Prévia do material em texto
Figura 11.2 Fotos de fósseis de diferentes animais. Figura 11.3 Esqueleto fóssil de animal do gênero Dorudon (41 a 33 milhões de anos atrás; cerca de 5 m de comprimento). Na parte de baixo da foto, à direita, aparecem ossos em tamanho reduzido, semelhantes aos ossos dos membros posteriores dos mamíferos terrestres. Esses ossos também estão presentes em algumas baleias atuais. Às vezes, as partes do corpo são substituídas por minerais e sua forma original é preservada (fi- gura 11.2). Em outras, o organismo é completamen- te destruído, mas sua marca ou seu molde fica es- culpido na rocha. São raros os casos em que um organismo fica intacto, como aconteceu com os mamutes (ances- trais do elefante) – que tiveram a carne e a pele pre- servadas – soterrados nas geleiras da Sibéria ou com insetos presos na resina de pinheiros. Em resina fos- silizada, chamada âmbar, podemos encontrar insetos que viveram há milhões de anos (figura 11.2). Como se vê, a probabilidade de se formarem fós- seis é muito baixa. Além disso, depois de formados, muitos deles podem ser naturalmente destruí dos por agentes erosivos. Tudo isso faz com que o registro fóssil da evolução dos seres vivos seja incompleto. A lf re d P a s ie k a /S P L /L a ti n s to ck B e rn a rd o G o n za le z R ig a /E P A /C o rb is /L a ti n s to ck Cientistas trabalhando em um fóssil de titanossauro, dinossauro com cerca de 10 m de comprimento. Insetos (cerca de 40 milhões de anos) conservados em âmbar (aumento de cerca de 1,5 vez). A importância dos fósseis para o estudo da evolução A Paleontologia (do grego palaios = antigo; ontos = ser; logos = estudo; estudo dos fósseis) for- nece importantes dados sobre a história evolutiva de uma espécie, isto é, sobre sua filogenia ou filo- gênese (do grego phylon = grupo; genos = origem). Além disso, contribui com valiosas informações sobre espécies extintas. Para isso usa métodos e dados de várias outras ciências, como a Geografia, a Geologia, a Química e a Biologia, etc. Estudando fósseis de ossos das pernas de um animal, por exemplo, podemos ter ideia de sua al- tura e de seu peso. Já os dentes podem indicar o tipo de alimentação, pois cada animal possui adap- tações ao ambiente em que vive e a determinado modo de vida: carnívoros, por exemplo, têm dentes geralmente pontiagudos e afiados, o que lhes per- mite prender, perfurar e comer carne. De particular interesse são os fósseis com ca- racterísticas intermediárias entre dois grupos, como veremos no próximo capítulo. A forma intermediá- ria, conhecida como fóssil de transição, indica o grau de parentesco entre dois grupos. Nesse grupo estão fósseis de dinossauros com penas e de aves com dentes, entre outras características, mostran- do o parentesco evolutivo entre os dois grupos. Esse também é o caso dos inúmeros fósseis in- termediários entre baleias e mamíferos terrestres, que mostram uma progressiva adaptação ao am- biente aquático. Uma das principais características são as aberturas nasais, que ao longo de muitas gerações migraram para o topo da cabeça e possi- bilitaram que as baleias, por exemplo, respirassem sem precisar emergir totalmente. Além disso, o cor- po delas adquiriu um formato hidrodinâmico; os membros anteriores modificaram-se em nadadei- ras; os membros posteriores diminuíram até desaparecer (figura 11.3), o que tornou mais eficiente o deslocamen- to no meio líquido. P h o to R e s e a rc h e rs /L a ti n s to ck Evolução: métodos de estudo 153 151_160_U03_C11_Bio_Hoje_vol_3_PNLD2018.indd 153 19/05/16 16:38 J a v is o n /S P L /L a ti n s to c k Biologia e Química Determinação da idade de um fóssil A idade de um fóssil corresponde, aproxi- madamente, à do terreno em que ele se encon- tra. Em geral, quanto mais profundo o terreno, mais antigo o fóssil. A idade absoluta das rochas e a dos fósseis são calculadas por meio da desin- tegração de elementos radioativos (um fenômeno estudado na Física e na Química), que funcionam como “relógios” naturais. Quando se desintegra, o urânio (238U) trans- forma-se em um isótopo do chumbo (206Pb): 1 g de urânio demora cerca de 4,5 bilhões de anos para produzir 0,5 g de chumbo. Portanto, pela quantidade relativa de urânio e chumbo presen- tes em uma rocha (feita com análises químicas), podemos saber sua idade. A taxa de desintegra- ção não varia com mudanças de pressão, tem- peratura ou reações químicas. Com esse método, os cientistas determina- ram a idade da Terra. Análises de meteoritos, rochas da Lua e rochas antigas do planeta com- provaram que ele tem 4,5 bilhões de anos. Outro isótopo do urânio, 235U, tem meia-vida de 704 milhões de anos, ou seja, nesse intervalo de tempo metade dos átomos transforma-se em um isótopo do chumbo, 207Pb. Em rochas recentes, porém, a quantidade relativa de urânio e de chumbo é muito pequena e difícil de ser analisada. Nesse caso, é usado o método do carbono-14 (14C) (figura 11.4), isótopo radioativo do carbono normal (12C), que se forma quando nêutrons de raios cósmicos colidem com átomos de nitrogênio atmosférico. Veja a equação que representa essa reação: 14 7 N + 1 nêutron 14 6 C + 1 próton O 14C pode combinar-se com o oxigênio do ar e formar gás carbônico, que se incorpora aos ve- getais na fotossíntese e, indiretamente, aos ani- mais pela cadeia alimentar. Todos os seres vivos possuem uma pequena taxa de isótopos radio- ativos do carbono (um em cada trilhão de átomos de carbono). Quando morre, o organismo para de absorver esse isótopo, que se desintegra do cadá- ver lentamente e forma nitrogênio. A cada 5 730 anos, a taxa de carbono radioati- vo cai pela metade. Assim, a medida da radioa- tividade causada pelo carbono radioativo fornece a idade aproximada do organismo. Os dados obtidos pelo estudo dos fósseis são confrontados com outras evidências, como as obti- das pelo estudo comparado da anatomia e da em- briologia dos organismos atuais e de suas proteínas e ácidos nucleicos. Esses estudos indicam que os peixes devem ter surgido antes dos anfíbios; estes, antes dos répteis, que surgiram antes das aves e dos mamíferos. Essa sequência é confirmada pela idade relativa dos fósseis de cada grupo. De acordo com a teoria da evolução, espera-se que os fósseis mais semelhantes às espécies atuais sejam encontrados nas camadas mais superficiais (recentes) do terreno examinado (veja o boxe Biolo gia e Química, “Determinação da idade de um fóssil”). Espera-se também encontrar fósseis de organismos de transição entre grupos com um ancestral comum mais recente, como aves e dinossauros, peixes e an- fíbios, etc. Figura 11.4 Equipamento que realiza a datação com carbono-14. Universidade de Oxford, Reino Unido. Foto de 2012. Capítulo 11154 151_160_U03_C11_Bio_Hoje_vol_3_PNLD2018.indd 154 19/05/16 16:38 Figura 11.5 Homologia nos ossos do membro dianteiro dos mamíferos. Mudanças no número e no comprimento dos dedos ou em outras características funcionam como adaptações a diversas funções. Observe a perda e a fusão de ossos no cavalo, e o alongamento dos dedos do morcego formando a estrutura da asa. (Os elementos da figura não estão na mesma escala; cores fantasia.) Figura 11.6 Órgãos análogos: asas dos insetos e das aves. A função é a mesma, mas esses órgãos não têm a mesma origem embrionária, isto é, eles não se originam de uma mesma estrutura ancestral. (Os elementos da figura não estão na mesma escala; cores fantasia.) L u is M o u ra /A rq u iv o d a e d it o ra Asa de insetos quitina In g e b o rg A s b a ch /A rq u iv o d a e d it o ra gatoser humano cavalo baleiamorcego Asa de aves penas ossos 2 Embriologia e anatomia comparadas Muitas vezes, comparando o desenvolvimento embrionário e a anatomia de diversos organismos é possível determinar o grau de parentesco entre eles. Estudando os detalhes da anatomia do braçodo ser humano, da nadadeira da baleia e da asa do morce- go, vemos que, apesar de terem funções diferentes, esses órgãos apresentam o mesmo “padrão de cons- trução”: a formação e o arranjo dos ossos são muito semelhantes. Essas semelhanças podem ser explica- das pelo fato de que esses órgãos evoluíram a partir de um mesmo órgão presente no ancestral comum desses grupos que se adaptou a funções diferentes. Estruturas como essas, originadas de um ances- tral comum exclusivo, que podem ou não desempe- nhar a mesma função, são estruturas homólogas (figura 11.5). A diferença de funções entre tais estru- turas, quando presente, deve-se a uma divergência evolutiva, ou seja, a seleção de características mais adaptadas a cada ambiente. O conceito de homologia pode ser aplicado não apenas a órgãos, mas a outras características: anatômicas, embriológicas, comportamentais e moleculares (como a sequência de aminoácidos de uma proteína ou a sequência de nucleotídeos no DNA ou RNA). É com base em todo um conjun- to de semelhanças (homologias) entre dois ou mais grupos, que podemos supor uma ancestra- lidade comum. No caso dos mamíferos, um ancestral exclusivo desse grupo deu origem a um grande número de espécies adaptadas a condições de vida muito dife- rentes. Chamamos esse fenômeno irradiação adap- tativa. Como resultado dessa evolução, os ossos dos membros anteriores dos mamíferos sofreram modi- ficações e hoje desempenham diferentes funções: correr (cavalo); manipular objetos (ser humano); na- dar (baleia); cavar (tatu); voar (morcego); etc. A embriologia e a anatomia comparadas mostram também que as asas dos insetos e as das aves têm origem embrionária e estrutura anatômica diferentes, embora desempenhem a mesma função. Essas são as chamadas estruturas análogas. As asas das aves não se originaram de um ancestral comum entre aves e insetos. Nesse caso, esses dois grupos adaptaram-se de forma semelhante ao mesmo tipo de ambiente (figura 11.6). Esse fenômeno é chamado convergência evolutiva (ou adaptativa) ou evolução convergente. Evolução: métodos de estudo 155 151_160_U03_C11_Bio_Hoje_vol_3_PNLD2018.indd 155 19/05/16 16:38