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DESENHO TÉCNICO ARQUITETÔNICO Fabiana Galves Mahlmann Materiais e instrumentos de desenho Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer os materiais e os instrumentos para realização de dese- nhos técnicos. � Identificar a utilização de materiais e instrumentos adequados para o desenho técnico. � Avaliar a importância da utilização dos materiais e instrumentos na realização de desenho técnico. Introdução Na arquitetura, a figura humana e a utilização de elementos textuais são pontos importantes na concepção dos projetos. Esses fatores proporcio- nam uma real compreensão das proporções e das dimensões do projeto. A elaboração de um projeto arquitetônico envolve muitas etapas e maneiras de expressar a sua concepção, seja pelo modo manual, com os equipamentos e materiais técnicos ou pelos métodos modernos, com os equipamentos eletrônicos e softwares de última geração. O processo de criação é desenvolvido a partir de uma solicitação para um problema ou um desafio, por meio de desenhos, plantas e detalhamentos em pranchas, que serão utilizadas depois para a sua materialização. Neste capítulo, você verá as etapas nas quais irá reconhecer, identificar a utilização e avaliar a importância dos materiais no desenvolvimento do desenho técnico. Características do desenho técnico O desenvolvimento de um projeto arquitetônico ocorre por meio de diversas etapas, desde suas primeiras ideias, seguindo para o desenvolvimento dos problemas e até chegar ao projeto, que será a referência na construção. Para que o profissional desenvolva um projeto, são necessários instrumentos técnicos, materiais específicos que irão fornecer as informações necessárias e auxiliar nessa criação. O projeto arquitetônico é um documento, com informações técnicas relativas a uma obra. O método tradicional do desenho técnico utiliza lápis (grafite); caneta nanquim; réguas; esquadros; compassos; escalímetros; papel (pranchas) em diferentes tamanhos, tipos e gramaturas (espessuras); entre outros. O profissional deve ter o conhecimento sobre os materiais e as técnicas de desenho necessárias para o processo de criação manual. Embora, atualmente, todo o processo seja realizado com o uso de softwares próprios para esse segmento da arquitetura, esse conhecimento é necessário também para a aplicação virtual. Os croquis servem como um estudo, uma avaliação do que o profissional começou a pensar para atingir o seu objetivo, atendendo ao que foi solicitado pelo seu cliente. Mesmo com as mudanças tecnológicas que vem ocorrendo, em que os instrumentos manuais foram alterados para softwares, não podemos esquecer que os elementos do desenho técnico mantêm as mesmas caracte- rísticas e a representação gráfica realizada por meio dos softwares deverá transmitir todas as informações necessárias para a materialização do projeto. Para que todos os profissionais consigam entender e ler o desenho técnico, desde a sua criação até a materialização, eles devem “falar” a mesma lingua- gem, portanto, existem as normas técnicas, cuja função é determinar as regras e os conceitos da representação gráfica do projeto. O projeto arquitetônico é o conjunto de documentos e desenhos que, após aprovado, dará a condição de materializações de um empreendimento. O desenvolvimento do projeto arquitetônico é um longo processo, envolvendo várias etapas. Podemos definir as etapas de um projeto da seguinte maneira: 1. definição do programa de necessidades do projeto; 2. levantamento/visita ao local; 3. estudo preliminar; 4. anteprojeto; 5. projeto legal; 6. projeto executivo. Materiais e instrumentos de desenho2 Essa é a estruturação simplificada de um projeto arquitetônico, mas é ne- cessário sempre entender que cada projeto é único e individual, podendo haver variações nesse processo de criação. A criação de um projeto arquitetônico envolve uma junção de questões técnicas com criatividade, proporcionado a satisfação do cliente. Materiais e instrumentos adequados para o desenho técnico O desenho é uma forma de comunicação utilizado desde o início das ci- vilizações. Em sua evolução, os desenhos foram mudando, por meio deles foram sendo traduzidas as características das pessoas, as ideias que queriam transmitir e as sensações. Isso possibilitou o surgimento do desenho técnico, com a intenção de representar objetos e construções, o mais fiel possível ao que foi materializado. Segundo Francis Ching (2012), os materiais e equipamentos proporcionam que o trabalho seja prazeroso. Embora a mão e a mente controlem o desenho acabado, materiais e equipamentos de qualidade tornam o ato de desenhar agradável, facilitando, em longo prazo, a obtenção de um trabalho de qualidade (CHING, 2012). O desenho técnico segue normas internacionais, sob a supervisão da In- ternational Organization for Standardization (ISO), para a sua representação, mas cada país também tem as suas próprias normas adaptadas e regidas pela ISO. No Brasil, as normas são editadas pela Associação Brasileiras de Normas Técnicas (ABNT), e a norma brasileira (NBR) que regulamenta a representação de projetos de arquitetura é a NBR nº 6.492. Nessa norma, estão todas as determinações para esses desenhos, sua criação e execução (ASSOCIAÇÃO..., 1994). Segundo Schuler e Mukay (2018), a normatização do desenho por meio da NBR é essencial, pois: A normatização para desenhos de arquitetura tem a função de estabelecer regras e conceitos únicos de representação gráfica, assim como uma simbologia específica e pré-determinada, possibilitando ao desenho técnico atingir o ob- jetivo de representar o se quer tornar real (SCHULER; MUKAY, 2018, p. 03). Para o desenvolvimento das etapas de um projeto, precisamos de alguns materiais específicos. A seguir, você verá a descrição de cada um desses materiais. 3Materiais e instrumentos de desenho Os lápis ou lapiseiras permitem o lançamento de ideias e concepções, proporcionando a colocação de diferentes tipos de traços e espessuras, cada um com um significado. O desenho a lápis pode apresentar diferentes espessuras e tons de traço (Figura 1), e é classificado por letras, números, ou ambos, de acordo com o grau de dureza do grafite (também chamado de “mina”). O grafite apropriado para cada uso varia conforme a combinação de números e letras. � Grau do grafite: varia de 9H (extremamente duro) a 6B (extremamente macio). � Tipo e acabamento do papel (grau de aspereza): quanto mais áspero for um papel, mais duro deverá ser o grafite utilizado. � Superfície de desenho: quanto mais dura for a superfície, mais macio deverá ser o grafite. � Umidade: condições de alta umidade tendem a aumentar a dureza aparente do grafite. Figura 1. Lápis para desenho realista. Fonte: Desenho e Pintura (2018a, documento on-line). Atualmente, as lapiseiras são mais utilizadas do que os lápis pela sua praticidade, também devem ser observados a espessura (normalmente de 0,5 mm e a de 0,9 mm) e o grau de dureza do grafite. Tanto os lápis como as lapiseiras podem gerar desenhos com uma excelente qualidade. A borracha deve ser macia, limpa e de boa qualidade para evitar danificar a superfície do desenho. O esquadro, como você pode observar na Figura 2, é um conjunto de duas peças de formato triangular-retangular, com ângulos de 30°, 45°, 60° e 90°. São utilizados para o traçado de linhas verticais e outros ângulos, combinados também com a régua paralela, para a execução dos desenhos. Materiais e instrumentos de desenho4 Figura 2. Esquadro para desenho técnico. Fonte: Desenho e Pintura (2018b, documento on-line). O escalímetro é o instrumento de forma triangular usado para a marcação de medidas na escala do desenho. Não deve ser utilizado para o traçado de linhas, como a régua. Veja exemplos de escalímetros e régua na Figura 3. Figura 3. Réguas e escalímetros. Fonte: Brito (2013, documento on-line); Ching (2017, p. 12) 5Materiaise instrumentos de desenho O compasso é o instrumento utilizado para traçar circunferências ou arcos. Tem um formato triangular, uma ponta uma agulha (também conhecida como a ponta seca) e um grafite na outra extremidade. Segurando o compasso pela parte superior com os dedos indicador e polegar, imprime-se um movimento de rotação até completar a circunferência. Os gabaritos, representados na Figura 4, são peças com elementos vazados, que permitem a reprodução desses nos desenhos. Para curvas de raio variável usa-se a “curva francesa”. Figura 4. Exemplo de gabarito. Fonte: Ching (2017, p. 9). A régua paralela tem como objetivo o traçado de linhas horizontais paralelas entre si no sentido do comprimento da prancheta, e serve de base para o apoio dos esquadros para traçar linhas verticais ou com determinadas inclinações. A régua paralela deve ser um pouco menor do que o tamanho da prancheta. A prancheta, demonstrada na Figura 5, é uma mesa, normalmente em ma- deira, com inclinação do seu tampo, onde se fixam os papéis para os desenhos. Materiais e instrumentos de desenho6 Figura 5. Mesa para desenho técnico com régua paralela. Fonte: Desenho e Pintura (2018c, documento on-line). O desenho técnico é apresentado dentro de prancha/papel padronizadas, com margens e selos, em que constam todas as informações do que está contido na prancha. A folha na qual o projeto arquitetônico será apresentado chama-se prancha. Essas pranchas devem seguir os tamanhos determinados pela ABNT nº 10.068, conforme apresentado na Figura 6 (ASSOCIAÇÃO..., 1987). Figura 6. Norma ABNT nº 10.068. Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (1987, p. 02). 7Materiais e instrumentos de desenho A partir da prancha A0, obtém-se múltiplos e submúltiplos (a folha A1 corresponde à metade da A0). Qualquer prancha é apresentada dobrada no formato A4, e pode ser en- caixada em uma pasta neste tamanho, normalmente exigida para os arquivos (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1994). As escalas são um recurso de representação gráfica que permite reprodu- zir, proporcionalmente, objetos em diferentes tamanhos em relação as suas dimensões reais. No desenho técnico, as dimensões dos objetos ou constru- ções podem ser mantidas, reduzidas ou aumentadas, sempre mantendo a sua proporção original. A escala natural é aquela em que as dimensões representadas no desenho técnico são exatamente as mesmas do objeto real. É indicada por uma abre- viatura da palavra escala (ESC) seguida por 1:1 (lê-se um para um). Na escala de redução, as dimensões representadas no desenho técnico são menores que as do objeto real, por exemplo, ESC 1:20, o que significa que as dimensões no desenho técnico são 20 vezes menores que as dimensões reais do objeto. A escala de ampliação é a escala em que as dimensões representadas no desenho técnico são maiores que as do objeto real, por exemplo, ESC 2:1, em que as dimensões no desenho técnico são duas vezes maiores que as dimensões reais do objeto. Uma cota pode indicar: comprimentos, larguras, alturas e profundidades; raios e diâmetros; ângulos; coordenadas; etc. Uma cota indica as medidas de um projeto. Ao cotar um projeto, deve-se observar para que sejam marcadas as cotas parciais e as cotas totais do projeto, as medidas que são realmente necessárias para deixar a comunicação mais clara e rápida. No desenho arquitetônico, são gerados os documentos necessários para as construções, obedecendo as normas técnicas. Ler e interpretar um projeto arquitetônico não é difícil, aquelas grandes folhas de papel, conhecidas como pranchas, expressam a representação gráfica de uma edificação, por meio de símbolos e representações que indicam a presença de vários elementos construtivos. Importância da utilização dos materiais e instrumentos na realização de desenho técnico O mais importante é entender a filosofia das tendências modernas que acom- panham não só a indústria da construção, mas também os demais setores econômicos ou sociais nos dias atuais, como o consumo consciente, a economia Materiais e instrumentos de desenho8 e a otimização dos recursos naturais, a sustentabilidade, a saúde e a segurança aos trabalhadores e usuários de bens e serviços, a humanização dos processos, entre outras. Segundo Firmino (2000), os avanços tecnológicos trouxeram muitas mudanças em vários segmentos: Os profundos e continuados avanços tecnológicos, em todas as esferas da sociedade contemporânea vêm proporcionando novas formas de produção, novos padrões de vida, isto é, uma profunda transformação na reprodução da própria sociedade, denunciando urgentes necessidades para a compreensão de diversos fenômenos trazidos por estas transformações, e em especial os responsáveis por novas características na configuração espacial (FIRMINO, 2000, p. ix). Lembre-se que, se tratando de tecnologia de materiais e processos, o estudo e a atualização constantes são requisitos fundamentais para o aprimoramento do conhecimento necessário ao exercício de qualquer profissão. A importância da utilização dos materiais e instrumentos disponíveis para a realização do desenho técnico é imprescindível, pois um projeto ar- quitetônico é um desenho de precisão, devendo ser fiel ao que será executado quando o projeto se materializar. O uso de novas tecnologias nos projetos tem desempenhado um papel fundamental na arquitetura contemporânea. Com a redução do tempo de execução do processo manual para o processo com o uso de computadores (softwares gráficos), o profissional consegue apresentar ao seu cliente um projeto em um período de tempo muito menor. O projeto arquitetônico é considerado complexo, pois envolve muitos fatores no seu desenvolvimento, criando situações em que decisões devem ser tomadas de maneira rápida, proporcionando uma continuidade no seu processo. Segundo SILVA (1998), a definição para projeto arquitetônico é a seguinte: “Projeto arquitetônico é uma proposta de solução para um particular problema de organização do entorno humano, através de uma determinada forma construível, bem como a descrição desta forma e as prescrições para sua execução” (SILVA, 1998, p. 39). Sabemos que um projeto arquitetônico visa buscar uma melhor utilização dos espaços, qualidade de vida e funcionalidades dos ambientes, ou seja, é a materialização da ideia para a resolução de um problema com o processo de criação do profissional. A linguagem gráfica exige o conhecimento do profissional para que seja representado de maneira correta para o perfeito desenvolvimento e mate- rialização do projeto. Utiliza-se o conjunto de linhas, números, símbolos e indicações normalizadas internacionalmente, ou seja, em qualquer lugar é 9Materiais e instrumentos de desenho possível realizar a leitura de qualquer projeto. O desenho técnico é definido como uma linguagem gráfica universal, de acordo com normas que servem para padronizar os projetos. Veja um exemplo de representação gráfica de um projeto na Figura 7. Figura 7. Representação gráfica digital de um objeto arquitetônico, caracterizando o tipo de superfície dos materiais e simulando o desempenho frente à luz. Fonte: Payssé (2006) apud Vecchia e Silva (2007, documento on-line). Podemos concluir, então, que o uso dos materiais e instrumentos para a realização dos projetos arquitetônicos é extremamente importante e necessário, pois somente com esses recursos é que o projeto poderá ser desenvolvido de maneira técnica e precisa. Seja com o uso dos materiais e instrumentos manuais ou por meio de computação gráfica, o profissional deverá ter o entendimento dos instrumentos utilizados para desenvolver seu projeto da melhor maneira e atendendo às solicitações do seu cliente. Materiais e instrumentos de desenho10 1. O desenvolvimento de um projeto é um processo de várias etapas. Quais das seguintes alternativas apresenta as etapas de uma estrutura simplificada de um projeto arquitetônico? a) Definição do programade necessidades do projeto; levantamento/visita ao local; estudo preliminar; projeto legal; projeto executivo. b) Levantamento/visita ao local; estudo preliminar; anteprojeto; projeto legal; projeto executivo. c) Definição do programa de necessidades do projeto; levantamento/visita ao local; estudo preliminar; anteprojeto; projeto legal; projeto executivo. d) Definição do programa de necessidades do projeto; levantamento/visita ao local; estudo preliminar; anteprojeto; projeto executivo. e) Definição do programa de necessidades do projeto; levantamento da região por meio de sistemas de GPS, sem a visita no local; estudo preliminar; anteprojeto; projeto legal; projeto executivo. 2. O desenho técnico segue normas, que no Brasil são editadas pela ABNT. Qual é a norma que regulamenta a representação projetos de arquitetura? a) Representação Projetos de Arquitetura NBR nº 16.280:2015. b) Representação Projetos de Arquitetura NBR nº 9050:2015. c) Representação Projetos de Arquitetura NBR nº 15575:2013. d) Representação Projetos de Arquitetura NBR nº 13532:1995. e) Representação Projetos de Arquitetura NBR nº 6492:1994. 3. A correta utilização das lapiseiras proporciona clareza na demonstração das ideias e no traçado das representações técnicas. Sobre essa questão, assinale a alternativa correta. a) Os grafites da série B conferem um traço mais fino e limpo para o desenho técnico. b) Os desenhos a grafite não são de boa qualidade, por isso, os projetos devem ser entregues com representações feitas em computador. c) Quanto mais áspero for um papel, mais macio deverá ser o grafite utilizado. d) O desenho a lápis ou lapiseira permite o lançamento de ideias e concepções, mas não proporciona a colocação de diferentes representações de materiais, tipos de traços e espessuras, todos tem o mesmo significado. e) O desenho a lápis é classificado por meio de letras, números, ou ambos, de acordo com o grau de dureza do grafite (também chamado de “mina”). 4. Na escala de ampliação, as dimensões representadas no desenho técnico são maiores que as do objeto real, e ela serve quando o profissional deseja mostrar 11Materiais e instrumentos de desenho algum detalhe importante do projeto que a ampliação irá auxiliar. Para representarmos um objeto 15 vezes maior do que as suas dimensões reais, qual a descrição utilizada para esse desenho? a) ESC 1:15. b) ESC 15:1. c) ESC 1:15. d) ESC 1,5:1. e) ESC 1:150. 5. Ao apresentar um projeto arquitetônico as pranchas deverão ser padronizadas de acordo com as normas e com todas as informações necessárias para sua compreensão. Entre as informações técnicas que devem estar presentes nessas pranchas podemos citar: a) conjunto de plantas, cortes, fachadas, detalhamentos, orientação geográfica, cotas e áreas. b) conjunto de plantas, cortes, fachadas, detalhamentos, orientação geográfica, cotas, áreas e representação carros. c) conjunto de plantas, cortes, fachadas, detalhamentos, orientação geográfica, cotas, áreas e representação de figura humana. d) conjunto de plantas, cortes, fachadas, detalhamentos, orientação geográfica, cotas, áreas e vegetação prevista e existente. e) conjunto de plantas, cortes, fachadas, detalhamentos, orientação geográfica e representação de figura humana. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6492. Representação de projetos de arquitetura. Rio de Janeiro: ABNT,1994. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10068. Folha de desenho - Leiaute e dimensões - Padronização. Rio de Janeiro: ABNT,1987. BRITO, N. Materiais que todo estudante de arquitetura deve ter. 02 ago. 2013. Disponível em: <http://welovearq.blogspot.com.br/2013/08/materiais-que-todo-estudante-de. html>. Acesso em: 14 maio 2018. CHING, F. Desenho técnico para arquitetos. 2. ed. Porto Alegre, 2012. CHING, F. D. K. Representação gráfica em arquitetura. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2017. DESENHO E PINTURA. Esquadro para desenho técnico. 2018b. Disponível em: <https:// www.desenhoepintura.com.br/esquadro-para-desenho-tecnico/>. Acesso em: 14 maio 2018. Materiais e instrumentos de desenho12 DESENHO E PINTURA. Lápis para desenho realista. 2018a. Disponível em: <https://www. desenhoepintura.com.br/lapis-para-desenho-realista/>. Acesso em: 14 maio 2018. DESENHO E PINTURA. Mesa para desenho técnico com régua paralela. 2018c. Disponível em: <https://www.desenhoepintura.com.br/mesa-para-desenho-tecnico-com-regua - paralela/#comment-4404>. Acesso em: 14 maio 2018. FIRMINO, R. J. Espaços inteligentes: o meio técnico-científico-informacional e a cidade de São Carlos (SP). 2000. 267 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade de São Paulo, São Carlos, 2000. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/ teses/disponiveis/18/18131/tde-26022002-093520/pt-br.php>. Acesso em: 14 maio 2018. SCHULER, D.; MUKAY, H. Noções gerais de desenho técnico. Cascavel: FAG, 2018. SILVA, E. Uma introdução ao projeto arquitetônico. 2. ed. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 1998. VECCHIA, L. R. F.; SILVA, A. B. A. Representação gráfica digital durante o desenvolvimento do projeto arquitetônico. Curitiba: Graphica, 2007. Disponível em: <http://www.exatas. ufpr.br/portal/docs_degraf/artigos_graphica/REPRESENTACAOGRAFICADIGITAL. pdf>. Acesso em: 14 maio 2018. Leituras recomendadas BRAIDA, F.; FIGUEIREDO, J. Proporções, escalas e medidas. 2013. Disponível em: <http://www.ufjf.br/estudodaforma/files/2013/05/UFJF_DISCIPLINAS_ESTUDOda- FORMA_20122_AULA08a_Propor%C3%A7%C3%B5es-escalas-e-medidas_v00.pdf>. Acesso em: 14 maio 2018. CORNETET, B. C.; PIRES, D. G. M. (Org.). Arquitetura. 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Conteúdo: DESENHO E PLÁSTICA Marina Otte Representação arquitetônica e artística do objeto Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer técnicas e exercícios auxiliares para o desenvolvimento do desenho de observação. Construir um desenho de observação. Compor seu próprio passo a passo de desenho de observação. Introdução Os desenhos nas cavernas mostram o quão antiga é essa habilidade. Os rabiscos então representados retratavam o cotidiano a partir da obser- vação do mundo de quem os executava. Dessa forma, o desenho de observação caminha com a evolução do homem e é um dos processos iniciais do desenvolvimento da aptidão do desenhista. Assim, quanto mais praticado, mais o desenho de observação evolui e ajuda o profissional que depende dessa competência em seu trabalho. Neste capítulo, você vai conhecer formas complementares para desenvolver seus desenhos de observação, aliando-as com a melhor maneira de elaborá-los para, depois, realizar seu próprio processo com independência. 1 O exercício das técnicas de representação O desenho é ferramenta básica para profi ssionais que precisam representar ideias concebidas no campo da imaginação e que devem ser concretizadas na sequên- cia: “O desenho amplia suas possibilidades, criandoa fluência necessária para que o processo criativo seja mais intuitivo e dinâmico” (BAJZEK, 2019, p. 13). Assim, o desenho pode ser uma simulação de uma ideia ou a representa- ção de uma realidade; via de regra, em um primeiro momento, é mais fácil representar aquilo que já se conhece do que tentar descrever por meio de uma ilustração aquilo que está na mente de alguém. Por isso, dentro do processo de aprendizagem de áreas que envolvem o desenvolvimento de desenhos para representar ideias, tem início a prática de representação pelo desenho de observação, que é uma das primeiras etapas de aprendizagem das técnicas de representação. A observação direta e desenho do real “[...] é certamente um dos exercícios mais prazerosos e enriquecedores que alguém pode buscar no campo das artes” (BAJZEK, 2019, p. 141). Diante disso, é conveniente que o profissional de design, arquitetura, paisagismo, entre outros, esteja inteirado de técnicas e exercícios que o auxiliem no processo de representação. Vários exercícios e técnicas ajudam a melhorar esse processo e, por isso, inúmeros autores descrevem técnicas específicas. A seguir, veremos algumas dessas técnicas, especificamente as de desenho de contorno, desenho de contorno às cegas, desenho de contornos modificados e formatos positivo e negativo. Desenho de contorno A percepção do espaço e dos objetos ocorre por meio da visualização dos limites desses elementos, que, ao serem replicados, são representados por seus contornos. Por isso, é muito importante a conscientização das linhas que os formam e as várias maneiras de executar o seu desenho. Conforme descreve Ching (2012), o desenho de contornos favorece a acui- dade visual e, de certa forma, a sensibilidade do tato, visto que observamos a partir do nosso olho a forma a ser reproduzida e desenhamos com a mão tocando uma superfície, deslizando sobre o papel e estimulando o tato. Para praticar esse desenho, deve-se observar muito aquilo que será retratado. A fim de estimular o início do trabalho, é interessante escolher algo de que se goste muito, mas mais simples; por exemplo, uma árvore isolada ou uma garrafa solitária. A partir disso, separa-se um lápis bem apontado ou uma caneta e, considerando os limites da inspiração, reproduz-se da forma mais simples somente o contorno principal (Figura 1). Representação arquitetônica e artística do objeto2 Figura 1. Desenho do contorno de uma palmeira a partir da observação do real. Fonte: fotomak/Shutterstock.com; LivDeco/Shutterstock.com. Escolha um objeto bem iluminado e com contraste com o fundo para facilitar a de- finição do limite. Desenho de contorno às cegas A partir da consciência da existência e da observação dos contornos, é possível praticar outros exercícios. O desenho de contorno às cegas consiste em eliminar um gesto automático: olhar para a execução da ilustração. Para esse exercício, deve-se fixar o olho no objeto que está sendo reprodu- zido, acompanhar seus contornos e, na mesma hora, desenhar no papel sem olhar para ele. Caso se sinta necessidade, pode-se girar o corpo em um ângulo diferente da cabeça para retirar o papel do campo de visão. É preciso observar lentamente cada curva do objeto e apoiar o lápis ou a caneta sobre o papel, acompanhando com a mão o percurso que os olhos fazem. O objetivo não é a reprodução exata, mas, sim, a tomada de consciência 3Representação arquitetônica e artística do objeto sobre as texturas e nuances que, às vezes, perdem-se ao mudar o olho entre o objeto real e a reprodução na folha. Não é preciso pensar, apenas sentir e reproduzir no mesmo instante que se visualiza. O desenho, ao final, terá proporções estranhas e provavelmente algumas linhas ficarão sobrepostas, mas o que se deve observar é a reprodução das texturas, formas e volumes parciais (Figura 2). Figura 2. Desenho às cegas com olho fixo no objeto real e como resul- tado desenho sem proporção, mas com reprodução de formas e texturas. Fonte: Ching (2012, p. 19). Desenho de contornos modificados O desenho de contornos modifi cados é uma segunda etapa do desenho de contornos às cegas. Inicia-se com o contorno às cegas, mas se determina intervalos de conferência e ajustes ao desenho — é importante que seja uma segunda etapa, para que se treine a percepção e o poder de observação de formas diferenciadas. Representação arquitetônica e artística do objeto4 Uma dica é, por exemplo, no desenho de uma folhagem com várias flores, determinar a cada flor o intervalo de conferência; depois, passar esses períodos de conferência para as folhagens e, então, para o vaso. Os detalhes e a maneira como a forma se configura vão ficando cada vez mais observáveis (Figura 3). Nesse sentido, é importante o que Ching (2012, p. 20) destaca: “Não se preocupe com as proporções do conjunto. Com experiência e prática, em determinado momento desenvolvemos a habilidade de registrar cada contorno de nosso tema, de guardar uma imagem dessa linha em nossa mente, de visualizá-la na superfície de desenho e de, então, registrá-la”. Figura 3. Desenho de contornos modificados: há algumas semelhanças especialmente com o formato das pétalas. Fonte: Ching (2012, p. 20). Desenho de formatos positivos e negativos Quando observamos uma fi gura, há uma relação entre ela e o fundo diante do qual está disposta. Essa relação entre fi gura, fundo e seus contrastes facilita a determinação dos limites do objeto, a partir dos quais acabamos desenhando. 5Representação arquitetônica e artística do objeto Tão importante quanto a figura, conhecida como “positivo”, é o fundo, conhecido como “negativo”. Para esse exercício, o foco está nos vazios, ou seja, nos negativos. Para executá-lo, deve-se procurar no local de estudo um objeto que tenha partes vazadas em sua superfície. Na Figura 4, temos como exemplo uma cadeira. Não se deve olhar para as partes de madeira, mas, sim, para os espaços em branco do fundo. Pode-se começar desenhando, em vez do encosto, cada um dos 4 triângulos que formam o vazio do espaldar. Na sequência, pode-se desenhar o retângulo abaixo dos triângulos ainda no encosto e, depois, cada um dos retângulos que se formam entre cada um dos pés. Figura 4. Vazios a serem observados para o desenho do negativo. Fonte: photka/Shutterstock.com. Nesta seção, a partir das técnicas de treino de desenhos, você pôde perceber como é importante observar o objeto, o fundo, seus contornos — todos esses elementos fazem parte do processo de desenvolvimento da capacidade de desenho à mão livre e de melhoria da percepção dos objetos, cenários e composições. A seguir, você verá detalhes específicos para o desenvolvimento do desenho de observação. Representação arquitetônica e artística do objeto6 2 As bases do desenho de observação Um desenho de observação é a reprodução de uma imagem real sob o ponto de vista do desenhista. Segundo Gouveia (1998, documento on-line), trata- -se de um desenho que “[...] tende a ser considerado como representação mimética da realidade visiva; [...] diferente de uma representação analógica direta, mecânica, como, por exemplo, a fotografi a, manifesta-se como uma análise e uma seleção dos aspectos inerentes ao lugar, enquanto possibili- dades projetivas”. Em um primeiro momento, pode-se considerar que tirar uma foto seria bem mais rápido e eficiente para reproduzir uma imagem, mas “[...] a câmera não edita uma imagem para mostrar o que é importante ao olho humano. Ela é limitada pela maneira na qual a imagem foi enquadrada e pelo tipo de lente utilizada” (WATERMAN, 2011, p. 114). Antes de mais nada, um dos significados da palavra observar, segundo o Dicionário Dicio Online, é analisar (OBSERVAR, 2020). Um bom desenho de observação começa com uma análise profunda da composição que será reproduzida. Ao longo da reprodução, essa análise vai gerando novos olhares e entendimentos sobre a imagem que está sendo reproduzida. A percepção do que será retratado é essenciale, com o tempo, o olhar se torna diferente e passa a perceber elementos das formas que não percebia até então. Nesse processo, algumas dicas são essenciais para a construção de um desenho de observação. Primeiro, é importante escolher os materiais: um papel de tamanho A3 ou A4, carvão ou lápis ou caneta e um apoio são itens básicos para os primeiros desenhos de observação. No entanto, escolher um material que ajude a linha que será desenhada a fluir é bastante pessoal. Apesar de a maneira para segurar o equipamento de desenho também ser pessoal, pode-se tentar variadas empunhaduras. A primeira dica é não deixar o braço apoiado sobre a mesa: o cotovelo deve ficar solto para permitir um movimento mais amplo e solto. A empunhadura tradicional (Figura 5a) é a mesma da escrita com a mão apoiada sobre o papel: limita os movimentos, mas pode ser usada. Outra empunhadura faz com que somente um ou dois dedos toquem no papel (Figura 5b), dando mais liberdade para a execução dos desenhos (CURTIS, 2015). 7Representação arquitetônica e artística do objeto Figura 5. (a) Empunhadura tradicional e (b) empunhadura com a mão mais livre. Fonte: Syda Productions/Shutterstock.com. O apoio do desenho é importante: pode ser uma mesa, uma mesa inclinada (prancheta) ou um cavalete, que tem uma grande vantagem essencial para o desenho de observação, um novo olhar. “Ficar de pé também possibilita que você se afaste periodicamente do seu desenho [...]. A simples mudança na posição relativa permite a você que olhe para seu desenho e o avalie com um surpreendente novo olhar” (CURTIS, 2015, p. 17). Por outro lado, ao realizar o desenho em si, é essencial manter-se em uma posição fixa para enxergar os mesmo ângulos e detalhes do cenário escolhido: “A composição de uma cena em perspectiva implica nos posicionarmos em um ponto de vista favorável e decidir como enquadrar o que vemos” (CHING, 2017, p. 226). Para os primeiros desenhos de observação, pode-se começar com pequenos objetos de casa. Depois, começa-se a compor um cenário com mais de um objeto, colocando-os a, no mínimo, um braço de distância do papel em que se vai desenhar. Para construir o desenho de observação, começa-se desenhando as linhas gerais dos objetos, percebendo seus limites. Nesse ponto e ao longo de toda a execução do desenho de observação, é preciso observar o relacionamento entre os objetos: qual objeto está na frente, nos lados, no fundo, a distância entre eles e as linhas — a partir do desenho de um deles, pode-se iniciar o desenho do próximo objeto. Na Figura 6, veja que o topo da jarra menor à esquerda está na altura da alça da jarra maior. Essas relações ajudam a manter a proporção do desenho ao longo de sua execução. Depois, pode-se começar a preencher os detalhes dos objetos; se for um pão, por exemplo, é o momento de desenhar a espessura da casca. Captando a essência dos objetos, não é preciso reproduzir todos os detalhes, enquanto outros são essenciais para caracterizá-los — e isso também faz parte do processo de observação. Representação arquitetônica e artística do objeto8 Na sequência, faz-se o preenchimento dos objetos, que podem ser sombras neles mesmos, mas também deve-se avaliar e representar as texturas. Figura 6. Sequência de desenho de observação: note a textura dada para o pão parecer rugoso e as jarras parecerem lisas. Fonte: Cernecka Natalja/Shutterstock.com. O desenho de observação é uma construção com alguns elementos in- dispensáveis, mas, ainda sim, é possível fazer escolhas para sua realização. Tanto os materiais quanto a posição de execução e o conceito final podem ser adaptados a peculiaridades do executor da ilustração. É importante ressaltar que o exemplo apresentado na Figura 6 não é fixo: é muito comum que o desenhista desenvolva o seu passo a passo, que será discutido a seguir. A percepção é uma experiência unificada e se dá por meio dos sentidos — não é algo concreto, mas é essencial para o desenvolvimento dos desenhos. Saiba mais sobre a percepção no link a seguir. https://qrgo.page.link/3Li84 9Representação arquitetônica e artística do objeto 3 A individualidade no desenho de observação Nas áreas de atuação profi ssional criativas, o desenho de observação também se diferencia de uma foto por ter a possibilidade de deixar a marca registrada de quem os executou. É comum, dentro das possibilidades de execução, que o profi ssional crie seu próprio passo a passo. Para individualizar o desenho de observação, é importante, depois de treinar a representação com objetos ou conjunto de objetos, passar a desenhar temas sobre sua área de atuação. Paisagistas, designers de interiores e arquitetos desenham grandes espaços, e essa característica determinará algumas escolhas. Para isso, deve-se escolher primeiro o material de preferência pessoal, mas, para essas áreas, devido à necessidade de precisão, na maioria das vezes, lápis ou caneta são utilizados. O carvão, por exemplo, não é um material muito preciso — não é errado utilizá-lo, mas, em um primeiro momento, pode difi- cultar a representação. A cor também pode ser um elemento essencial nessas áreas, mas nem todo o desenho precisa ser colorido. A escolha pela coloração também ajuda a individualizar o desenho e, por isso, é importante testar materiais e possibilidades e escolher algo que agrade, decidindo quando colorir ou não. Alguns dos materiais mais comuns para uso da cor nos desenhos são giz pastel, lápis de cor, aquarela e hidrocores. O papel em formato A3 é o ideal pelo tamanho das cenas a serem represen- tadas em áreas como design de interiores, arquitetura e paisagismo, e o tipo de papel a ser escolhido depende do material que será utilizado no desenho. Para o uso posterior com aquarela, por exemplo, deve-se utilizar um papel de maior gramatura, que aceite água sem enrugar. Representação arquitetônica e artística do objeto10 Uma grande questão nesse contexto é o apoio: se for um espaço interno, é possível desenhar em um cavalete de pé, mas estudando a possibilidade de fazê-lo em áreas externas. Em relação a isso, é comum que o desenhista dessas áreas opte por uma prancheta simples e prática para poder levar com mais facilidade aos locais externos. As proporções para desenhos nessas áreas são essenciais, e o desenhista pode fazer uso de dois recursos: uma moldura, para decidir o enquadramento e observar as proporções, e um lápis para medir. A moldura ou visor é de simples confecção, conforme descreve Ching (2012, p. 29): [...] pode ser construído cortando-se cuidadosamente um retângulo de 8 × 10 cm no meio de uma folha de papelão de 21 × 29,7 cm (formato A4) cinza- -escuro ou preta. Divide-se a abertura ao meio, vertical e horizontalmente, com dois fios escuros fixados com fita adesiva. O visor criado nos ajuda a compor uma vista e a estimar a posição e a direção dos contornos. O mais importante é que, olhando através desta abertura retangular com apenas um olho, a imagem ótica efetivamente se achata, o que nos torna mais cientes da unidade entre os formatos positivos da matéria e os formatos negativos dos espaços. Neste ponto, é importante decidir que enquadramento se deseja dar ao desenho: pode-se preencher o papel como um todo, com a cena completa ou preenchê-lo inteiramente com um detalhe da cena. É possível, ainda, deixar um espaço em branco entre o limite do papel e o desenho, dando a sensação de totalidade da imagem representada — isso também será uma decisão do desenhista e incrementará seu passo a passo. Além disso, para medir os elementos da cena a ser desenhada, é possível utilizar o comprimento do lápis: basta segurar o lápis com a mão e estender bem o braço, de modo que se garanta que a forma de medir permanecerá a mesma, ou seja, terá a mesma proporção. O lápis vai estar perpendicular à linha de visão e a medida do objeto estará entre a ponta do lápis e o dedão, que pode ser movimentado até que se encaixe a medida pretendida — fecharum dos olhos ajudar a aumentar a precisão (Figura 7). 11Representação arquitetônica e artística do objeto Figura 7. Lápis como elemento de medição. Fonte: Daniel Besik/Shutterstock.com. Ao enquadrar, é importante verificar se o desenho será na horizontal ou na vertical, o que terá conexão direta com as proporções da cena. O desenho de uma igreja, que, geralmente, passa uma sensação de verticalidade e impo- nência, terá essa sensação potencializada com o papel na vertical, tipo retrato. Algumas cenas pedem o uso do papel na horizontal ou formato paisagem. Esse tipo de arranjo dá mais amplitude lateral e mais sensação de estabilidade, e, por vezes, a decisão de passar a sensação é do próprio desenhista, pois “[...] outras cenas terão proporções que dependerão daquilo que decidirmos enfatizar na imagem” (CHING, 2017, p. 226). Com o enquadramento feito e o início da medição com o lápis, deve-se decidir que tipo de linha utilizar, pois se trata de um elemento primário e importante no desenvolvimento de desenhos de observação. Basicamente, existem dois tipos de linhas: a gestual e a descritiva (BAJZEK, 2019). A linha descritiva define o contorno da forma de maneira narrativa e precisa, é firme contínua e constante, além de clara e direta — é ótima para representar elemen- tos arquitetônicos, detalhes de decoração e é utilizada quando a importância real do objeto é maior que o restante da cena. Já a linha gestual é mais usada quando se pretende dar ênfase às conexões entre os elementos; é uma linha mais leve e solta e pode ter aspecto irregular (BAJZEK, 2019) (Figura 8). Representação arquitetônica e artística do objeto12 Figura 8. (a) Desenhos com linhas gestuais em preto e branco; (b) desenho com linha descritiva e colorido. Fonte: Leggitt (2004, p. 24). Essas grandes áreas representadas em desenhos de observação de design de interiores, arquitetura e paisagismo dependem muito do posicionamento do autor e da escolha do recorte da cena. Por isso, “[...] é extremamente importante manter a posição de observação fixa durante todo o processo de desenho a fim de criar representações precisas de recuos planos com os instrumentos para medir ângulos” (CURTIS, 2015, p. 56). Neste capítulo, você viu maneiras de treinar seus desenho e dicas básicas para o desenvolvimento de desenhos de observação, uma aptidão que pode ser desenvolvida e aprimorada. Esse desenvolvimento é processual, e cada etapa é importante, deve ser cumprida e levará o desenhista à excelência em sua profissão. 13Representação arquitetônica e artística do objeto BAJZEK, E. Técnicas da ilustração à mão livre: do ambiente construído à paisagem urbana. São Paulo: Gustavo Gili, 2019. CHING, F. D. K. Desenho para arquitetos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. CHING, F. D. K. Representação gráfica em arquitetura. Porto Alegre: Bookman, 2017. CURTIS, B. Desenho de observação. 2. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. E-book. GOUVEIA, A. P. S. O croqui do arquiteto e o ensino do desenho. 1998. Tese (Doutorado em Estruturas Ambientais Urbanas) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponi- veis/16/16131/tde-03052010-090659/pt-br.php. Acesso em: 27 fev. 2020. LEGGITT, J. Desenho de arquitetura: técnicas e atalhos que usam tecnologia. Porto Alegre: Bookman, 2004. OBSERVAR. In: DICIO, Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2020. Disponível em: https://www.dicio.com.br/observar/. Acesso em: 27 fev. 2020. WATERMAN, T. Fundamentos de paisagismo. Porto Alegre: Bookman, 2011. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Representação arquitetônica e artística do objeto14 PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO II Anicoli Romanini Representação gráfica Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Listar os instrumentos de desenho técnico. � Analisar as normas do desenho técnico. � Perceber os elementos em planta baixa, corte e elevação. Introdução Ter bons instrumentos de desenho é importante, mas saber utilizá-los para a representação adequada do projeto é fundamental. Por isso, o projetista deve conhecer os padrões e as normas básicas utilizadas para a elaboração dos desenhos técnicos, aplicando-os como ferramentas de apoio ao desenvolvimento de seus projetos. Neste capítulo, você entenderá a importância do desenho técnico na representação gráfica de projetos arquitetônicos, pelo método tradi- cional e com o auxílio do computador. Vai conhecer algumas normas de desenho técnico disponíveis para a aplicação dos padrões necessários, identificando como esses elementos são utilizados na representação de plantas baixas e cortes. Desenho técnico O desenho técnico é a representação gráfica do projeto em um ou mais pla- nos, elaborados de acordo com normas técnicas e padrões que possibilitam a leitura universal dos objetos. Ele pode ser elaborado manualmente, a partir dos instrumentos de desenho, ou com o auxílio do computador, apoiado em softwares de desenho, como AutoCad, IntelliCad, Revit, entre outros. Inde- pendentemente do meio de execução do desenho, as regras e orientações são as mesmas, pela compreensão unânime que ele deve passar. Ching (2017, p. 17) afirma que “[…] desenhar com o auxílio de réguas, esquadros, gabaritos, compassos e escalímetros é o meio tradicional de desenho e representação gráfica em arquitetura, e ainda é relevante em um mundo cada vez mais digital”. Traçar uma linha à mão, segundo o autor (2017, p. 17), “[…] realimenta a mente e reforça a estrutura da imagem gráfica resultante”. Ao elaborar qualquer desenho, é importante considerar a espessura das linhas em função da hierarquia que a ela está associada. Linhas mais finas são empregadas para a representação dos desenhos iniciais, linhas de chamada, linhas de cota, desenhos complementares, pisos, equipamentos, mobiliário, entre outros. As linhas grossas sugerem forma e substância, representam as paredes, cortadas ou em vista, bem como a estrutura da obra, a marcação da linha do corte, entre outros. A partir dessas definições, diferentes instrumentos de desenho afetarão a hierarquia de linhas. Canetas nanquim ou lapiseiras de ponta fina (0.3), com o uso de grafite de mina mais dura (H ou HB) no caso das lapiseiras, proporcionarão esse efeito. Para o desenvolvimento de linhas mais espessas, são utilizadas as canetas nanquim ou lapiseiras de pontas mais grossas (0.7 ou 0.9) com o uso de grafite de mina macia (B ou 2B). As lapiseiras de espessura média (0.5) são utilizadas para os desenhos complementares e para a elaboração dos textos. Ching (2017) apresenta uma classificação bastante interessante sobre a dureza das minas de grafites disponíveis para a utilização nos desenhos, fazendo recomendações quanto ao seu melhor uso (Figura 1). Representação gráfica2 Figura 1. Recomendações quanto à dureza das minas de grafite. Fonte: Ching (2017, p. 3). Independentemente do método de trabalho, à mão ou no computador, a base do desenho é constituída pelas linhas, cuja essência é a continuidade. Assim, quando desenvolvidas manualmente, as linhas e suas informações complementares (textos, números e imagens) necessitam do auxílio de certos materiais. A seguir, são apresentados alguns. 3Representação gráfica � As lapiseiras permitem o desenho dos elementos com qualidade. Para a execução de linhas nítidas e finas (construção do desenho, mobiliário e equipamentos fixos, cotagem, entre outros), utilize aquelas com menor espessura, 0.3 ou 0.5, com um grafite mais duro (H ou HB). Paralinhas relativamente espessas e mais fortes (representação final das paredes, linhas de marcação do corte, entre outros), utilize as lapiseiras 0.7 ou 0.9 com um grafite mais macio (B ou 2B). � A régua paralela (traçados de linhas horizontais, fixada na prancheta), juntamente com os esquadros de 45°, 30º e 60º (traçados de linhas verticais e em ângulo), permite o desenvolvimento de desenhos com mais rapidez e precisão. � O escalímetro é uma régua com diferentes medidas, ou escalas, utilizada para reduzir ou ampliar os desenhos. � Com compasso, curvas francesas e transferidor, é possível elaborar linhas curvas. Os gabaritos de formas geométricas, como, por exemplo, o gabarito de circunferências, chamado carinhosamente de bolômetro, e os gabaritos de blocos de equipamentos sanitários/hidráulicos e/ou mobiliários complementam as informações do desenho. Todos eles possuem aberturas específicas para guiar os traçados. Se o desenho for realizado no computador, alguns softwares deverão ser instalados para a sua elaboração. Da AutoDesk, dois programas dominam escritórios e escolas de arquitetura e urbanismo. O mais antigo é o AutoCad. Com ele, é possível elaborar desenhos em 2 ou 3 dimensões, com escala, precisão e detalhamento, conforme a necessidade do projeto. Entretanto, nos últimos tempos, o Revit tem ganhado bastante espaço pelo uso da tecnolo- gia BIM (Building Information Model), ou Modelagem da Informação da Construção ou, ainda, Modelo da Informação da Construção, que possibilita a criação de um conjunto de informações geradas e mantidas durante todo o ciclo de vida de um edifício. Representação gráfica4 A seguir, são apresentados dois templates de trabalho a partir dos softwares AutoCad e Revit. Fonte: Architectural renovation ([201-?]; Sync with central edited ([2019]). Para mais informações sobre as opções para o desenvolvimento de seus trabalhos, entre no site da Autodesk e pesquise sobre os programas. https://qrgo.page.link/znmoU 5Representação gráfica Normas do desenho técnico O desenho técnico é a representação gráfica do projeto em um ou mais planos elaborados de acordo com normas técnicas e padrões que possibilitam sua leitura universal, ou seja, por qualquer pessoa em qualquer lugar. Assim, não é utilizado apenas por exigência de uma equipe de profissionais ou para satisfazer as preferências de um desenhista ou de um cliente, por exemplo, mas pelo sentido de ordem e unificação que apresenta. No Brasil, sem força de lei, as normas técnicas são editadas e elaboradas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que, desde 1940, busca estabelecer códigos para instituir parâmetros de qualidade, segurança e normalidade, regulando as relações entre produtos, consumidores e profissio- nais de diversas áreas. Como o desenho técnico possui uma linguagem gráfica padronizada, algumas normas técnicas foram surgindo como uma espécie de guia, para facilitar a compreensão dos desenhos de diferentes naturezas. Assim, algumas normas foram elaboradas, como: NBR 10582 (apresentação da folha para desenho técnico), NBR 8402 (execução de caracteres para escrita em desenhos técnicos), NBR 8403 (aplicação das linhas em desenhos, tipos, larguras), NBR 8196 (emprego de escalas), NBR 12298 (representação de área de corte por meio de hachuras em desenhos), NBR 8404 (indicação do estado de superfície em desenhos técnicos), NBR 6158 (sistemas de tolerâncias e ajustes), NBR 8993 (representação convencional de partes roscadas em desenho técnico), NBR 10125 (cotagem em desenho técnico). A NBR 6492 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1994) é a norma técnica que trata diretamente da representação de projetos em arquitetura. Em sua parte inicial, a norma faz a definição dos diferentes níveis de desenho entregues em um projeto executivo: planta de situação, planta de locação, planta de edificação, cortes, fachadas, elevações, detalhes ou ampliações, juntamente com conceituação de escala, programa de neces- sidades, memorial justificativo, discriminação técnica, especificações, lista de materiais e orçamento. Posteriormente, conceitua e caracteriza as fases do projeto: programa de necessidades, estudo preliminar, anteprojeto, projeto executivo, projeto como construído, informando quais elementos devem ser representados, quais documentos típicos devem ser entregues em cada etapa e quais documentos eventuais complementam a informação em cada etapa, indicando as escalas de desenho mais adequadas. Representação gráfica6 Com base na NBR 10068 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1987), que estabelece diretrizes para as folhas de desenho, leiaute e dimensões, além de padronização, a Norma 6492 apresenta os tipos de papéis utilizados nos desenhos com suas respectivas legendas (selo) e dobramentos. No Quadro 1, são descritos os tipos de linhas do desenho. Segundo Farrely (2011, p. 72), para indicar distintos graus de solidez e permanência nos desenhos (plantas cortes, fachadas, detalhamentos), diferentes variações de espessuras de linhas são utilizadas: Uma linha grossa sugere mais permanência ou o material pesado (assim, pode ser empregada para representar uma parede de alvenaria), enquanto uma linha fina indica uma condição mais provisória ou um material leve (sugerindo um móvel temporário, por exemplo). Fonte: Adaptado de Associação Brasileira de Normas Técnicas (1984). Tipo Emprego Grossa 1 Arestas e contornos visíveis. 2 Linha de corte. Fina 3 Arestas e contornos não visíveis. 4 Linha de ruptura curta. 5 Linhas de cota e de extensão; hachuras; linhas de chamada. 6 Eixos de simetria e linhas de centro; posições extremas de peças móveis. 7 Linha de ruptura longa. Quadro 1. Tipos e empregos das linhas segundo as normas técnicas 7Representação gráfica Além dos tipos de linhas, letras e números, são utilizadas, nas representa- ções, juntamente com as escalas, indicação de norte, de linhas de chamada, de sentido, em escadas e rampas. Essas indicações, além de complementar o desenho, permitem entender as relações da edificação com o seu terreno e orientação. A conceituação e o emprego das cotas, cotas de nível e marcações, de coordenadas para eixos de estruturas, cortes gerais e detalhes construtivos também são apresentados pela norma de maneira bastante detalhada. Sobre as cotas, a norma recomenda que elas sejam desenhadas sempre em metros, que estejam localizadas fora do desenho (salvo alguma impossi- bilidade), representando o máximo de medidas possíveis, mas evitando a sua duplicação. A norma sugere, ainda, como desenvolver a indicação e numeração dos títulos dos desenhos, designação das portas e esquadrias, além do quadro geral de áreas, esquadrias e acabamentos, trazendo, inclusive, uma convenção de materiais que pode ser adotada. As normas técnicas são elaboradas pela ABNT. Como do- cumento técnico, elas são vendidas pelo site da associação, e as suas cópias não são autorizadas. Para saber mais, acesse o link ou código a seguir. https://qrgo.page.link/4bvvR Elementos do desenho técnico No desenho técnico, o maior nível de informações e detalhes é bem-vindo, porque é com base nos elementos desse desenho (paredes, lajes, vigas, pilares, esquadrias, desníveis, escadas, cotas e cotas de nível, telhados, entre outros) que o anteprojeto e o projeto executivo são elaborados para a futura execução. Representação gráfica8 Segundo Farrely (2011, p. 70), a planta “[…] é uma projeção ortogonal de um objeto tridimensional tomada a partir de um plano de corte horizontal”. A planta é uma vista superior do objeto desenhado, que inclui todas as exigên- cias do programa de necessidades, espaços e formas apresentadas às funções associadas, com as condições físicas e ambientais do local implantado. Ela é composta por uma série de cômodos conectados entre si e por acessos e circulações. As plantas podem ser: do pavimento térreo (demonstra a entrada daedifi- cação e sua relação com os espaços externos), dos demais pavimentos ou do pavimento tipo (quando se tratar de edifício em altura, sempre demonstrará as conexões verticais), da cobertura (indicando os caimentos dos planos de cobertura), de situação (apresentando a edificação no contexto de seu terreno ou entorno imediato) ou de localização (indicando o contexto da edificação e do terreno em relação aos terrenos vizinhos e sobre as vias, os passeios, entre outros). Conforme afirma Farrely (2011, p. 78), “[…] o corte é uma projeção orto- gonal de um objeto tridimensional sobre um plano vertical que o secciona”. Desenhados posteriormente às plantas, ou de forma paralela, os cortes apre- sentam as dimensões verticais da obra, bem como as suas relações entre o interior e o exterior, podendo ser longitudinais e transversais, em quantidade que o arquiteto, engenheiro ou projetista julgar necessária para o adequado entendimento do projeto. A planta baixa e o corte da edificação são sessões ou cortes realizados nos desenhos, respectivamente, de modos horizontal e vertical (Figuras 2 e 3). Na planta baixa (Figura 2), são representados todos os elementos visíveis horizontalmente a uma altura de 1,20 cm do piso. Logo, são representados a estrutura da edificação, as paredes externas e internas (com suas devidas espessuras), todas as aberturas (portas e janelas), as escadas, as lareiras, os equipamentos fixos da cozinha e do banheiro, por exemplo, as diferenças de níveis existentes na edificação, os tipos de pisos, os acessos (principais, de serviço, de garagem), o norte (e sua orientação solar) e todos os demais elementos que o projetista achar necessário. Na planta, são demarcadas todas as dimensões, cotas, necessárias para a sua execução. 9Representação gráfica Figura 2. Representação dos elementos em planta baixa. Fonte: Ching (2017, p. 51). O corte (Figura 3), elaborado a partir da planta baixa, possui também a representação de todos os elementos necessários para o entendimento das alturas da edificação. São representados a estrutura da edificação, inclusive as fundações, as paredes externas e internas (com suas devidas espessuras), todas as aberturas (portas e janelas), as escadas, as lareiras, os equipamentos fixos da cozinha e do banheiro, por exemplo, as diferenças de níveis existentes na edificação e o telhado. No corte, somente as dimensões verticais, cotas verticais, são representadas. Representação gráfica10 Figura 3. Representação dos elementos em corte. Fonte: Ching (2017, p. 70). A estrutura da obra é composta por fundação, lajes, pilares e vigas, po- dendo ser de madeira, metálica ou de concreto. A fundação é a parte inferior da construção, que transmite as cargas da construção ao terreno. As cargas podem ser sapatas isoladas, blocos pré-moldados, feitas por meio de estacas, entre outras opções. 11Representação gráfica As paredes são os elementos verticais da obra que fazem o fechamento externo da edificação e as subdivisões internas. Podem ser de alvenaria de vedação ou estrutural (tijolo cerâmico ou bloco de concreto), de madeira, em drywall (gesso acartonado ou placas cimentícias) ou de woodframe (chapas de OSB). As escadas, utilizadas em edificações com mais de um pavimento, fazem a ligação vertical entre os pavimentos. Possuem as mais variadas formas, quadrada, retangular, redonda, helicoidal, mistas, com degraus vazados, fechados, enfim, conforme o desejo dos clientes. As rampas e os elevadores complementam as possibilidades de deslocamento vertical: as primeiras ga- rantem a acessibilidade de todos, independentemente da sua condição física, enquanto os segundos, além da acessibilidade universal, permitem o acesso mais confortável aos locais mais altos. As esquadrias fazem os fechamentos dos vãos. São portas e janelas que podem ser de madeira, ferro, alumínio ou PVC. O telhado é a cobertura da edificação. Pode ser de uma, duas, três, quatro, cinco ou mais águas, depen- dendo do projeto, com diferentes inclinações e tipos de telhas (barro, concreto, metálica, zinco e fibrocimento). Sua estrutura pode ser de madeira ou metálica. Todos os desenhos apresentados fazem parte do projeto arquitetônico para demonstração de sua existência. Especificações e detalhamentos são desen- volvidos em plantas específicas. ARCHITECTURAL renovation. [201–?]. 1 desenho técnico. Disponível em: https://www. quadrasol.co.uk/uploads/images/features-images/architecture/renovation.jpg. Acesso em: 29 maio 2019. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6492:1994: Representação de projetos de arquitetura. Rio de Janeiro, 1994. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8403:1984: Aplicação de linhas em desenhos — Tipos de linhas — Larguras das linhas — Procedimento. Rio de Janeiro, 1984. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10068:1987: Folha de desenho — Leiaute e dimensões — Padronização. Rio de Janeiro, 1987. CHING, F. D. K. Representação gráfica em arquitetura. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2017. Representação gráfica12 FARRELY, L. Técnicas de representação. Porto Alegre: Bookman, 2011. SYNC with central edited. [2019]. 1 desenho técnico. Disponível em: https://www. autodesk.com/bim-360/app/uploads/2019/02/Sync-with-central-edited.jpg. Acesso em: 29 maio 2019. 13Representação gráfica REPRESENTAÇÃO GRÁFICA Sílvia Eidt Monteiro Instrumentos de representação gráfica Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar os instrumentos de representação gráfica. � Descrever a utilização dos instrumentos para os desenhos. � Praticar a representação gráfica com o uso dos instrumentos. Introdução Embora os avanços tecnológicos tenham alterado significativamente o processo de desenho, os padrões para representar graficamente projetos seguem as mesmas diretrizes do processo manual. Por isso, é fundamental você conhecer o desenho à mão antes de utilizar as ferramentas digitais. Para desenvolver um desenho técnico manual, você precisa conhecer as ferramentas existentes. Assim, vai conseguir representar graficamente uma ideia por meio de plantas, cortes, vistas, perspectivas, detalhamento, etc. A correta representação gráfica de um projeto é importante para a sua legibilidade, bem como para a compreensão do cliente e de quem vai executar o que foi planejado. Neste capítulo, você vai conhecer os materiais utilizados para traçar linhas, os instrumentos existentes para guiá-las e as superfícies adequa- das para receber o desenho. Também vai aprender a manusear esses instrumentos para produzir elementos gráficos em superfícies de papel e ver como praticar a representação. Instrumentos de representação gráfica Para começar o estudo deste capítulo, é recomendável que você se faça uma pergunta: o que é representação gráfica? Para Ching e Juroszek (2001), re- presentação gráfica é o ato de desenhar como processo ou técnica de representação de algo — um objeto, uma cena ou uma ideia — por meio de linhas em uma superfície. Podem ser desenhos de apresentação, utilizados para persuadir o observador quanto aos méritos de uma proposta, ou ainda podem ser desenhos construtivos ou de detalhamento, que geram instruções gráficas para a execução de projetos. Partindo dessa definição, você pode perceber que a linha é o elemento inerente a todo tipo de desenho. A representação gráfica se baseia no poder de uma composição de linhas para transmitir uma ideia. Embora as ferramen- tas digitais possam aprimorar as técnicas tradicionais, o processo tátil de se desenhar no papel é o meio mais sensível para você aprender a linguagem gráfica (CHING, 2017). Por isso, você vai ver inicialmente os instrumentos utilizados para traçar linhas e composições. Depois, vai conhecer os instrumentos de apoio ao desenho e os papéis mais adequados a cada caso. Instrumentos para o desenho — traço e composição O lápis é um ótimo aliado para o desenho à mão livre,pois a espessura da mina do grafite varia durante o uso e o traço se modifica conforme a pressão aplicada. O lápis precisa ser apontado, é relativamente barato e indicado para croquis. Já a lapiseira é indicada para o desenho técnico. Cada lapiseira aceita uma espessura de mina de grafite que varia de 0,3 mm a 2 mm. As minas de grafite de até 0,9 mm não precisam ser apontadas e mantêm uma precisão maior quanto à espessura do traço, conferindo uniformidade à linha. No desenho técnico, são utilizadas lapiseiras com espessuras variadas para representar os diferentes elementos do projeto (CHING, 2017). Tanto nos lápis como nas lapiseiras, as minas de grafite variam entre 9H (extremamente duras) a 6B (extremamente macias). Para traços mais fortes e grossos, utilize minas mais macias. Já para traços mais leves e finos, utilize minas mais duras. Instrumentos de representação gráfica2 A caneta bico de pena é a precursora de todas as canetas. Possui ponta metálica com um orifício ligado à ponta por um recorte, que serve de canaleta para a tinta escorrer aos poucos, conforme o uso. Você deve mergulhar a caneta na tinta nanquim para usá-la. A evolução dessa caneta é a caneta-tinteiro. Ela possui um reservatório interno para uma tinta à base de água, alimentada por uma ponta de metal, por capilaridade. Ambas são muito interessantes para a caligrafia artística, já que o traço varia conforme a pressão exercida (CHING, 2017). A caneta nanquim possui uma ponta tubular e é ideal para a representação de projetos, pois produz uma linha precisa e uniforme, sem a necessidade de aplicar pressão. A caneta nanquim clássica é recarregável, utiliza tinta à base de água e possui espessuras que variam entre 0,1 mm e 2 mm. Já existem no mercado várias marcas de canetas nanquim descartáveis, que não precisam ser recarregadas e limpas após o uso, com as mais variadas espessuras. O traço dessas canetas pode ser apagado em papel vegetal (CHING, 2017). Há outras canetas mais conhecidas e amplamente utilizadas no dia a dia. A caneta esferográfica é hoje a mais popular para a escrita cotidiana. Ela desliza facilmente devido à sua tinta à base de óleo, sendo ideal para uso prolongado. A evolução da esferográfica é a caneta roller-ball. Sua tinta líquida à base de água tem melhor absorção pelo papel. A caneta à gel, como o próprio nome diz, possui uma tinta espessa e opaca, com pigmento suspenso em um gel à base de água. Já a caneta hidrográfica possui a ponta de feltro com os mais variados formatos para trabalhos artísticos (CHING, 2017). Inúmeras são as maneiras de colorir um desenho. Entre elas: lápis de cor, caneta hidrográfica, aquarela e giz pastel. O lápis de cor mais adequado é o aquarelável, que confere homogeneidade maior à superfície da pintura. Existem canetas hidrográficas coloridas com várias pontas que se adequam a cada necessidade: ponta chanfrada, em pincel, etc. A aquarela é a maneira mais tradicional de pintura com o uso de pincel. O giz pastel pode ser utilizado direto no papel ou espalhado com os dedos (DOYLE, 2007). Instrumentos de apoio ao desenho A régua T e a régua paralela são utilizadas juntamente à mesa de desenho — que deve ser de material liso e bem-acabado — para traços paralelos e para apoiar os esquadros e demais instrumentos. Ambas possuem funcionamento semelhante. A régua T, embora de grande dimensão, é portátil. Ela possui uma barra transversal que desliza ao longo de um apoio encaixado na borda 3Instrumentos de representação gráfica da mesa. Já a régua paralela é fixa à mesa por meio de um sistema de cabos e roldanas, que permite a ela deslizar livre e paralelamente à superfície (CHING, 2017). Os esquadros, assim como as réguas, são instrumentos fundamentais para o desenho técnico. São utilizados para apoiar o traçado de linhas verticais e linhas em ângulos específicos. Recomenda-se a utilização de um jogo composto por dois esquadros, de material transparente, um de 45°–45° e outro de 30º–60º. Existe também um tipo de esquadro que é regulável por meio de um braço móvel, porém ele não é tão utilizado quanto os clássicos (CHING, 2017). O escalímetro é essencial para você fazer medições com precisão e deixar o desenho em escala. O mais conhecido tem o formato triangular e seis lados com seis escalas. O escalímetro de arquitetura possui as seguintes escalas: 1:20, 1:25, 1:50, 1:75, 1:100 e 1:125. Serve somente para marcações e não para apoiar o traçado, como os esquadros e réguas. O transferidor é normalmente composto de material transparente e também serve somente para marcação, porém de ângulos (CHING, 2017). Para círculos, formas geométricas e curvas, você pode utilizar o compasso, os gabaritos e a curva francesa. O compasso é fundamental para desenhar círculos. Ele possui uma ponta metálica que marca o centro do círculo e, na outra extremidade, possui um local para fixar o grafite, a lapiseira ou a caneta, dependendo do modelo. Os gabaritos são compostos de material transparente com aberturas vazadas para guiar o traçado de formas predeterminadas, como círculos e outras formas geométricas. Já a curva francesa é um instrumento utilizado para guiar o traço de curvas irregulares (CHING, 2017). Outros materiais muito utilizados são a borracha, para apagar os erros, e os pincéis ou escovas, para “varrer” os restos de grafite e borracha de cima do desenho sem esfregar e borrar. Para apagar a tinta nanquim do papel vegetal, há um líquido especial que deve ser usado em pouca quantidade para não amolecer o papel demasiadamente. Superfícies de desenho — tipos de papel Os papéis transparentes são ideais para sobreposições e permitem fazer cópias e correspondências entre desenhos. Para o desenho técnico, os mais utilizados são o papel vegetal e o papel manteiga, que possuem variações na transpa- rência e na qualidade de acabamento. Você deve escolhê-los de acordo com a finalidade de uso. Instrumentos de representação gráfica4 O papel manteiga é mais barato, mas rasga mais facilmente com minas de grafite mais duras. Assim, é mais utilizado para croquis e estudos simples. O papel vegetal possui uma transparência mais nítida, é mais espesso, mais resistente, permite raspagens e correções. Por isso, é utilizado para entregas finais de projeto. O papel pode, ainda, ser fabricado com fibras de algodão ou com fibras de madeira, ambas com boa durabilidade. São comercializados por diferentes marcas comerciais e em diferentes gramaturas — que significa o peso de uma folha de 1 m² expresso em gramas —, com superfícies lisas ou rugosas (CHING, 2017). Para o desenho técnico, prefira papéis lisos com gramatura média, de maneira a permitir que o papel seja enrolado ou dobrado. Todos esses papéis podem ser encontrados em bloco, folha avulsa e rolo. A textura e a porosidade do papel afetam a sensação de dureza ou maciez de um grafite. As superfícies porosas absorvem melhor o desenho do que as extremamente lisas e densas, borrando menos. Já as superfícies mais ásperas, com texturas, tendem a fazer grafites mais macios borrarem mais. Como utilizar os instrumentos de desenho Você sabe como adquirir ou desenvolver sua técnica para utilizar os instru- mentos de desenho? A habilidade de utilizar esses instrumentos só é adquirida com a prática contínua. A boa execução vem com muito treino. Por isso, é fundamental você trabalhar corretamente desde o começo. Aqui, você vai conhecer as técnicas fundamentais para a representação gráfica por meio dos instrumentos descritos na seção anterior. Inicialmente, preste atenção na superfície que vai receber o desenho. O papel deve estar sempre fixado à mesa de desenho ou à prancheta com fita- -crepe, fita mágica ou tachas. Não utilize fitas com a cola muito forte ou de baixa qualidade, pois elas deixam resíduos no papel. Você deve fixar a folha pensando em não danificá-la na hora da sua retirada. Além disso, a folha deve 5Instrumentos de representação gráfica estar alinhadacom a régua T ou a régua paralela. Caso contrário, o desenho ficará torto. Uma boa maneira de evitar isso é sempre iniciar o desenho traçando primeiro uma margem para a folha, o que obriga você a observar as arestas. Lembre-se de que a linha é o elemento principal do desenho. Por isso, o modo como você a desenha merece uma atenção especial. Utilize as lapiseiras ou as canetas nanquim — que são os instrumentos adequados para o desenho técnico — da maneira mais reta possível, para assim respeitar sua espessura, o que não acontecerá se os planos forem demasiadamente inclinados. Você deve desenhar a linha em um único traço, com paciência, sem pressa, em ritmo constante, exercendo a mesma pressão na quase totalidade de sua extensão, exceto no início e no fim, em que pode aplicar uma pressão levemente maior. Assim, evite redesenhar traços sobre os anteriores e apagá-los. Sempre puxe a caneta ou a lapiseira ao longo do esquadro ou régua, nunca a empurre de maneira arrastada. O ponto a se visualizar durante o traçado é o ponto de chegada e não o de partida. As canetas e lapiseiras possuem uma longa ponta revestida de metal justamente para vencer a espessura do esquadro e da régua sem manchá-los e deslizar sobre eles (CHING, 2017). A marcação de uma distância é realizada com o escalímetro apoiado na régua T ou na régua paralela para as medidas horizontais, e no esquadro para as medidas verticais. A marcação de uma medida de raio no compasso também é feita com base no escalímetro apoiado, ou você pode realizar previamente a marcação do raio no papel. Fixe a ponta metálica do compasso no centro do raio e gire a outra haste, exercendo certa pressão para desenhar o círculo. O compasso, os gabaritos e a curva francesa são os instrumentos utilizados para traçar círculos ou curvas. Já o transferidor não serve para essa finalidade; serve somente para marcar ângulos (CHING, 2017). Os esquadros também são apoiados sobre a régua T ou a régua paralela, deslizando sobre ela. Evite arrastá-los sobre traços recém-feitos para não borrar — é necessário planejar o desenho. O esquadro deve ser segurado de maneira firme durante o traçado da linha. Na Figura 1, observe uma forma de utilização dos esquadros, a sobreposição para compor diferentes ângulos (CHING, 2017). Instrumentos de representação gráfica6 Figura 1. Sobreposição dos esquadros comuns de 45°–45° e 30°–60° para formar ângulos de 15° e 75°. Fonte: Ching (2017, p. 26). Todos os instrumentos devem ser levantados, e não arrastados, para evitar que borrem o desenho. Pelo mesmo motivo, mantenha as mãos e os equipa- mentos sempre limpos. Você pode proteger parte da superfície do desenho com papel manteiga, deixando visível somente a parte em que está trabalhando, evitando danificá-la. Para aumentar a vida útil dos instrumentos, os manuseie com o máximo cuidado possível e os armazene sempre em seus estojos após a limpeza. Nunca utilize o escalímetro como régua para traçar linhas, pois a ponta metálica da lapiseira e da caneta estragam o equipamento. Tampouco utilize a borda dos esquadros e do escalímetro para cortar papel com estilete. Para isso, utilize uma régua metálica própria para corte. Você deve considerar ainda a correta iluminação. Ela é fundamental para evitar o sombreamento causado pela mão do projetista. Seja a ilumi- nação natural ou artificial, ela deve estar localizada no topo, ou no lado contrário da mão utilizada para desenho — no caso de destros, deve estar localizada à esquerda. Luminárias articuladas fixadas à mesa de desenho permitem posicionar a luz da maneira mais favorável, de acordo com a necessidade. 7Instrumentos de representação gráfica Acesse o link a seguir para assistir a um vídeo sobre o posicionamento do papel na mesa, o uso correto da régua T, de esquadros, escalímetro e lapiseiras. https://goo.gl/CfNyJH Representação gráfica com o uso dos instrumentos Agora que você já sabe quais são os instrumentos de representação gráfica e a forma de utilização de cada um, que tal colocar em prática o que aprendeu? Aqui, você vai estudar a linguagem do desenho técnico, iniciando por linhas paralelas e perpendiculares, figuras geométricas e ângulos, linhas curvas e, por último, desenhos em perspectiva e croqui. Segundo Ching (2017, p. 6), “[...] o desenho não é simplesmente uma questão de técnica; é também um ato cognitivo que envolve percepção visual, avaliação e raciocínio de dimensões e relacionamentos espaciais”. Ou seja, é o desenho e todo o processo intelectual nele envolvido que levam ao ato projetual. Linhas paralelas e perpendiculares Para sugerir profundidade nos desenhos técnicos, as linhas sofrem uma gradação no traçado em função do plano em que se encontram. As linhas em primeiro plano, mais próximas do observador, são sempre mais grossas e escuras. Já as do segundo plano, mais afastadas do observador, são mais finas e claras. Pratique conforme a Figura 2. Com lapiseira 0,9 mm, utilize uma mina de grafite mais macia (a 2B, por exemplo) para traçar a linha de cima. Troque o grafite para o HB e H para notar a diferença. Para as demais linhas, vá utilizando lapiseiras 0,7 mm, 0,5 mm e 0,3 mm, alternando entre grafites mais e menos macios. Instrumentos de representação gráfica8 No caso da utilização de caneta nanquim, você pode utilizar a 0,9 mm com tinta de cor preta para desenhar a linha de cima. Vá alternando a espessura das canetas nanquim utilizadas até a 0,05 para a última linha. Caso deseje o traço mais fino ainda mais claro, utilize a caneta com tinta cinza. Figura 2. Gradação no traçado, linhas mais grossas e mais escuras no topo até linhas mais finas e mais claras. Fonte: Ching (2017, p. 20). Pratique também o encontro de duas linhas perpendiculares com lapiseira e caneta nanquim de diferentes espessuras e durezas de grafite. Essas linhas devem sempre se tocar no seu encontro, porém sem se passarem demais, mantendo uma relação lógica do início ao fim do desenho. Lembre-se: as linhas horizontais são traçadas com régua T ou régua paralela, e as verticais, com esquadros. 9Instrumentos de representação gráfica Figuras geométricas e ângulos Agora que você já sabe como fazer linhas de diferentes espessuras e tonalidades, veja, a seguir, uma aplicação dessa diferenciação. Na Figura 3, as linhas mais claras são chamadas de linhas guias. Elas são essenciais para a construção de desenhos mais complexos, como o pentágono. Pratique conforme a Figura 3, utilizando os instrumentos já conhecidos. Com o esca- límetro, defina uma medida para as laterais do quadrado e trace a linha com o apoio do esquadro e da régua. Utilize o esquadro de 30°–60° para desenhar o triângulo equilátero, com ângulos internos de 60°. Utilize o compasso para delimitar as arestas do pentágono. Não é necessária fórmula matemática para desenhá-lo. Observe que, para o desenho da figura geométrica, é utilizada uma espessura mais grossa e escura a fim de realçá-la bem. As linhas guias ficam quase imperceptíveis. Figura 3. Ilustração de três figuras geométricas comuns: um triângulo equilátero, um quadrado e um pentágono. Fonte: Ching (2017, p. 26). Instrumentos de representação gráfica10 Linhas curvas Agora, você vai praticar linhas em forma de arco ou circunferência e retas em um mesmo desenho. Utilize o mesmo peso na caneta ou lapiseira para as linhas curvas e as demais linhas que compõem o desenho, pois aqui as curvas não são somente guias. Para traçar uma tangente contínua a uma curva, conforme a Figura 4, desenhe primeiro a curva desejada com o compasso, marque onde a tangente deve encontrá-la e depois desenhe a linha reta. Isso é importante para evitar um desenho desencontrado (CHING, 2017). Para desenhar um arco entre tangentes, utilize linhas paralelas como guias para determinar o centro do arco, sendo que a distância entre as linhas é o raio desejado. Já para desenhar dois círculos que sejam tangentes entre si, trace uma linha que vai do centrode um círculo até o outro, ambos no mesmo eixo (CHING, 2017). Figura 4. Desenho de linha tangente ao arco, arco entre tangentes e círculos tangentes entre si. Fonte: Ching (2017, p. 28). 11Instrumentos de representação gráfica Desenho em perspectiva e croqui Até agora, você utilizou os conhecimentos que adquiriu em representação gráfica para desenhos em duas dimensões. Na Figura 5, você pode observar a evolução do desenho em projeção ortogonal — vista bidimensional — à projeção perspectiva, passando pela projeção oblíqua. Figura 5. Projeção ortogonal, projeção oblíqua e projeção perspectiva. Fonte: Ching (2017, p. 30). Instrumentos de representação gráfica12 Para praticar o desenho técnico de perspectiva isométrica de um prisma, com a utilização de prancheta, esquadro e caneta, assista ao vídeo disponível no link a seguir. https://goo.gl/AHGJpS Para finalizar este capítulo, mas não menos importante, que tal fazer uma composição tridimensional à mão livre, utilizando lápis ou lapiseira? Observe, na Figura 6, a evolução de um croqui em etapas: primeiro, es- tabeleça uma estrutura para a composição com linhas principais; depois, aplique textura com tonalidade e sombreamento; por último, adicione os detalhes significativos. 13Instrumentos de representação gráfica Figura 6. Evolução do desenho em croqui. Fonte: Ching (2001, p. 97). Instrumentos de representação gráfica14 1. Inúmeros são os instrumentos à venda no mercado para o traçado de linhas. O profissional deve saber identificar qual é o mais adequado para cada situação. Qual é a caneta ideal para a representação gráfica em um desenho técnico à mão e bidimensional? a) Esferográfica. b) Nanquim. c) Roller-ball. d) Hidrográfica. e) Tinteiro. 2. A representação gráfica se baseia no poder de uma composição de linhas para transmitir uma ideia, sendo a linha o item mais básico de um desenho. Quais instrumentos de apoio servem para traçar linhas paralelas e perpendiculares entre si? a) Esquadro e lapiseira. b) Régua T e escalímetro. c) Caneta e régua paralela. d) Transferidor e esquadro. e) Régua paralela e esquadro. 3. Por vezes, é necessário compor linhas em forma de arco ou circunferência e retas em um mesmo desenho. No caso do desenho de um arco entre tangentes, que recurso pode ser utilizado para determinar o centro do arco? a) Linhas perpendiculares às tangentes. b) Transferidor, para descobrir o ângulo mais aproximado do raio interno. c) Linhas paralelas às tangentes; o encontro delas será o centro do arco. d) Qualquer raio pode ser utilizado. e) Régua T e esquadro para definir o ponto. 4. As diferentes espessuras de linhas e intensidades de traço servem para diferenciar os objetos de acordo com a distância do observador e os materiais que representam. Quais são a espessura de mina de grafite e a dureza mais adequadas para traços grossos e marcados? a) 0,9 mm e 2B. b) 0,9 mm e HB. c) 0,9 mm e B. d) 0,7 mm e 2B. e) 0,7 mm e HB. 5. Na representação gráfica, há instrumentos que servem de apoio ao traçado de linhas retas, de linhas curvas e de circunferências. Por vezes, as linhas possuem inclinação, não são paralelas ou perpendiculares entre si. Quais dos instrumentos a seguir podem ser utilizados para precisar um ângulo? a) Esquadros e transferidor. b) Transferidor e gabaritos. c) Escalímetro e esquadros. d) Gabaritos e régua T. e) Transferidor e escalímetro. 15Instrumentos de representação gráfica CHING, F. D. K. Representação Gráfica em Arquitetura. 6. ed. Porto Alegre: Bookmann, 2017. CHING, F. D. K.; JUROSZEK, S. P. Representação gráfica para desenho e projeto. Barcelona: Gustavo Gili, 2001. DOYLE, M. E. Desenho a cores: técnicas de desenho de projeto para arquitetos, paisagistas e designers de interiores. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2007. Leitura recomendada NEUFERT, P.; NEFF, L. Casa, apartamento, jardim. 2. ed. Barcelona: Gustavo Gili, 2008. Instrumentos de representação gráfica16 Conteúdo: EXPRESSÃO PLÁSTICA Vanessa Guerini Scopell Expressões plásticas bi e tridimensional Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar materiais, técnicas e suportes relacionados com os aspectos inerentes à expressão plástica na sua vertente bidimensional. � Relembrar materiais, técnicas e suportes relacionados com os aspectos inerentes à expressão plástica na sua vertente tridimensional. � Aplicar a bidimensionalidade e a tridimensionalidade ao design de interiores. Introdução Na arquitetura, as formas e os volumes das edificações, antes de saírem do papel, são compostos por pontos, linhas e planos. Esses elementos de estruturação espacial e expressão plástica são a base para a concepção dos projetos, juntamente à ação de desenhar, que permite ao arquiteto demonstrar as suas ideias. Tanto os desenhos de duas dimensões como os de três dimensões têm suas funções no design de interiores, podendo ser usados para representar diferentes situações e ideias. Neste capítulo, você vai estudar os conceitos de bidimensionalidade e tridimensionalidade. Vai verificar as diferenças entre eles e ver exemplos de aplicações dessas tipologias gráficas nos projetos de interiores. Desenhos bidimensionais Os projetos de design de interiores estão sempre vinculados a propostas que são demonstradas e representadas graficamente por meio de desenhos. Para o arquiteto Lúcio Costa, o processo projetual e criativo é de extrema importância para a expressão da arte plástica. Essa representação de ideias e intenções é de Expressões plásticas bi e tridimensional2 grande valia para a solução de problemas específicos, que serão resolvidos a partir de soluções plásticas condizentes com a realidade de cada caso, com o objetivo de cada ambiente e com a intenção de uso de cada material. Nesse sentido, você pode considerar que a intenção plástica de cada projeto ou obra de interiores é que de fato diferencia uma boa arquitetura de uma construção qualquer. A plástica refere-se tanto à compreensão das formas arquitetônicas, que surgem por meio de pontos, linhas e planos, como às expressões de intenções demonstradas pelos meios de representação que ressaltam traços, cores, texturas e materiais. Isso se dá por meio das demons- trações bidimensionais, que podem ser transformadas em representações de três dimensões. Sempre que você elabora um projeto, traça ou esboça alguma ideia, o conteúdo visual dessa comunicação é composto por uma série de elementos. Tanto o ponto como a linha e o plano são aspectos conceituais que você consegue visualizar em sua mente e, a partir disso, iniciar um desenho. Para Ching (2013), é possível perceber um ponto no encontro de duas retas, em uma reta marcando o contorno de um plano, em um plano delimitando um volume ou em um volume de um objeto que ocupa espaço. “Cada elemento é primeiramente considerado como conceitual e, a seguir, como um elemento visual no vocabulário do projeto de arquitetura. Como elementos conceituais, o ponto, a reta, o plano e o volume não são visíveis, exceto em nossas mentes. Embora eles não existam de fato, sua presença é sentida por nós” (CHING, 2013, p. 16). Esses elementos constituem a substância básica daquilo que se vê. São muitos os pontos de vista a partir dos quais se pode analisar qualquer manifestação visual, mas um dos mais reveladores é decompor a mani- festação nos elementos que a constituem, de forma a compreender melhor o todo. Assim: Quando são visíveis aos olhos no papel ou no espaço tridimensional, esses elementos se tornam forma com características de matéria, formato, tama- nho, cor e textura. À medida que experimentamos essas formas em nosso ambiente, devemos ser capazes de perceber em sua estrutura a existência dos elementos primários do ponto, da reta, do plano e do volume (CHING, 2013, p. 16). Conforme Ching (2013), o ponto pode ser considerado a menor parte de uma composição visual, tornando-seo centro de atração da composição. Esse 3Expressões plásticas bi e tridimensional elemento não apresenta comprimento, profundidade ou largura. Ele marca uma posição no espaço, mas é estático e sem direção. Assim, um ponto pode servir para marcar duas extremidades de uma reta, a intersecção de duas retas, o encontro de retas na quina de um plano ou volume ou o centro de um campo. Mesmo que o ponto não tenha uma forma, ele começa a ser percebido quando está situado dentro de um campo visual. Quando está posicionado em um espaço, ele passa a organizar seus elementos circundantes e a ser uma referência. Observe a Figura 1, a seguir. Figura 1. O ponto percebido no espaço. Fonte: Ching (2013, p. 4). Já para formar uma linha, é preciso que existam dois pontos no espaço e que eles estejam unidos: Dois pontos estabelecidos no espaço por colunas ou formas centralizadas podem definir um eixo, um recurso ordenador utilizado ao longo da história para organizar as formas e os espaços edificados. […] Considerando que a ligação de dois pontos no espaço ou que um ponto estendido se torna uma linha, constata-se que a linha tem comprimento, mas assim como o ponto, ela não tem largura ou profundidade. Já enquanto um ponto é estático, a linha é capaz de expressar visualmente direção, movimento e crescimento. Uma reta é um elemento essencial na formação de qualquer construção visual. Ela pode servir para: unir, conectar, sus- tentar, circundar ou interseccionar outros elementos visuais, descrever as arestas dos planos e dar formato a elas e destacar as superfícies dos planos (CHING, 2013, p. 7). Na Figura 2, a seguir, você pode ver um exemplo de formação de uma linha. Expressões plásticas bi e tridimensional4 Figura 2. Formação de uma linha. Fonte: Ching (2013, p. 6). Como uma linha apresenta apenas uma dimensão, sua representação deve conter alguma espessura a fim de torná-la visível. A linha é reconhecida pelo fato de seu comprimento dominar sua largura. Assim, para formar um plano bidimensional (Figura 3), é preciso que haja duas linhas paralelas. Conforme destaca Ching (2013), quanto mais próximas essas linhas estiverem entre si, mais forte será a sensação de plano criada por elas. Portanto, o plano é um exemplo de desenho bidimensional, ou seja, que apresenta duas dimensões, pois é composto por uma altura e um comprimento, porém ainda não tem profundidade. Figura 3. Formação de um plano. Fonte: Ching (2013, p. 18). Para Ching (2013), em uma composição de uma construção visual, o plano serve para definir os limites ou fronteiras de um volume. Como a arquitetura é uma arte visual que se ocupa especificamente da formação de elementos 5Expressões plásticas bi e tridimensional tridimensionais — volumes de massa ou espaço —, o plano, formado por linhas, pode ser considerado um elemento-chave nas fases iniciais do projeto de arquitetura. Assim, o desenho bidimensional se estabelece por meio de uma superfície plana sem profundidade. Esse desenho é entendido como uma representação em que há linhas em duas dimensões (comprimento e largura), que fazem os contornos e delimitam o desenho. Veja: A superfície e as marcas tomadas em conjunto revelam um mundo bi- dimensional que difere completamente do mundo de nossa experiência cotidiana. O mundo bidimensional é essencialmente uma criação humana. O desenho, a pintura, a impressão, o tingimento ou mesmo a escrita são atividades que levam diretamente à formação do mundo bidimensional (WONG, 1998, p. 237). Segundo Wong (1998), na maioria das vezes as coisas tridimensionais são vistas como bidimensionais. Um exemplo é uma paisagem apreciada apenas por sua beleza em um quadro pintado. Hoje, com o progresso da tecnologia, uma câmera prontamente transforma tudo o que está na frente de suas lentes em uma imagem plana, e a televisão transmite instantaneamente imagens em movimento para uma superfície determinada. Assim, as imagens planas são essenciais para a compreensão do mundo, dos espaços e das propostas de arquitetura. Sua representação é necessária e, quando percebida pela visão humana, pode ser interpretada sob diversos pontos de vista. Desenhos tridimensionais Para iniciar uma representação gráfica, os elementos básicos — ponto, reta e plano — são fundamentais. É a partir deles que um desenho bidimensional surge e, se ele for desenvolvido, pode se tornar uma figura tridimensional (Figura 4). Para Ching (2013, p. 56): Na transição dos formatos dos planos para as formas dos volumes se encontra o domínio das superfícies. A superfície se refere, em primeiro lugar, a qualquer figura que tiver apenas duas dimensões, como um plano. No entanto, o termo também pode fazer alusão a um lugar geométrico curvo e bidimensional de pontos que definem o limite de uma figura tridimensional. Expressões plásticas bi e tridimensional6 Figura 4. Figura plana tridimensional. Fonte: Ching (2013, p. 42). Ching e Juroszek (2012) destaca que as pessoas vivem em um mundo tridimensional de objetos no espaço. Esses objetos sólidos ocupam espaço, dão forma e definem seus limites. O espaço, por sua vez, envolve e dá vida à visão dos objetos. Segundo o autor, “[...] um dos maiores desafios ao desenhar é a representação de objetos tridimensionais no espaço por meio de linhas, formatos e valores tonais, em uma superfície plana e bidimensional” (CHING; JUROSZEK, 2012, p. 81). Para a representação tridimensional, é necessário que o objeto seja demonstrado em três dimensões. Assim, o volume é o elemento que representa esse tipo de expressão: O volume se relaciona à extensão tridimensional do objeto ou da região do espaço. Conceitualmente, um volume é delimitado por planos e tem três di- mensões: largura, altura e profundidade. Ao desenhar, nos esforçamos para expressar a ilusão tridimensional de volumes sólidos e do espaço em uma superfície bidimensional. Todos os objetos preenchem um volume no espaço. Mesmo os objetos lineares e delgados ocupam espaço. Podemos segurar um pequeno objeto e girá-lo em nossas mãos. Cada volta do objeto revela um for- mato diferente, uma vez que muda a relação entre o objeto e nossos olhos. Ao ver o objeto de diferentes ângulos e distâncias, nossa visão reúne os formatos na forma tridimensional (CHING; JUROSZEK, 2012, p. 67). Para Ching e Juroszek (2012), um desenho que apresenta uma vista de determinado ângulo e determinada distância apenas consegue ilustrar um 7Expressões plásticas bi e tridimensional único momento da percepção. Se for uma vista frontal, que apenas mostra a largura e a altura, a imagem ficará achatada. Mas, se o volume for rotacionado, a terceira dimensão (a profundidade) será revelada e a forma ficará mais clara. Segundo o autor, prestar atenção em formatos planos ajuda a ver como eles se combinam para expressar a tridimensionalidade do volume. Por meio do desenho à mão e com base em uma superfície bidimensional, é possível criar profundidade nos desenhos com a aplicação de sombras. As diferentes tonalidades do sombreamento transformam o desenho de duas para três dimensões e o posicionam no espaço, demonstrando a característica de cada superfície. Para criar esse efeito tridimensional, é necessário utilizar transições graduais de tons claros e escuros. Considere o seguinte: Os objetos não apenas ocupam um volume no espaço; eles também se or- ganizam no espaço, uns em relação aos outros e ao entorno. Assim como as figuras e seus fundos compreendem uma unidade de opostos em uma superfície bidimensional, as massas sólidas e os volumes espaciais jun- tos constituem a realidade tridimensional do nosso ambiente (CHING; JUROSZEK, 2012, p. 82). Na Figura 5, a seguir, você pode ver um exemplo de figura plana tridimensional. Figura 5. Figura plana tridimensional. Fonte: Ching (2013, p. 44). Expressões plásticas bi e tridimensional8 Conforme Ching e Juroszek (2012), a relação entre as massas e volumes espaciais nos projetos de arquitetura pode serverificada em diversas escalas. Veja a seguir. � Na escala de um objeto, a relação entre cheios e vazios existe entre a forma de uma massa sólida e o volume do espaço ocupado pelo objeto ou nele contido. � Na escala de um cômodo, a relação entre cheios e vazios ocorre entre a forma do espaço delimitado por paredes, teto e piso e as formas dos objetos nele contidos. � Na escala de uma edificação, a relação entre cheios e vazios é percebida nas configurações de paredes, tetos e pisos, bem como nos tipos de espaço que esses elementos definem. � Na escala urbana, a relação entre cheios e vazios surge entre a forma da edificação e o contexto espacial no qual ela se insere. O entorno pode dar continuidade ao tecido urbano existente de um lugar, formar um pano de fundo para outros prédios, definir um espaço urbano ou permanecer isolado no espaço, como um objeto. Outra maneira de utilizar desenhos em três dimensões é aplicar as técnicas de perspectiva para representar os volumes. A perspectiva pode ser compreen- dida como uma maneira de representar figuras tridimensionais que provoca a ilusão da espessura, da dimensão, do aspecto e da profundidade. Esse tipo de desenho, segundo Ching (2013), estimula diversos pontos de vista: Sistemas de desenhos de vistas múltiplas, vistas de linhas paralelas ou pers- pectivas cônicas englobam uma linguagem visual de comunicação de projeto. Devemos ter a capacidade de não apenas “escrever” nessa linguagem, mas também de a “ler”. Esse entendimento deve ser completo o bastante para que sejamos capazes de trabalhar confortavelmente e com distintos sistemas de desenho. Devemos ser capazes de transformar a bidimensionalidade de um desenho de vistas planas em uma vista tridimensional de linhas paralelas. Ao visualizar um conjunto de desenhos de vistas múltiplas, devemos ser capazes de imaginar e desenhar o que veríamos se estivéssemos parados em determinada posição dentro de uma planta (CHING, 2013, p. 211). Na Figura 6, a seguir, você pode ver desenhos de materiais em três dimensões. 9Expressões plásticas bi e tridimensional Figura 6. Desenhos de materiais em três dimensões. Fonte: Ching e Juroszek (2012, p. 170). Existem diversos tipos de perspectiva. Elas podem ser usadas conforme a facilidade do designer de se adequar a cada técnica. Todas elas são importan- tes recursos de visualização tridimensional que podem ser expressos à mão. Para Wong (1998), assim como o desenho bidimensional, o tridimensional também busca estabelecer harmonia e ordem visual, ou gerar interesse visual intencional. O autor ressalta que representar tridimensionalmente um objeto é mais complicado porque vistas de ângulos deferentes devem ser consideradas simultaneamente. Além disso, muitas das relações espaciais são complexas, não podendo ser facilmente visualizadas no papel. Por outro lado, o desenho tridimensional é menos complicado do que o bidimensional porque lida com formas e matérias tangíveis no espaço real. Desse modo, todos os problemas presentes na representação ilusória de formas tridimensionais no papel (ou qualquer tipo de superfície plana) podem ser evitados. Expressões plásticas bi e tridimensional10 O espaço pictórico é uma ilusão de espaço ou profundidade representada em uma superfície bidimensional por vários meios gráficos. Esse espaço pode ser plano, pro- fundo ou ambíguo, mas, em todos os casos, não passa de uma ilusão. No entanto, certas combinações de linhas, formatos, valores tonais e texturas utilizadas em uma superfície de desenho podem provocar, no sistema visual humano, a percepção de um espaço tridimensional. Se você compreender o modo como infere formas e espaços tridimensionais daquilo que vê, pode utilizar essas informações para fazer a imagem desenhada do objeto parecer plana ou volumétrica. Você pode projetar a imagem para frente, na direção do observador, ou fazê-la retroceder muito na profundidade do desenho. Em uma superfície bidimensional, é possível determinar relações tridimensionais entre objetos (CHING; JUROSZEK, 2012). Bidimensionalidade e tridimensionalidade no design de interiores Nos projetos de arquitetura em geral, e especificamente nas propostas de design de interiores, a forma de representação é um recurso fundamental para a expressão das ideias e o entendimento de cada alternativa. Tanto os desenhos bidimensionais (plantas baixas) como os tridimensionais (perspectivas) são importantes aliados na expressão plástica dos projetos. Veja: Toda forma pictórica começa com o ponto que se põe em movimento […] O ponto se move [...] e nasce a reta — a primeira dimensão. Quando a reta se desloca para formar um plano, obtemos um elemento bidimensional. No movimento do plano para os espaços, o encontro de planos dá surgimento ao corpo (tridimensional). Uma síntese de energias cinéticas que movem o ponto convertendo-o em reta, a reta que se converte em plano e o plano que se converte em uma dimensão espacial (CHING, 2013, p. 65). Assim, todas as formas de representação têm por objetivo a distribuição das partes da proposta em relação ao todo. Para Ching e Eckler (2014), é possível utilizar qualquer sistema de desenho para analisar o contexto e gerar as ideias. Para diagramas em que é necessária a análise de um ponto específico ou não tão abrangente, o desenho bidimensional é um recurso suficiente. Porém, quando a representação e a demonstração exigirem mais detalhes, é importante haver um sistema de expressão tridimensional. Considere o seguinte: 11Expressões plásticas bi e tridimensional Na arquitetura de interiores, os desenhos bidimensionais mais utilizados são a planta baixa e elevações, juntamente com os detalhamentos de mo- biliários, paginação de piso, planta de forro e iluminação. Plantas e ele- vações são representadas pela “principal face de cada vista de um volume retangular [que] é paralela ao plano do desenho” (CHING; JUROSZEK, 2012, p. 121). Cada um deles é a projeção ortogonal de um aspecto particular de objetos ou construções. Essas vistas ortogonais são abstratas, uma vez que não cor- respondem à realidade óptica. Elas são um modo conceitual de representação, baseado mais no que se sabe a respeito de alguma coisa e menos no que é visto a partir de determinado ponto no espaço. Não há referência ao observador, mas, se houver, os olhos do espectador estarão a uma distância infinitamente grande (CHING; JUROSZEK, 2012). A planta baixa representa um corte horizontal do edifício, ou seja, mostra como ele seria visualizado se fosse cortado por um plano que o interceptasse. As plantas baixas demonstram o interior de uma edificação, revelando uma vista que, de outro modo, não seria visualizada. Elas demonstram relações horizontais e padrões que não são detectados facilmente quando se está no interior de uma edificação. Assim, “Em um plano horizontal de desenho, as plantas baixas são capazes de evidenciar a configuração de paredes e pilares, o formato e as dimensões do espaço, o padrão das aberturas (portas e janelas) e as conexões entre os cômodos internos e entre estes espaços e os externos” (CHING; JUROSZEK, 2012, p. 147). Observe a Figura 7, a seguir. Já as elevações ou vistas internas (Figura 8) são projeções ortogonais de um objeto ou de uma construção em um plano de desenho vertical, paralelo a uma de suas faces. Segundo Ching e Juroszek (2012), as elevações diminuem a complexidade tridimensional de um objeto a uma representação bidimen- sional, constituída de altura e largura ou comprimento. Ao contrário de uma planta, uma elevação imita a observação humana em posição ereta e oferece um ponto de observação horizontal. Considere o seguinte: Ainda que as vistas em elevação das superfícies verticais de uma edificação estejam mais próximas da realidade sensorial do que as plantas ou os cortes, elas não conseguem representar a profundidade espacial de um desenho em perspectiva. Portanto, ao desenhar objetos e superfícies em elevação,devemos utilizar alguns recursos gráficos para representar profundidade, curvatura ou obliquidade (CHING; JUROSZEK, 2012, p. 162). Expressões plásticas bi e tridimensional12 Figura 7. Representação de planta baixa bidimensional. Fonte: Ching e Juroszek (2012, p. 147). 13Expressões plásticas bi e tridimensional Figura 8. Representação de elevação. Fonte: Ching e Juroszek (2012, p. 162). Os croquis (Figura 9) são outra tipologia plástica que pode ser utilizada tanto na representação em duas dimensões como na tridimensional. O desenho à mão livre “[...] é a linguagem, a forma de expressão que permite a fluidez entre o pensar e o gesto manual que executa tal pensamento. Ajuda na obser- vação da arquitetura e na assimilação do conhecimento, bem como na sua forma construtiva e seus detalhes” (PAIXÃO, 2014, documento on-line). Na arquitetura de interiores, o desenho à mão livre pode ser expresso a partir de croquis. Segundo Pinhal (2009), um croqui pode ser definido como o Expressões plásticas bi e tridimensional14 Primeiro esboço de um projeto arquitetônico. Um croquis (palavra francesa eventualmente aportuguesada como croqui ou traduzida como esboço ou rascunho) costuma se caracterizar como um desenho de arquitetura, moda ou um esboço qualquer. Um croqui, portanto, não exige grande precisão, refinamento gráfico ou mesmo cuidados com sua preservação, diferente de desenhos finalizados. Costuma ser realizado em intervalos de tempo relati- vamente curtos, como períodos de 10 a 15 minutos. O que costuma ser mais importante no croqui é o registro gráfico de uma ideia instantânea, através de uma técnica de desenho rápida e descompromissada (PINHAL, 2009, documento on-line). Figura 9. Croquis. Fonte: Ching (2017, p. 245). 15Expressões plásticas bi e tridimensional Já nos desenhos tridimensionais, as perspectivas são a forma mais re- presentativa para o design de interiores. A perspectiva surgiu no período do Renascimento e, segundo Malheiros (2011), é uma técnica aplicada em desenhos e pinturas para conferir a eles profundidade e proximidade com o real. Atualmente, existem programas que conseguem gerar volumetrias em três dimensões e, consequentemente, perspectivas. Assim, esse tipo de desenho pode ser feito também por meio do computador, não somente à mão. Você ainda deve notar que as tipologias de expressões plásticas, tanto em duas quanto em três dimensões, não se limitam à fase final de comunicação dos projetos de arquitetura de interiores. Elas têm importante função desde o início das propostas. Independentemente de a ideia ser expressa artística ou tecnicamente, todos os tipos de desenhos servem para comunicá-la e contribuem para facilitar o seu entendimento. A projeção ortográfica é um meio de representar um objeto tridimensional em duas dimensões. Na arquitetura, a projeção ortográfica geralmente assume uma destas três formas: planta baixa, corte ou elevação. Uma planta baixa é o corte horizontal imaginado de um cômodo ou uma edificação a 1,2 m acima do solo ou do nível de piso acabado. Um corte consiste na seção vertical de uma edificação ou espaço. Uma elevação representa a vedação externa da edificação, isto é, sua face ou fachada. As imagens tridimensionais transmitem ideias que não podem ser representadas por desenhos bidimensionais — plantas baixas, cortes e elevações. A representação das três dimensões confere profundidade a uma imagem, tornando-a mais realista. Enquanto algumas representações tridimensionais não passam de croquis, outras adotam abordagens mais precisas. As perspectivas axonométricas e isométricas, por exemplo, são construídas geometricamente (FARRELLY, 2014). 1. Todo desenho bi ou tridimensional se inicia a partir de elementos básicos, que, conforme são desenvolvidos, dão vida às ideias de cada designer. Sobre esses elementos, assinale a alternativa correta. a) O ponto serve como uma referência, marcando uma posição no espaço, podendo ser percebido por meio de sua largura e seu comprimento idênticos. Expressões plásticas bi e tridimensional16 b) Pode-se perceber a composição com plano, reta e ponto à medida que se experimenta as formas dos ambientes e das edificações. c) Uma linha pode ser entendida como a conexão de dois pontos no espaço; sua largura e seu comprimento são uma marcação no espaço. d) Um plano não apresenta profundidade, apenas altura e comprimento, sendo formado por suas perpendiculares. e) A linha, assim como o ponto, não é estática e tem o poder de expressar visualmente o movimento e a direção. 2. Para iniciar uma representação gráfica, os elementos básicos — ponto, reta e plano — são fundamentais, pois é a partir deles que um desenho bidimensional é concebido. Sobre as representações bidimensionais, assinale a alternativa correta. a) Um desenho bidimensional é sinônimo de volume. b) Um desenho bidimensional se estabelece por meio de uma superfície com profundidade. c) Um desenho bidimensional é compreendido como uma expressão com comprimento e altura. d) Um desenho bidimensional tem como principal exemplo o ponto e uma linha. e) Um desenho bidimensional representa fielmente a experiência cotidiana. 3. Um desenho tridimensional se inicia a partir dos elementos básicos que formam, em um primeiro momento, os desenhos bidimensionais. Sobre as expressões plásticas tridimensionais, assinale a alternativa correta. a) Um quadrado e um círculo são exemplos de expressão tridimensional. b) Para representá-las, é necessário saber a profundidade e a altura. c) É possível representá-las por meio da aplicação de valores tonais. d) Podem ser representadas pela variação abrupta de tons escuros. e) São projeções ortográficas geradas por cortes horizontais ou verticais. 4. A técnica da perspectiva contribui para a expressão das ideias, sendo uma forma tridimensional de representação no design de interiores. Sobre esse tipo de desenho, assinale a alternativa correta. a) A perspectiva estimula e instiga diversos pontos de vista. b) A perspectiva ignora as dimensões de profundidade nos desenhos. c) A perspectiva é uma técnica única que não apresenta variações. d) A perspectiva é considerada a técnica mais simples para se usar. e) A perspectiva estabelece relações espaciais básicas e fáceis. 5. O desenho, como linguagem fundamental na arquitetura, é uma forma de expressão de ideias e intenções. Assim, existem vários tipos de desenhos de duas ou três dimensões que são adequados a cada situação 17Expressões plásticas bi e tridimensional e a cada intenção. Sobre as representações bi e tridimensionais, assinale a alternativa correta. a) Os croquis requerem um nível alto de detalhamento com indicação de dimensões. b) Um croqui pode ser definido como a planta baixa final do projeto, precisa e refinada tecnicamente. c) As representações tridimensionais devem ser utilizadas em todos os casos e para todos os contextos e necessidades. d) As representações bidimensionais são indicadas para representar pontos específicos e não tão abrangentes. e) Tanto o croqui como as plantas baixas e elevações são elaborados exclusivamente pelo computador. CHING, F. D. K. Representação gráfica em arquitetura. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2017. CHING, F. D. K. Arquitetura: forma, espaço e ordem. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013. CHING, F. D. K.; ECKLER, J. F. Introdução à arquitetura. Porto Alegre: Bookman, 2014. CHING, F. D. K.; JUROSZEK, S. P. Desenho para arquitetos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. FARRELLY, L. Fundamentos de arquitetura. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2014. MALHEIROS, T. Você sabe o que é perspectiva? Conexão arte e educação, 17 abr. 2011. Disponível em: <http://conexaoarteeducacao.blogspot.com/2011/04/voce-sabe-o- -que-e-perspectiva.html>. Acesso em: 04 dez. 2018. PAIXÃO, L. A importância do desenho à mão livre. Luciana Paixão, 11 jun. 2014. Dispo- nível em: <https://www.aarquiteta.com.br/blog/carreira-de-arquitetura/importancia--desenho-a-mao-livre/>. Acesso em: 04 dez. 2018. PINHAL, P. O que é um croqui? Colégio de Arquitetos, 13 fev. 2009. Disponível em: <http:// www.colegiodearquitetos.com.br/dicionario/2009/02/o-que-e-croqui/>. Acesso em: 04 dez. 2018. WONG, W. Princípios de forma e desenho. São Paulo: Martins Fontes, 1998. Conteúdo: DESENHO ARTÍSTICO Juliana Wagner Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB-10/2147 W133d Wagner, Juliana. Desenho artístico / Juliana Wagner, Carla Andrea Lopes Allegretti, Diana Scabelo da Costa Pereira da Silva Lemos; [revisão técnica: Sabrina Assmann Lücke]. – Porto Alegre: SAGAH, 2017. 168 p. il. ; 22,5 cm ISBN 978-85-9502-241-6 1. Arquitetura – Desenhos. I. Alegretti, Carla Andrea Lopes. II. Lemos, Diana Scabelo da Costa Pereira da Silva. III.Título. CDU 744.43 Revisão técnica: Sabrina Assmann Lücke Arquiteta e Urbanista Mestra em Ambiente e Desenvolvimento com ênfase em Planejamento Urbano DA_Impressa.indd 2 01/12/2017 10:39:43 Desenho de objetos tridimensionais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Diferenciar os materiais básicos, instrumentos e superfícies de desenho. � Escolher a posição mais adequada para desenhar e empunhar o lápis. � Identificar as habilidades para elaboração de desenhos e os elementos de sua composição. Introdução Desenhar é a capacidade de observar e compreender as relações entre os elementos da composição. Contudo, antes de começar a desenhar, é preciso escolher o material adequado de desenho. Neste capítulo você irá conhecer os materiais básicos para desenhar, além de aprender sobre como a posição do desenhista e a pega do lápis podem interferir no resultado da composição. Ainda, verá a técnica mais utilizada no desenho artístico, o desenho de observação, bem como as cinco habilidades básicas para desenhar. Materiais e superfícies de desenho A escolha do material adequado certamente contribui para a confecção de um bom desenho. Os materiais para desenho podem ser classificados em três categorias: profissional, universitário e escolar. Os materiais escolares são especialmente produzidos para serem atóxicos, e a diferença de manejo entre os materiais profissionais e universitários é pequena, embora as linhas profissionais sejam mais extensas e duráveis. DA_U4_C10.indd 155 01/12/2017 17:08:02 Materiais Grafite O grafite não era muito usado como instrumento de desenho até 1795, quando passou a ser fabricado na forma de lápis com corpo de madeira pelo francês Nicholas Conté. Além da forma de lápis, apresentada na Figura 1, o grafite também está disponível na forma de bastões retangulares maciços e sem re- vestimento, conforme você pode observar na Figura 2, lápis cilíndricos “sem madeira” e em pó, podendo ser aplicada diretamente à superfície do desenho. Os grafites são classificados pela sua dureza, do mais macio, que resulta na cor preta e é classificado como B, ao mais duro, que resulta em um acinzentado e é classificado como H. Escala do grafite mais duro ao mais macio é: 9H > 8H > 7H > 6H > 5H > 4H > 3H > 2H > H > HB > B > 2B > 3B > 4B > 5B > 6B > 7B > 8B > 9B Para rafes, desenhos e projetos a mão livre, recomenda-se o uso de lápis macio do tipo B. Figura 1. Lápis. Fonte: Xiuxia Huang/Shutterstock.com. Desenho de objetos tridimensionais156 DA_U4_C10.indd 156 01/12/2017 17:08:03 Figura 2. Grafite em barra. Fonte: Shoptime (c2017). Carvão vegetal O carvão é considerado o mais antigo instrumento de desenho e é, atualmente, comercializado em duas formas: carvão vegetal e carvão comprimido. O carvão vegetal em barra, veja exemplo na Figura 3, é feito com o car- bono seco que sobra após a queima da madeira. A barra de carvão vegetal de melhor qualidade é o carvão de videira, um material seco e farelento que borra facilmente e necessita de fixador para aderir ao papel. Já o carvão comprimido, em forma de lápis, também apresentado na Figura 3, é um instrumento de desenho mais versátil, feito de carvão vegetal em pó misturado com aglutinante. O aglutinante ajuda na aderência do pigmento à superfície do papel e enriquece a cor preta. Figura 3. Carvão vegetal e carvão comprimido. Fonte: Burhan Bunardi/Shutterstock.com. 157Desenho de objetos tridimensionais DA_U4_C10.indd 157 01/12/2017 17:08:04 Superfícies O sistema moderno de formatos de papel International Organization for Stan- dardization (ISO) se baseia em uma observação feita pelo professor de física alemão Georg Christoph Lichtenberg que, em 1786, percebeu as vantagens de os tamanhos de papel terem uma razão entre altura e largura, ou seja, um papel com a razão de Lichtenberg mantém sua proporção quando é cortado pela metade. No sistema ISO os formatos vão de A4 até A0. Tamanho O tamanho padrão dos papéis varia de A0 a A8, veja os diferentes tamanhos de papéis conforme sua classificação: A0 – 84,0 × 118,8 cm A1 – 59,4 × 84,0 cm A2 – 42,0 × 59,4 cm A3 – 29,7 × 42,0 cm A4 – 21,0 × 29,7 cm A Figura 4 apresenta um modelo para que você tenha ideia de proporção entre os diferentes tamanhos de papel. Figura 4. Tamanhos de papel. Desenho de objetos tridimensionais158 DA_U4_C10.indd 158 01/12/2017 17:08:05 Além da série de tamanhos A, existem tamanhos intermediários, da série B e C, que são utilizados para envelopes. O Canadá e os Estados Unidos são os únicos países industrializados que não utilizam o sistema ISO. Você pode saber mais sobre as séries, formatos e usos dos variados tamanhos de papel no livro Fundamentos de Design Criativo (AMBROSE; HARRIS, 2012). Fibra Os papéis mais comuns são fabricados com fibras de madeira, já os mais nobres com fibras de algodão puro. Papéis de fibras de algodão são duráveis e permanentes, ou seja, mantém suas propriedades originais após muitos anos. Os papéis de fibras de madeira, por sua vez, precisam ser tratados quimica- mente para obter um PH neutro e evitar o amarelamento e a deterioração. Gramatura Refere-se à espessura do papel e é expressa em gramas, portanto, quanto maior for a gramatura do papel maior será a sua grossura. As gramaturas variam comumente entre 90, 120, 180, 210, 240, 320 g/m2, mas existem outras gramaturas disponíveis, dependendo da aplicação do papel. Indicação de uso Veja as indicações de uso para os diferentes tipos de papel: � Papel sulfite: papel liso, conforme apresentado na Figura 5, utilizado para esboços. � Papel para técnicas secas: papel liso ou texturizado, ilustrado na Figura 6, usado para desenhos com grafite, carvão, nanquim, pastel seco e oleoso. � Papel para técnicas úmidas: papel texturizado ou liso, indicado para técnicas úmidas como aquarela e tinta acrílica. � Papel para marcador: papel de alta-alvura, especialmente desenvolvido para marcadores. 159Desenho de objetos tridimensionais DA_U4_C10.indd 159 01/12/2017 17:08:05 � Papel vegetal: papel liso e translúcido para grafite, marcadores, nan- quim, etc. Mecânica do desenho A posição para desenhar interfere no resultado final do desenho, portanto, o desenhista deve estar afastado do objeto desenhado cerca de 60 cm – mais ou menos um braço seu de distância – para obter uma visualização clara do objeto desenhado. O desenhista também deve se manter em uma posição fixa, para não perder o ponto de observação. A posição da mesa, prancheta ou suporte de desenho deve formar um ângulo de 90° em relação à linha de visão para que o desenho não se deforme, conforme você pode observar na Figura 5. Figura 5. Desenho de observação. Fonte: Curtis (2015, p. 20). Além da posição correta para desenhar, a pega do lápis pode permitir ou não uma maior movimentação do instrumento de desenho sobre a superfície do papel Desenho de objetos tridimensionais160 DA_U4_C10.indd 160 01/12/2017 17:08:06 e, desse modo, possibilitar uma maior fluidez e expressão do traçado. Tenteuma empunhadura alternativa, conforme ilustrado na Figura 6, que proporcione um controle maior sobre a pressão da ponta do instrumento sobre o papel. Figura 6. Desenho de observação. Fonte: Curtis (2015, p. 21). Desenho de observação O desenho de observação consiste na observação real do objeto tridimensional. Na técnica de observação in loco, apreendemos do objeto aquilo que é mais relevante, captamos a sua essência. Nesse processo, contamos com a ajuda dos posicionamentos corretos do papel e do desenhista e das habilidades de percepção necessárias para desenhar: percepção das bordas, dos espaços, dos relacionamentos, de luz e sombra e do todo. O desenho de observação, além de propiciar o desenvolvimento de seu próprio traçado, produz um resultado personalizado, bem gestual e muito expressivo em todos os seus elementos, como as linhas, os preenchimentos, a luz e a sombra. Cinco habilidades básicas para desenhar Segundo a autora Betty Edwards (2000), as cinco habilidades básicas para desenhar são: 1. Percepção das bordas: os contornos dos objetos. 161Desenho de objetos tridimensionais DA_U4_C10.indd 161 01/12/2017 17:08:06 2. Percepção dos espaços: as partes que preenchem os contornos e também as que ficam fora dele. 3. Percepção dos relacionamentos: as relações entre as partes do mesmo objeto, entre os objetos da cena ou, ainda, entre as figuras e o fundo, por exemplo, quando percebemos que a alça da xícara fica centralizada no seu bojo e que um dos alhos está na frente dos outros três. 4. Percepção de luz e sombra: é a percepção do claro – a parte que fica mais “para fora” dos objetos, e do escuro – a parte que fica mais “para dentro” dos objetos. 5. Percepção do todo: é a composição total da cena. Observe, na Figura 7, essas habilidades básicas em um modelo de desenho. Figura 7. Habilidades básicas de desenho. Fonte: KUCO/Shutterstock.com. Saiba mais sobre técnicas de preenchimento – tonalidade localizada, luz e sombra, hachura e textura – nos livros Desenho para Arquitetos, de Francis Ching (2012), e Desenho de Observação, de Brian Curtis (2015). Desenho de objetos tridimensionais162 DA_U4_C10.indd 162 01/12/2017 17:08:06 Evidenciando o elemento compositivo A partir da técnica de observar, qualquer desenho pode ser construído com a utilização de linhas, superfícies e volumes, evidenciando mais ou menos o elemento compositivo, conforme você pode observar nas Figuras 8, 9 e 10. Figura 8. Desenho de Rembrandt, Pedro ao Leito de Morte de Tabitha (Kupferstichkabinett, Dresden) evidenciando linhas. Fonte: Curtis (2015, p. 44). Figura 9. Georges Seurat, Espetáculo Secundário do Circo (1887-1888, Museu Metropolitano de Arte de Nova York), evidenciando as superfícies do desenho. Fonte: Curtis (2015, p. 288). 163Desenho de objetos tridimensionais DA_U4_C10.indd 163 01/12/2017 17:08:07 Figura 10. William Hogarth, Absurdos de Perspectiva, 1754, gravura evidenciando volumes. Fonte: Curtis (2015, p. 287). A artista plástica e crítica de arte Fayga Ostrower (2013) em seu livro Universos da Arte apresenta vários exemplos de arte, arquitetura e design de trabalhos elaborados utilizando linhas, superfícies e volumes. Certamente, a escolha do material de desenho adequado, um bom grafite e um papel de qualidade, influenciam de forma positiva no resultado de uma composição. Porém, um desenho simples, elaborado somente tendo linhas como seu elemento primário, pode ser muito interessante e valoroso se for executado em um gesto livre, com um traço próprio e original. Um traçado personalizado pode ser adquirido com o exercício diário do desenho, experimentando técnicas e testando materiais. Desenho de objetos tridimensionais164 DA_U4_C10.indd 164 01/12/2017 17:08:08 1. Avalie o desenho de observação de uma cafeteira a seguir e, depois assinale a alternativa que apresenta o que devemos observar quando avaliamos um desenho de observação? a) Observar se as formas elementares do objeto foram representadas no desenho. b) Observar se a reprodução do objeto desenhado é fidedigna. c) Observar se o acabamento do desenho final está perfeito. d) Observar o fator estético. e) Observar se as medidas condizentes com a realidade. 2. Observe o desenho de observação de uma cafeteira do tipo italiana, a seguir. Sobre as cinco habilidades básicas para desenhar relacionadas a esse desenho, é correto afirmar que: Fonte: Imagem cedida por Daniela Duarte Alves. a) a percepção do todo está relacionada com a percepção das bordas, dos espaços, dos relacionamentos e da luz e sombra, além da proporção do objeto desenhado. b) as bordas do desenho não interferem na proporção do objeto. c) a proporção do objeto independe da percepção do todo. d) a observância dos relacionamentos é irrelevante na percepção do todo. e) a percepção espaços não alteram a proporção do objeto. 165Desenho de objetos tridimensionais DA_U4_C10.indd 165 01/12/2017 17:08:08 3. O desenho de observação a seguir evidencia qual elemento compositivo? Fonte: Nuh Ugur Karsli/Shutterstock.com. a) A Linha. b) A superfície. c) O volume. d) O Ritmo. e) A assimetria. 4. Sobre as cinco habilidades básicas para desenhar relacionadas aos desenhos de observação a seguir, assinale a alternativa que demostra corretamente a percepção das bordas, espaços, relacionamentos, luz e sombra que o desenho apresenta. Fonte: adaptada de psynovec/Shutterstock.com a) b) c) d) Desenho de objetos tridimensionais166 DA_U4_C10.indd 166 01/12/2017 17:08:35 e) 5. O desenho de observação a seguir evidencia, além do elemento compositivo, um recurso compositivo que o torna interessante visualmente. Que elemento compositivo e que recurso são esses? Fonte: babayuka/Shutterstock.com. a) Linha e profundidade. b) Superfície e vazio. c) Volume e profundidade. d) Linha e vazio. e) Superfície e profundidade. AMBROSE, G.; HARRIS, P. Fundamentos de design criativo: uma introdução abrangente aos princípios do design criativo, apresentados por meio de explicações detalhadas e ilustrados com exemplos do design contemporâneo. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. CHING, F. Desenho para arquitetos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. CURTIS, B. Desenho de observação. 2. ed. Porto Alegre: McGraw-Hill, 2015. EDWARDS, B. Desenhando com o lado direito do cérebro. Rio de Janeiro: Ediouro, 2000. OSTROWER, F. Universos da arte. Campinas: Unicamp, 2013. SHOPTIME. Grafite em barra Caran D’ache Grafcube 015 mm 6b 0782.256. Rio de Janeiro, c2017. Disponível em: <https://goo.gl/ACcczb>. Acesso em: 22 nov. 2017 Leitura recomendada OCVIRK, O. G. et al. Fundamentos de arte. 12. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. 167Desenho de objetos tridimensionais DA_U4_C10.indd 167 01/12/2017 17:08:41 Gabaritos168 Para ver as respostas de todos os exercícios deste livro, acesse o link abaixo ou utilize o código QR ao lado. https://goo.gl/3EzCQx Gabaritos DA_Gabaritos.indd 168 01/12/2017 17:08:44 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo: GEOMETRIA Cristiane da Silva Representação de formas tridimensionais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer a evolução histórica da representação tridimensional, bem como os conceitos básicos pertinentes aos sistemas de projeção. � Classificar os sistemas de projeção e os tipos de perspectivas. � Desenvolver a habilidade de visualizar e expressar formas e espaços em três dimensões. Introdução A representação de objetos e formas tridimensionais é algo que vem desde a antiguidade, teve considerável evolução ao logo do tempo e, até hoje, é um tipo de representação muito importante e rico em detalhes. Este capítulo tem como propósito ampliar seus conhecimentos no que diz respeito à representação de formas tridimensionais.Neste capítulo, você perceberá a importância dos sistemas de pro- jeção, conhecerá os conceitos básicos e a classificação desses sistemas. Para além de conceitos, você será convidado a desenvolver a habilidade de visualizar e expressar formas e espaços em três dimensões. A representação tridimensional na antiguidade Embora hoje se reconheça a importância da tridimensionalidade e das represen- tações em perspectiva, nem sempre foi assim. Na antiguidade, considerava-se importante o ente representado, mas não a tridimensionalidade. Além disso, pessoas e objetos eram desenhados de acordo com sua relevância social. Não havia uma preocupação com o senso de distribuição e equilíbrio, e muitas pinturas tinham uma aparência achatada. Mais tarde, o Naturalismo grego e romano suavizaram as formas, mas o traçado com representação tridimensional ainda não era realizado (SANZI; QUADROS, 2014). Com a Renascença, grandes transformações no modo de pensar passam a permear as ideias daqueles que viviam nessa época. As descobertas de Nicolau Copérnico, as grandes viagens marítimas e a ampliação do conhecimento de- sencadearam uma nova forma de ver Deus, o homem e o mundo. A busca pelo conhecimento é uma grande marca do período. O pintor Giotto foi o primeiro a utilizar empiricamente o desenho de perspectiva em suas pinturas, inspirado pelo arquiteto Filippo Brunelleschi. Em 1511, o arquiteto Leon Baptista Alberti publicou seu primeiro desenho de perspectiva, chamado Della Pictura; depois, vieram Leonardo da Vinci, entre outros que são precursores atualmente no estudo da perspectiva (SANZI; QUADROS, 2014). Veja, na Figura 1, o diagrama do experimento de Brunelleschi com perspectiva. Figura 1. Experimento de Brunelleschi com perspectiva. Fonte: Sanzi e Quadros (2014, p. 10). A Renascença foi um grande marco para a evolução dos desenhos. Vejamos uma pintura renascentista de Giorgio Vasari, na Figura 2, a seguir. Representação de formas tridimensionais2 Figura 2. Pintura renascentista. Fonte: Sanzi e Quadros (2014, p. 10). A perspectiva é uma forma de representação muito importante que, como vimos, teve seus primeiros estudos há muitos anos, na renascença — período em que houve grandes mudanças e em que a arte, o desenho e a ciência evo- luíram expressivamente. Sanzi e Quadros (2014, p. 11) definem perspectiva da seguinte forma: Perspectiva é um desenho que representa a realidade tridimensional, ou seja, denota os objetos como os vemos, dando uma ilusão de profundidade. O desenho de perspectiva é um eficiente instrumento de estudo e avaliação de produtos. Na arquitetura, permite simular formas, percursos, espaços e pensar detalhes que ilustrará a concepção de uma edificação. A perspectiva é muito utilizada no trabalho de arquitetos, engenheiros, projetistas e desenhistas. Por sua relevância e riqueza em detalhes, contribui para que o profissional possa expressar suas ideias de forma clara, exempli- ficando a proposta do projeto ou desenho. 3Representação de formas tridimensionais Sistemas de projeção Entende-se o desenho como uma operação gráfica, onde se utilizam linhas que ajudam a representar e a compor o objeto. Quando se desenha, representa-se a realidade em um plano. A essa operação gráfica dá-se o nome de sistemas de projeção (SANZI; QUADROS, 2014). Um sistema de projeção é composto por três elementos básicos, que são os centros de projeção, as linhas projetantes e o plano de projeção. Sanzi e Quadros (2014) explicam que o centro de projeção é o lugar no espaço de onde saem as linhas projetantes que interceptam o objeto a ser representado. Já o plano de projeção é uma superfície ilimitada, onde o objeto projeta-se. Para entender melhor, vejamos um exemplo na Figura 3, onde temos o desenho da projeção de um ponto (objeto). Figura 3. Sistemas de projeção. Fonte: Sanzi e Quadros (2014, p. 11). Centro de projeção Plano de projeção Projeção Objeto Projetante Vamos conhecer agora os dois tipos de sistemas de projeção: o cônico e o cilíndrico. Representação de formas tridimensionais4 Projeção cônica Na projeção cônica, as projetantes convergem para o centro de projeção, for- mando uma superfície semelhante à de um cone. Isso ocorre porque o centro de projeção está a uma distância finita em relação ao plano de projeção. Vejamos a Figura 4, que exemplifica uma projeção cônica (SANZI; QUADROS, 2014). Figura 4. Sistema de projeção cônica. Fonte: Sanzi e Quadros (2014, p. 12). Centro de projeção Plano de projeção Projeção Objeto Projetantes Projeção cilíndrica Na projeção cilíndrica, as linhas projetantes são paralelas entre si e, além disso, o centro de projeção está a uma distância infinita em relação ao plano de projeção. Vejamos a Figura 5, que exemplifica uma projeção cilíndrica (SANZI; QUADROS, 2014). 5Representação de formas tridimensionais Figura 5. Sistema de projeção cilíndrica. Fonte: Sanzi e Quadros (2014, p. 13). Centro de projeção Plano de projeção Projeção Objeto Projetantes Você pode saber mais sobre os tipos de projeções cônicas e cilíndricas consultando o capítulo 1 do livro Desenho de perspectiva (SANZI; QUADROS, 2014). Tipos de perspectiva Sanzi e Quadros (2014) explicam que o desenho de perspectiva origina-se de um sistema de projeções, e os dois tipos de projeções abordadas anteriormente (cônica e cilíndrica) dão origem a diversos tipos de desenho. Aqui, vamos observar o desenho de perspectivas paralelas e lineares exatas. Vejamos um quadro, elaborado por Sanzi e Quadros (2014, p. 14), com os sistemas de projeção e os tipos de desenho. Representação de formas tridimensionais6 Fonte: Sanzi e Quadros (2014, p. 14). Sistemas de projeção Cilíndrico Projeções ortogonais Geometria descritiva Desenho técnico Projeções oblíquas Perspectivas axonométricas Cavaleira Isométrica Cônico Perspectiva linear exata Visuais dominantes Três escalas Pontos medidores Perspectiva de observação Quadro 1. Sistemas de projeção e tipos de desenho. Sanzi e Quadros (2014) afirmam que, a partir do sistema de projeção cilíndrico, é possível desenhar uma perspectiva cujas retas projetantes são paralelas entre si, ou seja, produz-se uma perspectiva paralela. Veja a Figura 6. Figura 6. Perspectiva paralela. Fonte: Sanzi e Quadros (2014, p. 16). 7Representação de formas tridimensionais Já, se o sistema de projeção utilizado for o cônico, Sanzi e Quadros (2014) destacam que as retas projetantes serão convergentes e produzirão uma pers- pectiva linear exata. Veja a Figura 7. Figura 7. Perspectiva linear exata. Fonte: Sanzi e Quadros (2014, p. 16). Representações tridimensionais Quando se representa um objeto, busca-se demonstrá-lo da forma mais clara e realista possível. É comum utilizar projeção ortográfica nas representa- ções, pois, nelas, as linhas de projeção encontram o plano do desenho em ângulos retos, o que possibilita que se mantenha verdadeira em tamanho, formato e configuração. Isso evidencia a principal vantagem dos desenhos de vistas múltiplas, que é a possibilidade de posicionar os pontos de modo preciso, estimar o comprimento e a inclinação de retas e descrever o formato e a extensão de planos. Assim, pode-se comunicar as informações gráficas necessárias à descrição, à pré-fabricação e à execução de um projeto, por exemplo (CHING, 2012). Representação de formas tridimensionais8 Um ponto importante destacado por Ching (2012) é que um único desenho de vistas múltiplas não expressa perfeitamente um objeto, porque falta a pro- fundidade, a terceira dimensão fica achatada no desenho. Por isso, somente com a observação de vistas adicionais será possível um entendimento perfeito. Isso justifica a necessidade de uma série de vistas distintas e relacionadas para descrever a natureza tridimensional de uma forma. Vejamos um exemplo de uma representação de um objeto por meio de uma projeção ortogonal na Figura 8. Figura 8. Projeção ortogonal. Fonte: Ching (2012, p. 136).Linhas de projeção Plano do desenho Desenho Objeto Veja, pela Figura 8, que, para construir uma projeção ortogonal, desenhamos linhas projetantes paralelas a partir de vários pontos do objeto de modo que elas incidam perpendicularmente ao plano do desenho. Depois, conectamos os pontos projetados na ordem adequada para obter a vista do objeto ou da edificação no plano do desenho. A imagem que resulta no plano do desenho é chamada de vista ortogonal (CHING, 2012). 9Representação de formas tridimensionais Ching (2012) explica que existem duas convenções para regular a relação entre vistas ortogonais, que são: a) a projeção do primeiro ângulo, em que colocamos o objeto no primeiro quadrante e o projetamos para trás, como se projetássemos as sombras das faces internas dos planos do desenho — nesse caso, são projetados os aspectos do objeto mais próximos do observador; e b) a projeção do terceiro ângulo, em que o objeto é posicionado no terceiro quadrante e, uma vez que o plano do desenho encontra-se entre o objeto e o observador, projetam-se as imagens do objeto para frente do plano do desenho — nesse caso, desenhamos e vemos as imagens nas faces externas do plano do desenho. Podemos encontrar nomenclaturas equivalentes de acordo com o livro que estivermos consultando. Por isso, cabe destacar que o primeiro quadrante pode ser entendido como primeiro diedro e, nesse mesmo raciocínio, terceiro qua- drante pode ser entendido como terceiro diedro — são expressões equivalentes. Vejamos a Figura 9, que representa os quatro diedros, numerados de um a quatro no sentido horário, começando com o quadrante superior esquerdo. A Figura 9b ilustra as projeções do primeiro ângulo, e a Figura 9c, as projeções do terceiro ângulo (CHING, 2012). Figura 9. (a) Quatro diedros. (b) Primeiro ângulo. (c) Terceiro ângulo. Fonte: Ching (2012, p. 136). (a) (b) (c) Os planos principais são o horizontal, o frontal e o lateral. Veja o exemplo desses três planos principais na Figura 10. Representação de formas tridimensionais10 Figura 10. Principais planos de projeção. Fonte: Ching (2012, p. 137). Plano horizontal Pl an o lat er al Plano frontal Ar es ta Ar es ta Aresta Ching (2012, p. 148) explica como organizar as vistas para facilitar a leitura e interpretação de um objeto tridimensional da seguinte forma: A distribuição mais comum de uma planta e suas elevações constitui na trans- posição do plano do desenho projetado sobre a caixa transparente em uma projeção de terceiro ângulo. Depois de cada vista ser projetada, giramos as vistas, a partir das arestas, sobre um único plano, representado pela superfície do desenho. A planta, ou vista superior, passa pra cima, no alto do desenho, e fica verticalmente alinhada com a vista, ou elevação frontal, enquanto a vista, ou elevação lateral, se alinha ao lado da frontal. O resultado é o conjunto coerente de vistas ortogonais relacionadas e separadas pelas arestas da caixa de projeção imaginária. 11Representação de formas tridimensionais A Figura 11 demonstra a organização das vistas, conforme mencionado pelo autor. Figura 11. Organização das vistas. Fonte: Ching (2012, p. 138). Plano horizontal Plano frontal Elevação frontal Elevação lateral Planta Plan o la teral Aresta Aresta Representação de formas tridimensionais12 1. Em relação à representação de formas e objetos na antiguidade, é correto afirmar que: a) sempre houve preocupação com o senso de distribuição e equilíbrio nas pinturas da antiguidade. b) na antiguidade, considerava-se importante o ente representado, mas não a tridimensionalidade. c) o naturalismo grego e romano, além de suavizar as formas, trouxe a representação tridimensional ao traçado. d) na antiguidade, o ente representado era importante, mas sua condição social não tinha relevância para os desenhos. e) desde a antiguidade, antes mesmo do Renascentismo, considerava-se importante a tridimensionalidade. 2. Sobre perspectiva, é correto afirmar que: a) Leonardo da Vinci foi o primeiro a utilizar o desenho de perspectiva em suas pinturas. b) é um tipo de desenho que foi importante apenas na antiguidade. c) é um desenho tridimensional que dá uma ideia de ilusão, ou seja, não denota os objetos como os vemos. d) é um desenho que representa a realidade tridimensional, ou seja, denota os objetos como os vemos, dando uma ilusão de profundidade. e) o desenho de perspectiva não deve ser considerado como um instrumento eficiente de estudo e avaliação de produtos. 3. Sobre os sistemas de projeção, é correto afirmar que: a) o centro de projeção, um dos elementos básicos de um sistema de projeção, é uma superfície limitada onde o objeto se projeta. b) o plano de projeção, um dos elementos básicos de um sistema de projeção, é o lugar no espaço de onde saem as linhas projetantes que interceptam o objeto a ser representado. c) são elementos básicos de um sistema de projeção: as linhas projetantes, as escalas e os objetos a serem representados. d) um sistema de projeção é composto por três elementos básicos, que são os centros de projeção, as linhas projetantes e o plano de projeção. e) são elementos básicos de um sistema de projeção: os centros de projeção, as escalas e os objetos a serem representados. 4. Sobre a projeção cônica, é correto afirmar que: a) na projeção cônica, o centro de projeção está a uma distância finita em relação ao plano de projeção. b) na projeção cônica, as linhas projetantes são paralelas entre si. c) na projeção cônica, o centro de projeção está a uma 13Representação de formas tridimensionais CHING, F. D. Desenho para arquitetos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. SANZI, G.; QUADROS, E.S. Desenho de perspectiva. São Paulo: Érica, 2014. (Série Eixos). distância infinita em relação ao plano de projeção. d) na projeção cônica, as projetantes convergem para o centro de projeção, formando uma superfície semelhante a um prisma retangular. e) a luz de uma vela que intercepta um objeto e produz sua sombra na parede não pode ser um exemplo de projeção cônica. 5. Sobre a representação de formas tridimensionais, é correto afirmar que: a) embora procurem demonstrar um objeto da forma mais clara e realista possível, não podem comunicar informações gráficas necessárias à execução de um projeto. b) para representar a profundidade de uma forma não é necessária uma série de vistas distintas e relacionadas. c) com uma única vista já é possível descrever a natureza tridimensional de uma forma. d) para descrever a natureza tridimensional de uma forma ou objeto, é necessária uma série de vistas distintas e relacionadas. e) as projeções ortográficas não possibilitam manter o verdadeiro tamanho, formato e configuração do objeto a ser representado. Representação de formas tridimensionais14 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo: PERSPECTIVA DE INTERIORES Marcos Antonio Leite Frandoloso Representação gráfica dos métodos específicos do desenho tridimensional Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Distinguir desenho tridimensional de desenho bidimensional. � Identificar os métodos dos desenhos tridimensionais. � Explicar a relevância da representação gráfica em desenhos tridimensionais. Introdução A maneira como as pessoas se relacionam com os objetos e os espaços abertos ou fechados está intimamente ligada ao sentido da visão, pois as coisas do mundo têm altura, largura e profundidade, as três dimensões. Neste capítulo, você vai ver as diferentes formas de representar o processo de criação do projeto de design de interiores. A escolha de uma representação depende do que você pretende informar ao seu cliente e às equipes de execução de elementos, como mobiliário e revestimentos.Como você vai ver, é possível desenvolver desenhos em duas dimen- sões — altura e largura (bidimensionais) — ou aliar a profundidade para compor desenhos tridimensionais. U N I D A D E 3 Desenho tridimensional × desenho bidimensional As diferentes formas de representação do design de interiores geram aborda- gens distintas de cada um dos elementos do ambiente a ser projetado. Nesse sentido, as projeções em duas dimensões (bidimensionais) permitem apresentar informações para atender a objetivos relacionados com a execução. Isso ocorre pois essas projeções podem apresentar ao cliente e às equipes de execução medidas de alturas e larguras, por meio de especificações constantes em plantas baixas, cortes ou secções e vistas ou elevações. Por outro lado, os desenhos tridimensionais permitem a visualização desses ambientes aliando a terceira dimensão, que é a profundidade. Assim, as pers- pectivas (uma das formas de se fazer essa representação) mostram um edifício ou um espaço interno de modo mais aproximado daquilo que é percebido pelo olho humano a partir de determinado ângulo (LEGGIT, 2008, p. 44). Na Figura 1, você pode ver as diferentes formas de representação bidi- mensionais e tridimensionais. A tarefa central da arquitetura e do design de interiores é mostrar as formas, construções e ambientes — que por natureza são tridimensionais — em uma superfície bidimensional, como o papel ou a tela de um computador. Autores como Ching (2017, p. 37) e Ching e Bingelli (2013, p. 71) reforçam essa relação com desenhos de múltiplas vistas, paraline ou em linhas paralelas e perspectivas, constituindo uma linguagem gráfica que é governada por um conjunto de regras e princípios. A forma de desenvolvimento das perspectivas pode ser bastante variada. Você pode fazer desenhos à mão livre ou croquis, com ou sem o auxílio de instrumentos como esquadros e escalímetros, ou mesmo por meio de programas computacionais. A simulação do ambiente poderia ser simpli- ficada, assemelhando-se a uma fotografia desse ambiente ainda nas etapas de concepção e projeto, a fim de que se possa mostrar uma aproximação do resultado ao cliente. Representação gráfica dos métodos específicos do desenho tridimensional2 Figura 1. Representações bidimensionais e tridimensionais. Fonte: Ching (2017, p. 31). Métodos de desenho tridimensional De acordo com as necessidades de representação dos objetos e dos ambientes internos ou externos, são empregadas distintas maneiras de apresentação gráfica tridimensional. Conforme a classificação de Ching e Bingelli (2013), além dos desenhos de múltiplas vistas ortogonais, que são as plantas baixas, cortes e vistas ou elevações, os desenhos tridimensionais do tipo paraline 3Representação gráfica dos métodos específicos do desenho tridimensional ou de linhas paralelas utilizam as projeções axonométricas ou oblíquas. Já as perspectivas adotam um ou mais pontos de fuga. Você pode ver essas projeções na Figura 2. Figura 2. Projeções ortogonais, oblíquas e em perspectiva. Fonte: Ching (2017, p. 30). Nas projeções ortogonais, as linhas são projetadas paralelamente entre si e perpendicularmente ao plano do desenho. É necessário preservar o que se chama de verdadeira grandeza, pois a relação de dimensões em todos os planos é a mesma, sem apresentar distorções ou escorço. Nas projeções oblíquas, as linhas projetadas são paralelas entre si, porém oblíquas ao plano de desenho, como você também pode ver na Figura 1. As diferenças entre cada um dos sistemas se devem aos distintos ângulos entre as faces e o plano de desenho: Representação gráfica dos métodos específicos do desenho tridimensional4 � isométricas, em que os três eixos principais são representados com ângulos iguais ao do plano de desenho; � dimétricas, em que dois dos três eixos principais estão em ângulos iguais ao do plano de desenho; � trimétricas, em que os três eixos estão em ângulos diferentes. Dependendo de cada uma das metodologias e tipos de representações oblíquas, são aplicados fatores de redução de algumas das projeções. A mais comum dessas representações axonométricas é a isométrica, pois é uma re- presentação com todos os ângulos iguais e com a igualdade de medidas. Na Figura 3, você pode perceber essa aplicação em um conjunto de edifícios e em uma visão “explodida” ou expandida de elementos de um desses edifícios, que serve para a identificação de cada um dos componentes do ambiente. Figura 3. Perspectiva isométrica de uma propriedade rural. Fonte: Yee (2016, p. 185). Por outro lado, nas projeções em perspectiva, também chamadas de perspectivas cônicas, as linhas projetadas convergem de um ponto central que coincide com o olho do observador. Dessa maneira, elas são uma forma mais realista de se representar o ambiente construído e a paisagem urbana. Nelas são aplicados métodos para a redução de dimensões de acordo com as 5Representação gráfica dos métodos específicos do desenho tridimensional linhas convergentes. Yee (2016, p. 225) apresenta as vantagens de adotar as perspectivas de projetos preliminares e croquis à mão livre para demonstrar forma, escala, textura, iluminação, contornos e sombras, além da organização espacial. Como representação final, a perspectiva é uma aproximação bastante fiel do resultado proposto. A escolha do sistema de representação a ser adotado depende do que você pretende demostrar no seu projeto. A representação é um ponto de vista, mas é por meio dela que o cliente pode compreender suas propostas de forma mais clara e direta. A importância da representação gráfica em desenhos tridimensionais As representações tridimensionais podem ser um recurso valioso para os profissionais do design de interiores. Elas permitem uma apresentação mais rápida das intenções projetuais por meio de croquis. Nelas, são perceptíveis as noções de escala e as proporções do projeto. Afinal, sempre são observadas relações geométricas nos desenhos e seus componentes, como paredes, pisos e tetos, no caso de ambientes internos. Durante a criação do projeto, desde a sua conceituação geral, as repre- sentações tridimensionais contribuem para a sua viabilização. Contudo, em um primeiro momento, não há a necessidade de utilizar muitos elementos ou detalhes. A ideia é auxiliar eficazmente o processo de tomada de decisões, inicialmente do(s) projetista(s). Com o avanço do processo projetual, o objetivo é promover a comunicação com os clientes e usuários, geralmente leigos e sem conhecimentos técnicos de visualização de esquemas e desenhos bidi- mensionais, como plantas baixas e elevações. Por meio de perspectivas, é possível desenvolver os elementos verticais e horizontais e suas associações. Além disso, é possível estudar os efeitos de cores no ambiente, ampliando ou reduzindo a percepção pelo usuário. Podem ser feitas representações bidimensionais e tridimensionais para a concepção de um ambiente e das relações entre espaços adjacentes. Representação gráfica dos métodos específicos do desenho tridimensional6 Na Figura 4, os projetistas exploram as relações internas e externas com o objetivo de atrair os clientes até a loja, inserida em um edifício histórico atrás de edifícios adjacentes. Figura 4. Loja Katherine Hamnett em Londres, Foster + Partners, 1987. Fonte: Higgins (2015, p. 31). Na Figura 5, os projetistas utilizam a representação em perspectiva oblíqua para definir a integração entre os elementos e o mobiliário em um dormitório. 7Representação gráfica dos métodos específicos do desenho tridimensional Figura 5. Dormitório infantil em Paris, h2O Architects, 2009. Fonte: Higgins (2015, p. 44). As imagens que ilustram este capítulo mostram diferentes empregos das represen- tações tridimensionais. Cabe a você definir em que etapa do processo projetual é mais importante usá-las e qual é o seu objetivo. Como você viu, é possível utilizá-las de forma esquemática e manual, em forma de croquis, ou em representações finais,com a adoção de instrumentos de desenho ou mesmo ferramentas computacionais. Representação gráfica dos métodos específicos do desenho tridimensional8 1. A representação axonométrica do tipo isométrica é uma das mais utilizadas no design de interiores. Qual é a sua principal característica? a) Todos os ângulos são diferentes uns dos outros. b) Dois ângulos são iguais. c) Todos os ângulos são iguais. d) Apresenta a visão do observador em um ponto de fuga. e) Os três eixos são diferentes. 2. As representações expandidas são também uma forma de apresentar os componentes e elementos do ambiente. Em qual dos tipos elas podem ser melhor classificadas e visualizadas? a) Cônica com dois pontos de fuga. b) Bidimensional ortogonal. c) Perspectiva com um ponto de fuga. d) Oblíqua isométrica. e) Obliqua trimétrica. 3. A representação gráfica é uma excelente ferramenta para auxiliá-lo no design de interiores. Em qual das etapas de projeto as perspectivas manuais podem contribuir para demostrar as intenções gerais do ambiente? a) Na etapa de apresentação para o cliente. b) Na etapa de criação e conceituação. c) Nas etapas de criação e desenvolvimento da proposta. d) Em todas as etapas. e) Apenas na conceituação inicial. 4. Os desenhos são uma simulação dos objetos e ambientes desenvolvidos pelos profissionais de arquitetura e design de interiores. Nesse sentido, o que é verdadeira grandeza em uma representação bidimensional ou tridimensional? a) É a aplicação de fatores de redução das proporções e medidas dos elementos. b) Consiste em mostrar todos os componentes com suas dimensões reais. c) É a projeção das proporções do objeto de acordo com a sua distância do observador. d) Consiste em permitir que o observador escolha seu ponto de vista para perceber o espaço desenhado. e) São as medidas reais do objeto representadas segundo a escala de desenho adotada. 5. É importante compreender as diferenças entre as características de uma planta baixa e de uma perspectiva. Qual é o principal elemento para a diferenciação entre os desenhos bidimensionais e tridimensionais? a) A localização do observador em relação ao plano de desenho. b) As plantas baixas apresentam distorções de proporções entre os seus elementos, enquanto as perspectivas sempre são representadas em verdadeira grandeza. c) A etapa de desenvolvimento do processo de projeto de design de interiores a ser adotada. 9Representação gráfica dos métodos específicos do desenho tridimensional CHING, F. D. K.; BINGGELI, C. Arquitetura de interiores ilustrada. 3. ed. Porto Alegre: Book- man, 2013. CHING, F. D. K. Representação gráfica em arquitetura. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2017. FERNANDO, P. H. L. et al. Desenho de perspectiva. Porto Alegre: Sagah, 2018. HIGGINS, I. Planejar espaços para o design de interiores. São Paulo: GG, 2015. LEGGITT, J. Desenho de arquitetura: técnicas e atalhos que usam a tecnologia. Porto Alegre: Bookman, 2008. YEE, R. Desenho arquitetônico: um compêndio visual de tipos e métodos. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016. Leituras recomendadas CHING, F. D. K. Desenho para arquitetos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. DOMINGUEZ, F. Croquis e perspectivas. Porto Alegre: Masquatro, 2011. GALESSO, L. Como desenhar perspectiva: aprenda a desenhar #3. ABRA — Escola de Arte, 17 maio 2013. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=15RNlEtXuko>. Acesso em: 11nov. 2018. KUBBA, S. A. A. Desenho técnico para construção. Porto Alegre: Bookman, 2014. QUADROS, E. S.; SANZI, G. Desenho de perspectiva. São Paulo: Érica, 2014. d) A forma como as projeções do objeto são representadas no plano de desenho. e) O modo como as linhas axiais do objeto representado são percebidas pelo observador. Representação gráfica dos métodos específicos do desenho tridimensional10 Conteúdo: MODELAGEM DIGITAL Gabriel Lima Giambastiani Modelagem digital básica para representação tridimensional Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Descrever os tipos básicos de modelagem tridimensional. � Identificar as ferramentas de modelagem digital para a representação de objetos tridimensionais. � Usar técnicas de modelagem para a criação de objetos e ambientes em três dimensões. Introdução A modelagem tridimensional é uma técnica utilizada para a representação de um objeto em três dimensões. Essa modelagem pode ocorrer tanto em um ambiente real, como é o caso das maquetes físicas, quanto em um ambiente virtual. É desta última abordagem que este capítulo se ocupará. A evolução da computação pessoal e a diminuição do custo de ar- mazenamento e processamento possibilitaram o desenvolvimento de ferramentas para a construção de modelos complexos em ambientes computacionais. Dessa forma, artistas, arquitetos, designers e engenheiros dispõem de um grande número de ferramentas para modelar e repre- sentar suas criações. Neste capítulo, você irá reconhecer os tipos básicos de modelagem tridimensional e as diferenças entre as ferramentas disponíveis no mer- cado. Além disso, você verá exemplos de como aplicar esses conceitos à criação de seus próprios modelos. Tipos de modelagem tridimensional Segundo Ching (2015), o principal objetivo do desenho de arquitetura é re- presentar formas, construções e ambientes tridimensionais em uma superfície bidimensional. Já na modelagem tridimensional, o modelo do objeto represen- tado é desenvolvido em um ambiente tridimensional, que pode ser tanto real quanto virtual. A modelagem tridimensional em um ambiente real é o caso das maquetes físicas, em que utilizamos materiais como papel, isopor, argila e plástico para criar um modelo (mobiliário, edificações, espaços internos). Este processo costuma ser feito em escalas reduzidas. Existe, também, a modelagem desenvolvida em um ambiente virtual, utili- zando programas especializados. Nesse caso, o desenho se aproxima bastante do desenho em duas dimensões, pois manipulamos uma representação de um ambiente tridimensional em uma tela. Há uma grande variedade de programas para modelagem tridimensional no mercado, desde programas proprietários (3ds Max, Autodesk Inventor, Auto- desk Maya, Autodesk Softimage, Cinema 4D, Gmax, Lightwave, MicroStation, Rhinoceros 3D, SketchUp, Solidworks, ZBrush) até opções de software livre (Art of Illusion, Blender, CB Model Pro, KPovModeler, Metasequoia, POV-Ray, Wings 3D). Apesar desta variedade, tais programas compartilham princípios em comum. Portanto, é importante compreender os fundamentos básicos da modelagem tridimensional, independente da ferramenta escolhida. Software proprietário é aquele em que o proprietário restringe a redistribuição, cópia e modificação do programa. Um exemplo de software proprietário é o pacote Microsoft Office e seus componentes (PowerPoint, Excel, Word). Software livre é aquele que é disponibilizado para ser usado, copiado, modificado e redistribuído livremente. Contudo, um software livre pode ser gratuito ou pago. Um exemplo de software livre é o Libre Office, com ferramentas semelhantes às do pacote Microsoft. Modelagem digital básica para representação tridimensional2 Coward (2019) divide os programas de modelagem tridimensional em mo- delagem poligonal e modelagem paramétrica. Segundo o autor, os programas de modelagem paramétrica são comumente utilizados na engenharia, enquanto os programas de modelagem poligonal são voltados para a área de artes. Essas categorias, no entanto, acabam se sobrepondo com frequência, motivo pelo qual essa distinção tem mais relevância a título de compreensão dos fundamentos da modelagem tridimensional do que em uma aplicação prática. Modelagem poligonal A modelagem poligonal (polygonal modeling, também chamada de mesh modeling) consiste na manipulação de uma malha, isto é, um conjunto de vértices, arestas e faces que definem a forma de um objeto poliédrico. Este, por sua vez,é um sólido de três dimensões com faces poligonais planas, arestas retas e vértices acentuados. A palavra poliedro (πολύεδρον) tem origem grega e resulta da junção entre “poli” (πολύς, “muitas”) e “hedra” (ἕδρα, “faces”). A Figura 1 ilustra um golfinho feito em malha poligonal. Figura 1. Exemplo de malha poligonal representando um golfinho. Fonte: Chrschn (2007, documento on-line). 3Modelagem digital básica para representação tridimensional Na modelagem poligonal, o usuário trabalha como um escultor, manipu- lando a matéria prima, subdividindo, aprofundando e extrudando, até chegar ao resultado pretendido. Nesse tipo de modelo, a precisão das medidas não é tão importante quanto o resultado obtido. Imagine que você deseja modelar um golfinho, como no exemplo da Figura 1. A dimensão exata da nadadeira do golfinho não é tão importante quanto a configuração do conjunto. Cabe a ressalva, no entanto, de que esse tipo de modelagem pode ser utilizado para representar projetos de arquitetura e engenharia, casos em que a precisão é imprescindível. Veja, no link a seguir, como o software Zbrush é utilizado para o desenvolvimento de personagens e cenários e como passou a fazer parte da indústria do entretenimento. https://qrgo.page.link/M5fu1 A modelagem poligonal atingiu um alto grau de desenvolvimento técnico, proporcionando que os personagens, objetos e cenários desenvolvidos com essa técnica sejam utilizados em indústrias como as de vídeo games, marketing e cinema. Além disso, o potencial artístico dessa técnica não deve ser desprezado, como demonstram os trabalhos do artista Ian Spriggs, na Figura 2. Modelagem digital básica para representação tridimensional4 Figura 2. Retrato de Geoff Anderson. Imagem produzida pelo artista Ian Spriggs. Fonte: Spriggs (2019, documento on-line). Modelagem paramétrica A primeira geração de programas de desenho para computador remonta à década de 1950 (SCHILLING; SHIH, 2015). Aqueles primeiros programas podiam ser comparados a equivalentes digitais de pranchetas de desenho. O desenvolvimento da computação pessoal e a diminuição do custo de arma- zenamento e processamento foram fundamentais para a evolução do desenho assistido por computador, em inglês, computer aided design (CAD), favore- cendo a criação de verdadeiros modelos digitais. A modelagem paramétrica e a indústria da construção se beneficiariam dessa evolução. 5Modelagem digital básica para representação tridimensional Em um software de modelagem paramétrica, dimensões e outras caracterís- ticas do objeto são definidas por variáveis, também chamadas de parâmetros. Suponhamos que você deseja modelar uma caixa. A largura, a profundidade e a altura dessa caixa são parâmetros, assim como sua origem, isto é, o ponto de referência para a criação do objeto. Trazendo este exemplo para a área da arquitetura, a altura de uma parede é considerada um parâmetro. Assim, podemos alterar esse valor diretamente em programas de modelagem específicos para arquitetura e a altura do objeto parede será ajustada para a nova dimensão. A Figura 3 apresenta uma imagem da interface do software Archicad. No modelo está selecionada uma parede e é possível visualizar a caixa de diálogo em que informações como largura, altura, materiais e componentes podem ser ajustadas. Figura 3. Interface do software Archicad, programa de modelagem BIM para arquitetura. Modelagem digital básica para representação tridimensional6 Como já mencionado, as técnicas de modelagem paramétrica e modelagem poligonal podem se sobrepor, uma vez que muitos programas possibilitam manipular o modelo de maneira paramétrica ou modificando a malha poligonal diretamente. Ferramentas de modelagem digital Todo trabalho de modelagem envolve, em maior ou menor grau, um processo de abstração. Abstrair deriva do verbo latino trahere, que significa divergir, separar algo de sua totalidade. Visto que a modelagem é uma operação analítica, na medida em que se separa algo mentalmente em partes, esta é, também, um trabalho de abstração (GIAMBASTIANI, 2018). Dessa forma, a pessoa que modela deve, primeiramente, imaginar aquilo que deseja criar para, então, usar as ferramentas disponibilizadas pelo software de modelagem para representar aquilo que imaginou. No entanto, esse processo se retroalimenta, uma vez que, ao elaborar um modelo, você pode perceber que a solução imaginada não era a melhor, refinando a imagem mental que tinha anteriormente, que servirá de base para uma nova versão ou modificação do modelo que deu origem à revisão. Esse preâmbulo serve para salientar a importância do planejamento no processo de modelagem. É importante que você pesquise referências do objeto ou espaço que deseja modelar, assim como é igualmente importante ter uma ideia clara do modelo que deseja construir, ainda que essa ideia sofra correções ao longo do caminho. A maioria dos programas de modelagem oferece uma série de ferramen- tas, que serão os blocos básicos de construção de geometria, as geometrias primitivas (O’CONNOR, 2015). Esses objetos serão o ponto de partida para a construção de formas mais elaboradas. Não importa o grau de complexidade da forma, esta será o resultado de um conjunto de operações realizadas sobre uma geometria primitiva. 7Modelagem digital básica para representação tridimensional Quais são estas geometrias primitivas? Isso pode variar, de acordo com o modelador utilizado. São comuns formas geométricas básicas como a linha, o círculo, o paralelepípedo e a esfera. O software SketchUp, por exemplo, apresenta a ferramenta retângulo, ilustrada na Figura 4. Com ela é possível criar um retângulo em qualquer um dos planos de um espaço tridimensional. Na Figura 4, um retângulo de lados iguais foi criado no plano XY. Esse pri- mitivo pode ser modificado (cortado, dividido, subtraído, extrudado) para a criação de novas formas. Figura 4. Primitivo retângulo criado no software SketchUp. Uma das modificações mais comuns na criação de modelos 3D é a extrusão. Extrusão é um processo mecânico em que um material, comumente metal ou plástico, tem sua passagem forçada através de uma matriz. Ao final, o material adquire a forma da matriz pela qual foi forçado. Modelagem digital básica para representação tridimensional8 Na modelagem tridimensional, uma forma pode ser extrudada no sentido de um eixo ou obedecendo a um caminho. Veja, na Figura 5, o retângulo da Figura 4 modificado (processos de subtração) e extrudado no sentido do eixo Z. O resultado é um volume, ou sólido, criado a partir do retângulo primitivo. Figura 5. Extrusão de face no sentido do eixo Z. Observe que as operações descritas foram feitas a partir de alterações diretas no objeto (retângulo, subtrações, extrusão). Se fosse necessário al- terar a dimensão do retângulo original, não seria possível fazê-lo mantendo as alterações posteriores, pois seria necessário criar um novo retângulo e refazer os processos. Para resolver esse problema, alguns programas como o Rhinoceros possibilitam que você modele a partir de parâmetros. Veja, na Figura 6, que as caixas mostradas à esquerda orientam o programa a criar uma caixa (geometria primitiva) e dois parâmetros controlam a dimensão da base e a altura do objeto criado. Se for necessário alterar as dimensões da base, o modelador pode alterar o valor associado a esse parâmetro e o modelo é atualizado para a nova dimensão. Esse exemplo evidencia as diferenças entre a modelagem poligonal, no primeiro exemplo, com o uso da ferramenta SketchUp, e a paramétrica, neste segundo exemplo, utilizando o software Rhinoceros. 9Modelagem digital básica para representação tridimensional Figura 6. Controle da forma a partir de parâmetros modificáveis, utilizando o software Rhinoceros. O portal Archdaily publicou uma lista com os melhores e mais populares programas para arquitetura. Dentre eles, estão alguns modeladores, como 3D Studio Max, Rhinoceros, SketchUp. Veja esta lista no linka seguir. https://qrgo.page.link/DBb9L Aplicação das técnicas de modelagem para ambientes e objetos Agora que você conhece as principais técnicas de modelagem e as diferenças entre elas, iremos usar este conhecimento para modelar uma sala simples, com uma janela e uma porta, conforme mostra a Figura 7. Modelagem digital básica para representação tridimensional10 Figura 7. Planta do espaço a ser construído. A representação de projetos de arquitetura, design de interiores e objetos deve ser precisa. Portanto, preste atenção à qualidade e à precisão dos desenhos que você utilizará como base para criar seu modelo tridimensional. Uma boa prática consiste em "limpar" o arquivo que servirá de base para a criação do modelo: remova objetos duplicados, linhas sobrepostas, confira medidas duvidosas, etc. Como dito anteriormente, toda a forma, por mais complexa que seja, é criada a partir de uma geometria primitiva. Em nosso exemplo, poderíamos começar com um quadrado de 3 m de lado, seguido de um deslocamento com o valor da espessura da parede — usaremos 15 cm neste exemplo. Após o deslocamento, poderíamos executar uma extrusão com a altura do ambiente — usaremos 3 m neste exemplo. O resultado seria algo aproximado à imagem da Figura 8. 11Modelagem digital básica para representação tridimensional Figura 8. Resultado das primeiras operações com os objetos primitivos. A seguir, poderíamos trabalhar nas aberturas. A partir da planta é possível perceber que tanto a porta quanto a janela estão posicionadas no centro das paredes correspondentes. A Figura 9 ilustra como se chega a um mesmo resultado por caminhos diferentes na modelagem. Na primeira imagem, à esquerda, os vãos da porta e da janela foram modelados a partir de operações subtrativas; na segunda, à direita, os vão são o resultado de uma soma de duas caixas, uma formando a parede e, outra, a verga, no caso da porta. Para a janela, duas caixas formam a verga e o parapeito, sendo o espaço da janela o vão entre as duas. Figura 9. Diferentes maneiras de modelar os vão de portas e janelas. Modelagem digital básica para representação tridimensional12 Agora, suponha que você deve modelar um ambiente complexo, com muitos móveis, objetos e acabamentos. A tarefa exigiria um grande esforço, caso você tivesse que modelar todos os objetos. Por isso é bastante prático utilizar modelos criados previamente por terceiros na composição de seus modelos. Há muitos profissionais que se dedicam a criar modelos fiéis de peças famosas de mobiliário, além de marcas de materiais construtivos que disponibilizam versões digitais de seus produtos para que arquitetos e desig- ners especifiquem-nos em suas criações. Em nosso exemplo, utilizaremos componentes prontos para a porta e a janela. A Figura 10 ilustra o resultado da adição de componentes prontos. Figura 10. Adição de componentes prontos: porta e janela. O exemplo da porta e da janela ilustra a importância de se montar uma biblioteca com os modelos mais utilizados em sua área de atuação. Com o tempo, o esforço de acumular bons modelos representa um ganho significativo em produtividade. 13Modelagem digital básica para representação tridimensional Observe como, em poucos passos, é possível criar um modelo elaborado a partir de formas simples. Se quiséssemos, poderíamos seguir incrementando o modelo da sala com mobiliário, acabamentos, objetos de ambientação, etc. CHING, F. D. K. Architectural graphics. 6th ed. Hoboken: John Wiley & Sons, 2015. CHRSCHN. Dolphin triangle mesh. 2007. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/ File:Dolphin_triangle_mesh.png. Acesso em: 27 nov. 2019. COWARD, C. A beginner's guide to 3D modelling: a guide to Autodesk Fusion 360. San Francisco: No Starch, 2019. GIAMBASTIANI, G. Sistemacidade em arquitetura: conceito de sistematicidade em ar- quitetura em três projetos escolares: Affonso Eduardo Reidy, Arne Jacobsen e Javier Garcia-Solera. Dissertação (Mestrado em Projeto de Arquitetura) – Faculdade de Ar- quitetura, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2018. O’CONNOR, R. Beginner’s guide to create models in 3ds Max® 2016. Scotts Valley: Create Space Independent Publishing Platform, 2015. SCHILLING, P.; SHIH, R. Parametric modelling with SolidWorks 2015. Mission: SDC, 2015. SPRIGGS, I. Portrait of Geoff Anderson. 2019. Disponível em: https://www.artstation.com/ artwork/rR5Y36. Acesso em: 27 nov. 2019. Os links para sites da Web fornecidos neste livro foram todos testados, e seu funciona- mento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Modelagem digital básica para representação tridimensional14 PROPRIEDADE INTELECTUAL Cristiano Prestes Braga Propriedade industrial: desenhos industriais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir desenho industrial perante a legislação. � Reconhecer as formas objeto de proteção como desenho industrial (bidimensional e tridimensional). � Declarar os requisitos que um pedido de desenho industrial deve atender para ser concedido. Introdução A propriedade intelectual é um direito que visa proteger direitos relativos à atividade intelectual humana aplicada no campo artístico e industrial. Neste capítulo, estudaremos o desenho industrial, forma de proteção de direitos imateriais regulada pela Lei da Propriedade Industrial e aplicada a produtos com diferencial competitivo, definindo o instituto, reconhecendo as formas de apresentação e declarando os requisitos necessários para a proteção legal. Desenho industrial A propriedade intelectual está dividida em: � direito autoral; � propriedade industrial; � direitos sui generis. Ao contrário do direito autoral, o instituto da propriedade industrial tem como foco a regulação, por intermédio da Lei nº. 9.279, de 14 de maio de 1996, de direitos e obrigações relacionados com a atividade empresarial, atinentes à proteção de marcas, patentes, desenho industrial e concorrência desleal. Desde que temos notícias de atividades industriais destinadas à venda de produtos, sabemos que um dos desafios do empresário sempre foi encontrar um diferencial que pudesse fazer o seu produto chamar mais a atenção do comprador do que o produto do concorrente. E uma das formas utilizadas para destacar o produto estava concentrada na forma de apresentação perante o público consumidor. Com o acirramento da concorrência, que deixou de ser local e passou a ser mundial, cada vez mais investimos na criação de novas configurações visuais aplicadas a todo e qualquer tipo de produto, no intuito de diferenciá- -lo da concorrência e, também, de gerar mais valor agregado a ele e à marca da empresa. O Estado, para estimular os investimentos na inovação de produtos nos seus mais variados aspectos, estabeleceu o direito de uso exclusivo e temporário à inovação, a depender da análise e do preenchimento de certos requisitos predefinidos para garantir ao titular o direito de uso das ferramentas disponi- bilizadas para o exercício efetivo e pleno do monopólio durante o prazo legal. Entre essas inovações, está o desenho industrial, cuja regulação, no Bra- sil, remonta ao início do século XX. Atualmente, está explicitado na Lei da Propriedade Industrial (BRASIL, 1996). Considerando o grau de importância que o desenho industrial está adquirindo no âmbito da competição empresarial, precisamos ter bem claro o seu conceito, de modo que possamos reconhecer as formas passíveis de proteção e definir corretamente os requisitos legais que permitem proteger um produto sob o aspecto do desenho industrial. Conceito de desenho industrial É bastante comum encontrarmos conceitos de desenho industrial em alusão aodesign de produtos. Isso não está completamente errado, mas precisamos lembrar que a esfera de aplicação do design é muito mais ampla do que a limitada proteção do desenho industrial, conforme veremos a partir da análise dos conceitos legal e doutrinário sobre desenho industrial. A Lei da Propriedade Industrial (BRASIL, 1996) define o desenho indus- trial como a forma plástica ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental Propriedade industrial: desenhos industriais82 de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, proporcionando resultado visual novo e original na sua configuração externa, podendo servir de tipo de fabricação industrial. O conceito legal destaca claramente duas formas de desenho industrial sujeitas à proteção. A legislação inicia a definição do desenho industrial como a “forma plás- tica ornamental de um objeto” (BRASIL, 1996). Analisando separadamente cada um dos termos dessa definição, podemos dizer que a forma plástica diz respeito à plasticidade, que é a capacidade de modificação do formato de um objeto, tanto acidental quanto intencional. O corriqueiro, inegavelmente, é que a modificação do formato deve ser sempre intencional, com base na estratégia que o empresário criou para vender o seu produto com um diferencial importante quando comparado ao da concorrência. Outro termo utilizado na definição legal é ornamental, que deriva de ornamento. Se a forma plástica precisa de tal característica, significa dizer que o produto terá como destinação o uso como enfeite, decoração, adorno, entre outros. O desenho industrial significa, em resumo, a modificação do formato de um objeto para que ele possa satisfazer o consumidor apenas em relação ao aspecto da confi- guração visual. Por outro lado, a legislação também define o desenho industrial como o “conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto” (BRASIL, 1996). Agora não falamos mais em forma plástica, mas em conjunto de linhas e cores que não precisa, necessariamente, ser aplicado à nova forma plástica, podendo, pois, ser concretizado em um objeto com um formato comum e não registrável. É indispensável, porém, que essas duas formas de desenho industrial possam ser identificadas, de acordo com a legislação, como uma configuração externa do objeto/produto, desprendida de qualquer função técnica ou funcional. Nesse exato sentido, a doutrina jurídica especializada na matéria conceitua desenho industrial como objetos de caráter meramente ornamental, “objetos de gosto”, como se dizia no passado (SILVEIRA, 2012). Essa forma, segundo a doutrina, entretanto, deve ser desvinculada da função técnica — não pode 83Propriedade industrial: desenhos industriais consistir em forma necessária para que o produto preencha a sua finalidade, hipótese em que seria o caso de um modelo de utilidade (SILVEIRA, 2012). O motivo pelo qual o desenho industrial não pode estar vinculado à função técnica do produto está na previsão legal de proteção desse tipo de inovação por intermédio das patentes, bem como na expressa definição legal de que desenho industrial é a nova configuração externa de um produto — ou seja, está ligado, unicamente, ao aspecto visual. Não é correto conceituar desenho industrial como unicamente o design de um produto, pois o design tem aplicação muito mais ampla do que o simples formato plástico ou conjunto de cores e linhas do desenho industrial, podendo, inclusive, criar novas funções técnicas para determinados produtos, cuja proteção será regida, nesse caso, pelas normas patentárias. Limitações do desenho industrial Evidentemente, não são todas as configurações visuais externas que podem ser registradas como desenho industrial. Existem limitações que precisam ser observadas e consideradas pelos interessados em buscar a proteção legal via desenho industrial. Uma das formas que não podem ser objeto de proteção é aquela determinada essencialmente por considerações técnicas ou funcionais, cuja proteção decorre de outras normas legais. Quando um produto está protegido como patente, não significa que a função técnica afasta a possibilidade de proteção do produto via desenho industrial. Dependendo do tipo de produto, podemos identificar diversas formas de proteção concomitantemente, tal qual percebemos nos smartphones utilizados atualmente, os quais são protegidos por patentes, marcas e desenho industrial. Propriedade industrial: desenhos industriais84 A Lei da Propriedade Industrial prevê, ainda, que tudo o que for contrário à moral e aos bons costumes não será registrado como desenho industrial, justamente para evitar constrangimentos ou desconfortos desnecessários nas relações sociais com objetos que possam chocar ou incomodar um determinado grupo de pessoas (BRASIL, 1996). O desenho industrial aplicado ao produto não poderá ofender a honra ou a imagem de pessoas, evitando, com isso, o abuso e a infringência a outros direitos e garantias constitucionais que asseguram a indisponibilidade e a necessidade de autorização prévia para uso comercial, como o direito de imagem e o direito ao nome, protegidos pelo Código Civil brasileiro. O desenho industrial também não poderá atentar contra a liberdade de consciência, crença, culto religioso ou ideia e sentimentos dignos de respeito e veneração. Não é possível, por exemplo, proteger um objeto com a imagem de Jesus Cristo com características de um diabo ou de um demônio, devido ao respeito que deve ser mantido em relação àqueles que o cultuam e o veneram. Não podemos, igualmente, registrar a forma comum, vulgar, necessária ou determinada pelas considerações técnicas ou funcionais de um produto. Uma armação de óculos, por si só, não recebe a proteção legal, a menos que esteja esteticamente apresentada de tal forma que a torne nova e original em relação às conhecidas no mercado em termos de forma, linhas e cores. No mesmo sentido, a legislação não considera os produtos que guardam consigo padrões puramente artísticos, pois são requisitos para proteger um objeto por meio do desenho industrial sua viabilidade de reproduzi-lo em escala industrial para explorá-lo economicamente, e com exclusividade, e a criatividade empregada para dar um aspecto visual inovador. Não basta que o produto esteja revestido de nova forma plástica ou novo conjunto de cores e linhas, haja vista que a lei estabelece limites para não infringência a outros direitos já protegidos pelo sistema jurídico brasileiro e estrangeiro. 85Propriedade industrial: desenhos industriais Formas do desenho industrial Definido o conceito e apresentadas as limitações para o registro de um objeto como desenho industrial, passamos às duas formas de desenho capazes de receber o certificado de registro da entidade estatal. Na verdade, essas duas formas já foram analisadas quando trabalhamos o conceito legal de desenho industrial, mas elas são conhecidas, na prática e na doutrina especializada, como formas tridimensional e bidimensional do desenho. A forma tridimensional nos remete a tudo o que é representado por uma superfície em três dimensões: altura, comprimento e largura. Um objeto que apresenta essas dimensões permite que possa ser materializado, tocado e visualizado na sua amplitude máxima de ângulos e relevo. Quando a Lei da Propriedade Industrial considera o desenho industrial como a forma plástica ornamental de um objeto, está se referindo à forma tridimensional do desenho. Sempre que for requerido o pedido de registro de um desenho industrial na forma tridimensional, o interessado deverá demons- trar essa condição mediante desenhos que permitam visualizar corretamente as dimensões, conforme o registro concedido para proteção da configuração ornamental aplicada em calçado representado na Figura 1. Figura 1. Configuração visual aplicada em calçado. Fonte: KKulikov/Shutterstock.com. A forma bidimensional, por seu turno, simboliza aquele objeto que pode ser identificado em apenas duas dimensões:altura e largura. A sua Propriedade industrial: desenhos industriais86 característica visual, portanto, sempre estará apresentada em um ângulo plano por não portar a dimensão do comprimento, que dá a sensação de relevo ao objeto tridimensional. A Lei da Propriedade Industrial também considera o desenho industrial como o conjunto ornamental de linhas e cores que possam ser aplicadas a um produto (BRASIL, 1996). Nesse caso, está se referindo à forma bidimensional do desenho, exemplificada na Figura 2, a qual demonstra, claramente, a forma plana em duas dimensões de um tapete composto pelo conjunto ornamental de linhas e cores. Figura 2. Padrão ornamental aplicado em tapete. Fonte: maffi/Shutterstock.com. Reconhecer as duas formas de desenho industrial permite identificar um desenho industrial à luz da legislação, enquadrando-o corretamente na sua classificação para que não haja problemas no pedido de registro. Isso porque é necessário preencher o formulário de requerimento de registro com a indicação 87Propriedade industrial: desenhos industriais do que é reivindicado pelo interessado, sob pena de perder a oportunidade ao divulgar um objeto cuja proteção do seu aspecto visual externo estará limitada ao campo de aplicação indicado e às figuras que o ilustram e que serão anexadas ao pedido. Logo, as formas bi e tridimensional de desenho industrial são as encontradas na legislação, sendo cruciais para identificar e aplicar corretamente o conceito analisado anteriormente. Requisitos legais do desenho industrial Agora que já conhecemos o conceito de desenho industrial e as duas formas de que pode ser aplicado a um produto, resta-nos analisar os requisitos legais que precisam ser preenchidos para que o interessado tenha sucesso no pedido de registro. Antes, porém, verificaremos as formalidades do pedido de registro de um desenho industrial, de modo que tenhamos bem claro o fluxo das etapas que precisam ser vencidas até que os requisitos, enfim, sejam objeto de exame. Apontaremos, depois, os efeitos da concessão do registro para que o interessado compreenda, na totalidade, os benefícios de ser titular de um desenho industrial. Forma de registro do desenho industrial A Lei da Propriedade Industrial estabelece as etapas principais e necessárias que o interessado deverá observar quando for depositar o pedido de regis- tro de um desenho industrial, ficando as especificidades do processo e do procedimento para o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), a autarquia federal responsável pela análise, concessão, manutenção e extinção dos processos de registro de desenho industrial, bem como pela emissão das instruções normativas, indicando, detalhadamente, as orientações adicionais àquelas previstas na legislação. O pedido de registro do desenho industrial pode ser requerido por qualquer pessoa, seja física ou jurídica. Basta que tenha legitimidade para ser titular do pedido de registro, ou seja, que seja quem efetivamente criou a forma estética aplicada a um produto ou quem adquiriu, regularmente e na forma da lei, os direitos sobre a forma tri ou bidimensional aplicada ao produto. Aos estrangeiros, também é garantido o direito de requerer o registro no Brasil, nos termos do acordado da Convenção da União de Paris (CUP). Propriedade industrial: desenhos industriais88 O titular do desenho industrial poderá iniciar o processo de registro pes- soalmente ou por intermédio de um procurador, o qual irá representá-lo, como mandatário, durante toda a tramitação do pedido, devendo efetivar o requerimento mediante peticionamento eletrônico junto ao INPI, contendo: � o relatório descritivo quando for necessário; � as reivindicações específicas quando for necessário (para proteger a combinação bidimensional de cores, por exemplo); � os desenhos representando o objeto no qual está aplicada a nova forma estética; � o campo de aplicação; � o comprovante de pagamento prévio da guia de retribuição para o ato do depósito. Todos os documentos juntados com o requerimento de pedido de registro deverão estar em língua portuguesa. O depositante precisa delimitar o campo de aplicação do desenho industrial de acordo com a Classificação Interna- cional de Desenho Industrial, também conhecida como a Classificação Internacional de Locarno, que é um sistema administrado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) com a relação dos produtos e os seus respectivos códigos para uso nos pedidos de registro de desenho industrial, a qual está disponível para acesso no INPI neste link: https://goo.gl/u7qovi Feito o protocolo do pedido de registro, caberá ao INPI vistoriar o cor- reto preenchimento do formulário, dos desenhos, do campo de aplicação, do pagamento da taxa correspondente e das demais exigências para, então, encaminhar o pedido de registro para o exame formal, no qual se verifica se o aspecto visual do desenho industrial é passível de registro (e se não consta alguma limitação legal) e se os requisitos foram atendidos pelo depositante. 89Propriedade industrial: desenhos industriais Tanto no exame preliminar quanto no exame formal, o INPI poderá intimar o depositante para corrigir e/ou complementar algum dado, documento ou pagamento que possa ter sido operacionalizado de forma deficiente dentro das regras da Lei da Propriedade Industrial e/ou das instruções do INPI. Em termos gerais, essas são as etapas básicas que o depositante deverá superar até a concessão definitiva do registro do desenho industrial para gerar os efeitos e direitos decorrentes da proteção reconhecida pelo INPI. Requisitos legais exigidos para o registro Assim como os demais direitos de propriedade intelectual, o desenho industrial, para ser registrado, precisa preencher alguns requisitos legais específicos. São eles: � a novidade; � a originalidade; � a possibilidade de servir para a fabricação em escala industrial. O requisito da novidade diz respeito ao desenho industrial que não estiver compreendido no estado da técnica, o qual, segundo a lei, é auferido por todo e qualquer meio de prova disponibilizado publicamente antes da data do depósito do pedido de registro, tanto no Brasil quanto no exterior. É preciso muito cuidado com a criação a ser protegida via desenho industrial, pois o produto poderá não obter o registro caso haja prova de que as formas do desenho já tenham sido publicizadas antes do protocolo do pedido de registro. Não são raros os exemplos de artistas que divulgam as suas criações em eventos, revistas ou sites antes mesmo de formalizar o pedido de registro. Isso acaba dando margem para que outras pessoas reproduzam a configuração visual e lhe retirem o aspecto da novidade e, consequentemente, a chance de auferir as vantagens conferidas pelo registro. O requisito da originalidade, por sua vez, estará presente quando o dese- nho industrial apresentar uma configuração visual distinta daquelas aplicadas em objetos anteriores. O objeto, para ser original, não precisa ser novo. Basta que acrescente novos elementos ao objeto que já existe ou faça uma combi- nação de elementos já conhecidos, gerando um aspecto visual que possa se diferenciar daqueles que já estejam no estado da técnica. Compreendida a diferença entre os requisitos referidos, podemos ficar em dúvida sobre como identificar a novidade e a originalidade de um desenho industrial. Investigar essa questão previamente ao pedido de registro é fun- Propriedade industrial: desenhos industriais90 damental, sendo conhecida como busca de anterioridade, semelhante àquela realizada antes do pedido de registro de marcas e de patentes. É por meio dessa busca que o interessado no registro identificará e comparará a sua criação com outras já existentes e disponibilizadas ao público por intermédio de qualquer documento no Brasil ou no exterior ou com as já registradas junto ao INPI, sempre lembrando que a pesquisa deve considerar o campo de aplicaçãoda nova configuração visual. Nem sempre o INPI vai analisar se o pedido de registro de desenho industrial preenche os requisitos da novidade e da originalidade, pois a Lei da Propriedade Industrial não dispõe sobre essa obrigatoriedade. Todavia, a legislação disponibiliza ao titular do pedido do registro a possibilidade de requerer o exame de mérito para que o INPI empregue os esforços necessários para averiguar se o desenho industrial é, de fato, novo e original. O exame de mérito geralmente é conferido ao titular interessado em dar maior relevância ao seu registro de desenho industrial e provar para eventuais parceiros ou concorrentes que a inovação aplicada ao seu produto tem potencial seguro para exploração comercial. Por fim, o requisito da fabricação em escala industrial exige que o objeto possa ser facilmente multiplicado em termos de quantidade de unidades, sob pena de ser considerado uma obra de caráter unicamente estético, que não está contemplada do rol de possibilidades da Lei da Propriedade Industrial para obter a concessão do registro como desenho industrial. Garantias do registro Ultrapassadas as formalidades anteriormente analisadas, o INPI concederá o registro de desenho industrial ao titular depositante do pedido, estabelecendo, de acordo com a delimitação formalizada no requerimento inicial, as garantias conferidas pela legislação que poderão ser utilizadas dentro do período de vigência regular do desenho industrial. Em posse do certificado de registro, o titular do registro de desenho indus- trial terá assegurado o direito de uso exclusivo durante todo o prazo de validade do registro. Os terceiros interessados em reproduzir as formas de desenho industrial aplicado a um determinado produto protegido só o poderão fazer 91Propriedade industrial: desenhos industriais mediante autorização prévia do titular ou quando expirar o prazo de proteção. Caso contrário, apenas o titular poderá utilizá-lo e explorá-lo economicamente. Com esse direito de uso exclusivo, o titular do registro de desenho industrial tem à sua disposição todos os mecanismos legais necessários para eliminar as cópias identificadas e impedir a fabricação, a comercialização, a oferta e outras maneiras de uso, total ou parcial, não autorizadas do desenho protegido. Uma vez que está garantido ao titular do desenho industrial registrado a disponibilidade de uso, ele ainda poderá autorizar ou transferir os direitos de uso do desenho nos termos da legislação pertinente, permanecendo vigente, qualquer tipo de acordo, até o fim do prazo de validade do registro. Abrangência, vigência e continuidade do registro Afora a garantia de direitos ao titular do registro de desenho industrial, a con- cessão ainda faz o balizamento do alcance da proteção para que seja possível criar as estratégias empresariais necessárias para o aproveitamento máximo desse monopólio temporário. Após a concessão, o direito de uso exclusivo do desenho industrial terá um prazo de vigência de 10 anos, prorrogável por mais três períodos suces- sivos de 5 anos cada, totalizando, assim, 25 anos de proteção. É importante ressaltarmos que o prazo de 25 anos só estará garantido se o titular efetuar o pagamento das taxas de anuidade obrigatórias para prorrogação dos três períodos disponibilizados após o transcurso do prazo base e inicial de 10 anos. Gerenciar adequadamente o registro é condição fundamental para o titular não ver a sua criação ser replicada por terceiros em face da prematura extinção do registro. Além disso, o desenho industrial também está alicerçado no princípio da territorialidade, garantindo, assim, a proteção, se requerida junto ao INPI, apenas no Brasil. Se o titular entender que a sua criação tem potencial para exploração econômica em outros países, ele poderá se beneficiar da CUP e requerer a prioridade unionista para assegurar a novidade do aspecto visual do seu objeto até a data da entrada na fase nacional dos países selecionados. Algumas vantagens do desenho industrial registrado O desenho industrial permite transformar um produto comum em um objeto de desejo, e muitas empresas têm investido na pesquisa e no desenvolvimento de novos conjuntos visuais para estarem sempre na frente da concorrência e no desejo de compra dos consumidores. No Brasil, a indústria de móveis e Propriedade industrial: desenhos industriais92 a de calçados são exemplos dessa postura, concentrando a maior parte dos pedidos nacionais de registro de desenho industrial. Entretanto, o desenho industrial tem potencial para ser aplicado aos mais diferentes setores da indústria, agregando valor e competitividade a produtos como joias, alimentos, embalagens, brinquedos, roupas, automóveis, eletro- domésticos, acessórios, entre outros. No momento em que a empresa entende as formas e o processo de prote- ção, conseguirá visualizar a importância que o desenho industrial registrado adquire na competição pela atenção do consumidor, desde que esteja alinhado ao propósito de posicionamento da empresa. É inegável, contudo, que o certificado de registro de desenho industrial permitirá montar estratégias diferentes para exploração e até mesmo a criação de novos nichos de mercado, aproveitando o apelo do produto a partir deu aspecto visual novo e atraente, seja na forma tri ou bidimensional, gerando maior valor à marca, maiores receitas, maior competitividade e maior prazo de sobrevivência no mercado. BRASIL. Lei nº. 9.279, de 14 de maio de 1996. Regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial. 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Leis/L9279.htm>. Acesso em: 28 jan. 2018. SILVEIRA, N. Direito de autor no design. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. Leituras recomendadas BARBOSA, D. B. Da ornamentalidade e acessoriedade como características do desenho industrial. 2013. Disponível em: <http://www.denisbarbosa.addr.com/arquivos/200/ propriedade/da_ornamentalidade_acessoriedade_di.pdf>. Acesso em: 28 jan. 2018. BRASIL. Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Classificação Internacional de Locarno. 2017. Disponível em: <http://www.inpi.gov.br/menu-servicos/desenho/ classificacao>. Acesso em: 28 jan. 2018. BRASIL. Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Guia básico de desenho industrial. 2017. Disponível em: <http://www.inpi.gov.br/menu-servicos/desenho>. Acesso em: 28 jan. 2018. 93Propriedade industrial: desenhos industriais