	usada	com	cautela.	Eu	inspiro	minha	audiência	a	visualizar	o</p><p>que	eu	estou	propondo.	“Aqui,	neste	mesmo	auditório,	neste	mesmo	palco,	a</p><p>peça	Romeu	e	Julieta	foi	interpretada	mais	de	quarenta	vezes.”</p><p>5.	Pergunta:	A	quinta	forma	começa	com	uma	indagação	retórica	(sem</p><p>trocadilhos,	é	daí	que	vem	a	expressão)	à	audiência:	“Ser	ou	não	ser?”,</p><p>seguida	de	uma	pausa	dramática,	“Eis	a	questão”.	E,	a	partir	daí,	você	pode</p><p>começar	a	falar	sobre	William	Shakespeare.	Só	tome	cuidado,	porque	a</p><p>pergunta	não	pode	ser	capciosa	ou	extremamente	constrangedora.	Por</p><p>exemplo,	suponha	que	você	comece	perguntando:	“Que	tipo	de	pessoa</p><p>nunca	leu	Shakespeare?”.	E	ninguém	da	plateia	leu	uma	linha	de</p><p>Shakespeare	na	vida.	Climão.	Logo,	use	essa	isca	com	muito	cuidado	para</p><p>conseguir	fisgar	a	plateia!	E,	via	de	regra,	evite	perguntas	óbvias	do	tipo:</p><p>“Quem	quer	ser	rico	e	ter	saúde?”.	“Ah,	todo	mundo?!	Nossa!”.	É</p><p>constrangedor,	porque	não	gera	a	tensão	necessária	para	que	essa</p><p>ferramenta	funcione.</p><p>6.	Reconhecimento	da	situação:	É	quando	você	começa	falando	do	contexto</p><p>em	que	está	inserido,	mesmo	que	seja	meio	óbvio.	“Estamos	aqui	reunidos,</p><p>no	aniversário	de	morte	de	Shakespeare,	para	falar	sobre	sua	produção</p><p>literária.”	E	você	ainda	pode	trazer	um	evento	para	dentro	da	situação,	tipo</p><p>assim:	“Neste	exato	dia,	há	quatrocentos	anos,	Shakespeare	morreu”.</p><p>Gente,	essas	seis	formas	são	infalíveis.	Aposto	que	vocês	vão	começar	a	assistir</p><p>discurso	político	e	falar:	“Ah	lá,	tá	citando	Mandela,	começou	com	citação”.</p><p>Veja	qualquer	TED	Talk	e	provavelmente	vão	começar	com	dados	numéricos.</p><p>Mas	atenção:	a	isca	ideal	vai	depender	de	quem	é	a	sua	audiência.	Para	que	você</p><p>possa	escolher	a	melhor	delas,	ou	até	mesmo	o	que	dizer	dentro	de	um	desses</p><p>formatos,	é	muito	importante	ter	clareza	com	quem	está	falando	e	em	que</p><p>contexto.</p><p>Tem	um	vídeo	da	Oprah	Winfrey	que	é	um	excelente	exemplo	de	piada.	Ela	está</p><p>recebendo	o	prêmio	Power	of	Women	(Poder	das	Mulheres,	em	português)	da</p><p>revista	Variety,	uma	das	mais	importantes	da	indústria	do	entretenimento,	num</p><p>almoço	em	que	muitos	convidados	eram	jornalistas.	Ela	sobe	no	palco	e	diz:</p><p>Ok,	tudo	bem!</p><p>Obrigada!</p><p>Oh,	hey,	delicioso,	obrigada.</p><p>Obrigada,	Yves,	isso	foi	tão	bom.</p><p>Sabe,	todos	esses	anos,	25	anos	fazendo	o	The	Oprah	Show	e	indo	para	o</p><p>trabalho	às	5h30	da	manhã,	estando	na	cadeira	de	maquiagem	às	6h30,	para</p><p>depois	literalmente	rastejar	para	casa	à	noite	–	por	vinte	e	cinco	anos	–,	eu</p><p>costumava	me	perguntar	o	que	as	senhoras	que	almoçavam	estavam	fazendo.</p><p>Sério,	eu	estava	muito	atraída	por	pinturas	de	mulheres	almoçando...	então	é</p><p>assim	que	é?</p><p>Mas	este	é	ainda	melhor,	porque	é	um	almoço	empoderador.</p><p>Você	sacou	o	que	ela	fez?	A	premissa	da	piada	dela	é	que	jornalista	não	almoça,</p><p>porque	eles	estão	sempre	na	redação,	atrás	do	próximo	furo.	E	ela,	Oprah,</p><p>entende	bem	como	é	isso,	porque	também	é	jornalista.	Imediatamente	a	plateia</p><p>riu.	Ela	quebrou	o	gelo.	Olha	a	importância	de	conhecer	a	sua	audiência!	Se	ela</p><p>estivesse	fazendo	um	discurso	em	um	jóquei-clube	para	a	associação	filantrópica</p><p>de	bilionários,	pode	ser	que	a	piada	não	fosse	pegar	bem,	porque	provavelmente</p><p>as	pessoas	que	estivessem	lá	poderiam	almoçar	com	tranquilidade	todos	os	dias.</p><p>Mas	aqui	ela	estabelece	um	rapport,	uma	conexão	com	a	audiência	dela:	“Eu	sou</p><p>como	vocês,	também	não	almoço,	viu?	Que	bom	que	a	gente	está	aqui	hoje</p><p>almoçando	nesse	evento	chique.	Pode	gostar	de	mim,	porque	eu	sou	como</p><p>vocês”.	Ela	deixou	de	ser	a	Oprah	da	televisão	e	se	tornou	mais	uma	jornalista.	E</p><p>essa	é	a	magia	que	ela,	a	Michelle	Obama	e	outras	grandes	mulheres	poderosas</p><p>costumam	ter:	fazem	você	se	esquecer	de	que	são	as	mais	bilionárias	e	incríveis</p><p>do	mundo	ao	se	colocarem	em	nosso	lugar.</p><p>Aponte	a	câmera	do	seu	celular	ou	utilize	a	URL	https://www.youtube.com/watch?v=6Rfn94k717U	para	acessar.</p><p>Outro	exemplo	foi	um	TED	Talk	do	chef	Jamie	Oliver,	que,	logo	após	se</p><p>apresentar,	começou	a	palestra	com	dados	numéricos:</p><p>Infelizmente,	nos	próximos	dezoito	minutos,	durante	nosso	bate-papo,	os</p><p>americanos	serão	mortos	pela	comida	que	comeram.	Meu	nome	é	Jamie	Oliver.</p><p>Eu	tenho	34	anos.	Sou	de	Essex,	na	Inglaterra,	e	nos	últimos	sete	anos	tenho</p><p>trabalhado	de	maneira	justa	e	incansável	para	salvar	vidas	do	meu	próprio	jeito.</p><p>Não	sou	médico,	sou	chef,	não	tenho	equipamentos	nem	remédios	caros.	Eu	uso</p><p>informação,	educação.</p><p>Uau!	Ele	capturou	minha	atenção	e,	com	certeza,	a	sua	também.	Quem	não	para</p><p>e	presta	atenção	nisso?	Ele	conectou	a	audiência	ao	tempo	e	espaço	em	que</p><p>estava.	Garanto	a	você	que,	na	hora,	quem</p><p>estava	pensando	no	boleto,	quem</p><p>estava	pensando	na	roupa	no	varal,	entrou	em	sincronia	com	ele.	Jamie	capturou</p><p>a	atenção	dos	ouvintes	ao	trazer	algo	que	acontecia	lá	para	o	tempo-espaço	da</p><p>plateia,	ou	seja,	para	o	aqui	e	agora.	E	por	que	funciona?	Porque	ele	está	num</p><p>auditório	confortável,	com	pessoas	que	provavelmente	têm	acesso	à	boa</p><p>alimentação,	apontando	que,	em	outro	lugar,	neste	mesmo	instante,	outros	estão</p><p>sofrendo.</p><p>Tudo	depende	da	maneira	como	você	apresenta.	Jamie	Oliver	poderia	ter</p><p>começado	a	falar	normalmente	e,	no	meio	da	apresentação,	metralhado	uma</p><p>série	de	números.	Ele	ia	perder	toda	a	atenção,	porque	a	atenção	se	sustenta	sob</p><p>tensão.	E	a	tensão	tem	que	ser	estabelecida	no	início	do	discurso.	Senão,	não	leio</p><p>o	livro,	não	termino	a	palestra,	não	vejo	os	stories.	As	informações	transformam-</p><p>se	em	apenas	mais	um	ruído	no	meio	de	uma	imensidão	de	dados.</p><p>Aponte	a	câmera	do	seu	celular	ou	utilize	a	URL	https://www.youtube.com/watch?v=go_QOzc79Uc	para	acessar.</p><p>Se	você	não	tiver	a	atenção	da	audiência,	você	não	tem</p><p>nada.</p><p>Isso	é	especialmente	notável	em	textos	acadêmicos.	Em	geral,	eles	trazem	uma</p><p>surra	de	números	e	são	caracterizados	por	serem	textos	mais	duros,	cheios	de</p><p>referências	bibliográficas,	com	citações,	notas	de	rodapé	e	vários	nomes	de</p><p>pesquisadores.	Muitas	vezes,	é	um	saco	ler	–	e	ouvir	é	pior	ainda!	Já	foi	a	um</p><p>colóquio?	Na	maioria,	eu	fico	com	sono.</p><p>Quer	ver	outro	exemplo	incrível?	Steve	Jobs.	Tem	um	vídeo	em	que	ele	está	em</p><p>uma	conferência	anual	de	investidores	da	Apple.	Ele	começa	assim:</p><p>Bom	dia	e	bem-vindos	à	reunião	anual	de	acionistas	da	Apple	de	1984.	Gostaria</p><p>de	começar	a	reunião	com	um	velho	poema,	um	poema	de	quase	vinte	anos,	de</p><p>Dylan	–	isto	é,	Bob	Dylan:</p><p>Come	writers	and	critics</p><p>Who	prophesize	with	your	pens</p><p>And	keep	your	eyes	wide</p><p>The	chance	won’t	come	again</p><p>And	don’t	speak	to	soon</p><p>For	the	wheel’s	still	in	spin</p><p>And	there’s	no	tellin’	who</p><p>That	it’s	namin’</p><p>For	the	loser	now</p><p>Will	be	later	to	win</p><p>For	the	times	they	are	a-changin’⁴</p><p>Agora...</p><p>Era	uma	reunião	para	apresentar	resultados	financeiros!	Ele	podia	chegar	lá</p><p>falando:	“Oi,	bom	dia!	A	gente	cresceu	50%	no	último	trimestre,	bateu	30%	das</p><p>metas”.	Começar	com	número	atrás	de	número.	Mas	o	que	ele	preferiu	fazer?</p><p>Citar	Bob	Dylan.	Hoje,	isso	parece	nada,	porque	Dylan	venceu	o	Prêmio	Nobel</p><p>de	literatura.	Mas,	na	época,	seria	como	começar	uma	reunião	de	trabalho</p><p>citando	Raul	Seixas	ou	Chorão.</p><p>Por	que	ele	fez	essa	escolha?	A	mensagem	da	música	é:	os	tempos	estão</p><p>mudando.	E	aqueles	que	estão	ousando	profetizar	sobre	o	futuro	precisam	saber</p><p>que	as	coisas	não	serão	mais	como	antes.	Isso	não	foi	aleatório,	e	sim</p><p>completamente	intencional.	Bob	Dylan	representava	contracultura,	subversão.</p><p>Ele	foi	um	ativista	dos	direitos	humanos	nos	anos	1970,	no	movimento	hippie.</p><p>Quando	a	Apple,	por	meio	de	Jobs,	fundador	e	representante	do	ethos	da</p><p>empresa,	diz	“Eu	vou	citar	Bob	Dylan”,	o	que	ele	está	dizendo	é:	“Eu	sou	a</p><p>contracultura,	eu	sou	o	anti-establishment,	eu	sou	contra	o	status	quo	e	contra	o</p><p>sistema,	eu	sou	o	que	pensa	diferente”.	Ele	pega	carona	no	ethos	de	Bob	Dylan	e</p><p>o	associa	à	empresa,	com	o	que	quer	trazer	para	seus	acionistas.	Não	à	toa,</p><p>“Think	different”	(pense	diferente)	é	o	slogan	da	marca.</p><p>Aponte	a	câmera	do	seu	celular	ou	utilize	a	URL	https://www.youtube.com/watch?v=NSkoGZ8J1Ag	para	acessar.</p><p>Quando	a	Kamala	Harris	faz	o	discurso	da	posse	dela,	ela	cita	o	congressista</p><p>John	Lewis,	que	dizia	que	a	democracia	não	está	garantida.	Lewis	fez	história</p><p>como	um	dos	principais	ativistas	negros	e	estadistas	na	luta	dos	direitos</p><p>humanos,	e	havia	morrido	no	ano	anterior.	Então,	o	que	Kamala	faz	ao	começar</p><p>assim?	Ela	coloca	sua	relação	com	esse	legado;	assume	seu	papel	de	estadista</p><p>negra	ao	citar	um	estadista	negro,	que	abriu	caminho	para	que	ela	pudesse	estar</p><p>ali,	naquele	momento.	E	isso	diante	dos	milhões	de	norte-americanos	que	se</p><p>sentem	representados	por	ela.</p><p>Por	isso,	ao	escolher	a	sua	isca	de	atenção,	você	também	tem	que	se	atentar	ao</p><p>ethos	que	quer	personificar.	Ao	escolher	uma	citação,	por	exemplo,	você	está</p><p>associando	o	seu	discurso,	e	o	seu	ethos,	ao	da	personalidade	citada.	Ou	quando</p><p>você	retuíta	a	fala	de	alguém,	ou	faz	aquele	post	no	LinkedIn	ou	Instagram	com</p><p>a	frase	de	alguma	pessoa.	Tome	cuidado	com	os	famosos!	Quantas	vezes	não	vi</p><p>alguém	postar	algo	e	depois	ler	nos	comentários:	“Mas	esse	cara	é	nazista!”.	Ou</p><p>citações	incoerentes,	como	feministas	que	ficam	citando	Bukowski,	um	autor</p><p>notório	por	ser	misógino.	Penso	comigo:	Sério	mesmo	que	você	está	citando</p><p>Bukowski?	Tem	ninguém	melhor,	não?</p><p>Aponte	a	câmera	do	seu	celular	ou	utilize	a	URL	https://www.youtube.com/watch?v=2VdwMNexBHc	para	acessar.</p><p>A	mesma	coisa	pode	acontecer	com	números	ou	situações.	Vimos,	antes,	como	a</p><p>Oprah	conseguiu	associar	seu	ethos	aos	dos	jornalistas	com	quem	estava.	E</p><p>como,	ao	mencionar	a	morte	por	doenças	geradas	por	má	alimentação,	Oliver	se</p><p>colocou	como	alguém	que	se	preocupa	com	a	saúde.	Escolha	suas	iscas	com</p><p>cuidado	e	pertinência	editorial	de	acordo	com	seu	público,	seu	posicionamento	e</p><p>sua	visão	de	mundo	–	todo	o	resto	vai	depender	de	como	você	começa.</p><p>5.</p><p>Os	sete	passos	para	estruturar	a	sua	fala</p><p>Você	deve	estar	se	perguntando:	“Ok,	Maytê,	entendi	como	começar,	mas	e	o</p><p>resto	?”.	Não	tema,	pois	agora	vou	ensinar	os	sete	passos	para	você	estruturar	a</p><p>sua	fala.	É	bem	verdade	que	quem	criou	esse	método	foi	o	teórico	da</p><p>comunicação	Monroe:	o	método	é	conhecido	como	Monroe	Motivated</p><p>Sequence,	e	quem	me	apresentou	esses	templates	inspirados	no	trabalho	dele	foi</p><p>a	professora	Maria	Clara	Martucci,	um	mulherão	que	também	ensina	outras</p><p>pessoas	a	falar	bem	na	Universidade	Wayne.	Estamos	aqui	abordando	o</p><p>exercício	da	inventio	(se	fala	“invêncio”),	que	é	o	exercício	de	conceber,</p><p>descobrir	e	criar	a	nossa	fala.	Vamos	lá!</p><p>Primeiro,	preciso	que	você	responda	ao	questionário	a	seguir	para	ter	clareza	de</p><p>suas	intenções,	e	sobre	o	que	quer	compartilhar	e	como.	Mas	atenção,	é	preciso</p><p>responder	em	uma	linha	só!</p><p>1.	Qual	é	o	seu	propósito	geral?</p><p>(	)	Informar (	)	Convencer (	)	Celebrar	uma	ocasião	especial</p><p>2.	Qual	é	o	seu	propósito	específico?	Sua	agenda.</p><p>3.	Qual	é	a	sua	tese	central?	A	ideia	que	pode	ser	traduzida	em	uma	frase.</p><p>4.	Quais	são	os	principais	subtópicos	da	sua	tese	central?	Exemplos:	linha</p><p>cronológica,	relação	causa-efeito.</p><p>5.	Quais	tipos	de	provas	você	vai	usar	na	sua	fala?	Depoimentos,	estatísticas,</p><p>definições	do	dicionário,	exemplos,	metáforas?</p><p>6.	Quais	tipos	de	fontes	você	está	citando	na	sua	prova?	Coloque-as	para	a	sua</p><p>audiência:	revistas,	blogs,	pesquisas,	livros.</p><p>7.	Quais	são	outras	três	fontes	de	credibilidade	que	você	pode	usar	no	seu</p><p>discurso	que	corroboram	o	seu	ponto	de	vista/a	sua	tese?	Se	apoie	no	ethos</p><p>dessas	fontes	macro.</p><p>Template	Monroe</p><p>Uma	vez	que	você	conseguiu	mapear	as	respostas	para	o	questionário	anterior,</p><p>está	na	hora	de	começar	a	elencar	o	que	está	a	seu	favor,	ou	seja,	as	ferramentas</p><p>que	utilizará	para	compor	sua	argumentação.	Na	hora	de	pensá-las,	contudo,	não</p><p>deixe	de	relembrar	o	que	foi	respondido	no	questionário	anterior.</p><p>Para	isso,	dê	uma	olhada	na	imagem	abaixo.	Nela,	você	terá	um	resumo	de	cada</p><p>uma	das	etapas	de	uma	argumentação.	Em	seguida,	você	aprenderá	cada	uma</p><p>delas	por	meio	de	um	exercício.</p><p>Passo	1.	Isca	de	atenção:	O	seu	gancho	para	capturar	a	atenção	da	sua	audiência.</p><p>Passo	2.	Necessidade:	Explicite	o	problema	e	como	esse	problema	afeta	a	vida</p><p>da	sua	audiência	diretamente.</p><p>Passo	3.	Solução:	O	que	você	pode	fazer	para	mudar	esse	contexto?	Aqui	você</p><p>usa	o	checklist	ethos,	pathos,	logos:	credibilidade,	emoção	e	razão.	É	hora	de</p><p>caprichar	nas	provas	e	nas	fontes.</p><p>Passo	4.	Visualização:	Conte	para	todos	e	os	faça	imaginar	como	seria	diferente</p><p>o	contexto	com	a	solução	apresentada.	Grandes	líderes	e	estadistas	inspiradores</p><p>são	experts	em	técnicas	de	visualização.</p><p>Passo	5.	Convite	à	ação:	O	que	você	quer	da	audiência?	Mandar	um	“bom</p><p>pessoal,	é	isso”	é	péssimo.	Você	convida	a	se	inscrever	em	um	link?	Assinar	uma</p><p>petição?	Investir?	Doar	dinheiro?	Tempo?</p><p>Mentoria?	Do	que	você	precisa?</p><p>Com	esse	framework	e	checklist	você	está	pronta	para	começar	a	rascunhar	sua</p><p>fala	pública.	Eu,	muitas	vezes,	uso	até	para	escrever	textão	do	WhatsApp.	Me</p><p>ajuda	a	obter	clareza	no	que	eu	quero	comunicar,	com	quem	e	como.	Contra-</p><p>argumentar	alguma	posição	principalmente.	Mas	nem	sempre	eu	estou	a	fim</p><p>também	de	me	engajar.	Precisamos	escolher	nossas	batalhas.	E	também	é	preciso</p><p>assumir	que	não	temos	uma	opinião	formada	sobre	tudo.</p><p>6.</p><p>Você	não	precisa	ter	uma	opinião	sobre	tudo</p><p>Nem	sempre	a	gente	tem	uma	opinião	formada	sobre	um	assunto,	porque	nem</p><p>sempre	sabemos	sobre	o	que	está	sendo	discutido.	Eu	sei	muitas	coisas,	mas</p><p>principalmente	sei	que	não	sei	tantas	outras.</p><p>Eu.	Não.	Sei.	Como	é	difícil	dizer	em	voz	alta:	“Eu.	Não.	Sei”.</p><p>Essa	dificuldade	é	resultado	da	vulnerabilidade	–	uma	palavra	da	moda,	hype</p><p>nos	documentários	da	Netflix,	em	palestras	corporativas,	em	livros	best-seller.	É</p><p>tão	lindo	ler	que	é	“preciso	transformar	vulnerabilidade	em	potência”.	Tão	lindo</p><p>quanto	difícil	de	pôr	em	prática.</p><p>Vem	cá:	você	consegue	tolerar	a	zona	do	desconhecido?	Ou	você	precisa	saber</p><p>tudo	o	tempo	todo?	Ter	todas	as	respostas?	Colecionar	opiniões	sobre	todos	os</p><p>assuntos?	Mandar	a	resposta	certa	na	reunião	de	trabalho?	A	opinião	definitiva</p><p>sobre	um	problema	na	escola	do	seu	filho?	Um	ponto	de	vista	absoluto	sobre</p><p>uma	tomada	de	decisão	polêmica	no	seu	casamento?</p><p>Nós,	mulheres,	somos	socializadas	de	tal	maneira	que	muitos	padrões	e</p><p>dinâmicas	dependem	da	gente	para	acontecer.	É	uma	sobrecarga	mental,	é</p><p>pesado.	Por	conta	disso,	é	comum	começarmos	a	acreditar	que	temos	que	ter</p><p>todas	as	respostas.	E,	com	alguma	frequência,	argumentamos	sem	refletir.</p><p>Especialmente	nos	relacionamentos.</p><p>Vou	dar	um	exemplo.	Você	é	mãe	e	a	tomadora	oficial	de	decisão	da	sua	casa.</p><p>Ninguém	nunca	fez	uma	cerimônia	e	te	condecorou,	mas	você,	seus	filhos	e	o</p><p>seu	marido	sabem:	é	você	quem	manda.	Se	os	filhos	vão	fazer	o	Kumon	ou	não.</p><p>Se	a	criança	vai	poder	viajar	com	o	melhor	amigo	para	a	chácara.	Se	vocês	vão</p><p>ou	não	comprar	um	sofá	novo	para	a	sala.	Algumas	vezes	você	até	envolve	seu</p><p>marido	ou	os	filhos	na	dinâmica	da	escolha,	mas,	no	fundo,	é	você	quem	vai</p><p>decidir.	E	isso	não	acontece	porque	você	é	controladora	ou	neurótica,	mas	por</p><p>um	único	motivo:	é	você	quem	vai	lidar	com	os	desdobramentos	reais	e</p><p>operacionais	dessas	escolhas.	É	você	quem,	muitas	vezes,	vai	ter	que	sair	mais</p><p>cedo	do	trabalho	para	levar	e	buscar	no	Kumon.	É	você	quem	vai	ter	que	parar	o</p><p>seu	dia	e	ligar	para	a	mãe	do	melhor	amigo.	É	você	quem	vai	até	a	loja	escolher</p><p>o	sofá.	E,	se	você	não	fizer	nada,	o	que	acontece?	Exato:	nada.	Ninguém	toma	a</p><p>dianteira,	ninguém	resolve,	ninguém	consegue	decidir	o	melhor	caminho.</p><p>Um	dia,	no	entanto,	em	uma	discussão	trivial…	você	não	sabe	o	que	responder.</p><p>Ou	cansou	de	ter	todas	as	respostas	na	ponta	da	língua.	Sabe	quando	a	gente</p><p>pensa:	Eu	até	sei,	mas	não	sei	se	quero	saber?	Há	momentos	de	uma</p><p>argumentação	em	que	parecemos	estar	no	piloto	automático,	sem	estar,	de	fato,</p><p>elaborando	uma	opinião	própria.	Quando	isso	acontece,	em	geral,	nos	sentimos</p><p>compelidas	a	nos	posicionar,	porque	nos	fizeram	acreditar	que	devemos	ter	as</p><p>respostas	para	todos	os	problemas	do	mundo.</p><p>Eu	já	me	engajei	em	cada	discussão	besta	que	depois	de	um	tempo	pensava:</p><p>Gente,	eu	nem	sei	se	essa	era	mesmo	a	minha	opinião.	Eu	tinha	um	fetiche	com</p><p>alguns	argumentos:	eles	eram	seguros,	confortáveis,	validavam	meu	conjunto	de</p><p>crenças	e	valores.	A	gente	tende	a	pensar:	na	minha	família	foi	assim,	meu	pai</p><p>fez	dessa	forma,	minha	mãe	fazia	desse	jeito...	e	acabamos	reproduzindo	esses</p><p>padrões	familiares.	A	gente	reproduz	as	dinâmicas	que	conhece.</p><p>Em	uma	discussão,	você	pode	dizer:	“Eu	não	sei	como	resolver	isso,	mas	juntos</p><p>vamos	encontrar	a	melhor	resposta”.	Ou:	“Eu	estou	fazendo	o	melhor	que	posso</p><p>com	as	informações	que	tenho”.	E	até	mesmo:	“Lamento	muito,	não	faço	ideia.</p><p>Não	tenho	como	te	ajudar”.	Ai,	essa	doeu,	eu	sei.	Como	ter	coragem	de</p><p>responder	isso?	Nem	sempre	precisamos	tomar	para	nós	a	responsabilidade	de</p><p>encontrar	uma	resposta.	Às	vezes	as	pessoas	têm	que	se	virar	sem	a	nossa	ajuda,</p><p>especialmente	quando	já	oferecemos	inúmeras	respostas	negligenciadas.</p><p>Isso	é	transformar	vulnerabilidade	em	potência.	“Eu	não	sei”	é	libertador,	e</p><p>digo	mais:	ouse	não	argumentar	em	algumas	situações	específicas	e	veja	a</p><p>mágica	acontecer.</p><p>Trago	novidades:	você	nem	sempre	precisa	ter	a</p><p>resposta	sobre	tudo.</p><p>Quem	cala	consente?</p><p>Como	já	vimos,	o	silêncio	é	um	elemento	importante	na	argumentação.	E,	ao</p><p>delimitarmos	o	que	não	sabemos	–	os	nossos	“não	sei”	–,	temos	também	que</p><p>lidar,	mais	uma	vez,	com	o	silêncio	–	que	você	já	aprendeu	que	é	mais</p><p>multifacetado	do	que	aparenta	ser.</p><p>Por	isso,	gostaria	de	discordar	publicamente	do	ditado	“quem	cala	consente”	e</p><p>convidar	você	a	refletir	comigo.	No	Capítulo	1,	expliquei	que	há	uma	diferença</p><p>entre	se	silenciar	e	ser	silenciada.	A	partir	disso,	podemos	pensar	que	existe	o</p><p>silêncio	como	escolha	(que	pressupõe	um	sujeito	ativo),	o	silenciamento	(sujeito</p><p>passivo,	que	é	calado)	e	o	tratamento	de	silêncio.	E	é	muito	importante	que	a</p><p>gente	não	coloque	tudo	no	mesmo	cesto.</p><p>Imagine	o	seguinte:	Maria	namorava	João.	Ela	vivia	sempre	na	iminência	e	em</p><p>alerta	com	ele,	sem	saber	o	que	dizer	ao	certo,	porque	ele	se	irritava	com</p><p>facilidade	ou	simplesmente	a	ignorava.	Às	vezes,	ele	se	recusava	a	falar	com	ela</p><p>por	horas	a	fio,	às	vezes	passava	dias	sem	responder	mensagens	(o	famoso</p><p>ghosting).	O	que	será	que	eu	fiz	de	errado?,	Maria	pensava.	Ela	vivenciou	o</p><p>silêncio	de	João	pela	primeira	vez	quando	eles	estavam	ainda	no	comecinho	do</p><p>namoro.	Ele	sentiu	que	Maria	parecia	muito	feliz	enquanto	dançava	com	um</p><p>amigo	numa	festa,	então	saiu	sem	se	despedir	e	desapareceu	por	semanas.</p><p>Ao	longo	dos	anos,	ela	aprendeu	a	lidar	com	os	silêncios	cruéis	de	João,</p><p>continuando	a	cozinhar,	a	lavar	e	a	dobrar	suas	roupas,	mesmo	quando	ele	a</p><p>ignorava	por	longos	períodos,	dias	e	noites.	O	tratamento	silencioso,	geralmente,</p><p>terminava	com	João	agindo	como	se	nada	tivesse	acontecido,	recusando-se	a</p><p>discutir	o	assunto	ao	alegar	que	ela	estava	agindo	como	uma	louca.</p><p>Ser	ignorada	é	especialmente	difícil	para	uma	pessoa	isolada	pelo	abuso	e</p><p>controle,	e	que	depende	da	aprovação	do	agressor	para	se	sentir	segura	e	valiosa.</p><p>Então,	quando	dizemos	que	“quem	cala	consente”,	não	levamos	em	consideração</p><p>situações	em	que	aquele	que	se	cala	está	numa	situação	de	vulnerabilidade.	Isso</p><p>é	verdade	para	relações	pessoais	–	entre	cônjuges,	pais	e	filhos,	para	mencionar</p><p>algumas	–	e	também	profissionais	–	quem	já	teve	uma	chefia	abusiva	sabe	do</p><p>que	estou	falando.</p><p>No	caso	do	tratamento	de	silêncio,	ele	pode	ser	uma	arma	mais	poderosa	do	que</p><p>insultos	ou	gritos.	Quando	alguém	grita	ou	discute	com	você,	pelo	menos	é</p><p>possível	saber	o	que	se	passa	na	mente	do	outro	e,	assim,	avaliar	melhor	a	sua</p><p>própria	segurança	e	a	de	quem	depende	de	você.	Mas	o	tratamento	de	silêncio</p><p>não	abre	nenhum	espaço	de	entendimento	mais	profundo,	só	reforça	sentimentos</p><p>de	fragilidade	e	medo.</p><p>Muita	gente	ignora	emocionalmente	os	outros	para	magoá-los,	puni-los	ou</p><p>manipulá-los.	E	eu	te	digo	mais:	essas	pessoas,	em	geral,	cresceram	assim.</p><p>Muitas	vezes	seus	próprios	pais	as	criaram	na	cultura	do	silêncio	como	punição.</p><p>Não	chamavam	para	jantar.	Excluíam	do	passeio	do	domingo	por	conta	de	uma</p><p>malcriação.	Não	perguntavam	o	que	elas	queriam	fazer,	comer	ou	vestir.	Sabe</p><p>quando	você	é	criança,	apronta	e	depois	seus	pais	te	ignoram?	Às	vezes,	por</p><p>dias?	Você	provavelmente	se	sentia	menos	humana,	como	um	fantasma.</p><p>Há	também	a	prática	de	uma	forma	mais	baunilha	do	tratamento	de	silêncio,	em</p><p>que	não	há	um	silêncio	absoluto,	mas	há	uma	prática	de	negligência	que	ainda</p><p>fere	as	pessoas.	Por	exemplo,	Joana	trabalha	para	Márcia,	chefe	conhecida	por</p><p>ser	temperamental.	Quando	Márcia	não	estava	disponível,	ela	fazia	uma	“cara</p><p>sóbria”	e,	com	frequência,	dava	respostas	cortantes	num	tom	frio	e	impessoal,</p><p>como	se	Joana	fosse	uma	estranha	mais	do	que	uma	funcionária	da	empresa.</p><p>Como	Márcia	era	assim	com	todos	os	subordinados,</p><p>Joana	não	achava	que</p><p>Márcia	tentava	fazê-la	se	sentir	mal.	“Não	é	pessoal”,	diziam	seus	colegas.</p><p>Ainda	assim,	Joana	ficava	incomodada	com	a	falta	de	abertura	para	diálogo.</p><p>Inclusive,	quando	Joana	trazia	uma	demanda	de	ajuda,	Márcia	parecia	esperar</p><p>que	ela	resolvesse	por	si	só,	como	achasse	melhor.	Mais	tarde,	se	algo	não	saísse</p><p>do	jeito	que	Márcia	esperava,	era	comum	que	ela	reagisse	de	maneira	agressiva</p><p>ou	inapropriada	para	um	espaço	de	trabalho.	Só	de	ver	uma	mensagem	nova	da</p><p>chefe	no	celular	ou	na	caixa	de	e-mail,	Joana	já	sentia	um	frio	na	espinha.</p><p>Essa	dinâmica	se	repetiu	por	anos	e	anos.	Esse	modus	operandi	de	retenção</p><p>hostil	começou	a	deixar	Joana	extremamente	ansiosa.	E	a	consequência?	Joana</p><p>triplicou	os	seus	esforços	para	obter	a	aprovação	de	Márcia,	trabalhando	cada</p><p>vez	mais,	sendo	extremamente	meticulosa,	silenciando	as	próprias	necessidades,</p><p>ideias	e	desejos	para	não	prejudicar	sua	carreira.	Quando	conversava	com	seus</p><p>familiares,	Joana	ouvia	que	“todo	chefe	é	assim”,	“chefe	é	chefe”,	“manda	quem</p><p>pode,	obedece	quem	tem	juízo”,	“nenhum	emprego	é	ideal”.	E,	ao	relatar	suas</p><p>dores	para	colegas	de	confiança,	Joana	ouvia	histórias	de	retaliação	e	perda	de</p><p>oportunidade	de	quem	se	posicionou	contra	Márcia,	ou	até	mesmo	procurou	um</p><p>novo	emprego,	sendo	“desleal”	com	a	chefe.	Quantas	pessoas	como	a	Joana	nós</p><p>infelizmente	conhecemos?	Quantas	vezes	nós	não	fomos	Joanas?</p><p>Se	você	ou	alguém	de	quem	você	gosta	está	sendo	submetido	ao	tratamento	do</p><p>silêncio,	vem	comigo	e	aprenda	algumas	dicas	importantes	de	sobrevivência	e</p><p>combate.</p><p>1.	Não	se	isole:	Manter	relacionamentos	em	comunidade,	seja	com</p><p>familiares,	amigos,	vizinhos	ou	colegas	de	trabalho,	dará	a	você	o	senso	de</p><p>que	você	importa,	que	tem	com	quem	contar	e	não	depende	de	abusadores.</p><p>Em	um	primeiro	momento,	se	você	não	encontrar	pessoas	assim	no	seu</p><p>entorno,	continue	a	sua	busca	–	em	vários	lugares,	on-line	ou	off-line,	há</p><p>grupos	de	pessoas	dispostas	a	te	ouvir.</p><p>2.	Mantenha	uma	vida	interior	potente:	Concentre	sua	energia	nos	seus</p><p>hobbies,	seus	livros,	suas	atividades	pessoais.	Dedique	seus	esforços	ao	que</p><p>também	te	dá	prazer	e	que	você	faz	por	si	mesma,	com	você	mesma,	e</p><p>aproveite	a	própria	companhia.</p><p>3.	Procure	ajuda	profissional:	Um(a)	terapeuta,	em	especial	que	entenda	de</p><p>controle	e	abuso,	pode	te	ajudar.	Não	precisa	ter	vergonha!	Pelo	contrário,	é</p><p>um	passo	crucial	para	não	só	sair	de	uma	relação	abusiva,	como	também</p><p>cuidar	das	suas	feridas	e	evitar	cair	em	novas	ciladas.</p><p>4.	Considere	terminar	a	dinâmica:	Você	não	precisa	permanecer	em	uma</p><p>relação	em	que	alguém	é	mau	ou	cruel	seja	por	meio	de	tratamento</p><p>silencioso,	abuso	verbal	ou	outros	tipos	de	humilhação.	O	término	do</p><p>vínculo	com	essa	pessoa	é	sempre	uma	saída	a	ser	considerada.	Se	for	uma</p><p>situação	de	trabalho,	considere	dar	um	feedback	explícito	para	a	pessoa	ou</p><p>denunciar	ao	RH.	Se	nada	for	feito,	avalie	possibilidades	de	emprego	em</p><p>empresas	com	uma	cultura	organizacional	saudável.</p><p>E	não	se	esqueça:	há	sempre	uma	alternativa.	Mesmo	quando	parecer	que	você</p><p>não	vai	sobreviver,	se	sustentar,	encontrar	o	amor	de	novo,	ter	uma	rede	de	afeto</p><p>ou	se	virar,	lembre-se	de	que,	ao	tolerar	esses	abusos,	você	está	dizendo	para	si</p><p>mesma	como	merece	ser	tratada.	Reconheça	em	você	o	seu	talento	e	afeto	para</p><p>se	fortalecer	antes	de	enfrentar	essas	dinâmicas.</p><p>A	diferença	entre	tempo-limite	e	tratamento	de</p><p>silêncio</p><p>É	importante	não	confundir	tempo-limite	com	tratamento	de	silêncio.	Quando,</p><p>no	calor	da	emoção,	você	sente	que	vai	ferir	o	outro	com	suas	palavras,	ou	sente</p><p>que	algo	serviu	de	gatilho	para	uma	reação	desastrosa,	é	super	saudável	pedir	um</p><p>tempo-limite	para	pensar.	Sair	para	tomar	um	ar,	caminhar,	respirar,	decantar	o</p><p>que	foi	dito.	Há	uma	expressão	americana	que	diz	que,	diante	de	situações</p><p>difíceis,	é	bom	“sleep	on	it”,	ou	seja,	dormir	e	ver	como	se	sente	no	dia	seguinte.</p><p>Quando	usado	com	sabedoria,	o	tempo	–	com	afastamento	e	silêncio	–	pode	ser</p><p>um	poderoso	aliado	na	comunicação.</p><p>A	pausa	para	meditar	sobre	algum	assunto	e	assimilar	afetos	é	muito</p><p>recomendada,	porque	seu	objetivo	é	melhorar	a	comunicação	e	a	colaboração.	O</p><p>tratamento	de	silêncio,	por	sua	vez,	é	uma	afirmação	de	domínio	e	controle.	A</p><p>vítima	saberá	notar	a	diferença.	Em	geral,	a	gente	sabe.</p><p>É	muito	importante	observar	os	contornos	do	silêncio	quando	argumentado.</p><p>Entre	escolher	o	silêncio,	ser	silenciada	e	manifestar	que	não	sabe	ou	não	possui</p><p>uma	opinião	formada	sobre	determinado	assunto,	há	diversas	nuances.	Trouxe</p><p>esses	exemplos	porque	eu	mesma	já	vivi	situações	em	que	não	soube	identificar</p><p>exatamente	o	que	estava	acontecendo.	Minha	chefe	me	ignora	porque	está	me</p><p>retaliando?	Será	que	falei	algo	errado?	Meu	namorado	visualizou	e	não</p><p>respondeu	há	dias	porque	está	doente	ou	está	querendo	me	dizer	algo?</p><p>Essas	situações	nos	adoecem	aos	poucos.	Saber	identificar	e	separar	o	tempo-</p><p>limite	do	tratamento	do	silêncio,	e	o	silêncio	como	manifesto	de	um</p><p>silenciamento	abusivo,	é	reconquistar	sua	autonomia	nas	relações.	Acima	de</p><p>tudo,	desmistificar	o	peso	de	ter	que	saber	tudo	e	performar	para	se	render	à</p><p>potência	de	não	ter	uma	resposta	na	ponta	da	língua.	Pode	ser	numa	discussão</p><p>familiar,	corporativa	ou	até	mesmo	num	debate	do	WhatsApp.	Eu	não	sei,	vou</p><p>me	informar	melhor.	Eu	não	sei,	mas	juntos	podemos	descobrir.	Eu	não	sei.	E</p><p>está	tudo	bem	em	não	saber.	Como	diria	Confúcio:	“Quem	crê	ter	todas	as</p><p>respostas,	certamente	não	fez	todas	as	perguntas”.</p><p>Eu	prefiro	fazer	todas	as	perguntas.</p><p>7.</p><p>Quem	é	você	no	debate?</p><p>Por	falar	em	fazer	todas	as	perguntas,	quais	tipos	de	perguntas	você	se	faz	ao</p><p>debater?	O	autor	Adam	Grant	publicou	esta	pirâmide	da	hierarquia	dos	estilos	de</p><p>pensamento.	É	um	serviço	de	utilidade	pública	traduzi-la	e	vou	compartilhá-la</p><p>aqui	com	vocês.	Ela	nos	mostra	as	diferentes	maneiras	de	pensar	e	os	tipos	de</p><p>personalidade	relacionados	a	elas.	A	partir	desse	esquema,	conseguimos</p><p>identificar	quem	somos	e	quem	queremos	ser	num	debate.</p><p>Fonte:	Adaptada	do	site	de	Adam	Grant.	Disponível	em:</p><p>https://twitter.com/adammgrant/status/1371564806352822274.	Acesso	em:</p><p>22	dez.	2021.</p><p>1.	Cientista:	É	aquele	que	debate	usando	a	lógica	de	pensamento	que	Grant</p><p>nomeia	como	sendo	do	cientista.	Ele	pode	ser	identificado	com	frases	como:</p><p>“Eu	posso	estar	errado”,	e	suas	iscas	de	atenção	geralmente	costumam	ser</p><p>dados	e	números.	É	o	tipo	que	está	mais	alto	na	pirâmide,	porque	é	mais</p><p>raro	e,	também,	mais	ideal.	É	o	tipo	que	pressupõe	estar	errado,	se	atenta	ao</p><p>caráter	informativo	do	debate	e,	com	frequência,	gosta	mais	de	descobrir</p><p>algo	novo	do	que	ganhar	o	argumento.	Ele	não	se	preocupa	em	estar	errado,</p><p>quer	seguir	o	método.	Estar	errado	faz	parte	da	jornada!</p><p>2.	Pensador	crítico:	Do	tipo	que	se	engaja	com	diversas	fontes	de</p><p>informação,	lê	os	jornais	de	direita,	de	esquerda,	de	centro.	Esse	tipo</p><p>questiona	viés	de	credibilidade	das	fontes	e	pesquisas.	Em	geral,	é	quem	diz</p><p>algo	como:	“Isso	deve	estar	errado”	ou	“Tem	certeza?”.	Gosta	de	apontar</p><p>diversas	vertentes	para	responder	sobre	um	mesmo	tema.	Por	exemplo,	se	o</p><p>tema	é	saúde	mental,	ele	sempre	vai	trazer	três	pontos	de	vista	diferentes</p><p>sobre	o	tema	em	questão.	Uma	vertente	social,	outra	biológica,	uma	da</p><p>psicanálise…	Vai	buscar	fontes	diferentes	e	bibliografias	múltiplas	para</p><p>formar	opinião.</p><p>3.	“Do	contra”:	Esse	é	o	famoso	chato.	Rebate	e	procura	falhas	no	raciocínio</p><p>do	outro,	mas	ignora	as	falhas	do	próprio	raciocínio.	É	aquela	pessoa	que</p><p>adora	cortar	os	outros	dizendo	algo	como	“Você	está	errado!”,	“Não	é	nada</p><p>disso”.	Geralmente	usa	ad	hominem	,	a	falácia	do	ataque	pessoal,	nas	suas</p><p>argumentações.	Desqualificar	o	argumento	do	outro	é	mais	importante	do</p><p>que	qualificar	o	seu	(é	que,	geralmente,	eles	não	têm	um	ponto	de	vista	para</p><p>sustentar	mesmo).</p><p>4.	Político:	Pega	a	sua	crença	e	persegue	a	crença	ideológica	dos	outros.	Usa</p><p>a	ferramenta	do	nós	versus	eles	o	tempo	todo:	nós	do	partido	X,	eles	do</p><p>partido	Y.	Nós	que	acreditamos	em	X,	eles	que	acreditam	em	Y.	Você</p><p>consegue	identificá-lo	porque	cria	argumentos	do	tipo:	“Vocês	estão</p><p>errados,	nós	é	que	estamos	certos”.	Parece	bastante</p>

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