Prévia do material em texto
60 SREBP1c e ChREB. Esses fatores de transcrição irão aumentar a atividade de enzimas envolvidas na síntese de gordura, a citrato liase, a acetil-CoA carboxilase e a ácido graxo sintase. O maior estoque de gordura prejudica a hipertrofia, pois o tecido adiposo é um órgão que secreta hormônios que aumentam a saciedade (leptina) e prejudicam a entrada de glicose na célula, as chamadas citocinas infla- matórias. Mais detalhes sobre isto podem ser encontrados no capítulo “carboidrato no bulking”. Portanto, quando nos referimos a sensibilidade à insulina, é a capacidade desse hormônio se ligar no seu receptor de forma fácil, logo, necessitando menos dele, mitigando aqueles efeitos que serão prejudiciais à hipertrofia, como a síntese de gordura e melhorando a ativação da via mTOR e entrada de glicose, formando mais glicogênio e assim proporcionando um treino mais potente. Para que a boa sensibilidade à insulina seja mantida, há alguns pontos que devem ser obedecidos: Não existe bulking com percentual de gordura corporal alto. Todos os me- canismos para isto foram explicados no capítulo “não existe bulking sujo”. Para que essa fase produza ganhos de hipertrofia, deve haver espaço pa- ra o ganho de gordura, e quanto mais gordura você tem, mediante a um superávit calórico, mais gordura ganhará. O superávit calórico DEVE ser baixo-moderado, cerca de 300 a 500 kcal. A hipertrofia muscular não tem dose-dependência com o superávit caló- rico, mas o tecido adiposo tem. Portanto, não adianta se entupir de calo- rias, você só irá prejudicar o ganho de massa muscular. É obrigatório fazer cardio no bulking. A explicação para isto é: com o passar do tempo, a via AMPK passa a ser menos estimulada, já que ela é uma via que aumenta os processos catabólicos na célula, pelo aumento das mitocôndrias através da PGC1-alfa e enzimas que realizam a glicólise, ciclo de Krebs e fosforilação oxidativa, tornando a célula mais eficiente na produção energética. 61 Isso se torna extremamente importante no bulking pois sua capacidade de oxidar mais substrato e melhorar a performance através da maior síntese de ATP, sensibilidade à insulina (pois a célula se torna mais apta à oxidar substrato) e capacidade respiratória— aumentando o limiar de esforço. E por fim, faça etapas de ressensibilização. Geralmente elas são realizadas a cada 6-8 meses de bulking, mas a resposta será ditada pelo metabolismo e genética de cada um. Alguns indicativos claros que uma fase de ressen- sibilização precisa ser feita é: perda de apetite, estagnação no ganho de força mesmo com o treino ajustado, ganho de retenção/gordura exage- rado, letargia após se alimentar. A etapa de ressensibilização consiste em um período de 2-4 semanas de um leve déficit calórico, cerca de 200 a 300. Para entrar nessa fase, pode realizar cortes calóricos bruscos na dieta. Após, pode voltar ao superávit calórico leve. 17 3º SEGREDO: Como driblar o excesso de saciedade e a falta de apetite Embora a falta de saciedade e de apetite seja um indicador da necessidade de entrar na etapa de ressensibilização, ela pode ser simplesmente um fa- tor limitante, caso você não esteja em bulking há um bom tempo, todas as outras variáveis estejam bem controladas e a única coisa disto é o volume alimentar. Os três mecanismos que existem para o controle da saciedade e apetite resi- dem no hipotálamo, no tecido adiposo e na insulina. O hipotálamo recebe informações do preenchimento estomacal através do nervo vago, sensível ao preenchimento do estômago e secreção de hormôniosanorexígenos, como o GLP-1, GIP, nesfatina-1, CCK, PYY, NPY, entre outros. Já o tecido adiposo, ao perceber sua hipertrofia, secreta leptina, um hormônio que aumenta a TMB, reduz a eficiência mitocondrial e sinaliza saciedade. SEGREDOS DO BULKING 63 Já a insulina é capaz de agir no hipotálamo, no núcleo arqueado e na área tegmentar ventral, a fim de diminuir o impulso alimentar. Alguns indivíduos necessitam de grandes aportes calóricos, beirando até as 7-10 mil quilocalorias por dia. E independente do aporte, a dieta deve ter uma base de alimentos saudáveis, para que a sensibilidade à insu- lina, aporte de micronutrientes, perfil glicêmico e lipídico estejam em boas condições. As estratégias que causam a diminuição da falta de apetite e excesso de saciedade são: manipulação da densidade calórica e sensibilidade à insu- lina (olhe o capítulo anterior). Felizmente, existem diversos alimentos saudáveis que são densos em calorias, proporcionando um grande aporte calórico, principalmente de carboidrato e gorduras saudáveis, diminuindo a saciedade por ocupar menor espaço no estômago. ALIMENTOS RICOS EM CALORIAS (use com moderação) 18 QUANTO TEMPO DEVE DURAR O BULKING? Não existe bulking curto. Esta fase é destinada para o máximo de hipertrofia muscular, e como foi mencionado diversas vezes ao longo deste ebook, a hipertrofia leva muito tempo para ocorrer, e para que ela seja potencia- lizada, a exposição ao superávit calórico deve ser longa. Por isso que é extremamente importante que você aplique todos os con- ceitos trazidos aqui: mantenha a boa sensibilidade à insulina; mantenha a saciedade e apetite controlados; fracione suas refeições ao longo do dia de maneira a otimizar a síntese proteica; faça etapas de ressensibilização. O tempo mínimo de bulking deve ser de 6 meses, podendo se estender até a um ano e meio. Trabalhe duro. 19 Direto ao ponto: creatina, cafeína e whey. A creatina tem a função de sintetizar fosfocreatina no mùsculo, fonte de energia utilizada em exercícios de alta intensidade com duração extre- mamente curta, devido ao seu processo de quebra envolver somente uma etapa. Pensando na musculação, ela é o primeiro substrato a ser utilizado. SUPLEMENTOS NO BULKING: Aquilo que funciona! Figura 14 - Creatina e energia. 66 A cafeína é um potente estimulante, por ser uma antagonista dos recepto- res de adenosina no encéfalo. Quando estes receptores são estimulados, eles produzem a sensação de cansaço. Quando sofrem antagonismo, o cansaço é bloqueado. Figura 15 - Ações da cafeína. E por último, o whey. Whey protein nada mais é que a proteína concen- trada, isolada ou hidrolisada do soro de leite. Ela não tem nenhuma pro- priedade exclusiva, serve como qualquer outra fonte de proteína para a hipertrofia muscular. Use somente se necessitar, seja por conta da rotina ou porque gosta. 20 BÔNUS: Treine pesado, coma pesado Para que haja demanda dietética para a hipertrofia, é OBRIGATÓRIO que ela tenha uma forte sinalização provinda do treinamento. Não adianta ter a melhor dieta do mundo se não existe demanda para isto. Muitas pessoas relaxam a dieta durante o período de bulking, e com isso ganham somente gordura, e não massa muscular. Portanto, se quiser ter hipertrofia, treine pesado. E o que seria o treino pesado? É aquele que gera demanda — progresso de carga através do ganho de força (se torne assombrosamente forte); descanse mais que 2 minutos entre as séries, isso proporciona o tempo necessário para que sua célula muscular esteja limpa dos metabólitos da produção energética e pronta para um novo ciclo de contração sob alta tensão; tenha um volume de séries que proporcione o ganho de força — cerca de 10 a 25 séries para cada grupamento muscular; seja consistente no treinamento. Todo dia é dia de ser excelente no treino e na dieta. E para que você coma pesado, é necessário obedecer todos esses pontos 68 citados acima, já que a maior demanda por energia ocorre quando o treina- mento é feito com base na intensidade (intensidade = % do seu 1RM para determinado exercício), pois o acionamento das fibras musculares para a contração muscular necessita de ATP. Quanto maior a intensidade, maior a energia empregada, e maior demanda é gerada. Figura 16 - O ATP é utilizado para recrutar fibras musculares. Quanto maior a intensidade, mais fibras são recrutadas. Treine pesado, coma pesado. Gere demanda,atenda à ela e garanta excedente para gerar ainda mais. Repita isso infinitamente. 21 BÔNUS: O checklist para saber se está evoluindo no bulking Uma dificuldade muito comum entre as pessoas que fazem o bulking é saber se elas estão evoluindo, pois como foi elucidado ao longo deste ebook, a hipertrofia é processo extremamente demorado. Quando você se baseia somente na aparência do seu físico para saber se está progredindo, pode acabar tomando decisões erradas devido à subje- tividade desta métrica, portanto, é necessário estabelecer métricas de curto e longo prazo, que sejam objetivas. Portanto, se quiser saber se está evoluindo no bulking, essas são as métri- cas que você deve utilizar: Ganho de peso lento. A hipertrofia é um processo crônico, então mu- danças bruscas no peso é um indicador de que muita gordura está sendo adicionada ao físico. Mantenha um ganho de 1-2kg por mês. Esses ganhos podem ser semanais se você estiver entrando no bulking após um longo cutting, porém deve obedecer ao ganho citado anteriormente após 1 mês de bulking. 70 Você está ficando mais forte. Um dos pilares da hipertrofia é se tornar mais forte, já que ela ocorre justamente para sustentar novas cargas de trabalho. Comparado ao seu último bulking, você consegue comer mais calorias e se manter mais seco. Esse é um excelente parâmetro, pois indica que tem mais massa muscular e portanto consegue oxidar mais calorias, além de estar sustentando mais carga de treino, gerando maior gasto calórico. Suas medidas magras estão crescendo e as medidas que representam a massa gorda estão estáveis. Algumas medidas magras são a circunferên- cia de braço, de peitoral, de ombro e coxa. As medidas que representam a gordura são a de cintura e abdominal. Você está sentindo as roupas mais apertadas nos locais magros. E por último, fotografe seu físico a cada 1 mês e compare as fotos ao longo do tempo. A evolução estará evidente. 71 Referências ROSS, A. Catharine et al. Nutrição Moderna de Shils. [S. l.: s. n.], 2016. ADAMS, Gregory R.; BAMMAN, Marcas M. Characterization and Regulation of Mechanical Loading-Induced Compensatory Muscle Hypertrophy. Comprehensive Physiology, [S. l.], p. 1-11, 1 out. 2012. DOI 10.1002/cphy.c110066. Disponível em: https://sci-hub.se/10.1002/ cphy.c110066. ALLEN, D.G.; WESTERBLAD, H. Role of phosphate and calcium stores in muscle fatigue. Journal of Physiology, [S. l.], p. 3-7, 1 nov. 2001. DOI 10.1111/j.1469-7793.2001.t01-1-00657.x. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/11691862/. BARKER, Lindsay B. et al. Acute Effects of Carbohydrate Supplementation on Intermittent Sports Performance. Nutrients, [S. l.], p. 2-6, 14 jul. 2015. DOI 10.3390/nu7075249. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26184303/. BOGDANIS, G. C. et al. Power output and muscle metabolism during and following recovery from 10 and 20s of maximal sprint exercise in humans. Acta Physiologica Scandinavica, v. 163, n. 3, p. 261–272, jun. 1998. DOI 10.1046/j.1365-201x.1998.00378.x. DEBOLD EP, FITTS RH, SUNDBERG CW, NOSEK TM. Muscle fatigue from the perspective of a single crossbridge. Med Sci Sports Exerc. 2016;48(11):2270–80. ENOKA, Roger M.; DUCHATEAU, Jacques. Muscle fatigue: what, why and how it influences muscle function. Journal of Physiology, [S. l.], p. 2-5, 16 ago. 2007. DOI 10.1113/ jphysiol.2007.139477. Disponível em: https://sci-hub.se/10.1113/jphysiol.2007.139477. FERRIER, Denise. Bioquímica Ilustrada. 7. ed. aum. [S. l.: s. n.], 2018. HARGREAVES, Mark; SPRIET, Lawrence L. Skeletal muscle energy metabolism during exercise. Nature, [S. l.], p. 2-13, 3 ago. 2020. DOI https://doi.org/10.1038/s42255-020- 0251-4. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s42255-020-0251-4. HOFFMAN, J. et al. Effect of Creatine and ß-Alanine Supplementation on Performance and Endocrine Responses in Strength/Power Athletes. International Journal of Sport Nutrition and Exercise Metabolism, v. 16, n. 4, p. 430–446, ago. 2006. DOI 10.1123/ ijsnem.16.4.430. JEUKENDRUP, Asker; GLEESON, Michael. Nutrição no esporte: Diretrizes nutricionais e bioquímica e fisiologia do exercício. 3. ed. aum. [S. l.: s. n.], 2021. 72 MAUGHAN, R et al. IOC consensus statement: dietary supplements and the high- performance athlete. British Journal Of Sports Medicine, v. 52, n. 7, p.439-455, 2018. MCARDLE, William D. Fisiologia do Exercício - Nutrição, Energia e Desempenho Humano. 8. ed. atual. [S. l.: s. n.], 2016 NELSON, David L. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 7. ed. atual. [S. l.: s. n.], 2018. OSNES, J. B.; HERMANSEN, L. Acid-base balance after maximal exercise of short duration. Journal of Applied Physiology, v. 32, n. 1, p. 59–63, 1 jan. 1972. DOI 10.1152/jappl.1972.32.1.59. Disponível em: https://sci-hub.se/10.1152/jappl.1972.32.1.59. POTVIN, Jim R.; FUGLEVAND, Andrew J. A motor unit-based model of muscle fatigue. PLoS Computational Biology, [S. l.], p. 2-10, 2 jun. 2017. DOI doi.org/10.1371/journal. pcbi.1005581. Disponível em: https://journals.plos.org/ploscompbiol/article?id=10.1371/ journal.pcbi.1005581. POWERS, Scott K.; HOWLEY, Edward T. Fisiologia do exercício: Teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 9. ed. atual. [S. l.: s. n.], 2017. QAISAR, R.; BHASKARAN, S.; VAN REMMEN, H. Muscle fiber type diversification during exercise and regeneration. Free Radical Biology and Medicine, v. 98, p. 56–67, set. 2016. SCHOENFELD, Brad J. The mechanisms of muscle hypertrophy and their application to resistance training. Journal of Strength and Conditioning Research, [S. l.], p. 1-7, 24 out. 2010. DOI 10.1519/JSC.0b013e3181e840f3. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih. gov/20847704/. STONE, Michael H.; STONES, Meg; SANDS, William A. Principiples and Practice of Resistance Training. [S. I.: s.n.], 2007. Disponível em: https://books.google.com. br/books?hl=en&ln=&id=TAVtYOrT1G8C&oi=fnd&pg=PP7&dq=resistance+train i n g + c h a r a c t e r i s t i c s & o t s = B x O h S V 0 P M W & s i g = x f F h 5 h 1 1 v 3 J L 8 4 T 1 Q w 4 V _ HsN0s4#v=onepage&q=resistance%2520training%2520characteristics&f=false. SUCHOMEL, Timothy J. et al. The Importance of Muscular Strength: Training Considerations. Sports Medicine, [S. l.], p. 1-10, 25 jan. 2018. DOI https://sci-hub.se/10.1007/s40279-018- 0862-z. SUNDBERG, Christopher W. et al. Effects of elevated H+ and Pi on the contractile mechanics of skeletal muscle fibres from young and old men: implications for muscle fatigue in humans. The Journal of Physiology, [S. l.], p. 1-11, 17 set. 2018. DOI 10.1113/JP276018. Disponível em: https://sci-hub.se/10.1113/JP276018. 73 KOEPPEN, Bruce M.; STANTON, Bruce A. Fisiologia de Berne e Levy. [S. l.: s. n.], 2018. AIRES, Margarida Mello. Fisiologia. [S. l.: s. n.], 2018. Slater GJ, Dieter BP, Marsh DJ, Helms ER, Shaw G, Iraki J. Is an Energy Surplus Required to Maximize Skeletal Muscle Hypertrophy Associated With Resistance Training. Front Nutr. 2019;6:131. Published 2019 Aug 20. doi:10.3389/fnut.2019.00131. Guest NS, VanDusseldorp TA, Nelson MT, et al. International society of sports nutrition position stand: caffeine and exercise performance. J Int Soc Sports Nutr. 2021;18(1):1. Published 2021 Jan 2. doi:10.1186/s12970-020-00383-4. 3º SEGREDO:Como driblar o excesso de saciedade e a falta de apetite QUANTO TEMPO DEVE DURARO BULKING? SUPLEMENTOS NO BULKING: Aquilo que funciona! BÔNUS:Treine pesado, coma pesado BÔNUS:O checklist para saber seestá evoluindo no bulking Referências