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A Bíblia Comentada

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Prévia do material em texto

A BÍBLIA
COMENTADA à LUZ DA
Doutrina Católica
STENIO CARNEIRO
A BÍBLIA
Comentada à Luz da
Doutrina Católica
REVISADO e ATUALIZADO
em Junho/2018
2016
C289b Carneiro, Francisco Stenio de Araújo
A Bíblia Comentada à Luz da Doutrina Católica/ Francisco Stenio de
Araújo Carneiro. 1ª ed. Joinville, SC: Clube de Autores Publicações S/A,
2016.
ISBN: 978-85-916915-3-1
1. Religião. 2. Bíblia. I. Título.
CDU: 22
__________________________________________________________
Catalogação na Fonte: Kelly M. Bernini – CRB-10/1541
Imagem da capa: Projetado por Freepik
Livro Impresso: Clube de Autores
Copyright © 2016 por Stenio Carneiro
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610, de 19/02/1998.
Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer
meios existentes sem autorização por escrito do autor. 
https://clubedeautores.com.br/ptbr/book/205305--A_Biblia_Comentada_a_Luz_da_Doutrina_Catolica#.W4aRsCRKjIU
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
O	ANTIGO	TESTAMENTO
DEUS CRIA OS CÉUS E A TERRA
A Criação do Mundo
O Sétimo Dia
DEUS CRIA O HOMEM E A MULHER
À Criação para o Homem
Criados à Imagem e Semelhança de Deus
A Felicidade dos Primeiros Homens
A Alma Imortal do Homem
Os Dons Preternaturais
O Livre-Arbítrio
A Graça de Deus e o Estado de Justiça Original
SATANÁS REBELA-SE CONTRA DEUS
A Revolta de Lúcifer
DEUS ESTABELECE LIMITES PARA O HOMEM
A Árvore da Ciência do Bem e do Mal
DEUS CRIA A FAMÍLIA
A Criação da Família
O HOMEM DESOBEDECE A DEUS
Adão e Eva negam a Deus
O Pecado Original
O Pecado
O Demônio é o Grande Inimigo
As Tentações vindas do Demônio
Por que Deus não Impede o Pecado?
Deus é causa dos pecados?
Estamos Abandonados nas Mãos do Demônio?
O Paraíso na Terra
A PROMESSA DE DEUS
O Primeiro Anúncio da Salvação
A Promessa de Salvação
Porei Ódio entre Ti e a Mulher
Entre a Tua Descendência e a Dela
AS CONSEQUÊNCIAS DO PECADO
O Aparecimento da Morte
O Sofrimento e a Dor
O HOMEM É EXPULSO DO PARAÍSO
A Expulsão do Paraíso
A Árvore da Vida
A MALDADE CHEGA AO SEU LIMITE
Deus Arrepende-se de Ter Criado o Homem
A ARCA DE NOÉ
O Dilúvio
Os Sacrifícios com Sangue
Noé
A Arca e a Igreja
O SINAL DA PRIMEIRA ALIANÇA
O Arco-íris
A RESPOSTA DO HOMEM A DEUS
A Torre de Babel
A Criação de um Novo Povo
DEUS DIRIGE-SE A ABRÃO
O Monoteísmo
O Início de um Povo
O Pequeno Povo de Deus
Darei esta Terra à Tua Posteridade
DEUS TESTA A FÉ DE ABRÃO
A Fé de Abrão é Testada
O Nome Abrão Muda para Abraão
Sodoma e Gomorra
Os Milagres no Antigo Testamento
O SACRIFÍCIO DE ISAAC
Deus Testa novamente a Fé de Abraão
A ESCRAVIDÃO NO EGITO
Os Hebreus no Egito
DEUS NA SARÇA ARDENTE
Deus se Revela
A LIBERTAÇÃO DO EGITO
Os Hebreus Fogem do Egito
O Cordeiro Oferecido e Jesus Cristo
A Páscoa dos Cristãos
O MANÁ NO DESERTO
O Maná
Maná, Sinal da Eucaristia
MOISÉS RECEBE OS MANDAMENTOS
Cláusulas da Aliança - O Decálogo
Aliança no Monte Sinai
O Decálogo
As Prescrições da Lei Mosaica
Os Mandamentos da Igreja
A Morte na Concepção dos Hebreus
A ARCA DA ALIANÇA
A Arca da Aliança
A Proibição de Fabricação de Imagens
OS HEBREUS ROMPEM A ALIANÇA
O Rompimento da Aliança
A Consciência Moral do Povo Hebreu
OS HEBREUS MURMURAM CONTRA DEUS
Quarenta Anos no Deserto
O Princípio da Solidariedade
MOISÉS MORRE E JOSUÉ ASSUME
Josué
A Renovação do Povo Hebreu no Deserto
Moisés Não Entrará na Terra Prometida
OS HEBREUS ENTRAM NA PALESTINA
Deus Expulsa os Habitantes de Canaã
O Extermínio dos Inimigos
A Tribo de Judá
AS INFIDELIDADES E AS INVASÕES
O Contato com as Nações Pagãs Vizinhas
Os Castigos de Deus
AS INFIDELIDADES NAS MONARQUIAS
O Pecado do Povo Hebreu ao Pedir um Rei
O Pecado do Rei Saul
O Pecado do Rei Davi
O Pecado do Rei Salomão
A DIVISÃO DO REINO DE ISRAEL
A Divisão do Reino de Israel
O Surgimento dos Profetas
O Profeta Isaías
O REINO DE ISRAEL
O Fim do Reino de Israel
A DEPORTAÇÃO DO POVO DE JUDÁ
A Primeira Deportação
A Segunda Deportação
JERUSALÉM É INVADIDA PELOS VIZINHOS
A Posse da Terra
O Profeta Jeremias
OS HEBREUS EXILADOS ESQUECEM DEUS
A Cultura Babilônica Influência os Hebreus
Os Hebreus Exilados
O Exílio
Ezequiel
CHEGA AO FIM O EXÍLIO DOS HEBREUS
O Rei Ciro
O Retorno à Terra Prometida
NASCE O JUDAÍSMO
O Judaísmo e os Fariseus
ALEXANDRE MAGNO E ANTIOCO EPIFANES
Alexandre Magno
Antioco Epifanes IV
A GUERRA DOS MACABEUS
A Revolta dos Macabeus
ROMA INVADE A JUDÉIA
A Invasão Romana
A EXPECTATIVA POR UM MESSIAS
A Expectativa do Povo Hebreu por um Messias
O Conhecimento da Vinda de Jesus Cristo
CONCLUSÃO
O Valor da Fidelidade a Deus
O	NOVO	TESTAMENTO
A GENEALOGIA DE JESUS CRISTO
A Genealogia Existente na Bíblia
O ANJO APARECE A MARIA SANTÍSSIMA
São José
A Anunciação da Virgem Maria
Os Anjos
Maria Santíssima
A Oração “Ave-Maria” e o Santo Rosário
O Advento
O Nome de Jesus Cristo
O NASCIMENTO DE JESUS CRISTO
O Nascimento de Jesus Cristo
O Verbo de Deus
Herodes
O Mistério da Encarnação
Privilégios da Virgem Maria
A Assunção de Nossa Senhora
A Natureza Humana do Filho de Deus
Jesus Cristo, Deus e Homem ao mesmo Tempo
A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade
O Santo Natal
A INFÂNCIA DE JESUS CRISTO
A Purificação da Virgem Maria
A Circuncisão de Jesus Cristo
Não Existe Mistério na Infância de Jesus Cristo
JOÃO BATISTA ANUNCIA O MESSIAS
São João Batista
O BATISMO DE JESUS CRISTO
O Batismo de Jesus Cristo
O Cordeiro de Deus
O Sacramento do Batismo
Peculiaridades do Sacramento do Batismo
A Confirmação ou Crisma
A TENTAÇÃO NO DESERTO
A Tentação no Deserto
Não Tentarás o Senhor, Teu Deus
A Quaresma
Jejum e Abstinência
A ESCOLHA DOS APÓSTOLOS
O Reino de Deus
Os Doze Apóstolos
AS BODAS EM CANÁ DA GALILÉIA
A Intercessão da Santíssima Virgem
A Intercessão dos Santos
A CONVERSA COM NICODEMOS
A Verdadeira Adoração
A Serpente de Bronze
A SAMARITANA NO POÇO DE JACÓ
Os Samaritanos
O Espírito Santo
O FIM DO MUNDO
O Pecado
O Purgatório
O Céu
O Inferno
O Limbo
O Juízo Particular
O Fim do Mundo
A Ressurreição da Carne
O Juízo Final
O Suplício Eterno
A Vida Eterna
O SERMÃO DA MONTANHA
A Nova Lei
As Bem-Aventuranças
A ORAÇÃO DO PADRE-NOSSO
A Oração
A Oração do Padre-Nosso
JESUS RESPONDE AO CENTURIÃO
A Salvação é para Todos
O PERDÃO DOS PECADOS
A Missão de Jesus Cristo
O ENVIO DOS APÓSTOLOS
O Envio dos Apóstolos
O Reino de Deus na Terra
SÃO JOÃO BATISTA
É Ele o Elias que Devia Voltar
A Responsabilidade pelo Conhecimento
JESUS CRISTO É O SENHOR DO SÁBADO
A Tradição Farisaica
Os Atos de Jesus Condenados pelos Fariseus
O Pecado Contra o Espírito Santo
AS PARÁBOLAS
As Parábolas
A SAGRADA EUCARISTIA
A Compreensão do Sacramento da Eucaristia
A Sagrada Eucaristia
Melquisedec
Quem Bebe o Meu Sangue
A IGREJA DE JESUS CRISTO
O Reino de Deus na Terra
A Doutrina Cristã
A Santa Igreja Católica Apostólica Romana
A Igreja Docente e a Igreja Discente
O Vigário de Jesus Cristo na Terra
O Poder das Chaves
Os Sacramentos da Igreja
O SOFRIMENTO ASSUME NOVO SENTIDO
O Sofrimento no Novo Testamento
A TRANSFIGURAÇÃO
A Transfiguração
A ANTIGA DIGNIDADE DO MATRIMÔNIO
A Antiga Dignidade do Matrimônio
O Matrimônio
O Sacramento do Matrimônio
Divórcio e Poligamia
O Nono Mandamento
O JOVEM RICO
O Jovem Rico
A RESSURREIÇÃO DE LÁZARO
A Ressurreição de Lázaro
Eu Sou a Ressurreição e a Vida
A CAMINHO DE JERUSALÉM
A Entrada em Jerusalém
A Semana Santa
JESUS CRISTO CRITICA OS FARISEUS
Crítica aos Fariseus
OS FALSOS PROFETAS
Cuidado com os Falsos Profetas
A Reencarnação
A Necromancia no Antigo Testamento
CONSPIRAÇÃO PARA MATAR JESUS
A Conspiração Contra Jesus Cristo
A CEIA PASCAL
O Sacramento da Eucaristia
A Consagração
A Eficácia do Sacramento da Eucaristia
A Transubstanciação
A VINDA DO ESPÍRITO SANTO
O Espírito Santo
NO HORTO DAS OLIVEIRAS
Jesus no Horto das Oliveiras
JULGAMENTO DE JESUS CRISTO
O Julgamento de Jesus Cristo
A Negação dos Apóstolos
A MORTE DE JESUS CRISTO NA CRUZ
A Obra de Redenção
A Paixão de Jesus Cristo
O Corpo, a Alma e a Divindade
A Corrupção do Corpo
O Nascimento da Igreja
O Sagrado Coração de Jesus
O SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA
Os Sacrifícios a Deus
O Altar do SacrifícioOs Sacrifícios no Antigo Testamento
O Sacrifício da Lei Patriarcal
O Sacrifício da Lei Mosaica
O Valor dos Sacrifícios no Antigo Testamento
O Sacrifício do Novo Testamento
O Santo Sacrifício da Missa
A Missa é um Sacrifício
O Sacrifício da Missa
A Celebração do Santo Sacrifício da Missa
O Mesmo Sacrifício da Cruz
A Missa Tradicional da Santa Igreja
JESUS CRISTO DESCE AOS INFERNOS
Jesus Cristo Desceu aos Infernos
A RESSURREIÇÃO DE JESUS CRISTO
A Ressurreição de Jesus Cristo
Cristo Ressuscitou Verdadeiramente
A Morte foi Vencida pela Ressurreição
Não Existe Reencarnação
Do Sábado para o Domingo
JESUS APARECE AOS APÓSTOLOS
Apresentação aos Apóstolos
A Ascensão de Jesus Cristo
O Poder de Julgar de Jesus Cristo
O Poder de Perdoar os Pecados
O Arrependimento dos Pecados
Jesus é Rei, Sacerdote e Profeta
PENTECOSTES
Pentecostes
A Descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos
A IGREJA PRIMITIVA
Após Pentecostes
BIBLIOGRAFIA
APRESENTAÇÃO
Este livro foi elaborado utilizando a Sagrada Escritura e, como
base para os comentários de suas passagens, diversos livros
católicos tradicionais, colocando como destaque o Catecismo
Romano (1566), o Catecismo de São Pio X e a Suma Teológica de
Santo Tomás de Aquino.
Ele foi redigido tanto para ensinar a Bíblia como para auxiliar
na difusão da Doutrina Católica. A intenção é fazer com que o fiel
aumente o amor por Deus e pela Santa Igreja.
Para obter o resultado pretendido, o trabalho foi desenvolvido
como uma narrativa, utilizando as principais passagens que compõem
o Antigo e o Novo Testamento e seguindo a ordem cronológica dos
fatos históricos, da criação do mundo até à formação da Igreja.
Através dos comentários, procurou-se abordar as questões
doutrinárias mais relevantes relacionadas com as passagens bíblicas
e que precisam ser conhecidas e estar presentes na vida de todo
Católico.
No final de cada capítulo, segue uma opção de leitura para ser
usada como um direcionamento ao se buscar a Palavra de Deus.
Por fim, gostaria de sugerir que o leitor, caso venha a gostar do
livro, deixe seu comentário no site onde o adquiriu, assim mais
pessoas poderão ter acesso a boa experiência que teve.
Stenio Carneiro
"Revesti-vos da armadura de Deus, 
para que possais resistir às ciladas do demônio" 
Efésios 6, 11
O ANTIGO TESTAMENTO
DEUS CRIA OS CÉUS E A TERRA
A criação do mundo visível e invisível por Deus:
“No princípio, Deus criou os céus e a terra.”
(Gn 1,1)
A CRIAÇÃO DO MUNDO
A Criação é o ato pelo qual Deus deu existência a tudo o que
há no mundo: anjos, homens, animais, plantas e tudo o mais. Sendo
assim, antes de Deus ter criado o mundo, não existia coisa alguma,
exceto Ele mesmo, porque só Ele existe necessariamente, e tudo o
mais, em virtude do seu Poder.
Quanto ao poder de Deus, a Sagrada Escritura ensina que Ele
tem poder infinito. O próprio Deus, em Gen 17, 1, declara de Si
mesmo como sendo "Todo-Poderoso". Sendo assim, Ele sabe todas
as coisas, e todas as coisas estão igualmente sujeitas ao Seu poder e
soberania.
Por conseguinte, nada se pode pensar ou imaginar que Deus
não tenha a virtude de realizar. Pode, portanto, não só operar
prodígios que, por maiores que sejam, não excedem de maneira
absoluta o âmbito de nossas ideias, como por exemplo, fazer voltar
ao nada todas as coisas, ou num ápice tirar do nada outros mundos;
mas pode também fazer coisas muito maiores, que a inteligência
humana não chega sequer a suspeitar. Foi, por saber dessas
verdades, que o anjo Gabriel afirmou a Maria Santíssima que "a
Deus, nada é impossível" (Lc 1, 37).
Agora, que ninguém caia no erro de pensar que só a Ele é
atribuído o predicado de Todo-Poderoso, de sorte que não seja
também comum ao Filho e ao Espírito Santo. Como afirmamos que o
Pai é Deus, que o Filho é Deus e que o Espírito Santo é Deus, sem
por isso reconhecer três deuses, mas a um só Deus; assim também
dizemos que o Pai é todo-poderoso, que o Filho é todo-poderoso e
que o Espírito Santo é todo-poderoso, sem contudo asseverarmos
que haja três onipotentes, mas um só onipotente. Damos ao Pai esse
atributo pela especial razão de ser Ele a fonte de tudo quanto existe.
Por conta de sua onipotência divina, Deus não formou o mundo
de uma matéria preexistente, mas criou-o do nada, sem a tanto ser
obrigado por violência estranha ou necessidade natural; mas por Sua
livre e espontânea vontade. Nenhum outro motivo O impeliu a criar o
mundo, senão a Sua própria bondade. Queria comunicá-la a todas as
coisas que criasse. Possuindo por Sua natureza toda a felicidade,
Deus não tem falta de coisa nenhuma. Logo, Deus não criou o mundo
por necessidade nem por ambição, muito ao contrário; criou-o por
pura benevolência, para comunicar às criaturas parte da sua Bondade
infinita. Importante mencionar que somente quando aprouve ao seu
divino querer foi que Deus criou o mundo, podia, por conseqüência,
ter deixado de criá-lo.
Apesar de todo esse poder, Deus não pode todavia mentir,
nem enganar, nem ser enganado, nem pecar, nem perecer, nem
tampouco ignorar alguma coisa. Isto porque essas deficiências só
podem ocorrer numa natureza cuja operação é imperfeita. Ora,
operando sempre de maneira perfeitíssima, Deus não é capaz de tais
coisas.
Observamos todas essas realidades na passagem de Gn 1, 1-
25, a qual revela que a criação do mundo é fruto de um Deus
infinitamente poderoso, que fez do nada o céu e a terra, e todas as
coisas que neles estão contidos, para manifestar a sua glória e a sua
grandeza; como também veio de um Deus que é puro amor e
bondade, que desejou comunicar aos seres parte do bem infinito que
possui.
Perceba, no entanto, que depois de consumada a obra da
Criação, os seres por Ele criados não podem continuar a subsistir
sem o auxílio de Sua potência infinita. Como tudo só existe graças à
onipotência, sabedoria e bondade do Criador, todas as criaturas
recairiam logo em seu nada se Deus lhes não assistisse
continuamente pela Sua Providência e não as conservasse pelo
mesmo poder que, desde o princípio, empregou para criá-las.
Ressalte-se aqui que o mundo não foi criado somente por Deus
Pai, pois sua criação teve a participação conjunta das três Pessoas
divinas, porque aquilo que uma Pessoa faz relativamente às criaturas,
fazem-no com um só e o mesmo ato também as outras. É o que nos
ensina a passagem de Gn 1, 26: “Então Deus disse: Façamos o
homem à nossa imagem e semelhança”.
Vale lembrar que, comumentemente, é atribuída a criação a
Deus Pai porque a criação é efeito da onipotência divina a qual se
atribui particularmente a Deus Pai, como se atribui a sabedoria ao
Filho e a bondade ao Espírito Santo, embora todas as três Pessoas
tenham a mesma onipotência, sabedoria e bondade.
Quanto à existência de Deus Pai, sabemos que Ele é espírito,
que está absolutamente isento de matéria e de qualquer elemento
estranho ao seu ser. No entanto, temos ao Senhor como um ser real
porque a nossa razão no-lo demonstra, e a fé no-lo confirma.
Ele é, no sentido mais absoluto e transcendental, o Ser por
essência e as restantes coisas são seres particulares, são tais seres
e não o Ser.
Dizer que Ele é o ser por essência significa que existe per se e
concentra em si mesmo todos os modos do ser; é, portanto perfeito e,
sendo perfeito, necessariamente há de ser bom. É, além disso,
infinito, condição indispensável para que nenhum ser tenha ação
sobre Ele; se é infinito possui o dom da ubiqüidade (faculdade divina
de estar concomitantemente presente em toda parte). É imutável,
porque, se mudasse, havia de ser em busca de uma perfeição que
lhe faltasse. Sendo imutável, é eterno, porque o tempo é sucessão e
toda sucessão revela mudança. Sendo perfeito em grau infinito, não
pode haver mais do que um; se houvesse dois seres infinitamente
perfeitos, nada teria um que o outro não possuísse, não haveria
meios de distingui-los e seriam, portanto, um.
Nós O temos como Pai porque, além de termos sido por Ele
criados, pela graça, fomos eleitos filhos adotivos de Deus.
O homem pode, apesar de sua fraqueza, cooperar coma ação
divina no governo do mundo, empenhando-se, como instrumento de
Deus, em promover o bem dos seus semelhantes.
O SÉTIMO DIA
O número sete é dos mais dotados de valor simbólico na
mentalidade antiga e na Escritura Sagrada, sendo-lhe atribuído o
significado de totalidade, plenitude e perfeição. A Bíblia o reconhece e
o promulga já em suas primeiras páginas, com a história da criação
do mundo. 
O Gênesis ensina que foram utilizados seis dias para terminá-
lo, apesar de que Deus poderia tê-lo criado, se assim O desejasse,
em um só instante.
Revela, também, que no sétimo dia Deus descansou,
“abençoou e o consagrou, porque nesse dia repousara de toda a obra
da Criação” (Gn 2, 3). Esse dia, para os judeus da época de Jesus
Cristo, era o sábado, que quer dizer descanso. Anteriormente, na
época de Moisés, Deus havia ordenado que este dia fosse santificado
e consagrado a Ele.
Após a ressurreição de Jesus Cristo, os cristãos passaram a
adotar o domingo como o “primeiro dia da semana” (Mt 28, 1-10) e
como o dia do “repouso sagrado”. Domingo provém do latim
“dominica díes”, que quer dizer “dia do Senhor”. Ele substituiu o
sábado, porque foi em dia de domingo que Nosso Senhor Jesus
Cristo ressuscitou.
No Novo Testamento o número sete aparece sempre que se
queira exprimir a totalidade, tão grande quanto seja; assim quem for
discípulo de Jesus Cristo há de perdoar não sete vezes, mas setenta
vezes sete vezes, isto é, indefinidamente, sempre que haja ocasião
para isto: "Então Pedro se aproximou dele e disse: Senhor, quantas
vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até
sete vezes? Respondeu Jesus: Não te digo até sete vezes, mas até
setenta vezes sete." (Mt 18, 21-22).
Referência: A criação do mundo (Gn 1, 1-25).
DEUS CRIA O HOMEM E A MULHER
No mundo visível, Deus cria o homem e a mulher com tanto
amor que os faz à sua imagem e semelhança. O homem recebe,
nesse momento, o dom da liberdade, a graça da santidade e o estado
de justiça original:
“E viu Deus que isto era bom, e (por fim) disse: Façamos o
homem à nossa imagem e semelhança, e presida aos peixes do
mar, e às aves do Céu, e aos animais selváticos, e a toda a
terra, e a todos os répteis, que se movem sobre a terra. E criou
Deus o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, varão
e fêmea os criou.”
(Gn 1,26-27)
À CRIAÇÃO PARA O HOMEM
Por pura bondade, Deus formou do limo da terra o corpo do
homem, de maneira que fosse imortal e impassível, não por exigência
da própria natureza, mas por mero efeito da bondade divina.
Pelo mesmo motivo, criou e mantém o curso regular do
universo em proveito do homem. Sendo assim, tudo o que existe foi
disposto para servir ao homem em todas as suas necessidades. Fez
isso por considerá-lo a criatura mais débil e a que mais necessita de
cuidados espirituais e materiais. Por outro lado, a graça, juntamente
com as virtudes e os dons recebidos, faz do homem o ser mais
perfeito da criação na ordem natural, superior, inclusive, aos anjos,
não incluindo a sua natureza.
O homem, em virtude de sua criação, deve reconhecer a Deus
como fonte e princípio de todo o bem, e consagrar-se a Ele como seu
fim último.
CRIADOS À IMAGEM E SEMELHANÇA DE DEUS
Quando a Bíblia fala da criação do homem e diz que o homem
e a mulher foram criados à “Imagem de Deus”, ela não está dizendo
que eles foram feitos à representação visível de Deus, já que Este é
puro espírito, mas afirmando que a natureza e operações mais
elevadas do homem lhe permitem entrever a natureza divina e a vida
íntima da Augusta Trindade e imitam de certo modo a perfeição das
pessoas divinas.
Podemos perceber essa “imagem e semelhança” na alma
humana, pois as operações mais perfeitas da nossa alma, entender e
amar, têm por objeto a primeira Verdade e o Bem supremo, que é
Deus. No mundo corpóreo, não há, além do homem, nenhum outro
ser feito à imagem e semelhança de Deus, isso porque somente ele
possui natureza espiritual.
Cabe anotar que o Senhor assim agiu, concedendo ao homem
ser criado à sua imagem, porque se apiedou mais do gênero humano
do que dos demais seres existentes na terra, pois via que ele era
incapaz, pela lei de sua própria natureza, de subsistir para sempre.
Sendo assim, considerou Deus que o homem, possuindo uma
espécie de sombra do Verbo, e sendo racional, poderia permanecer
na bem-aventurança, vivendo no paraíso a verdadeira vida, que
realmente possuem os santos.
A expressão “Semelhante a Deus” indica que, embora o
homem seja “imagem de Deus”, ele não é Deus e nunca poderá ser.
A FELICIDADE DOS PRIMEIROS HOMENS
O homem foi criado perfeito por Deus. Seu primitivo estado de
felicidade compreendia ciência claríssima e universal, justiça original
unida à prática de todas as virtudes, império absoluto da alma sobre o
corpo e domínio sobre todas as criaturas.
Nesse estado, o homem gozava de muita felicidade. Não era,
entretanto, a última e suprema felicidade a que podia aspirar, pois
sendo temporal, a ela devia seguir-se outra mais alta e definitiva.
Para atingir o estado de felicidade último e perfeito, deveria ele
contrair méritos no primitivo estado.
Ora, como as únicas fontes de mérito para o homem reduzem-
se à amizade com Deus, à vida da graça e a prática das virtudes sob
a inspiração divina do Espírito Santo, deveria ele, para obter a
verdadeira felicidade, concentrar-se em buscar um bem que traz
perfeição diretamente ao espírito, no caso, Deus, Sumo Bem,
Soberano e Infinito.
Caso assim agisse, no final de sua existência, seria levado por
Deus para o céu e, em companhia dos anjos, receberia o galardão
que haveria de coroar a sua vida, a felicidade plena.
A ALMA IMORTAL DO HOMEM
O homem, apesar de ter sido criado da terra, foi animado por
uma alma imortal, uma alma criada à “imagem e semelhança” de
Deus. Isso aconteceu no momento em que Deus “formou o homem
do barro da terra” e “inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida e este
se tornou um ser vivente”, significando que a alma é criada no
momento da concepção do homem, uma alma nova, não uma que foi
“reencarnada” como ensinam muitas falsas doutrinas. Portanto, a
doutrina da reencarnação é totalmente anticristã.
A alma é a parte mais nobre do homem porque é substância
espiritual, dotada de inteligência e de vontade, capaz de conhecer a
Deus e de possuí-Lo eternamente.
Atente que as plantas e os animais também têm alma, no
entanto, a alma das plantas é exclusivamente vegetativa; a dos
animais vegetativa e sensitiva; e a humana, além destas faculdades,
possui a inteligência, que é o que distingue o homem dos demais
seres corpóreos.
Jesus Cristo estabeleceu o destino futuro da nossa alma.
Distinta do corpo, ela não morre com ele; mas comparece perante
Deus e recomeça uma vida nova e eterna.
OS DONS PRETERNATURAIS
O homem, no paraíso, estava dotado de todos os dons
naturais, aos quais a bondade divina tinha ajuntado dons
sobrenaturais.
Na ordem natural, foi-lhe concedida uma inteligência perfeita,
isenta das trevas e dúvidas da ignorância; sua vontade era norteada
para o bem e livre de toda tendência ao mal; seu coração dirigia-se
espontaneamente a Deus e ao que é bom, alheio, por completo, ao
triste peso da concupiscência.
Na ordem sobrenatural, o homem gozava dos Dons
Preternaturais: o dom da liberdade, a graça da santidade, de onde
veio à imortalidade, e o estado de justiça original, que gerava a
harmonia com a criação que o rodeava. Por meio desses dons, o
homem usufruía de um estado de graça, harmonia e felicidade que
lhe possibilitava participar da filiação divina. Além disso, Deus lhe
acrescentava a promessa de fazê-los participar da própria ventura, e
isto durante a eternidade.
O LIVRE-ARBÍTRIO
No ato da criação, o homem recebe algo digno de alguém
agraciado por Deus, o Livre-Arbítrio de pensar, de praticar atos e até
mesmo de discordar e negar a quem lhe deu esse dom. Paralelo a
essa liberdade, foi-lhe dada inteligência suficiente para que pudesse
rejeitar o mal e desejar o bem, além de uma consciência superior, que
nenhum outro animalpossui, que o alerta quando se afasta da
vontade de seu criador. Portanto, a liberdade humana não reside
exclusivamente na vontade, em querer ou não querer, mas na
vontade unida à inteligência. Por conta disso, tem o homem
condições de rejeitar o mal e desejar o bem.
Observe, no entanto, que essa liberdade não é absoluta.
Lembre que o governo de Deus neste mundo, chamado de
'Providência Divina’, estende-se a todas as coisas, tanto aos seres
inanimados como aos atos livres do homem. Assim, os atos livres do
homem estão de tal maneira sujeitos às disposições da Providência
Divina, que coisa nenhuma pode o homem fazer, se Deus a não
ordena ou a permite, pois a liberdade não lhe confere independência
a respeito de Deus.
A GRAÇA DE DEUS E O ESTADO DE JUSTIÇA ORIGINAL
Adão e Eva saíram das mãos de Deus inocentes e puros;
estado esse que se chama de Justiça Original.
Sendo assim, Deus não somente presenteou o homem com
uma natureza semelhança a sua, mas concedeu-lhe a Sua graça.
A Graça da Santidade fazia com que os primeiros homens
pudessem participar da vida de Deus, de sua amizade. Pela
propagação desta graça, todos os aspectos de suas vidas eram
fortalecidos. 
Além da graça santificante, Deus concedeu aos nossos
primeiros pais outros dons que os ajudavam e que deviam transmitir
aos seus descendentes, como a integridade, isto é, a perfeita sujeição
dos sentidos à razão, onde o espírito nada sabia das trevas da
ignorância e a alma estava inclinada para o bem; a imortalidade, pois
o homem não havia de sofrer nem de morrer, sendo que seu corpo,
isento do trabalho e das misérias da vida, devia passar desta
existência terrestre para uma vida sem fim e sempre feliz; e a
imunidade a todas as dores e misérias terrenas.
O Estado de Justiça Original, recebido de Deus, criava a
harmonia entre o homem e a mulher, com eles mesmos e com toda a
criação, gerando uma paz absoluta. Essa harmonia somente será
superada pela glória da nova criação em Jesus Cristo.
Referência: A criação do homem e da mulher (Gn 1, 26-31 e 2,
1-8).
SATANÁS REBELA-SE CONTRA DEUS
No mundo invisível, Deus cria anjos para servi-Lo. Acontece
que o anjo a quem o Senhor deu o comando sobre todos os demais,
rebela-se contra a sua autoridade e santidade:
“Depois apareceu no céu um grande sinal: uma Mulher vestida
de sol, com a lua debaixo de seus pés, e uma coroa de doze
estrelas sobre a sua cabeça. Ela está grávida, e clama com
dores, atormentada para dar a luz.
Foi visto ainda um outro sinal no céu: era um grande Dragão,
cor de fogo, que tinha sete cabeças e dez pontas, e nas suas
cabeças sete diademas. A sua cauda arrasta a terça parte das
estrelas do céu, e precipitou-as na terra.
Depois o Dragão parou diante da Mulher, que estava para dar à
luz, a fim de devorar o seu filho, logo que ela o tivesse dado à
luz.”
(Ap 12, 1-4)
A REVOLTA DE LÚCIFER
Antes da criação do homem, Deus havia criado os anjos, puros
espíritos destinados a viverem sem que fossem, como a nossa alma,
unidos aos corpos. Deus os criou para Ser por eles honrado e
servido, e para os fazer eternamente felizes. Para que pudessem
exercer seu papel, Deus conferiu-lhes o admirável dom de Sua graça
e poder.
O Senhor, cujas obras todas eram boas, os criara na
santidade, e eles podiam perpetuá-la, obedecendo a seu Criador. 
Desde o princípio foram dotados de livre arbítrio, para
escolherem por si mesmos a felicidade ou a perdição. O homem
também foi criado em condições idênticas.
Acontece que os anjos, igualmente aos homens, tiveram que
passar por uma provação que estabeleceria o quanto amavam a
Deus e estavam dispostos a serem submissos a Sua vontade. 
Ao final desta provação, a maior parte permaneceu fiel e foi
confirmado para sempre no seu estado de perfeição e de felicidade,
passando a gozarem para sempre da vista de Deus no céu, onde
estão a amá-Lo, bendizê-Lo e louvá-Lo eternamente. São os anjos
bons que adoram a Deus no céu, cumprem as suas ordens no
universo e zelam pela salvação dos homens.
Os demais, entretanto, com Lúcifer à sua frente, cegos pelo
orgulho, negaram a Deus o ato de submissão que Ele lhes pedia.
Deus havia elevado Lúcifer (anjo de luz) acima dos demais
anjos para que melhor O servisse no céu. No entanto, não se
contentando em ser o que era, pois aspirava ser igual a Deus e não
depender d’Ele; e devorado de ciúmes à vista da ventura do homem e
dos seus altos destinos, juntou-se a outros anjos e atentou contra o
Senhor. 
Ao arcanjo Miguel foi concedida a missão de travar contra eles
uma batalha. Derrotados, recebem como castigo a expulsão para
sempre do Paraíso e a condenação ao Inferno por toda a eternidade:
"Houve uma batalha no céu. Miguel e seus anjos tiveram de
combater o Dragão. O Dragão e seus anjos travaram combate, mas
não prevaleceram. E já não houve lugar no céu para eles." (Ap 12, 7-
8).
Quando o Demônio viu que seus planos haviam perecido e que
seu sonho de ser Deus definitivamente acabara, ficou possuído de
uma grande ira e pensou em vingar-se. Entretanto, não adiantava
enfrentar Deus. Lembrou-se, então, do homem que Deus havia criado
na terra. Imaginou que não existiria mal maior do que transformar
este homem em inimigo de Deus:
"Foi então precipitado o grande Dragão, a primitiva Serpente,
chamado Demônio e Satanás, o sedutor do mundo inteiro. Foi
precipitado na terra, e com ele os seus anjos. Por isso alegrai-vos, ó
céus, e todos que aí habitais.
Mas, ó terra e mar, cuidado! Porque o Demônio desceu para
vós, cheio de grande ira, sabendo que pouco tempo lhe resta (para
perder almas).
O Dragão, vendo que fora precipitado na terra, perseguiu a
Mulher que dera à luz o Menino. Mas à Mulher foram dadas duas
asas de grande águia, a fim de voar para o deserto, para o lugar de
seu retiro, onde é alimentada por um tempo, dois tempos e a metade
de um tempo, fora do alcance da cabeça da Serpente. A Serpente
vomitou contra a Mulher um rio de água, para fazê-la submergir. A
terra, porém, acudiu à Mulher, abrindo a boca para engolir o rio que o
Dragão vomitara.
Este, então, irritou-se contra a Mulher e foi fazer guerra ao
resto de sua descendência, aos que guardam os mandamentos de
Deus e têm o testemunho de Jesus." (Ap 12, 9-18)
Os Anjos que se conservaram fiéis a Deus foram confirmados
em graça, passando a gozarem para sempre da vista de Deus no
céu, onde estão a amá-Lo, bendizê-Lo e louvá-Lo eternamente.
Referência: A batalha do apocalipse (Ap 12, 1-18).
DEUS ESTABELECE LIMITES PARA O HOMEM
Deus, sabendo das más intenções de Lúcifer, adverte o
homem de que deve sempre obedecê-Lo:
“Tomou, pois, o Senhor Deus o homem, e colocou-o no jardim
do Eden, para que o cultivasse e guardasse.E deu-lhe este
preceito, dizendo: Come de todas as árvores do paraíso, mas
não comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal,
porque, no dia em que dele comeres, morrerás
indubitavelmente.”
(Gn 2, 15-17)
A ÁRVORE DA CIÊNCIA DO BEM E DO MAL
Deus colocou o homem no paraíso em perfeito estado de
inocência, graça e felicidade, isento, portanto, da morte e de todas as
misérias da alma e do corpo.
O Senhor, entretanto, usando do seu direito de soberano,
colocou uma condição para a conservação desta ventura terrena e
desta felicidade sobrenatural: queria um ato de submissão e
dependência do homem.
Assim, permitiu-lhe que comesse de todos os frutos do Paraíso
terrestre, proibindo-lhe apenas que experimentasse o fruto da árvore
que estava no meio do jardim.
A intenção de Deus era dar um preceito ao homem, relativo a
obediência, que o levasse a reconhecê-Lo como seu Dono e Senhor.
Seria um preceito ligado a uma coisa sensível, porque o homem
possuía sentidos; e fácil de seguir, pois Deus queria que a vida lhe
corresse agradável, enquanto se conservasse inocente.
Ora, o homem era por natureza corruptível, mas pela graça da
participação do Verbo havia escapado desta condição natural. Caso
permanecesse na virtude e continuado bom, o prêmio para ele seria o
aumento de graça e de felicidade. Teria, por conseguinte, sempre no
paraíso vidaisenta de tristeza, dor, preocupações, além da
imortalidade prometida no céu.
No entanto, em caso de desobediência, ele e seus
descendentes, decairiam daquela perfeição e experimentariam o mal,
tanto espiritual como corporal. Deixariam, portanto, de viver no
paraíso, sendo dali expulsos para ficarem doravante sujeitos à morte
e à corrupção (do corpo). Com efeito, devido à presença do Verbo a
corrupção natural não os podia tocar. É o que afirma o livro da
Sabedoria: “Deus criou o homem para a incorruptibilidade e o fez
imagem de sua própria eternidade; é por inveja do diabo que a morte
entrou no mundo” (Sb 2, 23-24).
A passagem de Gn 2, 16, revela a preocupação de Deus com o
futuro do homem. Mostra, simbolicamente, o que ele não deve fazer:
“não comam do fruto da árvore da ciência do bem e do mal” e, de
maneira clara, a conseqüência caso o faça: “no dia em que dele
comerem, morrerás indubitavelmente”.
Isso significa dizer que, se o homem decidir comer do “fruto da
árvore” (ou seja, se “desobedecer a Deus”), perderá a “graça da
santidade” e, com isso, o “dom da imortalidade”, passando a morrer.
A expressão “árvore da ciência do bem e do mal” significa o
LIMITE que o homem deve respeitar para sua própria felicidade
porque, como ser criado por Deus, não tem condições de discernir
sozinho o que é bom e o que é mal. A partir da observação desse
Limite é que o homem evitará o mal em sua vida.
Referência: O Limite do homem (Gn 2, 9-17).
DEUS CRIA A FAMÍLIA
Após criar o homem e a mulher, Deus origina a instituição ao
redor da qual toda a humanidade se desenvolverá: a Família:
“Disse mais o Senhor Deus: 
Não é bom que o homem esteja só: façamos-lhe um adjutório
semelhante a ele. Mandou, pois, o Senhor Deus um profundo
sono a Adão, e enquanto ele estava dormindo, tirou uma das
suas costelas, e pôs carne no lugar dela. E da costela, que
tinha tirado de Adão, formou o Senhor Deus uma mulher, e a
levou a Adão. E Adão disse: eis aqui agora o osso de meus
ossos e a carne da minha carne; ela se chamará Virago, porque
do varão foi tomada. Por isso deixará o homem seu pai e a sua
mãe, e se unirá a sua mulher, e os dois serão uma só carne.”
(Gn 2, 18; 2, 21-25)
A CRIAÇÃO DA FAMÍLIA
Ao terminar de formar Adão, Deus decidiu associar-lhe uma
companheira e consorte. Para tanto, “infundiu-lhe um profundo sono;
e, enquanto ele dormia, tirou-lhe uma costela, da qual formou a
mulher, que apresentou a Adão. Este a recebeu com alegria e a
chamou Eva”. Neste momento, Deus instituiu a Família.
Formada como reflexo da Santíssima Trindade, a Família não é
uma comunhão meramente material e formal, mas uma aliança de
amor, o que a capacita a resistir a toda e qualquer maldade vinda do
demônio. Portanto, através da família, o homem terá um meio seguro
para alcançar o Reino do céu. Perceba que a família foi um projeto
querido pelo coração de Deus desde o início da criação.
Para perpetuá-la, Deus institui o Matrimônio. Ele representa
não apenas a simples união entre um homem e uma mulher, mas
uma “aliança” entre os dois e Deus, por isso mesmo, indissolúvel.
Na Família criada por Deus, o interesse de um dos membros
não deve se sobressair sobre o interesse dos demais. Essa
percepção, por parte dos membros, é que faz com que o adultério, as
discussões, o egoísmo, enfim, o mal que possa prejudicar a família,
seja evitado.
No momento de sua celebração, Deus abençoa seus
integrantes, fazendo com que um sirva de “ajuda adequada” (Gn 2,
18) ao outro e que os dois, transformados em “uma só carne” (Gn 2,
23), participem de sua natureza criadora através da fecundidade do
casal: “Frutificai, disse Ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e
submetei-a.” (Gn 1, 28).
Em Gn 2, 22, encontramos uma verdade que não pode ser
esquecida: “o Senhor Deus fez uma mulher, e levou-a para junto do
homem”, ou seja, Deus fez a mulher para o homem. Ele não fez um
homem para coabitar com outro homem ou uma mulher para ser
esposa de outra. Da mesma forma, ensina o Catecismo Romano: “os
fiéis devem saber, antes de tudo, que o Matrimônio foi instituído por
Deus. Está escrito no Gênesis: 'Criou-os como homem e mulher; e
Deus os abençoou, e disse: Crescei, e multiplicai-vos'.” (MARTINS, p.
377). Sendo assim, qualquer situação, além da ordem divina, está
fora da vontade de Deus e deve ser rejeitada.
Referência: Deus cria a Família (Gn 2, 18-25).
O HOMEM DESOBEDECE A DEUS
Satanás, ao chegar a terra, procura induzir o homem ao
pecado. Este, estimulado pelo Espírito do Mal, que lhe apareceu sob
a forma de serpente, então inofensiva, revolta-se contra Deus. Nesse
momento, o pecado original toma forma:
“Mas a serpente era o mais astuto de todos os animais da terra
que o Senhor Deus tinha feito. E ela disse à mulher: por que
vos mandou Deus que não comêsseis de toda a árvore do
paraíso?
Respondeu-lhe a mulher: nós comemos do fruto das árvores,
que estão no paraíso, mas do fruto da árvore, que está no meio
do paraíso, Deus nos mandou que não comêssemos, e nem a
tocássemos, não suceda que MORRAMOS.
Porém a serpente disse à mulher: vós de nenhum modo
morrereis; mas Deus sabe que, em qualquer dia que comerdes
dele, se abrirão os vossos olhos, e sereis como DEUSES,
conhecendo o bem e o mal.
Viu, pois, a mulher que (o fruto) da árvore era bom para comer,
formoso aos olhos e desejável para alcançar a sabedoria, e
tirou do fruto dela, e comeu: e deu a seu marido, que também
comeu.”
(Gn 3, 1-7)
ADÃO E EVA NEGAM A DEUS
Satanás, cheio de revolta, vendo que não podia atingir a Deus,
dirige-se a terra e passa a mentir para o homem. Fala-lhe que Deus
não é bom, que não é fiel e que não é o único a discernir sobre o que
é bom e o que é mal, que ele próprio tem a capacidade de fazê-lo,
que pode ser igual a Deus. Estava, na realidade, reproduzindo na
terra o que se havia passado com ele mesmo no céu quando desejou
ser Deus.
Quando o homem recebeu o dom da liberdade, adquiriu, entre
outras coisas, a capacidade de repelir a satanás e seus aliados.
Esses são poderosos pelo fato de serem puro espírito, mas, como
criaturas, não são capazes de influírem na vida do homem que não os
deseja.
O homem, mesmo sabendo disso, ao ser tentado pelo Diabo
não o rejeita, deixando morrer em seu coração a confiança em Deus.
Prefere a si mesmo em vez de seu Criador. Assim, ao invés de
querer, por intermédio de Deus, participar de sua natureza divina,
aceita a sugestão do demônio de que, pelas suas próprias forças,
chegaria ao mesmo propósito. 
Então, munido do dom da liberdade, o homem decide
desobedecer a Deus na esperança de tornar-se igual a Ele,
conhecedor e determinador do bem e do mal. 
Deste modo, Eva colheu a fruta proibida e comeu. Em seguida,
levou-a a seu marido que dela também comeu, instigado pelo
exemplo da sua companheira. 
Imediatamente, abriram-se-lhes os olhos; foram esconder-se
depois de terem encoberto o corpo com folhagem na esperança de
ocultarem a vergonha e o pecado.
Observa-se, com essa decisão, que a raiz do pecado, sem
dúvida, foi a soberba do homem, como antes o tinha sido dos anjos
rebeldes. 
A Soberba é um vício onde o homem, esquecendo e
desprezando a lei, inclina-se a dominar e submeter tudo ao seu
capricho, considerando-se superior a tudo quanto o rodeia. Por isso,
tende a envolver primária e essencialmente desprezo, aversão e
separação de Deus.
Todos os outros pecados, que, com efeito, acompanharam a
primeira falta, foram conseqüência do pecado de soberba, antes do
qual não podiam ter-se cometido.
Portanto, antes de se ter cometido o pecado de Soberba, não
se podia cometer nenhum outro. Isso acontecia porque o estado de
inocência era acompanhado do dom da integridade, em virtude do
qual todas as potências e faculdades guardavam perfeita
subordinação, enquanto o espírito permanecesse sujeito a Deus;
logo, para romper o equilíbrio foi necessário que a razão sacudisse o
jugo divino, obtendo uma independência que não lhe pertencia, e
nisto consiste o pecado da soberba.
Enfim, todo pecado, de então em diante, passará a ser uma
desobediênciaa Deus e uma falta de confiança em seu amor. A partir
desse momento, o homem, longe da graça da santidade, não mais
poderá atingir a perfeição a que foi destinado. 
O pecado da desobediência de Adão e Eva trouxe para eles e
para toda a linhagem humana os mais desastrosos efeitos, pois
propagou-se depois a todos os seus descendentes, exceto Maria
Santíssima, e é aquele com que todos nascemos, e que se chama
pecado original.
O PECADO ORIGINAL
Pecado original é a mancha do pecado que se transmite a
todos os homens devido a queda de nossos primeiros pais. Essa
mancha sobreveio com a perda dos dons preternaturais. 
Ora, Deus pôde retirar os dons prometidos porque ao conferir
ao gênero humano, em Adão, a graça santificante e os outros dons
preternaturais, o fez com a condição de que ele não Lhe
desobedecesse. Além disso, tais dons foram dados de forma gratuita.
Dessa forma, tendo Adão desobedecido ao preceito divino, Deus
pôde, sem injustiça, privar deles a Adão e a toda a sua descendência.
Importante anotar que Adão desobedeceu na qualidade de
cabeça e pai do gênero humano, o que acabou por tornar todos os
homens rebeldes a Deus. Essa qualidade é comprovada em At 17,
26, ao lermos que “de um só fez toda a raça humana”. 
Lembre-se que Adão havia recebido os dons de Deus não
exclusivamente para si, mas para todos os seus descendentes. Da
mesma forma, ao pecarem, transmitem a todos o pecado e,
consequentemente, suas implicações, no caso, a privação da graça, a
perda do Paraíso, a ignorância, a inclinação para o mal, a morte e
todas as demais misérias. Observe, entretanto, que apesar de todos
estes motivos de pecado é preciso sustentar que o homem é livre
quando executa atos morais e que jamais peca por necessidade.
Na Sagrada Escritura, em Rm 5, 12, encontramos São Paulo
fazendo referência ao pecado original na passagem: “Por isso, como
por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte,
assim a morte passou a todo o gênero humano, porque todos
pecaram”.
É claro que se não tivesse pecado o primeiro homem, ter-nos-
ia transmitido a natureza em outro estado, qual seja, no estado de
integridade e justiça original. Atualmente, o estado que a recebemos
é "estado de pecado", porque a recebemos como ela é e conforme
ficou em conseqüência do pecado de nossos primeiros pais.
O pecado original mancha nossa alma desde o primeiro
instante de nosso ser, faz-nos inimigos de Deus, escravos do
demônio, desterrados para sempre da bem-aventurança, sujeitos à
morte e a todas as demais misérias. Somente com o santo Batismo é
que se apaga o pecado original.
Observe que todos os homens contraem o pecado original,
exceto a Santíssima Virgem que dele foi preservada por Deus, com
singular privilégio, devido aos merecimentos de Jesus Cristo.
Diante do que foi exposto, percebe-se que o pecado original
não tem nada a ver com relação sexual. Não é devido a esse ato
biológico que se transmite o pecado original, pois mesmo a criança
que se origina de meios não naturais já nasce com o mesmo.
Por último, vale salientar que quem não acredita no pecado
original não pode dizer-se cristão, pois não acredita no mistério de
Jesus Cristo, na Salvação por Ele conquistada. Como disse João
Batista a respeito de Cristo: “Eis o Cordeiro de Deus que veio retirar o
pecado do mundo”.
O PECADO
Pecado é um ato ou omissão voluntária em matéria ilícita. Este
ato ou omissão voluntária será pecaminoso quando é contrário ao
bem de Deus, ao bem próprio ou ao do nosso próximo. Estes bens
são aqueles que deleitam os sentidos ou lisonjeiam a ambição e o
orgulho. O homem pode desejar buscar esses bens porque os
 sentidos têm a faculdade de inclinar-se para o que proporciona
 prazeres, antecipando-se ao exercício da inteligência e da vontade. 
Chama-se cobiça ou concupiscência o estado que inclina o
homem a procurar sem razão, nem medida, os bens sensíveis e
temporais. No estado primitivo em que Deus criou o homem não
existia a concupiscência. Ela passou a existir a partir do momento em
que o homem encontrou-se em estado de natureza decaída.
Os pecados que bradam ao Céu e pedem vingança a Deus
são: homicídio voluntário; pecado impuro contra a natureza; opressão
dos pobres, principalmente órfãos e viúvas e não pagar o salário a
quem trabalha. Eles têm esse nome porque o diz o Espírito Santo, e
porque a sua malícia é tão grave e manifesta, que provoca o mesmo
Deus a puni-los com os mais severos castigos.
Existe entre pecado e vício uma diferença marcante. O pecado
é um ato que passa, enquanto o vício é o mau hábito contraído de
cair em algum pecado. Assim, o vício é uma disposição má da alma
que leva-a a fugir do bem e a fazer o mal, causada pela freqüente
repetição dos atos maus. 
Os vícios que são a fonte e a causa de muitos outros vícios e
pecados são chamados 'vícios ou pecados capitais'. São eles: a
soberba; a avareza; a luxúria; a ira; a gula; a inveja e a preguiça. Tais
vícios são vencidos com a prática das virtudes opostas. Assim, a
soberba vence-se com a humildade; a avareza, com a liberalidade; a
luxúria, com a castidade; a ira, com a paciência; a gula, com a
temperança; a inveja, com a caridade; a preguiça, com a diligência e
fervor no serviço de Deus.
O DEMÔNIO É O GRANDE INIMIGO
Além dos inimigos que moram e vivem conosco, sobejam
aqueles assanhados inimigos, dos quais dizem as Escrituras: "A
nossa luta não é contra a carne e o sangue, mas contra os
principados e as potestades, contra os dominadores deste mundo
tenebroso, contra os espíritos malignos nas alturas" (Ef 6, 12).
Sendo assim, é preciso acrescentar os ataques e investidas
dos demônios, que não só nos agridem de frente, como também se
insinuam com tanto disfarce em nossas almas, que mal podemos
acautelar-nos contra eles. Dessa infrene cobiça e obstinada astúcia
do demônio nos fala São Pedro naquela passagem: "O demônio,
vosso Inimigo, anda em redor como um leão a rugir, buscando a
quem devorar" (I Pd 5, 8).
Sua intenção é levar os homens a titubearem e a reincidirem
nos antigos vícios, e a se tornarem muito piores do que antes eram.
Com razão se lhes aplicaria aquele princípio do Príncipe dos
Apóstolos: "Melhor lhes fora não terem jamais conhecido o caminho
da justiça, do que, depois de conhecê-lo, voltarem atrás e afastarem-
se da santa Lei que lhes foi ensinada" (2 Pd 2, 21).
Na Sagrada Escritura, o Apóstolo São Paulo chama-lhes de
"príncipes" (Efésios 6, 12) pela eminência de sua natureza, pois em
virtude de seus dotes naturais sobrepujam aos homens e às demais
criaturas sensíveis. Chama-lhes também "potestades", porque nos
são superiores, já pela própria natureza, já pelo âmbito de seu poder. 
Daí inferimos que são grandes as forças de nossos inimigos,
inflexível a sua coragem, cruel e imenso o seu ódio contra nós; que
nos movem uma guerra contínua, de sorte que nem paz, nem tréguas
podemos fazer com eles. 
Tamanha é a sua arrogância, que bem o mostra aquela palavra
de Satanás, referida pelo Profeta: "Hei de subir até ao céu" (Is 14,
13). E de fato, acercou-se dos primeiros homens no Paraíso, investiu
contra os Profetas, chegou-se aos Apóstolos, para os joeirar como o
trigo, conforme dizia Nosso Senhor no Evangelho (Lc 22, 31). Não se
vexou de se por até na presença do próprio Cristo Nosso Senhor. 
Observe que Satanás não é o único que tenta os homens.
Muitas vezes, os demônios se congregam para investir contra um
individuo. Assim o confessou aquele demônio, a quem Cristo Nosso
Senhor perguntara pelo nome, porquanto respondeu: "Meu nome é
Legião" (Mc 5, 9). Era, na verdade, um tropel de demônios que havia
atormentado o pobre homem. E de outro demônio está escrito: "Toma
consigo outros sete espíritos, piores do que ele, e, entrando, fazem ali
a sua morada" (Mt 12, 45).
Infelizmente, muitos julgam que tudo não passa de imaginação,
só porque de modo algum experimentam, em si mesmos, as
tentações e ataques dos demônios. Todavia, não admira não sejam
tais pessoas acometidas pelos demônios, uma vez que se
entregaram a eles de própriavontade. Não possuem piedade, nem
caridade, nem virtude alguma própria de um cristão. Daí estarem,
inteiramente, no poder do demônio. E o demônio não precisa valer-se
das tentações para as derribar, desde que consentiram,
espontaneamente, em lhe dar morada no coração.
É por isso que os que se consagraram a Deus, e levam na
terra uma vida toda celestial, são por isso mesmo atingidos, mais do
que todos, pelos furores de Satanás, que nutre contra eles um ódio
implacável, e lhes arma ciladas a cada instante. A História Sagrada
está cheia de exemplos, relativos a santos varões que ele derribou,
por violência e traição, não obstante terem lutado corajosamente.
Adão, David, Salomão, e outros mais, que seria difícil enumerar,
sofreram violentos ataques e pérfidas traições dos demônios, a que a
mera prudência e força humana não podem resistir.
Necessário ainda acrescentar que virão tempos em que a
guerra entre o bem e o mal adquirirá tais caracteres de violência que
pareça que Satanás tenha concentrado toda a sua malícia e poder
destruidor num só indivíduo, assim como o Filho de Deus acumulou a
sua potência redentora na natureza humana que uniu à sua divina
Pessoa. Isto sucederá durante o reinado do Anti-Cristo. Logo, o Anti-
Cristo será o agente mais ativo e competente de Lúcifer, e se
esforçará em perder os homens e em acabar com o reino de Cristo,
com tenacidade e meios de destruição dignos do chefe dos
demônios.
Para se resguardar de todos esses males, será preciso que o
homem tenha cuidado para não pactuar em coisa alguma com o
demônio e seus satélites, e o de alistar-se debaixo das bandeiras de
Cristo e, às suas ordens, lutar como valentes e não abandoná-las
jamais. 
Além disso, que ninguém tenha a vaidosa confiança de poder
resistir, por si mesmo, às rijas tentações e ataques dos demônios. Tal
vitória não é mérito de nossa natureza, nem obra da fragilidade
humana.
Portanto, não abusemos dos dons e benefícios que Ele nos
dispensou para nossa salvação, e, como o filho pródigo,
desbaratemos a fortuna paterna na libertinagem, vivendo ao sabor de
nossas paixões.
Desse descaso para com os dons de Deus, temos um exemplo
apropriado na cidade de Jerusalém, de acordo com o testemunho do
profeta Ezequiel. Deus a tinha provido de todas as preciosidades, e
chegou ao ponto de declarar pela boca do Profeta: "A reputação da
tua beleza correu entre as nações, pois essa beleza era perfeita,
graças ao esplendor que te havia eu preparado" (Ez 16, 14). Todavia,
em vez de ser grata a Deus, pelo muito que lhe fizera, e continuava
fazendo, e de aproveitar os dons celestes como meios que recebera,
para garantir a sua eterna bem-aventurança, aquela cidade, dotada
de tantas mercês divinas, mostrou-se ingratíssima para com Deus
seu Pai, abandonou toda a esperança e recordação dos bens
celestiais, para só gozar das riquezas terrenas, na mais ruinosa
devassidão. 
O mesmo acontece com os homens que são ingratos para com
Deus, os homens que com Sua permissão empregam em vícios os
abundantes favores que Deus lhes concede para a prática da virtude.
Ora, já que conhecemos nossa grande fragilidade, o melhor
alvitre será desconfiar de nossas próprias forças, colocar na bondade
divina toda a esperança de nossa salvação, entregarmos cegamente
à proteção de Deus, e ter assim uma coragem inabalável em face dos
maiores perigos. 
Naturalmente, o demônio não é vencido por meio da vadiagem,
da sonolência, da bebedeira, da glutonaria e da luxúria, mas tão
somente pela oração, pelo trabalho, pela vigilância, pela abstinência,
pelo domínio de si mesmo, e pela castidade. 
Por conta disso, devemos pedir o auxilio de Deus em todas as
tentações, e rezar de modo particular, todas as vezes que formos
tentados. Da mesma forma, rogar pela graça de não cedermos aos
maus apetites; de não arrefecermos na luta contra as tentações; de
não nos arredarmos do caminho do Senhor; de conservarmos
igualdade e constância de ânimo, tanto na desgraça, como na
ventura; que nenhuma parcela de nosso ser careça da proteção de
Deus.
AS TENTAÇÕES VINDAS DO DEMÔNIO
Tentar é por em situação perigosa a quem desejamos
experimentar, a fim de fazê-lo trair seus sentimentos acerca de
alguma coisa. Nessa modalidade, não se pode admitir nenhuma
tentação da parte de Deus. Pois que coisa pode haver que Deus não
saiba de antemão?
As tentações são um incitamento ao pecado que nos vem do
demônio, ou das pessoas más ou das nossas paixões. Lembre-se
que não é pecado ter tentações, mas é pecado consentir nelas, ou
expor-se voluntariamente ao perigo de consentir. 
Em tais tentações, o demônio ora produz em nós uma rebelião
interior, valendo-se dos apetites e inclinações de nossa alma; ora nos
persegue exteriormente, lançando mão de fatores extrínsecos, uns
favoráveis, para nos levar à soberba, outros prejudiciais para nos tirar
a coragem. Às vezes, dispõe também de homens perdidos como seus
emissários.
Os demônios nos tentam pela inveja que nos têm e que lhes
faz desejar a nossa eterna condenação, e por ódio a Deus, cuja
imagem em nós resplandece. E Deus permite as tentações, a fim de
que nós, vencendo-as com a sua graça, pratiquemos as virtudes e
alcancemos merecimentos para o Céu. Em outras palavras, Deus
permite que sejamos tentados, para provar a nossa fidelidade, para
fortalecer as nossas virtudes e para aumentar os nossos
merecimentos.
Somente conseguiremos vencer as tentações com a vigilância,
com a oração e com a mortificação cristã. Assim, devemos sempre
pedir a Deus que nos livre das tentações, ou não permitindo que
sejamos tentados, ou dando-nos graças para não sermos vencidos.
Precisamos também pedir a Deus que nos livre do sumo mal, que é o
pecado, e da condenação eterna, que é o seu castigo. 
No entanto, é preciso fazer a resalva de que devemos pedir a
Deus que não nos livre de todos os males, porque não devemos
desejar ser isentos de todos os males desta vida, mas só daqueles
que são nocivos à nossa alma, isto é, de tudo aquilo que Deus vê que
para nós é mal. Isso não significa que não podemos pedir a Deus que
nos livre de algum mal em particular, como, por exemplo, de uma
doença. O importante, nesse caso, é sempre entregando-nos à
vontade de Deus, que pode no entanto, ordenar aquela tribulação
para proveito da nossa alma. 
Lembre-se que todas as coisas estão sujeitas à Santíssima
Vontade de Deus, de maneira que mesmo o mal não acontece sem
uma permissão de Deus, que sabe tirar o bem do mal, e por isso o
permite. E como Deus tem sobre os homens uma amorosa
Providência, devemos ver em todos os acontecimentos, bons ou
maus, um desígnio de Deus que visa nossa salvação eterna. Por
conta disso, tanto nas prosperidades como nas adversidades da vida
presente, devemos reconhecer sempre a vontade de Deus, o qual
tudo dispõe ou permite para nosso bem. 
Portanto, se Deus permite que os seus sofram com pobreza,
doença e outras adversidades, assim procede, para lhes apurar a
paciência, e para os apresentar aos outros homens como exemplos
do dever cristão. 
Nesse sentido, lemos que Abraão foi tentado, porquanto devia
imolar seu próprio filho; e, pelo seu procedimento, tornou-se um
exemplo singular de obediência e resignação, que jamais se apagará
da lembrança dos homens. De forma análoga, dizem as Escrituras a
respeito de Tobias: "Porque eras benquisto de Deus, foi preciso que a
tentação te provasse" (Tob 12, 13).
Além disso, as tribulações nos são úteis para fazermos
penitência das nossas culpas, para provar nossas virtudes, e
sobretudo para levar-nos à imitação de Jesus Cristo, nossa cabeça,
ao qual é justo que nos conformemos nos sofrimentos, se quisermos
ter parte na sua glória.
Para perseverar no caminho de Deus, devemos observar
alguns cuidados para evitar as tentações, como: fugir das ocasiões
perigosas, guardar os sentidos, receber com freqüência os santos
sacramentos, fazer uso da oração, especialmente da devoção a Maria
Santíssima, Senhora Nossa.
Por fim, resta recordar que se os inimigos, por vezes, nos
acossam com tentações, muito nos confortaráa lembrança de que
temos, para nos auxiliar, um Pontífice que pode compadecer-Se de
nossas fraquezas, uma vez que Ele mesmo foi provado em todas as
coisas (Hb 4. 15).
POR QUE DEUS NÃO IMPEDE O PECADO?
É preciso, antes de mais nada, lembrar que Deus cuida do
mundo e de todas as coisas que criou, conserva-as e governa-as com
a sua infinita bondade e sabedoria, e nada sucede no mundo, sem
que Deus o queira, ou o permita, ou seja, há coisas que Deus quer e
manda, e outras que Ele não quer, porém, não impede, como o
pecado. 
A razão de Deus não impedir o pecado é porque até mesmo do
abuso que o homem faz da liberdade que lhe concedeu, sabe tirar um
bem, e fazer resplandecer ainda mais a sua misericórdia ou a sua
justiça. Misericórdia, nesse sentido, consiste em que Deus dá a cada
coisa mais do que exige a sua natureza e também em que dá aos
justos mais do que lhes é devido, e castiga os pecadores com pena
inferior à que merecem as suas culpas.
Além disso, Deus permite tentações e as nossas quedas, e não
impede propriamente o abuso de Seus benefícios e graças, porque
deu ao homem a livre vontade, ou a determinação de si mesmo.
DEUS É CAUSA DOS PECADOS?
Há passagens do Antigo Testamento que parecem atribuir a
Deus uma causalidade direta do mal moral. Trata-se de uma
imperfeição de linguagem. Com efeito, os autores da Bíblia sustentam
claramente a responsabilidade moral do homem que peca, ainda que,
por outro lado, assinalem a absoluta dependência de qualquer
acontecimento da vontade de Deus. Neste caso estamos tratando de
uma vontade permissiva de Deus.
No Êxodo, por exemplo, está escrito assim: "Eu endurecerei o
coração de Faraó" (Ex 7, 3). Em Isaías: "Hás de cegar o coração
deste povo" (Is 6, 10). Na epistola aos Romanos, escreve o Apóstolo:
"Deus os entregou a paixões vergonhosas e sentimentos depravados"
(Rm 1, 26-28). Ora, em tais passagens e noutras semelhantes, não
se deve absolutamente entender que Deus fizesse tal coisa, mas que
o tinha apenas permitido.
O certo é que Deus não induz ninguém em tentação, porque
Deus não pode ser causa de pecado para ninguém, pois até odeia
"todos aqueles que praticam a iniquidade" (Sl 5, 7). Assim o declarou
também o Apóstolo Santiago: "Quando alguém for tentado, não diga
que é tentado por Deus, pois Deus não tenta para o mal" (Tg 1, 13).
O que realmente é importante saber sobre esta questão é que
mesmo Deus permitindo que os bons e justos sejam tentados, Ele
não os deixa sem o auxilio de Sua graça.
ESTAMOS ABANDONADOS NAS MÃOS DO DEMÔNIO?
Dizemos que o demônio é maligno porque nos promove uma
guerra sem tréguas e nutre contra nós um ódio de morte.
Muito embora não consiga prejudicar-nos, enquanto formos
protegidos pelo escudo da fé e inocência, ele, todavia, não cessa
nunca de tentar-nos com males de fora, e atormentar-nos por todos
os meios que estiverem ao seu alcance.
Apesar do grande poder e obstinação do demônio, e seu ódio
mortal contra o gênero humano, ele não pode tentar-nos e
importunar-nos com a força ou pelo tempo que ele queira, pois toda a
sua influência é regulada pela vontade e permissão de Deus, ou seja,
somente pode fazer-nos muito mal à alma e ao corpo, se Deus lhe
der licença, sobretudo tentando-nos a pecar.
A esse respeito, temos, na narração de Jo, o exemplo mais
conhecido. Não tivesse Deus dito ao diabo a seu respeito: "Tudo
quanto ele possui está em tuas mãos" (Jo 1, 12) - não poderia
Satanás tocar em nada que fosse dele. Todavia, se o Senhor não
tivesse acrescentado: "Só não estendas tua mão contra a sua
pessoa" (Jo 1, 12) - um único golpe do demônio o teria fulminado,
juntamente com seus filhos e todos os cabedais. 
Observamos também isso acontecer em Lc 22, 31, quando
Jesus Cristo diz a São Pedro: “Simão, Simão! Satanás pediu
permissão para peneirar-vos, como se faz com o trigo”. 
Portanto, a tal ponto está ligado o poder dos demônios, que
sem permissão de Deus não poderiam sequer entrar nos porcos, de
que falam os Evangelistas (Mt 8, 28 ss).
Isso nos ensina que apesar de Deus permitir a tentação, Ele
nunca deixa que ela seja maior do que a nossa capacidade de repeli-
la. É o que percebemos ao ler I Cor 10, 13: “Não tendes sido
provados além do que é humanamente suportável. Deus é fiel, e não
permitirá que sejais provados acima de vossas forças”. 
Sendo assim, com piedade e pureza de intenção, devemos
pedir a Deus que não permita sermos tentados além do que podem
as nossas forças, e nos faça, antes, tirar alento da própria tentação,
para que, resistindo com firmeza, fortaleçamos as nossas virtudes e
aumentemos os nossos merecimentos para fazer-nos dignos de
alcançar, algum dia, a graça suprema da visão beatífica.
O PARAÍSO NA TERRA
Deus nunca prometeu paraíso na terra, pelo contrário, sempre
alertou sobre as dores desta vida. Quem promete isso é o demônio,
mas “a verdade não está nele. Quando diz a mentira, fala do que lhe
é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8, 44).
O que o demônio apresenta ao homem é uma falsa felicidade.
Por isso, por mais que o homem se esforce para obtê-la, não
conseguirá felicidade plena nessa vida. Somente no céu, na presença
de Deus, o homem será completamente feliz.
É verdade que Jesus Cristo nos prometeu o paraíso, mas no
céu. Encontramos em várias passagens esse entendimento, por
exemplo: Jo 14, 3: “Depois de ir e vos preparar um lugar, voltarei e
tomar-vos-ei comigo, para que, onde eu estou, também vós estejais”;
Luc 23, 43: “E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres
entrado no teu Reino! Jesus respondeu-lhe: Em verdade te digo: hoje
estarás comigo no paraíso”. 
No entanto, Deus não prometeu o paraíso sem impor uma
condição. Deus misericordiosíssimo, pelos merecimentos de Nosso
Senhor Jesus Cristo, o prometeu a quem o serve de todo o coração;
e, sendo fidelíssimo e onipotente, cumpre sempre a sua promessa. 
Em outras palavras, o ponto de partida para o céu é fazer, na
terra, a vontade de Deus, pois cumprir a vontade de Deus é
necessário para se conseguir a salvação eterna, porque Jesus Cristo
disse que só entrará no reino dos céus quem tiver feito a vontade de
seu Pai (Mt 7, 21).
Mas como saber qual a vontade de Deus para a nossa vida? 
A Vontade de Deus a nosso respeito nos é manifestada pelos
Mandamentos de sua Lei e pelos preceitos de sua Santa Igreja.
Nossos superiores espirituais, postos por Deus para guiar-nos no
caminho da Salvação, nos orientam a fim de que conheçamos os
desígnios particulares da Providência a nosso respeito, desígnios que
se podem manifestar em divinas inspirações ou nas circunstâncias
em que o Senhor nos tenha colocado.
Portanto, as condições necessárias para o homem alcançar o
Paraíso são: a graça de Deus, a prática das boas obras e a
perseverança no Seu santo amor até à morte. 
No entanto, nada disso poderá dar frutos se não abraçarmos a
cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo e, juntamente com Ele,
carregarmos a nossa própria cruz, para juntos percorrermos esta
vida, de altos e baixos, rumo a felicidade eterna.
Referência: O pecado original (Gn 3, 1-13).
A PROMESSA DE DEUS
Vendo que o homem caíra na tentação, Deus, cheio de
compaixão, não o abandona, mas promete-lhe uma salvação:
“E o Senhor Deus disse à serpente: pois que fizeste isto, és
maldita entre todos os animais e bestas da terra: andarás de
rastos sobre o teu peito, e comerás terra todos os dias da tua
vida.
Porei inimizades entre ti e a mulher, e entre a tua posteridade e
a posteridade dela. Ela te pisará a cabeça e tu armarás traições
ao seu calcanhar.”
(Gn 3, 14-15)
O PRIMEIRO ANÚNCIO DA SALVAÇÃO
Esse é o primeiro anúncio que a bíblia nos traz da vinda de
Jesus Cristo e de sua vitória sobre o demônio. Ela nos dá um
curtíssimo relato de como as coisas ocorrerão e quais as pessoas
que estarão envolvidas.
Identificamos, em seu conteúdo, duas promessas: a primeira é
aquela que anuncia que o Mal seria vencido definitivamente; a
segunda é a que diz que se de uma mulher surgiu o pecado, de outra
nasceria aquele que venceria o demônio e tiraria opecado do mundo.
Percebe-se também dois grandes protagonistas que disputam
a hegemonia: de um lado, a serpente e sua linhagem, isto é, todos
aqueles que lhe aderem (anjos maus e homens prevaricadores); de
outro lado, a mulher e sua posteridade, isto é, Eva penitente e todos
aqueles que, por graça de Deus, não pactuam com a serpente. São
estas duas facções que lutam no mundo até o fim dos tempos,
quando se consumará a vitória do bem sobre o mal.
A PROMESSA DE SALVAÇÃO
O pecado desencadeou contra o homem toda a sua força,
trazendo contra ele o veredicto divino que pesava sobre a
transgressão do mandamento.
Por conseguinte, o homem ficou privado dos dons que havia
recebido, como, por exemplo, a graça santificante com as virtudes
sobrenaturais infusas e dos dons do Espírito Santo; além disso, foi-
lhe retirado o privilégio da integridade vinculado aos dons
sobrenaturais.
Observe que o privilégio da integridade tinha grande
importância na vida do homem, pois produzia a subordinação perfeita
dos sentidos à razão, e do corpo à alma. Através desse dom, o
homem conseguia com que as faculdades afetivas não
experimentassem nenhum movimento desordenado.
Enfim, com a falta dos dons, o homem se viu em total
desespero. Nada podia levantar o gênero humano e reintegrá-lo ao
estado primitivo, nem as forças humanas, nem as forças angélicas.
A razão do homem não poder, por si mesmo, reconciliar-se
com Deus é porque tal empresa excedia os méritos e esforços da
simples criatura, ainda que fosse a mais perfeita. A salvação só podia
vir de um Deus feito homem. 
Sendo assim, o homem não tinha como salvar-se, se Deus não
usasse para com ele de misericórdia.
Então, uma vez que o homem havia decaído de tão alta
dignidade que teria Deus de fazer? Deixar perecer alguém que tinha
participado da Sua imagem? Guardar silêncio e ignorar o homem que
foi enganado pelo demônio, sabendo que tal erro causaria a sua ruína
e perda? 
Pois bem, vendo a situação de ruína e desgraça em que o
homem encontrava-se, Deus não desamparou Adão e sua
descendência em tão desventurada sorte. Ao lado da justiça que
pune, surge a misericórdia a perdoar, a prometer salvação.
A misericórdia de que Deus usou para com a humanidade foi
prometer logo a Adão um Redentor divino, ou Messias, enviá-Lo
depois a seu tempo para libertar os homens da escravidão do
demônio e do pecado e merecer-lhe a glória.
Tal fato, no entanto, não podia acontecer sem a destruição da
morte e da corrupção (do corpo). Por conseguinte, convinha que o
Redentor assumisse um corpo mortal a fim de aniquilar em si a morte.
Para tamanho empreendimento, Deus somente poderia contar com a
Imagem Dele próprio.
Ora, a Escritura ensina, em Jo 14, 9, que o Filho é a imagem
do Pai: “Quem vê o Filho, vê o Pai”. Caberia, portanto, ao Filho de
Deus vir a terra, assumir a fraqueza de nossa carne, destruir a infinita
malícia do pecado, e pelo Seu Sangue reconciliar-nos com Deus.
A promessa de um redentor foi sendo repetida por Deus
durante todo o Antigo Testamento, inicialmente aos primeiros
Patriarcas e, por meio dos Profetas, ao povo hebreu.
A Providência irá conceder aos Patriarcas longuíssima vida
para que ensinem a seus descendentes a Religião revelada e para
que, velando sobre a fiel tradição das divinas promessas, perpetuem
a fé no futuro Messias.
Cabe lembrar que a extraordinária longevidade (centenas de
anos) que vem atribuída aos Patriarcas, exprime enfaticamente a alta
respeitabilidade que competia a esses homens. 
Para os autores sagrados, longa vida significava o prêmio que
Deus outorga à virtude; donde se segue que extraordinária
longevidade tem por pressuposto extraordinárias virtudes.
O declínio da longevidade que aconteceu à medida que se
passaram os tempos, desde Adão até Abraão, foi sinal de que a
corrupção, o pecado, foi exercendo cada vez mais os seus efeitos no
gênero humano.
POREI ÓDIO ENTRE TI E A MULHER
No mesmo instante que condenava o gênero humano,
imediatamente após o pecado, Deus fez nascer a esperança de
resgate, pelas (próprias) palavras com que anunciou ao demônio a
dura derrota que lhe resultaria da libertação dos homens: "Porei ódio
entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a
cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar".
A “mulher” citada no texto é Maria Santíssima, mãe de Jesus
Cristo, que despontará como uma nova Eva. Ela nascerá sem o
pecado original e, durante sua vida, não cometerá o pecado da
desobediência, já que acolherá, plenamente, o chamado de Deus
com um “sim”. Ao contrário de Eva, que fez a própria vontade, Maria
Santíssima cumprirá a vontade de Deus.
ENTRE A TUA DESCENDÊNCIA E A DELA
A descendência da mulher de que fala a passagem de Gn 3,
15, “entre a tua descendência e a (descendência) dela” (de Maria
Santíssima), é Jesus Cristo.
Encontramos no livro do Apocalipse, em Ap 12, 4-5, uma
referência a mesma Mulher vista no Gênesis e a sua descendência
direta (seu filho Jesus Cristo):
"Esse Dragão deteve-se diante da Mulher que estava para dar
à luz, a fim de que, quando ela desse à luz, lhe devorasse o filho. Ela
deu à luz um Filho, um menino, aquele que deve reger todas as
nações pagãs com cetro de ferro. Mas seu Filho foi arrebatado para
junto de Deus e do seu trono".
Referência: O primeiro anúncio da Salvação (Gn 3, 14-15).
AS CONSEQUÊNCIAS DO PECADO
Em seguida aparecem as conseqüências do pecado da
desobediência de Adão e Eva, entre elas, a Morte:
“Disse também à mulher: multiplicarei os teus trabalhos, e
(especialmente os de) teus partos. Darás à luz com dor os
filhos, e desejarás com ardor a teu marido, que te dominará.
E disse a Adão: porque destes ouvidos à voz de tua mulher, e
comeste da árvore, de que eu te tinha ordenado que não
comesses, a terra será maldita por tua causa: tirarás dela o
sustento com trabalhos penosos todos os dias da tua vida. Ela
te produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra.
Comerás o pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra,
de que foste tomado, porque tu és pó, e em pó te hás de
tornar.”
(Gn 3, 16-19)
O APARECIMENTO DA MORTE
Deus não apenas havia feito o homem do nada, mas também
lhe tinha graciosamente concedido a Sua própria vida pela graça do
Verbo. 
O homem, entretanto, achando-se senhor de suas ações,
decidiu desprezar e transgredir a ordem de Deus, excluindo-O de sua
vida.
O Senhor que presenciara a desobediência, inicialmente,
amaldiçoou a serpente, primeiro autor da desgraça; depois,
sentenciou contra os culpados o devido castigo. 
Foram, então, duramente acusados e condenados por aquela
terrível sentença: "A terra será maldita por causa de tua obra. Com
sacrifício tirarás dela o teu sustento, todos os dias de tua vida. Ela te
produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás ervas da terra” (Gn 3,
17-18). Por fim, recebem o castigo anunciado para o caso de
desobediência, aparece a figura da morte no mundo: “Comerás o teu
pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste
tirado; porque és pó, e pó te hás de tornar.” (Gn 3,19).
Observe que seria incoerente que a palavra de Deus mentisse
no caso de que, promulgada com toda certeza a lei de morte para o
homem transgressor do preceito, este não morresse após a
transgressão, mas ficasse sem efeito a sentença divina. Deus não
seria verdadeiro se após ter declarado que haveríamos de morrer, de
fato não morrêssemos. Portanto, como a sentença havia sido
promulgada, ela, certamente, seria executada.
Embora o homem tivesse uma natureza mortal, Deus o
destinava à imortalidade. É, portanto, com o pecado que ele passou a
ter os dias de sua vida contados. Vê-se, desta forma, que Deus não
criou a morte, ela entrou no mundo por causa do pecado. E o
assassino do homem, aquele que o fez pecar, foi exatamente o
demônio. Por isso, Jesus Cristo, em Jo 8, 44, chama o demônio de
“homicida desde o princípio”, pois ele realmente “matou” o homem, fê-
lo experimentar a morte.
Perceba que o que aconteceu com nossos primeiros pais foi
que a desobediência ao mandamento os reconduziu aoseu estado
natural, e assim como haviam passado do nada ao ser, era justo que
doravante fossem sujeitos no decurso do tempo à corrupção, voltando
ao nada. Por isso, uma vez que antes nada eram por natureza, e a
presença e a filantropia do Verbo os chamaram à vida,
conseqüentemente, quando alheios a vontade de Deus, os homens
foram privados do ser, e voltaram ao nada.
Agora, se tivessem correspondido ao desejo daquele que os
criou, teriam diminuído a força da corrupção natural e se conservado
incorruptível, conforme assevera a Sabedoria: "O respeito das leis é
garantia de incorruptibilidade” (Sb 6, 18).
E sendo incorruptível, teria no futuro vivido como Deus,
segundo o indica certa passagem da Sagrada Escritura: "Eu declarei:
Vós sois deuses, todos vós sois filhos do Altíssimo; contudo,
morrereis como homem qualquer, caireis como qualquer dos
príncipes" (Sl 81, 6-7).
O SOFRIMENTO E A DOR
Deus também havia criado o homem isento do sofrimento e da
dor. Isso acontecia porque a alma, por especial privilégio, protegia o
corpo contra todo o mal e ela por sua vez de coisa alguma podia
receber dano, enquanto a vontade permanecesse submissa a Deus.
Devido a queda do homem, Deus, para Se desagravar da
ofensa, os pune com toda a sorte de sofrimentos interiores e
exteriores. Aparecem, então, o sofrimento e a dor, como pode ser
visto em Gn 3,16: “Multiplicarei os sofrimentos de teu parto; darás à
luz com dores”.
Deduz-se, do que foi dito nos parágrafos anteriores, que a
morte e as outras misérias corporais são efeitos do próprio pecado.
Observe que, apesar de tão graves sinais da cólera e vingança
divina, transparece, como um clarão, o amor que Deus tem aos
homens. Pois dizem as Escrituras: “Deus Nosso Senhor fez para
Adão e sua mulher umas túnicas de peles, e assim os cobriu” (Gn 3,
21). Nesse simples fato vai a maior prova de que Deus jamais haveria
de abandonar os homens.
Somente na volta triunfante de Jesus Cristo, quando o pecado
for definitivamente derrotado, é que a morte será vencida. Assim
ensina São Paulo, em I Cor 15, 26, quando diz que “o último inimigo a
ser vencido será a morte”.
Referência: O aparecimento da morte (Gn 3, 16-22).
O HOMEM É EXPULSO DO PARAÍSO
De imediato, surge outra conseqüência do pecado: o homem
fica completamente afastado da presença de Deus:
“O Senhor Deus expulsou-o; e colocou ao oriente do jardim do
Éden querubins armados de uma espada flamejante, para
guardar o caminho da árvore da vida.”
(Gn 3, 21-24)
A EXPULSÃO DO PARAÍSO
Enquanto contraía méritos para ser levado à glória, o homem
habitava num jardim de delícias, expressamente preparado por Deus,
chamado Paraíso terreal.
Após algum tempo de provas e méritos no primitivo estado,
receberia o galardão que haveria de coroar a sua felicidade, qual
seja, o céu da glória, em companhia dos anjos, para onde seria
levado por Deus.
No entanto, preferiu romper com a aliança que havia feito com
seu criador e passou a desobedecê-Lo na vã esperança de tornar-se
igual a Ele.
Com isso, o homem perdeu a graça e a amizade de Deus;
deixou de possuir o direito a bem-aventurança eterna que havia de
ser sua recompensa; suas faculdades foram entibiadas; seu espírito
passou a conhecer a ignorância e sua vontade propendeu para o mal;
foi desfeito a qualidade de filho de Deus e perdido a herança do
Paraíso.
Sem poder mais viver na presença Divina, o homem foi
desterrado daquele lugar de delícias, lançado fora dali para que
ganhasse o pão entre inumeráveis trabalhos e fadigas, conforme se lê
nas Escrituras: “um Querubim se postou à entrada do Paraíso,
brandindo uma espada de fogo, para lhes tirar toda esperança de lá
tornarem”.
Portanto, a expulsão do paraíso aconteceu devido o homem ter
ofendido a Deus infinitamente bom e digno por Si mesmo de ser
amado. Sendo assim, a impossibilidade do homem morar no paraíso
junto com seu criador foi ocasionada por ele próprio.
Jesus Cristo, na cruz, restituirá a Glória perdida com o pecado
e libertará os espíritos cativos, dando-lhes a oportunidade de,
novamente, serem chamados de “filhos” e poderem ficar na presença
de Deus Pai.
Após a expulsão de Adão e Eva do paraíso, a Sagrada
Escritura passa a contar, através das histórias de seus descendentes,
os desdobramentos resultantes do pecado destes dois personagens.
Um desses exemplos é a história de Caim que mata seu irmão Abel.
A intenção do autor sagrado é mostrar o que o pecado da
desobediência levou a maldade para dentro do coração do homem.
Importante comentar que Abel, o justo que é morto apesar da
sua inocência, é figura de Jesus Cristo, o Messias que haveria de
morrer crucificado, sob os golpes de um ódio cego e violento, pelos
Judeus, seus irmãos.
A ÁRVORE DA VIDA
Em Gn 3, 19, observamos que é da natureza do homem ser pó,
ou seja, ser mortal. Mais adiante, em Gn 3, 22, encontramos o indício
de que Deus havia concedido ao homem, quanto a sua vida mortal,
um dom além do natural, o dom da imortalidade. Esse indício
encontra-se de forma simbólica na expressão “Árvore da vida”, à qual
o homem perdeu o acesso quando de sua queda:
“E o Senhor Deus disse: Eis que o homem se tornou como um
de nós, conhecedor do bem e do mal. Agora, pois, cuidemos que ele
não estenda a sua mão e tome também do fruto da Árvore da vida, e
o coma, e viva eternamente“.
O homem somente obterá, novamente, o acesso à “Árvore da
vida”, à Vida Eterna, no final dos tempos, mas esta será alcançada
não mais através de um dom preternatural, como o da “imortalidade”,
mas do dom da “ressurreição”.
O termo “morrer” (Gn 3, 19) significa não mais participar da
vida bem-aventurada de Deus. Isso aconteceu no momento em que o
homem perdeu o acesso à “Árvore da vida” (Gn 3, 22).
Referência: O homem é expulso do paraíso (Gn 3, 23-24).
A MALDADE CHEGA AO SEU LIMITE
O homem, entregue aos seus próprios pensamentos, é
completamente dominado pelo pecado que o leva ao sofrimento e à
insatisfação. A maldade humana generaliza-se e logo toda a criação
perde o equilíbrio:
“O Senhor viu que a maldade dos homens era grande na terra,
e que todos os pensamentos do seu coração estavam
continuamente voltados para o mal.
O Senhor arrependeu-se de ter criado o homem na terra, e teve
o coração ferido de íntima dor.”
(Gn 6, 5-6 )
DEUS ARREPENDE-SE DE TER CRIADO O HOMEM
Desde o início dos tempos, Deus infundiu nas criaturas o
instinto de seu próprio bem, de sorte que elas por uma propensão
natural estão sempre a buscá-Lo.
Acontece que, com o pecado original, enquanto as criaturas
irracionais conservaram seu pendor natural, e até hoje continuam na
bondade primitiva de sua criação, o pobre gênero humano abandonou
o bom caminho; pois não só deixou a perder os dons da justiça
original, com que Deus o dotara e enobrecera, além das exigências
da natureza humana, mas também suprimiu o apreciável gosto pela
virtude, que é inato em seu coração.
Afora isto, a atitude do homem também levou ao desfazimento
do estado de integridade e justiça original, o que rompeu com a
harmonia entre homem e mulher, e entre eles e toda a criação.
A conseqüência disto tudo foi que os descendentes de Adão
começaram a se perverter e, em pouco tempo, toda terra se encheu
de vícios e pecados.
A maldade, no entanto, não se deteve em certos limites, mas
cresceu tanto que ultrapassou qualquer medida, superando toda
espécie de iniqüidade. Além do mais, não se limitou a um só pecado,
mas novos delitos foram sendo inventados. Difundiram-se adultérios e
roubos e toda a terra se encheu de morticínios e rapinas. Cidades
guerreavam entre si, nações se insurgiam contra nações, a terra
estava dilacerada por rebeliões e batalhas. Nem mesmo se
abstinham do que é contra a natureza, conforme afirma o Apóstolo:
“Suas mulheres mudaram as relações naturais por relações contra a
natureza; igualmente os homens, deixando a relação natural com a
mulher, arderam em desejo uns para com os outros, praticando
torpezas homens com homens e recebendo em si mesmos a paga de
sua aberração” (Rm 1, 26-27).
Quanto a tudo isso, diza Escritura que “todos se transviaram e
se corromperam sem exceção. Não há quem faça o bem, não
aparece um sequer.” (Sl 52, 4). Realmente, todos, individualmente e
em comum, cometiam toda espécie de pecados.
Com a maldade dominando o homem, ninguém passou a achar
mais gosto nas coisas da salvação, todos se inclinaram para o mal e
se deixaram dominar pelas más tendências, como à cólera, o ódio, à
soberba, à ambição, e todas as demais espécies de maldades. O
resultado de tudo isso é um assustador aumento do sofrimento e da
insatisfação.
Diante da escolha do homem pelo mal, Deus sofre
profundamente, chegando, de certa maneira, a arrepender-se de tê-lo
criado, como diz a Escritura: “O Senhor arrependeu-se de ter criado o
homem na terra, e teve o coração ferido de íntima dor”. (Gn 6, 6).
Apesar de sua tristeza, Deus, na sua justiça, não se esqueceu
de ter misericórdia para com o homem. Lembrando que tinha
prometido a Eva um Messias que havia de salvar os homens,
conservou a vida de um justo em meio aquele turbulento período. Noé
será herdeiro da posteridade donde sairá o Salvador esperado.
Referência: A maldade humana (Gn 6, 1-7).
A ARCA DE NOÉ
Deus manifesta seu descontentamento pelo crescimento da
maldade humana através do dilúvio. Esforça-se, entretanto, em salvar
a Noé e sua família, pequeno grupo que, livremente, procura seguir
seus ensinamentos. O dilúvio será a resposta de Deus aos homens
que buscam a maldade e a Arca de Noé a resposta aos que procuram
segui-Lo:
“E disse: ‘Exterminarei da superfície da terra o homem que criei
porque me arrependo de tê-lo criado’.
Noé, entretanto, encontrou graça aos olhos do Senhor. Noé era
um homem justo e perfeito no meio dos homens de sua
geração.
Então Deus disse a Noé: ‘Faze para ti uma arca de madeira
resinosa. Eis que vou fazer cair o dilúvio sobre toda a terra.
Tudo que está sobre a terra morrerá’.”
(Gn 6, 8-17; 7, 1-4)
O DILÚVIO
O Dilúvio marca o triste fim da decadência humana. Todos
foram provados - como Adão - e não souberam resistir.
O Senhor vinha avisando sobre o castigo desde Henoch, isto é,
durante quase mil anos adiava sua decisão na esperança dos
homens abandonarem o mau caminho; mas o abuso das graças
fatalmente acarreta a punição: desta feita, veio terrível e deixou uma
lembrança imorredoura.
Deus, então, decide reiniciar do começo com um que resistiu:
Noé. Ele também teve sua prova: deveria acreditar em Deus e
preparar-se para o dilúvio: "Noé, avisado por Deus de coisas que
ainda se não viam, com piedoso temor foi aparelhando uma arca para
salvar a sua família.” (Hb 11, 7). Apesar de todas as dificuldades, "fez
Noé tudo o que Deus lhe tinha ordenado" (Gn 6, 22). 
Quando chegou o tempo previsto, Deus castiga o gênero
humano com um dilúvio universal.
Assim, durante quarenta dias e quarenta noites chove tanto
que as águas cobrem os montes mais altos. Morrem afogados todos
os homens, salvando-se apenas Noé e sua família.
O antigo uso dos sacrifícios outra vez posto em vigor por Noé
ao sair da arca e aceito solenemente por Deus, destaca os animais
puros, figura de Jesus Cristo, como os únicos a serem admitidos nos
holocaustos: “E Noé levantou um altar ao Senhor: tomou de todos os
animais puros e de todas as aves puras, e ofereceu-os em holocausto
ao Senhor sobre o altar" (Gn 8, 20). 
Diz a Sagrada escritura que Deus ficou muito satisfeito com a
piedade do seu servo e manifestou-lhe que tinha por agradável este
sacrifício: "O Senhor respirou um agradável odor". (Gn 8, 21).
Noé foi salvo devido a sua estrita obediência, pois havia
acatado a ordem de Deus, recebida muito antes do dilúvio, para que
começasse a fabricar sua Arca.
O relato do dilúvio tem o objetivo de mostrar a extensão
destruidora do pecado de Adão na vida dos homens. Para o autor
sagrado, a corrupção da humanidade aumentou de tal forma que
Deus se utilizou das coisas inanimadas como instrumento à Justiça
divina para castigar o pecado, fazendo padecer o pecador as
conseqüências de sua culpa.
Sendo assim, o dilúvio aconteceu porque o pecado dos
homens chegou a tal limite que Deus, assim como aconteceu em
Sodoma e Gomorra, precisou intervir. Com efeito, não poderia Deus,
por ser justo e puro, apesar de ser amor e misericórdia, deixar o mal
imperar de forma absoluta.
O Dilúvio foi um grande acontecimento que purificou e renovou
a terra. A Igreja o considera figura do batismo de Jesus Cristo, que
hoje lava os nossos pecados.
OS SACRIFÍCIOS COM SANGUE
Após a queda de Adão e Eva, não havia nenhum meio possível
do homem voltar a se reconciliar com Deus que não fosse pela
mediação do Redentor, o qual lhe havia sido prometido por uma
misericórdia completamente gratuita. Nesse sentido, todas as práticas
do culto e da moral realizadas pelo homem teriam que se apoiar nos
méritos futuros do Messias e só obteriam valor por sua união com
eles. Tal reconciliação haveria de ser feita através de práticas
religiosas.
Devido a isso, o culto depois da queda passou a revestir um
caráter excepcionalmente novo; veio a ser, ao mesmo tempo,
expiatório e representativo.
Era expiatório no sentido de que o homem culpado não poderia
mais contentar-se em dar, como tributo a Deus, uma simples
homenagem de adoração, louvor e agradecimento, como acontecia
nos dias da sua inocência; mas, doravante, como expiação
acrescentaria a oferta dos produtos da terra, e já que, segundo
explica o Apóstolo São Paulo, "sem efusão de sangue não há
remissão de pecado" (Hb 9, 22), haveria de oferecer animais em
sacrifício.
Antes de continuar, faz-se mister esclarecer a importância do
sangue na sociedade judaica. 
No Antigo Testamento o sangue era identificado com a “vida”, a
esse respeito dizia o livro do Levítico: “Pois a alma (=vida) da carne
está no sangue, e dei-vos esse sangue para o altar, a fim de que ele
sirva de expiação por vossas almas (=vidas), porque é pela alma
(=vida) que o sangue expia.” (Lv 17, 11). 
Devido a esse entendimento, os judeus consideravam que,
após a morte do indivíduo, o sangue conservava autonomia e
personalidade; a ponto de atribuir-lhe uma voz própria, que exprimia
junto a Deus os sentimentos de justiça do defunto. Assim, em Gn 4,
10 o sangue de Abel, iniquamente sacrificado, é dito clamar a Deus:
“Eis que a voz do sangue do teu irmão clama por mim desde a terra”;
o mesmo se narra dos mártires do Antigo e do Novo Testamento,
como em II Mc 8, 2-3: “Suplicavam ao Senhor que olhasse para o
povo desdenhado por todos, que escutasse a voz do sangue
derramado que a Ele clamava”; e em Hb 12, 24: “enfim, de Jesus, o
mediador da Nova Aliança, e do sangue da aspersão, que fala com
mais eloqüência que o sangue de Abel”.
Mas por que a utilização de sacrifícios com sangue?
Pois bem, tão estranha lei que diz "sem efusão de sangue não
há remissão de pecado" (Hb 9, 22), entende-se pelo fato de que,
cedendo ao pecado, o homem perdeu o direito à vida. Por
conseguinte, se após a queda o culpado, em virtude de gratuita
condescendência divina, ainda pode aspirar a uma reconciliação com
Deus, o primeiro passo que há de dar, é o de colocar-se na atitude de
réu e confessar que é pecador, reconhecendo que não tem mais
direito a vida. 
Todavia, Deus não permite que o homem tire a vida a si
mesmo, ainda que o fizesse em ódio ao pecado, pois a vida é
propriedade exclusiva do Criador. Não podendo, portanto, derramar o
próprio sangue para reconciliar-se com o Senhor, mas tendo que
externar esta disposição, recorre a animais irracionais; imolando-os e
oferecendo o seu sangue a Deus em substituição do seu. Tal oblação
exprimia o arrependimento do homem pecador e seu desejo de se
unir novamente a Deus. Apesar de ser o sangue de um animal, ele
substituía como que a “alma”, a “vida”, do indivíduo pecador, “porque
é pela alma que o sangue expia.” (Lv 17, 11). 
Na medida em que a oblação vinha de uma alma realmente
contrita, possuída de um autêntico espírito de penitência e inflamada
de zelo religioso, tais vítimas preenchiam de certo modo a finalidade
de satisfazer à Justiça divina.
É nessesentido que o culto da religião primitiva também era
representativo. Com efeito, o sangue das vítimas imoladas, por si
mesmo, não era apto a satisfazer a justiça de Deus. Da mesma
forma, o Senhor não queria o sangue do homem, o qual, aliás, não
teria nenhum valor para Ele. Mas aceita os sacrifícios que Lhe eram
ofertados porque representam e anunciam o único sacrifício que
devia expiar o pecado cometido, isto é, a imolação de Nosso Senhor
Jesus Cristo no Calvário.
Por fim, cabe lembrar que a idéia de expiação, reconciliação
com Deus, por meio de sacrifício, sempre esteve intimamente ligada
no Antigo Testamento a noção de aliança com o Senhor. Tanto é
 verdade que as convenções sagradas que aconteceram, de Adão até
o Evangelho, foram concluídas mediante efusão de sangue. Tais
episódios dão a entender com suficiente clareza a importância e a
eficácia que o próprio Deus se dignou atribuir ao sangue desde o
início da história sagrada. Lembre-se que foi no sangue que foram
fundadas as novas relações do Criador com as criaturas; foi também
através do sangue, por meio do sacrifício de Jesus Cristo na cruz,
que Deus se reconciliou com os homens e nos presenteou com o
santo Sacrifício da Missa.
NOÉ
Em meio a toda aquela corrupção, surge um homem justo, da
família de Seth, ardente de amor por Deus e desejoso de escutar e
cumprir suas ordens. Seu entusiasmo e zelo chegam à presença do
Senhor que, por causa de sua fidelidade, decide dar uma nova
chance à humanidade.
A misericórdia divina para com a humanidade se manifesta
através de uma aliança entre Deus e Noé, representando todos os
homens.
Encontramos essa verdade em Eclo 44, 17-19: “Noé foi julgado
justo e perfeito, e no tempo da ira tornou-se o elo de reconciliação.
Por isso foram deixados alguns na terra, quando veio o dilúvio. Ele foi
o depositário das alianças feitas com o mundo, a fim de que ninguém
doravante fosse destruído por dilúvio”.
Noé, salvando a humanidade da destruição, pressagiava o
futuro Redentor que purificaria do pecado toda a raça humana,
preservando-a da morte eterna.
Ele será o exemplo de homem que o mundo, repleto de
pecado, precisará se espelhar até a vinda de Jesus Cristo.
Perceba que, por causa de Noé, homem justo, Deus salvou
sua família e os animais. Lembre-se que, para a Sagrada Escritura,
homem justo é aquele que tem uma vida íntegra e reta diante de
Deus, ou seja, que obedece a Sua vontade. Sejamos, portanto, justos
diante Deus e assim, Ele, em sua infinita misericórdia, poderá nos
salvar e também as nossas famílias da morte.
Por fim, vale lembrar que depois do dilúvio, Cam, um dos filhos
de Noé, veio a desrespeitá-lo. Este, então, pronunciou contra ele
uma pena gravíssima, sua descendência seria reduzida a condição
de escravidão, e a seus irmãos, Sem e Jafet, deu uma bênção como
prêmio pela compaixão demonstrada:
"Noé, que era agricultor, plantou uma vinha. Tendo bebido
vinho, embriagou-se, e apareceu nu no meio de sua tenda. Cam, o
pai de Canaã, vendo a nudez de seu pai, saiu e foi contá-lo aos seus
irmãos. Mas, Sem e Jafet, tomando uma capa, puseram-na sobre os
seus ombros e foram cobrir a nudez de seu pai, andando de costas; e
não viram a nudez de seu pai, pois que tinham os seus rostos
voltados. Quando Noé despertou de sua embriaguez, soube o que lhe
tinha feito o seu filho mais novo. Disse Noé:
'Abençoado seja Sem pelo Senhor, meu Deus, Canaã seja seu
escravo. Deus engrandeça Jafet e encontre morada nas tendas de
Sem e seja Canaã escravo deles.'" (Gn 9, 20-24).
Este primado de Sem somente pode ser entendido em sentido
messiânico; isto é, será de Sem que descenderá a estirpe destinada
ao domínio espiritual do mundo, como portadora da salvação.
A ARCA E A IGREJA
A Arca, onde a família de Noé se estabeleceu para fugir do
dilúvio, é figura da Igreja, que acolhe a todos para levá-los a salvação
eterna. A relação é a seguinte: assim como ninguém sobreviveu do
dilúvio fora da Arca de Noé, assim também ninguém se salva fora da
Igreja Católica.
Nesse sentido escreve São Jerônimo ao Papa Dâmaso: "Estou
a falar com quem sucedeu ao Pescador, com o Discípulo da Cruz.
Nenhum chefe supremo reconheço senão a Cristo; por isso me ponho
em comunhão com vossa Santidade, isto é, com a cátedra de Pedro.
Sei que sobre esta pedra está edificada a Igreja. Quem comer o
Cordeiro fora desta casa, não pertence ao povo eleito. Quem se não
recolher na Arca de Noé, há de perecer por ocasião do Dilúvio"
(MARTINS, p. 170).
Portanto, podemos afirmar que para salvar os homens, Noé
construiu a Arca, Jesus Cristo, a sua Igreja.
Referência: Noé, o dilúvio e a Arca (Gn 6-8).
O SINAL DA PRIMEIRA ALIANÇA
Depois do Dilúvio, cheio de compaixão, Deus faz uma primeira
aliança com a nova humanidade. Como sinal desse pacto, Deus faz
aparecer o arco-íris no céu:
“Deus disse a Noé: ‘Eis o sinal da aliança, que Eu faço
convosco e com todos os animais viventes, que estão
convosco, por todas as gerações futuras: Porei o meu Arco nas
nuvens, e ele será o sinal da aliança entre mim e a terra’.”
(Gn 9, 12-13)
O ARCO-ÍRIS
Segundo as Escrituras, o Arco-íris no céu é um ato de amor,
onde Deus demonstra seu desejo de esquecer o pecado da
humanidade ao desistir de destruir o mundo.
Este sinal chancela a primeira aliança de Deus com o homem
após seu pecado, tendo como propósito prepará-lo para sua futura
redenção:
"Quando eu tiver coberto o céu de nuvens por cima da terra, o
meu arco aparecerá nas nuvens, e me lembrarei da aliança que fiz
convosco e com todo ser vivo de toda espécie, e as águas não
causarão mais dilúvio que extermine toda criatura.” (Gn 9,14-16).
Noé foi o protagonista dessa primeira Aliança. Sua importância
é tão grande que permaneceu em vigor durante todo o tempo das
nações até à proclamação do Evangelho:
“Dirigindo-se a Noé, Deus acrescentou: Este é o sinal da
aliança que faço entre mim e todas as criaturas que estão na terra."
(Gn 9, 17).
Seu fundamento consiste na observância, pelo homem, dos
primeiros mandamentos divinos. Tais exigências tinham por objetivo
preparar a humanidade para a vinda do Redentor:
“Deus abençoou Noé e seus filhos e disse-lhes:
Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra. Toda a ave do
céu, tudo o que se arrasta sobre o solo e todos os peixes do mar: eles
vos são entregues nas mãos. Tudo o que se move e vive vos servirá
de alimento; eu vos dou tudo isto, como vos dei a erva verde.
Somente não comereis carne com a sua alma, com seu sangue. Eu
pedirei conta de vosso sangue, por causa de vossas almas, a todo
animal; e ao homem (que matar) o seu irmão, pedirei conta da alma
do homem.” (Gn 9, 1-7).
Referência: A nova humanidade e a Aliança com Deus (Gn 9).
A RESPOSTA DO HOMEM A DEUS
Ocorre que, como o dilúvio não libertou os homens do pecado,
os descendentes de Noé voltam a pecar e, mais uma vez, afastam-se
de Deus:
“Depois disseram: ‘Vamos, façamos para nós uma cidade e
uma torre cujo cimo atinja os Céus.”
(Gn 11, 4)
A TORRE DE BABEL
Após o dilúvio, a humanidade volta a mostrar sua natureza
ferida pelo pecado original. Muito embora houvesse conservado o
desejo do bem, era atraída pelo mal e sujeita ao erro. 
Por conta disto, a resposta dos descendentes de Noé à Aliança
de Deus é idêntica à que levou nossos primeiros pais ao pecado:
orgulhosos, continuam desejosos de tornarem-se iguais a Deus. 
Essa posição soberba do homem de desejar construir, isolado
de Deus, o próprio caminho é vista na narração da Torre de Babel.
Babel quer dizer “confusão”.
Sua história é a seguinte: 
Durante muitos anos os descendentes de Noé habitaram numa
mesma região, na planície de Senaar. 
Houve então um período em que estes povos projetaram
reforçar sua unidade, criando juntos um centro político e religioso:
seria uma capital com seu templo pagão. Sonhavam, sem a
participação do Senhor, construir um único grande império. Diziam
eles: “Vinde, façamos para nós uma cidade e uma torre, cujo cimo
chegue até ao céu, e tornemos célebre o nosso nome, antes que nos
espalhemos por toda a terra.” (Gn 11,4).
O projeto tinha todas as garantias de sucesso, porém Deus o
rejeitou. Para que não fosse adiante, o Senhor fez com que a unidade
de pensamento e de cultura redundasse confusa, "babel", e com isso
os soberbos edificadores não se entenderam uns aos outros e
tiveram de dispersar-se sem levar avante seu ambicioso projeto: "'Eis
que são um só povo e têm todos a mesma língua: começaram a fazer
esta obra, e não desistirão do seu intento, até que a tenham de todo
executado. Vamos, pois, desçamos e confundamos de tal sorte a sua
linguagem, que um não compreenda a palavra do outro'. Assim o
Senhor os dispersou daquele lugar por todos os países da terra, e
cessaram de edificar a cidade." (Gn 11, 6-8).
O episódio da Torre de Babel procura destacar dois pontos:
primeiro, que o pecado de Adão e Eva levou o homem a se afastar de
Deus, fazendo-o construir um caminho independente d’Ele; e
segundo, que são vãos os esforços do homem quando procura
construir algo em contraste com o desígnio do Senhor.
A CRIAÇÃO DE UM NOVO POVO
Os homens, ao espalharem-se pela terra, levaram por toda a
parte as tradições dos acontecimentos anteriores e a promessa de
um Salvador; e acima de tudo, a idéia de um Deus criador e único.
Porém, à medida que o tempo ia passando, esqueciam as sãs
tradições que tinham recebido dos antepassados. A soberba os
levava a não mais acreditarem em Deus e em suas promessas; até
chegar ao ponto do culto supremo ser rebaixado às criaturas e
negado ao Senhor. 
Sendo assim, o homem passou a adorar os próprios objetos
que fazia. Pensava que podia prender o espírito divino e encerrá-lo
nas estatuas que criasse.
A idolatria, dessa forma, passou a cobrir a terra. Tudo era
Deus, menos o próprio Deus, e o mundo, que Deus criara para
manifestar a sua onipotência, parecia ter se tornado um templo de
ídolos.
Impurezas imagináveis foram introduzidas nos sacrifícios. O
homem culpado passou a julgar que não poderia mais satisfazer sua
divindade com as vitimas ordinárias. Passou, então, a derramar o
sangue humano com o dos animais. Esse processo cresceu tanto que
chegou ao ponto dos pais imolarem seus próprios filhos. 
Finalmente, o homem foi divinizando as próprias paixões;
excluindo o remorso de seu coração, voltou, como no tempo do
dilúvio, a cometer crimes horrorosos contra a sua própria natureza.
Deus viu que a maldade cresceu assustadoramente na
humanidade e que esta chegou ao extremo de perder o conhecimento
do verdadeiro Deus, ao entregar-se à idolatria.
Então, a fim de conservar na terra a verdadeira religião, Deus
decide escolher um povo e tomar a seu cargo o governá-lo com
especial providência, preservando-o da corrupção geral. 
A este povo, Deus ensinará, desde a sua origem, a tê-lO como
único e verdadeiro Deus. 
Para conduzi-lo nesta jornada, Deus se revelará como nunca
havia feito, e para alguns de seus membros, falará face a face, como
a um amigo bem próximo, tudo por conta do amor que tais homens
demonstrarão. Apesar das fraquezas que, porventura, alguns venham
a ter, nunca deixarão de existir homens em seu meio cujos corações
coloquem o Senhor acima de todas as coisas. Será a partir deste
pequeno rebanho que nascerá o Filho de Deus.
Referência: A Torre de Babel (Gn 11, 1-9).
DEUS DIRIGE-SE A ABRÃO
Deus, a fim de iniciar seu povo, dirige-se pessoalmente a um
homem, Abrão, não mais à humanidade inteira, para com ele fazer
aliança e preparar o bem de todos:
“O Senhor disse a Abrão: ‘Deixa tua terra, tua família e a casa
de teu pai, vai para a terra que Eu te mostrar. Farei de ti uma
grande nação; todas as famílias da terra serão benditas em ti.’
Tomou Sarai, sua mulher, e Ló, filho de seu irmão, assim como
todos os bens que possuíam e os escravos que tinham
adquirido em Harã, e partiram para a terra de Canaã.
O Senhor apareceu a Abrão e disse-lhe: 'Darei esta terra à tua
posteridade'.”
(Gn 12,1-7)
O MONOTEÍSMO
O processo inicial empregado pela providência divina para
executar seu plano de salvar os homens foi muito simples e eficaz. 
Deus escolheu um homem simples para segui-Lo, sem filhos, e
assegurou-se de afastá-lo de seu clã originário pagão, desligando-o
de qualquer vínculo muito íntimo com seu passado. A única exigência
posta foi que Abraão deveria tê-Lo como único Deus. Desta forma,
seus filhos e netos herdariam, juntamente com o sangue, também o
patrimônio religioso, único no mundo.
À medida que o clã de Abraão se ampliava e que as doze
famílias dos filhos de Jacó cresciam pelo natural desenvolvimento
demográfico, aumentava o número dos monoteístas. Assim, o
monoteísmo que se insinuou sorrateiramente na história do mundo,
acabou por ser o patrimônio nacional mais precioso e mais indiscutido
de todo um povo, apesar das múltiplas infidelidades. 
Resta lembrar que não foi fácil o percurso do monoteísmo, mas
apesar de todas as circunstâncias adversas, o monoteísmo salvou-se,
aliás, triunfou. Para tanto, nos períodos mais tempestuosos e
decisivos da história, a providência interveio até com meios
extraordinários para salvar o povo eleito e sua religião.
O INÍCIO DE UM POVO
Deus sempre teve na terra adoradores verdadeiros a quem Ele
salvou da corrupção e do erro por efeito da sua graça. Estes justos
foram santificados pela fé no Messias prometido e pelas obras que
praticavam com o auxilio da sua graça.
Entre esses justos encontramos um homem da Caldéia, terra
idólatra, de nome Abrão. Por volta de 1800 a.C., Deus o chamou para
torná-lo o predecessor de um novo povo que desenvolverá os
alicerces da verdadeira Aliança. 
Abrão e sua esposa, Sarai, moravam ao norte da
Mesopotâmia. Abrão era descendente dos antigos Patriarcas pela
linhagem de Heber. Por isso, o povo que se originará dele será
chamado Povo hebreu. 
Deus ordena-lhe que saia de sua terra e caminhe para a terra
de Canaã, Palestina atual, prometendo-lhe que o faria cabeça de um
grande povo e que de sua descendência nasceria o Messias.
O apelo de Deus é exigente: Abrão deve deixar seu modo de
vida pagão e confiar unicamente em Deus. Poderia ele recusar, mas
aceita a obscuridade da fé.
Saiu, então, Abrão de sua terra e foi para Canaã, conforme
Deus lhe ordenara.
Ao povo que nascerá do sim de Abrão será cobrado o
fundamento da Aliança aceito por seu Patriarca, qual seja, ter o
Senhor como único Deus: "Agora, pois, se obedecerdes à minha voz,
e guardardes minha aliança, sereis o meu povo particular entre todos
os povos." (Ex 19, 5).
Tempos depois, no Monte Sinai, Deus fará com este povo uma
“Aliança”:
"Agora, pois, se obedecerdes à minha voz, e guardardes minha
aliança, sereis o meu povo particular entre todos os povos. Toda a
terra é minha, mas vós me sereis um reino de sacerdotes e uma
nação consagrada." (Ex 19, 5-6)
No alto da cruz, Jesus Cristo fará com este mesmo povo uma
“Nova Aliança”. A partir dela, surgirá um “novo povo”, a “Igreja”, corpo
místico de Cristo, do qual surgirá um “novo reino de sacerdotes e uma
nova nação consagrada”.
O PEQUENO POVO DE DEUS
Deus preferiu criar uma nova nação e não utilizar uma das já
existentes na terra não porque ela viria a exceder as demais nações
em virtude e número, como Deus fez ver aos Hebreus em Dt 7, 7,
"não é porque sois mais numerosos que todos os outros povos que o
Senhor se uniu a vós e vos escolheu; ao contrário, sois o menor de
todos"; mas o escolheu para que Seu poder e bondade se
manifestassem, com maior brilho, a todas as nações. Sua intenção
era provocar o estímulo dos demais povos, para que estas, vendo a
felicidade dos israelitas, convertessem-se ao culto do Deus
verdadeiro.
Interessante notar que por mais duro que fossem os corações
daqueles homens, como revelou o Senhor, "essa nação é um povo de
cabeça dura" (Dt 9, 13), Deus uniu-Se estreitamente a eles, e amava-
os de tal forma que os tinha como ‘Povo de Deus’: "Hoje te tornaste o
povo do Senhor, teu Deus." (Dt 27, 9).
Essa metodologia de Deus de escolher elementos
aparentemente ineptos, destituídos de sabedoria ou algum outro
titulo, por sua natureza incapazes de levar a termo amissão recebida
é, certamente, uma das notas mais características da ação divina
entre os homens; verificando-se desde os primórdios do Antigo
Testamento e indo culminar na obra, por excelência, salvífica de
Jesus Cristo, a qual foi, em aparência, a mais fragorosa derrota
possível, mas que estava destinada no plano de Deus a ser o triunfo
definitivo do Bem sobre o mal.
No Novo Testamento continua a se verificar o mesmo proceder
divino. Jesus Cristo escolheu um "pequeno rebanho" (Lc 12, 32),
formado de doze homens rudes (em sua maioria, pescadores), aos
quais confiou a propagação de Sua Palavra num mundo
extremamente hostil, eivado de sabedoria meramente humana.
Dentre estes homens, destaca-se, em particular, a figura de São
Paulo, pois representa bem o contraste entre a debilidade do homem
e a força realizadora do Altíssimo, contraste este que o Senhor
assegurou a Paulo ser garantia de pleno sucesso em sua missão:
"Ele me disse: Basta-te minha graça, porque é na fraqueza (do
homem) que meu poder se manifesta por completo" (II Cr 12, 9).
DAREI ESTA TERRA À TUA POSTERIDADE
Esta posteridade mencionada no texto e na qual recairão as
promessas feitas a Abraão, será Jesus Cristo. É o que nos fala São
Paulo em Gal 3, 16: “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à
sua Descendência. Não diz: aos seus descendentes, como se fossem
muitos, mas fala de um só: e à tua descendência, isto é, a Cristo”.
Referência: A escolha de Abrão (Gn 12-14).
DEUS TESTA A FÉ DE ABRÃO
Devido a grandeza da missão de Abrão, Deus precisou testar
sua fé, e, para tanto, não lhe concedeu, durante muitos anos, a graça
de ter filhos:
“A palavra do Senhor foi dirigida a Abrão, numa visão, nesses
termos: Nada temas, Abrão! Eu sou o teu protetor; tua
recompensa será muito grande’.
Abrão respondeu: ‘Vós não me destes posteridade, e é um
escravo que será o meu herdeiro’.
Então a palavra do Senhor foi-lhe dirigida nesses termos: ‘Não
é ele que será o teu herdeiro, mas aquele que vai sair de tuas
entranhas’.
Abrão confiou no Senhor, e o Senhor lho imputou para justiça.”
(Gn 15, 1-6)
A FÉ DE ABRÃO É TESTADA
Deus testa a fé de Abrão de uma forma muito concreta. No
início, quando Deus lhe apareceu, prometeu-lhe uma numerosa
posteridade. Esta era a grande promessa. No entanto, o tempo
passou e Sarai não lhe deu filhos.
Apesar disso, Abrão não deixou de acreditar em Deus, mesmo
vendo-se com quase 100 anos e Sarai, sua mulher, com 90.
Acreditava que, para aquele que tudo criou, nada pudesse ser
impossível.
Por isso, Deus “prometeu que ele cresceria como o pó da terra.
Prometeu-lhe que exaltaria sua raça como as estrelas, e que seu
quinhão de herança se estenderia de um mar a outro: desde o rio até
as extremidades da terra. Ele fez o mesmo com Isaac, por causa de
seu pai, Abraão" (Eclo 44, 22-24).
Neste momento, Deus ordena que Abrão praticasse a
circuncisão e usasse este mesmo costume para com todos os filhos
que nascessem de seu sangue.
O NOME ABRÃO MUDA PARA ABRAÃO
Para o povo Antigo Testamento, o nome não era uma
designação arbitrariamente dada ao seu portador. Ao contrário,
tinham-no como algo de muito relevante, podendo ser usado para
caracterizar o indivíduo, expressar-lhe um atributo ou uma função.
Neste último caso, isto é facilmente percebido na vida de vários
personagens da história sagrada quando Deus desejou mudar suas
missões.
Assim aconteceu quando Abrão aceitou fazer aliança com
Deus, Este modificou seu nome de Abrão (um pai elevado) para
Abraão (o pai de uma multidão) (Gn 17, 5). A intenção de Deus foi
mudar a missão de Abraão, que deixou de ser o patriarca de sua
família, para ser o pai do povo de Deus. Isso também ocorreu com
Sarai, sua esposa estéril, que teve seu nome mudado para Sara (mãe
das nações), agora uma mulher fértil.
Temos também o caso da mudança do nome de Jacó para
Israel, que passou a ter como missão desenvolver o povo de Deus
(Gn 32, 28: “Teu nome não será mais Jacó, tornou ele, mas Israel,
porque lutaste com Deus e com os homens, e venceste.”). 
Verificou-se também este fato quando Jesus Cristo mudou o
nome de Simão para Pedro (Jo 1, 42: “Tu és Simão, filho de João;
serás chamado Kepha.”, em português Cefas, que quer dizer pedra).
Em Mt 16, 18, Jesus explicou o porquê dessa mudança: “E eu te
declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as
portas do inferno não prevalecerão contra ela.”. Portanto, Jesus
estava dando uma nova missão a Pedro. Será sobre a fé e o
testemunho de Pedro que Cristo construirá a sua Igreja. Como pastor
do rebanho, terá por missão defender a fé de todo desfalecimento e
de consolidar nela os outros apóstolos. Pedro viria a ser o primeiro
Bispo de Roma e a sucessão Papal prova que sua missão foi bem
sucedida.
SODOMA E GOMORRA
Em Gn 18, 20, Deus fala a Abraão que "é imenso o clamor que
se eleva de Sodoma e Gomorra, e o seu pecado é muito grande".
Anuncia, nesse momento, seu plano de castigar Sodoma devido seus
habitantes serem “perversos, e grandes pecadores diante do Senhor”
(Gn 13, 13).
Abraão, apesar de saber como Sodoma estava se
comportando, intercede pelo povo sodomita. Deus se compraz com
os sentimentos de Abraão e diz que se encontrasse pelo menos dez
pessoas justas, ela não seria destruída. No entanto, não existindo o
número definido, acabou a cidade por ser aniquilada.
A epístola de Judas, em Jd 1, 7, traz uma forte luz sobre o
pecado dos habitantes de Sodoma e Gomorra: “Da mesma forma
Sodoma, Gomorra e as cidades circunvizinhas, que praticaram as
mesmas impurezas e se entregaram a vícios contra a natureza, jazem
lá como exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno”.
Para o autor sagrado é preciso fugir absolutamente da
ociosidade. Conforme se lê nas profecias de Ezequiel, foi o ócio que
embruteceu os habitantes de Sodoma e os precipitou naquele
imundíssimo crime da mais abjeta devassidão:
"O crime da tua irmã Sodoma era este: opulência, glutoneria,
indolência, ociosidade; eis como vivia ela, assim como suas filhas,
sem tomar pela mão o miserável e o indigente. Tornaram-se
arrogantes e, sob os meus olhos, entregaram-se à abominação; por
isso Eu as fiz desaparecer." (Ez 16, 49-50)
A passagem em que Deus aniquila as cidades de Sodoma e
Gomorra (Gn 18-19) mostra o quanto Deus abomina as perversões
sexuais. Este tipo de maldade expande-se pelo mundo de forma
violenta, numa afronta direta ao plano de Deus para a humanidade.
São Pedro, em II Pd 2, 6, explica que Deus “condenou à destruição e
reduziu à cinzas as cidades de Sodoma e Gomorra para servir de
exemplo para os ímpios do porvir”. Isso nos faz pensar: até quando
Deus terá paciência com este mundo?
OS MILAGRES NO ANTIGO TESTAMENTO
O período histórico abrangido pelos livros do Antigo
Testamento cobre cerca de 1400 anos. Apesar deste espaço de
tempo ser longo, os milagres que apareceram não são relativamente
muitos, nem apareceram distribuídos com a mesma freqüência nas
várias épocas.
Na história dos patriarcas, com exceção da destruição de
Pentápolis, Gn 19, 24-28, e a maternidade de Sara em idade
avançada, Gn 21, 1-7, os milagres são quase ausente. Abundam no
Êxodo e no início de Josué. São raríssimos na história de Saul e Davi.
Tornam-se freqüentes na história de Elias e Eliseu (I e II Reis), para
desaparecer depois quase completamente.
Como se pode observar, a distribuição desigual dos milagres
está intimamente ligada às várias fases da história da Revelação e da
do povo, que é primeiramente o destinatário deles e depois seu
guardião. Com efeito, houve fases em que os milagres foram mais
necessários do que em outras fases. Em geral, todas as vezes que o
povo ou a própria religião estava sob forte perigo, milagres
aconteciam. Como exemplo disto, temos os milagres que se
sucederam para salvar o povo quando se encontrava sob o domínio
estrangeiro, tanto em seu território como quando estava exilado na
Babilônia; e os que apareceram para socorrer o monoteísmo, todas
as vezes que estava a declinar ou prestes a sucumbir, como nos
tempos de Elias e Eliseu. 
Referência: Aaliança com Deus e a intercessão por Sodoma
(Gn 15-20).
O SACRIFÍCIO DE ISAAC
Enfim, chega o dia em que a promessa é cumprida e Sara
concebe. Deus, então, decide provar Abraão uma segunda vez,
pedindo-lhe o sacrifício de Isaac:
“Sara concebeu e, apesar de sua velhice, deu à luz um filho a
Abraão, no tempo fixado por Deus.
Depois disto, Deus provou a Abraão. Deus disse:‘Toma teu
filho; teu único filho a quem tanto amas, Isaac; e vai à terra de
Moriá, onde tu o oferecerás em holocausto’.
No dia seguinte, tomou consigo Isaac e partiu.
Quando chegaram ao lugar, Abraão edificou um altar; Amarrou
Isaac e o pôs Isaac sobre o altar. Depois, estendendo a mão,
tomou a faca para imolá-lo.
O anjo do Senhor, porém, gritou-lhe do céu: ‘Abraão! Abraão!’ -
‘Eis-me aqui!’
- ‘Não estendas a tua mão contra o menino, e não lhe faças
nada. Agora sei que temes a Deus, pois não me recusaste teu
próprio filho, teu filho único’.”
(Gn 21, 2; 22, 1-12)
DEUS TESTA NOVAMENTE A FÉ DE ABRAÃO
O Senhor, quando apareceu a Abraão nos carvalhos de
Mambré, prometeu-lhe que dentro de um ano Sara conceberia.
O ano passou e o Senhor visitou Sara, cumprindo em seu favor
o que havia prometido.
Desta forma, Sara concebeu e, apesar de sua velhice, deu à
luz um filho a Abraão, no exato período fixado por Deus. Abraão deu-
lhe o nome de Isaac. Passados oito dias do seu nascimento,
circuncidou-o, como Deus lhe tinha ordenado.
Algum tempo depois, Deus decide provar novamente a fé de
Abraão.
Então, pela segunda vez, Deus aparece e pede-lhe algo além
de sua compreensão: deveria levar Isaac à terra de Moriá, onde o
ofereceria em holocausto sobre um dos montes.
Para Abraão, esse pedido era extremamente difícil de
obedecer, já que Isaac lhe fora dado como um presente pela sua
confiança, pelo seu despojamento e pela sua perseverança em
manter a Aliança com o Senhor.
Abraão, no entanto, seguro das promessas, não titubeou na fé,
e, como está na Sagrada Escritura, esperou contra a própria
esperança; preparou tudo para o sacrifício e saiu para executá-lo.
No último instante, entretanto, um Anjo deteve-lhe a mão, e,
como prêmio de sua fidelidade, Deus o abençoou e lhe anunciou que
daquele seu filho nasceria o Redentor do mundo:
“Porque assim procedeste, a ponto de não poupar teu filho
único, Eu te abençoarei, e multiplicarei tua descendência como as
estrelas do céu, e como a areia que jaz nas praias do mar. Tua
geração possuirá as portas de teus inimigos, e em tua raça serão
abençoados todos os povos da terra, porque obedeceste à minha
voz.” (Gn 22, 15-18)
Destas palavras, percebe-se que, da posteridade de Abraão,
nascerá Aquele que haverá de livrar todos os homens da horrenda
tirania de Satanás, e trazer-lhes a salvação. O Messias, ainda que
seja, como homem, gerado do sangue de Abraão, deverá ser
[também] Filho de Deus para que possa cumprir tal promessa.
Mesmo com o transcorrer dos anos, Deus nunca deixou de
renovar a recordação de Sua promessa, nem de manter a esperança
do Salvador entre os descendentes de Abraão.
O sacrifício que Deus acaba de exigir de Abraão é uma
imagem do sacrifício futuro de Jesus Cristo. Os pontos que os
identificam são os seguintes: Ambos são levados a serem
sacrificados em um monte. Isaac carregou a lenha do sacrifício, Jesus
há de carregar a cruz, instrumento do seu suplicio. Isaac consente na
própria imolação, Jesus se oferece à morte. Abraão, não obstante o
amor pelo filho inocente, está pronto para feri-lo; Deus Pai, não
obstante seu amor por Jesus Cristo, dispôs-se a entregá-lo à cruz.
Depois do sacrifício tanto Isaac como Jesus continuam vivos.
Referência: A história de Isaac, Jacó, Esaú e José (Gn 21-50).
A ESCRAVIDÃO NO EGITO
Devido a uma grande seca, os descendentes de Abraão vão se
estabelecer no Egito. Habitam nesta terra durante quatro séculos e
crescem de tal forma que passam a ser um povo. Acontece que um
faraó, considerando-os um perigo nacional, devido ao seu grande
número, procura eliminá-los:
“Entretanto, subiu ao trono do Egito um novo rei, que não tinha
conhecido José.
Ele disse ao seu povo: ‘Vede: os israelitas tornaram-se
numerosos e fortes demais para nós. Vamos! É preciso
tomarmos precaução contra eles e impedir que se
multipliquem, para não acontecer que, sobrevindo uma guerra,
unam-se com os nossos inimigos e combatam contra nós, e se
retirem do país’.”
(Ex 1, 8-10)
OS HEBREUS NO EGITO
Durante muito tempo os hebreus, descendentes de Jacó, foram
respeitados e tolerados pelos egípcios. 
Deus os havia levado para o Egito para dar ao povo escolhido
tempo suficiente para proliferar e tornar-se capaz de conquistar e
povoar a terra que lhe era destinada. 
Acontece que devido terem se multiplicado tanto, a ponto de
formarem um grande povo, um novo Faraó, que não os conhecia e
assustado com esta imensa massa de estrangeiros que não tinham o
culto nem os costumes dos Egípcios, decidiu oprimi-los com o jugo da
mais dura escravidão.
Foram então forçados a construírem diques para deter as
águas do Nilo, muralhas para cercar as cidades, canais e toda
espécie de serviços forçados. Considerando que os hebreus ainda
estavam se multiplicando, Faraó ordenou que os filhos varões recém-
nascidos fossem jogados no Nilo.
Entretanto, a bondade de Deus os amparou de tal forma que se
multiplicavam milagrosamente, por mais que Faraó se opusesse a
eles e procurasse exterminá-los.
Quando a perseguição atingiu grande intensidade, e passaram
a ser tratados com a maior crueldade, Deus suscitou como chefe a
Moisés, que os liderou com o auxílio de Seu poder.
Caso Deus não os tivesse arrancado das mãos de seus cruéis
opressores, todo o povo hebreu teria perecido na escravidão do Egito.
A respeito do sofrimento dos hebreus no Egito é importante
mencionar o quanto isso foi significativo para trazer o povo de volta a
Deus.
Para entender esta questão é preciso compreender que, se por
um lado, a permanência dos hebreus no Egito serviu para que eles se
desenvolvessem, tornando-os um grande povo, por outro, o longo
contato com a cultura e religião Egípcia fez com que grande parte
deles esquecesse a aliança que tinham feito com Deus.
Por conta disso, a escravidão no Egito, com um cativeiro duro e
insuportável, ao invés de abatê-los, acabou servindo tanto para
reascender o desejo de ver realizada a promessa proferida por Deus
a Abraão, como para libertá-los da forte atração exercida pela
civilização egípcia, que os influenciava há quatro séculos.
Referência: A escravidão no Egito dos hebreus (Ex 1).
DEUS NA SARÇA ARDENTE
Vendo a opressão que sofriam os judeus, Deus escolhe Moisés
para salvá-los e a ele se apresenta no Monte Sinai, do meio de uma
sarça ardente:
“O Senhor disse a Moisés: ‘Eis que os clamores dos Israelitas
chegaram até a mim, e vi a opressão que lhes fazem os
egípcios. Vai, Eu te envio ao Faraó para tirar do Egito os
Israelitas, meu povo’.
Moisés disse a Deus: 'Quem sou eu para ir ter com Faraó e tirar
do Egito os israelitas?’
- 'Eu estarei contigo', respondeu Deus.
Moisés disse a Deus: 'Quando eu for para junto dos israelitas e
lhes disser que o Deus de seus pais me enviou a eles, que lhes
responderei se me perguntarem qual é o seu nome?’
Deus respondeu a Moisés: ‘EU sou aquele que SOU’.
E ajuntou: ‘Eis como responderás aos israelitas: é Javé, o Deus
de Isaac e o Deus de Jacó. Este é o meu nome para sempre, e é
assim que me chamarão de geração em geração’.”
(Ex 3, 9-10; 3, 14-15)
DEUS SE REVELA
Deus não tem corpo como nós, pois está, absolutamente,
isento de matéria e de qualquer elemento estranho ao seu ser.
Portanto, não podemos vê-Lo enquanto habitarmos neste mundo.
Somente no céu com os olhos da alma glorificada é que O
contemplaremos. É o que nos diz São João: "Caríssimos, agora
somos filhos de Deus, mas ainda não se manifestou o que seremos.
No entanto, sabemos que, ao tornar-se manifesto, seremos
semelhantes a Ele, porquanto O veremos como é." (I Jo 3, 2).
Apesar de não podermos contemplá-Lo face a face, quis Deus,
por amor ao homem, apresentar-se nomonte Horeb. Neste lugar, o
Senhor, do meio da sarça ardente, revelou-se a Moisés ao descrever-
se como “Eu sou aquele que sou” (Ex 3, 14).
“Aquele que sou” (Yahweh) traduz a grandeza daquele que é
todo perfeito, pois, enquanto o homem, como criatura, precisa “estar
sendo” formado para atingir sua perfeição, Deus, como criador, já “É”,
não necessitando de mais nada. Portanto, Deus não se apresenta
com um nome humano, como Paulo, por exemplo, mas como aquele
que “tudo que existe Dele depende” e também como aquele que “não
teve começo e não terá fim”.
A expressão, “Eu sou”, também foi utilizada, no mesmo sentido
acima, por Jesus Cristo, em Jo 8, 56-58, ao proclamar-se como o
próprio Deus para os Judeus: “Abraão, vosso pai, exultou com o
pensamento de ver o meu dia. Viu-o e ficou cheio de alegria. Os
judeus lhe disseram: Não tens ainda cinqüenta anos e viste Abraão!…
Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: antes que
Abraão fosse, Eu sou”.
Por fim, cabe mencionar que até aquela época Deus tinha
falado com os patriarcas sem praticar prodígio algum que o desse a
conhecer. Mas agora, depois de ter escolhido Moisés para ensinar a
Religião que devia perdurar até a vinda do Messias, o Senhor
concede um duplo meio de atestar a veracidade da sua delegação: a
profecia e o milagre.
Referência: Moisés e a sarça ardente (Ex 2-4).
A LIBERTAÇÃO DO EGITO
A libertação do povo hebreu do Egito ocorreu com o
enfrentamento de muitas dificuldades. Começou com as dez pragas e
foi concluída após a travessia do Mar Vermelho pelo povo cativo:
“Deus disse: ‘E quando vossos filhos vos disserem: Que
significa este rito?
Respondereis: é o sacrifício da Páscoa, em honra do Senhor
que, ferindo os egípcios, passou por cima das casas dos
Israelitas no Egito e preservou nossas casas’.”
(Ex 12, 26-27)
OS HEBREUS FOGEM DO EGITO
Deus, para livrar o povo que estava cativo no Egito, serviu-se
de um hebreu, chamado Moisés, que havia sido salvo das águas do
Nilo pela filha do Faraó.
Quando Moisés cresceu, ordenou-lhe o Senhor que, em
companhia de seu irmão Aarão, fosse até o Faraó e o intimasse a
permitir a saída dos hebreus do Egito. O Faraó recusou. Então
Moisés, a mando de Deus, feriu o Egito com dez pragas.
A última delas foi a mais terrível. Por volta da meia-noite, um
anjo passou pela casa de todas as famílias do Egito e matou todos os
primogênitos dos egípcios, tanto dos homens como dos animais,
começando pelo filho do Faraó.
Depois desse fato, o Faraó e todos os egípcios apressaram os
hebreus a que saíssem. No entanto, quando os hebreus estavam
junto à praia do Mar Vermelho, Faraó arrependeu-se de tê-los
deixado sair e indo ao encalço deles os alcançou junto ao mar.
Naquele momento, Deus concedeu-lhes uma grande
libertação, as águas se dividiram, deixando-os passar a pé enxuto.
Obstinado em sua perseguição, o Faraó lançou-se atrás deles com
seu exército por aquele caminho; mas, quando chegaram ao meio, as
águas caíram sobre eles e todos morreram afogados.
Importante perceber que todos os acontecimentos que
proporcionaram a libertação do povo de Israel do Egito passarão a
ser à base da crença de que Deus está em seu meio, protegendo-o, e
da esperança de que as promessas que lhe foram feitas, certamente,
seriam realizadas.
É pela manducação do cordeiro pascal e pela instituição da
Páscoa que o povo hebreu inaugura sua nova existência.
O CORDEIRO OFERECIDO E JESUS CRISTO
Na noite em que iria ocorrer a última praga, Deus havia
ordenado aos hebreus que celebrassem, pela primeira vez, a Páscoa.
O rito mandado por Deus foi que cada família matasse um cordeiro
sem defeito, macho, de um ano; pegasse seu sangue e passasse
sobre as duas ombreiras e sobre a verga da porta das casas. Desta
forma, estaria a salvo da passagem do Anjo exterminador (Ex 12, 7-
8).
Para a celebração da primeira Páscoa, Deus escolheu um
cordeiro para ser oferecido como vítima no lugar dos primogênitos
dos hebreus. Dentre tantos outros animais, ele foi o escolhido como
figura do Salvador que estava por vir. Três são os aspectos visíveis
desta analogia:
- em primeiro lugar, a opção pelos cordeiros perfeitos nos
sacrifícios procura revelar a natureza interior com que virá o filho de
Deus (Ex 12, 5: “O animal será sem defeito, macho, de um ano.”);
- em segundo, a forma com que este se comporta ao ir ao
matadouro traduz a submissão do Filho ao projeto do Pai (Is 53, 7:
“Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro
que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do
tosquiador.”);
- finalmente, em terceiro, o ponto central desta analogia: da
mesma forma que o sangue do cordeiro, nas ombreiras das portas,
libertou e protegeu os filhos dos hebreus (Ex 12, 7.13), o sangue
derramado por Jesus Cristo (o Cordeiro de Deus) na cruz libertará o
homem do pecado e o protegerá de voltar a nele cair:
Ex 12, 7: “Tomarão do seu sangue e pô-lo-ão sobre as duas
ombreiras e sobre a verga da porta das casas em que o comerem.”; e
Ex 12, 13: “Naquela noite, passarei através do Egito, e ferirei
os primogênitos no Egito, tanto os dos homens como os dos animais.
O sangue sobre as casas em que habitais vos servirá de sinal (de
proteção): vendo o sangue, passarei adiante, e não sereis atingidos
pelo flagelo destruidor, quando Eu ferir o Egito.”.
Esse paralelo entre o cordeiro e Nosso Senhor Jesus Cristo é
revelado em muitas passagens da Sagrada Escritura, como, por
exemplo:
- “João viu Jesus que vinha a ele e disse: Eis o Cordeiro de
Deus, que tira o pecado do mundo." (Jo 1, 29);
- “não é por bens perecíveis, como a prata e o ouro, que tendes
sido resgatados da vossa vã maneira de viver, recebida por tradição
de vossos pais, mas pelo precioso sangue de Cristo, o Cordeiro
imaculado e sem defeito algum, aquele que foi predestinado antes da
criação do mundo e que nos últimos tempos foi manifestado por amor
de vós.” (I Pd 1, 18-20);
- "Respondi-lhe: Meu Senhor, tu o sabes. E ele me disse:
Esses são os sobreviventes da grande tribulação; lavaram as suas
vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro." (Ap 7, 14);
- "e bradavam em alta voz: A salvação é obra de nosso Deus,
que está assentado no trono, e do Cordeiro." (Ap 7, 10);
- "bradando em alta voz: Digno é o Cordeiro imolado de
receber o poder, a riqueza, a sabedoria, a força, a glória, a honra e o
louvor." (Ap 5, 12).
A PÁSCOA DOS CRISTÃOS
O nome Páscoa proveio de uma das festas mais solenes da
Antiga Lei, instituída como lembrança da passagem do Anjo
exterminador dos primogênitos dos egípcios e da milagrosa libertação
dos hebreus da escravidão do Egito. A ordem de Deus foi a seguinte:
“Conservareis a memória daquele dia, celebrando-o com uma
festa em honra do Senhor: fareis isso de geração em geração, pois é
uma instituição perpétua.”
“Observareis esse costume como uma instituição perpétua
para vós e vossos filhos. Quando tiverdes penetrado na terra que o
Senhor vos dará, como prometeu, observareis esse rito. E quando
vossos filhos vos disserem: que significa esse rito? respondereis: é o
sacrifício da Páscoa, em honra do Senhor que, ferindo os egípcios,
passou por cima das casas dos israelitas no Egito e preservou nossas
casas.” (Ex 12, 14; 12, 24-27)
Para os cristãos, no entanto, a Páscoa é mais que uma
recordação celebrada em honra de Deus. Isso porque, na Páscoa
cristã, celebra-se o mistério da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus
Cristo.
Referência: A libertação do povo hebreu do Egito (Ex 5-15, 1-
21).
O MANÁ NO DESERTO
Muitos foram os milagres que ocorreram com os hebreus em
sua peregrinação para Canaã. Um dos principais foi o Maná. Ele
aparecia todas as manhãs aonde quer que fossem acampar:
“O Senhor disse a Moisés: ‘Vou fazer chover pão do alto do
céu. Sairá o povo e colherá diariamente a porção de cada dia.
No sexto dia, quando prepararem o que tiverem ajuntado,
haverá o dobro do que recolherem cada dia’.”
(Ex 16, 4-5)
O MANÁ
O Maná, vegetal que “assemelhava-se à semente de coentro:
era branco e tinha o sabor de uma torta de mel” (Ex 16, 31), apareciatodas as manhãs com o orvalho. Durante os quarenta anos de
travessia do deserto, constituiu o maná o alimento, se não exclusivo,
ao menos principal de Israel: “Os israelitas comeram o maná durante
quarenta anos, até a sua chegada a uma terra habitada. Comeram o
maná até que chegaram aos confins da terra de Canaã” (Ex 16, 35).
Ele teve importante papel na formação espiritual do povo
hebreu. É o que nos ensina o livro do Dt 8, 3: Deus “humilhou-te com
a fome; deu-te por sustento o maná, que não conhecias nem tinham
conhecido os teus pais, para ensinar-te que o homem não vive só de
pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor.”.
Ao dar-lhes “de comer o pão vindo do céu” (Sl 77, 24), Deus
proporcionou-lhes muitos ensinamentos. Um deles foi utilizar o Maná
como um importante instrumento para levar o povo a confiar na Sua
providência, já que não havia como guardá-lo para o dia seguinte,
visto que apodrecia. Isso é observado em Ex 16, 19-20: “Moisés
disse-lhes: Ninguém reserve dele para o dia seguinte. Alguns não o
ouviram e guardaram dele até pela manhã; mas criou vermes e
cheirou mal".
O Maná também serviu para ensinar o povo hebreu a guardar,
seguindo a ordem de Deus, o descanso do sábado. Acontecia que
durante toda a semana o Maná aparecia normalmente, mas quando
chegava no dia anterior ao sábado, ele aparecia em dobro. O povo,
então, devia colher o dobro do normal que sempre colhia. Uma parte
seria consumida no mesmo dia e a outra deveria ser guardada para o
dia seguinte. Importante anotar que o que se guardava para o outro
dia, o sábado, não apodrecia. Com isso, o povo podia ficar no sábado
sem sair de casa e comendo o que havia colhido no dia anterior.
Encontramos essa explicação na passagem de Ex 16, 22-27:
“No sexto dia, recolheram uma dupla quantidade de alimento, dois
gomores para cada um. Vieram todos os chefes da assembléia e
contaram-no a Moisés. Este lhes disse: É isso o que o Senhor
ordenou. Amanhã é um dia de repouso, o sábado consagrado ao
Senhor. Por isso, o que tendes a cozer no forno, cozei-o, e o que
tendes a cozer em água, cozei-o; e o que sobrar, ponde-o de lado até
pela manhã. Guardaram-no até o dia seguinte, segundo a ordem de
Moisés; e não cheirou mal, nem se acharam vermes nele. No sétimo
dia alguns saíram para fazer sua provisão, mas nada encontraram”.
Moises mandou encher um vaso com este pão maravilhoso e
ordenou que fosse conservado na arca de aliança. Posteriormente, foi
guardado no templo de Jerusalém, entre as coisas santas de Israel.
MANÁ, SINAL DA EUCARISTIA
Os hebreus, logo no início de sua caminhada no deserto,
passaram a murmurar contra Deus, diziam: “Oxalá tivéssemos sido
mortos pela mão do Senhor no Egito, quando nos assentávamos
diante das panelas de carne e tínhamos pão em abundância! Vós nos
conduzistes a este deserto, para matardes de fome toda esta
multidão” (Êx 16, 3).
Diante desta situação, “o Senhor disse a Moisés: ‘Vou fazer
chover pão do alto do céu’” (Ex 16, 4). Em seguida, Deus “fez chover
o maná para saciá-los, deu-lhes o trigo do céu” (Sl 77, 24). A partir
daquele momento, o Maná passou a ter um significado especial na
vida do povo hebreu.
Para os cristãos ele é considerado figura da Eucaristia, pois
mantém relação com o alimento espiritual que Jesus Cristo nos
presenteou.
Nas duas passagens a seguir, encontramos Jesus Cristo
revelando a diferença entre o Maná e o alimento que trouxe do céu
para os homens:
“Em verdade, em verdade vos digo: Moisés não vos deu o pão
do céu, mas o meu Pai é quem vos dá o verdadeiro pão do céu” (Jo
6, 32). E conclui: “Eu sou o pão da vida. Vossos pais, no deserto,
comeram o maná e morreram. Este é o pão que desceu do céu, para
que não morra todo aquele que dele comer. Eu sou o pão vivo que
desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão,
que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo.” (Jo 6,
48-51)
Portanto, o maná que Israel comeu no deserto teve por função
levar o povo à exígua terra de Canaã, e não preservava da morte.
Enquanto que o maná que Jesus prometeu, ou seja, a Eucaristia,
introduziu o homem no reino de Deus e o fez triunfar da própria
morte; tal alimento, em última análise, seria a carne e o sangue de
Jesus, que haveriam de superar a morte pela sua ressurreição
gloriosa.
Referência: A água impura de Mara, o Maná e as codornizes.
(Ex 15, 22-27 e 16-17).
MOISÉS RECEBE OS MANDAMENTOS
Chegando os israelitas ao Monte Sinai, Moisés recebe os
alicerces da Aliança que o Senhor deseja realizar com eles, os Dez
Mandamentos:
“Todo o monte Sinai fumegava, porque o Senhor tinha descido
sobre ele no meio de chamas.
Então Deus pronunciou todas estas palavras: ‘Eu sou o Senhor
teu Deus, Que te fez sair do Egito, da casa da servidão’.”
(Ex 19, 18; 20, 2 )
CLÁUSULAS DA ALIANÇA - O DECÁLOGO
Até este momento, os homens somente tinham a razão natural
e as tradições de seus antepassados para os governar. Nada por
escrito havia sido dado por Deus que pudesse servir de norma. 
Sendo assim, as crenças se perpetuavam pelo ensino dos pais
aos filhos, e os principais deveres da moral estavam baseados na
consciência e na lei natural. 
Nas cerimônias e nos cultos, os hebreus tinham a mais do que
os outros povos, além do uso dos sacrifícios de animais, a
circuncisão, que identificava o sinal da aliança que haviam feito com
Deus.
Quando o povo chegou ao pé do monte Sinai, o Senhor não
quis mais deixar entregue à memória dos homens o mistério da
religião e de sua aliança. 
Havia chegado à hora de erigir uma fortificação mais forte à
idolatria que grassava no gênero humano e que ia apagando os
últimos vestígios da luz natural. 
Deus fez isso dando a seu povo, por intermédio de Moisés,
uma lei escrita, logo depois que o povo hebreu saiu do Egito.
A lei mosaica era um livro perfeito, o qual, junto com a história
do povo de Deus, ensinava a um só tempo sua origem, sua religião,
seus costumes, sua filosofia, enfim, tudo o quanto serve para nortear
a vida em sociedade. Como ponto central dessa lei encontramos os
dez mandamentos.
É importante que em cada Mandamento se observe a parte
positiva e a parte negativa; isto é, o que nos é ordenado e o que nos
é proibido.
1º “Amar a Deus sobre todas as coisas”
Deus ordena-nos que o reconheçamos, adoremos, amemos e
sirvamos a Ele só, como nosso Soberano Senhor.
Ele nos proíbe a idolatria, a superstição, o sacrilégio, a heresia, e todo
e qualquer outro pecado contra a religião.
( Ex 20, 3)
2º “Não tomar seu santo nome em vão”
Deus ordena-nos que honremos o Santo Nome de Deus, e que
cumpramos, além dos juramentos, também os votos.
Ele nos proíbe de pronunciar o nome de Deus sem respeito;
blasfemar contra Deus, contra a Santíssima Virgem ou contra os
Santos; fazer juramentos falsos ou não necessários, ou proibidos
desta ou daquela maneira.
(Ex 20, 7 )
3º “Guardar os domingos e festas”
Deus ordena-nos a guardar domingos e festas, ordena-nos que
honremos a Deus com obras de culto nos dias de festa.
Ele nos proíbe os trabalhos servis, e qualquer obra
que nos impeça o culto de Deus.
(Ex 20, 8)
4º “Honra teu pai e tua mãe”
Deus ordena-nos respeitar o pai e a mãe, obedecer- lhes em tudo o
que não é pecado, e auxiliá-los em suas necessidades espirituais e
temporais.
Ele nos proíbe ofender os nossos pais com palavras,
obras, ou de qualquer outra maneira.
(Ex 20, 12)
5º “Não matar”
Deus ordena-nos que perdoemos aos nossos inimigos
e queiramos bem a todos.
Ele nos proíbe dar a morte ao próximo, nele bater ou feri-lo, ou causar
qualquer outro dano no seu corpo, por nós ou por meio de outrem.
Proíbe também ofendê-lo com palavras injuriosas
e querer-lhe o mal. Proíbe ainda ao homem dar,
a morte a si mesmo, isto é, o suicídio.
(Ex 20, 13)
6º “Não pecar contra a castidade”
Deus ordena-nos que sejamos castos e modestos nas ações, nos
olhares,
no porte e nas palavras.
Ele nos proíbe qualquer ação, palavra ou olhar contrários à santa
pureza,
e a infidelidade no matrimônio.
(Ex 20, 14)
7º “Não furtar”
Deus ordena-nos que respeitemosas coisas alheias,
que paguemos o justo salário aos operários,
e que observemos a justiça em tudo o que se refere à propriedade
alheia.
Ele nos proíbe tirar ou reter injustamente as coisas alheias, e causar
dano ao próximo nos seus bens de qualquer outro modo.
(Ex 20, 15)
8º “Não levantar falso testemunho”
Deus ordena-nos que digamos oportunamente a verdade, e que
interpretemos em bom sentido, tanto quanto pudermos,
as ações do nosso próximo.
Ele nos proíbe atestar falsidade em juízo; proíbe também a detração
ou murmuração, a calúnia, a adulação, o juízo e a suspeita
temerários,
e toda espécie de mentiras.
(Ex 20, 16)
9º “Não desejar a mulher do próximo”
Deus ordena-nos que sejamos castos e puros, ainda mesmo no
nosso íntimo,
isto é, na alma e no coração.
Ele nos proíbe expressamente todo o desejo contrário à fidelidade
que os cônjuges se juraram ao contrair matrimônio;
e proíbe também todo o pensamento culpável
e todo desejo de ação proibida pelo sexto Mandamento.
(Ex 20, 17)
10º “Não cobiçar as coisas alheias”
Deus ordena-nos que nos contentemos com o estado em que Deus
nos colocou,
e que soframos com paciência a pobreza, quando Deus nos queira
neste estado.
Ele nos proíbe o desejo de privar o próximo dos seus bens,
e o desejo de adquirir bens por meios injustos.
(Ex 20, 17)
ALIANÇA NO MONTE SINAI
Ao pé do Monte Sinai, Deus chamou os hebreus para
estabelecer com eles uma aliança. No entanto, para que a aliança
fosse concretizada, o povo teria que concordar em ser absolutamente
fiel, seguindo rigorosamente suas leis e somente a Ele prestar culto.
Desejava o Senhor, com esta condição, que Israel se tornasse
seu povo particular: "Agora, pois, se obedecerdes à minha voz, e
guardardes minha aliança, sereis o meu povo particular entre todos
os povos. Toda a terra é minha, mas vós me sereis um reino de
sacerdotes e uma nação consagrada." (Ex 19, 5-6).
Então, para cumprir a vontade de Deus, subiu Moisés ao alto
do monte Sinai para receber as primeiras instruções. Quando desceu,
reuniu "os anciãos do povo, comunicou-lhes as palavras que o
Senhor lhe ordenara repetir. E todo o povo respondeu a uma voz:
'Faremos tudo o que o Senhor disse.'” (Ex 19, 7-8).
Satisfeito com a resposta do povo, Deus chamou Moisés uma
segunda vez ao cume do monte Sinai e ali, entre relâmpagos e
trovões, promulgou Sua Lei em dez Mandamentos, escritos em duas
tábuas de pedra.
“Tendo o Senhor acabado de falar a Moisés sobre o monte
Sinai, entregou-lhe as duas tábuas do testemunho, tábuas de pedra,
escritas com o dedo de Deus.” (Ex 31, 18) .
Observe que a lei antiga não foi dada a todos os homens, mas
só ao povo judeu. O Senhor assim determinou porque dele sairia o
Salvador do Mundo, seu filho Jesus Cristo.
Além dos dez preceitos, Deus fizera a Moisés várias
comunicações que devia transmitir a seu povo. São como que
admiráveis explicações e comentários do Decálogo. Encontrados nos
diversos livros do Pentateuco, o legislador as escrevia a medida em
que as recebia de Deus.
O DECÁLOGO
Deus entrega a Moisés, no monte Sinai, os Dez Mandamentos,
ou decálogo, porque dez é o número dos mandamentos divinos.
Tais Mandamentos chegaram às mãos de Moisés através de
duas pedras escritas com o dedo de Deus. A primeira das tábuas
continha três mandamentos e a segunda, sete.
A forma da entrega dos Mandamentos ao povo foi muito
importante porque dentre as razões que movem o coração do homem
a cumprir os preceitos do Decálogo, sobressai, como a mais eficiente,
o fato de ser Deus o autor dessa mesma Lei.
Os Mandamentos da primeira tábua se referem diretamente a
Deus e aos deveres que temos para com Ele: “Amar a Deus sobre
todas as coisas”, “Não tomar seu santo nome em vão” e “Guardar os
domingos e festas”. Os dois primeiros removem os principais
obstáculos que se opõem ao culto divino: a superstição ou o culto dos
falsos deuses, e a irreligião ou falta de acatamento ao verdadeiro
Deus. O terceiro impõe ao homem a necessidade de abster-se de
trabalhos servis no dia de culto, para que possa dedicar-se aos
serviços de Deus. Os outros sete se referem ao próximo e aos
deveres que temos para com ele.
Somos obrigados a observá-los porque, para alcançarmos o
céu, necessitamos viver segundo a vontade de Deus e os
mandamentos nos mantêm firmes neste propósito. Observe que
tamanha é a responsabilidade de segui-los corretamente, que basta
transgredir gravemente um só deles para merecermos o Inferno.
No entanto, apesar de obrigatórios, observá-los não é nenhum
sacrifício, pois Deus não nos manda cumprir nenhuma coisa
impossível. Além do mais, quem observa a Lei de Deus só tem a
ganhar, pois terá como galardão, nesta e na outra vida, incalculáveis
alegrias e prêmios.
Inclusive, ponto fundamental para saber se o homem ama a
Deus é observar se ele guarda Seus Mandamentos e os põe em
prática, pois quem age assim verdadeiramente ama a Deus, é o que
nos ensina Jesus Cristo no Evangelho de São João: "Quem Me ama,
guarda a Minha Palavra." (Jo 14, 23).
Nosso Senhor ensina que os dez mandamentos se encerram
em dois: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a
nós mesmos. Esse ensinamento é visto em Mac 12, 29-31, onde
encontramos Jesus Cristo proclamando: "O primeiro de todos os
mandamentos é este: Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único
Senhor; amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda
a tua alma, de todo o teu espírito e de todas as tuas forças. Eis aqui o
segundo: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.".
É certo que os Dez Mandamentos não foram esquecidos no
Novo Testamento. Jesus Cristo, em uma pregação na Judéia, tanto
ratificou os dez mandamentos como legítimos caminhos para o céu,
como os tornou perenes. Isso aconteceu, em Mt 19, 16-22, quando o
jovem rico perguntou a Jesus Cristo o que era preciso para alcançar a
vida eterna e Ele mandou que ele observasse os mandamentos: “Um
jovem aproximou-se de Jesus e lhe perguntou: Mestre, que devo
fazer de bom para ter a vida eterna? Disse-lhe Jesus: Por que me
perguntas a respeito do que se deve fazer de bom? Só Deus é bom.
Se queres entrar na vida, observa os mandamentos. Quais?
perguntou ele. Jesus respondeu: Não matarás, não cometerás
adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra teu pai e tua
mãe, amarás teu próximo como a ti mesmo”.
Muito embora o Decálogo tenha sido dado por Deus aos judeus
no monte Sinai, a Lei já estava, desde o princípio dos tempos,
impressa e gravada nos corações de todos os homens. Dessa
maneira, através da promulgação da Lei a Moisés, Deus não trouxe
uma nova lei, mas deu antes maior fulgor à primitiva.
Por fim, resta salientar que a observância dos dez
mandamentos é suficiente para o exercício das virtudes referentes
aos deveres essenciais para com Deus e para com o próximo; mas
para adquirir a perfeição de todas as virtudes é preciso que o homem
os guarde com as revelações dos Profetas, da antiga Lei, e os mais
amplos e acabados ensinamentos de Jesus Cristo e de seus
Apóstolos.
AS PRESCRIÇÕES DA LEI MOSAICA
A Lei Mosaica traz em suas páginas algumas prescrições que
são desconcertantes para o pensamento do homem moderno. 
Entre estas prescrições encontramos a que tornava impuro
quem comesse ou simplesmente tocasse certos animais, como, por
exemplo, a lebre, o porco, a águia, a avestruz, o cisne, entre outros:
"O senhor disse a Moisés e a Aarão: 'Dize aos israelitas o seguinte:
entre todos os animais da terra, eis o que podereis comer: podereis
comer todo animal que tem a unha fendida e o casco dividido, e que
rumina. Mas não comereis aqueles que só ruminam ou só têm a unha
fendida. A estes, tê-los-eis por impuros: tal como o camelo, que
rumina mas não tem o casco fendido. E como o coelho igualmente,
que rumina mas não tem a unha fendida; tê-los-eis por impuros. (...)'"
(Lv 11, 1-47).
Como entender tais prescrições? 
Inicialmente, é preciso lembrar que o povo de Israel recebeu
influência do ambiente pagão da Mesopotâmia desde os tempos de
Abraão, cerca de 1800 a.C.. Portanto, este povo teve contatodurante
muitos anos com usos de pureza e impureza legal. 
Além disto, quando Deus retirou Abraão de sua terra idólatra e
o constituiu como nação independente, não quis simplesmente
extirpar as observâncias tradicionais dessas pessoas; a pedagogia
divina sempre teve por tática tomar o homem como ele é, e
pacientemente elevá-lo a maior perfeição. 
Por conseguinte, quando Moisés, em nome de Deus,
promulgou a Magna Carta de Israel, cerca de 1240 a.C., incluiu nela
as prescrições rituais já vigentes em sua nação. Apenas tratou de
incutir um significado superior a tais observâncias; removendo tudo
que poderia ter conotação de superstição ou de algum modo lembrar
a idolatria. A intenção era fazer com que as mudanças provocassem
o estímulo necessário para que os israelitas, observando uma pureza
exterior, ritual, tornassem-se também zelosos da fidelidade a Deus,
com isso adquirissem uma pureza moral, interior, mais importante do
que a outra, como se observa em Lv 11, 44: "Vós vos santificareis e
sereis santos, porque sou santo, e não vos tomareis impuros.". Então,
a fim de conseguir fazer com que o povo desejasse alçar ao ideal de
imitar a Deus, o Legislador, no Antigo Testamento, partiu das
prescrições imperfeitas a que o semita estava habituado.
Atente também para o fato de que as proibições relativas a
impureza, especialmente a animais e objetos impuros, visavam criar
uma barreira entre o povo hebreu e os estrangeiros com que
mantinham contato, bem como com aqueles que viriam a se
encontrar no decorrer de sua história. Isto fez com que Israel não se
tenha mesclado com as nações pagãs, nem quando estava disperso
no exílio (587-538 a.C.), nem quando a terra santa foi ocupada pelos
helenistas no tempo dos Macabeus (165-134 a.C.).
Assim, as prescrições rituais serviram para impor distância do
paganismo, preservando a verdadeira fé e ajudando o judaísmo a
realizar sua missão religiosa.
OS MANDAMENTOS DA IGREJA
Além dos dez Mandamentos de Deus, somos obrigados a
observar os mandamentos ou preceitos da Igreja. Isso porque o
próprio Jesus Cristo no-lo ordena, e porque os preceitos da Igreja
facilitam a observância dos Mandamentos de Deus. 
É preciso lembrar que é pecado grave transgredir com
advertência um preceito da Igreja em matéria grave. Somente o Papa
ou quem dele receber as competentes faculdades pode dispensar de
um preceito da Igreja.
Os preceitos da Igreja são cinco: ouvir Missa inteira nos
domingos e festas de guarda; confessar-se ao menos uma vez cada
ano; comungar ao menos pela Páscoa da Ressurreição; jejuar e
abster-se de carne quando manda a Santa Madre Igreja; e, por fim,
pagar dízimos segundo o costume.
A MORTE NA CONCEPÇÃO DOS HEBREUS
Os israelitas, desde o início de sua história, acreditavam que a
morte terminava com à vida intelectiva e afetiva do homem.
Consideravam que todos os mortos iam para a mesma região,
conhecida pelo nome de ‘sheol’. A tese era de que enquanto o corpo
desaparece na poeira da terra, o espírito vai para uma região
subterrânea, obscura, onde todas as almas se encontram e
permanecem indiferentemente sujeitas à mesma sorte, que não é
prêmio nem castigo, pois não sofrem pena nem gozam de felicidade;
mas como diz o salmista, são colocadas na "terra do esquecimento"
(Sl 87, 13). 
O livro do Eclesiastes expõe muito bem essa concepção em
suas páginas. Observe, por exemplo, essa passagem: "A sorte dos
filhos do homem e a sorte dos animais são idênticas. Como um
morre, assim morre o outro; Ambos possuem o mesmo sopro; Não há
vantagem do homem sobre o animal. Tudo vai para o mesmo lugar."
(Ecl 3, 19-21).
Portanto, a existência de um prêmio e de um castigo no além
era desconhecida; não se reconhecia, pois, um fim (uma
ressurreição) para este estado, como pode ser visto em Ecl 9, 5:
"Com efeito, os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não
sabem mais nada; para eles não há mais recompensa, porque sua
lembrança está esquecida."; e em Ecl 9, 10: "Tudo que tua mão
encontra para fazer, faze-o com todas as tuas faculdades, pois que
na região dos mortos, para onde vais, não há mais trabalho, nem
ciência, nem inteligência, nem sabedoria.".
Esse entendimento levava a que os israelitas imaginassem que
a sanção da Justiça Divina, devida a justos e pecadores pôr suas
obras, seria executada ainda neste mundo, durante a vida do homem.
Isso os fazia crer que o homem virtuoso seria feliz, e feliz por
possuir suficiência ou abundância de bens terrestres (dinheiro, família
numerosa, longa vida); por outro lado, achavam que aquele que
apresentava indigência, doença ou qualquer aflição na vida presente
era devido a algum castigo divino, correspondente a pecado cometido
por ele ou por seus antepassados.
Esse ensino, apesar de rudimentar, ajudava os israelitas a
serem obedientes as leis de Deus e os preparava para o Evangelho.
De fato, o Eclesiastes ensinava que, já que não existe vida pós-morte,
é na presente vida que o homem deve servir fielmente a Deus: "bem
ponderadas todas as coisas, teme a Deus e observa os seus
mandamentos, pois nisto consiste o ideal de todo homem." (Ecl 12,
13). 
Este tipo de escrita ocorria porque, embora o homem do Antigo
Testamento conhecesse o verdadeiro Deus, ainda ignorava muitos
dos desígnios divinos, inclusive o que dizia respeito à bem-
aventurança póstuma. 
Note que Deus permitiu que o povo do Antigo Testamento
ficasse por muitos séculos dependentes de concepções obscuras no
tocante à existência póstuma, porque a verdade sobre o além-túmulo
é perigosa para quem não está ainda firme no monoteísmo, o que
pode levar a superstições: o culto dos Mortos como se fossem
divindades, a necromancia e os sacrifícios humanos. 
Além do mais, Deus não considerava tal conhecimento
necessário à sua salvação dos homens desta época, pois estes para
conseguirem a vida eterna, bastavam viver como justos e crerem na
Justiça Divina e nas suas sanções; com esta fé se santificaram
Abraão, Isaque, José, Davi e tantos outros. 
É preciso também lembrar que a ressurreição está ligada a
restauração messiânica, e não podia ser conhecida antes que as
revelações sobre o messianismo tivessem preparado as premissas
dela.
As noções primárias que levavam os judeus a admitir o sheol,
por mais imperfeitas que fossem, não deixavam de apresentar pontos
positivos à revelação de conceitos escatológicos mais claros. Com
efeito, os israelitas, acreditando que o homem consta
necessariamente de alma e corpo e só pode ser feliz quando os dois
componentes se acham reunidos, estavam, sem o saberem, sendo
preparados para receberem a mensagem da ressurreição da carne e
da subseqüente bem-aventurança.
Por fim, resta esclarecer que desde que as noções do
Evangelho tomaram vulto na mente do povo de Deus, a antiga
ideologia do sheol perdeu o seu sentido. Ela fora, sem dúvida,
importante para sustentar a piedade de um povo rude durante vários
séculos. No entanto, ao aproximar-se a plenitude dos tempos, o sheol
de outrora foi, pela revelação cristã, repartido em dois: o céu, que
representa a feliz sorte dos justos; e o inferno, que se torna a triste
sanção devida aos pecadores.
Referência: A aliança de Deus com os hebreus no deserto, os
Dez Mandamentos da aliança e sua conclusão. (Ex 19; 20, 1-21 e
24).
A ARCA DA ALIANÇA
Embora Deus não admitisse ter representação material, sua
preocupação com a fidelidade do povo Hebreu, leva-O a dar um sinal
sensível de sua presença, a Arca da Aliança:
“Farás uma arca de madeira de acácia. Colocarás a tampa
sobre a arca
e porás dentro da arca os meus mandamentos. Ali virei ter
contigo, e é de cima da tampa, do meio dos querubins que
estão sobre a Arca da Aliança, que te darei todas as minhas
ordens para os israelitas.”
(Ex 25, 21-22)
A ARCA DA ALIANÇA
O centro do culto do povo de Israel era o Tabernáculo. Ele era
uma tenda portátil, amparada por quarenta espessas tábuas de
acácia. Tinha a forma retangular e dividia-se em duas partes
separadas por uma cortina de rica fazenda. A primeira parte, na qual
se entrava primeiro, era chamada Santoou Lugar santo; a segunda,
oculta atrás da cortina, era conhecida como Santuário ou o Santo dos
santos; ali é que se depositava a Arca da Aliança. Na frente do
Tabernáculo estava o adro, espécie de pátio onde se ofereciam os
sacrifícios e se ajuntava o povo.
A Arca da Aliança era um cofre de madeira de setim, forrado
com laminas de ouro por dentro e por fora, com um metro e setenta e
cinco metros de comprimento e oitenta centímetros de largura. Ela
era coberta por uma mesa de ouro chamada propiciatório a cujas
extremidades estavam representados dois querubins de asas soltas.
Dentro da Arca “estava a urna de ouro contendo o maná, a vara de
Aarão que floresceu e as tábuas da aliança” (Hb 9, 5).
A intenção de Deus, ao permitir que os israelitas construíssem
a Arca da Aliança, foi mostrar ao povo que Ele estava presente em
seu meio. Infelizmente, muitas foram às vezes que os israelitas,
desviando-se do sentido que uma imagem deva ter, consideraram-na
como uma espécie de amuleto protetor, esquecendo-se de adorar
Deus em espírito e em verdade.
A PROIBIÇÃO DE FABRICAÇÃO DE IMAGENS
A criação da Arca da Aliança mostra que Deus não proibia a
confecção de imagens religiosas quaisquer, mas somente a
representação figurada de sua pessoa como objeto de adoração.
Sendo assim, as passagens “Não farás para ti escultura, nem
figura alguma do que está em cima, nos céus, ou embaixo, sobre a
terra, ou nas águas, debaixo da terra.”, encontrada em Ex 20, 4, e
“Não farás para ti imagem de escultura representando o que quer que
seja do que está em cima no céu, ou embaixo na terra, ou nas águas
debaixo da terra”, observada em Dt 5, 7-8, referem-se a prática da
idolatria, ou seja, o prestar a alguma criatura o culto supremo de
adoração devido só a Deus, como, por exemplo, a uma estátua, a
uma imagem, a um ser humano. Essa prática é proibida pelo primeiro
Mandamento.
Por conta disso, não são todas as imagens que a passagem
proíbe, mas só as das falsas divindades, feitas com intuito de
adoração, como faziam os idólatras. E tanto isto é verdade que o
próprio Deus deu ordem a Moisés para fazer algumas, como a
serpente de bronze (Nn 21, 8) e os querubins afixados na Arca da
Aliança.
Portanto, Deus nunca proibiu a fabricação de imagens. A
utilização de imagem somente passa a ser proibida quando a
colocamos no lugar do próprio Deus para adoração, empregando-a
como um ídolo.
Repare que quando Moisés prostrava-se diante da Arca da
Aliança, não a adorava como se fosse Deus, mas venerava-a,
entendendo que somente a Deus, que é o modelo original, é que
cabe adoração.
Adorar é prestar culto e somente deve ser feito a Deus,
enquanto venerar é reverenciar, fazer memória, ter grande respeito.
É nesse sentido que a Igreja Católica “venera” as imagens dos
santos, não as “adora”. Adorar algo ou alguém que não seja Deus é
idolatria e isso Deus proíbe.
No culto que prestamos a Deus, adoramo-Lo pela sua infinita
excelência, ao passo que aos Santos não os adoramos, mas só os
honramos e veneramos como amigos de Deus e nossos
intercessores junto dEle. O culto que prestamos a Deus chama-se
“latria”, isto é, de adoração, e o culto que prestamos aos Santos
chama-se “dulia”, isto é, de veneração aos servos de Deus; o culto
especial que prestamos a Maria Santíssima chama-se “hiperdulia”,
isto é, de essencialíssima veneração, como Mãe de Deus.
Observe que podemos adorar com culto de latria as imagens
de Jesus Cristo, porque o culto que se rende a uma imagem,
formalmente como imagem, e não como coisa, identifica-se com o
que se tributa ao que por ela é representado. 
Da mesma forma, devemos adorar a Cruz de Jesus Cristo com
o culto de latria, porque é imagem de Cristo que nela morreu por nós,
e, tratando-se da Cruz em que foi crucificado, merece ademais o dito
culto por haver estado em contacto imediato com o divino Salvador e
ter-se umedecido com o seu precioso sangue. 
Também devemos tributar culto de latria ao Sagrado Coração
de Jesus, porque o Coração de Jesus faz parte de sua adorável
pessoa. Entre os elementos integrantes da pessoa de Cristo, nenhum
há tão apropriado como o coração para ser objeto de um culto
especial, porque simboliza a obra do amor infinito levada ao extremo,
em nosso obséquio, pelo Verbo feito homem, no mistério da
Encarnação e Redenção; por tanto, o culto tributado ao Sagrado
Coração de Jesus é culto tributado a Jesus Cristo na qualidade de
amante do homem. 
No entanto, não podemos render culto de latria à Santíssima
Virgem, Mãe de Deus, porque não a honramos somente por ser mãe
de Cristo, mas pelo que ela é em si mesma e, sendo pura criatura,
não podemos tributar-lhe o culto próprio e exclusivo de Deus.
Por fim, resta lembrar que estamos obrigados, em atenção a
Jesus Cristo, a prestar o culto e a invocação dos Santos que
adormeceram na paz do Senhor, a veneração de suas relíquias e
cinzas, pois longe de diminuírem a glória de Deus, dão-lhe maior vulto
possível, na proporção que animam e reforçam a esperança dos
homens, e os induzem a imitarem os Santos.
Referência: A Arca da Aliança (Ex 25, 1-22).
OS HEBREUS ROMPEM A ALIANÇA
Enquanto Moisés, no alto do monte Sinai, recebia de Deus os
mandamentos da Aliança, o povo, que havia sido deixado no
acampamento, esquecia tudo o que o Senhor lhe havia dito e feito:
“Vendo que Moisés tardava a descer da montanha, o povo
agrupou-se em volta de Aarão e disse-lhe: 'Vamos: faze-nos um
deus que marche à nossa frente, porque esse Moisés, que nos
tirou do Egito, não sabemos o que é feito dele'.
Aarão respondeu-lhes: 'Tirai os brincos de ouro que estão nas
orelhas de vossas mulheres, vossos filhos e vossas filhas, e
trazei-mos'. Aarão pôs o ouro em um molde e fez dele um
bezerro de metal fundido.
Então exclamaram: 'Eis, ó Israel, o teu Deus que te tirou do
Egito'.”
(Ex 32, 1-4)
O ROMPIMENTO DA ALIANÇA
Logo no início da peregrinação dos hebreus pelo deserto, Deus
decide fazer com eles uma aliança. Contudo, como ainda não
estavam preparados, Moisés nem ainda havia descido do monte Sinai
com os termos da aliança e eles já a rompiam com sua infidelidade,
construindo um bezerro de ouro.
Assim, os hebreus em sua loucura não somente perdem a
noção de Deus, como forjam do metal um deus em sua substituição.
“Trocam a verdade de Deus pela mentira, e adoram e servem à
criatura em vez do Criador.” (Rm 1, 25). Pior ainda, transferem as
honras devidas a Deus a um bezerro feito de metal.
Devido a isto, Deus se enche de indignação e decide
exterminá-los, revelando que construirá um novo povo a partir de
Moisés:
"O Senhor disse a Moisés: Vai, desce, porque se corrompeu o
povo que tiraste do Egito. Desviaram-se depressa do caminho que
lhes prescrevi; fizeram para si um bezerro de metal fundido,
prostraram-se diante dele e ofereceram-lhe sacrifícios, dizendo: eis, ó
Israel, o teu Deus que te tirou do Egito. Vejo, continuou o Senhor, que
esse povo tem a cabeça dura. Deixa, pois, que se acenda minha
cólera contra eles e os reduzirei a nada; mas de ti farei uma grande
nação." (Ex 32, 7-10)
Diante daquela situação, Moisés torna a subir ao Monte e
implora o perdão de Deus para o povo. O Senhor, demonstrando
misericórdia, perdoa-lhe as faltas e renova mais uma vez a aliança:
“O Senhor disse a Moisés: “Escreve estas palavras, pois são
elas a base da aliança que faço contigo e com Israel. Moisés ficou
junto do Senhor quarenta dias e quarenta noites, sem comer pão nem
beber água. E o Senhor escreveu nas tábuas o texto da aliança, as
dez palavras. Moisés desceu do monte Sinai, tendo nas mãos as
duas tábuas da lei.” (Ex 34, 27-29)
Importante anotar que entre Moises e o Profeta por excelência,
de quem é o precursor, muitas são as analogias. De fato, Moises é
libertador do seu povo, legislador e fundador de uma religião,
taumaturgo, medianeiro na aliança entre Deus e o povo, homem
entregue a dor e ao sacrifício, entre tantos outros tantos caracteres
figurativos do Messias.
A CONSCIÊNCIA MORAL DO POVO HEBREU
Deus, para preservar a verdadeira fé e a esperança messiânica
em um mundocada dia mais idólatra, houve por bem chamar Abraão
de Ur da Caldéia para a terra de Canaã. 
Acontece que o povo oriundo de Abraão veio a se desenvolver
dentro de um ambiente pagão, onde recebeu influência de muitas
tradições e costumes inspirados por mentalidade rude e
supersticiosa. Inclusive, antes de receberem a lei teocrática, os
hebreus praticavam o talião em meio as nações vizinhas, para quem
tal praxe era de todo normal. Por conseguinte, os homens desta
época tinham uma consciência moral pouco desenvolvida. 
Pois bem, quando o Senhor promulgou a Lei Mosaica, com as
prescrições que o povo devia seguir, dignou-se respeitar as tradições
do povo, não as cortando bruscamente, apenas eliminando as
práticas politeístas. Esta decisão de Deus de permitir que os hebreus
tivessem um lento desabrochar moral, condiz perfeitamente com a
maneira com que criou e rege o mundo.
É certo que Ele tinha a intenção de reformar a Lei Mosaica,
pois sabia que ela não estava à altura do verdadeiro culto, mas antes
queria que o povo recebesse a Revelação divina, a qual o ajudaria a
atingir a perfeição.
Observe que o fato do povo ter ainda muito o que aprender
com relação a moral, não significava que estava impedido de obter a
salvação. Isso porque a sua consciência moral, apesar de
embrionária, dava-lhe condição de fazer o bem e evitar o mal, este
como tal o percebiam. O pecado, como o entendemos hoje, só aos
poucos, através dos séculos, é que vieram conhecer e evitar.
Isso é bastante perceptível ao se analisar a vida dos grandes
personagens da história sagrada. Tais homens se esforçavam por
não transgredir as prescrições divinas e as poucas normas que o seu
senso moral primitivo lhes incutia, quando por debilidade de sua
condição humana pecadora as violava, disto se arrependiam
profundamente. Esse zelo, que acarretava um esforço notável, é que
levou o Senhor a considerar muitos deles como homens ‘justos’.
Referência: O bezerro de ouro e a ruptura da aliança, o perdão
de Deus e a renovação da aliança. (Ex 32-34).
OS HEBREUS MURMURAM CONTRA DEUS
Após a renovação da aliança, Deus ordena que os hebreus
atravessem o deserto em busca da terra prometida. Porém, ao
iniciarem a caminhada e enfrentarem as primeiras dificuldades,
começam a murmurar contra Deus e Moisés. Deus, então, antes de
introduzi-los em Canaã, decide formá-los:
“Os israelitas puseram-se em marcha e partiram do deserto do
Sinai, e a nuvem parou no deserto de Farã.
O povo pôs-se a murmurar amargamente aos ouvidos do
Senhor.
O Senhor disse a Moisés: ‘Até quando me desprezará esse
povo? Até quando não acreditarão em mim, apesar de todos os
prodígios que fiz no meio deles?’.”
(Nm 10, 12-13; 11, 1; 14, 11)
QUARENTA ANOS NO DESERTO
A travessia do deserto do Sinai para a terra prometida deveria
levar pouco tempo, isso se o povo hebreu houvesse sido obediente à
lei divina e às ordens de Moisés; porém, havendo prevaricado e se
revoltado muitas vezes, Deus fez com que ele vagasse no deserto
durante quarenta anos. As Escrituras apontam dois fatos para Deus
ter tomado esta atitude:
1 – O primeiro deles é o fato de que muitos hebreus acataram
o que disseram os espiões enviados a Canaã quanto a não ser
possível sua conquista, o que os levou a se revoltarem contra Deus:
“Tendo voltado os exploradores, passados quarenta dias,
foram ter com Moisés e Aarão e toda a assembléia dos israelitas em
Cades, no deserto de Farã.
Eis como narraram a Moisés a sua exploração: Fomos à terra
aonde nos enviaste. É verdadeiramente uma terra onde corre leite e
mel, como se pode ver por esses frutos. Mas os habitantes dessa
terra são robustos, suas cidades grandes e bem muradas.
Caleb fez calar o povo que começava a murmurar contra
Moisés, e disse: Vamos e apoderemo-nos da terra, porque podemos
conquistá-la.
Mas os outros, que tinham ido com ele, diziam: Não somos
capazes de atacar esse povo; é mais forte do que nós. E diante dos
filhos de Israel depreciaram a terra que tinham explorado: A terra,
disseram eles, que exploramos, devora os seus habitantes: os
homens que vimos ali são de uma grande estatura; vimos até mesmo
gigantes, filhos de Enac, da raça dos gigantes; parecíamos
gafanhotos comparados com eles.” (Nm 13, 25-33)
A atitude do povo de murmurar representou aos olhos de Deus
uma grande falta de confiança em Seu poder e indicou o quanto
estavam inaptos a conquistarem a terra prometida.
Decepcionado com tamanha falta de fé, Deus afirma que
nenhum dos hebreus que estavam ali presentes, exceto Caleb e
Josué, filho de Nun, entrariam na terra prometida:
"Nenhum dos homens que viram a minha glória e os prodígios
que fiz no Egito e no deserto, que me provocaram já dez vezes e não
me ouviram, verá a terra que prometi com juramento aos seus pais.
Nenhum daqueles que me desprezaram a verá. Quanto ao meu servo
Caleb, porém, que animado de outro espírito me obedeceu fielmente,
eu o introduzirei na terra que ele percorreu, e a sua posteridade a
possuirá." (Nm 14, 22-24)
Dessa forma, os quarenta anos no deserto servirão tanto para
renovar toda aquela geração que não acreditou em seu poder como
para preparar seus filhos que, embora não tenham presenciado os
milagres já realizados, serão homens muitos mais cheios de fé e de
esperança que seus pais.
2 - O segundo motivo foi porque o povo hebreu que havia saído
do Egito, país politeísta, precisava se fortalecer espiritualmente antes
de encontrar os povos que habitavam na Palestina, que também
adoravam muitos deuses, como os cananeus, os moabitas, os
jebuseus, os filisteus e tantos outros.
No deserto, o Senhor ensinará seus mandamentos e suas leis
aos hebreus e, com isso, fortalecê-los-á para que abandonem as
idolatrias adquiridas durante o cativeiro e evitem os cultos pagãos que
irão encontrar em Canaã:
"Quando o Senhor teu Deus tiver exterminado diante de ti as
nações, cujos territórios invadirás para despojá-los, quando ocupares
a sua terra, guarda-te de cair no laço, imitando-as, depois de sua
destruição. Guarda-te de seguir os seus deuses, dizendo: como
adoravam essas nações os seus deuses, para que também eu faça o
mesmo?
Não farás assim com o Senhor, teu Deus; porque tudo o que o
Senhor odeia, tudo o que ele detesta, elas fizeram-no pelos seus
deuses, chegando mesmo a queimar em sua honra os seus filhos e
filhas. Cuidareis de fazer tudo o que vos prescrevo, sem acrescentar
nada, nem nada tirar." (Dt 12, 29-32)
É sempre bom ter em mente que a terra prometida aos
patriarcas era, por assim dizer, uma imagem do céu; nesse sentido,
era preciso conquistá-la pela provação e pela paciência. Era também
uma terra santa, e Deus, antes de introduzir nela o seu povo, queria
purificá-lo, deixá-lo expiar suas fraquezas, suas murmurações, suas
revoltas. Havia de ser ela uma recompensa, e como somente os
eleitos entram no céu, assim também Deus fez com que na herança
prometida aos patriarcas somente estivessem os Israelitas que
fossem dignos dela.
O PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE
Na Lei Mosaica, no capítulo que trata das bênçãos e
maldições, Deuteronômio 28, encontramos um princípio que foi vital
para que o povo israelita se mantivesse unido até a vinda do Messias:
“A nação próspera quando é fiel a Deus, a nação decai quando é
infiel”. Ele indicava a existência de uma forte solidariedade no prêmio
e no castigo. 
Esta solidariedade fazia com que a nação israelita se
comportasse como um só corpo, cujos membros eram responsáveis
uns pelos outros, de modo que o bem-estar individual ficava
firmemente associado ao bem-estar do grupo social.
A conseqüência disto é que o indivíduo poderia vir a receber
muitos bens ou muitos males por efeito da atividade livre de outros
homens. 
Observe que tal critério de solidariedade não causava
nenhuma admiração aos hebreus, pois como sentiam a fortíssima
solidariedade entre os membros da mesma família e do mesmo povo,
tendiam espontaneamente a estender a toda coletividade o mérito e o
desmérito dos atos do indivíduo.
A intenção de Deus ao introduzir este princípio foi criar fortes
vínculosnacionais, com o propósito de fortalecer uma unidade
interior, única barreira contra uma desagregação religiosa. De fato,
Israel, portador privilegiado do monoteísmo ético, devia ser um pouco
segregado, subtraído ao máximo do perigo de misturas raciais,
políticas, culturais, passagem fácil para confusão religiosa, com a
qual seria irrevogavelmente naufragado o patrimônio da ortodoxia.
Percebemos a utilização deste princípio ao estudarmos a
deportação feita pelos assírios (721 a. C.) e a destruição de
Jerusalém (587 a. C.).
Enfim, o princípio utilizado por Deus foi o meio mais oportuno e
eficaz para manter o povo unido em época tão desfavorável ao
monoteísmo, conforme demonstrado pelos resultados que ainda hoje
perduram. Com efeito, não existe povo tão solidário quanto Israel,
mesmo depois de cerca de 2.000 milênios de dispersão.
Referência: A caminhada no deserto (Nm 9-10), as
murmurações do povo (Nm 11-14; 16-17 e 20, 1-13), as primeiras
lutas e as orientações de Deus (Nm 20-27 e 31-36).
MOISÉS MORRE E JOSUÉ ASSUME
Finalmente, chega o momento do povo entrar na tão sonhada
Terra Prometida. Moisés, no entanto, não entrará:
“Subiu Moisés das planícies de Moab ao monte Nebo, ao cimo
do Fasga.
O Senhor mostrou-lhe toda a terra. O Senhor disse-lhe: 'Eis a
terra que jurei a Abraão, a Isaac e a Jacó dar à sua posteridade.
Viste-a com os teus olhos, mas não entrarás nela”.
(Dt 34, 1-4)
JOSUÉ
Completada sua missão, Moisés, sob a inspiração divina, deixa
como seu sucessor um homem enérgico e temente a Deus chamado
Josué.
Josué aparece na Sagrada Escritura como capitão do exército
israelita durante a primeira batalha contra os amalecitas: “Amalec veio
atacar Israel em Rafidim. Moisés disse a Josué: Escolhe-nos homens
e vai combater Amalec. Amanhã estarei no alto da colina com a vara
de Deus na mão. Josué obedeceu Moisés e foi combater Amalec,
enquanto Moisés, Aarão e Hur subiam ao alto da colina.” (Ex 17, 8-
15). Segundo Nm 32, 12, ele sempre obedeceu a Deus e, por conta
disso, Ele sempre o teve em consideração.
Até aquele momento, Josué vinha sendo o braço direito de
Moisés, ajudando-o durante toda a estadia do povo hebreu no
deserto. Agora, uma nova missão lhe é dada por Deus: deverá
introduzir o povo no país de Canaã no lugar de Moisés.
Josué sucedeu a Moisés, mas não herdou do mesmo poder.
Moisés tinha reunido em suas mãos o poder religioso e o poder civil.
Josué, no entanto, só conservou o poder temporal, pois o poder
religioso passou ao sumo sacerdote Eleazar. 
Apesar de Josué ter sido menor do que Moisés no poder e nas
obras, ele tinha grande conceito junto a Deus, a ponto de ordenar que
o sol parasse e permitisse que se completasse a vitoria dos hebreus
sobre seus inimigos:
"Josué falou ao Senhor no dia em que ele entregou os
amorreus nas mãos dos filhos de Israel, e disse em presença dos
israelitas: Sol, detém-te sobre Gabaon, e tu, ó lua, sobre o vale de
Ajalon. E o sol parou, e a lua não se moveu até que o povo se vingou
de seus inimigos. Isto acha-se escrito no Livro do Justo. O sol parou
no meio do céu, e não se apressou a pôr-se pelo espaço de quase
um dia inteiro. Não houve, nem antes nem depois, um dia como
aquele, em que o Senhor tenha obedecido à voz de um homem,
porque o Senhor combatia por Israel." (Js 10, 12-14).
A RENOVAÇÃO DO POVO HEBREU NO DESERTO
De todo o povo que estava presente quando os exploradores
voltaram de sua expedição (Nm 13, 25-33 e 14, 22-24), somente
Caleb e Josué, que ficaram a favor da conquista de Canaã, estavam
vivos:
“Tal é o recenseamento dos israelitas que fizeram Moisés e o
sacerdote Eleazar nas planícies de Moab, às margens do Jordão,
perto de Jericó. Não se achou entre eles nenhum daqueles que
tinham sido recenseados antes por Moisés e Aarão, no deserto do
Sinai, porque o Senhor dissera deles: ‘Morrerão no deserto’. Não
ficou nenhum deles, exceto Caleb, filho de Jefoné, e Josué, filho de
Nun.” (Nm 26, 63-65)
Dessa forma, os quarenta anos no deserto serviram para
renovar todo o povo que havia saído do Egito. Agora, um novo povo,
jovem e entusiasta, estava pronto para retomar o projeto de
conquista.
MOISÉS NÃO ENTRARÁ NA TERRA PROMETIDA
O motivo de Moisés não entrar na terra prometida aconteceu
no episódio das águas de Meribá. Devido às murmurações do povo
israelita por água, Deus mandou Moisés reunir toda a assembléia e
dirigir-se a um grande rochedo. Chegando lá, Moisés deveria glorificar
a Deus e, em seguida, bater com a vara no rochedo, o que faria
escorrer água da pedra.
Moisés, diante da assembléia, ao tocar com sua vara duas
vezes no rochedo deu a entender ao povo que as águas poderiam
não brotar. Esta atitude representou para Deus uma grande falta de
confiança e mostrou que Moisés não estava preparado para liderar o
povo nas grandes dificuldades que ainda estavam para acontecer ao
entrarem na Palestina. Por esta razão, nem Moisés e nem Aarão
entrarão na terra prometida por Deus:
“Como não houvesse água para a assembléia, o povo se
ajuntou contra Moisés e Aarão, procurou disputar com Moisés e
gritou: ‘Oxalá tivéssemos perecido com nossos irmãos diante do
Senhor! Por que conduziste a assembléia do Senhor a este deserto,
para nos deixar morrer aqui com os nossos rebanhos? Por que nos
fizeste sair do Egito e nos trouxeste a este péssimo lugar, em que não
se pode semear, e onde não há figueira, nem vinha, nem romãzeira, e
tampouco há água para beber?’
Moisés e Aarão deixaram a assembléia e dirigiram-se à
entrada da tenda de reunião, onde se prostraram com a face por
terra.
Apareceu-lhes a glória do Senhor, e o Senhor disse a Moisés:
‘Toma a tua vara e convoca a assembléia, tu e teu irmão Aarão.
Ordenareis ao rochedo, diante de todos, que dê as suas águas; farás
brotar a água do rochedo e darás de beber à assembléia e aos seus
rebanhos’.
Tomou Moisés a vara que estava diante do Senhor, como ele
lhe tinha ordenado. Em seguida, tendo Moisés e Aarão convocado a
assembléia diante do rochedo, disse-lhes Moisés: ‘Ouvi, rebeldes:
acaso faremos nós brotar água deste rochedo?’ Moisés levantou a
mão e feriu o rochedo com a sua vara DUAS VEZES; as águas
jorraram em abundância, de sorte que beberam, o povo e os animais.
Em seguida, disse o Senhor a Moisés e Aarão: ‘Porque
faltastes à confiança em mim para fazer brilhar a minha santidade aos
olhos dos israelitas, não introduzireis esta assembléia na terra que lhe
destino’.” (Nm 20, 2-13)
Após este episódio, Moisés pede a Deus que nomeie um
homem para que assuma seu lugar e introduza o povo em Canaã:
“Moisés disse ao Senhor: 'O Senhor Deus dos espíritos e de
toda a carne escolha um homem que chefie a assembléia, que
marche à sua frente e guie os seus passos, para que a assembléia do
Senhor não seja como um rebanho sem pastor'.
O Senhor respondeu a Moisés: 'Toma Josué, filho de Nun, no
qual reside o Espírito, e impõe-lhe a mão. Apresentá-lo-ás ao
sacerdote Eleazar e a toda a assembléia, e o empossarás sob os
seus olhos. Tu o investirás de tua autoridade, a fim de que toda a
assembléia dos israelitas lhe obedeça.'” (Nm 27, 15-20)
Depois disso, "subiu Moisés das planícies de Moab ao monte
Nebo, ao cimo do Fasga, defronte de Jericó. O Senhor mostrou-lhe
toda a terra, desde Galaad até Dá, todo o Neftali, a terra de Efraim e
de Manassés, todo o território de Judá até o mar ocidental, o Negeb,
a planície do Jordão, o vale de Jericó, a cidade das palmeiras, até
Segor.
O Senhor disse-lhe: Eis a terra que jurei a Abraão, a Isaac e a
Jacó dar à sua posteridade. Viste-a com os teus olhos, mas não
entrarás nela. E Moisés, o servo do Senhor, morreu ali na terra de
Moab, como o Senhor decidira. E ele o enterrou no vale da terra de
Moab, defronte de Bet-Fogor, e ninguém jamais soube o lugar do seu
sepulcro. Moisés tinha cento e vinte anos no momento de sua morte:
sua vista não se tinha enfraquecido, e o seu vigor não se tinha
abalado." (Dt 34, 1-7)
Referência: A morte de Moisés e a convocação de seu
sucessor (Dt 31-34).
OS HEBREUS ENTRAM NA PALESTINA
Ao chegar à terra prometida, a Palestina,o povo Hebreu
deparou-se com uma infinidade de povos guerreiros que lá
habitavam. Precisou, portanto, lutar para conquistá-la. Após todos
esses acontecimentos, surge um período de paz:
“Conquistou, pois, Josué toda a terra, como o Senhor tinha dito
a Moisés, e deu-a em herança a Israel, repartindo-a segundo as
suas tribos.
E a terra repousou da guerra.”
(Js 11, 23)
DEUS EXPULSA OS HABITANTES DE CANAÃ
A Sagrada Escritura nos revela que Deus não estava satisfeito
com os habitantes de Canaã. Ela esclarece que eles eram povos
pagãos que tinham diversas divindades, muitas cruéis, que exigiam
sacrifícios humanos. Foi por causas dessas e de outras práticas
abusivas que Deus os expulsou da palestina, colocando, em seus
lugares, o povo hebreu:
“Quando tiveres entrado na terra que o Senhor, teu Deus, te
dá, não te porás a imitar as práticas abomináveis da gente daquela
terra. Não se ache no meio de ti quem faça passar pelo fogo seu filho
ou sua filha, nem quem se dê à adivinhação, à astrologia, aos
agouros, ao feiticismo, à magia, ao espiritismo, à adivinhação ou à
invocação dos mortos, porque o Senhor, teu Deus, abomina aqueles
que se dão a essas práticas, e é por causa dessas abominações que
o Senhor, teu Deus, expulsa diante de ti essas nações. Serás
inteiramente do Senhor, teu Deus. As nações, que vais despojar
ouvem os agoureiros e os adivinhos; a ti, porém, o Senhor, teu Deus,
não o permite.” (Dt 18, 9-14)
“Segundo a ordem do Senhor, teu Deus, votarás ao interdito os
hiteus, os amorreus, os cananeus, os ferezeus, os heveus e os
jebuseus, para que não suceda que eles vos ensinem a imitar as
abominações que praticam em honra de seus deuses, e venhais a
pecar contra o Senhor, vosso Deus.” (Dt 20, 17-19)
Repare que em Sodoma e Gomorra superabundava a
depravação sexual e outras práticas imorais. Em Canaã, a maldade
se materializava através de atos como a adivinhação, a astrologia, os
agouros, o feiticismo, a magia, o Espiritismo, a adivinhação, a
invocação dos mortos, entre outras práticas pagãs. Tanto as ações
dos povos das cidades de Sodoma e Gomorra como as das cidades
de Canaã eram consideradas por Deus práticas abomináveis. As
penas por seus delitos foram diferentes, mas tiveram o mesmo efeito.
Sodoma e Gomorra foram alvos de “uma chuva de enxofre e de fogo,
vinda do Senhor, do céu, que destruiu essas cidades e toda a
planície, assim como todos os habitantes das cidades e a vegetação
do solo” (Gn 19, 24-25), enquanto os habitantes de Canaã foram
dizimados pelos hebreus através de lutas em batalhas (Dt 18, 9-14).
A metodologia de Deus, neste último caso, foi dar condições
espirituais e materiais aos hebreus, durante sua estadia no deserto,
para combaterem e vencerem os habitantes dessas cidades, homens
mais fortes e mais bem preparados.
O EXTERMÍNIO DOS INIMIGOS
Inicialmente, é preciso compreender que os hebreus se
desenvolveram em um mundo onde não existia limites ao direito do
vencedor de uma guerra. Com efeito, no Oriente, ao povo vencedor
reconhecia-se a faculdade de dispor das posses e da vida dos
vencidos, mesmo de mulheres e crianças. Tal praxe era chamada o
herém (anátema). 
O herém era mais do que simples crimes realizados por povos
de cultura pouco evoluída. Para os povos pagãos era uma espécie de
ideologia religiosa. Acreditavam que, na guerra, era a honra de seus
deuses que estava em jogo. Caso vencessem, era a sua divindade
que vencia; por outro lado, uma derrota militar seria escárnio para os
deuses da nação vencida. Dentro desta visão, o vencedor
considerava que deveria levar ao total extermínio todo o povo vencido
e tudo o que lhe pertencia, como um ato religioso, para honrar seus
deuses.
Observe que o conhecimento desta praxe, ao longo de
décadas de convívio, foi passada para a mentalidade dos hebreus. 
Note, então, que Israel tinha consciência do herém, bastava
apenas que algum fato grave viesse a acontecer para que o
adotasse.
Pois bem, todas as vezes que Israel deixava que as tribos que
haviam sido derrotadas por ele em guerras habitassem ao seu lado, a
idolatria tomava conta do povo e a religião ficava comprometida. 
Em consequência, o herém acabou por se tornar
particularmente necessário ao povo e entrou em sua legislação. Para
Israel, manter a nação totalmente separada dos povos pagãos era
absolutamente necessário. Não lhe era concebível expor a nenhum
risco a fidelidade dos descendentes de Abraão ao verdadeiro Deus.
Neste sentido, o herém hebreu tinha um sentido diferente do herém
pagão. Enquanto estes buscavam agradar a seus vários deuses,
aqueles procuravam manter viva sua religião, sua fé em um único
Deus e assegurar que as promessas que lhe haviam sido feitas pelo
Senhor ao Patriarca Abraão tivessem a oportunidade de serem
cumpridas.
Verifique, pois, em Dt 20, 16-18, como o legislador sagrado
incluiu o herém na Lei:
“Quanto às cidades daqueles povos cuja possessão te dá o
Senhor, teu Deus, não deixarás nelas alma viva. Segundo a ordem do
Senhor, teu Deus, votarás ao interdito os hiteus, os amorreus, os
cananeus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus, para que não
suceda que eles vos ensinem a imitar as abominações que praticam
em honra de seus deuses, e venhais a pecar contra o Senhor, vosso
Deus.”.
Apesar do herém ser contra a vontade de Deus, Ele respeitou o
grau de desenvolvimento do povo hebreu, sabendo que viria a ser
paulatinamente corrigido. Este proceder do Senhor, inclusive, foi o
mesmo que adotou ao lidar com os mais diversos aspectos da rude
moral do povo durante todo o Antigo Testamento. 
A TRIBO DE JUDÁ
Após subjugarem os povos que habitavam a terra de Canaã, os
hebreus a dividiram em tribos. Essas tribos tomaram os nomes de
Rubens, Simeão, Levi, Judá, Issacar, Zabulão, Dan, Neftali, Gad,
Aser, Benjamim, Filhos de Jacó; e de Efraim e Manassés, filhos de
José.
Josué não teve sucessor. Depois da sua morte, as doze tribos
formaram uma espécie de Estado federativo cujo verdadeiro e único
chefe era Deus. 
Será da tribo de Judá, segundo a profecia de Jacó em seu leito
de morte, que virá o Messias, o Redentor do mundo. Este aparecerá
quando Judá não tiver mais o cetro da autoridade, ou seja, quando
Israel passar sob a dominação estrangeira:
"Judá, teus irmãos te louvarão. Pegarás pela nuca os inimigos;
os filhos de teu pai se prostrarão em tua presença. Filhote de leão,
Judá: voltas trazendo a caça, meu filho. Dobra-se, deita-se como um
leão; como uma leoa: quem o despertará? Não se apartará o cetro de
Judá, nem o bastão de comando dentre seus pés, até que venha
aquele a quem pertence por direito, e a quem devem obediência os
povos." (Gn 49, 8-10)
A tribo de Levi não recebeu território à parte, pois Deus a
designou para o ofício sacerdotal e quis ser Ele mesmo sua porção e
sua herança: "À tribo de Levi, porém, não deu herança alguma,
porque o Senhor, Deus de Israel, é a sua herança, como ele lho tinha
dito" (Js 13, 33).
Referência: A ocupação do povo israelita na palestina (Js 1-
12) e O adeus de Josué (Js 23-24).
AS INFIDELIDADES E AS INVASÕES
O povo hebreu, mesmo sendo testemunha ocular das inúmeras
maravilhas realizadas por Deus em seu meio, ao invés de firmar-se
com mais vigor na fidelidade ao Senhor, deixa-se seduzir pela vida
fácil das nações vizinhas, adotando seus costumes e cultos. Com
isso, afasta-se de Deus. Logo, o país é invadido e dominado por seus
inimigos. Arrependido, recorre ao Senhor que lhe suscita uma
libertação por meio de um de seus cidadãos que passa a denominar-
se Juiz:
“Ora, quando o Senhor suscitava juízes, ele estava com o juiz
para livrá-los de seus inimigos enquanto vivesse o juiz: o
Senhor compadecia-se dos gemidos que soltavam diante de
seus opressores.
Mas, depois que o juiz morria, corrompiam-se e se tornavam
ainda piores do que seus pais, seguindo a outros deuses,
servindo-os e adorando-os.”
(Jz 2, 18-19 )
O CONTATO COM AS NAÇÕES PAGÃS VIZINHAS
Enquanto viveu a geração que tinha presenciado as maravilhas
praticadas pelo Senhor, o povo permaneceu fiel às suas promessas.
Mas quando a geraçãoformada por Moises desapareceu, os filhos de
Israel foram atraídos para o mal e deixaram-se arrastar pela idolatria
dos povos vizinhos que eles não tinham aniquilado, apesar das
ordens do Senhor. 
Assim, contrariando o desejo de Deus, o povo passou a manter
contato com as nações vizinhas, assimilando seus cultos e afastando-
se da lei mosaica. Com efeito, praticavam, em todos os lugares, as
práticas abomináveis que haviam feito os antigos habitantes serem
expulsos:
“O anjo do Senhor subiu de Gálgala a Boquim e disse: Eu vos
fiz subir do Egito e vos conduzi a esta terra que eu tinha prometido
com juramento a vossos pais. E vos tinha dito: jamais hei de romper a
aliança que fiz convosco; vós, porém, não fareis aliança com os
habitantes desta terra e lançareis por terra os seus altares! Ora, vós
não obedecestes à minha voz. Por que fizestes isso?” (Jz 2, 1-3)
Assim, uma vez mais, os homens em sua loucura, desprezam
o dom recebido, afastam-se de Deus e mancham a alma de tal sorte
que não somente perdem a noção de Deus, mas ainda forjam outros
deuses em substituição. Trocam a verdade por ídolos que fabricam,
preferem o nada ao verdadeiro Deus, adoram a criatura em lugar do
Criador (Rm 1, 25). Pior ainda, transferem as honras divinas a ídolos
de madeira, de pedra, ou de qualquer outra matéria, e até a seres
humanos.
Longe de Deus, os hebreus passam a sofrer sucessivas
invasões dos povos vizinhos. 
Essa situação de infidelidade aconteceu várias vezes durante
todo o primeiro período após o estabelecimento na Palestina, perto de
quinhentos anos, e na mesma medida ocorreram as invasões contra
Israel.
Nesta época, a justiça era ministrada nas cidades por
magistrados especiais, e o grande conselho dos anciãos geria os
negócios públicos. Não havia nenhum comandante militar ou chefe
supremo, sendo os Israelitas governados por meio das leis de Deus. 
No entanto, quando se tratava de fatos extraordinários ou de
guerras importantes, Ele passava a sua autoridade para pessoas
escolhidas para tal fim. Entretanto, somente intervia quando os
israelitas arrependiam-se profundamente de suas ações
pecaminosas.
Sendo assim, quando o povo se via dominado e sem
esperança, e renunciava aos erros e a idolatria, podia voltar-se a
Deus e pedir o seu socorro. A resposta de Deus a essa súplica
manifesta-se através dos Juízes. 
Os Juízes eram pessoas, entre as quais duas mulheres,
Débora e Jael, suscitadas e escolhidas por Deus, de tempos em
tempos, para livrar os hebreus sempre que esses, em castigo por
seus pecados, caíam sob o poder de seus inimigos. Os dois Juízes
mais ilustres foram Sansão e Samuel. Esses libertadores temporários
tinham como missão restaurar a independência do povo cativo e
mantê-lo na verdadeira religião.
Observe que eles não eram mais do que os oficiais do Senhor,
que os escolhia, às vezes, dentre os mais humildes; e para deixar
bem patente que a vitória vinha d’Ele e não desses homens, recusava
utilizar com freqüência o grande número dos soldados e a força das
armas. De tempos em tempos prorrogava a missão dos Juízes
durante a vida inteira sem, contudo, lhes comunicar autoridade
soberana nem tornar hereditário o seu poder:
“Os israelitas fizeram então o mal aos olhos do Senhor e
serviram a Baal. Abandonaram o Senhor, o Deus de seus pais, que
os tinha tirado do Egito, e seguiram outros deuses, os dos povos que
habitavam em torno deles; prostraram-se diante deles, excitando
assim a cólera do Senhor. Abandonaram o Senhor para servirem Baal
e Astarot.
A cólera do Senhor inflamou-se contra Israel, e Ele entregou-os
nas mãos de piratas, que os despojaram, e vendeu-os aos inimigos
dos arredores, de sorte que não puderam mais resistir-lhes. Para
onde quer que fossem, a mão do Senhor estava contra eles para
fazer-lhes mal, como o Senhor lhes tinha dito e jurado, e viram-se em
grande aflição.
(Entretanto) o Senhor suscitava-lhes juízes que os livraram das
mãos dos opressores, mas nem mesmo os seus juízes ouviam e
continuavam prostituindo-se a outros deuses, adorando-os.
Abandonaram depressa o caminho que tinham seguido seus pais, na
obediência aos mandamentos do Senhor, e não os imitaram.
Ora, quando o Senhor suscitava juízes, ele estava com o juiz
para livrá-los de seus inimigos enquanto vivesse o juiz: o Senhor
compadecia-se dos gemidos que soltavam diante de seus inimigos e
de seus opressores. Mas, depois que o juiz morria, corrompiam-se e
se tornavam ainda piores do que seus pais, seguindo outros deuses,
servindo-os e adorando-os; e não renunciavam aos seus crimes e à
sua obstinação.
Inflamou-se, pois, contra Israel a cólera do Senhor: Visto que
este povo violou o meu pacto, dizia Ele, a aliança que Eu tinha feito
com seus pais, e não obedeceram à minha voz, também Eu não
expulsarei de diante deles nenhuma das nações que Josué deixou ao
morrer.
Por elas, queria o Senhor provar os israelitas, e ver se eles
seguiriam ou não o caminho do Senhor, como o tinham feito seus
pais.
E o Senhor deixou subsistir todas essas nações que não tinha
entregue nas mãos de Josué, e não as quis expulsar logo.” (Jz 2, 11-
23)
Esse período acabou sendo marcado pelas inúmeras
misericórdias de Deus, pois cada infidelidade correspondeu a uma
formação e a uma salvação.
OS CASTIGOS DE DEUS
No início, Deus criou o homem e o chamou a participar de sua
criação. Quis sua colaboração para realizar grandes planos e esperou
a sua resposta. Infelizmente, o homem não só não atendeu como se
rebelou; em vez de coisas grandes e belas passou a criar
monstruosidades. Como conseqüência, precipitou-se o castigo.
Encontramos o tema do castigo em muitos livros do Antigo
Testamento: na pré-história bíblica, na viagem para Terra Prometida,
no livro de Juízes, na história de Saul, de Davi, de Salomão, etc.
Ao estudar estas passagens, conclui-se que Deus castiga o
homem porque não o despreza. O homem é tão importante a ponto
de merecer que Deus se interesse por ele e o castigue. A intenção do
Senhor é corrigi-lo para retirá-lo do pecado. 
Referência: Todo o livro dos Juízes.
AS INFIDELIDADES NAS MONARQUIAS
Contrariando a vontade de Deus, os israelitas se organizam
sob governos monárquicos, sendo os mais conhecidos os de Saul, de
Davi e de Salomão. Essa nova forma de organização leva a um
crescente aumento da infidelidade à aliança:
“Então a palavra do Senhor foi-lhe dirigida: Que fazes aqui,
Elias?
Ele respondeu: Estou devorado de zelo pelo Senhor, o Deus
dos exércitos. Porque os israelitas abandonaram a vossa
aliança, derrubaram os vossos altares e passaram os vossos
profetas ao fio da espada. Só eu fiquei, e querem tirar-me a
vida.”
(I Rs 19, 14)
O PECADO DO POVO HEBREU AO PEDIR UM REI
Deus criou o povo hebreu para que esse O tivesse como único
Deus e governante eterno. Para ajudá-lo, entregou-lhe Suas leis e
mandamentos. Mas, alheio à vontade do Senhor, por volta de 1020
a.C., Israel prefere que um homem o governe (o rei Saul inicialmente
e depois o rei Davi e seus herdeiros). Buscavam um governo menos
dependente da Providência insondável do Criador.
Primeiramente, peca ao rejeitar as orientações de Deus através
de suas leis e de seus profetas. Depois, peca por buscar ser igual às
nações vizinhas, governadas por reis e abominadas por Deus por
causa de seus cultos pagãos:
“Todos os anciãos de Israel vieram ter com Samuel em Ramá,
e disseram-lhe: ‘Estás velho e teus filhos não seguem as tuas
pisadas. Dá-nos um rei que nos governe, como o têm todas as
nações’. O Senhor disse-lhe: ‘Ouve a voz do povo em tudo o que te
disserem. Não é a ti que eles rejeitam, mas a mim, pois já não
querem que eu reine sobre eles’.” (I Sm 8, 4-7)
Essa atitude de Israel, por significar um arrefecimento da
fé, com o passar do tempo, levará a um grande aumento na
infidelidade à aliança, o que trará como resultado final o exílio. Nele,
todo orgulho e toda segurança irão ruir. E o povo, desprovido de tudo,
retornará ao primeiro amor: Deus.
O PECADO DO REI SAUL
Samuel, por ordem de Deus, reuniu o povo, que alvoroçado
pedia um Rei, e em suapresença elegeu e consagrou Saul, da tribo
de Benjamim, para primeiro Rei de todo o povo hebreu.
No entanto, após dois anos de reinado, Deus o rejeitou em
virtude de gravíssima desobediência. As Escrituras revelam duas
situações que levaram a sua rejeição:
I - Deus, por intermédio do Profeta Samuel, avisa a Saul que
deve ir a cidade de Gálgala para lá confirmar seu título de rei e
oferecer sacrifícios de ações de graças:
"Samuel disse ao povo: Vamos a Gálgala, e renovemos ali a
realeza. Partiu, pois, todo o povo para Gálgala para ali confirmar Saul,
em presença do Senhor, no seu título de rei, e oferecer naquele lugar
sacrifícios de ações de graças. E Saul, com todos os israelitas,
alegraram-se grandemente." (I Sm 11, 14-15)
Acontece que, devido a um problema com os Filisteus, Saul,
que deveria aguardar Samuel durante sete dias para confirmá-lo na
realeza, antecipa-se e ele mesmo passa a oferecer sacrifícios ao
Senhor, desobedecendo a uma ordem direta de Deus:
"Saul esperou sete dias, prazo fixado por Samuel, mas este
não chegava, e o povo começou a afastar-se. Então Saul disse:
Trazei-me o holocausto e os sacrifícios pacíficos. E ofereceu o
holocausto. Apenas acabava de o oferecer, chegou Samuel, e Saul
saiu-lhe ao encontro para o saudar. Que fizeste?, disse Samuel.
Vendo que o povo se dispersava e que tu não chegavas no
tempo fixado, e que os filisteus se tinham juntado em Macmas, pensei
comigo: Agora eles vão cair sobre mim em Gálgala, sem que eu
tenha aplacado o Senhor. Por isso ofereci eu mesmo o holocausto.
Samuel replicou-lhe: Procedeste insensatamente, não
observando o mandamento que te deu o Senhor, teu Deus, que
estava pronto a confirmar para sempre o teu trono sobre Israel. Agora
o teu reino não subsistirá." (I Sm 13, 8-14)
II - Saul havia recebido do profeta Samuel a ordem de ferir
Amalec e votar ao interdito tudo o que lhe pertence, sem nada
poupar. Saul, no entanto, destruiu apenas os despojos de guerra que
não tinham valor, ficando com todo o resto. Para Samuel aquilo era
uma grave ofensa a Deus, pois Saul colocou seus interesses acima
da vontade do Senhor.
Para o profeta Samuel, Deus não se compraz tanto nos
holocaustos e sacrifícios como na obediência à sua voz. Para ele “a
desobediência é como o pecado de idolatria” (I Sm 15, 23), um
pecado extremamente grave. Por isso, Samuel afirma: “Pois que
rejeitaste a palavra do Senhor, também Ele te rejeita e te despoja da
realeza!” (I Sm 15, 23).
A partir deste dia, Samuel foi embora e não tornou a ver Saul;
mas não deixou de chorar sobre o desventurado destino deste
príncipe que o Espírito de Deus tinha abandonado.
O PECADO DO REI DAVI
Muitos anos depois de Deus ter rejeitado Saul, sobe ao trono o
Rei Davi, da tribo de Judá. Este governou Israel durante quarenta
anos e ao longo desse tempo terminou de conquistar toda a
Palestina. Apoderando-se de Jerusalém, escolheu-a para sede de
seu Reino. 
Davi sempre procurou seguir os mandamentos do Senhor até o
dia em que se deixou seduzir pela beleza de uma mulher, Betsabé,
filha de Elião, mulher de Urias, o hiteu.
Ao saber que Betsabé estava grávida de um filho seu, Davi
decide enviar Urias para frente de batalha para que os inimigos de
Israel o matassem.
Ao obter seu intento, Davi manda buscar Betsabé e a torna sua
mulher. Depois de certo tempo, nasce o filho do adultério.
Tal procedimento de Davi desagradou profundamente ao
Senhor que lhe disse: "Ungi-te rei de Israel, salvei-te das mãos de
Saul, dei-te a casa do teu senhor e pus as suas mulheres nos teus
braços. Entreguei-te a casa de Israel e de Judá e, se isso fosse ainda
pouco, eu teria ajuntado outros favores. Por que desprezaste o
Senhor, fazendo o que é mau aos seus olhos? Feriste com a espada
Urias, o hiteu, para fazer de sua mulher a tua esposa, e o fizeste
perecer pela espada dos amonitas." (II Sm 12, 7-9).
Depois de chamar-lhe a atenção, Deus aplica-lhe um severo
castigo: "Por isso, jamais se afastará a espada de tua casa, porque
me desprezaste, tomando a mulher de Urias, o hiteu, para fazer dela
a tua esposa. Eis o que diz o Senhor: vou fazer com que se levantem
contra ti males vindos de tua própria casa. Sob os teus olhos, tomarei
as tuas mulheres e dá-las-ei a um outro que dormirá com elas à luz
do sol! Porque agiste em segredo, mas eu o farei diante de todo o
Israel e diante do sol." (II Sm 12, 10-12). Disse ainda: “Como
desprezaste o Senhor com essa ação, morrerá o filho que te nasceu.”
(II Sm 12, 13).
Davi arrependeu-se totalmente do que havia feito e, por conta
disso, o Senhor perdoou o seu pecado, não lhe retirando a vida: “Davi
disse a Natã: Pequei contra o Senhor. Natã respondeu-lhe: O Senhor
perdoa o teu pecado; não morrerás.” (II Sm 12, 13).
No entanto, apesar de ter perdoado o pecado a Davi, Deus não
deixou de aplicar-lhe o castigo prometido, tendo seu filho Absalão
mandado matar seu próprio irmão e tentado matar o rei para retirar-
lhe o trono.
David faleceu aos setenta anos. Tinha reinado sete anos em
Hebrão e trinta e três em Jerusalém.
Foi um rei poderoso e glorioso, também foi um profeta
inspirado e figura do Messias que ele anunciava em seus escritos e
cânticos.
Nos seus belíssimos salmos, David descreveu de antemão o
Libertador esperado, sua origem na tribo de Judá, sua descendência
real, seu reino, seu sacerdócio eterno, depois, sua paixão e sua
morte, sua ressurreição e seu reino sem fim.
O PECADO DO REI SALOMÃO
Salomão foi o segundo filho de Davi com Betsabé. Seu reinado
durou quarenta anos e foi o último rei que governou sobre todo Israel.
No início de sua vida monarca, Deus ofereceu dar-lhe o que
quisesse, mas pediu somente “um coração sábio, capaz de julgar o
vosso povo e discernir entre o bem e o mal” (I Rs 3, 9). Feliz com
esse seu desejo, Deus o cumula com todos os tipos de bênçãos.
Salomão, entretanto, não soube corresponder a tantos
privilégios, nem mostrar-se na altura de tamanha glória. Terrível
exemplo da fragilidade e da fraqueza humanas; não soube conservar
a franqueza e a singeleza de coração que Deus lhe tinha deparado.
Durante muitos anos, seu amor por Deus fez parte de sua vida,
mas à medida que envelhecia, pelas artes insidiosas de suas muitas
mulheres estrangeiras, caiu na idolatria e foi se afastando das
orientações do Senhor. Na realidade, isso aconteceu porque Salomão
desconsiderou a Lei Mosaica que dizia: “Guarde-se também o rei de
multiplicar suas mulheres, para que não suceda que seu coração se
desvie (de Deus).” (Dt 17, 17):
“O rei Salomão, além da filha do faraó, amou muitas mulheres
estrangeiras: moabitas, amonitas, edomitas, sidônias e hitéias,
pertencentes às nações das quais o Senhor dissera aos israelitas:
Não tereis relações com elas, nem elas tampouco convosco, porque
certamente vos seduziriam os corações arrastando-os para os seus
deuses. E suas mulheres perverteram-lhe o coração.
Sendo já velho, elas seduziram o seu coração para seguir
outros deuses. E o seu coração já não pertencia sem reservas ao
Senhor, seu Deus, como o de Davi, seu pai. Salomão prestou culto a
Astarte, deusa dos sidônios, e a Melcom, o abominável ídolo dos
amonitas. Fez o mal aos olhos do Senhor, não lhe foi inteiramente fiel
como o fora seu pai Davi.
Por esse tempo edificou Salomão no monte, que está a oriente
de Jerusalém, um lugar alto a Camos, deus de Moab, e a Moloc,
abominação dos amonitas. E o mesmo fez para todas as suas
mulheres estrangeiras, que queimavam incenso e sacrificavam aos
seus deuses.” (I Rs 11, 1-8).
O comportamento de Salomão levou Deus a tratá-lo como
havia feito com Saul, retirando-lhe o reino. Entretanto, em
consideração a Davi, não deixou que esse castigo acontecesse
durante sua vida. Também, em atenção a Davi, não lhe retirou o reino
todo, deixando uma parte para um de seus filhos:
“O Senhor irritou-se contra Salomão, por se ter seu coração
desviado do Senhor, Deus de Israel, que lhe aparecera por duas
vezes, e lhe tinha proibido expressamente que se unisse a deuses
estranhos.
O Senhor disse-lhe então: Já que procedeste assim, e nãoguardaste a minha aliança, nem as leis que te prescrevi, vou tirar-te o
reino e dá-lo ao teu servo. Todavia, em atenção ao teu pai Davi, não
o farei durante a tua vida. Tirá-lo-ei, sim, mas da mão de teu filho.
Não lhe tirarei o reino todo, mas deixarei ao teu filho uma tribo, por
amor de meu servo Davi, e por amor de Jerusalém, a cidade que
escolhi.” (I Rs 11, 9-13)
Referência: A vida do profeta Samuel (1Sm 1-7), o reinado de
Saul até sua morte e o reinado de Davi (1Sm 8-31) e todo o Livro de
Samuel II.
A DIVISÃO DO REINO DE ISRAEL
Após a morte de seu terceiro rei, Salomão, filho de Davi, o
reino é dividido em dois (Cisma): ao norte, o reino de Israel, com a
capital Samaria e, ao sul, o reino de Judá, que permaneceu fiel à
dinastia de Davi e conservou Jerusalém como Capital:
"Vendo que o rei não os atendia, o povo respondeu-lhe: Que
temos nós a ver com Davi? Vai, pois, para as tuas tendas, ó
Israel! E os israelitas retiraram-se para as suas tendas.
Roboão reinou, no entanto, sobre os israelitas que habitavam
em Judá.
Desse modo, separou-se Israel da casa de Davi até o dia de
hoje.
Ouvindo os filhos de Israel que Jeroboão tinha voltado,
convidaram-no à sua assembléia e aclamaram-no rei de todo o
Israel.
Só a tribo de Judá ficou fiel à casa de Davi.”
(I Rs 12, 13-20)
A DIVISÃO DO REINO DE ISRAEL
O rei Salomão, à medida que envelhecia, foi se afastando das
orientações de Deus e ficando distante do povo. O resultado foi o
acúmulo de trabalhos e impostos sobre seus súditos, o que gerou
muitas revoltas.
Com a morte de Salomão, assume seu filho Roboão. Seguindo
os passos de seu pai, Roboão continua a castigar o povo com
pesados trabalhos e altos impostos.
Devido Roboão não querer aliviar a carga duríssima dos
tributos impostos por seu pai, dez tribos, estabelecidas no norte de
Israel, rebelaram-se, tomando por Rei a Jeroboão, cabeça dos
insurrectos. Deste modo, o reino foi dividido.
De um lado ficou Roboão, reinando sobre as tribos de Judá e
Benjamim, conhecido como Reino de Judá, com capital Jerusalém, e
do outro, Jeroboão, reinando sobre as dez tribos do norte de Israel,
conhecido como Reino de Israel, com capital Samaria:
“O rei Roboão, filho de Salomão, falou com dureza ao povo.
Sem fazer caso algum do conselho dos anciãos, respondeu ao povo
como lhe aconselharam os jovens: Meu pai impôs-vos um jugo
pesado? Pois eu o tornarei ainda mais pesado. Meu pai vos castigou
com açoites? Pois eu vos castigarei com escorpiões. E o rei não
atendeu ao povo.
Vendo que o rei não os atendia, o povo respondeu-lhe: Que
temos nós a ver com Davi? Que temos nós de comum com o filho de
Isaí? Vai, pois, para as tuas tendas, ó Israel! Cabe a ti tratar de tua
casa, ó Davi!
E os israelitas retiraram-se para as suas tendas.
Roboão reinou, no entanto, sobre os israelitas que habitavam
em Judá.
O rei Roboão enviou Adurão, superintendente dos trabalhos,
mas os israelitas apedrejaram-no e ele morreu. O rei subiu então
precipitadamente no seu carro e fugiu para Jerusalém.
Desse modo, separou-se Israel da casa de Davi até o dia de
hoje.
Ouvindo os filhos de Israel que Jeroboão tinha voltado,
convidaram-no à sua assembléia e aclamaram-no rei de todo o Israel.
Só a tribo de Judá ficou fiel à casa de Davi.” (I Rs 12, 13-20).
Para impedir que seus súditos fossem levar ao templo de
Jerusalém suas homenagens e suas ofertas, Jeroboão, despertando
neles a idolatria egípcia, mandou fundir dois bezerros de ouro, um em
Bethel outro em Dan e ordenou a todo seu povo que viesse ali
sacrificar. Assim tomou vulto em Israel um culto idolatra quase
permanente.
O SURGIMENTO DOS PROFETAS
Com a divisão do reino, o povo afasta-se de Deus de tal forma
que se passa a presenciar uma intensa busca por divindades pagãs,
tanto no reino de Judá como no de Israel.
Para socorrer o povo frente às crescentes seduções do
paganismo, Deus envia os Profetas.
Eles aparecem para conservar o povo na observância da Lei
ou para fazê-lo voltar a ela, quando prevaricava, e em especial para
preservá-lo da idolatria. Com efeito, os homens agora podiam
procurar os profetas e, por meio deles, chegarem a vontade de Deus,
e assim perceberem que o culto dos ídolos constitui impiedade
totalmente sacrílega.
Os Profetas tinham como principal missão conservar viva a
memória da promessa do Messias e preparar o povo para que O
reconhecesse. Anunciaram muitos séculos antes, o tempo preciso da
sua vinda, e descreveram com tais pormenores seu Nascimento,
Vida, Paixão e Morte, que, lendo o conjunto de suas profecias, mais
parecem estudiosos da história do que Profetas.
Perceba que todas as profecias tiveram sua realização na
Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, e só n’Ele; logo, Ele é o
verdadeiro Messias prometido.
O PROFETA ISAÍAS
O profeta mais importante dessa época foi Isaías. Ele
profetizou a destruição de Samaria, a queda de Jerusalém (Is 28 a
33) e sua posterior libertação e restauração (Is 40 a 66), bem como a
confiança em Deus e a vinda do Messias (Is 42, 1-4; 49, 1-6; 50, 4-11;
52, 13-15 e 53) que libertaria Israel da verdadeira escravidão causada
pelo pecado.
Isaías viveu antes da deportação, no tempo dos seguintes reis
de Judá: Ozias, Joatão, Acaz e Ezequias (II Reis 15 a 20). Esses
reinados foram marcados por constantes ataques militares
estrangeiros, que criaram grandes instabilidades políticas, levando a
escandalosas injustiças sociais. Essa situação levou Isaías a
denunciar a corrupção dos poderosos, a miséria do povo e a
mediocridade do culto a Deus.
Segundo a tradição dos judeus, Isaías foi morto quando tinha
100 anos pelo rei Manassés que o mandou serrar ao meio.
O REINO DE ISRAEL
A divisão acarreta sucessivas invasões dos inimigos dos dois
reinos. O primeiro a sofrer é o reino de Israel, que cai nas mãos do
exército Assírio. Seus habitantes são levados como escravos,
dispersados por todo o império Assírio e substituídos por grupos de
colonos babilônicos, sírios e árabes:
“No ano nono do reinado de Oséias, o rei da Assíria apoderou-
se de Samaria e deportou os israelitas para a Assíria,
estabelecendo-os em Hala, às margens do Habor, rio de Gozã, e
nas cidades da Média.
Assim aconteceu porque os filhos de Israel tinham pecado
contra o Senhor, seu Deus, adorando outros deuses e
adotando os costumes das nações que o Senhor tinha
expulsado.”
(II Rs 17, 6-8)
O FIM DO REINO DE ISRAEL
Os Reis de Israel foram em número de dezenove e governaram
pelo espaço de 254 anos. Foram todos perversos e afundados na
idolatria de tal forma que arrastaram a maior parte do povo das dez
tribos para a sua loucura.
Em castigo de suas enormes iniquidades, parte do povo foi
dispersa e parte levada cativa para a Assíria por Salmanasar, Rei dos
assírios. Desapareceu, assim, o reino de Israel para não se erguer
mais (ano 722 a.C.) (II Rs 17, 1-41).
No lugar dos habitantes da terra, foram enviadas colônias de
gentios para repovoar o país, aos quais se associaram em tempos
sucessivos alguns israelitas retornados de seu desterro e alguns
maus judeus, e entre todos formaram depois um povo, que se
chamou Samaritano, inimigo acérrimo da nação judaica.
A DEPORTAÇÃO DO POVO DE JUDÁ
O reino de Judá, berço da promessa divina, não leva em
consideração o acontecido com o reino de Israel e continua a
multiplicar seus delitos contra o Senhor. Devido a isso, duas
deportações ocorrerão para Babilônia:
“Todos os chefes dos sacerdotes e o povo continuaram a
multiplicar seus delitos, imitando as práticas abomináveis das
nações pagãs.
Em vão o Senhor lhes tinha enviado, por meio de seus
mensageiros, avisos sobre avisos, pois tinha compaixão de seu
povo. Eles zombavam de seus enviados, desprezavam seus
conselhos e riam de seus Profetas, até que a ira de Deus se
desencadeou sobre o seu povo e não houve mais remédio.
Então, Deus suscitou contra eles o rei dos caldeus,
Nabucodonosor, que deportou para a Babilônia todos os que
tinham escapado à espada e eles se tornaram seus escravos,
dele e de seus filhos, até que completaram setenta anos”.
(II Cr 36, 14-20)A PRIMEIRA DEPORTAÇÃO
Os Reis de Judá, em número de vinte, dos quais alguns foram
piedosos e bons e outros grandes criminosos, reinaram somados, 388
anos.
Para tais reis, bem como para os habitantes de Judá, o Templo
de Jerusalém era muito mais do que uma simples construção de
pedras, era um local sagrado, onde Deus se manifestava aqui na
terra.
Devido a essa certeza, quando os Assírios invadiram Israel, os
habitantes de Judá não se preocuparam, pois acreditavam que Deus
jamais iria permitir que povos pagãos destruíssem seu Templo e a
cidade santa de Jerusalém, onde habitava.
Tamanha era essa segurança que, infelizmente, não viam
nenhuma necessidade de modificarem seu mau comportamento
diante de Deus.
Acontece que tanto a moral, como a justiça e o verdadeiro culto
estavam sendo postos de lado há muito tempo. A injustiça, a
corrupção, a imoralidade e o culto a deuses estrangeiros proliferavam
em todo o reino de Judá.
Tal situação permaneceu sem alteração durante longo tempo,
mesmo tendo o Senhor enviado profetas ao povo de Judá pedindo
que modificasse seu comportamento. Por fim, não suportando mais
tanta rebeldia, pronuncia seu castigo:
“A palavra do Senhor foi nestes termos dirigida a Jeremias: Vai
à porta do templo do Senhor; lá pronunciarás este discurso: reformai
vosso procedimento e a maneira de agir, e eu vos deixarei morar
neste lugar. Não vos fieis em palavras enganadoras, semelhantes a
estas: Templo do Senhor, templo do Senhor, aqui está o templo do
Senhor.
Se reformardes vossos costumes e modos de proceder, se
verdadeiramente praticardes a justiça; se não oprimirdes o
estrangeiro, o órfão, a viúva; se não espalhardes neste lugar o
sangue inocente e não correrdes, para vossa desgraça, atrás dos
deuses alheios, então permitirei que permaneçais neste lugar, nesta
terra que dei a vossos pais por todos os séculos. Vós, contudo, vos
fiais em fórmulas enganadoras que de nada vos servirão.
Roubais, matais, cometeis adultérios, prestais juramentos
falsos; ofereceis incenso a Baal e procurais deuses que vos são
desconhecidos; E depois, vindes apresentar-vos diante de mim, nesta
casa em que foi invocado meu nome, e exclamais: Estamos salvos! -
para, em seguida, recomeçar a cometer todas essas abominações.
É, por acaso, a vossos olhos uma caverna de bandidos esta
casa em que meu nome foi invocado? Também eu o vejo - oráculo do
Senhor. Ide, portanto, à minha casa de Silo, onde a princípio habitou
meu nome, e vede o que lhe fiz por causa da maldade do meu povo
de Israel.
E agora, porque tendo-vos já continuamente advertido, não me
atendestes, vou fazer da casa em que foi invocado meu nome e na
qual depositastes vossa confiança, desse lugar que vos dei assim
como a vossos pais, o que fiz de Silo, e vos repelirei de minha
presença, assim como repeli vossos irmãos, a raça inteira de Efraim.”
(Jr 7, 1-15).
A profecia de Jeremias se realizou no reinado de Joaquim,
quando Nabucodonosor, rei de Babilônia, invadiu Jerusalém e fez a
primeira deportação dos hebreus:
“Levou para o cativeiro toda a Jerusalém, todos os chefes e
todos os homens de valor, ao todo dez mil, com todos os ferreiros e
artífices; só deixou os pobres. Deportou Joaquim para Babilônia, com
sua mãe, suas mulheres, os eunucos do rei e os grandes da terra.
Todos os homens de valor, em número de sete mil, os ferreiros e os
artífices, em número de mil e todos os homens aptos para a guerra, o
rei de Babilônia os deportou para Babilônia.” (II Rs 24, 14-16).
A SEGUNDA DEPORTAÇÃO
Mesmo após a primeira invasão, o restante dos habitantes de
Judá, sob o governo de Sedecias, continuou a fazer o mal aos olhos
do Senhor, não dando atenção às palavras de seus enviados.
Ocorreu, então, o que os profetas previam se Judá não
modificasse seu comportamento. Nabucodonosor invadiu, pela
segunda vez, Jerusalém e deportou, para a Babilônia, grande parte
do que restava de sua população:
“Nabuzardã, chefe da guarda, deportou para Babilônia o que
restava da população da cidade, os que já se tinham rendido ao rei de
Babilônia e todo o povo que restava. O chefe da guarda só deixou ali
alguns pobres como viticultores e agricultores.” (II Rs 25, 11-12).
Com a segunda deportação, Nabucodonosor retirou tudo que
Israel tinha de valor: seu rei, a terra que o Senhor lhe havia
prometido, a cidade santa de Jerusalém e o Templo de Salomão,
destruído até os alicerces.
A Deportação foi um duro golpe para a fé de Israel, que se
sentia seguro devido às promessas divinas. No entanto, tais
promessas estavam vinculadas à fidelidade de Israel a ter o Senhor
como único Deus, e isso já não vinha acontecendo há muito tempo.
A partir da reflexão dos episódios das deportações, concluímos
que os castigos que se abateram sobre Jerusalém infiel refletem o
fato de que o abuso das graças põe um limite ao exercício da
misericórdia de Deus.
Referência: Os últimos atos de Davi e o reinado de Salomão
(1Rs 1-11), e Os reis de Judá e de Israel (1Rs 12-22 e todo o livro de
Reis II).
JERUSALÉM É INVADIDA PELOS VIZINHOS
Aproximadamente, cinco anos depois, os poucos hebreus que
restaram em Jerusalém acabam fugindo para o Egito, temendo
represálias dos caldeus pelo assassinato de seu representante na
região, Godolias:
“Guerreiros, mulheres, crianças e eunucos, fê-los todos
regressar de Gabaon. Puseram-se então a caminho, detendo-se
em Caamã, nas proximidades de Belém, para de lá se retirarem
para o Egito.
Queriam assim furtar-se aos caldeus, dos quais receavam
represálias, dado que Ismael assassinara Godolias, nomeado
para governar a terra pelo rei de Babilônia.”
(Jr 41, 16-18)
A POSSE DA TERRA
Jerusalém não recebeu contingentes de outros povos, como
tinha acontecido com Samaria; não obstante, os vizinhos amonitas,
árabes e edomitas se estabeleceram em certos lugares da região.
Serão esses povos que causarão, aos hebreus, dificuldades na época
da volta do exílio.
Com esse fato, completam-se as profecias a respeito do reino
de Judá.
O PROFETA JEREMIAS
Nessa época encontramos o profeta Jeremias. Ele profetizou a
queda do reino de Israel e de Judá (Jr 2-29), a restauração do que
sobrou de Israel e dos deportados de Judá (Jr 30-33) e a vinda do
Messias (Jr 33, 14-16). Suas pregações insistiam na conversão do
povo e na denúncia daqueles que levavam o povo ao pecado.
Teve um papel importantíssimo junto ao povo entre a primeira
e a segunda deportação, pois sustentou a esperança de uma futura
restauração da comunidade israelita. Anunciava, no entanto, que a
restauração não viria deles, mas de judeus fiéis a Deus, nascidos no
exílio.
Ao exortar o povo de Israel à penitência, insistia que tomasse a
sério os efeitos calamitosos do pecado. Dizia Ele: “Olha, pois, que é
coisa má e amarga o haveres abandonado o Senhor teu Deus, e o
não teres temor de Mim, diz o Senhor Deus dos exércitos.” (Jer 2,
19).
Suas profecias sobre a destruição da cidade de Jerusalém
foram muito duras, o que lhe custou inúmeros inimigos. No dia em
que Nabucodonosor sitiou Jerusalém, ele estava dentro da cidade,
preso como traidor, no interior de um poço. Quando os
conquistadores foram embora, ele foi deixado na cidade com os
poucos habitantes que restaram.
Jeremias iniciou suas pregações no tempo de Josias, rei de
Judá, e continuou até sua morte no Egito. Segundo a tradição judaica,
Jeremias morreu em Táfnis, cidade do Egito, apedrejado pelos
próprios judeus.
Sua vida toda foi uma profecia viva dos sofrimentos e da
paixão de Nosso Senhor; é por isso que a Igreja aplica muitas vezes
ao Salvador as palavras que o profeta dizia diretamente de si próprio.
Referência: O livro de Jeremias (Jr 40-45).
OS HEBREUS EXILADOS ESQUECEM DEUS
Os hebreus, sobreviventes de Judá, após se estabelecerem na
Babilônia, passam a esquecer a aliança com o Senhor. Deus, então,
envia o profeta Ezequiel para exortá-los a respeito de sua má
conduta, prometendo-lhes que, se fossem fiéis a Aliança, Ele os
reconduziria de volta a Canaã:
“Deus disse a Ezequiel: ‘Filho do homem, envio-te aos
israelitas, a essa nação de rebeldes,revoltada contra mim, a
qual, do mesmo modo que seus pais, vem pecando contra mim
até este dia. É a esses filhos, de testa dura e de coração
insensível, que te envio.
Quando houverem extirpado os ídolos e objetos abomináveis,
Eu lhes darei um só coração e os animarei com um espírito
novo: extrairei do seu corpo o coração de pedra, para substituí-
lo por um coração de carne, a fim de que observem as minhas
leis, sejam o meu povo e Eu o seu Deus’.”
( Ez 2, 3-4; 11, 18-20 )
A CULTURA BABILÔNICA INFLUÊNCIA OS HEBREUS
Deportados para a Babilônia, os hebreus sobreviventes de
Judá, organizam-se em comunidades. Acontece que a condição de
não serem considerados escravos leva os hebreus a uma grande
aproximação com a florescente civilização Babilônica. Com isso, as
dores da saudade da pátria e da vida religiosa nacional vão sendo
esquecidas sob a influência dos novos costumes e ritos pagãos.
Observa-se, desse modo, que o castigo da deportação não havia sido
bem assimilado.
O resultado foi que passaram a não mais seguirem as
orientações do Senhor, e, conseqüentemente, a sofrerem em sua
religiosidade, abandonando seus costumes e cultos nacionais.
Sendo assim, como aconteceu no Egito, a influência de outra
civilização mais desenvolvida arrasta o povo a esquecer a aliança
com Deus e, como de outras vezes, não só a cultura é absorvida,
mas também os cultos religiosos pagãos.
Para trazê-los de volta a aliança, Deus envia o profeta Ezequiel
com a missão de exortá-los sobre o porquê do acontecido, além de
anunciar que, se voltassem novamente seus corações ao Senhor, Ele
os reconduziria de volta a Jerusalém: “Por isso diz à casa de Israel:
eis o que diz o Senhor Javé: retornai! Renunciai a vossos ídolos,
deixai de vez todas as vossas práticas abomináveis.” (Ez 14, 7)
OS HEBREUS EXILADOS
Os judeus que foram exilados na Babilônia eram a classe alta
do país: líderes políticos, sacerdotes e intelectuais. Portanto, homens
com condições de desempenharem papéis importantes nos diversos
segmentos de uma sociedade. Já que lhes foi permitida a
oportunidade de melhoria econômica, como aconteceu com muitos
deles, vários foram os que preferiram ficar na Babilônia depois que
Ciro permitiu que retornassem à Palestina.
Mas não foi somente o fator econômico que manteve os
israelitas na Babilônia, muitos ficaram porque estavam tão integrados
nos cultos religiosos babilônicos que não seguiam mais as
orientações de Deus.
O EXÍLIO
O exílio, aparente fracasso da promessa, foi uma das provas
mais difíceis para Israel, pois longe de suas cidades, sem esperança
de libertação, teve que se sustentar, exclusivamente, nas promessas
de restauração feitas pelo Senhor através dos profetas, entre eles,
Jeremias e Ezequiel. 
O Exílio mostrou que a Providencia Divina sabe mudar o que
julgamos ser um mal num bem maior, pois ensinou aos filhos exilados
de Israel a apreciar melhor, em meio a um povo idólatra, o beneficio
das suas instituições divinas; da mesma forma, patenteou a sua
intervenção poderosa aos olhos das nações infiéis assim como à vista
do seu povo.
Apesar do povo, durante o tempo do cativeiro, não ter templo
nem culto público, a Lei escrita se aperfeiçoou e se desenvolveu
devido ao ensino dos profetas.
O maior benefício do exílio, por assim dizer, foi ter ensinado
aos hebreus que foram suas múltiplas infidelidades à aliança que
levaram à ruína o reino de Israel e de Judá, e que, para retornar à sua
terra, teriam que voltar a obedecer a Deus e seguir seus
mandamentos. 
Também nesta época, os judeus se foram desvencilhando de
uma noção demasiado antropomórfica da Divindade e da religião,
passando a conceber o Criador de modo muito mais puro, espiritual.
Portanto, foi a partir desse momento que a religiosidade de Israel se
foi interiorizando progressivamente.
Dessa forma, o exílio acabou sendo um dos mais frutíferos
momentos para a formação espiritual do povo hebreu.
EZEQUIEL
Ezequiel era da raça sacerdotal. Onze anos antes da ruína
definitiva de Jerusalém (598 A. C.), foi levado por Nabucodonosor
para Babilônia onde exerceu por vinte e dois anos seu papel
profético.
Ezequiel foi a semente plantada por Deus para florescer e dar
frutos durante boa parte do exílio. Foi acreditando nas profecias de
libertação, proclamadas por ele e pelos outros profetas, que o povo
se manteve unido e firme na fé até seu retorno a Jerusalém.
Sobre a queda de Jerusalém pronunciou muitos oráculos da
parte do Senhor, como, por exemplo: “Dize-lhe: eis o que diz o
Senhor Javé: ah! cidade que espalhas o sangue em tuas ruas para
que chegue a tua hora, que eriges ídolos para te sujares, pelo sangue
que tens derramado tu te tornaste culpada e te poluíste pelos teus
ídolos que talhaste; precipitaste a tua hora, adiantaste o termo de
teus anos. Por isso vou abandonar-te aos ultrajes das nações, e ao
escárnio de todos os países.” (Ez 22, 3-5).
Estava presente durante o cerco que Nabucodonosor
empreendeu em Jerusalém. Foi, no entanto, ao contrário de
Jeremias, levado cativo para a Babilônia com os primeiros
deportados, onde profetizou, durante 20 anos, até sua morte. Exercia
seu ministério no cativeiro, enquanto Jeremias exercia o seu em
Jerusalém.
Quando ainda estava em sua pátria, sua mensagem falava de
conversão e fidelidade a Deus. No exílio, seu anúncio mudou para
esperança e restauração: “Concluirei com eles uma aliança de paz,
um tratado eterno. Eu os plantarei e multiplicá-los-ei. Estabelecerei
para sempre o meu santuário entre eles. Minha residência será no
meio deles. Eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.” (Ez 37,
26-27).
Pregava a mensagem de um messias que viria da casa de Davi
e que iria pastorear as ovelhas perdidas da casa de Israel: “Meu
servo Davi será o seu rei; não terão todos senão um só pastor;
obedecerão aos meus mandamentos, observarão as minhas leis e as
porão em prática.” (Ez 24, 37).
A presença de Ezequiel foi de suma importância no exílio, pois
auxiliou a manter no povo, durante os longos anos que passaram no
cativeiro, a esperança de uma futura volta ao seu país.
Referência: O Livro de Ezequiel
CHEGA AO FIM O EXÍLIO DOS HEBREUS
Longo tempo depois da deportação, Deus suscita Ciro, rei da
Pérsia, que conquista a Babilônia e deixa os Hebreus retornarem à
Palestina:
“O Senhor suscitou o espírito de Ciro, rei da Pérsia, o qual
mandou fazer em todo o seu reino a seguinte proclamação:
‘Assim, fala Ciro: o Senhor, Deus do céu, deu-me todos os
reinos da terra, e encarregou-me de construir-lhe um templo em
Jerusalém, que fica na terra de Judá.
Quem é dentre vós pertencente ao seu povo, suba a Jerusalém
e construa o templo do Senhor’.”
(Esd 1, 1-4)
O REI CIRO
Quando Ciro tomou posse como rei, decidiu administrar os
povos dominados não lhes forçando costumes e religião, mas
respeitando suas culturas. Essa decisão o levou a libertar todos os
povos que eram mantidos cativos na Babilônia desde
Nabucodonosor. Procurava, com isso, conquistar-lhes a lealdade e o
respeito.
Na realidade, essa decisão era desígnio de Deus, pois havia
chegado a hora prevista pelos profetas para que o povo hebreu
voltasse para casa. Isso aconteceu em 538 A. C., quando Ciro publica
um decreto autorizando a restauração da comunidade judaica, o culto
a Iahweh e a reconstrução do templo em Jerusalém.
O cativeiro da Babilônia havia durado setenta anos.
O RETORNO À TERRA PROMETIDA
O anúncio de que podiam voltar à Palestina chegou aos
ouvidos dos israelitas fiéis como um mar de alegria. Na prática, no
entanto, a volta e a vida dos já repatriados foram cercadas de riscos e
choques com os habitantes que haviam ocupado o território, pois
esses não aceitavam os recém-chegados. Por conta disso, reinou,
durante muito tempo, a violência, a pobreza e a injustiça.
O retorno iniciou-se um ano após Ciro conquistar a Babilônia.
Como foi feito por etapas, durou longo tempo. As primeiras
dificuldades foram vencidas graças aos profetas Ageu e Zacarias. As
posteriores, por Neemias e Esdras. As participações desses últimos
foram tão importantesque o modelo de vida estabelecido por eles
continuou a ser seguido mesmo após suas mortes. Esta circunstância
foi a que levou Jerusalém a tornar-se o centro de atração dos judeus
dispersos pelo mundo.
Veja que não foi todo o povo que retornou do exílio, mas o
chamado "resto de Israel", isto é, a parte pequena da nação,
constituída por famílias pobres, mas heroicas, as quais
empreenderam a restauração da teocracia. Em seu tempo, Jeremias
já profetizava sobre este povo: 
"Reconstruir-te-ei, e serás restaurada, ó virgem de Israel! (...)
Porque isto diz o Senhor: Lançai gritos de júbilo por causa de Jacó.
Aclamai a primeira das nações. E fazei retumbar vossos louvores,
exclamando: O Senhor salvou o seu povo, o resto de Israel.". (Jr 31,
3-7).
Quanto as causas que levaram os judeus a ficarem na
Babilônia e a deixarem de lado a aliança com o Senhor, estava, em
sua maior proporção, a ascensão econômica e a assimilação dos
cultos babilônicos. 
Por fim, sob o poder da soberania benevolente dos reis da
Pérsia, durante 450 anos, a nação recolhe-se e prepara-se para a
vinda do Salvador.
Referência: Os Livros de Esdras e Neemias.
NASCE O JUDAÍSMO
O JUDAÍSMO E OS FARISEUS 
O fato de os hebreus ainda estarem submissos ao rei da Pérsia
ao retornarem ao seu país, portanto, privados de seus reis e de sua
independência política, leva-os a se organizarem numa comunidade
prevalentemente religiosa. 
A partir desta época, a Lei, o templo e o sacerdócio passam a
serem os pilares da identidade do povo.
Com o fim da reforma religiosa realizada por Esdras, nasce a
religião do povo judeu: o Judaísmo. Este se desenvolverá do período
pós-exílico até o surgimento do cristianismo.
A partir de sua criação, a classe sacerdotal vai adquirindo uma
influência cada vez maior. Inicia-se um processo de valorização do
culto exterior e a exigir-se uma rigorosa observância aos preceitos
exteriores da lei. Nesse processo, várias seitas passam a existir e a
terem influência na vida do povo.
Encontramos, entre essas seitas, a dos Fariseus. Seu nome
veio da palavra hebraica perouschim, que significa separados, pois
eles procuravam andar apartados do povo, fazendo alarde de uma
santidade mais rigorosa. Nesse sentido, ostentavam extrema rigidez
nos princípios, uma pontualidade meticulosa em pagar o dízimo, em
guardar o sábado e o jejum, em observar as abluções, etc. 
Eles admitiam a Lei de Moises, no entanto, mantinham também
tradições verbais, tomadas principalmente durante o cativeiro.
Freqüentemente desnaturavam a Lei por comentários fantasiosos ou
acrescentavam-lhe práticas vãs, supersticiosas ou inúteis. 
Em meio a sua grande soberba, consideravam que eram os
autores das suas próprias salvações, já que acreditavam que eram
justificados apenas pela observância da Lei. Este é um dos grandes
enganos desses homens, pois não é suficiente a tutela da lei para
praticar a virtude e livrar-se do pecado, necessita-se, além disso, do
auxílio da graça. A continuidade desse processo fará com que a Lei
venha a parecer mais importante que o próprio Deus.
Os Fariseus gozavam, junto do povo, de alta consideração; os
escribas ou doutores da lei saíam das suas fileiras; eles usavam esta
influência com vistas políticas. Mas tais aparências de virtude
ocultavam uma corrupção profunda; eles não passavam de hipócritas.
O aparecimento das seitas contribuiu para afastar os judeus do
verdadeiro culto e assinalou o início da decadência da religião
mosaica. Apesar disso, o povo de Israel não deixou de permanecer
unido na expectativa da vinda do Messias que havia de ser o seu
libertador.
ALEXANDRE MAGNO E ANTÍOCO EPÍFANES
Passados longos anos depois de Ciro, a Judéia é conquistada
por Alexandre Magno. Após a morte desse rei, passa a sofrer a
opressão dos seus sucessores, em especial os lágidas ou ptolomeus,
senhores do Egito, e os selêucidas, dominadores da Síria e da
Mesopotâmia:
“Alexandre, filho de Felipe da Macedônia, reuniu um imenso
exército, impôs seu poderio aos países, às nações e reis, e
todos se tornaram seus tributários.
Mas, adoeceu e viu que a morte se aproximava.
Convocou então os mais considerados dentre os seus
cortesãos, e, ainda em vida, repartiu entre eles o império.”
(I Mc 1, 1-10)
ALEXANDRE MAGNO
Alexandre Magno foi um grande rei que dominou o povo
hebreu no ano 338 a.C.. Seu império era enorme, indo do Egito até a
Índia. Morreu ainda jovem, com trinta e três anos, e seus quatro
generais e as suas dinastias passaram a governar os territórios que
ele deixou.
Encontramos, na passagem de Dn 8, 21-22, referência a
respeito do aparecimento e queda desse rei:
“O bode valente é o rei de Javã; o grande chifre que ele tem
entre os olhos é o primeiro rei. Sua ruptura e o nascimento de quatro
chifres em seu lugar significam quatro reinos saindo dessa nação,
mas sem terem o mesmo poder.”
ANTÍOCO EPÍFANES IV
Os generais de Alexandre Magno, após sua morte, receberam
cada qual seu próprio reino. Dentre esses reis, originou-se um,
tremendamente cruel, o selêucida chamado Antíoco Epífanes IV, rei
da Síria.
Deus, por diversas vezes, revelou ao profeta Daniel que esse
rei levaria os judeus a atravessarem um período de grande tribulação
e perseguição, com a proibição de suas práticas religiosas.
O início, o modo de proceder e fim do reinado de Antíoco
Epífanes IV são facilmente observados em Dn 8, 23-25:
“No fim do reinado deles, quando estiver cheia a medida dos
infiéis, um rei surgirá, cheio de crueldade e fingimento. Seu poder
aumentará, nunca, porém por si mesmo. Fará monstruosas
devastações, terá êxito nas suas empresas, exterminará os
poderosos e o povo dos santos. Graças à sua habilidade, fará triunfar
sua perfídia, seu coração se inchará de orgulho; mandará matar muita
gente que não espera por isso, levantar-se-á contra o príncipe dos
príncipes, mas será aniquilado sem a intervenção de mão humana.”
Esses dois reis surgiram devido às infidelidades que
continuavam a persistir, apesar de tudo quanto Israel já tinha
passado.
Referência: Conquistas e morte de Alexandre Magno (I Mc 1,
1-10).
A GUERRA DOS MACABEUS
Devido aos crescentes ataques de Antíoco Epiífanes à fé do
povo hebreu, a família dos Macabeus decide resistir. Esses, apoiados
por grupos de judeus piedosos (assideus), organizam uma rebelião
armada e conseguem a independência. Após essas lutas, surge um
período de paz que se estende por cerca de um século:
“Após ter derrotado o Egito regressou Antíoco e atacou Israel.
Então, o rei Antíoco publicou para todo o reino um edito,
prescrevendo que todos os povos formassem um único povo.
Deviam suprimir holocaustos; violar os sábados; profanar o
santuário; esquecer a lei e transgredir as prescrições.
Todo aquele que não obedecesse à ordem do rei seria morto.
Muitos dos israelitas uniram-se a eles, mas Matatias e seus
filhos permaneceram firmes.”
(I Mc 1, 20-62 )
A REVOLTA DOS MACABEUS
Antíoco Epífanes, Rei da Síria, publicou uma lei pela qual todos
os súditos estavam obrigados, sob pena de morte, a abraçar a
religião pagã. Na prática, bania o ensinamento e prática do Judaísmo:
"Pouco tempo depois, um velho ateniense foi enviado pelo rei
para forçar os judeus a abandonar os costumes dos antepassados,
banir as leis de Deus da cidade, macular o templo de Jerusalém,
dedicá-lo a Júpiter Olímpico e consagrar o do monte Garizim,
segundo o caráter dos habitantes do lugar, a Júpiter Hospitaleiro". (II
Mc 6, 1-2)
Temendo as ameaças de morte, a maior parte dos habitantes
de Jerusalém fugiu. A cidade santa, abandonada por seus próprios
moradores, tornou-se a morada dos estrangeiros; o templo ficou
desolado e deserto e as festas judaicas foram substituídas por
sacrifícios profanos. 
Muitos judeus, sob o jugo da espada, consentiram naquela
impiedade; porém outros se mantiveram firmes e se conservaram fiéis
a Deus. Assim aconteceu a um santo ancião de nome Matatias e a
seus cinco filhos, conhecidos como Macabeus.
O cognome Macabeus surgiu com o primeiro filho de Matatias,
Judas, que começou o combate contraos Sírios. Este mandou
colocar em seus estandartes as letras iniciais MACH, de quatro
palavras hebraicas, que em português significam: "Exterminação dos
inimigos de Deus". Com suas crescentes vitórias, os judeus puseram-
lhe o cognome de Macabeus, o qual foi conservado por seus irmãos
como uma recordação gloriosa.
Confiando mais no poder de Deus do que no numero dos seus
soldados, os Macabeus desbaratam sucessivamente os generais de
Antíoco.
A revolta dos primeiros Macabeus limitava-se à independência
religiosa do povo, mas com os anos foi tomando novos rumos,
chegando os hebreus a conquistarem a autonomia nacional.
No final das lutas, dos cinco filhos de Matatias, só restava
Simão. Os Judeus, satisfeitos com a paz conquistada, tinham-se
reunido em Jerusalém, e deram a Simão e à sua posteridade o poder
real unido com a dignidade de sumo pontifico. Assim, foi estabelecida
a dinastia dos Asmoneus.
Infelizmente, os reis Asmoneus, descendentes dos Macabeus,
distanciaram-se dos passos iniciais de sua família. Eles afastaram-se
de Deus e tornaram-se verdadeiros tiranos.
Tais reis degeneraram da virtude de seus maiores, e discordes
entre si envolveram-se em desastradas contendas com seus
poderosos vizinhos, como, por exemplo, os romanos. 
Foi assim que, novamente, o esquecimento da aliança com
Deus pelo povo hebreu, com o conseqüente abandono de seus
mandamentos, tornou-se causa para que uma nova invasão viesse a
acontecer. Esta virá de um país distante, chamado Roma.
Referência: Todo o conteúdo dos Livros de Macabeus I e II.
ROMA INVADE A JUDÉIA
A INVASÃO ROMANA
No ano 63 A.C., Pompeu, à frente dos exércitos romanos,
invade a Judéia, reduzindo-a a uma província romana e privando-a
definitivamente de sua independência nacional. 
Este fato marca o começo de um ódio implacável do povo
judeu contra Roma. 
No início da dominação, os romanos fazem da Judéia apenas
uma nação tributária; mas pouco depois lhe impuseram um Rei de
nação estrangeira, Herodes, o Grande, que ficará à frente da Galiléia.
É em sua época que nascerá Jesus Cristo.
A dominação romana se estendeu até o início do 2º século da
era cristã, quando a Sagrada Escritura já estava praticamente
concluída.
Consoante a profecia de Jacó, estava muito próxima a vinda do
Messias, pois o cetro saía de Judá e passava às mãos de uma
dominação estrangeira: 
“Não se apartará o cetro de Judá, nem o bastão de comando
dentre seus pés, até que venha aquele a quem pertence por direito, e
a quem devem obediência os povos." (Gn 49, 8-10).
A EXPECTATIVA POR UM MESSIAS
____________________
“O homem reconhece que Jesus Cristo é verdadeiramente o
Messias e o Redentor prometido, porque nEle se cumpriu tudo o
que anunciavam as profecias e tudo o que representavam as
figuras do Antigo Testamento.”
(SÃO PIO X, p. 36)
____________________
A EXPECTATIVA DO POVO HEBREU POR UM MESSIAS
Desde o começo de sua história, o povo hebreu sempre
esperou pelo cumprimento da promessa feita por Deus a Abraão de
que faria de Israel uma grande nação, onde todas as famílias na terra
seriam benditas nela. Porém, mais do que fazer de Israel um grande
povo, a promessa tinha uma dimensão maior: estabelecer,
inicialmente em Israel e através deste por todo o mundo, o Reino de
Deus na terra.
Foi devido às inúmeras dominações de povos estrangeiros no
território israelita, fruto de sua falta de fidelidade aos mandamentos
de Deus, que a figura do Messias surgiu e começou a assumir um
papel de crescente importância na esperança dessa nação. O
Messias seria o instrumento de Deus na realização de sua promessa.
Durante a monarquia, o oráculo de Natã vincula a esperança
da vinda do Messias à família de Davi:
"Dirás, pois, ao meu servo Davi: ‘Eis o que diz o Senhor dos
exércitos: Eu tirei-te das pastagens onde guardavas tuas ovelhas
para fazer de ti o chefe de meu povo de Israel.
Quando chegar o fim de teus dias e repousares com os teus pais,
então suscitarei depois de ti a tua posteridade, aquele que sairá
de tuas entranhas, e firmarei o seu reino. Ele me construirá um
templo, e firmarei para sempre o seu trono real’.”
(II Sm 7, 8-16)
Por causa desse oráculo, todos os reis saídos da dinastia de
Davi passaram a ser “ungidos” do Senhor por excelência. A
conseqüência disso é que os hebreus passaram a esperar um
Messias vindo de um dos reis da dinastia de Davi, um Messias Régio.
Com o cativeiro da Babilônia, extingue-se a monarquia e,
conseqüentemente, a dinastia. A promessa de Deus, no entanto, feita
inicialmente a Abraão e depois à dinastia de Davi, certamente
ocorreria. Surgiu, então, a expectativa de que Deus, no futuro,
suscitasse um descendente da “família” de Davi para executar sua
promessa.
Depois do cativeiro, por se constituírem numa comunidade
estritamente religiosa, a autoridade do sumo sacerdote eleva-se a
ponto de herdar a “unção” antes atribuída apenas aos reis
descendentes de Davi. Torna-se, por conseguinte, o segundo foco da
expectativa messiânica. Muitos, portanto, passaram a esperar um
Messias Sacerdotal.
Outros, devido à situação de oprimidos pelo domínio
estrangeiro (de persas, gregos, egípcios, sírios e romanos
sucessivamente), alimentavam uma terceira esperança messiânica: o
messias seria um Guerreiro libertador, nacionalista e político, que
reconquistaria, através de lutas, em definitivo o país.
O CONHECIMENTO DA VINDA DE JESUS CRISTO
Deus, logo após o pecado de Adão e Eva, prometeu a
humanidade um salvador. Promessa, depois, renovada pelos
Patriarcas e pelos Profetas.
Ao longo da historia sagrada muitos acontecimentos ocorreram
com o povo antigo. Todos eles tinham como fim providencial
comunicar e preparar a vinda do Messias, a realização da sua obra e
o estabelecimento do seu Reino. 
Por conta disso, antes mesmo da vinda do Messias ao mundo,
os homens já possuíam algum conhecimento de Jesus Cristo. Tal
ciência, entretanto, foi sendo delineada progressivamente, de acordo
com a capacidade dos homens que receberiam a mensagem bíblica.
Sendo assim, os livros mais antigos de Israel põem em realce
principalmente a face humana do Messias: descrevem-no como
grande herói, rei vitorioso. Tal é o aspecto predominante nos livros
históricos do Antigo Testamento, aspecto que o povo rude, afeito às
guerras e pouco dado à Filosofia, mais facilmente podia apreender. 
Livros posteriores ao exílio babilônico (ditos sapienciais)
descrevem o aspecto transcendente do Messias: Este desde toda a
eternidade existe com o Criador e exerce o papel de medianeiro entre
o Autor do mundo e o gênero humano.
Outros livros do Antigo Testamento, posteriores ao exílio,
desvendam o aspecto mais misterioso do Messias: seria Ele rei
vitorioso, teria sabedoria eterna, mas não cumpriria sua missão de
beneficiar os homens senão mediante o sofrimento e a morte. Eis o
aspecto do Messias Deus e Homem, que se encontra principalmente
nos livros proféticos.
Importante anotar que as profecias proferidas pelos profetas a
respeito do Messias prediziam muitos aspectos de sua vida, como a
tribo e a família da qual devia sair; o lugar e o tempo do nascimento;
os seus milagres e as mais minuciosas circunstâncias da sua Paixão
e morte; a sua ressurreição e ascensão ao Céu; e o seu reino
espiritual, que é a Santa Igreja Católica. 
Dentre as muitas profecias contidas no Antigo Testamento e
que descrevem particularidades da vida do Messias, destacamos:
1. O anúncio da vinda do Messias: “O Senhor fez conhecer a
sua Salvação. Lembrou-se de sua bondade e de sua fidelidade em
favor da casa de Israel. Os confins da terra puderam ver a Salvação
de nosso Deus. Aclamai o Senhor, povos todos da terra; regozijai-
vos, alegrai-vos e cantai. Diante do Senhor que chega, porque ele
vem para governar a terra. Ele governará a terra com justiça, e os
povos com equidade.” (Sl 97).
2. Onde nascerá o Messias?: “Mas tu, Belém de Éfrata, tão
pequena entre os clãs de Judá, é de ti que sairá para mim aquele que
é chamado a governar Israel. Por isso, (Deus) os deixará, até o tempo
em que der à luz aquela quehá de dar à luz. Ele se levantará para os
apascentar, com o poder do Senhor, com a majestade do nome do
Senhor, seu Deus.” (Mq 5).
3. Como se dará o nascimento do Messias?: “Ouvi, casa de
Davi: Não vos basta fatigar a paciência dos homens? Pretendeis
cansar também o meu Deus? Por isso, o próprio Senhor vos dará um
sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará ‘Deus
conosco’. Ele será nutrido com manteiga e mel até que saiba rejeitar
o mal e escolher o bem.” (Is 7).
4. Como se chamará o Salvador?: “O povo que andava nas
trevas viu uma grande luz. Porque o jugo que pesava sobre ele, a
coleira de seu ombro e a vara do feitor, vós os quebrastes, como no
dia de Madiã. Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado; a
soberania repousa sobre seus ombros, e ele se chama: Conselheiro
admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz.” (Is 9).
5. O Messias virá cheio do Espírito de Deus: “Um renovo
sairá do tronco de Jessé, e um rebento brotará de suas raízes. Sobre
ele repousará o Espírito do Senhor, Espírito de sabedoria e de
entendimento, Espírito de prudência e de coragem, Espírito de ciência
e de temor do Senhor. Ele não julgará pelas aparências, e não
decidirá pelo que ouvir dizer; mas julgará os fracos com equidade,
fará justiça aos pobres da terra.” (Is 11).
6. O Messias conduzirá os homens ao céu: “Eis o que diz o
Senhor JAVÉ: ‘Ai dos pastores de Israel que só cuidam do seu
próprio pasto. Vou castigar esses pastores, vou reclamar as minhas
ovelhas. Vou tomar Eu próprio o cuidado de minhas ovelhas, velarei
sobre elas. Eu irei em socorro de minhas ovelhas para as poupar de
serem atiradas à pilhagem; e julgarei entre ovelha e ovelha. Para as
pastoreá-las suscitarei um só pastor, meu servo Davi. Será ele quem
as conduzirá à pastagem e lhes servirá de pastor. Eu, o Senhor, serei
seu Deus, enquanto o meu servo Davi será um príncipe no meio
delas.” (Ez 34).
7. A pessoa do Messias: “Cresceu diante do povo como um
pobre rebento enraizado numa terra árida; não tinha graça nem
beleza para atrair nossos olhares, e seu aspecto não podia seduzir-
nos. Era desprezado, era a escória da humanidade, homem das
dores, experimentado nos sofrimentos; como aqueles, diante dos
quais se cobre o rosto, era amaldiçoado e não fazíamos caso dele.”
(Is 53).
8. Como se apresentará o Messias?: “Exulta de alegria, filha
de Sião, solta gritos de júbilo, filha de Jerusalém; eis que vem a ti o
teu rei, justo e vitorioso; Ele é simples e vem montado num jumento,
no potro de uma jumenta.” (Zac 9).
9. Pensamentos dos acusadores do Messias: “Cerquemos o
justo, porque ele nos incomoda; é contrário às nossas ações, ele nos
censura de violar a lei e nos acusa de contrariar a nossa educação.
Ele se gaba de conhecer a Deus, e se chama a si mesmo filho do
Senhor! Sua vida, com efeito, não se parece com as outras, e os seus
caminhos são muito diferentes. Julga feliz a morte do justo, e gloria-
se de ter Deus por pai. Vejamos, pois, se suas palavras são
verdadeiras, e experimentemos o que acontecerá quando da sua
morte, porque, se o justo é Filho de Deus, Deus o defenderá, e o
tirará das mãos dos seus adversários. Provemo-lo por ultrajes e
torturas, a fim de conhecer a sua doçura e a sua paciência.
Condenemo-lo a uma morte infame. Porque, conforme ele, Deus deve
intervir.” (Sb 2).
10. Visão dos sofrimentos do Messias: “Todos os que me
vêem, zombam de mim; dizem, meneando a cabeça: ‘Esperou no
Senhor, pois que ele o livre, que o salve, se o ama’. Minha garganta
está seca qual barro cozido, pega-se no paladar a minha língua; Sim,
rodeia-me uma malta de cães, cerca-me um bando de malfeitores.
Transpassaram minhas mãos e meus pés: poderia contar todos os
meus ossos. Repartem entre si as minhas vestes, e lançam sorte
sobre a minha túnica.” (Sl 21).
11. A salvação que o Messias trará: “Em verdade, ele tomou
sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e
nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado.
Mas foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas
iniqüidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele, fomos curados
graças às suas chagas.” (Is 53).
12. O Reino do Messias: “Olhando sempre a visão noturna, vi
um ser, semelhante ao filho do homem, vir sobre as nuvens do céu:
dirigiu-se para o lado do ancião, diante de quem foi conduzido. A ele
foram dados império, glória e realeza, e todos os povos, todas as
nações e os povos de todas as línguas serviram-no. Seu domínio
será eterno; nunca cessará e seu reino jamais será destruído.” (Dn 7).
É possível encontrar também no Antigo Testamento
personagens, figuras e situações que personificam Jesus Cristo,
como, por exemplo, o inocente Abel, o sumo sacerdote Melquisedec,
o sacrifício de Isaac, José vendido pelos irmãos, o profeta Jonas, o
cordeiro pascal e a serpente de bronze, levantada por Moisés no
deserto. 
CONCLUSÃO
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“Os olhos do Senhor estão voltados para os justos, e seus
ouvidos atentos aos seus clamores." (Sl 33,16)
____________________
O VALOR DA FIDELIDADE A DEUS
Chegando ao fim dessa primeira parte, é possível perceber que
a verdadeira luta do povo israelita não foi contra as espadas dos
inimigos que invadiam seu território, mas contra o paganismo que
traziam os povos com que mantinham contato. 
Esse conflito espiritual teve início no tempo em que eram
escravos no Egito e persistiu até a época da dominação romana. 
Quando abandonavam o Senhor e entregavam-se as práticas
pagãs, os Judeus passavam a negar, a desrespeitar e até a lutar
contra as leis e mandamentos sagrados sem qualquer tipo de
ressentimento ou escrúpulo.
Ora, todo pecado acarreta consigo duas conseqüências: culpa
e castigo. Ainda que, pela extinção da culpa, seja também perdoado o
suplício da morte eterna no inferno, todavia, Deus nem sempre
perdoa os remanescentes dos pecados e a pena temporal que lhes é
devida. Como exemplo, temos o caso do Rei Davi, onde apesar do
fervor de suas preces, implorando dia e noite a misericórdia divina, foi
punido por Nosso Senhor com a morte do filho que tivera do adultério;
com a revolta e a morte de seu filho Absalão, a quem amava com
particular carinho; e com outros castigos e flagelos, que já antes lhe
haviam sido cominados (II Sm 12, 7-13). 
O Senhor, muitas vezes, permite que assim aconteça para
evitar que, na ocasião de novo pecado, o homem tenha os pecados já
cometidos por muito leves, e, com atrevida afronta ao Espírito Santo,
caia em outros mais graves, cumulando ira para o dia do julgamento.
Esse é um mistério da bondade divina.
No caso dos hebreus, os trágicos acontecimentos sofridos por
eles no Antigo Testamento foram consequências de seus pecados,
tendo o Senhor permitido que acontecessem para fazê-los retornarem
a aliança que haviam rompido.
Observe que, de maneira individual, isso também ocorreu com
o Rei Davi, com Moisés, com Arão e tantos outros personagens
bíblicos. Da mesma forma, pode também acontecer conosco quando
abandonamos a aliança com Deus para seguir a corrupção deste
mundo. Deste modo, Deus pode muito bem permitir que as
consequências de nossos pecados nos aflijam na intenção de nos
resgatar.
No livro de Judite encontramos um pequeno relato de Aquior,
chefe dos Amonitas, que, apesar de inimigo do povo judeu, deixa
claro que a fidelidade a Deus sempre trouxe grandes benefícios ao
judeus, enquanto que a infidelidade os levava a ruína e a morte:
"Holofernes, marechal do exército assírio, foi avisado de que os
israelitas se dispunham à resistência e que haviam bloqueado as
passagens dos montes. Explodiu então a sua cólera, e, cheio de
furor, convocou os príncipes de Moab e os generais dos Amonitas e
disse-lhes:
Dizei-me quem é esse povo que ocupa as montanhas; quais as
suas cidades, a sua força, o seu número; qual o poder e o efetivo de
seu exército, quem é o seu chefe, e por que motivo foi ele o único
dentre todos os povos do oriente que nos desprezou, recusando-se a
sair ao nosso encontro para receber-nos pacificamente.
Aquior, chefe dos amonitas,respondeu-lhe: 
Meu senhor, se te dignas ouvir-me, dir-te-ei a verdade acerca
desse povo que habita nos montes, e nenhuma mentira sairá de
minha boca. 
Esse povo é da raça dos caldeus; habitaram primeiramente na
Mesopotâmia, porque recusavam seguir os deuses de seus pais que
estavam na Caldéia. Abandonaram os ritos de seus ancestrais que
honravam múltiplas divindades, e passaram a adorar o Deus único do
céu, o qual lhes ordenou que saíssem daquele país e fossem
estabelecer-se na terra de Canaã. 
Depois disso sobreveio a toda a terra uma grande fome, e
desceram ao Egito onde, durante quatrocentos anos, multiplicaram-se
de tal forma que se tornaram uma multidão inumerável. Oprimidos
pelo rei do Egito, e obrigados a trabalhar na fabricação de tijolos e de
argamassa para a construção de suas cidades, clamaram ao seu
Senhor, e este feriu toda a terra do Egito com vários flagelos. A praga
cessou, quando os egípcios os expulsaram de sua terra; mas
quiseram retomá-los para sujeitá-los de novo à escravidão. Eles
fugiram. O Deus do céu abriu-lhes o mar de tal modo que as águas
tornaram-se de cada lado sólidas como um muro, e eles
atravessaram a pé enxuto pelo fundo do mar. Entretanto, vindo em
sua perseguição o inumerável exército dos egípcios, foi de tal
maneira envolvido pelas águas que não escapou um sequer que
pudesse contar à posteridade o acontecimento. 
Ao sair do mar Vermelho, ocuparam os desertos do monte
Sinai, onde nunca homem algum pôde habitar, nem um ser humano
se fixar. Ali, tornaram-se-lhes doces e potáveis as fontes amargas, e
por espaço de quarenta anos receberam um alimento vindo do céu.
Por toda parte onde entraram sem arco e sem flecha, sem
escudos e sem espada, Deus combateu por eles e venceu.
Ninguém jamais pôde insultar esse povo, a não ser quando ele
se afastou do culto do Senhor, seu Deus. Mas sempre que, ao
lado de seu Deus, eles adoravam um outro, logo eram entregues
à pilhagem, à espada e à vergonha. E todas as vezes que se
arrependiam de ter abandonado o culto do seu Deus, o Deus do
céu dava-lhes força para resistir. 
Finalmente, derrotaram os reis cananeus, jebuseus, fereseus,
hiteus, heveus, amorreus e todos os valentes de Hesebon, e tomaram
posse de suas terras e de suas cidades. 
Enquanto não pecavam na presença de seu Deus, eram
bem sucedidos, porque o seu Deus odeia a iniqüidade. 
Há alguns anos, com efeito, tendo-se afastado da via em que
Deus lhes ordenara caminhar, foram derrotados nos combates contra
várias nações, e muitos dentre eles levados para o cativeiro. Mas
converteram-se de novo ao Senhor, seu Deus, e depois dessa
dispersão acham-se reunidos desde há pouco: retomaram a posse de
suas montanhas e de Jerusalém onde está seu santuário. 
Agora, pois, meu senhor, informa-te se esse povo cometeu
alguma iniqüidade na presença de seu Deus, e então subamos e o
ataquemos, porque o seu Deus os entregará nas tuas mãos, e ficarão
sujeitos ao teu poder. Mas se esse povo não está manchado de
nenhuma ofensa para com o seu Deus, não o poderemos enfrentar,
porque o seu Deus o defenderá e seremos o opróbrio de toda a
terra." 
Que as palavras de Aquior também sirvam para nos convencer
que é "feliz o homem que teme o Senhor, e põe o seu prazer em
observar os seus mandamentos" (Sl 111, 1). Isto porque, caso o
homem assim proceda, Deus o protegerá, salvará seus filhos e
esmagará seu opressor (Sl 71, 4). E ainda que caiam mil ao seu lado,
e dez mil à sua direita, a calamidade dele não se aproximará (Sl 90,
7). 
..............
Após toda essa exposição, é possível concluir que foi
somente devido às constantes intervenções de Deus, renovando
a espiritualidade dos hebreus nos “desertos” de sua trajetória,
que a aliança não foi desfeita, à esperança pelo Messias foi
mantida e o povo da promessa permaneceu unido.
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O NOVO TESTAMENTO
A GENEALOGIA DE JESUS CRISTO
A Genealogia apresentada na Sagrada Escritura:
ADÃO conheceu EVA,
sua mulher, e ela deu à luz a Caim, a Abel e a Set. De Set
surgiram: Enos, Cainan, Malaleel, Jared, Henoc, Matusalém,
Lamec
e finalmente NOÉ.
Este gerou três filhos, dentre eles Sem. Após Sem vieram:
Arfaxad, Salé, Heber, Faleg, Reu, Sarug, Nacor e Taré. Taré
gerou três filhos,
dentre eles ABRÃO.
A partir dele apareceram:
Isaac, Jacó, Judá, Farés, Esron, Arão, Aminadab, Naasson,
Salmon, Booz, Obed, Jessé,
DAVI e seu filho SALOMÃO.
Salomão teve os seguintes descendentes: Roboão, Abias, Asa,
Josafá, Jorão, Ozias, Joatão, Acaz, Ezequias, Manassés, Amon,
Josias, Jeconias, Salatiel, Zorobabel, Abiud, Eliacim, Azor,
Sadoc, Aquim, Eliud, Eleazar, Matã, Jacó
e JOSÉ, esposo de Maria,
da qual nasceu JESUS.
(Adaptado de Gn 4-5; 11, 10-32; Mt 1, 1-17)
A GENEALOGIA EXISTENTE NA BÍBLIA
A pré-história do Gênesis narra pouquíssimos episódios
anteriores a Abraão, destes, o Dilúvio constitui o ponto central. Para
preencher as duas lacunas existentes entre os primeiros homens e o
dilúvio, e depois entre este e Abraão, o autor sagrado coloca duas
genealogias.
A primeira, desde o primeiro homem (Adão), até o cabeça da
humanidade renovada, (Noé), conta 10 nomes. A segunda, desde
Sem, filho de Noé, até Abraão, tronco principal da comunidade
Hebraica, contra outros 10 nomes. (Gn 5, 1-32; 11, 10-32).
As duas tábuas genealógicas resumem dois períodos pré-
históricos, mas não nos podem servir para fixar a duração de tais
períodos, nem, conseqüentemente, antiguidade do gênero humano.
Sobre a antiguidade do homem, a Bíblia não favorece nenhuma
conclusão. 
Permanece, pois tarefa da ciência fixar a antiguidade do
gênero humano. A genealogia pode ter sido usada para resumir um
período histórico, mas não pode absolutamente servir para criar uma
cronologia.
A genealogia existente no Evangelho de São Mateus, Mt 1,1-
17, difere da encontrada no Evangelho de São Lucas, Luc 3, 23-38,
porque esses evangelistas optaram por mostrar ramos diferentes da
descendência de Davi. Mateus preferiu enumerar os chefes e reis
(sucessão dinástica), enquanto Lucas apresentou a descendência
natural de Jesus Cristo.
Segundo São Mateus, “as gerações, desde Abraão até Davi,
são quatorze. Desde Davi até o cativeiro de Babilônia, quatorze
gerações. E, depois do cativeiro até Cristo, quatorze gerações” (Mt 1,
17).
A genealogia apresentada nas Escrituras tem como objetivo
levar o leitor a observar que Jesus Cristo é o legítimo herdeiro das
promessas feitas por Deus a Israel. Por isso, ela apresenta Jesus
Cristo como descendente de Adão e Eva, Abraão e Davi.
Navegando na história desses personagens, Deus revela o
início do pecado do homem e a forma dele atingir sua salvação.
Referência: Genealogia (Gn 4-5; 11, 10-32; Mt 1,1-17; Lc 3,
23-38).
O ANJO APARECE A MARIA SANTÍSSIMA
Muitos anos se passaram após a volta do povo hebreu do exílio
até o dia em que Deus cumpre sua promessa e dá ao mundo uma
boa notícia:
“No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma
cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada
com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o
nome da virgem era Maria.
O anjo disse-lhe: ‘Ave, Cheia de Graça, o Senhor é contigo’.
Perturbou-se ela com essas palavras e pôs a pensar no que
significaria semelhante saudação.
O anjo disse-lhe: ‘Não temas, Maria, pois encontraste graça
diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe
porás o nome de Jesus.’
Maria perguntou ao anjo: ‘Como se fará isso, pois não conheço
homem?’
Respondeu-lhe o anjo: ‘O Espírito Santo descerá sobre ti, e a
força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso, o
ente que nascer de ti será chamado Filho de Deus’.”
(Lc 1, 26-35)
SÃO JOSÉ
São José residia com sua família ordinariamente em Nazaré,
pequena cidade da Galiléia. Ele ganhava o sustento de sua família
com o trabalho de suas mãos, no ofício de carpinteiro.
Apesar de Maria Santíssima e São José serem descendentes
dos Reis de Judá, da família de Davi, ambos viviam pobremente.
A missão de São José é das mais importantes na Bíblia:
acolher, na fé, a escolhida de Deus como esposa;dar a seu filho um
nome e o sobrenome de sua família; proteger e sustentar a família
sagrada durante os difíceis momentos de seu início e acompanhar
Jesus Cristo em sua adolescência. Quando já não é mais necessário
ao projeto de Deus, retira-se em silêncio dos textos sagrados. 
A Igreja declarou São José “Patrono da Igreja”, pois acredita
que Deus o elevou a uma glória altíssima, e porque foi eminente a
sua dignidade e a sua santidade na terra. Ele é chamado pai adotivo
de Jesus Cristo porque desempenhou para com Ele as funções de
pai.
Observe, por fim, que a proteção que São José dirige para os
seus devotos é poderosíssima, porque não é crível que Jesus Cristo
queira negar alguma graça a um Santo, a cuja autoridade quis estar
sujeito na terra. Uma graça especial que devemos esperar da
intercessão de São José é a de uma boa morte, porque ele teve a
felicidade de morrer entre os braços de Jesus e de Maria. No entanto,
para merecermos sua proteção, devemos invocá-lo com freqüência e
imitá-lo nas suas virtudes, sobretudo na sua humildade e perfeita
resignação à vontade divina, que foi sempre a regra de suas ações.
A ANUNCIAÇÃO DA VIRGEM MARIA
A salvação que Deus prometera estava a depender de dois
fatores para ocorrer: da criação de um povo que o reconhecesse
como Senhor e de sua necessidade por um messias. Criadas as
condições, Deus envia seu anjo para dar ao mundo uma boa notícia.
A Boa Nova do anjo seria a doação espontânea de Deus que,
tornando-se homem, daria a sua vida pela remissão das faltas de
toda a humanidade.
O Anjo Gabriel foi o primeiro a anunciar ao mundo a
mensagem do nascimento de Jesus Cristo; e suas palavras nos
levam a entender com quanta alegria e elevação de espírito devemos
meditar este mistério da fé: "Eis que venho anunciar-vos uma grande
alegria para todo o povo" (Lc 2, 10).
A Santíssima Virgem encontrava-se em Nazaré, cidade da
Galiléia, quando Lhe apareceu o Anjo Gabriel e dirigiu-Lhe a
saudação que todos os dias repetimos: “Ave, ó cheia de graça; o
Senhor é conVosco, bendita sois Vós entre as mulheres”.
O anjo disse-lhe: "Não temas, Maria, pois encontraste graça
diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe
darás o nome de Jesus".
Maria perturbou-se ao ouvir tais palavras, pois A saudavam
com títulos novos e gloriosos dos quais se julgava indigna, mas o anjo
a sossegou: "Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de
Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome
de Jesus".
Nesse momento, Ela mostrou, de modo especial, virtudes
inigualáveis, como pureza admirável, humildade profunda, fé e
obediência perfeita.
Maria perguntou ao anjo: "Como se fará isso, pois não conheço
homem?" O anjo continuou: "O Espírito Santo descerá sobre ti, e a
força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso, o ente
que nascer de ti será chamado Filho de Deus".
A sua profunda humildade deu a conhecer com as palavras:
“Eis aqui a escrava do Senhor”. 
Por fim, mostrou a sua fé e obediência dizendo: “Faça-se em
Mim segundo a vossa palavra”. Foi esse o começo da redenção do
gênero humano.
Realmente, daquele momento em diante começou a cumprir-se
a grandiosa promessa de Deus a Abraão, quando lhe dissera que, um
dia, “todos os povos seriam abençoados em sua descendência” (Gn
22, 18).
Na conversa com o Arcanjo, soube Maria Santíssima que sua
prima Isabel, mulher de um sacerdote chamado Zacarias, embora em
idade avançada, ia ter um filho. Com santa solicitude, foi visitá-la para
servi-la como humilde criada, como o fez por três meses. Foi nesse
momento que Maria Santíssima, respondendo à saudação da prima
que, inspirada pelo Espírito Santo, chamou-A “Mãe de Deus”. O filho
que nascerá de Isabel será João Batista, o santo Precursor do
Messias.
Na sua Anunciação, a Santíssima Virgem nos ensina três
coisas: em particular às virgens o altíssimo apreço em que devem ter
o tesouro da virgindade; a nós todos a dispor-nos com grande pureza
e humildade para receber dentro de nós a Jesus Cristo na Sagrada
Comunhão; e a submeter-nos prontamente à vontade divina.
OS ANJOS
Não são raras as vezes em que aparece, na Sagrada Escritura,
a figura de um anjo. Na maior parte delas, ele se coloca como um
mensageiro, um guia e protetor, como, por exemplo, em Ex 23, 20:
"Vou enviar um anjo adiante de ti para te proteger no caminho e para
te conduzir ao lugar que te preparei". Logo adiante, no versículo 21,
Deus pede para que não lhe resistamos e explica o motivo: "Não lhe
resistas, porque meu nome está nele". 
Sua santidade o Papa Leão XIII lembra algumas passagens do
Novo Testamento que tiveram a participação dos anjos: “Gabriel é
enviado à Virgem para lhe anunciar a Encarnação do Verbo eterno.
Na gruta de Belém os Anjos acompanham com os seus cantos a
glória do Salvador, há pouco vindo à luz. Um Anjo adverte José a
fugir e a dirigir-se para o Egito com o Menino. Enquanto Jesus no
Horto sua sangue por causa da sua tristeza, um Anjo com a sua
palavra compassiva, conforta-o. Quando Jesus, triunfando sobre a
morte, se levanta do sepulcro, Anjos noticiam isso às piedosas
mulheres. Anjos anunciam que Ele subiu ao Céu, e prenunciam que
de lá Ele voltará entre as falanges angélicas, para unir a elas as
almas dos eleitos, e conduzi-las consigo para entre os coros celestes,
acima dos quais ‘foi exaltada a santa Mãe de Deus’” (Carta Encíclica
Augustissimae Virginis Mariae de sua santidade o Papa Leão XIII).
Alguns anjos Deus destinou para nos guardarem e guiarem no
caminho da salvação. Eles são chamados Anjos da Guarda.
Sabemos que existem por meio da Sagrada Escritura e pelo
ensinamento da Igreja. Eles assiste-nos com boas inspirações e,
recordando-nos os nossos deveres, guia-nos no caminho do bem;
além disso, oferece a Deus as nossas orações e alcança-nos as suas
graças.
Pelo reconhecimento à bondade divina, por nos ter dado os
Anjos como guardas, e também aos mesmos Anjos pelo amoroso
cuidado que têm conosco, precisamos: respeitar a sua presença e
não os contristar com pecado algum; seguir prontamente os bons
sentimentos que, por meio deles, Deus excita em nossos corações;
fazer as nossas orações com a maior devoção, a fim de que as
acolham com agrado e as ofereçam a Deus; invocá-los
freqüentemente e com muita confiança, nas nossas necessidades, e
especialmente nas tentações.
MARIA SANTÍSSIMA
Através da desobediência de uma mulher, Eva, o pecado
entrou no mundo. Foi desejo de Deus que, por meio da obediência de
outra mulher, Maria Santíssima, chegasse a Salvação.
Ela foi escolhida dentre todas as mulheres para ser a mãe
daquele que reataria a aliança rompida, o que não significou, no
entanto, que não pudesse recusar, pois Ele a deixou com total
liberdade de decidir se aceitaria ou não o seu pedido. Foi por isso que
somente após a sua aceitação é que o Espírito Santo fecundou-a
divinamente.
A Igreja a considera o exemplo perfeito de obediência e fé, pois
ao acolher com o seu “sim” o anúncio e a promessa trazida pelo anjo
Gabriel, abriu a brecha para que Jesus Cristo entrasse no mundo e
realizasse a sua missão.
Para que pudesse cumprir com tão grande missão e porque a
mãe de seu futuro filho não poderia nascer escrava do pecado, Deus
a gerou sem o pecado original.
Nesse sentido, a Igreja Católica afirma que Deus escolheu
Maria Santíssima ainda no céu e que Ele, por meio de seu poder
infinito, concedeu-lhe uma virgindade perpétua.
Sua participação na Bíblia é tão importante que a encontramos
nos momentos cruciais do ministério de Cristo e da Igreja: na
Encarnação, na crucificação e em Pentecostes.
Em Cl 1, 18, temos: “Cristo é a cabeça do corpo, da Igreja”.
Ora, quem é a mãe da cabeça, Cristo, é também a mãe de todo o
corpo, a Igreja. Portanto, Maria Santíssima é mãe de toda a Igreja.
A ORAÇÃO “AVE-MARIA” E O SANTO ROSÁRIO
O Arcanjo São Gabriel dirige-se a Virgem Maria e diz: "Ave,
cheia de graça; o Senhor é convosco". Por isso, quando saudamos a
Santíssima Virgem, no Santo Rosário, com as mesmas palavras do
Arcanjo, nós nos congratulamos comEla, lembrando os dons e
singulares privilégios com que Deus a favoreceu de preferência a
todas as outras criaturas.
Pouco tempo depois, quando a Virgem Maria encontrou Santa
Isabel, três meses antes de nascer seu filho João Batista, esta lhe
disse: "Bendita sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do
vosso ventre". Por isso, ao pronunciar as palavras de Santa Isabel, no
Santo Rosário, congratulamo-nos com Maria Santíssima pela sua
excelsa dignidade de Mãe de Deus, bendizemos a Deus e damos-Lhe
graças por nos ter dado Jesus Cristo por meio de Maria Santíssima.
A oração “Ave-Maria” é chamada saudação angélica porque
principia com a saudação que dirigiu à Virgem Maria o Arcanjo São
Gabriel. É por meio dessa oração que recorremos à Santíssima
Virgem. Assim devemos rezá-la:
"Ave, Maria, Cheia de graça, o Senhor é convosco; bendita sois
vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus.
R/. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora
e na hora da nossa morte. Amém."
A segunda parte da oração vem da Igreja. Com ela pedimos a
proteção da Santíssima Virgem no decurso desta vida e
especialmente na hora da nossa morte, onde seu cuidado nos é mais
necessário.
Por intermédio dessa prece, havemos de implorar o seu auxílio
e assistência, pois seus méritos são de máximo valor aos olhos de
Deus, e absoluta é também a sua decisão de socorrer o gênero
humano. Disso ninguém pode duvidar, a não ser por despudorada
impiedade.
Importante anotar que depois do Padre-Nosso, devemos rezar
a oração da 'Ave-Maria' antes de qualquer outra oração porque a
Santíssima Virgem é a Advogada mais poderosa junto de Jesus
Cristo: por isso, depois de termos rezado a oração que Jesus Cristo
nos ensinou, pedimos à Santíssima Virgem que nos alcance as
graças que imploramos. Inclusive, a devoção que a Igreja nos
recomenda de modo especial em honra da Santíssima Virgem é a
reza do santo Rosário.
Os Santos nos ensinam a respeito da devoção à Virgem Maria
que os seus verdadeiros devotos são por Ela amados e protegidos
com amor de Mãe muito terna, e por meio dEla têm a certeza de
encontrar a Jesus Cristo, e de alcançar o Paraíso. Essa proteção
decorre da Santíssima Virgem ser poderosa, e isso porque é Mãe de
Deus, e é impossível que não seja atendida por Ele.
Deu-se, por conseguinte, à Santíssima Virgem, atenta a missão
especial que tem de rogar pelos homens, o nome de Onipotente pela
intercessão. Isso significa que Deus acolhe favoravelmente as
súplicas daqueles por quem ela intercede.
Na oração do Santíssimo Rosário, encontramos a maneira
singularmente perfeita onde se juntam e enlaçam a oração do Padre-
Nosso e da Ave-Maria. Sua forma consiste em meditar os quinze
principais mistérios da nossa Redenção, e rezar durante a Meditação
de cada um, um Padre Nosso e dez Ave-Marias, terminando com o
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, assim como era no
princípio, agora e sempre, por todos os séculos dos séculos. Amém.
Lembra o Papa Leão XIII, na Carta Encíclica Adiutricem Populi,
sobre o Rosário de Nossa Senhora, que "a vantagem do santo
Rosário é fornecer ao cristão um meio prático e fácil para alimentar a
sua fé e preservá-la da ignorância e do perigo do erro. Porquanto,
toda vez que nos pomos em oração diante dela e recitamos com
devoção a santa Coroa segundo o rito prescrito, nós recordamos a
obra maravilhosa da nossa redenção, de modo a contemplarmos,
como se se desenrolassem agora todos aqueles fatos que
sucessivamente concorrem para torná-la ao mesmo tempo Mãe de
Deus e Mãe nossa".
Em sua outra Carta Encíclica, a Augustissimae Virginis Mariae,
o Papa explica que a devoção ao Rosário:
“Longe de ser incompatível com a dignidade de Deus - como
se insinuasse que nós devemos confiar mais em Maria Santíssima do
que no próprio Deus - tem, ao contrário, uma particularíssima eficácia
para O comover e no-lo tornar propício. De feito, a fé católica nos
ensina que nós devemos orar não só a Deus, mas também aos
Santos (Concilum Tridentinum Sessio 25), embora de maneira
diferente: a Deus, como fonte de todos os bens; aos Santos, como
intercessores.
Ora, entre todos os Santos que habitam as mansões bem-
aventuradas, quem poderá competir com a augusta Mãe de Deus em
impetrar a graça? Quem poderá com maior clareza ver no Verbo
eterno de Deus as nossas angústias e as nossas necessidades? A
quem foi concedido maior poder em comover a Deus? Quem como
ela tem entranhas de maternal piedade?
Em vez disto, a oração que dirigimos a Maria tem algo de
comum com o culto que se presta a Deus; tanto que a Igreja a invoca
com esta expressão, que se costuma endereçar a Deus: 'Tem
piedade dos pecadores'. De feito, diante de Deus Maria é ‘tão grande
e vale tanto que, a quem quer graças e a ela não recorre, o seu
desejo quer voar sem asas’” (Carta Encíclica Augustissimae Virginis
Mariae de sua Santidade Papa Leão XIII).
O ADVENTO
O mundo teve de esperar séculos até a chegada do Messias.
No entanto, esses anos não se passaram à toa. Foram períodos de
preparação que despertaram no homem a necessidade da vinda do
salvador.
A igreja, reconhecendo a importância desse período, promove,
nas quatro semanas que precedem a solenidade do santo Natal (festa
comemorativa do nascimento de Cristo), o período litúrgico
denominado “Advento”. Neste tempo, a Igreja nos dispõe para
celebrar dignamente a comemoração da primeira vinda de Jesus
Cristo a este mundo, com o seu nascimento temporal. Procura, com
isso, atualizar essa espera com a intenção de que o homem desperte
o desejo pela segunda vinda do Messias.
Para correspondermos às intenções da Igreja, precisamos nos
esforçar para: meditar com fé viva e com amor ardente o grande
benefício da Encarnação do Filho de Deus; reconhecer a nossa
miséria e a suma necessidade que temos de Jesus Cristo; pedir-Lhe
instantemente que venha nascer e crescer espiritualmente em nós
com a sua graça; preparar-Lhe o caminho com obras de penitência e
especialmente com a freqüência dos santos Sacramentos; pensar
freqüentemente na sua última e terrível vinda, e, com os olhos nela,
conformar a nossa vida com a sua vida santíssima, a fim de
podermos participar da sua glória.
O NOME DE JESUS CRISTO
Os Judeus não colocavam qualquer nome em uma pessoa.
Para eles o nome servia tanto para a identidade como para a missão.
Assim, aconteceu também com o filho de Deus. “Jesus”, em
hebraico, quer dizer: “Salvador”. Isso significa que seu nome já traz a
sua missão: salvar-nos da morte eterna que merecíamos por nossos
pecados. Dessa forma, ele designa a sua qualidade característica na
ordem da graça, a de Salvador do gênero humano. Seu nome foi
imposto conforme o que o Anjo do Senhor havia ordenado a Maria e a
José, no oitavo dia do seu nascimento, na cerimônia da Circuncisão.
Ao nome de “Jesus” se ajunta o de “Cristo” porque a palavra
Cristo, que vem da tradução grega do termo hebraico “Messias” e que
significa “ungido”, dá a entender a unção divina que o converte em
Santo, Sacerdote e Rei dos domínios sobrenaturais. Portanto, chama-
se Cristo porque antigamente ungiam-se os reis, os sacerdotes e os
profetas e Jesus é Rei dos reis, Sumo Sacerdote e Sumo Profeta.
No entanto, a unção de Jesus Cristo não foi corporal, como a
dos antigos reis, sacerdotes e profetas, mas toda espiritual e divina,
porque a plenitude da divindade habita n’Ele substancialmente.
Ao pronunciar o nome de “Jesus Cristo" queremos dizer que
este Verbo divino se revestiu da natureza humana, e, sem deixar de
ser Deus, se fez homem; que, como dote de tão inefável união,
obteve, enquanto homem, graças e privilégios de valor quase infinito,
entre os quais sobressai a qualidade de Salvador dos homens.
A diferença entre os “ungidos” do Senhor na Antiga Aliança
(Saul, Davi, etc.) e Jesus Cristo, é que Ele é o único ungido do
Espírito Santo. É o Espírito Santo que faz Maria Santíssima concebê-
lo no início de sua vida, é Seu poder que sai de Jesus Cristo nos seus
atos de cura e é Ele que ressuscita Jesus Cristo dentre os mortos.
Porfim, chamamos Jesus Cristo “Nosso Senhor” porque,
enquanto Deus, juntamente com o Pai e o Espírito Santo, nos criou,
como também porque, enquanto Deus e homem, nos remiu com seu
Sangue.
Referência: A anunciação do nascimento de Jesus Cristo (Lc
1).
O NASCIMENTO DE JESUS CRISTO
José visitado em sonho por Deus compreende o que se passa
com Maria Santíssima e a aceita como esposa. Tempos depois, como
havia sido profetizado, nasce Jesus Cristo. Herodes, ao ser informado
do nascimento, procura matá-lo:
“Também José subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia,
à cidade de Davi, chamada Belém, para se alistar no
recenseamento com sua esposa Maria, que estava grávida.
Estando eles ali, completaram-se os dias dela. E deu à luz seu
filho, e, envolvendo-o em faixas, reclinou-o num presépio;
porque não havia lugar para eles na hospedaria.”
(Lc 2, 4-7)
O NASCIMENTO DE JESUS CRISTO
Quando Jesus estava próximo de nascer, foi publicado um
édito pelo qual o Imperador César Augusto ordenava que todos os
vassalos do Império romano se registrassem e que, para isso, cada
um se dirigisse à cidade de onde a família era originária. Maria e
José, por serem da casa e família de Davi, tiveram de ir à cidade de
Belém, onde havia nascido aquele santo Rei. Mas não encontrando
hospedagem, pelo grande número de pessoas que ia registrar-se,
tiveram de abrigar-se em uma espécie de gruta, que servia de
estábulo, não longe da cidade.
Aconteceu que, à meia-noite, o Filho de Deus, feito homem
para salvar os homens, nasceu de Maria Virgem. Ela, envolvendo-O
em pobres panos, reclinou-O numa manjedoura onde comiam os
animais. Nessa mesma noite apareceu um Anjo a uns pastores que
vigiavam seus rebanhos naquela região, e lhes anunciou que havia
nascido o Salvador do mundo. Os pastores correram atônitos ao
estábulo, encontraram o Santo Menino e foram os primeiros a adorá-
Lo. Posteriormente, apareceram quatro reis magos.
Então, no nascimento do Menino Jesus viu-se um homem,
concebido por obra do Espírito Santo, uma Virgem Mãe, Reis e
Magos guiados por uma estrela e uma multidão de Espíritos celestiais
que entoavam hinos de alegria, dizendo: Glória a Deus nas alturas, e
na terra, paz aos homens de boa vontade. Dessa maneira, todas as
coisas foram dispostas e ordenadas para o seu bem: Os pais para
ampará-lo, a natureza para robustecê-lo, os anjos para o assistir e
Deus para predestiná-lo e conduzi-lo à Bem-aventurança.
Jesus Cristo, por ter nascido da Virgem, o Filho de Deus é Filho
de Maria, e ela é verdadeiramente sua Mãe, porque tudo quanto uma
mulher comunica a seu filho, o mesmo comunicou a Virgem Maria ao
Filho de Deus. O Filho de Deus, da Virgem Maria, recebeu a natureza
humana, e do Pai, Este, na Eternidade, lhe comunicou a divina.
Dessa forma, a concepção do Filho de Deus, no seio da
Virgem Santíssima, por obra do Espírito Santo, foi de um modo todo
miraculoso que a gloriosa Virgem Maria concebeu o Filho de Deus,
revestindo este a nossa natureza humana no seu seio virginal; porém,
tenhamos presente que nesta concepção a Santíssima Virgem não
deixou de tomar aquela parte necessária e suficiente para ser
verdadeira mãe, como as outras mães o são de seus filhos.
Diz-se que Jesus Cristo foi concebido pelo poder do Espírito
Santo porque a Encarnação do Filho de Deus é obra de bondade e de
amor, e as obras de bondade e de amor atribuem-se ao Espírito
Santo.
Importante anotar que foi instantânea a formação do corpo de
Cristo no seio virginal de Maria e conferiram-se-Lhe, naquele primeiro
instante, todas as prerrogativas e graças com que Deus enriqueceu a
natureza humana que Cristo assumiu na unidade de pessoa.
Em outras palavras, no mesmo instante em que a Santíssima
Virgem pronunciou o fiat, expressão do seu consentimento,
realizaram-se no seu seio, sob o influxo onipotente do Espírito Santo,
todos os privilégios e maravilhas que constituem o mistério da
Encarnação. Assim, obteve o Verbo Encarnado, enquanto homem,
desde aquele primeiro instante, todos os tesouros da ciência beatífica
e infusa, gozou plena liberdade e começou a merecer com mérito
perfeito.
O VERBO DE DEUS
Por causa da lei, a morte exercia cada vez mais seu poder.
Não havia como eliminar a sanção promulgada por Deus por causa
da transgressão de Adão e Eva. O gênero humano encaminhava-se
para a perda e a obra de Deus ia definhando.
Por outro lado, era incompatível com a bondade divina que
seres racionais e partícipes do próprio Verbo perecessem e,
corrompidos, voltassem ao nada porque o diabo os havia enganado.
No entanto, a sentença havia sido promulgada e era
imprescindível manter o princípio da veracidade de Deus na
legislação sobre a morte. Seria impensável que, para nossa
preservação, Deus, Pai da verdade, se mostrasse mentiroso.
Logo, que devia Deus fazer?
É certo que não adiantava apenas exigir dos homens que se
arrependessem, pois continuariam sob o poder da morte, sentença
que não seria retirada. Isso porque o arrependimento não liberta das
condições naturais, mas apenas põe termo aos pecados.
Ora, se fosse apenas a falta, sem a conseqüente corrupção, o
arrependimento bastaria. No entanto, a transgressão aconteceu e os
homens ficaram sob o poder da corrupção (do corpo) devido a sua
natureza, e seria inconveniente a lei ser abolida antes de se ter
cumprido o que Deus determinou.
Então, como resolver esta questão se tal empreendimento não
era viável aos homens, apesar de terem sido criados segundo a
imagem de Deus, e nem aos anjos, uma vez que eles não são
imagens do Senhor?
A solução caberia só ao próprio Deus. Teria que enviar seu
Filho a fim de que, sendo a Imagem do Pai, pudesse re-criar o
homem segundo a Sua imagem.
Ora, quem melhor do que Aquele que criou todas as coisas do
nada para resolver essa situação aparentemente impossível.
Somente o Verbo de Deus poderia obter para o homem tal graça e
restauração. A Ele competirá duas coisas: reconduzir o corruptível à
incorrupção, e, ao mesmo tempo, preservar a sentença divina.
Ele, o Verbo de Deus, acima de tudo, era o único, portanto,
capaz de refazer todas as coisas, de sofrer por todos, de ser em favor
de todos digno embaixador junto do Pai.
HERODES
Herodes havia recebido dos romanos, povo que na época
dominava a Palestina, o título de “rei dos judeus”. Por ser um homem
tremendamente ciumento de seu poder, reagiu de modo enérgico e
violento ao ser informado do nascimento de um menino que seria o
novo “rei dos judeus”. Para ele, como para muitos judeus, Jesus
Cristo seria um guerreiro conquistador que libertaria Israel de seu
governo e do domínio dos romanos.
Herodes ainda viveu quatro anos depois do nascimento de
Jesus o Salvador; sobrou-lhe tempo para derramar sua ira no sangue
das crianças inocentes por não ter conseguido pegar o Filho de Deus.
No decorrer da historia de Nosso Senhor Jesus Cristo,
havemos de deparar com os nomes dos sucessores de Herodes o
Magno: Archelau, seu filho; Herodes Antipas, assassino de João
Batista e juiz do Salvador na sua paixão; depois, Herodes Agrippa I,
perseguidor dos Apóstolos, e Herodes Agrippa II, sob cujo governo foi
concluída a ruína da nacionalidade judaica.
O MISTÉRIO DA ENCARNAÇÃO
O Filho de Deus Encarnado veio a este mundo concebido por
obra sobrenatural do Espírito Santo, tendo como mãe a Santíssima
Virgem Maria. 
A Escritura indica que nenhum outro devia se encarnar, a não
ser o Verbo de Deus, que veio com a missão de salvar os homens:
“Convinha, de fato, que aquele por quem e para quem todas as
coisas existem, conduzindo muitos filhos à glória, levasse à perfeição,
por meio dos sofrimentos, o autor da salvação deles” (Hb 2, 10).
Desta forma, ela assinala não competir a nenhum outro, a não ser ao
Verbo de Deus, que fizera os homens no começo, livrá-los da
corrupção que lhes sobreviera.
Dizer que Jesus Cristo, o Filho de Deus, “se encarnou” indica
que Ele assumiu e se apropriou da nossa natureza humana.
Essencialmente, consiste na união substancial e indissolúvel das
naturezas divina e humana, em unidade de pessoa divina,a segunda
pessoa da Santíssima Trindade, conservando cada natureza todas as
suas propriedades.
A pessoa do Filho, na Encarnação, teve preferência à do Pai e
à do Espírito Santo porque, sendo o Filho, Verbo de Deus, e
simbolizando o Verbo, por apropriação, a ciência e a sabedoria
divinas, pelas quais todas as coisas foram feitas, a Ele parece que
pertencia reparar os estragos que na natureza humana havia
produzido o pecado; e, além disso, porque, procedendo do Pai, Este
podia enviá-Lo e Ele por sua vez enviar o Espírito Santo.
Ele assumiu um corpo humano a fim de oferecê-lo em favor
dos corpos semelhantes ao seu. Isso ensina a Sagrada Escritura, ao
dizer: “Uma vez que os filhos têm em comum carne e sangue, por
isso também Ele participou da mesma condição, a fim de destruir pela
morte o dominador da morte, isto é, o diabo; e libertar os que
passaram toda a vida em estado de servidão, pelo temor da morte”
(Hb 2,14-15)
Com efeito, a Encarnação de Jesus Cristo se fez necessária
devido o gênero humano ter caído do primitivo estado de Justiça
original, e se queria reabilitá-lo e, sobretudo, dar satisfação completa
e abundante por aquele pecado, era absolutamente indispensável
que um Deus-homem tomasse a seu cargo a empresa. Portanto, o
motivo da Encarnação foi remir os homens do pecado.
Ela não aconteceu logo no princípio da queda dos nossos
primeiros pais porque era necessário que o homem reconhecesse a
sua desdita e a necessidade de um Deus Salvador. 
No entanto, desde cedo, os homens tiveram conhecimento do
mistério da Encarnação, porque Deus teve a bondade de revelá-lo a
Adão após a condenação no Paraíso. Posteriormente, lembrava-o
sempre pela boca dos Patriarcas e Profetas.
Entre os povos idólatras, havia um conhecimento alterado e
imperfeito a respeito do mistério da Encarnação, que remontava à
tradição primitiva do começo do mundo, expressa pelo Proto-
Evangelho ["Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e
a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu ferirás o calcanhar" (Gn 3,15)].
Observe, por fim, que não se exigiu do povo Judeu
conhecimento e fé explícita dos mistérios em concreto, ou pelo menos
dos principais, o da Trindade e o da Encarnação, como se exige hoje
de todos os homens, porque o mistério da Encarnação não existia no
Antigo Testamento senão em sua figura e promessa, e estava
reservada a Jesus Cristo a missão de revelá-lo conjuntamente com o
da Santíssima Trindade.
PRIVILÉGIOS DA VIRGEM MARIA
À Virgem Santíssima, a quem o Filho de Deus havia escolhido
para ser sua futura Mãe, quando realizasse a obra da sua
Encarnação, desfrutou privilégios especialíssimos, em atenção à sua
maternidade, e o mais precioso foi o da sua Imaculada Conceição.
Por Imaculada Conceição entende-se "o fato de que, em
atenção a que a Santíssima Virgem ter sido a criatura escolhida para
ser mãe do Salvador, por privilégio especial e único em virtude do
qual se lhe aplicaram antecipadamente os méritos da Redenção, foi
preservada da mancha do pecado original em que havia de incorrer
por descender de Adão pecador, por via de geração natural; e não só
foi preservada do pecado, mas também, desde o primeiro instante da
sua concepção, foi enriquecida e adornada com a plenitude dos dons
sobrenaturais da graça” (Definição dogmática da Imaculada
Conceição, Papa Pio IX).
O que há de mais admirável nesse fato, o que sobrepuja a tudo
quanto o homem possa dizer ou imaginar, é o fato de Jesus nascer
de Sua Mãe, sem que daí resultasse a menor lesão da virgindade
materna. Assim, como mais tarde saiu do sepulcro fechado e selado;
assim como entrou para junto de Seus Discípulos, apesar das portas
fechadas; assim como, na observação diária da natureza, vemos os
raios solares atravessarem um vidro compacto, sem o quebrar, e sem
lhe fazer o menor estrago; assim também, e de maneira mais
sublime, nasceu Jesus Cristo do seio de Sua Mãe, sem nenhum dano
para a integridade materna.
Assim, a Mãe de Jesus Cristo foi Virgem antes da concepção,
depois dela, no parto e durante o resto de sua vida. Cumpria-se,
assim, a promessa divina dada pelo profeta Isaías: “Eis que uma
virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará ‘Deus conosco’”
(Is 7, 14). É de fé que Maria Santíssima foi sempre Virgem, e é
chamada a Virgem por excelência.
Deus Pai concedeu à Virgem Maria o privilégio da Imaculada
Conceição porque convinha à santidade e à majestade de Jesus
Cristo que a Virgem destinada a ser sua Mãe não fosse, nem sequer
por um momento, escrava do demônio.
Foi no dia 8 de dezembro de 1854, que o Sumo Pontífice Pio
IX, por uma Bula dogmática, e com o consenso de todo o Episcopado
católico, definiu solenemente, como artigo de fé, a Imaculada
Conceição da Santíssima Virgem.
A ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA
No tempo determinado por Deus, Maria Santíssima foi assunta
ao Céu. Junto com sua alma foi levado ao Céu também o seu corpo.
A Assunção de Nossa Senhora em corpo e alma ao Céu foi
definida pelo Santo Padre Pio XII, em 1º de novembro de 1950.
Declara o Santo Papa: "Cristo com a própria morte venceu a
morte e o pecado, e todo aquele que pelo batismo de novo é gerado,
sobrenaturalmente, pela graça, vence também o pecado e a morte.
Porém Deus, por lei ordinária, só concederá aos justos o pleno efeito
desta vitória sobre a morte, quando chegar o fim dos tempos. Por
esse motivo, os corpos dos justos corrompem-se depois da morte, e
só no último dia se juntarão com a própria alma gloriosa. Mas Deus
quis excetuar dessa lei geral a bem-aventurada virgem Maria. Por um
privilégio inteiramente singular ela venceu o pecado com a sua
concepção imaculada; e por esse motivo não foi sujeita à lei de
permanecer na corrupção do sepulcro, nem teve de esperar a
redenção do corpo até ao fim dos tempos. (...) a imaculada Mãe de
Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi
assunta em corpo e alma à glória celestial” (Constituição Apostólica
Munificentissimus Deus. Definição do dogma da Assunção de Nossa
Senhora em corpo e alma ao céu, Papa Pio XII).
Deus exaltou a Virgem Maria no Céu, colocando-a acima de
todos os coros dos Anjos, e acima de todos os Santos do Paraíso,
como Rainha do Céu e da terra. Ela foi exaltada no Céu acima de
todas as criaturas porque é Mãe de Deus, e é de todas as criaturas a
mais humilde e a mais santa.
Para merecermos a proteção de Maria Santíssima devemos
imitar as suas virtudes, especialmente a pureza e a humildade.
Inclusive, também os pecadores devem confiar muitíssimo no
patrocínio de Maria Santíssima, porque Ela é Mãe de misericórdia, e
refúgio dos pecadores, para lhes alcançar de Deus a graça da
conversão.
A NATUREZA HUMANA DO FILHO DE DEUS
Vendo Jesus Cristo que o gênero humano racional se perdia, e
a corrupção da morte reinava sobre ele; que a ameaça contra a
transgressão conservava toda a força da corrupção contra os
homens, e seria inconveniente fosse a lei de seu Pai abolida antes de
se ter cumprida; vendo ser inadequado fossem destruídas as obras
de seu Pai; vendo a maldade dos homens se tornar excessiva, e
pouco a pouco ir aumentando, contra eles próprios, até se fazer
intolerável; vendo todos os homens sujeitos à morte, Ele teve piedade
de nossa raça e misericórdia de nossa fraqueza; condescendeu com
nossa corrupção e não suportou que a morte dominasse sobre nós, a
fim de não perecer a criatura nem se inutilizar a obra realizada por
seu Pai, em benefício dos homens. Por conseguinte, tomou o Verbo
um corpo igual ao nosso.
No entanto, o Verbo de Deus, na natureza humana, não estava
ligado pelo corpo; ao invés, dominava-o, de sorte que estava no corpo
e em todos os seres, mas era exterior a todos e somente no Pai
repousava. Mais admirável era que vivia como homem; enquanto
Verbo, porém, dava a vida a todos os seres, e, enquanto Filho, estava
junto do Pai. Assim, quando a Virgem o gerou, nada sofreu, nem a
presença num corpo o manchou; ao contrário, também santificou o
corpo. Com efeito, Ele não foi maculado pelo corpo no qual se dava a
conhecer; antes, sendo incorruptível,santificava e purificava o corpo
mortal, pois, "ele não cometeu pecado, mentira nenhuma foi achada
em sua boca" (1Pd 2, 22).
Portanto, Deus, na encarnação, enobreceu com graças e
privilégios a natureza humana de Jesus Cristo. Concedeu-Lhe, na
essência da alma, a graça habitual; nas potências, todas as virtudes,
exceto a fé e a esperança; todos os dons do Espírito Santo e todas as
graças gratis datae, cujo objeto é manifestar ao mundo a verdade
divina, sem excetuar a profecia no que propriamente ela tem do
estado profético. 
Diz-se que Jesus Cristo possui todas as virtudes, exceto a fé e
a esperança, porque estas duas virtudes supõem alguma coisa de
imperfeito, incompatível com a perfeição da alma de Cristo. Esta
imperfeição consiste em que a fé supõe que não se compreende o
que se crê, e a esperança impele para Deus os que O não possuem.
A graça habitual, as virtudes e os dons têm por objeto santificar
a quem os possui e as graças gratis datae, habilitar a quem exerce
junto ao próximo, o ministério do Apostolado. As graças gratis datae
foram catalogados por São Paulo na primeira Epístola aos Coríntios,
12, 8 e ss, a saber: fé, sabedoria, ciência, graça de curar enfermos,
de fazer prodígios, discernimento de espírito, diversidade de idiomas
e interpretação de palavras. 
Na alma de Cristo, a graça habitual tem e terá por toda a
Eternidade o de fazê-la participante da essência divina e, derivando-
se nas potências, fazer que possua os princípios sobrenaturais da
ação, alma das virtudes.
Desta maneira, Jesus Cristo possuía, simultaneamente, todos
os ditos gêneros de graças e no mais alto grau de perfeição, porque a
sua dignidade pessoal era infinita, e era, além disso, o Doutor por
excelência em matéria de fé.
Por outro lado, devido à pena do pecado de nossos primeiros
pais, Jesus Cristo veio ao mundo com alguns defeitos de corpo e de
alma. Eles existiram, ao lado das prerrogativas de ciência, graça e
poder, porque o fim intentado pelo Filho de Deus na Encarnação foi
satisfazer os nossos pecados, aparecer no mundo como um dentre os
homens, reservando todo o seu mérito para a fé, e dar-nos exemplo
com a prática das mais sublimes virtudes de paciência e imolação.
A natureza humana assumida pelo Filho de Deus na
Encarnação tinha como defeitos corporais, as misérias e debilidades
inerentes a toda a natureza humana, tais como a fome, a sede, a
morte, etc.; não, porém, os defeitos conseqüentes a pecados
pessoais, nem os hereditários, nem os acidentalmente contraídos na
concepção.
A natureza humana unida ao Filho de Deus tinha como defeitos
de alma, em primeiro lugar, a possibilidade de experimentar dor
sensível, especialmente a que produziriam as lesões corporais que
havia de padecer no curso de sua paixão; em segundo lugar, o sentir
a contrariedade produzida pelos movimentos interiores da ordem
afetiva sensível e intelectual que supõem sempre um mal iminente,
tais como a tristeza, o temor e a cólera, tendo em vista que esses
movimentos em Cristo nunca estiveram em desacordo com a razão, à
qual estavam em tudo submetidos. 
Com a exceção dessas debilidades, o corpo de Jesus Cristo
era soberanamente formoso e perfeito.
JESUS CRISTO, DEUS E HOMEM AO MESMO TEMPO
Constitui Jesus Cristo um só ser, Deus e homem ao mesmo
tempo, porque uma só é a pessoa que subsiste em ambas as
naturezas, divina e humana. Sendo assim, é perfeito Deus e perfeito
homem. Portanto, podemos dizer que há em Cristo mais de uma
vontade, a vontade divina como Deus; e como homem, a vontade
humana.
Deus se fez homem porque uma pessoa divina, que não era
homem, começou a sê-lo no tempo. A união da natureza humana
com a pessoa do Verbo realizou-se direta e imediatamente, sem
intervenção, nem interposição de alguma coisa criada, porque o fim
da união é a comunicação do ser divino à natureza humana. 
Para formar o corpo e para criar a alma do Filho de Deus,
Jesus Cristo, concorreram as três Pessoas divinas.
Note que o Filho de Deus Encarnado tem corpo, carne, ossos,
membros, sentidos e órgãos, como nós. Além disso, tem como nós
alma dotada de inteligência e vontade com as demais faculdades. 
No entanto, o Filho de Deus, fazendo-se homem, não deixou
de ser Deus, como diz a Sagrada Escritura “quem vê o Filho, vê o
Pai” (Jo 14, 9). Devido a isso é que Maria Santíssima é Mãe de Deus,
porque é Mãe de Jesus Cristo, que é verdadeiro Deus.
Importante anotar que Jesus Cristo não quis apenas estar num
corpo, nem quis somente aparecer. Efetivamente, teria podido, se
quisesse, apenas aparecer, ou realizar a teofania através de um ser
mais poderoso que o homem. Assumiu, no entanto, um corpo como o
nosso e não o fez simplesmente, mas o quis nascido de uma virgem
sem pecado, imaculada, intacta. Era puro (cf. 1Pd 1, 18) o corpo,
inteiramente alheio a qualquer união humana. Sendo poderoso e
demiurgo do universo, na virgem para si edificou (cf. Hb 9, 24) qual
um templo, um corpo. Dele se apropriou, fê-lo um instrumento para se
dar a conhecer e onde habitar.
A certeza de que Jesus é verdadeiro Deus se dá pelo
testemunho do Pai Eterno, quando disse: “Este é O meu Filho muito
amado, no qual tenho posto todas as minhas complacências: ouvi-O”;
pela afirmação do próprio Jesus Cristo, confirmada com os mais
estupendos milagres; pela doutrina dos Apóstolos; e pela tradição
constante da santa Igreja Católica.
Observe que os milagres que Jesus Cristo realizou foram
convenientes e oportunos, pois, com eles, deu provas irrefragáveis de
quem era e de como dava aos homens meios infalíveis para
reconhecê-lo, demonstrando a sua superioridade e Onipotência sobre
os espíritos, os corpos siderais, as enfermidades e misérias humanas
e até sobre os próprios seres irracionais e insensíveis
Muitas seitas propagam que, após Jesus Cristo, ocorreram
outras revelações com o objetivo de substituí-la ou corrigi-la. No
entanto, não há que se esperar mais nenhuma revelação, pois Cristo
é a plenitude de toda a revelação.
A SEGUNDA PESSOA DA SANTÍSSIMA TRINDADE
Santíssima Trindade quer dizer: Deus uno em três Pessoas
realmente distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. Afirma-se que Deus é
um espírito em três Pessoas porque há n’Ele três Pessoas, cada uma
das quais se identifica com Deus, e possui os atributos da divindade.
A primeira Pessoa da Santíssima Trindade é o Pai, isso porque
não procede de outra Pessoa, mas é o princípio das outras duas
Pessoas, isto é, do Filho e do Espírito Santo.
Jesus Cristo é a segunda Pessoa da Santíssima Trindade; Ele
é Deus eterno, todo-poderoso, Criador e Senhor, como o Pai; que se
fez homem para nos salvar. É também chamado de "Emanuel ou
Deus conosco", conforme se lê em Mateus 1, 23: “Eis que a Virgem
conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel (Is 7, 14),
que significa: Deus conosco”.
Chama-se “Filho” a segunda Pessoa porque é gerada pelo Pai
por via de inteligência, desde toda a eternidade; e por este motivo se
chama também Verbo eterno do Pai.
Apesar de nós também sermos filhos de Deus, somente Jesus
Cristo se chama Filho único de Deus Pai porque só Ele é por
natureza seu Filho. Quanto a nós, somos chamados filhos de Deus
porque Ele nos criou à sua imagem e nos conserva e governa com a
sua providência; e porque, por especial benevolência, Ele nos adotou
no Batismo como irmãos de Jesus Cristo e co-herdeiros, juntamente
com Ele, da eterna glória: “A prova de que sois filhos é que Deus
enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba,
Pai! Portanto já não és escravo, mas filho. E, se és filho, então
também herdeiro por Deus.” (Gl 4, 6-7).
Por adoção divina deve-se entender que Deus, por um ato de
infinita bondade, dignou-se admitir as criaturas racionais na
participação dos seus próprios bens, isto é, na glória da bem-
aventurança eterna, pois, não podendo ser os anjos nem os homens
filhos por natureza (já que isto só pertence ao Verbo), enobreceu-os
com o titulo e direitos de filhos adotivos.
O SANTO NATAL
O santo Natal é a festa instituída para celebrar a lembrança do
nascimento temporalde Jesus Cristo.
Devemos descobrir no Nascimento de Cristo, motivos para
grande humildade e gratidão. Cristo humilhou-Se, exclusivamente
para nos fazer filhos de Deus, e para nos levar ao céu. Pela imitação
de Suas virtudes, de Sua pobreza, de Suas humilhações, é que
merecemos a graça de receber a Cristo, e de trazê-lo no próprio
coração.
No santo Natal, para nos conformarmos plenamente com as
intenções da Igreja, devemos fazer quatro coisas: preparar-nos na
vigília, unindo ao jejum um recolhimento maior que o de costume;
purificar-nos por meio de uma boa confissão, e ter um vivo desejo de
receber a Nosso Senhor; assistir, se for possível, na noite precedente,
aos ofícios divinos e às três Missas, meditando no mistério que se
celebra; e, finalmente, empregar este dia, quanto nos for possível, em
obras de piedade cristã.
Referência: O nascimento de Jesus Cristo (Mt 1, 18-25 e Mt 2).
A INFÂNCIA DE JESUS CRISTO
Após terem levado o menino a Jerusalém para apresentá-lo ao
Senhor, voltaram para a Galiléia, à sua cidade de Nazaré:
“E Jesus crescia em estatura, em sabedoria e graça, diante de
Deus e dos homens.”
(Lc 2, 52)
A PURIFICAÇÃO DA VIRGEM MARIA
A lei de Moisés, no Antigo Testamento, obrigava todas as
mulheres a purificar-se depois do nascimento de seus filhos, indo ao
templo, para ali oferecer um sacrifício.
A Santíssima Virgem, apesar de não estar obrigada à lei da
purificação, porque fora mãe por obra e graça do Espírito Santo,
conservando a sua virgindade, sujeitou-se à lei da purificação para
nos dar exemplo de humildade e de obediência à lei de Deus.
Para que fosse feito o ritual da purificação, deveria a mulher
oferecer uma oferta ao templo. Como era pobre, ofereceu no templo o
sacrifício das mães pobres, que era um par de rolas ou dois pombos.
A Santíssima Virgem levou consigo seu filho, Jesus Cristo,
para a cerimônia da purificação. Isso aconteceu porque a lei antiga
obrigava os pais a apresentar a Deus os seus primogênitos, e a
resgatá-los depois, mediante certa quantia de dinheiro.
Essa cerimônia havia sido estabelecida para que o povo se
recordasse sempre de que havia sido libertado da escravidão do
Egito, depois que o Anjo matara todos os primogênitos dos egípcios,
e poupara os dos hebreus.
Importante mencionar que quando Jesus Cristo foi apresentado
no templo, foi reconhecido como verdadeiro Messias por um santo
velho, chamado Simeão, e por uma santa viúva, chamada Ana. 
Simeão havia tido a revelação do Espírito Santo de que não
morreria sem ver primeiro o Ungido do Senhor. Ao avistá-Lo, tomou-o
em seus braços e, dando graças ao Senhor, proferiu o cântico Nunc
dimittis, que significava que morria contente, depois de ter visto o
Salvador: "Deixai ir agora em paz o vosso servo, Senhor, segundo a
vossa palavra, pois os meus olhos viram o Salvador que será a glória
de Israel e a luz das nações”. Predisse também as contradições que
Jesus Cristo devia sofrer, e as penas que com isso havia de sentir
sua Mãe Santíssima. 
A profetisa Ana, uma velha e piedosíssima viúva, louvou ao
Senhor, e deu-Lhe graças por ter mandado o Salvador do mundo, e
falou d’Ele a todos aqueles que esperavam a sua vinda.
A CIRCUNCISÃO DE JESUS CRISTO
A circuncisão foi instituída na lei antiga por Deus para assinalar
aqueles que pertenciam ao povo de Deus, e para distingui-los dos
povos pagãos.
Devido Jesus Cristo ser o Filho de Deus, Autor da lei, não
estava sujeito à lei da circuncisão, feita para os servos de Deus e
para os pecadores. No entanto, não se recusou a sujeitar-se, porque,
tendo tomado sobre Si os nossos pecados, por amor a nós, quis
sofrer as penas devidas a esses pecados, e começar a lavá-los com o
seu Sangue desde os primeiros dias da sua vida.
Assim, no oitavo dia após o nascimento, para obedecer à Lei,
Jesus Cristo foi circuncidado. 
Com a circuncisão, foi-Lhe dado o nome de Jesus, como já
anteriormente o Anjo havia ordenado da parte de Deus à Santíssima
Virgem e a São José.
NÃO EXISTE MISTÉRIO NA INFÂNCIA DE JESUS CRISTO
A missão de Jesus Cristo, como pode ser visto em Is 53, 4-6, é
morrer no lugar dos homens, assumindo seus pecados. Ela terá seu
início após seu batismo, ao atingir a idade de trinta anos. Por esse
motivo, Deus não considerou a infância de Jesus Cristo objeto de
importância para nosso conhecimento, não a colocando nas páginas
do Evangelho.
Não há, em virtude disso, mistério algum na infância de Jesus
Cristo como argumentam muitas falsas doutrinas. O que
precisávamos saber sobre ela nos foi dito em duas passagens:
- a primeira, aparece em Lc 2, 42-49, quando Jesus Cristo
completa doze anos e é levado por seus pais a Jerusalém, para as
festas da Páscoa. Lá Jesus se perde de sua mãe e é encontrado ao
terceiro dia no Templo, sentado entre os Doutores, ouvindo-os e
interrogando-os. Quando sua mãe pergunta sobre seu paradeiro,
ouvimos a primeira declaração de Sua divindade: “E por que me
procuráveis? Não sabíeis que é preciso ocupar-Me das coisas de
meu Pai?”.
- a segunda, acontece logo em seguida, em Lc 2, 51-52,
quando o Evangelho resume toda a história desse período: “Jesus
vivia obediente a Maria e a José, e crescia em idade, sabedoria e
graça diante de Deus e dos homens”.
Sobre a vida do Menino Jesus, o que sabemos pela tradição é
que, durante esse período, Ele viveu a condição da maioria dos
jovens de sua época: uma infância submissa a seus pais e, na
adolescência, uma vida pacata em sua comunidade, com trabalho
manual e participante da religião judaica. Labutava com São José nos
humildes misteres de carpinteiro. Tinha uns dezoito anos quando
morreu São José seu pai adotivo. Veio a ser então o único amparo da
Virgem, sua mãe, e com seu trabalho, proveu as necessidades do
pobre lar. Mesmo em sua vida pública, Jesus Cristo levou uma vida
modesta, simples, e de extrema pobreza.
O importante, a esse respeito, é sabermos que toda a vida de
Jesus Cristo foi digna da sua concepção, nascimento e missão.
Referência: A infância de Jesus Cristo (Lc 2, 39-52).
JOÃO BATISTA ANUNCIA O MESSIAS
Anos depois, São João Batista anuncia a vinda do Salvador do
homem:
“Ora, como o povo estivesse na expectativa, e como todos
perguntassem em seus corações se talvez João fosse o Cristo,
ele tomou a palavra, dizendo a todos: ‘Eu vos batizo na água,
mas eis que vem outro mais poderoso do que eu, a quem não
sou digno de lhe desatar a correia das sandálias; ele vos
batizará no Espírito Santo e no fogo’.”
(Lc 3, 16)
SÃO JOÃO BATISTA
São João Batista, filho de Zacarias e de Isabel, foi mandado
por Deus para anunciar Jesus Cristo aos hebreus, e para prepará-los
para O receberem.
Ele não nasceu em pecado, como os outros homens, porque
foi santificado no seio de sua mãe Santa Isabel, pela presença de
Jesus Cristo e da Santíssima Virgem Maria. Seu nascimento foi santo
e trouxe ao mundo uma santa alegria. Devemos, porém, observar que
a Santíssima Virgem não só nasceu em graça, mas foi concebida em
graça; ao passo que de São João Batista só se pode dizer que foi
santificado antes de nascer.
Foi desejo de Deus que São João Batista fosse conhecido,
desde o seu nascimento, como precursor de Jesus Cristo, com vários
milagres, e principalmente com este: seu pai Zacarias, que perdera a
fala, recuperou-a subitamente, prorrompendo no piedoso cântico
Benedíctus Dóminus Deus Israel, com o qual deu graças a Deus pelo
cumprimento da promessa feita a Abraão, de mandar o Salvador, e se
congratulou por seu próprio filho ser o precursor do Messias.
Desde sua juventude, retirou-se para o deserto, onde passou a
maior parte da sua vida, em uma austeríssima penitência.
Quando chegou o tempo de dar princípio à sua missão, vestido
de pele de camelo e cingido com um cinto de couro, saiu para as
margens do Jordão e começou a pregar e batizar. Ele dizia: “Fazei
penitência, porque está próximo o Reino dos Céus” (Mt 3, 2).
São João Batista morreu degolado por ordem de Herodes
Antipas devido ter repreendido a vida escandalosa deste príncipe. A
desculpa para assassiná-lo aconteceu quandoo rei Herodes, ligado
por temerário juramento, deu à jovem bailarina a cabeça de João
Batista, como prêmio de sua dança.
A São João Batista foi dada a graça de não só anunciar a vinda
do Cristo, como fizeram outros profetas, mas de conversar com ele e
batizá-lo. Foi ele que fez a transferência do Antigo para o Novo
Testamento e é ele que termina o ciclo dos profetas, iniciado por
Elias.
Muito embora tenha inaugurado o Evangelho, dele não
participou. A esse respeito, Jesus Cristo diz que “entre os nascidos de
mulher não há maior que João. Entretanto, o menor no Reino de
Deus é maior do que ele” (Lc 7, 28).
A razão dessas palavras é porque os participantes do Novo
Testamento estão em uma situação mais privilegiada do que aqueles
que viveram no Antigo Testamento e não tiveram a oportunidade de
conhecer a doutrina que Jesus Cristo veio anunciar. Por outro lado,
serão julgados de forma mais dura do que aqueles, como declarou
Nosso Senhor: “Por isso te digo: no dia do juízo, haverá menor rigor
para Sodoma do que para ti!” (Mt 11, 20-24).
O batismo de São João Batista era dirigido para o
arrependimento dos pecados (batismo de conversão), enquanto o de
Jesus Cristo (batismo sacramental, somente após sua morte e
ressurreição) será um renascimento para a graça de Deus.
Referência: O Testemunho de João Batista (Mt 3, 1-12).
O BATISMO DE JESUS CRISTO
Nosso Senhor Jesus Cristo, saindo de Nazaré, dirige-se ao
Jordão a fim de ser batizado por João Batista:
“No dia seguinte, João viu Jesus que vinha a ele e disse: ‘Eis o
Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo’.”
(Jo 1, 29)
O BATISMO DE JESUS CRISTO
O batismo de Jesus Cristo por João Batista, no começo de sua
vida pública, aos trinta anos, marca a inauguração de sua missão na
terra, bem como o início da chegada do Reino de Deus e o momento
em que Ele é manifestado a Israel como seu Messias.
Sua missão consiste em remir o homem, ou seja, perdoar seus
pecados. Essa remissão se efetuará por sua vez mediante o Batismo
que irá promulgar e inaugurar em um futuro próximo.
Logo que João Batista O reconheceu, quis ao princípio
escusar-se, mas dobrou-se à ordem de Cristo e O batizou. Eis que,
apenas Jesus saiu da água, abriram-se os céus, e o Espírito Santo,
sob a forma de uma pomba, desceu sobre Ele, e ouviu-se uma voz
que dizia: “Este é meu Filho muito amado, em Quem pus as minhas
complacências!”.
Dessa forma, no batismo de Cristo se revelaram e
manifestaram as três Pessoas da Santíssima Trindade. Jesus Cristo,
na natureza humana; o Espírito Santo, na forma de pomba; e o Pai,
na voz que se ouviu.
O batismo de Jesus Cristo é batismo de água, administrado em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Todos os homens, sem
exceção, devem recebê-lo, visto que todos são pecadores: por isso,
querendo o divino Redentor dar a entender a sua imprescindível
necessidade, solicitou o batismo de São João, simples figura do seu;
e recebeu-o para santificar a água com o seu contato e dispô-la para
ser a matéria do Sacramento. 
Durante o batismo de Jesus Cristo, declarou-se o seu efeito
quando os céus se abriram, e o Espírito Santo apareceu em figura de
pomba. Observe que o céu também se abre para os homens ao
receberem a água batismal, momento em que a graça é infundida na
alma, isso porque, ao lavar o pecado e indultar-nos da pena devida
por ele, remove o obstáculo que dificultava a entrada no céu. Todavia,
não entram logo na posse da glória, mas em tempo mais oportuno,
quando passarem da condição mortal para a imortalidade.
O CORDEIRO DE DEUS
“João viu Jesus que vinha a ele e disse: ‘Eis o Cordeiro de
Deus, que tira o pecado do mundo’” (Jo 1, 29).
Pela primeira vez, ouve-se no Evangelho a comparação entre o
cordeiro sacrificado que substituiu os filhos dos hebreus no Egito
durante a última praga e Jesus Cristo, que seria o cordeiro sem
mácula, colocado no lugar dos homens em sacrifício por todos os
seus pecados.
O SACRAMENTO DO BATISMO
O Batismo é o sacramento através do qual renascemos para a
graça de Deus, e nos tornamos cristãos. Ele nos confere a primeira
graça santificante, que apaga o pecado original e também o atual, se
o há; perdoa toda a pena por eles devida; imprime o caráter de
cristão; faz-nos filhos de Deus, membros da Igreja e herdeiros do
Paraíso, e torna-nos capazes de receber os outros Sacramentos. É,
pois, das fontes batismais que sairá o povo da nova e eterna aliança.
Dessa forma, o sacramento do batismo incorpora o homem a
Cristo, fazendo-o participante dos frutos da sua paixão; lava na alma
até a última sombra do pecado e exime da obrigação de satisfazer a
pena devida por todos os pecados anteriormente cometidos; tem
poder para suprimir todas as penalidades e misérias desta vida;
porém, Deus suspende este último efeito até ao dia da ressurreição,
para que o cristão se assemelhe a Jesus Cristo, encontre
oportunidade de entesourar merecimentos e dê provas de que não o
recebe para procurar comodidades na vida presente, e sim para
conquistar a glória da vida futura.
Quem recebe o Batismo renuncia para sempre ao demônio, às
suas obras e aos pecados do mundo; e fica obrigado a professar
sempre a fé e a observar a lei de Jesus Cristo e da sua Igreja.
A respeito dos pecados e das máximas do mundo, contrárias
ao Santo Evangelho, nos orienta Nosso Senhor: "Não ameis o mundo
nem as coisas do mundo. Se alguém ama o mundo, não está nele o
amor do Pai. Porque tudo o que há no mundo - a concupiscência da
carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida - não procede
do Pai, mas do mundo. O mundo passa com as suas
concupiscências, mas quem cumpre a vontade de Deus permanece
eternamente." (Jo 2, 15-17).
O Batismo é absolutamente necessário para a salvação porque
Cristo disse expressamente: “Quem não renascer na água e no
Espírito Santo, não poderá entrar no reino dos céus”, ou seja, se
alguém, podendo não o recebe, é impossível que se salve.
Apesar dessa grande graça, a recepção do Batismo não nos
livra dos sofrimentos nesta existência mortal. Isso acontece porque
Jesus Cristo ao assumir a fragilidade da natureza humana, dela não
se despojou antes de sofrer os tormentos da Paixão e a própria
morte; somente depois é que ressurgiu para a glória de uma vida
imortal. Não é, pois, de admirar que os fiéis, não obstante a
justificação pela graça do Batismo, continuem num corpo fraco e
mortal, pois terão de sofrer muitas provações por amor a Cristo, de
passar pela morte e de ressurgir para uma vida nova, antes de serem
dignos, afinal, de desfrutar com Ele a eterna bem-aventurança. 
Portanto, depois do Batismo, remanesce em nós a fraqueza
física, a doença, o sentido da dor e o ímpeto da concupiscência, e
isso acontece para que nos sirvam de campo e sementeira de
virtudes, donde poderemos colher maiores frutos de glória e prêmios
mais abundantes.
O sacramento do Batismo não pode ser administrado mais de
uma vez à mesma pessoa porque ele imprime na alma caráter
indelével. Esta é também a doutrina do Apóstolo Paulo, que declarou:
“Um é o Senhor, uma é a fé, um é o Batismo” (Ef 4, 5).
No ato do Batismo, Deus nos adorna com a graça santificante,
e na mesma hora, infunde-nos na alma as virtudes teologais, quais
sejam: a Fé, a Esperança e a Caridade. Atente para o fato de que,
para o cristão se salvar, não basta ter recebido no Batismo as
virtudes teologais; mas é necessário fazer freqüentemente atos
destas virtudes.
Finalmente, é possível afirmar que os que receberam o
Sacramento do Batismo são como que a continuação de Jesus Cristo
que, neles como membros, vive e prolonga a série de triunfos e
merecimentos que conquistou quando vivia na terra. Por conta disso,
devem ter o cuidado de não manchar a sua vida com atos indignos da
própria pessoa de Jesus Cristo.
PECULIARIDADES DO SACRAMENTO DO BATISMO
Para receber o santo Batismo é preciso que os adultos tenham
a intenção de recebê-lo, pois sem ela o sacramento é nulo. Além da
reta intenção, é necessária a fé para receber a graça do sacramento,
mas não para receber o sacramento ou o caráter.Por isso, é que é
lícito batizar as crianças, posto que não podem ter nem fé, nem
intenção. Por eles, quem tem fé e intenção são os que em seus
nomes pedem o batismo, ou, na falta destes, a Igreja. 
Caso o adulto o receba sem as devidas disposições, só recebe
o caráter sacramental, porém, como este é indelével, serve-lhe para
que o batismo produza efeitos íntegros, desde o momento em que
remova os obstáculos e se disponha convenientemente.
Cabe também mencionar que quando um adulto for batizado,
este deve ter, além da fé, a dor, pelo menos imperfeita, dos pecados
mortais que tivesse cometido. Caso se batize, em pecado mortal, sem
esta dor, receberia o caráter do Batismo, mas não a remissão dos
pecados, nem a graça santificante; e estes efeitos ficariam
suspensos, enquanto não fosse removido o impedimento pela dor
perfeita dos pecados ou pelo Sacramento da Penitência.
Portanto, é possível receber o batismo em pecado mortal, quer
se restrinja ao pecado original, quer a outros que acompanhem os
que chegaram ao uso da razão, e é por isto que se chama
Sacramento de Mortos, visto como não supõe a alma na posse da
graça, como os chamados sacramentos de vivos, mas tem por objeto
infundi-la. Contudo, quando o batizado é adulto com pecados
pessoais graves, está obrigado a arrepender-se convenientemente
deles para alcançar o fruto do sacramento.
Lembre-se que na alma das crianças o sacramento também
produz os efeitos da graça e das virtudes, ainda que em estado
habitual e latente, como germe que aguarda tempo oportuno para
desenvolver-se e produzir frutos.
É fundamental que as crianças sejam levadas à Igreja para
serem batizadas o mais cedo possível. Isso porque elas, pela sua
tenra idade, estão expostas a muitos perigos de morte, e não podem
salvar-se sem o Batismo. Caso seus pais, por negligência, deixam
morrer os filhos sem Batismo, pecam gravemente, porque os privam
da vida eterna; e pecam também gravemente, demorando muito
tempo o Batismo, porque os expõem ao perigo de morrer sem o
terem recebido.
Não podem, no entanto, ser batizados contra a vontade de
seus pais e antes do uso da razão, os filhos dos infiéis e dos judeus
e, em geral, daqueles que de nenhum modo estão sujeitos à
autoridade da Igreja, pois fazê-lo é pecar contra o direito natural, já
que a mesma natureza concedeu aos pais o direito de tutela sobre os
seus filhos até à idade em que livremente podem dispor de si
mesmos. Se, contravindo esta lei, fosse algum batizado, o batismo
seria válido e a Igreja adquire sobre o menino direitos preferenciais,
visto que são da ordem sobrenatural fundados no batismo.
Também não se pode, mesmo em perigo de morte, batizar uma
criança no seio materno, porque, antes de desprender-se da mãe e
sair à luz, não pode ser considerado como um membro mais da
sociedade, nem esta tem ação sobre ele para administrar-lhe os
sacramentos; deve-se, em tais casos, confiá-lo inteiramente aos
imperscrutáveis juízos de Deus.
Os meninos que morrem antes do batismo não podem se
salvar, visto como Deus não estabeleceu no mundo outro meio de
agregar-se ao corpo místico de Jesus Cristo e de receber a sua
graça, sem a qual nenhum homem pode salvar-se.
Os loucos e os idiotas, se nunca tiveram uso da razão, podem
receber o batismo da mesma sorte que os meninos; porém, se
alguma vez tiveram uso da razão só podem batizar-se quando, em
estado de lucidez, hajam manifestado desejos de receber este
sacramento.
Quando ocorre o Batismo, impõe-se o nome de um Santo, para
o pôr sob a especial proteção de um padroeiro celeste, e para o
animar a imitar-lhe os exemplos.
A Igreja, seguindo uma tradição antiquíssima, fundada na
necessidade que tem o recém batizado de alguém com o encargo e
oficio de instruí-lo em seus deveres religiosos e animá-lo no
cumprimento das obrigações contraídas, ordena que o neófito tenha
padrinhos. Os padrinhos e as madrinhas do Batismo são aquelas
pessoas que por disposição da Igreja seguram as crianças junto à pia
batismal, respondem por elas, e ficam responsáveis, diante de Deus,
pela educação cristã das mesmas, especialmente se vierem a faltar
os pais. Eles contraem um parentesco espiritual com o batizado, e
este parentesco origina impedimento de matrimônio com o mesmo.
Portanto, o cargo de padrinho ou madrinha é oficio grave e de
responsabilidade e não fórmula de mero expediente, pois que lhes
incumbe a obrigação rigorosa de procurar, por todos os meios, que os
seus afilhados se mantenham sempre fiéis ao prometido e jurado no
batismo.
Tão importante é a figura do padrinho e da madrinha que os
batizados são obrigados a cumprir as promessas e renúncias que por
nós fizeram, porque Deus, só mediante estas condições, nos recebeu
na sua graça. 
A matéria do Batismo é a água natural, que se derrama sobre a
cabeça do que é batizado, de maneira que escorra. Sua forma é esta:
Eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Através
dessa forma, observa-se que no Sacramento do Batismo, operam
juntamente todas as Pessoas da Santíssima Trindade, e não somente
a Pessoa do Filho. Além disso, se diz 'em nome' e não 'nos nomes',
para indicar que é uma e una a natureza e divindade na Santíssima
Trindade. O termo ‘nome’ não se refere aqui às Pessoas, mas
designa a substância, virtude e onipotência divina, que é uma e a
mesma nas três Pessoas.
Finalmente, é preciso saber que, por direito, aos Bispos e aos
párocos é a quem compete Batizar, mas, em caso de necessidade,
qualquer pessoa pode batizar, seja homem ou seja mulher, e até um
herege ou um infiel, contanto que realize com exatidão o rito e
tenham intenção de fazer o que faz a Igreja Católica quando o
administra.
A CONFIRMAÇÃO OU CRISMA
A Confirmação, ou Crisma, é um Sacramento que nos dá o
Espírito Santo, imprime na nossa alma o caráter de soldados de
Cristo, e nos faz perfeitos cristãos, confirmando-nos na fé, e
aperfeiçoando em nós as outras virtudes e os dons recebidos no
santo Batismo.
Sendo assim, o Sacramento da Crisma nos confere o mesmo
Espírito, e nos dá as mesmas forças (como aos Apóstolos), para que
possamos resistir valorosamente à carne, ao mundo e ao demônio,
nossos inimigos declarados.
A origem da denominação 'Confirmação' está no fato de que
Deus, pela virtude do Sacramento, confirma em nós o que começou a
operar no Batismo, conduzindo-nos a uma sólida perfeição da vida
cristã.
Para recebê-la é necessário estar em estado de graça, saber
os mistérios principais da nossa santa Fé, e aproximar-se deste
Sacramento com reverência e devoção. Não se deve, no entanto,
recebê-lo uma segunda vez porque cometeria um sacrilégio, porque a
Confirmação é um daqueles Sacramentos que imprimem caráter na
alma e que portanto só se podem receber uma vez.
Para conservar a graça recebida na Confirmação, o cristão
deve orar freqüentemente, fazer boas obras, e viver segundo a lei de
Jesus Cristo, sem respeito humano.
A matéria do Sacramento da Confirmação, além da imposição
das mãos do Bispo, é a unção feita na fronte da pessoa batizada,
com o santo Crisma; por isso, este Sacramento se chama também
Crisma, que significa Unção.
O nome Crisma veio de uma palavra tirada do grego, que os
escritores profanos empregam para designar qualquer espécie de
óleo para ungir. Por tradição geral, os escritores eclesiásticos
adaptaram-lhe o sentido de só indicar o unguento composto de azeite
doce e bálsamo, e que o Bispo consagra com rito solene.
Dá-se o nome de Crisma ao óleo de oliveira misturado com
bálsamo, e consagrado pelo Bispo na Quinta-Feira Santa. O óleo
significa a abundância da graça que se difunde na alma do cristão
para o confirmar na fé; e o bálsamo, que é aromático e preserva da
corrupção, significa que o cristão fortificado por esta graça é capaz de
difundir o bom aroma das virtudes cristãs, e de preservar-se da
corrupção dos vícios.
No Sacramento da Confirmação, o ministro ordinário é só o
Bispo. Ele faz a unção na fronte e diz: "Eu te assinalo com o sinal da
Cruz, e te confirmo com o Crisma da salvação, em nome do Pai e do
Filho e do EspíritoSanto.". A unção na fronte dá-se devido ser onde
aparecem os sinais do temor e da vergonha, a fim de que o crismado
entenda que não deve envergonhar-se do nome e da profissão de
cristão, nem ter medo dos inimigos da fé.
A idade ideal para se receber o Sacramento da Confirmação é
a de sete anos, pouco mais ou menos, porque então costumam
começar as tentações e já se pode conhecer bastante a graça deste
Sacramento, e conservar-se a lembrança de tê-lo recebido.
Aqueles que se crismam em idade adulta para receberem a
graça e os dons deste Sacramento, devem não só apresentar-se com
fé e devoção, mas também arrepender-se, cordialmente, de todos os
pecados mais graves que tiverem cometido.
O padrinho de Crisma contrai parentesco espiritual com o
crismado, no entanto, ao contrário do Batismo, este parentesco não é
impedimento para o matrimônio.
Referência: O Batismo de Jesus Cristo (Mt 3, 13-17).
A TENTAÇÃO NO DESERTO
Cheio do Espírito Santo, Jesus Cristo voltou do Jordão e foi
levado pelo Espírito ao deserto, onde foi tentado pelo demônio
durante quarenta dias:
“Durante este tempo ele nada comeu e, terminados estes dias,
teve fome.
Disse-lhe então o demônio: ‘Se és o Filho de Deus, ordena a
esta pedra que se torne pão’.
Jesus respondeu: ‘Está escrito: Não só de pão vive o homem,
mas de toda a palavra de Deus’ (Deut 8,3).
O demônio mostrou-lhe em um só momento todos os reinos da
terra, e disse-lhe: ‘Eu te darei todo este poder e a glória desses
reinos se te prostrares diante de mim’.
Jesus disse-lhe: ‘Está escrito: Adorarás o Senhor, teu Deus, e a
ele só servirás’ (Deut 6,13).
O demônio levou-o ainda a Jerusalém, ao ponto mais alto do
templo, e disse-lhe: ‘Se és o Filho de Deus, lança-te daqui
abaixo; porque está escrito: Ordenou aos seus anjos que te
sustivessem em suas mãos, para não ferires o teu pé nalguma
pedra’ (Sal 90,11s).
Jesus disse: ‘Foi dito: Não tentarás o Senhor, teu Deus’ (Deut 6,
16).
Depois de tê-lo assim tentado de todos os modos, o demônio
apartou-se dele até outra ocasião.”
(Luc 4, 1-13)
A TENTAÇÃO NO DESERTO
Jesus Cristo veio ao mundo como um novo Adão, porém com a
missão de restaurar o que os homens perderam. Assim como
aconteceu com Adão, o demônio veio tentá-Lo.
Observe que, apesar da tentação do demônio, Jesus Cristo
não podia fazer o mal, porque poder fazer o mal é defeito, e não
perfeição da liberdade. Sendo assim, o Verbo Encarnado teve e tem
livre arbítrio, em grau excelente e perfeitíssimo, apesar do que, de
maneira alguma, pode pecar, porque a sua vontade deliberada esteve
sempre de acordo com a divina.
Portanto, nenhuma possibilidade existia de Jesus Cristo cair
nas tentações do demônio. Deixou-se, no entanto, ser tentado pelo
demônio para ensinar-nos a maneira como devemos resistir aos
assaltos do inimigo, e para subjugar com a sua vitória a audácia do
demônio, ensoberbecido com a derrota que fez sofrer aos nossos
primeiros pais no Paraíso.
Em verdade, a vitória de Jesus Cristo sobre o tentador, além de
antecipar o triunfo da sua Paixão, marco de sua total obediência à
vontade divina, deu-nos a graça de também podermos resistir, já que
venceu o tentador por nós.
Três foram às tentações que Jesus Cristo venceu no deserto: a
da Desconfiança, a da Ambição e do Poder. Elas tinham como
finalidade principal questionar a atitude de fidelidade de Jesus Cristo
ao plano salvífico de Deus.
NÃO TENTARÁS O SENHOR, TEU DEUS
“Tentar a Deus” é o pecado que contra a virtude da religião
cometem os que, sem respeito pela Majestade divina, pedem e
exigem a intervenção de Deus, como pondo à prova a sua
onipotência, ou a esperam em circunstâncias em que Deus não
poderia intervir, sem negar-se a si mesmo.
Sendo assim, o homem tenta a Deus quando confia em Seu
auxílio, sem por de sua parte o que pode e deve fazer.
A QUARESMA
Da mesma forma que a Igreja promove o “tempo do Advento”
antes do Natal, ela realiza o “tempo da Quaresma” antes da Páscoa
(festa comemorativa da Ressurreição de Jesus). No primeiro, procura
despertar no homem a necessidade pela segunda vinda do salvador e
no segundo, deseja associar o homem ao mistério de Jesus Cristo no
deserto, preparando-o, por meio da penitência, para celebrar a festa
de Páscoa.
A Quaresma é um tempo de jejum e de penitência, instituído
pela Igreja por tradição apostólica. Ela foi instituída para nos fazer
conhecer a obrigação que temos de fazer penitência em todo o tempo
da nossa vida. Segundo os Santos Padres, a Quaresma é figura para
imitarmos, de algum modo, o rigoroso jejum de quarenta dias que
Jesus Cristo fez no deserto.
Ela dura quarenta dias e vai da quarta-feira de cinzas até o
domingo da Páscoa. Nela, Jesus Cristo convida o homem a fortificar-
se na oração, no jejum e na penitência para vencer, com Ele, as
tentações do demônio.
A Igreja, no princípio da Quaresma, impõe as cinzas na cabeça
dos fiéis a fim de que nós, lembrando-nos de que somos feitos de pó,
e de que após a morte nos havemos de reduzir a pó, nos humilhemos
e façamos penitência dos nossos pecados, enquanto temos tempo.
Para passar bem a Quaresma, segundo o espírito da Igreja,
devemos: observar exatamente o jejum e mortificar-nos não só nas
coisas ilícitas e perigosas, mas ainda, quanto pudermos, nas coisas
lícitas, como seria moderar-nos nas recreações; fazer orações,
esmolas e outras obras de caridade cristã para com o próximo, mais
do que em qualquer outro tempo; ouvir a palavra de Deus, não por
mero costume ou curiosidade, mas com o desejo de pôr em prática as
verdades que ouvirmos; ter grande cuidado em nos prepararmos para
a confissão, para tornar mais meritório o jejum, e para nos dispormos
melhor para a Comunhão pascal.
JEJUM E ABSTINÊNCIA
É importante compreender a necessidade de se considerar os
que são atingidos por nossos pecados e que precisam de toda
satisfação. Ora, os atingidos são: Deus, o próximo, e nós mesmos.
Assim, pela oração aplacamos a Deus; pela esmola, damos
satisfação ao próximo; pelo jejum, infligimos castigo a nós mesmos.
O jejum tem o objetivo de nos dispor melhor para a oração,
para fazer penitência dos pecados cometidos, e para nos preservar
de cometer outros novos.
A Santa Madre Igreja nos manda jejuar e abster-se de carne na
Quarta-Feira de Cinzas e na Sexta-Feira Santa; e que nos
abstenhamos de carne em todas as sextas-feiras do ano, em honra
da Paixão de Jesus Cristo.
O jejum consiste em tomar uma só refeição, durante o dia, e
em não comer coisas proibidas. Entretanto, a Igreja permite uma
pequena parva pela manhã, e uma ligeira refeição à noite, ou, então,
cerca do meio-dia, quando se deixa para a tarde a refeição maior. O
que ela nos proíbe é tornar uma só refeição plena, podendo fazer
duas outras pequenas, uma pela manhã e outra à tarde, que evite
grave dano, como, por exemplo, uma forte dor de cabeça. Nos dias
de abstinência, proíbe o uso da carne e do caldo de carne.
Todos os cristãos são obrigados a jejuar, desde os vinte e um
anos completos até aos sessenta começados, se não estão
dispensados ou escusados por legitimo impedimento. A abstinência
começa a obrigar aos catorze anos.
No entanto, mesmo os que não estão obrigados a jejuar, nem
por isso estão dispensados de toda a mortificação, porque todos
temos obrigação de fazer penitência.
Referência: A tentação de Jesus Cristo no deserto (Mt 4, 1-
11).
A ESCOLHA DOS APÓSTOLOS
Deixando o Jordão, dirigi-se Jesus Cristo para a Galiléia, a uma
cidade chamada Cafarnaum, à margem do lago. Nesse local, começa
sua missão de preparar e construir sua Igreja. Passa a pregar a
palavra de Deus e a escolher homens para segui-Lo:
“Jesus passando ao longo do mar da Galiléia, viu Simão e
André, seu irmão, que lançavam as redes ao mar, pois eram
pescadores.
Jesus disse-lhes: ‘Vinde após mim, Eu vos farei pescadores de
homens’. Eles, no mesmo instante, deixaram as redes e
seguiram-no’.”
(Mc 1, 16-18)
O REINO DE DEUS
Podemos analisar o reino de Deus sob dois aspectos. Em
sentido estrito e geral.
Em sentido estrito, o reino de Deus quer dizer a soberaniade
Deus sobre todos os homens e todas as coisas, como também a
providência pela qual Ele governa e acomoda todas as coisas.
Em um sentido mais geral, porém, entende-se por reino de
Deus um tríplice reino espiritual, a saber: o reino de Deus em nós, ou
o reino da graça; o reino de Deus na terra, isto é, a Santa Igreja
Católica; e o reino de Deus nos céus, ou o Paraíso.
O reino de Deus em nós ocorre pelas virtudes íntimas do
coração, pela fé, esperança e caridade. Essas virtudes nos
constituem, por assim dizer, partes integrantes de Seu Reino. Por
isso, à semelhança do que dizia o Apóstolo, podemos dizer: “Vivo,
mas não eu propriamente, Cristo é quem vive em mim." (Gl 2, 20).
O reino de Deus na terra, que é a Santa Igreja Católica,
certamente, não é obra dos homens, como assegura o Profeta: "Foi o
próprio Altíssimo quem a fundou" (Sl 86, 5). Deus a edificou sobre
uma rocha inabalável, Pedro, o Príncipe dos Apóstolos: "E eu te
declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as
portas do inferno não prevalecerão contra ela." (Mt 16, 18). Seu
governo é dirigido pela virtude e assistência do Espírito Santo.
O reino de Deus nos céus é apresentado por Cristo Nosso
Senhor no Evangelho de São Mateus: "Vinde, benditos de Meu Pai,
tomai posse do Reino que vos está preparado desde o principio do
mundo" (Mt 25, 34). Pela narração de São Lucas, era a posse desse
Reino que o ladrão pedia a Cristo para entrar: “Senhor, lembrai-vos
de mim, quando chegardes ao Vosso Reino” (Lc 23, 42). Da mesma
forma, São João menciona igualmente este Reino: “Quem não nascer
da água e do Espírito Santo, não pode entrar no Reino de Deus” (Jo
3, 5). Por fim, o Profeta Isaías e o Apóstolo Paulo ensinam o
incomparável valor do Paraíso: “Nunca os olhos viram, nem os
ouvidos escutaram, nem no coração do homem jamais penetrou, o
que Deus tem preparado para aqueles que O amam”. (Is 64, 4; I Cor
2, 9).
Observe, todavia, que antes de se obter o Reino de Deus nos
céus é preciso estabelecer primeiro o Reino da graça, pois não é
possível que no homem reine a Glória de Deus, se antes não reinar
nele a graça divina.
OS DOZE APÓSTOLOS
Para formar a igreja primitiva foram escolhidos homens
considerados sem valor para a sociedade da época, mas que,
transformados pelo Espírito Santo, ajudaram a consolidar o projeto
divino.
Cristo Nosso Senhor escolheu doze apóstolos, representando
as doze tribos de Israel. Eles foram escolhidos para serem
testemunhas da sua pregação e dos seus milagres, depositários da
sua doutrina, investidos da sua autoridade e encarregados de
anunciar o Evangelho a todos os povos. Apesar de bem próximos a
Cristo, não receberam tratamento diferente do que foi dispensado aos
profetas, desde os do Antigo Testamento até o mais recente, João
Batista. Seus ministérios foram marcados de perseguições e morte.
O resultado da pregação dos Apóstolos foi a destruição da
idolatria e o estabelecimento da Religião cristã.
Entre os Apóstolos, dois se destacam: São Pedro e São Paulo,
chamados de príncipes dos Apóstolos. Isso se deu porque São Pedro
foi especialmente escolhido por Jesus Cristo para Chefe dos
Apóstolos e de toda a Igreja, e São Paulo trabalhou mais que todos
os outros na pregação do Evangelho e na conversão dos gentios.
Jesus Cristo governou a Igreja, inicialmente, através de Pedro
e dos demais apóstolos. Depois, por meio de seus sucessores,
através da Ordem Sacerdotal. Seu objetivo foi dotar a sua Igreja de
uma estrutura hierárquica que permanecesse até a plena
consumação do Reino. Com efeito, na santa Igreja há um só que
dirige e governa. Invisivelmente, é Cristo a quem o Eterno Pai
constituiu "cabeça de toda a Igreja, que é Seu corpo" (Ef 1, 22-23);
visivelmente, porém, é aquele que ocupa a cátedra de Roma, como
legítimo sucessor de São Pedro, o Príncipe dos Apóstolos.
A Ordem Sacerdotal foi instituída por Jesus Cristo em dois
momentos: na Última Ceia, quando conferiu aos Apóstolos e aos seus
sucessores o poder de consagrar a Santíssima Eucaristia; e no dia da
sua ressurreição, quando conferiu aos mesmos o poder de perdoar e
de reter os pecados. Por meio desses atos, os apóstolos foram
constituídos os primeiros Sacerdotes da Nova Lei em toda a plenitude
do seu poder.
O Sacerdócio católico é imprescindível na Igreja, porque sem
ele os fiéis estariam privados do Santo Sacrifício da Missa e da maior
parte dos Sacramentos; não teriam quem os instruísse na fé, e
ficariam como ovelhas sem pastor à mercê dos lobos; em suma, não
existiria a Igreja como Cristo a instituiu. Por conta disso, não obstante
a guerra que contra ela move o Inferno, há de durar até o fim dos
séculos, porque Jesus Cristo prometeu que as potências do Inferno
não prevaleceriam jamais contra a sua Igreja. 
Devido a importância que os Sacerdotes têm para o projeto de
Deus, é pecado gravíssimo desprezá-los, porque o desprezo e as
injúrias que se dirigem contra os Sacerdotes recaem sobre o próprio
Jesus Cristo, que disse aos seus Apóstolos: Quem a vós despreza, a
Mim despreza.
Para formar o grupo dos doze apóstolos, foram escolhidos
“homens” e, da mesma forma, esses fizeram para escolher seus
colaboradores e sucessores. A Igreja, escolhendo somente homens
para pastorear seu rebanho, está, na realidade, tornando presente e
atualizando a escolha do próprio Cristo até sua volta. Isso não
significa que as mulheres estão excluídas da Igreja. Infinitas são as
maneiras com que elas podem servir e seguir a Nosso Senhor,
objetivo maior do cristão.
Outro fato importante de se comentar é que foi seguindo o
conselho de São Paulo, em 1 Cor 7, 32-35, que a Igreja adotou o
Celibato aos que decidiram se entregar com amor radical ao serviço
do Reino: “Quisera ver-vos livres de toda preocupação. O solteiro
cuida das coisas que são do Senhor, de como agradar ao Senhor. O
casado preocupa-se com as coisas do mundo, procurando agradar à
sua esposa.”
Referência: O início da pregação e os Apóstolos (Mt 4, 12-25).
AS BODAS EM CANÁ DA GALILÉIA
Poucos dias depois, celebravam-se bodas em Caná da Galiléia
e Jesus e sua mãe achavam-se ali. A certa altura da festa faltou vinho
e Maria Santíssima foi interceder junto a Jesus Cristo pelos anfitriões:
“Três dias depois, celebravam-se bodas em Caná da Galiléia, e
achava-se ali a mãe de Jesus.
Como viesse a faltar vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: ‘Eles já
não têm vinho’.
Respondeu-lhe Jesus: ‘Mulher, isso compete a nós? Minha
hora ainda não chegou’.
Disse, então, sua mãe aos serventes: ‘Fazei o que ele vos
disser’.
(Jo 2, 1-12)
A INTERCESSÃO DA SANTÍSSIMA VIRGEM
Pelos planos de Deus Pai aquela não era a época de Jesus
Cristo começar a operar milagres, mas demonstrando ser um filho
obediente, decide atender ao pedido de Maria Santíssima. Essa
atitude de Jesus nos revela o grande prestígio que a Virgem Maria
tem perante Ele.
Ora, sabemos que Jesus Cristo é o nosso mediador junto de
Deus porque sendo verdadeiro Deus e verdadeiro homem, só Ele, em
virtude dos próprios merecimentos, nos reconciliou com Deus e dEle
nos obtém todas as graças.
Podemos, no entanto, recorrer também à intercessão da
Santíssima Virgem em virtude dos merecimentos de Jesus Cristo, e
pela caridade que a une a Deus e a nós, auxilia-nos com a sua
intercessão a nos reconciliar com Deus, e nos alcançar as graças de
que precisamos nesta vida terrena e na outra eterna.
A razão de Maria Santíssima ter recorrido ao seu filho, nas
Bodas de Caná, é porque sabia que Ele tinha o poder de mudar água
em vinho. Isso porque, depois da Anunciação, ela passou a ter o
conhecimento de que Jesus era o Filho de Deus, consubstancial ao
Pai, o Messias anunciado. Atendendo a seu pedido, Jesus Cristo
antecipa a hora e faz Seu primeiro milagre.
Importante lembrar, neste momento, que os milagres de Jesus
Cristo não foram feitos à revelia, mas tiveram um propósito definido:
servir como prova da sua missão divina, ou seja, para abonar sua
missão, sua doutrina e sua Religião. Sendo assim, os realizou para
testemunhar o seu domínio soberano sobre o inferno,sobre os
elementos, sobre as doenças e sobre a morte. Quando os realizava
por sua própria autoridade, ele provava que não é somente o enviado
de Deus, senão Deus como seu Pai. 
A multiplicação dos pães, por exemplo, aconteceu como
prelúdio e figura de outro milagre muito mais espantoso: a instituição
da Eucaristia. Em véspera da sua morte, por ocasião da última ceia,
Jesus tomou o pão, o benzeu e o mudou em sua carne. Da mesma
forma, mudou o vinho do cálice em seu sangue. A transformação
maravilhosa operada por Nosso Senhor perpetua o Sacrifício cruento
da Cruz através dos séculos. 
Diferentemente dos milagres que os judeus esperavam, com
grandes catástrofes vindas contra os inimigos de Israel, os milagres
de Jesus Cristo foram praticados em sua maioria sobre os próprios
homens, para curar suas enfermidades. Por conta disso, em seus
milagres tem maior destaque o papel que cabe a bondade do que o
papel relativo ao poder. 
Até então, ninguém tinha feito tão assombrosos milagres e em
tão avultado número; Ele, todavia, promete que os seus discípulos
farão em seu nome coisas mais maravilhosas, o que prova como é
fecunda, inesgotável, a virtude que traz no seu ser. 
A INTERCESSÃO DOS SANTOS
É preciso esclarecer que antes de tudo, devemos orar a Deus,
e invocar o Seu Nome. Isto é algo que naturalmente está gravado no
coração do homem. Não se trata somente de uma norma dada pela
Sagrada Escritura, enquanto nos inculca aos ouvidos a ordem
expressa de Deus: "Invocai-Me no dia da tribulação" (Sl 49, 15). Pelo
Nome de Deus, é claro, subentendemos as três Pessoas Divinas.
Em segundo lugar, podemos e devemos recorrer ao valimento
dos Santos que estão nos céus. Não é proibido honrar e invocar os
Anjos e os Santos, e até o devemos fazer, porque é coisa boa e útil,
já que eles são amigos de Deus e nossos intercessores junto dEle.
A obrigação de invocá-los é doutrina tão assente na Igreja de
Deus, que os bons cristãos dela não poderão duvidar em hipótese
alguma.
Deve-se ter em mente, entretanto, que a Deus e aos Santos,
não os invocamos da mesma maneira. Pois a Deus pedimos que Ele
mesmo nos conceda favores ou nos livre de males. Aos Santos
suplicamos que advoguem a nossa causa, e nos alcancem de Deus
tudo quanto necessitamos. Por isso, empregamos duas fórmulas
distintas de oração. A Deus dizemos: “Tende compaixão de nós!
Ouvi-nos!” Aos Santos, porém: “Rogai por nós!”.
Sendo assim, podemos rogar aos Santos que se compadeçam
de nossas angústias, e nos, valham junto a Deus, com a sua amizade
e intercessão. Neste particular, o que muito importa a todos é não
atribuirmos a nenhum Santo o que só a Deus compete.
Aos bem-aventurados chegam as orações que se lhes dirigem,
e esses estão sempre dispostos a atender as orações e prover às
necessidades, interpondo a sua valiosa influência junto de Deus.
No entanto, nem sempre experimentamos os efeitos da sua
intercessão, porque no Céu se julga das coisas com critério divino, e
pode suceder que não se ache que o pedido feito esteja conforme o
plano da providência.
Alguns alegam que a intercessão dos Santos é supérflua
porque Deus não precisa de medianeiro para atender as nossas
orações. Estas ímpias asserções se rebatem facilmente na Sagrada
Escritura. Entre as diversas passagens, temos o exemplo de
Abimelec, onde Deus perdoou-lhe o pecado, mas só depois que
Abraão intercedeu por ele: "Abraão intercedeu junto de Deus, que
curou Abimelec, sua mulher e suas servas, e deram novamente à luz.
Porque o Senhor tinha ferido de esterilidade todas as mulheres da
casa de Abimelec, por causa de Sara, mulher de Abraão." (Gn 20, 17-
18). Temos também, como exemplo, o caso do Apóstolo Paulo que
nunca cairia no erro de desejar, com tanta insistência, que seus
irmãos, “ainda vivos”, o auxiliassem com orações diante de Deus:
"Rogo-vos, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo e em
nome da caridade que é dada pelo Espírito, combatei comigo,
dirigindo vossas orações a Deus por mim para que eu escape dos
infiéis que estão na Judéia." (Rm 15, 30); e "se nos ajudardes
também vós com orações em nossa intenção. Assim esta graça,
obtida por intervenção de muitas pessoas, lhes será ocasião de
agradecer a Deus a nosso respeito." (2 Cor 1, 11). Nesse caso,
observe que as orações dos vivos não fariam menos quebra à honra
e glória de Cristo Medianeiro, do que a intercessão dos Santos no
céu.
Referência: As bodas de Caná da Galiléia (Jo 2, 1-12).
A CONVERSA COM NICODEMOS
Estando próxima a Páscoa dos Judeus, Jesus Cristo sobe a
Jerusalém para celebrá-la. Uma noite, um fariseu chamado
Nicodemos, reconhecendo nos atos de Jesus Cristo um poder vindo
de Deus, interroga-o admirado:
“Disse-lhe: ‘Rabi, sabemos que és um mestre vindo de Deus.
Ninguém pode fazer esses milagres que fazes, se Deus não
estiver com ele’.
Jesus replicou-lhe: ‘quem não nascer de novo, não poderá ver
o reino de Deus’.
Nicodemos perguntou-lhe: ‘Como pode um homem renascer,
sendo velho? Porventura, pode tornar a entrar no seio de sua
mãe e nascer pela segunda vez?’
Respondeu Jesus: ‘quem não renascer da água e do espírito
não poderá entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é
carne, e o que nasceu do Espírito é espírito’.
Replicou Nicodemos: ‘Como se pode fazer isso?’
Disse Jesus: ‘Como Moisés levantou a serpente no deserto,
assim deve ser levantado o Filho do homem, para que todo
homem que nele crer tenha a vida eterna’.”
(Jo 3, 1-16)
A VERDADEIRA ADORAÇÃO
Os sacerdotes da época de Jesus Cristo, inclusive Nicodemos,
não entendiam a nova religião que surgia. Enraizados durante anos
numa forte estrutura de costumes e ritos exteriores, tinham
dificuldade em aceitar que as práticas cerimoniais serviam apenas
para desenvolver a verdadeira adoração que é a “em espírito e
verdade” (Jo 4, 24), ou seja, a adoração sincera tira o seu valor do
espírito e do coração que a oferece. 
Desta forma, o culto cristão será, antes de tudo, um culto
interior, onde Deus é o seu objeto primo e essencial; Jesus Cristo é o
medianeiro, e os mistérios de sua vida terrestre, sempre ao nosso
alcance, são o alimento da nossa piedade. A Virgem Maria, os Anjos
e os Santos participam das nossas homenagens, mas unicamente
como intermediários que os transmitem a Deus.
Perceba que Jesus Cristo pode ter aproveitado para o culto
cristão a substância e os elementos do culto mosaico, mas
aperfeiçoou-lhe a forma e modificou-lhe o espírito; desta maneira, os
edifícios cristãos, as festas e as cerimônias das nossas igrejas são
para as almas um ensino e uma lição; para os corações, um meio de
subirem até Deus; para o nosso ser, a expressão do culto mais
perfeito.
Na passagem acima, Jesus Cristo explica a Nicodemos que
será por um novo nascimento, “renascendo da água e do espírito”,
isto é, pelo Batismo e pela fé em Jesus Cristo, que se formará o povo
da nova aliança. 
Imagine como deve ter sido difícil para Nicodemos, naquele
momento, compreender as palavras de Jesus Cristo, pois somente
após a Sua Páscoa e a vinda do Espírito Santo é que elas se
tornariam compreensíveis.
A SERPENTE DE BRONZE
A serpente de bronze, referida por Jesus Cristo, é vista em Nm
21, 4-9. A situação em que ela aparece é a seguinte: Muitas foram às
vezes em que os hebreus murmuraram no deserto contra Moisés e
contra o Senhor. Tais murmurações acabavam por atrair graves
castigos. Foi notável entre estes castigos o das serpentes venenosas,
por cuja mordedura pereceu grande parte do povo; muitos,
arrependidos depois, sararam olhando para uma serpente de metal
que, levantada em uma haste por Moisés, apresentava a forma de
cruz. A virtude desse emblema era símbolo da virtude que havia de
ter a Santa Cruz para curar as chagas do pecado:
“Partiram do monte Hor na direção do mar Vermelho, para
contornar a terra de Edom. Mas o povo perdeu a coragem no
caminho, e começou a murmurar contra Deus e contra Moisés: ‘Por
que - diziam eles - nos tirastes do Egito, para morrermos no deserto
onde não há pão nem água? Estamos enjoados deste miserável
alimento’.
Então o Senhor envioucontra o povo serpentes ardentes, que
morderam e mataram muitos.
O povo veio a Moisés e disse-lhe: ‘Pecamos, murmurando
contra o Senhor e contra ti. Roga ao Senhor que Ele afaste de nós
essas serpentes’.
Moisés intercedeu pelo povo, e o Senhor disse a Moisés: ‘Faze
para ti uma serpente ardente e mete-a sobre um poste. Todo o que
for mordido, olhando para ela, será salvo’. Moisés fez, pois, uma
serpente de bronze, e fixou-a sobre um poste. Se alguém era mordido
por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, conservava a
vida.” (Nm 21, 4-9)
Referência: A conversa de Jesus Cristo com Nicodemos (Jo 3,
1-21).
A SAMARITANA NO POÇO DE JACÓ
Jesus deixou a Judéia e voltou para a Galiléia. Passando pela
Samaria, chegou a uma localidade chamada Sicar onde, fatigado da
viagem, sentou-se à beira do poço de Jacó:
“Veio uma mulher da Samaria tirar água.
Pediu-lhe Jesus: ‘Dá-me de beber’.
Aquela samaritana lhe disse: ‘Sendo tu judeu, como pedes de
beber a mim, que sou samaritana!...’
Respondeu-lhe Jesus: ‘Se conhecesses o dom de Deus, e
quem é que te diz: Dá-me de beber, certamente lhe pedirias tu
mesma, e ele te daria uma água viva. Todo aquele que beber
desta água, tornará a ter sede, mas o que beber da água que eu
lhe der, jamais terá sede. Vem a hora, e já chegou, em que os
verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e
verdade, e são esses adoradores que o Pai deseja’.”
(Jo 4, 7-23)
OS SAMARITANOS
Os judeus, da época de Jesus Cristo, não se comunicavam
com os samaritanos porque seus habitantes, embora adorassem a
Deus, por serem em sua maior parte estrangeiros, prestavam também
culto a outros deuses, segundo o costume das nações donde tinham
vindo:
“O rei da Assíria mandou vir gente de Babilônia, de Cuta, de
Ava, de Emat, de Sefarvaim, e pô-la em lugar dos israelitas nas
cidades da Samaria. Estes colonos tomaram posse da Samaria e
instalaram-se em suas cidades. (...) Adoravam também o Senhor,
mas constituíram sacerdotes para os lugares altos, tirados dentre o
povo, os quais oficiavam por eles nos santuários dos lugares altos.
Desse modo, adoravam o Senhor, e ao mesmo tempo prestavam
culto aos seus próprios deuses, segundo o costume das nações de
onde tinham sido transportados. (...) 
Ainda hoje seguem os seus antigos costumes; não temem o
Senhor, não observam suas leis, nem suas ordenações, nem a lei e
os mandamentos que o Senhor deu aos filhos daquele Jacó, a quem
deu o nome de Israel.” (II Rs 17, 24-41)
Sendo assim, este misto de israelitas e colonos assírios seguia
a religião verdadeira, mas, ao mesmo tempo, aliavam superstições
idolatras, tiradas do culto do bezerro de ouro de Baal e das
divindades assírias. 
Existia um duplo vínculo que ligava os Samaritanos à nação
judaica: o livro da Lei que eles conservavam no idioma nacional, e a
fé no Messias prometido.
O ESPÍRITO SANTO
Durante seu ministério, Jesus Cristo não revela plenamente o
Espírito Santo, apenas sugere-o como aconteceu a Nicodemos
(renascer da água e do Espírito) e a Samaritana (água viva). Somente
próximo de ser glorificado é que falará abertamente sobre Ele,
prometendo sua vinda.
Referência: Encontro com a Samaritana (Jo 4, 1-42).
O FIM DO MUNDO
Os Judeus promoveram uma festa em Jerusalém e, Jesus
Cristo, dirigiu-se para lá, a fim de pregar a Palavra:
“Em verdade, em verdade vos digo, vem a hora, e já está aí, em
que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a
ouvirem viverão. Pois, como o Pai tem a vida em si mesmo,
assim também deu ao Filho o ter a vida em si mesmo, e lhe
conferiu o poder de julgar, porque é o Filho do Homem. Não
vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos os que
se acham nos sepulcros sairão deles ao som de sua voz: e os
que praticaram o bem irão para a ressurreição da vida, e
aqueles que praticaram o mal, ressuscitarão para serem
condenados.”
(Jo 5, 25-29)
O PECADO
Existem duas espécies de pecado: o pecado original e o
pecado atual.
Pecado original é aquele com o qual todos nascemos, exceto a
Santíssima Virgem Maria, e que contraímos pela desobediência de
nossos primeiros pais.
Pecado atual, por sua vez, é aquele que o homem, chegado ao
uso da razão, comete por sua livre vontade. Ele divide-se em mortal e
venial.
São pecados mortais aqueles que por sua natureza se opõem
diretamente, ou são incompatíveis com a submissão e amor a Deus,
na ordem sobrenatural. O batizado que ofende a Deus por algum
pecado mortal perde, no mesmo instante, todos os merecimentos que
havia alcançado pela morte de Cristo na Cruz, tornando-o incapaz de
adquirir novos; priva a alma da graça e da amizade de Deus ficando
absolutamente interdita a porta do Paraíso; torna a alma escrava do
demônio; fá-la merecer o Inferno e também os castigos desta vida.
São exemplos: os pecados de desprezo do amor divino e os
cometidos contra a honra de Deus; os de roubo, homicídio, adultério e
os pecados contra a natureza. Recebe o nome de mortal porque dá a
morte à alma, fazendo-a perder a graça santificante. Ele deve ser
extinto, antes de se comungar, pelo remédio da contrição e da
Confissão.
Os pecados veniais são aqueles que constituem uma menor
transgressão da lei divina, no entanto, contém sempre uma ofensa a
Deus, e causa prejuízos não pequenos à alma. Recebe esta
denominação porque é leve em comparação com o pecado mortal e
porque não nos faz perder a graça divina. O homem pode resistir a
seus efeitos com o auxílio ordinário da graça, visto que não têm o
funesto poder de privar a alma da vida sobrenatural da caridade; não
merecem, por conseguinte, castigo eterno. Ele causa os seguintes
prejuízos: enfraquece e esfria em nós a caridade; dispõe-nos para o
pecado mortal e faz-nos merecedores de grandes penas temporais,
neste mundo ou no outro.
É preciso está atento a esta espécie de pecado porque pode
acontecer que um homem, em pecado mortal, cometa outros veniais
e neste estado o surpreenda a morte, com isso padecerá também
castigo eterno pelos pecados veniais, visto que depois da morte todos
são eternamente irreparáveis.
O PURGATÓRIO
Apesar dos méritos de Jesus Cristo e os sacramentos terem
bastante eficácia para fazer com que instantaneamente os homens
consigam a vida eterna, dispôs a divina Sabedoria que não fosse
plenamente restaurada em seus indivíduos a natureza humana até o
término da sua peregrinação na terra. Isto leva a que os homens
necessitem adquirir méritos e se abstenham de pecar para chegarem
ao céu.
Sendo assim, as almas dos justos que morrem em graça, mas
que, no instante de falecer, não satisfizeram plenamente a pena
temporal devida pelos seus pecados, não irão para o céu, mas para
um estado intermediário, chamado de Purgatório. Somente após a
completa satisfação é que elas entrarão no Paraíso.
A Misericórdia de Deus resplandece no Purgatório de dois
modo: primeiramente, em que Deus se digna conceder aos justos,
ainda depois da morte, tempo e meios para satisfazer pelos seus
pecados, e para que, plenamente absolvidos no tribunal divino,
preparem-se para entrar no céu. Em segundo lugar, porque, mediante
a comunhão dos Santos, estabeleceu um meio para que os fiéis da
Igreja militante possam auxiliá-los e apressar a sua entrada na glória,
oferecendo, em compensação pelo que eles devem satisfazer, o valor
satisfatório das suas obras e aplicando-lhes por meio das
indulgências os méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo, da Santíssima
Virgem e de todos os Santos.
Podemos aliviar as almas do Purgatório aplicando, em sufrágio
delas, esmolas e outras boas obras, sendo o meio mais eficaz o
Santo Sacrifício da Missa. É possível, também, aplicar-se às almas do
Purgatório em geral, ou a algumas em particular, as indulgências,
quando a Igreja o autoriza. No caso da indulgência plenária, que é a
que perdoa toda a pena temporal devida pelos nossos pecados, se
alguém morresse depois de a ter recebido, iria logo para o céu,
inteiramente isento das penas do Purgatório.
A intenção da Igreja ao conceder as indulgências é auxiliar a
nossa incapacidade de expiar neste mundo todaa pena temporal,
fazendo-nos conseguir por meio de obras de piedade e de caridade
cristã aquilo que nos primeiros séculos Ela obtinha com o rigor dos
cânones penitenciais. Por isso, é preciso ter as indulgências em muito
grande apreço, porque com elas se satisfaz a justiça de Deus e mais
depressa e mais facilmente se alcança a posse do céu.
As condições para se ganharem as indulgências são: o estado
de graça, pelo menos ao cumprir a última obra, e o desapego mesmo
das culpas veniais cuja a pena se quer apagar; o cumprimento das
obras que a Igreja prescreve para se ganhar a indulgência; e a
intenção de ganhá-las.
O CÉU
Céu é o lugar onde, desde o princípio do mundo, moram os
anjos bem-aventurados, e desde o dia da gloriosa ascensão de Jesus
Cristo, os justos que foram redimidos com o seu sacrifício. 
Para que os justos possam entrar no céu é necessário ter
terminado a sua vida mortal e satisfeito plenamente neste mundo a
pena correspondente aos seus pecados.
Os meninos batizados que falecem antes do uso de razão
entram no céu, imediatamente depois da morte, porque no batismo se
lhes perdoou o pecado original, único que podia estorvá-los.
Da mesma forma acontece aos que, já adultos e com pecados
pessoais, recebem com as devidas disposições o batismo e morrem
antes de cometer novas culpas, porque o batismo, recebido com as
disposições convenientes, tem eficácia para aplicar-lhes em toda a
sua plenitude, os méritos da paixão de Cristo.
Observe que aqueles que, depois do batismo, cometeram
pecados mortais ou veniais e não fizeram a penitência suficiente para
a remissão da pena temporal, mas entregaram o espírito a Deus num
ato de caridade perfeita, e especialmente se este ato é o martírio,
podem entrar imediatamente no céu.
O INFERNO
O Inferno é o lugar onde todos os que se rebelam contra a
ordem de Deus, e em seus pecados e crimes se obstinam para nunca
mais se converterem, padecem horríveis tormentos por toda a
eternidade.
Nesse lugar de sofrimento, o suplício dos condenados cresce
com a companhia de todos os criminosos e malfeitores do gênero
humano, misturados com os demônios cujo fim é atormentá-los.
Devido os condenados jamais poderem arrepender-se das
suas culpas, serão eternos os tormentos que por elas padecem. Deus
poderia por limites a tais suplícios, já que é Onipotente; porém, não o
fará, porque Ele mesmo decretou (e as suas determinações são
irrevogáveis) que os seres racionais, chegados ao termo da sua
peregrinação, sejam confirmados para sempre no bem ou no mal.
O Evangelho fala do Inferno como sendo um lugar onde se
ouvem prantos e ranger de dentes: "Assim será no fim do mundo: os
anjos virão separar os maus do meio dos justos e os arrojarão na
fornalha, onde haverá choro e ranger de dentes." (Mt 13, 49-50).
Observe que, segundo o Catecismo Romano, a expressão
“infernos” tem uma abrangência bem maior do que “inferno”, sendo
designada como os ocultos receptáculos em que são detidas as
almas que não conseguiram a bem-aventurança do céu. Esses
receptáculos são de várias categorias:
- Um deles é a horrenda e tenebrosa prisão em que as almas
réprobas são atormentadas num fogo eterno e inextinguível,
juntamente com os espíritos imundos. Chama-se também “geena", e
“abismo”. É o inferno propriamente dito.
- Há também um fogo de expiação, no qual, por certo espaço
de tempo, as almas dos justos são purificadas até que lhes seja
franqueado o acesso da Pátria Celestial, local onde nada de impuro
pode entrar. É o Purgatório.
- Existe, afinal, um terceiro receptáculo, em que eram
recolhidas as almas justas, antes da vinda de Cristo. Ali desfrutavam
um suave remanso, sem nenhuma sensação de dor. Alentavam-se
com a doce esperança do resgate. Estas almas eleitas aguardavam o
Salvador no seio de Abraão; foi a elas que Cristo Nosso Senhor
libertou, na descida aos infernos.
O LIMBO
Todo aquele que morrer, por qualquer motivo, e não tiver tido o
uso da razão, não será julgado. O fato de ter ou não recebido o
batismo é que determinará o local para onde irá. Aquele que o
recebeu irá para o Céu. Aquele que não recebeu, para um lugar
especial conhecido com o nome de Limbo.
O Limbo é um lugar distinto do Purgatório e do Inferno. Lá,
seus habitantes compreendem que estarão eternamente privados da
felicidade proveniente da visão beatífica pelo simples fato de terem
nascidos filhos de Adão, e não por conta de castigo de qualquer
pecado pessoal. Nos condenados ao Limbo não se reveste o caráter
de suprema tortura, como acontece nos condenados ao Inferno. Lá
eles terão a máxima felicidade natural.
O Catecismo Romano ensina que a alma de Cristo, assim que
se separou do corpo, foi ao Limbo para libertar as almas dos justos
que aguardavam a Sua vinda. Quando chegou o dia da Ascensão,
não entrou no Céu Jesus Cristo só, mas entraram com Ele as almas
dos antigos Patriarcas que Ele libertara do Limbo.
A este respeito, São Tomás de Aquino acrescenta que “Jesus
Cristo baixou a esse limbo no instante de ressuscitar, levando consigo
as almas dos que ali estavam detidos, é evidente que depois disto
não tem nem pode ter o primitivo destino; pode ser, sem embargo
disso, que hoje sirva de morada aos inocentes, formando um só com
o limbo das crianças" (PEGUES, p. 257) .
O JUÍZO PARTICULAR
____________________
“Todos nós teremos de comparecer perante o tribunal de
Cristo, para que cada um receba retribuição do bem ou do mal,
que tiver praticado em sua vida terrena.” (2 Cor 5, 10)
____________________
Todo homem deverá comparecer duas vezes na presença do
Senhor, para dar conta de todos os seus pensamentos, ações e
palavras, e para acatar a sentença de Deus.
A primeira ocasião é o momento de nossa morte; a alma é
levada diante de Jesus Cristo, onde Ele examinará com a máxima
justeza tudo o que o homem fez, disse, e pensou em sua vida. Neste
momento, a alma será julgada, sentenciada e colocada no Céu, no
Purgatório ou no Inferno. E' o que chamamos Juízo Particular.
A segunda ocasião acontecerá quando todos os homens
estiverem juntos perante o tribunal de Deus; na ocasião, cada
homem, de todos os séculos, saberá a sentença que a seu respeito
foi lavrada. Este Juízo se chama Universal.
Por Juízo, deve-se entender o ato em que Deus decide sobre o
destino eterno do homem, pronunciando uma sentença de prêmio ou
castigo.
Observe que os bens do Paraíso e os males do Inferno, por
enquanto, são somente para as almas, porque só as almas estão no
Paraíso ou no Inferno; no entanto, depois da ressurreição da carne,
quando os homens estiverem na plenitude da sua natureza, tais bens
serão para o corpo como para a alma.
Importante também lembrar que somente as almas que entram
imediatamente na glória vêem a essência divina ou a sacratíssima
humanidade de Jesus Cristo. O juízo das almas que vão para o
Purgatório ou para o Inferno, celebra-se fazendo com que
contemplem, instantaneamente, todo o curso de sua vida, donde
tirarão a convicção inquebrantável de que, com justiça, merecem o
lugar que lhes foi destinado, quer no Inferno, quer no Purgatório. 
Anote-se, por fim, que pode suceder que o último ato
consciente decida, por si só, a sorte eterna de uma alma e lhe
franqueie a entrada no Céu, porém, requer-se uma graça
especialíssima de Deus, que somente costuma concedê-la quando o
homem, de certo modo, a preparou com obras boas anteriormente
feitas, e a rogos e vivas instâncias dos justos.
O FIM DO MUNDO
____________________
"Os discípulos perguntaram-lhe: Qual será o sinal de tua
volta e do fim do mundo?
Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém o sabe, nem
mesmo os anjos do céu, mas somente o Pai. Assim como foi nos
tempos de Noé, assim acontecerá na vinda do Filho do Homem.
Nos dias que precederam o dilúvio, comiam, bebiam, casavam-se
e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca.
E os homens de nada sabiam, até o momento em que veio o
dilúvio e os levou a todos. Assim será também na volta do Filho
do Homem." (Mt 24, 36-42)
____________________
Encontramos no Evangelho, em Mt 24, 30-31,Jesus Cristo
declarando que no último dia Ele voltará e reunirá seus escolhidos:
“Então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem. Todas as tribos
da terra baterão no peito e verão o Filho do Homem vir sobre as
nuvens do céu cercado de glória e de majestade. Ele enviará seus
anjos com estridentes trombetas, e juntarão seus escolhidos dos
quatro ventos, duma extremidade do céu à outra”.
Em seu discurso, Jesus Cristo também descreve os sinais do
tempo em que há de chegar, para que os homens, ao vê-los,
reconheçam estar perto o fim do mundo. Estes se darão por meio de
extraordinários transtornos e comoções em toda a natureza, “e então
chegará o fim” (Mt 24, 6-29).
As Sagradas Escrituras enumeram três sinais principais: a
pregação do Evangelho pelo mundo inteiro: "Este Evangelho do
Reino será pregado pelo mundo inteiro para servir de testemunho a
todas as nações, e então chegará o fim." (Mt 24, 14); a apostasia e o
anticristo: "Ninguém de modo algum vos engane. Porque primeiro
deve vir a apostasia, e deve manifestar-se o homem da iniqüidade, o
filho da perdição, o adversário, aquele que se levanta contra tudo o
que é divino e sagrado, a ponto de tomar lugar no templo de Deus, e
apresentar-se como se fosse Deus." (2 Ts 2, 3-4).
Apesar das grandes dificuldades que já se encontram
presentes no mundo contra a fé cristã, como sinal do fim dos tempos,
é preciso que os católicos tenham sempre em mente que nunca
estarão sozinhos, pois declarou Nosso Senhor no Evangelho: “Eis
que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28,20).
No fim do mundo se seguirão os dois acontecimentos mais
importantes do plano de Deus: a ressurreição de todos os homens e o
Juízo final.
A RESSURREIÇÃO DA CARNE
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"Assim como em Adão todos morrem, assim em Cristo
todos reviverão. Cada qual, porém, em sua ordem: como
primícias, Cristo; em seguida, os que forem de Cristo, na ocasião
de sua vinda. Depois, virá o fim, quando entregar o Reino a Deus,
ao Pai, depois de haver destruído todo principado, toda
potestade e toda dominação. Porque é necessário que Ele reine,
até que ponha todos os inimigos debaixo de seus pés. O último
inimigo a derrotar será a morte, porque Deus sujeitou tudo
debaixo dos seus pés." (I Cor 15, 22-26).
____________________
Deus tivera o cuidado de pôr alguns rudimentos a respeito da
ressurreição da carne nas antigas Escrituras. Todavia, mesmo no
seio da nação judaica, e até nas classes da sinagoga e do
sacerdócio, os saduceus não acreditavam na ressurreição dos corpos
e faziam da vida imortal uma ideia errônea.
Nosso Senhor lembrou-lhes este dogma positivo da
ressurreição, asseverando que o Deus dos seus antepassados não é
o Deus dos mortos, mas sim dos vivos e que depois da ressurreição,
os homens no céu serão como os anjos de Deus (Mt 22, 31-33).
Ensinou também que a ressurreição dos mortos acontecerá no
fim do mundo e depois seguir-se-á o Juízo universal. 
Deus determinou a ressurreição dos mortos para que a alma
do homem possa receber juntamente com seu corpo o prêmio ou o
castigo, conforme tenha feito o bem ou o mal. 
Isso acontece porque em tudo o que façam durante a vida, os
bons e os maus prescindem da cooperação de seus corpos. Daí
decorre, necessariamente, que as boas ou más ações praticadas
devem atribuir-se também aos corpos, que delas foram instrumentos.
Era, pois, de suma conveniência que os corpos partilhassem, com as
almas, dos prêmios da eterna glória ou dos suplícios, conforme
houvessem merecido. 
A ressurreição da carne realizar-se-á por virtude de Deus
Onipotente, a Quem nada é impossível.
Segundo a Igreja, depois ou ao mesmo tempo em que o mundo
esteja sendo reduzido a cinzas, ouvir-se-á em todos os âmbitos da
terra o som da trombeta de que fala o Apóstolo São Paulo na sua
primeira epístola aos Tessalonicenses; à sua voz se levantarão os
mortos das suas sepulturas e, por ela chamados, comparecerão na
presença do Juiz Supremo que, para julgá-los, descerá do céu sobre
nuvens de glória e revestido de soberana majestade. Todos os
homens hão de ressuscitar, retomando cada alma o corpo que teve
nesta vida.
Ressuscitarão todos os homens que morreram no transcurso
do tempo desde o princípio da humanidade e todos os que se
acharem vivos no momento da vinda de Jesus Cristo. Estes últimos,
ressuscitarão no sentido de passar da morte para a vida, porque,
ainda que todos estes acontecimentos sejam instantâneos, como
parece indicar São Paulo em I Cor 15, 51, sucederá que os homens,
vivos um momento antes do fim, passarão por uma morte instantânea
e imediatamente irão ocupar o lugar que por suas obras lhes
corresponda:
“Eis que vos revelo um mistério: nem todos morreremos, mas
todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de
olhos, ao som da última trombeta (porque a trombeta soará). Os
mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados”. (I
Cor 15, 51-52).
Observe que os homens não ressuscitarão do mesmo modo,
pois os corpos dos eleitos terão, à semelhança de Jesus Cristo
ressuscitado, os dotes dos corpos gloriosos, o que não acontecerá
com os dos condenados, que trarão o horrível estigma da reprovação
eterna.
Os justos terão os mesmos corpos que neste mundo tiveram,
com a diferença de que então não terão deformidade, nem
imperfeição, nem estarão sujeitos a debilidade alguma, mas que, pelo
contrário, possuirão qualidades e dotes que os converterão, de certo
modo, em espirituais. Desse modo, ressuscitarão em estado glorioso
os corpos de todos os Santos, vindos do céu, saídos do purgatório,
ou surpreendidos na vida mortal pelos últimos acontecimentos.
Na Sagrada Escritura, encontramos falando sobre a
ressurreição dos justos e dos condenados na passagem:
 “Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos
os que se acham nos sepulcros sairão deles ao som de sua voz: os
que praticaram o bem irão para a ressurreição da vida, e aqueles que
praticaram o mal ressuscitarão para serem condenados”. (Jo 5, 28-
29).
As crianças mortas sem batismo ressuscitarão em inteira
perfeição natural, diferenciando-se dos justos, em que não possuirão
os dotes do corpo glorioso, e dos condenados, em que jamais
experimentarão enfermidades nem dor.
Encontramos, no Antigo Testamento, pequenos relatos sobre a
ressurreição dos mortos e a vida eterna, como, por exemplo, nos
seguintes livros: Sabedoria (Sb 2, 21-24 = “Ora, Deus criou o homem
para a imortalidade, …”), Jó (Jó 19, 1, 23-27a = “Eu sei: o meu
“redentor” está vivo; na minha carne verei Deus!”) e Isaías (Is 25, 6a.
7-9 = "O Senhor banirá a morte para sempre e enxugará as
lágrimas.").
O JUÍZO FINAL
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“Se alguém ouve as minhas palavras e não as guarda, eu
não o condenarei, porque não vim para condenar o mundo, mas
para salvá-lo. Quem me despreza e não recebe as minhas
palavras, tem quem o julgue; a palavra que anunciei julgá-lo-á no
último dia”. (Jo 12, 47-48).
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As Sagradas Escrituras atestam que são duas as vindas do
Filho de Deus.
Na primeira vez Jesus Cristo veio revestido da fragilidade
humana para realizar o plano de Deus e abrir, para o homem, o
caminho da salvação.
Revestido da Sua glória, Ele virá mais uma vez na consumação
dos séculos. Neste tempo comparecerão todos os homens na
presença do Juiz Supremo. Esta segunda volta chama-se “Parusia” e
significa “Dia do Senhor”: "Entretanto, virá o dia do Senhor como
ladrão. Naquele dia os céus passarão com ruído, os elementos
abrasados se dissolverão, e será consumida a terra com todas as
obras que ela contém." (2 Pd 3, 10). Ela tem a finalidade de fazer
justiça, isto é, dar aos justos a recompensa e aos ímpios o castigo
que tiver merecido.
Portanto, os justos recebem de Cristo, enquanto homem, o
poderem entrar na posse da bem-aventurança; e dos seus lábios
ouvirão os réprobos, no dia do juízo final, a sentença definitiva que os
condena aos suplícios eternos.
Os tempos que correm entre a primeira e a segunda vinda de
Cristo, são tempos de máxima tensão, em que o cristão escolhe "ser"ou "não ser" filho de Deus, "ter" ou "não ter" a vida eterna.
Antes, porém, do advento de Cristo, a Igreja passará por uma
provação final de tal dimensão que abalará a fé de muitos crentes. A
figura do Anticristo surgirá pregando um pseudo messianismo em que
o homem se glorifica a si mesmo em lugar de Deus. Muito do que
Jesus Cristo falou já se esboça no mundo de hoje, deixando a certeza
da vinda desses dias. Como esse tempo é desconhecido, é
importante aguardá-lo com atenção e vigilância.
A razão do motivo da existência de outro Juízo, além do Juízo
Particular, dá-se porque até este juízo não terá havido ocasião
propícia para manifestar a plenitude e alcance do poder e da
Soberania de Jesus Cristo; só quando tudo chegar ao fim é que se
poderá apreciar em conjunto, não só o valor dos atos dos homens,
mas também o de suas conseqüências. 
Observe, então, que a ação judicial tão intensa e minuciosa
que Jesus Cristo vem exercendo desde o dia da sua Ascensão, no
juízo particular, não faz inútil o juízo universal que há de realizar-se
no fim dos tempos.
Podemos observar isto no fato de que os mortos deixam, às
vezes, filhos que irão imitá-los, ou mesmo parentes ou discípulos que
propagam durante suas vidas ou muito além delas, seus
ensinamentos em palavras e obras. Esta influência deve aumentar os
prêmios ou castigos dos próprios mortos. Para tanto, fazer-se
necessário uma perfeita averiguação de todas essas obras e
palavras, quer sejam boas, quer sejam más. O que, porém, somente
é possível com um julgamento geral de todos os homens, quando
romper o último dia do mundo. 
Afora esta circunstância, outras existem, como, por exemplo, a
daqueles que oprimiram os justos, e a daqueles que, durante a vida,
procuraram ser tidos, falsamente, por homens virtuosos e bons,
muitas vezes lesando os justos em sua reputação. No fim do mundo,
tais homens verão manifestados, à vista de todo o mundo, os
pecados que cometeram, e observarão os justos recuperarem a boa
fama, que lhes fora iniquamente roubada aos olhos do mundo.
No Juízo universal há de manifestar-se a glória de Deus,
porque todos hão de reconhecer a justiça com que Deus governa o
mundo, embora se vejam às vezes os bons a sofrer e os maus em
prosperidade. Da mesma forma, manifestar-se-á a glória de Jesus
Cristo, porque, tendo Ele sido injustamente condenado pelos homens,
aparecerá então à face do mundo inteiro como Juiz supremo de
todos. Também há de manifestar-se a glória dos Santos, porque
muitos deles, que morreram desprezados pelos maus, hão de ser
glorificados em presença de todos os homens.
Somente serão submetidos a Juízo os que neste mundo
tiveram uso de razão. Os que não o tiveram, não serão julgados, e se,
como os demais, são conduzidos ao tribunal divino, vão ali para ver e
admirar a glória de Cristo, e a tremenda justiça e absoluta
imparcialidade dos juízos de Deus.
Não serão julgados as ações daqueles cuja vida é inteiramente
santa e sem mistura notável do mal, como a dos que, olhando as
vaidades do mundo, põem todo o seu afã em servir a Deus; porém,
quanto aos outros, isto é, aqueles que, amarem as criaturas mais do
que a Deus até ao extremo de perdê-Lo, viveram afeiçoados às
coisas do mundo e com elas mais ou menos transigiram, verão
expostas diante dos olhos dos demais as duas facetas de sua vida
com o fim de que todos contemplem a preeminência do bem sobre o
mal, pois assim o requer a escrupulosidade do Juízo divino.
O Juízo final terminará no momento que o Juiz pronunciar a
sentença definitiva: “Então o Rei dirá aos que estão à direita: Vinde,
benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado
desde a criação do mundo.” (Mt 25, 34). “Voltar-se-á em seguida para
os da sua esquerda e lhes dirá: Retirai-vos de mim, malditos! Ide para
o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos.” (Mt 25, 41).
Com isso, os justos irão para a vida eterna e os condenados irão para
o suplício eterno.
O anúncio do Juízo Final é um grande apelo à conversão que
Deus deixou ao homem.
O SUPLÍCIO ETERNO
A sentença contra os condenados será executada pelas mãos
dos demônios.
Como justo castigo, os condenados, logo que pronunciada a
sentença, continuarão a serem submissos à ação dos demônios, da
mesma forma que o foram neste mundo, sofrendo sob o império de
seu nefasto e tirânico poder.
No juízo final, a condenação dos réprobos será causa de novo
suplício, isto porque a partir daquele momento, não só padecerão os
tormentos da alma, mas também os do corpo. Inclusive, a tortura do
corpo dos condenados será muito intensa, porque o lugar que
ocuparão atormentará cruelmente todos os seus sentidos e potências.
No entanto, não padecerão iguais suplícios, pois estes
corresponderão ao número e gravidade dos seus pecados.
Cabe anotar que o suplicio dos réprobos não diminuirá com o
tempo. Isto acontece devido à inflexível obstinação pelo mal e a
perversidade de ânimo que os acompanhava na época em que a
morte os surpreendeu.
A VIDA ETERNA
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“A vida terrena é breve e desastrosa, cheia de tantas e tão
variadas misérias, que antes devia chamar-se morte do que vida.
Se, ainda assim, lhe temos mais amor do que a qualquer outro
bem; se nada conhecemos que nos seja mais precioso e
agradável [neste mundo] - qual não será, portanto, o zelo e o
ardor com que devemos procurar aquela vida eterna, que põe
termo a todos os males, que é o remate perfeito e absoluto de
todos os bens?". (MARTINS, p. 199).
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Pela graça de vê a face de Deus, que de todos é o maior e o
mais precioso dom, os bem-aventurados se tornam participantes da
natureza divina, e entram na posse da verdadeira e perfeita
felicidade.
É por meio da virtude da Esperança, a qual foi infundida por
Deus em nossa alma, que desejamos e esperamos a vida eterna.
A Igreja ensina que depois desta vida há outra, ou eternamente
feliz para os justos no Paraíso, ou eternamente desgraçada para os
condenados no Inferno.
A expressão "vida eterna" não designa uma simples
perpetuação de vida - à qual se destinam também os demônios e os
réprobos - mas antes uma perpetuação de bem-aventurança, criada
por Deus para satisfazer as aspirações dos justos.
As Escrituras enumeram outros nomes à bem-aventurança
celestial: Reino de Deus, Reino de Cristo, Reino dos Céus, Paraíso,
Nova Jerusalém, Casa do Pai. Mas vê-se, claramente, que nenhuma
destas expressões é capaz de enunciar toda a sua grandeza.
Observe que não temos como conceber a felicidade do Paraíso
porque esta excede os conhecimentos da nossa inteligência limitada,
além do mais, os bens do Céu não podem comparar-se aos bens
deste mundo. A este respeito, escreve Santo Agostinho que é mais
fácil enumerar os males de que ficaremos livres, do que (expor) os
bens e alegrias que havemos de gozar.
Quanto a esta questão, a Igreja ensina que a felicidade dos
que forem eleitos consistirá em ver, amar e possuir eternamente a
Deus, fonte e princípio de toda bondade e perfeição; enquanto a
desgraça dos condenados consistirá em serem para sempre privados
da vista de Deus, e punidos com suplícios eternos no Inferno. Anote-
se que a felicidade dos justos, e a desgraça dos condenados, será
aumentada por terem-se juntado aos seus corpos.
A frase do Apocalipse de São João (Jo 20, 5), “O Senhor será
a sua luz e reinarão durante perpétuas eternidades”, resume tudo o
que se refere à felicidade dos justos no céu.
Por fim, imagine quanta honra Nosso Senhor nos fará quando
nos chamar no céu de amigos (Lc 12, 4), irmãos (Jo 20, 17), e nos
disser que já não somos servos (Jo 15, 14), mas filhos de Deus (Jo 1,
12).
Referência: O julgamento no final dos tempos (Jo 5, 19-47).
O SERMÃO DA MONTANHA
Na Galiléia, Jesus Cristo sobe a uma montanha e inicia sua
vida pública pregando a uma grande multidão:
“Vendo aquelas multidões, Jesus subiu à montanha. Então
abriu a boca e lhes ensinava, dizendo:
‘Bem-aventurados
* os que têm um coração de pobre, porque deles é o reino dos
céus!
* os que choram, porque serão consolados!
* os mansos, porquepossuirão a terra!
* os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados!
* os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia!
* os corações puros, porque verão a Deus!
* os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!
* os que são perseguidos por causa da justiça!
* quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem
falsamente todo o mal contra vós por causa de mim.
Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos
céus; porque assim perseguiram aos profetas que foram antes
de vós’.”
(Mt 5, 1-12; Luc 6, 20-23)
A NOVA LEI
No passado, Moisés recebeu a missão de subir no monte Sinai
para obter de Deus a lei e transmiti-la aos Israelitas. Agora, Jesus
Cristo recebe a missão de subir a montanha das Bem-aventuranças e
entregar uma nova lei aos hebreus. Não mais uma lei escrita, mas a
lei do coração, aquela que diz que o merecimento do homem não
está na quantidade de suas obras, mas no amor com que as realiza.
Chegará o dia em que Jesus Cristo ouvirá novamente o apelo
de Deus e subirá a colina do Calvário. Selará no auge de seu
sofrimento uma Nova Aliança com os homens, não mais escrita em
pedra, mas em seu próprio corpo. Desde então, todo aquele que
comungar de seu corpo renovará a aliança com Deus.
AS BEM-AVENTURANÇAS
No sermão da montanha é apresentado o primeiro anúncio da
Boa Nova. As Bem-aventuranças proclamadas são o projeto de Jesus
Cristo para a criação de um novo mundo, onde ensina ao homem
detestar as máximas do mundo, e o convida a amar e praticar as
máximas do Evangelho, baseadas no amor, no perdão e na
misericórdia.
Chama-se Bem-aventuranças aos atos das virtudes e dos dons
que, por sua presença na alma, são como uma antecipação e um
penhor da vida eterna. Elas buscam preparar o homem tanto para
atingir o Reino dos Céus, como dotar-lhe de meios para tornar sua
vida feliz, tanto quanto é possível neste mundo. 
Inclusive, os que seguem as Bem-aventuranças recebem já
nesta vida alguma recompensa, porque já gozam de uma paz e de
um contentamento íntimos que são princípio, embora imperfeito, da
felicidade eterna. 
Sendo assim, nada é mais proveitoso para o homem neste
mundo do que o exercício assíduo dos dons e virtudes conducentes
às Bem-aventuranças.
Jesus Cristo chama bem-aventurados:
- os que têm um coração de pobre, porque têm o coração
desapegado das riquezas; fazem bom uso delas, se as possuem; não
as procuram com solicitude, se não as têm; e sofrem com resignação
a perda delas se lhes são tiradas;
- os que choram, porque sofrem com resignação as tribulações,
e se afligem pelos pecados cometidos, pelos males e pelos
escândalos que se vêem no mundo, pela ausência do céu, e pelo
perigo de perdê-lo;
- os mansos, porque tratam o próximo com brandura, e sofrem
com paciência os defeitos e as ofensas que dele recebem, sem
alteração, ressentimentos ou vingança;
- os que têm fome e sede de justiça, porque desejam
ardentemente crescer cada vez mais na graça de Deus e na prática
das obras boas e virtuosas;
- os misericordiosos, porque amam, em Deus e por amor de
Deus, o seu próximo, compadecem-se das suas misérias, assim
corporais como espirituais, e procuram socorrê-lo conforme as suas
forças e o seu estado;
- os de corações puros, porque não têm nenhum afeto ao
pecado, sempre se afastam dele, e evitam, sobretudo, toda a espécie
de impureza;
- os pacíficos, porque vivem em paz com o próximo e consigo
mesmos, e procuram estabelecer a paz entre aqueles que estão em
discórdia;
- os que são perseguidos por causa da justiça, porque
suportam com paciência os escárnios, as censuras, as perseguições
por causa da Fé e da Lei de Jesus Cristo.
A pregação na montanha envolveu três pontos principais:
consolar os escolhidos, trazer-lhes a esperança e ensinar-lhes o
caminho.
Todo o ensino de Jesus Cristo trará, daqui para frente, em sua
essência, as Bem-aventuranças.
Referência: O sermão na montanha (Mt 5, 1-16).
A ORAÇÃO DO PADRE-NOSSO
Em certo momento de sua pregação, Jesus ensina a oração do
Padre-Nosso:
“Padre-Nosso que estais no céu, santificado seja o vosso
nome;
venha a nós o vosso reino,
seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu.
O pão nosso de cada dia nos dai hoje;
e perdoai-nos as nossas dívidas,
assim como nós perdoamos aos nossos devedores;
e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do Mal.
Amém.”
(Mt 6, 9-13)
A ORAÇÃO
O primeiro ato com que o homem se ocupa no serviço de Deus
é a oração. Ela é realizada para adorá-Lo, para Lhe dar graças e para
Lhe pedir aquilo de que se necessita.
Jesus Cristo, durante sua estadia na terra, buscou a Deus
diversas vezes em oração. Verifica-se isso ao observar que ela está
presente antes dos retiros espirituais que fez, das pregações que
realizou e de todas as ações de cura e libertação que praticou, bem
como, antes dos momentos decisivos de sua missão e daqueles que
deram início à missão dos apóstolos.
Ele buscava a Deus em oração porque a sua vontade humana,
independentemente da divina, não podia realizar todos os seus
desejos; necessitava, portanto, dirigir-se ao Pai, suplicando-Lhe que
com sua vontade onipotente, que é também a sua enquanto Deus,
executasse o que a vontade humana não podia realizar.
Observe que todas as orações de Jesus Cristo foram acolhidas
por Deus porque Ele, que conhecia maravilhosamente os planos
divinos, sempre pediu conforme o desejo de seu Pai.
Após sua ressurreição, Jesus Cristo se tornará o destino de
todas as orações. Isto não significa excluir a Deus, pois a oração
formulada em direção ao Filho sempre será uma oração dirigida ao
Pai, já que “Quem vê o Filho vê o Pai” (Jo 14, 4).
Quanto ao homem, Deus, em sua infinita misericórdia, quis que
orasse e decretou não conceder-lhe coisa alguma a não ser que peça
em oração.
Há, sobretudo, algumas coisas que o homem não pode
indubitavelmente conseguir sem o auxílio da oração. Como exemplo,
encontramos na Sagrada Escritura Nosso Senhor afirmando que
certa casta de demônios só pode ser expulsa mediante o jejum e a
oração (Mc 9, 29). Por isso, privam-se de ótima ocasião de conseguir
graças singulares todos aqueles que se não dedicam ao exercício
habitual da oração fervorosa e freqüente.
A esperança do homem de obter de Deus, por meio da oração,
as graças de que necessita, é fundamentada nas promessas de Deus
onipotente, muito misericordioso e fidelíssimo, e nos merecimentos de
Jesus Cristo.
Lembre-se, entretanto, que para tornar a oração eficaz é
preciso o homem estar em estado de graça, ou, não o estando, ao
menos desejar recuperar esse estado.
Interessante anotar também que apesar da oração ter muita
eficácia, muitas vezes as preces não são atendidas. Isso ocorre ou
porque se pede coisas que não convêm à eterna salvação da alma,
ou porque não se pede como se deveria.
O importante mesmo é pedir a Deus principalmente a sua
glória, a salvação da alma e os meios para consegui-la. É permitido,
entretanto, pedir a Deus os bens temporais, sempre com a condição
de que estejam de acordo com à sua santíssima vontade, e não
sejam obstáculo à eterna salvação de quem reza. 
A oração deve ser feita todos os dias, especialmente nos
perigos, nas tentações e no momento da morte; além disso, devemos
orar freqüentemente, e é bom que o façamos pela manhã e à noite, e
no princípio das ações importantes do dia.
Devemos orar por todos, amigos e inimigos; pela conversão
dos pobres pecadores, daqueles que estão fora da verdadeira Igreja,
e pelas benditas almas do Purgatório.
Caso exista alguma dificuldade em saber como se deve orar,
deve-se lembrar que o Padre-Nosso é a oração por excelência, com
cujo emprego está em perfeita sintonia com o que Nosso Senhor
deseja que peçamos.
Observe que todos os auxílios e graças devem ser solicitados
em nome de Jesus Cristo, como Ele mesmo ensinou e como pratica a
Igreja, a qual termina sempre as suas orações com estas palavras:
per Dorninum nostrum Jesun Christun, que quer dizer: "por Nosso
Senhor Jesus Cristo". Isso porque, sendo Ele o nosso mediador, só
por meio dEle podemosaproximar-nos do trono de Deus. 
Enfim, algo que não devemos nos esquecer é de nos
conformar com a vontade de Deus, mesmo quando nossas orações
não forem atendidas, pois Ele conhece melhor do que nós o que nos
é necessário para a nossa salvação eterna.
A ORAÇÃO DO PADRE-NOSSO
A oração do Padre-Nosso é o modelo de todas as outras
orações e a mais eficaz. Ela contém claramente, em poucas palavras,
tudo o que podemos esperar de Deus. É a mais agradável a Deus
porque é feita com as mesmas palavras que nos ditou o seu Divino
Filho.
Começamos a oração com "Padre-Nosso" para excitar em nós
uma confiança ilimitada, pois Aquele a quem invocamos é Pai, e reina
no céu como Dono Onipotente do universo.
Em seu conteúdo encontramos sete petições precedidas de um
preâmbulo. As três primeiras, mais teologais, são para que a
promessa da vinda da Glória de Deus seja realizada. As quatro
posteriores exprimem as expectativas materiais e espirituais do
homem. Elas são as seguintes:
- “santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso reino”:
antes de qualquer coisa, o homem deve pedir a glória de Deus, fim e
objeto da criação; em seguida, deve pedir para participar dela no céu.
- “seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu”:
depois, deve pedir que a sua vontade sempre esteja de acordo com a
vontade de Deus.
- “o pão nosso de cada dia nos dai hoje”: deve pedir também o
auxílio de Deus para poder superar a fraqueza humana, tanto nas
necessidades materiais, como nas espirituais.
- “perdoai as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos
nossos devedores; e não nos deixeis cair em tentação; mas livrai-nos
do mal”: por fim, deve pedir o afastamento de certos obstáculos que
se opõem à aquisição do reino de Deus.
O homem precisa rezar o Padre-Nosso todos os dias, porque
todos os dias ele tem necessidade do auxílio de Deus.
Referência: Jesus Cristo ensina como orar (Mt 6, 1-18).
JESUS RESPONDE AO CENTURIÃO
Voltando Jesus Cristo a Cafarnaum, um centurião veio-Lhe ao
encontro e disse-Lhe:
“Disse o centurião:
‘Senhor, meu servo está em casa, de cama, paralítico, e sofre
muito’.
Disse-lhe Jesus: ‘Eu irei e o curarei’.
Respondeu o centurião: ‘Senhor, eu não sou digno de que
entreis em minha casa. Dizei uma só palavra e meu servo será
curado’.
Ouvindo isto, cheio de admiração, disse Jesus aos presentes:
‘Em verdade vos digo: não encontrei semelhante fé em
ninguém de Israel. Por isso eu vos declaro que multidões virão
do oriente e do ocidente e se assentarão no reino dos céus
com Abraão, Isaac e Jacó’.
Depois, dirigindo-se ao centurião, disse: ‘Vai, seja-te feito
conforme a tua fé’.”
(Mt 8, 5-13)
A SALVAÇÃO É PARA TODOS
A salvação, trazida pelo Messias, não será apenas para os
judeus, mas para todo aquele que, tendo fé em Jesus Cristo, o
proclamar Salvador: "Manifestou-se, com efeito, a graça de Deus,
fonte de salvação para todos os homens." (Tt 2, 11).
Para os judeus, essa revelação era difícil de aceitar, pois
mantinham profundo desprezo pelos estrangeiros, que acreditavam
serem indignos de receberem a salvação, conforme se percebe na
passagem: "Pedro, porém, o ergueu, dizendo: Levanta-te! Também
eu sou um homem! E, falando com ele, entrou e achou ali muitas
pessoas que se tinham reunido e disse: Vós sabeis que é proibido a
um judeu aproximar-se dum estrangeiro ou ir à sua casa. Todavia,
Deus me mostrou que nenhum homem deve ser considerado profano
ou impuro." (At 10, 26-28).
Explicar a seus compatriotas que os pagãos também tinham
direito à mensagem da salvação foi um sério problema que os
apóstolos tiveram de enfrentar no início da Igreja.
A razão de Jesus Cristo concentrar seus esforços em
evangelizar apenas o povo hebreu foi porque cumpria as promessas
anunciadas pelos profetas no Antigo Testamento, mas todos os
estrangeiros que demonstraram grande fé na sua pessoa passaram a
pertencer ao novo povo de Deus, como se percebe na passagem:
"Um deles, vendo-se curado, voltou, glorificando a Deus em alta voz.
Prostrou-se aos pés de Jesus e lhe agradecia. E era um samaritano.
Jesus lhe disse: Não ficaram curados todos os dez? Onde estão os
outros nove? Não se achou senão este estrangeiro que voltasse para
agradecer a Deus?! E acrescentou: Levanta-te e vai, tua fé te salvou."
(Lc 17, 15-19).
As curas feitas por Jesus Cristo representam os primeiros
sinais da vinda do Reino de Deus e antecipam a vitória sobre o
pecado. Será pela Cruz de Cristo que o Reino de Deus será
definitivamente estabelecido.
Referência: A salvação virá para todos (Mt 8, 5-13).
O PERDÃO DOS PECADOS
Alguns dias depois, reuniu-se uma grande multidão ao redor de
Jesus Cristo e Ele a instruía:
“Um dia estava Jesus ensinando.
Ao seu derredor estavam sentados fariseus e doutores da lei.
Apareceram algumas pessoas trazendo num leito um homem
paralítico; e procuravam-no introduzi-lo na casa. Vendo a fé
que tinham, disse Jesus: ‘Meu amigo, os teus pecados te são
perdoados’.
Então os escribas e os fariseus começaram a dizer consigo
mesmos: ‘Quem pode perdoar pecados senão unicamente
Deus?’
Jesus, porém, penetrando nos seus pensamentos, disse: ‘Que
é mais fácil, dizer: Perdoados te são os pecados; ou dizer:
Levanta-te e anda? Ora, para que saibas que o Filho do Homem
tem na terra poder de perdoar pecados (disse ele ao paralítico),
Eu te ordeno, levanta-te, toma o teu leito e vai para casa’.
No mesmo instante, levantou-se ele a vista deles, tomou o leito
e partiu glorificando a Deus.”
(Lc 5, 17-26 )
A MISSÃO DE JESUS CRISTO
Jesus Cristo procura em cada discurso sempre identificar a
missão que lhe foi conferida por Deus, qual seja, “morrer pelos
pecados dos homens” para justificá-los diante de Deus: “Cremos
naquele que dos mortos ressuscitou Jesus, nosso Senhor, o qual foi
entregue por nossos pecados e ressuscitado para a nossa
justificação.” (Rm 4, 24-25). Assim, temos como efeito do mistério da
Redenção que o homem ficou livre do pecado e de suas penas, tanto
do pecado original, pelo Batismo, como de todos os pecados
pessoais ou atuais, pelo Sacramento da Penitência.
A capacidade de assumir os pecados corresponde à outra de
igual valor, a de perdoar os pecados: "Dele todos os profetas dão
testemunho, anunciando que todos os que nele crêem recebem o
perdão dos pecados por meio de seu nome." (At 10, 43).
Os fariseus, fechados em seu egoísmo, não compreendem que
aquele que recebeu o poder de assumir os pecados também pode
perdoá-los: “E disse a ela: Perdoados te são os pecados. Os
(fariseus) que estavam com ele à mesa começaram a dizer, então:
Quem é este homem que até perdoa pecados?” (Lc 7, 47-48).
O perdão reintegra o pecador ao seio do povo de Deus, do qual
o pecado o havia afastado ou até excluído. E, desde que o
arrependimento seja sincero, a Igreja pode perdoar todos os pecados,
por numerosos e graves que sejam, porque Jesus Cristo Lhe
concedeu pleno poder de ligar e desligar. Sendo assim, não há
homem tão ruim e criminoso a quem a Igreja não possa garantir a
certeza do perdão, contanto que sinta verdadeira compunção de seus
pecados. 
Observe que o poder de remissão não se limita a ser aplicado
só em dadas ocasiões. Muito pelo contrário. Em qualquer momento
que o pecador queira recuperar a saúde da alma, a Igreja estará de
braços abertos, conforme o explicou Nosso Senhor quando São
Pedro Lhe perguntara quantas vezes devíamos perdoar aos
pecadores, se porventura sete vezes, Ele respondeu: "Não sete
vezes, mas setenta vezes sete" (Mt 18, 21-22).
Com relação aos ministros que exercem este poder, a Igreja
tem suas restrições. Nosso Senhor não conferiu a todos o
desempenho de tão santo ministério, mas exclusivamente aos Bispos
e sacerdotes. Além disso, restringiu também à maneira de exercer
este poder, ou seja, os pecados só podem ser perdoados por meio
dos Sacramentos, sendo absolutamente obrigatório a observação da
forma prescrita. Fora destas condições, a Igreja não tem nenhum
poder para absolver pecados. Daqui se infere que, na remissão dos
pecados, tanto os sacerdotes como os Sacramentos não passam demeros instrumentos pelos quais Cristo Nosso Senhor, Autor e
Dispensador de nossa salvação, opera em nós o perdão dos pecados
e a própria justificação.
Por fim, resta ressaltar que, apesar das graves conseqüências
que trouxe o pecado original, Deus não nos esqueceu, pois ao
conferir a Sua Igreja o admirável poder de perdoar os pecados; deu-
nos a oportunidade de recuperar, com o auxílio divino, o antigo
estado de graça.
Referência: Autoridade de perdoar os pecados (Mt 9, 1-8).
O ENVIO DOS APÓSTOLOS
Reunindo seus apóstolos, Jesus Cristo confere-lhes o poder de
expulsar demônios e curar todo tipo de mal. Depois, envia-os às
cidades próximas para evangelizar:
“Ide às ovelhas que se perderam da casa de Israel. Por onde
andardes, anunciai que o Reino dos Céus está próximo. Curai
os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos,
expulsai os demônios. Recebestes de graça, de graça dai!.”
(Mt 10, 6-8)
O ENVIO DOS APÓSTOLOS
O momento do envio associa os discípulos para sempre ao
Reino de Deus, pois Jesus Cristo passa a dirigir sua Igreja por
intermédio deles e de seus seguidores.
Desta forma, quem não ouve a Igreja, seu magistério, acaba
por cair em duas passagens bíblicas: a primeira é a de Mt 10, 40:
“Quem vos recebe, a mim recebe. E quem me recebe, recebe aquele
que me enviou.”; a segunda é a de Lc 10, 16: “Quem vos ouve, a mim
ouve; e quem vos rejeita, a mim rejeita; e quem me rejeita, rejeita
aquele que me enviou.”
Portanto, quem deseja seguir Jesus Cristo e não quer seguir a
Igreja está, na realidade, negando o próprio Jesus e Aquele que o
enviou. Por isso, quem não ama a Igreja Católica, não ama
verdadeiramente Jesus Cristo.
Enquanto Jesus Cristo estava entre seus discípulos, a missão
de seus seguidores concentrava-se em anunciar a chegada do reino
de Deus entre os homens. Após sua morte, novos objetivos serão
adicionados. Deverão os apóstolos, além de pregar o evangelho do
reino e chamar à conversão, comunicar o perdão de Deus, obtido por
Cristo para todos, e anunciar a remissão dos pecados pelo Batismo e
fé em Jesus.
O REINO DE DEUS NA TERRA
Jesus Cristo veio ao mundo implantar o Reino de Deus na
Terra. Por conta disso, o discurso a respeito do Reino de Deus
sempre ocupou o centro de Sua pregação.
O Reino de Deus que Jesus Cristo anuncia aparece em seus
primeiros passos de forma bem modesta na terra, desenvolvendo-se
com o tempo até ser conhecida como Santa Igreja Católica.
Em verdade, o Corpo Místico da Igreja é formado por três
Igrejas: a Igreja Militante, os que estão na terra; a Igreja Padecente,
os que estão no purgatório e a Igreja Triunfante, os que estão no céu.
A Igreja triunfante é formada por todos os homens que
triunfaram do mundo da carne e da malícia do demônio, e que, livres
e salvos das provações desta vida, já estão no gozo da eterna
felicidade. A Igreja militante é o conjunto de todos os fiéis que ainda
vivem na terra. A Igreja padecente é composta por aqueles que não
alcançaram imediatamente a recompensa dos seus méritos, e vão
morar num lugar intermédio chamado Purgatório.
O termo “Comunhão dos Santos” indica que todos os membros
do corpo místico de Jesus Cristo, tanto os que estão vivos, como os
que expiam as suas faltas no purgatório e os que estão no céu, vivem
em estreita união, participando de forma comum dos bens
conducentes à felicidade eterna. Portanto, por meio da comunhão dos
santos temos ligação com antigos membros da Igreja militante,
porque a caridade une as três igrejas.
Seus membros são chamados Santos porque são chamados à
santidade, e foram santificados por meio do Batismo, além do que,
muitos atingiram a santidade perfeita.
Observe que não participam da comunhão dos Santos os que
foram condenados, e nesta vida aqueles que não pertencem à Igreja,
quer dizer, aqueles que estão em estado de pecado mortal e se
encontram fora da Igreja Católica.
Também os que estão em pecado mortal não participam de
todos estes bens porque é a graça de Deus, vida sobrenatural da
alma, que une os fiéis a Deus e a Jesus Cristo, que torna os homens
capazes de fazer obras meritórias para a vida eterna; ora, não tendo
estes a graça de Deus, ficam excluídos da comunhão perfeita dos
bens espirituais e não podem fazer obras meritórias para a vida
eterna.
Ainda assim, os cristãos que estão em pecado mortal tiram
algum proveito dos bens espirituais internos da Igreja, porquanto
conservam o caráter de cristãos, que é indelével, e a virtude da Fé
que é a raiz de toda justificação. Por isso são auxiliados pelas
orações e boas obras dos fiéis, para obterem a graça da conversão.
Da mesma forma, os que estão em pecado mortal podem participar
dos bens externos da Igreja, contanto que não estejam separados da
mesma Igreja pela excomunhão.
Os bens espirituais internos são: a graça que se recebe nos
Sacramentos, a Fé, a Esperança, a Caridade, os merecimentos
infinitos de Jesus Cristo, os merecimentos superabundantes da
Santíssima Virgem e dos Santos, e o fruto de todas as boas obras
que na mesma Igreja se fazem.
Os bens externos comuns são: os sacramentos, o Santo
Sacrifício da Missa, as orações públicas, as funções religiosas, e
todas as outras práticas exteriores que unem entre si os fiéis.
Jesus Cristo deixou muitos meios para a Igreja militante
alcançar o céu, bastando utilizá-los. As almas do purgatório, por outro
lado, nada podem fazer para terminar seu tempo de purificação, por
isso, nossas preces e, particularmente, a santa Missa, podem ser
aplicadas para abreviar seu tempo de sofrimento.
Referência: O Envio dos discípulos (Mt 10, 1-42).
SÃO JOÃO BATISTA
Jesus Cristo ao terminar de confirmar aos discípulos de São
João Batista que era mesmo o Messias que devia vir, dirige-se à
multidão:
“Tendo eles partido, disse Jesus à multidão a respeito de João:
‘Em verdade vos digo, entre os filhos das mulheres, não surgiu
outro maior que João Batista. No entanto, o menor no Reino
dos Céus é maior do que ele. Desde a época de João Batista
até o presente, o Reino dos Céus é arrebatado à força e são os
violentos que o conquistam. Porque os Profetas e a lei tiveram
a palavra até João. E, se quereis compreender, é ele o Elias que
devia voltar’.
(Mt 11, 11-14)
É ELE O ELIAS QUE DEVIA VOLTAR
As falsas doutrinas, adeptas do reencarnacionismo, entre elas
o espiritismo, apegam-se a passagem de Mt 11, 14, "E, se quereis
compreender, é ele o Elias que devia voltar", na vã esperança de
provar, por intermédio das Escrituras, a doutrina da reencarnação.
Baseando-se na frase de Nosso Senhor, ensinam que João Batista é
Elias reencarnado.
Ora, a intenção das palavras de Jesus Cristo foi dar a entender
que o oráculo de Malaquias se cumpriu de forma simbólica na pessoa
de São João Batista. Comparando a disposição de São João Batista
em cumprir a vontade de Deus e o conteúdo de sua missão com a de
Elias, Jesus Cristo procurava revelar o seu valor perante os judeus
presentes.
A passagem a que Jesus Cristo se refere é Malaquias 3, 23,
onde encontramos o seguinte oráculo:
“Vou mandar-vos o profeta Elias, antes que venha o grande e
temível dia do Senhor, e ele converterá o coração dos pais para os
filhos, e o coração dos filhos para os pais, de sorte que não ferirei
mais de interdito a terra.”.
A passagem acima nada mais é do que uma forma simbólica
de expressar que antes da vinda do Messias um último profeta
apareceria (João Batista) para preparar a chegado de Jesus Cristo.
Uma prova concreta de que João Batista não é Elias
reencarnado ocorre no Monte Tabor, quando da transfiguração de
Jesus Cristo (Mt 17, 1-13). Perceba que, segundo o ensinamento
espírita, quando o espírito se materializa sempre se apresenta na
forma da última encarnação. Ora, esse fato não acontece na
passagem mencionada. No Monte Tabor quem aparece é Elias e não
João Batista. Caso João Batista fosse à reencarnação de Elias, como
afirma a doutrina espírita, quem deveria aparecer era João Batista e
não Elias, já que o primeiro tinha morrido e não era mais preciso Elias
substituí-lo. Inclusive, é bom

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