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1
EDUCAÇÃO EM SAÚDE:
AVANÇOS, MÍDIAS DIGITAIS 
E DESAFIOS DO SÉCULO XXI
DENNIS SOARES
(Organização) 
2
EDUCAÇÃO EM SAÚDE:
AVANÇOS, MÍDIAS DIGITAIS E DESAFIOS DO SÉCULO XXI 
DENNIS SOARES
(Organização) 
FICHA CATALOGRÁFICA
10.48209/978-65-00-17616-2
1.ª Edição - Copyright© 2021 do autor.
CONSELHO EDITORIAL
Msc. Ivanio Folmer -
UFSM- Santa Maria/RS
http://lattes.cnpq.br/2379707211288456
Msc. Gabriella Eldereti Machado – 
UFSM – Santa Maria/RS
http://lattes.cnpq.br/5628308415823159
Dr. Adilson Tadeu Basquerot e Silva 
Centro Universitário para o Desenvolvi-
mento do Alto Vale do Itajaí (UNIDAVI)
http://lattes.cnpq.br/8318350738705473 
Msc. Jesica Wendy Beltrán -
UFCE- Colombia
http://lattes.cnpq.br/0048679279914457
Dra. Fabiane dos Santos Ramos - 
UFSM- Santa Maria/RS
http://lattes.cnpq.br/0003382878348789
Dr. João Riél Manuel Nunes Vieira de 
Oliveira Brito - 
UAL -Lisboa- Portugal.
http://lattes.cnpq.br/1347367542944960
Msc. Rodrigo de Morais Borges - 
UFSM- Santa Maria/RS
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Dra. Alessandra Regina Müller Germani 
- UFFS- Passo Fundo/RS
http://lattes.cnpq.br/7956662371295912
Dra. Micheli Bordoli Amestoy -
 UFSM - Santa Maria/RS
http://lattes.cnpq.br/7865042624189677
Esp. Thais de Melo Amaral Machado - 
UFV- Araxá/MG
http://lattes.cnpq.br/2592090131289979
Dr. Everton Bandeira Martins - 
UFFS - Chapecó/SC
http://lattes.cnpq.br/9818548065077031
Cássio Rodrigo Aguiar - 
UFSM- Santa Maria /RS
http://lattes.cnpq.br/5541624029364072
Dr. Erick Kader Callegaro Corrêa- 
UFN - Santa Maria/RS
http://lattes.cnpq.br/2363988112549627
Dr. Pedro Henrique Witchs - 
UFES - Vitória/ES
http://lattes.cnpq.br/3913436849859138
Msc. Luiza Carbunck Godoi - 
UFRGS- Porto Alegre/RS
http://lattes.cnpq.br/4447866451051627
Msc. Alberto Barreto Goerch -
 UNISINOS-São Leopoldo/RS
http://lattes.cnpq.br/7845816473131059
Dr. Mateus Henrique Köhler - 
UFSM- Santa Maria/RS
http://lattes.cnpq.br/5754140057757003
Msc. Yosani Morales Martínez - 
UFSM - Santa Maria/RS
http://lattes.cnpq.br/3656123692269129
Msc. Alisson Galvão Flores - 
UFSM- Santa Maria/RS
http://lattes.cnpq.br/1218196537137303
Dra. Liziany Müller Medeiros - 
UFSM- Santa Maria/RS
http://lattes.cnpq.br/1486004582806497
Dr. Camilo Darsie de Souza - 
UNISC- Santa Cruz do Sul/RS
http://lattes.cnpq.br/4407126331414792
João Felipe Llehmen - 
UNISC- Santa Cruz do Sul/RS
http://lattes.cnpq.br/9018174122542310
Msc. Claudionei Lucimar Gengnagel - 
UPF - Passo Fundo/RS
http://lattes.cnpq.br/3676481979050032
Msc. Sandi Mumbach – 
UFSM – Santa Maria/RS
http://lattes.cnpq.br/0222637186466933
Esp. Ana Paula Visintainer Coelho - 
UFSM- Santa Maria/RS
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Dra. Aline Ferreira Pain - 
UFSM- Santa Maria/RS
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Msc. Itagiane Jost - 
IFFar - São Vicente do Sul/RS
http://lattes.cnpq.br/7751407219167290
Msc. Flávio Cezar dos Santos 
-SMEDSC- Chapecó/sc
http://lattes.cnpq.br/4711802547326257
Msc. Gabriel de Oliveira Soares - 
UFN - Santa Maria/RS
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Dr. Dioni Paulo Pastorio - 
UFRGS - Porto Alegre/RS
http://lattes.cnpq.br/7823646075456872
Msc. Sara Beatriz Eckert Huppes - 
SEDUC/RS- Santa Maria/RS
http://lattes.cnpq.br/3412482515928321
Dra. Maria Cristina Rigão Iop - 
UNISC - Santa Cruz do Sul/RS
http://lattes.cnpq.br/8028841762393298
Msc. Fagner Fernandes Stasiaki- 
URI
http://lattes.cnpq.br/0614691997654146
Dr. Leonardo Bigolin Jantsch- 
UFSM- Palmeira das Missões/RS
http://lattes.cnpq.br/0639803965762459
Dr. Leandro Antônio dos Santos- 
UFU– Uberlândia/MG
http://lattes.cnpq.br/4649031713685124
Dr. Rafael Nogueira Furtado 
UFJF- Juiz de Fora/MG
http://lattes.cnpq.br/9761786872182217
Adilson Cristiano Habowski-
Universidade La Salle - Canoas/RS
http://lattes.cnpq.br/2627205889047749
Dra. Angelita Zimmermann - 
UFSM- Santa Maria/RS
http://lattes.cnpq.br/7548796037921237
Msc. Anísio Batista Pereira - 
UFU - Uberlândia/MG
http://lattes.cnpq.br/5123270216969087
Esp. Dennis Soares Leite- 
UFSCar-São Carlos/SP
http://lattes.cnpq.br/4205979645558904
Msc. Juliane Paprosqui Marchi da Silva- 
UFSM- Santa Maria/RS
http://lattes.cnpq.br/4553161791704500
Dra. Francielle Benini Agne Tybusch – 
UFN - Santa Maria/RS
http://lattes.cnpq.br/4400702817251869
Msc. Martiéli de Souza Rodrigues - 
UFSM – Santa Maria/RS
http://lattes.cnpq.br/1460690648891778
Msc. Taciana Uecker - 
UFSM – Santa Maria/RS
http://lattes.cnpq.br/9050445553522704
Msc. Helena Maria Beling - 
UFSM – Santa Maria/RS
http://lattes.cnpq.br/1552124711477113
Msc. Natana Pozzer Vestena – 
UFSM – Santa Maria/RS
http://lattes.cnpq.br/1615166675823511
Dra. Janete Webler Cancelier
UFSM – Santa Maria/RS 
http://lattes.cnpq.br/7710315647430813
Msc. Francisco Odécio Sales
Instituto Federal do Ceará (IFCE)
 http://lattes.cnpq.br/5358752623192820
Msc. Camila do Nascimento Cultri
Universidade Federal de São Carlos
http://lattes.cnpq.br/1283889033381595
APRESENTAÇÃO
A educação em saúde ganha cada vez mais notoriedade no meio acadêmico e nas 
discussões externas que mostram a importância de sua prática integradora na so-
ciedade. Quando pensamos em educação em saúde direcionamos a ideia de inter-
venções pautadas no meio acadêmico ou limitada a espaços que trabalham com 
a saúde, certo? Entretanto, sabemos que a educação x saúde perpassa espaços 
caracterizados como dominantes do conhecimento e com isso surgiu a educação 
popular em saúde e todo o impacto para a sociedade contemporânea.
A educação na saúde ainda precisa de mais reflexões frente as suas práticas e for-
mas de aprendizagem, tentando integrar as mídias sociais frente as intervenções de 
ações, além de pensar os desafios nos espaços acadêmicos e prática profissional. O 
Ministério da Saúde possui a Política Nacional de Promoção de Saúde, que objetiva 
identificar os principais pontos de práticas para o cuidado integral e longitudinal. Além 
disso, não podemos limitar a educação em saúde direcionada apenas para profissio-
nais de saúde, mas sim de forma transdisciplinar e consequentemente obtendo um 
maior impacto nas ações.
O livro visa trazer algumas experiências espalhadas pelo Brasil sobre educação em 
saúde e reflexões direcionadas as mídias sociais e desafios no século XXI, que obje-
tiva qualificar e propor ações para potencializar a educação em saúde.
Boa leitura!
SUMÁRIO
REDES SOCIAIS NA INTERNET E A SAÚDE COLETIVA: ALGUMAS 
REFLEXÕES......................................................................................9
Julio Cesar de Lima Ramires
CONSTRUÇÃO DE AÇÕES DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE NO ENSINO 
SUPERIOR.........................................................................................25
Sandrelena da Silva Monteiro
Juliane Figueiredo Fonseca
Gustavo Roberto de Lima
Leandro Damasceno Kreutzfeld
Nathalia Serra Antunes
Raquel Rinco Dutra Pereira
Ruthmary Fernanda de Souza Fernandes
Sarah Menezes Rocha
MUNDO INTERIOR DO ESPECTRO AUTISTA EM DISCUSSÃO: 
TÓPICOS ESPECIAIS EM DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DOS 
SINTOMAS..................................................................................37
Nicolle dos Santos Moraes Nunes
Jacqueline Stephanie Fernandes do Nascimento
Janie Kelly Fernandes do Nascimento
Marcela de Moraes Mesquita 
Dellaiane Caroline Barbosa
Livia Spala Tenorio Faria 
Antônio Marcos da Silva Catharino
Marco Antônio Alves Azizi
Marco Orsini
O SOFRIMENTO PSÍQUICO EM ACADÊMICOS DE MEDICINA 
E O CONSUMO DE PSICOFÁRMACOS: UMA ANÁLISE 
HISTÓRICO-CULTURAL................................................................57
Adaline Franco Rodrigues
Silvia Segovia Araujo Freire
Sonia da Cunha Urt
Soraya Cunha Couto Vital
Marília Camargo Souto
CONCEPÇÕES DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE ACERCA DA 
SEXUALIDADE E PREVENÇÃO DE HIV/AIDS EM IDOSOS USUÁRIOS 
DE CENTRO DE CONVIVÊNCIA.....................................................84Adna Viviane Rocha Freire
Ana Luiza Ferreira Martins
Dennis Soares Leite
Rodolfo Gomes do Nascimento
Keila de Nazaré Madureira Batista
SOBRE O ORGANIZADOR......................................................104
9
10.48209/978-65-00-17616-1
REDES SOCIAIS NA INTERNET E A SAÚDE 
COLETIVA: ALGUMAS REFLEXÕES
Julio Cesar de Lima Ramires1
1 Professor Titular do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de 
Uberlândia. Doutor em Geografia Humana pela USP. Especialista em Geografia da Saúde e Geo-
grafia Urbana. E-mail: ramires_julio@yahoo.com.br. 
10
INTRODUÇÃO 
Vivenciamos profundas transformações no mundo atual, afetando as diferentes 
dimensões da vida social, da política, da economia, da cultura, e também da orga-
nização espacial. As novas tecnologias de informação e comunicação e a internet, 
como uma das suas expressões mais significativas, têm promovido concepções po-
sitivas e negativas sobre suas implicações no modo de vida da sociedade contem-
porânea. Essas posturas são embasadas, teoricamente, em diferentes enfoques e 
paradigmas das ciências sociais e humanas.
 A realização de eventos sobre novas tecnologias e saúde, indicam que essa 
área também está profundamente inserida nessa realidade, e tomando como exem-
plo as edições do Congresso Brasileiro de Medicina de Telemedicina e Telessaúde 
realizado a cada dois anos, desde 2003, é possível verificar a riqueza de aplicações 
nos eixos de Tecnologia da Informação na Saúde (TIC), na Teleducação e na Teles-
saúde. No evento realizado em 2019, por exemplo, procurou-se contemplar sete ei-
xos para a apresentação dos trabalhos, a saber: Teleassistência e Telecuidado; TICs 
na Promoção e Prevenção à Saúde; TICs na Educação Médica e das Profissões da 
Saúde; TICs na Vigilância em Saúde; Tecnologias disruptivas em Saúde; Telemedici-
na e Telessaúde aplicadas à Gestão na Saúde; Legislação e Normas em Telemedici-
na, Telessaúde e Saúde Digital.
 Na 17ª edição do Congresso Brasileiro de Informática em Saúde definiu-se 
seis eixos: Informática Translacional, que trata dos métodos de armazenamento/aná-
lise/processamento de dados clínicos, como o genoma e outros; Informática Clínica, 
que é o uso da tecnologia de informação e comunicação (TIC) no atendimento à 
saúde; Infoestrutura, Interoperatividade e Integração, que trata dos métodos para 
desenvolver, testar e implementar sistemas de captura, registro, compartilhamento e 
integração de dados clínicos; Saúde Digital Global e Mobilidade, que aborda os me-
canismo da informática centrados no usuário; Educação, Treinamento e Formação 
profissional; Organização, Gestão, Avaliação, e Impacto Social da Informática em 
Saúde e da Saúde Global.
No Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde realizado 
11
em 2019, constatamos, por sua vez, apenas um Grupo de Trabalho sobre as novas 
tecnologias em saúde, denominado Internet, saúde e sociedade, subdividido, por sua 
vez, em três eixos: Avaliação de Qualidade de Informação em Saúde na Internet; Em-
poderamento nas Redes Sociais de Saúde na Internet; Experiências de Educação 
em Saúde Online. Deve-se ressaltar, entretanto, que o tema da saúde e novas tec-
nologias digitais está presente em várias disciplinas das ciências sociais e humanas, 
estabelecendo interfaces com a área da saúde. 
Com esses exemplos, podemos ilustrar como as novas tecnologias estão pre-
sentes nas práticas de saúde, com tendência exponencial de crescimento. A conso-
lidação da Internet nos últimos vinte e cinco anos permitiu uma profusão de informa-
ções sobre a saúde, muitas com potencial de esclarecimento, mas também algumas 
de baixa qualidade. O tema medicina e saúde é um dos mais pesquisados nas redes 
sociais no Brasil, com fortes implicações na formação de comportamento em saúde. 
Paciente bem informado pode ser um paciente com papel ativo no seu processo de 
saúde/doença, questionando o saber médico unilateral e hegemônico. Essa é ape-
nas uma, de um leque de possibilidades de uso da internet na área da saúde. 
Os sites de relações sociais se colocam como importantes ferramentas de co-
nexão entre diversos atores, que foram potencializados de forma exponencial a partir 
da difusão do uso dos smartphones, impactando esferas da vida econômica, política, 
cultural de forma irreversível, e a consolidação de sites de redes sociais em escala 
planetária, ratificam a importância desse processo. Segundo dados divulgados pela 
plataforma Olhar Digital, o Brasil é o país mais conectado da América Latina com 
aproximadamente 88% da população acessando as principais redes sociais (Youtu-
be, Facebook, Twitter, Instagram, Snapchat, Pinterest e LinkedIn), e grande parte dos 
desses acessos tem sido feita por meio de dispositivos móveis. 
 Este trabalho procurou levantar algumas reflexões sobre a temática das redes 
sociais digitais na saúde coletiva, ilustrando com um recorte dos artigos publicados 
na Revista – Revista Eletrônica de Comunicação Informação Inovação em Saúde - 
RECIIS editada pela Instituto Fundação Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro. 
12
REDES SOCIAIS EM AMBIENTES DIGITAIS E A SAÚDE COLETIVA: 
ALGUNS CONCEITOS
O crescimento do uso da internet a partir dos anos 1990 e a sua incorporação 
progressiva nas diversas esferas da vida econômica, social e cultural foi acompanha-
do pelo interesse de estudiosos sobre esta temática. Concordamos com Fragoso, 
Recuero e Amaral (2011) que apontam que a internet pode ser vista como objeto de 
pesquisa, como local de pesquisa, bem como, instrumento de pesquisa. 
Com a revolução tecnológica o termo Saúde Digital passou a ser incorporado 
nas práticas cotidianas de saúde, abarcando todos os aspectos envolvendo a articu-
lação da saúde e novas tecnologias digitais. A Sociedade Brasileira de Informática 
em Saúde - SBIS, em seu último evento realizado em dezembro de 2020, definiu a 
Saúde Digital da seguinte forma: 
área de conhecimento e prática, tem como foco o uso das tecnologias digitais 
para atender as necessidades de pacientes, cuidadores, cidadãos, gestores e 
profissionais de saúde. Idealmente, a Saúde Digital combina amplo potencial 
da tecnologia, as necessidades da Saúde e o comportamento, expectativas, 
habilidades e interesses do usuário dos serviços de saúde, em benefício de 
todos. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE INFORMÁTICA EM SAÚDE, 2020). 
O conceito de Saúde Digital começa a aparecer de forma mais constante nas 
discussões sobre as novas tecnologias digitais e a saúde, inclusive em estratégias 
e programas governamentais nacionais e internacionais. O Ministério da Saúde de 
nosso país, por exemplo, define a saúde digital nos seguintes termos: 
compreende o uso de recursos de Tecnologia da Informação e Comunicação 
(TIC) para produzir e disponibilizar informações confiáveis, sobre o estado 
de saúde para quem precisa, no momento que precisa. O termo Saúde Di-
gital é mais abrangente que e-Saúde e incorpora os recentes avanços na 
tecnologia como novos conceitos, aplicações de redes sociais, Internet das 
Coisas (IoT), Inteligência Artificial (AI), entre outros (MINISTÉRIO DA SAÚ-
DE, 2020). 
A Organização Mundial da Saúde aprovou em 2013 uma resolução para que 
os países definissem estratégias de Saúde Digital com base nos padrões de intero-
perabilidade, e desde então vem desenvolvendo esforços para a elaboração de uma 
Estratégia Global de Saúde Digital com iniciativas colaborativas entre países, organi-
zações públicas e privadas e instituições de ensino e pesquisa. (SBIS, 2020). 
13
 De acordo com Tainan e Machado (2015, p. 144) “a relação entre tecnologia e 
cultura, torna-se fluída e dinâmica nas pesquisas da internet, onde os usuários utili-
zam, adaptam, ressignificam e transformam tanto as tecnologias, quanto as práticas 
que nela realizam.”
Segundo Aguiar (2006) os estudos das redes sociais no cenário internacio-
nal pode ser periodizado em quatro grandes fases, a saber:entre os anos 1930 e 
1970, com destaque para a Antropologia, a Sociologia e a Psicologia Social , com 
predomínio de análises socio métricas de organizações sociais, e preocupações 
como os padrões de vínculos interpessoais em contextos sociais específicos; o de-
senvolvimento da “análise de redes sociais” como uma especialidade de pesquisa 
nas Ciências Sociais, entre os anos 1970-1990, utilizando da linguagem matemática 
e metodologias quantitativas facilitadas pelo desenvolvimento dos computares nas 
pesquisas acadêmicas; a partir de meados dos anos 1980, as pesquisas multidisci-
plinares passaram a incorporar a complexidade da vida urbana e a grande expansão 
das tecnologias de informação e comunicação pelas comunicações mediadas por 
computador, interessando-se cada vez mais pelas interações entre pessoas, grupos 
humanos e organizações; no início dos anos 2000, período de divulgação do traba-
lho da referida autora, quando há grande sofisticação da análise das redes sociais 
tende em vista o avanço das tecnologias computacionais. 
O conceito de redes sociais passou a ser diretamente associado ao uso dos 
ambientes virtuais de relacionamentos interpessoais, secundarizando a tradição teó-
rica das Ciências Sociais que elaborou e continua reelaborando o seu conceito ao 
longo de várias décadas. Marteleto (2010, p. 38) assevera que as 
Redes sociais, além de constituírem um conceito, representam metáfora po-
derosa para configurar e representar fenômenos de enredamento em dife-
rentes planos da realidade, desde o biológico e o físico até o existencial e o 
social. Por outro lado, seu poder analítico e interpretativo se amplia com o 
emprego devidamente apropriado dos recursos teóricos e metodológicos das 
Ciências Sociais. 
 Na visão de Mercado e Silva (2013) é importante diferenciar sites de redes so-
ciais das próprias redes sociais. Assim sendo, 
Sites de redes sociais, são interfaces que possibilitam suporte para a comu-
nicação na internet. São espaços virtuais nos quais se estabelecem os laços 
sociais, espaços que propiciam o estabelecimento de interações mútuas ou 
14
reativa entre os atores da rede. (MERCADO; SILVA, 2013, p. 164).
 Os autores ainda afirmam que as mensagens trocadas entre o os usuários das 
redes sociais deixam rastros no ciberespaço, que ao serem quantificados, nos dão 
uma ideia da densidade dessas relações. Deve-se considerar que as interações, flu-
xos e relações sociais tecidas no ambiente virtual são cada vez mais complexas.
Aguiar (2006) procurou discutir a trajetória, as tendências e as lacunas dos es-
tudos sobre redes sociais no Brasil, a partir da literatura acadêmica produzida nos úl-
timos dez anos (1996-2006) por pesquisadores doutores com currículos disponíveis 
na Plataforma Lattes, contemplando dez disciplinas das Ciências Humanas e Ciên-
cias Sociais Aplicadas, e naquela época, já mostrava um crescimento exponencial do 
interesse pelo tema a partir do ano 2000. As informações foram complementadas por 
pesquisa no Google sobre redes de ONGs ativas no país. 
 Pode-se constatar, neste trabalho, algumas limitações por estar circunscrito 
ao período 1996- 2006, e, portanto, datado historicamente. Um conjunto de rápidas 
mudanças ocorreu no mundo das redes sociais e digitais nos últimos 14 anos, sendo 
necessárias algumas ponderações. A despeito disso, é uma referência relevante por 
traçar um panorama, um estado da arte das pesquisas sobre redes sociais nas redes 
digitais no período em que há uma aceleração do uso dessas redes no início dos 
anos 2000. 
 Segundo Aguiar (2006) as pesquisas na Antropologia, Sociologia e Psicologia 
Social foram as que demonstraram maior densidade teórica e maior familiaridade 
com técnicas de análise de redes, ao contrário da área de Comunicação e Ciência 
da Informação, com menores densidades teóricas. 
 Num esforço de síntese dos resultados alcançados pela autora, procurou-se no 
Quadro 1, reproduzir textualmente os focos temáticos que ela encontrou a partir dos 
materiais levantados, por julgarmos relevantes no sentido de podemos visualizar a 
riqueza dos temas já desenvolvidos e lançar pistas para que estudos futuros ampliem 
o seu escopo, com a incorporação de novos temas. Por meio dele podemos consta-
tar que os três grandes focos foram concentrados na questão do acesso, na relação 
sociedade-Estado e nos processos expressão da cidadania, deseja de direitos políti-
cos e subjetividades/sociabilidades. Também nos chama atenção o desenvolvimento 
15
de temas ligados a exclusão/inclusão digital, o ciberativismo, a democracia eletrônica 
e à incorporação das práticas digitais na administração pública. 
Quadro 1 - Focos temáticos predominantes das pesquisas sobre redes sociais e 
redes digitais
Foco Temas
Acesso os meios de informação como 
direito 
Democratização da comunicação; democratização do 
conhecimento; direito à informação na Internet
Acesso aos meios de informação como 
medida compensatória
Inclusão digital; infoexclusão; inclusão informacional; 
exclusão digital; exclusão no mundo globalizado; digital 
devide; telecentro; redes comunitárias; periferia na 
cibercultura; competência informacional;
Relação sociedade-Estado Governo eletrônico; e-Gov; e-goverment; portais 
governamentais; burocracia virtual; governança eletrôni-
ca; governança interativa; gestão participativa em rede; 
cidades digitais; cidades virtuais; cibercidade; rede de 
cidades;
Expressão da cidadania e dos direitos 
individuais
Democracia eletrônica; ciberespaço e democracia; 
democracia na cibercultura; comunicação no ciberespa-
ço; cidadania na Internet; cibercidadania; conversação 
civil na Internet; ciberespaço e espaço público; privaci-
dade na Internet; 
Expressão e defesa de ideias políticas Ativismo político na Internet; webativismo; ciberativis-
mo; ativismo na hipermídia; ativismo digital; ativismo em 
rede; participação política no ciberespaço; 
resistências digitais; ciberterrorismo; 
Expressão de subjetividades e sociabi-
lidade
Comunidades virtuais; encontros virtuais; interações 
telemáticas; comunicação no ciberespaço; sociabilidade 
no ciberespaço; conectividade e auto-organização; 
redes de relações no ambiente virtual; redes de 
conversação; redes sociais na Internet; relações ho-
rizontais na Internet; espaços sociais colaborativos na 
Internet; boatos na Web; sites de relacionamento, chats, 
weblogs, webrings, Orkut. 
Fonte: Aguiar (2006, p. 36-37). Organização: Julio Cesar de Lima Ramires (2020). 
Em relação às questões teórico-metodológicas, Fragoso, Recuero e Amaral 
(2011, p. 178-179) destacam que ainda há muitos desafios da pesquisa empírica na 
Internet, sobre a Internet e com a Internet. 
O momento atual ainda exige uma reflexão mais densa com vistas a práticas 
de pesquisa consistentes e responsáveis que ultrapassem o nível da mera 
observação e coleta de dados utilizando ambientes digitais. A convocação à 
densidade descritiva e interpretativa, bem como a exposição mais clara das 
escolhas éticas tomadas durante o processo, são pontos que ainda necessi-
tam de demarcações teóricas. Nossa posição também reforça as diferenças 
entre a pesquisa acadêmica e a pesquisa de mercado, bem como procurar 
levantar uma abordagem que talvez esteja mais relacionada aos estudos de 
marketing e administração (netnografia) do que à comunicação. 
16
No âmbito ciências humanas, destaca-se a Antropologia, com seus estudos 
sobre o ciberespaço e a dinâmica social, apontando a netnografia como uma das 
ferramentas de análise. Segundo Vasconcellos e Araújo (2015, p. 5)
A netnografia (nethnography, junção de net e ethnography) será um termo 
cunhado pelos pesquisadores americanos Bishop, Star, Neumann, Ignácio, 
Sandusky e Schatz, em 1995 para descrever o uso da comunicação mediada 
por computador, concebida para investigar comportamento de consumo de 
culturas e comunidades presentes na internet.
 Silva (2015), por sua vez, afirma queO termo netnografia foi cunhado pelo professor canadense Robert Kozinets 
por volta de 1995 durante a escrita de sua tese doutoral e já no ano de 1996 
ele passou a publicar artigos e publicações sobre a temática. Há quase duas 
décadas pesquisadores ao redor do mundo têm se debruçado sobre a net-
nografia, mas muitos inclusive desconhecem o estudo pioneiro de Kozinets. 
(SILVA, 2015, p. 38). 
 Robert Kozinets teve um papel importante no panorama acadêmico sobre essa 
temática, tendo em vista seus esforços em sistematizar um método para ser apli-
cado, principalmente nos estudos de administração e comunicação, destacando-se 
Kozinets (1997), e Kozinets (2014). O artigo denominado “I want to believe”: a net-
nography of the X-philes subculture of consumption, publicado em 1997 é uma refe-
rência clássica sobre a temática, que foi ampliado e sistematizado em livro, traduzido 
para a língua portuguesa em 2014. 
 Ao longo de sua trajetória de pesquisa o autor procurou apontar as seguintes 
etapas a serem cumpridas, tais como: a investigação dos possíveis locais de campo 
online, a entrada em campo iniciando as observações; a coleta e análise de dados; 
o estabelecimento de garantias de interpretações confiáveis; a realização de proce-
dimentos éticos, o retorno dos resultados aos atores que foram objeto da pesquisa, 
fortalecendo os mecanismos de validação da pesquisa. 
Para Correia, Alperster e Feurerschutte (2017, p. 164) a pesquisa netnográfica 
apresenta as seguintes características:
baseia-se majoritariamente na análise de textos públicos; concentra-se nas 
interações particulares entre pessoas no ambiente virtual; parte da análise 
de arquivos das comunicações virtuais salvas, sendo, portanto, realizadas, 
a posteriori e analisadas de forma peculiar de interação privada, que se de-
senrola no espaço público. 
17
Diferentes estudos demonstram que os mundos online e offline não são reali-
dade separadas, e que devem ser considerados como um continuum de uma mesma 
realidade. Assim sendo os procedimentos metodológicos precisam dar conta dessa 
complexa e mutante realidade. 
No âmbito das abordagens qualitativas, não existe consenso entre os diver-
sos autores sobre a existência de uma etnografia específica para ser aplicada aos 
espaços virtuais. Alguns defendem a ideia de que simplesmente se utilize o termo 
“etnografia” também para as comunidades virtuais, destacando-se apenas as suas 
particularidades. 
 Merece destacar o aparecimento na literatura acadêmica a expressão saúde 
móvel ou m-Health, definida como as práticas médicas e de saúde pública apoiadas 
por dispositivos móveis, tais como, os telefones celulares, os smartphones e os table-
ts), com potencial para aumentar a qualidade e a eficiência dos cuidados de saúde, 
e o trabalho de Araujo et al. (2016) é uma referência importante nessa discussão. 
AS REDES SOCIAIS NA INTERNET E AS QUESTÕES DE SAÚDE: 
COMENTÁRIOS A PARTIR DA REVISTA ELETRÔNICA DE COMUNICA-
ÇÃO, INFORMAÇÃO E INOVAÇÃO EM SAÚDE
A Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde (Re-
ciis) é editada, desde 2007, pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica 
e Tecnológica em Saúde (Icict) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), tendo caráter 
interdisciplinar com publicado trimestral e de acesso aberto. Publica textos sobre 
temas das áreas de Comunicação, Informação e Saúde Coletiva e a partir de 2019, 
a Reciis passou a editar dossiês temáticos que, dentro de uma edição específica e a 
partir de um tema motivador. Sua escolha levou em conta o fato de estar vinculada a 
uma importante instituição de saúde do país e ter seu foco na interface comunicação, 
informação e saúde coletiva. 
A Revista pode ser acessada pelo endereço http://reciis.icict.fiocruz.br. A partir 
do sistema de busca da revista utilizando-se a palavra-chave rede social, identificou-
-se cinquenta e dois artigos, excluídos os editoriais e resenhas. Em seguida, pesqui-
sou-se o conteúdo de cada artigo, e exclui-se aqueles que não guardavam relação 
direta com nosso objetivo, ou seja, uso e utilização das redes sociais e sua interface 
http://www.icict.fiocruz.br/
http://www.icict.fiocruz.br/
http://portal.fiocruz.br/
file:///C:\Users\julio\Downloads\ARTIGO-SAUDE-2020\A
http://reciis.icict.fiocruz.br
18
com questões da saúde. Assim, nosso corpo de análise ficou restrito a quinze artigos 
arrolados no quadro 2. 
Constatou-se que a maioria dos artigos foram publicados após 2018, com maior 
número no ano 2020, o que pode ser associado ao fenômeno da pandemia mundial 
do coronavírus, momento em que a temática da saúde passou a ter grande impor-
tância na vida cotidiana das pessoas e as redes sociais foram o principal veículo de 
comunicação de massa. 
Muitos artigos não registravam a palavra-chave rede social, mas seu conteú-
do abarcava o tema selecionado. A leitura do resumo de cada artigo, nos ajudou no 
processo de seleção. 
Quadro 2 – Artigos selecionados da Revista Reciis sobre a temática das redes 
sociais digitais
Autor Título
 Barcelos, Lima, Aguiar 
(2020) 
Blogs e redes sociais na atenção à saúde da família: o que a 
comunicação online traz de novo?
Fernandes, Montuori 
(2020) 
A rede de desinformação e a saúde em risco: uma análise das fake 
news contidas em ‘As 10 razões pelas quais você não deve vacinar 
seu filho’
 Oliveira, Quinan, Toth 
(2020)
Antivacina, fosfoetanolamina e Mineral Miracle Solution (MMS): 
mapeamento de fake sciences ligadas à saúde no Facebook
Teixeira e Costa (2020) Fake news colocam a vida em risco: a polêmica da campanha de 
vacinação contra a febre amarela no Brasil
 Barreto, Amorim e Al-
meida (2020)
Zika e microcefalia no Facebook da Fiocruz: a busca pelo diálogo com 
a população e a ação contra os boatos sobre a epidemia 
Silva e Gomes (2020) Disputas pela significação no discurso do HIV/aids: um percurso na 
ciência, na literatura, na militância LGBTI e nos canais do YouTube
Pinto (2019) Marketing social e digital do Ministério da Saúde no Instagram: 
estudo de caso sobre aleitamento materno
Prychodco e Bitten-
court (2019) 
Redes sociais sobre Transtorno do Espectro Autista no Facebook 
como suporte interpessoal: implicações nos processos de 
governança em saúde
 Oliveira et al (2019) Esperança x sofrimento nas mídias sociais: o que motiva seguidores 
do Instagram a seguir a temática câncer?
Stolarsk et al (2018) Blogueiros fitness no Instagram: o corpo e o merchandising editorial 
de suplementos alimentares
 Bilottiet al (2017) m-Health no controle do câncer de colo do útero: pré-requisitos para o 
desenvolvimento de um aplicativo para smartphones
Antunes et al (2016) Arquivos visuais relacionados ao vírus Zika: imagens no Instagram 
como parte da constituição de uma memória da epidemia
Sampaio, Silva, e Este-
ves (2014)
Proposta de metodologia para análise de redes sociais aplicadas a si-
tes de saúde
19
Pessoni (2012) Uso da rede social Facebook como ferramenta de comunicação na 
área de educação em saúde: estudo exploratório produção científica 
da área – 2005 a 2011
 Capretz et al (2009) Tecnologias de Internet em uma plataforma de colaboração para a 
pesquisa médica
Fonte: Site da Revista Reciis (2020). Organização: Julio Cesar de Lima Ramires
Nessa leitura procurou-se identificar a formação dos autores, a discussão teó-
rico-conceitual, a descrição da metodologia e a apresentação dos resultados. Consi-
derou-se apenas a última formação dos autores, indicada na introdução do trabalho, 
e nas edições em que não existia essa informação recorreu-se ao currículo lattes. 
Em nove artigos identificou-se formação diversificada de autores em um mes-
mo artigo, e em seis trabalhos, os autores possuíam formação semelhante. Houve 
um predomínio de autores oriundos da área de Comunicação, Informática e Saúde, 
que pode estar associado a principal área de indexação da revista e a sua inser-
ção noInstituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde 
da Fundação Oswaldo Cruz. Outras áreas aparecem com baixa presença tais como, 
as Ciências Sociais, as Relações Internacionais, a História, a Química e a Linguísti-
ca, com apenas um autor, e as Artes, a Educação e a Psicologia com dois autores. 
O Facebook e o Instagram foram as redes sociais mais estudadas, e tivemos 
apenas um registro sobre o WhatsApp. O Trabalho de Barreto, Amorim e Almeida 
(2020) analisou a abordagem da Zika Vírus e a macrocefalia pela página da Fundação 
Oswaldo Cruz no Facebook, apresentando os procedimentos metodológicos com 
muita clareza, podendo servir de exemplo para outras pesquisas dessa importante 
rede social. 
Na maioria dos artigos não há uma discussão teórico-conceitual densa, ampa-
rada em pressupostos das Ciências Sociais, e alguns deles, a apresentação desse 
tópico foi bastante limitada. A Antropologia, por exemplo, possui uma grande baga-
gem sobre a discussão da cibercultura e do ciberespaço, que não foram considera-
das nos artigos ao abordar o tema das redes sociais. Entretanto, os trabalhos de 
Fernandes e Montuori (2020) e Prychodco e Bittencourt (2019) nos bridaram com 
boa discussão conceitual. 
Com relação aos procedimentos metodológicos há uma distribuição relativa-
http://www.icict.fiocruz.br/
http://portal.fiocruz.br/
20
mente equitativa entre as abordagens quantitativa, qualitativa e quali-quanti para o 
conjunto dos quinze artigos. No geral, há uma boa descrição dos procedimentos 
metodológicos e leitura dos dados. Nos chamou atenção os trabalhos de Oliveira, 
Quinan e Toth (2020), Barcelos, Lima e Aguiar (2020), Stolarsk et al (2018) e Antunes 
et al (2016), que apresentam com grande clareza a metodologia utilizada, bem como 
uma excelente descrição e análise dos dados. 
CONCLUSÃO
 A aproximação das Ciências Sociais e Humanas pode ser bastante produtiva 
para outras áreas do conhecimento, tendo em vista a gama de conceitos e procedi-
mentos metodológicos sobre a dinâmica social e as redes sociais digitais.
Deve-se lembrar, por exemplo, que o conceito de rede social faz parte da tradi-
ção dessa ciência. As áreas da Comunicação e Informática, que veiculam a maioria 
dos artigos na Reciis poderão enriquecer suas análises a partir dessa associação. A 
Saúde Coletiva, também em foco nesta revista, já possuir maior tradição de aproxi-
mação com as Ciências Sociais e Humanas. 
 Não se pode considerar que o uso das redes sociais e as questões de saúde 
se processam de forma homogênea no ciberespaço, tendo em vista que em muitos 
países a exclusão digital é fato concreto, sendo necessário estratégias urgentes 
para a sua superação, tendo em vista as rápidas transformações tecnológicas, e 
a necessidade de empoderamento dos grupos sociais de baixa renda. Novas 
tecnologias informacionais e desigualdades socioespaciais se cruzam de forma 
aguda na contemporaneidade nos países periféricos, com destaque para as grandes 
desigualdades sociais do Brasil, com forte implicações na formação de um grupo 
social de reserva, despojados completamente do acesso à internet de baixo custo e 
de alta qualidade. 
O interesse da população em buscar informações sobre saúde nas redes so-
ciais tem seu lado relevante, mas também levanta preocupações sobre a sua quali-
dade e veracidade, e a grande proliferação de fake News envolvendo essa temática 
reforçam ainda mais nossas inquietações. 
A pesquisa da/nas redes sociais digitais levanta também um conjunto de refle-
xões sobre ética, tendo em vista os paradoxos e ambiguidades envolvendo o público 
21
e o privado no ciberespaço. 
O recorte de análise de apenas uma revista apresentou seus limites, mas apon-
tou possibilidades de pesquisas futuras envolvendo um número maior de periódicos, 
utilizando-se de procedimentos bibliométricos mais sistematizados. 
Deve-se fomentar e valorizar as pesquisas que articulem de forma consistente 
a teoria, os procedimentos metodológicos e a descrição e análise dos dados e infor-
mações coletadas. A boa pesquisa é aquela que prima por esta articulação. 
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25
10.48209/978-65-00-17616-A
CONSTRUÇÃO DE AÇÕES DE EDUCAÇÃO EM 
SAÚDE NO ENSINO SUPERIOR
Sandrelena da Silva Monteiro2
Juliane Figueiredo Fonseca3
Gustavo Roberto de Lima4
Leandro Damasceno Kreutzfeld5
Nathalia Serra Antunes6
Raquel Rinco Dutra Pereira7
Ruthmary Fernanda de Souza Fernandes8
Sarah Menezes Rocha9
2 Pedagoga, Mestre e Doutora em Educação, pela UFJF. Professora do Departamento de 
Educação da UFJF. Coordenadora do Grupo Acolhe. sandrelenamonteiro@gmail.com
3 Arquiteta e Urbanista, Doutora em Arquitetura e Urbanismo, pela UFRJ. Professora do 
Departamento de Projeto, Representação e Tecnologia da FAU/UFJF. Vice-Coordenadora do 
Grupo Acolhe. julianeffarq@gmail.com
4 Licenciando em Ciências Sociais, pela UFJF. Bolsista do Grupo Acolhe. limaufjf@gmail.com
5 Graduando em Filosofia, pela UFJF. Bolsista do Grupo Acolhe. leandrodk@yahoo.com.br
6 Licencianda em Artes Visuais, pela UFJF. Bolsista do Grupo Acolhe. nathalia.serra@design.
ufjf.br
7 Pós-Graduanda do PPGE/UFJF – Mestrado em Educação. Voluntária do Grupo Acolhe. 
raquelrincodutra@gmail.com
8 Graduanda em Pedagogia, pela UFJF. Bolsista do Grupo Acolhe. ruthmaryjf@gmail.com
9 Pós-Graduanda do PPGE/UFJF- Mestrado em Educação. Voluntária do Grupo Acolhe. 
sarahmenezesrocha@gmail.com
26
CONSTRUÇÃO DE UM CENÁRIO 
A entrada no ensino superior assume grande destaque no projeto de vida 
de muitos jovens brasileiros. A promessa de mobilidade social, com emprego, 
moradia e salário dignos faz com que muitos desses dediquem anos de suas 
vidas aos estudos escolares com um único objetivo: acesso ao ensino superior. 
No Brasil, especialmente nas últimas décadas temos assistido algumas mudanças 
concretizadas com a implementação de ações como o Programa de Financiamento 
Estudantil (FIES – 2001), o Programa Universidade para Todos (ProUni – 2004) e 
o Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI – 
2007). especialmente, com esse último, com a interiorização das universidades, com 
a criação do Sistema de Seleção Unificada SISU – 2010) e adoção de políticas de 
cotas étnicas, raciais e egressos do Ensino Médio público (Lei de Cotas – 2012).
Com essas mudanças muitos grupos de jovens, anteriormente excluídos do 
ensino superior começam a ter acesso a ele, não obstante ser, ainda, de forma 
incipiente.
Não raras vezes o projeto de entrada no ensino superior é gestado no âmbito da 
família, com grandes expectativas. No entanto, em todo esse planejamento, de anos 
e muita dedicação, comumente um item não é desenvolvido: aquele que contempla 
os desafios inerentes à vida acadêmica no ensino superior. Coulon (2017) nos 
ajuda a entender alguns destes desafios. Segundo esse autor, ao entrar no ensino 
superior, é exigido do estudante um aprendizado muito particular: aprender o ofício de 
estudante. Esse aprendizado implica a relação com as regras e saberes que exigem 
competências culturais e intelectuais. Há que se fazer uma ruptura com a cultura do 
Ensino Médio para adentrar “uma nova cultura, mais complexa, mais sofisticada, e, 
portanto, mais difícil de decodificar e de se apropriar posto que mais simbólica” (p. 
1242). Essa ruptura não se faz apenas em uma questão pedagógica, mas também 
existencial, visto que lhe é exigida uma postura de maior autonomia não apenas diante 
do saber, mas nas decisões da vida. Para o autor, fazer as rupturas necessárias para 
adentrar a nova vida assemelha-se a um processo de afiliação, em que é cobrado 
dos estudantes “descobrir as rotinas, as evidências, as regras, os novos códigos da 
universidade. Por exemplo, o trabalho intelectual que não é explicitamente solicitado 
27
pelos professores e que é, contudo, indispensável ao sucesso” (p. 1243). 
Diante das evidências pode-se inferir que se avançamos no acesso, ainda há 
muito o que se fazer para que todos os estudantes, independente de que caminhos 
os trouxeram ao ensino superior, tenham condições de existência que lhe permitam 
permanecer e concluir os estudos com qualidade de vida, especialmente qualidade 
em saúde mental. Tal advertência se faz pertinente frente aos números alarmantes 
que apontam para o adoecimento discente no ensino superior (VASCONCELOS et 
al, 2015; GONÇALVES et al, 2015; ANDRADE et al. 2016; ARCCOSI, 2015; SOUZA, 
CALDAS, DE ANTONI, 2017, MACHADO, 2018, MONTEIRO e PEREIRA, 2019). ”
Os dois últimos relatórios do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Co-
munitários e Estudantis (FONAPRACE - 2016 e 2018) apontam dados muito preo-
cupantes quanto ao sofrimento psíquico revelado pelos estudantes. Em 2016, as 
principais queixas apontadas foram: ansiedade (58,3%), desânimo/falta de vontade 
persistente (44,7%), insônia/alteração do sono (32,5%), desamparo/desesperança 
(22,5%) e solidão (21,2) (FONAPRACE, 2016). Em 2018, 13,7% de estudantes pro-
curaram atendimento psicológico, 9,7% declararam fazer acompanhamento psico-
lógico e 39,9% fazem ou fizeram uso de medicação psiquiátrica. Em relação ao uso 
de substâncias psicoativas, 2,5% dos estudantes fazem uso de tabaco e derivados, 
6,3% fazem uso regular de drogas ilícitas e 26,5% dos estudantes fazem uso fre-
quente e eventual de álcool, o que evidencia um aumento no número de estudantes 
usuários de álcool (12,5%) em relação à pesquisa realizada em 2016 (FONAPRACE, 
2018, p.202). Essas são respostas que jovens estudantes do ensino superior têm 
dado à vida.
 É diante deste cenário preocupante que o Grupo Acolhe: Estudos e Pesquisa 
em Educação, Desenvolvimento e Integralidade Humana, da Faculdade de Educa-
ção da Universidade Federal de Juiz de Fora (Grupo Acolhe-FACED-UFJF) tem se 
constituído em um espaço-tempo de construção de ações de educação em saúde 
voltado a estudantes do ensino superior.
Ao longo deste trabalho buscaremos apresentar um dos nossos projetos e 
ações que se desdobram no decorrer do ano de 2019, visando promover a Educação 
em Saúde entre os estudantes do ensino superior, especificamente no âmbito da 
Universidade Federal de Juiz de Fora (Campus Juiz de Fora).
28
CONSTRUINDO AÇÕES DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE 
Os resultados das pesquisas desenvolvidas pelo Grupo Acolhe sobre 
adoecimento discente não foram diferentes das já mencionadas: indícios de 
adoecimento discente, marcado especialmente pela presença de palavras como 
ansiedade, depressão, desânimo, medo, cansaço, suicídio (MONTEIRO, et al, 2019; 
MONTEIRO e PEREIRA, 2020). 
A realidade, na nossa Universidade, nos convocou a agir. Foi quando demos 
início ao primeiro Projeto de Extensão, nomeado “ACOLHE: construção de valores 
inclusivos e promoção de educação em saúde”, tendo como principal objetivo 
constituir-se em um espaço-tempo de acolhimento e vivências que se fundamentem em 
valores que vislumbram relações interpessoais mais humanas e menos excludentes, 
vivências nas quais o sentido de comunhão com as diferenças sefaça mister. Como 
meta, visávamos o desenvolvimento de ações de educação em saúde (CANDEIAS, 
1997) com ênfase na promoção de fatores de proteção e resiliência (COIMBRA e 
MORAIS, 2015, GROTBERG, 2005) junto aos estudantes do ensino superior.
Ao trazer para esse contexto a reflexão sobre resiliência, fazemos a partir de 
um entendimento de resiliência enquanto um “processo interativo entre o sujeito e o 
meio, sobretudo ao ser vista como uma alteração individual em resposta aos meca-
nismos mediadores de risco” (COIMBRA e FRANCISCO, 2015, p. 68). Aqui, resiliên-
cia é concebida como um processo dinâmico e flexível, implicado pelo meio em que a 
pessoa se encontra, uma vez que essa construção se dá nas relações interpessoais, 
transitando do “plano interpsíquico para o intrapsíquico. Ou seja, ao se dirigir para o 
interior. Potencializa tanto os recursos próprios do indivíduo, já consolidados, quanto 
sua atitude para recorrer àqueles de sua comunidade, os quais podem não estar sob 
seu alcance” (COIMBRA e FRANCISCO, 2015, p. 65). 
Em conformidade com essa perspectiva, buscamos dialogar também com 
Grotberg (2005), que apresenta resiliência como sendo a faculdade humana de en-
carar e superar os desafios saindo deles transformado e fortalecido.
Ao trazer a ideia de educação em saúde, corroboramos com Candeias (1997, 
p. 210) ao esclarecer o conceito nos seguintes termos: 
29
Entende-se por educação em saúde quaisquer combinações de experiências 
de aprendizagem delineadas com vistas a facilitar ações voluntárias condu-
centes à saúde. A palavra combinação enfatiza a importância de combinar 
múltiplos determinantes do comportamento humano com múltiplas experiên-
cias de aprendizagem e de intervenções educativas. A palavra delineada 
distingue o processo de educação de saúde de quaisquer outros processos 
que contenham experiências acidentais de aprendizagem, apresentando-o 
como uma atividade sistematicamente planejada. Facilitar significa predis-
por, possibilitar e reforçar. Voluntariedade significa sem coerção e com plena 
compreensão e aceitação dos objetivos educativos implícitos e explícitos nas 
ações desenvolvidas e recomendadas. Ação diz respeito a medidas compor-
tamentais adotadas por uma pessoa, grupo ou comunidade para alcançar um 
efeito intencional sobre a própria saúde (CANDEIAS, 1997, p. 210) (grifos da 
autora).
Ao construir suas ações, o Grupo Acolhe buscou por uma metodologia que 
atendesse a suas necessidades de ações e ao mesmo tempo desconstruísse barreiras 
hierárquicas tão comuns no mundo acadêmico. 
Nesse caminhar encontramos a proposta de Círculos de Cultura de Paulo Frei-
re (2018), o qual nos inspirou para construção das Rodas de Conversa, e a encontrar 
os Temas Geradores (FREIRE, 2018) para as mesmas.
O círculo de cultura – no método Paulo Freire – re-vive a vida em 
profundidade crítica. A consciência emerge do mundo vivido, objetiva-o, 
problematiza-o, compreendendo-o como projeto humano. Em diálogo circular, 
intersubjetivando-se mais e mais, vai assumindo, criticamente, o dinamismo 
de sua subjetividade criadora. Todos juntos, em círculo, e em colaboração, 
reelaboram o mundo [...] (FREIRE, 2018, p. 24)
 
Essa construção se deu em diálogo e parceria com Centros Acadêmicos (CA’s) 
e Diretórios Acadêmicos (DA’s) de diversos cursos e áreas. Com essa escolha meto-
dológica alcançamos uma prática interdisciplinar e intersetorial. 
À medida que as rodas de conversas iam acontecendo, foi ficando cada vez 
mais explicitado que falar de adoecimento discente configurava, ainda, tabu na 
universidade. Certamente, esse era o motivo pelo qual ainda ficava tão invisibilizado. 
Foi, novamente, o diálogo com Paulo Freire (2018) que nos fez compreender a 
necessidade de transformar o adoecimento discente em um percebido destacado. 
Visualizando a possibilidade de construção de estratégias de resiliência (GROTBERG, 
2005, COIMBRA e MORAIS, 2015) como um inédito viável. E, assim, a construção 
de um sonho possível (FREIRE, 2014): a vida acadêmica em que o adoecimento não 
fosse condição sine qua non.
30
Nas rodas de conversa, inspiradas nos Círculos de Cultura, percebíamos a 
configuração de um ambiente coletivo e horizontal, de discussão e desvelamento da 
Cultura do Silêncio e do individualismo ainda predominante na vida acadêmica. A cul-
tura do silenciamento, ao mesmo tempo em que fecha os indivíduos em si mesmos, 
alimenta um sentimento de solidão e desamparo generalizados.
As rodas de conversa aconteciam com periodicidade quinzenal e eram itineran-
tes, ou seja, aconteciam em lugares e horários diferentes, de forma alcançar o maior 
quantitativo possível de estudantes. Os lugares mais comuns eram: Jardim Pedagó-
gico da Faculdade de Educação (FACED), Praça do Instituto de Ciências Humanas 
(ICH), Corredor da Faculdade de Engenharia, Galpão da Faculdade de Arquitetura 
Urbanismo (FAU), Praça da Reitoria.
Imagem 1 – Roda de conversa no estacionamento da Faculdade de Engenharia.
Fonte: Arquivo do Grupo Acolhe
31
Imagem 2: Roda de conversa no Galpão da Faculdade de Arquitetura Urbanismo
Fonte: Arquivo do Grupo Acolhe (2019)
De forma a criar uma imagem de identificação do local onde a roda de conversa 
estava acontecendo, o Grupo Acolhe construiu uma tenda, com TNT colorido, de tal 
forma que a presença da tenda sinalizava que ali estava acontecendo uma ação de 
promoção de educação em saúde.
Imagem 3 – Tenda do Grupo Acolhe
Fonte: Arquivo do Grupo Acolhe (2019
32
No ano de 2019, as ações ocorreram presencialmente, montávamos a tenda, 
muitas vezes, à sombra de alguma árvore, sentávamo-nos em roda e o diálogo se 
estabelecia. Aos poucos os estudantes iam chegando, se sentando e participavam 
da conversa. Alguns compartilhavam seus desafios, outros apenas escutavam, inte-
ragiam pelo riso, olhar ou outra expressão corporal.
As rodas tinham um tema gerador, o qual era sempre construído por um valor 
que se configurava como um convite à ação, uma ação crítica e autônoma diante 
da vida e dos desafios que a vida universitária apresenta. Ainda, nos adverte Frei-
re (2018, p. 138) que, é “preciso que nos convençamos de que as aspirações, os 
motivos, as finalidades que se encontram implicitados na temática significativa são 
aspirações, finalidades, motivos humanos”. Foi com essa compreensão que, nas ro-
das, Esperança, se configurava como prática de resistência; Solidariedade como prá-
tica de proteção; Respeito como prática de humanização; Cooperação como prática 
de resiliência; Amizade como prática educativa e como prática de aprendizagem; De-
cisão como prática de desenvolvimento. Por meio dessas ações, valores inclusivos 
apontavam caminhos para construção de estratégias de resiliência ante os fatores 
estressores presentes na vida acadêmica: competitividade, individualismo, desuma-
nização, opressão, avaliação, exclusão.
NOTÍCIAS EM NÚMEROS: UM BALANÇO NECESSÁRIO
 Todas as ações, não importa sua extensão ou complexidade, exigem, que 
de quando em quando se pare para um balanço. Uma avaliação, uma análise que 
permita visualizar o caminho percorrido, as construções feitas, mas também o que 
ainda não o é, mas precisa tornar-se.
 O adoecimento discente, fruto de adversidades inerentes à vida acadêmica é 
fato constatado. Resta agora encontrar, inventar se necessário for, estratégias e ações 
que permitam uma outra construção no mundo universitário em que o adoecimento 
não tenha tamanho protagonismo.
 Foi com esse ideal que o Grupo Acolhe se colocou a trabalhar. Fazendo o 
balanço das ações de 2019 temos algo apresentar. 
33
Quadro 1 - Ações Grupo Acolhe – 2019 
Ações
Parcerias com DA’s e CA’s
Rodas de conversa
oficinas
palestras
Grupo Focal
Em números
27
12
04
02
01
Presença de estudantes nas rodas de conversa Aproximadamente 140 
Fonte: Arquivos do Grupo Acolhe (2019)
 As ações apresentadas no quadro 1 foram desenvolvidas no período de maioa 
dezembro de 2019. Nossa avaliação diante deste balanço é bastante positiva, tanto 
pelas ações realizadas, quanto pela participação dos estudantes.
 Paralelo a estas ações, que se voltavam a toda a comunidade acadêmica, 
semanalmente o Grupo Acolhe se reunia para sua formação interna, quando 
aconteciam os estudos teóricos, organização das ações, construção de trabalhos 
a serem apresentados e publicados em eventos acadêmicos e outros. A partir dos 
registros, na forma de narrativas, realizados ao final de cada roda de conversa, 
construímos um acervo de depoimentos dos estudantes que muito têm contribuído 
para a continuidade das ações.
EDUCAÇÃO EM SAÚDE: A CONVERSA TEM QUE CONTINUAR...
Finalizando essa escrita podemos destacar como um dos maiores aprendiza-
dos no âmbito de nossas ações se refere ao trabalho em grupo. O trabalho em grupo, 
e, especialmente em um grupo interdisciplinar, intergeracional e intersetorial, faz uma 
grande diferença no sucesso ou insucesso de uma ação. Podemos afirmar que o es-
forço conjunto de todos os envolvidos no projeto é a melhor e mais eficaz estratégia 
de promoção de saúde mental. 
Aprendemos a respeitar e aceitar as diferenças, os limites, ritmos e os tem-
pos de aprendizagens. Aprendemos a fazer das diferenças uma grande aliada ao 
construir diálogos que intentam romper com as culturas instituídas, especialmente a 
34
cultura do silenciamento e desumanização das relações interpessoais no cotidiano 
universitário. E, certamente, o aprendizado de maior impacto, nosso movimento de 
desconstrução do tabu que ainda envolve o adoecimento discente no ensino supe-
rior, colocando-o na condição de fraqueza e menor valia.
Aprendemos que educação em saúde não é conhecimento restrito à área mé-
dica, mas sim, é responsabilidade de todas áreas de conhecimento. E, que saúde 
mental não pode ser tema apenas de campanha no Setembro Amarelo.
A partir dos estudos internos no Grupo, das vivências dentro e fora da sala de 
aula, do contato com cada integrante que compõem a nossa Universidade, percebe-
mos a importância de se falar em saúde mental. Acreditamos que este tema possui 
uma importância constante, devendo estar presente a cada dia do ano, a cada ação, 
a cada ato educativo. Nesse sentido, ações de Educação em Saúde devem fazer 
parte do cotidiano da vida universitária.
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, v. 39, n. 1, p. 135-142, Mar. 2015 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0100-55022015000100135&lng=en&nrm=iso>. access 
on 15 Apr. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/1981-52712015v39n1e00042014 Acesso 
em 2/02/209.
https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=9&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwjmocXXz9fgAhWQIbkGHbclAtQQFjAIegQIAhAC&url=http%3A%2F%2Fpsicodebate.dpgpsifpm.com.br%2Findex.php%2Fperiodico%2Farticle%2Fdownload%2F93%2F77%2F&usg=AOvVaw3Jcl4YDpaT76kQxGGKXdLQ
https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=9&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwjmocXXz9fgAhWQIbkGHbclAtQQFjAIegQIAhAC&url=http%3A%2F%2Fpsicodebate.dpgpsifpm.com.br%2Findex.php%2Fperiodico%2Farticle%2Fdownload%2F93%2F77%2F&usg=AOvVaw3Jcl4YDpaT76kQxGGKXdLQ
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http://dx.doi.org/10.1590/1981-52712015v39n1e00042014
37
10.48209/978-65-00-17616-3
MUNDO INTERIOR DO ESPECTRO AUTISTA EM 
DISCUSSÃO: TÓPICOS ESPECIAIS EM DIAGNÓSTICO 
E TRATAMENTO DOS SINTOMAS
Nicolle dos Santos Moraes Nunes10
Jacqueline Stephanie Fernandes do Nascimento11
Janie Kelly Fernandes do Nascimento12
Marcela de Moraes Mesquita 13
Dellaiane Caroline Barbosa14
Livia Spala Tenorio Faria 15
Antônio Marcos da Silva Catharino16
Marco Antônio Alves Azizi17
Marco Orsini18
10 Graduanda de medicina na Universidade Iguaçu (UNIG), nicolle.nunes_@hotmail.com.br
11 Graduanda de medicina na Universidade Iguaçu (UNIG), jac.fn@hotmail.com
12 Graduanda de medicina na Universidade Iguaçu (UNIG), janiekelly@hotmail.com
13 Graduanda de medicina na Universidade Iguaçu (UNIG), celinhamoraes@yahoo.com.br
14 Graduanda de medicina na Universidade Iguaçu (UNIG), dellaianecaroline@gmail.com
15 Graduanda de medicina na Universidade Iguaçu (UNIG), livia.faria@hotmail.com
16 Médico, Neurologista, Professor titular da Universidade Iguaçu (UNIG), neurocurso@globo.
com
17 Médico, Professor titular da Universidade Iguaçu (UNIG), marcoazizimed@gmail.com
18 Médico, Professor na escola de medicina da Universidade Iguaçu (UNIG), Instituto Caduceu 
– Escola de Pós-Graduação Médica Continuada. orsinimarco@hotmail.com
38
INTRODUÇÃO 
Os transtornos do espectro autista (TEA) correspondem à distúrbios complexos 
de neurodesenvolvimento, que se caracterizam por uma constelação de déficits na 
comunicação e interação social, padrões repetitivos de comportamentos e interesses 
restritos. Seus sintomas aparecem ainda na primeira infância, com início tipicamente 
antes dos três primeiros anos de vida, e predomínio no sexo masculino (BANERJEE 
S, RIORDAN M., BHAT MA, 2014; ZOGHBI HY, BEAR MF, 2012). 
A estimativa de prevalência relacionada à esses distúrbios demonstra cresci-
mento expressivo nos últimos anos. Entre 2000 e 2014 o índice nos Estados Unidos 
da América foi de 1 em cada 150 crianças para 1 em cada 58 crianças com 8 anos de 
idade (CHRISTENSEN et al., 2016; ZABLOTSKY et al., 2015). Atualmente, o distúr-
bio é considerado como uma condição bastante comum e heterogênea, e ainda que 
hoje mais pessoas com a doença estejam incluídas no convívio social, ao invés de 
em instituições, a maioria dos pacientes não viverá de forma independente na vida 
adulta, sendo necessário suporte vitalício (LORD, et al., 2018). 
Por mais que a etiologia específica associada ao TEA permaneça desconheci-
da, considera-se fortemente a existência de uma relação genética e ambiental, haja 
vista que a herdabilidade no sentido restrito do autismo é de aproximadamente 52,4% 
(SEBAT et al., 2007; ABRAHAMS, GESCHWIND 2008; GAUGLER T, et al., 2014). 
A etiologia subjacente do TEA parece combalir vários genes que afetam as proteí-
nas a jusante e substratos neurais, desencadeando as manifestações comporta-
mentais dos pacientes (BELMONT, BOURGERON 2006 ; PERSICO, BOURGERON 
2006 ; ABRAHAMS, GESCHWIND 2008).
Uma vez que não existem evidências de um cromossomo ou loci genético ex-
clusivamente ligado ao diagnóstico, acredita-se que interações multigênicas comple-
xas sejam as causadoras do distúrbio (MOSS, HOWLIN, 2009; ZHAO ET AL., 2007). 
Alguns autores, no entanto, sugerem que a maior parte dos casos da doença sejam 
decorrentes de mutações na linha germinal paterna. (ZHAO et al. 2007). 
Embora os familiares, professores e provedores diretos representem os agentes 
com maior impacto na vida dos portadores do TEA, o médico desempenha um papel 
fundamental para esse indivíduo e seus cuidadores, tanto no direcionamento quanto 
39
na estruturação e capacitação da família, que deve contribuir para o desenvolvimento 
da criança no âmbito domiciliar (ALMEIDA, LIMA, CRENZEL, ABRANCHES, 2016; 
LORD, et al., 2018). Dessa forma, o objetivo do presente estudo consiste em promo-
ver uma discussão provocativa, com base na literatura vigente, sobre os principais 
tópicos relacionados à diagnóstico e tratamento sintomático de pacientes com TEA. 
DESENVOLVIMENTO 
Trata-se de um estudo exploratório descritivo que emprega o método de revi-
são integrativa, categoria que consente explorar o conhecimento já definido, incluin-
do pesquisas com diferentes técnicas. 
Realizou-se em janeiro de 2021 o levantamento de artigos indexados nas bases 
de dados eletrônicas PubMed, MedLine, e LILACS. Para se incluir o maior número 
de artigos possível que abordassem o foco temático, a busca foi realizada selecio-
nando os termos relevantes. Dessa forma, foram utilizados os seguintes termos de 
busca, indexados no DECS e MESH, assim como seus respectivos correspondentes 
em inglês e espanhol: transtorno do espectro autista, transtornos mentais, transtor-
no autístico, manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, diagnóstico, 
terapêutica, escala de avaliação comportamental, deficiências no desenvolvimento, 
citogenética, tratamento farmacológico, inibidores da receptação de serotonina, esti-
mulantes do sistema nervoso central, metilfenidato, melatonina, ritalina, fluvoxamina, 
canabidiol. 
Assim, utilizou-se as seguintes chaves de busca: “transtorno do espectro autis-
ta” OR “transtornos mentais” OR “transtorno autístico” AND “diagnóstico”; “transtorno 
do espectro autista” AND “terapêutica”; “transtorno do espectro autista” AND “escala 
de avaliação comportamental”; “transtorno do espectro autista” AND “deficiências no 
desenvolvimento” AND “citogenética”; “transtorno do espectro autista” AND “trata-
mento farmacológico”; “transtorno do espectro autista” AND “inibidores da recepta-
ção de serotonina”; “transtorno do espectro autista” AND “estimulantes do sistema 
nervoso central”; “transtorno do espectro autista” AND “metilfenidato”; “transtorno do 
espectro autista” AND “melatonina”; “transtorno do espectro autista” AND “ritalina”; 
“transtorno do espectro autista” AND “fluvoxamina”; e“transtornodo espectro autista” 
AND “canabidiol”. 
40
Priorizou-se por aplicar como filtro de pesquisa “textos completos”, pois os au-
tores entendem que é de suma importância o reconhecimento das obras disponíveis 
gratuitamente e, sobretudo, por considerarem que esses materiais são essenciais 
para promoverem acesso igualitário à informação. 
Os critérios de inclusão para a amostra foram: artigos que abordassem os tópi-
cos de diagnóstico, testes de triagem, tratamento multidisciplinar e medicamentoso 
relacionados aos transtornos do espectro autista, disponíveis em português, inglês 
ou espanhol. Em contrapartida, os critérios de exclusão contemplaram artigos que 
não estivessem em concordância com a temática proposta, além de outros tipos de 
produção, como: dissertações, editoriais de revistas, teses, apresentação de pôste-
res e anais de congresso. 
O processo de elegibilidade dos artigos para a amostra dessa revisão seguiu 
três etapas: leitura do título para adequação à temática; leitura do resumo; e leitura 
dos artigos completos no intuito de extração dos dados para posterior sumarização 
dos desfechos. Todos os artigos inclusos para a amostra abordavam aspectos diag-
nósticos ou terapêuticos dos distúrbios do espectro autista, e os dados foram anali-
sados mediante os resultados. Além disso, optou-se por realizar a busca reversa, que 
consiste em uma técnica de busca de artigos a partir da investigação das referências 
dos artigos selecionados para a amostra, no intuito de ampliar a busca e diversificar 
os resultados.
RESULTADOS 
Através do cruzamento dos descritores nas bases de dados e aplicação dos 
filtros (texto completo disponível gratuitamente e seleção dos idiomas) foi encontra-
do um total de 1413 publicações. Dentre essas, conforme os critérios de inclusão e 
exclusão, 1394 foram excluídas e 14 foram selecionadas para compor a amostra. 
Além desses, 5 artigos foram encontrados através de busca reversa. Dessa forma, a 
amostra foi composta de 19 artigos. 
41
DISCUSSÃO 
DIAGNÓSTICO E TESTES DE TRIAGEM 
O Transtorno do Espectro Autista dispõe de um diagnóstico enigmático e de 
difícil desfecho, haja vista a complexidade na heterogeneidade etiológica e fenotípica 
dos quadros. Até a presente data, as bases biológicas responsáveis por justificar tal 
complexidade ainda não estão plenamente elucidadas, e por esse motivo, o reconhe-
cimento e o diagnóstico de TEA fundamentam-se nas manifestações comportamen-
tais e na história clínica do desenvolvimento pessoal (MERLLETI, 2018).
O diagnóstico de TEA é essencialmente clínico, por intermédio da acurácia da 
avaliação clínica comportamental, entrevista com os pais, cuidadores e educadores, 
informações acerca da história do doente, meticulosa observação do indivíduo, o uso 
de instrumentos estandardizados eficientes em crianças com dois anos de idade ou 
mais, todos norteados pelos critérios diagnósticos da quinta edição do Manual Diag-
nóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) e pelo CID10 (Classificação 
Estatística Internacional de Doenças e de Problemas Relacionados à Saúde) (KLIN, 
et al. 2005). 
O DSM-5 difundiu as três principais condições diagnósticas, associadas com 
o uso inapropriado, a interação social, déficits na comunicação da linguagem e o 
comportamento e interesses metódicos reincidentes (Gaiato, 2018). Cabe ressaltar 
que existem marcadores de reconhecimento precoce para o transtorno. Estes são 
identificados entre 12 e 24 meses e incluem modificações dos domínios de lingua-
gem, interação e comunicação social, além de atividades repetitivas (SHATTUCK et 
al., 2009). 
Há uma pluralidade no que diz respeito aos testes utilizados para diagnós-
tico. Dentre eles, destaca-se: o Questionário Modificado para Triagem do autismo 
em Crianças - Modified Checklist for Autism in Toddlers (M-CHAT-R) destinado para 
crianças de 16 até 30 meses, Social Comunnication Questionnaire (SCQ), e aqueles 
que se norteiam em avaliações clínicas em centros de terapia como (Observation 
Schedule (ADOS) (GRISIE-OLIVEIRA, SERTIÉ, 2017). Os instrumentos destinados 
para rastrear o TEA, possuem como intuito o reconhecimento de sinais de riscos pre-
coces, e não diagnosticar o transtorno. As escalas de avaliação propiciam a mensu-
42
ração de condutas juntamente com o estabelecimento de um diagnóstico fidedigno. 
(HARRIS, WILLIAMS, 2017). 
O instrumento de rastreamento M-CHAT é uma entrevista executada com os 
pais e aplicada em crianças de 16 a 30 meses, não necessitando de capacitação 
prévia. A identificação de um resultado M-CHAT positivo não justifica uma avaliação 
rigorosa de TEA, todavia, mediante à positividade do mesmo, os pacientes costu-
mam beneficiar-se do tratamento, pois há possibilidade da existência de outros atra-
sos no desenvolvimento. A recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria é o 
Questionário Modificado para Triagem do autismo em Crianças entre 16 e 30 meses, 
Revisado, com Entrevista de Seguimento (M-CHAT-R/F) (ROBINS, et al, 2009). 
O instrumento ADOS-2 dispõe de melhores resultados, porém necessita de alto 
domínio sobre o método, o que pode dificultar sua realização (Costa, 2014).
O Social Comunnication Questionnaire (SCQ) é uma ferramenta de triagem 
para o TEA direcionado para indivíduos com mais de 4 anos de idade e idade intelec-
tual superior a 2 anos de idade. O SCQ percorre o desenvolvimento e os hábitos do 
quotidiano que vão da infância até a presente data, incluindo três domínios básicos 
de danos: a linguagem, sociabilidade comportamento (RUTTER et al., 2003). 
A determinação do diagnóstico de TEA pode ser retardada tendo em vista a 
variação expressiva dos sinais e sintomas do transtorno, os prejuízos na avaliação 
de pré-escolares, em virtude da necessidade de materiais específicos e evidentes ao 
que se tange sobre os comportamentos pessoais decorrentes da faixa etária, a au-
sência de profissionais capacitados para identificar as apresentações prematuras do 
transtorno, além da escassez de serviços especializados (SIKLOS, KERNS, 2007). 
TESTES GENÉTICOS
O TEA é caracterizado por ser uma patologia heterogênea e de tamanha com-
plexidade em se tratando da questão genética, visto que esta apresenta variantes 
genéticos e padrões hereditários de causalidade (APA, 2013). A avaliação clínica 
do paciente deve ser bastante meticulosa, a julgar pela escassez de sinais clínicos 
sugestivos de alteração genética específica. Para tanto, é indispensável colher infor-
mações que diz respeito a padrões hereditários, investigações de transtornos mono-
gênicos e metabólicos o qual o TEA pode estar associado e, a partir disso, tornar o 
43
diagnóstico e a determinação de testes moleculares mais fidedignos (DURAND et al, 
2007). 
Via de regra, sugere-se que todos os pacientes sabidamente com diagnóstico 
de TEA necessitem realizar a investigação das variações nos números de cópias 
(CNV - copy number variations), aplicando análise cromossômica por microarray ge-
nômico (SNP-array), também denominado de Hibridização Genômica Comparativa 
(CGH-array), pois conjectura-se que cerca de 10% dos doentes manifestem alguma 
CNV com importância clínica (Pinto et al, 2010). 
As CNV mais comumente visualizadas nos pacientes com TEA estão identifi-
cadas em 15q11-13, 16p11 e 22q11-13, totalizando 3 a 5% de incidência. Como a 
cariotipagem apresenta baixa resolução quando comparado a análise cromossômica 
por microarray, no presente momento este teste citogenético é recomendado apenas 
quando houver suspeita de aneuploidia ou ainda relatos de abortamentos repetitivos, 
sugerindo a probabilidade de rearranjos cromossômicos (SANDERS, et al, 2015). 
Em função da alta prevalência entre sujeitos portadores de TEA, devem ser 
realizados testes moleculares a fim de se investigar uma possível síndrome do X 
frágil (gene FMR1) em pacientes do sexo masculino, a despeito da inexistência de 
manifestações clínicasque caracterizem a síndrome. Todavia, em pacientes do sexo 
feminino, tal exame só é aconselhado em caso de deficiência intelectual não identifi-
cada com padrão de herança ligada ao X, falência ovariana precoce, histórico familiar 
de síndrome do X frágil. Preconiza-se, por sua vez, que pacientes femininas sejam 
submetidas à averiguação de mutações no gene MECP2, sendo necessário, portan-
to, realizar seu sequenciamento. Tal gene é causador da síndrome de Rett, haja vista 
que 4% das mulheres com Transtorno do Espectro Autista e distúrbios intelectuais 
grave apresentem mutações danosas no devido gene (SCHAEFER et al, 2013). 
Por fim, mutações no gene PTEN devem ser investigadas através de seu se-
quenciamento, uma vez que paciente com TEA e macrocefalia (perímetro cefálico 
maior do que > 2.5 desvios padrão superior à média para a idade) estão correlacio-
nados com a síndrome do tumor hamartoma, uma condição que ocasiona macroce-
falia/macrossomia, além de um risco elevado para tumorigênese (SCHAEFER et al, 
2013). 
O Painel de genético do paciente portador de Transtorno do Espectro Autista 
44
tem como objetivo a análise de 42 genes associados a doença. Dentre os genes, 
destacam-se: ANKRD11, ASH1L, SETD2, KMT2C, PTEN, NAA15, CHD2, ADNP, 
PPM1D, SYN1, TRIP12, MECP2, TBL1XR1, FOXP1, HNRNPH2, NEXMIF, SHANK1, 
TRIO, ARID1B, PTCHD1, UBE3A, RPL10, TBR1, CHD8, AUTS2, KMT5B, SHANK2, 
MBD5, SYNGAP1, SCN2A, GRIA1, MED12, EHMT1, GRIN2B, CAMK2A, NLGN4X, 
KMT2A, NLGN3, PACS1, POGZ, DDX3X, DYRK1A (Arking et al, 2008).
NEUROIMAGEM: QUANDO PEDIR?
A ressonância nuclear magnética (RNM) juntamente com a neuroimagem de-
sempenharam importante papel nas pesquisas sobre modificações anatômicas no 
autismo, tais como: alargamento de ventrículos, hipoplasia dos lobos cerebelares 
(regiões VI e VII) por insuficiência de desenvolvimento de um órgão e alteração no 
tronco cerebral. Tais imagens são utilizadas como base para se entender os circuitos 
neurais que explicam o autismo. A tomografia por emissão de pósitrons, tomografia 
por emissão de fóton único e ressonância magnética funcional, possuem como intui-
to ampliar o campo de visão para um estudo do desempenho de um cérebro normal 
e um patológico. Ambas as técnicas de tomografia por emissão permitem medidas 
não-invasivas e concisas do metabolismo da glicose cerebral e/ou do fluxo sanguí-
neo cerebral (FSC) (MOURA et al, 2005).
Devido a não existência de marcadores biológicos incumbidos pelo diagnóstico 
de TEA, os critérios diagnósticos são pautados em avaliações comportamentais. Ain-
da que haja um avanço exponencial no que concerne às pesquisas, a compreensão 
sobre o fenômeno continua não esclarecida, por esse motivo, torna-se necessário o 
uso de exames de imagem que colaborem com o diagnóstico, tendo em vista que o 
advento de técnicas de imagem cerebral funcionais proporcionou um novo caminho 
para o estudo da disfunção cerebral no autismo infantil. Não obstante, os exames de 
neuroimagem apenas devem ser solicitados sob suspeita de condições concomitan-
temente relacionadas, a fim de evidenciar ou descartar as mesmas (MOURA et al, 
2005). 
45
TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTÍSTICO E TRATAMENTO: UMA 
ABORDAGEM MULTIPROFISSIONAL
Os principais pilares para o tratamento de TEA são a família, a equipe peda-
gógica e a de saúde para a condução oportuna das crianças, com o propósito de 
promover aprendizado e alterações comportamentais trabalhadas por equipes inter-
disciplinares, que incluem psicólogos, psicopedagogo, fonoaudiólogos, neurologis-
tas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, educadores físicos 
(HALPERN, 2014), todos empenhados em proporcionar melhorias na tríade clínica 
de dificuldades, a saber: comunicação, interação social e comportamentos estereoti-
pados, repetitivos e interesses limitados (COSTA, 2014).
Os pais e cuidadores necessitam, todavia, de capacitação por parte desses 
profissionais visando contribuir para o desenvolvimento da criança também no âm-
bito domiciliar. Estudos recentes corroboram que famílias previamente capacitadas 
em treinamento comportamental com base em ABA, obtiveram resultados expres-
sivamente superiores nos mais variados contextos (ALMEIDA, LIMA, CRENZEL, 
ABRANCHES, 2016). 
O tratamento padrão-ouro para o Transtorno do Espectro Autista é a interven-
ção precoce. Essa, constitui-se em um grupo de modalidades terapêuticas que al-
mejam ampliar o potencial do desenvolvimento social e comunicação verbal e não 
verbal, preservar o desempenho intelectual reduzindo prejuízos, promover qualidade 
de vida e capacidade para autonomia (ANAGNOSTOU et al., 2014). Está relaciona-
da a ganhos expressivos no desenvolvimento cognitivo, adaptativo e linguagem da 
criança. Baseado em estudos que reafirmam seu uso, é sabido que tal intervenção 
possui o potencial de inibir a manifestação plena do TEA, por suceder em um período 
do neurodesenvolvimento em que o cérebro se encontra maleável e altamente plás-
tico (DAWSON, 2008). 
Dentre as modalidades terapêuticas três deles apresentam os resultados mais 
satisfatórios: o Método TEACCH - Treatment and Education of Autistic and related 
Communication-handicapped Children, a abordagem Floortime e a ABA - Applied 
Behavior Analysis (CASTANHA, 2016). 
A estratégia TEACCH propicia, primeiramente, o aprimoramento no uso da lin-
guagem do paciente, frequentemente acometido no indivíduo com TEA. A habilidade 
46
de compreensão e recepção da criança, na perspectiva da linguagem, é um dos prin-
cipais pilares do método e, indubitavelmente, tal fato correlaciona-se ao considerável 
desenvolvimento nos autistas (DIAS, 2017; SILVA, BRITO, 2019).
O método ABA é embasado na perspectiva de que há repertórios socialmente 
relevantes, assim como táticas de ensino e aprendizagem que propiciem ao autista 
progressos nesse processo, no ambiente escolar e em vários outros cenários do quo-
tidiano (DIAS, 2017; SILVA, BRITO, 2019). 
A abordagem Floortime localiza-se dentro do modelo DIR - Developmental, Indi-
vidual Difference, Relationship-Based - sendo sua principal estratégia. Ela represen-
ta a principal técnica para sistematizar as atividades e promover evolução no tocante 
as etapas do desenvolvimento. Essa abordagem é fundamentada na concepção de 
que a emoção é primordial para o desenvolvimento neuronal e evolução intelectual e 
que tal progresso é adquirido por meio de interações ao solo (INTERDISCIPLINARY, 
2010). 
MEDICAÇÕES SINTOMÁTICAS
 A intervenção farmacológica em pacientes com TEA deve ser considerada 
para o tratamento de comportamentos desadaptativos, como: agressividade, com-
portamento autolesivo, comportamentos repetitivos, distúrbios do sono, labilidade 
emocional, irritabilidade, ansiedade, hiperatividade, desatenção, e outros sintomas 
perturbadores (SCOTT M. MYERS, CHRIS PLAUCHÉ JOHNSON, 2007). Além dis-
so, em alguns casos, a presença desses sintomas associados às características es-
pecíficas pode ser sugestiva de transtornos comórbidos, como transtorno bipolar, 
depressão maior ou transtorno de ansiedade, fazendo necessário que o paciente 
seja tratado com medicamentos específicos para essa condição associada (SCOTT 
M. MYERS, CHRIS PLAUCHÉ JOHNSON, 2007). 
 A necessidade de medicação psicotrópica em crianças e adultos com TEA cor-
responde, respectivamente, a 45 e 75%. (MYERS, JOHNSON, 2007; AMAM, LAM, 
COLLIER-CRESPIN, 2003; WITWER, LECAVALIER, 2005; TSAKANILOS et al., 
2006). Os principais fatores relacionados à maior probabilidade de utilização dessas 
medicações são: maior idade, menores habilidades de adaptação e competência so-
cial, além de níveis mais elevados de alterações de comportamento. (AMAM, LAM, 
47
COLLIER-CRESPIN, 2003). 
 As classes de medicamentos psicotrópicos mais comumente prescritos para pa-
cientes com TEA envolvem inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), 
agentes antipsicóticosatípicos, estimulantes e agonistas do receptor alfa 2 adrenér-
gicos (AMAM, LAM, COLLIER-CRESPIN, 2003). 
Os inibidores da recaptação de serotonina, fluoxetina e fluvoxamina, demons-
traram eficácia para o tratamento dos comportamentos repetitivos, irritabilidade, sin-
tomas depressivos, acessos de raiva, ansiedade, agressividade, dificuldade na inte-
ração social, linguagem e transições. (HOLLANDER et al, 2005; MCDOUGLE et al., 
1996, SUGIR et al, 2005)
Os antipsicóticos atípicos, aripiprazol e risperidona, contemplam a classe dos 
antipsicóticos atípicos e representam os únicos medicamentos aprovados pela Food 
and Drug Administration dos Estados Unidos da América para tratamento dos trans-
tornos autísticos. O aripiprazol é indicado para crianças portadoras de TEA entre seis 
e dezessete anos de idade, enquanto a risperidona é indicada para crianças entre 
cinco e desesseis anos. Seus principais benefícios estão associados à melhora da 
irritabilidade associada ao TEA, além de melhora na agressividade, comportamentos 
explosivos e automutilação (SANCHACK, THOMAS, 2016; CHING et al., 2012; JES-
NER, AREF-ADIB, COREN, 2007). Dois grandes ensaios clínicos randomizados evi-
denciaram a eficácia de curto prazo da risperidona em comportamentos perturbado-
res de jovens com TEA, e os benefícios a longo prazo dessa droga foram sugeridos 
por outros dois estudos duplo-cegos (MCCRACKEN, et al., 2002; Shea, TURGAY, 
CARROL, et al., 2004; RESEARCH UNITS ON PEDIATRIC PSYCOPHARMACOLO-
GY AUTISM NETWORK, 2005; TROOST, et al., 2005). 
Os estimulantes, como o metilfenidato, demonstram melhora na hiperatividade, 
impulsividade e desatenção em crianças com TEA (Troost PW, et al, 2005). Ainda 
assim, os estudos evidenciam que as taxas de resposta possuem tendencia a ser 
menos significativas em crianças com TEA do que em crianças portadoras de Trans-
torno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) isolado (RESEARCH UNITS ON 
PEDIATRIC PSYCOPHARMACOLOGY AUTISM NETWORK, 2005). Por isso, alguns 
autores sugerem que o tratamento utilizando não estimulantes parece ter maior papel 
nos pacientes portadores de ambos os distúrbios, e ser menos associados à efeitos 
48
adversos (DAVIS, KOLLINS, 2012). 
Na classe dos agonistas do receptor adrenérgico alfa 2, a clonidina apresentou 
benefícios, embora modestos, no controle da hiperatividade, irritabilidade e compor-
tamentos explosivos em crianças com TEA (FANKHAUSER, et al., 1992; JASEL-
SKIS, et al., 1992).
Além desses, foram encontradas evidências de eficácia relacionadas à naltrexo-
na, antidepressivos tricíclicos e agentes glutamatérgicos. (JOU, HANDEN, HARDAN, 
2005; SCAHILL, AMAN, MCDOUGLE, et al., 2006). A naltrexona, um antagonista dos 
receptores opiáceos, foi associada à eficácia relativa no tratamento de comportamen-
to autolesivo, hiperatividade, interação social, agitação e irritabilidade em pacientes 
com TEA (EISSA et al., 2018; HOWES et al., 2017). Ao mesmo passo, a clomipramina 
e a nortriptilina, pertencentes à classe dos antidepressivos tricíclicos, demonstraram 
melhora nos comportamentos repetitivos, hiperatividade e agressividade. Quanto aos 
agentes glutamatérgicos, amantadina e memantina, esses apresentaram benefícios 
no que tange à memória, hiperatividade, irritabilidade, linguagem, comportamento 
social e comportamento autolesivo, o que pode ser explicado haja vista que os níveis 
de glutamato tendem a ser excessivamente aumentados nos indivíduos com TEA. 
(EISSA et al., 2018; HOWES, et al., 2017)
 Por fim, diversos estudos abordam a correlação entre pacientes com TEA e 
anormalidades na fisiologia da melatonina e ritmo circadiano, o que justificaria os dis-
túrbios do sono associados ao transtorno (DANIEL, ROSSIGNOL, RICHARD, FRYE, 
2014). Nesses estudos, a suplementação exógena de melatonina é assocada à me-
lhoras nos parâmetros de sono dos pacientes com TEA. Os benefícios trazidos aos 
pacientes por esse composto incluem não somente maior duração do sono, como 
também menos despertares noturnos, início de sono mais rápido e melhoras no com-
portamento diurno (DANIEL, ROSSIGNOL, RICHARD, FRYE, 2014; LOFTHOUSE et 
al., 2012; GARSTANG, WALLIS, 2006; ROSSIGNOL, FRYE, 2011). 
Apesar dos possíveis efeitos benéficos de todas as medicações supracitadas, 
é válido ressaltar a importância de considerar o risco-benefício antes de instituir o 
uso desses fármacos, uma vez que esse pode induzir a efeitos adversos potencial-
mente graves, como sedação, sintomas extrapiramidais e tremores (SANCHACK, 
THOMAS, 2016; CHING et al., 2012; JESNER, AREF-ADIB, COREN, 2007). Dessa 
49
forma, faz-se necessária uma avaliação mais rigorosa da segurança e eficácia dos 
agentes psicotrópicos em crianças com TEA. 
TRANSTORNOS DO ESPECTRO AUTISTA E CANABIDIOL (CBD) 
O canabidiol, em sua forma pura, tem despertado interesses no tocante ao trata-
mento complementar para os principais sintomas do Transtorno do Espectro Autista. 
Em pacientes portadores do transtorno, o sistema endocanabinóide, que correspon-
de à uma rede neuromoduladora envolvida na regulação das respostas emocionais, 
reatividade comportamental, e interação social, é frequentemente combalido, desen-
cadeando convulsões, ansiedade, comprometimentos cognitivos e distúrbios do pa-
drão do sono (CHENG, 2014; ZAMBERLETTI, 2017).
Além dos estudos de intervenção em humanos com canabidiol não demonstra-
rem amplificação significativa de medidas psicopatológicas, este obtém resultados 
positivos em várias funções cerebrais, dentre a infinidade de propriedades se encon-
tram os efeitos anticonvulsivos, sedativo, antipsicótico, hipnótico, antinflamatório e 
neuroprotetores (RONG, 2017). Dentro desse contexto, as pesquisas sugerem que a 
cannabis rica em canabidiol pode ajudar pacientes com TEA, incluindo seus efeitos 
ansiolíticos e propriedades antipsicóticas bem como seu efeito imunomodulador e 
seu impacto no sistema endocanabinóide.
CONCLUSÃO
O transtorno do espectro autista é composto por um grupamento de alterações 
no neurodesenvolvimento heterogêneos, determinado por distúrbios iniciais na co-
municação social e por comportamentos e interesses repetitivos. A etiologia do TEA 
ainda é desconhecida, porém, há fortemente uma correlação com fatores ambientais 
e genéticos. O diagnóstico é essencialmente clínico, associado a utilização de testes 
de triagem, como o Social Communication Questionnaire (SCQ), Modified Checklist 
for Autism in Toddlers (M-CHAT-R) e a Applied Behavior Analysis (ABA). Além disso, 
é recomendado a investigação de transtornos monogênicos e metabólicos o qual 
o TEA pode estar associado por meio do uso de teste genéticos. Embora não haja 
tratamento farmacológico específico, alguns medicamentos, como inibidores seleti-
vos da recaptação da serotonina, antipsicóticos atípicos e antidepressivos tricíclicos 
50
podem ajudar em distúrbios comportamentais graves, bem como na atenuação dos 
sintomas. No entanto, o tratamento multidisciplinar e a abordagem firmada no com-
portamento que encorajam a interação e a comunicação são as melhores ferramen-
tas terapêuticas para o controle do TEA, promovendo melhor qualidade de vida aos 
pacientes. 
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O SOFRIMENTO PSÍQUICO EM ACADÊMICOS DE 
MEDICINA E O CONSUMO DE PSICOFÁRMACOS: 
UMA ANÁLISE HISTÓRICO-CULTURAL
Adaline Franco Rodrigues19
Silvia Segovia Araujo Freire20
Sonia da Cunha Urt21
Soraya Cunha Couto Vital22
Marília Camargo Souto23
19 Doutoranda em Educação pela UFMS – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Mes-
tre em Ciências Aplicadas à Saúde. Graduada em Fisioterapia. Professora da UniFimes – Centro 
Universitário de Mineiros, GO. Membro do GEPPE – Grupo de Estudo e Pesquisas em Psicologia e 
Educação da UFMS. E-mail: adalinefranco@gmail.com ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1605-
5391
20 Doutoranda em Educação e Mestre em Saúde e Desenvolvimento na Região Centro-Oeste 
– Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Graduada em Psicologia (UFMS). Membro 
do GEPPE – Grupo de Estudo e Pesquisas em Psicologia e Educação da UFMS. E-mail: ssafsm@
gmail.com ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0196-6945.
21 Doutora em Educação (UNICAMP), Mestre em Educação (PUC-SP), Brasil. Professora Titu-
lar Aposentada dos Programas de Pós-Graduação em Educação e em Psicologia da Universidade 
Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Coordenadora do GEPPE – Grupo de Estudo e Pesqui-
sas em Psicologia e Educação da UFMS. E-mail: surt@terra.com.br ORCID: https://orcid.org/0000-
0002-0309-3498
22 Doutoranda em Educação e Mestre em Psicologia – Universidade Federal de Mato Grosso 
do Sul (UFMS). Membro do GEPPE – Grupo de Estudo e Pesquisas em Psicologia e Educação 
da UFMS. Bolsista CAPES. E-mail: sorayavital@hotmail.com ORCID: https://orcid.org/0000-0001-
5716-5605
23 Especialista em Psiquiatria pelo CENBRAP – Centro Brasileiro de Pós-Graduação Ltda. 
E-mail: mcs1901@gmail.com
58
INTRODUÇÃO 
O perfil da profissão médica como um caminho bem-sucedido e de sucesso, 
associado ao estigma de dedicação exclusiva e de renúncias, gera muitas vezes 
pressões e expectativas conflitantes e distantes da realidade, vindo a causar frustra-
ções. 
Em sentido formativo, faz-se importante salientar que a formação médica trans-
cende o fato de simplesmente ter conhecimento da proposta curricular da faculdade, 
do curso de graduação e os conteúdos dos vários programas disciplinares que o cur-
rículo possa oferecer. Mais do que conhecimentos propriamente técnicos, cognitivos 
e de habilidades, identifica-se que os alunos apreendem uma postura que caracte-
riza o futuro profissional, visto que a própria socialização e os exemplos seguidos 
durante a formação podem acarretar vícios de atitudes que os afasta da humanidade 
da profissão e os imerge na sociedade baseada no capital e nas relações de bens e 
consumo (CONCEIÇÃO et al, 2019; LAMPERT, 2002).
Vê-se, por isso,que o avanço do consumo indiscriminado de drogas psicoati-
vas, por exemplo, é uma dificuldade que gera consequências assoladoras à socieda-
de, com predomínio de impactos biopsicossociais, que os qualifica como importante 
problema de saúde pública, principalmente entre os jovens. Quando se trata de es-
tudantes universitários de Medicina, essa situação requer ainda mais atenção – quer 
pela falta de maturidade ou negligência ao conhecimento acerca dos riscos da utili-
zação descontrolada de psicofármacos, quer pela facilidade de acesso a estes em 
ambientes hospitalares e de internato.
 Não obstante, os referidos estudantes têm apresentado taxas elevadas de so-
frimento psíquico, esgotamento e, concomitante e consequentemente, de uso indis-
criminado de psicofármacos, tanto pelo perfil do alunado e do curso quanto pela 
facilidade de acesso a essas medicações. Esse fenômeno da medicalização e da psi-
copatologização vem sendo corriqueiro na atualidade, pelo fato de tratar como doen-
ças ou “problemas médicos” processos ou questões que não são majoritariamente 
de cunho médico, mas sim de origem política, social ou próprias do desenvolvimen-
to humano (AZEVEDO, ARAÚJO e FERREIRA, 2016; CHAGAS, 2018; GRANER, 
2019). 
59
À vista disso, o uso de psicofármacos tem sido alvo de diversos estudos, 
especialmente nesse público, e considera-se que seu consumo, de maneira 
geral, e o abuso, em particular, pode alterar a capacidade de aprendizagem e de 
desenvolvimento de aptidões, o que assume uma singular importância na população 
estudantil. Dos inúmeros estudos publicados na literatura especializada, grande parte 
centra-se na área dos psicotranquilizantes/ansiolíticos, como as benzodiazepinas 
e os psicoestimuladores, como metilfenidato, segundo afirmam Vasconcelos et al 
(2015) e Araújo et al (2009).
 Sendo assim, por considerar o crescente interesse nas produções acadêmi-
cas em verificar a utilização dos mais diversos tipos de psicotrópicos por alunos de 
Medicina de todo o Brasil e seus fatores associados, o presente artigo justifica-se 
pela importância de mapear e discutir algumas produções, a fim de clarividenciar a 
situação atual desse cenário brasileiro mediante pesquisas acerca dessa temática.
O objetivo é analisar as produções científicas sobre o uso de psicofármacos 
entre universitários brasileiros do curso de Medicina e refletir sobre os processos de 
medicalização e psicopatologização nesse grupo de acadêmicos. Para tal, foi realiza-
do um levantamento de produções acadêmicas que, após selecionadas e descritas 
de forma sucinta, foram analisadas à luz da fundamentação teórica crítica e dialética 
da Psicologia Histórico-Cultural, constituída por Vigotski.
Outros autores também respaldam o processo de análise das produções sele-
cionadas, considerando a psicopatologização e a medicalização no âmbito escolar, 
a biologização e o reducionismo da compreensão do adoecimento psíquico como 
mecanismos de ocultar as ideologias e representações que sustentam o paradigma 
mercadológico e o status profissional médico.
A BUSCA EM PRODUÇÕES CIENTÍFICAS E PRINCIPAIS ACHADOS
Nesse primeiro momento, apresenta-se o levantamento de dados tão neces-
sário à consolidação da reflexão sobre o sofrimento psíquico e a medicalização aca-
dêmica. A metodologia exploratória foi utilizada por meio de pesquisa denominada 
estado do conhecimento, com o objetivo de mapear e discutir as produções acadê-
micas, na tentativa de identificar que aspectos e dimensões vêm sendo destacadas 
e privilegiadas em diferentes épocas e lugares, e de que forma e em que condições 
60
têm sido produzidas (FERREIRA, 2002).
 O levantamento das produções foi realizado nos bancos de dados SciELO, 
Google Scholar, Periódicos CAPES e Biblioteca Virtual de Saúde – BVS, no período 
que compreendeu janeiro e junho de 2020. A pesquisa utilizou as terminologias ca-
dastradas nos descritores em Ciências da Saúde da Biblioteca Virtual em Saúde, a 
saber: psicotrópicos e acadêmicos de Medicina. Outros descritores foram associados 
a estes, na forma de filtros, para refinar a busca: psicofármacos, psicotrópicos líci-
tos, drogas lícitas, estudantes de Medicina, universitários, acadêmicos de Medicina. 
Quando necessário também foram utilizadas as ferramentas AND/OR (e/ou) disponí-
veis nas bases de dados. 
Para a inclusão foram utilizados os seguintes critérios: (a) pesquisas que se 
referissem a estudantes de graduação do curso de Medicina; (b) investigações que 
pesquisassem o uso de drogas lícitas de qualquer modalidade utilizadas por acadê-
micos de Medicina; (c) artigos ou produções científicas publicadas em língua portu-
guesa; (d) produções científicas realizadas em universidades brasileiras nos últimos 
20 anos. 
A pesquisa ocorreu em três etapas: (1) leitura dos títulos dos artigos e seleção 
dos resumos; (2) leitura dos resumos e seleção daqueles cujos artigos completos se-
riam buscados; (3) leitura integral dos artigos que atendiam ao critério de inclusão na 
pesquisa. As produções foram lidas com observação dos seguintes aspectos: tipo de 
estudo e de produção, ano da pesquisa, local em que foi desenvolvido, curso, públi-
cos estudados e principais contribuições para a comunidade acadêmica e científica.
Para análise dos dados foram utilizadas 22 (vinte e duas) produções do tipo 
pesquisa de campo investigativa e exploratória, em cortes longitudinais ou trans-
versais, realizada em qualquer universidade brasileira e contendo estudantes de 
Medicina. Quanto à cronologia das publicações, optou-se por não delimitar espaço 
temporal, de forma que o levantamento contemplou qualquer publicação dentro dos 
critérios de inclusão. Apesar das produções de revisão bibliográfica não terem sido 
contempladas no levantamento de produção, algumas foram utilizadas como interfa-
ce para a discussão dos dados.
Pretende-se nesse tópico contemplar tão somente o levantamento das produ-
ções em caráter descritivo, a fim de proporcionar ao leitor uma visão clara do cenário 
61
atual sobre o uso de psicofármacos entre estudantes de Medicina. Faz-se importante 
destacar que todos os artigos encontrados, seguindo os critérios de seleção citados, 
configuram-se como pesquisas descritivas exploratórias de epistemologia quantitati-
va, e suas discussões estão calcadas na denúncia do uso abusivo de psicofármacos, 
reflexão sobre os motivos pontuais de sua utilização e a importância de medidas que 
controlam esse uso.
Tal constatação sugere que as pesquisas não esclarecem os contextos histó-
ricos e culturais de onde emergem o fenômeno estudado, mas permitem denunciá-
-lo e fomentam bases para superá-lo a partir de sua análise crítica, que será feita a 
posteriori, a partir do olhar da Psicologia Histórico-Cultural vigotskiana e respaldada 
por Zeigarnik e Leontiev, entre outros. Também não há intuito de esgotar os vieses 
de reflexão, mas sim apresentar as primeiras linhas de análise que compreendem 
tal fenômeno, intimamente relacionado ao contexto histórico e cultural do curso e 
da profissão de Medicina e do sentido e significado pessoal que esses acadêmicos 
agregam ao “ser médico”. 
Em relação aos psicotrópicos identificados na pesquisa, 10 obras analisaram o 
consumo de substâncias farmacológicas e não farmacológicas lícitas e ilícitas (ARAÚ-
JO et al, 2009; KERR-CORRÊA et al, 1999; LUCAS et al, 2006; LEMOS et al, 2007; 
PEREIRA et al, 2008; MORAES et al, 2013; REGIS, 2015; RODRIGUES, FACCHI-
NI e LIMA 2006; DAMBROWSKI, SAKAE e REMOR, 2017; MORAES et al, 2018); 
06 estudos pesquisaram o consumo de psicofármacos em geral (LUNA et al, 2018; 
CORDEIRO e PINTO, 2018; MORAES et al, 2018; RAMBO, LIMA e ZORZI, 2019; 
NASCIMENTO et al, 2019; MARQUARDT e ANACLETO, 2019); 03 observaram o 
uso de antidepressivos (VASCONCELOS et al, 2015; RIBEIRO et al, 2014; CYBUL-
SKI e MANSANI, 2017); e 03 verificaram o uso de psicoestimulantes (SILVEIRA et al, 
2015;NUNES, 2017; MORGAN et al, 2017).
De forma geral, as pesquisas evidenciaram um alto consumo de antidepressi-
vos, ansiolíticos e psicoestimulantes entre os alunos de Medicina, independentemente 
e em comparação com outros cursos. Dentre as drogas consideradas psicofármacos 
foi avaliado o uso de benzodiazepínicos (BZD), cujas propriedades farmacológicas 
incluem ações ansiolíticas, sedativo-hipnóticas e/ou anticonvulsivantes, e observado 
que a utilização de tranquilizantes estava relacionada aos anos de curso médico, 
62
notando-se um consumo maior no sexto ano. Ao contrário de outras drogas, o uso 
de tranquilizantes se deu, na maioria das vezes, após o início da faculdade. Os pes-
quisadores também encontraram maior prevalência do uso e utilização precoce em 
estudantes do sexo feminino (KERR-CORRÊA et al, 1999).
Já Lucas et al (2006) estudaram os universitários da área de saúde e suas 
características sociodemográficas: sexo, idade, faixa etária, nível socioeconômico, 
uso de drogas psicotrópicas lícitas e ilícitas; características do consumo e principais 
causas relacionadas a ele. Nesse estudo, realizado com 521 alunos, sendo 264 do 
curso de Medicina da Universidade Federal do Amazonas, verificou-se a utilização 
de diversas drogas psicotrópicas lícitas e ilícitas. Dentre as classes farmacológicas, 
os pesquisadores incluíram anabolizantes, anfetamínicos, ansiolíticos, barbitúricos, 
opioides e anorexígenos. Constatou-se que os anfetamínicos e os ansiolíticos apre-
sentavam o maior índice, juntamente com tabaco, cocaína, maconha e álcool. Houve 
significativo aumento do relato do uso contínuo de anfetamínicos e ansiolíticos nas 
faixas etárias acima de 22 anos. 
Pereira et al (2008) corroboram esses achados ao traçarem o perfil do uso de 
substâncias psicoativas entre os universitários do curso de Medicina do Centro de 
Ciências da Saúde da Universidade Federal do Espírito Santo. Dentre os psicofárma-
cos, verificou-se o uso de ansiolíticos, anfetamínicos e barbitúricos, sendo estes mais 
consumidos pelo sexo feminino, enquanto o uso de drogas, como álcool e tabaco, 
estava mais relacionado ao sexo masculino. 
Em 2007, Lemos e colaboradores analisaram o padrão baiano do consumo de 
substâncias psicoativas entre graduandos de Medicina e realizaram propostas para 
contribuir com a formulação de atividades preventivas. A pesquisa contou com 404 
integrantes dos seis anos do curso de duas faculdades. Os psicofármacos pesqui-
sados como drogas psicoativas foram da classe dos ansiolíticos (conhecidos como 
tranquilizantes), e verificou-se que o uso destes havia aumentado significativamente 
nos últimos anos (LEMOS et al, 2007).
Divergindo desses achados, Araujo et al (2009) analisaram e compararam a 
prevalência do uso de álcool e psicotrópicos entre alunos do primeiro e do último 
ano do curso de Medicina da Universidade Estácio de Sá (UNESA). Em relação aos 
psicotrópicos, observaram que os alunos do primeiro ano faziam mais uso, enquanto 
63
no sexto ano a porcentagem foi bem menor. Contudo, em ambos os grupos houve 
predominância dos benzodiazepínicos (BZD), seguidos pelos antidepressivos e os 
neurolépticos. Os pesquisadores chamaram atenção à maior tendência ao uso de 
BZD no primeiro ano de graduação, seguido, em ordem decrescente, por antidepres-
sivos e neurolépticos, e sugeriram que essa diferença entre os anos do curso pode 
ocorrer devido às pressões e expectativas geradas com o início do curso e com a 
aprendizagem. 
Moraes et al (2013), objetivando detectar a prevalência do uso de drogas psico-
trópicas pelos estudantes de Medicina do 1º ao 8º período da Universidade Federal 
do Tocantins (UFT), verificaram que entre as categorias farmacológicas foram signi-
ficantes os usos de orexígenos e tranquilizantes. Com relação ao uso de tranquili-
zantes e antidistônicos, os autores destacaram que a maior frequência de uso estava 
nos alunos que não trabalhavam. 
Em pesquisa realizada por Dambrowski; Sakae e Remor (2017), cujo objetivo 
foi descrever a prevalência do uso de substâncias psicoativas entre estudantes de 
cursos da área de saúde, verificou-se que, dentre as drogas, os hipnóticos e seda-
tivos, juntamente com o tabaco e a maconha, apresentaram maior consumo diário. 
Nessa pesquisa, com participação de 120 sujeitos, sendo 29 do curso de Medicina, 
não houve alta prevalência do uso de anfetaminas.
Já o estudo de Luna et al (2018), realizado em uma universidade do interior 
paulista cujo objetivo foi avaliar a diferença do uso de drogas psicoativas entre os 
alunos do primeiro e do sexto ano do curso de Medicina, demonstrou que os acadê-
micos dos últimos anos utilizavam mais psicofármacos do que os ingressantes, evi-
denciando a influência do curso sobre a medicalização. Dos entrevistados do primei-
ro ano, 23% afirmaram fazer uso de algum tipo de psicofármaco – majoritariamente 
do sexo feminino. Já entre os entrevistados do sexto ano, 50% afirmaram fazer uso 
de psicofármacos no período em que os dados foram coletados – 62% eram do sexo 
masculino. A maioria, tanto do primeiro quanto do sexto ano, obteve receita do fárma-
co por meio de consulta médica.
Em relação ao período de uso desses medicamentos pelos estudantes do pri-
meiro ano, a média de tempo encontrada foi de 20 meses, enquanto para os estudan-
tes do sexto ano foram 29 meses. A maioria (65%) dos participantes do primeiro ano 
64
alegou obter a receita do fármaco em uso por meio de consulta médica, 22% com 
amigos ou familiares e 13% de forma ilegal. Dos alunos do sexto ano, 64% afirmaram 
obter a receita por meio de consulta médica e 36% com amigos ou familiares. Além 
disso, os dados coletados evidenciaram que os psicoestimulantes foram os medica-
mentos mais utilizados pelos estudantes de Medicina, tanto do primeiro quanto sexto 
ano – 65% e 34%, respectivamente. Enquanto os antidepressivos representaram a 
segunda classe mais relatada, 30% pelos voluntários do primeiro ano e 32% para os 
do sexto ano, os ansiolíticos estiveram mais presentes no sexto ano (34%) (LUNA et 
al, 2018).
Esses achados convergem com um trabalho preliminar realizado no Paraná em 
2018, que objetivou caracterizar o uso de medicamentos psicotrópicos e/ou substân-
cias psicoativas em alunos de cursos da saúde – 197 do curso de Medicina. Quanto 
ao uso de substâncias psicoativas, 57% utilizaram algum antidepressivo durante a 
vida, destes 23,7% já usaram algum anorexígeno ou psicoestimulante e 36,9% utili-
zaram ansiolítico ou antidepressivo. Desses últimos 57% utilizaram os medicamen-
tos pelo período de um ano (até os dias de realização da pesquisa). Quanto à classe 
de sedativos ou barbitúricos, a prevalência foi de 6,1% (CORDEIRO; PINTO, 2018). 
Moraes et al (2018) determinaram a incidência da automedicação em 148 es-
tudantes do curso de Medicina no noroeste do Espírito Santo, e evidenciaram que as 
frequências de automedicação entre alunos do primeiro e segundo anos e do terceiro 
e quarto anos foram maiores. Dos alunos que se automedicavam 36,3% indicariam 
o medicamento em uso para outrem. A classe de fármacos psicotrópicos, incluídos 
antipsicóticos, psicoestimulantes e ansiolíticos, somaram 6,85% das recomendações 
– a maioria por uso de psicoestimulantes (3,69%). 
Em estudo realizado por Rambo; Lima e Zorzi (2019), que objetivou identificar 
o uso de psicofármacos por 300 acadêmicos de Medicina e sua relação com o curso 
em uma universidade do sul do Brasil, 35,33% afirmaram que fazem ou já fizeram 
uso de psicofármacos, e 87,73% desses correlacionaram a necessidade do uso de 
psicofármaco com o curso de Medicina. Foi observada maior prevalência do uso em 
pessoas do sexo feminino, totalizando 70,75%.
 Com relação às classes de psicofármacos mais utilizados, evidenciaram-se os 
antidepressivos (59,16%), os ansiolíticos (27,50%) e os psicoestimulantes (8,33%). 
65
Entre os antidepressivos os mais utilizados foram osInibidores Seletivos da Recap-
tação da Serotonina (ISRS), como o Escitalopram (22,53%), a Sertralina (21,12%) e 
a Fluoxetina (18,30%). Quanto aos ansiolíticos, o Zolpidem (27,27%), que pertence à 
classe de Ansiolíticos Não Benzodiazepínicos, foi o mais referido, seguido pelos ben-
zodiazepínicos – Alprazolam (18,18%) e Clonazepam (18,18%). No que se referiu 
ao uso de psicoestimulantes, o Metilfenidato (80%) foi o mais mencionado. Sobre as 
causas do uso, 20,12% referiram o humor depressivo, a tristeza, a perda do interesse 
ou do prazer e estar desanimado quanto ao futuro como causas principais. Consi-
derando os fatores estressores, destacaram-se a exigência de um alto rendimen-
to acadêmico, a rotina do curso e o ambiente médico demasiadamente competitivo 
(RAMBO; LIMA e ZORZI, 2019).
A partir das produções pesquisadas pode-se perceber que, dentre os principais 
fatores relatados para o uso dos medicamentos estudados, o próprio curso é o fator 
desencadeador. Foi considerada também a falta de maturidade dos acadêmicos em 
relação aos riscos envolvidos no uso de substâncias psicoativas e as consequências 
pessoais, sociais e econômicas advindas do uso abusivo de tais substâncias. 
As pesquisas ainda destacaram a necessidade de programas de prevenção em 
relação à automedicação, ao uso indiscriminado de fármacos, aos efeitos colaterais 
dos psicofármacos e à assistência ao paciente fármaco-dependente. Com base nes-
ses estudos serão tecidas a seguir algumas considerações a respeito do consumo 
de ansiolíticos, antidepressivos e estimulantes, e a visão psicopatológica e medica-
mentosa que o circunda.
MEDICALIZAÇÃO E PSICOPATOLOGIZAÇÃO – EVIDÊNCIAS SOBRE 
CONSUMO DE ANSIOLÍTICOS, ANTIDEPRESSIVOS E ESTIMULANTES
O termo medicalização é utilizado para descrever o processo atual de tratar 
como doenças ou “problemas médicos” as questões que não são majoritariamente 
de cunho médico, mas sim de origem política, social ou própria do desenvolvimento 
humano (CONRAD, 2007; CHAGAS, 2018). Nesse cenário, retomando as palavras 
de Foucault (1977, 2003), medicalização se dá na implantação, pelo Estado, de prá-
ticas e medidas de contenção, controle e registro de doenças, além da criação de 
condutas de higiene e saúde. A Medicina passa então a adquirir autoridade para 
66
determinar e normatizar o que é doença, numa clara noção de adaptabilidade às nor-
mas sociais e imposição destas sob o argumento da saúde. 
Dessa forma, o biopoder, instaurado a fim de estabelecer padrões e normas de 
adequação humana, representa uma estratégia biopolítica que se dá sobre o corpo, 
entendido como realidade biopolítica. Assim, o controle da sociedade sobre os indi-
víduos não se opera simplesmente pela consciência ou pela ideologia, mas também 
se exerce no corpo, com o corpo. A medicalização se adensa, se amplia, e quanto 
mais incorpora a existência, a conduta, o comportamento e o corpo humano, menos 
se escapa à medicina (CHAGAS, 2018).
Em outra análise, sobre patologização e medicalização da educação superior, 
que identifica a expressão patologização do processo ensino-aprendizagem, Chagas 
(2018) constata que a emergência de ambas se constituiu historicamente e se desen-
volveu na operacionalização dos processos acadêmicos, e que, de maneira geral, 
teve apenas função de controle e vigilância, sem qualquer prática educativa. Além 
disso, objetivou manter a lógica de responsabilização individual do estudante pelo 
fracasso acadêmico e a medicalização no acolhimento ao discente com deficiência, 
dando a falsa ideia de inclusão. 
Nesse âmbito, ainda segundo Chagas (2018), ao tratar de patologização en-
quanto processo surgido no ambiente educativo, toda a comunidade da saúde está 
envolvida, inclusive psicólogos, e há um reducionismo na compreensão dos fenôme-
nos humanos. Essa proposta biologizante dos processos, por apresentar como pro-
blemas individuais questões que são de determinação coletiva, omite que o processo 
saúde-doença é determinado pela inserção social do indivíduo, sendo, ao mesmo 
tempo, a expressão do individual e do coletivo. Isso reverbera no ambiente escolar, 
no qual se desenvolve o processo ensino-aprendizagem. 
Desloca-se “o eixo de uma discussão político-pedagógica para causas e so-
luções pretensamente médicas, portanto inacessíveis à Educação” (COLLARES; 
MOYSÉS, 1997, p. 16) e desresponsabiliza, portanto, todo o sistema educativo de 
maneira eficaz e bem elaborada, e o ambiente educacional se coloca no papel de 
“vítima de uma clientela inadequada” (COLLARES; MOYSÉS, 2010, p. 197).
Patto (1990) apresenta importante contribuições para pensar a medicalização 
na educação superior, ao discutir o abuso de drogas para aumento da produtividade 
67
acadêmica mediante as exigências de uma sociedade capitalista: 
Atentamos para os anúncios que estas denúncias contêm: a necessidade de 
mudanças substantivas da Educação, que só se realizarão com uma ampla 
discussão sobre os impeditivos históricos de uma educação verdadeiramente 
comprometida com os princípios democráticos; com o estabelecimento de 
relações entre pais, alunos e profissionais apoiadas em participação iguali-
tária, não verticalizada, na gestão educacional; com remuneração digna aos 
educadores, desincumbindo-os das jornadas descomunais de trabalho; com 
formação de qualidade que permita a estes profissionais um giro para fora do 
olhar tecnicista, coisificante, por meio de uma análise crítica das bases em 
que se assentam suas crenças, suas opções teórico-metodológicas. (PATTO, 
1990, p. 11).
Percebe-se, nesse cenário, a psicopatologização, na qual há uma biologização 
e/ou uma naturalização de processos relativos ao adoecimento psíquico. Tal expan-
são da rotulação psiquiátrica tem sido capturada por discursos e práticas do saber 
médico-psiquiátrico e transformada em psicopatologias que passam a ser tratadas 
com o principal recurso disponibilizado pela Psiquiatria na contemporaneidade: os 
psicofármacos. Ou seja, uma circunstância de caráter coletivo e relacionado aos mais 
variados aspectos históricos e culturais, em que são perceptíveis sinais elementares 
de sofrimento psíquico, passam ser rotulados como uma patologia, cujo tratamento 
costuma ser a administração de psicofármacos (AMARANTE, 2007). 
Nessa prática, pode-se perceber uma tendência geral da Medicina como recur-
so ideológico, em transformar em questão médica aquilo que é da ordem do social, 
do econômico, do político, do cultural (DUARTE, 2001; AMARANTE, 2007). Sobre 
tal visão, de homem reduzido à sua estrutura biológica, faz-se pertinente analisar a 
emergência do uso de recursos farmacológicos por acadêmicos de Medicina, tanto 
no controle de situações cujo sofrimento psíquico esteja atrelado à falta de motivação 
e problemas de consciência, a serem tratados pela utilização de antidepressivos, 
quanto na utilização de medicamentos, como a conhecia Ritalina, por exemplo, que 
estimulam a concentração a fim de aumentar a produção – característica enraizada 
pela sociedade hegemonicamente capitalista. 
Conceitualmente, a depressão é um transtorno de humor crônico e recorrente, 
complexo, que pode levar a complicações que atingem inúmeras esferas da vida de 
um indivíduo, com forte impacto em sua qualidade de vida e de seus familiares. Em 
contexto brasileiro, muitos estudos têm relatado os sintomas depressivos em estu-
68
dantes universitários e estima-se que durante sua formação acadêmica 15% a 25% 
apresentem algum transtorno psíquico. Nesse cenário, destacam-se os estudantes 
do curso de Medicina, e essa maior predisposição parece estar relacionada a diferen-
tes fatores ao longo do curso (VASCONCELOS et al, 2015; REGIS, 2015; CYBULSKI 
e MANSANI, 2017; BAUCHROWITZ et al, 2019; CHEN e DILSAVER, 1996).
A ocorrência de depressão tem se justificado por inúmeras razões: estigma as-
sociado à utilização de serviços de saúde mental, custos e medo das consequênciasem nível curricular, elevada carga horária, grande volume de matérias, maior contato 
com pacientes portadores de diversas doenças e prognósticos, insegurança em re-
lação ao ingresso no mercado de trabalho, cobrança da sociedade e da instituição 
de ensino, além da autocobrança típica desse curso (VASCONCELOS et al, 2015; 
RIBEIRO et al, 2014). 
As consequências desse processo patológico no meio acadêmico estão calca-
das basicamente na redução do rendimento da aprendizagem nas tarefas cotidianas 
e na ocorrência de baixa autoestima e insegurança. Além disso, é demonstrada uma 
baixa resposta ao processo ensino-aprendizagem e frustrações quanto às expec-
tativas do seu desempenho e da vida acadêmica, sugerindo que pode interferir no 
comportamento assertivo, tão importante durante a formação e o desempenho pro-
fissional, no aprendizado da relação médico-paciente. A culminância patológica pode 
redundar em abandono do curso e até em suicídio. Isso sugere que a ocorrência de 
distúrbios de humor e ansiedade ainda na graduação, quando não detectados e ade-
quadamente tratados, pode se perpetuar ou agravar durante a residência médica e 
na atividade profissional (VASCONCELOS et al 2015; ARAÚJO et al, 2009; Nunes, 
2017; CYBULSKI e MANSANI, 2017).
A literatura revela que o uso de psicofármacos tem aumentado nas últimas dé-
cadas, principalmente dos antidepressivos. O aumento do consumo de antidepres-
sivos nessa década pode estar relacionado ao surgimento de novas medicações, à 
ampliação das indicações terapêuticas e ao aumento de diagnósticos das doenças 
depressivas na população em geral, em especial nas mais jovens (RIBEIRO et al, 
2014; RODRIGUES, FACCHINI e LIMA, 2006). 
 Nas produções analisadas observou-se que as prevalências de consumo 
de psicofármacos por estudantes de Medicina variam entre 11% e 40%. A maioria das 
69
pesquisas evidenciou que o uso de drogas psicoativas estava associado à presença 
de sintomas de ansiedade. Quanto às classes de medicamentos, os mais utilizados 
são os ansiolíticos (13,1%), sendo Clonazepam e Zolpidem as primeiras escolhas 
e, sequencialmente, anfetaminas de maneira geral (10,1%) (VASCONCELOS et al, 
2015; REGIS, 2015; BAUCHROWITZ et al, 2019; MARQUARDT et al, 2019). Sobre 
o uso de antidepressivos, os mais utilizados foram os Inibidores Seletivos da Recap-
tação de Serotonina (ISRS), sendo o Escitalopram e a Fluoxetina os medicamentos 
mais prevalentes (FLECK et al, 2009; O’DONNELL e SHELTON, 2012, CYBULSKI e 
MANSANI, 2017; RIBEIRO et al, 2014; BAUCHROWITZ et al, 2019). 
Em relação ao consumo de Ritalina no meio acadêmico, este não é uma novi-
dade. Estudos apontam uma grande prevalência de automedicação ou mesmo pres-
crições de médicas para o consumo de estimulantes. Esse consumo é praticado 
pelos acadêmicos como justificativa para o tratamento de distúrbios de atenção e 
memória, ou mesmo para aumentar tais capacidades devido ao extenso trabalho in-
telectual que demandam. A necessidade de concentração e disposição do indivíduo 
também leva ao uso de substâncias psicoativas, para que consiga estudar por mais 
horas e otimizar a eficácia acadêmica (SILVEIRA et al, 2015).
Para atender tal demanda, a Ritalina, cujo princípio ativo é o cloridrato de me-
tilfenidato, é a droga mais usada por estudantes de Medicina. A substância estimula 
o sistema nervoso central e age bloqueando a recaptação de dopamina, liberando, 
dessa forma, dopamina e norepinefrina para a fenda sináptica. Esses fármacos tam-
bém são estimulantes do sistema nervoso central, com estruturas semelhantes à an-
fetamina, produzem ativação do córtex e aumento do nível de alerta. Seus principais 
efeitos colaterais são nervosismo, insônia, agitação e ansiedade, entre muitos outros 
(NUNES, 2017; O’DONNELL e SHELTON, 2012).
Muitos estudos, como os de Nunes (2016), Moraes et al (2013), Silveira et al 
(2015) e Morgan et al (2017), têm verificado o consumo da Ritalina por estudantes 
de Medicina e suas implicações, tanto no âmbito da automedicação quanto na me-
dicação prescrita descontroladamente. A maioria desses estudos evidencia a alta 
prevalência de uso de substâncias estimulantes por parte desses alunos, indicando 
que grande parte começa a usá-las durante a faculdade.
De acordo com Moraes et al (2013), os principais motivos alegados para tal 
70
consumo foram a compensação da privação de sono (47,4%) e a melhoria de racio-
cínio, atenção e/ou memória. Em relação aos efeitos percebidos com o uso, foram 
relatados redução do sono, melhora na concentração, redução da fadiga, melhora no 
raciocínio e melhora do bem-estar.
O SOFRIMENTO PSÍQUICO A SERVIÇO DE “SER MÉDICO”
A compreensão que estas linhas assumem é de que a humanização só pode se 
concretizar quando em contato com o mundo objetivo e humanizado, transformado 
pela atividade real de outras gerações e por meio da relação com outros indivíduos. 
Assim o ser humano aprende a ser humano (LEONTIEV 1978).
A partir de uma concepção ontológica do ser social, fundamentada em seus 
aspectos históricos e culturais, considera-se que o estudo de sistemas complexos, 
como saúde e doença, se tornaria demasiadamente raso se fosse analisado somente 
a partir de uma visão biológica e pontual. Desta feita, o adoecimento psíquico e o pro-
cesso de medicalização enquanto expressão desse sistema, só são compreensíveis 
em sua profundidade se seus significados e sentidos são analisados como produzi-
dos no contexto histórico cultural em que se desenvolvem. 
Estudiosos, como Traverso-Yépez (2001) e Minayo (1997), refletem que o pro-
cesso saúde-doença é baseado em uma ordem de significações culturais socialmen-
te construídas, que entusiasmam o uso que cada um faz do seu corpo, o modo como 
entende-o e as formas pelas quais o ser humano vivencia os seus estados de saúde 
e doença, a expressão dos sintomas, os hábitos e estilos de vida e as próprias práti-
cas de atendimento à saúde. Assim, além de ser um fato biológico, é uma realidade 
construída tanto historicamente como no âmbito da expressão simbólica coletiva e 
individual. 
 Uma vez que a Medicina define o que é normal ou patológico, e a patologia é 
entendida como o conjunto de sintomas padronizados, especificamente sobre as psi-
copatologizações, as diversas expressões humanas, como tristeza, angústia e insô-
nia, passam a ser compreendidas a partir de uma abordagem organicista e, portanto, 
tratadas com substâncias farmacológicas (RODRIGUES, 2003; AGUIAR 2004).
 Diante do cenário da alta prevalência de sofrimento psíquico e dos processos 
de psicopatologização e medicalização entre alunos de Medicina denunciados a par-
71
tir de diversos estudos, faz-se pertinente traçar reflexões a partir da fundamentação 
teórica da Psicologia Histórico-Cultural, fundamentada por Vigotski, que propôs o es-
tudo do social em sua juntura aos processos psíquicos, permitindo compreensão da 
noção de unidade psicológica no curso dos fenômenos humanos (VIGOTSKI, 1994, 
2009). O empenho de seus estudos para a elaboração teórico-metodológica da Psi-
cologia Histórico-Cultural abriu novos caminhos à trajetória do pensamento científico 
da época, permeado pelas representações positivistas, biologicistas e reducionistas 
dominantes. 
 Suas obras, e de demais estudiosos que se empenharam na compreensão do 
psiquismo humano na concepção histórico-cultural, calcadas no materialismo histó-
rico-dialético marxista, possibilitam ao presente estudo avançar em relação às frag-
mentações na produção do conhecimento, sobretudo no que se refere à dicotomia 
indivíduo e sociedade, que, tradicionalmente, marca diferentes perspectivas teóricas 
no âmbito da saúde (VIGOTSKI, 1991/1995; LEONTIEV, 1978; LURIA, 1991; ZEI-
GARNIK, 1976/1981; GONZÁLEZ REY, 2004/ 2013).
 Partindo-se da referida fundamentação, o desenvolvimento cultural não con-
jectura identidade entre a instância biológica e cultural, e sim um processo no qualo 
cultural supera o biológico por incorporação, porque tem-se que a cultura é o funda-
mento ontológico do ser social. Dessa maneira, deve ser mantida a importância das 
apropriações sociais nesse desenvolvimento, voltando-se à relação dialética entre or-
ganismo e meio social no estudo e na intervenção das alterações patológicas ao lon-
go do desenvolvimento ontogenético do sujeito adoecido (ZEIGARNIK, 1976/1981).
 Há ainda que se refletir sobre as concepções de adoecimento psíquico fren-
te aos paradigmas vigentes enraizados pela hegemonia capitalista, pois, conforme 
Leontiev (1978), os processos psíquicos devem ser considerados como distintas for-
mas de atividade psíquica, formadas no desenvolvimento ontogenético. A atividade 
do sujeito é mediatizada e regulada pelo reflexo psíquico da realidade, que conduz 
as necessidades, os motivos, as finalidades e as condições de sua atividade, como 
também regula as ações e os modos de operação. 
 Sobre tal premissa, considera-se então que quando um estudante de Medicina 
apresenta traços aumentados de ansiedade, estresse, avançando para depressão 
e até redução de seu desempenho acadêmico, há de se questionar realidades que 
72
ultrapassam o currículo escolar. Como afirmam Ramos-Cerqueira e Lima (2002), a 
sociedade estabelece inúmeras atribuições ao médico, frequentemente deificando-o. 
“Manterei a minha vida e a minha arte com pureza e santidade; qualquer que 
seja a casa em que penetre, entrarei nela para beneficiar o doente; evitarei qualquer 
ato voluntário de maldade ou corrupção [...]”. Esse é um pequeno trecho do clássi-
co juramento hipocrático, ainda repetido nas formaturas de graduação em Medicina, 
que exemplifica a idealização do Médico, contudo o embate que se dá entre tal idea-
lização e a realidade da formação profissional sofrem contradições que alteram os 
sentidos e significados da escolha profissional e geram frequentemente problemas 
de consciência. Esses são vivenciados com diferentes graus de sofrimento emocio-
nal. 
 Já na escolha profissional há questões que podem desencadear o sofrimento 
psíquico dos jovens acadêmicos de Medicina, tanto em caráter comum a todos os 
outros cursos quanto nos específicos do curso médico. Não é segredo que a com-
petição por uma vaga nas universidades, em especial as públicas, é uma batalha 
a ser enfrentada também em outras carreiras. Entretanto, desde cedo o estudante 
entra em contato com o ‘endeusamento’ que marca sua escolha, e há uma série de 
estigmas sociais que assolam a academia de Medicina e o futuro profissional, como o 
prestígio social, o prestígio do saber além dos demais profissionais, inclusive colegas 
da saúde, a necessidade de ser útil, a atração pelo dinheiro, pela responsabilidade 
ou pela reparação, o desejo de uma profissão liberal e a necessidade de segurança 
financeira (RAMOS-CERQUEIRA e LIMA, 2002). 
 Todos os problemas de consciência e contradições entre os significados e sen-
tidos da escolha profissional também são pronunciados na tentativa de esses alunos 
adotarem a postura de “médico” a partir da convivência com seus pares e com seus 
professores médicos. Muitas vezes, esses professores não atendem às demandas 
pedagógicas de maneira satisfatória e levam os alunos a entrarem em conflitos e 
inseguranças em relação à sua vocação e/ou à habilidade de ser médico. Aliado a 
isso, sentem-se na necessidade de espelharem-se em seus mentores, adotando as 
mesmas posturas. Essas posturas são adotadas, na maioria das vezes, mediante si-
tuações vivenciadas na relação professor-aluno, que nem sempre são harmoniosas. 
 Esse fenômeno pode ser analisado à luz das palavras de Leontiev (1978) ao 
73
considerar o processo de apropriação da experiência acumulada pelo gênero hu-
mano no decurso da história social, como possível apenas na relação com outros 
homens, o que permite a aquisição das qualidades, capacidades e características 
humanas e a criação contínua de novas aptidões e funções. De modo diferente dos 
animais, o homem garante suas aquisições, não se adaptando ao mundo dos objetos 
humanos, mas sim se apropriando deles. 
 Assim, o social não apenas “interage” com o biológico, mas também é capaz 
de criar novos sistemas funcionais, que engendram novas formas superiores de ati-
vidade consciente. Como indica Vigotski (1995), é preciso compreender o desenvol-
vimento humano como um processo vivo, de permanente contradição entre o natural 
e o histórico, o orgânico e o social. A partir dessa perspectiva é que as expressões 
contemporâneas da medicalização e psicopatologização no ambiente da academia 
de Medicina são analisadas aqui.
 Todos os aspectos específicos do curso estão intrinsecamente relacionados ao 
aprender o “jeito de médico” fazendo parte de uma espécie de currículo oculto, que 
nas palavras de Santomé (1998) são conhecimentos, destrezas, atitudes e valores 
que se adquirem mediante a participação em processos de ensino-aprendizagem e, 
em geral, em todas as interações que se sucedem dia a dia nas aulas e centros de 
ensino, cuja função geralmente é reforçar as necessidades e interesses da ideologia 
hegemônica, construindo implicitamente traços de personalidade apropriados para 
trabalhar em uma sociedade industrializada da economia capitalista. 
 Valsechi et al (2019) declara que a principal finalidade da socialização dos es-
tudantes de Medicina e dos médicos residentes, ao longo da formação médica, é 
incorporá-los efetivamente ao mundo do trabalho. Os sujeitos envolvidos com essa 
formação indicam permanentemente quais discursos, comportamentos, ideias e va-
lores são mais adequados ao trabalho médico, muitas vezes em consonância aos 
interesses dos grupos dominantes. Assim, a escola médica contribui para naturalizar 
as desigualdades decorrentes das relações capitalistas de produção instrumentaliza-
das pelo currículo oculto.
 Sem adentrar aos “problemas” desse currículo, que favorece a visão capita-
lista, é necessário refletir na busca de tentar compreender como essas questões 
interferem na personalidade do indivíduo e culminam no sofrimento psíquico. Nesse 
74
sentido, a personalidade constitui-se pela unificação e vinculação das atividades do 
sujeito em sua vida, dentro do sistema de relações objetivas da sociedade. Em outras 
palavras, é no processo de apropriação do mundo dos objetos e fenômenos criados 
pela humanidade, no processo de socialização, por meio da atividade humana, que 
aparecerão necessidades, motivos e interesses que constituem a formação da per-
sonalidade do indivíduo. No seio das condições histórico-sociais. Nas palavras de 
Leontiev (1978, p. 137): “a personalidade não nasce, a personalidade se faz”.
 Sendo assim, o papel exercido pela atividade com sentidos e significados al-
terados, mediados pela expectativa versus realidade do estudante, atuará em seu 
modo de vida e, desse modo, em sua personalidade. Em síntese, o processo de adoe-
cimento psíquico faz com que os processos formados por motivos e necessidades 
sejam destruídos e incide na formação de novos motivos e de novas propriedades e 
características da personalidade. As contradições vivenciadas pelos estudantes e as 
tentativas de pertencimento do grupo social ‘privilegiado’ impila ao sofrimento mental, 
decorrente da alteração da estrutura da atividade humana, e faz com que os motivos 
percam sua função de criar significados e dar sentido pessoal à atividade humana, 
como alteram a função de autocontrole do comportamento. 
 Como assunto complexo, há de se discutir também a medicalização em si e a 
concepção do que é e não é “normal” sentir, e o que é ou não necessário medicar. 
Além disso, é importante refletir sobre a medicalização e a psicopatologização des-
sas crises de consciência. 
 Apesar de a tristeza e os conflitos existenciais serem assuntos na pauta de 
alguns contextos sociais, ainda são frequentemente tratados como “sentimentos queas pessoas não deveriam vivenciar”. Em decorrência, há uma disseminação socio-
cultural da tristeza vista como doença. Esses padrões favorecem a sutil e progressiva 
exclusão de determinados processos humanos que, não por acaso, passam a ser 
considerados como “patológicos”. A lógica biomédica implica a escolha pré-determi-
nada dos sintomas que são socialmente aceitos e aqueles que devem ser evitados 
e, nesse sentido, associa-se a uma rígida e estreita perspectiva daquilo que é e deve 
ser considerado um desenvolvimento normal. Em outros termos, trata-se de postular 
a existência de uma concepção universal da natureza humana (AMARANTE, 1994; 
BASAGLIA, 1985; GONZÁLEZ REY, 2014).
75
 Nesse sentido, González Rey (2014) observa que a permanência de um es-
tado idealizado de felicidade torna-se imperativo, e tudo o que dele se desvia deve 
ser “ajustado”, de preferência com recursos externos que possam ser comprados. 
Nessa perspectiva, o modelo biomédico, em conjunto com o Capitalismo, promove 
implicitamente a busca por um império de sensações que visam a ocultar qualquer 
contradição possível da vida, minimizando o valor da emergência de certas emoções 
e, portanto, favorecendo um permanente estado de passividade do homem.
 Com o modelo biomédico, somente o médico sabe o que é importante para a 
saúde do indivíduo, e só ele pode fazer qualquer coisa a respeito disso, porque todo 
o conhecimento acerca da saúde é racional, científico, baseado na observação obje-
tiva de dados clínicos. A autoridade do médico e sua responsabilidade pela saúde do 
paciente fazem-no assumir um papel paternal (GUEDES; NOGUEIRA e CAMARGO, 
2006; CAPRA,1982).
 Tal visão, de autocentrismo médico, dentro do processo de medicalização entre 
acadêmicos de Medicina, denuncia um problema duplo. Primeiro, o do jovem indiví-
duo totalmente dependente de ‘comprimidos da felicidade’, muitas vezes tomados 
mesmo sem prescrição ou atuação de um profissional, e justificados por conheci-
mento e facilidades que o próprio aluno tem no manejo dessas drogas. E segundo, 
pelo exemplo tomado enquanto aluno-observador, que se espelha no profissional 
que prescreve a medicação e diagnostica a depressão ou outros processos patológi-
cos quase numa posição de Deus, detentor do conhecimento e capaz de realizar tal 
diagnóstico a partir de alguns sintomas pontuais. 
 O acadêmico então passa por dois processos mentais de construção histórico-
-cultural estabelecidos: o da necessidade de camuflar os sentimentos, de desajuste, 
frustrações, medos e falta ou deturpações de sentido dentro da vivência acadêmica; 
e o da aquisição, por meio do convívio com seus pares e exemplos de mentores, a 
concepção reducionista dos sofrimentos psicológicos e a soberania sobre as nuan-
ças emocionais de seus pacientes. 
 A despeito do uso de estimulantes, como a Ritalina, a questão em pauta é a 
competição arraigada no ambiente acadêmico médico e a ideia da necessidade de 
se adquirir conhecimento para além da sua autocapacidade e da capacidade dos 
demais. Há ainda uma tendência de utilização como meio de mascarar a falta de 
76
motivação no estudo, muitas vezes provenientes da insatisfação em realizar o curso 
baseado nas pressões familiares e sociais. 
 A Ritalina, que é uma medicação originalmente utilizada para o tratamento de 
transtorno de atenção, especialmente em crianças, é bastante utilizada por acadêmi-
cos, com uma grande prevalência pelos alunos Medicina, apesar de seus efeitos co-
laterais. Sem entrar no campo da utilização por quem é diagnosticado com transtorno 
de déficit de atenção, pois isso proporcionaria outras inúmeras reflexões aqui cabe 
ressalvar que sua bula esclarece que seu mecanismo de ação no indivíduo não foi 
completamente esclarecido e o mecanismo pelo qual o multifenidato (princípio ativo) 
exerce seus efeitos psíquicos e comportamentais não está claramente estabelecido.
 Segundo os pressupostos da Psicologia Histórico-Cultural, a atenção depende 
do desenvolvimento da capacidade humana de selecionar os estímulos e do controle 
voluntário do comportamento, sem os quais não seria possível aos homens desen-
volver uma atividade coordenada com vistas a alcançar fins determinados (LURIA, 
1991). Tal função psicológica depende da construção da consciência e do controle 
sobre seu próprio comportamento, de tal forma que ela possa propor-se, de modo 
intencional e deliberado, a focalizar sua atenção no processo de apropriação dos 
conteúdos curriculares. 
 Fica claro então que as crises de significados e sentidos e a falta de motivação 
no curso acarretam alterações da atenção, sem contar que as pressões pelo alcance 
de determinados conhecimentos às vezes vão de encontro ao nível ou ao momento 
de desenvolvimento teórico e intelectual do aluno e são despejados sem seu real 
conhecimento da situação. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ensino médico que não reflete sobre o ser humano que há no médico par-
ticipa de modo altamente prejudicial nas deformações adaptativas do futuro 
profissional. (MARTINS, 1991, p. 363).
 Com o presente estudo pôde-se perceber o crescente interesse científico em 
identificar e analisar o consumo de fármacos por acadêmicos de Medicina e suas 
causas e implicações, correlacionando a seu estado de saúde mental e ao nível de 
sofrimento psíquico, qualidade de vida, uso de drogas, depressão e ansiedade, uma 
77
vez que os resultados das diversas pesquisas trazem, em maioria, que a incidência 
de sofrimento mental entre os estudantes de Medicina é maior do que na população 
em geral. Os dados apresentados neste artigo comprovaram que as características 
e queixas típicas dos alunos do curso de Medicina podem estar contribuindo para o 
incremento de seu uso de substâncias psicoativas. Tais características incluem carga 
horária elevada, falta de tempo para estudar e privação da vida social nesse período. 
 Além disso, as ansiedades e receios, as pressões familiares e do próprio curso, 
especialmente nos primeiros anos, as disputas inter e intrapessoais, as responsabili-
dade quanto à cura do paciente, questões éticas, a morte de pacientes que estavam 
sendo acompanhados pelo aluno e o próprio acesso facilitado a certas drogas restri-
tas aos profissionais de saúde, sugerem que o currículo médico pode desempenhar 
um papel importante no aumento da prevalência de sintomas depressivos nos estu-
dantes de Medicina e no acesso indiscriminado ao uso de psicofármacos, destacan-
do-se os antidepressivos e ansiolíticos e os psicoestimulantes, com destaque para a 
Ritalina.
 O surgimento do sofrimento psíquico e sua redução a fatores biologizantes 
ou naturalizantes, como costuma ser apresentado, é fruto de um paradigma sobre 
a profissão peculiar à sociedade de classes, marcada pelo sistema capitalista. O 
currículo expresso no cotidiano das faculdades de Medicina do país, além de muitas 
vezes não consistir na transmissão-assimilação de saberes objetivos, intenta formar 
propositalmente trabalhadores médicos desprovidos de consciência social crítica. E, 
mais que isso, pode-se dizer que há na educação médica um currículo oculto, no qual 
se aprende a “ser médico”. 
 Esse texto, porém, fundamenta-se na tentativa de propiciar uma percepção 
mais clara, de que o sofrimento psíquico frente ao “estudar Medicina” não está restri-
to ao âmbito escolar e seus programas curriculares, e sim ao aprender o “ser médi-
co”. Tal “jeito de médico” (enquanto uma ação não revelada) está muito relacionado 
à complexidade dos processos sociais: de trabalho, de produção dos serviços, das 
condições do mercado de trabalho, da intervenção do estado, e das ideologias e 
representações que sustentam o paradigma mercadológico e de status profissional. 
Pretendeu-se, com esses e sua análise, possibilitar a afirmação da relação entre o 
desencadeamento do sofrimento mental na academia médica, além do estigma do 
78
trabalho e do profissional médicosob os lençóis capitalistas, na constatação para-
doxal entre a atividade educacional e de trabalho como fator de humanização, em 
termos ontológicos, e como este assume características desumanizadoras. 
Na relação direta e indissociável entre as condições objetivas de vida e a for-
mação do psiquismo humano reflete-se a relação entre os processos sociais e o 
desencadeamento do adoecimento psíquico. Por isso, o desenvolvimento psíquico 
humano não pode ser descolado das relações de classe e de produção capitalistas, 
no caso do atual contexto histórico. Se as relações sociais, mediadas por instrumen-
tos e signos, induzem ao desenvolvimento psicológico, em suas formas saudáveis e 
patológicas, como Zeigarnik (1976) afirma, estas linhas admitem o entendimento de 
que quanto mais patogênicas forem as relações mais susceptível estará o sujeito a 
adoecimentos psíquicos.
 Por fim, para compreender melhor esse fenômeno e abalizar estratégias de 
enfrentamento ao sofrimento psíquico, é necessário ir além dos parâmetros quanti-
tativos, expandir os estudos longitudinais e qualitativos sobre o tema, percebê-lo em 
contexto histórico, cultural, político e de interesse da coletividade, abrangendo condi-
cionantes importantes, como a educação médica e a cultura profissional dos médicos 
na sociedade brasileira.
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84
10.48209/978-65-00-17616-5
CONCEPÇÕES DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE 
ACERCA DA SEXUALIDADE E PREVENÇÃO DE 
HIV/AIDS EM IDOSOS USUÁRIOS DE CENTRO DE 
CONVIVÊNCIA
Adna Viviane Rocha Freire1
Ana Luiza Ferreira Martins2
Dennis Soares Leite3
Rodolfo Gomes do Nascimento4
Keila de Nazaré Madureira Batista5
1 Fisioterapeuta pela Universidade Federal do Pará, Pós-graduanda em Fisioterapia na Estra-
tégia Saúde da Família na Universidade do Estado do Pará (UEPA).
2 Fisioterapeuta pela Universidade Federal do Pará (UFPA).
3 Fisioterapeuta pela Universidade Federal do Pará. Especialista em Saúde Coletiva pela Uni-
versidade de São Paulo (USP).
4 Doutor em Teoria e Pesquisa do Comportamento pela Universidade Federal do Pará (UFPA)
5 Doutora em Doenças Tropicais pela Universidade Federal do Pará (UFPA)
Endereço para correspondência: Passagem Santo Antônio, nº 75, Pedreira – CEP: 66080-480, Be-
lém – Pará (PA), Brasil – Telefone: (91) 98353-6655 – E-mail: adnarocha1@gmail.com
85
INTRODUÇÃO
O processo de envelhecimento populacional mundial, tanto nos países desen-
volvidos como nos países em desenvolvimento, é uma realidade. No Brasil, é obser-
vada uma mudança gradativa no perfil demográfico do país, decorrente da diminui-
ção das taxas de natalidade e mortalidade nas últimas décadas. 
Na manutenção das hipóteses de queda futura dos níveis da fecundidade no 
País, estima-se que em 2050, haverá uma proporção de 226 idosos de 60 anos ou 
mais para cada 100 crianças e adolescentes, segundo o Instituto Brasileiro de Geo-
grafia e Estatística (IBGE)¹. O crescimento da população idosa revela a necessidade 
de estruturação de um modelo assistencial que contemple o segmento idoso de for-
ma integral, o sistema de saúde deve estar preparado para atender as novas deman-
das sociais e de saúde.
As pesquisas sugerem que uma parte considerável dos idosos gozam de uma 
vida sexual, embora possam enfrentar dificuldades físicas, sociais e psicológicas². 
Serviços ofertados a este público estimulam a convivência social, dentre eles os 
Centros de Convivência, os quais proporcionam um espaço onde são realizadas ati-
vidades que estimulam o bem-estar físico e emocional do indivíduo, garantindo au-
tonomia e melhor qualidade de vida, por meio de um envelhecimento ativo³. O enve-
lhecimento saudável requer uma compreensão e abordagem de diversos aspectos 
como a sexualidade, reconhecendo que um maior número de idosos mantém uma 
vida sexualmente ativa, e em um ambiente onde a interação social é estimulada, os 
profissionais devem ser capacitados para orientar os idosos, proporcionando uma 
vida sexual saudável.
Entretanto o despreparo dos profissionais desde sua formação e a visão que 
os mesmos têm da fase da velhice, bem como suas crenças e atitudes em relação 
ao idoso, influenciarão o envolvimento de todos na busca de soluções para os pro-
blemas ligados ao processo de envelhecimento. Segundo Neri, Cachioni e Resende4 
para propiciar melhores condições e qualidade de vida para os mais velhos é neces-
sário que ocorra uma mudança nas atitudes diante da velhice, pois quando as con-
dutas relacionadas aos idosos fundamentam-se em estereótipos negativos e mitos, 
a promoção do seu bem-estar é prejudicada. E se, durante a atuação profissional, 
86
não há a aceitação de que o idoso possa manter uma vida sexual, então é imprová-
vel que os problemas dessa ordem sejam efetivamente explorados, diagnosticados 
e reabilitados. 
Em relação ao envelhecimento e AIDS, o aumento da frequência de práticas 
sexuais entre idosos decorrentes de medicamentos que melhoram o desempenho 
sexual e reposição hormonal5; torna-se um risco pois não está associado ao uso do 
preservativo. A invisibilidade da sexualidade na velhice está intimamente relacionada 
ao preconceito e a falta de informação, pois a sexualidade está longe de ser vista 
como saudável e natural em idosos. Aumentando assim a vulnerabilidade do idoso 
para as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), entre elas, o HIV/AIDS6. Os 
próprios profissionais de saúde dificilmente acreditam que os idosos possam ser con-
taminados por alguma doença sexualmente transmissível, pois os consideram como 
sexualmente inativos. Anulando a possibilidade do diagnóstico precoce da AIDS, ao 
negligenciar a abordagem da sexualidade dessas pessoas e o exame imediato (soro-
logia para o HIV), mesmo após a observação e o relato dos primeiros sinais e sinto-
mas7. Sendo assim, é necessário um trabalho de prevenção e orientação direcionada 
a essa população8 e da própria quebra de tabu entre os profissionais da saúde sobre 
a vivência sexual da pessoa idosa. 
Portanto, tem-se por objetivo do estudo investigar as concepções relacionadas 
ao processo de envelhecimento: sexualidade e prevenção ao HIV/AIDS no idoso, 
que predominam entre os profissionais de saúde, integrados a Centro de convivên-
cia, que atuam no Município de Belém. 
MÉTODOS
Trata-se de um estudo descritivo observacional, com coleta transversal e abor-
dagem quantitativa e qualitativa. A pesquisa foi realizada, no Palácio Bolonha Centro 
de Convivência para a Terceira Idade. O Palácio Bolonha atende um público na faixa 
etária a partir de 40 anos e promove atividades de convivência em grupo, atividades 
de manifestações artísticas, culturais, esportivas e de lazer, proporcionando maior 
autonomia ao idoso e inclusão e participação na comunidade e família.O Centro 
de Convivência para a Terceira Idade, é uma organização não-governamental, sem 
fins lucrativos e possui como objetivo garantir uma melhor qualidade de vida para os 
87
idosos. 
O Centro de Convivência conta com uma equipe de 15 profissionais da saúde, 
no entanto, a pesquisa foi realizada com apenas oito profissionais de saúde, que tra-
balham diretamente com o público de idosos da instituição. Cabe destacar que estes 
concordaram em participar da pesquisa voluntariamente por meio da assinatura do 
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Adotou-se como critério de ex-
clusão desta pesquisa os profissionais de saúde que se recusaram (n=7) a participar 
do estudo.
A coleta de dados foi realizada por dois pesquisadores, no mês de novembro e 
dezembro de 2017. Após assinarem o TCLE, os participantes receberam o questioná-
rio para o autopreenchimento. Utilizou-se o questionário de perfil sociodemográfico e 
de atuação profissional, a Escala de Atitudes e Conhecimento sobre Sexualidade no 
Envelhecimento (ASKAS) e uma entrevista semiestruturada. 
O questionário de perfil sociodemográfico e de atuação profissional é um ques-
tionário composto por 12 itens, criado pelos autores, que tem como objetivo definir o 
perfil sociodemográfico e de práticas profissionais dos participantes do estudo. Com-
posto pelas seguintes variáveis: idade, sexo, cor, estado civil, religião, área de forma-
ção, tempo de atuação como profissional de saúde, faixa etária com que teve maior 
dificuldade de trabalhar, se participou de algum programa de educação em saúde 
sobre sexualidade na velhice, se já orientou um idoso sobre sexualidade e prevenção 
de HIV/AIDS e se encontrou alguma dificuldade para abordar o tema com o idoso.
A Escala de Atitudes e Conhecimento sobre Sexualidade no Envelhecimento 
(ASKAS) foi desenvolvida com a finalidade de medir o conhecimento sobre a sexua-
lidade de idosos e atitudes relativas à sexualidade do idoso9. A versão brasileira da 
escala adaptada e validada consiste de 28 itens, 20 no formato “verdadeiro/falso/não 
sei” (verdadeiro = 1 ponto, falso = 2 pontos e não sei = 3 pontos) e oito itens com 
respostas numa escala tipo Likert de cinco pontos, variando de “discordo totalmente” 
e “concordo totalmente”. 
As 20 questões, falso/verdadeiro, avaliam o “conhecimento” dos respondentes 
sobre as mudanças que ocorrem na sexualidade, relacionadas à idade. A pontuação 
varia de 20 a 60 pontos, um escore baixo indica alto conhecimento sobre a sexua-
lidade na velhice. As oito questões, “discordo/concordo”, avaliam as “atitudes” dos 
88
respondentes em relação ao comportamento sexual de idosos. Com pontuação va-
riando de 8 a 40 pontos. Um baixo escore indica uma atitude mais favorável à sexua-
lidade da pessoa Idosa.
A entrevista semiestruturada dos profissionais de saúde acerca de HIV/AIDS na 
velhice foi composta de seis perguntas abertas que contemplavam as seguintes te-
máticas: atuação profissional; público-alvo e suas problemáticas; AIDS na população 
idosa; prevenção em relação HIV/AIDS para idosos e suas dificuldades; vulnerabili-
dade da população idosa por infecção ao HIV/AIDS; aprimoramento do profissional 
de saúde visando ações de promoção em saúde destinadas ao público idoso acerca 
da prevenção ao HIV/AIDS. Cabe ressaltar que as entrevistas foram registradas com 
auxílio de gravador e, posteriormente, transcritas e digitadas na íntegra em Word 
Windows versão 2007.
Em relação ao processamento e análise dos dados, inicialmente foram tabula-
dos em planilhas do programa Microsoft Excel versão 2007, onde cada participante 
recebeu um código de modo a garantir seu anonimato. Para a análise dos dados foi 
utilizado o programa estatístico Epi Info versão 7.1, aplicou-se a estatística descritiva 
aos dados quantitativos através da distribuição da contagem de frequências simples 
e percentuais. Devido ao tamanho pequeno da amostra optou-se por utilizar o teste 
de correlação não paramétrico de Spearman. Quanto aos dados qualitativos, os dis-
cursos foram transcritos de maneira integral para análise do seu conteúdo realizou-
-se a análise temática, com ênfase na análise de conteúdo temático-categorial10.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital Universitário João de 
Barros Barreto – HUJBB, parecer nº 2.362.074. Todos os participantes da pesquisa 
assinaram o TCLE.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Caracterização dos participantes, atitudes e conhecimento sobre 
sexualidade
A caracterização sociodemográfica dos profissionais incluídos na amostra do 
estudo é demonstrado na Tabela 1. A média de idade foi de 35,38 ± 7,05 anos, a 
proporção de sexo foi igual, portanto, quatro eram do sexo feminino e quatro do sexo 
masculino, eram em maioria solteiros e com prática religiosa católica.
89
Tabela 1: Caracterização sociodemográfica da amostra do estudo.
Variáveis N %
Gênero
Masculino 4 50
Feminino 4 50
Idade
20 – 30 anos 2 25
31 – 40 anos 5 62,5
41 – 50 anos 1 12,5
50 anos ou mais 0 0
Cor
Branca 2 25
Parda 3 37,5
Negra 3 37,5
Estado Civil 2 25
Casado(a)
Solteiro(a) 6 75
Divorciado(a) 0 0
Viúvo(a) 0 0
Religião
Catolicismo 4 50
Protestantismo 1 12,5
Candomblé 0 0
Ateísmo 0 0
Outros 3 37,5
Com relação à atuação profissional, todos eram profissionais graduados em 
Educação física, que atuavam no mercado de trabalho entre 2 a 5 anos (37,5%), rela-
taram ter maior dificuldade em trabalhar com o público dentro da faixa etária de ado-
lescentes entre 10 e 19 anos (37,5%). Ao serem questionados sobre a participação 
de algum programa de educação em saúde com o tema de sexualidade na velhice, 
75% nunca participaram de um programa voltado a essa temática específica; apesar 
disso, os profissionais relataram que orientam os idosos a respeito de sexualidade e 
HIV/AIDS (62,5%) e não tem dificuldades em abordar esse tema com o público idoso 
(87,5%).
90
Os dados da Tabela 2 mostram os escores de média e desvio padrão entre os 
escores da Escala de Atitudes e Conhecimento sobre Sexualidade no Envelhecimen-
to (ASKAS) e as características sociodemográficas e de práticas profissionais.
91
Com relação à escala ASKAS, os participantes do sexo masculino obtiveram 
um escore médio de 29,75 ± 2,06 e os do sexo feminino com 26,25 ± 3,30; enquanto 
que, referente às atitudes os escores médios para homens de 14,75 ± 2,79 e para 
mulheres foram de 9,25 ± 1,89, com p-valor igual 0,01, demonstrando que as mulhe-
res apresentaram maior conhecimento em relação à sexualidade na velhice, e uma 
atitude mais favorável à sexualidade da pessoa idosa. Corroborando com o estudo 
de Semanas11, onde foi investigado o conhecimento e atitudes de profissionais que 
lidam diariamente com idosos e observou que os homens possuem atitudes ligeira-
mente mais negativas face aos idosos, do que as mulheres, entretanto nos resulta-
dos não foi observada diferença significativa, esses resultados podem ser reflexos 
da desconstrução de estereótipos de que a vida sexual ativa desaparece na mulher, 
e que esta deva ter uma vida mais conservadora do que os homens, até mesmo en-
tre o público idoso, as mulheres demonstram ter maior conhecimento em relação à 
sexualidade12. 
A tabela 3 demonstra os dados dos escores médios da escala ASKAS com as 
variáveis sociodemográficas de acordo com a correlação do teste não paramétrico de 
Spearman, considerando o valor de p ≤ 0,05.
Tabela 3. Escores de conhecimento e atitudes da ASKAS, conforme as variáveis so-
ciodemográficas. Correlação do Teste não-paramétrico de Spearman (p≤0,05). 
Características Conhecimento Atitudes Total
Sexo
Masculino (n=4)
M=29,75
DP=2,06 
MED=29,5
M=14,75
DP=2,79
MED=14,5
P=0,01
M=44,5
DP=3,69
MED=44,5
P=0,005
Feminino (n=4)
M=26,25
DP=3,30
MED=25
M=9,25 
DP=1,89
MED=8,5
M=35,5
DP=2,88
MED=35,5
Estado Civil
Casado(a) (n=2)
M=24
DP=0
MED=24
P=0,025
M=10
DP=2,82
MED=10
M=34
DP=2,82
MED=34
Solteiro(a) (n=6)
M=29,33
DP=2,34
MED=29,5M=12,66
DP=3,88
MED=12,5
M=42,0
DP=4,97
MED=42
92
Nesse presente estudo, foi identificado que os participantes casados apresen-
taram maior conhecimento (24,0) em relação aos profissionais solteiros (29,33±2,34), 
com a diferença estatisticamente significativa (p = 0,025), além de atitudes mais favo-
ráveis quanto à sexualidade na velhice (casados = 10,0±2,82 / solteiros= 12,66±3,88). 
Porém na pesquisa de Semanas11, foi observado que respondentes casados têm ati-
tudes mais negativas em comparação com os solteiros, no entanto não houve uma 
diferença significativa.
Compreende-se que a vivência proporcionada por uma relação estável, favore-
ce a visão de sexualidade, para além do simples ato sexual, essa visão mais amplia-
da propicia a adoção de atitudes mais positivas relativas à vida sexual na velhice11. 
Nessa linha de raciocínio, acredita-se que o estado civil pode ser considerado um 
importante fator de influência no conhecimento e atitudes dos profissionais, necessi-
tando, portanto, ser mais bem estudado em estudos futuros.
Com relação à postura religiosa, os participantes que se denominam católi-
cos e protestantes apresentaram atitudes menos favorável à sexualidade na velhice, 
(13,75+4,03 / 12,0) respectivamente, comparado àqueles respondentes que profes-
sam outras religiões, com pontuações médias para atitudes de 9,66±2,88. Apesar 
da diferença entre os participantes, esta não foi estatisticamente significativa. Sema-
nas11 (2014) verificou que os participantes que professam alguma religião possuem 
atitudes negativas face à sexualidade dos idosos, do que os participantes que não 
professam nenhuma religião. A sexualidade está envolta em diferentes aspectos, se-
jam eles culturais, emocionais ou religiosos. A religião pode influenciar as atitudes do 
indivíduo frente a sexualidade, e está constantemente associada a uma visão mais 
conservadora. 
Nesta pesquisa, os profissionais que atuam no mercado de trabalho cerca de 
10 anos ou mais apresentaram melhor conhecimento e atitude mais favorável à se-
xualidade do idoso, com pontuação média de 25,0+1,41 e 10,5+2,12, respectivamen-
te, mas não foi estatisticamente significante em comparação com os outros partici-
pantes. Este dado corrobora com Dogam13 que em sua pesquisa demonstrou que os 
médicos mais velhos tinham mais conhecimento quando comparados aos médicos 
mais jovens, apesar das atitudes semelhantes. A partir desses dados identifica-se a 
necessidade de aprimorar a formação dos profissionais de saúde para que estejam 
93
capacitados para ofertar os cuidados necessários aos idosos no âmbito de sua se-
xualidade.
Concepções dos profissionais acerca do HIV/AIDS na velhice
De acordo com a proposição do trabalho e mediante a análise das falas emer-
giram 302 unidades de registro (frases) que deram suporte à categorização das cate-
gorias e subcategorias para análise (Quadro 1). Neste processo, foi possível apreciar 
o objeto de estudo e traçar importantes inferências através das referências atribuídas 
pelos profissionais.
Quadro 1 Resultado temático da análise categorial de relatos coletados por meio de 
entrevista semi-estruturada com os profissionais de saúde (categorias e subcatego-
rias).
A. Sobre o público idoso
B. Percepção da incidência do HIV/AIDS no público idoso
C. Fatores de vulnerabilidade
C1. Sexualidade na velhice
C2. Utilização de preservativos.
C3. Viuvez e solidão
C4. Ausência de informação adequada
D. Como modificar ou prevenir os fatores de vulnerabilidade
D1. Planejamento de ação em saúde destinada ao público idoso sobre o tema de 
Sexualidade e HIV/AIDS
D2. Presença de dificuldades ao abordar essa temática com o idoso
A. Sobre o público idoso
Por meio da análise dos discursos dos profissionais, elegeram-se as caracte-
rísticas mais relevantes do público atendido. Um dos aspectos observados foi uma 
maior porcentagem de idosas que integram as atividades do Centro Gerontológico, 
como percebido na fala de um dos profissionais:
O sexo feminino impera, é muito grande, e não é só aqui não...chega a ser quase 
90% ou se não é 90%. É 10% praticamente de homens (Entrevistado 3).
94
Este maior contingente de mulheres idosas na instituição estudada remete ao 
que conhece-se como “feminização da velhice”. No Brasil, o processo de velhice 
é nitidamente caracterizado por um maior contingente feminino, especialmente nos 
contextos urbanos14, estima-se que as mulheres vivam, em média, de cinco a sete 
anos a mais que os homens15. Sobre isso, ainda vale destacar que a “feminização” 
ocorre de modo semelhante ao que se tem registrado sobre o perfil epidemiológico 
dos portadores de HIV/AIDS no Brasil.
De acordo com os discursos, as demandas clínicas mais percebidas pelos pro-
fissionais neste grupo de idosos incluem as doenças crônicas não transmissíveis, 
característica esta bastante frequente em instituições com o mesmo perfil de atendi-
mento. 
Muitas delas vêm com patologias você sabe a partir dos 60 anos são problemas 
cardíacos, diabetes, enfraquecimento dos ossos, todas as “oses” da vida e algu-
mas vem com problemas de depressão, então a gente procura reintegrar elas, não 
deixar ninguém excluído sempre motivando. (Entrevistado 3).
B. Percepção da incidência do HIV/AIDS no público idoso
 Alguns discursos dos profissionais revelaram uma percepção dialética entre a 
possibilidade da infecção, a atividade sexual e a velhice mais ativa, como observado 
na fala do Entrevistado 2: 
É provável mesmo que realmente esteja acontecendo isso, mas assim eu nunca 
identifiquei aqui no nosso centro, entre os meus alunos que alguém tenha adquirido, 
esteja vivenciando... entre os meus alunos eu ainda não identifiquei. Os tempos 
mudaram eles estão muito mais ativos (Entrevistado 2).
É perceptível para os profissionais, as mudanças no estilo de vida dos idosos, 
que se tornam cada vez mais ativos em sua velhice, mantendo suas atividades sexuais 
e sociais. Segundo Gorinchteyn16 essas transformações decorrem de uma melhor 
qualidade e expectativa de vida com o acesso aos serviços de saúde, os avanços da 
medicina, que permitem uma maior longevidade e prolongam a vida sexual, tornando 
as pessoas idosas mais vulneráveis às infecções sexualmente transmissíveis, dentre 
elas, a infecção pelo HIV/AIDS.
95
C. Fatores de vulnerabilidade
C1. Sexualidade na velhice
Por meio dos discursos coletados, constata-se a percepção dos profissionais 
acerca da sexualidade do idoso, identificando a vida sexual na velhice como um 
aspecto presente no ambiente do centro de convivência. Compreender que o idoso 
continua tendo impulso e atividade sexual, apesar das alterações fisiológicas, as ex-
pectativas socioculturais e os problemas de saúde associados6, constitui um passo 
importante para a abordagem da temática e a atuação em prevenção destes profis-
sionais.
Olha não é generalizando não, como eu te falei, assim como existem aqueles ido-
sos que são cautelosos, que são cuidadosos, existem aqueles também que querem 
aproveitar agora a terceira idade, para curtir a vida. Principalmente os homens...a 
gente tem esse cuidado de estar falando sobre se preservar, porque eles querem 
estar saindo com as novinhas (Entrevistado 2).
Hoje em dia como tá tudo mais avançado, não se privam mais do sexo...Sim, eles 
ficam se dando cantada, conversam, umas alunas brincam comigo: Égua professor 
ta bonito hoje, não sei o que (Entrevistado 1).
Ao abordar a sexualidade dos idosos, muitos profissionais referiam-se ao re-
lacionamento destes com parceiros mais jovens. Observa-se a preocupação de que 
estes possam estar envolvidos em algum tipo de engodo. Coelho et al.17 ressalta as 
diferentes posturas adotadas pela sociedade diante da procura dos idosos por par-
ceiros sexuais de menor faixa etária, é mais aceitável que homens idosos se envol-
vam com mulheres mais jovens, pois quando as idosas se relacionam com homens 
mais novos essa atitude é considerada insensataou absurda.
C2. Utilização de preservativos
 Alguns relatos verbalizados neste estudo reforçam a preocupação com a rela-
ção segura na velhice. Alguns discursos ilustram bem essa noção:
[...] e porque eu escuto muito isso: É professor na nossa idade já estamos no fim 
da safra, então transar com camisinha já é como se fosse chupar um bombom com 
casca né? Elas falam assim... ah professor na nossa idade não tem mais porque 
está se privando disso a gente quer ter prazer, a gente quer se divertir (Entrevista-
do 3).
96
É difícil você dar uma consciência para um homem vamos dizer que nunca usou, 
antigamente não tinha isso né? Não tinha essa questão de camisinha essas coisas, 
é difícil conscientizar hoje em dia a usar entendeu? (Entrevistado 5).
A transmissão do HIV, no Brasil, entre idosos ocorre principalmente pela via 
sexual, sendo a maioria de orientação heterossexual18,19. Constituindo assim o uso 
de preservativo, tanto o masculino como o feminino, em uma atitude de prevenção 
eficaz, e estabelecendo a necessidade de testagem anti-HIV para essa população8. 
Entretanto, o não uso de preservativos é uma realidade entre os idosos e muitos só 
o utilizam após o diagnóstico de HIV20. A percepção dos profissionais sobre os moti-
vos que influenciam a não adoção de atitudes de cuidados preventivos por parte dos 
idosos, envolvem a ideia de que o uso do preservativo influencia na capacidade de 
sentir ou dar prazer durante o ato sexual. 
Segundo Araújo21 os homens idosos temem perder a ereção e consideram ne-
cessário o uso do preservativo apenas nas relações com as profissionais do sexo. 
Outro fator destacado pelos profissionais é que as idosas não reconhecem reais 
motivos para o uso do preservativo, não se identificam como em posição de risco. 
Santos e Assis22 descreve que as mulheres consideram não necessitar de prevenção, 
porque não tem mais a capacidade de engravidar.
C3. Viuvez e solidão
De acordo com os profissionais participantes do estudo, muitos idosos pos-
suem a compreensão da viuvez como um momento de liberdade, de autonomia em 
busca do prazer e satisfação pessoal, como percebido em algumas falas:
Se a gente for ver, muitas dessas mulheres são sozinhas e querem alguém que dá 
atenção, dá carinho e elas se entregam porque não tem ninguém... então há tam-
bém fatores psicológicos, que influenciam nisso daí! (Entrevistado 7).
Mas se tratando de idosos, principalmente mulher, chegam a uma certa idade... por 
exemplo tem idosas que são muito presas quando são casadas, então as vezes 
ficam viúvas ai faz com que elas se soltem... a procura de alguém, a procura de um 
parceiro, não quer ficar só. O que a gente percebe aqui é isso, elas querem sempre 
ter alguém (Entrevistado 4).
97
Segundo Leite, De Moura e Berlezi6 essa compreensão favorece a participação 
em grupos de terceira idade, proporcionando maiores oportunidades de encontros 
afetivos e amplia a possibilidade do idoso de se relacionar sexualmente com outra 
pessoa. 
O centro de convivência é responsável por estimular a criação de vínculos so-
ciais, realizando a integração do indivíduo, para os profissionais muitos idosos são 
melhor acolhidos no centro do que em seu próprio círculo familiar, onde muitos se 
sentem solitários. A solidão está relacionada a um diálogo, a um convívio deficiente. 
A busca do idoso em manter vínculos é uma estratégia de combate à solidão. Este 
busca uma companhia com o qual possa compartilhar suas emoções e vivências11,23. 
C4. Ausência de informação adequada
 Com base na concepção dos profissionais foi possível notar lacunas em rela-
ção ao acesso à informação sobre HIV/AIDS na velhice, como ilustra alguns discur-
sos:
[...] É a questão de não conhecer tanto, não conhecer sobre...eu acho que falta 
mais uma informação pra eles, pra esse público... e informação falta na TV a gente 
começar maciçamente a falar sobre isso... em redes de acesso mais fáceis pra eles 
(Entrevistado 7).
[...] Outros aspectos? Falta de informação né? A falta de informação é uma delas e 
pelo fato de ser ainda um pouco acanhado, muitos idosos ainda preferem ficar pra 
eles, que eles ainda estão praticando, pela vergonha da sociedade, preconceito 
né? (Entrevistado 1).
No campo assistencial, a invisibilidade da sexualidade do idoso se fez presente 
na área da saúde, sendo a vida sexual da pessoa idosa tratada como algo inexis-
tente. Consequentemente, a possibilidade de uma pessoa com mais de 60 anos ser 
infectada pelo vírus HIV era considerada remota22. Constitui-se assim um grande 
desafio da prevenção do HIV/AIDS entre os idosos: a crença errônea de que não 
estão em risco de contrair HIV ou outras IST’s. Okuno12 relata que esta população se 
encontra pouco informada sobre a AIDS, estando pouco ou nada consciente sobre o 
modo de se protegerem, tornando-se vulneráveis à infecção.
98
D. Como modificar ou prevenir os fatores de vulnerabilidade
Quando questionados sobre as estratégias de abordagem da temática entre os 
idosos, o conhecimento e a informação foram as soluções mais sugeridas por estes 
profissionais.
Com certeza com palestras, com orientações, com conversas, esclarecimentos a 
respeito da importância do uso do preservativo do que pode acarretar na vida delas 
uma vez que ela possa adquirir a doença. (Entrevistado 3).
Muita orientação...uma campanha maciça em relação a isso né? E eu acho que 
nós precisamos ter um olhar muito diferente pra isso, e começarmos a fazer... 
principalmente nós que trabalhamos com idosos... tenta fazer um trabalho muito 
importante no sentido de conscientizá-los. (Entrevistado 7).
As ações de promoção de saúde podem auxiliar a promover um comporta-
mento sexual seguro, amenizando a invisibilidade quanto à transmissão do HIV na 
pessoa idosa27.
O Programa Conjunto das Nações Unidas HIV/AIDS (UNAIDS) sugere propos-
tas de ação para diminuir o impacto da AIDS na terceira idade, como: a mudança do 
preconceito acerca da sexualidade na velhice; a inclusão de serviços que abordem a 
questão do HIV; a criação de programas educativos específicos para essas pessoas 
e a inclusão de idosos em pesquisas sobre prevenção e assistência28.
Eu acho que tem que ser já! De imediato! Que isso não pode esperar mais! Eu acho 
que isso é um assunto muito pertinente que precisa de muitas discussões. Eu acho 
que no Centro, precisamos falar disso, né! E lá na faculdade precisam fazer um 
grupo pra falar disso... e nós, profissionais da área da saúde, precisamos ler mais, 
se informar mais... porque muitas pesquisas estão sendo feitos a respeito disso, 
tudo isso pra quê? Pra gente colher essas informações, né? Para que a gente pos-
sa dar uma resposta pra essa comunidade (Entrevistado 7).
D1. Planejamento de ação em saúde destinada ao público idoso sobre o tema 
de Sexualidade e HIV/AIDS
Apesar dos participantes reconheceram a importância da temática desta pes-
quisa, nunca realizaram alguma ação específica sobre o tema em relação aos ido-
99
sos, muitos relataram ter conversas informais com os alunos sobre sexualidade. Mas 
reconheceram necessitar de um melhor preparo para abordar a temática. 
Não, acho que aqui não, a gente nunca falou assim específico. Não específico as-
sim de palestra essas coisas, assim sobre sexo não. (Entrevistado 5).
Uma hora ou outra eu conversava sobre isso com alguma aluna, mas quando eu li 
sobre isso... de junho pra cá eu comecei a me preocupar com isso (Entrevistado 7).
Eu mesmo assim preparado para falar sobre isso abordando alguém? Não. Eu te-
nho que estudar muito sobre o assunto (Entrevistado 4).
Não, pelo fato de não ter nenhum treinamento específico (Entrevistado 1).
Portanto, afere-se que o sexo é um tópico difícil de ser abordado e discutido 
com idosos. Segundo Taylor e Gosney 2 os profissionais da saúde reconhecem seu 
papel crucial na saúde sexual, mas consideram que não foram devidamente treina-
dos durante sua formação, sentindo-se despreparados para discutir ativamente osassuntos sexuais com seu paciente.
D2. Presença de dificuldades ao abordar essa temática com o idoso
As barreiras para a abordagem da sexualidade e prevenção do HIV em idosos 
referidas pelos profissionais englobam dois aspectos. Um destes foi a necessidade 
de enfrentar conceitos e entendimentos já enraizados nos idosos.
No fato não seria a linguagem né? Porque eles já são pessoas adultas já passa-
ram por isso já viveram o que a gente está vivendo hoje, nós jovens. De fato, a 
dificuldade seria mostrar ou conversar, o que é de hoje porque muita coisa passa, 
muita coisa que pra gente não é mito para eles ainda é mito, eles tem a mente um 
pouquinho mais rígida, não querem, não estão abertos a novidade (Entrevistado 1).
O segundo obstáculo constitui-se na vergonha e o sentimento de culpa por 
possuírem desejo sexual, experimentado por muitos idosos, em decorrência do des-
conhecimento e à pressão cultural24.
Não, assim, tem algumas pessoas abertas né... tem umas que falam sim, aberta-
mente, mas tem certas idosas que tem dificuldade, mas por causa da criação, pela 
educação que tiveram, pela coisa mais fechada mesmo... muitas delas não falam 
100
porque... porque morrem de vergonha, tem vergonha dos filhos né, o que os filhos 
vão pensar dela falando isso... nós temos isso aqui (Entrevistado 7).
Observa-se que os profissionais compreendem como a apreensão do idoso 
sobre a aceitação da sociedade sobre a sua sexualidade, além de outros aspectos 
culturais, torna o idoso inibido a assumir a permanência do desejo e o interesse pela 
busca de sua satisfação sexual. A vigilância e o temor do julgamento da sociedade, 
pode impedir o idoso de manifestar sua sexualidade25,26.
Este estudo busca conscientizar acerca da importância de se capacitar os profis-
sionais de saúde na abordagem do idoso no contexto da integralidade, reconhe-
cendo os mais velhos como indivíduos que mantêm sua atividade sexual e, por-
tanto, vulneráveis às IST’s. Pois em decorrência do preconceito e o tabu que 
rondam a sexualidade na terceira idade, somado à carência de políticas pú-
blicas que abordem essa temática, muitos idosos não se percebem vulnerá-
veis à infecção pelo HIV, e mantêm relações sexuais sem o uso do preservativo. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observamos através da aplicação da ASKAS que os profissionais de saúde 
participantes possuem lacunas em seu conhecimento acerca da sexualidade na ve-
lhice, e que existem fatores que influenciam em suas atitudes frente a vida sexual do 
idoso. A análise dos discursos demonstrou a compreensão dos profissionais em re-
lação aos fatores de vulnerabilidade do idoso ao HIV/Aids, mas estes consideram-se 
despreparados para abordar a sexualidade do idoso.
Os profissionais abordados neste estudo não são responsáveis por realizar a 
testagem e o diagnóstico em si do HIV/AIDS, mas possuem o papel de desenvolver 
práticas que envolvam ações educativas, com enfoque em medidas preventivas na 
prática sexual, promovendo esclarecimento de temas como as Doenças Sexualmen-
te Transmissíveis como o HIV/AIDS.
 
101
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104
SOBRE O ORGANIZADOR
DENNIS SOARES
Graduação em Fisioterapia pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Aperfeiçoa-mento em Saúde Pública pela Faculdade do Método de São Paulo. Especialista em 
Saúde Coletiva com ênfase em saúde e trabalho pela Universidade de São Paulo 
(USP). Pós-graduando em Gestão em Saúde pela Faculdade Metropolitanas Unidas 
(FMU) e Educação e Tecnologias pela Universidade Federal de São Carlos (UFS-
Car). Foi pesquisador convidado em Saúde Coletiva na Universidad Nacional de La-
nús (Buenos Aires/Argentina). Membro da Associação Brasileira de Saúde Coletiva 
(ABRASCO). Atualmente, fisioterapeuta em cuidados paliativos, pesquisador da Fa-
culdade de Medicina da USP/Centro de Referência em DST/Aids, fisioterapeuta do 
trabalho na Libbs Farmacêutica e Banco BTG, Professor universitário para os cursos 
de fisioterapia, educação física e odontologia.
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