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FERRAMENTAS BIM ENGENHARIA Faculdade de Minas 2 SUMÁRIO CONCEITO BIM ......................................................................................................... 4 AS POTENCIALIDADES DE UM MODELO BIM ....................................................... 7 AS DIMENSÕES DO BIM .......................................................................................... 8 ELEMENTOS PARAMÉTRICOS ............................................................................. 11 INTEROPERABILIDADE E OPEN BIM .................................................................... 12 BIM NO BRASIL ....................................................................................................... 16 MODELOS DE NEGÓCIOS DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO .......................... 19 PRINCIPAIS APLICAÇÕES INFORMÁTICA BIM .................................................... 20 ESTÁGIOS DE MATURIDADE BIM ......................................................................... 21 PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO BIM EM CONSTRUTORAS E INCORPORADORAS BRASILEIRAS ...................................................................... 23 VANTAGENS E DESVANTAGENS DO BIM ............................................................ 24 BARREIRAS PARA IMPLEMENTAÇÃO DO BIM .................................................... 26 COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS .................................................................... 28 BIM VERSUS CAD................................................................................................... 29 REVIT ....................................................................................................................... 30 REFERENCIAS ........................................................................................................ 32 Faculdade de Minas 3 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia-se com a ideia visionária e da realização do sonho de um grupo de empresários na busca de atender à crescente demanda de cursos de Graduação e Pós-Graduação. E assim foi criado o Instituto, como uma entidade capaz de oferecer serviços educacionais em nível superior. O Instituto tem como objetivo formar cidadão nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em diversos setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e assim, colaborar na sua formação continuada. Também promover a divulgação de conhecimentos científicos, técnicos e culturais, que constituem patrimônio da humanidade, transmitindo e propagando os saberes através do ensino, utilizando-se de publicações e/ou outras normas de comunicação. Tem como missão oferecer qualidade de ensino, conhecimento e cultura, de forma confiável e eficiente, para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. E dessa forma, conquistar o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos de qualidade. Faculdade de Minas 4 CONCEITO BIM BIM, é uma sigla inglesa para Building Information Modeling, traduzida como Modelagem da Informação da Construção, remete a uma metodologia cujo conceito, segundo Manzione (2013), baseia-se na compreensão de informações sobre o edifício e seus componentes e contém informações sobre suas propriedades como fundações, forma, materiais e processos. Pode ser descrito como a construção de um edifício virtual em que uma única base (modelo 3D) contém todas as informações de todo processo de produção. Credita-se o uso inicial da sigla a Charles M. Eastman (Chuck Eastman)1, que conceituou o sistema BIM como “um modelo digital que representa um produto, que, por sua vez, seria o resultado do fluxo de informações do desenvolvimento do seu projeto”. (CBIC, 2016) Devido a seu crescente uso e aplicação na construção civil, outros autores e instituições também apresentam seus conceitos para a sigla supracitada, complementando a visão de Eastman e ampliando seu significado. O conceito BIM (Building Information Modeling) ou Modelagem da Informação da Construção é baseado na construção de um edifício virtual, contendo toda a geometria, materiais e componentes da edificação. Ele organiza em uma mesma base de informações, um banco de dados de toda a obra, acessível a todas as equipes envolvidas, durante todo o ciclo de vida da construção, sendo considerado uma importante ferramenta para a prática da gestão integrada. Desse mesmo banco são extraídas automaticamente as representações, documentações, especificações dos materiais, análises físicas, etc. (DELATORRE, 2011, p. 2-3) O BIM é um objeto de estudo que vem ganhando cada vez mais visibilidade pela comunidade científica na área de gestão em engenharia e arquitetura (MACHADO; RUSCHEL; SCHEER, 2016), e possui diversas definições na literatura, como mostrado no Quadro 1. Faculdade de Minas 5 Quadro 1: Definições de BIM Esse trabalho utiliza a definição de que o BIM é uma representação digital de um ativo físico a ser construído, que engloba informações relevantes para as diversas etapas do processo de desenvolvimento de produto, o que possibilita que diversas análises sejam feitas ainda na fase de projetos, dentre elas a compatibilização de projetos e detecção automática de interferências. A possibilidade de antecipar tais análises termina por impactar diretamente o ciclo de vida do empreendimento, desde a fase de projeto, construção e operação. As definições acima versam sobre o escopo mais abrangente do BIM, sendo que a implementação do mesmo acontece em estágios, assim como sugere Succar (2009). Pode-se dizer, então que, na tecnologia BIM, através do modelo 3D digital gerado, tem-se uma base de dados sólida e confiável, que proporciona suporte à tomada de decisões durante todo ciclo de vida de um edifício, desde a concepção até a demolição, caso ocorra, permitindo planejar, testar, coordenar, quantificar, verificar interferências e recuperar informações virtualmente a qualquer momento da vida do empreendimento (ADDOR et al., 2010). Ele se torna um banco de dados acessível a todas as equipes envolvidas, durante todo o ciclo de vida da construção (DELATORRE, 2011). Faculdade de Minas 6 Com todas as informações associadas a um único modelo, reduz-se a possibilidade de erros no processo e permite a maior troca de informações e compatibilizações entre todas as áreas envolvidas, uma necessidade identificada na cadeia da construção civil. (DELATORRE, 2011). A mudança de paradigma resultante da adoção do BIM faz com que haja uma mudança no fluxo de trabalho, onde enquanto no fluxo de trabalho tradicional grande parte do esforço é gasto na fase de documentação, onde todos os documentos técnicos são gerados (projetos, pranchas, quantitativos, orçamentos, etc), sendo eles baseados em desenhos em 2D, no fluxo de trabalho BIM, os esforços são antecipados para a fase de detalhamento de projeto, onde é feito o detalhamento do modelo digital, com informações e geometria precisas, e de onde são gerados de forma automática os documentos técnicos. Vale lembrar que na fase onde os maiores esforços são realizados no fluxo de trabalho BIM, ainda se têm um grande controle de impactar custo e performance, e os custos de mudanças no projeto ainda são baixos quando comparados aos do fluxo de trabalho convencional (CBIC, 2016). Entre essas soluções (para dificuldades presentes no setor da Construção Civil), pode-se enumerar a valorização da fase de projeto e a integração das partes como meio de se evitar desperdícios e otimizar os processos em obras; a melhoria da qualidade dos projetos; a inovação tecnológica que permite um melhor controle da construção e automatização de etapas; controlemais preciso de orçamento e mais segurança no cumprimento de prazos, entre outras. (SANTOS, 2016, p.16) Porém, para que essa troca de informações seja completa e assertiva, faz-se necessário que haja o envolvimento de todos os agentes, a fim de criar um ambiente comunicativo e de colaboração chamado de interoperabilidade, conceito que será abordado mais à frente neste trabalho. O ambiente colaborativo somente se mostra efetivo de forma ampla se todos os agentes participarem permanentemente do processo de projeto. A colaboração é um processo interdependente, e seu sucesso depende da interação constante e participação de todos os agentes envolvidos. (STEHLING, 2012, p. 54) Faculdade de Minas 7 AS POTENCIALIDADES DE UM MODELO BIM Uma construção BIM é feita através de um modelo que não corresponde apenas à representação da edificação, como ocorre atualmente em plataformas 2D. Ele é a própria construção, feita de maneira virtual, mas com todas as informações embutidas, o que torna este modelo um instrumento inteligente e passível de simulações e de modificações, tanto na arquitetura como nos projetos especiais, de maneira rápida e antecipada, evitando que problemas e incompatibilidades sejam identificados apenas em estágios mais avançados como na fase da obra. Isso favorece a produtividade, a economia de tempo, custo e materiais, auxiliando assim também na sustentabilidade do produto (CARDOSO et al, 2012-2013). Segundo Eastman et al (2014), o BIM tem suas raízes nas pesquisas sobre projeto auxiliado pelo computador de décadas atrás, mas ainda não possui uma definição única e amplamente aceita. Para ele, o BIM pode ser definido “como uma tecnologia de modelagem e um conjunto associado de processos para produzir, comunicar e analisar modelos de construção”. De acordo com Eastman et al (2014), a Construtora M. A. Morteson Company que usa frequentemente as ferramentas BIM em seus projetos define o BIM como “uma simulação inteligente da arquitetura”. De acordo com a Mortenson, esta simulação deve exibir seis características principais para que haja uma implementação integrada. Para que essas possibilidades sejam viáveis e assertivas, é indispensável a produção de um modelo rico de informações, no qual possam ser observadas as seguintes características: DIGITAL: não ser uma mera representação gráfica, ser paramétrica, tridimensional. ESPACIAL: ter três ou mais dimensões, para simular o processo. MENSURÁVEL: ser quantificável, dimensionável. ABRANGENTE: conter o máximo de informações da edificação, tais como comportamento dos sistemas, sequência executiva no espaço e no tempo, custos do projeto. Faculdade de Minas 8 ACESSÍVEL: a toda a cadeia produtiva, projetistas, construtoras, usuários, facilities, proprietários. Ser interoperável entre plataformas de softwares e hardwares. DURÁVEL: que possa ser usada em todas as fases do empreendimento, projeto e planejamento, fabricação e construção, operação e manutenção. (EASTMAN et al., 2008 apud ADDOR et al., 2010, p. 108-109). Além das características de modelagem citadas, o bom uso de um modelo BIM prevê a aplicação de conceitos como dimensões BIM e interoperabilidade. O BIM é uma representação digital das características físicas e funcionais de uma construção. Como tal, essa representação digital serve como um recurso de conhecimento partilhado para obter informações sobre a construção, permitindo a criação de uma base confiável para decisões durante o seu ciclo de vida, desde a concessão até a manutenção. BIM poderá também ser entendido de forma ampla para a criação e utilização de modelos digitais e processos de colaboração relacionados entre empresas para promover o valor dos modelos (FREITAS, 2014). De acordo com a National BIM Standart o conceito BIM envolve a geração e gestão de uma representação digital de características físicas e funcionais de uma edificação. O modelo BIM criado resulta num recurso de conhecimento confiável partilhado que apoia a tomada de decisões desde os primeiros estágios conceptuais do projeto até ao final o seu período de vida útil (TARRAFA, 2012). AS DIMENSÕES DO BIM O processo BIM possui camadas de informações, conhecidas como dimensões. Estas podem ser infinitas (nD) sendo cada uma atribuída de acordo com o contexto de sua utilização (COELHO, 2017). Nos últimos anos, desde que os BIM e os seus conceitos começaram a fazer parte da indústria de edificação, detectou-se Faculdade de Minas 9 uma crescente expansão da sua utilização a todo o ciclo de vida dos edifícios. (...) Na sua dimensão, os modelos BIM mais ousados dizem-se “nD” e qualificam o sector dimensional que vai além das vulgares três dimensões do espaço euclidiano. (CARDOSO et al., 2013, p. 5) Atualmente, classificam-se 7 dimensões (CALVET, 2013 apud COELHO, 2017), conforme demonstrado na Figura 01. Alguns autores ainda apontam a inclusão da dimensão 8D, referente à segurança e à prevenção de acidentes, prevendo e corrigindo riscos no processo construtivo (MASOTTI, 2014). Figura 01: As 7 dimensões BIM. Fonte: ENGENHARIA DE PROJETOS, 2016. Masotti (2014) afirma que o BIM possui diversas camadas de informação, conhecidas como dimensões. Um modelo pode ser 4D, 5D, 6D, 7D, até nD, conforme o contexto da utilização. Segundo a análise de Neil Calvert (2013 apud MASOTTI, 2014), as 6 principais dimensões do BIM podem ser classificadas como: Faculdade de Minas 10 2D Gráfico – são as dimensões do plano, onde estão representadas graficamente as plantas do empreendimento. 3D Modelo – adiciona a dimensão espacial ao plano, onde é possível visualizar os objetos dinamicamente. Um modelo 3D pode ser utilizado na visualização em perspectiva de um empreendimento, na pré-fabricação de peças, em simulações de iluminação. No caso do BIM, cada componente em 3D possuí atributos e parametrização que os caracterizam como parte de uma construção virtual de fato, não apenas visualmente representativa. 4D Planejamento – adiciona a dimensão tempo ao modelo, definindo quando cada elemento será comprado, armazenado, preparado, instalado, utilizado. Organiza também a disposição do canteiro de obras, a manutenção e movimentação das equipes, os equipamentos utilizados e outros aspectos que estão cronologicamente relacionados. 5D Orçamento – adiciona a dimensão custo ao modelo, determinando quanto cada parte da obra vai custar, a alocação de recursos a cada fase do projeto e seu impacto no orçamento, o controle de metas da obra de acordo com os custos. 6D Sustentabilidade – adiciona a dimensão energia ao modelo, quantificando e qualificando a energia utilizada na construção, a energia a ser consumida no seu ciclo de vida e seu custo, em paralelo a 5º dimensão. A energia, neste caso, pode estar diretamente relacionada ao impacto físico do projeto no meio em que este está inserido. 7D Gestão de Instalações – adiciona a dimensão de operação ao modelo, onde o usuário final pode extrair informações de como o empreendimento como um todo 15 funciona, suas Faculdade de Minas 11 particularidades, quais os procedimentos de manutenção em caso de falhas ou defeitos. ELEMENTOS PARAMÉTRICOS Em um projeto paramétrico, ao invés de se desenhar uma instância de um elemento do edifício tal como uma parede ou pilar, o projetista primeiro define a Classe ou a Família do elemento com geometria tanto quanto fixa como paramétrica e uma série de regras para controlar os parâmetros e relações pelas quais um elemento é criado. Os objetos e suas faces podem ser definidos usando relações envolvendo distâncias, ângulos e regras de comportamento tais como: anexado a, paralelo a, e deslocado de (EASTMAN et al., 2014 apud NETTO, 2016). O conceito de parametria é fundamentalpara o entendimento do BIM. Eastman et al., (2014) define objetos BIM paramétricos da seguinte maneira: Consistem em definições geométricas e dados e regras associadas. A geometria é integrada de maneira não redundante e não permite inconsistências. Quando um objeto é mostrado em 3D, a forma não pode ser representada internamente de maneira redundante, por exemplo, como múltiplas vistas 2D. Uma planta e uma elevação de dado objeto devem sempre ser consistentes. As dimensões não podem ser “falsas”. As regras paramétricas para os objetos modificam automaticamente as geometrias associadas quando inseridas em um modelo de construção ou quando modificações são feitas em objetos associados. Por exemplo, uma porta se ajusta Faculdade de Minas 12 imediatamente a uma parede, um interruptor se localizará automaticamente próximo ao lado certo da porta, uma parede automaticamente se redimensionará para se juntar a um teto ou telhado, etc. Os objetos podem ser definidos em diferentes níveis de agregação, então podemos definir uma parede, assim como seus respectivos componentes. Os objetos podem ser definidos e gerenciados em qualquer número de níveis hierárquicos. Por exemplo, se o peso de um subcomponente de uma parede muda, o peso de toda a parede também deve mudar. As regras dos objetos podem identificar quando determinada modificação viola a viabilidade do objeto no que diz respeito a tamanho, construtibilidade, etc. Os objetos têm a habilidade de vincular-se a ou receber, divulgar ou exportar conjuntos de atributos, por exemplo, materiais estruturais, dados acústicos, dados de energia, etc. para outras aplicações e modelos. Moreira (2008) afirma que modelos paramétricos permitem o relacionamento entre elementos que podem ser identificados visualmente. Quando uma variável é mudada, seu efeito é visto nos elementos relacionados. INTEROPERABILIDADE E OPEN BIM Embora o advento tecnológico do BIM tenha recebido mais projeção nos últimos anos, ele data da década de 1980, quando a empresa húngara Graphicsoft lançou o ArchiCad, primeiro software contendo ferramentas BIM, e período em que Faculdade de Minas 13 Jerry Laiserin, realizava pesquisas na área de TI e interoperabilidade (ADDOR et al., 2010) A interoperabilidade pode ser entendida como uma característica que se refere à capacidade de diversos sistemas e organizações trabalharem em conjunto (interoperar) de modo a garantir que pessoas, organizações e sistemas computacionais interajam para trocar informações de maneira eficaz e eficiente. (MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, DESENVOLVIMENTO E GESTÃO, s.d) Processos da construção civil envolvem diversas áreas e especialistas, que utilizam, na realização de suas atividades, diferentes ferramentas e sistemas, o que faz com que haja a necessidade de um formato de intercâmbio, que proporcione o reconhecimento e a leitura multidisciplinar entre esses sistemas. Open BIM é uma aproximação universal ao design colaborativo, à realização e operação de edifícios baseadas em normas e fluxos de trabalho abertos. (...) O único objectivo do movimento Open BIM é promover fluxos de trabalho de colaboração aberta para conseguir projectos melhor coordenados. Este objectivo é primariamente atingido através de um “branding” Open BIM globalmente comum, publicamente alcançável, suportado em definições claras, requisitos específicos e melhores práticas para ajudar a implementação. (INFOR BIM, 2018) Para o CBIC (2016), a troca de dados ou de modelos entre diferentes plataformas de softwares continua sendo um dos maiores desafios da indústria da construção civil, apesar dos esforços para se estabelecerem padrões. Segundo GOES (2011), Eastman identifica extensões que proporcionam essa troca entre diferentes ferramentas BIM, sendo que a autora considera o IFC como uma alternativa de padrão neutro e de domínio público adequada ao BIM na construção civil. O IFC (Industry Foundation Classes) é um protocolo de padrão internacional criado especificamente para o intercâmbio de arquivos entre ferramentas BIM (...). Para Fu et al. (2006), é um tipo de linguagem que prioriza a modelagem do produto e os processos da indústria da construção civil. (GOES, 2011, p. 57) Faculdade de Minas 14 Segundo ADDOR et al. (2010), trata-se um formato de arquivo não proprietário, de uma linguagem comum, utilizada para a troca entre modelos de diversos fornecedores a fim de melhorar a interoperabilidade na indústria da construção civil, conforme observado na Figura 02. Apesar das potencialidades da interoperabilidade, encontrar o equilíbrio certo na flexibilidade do modelo BIM sem que isto prejudique a fluidez do trabalho dos projetistas é uma grande dificuldade. Por razões como estas, é importante que a implementação do modelo BIM em uma empresa seja uma perspectiva global. A decisão pela implementação da plataforma BIM em empresa de projeto pressupõe que sua direção tenha a consciência de que esse passo envolverá mudança de cultura, investimentos em infraestrutura, treinamentos e revisão de processos de trabalho. Para o seu sucesso, é importante a participação não só da alta gerência na decisão, bem como o envolvimento e conscientização de toda a equipe no processo, principalmente quando se trata de uma equipe heterogênea, com diferentes níveis de experiência profissional e de aptidão para novas tecnologias. (AsBEA, 2013, p. 7) Figura 02: Esquema de interoperabilidade viabilizadas pelo IFC Faculdade de Minas 15 Fonte: WBDG s.d apud ADDOR et al., 2010. Um processo BIM pressupõe o envolvimento de vários integrantes ao longo de todo o ciclo de vida da edificação. O BIM pressupõe comunicação entre os vários sistemas de análise do modelo tridimensional. Sendo assim, interoperabilidade, é um conceito importante, é a condição básica para que os modelos conversem entre si (ADDOR et al., 2010). Nenhuma aplicação pode suportar sozinha todas as tarefas associadas ao projeto e à produção de uma construção. A interoperabilidade representa a necessidade de passar dados entre aplicações, permitindo que múltiplos tipos de especialistas e aplicações contribuam para o trabalho em questão. A interoperabilidade baseia-se tradicionalmente em intercâmbio de formatos de arquivos, como o DXF (Drawing eXchange Format) e o IGES, que intercambiam somente a geometria (EASTMAN et al., 2014). IFC é um formato de arquivo de dados voltado para o objeto, baseado na definição de classes que representam elementos, processos, aparências, etc. utilizados pelos softwares aplicativos durante o processo de construção de um modelo ou projeto. O IFC é um formato não proprietário, de arquitetura aberta, uma linguagem comum, utilizada para a troca entre modelos de diversos fabricantes (ADDOR et al., 2010). O Industry Foundation Classes (IFC) foi desenvolvido para criar um grande conjunto de representações de dados consistentes de informações da construção para intercâmbio entre softwares de AEC. Ele se baseia nos conceitos e linguagens ISSO-STEP EXPRESS para sua definição, com pequenas restrições na linguagem. Enquanto a maioria dos outros esforços ISSO-STEP focaram em intercâmbios detalhados de software dentro de domínios de engenharia específicos, pensou-se que na indústria de construção isso poderia levar a resultados fragmentados e a um conjunto de padrões incompatíveis. Faculdade de Minas 16 O IFC foi projetado com uma estrutura extensível, ou seja, seu desenvolvimento inicial pretendia fornecer definições gerais amplas dos objetos e dados a partir das quais modelos mais detalhados e para tarefas especificas, suportando intercambio de fluxos de dados particulares poderiam ser definidos. Nesse sentido, o IFC foi projetado para tratar todas as informações da construção, sobretodo o seu ciclo de vida, da viabilidade e planejamento, por meio do projeto (incluindo análise e simulação), construção, até a ocupação e a operação (KHEMLANI, 2004 apud EASTMAN, et al, 2014). BIM NO BRASIL Tendo em vista tais benefícios e o fato de o BIM já ser uma realidade no setor da construção civil e estar em expansão por todo mundo, as empresas brasileiras têm atentado para a agregação de valor na qualidade do processo de projeto que esta tecnologia propicia (RUSCHEL, 2014). O panorama atual do uso do BIM no Brasil é descrito por diversos autores e entidades do ramo da indústria da construção civil. Segundo o CBIC (2016), o uso da tecnologia BIM no Brasil encontra-se ainda em estágio inicial. MANZIONE (2013) considera que a adoção do BIM no Brasil tem sido lenta. COELHO (2017) aponta que investir na evolução deste dado é uma mudança necessária para o setor. Assim como em outros países, no Brasil são identificadas necessidades de ampla reformulação. A tecnologia do Building Information Modeling (BIM) e o trabalho colaborativo têm sido considerados o estágio superior a ser alcançado nessa linha de evolução (…). (MANZIONE, 2013, p.3) Apesar da evidente vantagem, no Brasil o potencial do uso dos modelos de informação ainda não é utilizado em sua totalidade. Segundo DELATORRE (2011), isso se deve à não adaptação completa de ferramentas e de metodologias de trabalho ao mercado brasileiro e a falta de mão de obra especializada, o que faz com que cada Faculdade de Minas 17 empresa que decida adotar a tecnologia, crie seus próprios mecanismos e processos. Esse processo, ao ser tão específico, pode onerar os custos e tornar particulares processos que deveriam ser cada vez mais padronizados e colaborativos. Devido à complexidade de informações e processos envolvidos, ainda não é encontrado, em um único software, recursos suficientes para satisfazer todas as necessidades de uma empresa. Muitas vezes, para alcançar os objetivos definidos para o uso do BIM, é necessário investir na integração entre eles. (DELATORRE, 2011, p. 8). Outro entrave a se apontar no mercado nacional para o uso do sistema, é, segundo RODRIGUES (2018), o fato de que muitos tendem a usar o BIM como uma inovação tecnológica e não como um processo integrado e inteligente. As empresas e profissionais da área tendem ao uso de plataformas BIM apenas como uma substituição de softwares e programas, a exemplo de arquitetos, engenheiros e projetistas que, em sua rotina, substituíram a ferramenta CAD pelo Revit ou Archicad apenas como ferramenta de desenho, não extraindo do modelo suas reais potencialidades e nem o utilizando como colaboração multidisciplinar. Somava-se a essa perspectiva a falta de regulamentação e de incentivos governamentais, cuja realidade tem se modificado apenas muito recentemente. Isso porque, ao se comparar com países asiáticos, europeus e norte-americanos, onde o uso do BIM já está mais consolidado, houve grande iniciativas de implementação não só por parte dos setores privados como também dos públicos (COELHO, 2017). Segundo CATELANI e SANTOS (2016) apenas em 2009 criou-se a Comissão de Estudo Especial de Modelagem de Informação da Construção, ABNT/CEE-134, incumbida do desenvolvimento de normas técnicas sobre BIM, por iniciativa do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior). Atualmente, as normas brasileiras referentes ao assunto são: - NBR ISO 12006-2:2018 - Construção de edificação – organização da informação da construção parte 2: Estrutura para classificação; Faculdade de Minas 18 - GT Componentes BIM – diretrizes para desenvolvimento de bibliotecas de componentes; - NBR 15965-1:2011 Sistema de classificação da informação da construção parte 1: Terminologia e estrutura; - NBR 15965-2:2012 Sistema de classificação da informação da construção. Parte 2: Características dos objetos da construção. Mesmo que recente, autores já observam a mudança no cenário brasileiro. RODRIGUES (2018) reconhece que o setor público principia seus esforços para que aconteça o fomento do BIM na indústria da construção civil. COELHO (2017) considera a estrutura regulatória brasileira limitada mas expõe algumas ações nacionais de fomento ao BIM: - Caderno BIM ou termo de referência para desenvolvimento de projetos (2014): Desenvolvido pelo Governo do Estado de Santa Catarina como parte da documentação de licitação para elaboração do projeto de um hospital; - GTBIM/CAU: Grupo de trabalho que realiza ações junto às instituições de ensino; - AGESC (Associação e Gestores e Coordenadores de Projeto) que oferece cursos de capacitação aos profissionais em questão; - CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) que produziu a “Coletânea - Implementação do BIM para Construtoras e Incorporadoras do CBIC” em 2016; - AsBEA (Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura): lançamento dos “Guia AsBEA de Boas Práticas em BIM: Fascículo I e II”, em 2013 e 2015, respectivamente. O CBIC (2016) é outro que cita as iniciativas tomadas pelo Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT). O exército brasileiro, por meio da OPUS (Sistema Unificado do Processo de Faculdade de Minas 19 Obras) também tem adotado o BIM em seu gerenciamento de projeto e, mais recentemente, o decreto nº 9.377/2018 da Presidência da República instituiu a estratégia nacional de disseminação e investimento do BIM no país, prevendo a exigência do uso da tecnologia em obras federais já em 2021. Mesmo com o fomento governamental e com a possibilidade crescente de investimento no processo, é importante que ocorra a abertura de profissionais e empresas à mudança de paradigmas que o BIM representa. Sem a disposição profissional dos envolvidos pode-se não apreciar os retornos esperados. MODELOS DE NEGÓCIOS DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO Antes que se possa entender melhor como funciona a metodologia BIM e como ela pode ser aplicada, se faz necessário conhecer os principais modelos de negócios da indústria da construção, que são descritos por Eastman (2014) como Projeto- Concorrência-Construção e Projeto & Construção. O primeiro modelo, Projeto-Concorrência-Construção (Design-Bid-Build) funciona da seguinte forma. O dono do futuro empreendimento contrata uma equipe de projetos (que será responsável por elaborar e/ou contratar os projetos necessários) e uma construtora para executar a obra (que por sua vez contrata as empresas terceirizadas para realizar serviços específicos). Por outro lado, no modelo Projeto & Construção (Design-Build), o dono do empreendimento contrata uma única empresa, que fica responsável por elaborar e contratar os projetos, além de construir o empreendimento, sendo responsável também pela contratação das empresas terceirizadas que se façam necessárias. A metodologia BIM pode ser aplicada nesses dois modelos de negócios, em diversos níveis, como será visto a seguir. Faculdade de Minas 20 PRINCIPAIS APLICAÇÕES INFORMÁTICA BIM As ferramentas BIM atuais variam de muitas maneiras: na sofisticação de seus objetos base predefinidos; na facilidade com que usuários podem definir novas famílias de objetos; nos métodos para atualizar os objetos; na facilidade de uso, nos tipos de superfícies que podem ser utilizados; nas capacidades de geração de desenhos; na habilidade de manipular um grande número de objetos e em suas interfaces com outros softwares (EASTMAN et al., 2014). Cada plataforma BIM de projetos é apresentada em termos de sua herança, organização corporativa, família de produtos da qual faz parte, se usa um único arquivo ou vários arquivos por projeto, suporte para uso simultâneo, interfaces suportadas, tamanho da biblioteca de objetos, classe geral de preço, sistema declassificação da construção suportado, escalabilidade, facilidade de geração de desenhos, suporte a cortes 2D, tipos de objetos e atributos derivados, e facilidade de uso (EASTMAN et al., 2014). A necessidade de melhorar os processos de trabalho da indústria AEC e a competitividade existente entre as várias empresas informáticas aplicadas à indústria AEC levou ao desenvolvimento de várias plataformas BIM nos últimos anos (TARRAFA, 2012). Segundo ele, entre as empresas mais disseminadas no mercado encontram-se: Autodesk – A Autodesk tem investido na produção de aplicações BIM com o desenvolvimento do Revit (a Autodesk comprou o Revit à “Revit Technology Corporation” em 2002, lançando em 2004 a sua primeira versão Autodesk Revit). Esta aplicação apresenta vários módulos para diferentes especialidades. Para Arquitetura o “Revit Architecture”, para Engenharia o “Revit Structure” e para instalações Mecânicas, Elétricas e Hidráulicas o “Revit MEP”. Desde 2012 é vendido também o 20 Revit Suite que junta as capacidades de todos os módulos do Revit numa só. Para Faculdade de Minas 21 o dimensionamento e análise estrutural é usado o “Robot Structural Analysis”, existindo relação direta entre este e o “Revit Structure”. Bentley – Apresenta também aplicações BIM para a indústria AEC, salientando-se, para Arquitetura o “Bentley Architecture”, para Engenharia estrutural o “Bentley Structural Modeler”, para Mecânica e Elétrica respetivamente, o “Bentley Mechanical” e “Bentley Electrical”. No que respeita a aplicações dedicadas à análise e dimensionamento estrutural, refere-se o “STAAD.pro” e o “Bentley RAM Structural System”. Graitec – Os seus programas informáticos BIM são orientados para Engenheiros e incluem, “Advance Steel”, “Advance Concrete” e “Advance Design”, sendo este último o programa de cálculo estrutural. Graphisoft – Desenvolve o “ArchiCAD”, aplicação BIM orientada para Arquitetos. Não possui nenhum programa dedicado ao projeto de estruturas, contudo a interoperabilidade com aplicações estruturais é possível. Nemetschek – Produz o “Allplan Architecture” destinado a Arquitetos, o “Allplan Engineering” para os Engenheiros, bem como o programa de modelação e cálculo “Scia Engineer”, que permite também a obtenção de desenhos. Tekla Corporation – Comercializa o “TEKLA Structures”, aplicação BIM orientada para o projeto de estruturas de aço e betão. Não possui programa de cálculo estrutural, no entanto é possível a interoperabilidade com programas informáticos com essa finalidade, tais como, o Robot, SAP2000, STAAD.pro, entre outros. ESTÁGIOS DE MATURIDADE BIM De acordo com Succar (2009), existem diferentes estágios de implementação do BIM na gestão de projetos. Cada um desses níveis trará diferentes vantagens e Faculdade de Minas 22 desafios de implementação. O nível que antecede a implementação do BIM (Pré- BIM), é como a maior parte das empresas trabalha atualmente, com um sistema de gestão altamente fragmentado (pouca interação entre equipes de projeto e construtores) e sempre se baseando em documentação em 2D, o que gera orçamentos e cronogramas desconexos com a realidade, além de incompatibilidades de projeto que só serão resolvidos no decorrer da construção. No primeiro nível de implementação do BIM, o de modelagem baseada em objetos, é desenvolvido um modelo digital em 3D unidisciplinar do empreendimento, para que se possa automatizar a geração da documentação técnica em 2D a partir do modelo em 3D. Além disso, o modelo também é utilizado para que se extraiam informações relevantes para quantitativos de materiais, o que facilita o levantamento de materiais para pedidos e orçamentos. Nesse nível, a cooperação entre as equipes envolvidas ainda não sofre grandes mudanças. A partir do momento em que as empresas adotam o primeiro nível de implementação BIM, as vantagens ficam mais evidentes e elas procuram adicionar outras disciplinas ao 4 modelo digital. No segundo nível de implementação, o de modelo baseado em colaboração, os projetistas envolvidos trocam informações entre si à medida em que realizam seus projetos, todos utilizando ferramentas BIM, o que possibilita a fácil análise de incompatibilidades e a procura de melhores soluções de design e engenharia ainda no início da fase de projetos. Nessa fase também são iniciadas outras análises do projeto, como por exemplo a simulação 4D através da análise conjunta do cronograma da obra com o modelo em 3D, o que possibilita simulação de construção e correção de eventuais falhas de cronograma ainda na fase de projeto. Além disso, também pode ser feita uma análise 5D que alia a análise 4D aos gastos previstos no orçamento para os itens executados, o que possibilita que a empresa tenha uma ideia mais precisa de todos os gastos ao longo da construção do empreendimento. No terceiro estágio, o de integração baseada em rede, as empresas adotam um modelo de software como sendo um serviço. Nesse modelo de gestão, todos os Faculdade de Minas 23 modelos e dados relacionados ao projeto ficam disponíveis na nuvem através de servidores, o que possibilita que as diversas partes envolvidas no projeto trabalhem de forma integrada, sempre de posse do modelo e das informações mais atuais. Esse modelo de gestão necessita que sejam reavaliadas as responsabilidades contratuais das partes envolvidas, de modo que a dinâmica de trabalho das mesmas possa ocorrer de forma simultânea e integrada. Por fim, temos o último estágio, o de desenvolvimento integrado de projetos (Integrated Project Delivery, IPD). Esse estágio representa um método de gestão de projetos onde o BIM é utilizado em todas as fases (desde a concepção inicial até a operação/demolição), e onde todas as tecnologias, processos, contratos e políticas estão completamente adaptadas ao trabalho com a metodologia. O objetivo maior é promover uma integração total entre todos os envolvidos (donos, arquitetos, engenheiros, projetistas, construtores) onde todos possam atingir altos níveis de colaboração, visando maximizar a eficiência de todas as fases de projeto, fabricação e construção. PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO BIM EM CONSTRUTORAS E INCORPORADORAS BRASILEIRAS De acordo com o CBIC (2016), a implementação do BIM em construtoras e incorporadoras pode não obedecer a um único padrão, mas a instituição considera que, majoritariamente, pode ser dividido em dez passos principais, resumidos conforme a Figura 03. Faculdade de Minas 24 Figura 03: Principais passos para um projeto de implementação BIM. Fonte: CBIC, 2016. A localização, na figura que representa o ciclo de vida de um empreendimento (...), é uma das principais fases de atuação da empresa ou organização que deseja realizar uma implementação BIM, pois ajuda muito na definição dos objetivos e na identificação dos principais processos que deverão ser mapeados e revistos. Esse é o primeiro principal passo indicado para um projeto de implementação e deverá nortear todo o processo. (CBIC, 2016, p. 30) VANTAGENS E DESVANTAGENS DO BIM Faculdade de Minas 25 Segundo Freitas, (2014), com a implementação da metodologia BIM são várias as vantagens esperadas, de forma sucinta, as principais são: Facilidade nas modificações de projeto as quais são realizadas automaticamente em todo o modelo; Construção mais económica e consistente; Mais ajustes na execução; Quantitativos de materiais mais precisos; Visualização 3D da estrutura; Melhor compreensão visual do projeto; Melhor preparação do projeto; Modelação de objetos com definição das suas propriedades físicas; Facilidade na obtenção de documentos de construção (plantas, cortes, detalhes, alçados, entre outros); A estrutura é modelada uma única vez, podendo serusada nas várias especialidades e fases do projeto; Consolidação da informação do projeto apenas num único ficheiro informático; Elevado nível da produtividade; Facilidade de concepção e percepção das várias fases de construção; Simplifica intervenções futuras no projeto A ideia de um único repositório se torna mais acessível a todos os usuários, a questão resume-se à guarda e controle sobre os dados do produto, como ele é criado e atualizado. Cada item é descrito apenas uma vez, usando qualquer ferramenta de Faculdade de Minas 26 modelagem. Mesmo que a extração automática das quantidades possa ser alcançada pela maioria dos sistemas, o problema reside com a utilização da extração de quantitativos especialmente em situações onde os orçamentistas são omitidos do processo de projeto. É inevitável que a documentação e os dados sejam cada vez mais automatizados a ponto da quantificação e de outros processos técnicos exigirem a mínima intervenção humana (MATIPA, 2008 apud SANTOS et al., 2009). Um dos principais benefícios do Building Information Modeling (BIM) é, sem dúvida, o desenvolvimento de projetos completos e confiáveis, exigindo um aprofundamento ainda maior no planejamento, a fim de garantir precisão em especificações e demais documentações. As correções realizadas pelos profissionais são movimentadas em tempo real, isso faz com que os dados dos demais projetos correlacionados sejam atualizados de forma simultânea. Assim, evitam-se interferências ou conflitos na mudança. Ou seja, na mesma hora, pode-se solucionar problemas e garantir a compatibilização antes da construção. Segundo Eastman et al., (2014), esta tecnologia pode dar suporte e incrementar muitas práticas do setor da construção civil. Freitas (2014) afirma que as desvantagens existentes na adoção desta metodologia passam basicamente por: Necessidade de aquisição de software; Mudança de mentalidades; Necessidade de formação dos futuros utilizadores; Necessidade de computadores mais potentes e com mais memória. BARREIRAS PARA IMPLEMENTAÇÃO DO BIM Apesar de todas as vantagens citadas, a implementação de BIM demanda planejamento, treinamento e recursos, e assim como na introdução de uma nova Faculdade de Minas 27 tecnologia, existem barreiras à sua implementação, sendo elas de origem cultural, financeira, legal e tecnológicas. As principais barreiras documentadas na literatura podem ser categorizadas conforme o Quadro 2 (LIU, 2015). Quadro 2: Barreiras de implementação de BIM Fonte: Liu, 2015 No Brasil, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção, coloca como principais obstáculos à implementação do BIM a inércia e resistência às mudanças, dificuldades de entendimento e compreensão, barreiras culturais e particularidades do ambiente brasileiro (falta de valorização de planejamento, busca de soluções rápidas e baratas, falta de interesse em colaboração, ensino deficiente do assunto nas universidades, etc), além de especificidades e aspectos intrínsecos ao BIM (CBIC, 2016). Faculdade de Minas 28 COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS Como resultado da fragmentação do processo tradicional (Pré-BIM) a comunicação ocorre de forma centralizada, onde a construtora e/ou incorporadora contrata separadamente os projetos arquitetônico e complementares, e os profissionais envolvidos trabalham com pouca ou nenhuma colaboração. Como resultado, os projetos de diferentes disciplinas geralmente possuem diversas interferências, e se faz de extrema importância que construtoras, incorporadoras e escritórios de projetos unam esforços para compatibilizar os mesmos. A compatibilização de projetos consiste no processo de localizar e solucionar incompatibilidades entre projetos de diferentes disciplinas, respeitando as restrições de outros subsistemas, e levando em consideração aspectos de construção, operação e manutenção (KORMAN; TATUM, 2000). O maior benefício da compatibilização de projetos é a redução das incertezas na fase de obras (RILEY; HORMAN, 2001), prevenindo custos não orçados e atrasos de cronograma. Da forma tradicional, os esforços de compatibilização se dão através da sobreposição de projetos de diferentes disciplinas, seja de forma física (projetos impressos sobrepostos) ou digital (desenhos em CAD sobrepostos digitalmente em softwares CAD). Esse processo é completamente manual e depende da atenção, capacidade de visualização e experiência do profissional responsável. Muitas vezes o processo não é eficiente, e muitas incompatibilidades somente são percebidas na fase de obras, trazendo custos extras além de atrasos no prazo de entrega do empreendimento. Nesse contexto, o uso de ferramentas BIM se apresenta como uma alternativa mais eficiente, à medida em que elas impossibilitam incompatibilidades entre pranchas de um mesmo projeto (Ex: planta baixa e vista frontal de projeto arquitetônico), já que é elaborado um modelo virtual em 3D e não mais desenhos técnicos isolados, os quais apenas representam partes do objeto tridimensional, no Faculdade de Minas 29 caso o empreendimento. Além disso, o uso dessas ferramentas possibilita a detecção automática de interferências entre projetos de diferentes disciplinas, por meio de programas específicos como o Autodesk® Navisworks®. BIM VERSUS CAD As melhorias tecnológicas, ligadas aos processos de construção, estão em constante evolução, passando desde os desenhos desenvolvidos em lápis e papel, até às representações virtuais tridimensionais com a inclusão de sistemas complexos de produção e desenvolvimento dos projetos (FREITAS, 2014). O conceito BIM prevê a construção em ambiente 3D virtual de objetos característicos e não da sua representação. Tais objetos chamados de objetos inteligentes (objetos paramétricos de construção), apresentam, além das propriedades espaciais associadas à sua representação, propriedades intrínsecas aos mesmos. Se utilizarmos o objeto “porta” a título de exemplo, teremos nos softwares CAD a representação geométrica do objeto em ambiente 2D e/ou 3D através de linhas. No conceito BIM, a porta em questão é uma entidade única que tem os seus elementos geométricos e propriedades intrínsecas definidas (FREITAS, 2014). A implementação dos softwares CAD, em substituição ao lápis e papel, trouxe uma melhor metodologia de trabalho e eficiência no tratamento dos projetos, seja no que diz respeito à criação do desenho ou na sua edição. Por meio dos sistemas CAD os elementos (linhas, pontos, textos, etc.) são inseridos em um espaço virtual através de vetores de coordenadas com precisão matemática. Inicialmente com objetos 2D (duas dimensões) os sistemas CAD evoluíram ao oferecer elementos 3D para a construção de superfícies e sólidos em um espaço tridimensional. Apesar desta significativa evolução, a forma de projetar em sistemas CAD não pode ser considerada uma mudança de paradigma, visto que apenas as ferramentas de Faculdade de Minas 30 desenho foram transferidas para o computador, diminuindo erros, tempo de dedicação e proporcionando maior facilidade para a aplicação de alterações necessárias, ou seja a modelagem ficou mais eficiente, mas o resultado final manteve-se para fim de representação (FREITAS, 2014). A diferença do BIM e do CAD é a elaboração do projeto, pelo usuário, usando objetos ao invés de apenas as linhas. O BIM contém propriedades predefinidas, ou propriedades definidas pelo usuário, que completam quantidades de material (ALDER, 2006 apud SANTOS et al., 2009). REVIT Segundo Netto, (2016) o nome Revit vem das palavras em inglês “Revise Instantly”, que significa Revise instantaneamente, ou seja, ao desenhar no Revit, as alterações de um objeto se dão instantaneamente em todos os objetos iguais de maneira simultânea e em todasas vistas do desenho em que ele aparece, de forma imediata. Netto (2016) afirma que o Revit é uma ferramenta que utiliza um novo conceito, o BIM (Building Information Modeling, ou Modelagem da Informação da Construção), com o qual os edifícios são criados de uma nova maneira. Os arquitetos não estão mais desenhando vistas em 2D de um edifício 3D, mas projetando um edifício em 3D virtualmente. Segundo a autora supracitada, essa nova forma de projetar traz vários benefícios, tais como: Examinar o edifício de qualquer ponto. Testar e analisar o edifício. Verificar interferências entre as várias disciplinas atuantes na construção. Quantificar os elementos necessários à construção. Faculdade de Minas 31 Simular a construção e analisar os custos em cada uma das fases. Gerar uma documentação vinculada ao modelo que seja fiel a ele. Por se tratar de um modelo virtual, é possível utilizar informações reais para analisar conflitos de projeto, realizar estudo de insolação, uso de energia, entre outras facilidades. Os construtores do projeto têm a facilidade de simular várias opções de construção, economizando material e tempo de obra (NETTO, 2016). O Revit Architecture completa a solução BIM junto com o Revit Structure (projeto de estrutura) e o Revit MEP (Projeto de instalações elétricas, hidráulicas e ar- condicionado). A interoperabilidade deles garante a solução completa do protótipo digital do edifício (NETTO, 2016). Todos os objetos do Revit pertencem a uma família e essas famílias pertencem a categorias ou classes. As categorias (classes) são os elementos construtivos (paredes, vigas, pilares etc.) ou os objetos de anotação do desenho (texto, cotas, símbolos etc.) (NETTO, 2016). Faculdade de Minas 32 REFERENCIAS ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6492:1994 – Representação de projetos de arquitetura. Rio de Janeiro, 1994. 53 Portal BIM Paraná. BIM no Brasil. Disponível em: http://www.bim.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=22. Acesso em: 22 de março de 2017. ADDOR, Miriam. BIM – Building Information Modeling. ASBEA – Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura. Encontro Regional, 2009. ADDOR, Miriam Roux A. et al. Colocando o “i” no BIM. 2010. Disponível em: < http://www.usjt.br/arq.urb/numero_04/arqurb4_06_miriam.pdf>. Acesso em: 26 ago. 2018. BIM - um salto na engenharia de projetos. Blog da engenharia. 16 de nov. 2016. Disponível em: . Acesso em: 15 out. 2018. BIM - Building Information Modeling no Brasil e na União Europeia. 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