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SISTEMA DIGESTÓRIO DE BOVINOS Anatomia • Rumen: fermentação microbiana e maceração. É o maior pré-estômago e é onde ocorre a fermentação microbiana. Os microrganismos presentes no rúmen são capazes de quebrar fibras vegetais complexas em substâncias simples, como ácidos graxos voláteis e gases. Esses produtos da digestão microbiana são absorvidos pelo animal como fonte de energia. • Reticulo: separação dos alimentos. Localizado ao lado do rúmen, o retículo ajuda a misturar o conteúdo alimentar e a formar bolos de alimentos chamando de “cud”. Este local é onde o animal onde o animal pode regurgitar o cud para mastigação adicional, conhecida como ruminação, antes de engoli-lo novamente para digestão final. • Omaso: absorção de água, minerais e maceração dos alimentos. Muitas vezes chamado de ‘filtro’ ou ‘estômago de água’ porque suas inúmeras dobras ajudam a absorver a água dos alimentos e a filtras partículas não digeríveis que o alimento passe para o abomaso. • Abomaso: digestão química. É o equivalente ao estômago dos humanos como outros animais monogástricos. Aqui ocorre a digestão final das proteínas, carboidratos e gorduras com a ajuda de enzimas digestivas ácidas secretadas pelas células do revestimento o estomago. • O ciclo motor dos reservatórios gástricos é dirigido principalmente pelo nervo vago, que é o maior responsável pela movimentação da musculatura gástrica. • O sistema nervoso autônomo é responsável pela inervação motora dos reservatórios gástricos. • Funções das contrações motoras dos reservatórios gástricos: mistura do liquido a alimentos sólidos, maceração dos alimentos fibrosos, distribuição do material alimentar para que haja absorção dos ácidos graxos voláteis no contato do líquido ruminal com a mucosa do rúmen, filtragem de partículas alimentares (as pequenas vão parao omaso e as maiores volta para o rúmen), eliminação de gases (eructação), regurgitação do material fibroso (nova mastigação e insalivação. • Quando o alimento não é mastigado de forma eficiente e é ingerido, quando chega ao rúmen e ao retículo são submetidos a maceração pelas contrações ruminais e pela degradação (microrganismos presentes no ambiente ruminal). Depois o conteúdo retorna para a cavidade bucal para ser novamente mastigado, insalivado e deglutido. Quanto mais fibrosa for a dieta do bovino, maior será o tempo destinado à ruminação. Cerca de 7h são gastas por dia para ruminar. • Causa de diminuição da ruminação: hipomobilidade ou atonia ruminal, depressão do sistema nervoso central, dor, dano mecânico ao retículo (peritonite) • Timpanismo (gasoso/espumoso) = acúmulo excessivo de gases no rúmen/retículo • As populações microbianas mais importantes que habitam o rúmen são as bactérias, protozoários e leveduras. • Sequência da estratificação do rúmen em um bovino sadio: embaixo líquido e fibras finas; no meio fibras finas; acima fibras longas/grosseiras; no topo conteúdo gasoso. Anamnese • Aspectos fundamentais: Importante analisar emagrecimento, tempo de evolução da doença, tipo de alimentação características macroscópicas das fezes. 1. O animal: histórico do animal e/ou rebanho; tratamento anterior; tempo de evolução. A idade é um dos aspectos mais importantes pois tem relação direta com o desenvolvimento do sistema digestório. Deslocamento de abomaso e reticulite traumática são mais comuns em vacas de leite e raro em bovino de corte. A história da doença é algo muito importante a ser levado em consideração. → Super aguda: 0 a 24h → Aguda: 24 a 96h → Subaguda: 4 a 14dias → Crônica: mais de 14 dias → Transtornos fermentativos (timpanismo espumoso e acidose) = são rápidos → Distúrbios motores e de origem parasitário = quadros longos 2. O ambiente: tipo de criação/manejo -> regime extensivo? Confinados? Por exemplo áreas íngremes e irregulares podem ser causas de ectopia abomasal. 3. A alimentação: tipo de alimentação; mudança no manejo alimentar; relação volumoso concentrado. A alimentação determina o tipo de fermentação, então é importante saber se houve mudança, qual tipo de mudança, há quanto tempo ocorreu... Exame clínico • Exame clínico geral → Atitude e postura: se possível durante alimentação e defecação → Condição dos pelos e pele → Respiração → Corrimentos (ânus, boca...) → Mucosa, linfonodos → Parâmetros vitais: temperatura, FC, FR, frequência dos ruídos ruminais → Estação x decúbito → Escoiceamento do abdômen – DOR! → Apetite e condição nutricional: anorexia, apetite seletivo/pervertido → Ruminação • Suspeita de afecção no TGI: sinais e sintomas indicadores -> não existem sinais/sintomas patognomônicos que determinem com exatidão o comprometimento primário do sistema digestório. a) Assimetria do contorno abdominal: a inspeção a distância é o primeiro passo da conduta do exame. O aumento de volume da cavidade abdominal em um animal com história de anorexia ou inapetência há 2 dias é indicativo de envolvimento do sistema digestório. Deve olhar o animal dos dois lados e determinar o grau de simetria -> pode ser unilateral, bilateral, dorsal, ventral. Em bovinos sadios o lado esquerdo é mais proeminente que o direito. Principais materiais que podem promover alteração no contorno abdominal: o Gás: timpanismo. Deforma na porção ventral do abdômen direito. o Líquido: ascite, uroperitônio. Fica com aspecto caído. o Sólido: ingestão acidental de grande quantidade de grãos de uma única vez, causando acidose ruminal (alteração da flora) e alterações no nervo vago. Deforma na porção ventral do abdômen esquerdo. Se persistir pode afetar a porção superior do flanco esquerdo e lado direito do abdômen. A presença de um feto grande ou dois fetos também pode deixar o abdômen abaulado de forma assimétrica na porção ventral direita. b) Algia abdominal: deve avaliar o animal em posição quadrupedal e em locomoção para ver se ele sente dor abdominal. A dor é associada a vocalização e costuma ocorrer em casos de reticulopericardite traumática. Em casos de acidose o bovino tende a ter o andar devagar, arquear o dorso (cifose), ficar com o pescoço distendido e apresentar uma expressão facial pensativa/ansiosa. Bezerros tendem a ser mais exagerados ao expressar dor -> vocalização (berros), inquietação, movimentos repetitivos de deitar-se e levantar. c) Perda parcial ou total de apetite: pode ser um quadro de anorexia ou inapetência. • Avaliação específica do TGI 1. Porção pré-diafragmática – boca, faringe, esôfago: deve sempre ser iniciada pela boca e o clínico deve analisar a apreensão, mastigação e insalivação dos alimentos. a) Boca → Boca está fechando adequadamente? O fechamento incompleto, eliminação de saliva/alimentos, pode indicar estomatite, glossite (língua), fratura de mandíbula, luxação da ATM. Essas alterações podem causar problemas na mastigação gerando acúmulo de alimentos fibrosos na bochecha e arcada dentária, o que resulta em halitose. → Existem lesões aparentes? Fistulas, edemas, feridas? Processos dolorosos na língua e lábios vão causar emagrecimento e dificuldade de apreensão de alimentos. → Há assimetria de lábios ou da rima labial? → Disfagia (dificuldade de apreensão, mastigação e deglutição): decorrem de processos dolorosos de língua e faringe (gera alteração de postura), obstruções do esôfago por corpos estranhos e estenose por compressão esofágica. → Para realizar a inspeção interna da cavidade bucal deve-se realizar a abertura da boca dos bovinos manualmente colocando a mão lateralmente à boca do animal na região onde não tem dentes (diastema) e girando-a, de preferência com luvas. Pode ser utilizada a formiga. Também pode utilizar um abre-boca (revestido com borracha) para avaliar a porção posterior da cavidade bucal. Após a colocação do abre-boca, a língua do bovino deve ser enrolada com papel toalha ou pano. b) Faringe: para observara faringe é necessário a utilização de um abaixador de língua, mas é difícil mantê-lo, pois a força e mobilidade da língua dos equinos é muito grande. A faringe pode ser palpada interna e externamente. c) Esôfago: a inspeção externa é realizada para verificar se há aumento do volume (megaesôfago), posicionando-se ao lado ESQUERDO do animal. Também pode ser realizada endoscopia e radiografia em caso de corpo estranho e estenose. → Palpação: pode ser feita passando o braço sobre o pescoço do animal e colocando as pontas dos dedos das duas mãos logo atras da faringe e dorsalmente à traqueia, deslizando com pressão moderada. Em geral não é possível sentir a parede esofágica. Se houver suspeita de obstrução esofágica deve ser feita a palpação indireta por meio de sonda para confirmar e localizar o local da obstrução. Animais com obstrução desenvolvem timpanismo e podem regurgitar o alimento recém ingerido. 2. Porção pós-diafragmática 2.1. Pré-estômagos: rúmen, retículo e omaso a) Rúmen: maior compartimento digestório e o mais acessível para o exame físico. Ocupam a maior parte da metade esquerda da cavidade abdominal. Em geral o flanco esquerdo se apresenta tenso, um pouco mais distendido que o direito. Flanco côncavo (retraído) ocorre em casos de anorexia e perda parcial de apetite (tuberculose, leucose, processos dolorosos da cavidade bucal). Em casos de timpanismo ou compactações ruminais é comum o flanco ficar distendido na porção superior. Em geral as alterações tendem a abaular primeiro o lado esquerdo, depois a porção ventral e lateral direita do abdômen. É um ambiente anaeróbico, habitado por bactérias, protozoários e leveduras, de umidade elevado e o pH é variável conforme a alimentação. Deve-se observar a intensidade das contrações ruminais, que são claramente visíveis. → Palpação: da fossa paralombar dorsal esquerda em sentido à prega lateral. Pode ser superficial, profunda e retal. Superficial = palma das mãos para avaliar a intensidade e frequência das contrações ruminais Profunda = mão fechada para avaliar o tipo de conteúdo ruminal e a sensibilidade (ruminite) Retal = fornece melhor resultados do que a palpação pelo flanco, pois todo o saco dorsal é acessível. → Auscultação: nem sempre a presença de ruídos indica motilidade normal, portanto é importante avaliar ritmo, duração e a natureza. Em bovinos sadios a frequência dos movimentos ruminais é de 7 a 12 movimentos a cada 5 minutos, ou de 2 a 3 movimentos a cada 2 minutos. Já em ovinos e caprinos é de 5 movimentos a cada 5 minutos. A frequência pode ser elevada após ingestão de alimentos e durante a ruminação e pode variar de acordo com o que foi ingerido. Duração da auscultação = 3 minutos. O conteúdo no interior do rúmen: na porção dorsal fica o gás, na intermediária a porção fibrosa ainda não digerida em suspensão e na porção ventral fica o conteúdo líquido e sólido, chamado de “suco ruminal”. A intensidade da movimentação deve ser descrita como “ausente (-)”, “diminuída (+-)”, “normal (++-)” e “aumentada (+++)”. → Percussão: → Percussão + auscultação = percussão auscultatória: utiliza dedos ou cabo do martelo. Serve para identificar o acúmulo excessivo de gás dentro do compartimento ruminal ou áreas vizinhas. → A auscultação com baloteamento (sucussão) é mais utilizada que a auscultação simples. Quando associada ao balotamento pode-se identificar chapinhar metálico devido à presença de líquidos e gases em excesso nos órgãos. b) Retículo: o mais cranial dos pré-estômagos e o menos dos 4 compartimentos nos bovinos. É proeminente para a esquerda, cranial e menor que o abomaso. O exame visa detectar o aumento de sensibilidade, pois é um órgão com predisposição para processos inflamatórios (serve de reservatório para corpos estranhos) -> perfurante, reticulo-peritonite, reticulo-pericardite. É unido ao rúmen, não secreta enzimas, parece um favo de colmeia, também é conhecido como “estômago de regurgitamento”. → Não existe inspeção direta pela localização, não há alteração no contorno abdominal em virtude do retículo. → Alteração postural: quando em processos dolorosos sediados no retículo o animal tenta manter os MTs mais elevados que os MPs para aliviar a pressão dos demais órgãos da cavidade abdominal. Também andam mais devagar que os demais animais do rebanho. → Palpação: a superficial é difícil por conta da tensão abdominal. A profunda é realizada para verificar o aumento de sensibilidade na região xifoide. O clínico deve observar se o animal geme, se há alteração na FR ou na amplitude respiratória em razão de dor. → Provas de dor: o Bastão: coloca um bastão sob a região xifoide, o suspende devagar e solta de repente. o Percussão dolorosa: feita com a mão fechada ou com martelo de cabeça de borracha pesada. Dá leves pancadas e depois mais fortes. Evitar fazer sobre as costelas e veia epigástrica caudal para não causar fraturas/hematomas. o Rampa/plano inclinado: o bovino com reticulite traumática reluta em percorrer uma descida e faz bem devagar, pois o corpo estranho penetra mais profundamente na mucosa reticular em razão da grande compressão de órgãos abdominais mais pesados como o rúmen sobre o retículo. Já na subida, o animal demonstra alívio. → Auscultação: é feita na porção ventral entre a 6 e 7 costelas. É um procedimento dispensável em razão da sobreposição dos ruídos ruminais. c) Omaso: separado do retículo e do rúmen. A face visceral (esquerda) está em contato com o rúmen, retículo (orifício retículo-omasal) e abomaso. A face parietal (direita) está relacionada com o diafragma e fígado. Compartimento folhoso, responsável pela absorção de água, sais minerais e ácidos graxos. É praticamente inacessível aos métodos de inspeção, palpação e percussão. Os distúrbios relacionados ao omaso são detectados por meio da laparotomia ou ruminotomia exploratória. 2.2. Estômago verdadeiro – abomaso: em caprinos e ovinos lactentes comporta até 290ml e bezerros em média 2 L. Quando filhotes o abomaso se localiza a esquerda, à medida que vão crescendo passa para o lado direito. Em adultos fica caudalmente entre o rúmen e o omaso. Possui mucosa gástrica glandular, (lembrando o estômago dos monogástricos), é o principal órgão digestivo dos lactentes secretando renina/quimiosina, ácido clorídrico e pepsinogênio, promove a dissociação de lipídios. → Palpação externa: eficiente apenas em pequenos ruminantes e bezerros e para realizar deve-se colocar o animal em decúbito lateral esquerdo. → Auscultação + palpação (baloteamento) e sucussão: realiza-se em bovinos adultos pressionando a parede abdominal com o punho, de maneira alternada. Quando feita sobre um compartimento que contém gás e fluido livres (o que ocorre no deslocamento abomasal) vai produzir ruídos líquidos, como de chuveiro. → Palpação indireta: feita por punção, entre o umbigo e a cartilagem xifoide. → Percussão: realizada entre o 7 e 10 espaço intercostal do lado direito. Em animais adultos utiliza o martelo-plessimétrico e em jovens a técnica digitodigital. O som natural é submaciço, pois tem líquido e gases no interior. A percussão é uma técnica boa para detectar quando o abomaso está deslocado, pois é possível ouvir “pings” ou tilintares. 2.3. Intestinos: delgado e grosso 2.4. Glândulas anexas: fígado e pâncreas • Fezes → Consistência o Normal = pouco pastosa o Diarreia = mais amolecidas o Desidratação/compactação = fezes ressecadas → Coloração o Fezes com sangue escuro – preto – MELENA o Fezes com sangue vivo – hematoquezia o Fezes verde – volumoso o Fezes amareladas • Avaliação do esôfago → Inspeção indireta o Endoscopia o Radiografia contrastada – corpo estranho/estenose → Palpação direta o Sulco jugular esquerdo o Aumento de volume/dor o Corpo estranho – obstrução/disfagia → Palpaçãoindireta: passagem direta de sonda • Paracentese: em ruminantes é recomendável que se colha o líquido peritoneal no local mais próximo de onde o problema está ocorrendo, em virtude da capacidade dos ruminantes restringirem os processos inflamatórios/infecciosos em uma região específica da parede abdominal. Os quadrantes abdominais ficam localizados 5cm caudalmente ao apêndice xifoide e 5cm à esquerda ou direita da linha média.