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R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 312 DOC. 1 Fachada do palácio-convento de Mafra, Portugal, em foto recente. Objetivos Apreciar a produção artística do período da mineração, em especial a literatura e as artes plásticas. Desenvolver uma atitude de valorização do patrimônio histórico e artístico do Brasil. Termos e conceitos • Arte • Religião • Barroco mineiro Seção 16.3 A religiosidade e a cultura do barroco O barroco mineiro No século XVIII, a relativa prosperidade do Império Português permitiu a construção de grandes obras não só em Portugal [doc. 1], mas também no Brasil. Muitas dessas realizações tiveram como berço as próprias Minas Gerais e notabilizaram artistas nascidos na região. Esses homens eram, muitas vezes, artesãos, trabalhadores braçais encarregados de obras corriqueiras como retábulos, altares, imagens religiosas e quadros a óleo que deviam ser parte das igrejas. Outros eram magistrados e proprietários de terras e escravos que, em busca de boas posições na política, dedicavam-se à composição de obras literárias. Arte e religião Os artistas plásticos costumam ser agrupados como representantes de um estilo barroco típico das Minas Gerais [doc. 2]. A arte barroca é uma forma de expressão densa, rebuscada, detalhada, fortemente impactante já à primeira vista. De forte teor católico, essa arte seria também uma maneira de a sociedade que a produzia mostrar publicamente suas desigualdades, exibi-las como aspectos naturalizados, não necessariamente como atributos negativos. Ao contemplar uma expressão artística barroca, o membro dessa sociedade aprenderia a respeitar esse modo de vida. A própria prática pública da fé católica nas Minas Gerais do século XVIII é prova disso: nas missas e cerimônias realizadas dentro das igrejas, as pessoas agrupavam-se de acordo com sua posição social, estando os lugares mais próximos do altar reservados aos estratos mais altos. Quando as cerimônias ou festas religiosas ocorriam nas ruas, as mesmas hierarquias eram mantidas, com os lugares da audiência e do próprio desfile ordenados segundo a posição social. Havia igrejas – e isso em todo o Brasil – reservadas aos escravos e seus descendentes, menos suntuosas, e igrejas frequentadas pelos estratos mais ricos da população, luxuosamente decoradas e ornamentadas com ouro. HIST_PLUS_UN_E_CAP_16.indd 312 11/11/10 11:15:42 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 313 C ap ít u lo 1 6 • A m in er aç ão n a A m ér ic a po rt ug ue sa Arte e sociedade Política, hierarquia social, religião e cultura con- viviam lado a lado, não só nas Minas Gerais, mas em toda a América portuguesa. Não havia uma estrita se- paração entre cada um desses elementos, tampouco a possibilidade de que todas as pessoas pensassem da mesma maneira, proferissem a mesma fé ou, ainda, que fossem todas religiosas. Ao estudar o barroco mineiro, um pesquisador dos dias atuais encontrará convenções típicas de uma época bastante religiosa, assim como as marcas de uma sociedade dinâmica e contraditória. Artes plásticas Muitos artistas trabalharam na América durante os séculos de colonização portuguesa, mas os de Minas Gerais do século XVIII foram os mais notáveis. Quando se fala em barroco mineiro, o primeiro nome que vem à mente é o do escultor Antonio Francisco Lisboa, conhecido como Aleijadinho [doc. 3]. Tam- bém merecem destaque os pintores marianenses Bernardo Pires da Silva, Antonio Martins da Silveira, João Batista de Figueiredo e o mais famoso de todos esses, Manuel da Costa Athaíde (1762-1830), autor de magníficas obras existentes até hoje em igrejas mineiras [doc. 4]. DOC. 4 Nossa Senhora da Conceição, pintura realizada por Manuel da Costa Athaíde no teto da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto (MG). Foto de 2003. O barroco e a Contrarreforma “O fenômeno artístico do setecentos em Minas não se explica autonomamente. Emerge ele de uma sociedade que se inscreve originária e culturalmente sob o signo do barroco, vivendo-o nas inquietações místico-existenciais que prolongam a Contrarreforma e expressando-o, con- comitantemente, em estilo criativo que não esconde as suas raízes formais e ideológicas.” ÁVILA, Affonso. O lúdico e as projeções do mundo barroco. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 1994. p. 46. DOC. 2 O mestre Aleijadinho “Aleijadinho nasceu na década de 30 do século XVIII no seio de uma família de artistas. Seu pai, Manuel Francisco Lisboa, arquiteto português, já tinha granjeado alguma fama quando, de uma sua escrava de origem africana, teve um filho mulato que viria a tornar-se no seu grande continuador. [...] Se os seus primeiros passos no mundo da criação artística se deram no período da grande produção aurífera, será, no entanto, já no decorrer da segunda metade do século XVIII e princípios da centúria seguinte que a força criadora deste gênio da arte colonial brasileira irá desabrochar com todo o esplendor. Tal se deve à existência, nas principais cidades mineiras, de uma clientela ávida de afirmação perante uma sociedade que cada vez mais se ia enraizando – os membros das confrarias, irmandades e ordens terceiras.” TEDIM, José Manuel. Aleijadinho. In: SILVA, Maria Beatriz Nizza da (Coord.). Dicionário da história da colonização portuguesa no Brasil. Lisboa: Verbo, 1991. p. 38-39. DOC. 3 Releia o texto, observe a imagem e comente algumas das características do barroco mineiro [docs. 2 e 4]. QUESTÃO Literatura Vários escritores ajudaram a notabilizar a litera- tura do período: José Basílio da Gama (1741-1795), autor de um grande poema épico, O Uraguay (1769); Santa Rita Durão (1722-1784), autor do poema Ca- ramuru (1781), ambientado no Brasil do século XVI; e Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), nascido na cidade do Porto, em Portugal, e autor de Marília de Dirceu (1792) e, provavelmente, das famosas Cartas chilenas, um longo poema satírico em que criticava as autoridades metropolitanas de Minas Gerais. HIST_PLUS_UN_E_CAP_16.indd 313 11/11/10 11:15:43 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 314 U n id ad e E • A c on st ru çã o do m un do m od er no ATIVIDADES InglaterraPortugal vinhos tecidos de lã e algodão 1 Explique as razões da grave crise econômica que atin- gia o Império Português no século XVII e como o Brasil ajudou a contornar o problema. 6 Observe a escultura Santana mestra, de Aleijadinho. Destaque os elementos da obra que se relacionam com as características básicas do barroco mineiro. 7 O jesuíta italiano André João Antonil descreveu algu- mas características que marcaram o início das ativida- des mineradoras na colônia. Leia, a seguir, um trecho de sua obra de 1711 e responda às questões. 2 Relacione a extração de metais na região das minas no século XVIII ao processo de integração do território da América portuguesa. 3 Que mecanismos foram criados pelas autoridades me- tropolitanas para garantir o controle e a lucratividade da extração aurífera no Brasil? 5 Segundo a historiadora Marina de Mello e Souza, as irmandades religiosas assumiram várias tarefas que normalmente deveriam ser atribuições do poder pú- blico. Que atividades eram essas? Qual a importância dessas associações na região das minas? 4 Observe o esquema seguinte. Retomar conteúdos Ler textos e imagens a) Que tratado assinado entre Portugal e Inglaterra foi representado no esquema? O que ele estabelecia? b) Cite as implicações desse tratado para a economia de Portugal e da Inglaterra. O jesuíta italiano André João Antonil descreveu algu- Santana mestra, escultura de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho,c. 1780. Museu do Ouro, Sabará. “Sendo a terra que dá ouro esterilíssima de tudo o que se há mister para a vida humana, e não menos estéril a maior parte dos caminhos das Minas, não se pode crer o que padeceram ao princípio os mineiros por falta de man- timentos, achando-se não poucos mortos com uma espiga de milho da mão, sem terem outro sustento. Porém, tanto que se viu a abundância do ouro que se tirava, e a largueza com que se pagava tudo o que lá ia, logo se fizeram estala- gens e logo começaram os mercadores a mandar às minas o melhor que chega nos navios do reino e de outras partes, assim de mantimentos como de regalo e de pomposo para se vestirem, além de mil bugiarias de França que lá também foram dar. E a esse respeito, de todas as partes do Brasil se começou a enviar tudo o que dá a terra, com lucro não somente grande, mas excessivo.” ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. São Paulo: Edusp, 2007. p. 234-235. 8 Leia o texto a seguir e responda às questões. “O escravo mineiro vive com o senhor numa rústica cabana de palha [...] onde tudo é provisório. Esses casebres de chão batido podem abrigar ouro e diamantes, mas são miseráveis. Ninguém se preocupa com o conforto, pois o único pensamento do concessionário é enriquecer e retornar à Europa. [...] Para obter fortuna rápida, o concessionário da mina trata de burlar o fisco do rei. Nesse ponto parte uma engrenagem da qual o escravo terá dificuldade para sair: seu senhor lhe propõe uma espécie de associação incerta para as duas partes; de fato, basta que um escravo descubra uma pedra bem grande, ou então denuncie o contrabando feito por seu senhor para conquistar sua alforria, concedida pela autoridade administrativa. O senhor tem, portanto, interes- se em manter boas relações com seu escravo. [...] Violência e concorrência reinam igualmente para senhores e escravos na mesma corrida furiosa ao ouro e aos diamantes. [...] A vida nos garimpos é, pois, tão rude quanto nas fazendas, para o escravo. Materialmente chega a ser ainda mais precária [...]. Mas o escravo é favorecido nas minas, pois tem uma esperança de alforria e nesse sonho de liberdade suporta sua dura labuta do nascer ao pôr do sol.” MATTOSO, Kátia de Queirós. Ser escravo no Brasil. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 2003. p. 136-137. a) Identifique e descreva o contraste vivido por escra- vos e senhores na região das minas. b) Segundo o texto, qual seria a “associação incerta” feita entre senhores e escravos nas minas? c) Quais são as diferenças apontadas no texto entre os escravos das minas e os das fazendas? a) Como Antonil descreveu a região das minas? b) Segundo o autor, qual foi a grande mudança que ocorreu na região? O que estimulou essa alteração? c) Por que as pessoas pagavam tão caro pelos produtos? 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