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Ficha Catalográfica Autores Ramon Santos de Minas Angela Kwiatkowski Sidnei Klein Roselene Ferreira Oliveira Odair Diemer Organizador Ramon Santos de Minas Revisão Editora Kiron Editoração Eletrônica da Capa Editora Kiron Produção Digital Paulo de Tarso Soares Silva Editora Kiron | editorakiron.com.br M6634 Minas, Ramon Santos de Antropoentomofagia e entomofagia: insetos, a salvação nutricional da humanidade / Ramon Santos de Minas – Brasília: Editora Kiron, 2016. ISBN 978-85-8113-540-3 1. Antropoentomofagia, 2. Entomofagia, 3. Criação de insetos, 4. Biologia, I. Título CDU 638 http://www.editorakiron.com.br/ Capítulo 1 HISTÓRICO E CURIOSIDADES DA ANTROPOENTOMOFAGIA E ENTOMOFAGIA Ramon Santos de Minas1 Sidnei Klein2 Angela Kwiatkowski3 Fabiola Dorneles Inácio4 Roselene Ferreira Oliveira5 1. Introdução O termo inseto quando falado de modo vulgar sempre nos remete a algo nojento, asqueroso, o qual, pelo “mito” desenvolvido em torno do seu papel no ambiente, remete sempre ao pensamento de um transmissor de doenças. É consenso que essa realidade vem mudando e que aos poucos é possível ver que existe sim possibilidade de se observar essas criaturas de maneira distinta em relação ao seu convívio e interação com a raça humana e outros animais. Os insetos são animais invertebrados e dentro da classificação de espécies pertencem à classe insecta. Existem hoje no mundo relatos em fósseis de que os insetos sugiram há milhões de anos. E a comunidade científica estima que já coabitam a Terra e surgiram há cerca de 500 milhões de anos. Hoje, com base em classificações feitas, existem milhares de espécies já catalogadas, dentre as quais podemos citar: traças, abelhas, vespas, besouros, borboletas, moscas, formigas, cupins e uma infinidade a serem descobertas. A maneira didática de se passar informações sobre os insetos que permitam estudá-los, independente de sua classificação. Em todos eles podem-se observar seis pernas anexas ao tórax, e nesta região pode haver também duas ou quatro asas. Grande parte dos insetos possui dois olhos, formado por vários outros menores, os chamados olhos simples. O sistema de respiração, diferentemente do apresentado pelos mamíferos e aves, ocorre através de diminutos orifícios em sua epiderme. Em sua maioria, os insetos apresentam antenas com diferentes formatos, e esses apêndices lhes proporcionam um olfato muito apurado. Ao sentir qualquer odor distinto do habitual, os direcionamentos das antenas são coordenados para permitir a captura de forma mais precisa (podendo potencializar a localização de suas presas), a possibilidade de acasalamento, ou ainda uma fuga mais rápida de um possível predador. De maneira singular, os insetos se desenvolvem em tamanho e forma seguindo particularidades que os agrupam de maneira que as semelhanças e as diferenças são claras. As maiorias dos insetos passam por distintos estágios até chegarem à fase adulta ou do amadurecimento. As borboletas, por exemplo, passam por quatro fases: ovos, larvas, crisálidas e, por último, tornam-se adultas da forma como as conhecemos. Entre as formas de desenvolvimento existem também os insetos que vivem em comunidades, entre os quais pode-se citar as formigas e as abelhas. Outros tipos bem conhecidos são as baratas, que são encontradas facilmente nas áreas tropicais de nosso planeta. Temos também os coleópteros, os dípteros, os hemípteros e uma infinidade de outros representantes. Muitos desses insetos têm deixado de ser apenas mais um grupo de indivíduos em meio ao equilíbrio das espécies proposto nos livros de Ecologia e Biologia, para se tornarem pragas para a população dos grandes centros urbanos. Entre as pragas urbanas mais conhecidas temos os cupins e as formigas, que avançam dentro das casas deixando um rastro de destruição. Com as construções de cimento e concreto, cada vez mais comuns, esses insetos tiveram suas fontes de alimentação esgotadas, e a única maneira de sobreviverem é por meio da disputa de espaços com os seres humanos. 1.1. Histórico A palavra entomofagia nos remete a pensar em sua etimologia, que é tão pouco conhecida pelas pessoas, mais praticada por muitos. “Entomofagia” é conceituada, de maneira simples, como: O hábito de alimentar-se de insetos. A história por traz dessa palavra é rica e repleta de curiosidades que, de maneira didática, pode ser narrada em situações que vão desde os primórdios da humanidade até os dias atuais. O processo evolutivo do homem fez com que ele passasse por diversos estágios sempre driblando as adversidades em busca da manutenção e não extinção de sua espécie. Assim, na condição de caçadores, começaram a apanhar mais do que plantas comestíveis disponíveis ou cultivadas; eles perceberam que se os insetos se alimentavam das mesmas coisas que eles, os mesmos insetos poderiam sim ser também ótima fonte de alimento e atender também a parte nutricional humana. O processo evolutivo das espécies nos leva a crer que a sucesso dos insetos ao longo do tempo possibilitou uma diversidade adaptativa tão complexa e eficiente que hoje é possível observar o seu sucesso reprodutivo em toda parte, ao passo que, ante a abundância e a diversidade, outros animais os comiam extraindo nutrientes valiosos de suas carcaças. É inteligente pensar que os primeiros seres a praticarem a entomofagia foram animais semelhantes que, pelas relações ecológicas, mantinham o equilíbrio das espécies. Assim, os seres humanos provavelmente tiveram dicas sobre quais eram saborosos e lícitos comer, observando os insetos que serviam de alimento nas distintas regiões. Ao examinarmos a Bíblia e levarmos em conta a época remota em que ela foi escrita, é possível observar que a entomofagia já era prática natural do povo daquela época. No livro do Levítico no Velho Testamento é possível observar que já naquela época existiam acepções e permissões sobre quais alimentos eram proibidos e permitidos para o consumo. O livro cita que coelhos, porcos, pelicanos, camundongos, tartarugas e doninhas eram proibidos. Por outro lado, em Levítico 11:22, consta que era permitido comer: “o gafanhoto segundo sua espécie, o gafanhoto calvo segundo sua espécie, o besouro segundo sua espécie e o grilo segundo sua espécie”. Seguindo essa jornada culinária, que remonta aos tempos bíblicos, João Batista morou no deserto durante meses, vivendo de gafanhotos e favos de mel, demonstrando aí um caso clássico de entomofagia ou antropoentomofagia, fato que está registrado em um dos mais importantes livros da história. Em outra parte do mesmo livro é possível verificar os hebreus durante o êxodo alimentaram-se de secreção de cochonilha. Aí podemos perceber que o uso de insetos foi responsável pela alimentação de uma nação. Vários são os exemplos de povos que se alimentavam, e ainda hoje se alimentam, com insetos. Naquela época, e ainda hoje, os gafanhotos são uma fonte excelente de alimento, possui sabor adocicado e dispõe de uma alta capacidade nutritiva. Por outro lado, as baratas, tão odiadas pela população em geral, são abundantes para os antigos argelinos, que as serviam como verdadeiros banquetes; eles as coletavam aos milhares e as preparavam fervendo-os em água e sal e, em seguida, secando-as ao sol. Outro povo que já praticou e ainda hoje pratica a entomofagia são os aborígenes, que consumiam mariposas em suas refeições. Após cozinhá-las em areia, eles queimavam as asas e as pernas, peneiravam-nas em uma rede para remover a cabeça, deixando nada além da deliciosa carne de mariposa. Eles comem formigas pote-de-mel e as larvas das mariposas. Essas larvas podem ser comidas cruas e, quando cozidas, têm sabor parecido com amêndoas torradas. Assim eles dizem. Com o evoluir das espécies e adaptações exigidas para perpetuação das espécies, novos indivíduos se juntariam à ideia de se praticar entomofagia de forma rotineira, e então os romanos e os gregos jantariam larvas de besouros e de gafanhotos. O cientista e filósofo grego Aristóteles até escreveu sobre a coleta de saborosas cigarras e o seuuso na alimentação. Demonstrando que a entomofagia ou antropoentomofagia é pratica histórica entre as diferentes espécies. 1.2. Consumo e relação geográfica A entomofagia ou apreciação por alimentação à base de insetos pode ser constatada em várias partes do mundo. O uso de insetos e animais, ou de seus subprodutos, na alimentação ou como recurso medicinal, tem conotação histórica e o conhecimento tradicional e enfoques que norteiam as etnociências colaboram em particularidades a serem estudadas, acumulados e sendo transmitidos entre gerações. Milhares de espécies de insetos estão identificadas e registradas. Do total, pelo menos 1.417 são usadas rotineiramente como alimentos. Como exemplo, temos os tailandeses que transformam o louva-a-deus em uma pasta, cujo sabor lembra o do patê de camarão com cogumelos. Na China, acredita-se que o consumo de formigas tenha efeito rejuvenescedor (RAMOS-ELORDUY; PINO, 1996). Na América Latina, o uso de insetos também é uma ação comum e está bem disseminada entre os povos indígenas. Para os índios da tribo Tukano, que habitam a Amazônia colombiana, formigas e soldados de cupins constituem o único alimento de origem animal. No Brasil, o registro do consumo de insetos como alimento tem sido relatado já há muito tempo e remonta a época da colonização. FORATTINI (1964) refere-se a José de Anchieta que, em suas cartas, ressalta propriedades nutricionais do abdômen de içás e certas larvas que nascem entre as taquaras. Em seu trabalho de revisão bibliográfica, COSTA-NETO e RAMOS-ELORDUY (2006) listam 135 espécies de insetos comestíveis, divididos em 9 ordens e 26 famílias em 39 grupos indígenas e comunidades urbanas. Calcula-se que no mundo existam aproximadamente 10 milhões de espécies de insetos, vários destes com potencial para serem explorados como alimentos. Entre os principais gêneros estudados destaca-se o grupo dos coleópteros por quantidade e qualidade; são indivíduos que apresentam carapaça que recebem nome de élitros. É possível que já estejam catalogados e identificados mais de 400 dessas espécies, seguido por himenópteros (com atenção especial ao grupo das formigas) com 307 espécies, ortópteros com 235 (gafanhotos, grilos, paquinhas, esperanças) e lepidópteros (lagartas de borboletas e mariposas) com mais de 228 espécies registradas, além de percevejos, cupins, cigarrinhas, moscas e outros. Dentre os insetos mais usados na prática da entomofagia, podemos destacar os da família Tenebriondae como insetos comestíveis. O bicho-da- farinha é o nome dado às larvas do Tenebrio molitor, um besouro do gênero Tenebrio, que tem como características: Cor preta ou pardo-escura, e constitui pragas bastante vulgares encontradas em armazéns de farinhas e cereais; atravessa quatro estágios na vida: ovo, larva, pupa e adultos; as larvas medem tipicamente cerca de 2,5 cm e os adultos vão de 1,25 cm a 1,8 cm de comprimento (ANDERSEN & ROEPSTORFF, 2007). Diversos outros gêneros e espécies podem ser incorporados à dieta humana ou à de animais, necessitando apenas de estudos que possibilitem o seu uso com segurança. É sabido que até 2050 mais de nove bilhões de pessoas habitarão a Terra e, consequentemente, necessitarão de alimentos. Com a população crescendo, as demandas por proteína animal tendem a não serem supridas pelo modelo tradicional de produção, que envolve apenas a criação de animais, cuja demanda por insumos é alta, e o retorno muitas vezes não corresponde às necessidades (FAO, 2013). Quando os dados de produção de fontes proteicas são contrastados, segundo a FAO (2013), são necessários 2 quilos de ração para produzir 1 quilo de insetos com proporcionalidades nutricionais superiores à carne bovina, sendo o custo de produção bastante inferior ao exigido pelo gado, que requer 8 quilos de alimento para produzir apenas 1 quilo de carne. Como vantagem sobre a ótica de produção, a criação de insetos é desenvolvida de forma simplificada, sendo realizada com a utilização de insumos a partir de resíduos orgânicos, tais como restos de alimentos, compostos e estrume. Outro benefício é que possuem um elevado teor de proteínas, gorduras e minerais, podendo ser consumidos inteiros ou em pó, e incorporados em outros alimentos (GHALY, 2009). 1.3. O problema fome e desnutrição A alimentação é um dos direitos humanos básicos, inerente à dignidade e cabe ao Estado o combate à fome. No ano de 1996, a Organização para Alimentação e Agricultura (FAO) realizou a Primeira Cúpula Mundial da Alimentação, conferência na qual foram aprovados uma Declaração e um Plano de Ação destinado ao combate a fome no mundo. Os chefes de Estado e governo participantes assumiram então o compromisso de mudar radicalmente o quadro de desnutrição que está presente em mais de 870 milhões de homens, mulheres e crianças no mundo inteiro, sendo que só no Brasil eram 16 milhões de pessoas (BRASIL, 2012). O Brasil, entre outros países, comprometeu-se a diminuir pela metade a população que passa fome até o ano de 2015 e essa busca tende a se estender, uma vez que as intempéries climáticas e a sazonalidade de produção não acompanham a demanda da variante de proteína (VALENTE, 2003). O Projeto Fome Zero, com base na renda familiar levantada pela pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 1999, estimou que, no país, quase 10 milhões de famílias não possuem renda suficiente para garantir a segurança alimentar. Pela lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional, art. 3º, 2006 (MALUF, 2007). A segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde, que respeitem a diversidade cultural. Segundo o relatório feito dentro do período de 1990-1992 a 2010-2012 pela FAO, o total de subnutridos do país reduziu de 14,9% para 6,9% da população. No mundo, o índice de desnutrição era de 18,6% e baixou para 12,5%, enquanto na América Latina a redução foi de 13,6% para 7,7%. O Brasil tem atingido algumas dessas metas em relação aos Planos de Ação acordado no ano de 1996 na Cúpula Mundial da Alimentação, sendo que o Programa Bolsa Família se destaca como um dos responsáveis por essa queda. Apesar dessas ações terem sido alcançadas, ainda prevalece um índice elevado de desnutrição associado à extrema pobreza, presente nas áreas rurais, no norte do país e em comunidades indígenas demonstrando ainda uma alta demanda nas áreas sociais, econômica e que, ao mesmo tempo, seja ambientalmente sustentáveis (CUSTÓDIO, 20013). Alimentar-se é um ato voluntário e consciente, dependente da vontade do indivíduo e condições para a escolha do alimento para o consumo. O hábito alimentar está relacionado com as práticas alimentares que envolvem opções e decisões quanto à quantidade, o tipo de alimento que comemos, quais os que consideramos comestíveis ou aceitáveis para nosso padrão de consumo, a forma como adquirimos, conservamos e preparamos os alimentos, além dos horários, do local e com quem realizamos nossas refeições (MARÍN-LEÓN et al., 2005). Inúmeras peculiaridades estão envolvidas no hábito alimentar do homem, tornando-o único entre os primatas. A escolha e aceitação pelo alimento são determinadas por distintos fundamentos sociais, econômicos e culturais que podem revelar a importância do ato de se alimentar, tanto para nutrição dos tecidos como pelo efeito cultural (MORAIS et al., 2014). Sendo assim, as mudanças relativas aos hábitos alimentares das pessoas tendem a serem desmistificadas à medida que novos horizontes se abrem sobre o aspecto alimentação quando estes são incluídos no cotidiano. Sabe-se que os insetos são extremadamente nutritivos, e em alguns casos assemelham-se as fontes proteicas já culturalmente aceitas pela sociedade. Tabela 1: Comparação nutricional entre os insetos. 1.4. O consumo de insetos A antropoentomofagia, que pode ser confundida com entomofagia, diferencia-sedesta última por restringir o hábito apenas humano de se alimentar de insetos. No entanto, as duas são uma realidade em várias partes do mundo, é cultural, e em algumas o motivo da sobrevivência de suas práticas em comunidades mais antigas. A prática desse hábito, encontra-se esquecida pela maior parte da população, uma vez que as alternativas industrializadas de alimentos suprem as necessidades básicas humanas, ao mesmo tempo que afasta a possibilidade de familiarização uma vez que culturalmente o marketing tende a depreciar os insetos, colocando- os apenas como animais sujos e transmissores de doenças. Assim, o presente livro tem por finalidade esclarecer, em seus capítulos, aspectos relevantes da importância dos nutrientes na fisiologia humana/animal, nortear a população quanto ao uso de insetos como fonte de nutrientes, esclarecer a importância destes seres como parte do equilíbrio ecológico, direcionando a população quanto à realidade sobre a disponibilidade de alimentos proteicos em um futuro próximo, além da excelente alternativa que os insetos podem se tornar para a indústria alimentícia e para as populações devido ao seu custo e qualidade de sua carne. 1.5. 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Regulamenta o inciso VII do § 1º do art. 225 da Constituição Federal, estabelecendo procedimentos para o uso científico de animais; revoga a Lei n. 6.638, de 8 de maio de 1979; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília; 2008; (196); Seção 1:1-4. COSTA NETO, ERALDO MEDEIROS. Insetos no Cardápio. Ciência Hoje, Rio de Janeiro, v.27, n. 161, pp. 63-65, 2000. CARRERA M. Entomofagia humana. Revista Brasileira de Entomologia 36: 889-894, 1992. Chen y Ants used as food and medicine in China. The Food Insects Newsletter 7(2): 1, 8-10, 1994. CHEN P.P., WONGSIRI S., JAMYANYA T, RINDERER T.E., VONGSAMANODE S, MATSUKA M., SYLVERTES H., OLDROYD B.P. Honey bees and other edible insects used as human food in Thailand. American Entomologist 44: pp. 24-29, 1998. CHERRY R.H. Use of insects by Austalian Aborigines. American Entomologist 37: 8-13, 1991. Coimbra Júnior CEA, Santos RV. Bicudo das palmáceas: praga ou alimento? Ciência Hoje 16(95): pp. 59-60, 1993. CONCONI J.R.E. 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No entanto apenas recentemente esta prática tem atraídoà atenção da mídia, de renomadas instituições de pesquisa, chefes de cozinha e outros membros da indústria de alimentos e de agências de regulamentação na área alimentícia. O Programa de Insetos Comestíveis da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) também tem examinado o potencial de aracnídeos (aranhas e escorpiões) para a alimentação animal e humana, que por definição apesar de parecer, não são insetos. Uma vez falando de independência e soberania alimentar, ou seja, “direito de cada nação a manter e desenvolver os seus alimentos, levando em conta a diversidade cultural e produtiva”, os insetos comestíveis também são uma alternativa de alimento e renda para muitas comunidades. A entomofagia é um fenômeno historicamente antigo e geograficamente disseminado (Posey, 1986; Dufour, 1987; Dwyer e Minnegal, 1991; Chen, 1994; Herriot e Pemberton, 1995; Turner, 1996; Lenko e Papavero, 1996; Lathan, 1999). Pode-se dizer que a entomofagia surgiu com os primeiros hominídeos e atualmente está presente em mais de 100 países ao redor do mundo (Ramos-Elorduy, 1996). Os Astecas, utilizavam em sua alimentação cerca de 91 diferentes espécies de insetos, preparando-os assados, fritos, em molhos, apenas fervidos ou como temperos em algum prato. Algumas espécies até eram armazenadas secas. Com a chegada dos espanhóis, muitos dos alimentos indígenas foram rejeitados então esquecidos e/ou depreciados Ramos-Elorduy e Pino, (1996) registraram que, no século XVIII, insetos eram dados como castigo às noviças do Convento de Puebla, México. Dos muitos insetos já listados, aproximadamente 1500 são usados na alimentação de até três mil grupos étnicos em mais de 120 países (Ramos- Elorduy, 2000). O maior grupo de insetos comestíveis é o dos coleópteros seguido pelos himenópteros e ortópteros além dos lepidópteros . Dez por cento dessas espécies são sucedidos de diferentes partes do mundo e as restantes estão restritas a algumas zonas geográficas, das quais 12% são espécies aquáticas e 78% são terrestres (Ramos-Elorduy, 1996). Uma revisão sobre o uso de insetos como alimento nas diversas culturas do mundo foi publicada (DeFoliart, 2002). Os insetos são consumidos nos diferentes estádios de seu desenvolvimento: de alguns se consomem os ovos; de outros, as larvas ou então as larvas e pupas; de outros, somente os adultos. Produtos elaborados e/ou excretados por eles, como o mel também são amplamente consumidos. Promover e incitar o consumo de insetos pode levar a diminuição de danos ao meio ambiente, devido os mesmos além de fonte de alimentação, prestarem serviços essenciais, como a polinização, remoção de esterco e controle de pragas. Existe uma abundante variedade de insetos benéficos e que são comestíveis, portanto sofrem com a deterioração florestal e do solo, e o desmatamento. O uso sustentável de insetos comestíveis pode proporcionar a conservação dos recursos naturais e, assim, atuar de maneira importante na conservação da biodiversidade. A FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) esta tomando medidas para chamar a atenção para essa valiosa fonte alimentar, mapeando esta prática em todo o Planeta, propondo estratégias e a divulgação de experiências com insetos e recomendando-a como uma fonte viável de proteínas. No mundo em desenvolvimento, uma revisão e rigorosa avaliação dos recursos alimentares esta sendo cada dia mais essencial, a tecnologia ocidental precisa rever seus conceitos nesse sentido, a fim de torna-los um alimento além de saudável, aceitável ao gosto da população (FAO, 2011). Assim, o consumo de insetos surge como uma alternativa de alimentação saudável e produção eficiente e responsável no que diz respeito à produção e conservação dos recursos naturais, pois vários grupos de insetos podem ser encontrados em abundância em determinados ambientes, representando grande quantidade de biomassa, que poderia estar sendo aproveitada como fonte de alimento para humanos e ainda permitem sua criação em pequenos espaços com notável eficiência e baixo custo. Alimentação X fome Existe certa diferença entre comer e se alimentar. Enquanto o hábito de comer pode ser descrito por apenas “abastecimento” do corpo ou apenas preencher uma vontade, a ação de se alimentar é vista como uma forma terapêutica de saúde para manter o corpo ajustado, aplicando os componentes de cada alimento ingerido, trazendo, assim, a nutrição. Alguns nutricionistas garantem que parte das pessoas apenas “matam a fome do estômago” e não das células, por isso apenas se alimentam e não se nutrem adequadamente. A fome e uma necessidade fisiológica da humanidade que garante a contentamento, porém o sabor, cuja satisfação não obedece apenas ao curto trajeto que vai do prato a boca, toma forma em tradições, culturas, ritos e etiquetas, além de influencias ou ocasiões pessoais, culturais, econômicas e politicas, que possam influenciar. O que se degusta, com quem se faz e, quando, como e onde se degusta: as escolhas e proibições alimentares são decididas pela cultura, na qual o homem se alimenta de acordo com a sociedade a qual cabe (GARINE, 1987). Há inúmeras diferenças nos hábitos alimentares das culturas. Se compararmos a exemplos hábitos alimentares dos brasileiros com os de outros povos, muitos deles parecerão curiosos para nós. Em países como Guiné Bissau, Indonésia, China e Coréia, é comum comer carne de cachorro, na Índia é tradicional a sopa de cobra que da força e sorte, em Hong Kong contemplam sapo a moda da casa, e na Tailândia baratas fritas são apreciadas como manjares. Alguns povos também consideram estranhos alguns de nossos hábitos alimentares. Os judeus ficam por vezes indignados com nossa prática de comer carne de porco, já na, Índia, a culinária lança mão do uso de grande variedade de temperos aromáticos e condimentos apimentados. Em algumas regiões do país, o clima é bem frio e os temperos ajudam a reter a temperatura do corpo. Assim como na Índia, no Nepal e na Tailândia os pratos servidos também são bastante condimentados. Já entre alguns indígenas que habitam a Amazônia colombiana, formigas e soldados de cupins compõem o único alimento de origem animal permitido a dietas limitadas em casos de doenças, ritos de iniciação de adolescentes e de meninas na menarca (DUFOUR, 1987). A produção mundial de alimentos é satisfatória para fornecer aos atuais 7,3 bilhões de habitantes da Terra sua subsistência. Porém parte da população dos países menos desenvolvidos não tem acesso a quantidades suficientes de comida , segundo pesquisadores mundo a fora isto se deve ao fato de uma produção local insatisfatória ou ainda a falta de recursos do país para adquirir alimentos no competitivo mercado internacional em razão de ações especulativas, entre outros fatores. Enfim o que todos já visualizam e que haverá uma demanda futura por alimentos de origem vegetal e animal. A Tabela 1 apresentada uma estimativa para a demanda até 2025. Tabela 1: Mundo. Produção atual e demanda por alimentos e fibras (milhões de t) 1 Todas as carnes consumidas De acordo com o panorama mostrado na tabela 1 a fome aproximar-se da gravidade, pois populações que já passam dificuldade para alimentar-se encontrarão uma situação ainda pior nas próximas décadas, empenhando ate 75% de sua renda com alimentação. Segundo Ávila (2012), cálculos da Oxfam (2014), estimam que os preços médios de alimentos tendam a dobrar ate 2030 e que, ate 2050, 25% da produção mundial de alimentos pode ser perdida em razão do impacto ligado as mudanças climáticas, degradação do solo, da carência de água e das pragas e doenças agrícolas. Consumo de Insetos Foto1: http://2. bp.blogspot.com/-1QkL_ZT- pYQ/TUAgTUU5AWI/AAAAAAAAKBw/LxRmjovbi7g/s1600/Insetos+no+card%25C3 %25A1pio.jpg Conhecida como “entomofagia”, o consumo de insetos e aracnídeos em geral é um hábito alimentar utilizado em algumas culturas do mundo, sobretudo na Ásia, África e América Central, e poderia ser uma alternativa com diversos ganhos para crise da mundialde produção de alimento. O crescimento da população tem elevado a demanda mundial por alimentos, sobretudo as fontes proteicas. Outro fator que contribui é a produção de ingredientes e rações para nutrição animal e esta demanda necessita ser repensada em termos de eficiência de recursos e ampliação do uso de fontes alternativas. Por volta de 2030, serão necessários abastecer de alimentos aproximadamente nove bilhões de habitantes, juntamente com outros bilhões de animais utilizados na alimentação, recreação ou ainda como estimação. Além disso, efeitos paralelos como poluição do solo e de recursos hídricos relacionados da produção pecuária e a pastagens, o qual provoca o desmatamento de áreas florestais e a outros impactos ambientais destrutivos. Em razão disso, será também necessário encontrar novas saídas para tais impactos e colocá-las em prática. Uma alternativa existente para problema de segurança alimentar seria a criação de insetos. Insetos estão em todos os lugares, se reproduzem rapidamente, com elevadas taxas crescimento e de conversão alimentar, além do reduzido impacto ambiental causado em todo seu ciclo de vida. Sendo nutritivos, e com superior teor de proteína, ácidos graxos e minerais. Podem ser criados a utilizando resíduos orgânicos, como rejeitos de alimentos podendo ser consumidos inteiros, moídos, processados em pó ou em pasta para serem incorporados a outros alimentos. O cultivo de insetos em grande escala para ser utilizado ainda como fonte ou ingredientes para ração animal é possível e já existem iniciativas empreendedoras concretizadas, em várias partes do mundo, na dianteira destas ações. A utilização de insetos como alimento na produção animal, como na aquicultura e avicultura, será cada vez mais utilizada nas próximas décadas. O maior grupo de insetos comestíveis e o de coleópteros com mais de 450 espécies, seguido por himenópteros principalmente diferentes espécies de formigas, chegando 300 espécies, s com cerca 230 espécies gafanhotos, grilos, e outros ortópteros e lagartas de borboletas e mariposas, com mais de 230 espécies registradas, e ainda percevejos, cupins, cigarrinhas e moscas, e outros. No sul da África lagartas, e ovos de formigas tecelãs no sudeste da Ásia são considerados petiscos e atingem altos preços no mercado consumidor (CARRERA, 1992; NEWS, 2014). A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, alegou que gafanhotos, formigas e outros componentes do mundo dos insetos são subutilizados na alimentação de pessoas, de animais de estimação e na pecuária. Em um relatório de 200 páginas divulgado em Roma, a FAO observa que 2 bilhões de pessoas em todo o mundo já complementam suas dietas com insetos, que têm alto teor de proteínas e minerais além dos benefícios ao ambiente. Os insetos são excelentes conversores de ração em carne comestível, diz a agência. Na média, ele podem converter 2 kg de ração em 1 kg de massa. Em comparação, o gado exige 8 kg da mesma ração para produzir apenas um 1 kg de carne. Figura 2: Conversão alimentar bovino e gafanhoto Fonte: http://,1d6 895d82cd9e310VgnCLD2000000dc6eb0aRCRD. html. Atualmente, a maioria dos insetos comestíveis são angariados em florestas. A maior parte da produção em escala é geralmente familiar e atende a nichos de mercado específicos, mas a ONU diz que a possível mecanização pode elevar a produção, advertindo que a indústria de iscas para pesca há muito tempo produz insetos. Ainda segundo a FAO a produção de insetos é uma das várias formas de abordar a alimentação e a segurança alimentar. Os insetos estão em todo lugar e se reproduzem rapidamente, afirmou a FAO, sobrepondo que eles deixam “uma pequena pegada ambiental”. Eles fornecem proteínas e nutrientes de alta qualidade na comparação com carne e peixe e são particularmente importantes como suplemento alimentar para crianças subnutridas. Os insetos também podem ser ricos em cobre, ferro, magnésio, manganês, fósforo, selênio e zinco, além de fonte de fibra. Diferentes pesquisadores tem analisado o valor nutricional dos insetos comestíveis, alguns deles como certos besouros, formigas, grilos e gafanhotos, e concluíram que se aproxima da carne vermelha magra ou do peixe assado, em termos de quantidade de aminoácidos e proteínas (Quadro 1, 2 e 3). Quadro 1. Aminoácidos essenciais em insetos de algumas ordens (mg) comparados aos de alguns alimentos Fonte: Ramos-Elorduy et al., 1984. Quadro 2: Aminoácidos presentes em algumas ordens de insetos Fonte: Ramos-Elorduy et al., 1984. Quadro 3: Características de alguns alimentos comumente consumidos e insetos em termos de proteínas (base seca g/100g) Fonte: Conconi, 1993; Ramos-Elorduy et al., 1984. Podemos perceber, a partir dos dados expostos nos quadros acima, que varias ordens de insetos apresentam valores proteicos acima dos da carne bovina, de frango e de ovos, e ainda de algumas leguminosas. O conceito de criação de insetos em grande escala para consumo humano e relativamente novo, embora haja exemplos de granjas de grilos no Laos, Vietnã e Tailândia. Em Laos, a FAO vem desenvolvendo um projeto de criação de insetos, que aproveita os conhecimentos de 15 mil agricultores familiares que cultivam gafanhotos na Tailândia ha décadas. Na África, podemos encontrar fazendas de criação de insetos para a alimentação, na maioria pequenas. Mas pesquisadores afirmam que, como os insetos podem sobreviver em diferentes locais, de desertos a montanhas, ha um grande potencial para este campo de produção. Apesar de o Ministério da Agricultura no Brasil expor que nunca registrou nenhum produtor de insetos para consumo humano, uma empresa de Minas Gerais afirma que já solicitou o pedido para obter a licença e que ainda não recebeu resposta. Na verdade, a empresa já é especializada na produção de insetos para a alimentação de animais. No entanto, como os animais são tratados em um ambiente limpo e saudável, não há nenhum obstáculo para o consumo humano. Isso atrai chefs de cozinha e curiosos, que, eventualmente, usam esses ingredientes para desenvolver seus pratos requintados e apreciados pelos mais exigentes consumidores. Uma empresa alemã “Der Schabenkoenig” (“O Rei Barata”, em alemão) ostentou em 2011 um produto peculiar em uma feira de animais de estimação em Frankfurt, a Lethocerus indicus (barata-de-agua-gigante), um inseto aquático, que na verdade é um percevejo, oferecendo opções de consumo. Consumo de Insetos no mundo Em pelo menos 120 dos 192 países filiados à ONU, insetos são consumidos regularmente. Na América Central, no Sudeste Asiático e no Oeste Africano, eles são servidos em restaurantes finos como iguarias caras e refinadas. Nos EUA, uma lata com 200 gramas de formigas tanajuras sai em média por U$ 57,00. E, até no Brasil, formiga frita é petisco apreciado. A FAO calcula que os insetos fazem parte da dieta de, pelo menos, dois bilhões de pessoas no mundo, e que existem mais de 1.900 espécies comestíveis (RAMOS-ELORDUY, 2000). Dados da FAO mostram que cerca de 80% dos países possuem insetos em seus cardápios, e 23 dessas nações ficam no continente americano. Mais de mil tipos de insetos já fazem parte do cardápio, principalmente na porção oriental do globo, sendo mais populares nas regiões tropicais, onde ficam maiores em tamanho e são mais fáceis de serem capturados e criados. Observam-se, os seguintes percentuais de consumo de insetos por continente e em seus respectivos países: África - 524 espécies comestíveis e consumidas por 62% dos países; Ásia - 349 espécies comestíveis e consumidas por 58% dos países; Oceania - 152 espécies comestíveis e consumidas por 56% dos países; Américas - 679 espécies comestíveis e consumidas por 41% dos países; Europa - 41 espécies comestíveis e consumidas por 21% dos países (SENAC, 2015). \No continente americano o México é o país com mais relatos sobre insetos comestíveis, já tendo sido registradas mais de 490 espécies, dentre eles lagartas, gafanhotos e percevejos. Se for considerar-se vários grupos étnicos em todoo mundo, quase 1.800 espécies de insetos já foram relatadas como comestíveis. Abaixo, uma seleção dos principais insetos mais consumidos do mundo. O besouro é campeão absoluto. Besouro-do-coqueiro – Rhynchophorus palmarum Este carnoso coleóptero é abundante no Brasil. Ele é encontrado no Norte e Nordeste, dentro dos coquinhos de babaçu. Pode ser comido na hora ou preparado com farinha de mandioca. Abelha – Apis mellifera As agradáveis larvas da abelha têm sabor de mel. Fonte de proteínas e vitaminas A e D, são apreciadas acompanhando salada de frutas. Içá – Atta cephalotes Característica do vale do Paraíba, no leste de São Paulo. Crocante, a fêmea da formiga saúva é servida pura, frita ou como farofa. Gafanhoto – Sphenarium purpurascens Petisco clássico mexicano. São cozidos após serem tratados ficando sem comida para liberação do conteúdo estomacal. Come-se com sal, limão e pimenta ou na tortilha. Bicho-da-seda – Bombyx mori. A espécie não é mais encontrada na natureza, só sobrevive e é criada em cativeiro. Na China e no Japão, os casulos são consumidos como biscoitos. Tenébrio – Tenebrio molitor Utilizados em praticamente todo o mundo em rações animais, estes besouros disseminam proteína e são apreciados pelos chineses em todas as suas fases de desenvolvimento. Louva-a-deus da Tailândia Este inseto é transformado em uma cremosa pasta. Narram que o sabor lembra patê de camarão. No Oriente, diversos povos se alimentam de gafanhotos e nativos africanos comem formigas, cupins, larvas de besouros, lagartas e gafanhotos. No Camboja (sudeste asiático), aranhas são consideradas como pratos tradicionais; e também o cà cuống, que e um nome de origem vietnamita utilizado para definir o liquido produzido pelos insetos machos para atraírem as fêmeas. Este liquido e uma essência utilizada para aromatizar tradicionalmente o bánh cuốn um delicioso crepes de massa de arroz. Adiciona-se também uma gota da essência retirada da barata-d’agua, para realçar o sabor de algumas preparações, em virtude desta prática estes insetos tem-se tornado cada vez mais raro, e sua essência cada vez mais cara (CLAUDIO, 2015). No Japão, como em todas as sociedades que foram influenciadas pela cultura da China, além dos alimentos mais comuns como o arroz, o peixe, a carne de porco, os legumes, a carne de cachorro, de gato, de cobra, os insetos são muito consumidos. Pesquisadores da Agencia Espacial Japonesa (JAXA), estudaram o bicho da seda e os cupins e descobriram que eles seriam fonte de uma dieta rica em gorduras e aminoácidos. Já a China admira espetos de grilos e larvas de bicho-da-seda. Na Índia, o cupim é um prato popular (BRUNA, 2014). No sul da África, as lagartas Mopani são populares e na Republica Centro-Africana, se comem cupins chamados bobo, que aparecem na estação chuvosa, gafanhotos verdes que chegam na estação seca, sendo tostados ou cozidos vagarosamente. Varias espécies de lagartas e larvas de uma grande mariposa marrom, também são consumidas em todo o país. Depois que as lagartas eclodem, elas são apanhadas, lavadas e cozidas com tomate, cebola e outros ingredientes. Algumas podem ser conservadas secas ou defumadas e guardadas por até três meses (BENITEZ, 2014). Consumo de insetos no Brasil No Brasil, até o presente momento existe apenas uma empresa que produz insetos para o consumo, no entanto, e destinado apenas para consumo animal, é a Nutrinsecta, fundada desde 2008, em Betim (MG), que já solicitou ao Ministério da Agricultura, uma licença para a produção com objetivos voltados ao consumo humano, mas que ainda esta em estudos por se tratar de tema polémico que precisa de maiores estudos. O biólogo Eraldo Medeiros, da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), que pesquisa os insetos comestíveis ha mais de 15 anos, foi o entrevistado do Programa do Jô Soares, onde apresentou sua experiência, lembrando que em um curto espaço de tempo estes pratos estarão na mesa da população brasileira. No Brasil insetos já são a muito utilizados na alimentação e na vida cotidiana, talvez sem ser observado, como a cochonilha-do-carmim, um aditivo natural que da a cor vermelha aos batons, doces e embutidos, e que aparece nos rótulos sob o nome de carmim ou E-120 (BENITEZ, 2014). Certas regiões do Brasil o consumo de insetos é tradicional em diferentes pratos. A exemplo da formiga por conhecida como Tanajura Atta spp. que é admirada em pratos tradicionais em Minas Gerais, Amazonas e no Nordeste do Brasil, aproveitada como ingredientes de tradicional farofa. O besouro Pachymerus nucleorum, tem sua larva consumida por moradores da zona rural de Minas Gerais (TERRAMERICA, 2013), e a saúva (Atta cephalotes), possui mais proteínas (42,59%) do que a carne de frango (23%) ou a carne bovina (20%). (SENAC, 2015) Alguns insetos consumidos no mundo e suas características Com a população mundial e crescimento, alimenta-la vai se tornar progressivamente mais difícil – mesmo hoje, milhões já passam fome em todos os cantos do mundo. Em virtude desta constatação, um número crescente de pesquisadores afirmam que em breve não teremos outra escolha, a não ser utilizar, numa maior escala, insetos na alimentação humana. Como se para autenticar esse afirmativa, um grupo de estudantes da Universidade McGill, de Montreal, no Canadá, ganhou o Prêmio Hult 2013 com a produção de uma farinha rica em proteína feita de insetos. O prêmio dá aos alunos US$ 1 milhão em capital para começar a criar o que eles chamam de “Farinha Poderosa”. No início deste ano, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) divulgou um relatório intitulado “Insetos comestíveis: perspectivas futuras para a segurança alimentar dos humanos e dos animais”. O documento descreve os benefícios de saúde e ambientais derivados de uma dieta suplementada por insetos, também conhecida como “entomofagia”. Baseado neste documento e outras fontes listamos alguns insetos comestíveis que brevemente poderá encontrada nos pratos mundo a fora. Lagartas mopane Fonte: FOTOSEARCH Banco de Imagens As lagartas mopane – Imbrasia belina –comuns em toda a parte sul da África . A colheita de lagartas mopane é uma indústria de milhões de dólares na região, onde as mulheres e as crianças geralmente fazem o trabalho de reunir os insetos, que são pequenos. As lagartas são tradicionalmente cozidas em água e sal e, secas ao sol. Numa espécie de carne seca de lagarta, durando meses sem refrigeração, tornando-se uma importante fonte de nutrição em tempos de dificuldades. Os insetos são nutritivos: enquanto o teor de ferro da carne é de 6 mg a cada 100 gramas de peso seco, as lagartas mopane contêm 31 mg de ferro a cada 100 gramas. Elas também são uma boa fonte de potássio, sódio, cálcio, fósforo, magnésio, zinco, manganês e cobre, de acordo com a FAO. Cupins Fonte: @ Can Stock Fotos A excelente qualidade destes insetos pode ser aproveitada quando são fritos ou secos ao sol, defumando ou cozinhando em folhas de bananeira. Cupins geralmente contem até 38% de proteína, e uma espécie venezuelana em particular, a Syntermes aculeosus, é composta por 64% de proteína. São também ricos em ferro, cálcio, ácidos graxos essenciais e aminoácidos, tais como o triptofano. Larvas Brancas Australianas Fonte: http://hypescience.com/9-pratos-horripilantes-que-voce-nao-vai-acreditar-que-as- pessoas-realmente-comem/ “Witchetty grub”- o termo se aplica às larvas da mariposa Endoxyla leucomochla, que se alimenta das raízes do arbusto witchetty. Entre os povos aborígines, grub é um alimento básico. Quando comidas cruas têm gosto de amêndoas; quando cozidas levemente em brasa, a pele desenvolve a textura crocante e saborosa do frango assado. Esta larva é uma grande fonte de ácido oleico, uma gordura monoinsaturada ômega-9 saudável. Chapulines Fonte: http://www.flickriver.com/photos/tags/sphenariumpurpurascens/interesting/ São gafanhotos do gênero Sphenarium e são consumidos em todo o sul do México, muitas vezes servidos assados e temperados com alho, suco delimão e sal, e geralmente bem apimentados. São conhecidos como fontes de proteína, sendo compostos por mais de 70% de proteína. Pesquisadores relatam que comer gafanhotos é uma alternativa ao uso de pesticidas nos campos de alfafa e outras culturas. Isso não só extingue os riscos ambientais associados às pulverizações de produtos químicos, como também dá a população local uma fonte extra de nutrição e renda, com a venda destes insetos. Gorgulho de palma africano Fonte: http://hypescience.com/7-insetos-que-voce-vai-comer-no-futuro/ Conhecido como gorgulho de palma (Rhynchophorus phoenicis) é encontrado nos troncos das palmeiras. Medindo cerca de 10 centímetros de comprimento e 5 centímetros de largura, os gorgulhos são com facilidade fritos porque seus corpos estão cheios de gorduras, embora eles também sejam comidos crus. Em 2011 o “Journal of Insect Science” publicou que o gorgulho de palma africano é uma excelente fonte de vários nutrientes como potássio, zinco, ferro e fósforo, bem como vários aminoácidos e ácidos graxos monoinsaturados e poli-insaturados saudáveis. Maria-fedida Fonte: https://www.google.com.br/search?q=consumo+de+insetos&biw= Percevejos conhecidos como Maria-fedida ou fede-fede são consumidos em toda a Ásia, África e em lugares da América do Sul. São fonte de nutrientes importantes, em especial proteínas, ferro, potássio e fósforo. Não são devem ser consumidos crus não ser quando a cabeça for removida o que descarta suas secreções produtoras do mau cheiro. Podendo ainda ser preparados torrados ou embebidos em água de sal e secos ao sol. Bicho-da-farinha file:///C:/Users/gcdcb/AppData/Local/Temp/calibre_d25zqi7h/kqhdasm4_pdf_out/text/part0002.html Fonte: https://www.google.com.br/search? q=tenebrio+molitor&biw=1366&bih=635&source Tenebrio molitor um dos poucos insetos cultivados no ocidente. São criados na Holanda para consumo humano e alimentação animal, em parte porque se desenvolvem melhor em um clima temperado. São ricos em cobre, sódio, potássio, ferro, zinco e selênio. Também são comparáveis à carne em termos de teor de proteína, mas com um teor maior de gorduras poli-insaturadas saudáveis. Tanajura Fonte:https://www.google.com.br/search ?q=tanajuras&biw=1366&bih=635&tbm=isch&tbo=u&source=univ&am p;sa=X&sqi=2&ved=0ahUKEwjA99HuhpnQAhWJvZAKHbejBJIQsAQIGg#imgrc= yplKop V17Zz50M%3ª A região nordeste do país, em especial na região serrana do Ceará, é tradicional comer formiga tanajura. O prato é vendido em feiras populares. Devido a grande dificuldade de serem capturadas por serem sazonal agregam alto valor. Além dos fatores nutritivos sendo ricas em proteínas. Na cultura popular acredita-se que elas possuam propriedades antibióticas naturais e também afrodisíacas. Tradicionalmente são preparadas econsumidas fritas ou em forma de farofa, utilizando apenas cabeça, tórax e abdome. POR QUE INSETOS? O uso de insetos como alimento, tanto para humanos quanto na nutrição animal, atribuem muitos benefícios ao meio ambiente, e à sociedade e como meios de subsistência. VANTAGENS AMBIENTAIS Suas taxas de conversão alimentar são altamente eficientes em razão de serem animais de sangue frio. A razão de quantidade de alimento por produção de carne varia dependendo da classe do animal e das práticas de produção utilizadas, sendo que os insetos muito eficientes neste assunto. Os insetos convertem 2 kg de alimento em 1 kg de massa corporal, quando comparados a bovinos que precisam de até 8 kg de alimento para produzira mesma massa corporal. Lançam menor quantidade de gases de efeito estufa do que a pecuária convencional. Podem utilizar como alimentos resíduos orgânicos, podendo transformá-los em proteína de alta qualidade, sendo utilizada na alimentação animal. Utilizam menos água se comparada á pecuária convencional. A criação de insetos não é exigente de grandes extensões de terra diferindo da pecuária convencional. BENEFÍCIOS À SAÚDE O teor nutricional dos insetos depende de seu estágio de desenvolvimento, habitat e dieta. No entanto, é amplamente aceito que: São fontes de nutrientes e proteínas de alta qualidade se comparado à carne bovina e ao pescado. São particularmente importantes como suplemento alimentar para crianças que sofrem de má nutrição, devido alto teor de ácidos graxos. Também são ricos em fibras e micronutrientes como cobre ferro, magnésio, manganês, fósforo, selênio e zinco. São considerados animais de baixo risco em relação a doenças transmitidas de animais para humanos como o vírus H1N1 (gripe aviária) e outros. BENEFÍCIOS SOCIAIS E MEIOS DE SUBSISTÊNCIA A coleta e a criação de insetos podem ser estratégia na diversificação dos meios de subsistência. Podendo ainda ser diretamente coletados na natureza. Sabendo que tal atividade requer um mínimo de conhecimento técnico e pouco investimento para a obtenção de equipamentos básicos de coleta e criação. Essas atividades além de melhorar diretamente a alimentação, podem servir como opção de renda por meio da venda do excedente da produção em mercados livres de rua. A coleta e criação de insetos pode também oportunizar ações empreendedoras. O processamento de insetos para a alimentação humana ou animal é algo que pode ser feito com facilidade. Algumas espécies podem ser consumidas inteiras ou ainda ser processados em pasta ou moídos como farinha, além disso, suas proteínas podem ser extraídas. (Afton Halloran e Paul Vantomme -2015) Considerações Finais Entomofagia e um fenômeno historicamente antigo e geograficamente espalhado. Pode-se dizer que a entomofagia surgiu com os primeiros hominídeos e, atualmente, esta presente em mais de 100 países ao redor do mundo. Das milhares de espécies de insetos já inventariadas, mais de 1700 são utilizadas como alimento por cerca de três mil grupos étnicos em mais de 120 países. Observa-se que consumo de insetos não é tão raro, e ainda apresenta um forte potencial de crescimento para recursos de problemas ambientais e como auxilio ao combate a deficiências nutricionais no mundo. Muitas pesquisas estão em andamento, no entanto existe a necessidade de ativação das mesmas para que se possam identificar espécies que podem ser consumidas sem trazer danos à saúde e também as formas adequadas de preparo e conservação. E preciso disseminar a ideia de que insetos podem ser incluídos na alimentação humana, podendo-se estimular a pratica da entomofagia por meio de campanhas educativas que enfatizem principalmente os benefícios nutricionais e ao meio ambiente. Insetos destinados ao consumo deve ser produzido especificamente para este fim, pois muitas espécies retiram toxinas de plantas hospedeiras ou podem sintetizar suas próprias toxinas, tornando-se itens não comestíveis e, assim, impróprios para o consumo humano. Ainda e necessário muito estudo para a definição de quais espécies são indicadas ou não para serem incluídos na alimentação e a sua forma adequada de preparo, como também a adaptabilidade à espécie humana. “Nojo é uma das nossas emoções mais básicas – a única que temos que aprender – e nada o aciona tão bem quanto à estranha comida dos outros.” (Herz). Referencias Bibliográficas: AFTON HALLORAN E PAUL VANTOMME (paul.vantomme@fao.org) guia informativo foi escrito por baseado na publicação “Edible insects: future prospects for food and feed security” disponível em w w.fao.org/forestr y/edibleinsects/en/ Traduzido para o português por Carlos Gustavo Nunes-Silva, pesquisador na Universidade Federal do Amazonas, Brasil.2015. 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Os insetos constituem um dos grupos mais populosos do planeta, as estimativas giram entre 5 milhões e 10 milhões de espécies, sendo que somente uma pequena parte já foi catalogada. Essa proporção se deve à simplicidade dos ambientes que esses animais precisam para sobreviver. Cerca de 1900 espécies podem ser utilizadas como alimento. Considerando o ritmo de crescimento populacional, a demanda por alimento aumentará ano a ano, atingindo um estágio em que a expansão das áreas destinadas ao cultivo de alimentos e animais não será mais viável. As condições ambientais também são preocupantes devido às mudanças climáticas e as frequentes crises hídricas que impactam negativamente na produção de alimentos. Nesse cenário, a produção de insetos como fonte de nutrientes para o consumo humano surge como alternativa diante do risco da escassez de alimentos no futuro. Apesar de apresentarem potencial para se tornar uma fonte alternativa de nutrientes para o homem no futuro, temos que considerar que o consumo de insetos pode trazer riscos para a saúde humana. Como qualquer outro alimento, como leite ou carne, os insetos são ricos em nutrientes e possuem quantidade de água suficiente para promover o crescimento de microrganismos. No Brasil ainda não existe nenhuma legislação que oriente e regule o consumo de insetos na alimentação humana. Essas regulamentações são importantes, pois podem criar medidas de controle higiênico-sanitárias para garantir a qualidade e diminuir os riscos do consumo inadequado. O brasileiro, de maneira de geral, não possui o hábito de consumir insetos como em outros países. Buscando uma alternativa de introduzir esse consumo, neste capítulo criamos quatorze formulações de alimentos que já são conhecidos e fazem parte do cotidiano alimentar da população. Os insetos foram adicionados nas preparações com o intuito de enriquecer e tornar o alimento mais atrativo do ponto de vista nutricional. Utilizamos nas formulações as larvas do bicho-da-farinha (Tenebrio molitor), Tenebrio gigante (Zophobas morio), barata cinérea (Nauphoeta cinerea), barata de Madagascar (Gromphadorhina portentosa) e o grilo preto (Gryllus assimilis) . Esses insetos foram adquiridos de empresa especializada na área e possuem condições higiênico-sanitárias para o consumo humano. Em algumas formulações foi utilizada a farinha dos insetos. Para a produção da farinha, utilizamos os insetos desidratados e moemos no aparelho moinho de facas. A informação nutricional simplificada apresentada nas formulações foi elaborada com base na Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TACO). FORMULAÇÕES Bolo enriquecido com farinha de barata cinérea (Nauphoeta cinerea). Ingredientes: 250g de açúcar 200g de farinha de trigo 100g de farinha de barata cinérea 4 ovos (aproximadamente 200g) 240 ml de leite 10g de fermento químico em pó 20g de margarina ou manteiga Procedimento: Bata todos os ingredientes no liquidificador, com exceção do fermento químico, e homogeneíze por 7 minutos. Adicione o fermento químico e leve para assarem forma untada por 30 ou 40 minutos (até dourar) em forno 180 °C Informação nutricional simplificada Representação da formulação Pão integral enriquecido com a larva do bicho-da-farinha (Tenebrio molitor) desidratada. Ingredientes: 500g de farinha integral 30g fermento biológico (2 tabletes) 80g de larva de Tenebrio molitor desidratada 10g de açúcar 7g de sal 200ml de leite morno 2 ovos ( aproximadamente 100g) 30g de manteiga ou margarina Procedimento: Dissolva o fermento biológico no leite morno e em seguida adicione o açúcar, o sal, a manteiga e os ovos. Homogeneíze a mistura e adicione toda farinha aos poucos juntamente com as larvas. Cubra a massa com um pano e deixe descansar por 20 minutos. Abra a massa com auxílio de um rolo, enrole e coloque em assadeira untada. Cubra a massa novamente e deixe crescer por 45 minutos. Asse até dourar, em forno a 180 - 220 °C. Informação nutricional simplificada. Representação da formulação Pão de queijo enriquecido com farinha da larva de Tenebrio molitor Ingredientes: 200g de queijo meia-cura 200g de polvilho azedo 80g de farinha da larva de Tenebrio molitor 100ml de leite 30g de manteiga 1 ovo Procedimento: Ferva o leite com a manteiga. Adicione o polvilho e mexa até obter uma mistura homogênea. Adicione o queijo e o ovo e misture novamente até homogeneização da mistura. Faça bolas de 30g cada uma. Asse em forno 180 °C até dourar Informação nutricional simplificada Representação da formulação Produto tipo shake enriquecido com farinha da barata cinérea (Nauphoeta cinérea) Ingredientes: 300 ml de leite 50g de aveia em flocos 40g de farinha de barata cinérea 1 banana grande (60g) Procedimento: Bater no liquidificador todos os ingredientes até a homogeneização completa Se preferir, adicione mel ou açúcar a gosto. Informação nutricional simplificada Representação da formulação Biscoito integral tipo cookie enriquecido com farinha de cinérea (Nauphoeta cinerea) Ingredientes: 100g de granola integral 100g de açúcar 150g de farinha de trigo integral 100g de farinha de barata cinérea 10g de fermento químico 10g de bicarbonato de sódio 1 ovo (50g) 100g de manteiga ou margarina Procedimento: Misture a manteiga juntamente com o açúcar, o ovo e a granola integral. Adicione aos poucos a farinha integral, a farinha de cinérea, o fermento e o bicarbonato de sódio. Faça bolinhas e asse em forma untada até dourar. Informação nutricional simplificada Representação da formulação Massa fresca para macarrão enriquecida com farinha de cinérea (Nauphoeta cinerea) Ingredientes: 220g de farinha de trigo 80g farinha de barata cinérea 3 ovos Procedimento: Misture a farinha de trigo com a farinha de barata cinérea. Adicione os ovos e sove até a homogeneização completa. Deixe a massa descansar por no mínimo 20 minutos. Passe a massa por um cilindro até obter a espessura desejada. Cozinhe em água fervente. Informação nutricional simplificada. Reprodução da formulação Omelete com larvas de Tenebrio molitor Ingredientes: 2 ovos 50g de larvas de Tenebrio molitor Sal, pimenta do reino e cebola a gosto Procedimento: Separe as claras das gemas. Bata as claras até adquirirem consistência em neve. Misture as gemas e as larvas. Adicione sal, pimenta e cebola a gosto. Informação nutricional simplificada. Representação da formulação Pancake com barata de Madagascar desidratada (Gromphadorhina portentosa) Ingredientes: 150g de farinha de trigo 60g de barata de Madagascar 20g de mel 10g de fermento químico 2 ovos 250ml de leite Uma pitada de sal Uma pitada de essência de baunilha Procedimento: Bata no liquidificador o leite, os ovos, as baratas, o sal e a essência de baunilha. Acrescente aos poucos a farinha de trigo. Adicione o fermento por último e homogeneíze. Asse em frigideira quente com um fio de óleo. Informação nutricional simplificada. Representação da formulação Hambúrguer misto com carne bovina, larvas de Tenebrio molitor e Gryllus assimilis. Ingredientes: 250g de carne bovina moída 75g de larva de Tenebrio molitor desidratada 75g de Gryllus assimilis desidratado Sal a gosto Pimenta-do-reino a gosto Procedimento: Misture todos os ingredientes e molde a massa no formato de hambúrguer. Frite em frigideira quente com um fio de óleo. Informação nutricional simplificada. Representação da formulação Insetos caramelizados Ingredientes: 100g de açúcar 25g de larvas de Tenebrio molitor desidratada 75g de Gryllus assimilis desidratado Procedimento: Fazer uma calda com o açúcar até o ponto de fio. Banhar os insetos nessa calda. Aguardar o endurecimento da calda. Informação nutricional simplificada Representação da formulação Tapioca recheada com tomate, ovo e farinha de Tenebrio molitor Ingredientes Recheio: 1 colher de chá (10g) de sopa de farinha de Tenebrio molitor 1 ovo ½ tomate 1 colher (15 ml) de azeite e sal a gosto Massa: Goma de tapioca Procedimentos Do recheio: Retirar as sementes do tomate e picar. Fazer um ovo mexido, acrescentando azeite, e em seguida tomate e a farinha de T. molitor. Acrescente sal e reserve. Da massa: Colocar a goma de tapioca em uma frigideira pré-aquecida e espalhar com uma colher. Quando a massa ficar consistente, virar e acrescentar o recheio. Informação nutricional simplificada Representação da formulação Batata recheada com queijo acrescido de farinha de Tenebrio molitor Ingredientes: Recheio (para 4 batatas): 250g de queijo provolone 50g de manteiga 10g de farinha de Tenebrio molitor Massa (batata): 4 batatas Procedimentos: Lave bem a batata e em uma panela com água e sal, cozinhe por 15 min. Em seguida secar a batata com papel toalha. Separar um pedaço de papel alumínio suficiente para embrulhar a batata e assar por 25 min a 220°C. Após retirar a batata do forno, fazer um corte longitudinal por cima do papel alumínio, tomando cuidado para não separar as metades. Com uma colher, escavar levemente o centro da batata. Temperar a batata com sal e pimenta do reino e espalhar a manteiga pela superfície da batata. Rechear com queijo e farinha de Tenebrio molitor. Informação nutricional simplificada Barrinha de cereais caseira com acréscimo de farinha de barata cinérea (Nauphoeta cinerea) Ingredientes: 30g de grão de aveia 20g de uvas passas pretas 20g de amêndoas 20g de mix de sementes de gergelim, chia e semente de girassol 7 colheres de sopa de mel 20g de farinha de barata cinérea Procedimento: Picar as amêndoas e juntar o mix de sementes, grãos de aveia, uva passas farinha de barata cinérea num recipiente. Em seguida acrescentar mel e misturar bem os ingredientes. Colocar a mistura numa forma de bolo com papel vegetal e espalhar de forma uniforme. Levar ao forno numa temperatura de 160°C por 20-25min. Após resfriar, levar ao freezer por aproximadamente 15 min para cortar em forma de barrinha. Informação nutricional simplificada Salada São José Ingredientes: Duas mangas tomy grandes 50g de farinha de baratas cinérea Uma caixa de creme de leite 100g de grilos desidratados e defumados Um pé de alface 3 tomates Azeite extravirgem 300g de palmito doce 1 cebola roxa Modo de preparo: Lavar todos os ingredientes. Com o auxilio de uma faca, cortar as mangas, tomates, palmito e cebola em pedaços pequenos. A alface pode ser cortada ou colocada em folhas abertas no fundo da saladeira. Em uma vasilha, coloque o creme de leite, os grilos, a farinha de baratas e sal a gosto. Misture bem até que o creme fique homogêneo. Misture o creme com os outros ingredientes e despeje em uma saladeira. Decore com tempero verde e regue com azeite. Sirva com carnes brancas e vinho secos. REFERÊNCIAS Food and Agriculture Organization of the United Nations. Edible insects: future prospects for food and feed security. Forestry Department Paper. Rome, 2013 TACO. Tabela Brasileira de Composição de Alimentos. 4ed. revisada e ampliada. Campinas, SP: UNICAMP, 2011. Capítulo 4 SUBSTÂNCIAS DE INTERESSE COMERCIAL PROVENIENTES DE INSETOS Danilo Tófoli1Aline Sousa Herrero2 Ramon Santos de Minas3 1. Introdução O ser humano vem extraindo benfeitorias da natureza desde tempos imemoriais para melhorar, ou mesmo tornar possíveis a sobrevivência e a propagação da sua espécie na terra. Na ânsia de se obter cada vez mais suprimentos, a investigação da fauna e flora tem sido uma estratégia que surtiu muito efeito no que tange à expansão da humanidade (Phillipson, J. D. 2001). Neste sentido, vale destacar que a exploração de plantas, como fonte de substâncias, para fins medicinais e alimentícios, entre outros, já tem seu lugar de destaque como linhas de pesquisas em universidades mundo afora e, mesmo no Brasil, essa prática teve seu início em meados do século XIX, e vem se consolidando e se modernizando (PINTO, et al. 2002). Porém, nota-se uma carência no que diz respeito a pesquisas de mesmo cunho com animais, como é o caso de insetos, que representam uma fonte de moléculas de interesse em potencial, entretanto pouco explorada, como é mostrado no trabalho de Pinto e colaboradores em 2002. Das subdivisões da química de produtos naturais, os trabalhos envolvendo a investigação de microrganismos e insetos respondem em média por menos de 2% do total apresentado no evento de química de maior impacto no país: a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química. Durante o período de 1997 a 2001, já no período de 2010 a 2015, essa porcentagem é bem menor que 1%. O mesmo pode ser dito para o evento mais expressivo da área de química de produtos naturais: Brazilian Conference on Natural Products, para este mesmo período. Interessantemente, este panorama atual não decorre da falta de registros históricos do uso de insetos pelo homem, uma vez que há relatos da aplicação de alguns deles desde os tempos mais remotos, como é o caso do corante vermelho extraído do inseto de quermes (espécies dos gêneros Coccus e/ou Kermes), citado até na bíblia (PARTINGTON, 1937; LILLIE, 1979), do mesmo modo, o vermelho de cochonilha, corante proveniente deste inseto (do gênero Dactylopius), de amplo uso no ramo alimentício, possui apenas uma breve citação na farmacopeia brasileira. Com base nisso, este capítulo tem como propósito trazer à luz alguns exemplos de substâncias extraíveis de insetos que são (ou têm potencial para ser) de interesse para a humanidade, como corantes, polímeros, entre outros, e algumas metodologias de extração e análise dos mesmos. 2. Tipos gerais de substâncias-importância, extração e análise 2.1. Polímeros Não é novidade o uso de polímeros naturais, pois há tempos faz-se uso de materiais como a celulose e a goma, que são de origem vegetal. Mas quando se trata deste tema, raramente se associa com insetos, mas a seda é um exemplo de ampla utilização. 2.1.1. Seda A importância da seda é demonstrada pelo renome deste material, que até hoje, mesmo após a criação de materiais sintéticos similares, apresenta um alto valor agregado pela maciez e elegância conferidas às peças que constitui. Em um dos livros mais interessantes da química, os autores LE COUTEUR e BURRESON, em 2006, apontam a seda como um dos compostos que tiveram grande influência na história do mundo, ante as implicações da descoberta, do cultivo e comercialização desta matéria- prima tão valorizada. A seda movimentou o comércio local na época da sua descoberta ainda na China antiga e, durante séculos, o conhecimento do cultivo do bicho da seda (Bombyx mori) e a produção do tecido se mantiveram secretos. O comércio deste material permitiu a formação de rotas especificamente chamadas de rotas da seda na Ásia, e aos poucos ganhou o ocidente (LE COUTEUR & BURRESON, 2006). Assim como a lã e o cabelo, a seda é composta principalmente por proteínas, que nada mais são que polímeros, cuja composição estimada é de 80-85% a repetição dos aminoácidos glicina, serina e alanina, ligadas entre si por ligações peptídicas (LE COUTEUR & BURRESON, 2006; KATO et al., 1998). Estes compostos são mostrados na imagem abaixo. Esta composição é importante para os aspectos físicos do tecido que o tornou valioso, como brilho, maciez e até a capacidade de ser facilmente tingido e, curiosamente, a responsabilidade por estas propriedades é atribuída à cadeia lateral desses aminoácidos, que são curtas e parecidas (LE COUTEUR & BURRESON, 2006). Aminoácidos majoritários das proteínas sercicina e fibroína que compõem a seda do bicho da seda (Bombyx mori). A seda é produzida pelo Bombyx mori na forma de um fio único que serve como casulo para a pupa. O processo de extração do fio consiste em aquecer o casulo, o que acarreta na morte da pupa, e depois mergulhá-lo em água fervente para dissolver a secreção que mantém o fio enrolado. Depois desse processo, o fio, que pode ultrapassar 2,5 quilômetros de comprimento, é enrolado nos carretéis (LE COUTEUR & BURRESON, 2006). Outras espécies da família do bicho da seda também são capazes de produzir seda, mas esta espécie foi a mais rentável/adaptável para a domesticação, do mesmo modo, existem outros artrópodes que produzem polímeros similares: é o caso da teia de aranha, por exemplo, mas nada comparável à seda em termos de aplicabilidade como tecido. 2.1.2. Quitina e quitosana A quitina (mostrada na imagem abaixo), o segundo polissacarídeo mais abundante da natureza, é um polímero, constituído predominantemente de moléculas de N-acetil-D-glicosamina ligadas entre si pelas chamadas ligações o-glicosídeas, o que confere rigidez ao exoesqueleto de insetos e crustáceos. A desacetilação da quitina fornece a quitosana (quitosano), também um polímero, cuja composição é majoritariamente de D- glicosamina (COSTA SILVA, et al. 2006). Estruturas parciais da quitina e quitosana. A aplicabilidade destes polímeros biodegradáveis é tamanha que alcança os mais variados meios de produção como a agricultura e meio ambiente; a indústria de biomateriais; a indústria alimentícia, que tem a quitosana como suplemento alimentar, e a indústria farmacêutica (COSTA SILVA, et al. 2006; AZEVEDO, et al. 2007), entre outros. De acordo com COSTA SILVA e seus colaboradores (2006), o interesse pela quitosana (também da quitina) vem crescendo principalmente depois de 1977, quando foi realizada a primeira conferência internacional sobre o tema em Boston e, de lá para cá, são propostos até mecanismos de síntese de quitosana modificada para fins medicinais. O processo de obtenção da quitina envolve a sua separação dos demais componentes da carapaça dos insetos, e passa por etapas de desmineralização e desnaturação de proteínas, alcançadas com o uso de soluções de NaOH e HCl, seguida da oxidação (descoloração) com KMnO4 e ácido oxálico. Já a quitosana é obtida a partir do tratamento da quitina com solução concentrada de NaOH, a desacetilação também pode ser conseguida em meio ácido, porém não é usada para se evitar a quebra das ligações glicosídicas, como mostrado por Azevedo e seus colaboradores em 2007. 2.2. Quinonas e antraquinonas A humanidade vem se beneficiando de antraquinonas naturais desde a antiguidade como corantes e, portanto, cabe mencioná-las aqui, pois alguns insetos têm essa classe de compostos para fornecer, além das quinonas, substâncias mais simples que também merecem destaque; Substâncias da classe das quinonas são de ampla distribuição entre os artrópodes e apresentam atividades variadas (ROTH & STAY, 1957), mas a ênfase especial é dada para a 1,4-benzoquinona (ou para-benzoquinona), composto eliminado pelo besouro bombardeiro (são chamados assim alguns indivíduos da família Carabidae), na forma de um spray que chega a 100 ºC com essa substância, que causa irritações, para se defender. Estes besouros armazenam em compartimentos separados, em seu abdome, hidroquinona e peróxido de hidrogênio, que são colocados em contato explosivamente na hora da descarga (EISNER et al., 1977). Na imagem abaixo se tem a foto de um inseto bombardeiro no momento exato de liberação do spray, uma representação do abdome deste animal e a reação que ocorre para gerar a descarga. A- Besouro bombardeiro(disponível em: http://www.bbc.com/news/uk- england-leeds-11959381); B- Esquema do abdome e do besouro bombardeiro. C- Reação que acontece e gera o spray a 100 ºC, formação da para-benzoquinona a partir da hidroquinona e do peróxido de hidrogênio que ficam separados no interior do abdome do animal. Não é só para afugentar inimigos que a para-benzoquinona serve, é o que foi descoberto em um estudo de Ruther e colaboradores em 2001. Segundo ele, espécies do gênero Melolontha tem feromônios de atração sexual que estão envolvidos com esta substância. 2.2.1. Corante da cochonilha O corante da cochonilha é uma herança das civilizações das Américas, só ganhou a Europa graças ao conquistador espanhol Hernán Cortés que levou para a Espanha esta novidade. Lá foi instaurado o monopólio deste composto facilmente extraível do exoesqueleto de insetos do gênero Dactylopius (LE COUTEUR & BURRESON, 2006). Como mencionado anteriormente, o velho mundo já tinha seu exemplar de inseto produtor de corante vermelho. Os insetos de quermes são pertencentes ao gênero Coccus e serviram para embelezar as egípcias e suas roupas bem antes da cochonilha despontar no mercado (LE COUTEUR & BURRESON, 2006; LILLIE, 1979). Curiosamente, o corante produzido por ambas as espécies são muito similares, variando apenas no fato de existir uma molécula de glicose no ácido carmínico (PRABHU & BHUTE, 2012), esta pequena diferença explica o fato de haver insetos do mesmo gênero que o inseto de quermes também produtores do ácido carmínico (LILLIE, 1979). A classe de compostos na qual este corantes se encaixam é antraquinona, mesma classe de corantes de plantas, são quinonas com três anéis fundidos, como o antraceno, por isso recebem este nome. Estrutura dos corantes da cochonilha e do inseto de quermes, a diferença entre eles é apenas a presença de uma molécula de açúcar no ácido carmínico. 2.3.Semioquímicos Semioquímicos são compostos envolvidos na comunicação de seres vivos, e este grupo de compostos possui algumas subdivisões, por exemplo, quando a substância promove comunicação entre indivíduos da mesma espécie, o nome dado é feromônio; quando promove a comunicação entre espécies diferentes, aleloquímico. Existem feromônios diferentes para propriedades/atividades específicas, por exemplo, atração sexual, agregação e a demarcação de trilhas, entre outros. Com relação aos aleloquímicos, três subdivisões são feitas: se a comunicação beneficia apenas o receptor da mensagem, o nome dado para este tipo de compostos é cairomônio; quando o beneficiado é o organismo emissor, chama-se alomônio; e quando é de benefício mútuo, chama-se sinomônio (ZARBIN et al., 2009). No que diz respeito à importância deste conhecimento, vale destacar que foi datado de 1959 o primeiro relato de isolamento de um feromônio, cuja atividade era a atração sexual da mariposa do bicho da seda (Bombyx mori L.), obtido por Adolf Friedrich Johann Butenandt (ZARBIN et al., 2009). Mas, a partir daí os trabalhos nesta área só têm aumentado, devido à importância deste conjunto de substâncias para o controle de pragas na lavoura sem o uso de agrotóxicos, entre outras razões (MOREIRA et al., 2005). Abaixo estão a imagem do bicho da seda e seu feromônio sexual (10, 12)-hexdecadien-1-ol (bombicol). A- Detalhe do bicho da seda (Bombyx mori L.) e B- feromônio sexual deste inseto (FERREIRA & ZARBIN, 2008). Quando se trata de insetos sociais, uma variedade de feromônios são lançados para fins de organização das funções de cada indivíduo na sociedade (ZARBIN et al., 2009), por exemplo, com relação à abelha melífera (Apis mellifera L.), é sabido que são liberadas mais de nove feromônios diferentes por glândulas da mandíbula da abelha rainha, com atividades diversas (KEELING et al. 2003). Neste sentido, um estudo mais recente objetivou a investigação dos compostos liberados pela rainha das abelhas sem ferrão (Friesella schrottkyi), pois sabe-se que as rainhas desta espécie apresentam, além de feromônios mandibulares, como as melíferas, compostos cuticulares que são diferentes daqueles apresentados pelas abelhas operárias. Foi então demonstrado por Nunes e colaboradores, em 2014, que estes compostos, da classe dos hidrocarbonetos, servem para sinalizar a presença da rainha e inativar os ovários da operária. Na ausência da rainha, a operária passa a ter seus ovários ativados e consegue colonizar/iniciar outras populações. Os processos de extração, análise e síntese dos feromônios em laboratório é um trabalho interdisciplinar que fica a cargo da química e da biologia. A extração pode ser efetuada por metodologias de aeração, onde o animal é colocado sob um fluxo de ar, e este carrega as substâncias voláteis para polímeros que as retém, depois podendo ser extraídas dos polímeros por solventes ou já por análise direta no cromatógrafo a gás (CG), como é feito com fibras de microextração em fase sólida. Outra metodologia de extração seria a inserção do abdome do inseto em solventes orgânicos (FERREIRA & ZARBIN, 2008; MOREIRA et al., 2005; ZARBIN et al., 2009; FERREIRA, 1993). A maioria das glândulas produtoras de feromônios se encontram no abdome dos insetos (NUNES et al., 2014) e isto explica esta ser a parte usada para extração por solventes (FERREIRA & ZARBIN, 2008; MOREIRA et al., 2005; ZARBIN et al., 2009; FERREIRA, 1993). A análise conta com os processos mais modernos, como o uso do cromatógrafo a gás acoplado ao espectrômetro de massas, normalmente abreviado como CG-EM (FERREIRA & ZARBIN, 2008; MOREIRA et al., 2005; ZARBIN et al., 2009; FERREIRA, 1993). Porém, para ser feromônio, deve realizar alguma atividade de comunicação, e esta atividade deve ser também testada. Isto é conseguido através da técnica de eletroantenografia, por meio do corte histológico do órgão responsável pela recepção do sinal, na maioria dos casos as antenas, e o acoplamento de microeletrodos em suas extremidades. Assim, com um equipamento de CG equipado com divisão de fluxo, a separação dos componentes é conseguida e as substâncias passam, após a coluna cromatográfica, simultaneamente entre a antena e o detector de espectrometria de massas; se o feromônio for conseguido, a antena dará um pequeno sinal elétrico que poderá ser detectado pelos eletrodos, ampliado e analisado (FERREIRA & ZARBIN, 2008; MOREIRA et al., 2005; ZARBIN et al., 2009; FERREIRA, 1993). O uso da eletroantenografia juntamente com o CG-EM com divisor de fluxo se faz importante para se evitar equívocos quando se busca esta classe de compostos. Veja o caso do feromônio sexual da barata (Periplaneta americana): muitos estudos foram direcionados, muitos compostos inativos foram produzidos e anos se passaram até se determinar qual era a estrutura correta do composto (FERREIRA, 1993). A espectrometria de massas se encarrega de ser uma ferramenta viável, pois trata-se de uma técnica robusta e que requer pouca quantidade de analito, que é o caso (FERREIRA & ZARBIN, 2008; MOREIRA et al., 2005; ZARBIN et al., 2009; FERREIRA, 1993), mas no trabalho de Nunes e colaboradores de 2014, mencionado acima, foi utilizada uma técnica mais recente de espectrometria de massas, o MALDI. Se necessário for, a síntese orgânica pode copiar o princípio ativo para fins comerciais, como tem ocorrido (FERREIRA & ZARBIN, 2008; MOREIRA et al., 2005; ZARBIN et al., 2009; FERREIRA, 1993). Interessantemente, as substâncias que atuam como feromônios contêm funções orgânicas como álcool, aldeído, cetona ou mesmo ácido carboxílico, variam também em termos do tamanho da molécula (FERREIRA, 1993; ZARBIN et al., 2009). Apesar de não existirem teorias que tratam da biossíntese dos compostos por insetos, pode-se supor que estes animais façam uso de compostos advindos de plantas, pelo menos, como precursores para a síntese de seus feromônios. Isto porque a maioria dos insetos é herbívora e esta ideia ganha força quando se observa classes de compostos produzidos, como derivados dos terpenos e dos policetídeos, que são de rotas Biosintética comuns de plantas. Vejana imagem abaixo alguns exemplos. Periplanona B: feromônio de atração sexual da barata (Periplaneta americana), um sesquiterpeno; Grandisol: um dos feromônios de atração sexual do bicudo do algodoeiro (Anthomus grandis), um monoterpeno; Ácido 9-oxodeca-(E)-2-enoico (9-ODA): um dos feromônios mandibulares da rainha da abelha melífera (Apis mellifera L.) usado para controlar a colmeia, um derivado dos policetídeos; (Z)-9-tricoseno: feromônio sexual da mosca doméstica (Musca domestica), um hidrocarboneto; A proposta acima se mostra perfeitamente viável ao se considerar exemplos de insetos que sequestram (do inglês sequestration) compostos de plantas das mais variadas classes, como terpenos, esteroides, alcaloides pirrolizidínicos, poliacetilenos, flavonoides, carotenoides, entre outros. Espantosamente, há até relatos de compostos da classe dos canabinoides sequestrados por insetos da família de borboletas Arctiinae e de gafanhotos Pyrgomorphidae; também do sequestro de cocaína por espécies do gênero Eloria, teoricamente como autodefesa. Mesmo o corante da cochonilha mencionado acima, não se sabe se é produzido pelo inseto ou sequestrado de plantas ou de micróbios simbiontes (DUFFEY, 1980). A- Espécie de borboleta da família Arctiidae (disponível em https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=19068382); B- espécie da família (disponível em: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=11004700); C – espécie do gênero Eloria (disponível em: https://theoldreader.com/profile/bewarethewumpus?page=19). 2.3.1. Ácido fórmico Ainda sob o tema dos semioquímicos, não há como mencionar o mais simples dos ácidos orgânicos, que foi obtido pela primeira vez da destilação de formigas e por isso levou esse nome. Por sua propriedade irritante, as formigas (e outros insetos) liberam este ácido, através de glândulas em seu abdome, para defender seu território. Dentre outras funções, podemos ressaltar também a marcação de trilha. Existem espécies de formigas que liberam um spray com alcance de até 10 cm. Existem também animais que utilizam formigas para borrifar este ácido em suas penas/pele, no intuito de eliminar parasitas ou repelir insetos (MATEUS, 2008; FALÓTICO et al., 2007). Ácido fórmico 3. Conclusões Apesar de pouco divulgado, os insetos já vêm trazendo benefícios para o homem desde tempos imemoriais. Neste capítulo, pode-se evidenciar a diversidade de espécies produtoras de compostos de interesse comercial. Do mesmo modo, a riqueza mostrada no que tange às estruturas dos compostos vistos reitera o potencial desse tipo de pesquisa, parcamente explorado, que continua sendo um tema atual, como é o caso dos feromônios. 4. Referências AZEVEDO, V. V. C.; CHAVES, S. A.; BEZERRA, D. 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Alimentação e os nutrientes A alimentação do ser humano pode ser composta por alimentos “in natura” ou industrializados, podendo ser sólido ou líquido, de origem vegetal, mineral ou animal, incluindo os insetos. Serão variáveis quanto a sua qualidade, quantidade, variedade e espécie. Os insetos podem ser consumidos em ovos, larvas, pupas e adultos, e a ingestão de produtos produzidos por insetos é muito comum no consumo humano, como é o caso dos óleos, pólen e remédios. Independente de qual alimento for ingerido, esse alimento terá a presença de nutrientes. Os nutrientes são todas as substâncias químicas provenientes dos alimentos, sendo eles absorvidos pelo organismo humano com a finalidade de proporcionar energia para o crescimento, desenvolvimento e manutenção da saúde do ser vivo. Os alimentos possuem nutrientes essenciais para o metabolismo humano, como: vitaminas, sais minerais, proteínas, carboidratos, gorduras, fibras e água. Os nutrientes podem ser classificados em macronutrientes e micronutrientes. Os macronutrientes incluem os carboidratos, gorduras (lipídios) e proteínas, sendo os nutrientes que o organismo necessita em maior quantidade. Os carboidratos fornecem energia para o organismo, sendo essenciais para a vida humana, constituindo assim a base da alimentação humana. Os carboidratos podem ser classificados em simples ou complexos. Os simples sãoaqueles que possuem menores moléculas de carboidratos, podendo ser resultante da digestão dos carboidratos complexos, e são encontrados em alimentos como o mel e o açúcar. É importante ressaltar que o mel é um produto elaborado e excretado por insetos, no caso, a abelha. Já os carboidratos complexos possuem moléculas maiores que precisam ser transformadas em carboidratos simples para que sejam absorvidas pelo organismo, encontrados em arroz, pães, massas e milho. As gorduras ou lipídios fornecem energia tal qual os carboidratos e são responsáveis pelo fornecimento de ácidos graxos essenciais, não produzidos pelo organismo, e ainda transportam as vitaminas lipossolúveis A, D, E e K. As gorduras insaturadas, como óleos vegetais e peixes, devem ser mais consumidos que as gorduras saturadas e trans encontradas em frituras e produtos industrializados. As proteínas contribuem como fonte calórica e fornecem aminoácidos. Os aminoácidos são responsáveis pelo crescimento e manutenção do organismo, são essenciais para a formação do tecido muscular e a reparação das células. Os alimentos de origem animal, como carne, frango, peixe, leite e ovos são as fontes mais ricas de proteínas. Outra fonte rica em proteínas e minerais são os insetos, utilizados para suplementar dietas, como por exemplo a formiga da espécie Atta cephalotes (tanajura), que possui alto teor de proteína, com aproximadamente 43% de proteínas. Em contrapartida, a carne de frango possui apenas 23% de proteínas, e a bovina, apenas 20%. Alguns alimentos de origem vegetal também são fonte de proteínas, como castanhas, nozes, feijão e soja. Os insetos da ordem Hemíptera possuem de 48 a 66 mg de aminoácidos, podendo ser comparados ao ovo de galinha, que possuem de 48 a 54 mg de aminoácidos e os principais aminoácidos presentes nos insetos são a tiamina, riboflavina e niacina. Os micronutrientes incluem os minerais e as vitaminas, eles não geram energia, porém são de grande importância para o organismo, sendo essenciais à regulação biológica. As vitaminas são substâncias orgânicas que regulam as funções do organismo e são necessárias em quantidades mínimas. Entretanto, é necessário um consumo diário e oriundo de diversas fontes de alimentos. As vitaminas são classificadas, de acordo com sua solubilidade, em: hidrossolúveis (vitaminas do complexo B e vitamina C) e lipossolúveis (vitaminas A, D, E e K). Os minerais são indispensáveis para o crescimento e regulação dos processos orgânicos, sendo necessária a ingestão de pequenas quantidades. Podemos encontrá-los em alimentos de origem vegetal e animal. Os insetos podem ser caracterizados ricos em minerais como: ferro, magnésio, cobre, manganês, selênio, zinco e fósforo. 2. Demandas diárias nutricionais nas diferentes fases da vida A alimentação é imprescindível e fundamental para o desenvolvimento e saúde do ser humano. É de extrema importância uma alimentação correta e equilibrada para crianças de zero a 24 meses de idade, sendo necessária a ingestão adequada de energia, proteína, ferro, zinco e vitamina A. O leite materno é um alimento composto de nutrientes suficientes para garantir uma alimentação ideal e única para o recém-nascido até os primeiros seis meses de vida, garantindo o crescimento e desenvolvimento saudável da criança. A Organização Mundial da Saúde (WHO, 1998) recomenda a introdução de alimentos diferentes do leite materno para crianças a partir dos sete meses de idade. Esses alimentos devem ser seguros e nutricionalmente adequados, ricos em energia, ferro, zinco, vitamina A, cálcio e ácido fólico. As crianças até o oitavo mês de vida devem continuar sendo amamentadas com o leite materno e duas a três refeições diárias dos alimentos complementares em quantidade e consistência adequada para idade. No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda que as crianças em aleitamento materno tenham acesso a alimentação complementar três vezes ao dia, e para aquelas crianças desmamadas é necessário cinco refeições diárias. A introdução desses alimentos deve ser de forma gradual, balanceada e variada, garantindo a criança todos os tipos de nutrientes, respeitando assim a evolução da criança. Para as crianças de 2 a 6 anos é necessário priorizar a qualidade nutricional, pois há um aumento das funções corporais, e todos os tipos de alimentos devem ser incluídos na alimentação, principalmente aqueles ricos em cálcio, ferro, zinco, vitamina A e D. Salgadinhos, balas, doces e refrigerantes devem ser evitados. Também deve-se limitar a ingestão de alimentos com excesso de gordura, sal e açúcar. A alimentação deve ser composta de leite e seus derivados, carnes, pães, cerais, frutas, hortaliças e também podem ser incluídos os insetos. O consumo da formiga-tecelã (Oecophylla smaragdina Fab.) pode ser uma alternativa para crianças em crescimento e desenvolvimento por sua elevada concentração de zinco nesses insetos. As crianças de 7 a 12 anos devem ter uma alimentação rica em nutrientes capazes de permitir o seu desenvolvimento e crescimento, além de suprir os gastos energéticos decorrentes de atividades físicas. Nesta fase, pode ocorrer perda de peso ou ausência de ganho de peso, sendo assim fundamental a ingestão de fibra, uma vez que a baixa ingestão causa mau funcionamento do intestino, fazendo com que a criança tenha pouco apetite. Em crianças com estatura abaixo da média, deve-se analisar a quantidade de zinco que está sendo ingerida, pois este mineral é necessário para o crescimento, encontrado no peixe e frutos do mar em maior quantidade, em menor quantidade em hortaliças e verduras. Outro mineral importante neste período de vida é o ferro, mineral encontrado em aves, peixes e carnes. Sua deficiência influencia no aprendizado escolar. Na adolescência, compreendida entre os 12 e 19 anos, a necessidade de proteínas e energia é elevada, pois é nesta fase que ocorre o crescimento físico acelerado e o desenvolvimento. O ferro também é de fundamental importância no período da adolescência em razão do aumento da massa muscular, que é acompanhada por um maior volume de sangue, especialmente nos meninos. Nas meninas, devido ao início da menstruação, a deficiência deste é relacionada à anemia, podendo prejudicar o aprendizado e o sistema imunológico. A ingestão de cálcio na adolescência é imprescindível devido ao desenvolvimento acelerado de músculos e ossos e para que se tenha uma vida adulta livre de doenças como a osteoporose. O zinco também é essencial para o crescimento e maturação sexual, assim como as vitaminas são tão importantes quanto os minerais. Ressaltando que se deve dar uma maior atenção ao ácido fólico para as mulheres que desejam engravidar. A alimentação dos adolescentes deve ser equilibrada e suprir todas as necessidades nutricionais para o crescimento. Para se evitar a obesidade e o sobrepeso nessa faixa etária, é preciso que o consumo de fast-food, refrigerantes, alimentos gordurosos e bebidas alcoólicas sejam regrados, já que todas essas substâncias estão relacionadas à dificuldade para absorção das vitaminas B12, C e o cálcio. As pupas de abelhas podem ser uma alternativa para a carência de vitaminas A e D, pois são ricas nestas vitaminas, além de conter 18% de proteínas. Na idade adulta, que compreende dos 20 aos 59 anos, a alimentação deve ser voltada para a manutenção da saúde e do peso corporal, deve ser regada de alimentos saudáveis para promover o bem-estar e o funcionamento do organismo, associada a uma atividade física visando à prevenção de diabetes, doenças cardiovasculares e obesidade. A alimentação deve ser baseada em grãos integrais, frutas, hortaliças, peixes, ovos e aves, já que o consumo de carne vermelha deve ser em menor quantidade. É importante que a alimentação do adulto tenha ácido graxo, ômega 3 e ômega 6, que são encontrados em óleos vegetais, de oliva e peixes, evitando o consumo de gorduras saturadas. A terceira idade, que tem início a partir dos 60 anos, está relacionada ao processo de envelhecimento, e a qualidade desse envelhecimento éinfluenciada pelo estilo de vida, alimentação e também por fatores genéticos. Uma alimentação composta de frutas, legumes e verduras, juntamente com baixo consumo de sal, açúcar e gorduras garantem ao idoso um sistema imunológico mais forte e o mantém mais ativo. O consumo de leite e derivados é necessário com o objetivo de suprir às necessidades de cálcio e vitamina D. A ingestão de proteínas é importante devido à perda muscular, e beber água é vital para evitar a desidratação. O consumo de carboidratos deve ser em torno de 45-65% das calorias diárias para que não ocorra o uso de proteína como fonte de energia. Nessa fase deve-se ter uma alimentação saudável e nutritiva aliada a uma prática regular de exercícios físicos, sendo que as necessidades nutricionais vão variar de acordo com o sexo, idade e as atividades realizadas pelo idoso, mas devem ter valores calóricos suficientes para manter o vigor do idoso sem o aumento ou redução do peso corporal. 3. A dieta e as exigências nutricionais A palavra dieta é originada do grego e significa “estilo de vida”, sendo um conjunto de substâncias alimentares composta por alimentos e bebidas ingeridos por uma pessoa com o intuito de garantir as necessidades energéticas e nutricionais vitais ao ser humano. Atualmente a palavra dieta está relacionada à privação total ou parcial da alimentação, muitas vezes prescritas por médicos e nutricionistas. Entretanto, diversas vezes essa privação alimentar é feita de forma indiscriminada por pessoas sem as informações necessárias para realizar as restrições alimentares. Uma dieta deve ser nutritiva e equilibrada, sendo ela planejada de acordo com as carências de cada indivíduo, levando em consideração as doenças fisiológicas e suas atividades físicas. As recomendações nutricionais estão agrupadas na Pirâmide dos Alimentos, desenvolvida em 1992 pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, visando demonstrar de forma objetiva e compreensível como suprir as necessidades energéticas e nutricionais de cada população, baseando-se em alimentos tradicionais. O formato pirâmide foi adotado por conseguir hierarquizar a importância da ingestão de determinados alimentos. Dessa forma, tem-se uma visualização dos alimentos que devem ser consumidos em grandes ou pequenas quantidades. Trata-se de um guia alimentar que contém os nutrientes necessários para a manutenção da vida e da saúde. Cada parte da pirâmide represente um grupo de alimentos e as porções recomendadas para a ingestão diária. Em 1999, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) adaptaram a pirâmide alimentar americana de acordo com os hábitos alimentares brasileiros, criando uma pirâmide alimentar brasileira. Quando comparada à pirâmide americana publicada em 1992, se observa que as modificações se dão na inclusão de alimentos regionais e nas porções usuais pelo fato do Brasil ser um país rico em frutas, verduras e legumes, considerados alimentos de fácil acesso à população brasileira. As porções foram então modificadas para valores maiores. A base da pirâmide alimentar brasileira é composta pelos alimentos considerados energéticos, como batata, mandioca, milho, trigo e pão, devendo compor a maior parte da alimentação, sendo necessárias de 5 a 9 porções diariamente. No segundo nível da pirâmide, estão os alimentos reguladores, conhecidos como frutas e vegetais, responsáveis pelo fornecimento dos micronutrientes necessários para o funcionamento do organismo. O consumo diário recomendado de verduras e legumes é de 4 a 5 porções e de 3 a 5 de frutas. No grupo superior estão os alimentos fontes de proteínas e o consumo diário recomendado é de 1 a 2 porções e o recomendado para o leite e produtos lácteos é de 3 porções. No topo da pirâmide estão os alimentos fontes de gorduras, que devem ser ingeridos com precaução, sendo necessário apenas até 2 porções diárias como mostra a FIGURA 8.1. Figura 8.1. Pirâmide alimentar brasileira adaptada de 1999. Fonte: Philippi, et. al., 1999. Desde a criação da pirâmide alimentar brasileira em 1999, a alimentação da população brasileira sofreu diversas mudanças, tendo como fator preponderante as crescentes taxas de obesidade, diabetes e colesterol, sendo reformulada em 2013. A atual pirâmide contém oito grupos de alimentos com valor energético diário de 2000 Kcal, fracionadas em seis porções diárias. Enaltece, ainda, a prática de atividades físicas de no mínimo 30 minutos diariamente, como se pode observar na Figura 8.2. Na nova pirâmide brasileira, foram incluídos alimentos mais saudáveis, como os cereais integrais (linhaça, quinoa, chia). Destaca-se também a presença de arroz integral, pão integral, entre outros. A base desta pirâmide é formada pelo grupo dos cereais, tubérculos, pães, massas e raízes recomendando-se 6 porções diárias. No grupo sucessor está o grupo das frutas, dos legumes e verduras, com ingestão de 3 porções por dia de cada grupo. No grupo das carnes e ovos, a recomendação é para apenas uma porção por dia. Para o grupo do leite, queijo e iogurtes, o consumo deve ser de 3 porções diárias, podendo incluir nesse grupo os insetos como fonte de proteína. No grupo dos feijões, grupo dos óleos, gorduras e grupo dos açúcares e doces, é necessário uma única porção por dia. A pirâmide alimentar brasileira está fundamentada no conceito de segurança alimentar e nutricional, como também em práticas alimentares salutares. Dessa forma, deve ser utilizada como um guia para o planejamento de uma alimentação saudável. O uso da pirâmide alimentar é um excelente recurso didático para a educação alimentar, que deve ter início nos primeiros anos de vida da criança, para a formação de um adulto com boas práticas alimentares. Figura 8.2. Nova pirâmide alimentar brasileira adaptada de 2013. Fonte: Philippi, 2015. 4. Considerações finais Para uma vida saudável, é necessária uma boa alimentação em todas as fases da vida, com ingestão de alimentos nutricionalmente ricos. A educação alimentar deve começar na infância. Os alimentos da dieta humana precisam conter vitaminas, sais minerais, proteínas, carboidratos, gorduras, fibras e água. Os insetos podem ser consumidos como fonte de proteínas, fibras, vitaminas e aminoácidos, podendo ser utilizados para suplementar a dieta humana. A dieta para cada indivíduo deve ser planejada de acordo com suas necessidades, podendo ser orientada pela pirâmide alimentar, o mais importante guia. 5. Referência Bibliográfica ALVARENGA, Gabriel. Nutrição: a importância dos nutrientes para uma vida saudável. Cartilha sobre nutrição, 2001. Disponível em: <http://www.foreverliving.com.br/arqs/downloads/detalhe_1224594990_flp _cartilha_nutricao_20071214_web.pdf>. Acesso em: 20 março 2016. BRASIL. Ministério da Saúde/ OPAS. Secretaria de Políticas de Saúde. Dez passos para uma Alimentação Saudável – Guia Alimentar para crianças menores de 2 anos., Brasília (DF): Ministério da Saúde, 2002. COSTA-NETA, E. M. Insetos como fontes de alimentos para o homem: valoração de recursos considerados repugnantes. Interciencia, Caracas, v.28, n.3, 2003. HUIS, A., ITTERBEECK, J. 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Capítulo 6 IMPORTÂNCIA DAS VITAMINAS NA ALIMENTAÇÃO Dalany Menezes Oliveira1 Roselene Ferreira Oliveira2 Camila Gabriel Kato3 Odair Diemer4 Ramon Santos de Minas5 1. Introdução As vitaminas são elementos químicos, considerados essenciais aos seres vivos, tendo em vista sua participação na dieta normal, e em sua maioria não são sintetizados pelo organismo. São denominados micronutrientes, já que são encontrados no organismo em baixas concentrações, sendo que estas pequenas quantidades são fundamentais para as funções celulares normais, tais como: geração de energia, divisão celular, crescimento e manutenção dos tecidos. Esses micronutrientes não são fonte de energia, como os macronutrientes (carboidratos, lipídios e proteínas). Entretanto, as vitaminas são consumidas e gastas como substâncias fundamentais na utilização da energia, para que os outros nutrientes possam ser aproveitados (NIX, 2010). A maioria dos alimentos, sendo eles de origem vegetal ou animal, apresentam em sua constituição compostos orgânicos complexos, que são elementos nutricionais encontrados em pequenas concentrações, como as vitaminas. E, de acordo com Silva e Mura (2010), as vitaminas possuem propriedades além das nutricionais, ou seja, apresentam também propriedades funcionais que atuam como poder sequestrador de radicais livres, redutor, precursores de aroma e sabor e reações de escurecimento. De acordo com a FAO (2015), o crescente aumento da população mundial pode gerar a escassez dos alimentos, e assim a população se deparará com um enorme problema de segurança alimentar a ser resolvido. Desta forma, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO vem desde 2003 desenvolvendo trabalhos e pesquisas em diversos países acerca dos insetos comestíveis. E essas pesquisas abordam desde informações sobre as possíveis toxicidades dos insetos até mesmo as formas de produção e constituintes nutricionais de mais de 1900 insetos que são consumidos no mundo. Diante desta busca de alternativa de novos alimentos, que tenham um cultivo de produção com menor gasto de tecnologias e água, a entomofagia vem se destacando tanto no potencial nutricional, como conferindo benefícios ao meio ambiente e meios de subsistência (FAO, 2015). Os insetos utilizados como alimento apresentam uma composição nutritiva extremamente variável e saudável, sendo seus valores comparáveis aos demais alimentos de origem animal, como carnes bovinas, suínas e também de peixes. Na maioria dos insetos estão presentes teores de vitaminas essenciais importantes para os processos metabólicos e para as funções do sistema imunológico (FAO, 2013). Neste capítulo, abordaremos a importância, a fonte e a essencialidade das vitaminas para os seres humanos e a presença destes compostos nos insetos comestíveis, com o objetivo de informar o valor nutricional destes, como alimento alternativo, para a disponibilidade de vitaminas na alimentação humana. 2. Classificação das Vitaminas As vitaminas pertencem a diferentes classes de substâncias químicas (CHITARRA e CHITARRA, 2005) e diante dessa diversidade de sua composição, elas são classificadas pela sua ação biológica e em termos das características físico-químicas (FRANCO, 2008), e pela sua solubilidade física (SILVA e MURA, 2010; GONÇALVES, 2011). A classificação das vitaminas ocorre em dois grupos: vitaminas LIPOSSOLÚVEIS e vitaminas HIDROSSOLÚVEIS. As lipossolúveis são: A (retinol), D (calciferol), E (tocoferol) e K (ubiquinona). Elas são solúveis, transportadas e disponíveis em lipídios (DUARTE, 2007; CHAMPE et al., 2012). O seu transporte ocorre via circulação linfática agregada aos lipídios, no entanto, necessitam da bile para sua absorção (SILVA E MURA, 2010), sendo armazenadas no fígado e no tecido adiposo (CHAMPE et al., 2012). As vitaminas conhecidas por hidrossolúveis são: C (ácido ascórbico) e todas do complexo B (B1 – tiamina; B2 – riboflavina; niacina ou ‘ácido nicotínico e nicotinamida’; B5 – ácido pantotênico; B6 – piridoxina; B12 cianocobalamina; ácido fólico; biotina) (DUARTE, 2007). Sua solubilidade ocorre em meio aquoso, e, desta forma, são levadas a todo o corpo, possuindo sua absorção facilitada. O seu transporte ocorre via circulação sistêmica e são utilizadas praticamente em sua totalidade no metabolismo energético. Se houver excesso ou se elas não foram utilizadas em sua totalidade, elas serão excretadas pela urina, pois não são armazenadas no organismo (SILVA e MURA, 2010). VITAMINAS LIPOSSOLÚVEIS Vitamina A A vitamina A é considerada um nutriente essencial para os seres humanos, sendo conhecida por retinol. Além disso, ela pode ser derivada de alguns carotenoides que apresentam atividade pró-vitamínica A, como: alfa, beta e gama caroteno; e a criptoxantina (SILVA e MURA, 2010). Esta vitamina apresenta diversas sinonímias, como: vitamina A; vitamina anti- infecciosa; axeroftol; vitamina antixeroftálmica, vitamina protetora do epitélio (FRANCO, 2008). As funções da vitamina A demonstram claramente o porquê dela ser essencial em pequenas quantidades, pois ela desenvolve ações desde o funcionamento normal do sistema visual ao sistema reprodutivo. Esta vitamina apresenta numerosas funções importantes e básicas no organismo: atua no desenvolvimento normal da visão com função essencial na retina; na manutenção da integridade estrutural e funcional do epitélio celular, assim como ação protetora na pele e mucosa; trabalha no funcionamento da função imune (participação da vitamina na síntese do linfócito T); reprodução (atuando na capacidade funcional dos órgãos e no processo da reprodução) e desenvolvimento embrionário; no crescimento e desenvolvimento e ação sobre os dentes. Além dessas, apresenta também funções bioquímicas, atuando na síntese de proteína e nas membranas. A ingestão da vitamina A é indicada para evitar problemas como a cegueira noturna, xeroftalmia, acne, psoríase e outros problemas dermatológicos. Também atenção deve ser dada ao excesso desta vitamina no organismo, podendo ocorrer a hipervitaminose A. Essa condição pode estar ligada às formas de excreção do seu excesso, no qual somente 40% é excretada e deste total apenas 1% é excretado pela urina, sendo o restante pela bile. Essa condição pode acometer a pele (tornando-a seca), o fígado e o sistema nervoso. As fontes e indicação de ingestão diária da vitamina A podem ser observadas nas Tabelas 3.1 e 4.1, respectivamente. Vitamina D A vitamina D faz parte de um grupo de esteroides lipossolúveis e apresentam funções similares aos do hormônio. Ela é essencial ao organismo humano, pois são indispensáveis ao metabolismo do cálcio e fósforo e da mineralização óssea (PACHECO, 2011; CHAMPE et al., 2012). Esta vitamina está disponível na natureza de duas formas: ergocalciferol (D2) e colecalciferol (D3). A pró-vitamina D3 encontrada em tecidos animais é transformada na pele pela ação dos raios ultravioletas. Quando a vitamina D é ingerida, ela é absorvidacom as gorduras no intestino e levada à corrente sanguínea e transportada até o fígado para ocorrer a sua ativação. A molécula ativa da vitamina D é a 1,25-di-hidroxicolecalciferol, também conhecida como calcitriol. A vitamina ativada atua na regulação dos níveis plasmáticos do cálcio e fósforo; na absorção intestinal destes dois minerais; na mineralização óssea; no crescimento e diferenciação celular e no mecanismo de secreção de insulina. A falta da vitamina D desenvolve doenças como o raquitismo nutricional, falência renal crônica e a hipoparatireoidismo. Atenção deve ser dada à suplementação desta vitamina via oral, já que pela sua conversão na pele pelos raios ultravioletas ela só é transformada na molécula ativa quando há necessidade. No entanto, por via oral, se ultrapassado o limite tolerável (2000 UI/dia), pode desencadear uma toxicidade e problemas de saúde como: perda de apetite, anorexia, náuseas, cefaleia, sede, cálculo renal, tremores, hipertensão arterial sistêmica, poliúria. Fontes de vitamina D e a indicação de sua ingestão diária recomendada podem ser observadas nas Tabelas 3.1 e 4.1 deste capítulo. Vitamina E A vitamina E, termo utilizado para designar 8 compostos, tem ocorrência natural e é representada pelo grupo de tocoferóis encontrados na natureza, que são: Tocoferóis: alfa-, beta-, -gama- e sigma-. Tocotrienóis: alfa-, beta-, gama- e sigma-. A forma mais ativa, mais encontrada e de maior atividade biológica desta vitamina é o alfa-tocoferol (PACHECO, 2011; CHAMPE et al., 2012). A absorção da vitamina E é realizada pelo tecido adiposo, muscular e, em menor proporção, no fígado. A principal função desta vitamina é a ação antioxidante, e aumenta a sua necessidade de ingestão principalmente quando aumenta o consumo de ácidos graxos poli-insaturados (SILVA e MURA, 2010; PACHECO, 2011; CHAMPE et al., 2012). Também apresenta as seguintes funções: mantém o tecido epitelial; ajuda na melhora de câimbras musculares e, quando em interação com a vitamina B6, atua na melhora dos sintomas pré-menstruais (PACHECO, 2011). De acordo com Champe et al. (2012), a vitamina E é considerada a menos tóxica das vitaminas lipossolúveis. No entanto, Silva e Mura (2010) afirmam que, se esta vitamina estiver em níveis elevados, pode estar associada a alterações do mecanismo da coagulação sanguínea. Diversos autores também relatam que a deficiência pode afetar e/ou causar: alterações nos tecidos musculares (coordenação e reflexos); hemólise; alteração do epitélio seminífero, anemia em bebês prematuros, entre outros problemas. As fontes e indicação de ingestão diária da vitamina E podem ser observadas nas Tabelas 3.1 e 4.1, respectivamente. Vitamina K Encontrada na natureza sob diversas formas, a vitamina K é representada por uma série de compostos: Filoquinona (K1): ocorre nas plantas verdes. Menaquinona (K2): produzidos por microrganismos (bactérias da flora intestinal. Existe a menadiona (K3, 2-metil-1,4 naftoquinona), que é um derivado sintético e apresenta atividade biológica superior às duas encontradas na natureza. Sua alta dosagem pode causar uma toxicidade, desencadeando a anemia hemolítica e icterícia no bebê (CHAMPE et al., 2012). A função essencial da vitamina K é promover a síntese de fatores de coagulação. Ela é fundamental à enzima carboxilase, que realiza a conversão de resíduos específicos de ácido glutâmico de proteínas precursoras para um novo aminoácido. Também atua na formação de proteínas específicas dos ossos e inibe a produção ácida das bactérias. A deficiência desta vitamina afeta diretamente a coagulação (SILVA e MURA, 2010; PACHECO, 2011; CHAMPE et al., 2012). As fontes e indicação de ingestão diária da vitamina K podem ser observadas nas Tabelas 3.1 e 4.1, respectivamente. VITAMINAS HIDROSSOLÚVEIS Vitamina C A vitamina C tem como principal forma biologicamente ativa o ácido ascórbico. Esta vitamina também é conhecida como: ácido ascórbico, L- ácido ascórbico, ácido deidroascórbico, ascorbato e vitamina antiescorbútica. Diversas funções são reconhecidas para a vitamina C, sendo que a principal é ser cofator das reações que necessitam de cobre e ferro reduzidos como antioxidantes hidrossolúveis que irão atuar de forma extra e intracelular. Também tem como função a capacidade redutora em diferentes reações, podendo reduzir o oxigênio reativo. Ela atua como antioxidante, principalmente em conjunto com a vitamina E e carotenoides, protegendo substâncias e células do processo oxidativo (SILVA e MURA, 2010; VANNUCCHI e ROCHA, 2012). Esta vitamina realiza a conversão do ferro férrico (Fe3+) a ferro ferroso (Fe2+), aumentando a biodisponibilidade do ferro (CHAMPE et al., 2012). A vitamina C também tem participação em diversas atividades. Dentre elas, estão: síntese e modulação de componentes hormonais do sistema nervoso; processo de cicatrização; hidroxilação do colágeno; redução da suscetibilidade a infecções, melhorando a imunidade celular; e efeitos sobre doenças respiratórias. Além disso, ela é necessária para recomposição dos tecidos danificados, atuando na manutenção do tecido conjuntivo normal (PACHECO, 2011; CHAMPE et al., 2012). Ela é absorvida rapidamente no trato gastrointestinal e pode ser eliminadas pela urina quando em excesso. Contudo, esta condição pode estar vinculada à formação de cálculos de urato e oxalato de cistina, como também pode causar o “escorbuto rebote”, doença caracterizada pela dependência de quantidades cada vez maiores da vitamina C (VANNUCCHI e ROCHA, 2012). Outros sintomas podem aparecer, como: necrose residual, diarreia osmótica, hiperoxalúria. As altas dosagens afetam a disponibilidade da vitamina B12. A deficiência da vitamina C pode desenvolver o escorbuto, astemia, edemas no joelho e tornozelos, alopecia, enfraquecimento ósseo, entre outros sintomas. As fontes e indicação de ingestão diária da Vitamina C podem ser observadas nas Tabelas 3.2 e 4.2, respectivamente. Tiamina (Vitamina B1) A coenzima pirofosfato de tiamina (TPP) é a forma ativa desta vitamina. A tiamina é componente importante para o desdobramento do ácido pirúvico e é necessária para a respiração tecidual por toda a vida, esta vitamina apresenta funcionalidade para as membranas das células nervosas atuando na transmissão de impulsos nervosos. A carência da tiamina pode desenvolver doenças como a beribéri, que se caracteriza pela insuficiência cardíaca e nervosa. Também pode desenvolver distúrbios neurológicos e cardiovasculares conhecidos como síndrome de Wernicke-Korsakoff, que pode ser desenvolvido por alguns alcoólatras devido o álcool dificultar a absorção da tiamina. Em contrapartida, se consumido em excesso, ela será excretada pelas vias urinárias. As fontes e indicação de ingestão diária da Tiamina podem ser observadas nas Tabelas 3.2 e 4.2, respectivamente. Riboflavina (Vitamina B2) A riboflavina é encontrada de duas formas livres na natureza, que são a flavina mononucleotídeo (FMN) e a flavina adenina dinucleotídeo (FAD), sendo a FMN e a FAD as formas ativas desta vitamina. Ela é importante para o metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas, e participam da oxirredução e no transporte de elétrons. Sendo assim, atuam no metabolismo da energia como cofator redox. A riboflavina é essencial para a regulação das enzimas tireoidianas e na formação dos eritrócitos. A deficiência da riboflavina não está vinculada a uma doença. É relatado que quando o indivíduo tem teores insuficientes desta vitamina, ela causa a superposição de deficiências vitamínicas, pois ela é necessária na metabolização de outras vitaminas como B6, folato, niacina e K (VANNUCCHI E CUNHA, 2009). No entanto, podem aparecer os seguintes sintomas: dermatite, queilose, glossite, queratose folicular, queimaduras nos pés, etc. As fontes e indicação de ingestão diária da Riboflavina podem ser observadas nas Tabelas 3.2 e 4.2, respectivamente. Niacina (Vitamina B3) O ácido nicotínico e a nicotinamida são os representantes da niacina. Esta vitamina pode ser encontradana literatura por duas denominações: a vitamina B3 ou PP. A niacina é o componente essencial das principais coenzimas do metabolismo, atuando como precursora das coenzimas NAD e NADP. A nicotinamida é a fração ativa dessas coenzimas, que são essenciais para as reações de produção de energia, e também atuam nas reações de oxirredução. No entanto, quando a ingestão é deficiente, pode causar a pelagra, doença que afeta a pele, trato gastrintestinal e o sistema nervoso central, e, quando não tratada, causa morte no indivíduo. Além desta, pode ser responsáveis por vaginite, fraqueza muscular e anorexia. Em excesso, pode desenvolver arritmias, vômitos, diarreia, úlcera péptica, vesículas marrons na pele, pruridos, etc. A absorção da niacina acontece no intestino e sua conversão nas coenzimas ocorre no fígado. Na flora intestinal ou nos tecidos pode ocorrer a sintetização da niacina a partir do aminoácido triptofano, quando ingerido na alimentação. A niacina é estável, mas podem ocorrer perdas durante os processos como branqueamento, lavagem, liberação de líquidos na cocção. Esse fato ocorre pela sua solubilidade em água. As fontes e indicação de ingestão diária da Niacina podem ser observadas nas Tabelas 3.2 e 4.2, respectivamente. Ácido pantotênico (Vitamina B5) É uma vitamina amplamente distribuída na natureza, e desta forma a deficiência do ácido pantotênico é uma condição clínica rara, mas pode desencadear dores de cabeça, fadiga, câimbras musculares, redução da coordenação motora e distúrbios gastrointestinais (SILVA e MURA, 2010; CHAMPE et al., 2012). Nos alimentos podem ocorrer perdas desta proteína durante o seu processamento e beneficiamento, no entanto tem estabilidade em calor úmido (cozimento) e em soluções neutras (PACHECO, 2011; CHAMPE et al., 2012). A vitamina B5 atua no metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas, e desta forma libera energia. O ácido pantotênico é componente da coenzima A (fundamental no Ciclo de Krebs). A absorção desta vitamina se dá pela veia porta. As fontes e indicação de ingestão diária da Vitamina B5 podem ser observadas nas Tabelas 3.2 e 4.2, respectivamente. Piridoxina (Vitamina B6) A vitamina B6 são três compostos encontrados na natureza, sendo um representante dos vegetais (piridoxina) e dois de origem animal (piridoxal e a piridoxamina). Todos estes 3 compostos apresentados podem ser precursores da coenzima piridoxal-fosfato, que é biologicamente ativa. Nos alimentos a piridoxina é estável em meio ácido, mas, quando submetidos à temperatura de congelamento, apresentam perdas significativas. A piridoxina é absorvida por difusão simples no intestino delgado e transportada no plasma e nas células vermelhas. A vitamina B6 participa na ativação de enzimas, atua no sistema nervoso central e é essencial nas reações do metabolismo de carboidratos, lipídios e aminoácidos (SILVA e MURA, 2010; PACHECO, 2011). De acordo com Champe et al. (2012), a piridoxina, dentre as vitaminas hidrossolúveis, é a vitamina que apresenta uma toxicidade a partir de 200mg/dia, e desta forma pode causar sintomas neurológicos. As fontes e indicação de ingestão diária da Piridoxina podem ser observadas nas Tabelas 3.2 e 4.2, respectivamente. Cobalamina (Vitamina B12) A vitamina B12, também conhecida por cianocolamina, faz parte do grupo das cobalaminas e são sintetizadas pelos microrganismos e encontradas em praticamente todos os tecidos animais (PANIZ et al., 2005). A cianocobalamina participa da manutenção da bioquímica celular e é essencial na síntese de DNA e mielina. Atuam na síntese de porfirinas e são coenzimas essenciais no metabolismo dos macronutrientes (PACHECO, 2011; CHAMPE et al., 2012). Na literatura, diversos autores afirmam que a vitamina B12 funciona, no organismo humano, como cofator essencial para as enzimas: metionina sintase e L-metilmalonil-coA mutase. A deficiência da vitamina B12 está praticamente ligada à deficiência na absorção desta no intestino e pode desencadear a anemia perniciosa e, com o desenvolvimento desta anemia, podem-se apresentar sintomas neuropsiquiátricos. As fontes e indicação de ingestão diária da Vitamina B12 podem ser observadas nas Tabelas 3.2 e 4.2, respectivamente. Ácido fólico O ácido fólico é uma vitamina essencial ao funcionamento normal das células, sendo representado por diversos compostos que representam o folato. Nas frutas e hortaliças são encontrados os seguintes representantes desta vitamina: 5-metiltetraidrofolato (5-MTHF), o 5-formiltetraidrofolato (5- FTHF) e o tetraidrofolato (THF). Nos alimentos, as perdas do ácido fólico podem ocorrer por diversas condições, como: pH, antioxidantes, oxigênio, luz, a forma de cocção, quantidade de água no preparo e o armazenamento (CHAMPE et al., 2012). O ácido fólico é essencial para a biossíntese de vários compostos como: aminoácidos (purinas e pirimidinas); formação dos ácidos nucleicos (DNA e RNA). O folato também forma hemácias e leucócitos na medula óssea. A deficiência dessa vitamina pode causar anemias nutricionais, como a macrocítica, e também problemas tais quais defeitos do tubo neural em fetos (SILVA e MURA, 2010; PACHECO, 2011). As fontes e indicação de ingestão diária do Ácido Fólico podem ser observadas nas Tabelas 3.2 e 4.2, respectivamente. Biotina A biotina é amplamente encontrada nos alimentos e também sintetizada por bactérias intestinais. Essa vitamina é uma coenzima nas reações de carboxilação, sendo uma transportadora de CO2 ativado de quatro enzimas. Sua absorção ocorre no intestino delgado, a sua deficiência ocorre quando há a ingestão de fatores antinutricionais como a avidina (presente na clara do ovo). Nos alimentos, a sua perda pode ocorrer durante o processamento com água devido à sua extração neste meio. As fontes e indicação de ingestão diária da Biotina podem ser observadas nas Tabelas 3.2 e 4.2, respectivamente. 3. Fonte de vitaminas Para uma alimentação completa, rica em vitaminas, se faz necessário a ingestão de diversos tipos de alimentos, para que se possa atender aos valores indicados na recomendação diária de ingestão de vitaminas ao indivíduo. Pois, de acordo com Silva e Mura (2010), as vitaminas são distribuídas irregularmente nos alimentos. Desta forma, as quantidades de vitaminas nos alimentos são dependentes de alguns fatores, como: Alimentos de origem vegetal: variedade da planta; período do ano para o cultivo e colheita; tratos culturais; grau de maturação; manejo pós-colheita (transporte, armazenamento, embalagens, etc.) e tipo de processamento deste alimento. Alimentos de origem animal: raça do animal; tipo da produção; sexo; idade; transporte; armazenamento; forma de processamento deste alimento, dentre outros fatores. Ainda nesta classificação, de acordo com a FAO (2013), os insetos comestíveis também apresentam quantidades variadas de vitaminas devido a diversidades de suas espécies e ordens, como também o estágio de desenvolvimento (larva, ninfa e adulto). A Tabela 3.1 apresenta as principais fontes de vitaminas lipossolúveis e a Tabela 3.2 as fontes das vitaminas hidrossolúveis. Nesta tabela apresentam-se os valores para os alimentos de origem vegetal, animal e, em destaque, os insetos comestíveis. Tabela 3.1. Principais fontes de vitaminas lipossolúveis divididas em origem vegetal, animal e insetos comestíveis. Tabela 3.2. Principais fontes de vitaminas hidrossolúveis divididas em origem vegetal, animal e insetos comestíveis. 4. Recomendações diárias de ingestão das vitaminas A Ingestão Diária Recomendada (IDR) são os valores adotados pelos órgãos competentes de saúde, que indicam o quantitativo de um determinado nutriente, por exemplo, vitaminas, que devem ser ingeridas diariamente na dieta normal de um indivíduo, para atender às necessidades nutricionais. A Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, no uso da sua atribuição (BRASIL, 2005), define: “Ingestão Diária Recomendada (IDR) é a quantidade de proteína, vitaminas e minerais que deve ser consumida diariamentepara atender às necessidades nutricionais da maior parte dos indivíduos e grupos de pessoas de uma população sadia.” Para cada grupo de pessoas, os valores das IDR são diferentes, para atender às necessidades diárias dos indivíduos de cada grupo. Desta forma, a FAO (2001) divide os grupos, para a maioria das vitaminas, da seguinte forma: Lactentes, crianças, adolescentes (homem/mulher), adultos (homem/mulher e jovens/idosos), gestantes e lactantes. Nas Tabelas 4.1 e 4.2 apresentam-se os valores das vitaminas encontrados nos insetos comestíveis e os valores das recomendações diárias de ingestão adotada pela FAO (2001) e pelo Brasil (2005) para atender às necessidades de um adulto. Tabela 4.1 Valores das vitaminas lipossolúveis encontradas em 100 g de insetos e valores da Ingestão Diária Recomendada (IDR) para um adulto. Tabela 4.2 Valores das vitaminas hidrossolúveis encontradas em 100 g de insetos e valores da Ingestão Diária Recomendada para um adulto. 5. Considerações finais O organismo humano, para um bom funcionamento, necessita de uma determinada quantidade diária das vitaminas. Desta forma, é necessário ter uma alimentação equilibrada e variada para obter o valor requerido pelo corpo para cada vitamina. A tendência para os próximos 20 anos será o aumento da demanda pela entomofagia como forma de alimentação, e as preocupações dos pesquisadores estão voltadas para saber se este tipo de alimentação irá suprir todas as necessidades nutricionais dos seres humanos. Este capítulo abordou as vitaminas, sua importância e a presença delas nos insetos destinados à alimentação humana. Os valores apresentados nas diversas pesquisas realizadas pelos pesquisadores no mundo revelam que os insetos são excelentes fontes de vitaminas, sendo que algumas delas, numa porção de 100 gramas, excedem as IDRs para um adulto. Pensando no futuro com a problemática produção de alimentos, os insetos, no requisito vitaminas, poderão ser o substituto de diversos gêneros alimentícios, fornecendo todas as vitaminas necessárias para a manutenção das funções do corpo dos seres humanos. 6. Referências bibliográficas BALTES, W. Química de los alimentos. Zaragoza: Acribia, 2007. 476 p. BLÁSQUEZ, J. R. E.; MORENO, J. M. P.; CAMACHO, V. H. M. Could Grasshoppers Be a Nutritive Meal?. Food and Nutrition Sciences, v. 3, p. 164-175, 2012. BRASIL. Resolução ANVISA RDC 269, de 22 de setembro de 2005. Dispõe do Regulamento Técnico Sobre a Ingestão Diária Recomendada (IDR) de Proteína, Vitaminas e Minerais. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 22 set. 2005. Seção 1. CHAMPE, P. C.; HARVEY, R. 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Estudos mostram que as fibras exercem o papel de hidratação e, devido essa ação, aumentam o volume e a velocidade de trânsito do bolo alimentar e fecal. Os constituintes alimentares presentes na dieta que possuírem a capacidade de complexar com as fibras presentes, por exemplo as substâncias nocivas ao organismo, podem ser excretadas em maior ou menor quantidade dependendo do tipo de fibra envolvida. Os constituintes alimentares presentes na dieta, ou seja, aquela substancia que é nociva ao organismo, mas possui a capacidade de complexar com as fibras pode ser excretada em maior ou menor quantidade dependendo do tipo de fibra envolvida. As fibras alimentares são encontradas principalmente nas frutas, hortaliças e cereais integrais, mas existem inúmeros alimentos não convencionais que podem ser fonte de fibras na alimentação humana como, por exemplo, os insetos comestíveis, os quais além das proteínas que possuem, são ricos também em fibras e podem ser utilizados como fonte alternativa de fibras na alimentação. A barreira para apreciar alguns alimentos acrescidos de insetos é considerada puramente psicológico, pois, em testes às cegas, os degustadores preferiram o alimento suplementado com inseto ao alimento tradicional. No Brasil a barra de cereal é denominada um alimento não convencional e, além de ser fonte de vitaminas, sais minerais, proteínas e carboidratos, é também fonte de fibra alimentar e de β-glucanas. Já na África e na Ásia, por uma questão cultural, os insetos estão presentes nas refeições do dia a dia como alimento convencional. Além dos vegetais, os insetos comestíveis também contêm fibra não digerível pelo ser humano, mas de grande importância para o balanceamento da quantidade fibras solúveis (FS) e fibras insolúveis (FI) na dieta. A forma mais comum de fibra encontrada em inseto é a quitina, um polímero de cadeia longa de N-acetil glucosamina, um derivado de glicose, uma fibra insolúvel derivada do exoesqueleto. O teor de quitina de espécies de insetos utilizados como alimento para insetívoros variam de 2,7 mg a 49,8 mg por kg (fresco e de 11,6 mg e 137,2 mg por kg de matéria seca). Acredita-se que o ser humano não consegue digerir quitina, embora estudos revelarem ter encontrado quitinase em sucos gástricos humanos que vivem em países tropicais onde a população consome insetos regularmente na dieta. Pesquisas realizadas pela FAO mostram que os insetos contribuem para a alimentação como fonte de proteínas, minerais e fibras,principalmente na comparação com a carne e peixe. Adotar uma alimentação saudável pode refletir diretamente na saúde do organismo. A fibra alimentar auxilia no funcionamento do sistema digestivo e está associada principalmente às fibras de origem vegetal, pois a literatura ainda é bastante escassa no que diz respeito à inserção de insetos comestíveis rico em nutrientes como parte da dieta. Os insetos comestíveis são citados como fonte de proteínas em uma dieta saudável e inseridos na alimentação diária de forma cultural e não pelos seus benefícios. São necessários avanços em estudos científicos e incentivos para a inserção de insetos na alimentação para uma dieta mais variada e saudável do homem. 2. Fontes e classificação das fibras As fibras alimentares são constituintes naturais encontrados essencialmente nos alimentos de origem vegetal, como cereais, frutas, vegetais, leguminosas e frutas secas. As fibras podem ser classificadas em fibras solúveis (FS) e fibras insolúveis (FI). Sabe-se que os insetos comestíveis são citados na literatura como fonte de proteína na dieta humana. São consumidos em muitas partes do mundo, são altamente nutritivos e bem aceitos como alimentos à base de insetos como iguaria exótica. Os insetos podem ser processados, consumidos inteiros, pasta ou extrato (proteínas, gorduras ou quitina) como suplemento em produtos alimentares e/ou produtos alimentares para animais. Os estudos mostram que o valor nutricional dos insetos comestíveis chega próximo ao da carne vermelha magra e peixe em termos de quantidade de proteínas por grama. No sul da África e no sudeste da Ásia, algumas lagartas e ovos de formigas tecelã são considerados iguarias com alto valor de mercado. Classifica-se como fibras solúveis grande parte das pectinas, gomas e certas hemiceluloses. Já nas fibras insolúveis, pode-se citar a celulose, algumas pectinas, grande parte das hemiceluloses e lignina, conforme apresentado na Tabela 1. As fibras atuam principalmente no esvaziamento gástrico (maior saciedade). Em insetos comestíveis não há estudo que mostre a quantidade de fibras. Acredita-se que é dado mais importância para a quantidade de proteínas existentes nos mesmos. Tabela 1: classificação, tipos e fontes das fibras solúveis e insolúveis no organismo. Fonte: Bueno, 2005. As fibras são classificadas principalmente pelas suas propriedades físico-químicas das frações polissacarídicas, oligossacarídeos, carboidratos, lignina, compostos fenólicos, proteínas de parede celular, oxalatos, fitatos, ceras, cutina e suberina e as fibras de origem animal (quitina, quitosana, colágeno e condroitina). Sendo assim classificadas, FS são aquelas que facilmente aumentam a viscosidade ou são conhecidas por serem fermentáveis no colón, por exemplo, a pectina. FI são aquelas que têm com função principal o aumento do bolo fecal, mas com limitada fermentação no colón, sendo utilizada pelo organismo com um catalizador da digestão atuando na excreção dos compostos tóxicos formados além de atuar na manutenção do equilíbrio do pH intestinal. 3 - Qualidade A importância da alimentação equilibrada na manutenção da saúde tem apresentado a eficácia de certos alimentos na prevenção e/ou controle de doenças. A ingestão de fibras na dieta, além de reduzir os níveis de colesterol, melhora a glicemia em pacientes com diabetes, previne o ganho de peso e ainda traz benefícios como a redução de processos inflamatórios de baixo grau. Estudos com testes em ratos mostram que as fibras solúveis pectina e goma guar, consumidas nas concentrações de 10 e 15%, foram eficazes na redução dos níveis de colesterol total e lipídios. A recomendação de ingestão de Fibra Alimentar Total (FAT) para adultos é de 20 a 30 g/dia. Para alcançar essa quantidade, é necessário que os rótulos dos produtos apresentem a informação nutricional clara para que o consumidor tenha a liberdade de escolher adequadamente os nutrientes que serão ingeridos. A resolução n° 54/2012 mostra claramente que nos rótulos dos produtos é necessária a Informação Nutricional Complementar (INC) trazendo escrito o termo “rico em fibras”, entre outros que devem aparecer na parte anterior e mais visível da embalagem. Estudos científicos comprovam que pacientes que consomem fibras na dieta apresentam menor risco para o desenvolvimento de doença coronariana, hipertensão, obesidade, diabetes e câncer de cólon. A utilização de ingredientes ricos em fibras, como as β-gluconas que são encontradas principalmente na parede celular dos grãos, para o desenvolvimento da barra de cereal com alto teor de fibras mostra que o produto final apresentou um teor de fibra acima dos valores estabelecidos pela legislação, mostrando, então, uma nova tendência para produção e desenvolvimento de produtos ricos em fibras. Diante da necessidade de consumir fibras solúveis e fibras insolúveis em quantidades balanceadas, há um grande nicho de mercado: a elaboração de produtos com adição de fibras insolúveis provenientes de inseto comestível, visto que os alimentos contêm naturalmente as fibras solúveis encontradas em matérias primas vegetais utilizadas nas formulações. A fibra na dieta é uma parte não digerível do alimento vegetal, a qual resiste à digestão e absorção intestinal, porém com fermentação completa ou parcial no intestino grosso. 4 - Metabolismo das fibras no corpo humano Em geral, os alimentos contêm fibras na proporção de um terço de fibras solúveis e dois terços de insolúveis. A fibra alimentar e/ou dietética é resistente à ação das enzimas presentes no sistema digestivo humano. As fibras são constituídas de polímeros de carboidratos, com três ou mais unidades monoméricas, e mais a lignina, denominada como um polímero de fenilpropano. As fibras são denominadas fibras solúveis devido as suas características de capacidade de solubilidade em água, formando géis viscosos. Elas não são digeridas no intestino delgado, mas são facilmente fermentadas pela microflora do intestino grosso. As fibras solúveis mais específicas são as pectinas, as gomas, a inulina e algumas hemiceluloses. Entretanto, as fibras insolúveis são assim denominadas devido à capacidade que elas têm em não ser solúveis em água, ou seja, não formam géis e sua fermentação é limitada. No grupo das fibras insolúveis de origem vegetal, pode-se citar a lignina, a celulose e algumas hemiceluloses. E nas fibras de origem não vegetal, há quitina, quitosana, colágeno e condroitina, fungos, leveduras, invertebrados, cogumelos, casca de camarão e frutos do mar. Os polissacarídeos não amido, encontrados principalmente na parede celular dos vegetais, quando ingeridos, são parcial ou totalmente fermentados e utilizados como fonte energética pela microflora no cólon, convertidos em gases (hidrogênio, metano e dióxido de carbono) e ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs), principalmente acetato, propionato e butirato, fazendo com que ocorra a multiplicação das bactérias, proporcionando o aumento do bolo fecal, resultando na diminuição do pH intracelular e do cólon, inibindo a proliferação de organismos patogênicos causadores de doenças no cólon, além de reduzir a solubilidade de ácidos biliares e promover a absorção de cálcio, que é um componente importante na manutenção óssea. 5 - Função das fibras no organismo As fibras têm como principal função atuar nas funções gastrointestinais humanas, podendo ser capaz de regular o funcionamento do intestino, reduzir a absorção de nutrientes por cauda do aumento do volume fecal, menor tempo de trânsito intestinal associado à redução nos níveis de colesterol do plasma sanguíneo e redução de diabetes mellitus. A ingestão de fibras insolúveis, e não de fibras solúveis, tem sido inversamente associada à incidência do Diabetes Melittus Tipo 2 (DMT2). Por outro lado, em estudos pós-prandiais, na ingestão de alimentos contendo β-glucano, psyllium, ou goma-guar observou a redução da insulina e da glicose, tanto em indivíduos saudáveis como em pacientes com DMT2. As fibras insolúveis têm pouco efeito sobreas respostas pós- prandiais de insulina e glicose, mas comprovadamente aumenta a saciedade, o que sugere a necessidade de uma modificação na dieta da população para que seja alcançada a qualidade de vida. O homem moderno não tem tempo para se dedicar à saúde por falta de horários rotineiros para cuidar do corpo, buscando uma alimentação saudável e praticar exercícios físicos. Contudo, o resultado é cada vez mais um aumento no número de doenças relacionadas à má digestão, por exemplo, a constipação intestinal. Com relação aos benefícios dos insetos na alimentação, a aversão dos consumidores continua sendo uma das maiores barreiras para a sua adoção como fonte viável de componentes benéficos em muitos países ocidentais. Mesmo assim, a história tem mostrado que os padrões alimentares podem mudar rapidamente, particularmente em um mundo globalizado. Um bom exemplo a ser citado é o fato de que a população aderiu ao consumo de sushi (peixe cru). Em regiões asiáticas, onde ocorre o alto consumo de insetos, há relato do sabor associado ao prazer que despertam sentimentos de saciedade e bem estar ao consumidor de pratos contendo insetos comestíveis. A indústria de alimentos tem um grande papel no que se refere a elevar os insetos à categoria de alimento, seja industrializado ou na elaboração de receitas para serem servidas em restaurantes e até mesmo como um novo produto alimentício. 6 - Considerações finais As fibras são consideradas importantes principalmente pelo efeito de prevenção de doenças gastrointestinais, visto que deve ser realizado o consumo equilibrado de fibras solúveis e insolúveis na dieta. Os insetos comestíveis são utilizados na dieta por serem ricos em proteínas contendo os aminoácidos essenciais, e também pelas fibras presentes que contribuem para melhoria da digestão. Neste contexto, vale ressaltar que a dieta humana deve ser planejada de acordo com a necessidade de cada individuo, levando em consideração a contribuição benéfica das fibras, principalmente para eliminar compostos tóxicos do organismo. Referências ALMEIDA, K. C. L.; BOAVENTURA, G. T.; GUZMAN – SILVA, M. A. M. A. 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A constituição entre as proteína é semelhante para os elementos: carbono (51% a 55%), oxigênio (21,5% a 23,5%), nitrogênio (15,5% a 18%), hidrogênio (6,5% a 7,3%), enxofre (0,5% a 1,5%), fósforo (0% a 1,5%) e algumas vezes ferro, zinco, manganês ou outros microelementos (BERTECHINI, 2006). As proteínas são formadas pela unidade monomérica, denominados de aminoácidos. Na natureza ocorrem mais de 300 aminoácidos, mas somente 20 constituem as unidades monoméricas para a formação dos esqueletos polipeptídeos das proteínas, com distinção quantitativa e presença entre os diferentes aminoácidos em relação a proteína (RODWELL, 1998). Os aminoácidos são responsáveis pelo desenvolvimento dos organismos vivos, com funções dinâmicas e estruturais. As funções dinâmicas constituem-se em transporte (hemoglobina e transferrina), controle metabólico (hormônios), contração (miosina, actina, tropomiosina e troponina), catálise de transformações químicas (enzimas) e proteção bacteriana e viral (imunoglobulinas e interferon); já as funções estruturais são relativas ao desenvolvimento da matriz óssea (colágeno e elastina) (NELSON & COX, 2011). As vias metabólicas anabolismo e catabolismo empregam os aminoácidos livres, que são transportados pela corrente sanguínea com a finalidade de biossíntese de novas proteínas ou lipogênese para produção de energia, respectivamente (HEPHER, 1988). Na Tabela 01 é apresentado um resumo dos principais produtos gerados a partir de aminoácidos precursores, que exercem funções metabólicas diversas, tanto nas vias anabólicas como catabólicas. Tabela 01. Aminoácidos precursores de produtos não proteicos. Fonte: Institute of Medicine, 2005. Os aminoácidos para os seres humanos são divididos em essenciais (fenilalanina, histidina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, treonina, triptofano e valina) e não essenciais (alanina, arginina, asparagina, aspartato, cistína, glicina, glutamato, glutamina, prolina, serina e tirosina), sendo que os essenciais não são sintetizados, ou pelo menos não em quantidades exigidas pelos humanos; portanto são indispensáveis e devem estar contidos na dieta. A deficiência de um único aminoácido provoca a redução na utilização da proteína, influenciando no crescimento e na saúde, bem como o excessos também afetam a absorção, por meio do antagonismo entre determinados aminoácidos. O excesso ou escassez de alguns aminoácidos podem causar um desequilíbrio aminoacídico, afetando a taxa de ingestão, o transporte de nutrientes, o catabolismo, a taxa de síntese e degradação de tecido muscular e a formação de metabólitos tóxicos (JARAMILLO, 1996). Nos animais, os carboidratos e a gordura corporal podem ser armazenados, porém os aminoácidos não podem armazenados como material de reserva (BEITZ, 2006). O “pool” de aminoácidos corporal apresenta duas fontes principais, a dieta e o catabolismo das proteínas corporais que estão em um estado de constante “turnover”. O excesso de aminoácidos resulta na desaminação e oxidação via ciclo do ácido cítrico para produção de energia, e em alguns casos convertido para glicose ou lipídios (WALTON, 1985). A dieta composta com um fornecimento equilibrado de aminoácidos, derivada da exigência nutricional, resulta em melhor atividade metabólica e, consequentemente, em melhor saúde e desenvolvimento. Diante das problemáticas já enfrentadas de subnutrição para determinadas faixas da população e com previsões de acentuar esse panorama, medidas efetivas de produção de alimentos, principalmente de fontes qualificadas em aminoácidos são um desafio. A produção de vegetais como fontes de proteína já apresenta destaque no cenário mundial. A produção de proteína animal também representa evidência na dieta humana, porém são fontes que demandam de insumos, áreas de cultivo e criação que serão um limitante para o crescimento dessas atividades, no aspecto espacial, podendo ser norteado pelo crescimento em produtividade por unidade de área. Portanto, alternativas viáveis de produção proteica são de suma importância. Para tanto, uma classe de organismos denominados de insetos pode ocupar as lacunas na oferta de proteína dietética humana. O consumo de insetos é denominado de entomofagia, tendo nos países asiáticos o reconhecimento de iguaria. Já nos demais continentes, de forma geral, não apresentam essa fonte como subsídio alimentar, principalmente por aspectos culturais. Segundo Tan et al. (2015), que avaliaram a aceitação de insetos como alimento em dois contextos culturais (tailandeses e holandeses) com avaliações contrastantes: a aceitação para o tailandeses e rejeição para os holandeses. Os resultados demonstraram que a novidade e benefícios do consumo de insetos geraram muito interesse em insetos como alimento entre os participantes holandeses. No entanto, os argumentos de benefícios à saúde e ao meio ambiente não foram suficientes para estimular o consumo e aceitação de insetos como alimento, sendo necessário o desenvolvimento de produtos apropriados, como processados. De acordo com Hartmann et al. (2015), a inserção de alimentos à base de insetos pode ser realizada com pratos que são ocidentalizados e adaptados para padrões de sabor europeus, sendo mais propensos para serem inseridos nas dietas dos consumidores. No estudo realizado por Verbeke (2015), os grupos de consumidores nas sociedades ocidentais mais propensos a serem os primeiros a adotar insetos como alimento podem ser apontados como possíveis formadores de opinião. O perfil desse grupo é composto por jovens do sexo masculino, com baixa aceitação à carne, baixa neofobia e com conscientização ambiental sobre os impactos gerados pelas suas escolhas alimentares. A probabilidade de 75% para esse grupo em aceitar a entomofagia como um substituto da carne. Em contrapartida, é improvável que os consumidores ocidentais tradicionais de carne considerariam incluir insetos em sua dieta. O esforço em se utilizar novas fontes de proteína com menor desgaste ambiental, insumos e espaço territorial, associados à qualidade nutricional, resultam em produções alternativas para a cultura ocidental. Como relatado por Oonincx & Boer (2012), para produzir um quilograma de proteína comestível a partir de leite, frango, suíno ou gado, com efeito superior nas emissões de gases de efeito estufa, exigem quantidades semelhantes de energia e exigem maiores áreas de criação, comparados com Tenebrio molitor e Zophobas morio, demonstrando que os insetos podem ser uma fonte mais sustentável de proteína comestível. Diversas são as espécies de insetos que podem ser consumidos e que são fontes proteicas quantitativas e qualitativas. A composição proteica e aminoacídica avalizam como um produto de alta qualidade nutricional, podendo ser empregadas tanto na alimentação humana quanto na nutrição animal. Sánchez-Muros et al. (2014) registraram o nível proteico de 92 espécies de insetos com valores de 9,5% (Myrmecosistus melliger) a 76% de proteína bruta (PB) (Boopedon flaviventris) com média de 45,6% PB (Tabela 02). Tabela 02. Composição proteica para diferentes espécies de insetos. Fonte: Sánchez-Muros et al., 2014. Já para peixes da espécie Piaractus mesopotamicus,Klein et al. (2014) observaram 16,6% PB no filé in natura. Na Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (NEPA, 2011) são apresentados valores da composição de diversos alimentos empregados na dieta humana, como pintado in natura 18,6% PB e assado 36,5%; picanha bovina grelhada 31,9%; arroz tipo 1 cozido 2,5%; feijão preto cozido 4,5%; e farinha de soja 36% PB. Portanto, alimentos considerados nobres como os pescados e a picanha bovina, alimentos tradicionais como o arroz e feijão, além da farinha de soja (fonte proteica vegetal com extensas áreas cultivadas nacionalmente) apresentam valores inferiores à média proteica dos insetos. Considerando os 597 alimentos apresentados na Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (NEPA, 2011), o pintado assado destacou-se com a maior concentração proteica (36,5% PB). Em contrapartida, a espécie de inseto Boopedon flaviventris apresentou 76% PB, ou seja, 2,08 vezes acima. As proteínas são absorvidas em sua maioria como aminoácidos em decorrência da hidrolize realizada no trato gastrointestinal. A absorção dos aminoácidos ocorre na membrana apical do enterócito (células epiteliais que revestem o intestino), transportados para os capilares sanguíneos nas vilosidades, seguindo para o fígado (NELSON & COX, 2005). Portanto, são os aminoácidos, de forma majoritária, que serão empregados no metabolismo para as diferentes demandas bioquímicas e fisiológicas corporais. Consequentemente, é o perfil aminoacídico de uma fonte alimentar que determina o valor nutricional do alimento. Na Tabela 03 são apresentados valores aminoacídicos para espécies de insetos, peixes, bovino, além da recomendação dietética da FAO (2013) para humanos acima de três anos de idade. Tabela 03. Composição aminoacídica de diferentes espécies de insetos, carnes de peixes, bovina e a recomendação de consumo para humanos segundo FAO (2013). ¹Li et al., 2015; ²Zieli ´nska et al., 2015; ³Abimorad et al., 2008; 4Gonçalves et al., 2009; 5Pires et al., 2006; 6Fao, 2013. Segundo Marco et al. (2015), determinadas espécies de insetos como Tenebrio molitor e Hermetia illucens podem ser empregadas na nutrição animal com resultados satisfatórios de digestibilidade de aminoácidos para frangos de corte, contribuindo com fontes valiosas de aminoácidos digestíveis, sendo uma alternativa nas barreiras culturais para entomofagia. Assim, a entomofagia procede-se de forma indireta, ou seja, os animais de corte (peixes, frangos, suínos, bovinos, entre outros) consomem essa fonte proteica (insetos), corte esses animais constituem a dieta humana tradicional. Novas opções de alimentos com alto teor de proteína é objetivo atual da indústria de alimentos. Porém, o emprego dessas proteínas para consumo humano deve ser acompanhado com estudo de alergenicidade, em decorrência de registros de anafilaxia decorrentes dessas proteínas. Senso assim, deve ser exigido por agências de segurança alimentar receber um pedido de autorização de tais alimentos inovadores (VAN DER BREMPT & MONERET-VAUTRIN, 2014). Segundo Vercruysse et al. (2010) peptídeos (Ala-Val-Fen, Val-Phe) da espécie Spodoptera littoralis apresentaram atividade anti-hipertensiva quando administrados via oral em ratos, resultando na diminuição significativa na pressão sanguínea para ambos os peptídeos. Os resultados indicam o potencial da proteína derivada de insetos como fonte de peptídeos bioativos dos alimentos funcionais ou nutracêuticos. Moléculas com atividade antifúngica foram encontradas em insetos, podendo ser peptídeos com ação nas reações de defesa imunológica. Peptídeos antifúngicos ativos desenvolvidos por insetos para inibir patógenos infecciosos são considerados como componentes para higidez humana (FARUCK et al., 2015). Portanto, fontes proteicas alternativas são fundamentais para a sustentabilidade da sociedade, prezando por fontes com redução nos impactos ambientais, nas áreas de cultivo/criação, visando a evolução qualitativa e quantitativa do segmento alimentar, até pelo crescimento na demanda em ambos aspectos. Consequentemente, o avanço em novas atividades e possíveis alterações culturais serão desencadeados, além de novos produtos provenientes dessas novas atividades poderem atingir áreas farmacológicas. Diante dos desafios, a entomologia desperta a atenção de instituições e pesquisadores para esse segmento, com resultados zootécnicos favoráveis, somados ao alto valor biológico da proteína disponibilizada por essa classe de organismos. Referências bibliográficas ABIMORAD, E.G. 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Produção de rações para alimentação animal nos diferentes segmentos no Brasil (milhões de toneladas 2014-2015). Fonte: (Adaptado: Sindirações, 2015) As fábricas de rações no Brasil deparam-se com a necessidade de grandes volumes de ingredientes para a preparação das rações, havendo com certa rotina escassez de ingredientes alternativos ao milho, ao farelo de soja e às farinhas de origem animal, que são as principais matérias primas utilizadas na elaboração das dietas para a alimentação animal. Além disto, é importante salientar que o preço do farelo de soja e de milho é regulado pelo mercado internacional, e a flutuação cambial pode afetar os preços prejudicando a comercialização. Em 2015 este fato foi evidenciado, onde o efeito da desvalorização do Real nos preços brasileiros valorizou as matérias-primas utilizadas na alimentação de aves, suínos, camarões, peixes, bovinos de corte e leite, minando o fôlego financeiro das empresas (Sindirações, 2015). O emprego de ingredientes alternativos que podem ser utilizados no processamento de rações deve ser buscado frequentemente, ressaltando que a vantagem econômica deve existir para que as mudanças aconteçam. Na nutrição animal, os avanços tecnológicos e as pesquisas científicas têm permitido o desenvolvimento do setor, principalmente pelas melhoras no desempenho zootécnico. Neste sentido, Pascoal et al. (2006) relataram que muitas pesquisas deverão ser realizadas no sentido de se desenvolver e determinar o potencial nutricional de diferentes ingredientes. A necessidade de fontes alternativas para a fabricação de rações tem despertado o interesse no uso de insetos como uma fonte alimentar, uma vez que podem complementar as fontes tradicionais como soja, farinha de peixe, farinha de vísceras, farinha de carnes, farinha de penas, entre outras. O uso de insetos surge como uma das alternativas alimentares, pois vários grupos de insetos podem ser encontrados em abundância em determinados ambientes, representando grande quantidade de biomassa, que poderia estar sendo aproveitada como fonte de alimento (Romeiro et al., 2015). Os insetos com os maiores potenciais para a produção em grande escala são as larvas de mosca soldado, de mosca doméstica e do besouro da farinha. Porém, outras espécies de insetos também podem ser estudadas para esse propósito (Romeiro et al., 2015). Criadores na China, África do Sul, Espanha e Estados Unidos já estão produzindo grandes quantidades de larvas de moscas para uso como alimento na aquicultura e na avicultura, por bioconversão de resíduos orgânicos (FAO, 2015). Com base nesta concepção, objetivou-se com este capítulo fazer um breve relato sobre o uso de insetos na alimentação de aves, peixes e suínos. Utilização de insetos na alimentação de Aves As principais fontes de proteína vegetal disponíveis para as aves são o farelo de soja, o de canola e o glúten de milho. No entanto, a composição de aminoácidos destes ingredientes é inferior ao das proteínas de origem animal, especificamente no que diz respeito ao seu teor de aminoácidos essenciais, principalmente a metionina. A farinha de peixe é utilizada em grande escala em dietas avícolas. Todavia, devido à explotação excessiva da pesca, a farinha de peixe tornou-se um recurso limitado e com custo elevado. Assim, o potencial da proteína de insetos em dietas para aves domésticas tem despertado o interesse. As principais pesquisas se concentraram sobre as larvas da mosca preta (Hermetia illucens), larvas de pupas de mosca doméstica (Musca domestica), as larvas de besouro (Tenebrio molitor) e as famílias de insetos pertencentes à ordem Orthoptera, entre eles os gafanhotos e grilos. Na Tabela 2 é mostrado como a farinha de larvas de insetos são uma rica fonte de proteínas, minerais, aminoácidos essenciais e lipídeos. Tabela 2. Composição química da farinha de larvas de diferentes insetos. Fonte: (Adaptado: Józefiak & Engberg, 2015) Na revisão: Insetos como fonte renovável de alimentos para animais, realizado por Sánchez-Muros et al. (2014) descreveram que frangos de corte alimentados com farinha de larvas de mosca não causaram nenhum efeito negativo sobre o ganho de peso, consumo de ração e conversão alimentar. Isto sugere que a farinha de larvas de mosca pode substituir eficientemente outras fontes de proteína, como por exemplo, o farelo de soja e a farinha de peixe. No entanto, conforme Rumpold & Schlüter (2013) um obstáculo significativo para a utilização de insetos na alimentação de frangos é a quantidade limitada de insetos produzidos, principalmente por deficiências na criação, o que não garante um fornecimento constante. Além disto, os preços dos insetos são elevados e não conseguem competir com outras fontes de proteína. Mas, com a produção em escala industrial e o desenvolvimento de tecnologias automatizadas nos processos de criação, colheita e pós-colheita certamente contribuiriam para a diminuição dos custos. Segundo Pro et al. (1999), ao utilizarem a larva da mosca doméstica para engorda de frangos de corte, observaram alto conteúdo de energia metabolizável das larvas secas, (energia metabolizável aparente = 4.071 kcal/kg), podendo ser explicado por seu alto conteúdo de óleo (22%) e pela alta proporção de ácidos graxos insaturados (aproximadamente 49% do total), o que melhora a absorção dos ácidos graxos saturados. No Brasil, Paiva (2001) relatou que pupas de moscas domésticas podem ser utilizadas para alimentação de galinhas e pássaros. No estudo da autora, pintos da raça “Leghorn branca”, que tiveram 28% de suplemento das necessidades de proteínas com pupas de moscas domésticas, apresentaram o ganho de peso e conversão alimentar semelhante ao grupo controle suplementado com farinha de peixe, farinha de soja e farinha de carne e osso. Baseado nessa pesquisa, ela concluiu que as pupas de mosca doméstica podem servir como fonte de suplementação de proteínas para esses animais. As pupas de mosca doméstica apresentaram em média 63% de proteínas, 15,5% de gordura, 5,3% de cinzas e 580 kcalde energia por grama. Além disto, os aminoácidos de que são compostas indicam que a qualidade protéica das pupas é semelhante ao da farinha de carne e osso e superior ao da farinha de soja. A criação de insetos para alimentação de aves deve ser feita com resíduos livres de contaminação por agentes patogênicos (microrganismos que causam doenças) de forma a garantir a qualidade final do alimento e a aceitação deste produto no mercado (Paiva, 2001). Utilização de insetos na alimentação de Peixes Na piscicultura, o custo da alimentação corresponde a mais que 50% do custo total de produção, especialmente devido ao alto custo da proteína utilizada na fabricação das rações e também ao processo de extrusão (Dalsgaard et al., 2009). Deste modo, é imprescindível buscar fontes alternativas que contenham ingredientes de menor custo, a fim de tornar a criação mais rentável (Navarro., 2007). Neste sentido, estudos indicam que peixes alimentados com insetos superaram outras dietas tradicionais em vários parâmetros de crescimento, especialmente em razão dos insetos serem parte da dieta natural dos peixes (Henry et al., 2015). Para fazer a adição de insetos na dieta de peixes é preciso conhecer a composição química do inseto, que varia de acordo com seu estágio de vida e também com as condições de sua criação. Na tabela 3 são mostradas as principais espécies de insetos estudadas em experimentos para alimentação de peixes. Tabela 3. Nome de insetos utilizados em estudos para peixes. Fonte: (Adaptado: Henry et al., 2015) Os insetos Musca domestica, Hermetia illucens, Culex pipiens e o Tenebrio molitor foram avaliados na alimentação do bagre africano (Clarias gariepinus), do bagre do canal (Ictalurus punctatus) e da tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) mostrando que estes insetos podem ser usados na formulação das rações, sendo alternativas interessantes para a substituição do farelo de soja e da farinha de peixe (Henry et al., 2015). Por exemplo: o bagre africano alimentado com 50% de larvas vivas de Tenebrio molitor em conjunto com 50% do uma dieta artificial pobre em farinha de peixe cresceu melhor do que os peixes alimentados apenas com ração. Para o bagre do canal, em monocultivo alimentado com 100% de larvas de Hermetia illucens, foi observado que a alimentação com os insetos apresentou índices satisfatórios de crescimento, quando comparado com uma dieta comercial. Estudos utilizando Tenebrio molitor também foram bem sucedidos, em algumas vezes com melhores resultados de crescimento do que o tratamento controle. Silva et al. (2009) avaliaram a utilização da larva de mosca doméstica como alternativa na alimentação de lambari bocarra (Oligusarcus argenteus) e concluíram que se pode utilizar 75% de larva em substituição à ração de 32% de proteína bruta, proporcionando melhor desempenho em relação ao rendimento de carcaça. Já para peso final, ganho de peso, ganho de peso diário e comprimento total pode-se utilizar até 100% de larva de mosca em substituição a ração de 32% proteína bruta. As várias pesquisas realizadas com peixes em nível mundial vem demonstrando a possibilidade da utilização dos insetos como fonte alternativa de ingredientes e também como alimento. Além disto, pode ser uma opção para a substituição das fontes protéicas mais onerosas. Utilização de insetos na alimentação de Suínos Insetos são eficazes e sustentáveis para a alimentação de suínos, por sua alta qualidade biológica e, portanto sendo uma fonte alternativa de proteína (Veldkamp & Bosch, 2015). A capacidade que os suínos possuem em absorver os nutrientes derivados dos insetos é elevada. A digestibilidade protéica, por exemplo, é semelhante à do farelo de soja; porém, a digestão da gordura da larva de mosca doméstica é maior. Na Rússia, suínos foram alimentados com uma dieta contendo larvas de mosca doméstica, sem qualquer efeito adverso sobre o desempenho zootécnico, saúde, fisiologia, reprodução e propriedades organolépticas. Na Tailândia, leitões desmamados foram alimentados com dieta à base de soja, suplementada com 10% de farinha de larva de mosca doméstica, em dietas soenergéticas e isoprotéicas e não foi observado efeito negativo sobre o ganho de peso e a na conversão alimentar (Harinder et al., 2014). Considerações finais O mundo cada vez mais está faminto por proteína animal e os insetos podem ser a nova ração animal a ser usada. Estudos descobriram que um hectare de terra pode produzir, pelo menos, 150 toneladas de proteína de insetos por ano. Em comparação, a soja plantada sobre a mesma área rende pouco menos de uma tonelada de proteína por ano. Assim, a criação de insetos está despertando interesse, principalmente com o aumento da necessidade de ração e vários estudos vêm mostrando que se trata de um excelente alimento para animais de produção. Todavia, é preciso reduzir os custos de criação, de modo a viabilizar esse mercado. Os níveis de inclusão de insetos em rações para aves, peixes e suínos ainda deve ser melhor estudado, e a maioria dos dados de desempenho com animais publicados foram realizados na África e na Ásia e, portanto, devendo ser pesquisa no Brasil. Referências bibliográficas Dalsgaard J.; Ekmann, K. S.; Pedersen, P. B.; Verlhac, V. Effect of supplemented fungal phytase on performance and phosphorus availability by phosphorus-depleted juvenile rainbow trout (Oncorhynchus mykiss), and on the magnitude and composition of phosphorus waste output. Aquaculture, 286(3): 105-112, 2009. FAO, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura. 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Os minerais estão presentes em reduzidas concentrações nos alimentos, no entanto, desenvolvem ações essenciais no organismo humano e devem ser ingeridos diariamente, pois são essenciais para a nutrição humana (MILLER, 2010). Segundo Chitarra e Chitarra (2005), o estudo da ação dos minerais na nutrição humana é de grande importância, pois representam aproximadamente 4% dos tecidos de um indivíduo adulto, havendo necessidade de fornecimento constante desses elementos na dieta alimentar, para reposição das perdas que ocorrem pelas trocas biológicas, respeitando- se a proporção e a especificidade, para a manutenção do balanço mineral, mantendo o equilíbrio dinâmico permanente nos tecidos celulares. De acordo com sua ocorrência nos tecidos, são macroelementos: cálcio, fósforo, potássio, magnésio, sódio, cloro e enxofre; e, microelementos: ferro, zinco, cobre, iodo, flúor, cromo, selênio, cobalto, manganês, molibdênio, vanádio, estanho, silício e níquel. São considerados essenciais: cálcio, fósforo, sódio, ferro, magnésio, potássio, cobre, cobalto e manganês. Os demais não são essenciais por não haver deficiência no organismo ou necessidade de ingestão para reposição (CHITARRA; CHITARRA, 2005). Os elementos minerais correspondem a uma pequena fração dos tecidos vivos, com exceção do cálcio e do fósforo, que juntos compõem 60 a 80% dos ossos e dos dentes. Apresentam funções específicas, seja como eletrólitos regulando o pH das células, seja no balanço iônico e na ativação de enzimas com ação específica. Alguns minerais desempenham funções específicas e necessitam encontrar-se em proporções adequadas com outros elementos, como exemplo no balanço de cálcio e fósforo nos ossos, potássio e fósforo nos fluidos (CHITARRA; CHITARRA, 2005). Alimentos variados podem ser fontes de minerais, como leites, ovos, carnes, pescados, vegetais e seus derivados (ORDÓÑEZ PEREDA et al., 2005). Mas, a busca por novas fontes de minerais para inserção na alimentação humana é um assunto em destaque entre os pesquisadores da área, além de não ser um assunto recente. Os pesquisadores se preocupam com o crescimento da população mundial e a produção de alimentos, em meio às adversidades climáticas e à tecnologia. Este é um desafio que alguns pesquisadores já discutem há algum tempo e a pesquisa de insetos como alternativa para ingestão de minerais pode ser uma opção na produção e no enriquecimento de alimentos. Aproximadamente, 1.900 espécies de insetos são consumidos como alimentos pelos humanos em todo o mundo, principalmente nos países em desenvolvimento (VAN HUIS, 2013). Insetos comestíveis são considerados fontes ricas em vários micronutrientes, e, portanto, são vistos como potenciais contribuintes para a segurança alimentar. No entanto, a estimativa da contribuição dos insetos para a ingestão de nutrientes está limitada, desde que os dados estão ausentes nas tabelas de composição de alimentos e bases de dados (NOWAK et al., 2016). A inserção de insetos como alimentos fonte de minerais apresenta vantagens, pois constituem gêneros alimentícios de qualidade, e estão envolvidos com os aspectos culturais de uma sociedade. A maioria das espécies de insetos podem ser cultivadas com reduzido índice de poluição ambiental, fornecendo alimentos com boas proporções de minerais e proteínas de alta qualidade, substituindo ingredientes onerosos para produção de alimentos. Isto requer o desenvolvimento de instalações de criação em massa, automatizadas de baixo custo, que proporcionam um produto confiável, estável e seguro (VAN HUIS, 2013; RAMOS- ELORDUY, 2009). A abordagem de inserção de insetos na dieta humana envolve uma série de questionamentos atuais, pois a mudança de hábito no consumo de carne dificulta a entomofagia (SHELOMI, 2015). Nos trópicos, a colheita sustentável deve ser assegurada e promovidas as práticas de criação e, em geral, o recurso alimentar deve ser valorizado. No mundo ocidental, a aceitabilidade do consumidor vai se relacionar com preços, benefícios ambientais, bem como o desenvolvimento de saborosos produtos de qualidade nutricional, derivados de insetos (VAN HUIS, 2013; ROTHMAN et al., 2014). Algumas discussões já chegam ao campo da agricultura como promissoras, na criação de insetos para alimentação humana, além de outras funções que estes já desenvolvem no campo, como polinizadores e auxiliares no combate de algumas pragas de plantas (KATAYAMA et al., 2008). 2. Minerais Conforme Ordóñez Pereda et al. (2005), durante as etapas de processamento de alimentos pode-se perder parte dos minerais. As etapas que os alimentos podem passar durante o processamento pode ser o tipo de manipulação prévia, o processo tecnológico, a interação com outros componentes, entre outras. Mas, durante o processamento pode ser inserida reporá reposição ou o enriquecimento dos alimentos. A busca de fontes naturais e econômicas de minerais vem sendo pesquisada para a indústria alimentícia. Na tentativa da reposição de minerais a pessoas que apresentam sinais de deficiência ou distúrbios fisiológicos ou enfermidades causadas pelo baixo conteúdo de minerais, essas pessoas acabam fazendo o uso indiscriminado de suplementos alimentares, sem acompanhamento médico, o que pode afetar o funcionamento de vários órgãos, e assim desencadear diversos problemas de saúde. A alimentação é a melhor forma de reposição de minerais no organismo. Os insetos são uma fonte de alimento altamente nutritiva e saudável, com alto teor de conteúdo mineral (DURST et al., 2010). O valor nutricional de insetos comestíveis é altamente variável, devido à grande variedade de espécies de insetos comestíveis. Mesmo dentro de um mesmo grupo de espécies, o valor nutricional pode ser diferente, dependendo do estágio de desenvolvimento do inseto, o habitat em que ele vive, e sua dieta. O teor em minerais da farinha de larvas pode ser semelhante a quantidades de minerais presentes em alimentos, como em alguns pescados e na carne (RAMOS-ELORDUY et al., 1997; VAN HUIS et al, 2013). Os insetos podem ser inseridos na dieta como alimento básico, como complemento, suplemento ou substituto alimentar, pois muitos trabalhos indicam altos valores em minerais em muitas espécies de insetos (VERKERK et al., 2007; ROTHMAN et al., 2014). Trabalho desenvolvido por RAMOS-ELORDUY et al. (1997), pesquisando o hábito do consumo de insetos na comunidade rural de Oxaca, México, observaram que os insetos são ingeridos diariamente em algumas regiões, em opções de pratos assados, fritos, ou incorporados em ensopados, geralmente na fase imatura. Hymenoptera (formigas, abelhas, vespas) são preferidas para o consumo. 3. Funções dos minerais no organismo Não são poucas as funções dos minerais no organismo humano. Os minerais são importantes para manter o bom desempenho e o funcionamento do corpo, e podem constituir parte da estrutura óssea, como o cálcio; podem atuar na regulação de impulsos nervosos; participar de atividade muscular e ativar ou regular a atividade de muitas enzimas. A quantidade necessária de minerais essenciais na alimentação humana varia entre alguns microgramas e 1g por dia. Se a ingestão for menor que o recomendado, sinais de alteração fisiológica podem surgir no indivíduo, indicando os sinais da deficiência. Ao contrário, se a ingestão for excessiva, dependendo da pessoa envolvida, pode resultar em toxicidade, algo pouco comum, com exceção do sódio, que é cada vez mais comum, gerar problemas causados pelo seu consumo em excesso como a hipertensão; e, também, são relatados sintomas relacionados ao aumento na ingestão de cálcio. Resumindo, os minerais são essenciais para muitas reações enzimáticas do organismo humano, além de atuarem na regulação do metabolismo, essenciaisà resistência e à rigidez dos ossos e dentes, facilitam o transporte de oxigênio e dióxido de carbono no sangue, e são indispensáveis à divisão celular (MILLER, 2010). 3.1 Cálcio O cálcio é o elemento mineral mais abundante no organismo humano. Está presente na quantidade de 1.000 a 1.200g. Quase todo o cálcio humano está nos ossos. Durante a digestão, o cálcio é liberado dos complexos na dieta e é repassado em forma ionizável para ser absorvido. A quantidade absorvida varia conforme o consumo, mas pode aumentar com o aumento do consumo nos alimentos (COSTA; MARTINO, 2010; MILLER, 2010). A absorção do cálcio é realizada pelo trato gastrointestinal, por meio de transportes ativos, que podem acontecer por transporte transcelular ativo, que ocorre na porção proximal do duodeno e depende da vitamina D e da proteína ligante de cálcio, a calbindina; ou, ainda, pode ocorrer pelo transporte paracelular a favor de um gradiente de concentração entre as junções dos enterócitos. O transporte paracelular é a principal forma do corpo absorver o cálcio (COSTA; MARTINO, 2010) O cálcio é um íon essencial ao organismo, possui funções estruturais e funcionais que englobam desde a formação e manutenção do esqueleto até a regulação tempo-espacial na função neuronal e, possivelmente, atua na inibição da proliferação de algumas células cancerígenas. É o mineral mais abundante do corpo humano, responsável por cerca de 1 a 2% do peso corpóreo. Deste total, aproximadamente 99% são encontrados em ossos e dentes. O restante encontra-se distribuídos nos fluidos intracelulares e extracelulares (COSTA; MARTINO, 2010). O cálcio tem algumas funções para o corpo humano, além de estar nos ossos. Está presente nos músculos, atuando na contração muscular, pois a proteína troponina depende do cálcio para regular a contração da miosina e da actina. Também se encontra esse macroelemento no sítio catalítico das metaloenzimas, como alfa-amilases e fosfolipases. Várias proteínas de coagulação do sangue necessitam de cálcio para sua atividade (SILVA et al., 2012). A falta de cálcio no organismo pode aumentar os riscos de desenvolvimento de alguns tipos de câncer (MILLER, 2010). Segundo Costa e Martino (2010) o corpo humano perde cálcio pela urina, pelas fezes e pelo suor. Estudo realizado por Veiga et al. (2013) revela que a maioria dos adolescentes brasileiros tem baixo consumo de cálcio na dieta, que pode ter consequências no seu desenvolvimento. O grupo de alimentos industrializados que essa classe de indivíduos consome apresenta baixo teor em cálcio, como os “fastfood” (alimentos rápidos e prontos para o consumo) e refrigerantes. Esse estudo mostra a necessidade da implementação de cálcio nos alimentos destinados aos adolescentes, que pode surgir do enriquecimento desses alimentos ou de adicionar outros alimentos na dieta . 3.2 Cobre O mineral cobre apresenta funções específicas por ser constituinte de enzimas com atividade de oxidação e redução, como Cu-Zn superóxido dismutase, lisoloxidase, citocromo-c oxidase, dopamina β-hidroxilase, entre outras. O estudo da deficiência e do excesso de cobre indica que podem causar vários distúrbios fisiológicos (PEDROSA et al., 2012). A deficiência de cobre pode desencadear uma série de outras deficiências no organismo que ainda estão em estudo pelos pesquisadores. A deficiência de cobre é geralmente a consequência da diminuição do consumo de cobre ou ingestão inadequada na dieta, má absorção, exigências elevadas induzidas pelo crescimento rápido, ou aumento das perdas de cobre pelo corpo. As manifestações clínicas mais frequentes de deficiência de cobre são anemia e fragilidade óssea. Pode conduzir ao que se assemelha a uma anemia por falta de ferro, mas que não responde ao tratamento com esse nutriente e, ainda, pode ocorrer mesmo com consumo de ferro adequado. Essa anemia pode ser hipocrômica, normo ou macrocítica, devido à falta de cromo nas atividades enzimáticas do organismo, ocasionando uma deficiência em outro mineral como ferro, por exemplo, a atividade da ferroxidase da ceruloplasmina, que catalisa a oxidação de Fe2+ na ferritina para Fe3+, permitindo a transferência para a transferrina (UAUY et al., 1998; PEDROSA et al., 2012). O excesso de cobre pode estar relacionado com o desenvolvimento de doenças clínicas, como a cirrose hepática, sem causa explicável. Examinamos as limitações desta abordagem para o cobre, dada a baixa prevalência de doença clínica e subclínica, e sugerem que a população de risco para o excesso de cobre pode ser baseada na carga do cobre hepático como uma medida potencialmente quantificável. O desafio é desenvolver biomarcadores que predizem o risco da população em relação aos níveis de cobre hepático elevados (UAUY et al., 1998). Recomendações para ingestão de cobre na dieta e exposição total de cobre, incluindo a de água potável, deve considerar que o cobre é um nutriente essencial com toxicidade potencial, se a carga exceder a tolerância. Uma gama de doses seguras deve ser definido para a população em geral, incluindo uma entrada de cobre inferior e um consumo superior de segurança, para prevenir a deficiência, bem como a toxicidade para a maioria da população (UAUY et al., 1998). 3.3 Ferro O ferro é o quarto elemento mais abundante na Terra, sendo essencial para quase todas as espécies terrestres vivas. No homem e na mulher está presente em torno de 4 e 2,5 g, respectivamente (MILLER, 2010). O balanço do ferro é controlado pelo balanço intestinal, mas ainda há falta de informações sobre essa reação do organismo. 3.4 Cromo O cromo é um elemento traço distribuído no solo da forma de cromito. A absorção do cromo depende do estado de oxidação do mineral, de sua forma (complexado ou não) e do conteúdo intestinal. No corpo humano, o cromo é encontrado em maior concentração no fígado, no baço, nos tecidos moles e nos ossos. Acredita-se que esse mineral fica metabolicamente concentrado nos tecidos, não havendo acúmulo. A maior parte do cromo ingerido é excretado nas fezes, sem ser absorvido. O cromo absorvido pode ser eliminado pela urina, sendo mais elevada em diabéticos, após administração de insulina (SILVA et al., 2012). 3.5 Fósforo O fósforo apresenta um papel vital na estrutura das membranas celulares e processos metabólicos. O corpo humano contém até 850 g de fósforo, sendo que 85% encontra-se no esqueleto na forma de hidroxiapatita (Ca10(PO4)6(OH)2) (MILLER, 2010). Os fosfatos orgânicos encontrados em sistemas vivos incluem fosfolipídios, que constituem a camada lipídica nas membranas celulares, DNA, RNA, ATP e creatina fosfato, cAMP (um mensageiro extracelular secundário) e outros. Assim, vimos que o fósforo é necessário à divisão e integridade celular, transporte de nutrientes entre as membranas, metabolismo energético e regulação de processos metabólicos (MILLER, 2010). Veiga et al. (2013) realizaram estudo que analisou os dados do Inquérito Nacional de Alimentação dos anos 2008 e 2009, e constataram que a alimentação aproximadamente de 2/3 dos adolescentes brasileiros apresentam consumo inadequado de fósforo, fato que pode estar relacionado com o aumento da ingestão de alimentos industrializados destinados a essa faixa etária, que não apresentam o fósforo na composição. 3.6 Iodo O iodo é um nutriente essencial para o organismo humano. Para auxiliar na ingestão ele foi adicionado ao sal de cozinha. O iodo tem função essencial na síntese de hormônios da tireoide. Os hormônios tiroxina (3,4,3’,5’ tetraiodotironina – T4, e 3,5,3’ tri-iodotitonina – T3) influenciam no desenvolvimento de células nervosas, atuando diretamente no desenvolvimento físico e mental de crianças e na taxa metabólica basal (MILLER, 2010). 3.7 Magnésio O magnésio é o principal cátion intracelular, com concentração livre no citosol celular de aproximadamente 0,5 mmol/L. O mineral magnésio afeta o transporte de potássio e cálcio, sendo importante em tratamentos clínicos (MAFRA e COZZOLINO, 2012). No indivíduo adulto há, aproximadamente, 1000 mmol (25g),sendo que 50 a 60% estão no esqueleto, 39% no espaço intracelular e 1% no espaço extracelular. A absorção pode ocorrer no estômago, no intestino delgado e ainda no cólon, caso o intestino esteja com alguma patologia. 3.8 Manganês O manganês é um elemento essencial envolvido na formação dos ossos e no metabolismo de aminoácidos, colesterol e carboidratos. Também atua como regulador da atividade de algumas enzimas como manganês superóxido dismutase, fosfoenolpiruvato, arginase, entre outras, assim como na regulação da atividade de neurotransmissores. Tem papel como antioxidante em algumas células, como os neurônios do sistema nervoso. A enzima mitocondrial manganês superóxido dismutase é responsável pela dismutação do superóxido, transformando em peróxido de hidrogênio e oxigênio molecular, que é detoxificado pela catalase ou glutationa peroxidase (SILVA et al., 2012). Os alimentos que apresentam manganês em sua composição são as nozes, cereais integrais, folhas verdes, chá, carnes e derivados. Sua deficiência pode apresentar para o indivíduo prejuízos no crescimento, na função reprodutora, queda na tolerância à glicose e alterações nos metabolismos e carboidratos e lipídios (SILVA et al., 2012). 3.9 Potássio O potássio (K) é o maior cátion intracelular do corpo. O potássio exerce papel importante na regulação da pressão osmótica e no equilíbrio hídrico do corpo humano. Está presente em concentração de aproximadamente 145 mmol/L de fluido intracelular, e em concentrações menores no plasma sanguíneo e no fluido intersticial, líquido que preenche o espaço entre as células e os capilares sanguíneos, que variam de 3,8 a 5 mmol/L de fluido extracelular. Pequenas alterações, na concentração do potássio extracelular, pode afetar a relação intracelular e extracelular. Vários canais de potássio têm sido reconhecidos como importantes alvos terapêuticos para tratamento de esclerose múltipla, doença de Alzheimer, esquizofrenia, enxaquecas, hipertensão pulmonar diabetes entre outras (TRAMONTE et al., 2012). As fontes de potássio são hortaliças como folha de beterraba, ervilha, lentilha, acelga, batata; frutas como ameixa, banana, caju, melão, entre outras (TRAMONTE et al., 2012). As deficiências de potássio no organismo humano podem causar hipocalemia (concentração de soro menor que 3,5 mmol/L), que traz como consequências arritmias cardíacas, fraqueza muscular e intolerância à glicose. A deficiência moderada de potássio que ocorre sem hipocalemia é caracterizada pelo aumento da pressão sanguínea e riscos de cálculos renais e (TRAMONTE et al., 2012). 3.10 Selênio O selênio é um metal traço essencial para o homem, pois sua ingestão é necessária para o bom funcionamento do organismo, especialmente do sistema imunológico. Está ligado à ação antioxidante, à prevenção de doenças crônicas e fertilidade masculina (MARTENS et al., 2012). Recentes estudos demonstram que o selênio pode ter relação com a prevenção do câncer, aterosclerose, trombose arterial, diabetes mellitus e aumenta a resistência do sistema imunológico (MARTENS et al., 2012). Estudos indicam que a maior fonte de selênio por meio dos alimentos está presente na castanha-do-Brasil. O consumo médio em dietas brasileiras varia entre 18 a 139 µg por dia, sendo valores considerados de baixo a adequado (MARTENS et al., 2012). Outros alimentos que apresentam teores de selênio são o peixe, a carne e os ovos. A presença de selênio em frutas e vegetais depende da concentração de selênio no solo. Estudos realizados por Pasco et al. (2012) sugerem que uma dieta de baixa ingestão de selênio pode estar associada ao desenvolvimento de depressão, mostrando um papel do selênio no humor. 3.11 Sódio O sódio é o mineral que mais vem sendo destacado nas pesquisas, nas mídias e meios de comunicação, pelo motivo de estar presente em várias classes de produtos alimentícios, devido ao seu efeito no organismo humano que, em altos níveis, pode elevar a pressão sanguínea, uma das principais causas de doenças cardíacas e de acidente vascular cerebral (MAALOUF et al., 2015). Mas, o sódio é um eletrólito fundamental do fluido extracelular e desenvolve ação na manutenção do volume e da osmolaridade. Aproximadamente 95% do conteúdo total de sódio corporal encontra-se no fluido extracelular. Ele também contribui para a manutenção do equilíbrio ácido-básico, a absorção de nutrientes e é essencial para a contração muscular e transmissão nervosa. A fonte de sódio para o organismo é a alimentação, sendo que o sódio da dieta é habitualmente absorvido completamente pelo trato gastrintestinal. Em condições normais, a concentração plasmática de sódio está entre 135 e 145mEq/L (BAZANELLI; CUPPARI, 2009). 3.12 Zinco O zinco é o mineral responsável pela atividade de mais de 300 enzimas e como estabilizador de estruturas moleculares de constituintes citoplasmáticos. Atua em várias reações do organismo humano. Suas funções são em nível estrutural, enzimático e regulador. Em nível estrutural atua no desenvolvimento da disposição espacial de enzimas e proteínas ligadas ao DNA. Algumas dessas proteínas têm ação na regulação gênica, reforçando os fatores de transcrição de DNA. Sua funcionalidade nas reações enzimáticas age como receptor de elétrons, contribuindo para reações catalíticas. Ainda, o zinco tem função na síntese protéica, replicação de ácidos nucléicos, divisão celular, entre outras funções vitais (MAFRA; COZZOLINO, 2004; YUYAMA et al., 2012). 4. Fontes de minerais Segundo a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos, TACO (2006), folhas desidratadas de coentro tem em média 784 mg/100g de cálcio. Nos peixes destacamos o lambari congelado com altos teores de cálcio (1.181 mg/100g) e a sardinha conservada em óleo apresenta 550 mg/100g. E o leite de vaca integral apresenta apenas 123 mg/100g. Entre os queijos, destaque para o parmesão que apresenta 992 mg/100g. Esses alimentos citados fazem parte da dieta da maioria dos brasileiros. Os alimentos ricos em proteínas, , como produtos lácteos, carnes e pescados, se destacam no conteúdo de fósforo. Nos grãos integrais e leguminosas o fósforo está presente como fitatos, que apresenta baixa disponibilidade e ainda pode prejudicar a absorção de outros minerais (MILLER, 2010). Tabela 1. Relação de minerais encontradas na composição de insetos comestíveis e animais e seus derivados da dieta humana, considerando 100 gramas. 5. IDR dos minerais Ingestão Diária Recomendada (IDR) de minerais é a quantidade de minerais que deve ser consumida diariamente para atender às necessidades nutricionais da maior parte dos indivíduos e grupos de pessoas de uma população sadia. A Resolução 269 de 22 de setembro de 2005, da ANVISA, apresenta os valores de IDRs para adultos, lactentes e crianças, e gestantes e lactentes (BRASIL, 2005), e pode ser observada na Tabela 2. O cálcio, o fósforo e o magnésio são os micronutrientes que apresentam maior valor de ingestão diária recomendada, principalmente para mulheres gestantes e lactantes, devido às condições diferenciadas neste estágio. Na gestação ocorrem mudanças no metabolismo de cálcio, que favorece a transferência deste mineral para o feto (BUZINARO et al., 2006). Pode ser observado que a maioria dos minerais é recomendada em maior quantidade para as gestantes e lactantes, devido à formação e ao desenvolvimento do feto e da criança. A ingestão de cálcio na infância deve ser aumentada conforme desenvolvimento e crescimento até os 10 anos de idade, pois o seu consumo está relacionado com a ossificação (COSTA; MARTINO, 2010). Tabela 2. Ingestão Diária Recomendada de Minerais. 6. Considerações finais Os minerais tratados neste capítulo são elementos essenciais para o desenvolvimento do ser humano e podem ser adquiridos por meio da dieta alimentar. Ainda são poucas as informações nutricionais correspondentes aos insetos, pois não se tem tabelas precisas na literatura sobre a composição mineral, mas muitos estudos estão sendo desenvolvidos e apresentam valores diferentes devido às diversasformas de criação, manutenção e ambiente. Com as publicações da Food and Agricultural Organization (FAO) e pesquisadores da área de entomofagia, em um futuro próximo poderemos ter alguns insetos já com sua composição inclusa em tabelas nutricionais nacionais e inclusos nas legislações vigentes. Os insetos não fazem parte da alimentação da sociedade ocidental, mas as pesquisas podem revelar vários componentes que podem ser importantes para a área da nutrição e da tecnologia em alimentos. Referências BAZANELLI, A.P; CUPPARI, L. Funções plenamente reconhecidas de nutrientes: sódio. Força-tarefa: Alimentos Fortificados e Suplementos. v.4. Série de Publicações ILSI Brasil. Comitê de Nutrição International - Life Science Institute. Brasil, 2009. 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Capítulo 11 IMPORTÂNCIA DOS LIPÍDIOS E ÁCIDOS GRAXOS NA ALIMENTAÇÃO Fabiola Dorneles Inácio1 Angela Kwiatkowski2 Odair Diemer3 Dalany Menezes Oliveira4 Camila Gabriel Kato5 Os lipídios geralmente estão ligados a temas desconfortáveis ou danosos à saúde humana, sendo considerados como uma ameaça para o bom funcionamento dos organismos. As gorduras em excesso realmente desencadeiam muitas consequências à fisiologia do indivíduo. Porém, esses nutrientes são importantes para a regulação de diversos processos endógenos e são fundamentais para a estabilidade de diversas estruturas corporais, além de armazenarem energia da forma mais rentável possível, pois gorduras fornecem cerca de nove quilocalorias por grama, em comparação com carboidratos e proteínas, que oferecem apenas quatro quilocalorias por grama. Outras funções características dos lipídios são a capacidade de conservar o calor, como isolantes térmicos, e também como amortecedor de choques, sendo importantes para a proteção de órgãos vitais1. Os componentes lipídicos, especialmente os ácidos graxos, estão presentes em praticamente todas as formas de vida. O homem possui a capacidade de produzir alguns ácidos graxos, sendo que outros precisam ser adquiridos da alimentação e, por isso, são chamados de ácidos graxos essenciais, como os ácidos linoleico e linolênico, importantes na função hormonal por regularem diversas funções corporais. O colesterol é um exemplo de gordura produzida endogenamente e tem importância na integridade das membranasplasmáticas, agindo como isolante principalmente em tecidos nervosos, além de ser precursor de hormônios, ácidos biliares e vitamina D2. As gorduras também contribuem com a palatabilidade e sabor dos alimentos, que geralmente aumentam de acordo com a quantidade de lipídios presentes na amostra. Além disso, é indispensável a presença de lipídios para o transporte e absorção de vitaminas lipossolúveis, tais como as vitaminas A, D, E e K2. Na América Latina, o consumo de insetos tem destaque no Brasil, Colômbia, Venezuela, Equador, Peru e México, devido à diversidade biológica e étnica. Aproximadamente 95 espécies de insetos comestíveis são usadas por 39 tribos indígenas no Brasil3. Os tipos mais comuns de insetos comestíveis são besouros, abelhas, vespas, formigas, borboletas, traças e cupins, que são consumidos principalmente como suplemento alimentar, como substitutos de outros alimentos em tempos de escassez ou, ainda, como principal componente da dieta, dependendo da região geográfica. Algumas espécies de insetos também são utilizadas para fins medicinais. Um estudo realizado no México4 determinou o teor de ácidos graxos de diversos insetos locais, evidenciando a presença de ácido caproico, ácido caprílico, ácido cáprico, ácido láurico, ácido mirístico, ácido palmítico e ácido linoléico em pequena quantidade; ácido esteárico, palmítico e linoleico em quantidade moderada e elevada concentração de ácido oleico (ômega-9), importante na redução do risco de ataque cardíaco e arteriosclerose, além de auxiliar na prevenção do câncer5. Ácidos graxos ômega 3 de cadeia longa, como o ácido α-linoleico e o ácido eicosapentaenoico, também estão presentes em diversos insetos6 e são bastante usados pelo organismo humano. No entanto, tem-se estabelecido que uma determinada espécie de inseto não é capaz de satisfazer a necessidade total de ácidos graxos para a saúde humana. Porém, se o consumo se der de forma combinada, a riqueza lipídica nutricional a partir dos insetos pode ser altamente adequada. A quantidade e o tipo de lipídios variam entre os insetos Insetos que vivem em árvores ou em ambientes aquáticos costumam apresentam maior quantidade de lipídios. Por exemplo, 24% de gorduras foi quantificado em cigarras e 20% em baratas d’água. Um hemíptero apresentou 20% de lipídios em comparação com 13% em grilos, cujo habitat era a grama, e, ainda, com o besouro terrestre, com cerca de 0,3% de lipídios. A quantidade de lipídios variou de 5,4% em uma espécie de besouro a 36,9% em abelhas rainhas. Ácidos graxos insaturados de cadeia longa são mais presentes em insetos aquáticos do que nos terrícolas6. Ácidos graxos poliinsaturados (PUFAs) são lipídios essenciais não produzidos por humanos e que precisam ser ingeridos na dieta. Eles contribuem para a diminuição do risco de diabetes, da tendência trombótica e da pressão arterial. Em análise por cromatografia gasosa,6 foi verificado que os PUFAs foram os ácidos graxos mais predominantes em oito espécies de insetos terrícolas na Tailândia, com concentração inclusive comparada com carnes vermelhas e alguns tipos de peixe. Além da quantidade de ácidos graxos, o conteúdo energético foi semelhante quando comparados 100g de carne (exceto carne suína) com 100g de insetos. Foram encontrados ácido α-linolênico, ácido di-homo-linolênico, ácido araquidônico, ácido eicosapentaenoico e ácido docosa-hexaenóico. A diferença de padrões de ácidos graxos nos insetos parece depender também do estágio do seu desenvolvimento, além da dieta, do habitat e da atividade enzimática de seu metabolismo. A dieta de insetos aquáticos se concentra em algas e larvas. No entanto, a presenta de enzimas das classes das dessaturases pode contribuir para a produção de ácidos graxos poli- insaturados de cadeias longas a partir de lipídios menores. Alguns besouros se alimentam de esterco de gado, enquanto suas larvas aproveitam as fibras vegetais não digeridas dos estercos. Os populares bichos-da-seda possuem em sua constituição 30% de lipídios e 70% de proteínas. No entanto, grilos apresentam menos proteínas em sua constituição do que lipídios. A concentração de lipídios costuma ser maior nos estágios iniciais, de larva e de pupa, do que na fase adulta. Lagartas e cupins estão entre os insetos que apresentam maior quantidade de gorduras, com cerca de 30%, fornecendo de 350 a 761 kcal/100g. Estes últimos só ficam atrás dos gafanhotos em preferência de consumo no mundo7,8. Enquanto a concentração de lipídios em Lepidoptera fica em torno de 8,6 a 15,2 g/100g de inseto fresco, espécies de Orthoptera possuem menores quantidades, que vão de 3,8 a 5,3 g/100g de inseto fresco. Um teor elevado de lipídios, com base na matéria seca, foi encontrado em larvas de lepidópteros, como em borboletas da espécie Phassus triangularis (77%), Aegiale hesperiales (59%) e Galleria waxworm (51- 60%)7. Quando comparados com outras fontes lipídicas, estudos mostraram que 50% dos insetos apresentaram uma carga energética maior que a soja; 87% tinham mais gorduras que o milho; 63% eram superiores que a carne; 70% foram superiores que o peixe, lentilhas e feijões; e 95% possuíam mais lipídios que trigo e centeio. Em contrapartida, no geral, o nível de colesterol é costumeiramente baixo entre os insetos, quando comparados a outros animais, e já foi demonstrado ausente em formigas do gênero Atta cephalotes8. O grande problema da desnutrição em várias populações mundiais se concentra mais expressivamente na deficiência de conteúdo energético do que na falta de proteínas consumidas. Todavia, é crescente a busca por alimentos nutritivos e energéticos com baixas quantidades de ácidos graxos saturados e elevadas concentrações de ácidos monoinsaturados e poli- insaturados. Ao contrário de vertebrados, alguns insetos podem sintetizar ácido linoleico (ômega-6). Nesse contexto, os insetos podem contribuir com a dieta pelo fornecimento dos ácidos graxos oleico (18:1), linoleico (18:2) e linolênico (18:3). Esses lipídios são importantes para a integridade das membranas celulares e as respectivas atividades enzimáticas a elas relacionadas, além de regularem o metabolismo, como precursores de hormônios, e serem importantes para a reprodução e crescimento8. Os ácidos graxos de insetos assemelham-se com os presentes em aves e peixes no grau de insaturação8. Os tipos de ácidos graxos variam entre os insetos (Tabela 1). Geralmente, a razão de ácidos graxos saturados para ácidos graxos insaturados varia de 0,40 a 0,65%7. Essa variação na composição dos ácidos graxos parece ocorrer de acordo com a semelhança taxonômica. Coleópteros são ricos em C18:2, enquanto Lepidópteros possuem mais C18:3. Nesses últimos, a quantidade de ácido linolênico presente foi maior que 25% do total de ácidos graxos em 50% das espécies analisadas8. Os ácidos C20 e C22 são encontrados em insetos, apresentando importância fisiológica para a grande maioria deles. Além da mesma importância para vertebrados, nos insetos, os ácidos graxos possuem funções como precursores na biossíntese de ceras, feromônios e em secreções defensivas8. Cirina forda é um lepidóptero que afeta como praga uma árvore frutífera comum na África (Butyrospernum paradoxum). Esse inseto é consumido de forma seca em sopas de legumes, sendo uma boa fonte de proteínas, gorduras e minerais9. Os principais ácidos graxos presentes em sua constituição são o palmítico, esteárico, oleico, linoleico e linolênico. Os ácidos graxos saturados representam 31,6% da gordura total, valor comparável com aves (35,5%) e peixes (29,6%), mas inferiores à carne bovina (52,0%) e suína (44,1%). Os ácidos graxos saturados encontrados na larva foram ácido palmítico (13,0%), ácido esteárico (16,0%) e ácido mirístico (0,7%). O ácido palmítico, assim como ácido mirístico, tem demonstrado aumentar as lipoproteínas de baixa densidade (LDL), sendo considerados aterogênicos devido a essa capacidade. No entanto, o ácido esteárico (C18:0), que constitui quase 50% dos ácidos graxos de C. forda, não provocou aumento de LDL no plasma.Os ácidos graxos insaturados constituem 68,6% do conteúdo lipídico da larva, e 14,6% destes são monoinsaturados. O ácido oleico é responsável por 95% dos monoinsaturados presentes na espécie e possui a característica de ser hipocolesterolêmico9. É constantemente elevada em insetos a quantidade dos ácidos graxos poli-insaturados essenciais, tais como o ácido linolênico (45,3%) e o ácido linoleico (8,1%). A razão de ácidos graxos poli-insaturados e ácidos graxos saturados (P/S) para tais indivíduos tem sido amplamente utilizada para indicar um potencial de redução do colesterol de um alimento. A relação P/S de 0,2 tem sido associada com alto nível de colesterol e, consequentemente, alto risco de doenças cardíacas coronárias; enquanto que a razão de 0,8 é constantemente relacionada com níveis desejáveis de colesterol e redução de doenças. Larvas de C. forda apresentam uma relação P/S de 1,7, ou seja, com grande potencial para serem usadas na dieta como um ingrediente benéfico contra doenças coronárias9. Pesquisas na América e na Europa já mostraram que proteínas e lipídios provindos dos insetos possuem efeito positivo na redução de doenças cardiovasculares e digestivas. Isso se deve à capacidade hipocolesterolêmica dos ácidos graxos monoinsaturados e poli-insaturados presentes em vários insetos comestíveis. Larvas de cupins (Macrotermes sp.), de besouros (Rhynchophorus phoenicis) e de grilos (Homorocoryphus nitidulus) apresentaram quantidades elevadas de gorduras, de 49%, 54% e 67%, respectivamente. Esses valores superam a média da porcentagem de lipídios em insetos adultos da África, que geralmente fica em torno de 20% e são semelhantes a valores já detectados em insetos típicos do México. Tal quantidade de gorduras é maior do que o encontrado em alimentos convencionais, tais como carnes bovinas, ovos, leite; e essa composição lipídica acaba contribuindo para que os insetos apresentem sabor aceitável quando assados ou fritos10. O conteúdo lipídico do besouro consiste principalmente em ácido palmitoleico (37,6%) e ácido linoleico (45,6%), e sua razão P/S é de 17,7. Em gafanhotos, foram encontrados os ácidos palmitoleico (23,83%), ácido oleico (10,71%), ácido linoleico (21,07%), ácido α-linolênico (14,76%) e γ- linolênico (22,54%), sendo a razão P/S de 24,9. Em grilos, essa razão é de 105,75, sendo principalmente presentes o ácido palmitoleico (27,6%) e ácido linoleico (45,6%). Ácido palmítico (36,08%) e ácido linolênico (38,01%) são os dois ácidos graxos dominantes em óleo de mariposas do gênero Imbrasia, com razão P/S de 1,0. Por outro lado, em cupins, o perfil lipídico apresenta a razão P/S de apenas 0,23, com os principais ácidos graxos sendo ácido palmítico (30,47%), ácido oleico (47,52%) e ácido linoleico (8,79%). A presença de ácidos graxos poli-insaturados nos exemplares de insetos é expressiva e elevada quando comparada com óleos convencionais, como de peixes (29,6%) e aves (35,5%), e aproximadamente relacionados com carne suína (44,1%) e bovina (52,0%). No entanto, devido à alta concentração nos insetos de ácidos graxos poli-insaturados, que são mais susceptíveis a oxidação, é necessário cuidado no seu tratamento térmico durante o cozimento, que pode vir acompanhado por escurecimento, uma vez que os insetos não sejam consumidos frescos, além da cautela que deve ser necessária no seu armazenamento10,11. O besouro Rhynchophorus phoenicis (F) é popularmente conhecido na África como um “verme comestível”, que, além de suas propriedades nutricionais, é conhecido pelo potencial medicinal, sendo estimulado o seu consumo para mulheres grávidas em algumas tribos da África11. Estudos comprovam que o modo de ingestão dos insetos afeta significativamente a sua oferta lipídica, principalmente na quantidade de colesterol10. Como os demais insetos, o modo de preparo desse besouro varia nas diversas localidades, podendo ser cozido, defumado, frito ou simplesmente cru, sendo utilizado como refeição completa ou parte de um prato típico. Estima-se que 100 gramas dessa larva supre as necessidades calóricas diárias de populações de países em desenvolvimento. O conteúdo de lipídios desse besouro fica em torno de 25,5% em peso úmido e 66,6% em relação à matéria seca. Sua composição lipídica se baseia na presença principalmente dos ácidos graxos palmítico, oleico e linoleico, sendo 61,1% a quantidade de ácidos graxos insaturados. A concentração de lipídios dessa espécie é maior do que a maioria das outras fontes animais e, inclusive, do que o óleo de coco12. Importância e características dos óleos de insetos A maior parte dos relatos sobre a utilização dos insetos na alimentação valoriza a presença de suas proteínas. Porém, os lipídios são também importantes componentes desses organismos. De fato, a gordura é a principal forma na qual a energia é armazenada nos insetos, bastante necessária no período larval, anterior ao complexo processo da metamorfose. Estima-se que haja, em média, 30% de lipídios nas larvas de insetos contra aproximadamente 20% nos adultos. Diferentemente da maioria dos animais, bem como no homem, as fêmeas de insetos possuem menor quantidade de lipídios que os machos. Os ácidos graxos saturados de 15, 17 e 19 carbonos são comuns, mas aparecem em concentrações bastante menores que os demais. Comparando características físico-químicas de óleo de insetos com óleos conhecidamente medicinais, tais como o óleo de linhaça, azeite e Arachis, foram verificados parâmetros como gravidade específica, índice de refração, valor de saponificação, acidez e solidificação semelhantes, o que podem consistir em propriedades igualmente semelhantes. Os óleos extraídos de insetos possuem caráter inodoro e cor amarela- dourado claro, com baixa solidificação em temperaturas baixas e alto índice de iodo, o que os caracteriza com alto grau de insaturações e também explica o estado líquido desses lipídios a temperatura ambiente (26ºC ± 2). O índice de iodo alto é característico dos insetos, como visto em larvas de bicho-da-seda, com valor de até 117, larvas de coleópteros, com valor de 118, e em larvas de lepidópteros atingindo valor de 119. Esses níveis são maiores do que os encontrados em óleos de palma, óleo de coco, carne bovina e banha de porco, mas ligeiramente inferiores do que os encontrados em alguns peixes. A baixa gravidade específica e o pequeno índice de refração, ambos inferiores ao petróleo e aos óleos vegetais, contribuem para a utilização farmacêutica de óleos provindos de insetos. Ademais, o baixo caráter ácido faz desses lipídios menos suscetíveis ao ranço12. Diversos estudos evidenciam a importância de ácidos graxos na saúde humana. O consumo exagerado de ácidos graxos saturados pode diminuir um fator de coagulação, o que contribui para o surgimento de doenças cardiovasculares, já que a alta concentração desses ácidos graxos está ligada a índices elevados de LDL no sangue. Por outro lado, o consumo de ácidos graxos poli-insaturados acarreta benefícios diversos à saúde, como prevenção ao diabetes, por redução da intolerância à glicose e prevenção da resistência à insulina. Além disso, tem se relacionado o consumo de ácidos graxos insaturados com atividades antitrombóticas, antitumorais e anti- inflamatórias13. Dietas com alta razão de ácidos graxos ômega-6/ômega-3 têm sido relacionadas com a promoção de muitas doenças cardiovasculares, câncer, doenças inflamatórias e autoimunes. No entanto, se essa relação for relativamente baixa, surge como inibidor dessas patologias, melhorando a saúde de portadores de asma, por exemplo14. Em países desenvolvidos, a fim se de aumentar o consumo de nutrientes derivados dos insetos, sugere-se que sejam realizadas extrações dos ácidos graxos, já que o hábito de utilizar insetos diretamente na alimentação não é comum. A partir de testes com extrações usando diferentes solventes foi possível identificar vários tipos de lipídios em insetos, como, por exemplo, fosfolipídios, esteróis, glicolipídios e triacilgliceróis. Estes últimos perfazem a maior proporçãonos extratos estudados, de 80%, os quais têm a principal função de servirem de energia para suprir atividades de alta demanda energética, como voos prolongados. Os fosfolipídios aparecem como segunda classe mais importante de lipídios nos insetos, com cerca de 20% da composição aproximada, dependendo do estágio de vida, e têm papel fundamental nas estruturas das membranas celulares, bem como o colesterol, que também serve como precursor da vitamina D, dos sais biliares e de hormônios esteroides. O teor médio de colesterol em lagartas e besouros foi de 3,6%15. Devido ao alto conteúdo de ácidos graxos poli-insaturados e baixo conteúdo de colesterol, os óleos de insetos podem ser considerados ótimas fontes lipídicas, auxiliando no bem estar da homeostase e contribuindo para a redução dos níveis de diversas doenças coronarianas e digestivas. Assim, o fornecimento energético promovido pelos insetos, boa parte devido aos lipídios, surge como um fator contra à desnutrição sem oferta de altos riscos à saúde da população mundial. Tabela 1. Distribuição de ácidos graxos entre ordens de insetos. Concentrações presentes superiores a 1%. Referências: 1 MARTIN, C. A.; ALMEIDA, V. V.; RUIZ, M. R.; VISENTAINER, J. E. L.; MATSHUSHITA, M.; SOUZA, N. E.; VISENTAINER, J. V. Ácidos graxos poliinsaturados ômega-3 e ômega-6: importância e ocorrência em alimentos. Revista de Nutrição, Campinas, v. 19, n. 6, p.761-770, 2006. 2 AKOH, C. C.; MIN, D. B. Food lipids: chemistry, nutrition, and biotechnology. New York: Marcel Dekker, 2002. 1014 p. 3 COSTA-NETO, E. M. Edible insects in Latin America: old challenges, new opportunities. Journal of Insects as Food and Feed, v. 2, n. 1, p. 1-2, 2016. 4 MORENO, J. M. P.; GANGULY, A. Determination of fatty acid content in some edible insects of Mexico. Journal of Insects as Food and Feed, v. 2, n. 1, p. 37-42, 2016. 5 GUINÉ, R. P. F.; HENRIQUES, F. O papel dos ácidos gordos na nutrição humana e desenvolvimentos sobre o modo como influenciam a saúde. Millenium, v. 40, n. 7, p. 7-21, 2011. 6 RAKSAKANTONG, P.; MEESO, N.; KUBOLA, J.; SIRIAMORNPUN, S. Fatty acids and proximate composition of eight Thai edible terricolous insects. Food Research International, v. 43, p. 350-355, 2010. 7 RUMPOLD, B. A.; SCHLÜTER, O. K. Potential and challenges of insects as an innovative source for food and feed production. Innovative Food Science and Emerging Technologies, v. 17, p. 1-11, 2013. 8 DEFOLIART, G. R. Insect fatty acids: similar to those of poultry and fish in their degree of unsaturation, but higher in the poly-unsaturate. Food Insects Newslett, v. 4, n. 1, p. 1-4, 1991. 9 AKINNAWO, O.; KETIKU, A. O. Chemical composition and fatty acid profile of edible larva of Cirina forda (westwood). African Journal of Biomedical Research, v. 3, p. 93-96, 2000. 10 WOMENI, H. M.; LINDER, M.; TIENCHEU, B.; MBIAPO, F. T.; VILLENEUVE, P.; FANNI, J.; PARMENTIER, M. Oils of insects and larvae consumed in Africa: potential sources of polyunsaturated fatty acids. Nutrition-Santé, n. 16, p. 230-235, 2009. 11 EDIJALA, J. K.; EGBOGBO, A.; ANIGBORO, A. Proximate composition and cholesterol concentrations of Rhynchophorus phoenicis and Oryctes monoceros larvae subjected to different heat treatments. African Journal of Biotechnology, v. 8, n. 10, p. 2346-2348, 2009. 12 EKPO, K. E.; ONIGBINDE, A. O. Nutritional Potentials of the Larva of Rhynchophorus phoenicis (F). 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Capítulo 12 CRIAÇÃO COMERCIAL DE BICHO DA FARINHA TENEBRIO MOLITOR Gilberto Schickler1 Ramon Santos de Minas2 Vinícius Pereira dos Santos3 Ginaldo das Neves de Menezes4 José Carlos Oliveira5 Introdução O conhecimento que homem tem sobre os diferentes tipos de insetos remonta a tempos antigos, e isso pode ser comprovado, quando se observa, em templos e cidade antigas, pinturas e escultura que demonstram tamanha intimidade entre o homem e os insetos. Uns dos lugares onde isso pode ser demonstrado são os monumentos do Egito antigo, dos Maias, hindus, entre outros. As abelhas e os escaravelhos parecem que eram os preferidos, dada a quantidade de informações que se encontram nesses sítios. Os gafanhotos são citados no Antigo testamento como a décima praga que atingiu o Egito durante a escravidão dos Hebreus, mas também como fonte de alimentação no livro de Levítico. No entanto, é importante salientar que a ciência, como nós conhecemos hoje, denominada de Entomologia, só ganhou impulso com Aristóteles (384-322 A.C), que escreveu o resumo mais importante sobre as observações feitas por ele em relação aos insetos daquela época. Posteriormente às observações de Aristóteles, novos povos vieram a se interessar pelo estudo e pelas possíveis utilizações dos insetos; então, os romanos passaram a estudá-los, os gregos, e, depois, outros povos também se interessaram. No entanto, não se obteve grandes avanços. Naquela época, o mundo detinha um equilíbrio ecológico mais estável, e, com cada um fazendo o seu papel, era um estudo de curiosidades, nunca configurando a entomologia uma ciência, como conhecemos hoje. Após a queda do Império Romano, a Inquisição da idade média tratou de obscurecer de vez os conhecimentos científicos, e assim foi até a Renascença, período da história da humanidade, caracterizado pela renovação científica, artística e literária, realizada nos séculos XV e XVI. Nos períodos que se estabeleceram após o século XVI, buscaram se envolver mais com as pesquisas e trataram de trabalhar mais com a observação dos fatos e a criação de uma classificação. Sendo que, a partir do início do estudo aprofundado, as pesquisas geraram o conhecimento dos grandes fundamentos biológicos, descobertos no século passado. Na América Latina e principalmente no Brasil, as pesquisas com entomologia iniciaram-se no século passado com a relevante ajuda de vários pesquisadores estrangeiros, sendo que, neste século, muitas pesquisas foram realizadas por centenas de cientistas que se dedicaram a entomologia. Dentre os insetos mais estudados, temos os tenebrios, são besouros da família Tenebrionidae, podendo ter de alguns milímetros até alguns centímetros, tendo seu representante mais conhecido os Tenebrios da Farinha (Tenebrio molitor). Os tenebrios, assim como a grande maioria dos besouros identificados até o momento, são holometábolos, e isso significa que o seu desenvolvimento se completa após ele passar por todos os estágios de desenvolvimento: ovo – larva – pupa – adultos; possuem um par de asas anteriores rígidas, chamadas de élitros, que protegem como um “estojo” as asas membranosas que são mais delicadas apresentando se praticamente transparente (Figura 1). Figura 1. Disponível em http://www.bicudario.com.br/tenebrio.pdf O Tenebrio molitor é uma espécie de besouro (Coleoptero), que, há séculos, vem sendo criado em cativeiro para a utilização da fase larval como alimento para animais e humanos (Figura 2). Trata-se de um inseto com alto valor nutricional, que pode ser utilizado vivo ou na forma desidratada. Figura 2. Larva do besouro Tenebrio molitor 1. Utilização Diversas espécies de animais apreciam a larva do besouro Tenebrio molitor: Pequenos mamíferos, como o sagui e o gerbil, escorpiões, aranhas, iguanas, rãs, tartarugas e peixes (Figura 3). Figura 3. Pequenos animais se alimentandode tenebrios. Na criação de aves, tem sido utilizada na alimentação de filhotes de emas, faisões e cracídeos. Na criação de insetívoros, em geral, e dos diversos granívoros de nossa avifauna, que utilizam insetos em algum período do ciclo biológico. As larvas adultas medem 3,0 cm e pesam cerca de 0,2 g. O Tenebrio já foi considerado praga em moinhos de trigo, algumas décadas atrás, na época em que a falta de higiene permitia que restos de farelos ficassem por meses à disposição dos insetos. 2. Classificação Filo: Artropoda Classe: Insetos Ordem: Coleptera Família: Tenebrionidae Nome comum: Tenebrio, Tenebra Nome científico: Tenebrio molitor Distribuição São oriundos das regiões montanhosas e de clima temperado do Irã e Índia. Hoje, são criados em cativeiro no mundo todo, sendo considerados insetos cosmopolitas. Em ambiente natural, vive apenas nas regiões de clima temperado. Dimorfismo sexual A determinação do sexo de um besouro deve ser feita com auxílio de uma lupa. Na parte de baixo da extremidade traseira, há segmentos do corpo. As placas destes segmentos são chamadas de esternitos. Na fêmea, existe pouca ou nenhuma separação entre as três esternitos mais posteriores, ao passo que, nos machos, as membranas intersegmentares são claramente visíveis. Além disso, o esternito 5 é mais arredondado no macho e levemente pontiagudo no fêmea (Figura 5). Figura 5. Fêmea e macho adulto de Tenebrio molitor Longevidade Aproximadamente seis meses, para machos e fêmeas, com a realização de cerca de 12 ecdises nesse período (Figura 6). Figura 6. O Tenebrio troca de exoesqueleto cerca de 12 vezes, durante o período larval. Hábito O Tenebrio tem hábito noturno, sendo prejudicial a exposição direta à luz solar. As larvas são adaptadas para viver em ambiente subterrâneo, enquanto os besouros caminham na superfície. Vivem sob rochas e troncos. 3. Manejo animal Medidas de manejo e contenção Tenebrios que possuem as fases de larvas, pupas (Figura 7) e adultos não mordem, não transmitem doenças, são lentos e podem ser facilmente coletados manualmente ou com pequenos recipientes e pinças. Figura 7. Pupa de Tenebrio molitor. Para contenção de colônias, utilizamos bandejas plásticas, recipientes com paredes lisas, que impedem a fuga de insetos, apresentam alta durabilidade, além de serem de fácil higienização. Maquina de Peneiragem Trata-se do principal equipamento para limpeza e classificação dos lotes de tenebrio. Este equipamento possui peneiras vibratórias, com pelo menos 2 malhas de diferentes aberturas em sequência, de maneira a permitir a separação dos diferentes tamanhos de larvas, e descarte de fezes e sobras de ração (Figura 8). A peneira vibratória é acoplada a uma esteira para condução de cada tamanho de inseto a uma diferente caixa destino. Um sugador de ar é usado para evitar que a poeira se espalhe no ambiente. Os resíduos são destinados a outro recinto e ensacados. É obrigatório o uso de EPI no manuseio de esterco de insetos. Cada malha de peneira separa um tamanho de larva. O esterco de tenebrio é um pó marrom ou cinza, bem fino e homogêneo. Este deve ser ensacado e destinado ao depósito de resíduos orgânicos. Caso ainda exista presença de resíduos, devemos passar em outras peneiras maiores ou menores, conforme a necessidade. O esterco de insetos é um ótimo fertilizante orgânico, mas com potencial de provocar graves alergias. O uso de máscara e óculos de proteção é obrigatório nesse procedimento. A larva de tenebrio é o produto de venda do criatório. Em média são comercializadas com 2,5cm e 0,2 g de peso. Figura 8. A peneira vibratória acoplada a uma esteira para condução de cada tamanho de inseto a uma diferente caixa destino. 4. Manejo alimentar As características básicas da dieta do Tenebrio molitor são: Ração a base de milho, farelo de trigo e soja. O desenvolvimento dos insetos ocorre sobre “cama” formada por esse alimento. Os tenebrios ingerem água através de legumes, frutas ou cana- de-açúcar. A ração comercial (Figura 9) triturada para aves poedeiras também pode ser usada com sucesso na criação. Figura 9. Ração de insetos sendo a base farelo de trigo, soja e milho. Ração para Tenebrios O substrato de criação é a própria ração, fornecida na quantidade necessária para alimentação dos insetos durante 15 dias, quando ocorre a peneiragem e adição de novo substrato. Seguem as quantidades de ração fornecida em cada fase da criação: Reprodução (120 a 150 dias) – 500g Cria (0 a 30 dias) – não é fornecida. As larvas recém nascidas se alimentam do ração da fase Reprodução (Figura 10). Recria (30 a 60 dias) – 500g Terminação (60 a 90 dias) – 1000g Reposição – (90 a 120 dias) - 500g Figura 10. Fase Reprodução dos besouros de tenebrio sobre ração. Fontes de umidade Qualquer legume, fruta ou verdura pode ser utilizado como fonte de umidade para os insetos. O mais importante é que sejam isentos de agrotóxicos e pesticidas, muito bem lavados, e não estejam em deterioração. Os mais utilizados são o chuchu (Figura 11), cenoura, maçã, batata, cana- de-açucar e abóbora. As fontes de umidade são fornecidas 3 vezes por semana, diretamente sobre o substrato, apenas a quantidade necessária para consumo nas 24 horas seguintes. Figura 11. Chuchu é excelente para larvas de tenebrio. As quantidades fornecidas por dia em cada fase são as seguintes: Reprodução – 50g Cria – 25g Recria – 50g Terminação – 100g Reposição – 50g Estoque de alimentos A ração para insetos poderá ser estocada em sacos de nylon (Figura 12), com capacidade para 20 kg, sobre estrados de madeira, em ambiente seco e ventilado. As fontes de umidade são conservadas em geladeira sob temperatura de 0 a 5 °C positivos. Figura 12. Sacos de nylon para estoque de ração. 5. Manejo Reprodutivo Na produção de insetos utilizamos sistema de criação totalmente intensivo. Tenebrios apresentam reprodução sexuada, vivem em colônias e são ovíparos. Ciclo de vida São insetos de metamorfose completa com ovo-larva-pupa-besouro (Figura 13). Completam todo o ciclo em aproximadamente 6 meses, podendo se estender em até 12 meses, conforme condições de temperatura, umidade, nutrição e iluminação. Figura 13. Componentes da metamorfose completa do tenebrio molitor (ovo, larva, pupa e besouro). Ovos Os ovos (Figura 14) apresentam formato de pequenos feijões e possuem cerca de 1,5mm de comprimento. Ficam aderidos as partículas soltas de ração, sendo invisíveis a olho nu. O período de incubação dura aproximadamente 15 dias. Figura 14. Ovos do tenebrio ficam aderidos às partículas soltas de ração. Larvas Após a eclosão, as larvas têm cerca de 3 mm de comprimento, e são de difícil visualização. A larva adulta chega a atingir 30 mm de comprimento e pesar 0,2g. Durante o desenvolvimento, trocam de pele (exoesqueleto) cerca de 12 vezes. Essa é a fase mais indicada para uso como alimento, principalmente pelo menor conteúdo de quitina, que é de baixo valor nutricional. A duração da fase larval é de aproximadamente 90 dias (Figura 15). Figura 15. Fase larval de Tenebrio. Pupa Pupas (Figura 16) são inativas. Não se alimentam nem se movimentam, mas responderão ao toque fazendo movimentos dorso-ventrais ou circulares com o abdômen. Geralmente, a fase pupal dura 15 dias. Pupas são frágeis e devem ser manuseadas com cuidado. Figura 16. Pupas de Tenebrio. Besouros Representa a última fase do ciclo de vida do Tenebrio molitor, a fase reprodutiva. Besouros ficam maduros sexualmente com cerca de 7 dias de vida. Uma fêmea (Figura 17) põe durante seu ciclo produtivo cerca de 200 ovos, ao longo de 2 meses. Figura 17. Besouro fêmea túrgida, repleta de ovos. Postura Os besouros fazem a postura diretamente no substrato, e essa postura é coletada a cada 7 dias e destinada ao setor de Incubação/Cria. Setores de produção A Unidade de Produção de Tenebrio molitor será formada por 5 setores: Cria (0 a 30 dias) – ovo e larva Recria (30 a 60 dias) - larva Terminação (60 a 90 dias) - larva Reposição (90 a 120 dias) – larva/pupa/besouroReprodução (120 a 150 dias) - besouro Cada prateleira (Figura 18) receberá 3 caixas de criação. Cada estante terá 10 prateleiras situadas entre os 0,50m e 1,80m de altura. Cada estante terá capacidade total para 30 caixas de criação, medindo 1,20m de comprimento x 0,60m de largura por 1,80m de altura. Figura 18. Prateleiras para criação de tenebrio. Reprodução (30 caixas) Em cada caixa de reprodução, podem ser alojados 2000 besouros (200 gramas). Considerando-se 50% de fêmeas, temos 1000 fêmeas/caixa de reprodução. Total de 50.000 fêmeas em reprodução. Considerando-se a produção média mensal por fêmea de 100 ovos, temos a postura por caixa de 100.000 ovos, no total de 5.000.000 de ovos/mês. Coleta de ovos: intervalos de 7 dias (1.250.000 ovos/coleta). Produção total mensal: 5.000.000 larvas jovens 0,10g (500kg de larvas jovens/mês). Tempo de permanência do lote de besouros em reprodução: 30 dias (4 coletas). Incubação/Cria (30 caixas) Nesse setor, a produção mensal de larvas (5.000.000 unidades) é dividida em 30 caixas para o período de Incubação/Cria (100.000 larvas/caixa). Na fase de Incubação/Cria, ocorre a eclosão das larvas, e essas se alimentam durante 30 dias do substrato vindo das caixas de reprodução (Figura 19) (500g). Após 30 dias, ocorre a peneiragem para separação das larvas para Recria. Figura 19. Caixas de criação de Tenebrio molitor. Recria (60 caixas) Nesse setor, a produção mensal de larvas (5.000.000 unidades) é dividida em 60 caixas para o período de Recria (50.000 larvas/caixa). Na fase de Recria, as larvas recebem 500g de ração para consumo nos 30 dias seguintes, quando ocorre peneiragem e destinação à fase de Terminação. Terminação (300 caixas) Nesse setor, a produção mensal de larvas (5.000.000 unidades) é dividida em 300 caixas para o período de Terminação (10.000 larvas/caixa). Na fase de Terminação, as larvas recebem 1000g de ração para consumo nos 30 dias seguintes, quando ocorre peneiragem e destinação à fase de Reposição ou a Comercialização. Reposição (30 caixas) Nesse setor, serão alojadas 30 caixas com 5.000 larvas, que permanecerão por 30 dias para empupamento e transformação em besouro. Na fase de Terminação, permanece sendo oferecida alimentação, para que não haja canibalismo. São fornecidas 500g de ração/caixa. Assim que os besouros emergem, são brancos, tornando-se marrons em poucas horas e, após 1 dia, adquirem a tonalidade preta definitiva (Figura 20). Figura 20. Besouros com diferentes colorações de acordo com o tempo de emergência. 6. Manejo sanitário Principais ocorrências na ração Contaminação por fungos (Aspergillus Flavus) Prevenção: através do fornecimento racional de umidade para as colônias, controle de qualidade dos farelos e rações, armazenagem em local seco e arejado. Controle: descarte dos lotes contaminados e esterilização dos recipientes. Contaminação por ácaros (Acarus siro / Tyroglyphus farinae) Prevenção: renovação periódica do substrato. Controle: descarte dos lotes contaminados e esterilização dos recipientes. Contaminação por Traça da farinha (Anagasta kuehniella) Possui a fase de adulto e larva (Figura 21). Prevenção: fumigação sistemática dos farelos e rações e renovação periódica do substrato. Controle: descarte dos lotes contaminados e esterilização dos recipientes. Uso de luminárias anti-insetos. Figura 21. Fase adulta e larval da traça da farinha (Anagasta kuehniella). Principais ocorrências nas colônias de insetos Predação por pássaros, roedores, formigas e lagartixas. Prevenção: estantes afastadas das paredes a, pelo menos, 0,50m, sendo a primeira prateleira a, pelo menos, 40 cm do solo. Os pés das estantes devem ser pintados com graxa a cada 15 dias, de maneira a evitar o ataque de formigas (Figura 22). Em todos os recintos, devem existir armadilhas para roedores, na parte interna e externa da instalação. Sob as portas de acesso, devem ser colocadas tiras de borracha para impedir o acesso de animais rastejantes. Controle: armadilhas e coleta manual. Figura 22. Pés de estantes pintados com graxa para impedir a subida de formigas. Larvas ligeirinhas (Alphitobius diaperinus) Prevenção: com a renovação quinzenal do substrato, consegue-se controlar essas larvas (Figura 23), que se desenvolvem apenas em ambientes com altos níveis de esterco e por períodos de mais de 30 dias. Controle: descarte dos lotes contaminados e esterilização dos recipientes. Figura 23. Larvas ligeirinhas (Alphitobius diaperinus). Limpeza A limpeza e higienização devem abranger todos os itens da criação: as instalações gerais, os alimentos, as caixas de criação, instalações adjacentes, sem esquecermos da higiene pessoal dos tratadores que preparam os alimentos e manejam os insetos. Quinzenalmente, no momento da transferência de lotes, deve ser feita à limpeza completa da caixa de criação, com retirada do esterco e sobras de alimentos. A nova colônia deverá ser instalada num recipiente completamente limpo, isento de detritos e contaminação. Destinação de resíduos Todos os resíduos orgânicos deverão ser destinados ao Depósito de Resíduos Orgânicos, para posterior reciclagem. Desinfecção Calçados Apenas funcionários devem estar autorizados a entrar nos criatórios de insetos. Estes deverão colocar botas brancas de borracha logo após passarem pela primeira porta do Criatório, e, ao passarem na segunda porta, deverão mergulhar o calçado em pedilúvio com solução desinfetante (cloro, iodo, formol ou amônia quaternária). Instalações Toda a instalação deve passar por varrição e posterior limpeza com pano úmido em solução desinfetante semanalmente. Acessórios Após escovação vigorosa sob água corrente para retirada de todo resíduo orgânico, os acessórios serão colocados submersos em solução desinfetante por 24 horas, sendo, em seguida, colocados para secagem. Instalações O criatório pode ser estabelecido na zona rural da cidade. Um galpão pode ser reaproveitado. É importante que o galpão possua piso de cimento, paredes em alvenaria e telhas de barro sobre telhado de madeira. Exigência das instalações Todas as fases da produção do Tenebrio molitor devem ser planejadas para ocuparem uma área de 90m², dentro de um galpão de alvenaria de 180m2. Condições ambientais nos recintos de criação Exaustores O recinto deve possuir 4 exaustores, para extração de ar viciado, na parte superior do galpão. Piso e Cobertura Piso de cimento natado e cobertura de telhas de barro sobre telhado de madeira. Luminosidade Se a estrutura possuir naturalmente baixa luminosidade, que será mantida por se tratarem de espécies noturnas. Haverá iluminação artificial, que será acionada quando necessário. As extremidades devem ser fechadas com cimento para evitar a entrada de pássaros e roedores. Temperatura e Umidade Deve haver monitoramento e registro de temperatura e umidade em cada criatório, através de um termo-higrometro (Figura 24). Conforme necessidade, haverá acionamento de exaustores, nebulizadores e aquecedores. A umidade ideal situa-se entre 50-70%. Figura 24. Termohigrometro digital. Identificação do criatório Todos os criatórios devem possuir placa de identificação (Figura 25) indicando a espécie criada e a capacidade total da instalação. Constar também a restrição à entrada de pessoas que não trabalham no setor. Figura 25. Placa de identificação do criatório de Tenebrio molitor. Caixas de criação Deve-se utilizar, na criação de tenebrios, caixas de plástico (Figura 26) com 80cm comprimento por 35cm largura por 10cm altura. Caixas de plástico são as mais adequadas para esse tipo de criação, por terem as paredes lisas, que impedem a fuga de insetos. Figura 26. Caixas de PVC para criação do tenebrio molitor. Abrigo Sobre o substrato, é colocada uma folha de papel Kraft dobrada, que serve de abrigo para as larvas iniciarem a empupação. O papel também proporciona uma área de total escuridão no substrato. Estantes de criação (módulo de criação) O layout de disposição dos módulos de criação de tenebrios deverãoser feitos em metal, onde as caixas plásticas são encaixadas em sistema tipo gaveta. Evolução e estabilização do plantel Insetos, em geral, possuem uma fantástica capacidade reprodutiva. Postura numerosa e ciclo de vida curto. O emprego eficiente de tecnologia permite que se consiga uma alta produção num pequeno período e espaço físico. A criação de Tenebrio molitor pode ser feita em 35 módulos (cada módulo é formado por 4 estantes, com 13 gavetas/estante) totalizando 450 caixas de criação, com capacidade para produção de 500kg de larvas/mês. Enquanto um conjunto está na fase de terminação, os outros estão nas de cria e recria (duração de 30 dias em cada fase) e assim sucessivamente. Considerando o peso médio de 0,1g/larva jovem, temos um aproveitamento médio mensal de 5.000.000 de larvas no criatório (500 kg). Essa produção é alcançada com a destinação mensal de 10kg de larvas para a Reprodução, e 10kg para Reposição. Reforma do plantel Cada lote de Reprodução terá vida produtiva de 30 dias, sendo abatido e desidratado em seguida. O novo lote de reprodução será proveniente do plantel de Reposição, que estará fornecendo insetos com 120 dias de idade, entrando na maturidade sexual. Comercialização Larvas vivas As larvas são utilizadas como alimento para diversas espécies de animais onívoros e insetívoros. Além do valor nutricional, larvas vivas são muito utilizadas no enriquecimento ambiental de animais em cativeiro, que tem seus instintos de curiosidade e caça despertados com o movimento das larvas. As larvas devem ser vendidas em potes plásticos com ração (Figura 27). A tampa possui orifícios que permitem a ventilação, sem que haja fuga de insetos. Figura 27. Potes plásticos com ração. Embalagem de remessa de 100 gramas de larvas vivas (pote plástico) Larvas vivas devem ser enviadas em potes plásticos com tampa com furos para ventilação. Sobre a tampa, é colocado lacre térmico inviolável. O pote deve ser acondicionado dentro de caixa de papelão, e a colocação de pentes de ovos contribui para que o pote não se mova dentro da caixa durante o transporte. A caixa de papelão deve ser lacrada com fita adesiva em todas as aberturas, e a aeração necessária para os insetos ocorre através da parte de celulose (papelão) não coberta por fitas. Embalagem de remessa de 1000 gramas de larvas vivas (saco voal) Sacos de tecido voal devem ser utilizados para remessa de 1000 gramas de tenebrio. Dentro do saco, são colocados 1000 gramas de larvas, 1000 gramas de farelo de trigo, fonte de umidade, e 4 pentes de ovos que têm a função de aumentar a área de superfície da embalagem distribuindo os insetos e o calor produzido. O saco de voal deverá apresentar costura interna, tornando-o inviolável após o fechamento com lacre em sua extremidade aberta. O saco é acondicionado entre pentes de ovos, dentro de uma caixa de papelão medindo 0,30m largura x 0,40 comprimento x 0,30m altura. Barreiras Anti-fuga Existem 2 barreiras anti-fuga: Pote plástico (ou saco voal) com lacres invioláveis Caixa de papelão lacrada com fita adesiva Tempo de permanência na embalagem Tenebrios podem viver perfeitamente dentro dessa embalagem para remessa por até 15 dias, desde que não sejam expostos a temperaturas extremas, acima de 35 °C e abaixo de 0 °C. Larvas e besouros desidratados Estes devem ser utilizados para enriquecimento de rações para animais silvestres e exóticos, sendo muito palatáveis e com alto valor nutricional. A desidratação inibe o desenvolvimento microbiano, e rações especiais com insetos podem ter até 2 anos de durabilidade. Devem ser utilizadas 3 kg de larvas in natura para produzir 1kg de larvas desidratadas. Após o abate, os insetos são desidratados por 24 horas em estufa de ventilação forçada, a temperatura de 60 °C, chegando ao nível de 6% de umidade no produto acabado. Valor Nutricional Larvas e besouros de Tenebrio molitor apresentam alto valor nutricional e representam uma excelente alternativa para o incremento de rações. Segue a análise realizada com os insetos desidratados do Laboratório de Nutrição Animal da UFMG (Tabela 1). Tabela 1. Análise nutricional dos insetos desidratados do Laboratório de Nutrição Animal da UFMG. 7. Conclusão Diante do exposto a criação de tenebrios pode ser iniciada por qualquer pessoa que possua o mínimo de conhecimento sobre a biologia do mesmo. Possibilitando alternativa valiosa na elaboração de raçoes para humanos, aves, peixes e animais silvestres em geral. O presente capitulo é um norteador da implantação de criação, e as adaptações na criação devem ocorrer de acordo com as necessidades de cada criador. Referências bibliográficas BUZZI, J. B. (2002) Entomologia Didática. Editora UFPR, Paraná COSTA LIMA, A. M. Insetos do Brasil. Coleópteros. 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Capitulo 13 TÉCNICAS DE CRIAÇÃO COMERCIAL DE GRILOS GRYLLUS ASSIMILIS Gilberto Schickler1 Ramon Santos de Minas2 Danilo Tófoli3 Cezar Vasconcellos Sanfim Cardoso4 Liliana Parente Ribeiro5 1. Introdução Os insetos, já há muito tempo, fascinam por suas habilidades em se reproduzirem e se manterem, de forma tão organizada, de maneira que têm seu sucesso reprodutivo colocado a qualquer prova. Assim, eles se sobressaem, dando um exemplo clássico de como a adaptação das espécies pode influenciar em seu sucesso reprodutivo. O homem, em sua busca por alternativas de alimentação e de combate às diferentes pragas, tem se dedicado a entender biologicamente quais os mecanismos envolvidos na reprodução dos insetos que são por ele utilizados. Desta forma, utilizando técnicas de laboratório, tem sido possível imitar o ambiente real de diferentes tipos de insetos, e sua reprodução já é possível de ser feita. O presente capítulo vem demonstrar e tornar acessível aos leitores a metodologia de criação do grilo preto Gryllus assimilis, que se assemelha muito a outros animais pertencentes ao gênero Orthoptera, os quais são criados para fins de pesquisa, alimentação humana e animal. Assim, as próximas páginas serão uma viagem detalhada das técnicas de criação desenvolvidas e adaptadas para o êxito no sistema de criação de insetos de interesse comercial,sendo apresentadas tanto neste quanto nos demais capítulos que falam sobre técnicas de criação. 1.1. Criação de grilo Os grilos (Gryllus assimilis) são encontrados em diversas partes do mundo, e a criação em cativeiro é feita há mais de mil anos em países como a China e o Japão. Antigamente, eram criados como animais de estimação, sendo selecionados aqueles com o canto mais agradável, e mantidos em gaiolas ricamente ornamentadas. Fig 1- O grilo adulto não passa de 3 cm de comprimento Atualmente, estes animais são criados em larga escala em vários países da Ásia, Europa e América do Norte, para serem vendidos como alimento vivo em lojas de animais de estimação, como iscas para pescaria e como iguaria culinária em restaurantes especializados. A produção, hoje, já ocupa instalações industriais, e, como exemplo, temos, nos Estados Unidos da América, uma fábrica de insetos que produz mais de 5 milhões de grilos por semana para a indústria de alimentação animal, alimentação humana e para abastecer o mercado de iscas vivas. Fig. 2 Classificação Nome comum: Grilo Nome científico: Gryllus assimilis Classe: Insetos Ordem: Orthoptera Família: Grillidae Dados biológicos Habitat: são onívoros, terrestres e noturnos. Distribuição: América do Sul e Central Tamanho: grilos adultos medem cerca de 2,5 cm e pesam cerca de 1,2g. Ciclo de vida Os grilos são insetos de metamorfose incompleta (ovo-ninfa-adulto), ou seja, não possuem o estágio de pupa. Fig. 3. A criação de grilos, por suas características, deve ser totalmente intensiva com reprodução sexuada, ocorrendo em sistema de colônias, onde se estima, através da pesagem de um lote de insetos, a existência 4000 grilos adultos, 50% de cada sexo. Para isso, basta fazer o cálculo peso volume, separando uma quantidade mínima de indivíduos, pesando-os e estimando o peso final do lote, bem como o número de indivíduos e o volume ocupado por eles. Fig. 3- Ciclo biológico do grilo. Disponível emhttps://www.google.com.br/search? q=metamorfose+do+grilo&biw=1366&bih=633&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0a hUKEwjft- b_9oLMAhWMGJAKHeEWAFoQ_AUIBigB#imgrc=GBNrYI4hrV5RDM%3ª acesso em 2016 Manejo Animal Instalações O criadouro de grilos, bem como de qualquer outro inseto, pode ser estabelecido desde um pequeno terreno com 1000 m² até grandes fazendas com inúmeros hectares. O que é primordial, nesse tipo de empreendimento, é que o local disponha de condições aptas a possibilitar à construção de todas as instalações necessárias à produção de insetos, desde as áreas de criação e beneficiamento, até a estocagem, produção de vegetais e tratamento de resíduos sólidos. Quando possível, é interessante manter o terreno delimitado por uma cerca de alambrado associada a uma cerca viva, que servirá de barreira visual. Características exigidas: piso, paredes e janelas. Para o estabelecimento de um galpão de criação, é possível aproveitar construções já estabelecidas, desde que estas satisfaçam as exigências que uma criação de grilos ou de qualquer outra classe de insetos exige. Se a opção for construir, é importante que se atente em seguir exatamente as normas estabelecidas neste protocolo de criação. Lógico, respeitando as possíveis adaptações possíveis de serem realizadas, sem, contudo, comprometer o objetivo final da criação. Assim, é importante que: O piso seja de cimento, de maneira a facilitar a higienização do ambiente. As paredes, de alvenaria, deverão ser pintadas de cal a cada quatro meses. Todas as janelas dos criadouros de insetos deverão ser protegidas por tela de nylon tipo mosquiteiro, de maneira a impedir eventuais fugas e, também, a entrada de predadores. O pedilúvio deve ser construído na entrada de cada recinto, onde será colocada cal virgem. Condições ambientais Os grilos vivem melhor em ambientes limpos, ventilados, secos e quentes. A temperatura ideal gira em torno de 26 a 32ºC. Sabemos que essa é a média de temperatura anual na maioria dos países tropicais, no entanto, em locais onde os picos de temperatura são muito acima disso ou muito abaixo, é recomendado o uso de aquecedores de galpão ou ventiladores. Levando-se sempre em consideração que o sistema a ser adotado, apesar de proporcionar o bem estar animal, é um agravante financeiro e terá influência direta no custo final do kg do produto. Assim, recomenda-se parcimônia ao adotar um dos sistemas de climatização, e só tomar a decisão após ter certeza da real necessidade. Pesquisa de mercado Em todo ramo de negócios, nunca se deve investir sem obter a maior parte dos conhecimentos necessários para que o aquele seja operante e rentável. No mundo, a criação comercial de insetos (Bio-farms) é um agronegócio que movimenta centenas de milhões de dólares na Europa e EUA. O resultado da produção atende indústrias de rações, pesqueiros, controle biológico, e, de forma menos crítica, a antropoentomofagia tem surgido como um dos impulsionadores da cadeia produtiva. Assim, antes de tomar a decisão sobre o que e onde produzir, deve-se fazer uma ampla pesquisa de mercado, registrando os prós e contras da decisão de implantar um sistema de criação. Existem, hoje, no mercado, diversas empresas interessadas em adquirir insetos para incorporar em suas linhas de produção das mais variadas maneiras, desde pet shops até indústrias de rações e centros de pesquisa e, também, criadores particulares das mais diversas espécies. Já há algum tempo, é possível observar que um grande número de criadores conhece os benefícios da utilização de insetos na alimentação animal, e isso tem sido fruto da desmistificação que os ronda. No entanto, grandes criadores e, até mesmo, pequenos, tendem a não utilizarem com frequência, por que, principalmente em países cujos costumes alimentares não coadunam com o hábito da alimentação de insetos, acham que investir nesse negócio não é atrativo, ainda que o mercado esteja aquecido, e as dificuldades na aquisição sejam grandes. Sabiamente, pessoas que se dedicam a ter um animal de estimação tendem a investir grandes quantias para que o bem estar animal seja garantido. Dessa forma, o presente livro, ao demonstrar a importância dos insetos como fonte alternativa nutricional, e que essa fonte é de boa qualidade, proporciona abertura de novas empresas que, ao disponibilizarem insetos de qualidade em diversos tamanhos e durante o ano todo, permitirão que o criador possa dedicar seu tempo integralmente a seus animais, o que termina por oferecer uma melhor qualidade de vida ao animal de estimação no cativeiro. CROQUI DAS INSTALAÇÕES Todos os recintos a serem utilizados na produção de insetos devem está localizados em um raio de 100 metros em torno da residência do tratador, de maneira a facilitar a observação constante do empreendimento e garantir sua segurança contra os assaltos e vandalismo. Dessa forma, é possível observar, na figura 4, as divisões e subdivisões adotadas no estabelecimento de uma unidade de criação, respeitando espaços e compartimentos necessários para o bom desenvolvimento do plantel. Figura 4 : Croqui inicial de um criatórios de insetos Figura 5: Setores de produção. Os setores de Incubação, Cria e Recria, deverão ser instalados dentro do galpão destinado a este fim, feito em alvenaria e telhas de barro, zinco ou plásticas. O galpão deve contar com amplas janelas, posicionadas de maneira que permitam uma aeração e iluminação adequada ao propósito. Figura 6: Subdivisões de um recinto de criação É importante a construção de mais um galpão de mesmas dimensões e características, para desidratação, armazenagem, embalagens, estoque, plantel de Reforma e expansão do plantel de Recria. Isso vai proporcionar uma logística mais eficiente, do ponto de vista técnico, pois as manutenções serão estabelecidas e desenvolvidas de maneira ordenada e em espaços previamente construídos para este fim. Estrutura interna dos criadouros Comedouros, bebedouros, aquecedores e abrigos. Com o objetivo de fornecer ração e água, é recomendada a utilização de recipientes plásticos,semelhantes aos utilizados na criação de aves de corte na fase inicial. Estes recipientes atendem perfeitamente à criação de grilos e dispensa a encomenda e fabricação de vasilhames própios. É de extrema importância que, em locais onde as temperaturas decrescem a pontos críticos abaixo de 22Cº, opte-se pela utilização de Aquecedores, que devem ser utilizados apenas nos meses de inverno ou em sazonalidades de temperaturas durante o ano, de maneira a manter a temperatura média do ambiente superior a 25°C. O abrigo mais utilizado na criação de grilos é a “pente para 30 ovos” feito de papelão. A função principal do abrigo é aumentar a área de superfície da caixa de criação, de maneira a reduzir a perda de insetos por brigas e canibalismo. Visando facilitar o manejo e evitar a fuga dos animais, deve-se utilizar, na criação de grilos, toneis plásticos e caixas de papelão de 100, 200 e 1000 litros. As caixas devem ser colocadas sobre estrados de madeira ou em estantes, de modo a proporcionar mobilidade do tratador e facilitar a limpeza e o manejo. Figura ... Figura 7: Exemplo de manutenção, comedouros, bebedouros e bombonas de criação. Caixas de postura Caixas plásticas com substrato de areia ou terra vegetal devem ser limpas em água corrente e preenchidas com substrato estéril, evitando, assim, que contaminantes venham prejudicar o bom andamento biológico dos indivíduos. É importante que essas caixas plásticas sejam colocadas sobre um suporte para que se evite o excesso de umidade. Fig 8 Figura: 8 Caixas plásticas com substrato de areia ou terra vegetal A postura apresenta formato alongado e é feita dentro do substrato, recomenda-se não revolver o mesmo durante o período de incubação, evitando assim que ovos se partam antes do tempo e que grande parte dos indivíduos não chegue a nascer. Figura Figura : 9 exemplo de postura em meio ao substrato Evolução e estabilização Insetos em geral possuem uma fantástica capacidade reprodutiva. Postura numerosa, ciclo de vida curto e o emprego eficiente de tecnologia permitem que se consiga uma alta produção num pequeno período e espaço físico. No caso dos grilos, eles se reproduzem por Oviparidade (postura de ovos). Grande parte dos insetos se reproduzem desta maneira, e isso torna a estratégia de reprodução mais eficiente, pois, após a postura, a fêmea fica disponível para novos acasalamentos e novas posturas quando a situação permitir. Neste tipo de reprodução, as fêmeas obrigatoriamente depositam ovos fertilizados em algum substrato, e eles completam o desenvolvimento embrionário fora do corpo da fêmea. Neste caso, o ovo apresenta reserva nutritiva completa (vitelo) para este desenvolvimento. Os ovos geralmente são depositados em micro habitats muito precisos, muito próximos da fonte de alimento que os filhotes precisarão quando emergirem. Em laboratório, o sistema de criação e reprodução segue direcionamento totalmente intensivo, ocorrendo em sistema de colônias. Maturidade sexual Em média, com 75 dias de idade, os grilos estão aptos a reprodução. Verifica-se o início da atividade sexual basicamente através dos seguintes sinais: Fêmeas adultas: Possuem 3 longos tubos na região posterior, diferenciando-se dos machos que possuem dois. O tubo central é o ovopositor, com cerca de 1,5 cm de comprimento, o órgão com o qual ela introduz os ovos no solo. Possuem as asas completamente desenvolvidas e lisas. Geralmente são maiores que os machos. Não produzem som relevante. São características dos machos adultos: Possuem, ligado ao abdome, de forma bem visível, 2 tubos longos na região posterior. Não possuem ovopositor, ou seja, o dimorfismo sexual é muito aparente. Possuem as asas mais ásperas, com aspecto de amassadas. As asas, ao serem tocadas, apresentam rugosidade que não são grandes. Geralmente são menores que as fêmeas, e essa é uma característica marcante que pode ser grande aliada em uma manutenção ou estudos de laboratório. Ao esfregarem as patas, os grilos emitem um som para atrair as fêmeas e delimitar um território. Essa é uma das alternativas que propiciam o acasalamento entre macho e fêmea. Fig. 5 Macho à esquerda e fêmea à esquerda. Disponível em http://grilosmania01.blogspot.com.br/p/reproducao.html Figura 10: dimorfismo sexua Objetivo de uma criação sustentável É importante que um bom criatório seja autossuficiente na produção de matrizes, essa habilidade vai proporcionar quantidades suficientes para suprir a meta mensal de produção, que pode ser estabelecida com base na demanda de matéria prima absorvida pelo mercado consumidor, bem como pela capacidade reprodutiva do animal em cultura. Estima-se que o patamar de estabilização será atingido quando ocorrer um índice de produção que atenda as demandas do criatório sem comprometer os diferentes estágios necessários para o desenvolvimento dos animais. O produto principal do criatório de grilos é a ninfa 0,5g/45 dias. É nesta fase que elas são destinadas à indústria de rações. Todos os outros produtos, como grilos vivos das mais diversas idades e grilos vivos adultos de descarte, devem ser considerados no cálculo da produção mensal e anual total do criatório, sendo estes utilizados em outras formas no comércio global do empreendimento. Reprodução Período compreendido entre os 75 e 105 dias de idade. Após os 105 dias, encerra-se o período produtivo, e os insetos serão comercializados vivos para utilização na alimentação animal ou como iscas em pescarias. Figura 11: Unidade básica de criação Unidade de incubação/cria (60 unidades) Bombonas plásticas com capacidade de 100 litros, para contenção de 01 caixa de Postura (Total em Recria: 60 caixas contendo as 60 caixas de postura/mês); Tempo de permanência: 30 dias (15 dias incubação/15 dias Cria). Produção estimada mensal: 900.000 ninfas (60 unidades de cria x 01 caixa de postura x 15.000 ninfas). Unidade de Recria (60 unidades); Caixas de papelão com capacidade de 1000 litros, para contenção de até 15.000 ninfas (Total em Recria: 900.000 ninfas/mês); Tempo de permanência: 30 dias. Produção estimada: 900.00 grilos jovens com 0,5g/unid = 450kg 10% reposição (45kg) 20% comercialização vivo (90kg) 70% comercialização desidratado (315kg) Incubação/cria Período de incubação médio de 15 dias, conforme condições ambientais de temperatura, luminosidade e umidade. A Cria é o período compreendido entre o nascimento e os 15 dias de idade. A ração deve ser pulverizada nessa fase, e água fornecida por meio de bacias com algodão. Os grilos filhotes são chamados de ninfas. Essa fase tem início no nascimento e termina quando chegam a maturidade sexual. Elas passam por 5 a 7 trocas de exoesqueleto até se tornarem adultos.Figura: 12. Figura 12: Filhotes em evolução para troca de exoesqueleto Reforma do plantel Cada lote de Reprodução terá vida produtiva de 30 dias, sendo descartado em seguida. O novo lote de reprodução será proveniente do plantel de Reposição, que estarão fornecendo insetos com 75 dias de idade, entrando na maturidade sexual. Reposição Período compreendido entre os 45 e 75 dias de idade. Os insetos, nessa fase, estarão sendo preparados para reposição daqueles lotes de reprodução que atingiram os 30 dias de vida produtiva. Números de produção/unidade de reprodução (10 unidades): Bombonas plásticas com capacidade de 1000 litros, para contenção de até 4.000 grilos em reprodução (Total em Reprodução 40.000 grilos). Tempo de permanência do lote de reprodução: 30 dias. Tempo de permanência da caixa de postura: 05 dias. Produção estimada mensal: 60 caixas de Postura. (10 unidades de reprodução x 06 coletas mensais x 01 caixa de postura). Produção estimada ninfas/caixa de postura – 2000 fêmeas x 03 ovos/fêmea/dia x 5 dias x 0%mortalidade = 15.000 ninfas/caixa Postura Unidade de reposição (10 unidades): Caixas de papelão com capacidade de 500 litros, para contenção de até 4500 grilos/cada (total 45.000 grilos adultos). Tempo de permanência: 30 dias. Manejo alimentar Alimentar os grilos com uma dieta adequada é fundamentalpara: Garantir condições ótimas ao desenvolvimento dos insetos e sua procriação; Produzir um alimento com alto valor nutricional; Reduzir o índice de canibalismo dentro da cultura de insetos. Ração A criação de grilos tem por objetivo obter indivíduos para o abate com índices nutricionais satisfatórios. Para tanto, é fundamental que, ao optar por uma dieta a ser utilizada como base alimentar do plantel, seja utilizada uma mistura de farelos e rações para aves à base de milho e soja, buscando- se sempre a dieta mais adequada do ponto de vista nutricional a cada fase do inseto, com o mínimo custo. A ração deverá ser fornecida ad libitum, em comedouros plásticos. O tratador deve sempre está atento e observar os níveis dos comedouros e bebedouros, assim, devem ser feitas 3 vistorias diárias nos comedouros, de maneira que sempre ocorra a pronta reposição do alimento assim que se esgotar. As vasilhas a serem usadas podem ser pratos plásticos de 30 cm de diâmetro encontrados em lojas de utensílios domésticos, devendo ter cuidado para que não sejam muito fundos, possibilitando assim o acesso de maneira fácil ao alimento. Figura: 13. Figura 13 - Comedouros plásticos utilizados na criação de grilos Fonte de umidade A água será fornecida em bebedouros automáticos com capacidade de 2 litros, semelhantes aos utilizados na criação de aves de corte fase inicial. Fig: 14. Este tipo de bebedouro atende perfeitamente aos objetivos da criação. É importante que, no local onde fica a água, seja colocado um substrato que pode ser algodão, bolinhas de vidro ou panos. Tal prática vai evitar que os animais venham a afogar se. Os grilos são exigentes em limpeza, logo, a troca de água deve ocorrer de maneira ordeira e sempre que o tratador observar uma baixa de nível significante. A água deve ser limpa e livre de contaminantes, de preferência filtrada ou de nascentes isentas de contaminantes. O bebedouro deve ser lavado completamente pelo menos 1 vez/dia Transferências de recintos e recipientes A transferência de lotes de insetos entre recintos deve ser feita escolhendo as horas mais frescas do dia, de preferência, depois da alimentação, pois os animais tendem a estar mais parados, o que facilita o manejo. É importante que os animais sejam colocados, sempre que ocorrer a mudança de recintos, ou de caixas, dentro de recipientes totalmente fechados, de preferência, em caixas plásticas com tampa telada para se permitir à ventilação durante o transporte. A transferência entre recipientes deve ser feita, sempre, dentro das instalações do criadouro. O “coletor de grilos” ajuda na captura e transferência dos insetos entre recipientes e pode ser observado na figura abaixo. Figura: 15. Figura:15 transferência de lotes Uso de vegetais na alimentação A alimentação dos grilos deve ser constituída de forragens, frutas, rações, entre outros. No entanto, é recomendável a utilização de vegetais produzidos no próprio criadouro, com o objetivo de reduzir os custos com alimentação. Tal medida é importante, a fim de se garantir o fornecimento de alimentos isentos de agrotóxicos e pesticidas. Um dos vegetais mais indicados é o Ora-pro-nobis (Pereskia aculeata). A folha do ora-pro-nobis, na matéria seca, contém 25,4% de proteína; vitaminas A, B e C; minerais como cálcio, fósforo e ferro. É uma planta que merece atenção especial por seu alto valor nutritivo e facilidade de cultivo, inclusive, doméstico. Desinfecção instalações A melhor forma de se manter a higiene em instalações para criação de insetos é através da varrição, uso de vassoura de fogo, caiação e lavagem com escovação. Após escovação vigorosa sob água corrente para retirada de todo o resíduo orgânico, utilizar sabão neutro ou sabão de coco para completar a lavagem. Evitar utilização de produtos químicos. Sanidade Alimentos vivos em geral devem ser produzidos sob rígido esquema de controle sanitário para se produzir um complemento alimentar confiável, e não uma fonte de enfermidades. Insetos criados de forma inadequada podem se tornar vetores de bactérias (salmonellas, microbactérias), fungos (cândida, aspergilose) ou toxinas (pesticidas, micotoxinas). Grilos são insetos muito rústicos e naturalmente asseados. A limpeza e higienização devem abranger todos os itens da criação: as instalações gerais, os alimentos, os caixas de criação, instalações adjacentes, e, não se pode esquecer, a higiene pessoal dos tratadores que preparam os alimentos e processam os insetos. Mensalmente, no momento da transferência de lotes, far-se-á a limpeza completa da caixa de criação, com retirada do esterco, insetos mortos, troca de placas de ovos danificadas. O próximo lote deverá ser colocado num recipiente completamente limpo, isento de detritos e contaminação. Abate/desidratação O procedimento utilizado para abate dos insetos consiste na colocação das caixas de recria em câmaras frias, onde ocorre a morte por hipotermia. Após o abate, os insetos passam por um processo de higienização, sendo, em seguida, destinados à desidratação. Fuga de insetos - sistemas de prevenção Consideramos que, o fator mais importante no planejamento de um criadouro comercial de insetos, é o estabelecimento da segurança do empreendimento quanto a fugas. Sabemos que grilos são inofensivos ao ser humano, mas, em determinados tipos de manejo de hortas e viveiros florestais, podem ser considerados pragas. Mais, em um estabelecimento de criação, esse não deve ser um detalhe a se deixar despercebido. O controle dos grilos é fácil, seja químico ou mecânico, no entanto, evitar problemas inerentes à fuga é primordial. Apesar disso, diversos sistemas poderão ser adotados para a prevenção a fugas, evitando assim qualquer tipo de dano, seja à população vizinha ou ao meio ambiente. Predadores e pragas Os principais são os pardais, lagartixas, formigas, moscas e roedores. É primordial que sejam seguidas algumas normas: Janelas teladas; Portas vedadas; Organização, higiene e uso de armadilhas são as formas indicadas para controle. Pesticidas e outros venenos jamais deverão ser utilizados dentro dos criatórios ou nas proximidades, em razão da alta vulnerabilidade desses insetos a tais produtos. Toda criação pode ser dizimada com uma única aplicação. Destinação de resíduos Todos os resíduos orgânicos dos criatórios, além do substrato para postura, serão destinados a compostagem e produção de húmus de minhoca. Um criadouro deve-se ater a um nicho de mercado, que é o de comercializar o adubo, considerando a alta qualidade que lhe é atribuída como fertilizante. Quando possível, é recomendado utilizar parte desses resíduos no cultivo de vegetais que serão usados no próprio criadouro ou em horta doméstica ou comercial. Figura: 16. Figura :16 Possível destinação dos resíduos Resumo das principais ações a serem adotadas para implantação do criadouro Caixas de criação com sistema antiaderente, de maneira que os insetos não conseguem escalar a lateral. Uso sistemático de armadilhas para captura de insetos dentro dos recintos de criação, em caso de fugas eventuais. Janelas totalmente vedadas e fechadas com tela de nylon, fixada à moldura de alumínio. Nas portas serão colocadas tiras de borracha nas partes inferior, superior e laterais, de maneira a fazer uma vedação contra saída e entrada de insetos e animais rasteiros. Corredor de segurança – sistema de proteção contra eventuais fugas do galpão de criação. Manter a criação de algum tipo de animal predador de insetos ao redor dos galpões de criação. Considerando-se que grilos possuem a capacidade de saltar uma distância máxima de 40cm, esse tipo de manejo reduziria a praticamente zero o risco de fugas do criadouro. Uma outra alternativa seria formar um corredor com telas, tipo alambrado, para delimitar uma criação semi-intensiva de aves como patos, emas ou galinhas d´angola, cerca de 50m distante dos galpões. No caso das emas, o alambrado poderia ser substituído por uma cerca convencional de 7 fios com arame liso. (ISOLAMENTO – barreira sanitária isolandoaves de insetos Possíveis empresas interessadas no produto: Vale Verde Destilaria e Parque Ecológico. (Rações Megazoo). Instituto Butantan/SP. (Alimentação de escorpiões e aracnídeos para extração de veneno) Ranicultores, criadores de aves e de peixes ornamentais, de todo o Brasil. (Alimento vivo); Criador Comercial de Animais Silvestres FaunaBrazilis/RJ. (Alimento vivo p/ primatas); Usina hidroelétrica Ponte do Funil/MG – Resgate de Fauna. (Alimento vivo); Universidade universidades do Brasil e Exterior. (Experimentos científicos); Fábrica composição de rações em geral; Pescadores para uso como isca viva; Resumo das características morfológicas e ambientais para um bom desenvolvimento da atividade de criação Ciclo de vida: Metamorfose incompleta, com ciclo de vida passando pelos estágios ovo-ninfa-adulto, ou seja, não possuem o estágio de pupa. Completam todo o ciclo em aproximadamente 4 meses, podendo se estender em até 6 meses, conforme condições de temperatura, umidade, nutrição e fotoperíodo. Reprodução: Sexuada, ocorrendo em colônias. Maturidade sexual: Em média com 90 dias de idade estão aptos a reprodução. Postura: Postura média de 200 ovos/fêmea. Na natureza ocorre diretamente no solo, através do introdução do ovopositor a cerca de 2-3cm abaixo da superfície. Incubação: Cerca de 15 dias. Ninfas: Os grilos filhotes são chamados de ninfas e são semelhantes aos adultos, porém menores. Essa fase tem início no nascimento e termina quando chegam à maturidade sexual. Dimorfismo sexual: Grilos machos adultos são menores que fêmeas, e as asas apresentam aspecto de “amassadas”. Fêmeas adultas apresentam, na região distal posterior, o ovopositor completamente desenvolvido, e asas lisas. Dimensões: Adultos medem 2,5-3,5cm e pesam em média 1,0g. Habito alimentar: São onívoros. Distribuição: América do Sul e Central Habitat: Vivem em ambientes com vegetação rasteira, campos nativos ou em lavouras com cobertura vegetal deficiente. São noturnos e, durante o dia, permanecem ocultos sob detritos e galerias subterrâneas, em ambientes úmidos e escuros. Como os insetos podem ser comercializados vivos Os grilos podem ser comercializados vivos com diversas idades e tamanhos, conforme a utilização: recém nascido – 0,2cm 01 semana – 0,4cm 03 semanas – 0,8cm 06 semanas – 1,5cm 09 semanas – 2,0cm 12 semanas – 2,5cm 15 semanas – 3,0cm Os recém nascidos são utilizados para alimentação de pássaros, como o beija-flor e a cambaxirra. Os adultos são ótimos para pescaria e alimentação de répteis e aracnídeos de grande porte. Aqueles de tamanho intermediário são utilizados para os mais diversos tipos de aves, peixes e pequenos mamíferos. Tipos de embalagens Figura: 17 Figura: 17 Tipos de embalagem Ferramentas utilizadas no manejo Figura: 18 Figura 18: Tipos de embalagens Referências bibliográficas COSTA NETO, E.M. Introdução à etnoentomologia: considerações metodológicas e estudo de casos. 1. ed. Feira de Santana: UEFS, 2000. 131 p. DIAS,M.A.& NETO,E.M.C. “Grilos”(Orthoptera) na Percepção dos Moradores de Feira de Santana, 2005. 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Wageningen UR Livestock Research, Report 638. https://www.google.com.br/search? q=FEZES+DE+GRILO&biw=1366&bih=633&source=lnms&tbm=isch&sa =X&ved=0ahUKEwiS4L2GxoXMAhXHEJAKHWFGCp4Q_AUIBigB#tb m=isch&q=HUMUS+SACOLA Capítulo 14 TÉCNICA DE CRIAÇÃO DE BARATAS PARA USO COMERCIAL Gilberto Schickler1 Ramon Santos de Minas2 Danilo Tófoli3 Cezar Vasconcellos Sanfim Cardoso4 Inês Ribeiro Machado5 Introdução Atualmente são descritas cerca de 4.000 espécies de baratas no mundo. A grande maioria vive em ambiente silvestre, sendo que apenas 1% dos blatódeos vive em sinantropia. A Barata Gigante de Madagascar (Gromphadorhina portentosa) e a Barata Cinerea (Nauphoeta cinerea) são espécies sinantrópicas, mas não existem estudos comprovando que são capazes de trazer doenças ao homem. Essas espécies não vivem no mesmo ambiente que a Periplaneta americana (Barata doméstica). Nauphoeta vive em jardins, em locais com terra, próximo ao homem. Gromphadorhina não é encontrada em vida livre no Brasil. Figura 1 Figura 1- Adultos de Barata Cinerea 1. Utilização Baratas de Madagascar e Cinereas são muito utilizadas como alimentos por que: São fáceis de manter e reproduzir Apresentam alto valor nutricional São muito bem aceitas por diversas espécies de animais, tanto na forma viva (aracnídeos, répteis, aves, anfíbios, peixes e pequenos primatas), quanto na forma desidratada em rações (insetos inteiros e farinha de insetos) conjunto de Figuras ao lado Figura: 1 Escorpiões Figura: 2 Centopéias Figura 3 Aranha Figura :4 Catita Figura: 5 Baratas já são usadas com sucesso na criação de filhotes de aves como o trinca- ferro, perdiz, faisão e até emas. Podem ser fornecidas vivas, desidratadas, reidratadas e na forma de farinha. 2. Classificação (Barata Cinerea) Filo: Arthropoda Classe: Insetos Ordem: Blattodea Família: Blaberidaea Nome comum: Barata Cinerea Nome científico: Nauphoeta cinérea Figura: 6 Nauphoeta cinerea Distribuição Espécie de origem africana, porém atualmente considerada cosmopolita, de distribuição mundial. Dimorfismo sexual Os blaberídeos são diferenciados pela presença ou não de estilos na placa subgenital. Os machos apresentam estilos, enquanto as fêmeas não, e é comum as fêmeas terem o abdômen mais desenvolvido. Longevidade Aproximadamente 1 ano, para machos e fêmeas, com a realização de cerca de 8 ecdises. Hábito Baratas são insetos de hábito noturno, que preferem ambientes de penumbra. A temperatura deve ficar entre 25-35C, e umidade relativa do ar de 60 a 70%. 3. Classificação (Barata Madagascar) Filo: Arthropoda Classe: Insetos Ordem: Blattodea Família: Blaberidae Nome comum: Barata Madagascar Nome científico: Gromphadorhina portentosa Figura:7 Casal de adultos de Gromphadorhina portentosa Distribuição São originárias da ilha de Madagascar, na costa leste da África, sendo uma espécie tropical, que habita zona de umidade moderada e temperaturas mais elevadas. Atualmente é considerada cosmopolita, de distribuição mundial. Dimorfismo sexual. Os machos possuem um par de grandes cornos por trás de sua cabeça, estruturas estas que são muito menores no sexo feminino. São conhecidos também como corcunda pronatal. Longevidade Aproximadamente 5 anos para machos e fêmeas, coma realização de cerca de 7 ecdises nesse período. Hábito. As baratas são noturnas e evitam a luz. São detritívoras. Sua alimentação mais frequente é de matéria vegetal que está se deteriorando, incluindo frutos e folhas caídas, fungos, esterco e carcaças de animais fazem parte da dieta. Gromphadorhina portentosa desempenha um papel importante nas florestas tropicais de Madagascar, por atuar na reciclagem de uma grande quantidade de plantas em decomposição e matéria animal. Figura: 8. Figura: 8 A Barata Madagascar atua na reciclagem de matéria orgânica 4. Manejo animal Medidas de manejo e contenção Baratas Cinerea e Madagascar não mordem, não transmitem doenças, mas são rápidas, e o manejo deve ser feito com atenção para não ocorrer fugas. De maneira geral, para coleta de baratas em pequenos terrários, são utilizadas pinças cirúrgicas de pelo menos 15cm, segurando o inseto pelo centro do corpo, mas evitando o esmagamento. Para coleta em caixas de criação, são utilizados recipientes plásticos para contenção e pesagem, e os insetos são transferidos através dos pentes de ovos onde vivem. Figura:9. Figura:9 Baratas Cinerea e de Madagascar são de fácil manuseio Coleta nas caixas de criação. Conjunto de Figura abaixo Separação dos filhotes. Conjunto de figuras abaixo A coleta de filhotes é feita através de peneiragem. 5. Barreira anti-fugas. Conjunto de figuras abaixo No criatório Nas caixas de criação Baratas escalam facilmente recipientes de plástico ou vidro. Baratas escalam facilmente superfícies lisas, sendo necessária a colocação de barreiras antifuga. Para contenção da colônia é necessária a manutenção de uma barreira antifugas na borda superior interna da bombona, feita em carbonato de cálcio, que deve ser renovada semanalmente. Barreira anti-fugas de carbonato de calcio (pó) 6. Preparação de colônias (bombonas 200 litros). Conjunto de Figuras abaixo Densidade máxima Caixas de criação com 1 nível de pentes de ovos – até 5kg de insetos. Caixas de criação com 2 níveis de pentes de ovos – até 10kg de baratas. 7. Manejo alimentar As características básicas da dieta das baratas são: Alimentam-se de uma mistura de concentrados proteicos (leveduras de cerveja, soro de leite), farelos (trigo, milho e soja), premix mineral e vitamínico, fornecidos em comedouro. Ingerem água através de vegetais (abóbora, cenoura, chuchu, cana-de-açúcar, palma-forrageira,...), ração umedecida, hidrogel, ou em bebedouro. É fornecida a quantidade de alimento para ser consumida em 24h, de maneira a termos sempre alimento fresco a disposição, e sem provocar desperdícios. A ração comercial utilizada para criação de aves é adequada, do ponto de vista nutricional para alimentação desses insetos, e eventualmente é fornecida. Barata Madagascar comendo ração farelada Comedouros e bebedouros Utilizam-se “pratos plásticos de vasos de planta” como recipiente para colocação de ração e da fonte de umidade para baratas. Além de facilitarem o acesso dos insetos ao alimento, são de fácil higienização e baixo custo. Os recipientes tem capacidade para 250g, 500g, 750g e 1000g de ração, e adicionamos mais recipientes conforme o consumo do lote. Baratas nos comedouros com ração farelada Ração farelada ou triturada As baratas são alimentadas com ração farelada desenvolvida pela empresa, ou as trituradas comerciais, conforme disponibilidade e preço. São adicionados inibidores de desenvolvimento de fungos e adsorventes de micotoxinas. A criação é feita em sistema de colônia, sendo que a cultura inicial contem 1 kg de insetos de todas as idades. A criação é feita em 2 ciclos (0 a 30 dias) e (30 a 60 dias). Seguem as quantidades estimadas médias de ração fornecida em cada ciclo: Ciclo 1 (0 a 30 dias) – 250g/dia (7,5kg) Ciclo 2 (30 a 60 dias) – 500g/dia (15,0kg) Consumo total de ração a cada ciclo de 60 dias – 22,5kg A ração farelada é ingerida rapidamente pelos insetos Ração úmida e vegetais Diariamente fornecemos uma alternativa para dessedentação, que podem ser frutas (laranja, manga, mamão, banana, abacate,...), legumes (chuchu, cenoura, abobrinha, batata,...) ou cana-de-açúcar. O hidrogel e ração úmida também podem ser utilizados, sempre em quantidade equivalente ao dobro do fornecido em ração, em peso. Ciclo 1 (0 a 30 dias) – 500g/dia (15,0kg) Ciclo 2 (30 a 60 dias) – 500g/dia (30,0kg) Consumo total de fonte de umidade a cada ciclo de 60 dias – 45,0kg As fontes de umidade são conservadas em geladeira sob 0 a 10C Sobras de ração Eventuais sobras são retiradas diariamente, no momento da troca de comedouros e bebedouros. Os resíduos são destinados ao depósito de resíduos orgânicos para reciclagem. Estoque de alimentos A ração para insetos será estocada em sacos de nylon ou celulose, com capacidade para 20kg, sobre estrados de madeira, em ambiente seco, ventilado e sobre temperatura amena. O estoque de ração é armazenado sobre estrados de madeira, em local seco, sombreado e ventilado 8. Manejo Reprodutivo Na produção de baratas utilizamos sistema de criação totalmente intensivo, poligâmico em colônias. O objetivo desse criatório é produzir insetos de todos os tamanhos. Ciclo de vida Baratas apresentam metamorfose incompleta, passando pelos estágios de ovo, ninfa (correspondente à fase larval) e adulto, com a ausência do estágio imóvel (pupa). A diferença entre as ninfas e os adultos reside na maturação dos órgãos sexuais, não desenvolvidos nas ninfas. Baratas Madagascar em diversos estágios Ecdise A cada passagem de fase perdem o esqueleto externo ou casca. Durante o período de aproximadamente 24 horas elas permanecem com uma coloração esbranquiçada, até que o novo exoesqueleto enrijeça. Maturidade sexual (Barata Cinerea) As Baratas Cinerea iniciam o período de maturidade sexual aos 3 meses de idade, e com cerca de 4 meses ocorre o nascimento da primeira ooteca. Maturidade sexual (Barata Madagascar) As Baratas Madagascar iniciam o período de maturidade sexual aos 7 meses de idade, e com cerca de 9 meses ocorre o nascimento da primeira ooteca. Cópula A cópula ocorre naturalmente, em sistema de colônias. Incubação Nessas espécies a incubação é interna, e os filhotes nascem logo após a exposição da ooteca. Postura (Barata Cinerea) Consideramos como período produtivo útil das Cinereas de 4 a 10 meses de idade, com a realização de uma postura mensal com média de 30 filhotes, totalizando 6 posturas. A produção total média por matriz é estimada em 180 filhotes. Ninfas recém nascidas de Nauphoeta cinerea Postura (Barata Madagascar) Consideramos como período produtivo útil das Madagascar de 7 a 17 meses de idade, com a realização de uma postura bimestral com média de 40 filhotes, totalizando 5 posturas. A produção total média por matriz é estimada em 200 filhotes. Ooteca de Barata de Madagascar Caixa de Criação (Barata Cinerea) Cada caixa de criação será composta por 1kg de baratas de todas as idades. Considera-se como média 1000 indivíduos adultos por caixa, com 50% de machos e 50% de fêmeas. Caixa de Criação (Barata Madagascar) Cada caixa de criação será composta por 1kg de baratas de todas as idades. Considera-se como média 200 indivíduos adultos por caixa, com 50% de machos e 50% de fêmeas. Lote de Criação Serão estabelecidos 4 lotes de criação, composto por 20 bombonas de criação cada lote. Cada lote será formado com diferença de 15 dias, totalizando 80 bombonas em produção no criatório. Inicialmente haverá apenas 1 recinto para criação de baratas, onde serão divididos os lotes entre 50% Barata Cinerea e 50% Barata Madagascar Fim do Ciclo Após o Ciclo de 60 dias é realizada a finalização do lote. Após a retirada de 1kg de insetos para início de nova caixa de criação, é realizado o abate do lote. Estima-se a obtenção média de 10kg por bombona, com desfrute de 9kg de baratas a cada ciclo de 60 dias em cada bombona. Produção Mensal Estimada Considerando a produção média de 9kg por bombona, e a quantidade de 40 bombonas que chegam ao final deciclo a cada mês, teremos a produção média mensal estimada em 360kg de insetos. Ninfas de Barata de Madagascar 9. Manejo sanitário A limpeza e higienização abrangem todos os itens da criação: as instalações gerais, os alimentos, as caixas de criação, instalações adjacentes, terreno, sem esquecermos da higiene pessoal dos tratadores que preparam os alimentos e manejam os insetos. O manejo sanitário das baratas pode ser resumido da seguinte forma: Limpeza e desinfecção de caixas de criação (bombonas de pvc) a cada 15 dias Descarte de colmeias de pentes de ovos (abrigo) a cada 60 dias Pentes de ovos têm vida útil de 60 dias Comedouros e bebedouros O criatório conta com 3 jogos de comedouros e bebedouros, ou seja, enquanto 1 jogo é utilizado, temos um submerso em solução desinfetante e 1 em secagem. Após limpeza com escova, água e sabão, os recipientes são deixados 24h em solução. Comedouros de diferentes tamanhos Colmeias de pentes de ovos São renovadas a cada 60 dias, devido ao acúmulo de resíduos, de umidade, e a possibilidade do desenvolvimento de pragas. Esse material é incorporado aos demais resíduos orgânicos e destinado à reciclagem. Os pentes serão de primeiro uso e descartados em 60 dias Principais doenças e pragas As principais pragas que ocorrem na criação de baratas estão relacionadas a condições inadequadas de higiene e ao manejo na colônia. A larva ligeirinha (Alphitobius diaperinus - Coleóptera) e a tesourinha (Forficula auricularia – Dermaptera) são espécies onivoras, oportunistas, que surgem nas colônias quando há acúmulo de resíduos (sobras de ração, esterco e carcaça de insetos). Forficula auricularia Com a troca regular das colmeias, limpeza das bombonas e manutenção das colônias em densidade adequada não se verifica esse tipo de infestação. Alphitobius diaperinus Higienização de bombonas As bombonas de PVC são higienizadas a cada 30 dias. Nessa rotina, as bombonas são retiradas do criatório, e todo resíduo ensacado para destinação ao setor de reciclagem. Em seguida, ocorre a lavagem completa do recipiente com jato de água pressurizada e finalmente a colocação das mesmas para secagem ao sol. Os recipientes são mantidos ao ar livre, sobre piso limpo, até a nova utilização. Lavagem de bombonas e piso com água pressurizada Desinfetantes utilizados Utilizamos desinfetantes a base de iodo, amônia quaternária e cloro. O princípio ativo é alterado a cada 4 meses, a fim de se evitar desenvolvimento de resistência microbiana. Destinação de resíduos Todos os resíduos orgânicos serão destinados a reciclagem, para produção de fertilizante orgânico. Desinfecção Calçados Apenas funcionários estão autorizados a entrar nos criatórios de insetos. Estes deverão colocar botas brancas de borracha logo após passarem pela primeira porta do Criatório, e ao passarem na segunda porta deverão mergulhar o calçado em pedilúvio com solução desinfetante (cloro, iodo, formol ou amônia quaternária). Pedilúvio para desinfecção de calçados Instalações Toda a instalação passa por varrição e posterior limpeza com solução desinfetante semanalmente. 10. Instalações Croqui das instalações Todas as fases da produção de Baratas foram planejadas para ocuparem um recinto de 108m² com controle ambiental, que representa nossa unidade básica de produção. Os recintos foram desenvolvidos originalmente para produção de flores, e adaptados para criação de inseto. Condições ambientais nos Criatórios Serão utilizados equipamentos como exaustores, nebulizadores e aquecedores de maneira a se manter condição ótima de criação na instalação. Também serão utilizadas medidas de controle no micro ambiente da caixa, como a colocação de uma cobertura de telha onduline. Identificação do local Todos os criatórios possuem placa de identificação, indicando a espécie criada e orientação sobre procedimentos de higiene. Consta também a restrição à entrada de pessoas que não trabalham no setor. Placa de identificação Criatório de baratas Ventilação O recinto possui sistema de ventilação através de exaustores, 2 unidades de 60cm de diâmetro na extremidade superior de cada recinto, proporcionando uma renovação constante de ar no ambiente. Para impedir a incidência de correntes de ar frio durante a noite e em dias com temperatura abaixo de 18C, o recinto conta com cortinas móveis de lona nas extremidades. Ventilação através de exaustores Piso e Cobertura Nosso modelo de recinto em lona, tela tipo mosquiteiro e tubos de aço proporciona um ambiente vedado contra a entrada de predadores e outros insetos. A cobertura e laterais são feitas em lona reforçada dupla face (preto interno e branco externo), sendo o piso em vinil sobre terra compactada e extremidades fechadas em tela de nylon tipo mosquiteiro. Extremidades fechadas com tela de nylon tipo mosquiteiro Luminosidade Como se tratam de espécies noturnas, a face interna preta proporciona um desejável ambiente de penumbra, enquanto a face externa branca proporciona redução da temperatura interna. Ambiente de penumbra no interior do minhotunel Temperatura e Umidade A temperatura interna será mantida entre 22 a 28ºC, através de exaustores, aspersores e abertura de cortinas. A umidade relativa deverá oscilar entre 60-70%, sendo que os aspersores são distribuídos de maneira a proporcionar a manutenção de umidade uniforme em toda a instalação. Termohigrometro digital Caixas de criação A criação é feita em bombonas de 200 litros de PVC, que são de fácil higienização e oferecem um micro ambiente de pouca luz, pouca ventilação e de temperatura amena, adequado ao desenvolvimento de baratas. Cobertura na caixa de criação Para tornar o ambiente interno da caixa de criação ainda mais escuro, utilizamos telhas onduline medindo 0,60m x 0,80m sobre a abertura da bombona. Esse tipo de telha é leve, flexível, lavável, e as reentrâncias permitem uma desejável renovação da atmosfera interna. A cobertura também poderá ser feita com tela de nylon tipo mosquiteiro, amarrada com fita elástica. Telhas onduline para cobertura de bombonas de criação de baratas Colmeia de pentes de ovos (abrigo) Conjunto de 6 pentes de ovos, amarrados, com folhas de papelão entre os pentes, que facilitam o manejo da colônia. São descartáveis, e devem ser trocados a cada 60 dias. Essas estruturas também aumentam significativamente a superfície interna de caixa de criação. Com uma colmeia podemos alojar até 5kg de insetos; e, com duas, até 10kg. As colmeias fornecem abrigo e conforto térmico 11. Evolução e estabilização do plantel Insetos em geral possuem uma fantástica capacidade reprodutiva. Postura numerosa e ciclo de vida curto. O emprego eficiente de tecnologia permite que se consiga uma alta produção num pequeno período e espaço físico. O resultado da produção é demonstrado em kg de insetos. O aumento da produção será acompanhado, proporcionalmente, de novas instalações. Reforma do plantel A cada conclusão de ciclo serão destinado 20kg de insetos para reposição do Plantel de Reprodução. 12. Comercialização Baratas vivas Utilizadas como alimento para diversas espécies de animais onívoros e insetívoros. Além do valor nutricional, baratas vivas são muito utilizadas no enriquecimento ambiental de animais em cativeiro, que têm seus instintos de curiosidade e caça despertados com o movimento das baratas. São excelentes como isca para pesca. Baratas são comercializadas em potes plásticos com ração e pedaços de pente de ovos. A tampa possui orifícios que permitem a ventilação, sem que haja fuga de insetos. Embalagem de venda de 50 gramas de baratas vivas (pote plástico) Baratas vivas são comercializadas em potes plásticos com tampa com furos para ventilação. Sobre a tampa é colocado lacre térmico inviolável e personalizado com a logo da empresa. O pote é acondicionado dentro de caixa de papelão, e a colocação de pentes de ovos contribui para que o pote não se mova dentro da caixa durante o transporte, e para que os furos datampa não sejam cobertos. A caixa de papelão é lacrada com fita adesiva em todas as aberturas, e a aeração necessária para os insetos ocorre através da parte de celulose (papelão) não coberta por fitas. Embalagem para venda de 1000 gramas de baratas vivas (caixas duplas de papelão) Para envio de 1000 gramas de baratas vivas, os insetos são divididos em 2 caixas, com 500 gramas cada caixa. As caixas medem 20x30x30cm, e nelas colocamos pentes de ovos e fonte de umidade. As caixas são lacradas com fita adesiva, e acondicionadas numa segunda caixa que mede 40x30x30cm, que também é lacrada, formando-se 2 barreiras antifuga. O cliente recebe junto com o produto instruções sobre como manipular os insetos após a chegada (retirada da embalagem) e como mantê-los vivos e saudáveis até que sejam utilizados. Barreiras Antifuga Existem 2 barreiras antifuga: Pote plástico (ou caixa de papelão) com lacres. Caixa de papelão lacrada com fita adesiva. Tempo de permanência na embalagem Baratas podem viver perfeitamente dentro dessas embalagens por até 7 dias, desde que não sejam expostas a temperaturas extremas, acima de 30ºC e abaixo de 15ºC. Quantidades As quantidades estipuladas para comercialização são de 50, 100, 500 e 1000 gramas de baratas vivas por recipiente plástico ou caixa de papelão. Baratas desidratadas Utilizadas para enriquecimento de rações para animais silvestres e exóticos, sendo muito palatáveis e com alto valor nutricional. A desidratação inibe o desenvolvimento microbiano, e rações especiais com insetos podem ter até 1 ano de durabilidade. Utilizamos 3kg de baratas in natura para produzir 1kg de baratas desidratadas Após o abate os insetos são desidratados por 24 horas em estufa de ventilação forçada, a temperatura de 60ºC, chegando ao nível de 6-8% de umidade no produto acabado. Conforme a espécie que irá consumi-la podem ser utilizadas baratas inteiras, farinha de baratas ou baratas reidratadas. Baratas adultas desidratadas Valor Nutricional Baratas apresentam alto valor nutricional e representam uma excelente alternativa para o incremento de rações. Seguem análises realizadas com nossos insetos desidratados no Laboratório de Nutrição Animal da UFMG. Conclusão As baratas por sua fácil multiplicação e alto valor nutricional pode se tornar um dos principais ingredientes a ser usado na dieta alimentar humana, visando o combate a desnutrição em países carentes, bem como o seu uso pode ser potencializados na alimentação animal. Um leque de alternativas se torna plausível à medida que as técnicas de criação vão se aperfeiçoando e sendo disseminadas. A contribuição deste capítulo visa desmistificar o uso desses insetos e ao mesmo tempo esclarecer sobre o seus sistemas de criação. Referências bibliográficas COSTA NETO, E.M. Introdução à etnoentomologia: considerações metodológicas e estudo de casos. 1. ed. Feira de Santana: UEFS, 2000. 131 p. 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A subfamília Apinae é composta por vinte tribos, sendo que a tribo dos Meliponini abriga todas as espécies de as abelhas sem ferrão. Esses insetos vivem em sociedade altamente organizada, com elevado número populacional e tarefas divididas por castas sociais, em que cada indivíduo possui função bem definida para garantir a sobrevivência e conservação do enxame. A maioria das espécies de abelhas utiliza o néctar e o pólen das flores para suprir suas necessidades de energia e proteína. O néctar das flores é utilizado na fabricação do mel. Hoje, além do mel, é possível explorar, com a criação racional das abelhas, outros produtos tais como pólen, cera, própolis, geleia real, rainhas, serviço de polinização, apitoxina e cerume. As abelhas sem ferrão também podem ser utilizadas na educação ambiental, turismo e paisagismo. Alguns produtores comercializam enxames e crias. Além disso, o cultivo de abelhas pode servir como potencial oferta de alimento para o homem. Segundo a FAO os insetos podem ser utilizados como reforço na alimentação de boa parte da população no futuro. Em alguns países asiáticos, as crias de abelhas (Apis spp.) são largamente consumidas, assim como uma gama de outros insetos. As larvas de abelha podem ser bastante atraentes do ponto de vista nutricional. As pupas contêm elevado teor de proteína e são ricas em vitaminas A e D. Neste texto serão abordados os sistemas de produção de abelhas com interesse e conhecimento zootécnico, apicultura (criação de abelhas europeias e africanizadas, que possuem ferrão) e meliponicultura (criação de abelhas indígenas ou nativas, sem ferrão). Apicultura A apicultura consiste no estudo e exploração racional de abelhas com ferrão. Inclui técnicas de criação, extração e comercialização do mel, própolis, geleia real, pólen, cera e apitoxina. Há ainda um mercado de produção de rainhas, colmeias utilizadas para polinização de frutas, legumes e grãos, além da possibilidade de produção de larvas para consumo humano e animal. A Apis mellifera é uma espécie exótica e é amplamente explorada em todo território brasileiro. Pode ser encontrada em ambientes urbanos, agrícolas e naturais. No entanto, sua presença é menos evidente em ambientes bem preservados, como as florestas úmidas e fechadas da Amazônia. A abelha do Brasil é um híbrido dasabelhas europeias (Apis mellifera mellifera, Apis mellifera ligustica, Apis mellifera caucasica e Apis mellifera carnica) com a abelha africana Apis mellifera scutellata. Ao sul do país predominam as características das abelhas europeias, e ao norte as características herdadas das abelhas africanas. Estas abelhas são bastante agressivas e possuem grande facilidade de enxamear. Sua alta produtividade e tolerância a doenças favoreceram o avanço tecnológico da atividade como é conhecida hoje. Organização e estrutura da colmeia As abelhas são insetos que vivem em uma sociedade muito organizada, na qual os indivíduos se dividem em três castas: rainha, operária e zangão. Cada abelha desempenha uma tarefa definida. Numa colônia, em condições normais, existe uma rainha, cerca de 5.000 a 100.000 operárias e de 0 a 400 zangões. A larva da rainha é criada num alvéolo modificado, denominado realeira. Ela é alimentada pelas operárias com a geleia real, produto rico em proteínas, vitaminas e hormônios sexuais. A rainha é a única fêmea fértil da colmeia e apresenta o aparelho reprodutor bem desenvolvido. Tem por função a postura de ovos e a manutenção da ordem social na colmeia. A vida reprodutiva da rainha inicia-se com o voo nupcial. Uma rainha pode ser fecundada por até 17 zangões, conferindo grande variabilidade genética no acasalamento. Os zangões morrem depois da cópula. O sêmen é armazenado num reservatório especial denominado espermateca. Esse estoque de sêmen será utilizado para a fecundação de óvulos durante toda a vida da rainha. Três a sete dias depois do voo nupcial a rainha começa a pôr os ovos. Em alguns casos, as operárias podem produzir ovos, embora não fertilizados, e darão origem a zangões. As operárias realizam todo o trabalho para a manutenção da colmeia. Elas executam atividades distintas, de acordo com a idade, desenvolvimento glandular e necessidade da colônia. Nos primeiros cinco dias, as operárias realizam a limpeza dos alvéolos e de abelhas recém-nascidas. Do quinto ao décimo dia são chamadas abelhas nutrizes, responsáveis pela alimentação das larvas em desenvolvimento. Produzem cera para construção de favos, do décimo primeiro ao vigésimo dia. Também recebem e desidratam o néctar trazido pelas campeiras, elaborando o mel. Do décimo oitavo ao vigésimo primeiro dia, realizam a defesa da colmeia; e do vigésimo segundo dia até a morte, realizam a coleta de néctar, pólen, resinas e água, quando são denominadas campeiras. Os zangões são os indivíduos machos da colônia, cuja única função é fecundar a rainha durante o voo nupcial. As larvas de zangões são criadas em alvéolos maiores que os das larvas de operárias e levam 24 dias para completarem seu desenvolvimento de ovo a adulto. Durante seu ciclo de vida, as abelhas passam por quatro fases diferentes: ovo, larva, pupa e adulto (Figura 1). A larva passa por cinco estágios de crescimento, trocando sua cutícula após cada estágio. No final da fase larval, cinco a seis dias após a eclosão, a célula é operculada e a larva muda de posição, ficando reta e imóvel. Nessa fase, ela não se alimenta mais, tece seu casulo, sendo comumente chamada de pré-pupa. A duração de cada uma das fases é diferenciada para rainhas, operárias e zangões. A rainha pode viver até dois anos, mas sua vida reprodutiva dura, em média, em ano. As operárias vivem até 40 dias e os zangões que não acasalam podem viver até 80 dias, se houver alimento na colmeia. Durante o período de escassez de alimento as operárias costumam expulsar ou matar os zangões. Figura 1. Ciclo de vida de uma abelha Fonte: http://climatekids.nasa.gov/bees/ Colmeia racional As abelhas naturalmente constroem seus ninhos em cavidades já existentes nos ocos de árvores, fendas em rochas ou barrancos, ou em outro lugar protegido das intempéries. Em geral, esses locais dificultam o acesso à colmeia e ao mel. Assim, o homem passou a utilizar recipientes e, com o passar do tempo, caixas com estruturas que facilitassem a inspeção dos favos e a colheita do mel, sem danos para as abelhas. Em meados do século XVIII, o reverendo Lorenzo Lorraine Langstroth observou que as abelhas preenchiam com própolis os espaços inferiores a 4,7 mm e construíam favos em espaços superiores a 9,5 mm. A medida entre esses dois espaços Langstroth chamou de “espaço abelha”. Este é o espaço livre que deve ter entre as diversas partes da colmeia e por onde é possível passar duas abelhas ao mesmo tempo. Essa descoberta foi crucial para que Langstroth pudesse aperfeiçoar o modelo utilizado por Francis Huber, dando maior mobilidade aos quadros, e permitindo que estes fossem retirados das colmeias pelo topo e movidos lateralmente dentro da caixa. A colmeia racional é a peça fundamental na prática da apicultura. Existem vários modelos, sendo o mais utilizado e indicado pela Confederação Brasileira de Apicultura o modelo Langstroth (Figura 2), também conhecido como Americana ou Standart. A colmeia pode ser comprada em lojas especializadas ou fabricada pelo próprio apicultor. O espaço abelha deve ser rigorosamente respeitado. Em geral é feita de madeira de boa qualidade (cedro, aroeira, pau d’arco etc.) e deve estar bem seca para evitar eventuais deformações. Figura 2. Colmeia Langstroth. (Foto: André C. S. Pimentel) As colmeias são compostas por tampa, sobrecaixa (melgueira ou sobreninho), ninho, telas excluidoras, fundo e quadros ou caixilhos. A tela excluidora é utilizada para evitar o acesso da rainha às sobrecaixas destinadas à produção de mel. É colocada entre o ninho e a sobrecaixa. Tela excluidora de alvado (entrada da colmeia) é usada com a finalidade de evitar a saída da rainha (enxameação). Tem a mesma estrutura da tela excluidora de ninho, com dimensões adequadas para ser encaixada no alvado. Durante o transporte pode ser utilizada uma tela encaixada no alvado ou na tampa. São utilizadas telas de nylon com orifícios menores que o tamanho das abelhas. Em algumas situações o apicultor poderá utilizar um redutor de alvado, peça de madeira encaixada na entrada da colmeia que reduz o espaço livre na entrada da colmeia. Quando utilizado em períodos frios pode ajudar na termorregulação do ninho e, em exames fracos, diminui a ocorrência de saques no período de entressafra. O uso de alimentadores é recomendado durante a entressafra da florada. Existem vários modelos disponíveis, podendo ser individual ou coletivo. As colmeias são instaladas em cavaletes individuais, distantes um do outro, para evitar o contato com outra colmeia durante o manejo e evitar o contato direto com o solo. Esses suportes são feitos de madeira ou metal e devem apresentar proteção contra formigas e cupins. Os cavaletes devem apresentar uma leve inclinação em relação ao nível do solo, para evitar a entrada da água da chuva nas colmeias. A altura média da caixa em relação ao solo não deve ser inferior a 50 cm, para facilitar o manejo, evitar que o apicultor trabalhe curvado e prevenir contra ataque de animais. Colmeias muito altas dificultam o manejo e o acesso às melgueiras. Para garantir uma melhor conservação das caixas, recomenda-se pintar o lado externo com tinta de cor clara e de boa qualidade (látex). Apiário O apiário é formado por um conjunto racional de colmeias. Pode ser classificados, basicamente, em dois grupos: fixos e móveis ou migratórios. Apiário fixo O apiário fixo é caracterizado pela permanência da colmeia durante todos os meses do ano em um mesmo lugar. A escolha do local é fundamental para a manutenção da colmeia e produtividade do apiário. Mais detalhes serão abordados em planejamento e implantação de apiário. Apiário móvel ou migratório Nos apiários móveis ou migratórios as colmeias são deslocadas ao longo do ano para locais com recursos florais abundantes, ou para prestação de serviços de polinização. Em geral, as colmeias móveis são semelhantes às fixas. Entretanto, como o deslocamento da colmeia é constante, recomenda-se que sua estrutura seja reforçada, para resistir aos sucessivos carregamentos e descarregamentos.Cavaletes desmontáveis ou dobráveis vão oferecer maior praticidade no transporte, diminuir o volume de carga a ser transportada e o tempo gasto na montagem e desmontagem. É recomendado o uso de veículo com adaptações para fixação das colmeias, carregamento e descarregamento do material. A apicultura migratória apresenta como vantagem a alta produção anual e quase não há necessidade de alimentação complementar. Mas, este tipo de apiário demanda maior investimento em equipamentos, transporte e mão de obra especializada. Planejamento e implantação de Apiário A instalação do apiário requer uma análise prévia para identificar o melhor local e a viabilidade da implantação, a fim de evitar prejuízos futuros. Deve-se considerar: a qualidade e quantidade de flora apícola mais próximas, fontes naturais água, perímetro de segurança, distância de vias públicas, facilidade de acesso do apicultor e de veículos, topografia, sombreamento e proteção contra o vento. Flora apícola A disponibilidade de recursos florais em torno do apiário é, sem duvida, o item mais importante na implantação do apiário. O apicultor deve observar a presença de espécies vegetais produtoras de néctar e/ou pólen, matéria prima essencial para a manutenção das colônias e produção do mel. Além disso, o apicultor deve avaliar a densidade populacional, os períodos de floração e a distância do apiário. Essas informações são fundamentais na hora de definir o número de colmeias por área, os intervalos de revisão, e sobretudo o manejo nutricional no período de entressafra, quando há baixa ou nenhuma disponibilidade de recursos florais. A flora apícola pode ser de espécies nativas ou de culturas agrícolas. A diversidade de espécies é algo desejável. Assim, o apicultor pode incrementar o seu pasto apícola, introduzindo na área em torno do apiário espécies adaptadas à sua região, com períodos de floração diferenciados, disponibilizando recursos florais ao longo de todo o ano. As abelhas são capazes de coletar alimento com eficiência num raio de 2 a 3 km de distância do apiário, no entanto, quanto mais próximo da fonte de alimento, mais rápido será o transporte, maior o número de viagens e maior a produção. Água A água é indispensável para a manutenção dos enxames. Ela é usada para manter o microclima interno da colmeia. A água disponível deve ser de boa qualidade e estar a uma distância máxima de 500 metros do apiário; isto evita o desgaste energético e eventual enxameação. Quando não houver fonte natural de água (rios, nascentes, lagoas etc.) próximo ao apiário, é necessário instalar um bebedouro artificial, que pode ser improvisado com o uso de tambores plásticos, manilhas, pneus ou outros recipientes. No entanto, a fonte deve estar livre de contaminantes e deve facilitar o acesso das abelhas, sem competição e risco de mortalidade. É fundamental que o bebedouro esteja sempre limpo e que a água seja trocada regularmente, para evitar contaminação com matéria orgânica (folhas, gravetos, terra ou outros insetos). Perímetro de segurança O apiário deve estar localizado a uma distância mínima de 400 m de criações animais, casas, escolas, estradas, evitando situações que possam levar perigo às pessoas e animais. Áreas movimentadas devem ser evitadas, pois podem prejudicar o desenvolvimento das abelhas e despertar sua agressividade. É aconselhável que o apiário esteja a uma distância mínima de 3 km em relação a engenhos, sorveterias, fábricas de doces, aterros sanitários, depósitos de lixo, matadouros e outros locais, a fim de evitar contaminação do mel por produtos indesejáveis. Para maior segurança, o apicultor deverá utilizar placas de aviso em relação à presença de abelhas na área. Essa placa deve estar em lugar visível, escrita de forma legível e de preferência a uma distância segura em relação às colmeias. Acesso e topografia O local onde serão fixadas as colmeias deve ser seco, com frente limpa e de fácil acesso, para que o apicultor possa transportar os materiais, a produção e, eventualmente, as colmeias. Deve-se evitar locais com topografia acidentada, com objetivo de facilitar o deslocamento das abelhas, estas, que ao retornarem para a colmeia, voltam carregadas de alimento. Locais muito úmidos ou solos que dificultem a fixação adequada dos cavaletes não são indicados, pois podem levar ao tombamento das colmeias. Sombreamento e proteção contra os ventos A proteção contra altas temperaturas e ventos fortes é fundamental para a maior produtividade do apiário. A instalação do apiário em áreas sombreadas, seja ela natural (sombra de árvores) ou artificial, evita o efeito nocivo das altas temperaturas sobre a qualidade do mel e desenvolvimento normal das crias. Além disso, o sombreamento do apiário propicia um maior conforto térmico ao apicultor durante o manejo das colmeias. Quando não for possível ter uma área sombreada, aconselha-se utilizar uma cobertura sobre as colmeias para protegê-las do sol e da chuva. Os ventos fortes dificultam o voo das abelhas, resfriam a colmeia e levam a um maior gasto energético das operárias. O produtor pode utilizar quebra-ventos naturais ou artificiais para reduzir a ação dos ventos fortes sobre a colmeia. Disposição das colmeias As colmeias podem ser dispostas em linha reta, fileiras paralelas semicírculo ou outro arranjo, dependendo da área disponível. Para otimizar o trabalho do apicultor no campo, deve-se evitar a colocação das colmeias de forma muito dispersa e distante uma da outra. Em relação ao posicionamento das caixas, recomenda-se que o alvado (entrada da colmeia) esteja voltado para o sol nascente, a fim de estimular as abelhas a iniciarem mais cedo suas atividades. No entanto, em locais de vento forte deve-se considerar a direção do mesmo, e redirecionar o alvado de modo que facilite a entrada das abelhas na colmeia. Obtenção dos enxames e povoamento da colmeia Ao iniciar a atividade é importante que o apicultor utilize poucas colmeias (no máximo dez), para adaptar-se às abelhas e ao manejo. Com o passar do tempo ficará mais fácil expandir o número de colmeias. O apicultor pode comprar seus enxames em empresas especializadas ou de outros apicultores. Outra opção é capturar enxames ativos e enxames voadores por meio de caixas iscas. A caixa isca serve apenas para a captura dos enxames. Pode ser feita de madeira ou papelão. No entanto, a de papelão é mais atrativa e sua durabilidade pode ser aumentada revestindo-as com sacos plásticos ou pintando com tintas impermeabilizantes. Para atrair e capturar um enxame que se encontra de passagem, ou acabou de sair de alguma colônia, deve-se colocar no interior da caixa isca caixilhos com 1/3 de cera alveolada, e um análogo do feromônio da glândula de Nassanoff, extraído do capim limão ou capim erva cidreira, ou mesmo um pouco de mel. A caixa isca deve ter uma abertura de 10 cm2 e ser fixada em árvores ou em cima de tocos a uma altura de 1,5m a 2,0m do solo. Recomenda-se pintá-la com cores claras. Alguns dias após a acomodação do enxame, este deverá ser transferido da caixa isca para a colmeia Langstroth. Deve-se colocar os favos nos quadros da caixa definitiva. A entrada da rainha na colmeia é fundamental para permanência do enxame. Abelhas entrando naturalmente na caixa é sinal que a rainha já se encontra no interior da caixa. Para melhor aceitação das abelhas à nova caixa, o apicultor pode pincelar em seu interior uma solução de própolis ou extrato de capim limão ou capim-cidreira, ou ainda esfregar suas folhas, deixando a madeira com um odor mais atrativo para o enxame. A captura de enxames migratórios não exige a utilização de caixas isca. Esses enxames apresentam forma de cacho e estão instalados provisoriamente em árvores, postes ou telhados. Geralmente não há presença de favos. Para fazer a captura, basta pegar o cacho completo e colocar em uma caixa com quadros e cera alveolada. A caixa deve ser fechada e levada ao apiário. Na coleta de enxames fixos os favos são tirados e transferidos para a colmeia. Ao localizar o enxame,o apicultor deve aplicar bastante fumaça no local e cortar os favos, para encaixá-los na armação do quadro, e afixar com elástico ou barbante, tomando cuidado para que os favos cortados fiquem na mesma posição. Os favos com células de zangão e mel não devem ser aproveitados no enxame. A colmeia deve permanecer no mesmo local onde estava o enxame, com o alvado voltado para o mesmo lado da antiga entrada da colônia por três dias ou até que as abelhas fixem os favos transferidos. Acessórios e equipamentos para manejo do apiário A atividade apícola requer a utilização de utensílios e acessórios especiais para preparo e manejo das colmeias. O uso correto desses itens garante a produção racional e a segurança de quem está manejando as colmeias, e das próprias abelhas. A indumentária do apicultor é condição essencial para uma prática segura. É composta por macacão, botas, luvas e máscaras. O macacão deve ser de cor clara, confeccionado com brim (grosso) ou materiais sintéticos (nylon, poliéster). Pode ser uma peça única ou um composto de calça e jaleco, com elásticos nas pernas e braços, tendo a máscara já acoplada ou não. Os modelos que têm a máscara separada necessitam de chapéu de palha; outros mais modernos dispensam o seu uso. O macacão deve ser folgado, para evitar o contato do tecido com a pele do apicultor. Existem no mercado vários modelos que facilitam o manejo, pois são mais ventilados e permitem a ingestão de líquidos. As luvas podem ser confeccionadas em diversos materiais desde que sejam capazes de evitar a inserção do ferrão na pele, pois as mãos do apicultor são áreas muito visadas pelas abelhas. As botas também devem ser de cor clara e de preferência cano alto, confeccionada em borracha ou couro. Os equipamentos utilizados pelo apicultor são de extrema importância na manutenção das colmeias. O martelo de marceneiro, o alicate, o esticador de arame e a carretilha de apicultor (peça com empunhadura de madeira e parte de metal com uma roda dentada na extremidade) são utilizados para colocar o arame nos quadros e facilitar a amarração da cera no arame. O arame serve como base de sustentação e fixação das placas de cera alveolada. Recomenda-se a utilização do arame de aço inox (nº 22 ou nº 24) por ser mais resistente. Para auxiliar a fixação da cera no quadro o apicultor utiliza um incrustador elétrico de cera, aparelho que causa um leve aquecimento do arame. E para raspar a cera velha do quadro e incrustar uma nova placa de cera, pode ser utilizado um limpador de canaleta (utensílio de metal com extremidade curvada), ou ainda facas e canivetes, estes podem ser úteis em outras situações. Para abrir a caixa o apicultor precisará de um formão (espátula com uma leve curvatura na extremidade), utilizado para desgrudar a tampa, remover os quadros e raspar a própolis de peças da colmeia. No momento da abertura da caixa é indispensável a utilização do fumigador, equipamento constituído de tampa, fole, fornalha, grelha e bico de pato, com função de produzir fumaça, sendo essencial para um manejo seguro. Para remover as abelhas dos favos ou de outros locais sem machucá-las, utiliza-se um espanador apícola (pequena vassoura de mão). Devem ser fabricadas de cerdas sintéticas e de preferência cor clara. Manejo das colmeias Após instalação do apiário, o apicultor deverá realizar o manejo eficiente de suas colmeias para ter sucesso na atividade. É muito importante que ele analise de forma criteriosa uma série de práticas, tais como a quantidade de alimento disponível, a presença e a qualidade da postura da rainha, o desenvolvimento das crias, a ocorrência de doenças ou pragas, entre outras práticas frequentes na apicultura. Alguns problemas podem ser evitados se forem adotadas medidas preventivas e utilizadas as técnicas de manejo adequadas. As colmeias devem ser abertas para revisões de rotina, manejo de produção ou quando surgir alguma outra eventualidade e seja necessária a intervenção do apicultor. As revisões, quando realizadas, devem interferir o mínimo possível na atividade das abelhas, evitando desgaste do enxame, pois durante as revisões, pode ocorrer um consumo exagerado de mel, mortalidade de abelhas adultas na tentativa de defender a colônia, mortalidade de crias em razão da exposição dos quadros ao meio ambiente e interrupção da postura da rainha, além de afetar a comunicação com a fonte de alimento. A frequência e intervalo de revisão das colmeias é bastante variável. Os enxames recém-coletados podem ser revisados 15 dias após sua instalação no apiário. O apicultor deve verificar o desenvolvimento inicial e as condições dos favos. Durante as floradas, a revisão das melgueiras pode ser realizada em um intervalo de 15 dias, para verificar como está a produção de mel, a quantidade de quadros completos e operculados, e a necessidade de acrescentar ou não mais melgueiras. Nessa revisão deve-se ter o cuidado de utilizar pouca fumaça junto às melgueiras, para o que o mel não a absorva. Após o período das floradas é necessário realizar uma revisão completa no ninho. Carece verificar se existe alguma anormalidade, e é preciso preparar a colmeia para o período de entressafra. Na entressafra, as revisões são menos frequentes, realizada uma vez por mês na maioria das vezes. As revisões devem ser rápidas, o apicultor deve observar se há necessidade de alimentar as colmeias, reduzir o alvado, controlar inimigos naturais ou unir enxames fracos. Algumas medidas devem ser tomadas para um manejo mais eficiente e evitar prejuízos causados durante as revisões. É recomendado trabalhar em dias claros, com clima estável. Não se deve trabalhar em dias chuvosos. O melhor horário é entre 8 e 11 horas e das 15 às 17 horas e 30 minutos, aproveitando que a maioria das operárias está no campo em atividade de coleta. Quando for manusear as colmeias, o apicultor deve utilizar o traje adequado, em bom estado de conservação e limpeza, evitar cheiros fortes (suor, perfume) e barulho, pois podem irritar as abelhas. Deve utilizar um bom fumigador com materiais de combustão de origem vegetal, tais como, serragem, folhas e cascas secas, de modo a produzir uma fumaça branca, fria e sem cheiro forte. Não é indicado utilizar produtos de origem animal ou mineral. A revisão deve ser realizada em dupla. Enquanto um abre e vistoria a colmeia, o outro manuseia o fumigador (Figura 3). Assim, a revisão pode ser feita de forma rápida, eficiente e segura. Durante a revisão, não se posicionar na frente da colmeia, pois isto atrapalha a linha de voo das abelhas (entrada e saída da colmeia). No momento da abertura da colmeia, aplica-se um pouco de fumaça no alvado e se aguarda alguns segundos enquanto a fumaça atua sobre as abelhas. Com auxílio do formão, levanta-se um pouco a tampa e aplica-se fumaça horizontalmente sobre os quadros, e em seguida retira-se a tampa. Durante a vistoria, a fumaça deve ser aplicada regularmente e sem excesso na colmeia em que se está trabalhando e em colmeias próximas, e sempre que se observar aumento da agressividade das abelhas. Figura 3. Manejo da colmeia (Fotos: André C. S. Pimentel). Depois de aberta a colmeia, os quadros deverão ser retirados um a um pela extremidade para serem avaliados. Quadros danificados deverão ser marcados, e, se estiverem com cria, devem ser transferidos para as laterais da colmeia até o nascimento das abelhas, quando serão substituídos. Sempre observar o estado de conservação dos quadros, caixas, fundos, tampas e suportes das colmeias. Caixas danificadas devem ser substituídas para evitar ataque de inimigos naturais, pilhagem e o maior desgaste das abelhas nas atividades de defesa da colônia e de termorregulação. Ao realizar a troca dos quadros alveolados, deve-se verificar se existe alimento suficiente para que as abelhas possam continuar a construção desses favos, uma vez que a produção de cera depende da existência de um bom suprimento de açúcares na colmeia. Quando os enxames estão fracos ou falta alimento, não se recomenda a colocação de quadros novosaté que o enxame seja fortalecido e alimentado. O espaço na colmeia deve ser suficiente para o desenvolvimento da colmeia e armazenamento do alimento. Observar a presença de alimento (mel e pólen), crias (ovo, larva, pupa) e da rainha, e se sua postura está uniforme. A uniformidade da postura indica que a rainha é jovem e vigorosa. Falhas na postura podem ser indicativo de que a rainha está velha e deve ser substituída. Áreas de cria com falhas também podem ser decorrentes de doenças. A presença de realeiras indica ausência de rainha ou intenção de enxamear. Ao realizar uma revisão deve-se ter calma, mas ser ágil o suficiente para que colmeia não fique aberta por muito tempo e de modo a evitar movimentos bruscos. O tempo de exposição dos favos ao sol ou ao frio deve ser mínimo. Deve-se ainda evitar derramar mel ou alimento próximo às colmeias. Outras técnicas de manejo da colmeia deverão ser adotadas pelo apicultor quando o objetivo da criação for intensificar a produção de própolis, geleia real, pólen ou outro produto produzido pelas abelhas. Meliponicultura A meliponicultura consiste na criação de abelhas nativas sem ferrão (meliponíneos). Essas abelhas possuem o ferrão atrofiado, sendo incapazes de ferroar. Devido à grande diversidade de espécies de abelhas sem ferrão, é necessário o conhecimento sobre a biologia e comportamento da espécie de interesse. De modo geral, a meliponicultura prioriza a criação das espécies que fabricam e armazenam mel em maior quantidade. A importância das abelhas sem ferrão envolvem aspectos de biodiversidade e econômicos. Essas abelhas são sempre associadas à produção de mel, no entanto, pode-se dizer que a atividade mais importante em benefício dos seres humanos é o seu papel como polinizadoras. Essas abelhas também são utilizadas na educação ambiental, turismo e paisagismo. Existem cerca de 450 espécies de Meliponini conhecidas na fauna brasileira. Antes da indrodução da Apis mellifera no Brasil, as abelhas nativas eram as grandes responsáveis pela polinização da vegetação nativa e as únicas produtoras de mel. A exploração racional dos meliponíneos no Brasil e no mundo para a produção de mel e derivados ainda é pouco explorada comercialmente. Apesar do grande número de espécies de meliponíneos, pouco mais de 24 espécies e subespécies são criadas racionalmente para a meliponicultura. As abelhas sem ferrão são encontradas nas regiões tropicais e subtropicais da Terra. As florestas tropicais abrigam um maior número de espécies (mais de 60%). No Brasil são nativas e estão presentes em todo o território nacional, mas, algumas espécies são predominantes em determinadas regiões. Organização e estrutura da colmeia A estrutura de casta dos meliponíneos é composta por rainhas (poedeiras ou virgens), operárias e machos. As rainhas poedeiras realizam a postura dos ovos e dão origem a todas as outras castas. Elas são responsáveis pela organização da colônia. Em regra, uma colônia possui apenas uma rainha poedeira, mas há relatos de colônias com duas ou mais. As rainhas virgens estão sempre presentes nas colmeias para uma eventual substituição da rainha poedeira em caso de morte, doença ou enxameação. Os machos vivem para acasalar com rainhas virgens, mas também podem realizar alguns pequenos trabalhos, como a desidratação de néctar e a manipulação de cera. As abelhas operárias são a grande força de trabalho de uma colônia. Elas cuidam da defesa, manipulam os materiais de construção, coletam e processam o alimento. Em condições normais, algumas operarias põem ovos não fecundados que darão origem aos machos. A construção de células reais não é uma característica comum a todos Meliponineos. Essa é a grande diferença entre a tribo Melipinini e a tribo Trigonini. Em geral os Meliponini não constroem realeira. As rainhas, operárias e zangões se desenvolvem dentro de células de cria de igual tamanho. Algumas espécies de Trigonini constroem células maiores que outras, onde se desenvolvem as rainhas, enquanto outras constroem casulos reais. O ciclo de vida de uma abelha começa com a postura da rainha. A rainha virgem é fecundada por um macho durante o “voo nupcial”. Uma vez fecundada, a rainha retorna ao ninho, e estabelece uma rotina biológica de uma colônia estabelecida. As rainhas realizam a postura de ovos férteis durante um tipo de “ritual”, que envolve a rainha e as operárias. Esse ritual pode variar de acordo com o estado da colmeia. O desenvolvimento de uma abelha sem ferrão, do ovo até a abelha adulta, dura em média 45 dias, variando entre espécies. Este período pode ser mais longo para os machos e mais curto para as rainhas virgens. Após sair das células, operárias e rainhas virgens vivem em média 55 dias. As rainhas, entretanto, depois de tornarem-se rainhas poedeiras, vivem de um a três anos. As abelhas operárias realizam suas atividades de acordo com sua idade. Assim que nascem, as abelhas realizam a limpeza corporal e permanecem sobre os favos de cria produzindo cera, secretada por glândulas específicas em forma de pequenas placas brancas. Nos primeiros dias, cuidam da cria, constroem células de cria e auxiliam as atividades de postura da rainha. A partir do primeiro terço de vida, realizam a limpeza e manipulação de alimento, mas não deixam de realizar outras funções que vinham exercendo. Após o 25º dia, passam a exercer atividades no ambiente externo. Nessa fase, elas saem para o campo em busca de pólen, néctar, barro, resina (própolis) e água. A guarda da entrada é realizada antes da fase de campeiras e nessa função são chamados de sentinelas. Colmeias Os Meliponíneos constroem seus ninhos com o que encontram na natureza e também com a cera produzida por essas abelhas. Os ninhos das abelhas sem ferrão diferem de espécie para espécie (Figuras 4a, b e c). Podem ser pequenos ou grandes, e apresentam vários formatos. Algumas espécies constroem ninhos externos, aparentemente mais vulneráveis. Alguns ninhos apresentam forma de cacho, onde as células de cria ficam emaranhadas e sobrepostas. O grupo em que estão classificadas as abelhas do gênero Melipona possui um padrão de estrutura similar. A entrada dos ninhos está quase sempre no centro de uma estrutura de terra ou de geoprópolis (argila e resinas vegetais) (Prancha 1). Figura 4a. Uruçú Nordestina (Melipona scutellaris). Figura 4b. Uruçú-amarela (Melipona rufiventris). Figura 4c. Abelha-Mosquito (Plebeia sp.). Assim como na apicultura, o homem passou a utilizar caixas com o objetivo de racionalizar a criação e extração do mel. A grande diversidade de espécies de abelhas sem ferrão impossibilita a escolha de um único modelo de colmeia. No entanto, a partir de uma caixa padrão, alguns ajustes na forma e/ou dimensões das caixas, podem ser feitos em função da biologia de cada espécie de abelha. De forma geral, as colmeias são caixas retangulares, ocas, construídas com madeira. Deve-se utilizar madeiras leves, macias, resistentes, com pouco ou nenhum cheiro. Uma opção interessante é a utilização de madeira de Pinus, pois esta é de fácil acesso, manuseio e pode ser protegida com pintura externa (verniz) para maior durabilidade. Independente do modelo de caixa utilizado, recomenda-se que seja compatível com o clima de cada região, com as espécies de abelhas e com o objetivo da criação. Boas caixas devem garantir a proteção do ninho e otimizar o processo de divisão de colônias e facilitar a coleta do mel. O meliponicultor deve sempre buscar experiências locais bem sucedidas. As caixas podem ser horizontais ou verticais. As caixas horizontais são as mais tradicionais no Brasil, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Podem ser básicas, sem nenhum tipo de divisão interna, ou mais elaboradas, com divisões internas para a separação da área do ninho e armazenamento do mel. A base da caixa vertical é constituída por dois módulos principais: um inferior para abrigar o ninho e um superior, destinado ao armazenamento de alimento. O módulo específico para o armazenamento de mel oferece melhoracesso aos potes de mel e possibilita o transporte só da melgueira para fora do meliponário, preservando o ninho dos riscos e impactos durante o transporte. O modelo de colmeia “Fernando Oliveira” (Figura 5) tem sido bastante difundido e é o mais utilizado por meliponicultores. Esse modelo foi eficiente em vários projetos de criação de abelhas sem ferrão, em especial no manejo das espécies do gênero Melipona. Essa caixa é composta por fundo, divisão (sobreninho), melgueira e tampa. Na Figura 6 é possível observar a disposição geral dos elementos dentro de uma colônia, tais como potes de alimento e favos de cria. O dimensionamento ideal da largura da caixa deve levar em conta o diâmetro máximo dos favos de cria que determinada espécie é capaz de construir. O ideal é fazer a caixa 2 ou 3 centímetros maior que o diâmetro máximo dos favos de cria. Caixas com dimensões maiores devem ser construídas para espécies de favos de cria maiores, enquanto caixas menores para espécies de ninhos menores. O fundo e a divisão são projetados para abrigar o ninho; a melgueira é o espaço destinado para as abelhas armazenarem mel; e a tampa serve para proteger a colmeia. Em épocas de entressafra, quando o manejo das caixas não está focado na produção de mel, o espaço da melgueira também pode ser utilizado para a alimentação complementar ou para o controle de pragas. Figura 5. Aspecto geral da caixa Fernando Oliveira/INPA. Fonte:http://meliponários.blogspost.com.br/ Prancha 1. Diferentes tipos de entradas de ninhos (Fotos: André C. S. Pimentel). A colmeia do tipo Nordestino é horizontal e tem uma área menor destinada à cria, e é parcialmente separada por uma tábua maior, onde estão os potes de alimento. 1. Potes de alimento na melgueira; 2. Frestas para acesso das abelhas à melgueira; 3. Fundo da melgueira; 4. Favos de cria; 5. Cantoneiras do módulo de divisão; 6. Entrada. Figura 6: Disposição geral dos elementos de uma colônia dentro da caixa Fernando Oliveira. Fonte: Manual Tecnológico Mel de Abelhas sem Ferrão. Meliponário O meliponário corresponde ao local onde as colmeias dos meliponíneos são instaladas. É diferente do apiário e não existe um único padrão definido como bom meliponário. Podem ser coletivos ou com suportes individuais. A tomada de decisão depende das condições de cada local. Contudo, deve- se priorizar o conforto das abelhas e facilitar o trabalho do meliponicultor. Meliponários coletivos Neste tipo de meliponário as colmeias são instaladas nos alpendres ou varandas, próximas aos meliponicultores. Isto facilita o acesso para o manejo e evitar furtos (Figura 7). No entanto, a proximidade a luzes da casa pode enganar as abelhas, atraindo-as no meio da madrugada. Isto dificulta o acesso às caixas, que ficam no alto e precisam ser removidas para o manejo. Figura 7: Meliponário coletivo. Meliponários com suportes individuais Nesse modelo de meliponário, as colmeias são instaladas em suportes individuais, com coberturas independentes (Figura 8). As caixas não precisam ser movidas durante as atividades de manejo, o que facilita muito o trabalho do meliponicultor. Figura 8. Meliponário com suporte individual. A distância entre os suportes pode variar de 80 cm a 2 m, dependendo do tipo de abelha. E a altura dos suportes varia de 80 cm a 1m. A disposição dos suportes deve ser definida de acordo com as espécies utilizadas. Portanto, o produtor iniciante deve buscar informações sobre o comportamento das abelhas, junto aos meliponicultores experientes ou nos locais onde adquiriu suas colônias. Espécies populosas e agressivas devem ficar mais distantes umas das outras, enquanto abelhas dóceis e menos populosas podem ficar mais próximas. Planejamento e implantação de meliponário As abelhas sem ferrão são extremamente dependentes do ambiente onde vivem, pois possuem forte ligação com os recursos florais disponíveis nas diferentes regiões e climas específicos. Ao determinar o local de implantação, o meliponicultor deverá identificar as espécies presentes e predominantes na região, mapear os ninhos naturais na propriedade e nos vizinho. Além disso, carece realizar um levantamento das plantas mais frequentadas pelas abelhas. Na época de entressafra, período com menor disponibilidade de flores, o meliponicultor deverá fornecer uma alimentação complementar, que consiste basicamente em um xarope feito com açúcar e água. Neste caso, a melgueira servirá de espaço útil para o fornecimento da alimentação complementar. O produtor deve definir qual será o objetivo da criação antes da implantação do meliponário: se servirá para comercialização (mel, subprodutos ou colônias), pesquisa, polinização, preservação das espécies ou lazer; e qual o nível de produção deseja atingir, pois, meliponário com mais de 50 colmeias exige registro no IBAMA, no Cadastro Técnico Federal. O terreno do meliponário deve estar limpo, para garantir a segurança e o acesso do meliponicultor, próximo a fontes de água, ser sombreado, mas livres da cobertura de árvores com frutos grandes que possam danificar as telhas e colmeias. Evitar instalar os meliponários em áreas poluídas, próximas a depósitos de lixo, criadouros de animais e regiões de agricultura intensiva, onde o uso de agrotóxicos é realizado de forma abusiva. Escolha da espécie A escolha da espécie é fundamental para se ter sucesso na criação. O meliponicultor deve dar preferência às abelhas nativas ou que eram nativas na região onde está o meliponário, bem como as espécies procedentes de áreas vizinhas ou de ecologia compatível. Não é indicado introduzir espécies de abelhas de outras regiões. A tabela 1 lista as principais espécies criadas nas cinco regiões do Brasil para a produção de mel. Tabela 1. Principais espécies produtoras criadas nas diferentes regiões do Brasil. 1. Existem várias espécies do gênero Scaptotrigona, de diferentes regiões, chamadas “canudo” ou “tubiba”. 2. Espécies da tribo Trigonini. Fonte: Manual Tecnológico: Mel de Abelhas sem Ferrão. A diversidade de espécies de meliponíneos é grande no Brasil, por isso é fácil encontrar mais de uma espécie com o mesmo nome popular. Abelhas denominadas como “Mirim”, “Mosquito”, “Jandaíra”, “Mandaçaia” e “Uruçu” são comuns em todo o país, mas a espécie difere entre as regiões, estados ou mesmo localidades. O nome científico é a única referência segura para sabermos com que espécie de abelhas sem ferrão estamos lidando. Obtenção do enxame e povoamento A obtenção das colônias pode ser realizada de quatro maneiras: coleta direta de ninhos em áreas de vegetação nativa, resgate em áreas sujeitas a queimadas, adquirir de outros criadores ou por multiplicação artificial, neste caso quando o produtor já possua colmeias. Construção do meliponário As colmeias são colocadas em cima de cavaletes, que são estruturas de madeira utilizadas para pendurá-las. Medem 1,5m e devem ser enterrados no solo de modo que fique a uma altura confortável para o meliponicultor manejar suas colmeias. Na parte superior do cavalete é fixado um suporte para a colmeia. É recomendado colocar esponjas cortadas em tiras e ensopadas com óleo queimado, para evitar ataque de cupins e formigas. Para proteger a colmeia contra chuvas e sol intenso, aconselha-se utilizar uma cobertura sobre as colmeias. Uma boa alternativa de cobertura é um simples pedaço de telha de fibrocimento, de tamanho suficiente para proteger a caixa da chuva e auxiliar no sombreamento. Deve-se apoiar um peso em cima das telhas para evitar que caiam no chão. Manejo Não existe uma forma única e padronizada para manejar as abelhas, mas algumas técnicas têm sido utilizadas com sucesso no Brasil. A meliponicultura racional exige inspeções periódicas. No entanto, a frequência de manejo das colmeias vai depender da espécie criada, dos objetivos da criação e da época do ano. O manejo do meliponário envolve a transferência de colmeias, as inspeções, as divisões de colônias e outras atividades. O cuidado ao manusear as colônias e uso adequado das caixas garantea sobrevivência das abelhas. A inspeção das colônias recém-divididas ou transferidas deve ser feita com uma frequência diária, depois quinzenal e mensal. Colmeias de espécies que separam o espaço do ninho e do alimento permitem uma maior frequência de avaliações. Neste modelo o ninho fica menos exposto quando a caixa é aberta. Durante as inspeções, o meliponicultor utiliza algumas ferramentas para facilitar a abertura das colmeias. A chave de fenda e a espátula de aço flexível servem para separar as gavetas e remover batumes (estruturas que vedam o ninho). Também são usadas para abrir o invólucro de cerume sobre os favos de cria, quando estes são examinados. Sempre que possível essas membranas de cerume deverão ser repostas. Apenas o excesso do batume deverá ser retirado. Após a inspeção deve-se verificar se a caixa está bem vedada, para evitar a entrada de insetos inimigos. Na avaliação dos ninhos, o meliponicultor deve avaliar o tamanho da população de abelhas, o número e o tamanho dos favos de cria e a saúde da rainha. E também identificar colmeias fracas, para serem fortalecidas, e colônias fortes que possam ser divididas. No período de entressafra das floradas, a alimentação suplementar das abelhas deverá ser realizada diariamente ou uma vez por semana. A limpeza da área deve ser constante. Esta serve para eliminar entulhos naturais que se acumulam no terreno e nos telhados das colmeias e observar a presença de inimigos naturais (formigas, cupins e moscas). O manejo do meliponário inclui ainda as boas práticas de produção de mel, que envolve o processo de colheita, beneficiamento e armazenamento. Abelhas na alimentação humana O hábito de comer insetos como parte regular da dieta é uma prática comum e muito antiga realizada por diversos povos. Estima-se que mais de dois bilhões de pessoas em todo o mundo consomem insetos em suas refeições diárias. Em algumas regiões da Ásia os insetos são considerados iguarias tradicionais. As abelhas estão entre os oito insetos mais consumidos em todo o mundo. Povos nativos da Ásia, África, Austrália, América do Sul e México consomem este inseto quando ele está em seu estágio imaturo. As abelhas sem ferrão são as mais consumidas e muitos dizem que o seu sabor se assemelha ao do amendoim ou amêndoa. De maneira geral, as abelhas podem ser consumidas em qualquer estágio de desenvolvimento, no entanto, a forma de larva ou pupa é a mais indicada para o consumo humano, principalmente se forem abelhas do gênero Apis. Pode ser consumido in natura ou desidratado. O valor nutricional depende da espécie, composição da dieta consumida e do estágio de vida. A larva de Apis mellifera apresenta baixo teor de matéria seca (17,33%), alto teor de proteína, ácidos graxos e ácido glutâmico (Tabela 2 e 3). Ovos, larvas e pupas de abelhas também apresentam alto teor de vitamina A (12,44mg/100g), B2 (3,24mg/100g) e C (10,25mg/100g). Tabela 2. Valor nutricional de larvas de Apis mellifera. PB, EE, FDN, FDA, MM e EM - Proteína bruta, extrato étereo, fibra em detergente neutro, fibra em detergente ácido, matéria mineral e energia metabolizável. Fonte: Bednářová et al. (2013). Um estudo realizado por pesquisadores da Republica Tcheca avaliou a aceitabilidade de algumas espécies de insetos. Foram aplicados questionários e utilizados insetos no preparo de pratos que foram servidos em palestras e eventos educacionais. Na avaliação sensorial a abelha e gafanhoto-migratório foram os mais bem votados. A larva e pupa de Apis mellifera obtiveram pontuação máxima no critério de sabor, cheiro bom e crocância; e a razão entre qualidades negativas e positivas foi de 4:8, que foi a melhor relação de todas as espécies avaliadas. Tabela 3. Composição percentual de aminoácidos e ácidos graxos em larvas de Apis mellifera. ALA, ASP, ARG, GLU, LEU, LYS, MET e PHE - Alanina, Ácido Aspártico, Arginina, Ácido Glutâmico, Leucina, Lisina, Metionina e Fenilalanina. 14:0, 16:0, 16:1, 18:0, 18:1, 18:2, 18:3 e 20:0 - Mirístico, Palmítico, Palmitoléico, Esteárico, Oléico, Linoléico, Linolênico e Araquídico. Fonte: Bednářová et al. (2013). As abelhas são insetos muito atraentes para a entomofagia, tanto em termos de qualidade nutricional quanto de aceitabilidade pelos consumidores. Além disso, a facilidade de criação e manejo bem conhecido apresenta-se como vantagem comparativa à criação de outros insetos dos quais ainda possuem um conhecimento bastante escasso. Considerações finais A criação de abelhas é uma atividade bem atrativa do ponto de vista econômico, de fácil implantação, manejo e que pode ser praticada em pequena escala. É possível encontrar uma vasta literatura sobre o assunto. A cadeia produtiva do mel encontra-se bastante consolidada, porém ainda há outras nichos de mercado a serem explorados, sendo tão ou mais vantajosos que o mel. Bibliografia consultada APICULTURA: Manual do agente de desenvolvimento rural. Brasília: SEBRAE, 2004. (Projeto APIS – Apicultura Integrada e Sustentável). Bednářová, M.; Borkovcová, M.; Jiří, M.; Rop, O.; & Zeman, L. Edible insects – species suitable for entomophagy under condition of Czech Republic. Acta Universitatis Agriculturae et Silviculturae Mendelianae Brunensis. Vol. 64 N. 3, 2013. Bueno, J. F. Sistema automatizado de classificação de abelhas baseado em reconhecimento de padrões. 2010. 176 f. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. Camargo. R. C. Produção de mel. Sistema de produção 3.Teresina : Embrapa Meio-Norte, 2002. 138 p. 136 < http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/80709/1/sistemaproduc ao-3.PDF> Campos, L. A. O.; Peruquetti, R. C. 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No Brasil, as espécies de maior importância econômica das moscas das frutas são os gêneros Anastrepha e Ceratitis capitata, também chamadas moscas do Mediterrâneo, causadora de prejuízos à fruticultura. A mosca doméstica (Musca domestica) é conhecida pelo desenvolvimento das formas imaturas em substratos advindos da atividade antrópica. Esses substratos variam do lixo orgânico produzido em áreas urbanas até aqueles criados por práticas agriculturais, especialmente as relacionadas com o manejo e o cuidado com os animais domésticos. Além disso, essas moscas atuam como vetor mecânico e biológico de diversos patógenos causando prejuízos principalmente para a bovinocultura. Em um recente artigo da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), esses insetos foram destacados como um dos maiores potenciais para produção em grande escala, podendo ser utilizada na alimentação humana e animal. Em todo o mundo, dois bilhões de pessoas já suplementam suas dietas com insetos, por possuírem alto percentual de proteínas e minerais e trazerem benefícios ao ambiente. Os insetos são indivíduos extremamente eficientes na conversão de ração em carne comestível. Podendo, em média, converter 2 kg de ração em 1 kg de massa, enquanto que o gado bovino precisa de 8 kg de ração para produzir 1 kg de carne. Estudos realizados mostraram que em média a pupa da mosca doméstica possui 63% de proteína, 15,5% de gordura, 5,3% de cinzas e 580 kcal por grama. A quantidade de aminoácidos encontrados nos dípteros é de 44 a 56 mg, maior do que encontrado em frangos, por exemplo. A quantidade de proteína encontrada nos dípteros, de um modo geral, é de 51,72 g em 100 g de matéria seca. Segundo dados do laboratório Hidrocepe de Belo Horizonte – MG, a composição nutricional da mosca doméstica varia entre os insetos e de acordo com a alimentação fornecida durante seu desenvolvimento. Na tabela 1, é possível observar os valores nutricionais na mosca doméstica. Tabela 1. Valores nutricionais, em porcentagem (%), da mosca doméstica. Fonte: Nutrinsecta, 2013. A Federação Internacional da Indústria de Ração Animal informou que a produção mundial de ração animal foi de 720 milhões de toneladas em 2010. Sendo que os insetos podem suplementar as fontes tradicionais como soja, milho, grãos e farinha de peixe. Produtores na China, África do Sul, Espanha e Estados Unidos já estão criando grandes quantidades de larvas de moscas para uso como alimento na aquicultura e avicultura por bioconversão de resíduos orgânicos. Segundo a Huis et al., 2013, a mosca doméstica é muito eficiente na biconservação de resíduos orgânicos. Estudos realizados no Brasil também vêm mostrando o potencial dos insetos como alimentação animal, sendo já utilizadas larvas da mosca doméstica na ranicultura e estudos vem mostrando o potencial dos insetos, para avicultura e aquicultura. Na zona rural da África, as larvas são itens comumente utilizados como fonte de alimento natural para frangos. Estudos mostraram que essas larvas de Musca domestica, quando foram utilizadas para engorda de frango de corte, obtiveram resultados com alto conteúdo de energia metabolizável das larvas secas, o que pode ser explicado por seu alto conteúdo de óleo e alta proporção de ácidos graxos insaturados o que melhora a absorção dos ácidos graxos saturados. Pretorius (2011) avaliou o uso de Musca domestica em estádio larval como fonte de proteína na alimentação para a produção de frangos de corte. O estudo foi feito para investigar o valor nutritivo junto à capacidade de digestibilidade do mesmo. A análise do valor energético mostrou que ela contém energia bruta de 20,10 MJ/kg, 60,38% proteína bruta, 14,08% de gordura bruta e 10,68% de cinzas, enquanto que as pupas da mosca doméstica contém uma energia bruta de 20,42 MJ/kg, proteína bruta de 76,23%, 14,39% de gordura bruta e 7,73% de cinzas. No entanto, a criação de larvas de moscas para alimentação humana e animal deve ser feita livre de resíduos para evitar a contaminação por agentes patogênicos, e assim garantir a qualidade final do alimento e a aceitação deste produto no mercado. Mosca das frutas Mosca das frutas pertence à ordem díptera, família Tephritidae, que compreende 4.352 espécies, agrupadas em 481 gêneros. Larvas de aproximadamente 35% das espécies de tefritídeos desenvolvem-se nos frutos. Pelo elevado potencial em se reproduzir, habilidade de se dispersarem no ambiente, se adaptarem a novas plantas hospedeiras e ainda por causar danos econômicos, as moscas das frutas são consideradas pragas em muitas frutíferas, em regiões com climas de tropical a temperado. A espécie Ceratitis capitata é originária da região noroeste da África e está distribuída pela Austrália, sudeste da Ásia, Europa, América Central e América do Sul. Ataca cerca de 320 espécies de plantas hospedeiras em todo o mundo, destacando-se as famílias: Sapotaceae, Rutaceae, Anacardiaceae, Rosaceae e Rubiaceae. No Brasil foi introduzida no início do século XX, e hoje se encontra amplamente distribuída nas regiões produtoras de frutas, sendo encontrada com maior frequência nas regiões Sul e Sudeste, onde se cultiva um maior número de fruteiras. As fêmeas da mosca do Mediterrâneo (Figura 1), após a emergência, necessitam ingerir alimentos proteicos, levando de quatro a sete dias para atingir a maturidade sexual. O dimorfismo sexual é acentuado e caracterizado pela presença do ovipositor e pelo maior tamanho das fêmeas. Depois de fecundadas, as fêmeas estão aptas a ovipositar em torno de 400 ovos durante seu período reprodutivo. Estudos indicam que o período de pré-oviposição pode variar entre sete e trinta dias. A postura é feita através da perfuração do fruto pelo ovipositor e ocorre exclusivamente em frutas, sendo que o estágio de desenvolvimento do fruto influencia o desenvolvimento da prole. A oviposição ocorre, geralmente, com um ovo por ato de postura, podendo ser de um até nove unidades em cada fruto. Os ovos são fusiformes, levemente curvados, de coloração branca e medem cerca de 1 mm de comprimento. Os danos causados aos frutos são irreversíveis, pois o orifício em si causa prejuízos a eles e ainda facilita a ocorrência de doenças como a podridão parda causada pelo fungo Monilinia fructicola (Wint.). As larvas fazem galerias dentro dos frutos auxiliando a dispersão de fungos e bactérias. Botton et al. (2003) verificaram queos frutos atacados pela moscas das frutas antecipam o amadurecimento e caem precocemente. Figura 1. Adulto da mosca das frutas. Fonte: http://mipfrutas.xpg.uol.com.br/PragasDipteros.htm#mosca Ciclo de vida de Ceratitis capitata As larvas sempre passam por três instares dentro dos frutos. No último pode atingir 9 mm de comprimento. O período de desenvolvimento das larvas depende da temperatura e do tipo de alimento. A larva, ao completar o ciclo, deixa os frutos e cai no solo para transformar se em pupa. Em laboratório, a 25ºC, o período de pupa varia entre 15 a 20 dias. No campo, esse período varia conforme o local e a época do ano. No verão dura de 18 a 30 dias, enquanto que no inverno o ciclo é mais prolongado, podendo atingir até 67 dias. Com temperaturas superiores a 20ºC até no máximo 35ºC, a mosca completa o seu ciclo de vida em cerca de 30 dias (Figura 2). O período de duração do ciclo de vida das moscas das frutas depende além da temperatura e também da planta hospedeira. http://mipfrutas.xpg.uol.com.br/PragasDipteros.htm#mosca Figura 2. Ciclo biológico de Ceratitis capitata, mosca do Mediterrâneo. Fonte: Biofábrica Moscamed, 2016. Multiplicação e manutenção de Ceratitis capitata As pupas devem ser mantidas em um recipiente de dimensões de 10 cm de diâmetro por 15 cm de altura, contendo vermiculita previamente esterilizada em estufa a 100ºC, cuja função é servir de substrato. Os recipientes deverão ser mantidos à temperatura ambiente (25 a 28ºC) até a emergência dos adultos. Estes devem ser transportados até a gaiola de criação com dieta artificial e um recipiente com água destilada em posição invertida, com um chumaço de algodão no gargalo para que o algodão por capilaridade atue como fonte de água para os insetos. A gaiola de criação deverá ser construída em formato trapezoidal forrada na base maior com tela sombrite nas laterais e na base menor por madeira. No anglo de inclinação do trapézio, este deverá ser forrado com pano “voeil” e em uma das laterais deverá ser feito um orifício para manuseio da colônia (Figura 3). Figura 3. Vista frontal e lateral da gaiola de criação de C. capitata. Foto Ramon Minas. Na parte externa da gaiola deverá ser colocada uma bandeja de alumínio contendo água destilada, onde você irá recolher a postura advinda dos adultos. A postura deverá ser coletada e coada em peneira confeccionada com pano “voeil”. Posteriormente, as posturas deverão ser imersas em solução de hipoclorito de sódio a 1% por 30 segundos. Após essa etapa, os ovos deverão ser novamente coados em “voeil”, lavados com água destilada corrente e distribuídos em recipientes de 10 cm de diâmetro por 15 cm de altura contendo dieta artificial para larvas. Os recipientes devem ser levados à câmara climatizada a 28ºC, e após oito dias em média a dieta é colocada em peneira de malha 100 mm e lavada em água corrente, até que na peneira restem somente as larvas em estágio L3, as quais devem ser depositadas em um recipiente contendo vermiculita, para que seja iniciado um novo ciclo. Mosca doméstica Musca domestica Linnaeus, 1758, pertence à ordem Diptera, família muscidae, também conhecida como mosca comum ou mosca caseira. É uma espécie cosmopolita, sua dispersão e distribuição pelo mundo foram favorecidas pela capacidade da espécie em se adaptar às transformações do ambiente natural causadas pelo homem. Além disso, possui habilidade de proliferar no meio urbano e no meio rural. Nas cidades, sua infestação causa incômodos e danos para a população, tanto nas residências quanto nos locais de trabalho. No meio rural, atua como vetor de uma série de agentes patogênicos. Além disso, possui uma relação forética com os ovos da mosca do berne (Dermatobia homonis). A mosca doméstica (Figura 4) é uma espécie que tem sido apontada como responsável pela transmissão de mais de 60 categorias de patógenos para o homem, animais domésticos e silvestres. Sendo assim, tem grande relevância médico-sanitário. Possui ocorrência, distribuição e predominância em áreas urbanas e rurais, sendo favorecidas pela capacidade de se desenvolver em praticamente todos os tipos de matéria orgânica em fermentação. Nas zonas rurais estão presentes nas fezes de equinos, bovinos e suínos, nos produtos das granjas de aves poedeiras e restos de ração animal. Nas zonas urbanas, podemos encontrar nas fezes humanas, fossas abertas e aterros sanitários. Figure 4. Adulto de mosca doméstica, Musca domestica Linnaeus. Fotografia feita por Jim Kalisch, University of Nebraska-Lincoln. Ciclo de vida de Musca domestica Cada fêmea é capaz de depositar, em média, 120 ovos a cada postura, sendo que esta se repete cerca de seis vezes durante a sua vida, cuja duração oscila entre 15 e 70 dias. O acasalamento e as posturas ocorrem de 3 a 20 dias após a emergência do adulto. E nas regiões tropicais existe um grande número de gerações anuais. De acordo com a temperatura, o desenvolvimento embrionário e a consequente eclosão das larvas, são verificados entre oito e vinte e quatro horas. O desenvolvimento larval se dá em matéria orgânica fermentada. Essas larvas passam por duas ecdises com a presença de três estágios larvais que se processam entre três e sete dias. Antes de completar seu estágio larval, as larvas abandonam o local de criação, param de se alimentar e enterram-se no solo ou outro substrato para passarem a forma de pupa. Após um período de três a seis dias, em temperaturas ambientes elevadas, a mosca adulta emerge do pupário se utilizando da bolsa ptilinal, estrutura que se everte da parte frontal da cabeça, acima das antenas. No período de temperaturas mais amenas, a fase pupal pode se prolongar por várias semanas. O ciclo completo de ovo a adulto, dura em média de 10 a 14 dias (Figura 5). Figura 5. Representação do ciclo biológico de Musca domestica. Fonte: Lamb, 2016. Métodos de coleta e manutenção de Musca domestica Os métodos de coleta de exemplares da Mosca doméstica se utilizam de puçá (Figura 6) para coleta direta das moscas sobre substratos ou armadilhas. O método mais utilizado e com a armadilha de Bishop. Figura 6. Coleta direta de dípteras sobre substrato utilizando puçá. Fonte: Brito et. al., 2008. A armadilha de Bishop consiste em utilizar uma lata de alumínio com capacidade aproximada de 450 g com aberturas laterais possuindo cerca de 3 cm de altura por 5 cm de largura. A lata deve ser pintada de tinta fosca preta e se adaptar na parte interna um funil feito de tela de nylon, o qual irá conduzir as moscas para um saco plástico ou vidro acoplado à lata (Figura 7). Figura 7. Representação esquemática da armadilha tipo Bishop utilizada para coleta de moscas. Fonte: Brito et. al., 2008. Com relação à manutenção de M. domestica, as moscas devem ser mantidos em gaiola de madeira telada (30 x 30 x 30 cm) (Figura 8), e alimentados com leite em pó e açúcar na proporção de 1:1. Além disso, um algodão embebido em água deverá também permanecer no interior da gaiola para suprir a necessidade de líquidos, o qual deverá ser trocado periodicamente para que não ocorra o desenvolvimento de fungos e bactérias. Para a obtenção de gerações subsequentes, deve-se utilizar o mesmo meio para postura e para o desenvolvimento larval, o qual consiste de uma mistura homogênea de farelo de trigo e farinha de carne na proporção de 3:1, que deverá ser umedecida com água até a obtenção de um meio com consistência próxima ao pastoso. O referido meio deverá ser distribuído em placas de Petri e assim deverá ser colocado no interior das gaiolas de criação para que ocorra a oviposição. Os meios de oviposição devem ser substituídos a cada 24 horas e colocado em frascos de vidro de aproximadamente 550 cm3 completando-se com aproximadamente 200 g do meio. Figura 8. Gaiola telada para criação de dípteras em laboratório vista frontal e lateral onde se observam as placas de Petri contendo alimentação, meio de oviposição e água. Uma segunda metodologia de criação também pode ser utilizada para criação da mosca doméstica. O procedimentoconsiste em utilizar um suporte de barras de ferro de construção. Como alimento para as larvas de moscas, pode se usar esterco úmido de porco, galinha, cavalo, gado, coelho, entre outros, ou a combinação desses estercos. Também pode se usar restos de ração, restos de alimento ou carcaças. Após o preparo das estruturas, deve-se colocar o alimento úmido sobre a tela em camada de 3 a 5 cm. Imediatamente depois, será possível observar que as moscas serão atraídas pelas fezes. Mas, se for usar ração, restos de alimento ou carcaças, o material se tornará atrativo após a fermentação. Em 12 a 24 horas, após a postura, ocorre o nascimento das larvas. Essas levarão 3 a 6 dias alimentando-se, período este em que ocorrerão as ecdises. Após completarem seu desenvolvimento, as larvas procuram passar para a parte mais profunda do material de criação, onde irão ser coletadas numa estrurura de madeira . Nesse caso, a função é impedir que as larvas atinjam o solo onde iriam formar as pupas. É importante manter o seu alimento sempre úmido e a colocação de novas camadas a cada 3 a 4 dias (se for colocar carcaça, isso dependerá do consumo da carcaça anterior), sendo assim irá permitir a continuidade da oferta de larvas. É necessário suspender a criação 10 a 12 dias antes na finalização de um lote para evitar que ocorra a criação de moscas pelo não consumo das larvas. No caso do esterco de gado e cavalo, esses produtos podem ser mais atrativos para postura das moscas quando os animais recebem suplementação no cocho (farelados, frutos, raízes etc.). Já para utilização de resíduos de alimento, há a necessidade de se colocar uma base de palhada ou maravalha para reter o excesso de água. Para as carcaças, o procedimento é esquartejar as vísceras e perfurá-las. Em seguida, elas deverão ser colocadas sobre leito de maravalha e cobertas com camada fina de maravalha. No entanto, essas carcaças somente poderão ser usadas quando a criação ficar distante de habitações, pela possibilidade de apresentarem maus odores. Figura 9. Estruturas para criação de larvas e mosca: A - bandeja com fundo telado, B - bandeja com fundo de madeira, C - estrutura metálica para suporte das bandejas, D - conjunto das estruturas. Fonte: Pedroso-de-Paiva, 2001. Referências Bibliográficas Achado, A. E., Salles, L. A. B.; Loeck, A. E. 1995. Exigências térmicas de Anastrepha fraterculus (Wied.) e estimativa do número de gerações em Pelotas, RS. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, Jaboticabal, 24: 573-579. Biofábrica Moscamed Brasil. 2016. Site: http://www.moscamed.org.br/ciclo_de_vida.html. Acesso em: 29 de junho de 2016. Botton, M. 2003. Novas alternativas para o monitoramento e controle de Anastrepha fraterculus (Wied 1830) em fruteiras temperadas. In: Encontro Nacional sobre Fruticultura de Clima Temperado, 5, 2002, Fraiburgo,SC. 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Apresentação O Tenebrio gigante é uma espécie de besouro (Coleoptero), que há décadas vem sendo criado em cativeiro para a utilização da fase larval como alimento para animais e humanos. Trata-se de um inseto com alto valor nutricional, que pode ser utilizado vivo ou na forma desidratada. Chegam a 50 mm de comprimento (o dobro do Tenebrio comum) e por isso