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ISBN 978-65-5821-234-8 9 786558 212348 Código Logístico I000987 Ergonom ia, saúde e segurança ocupacional Caroline M artinello Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Caroline Martinello IESDE BRASIL 2023 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2023 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: August_0802/shutterstock 23-82966 CDD: 620.82 CDU: 331.101.1 CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ M335e Martinello, Caroline Ergonomia, saúde e segurança ocupacional / Caroline Martinello. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2023. Inclui bibliografia ISBN 978-65-5821-234-8 1. Ergonomia. 2. Segurança do trabalho. 3. Saúde ocupacional. I. Título. Gabriela Faray Ferreira Lopes - Bibliotecária - CRB-7/6643 14/03/2023 17/03/2023 Caroline Martinello Mestra em Ciências da Saúde pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc). MBA em Ergonomia pela Faculdade Inspirar. Graduada em Fisioterapia pela Unesc. Fisioterapeuta do trabalho, consultora e palestrante sobre saúde no trabalho e ergonomia. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Introdução à saúde e segurança do trabalho 9 1.1 História da saúde e segurança do trabalho (SST) 10 1.2 Percepção de risco 14 1.3 Comportamento no ambiente de trabalho 21 1.4 Perigo x risco 23 1.5 Classificação dos fatores de risco ocupacionais 26 2 Fundamentos da ergonomia 40 2.1 História e conceito da ergonomia 40 2.2 Tipos de ergonomia 46 2.3 Iniciando a ergonomia nas empresas 52 3 Análise e avaliação ergonômica 57 3.1 NR-17 – Ergonomia 57 3.2 Fatores de riscos avaliados pela ergonomia 60 3.3 Realizando uma análise ergonômica 68 4 Ações de saúde e segurança do trabalho nas empresas 73 4.1 Medidas de controle 74 4.2 Gestão de riscos 89 4.3 Doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho (DORT) 93 4.4 Doenças psicossociais e cognitivas 98 4.5 Saúde do trabalho x produtividade 103 Resolução das atividades 106 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! Tratar de ergonomia, saúde e segurança ocupacional é uma tarefa que abrange várias áreas de estudo: biomecânica, antropometria, saúde geral, saúde mental, métricas de móveis e equipamentos, fisiologia humana, entre tantas outras áreas que perceberemos ao longo desta obra. No primeiro capítulo adentraremos a história da saúde e segurança do trabalho, um assunto bem interessante que nos mostrará como tudo surgiu e por que tanto se fala que o trabalho gera doenças. Com esse entendimento, abordaremos assuntos específicos da saúde do trabalhador, como a percepção de riscos, o comportamento seguro no ambiente de trabalho, os conceitos de perigo e risco e quais as classificações mais conhecidas dos fatores de riscos ocupacionais. Finalizaremos entendendo a grande importância das ações preventivas e da responsabilidade de todos dentro das empresas. Já no segundo capítulo trataremos da ergonomia, sua história, quais são os tipos de ergonomia habitualmente conhecidos e como um ergonomista pode entrar em uma empresa para prestar seus serviços. Esses são temas bem amplos e que nos nortearão no mundo da ergonomia. No terceiro capítulo, um capítulo mais prático e exemplificativo – aprenderemos como realizar uma análise ergonômica. Aqui, usaremos a norma regulamentadora que todo ergonomista precisa conhecer muito bem: a NR-17. Aprenderemos com ela a identificar os fatores de risco que um ergonomista precisa avaliar e como fazer isso de acordo com cada ponto da avaliação. Passaremos pelos fatores avaliados pela ergonomia, como os fatores biomecânicos, organizacionais, mobiliários e ambientais. Então, ao final, realizaremos uma avaliação ergonômica com base em um exemplo que praticamente toda empresa possui, ajudando-nos a entender de maneira prática como é o trabalho de um ergonomista. APRESENTAÇÃOVídeo 8 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional No quarto e último capítulo veremos as ações de saúde e segurança do trabalho nas empresas, com uma abordagem prática cheia de exemplos, por meio da qual aprenderemos a identificar os perigos laborais e como evitá-los. Também incluiremos as medidas de controle para os riscos, como ruído, calor, frio, iluminação e agentes químicos. Depois, para aprendermos a identificar e controlar esses riscos, discutiremos sobre gerenciamento de riscos, tema muito importante e imprescindível dentro das empresas. Na sequência, aprofundaremos um tema muito encontrado nas empresas: as doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho (DORT). Esse assunto será abordado para trabalhadores que atuam tanto presencial quanto remotamente (home office). Por fim, estabeleceremos uma correlação entre a saúde no trabalho e a produtividade da empresa para um melhor entendimento da grande importância desses conhecimentos abordados neste livro. Bons estudos! Introdução à saúde e segurança do trabalho 9 1 Introdução à saúde e segurança do trabalho As condições de saúde e segurança no ambiente de trabalho são te- mas bem importantes dentro de qualquer empresa, porém, muitas vezes, esses dados são ocultados e/ou burlados, deixando o assunto sendo con- siderado um tabu dentro das indústrias. No entanto, graças aos conhecimentos dos próprios trabalhadores, que estão cada vez mais atentos ao que é saúde e segurança do trabalho, há uma vigilância interna muito mais presente nas empresas em compa- ração ao que ocorria há tempos atrás. Ser um entendedor de saúde e segurança dentro do ambiente laboral é mais do que um dever, é uma obrigação de todos os trabalhadores, consi- derando que quem está exposto aos riscos ocupacionais são eles próprios. Sendo assim, este capítulo aborda conhecimentos básicos sobre o tema saúde e segurança do trabalho. Nele, conheceremos os principais conceitos utilizados dentro das empresas e indústrias quando o assunto é saúde e segurança do trabalho (SST). Partindo do conhecimento histórico da SST, distinguiremos quando um risco vem do ambiente de trabalho ou da falta de conhecimento sobre os cuidados que um trabalhador deve ter no ambiente ocupacional. O próximo passo é conhecermos quais os comportamentos que é preciso ter para que nenhum risco ocupacional ocorra com a saúde do trabalhador ou a do colega. Após isso, aprenderemos os dois conceitos mais importantes da SST: o perigo e o risco ocupacional. Por fim, realizaremos a classificação dos fatores de riscos ocupacio- nais, sendo esse um item importante dentro de qualquer empresa que preze pelos cuidados com a saúde. Agora, adentremos ao ambiente ocupacional com conhecimentos téc- nicos importantes e de valia, inclusive, para a vida pessoal. 10 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • entender histórica e conceitualmente a saúde e segurança do trabalho; • distinguir se o risco advém do ambientede trabalho ou da falta de conhecimento sobre os cuidados que devemos ter no ambiente de trabalho; • reconhecer quais os comportamentos devemos ter no ambiente de trabalho; • compreender o conceito de perigo e risco ocupacional; • classificar os fatores de riscos ocupacionais. Objetivos de aprendizagem 1.1 História da saúde e segurança do trabalho (SST) Vídeo Hoje, sabemos que algumas atividades de trabalho são mais pro- pensas a dar início a algumas doenças, como é o caso das doenças os- teomusculares relacionadas ao trabalho (DORT) em trabalhadores de escritório, ou então as doenças pulmonares em mineradores. Essa in- terligação entre a atividade realizada pelo trabalhador e as prováveis doenças que ele pode adquirir são de amplo conhecimento por todos e bem descritas em inúmeros livros. No entanto, essa percepção não era vista anteriormente. Confor- me o número de adoecimentos semelhantes começou a surgir em um mesmo grupo de trabalhadores, deu-se início às primeiras conexões entre doença e trabalho. Um dos primeiros estudos que temos vem de Hipócrates, o pai da medicina, que, no século IV a.C, em 370 a.C., identificou envene- namento por chumbo em trabalhadores de mineração e metalurgia. Em seus textos, Hipócrates não deixava claro a associação, porém mantinha-as como um elemento necessário para a patologia em questão (MENDES, 2013). Já no início da era cristã, Caio Plínio (23 – 79 d.C.), escritor e natu- ralista, conhecido como o Velho, sugere os primeiros equipamentos ite ch no /S hu tte rs to ck Estátua do físico Hipócrates apoiado sobre um cetro envolto por uma cobra, o que simboliza a medicina. Introdução à saúde e segurança do trabalho 11 Ivan Smuk /S hu tte rs to ck A Sych/S hu tte rs to ck A Sych/S hu tte rs to ck de proteção respiratória feitos com membranas de bexiga de ani- mais, usados para atenuar a exposição a poeiras nocivas. Essa ideia surgiu após ele visitar alguns locais de trabalho, principalmente ga- lerias de minas, nas quais identificou a exposição dos trabalhado- res ao chumbo, ao mercúrio e a poeiras (MENDES, 2013). No ano de 1700, na Itália, o médico Bernardino Ramazzini, pu- blicou o livro, considerado um marco histórico, De Morbis Artificum Diatriba (em português, Tratado sobre as doenças dos Trabalhadores). Nele, Ramazzini identificou produtos químicos, poeira e metais como agentes de doenças do trabalho. Inclusive, ele chegou a orientar al- guns médicos a fazer a seguinte pergunta aos seus pacientes: qual o seu trabalho? Dando com isso importância ao trabalho na saúde do trabalhador e ficando conhecido como o pai da medicina ocupacional (MENDES, 2013; FACAS, 2021). Já no ano de 1830, um dono de uma indústria têxtil estava ten- do grandes gastos com os adoecimentos dos trabalhadores e resol- veu chamar o seu médico particular para ir até sua empresa para conversar com os trabalhadores e descobrir o que estava aconte- cendo. Depois de conversar e visualizar os trabalhadores em seus ambientes ocupacionais, o médico propôs medidas sanitárias de hi- giene e medidas ergonômicas. Isso deu início ao surgimento do mé- dico do trabalho, uma especialização médica dentro das empresas (MENDES; DIAS, 1991). 2 1 Menino descalço operando as máquinas sem nenhum equipamento de proteção. Retrato de Caio Plínio, também chamado de Plínio, o ancião, renomado por ser tanto filósofo quanto um comandante do exército romano. 1- Ev er et t C ol le ct io n/ Sh ut te rs to ck 2 -D ar kB ird /S hu tte rs to ck 12 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Seguindo para o final do século XVIII, a Revolução Industrial propa- gou uma gama imensa de doenças e mortes nos locais de trabalho. A aglomeração humana em espaços inadequados propiciava a prolifera- ção de doenças infectocontagiosas, ao mesmo tempo que as máquinas usadas nas indústrias eram responsáveis por mutilações e até mesmo mortes (DEJOURS, 1992; MENDES, 2013). Apesar de diversos riscos em várias atividades já serem conhe- cidos nessa época, as ações preventivas eram quase que nulas. O enfoque maior era dado sempre sobre as consequências dos adoeci- mentos ou dos acidentes. Falando agora de Brasil, em 1 de maio de 1943, foi publicada a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), por meio do Decreto-Lei n. 5.452 (BRASIL, 1943). Por isso, comemora-se o Dia do Trabalho no dia 1 de maio. A CLT foi de grande importância, pois ela trouxe – em um único documento – os direitos à saúde e segurança nos ambientes ocupa- cionais. Essa lei, no entanto, era baseada em ações corretivas e não preventivas, assim como as leis de outros países. No entanto, houve atualizações dessa lei e atualmente já existem artigos dentro dela que falam sobre saúde do trabalho de maneira preventiva. No ano de 1966, foi criada a Fundação Centro Nacional de Segu- rança, Higiene e Medicina do Trabalho (Fundacentro), atualmente sob o nome Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho. Ela tem como objetivo realizar estudos, análises e pesquisas relativas à higiene e medicina ocupacional. Ela também gera relatórios e dados de pesquisas usados até hoje como referência em ações de segurança e saúde dentro das empresas. Além disso, ela é uma fundação pública vinculada ao Ministério de Trabalho e atua com (BRASIL, 1966): • o desenvolvimento de pesquisas em segurança e saúde no trabalho; • a difusão de conhecimento, por meio de ações educativas, como cursos, congressos, seminários, palestras, produção de material didático e de publicações periódicas científicas e informativas; • a prestação de serviços à comunidade e assessoria técnica a ór- gãos públicos, empresariais e de trabalhadores. O filme Tempos modernos mostra, de maneira cômica e trágica, o que ocorreu no início da Revolução Industrial com a chegada das máquinas e com a colocação do trabalhador em um ambiente hostil e sem qualquer segurança durante a realização das atividades. Devemos notar as roupas usadas, ou a falta delas, assim como a falta de equipamentos de segu- rança e, principalmente, o descaso com o bem-estar do trabalhador durante a realização das atividades. Direção: Charles Chaplin. EUA: Charles Chaplin Productions, 1936. Filme Introdução à saúde e segurança do trabalho 13 Na sequência, em 1978, o Ministério do Trabalho regulamentou as 28 Normas Regulamentadoras (NR) de Segurança e Saúde no Trabalho, publicadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) sob a Portaria n. 3.214, de 8 de junho de 1978 (BRASIL, 1978). Essas NR trouxeram medidas preventivas (MP) a serem postas em prática tanto pelas empresas quanto pelos trabalhadores. Nelas, há direitos e deveres que as empresas e os trabalhadoras devem seguir para que o mínimo de acidentes aconteça. A partir de então, todas as NR e mesmo a CLT vêm sendo atuali- zadas de tempos em tempos, gerando, assim, cada vez mais conheci- mento e ações preventivas dentro das empresas. Atualmente, há 35 NR no Brasil que auxiliam os trabalhadores e as empresas a atuarem de forma segura e preventiva. Veja a seguir a lista completa das NR. Percebam o quanto é ampla a atuação da SST e como algumas atividades, por serem mais perigosas, possuem uma NR somente para elas. NR-1 Disposições gerais e gerenciamento de riscos ocupacionais NR-3 Embargo e Interdição NR-4 Serviços especializados em engenharia de segurança e em medicina do trabalho NR-5 Comissão interna de prevenção de acidentes NR-6 Equipamento de proteção individual (EPI) NR-7 Programa de controle médico de saúde ocupacional NR-8 Edificações NR-9 Avaliação e controle das exposições ocupacionais a agentes físicos, químicos e biológicos NR-10 Segurança em instalações e serviços em eletricidade NR-11 Transporte, movimentação, armazenamento e manuseio de materiais NR-12 Segurança no trabalho em máquinas e equipamentos NR-13 Caldeiras, vasos de pressão e tubulações e tanques metálicos de armazenamentoNR-14 Fornos NR-15 Atividades e operações insalubres NR-16 Atividades e operações perigosas NR-17 Ergonomia NR-18 Segurança e saúde no trabalho na indústria da construção NR-19 Explosivos NR-20 Segurança e saúde no trabalho com inflamáveis e combustíveis NR-21 Trabalhos a céu aberto NR-22 Segurança e saúde ocupacional na mineração NR-23 Proteção contra incêndios NR-24 Condições sanitárias e de conforto nos locais de trabalho NR-25 Resíduos industriais NR-26 Sinalização de segurança (Continua) 14 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional NR-28 Fiscalização e penalidades NR-29 Norma regulamentadora de segurança e saúde no trabalho portuário NR-30 Segurança e saúde no trabalho aquaviário NR-31 Segurança e saúde no trabalho na agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e aquicultura NR-32 Segurança e saúde no trabalho em serviços de saúde NR-33 Segurança e saúde nos trabalhos em espaços confinados NR-34 Condições e meio ambiente de trabalho na indústria da construção, reparação e desmonte naval NR-35 Trabalho em altura NR-36 Segurança e saúde no trabalho em empresas de abate e processamento de carnes e derivados NR-37 Segurança e saúde em plataformas de petróleo e se sujeitar às regras impostas pela empresa. Porém, atualmente não é assim que acontece a admissão de um trabalhador. Com a evolução da consciência do que é atuar em uma empresa, foi preciso incluir atributos necessários para que uma determinada pes- soa possa trabalhar em uma empresa. Nisso são incluídos os estudos básicos de educação escolar e os conhecimentos técnicos e práticos. Na atualidade, para entrar em uma empresa é preciso muito mais do que a simples vontade. É preciso conhecimento e noções básicas sobre o que sabemos fazer de maneira especializada e que seja im- portante para a empresa, e quais os conhecimentos extras temos, como os treinamentos já realizados. Partindo desse pressuposto, po- demos ser admitidos. Com isso, ao sermos admitidos em uma determinada empresa, são necessárias algumas orientações e apresentações sobre ela. Chama- mos isso de integração. Esta é uma série de regras e cuidados que você precisa ter ao realizar suas atividades dentro de determinada empresa. Tudo isso é apresentado no primeiro dia de trabalho. Dentro da integração, descobriremos quais atividades são rea- lizadas na empresa e quais delas precisam de atenção durante a realização. É dada ao trabalhador uma série de recomendações e de treinamentos para que a sua saúde permaneça intacta do início ao fim do expediente. O vídeo Napo in Safe Start foi criado pelo estúdio Napo para dar direcio- namento às pessoas que estão começando dentro das empresas. É um ví- deo divertido que mostra como devemos ou não agir nos primeiros dias de trabalho em uma nova empresa. Disponível em: https://youtu. be/7LjTvVKLWik. Acesso em: 7 fev. 2023. Vídeo Na dy a_ Ar t/ Sh ut te rs to ck A NR-2 (sobre inspeção prévia) e a NR-27 (sobre registro profissional do técnico de segurança do trabalho) não constam na lista, pois ambas foram revogadas. Ao visualizarmos a quantidade e especificidade das NR que existem, concluímos que atuar dentro de uma empresa tornou-se uma ação de grande conhecimento técnico sobre o que é saudável e o que é perigo- so ao trabalhador e à empresa. Diferente do que ocorria, o setor SST dentro das empresas é o gran- de aliado e responsável pelos índices de produção aumentarem ou baixarem. Por isso, é importante que os profissionais do setor SST e trabalhadores, de modo geral, sejam grandes estudiosos das NR exis- tentes no Brasil, pois essas normas apresentam informações impor- tantes a serem adotados nos casos em que há exposição aos riscos ocupacionais, atuando principalmente de maneira preventiva. Por fim, entendamos que os lucros existentes em uma produção es- tão ligados à saúde do trabalhador e à saúde da empresa de modo ge- ral, pois trabalhadores saudáveis geram bons resultados na produção diária e, consequentemente, geram bons produtos dentro da empresa, os quais geram rendimentos positivos. 1.2 Percepção de risco Vídeo Entrar em uma empresa está sendo cada vez mais uma atividade de extrema especialização. Revendo toda a nossa história, para trabalhar- mos em uma empresa era somente preciso vontade, querer trabalhar https://youtu.be/7LjTvVKLWik https://youtu.be/7LjTvVKLWik Introdução à saúde e segurança do trabalho 15 e se sujeitar às regras impostas pela empresa. Porém, atualmente não é assim que acontece a admissão de um trabalhador. Com a evolução da consciência do que é atuar em uma empresa, foi preciso incluir atributos necessários para que uma determinada pes- soa possa trabalhar em uma empresa. Nisso são incluídos os estudos básicos de educação escolar e os conhecimentos técnicos e práticos. Na atualidade, para entrar em uma empresa é preciso muito mais do que a simples vontade. É preciso conhecimento e noções básicas sobre o que sabemos fazer de maneira especializada e que seja im- portante para a empresa, e quais os conhecimentos extras temos, como os treinamentos já realizados. Partindo desse pressuposto, po- demos ser admitidos. Com isso, ao sermos admitidos em uma determinada empresa, são necessárias algumas orientações e apresentações sobre ela. Chama- mos isso de integração. Esta é uma série de regras e cuidados que você precisa ter ao realizar suas atividades dentro de determinada empresa. Tudo isso é apresentado no primeiro dia de trabalho. Dentro da integração, descobriremos quais atividades são rea- lizadas na empresa e quais delas precisam de atenção durante a realização. É dada ao trabalhador uma série de recomendações e de treinamentos para que a sua saúde permaneça intacta do início ao fim do expediente. O vídeo Napo in Safe Start foi criado pelo estúdio Napo para dar direcio- namento às pessoas que estão começando dentro das empresas. É um ví- deo divertido que mostra como devemos ou não agir nos primeiros dias de trabalho em uma nova empresa. Disponível em: https://youtu. be/7LjTvVKLWik. Acesso em: 7 fev. 2023. Vídeo Na dy a_ Ar t/ Sh ut te rs to ck https://youtu.be/7LjTvVKLWik https://youtu.be/7LjTvVKLWik 16 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Após essa integração, seremos apresentados aos colegas e supervi- sores. Eles serão seus guias e – tendo qualquer dúvida – é para eles que precisaremos nos reportar. Com isso, a ideia é seguirmos ordens de execução das suas atividades de uma só pessoa e, com essa pessoa, ter um relacionamento seguro e de respeito. Tenha o seu gestor ou super- visor como um grande mentor do que fazer e do que não fazer. Ele, por ter mais experiência, será o guia durante toda a jornada. Desse modo, é ideal prestarmos atenção no que ele faz e nas suas orientações. Partindo para o dia a dia de trabalho, já teremos consciência das ati- vidades realizadas na empresa. Também saberemos, por conta da in- tegração, quais atividades são as mais perigosas. Sendo assim, alguns conceitos são de suma importância e nos ajudarão a ter mais seguran- ça e confiança durante a realização das atividades. O primeiro conceito é sobre percepção de risco, que diz respeito a “ter consciência de algum perigo que possa acontecer durante a reali- zação de alguma atividade no ambiente de trabalho e agir de maneira segura” (MENDES, 2013, p. 1659-1660). Em outras palavras, é a capacidade de identificar os riscos existen- tes no ambiente de trabalho e agir para evitar a ocorrência de aciden- tes. É, por exemplo, identificar o risco de ir para o trabalho alcoolizado, identificar o risco de não usar cinto de segurança ao utilizar um carro ou identificar o risco de dirigir em alta velocidade. Para essa percepção é preciso de alguns conhecimentos, como: conhecer a planta da empresa, o processo de produção, as pro- priedades físico-químicas dos produtos envolvidos, quais ativida- des são realizadas pelos trabalhadorese quais os processos de produção existentes. (INTERSABERES, 2014, p. 172) Portanto, é a maneira como cada indivíduo vê e avalia um risco. Isso depende inteiramente da própria subjetividade e experiência emocional. Essa consciência de percepção de risco vem dos nossos conheci- mentos adquiridos por meio de cursos, treinamentos, e dos nossos sentidos do corpo: paladar, audição, olfato, tato e visão (DANIELLOU et al., 2003). No entanto, como cada um desses sentidos nos ajudam? Ao assistirmos ao docu- mentário Percepção de risco: a descoberta de um novo olhar sobre a percep- ção de risco e mudanças climáticas, entenderemos o quão importante é o conhecimento sobre a percepção de risco em grandes catástrofes naturais. Direção: Sandra Alves; Vera Longo. Brasil: Secretária de Estado da Defesa Civil, 2012. Documentário Introdução à saúde e segurança do trabalho 17 Algumas atividades de trabalho são bem peculiares e exigem que o trabalhador prove algum tipo de substância. É o exemplo dos trabalha- dores que atuam na indústria alimentícia ou de bebidas fazendo uso do paladar. Em algum momento da produção, eles precisarão provar o que está sendo fabricado e, caso eles percebam que algo não está adequado, deverão agir para corrigir a alteração encontrada. yu su fd em irc i/S hu tte rs to ck Quando o trabalhador possui o conhecimento de como uma máquina deve emitir barulho ou ruído por meio da sua audição fica fácil identifi- car quando essa máquina está com alguma alteração. Entenda que al- guns ruídos são normais, porém a irregularidade de alguns ruídos pode esconder algo mais perigoso, como uma peça solta em uma máquina. Por isso, é importante verificar e solucionar o mais rápido possível a alteração do ruído. yu su fd em irc i/S hu tte rs to ck O uso do olfato no ambiente de trabalho auxilia na percepção de riscos, como fumaça e/ou cheiro de algum produto químico de maneira exage- rada, como em laboratórios. Ao menor sinal de alteração quanto a isso, deve-se procurar identificar de onde vem o cheiro estranho e agir de modo a controlar o risco. yu su fd em irc i/S hu tte rs to ck Por meio do nosso maior órgão do corpo, a pele, é que encontramos células que nos proporcionam a percepção do tato. Por toda a pele é possível sentir quando algo está encostado ou mesmo próximo dela. No dia a dia em uma empresa, com o tato, é possível identificar quando uma máquina está superaquecida, ou mesmo molhada, por exemplo, devido à alguma goteira no teto. Porém, tocar em tudo não é o indicado. É preciso conhecimento técnico do produto ou processo para se saber onde é possível tocar. Caso seja percebida alguma alteração, é necessá- rio identificá-la e solucioná-la o mais rápido possível. yu su fd em irc i/S hu tte rs to ck A visão mostra que algo pode estar errado no ambiente de trabalho. Por exemplo, por meio da visão, é possível identificar que um objeto caiu no chão e, caso permaneça ali, algum trabalhador pode pisar, tropeçar ou até mesmo cair. É necessário ficar atento a tudo durante as atividades e, caso seja percebido algo no lugar errado, deve-se corrigir imediatamen- te. Além disso, evitar durante sua estadia na empresa, andar de cabeça baixa ou mesmo andar olhando para os lados ou para o celular. Afinal, essas ações podem gerar grandes riscos de acidentes. yu su fd em irc i/S hu tte rs to ck 18 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Desse modo, no ambiente laboral é muito importante ter essas per- cepções, pois constantemente você estará exposto a diversos perigos. Vejamos dois exemplos sobre isso. Uma pessoa que está andando de moto, cai e quebra uma perna. A pro- babilidade dessa pessoa ver um risco nessa atividade de andar de moto é maior do que uma outra pessoa que também anda de moto, porém nunca se machucou. Logo, a percepção de risco para a pessoa que já caiu de moto é maior e, consequentemente, diferente da pessoa que nunca caiu. Por isso, a percepção de risco é dita como subjetiva. Exemplo 1 Si be ria n Ar t/ Sh ut te rs to ck an yp ix /S hu tte rs to ck Você está caminhando pela sua empresa e sente um cheiro forte de fumaça. A sua percepção de risco diz que algo pode estar queimando e imediatamente você toma uma atitu- de: vai apagar o fogo. O que você teve foi uma percepção de risco ao sentir o cheiro de fumaça e, devido a essa percepção de risco, você assume uma ação corretiva e consciente. Exemplo 2 Ainda dentro do conceito de percepção de risco, temos alguns fa- tores que diminuem a nossa percepção de risco durante a realização das atividades. Elencamos sete exemplos de atitudes que prejudicam a nossa percepção de risco (MENDES, 2013; INTERSABERES, 2014). Para ter um trabalho seguro, você não pode trabalhar com pressa ou mes- mo pulando etapas. A pressa faz com que você se esqueça das normas de segurança e das boas práticas de trabalho. Portanto, atue com cautela e calma. Exemplo 1 St ok ke te /S hu tte rs to ck Introdução à saúde e segurança do trabalho 19 A autoconfiança muitas vezes é percebida em trabalhadores que já fazem determinada tarefa há muito tempo. Isso traz uma autoconfiança que, se extrapolada, pode causar acidentes. Alguns comportamentos demostram essa autoconfiança, como é o caso do excesso de brin- cadeiras no ambiente de trabalho, a não utilização de equipamentos de proteção (EPI) ou simplesmente o descumprimento dos procedimentos de segurança. Exemplo 2 Ki ril l_a k wh ite /S hu tte rs to ck Toda atividade especial de operação de maquinários ou veículos exige habilitação para atuar. Essa habili- tação garante que o condutor tenha conhecimento necessário para atuar de maneira segura. Sendo assim, somente realize operações com habilitação adequada. Além disso, somente realize alguma atividade mediante a autorização de seu ges- tor ou supervisor. Exemplo 3 wa ve br ea km ed ia /S hu tte rs to ck Existem muitos acidentes com cor- tes de partes do corpo ou mesmo atropelamentos por máquinas in- dustriais dentro das empresas. Uma falta de isolamento faz com que o trabalhador chegue muito perto de partes perigosas de máquinas, levan- do a acidentes graves. Veja a lâmina da serra parcialmente protegida, evitando futuros acidentes ao traba- lhador. Isso é um isolamento entre a máquina e o homem, proporcionando segurança durante a atuação. Exemplo 4 Ha cK Le R/ Sh ut te rs to ck 20 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Exemplo 5 ro be rjz m /S hu tte rs to ck Ainda sobre o isolamento, mantenha distância das máquinas, das empilha- deiras e dos veículos em geral. Cuidado também ao acessar áreas destinadas às máquinas e sempre utilize as faixas e as áreas de circulação destinadas aos pedestres, como é o caso das fai- xas de segurança no trânsito. A faixa de segurança é uma área que as pessoas usam para atraves- sar a rua, na empresa ou na cidade, sendo assim já se sabe que ali terão pessoas atravessando a rua, e o condutor já espera isso. Porém, atra- vessar fora da faixa é uma ação que o condutor não está esperando e que pode gerar um grave acidente, como é o caso de atropelamentos. Exemplo 6 ch al er m ph on _t ia m /S hu tte rs to ck Desrespeitar os limites, seja ele de velocidade ou de peso, acarreta riscos. Dentro de grandes indústrias há locais específicos, nos quais há movimentação de empilhadeiras, por exemplo. Essa movimentação deve respeitar os limites de veloci- dade descritos por cada empresa. Esse respeito ao limite dá condições do operador atuar de forma segura e sem colocar em risco a sua vida ou de seus colegas. Da mesma forma, cada máquina ou pessoa possui um limite de peso/carga da qual ela suporta. Esse limite é dado pelo fabricante do equipamento e deve ser respeitado, porque uma carga além do peso indicado não terá garantia de segurança e pode provocar um grande acidente, como a quebra de um maquinário e danos no piso, gerando buracos.Já em pessoas esse dano por excesso de levantamento de peso é percebido em casos de lesões na coluna e nos ombros. Introdução à saúde e segurança do trabalho 21 Exemplo 7 Lu ci an C om an /S hu tte rs to ck Improvisar ou fazer uso de ferra- mentas e EPI inadequados à tarefa é um tipo de atitude muito comum. O que acontece é que o trabalha- dor acredita que usar algum tipo de ferramenta improvisada pode resolver sua atividade. Esse tipo de ferramenta é frequentemente a vilã de acidentes, isso porque elas não são testadas, não são feitas para suportar níveis de pressão ou de peso, ou seja, não são feitas para o devido fim utilizado. Diante disso, chame seu gestor ou supervisor e sugira a compra de alguma ferramenta que possa auxiliar sua atividade. Afinal, usar equipamentos adequados para a sua atividade evita acidentes. Um exemplo disso é o sapato inadequado que não irá proteger os dedos do traba- lhador caso caia uma ferramenta sobre seu pé ou, então, a falta da luva de proteção das mãos. Esses são alguns cuidados que precisamos ter ao atuar em uma em- presa sem ocasionar riscos a ninguém. Quem não tem percepções de risco não tem condições de escolher a maneira mais segura de agir e corre o risco de ocasionar um acidente. 1.3 Comportamento no ambiente de trabalho Vídeo O comportamento humano não é previsível, pois pessoas dife- rentes podem adotar comportamentos diferentes numa mesma situação. Porém, ele é previsível em termos de probabilidade. Al- guns comportamentos favorecem, mais que outros, os acidentes de trabalho. Portanto, ao agirmos de maneira segura diminuímos, com isso, a probabilidade de ocorrer acidentes no ambiente de trabalho (DANIELLOU et al., 2013). Então, como que seria o comportamento seguro? Para evitarmos acidentes, precisamos unir a percepção de risco ao comportamento seguro por meio dos conhecimentos sobre nossas ações, ou seja, precisamos saber o que vai fazer e o que suas ações podem gerar caso algo dê errado (DANIELLOU et al., 2013). 22 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional A seguir elencamos sete dicas para um comportamento seguro. Antes de começar qualquer tarefa, observar o local de trabalho e per- guntar: quais riscos há nesse local durante a realização da atividade a ser feita? 11 Quais medidas de segurança devemos adotar? Nelas está incluso o uso de equipamentos de proteção individual, os EPI. Cada um desses EPI tem uma função de proteger uma parte do corpo. 22 Caso haja algum acidente durante o seu trabalho, sabemos o que fazer para amenizar ou mesmo parar a causa do incidente? Por exemplo, faremos alguma atividade com fogo ou que tenha faíscas. Observe no local onde está o extintor. Além disso, sabemos o que fazer caso ocorra alguma queimadura? Se não tivermos essas respostas, devemos relatar ao gestor e pedir treinamentos ou chamar alguém com experiência para nos substituir nessa atividade. 33 Proteger os locais que podem causar algum risco. Por exemplo, prote- ger áreas das máquinas que podem ocasionar danos aos trabalhadores, como os motores; proteger áreas com produtos químicos; e isolar áreas que podem pegar fogo e áreas que podem dar choques elétricos. 44 Usar somente máquinas e ferramentas em bom estado de conservação e com as devidas manutenções em dia. Nisso está inclusa a gestão da equipe em realizar constantemente manutenções preventivas nos equipamentos, nas ferramentas e no maquinário da empresa. 55 Manter o ambiente de trabalho limpo e organizado. Um ambiente de trabalho desorganizado pode levar ao risco, pois não visualizaremos corretamente as partes do ambiente que são perigosas, possibilitando, por exemplo, quedas ou cortes. 66 Não tomar decisões por impulso. O ideal é parar, analisar e conver- sar com o gestor. Juntos é possível achar a forma mais segura de realizar a tarefa. 77 O filme Uma noite no museu mostra o quanto as ações seguras são im- portantes para que nada saia errado, abordando também as questões dos equipamentos de prote- ção individual. Direção: Shawn Levy. EUA: 20th Century Fox; Ingenious Film Partners; 1492 Pictures, 2006. Filme Por meio da produção do estúdio Napo, po- demos assistir ao vídeo Napo in... safe moves, no qual são apresentados alguns comportamentos seguros e não seguros no ambiente trabalho. Disponível em: https://youtu. be/DeVJmPMsOIw. Acesso em: 7 fev. 2023. Vídeo https://youtu.be/DeVJmPMsOIw https://youtu.be/DeVJmPMsOIw Introdução à saúde e segurança do trabalho 23 Com essas dicas junto à percepção de riscos e de comportamentos seguros, podemos evitar acidentes. 1.4 Perigo x risco Vídeo Essas duas palavras são a chave para um bom conhecimento so- bre SST. Para entendermos de forma precisa, iremos utilizar a NR-1 que relata sobre as disposições gerais e gerenciamento de riscos ocupacionais. É com base nessa norma que todas as empresas começam a atuar de modo seguro nos seus ambientes de trabalho. Ela dará todo o co- nhecimento teórico para uma atuação segura. O primeiro termo é perigo. Segundo a NR-1 (BRASIL, 1978, p. 12), esse termo é a “fonte com o potencial de causar lesões ou agravos à saúde. Elemento que isoladamente ou em combinação com outros tem o potencial intrínseco de dar origem a lesões ou agravos à saúde”. Em outras palavras, perigo é tudo aquilo que, se não houver cuida- do, pode ocasionar algum dano a você ou alguém próximo. É a fonte geradora do acidente. Fazendo uma equação para facilitar o entendimento, temos: Perigo + Atividade = Risco Ou seja, há um perigo (uma fonte potencial de acidente) somado à exposição do trabalhador a essa fonte de acidente – essa somatória pode representar um risco. Qualquer objeto, condição ou efeito com potencial de causar danos em uma determinada atividade, juntos, têm a probabilidade de causar algum acidente. Vejamos dois exemplos. A iluminação inadequada no ambiente de traba- lho pode gerar algum dano, correto? Sim, o fato de haver uma iluminação inadequada no local é caracterizado como perigo, podendo gerar algum risco ao trabalhador. Então, tudo aquilo que pode acontecer, mesmo que seja algo im- provável de acontecer, será caracterizado como um perigo, pois há a chance de algo dar errado. Exemplo 1 je hs om wa ng /S hu tte rs to ck É recomendada a leitura do item 1.1 até o item 4.4.1 da Norma Regulamentadora n. 1. Publicada originalmente em 1978, mas atualizada em 2020, essa norma é a chave principal para ser um bom agente de segurança do trabalho. Disponível em: https://www.gov.br/ trabalho-e-previdencia/pt-br/acesso- a-informacao/participacao-social/ conselhos-e-orgaos-colegiados/ctpp/ arquivos/normas-regulamentadoras/ nr-01-atualizada-2020.pdf. Acesso em: 7 fev. 2023. Leitura https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-colegiados/ctpp/arquivos/normas-regulamentadoras/nr-01-atualizada-2020.pdf https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-colegiados/ctpp/arquivos/normas-regulamentadoras/nr-01-atualizada-2020.pdf https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-colegiados/ctpp/arquivos/normas-regulamentadoras/nr-01-atualizada-2020.pdf https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-colegiados/ctpp/arquivos/normas-regulamentadoras/nr-01-atualizada-2020.pdf https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-colegiados/ctpp/arquivos/normas-regulamentadoras/nr-01-atualizada-2020.pdf https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-colegiados/ctpp/arquivos/normas-regulamentadoras/nr-01-atualizada-2020.pdf 24 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Um trabalhador atua em uma empresa de fabricação de papel. Como em todo o ambiente de trabalho há muito ba- rulho, nafábrica especificamente há o ruído causado pelo funcionamento das máquinas. Esse ruído é caracterizado como um perigo, pois ele pode ocasionar danos auditivos ao trabalhador. Exemplo 2 Ni co le ta Io ne sc u/ Sh ut te rs to ck Agora vamos ver o que a NR-1 fala sobre o que é risco, sendo ele a “combinação da probabilidade de ocorrer lesão ou agravo à saúde causados por um evento perigoso, exposição a agente nocivo ou exi- gência da atividade de trabalho e da severidade dessa lesão ou agravo à saúde” (BRASIL, 1978, p. 12). Resumidamente, risco é a combinação das chances de algo acon- tecer, caso a exposição a algum agente nocivo venha a acontecer, seja essa exposição frequente ou não; ou seja, risco é determinado pelo quanto interagimos com o perigo sem os cuidados necessários. Trazendo o Exemplo 1 sobre iluminação de volta, caso seja compro- vada a iluminação inadequada, isso é considerado um risco. Por quê? Porque uma iluminação inadequada poderá causar danos aos traba- lhadores. Quais danos? Pode ocasionar, por exemplo, cansaço nos olhos, erro de leitura devido à iluminação baixa do ambiente, e isso gera uma série de problemas futuros, ou então um tropeço, levando a pessoa a cair no chão ao caminhar em local mal iluminado. Já no Exemplo 2, sobre o ruído das máquinas de papel, só podemos considerar que o ruído é um risco a partir do momento que foram fei- tas as medições dos decibéis no ambiente de trabalho, permitindo-nos dizer se há ou não um risco nesse ambiente. Caso o nível de ruído seja alto, isso será considerado um risco ao trabalhador. E qual risco? Audi- tivo, como a diminuição da sua percepção auditiva. Existe um grupo de trabalhadores que faz todos os dias a retirada de caixas contendo frutas de um caminhão que chega na doca do supermercado e, após isso, guarda essas caixas no supermercado. Algum trabalhador pode se machucar ao manusear essas caixas? Sim, isso é um perigo, pois há uma fonte gera- dora de acidente – o manuseio de cargas. Exemplo 3 kl ya ks un /S hu tte rs to ck O vídeo Napo in risky business do estúdio Napo apresenta os riscos no trabalho e como evitá-los por meio de algumas situações-exemplo. Disponível em: https://youtu.be/ bTbonpb6hZE. Acesso em: 7 fev. 2023. Vídeo https://youtu.be/bTbonpb6hZE https://youtu.be/bTbonpb6hZE Introdução à saúde e segurança do trabalho 25 Tendo em vista o Exemplo 3, podemos nos questionar: há risco nes- se manuseio de cargas? Esses trabalhadores podem sofrer de dores nos ombros, pois as caixas são pesadas. Além disso, eles podem ma- chucar a coluna ao levantá-las. Portanto, há riscos. Tratando somente dos riscos em manusear as caixas no supermer- cado, podemos avaliar esses riscos e classificá-los como risco baixo, médio ou alto. Para isso precisamos avaliar vários fatores: o tempo de exposição a essa atividade; a distância percorrida com as caixas nos braços; o estado do piso onde eles fazem essa movimentação; se há obstáculos durante o percurso, entre outros. Depois de uma boa avaliação é que podemos falar se há risco ou não. No entanto, se a caixa ou o objeto for pequena, de fácil manuseio, o peso seja extremamente leve, o local de deslocamento é pequeno e não há obstáculos que levem esses trabalhadores a cair, podemos dizer que o risco é baixo ou mesmo inexistente. Vejamos uma comparação (Quadro 1) sobre perigos e riscos para entendermos melhor essa diferença. Quadro 1 Comparativo entre as características de perigo e risco Perigos • Fonte que pode ocasionar alguma lesão. • Condição do trabalho. • Ele é identificado. Há ou não perigo. Riscos • Exposição à fonte – então se bloqueada a exposição à fonte, o risco diminui ou ele é eliminado. • É a combinação entre a probabilidade de algo acontecer com a severidade, ou seja, o quanto grave ele é. • Classificado como baixo, médio e alto. Fonte: Elaborado pela autora. Vejamos o Exemplo 4. Ação: dirigir por um trajeto dentro da empresa usando uma empilhadeira carregada de caixas. Resultado esperado: levar as caixas até o destino com segurança. Perigos: não saber dirigir uma máquina empilhadeira (não ter o treinamento), dirigir em alta velocidade, não respeitar os locais exatos de movimentação da empilhadeira, não realizar a manutenção preventiva da empilhadeira etc. Risco: acidente de trânsito, como atropelamento ou colisão. Exemplo 4 Pr oS to ck St ud io /S hu tte rs to ck O quinto episódio da série Napo, Risky combination, mostra algumas com- binações arriscadas no ambiente de trabalho. Disponível em: https://youtu.be/ aJZdrYN0ok0. Acesso em: 7 fev. 2023. Vídeo https://youtu.be/aJZdrYN0ok0 https://youtu.be/aJZdrYN0ok0 26 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional O risco e o perigo sempre existirão juntos. Afinal, o risco existe quando o perigo está presente. Enfim, o que precisamos entender é que o risco está ligado ao com- portamento humano e a todo o suporte que a empresa dá ao trabalha- dor para que esse risco não ocorra. Agora, sobre o suporte que a empresa dá aos trabalhadores, po- demos exemplificar alguns itens: ter uma boa iluminação no local; ter um piso adequado; realizar a divisão de tarefas entre os trabalhado- res; disponibilizar equipamentos de proteção individual; disponibili- zar treinamentos sobre as atividades realizadas; entre outros tantos cuidados (ARAÚJO, 2010). Além disso, segundo Araújo (2010, p. 165), a análise de riscos nos locais de trabalho deve, necessariamente, incorporar a vivência, o conhecimento e a participação dos traba- lhadores, já que eles realizam o trabalho cotidiano e sofrem seus efeitos e, portanto, possuem um papel fundamental na identifi- cação, eliminação e controle dos riscos. Sendo assim, o modo como uma empresa é administrada condiz com as suas responsabilidades em diminuir ou até mesmo eliminar os riscos laborais. Afinal, é por meio do gerenciamento dos perigos que a empresa deve agir para minimizar ou mesmo eliminar os riscos. Uma vez que é a falta de controle dos perigos que faz com que os riscos te- nham uma maior probabilidade de ocorrer. Quando os perigos são vistos de maneira preventiva, uma fonte de perigo pode se tornar um risco aceitável e controlável. Afinal, o traba- lho dentro de uma empresa deve ser levado a sério porque quem está na linha de frente é um ser humano, é uma vida. 1.5 Classificação dos fatores de risco ocupacionais Vídeo Dentro das empresas há diversos perigos que podem levar ao adoe- cimento ou acidente do trabalhador. Conhecê-los é de extrema impor- tância por dois motivos. Lembre-se que tudo isso descrito são as fontes de algum risco que possa vir a acontecer caso o trabalhador se exponha, durante sua atividade, a esses perigos. Atenção Introdução à saúde e segurança do trabalho 27 Para poder prevenir o adoecimento do trabalhador, precisamos conhecer o que pode levar o trabalhador a tal adoecimento, quais os perigos daquele ambiente de trabalho.11 Para poder comprovar que algum acidente de trabalho ou exposição a algum agente levou ao adoecimento do trabalho, como ocorre em ações trabalhistas, precisamos saber sobre riscos ocupacionais. Nesse caso, o técnico saberá dizer se o trabalho foi ou não o causador da doença que o trabalhador possui. 22 Um outro aspecto a se observar é que os riscos podem propor- cionar efeitos de curto prazo ao trabalhador e também efeitos de longo prazo. Por exemplo, os efeitos de curto prazo podem ser um corte ao manusear uma faca durante o trabalho de abate de ani- mais. Já os efeitos de longo prazo podem vir de anos de trabalho em um local com exigência de movimentos repetitivos, como é o caso de costureiras que permanecem anos e anos sentadas, mexendo os pés e mãos em movimentos de poucas mudanças ao longo do dia. Por isso, a prevenção está cada vez mais ligada a saúde e segurança do trabalho (SST). É por meio da prevenção que os profissionais atuam para reduzir os danos do trabalho no trabalhador. Seguindo nosso raciocínio, osriscos ocupacionais possuem clas- sificações de riscos. Cada um deles é separado por cores conforme a classificação disposta a seguir. An dr ew K ra so vit ck ii/ Sh ut te rs to ck Físicos 1 Químicos 2 Biológicos 3 Mecânicos 4 Ergonômicos 5 O risco físico é a primeira classificação encontrada na NR-1 (BRASIL, 1978, p. 11), que define esse risco como “qualquer forma de energia que, em função de sua natureza, intensidade e exposição, é capaz de causar lesão ou agravo à saúde do trabalhador. Exemplos: ruído, vibra- Odua Images/Shutterstock 28 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional ções, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizan- tes, radiações não ionizantes”. É necessário fazer a avaliação quantitativa do ruído para considerá- -lo como risco, ou seja, é preciso saber quanto de ruído há no ambiente de trabalho para poder dizer se há ou não esse risco. Para Mendes (2013, p. 352), “ruído é um som indesejável e predominante em uma variedade de atividades laborais. E para se medir esses sons, podemos usar equipamentos especiais, como o decibelímetro”. Por conta disso, a medida precisa ser feita em decibéis (dB), segundo o Anexo n. 1 da NR-15 (BRASIL, 1978) e a NHO 01 (FUNDACENTRO, 2001). E como são realizadas essas mensurações? Primeiro, precisamos saber qual atividade o trabalhador executa e, então, posicionarmos o decibelímetro ao lado do trabalhador e o levarmos até próximo à sua orelha. Essa é uma medição pontual realizada para um trabalhador. In- dependente da atividade, essa medição pode ser realizada para todos os trabalhadores. Caso o trabalhador realize atividades em localização distinta, é importante avaliarmos todos os locais de atuação e, durante a descrição dessa atividade, mencionarmos exatamente em que local da empresa foram realizadas essas medições. Como base de análise, utilizamos o Anexo n. 1 (Quadro 2) da NR-15 (BRASIL, 1978), que descreve os limites de tolerância para ruído contí- nuo e intermitente durante as jornadas de trabalho para as atividades e operações insalubres, os níveis de ruídos podem variar de 85 dB até 115 dB conforme o tempo de permanência na devida atividade. Quadro 2 Limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente NÍVEL DE RUÍDO dB (A) MÁXIMA EXPOSIÇÃO DIÁRIA PERMISSÍVEL 85 8 horas 86 7 horas 87 6 horas 88 5 horas 89 4 horas e 30 minutos 90 4 horas 91 3 horas e 30 minutos 92 3 horas 93 2 horas e 40 minutos In -F in ity /S hu tte rs to ck Ilustração de um decibelímetro (Continua) Introdução à saúde e segurança do trabalho 29 NÍVEL DE RUÍDO dB (A) MÁXIMA EXPOSIÇÃO DIÁRIA PERMISSÍVEL 94 2 horas e 15 minutos 95 2 horas 96 1 hora e 45 minutos 98 1 hora e 15 minutos 100 1 hora 102 45 minutos 104 35 minutos 105 30 minutos 106 25 minutos 108 20 minutos 110 15 minutos 112 10 minutos 114 8 minutos 115 7 minutos Fonte: Brasil, 1978. Já para ambientes internos onde são executadas atividades que exi- jam manutenção da solicitação intelectual e atenção constante, o limite é de até 65dB, conforme o artigo 17.8.4.1.2 da NR-17 (BRASIL, 1978). E quais os danos que o ruído pode ocasionar aos trabalhadores? O excesso de ruído pode ocasionar danos ao aparelho auditivo, seja ele temporário ou permanente. O dano temporário é a alteração transitória do limiar auditivo, já o permanente é a perda parcial ou total da audição. Vejamos o Exemplo 1 que trata sobre esse tipo de dano. Exemplo 1 Fo to ko st ic /S hu tte rs to ck Quando você vai a um show de música e volta com aquele zumbido ou mesmo achando que está escutando menos, e no outro dia já está escutando melhor, isso é um dano temporário do aparelho auditivo. Com essa exposição repetida ao ruído, essa lesão temporária pode se tornar permanente. Além das questões de audição, o ruído pode causar outras lesões, como é o caso da irritabilidade, cefaleia (dores de cabeça), mal-estar geral e a falta de concentração (ARAÚJO, 2010). 30 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Falando sobre vibração, Mendes (2013, p. 382) diz que ela é um fenômeno “caracterizado pela oscilação de um corpo sólido em torno de uma posição de referência”. Além disso, ele também a define como Um movimento periódico repete-se igualmente em um inter- valo de tempo denominado período. A frequência do movi- mento é fornecida pelo inverso do período e, portanto, pode ser expressa como um número de ciclos do movimento por segundo. A medida da frequência em ciclos por segundo (cps) é chamada de Hertz. A vibração pode ser dividida em: vibração de mãos e braços (VMB) e vibração de corpo inteiro (VCI). A VMB ocorre nos trabalhadores que operam algum maquinário motorizado manualmente e que a vibração é absorvida pelo membro superior (mãos e braços). Por exemplo, uma britadeira, uma serra elé- trica, entre outras. E quais as lesões podem ocorrer? São elas vascu- lares, neurológicas e músculo-esqueléticas de membros superiores. Pode acontecer também a parestesia (formigamento) e lesões infla- matórias em músculos, como bursites e tendinites (MENDES, 2013; FUNDACENTRO, 2013a, 2013b). Já a VCI é a vibração absorvida ou pelo eixo central do corpo, ou pelos pés caso o trabalhador esteja de pé em cima de alguma plata- forma que vibra, ou pelo quadril caso o trabalhador esteja sentado. Por exemplo, atividades de motorista de trator, trem, caminhão, entre outros. Por consequência disso, as lesões que você pode observar são lesões musculares na coluna vertebral, a mais comum é a dor lombar. Para ambas as avaliações, conforme o Anexo n. 1 da NR-9 (BRASIL, 1978), primeiramente é necessário realizarmos uma avaliação prelimi- nar da exposição às VMB e VCI, considerando os seguintes aspectos. a) ambientes de trabalho, processos, operações e condições de exposição; b) características das máquinas, veículos, ferramentas ou equipamentos de trabalho; c) informações fornecidas por fabricantes sobre os níveis de vibração ge- rados por ferramentas, veículos, máquinas ou equipamentos envolvidos na exposição, quando disponíveis; (Continua) Introdução à saúde e segurança do trabalho 31 d) condições de uso e estado de conservação de veículos, máquinas, equi- pamentos e ferramentas, incluindo componentes ou dispositivos de iso- lamento e amortecimento que interfiram na exposição de operadores ou condutores; e) características da superfície de circulação, cargas transportadas e velo- cidades de operação, no caso de VCI; f) estimativa de tempo efetivo de exposição diária; g) constatação de condições específicas de trabalho que possam contri- buir para o agravamento dos efeitos decorrentes da exposição; h) esforços físicos e aspectos posturais; i) dados de exposição ocupacional existentes; e j) informações ou registros relacionados a queixas e antecedentes médi- cos relacionados aos trabalhadores expostos. Disponível em: https://www.gov.br/trabalho-e-previ dencia/pt-br/composicao/orgaos-es- pecificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/normas-regula- mentadoras/nr-09-atualizada-2021-com-anexos-vibra-e-calor.pdf. Acesso em: 7 fev. 2023. Caso a avaliação preliminar não seja suficiente, impedindo a to- mada de decisão quanto à necessidade de implantação de medidas preventivas e corretivas, devemos proceder à avaliação quantitativa da exposição, a qual deve seguir as NHO n. 9 e 10 da Fundacentro – assun- to esse disponibilizado para técnicos específicos dessa área. É importante ressaltarmos que a avaliação preliminar já dará muitas informações para atuarmos diariamente no seu ambiente de trabalho. Segundo as NHO n. 9 e 10 (FUNDACENTRO, 2013a; 2013b), algumas medidas já podem ser adotadas de maneira preventiva informando os trabalhadores sobre: • os riscos decorrentes da exposição à vibração em mãos e braços; • os cuidados e procedimentos recomendáveis para redução da exposição; por exemplo, dentro de condições seguras, utilizar o mínimo de força de preensão na sustentação e no deslocamento daferramenta; • buscar ajuda médica sempre que sentir nas mãos, de maneira contínua, formigamentos, dormências intensas ou dor; • as eventuais limitações de proteção das medidas de controle, sua importância e o seu uso correto; https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/normas-regulamentadoras/nr-09-atualizada-2021-com-anexos-vibra-e-calor.pdf https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/normas-regulamentadoras/nr-09-atualizada-2021-com-anexos-vibra-e-calor.pdf https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/normas-regulamentadoras/nr-09-atualizada-2021-com-anexos-vibra-e-calor.pdf 32 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional • informar seus superiores sempre que observar níveis anormais de vibração durante o uso das ferramentas. Seguindo com os riscos físicos, as radiações ionizantes são as que têm potencial para produzir a ionização dos átomos nos corpos com os quais elas têm contato. A radiação, ao atingir um átomo, tem a capa- cidade de subdividi-lo em duas partes elétricas carregadas: os íons. O exemplo mais conhecido disso é o raio X (MENDES, 2013). Si be ria n Ar t/ Sh ut te rs to ck Quem trabalha com raio X e radioterapia são pessoas potencial- mente expostas à radiação ionizante. Resumidamente, essas lesões podem ser agudas ou crônicas, localizadas ou disseminadas pelo corpo inteiro. Isso tudo depende do tipo de exposição que o trabalhador teve. A lesão aguda pode ser a radiodermite, ou seja, a queimação na pele. Já a lesão crônica é relacionada a doses menores de radiação, porém, por um período maior, pode resultar em câncer. Por isso, é tão importante que as salas de raio X sejam protegidas e isoladas, como é visto nos hospitais. Isso tudo para evitar que as pessoas que trabalham nesse tipo de ambiente sejam afetadas por essas radiações (MENDES, 2013). Já as radiações não ionizantes são aquelas que não têm poten- cial de produzir a ionização nos corpos com os quais elas têm conta- to, porém, quando absorvidas, aumentam a excitação dos átomos, Introdução à saúde e segurança do trabalho 33 aumentando sua energia interna (MENDES, 2013). Para efeitos da NR-15, as micro-ondas e os ultravioletas são consideradas radiações não ionizantes. Os raios ultravioletas vem do sol (UVA e UVB). Sendo assim, as lesões mais comuns são aquelas de pele causadas pela exposição frequente ao sol, encontradas em trabalhadores expostos ao sol em ambientes ao ar livre, sem cobertura, telhado ou abrigo. Exemplos desses traba- lhadores são os da agricultura, pecuária e florestais; os marinheiros e pescadores; os da construção civil; e os guardas de trânsito. Já as micro-ondas são produzidas em estações de radar, radiotrans- missão e em alguns processos industriais e medicinais. Causam, em sua maioria, um aquecimento localizado na pele. Outro risco é o calor, ou melhor, trabalhadores expostos a fontes de calor, sejam elas naturais ou artificiais. A fonte natural é o Sol. Já a fonte artificial vem de algum maquinário que gera o calor, como um forno, uma caldeira, uma secadora de roupa industrial, entre outros. O calor vindo de algum maquinário é um risco que obrigatoriamen- te tem que ser mensurado para que você o classifique como risco ou não. E quais as medidas precisam ser realizadas? São elas: o índice de bulbo úmido termômetro de globo médio (IBUTG) e a taxa metabóli- ca média (M). Esses dois dados irão compor um quadro de avaliação realizado pelo técnico, juntamente de outras informações descritas no Anexo n. 3 da NR-15 (BRASIL, 1978). 3.1 A caracterização da exposição ocupacional ao calor deve ser objeto de laudo técnico que contemple, no mínimo, os seguintes itens: a) introdução, objetivos do trabalho e justificativa; b) avaliação dos riscos, descritos no item 3.2 do Anexo III da NR-09; (altera- da pela Portaria MTP n.º 426, de 07 de outubro de 2021) c) descrição da metodologia e critério de avaliação, incluindo locais, datas e horários das medições; d) especificação, identificação dos aparelhos de medição utilizados e res- pectivos certificados de calibração conforme a NHO 06 da Fundacentro, quando utilizado o medidor de IBUTG; sirtravelalot/Shutterstock (Continua) 34 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional e) avaliação dos resultados; f) descrição e avaliação de medidas de controle eventualmente já adota- das; e g) conclusão com a indicação de caracterização ou não de insalubridade. Disponível em: https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-es- pecificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/normas-re- gulamentadoras/nr-15-atualizada-2022.pdf. Acesso em: 7 fev. 2023. De acordo com Araújo (2010) e Mendes (2013), quais as lesões que o calor pode trazer ao trabalhador? São elas: a desidratação ocasio- nada pelo excesso de suor; as lesões de pele, como urticária do calor; as queimaduras de pele; as câimbras, os espasmos e os edemas pelo calor; a sensação excessiva de calor; a exaustão física e mental. O próximo risco físico é o frio, ou seja, ambientes com exposição ao frio em ambientes artificiais, como câmaras frias que armazenam comida em supermercados ou indústrias de alimentos, como carne (MENDES, 2013). O que se pode esperar de lesões para esse trabalhador são as quei- maduras pelo frio; a hipotermia, que é a redução de temperatura cor- poral; e a irritabilidade das vias aéreas (ARAÚJO, 2010; MENDES, 2013). O último risco físico são as pressões atmosféricas anormais, ou seja, trabalhadores que atuam com mergulho, como trabalhadores de plataformas de petróleo e trabalhadores que utilizam câmeras pneu- máticas (MENDES, 2013). As lesões mais comuns nesse risco são (ARAÚJO, 2010; MENDES, 2013): as descompressões ou compressões muito rápidas, como o ba- rotrauma 1 ; embolia traumática; lesões dos seios da face; intoxicação por gás, como o oxigênio ou outros gases; entre outros. Por fim, para conhecimento de segurança no trabalho, esses são os principais riscos físicos encontrados nas indústrias do Brasil; apesar de existirem outros, buscamos enfatizar os riscos mais frequentes. Sobre o risco químico, que também consta na NR-1 (BRASIL, 1978, p. 12), ele é descrito como a Aniwat phromrungsee/S hu tte rst oc k Definido como uma síndrome ocasionada pela dificuldade de equilibrar a pressão no interior de uma cavidade pneumática do organismo – pode ser da orelha, dos pulmões, den- tal, gastrointestinal, entre outros –, ocorre quando a pressão do meio ambiente está em variação. 1 https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/normas-regulamentadoras/nr-15-atualizada-2022.pdf https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/normas-regulamentadoras/nr-15-atualizada-2022.pdf https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/normas-regulamentadoras/nr-15-atualizada-2022.pdf Introdução à saúde e segurança do trabalho 35 substância química, por si só ou em misturas, quer que seja em seu estado natural, quer seja produzida, utilizada ou gera- da no processo de trabalho, que em função de sua natureza, concentração e exposição, é capaz de causar lesão ou agravo à saúde do trabalhador. Exemplos: fumos de cádmio, poeira mineral contendo sílica cristalina, vapores de tolueno, névoa de ácido sulfúrico. Sendo assim, é fundamental possuirmos informações adequadas sobre as propriedades perigosas e medidas de controle desses produ- tos químicos ao longo de seu ciclo de vida, para que a produção, o transporte, o uso e a disposiçãopossam ser gerenciados adequada- mente, como um modo de proteger a saúde humana e o meio ambien- te (MENDES, 2013). Os riscos químicos podem ser absorvidos via inalação, inges- tão ou por absorção cutânea. Para avaliarmos esses riscos, alguns produtos precisam ser medidos de maneira quantitativa, para que a quantidade possa ser medida de modo exato. Já para outros produtos, basta a existência deles no ambiente de trabalho para serem classifica- dos como risco (MENDES, 2013). O grande impasse dessa avaliação é a quantidade gigantesca de produtos químicos que existem. O indicado é verificarmos a ficha técnica do produto e seguir as orientações do fabricante e, então, saber quais os efeitos desse produto no trabalhador, quais as doses deve-se usar, qual a dose letal, mecanismos de absorção e como tem que ser feito o atendimento de emergência em caso de intoxi- cação (ARAÚJO, 2010). De modo geral, segundo a orientação em Avaliação Qualitativa de Riscos Químicos (FUNDACENTRO, 2012), há lesões gerais que podem acontecer, como os danos por contato com os olhos e com a pele; os enjoos; as tonturas; e os danos respiratórios, como a sensação de abafamento. Além disso, há também na NR-15 informações que tratam das ativi- dades e operações insalubres. A terceira classificação dos riscos é o biológico, que na NR-1 (BRA- SIL, 1978, p. 11) está descrito como: marvent/Shutterstock 36 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Micro-organismos, parasitas ou materiais originados de orga- nismos que, em função de sua natureza e do tipo de exposição, são capazes de acarretar lesão o agravo à saúde do trabalha- dor. Exemplos: bactéria Bacillus anthracis, vírus linfotrópico da célula T humana, príon agente de doença de Creutzfekt-Jakob, fungo Coccidioides immitis. É fácil imaginarmos que pessoas que trabalham em laboratórios e/ ou hospitais são mais propensas a esse risco, porém isso não é exclusi- vo a esses trabalhadores. Quem atua com plantas e animais também pode sofrer com esses riscos, porque plantas e animais adoecem e po- dem contaminá-los. Outro exemplo disso são os trabalhadores de in- dústrias de alimentos e indústrias de biotecnologias. Há também os trabalhadores que atuam com limpeza de ambientes, que trabalham em serviços gerais nas limpezas de banheiros e aqueles que atuam na limpeza dos sistemas de ventilação. Os riscos biológicos podem gerar doenças contagiosas, como o vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), o vírus da Hepatite B (HBV) e o vírus da Hepatite C (HCV); intoxicações alimentares; entre outros (ARAÚJO, 2010; MENDES, 2013). Devido a essas contaminações que dentro das empresas há sem- pre diálogos de segurança acerca desses temas que tratam sobre vírus, por eles serem altamente contagiosos e poderem levar o indi- víduo à morte. A quarta classificação é o risco mecânico. Também conhecido como risco de acidentes. Por exemplo, é o armazenamento incor- pumatokoh/Shutte rst oc k M in d Pi xe ll/ Sh ut te rs to ck Introdução à saúde e segurança do trabalho 37 reto de materiais tóxicos que podem interagir com outros produ- tos e pegar fogo; a sujeira e a bagunça no ambiente de trabalho; as máquinas e os equipamentos sem proteção (INTERSABERES, 2014). Em outras palavras, é qualquer fator que coloque o traba- lhador em uma situação vulnerável e possa afetar sua integridade e seu bem-estar físico e psíquico. Na operação de máquinas, o risco de acidentes é apresentado de duas maneiras (MENDES, 2013). O ponto de operação no qual se processa a transformação da peça tra- balhada, seja corte, dobra, moldagem, entre outros.11 Sistemas de transmissão nos quais há a transferência de energia me- cânica para os elementos da máquina realizarem a operação, tais como roldanas, polias, correias, volantes, entre outros. 22 As lesões mais comuns encontradas são cortes, lacerações, amputa- ções, perfurações, choques, entre outros (MENDES, 2013). Por fim, os riscos ergonômicos são todo fator que possa interferir nas características psicofisiológicas do trabalhador, causando descon- forto ou afetando diretamente sua saúde (COUTO; COUTO, 2020). Em outras palavras, os riscos ergonômicos são itens que afetam o bem-es- tar dos trabalhadores, tanto itens físicos, mentais ou organizacionais (INTERSABERES, 2014). bs d st ud io /S hu tte rs to ck Uma má postura devido ao tipo de maquinário disponibilizado ao trabalhador. Um mobiliário ruim, que não permite ajustes de altura ao trabalhador. Um ritmo excessivo de trabalho. Necessidade de levantamento de peso durante o trabalho. Necessidade de realização de ações musculares repetitivas durante a realização de uma ação. Nesse aspecto ergonômico, os danos se dão das mais variadas ma- neiras, entre elas temos (MENDES, 2013; COUTO; COUTO, 2020): No vídeo feito pelo estúdio Napo, Napo in... Dust at work, vemos vários exemplos de poeiras que podem prejudicar o trabalhador durante suas atividades e quais cuida- dos devemos ter. Disponível em: https://youtu.be/ zsyPtsmV7XA. Acesso em: 7 fev. 2023. Vídeo https://youtu.be/zsyPtsmV7XA https://youtu.be/zsyPtsmV7XA 38 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional • os danos posturais como lesões em coluna são comumente encontrados; • os danos psicossociais, atualmente em grande visibilidade devido ao grande número de atestados médicos por Burnout, estresse no trabalho, cansaços mentais e assédios no trabalho; • as lesões em braços e coluna devido ao excesso de peso manu- seado pelo trabalhador e/ou falta de equipamentos que o auxi- liem na realização das atividades; • as mais variadas lesões inflamatórias em dedos, mãos, punhos, principalmente pela repetitividade das ações em uma produção. Desse modo, os riscos ergonômicos estão presentes no compor- tamento humano e no processo produtivo da empresa, além dos as- pectos mobiliários, das ferramentas, dos equipamentos e do conforto tanto luminoso quanto térmico. CONSIDERAÇÕES FINAIS É por meio da intensidade ou mesmo da concentração dos riscos encontrados no ambiente de trabalho somados ao tempo de exposição que esses riscos causarão danos leves ou graves à saúde do trabalhador. Os cuidados com a prevenção desses riscos são o ponto-chave relacionado à saúde e segurança do trabalho (SST). Com isso, enten- der como o trabalho funciona, ou seja, ter conhecimento técnico e saber quais as medidas de controle para os riscos desse trabalho são considerados os melhores mecanismos de defesa que temos para os ambientes laborais. Desse modo, agir de forma responsável e segura é dever de todo tra- balhador, assim como é dever da empresa proporcionar todos os meios e medidas que atenuem a exposição aos riscos, como é o caso dos equipa- mentos de proteção individual (EPI). ATIVIDADES Atividade 1 Descreva no mínimo três comportamentos que atrapalham a nossa percepção de risco. No segundo episódio da série Napo, Job rotation, vemos algumas das ações que geram dores muscu- lares aos trabalhadores. Disponível em: https://youtu.be/ zaGvb7qiAZg. Acesso em: 7 fev. 2023. Vídeo https://youtu.be/zaGvb7qiAZg https://youtu.be/zaGvb7qiAZg Introdução à saúde e segurança do trabalho 39 Atividade 2 Descreva dois comportamentos seguros que você deve ter ao trabalhar em uma empresa. Atividade 3 Como são classificados os riscos ocupacionais? Cite pelo menos um exemplo de cada tipo. REFERÊNCIAS ARAÚJO, W. T. Manual de segurança do trabalho. 1. ed. São Paulo: DCL, 2010. BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1 de maio de 1943. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Rio de Janeiro, 9 ago. 1943. BRASIL. Lei n. 5.161, de 21 de outubro de 1966. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 out. 1966. BRASIL. Portaria n. 423, de 7 de outubro de 2021. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 7 out. 2021. BRASIL. Portaria n. 3.214, de 8 de junho de 1978. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 6 jul. 1978. COUTO, H. A.; COUTO, D. C. Ergonomia 4.0: dos conceitos básicos à 4ª Revolução Industrial.1. ed. Belo Horizonte: Ergo, 2020. DANIELLOU, F. et al. Fatores humanos e organizacionais da segurança industrial: um estado de arte. Toulouse: Foncsi, 2013. DEJOURS, C. A loucura do trabalho: estudo de Psicopatologia do trabalho. 5. ed. São Paulo: Cortez, 1992. FACAS, E. P. PROART: riscos psicossociais relacionados ao trabalho. Porto Alegre: Fi, 2021. FUNDACENTRO – Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho. Avaliação qualitativa de riscos químicos: orientação básica para controle da exposição a produtos químicos. Brasília, DF: Fundacentro, 2012. FUNDACENTRO – Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho. NHO 01: avaliação da exposição ocupacional ao ruído. Brasília, DF: Fundacentro, 2001. FUNDACENTRO – Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho. NHO 06: avaliação da exposição ocupacional ao calor. Brasília, DF: Fundacentro, 2017. FUNDACENTRO – Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho. NHO 09: avaliação da exposição ocupacional a vibrações de corpo inteiro. Brasília, DF: Fundacentro, 2013a. FUNDACENTRO – Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho. NHO 10: avaliação da exposição ocupacional a vibrações em mãos e braços. Brasília, DF: Fundacentro, 2013b. INTERSABERES (org.). Saúde e Segurança. 1. ed. Curitiba: InterSaberes, 2014. MENDES, R.; DIAS, E. C. Da medicina do trabalho à saúde do trabalhador. Revista Saúde Pública, v. 25, n. 5, p. 341-349, out. 1991. MENDES, R. Patologia do trabalho. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2013. 40 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional 2 Fundamentos da ergonomia O momento é de conhecer um novo tema: ergonomia. Nele, apresen- tamos a história e conceitos gerais da ergonomia, incluindo como iniciar os serviços de ergonomia nas empresas. Com isso, distinguiremos os tipos de ergonomia usados diariamente nas empresas e a utilização de cada um deles, conforme a necessidade. Por fim, saberemos como os ergonomistas fazem para introduzir esse tema dentro das empresas, por meio dos órgãos técnicos e grupos espe- cíficos de agentes de saúde e segurança do trabalho. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • entender a história da ergonomia e o seu conceito; • compreender quais os tipos de ergonomia podemos utilizar dentro de uma empresa; • introduzir a ergonomia nas empresas. Objetivos de aprendizagem 2.1 História e conceito da ergonomia Vídeo Apesar de a origem do termo ergonomia ser datada em 1857, quan- do o polonês Jartrzebowski nomeou uma de suas obras de Esboço da ergonomia ou ciência do trabalho baseada sobre as verdadeiras avaliações das ciências da natureza (WACHOWICZ, 2012), a origem oficial da ergo- nomia é estabelecida pelo engenheiro e psicólogo inglês Kenneth Frank Hywel Murrell, mediante a criação da primeira sociedade de ergonomia do mundo, a Ergonomic Research Society, no ano de 1949. O objetivo da sociedade de Murrell era denominar as atividades que os pesquisadores desenvolviam a serviço da Defesa Nacional Bri- tânica, durante a Segunda Guerra Mundial. Serviço esse inicialmente voltado para a criação de aviões adaptados às características de um número maior de pilotos, e não de maneira personalizada, atendendo somente um piloto. Fundamentos da ergonomia 41 Essa primeira sociedade de ergonomia contava com profissionais de diferentes áreas – psicologia, fisiologia, engenharia – e de pesquisa- dores interessados nas questões relacionadas à adaptação do trabalho ao homem (SILVA; PASCHOARELLI, 2010; DUL; WEERDMEESTER, 2012; WACHOWICZ, 2012). Ainda nesse período da Segunda Guerra Mundial, a ergonomia co- meçou a surgir também como disciplina de estudo, quando se agrava- va o conflito entre o homem e a máquina e, por outro lado, falhavam as formas tradicionais de resolução desses conflitos: a seleção e o treinamento das equipes de trabalho (DUL; WEERDMEESTER, 2012; WACHOWICZ, 2012). Percebamos que já ouvimos bastante sobre a palavra prevenção, porém provavelmente não víamos isso como algo importante, assim como os treinamentos e a seleção dos trabalhadores. No entanto, hoje, os treinamentos são realizados para os colaboradores de maneira contínua, presente inclusive em normas regulamentadoras (NR), como peça fundamental para que haja saúde e segurança nos ambientes la- borais de maneira preventiva. Após o período de guerra, os ergonomistas voltaram a sua atenção para as centenas de máquinas que cercam nosso cotidiano. Foi então que eles descobriram que muitos dos mesmos erros de projetos que atormentavam marinheiros, soldados e aviadores da guerra existiam – e ainda existem – nas fábricas, nas estradas, na sinalização urbana, nos automóveis e mesmo em um eletrodoméstico (MENDES, 2013). Já no Brasil, com todos esses problemas ergonômicos vindo à tona, as doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho (DORT) come- çaram a surgir com bastante relevância na década de 1980, por exem- plo, nos trabalhos repetitivos, como os dos digitadores e os bancários (MENDES, 2013). Nessa época, os trabalhadores tinham metas exageradas de produ- ção de conteúdo e não havia pausas de descanso. Não existiam a noção de cuidado com os móveis e o conhecimento de que eles influenciavam a saúde desses trabalhadores. Não havia também qualquer cuidado com os equipamentos utilizados, como as máquinas de datilografar, as quais exigiam dos trabalhadores uma força nos dedos muito maior do que os nossos computadores de hoje em dia. kojala/Shutterst ock 42 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Tudo isso, somado ao pouco conhecimento de questões sobre lide- rança e gerenciamento de equipe, foi levando um número muito gran- de de trabalhadores ao adoecimento e afastamentos por DORT. Além das questões físicas, com certeza havia questões psicológicas, que colo- cavam esses trabalhadores em estresse mental constantemente. O que é ergonomia? Para a Associação Internacional de Ergonomia (IEA, 2000), a pala- vra ergonomia significa: “a disciplina científica preocupada com a com- preensão das interações entre seres humanos e outros elementos de um sistema, e a profissão que aplica teoria, princípios, dados e mé- todos para projetar e otimizar o bem-estar humano e o desempenho geral do sistema”. Já para a Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO, 2000), er- gonomia significa: “estudo da adaptação do trabalho às características fisiológicas e psicológicas do ser humano”. Por fim, para Dul e Weerdmeester (2012), “a ergonomia se aplica ao projeto de máquinas, equipamentos, sistemas e tarefas, com o objetivo de melhorar a segurança, saúde, conforto e eficiência no trabalho”. Resumidamente, a ergonomia é a ciência que estuda as melhores formas do homem atuar em seu ambiente de trabalho, levando sem- pre em consideração a sua saúde física e mental. Logo, proporcionar um ambiente laboral saudável e eficiente, em termos de produção, é o foco principal da ergonomia. Para isso, os er- gonomistas precisam estar atentos e atualizados em diversos assuntos, temas, leis e critérios específicos para cada tipo de ambiente de trabalho. De uma forma geral, a ergonomia estuda e é aplicada a vários as- suntos e temas. Vejamos alguns exemplos deles. A postura dos movimentos corpo- rais ao estar sentado, em pé, empur- rando, puxando e levantando cargas. ru m ka _v od ki /S hu tte rs to ck Exemplo 1 Fundamentos da ergonomia 43 Criação de máquinas, equipamen- tos e as próprias instalações pre- diais, pensando na eficácia, precisão e segurança do trabalhador. Yu m m yB uu m /S hu tte rs to ck Exemplo 2 A interação dos fatores ambientais com o trabalhador, como os ruídos, vibrações, iluminação, clima e agen- tes químicos. Un cl e Le o/ Sh ut te rs to ck Exemplo 3 As relações entre cargos e tarefas. A relação do trabalhador com os líderes, com os colegas e as ativi- dades que realizam. Vi kt or ia K ur pa s/ Sh ut te rs to ck Exemplo 4 A ergonomiaé considerada uma disciplina de ação, ou seja, toda intervenção de ergonomia não se contenta em produzir somente um conhecimento sobre as situações de trabalho, mas visa uma ação ne- cessária. Com isso, a ação ergonômica leva em conta a saúde dos ope- radores e a eficácia da ação produtiva (DANIELLOU et al., 2013). Sendo assim, a atuação de um ergonomista, segundo a IEA (2000), deve seguir alguns princípios inerentes à profissão com base em cinco valores sociotécnicos. Trabalhadores como o ponto principal da análise.1 Tecnologia como ferramenta para ajudar esses trabalhadores. (Continua) 2 44 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Promoção da qualidade de vida.3 Respeito pelas diferenças individuais.4 Responsabilidade para todas as partes interessadas.5 Resumindo, a ergonomia visa proporcionar que os locais de traba- lho sejam saudáveis para os trabalhadores e que a empresa alcance os seus objetivos financeiros. E atuar como ergonomista requer muitos conhecimentos e técnicas diversas, que abrangem desde temas provenientes das graduações de: administração, economia, psicologia, fisioterapia, engenharia e medicina. Para tal, a ergonomia abrange muitas áreas de conhecimento, como antropometria, biomecânica, fisiologia, psicologia, engenharia mecânica, desenho industrial, informática, gestão industrial, entre ou- tras (DUL; WEERDMEESTER, 2012). Esses conhecimentos gerais são ad- quiridos por meio da formação na área. Fora isso, o ergonomista também precisa saber os métodos de aná- lise ergonômicas, como realizar coleta de dados, técnicas de entrevis- tas com os colaboradores e técnicas de observação. Por fim, antes de entrar e até mesmo durante a entrada em uma nova empresa, o ergonomista precisa estudar sobre o processo de produção da empresa. Saber os detalhes e saber entender como se chega ao produto que a empresa quer entregar, sendo esse o maior desafio, pois, a cada nova empresa, há novos processos e produtos a serem aprendidos. Com isso, a ergonomia pode atuar de diferentes formas. Vejamos a seguir uma demonstração de algumas intervenções que um ergono- mista pode fazer. Fundamentos da ergonomia 45 Intervenções nos produtos – melhorar ferramentas e máquinas, assim como móveis. Por exemplo, mudar a pega de uma ferramenta, a altura de uma máquina e uma ban- cada de trabalho. Ro ss He le n/ Sh ut te rs to ck Intervenções nos locais de traba- lho – melhorar o ambiente físico do trabalhador para que a interação ho- mem x máquina seja a mais saudável possível, sem perder a qualidade na geração do produto e na produção em si. Por exemplo, melhoramento no ruído, na iluminação, na ventilação e no próprio prédio da empresa. Ol en a Ya ko bc hu k/ Sh ut te rs to ck Intervenções posturais no trabalhador – atuar com a biomecânica do movimento humano gerado pela atividade exercida pelo trabalhar, traz mais noções de como deve-se executar as atividades com o mínimo de desgastes para o trabalhador, como ocorre nos treinamentos de como usar equipamentos de mesa de com- putador, como posicionar as cadeiras, como realizar os movimentos de puxar, empurrar e levantar objetos. M ar ci n Ba lc er za k/ Sh ut te rs to ck Intervenções organizacionais – atuar de maneira que o tempo exigido para se realizar uma atividade seja o mais eficiente para a produção, levando em conta as características físicas dos trabalhadores e incluindo pausas e rodízios de atividades. Fr ie nd s St oc k/ Sh ut te rs to ck 46 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Com todos esses conhecimentos, o ergonomista pode contribuir para a prevenção de erros, melhoramento do desempenho dos traba- lhadores e diminuição de acidentes de trabalho, além de dar aos traba- lhadores consciência de qual maneira é mais saudável de se trabalhar sem gerar tantos desgastes corporais (físicos) e mentais. Desse modo, percebamos que a atuação do ergonomista está vol- tada ao bem-estar do trabalhador e ao bem-estar de toda a empresa. Poucas são as disciplinas que atuam com esse duplo objetivo. Entenda- mos que esses objetivos nem sempre convivem em perfeita harmonia. O ergonomista precisa ter em mente todo conhecimento técnico bem claro, para poder analisar e diferenciar o que são questões reais das questões exageradas ou falsas. Para que, no final de uma análise, não haja interferência de uma das partes, empresa ou trabalhador. 2.2 Tipos de ergonomia Vídeo Segundo a IEA (2000), o ergonomista deve contribuir para “o plane- jamento, projeto e a avaliação de tarefas, postos de trabalho, produtos, ambientes e sistemas para torná-los compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações das pessoas”. Assim como intervir com base em uma compreensão abrangente na abordagem do trabalho, levando em conta considerações “de ordem física, cognitiva, social, organizacio- nal, ambiental e outros aspectos relevantes”. Sendo assim, a atuação da ergonomia abrange três áreas. Ergonomia física Ergonomia cognitiva Ergonomia organizacional Essa classificação é apenas didática para compreensão dos conceitos. Atenção bs d st ud io /S hu tte rs to ck Fundamentos da ergonomia 47 Ergonomia física A ergonomia física projeta seu olhar para as características da anato- mia humana, antropometria, fisiologia e biomecânica em sua relação com a atividade física (corporal) do trabalho (IEA, 2000; VIDAL; MASCULO, 2021). Afinal, trabalhar requer do trabalhador uma variação de posturas do corpo ao longo do dia e, por conta disso, a ergonomia física procu- ra adequar essas exigências corporais aos limites e às capacidades do corpo do trabalhador para que o relacionamento homem x máquina seja o mais saudável possível. Com isso, estamos falando de trabalhar com menos gastos de energia, sem sobrecarregar articulações e sem lesionar músculos e tecidos articulares. Segundo Vidal e Masculo (2021), para ser realizada a ergonomia físi- ca é necessária uma infinidade de conhecimentos sobre o corpo huma- no e o ambiente físico da empresa no qual a atividade do trabalhador é desenvolvida, sobretudo conhecimentos em antropometria, fisiologia e sobre o ambiente de trabalho. Antropometria – ciência que estuda as medidas do corpo humano – estatura, comprimento dos membros, alcances mínimos e máximos e capacidades de movimentação são alguns aspectos observados pelo ergonomista. Sendo assim, o posto de trabalho, ferramentas, equipa- mentos e máquinas precisam estar de acordo com as características do trabalhador para que futuras doenças não ocorram, pois essas ina- dequações produzem desequilíbrios no corpo humano podendo causar DORT e outras tantas lesões músculo esqueléticas. Fisiologia – tudo que diz respeito a como os músculos e sistemas do corpo funcionam estão incluídos nessa matéria. Com isso, entendemos melhor o que e como nossos músculos conseguem ter energia para ca- minhar, correr, ter forças, assim como os desgastes, os cansaços e as fadigas acontecem, ou seja, todo o metabolismo humano. Ambiente de trabalho – o estudo do ambiente em que o trabalhador atua e como esse ambiente conversa com as atividades realizadas nesse local e com os trabalhadores que ali estão. Encontramos diver- sos temas, por exemplo, os estudos das temperaturas, dos ruídos, da iluminação, sentidos de odores e sabores e suas consequências para o corpo humano. Esses fatores são importantes no contexto de trabalho, pois podem gerar incômodos ou desconfortos. 48 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Durante a atuação da ergonomia física, nosso olhar estará voltado para diferentes questões, como a postura no trabalho, manuseio de ma- teriais, movimentos repetitivos, projetos de postos de trabalho, seguran- ça e saúde durante a atuação laboral (VIDAL; MASCULO, 2021; IEA, 2000). Dentro da ergonomia física há pelo menos quatro tipos de ati- vidades que o ergonomista pode realizar (WACHOWICZ, 2012; LIDA; BUARQUE, 2016). Ergonomia de correção – atua modificando elementosgeradores de riscos ergonômicos aos trabalhadores, de forma corretiva. Por exem- plo, corrigir um posto de trabalho que está levando os trabalhadores ao afastamento por dores na coluna. 11 Ergonomia de concepção – atua diretamente no projeto de criação do ambiente físico da empresa e na evolução de toda a cadeia produtiva dos produtos dessa empresa. Por exemplo, evita futuros riscos exis- tentes, ou seja, atua na elaboração dos projetos de empresas ou de produtos, pensando de maneira preventiva. 22 Ergonomia de conscientização – atua com a educação dos funcionários e da própria empresa sobre o tema ergonomia. Por exemplo, sua atuação pode ser por meio de treinamentos (por exemplo, de primeiros socorros, uso de EPI, entre outros), palestras ou pela própria ação do ergonomista no dia a dia da empresa, realizando mudanças visíveis na empresa. 33 Ergonomia participativa – atua com a criação de comitês de ergonomia dentro das empresas, como o Comitê de Ergonomia (Coergo). Inclui-se nesse comitê equipes de líderes da empresa, assim como trabalhadores e o ergonomista, e tem o intuito de trazer o tema para todas as áreas da empresa de maneira eficaz na produção de resultados e na saúde do trabalhador. 44 De modo resumido, a ergonomia é uma disciplina extremamen- te ampla, abrange muitos aspectos do trabalhador e do ambiente de trabalho e está focada em proporcionar ao trabalhador condições de trabalho seguro, que tragam saúde e não doenças a ele, além de pro- porcionar eficiência na produção à empresa. Fundamentos da ergonomia 49 Ergonomia organizacional A ergonomia organizacional observa as estruturas, as políticas e os processos organizacionais, como a comunicação entre os trabalhadores, o gerenciamento de recursos, a organização do tempo de trabalho, a gestão da qualidade dos produtos, entre outros elementos (IEA, 2000). Os conteúdos observados dentro da ergonomia organizacional são inúmeros; por conta disso, a seguir elencamos quatro itens que geral- mente podemos observar como ergonomistas. Como é a repartição de tarefas entre os colaboradores versus o tem- po para a execução de cada tarefa – horários, cadência de produção, pausas, horas extras, rodízios de atividades, turnos de trabalho. 11 Como são as maneiras que se dão as comunicações entre colabora- dores x colaboradores, entre colaborador x líder, líder x gerência – tudo isso atrelado à produção da empresa.22 Como são as maneiras de exigências da empresa, como são realiza- das as cobranças por resultados, como são realizados os padrões de desempenho dos colaboradores, como são realizados os controles e a supervisão das atividades laborais. 33 Como são os métodos de capacitação e treinamentos realizados den- tro da empresa.44 Saber como se dá todo o processo de produção de uma empresa e como ele interage com o trabalhador é o que a ergonomia organi- zacional vai investigar. O ergonomista precisa distinguir entre o que é cobrado do trabalhador e o que se espera que ele produza, para então entender o que a empresa faz para auxiliar o trabalhador, a fim de que ele consiga cumprir sua tarefa corretamente. Ergonomia cognitiva A ergonomia cognitiva surgiu com a necessidade de lidar com as dificuldades que os trabalhadores tinham ao exercer funções que exi- 50 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional giam um maior esforço mental. Nesse ponto, o que o ergonomista faz é compreender como os processos mentais do trabalhador se expres- sam nas situações em que estão envolvidas decisões que levam a ações (MENDES, 2013). Resumidamente, é preciso saber como os trabalhado- res entendem e organizam as informações que recebem. A ergonomia cognitiva olhará para os aspectos mentais do trabalha- dor em relação à produtividade da empresa, ou seja, atenção, percep- ção, memória e tomada de decisão (MENDES, 2013). Tendo isso em vista, vejamos detalhadamente cada um dos quatro aspectos mentais observados pela ergonomia cognitiva conforme apontado por Mendes (2013). Atenção – a atenção pode ser traduzida como a capacidade de ficar alerta por um determinado período. Essa atenção é necessária em to- dos os ambientes de trabalho, evitando-se erros e acidentes. Porém, algumas atividades requerem mais atenção do que outras. Por exemplo, motoristas de carros e/ou caminhões precisam de atenção constante durante seus deslocamentos. Isso exige do trabalhador uma carga mental maior e por um longo período. Podemos também mencionar os casos em que o trabalhador precisa executar várias atividades ao mesmo tempo, exigindo uma atenção constante dele. 11 Percepção – é um conhecimento e/ou competência de algo que nos permite tomar decisões com base nesse conhecimento. A percepção é algo que devemos respeitar sob o aspecto de sensação. É a sua percep- ção de risco que fará com que tomemos alguma ação de maneira cor- reta e rápida para se evitar acidentes. Saber identificar se o trabalhador está com sua percepção de risco coerente às suas atividades é o ponto central da avaliação do ergonomista. 22 Memória – processo de armazenamento de informações para uso poste- rior. Lembrar de etapas de um processo de trabalho é função da memória. Há algumas atividades que são compostas por inúmeras etapas, e o tra- balhador deve ser capaz de guardar em sua mente o que fazer em cada etapa do processo, pois qualquer erro pode gerar um acidente. 33 Fundamentos da ergonomia 51 Tomada de decisão – resultado de todo o processo de atenção, per- cepção e uso da memória, que resultará na ação que tomaremos. Ou então, a falta de autonomia para a tomada de decisões, algo normal em empresas em que os líderes não deixam seus colaboradores tomarem decisões importantes. 44 Sendo assim, esse tipo de ergonomia estuda e interpreta a carga mental dos trabalhadores, como são as tomadas de decisões, o estres- se no trabalho, os treinamentos existentes na empresa, entre outras situações (IEA, 2000). Nesse ponto, o ergonomista compreenderá como o trabalhador percebe as informações do ambiente de trabalho e como ele age com base nessa percepção. Atualmente, é sabido o quanto é importante abordar sobre esse assunto nas empresas, pois há grandes desgastes e distúrbios que po- dem ser gerados devido aos aspectos mentais dos trabalhadores. Por exemplo, as responsabilidades que um líder tem exige dele pró- prio a tomada de decisões muitas vezes de maneira rápida e precisa. Esse constante pedido de atenção, por exemplo, pode levar à sobrecar- ga mental e desencadear inúmeras doenças. Sendo assim, de maneira geral, a ergonomia cognitiva exige conhe- cimentos sobre psicologia e fisiologia humana do profissional ergo- nomista. Com base na análise cognitiva da tarefa, o ergonomista tem capacidades de melhoramento da organização do trabalho, deixando a atividade laboral mais segura para a saúde mental do colaborador. Logo, avaliar e analisar a ergonomia cognitiva é, hoje em dia, uma das atividades mais difíceis do ergonomista. Isso porque é difícil perceber todas essas questões tão pessoais durante uma análise ergonômica. No entanto, é necessário construirmos uma relação entre o colabo- rador e o ergonomista, para que, pelo menos, alguns aspectos sejam avaliados. Também é importante lembrarmo-nos de que a atuação do ergonomista não é resolver nenhum problema entre o trabalhador e a empresa dentro de diagnósticos psicológicos. 52 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Na verdade, a função do ergonomista é apenas identificar se há ou não algum aspecto que pode ser tratado de maneira mais ampla, não tão pes- soal, por meio da passagem de conhecimentos e técnicas de como lidar com esses casos. O que geralmente acontece é a introdução desses temas da ergonomia cognitiva nos diálogos de segurança ou, então, de palestras. Como podemos perceber, a ergonomia abrange vários aspectos do ser humano e de sua interação com o seu trabalho e o seu ambiente. Portanto, por ser uma ciência ainda nova, ela conta também com um órgão importanteaqui no Brasil: a Associação Brasileira de Ergonomia (Abergo), criada em 1983. 2.3 Iniciando a ergonomia nas empresas Vídeo Adentrar em uma empresa para realizar a prestação dos serviços de ergonomia pode acontecer de várias maneiras, porém a maneira mais comum é por meio da equipe de saúde e segurança do trabalho, já existente dentro das empresas de maneira mais consolidada. Geralmente, as empresas maiores possuem no seu quadro de fun- cionários um ergonomista próprio que vai executar todas as atividades pertinentes ao cargo, além de auxiliar a equipe de saúde e segurança nas ações do setor. Por outro lado, as empresas menores costumam contratar um ergo- nomista para executar projetos. Primeiro, é feita uma análise dos postos e setores. Segundo, são executadas as ações de melhoria. Por fim, há a execução dos treinamentos e das palestras da área de ergonomia. Essas duas formas são as mais comuns. Fora isso, há outros motivos que fazem uma empresa chamar um ergonomista. Elencamos alguns deles a seguir. Conscientização que há necessidade de melhorias ergonômicas para a produção da empresa e para a manutenção da saúde do trabalhador. Necessidade legal de realizar a avaliação ergonômica preliminar (AEP) e/ou a análise ergonômica do trabalho (AET), conforme a NR- 1, que descreve quais empresas são obrigadas a realizarem esses procedimentos. Necessidade de cumprir alguma exigência do Ministério do Trabalho devido à alguma ação trabalhista ou, simplesmente, à visita dos auditores na empresa. A Associação Brasileira de Ergonomia (Abergo) norteia muitas das ações dos ergonomistas brasileiros, e seu site traz conteúdos atuais e discussões sobre temas pertinentes ao tema. Disponível em: https://www. abergo.org.br/. Acesso em: 15 mar. 2023. Site https://www.abergo.org.br/ https://www.abergo.org.br/ Fundamentos da ergonomia 53 Necessidade de adquirir alguns selos de qualidade, como a conhecida Organização Internacional de Padronização (ISO), que possuem como premissas a Análise Ergonômica do Trabalho (AET) e/ou a Avaliação Ergonômica Preliminar (AEP). Necessidade de reduzir o número de doenças relacionadas ao trabalho, existentes na empresa por motivos ergonômicos. Necessidade de reduzir o número de acidentes de trabalho ocasionados na empresa por questões ergonômicas. Como podemos observar, há vários motivos que justificam introdu- zir a ergonomia nas empresas. Por sua vez, Couto e Couto (2020) fizeram uma divisão um pouco diferente sobre aquilo que norteia os ergonomistas a como evoluir nos trabalhos realizados em uma empresa com base em quatro itens. Situações primitivas – há empresas que possuem postos de trabalho ainda muito rudimentares para os trabalhadores, o que gera muita dor, desconfortos e fadigas. Logo, a atuação da ergonomia nesses ambien- tes melhora muito as condições de trabalho, sendo essa a primeira situação que necessita de intervenção. 11 Ambiente de trabalho – a preocupação do ergonomista é com as condições climáticas dos ambientes de trabalho, do conforto auditivo e da iluminação, temas fundamentais para instituir o conforto no ambiente de trabalho.22 Método de trabalho – aqui a preocupação é com as ferramentas usa- das, dispositivos auxiliares, como carrinhos, paleteiras e elevadores. Todos eles são importantes para redução dos esforços musculares dos trabalhadores, além disso o uso correto deles proporciona uma redução dos acidentes e das DORT. 33 Organização do trabalho – a ergonomia vem para orientar sobre a me- lhor maneira de coordenar os trabalhadores com relação a diferentes te- mas, como a sobrecarga de trabalho, as pausas, o rodízio de atividades, o gerenciamento de equipe, a falta de manutenção dos equipamentos, a falta de pessoal para realizar a atividades, entre outros. 44 54 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Resumidamente, a introdução de um ergonomista é possível simples- mente por meio da contratação de um funcionário para essa função ou da admissão de um terceiro para prestar esse serviço de modo pontual. Independentemente de qual forma seja adotada, é importante in- cluir na demanda a criação de um comitê de ergonomia para que atue de maneira contínua na empresa. Sendo esse comitê formado pelo er- gonomista (interno ou externo), pelo técnico de segurança, engenhei- ros, líderes e alguns trabalhadores. Esse comitê terá como tarefas: instruir e introduzir a ergonomia em todos os setores e difundir os conceitos trazidos pelo ergonomista na forma de treinamentos, palestras ou mesmo uma conversa pessoal. O comitê também dará andamento às ações indicadas pelo ergonomista e colocará em prática a execução de todas as ações de melhorias indi- cadas pelo ergonomista, caso seja necessário. Essas ações ergonômicas precisam estar na pauta diária da empresa para que os resultados sejam positivos e produzam efeitos constantes. Lembremo-nos de que a ergonomia é uma ciência de ação. Afinal, nada adianta diagnosticar os problemas ergonômicos se eles não forem sanados. Desse modo, a introdução da ergonomia nas empresas é uma das maneiras de se proporcionar qualidade de vida no trabalho. Pois, se- gundo Couto e Couto (2020), esse argumento é sustentado pela de- finição de qualidade de vida proposta pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que dispõe 24 itens para se ter qualidade de vida, sendo que em alguns deles a ergonomia pode atuar como a ausência de dor e desconforto, a energia e a ausência de fadiga, a mobilidade, a capaci- dade de trabalho e as relações pessoais, entre outros. Portanto, a ação ergonômica, além de cuidar da saúde do tra- balhador, pode também proporcionar melhorias nas condições ambientais da empresa, evitando riscos de acidentes e reduzindo o retrabalho e os absenteísmos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Entender como a ergonomia nasceu é também perceber que ela cami- nha junto ao tema segurança do trabalho. Fundamentos da ergonomia 55 Várias abordagens foram criadas mediante grandes perdas, como é o caso da Segunda Guerra Mundial. E foi somente após grandes desastres e acidentes que os cuidados foram mais constantes dentro das empresas. Com isso, é importante ressaltarmos que, com muito trabalho, hoje em dia as empresas estão nascendo com um outro olhar. Afinal, a pre- venção está muito atuante nas empresas atuais, e a ergonomia traz vários benefícios nesse aspecto. Ser um ergonomista não é algo simples. Requer muitos conhecimen- tos e estudos constantes. É preciso também entender que o ergonomista atua em duas frentes: a empresa e o trabalhador. E que muitas vezes ambas estão em conflitos. Por isso, é importante termos bastante conhecimento técnico para po- dermos embasar-nos e discutirmos com bastante propriedade todas as questões avaliadas durante uma análise ergonômica ou, inclusive, duran- te uma consultoria ergonômica. ATIVIDADES Atividade 1 Sobre os conceitos de ergonomia por diversos autores, escreva um único período que pode ser usado como conceito de ergonomia. Atividade 2 A ergonomia de conscientização está presente nas empresas por meio de treinamentos e palestras. Dê um exemplo de treinamento que uma empresa pode realizar com seus funcionários para evitar acidentes de trabalho. Atividade 3 A ergonomia pode entrar dentro de uma empresa para resol- ver inúmeras questões relacionadas à saúde do trabalhador. Por exemplo, se um ergonomista for contratado para resolver questões sobre o número de trabalhadores afastados por doenças ocupacionais, qual seria uma das atividades a ser realizada dentro dessa empresa? 56 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional REFERÊNCIAS ABERGO – Associação Brasileira de Ergonomia. A certificação do ergonomista brasileiro. Rio de Janeiro: Abergo, 2000. (Editorial do Boletim 1/2000). COUTO, H. A.; COUTO, D. C. Ergonomia 4.0: dos conceitos básicos à 4ª Revolução Industrial. 1. ed. Belo Horizonte: Ergo, 2020. DANIELLOU, F. et al. Fatores humanos e organizacionais da segurança industrial:um estado de arte. Toulouse: Foncsi, 2013. DUL, J.; WEERDMEESTER, B. Ergonomia prática. 3. ed. São Paulo: Blucher, 2012. IEA – International Ergonomics Association. IEA, 2000. Página inicial. Disponível em: https:// iea.cc/about/what-is-ergonomics/. Acesso em: 15 mar. 2023. LIDA, I.; BUARQUE, L. Ergonomia projeto e produção. 3. ed. São Paulo: Blucher, 2016. MENDES, R. Patologia do trabalho. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2013. SILVA, J. C. P.; PASCHOARELLI, L. C. (org.). A evolução histórica da ergonomia no mundo e seus pioneiros. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. VIDAL, M. C.; MASCULO, F. S. Ergonomia: trabalho adequado e eficiente. São Paulo: Gen LTC, 2021. WACHOWICZ, M. C. Segurança, saúde e ergonomia. Curitiba: InterSaberes, 2012. https://iea.cc/about/what-is-ergonomics/. https://iea.cc/about/what-is-ergonomics/. Análise e avaliação ergonômica 57 3 Análise e avaliação ergonômica Neste capítulo conheceremos a NR-17, responsável pela legalização de todo o serviço e orientadora de todas as ações dos ergonomistas. Entre as principais obrigações das empresas em relação à NR-17, estão a realização de avaliações ergonômicas do ambiente de trabalho, a imple- mentação de medidas preventivas e corretivas para corrigir as condições inadequadas, a adequação dos equipamentos e mobiliários utilizados pelos trabalhadores, a promoção de pausas e descansos para reduzir a fadiga e o estresse. Entenderemos, de maneira prática, quais fatores de risco (perigos) a ergonomia avalia, vendo cada um deles detalhada- mente e com vários exemplos. Por fim, aprenderemos como avaliar um posto de trabalho e como propor melhorias ergonômicas, ou seja, será um capítulo no qual coloca- remos em prática tudo aquilo que aprendemos até agora. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • entender a norma regulamentadora (NR) mais importante da ergo- nomia brasileira: a NR-17; • identificar quais os fatores de risco e de perigos a ergonomia avalia; • avaliar um posto de trabalho e propor soluções. Objetivos de aprendizagem 3.1 NR-17 – Ergonomia Vídeo A norma regulamentadora n. 17 foi aprovada pela Portaria MTb n. 3.214 (BRASIL, 1978) pela primeira vez. Após isso, foi atualizada seis vezes pelos seguintes documentos: Portaria MTPS n. 3.751 23 de novembro de 1990 Portaria DSST/SIT n. 8 30 de março de 2007 (Continua) 58 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Portaria DSST/SIT n. 9 30 de março de 2007 Portaria DSST/SIT n. 13 21 de junho de 2007 Portaria MTb n. 876 24 de outubro de 2018 Portaria MTP n. 423 7 de outubro de 2021 MTPS – Ministério do Trabalho e Previdência Social DSST – Divisão de Saúde e Segurança do Trabalho SIT – Sistema Integrado de Transferências MTb – Ministério do Trabalho MTP – Ministério do Trabalho e Previdência A NR-17 busca nortear o serviço dos ergonomistas para que atin- jam os objetivos da ergonomia: proporcionar conforto, segurança, saúde e desempenho eficiente no trabalho a todos os trabalhado- res (BRASIL, 1978). Para que o ergonomista atinja os objetivos da ergonomia pela portaria, a NR-17 traz obrigações que cada empresa deve cumprir para que haja a adaptação das condições de trabalho às caracte- rísticas psicofisiológicas dos trabalhadores. Ou seja, o trabalho deve ser planejado, disposto e disponibilizado conforme as carac- terísticas do trabalhador. Veja que essa foi uma questão bem discutida até poucos anos atrás. Porém, atualmente, é consenso que, sim, o trabalho deve ser adaptado ao trabalhador, às características dele, para que tenha o melhor resultado na execução de suas tarefas e para que não se ma- chuque durante a realização de suas atividades laborais. E o que são essas condições de trabalho avaliadas pela ergono- mia? A NR-17 traz cinco aspectos referentes a isso. Eles são cinco te- mas que nortearão o ergonomista durante a avaliação de cada posto de trabalho e de cada atividade que o trabalhador realiza durante o seu dia a dia. Vejamos cada um desses cinco aspectos e com o que estão relacionados: É essencial conhecer a NR-17, e sua leitura também é ideal para com- plementar o conteúdo abordado neste capítulo. Disponível em: https://www.gov.br/ trabalho-e-previdencia/pt-br/acesso- a-informacao/participacao-social/ conselhos-e-orgaos-colegiados/ctpp/ normas-regulamentadora/normas- regulamentadoras-vigentes/norma- regulamentadora-no-17-nr-17. Acesso em: 10 mar. 2023. Leitura https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-colegiados/ctpp/normas-regulamentadora/normas-regulamentadoras-vigentes/norma-regulamentadora-no-17-nr-17 https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-colegiados/ctpp/normas-regulamentadora/normas-regulamentadoras-vigentes/norma-regulamentadora-no-17-nr-17 https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-colegiados/ctpp/normas-regulamentadora/normas-regulamentadoras-vigentes/norma-regulamentadora-no-17-nr-17 https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-colegiados/ctpp/normas-regulamentadora/normas-regulamentadoras-vigentes/norma-regulamentadora-no-17-nr-17 https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-colegiados/ctpp/normas-regulamentadora/normas-regulamentadoras-vigentes/norma-regulamentadora-no-17-nr-17 https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-colegiados/ctpp/normas-regulamentadora/normas-regulamentadoras-vigentes/norma-regulamentadora-no-17-nr-17 https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-colegiados/ctpp/normas-regulamentadora/normas-regulamentadoras-vigentes/norma-regulamentadora-no-17-nr-17 Análise e avaliação ergonômica 59 BearFotos/Shutterst ock donatas1205/Shutterst ock GaudiLab/Shutterst ock Levantamento, transporte e descarga de materiais Mobiliário dos postos de trabalho Zastolskiy Victor/Shutterstock Trabalho com máquinas, equipamentos e ferramentas manuais M anop Boonpeng/Shutterstock Condições de conforto no ambiente de trabalho Organização do trabalho Por fim, lembremo-nos de que toda avaliação ergonômica deve ser usada tanto para identificar os perigos quanto para avaliar os riscos – itens estudados por nós. Importante ressaltarmos que todas as situações encontradas devem ser registradas pela empresa e arquivadas como documento para futu- ras auditorias, sejam esses aspectos positivos ou negativos, assim como se as melhorias já foram ou não realizadas. Tudo deve ser registrado. Após o ergonomista finalizar a avaliação de um posto de trabalho, ele deve incluir nessa análise um plano de ação para a empresa. Nesse plano devem estar previstas ações de melhorias como sugestão para que a em- presa deixe esse posto de trabalho com condições de atingir os objetivos da ergonomia, ou seja, para que esse posto possa trazer ao trabalhador conforto, segurança, saúde e desempenho eficiente no trabalho. É um trabalho bem minucioso e completo. Nada pode escapar do olhar técnico do ergonomista. Todas as ações sugeridas devem ser eficientes ao ponto de eliminar os riscos encontrados, porém muitas vezes não há essa possibilidade de eliminação dos riscos, então o ergo- nomista deve pelo menos controlá-los. 60 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional 3.2 Fatores de riscos avaliados pela ergonomia Vídeo Para futuras auditorias e compreensão de todos, inicialmente o er- gonomista precisa descrever e justificar o uso dos métodos e/ou ferra- mentas usados durante a análise. Cada avaliação precisa ter uma metodologia adequada e validade para isso, ou seja, para afirmarmos que o trabalhador está correndo um risco ao levantar alguma caixa durante suas atividades, precisamos validar essa informação demostrando, por exemplo, ferramentas queauxiliem o levantamento de caixas. Além disso, por meio de cálculos podemos justificar o porquê de o posto ser considera- do um risco para o levantamento de cargas. Outro item importante é que a empresa deve garantir que os empregados sejam ouvidos durante todo o processo de ava- liação ergonômica, conforme prescreve a NR-17. Esse processo de ouvir o trabalhador é de suma importância pelo simples fato de ser o trabalhador quem está diariamente executando essa atividade. Aqueles que estão ao redor podem imaginar como é, por exem- plo, realizar uma atividade de montagem de peças mecânicas. Porém, o único que sabe o quanto isso é ou não desgastante ao corpo é o trabalhador. Ao fim de toda avaliação ergonômica, devemos proporcio- nar à empresa um diagnóstico geral e emitir recomendações, conforme descrevemos na sequência. 1 Diagnóstico geral da situação ergonômica Esse diagnóstico é dado ao final de toda avaliação, na qual o ergo- nomista, após realizar todas as análises, dirá se o posto é considerado com risco baixo, médio ou alto por meio de matriz de risco, confor- me ilustrado na Figura 1. An dr ey _P op ov /S hu tte rs to ck Eakrin Rasadonyindee/Shutterstock Análise e avaliação ergonômica 61 Figura 1 Matriz de risco Impacto Pr ob ab ili da de Alto Alto Alto AltoRazoável Razoável Razoável RazoávelBaixo Baixo Baixo Baixo Baixo Razoável Alto Dz m 1t ry /S hu tte rs to ck De maneira geral, é essa a avaliação, porém cada ergonomista possui seu método e essa nomenclatura pode mudar. 2 Recomendações para as situações de trabalho encontradas O ergonomista vai propor melhorias para os aspectos encontrados e avaliados como risco baixo, médio ou alto. Por exemplo, para o trabalha- dor que atua carregando caixas o dia inteiro, o ergonomista pode propor um carrinho que o auxilie na execução dessas atividades. Por fim, o relatório da avaliação ergonômica deve ficar à disposi- ção na empresa pelo prazo de vinte anos. Esse documento pode ser solicitado em futuras auditorias e é visto como um instrumento que demonstra todas as melhorias ergonômicas que a empresa realizou. Agora, para melhor entender os fatores de riscos avaliados pela ergo- nomia, dividiremos os itens em quatro fatores e seus respectivos aspectos: Biomecânicos Organizacionais Mobiliários Ambientais bs d st ud io /S hu tte rs to ck 62 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional 3.2.1 Fatores biomecânicos Dividiremos a avaliação dos fatores biomecânicos em duas par- tes, para melhor compreensão: levantamento, transporte e descar- ga individual de cargas; e trabalho com máquinas, equipamentos e ferramentas manuais. Levantamento, transporte e descarga individual de cargas Na avaliação ergonômica desse aspecto, o ergonomista deve per- guntar ao trabalhador se durante suas atividades ele faz algum tipo de movimentação de cargas de modo manual. Caso a resposta seja positi- va, a avaliação é iniciada. Segundo a NR-17 (BRASIL, 2022), o ergonomista deve observar os seguintes itens: Os locais para a pega e depósito das cargas devem ser organizados de modo que cargas, acessos, espaços para movimentação, alturas de pega e depósito não obriguem o trabalhador a efetuar flexões, extensões e rotações excessivas do tronco, assim como qualquer tipo de movimentação forçada ou nociva ao corpo. Disponível em: https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-espe- cificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/normas-regula- mentadoras/nr-17-atualizada-2022.pdf. Acesso em: 13 mar. 2023. São muitos itens a serem observados. Por isso, é de extrema impor- tância o ergonomista permanecer um bom tempo observando e acompa- nhando o trabalhador durante suas atividades de levantamento de cargas. Vamos separar cada item que o ergonomista deve avaliar em car- gas, acessos e espaços, e altura das pegas e depósito, conforme des- crevemos na sequência. Devemos observar que tipo de carga o trabalhador vai movimen- tar e qual o seu peso. Se é uma caixa, um rolo, um balde, uma lata de tinta. Independentemente de qual carga o trabalhador esteja movi- mentando, é preciso perguntar e avaliar qual é o peso, qual é o tipo de pega (se ele abraça a caixa e se há um local para pega, como uma alça). Sa iA rL aw Ka2 /Shutterstock https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-colegiados/ctpp/arquivos/normas-regulamentadoras/nr-17-atualizada-2022.pdf https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-colegiados/ctpp/arquivos/normas-regulamentadoras/nr-17-atualizada-2022.pdf https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-colegiados/ctpp/arquivos/normas-regulamentadoras/nr-17-atualizada-2022.pdf Análise e avaliação ergonômica 63 Devemos perguntar e observar se há acessos e espaços para mo- vimentação para que o trabalhador pegue e deposite esse objeto e se os acessos dos corredores estão livres. Há objetos pelo caminho? Há es- paço suficiente para o trabalhador se movimentar com o objeto em mãos? Lembrar de que objetos no caminho podem gerar um risco de queda ao trabalhador durante o transporte manual de cargas. Devemos observar e analisar qual a altura da pega dos objetos e do depósito, se o trabalhador precisa esticar os braços, se a coluna precisa ser dobrada, se o trabalhador precisa subir em alguma plata- forma, tanto para pegar o objeto quanto para realizar o depósito. A postura do trabalhador é um item que pode gerar futuramente algum tipo de contratura, entorse ou mesmo lesão musculoesquelética. Observemos que analisamos qual atividade corporal o trabalhador precisa executar para realizar sua tarefa. Há alguns dados bem importantes que precisamos coletar: a dis- tância da pega, o ângulo de rotação do tronco, a altura da pega, a altura de deslocamento do objeto e a frequência do levantamento. To- dos esses dados dão ao ergonomista um resultado numérico que pro- porcionará o resultado de risco, ou não, na realização dessa atividade. Para contrabalancearmos essa atividade, durante essa avaliação pode haver itens que serão vistos como controladores de risco, ou seja, equipamentos e ferramentas utilizados pelos trabalhadores para que o manuseio manual de cargas seja o mínimo possível. Então, durante a análise devemos observar e perguntar ao trabalhador se há equipa- mentos auxiliares para o manuseio de cargas. Alguns desses equipa- mentos são carrinhos, empilhadeiras, paleteiras, entre outros. Realizar a análise do levantamento de carga demanda muito estudo e muita atenção durante as atividades do trabalhador. O que precisa- mos ter em mente é o quanto essas atividades podem lesionar ou não o trabalhador. O peso geralmente é o maior vilão, porém a repetitividade das ações também costuma ser um elemento bem prejudicial. Trabalho com máquinas, equipamentos e ferramentas manuais Nesta etapa da avaliação ergonômica, analisamos as diversas máqui- nas, equipamentos e ferramentas manuais utilizadas pelos trabalhadores. BearFotos/Shutterstock Longf n Media/Shutterstock Siwakorn1933/Shutterstock 64 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Existe uma infinidade desses objetos que podemos encontrar den- tro de uma mesma empresa. O importante é sempre preservar a saúde e segurança do trabalhador, sendo assim analisar aspectos como o tempo de uso de cada equipamento, máquina ou ferramenta; o tipo de posição corporal que o trabalhador precisa executar para utilizar a máquina, equipamento ou ferramenta; e, por fim, se há na empresa ferramentas que auxiliam no uso de equipamentos, máquinas e ferra- mentas manuais. Vejamos cada um desses objetos separadamente. Para que o trabalhador utilize uma máquina, é sempre importante ob- servar se os comandos utilizados estão em um bom acesso. Se os painéis de comando são seguros com relação à visua- lização da informaçãodos processos executados e qual a po- sição corporal do trabalhador durante o uso dessas máquinas. Por exemplo, para utilizar uma empilhadeira o trabalhador atua quanto tempo sentado? Ele possui pausas para descanso? Ele precisa ficar rotacionando o tronco? Há uma boa visualização do ambiente de trabalho, de modo que o trabalhador possa se movi- mentar com essa máquina sem se machucar ou machucar outra pessoa? O piso do local está adequado para a movimentação dessa empilhadeira? Essas são algumas perguntas que deve- mos levar em consideração para poder avaliar se há ou não um risco de acidente. Nessa avaliação devemos observar se os equipamentos utilizados pelo trabalhador estão em condições de mobilidade para permitir o ajuste de tela, evitando reflexos e futuros erros de execução. Já para os trabalhadores que utilizam computador portátil ( notebook), devem ser analisados se há suporte para ajustes de al- tura desse equipamento, se há teclado e mouse independentes que proporcionam o melhor uso, evitando futuras lesões nos punhos e antebraços. Durante a análise das ferramentas manuais, o ergonomista deve avaliar se o uso das ferramentas está sendo realizado de ma- neira correta (posição dos punhos, ombros, antebraços) e se essas ferramentas possuem um design adequado a fim de evitar compres- sões da palma da mão ou dos dedos. Gr ou nd Pict ure/Shutterstock M umemories/Shutterstock Análise e avaliação ergonômica 65 Outro aspecto a ser observado é se há equipamentos que susten- tam o uso de algumas ferramentas manuais. Por exemplo, durante o uso constante de furadeira ou parafusadeira, algumas empresas dispo- nibilizam um equipamento (balancim) que sustenta o uso dessas ferra- mentas, fazendo com que o trabalhador não precise segurá-las. Dentro da avaliação biomecânica é importante observarmos to- dos os movimentos corporais que o trabalhador realiza, analisando se esses movimentos são adequados, se estão dentro dos parâmetros normais de angulação e, principalmente, se esses movimentos que se repetem ao longo dos dias de trabalho podem ou não levar a alguma doença ocupacional. São muitos os detalhes de uma avaliação ergonômica, por isso o tempo ao lado do trabalhador é algo precioso. Portanto, estar atento, estar preparado para ouvir e possuir um conhecimento técnico atuali- zado são algumas das características de um bom ergonomista. 3.2.2 Fatores organizacionais Os fatores organizacionais observados e analisados pelos ergono- mistas devem ser relatados na análise ergonômica seguindo quatro critérios mencionados na NR-17 (BRASIL, 2022): Descrever as normas de produção do posto – nisso estão incluídas as normas da empresa. Como exemplo temos os horários de entrada e saída do trabalhador, assim como os horários das pausas. 11 Descrever o modo operatório do posto – ou seja, a tarefa que o traba- lhador executa detalhadamente.22 Descrever a exigência de tempo no posto – ou seja, o quanto o traba- lhador deve produzir em determinado tempo.33 Descrever o ritmo de trabalho do posto – o ergonomista avaliará qual a velocidade das ações do trabalhador para cumprir suas atividades.44 M um em or ie s/ Sh ut te rs to ck Exemplo de um balancim (em inglês, spring balancer). 66 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Cada parte dessa análise muda conforme a empresa e a atividade de cada trabalhador. O importante é descrevermos, de maneira geral, como os fatores organizacionais acontecem. Pode ser feito separada- mente em itens ou pode ser em um texto corrido. Além disso, também é essencial avaliarmos e tentarmos observar quais elementos podem prejudicar o trabalhador. Por exemplo, uma empresa que possui uma linha de produção sem pausas e com movi- mentos repetitivos do trabalhador sem alternar as posturas pode levar a algum tipo de doença osteomuscular relacionada ao trabalho (DORT). O ergonomista necessita sempre avaliar a atividade realizada para ter argumentos para prescrever pausas durante o período de trabalho, alternância de posturas entre as atividades e algum equi- pamento que auxilie o trabalhador durante os processos, como uma cadeira semissentada para pequenos descansos da coluna e pernas. Devemos entender que uma empresa não realizará as mudanças necessárias pelo simples fato de um ergonomista recomendar. Portan- to, a importância dos estudos é imprescindível para podermos argu- mentar e justificar essas recomendações. 3.2.3 Fatores mobiliários Durante a avaliação dos mobiliários utilizados pelo trabalhador, o ergonomista tem que ter em mente que esses mobiliários são usados por várias pessoas, e que todas são diferentes em altura, compri- mento dos braços e das pernas. Por isso, alguma parte dos mobi- liários precisa ter regulagens que podem ser, por exemplo, na forma de uma cadeira com regulagem de altura, plataformas ou um apoio de pé. Já para os trabalhos realizados na postura sentada é importante observarmos se abaixo da mesa ou bancada há espaço suficiente para as pernas do trabalhador para que ele consiga realizar movimentos com as pernas e os pés. Os espaços utilizados pelo trabalhador em sua bancada de traba- lho precisam estar dentro da zona de alcance do trabalhador, ou seja, evitando que o trabalhador realize movimentos excedentes da colu- na para, por exemplo, alcançar algum objeto. Por isso, convém deixar de fácil acesso todas as ferramentas e objetos utilizados com frequência. ind us try vie ws/Shutterstock Br un oW elt mann/Shutterstock astarot/Shutterstock Análise e avaliação ergonômica 67 As cadeiras usadas pelos trabalhadores que atuam na maior parte do tempo sentados precisam ter regulagens de altura do assento e do encosto. Isso proporciona ao trabalhador uma maior adapta- ção à postura correta durante suas atividades, o que não é visto em cadeiras sem ajustes dessas alturas. Desse modo, o ergonomista, durante a avaliação, precisa enten- der todo o processo de produção e tentar adaptar o posto avaliado para o maior número de pessoas, sempre pensando em quais movi- mentos os trabalhadores precisam realizar para executar suas funções. 3.2.4 Fatores ambientais Os fatores ambientais observados durante uma análise ergonômi- ca devem seguir algumas orientações da NR-17 (BRASIL, 2022) quanto à iluminação. 17.8.1 Em todos os locais e situações de trabalho deve haver iluminação, natural ou artificial, geral ou suplementar, apropriada à natureza da atividade. Disponível em: https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especi- ficos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/sst-portarias/2021/ portaria-mtp-no-423-nova-nr-17.pdf/view. Acesso em: 10 mar. 2023. Como descrito na NR-17, nossa análise para esse fator será com base nos padrões da NHO 11 (FUNDACENTRO, 2018), que fornece ao ergonomista os números corretos que cada ambiente de trabalho deve ter. Tendo alguma irregularidade, o ergonomista deve agir indicando qual a medida luminosa adequada para o posto adequado. Já com relação ao ruído, avaliaremos de onde vem o ruído local e quais medidas de controle a empresa adota, como o uso de protetores auriculares, barreiras de proteção dos motores e isolamentos de má- quinas ruidosas. Para a avaliação da temperatura, o ergonomista deve observar quais são as fontes de calor e frio, assim como as medidas de con- trole. Inclusive, deve constar a padronização da temperatura para o ar-condicionado, o uso de ventiladores industriais e o uso de roupas adequadas para o calor ou o frio. Serg64/Shutterstock https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/sst-portarias/2021/portaria-mtp-no-423-nova-nr-17.pdf/view https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/sst-portarias/2021/portaria-mtp-no-423-nova-nr-17.pdf/view https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/sst-portarias/2021/portaria-mtp-no-423-nova-nr-17.pdf/view68 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional O profissional ergonomista precisa ter em mente que esses as- pectos de conforto ambiental causam bastante discussão dentro de cada ambiente de trabalho. A indicação é sempre seguir os pa- râmetros que as normas nos dão e adotar medidas individuais de proteção. Por exemplo, dentro de um escritório o ar-condicionado precisa ficar entre 18 e 25 ºC. No entanto, existem aqueles que sentem mais frio. Portanto, a indicação é deixar o ambiente dentro dos parâmetros e recomen- dar o uso de roupas para o frio para os trabalhadores que sentem mais frio. 3.3 Realizando uma análise ergonômica Vídeo Chegamos ao ponto prático da nossa aula. Foi escolhido um posto bem comum encontrado em todas as empresas para realizarmos uma análise ergonômica completa. Na sequência de cada análise serão sugeridas ações de melhorias para a empresa, para que o trabalhador tenha em seu posto de tra- balho conforto, segurança, saúde e desempenho eficiente, sendo esses os objetivos da ergonomia. O primeiro passo é conhecermos um pouco o nosso trabalhador. Esse é João. Ele atua em um escritório de contabilidade das 8 às 17h. Possui um horário de almoço de uma hora, das 12 às 13h. Toda a atividade de trabalho do João acontece em frente ao computador e sentado em uma cadeira. James Francis/Shutterstock Exemplo Agora, analisaremos os aspectos organizacionais, biomecânicos, mo- biliários e ambientais desse exemplo. Aspectos organizacionais Podemos registrar quatro aspectos: Análise e avaliação ergonômica 69 Ritmo de trabalhoModo operatório Normas de produção Como vimos na descrição, João possui um horário de trabalho das 8 às 17h, com uma hora de almoço, das 12 às 13h. João não possui pausas definidas de trabalho, apenas pode levantar-se sempre que quiser para ir ao banheiro e tomar um café. Durante suas atividades, segue ordens do seu líder, que todos os dias passa quais são as tarefas que deve executar. Para executar suas atividades, João possui um notebook sobre a mesa. Exigência de tempo Caso João não consiga realizar suas atividades em tempo, ele precisa fazer horas extras no escritório, o que acontece com frequência. Para isso, João não ganha nada a mais, pois essas atividades são de sua responsabilidade. A tarefa de João é realizar o balanço de entradas e saídas de gastos, o imposto de renda e gerar alguns tributos de uma série de empresas de sua responsabilidade. Como João possui um número elevado de clientes sob sua responsabilidade, poucos são os dias que consegue levantar para descansar e tomar um café. Como sugestões de melhoria, proporemos que a empresa tenha pausas formalizadas, duas vezes ao dia, de 15 minutos cada, uma no período da manhã e outra no período da tarde. Isso dará a João um descanso físico e mental, além de proporcionar uma interação com seus colegas de trabalho. Além disso, proporemos a contratação de um auxiliar para João, evitando com isso as horas extras e o grande acúmulo de tarefas. Aspectos biomecânicos Para realizar suas atividades, João não precisa fazer nenhum tipo de movimentação de carga, mas faz uso de um equipamento em sua mesa: um notebook. Esse notebook não possui suporte para regulagem de altura, nem teclado e mouse independentes, deixando João com a coluna curvada para poder visualizar o computador, e a falta de teclado e mouse independentes deixa os punhos de João sem o apoio adequa- do na mesa de trabalho. Como sugestão de melhoria, proporemos que a empresa disponi- bilize a João um suporte para notebook com regulagem de altura, um mouse e um teclado, ambos independentes, para que João consiga re- 70 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional gular a altura de visualização do notebook e para que ele melhore o posicionamento dos seus punhos e antebraços sobre a mesa, com isso evitando lesões, como as DORT. Outra sugestão é a realização anual de treinamento sobre ergono- mia. Aqui João terá conhecimento de como posicionar corretamente seu notebook, qual a altura adequada, qual a distância adequada e, por fim, como posicionar corretamente os punhos e antebraços na mesa para evitar futuras lesões. Aspectos mobiliários O mobiliário utilizado por João é uma mesa e uma cadeira. A mesa está em altura adequada, porém, como a maioria das mesas, não possui regulagem no ajuste da altura. O que nos leva a observar outro equipamento utilizado por João: a cadeira. Sua cadeira possui rodízios adequados, que podem facilitar a movi- mentação de João pela mesa. Ela possui um estofado adequado, que lhe dá conforto, e possui ajustes de altura do assento e do encosto. Porém, para apoiar os pés, João precisa utilizar os pés da cadeira. Caso contrário, não apoia completamente os pés no piso. Como sugestão de melhoria, proporemos à empresa a dispo- nibilização de um suporte para os pés, com regulagem de alturas, assim João pode apoiar seus pés nesse suporte a modificar sua posição das pernas. Aspectos ambientais Na sala de João há um ar-condicionado, uma iluminação adequada, conforme prescreve a NHO 11, e não há muito ruído. O único problema visualizado foi que as janelas refletem a luz solar na tela do notebook de João em todo o período da tarde, deixando-o com os olhos cansados, o que muitas vezes dificulta sua visualização. Isso ao longo do dia deixa João com dificuldades de realizar suas tare- fas, inclusive cometendo alguns erros. Como sugestão de melhoria, proporemos a colocação de persianas na sala de João para que todo final de tarde ele possa fechá-las, evitan- do que o reflexo solar atrapalhe sua visualização na tela do notebook. Posto de trabalho é o espaço ocupado por um trabalhador. Já ambiente é algo mais amplo, pois em um mesmo ambiente pode haver vários postos de trabalho. Por exemplo, um escritório é um am- biente com vários postos. Atenção Análise e avaliação ergonômica 71 Essa foi nossa análise do exemplo. Percebemos que tanto o am- biente quanto o posto de trabalho foram avaliados, bem como o trabalhador e suas tarefas. Isso é algo que não se repetirá, pois cada análise ergonômica é única. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste capítulo tivemos a oportunidade de adentrar com muita pro- priedade o mundo da ergonomia. Aprendemos sobre a NR-17 e quais são seus objetivos, assim como quais análises um ergonomista precisa fazer para alcançar esses objeti- vos. Também vimos os fatores de riscos avaliados pela ergonomia e como cada um deles deve ser avaliado. Por fim, realizamos uma análise ergonô- mica completa de um posto de trabalho, sugerindo medidas de melhoria ao final. Por meio dessa abordagem prática podemos perceber o quão complexo é a ergonomia. Desse modo, o ambiente laboral apresenta-se como um campo vasto e que merece toda a atenção e cuidado dos responsáveis pelas empresas e por todos os trabalhadores que ali estão. Portanto, todos possuem um grau de responsabilidade que se tratada com seriedade pode evitar gran- des acidentes no ambiente de trabalho. ATIVIDADES Atividade 1 Após ler sobre os objetivos da ergonomia, elabore uma frase que pode ser usada como objetivo geral da ergonomia. Atividade 2 Quando o ergonomista entra em uma empresa avalia vários fatores da atividade do trabalhador. Dê um exemplo do que um ergonomista pode avaliar dentro de uma empresa. Depois disso, classifique esse exemplo como fator biomecânico, organizacional, mobiliário ou ambiental. 72 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Atividade 3 O ergonomista pode entrar em uma empresa para resolver inúme- ras questões relacionadas à saúde do trabalhador. Por exemplo, se um ergonomista fosse contratado para resolver o número de trabalhadores afastados por doenças ocupacionais, vindas do excesso de peso levantado, qual seria uma recomendação de melhoria a ser realizada dentro dessa empresa? REFERÊNCIAS BRASIL. Norma regulamentadora n. 17. Diário Oficial da União, Brasília, 20 dez. 2022. BRASIL. Portaria n. 3.214, de 8 de junho de 1978. DiárioOficial da União, Brasília, DF, 6 jul. 1978. FUNDACENTRO – Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho. NHO 11: avaliação dos níveis de iluminamento em ambientes internos de trabalho. Brasília: Fundacentro, 2018. Ações de saúde e segurança do trabalho nas empresas 73 4 Ações de saúde e segurança do trabalho nas empresas Aprender algumas medidas de controle mais usadas dentro das em- presas para combater os riscos ocupacionais é essencial no contexto atual. Isso inclui ter conhecimento sobre as medidas de controle contra diferentes riscos, por exemplo: o ruído ocupacional, o calor, o frio, a ilumi- nação e os agentes químicos. Além disso, é ideal aprender sobre como gerenciar esses riscos quan- do eles estão presentes nas empresas, deixando o ambiente de trabalho mais seguro e propício a gerar saúde e não doenças aos trabalhadores. Há também as doenças osteomusculares ocupacionais (DORT), sendo necessário aprender sobre elas e sobre quais são as melhores medidas de controle, tanto para os trabalhadores que atuam dentro das empresas quanto para os trabalhos home office, tão comuns atualmente. Junto às DORT há outro item importante: o aprendizado sobre as doenças psicossociais mais comuns nos ambientes de trabalho e quais medidas de controle são usadas atualmente dentro do ambiente laboral. Por fim, devemos compreender o porquê de ser tão importante cuidar da saúde do trabalhador e quais são os benefícios que esses cuidados geram para a produtividade das empresas. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • compreender sobre ruído, calor/frio, iluminação e agentes quími- cos ocupacionais, bem como quais são as melhores medidas de controle para evitar os riscos ocupacionais (NR-6 e NR-9); • gerenciar os riscos existentes dentro da empresa; • identificar quais são as doenças osteomusculares ocupacionais e quais são as medidas de controle a serem adotadas, tanto nas organizações quanto no home office; (Continua) Objetivos de aprendizagem 74 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional • identificar as principais doenças psicossociais e cognitivas e quais são as medidas de controle usadas nas empresas; • compreender a importância de cuidar da saúde do trabalha- dor e quais são os benefícios que esses cuidados geram para a produtividade. 4.1 Medidas de controle Vídeo De modo geral, devemos ter em mente que as medidas de controle não são somente ações esporádicas, mas sim ações diárias e que fa- zem parte do dia a dia da empresa. Para isso, vejamos o que o item b do subitem 1.4.1 da NR-1 (BRASIL, 1978) fala sobre medidas de controle de forma geral dentro das empresas: b) informar aos trabalhadores: I. os riscos ocupacionais existentes nos locais de trabalho; II. as medidas de prevenção adotadas pela empresa para eliminar ou redu- zir tais riscos; III. os resultados dos exames médicos e de exames complementares de diagnóstico aos quais os próprios trabalhadores forem submetidos; e IV. os resultados das avaliações ambientais realizadas nos locais de trabalho. Disponível em: https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-es- pecificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/normas-re- gulamentadoras/nr-01-atualizada-2022.pdf. Acesso em: 9 fev. 2023. Portanto, manter um ambiente de trabalho seguro requer estudos e uma visão ampla de todas as ações que podem gerar algum tipo de risco ao trabalhador. Sendo assim, existem duas ações necessárias impostas na NR-1 (BRASIL, 1978): https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho Ações de saúde e segurança do trabalho nas empresas 75 Ne at lyn at ly/ Sh ut te rs to ck Processo de identificação de perigos Avaliação de riscos ocupacionais Ainda conforme a NR-1 (BRASIL, 1978), dentro do processo de iden- tificação de perigos, devemos incluir as seguintes etapas: Ne at lyn at ly/ Sh ut te rs to ck Descrição dos perigos e possíveis lesões ou agravos à saúde São identificados quais perigos existem no ambiente de trabalho e quais consequências esse perigo pode gerar, como lesões a que o trabalhador está exposto. Identificação das fontes ou circunstâncias É necessário identificar de onde vem o perigo, se é do ambiente, de uma máquina ou de um comportamento imposto pela empresa. Identificação do grupo de trabalhadores sujeitos aos riscos São identificados quais trabalhadores estão expostos a esses perigos, se é a empresa toda, ou somente um setor, ou uma área específica da empresa. Já para a avaliação de riscos ocupacionais, a NR-1 (BRASIL, 1978, p. 5) indica que a empresa deve indicar “o nível de risco ocupacional, que é determinado pela combinação da severidade das possíveis lesões ou agravos à saúde com a probabilidade ou chance de sua ocorrência”. Nessa etapa, usamos uma matriz de risco, conforme a figura a seguir. Figura 1 Matriz de risco Impacto Pr ob ab ili da de Alto Alto Alto AltoRazoável Razoável Razoável RazoávelBaixo Baixo Baixo Baixo Baixo Razoável Alto Dz m 1t ry /S hu tte rs to ck 76 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Com todas essas informações em mãos, a empresa precisa agir de maneira contínua para eliminar, reduzir ou controlar os riscos exis- tentes, conforme descrito na NR-1 (BRASIL, 1978). Todas as ações de melhorias dentro das empresas atuarão para realizar essas ações continuamente, sempre pensando em primeiro eliminar o risco. Após isso, caso não seja possível eliminar, pensa-se em reduzir o risco e, por fim, controlar o risco. Sendo assim, há três locais em que as medidas de controle devem ser aplicadas (ARAÚJO, 2010; INTERSABERES, 2014; MENDES, 2013): lla m am am a/ Sh ut te rs to ck Na origem/ fonte com potencial de causar danos Ao longo do percurso entre a origem e o trabalhador, ou seja, no ambiente de trabalho No receptor, ou seja, no trabalhador Devemos agir nessa mesma ordem, seguindo a hierarquia apresentada. Como primeira ação a ser observada e colocada em prática está a eliminação dos agentes que podem provocar os riscos, ou seja, elimi- nar a fonte. Por isso, precisamos encontrar maneiras de não utilizar certos equi- pamentos, certos produtos ou evitar certas ações para que o trabalha- dor não se exponha à fonte causadora do risco. Com isso, busca-se evitar que um agente potencialmente perigo- so ou tóxico seja utilizado, formado ou liberado no ambiente de tra- balho. Em conjunto com isso, entra a ação de substituir a fonte caso exista algum produto ou ação que possa ser substituída. Uma situação-exemplo disso é eliminar o manuseio manual de cai- xas pelo mecânico, extinguindo com isso a fonte do perigo. Ou seja, ao invés de o transporte de caixas ser feito manualmente pelo trabalha- dor, a empresa pode adquirir uma paleteira manual. Siwakorn1933/Shutte rst oc k Ações de saúde e segurança do trabalho nas empresas 77 Como segunda alternativa, caso a primeira não seja possível, deve- mos encontrar maneiras de conter a substância de modo que ela não se propague para o ambiente. Em outras palavras: isolar, conter, en- clausurar a fonte. É importante observarmos que, nessa fase, precisa- mos ter conhecimentos técnicos de como cada agente em potencial de provocar danos se propaga para só então agirmos visando incluir bar- reiras de contenção. Um exemplo bem aplicado disso está nos laboratórios, onde os trabalhadores utilizam equipamentos de contenção de odor e/ou de produtos químicos que se propagam pelo ar. Se a alternativa anterior também não for possível, devemos encon- trar alternativas para diluir a substância a níveis seguros de saúde, ou seja, procurar métodos para que esse agente com potencial de causar danos seja amenizado.Resumindo: amenizar, reduzir a propagação da fonte de perigo. Como exemplo, temos as grades de proteção encontradas em al- guns maquinários que servem para que o trabalhador não chegue muito perto e se machuque, bem como as telas de acrílico visando à proteção do colaborador. Por fim, bloqueie as vias de entrada do seu organismo para que o agente com potencial de causar danos não entre em contato com seu corpo. Utilizar equipamentos de proteção individual (EPI) e realizar controles administrativos são as ações mais utilizadas. E o que são esses controles administrativos? São aqueles feitos pela empresa para diminuir o contato dos trabalhadores com os agentes potencialmente causadores de danos, como a diminuição do tempo de exposição de cada trabalhador à fonte. Seguindo essa hierarquia de proteção contra agentes ocupacio- nais, as chances de algo acontecer serão menores. É necessário entendermos, também, que as ações não devem ser realizadas de maneira individual. Essa hierarquia deve ser usada de maneira conjunta, ou seja, utilizando o máximo de ações para pro- teger a saúde do trabalhador. Portanto, se for necessário, devemos utilizar todas elas. Comaniciu Dan/Shutterst ock Dusan Petkovic/Shutterstock 78 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional 4.1.1 Ruído ocupacional Explorando mais especificamente alguns riscos, discorreremos so- bre as medidas de controle dos ruídos ocupacionais. São exemplos de fonte de propagação de ruído: uma parafusadeira, uma britadeira, uma secadora de roupa industrial, máquinas de corte, um motor, entre outras. Além disso, Wachowicz (2012) explica, por exemplo, que quem uti- liza uma ferramenta manual elétrica está sempre próximo à fonte de ruído, podendo esse ruído causar danos, seja ele de audição ou mesmo dificultando a comunicação entre os trabalhadores. Caso essa ação de conversar entre os trabalhadores seja prejudicada devido ao ruído, isso representa um ponto a se cuidar bastante – significa que o ruído am- biente, causado pela máquina, está acima do normal. Relembrando que devemos agir dentro dos três locais de medidas de controle (MENDES, 2013): lla m am am a/ Sh ut te rs to ck Fonte sonora Trajetória e meio de propagação Receptor Dito isso, vejamos algumas ações que podemos realizar quanto ao ruído ocupacional. Minimizando a fonte sonora Realizar a manutenção das ferramentas ruidosas – essa ação pode ser realizada de forma preventiva a cada três meses ou con- forme a indicação do fabricante. • Apertar os parafusos e as porcas, afiar as ferramentas, lubrificar os rolamentos, colocar óleo e graxa nas peças (MENDES, 2013). Praphan Jampala/Shutte rst oc k Em mais um episódio da série Napo do estúdio homônimo, é possível ter algumas noções sobre como agir no ambiente de trabalho de modo seguro para os seus ouvidos. Disponível em: https://youtu.be/ IKQmSLRAO7A. Acesso em: 9 fev. 2023. Vídeo Piotr Wytrazek/Shutterst ock https://youtu.be/IKQmSLRAO7A https://youtu.be/IKQmSLRAO7A Ações de saúde e segurança do trabalho nas empresas 79 • Realizar a manutenção pode ser visto também como uma tarefa corretiva, realizada assim que o trabalhador identificar um baru- lho estranho na ferramenta e/ou máquina. Adquirir ferramentas com baixo ruído – hoje há no mercado uma infinidade de ferramentas e máquinas das mais diferentes formas. • Adquirir aquelas que possuem um nível de ruído mais baixo, evitando, assim, que algum trabalhador venha a adqui- rir alguma doença ocupacional relacionada aos altos ruídos (INTERSABERES, 2014). Preferir ferramentas elétricas às pneumáticas – ferramentas elétricas costumam ser mais silenciosas do que as pneumáticas (COUTO; COUTO, 2020). Fechar as partes das máquinas que geram muito ruído – é im- portante conversar com os trabalhadores para perceber se essa ação não vai prejudicar a operação e a produção. • Verificar se essa ação não superaquecerá a máquina. Por isso, é interessante conversar com os trabalhadores e escolher junto de- les a melhor maneira de minimizar o ruído (INTERSABERES, 2014; MENDES, 2013). Minimizando a trajetória e o meio de propagação do ruído Separar a ação ruidosa das demais atividades – usar anteparos que isolam o ruído, fazendo com que ele se propague menos pelo ambiente. Por exemplo, algumas empresas usam chapas de acrílico (MENDES, 2013). Isolar a tarefa ruidosa – caso seja possível, realizar a atividade com a ferramenta ruidosa em um ambiente longe dos outros trabalha- dores. Assim, apenas um trabalhador estará exposto a esse risco (MENDES, 2013; COUTO; COUTO, 2020). Billion Photos/Shutte rst oc k Afotosvet/Shuttersto ck 80 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Minimizando o ruído no receptor sonoro (o trabalhador) Utilizar equipamentos de proteção individual (EPI) de boa qua- lidade – há dois tipos mais comuns de EPIs para ruído: os pinos plug e as conchas auditivas. • Prestar atenção na validade de cada EPI e realizar a higieniza- ção adequada conforme o fabricante indica. Assim, garante- -se ter equipamentos de proteção adequados por mais tempo (INTERSABERES, 2014). Separar os trabalhadores que utilizam muito o telefone – deixar os trabalhadores que utilizam muito o telefone em ambientes sepa- rados e/ou usar barreiras para atenuar esses ruídos. • Esse ruído de fala dos trabalhadores é um dos responsáveis por cansaço mental e por constantes irritações. • Há também chance de erros pelas pessoas estarem em um am- biente com muito ruído por conta das falas (COUTO; COUTO, 2020). Tendo em mente todos esses cuidados, garantimos um ambiente ocupacional mais saudável para todos. Portanto, unir estudos e conver- sas abertas com os próprios trabalhadores da área fará do ambiente de trabalho um local seguro. 4.1.2 Calor e frio Entrando em uma área bastante comum, a partir daqui veremos os agentes causadores de calor e frio no ambiente de trabalho, aos quais os trabalhadores podem estar expostos. Podem ser uma fonte de propagação de calor um forno, uma caldei- ra, máquinas muito grandes de corte de papel, uma cozinha industrial, entre outros. Já exemplos de fontes de propagação de frio são as câma- ras frigoríficas e similares. Após sabermos quais fontes emitem calor ou frio, precisamos agir com base nos três locais das medidas de controle: fonte, ambiente e receptor. Vejamos quais são as medidas mais comuns indicadas pela NHO 06 (FUNDACENTRO, 2017). Afotosvet/Shutterst ock FOTO Eak/Shutterst ock O vídeo da série Napo mostra uma condição de trabalho com calor causado por máquina e suas consequências. Disponível em: https://youtu.be/ pphveldl_nU. Acesso em: 10 jan. 2023. Vídeo https://youtu.be/pphveldl_nU https://youtu.be/pphveldl_nU Ações de saúde e segurança do trabalho nas empresas 81 Minimizando a fonte geradora de calor Isolar ou manter afastadas as fontes de calor – o isolamento de má- quinas geradoras de calor pode reduzir tanto a elevação da tempera- tura do ar no local de trabalho quanto os efeitos da radiação. Essa é uma maneira eficaz de proteger os trabalhadores do estresse térmico. • Colocar telas e barreiras que protejam o trabalhador da fonte ge- radora de calor (INTERSABERES, 2014). Realizar periodicamente o monitoramento do calor do sol e/ou gerado por máquinas – o monitoramento é importante para toma- das de decisão (MENDES, 2013). • Diminuir o tempo de exposição dos trabalhadores nos locais quentes. • Realizar controles nas máquinas que exalam calor. Minimizando a trajetória e o meio de propagação do calor Evitar o trabalho pesado para os trabalhadores expostos ao ca- lor – mecanize algumas ações para que o trabalhador não tenha desgastes físicos excessivos (COUTO; COUTO, 2020). Aumentar a velocidade do ar – aumentar a ventilação natural é uma maneira de fazer o calor se dissipar e, consequentemente, a exposição ao calor diminuir. Incluir sistemas de exaustão – com um exaustor local, o ar quen- te pode sair e minimizar a exposição dos trabalhadoresao calor (MENDES, 2013; COUTO, 2020). Incluir isolantes para telhas – isso diminui o calor interno do am- biente de trabalho. Essa ferramenta é muito comum e pode trazer bons resultados ao ambiente. • Introduzir uma barreira isolante entre a telha e a área de trabalho reduz o calor interno. Incluir pintura refletiva nas telhas – cores claras nas telhas absor- vem menos calor e diminuem a absorção de calor para o ambiente. Resfriar o ambiente – incluir ar-condicionado e ventiladores em ambientes internos, reduzindo o calor neles (MENDES, 2013; COUTO; COUTO, 2020). FOTO Eak/Shutterst ock Suranto W/Shutterst ock Naypong Studio/Shutte rst oc k 82 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Minimizando o calor no receptor/trabalhador Utilizar EPI especiais para contenção do calor – óculos de segu- rança com lentes especiais para retenção da radiação e vestimentas adequadas ao calor (INTERSABERES, 2014; MENDES, 2013; COUTO; COUTO, 2020). Disponibilizar aos trabalhadores áreas de redução de calor – uma prática comum são salas de descanso com ar-condicionado e água à disposição, proporcionando descanso e hidratação em um ambiente com temperatura regulada e amena (COUTO; COUTO, 2020). Reduzir a exposição ao calor – proporcionar um rodízio entre ati- vidades com exposição ao calor e atividades sem essa exposição, reduzindo o contato do trabalhador com o calor. • Introduzir pausas frequentes para que o trabalhador possa se restabelecer (WACHOWICZ, 2012; INTERSABERES, 2014). Disponibilizar protetor solar – item cada vez mais comum aos trabalhadores expostos ao sol durante suas atividades. Isso mere- ce atenção e cuidado, pois as lesões de pele são comuns nesses trabalhadores. Realizar treinamentos para os trabalhadores sobre o risco calor – disseminar conhecimento sobre os riscos ao corpo gerados pelo calor e sobre condutas adequadas em casos de desmaios e outros sintomas de calor excessivo. Agora falando sobre o frio – como no caso de indústrias de pro- teínas animais –, as variações de temperatura fazem parte da rotina. Quase todos os ambientes são artificialmente climatizados de acordo com os processos e as normas que os regulam. Vejamos a seguir quais são as medidas de controle mais usadas para garantir as condições de saúde e segurança desses trabalhadores. Minimizando a fonte geradora de frio Isolar ou manter afastadas as fontes de frio – como usualmente já é feito, pois as fontes de frios em indústrias já são realizadas des- sa forma. Por exemplo, as câmaras frias são por si só isoladas das demais áreas. New Africa/Shutterst ock Ações de saúde e segurança do trabalho nas empresas 83 Minimizando a trajetória e o meio de propagação do frio Não há muito o que fazer, porque geralmente as câmaras frias já são isoladas e fechadas para contenção do frio, o que gera um am- biente frio de maneira que os produtos possam ser manuseados e/ou armazenados dessa forma. Tirar o frio, nesse caso, implicaria perder a qualidade desses produtos. Minimizando o frio no receptor/trabalhador Utilizar EPI especiais para contenção do frio – durante todo o pro- cesso de manipulação, por exemplo, de proteínas animais, há tem- peraturas baixas a serem mantidas visando à qualidade do produto. • Fornecer os itens essenciais, como agasalhos. Outros EPI usados são vestimentas térmicas que envolvem todo o corpo, luvas tér- micas, máscara de segurança facial, capuz, respiradores com fil- tros específicos, botas e meias térmicas. Todos esses itens têm por finalidade diminuir as lesões que o frio pode ocasionar, assim como manter a temperatura do corpo normal (INTERSABERES, 2014; MENDES, 2013). Disponibilizar aos trabalhadores áreas de redução do frio – uma prática comum são salas de descanso, proporcionando des- canso e manutenção da temperatura corporal de maneira amena – as chamadas pausas térmicas, que duram em média 20 minutos (MENDES, 2013). Reduzir a exposição ao frio – proporcionar rodízio entre ativida- des com e sem exposição ao frio, reduzindo o contato do trabalha- dor com o frio (INTERSABERES, 2014; MENDES, 2013). Em suma, o calor e o frio são agentes que requerem uma atenção especial de toda a equipe de SST. Esses agentes são responsáveis por desequilíbrios no nosso corpo, tanto de maneira aguda quanto crôni- ca. A forma aguda seria com a sensação do momento, seja de calor ou frio. Já a forma crônica aparece por meio de desequilíbrios em nossos órgãos ou tecidos após longos anos de contato com o calor ou frio. Por- tanto, agir sobre esses agentes é combater os males que eles podem desencadear. Prieto/Shutterst ock 84 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional 4.1.3 Iluminação A iluminação é um fator importante nas boas práticas dentro de um ambiente de trabalho. Segundo o item 17.8.1 da NR-17 (BRASIL, 2021, p. 8), que fala sobre as condições de conforto no ambiente de trabalho, “em todos os locais e situações de trabalho deve haver iluminação, natural ou artificial, ge- ral ou suplementar, apropriada à natureza da atividade”. Para sabermos exatamente qual é a iluminação adequada a cada ambiente, a própria NR-17 indica que seja utilizada a NHO 11 (FUNDACENTRO, 2018), que fala sobre os níveis de iluminamento em ambientes internos de trabalho. Segundo Couto e Couto (2020), dois fatores merecem destaque para se obter iluminação correta dentro dos ambientes de trabalho: (i) a in- tensidade da iluminação, expressa em lux; e (ii) a luminância ou brilho. Esses dois fatores podem gerar para o trabalhador a sensação de má iluminação ou de ofuscamento, atrapalhando os trabalhos diários, principalmente para aquelas pessoas que atuam com a utilização de computadores (WACHOWICZ, 2012). Trabalhar em um local mal iluminado pode causar vários danos ao trabalhador e à produção. Segundo Couto e Couto (2020), há duas con- sequências que podem afetar o trabalhador nesse sentido: Queda de rendimento – observada principalmente nos trabalhadores para os quais a visão é fundamental no desenvolvimento das atividades, como nas linhas de montagem fina e nos trabalhos com documentos ou com o computador. 11 Fadiga visual – observada nos mesmos grupos de trabalhadores, cos- tuma aparecer por meio de alguns sinais, como ardor nos olhos, ver- melhidão, lacrimejamento, fotofobia (intolerância à claridade), diplopia (visão dupla), cefaleias e até mesmo vertigens. 22 Já em ambientes industriais, a falta de iluminação pode gerar erros e até mesmo acidentes – por exemplo, colocar a mão em um local pe- rigoso da máquina, não enxergar um degrau e cair, não ver uma parte Ações de saúde e segurança do trabalho nas empresas 85 defeituosa da máquina –, podendo gerar, com isso, outros erros e ris- cos (INTERSABERES, 2014). Ao contrário do que vimos até agora, as medidas de controle para iluminação não são para minimizar a fonte de luz, mas para viabilizar que a luz chegue de maneira adequada à superfície de trabalho do co- laborador e/ou no ambiente de trabalho. Por isso, mudamos a nomen- clatura que adotamos até então, porém a ideia de agir nas medidas de controle segue a mesma. Desse modo, vejamos as medidas de controle para que uma ilumi- nação em ambientes industriais e administrativos seja adequada. Maximize a fonte geradora de iluminação Disponibilizar luz natural nos ambientes de trabalho – a luz na- tural é a fonte de luz mais barata que existe. Logo, utilizar essa fonte e economizar energia elétrica promove um bem tanto para os tra- balhadores quanto para o meio ambiente. • Cuidar com o excesso de luz natural, pois ele pode gerar refle- xos em telas de computadores. É importante posicionar a mesa de uma maneira que os reflexos não atrapalhem a visualização (WACHOWICZ, 2012). Maximize a trajetória e o meio de propagação da iluminação Manter os vidros limpos – apesar de parecer ser uma atitude estranha, muitos locais de trabalho produzem uma quantidade grande de poeira ou qualquer outro resíduo que, com o tempo, pode deixar os vidros dasjanelas opacos, diminuindo a incidên- cia de luz solar. Trocar o local das máquinas e mesas de trabalho para próximo de janelas – deixar o local de atuação do trabalhador próximo das janelas é deixar a visão do trabalhador mais iluminada. • Cuidar com as incidências de reflexos em telas e mesas (COUTO; COUTO, 2020). Usar cores claras para paredes e tetos – as cores claras deixam o ambiente mais bem iluminado, pois refletem melhor a iluminação, além de trazerem mais calma e tranquilidade (WACHOWICZ, 2012). zhu difeng/Shutterst ock Zastolskiy Victor/Shutterst ock 86 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Retirar obstáculos – há empresas que colocam estantes com ob- jetos em frente às janelas, obstruindo a incidência da luz solar ou a iluminação das lâmpadas. Maximize a iluminação no receptor/trabalhador Instalar luminárias próximo ao local exato de trabalho – pois muitos locais de trabalho dispõem de paredes altas, assim como o teto, onde ficam as lâmpadas. Essas lâmpadas funcionam para iluminar o local, porém muitas atividades precisam de uma ilumi- nação focal (MENDES, 2013). Realizar exames periódicos nos trabalhadores – para verificar a acuidade visual, sendo que, se houver necessidade de óculos, eles também devem ser providenciados (MENDES, 2013; COUTO 2020). Em suma, a iluminação é o agente causador de riscos que está presente em todos os ambientes de trabalho. Porém, por ser sim- ples, muitas vezes não é mensurada de modo adequado, causando futuras lesões ao trabalhador. Portanto, providenciar uma ilumina- ção apropriada pode eliminar acidentes e futuras lesões oculares aos trabalhadores. 4.1.4 Agentes químicos Os produtos químicos estão presentes na produção de alimentos, medicamentos e inúmero outros produtos produzidos nas empresas. Sendo assim, o uso constante de produtos químicos pode ferir os tra- balhadores de diferentes formas. Alguns dos produtos mais comuns usados nas empresas são: tintas, solventes, removedores, ácidos, pesticidas e gases (MENDES, 2013). Essa exposição aos produtos químicos, além de prejudicar o traba- lhador, pode também prejudicar o meio ambiente, por isso é importan- te saber como guardá-los, manuseá-los e eliminá-los. Vejamos as medidas de controle existentes para esses produtos, seguindo o mesmo pensamento: agir na fonte, na trajetória e no re- ceptor (FUNDACENTRO, 2012; MENDES, 2013). Photoroyalty/Shutterst ock Ações de saúde e segurança do trabalho nas empresas 87 Minimize a fonte geradora do agente químico Utilizar produtos químicos menos perigosos – há no mercado uma infinidade de produtos usados para o mesmo fim, então deve- -se escolher aquele menos agressivo aos trabalhadores e ao meio ambiente (MENDES, 2013). Colocar rótulos em todos os produtos químicos perigosos – é essen- cial deixá-los visíveis aos trabalhadores. Caso seja necessário transferir os produtos para outros recipientes, deve-se rotular esse novo recipien- te, afinal uma sinalização adequada é fundamental (WACHOWICZ, 2012). Disponibilizar aos trabalhadores instruções – por exemplo, como usar cada produto químico, inclusive usando instruções por escrito e com ilustrações, principalmente que estejam no idioma do traba- lhador, pois muitos produtos são de outros países (MENDES, 2013). Manter os produtos químicos em recipientes fechados, isolan- do-os – de modo que os trabalhadores não sejam expostos a eles (MENDES, 2013). Manter o local de guarda dos produtos químicos distante do lo- cal de trabalho e em locais fechados – deve haver um local de guarda específico e bem-sinalizado. Além disso, esse local precisa ser bem iluminado, organizado e ventilado. Utilizar símbolos para identificação de produtos químicos – essa é mais uma maneira de chamar a atenção dos trabalhadores, além de ser de rápida identificação (WACHOWICZ, 2012). Garantir que o piso seja resistente e de fácil limpeza – principal- mente em locais de guarda dos produtos químicos (MENDES, 2013). Minimize a trajetória e o meio de propagação do agente químico Disponibilizar aos trabalhadores treinamentos sobre como usar, armazenar e descartar os agentes químicos – é ideal rea- lizar a prática da atividade para que o trabalhador não fique com nenhuma dúvida e entenda a importância de cada procedimento. Ainda, muitos produtos químicos não são detectados pelos sentidos humanos, por isso, nesses casos, os cuidados precisam ser maiores. chemical industry/Shuttersto ck PRODUTO INFLAMÁVEL CORROSIVO Photo smile/Shutterst ock anut21ng Stock/Shutte rst oc k 88 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional • Elaborar procedimentos, por escrito, para o manuseio de produ- tos químicos e fazer treinamentos e práticas de como realizar as atividades (WACHOWICZ, 2012). Disponibilizar sistemas de exaustão – para os trabalhadores que utilizam produtos químicos, diminuindo a exposição a esses produ- tos (COUTO; COUTO, 2020). Manter uma boa ventilação – principalmente nos locais de manu- seio e guarda de produtos químicos, diluindo a concentração dos agentes químicos no ar (MENDES, 2013). Limpar periodicamente os ambientes de trabalho – diminuindo a exposição a grandes quantidades de produtos químicos. Estabelecer sistemas de alarme – para mensurar e avisar quan- do as concentrações de alguns agentes químicos ultrapassarem o ideal. É importante ter sistemas de alarme que notifiquem qualquer tipo de excesso desses agentes químicos no ar. Minimize o agente químico no receptor/trabalhador Fornecer os EPI – os EPI, como roupas de proteção, óculos, luvas, respiradores e botas, são necessários aos trabalhadores que man- têm contato com produtos químicos (MENDES, 2013). Manter uma rotina de checagem dos equipamentos de segu- rança e quanto a vazamentos dos produtos químicos – essa roti- na pode ser realizada de maneira preventiva e/ou corretiva. Minimizar o tempo de exposição dos trabalhadores aos produ- tos químicos – por meio de pausas, rodízios e alternâncias de ativi- dades (MENDES, 2013). Realizar acompanhamento médico periódico – importante ação para a verificação da saúde do trabalhador exposto a agentes químicos. Disponibilizar chuveiro e lava-olhos – pensando em casos de al- gum tipo de contaminação, é importante ter por perto um chuveiro e lava-olhos, pois ações rápidas podem prevenir lesões mais graves. De maneira geral, os agentes químicos são aqueles com os quais as empresas costumam ter mais cuidado. Portanto, caso estejamos David Fuentes Prieto/Shut ters toc k Zephyr_p/Shutterst ock Andrey_Popov/Shutterst ock Ações de saúde e segurança do trabalho nas empresas 89 4.2 Gestão de riscos Vídeo A gestão de riscos é uma ação necessária para que toda empresa possa sobreviver de maneira segura, deixando seus colaboradores com saúde. Para isso, é necessário um gerenciamento de modo sistemático e seguindo as regras ditadas por inúmeros documentos existentes nas nossas leis e nas normas regulamentadoras. De uma forma geral, a gestão dos riscos dentro das empresas deve proteger a segurança e saúde de todos por meio da prevenção contra riscos, degradação da saúde e doenças relacionadas ao trabalho. Para tanto, é importante que façam parte dessa gestão não somen- te os gestores de cargos altos, mas também o trabalhador da linha de frente, pois é ele que tem a vivência diária de todo o processo de pro- dução da empresa (MENDES, 2013). Segundo a Fundacentro (2005, p. 26), as empresas devem adotar medidas preventivas e de proteção: a) eliminar o fator de risco (perigo) e riscos; b) controlar o fator de risco (perigo) e risco na fonte com a adoção de me- didas de controle de engenharia ou medidas organizacionais; c) reduzir ao mínimo os fatores de risco (perigos) e riscos através da con- cepção de sistemas seguros de trabalho que compreendam medidas administrativas de controle; e d) se os fatores de risco (perigos) e riscos residuais não puderem ser con- trolados por meio de medidas coletivas, o empregador deverá fornecer gratuitamenteequipamento de proteção individual apropriado, incluindo vestuário, e adotar medidas que assegurem o uso e a manutenção des- ses equipamentos. O vídeo O que é um pro- grama de gerenciamento de riscos ocupacionais faz parte de um programa disponibilizado pela Fundacentro explicando como deve ser feito o gerenciamento de risco. Além dele, há outros quatro vídeos, todos complementares, sobre o tema abordado. Logo, é essencial assistir aos cinco vídeos como forma de entender de que modo são realizados os gerenciamentos de riscos em grandes empresas e como isso pode afetar o bom desenvolvimento de cada empresa. Disponível em: https://www. youtube.com/playlist?list=PLT47 pQi4dNB2UODMZ8a9hlawgOg CzdJVH. Acesso em: 10 fev. 2023. Vídeo atuando nessa área, é importante lembrarmos o quanto é importante nos mantermos sempre atentos aos cuidados necessários para evitar- mos acidentes dessa origem. https://www.youtube.com/playlist?list=PLT47pQi4dNB2UODMZ8a9hlawgOgCzdJVH https://www.youtube.com/playlist?list=PLT47pQi4dNB2UODMZ8a9hlawgOgCzdJVH https://www.youtube.com/playlist?list=PLT47pQi4dNB2UODMZ8a9hlawgOgCzdJVH https://www.youtube.com/playlist?list=PLT47pQi4dNB2UODMZ8a9hlawgOgCzdJVH 90 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Já no subitem 1.5.3.2 da NR-1 (BRASIL, 1978, p. 4-5) encontramos orientações sobre o gerenciamento de riscos, responsabilidades e de- veres que toda empresa deve seguir: a) evitar os riscos ocupacionais que possam ser originados no trabalho; b) identificar os perigos e possíveis lesões ou agravos à saúde; c) avaliar os riscos ocupacionais indicando o nível de risco; d) classificar os riscos ocupacionais para determinar a necessidade de adoção de medidas de prevenção; e) implementar medidas de prevenção, de acordo com a classificação de ris- co e na ordem de prioridade estabelecida na alínea “g” do subitem 1.4.1 e; f) acompanhar o controle dos riscos ocupacionais. Disponível em: https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-es- pecificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/normas-re- gulamentadoras/nr-01-atualizada-2022.pdf. Acesso em: 10 fev. 2023. Os itens citados pela NR-1 já foram abordados quando falamos so- bre os riscos de ruído, calor, frio e iluminação. Desse modo, temos con- dições de realizar grande parte desse gerenciamento de risco, item tão importante para a saúde do trabalhador. Para fazer toda essa gestão dos riscos, cada empresa precisa buscar meios que sejam eficazes e de fácil entendimento para todos. Cada empresa vai buscar a melhor maneira de monitorar, medir e registrar o desempenho da SST. Segundo Mendes (2013), um dos métodos de gerenciamento de ris- cos mais comuns e conhecidos é o PDCA. Fe br iz io – V ec to rO z/ Sh ut te rs to ck Planejar Agir Executar Checar Ações de saúde e segurança do trabalho nas empresas 91 Seguindo o desenvolvimento de uma ação aplicável e mais detalha- da dentro de cada empresa, vejamos o que pode ser feito em cada uma das quatro fases do ciclo PDCA. 1 PDCA – Planejar No planejamento, você pensará de maneira preventiva no geren- ciamento de riscos. É a parte mais importante e a que precisa de mais atenção. Dentro dela, você pode realizar em cada local de trabalho as seguintes ações: • verificar quais perigos podem ocorrer; • avaliar os riscos que podem ocorrer; • implementar um plano de ação com medidas de controle; • estabelecer um cronograma anual para cada ação definida; • definir indicadores de desempenho para que você consiga definir o quanto essas ações estão evitando acidentes, e, caso eles ocor- ram, o quão rápido esses acidentes se desfazem. Com base no último item, vejamos alguns exemplos de indicadores: • reduzir o número de queixas no ambulatório; • reduzir o número de atestados médicos; • reduzir o número de acidentes de trabalho; • reduzir a taxa de gravidade das doenças ocupacionais; • reduzir o número de absenteísmos, entre outros. 2 PDCA – Executar Nessa etapa, você executará tudo o que colocou no papel durante o planejamento. Veja alguns exemplos do que você pode fazer: • implementar medidas de controle descritas no plano de ação; • realizar ações educativas, como treinamentos e simulações do que fazer durante um acidente; • implantar manuais de segurança com instruções de trabalho para as atividades de produção e manutenção – instruções são importantes porque colocam no papel tudo o que o trabalhador pode e não pode fazer durante suas atividades; 92 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional • deixar claro e documentado todo o processo de trabalho é tão importante quanto esclarecer de maneira prática todo esse processo que o trabalhador precisa realizar; • implantar serviços especializados em engenharia de segurança e medicina do trabalho (SESMT) – que, segundo a NR-4, têm como finalidade promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho. Essa equipe multidiscipli- nar pode ser composta por técnico de segurança do trabalho, engenheiro de segurança do trabalho, enfermeiro do traba- lho, auxiliar de enfermagem do trabalho e médico do trabalho (MENDES, 2013); • manter um almoxarifado de EPI à disposição da equipe – dei- xar o trabalhador com EPI à disposição significa que, se algo acontecer com o EPI do trabalhador, ele não precisa esperar que haja a compra do produto, pois ele já está disponível na hora em que precisar. 3 PDCA – Checar Nessa etapa, você verificará seus indicadores e analisará se você está ou não atingindo metas traçadas no plano de ação (MENDES, 2013). Veja algumas das ações que você pode fazer: • avaliar a eficácia das medidas de controles implementadas na empresa; • revisar os documentos comprobatórios de todas as ações e acon- tecimentos na empresa. 4 PDCA – Agir Durante essa etapa, você agirá para que haja uma padronização das ações de sucesso e realizará correções nas ações que não foram bem- -sucedidas (MENDES, 2013). Veja alguns exemplos do que fazer: • realizar ações corretivas nas quais houver indicadores que apon- tem essa necessidade – exemplo: novos treinamentos; • realizar padronização das ações corretivas de sucesso. Ações de saúde e segurança do trabalho nas empresas 93 Por fim, precisamos ter em mente que a gestão de risco na produ- ção não pode ser analisada separadamente da gestão de riscos nas pessoas. As formas de gestão do trabalho assumem uma natureza agressiva e até violenta que estimula a competição entre trabalhado- res e equipes, impondo metas e cargas cada vez maiores. Portanto, tal contexto apresenta desafios às intervenções que pretendem mudar os modelos de gestão para tornar o trabalho mais humano e sustentável. 4.3 Doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho (DORT) Vídeo A partir daqui saberemos mais sobre algumas doenças comuns no ambiente laboral: as doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho (DORT). As DORT acometem os ossos e as estruturas musculares, os nervos, os tendões e os líquidos articulares do corpo humano, mas principalmente afetam os membros superiores (mãos, punhos, cotovelos e ombros), e estão relacionadas diretamente às atividades de trabalho. Tudo o que acontece com as estruturas osteomusculares dos trabalhadores e que advém do ambiente laboral é classificado como DORT (WACHOWICZ, 2012; COUTO; COUTO, 2020). Segundo Couto e Couto (2020), as principais doenças osteomuscu- lares relacionadas ao trabalho nos membros superiores, em ordem aproximada de frequência (roxo indica a maior frequência; vermelho, média; e laranja, menor), são as seguintes: lla m am am a/ Sh ut te rs to ck Dor difusa em membros superiores, relacionadas com tensão excessiva e ausência de sinais clínicos de lesão, como as dores nas costas, nos ombros, nos cotovelos e nos punhos. Fadiga de qualquer grupamento muscular envolvido em esforços estáticos, por exemplo, cansaço nos braços e antebraços. Tensão cervical, sendoas dores no pescoço um exemplo comum. Elencados na sequência, porém bem menos frequentes atualmen- te, dispomos os quadros clínicos específicos: 94 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Tendinite de supra espinhoso Inflamação dos tendões dos músculos do ombro. Bursite de ombro Inflamação da bolsa subacromial Epicondilite lateral Inflamação dos tendões dos músculos do cotovelo. Tendinite nos antebraços Inflamação dos tendões dos músculos do antebraço. lla m am am a/ Sh ut te rs to ck 1 2 3 4 5 Tenossinovite nos antebraços Inflamação das bainhas dos cotovelos e punhos. E o que leva ao aparecimento das DORT? Para entendermos melhor, há inúmeras questões que podem ser ditas como causadoras dessas doenças. Porém, entendamos que o diagnóstico geralmente vem a par- tir da associação de mais de uma causa, e isso pode ser visto pelos agentes causadores seguintes. Repetitividade de ações nas atividades laborais Uma atividade que exige do trabalhador a execução de ações repe- tidas por longos períodos, como a montagem de pequenas peças. Imaginemos uma esteira de linha de montagem, na qual o trabalha- dor usa uma parafusadeira constantemente para parafusar uma peça. Ele realiza essa atividade rapidamente, enquanto a esteira vai trazendo a próxima peça já na sequência. Esse trabalhador realiza essa atividade o dia inteiro, usando sempre a mesma mão e com seu pescoço inclina- do para baixo constantemente. Isso é configurado como uma atividade repetitiva (MENDES, 2013). Aplicação de força excessiva com mãos Imaginemos um trabalhador realizando a quebra de uma pare- de com marreta. Ele usa uma força muito grande para poder que- brar a parede, e essa ação demora o dia inteiro, pois ele tem um prazo para fazer isso e reformar o ambiente. Essa aplicação de for- ça excessiva pode gerar, por exemplo, uma lesão inflamatória no cotovelo e no ombro. Esforços estáticos e posturas estáticas O esforço estático é aquele em que o corpo estabiliza um determi- nado grupo muscular para que outra parte do corpo possa trabalhar. Acontece em trabalhos de montagem de alta precisão e na montagem Ground Picture/Shutterst ock Oleksandr Khmelevskyi/S hutt ers to ck Ações de saúde e segurança do trabalho nas empresas 95 de peças das partes inferiores do carro, em que o trabalhador perma- nece com os braços elevados para fazer a montagem. Também temos os professores que utilizam a escrita no quadro o dia inteiro, os trabalhadores de cortes de carnes de frango que perma- necem com os braços elevados enquanto os frangos vão chegando, além do trabalhador que permanece longos períodos trabalhando no computador, tanto no escritório quanto aqueles que trabalham em home office (MENDES, 2013). Vibração ao usar ferramentas Um bom exemplo aqui é o uso de ferramentas que emitem uma vibração forte, como britadeiras, parafusadeiras e marteletes de rebi- tar. Se essa vibração é feita somente em poucos momentos, isso não é considerado um risco, porém, se a atividade é realizada constante- mente, o risco existe (WACHOWICZ, 2012; MENDES, 2013). Compressões mecânicas É a compressão de partes do corpo durante o uso de equipamen- tos de trabalho. Temos como exemplo os trabalhadores que utilizam ferramentas manuais, pois, durante o uso, muitas delas comprimem partes das mãos e acabam machucando tendões e nervos. Outro exemplo são os trabalhadores que utilizam o computa- dor com o apoio do antebraço na mesa ou no suporte de braço da cadeira, gerando uma compressão do cotovelo e deixando esses trabalhadores com dormência nas mãos, formigamentos e dores (COUTO; COUTO, 2020). Tempo insuficiente de recuperação Aqui entramos em um assunto essencial: as pausas para recupera- ção. É importante ter em mente que o nosso corpo precisa de descan- so para que a circulação sanguínea se restabeleça no local onde há muita contração, seja ela estática ou móvel. Para isso, a inclusão de pausas por tempos determinados é de grande importância (WACHO- WICZ, 2012; COUTO; COUTO, 2020; MENDES, 2013). Gorodenkoff/Shutterstock ANDRIY B/Shutterst oc k Andrey_Popov/S hutt ers to ck f zkes/Shutterstock 96 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Fatores organizacionais do trabalho As mais comuns são: insuficiência de pessoal para execução das atividades e prazos curtos para a entrega de produtos, o que sobre- carrega os colaboradores; e a falta de manutenção dos equipamentos, o que ocasiona tanto um esforço maior dos trabalhadores quanto re- trabalhos por conta de erros. Todas essas questões geram sobrecarga muscular no trabalhador que pode levar às DORT (WACHOWICZ, 2012; MENDES, 2013). Como podemos perceber, há inúmeras fontes do aparecimento das DORT, e essa lista é ainda maior, pois cada empresa acaba tendo uma relação única entre o trabalho e o trabalhador, gerando, assim, uma infinidade de fatores que podem gerar as DORT. Dessa forma, para se ter uma empresa saudável, é preciso pessoas saudáveis e alinhadas, por isso é tão importante a equipe de saúde e segurança do trabalho (SST) dentro das empresas. É a partir dessa equipe que tudo vai começar a melhorar, sendo com base em um diag- nóstico precoce ou mesmo na atuação rápida quando algum acidente acontece. Por fim, devemos conhecer algumas medidas de controle para as DORT que a equipe de SST pode realizar. 1 Diagnóstico precoce Quando ocorre o aparecimento de alguma dor muscular ao realizar o trabalho, a equipe médica precisa ser detalhista e abordar vários assuntos com o trabalhador a fim de descobrir de onde vem essa dor. • Acompanhar o trabalhador em sua jornada de trabalho dá ao mé- dico um entendimento preciso de como é realizada a atividade diária e as possíveis causas do aparecimento da DORT (MENDES, 2013; COUTO; COUTO, 2020). 2 Ação médica adequada A partir do diagnóstico preciso, o médico deve agir para minimizar os sintomas que podem acarretar o afastamento do trabalhador. Essas ações podem ser a indicação de medicamentos, o afastamen- Viktor Gladkov/S hutt ers to ck Ações de saúde e segurança do trabalho nas empresas 97 to por um período ou mesmo o afastamento definitivo, levando o trabalhador a realizar outra atividade e indicação de fisioterapia (COUTO; COUTO, 2020); 3 Ação ergonômica adequada Aqui entra um ator importante dentro das empresas: o ergono- mista. A função dele é verificar o posto de trabalho e adequar esse posto para que o trabalhador possa realizar sua atividade de manei- ra confortável, segura e sem proporcionar desgastes à sua saúde. A ação do ergonomista pode gerar uma infinidade de medidas de controle dentro da empresa. Tendo em mãos um diagnóstico de DORT, vejamos algumas dicas do que um ergonomista pode realizar. 3.1 Mudanças na organização da empresa – verificada a sobre- carga dos trabalhadores em um determinado posto de traba- lho, a indicação do aumento de mão de obra permite que os trabalhadores possam realizar suas atividades de uma manei- ra mais calma e sem causar sobrecargas às suas articulações. Outra ação é incluir uma avaliação periódica dos equipamen- tos utilizados, fazendo com que o trabalhador não exerça força excessiva na sua atividade (WACHOWICZ, 2012; COUTO; COU- TO, 2020). 3.2 Incluir pausas – de maneira geral, é indicado que os trabalha- dores com cargos de linha de montagem realizem uma pausa de dez minutos a cada duas horas. Esse tempo de pausa pode variar conforme a avaliação ergonômica, porém a pausa em al- gum momento é necessária. Deixar a musculatura descansar evita desgastes articulares, nutre os músculos e traz descanso mental (WACHOWICZ, 2012; COUTO; COUTO, 2020). 3.3 Compressões mecânicas – para os trabalhadores que utilizam ferramentas manuais, providenciar ferramentas com revesti- mento macio (por exemplo, de borracha). Para os trabalhadores que utilizam tesouras, dispor os modelos com molas para auxiliar na abertura da tesoura e não comprimir nervos e tendões, como já acontece com os alicatesde jardim. 98 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Para os trabalhadores que utilizam o computador, disponibilizar um protetor de quina para que fique mais ameno o suporte do antebraço e não haja uma compressão de nervos do antebraço (COUTO; COUTO, 2020). 3.4 Esforços estáticos e posturas estáticas – para essas ativi- dades estáticas, além das pausas e dos cuidados com ferra- mentas, há também as mudanças de layout que proporcionam uma melhor postura durante a realização das atividades. Para os trabalhadores que atuam na montagem de peças de au- tomóvel na parte inferior do carro, usar equipamentos que dei- xam o carro na diagonal em vez de deixá-lo suspenso. Isso evita que o trabalhador precise elevar os braços o tempo inteiro. Para os trabalhos de cortes em linhas de abate, utilizar plata- formas que modificam a altura do trabalhador de acordo com a parte do animal que está sendo cortada. Para os trabalhadores que atuam com computador, tanto em escritório quanto em home office, disponibilizar um mousepad e coxim de apoio de teclado para minimizar o esforço estático dos punhos e antebraços (COUTO; COUTO, 2020). Por fim, uma questão importante nas DORT é o relato do trabalha- dor. Saber escutá-lo e entender como a atividade é realizada já pode dar a você uma ideia do que está causando as lesões para que, a partir daí, entre com medidas de controle adequadas. Portanto, a equipe de SST, quando já tem conhecimento técnico sobre as DORT, atua de ma- neira preventiva, evitando que as lesões aconteçam. 4.4 Doenças psicossociais e cognitivas Vídeo O ambiente de trabalho influencia significativamente a saúde do trabalhador, tanto de maneira positiva quanto negativa. Porém, nas últimas décadas, têm ocorrido mudanças significativas no mundo do trabalho relacionadas ao reconhecimento do trabalho como influen- ciador direto na saúde psíquica do trabalhador: os riscos psicossociais, que podem conduzir a uma grave deterioração da saúde física e mental dos trabalhadores (MENDES, 2013). No vídeo LER e o mundo do trabalho, a Fundacen- tro resume o tema sobre as DORT e seus impactos. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=ou6Vj1JdQ6o. Acesso em: 10 fev. 2023. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=ou6Vj1JdQ6o https://www.youtube.com/watch?v=ou6Vj1JdQ6o https://www.youtube.com/watch?v=ou6Vj1JdQ6o Ações de saúde e segurança do trabalho nas empresas 99 Os riscos psicossociais geram estresse relacionado ao trabalho, o qual é desencadeado por inúmeras causas de doenças psicossociais, como exigências e pressões do trabalho que não são compatíveis com os conhecimentos e habilidades do trabalhador e que desafiam a sua capacidade de lidar com exigências internas e externas da relação entre o indivíduo e o ambiente (WACHOWICZ, 2012; COUTO; COUTO, 2020). Outra questão que também tem ganhado cada vez mais espaço é o aparecimento de doenças, como a síndrome de Burnout. A Burnout tem sido definida na literatura como um estado de exaustão física, emocional e mental que resulta de um envolvimento de longo prazo em situações de trabalho emocionalmente exigentes. A pessoa tem uma depressão profunda, com baixíssimo ânimo vital (COUTO; COUTO, 2020). Os fatores psicossociais são um conceito relativamente recente e se referem às condições presentes em situações laborais relacionadas à organização do trabalho, à hierarquia, à realização da tarefa e ao meio ambiente, que podem favorecer ou prejudicar a atividade laboral, bem como a qualidade de vida e a saúde dos trabalhadores. Segundo Couto e Couto (2020), os riscos psicossociais podem es- tar relacionados ao conteúdo do trabalho, à carga e ritmo de traba- lho, ao horário de trabalho, ao controle e, por fim, à cultura e função organizacional. Conteúdo do trabalho A falta de variedade e complexidade das tarefas e a consequente monotonia ou repetibilidade delas pode ser fonte de sofrimento no trabalho, à medida que, na realização de trabalhos que envolvem múltiplas tarefas, o empregado tem maiores oportunidades de uti- lizar as suas habilidades e competências. Essa questão diz respeito, ainda, à elevada incerteza e contínua exposição ao convívio com pessoas por meio do trabalho. Tomando como exemplo a profissão de professor, é exigido aos docentes que se relacionem com alunos, pais ou responsáveis, cole- gas e equipa técnica, relacionamentos esses que, em muitas ocasiões, podem ser ou se tornar conflituosos, uma vez que tais relações não são escolhidas pelos professores e, frequentemente, não são aceitos ou reconhecidos os esforços desses profissionais. 100 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Carga e ritmo de trabalho Esse aspecto está relacionado à incapacidade de lidar com as exi- gências da profissão, ou seja, se uma pessoa sentir que as exigências do trabalho são excessivas e que não consegue lidar com elas, essas exigências podem provocar estresse. Incluem-se nesse caso a quanti- dade e a complexidade do trabalho. Somam-se a essa questão as contínuas exigências de prazos difí- ceis de cumprir, e com isso o trabalhador pode adoecer. Outro item que aumenta a carga de trabalho é a falta de recursos para realizar tal atividade. Nesse caso, a empresa exige um certo nível de qualidade, porém não disponibiliza ao trabalhador recursos suficientes para que o trabalho seja executado. Horário de trabalho As questões relacionadas ao horário de trabalho, como o trabalho por turnos, turnos noturnos, trabalho aos domingos, horários de tra- balho rígidos e inflexíveis, são vistos como pouco compatíveis com a preservação do bem-estar e influenciam a disponibilidade temporal e emocional para as relações da esfera pessoal e familiar. Controle O nível de estresse de uma pessoa pode ser influenciado pelo nível de controle que essa pessoa possui sobre a carga e o ritmo de trabalho. Por exemplo, quando uma pessoa tem controle e influência sobre o modo como planeja e realiza o seu trabalho, isso ajuda-a a lidar com os desafios que se apresentam. Por outro lado, se uma pessoa não tem o controle, se são outras pessoas que determinam o ritmo ou a forma como trabalha, então isso pode levá-la a sentimentos de estresse. Portanto, a baixa participação na tomada de decisões pode con- tribuir para o estresse e impede que uma pessoa desenvolva e utilize novas competências, fazendo com que não tenha tanto compromisso com a organização. Ações de saúde e segurança do trabalho nas empresas 101 Cultura e função organizacional Refere-se aos baixos níveis de apoio e estímulo para a resolução de problemas e desenvolvimento pessoal. Isso também está relacio- nado à má comunicação, à estrutura hierárquica e ao estilo de lide- rança. Por isso que são essenciais o apoio e o feedback positivo, pois podem ajudar as pessoas a superar as dificuldades que predizem a satisfação com o trabalho Exemplificando, uma das características centrais do bem-estar no trabalho é “o respeito dos superiores à liberdade de expressão dos empregados, isto é, o fato de os superiores permitirem que os empre- gados expressem seus pontos de vista sem temer represálias” (SILVA; FERREIRA, 2013, p. 337). Também podemos incluir a falta de reconhecimento no trabalho, como acontece em equipes cujo líder somente critica o grupo, exigindo sempre o melhor, mas que, quando há a conquista de algum objetivo, nunca elogia e/ou não parabeniza. Para solucionar cada uma dessas questões, as empresas precisam ter uma visão mais ampla, e o gerenciamento desses riscos precisa de muita atenção, assim como respeito ao trabalhador. E como a equipe do SST da empresa pode agir para melhorar todas essas questões? Como podem ser as medidas de controle? Vejamos, a se- guir, algumas ações que já são usadas e que apresentam bons resultados. Disponibilização de um canal de comunicação psicológico dentro da em- presa, sem que a pessoa seja identificada. Incluir atendimentos on-line ou mesmo presencial, seja dentro ou fora da empresa, algo que é usadocom bastante frequência e possui inúmeras vantagens. Afinal, ter alguém que não seja um colega ou líder para poder escutar o trabalhador e, quem sabe, dar alguma ajuda imediata é de suma importância (MENDES, 2013). Realizar, com frequência, um monitoramento da ocorrência de sobrecar- gas mentais nas equipes. Aqui, há inúmeros métodos usados de maneira anônima para avaliar o clima organizacional, como é a relação com a che- fia, entre outras tantas questões envolvendo esses riscos (MENDES, 2013). Em mais um vídeo da série Napo são mostradas várias condições estressantes no ambiente de trabalho. Disponível em: https://youtu.be/ BuzrH0tVTDM. Acesso em: 13 fev. 2023. Vídeo (Continua) https://youtu.be/BuzrH0tVTDM https://youtu.be/BuzrH0tVTDM 102 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Após um bom monitoramento, incluir os aspectos avaliados e levar para discussão dentro de cada equipe. Muitas vezes, há ocorrência de bullying e de ações preconceituosas dentro de uma equipe de trabalho que podem ser eliminadas a partir do momento que todos ficam sabendo. Por exemplo, podem ser realizadas discussões sobre como agir e como não agir nos ambientes de trabalho (MENDES, 2013). Realizar reuniões com a equipe e os líderes para discutir cada ação im- portante e quem será responsável por cada etapa e, principalmente, se o número de trabalhadores é suficiente para dar conta da demanda do pro- jeto. É importante garantir que as tarefas e funções de cada trabalhador sejam conhecidas por todos, bem como que as metas objetivadas sejam alcançáveis dentro do horário normal de trabalho (MENDES, 2013). Pensar em incluir pausas ativas e pausas passivas. As pausas ati- vas são as pausas em que o trabalhador sai do ambiente laboral para realizar alguma outra atividade recreativa, por exemplo, uma ginástica laboral. Já as pausas passivas são aquelas em que o trabalhador sim- plesmente sai do ambiente laboral para descanso em outro ambiente (COUTO; COUTO, 2020). Incluir treinamentos e cursos aos gestores/líderes e à equipe opera- cional sobre bons comportamentos dentro da empresa, ensinando como trabalhar em equipe, como respeitar os colegas, como ser um líder e como lidar com estresse. Incentivar a prática de atividades físicas. Item importante para que o trabalhador tenha um corpo físico saudável e disposto. Muitas empresas disponibilizam planos de academias para seus colaboradores, outras pre- param recreações, como corridas e jogos de futebol aos finais de semana. Cuidar dos equipamentos e maquinários da empresa, deixando-os sempre em bom estado e com os devidos cuidados para a saúde do trabalhador, incluindo a realização de manutenções dos equipamentos. Estar em uma empresa que cuida da saúde do trabalhador e se preocupa com ela dá ao colaborador uma sensação de respeito com a sua própria saúde. Incluir a participação dos trabalhadores nas tomadas de decisões impor- tantes, principalmente nas que são relacionadas ao processo de trabalho e aos prazos para entrega dos produtos. É importante realizar reuniões constantemente para definir objetivos e avaliar se os meios são suficientes para eles serem atingidos (MENDES, 2013; COUTO; COUTO, 2020). Ações de saúde e segurança do trabalho nas empresas 103 Portanto, as causas dos riscos psicossociais podem vir de muitos aspec- tos e cada caso deve ser estudado e analisado pela equipe de saúde e segu- rança do trabalho (SST). Estar atento a isso e resolver essas questões com rapidez é considerado um grande desafio. Porém, a partir do momento em que a equipe de trabalho percebe que há essa preocupação dentro da em- presa, as mudanças de comportamentos são bem mais fáceis de acontecer. 4.5 Saúde do trabalho x produtividade Vídeo O que vimos até aqui foram diversas maneiras de deixar um tra- balhador saudável ou doente em seu ambiente laboral. No entanto, o que todos esses riscos e perigos têm a ver com a produtividade da em- presa? Ora, devemos concordar que um trabalhador doente não atua de maneira satisfatória, por isso é de grande importância manter sua saúde em bom estado. Para isso, precisam ser disponibilizadas boas condições de trabalho, as quais são definidas por Dejours (1992, p. 25) como ambiente físico (temperatura, pressão, barulho, vibração, irra- diação, altitude etc), ambiente químico (produtos manipulados, vapores e gases tóxicos poeiras, fumaças etc), o ambiente bioló- gico (vírus, bactérias, parasitas, fungos), as condições de higie- ne, de segurança, e as características antropométricas do posto de trabalho. De um ponto de vista prático, há algumas questões que nos dizem que a saúde da empresa está boa em relação à produtividade. Bom clima organizacional – essa análise pode ser feita usando-se ferramentas já aceitas no mercado e que muitas vezes dão à empresa orientações sobre onde e como melhorar o clima organizacional; é um momento que o trabalhador pode falar sem ser identificado (COUTO; COUTO, 2020). Ergonomia – os cuidados com a saúde física dos trabalhadores por meio da eliminação do risco ergonômico associado às tarefas geram satisfação no trabalhador e uma sensação de que a empresa tem cui- dado com seus colaboradores (WACHOWICZ, 2012). (Continua) Ra sh ad A sh ur /S hu tte rs to ck Ra sh ad A sh ur /S hu tte rs to ck 104 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional Financeiro – refere-se aos ganhos financeiros obtidos em função do melhor aproveitamento da mão de obra, ou seja, por meio de boas po- líticas de gerenciamento de riscos e perigos, pode-se obter ganhos na produtividade (COUTO; COUTO, 2020). Ra sh ad A sh ur /S hu tte rs to ck Os cuidados da empresa com a saúde do trabalhador e a prevenção de acidentes proporcionam algumas melhorias: um ambiente seguro para a execução do trabalho e para o trabalhador; diminuição de doen- ças como as DORT e a Burnout; e redução do número de absenteísmos e licenças por doenças. Por fim, a visão do trabalhador sobre a empresa tende a ser mais positiva, gerando, com isso, retenção de talentos para ela. CONSIDERAÇÕES FINAIS Percebemos que um olhar atento na produção não significa somente olhar para o produto. Ele é somente a consequência de um bom trabalho em equipe, no qual cada trabalhador tem sua função essencial para que no final tudo corra da maneira mais satisfatória. Incluir o tema saúde e segurança do trabalhador na pauta da empresa é sinal de inteligência e empatia com toda a equipe, dos grandes líderes até o operário final de uma linha de produção. Lembrar que uma empresa é feita por pessoas e que essas pessoas são a parte mais importante na produção de qualquer produto dá à em- presa um olhar mais humanizado e uma grande satisfação do trabalhador para com o trabalho. Assim, essa satisfação é o objetivo a ser alcançado, pois ele gera pessoas felizes com o trabalho que realizam. ATIVIDADES Atividade 1 Para a gestão de segurança, as empresas devem adotar medidas preventivas e de proteção, introduzidas em uma determinada ordem para que fique fácil e abranja a empresa de maneira geral. Qual é a devida ordem? Ações de saúde e segurança do trabalho nas empresas 105 Atividade 2 Sobre as medidas de controle para ambientes com ruído, indique ao menos uma medida de controle aplicada na fonte, na trajetória e no receptor. Atividade 3 Por que as pausas são tão importantes para os trabalhadores? REFERÊNCIAS ARAÚJO, W. T. Manual de segurança do trabalho. São Paulo: DCL, 2010. BRASIL. Portaria n. 423, de 7 de outubro de 2021. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 8 out. 2021. BRASIL. Portaria n. 3.214, de 8 de junho de 1978. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 6 jul. 1978. COUTO, H. A.; COUTO, D. C. Ergonomia 4.0: dos conceitos básicos à 4ª Revolução Industrial. Belo Horizonte: Ergo, 2020. DEJOURS, C. A loucura do trabalho: estudo de Psicopatologia do trabalho. 5. ed. São Paulo: Cortez, 1992. FUNDACENTRO – Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho. Avaliaçãoqualitativa de riscos químicos: orientação básica para controle da exposição a produtos químicos. Brasília: Fundacentro, 2012. FUNDACENTRO – Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho. Diretrizes sobre sistemas de gestão da segurança e saúde no trabalho. Brasília: Fundacentro, 2005. FUNDACENTRO – Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho. NHO 06: avaliação da exposição ocupacional ao calor. Brasília: Fundacentro, 2017. FUNDACENTRO – Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho. NHO 11: avaliação dos níveis de iluminamento em ambientes internos de trabalho. Brasília: Fundacentro, 2018. INTERSABERES (org.). Saúde e segurança. Curitiba: Intersaberes, 2014. MENDES, R. Patologia do trabalho. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2013. SILVA, C. A.; FERREIRA, M. C. Dimensões e indicadores da qualidade de vida e do bem-estar no trabalho. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 29, n. 3, 2013. WACHOWICZ, M. C. Segurança, saúde e ergonomia. Curitiba: Intersaberes, 2012. Resolução das atividades 1 Introdução à saúde e segurança do trabalho 1. Descreva no mínimo três comportamentos que atrapalham a nossa percepção de risco. A pressa, a autoconfiança, a falta de habilitação, a falta de isolamento das máquinas, desrespeito aos limites, improviso ou uso de ferramentas e EPI inadequados. 2. Descreva dois comportamentos seguros que você deve ter ao trabalhar em uma empresa. Observar o local de trabalho, saber quais medidas de segurança adotar, saber como eliminar ou amenizar incidentes, proteger os locais que podem causar riscos, usar somente máquinas e ferramentas em bom estado de conservação, manter o ambiente de trabalho limpo e organizado e não tomar decisões por impulso. 3. Como são classificados os riscos ocupacionais? Cite pelo menos um exemplo de cada tipo. a. Riscos físicos: ruído, vibração, pressões anormais, temperaturas extremas, radiação ionizante e radiação não ionizante. b. Riscos químicos: fumaças, poeiras, vapores e névoas. c. Riscos biológicos: micro-organismos, parasitas, bactérias, vírus e fungos. d. Riscos ergonômicos: má postura devido ao mobiliário inadequado. e. Riscos mecânicos: acidentes como explosões. 2 Fundamentos da ergonomia 1. Sobre os conceitos de ergonomia por diversos autores, escreva um único período que pode ser usado como conceito de ergonomia. A ciência que estuda a adaptação do trabalho às características dos trabalhadores. 2. A ergonomia de conscientização está presente nas empresas por meio de treinamentos e palestras. Dê um exemplo de treinamento 106 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional que uma empresa pode realizar com seus funcionários para evitar acidentes de trabalho. Treinamentos de primeiros socorros, sobre o uso de EPI, como se sentar, como carregar peso, como se movimentar em uma empresa, como se comportar de forma segura, entre outros. 3. A ergonomia pode entrar dentro de uma empresa para resolver inúmeras questões relacionadas à saúde do trabalhador. Por exemplo, se um ergonomista for contratado para resolver questões sobre o número de trabalhadores afastados por doenças ocupacionais, qual seria uma das atividades a ser realizada dentro dessa empresa? Avaliar os postos de trabalho que estão fazendo com que tenha afastamentos por doenças do trabalho e agir para que esses números diminuam, por meio de mudanças nos maquinários, no layout da sala, treinamentos, entre outros. 3 Análise e avaliação ergonômica 1. Após ler sobre os objetivos da ergonomia, elabore uma frase que pode ser usada como objetivo geral da ergonomia. O objetivo da ergonomia é proporcionar ao trabalhador conforto, segurança, saúde e desempenho eficiente no trabalho. 2. Quando o ergonomista entra em uma empresa avalia vários fatores da atividade do trabalhador. Dê um exemplo do que um ergonomista pode avaliar dentro de uma empresa. Depois disso, classifique esse exemplo como fator biomecânico, organizacional, mobiliário ou ambiental. • Fator biomecânico – é o trabalhador que atua em uma linha de produção fazendo a mesma coisa o dia inteiro, sem grandes mudan- ças nas posições do corpo, caracterizando um trabalho repetitivo. • Fator organizacional – é a falta de trabalhadores para executar as atividades, fazendo com que a empresa faça com frequência horas ex- tras para dar conta dos pedidos. Em vez disso, a empresa pode contra- tar mais trabalhadores, evitando horas extras e excesso de trabalho. • Fator mobiliário – é disponibilizar cadeiras com ajustes de altura do assento e do encosto para aqueles trabalhadores que atuam o dia inteiro sentados. Resolução das atividades 107 • Fatores ambientais – é proporcionar uma melhor iluminação ao ambiente de trabalho, evitando desgastes visuais. 3. O ergonomista pode entrar em uma empresa para resolver inúmeras questões relacionadas à saúde do trabalhador. Por exemplo, se um ergonomista fosse contratado para resolver o número de trabalhadores afastados por doenças ocupacionais, vindas do excesso de peso levantado, qual seria uma recomendação de melhoria a ser realizada dentro dessa empresa? Adquirir um carrinho para facilitar esse transporte, ou uma paleteira, ou uma empilhadeira. 4 Ações de saúde e segurança do trabalho nas empresas 1. Para a gestão de segurança, as empresas devem adotar medidas preventivas e de proteção, introduzidas em uma determinada ordem para que fique fácil e abranja a empresa de maneira geral. Qual é a devida ordem? • Eliminar o perigo e riscos – esta é a primeira ação, tentar eliminar os perigos e riscos; • Controlar o perigo e risco na fonte – caso a primeira opção não dê certo, procurar controlar o perigo na fonte geradora; • Reduzir os perigos e riscos com medidas administrativas – se- guir com medidas administrativas, como diminuição da exposição da fonte geradora, realizar rodízios e pausas ao longo do dia de trabalho; • Disponibilizar equipamentos de proteção individual – por fim, disponibilizar medidas de controle que possam proteger de modo individual o trabalhador do agente gerador de perigo. 2. Sobre as medidas de controle para ambientes com ruído, indique ao menos uma medida de controle aplicada na fonte, na trajetória e no receptor. I. Na fonte do ruído: • manutenção de ferramentas geradoras de ruído; • aquisição de ferramentas com baixo ruído; • fechamento das partes das máquinas que geram ruídos. II. Na trajetória do ruído: 108 Ergonomia, saúde e segurança ocupacional • isolar a parte da máquina que gera ruído; • isolar a atividade geradora de ruído das demais atividades da empresa. III. No receptor do ruído: • utilizar EPI; • separar trabalhadores que utilizam bastante o telefone dos demais com anteparos e barreiras físicas, como painéis. 3. Por que as pausas são tão importantes para os trabalhadores? As pausas são importantes para evitar desgastes articulares, nutrir os músculos e para o descanso mental do trabalhador. Isso é necessário para que o trabalhador possa trabalhar de maneira mais saudável e até mesmo de maneira segura, pois um corpo e mente cansados podem gerar erros. Além de evitar o aparecimento de doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho (DORT). Resolução das atividades 109 ISBN 978-65-5821-234-8 9 786558 212348 Código Logístico I000987 Ergonom ia, saúde e segurança ocupacional Caroline M artinello Página em branco Página em branco