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Relativismo cultural O professor de Sociologia é indicado, prioritariamente, para o trabalho deste segmento. A charge de Carlos Ruas publicada em 2018 busca evidenciar como valores morais podem variar entre indivíduos. Definições como “certo” e “errado” geralmente baseiam-se em princípios, valores e costumes; portanto, variam entre culturas, sociedades e até mesmo épocas. etnocentrismo: visão de mundo característica de quem considera sua nacionalidade ou grupo étnico socialmente mais importante que outros. As diferentes visões de mundo que cada época, cada sociedade ou cada indiví- duo tem não dizem respeito apenas à posição relativa da Terra ou do Sol, podendo ser extrapoladas também para a relatividade de tudo o que existe no mundo que conhecemos. A diversidade de visões de mundo diz respeito, por exemplo, às diferentes ma- neiras como os indivíduos se relacionam uns com os outros. Você provavelmente já ouviu frases como estas: “Você se acha o centro do mundo?” ou “Você acha que o mundo gira ao seu redor?”. Em outras palavras, nem tudo pode ser como você quer ou imagina, há outros modos de pensar que vão além do seu modo de entender. No final do século XIX, teorias evolutivas conhecidas como evolucionismo so- cial e darwinismo social ganharam muito destaque. Esses estudos hierarquizavam as culturas, designando-lhes diferentes graus de “atraso” e “desenvolvimento”. Em con- traponto, o antropólogo alemão Franz Boas (1858-1942) elaborou uma crítica a essas ideias, consolidando as bases do relativismo cultural, que, partindo de uma perspec- tiva da Antropologia, incentivava a superação do etnocentrismo. O autor buscou es- timular o olhar sem julgamentos sobre outras culturas, uma vez que, a partir de nossa própria visão e experiência, tendemos a depreciar outros costumes. Boas, além de desenvolver seus estudos e considerações de acordo com a dinâmica social da cultura observada, propôs que os indivíduos mudassem seus pontos de vista, suas perspec- tivas, para compreender, sem desqualificar, a diversidade cultural dos seres humanos. Eurocentrismo Segundo Samir Amin, o eurocentrismo é a forma ideológi- ca da expansão capitalista ocidental. Essa ideologia recons- trói miticamente a narrativa das origens do sistema capita- lista europeu, a fim de reproduzir uma história hegemônica dos grandes vencedores. Pode-se dizer que o eurocentrismo é a forma de propagar a visão europeia sobre o mundo – o que inclui as considera- ções do europeu a respeito do Outro. Essa visão transforma em exótico tudo o que é externo à Europa, de modo a im- por normas e costumes sociais europeus como “ideais de civilização” a serem alcançados. Portanto, a definição do que é exótico coincide com a formação da ideologia eurocêntrica, consolidada a partir da “descoberta” da América. Desse modo, a discrepância norte-sul é sugerida como natural, evidente e permanente. Conceito C a rl o s R u a s /A c e rv o d o c a rt u n is ta AMIN, Samir. Eurocentrism. Nova York: Monthly Review Press, 2009. 21 V2_Cie_HUM_Igor_g21Sc_Cap1_016-039.indd 21V2_Cie_HUM_Igor_g21Sc_Cap1_016-039.indd 21 10/09/2020 11:1910/09/2020 11:19 No texto abaixo, o antropólogo Claude Lévi- -Strauss (1908-2009) discorre sobre a teoria física da relatividade e o relativismo cultural. Para o observador de microscópio, que “se coloca” a uma distância medida a partir do obje- to, os corpos colocados aquém ou além daquele, mesmo que o afastamento seja apenas de alguns centésimos de milímetro, aparecem confusos e baralhados ou mesmo não aparecem. Uma outra comparação permitirá descobrir a mesma ilusão. É a que se utiliza para explicar os primeiros ru- dimentos da teoria da relatividade. Com o fim de demonstrar que a dimensão e a velocidade do deslocamento dos corpos não são valores absolu- tos, mas funções da posição do observador, lem- bramos que, para um viajante sentado à janela do trem, a velocidade e o comprimento dos ou- tros trens variam conforme estes se deslocam no mesmo sentido ou em sentido inverso. Ora, cada membro de uma cultura é-lhe tão estreitamente solidário quanto o é este viajante ideal para com o seu trem. Porque, desde o nosso nascimento, o ambiente que nos cerca faz penetrar em nós, mediante milhares de diligências conscientes e inconscientes, um sistema complexo de referên- cias que consiste em juízos de valor, motivações, centros de interesse, inclusive a visão reflexiva que a educação nos impõe do devir histórico da nossa civilização sem a qual esta se tornaria im- pensável, ou apareceria em contradição com as condutas reais. Deslocamo-nos literalmente com este sistema de referências, e as realidades cul- turais de fora só são observáveis, através das de- formações por ele impostas, quando ele não nos coloca mesmo na impossibilidade de aperceber delas o que quer que seja. LÉVI-STRAUSS, Claude. Raça e Hist—ria. Barcarena: Presença, 2006. p. 11. (Universidade Hoje, v. 14). 1. Reflita com os colegas sobre o modo como o etnocentrismo se manifesta em suas experiên- cias cotidianas. 2. Nos casos debatidos, de que maneira você po- deria exercer o relativismo cultural? Reflexões NÃO ESCREVA NO LIVRO Professor, no Manual você encontra orientações sobre estas atividades. 1. Desde meados da década de 1970, discute-se sobre motivos do predomínio masculino em certas áreas de trabalho, como a ciência e a po- lítica. Filósofas como Sandra Harding e Donna Haraway explicam que esses campos tendem a negligenciar as experiências de vida das mulhe- res em seus feitos científicos. Em 2018, uma pesquisa realizada pelo grupo EconomistAs – Brazilian Women in Eco- nomics verificou que, entre estudantes que concluíram a graduação em 2017, apenas 35,6% eram mulheres. Outro dado, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desem- pregados (Caged) de 2016, revelou que, entre os “profissionais em pesquisa e análise econô- micas”, os homens ganham, em média, 25% a mais que as mulheres para fazer o mesmo tipo de trabalho (salário médio de R$ 4.225,05 para homens e de R$ 3.367,47 para mulheres). BRAZILIAN WOMEN IN ECONOMICS. As mulheres nos diferentes estágios da carreira acadêmica em Economia no Brasil. São Paulo: EconomistAs, dez. 2018. Disponível em: http://paineira.usp.br/bwe/wp-content/uploads/2019/03/ Relat%C3%B3rio-Final.pdf. Acesso em: 25 maio 2020. CAGED. Qual a diferença salarial? Disponível em: http://www. generonumero.media/interativos/salario-genero/index.html. Acesso em: 25 maio 2020. Explorando NÃO ESCREVA NO LIVROProfessor, no Manual você encontra orientações sobre estas atividades a) Analise os dados fornecidos pelo texto. Eles de- notam a existência de desigualdade de gênero? Por quê? b) Em grupo, façam um pequeno levantamento na classe sobre quais carreiras você e os colegas pretendem seguir. Analise se as escolhas por de- terminadas áreas são mais frequentes quando se considera o gênero. c) Discuta com os colegas e o professor os motivos possíveis da associação entre o gênero com o qual a pessoa se identifica e suas escolhas profissionais. 22 V2_Cie_HUM_Igor_g21Sc_Cap1_016-039.indd 22V2_Cie_HUM_Igor_g21Sc_Cap1_016-039.indd 22 10/09/2020 11:1910/09/2020 11:19