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Livro Digital Aula 09 – Interpretação: texto literário ENEM – 2020 Professora Celina Gil Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 2 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br Sumário Apresentação .................................................................................................................................... 3 1 – Prosa e Poesia .................................................................................................................. 3 Prosa ................................................................................................................................................................................. 3 Poesia................................................................................................................................................................................ 7 2 - Intertextualidade............................................................................................................. 13 Intertextualidade explícita .............................................................................................................................................. 13 Intertextualidade implícita ............................................................................................................................................. 14 2.1 – Citação .................................................................................................................................... 16 Citação direta ................................................................................................................................................................. 16 Citação indireta .............................................................................................................................................................. 16 2.2 – Epígrafe .................................................................................................................................. 17 2.3 – Paráfrase ................................................................................................................................ 18 2.4 – Paródia ................................................................................................................................... 19 3 – Exercícios ........................................................................................................................ 20 3.1 – Já caiu no ENEM ..................................................................................................................... 21 3.2 – Outros vestibulares ................................................................................................................. 32 3.3 – Gabarito .................................................................................................................................. 43 3.4 – Questões comentadas ............................................................................................................ 44 Considerações finais ............................................................................................................. 77 Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 3 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br Apresentação Caro aluno, Na aula de hoje, vamos nos debruçar sobre a interpretação do texto literário. Aula 09 – Prosa, poesia e intertextualidade - Prosa e Poesia - Comparação entre os gêneros textuais, verbais ou não; - Paródia, citação, paráfrase, epígrafe e hipertexto. Muitos dos conteúdos apresentados aqui são abordados de maneira mais profunda nas aulas de literatura. Nosso interesse aqui não é falar de literatura em si, mas sim de forma do texto literário. Vamos pensar sobre o que caracteriza um texto em prosa e um em poesia e suas principais formações. Além disso, vamos pensar sobre intertextualidade. É muito comum que o vestibular una textos de diferentes estilos e naturezas e peça que você relacione um com outro. Por isso, pensaremos nos diversos tipos de intertextualidade que podem ocorrer entre textos – inclusive os não literários. Vamos lá? 1 – Prosa e Poesia Pode-se dizer que uma obra literária pode ser interpretada segundo dois aspectos: forma e conteúdo. Quanto à forma, convém dividir os textos literários em prosa e poesia. Prosa A prosa é o texto escrito em parágrafos. É um texto escrito sem necessariamente considerar divisões rítmicas ou sonoras. Ela pode ser dividida em dois grandes grupos: narrativa e demonstrativa. Prosa narrativa: textos históricos ou de ficção que se proponham a narrar fatos e acontecimentos. Leia este trecho do conto “Pai contra mãe”, de Machado de Assis: “Cândido Neves, — em família, Candinho, — é a pessoa a quem se liga a história de uma fuga, cedeu à pobreza, quando adquiriu o ofício de pegar escravos fugidos. Tinha um defeito grave esse homem, não aguentava emprego nem ofício, carecia de estabilidade; é o que ele chamava caiporismo. Começou por querer aprender tipografia, mas viu cedo que era preciso algum tempo para compor bem, e ainda assim talvez não ganhasse o Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 4 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br bastante; foi o que ele disse a si mesmo. O comércio chamou-lhe a atenção, era carreira boa. Com algum esforço entrou de caixeiro para um armarinho. A obrigação, porém, de atender e servir a todos feria-o na corda do orgulho, e ao cabo de cinco ou seis semanas estava na rua por sua vontade. Fiel de cartório, contínuo de uma repartição anexa ao Ministério do Império, carteiro e outros empregos foram deixados pouco depois de obtidos. Quando veio a paixão da moça Clara, não tinha ele mais que dívidas, ainda que poucas, porque morava com um primo, entalhador de ofício. Depois de várias tentativas para obter emprego, resolveu adotar o ofício do primo, de que aliás já tomara algumas lições. Não lhe custou apanhar outras, mas, querendo aprender depressa, aprendeu mal. Não fazia obras finas nem complicadas, apenas garras para sofás e relevos comuns para cadeiras. Queria ter em que trabalhar quando casasse, e o casamento não se demorou muito.” Prosa demonstrativa: textos ligados à oratória (como discursos) e didáticos (ensaios, tratados, diálogos, etc.). Leia este trecho do discurso proferido por Machado de Assis na ocasião da inauguração da estátua em homenagem a José de Alencar: “Hoje, senhores, assistimos ao início de outro monumento, este agora de vida, destinado a dar à cidade, à pátria e ao mundo a imagem daquele que um dia acompanhamos ao cemitério. Volveram anos; volveram coisas; mas a consciência humana diz-nos que, no meio das obras e dos tempos fugidios, subsiste a flor da poesia, ao passo que a consciência nacional nos mostra na pessoa do grande escritor o robusto e vivaz representante da literatura brasileira.“ Na literatura, a preocupação está na prosa narrativa, de ficção. A chamada prosa literária é uma das mais importantes para o estudo dos vestibulares. Nela se encontram os contos, as novelas e os romances: Prosa literária Conto: Histórias curtas, com apenas um conflito e poucas personagens. Novela: Histórias de tamanho intermediário, com diversos conflitos que se seguem e muitas personagens. Romance: História mais longa, com um conflito central e outros secundários que ocorrem em paralelo, complementando- se. As personagens podem aparecer e desaparecer de acordo com a necessidade. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 5 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br Por vezes, você pode encontrar o termo prosa poética. É um tipo de texto que apesar de ser organizado em parágrafos, tem maior cuidado com a sonoridade e o ritmo da escrita. Por isso, é chamadode poético. Um expoente brasileiro da prosa poética é Guimarães Rosa. Sagarana é um de seus livros mais conhecidos e exigidos em muitos vestibulares. É um livro de contos. Que tal ler um deles para se acostumar com um ritmo de prosa diferente do comum? Sobre o ritmo do texto em prosa, a principal questão a se analisar é a paragrafação. Cada tipo de texto pede um modo de organização de parágrafos. Em textos dissertativos, por exemplo, tende- se a dividir os parágrafos por assuntos. Na prosa literária a organização não se dá necessariamente assim. Os autores trabalham a construção dos parágrafos de acordo com seu estilo pessoal e com o momento da narração. Pode-se dividir os parágrafos de acordo com seu tamanho ou conteúdo: ➢ Tamanho: Curtos: Se focam apenas nas informações mais importantes, descritas de maneira sucinta. Textos infantis, por exemplo, costumam contar com esse tipo de parágrafo. Ex.: “André, o bom Andrezinho, menino querido e estimado por todos que o conheciam, achava-se desesperado, banhado em lágrimas, aflito, porque sabia que o seu extremoso pai estava nos paroxismos finais da vida” (Histórias da Avozinha, Figueiredo Pimentel) Médios: Apresenta as ideias com maior profundidade, sem cair na prolixidade. São compostos, normalmente, por mais de um período. É uma estrutura que prende mais facilmente a atenção do leitor. Ex.: “Isaura era filha de uma linda mulata, que fora por muito tempo a mucama favorita e a criada fiel da esposa do comendador. Este, que como homem libidinoso e sem escrúpulos olhava as escravas como um serralho à sua disposição, lançou olhos cobiçosos e ardentes de lascívia sobre a gentil mucama. Por muito tempo resistiu ela às suas brutais solicitações; mas por fim teve de ceder às ameaças e violências. Tão torpe e bárbaro procedimento não pôde por muito tempo ficar oculto aos olhos de sua virtuosa esposa, que com isso concebeu mortal desgosto.” (A escrava Isaura, Bernardo Guimarães). Longos: Alguns autores utilizam parágrafos longos para descrever minuciosamente alguma situação ou personagem. Outros autores formam períodos muito longos, com muitos conectivos, como escolha estética, podendo assumir diversos significados. Neste exemplo, o parágrafo é tão extenso que chega a ser o capítulo como um todo. Ex.: Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 6 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br “Quando o testamento foi aberto, Rubião quase caiu para trás. Adivinhais por quê. Era nomeado herdeiro universal do testador. Não cinco, nem dez, nem vinte contos, mas tudo, o capital inteiro, especificados os bens, casas na Corte, uma em Barbacena, escravos, apólices, ações do Banco do Brasil e de outras instituições, joias, dinheiro amoedado, livros, — tudo finalmente passava às mãos do Rubião, sem desvios, sem deixas a nenhuma pessoa, nem esmolas, nem dívidas. Uma só condição havia no testamento, a de guardar o herdeiro consigo o seu pobre cachorro Quincas Borba, nome que lhe deu por motivo da grande afeição que lhe tinha. Exigia do dito Rubião que o tratasse como se fosse a ele próprio testador, nada poupando em seu benefício, resguardando-o de moléstias, de fugas, de roubo ou de morte que lhe quisessem dar por maldade; cuidar finalmente como se cão não fosse, mas pessoa humana. Item, impunha-lhe a condição, quando morresse o cachorro, de lhe dar sepultura decente em terreno próprio, que cobriria de flores e plantas cheirosas; e mais desenterraria os ossos do dito cachorro, quando fosse tempo idôneo, e os recolheria a uma urna de madeira preciosa para depositá-los no lugar mais honrado da casa.” (Quincas Borba, Machado de Assis) ➢ Conteúdo: Descritivos: Parágrafos com muitos adjetivos, cujo objetivo é detalhar algum personagem, local ou situação. Ex.: “É uma sala em quadro, toda ela de uma alvura deslumbrante, que realçavam o azul celeste do tapete de riço recamado de estrelas e a bela cor de ouro das cortinas e do estofo dos móveis. A um lado duas estatuetas de bronze dourado representando o amor e a castidade, sustentam uma cúpula oval de forma ligeira, donde se desdobram até o pavimento, bambolins de cassa finíssima.” (Senhora, José de Alencar) Dissertativos: Parágrafos que apresentam ideias e as defendem por meio de argumentos. Ex.: “Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição da sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.” (Quincas Borba, Machado de Assis) Narrativos: Parágrafos que efetivamente contam as ações das personagens e suas repercussões na história. Ex.: Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 7 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br “A coisa se deu assim. Depois do meu telegrama (lembram-se: o telegrama em que recusei duzentos mil-réis àquele pirata), a Gazeta entrou a difamar-me. A princípio foram mofinas cheias de rodeios, com muito vinagre, em seguida o ataque tornou-se claro e saíram dois artigos furiosos em que o nome mais doce que o Brito me chamava era assassino. Quando li essa infâmia, armei- me de um rebenque e desci à cidade.” (São Bernardo, Graciliano Ramos) Poesia Antes de entrar na estrutura da poesia em si, vamos observar os gêneros literários em que se divide a poesia. Gêneros Os gêneros poéticos, também chamados de gêneros literários são divididos em três, de acordo com suas estruturas formais e de conteúdo: lírica, épica e dramática. • Poemas que falam sobre os sentimentos e estados de espírito, direcionados diretamente ao leitor. • As emoções e opiniões do eu-lírico são bastante evidentes. • Engloba a poesia satírica, ou seja, aquela que promove sentimentos de escárnio. Gênero lírico • Poemas em que são narrados grandes feitos heroicos, reais ou mitológicos. • Os relatos são grandiosos e extensos, contando com muitas estrofes. • Ilíada e Odisseia (Homero) e Os Lusíadas (Luís de Camões) são os poemas épicos mais conhecidos. Gênero épico • Na poesia dramática não há a figura de um narrador, ou seja, as personagens são responsáveis por contar a própria história. • Pode apresentar traços tanto épicos quanto líricos em seu conteúdo, porém sua característica mais marcante é não ter narrador. • É percursora do texto teatral. Gênero dramático Esta divisão foi cunhada em um período da história em que a poesia era a forma literária mais popular. Hoje em dia, pode-se considerar que texto em prosa também podem se enquadrar nessas categorias. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 8 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br A poesia é um texto estruturado em versos, ou seja, em linhas encadeadas normalmente de tamanho pequeno. A poesia se preocupa a estética, combinando sons e significados das palavras com organizações sintáticasnão necessariamente preocupadas com a norma culta. Quanto à poesia, para interpretá-la é preciso prestar a atenção em: estrutura, métrica, composições e gêneros. Estrutura da poesia Vamos partir do poema “Mar Português”, de Fernando Pessoa: Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu. Estes são os elementos básicos de um poema: ➢ Verso: cada uma das linhas do poema. Pode ter regularidade de tamanho ou não. “Ó mar salgado, quanto do teu sal” ➢ Estrofe: conjunto de versos, que pode se estruturar de maneira regular ou não. Cada linha pulada no poema representa uma mudança de estrofe “Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar!” ➢ Rima: repetição fonética que ocorre em um intervalo. Identifica-se, principalmente, pelo som das últimas palavras dos versos. “Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 9 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu.” ATENÇÃO: os esquemas de rimas costumam ser representados por letras, em que cada letra corresponde a um som. Assim, na estrofe transcrita acima, o esquema de rimas seria AABBCC, em que A = “ena”, B = “dor” e C = “eu”. ➢ Eu lírico ou voz lírica ou sujeito lírico: a pessoa que se expressa no poema. Não confunda com o próprio poeta. Enquanto artista, um poeta pode falar sobre diversos assuntos e com diversos pontos de vista. Veja, por exemplo, dois poemas de heterônimos* de Fernando Pessoa: Álvaro de Campos “Acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do [que as outras, Acordar da Rua do Ouro, Acordar do Rocio, às portas dos cafés, Acordar E no meio de tudo a gare, que nunca dorme, Como um coração que tem que pulsar através [da vigília e do sono.” Alberto Caeiro “O meu olhar azul como o céu É calmo como a água ao sol. É assim, azul e calmo, Porque não interroga nem se espanta” *heterônimos: são autores fictícios, com personalidade e estilo próprios. Um mesmo poeta pode assumir diferentes personalidades e ter diversos heterônimos e cada um escrever de uma maneira. Percebe-se aqui que quando assume a postura de Álvaro de Campos, o poeta escreve sobre a cidade, a velocidade e as questões da vida urbana. Quando escreve como Alberto Caeiro, fala sobre o campo, a natureza e a paz do campo. Apesar de ser o mesmo autor, o sujeito lírico de cada um dos poemas é diferente. Métrica A métrica de um poema se dá pelo número de sílabas de um verso. Conta-se as sílabas até a última sílaba tônica, ou seja, a sílaba forte da última palavra do verso. Isso ocorre porque o que dá ritmo a um texto poético é o som das sílabas tônicas. Observe o exemplo: “Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente;” (Luís de Camões) A/ mor / é / fo/ go /que ar/ de / sem / se / ver, é / fe/ ri/ da / que / dói,/ e /não /se /sente; Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 10 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br Esse trecho do poema de Camões mostra versos de dez sílabas. No segundo verso, percebe- se que na palavra “sente”, “sen” é a sílaba tônica. Portanto, a contagem de sílabas vai até esse ponto. Além disso, você reparou esse sinal no primeiro verso: ? Esse sinal indica a elisão. Ela ocorre quando duas sílabas têm sons próximo e, quando lidas, acabam parecendo ser um só. Leia o primeiro verso em voz alta. O “que arde” acaba sendo lido “quiarde”, assim mesmo, tudo junto. Por isso, “que ar” conta como uma sílaba só. Perceba a diferença de tamanho dos versos a partir do quadro abaixo: PRINCIPAIS MÉTRICAS EXEMPLOS Redondilha menor: verso de 5 sílabas poéticas “Não chores, meu filho; Não chores, que a vida É luta renhida: Viver é lutar. A vida é combate, Que os fracos abate, Que os fortes, os bravos Só pode exaltar.” (Gonçalves Dias) Redondilha maior: verso de 7 sílabas poéticas “Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá.” (Gonçalves Dias) Decassílabo: verso com 10 sílabas poéticas “Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro! Não levo da existência uma saudade! E tanta vida que meu peito enchia Morreu na minha triste mocidade!” (Álvares de Azevedo) Verso alexandrino ou dodecassílabo: verso com 12 sílabas poéticas. “Quando, em prônubo anseio, a abelha as asas solta E escala o espaço, — ardendo, exul do corcho céreo, Louca, se precipita a sussurrante escolta Dos noivos zonzos, voando ao nupcial mistério.” (Olavo Bilac) Veja um verso embaixo do outro para perceber a diferença de tamanho entre eles: 5 sílabas: Não / cho/ res, / meu /filho 7 sílabas: Mi/ nha / te/ rra /tem /pal/meiras 10 sílabas: A/ deus,/ meus/ so/nhos,/ eu / pran/te/io e / morro! 12 sílabas: Quan/ do, em / prô/ nu/bo na/se/io, a/ be/ lha as / a/ sas / solta Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 11 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br Quando os versos não são regulares, eles podem ser entendidos de duas maneiras: ➢ Versos livres: versos sem métrica. “Começo a conhecer-me. Não existo. Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram, Ou metade desse intervalo, porque também há vida… Sou isso, enfim…” (Álvaro de Campos) ➢ Versos brancos: versos sem rimas. “Da minha aldeia veio quanto da terra se pode ver no Universo... Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer Porque eu sou do tamanho do que vejo E não, do tamanho da minha altura...” (Alberto Caeiro) Composições A composição é a organização regular de um poema de acordo com o número de versos por estrofe. Apesar de haver inúmeras possibilidades de composição de um poema, estas são as principais formas para o estudo dos vestibulares: ➢ Quadrilha ou quadra: poema formado por estrofes de quatro versos de sete sílabas cada uma. Por quem foi que me trocaram Por quem foi que me trocara Quando estava a olhar pra ti? Pousa a tua mão na minha E, sem me olhares, sorri. Sorri do teu pensamento Porque eu só quero pensar Que é de mim que ele está feito E que o tens para mo dar. Depois aperta-me a mão E vira os olhos a mim... Por quem foi que me trocaram Quando estás a olhar-me assim? (Fernando Pessoa) Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 12 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br ➢ Soneto: poema de 14 versos, organizados em quatro estrofes. As duas primeira estrofes são quartetos (4 versos por estrofe) e as duas últimas estrofes são tercetos (três versos por estrofe). Pálida à luz da lâmpada sombria, sobre o leito de flores reclinada, como a lua por noite embalsamada, entre as nuvens do amor ela dormia! Era a virgem do mar, na escuma fria pela maré das águas embalada! Era um anjo entre nuvens d’alvorada que em sonhos se banhava e se esquecia! Era mais bela! O seio palpitando... Negros olhos as pálpebras abrindo... Formas nuas no leito resvalando... Não te rias de mim, meu anjo lindo! Por ti – as noites eu velei chorando, por ti – nos sonhos morrerei sorrindo! (Álvares de Azevedo) ➢ Haicai: poema de três versos em que o 1º verso possui 5 sílabaspoéticas, o 2º verso possui 7 sílabas poéticas e o 3º verso possui 5 sílabas poéticas. O Poeta Caçador de estrelas. Chorou: seu olhar voltou com tantas! Vem vê-las! (Guilherme de Almeida) Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 13 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br 2 - Intertextualidade Entende-se por intertextualidade a relação entre dois ou mais textos, entendendo qual a natureza dessa relação. Algumas vezes a intertextualidade é mais evidente outras não. Pode também aparecer entre textos de diferentes naturezas, verbais e visuais. Veja alguns exemplos para compreender melhor a ideia: Intertextualidade explícita Observe essa imagem: Ela faz referência explícita à famosa capa do álbum Abbey Road (1969), dos Beatles. Essa fotografia já foi recriada por diversos artistas e com diversos personagens. Aqui, colocamos alguns autores de língua portuguesa no lugar dos integrantes da banda. Temos, da esquerda para a direita, Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 14 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br Intertextualidade implícita Observe a comparação entre esses dois poemas: Com licença poética (Adélia Prado) Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada. Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir. Não tão feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim, ora não, creio em parto sem dor. Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos — dor não é amargura. Minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô. Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou. Poema de Sete Faces (Carlos Drummond de Andrade) Quando nasci, um anjo torto Desses que vivem na sombra Disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida As casas espiam os homens Que correm atrás de mulheres A tarde talvez fosse azul Não houvesse tantos desejos O bonde passa cheio de pernas Pernas brancas pretas amarelas Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração Porém meus olhos Não perguntam nada (...) Perceba que, nesse caso, a referência é implícita, ou seja, depende de uma interpretação mais aprofundada para ser compreendida. Depende também de maior conhecimento por parte do leitor. Caso não conhecesse o poema de Drummond, o leitor poderia não compreender essa referência. Muitas vezes você encontrará as palavras alusão ou referência para se referir à ideia de intertextualidade. Lembre-se: Alusão: menção rápida ou vaga. Referência: menção ou ato de se reportar a algo. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 15 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br Muitas vezes, o mesmo autor pode produzir textos que trabalham com a intertextualidade. Um dos autores brasileiros que mais profundamente realiza esse diálogo entre obras de sua própria autoria é Machado de Assis. Em nossa aula, usaremos muitos exemplos do autor. Veja esse trecho da obra Quincas Borba (1892): Memórias póstumas de Brás Cubas foi lançado em 1881. Ele reaproveita a personagem que dará nome ao romance de Quincas Borba, o filósofo. Isso atesta um procedimento comum em Machado de Assis: a intertextualidade com a própria obra. Sua intertextualidade tem muitas vezes a função de humilhar o leitor, de mostrar a ele o quão despreparado ele pode ser. No trecho acima, a ironia de Machado de Assis fica evidente: ele duvida que o leitor possa ter lido sua obra anterior e trata como se a leitura da obra anterior fosse um favor que o leitor faz a ele. No audiovisual, é comum aparecer a intertextualidade de outros modos! Veja como: Crossover Quando personagens de séries ou filmes diferentes interagem entre si em uma obra específica. É uma produção pontual. Ex.: O filme Batman vs Superman - a origem da justiça se inspira em diversas revistas para criar o encontro entre os dois super-heróis. É diferente da Liga da Justiça, por exemplo, que apesar de unir vários heróis, é uma série de quadrinhos, não um especial. Spin off É uma obra derivada de outra. Costuma se concentrar especificamente em um personagem ou situação e se aprofundar nele. Ex.: As personagens dos Minions, do filme Meu malvado favorito, fizeram muito sucesso. Por isso, eles ganharam uma série de filmes só deles. [CAPÍTULO IV] ESTE QUINCAS BORBA, se acaso me fizeste o favor de ler as Memórias Póstumas de Brás Cubas, é aquele mesmo náufrago da existência, que ali aparece, mendigo, herdeiro inopinado, e inventor de uma filosofia. Aqui o tens agora em Barbacena. Logo que chegou, enamorou-se de uma viúva, senhora de condição mediana e parcos meios de vida, mas, tão acanhada que os suspiros no namorado ficavam sem eco. Chamava-se Maria da Piedade. Um irmão dela, que é o presente Rubião, fez todo o possível para casá-los. Piedade resistiu, um pleuris a levou. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 16 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br 2.1 – Citação Um dos tipos de intertextualidade possíveis é a citação. A citação é o ato de referenciar a fala de outra pessoa. Ela pode ocorrer tanto de maneira direta quanto indireta. Citação direta Ocorre quando o autor coloca as palavras de outro autor em seu texto assim como elas foram escritas e referencia a origem da citação. Ex.: Citação indireta Ocorre quando o autor cita as palavras de outro autor, reescrevendo o texto original ou apenas citando as palavras sem referenciar a origem. Ex.: Essa canção é popularmente conhecida na França. Ela faz referência à personagem irmã Anne, do conto A Barba Azul, de Charles Perrault. O conto fala sobre um homem muito rico que, no entanto, por possuir uma barba azul, era desprezado pelas moças. Ele vivia em um palácio suntuoso, com tapeçarias, ouro, prata e espelhos diversos, capazes inclusive de distorcer a imagem de quem se vê neles. Anne é a irmã da mulher que acaba tendo que se casar com Barba Azul. Ela é uma irmã boa – diferente de muitas dos contos de fadas. Essa fala – que em português significa “Irmã Anne, irmã Anne, você não vê ninguém chegar?” – é proferida pela irmã quando precisa de ajuda, pois Barba CAPÍTULO XLVII Talvez o Rio de Janeiro para ela fosse Botafogo, e propriamente a casa de Natividade. O pai não apurou as causas da recusa; supô-las políticas, e achou novas forças para resistir às tentações de D. Cláudia: "Vai-te, Satanás; porque escrito está: Ao Senhor teu Deus adorarás, e a ele servirás". E seguiu-se como na Escritura: "Então o deixou o Diabo; e eis que chegaram os anjos e o serviram". (Esaú e Jacó, Machado de Assis) (...) Eu saía fora, a um lado e outro, a ver se descobria algum sinal de regresso. Soeur Anne, soeur Anne, ne vois-tu rien venir? Nada, coisa nenhuma; tal qual como na lenda francesa. Nada mais do que a poeira da estrada e o capinzal dos morros. (O espelho, Machado de Assis) Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 17 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br Azul está ameaçando matá-la. Anne fica no alto de uma torre, esperando ajuda e, de quando em quando, sua irmã a pergunta isso. O conto “O espelho”, de Machado de Assis, fala sobre um homem que, ao se encontrar sozinho em uma casa distanciada da sociedade, passa a questionar sua própria identidade, não sendo mais capaz de se reconhecer. No momento em que está ansiando pela chegada de alguém na casa, a personagem faz essa citação. 2.2 – Epígrafe Uma epígrafeé frase que vem no início de um livro, um capítulo, um conto etc.. Ela funciona como um tema do texto, ou seja, resume o sentido ou mensagem da obra como um todo. São citações diretas de outros autores. Ex.: No início do conto “A hora e a vez de Augusto Matraga”, de Guimarães Rosa, há duas epígrafes: um trecho de uma canção antiga e um provérbio capiau*. Perceba que nenhum desses textos possui autor conhecido. São fruto de conhecimentos populares, sem autoria definida. Isso é um traço muito comum desse autor: o uso de referências ligadas ao popular. *capiau: regionalismo que significa caipira ou roceiro, muitas vezes com sentido pejorativo. O conto relata a história de Nhô Augusto, um homem que vivia uma vida mundana, com bebida, brigas e saideiras. Ele era casado com Dona Dionóra, mas a traía de maneira contumaz. Cansada do tratamento que recebia, Dona Dionóra foge junto com a filha e encontra um novo companheiro. Essa passagem possivelmente se relaciona com a cantiga antiga utilizada como epígrafe do conto em que uma voz poética feminina anuncia sua partida. “Eu sou pobre, pobre, pobre, vou-me embora, vou-me embora ................................. Eu sou rica, rica, rica, vou-me embora, daqui!...” (Cantiga antiga) “Sapo não pula por boniteza, mas porém por precisão.” (Provérbio capiau) (A hora e a vez de Augusto Matraga, Guimarães Rosa) Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 18 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br Já o provérbio capiau, pode ser interpretado à luz das mudanças de comportamento de Nhô Augusto. O sapo não pula porque é bonito, mas sim porque é necessário. Nhô Augusto, da mesma forma, não muda seu comportamento e se torna um homem virtuoso simplesmente porque era “bonito”, mas sim por necessidade: sua postura era uma das principais causas de suas adversidades. 2.3 – Paráfrase A paráfrase é uma reescrita do texto. Ocorre quando um autor reescreve, com suas próprias palavras, o texto de outro, mantendo o sentido original. Veja um exemplo a partir de um dos textos de apoio da redação da UNESP (2019): Texto Original Paráfrase Comprar por impulso e se livrar de bens que já não são atraentes, substituindo-os por outros mais vistosos, são nossas emoções mais estimulantes. Completude de consumidor significa completude na vida. (Zygmunt Bauman. A riqueza de poucos beneficia todos nós?, 2015. Adaptado.) Ser completo enquanto consumidor significa ser completo na vida. As sensações que mais nos estimulam vêm da compra por impulso e de livrar-nos de coisas menos atrativas, trocando- as por outras mais interessantes. Observe as possíveis estratégias utilizadas aqui para criar a paráfrase: ➢ Inversão da ordem das informações – inverter os períodos ou a ordem das orações ajuda a diferenciar os textos. ➢ Sinônimos – trocar palavras por outras de sentido equivalente é um modo de reescrever sem perder o sentido original. Ex.: “atraente” é substituído por “atrativas” na paráfrase. Termos genéricos (como a palavra “interessante” que utilizamos na nossa paráfrase, por exemplo) também funcionam. ➢ Troca de classes gramaticais – muitas vezes, o mesmo radical pode dar origem a palavras de diferentes classes gramaticais. O radical “estimul-“, por exemplo, gera as palavras “estimulantes” e “estimulam”, respectivamente, adjetivo e verbo. Veremos mais sobre estrutura e classes de palavra na nossa aula 04 de Gramática e Interpretação de Texto! Apenas mudar a ordem dos termos do texto não configura paráfrase. Você precisa reescrever com suas próprias palavras e, se for utilizar algo do texto original, cite o autor. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 19 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br 2.4 – Paródia Uma paródia acontece quando se faz uma releitura de uma obra, ou seja, uma reinterpretação de algo que já existe. Ela costuma assumir tom jocoso ou irônico e, frequentemente, parte de uma obra muito conhecida, de modo que a referência é rapidamente reconhecida. Veja esse poema consagrado de Gonçalves Dias. É seu poema mais conhecido de exaltação à pátria. Como muitos escritores que se encontravam longe do Brasil, sua terra natal se mostrava um espaço idealizado pela saudade. Canção do Exílio Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar – sozinho – à noite – Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras; Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar – sozinho – à noite – Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que eu desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu'inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá. Esse poema será revisitado muitas vezes ao longo do tempo, por diversos autores. Principalmente para os Modernistas, a primeira geração do Romantismo será fonte de inspiração. Veja trechos de diversas obras inspiradas na Canção do Exílio: Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 20 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br “ Minha terra tem macieiras da Califórnia onde cantam gaturamos de Veneza. ” Murilo Mendes em Canção do Exílio “ Minha terra tem palmares Onde gorjeia o mar Os passarinhos daqui Não cantam como os de lá ” Oswald de Andrade em Canto de Regresso à Pátria “ Minha terra não tem palmeiras... E em vez de um mero sabiá, Cantam aves invisíveis Nas palmeiras que não há. ” Mario Quintana em Uma canção Você sabia que lembrar desse poema pode te ajudar a guardar uma fórmula matemática? Leia a fórmula do Seno do arco soma A + B (𝑠𝑒𝑛(𝐴 + 𝐵) = 𝑠𝑒𝑛 𝐴 ∙ 𝑐𝑜𝑠 𝐵 + 𝑠𝑒𝑛 𝐵 ∙ 𝑐𝑜𝑠 𝐴 ) no ritmo da primeira estrofe do poema: Minha terra tem palmeiras Onde canta o sabiá seno A cosseno B seno B cosseno A O sinal que vai aqui É o mesmo que vai pra lá Obs.: o mesmo vale para a fórmula de subtração. 3 – Exercícios Antes de começar nossas questões, alguns avisos: ➢ Há aqui exercícios de interpretação de texto, tanto em prosa quanto em poesia. Você deve se habituar a compreender textos em qualquer uma faz circunstâncias. ➢ Há também questões interdisciplinares, que envolvem conhecimentos de outras disciplinas. Elas foram respondidas em conjunto com os professores das respectivas disciplinas. Vamos lá? Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 21 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br 3.1 – Já caiu no ENEM (ENEM - 2019) Um amor desse Era 24 horas lado a lado Um radar na pele, aquele sentimento alucinado Coração batia acelerado Bastava um olhar pra eu entender Que era hora de me entregar pra você Palavras não faziam falta mais Ah, só de lembrar do seu perfume Que arrepio, que calafrio Que o meu corpo sente Nem que eu queira, eu te apago da minha mente Ah, esse amor Deixou marcas no meu corpo Ah, esse amor Só de pensar, eu grito, eu quase morro AZEVEDO, N.; LEÃO, W.; QUADROS, R. Coração pede socorro. Rio de Janeiro: Som Livre, 2018 (fragmento). Essa letra de canção foi composta especialmente para uma campanha de combate à violência contra as mulheres, buscando conscientizá-las acerca do limite entre relacionamento amoroso e relacionamento abusivo. Para tanto, a estratégia empregada na letra é a a) revelação da submissão da mulher à situação de violência, que muitas vezes a leva à morte. b) ênfase na necessidade de se ouvirem os apelos da mulher agredida, que continuamente pede socorro. c) exploração de situação de duplo sentido, que mostraque atos de dominação e violência não configuram amor. d) divulgação da importância de denunciar a violência doméstica, que atinge um grande número de mulheres no país. e) naturalização de situações opressivas, que fazem parte da vida de mulheres que vivem em uma sociedade patriarcal. (ENEM - 2019) Menina A máquina de costura avançava decidida sobre o pano. Que bonita que a mãe era, com os alfinetes na boca. Gostava de olhá-la calada, estudando seus gestos, enquanto recortava Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 22 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br retalhos de pano com a tesoura. Interrompia às vezes seu trabalho, era quando a mãe precisava da tesoura. Admirava o jeito decidido da mãe ao cortar pano, não hesitava nunca, nem errava. A mãe sabia tanto! Tita chamava-a de ( ) como quem diz ( ). Tentava não pensar as palavras, mas sabia que na mesma hora da tentativa tinha-as pensado. Oh, tudo era tão difícil. A mãe saberia o que ela queria perguntar-lhe intensamente agora quase com fome depressa depressa antes de morrer, tanto que não se conteve e — Mamãe, o que é desquitada? — atirou rápida com uma voz sem timbre. Tudo ficou suspenso, se alguém gritasse o mundo acabava ou Deus aparecia — sentia Ana Lúcia. Era muito forte aquele instante, forte demais para uma menina, a mãe parada com a tesoura no ar, tudo sem solução podendo desabar a qualquer pensamento, a máquina avançando desgovernada sobre o vestido de seda brilhante espalhando luz luz luz. ÂNGELO, I. Menina. In: A face horrível. São Paulo: Lazuli, 2017. Escrita na década de 1960, a narrativa põe em evidência uma dramaticidade centrada na a) insinuação da lacuna familiar gerada pela ausência da figura paterna. b) associação entre a angústia da menina e a reação intempestiva da mãe. c) relação conflituosa entre o trabalho doméstico e a emancipação feminina. d) representação de estigmas sociais modulados pela perspectiva da criança. e) expressão de dúvidas existenciais intensificadas pela percepção do abandono. (ENEM - 2019) Uma ouriça Se o de longe esboça lhe chegar perto, se fecha (convexo integral de esfera), se eriça (bélica e multiespinhenta): e, esfera e espinho, se ouriça à espera. Mas não passiva (como ouriço na loca); nem só defensiva (como se eriça o gato); sim agressiva (como jamais o ouriço), do agressivo capaz de bote, de salto (não do salto para trás, como o gato): daquele capaz de salto para o assalto. Se o de longe lhe chega em (de longe), de esfera aos espinhos, ela se desouriça. Reconverte: o metal hermético e armado na carne de antes (côncava e propícia), e as molas felinas (para o assalto), nas molas em espiral (para o abraço). MELO NETO, J. C. A educação pela pedra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 23 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br Com apuro formal, o poema tece um conjunto semântico que metaforiza a atitude feminina de a) tenacidade transformada em brandura. b) obstinação traduzida em isolamento. c) inércia provocada pelo desejo platônico. d) irreverência cultivada de forma cautelosa. e) desconfiança consumada pela intolerância. (ENEM - 2019) Blues da piedade Vamos pedir piedade Senhor, piedade Pra essa gente careta e covarde Vamos pedir piedade Senhor, piedade Lhes dê grandeza e um pouco de coragem CAZUZA. Cazuza: o poeta não morreu. Rio de Janeiro: Universal Music, 2000 (fragmento). Todo gênero apresenta elementos constitutivos que condicionam seu uso em sociedade. A letra de canção identifica-se com o gênero ladainha, essencialmente, pela utilização da sequência textual a) expositiva, por discorrer sobre um dado tema. b) narrativa, por apresentar uma cadeia de ações. c) injuntiva, por chamar o interlocutor à participação. d) descritiva, por enumerar características de um personagem. e) argumentativa, por incitar o leitor a uma tomada de atitude. (ENEM - 2019) Essa lua enlutada, esse desassossego A convulsão de dentro, ilharga Dentro da solidão, corpo morrendo Tudo isso te devo. E eram tão vastas As coisas planejadas, navios, Muralhas de marfim, palavras largas Consentimento sempre. E seria dezembro. Um cavalo de jade sob as águas Dupla transparência, fio suspenso Todas essas coisas na ponta dos teus dedos Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 24 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br E tudo se desfez no pórtico do tempo Em lívido silêncio. Umas manhãs de vidro Vento, a alma esvaziada, um sol que não vejo Também isso te devo. HILST, H. Júbilo, memória, noviciado da paixão. São Paulo: Cia. das Letras, 2018. No poema, o eu lírico faz um inventário de estados passados espelhados no presente. Nesse processo, aflora o a) cuidado em apagar da memória os restos do amor. b) amadurecimento revestido de ironia e desapego. c) mosaico de alegrias formado seletivamente. d) desejo reprimido convertido em delírio. e) arrependimento dos erros cometidos. (ENEM - 2019) Ela nasceu lesma, vivia no meio das lesmas, mas não estava satisfeita com sua condição. Não passamos de criaturas desprezadas, queixava-se. Só somos conhecidas por nossa lentidão. O rastro que deixaremos na História será tão desprezível quanto a gosma que marca nossa passagem pelos pavimentos. A esta frustração correspondia um sonho: a lesma queria ser como aquele parente distante, o escargot. O simples nome já a deixava fascinada: um termo francês, elegante, sofisticado, um termo que as pessoas pronunciavam com respeito e até com admiração. Mas, lembravam as outras lesmas, os escargots são comidos, enquanto nós pelo menos temos chance de sobreviver. Este argumento não convencia a insatisfeita lesma, ao contrário: preferiria exatamente terminar sua vida desta maneira, numa mesa de toalha adamascada, entre talheres de prata e cálices de cristal. Assim como o mar é o único túmulo digno de um almirante batavo, respondia, a travessa de porcelana é a única lápide digna dos meus sonhos. SCLIAR, M. Sonho de lesma. In: ABREU, C. F. et al. A prosa do mundo. São Paulo: Global, 2009. Incorporando o devaneio da personagem, o narrador compõe uma alegoria que representa o anseio de a) rejeitar metas de superação de desafios. b) restaurar o estado de felicidade pregressa. c) materializar expectativas de natureza utópica. d) rivalizar com indivíduos de condição privilegiada. e) valorizar as experiências hedonistas do presente. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 25 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br (ENEM - 2019) Canção No desequilíbrio dos mares, as proas giram sozinhas… Numa das naves que afundaram é que certamente tu vinhas. Eu te esperei todos os séculos sem desespero e sem desgosto, e morri de infinitas mortes guardando sempre o mesmo rosto. Quando as ondas te carregaram meus olhos, entre águas e areias, cegaram como os das estátuas, a tudo quanto existe alheias. Minhas mãos pararam sobre o ar e endureceram junto ao vento, e perderam a cor que tinham e a lembrança do movimento. E o sorriso que eu te levava desprendeu-se e caiu de mim: e só talvez ele ainda viva dentro destas águas sem fim. MEIRELES, C. In: SECCHIN, A. C. (Org.). Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. Na composição do poema, o tom elegíaco e solene manifesta uma concepção de lirismo fundada na a) contradição entre a vontade da espera pelo ser amado e o desejo de fuga. b) expressão do desencanto diante da impossibilidade da realização amorosa. c) associação de imagens díspares indicativas de esperança no amor futuro. e) recusa à aceitação da impermanência do sentimento pela pessoa amada. e) consciência da inutilidade do amor em relaçãoà inevitabilidade da morte. (ENEM - 2018) Ela parecia pedir socorro contra o que de algum modo involuntariamente dissera. E ele com os olhos miúdos quis que ela não fugisse e falou: Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 26 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br — Repita o que você disse, Lóri. — Não sei mais. — Mas eu sei, eu vou saber sempre. Você literalmente disse: um dia será o mundo com sua impersonalidade soberba versus a minha extrema individualidade de pessoa, mas seremos um só. — Sim. Lóri estava suavemente espantada. Então isso era a felicidade. De início se sentiu vazia. Depois seus olhos ficaram úmidos: era felicidade, mas como sou mortal, como o amor pelo mundo me transcende. O amor pela vida mortal a assassinava docemente, aos poucos. E o que é que eu faço? Que faço da felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda, que já está começando a me doer como uma angústia, como um grande silêncio de espaços? A quem dou minha felicidade, que já está começando a me rasgar um pouco e me assusta? Não, não quero ser feliz. Prefiro a mediocridade. Ah, milhares de pessoas não têm coragem de pelo menos prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida que é sentir-se feliz e preferem a mediocridade. Ela se despediu de Ulisses quase correndo: ele era o perigo. LISPECTOR, C. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990. A obra de Clarice Lispector alcança forte expressividade em razão de determinadas soluções narrativas. No fragmento, o processo que leva a essa expressividade fundamenta-se no a) desencontro estabelecido no diálogo do par amoroso. b) exercício de análise filosófica conduzido pelo narrador. c) registro do processo de autoconhecimento da personagem. d) discurso fragmentado como reflexo de traumas psicológicos. e) afastamento da voz narrativa em relação aos dramas existenciais. (ENEM - 2018) A Casa de Vidro Houve protestos. Deram uma bola a cada criança e tempo para brincar. Elas aprenderam malabarismos incríveis e algumas viajavam pelo mundo exibindo sua alegre habilidade. (O problema é que muitos, a maioria, não tinham jeito e eram feios de noite, assustadores. Seria melhor prender essa gente – havia quem dissesse.) Houve protestos. Aumentaram o preço da carne, liberaram os preços dos cereais e abriram crédito a juros baixos para o agricultor. O dinheiro que sobrasse, bem, digamos, ora o dinheiro que sobrasse! Houve protestos. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 27 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br Diminuíram os salários (infelizmente aumentou o número de assaltos) porque precisamos combater a inflação e, como se sabe, quando os sábados estão acima do índice de produtividade eles se tornam altamente inflacionários, de modo que. Houve protestos. Proibiram os protestos. E no lugar dos protestos nasceu o ódio. Então surgiu a Casa de Vidro, para acabar com aquele ódio. ÂNGELO, I. A casa de vidro. São Paulo: Círculo de Livro, 1985. Publicado em 1979, o texto compartilha com outras obras da literatura brasileira escritas no período as marcas do contexto em que foi produzido, como a a) referência à censura e à opressão para alegorizar a falta de liberdade de expressão característica da época. b) valorização de situações do cotidiano para atenuar os sentimentos de revolta em relação ao governo instituído. c) utilização de metáforas e ironias para expressar um olhar crítico em relação à situação social e política do país. d) tendência realista para documentar com verossimilhança o drama da população brasileira durante o Regime Militar. e) sobreposição das manifestações populares pelo discurso oficial para destacar o autoritarismo do momento histórico. (ENEM - 2017) — Recusei a mão de minha filha, porque o senhor é... filho de uma escrava. — Eu? — O senhor é um homem de cor!... Infelizmente esta é a verdade... Raimundo tornou-se lívido. Manoel prosseguiu, no fim de um silêncio: — Já vê o amigo que não é por mim que lhe recusei Ana Rosa, mas é por tudo! A família de minha mulher sempre foi muito escrupulosa a esse respeito, e como ela é toda a sociedade do Maranhão! Concordo que seja uma asneira; concordo que seja um prejuízo tolo! O senhor porém não imagina o que é por cá a prevenção contra os mulatos!... Nunca me perdoariam um tal casamento; além do que, para realizá-lo, teria que quebrar a promessa que fiz a minha sogra, de não dar a neta senão a um branco de lei, português ou descendente direto de portugueses! AZEVEDO, A. O mulato. São Paulo: Escala, 2008. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 28 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br Influenciada pelo ideário cientificista no Naturalismo, a obra destaca o modo como o mulato era visto pela sociedade e fins do século XIX. Nesse trecho, Manoel traduz uma concepção em que a a) miscigenação racial desqualificava o indivíduo. b) condição econômica anulava os conflitos raciais. c) discriminação racial era condenada pela sociedade. d) escravidão negava o direito da negra à maternidade. e) união entre mestiços era um risco à hegemonia dos brancos. (ENEM - 2017) Dois parlamentos Nestes cemitérios gerais não há morte pessoal. Nenhum morto se viu com modelo seu, especial. Vão todos com a morte padrão, em série fabricada. Morte que não se escolhe e aqui é fornecida de graça. Que acaba sempre por se impor sobre a que já medrasse. Vence a que, mais pessoal, alguém já trouxesse na carne. Mas afinal tem suas vantagens esta morte em série. Faz defuntos funcionais, próprios a uma terra sem vermes. MELO NETO, J. C. Serial e antes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 (fragmento). A lida do sertanejo com suas adversidades constitui um viés temático muito presente em João Cabral de Melo Neto. No fragmento em destaque, essa abordagem ressalta o(a) a) inutilidade de divisão social e hierárquica após a morte. b) aspecto desumano dos cemitérios da população carente. c) nivelamento do anonimato imposto pela miséria na morte. d) tom de ironia para com a fragilidade dos corpos e da terra. e) indiferença do sertanejo com a ausência de seus próximos. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 29 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br (ENEM - 2017) Chamou-me o bragantino e levou-me pelos corredores e pátios até ao hospício propriamente. Aí é que percebi que ficava e onde, na seção, na de indigentes, aquela em que a imagem do que a Desgraça pode sobre a vida dos homens é mais formidável. O mobiliário, o vestuário das camas, as camas, tudo é de uma pobreza sem par. Sem fazer monopólio, os loucos são da proveniência mais diversa, originando-se em geral das camadas mais pobres da nossa gente pobre. São de imigrantes italianos, portugueses e outros mais exóticos, são os negros roceiros, que teimam em dormir pelos desvãos das janelas sobre uma esteira esmolambada e uma manta sórdida; são copeiros, cocheiros, moços de cavalariça, trabalhadores braçais. No meio disto, muitos com educação, mas que a falta de recursos e proteção atira naquela geena social. BARRETO, L. Diário do hospício e O cemitério dos vivos. São Paulo: Cosac & Naify, 2010. No relato de sua experiência no sanatório onde foi interno, Lima Barreto expõe uma realidade social e humana marcada pela exclusão. Em seu testemunho, essa reclusão demarca uma a) medida necessária de intervenção terapêutica. b) forma de punição indireta aos hábitos desregrados. c) compensação para as desgraças dos indivíduos. d) oportunidade de ressocialização em um novo ambiente. e) conveniência da invisibilidade a grupos vulneráveis e periféricos. (ENEM - 2017) Tenho visto criaturas que trabalham demais enão progridem. Conheço indivíduos preguiçosos que têm faro: quando a ocasião chega, desenroscam-se, abrem a boca e engolem tudo. Eu não sou preguiçoso. Fui feliz nas primeiras tentativas e obriguei a fortuna a ser-me favorável nas seguintes. Depois da morte do Mendonça, derrubei a cerca, naturalmente, e levei-a para além do ponto em que estava no tempo de Salustiano Padilha. Houve reclamações. — Minhas senhoras, Seu Mendonça pintou o diabo enquanto viveu. Mas agora é isto. E quem não gostar, paciência, vá à justiça. Como a justiça era cara, não foram à justiça. E eu, o caminho aplainado, invadi a terra do Fidélis, paralítico de um braço, e a dos Gama, que pandegavam no Recife, estudando direito. Respeitei o engenho do Dr. Magalhães, juiz. Violências miúdas passaram despercebidas. As questões mais sérias foram ganhas no foro, graças às chicanas de João Nogueira. Efetuei transações arriscadas, endividei-me, importei maquinismos e não prestei atenção aos que me censuravam por querer abarcar o mundo com as pernas. Iniciei a pomicultura e a avicultura. Para levar os meus produtos ao mercado, comecei uma estrada de rodagem. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 30 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br Azevedo Gondim compôs sobre ela dois artigos, chamou-me patriota, citou Ford e Delmiro Gouveia. Costa Brito também publicou uma nota na Gazeta, elogiando-me e elogiando o chefe político local. Em consequência mordeu-me cem mil réis. RAMOS, G. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 1990. O trecho, de São Bernardo, apresenta um relato de Paulo Honório, narrador-personagem, sobre a expansão de suas terras. De acordo com esse relato, o processo de prosperidade que beneficiou evidencia que ele a) revela-se um empreendedor capitalista pragmático que busca o êxito em suas realizações a qualquer custo, ignorando princípios éticos e valores humanitários. b) procura adequar sua atividade produtiva e função de empresário às regras do Estado democrático de direito, ajustando o interesse pessoal ao bem da sociedade. c) relata aos seus interlocutores fatos que lhe ocorreram em um passado distante, e enumera ações que põe em evidência as suas muitas virtudes de homem do campo. d) demonstra ser um homem honrado, patriota e audacioso, atributos ressaltados pela realização de ações que se ajustam ao princípio de que os fins justificam os meios. e) amplia o seu patrimônio graças ao esforço pessoal, contando com a sorte e a capacidade de iniciativa, sendo um exemplo de empreendedor com responsabilidade social. (ENEM - 2017) A humana condição Custa o rico no céu (Afirma o povo e não erra). Porém muito mais difícil É um pobre ficar na terra QUINTANA, M. Melhores poemas. São Paulo: Global, 2003. Mário Quintana ficou conhecido por seus “quintanares”, nome que o poeta Manuel Bandeira deu a esses quartetos com pequenas observações sobre a vida. Nessa perspectiva, os versos do poema Da humana condição ressaltam a) a desvalorização da cultura popular. b) a falta de sentido da existência humana. c) a irreverência diante das crenças do povo. d) uma visão irônica das diferenças de classe. e) um olhar objetivo sobre as diferenças sociais. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 31 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br (ENEM - 2017) O mundo revivido Sobre esta casa e as árvores que o tempo esqueceu de levar. Sobre o curral de pedra e paz e de outras vacas tristes chorando a lua e a noite sem bezerros. Sobre a parede larga deste açude onde outras cobras verdes se arrastavam, e pondo o sol nos seus olhos parados iam colhendo sua safra de sapos. Sob as constelações do sul que a noite armava e desarmava: as Três Marias, o Cruzeiro distante e o Sete-Estrelo. Sobre este mundo revivido em vão, a lembrança de primos, de cavalos, de silêncio perdido para sempre. DOBAL, H. A província deserta. Rio de Janeiro: Artenova, 1974. No processo de reconstituição do tempo vivido, o eu lírico projeta um conjunto de imagens cujo lirismo se fundamenta no a) inventário das memórias evocadas afetivamente. b) reflexo da saudade no desejo de voltar à infância. c) sentimento de inadequação com o presente vivido. d) ressentimento com as perdas materiais e humanas. e) lapso no fluxo temporal dos eventos trazidos à cena. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 32 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br 3.2 – Outros vestibulares Texto para as questões 16 a 19 Diáspora 1Acalmou a tormenta Pereceram Os que a estes mares ontem se arriscaram E vivem os que por um amor tremeram 5E dos céus os destinos esperaram Atravessamos o mar Egeu O barco cheio de fariseus Como os cubanos, sírios, ciganos Como romanos sem Coliseu 10Atravessamos pro outro lado No Rio Vermelho do mar sagrado Os Center shoppings superlotados De retirantes refugiados You, where are you? 15Where are you? Where are you? Onde está Meu irmão Sem Irmã 20O meu filho sem pai Minha mãe Sem avó Dando a mão pra ninguém Sem lugar 25Pra ficar Os meninos sem paz Onde estás Meu senhor Onde estás? 30Onde estás? Deus Ó Deus onde estás Que não respondes Em que mundo 35Em qu’estrela Tu t’escondes Embuçado nos céus Há dois mil anos te mandei meu grito Que embalde desde então corre o infinito 40Onde estás, Senhor Deus ANTUNES, Arnaldo; BROWN, Carlinhos; MONTE, Marisa. Diáspora. In: Tribalistas. Rio de Janeiro: Phonomotor Records Universal Music, 2017. Disponível em: https://www.letras.mus.br/tribalistas/diaspora/. Acesso em: 08 de set. de 2019. (UECE – 2020) É objetivo da letra da canção Diáspora A) denunciar a saga dos refugiados ao longo da história da humanidade. B) narrar a travessia dos mares por um grupo de turistas. C) descrever situações degradantes das travessias marítimas por turistas. D) apresentar a separação entre familiares de refugiados por motivos religiosos. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 33 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br (UECE – 2020) Observe a seguinte definição de diáspora, publicada em FERREIRA, A. B. H. Dicionário Aurélio escolar da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1988, p. 220: “Sf 1. A dispersão dos judeus no decorrer dos séculos. 2. P. ext. Dispersão de povos, por motivos políticos ou religiosos, em virtude de perseguição de grupos dominadores intolerantes”. Considerando a referida definição e a letra da canção, atente para as seguintes afirmações: I. A história narrada centra-se em questões religiosas, elegendo o mar Egeu como local de acontecimento para a separação dos povos. II. A história narrada vai além do texto bíblico para a compreensão do drama dos refugiados, a partir de diversas questões políticas e/ou religiosas. III. A questão dos refugiados é abordada a partir da inserção de outros lugares que, na contemporaneidade, também têm problemas políticos e/ou religiosos. Estão corretas as assertivas contidas em A) I e II apenas. B) I e III apenas. C) II e III apenas. D) I, II e III (UECE – 2020) O fato de os autores da letra da canção Diáspora utilizarem o verbo em primeira pessoa do plural, na expressão “Atravessamos o mar Egeu” (linha 6), indica intenção de A) engajar o ouvinte/leitor na problemática dos refugiados. B) demarcar diferentes povos de diferentes lugares. C) naturalizar as experiências de sofrimento dos refugiados. D) acentuar o abandono de crianças retiradas de suas famílias. (UECE - 2020) A textualidade marca-se por diversos fatores que se integram, a fim de instituir sentido ao conjunto de enunciados, transformando-os em um texto. Assim, na letra da canção Diáspora, há I. intertextualidade,porque podemos depreender a presença de outros textos, por exemplo, textos bíblicos (linhas 6-7; 10-11) e o poema Vozes d’África, de Castro Alves (linhas 31-40). II. coerência, porque há uma lógica interna no texto quando os autores relacionam a dispersão do povo judeu à saga dos imigrantes. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 34 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br III. informatividade, porque as informações apresentam dados novos para a atualização da questão dada, a partir de um tema já apresentado inicialmente. Estão corretas as complementações contidas em A) I e II apenas. B) I e III apenas. C) II e III apenas. D) I, II e III. (UNICAMP – 2020) Texto I Os idiomas e suas regras são coisas vivas, que vão se modificando de maneira dinâmica, de acordo com o momento em que a sociedade vive. Um exemplo disso é a adoção do termo “maratonar”, quando os telespectadores podem assistir a vários ou a todos os episódios de uma série de uma só vez. Contudo, ao que parece, a plataforma Netflix não quer mais estar associada à “maratona” de séries. A maior razão seria a tendência atual que as gigantes da tecnologia têm seguido para evitar o consumo excessivo e melhorar a saúde dos usuários. (Adaptado de Claudio Yuge, “Você notou? Netflix parece estar evitando o termo ‘maratonar’.” Disponível em https://www.tecmundo.com.br/ internet/133690-voce-notou-net flix-pareceevitando- termo-maratonar.htm. Acessado em 01/06/2019.) Embora os dois textos tratem do termo “maratonar” a partir de perspectivas distintas, é possível afirmar que o Texto II retoma aspectos apresentados no Texto I porque a) esclarece o significado do neologismo “maratonar” como esforço físico exaustivo, derivado de “maratona”. b) deprecia a definição de “maratona” como ação contínua de superação de dificuldades e melhoria da saúde. c) reflete sobre o impacto que a falta de exercícios físicos e a permanência em casa provocam na saúde. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 35 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br d) menospreza o uso do termo “maratonar” relacionado a um estilo de vida sedentário, antagônico a maratona. (UNICAMP – 2020) Texto I Leia os versos iniciais da peça Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come (1966), de Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar. Em formato de cordel, os versos são cantados por todos os atores. Se corres, bicho te pega, amô. Se ficas, ele te come. Ai, que bicho será esse, amô? Que tem braço e pé de homem? Com a mão direita ele rouba, amô, e com a esquerda ele entrega; janeiro te dá trabalho, amô, dezembro te desemprega; de dia ele grita "avante”, amô, de noite ele diz: "não vá": Será esse bicho um homem, amô, ou muitos homens será? (Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar, Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 3.) Texto II Observe a charge de Laerte que fez parte da mostra Maio na Paulista, em 2019. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 36 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br Considerando a relação entre os textos I e II, conclui-se que a charge a) resgata a temática do cordel, rompendo com o impasse vivido pelos personagens. b) reafirma o dilema dos personagens da peça, parafraseando os versos iniciais do cordel. c) evidencia a tradição popular nordestina, utilizando a imagem para sofisticar os versos. d) confirma a força transformadora da versificação popular, reproduzindo-a em imagens. (FUVEST – 2020) amora a palavra amora seria talvez menos doce e um pouco menos vermelha se não trouxesse em seu corpo (como um velado esplendor) a memória da palavra amor a palavra amargo seria talvez mais doce e um pouco menos acerba se não trouxesse em seu corpo (como uma sombra a espreitar) a memória da palavra amar Marco Catalão, Sob a face neutra. É correto afirmar que o poema a) aborda o tema da memória, considerada uma faculdade que torna o ser humano menos amargo e sombrio. b) enfoca a hesitação do eu lírico diante das palavras, o que vem expresso pela repetição da palavra “talvez”. c) apresenta natureza romântica, sendo as palavras “amora” e “amargo” metáforas do sentimento amoroso. d) possui reiterações sonoras que resultam em uma tensão inusitada entre os termos “amor” e “amar”. e) ressalta os significados das palavras tal como se verificam no seu uso mais corrente. TEXTO PARA AS QUESTÕES 23 e 24 Uma planta é perturbada na sua sesta* pelo exército que a pisa. Mas mais frágil fica a bota. Gonçalo M. Tavares, 1: poemas. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 37 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br *sesta: repouso após o almoço. (FUVEST – 2020) Considerando que se trata de um texto literário, uma interpretação que seja capaz de captar a sua complexidade abordará o poema como a) uma defesa da natureza. b) um ataque às forças armadas. c) uma defesa dos direitos humanos. d) uma defesa da resistência civil. e) um ataque à passividade. (FUVEST - 2020) O ditado popular que se relaciona melhor com o poema é: a) Para bom entendedor, meia palavra basta. b) Água mole em pedra dura tanto bate até que fura. c) Quem com ferro fere, com ferro será ferido. d) Um dia é da caça, o outro é do caçador. e) Uma andorinha só não faz verão. (UEMA – 2020) O livro Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, foi publicado em folhetins no ano de 1853. Caracteriza-se por documentar os costumes, os comportamentos e os tipos sociais da classe média da sociedade brasileira do tempo do rei D. João VI, ignorados pela literatura até então. É considerado um clássico da literatura brasileira do século XIX. O fragmento a seguir é parte do capítulo intitulado Estralada, no qual o personagem Leonardo Pataca, para vingar-se de um desafeto seu, contrata o valentão Chico-Juca. Leia-o para responder à questão. […] — Isto passa de mais… varro… menos essa, senhor Chico-Juca; nada de graças pesadas com essa moça, que é cá coisa minha… O Chico-Juca estava com efeito há mais de meia hora a dirigir graçolas das suas a uma moça que ele bem sabia que era coisa do rapaz que estava tocando; tanto fez que este, tendo percebido, proferiu aquelas palavras que acabamos de ouvir. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 38 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br — Você respinga?!… – respondeu-lhe o Chico-Juca dirigindo-se para ele. O rapaz, que não era peco, pôs-se em pé e replicou: — Tenho dito, nada de graças com ela!… […] ALMEIDA, M. A. Memórias de um Sargento de Milícias. Porto Alegre: L&PM, 2015. A voz narrativa predominante no livro Memórias de um Sargento de Milícias é a 3ª. pessoa, o que pode criar um certo distanciamento do narrador em relação aos fatos narrados. No fragmento, nota-se que essa voz oscila, revelando um narrador que se coloca como testemunha da situação retratada, conforme o seguinte trecho: a) “— Tenho dito, nada de graças com ela!…” (5º.§) b) “[…] proferiu aquelas palavras que acabamos de ouvir.” (2º.§) c) “[…] nada de graças pesadas com essa moça, que é cá coisa minha…” (1º.§) d) “— Você respinga?!… respondeu-lhe o Chico-Juca dirigindo-se para ele.” (3º.§) e) “O rapaz, que não era peco, pôs-se em pé e replicou:” (4º.§) (UEMA – 2020) O Último Poema encerra o livro Libertinagem, de Manuel Bandeira. O Último Poema Assim eu quereria o meu último poema Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos A paixão dos suicidas que se matamsem explicação. BANDEIRA, M. Libertinagem. 2 ed. São Paulo: Global, 2013 O poema estabelece pelo título e pela posição que ocupa um valor metapoético, uma vez que o eu lírico a) transporta para a poesia a beleza da simplicidade. b) explicita seu dilema existencial. c) revela dramaticamente seus medos mais íntimos e secretos. d) incorpora na poesia o academicismo parnasiano. e) expressa em versos seu desejo poético. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 39 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br (MACKENZIE – 2019) Texto I 01 Não é fácil dissertar sobre a alimentação dos portugueses durante 02 a Idade Média. Escasseiam as fontes informativas: o primeiro livro 03 de receitas culinárias que se conhece não é anterior ao século XVI. 04 As descrições de banquetes, colhidas nas crônicas ou noutros textos 05 narrativos, são em geral parcas em notícias concretas sobre os 06 alimentos consumidos. 07 De maneira geral, a alimentação medieval era pobre, se 08 comparada com os padrões modernos. A quantidade supria, quantas 09 vezes, a qualidade. A técnica culinária achava-se ainda numa fase 10 rudimentar, e as conquistas da cozinha romana haviam-se perdido. 11 A condimentação obedecia a princípios extremamente simples. 12 As duas refeições principais do dia eram o jantar e a ceia. 13 Jantava-se, nos fins do século XIV, por volta das dez horas da manhã; 14 mas nos séculos anteriores, essa hora teria de recuar para oito ou 15 nove. Ceava-se pelas seis ou sete horas da tarde. Como ideal de 16 frugalidade, aconselhava-se a ausência de qualquer outro repasto 17 durante o dia. É de supor, a partir de certa altura, a necessidade de 18 um “almoço” tomado pouco depois do levantar. 19 O jantar era a refeição mais forte do dia. O número de 20 pratos servidos andava, em média, pelos três, sem contar sopas, 21 acompanhamentos ou sobremesas. Isto, entenda-se, em relação ao 22 rei, à nobreza, e ao alto clero. Entre os menos privilegiados ou os 23 menos ricos, o número de pratos ao jantar podia descer para dois 24 ou até um. À ceia, baixava para dois a média das iguarias tomadas; 25 ou para um, nos outros casos indicados. Adaptado de A.H. de Oliveira Marques, A sociedade medieval portuguesa Texto II 01 Havia três estados ou estamentos na sociedade feudal: o clero, 02 a nobreza e o campesinato. Os dois primeiros eram privilegiados, 03 reservando-se as funções de ministrar os sacramentos religiosos, 04 governar e dar proteção. O terceiro estado, os camponeses, tinha 05 obrigação de trabalhar para o sustento material de toda a sociedade. 06 Os camponeses produziam centeio, trigo, cevada etc. e cuidavam 07 das oliveiras e das vinhas. A técnica de produção era rudimentar, os 08 instrumentos de produção, inadequados, e a produção, relativamente 09 pequena. O espectro da fome geralmente rondava as choupanas dos 10 trabalhadores. Adaptado de Heródoto Barbeiro, História Geral Sobre os textos é correto afirmar que: a) uma linguagem objetiva (em tom didático e explicativo) contribui para a presença destacada da função referencial. b) a presença em destaque de figuras de linguagem como metáfora e personificação contribui para as imagens simbólicas transmitidas. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 40 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br c) o uso de marcas de subjetividade realça a figura dos autores, que se colocam de modo explícito nas construções textuais. d) a reconstrução histórica elaborada é feita em tom de ironia, o que confere um efeito de sentido de humor aos posicionamentos adotados pelos autores. e) são escritos em linguagem jornalística moderna, com a presença de recursos argumentativos típicos dos usados nas novas tecnologias de comunicação. (Insper - 2019) Texto I Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. Meu pai, logo que teve aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as raias de um capricho juvenil. – Dessa vez, disse ele, vais para Europa; vais cursar uma universidade, provavelmente Coimbra; quero-te para homem sério e não para arruador e gatuno. E como eu fizesse um gesto de espanto: — Gatuno, sim senhor; não é outra cousa um filho que me faz isto... (Machado de Assis, Memóri-as Póstumas de Brás Cubas) Texto II Ela deixou um bilhete, dizendo que ia sair fora Levou meu coração, alguns CDs e o meu livro mais da hora Mas eu não sei qual a razão, não entendi por que ela foi embora E eu fiquei pensando em como foi e qual vai ser agora É que pena, pra mim tava tão bom aqui Com a nega mais teimosa e a mais linda que eu já vi Dividindo o edredom e o filminho na TV Chocolate quente e meus olhar era só pro cê Mas cê não quis, eu era mó feliz e nem sabia Beijinho de caramelo que recheava meus dia (Luccas Carlos, Bilhete 2.0 [fragmento]. Em: https://www.letras.mus.br) Na passagem do Texto I – Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. –, o autor faz uma associação insólita entre as expressões destacadas, o que causa certa estranheza ao leitor. No Texto II, esse mesmo recurso está presente na passagem: a) “Levou meu coração, alguns CDs e o meu livro mais da hora”, reforçando que as perdas também recaíram em bens materiais. b) “Dividindo o edredom e o filminho na TV”, marcando a relação de conforto e de proximidade que inspirava um amor aparentemente inabalável. c) “E eu fiquei pensando em como foi e qual vai ser agora”, explicitando a sensação de desolação e confusão pela perda da mulher amada. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 41 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br d) “Ela deixou um bilhete, dizendo que ia sair fora”, mostrando também o rompimento amoroso do casal, assim como no romance. e) “Beijinho de caramelo que recheava meus dia”, sugerindo o sentimento do casal como algo doce que nem o rompimento será capaz de descaracterizar. (UEG - 2019) Leia o poema e a tirinha a seguir. MAR PORTUGUÊS 1 Ó mar salgado, quanto do teu sal 2 São lágrimas de Portugal! 3 Por te cruzarmos, quantas mães choraram, 4 Quantos filhos em vão rezaram! 5 Quantas noivas ficaram por casar 6 Para que fosses nosso, ó mar! 7 Valeu a pena? Tudo vale a pena 8 Se a alma não é pequena. 9 Quem quer passar além do Bojador 10 Tem que passar além da dor. 11 Deus ao mar o perigo e o abismo deu, 12 Mas nele é que espelhou o céu. PESSOA, Fernando. Mar Português. In: Antologia Poética. Organização Walmir Ayala. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014. p. 15. Disponível em: <https://tirasdidaticas.files.wordpress.com/2014/12/rato79.jpg?w=640&h=215> Acesso em: 13 nov. 2018. O sentido da tirinha é construído a partir da relação que estabelece com os famosos versos de Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena” (linhas 7-8). O modo como esses dois textos se relacionam é chamado de a) paráfrase Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 42 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br b) linearidade c) metalinguagem d) intencionalidade e) intertextualidade (MACKENZIE – 2019) Soneto v.01 Um mancebo no jogo se descora, v.02 Outro bêbado passa noite e dia, v.03 Um tolo pela valsa viveria, v.04 Um passeia a cavalo, outro namora. v.05 Um outro que uma sina má devora v.06 Faz das vidas alheias zombaria, v.07 Outro toma rapé, um outro espia... v.08 Quantos moços perdidos vejo agora! v.09 Oh! Não proíbam pois ao meu retiro v.10 Do pensamento ao merencório luto v.11 A fumaça gentil por que suspiro. v.12 Numa fumaça o canto d´alma escuto... v.13 Um aroma balsâmico respiro, v.14 Oh! Deixai-me fumar o meu charuto! Mancebo: Rapaz Merencório: melancólico Assinale a alternativa correta. a)Os dois primeiros quartetos que compõem o soneto são marcados por uma aprofundada especulação filosófica. b) O eu lírico, no verso “Quantos moços perdidos vejo agora!”, se furta a fazer uma lamento moral sobre sua geração. c) Nos dois tercetos finais do poema, está explícita a ideia de que o eu lírico se recolhe da vida a fim de pensar na mulher amada. d) Os versos foram compostos em um tom prosaico, imprimindo ao soneto um ar de crônica, perceptível em especial nos oito primeiros versos. e) Há no poema uma eletrizante positividade em relação às potencialidades da vida. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 43 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br 3.3 – Gabarito 1. C 2. D 3. A 4. C 5. B 6. C 7. B 8. C 9. C 10. A 11. C 12. E 13. A 14. D 15. A 16. A 17. C 18. A 19. D 20. D 21. A 22. D 23. D 24. B 25. B 26. E 27. A 28. A 29. E 30. D Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 44 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br 3.4 – Questões comentadas (ENEM - 2019) Um amor desse Era 24 horas lado a lado Um radar na pele, aquele sentimento alucinado Coração batia acelerado Bastava um olhar pra eu entender Que era hora de me entregar pra você Palavras não faziam falta mais Ah, só de lembrar do seu perfume Que arrepio, que calafrio Que o meu corpo sente Nem que eu queira, eu te apago da minha mente Ah, esse amor Deixou marcas no meu corpo Ah, esse amor Só de pensar, eu grito, eu quase morro AZEVEDO, N.; LEÃO, W.; QUADROS, R. Coração pede socorro. Rio de Janeiro: Som Livre, 2018 (fragmento). Essa letra de canção foi composta especialmente para uma campanha de combate à violência contra as mulheres, buscando conscientizá-las acerca do limite entre relacionamento amoroso e relacionamento abusivo. Para tanto, a estratégia empregada na letra é a a) revelação da submissão da mulher à situação de violência, que muitas vezes a leva à morte. b) ênfase na necessidade de se ouvirem os apelos da mulher agredida, que continuamente pede socorro. c) exploração de situação de duplo sentido, que mostra que atos de dominação e violência não configuram amor. d) divulgação da importância de denunciar a violência doméstica, que atinge um grande número de mulheres no país. e) naturalização de situações opressivas, que fazem parte da vida de mulheres que vivem em uma sociedade patriarcal. Comentários: A alternativa A está incorreta, pois o “eu quase morro” está no sentido figurado, nãos literal. A alternativa B está incorreta, pois não fica claro na canção que a mulher que personifica o eu-lírico esteja pedindo socorro verdadeiramente. O título da canção indica que seu coração pede socorro, não que ela tenha verbalizado isso. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 45 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br A alternativa C está correta, pois o texto parte de diversos estereótipos românticos e os ressignifica de modo a mostrar que essas expressões também podem indicar violências. Assim, fazendo um uso dúbio das expressões, fica claro que violência e amor não podem coexistir num relacionamento. A alternativa D está incorreta, pois ainda que a canção fale sobre o assunto, não sugere necessariamente a denúncia formal. A alternativa E está incorreta, pois a canção desnaturaliza as ações, não as naturaliza. Ao usar clichês românticos para falar de violência, mostra que é preciso não tratar a violência como algo natural. Gabarito: C (ENEM - 2019) Menina A máquina de costura avançava decidida sobre o pano. Que bonita que a mãe era, com os alfinetes na boca. Gostava de olhá-la calada, estudando seus gestos, enquanto recortava retalhos de pano com a tesoura. Interrompia às vezes seu trabalho, era quando a mãe precisava da tesoura. Admirava o jeito decidido da mãe ao cortar pano, não hesitava nunca, nem errava. A mãe sabia tanto! Tita chamava-a de ( ) como quem diz ( ). Tentava não pensar as palavras, mas sabia que na mesma hora da tentativa tinha-as pensado. Oh, tudo era tão difícil. A mãe saberia o que ela queria perguntar-lhe intensamente agora quase com fome depressa depressa antes de morrer, tanto que não se conteve e — Mamãe, o que é desquitada? — atirou rápida com uma voz sem timbre. Tudo ficou suspenso, se alguém gritasse o mundo acabava ou Deus aparecia — sentia Ana Lúcia. Era muito forte aquele instante, forte demais para uma menina, a mãe parada com a tesoura no ar, tudo sem solução podendo desabar a qualquer pensamento, a máquina avançando desgovernada sobre o vestido de seda brilhante espalhando luz luz luz. ÂNGELO, I. Menina. In: A face horrível. São Paulo: Lazuli, 2017. Escrita na década de 1960, a narrativa põe em evidência uma dramaticidade centrada na a) insinuação da lacuna familiar gerada pela ausência da figura paterna. b) associação entre a angústia da menina e a reação intempestiva da mãe. c) relação conflituosa entre o trabalho doméstico e a emancipação feminina. d) representação de estigmas sociais modulados pela perspectiva da criança. e) expressão de dúvidas existenciais intensificadas pela percepção do abandono. Comentários: A alternativa A está incorreta, pois a lacuna que a menina não quer pensar não é a figura paterna, mas sim a condição que evoca um possível tom pejorativo. A alternativa B está incorreta, pois a mãe não tem uma reação intempestiva, pelo contrário, fica estática. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 46 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br A alternativa C está incorreta, pois ainda que estejam costurando – ação comumente associada ao feminino e ao doméstico – não se pode dizer que haja uma relação de conflito ou uma expressão da emancipação feminina. A alternativa D está correta, pois o texto se centra na figura de uma criança se perguntando acerca do termo “desquitada”, um termo antigo para “divorciada”. Ela não entende bem o que significa, mas sente o peso da condição para a mulher naquele momento histórico. A alternativa E está incorreta, pois as dúvidas vêm do peso da palavra, não de uma sensação de abandono. Gabarito: D (ENEM - 2019) Uma ouriça Se o de longe esboça lhe chegar perto, se fecha (convexo integral de esfera), se eriça (bélica e multiespinhenta): e, esfera e espinho, se ouriça à espera. Mas não passiva (como ouriço na loca); nem só defensiva (como se eriça o gato); sim agressiva (como jamais o ouriço), do agressivo capaz de bote, de salto (não do salto para trás, como o gato): daquele capaz de salto para o assalto. Se o de longe lhe chega em (de longe), de esfera aos espinhos, ela se desouriça. Reconverte: o metal hermético e armado na carne de antes (côncava e propícia), e as molas felinas (para o assalto), nas molas em espiral (para o abraço). MELO NETO, J. C. A educação pela pedra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. Com apuro formal, o poema tece um conjunto semântico que metaforiza a atitude feminina de a) tenacidade transformada em brandura. b) obstinação traduzida em isolamento. c) inércia provocada pelo desejo platônico. d) irreverência cultivada de forma cautelosa. e) desconfiança consumada pela intolerância. Comentários: Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 47 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br A alternativa A está correta, pois a descrição da mulher no poema é de alguém que se desouriça ou seja, perde a sensação de ouriçar-se. Me metal, ela passa a carne e molas. Assim, de dureza ela passa à brandura. A alternativa B está incorreta, pois não há nada no poema que indique que ela se isole – tanto que o poeta fala em abraço. A alternativa C está incorreta, pois o sentimentoamoroso se realiza na medida em que há contato, como no abraço. A alternativa D está incorreta, pois ela não é descrita como cautelosa, tanto que é associada à agressividade na primeira estrofe. A alternativa E está incorreta, pois ela não é descrita como alguém munida de desconfiança, postura defensiva, mas sim agressividade. Gabarito: A (ENEM - 2019) Blues da piedade Vamos pedir piedade Senhor, piedade Pra essa gente careta e covarde Vamos pedir piedade Senhor, piedade Lhes dê grandeza e um pouco de coragem CAZUZA. Cazuza: o poeta não morreu. Rio de Janeiro: Universal Music, 2000 (fragmento). Todo gênero apresenta elementos constitutivos que condicionam seu uso em sociedade. A letra de canção identifica-se com o gênero ladainha, essencialmente, pela utilização da sequência textual a) expositiva, por discorrer sobre um dado tema. b) narrativa, por apresentar uma cadeia de ações. c) injuntiva, por chamar o interlocutor à participação. d) descritiva, por enumerar características de um personagem. e) argumentativa, por incitar o leitor a uma tomada de atitude. Comentários: A alternativa A está incorreta, pois não há aprofundamento sobre os temas, por exemplo sobre quem são as pessoas a quem se refere. A alternativa B está incorreta, pois não há enumeração de ações aqui, apenas um pedido direcionado a um interlocutor. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 48 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br A alternativa C está correta, pois o eu-lírico pede a Deus (também chamado de Senhor, com letra maiúscula) que tenha piedade das pessoas “caretas e covardes”, ou seja, há um chamado ao interlocutor para que ele participe. A alternativa D está incorreta, pois o único momento descritivo é quando ele se refere às pessoas como caretas e covardes. A alternativa E está incorreta, pois não é um apelo direcionado ao leitor, para convencê-lo de nada, mas sim para Deus. Gabarito: C (ENEM - 2019) Essa lua enlutada, esse desassossego A convulsão de dentro, ilharga Dentro da solidão, corpo morrendo Tudo isso te devo. E eram tão vastas As coisas planejadas, navios, Muralhas de marfim, palavras largas Consentimento sempre. E seria dezembro. Um cavalo de jade sob as águas Dupla transparência, fio suspenso Todas essas coisas na ponta dos teus dedos E tudo se desfez no pórtico do tempo Em lívido silêncio. Umas manhãs de vidro Vento, a alma esvaziada, um sol que não vejo Também isso te devo. HILST, H. Júbilo, memória, noviciado da paixão. São Paulo: Cia. das Letras, 2018. No poema, o eu lírico faz um inventário de estados passados espelhados no presente. Nesse processo, aflora o a) cuidado em apagar da memória os restos do amor. b) amadurecimento revestido de ironia e desapego. c) mosaico de alegrias formado seletivamente. d) desejo reprimido convertido em delírio. e) arrependimento dos erros cometidos. Comentários: A alternativa A está incorreta, pois ela não está tentando apagar os restos do amor, mas sim mostra como se sente em relação ao passado após esse amor. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 49 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br A alternativa B está correta, pois no início do poema, o eu-lírico enumera fatos e elementos do passado, a partir do seu sentimento presente. Assim, o que antes era visto de modo negativo, agora já não o é, lidando assim de maneira irônica com o passado, gerando desapego: ela deve à pessoa a quem se refere - possivelmente um amor que acabou – esse novo modo de ver o passado. A alternativa C está incorreta, pois não há sentimento feliz ou alegre no poema. A alternativa D está incorreta, pois não se pode dizer que se trate de um desejo reprimido, ainda que haja um possível término amoroso. A alternativa E está incorreta, pois o eu-lírico não se arrepende, mas sim ressignifica seu passado a partir de experiências presentes. Gabarito: B (ENEM - 2019) Ela nasceu lesma, vivia no meio das lesmas, mas não estava satisfeita com sua condição. Não passamos de criaturas desprezadas, queixava-se. Só somos conhecidas por nossa lentidão. O rastro que deixaremos na História será tão desprezível quanto a gosma que marca nossa passagem pelos pavimentos. A esta frustração correspondia um sonho: a lesma queria ser como aquele parente distante, o escargot. O simples nome já a deixava fascinada: um termo francês, elegante, sofisticado, um termo que as pessoas pronunciavam com respeito e até com admiração. Mas, lembravam as outras lesmas, os escargots são comidos, enquanto nós pelo menos temos chance de sobreviver. Este argumento não convencia a insatisfeita lesma, ao contrário: preferiria exatamente terminar sua vida desta maneira, numa mesa de toalha adamascada, entre talheres de prata e cálices de cristal. Assim como o mar é o único túmulo digno de um almirante batavo, respondia, a travessa de porcelana é a única lápide digna dos meus sonhos. SCLIAR, M. Sonho de lesma. In: ABREU, C. F. et al. A prosa do mundo. São Paulo: Global, 2009. Incorporando o devaneio da personagem, o narrador compõe uma alegoria que representa o anseio de a) rejeitar metas de superação de desafios. b) restaurar o estado de felicidade pregressa. c) materializar expectativas de natureza utópica. d) rivalizar com indivíduos de condição privilegiada. e) valorizar as experiências hedonistas do presente. Comentários: A alternativa A está incorreta, pois o texto não faz juízo de valor entre o que seria melhor: os sonhos utópicos ou a materialidade, concretude. Assim, não há rejeição a alguma postura. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 50 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br A alternativa B está incorreta, pois a felicidade aqui é projetada, em uma situação pontual, não anterior, vivida. A alternativa C está correta, pois o texto aponta, de maneira metafórica, para aqueles que têm sonhos grandes, muitas vezes utópicos; e como muitas vezes, para esses pessoas, o sonho inalcançável é mais satisfatório do que o cotidiano mediano. Essa sensação é materializada na história da lesma. A alternativa D está incorreta, pois a condição privilegiada é algo almejado pela lesma, não algo criticado. A alternativa E está incorreta, pois as experiências hedonistas – aquelas que se relacionam com prazer – são idealizadas, logo, não são presentes. Gabarito: C (ENEM - 2019) Canção No desequilíbrio dos mares, as proas giram sozinhas… Numa das naves que afundaram é que certamente tu vinhas. Eu te esperei todos os séculos sem desespero e sem desgosto, e morri de infinitas mortes guardando sempre o mesmo rosto. Quando as ondas te carregaram meus olhos, entre águas e areias, cegaram como os das estátuas, a tudo quanto existe alheias. Minhas mãos pararam sobre o ar e endureceram junto ao vento, e perderam a cor que tinham e a lembrança do movimento. E o sorriso que eu te levava desprendeu-se e caiu de mim: e só talvez ele ainda viva dentro destas águas sem fim. MEIRELES, C. In: SECCHIN, A. C. (Org.). Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 51 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br Na composição do poema, o tom elegíaco e solene manifesta uma concepção de lirismo fundada na a) contradição entre a vontade da espera pelo ser amado e o desejo de fuga. b) expressão do desencanto diante da impossibilidade da realização amorosa. c) associação de imagens díspares indicativas de esperança no amor futuro. e) recusa à aceitação da impermanência do sentimento pela pessoa amada. e) consciência da inutilidade do amor em relação à inevitabilidade da morte. Comentários: A alternativa A está incorreta, pois não há desejo de fugano poema. O eu-lírico espera por um amor que perdeu. A alternativa B está correta, pois o eu-lírico afirma ter perdido seu sorriso (na última estrofe) após a perda do seu amor – possivelmente devido a um naufrágio (Numa das naves que afundaram / é que certamente tu vinhas.) A alternativa C está incorreta, pois o eu-lírico perdeu a esperança no amor após a morte da figura amada. A alternativa D está incorreta, pois o amor aparentemente permanece vivo no eu-lírico, que nunca superou a morte de seu amor. A alternativa E está incorreta, pois em nenhum momento o eu-lírico indica achar que o amor seja inútil. Gabarito: B (ENEM - 2018) Ela parecia pedir socorro contra o que de algum modo involuntariamente dissera. E ele com os olhos miúdos quis que ela não fugisse e falou: — Repita o que você disse, Lóri. — Não sei mais. — Mas eu sei, eu vou saber sempre. Você literalmente disse: um dia será o mundo com sua impersonalidade soberba versus a minha extrema individualidade de pessoa, mas seremos um só. — Sim. Lóri estava suavemente espantada. Então isso era a felicidade. De início se sentiu vazia. Depois seus olhos ficaram úmidos: era felicidade, mas como sou mortal, como o amor pelo mundo me transcende. O amor pela vida mortal a assassinava docemente, aos poucos. E o que é que eu faço? Que faço da felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda, que já está começando a me doer como uma angústia, como um grande silêncio de espaços? A quem dou minha felicidade, que já está começando a me rasgar um pouco e me assusta? Não, não quero ser feliz. Prefiro a mediocridade. Ah, milhares de pessoas não têm coragem de pelo menos Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 52 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida que é sentir-se feliz e preferem a mediocridade. Ela se despediu de Ulisses quase correndo: ele era o perigo. LISPECTOR, C. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990. A obra de Clarice Lispector alcança forte expressividade em razão de determinadas soluções narrativas. No fragmento, o processo que leva a essa expressividade fundamenta-se no a) desencontro estabelecido no diálogo do par amoroso. b) exercício de análise filosófica conduzido pelo narrador. c) registro do processo de autoconhecimento da personagem. d) discurso fragmentado como reflexo de traumas psicológicos. e) afastamento da voz narrativa em relação aos dramas existenciais. Comentários: A alternativa A está incorreta, pois não há desencontro no diálogo. A personagem diz algo de que se arrepende e o interlocutor aponta ter ouvido o que ela disse – mesmo que ela não queira repetir. A alternativa B está incorreta, pois ainda que haja um verniz filosófico no texto, o que garante expressividade e o fato de que essa filosofia não é abstrata, mas percebida nas ações da personagem A alternativa C está correta, pois a personagem passa, nesse trecho, por um processo de reconhecer- se feliz, de compreender a felicidade. A alternativa D está incorreta, pois o discurso fragmentado vem do fato de estarmos lendo um fluxo de pensamento da personagem, não a possíveis traumas. A alternativa E está incorreta, pois a voz narrativa está mergulhada em problemas existenciais – tanto que se indaga acerca da constituição da felicidade. Gabarito: C (ENEM - 2018) A Casa de Vidro Houve protestos. Deram uma bola a cada criança e tempo para brincar. Elas aprenderam malabarismos incríveis e algumas viajavam pelo mundo exibindo sua alegre habilidade. (O problema é que muitos, a maioria, não tinham jeito e eram feios de noite, assustadores. Seria melhor prender essa gente – havia quem dissesse.) Houve protestos. Aumentaram o preço da carne, liberaram os preços dos cereais e abriram crédito a juros baixos para o agricultor. O dinheiro que sobrasse, bem, digamos, ora o dinheiro que sobrasse! Houve protestos. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 53 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br Diminuíram os salários (infelizmente aumentou o número de assaltos) porque precisamos combater a inflação e, como se sabe, quando os sábados estão acima do índice de produtividade eles se tornam altamente inflacionários, de modo que. Houve protestos. Proibiram os protestos. E no lugar dos protestos nasceu o ódio. Então surgiu a Casa de Vidro, para acabar com aquele ódio. ÂNGELO, I. A casa de vidro. São Paulo: Círculo de Livro, 1985. Publicado em 1979, o texto compartilha com outras obras da literatura brasileira escritas no período as marcas do contexto em que foi produzido, como a a) referência à censura e à opressão para alegorizar a falta de liberdade de expressão característica da época. b) valorização de situações do cotidiano para atenuar os sentimentos de revolta em relação ao governo instituído. c) utilização de metáforas e ironias para expressar um olhar crítico em relação à situação social e política do país. d) tendência realista para documentar com verossimilhança o drama da população brasileira durante o Regime Militar. e) sobreposição das manifestações populares pelo discurso oficial para destacar o autoritarismo do momento histórico. Comentários: A alternativa A está incorreta, pois a censura e a opressão não são alegóricas. Elas de fato ocorriam. A alternativa B está incorreta, pois as situações cotidianas citadas também se relacionam com o sentimento de revolta. A alternativa C está correta, pois o texto é permeado por metáforas (como a referência às crianças que ganharam a bola para brincar, remetendo a aqueles que produziam discursos nem sempre aceitos por todos) e ironias (como em “infelizmente aumentou o número de assaltos”). A alternativa D está incorreta, pois não se pode dizer que seja uma tendência realista, já que o texto é permeado de metáforas e alegorias. A alternativa E está incorreta, pois não vemos necessariamente os discurso oficiais, mas sim temos a informação que os protestos foram proibidos. Gabarito: C (ENEM - 2017) — Recusei a mão de minha filha, porque o senhor é... filho de uma escrava. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 54 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br — Eu? — O senhor é um homem de cor!... Infelizmente esta é a verdade... Raimundo tornou-se lívido. Manoel prosseguiu, no fim de um silêncio: — Já vê o amigo que não é por mim que lhe recusei Ana Rosa, mas é por tudo! A família de minha mulher sempre foi muito escrupulosa a esse respeito, e como ela é toda a sociedade do Maranhão! Concordo que seja uma asneira; concordo que seja um prejuízo tolo! O senhor porém não imagina o que é por cá a prevenção contra os mulatos!... Nunca me perdoariam um tal casamento; além do que, para realizá-lo, teria que quebrar a promessa que fiz a minha sogra, de não dar a neta senão a um branco de lei, português ou descendente direto de portugueses! AZEVEDO, A. O mulato. São Paulo: Escala, 2008. Influenciada pelo ideário cientificista no Naturalismo, a obra destaca o modo como o mulato era visto pela sociedade e fins do século XIX. Nesse trecho, Manoel traduz uma concepção em que a a) miscigenação racial desqualificava o indivíduo. b) condição econômica anulava os conflitos raciais. c) discriminação racial era condenada pela sociedade. d) escravidão negava o direito da negra à maternidade. e) união entre mestiços era um risco à hegemonia dos brancos. Comentários: A alternativa A está correta, pois a palavra “mulato” denota, de maneira pejorativa, uma pessoa com ascendência tanto branca quanto negra. Essa pessoa miscigenada era malvista socialmente. A alternativa B está incorreta, pois o que faz o homem negar a mão de sua filha não é a condição financeira – sequer citada no trecho – massim o tom da pele da personagem. A alternativa C está incorreta, pois as personagens apoiam o preconceito – haja vista a promessa feita à sogra sobre apenas casar a filha com um homem branco. A alternativa D está incorreta, pois pelas informações do texto não podemos afirmar isso. A alternativa E está incorreta, pois ainda que esse possa ser um dos frutos do preconceito – a ideia de que os direitos adquiridos pelas minorias seriam uma ameaça aos direitos das maiorias – não se pode dizer que nesse trecho haja essa ideia expressa. Gabarito: A (ENEM - 2017) Dois parlamentos Nestes cemitérios gerais Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 55 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br não há morte pessoal. Nenhum morto se viu com modelo seu, especial. Vão todos com a morte padrão, em série fabricada. Morte que não se escolhe e aqui é fornecida de graça. Que acaba sempre por se impor sobre a que já medrasse. Vence a que, mais pessoal, alguém já trouxesse na carne. Mas afinal tem suas vantagens esta morte em série. Faz defuntos funcionais, próprios a uma terra sem vermes. MELO NETO, J. C. Serial e antes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 (fragmento). A lida do sertanejo com suas adversidades constitui um viés temático muito presente em João Cabral de Melo Neto. No fragmento em destaque, essa abordagem ressalta o(a) a) inutilidade de divisão social e hierárquica após a morte. b) aspecto desumano dos cemitérios da população carente. c) nivelamento do anonimato imposto pela miséria na morte. d) tom de ironia para com a fragilidade dos corpos e da terra. e) indiferença do sertanejo com a ausência de seus próximos. Comentários: A alternativa A está incorreta, pois não se fala especificamente em divisão social aqui. A alternativa B está incorreta, pois o que é desumano é o tratamento em vida, que faz com que a pessoa acaba em situações como a de uma morte “desimportante”, não o fato de que são enterrados num cemitério comum – que nesse caso é consequência da vida. A alternativa C está correta, pois o eu-lírico faz referência aos cemitérios gerais, ou seja, às valas comuns, como são chamados locais em que se enterram pessoas sem identificação. Essa é a “morte padrão” aqui. Essa morte novela todos a partir do anonimato, como se todos fossem iguais, apenas uma estatística, um número. A alternativa D está incorreta, pois não há tratamento irônico, mas sim lamentoso. A alternativa E está incorreta, pois não se pode dizer que haja indiferença com o próximo. Os cemitérios comuns não são necessariamente sinal de uma indiferença para com o morto. Gabarito: C Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 56 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br (ENEM - 2017) Chamou-me o bragantino e levou-me pelos corredores e pátios até ao hospício propriamente. Aí é que percebi que ficava e onde, na seção, na de indigentes, aquela em que a imagem do que a Desgraça pode sobre a vida dos homens é mais formidável. O mobiliário, o vestuário das camas, as camas, tudo é de uma pobreza sem par. Sem fazer monopólio, os loucos são da proveniência mais diversa, originando-se em geral das camadas mais pobres da nossa gente pobre. São de imigrantes italianos, portugueses e outros mais exóticos, são os negros roceiros, que teimam em dormir pelos desvãos das janelas sobre uma esteira esmolambada e uma manta sórdida; são copeiros, cocheiros, moços de cavalariça, trabalhadores braçais. No meio disto, muitos com educação, mas que a falta de recursos e proteção atira naquela geena social. BARRETO, L. Diário do hospício e O cemitério dos vivos. São Paulo: Cosac & Naify, 2010. No relato de sua experiência no sanatório onde foi interno, Lima Barreto expõe uma realidade social e humana marcada pela exclusão. Em seu testemunho, essa reclusão demarca uma a) medida necessária de intervenção terapêutica. b) forma de punição indireta aos hábitos desregrados. c) compensação para as desgraças dos indivíduos. d) oportunidade de ressocialização em um novo ambiente. e) conveniência da invisibilidade a grupos vulneráveis e periféricos. Comentários: A alternativa A está incorreta, pois em nenhum momento vê-se uma defesa do local, mas sim uma sensação de abandono no local. A alternativa B está incorreta, pois não se pode afirmar com certeza, pelo trecho, quais as condições que levavam as pessoas a serem internadas – ainda que tenhamos relatos de que muitas vezes isso era relacionado com hábitos desviantes, ainda que não sinais de doenças psíquicas. A alternativa C está incorreta, pois o local é descrito como precário e abandonado, não podendo ser uma compensação. A alternativa D está incorreta, pois, assim como em C, o local é descrito como precário e abandonado, não sendo possível afirmar que houvesse tentativa de mudança ou ressocialização. O local parece mais um depósito de pessoas pela descrição no trecho. A alternativa E está correta, pois ao citar quem são os internos, ele aponta: “originando-se em geral das camadas mais pobres da nossa gente pobre”, “imigrantes italianos, portugueses e outros mais exóticos”, “negros roceiros” e “copeiros, cocheiros, moços de cavalariça, trabalhadores braçais”, grupos de maior vulnerabilidade. Gabarito: E (ENEM - 2017) Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 57 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br Tenho visto criaturas que trabalham demais e não progridem. Conheço indivíduos preguiçosos que têm faro: quando a ocasião chega, desenroscam-se, abrem a boca e engolem tudo. Eu não sou preguiçoso. Fui feliz nas primeiras tentativas e obriguei a fortuna a ser-me favorável nas seguintes. Depois da morte do Mendonça, derrubei a cerca, naturalmente, e levei-a para além do ponto em que estava no tempo de Salustiano Padilha. Houve reclamações. — Minhas senhoras, Seu Mendonça pintou o diabo enquanto viveu. Mas agora é isto. E quem não gostar, paciência, vá à justiça. Como a justiça era cara, não foram à justiça. E eu, o caminho aplainado, invadi a terra do Fidélis, paralítico de um braço, e a dos Gama, que pandegavam no Recife, estudando direito. Respeitei o engenho do Dr. Magalhães, juiz. Violências miúdas passaram despercebidas. As questões mais sérias foram ganhas no foro, graças às chicanas de João Nogueira. Efetuei transações arriscadas, endividei-me, importei maquinismos e não prestei atenção aos que me censuravam por querer abarcar o mundo com as pernas. Iniciei a pomicultura e a avicultura. Para levar os meus produtos ao mercado, comecei uma estrada de rodagem. Azevedo Gondim compôs sobre ela dois artigos, chamou-me patriota, citou Ford e Delmiro Gouveia. Costa Brito também publicou uma nota na Gazeta, elogiando-me e elogiando o chefe político local. Em consequência mordeu-me cem mil réis. RAMOS, G. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 1990. O trecho, de São Bernardo, apresenta um relato de Paulo Honório, narrador-personagem, sobre a expansão de suas terras. De acordo com esse relato, o processo de prosperidade que beneficiou evidencia que ele a) revela-se um empreendedor capitalista pragmático que busca o êxito em suas realizações a qualquer custo, ignorando princípios éticos e valores humanitários. b) procura adequar sua atividade produtiva e função de empresário às regras do Estado democrático de direito, ajustando o interesse pessoal ao bem da sociedade. c) relata aos seus interlocutores fatos que lhe ocorreram em um passado distante, e enumera ações que põe em evidência as suas muitas virtudes de homem do campo. d) demonstra ser um homem honrado, patriota e audacioso, atributos ressaltados pela realização de ações que se ajustam ao princípio de que os fins justificam os meios. e) amplia o seu patrimônio graças ao esforço pessoal, contando com a sorte e a capacidadede iniciativa, sendo um exemplo de empreendedor com responsabilidade social. Comentários: A alternativa A está correta, pois a personagem de Paulo Honório deixa claro que é um homem que busca alcançar seus objetivos sem medir consequências: sua expansão de terra é feita por meio de grilagem, ou seja, tomada ilegal de um terreno pela base da força; a estrada que constrói é para seu Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 58 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br próprio bem – ter como escoar seus produtos – e os elogios que lhe tecem são comprados. Ele ignora valores éticos e humanitários em busca de um maior lucro financeiro. A alternativa B está incorreta, pois ele não se adequa às regras, mas sim as burla, cometendo crimes em busca de maior ganho financeiro. A alternativa C está incorreta, pois o que ele enumera aqui não são virtudes, mas comportamentos viciosos, de alguém que não apresenta escrúpulos. A alternativa D está incorreta, pois mesmo suas ações para o Estado – a construção da estrada – não são feitas pensando no bem comum, mas sim em si próprio. A alternativa E está incorreta, pois ele não possui responsabilidade social; atua pensando apenas em si próprio e não conta com a sorte: comete crimes ou faz ações de caráter duvidoso. Gabarito: A (ENEM - 2017) A humana condição Custa o rico no céu (Afirma o povo e não erra). Porém muito mais difícil É um pobre ficar na terra QUINTANA, M. Melhores poemas. São Paulo: Global, 2003. Mário Quintana ficou conhecido por seus “quintanares”, nome que o poeta Manuel Bandeira deu a esses quartetos com pequenas observações sobre a vida. Nessa perspectiva, os versos do poema Da humana condição ressaltam a) a desvalorização da cultura popular. b) a falta de sentido da existência humana. c) a irreverência diante das crenças do povo. d) uma visão irônica das diferenças de classe. e) um olhar objetivo sobre as diferenças sociais. Comentários: A alternativa A está incorreta, pois o poeta afirma que a cultura popular está certa, não que deve ser desconsiderada. A alternativa B está incorreta, pois o poeta não entra em questões metafísicas acerca da existência humana, apenas menciona o céu e a terra como oposições aqui. A alternativa C está incorreta, pois o poeta dá valor às crenças populares, tanto que afirma que estão corretas. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 59 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br A alternativa D está correta, pois o poema faz referência à passagem bíblica “Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no reino dos céus. E ainda vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus” (Mt 19:22-24). A passagem condena a ganância ao dizer que o rico dificilmente entrará no reino dos céus. Ao mesmo tempo aponta para as dificuldades sofridas pelos pobres em vida, que faz com que seja difícil para eles manterem-se vivos, ou seja, na terra. A alternativa E está incorreta, pois o poeta não faz uso de um olhar objetivo, mas metafórico, ligado à religiosidade e ao simbolismo das ideias de “céu” e “terra”. Gabarito: D (ENEM - 2017) O mundo revivido Sobre esta casa e as árvores que o tempo esqueceu de levar. Sobre o curral de pedra e paz e de outras vacas tristes chorando a lua e a noite sem bezerros. Sobre a parede larga deste açude onde outras cobras verdes se arrastavam, e pondo o sol nos seus olhos parados iam colhendo sua safra de sapos. Sob as constelações do sul que a noite armava e desarmava: as Três Marias, o Cruzeiro distante e o Sete-Estrelo. Sobre este mundo revivido em vão, a lembrança de primos, de cavalos, de silêncio perdido para sempre. DOBAL, H. A província deserta. Rio de Janeiro: Artenova, 1974. No processo de reconstituição do tempo vivido, o eu lírico projeta um conjunto de imagens cujo lirismo se fundamenta no a) inventário das memórias evocadas afetivamente. b) reflexo da saudade no desejo de voltar à infância. c) sentimento de inadequação com o presente vivido. d) ressentimento com as perdas materiais e humanas. e) lapso no fluxo temporal dos eventos trazidos à cena. Comentários: Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 60 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br A alternativa A está correta, pois o eu-lírico lista espaços, objetos e pessoas, criando um rol de lembranças que ele revive ao evocar em sua memória – ainda que tudo isso esteja perdido para ele. A alternativa B está incorreta, pois evocar memórias não significa necessariamente vontade voltar à infância. O texto parece ser apenas uma lembrança. A alternativa C está incorreta, pois olhar para o passado com saudade não significa que o presente seja ruim, mas sim que o passado era bom. A alternativa D está incorreta, pois não parece haver ressentimento, mas sim melancolia. A alternativa E está incorreta, pois não se pode afirmar que haja fluxo temporal, mas sim de pensamento. O tempo aqui é psicológico: as referências aparecem conforme são evocadas pelo eu- lírico. Gabarito: A Texto para as questões 16 a 19 Diáspora 1Acalmou a tormenta Pereceram Os que a estes mares ontem se arriscaram E vivem os que por um amor tremeram 5E dos céus os destinos esperaram Atravessamos o mar Egeu O barco cheio de fariseus Como os cubanos, sírios, ciganos Como romanos sem Coliseu 10Atravessamos pro outro lado No Rio Vermelho do mar sagrado Os Center shoppings superlotados De retirantes refugiados You, where are you? 15Where are you? Where are you? Onde está Meu irmão Sem Irmã 20O meu filho sem pai Minha mãe Sem avó Dando a mão pra ninguém Sem lugar 25Pra ficar Os meninos sem paz Onde estás Meu senhor Onde estás? 30Onde estás? Deus Ó Deus onde estás Que não respondes Em que mundo 35Em qu’estrela Tu t’escondes Embuçado nos céus Há dois mil anos te mandei meu grito Que embalde desde então corre o infinito 40Onde estás, Senhor Deus ANTUNES, Arnaldo; BROWN, Carlinhos; MONTE, Marisa. Diáspora. In: Tribalistas. Rio de Janeiro: Phonomotor Records Universal Music, 2017. Disponível em: https://www.letras.mus.br/tribalistas/diaspora/. Acesso em: 08 de set. de 2019. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 61 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br (UECE – 2020) É objetivo da letra da canção Diáspora A) denunciar a saga dos refugiados ao longo da história da humanidade. B) narrar a travessia dos mares por um grupo de turistas. C) descrever situações degradantes das travessias marítimas por turistas. D) apresentar a separação entre familiares de refugiados por motivos religiosos. Comentários: Essa música foi tema de abertura da novela das seis da emissora Rede Globo, “Órfãos da terra”, "Órfãos da Terra", de Thelma Guedes e Duca Rachid. Alternativa A está correta. Denunciar no sentido de tornar conhecido; difundir, propagar, anunciar (dicionário Houaiss). Trata-se de uma questão que vai desde as Escrituras Sagradas da Bíblia, com a qual a canção inclusive manifesta caráter de intertextualidade – diálogo – até a imigração na contemporaneidade, resultado de conflitos étnicos, raciais, geográficos, políticos. Alternativa B está incorreta. Pelo contrário, a situação de turismo, que evidencia lazer, planejamento, usufruto, é bem diferente da condição dos imigrantes, podendo ter sido eles expulsos, exilados, perseguidos, isto é, eles estão numa condição de vulnerabilidade social. Alternativa C está incorreta. Não são necessariamente degradantes. No caso da Bíblia, pode ganhar inclusive um tom épico, nobre, superior. Já na contemporaneidade, muitas vezes as condições de transporte são feitas precariamente e no improviso, haja vista a situação de fuga.Alternativa D está incorreta. A canção, embora aluda à Bíblia, não permite inferir que o motivo da separação das famílias seja estritamente religioso. Gabarito: A (UECE – 2020) Observe a seguinte definição de diáspora, publicada em FERREIRA, A. B. H. Dicionário Aurélio escolar da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1988, p. 220: “Sf 1. A dispersão dos judeus no decorrer dos séculos. 2. P. ext. Dispersão de povos, por motivos políticos ou religiosos, em virtude de perseguição de grupos dominadores intolerantes”. Considerando a referida definição e a letra da canção, atente para as seguintes afirmações: I. A história narrada centra-se em questões religiosas, elegendo o mar Egeu como local de acontecimento para a separação dos povos. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 62 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br II. A história narrada vai além do texto bíblico para a compreensão do drama dos refugiados, a partir de diversas questões políticas e/ou religiosas. III. A questão dos refugiados é abordada a partir da inserção de outros lugares que, na contemporaneidade, também têm problemas políticos e/ou religiosos. Estão corretas as assertivas contidas em A) I e II apenas. B) I e III apenas. C) II e III apenas. D) I, II e III Comentários Tipologia de questão em que primeiro é dado um verbete do dicionário e depois há uma exploração, desenvolvimento do mesmo. No caso, verbetes costumam usar abreviações, como “p. ext.” que quer dizer por extensão. Afirmação I: incorreta. Não são questões religiosas necessariamente. Atentem-se ao conectivo, a conjunção coordenada alternativa na definição do dicionário: “motivos políticos ou religiosos” (grifo meu). Ademais, para além do mar Egeu, há menção também ao Rio Vermelho. Afirmação II: correta. Drama porque as situações experienciadas muitas vezes envolvem tragédias, sofrimento e separações. Afirmação III: correta. No caso, esse lugar específico não é geográfico, mas sim simbólico: os shoppings centers, lugar no qual um refugiado poderia se ver obrigado a trabalhar, na tentativa de reinserção econômica no país ao qual vai chegar. Gabarito: C (UECE – 2020) O fato de os autores da letra da canção Diáspora utilizarem o verbo em primeira pessoa do plural, na expressão “Atravessamos o mar Egeu” (linha 6), indica intenção de A) engajar o ouvinte/leitor na problemática dos refugiados. B) demarcar diferentes povos de diferentes lugares. C) naturalizar as experiências de sofrimento dos refugiados. D) acentuar o abandono de crianças retiradas de suas famílias. Comentários Alternativa A está correta. O chamado plural majestático ou plural da modéstia também pode ser usado para designar atitude respeitosa para com o interlocutor. Porém, o objetivo aqui é maior, no intuito da inclusão, como diz o ditado popular: “sentir-se na mesma pele” dos imigrantes, passar pelos mesmos dramas, mesmos sofrimentos. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 63 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br Alternativa B está incorreta. A finalidade não é a demarcação, até porque não sabemos as origens reais desses imigrantes. Alternativa C está incorreta. Cuidado: o sofrimento não é natural nem naturalizado, ele é causado por ações antrópicas (humanas). Alternativa D está incorreta. O fato de haver menção a algumas categorias familiares como irmão e irmã, filho, pai, mãe e avó, não é possível concluir com exatidão que o texto trate só de crianças. Embora haja o verso “Os meninos sem paz” (l. 26), isso não se remete diretamente ao verbo conjugado na 1ª pessoa do plural “atravessamos”. Gabarito: A (UECE - 2020) A textualidade marca-se por diversos fatores que se integram, a fim de instituir sentido ao conjunto de enunciados, transformando-os em um texto. Assim, na letra da canção Diáspora, há I. intertextualidade, porque podemos depreender a presença de outros textos, por exemplo, textos bíblicos (linhas 6-7; 10-11) e o poema Vozes d’África, de Castro Alves (linhas 31-40). II. coerência, porque há uma lógica interna no texto quando os autores relacionam a dispersão do povo judeu à saga dos imigrantes. III. informatividade, porque as informações apresentam dados novos para a atualização da questão dada, a partir de um tema já apresentado inicialmente. Estão corretas as complementações contidas em A) I e II apenas. B) I e III apenas. C) II e III apenas. D) I, II e III. Comentários Afirmação I: correta. Entende-se por intertextualidade a relação entre dois ou mais textos, entendendo qual a natureza dessa relação. Algumas vezes a intertextualidade é mais evidente outras não. Pode também aparecer entre textos de diferentes naturezas, verbais e visuais. Quanto a Castro Alves, membro da 3ª geração da poesia romântica brasileira, espia o que apresentamos no nosso material. Ocupante da cadeira de no 7 na Academia Brasileira de Letras, era considerado o poeta dos escravos e nasceu em 1847. Estudou Direito em Recife e São Paulo. Representou maturidade em relação à ingenuidade das gerações anteriores, como o idealismo indianista e amoroso e o nacionalismo ufanista. A crítica objetiva ao regime social prefigura o movimento posterior do Realismo. ➢ Poesia: principais obras • Espumas flutuantes (1870); Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 64 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br O contexto histórico é extremamente importante para compreender a obra e o seu pano de fundo por trás. Assim, é possível estabelecer uma ponte com o presente e ter a capacidade de atualizar essas obras, isto é, trazê-las para o nosso presente. Isso pode cair na redação. Nesse caso, a questão dos imigrantes. • A Cachoeira de Paulo Afonso (1876); • Os Escravos – O Navio Negreiro (1883); • Hinos do Equador (1921). Este poema em particular do poeta romântico começa com os seguintes versos: “Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?”. Vamos ver uma estrofe na íntegra, de modo a perceber as semelhanças com a canção. O resto se encontra no domínio público (https://tinyurl.com/rgkykao). Deus! ó Deus! onde estás que não respondes? Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes Embuçado nos céus? Há dois mil anos te mandei meu grito, Que embalde desde então corre o infinito... Onde estás, Senhor Deus?... Além disso, a alusão à Bíblia se verifica também na menção da abertura do mar por Moisés, episódio relatado no livro do Êxodo. Afirmação II: correta. Coerência interna de temas, como que para evidenciar que não se trata de um problema apenas da atualidade, mas sim milenar, histórico. Afirmação III: correta. Ao longo da canção vão sendo apresentadas mais informações acerca da condição das pessoas refugiadas, dialogando também com o conhecimento de mundo do aluno. Gabarito: D (UNICAMP – 2020) Texto I Os idiomas e suas regras são coisas vivas, que vão se modificando de maneira dinâmica, de acordo com o momento em que a sociedade vive. Um exemplo disso é a adoção do termo “maratonar”, quando os telespectadores podem assistir a vários ou a todos os episódios de uma série de uma só vez. Contudo, ao que parece, a plataforma Netflix não quer mais estar associada à “maratona” de séries. A maior razão seria a tendência atual que as gigantes da tecnologia têm seguido para evitar o consumo excessivo e melhorar a saúde dos usuários. (Adaptado de Claudio Yuge, “Você notou? Netflix parece estar evitando o termo ‘maratonar’.” Disponível em https://www.tecmundo.com.br/ internet/133690-voce-notou-net flix-pareceevitando- termo-maratonar.htm. Acessado em 01/06/2019.) Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 65 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br Embora os dois textos tratem do termo “maratonar” a partirde perspectivas distintas, é possível afirmar que o Texto II retoma aspectos apresentados no Texto I porque a) esclarece o significado do neologismo “maratonar” como esforço físico exaustivo, derivado de “maratona”. b) deprecia a definição de “maratona” como ação contínua de superação de dificuldades e melhoria da saúde. c) reflete sobre o impacto que a falta de exercícios físicos e a permanência em casa provocam na saúde. d) menospreza o uso do termo “maratonar” relacionado a um estilo de vida sedentário, antagônico a maratona. Comentário Alternativa A está incorreta. Somente o texto II define o termo maratonar como “esforço físico”; no texto I, o termo é definido como “assistir a vários ou a todos os episódios de uma série de uma só vez.” Alternativa B está incorreta. Essa ideia de “ação contínua de superação de dificuldades” não consta de nenhum dos textos. Alternativa C está incorreta. No texto II, a personagem não se refere à saúde. Alternativa D está correta. Tanto as empresas de tecnologia estão evitando o termo com intenção de “evitar o consumo excessivo e melhorar a saúde” (referência implícita a sedentarismo) quanto a fala da personagem transmite a mesma ideia de sedentarismo ao falar em “ficar o dia todo no sofá”. Gabarito: D (UNICAMP – 2020) Texto I Leia os versos iniciais da peça Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come (1966), de Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar. Em formato de cordel, os versos são cantados por todos os atores. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 66 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br Se corres, bicho te pega, amô. Se ficas, ele te come. Ai, que bicho será esse, amô? Que tem braço e pé de homem? Com a mão direita ele rouba, amô, e com a esquerda ele entrega; janeiro te dá trabalho, amô, dezembro te desemprega; de dia ele grita "avante”, amô, de noite ele diz: "não vá": Será esse bicho um homem, amô, ou muitos homens será? (Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar, Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 3.) Texto II Observe a charge de Laerte que fez parte da mostra Maio na Paulista, em 2019. Considerando a relação entre os textos I e II, conclui-se que a charge a) resgata a temática do cordel, rompendo com o impasse vivido pelos personagens. b) reafirma o dilema dos personagens da peça, parafraseando os versos iniciais do cordel. c) evidencia a tradição popular nordestina, utilizando a imagem para sofisticar os versos. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 67 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br d) confirma a força transformadora da versificação popular, reproduzindo-a em imagens. Comentários Alternativa A está correta. No cordel, os personagens discutem o impasse do ditado “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, aplicando-o aos empregadores nos versos “janeiro te dá trabalho, amô,/ dezembro te desemprega;”; na charge o dilema se resolve quando os trabalhadores se reúnem e fazem o “bicho” correr. Alternativa B está incorreta. Há reafirmação da temática do cordel na charge, mas a alternativa desconsidera a resolução do embate na charge. Alternativa C está incorreta. A charge não foi feita para ilustrar o cordel. Alternativa D está incorreta. A versificação popular é uma forma de transmitir uma ideia; a ideia transforma, a forma encanta, logo não é a força transformadora do verso que leva a reprodução da imagem. Gabarito: A (FUVEST – 2020) amora a palavra amora seria talvez menos doce e um pouco menos vermelha se não trouxesse em seu corpo (como um velado esplendor) a memória da palavra amor a palavra amargo seria talvez mais doce e um pouco menos acerba se não trouxesse em seu corpo (como uma sombra a espreitar) a memória da palavra amar Marco Catalão, Sob a face neutra. É correto afirmar que o poema a) aborda o tema da memória, considerada uma faculdade que torna o ser humano menos amargo e sombrio. b) enfoca a hesitação do eu lírico diante das palavras, o que vem expresso pela repetição da palavra “talvez”. c) apresenta natureza romântica, sendo as palavras “amora” e “amargo” metáforas do sentimento amoroso. d) possui reiterações sonoras que resultam em uma tensão inusitada entre os termos “amor” e “amar”. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 68 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br e) ressalta os significados das palavras tal como se verificam no seu uso mais corrente. Comentários: Alternativa A está incorreta. O tema principal do poema não é memória, é o amor. Alternativa B está incorreta. O eu lírico não hesita diante da palavra, hesita diante dos efeitos sensoriais evocados pelas palavras. Alternativa C está incorreta. O poema manifesta uma perspectiva não-romântica, pois não idealiza o amor. Na primeira estrofe, o poeta fala da doçura do amor, enquanto, na segunda estrofe, destaca a amargura do amor. Alternativa D está correta. Há reiterações sonoras: a palavra “amora” contém “amor” e a palavra “amargo” contém o verbo “amar”. O amor da primeira estrofe é doce, a ação de amar da segunda estrofe é amarga. São opostos. O poema, implicitamente, defende a tese de que o amor como ideia é perfeito, mas no cotidiano, quando passa a ser ação, ele é amargo. Alternativa E está incorreta. As determinações atribuídas às palavras amor e a “amargo” são ressignificadas. Gabarito: D TEXTO PARA AS QUESTÕES 23 e 24 Uma planta é perturbada na sua sesta* pelo exército que a pisa. Mas mais frágil fica a bota. Gonçalo M. Tavares, 1: poemas. *sesta: repouso após o almoço. (FUVEST – 2020) Considerando que se trata de um texto literário, uma interpretação que seja capaz de captar a sua complexidade abordará o poema como a) uma defesa da natureza. b) um ataque às forças armadas. c) uma defesa dos direitos humanos. d) uma defesa da resistência civil. e) um ataque à passividade. Comentários: Alternativa A está incorreta. O texto é literário e deve ser entendido de forma metafórica e não literal. Alternativa B está incorreta. A frase não apresenta uma crítica às forças armadas, não revela qual o motivo pelo qual o exército pisa a planta, o que poderia ensejar algum tipo de crítica. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 69 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br Alternativa C está incorreta. Se fosse “defesa dos direitos humanos”, o poema estaria expressando a ideia de que o exército seria alterado pela defesa de tais direitos, isso não faz sentido. Alternativa D está correta. A planta sofre a ação e deixa suas marcas na bota, há, portanto, uma resistência. Qual tipo de resistência? Isso pode ser deduzido pelo que se opõe ao militar, ou seja, pela resistência civil. Alternativa E está incorreta. O poema exalta a planta que, à primeira vista, apenas sofre a ação. Gabarito: D (FUVEST - 2020) O ditado popular que se relaciona melhor com o poema é: a) Para bom entendedor, meia palavra basta. b) Água mole em pedra dura tanto bate até que fura. c) Quem com ferro fere, com ferro será ferido. d) Um dia é da caça, o outro é do caçador. e) Uma andorinha só não faz verão. Comentários: Alternativa A está incorreta. O poema gira em torno da ação do exército, o ditado faz referência ao processo de interpretação. Alternativa B está correta. O poder da bota é semelhante ao da dureza da pedra; a ação da planta que vai contaminando o poder militar é semelhante à ação da água que vai minando a dureza do rochedo. Alternativa C está incorreta. O ditado faz referência à reação violenta como resposta a outra do mesmo aspecto. Ora, a planta não reage com a mesma intensidade com que foi ferida. Alternativa D está incorreta. Esse ditado supõe quea resistência civil poderia agir da mesma maneira como o exército age; se as pessoas agirem com violência contra o exército, haveria uma rebelião e não resistência civil. Alternativa E está incorreta. Se essa ideia fosse aplicada ao poema, deveria significar que outras plantas deveriam se juntar a essa única que foi pisada, ideia que não está presente no texto. Gabarito: B (UEMA – 2020) O livro Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, foi publicado em folhetins no ano de 1853. Caracteriza-se por documentar os costumes, os comportamentos e os tipos sociais da classe média da sociedade brasileira do tempo do rei D. João VI, ignorados pela literatura até então. É considerado um clássico da literatura brasileira do século XIX. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 70 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br O fragmento a seguir é parte do capítulo intitulado Estralada, no qual o personagem Leonardo Pataca, para vingar-se de um desafeto seu, contrata o valentão Chico-Juca. Leia-o para responder à questão. […] — Isto passa de mais… varro… menos essa, senhor Chico-Juca; nada de graças pesadas com essa moça, que é cá coisa minha… O Chico-Juca estava com efeito há mais de meia hora a dirigir graçolas das suas a uma moça que ele bem sabia que era coisa do rapaz que estava tocando; tanto fez que este, tendo percebido, proferiu aquelas palavras que acabamos de ouvir. — Você respinga?!… – respondeu-lhe o Chico-Juca dirigindo-se para ele. O rapaz, que não era peco, pôs-se em pé e replicou: — Tenho dito, nada de graças com ela!… […] ALMEIDA, M. A. Memórias de um Sargento de Milícias. Porto Alegre: L&PM, 2015. A voz narrativa predominante no livro Memórias de um Sargento de Milícias é a 3ª. pessoa, o que pode criar um certo distanciamento do narrador em relação aos fatos narrados. No fragmento, nota-se que essa voz oscila, revelando um narrador que se coloca como testemunha da situação retratada, conforme o seguinte trecho: a) “— Tenho dito, nada de graças com ela!…” (5º.§) b) “[…] proferiu aquelas palavras que acabamos de ouvir.” (2º.§) c) “[…] nada de graças pesadas com essa moça, que é cá coisa minha…” (1º.§) d) “— Você respinga?!… respondeu-lhe o Chico-Juca dirigindo-se para ele.” (3º.§) e) “O rapaz, que não era peco, pôs-se em pé e replicou:” (4º.§) Comentários: Alternativa A: incorreta. Esse trecho constitui um discurso direto, no qual o narrador permite que o personagem expresse sua opinião. Não há elemento linguístico que indique a presença do narrador no fragmento. Alternativa B: correta. Ao se valer da primeira pessoa do plural em “acabamos de ouvir”, o narrador inclui o leitor e ele mesmo como espectadores da cena. Alternativa C: incorreta. Esse é um fragmento de discurso direto, a presença do eu em “é cá coisa minha” se aplica ao personagem e não ao narrador. Alternativa D: incorreta. Trata-se de discurso direto sem termo que permita localizar a presença do narrador. Alternativa E: incorreta. Trata-se de um fragmento objetivo sem marcação da presença do narrador. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 71 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br Gabarito: B (UEMA – 2020) O Último Poema encerra o livro Libertinagem, de Manuel Bandeira. O Último Poema Assim eu quereria o meu último poema Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos A paixão dos suicidas que se matam sem explicação. BANDEIRA, M. Libertinagem. 2 ed. São Paulo: Global, 2013 O poema estabelece pelo título e pela posição que ocupa um valor metapoético, uma vez que o eu lírico a) transporta para a poesia a beleza da simplicidade. b) explicita seu dilema existencial. c) revela dramaticamente seus medos mais íntimos e secretos. d) incorpora na poesia o academicismo parnasiano. e) expressa em versos seu desejo poético. Comentários: “Metapoético” se refere a um poema que tematiza a escrita da própria poesia. Alternativa A está incorreta. É verdade que, nesse poema, o eu lírico “transporta para a poesia a beleza e simplicidade”, mas isso não se relaciona com o título, nem expressa um valor metapoético. Alternativa B está incorreta. No poema, ele exprime o que ele deseja para sua poesia, não explora seus dilemas existenciais. Alternativa C está incorreta. Não há referência a medos no poema. Alternativa D está incorreta. Se fosse parnasiano, o poeta deveria metrificar seu poema. Manuel Bandeira se vale do verso livre (sem métrica). Alternativa E está correta. O seu desejo poético aparece no primeiro verso “Assim eu quereria o meu último poema” e esse tema é metapoético. Gabarito: E (MACKENZIE – 2019) Texto I Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 72 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br 01 Não é fácil dissertar sobre a alimentação dos portugueses durante 02 a Idade Média. Escasseiam as fontes informativas: o primeiro livro 03 de receitas culinárias que se conhece não é anterior ao século XVI. 04 As descrições de banquetes, colhidas nas crônicas ou noutros textos 05 narrativos, são em geral parcas em notícias concretas sobre os 06 alimentos consumidos. 07 De maneira geral, a alimentação medieval era pobre, se 08 comparada com os padrões modernos. A quantidade supria, quantas 09 vezes, a qualidade. A técnica culinária achava-se ainda numa fase 10 rudimentar, e as conquistas da cozinha romana haviam-se perdido. 11 A condimentação obedecia a princípios extremamente simples. 12 As duas refeições principais do dia eram o jantar e a ceia. 13 Jantava-se, nos fins do século XIV, por volta das dez horas da manhã; 14 mas nos séculos anteriores, essa hora teria de recuar para oito ou 15 nove. Ceava-se pelas seis ou sete horas da tarde. Como ideal de 16 frugalidade, aconselhava-se a ausência de qualquer outro repasto 17 durante o dia. É de supor, a partir de certa altura, a necessidade de 18 um “almoço” tomado pouco depois do levantar. 19 O jantar era a refeição mais forte do dia. O número de 20 pratos servidos andava, em média, pelos três, sem contar sopas, 21 acompanhamentos ou sobremesas. Isto, entenda-se, em relação ao 22 rei, à nobreza, e ao alto clero. Entre os menos privilegiados ou os 23 menos ricos, o número de pratos ao jantar podia descer para dois 24 ou até um. À ceia, baixava para dois a média das iguarias tomadas; 25 ou para um, nos outros casos indicados. Adaptado de A.H. de Oliveira Marques, A sociedade medieval portuguesa Texto II 01 Havia três estados ou estamentos na sociedade feudal: o clero, 02 a nobreza e o campesinato. Os dois primeiros eram privilegiados, 03 reservando-se as funções de ministrar os sacramentos religiosos, 04 governar e dar proteção. O terceiro estado, os camponeses, tinha 05 obrigação de trabalhar para o sustento material de toda a sociedade. 06 Os camponeses produziam centeio, trigo, cevada etc. e cuidavam 07 das oliveiras e das vinhas. A técnica de produção era rudimentar, os 08 instrumentos de produção, inadequados, e a produção, relativamente 09 pequena. O espectro da fome geralmente rondava as choupanas dos 10 trabalhadores. Adaptado de Heródoto Barbeiro, História Geral Sobre os textos é correto afirmar que: a) uma linguagem objetiva (em tom didático e explicativo) contribui para a presença destacada da função referencial. b) a presença em destaque de figuras de linguagem como metáfora e personificação contribui para as imagens simbólicas transmitidas. c) o uso de marcas de subjetividade realça a figura dos autores, que se colocam de modo explícito nas construções textuais. d) a reconstrução histórica elaborada é feita em tom de ironia,o que confere um efeito de sentido de humor aos posicionamentos adotados pelos autores. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 73 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br e) são escritos em linguagem jornalística moderna, com a presença de recursos argumentativos típicos dos usados nas novas tecnologias de comunicação. Comentários: A alternativa A está correta, pois o objetivo do texto é a informação a ser passada, o que condiz com a função referencial. A alternativa B está incorreta, pois não há grande uso de figuras de linguagem, justamente por se tratar de um texto de maior cunho científico e objetivo didático. A alternativa C está incorreta, pois não há grandes marcas de subjetividade e os autores não se manifestam tão explicitamente no texto. A alternativa D está incorreta, pois a reconstrução histórica é feita de forma científica, não irônica, em que o foco está na obtenção de informações verossímeis acerca da Idade Média. A alternativa E está incorreta, pois os textos não trazem recursos argumentativos típicos da modernidade, o que pode ser entendido aqui como as mídias tecnológicas e o advento da internet. Tratam-se de textos didáticos, pertencentes a obras escritas. Gabarito: A (Insper - 2019) Texto I Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. Meu pai, logo que teve aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as raias de um capricho juvenil. – Dessa vez, disse ele, vais para Europa; vais cursar uma universidade, provavelmente Coimbra; quero-te para homem sério e não para arruador e gatuno. E como eu fizesse um gesto de espanto: — Gatuno, sim senhor; não é outra cousa um filho que me faz isto... (Machado de Assis, Memóri-as Póstumas de Brás Cubas) Texto II Ela deixou um bilhete, dizendo que ia sair fora Levou meu coração, alguns CDs e o meu livro mais da hora Mas eu não sei qual a razão, não entendi por que ela foi embora E eu fiquei pensando em como foi e qual vai ser agora É que pena, pra mim tava tão bom aqui Com a nega mais teimosa e a mais linda que eu já vi Dividindo o edredom e o filminho na TV Chocolate quente e meus olhar era só pro cê Mas cê não quis, eu era mó feliz e nem sabia Beijinho de caramelo que recheava meus dia (Luccas Carlos, Bilhete 2.0 [fragmento]. Em: https://www.letras.mus.br) Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 74 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br Na passagem do Texto I – Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. –, o autor faz uma associação insólita entre as expressões destacadas, o que causa certa estranheza ao leitor. No Texto II, esse mesmo recurso está presente na passagem: a) “Levou meu coração, alguns CDs e o meu livro mais da hora”, reforçando que as perdas também recaíram em bens materiais. b) “Dividindo o edredom e o filminho na TV”, marcando a relação de conforto e de proximidade que inspirava um amor aparentemente inabalável. c) “E eu fiquei pensando em como foi e qual vai ser agora”, explicitando a sensação de desolação e confusão pela perda da mulher amada. d) “Ela deixou um bilhete, dizendo que ia sair fora”, mostrando também o rompimento amoroso do casal, assim como no romance. e) “Beijinho de caramelo que recheava meus dia”, sugerindo o sentimento do casal como algo doce que nem o rompimento será capaz de descaracterizar. Comentários: A alternativa A está correta. A passagem de Memórias Póstumas indicada retrata a impressão do narrador de que Marcela é uma mulher interesseira e que ela só ficou junto a ele enquanto isso representou uma vantagem financeira. Assim, o término não foi só emocional, como também material. Em “Levou meu coração, alguns CDs e o meu livro mais da hora” fica claro que o narrador, após o término de seu relacionamento, também sofreu algumas perdas materiais, pois a ex- namorada levou, além do coração, CDs e um livro. A alternativa B está incorreta. Neste trecho vê-se que o relacionamento parecia bom, mas acabou, não que houve perda material. A alternativa C está incorreta. O sentimento de desemparo com o término tem a ver com o emocional, não com o material nesse trecho. A alternativa D está incorreta. Nesse trecho, vê-se como a amada terminou o relacionamento, de maneira prosaica, através de um bilhete, mas não indica perdas materiais. A alternativa E está incorreta. Esse trecho mostra o modo como ele encarava aquele relacionamento, não as perdas que ele teve. Gabarito: A (UEG - 2019) Leia o poema e a tirinha a seguir. MAR PORTUGUÊS 1 Ó mar salgado, quanto do teu sal 2 São lágrimas de Portugal! 3 Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 75 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br 4 Quantos filhos em vão rezaram! 5 Quantas noivas ficaram por casar 6 Para que fosses nosso, ó mar! 7 Valeu a pena? Tudo vale a pena 8 Se a alma não é pequena. 9 Quem quer passar além do Bojador 10 Tem que passar além da dor. 11 Deus ao mar o perigo e o abismo deu, 12 Mas nele é que espelhou o céu. PESSOA, Fernando. Mar Português. In: Antologia Poética. Organização Walmir Ayala. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014. p. 15. Disponível em: <https://tirasdidaticas. files.wordpress.com/2014/12/rato79. jpg?w=640&h=215> Acesso em: 13 nov. 2018. O sentido da tirinha é construído a partir da relação que estabelece com os famosos versos de Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena” (linhas 7-8). O modo como esses dois textos se relacionam é chamado de a) paráfrase b) linearidade c) metalinguagem d) intencionalidade e) intertextualidade Comentários: A tirinha e o poema se relacionam a partir da frase “tudo vale a pena se a alma não é pequena”, que é modificada a partir da similaridade de som. Outra relação entre os dois textos está na figura do rato, que se parece visualmente com o poeta Fernando Pessoa. Assim, pode-se dizer que ocorre uma intertextualidade entre os dois textos. A alternativa correta é alternativa E. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 76 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br A alternativa A está incorreta, pois uma paráfrase seria reescrever o texto com outras palavras, e aqui há uma modificação de sentido nas reescritas. A alternativa B está incorreta, pois linearidade seria uma característica de continuidade, o que não aparece aqui. A alternativa C está incorreta, pois metalinguagem ocorre quando um texto fala sobre o próprio ato de escrever, o que não ocorre aqui. A alternativa D está incorreta, pois intencionalidade é o ato de fazer algo de maneira deliberada e isso não é o que justifica a relação entre os dois textos. Gabarito: E (MACKENZIE – 2019) Soneto v.01 Um mancebo no jogo se descora, v.02 Outro bêbado passa noite e dia, v.03 Um tolo pela valsa viveria, v.04 Um passeia a cavalo, outro namora. v.05 Um outro que uma sina má devora v.06 Faz das vidas alheias zombaria, v.07 Outro toma rapé, um outro espia... v.08 Quantos moços perdidos vejo agora! v.09 Oh! Não proíbam pois ao meu retiro v.10 Do pensamento ao merencório luto v.11 A fumaça gentil por que suspiro. v.12 Numa fumaça o canto d´alma escuto... v.13 Um aroma balsâmico respiro, v.14 Oh! Deixai-me fumar o meu charuto! Mancebo: Rapaz Merencório: melancólico Assinale a alternativa correta. a) Os dois primeiros quartetos que compõem o soneto são marcados por uma aprofundada especulação filosófica. b) O eu lírico, no verso “Quantos moços perdidos vejo agora!”, se furta a fazer uma lamento moral sobre sua geração. c) Nos dois tercetos finais do poema, está explícita a ideia de que o eu lírico se recolhe da vida a fim de pensar namulher amada. Prof. Celina Gil Aula 09 – ENEM 2020 77 77 Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade www.estrategiavestibulares.com.br d) Os versos foram compostos em um tom prosaico, imprimindo ao soneto um ar de crônica, perceptível em especial nos oito primeiros versos. e) Há no poema uma eletrizante positividade em relação às potencialidades da vida. Comentários: A alternativa A está incorreta, pois a primeira e a segunda estrofes são basicamente descritivas. A alternativa B está incorreta, pois o lamento do eu lírico não é sobre a sua própria geração e sim sobre a geração que veio depois, composta pelos mais jovens que ele. A alternativa C está incorreta, pois nos tercetos finais a fuga do eu lírico é fumar em paz. Não há menção da mulher amada. A alternativa D está correta, pois os versos se complementam, o que possibilita uma leitura linear e próxima da crônica. Especialmente nos primeiros versos parece uma narrativa sequencial devido à forma que o poema foi construído. A alternativa E está incorreta, pois o poema tem um tom pessimista e desesperançoso em relação à geração mais jovem. Gabarito: D Considerações finais Na próxima aula, veremos o texto jornalístico, ou gênero muito cobrado no ENEM. Qualquer dúvida estou à disposição no fórum, e-mail ou Instagram! Até lá, pratique bastante com os exercícios desta aula, para chegar sem dúvidas na próxima aula! Qualquer dúvida estou à disposição no fórum ou Instagram! Prof.ª Celina Gil /professora.celina.gil Professora Celina Gil @professoracelinagil Versão Data Modificações 1 28/04/2019 Primeira versão do texto.