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R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 106 U n id ad e B • A A nt ig ui da de c lá ss ic a: G ré ci a e R om a As reformas sociais A colonização não conseguiu resolver satisfa- toriamente a questão agrária. A nobreza se enri- quecia rapidamente, intensificando a exploração da terra e adotando um estilo de vida inspirado no luxo. Como resposta, os conflitos sociais se generalizaram. A participação do homem comum na guerra acentuou ainda mais essa crise social. Tornando-se elemento importante nas batalhas, passou a contestar os privilégios tradicionais da aristocracia guerreira, pondo em xeque o seu sis- tema de valores [doc. 3]. “Naquela época o regime era oligárquico em todos os seus demais aspectos, e particularmente os pobres (eles próprios mais as mulheres e os filhos) tornavam-se escravos dos ricos. [...] eles cultivavam os campos dos ricos (uma minoria detinha todas as terras) e, caso não pagassem os arrendamentos, eles próprios mais seus filhos eram passíveis de cativeiro.” Aristóteles. A Constituição de Atenas. São Paulo: Hucitec, 1995. p. 17. A instituição do direito escrito foi uma das respostas dadas pelas cidades-Estado à crise so- cial e política que abalava a ordem aristocrática. Costumava-se atribuir sua origem a legisladores lendários, como Licurgo, em Esparta, e Drácon, em Atenas. Um dos mais importantes foi Sólon, que viveu em Atenas no século VI a.C. Aristocrata enri- quecido por meio do comércio, em 594 a.C. Sólon foi convidado a formular leis para controlar a tensão social que tomava conta da pólis. A colonização grega O surgimento da pólis não resolveu os proble- mas sociais enfrentados pelos gregos. A divisão das propriedades rurais foi diminuindo o tamanho das terras cultiváveis necessário para manter as famílias e satisfazer as necessidades da população, que crescia progressivamente e se empobrecia. Uma das manifestações da crise social do período foi o crescimento da escravidão por dívidas. Pequenos proprietários passaram a contrair empréstimos dos aristocratas. Impossibilitados de quitar suas dívidas, muitos se tornavam escravos dos credores. À medida que a aristocracia ampliava sua parcela de dependentes, também cresciam a extensão e o volume de propriedades rurais que ela concentrava. A colonização, desse modo, era uma válvula de escape para a crise social que ameaçava as póleis gregas. A expansão colonial pelas terras do Mar Negro e do Mar Mediterrâneo ocorreu entre os séculos VIII e VI a.C. [doc. 2]. Apesar do nome, as colônias gregas não eram feitorias comerciais nem man- tinham dependência política em relação às suas cidades-mães. Nas terras ocupadas, os gregos construíam estabelecimentos agrícolas e busca- vam viver autonomamente, segundo os costumes trazidos da pólis de origem. De modo geral, enquanto a pólis fornecia ser- viços e manufaturas às colônias, estas forneciam cereais e matérias-primas. Os gregos estabelece- ram relações diversas com as populações nativas das colônias: em alguns casos fizeram acordos amigáveis; em outros, escravizaram as populações conquistadas. Fonte: HILGEMANN, W.; KINDER, H. Atlas historique: de l’apparition de l’homme sur la terre à l’ère atomique. Paris: Perrin, 1992. p. 46. C E L T A S ILÍRIA TRÁCIA LÍDIA SICÍLIA CRETA CHIPRE Ólbia Massília Tarento Odessa Lesbos Bizâncio Calcedônia Nápoles Samos MiletoAtenas Corinto Mégara RodesEsparta Olímpia Cirene Apolônia Agrigento Siracusa FENÍCIA NUMÍDIA Baska Náucratis P en ín su la Ibérica Península Itálica MAGNA GRÉCIA MAR NEGRO MAR MEDITERRÂNEO M AR EGEU ÁSIA MENOR GRÉCIA EGITO Áreas de colonização grega Grécia peninsular Grécia insular Grécia continental Colônias gregas Cidades-mães Ólbia A colonização gregaDOC. 2 360 km HIST_PLUS_UN_B_CAP_05.indd 106 18.08.10 15:11:15 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 107 C ap ít u lo 5 • A ci vi liz aç ão g re ga Sólon e a cidade ateniense Conheça algumas medidas da reforma social e política promovida por Sólon em Atenas. • Abolição da escravidão por dívidas. Proibiu a escravidão por dívidas, o que fez crescer a venda e a compra de escravos. Além disso, cancelou as hi- potecas sobre as propriedades e limitou o tamanho da propriedade que cada indivíduo podia possuir. • Organização censitária da sociedade. Os cida- dãos foram divididos em quatro categorias, de acor- do com a faixa de renda anual à qual pertenciam. A participação política de cada cidadão passou a depender de sua riqueza agrícola e não mais de sua linhagem familiar. Os estrangeiros, os escravos e as mulheres estavam excluídos da cidadania. • Criação de um Conselho (Bulé). Composto de quatrocentos membros que elaboravam as leis a serem votadas pela Assembleia (Eclésia). As reformas de Sólon não conseguiram conter as agitações sociais. A aristocracia estava descontente com a perda de privilégios; as camadas populares queriam mais poder de decisão. Em 546 a.C., auxiliado por uma tropa de mercenários, o general Pisístrato tomou o poder em Atenas e instalou a tirania. A tirania Pisístrato, o primeiro tirano de Atenas, confiscou terras da aristocracia e as distribuiu entre os pe- quenos proprietários, concedeu empréstimos aos agricultores mais pobres e impulsionou o comércio marítimo financiando a construção naval. Na produção artística e cultural, ele incentivou grandes obras arquitetônicas, promoveu festivais de teatro e, segundo o que se acredita, ordenou a compilação da Ilíada e da Odisseia. A tirania, no entanto, não foi exclusiva de Atenas. Outras cidades, como Corinto, Mileto, Sícion, Samos, Mitilene e as colônias da Ásia Menor, também conhe- ceram tiranias nesse período. Vocabulário histórico Tirania Forma de governo em que uma pessoa conquista o poder de modo ilegítimo, como um golpe de Estado. A tirania atendia, geralmente, a vontade do povo. Com o tempo, o termo adquiriu sentido depreciativo. Provavelmente, essa mudança tenha ocorrido por causa das tiranias exercidas pelos filhos de Pisístrato, que se apropriaram do poder para seu próprio benefício. DOC. 3 Fonte: SOUZA, Marcos Alvito Pereira de. A guerra na Grécia antiga. São Paulo: Ática, 1988. p. 30-33. A falange hoplítica A falange era constituída de fileiras cerradas de soldados, dispostas de tal forma que o escudo (hoplon, daí a denominação hoplitas dada aos soldados) de cada soldado protegia simultaneamente uma parte do corpo do soldado ao lado. Na falange, o combate individual dos heróis homéricos foi substituído pelo combate coletivo e pelo espírito de grupo. A função guerreira deixava de ser exclusividade dos nobres e passava para as mãos do demos (o povo). Os pequenos proprietários de terra e os artesãos, que compunham o demos, eram integrados ao exército e, consequentemente, passavam a exigir maior participação nas decisões políticas da pólis. O aulete era o flautista que coordenava a movimentação do grupo. O som da flauta ditava o ritmo da marcha dos hoplitas e estimulava os soldados no combate. Suas lanças eram muito compridas, podendo medir entre dois e três metros, com ponta de ferro e uma coronha de bronze, pois o ataque em grupo requeria um golpe no inimigo a uma certa distância. Caso um hoplita fosse ferido ou morto, o guerreiro imediatamente atrás o substituiria, para manter a unidade do grupo. HIST_PLUS_UN_B_CAP_05.indd 107 18.08.10 15:11:17 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 108 U n id ad e B • A A nt ig ui da de c lá ss ic a: G ré ci a e R om a Fonte: MACDONALD, Fiona.Como seria minha vida na Grécia antiga? São Paulo: Scipione, 1996. (Coleção Como seria sua vida?) Cidadãos. Categoria formada pelos homens adultos e livres, filhos de mães e pais atenienses. Calcula-se que, no século V a.C., havia cerca de 30 mil cidadãos em Atenas. Do mais pobre ferreiro ao mais rico proprietário de terras, todos os cidadãos podiam participar das atividades políticas. Metecos. Eram os estrangeiros, que não tinham o direito de participar da vida política nem de possuir terras. Dedicavam-se a atividades como o comércio e o artesanato. Escravos. Constituídos de prisioneiros de guerra ou filhos de escravos. Não possuíam direito à participação política e trabalhavam no artesanato, nas tarefas domésticas, nas minas e na agricultura. As divisões sociais em AtenasDOC. 4 Fonte: FERREIRA, Olavo Leonel. Visita à Grécia antiga. São Paulo: Moderna, 2003. p. 20. (Coleção Desafios) Cidadãos divididos em dez tribos. A democracia atenienseDOC. 5 Bulé Conselho composto de quinhentos cidadãos (dez de cada tribo) escolhidos por sorteio numa lista de candidatos. A Bulé escolhe os assuntos a serem votados na Eclésia. Estrategos Generais escolhidos pela Assembleia para o prazo de um ano. Comandavam o exército e acumulavam funções legislativas e executivas. Helieia (Tribunal do Povo) Tribunal popular composto de 6 mil cidadãos com mais de 30 anos (seiscentos de cada tribo) eleitos por ano. Com as reformas de Clístenes, adquiriu poder para julgar. Eclésia (Assembleia) Órgão central da democracia ateniense, responsável por discutir e aprovar todos os assuntos, civis e militares, da pólis ateniense. Areópago Tribunal composto de 31 magistrados encarregados de julgar os crimes mais graves. Na democracia moderna, que se costuma chamar de democracia “representativa”, os cidadãos escolhem, por meio do voto, os seus representantes. O governo efetivo não é exercido pelos cidadãos, mas está a cargo das instâncias de poder organizadas nos municípios, esta- dos e em nível federal. Cabe aos cidadãos, teoricamen- te, monitorar a atuação dos seus representantes. Em Atenas, ao contrário, havia uma democracia direta, ou seja, os cidadãos participavam diretamente do governo, cada um expressando suas posições. A democracia ateniense Em 509 a.C., o aristocrata Clístenes assumiu o po- der em Atenas. Atuando contra os interesses do seu próprio grupo, implementou uma reforma completa das leis que regiam a vida política ateniense. Clíste- nes aboliu a divisão da sociedade em quatro classes conforme a renda agrícola de cada um e estabeleceu uma divisão de acordo com o local de residência. O objetivo da sua política era abolir as diferenças baseadas na origem familiar ou na fortuna pessoal e estabelecer a igualdade de todos os cidadãos perante a lei [doc. 4]. É importante ressaltar que a divisão da socie- dade ateniense se referia ao estatuto jurídico das pessoas, ao fato de terem ou não seus direitos políticos assegurados, e não ao seu status socio- econômico. Embora não fosse a regra, podia haver escravos ricos e letrados, assim como cidadãos pobres e incultos. A reforma política de Clístenes foi de grande importância para a instituição da democracia em Atenas. Ele também definiu as instâncias de partici- pação e decisão política em Atenas, em que a Eclésia ou Assembleia surgia como a autoridade suprema do Estado. Um sistema de sorteio permitia o rodízio dos cidadãos na Assembleia [doc. 5]. A reforma ampliou a participação política dos cidadãos, assegurando que estes pudessem, por meio do voto direto, debater e decidir sobre as questões importantes de interesse para a pólis. Embora, juridicamente, todos os cidadãos fossem iguais e pudessem participar ativamente da Assembleia, os cargos públicos mais elevados eram ocupados por uma elite intelectual e política cujo poder vinha da riqueza fundiária. HIST_PLUS_UN_B_CAP_05.indd 108 18.08.10 15:11:20