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Livro Digital 
Aula 09 – 
Interpretação: texto 
literário 
 
ENEM – 2020 
 
 
 
 
Professora Celina Gil 
Prof. Celina Gil 
Aula 09 – ENEM 2020 
 
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Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade 
www.estrategiavestibulares.com.br 
 
Sumário 
Apresentação .................................................................................................................................... 3 
1 – Prosa e Poesia .................................................................................................................. 3 
Prosa ................................................................................................................................................................................. 3 
Poesia................................................................................................................................................................................ 7 
2 - Intertextualidade............................................................................................................. 13 
Intertextualidade explícita .............................................................................................................................................. 13 
Intertextualidade implícita ............................................................................................................................................. 14 
2.1 – Citação .................................................................................................................................... 16 
Citação direta ................................................................................................................................................................. 16 
Citação indireta .............................................................................................................................................................. 16 
2.2 – Epígrafe .................................................................................................................................. 17 
2.3 – Paráfrase ................................................................................................................................ 18 
2.4 – Paródia ................................................................................................................................... 19 
3 – Exercícios ........................................................................................................................ 20 
3.1 – Já caiu no ENEM ..................................................................................................................... 21 
3.2 – Outros vestibulares ................................................................................................................. 32 
3.3 – Gabarito .................................................................................................................................. 43 
3.4 – Questões comentadas ............................................................................................................ 44 
Considerações finais ............................................................................................................. 77 
 
 
Prof. Celina Gil 
Aula 09 – ENEM 2020 
 
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Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade 
www.estrategiavestibulares.com.br 
 
Apresentação 
Caro aluno, 
Na aula de hoje, vamos nos debruçar sobre a interpretação do texto literário. 
Aula 09 – Prosa, poesia e intertextualidade 
- Prosa e Poesia 
- Comparação entre os gêneros textuais, verbais 
ou não; 
- Paródia, citação, paráfrase, epígrafe e 
hipertexto. 
 
Muitos dos conteúdos apresentados aqui são abordados de maneira mais profunda nas aulas 
de literatura. Nosso interesse aqui não é falar de literatura em si, mas sim de forma do texto 
literário. Vamos pensar sobre o que caracteriza um texto em prosa e um em poesia e suas principais 
formações. 
Além disso, vamos pensar sobre intertextualidade. É muito comum que o vestibular una 
textos de diferentes estilos e naturezas e peça que você relacione um com outro. Por isso, 
pensaremos nos diversos tipos de intertextualidade que podem ocorrer entre textos – inclusive os 
não literários. 
Vamos lá? 
1 – Prosa e Poesia 
 Pode-se dizer que uma obra literária pode ser interpretada segundo dois aspectos: forma e 
conteúdo. Quanto à forma, convém dividir os textos literários em prosa e poesia. 
Prosa 
 A prosa é o texto escrito em parágrafos. É um texto escrito sem necessariamente considerar 
divisões rítmicas ou sonoras. Ela pode ser dividida em dois grandes grupos: narrativa e 
demonstrativa. 
 
Prosa narrativa: textos históricos ou de ficção que se proponham a narrar fatos e acontecimentos. 
 Leia este trecho do conto “Pai contra mãe”, de Machado de Assis: 
“Cândido Neves, — em família, Candinho, — é a pessoa a quem se liga a história de uma 
fuga, cedeu à pobreza, quando adquiriu o ofício de pegar escravos fugidos. Tinha um 
defeito grave esse homem, não aguentava emprego nem ofício, carecia de estabilidade; 
é o que ele chamava caiporismo. Começou por querer aprender tipografia, mas viu cedo 
que era preciso algum tempo para compor bem, e ainda assim talvez não ganhasse o 
Prof. Celina Gil 
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Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade 
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bastante; foi o que ele disse a si mesmo. O comércio chamou-lhe a atenção, era carreira 
boa. Com algum esforço entrou de caixeiro para um armarinho. A obrigação, porém, de 
atender e servir a todos feria-o na corda do orgulho, e ao cabo de cinco ou seis semanas 
estava na rua por sua vontade. Fiel de cartório, contínuo de uma repartição anexa ao 
Ministério do Império, carteiro e outros empregos foram deixados pouco depois de 
obtidos. 
Quando veio a paixão da moça Clara, não tinha ele mais que dívidas, ainda que poucas, 
porque morava com um primo, entalhador de ofício. Depois de várias tentativas para 
obter emprego, resolveu adotar o ofício do primo, de que aliás já tomara algumas lições. 
Não lhe custou apanhar outras, mas, querendo aprender depressa, aprendeu mal. Não 
fazia obras finas nem complicadas, apenas garras para sofás e relevos comuns para 
cadeiras. Queria ter em que trabalhar quando casasse, e o casamento não se demorou 
muito.” 
 
Prosa demonstrativa: textos ligados à oratória (como discursos) e didáticos (ensaios, tratados, 
diálogos, etc.). 
Leia este trecho do discurso proferido por Machado de Assis na ocasião da inauguração da estátua 
em homenagem a José de Alencar: 
“Hoje, senhores, assistimos ao início de outro monumento, este agora de vida, destinado 
a dar à cidade, à pátria e ao mundo a imagem daquele que um dia acompanhamos ao 
cemitério. Volveram anos; volveram coisas; mas a consciência humana diz-nos que, no 
meio das obras e dos tempos fugidios, subsiste a flor da poesia, ao passo que a 
consciência nacional nos mostra na pessoa do grande escritor o robusto e vivaz 
representante da literatura brasileira.“ 
 
 Na literatura, a preocupação está na prosa narrativa, de ficção. A chamada prosa literária é 
uma das mais importantes para o estudo dos vestibulares. Nela se encontram os contos, as novelas 
e os romances: 
 
 
Prosa literária
Conto: 
Histórias curtas, com apenas 
um conflito e poucas 
personagens. 
Novela:
Histórias de tamanho 
intermediário, com diversos 
conflitos que se seguem e 
muitas personagens. 
Romance:
História mais longa, com um 
conflito central e outros 
secundários que ocorrem em 
paralelo, complementando-
se. As personagens podem 
aparecer e desaparecer de 
acordo com a necessidade. 
Prof. Celina Gil 
Aula 09 – ENEM 2020 
 
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Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade 
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 Por vezes, você pode encontrar o termo prosa poética. É um tipo de texto que apesar 
de ser organizado em parágrafos, tem maior cuidado com a sonoridade e o ritmo da 
escrita. Por isso, é chamadode poético. 
 Um expoente brasileiro da prosa poética é Guimarães Rosa. Sagarana é um de seus 
livros mais conhecidos e exigidos em muitos vestibulares. É um livro de contos. Que tal 
ler um deles para se acostumar com um ritmo de prosa diferente do comum? 
 
 Sobre o ritmo do texto em prosa, a principal questão a se analisar é a paragrafação. Cada tipo 
de texto pede um modo de organização de parágrafos. Em textos dissertativos, por exemplo, tende-
se a dividir os parágrafos por assuntos. Na prosa literária a organização não se dá necessariamente 
assim. Os autores trabalham a construção dos parágrafos de acordo com seu estilo pessoal e com o 
momento da narração. Pode-se dividir os parágrafos de acordo com seu tamanho ou conteúdo: 
➢ Tamanho: 
 
Curtos: 
Se focam apenas nas informações mais importantes, descritas de maneira sucinta. Textos infantis, 
por exemplo, costumam contar com esse tipo de parágrafo. 
Ex.: 
“André, o bom Andrezinho, menino querido e estimado por todos que o conheciam, achava-se 
desesperado, banhado em lágrimas, aflito, porque sabia que o seu extremoso pai estava nos 
paroxismos finais da vida” (Histórias da Avozinha, Figueiredo Pimentel) 
Médios: 
Apresenta as ideias com maior profundidade, sem cair na prolixidade. São compostos, 
normalmente, por mais de um período. É uma estrutura que prende mais facilmente a atenção 
do leitor. 
Ex.: 
“Isaura era filha de uma linda mulata, que fora por muito tempo a mucama favorita e a criada fiel 
da esposa do comendador. Este, que como homem libidinoso e sem escrúpulos olhava as escravas 
como um serralho à sua disposição, lançou olhos cobiçosos e ardentes de lascívia sobre a gentil 
mucama. Por muito tempo resistiu ela às suas brutais solicitações; mas por fim teve de ceder às 
ameaças e violências. Tão torpe e bárbaro procedimento não pôde por muito tempo ficar oculto 
aos olhos de sua virtuosa esposa, que com isso concebeu mortal desgosto.” (A escrava Isaura, 
Bernardo Guimarães). 
Longos: 
Alguns autores utilizam parágrafos longos para descrever minuciosamente alguma situação ou 
personagem. Outros autores formam períodos muito longos, com muitos conectivos, como 
escolha estética, podendo assumir diversos significados. 
Neste exemplo, o parágrafo é tão extenso que chega a ser o capítulo como um todo. 
Ex.: 
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“Quando o testamento foi aberto, Rubião quase caiu para trás. Adivinhais por quê. Era nomeado 
herdeiro universal do testador. Não cinco, nem dez, nem vinte contos, mas tudo, o capital inteiro, 
especificados os bens, casas na Corte, uma em Barbacena, escravos, apólices, ações do Banco do 
Brasil e de outras instituições, joias, dinheiro amoedado, livros, — tudo finalmente passava às 
mãos do Rubião, sem desvios, sem deixas a nenhuma pessoa, nem esmolas, nem dívidas. Uma só 
condição havia no testamento, a de guardar o herdeiro consigo o seu pobre cachorro Quincas 
Borba, nome que lhe deu por motivo da grande afeição que lhe tinha. Exigia do dito Rubião que o 
tratasse como se fosse a ele próprio testador, nada poupando em seu benefício, resguardando-o 
de moléstias, de fugas, de roubo ou de morte que lhe quisessem dar por maldade; cuidar 
finalmente como se cão não fosse, mas pessoa humana. Item, impunha-lhe a condição, quando 
morresse o cachorro, de lhe dar sepultura decente em terreno próprio, que cobriria de flores e 
plantas cheirosas; e mais desenterraria os ossos do dito cachorro, quando fosse tempo idôneo, e 
os recolheria a uma urna de madeira preciosa para depositá-los no lugar mais honrado da casa.” 
(Quincas Borba, Machado de Assis) 
 
➢ Conteúdo: 
Descritivos: Parágrafos com muitos adjetivos, cujo objetivo é detalhar algum personagem, local 
ou situação. 
Ex.: 
“É uma sala em quadro, toda ela de uma alvura deslumbrante, que realçavam o azul celeste do 
tapete de riço recamado de estrelas e a bela cor de ouro das cortinas e do estofo dos móveis. A 
um lado duas estatuetas de bronze dourado representando o amor e a castidade, sustentam uma 
cúpula oval de forma ligeira, donde se desdobram até o pavimento, bambolins de cassa finíssima.” 
(Senhora, José de Alencar) 
Dissertativos: Parágrafos que apresentam ideias e as defendem por meio de argumentos. 
Ex.: 
“Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar 
a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de 
uma é a condição da sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e 
comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas 
tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire 
forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se 
as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e 
morrem de inanição. A paz nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos 
extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, 
recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais 
demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o 
que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma 
ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.” 
(Quincas Borba, Machado de Assis) 
Narrativos: Parágrafos que efetivamente contam as ações das personagens e suas repercussões 
na história. 
Ex.: 
Prof. Celina Gil 
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“A coisa se deu assim. Depois do meu telegrama (lembram-se: o telegrama em que recusei 
duzentos mil-réis àquele pirata), a Gazeta entrou a difamar-me. A princípio foram mofinas cheias 
de rodeios, com muito vinagre, em seguida o ataque tornou-se claro e saíram dois artigos furiosos 
em que o nome mais doce que o Brito me chamava era assassino. Quando li essa infâmia, armei-
me de um rebenque e desci à cidade.” (São Bernardo, Graciliano Ramos) 
Poesia 
 Antes de entrar na estrutura da poesia em si, vamos observar os gêneros literários em que se 
divide a poesia. 
Gêneros 
 Os gêneros poéticos, também chamados de gêneros literários são divididos em três, de 
acordo com suas estruturas formais e de conteúdo: lírica, épica e dramática. 
 
 
 
 
• Poemas que falam sobre os sentimentos e estados de espírito, direcionados 
diretamente ao leitor. 
• As emoções e opiniões do eu-lírico são bastante evidentes. 
• Engloba a poesia satírica, ou seja, aquela que promove sentimentos de 
escárnio. 
Gênero lírico
• Poemas em que são narrados grandes feitos heroicos, reais ou mitológicos. 
• Os relatos são grandiosos e extensos, contando com muitas estrofes.
• Ilíada e Odisseia (Homero) e Os Lusíadas (Luís de Camões) são os poemas 
épicos mais conhecidos. 
Gênero épico
• Na poesia dramática não há a figura de um narrador, ou seja, as personagens 
são responsáveis por contar a própria história.
• Pode apresentar traços tanto épicos quanto líricos em seu conteúdo, porém 
sua característica mais marcante é não ter narrador.
• É percursora do texto teatral. 
Gênero dramático
Esta divisão foi cunhada em um período da 
história em que a poesia era a forma literária 
mais popular. Hoje em dia, pode-se 
considerar que texto em prosa também 
podem se enquadrar nessas categorias. 
Prof. Celina Gil 
Aula 09 – ENEM 2020 
 
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Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade 
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 A poesia é um texto estruturado em versos, ou seja, em linhas encadeadas normalmente de 
tamanho pequeno. A poesia se preocupa a estética, combinando sons e significados das palavras 
com organizações sintáticasnão necessariamente preocupadas com a norma culta. Quanto à poesia, 
para interpretá-la é preciso prestar a atenção em: estrutura, métrica, composições e gêneros. 
 
Estrutura da poesia 
 Vamos partir do poema “Mar Português”, de Fernando Pessoa: 
Ó mar salgado, quanto do teu sal 
São lágrimas de Portugal! 
Por te cruzarmos, quantas mães choraram, 
Quantos filhos em vão rezaram! 
Quantas noivas ficaram por casar 
Para que fosses nosso, ó mar! 
 
Valeu a pena? Tudo vale a pena 
Se a alma não é pequena. 
Quem quer passar além do Bojador 
Tem que passar além da dor. 
Deus ao mar o perigo e o abismo deu, 
Mas nele é que espelhou o céu. 
 
Estes são os elementos básicos de um poema: 
➢ Verso: cada uma das linhas do poema. Pode ter regularidade de tamanho ou não. 
“Ó mar salgado, quanto do teu sal” 
 
➢ Estrofe: conjunto de versos, que pode se estruturar de maneira regular ou não. Cada linha 
pulada no poema representa uma mudança de estrofe 
“Ó mar salgado, quanto do teu sal 
São lágrimas de Portugal! 
Por te cruzarmos, quantas mães choraram, 
Quantos filhos em vão rezaram! 
Quantas noivas ficaram por casar 
Para que fosses nosso, ó mar!” 
 
➢ Rima: repetição fonética que ocorre em um intervalo. Identifica-se, principalmente, pelo som 
das últimas palavras dos versos. 
“Valeu a pena? Tudo vale a pena 
Se a alma não é pequena. 
Prof. Celina Gil 
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Quem quer passar além do Bojador 
Tem que passar além da dor. 
Deus ao mar o perigo e o abismo deu, 
Mas nele é que espelhou o céu.” 
ATENÇÃO: os esquemas de rimas costumam ser representados por letras, em que cada letra 
corresponde a um som. Assim, na estrofe transcrita acima, o esquema de rimas seria AABBCC, em 
que A = “ena”, B = “dor” e C = “eu”. 
 
➢ Eu lírico ou voz lírica ou sujeito lírico: a pessoa que se expressa no poema. Não confunda 
com o próprio poeta. Enquanto artista, um poeta pode falar sobre diversos assuntos e com 
diversos pontos de vista. Veja, por exemplo, dois poemas de heterônimos* de Fernando 
Pessoa: 
Álvaro de Campos 
 
“Acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do 
 [que as outras, 
Acordar da Rua do Ouro, 
Acordar do Rocio, às portas dos cafés, 
Acordar 
E no meio de tudo a gare, que nunca dorme, 
Como um coração que tem que pulsar através 
 [da vigília e do sono.” 
Alberto Caeiro 
 
“O meu olhar azul como o céu 
É calmo como a água ao sol. 
É assim, azul e calmo, 
Porque não interroga nem se espanta” 
*heterônimos: são autores fictícios, com personalidade e estilo próprios. Um mesmo poeta pode 
assumir diferentes personalidades e ter diversos heterônimos e cada um escrever de uma maneira. 
 
 Percebe-se aqui que quando assume a postura de Álvaro de Campos, o poeta escreve sobre 
a cidade, a velocidade e as questões da vida urbana. Quando escreve como Alberto Caeiro, fala sobre 
o campo, a natureza e a paz do campo. Apesar de ser o mesmo autor, o sujeito lírico de cada um 
dos poemas é diferente. 
 
Métrica 
 A métrica de um poema se dá pelo número de sílabas de um verso. Conta-se as sílabas até a 
última sílaba tônica, ou seja, a sílaba forte da última palavra do verso. Isso ocorre porque o que dá 
ritmo a um texto poético é o som das sílabas tônicas. 
Observe o exemplo: 
“Amor é fogo que arde sem se ver, 
é ferida que dói, e não se sente;” (Luís de Camões) 
 
A/ mor / é / fo/ go /que ar/ de / sem / se / ver, 
é / fe/ ri/ da / que / dói,/ e /não /se /sente; 
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 Esse trecho do poema de Camões mostra versos de dez sílabas. No segundo verso, percebe-
se que na palavra “sente”, “sen” é a sílaba tônica. Portanto, a contagem de sílabas vai até esse ponto. 
 Além disso, você reparou esse sinal no primeiro verso: ? 
 Esse sinal indica a elisão. Ela ocorre quando duas sílabas têm sons próximo e, quando lidas, 
acabam parecendo ser um só. Leia o primeiro verso em voz alta. O “que arde” acaba sendo lido 
“quiarde”, assim mesmo, tudo junto. Por isso, “que ar” conta como uma sílaba só. 
 
 
 Perceba a diferença de tamanho dos versos a partir do quadro abaixo: 
 
PRINCIPAIS MÉTRICAS EXEMPLOS 
Redondilha menor: 
verso de 5 sílabas 
poéticas 
“Não chores, meu filho; 
Não chores, que a vida 
É luta renhida: 
Viver é lutar. 
A vida é combate, 
Que os fracos abate, 
Que os fortes, os bravos 
Só pode exaltar.” 
(Gonçalves Dias) 
Redondilha maior: 
verso de 7 sílabas 
poéticas 
“Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá; 
As aves, que aqui gorjeiam, 
Não gorjeiam como lá.” 
(Gonçalves Dias) 
Decassílabo: verso com 
10 sílabas poéticas 
“Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro! 
Não levo da existência uma saudade! 
E tanta vida que meu peito enchia 
Morreu na minha triste mocidade!” 
(Álvares de Azevedo) 
Verso alexandrino ou 
dodecassílabo: verso 
com 12 sílabas 
poéticas. 
 
“Quando, em prônubo anseio, a abelha as asas solta 
E escala o espaço, — ardendo, exul do corcho céreo, 
Louca, se precipita a sussurrante escolta 
Dos noivos zonzos, voando ao nupcial mistério.” 
(Olavo Bilac) 
Veja um verso embaixo do outro para perceber a diferença de tamanho entre eles: 
5 sílabas: Não / cho/ res, / meu /filho 
7 sílabas: Mi/ nha / te/ rra /tem /pal/meiras 
10 sílabas: A/ deus,/ meus/ so/nhos,/ eu / pran/te/io e / morro! 
12 sílabas: Quan/ do, em / prô/ nu/bo na/se/io, a/ be/ lha as / a/ sas / solta 
 
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Quando os versos não são regulares, eles podem ser entendidos de duas maneiras: 
➢ Versos livres: versos sem métrica. 
“Começo a conhecer-me. Não existo. 
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram, 
Ou metade desse intervalo, porque também há vida… 
Sou isso, enfim…” 
(Álvaro de Campos) 
 
➢ Versos brancos: versos sem rimas. 
 “Da minha aldeia veio quanto da terra se pode ver no Universo... 
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer 
Porque eu sou do tamanho do que vejo 
E não, do tamanho da minha altura...” 
(Alberto Caeiro) 
 
Composições 
 A composição é a organização regular de um poema de acordo com o número de versos por 
estrofe. Apesar de haver inúmeras possibilidades de composição de um poema, estas são as 
principais formas para o estudo dos vestibulares: 
➢ Quadrilha ou quadra: poema formado por estrofes de quatro versos de sete sílabas cada 
uma. 
Por quem foi que me trocaram 
Por quem foi que me trocara 
Quando estava a olhar pra ti? 
Pousa a tua mão na minha 
E, sem me olhares, sorri. 
 
Sorri do teu pensamento 
Porque eu só quero pensar 
Que é de mim que ele está feito 
E que o tens para mo dar. 
 
Depois aperta-me a mão 
E vira os olhos a mim... 
Por quem foi que me trocaram 
Quando estás a olhar-me assim? 
(Fernando Pessoa) 
 
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➢ Soneto: poema de 14 versos, organizados em quatro estrofes. As duas primeira estrofes são 
quartetos (4 versos por estrofe) e as duas últimas estrofes são tercetos (três versos por 
estrofe). 
Pálida à luz da lâmpada sombria, 
sobre o leito de flores reclinada, 
como a lua por noite embalsamada, 
entre as nuvens do amor ela dormia! 
 
Era a virgem do mar, na escuma fria 
pela maré das águas embalada! 
Era um anjo entre nuvens d’alvorada 
que em sonhos se banhava e se esquecia! 
 
Era mais bela! O seio palpitando... 
Negros olhos as pálpebras abrindo... 
Formas nuas no leito resvalando... 
 
Não te rias de mim, meu anjo lindo! 
Por ti – as noites eu velei chorando, 
por ti – nos sonhos morrerei sorrindo! 
(Álvares de Azevedo) 
 
➢ Haicai: poema de três versos em que o 1º verso possui 5 sílabaspoéticas, o 2º verso possui 7 
sílabas poéticas e o 3º verso possui 5 sílabas poéticas. 
O Poeta 
Caçador de estrelas. 
Chorou: seu olhar voltou 
com tantas! Vem vê-las! 
 
(Guilherme de Almeida) 
 
 
 
 
 
 
 
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2 - Intertextualidade 
 Entende-se por intertextualidade a relação entre dois ou mais textos, entendendo qual a 
natureza dessa relação. Algumas vezes a intertextualidade é mais evidente outras não. Pode 
também aparecer entre textos de diferentes naturezas, verbais e visuais. 
 Veja alguns exemplos para compreender melhor a ideia: 
 
Intertextualidade explícita 
 Observe essa imagem: 
 
 Ela faz referência explícita à famosa capa do álbum Abbey Road (1969), dos Beatles. Essa 
fotografia já foi recriada por diversos artistas e com diversos personagens. Aqui, colocamos alguns 
autores de língua portuguesa no lugar dos integrantes da banda. Temos, da esquerda para a direita, 
Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade. 
 
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Intertextualidade implícita 
 Observe a comparação entre esses dois poemas: 
Com licença poética 
(Adélia Prado) 
 
Quando nasci um anjo esbelto, 
desses que tocam trombeta, anunciou: 
vai carregar bandeira. 
Cargo muito pesado pra mulher, 
esta espécie ainda envergonhada. 
Aceito os subterfúgios que me cabem, 
sem precisar mentir. 
Não tão feia que não possa casar, 
acho o Rio de Janeiro uma beleza e 
ora sim, ora não, creio em parto sem dor. 
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina. 
Inauguro linhagens, fundo reinos 
— dor não é amargura. 
Minha tristeza não tem pedigree, 
já a minha vontade de alegria, 
sua raiz vai ao meu mil avô. 
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem. 
 
Mulher é desdobrável. Eu sou. 
Poema de Sete Faces 
(Carlos Drummond de Andrade) 
 
Quando nasci, um anjo torto 
Desses que vivem na sombra 
Disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida 
 
As casas espiam os homens 
Que correm atrás de mulheres 
A tarde talvez fosse azul 
Não houvesse tantos desejos 
 
O bonde passa cheio de pernas 
Pernas brancas pretas amarelas 
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu 
coração 
Porém meus olhos 
Não perguntam nada 
 
(...) 
 
 Perceba que, nesse caso, a referência é implícita, ou seja, depende de uma interpretação 
mais aprofundada para ser compreendida. Depende também de maior conhecimento por parte do 
leitor. Caso não conhecesse o poema de Drummond, o leitor poderia não compreender essa 
referência. 
 
Muitas vezes você encontrará as palavras alusão ou referência para se referir à ideia de 
intertextualidade. 
 
Lembre-se: 
Alusão: menção rápida ou vaga. 
Referência: menção ou ato de se reportar a algo. 
 
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 Muitas vezes, o mesmo autor pode produzir textos que trabalham com a intertextualidade. 
Um dos autores brasileiros que mais profundamente realiza esse diálogo entre obras de sua própria 
autoria é Machado de Assis. Em nossa aula, usaremos muitos exemplos do autor. 
 Veja esse trecho da obra Quincas Borba (1892): 
 
 
 
 
 
 
 
Memórias póstumas de Brás Cubas foi lançado em 1881. Ele 
reaproveita a personagem que dará nome ao romance de Quincas 
Borba, o filósofo. Isso atesta um procedimento comum em Machado de 
Assis: a intertextualidade com a própria obra. Sua intertextualidade 
tem muitas vezes a função de humilhar o leitor, de mostrar a ele o quão 
despreparado ele pode ser. 
No trecho acima, a ironia de Machado de Assis fica evidente: ele 
duvida que o leitor possa ter lido sua obra anterior e trata como se a 
leitura da obra anterior fosse um favor que o leitor faz a ele. 
 
 No audiovisual, é comum aparecer a intertextualidade de outros modos! Veja como: 
Crossover 
Quando personagens de séries ou filmes diferentes interagem entre si em uma obra 
específica. É uma produção pontual. 
Ex.: O filme Batman vs Superman - a origem da justiça se inspira em diversas revistas para 
criar o encontro entre os dois super-heróis. É diferente da Liga da Justiça, por exemplo, 
que apesar de unir vários heróis, é uma série de quadrinhos, não um especial. 
Spin off 
É uma obra derivada de outra. Costuma se concentrar especificamente em um 
personagem ou situação e se aprofundar nele. 
Ex.: As personagens dos Minions, do filme Meu malvado favorito, fizeram muito sucesso. 
Por isso, eles ganharam uma série de filmes só deles. 
[CAPÍTULO IV] 
ESTE QUINCAS BORBA, se acaso me fizeste o favor de ler as Memórias 
Póstumas de Brás Cubas, é aquele mesmo náufrago da existência, que 
ali aparece, mendigo, herdeiro inopinado, e inventor de uma filosofia. 
Aqui o tens agora em Barbacena. Logo que chegou, enamorou-se de 
uma viúva, senhora de condição mediana e parcos meios de vida, mas, 
tão acanhada que os suspiros no namorado ficavam sem eco. 
Chamava-se Maria da Piedade. Um irmão dela, que é o presente 
Rubião, fez todo o possível para casá-los. Piedade resistiu, um pleuris 
a levou. 
 
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2.1 – Citação 
 Um dos tipos de intertextualidade possíveis é a citação. A citação é o ato de referenciar a fala 
de outra pessoa. Ela pode ocorrer tanto de maneira direta quanto indireta. 
Citação direta 
 Ocorre quando o autor coloca as palavras de outro autor em seu texto assim como elas foram 
escritas e referencia a origem da citação. 
Ex.: 
 
 
 
 
 
 
Citação indireta 
 Ocorre quando o autor cita as palavras de outro autor, reescrevendo o texto original ou 
apenas citando as palavras sem referenciar a origem. 
Ex.: 
 
 
 
 
Essa canção é popularmente conhecida na França. Ela faz referência à personagem irmã Anne, 
do conto A Barba Azul, de Charles Perrault. O conto fala sobre um homem muito rico que, no 
entanto, por possuir uma barba azul, era desprezado pelas moças. Ele vivia em um palácio suntuoso, 
com tapeçarias, ouro, prata e espelhos diversos, capazes inclusive de distorcer a imagem de quem 
se vê neles. 
Anne é a irmã da mulher que acaba tendo que se casar com Barba Azul. Ela é uma irmã boa – 
diferente de muitas dos contos de fadas. Essa fala – que em português significa “Irmã Anne, irmã 
Anne, você não vê ninguém chegar?” – é proferida pela irmã quando precisa de ajuda, pois Barba 
CAPÍTULO XLVII 
Talvez o Rio de Janeiro para ela fosse Botafogo, e propriamente a casa 
de Natividade. O pai não apurou as causas da recusa; supô-las políticas, 
e achou novas forças para resistir às tentações de D. Cláudia: "Vai-te, 
Satanás; porque escrito está: Ao Senhor teu Deus adorarás, e a ele 
servirás". E seguiu-se como na Escritura: "Então o deixou o Diabo; e eis 
que chegaram os anjos e o serviram". 
(Esaú e Jacó, Machado de Assis) 
(...) Eu saía fora, a um lado e outro, a ver se descobria algum sinal de 
regresso. Soeur Anne, soeur Anne, ne vois-tu rien venir? Nada, coisa 
nenhuma; tal qual como na lenda francesa. Nada mais do que a poeira 
da estrada e o capinzal dos morros. 
(O espelho, Machado de Assis) 
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Azul está ameaçando matá-la. Anne fica no alto de uma torre, esperando ajuda e, de quando em 
quando, sua irmã a pergunta isso. 
O conto “O espelho”, de Machado de Assis, fala sobre um homem que, ao se encontrar 
sozinho em uma casa distanciada da sociedade, passa a questionar sua própria identidade, não 
sendo mais capaz de se reconhecer. No momento em que está ansiando pela chegada de alguém na 
casa, a personagem faz essa citação. 
2.2 – Epígrafe 
 Uma epígrafeé frase que vem no início de um livro, um capítulo, um conto etc.. Ela funciona 
como um tema do texto, ou seja, resume o sentido ou mensagem da obra como um todo. São 
citações diretas de outros autores. 
Ex.: 
 
 
 
 
 
 
 
 No início do conto “A hora e a vez de Augusto Matraga”, de Guimarães Rosa, há duas 
epígrafes: um trecho de uma canção antiga e um provérbio capiau*. Perceba que nenhum desses 
textos possui autor conhecido. São fruto de conhecimentos populares, sem autoria definida. Isso é 
um traço muito comum desse autor: o uso de referências ligadas ao popular. 
*capiau: regionalismo que significa caipira ou roceiro, muitas vezes 
com sentido pejorativo. 
 
 O conto relata a história de Nhô Augusto, um 
homem que vivia uma vida mundana, com bebida, brigas e 
saideiras. Ele era casado com Dona Dionóra, mas a traía de 
maneira contumaz. Cansada do tratamento que recebia, 
Dona Dionóra foge junto com a filha e encontra um novo 
companheiro. Essa passagem possivelmente se relaciona 
com a cantiga antiga utilizada como epígrafe do conto em 
que uma voz poética feminina anuncia sua partida. 
“Eu sou pobre, pobre, pobre, 
 vou-me embora, vou-me embora 
................................. 
Eu sou rica, rica, rica, vou-me embora, daqui!...” 
(Cantiga antiga) 
 
“Sapo não pula por boniteza, 
 mas porém por precisão.” 
(Provérbio capiau) 
(A hora e a vez de Augusto Matraga, Guimarães Rosa) 
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Já o provérbio capiau, pode ser interpretado à luz das mudanças de comportamento de Nhô 
Augusto. O sapo não pula porque é bonito, mas sim porque é necessário. Nhô Augusto, da mesma 
forma, não muda seu comportamento e se torna um homem virtuoso simplesmente porque era 
“bonito”, mas sim por necessidade: sua postura era uma das principais causas de suas adversidades. 
2.3 – Paráfrase 
 A paráfrase é uma reescrita do texto. Ocorre quando um autor reescreve, com suas próprias 
palavras, o texto de outro, mantendo o sentido original. Veja um exemplo a partir de um dos textos 
de apoio da redação da UNESP (2019): 
Texto Original Paráfrase 
Comprar por impulso e se livrar de bens que já 
não são atraentes, substituindo-os por outros 
mais vistosos, são nossas emoções mais 
estimulantes. Completude de consumidor 
significa completude na vida. 
(Zygmunt Bauman. A riqueza de poucos beneficia todos 
nós?, 2015. Adaptado.) 
Ser completo enquanto consumidor significa ser 
completo na vida. As sensações que mais nos 
estimulam vêm da compra por impulso e de 
livrar-nos de coisas menos atrativas, trocando-
as por outras mais interessantes. 
 
Observe as possíveis estratégias utilizadas aqui para criar a paráfrase: 
➢ Inversão da ordem das informações – inverter os períodos ou a ordem das orações ajuda a 
diferenciar os textos. 
➢ Sinônimos – trocar palavras por outras de sentido equivalente é um modo de reescrever sem 
perder o sentido original. Ex.: “atraente” é substituído por “atrativas” na paráfrase. Termos 
genéricos (como a palavra “interessante” que utilizamos na nossa paráfrase, por exemplo) 
também funcionam. 
➢ Troca de classes gramaticais – muitas vezes, o mesmo radical pode dar origem a palavras de 
diferentes classes gramaticais. O radical “estimul-“, por exemplo, gera as palavras 
“estimulantes” e “estimulam”, respectivamente, adjetivo e verbo. Veremos mais sobre 
estrutura e classes de palavra na nossa aula 04 de Gramática e Interpretação de Texto! 
 
 
 
Apenas mudar a ordem dos termos do texto não configura paráfrase. 
Você precisa reescrever com suas próprias palavras e, se for utilizar algo do texto 
original, cite o autor. 
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2.4 – Paródia 
Uma paródia acontece quando se faz uma releitura de uma obra, ou seja, uma 
reinterpretação de algo que já existe. Ela costuma assumir tom jocoso ou irônico e, frequentemente, 
parte de uma obra muito conhecida, de modo que a referência é rapidamente reconhecida. 
Veja esse poema consagrado de Gonçalves Dias. É seu poema mais conhecido de exaltação à 
pátria. Como muitos escritores que se encontravam longe do Brasil, sua terra natal se mostrava um 
espaço idealizado pela saudade. 
Canção do Exílio 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá; 
As aves, que aqui gorjeiam, 
Não gorjeiam como lá. 
 
Nosso céu tem mais estrelas, 
Nossas várzeas têm mais flores, 
Nossos bosques têm mais vida, 
Nossa vida mais amores. 
 
Em cismar – sozinho – à noite – 
Mais prazer encontro eu lá; 
Minha terra tem palmeiras; 
Onde canta o Sabiá. 
 
Minha terra tem primores, 
Que tais não encontro eu cá; 
Em cismar – sozinho – à noite – 
Mais prazer encontro eu lá; 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá. 
 
Não permita Deus que eu morra, 
Sem que eu volte para lá; 
Sem que eu desfrute os primores 
Que não encontro por cá; 
Sem qu'inda aviste as palmeiras, 
Onde canta o Sabiá. 
 
 Esse poema será revisitado muitas vezes ao longo do tempo, por diversos autores. 
Principalmente para os Modernistas, a primeira geração do Romantismo será fonte de inspiração. 
Veja trechos de diversas obras inspiradas na Canção do Exílio: 
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“ 
Minha terra tem macieiras da 
Califórnia 
onde cantam gaturamos de 
Veneza. 
” 
Murilo Mendes em Canção do 
Exílio 
“ 
Minha terra tem palmares 
Onde gorjeia o mar 
Os passarinhos daqui 
Não cantam como os de lá 
” 
Oswald de Andrade em Canto 
de Regresso à Pátria 
“ 
Minha terra não tem palmeiras... 
E em vez de um mero sabiá, 
Cantam aves invisíveis 
Nas palmeiras que não há. 
” 
Mario Quintana em Uma canção 
 
 
 
 Você sabia que lembrar desse poema pode te ajudar a guardar uma fórmula 
matemática? Leia a fórmula do Seno do arco soma A + B (𝑠𝑒𝑛(𝐴 + 𝐵) = 𝑠𝑒𝑛 𝐴 ∙ 𝑐𝑜𝑠 𝐵 +
𝑠𝑒𝑛 𝐵 ∙ 𝑐𝑜𝑠 𝐴 ) no ritmo da primeira estrofe do poema: 
 
Minha terra tem palmeiras 
Onde canta o sabiá 
seno A cosseno B 
seno B cosseno A 
O sinal que vai aqui 
É o mesmo que vai pra lá 
 
Obs.: o mesmo vale para a fórmula de subtração. 
 
3 – Exercícios 
 Antes de começar nossas questões, alguns avisos: 
➢ Há aqui exercícios de interpretação de texto, tanto em prosa quanto em poesia. Você deve 
se habituar a compreender textos em qualquer uma faz circunstâncias. 
➢ Há também questões interdisciplinares, que envolvem conhecimentos de outras disciplinas. 
Elas foram respondidas em conjunto com os professores das respectivas disciplinas. 
 
Vamos lá? 
 
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3.1 – Já caiu no ENEM 
 (ENEM - 2019) 
Um amor desse 
Era 24 horas lado a lado 
Um radar na pele, aquele sentimento alucinado 
Coração batia acelerado 
 
Bastava um olhar pra eu entender 
Que era hora de me entregar pra você 
Palavras não faziam falta mais 
Ah, só de lembrar do seu perfume 
Que arrepio, que calafrio 
Que o meu corpo sente 
Nem que eu queira, eu te apago da minha mente 
 
Ah, esse amor 
Deixou marcas no meu corpo 
Ah, esse amor 
Só de pensar, eu grito, eu quase morro 
AZEVEDO, N.; LEÃO, W.; QUADROS, R. Coração pede socorro. 
Rio de Janeiro: Som Livre, 2018 (fragmento). 
 
Essa letra de canção foi composta especialmente para uma campanha de combate à violência 
contra as mulheres, buscando conscientizá-las acerca do limite entre relacionamento amoroso 
e relacionamento abusivo. Para tanto, a estratégia empregada na letra é a 
a) revelação da submissão da mulher à situação de violência, que muitas vezes a leva à morte. 
b) ênfase na necessidade de se ouvirem os apelos da mulher agredida, que continuamente 
pede socorro. 
c) exploração de situação de duplo sentido, que mostraque atos de dominação e violência 
não configuram amor. 
d) divulgação da importância de denunciar a violência doméstica, que atinge um grande 
número de mulheres no país. 
e) naturalização de situações opressivas, que fazem parte da vida de mulheres que vivem em 
uma sociedade patriarcal. 
 
 (ENEM - 2019) 
Menina 
A máquina de costura avançava decidida sobre o pano. Que bonita que a mãe era, com os 
alfinetes na boca. Gostava de olhá-la calada, estudando seus gestos, enquanto recortava 
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retalhos de pano com a tesoura. Interrompia às vezes seu trabalho, era quando a mãe precisava 
da tesoura. Admirava o jeito decidido da mãe ao cortar pano, não hesitava nunca, nem errava. 
A mãe sabia tanto! Tita chamava-a de ( ) como quem diz ( ). Tentava não pensar as palavras, 
mas sabia que na mesma hora da tentativa tinha-as pensado. Oh, tudo era tão difícil. A mãe 
saberia o que ela queria perguntar-lhe intensamente agora quase com fome depressa depressa 
antes de morrer, tanto que não se conteve e — Mamãe, o que é desquitada? — atirou rápida 
com uma voz sem timbre. Tudo ficou suspenso, se alguém gritasse o mundo acabava ou Deus 
aparecia — sentia Ana Lúcia. Era muito forte aquele instante, forte demais para uma menina, 
a mãe parada com a tesoura no ar, tudo sem solução podendo desabar a qualquer 
pensamento, a máquina avançando desgovernada sobre o vestido de seda brilhante 
espalhando luz luz luz. 
ÂNGELO, I. Menina. In: A face horrível. São Paulo: Lazuli, 2017. 
 
Escrita na década de 1960, a narrativa põe em evidência uma dramaticidade centrada na 
a) insinuação da lacuna familiar gerada pela ausência da figura paterna. 
b) associação entre a angústia da menina e a reação intempestiva da mãe. 
c) relação conflituosa entre o trabalho doméstico e a emancipação feminina. 
d) representação de estigmas sociais modulados pela perspectiva da criança. 
e) expressão de dúvidas existenciais intensificadas pela percepção do abandono. 
 
 (ENEM - 2019) 
Uma ouriça 
Se o de longe esboça lhe chegar perto, 
se fecha (convexo integral de esfera), 
se eriça (bélica e multiespinhenta): 
e, esfera e espinho, se ouriça à espera. 
Mas não passiva (como ouriço na loca); 
nem só defensiva (como se eriça o gato); 
sim agressiva (como jamais o ouriço), 
do agressivo capaz de bote, de salto 
(não do salto para trás, como o gato): 
daquele capaz de salto para o assalto. 
 
Se o de longe lhe chega em (de longe), 
de esfera aos espinhos, ela se desouriça. 
Reconverte: o metal hermético e armado 
na carne de antes (côncava e propícia), 
e as molas felinas (para o assalto), 
nas molas em espiral (para o abraço). 
MELO NETO, J. C. A educação pela pedra. 
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. 
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Com apuro formal, o poema tece um conjunto semântico que metaforiza a atitude feminina de 
a) tenacidade transformada em brandura. 
b) obstinação traduzida em isolamento. 
c) inércia provocada pelo desejo platônico. 
d) irreverência cultivada de forma cautelosa. 
e) desconfiança consumada pela intolerância. 
 
 (ENEM - 2019) 
Blues da piedade 
Vamos pedir piedade 
Senhor, piedade 
Pra essa gente careta e covarde 
Vamos pedir piedade 
Senhor, piedade 
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem 
CAZUZA. Cazuza: o poeta não morreu. 
Rio de Janeiro: Universal Music, 2000 (fragmento). 
 
Todo gênero apresenta elementos constitutivos que condicionam seu uso em sociedade. A 
letra de canção identifica-se com o gênero ladainha, essencialmente, pela utilização da 
sequência textual 
a) expositiva, por discorrer sobre um dado tema. 
b) narrativa, por apresentar uma cadeia de ações. 
c) injuntiva, por chamar o interlocutor à participação. 
d) descritiva, por enumerar características de um personagem. 
e) argumentativa, por incitar o leitor a uma tomada de atitude. 
 
 (ENEM - 2019) 
Essa lua enlutada, esse desassossego 
A convulsão de dentro, ilharga 
Dentro da solidão, corpo morrendo 
Tudo isso te devo. E eram tão vastas 
As coisas planejadas, navios, 
Muralhas de marfim, palavras largas 
Consentimento sempre. E seria dezembro. 
Um cavalo de jade sob as águas 
Dupla transparência, fio suspenso 
Todas essas coisas na ponta dos teus dedos 
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E tudo se desfez no pórtico do tempo 
Em lívido silêncio. Umas manhãs de vidro 
Vento, a alma esvaziada, um sol que não vejo 
 
Também isso te devo. 
HILST, H. Júbilo, memória, noviciado da paixão. 
São Paulo: Cia. das Letras, 2018. 
 
No poema, o eu lírico faz um inventário de estados passados espelhados no presente. Nesse 
processo, aflora o 
a) cuidado em apagar da memória os restos do amor. 
b) amadurecimento revestido de ironia e desapego. 
c) mosaico de alegrias formado seletivamente. 
d) desejo reprimido convertido em delírio. 
e) arrependimento dos erros cometidos. 
 
 (ENEM - 2019) 
Ela nasceu lesma, vivia no meio das lesmas, mas não estava satisfeita com sua condição. Não 
passamos de criaturas desprezadas, queixava-se. Só somos conhecidas por nossa lentidão. O 
rastro que deixaremos na História será tão desprezível quanto a gosma que marca nossa 
passagem pelos pavimentos. 
A esta frustração correspondia um sonho: a lesma queria ser como aquele parente distante, o 
escargot. O simples nome já a deixava fascinada: um termo francês, elegante, sofisticado, um 
termo que as pessoas pronunciavam com respeito e até com admiração. Mas, lembravam as 
outras lesmas, os escargots são comidos, enquanto nós pelo menos temos chance de 
sobreviver. Este argumento não convencia a insatisfeita lesma, ao contrário: preferiria 
exatamente terminar sua vida desta maneira, numa mesa de toalha adamascada, entre 
talheres de prata e cálices de cristal. Assim como o mar é o único túmulo digno de um almirante 
batavo, respondia, a travessa de porcelana é a única lápide digna dos meus sonhos. 
SCLIAR, M. Sonho de lesma. In: ABREU, C. F. et al. A prosa do mundo. São Paulo: Global, 2009. 
 
Incorporando o devaneio da personagem, o narrador compõe uma alegoria que representa o 
anseio de 
a) rejeitar metas de superação de desafios. 
b) restaurar o estado de felicidade pregressa. 
c) materializar expectativas de natureza utópica. 
d) rivalizar com indivíduos de condição privilegiada. 
e) valorizar as experiências hedonistas do presente. 
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Canção 
No desequilíbrio dos mares, 
as proas giram sozinhas… 
Numa das naves que afundaram 
é que certamente tu vinhas. 
 
Eu te esperei todos os séculos 
sem desespero e sem desgosto, 
e morri de infinitas mortes 
guardando sempre o mesmo rosto. 
 
Quando as ondas te carregaram 
meus olhos, entre águas e areias, 
cegaram como os das estátuas, 
a tudo quanto existe alheias. 
 
Minhas mãos pararam sobre o ar 
e endureceram junto ao vento, 
e perderam a cor que tinham 
e a lembrança do movimento. 
 
E o sorriso que eu te levava 
desprendeu-se e caiu de mim: 
e só talvez ele ainda viva 
dentro destas águas sem fim. 
MEIRELES, C. In: SECCHIN, A. C. (Org.). Obra completa. 
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. 
 
Na composição do poema, o tom elegíaco e solene manifesta uma concepção de lirismo 
fundada na 
a) contradição entre a vontade da espera pelo ser amado e o desejo de fuga. 
b) expressão do desencanto diante da impossibilidade da realização amorosa. 
c) associação de imagens díspares indicativas de esperança no amor futuro. 
e) recusa à aceitação da impermanência do sentimento pela pessoa amada. 
e) consciência da inutilidade do amor em relaçãoà inevitabilidade da morte. 
 
 (ENEM - 2018) 
Ela parecia pedir socorro contra o que de algum modo involuntariamente dissera. E ele com os 
olhos miúdos quis que ela não fugisse e falou: 
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— Repita o que você disse, Lóri. 
— Não sei mais. 
— Mas eu sei, eu vou saber sempre. Você literalmente disse: um dia será o mundo com sua 
impersonalidade soberba versus a minha extrema individualidade de pessoa, mas seremos um 
só. 
— Sim. 
Lóri estava suavemente espantada. Então isso era a felicidade. De início se sentiu vazia. Depois 
seus olhos ficaram úmidos: era felicidade, mas como sou mortal, como o amor pelo mundo me 
transcende. O amor pela vida mortal a assassinava docemente, aos poucos. E o que é que eu 
faço? Que faço da felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda, que já está começando a 
me doer como uma angústia, como um grande silêncio de espaços? A quem dou minha 
felicidade, que já está começando a me rasgar um pouco e me assusta? Não, não quero ser 
feliz. Prefiro a mediocridade. Ah, milhares de pessoas não têm coragem de pelo menos 
prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida que é sentir-se feliz e preferem a 
mediocridade. Ela se despediu de Ulisses quase correndo: ele era o perigo. 
LISPECTOR, C. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990. 
 
A obra de Clarice Lispector alcança forte expressividade em razão de determinadas soluções 
narrativas. No fragmento, o processo que leva a essa expressividade fundamenta-se no 
a) desencontro estabelecido no diálogo do par amoroso. 
b) exercício de análise filosófica conduzido pelo narrador. 
c) registro do processo de autoconhecimento da personagem. 
d) discurso fragmentado como reflexo de traumas psicológicos. 
e) afastamento da voz narrativa em relação aos dramas existenciais. 
 
 (ENEM - 2018) 
A Casa de Vidro 
Houve protestos. 
Deram uma bola a cada criança e tempo para brincar. Elas aprenderam malabarismos incríveis 
e algumas viajavam pelo mundo exibindo sua alegre habilidade. (O problema é que muitos, a 
maioria, não tinham jeito e eram feios de noite, assustadores. Seria melhor prender essa gente 
– havia quem dissesse.) 
Houve protestos. 
Aumentaram o preço da carne, liberaram os preços dos cereais e abriram crédito a juros baixos 
para o agricultor. O dinheiro que sobrasse, bem, digamos, ora o dinheiro que sobrasse! 
Houve protestos. 
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Diminuíram os salários (infelizmente aumentou o número de assaltos) porque precisamos 
combater a inflação e, como se sabe, quando os sábados estão acima do índice de 
produtividade eles se tornam altamente inflacionários, de modo que. 
Houve protestos. 
Proibiram os protestos. 
E no lugar dos protestos nasceu o ódio. Então surgiu a Casa de Vidro, para acabar com aquele 
ódio. 
ÂNGELO, I. A casa de vidro. São 
Paulo: Círculo de Livro, 1985. 
 
Publicado em 1979, o texto compartilha com outras obras da literatura brasileira escritas no 
período as marcas do contexto em que foi produzido, como a 
a) referência à censura e à opressão para alegorizar a falta de liberdade de expressão 
característica da época. 
b) valorização de situações do cotidiano para atenuar os sentimentos de revolta em relação 
ao governo instituído. 
c) utilização de metáforas e ironias para expressar um olhar crítico em relação à situação 
social e política do país. 
d) tendência realista para documentar com verossimilhança o drama da população brasileira 
durante o Regime Militar. 
e) sobreposição das manifestações populares pelo discurso oficial para destacar o 
autoritarismo do momento histórico. 
 
 (ENEM - 2017) 
— Recusei a mão de minha filha, porque o senhor é... filho de uma escrava. 
— Eu? 
— O senhor é um homem de cor!... Infelizmente esta é a verdade... 
Raimundo tornou-se lívido. Manoel prosseguiu, no fim de um silêncio: 
— Já vê o amigo que não é por mim que lhe recusei Ana Rosa, mas é por tudo! A família de 
minha mulher sempre foi muito escrupulosa a esse respeito, e como ela é toda a sociedade do 
Maranhão! Concordo que seja uma asneira; concordo que seja um prejuízo tolo! O senhor 
porém não imagina o que é por cá a prevenção contra os mulatos!... Nunca me perdoariam um 
tal casamento; além do que, para realizá-lo, teria que quebrar a promessa que fiz a minha 
sogra, de não dar a neta senão a um branco de lei, português ou descendente direto de 
portugueses! 
AZEVEDO, A. O mulato. São 
 Paulo: Escala, 2008. 
 
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Influenciada pelo ideário cientificista no Naturalismo, a obra destaca o modo como o mulato 
era visto pela sociedade e fins do século XIX. Nesse trecho, Manoel traduz uma concepção em 
que a 
a) miscigenação racial desqualificava o indivíduo. 
b) condição econômica anulava os conflitos raciais. 
c) discriminação racial era condenada pela sociedade. 
d) escravidão negava o direito da negra à maternidade. 
e) união entre mestiços era um risco à hegemonia dos brancos. 
 
 (ENEM - 2017) 
Dois parlamentos 
Nestes cemitérios gerais 
não há morte pessoal. 
Nenhum morto se viu 
com modelo seu, especial. 
Vão todos com a morte padrão, 
em série fabricada. 
Morte que não se escolhe 
e aqui é fornecida de graça. 
Que acaba sempre por se impor 
sobre a que já medrasse. 
Vence a que, mais pessoal, 
alguém já trouxesse na carne. 
Mas afinal tem suas vantagens 
esta morte em série. 
Faz defuntos funcionais, 
próprios a uma terra sem vermes. 
MELO NETO, J. C. Serial e antes. Rio de 
Janeiro: Nova Fronteira, 1997 (fragmento). 
 
A lida do sertanejo com suas adversidades constitui um viés temático muito presente em João 
Cabral de Melo Neto. No fragmento em destaque, essa abordagem ressalta o(a) 
a) inutilidade de divisão social e hierárquica após a morte. 
b) aspecto desumano dos cemitérios da população carente. 
c) nivelamento do anonimato imposto pela miséria na morte. 
d) tom de ironia para com a fragilidade dos corpos e da terra. 
e) indiferença do sertanejo com a ausência de seus próximos. 
 
 
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 (ENEM - 2017) 
Chamou-me o bragantino e levou-me pelos corredores e pátios até ao hospício propriamente. 
Aí é que percebi que ficava e onde, na seção, na de indigentes, aquela em que a imagem do 
que a Desgraça pode sobre a vida dos homens é mais formidável. O mobiliário, o vestuário das 
camas, as camas, tudo é de uma pobreza sem par. Sem fazer monopólio, os loucos são da 
proveniência mais diversa, originando-se em geral das camadas mais pobres da nossa gente 
pobre. São de imigrantes italianos, portugueses e outros mais exóticos, são os negros roceiros, 
que teimam em dormir pelos desvãos das janelas sobre uma esteira esmolambada e uma 
manta sórdida; são copeiros, cocheiros, moços de cavalariça, trabalhadores braçais. No meio 
disto, muitos com educação, mas que a falta de recursos e proteção atira naquela geena social. 
BARRETO, L. Diário do hospício e O cemitério dos vivos. São Paulo: 
Cosac & Naify, 2010. 
 
No relato de sua experiência no sanatório onde foi interno, Lima Barreto expõe uma realidade 
social e humana marcada pela exclusão. Em seu testemunho, essa reclusão demarca uma 
a) medida necessária de intervenção terapêutica. 
b) forma de punição indireta aos hábitos desregrados. 
c) compensação para as desgraças dos indivíduos. 
d) oportunidade de ressocialização em um novo ambiente. 
e) conveniência da invisibilidade a grupos vulneráveis e periféricos. 
 
 (ENEM - 2017) 
Tenho visto criaturas que trabalham demais enão progridem. Conheço indivíduos preguiçosos 
que têm faro: quando a ocasião chega, desenroscam-se, abrem a boca e engolem tudo. 
Eu não sou preguiçoso. Fui feliz nas primeiras tentativas e obriguei a fortuna a ser-me favorável 
nas seguintes. 
Depois da morte do Mendonça, derrubei a cerca, naturalmente, e levei-a para além do ponto 
em que estava no tempo de Salustiano Padilha. Houve reclamações. 
— Minhas senhoras, Seu Mendonça pintou o diabo enquanto viveu. Mas agora é isto. E quem 
não gostar, paciência, vá à justiça. 
Como a justiça era cara, não foram à justiça. E eu, o caminho aplainado, invadi a terra do Fidélis, 
paralítico de um braço, e a dos Gama, que pandegavam no Recife, estudando direito. Respeitei 
o engenho do Dr. Magalhães, juiz. 
Violências miúdas passaram despercebidas. As questões mais sérias foram ganhas no foro, 
graças às chicanas de João Nogueira. 
Efetuei transações arriscadas, endividei-me, importei maquinismos e não prestei atenção aos 
que me censuravam por querer abarcar o mundo com as pernas. Iniciei a pomicultura e a 
avicultura. Para levar os meus produtos ao mercado, comecei uma estrada de rodagem. 
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Azevedo Gondim compôs sobre ela dois artigos, chamou-me patriota, citou Ford e Delmiro 
Gouveia. Costa Brito também publicou uma nota na Gazeta, elogiando-me e elogiando o chefe 
político local. Em consequência mordeu-me cem mil réis. 
RAMOS, G. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 1990. 
 
O trecho, de São Bernardo, apresenta um relato de Paulo Honório, narrador-personagem, 
sobre a expansão de suas terras. De acordo com esse relato, o processo de prosperidade que 
beneficiou evidencia que ele 
a) revela-se um empreendedor capitalista pragmático que busca o êxito em suas realizações 
a qualquer custo, ignorando princípios éticos e valores humanitários. 
b) procura adequar sua atividade produtiva e função de empresário às regras do Estado 
democrático de direito, ajustando o interesse pessoal ao bem da sociedade. 
c) relata aos seus interlocutores fatos que lhe ocorreram em um passado distante, e enumera 
ações que põe em evidência as suas muitas virtudes de homem do campo. 
d) demonstra ser um homem honrado, patriota e audacioso, atributos ressaltados pela 
realização de ações que se ajustam ao princípio de que os fins justificam os meios. 
e) amplia o seu patrimônio graças ao esforço pessoal, contando com a sorte e a capacidade 
de iniciativa, sendo um exemplo de empreendedor com responsabilidade social. 
 
 (ENEM - 2017) 
A humana condição 
Custa o rico no céu 
(Afirma o povo e não erra). 
Porém muito mais difícil 
É um pobre ficar na terra 
QUINTANA, M. Melhores poemas. São Paulo: Global, 2003. 
 
Mário Quintana ficou conhecido por seus “quintanares”, nome que o poeta Manuel Bandeira 
deu a esses quartetos com pequenas observações sobre a vida. Nessa perspectiva, os versos 
do poema Da humana condição ressaltam 
a) a desvalorização da cultura popular. 
b) a falta de sentido da existência humana. 
c) a irreverência diante das crenças do povo. 
d) uma visão irônica das diferenças de classe. 
e) um olhar objetivo sobre as diferenças sociais. 
 
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 (ENEM - 2017) 
O mundo revivido 
Sobre esta casa e as árvores que o tempo 
esqueceu de levar. Sobre o curral 
de pedra e paz e de outras vacas tristes 
chorando a lua e a noite sem bezerros. 
 
Sobre a parede larga deste açude 
onde outras cobras verdes se arrastavam, 
e pondo o sol nos seus olhos parados 
iam colhendo sua safra de sapos. 
 
Sob as constelações do sul que a noite 
armava e desarmava: as Três Marias, 
o Cruzeiro distante e o Sete-Estrelo. 
 
Sobre este mundo revivido em vão, 
a lembrança de primos, de cavalos, 
de silêncio perdido para sempre. 
DOBAL, H. A província deserta. Rio de Janeiro: Artenova, 1974. 
 
No processo de reconstituição do tempo vivido, o eu lírico projeta um conjunto de imagens 
cujo lirismo se fundamenta no 
a) inventário das memórias evocadas afetivamente. 
b) reflexo da saudade no desejo de voltar à infância. 
c) sentimento de inadequação com o presente vivido. 
d) ressentimento com as perdas materiais e humanas. 
e) lapso no fluxo temporal dos eventos trazidos à cena. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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3.2 – Outros vestibulares 
Texto para as questões 16 a 19 
Diáspora 
 
1Acalmou a tormenta 
Pereceram 
Os que a estes mares ontem se 
arriscaram 
E vivem os que por um amor tremeram 
5E dos céus os destinos esperaram 
 
Atravessamos o mar Egeu 
O barco cheio de fariseus 
Como os cubanos, sírios, ciganos 
Como romanos sem Coliseu 
10Atravessamos pro outro lado 
No Rio Vermelho do mar sagrado 
Os Center shoppings superlotados 
De retirantes refugiados 
 
You, where are you? 
15Where are you? 
Where are you? 
 
Onde está 
Meu irmão 
Sem Irmã 
20O meu filho sem pai 
Minha mãe 
Sem avó 
 
 
 
Dando a mão pra ninguém 
Sem lugar 
25Pra ficar 
Os meninos sem paz 
Onde estás 
Meu senhor 
Onde estás? 
30Onde estás? 
 
Deus 
Ó Deus onde estás 
Que não respondes 
Em que mundo 
35Em qu’estrela 
Tu t’escondes 
Embuçado nos céus 
Há dois mil anos te mandei meu grito 
Que embalde desde então corre o infinito 
40Onde estás, Senhor Deus 
 
ANTUNES, Arnaldo; BROWN, Carlinhos; MONTE, Marisa. 
Diáspora. In: Tribalistas. Rio de Janeiro: Phonomotor 
Records Universal Music, 2017. Disponível em: 
https://www.letras.mus.br/tribalistas/diaspora/. Acesso em: 08 
de set. de 2019. 
 
 (UECE – 2020) 
É objetivo da letra da canção Diáspora 
A) denunciar a saga dos refugiados ao longo da história da humanidade. 
B) narrar a travessia dos mares por um grupo de turistas. 
C) descrever situações degradantes das travessias marítimas por turistas. 
D) apresentar a separação entre familiares de refugiados por motivos religiosos. 
 
 
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 (UECE – 2020) 
Observe a seguinte definição de diáspora, publicada em FERREIRA, A. B. H. Dicionário Aurélio 
escolar da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1988, p. 220: “Sf 1. A 
dispersão dos judeus no decorrer dos séculos. 2. P. ext. Dispersão de povos, por motivos políticos 
ou religiosos, em virtude de perseguição de grupos dominadores intolerantes”. Considerando a 
referida definição e a letra da canção, atente para as seguintes afirmações: 
I. A história narrada centra-se em questões religiosas, elegendo o mar Egeu como local de 
acontecimento para a separação dos povos. 
II. A história narrada vai além do texto bíblico para a compreensão do drama dos refugiados, a 
partir de diversas questões políticas e/ou religiosas. 
III. A questão dos refugiados é abordada a partir da inserção de outros lugares que, na 
contemporaneidade, também têm problemas políticos e/ou religiosos. 
 
Estão corretas as assertivas contidas em 
A) I e II apenas. 
B) I e III apenas. 
C) II e III apenas. 
D) I, II e III 
 
 (UECE – 2020) 
O fato de os autores da letra da canção Diáspora utilizarem o verbo em primeira pessoa do plural, 
na expressão “Atravessamos o mar Egeu” (linha 6), indica intenção de 
A) engajar o ouvinte/leitor na problemática dos refugiados. 
B) demarcar diferentes povos de diferentes lugares. 
C) naturalizar as experiências de sofrimento dos refugiados. 
D) acentuar o abandono de crianças retiradas de suas famílias. 
 
 (UECE - 2020) 
A textualidade marca-se por diversos fatores que se integram, a fim de instituir sentido ao conjunto 
de enunciados, transformando-os em um texto. Assim, na letra da canção Diáspora, há 
I. intertextualidade,porque podemos depreender a presença de outros textos, por exemplo, 
textos bíblicos (linhas 6-7; 10-11) e o poema Vozes d’África, de Castro Alves (linhas 31-40). 
II. coerência, porque há uma lógica interna no texto quando os autores relacionam a dispersão 
do povo judeu à saga dos imigrantes. 
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III. informatividade, porque as informações apresentam dados novos para a atualização da 
questão dada, a partir de um tema já apresentado inicialmente. 
Estão corretas as complementações contidas em 
A) I e II apenas. 
B) I e III apenas. 
C) II e III apenas. 
D) I, II e III. 
 
 (UNICAMP – 2020) 
Texto I 
Os idiomas e suas regras são coisas vivas, que vão se modificando de maneira dinâmica, de acordo 
com o momento em que a sociedade vive. Um exemplo disso é a adoção do termo “maratonar”, 
quando os telespectadores podem assistir a vários ou a todos os episódios de uma série de uma 
só vez. Contudo, ao que parece, a plataforma Netflix não quer mais estar associada à “maratona” 
de séries. A maior razão seria a tendência atual que as gigantes da tecnologia têm seguido para 
evitar o consumo excessivo e melhorar a saúde dos usuários. 
(Adaptado de Claudio Yuge, “Você notou? Netflix parece estar evitando o termo ‘maratonar’.” 
Disponível em https://www.tecmundo.com.br/ internet/133690-voce-notou-net flix-pareceevitando-
termo-maratonar.htm. Acessado em 01/06/2019.) 
 
Embora os dois textos tratem do termo “maratonar” a partir de perspectivas distintas, é possível 
afirmar que o Texto II retoma aspectos apresentados no Texto I porque 
a) esclarece o significado do neologismo “maratonar” como esforço físico exaustivo, derivado de 
“maratona”. 
b) deprecia a definição de “maratona” como ação contínua de superação de dificuldades e melhoria 
da saúde. 
c) reflete sobre o impacto que a falta de exercícios físicos e a permanência em casa provocam na 
saúde. 
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d) menospreza o uso do termo “maratonar” relacionado a um estilo de vida sedentário, antagônico 
a maratona. 
 
 (UNICAMP – 2020) 
Texto I 
Leia os versos iniciais da peça Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come (1966), de Oduvaldo 
Vianna Filho e Ferreira Gullar. Em formato de cordel, os versos são cantados por todos os atores. 
Se corres, bicho te pega, amô. 
Se ficas, ele te come. 
Ai, que bicho será esse, amô? 
Que tem braço e pé de homem? 
Com a mão direita ele rouba, amô, 
e com a esquerda ele entrega; 
janeiro te dá trabalho, amô, 
dezembro te desemprega; 
de dia ele grita "avante”, amô, 
de noite ele diz: "não vá": 
Será esse bicho um homem, amô, 
ou muitos homens será? 
(Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar, Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Rio 
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 3.) 
Texto II 
Observe a charge de Laerte que fez parte da mostra Maio na Paulista, em 2019. 
 
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Considerando a relação entre os textos I e II, conclui-se que a charge 
a) resgata a temática do cordel, rompendo com o impasse vivido pelos personagens. 
b) reafirma o dilema dos personagens da peça, parafraseando os versos iniciais do cordel. 
c) evidencia a tradição popular nordestina, utilizando a imagem para sofisticar os versos. 
d) confirma a força transformadora da versificação popular, reproduzindo-a em imagens. 
 
 (FUVEST – 2020) 
amora 
a palavra amora 
seria talvez menos doce 
e um pouco menos vermelha 
se não trouxesse em seu corpo 
(como um velado esplendor) 
a memória da palavra amor 
a palavra amargo 
seria talvez mais doce 
e um pouco menos acerba 
se não trouxesse em seu corpo 
(como uma sombra a espreitar) 
a memória da palavra amar 
Marco Catalão, Sob a face neutra. 
 
É correto afirmar que o poema 
a) aborda o tema da memória, considerada uma faculdade que torna o ser humano menos 
amargo e sombrio. 
b) enfoca a hesitação do eu lírico diante das palavras, o que vem expresso pela repetição da 
palavra “talvez”. 
c) apresenta natureza romântica, sendo as palavras “amora” e “amargo” metáforas do 
sentimento amoroso. 
d) possui reiterações sonoras que resultam em uma tensão inusitada entre os termos “amor” 
e “amar”. 
e) ressalta os significados das palavras tal como se verificam no seu uso mais corrente. 
 
TEXTO PARA AS QUESTÕES 23 e 24 
Uma planta é perturbada na sua sesta* pelo exército que a pisa. 
Mas mais frágil fica a bota. 
Gonçalo M. Tavares, 1: poemas. 
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*sesta: repouso após o almoço. 
 
 (FUVEST – 2020) 
Considerando que se trata de um texto literário, uma interpretação que seja capaz de captar a 
sua complexidade abordará o poema como 
a) uma defesa da natureza. 
b) um ataque às forças armadas. 
c) uma defesa dos direitos humanos. 
d) uma defesa da resistência civil. 
e) um ataque à passividade. 
 
 (FUVEST - 2020) 
O ditado popular que se relaciona melhor com o poema é: 
a) Para bom entendedor, meia palavra basta. 
b) Água mole em pedra dura tanto bate até que fura. 
c) Quem com ferro fere, com ferro será ferido. 
d) Um dia é da caça, o outro é do caçador. 
e) Uma andorinha só não faz verão. 
 
 (UEMA – 2020) 
O livro Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, foi publicado em 
folhetins no ano de 1853. Caracteriza-se por documentar os costumes, os comportamentos e 
os tipos sociais da classe média da sociedade brasileira do tempo do rei D. João VI, ignorados 
pela literatura até então. É considerado um clássico da literatura brasileira do século XIX. 
 
O fragmento a seguir é parte do capítulo intitulado Estralada, no qual o personagem Leonardo 
Pataca, para vingar-se de um desafeto seu, contrata o valentão Chico-Juca. Leia-o para 
responder à questão. 
 
[…] 
— Isto passa de mais… varro… menos essa, senhor Chico-Juca; nada de graças pesadas com 
essa moça, que é cá coisa minha… 
O Chico-Juca estava com efeito há mais de meia hora a dirigir graçolas das suas a uma moça 
que ele bem sabia que era coisa do rapaz que estava tocando; tanto fez que este, tendo 
percebido, proferiu aquelas palavras que acabamos de ouvir. 
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— Você respinga?!… – respondeu-lhe o Chico-Juca dirigindo-se para ele. 
O rapaz, que não era peco, pôs-se em pé e replicou: 
— Tenho dito, nada de graças com ela!… 
[…] 
ALMEIDA, M. A. Memórias de um Sargento de Milícias. Porto Alegre: L&PM, 2015. 
 
A voz narrativa predominante no livro Memórias de um Sargento de Milícias é a 3ª. pessoa, o 
que pode criar um certo distanciamento do narrador em relação aos fatos narrados. No 
fragmento, nota-se que essa voz oscila, revelando um narrador que se coloca como 
testemunha da situação retratada, conforme o seguinte trecho: 
a) “— Tenho dito, nada de graças com ela!…” (5º.§) 
b) “[…] proferiu aquelas palavras que acabamos de ouvir.” (2º.§) 
c) “[…] nada de graças pesadas com essa moça, que é cá coisa minha…” (1º.§) 
d) “— Você respinga?!… respondeu-lhe o Chico-Juca dirigindo-se para ele.” (3º.§) 
e) “O rapaz, que não era peco, pôs-se em pé e replicou:” (4º.§) 
 
 (UEMA – 2020) 
O Último Poema encerra o livro Libertinagem, de Manuel Bandeira. 
 
O Último Poema 
Assim eu quereria o meu último poema 
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais 
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas 
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume 
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos 
A paixão dos suicidas que se matamsem explicação. 
BANDEIRA, M. Libertinagem. 2 ed. São Paulo: Global, 2013 
 
O poema estabelece pelo título e pela posição que ocupa um valor metapoético, uma vez que 
o eu lírico 
a) transporta para a poesia a beleza da simplicidade. 
b) explicita seu dilema existencial. 
c) revela dramaticamente seus medos mais íntimos e secretos. 
d) incorpora na poesia o academicismo parnasiano. 
e) expressa em versos seu desejo poético. 
 
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 (MACKENZIE – 2019) 
Texto I 
 01 Não é fácil dissertar sobre a alimentação dos portugueses durante 02 a Idade Média. 
Escasseiam as fontes informativas: o primeiro livro 03 de receitas culinárias que se conhece não 
é anterior ao século XVI. 04 As descrições de banquetes, colhidas nas crônicas ou noutros textos 
05 narrativos, são em geral parcas em notícias concretas sobre os 06 alimentos consumidos. 
 07 De maneira geral, a alimentação medieval era pobre, se 08 comparada com os padrões 
modernos. A quantidade supria, quantas 09 vezes, a qualidade. A técnica culinária achava-se 
ainda numa fase 10 rudimentar, e as conquistas da cozinha romana haviam-se perdido. 11 A 
condimentação obedecia a princípios extremamente simples. 
 12 As duas refeições principais do dia eram o jantar e a ceia. 13 Jantava-se, nos fins do século 
XIV, por volta das dez horas da manhã; 14 mas nos séculos anteriores, essa hora teria de recuar 
para oito ou 15 nove. Ceava-se pelas seis ou sete horas da tarde. Como ideal de 16 frugalidade, 
aconselhava-se a ausência de qualquer outro repasto 17 durante o dia. É de supor, a partir de 
certa altura, a necessidade de 18 um “almoço” tomado pouco depois do levantar. 
 19 O jantar era a refeição mais forte do dia. O número de 20 pratos servidos andava, em 
média, pelos três, sem contar sopas, 21 acompanhamentos ou sobremesas. Isto, entenda-se, 
em relação ao 22 rei, à nobreza, e ao alto clero. Entre os menos privilegiados ou os 23 menos 
ricos, o número de pratos ao jantar podia descer para dois 24 ou até um. À ceia, baixava para 
dois a média das iguarias tomadas; 25 ou para um, nos outros casos indicados. 
Adaptado de A.H. de Oliveira Marques, A sociedade medieval portuguesa 
 
Texto II 
 01 Havia três estados ou estamentos na sociedade feudal: o clero, 02 a nobreza e o 
campesinato. Os dois primeiros eram privilegiados, 03 reservando-se as funções de ministrar os 
sacramentos religiosos, 04 governar e dar proteção. O terceiro estado, os camponeses, tinha 05 
obrigação de trabalhar para o sustento material de toda a sociedade. 
 06 Os camponeses produziam centeio, trigo, cevada etc. e cuidavam 07 das oliveiras e das 
vinhas. A técnica de produção era rudimentar, os 08 instrumentos de produção, inadequados, 
e a produção, relativamente 09 pequena. O espectro da fome geralmente rondava as choupanas 
dos 10 trabalhadores. 
Adaptado de Heródoto Barbeiro, História Geral 
 
Sobre os textos é correto afirmar que: 
a) uma linguagem objetiva (em tom didático e explicativo) contribui para a presença 
destacada da função referencial. 
b) a presença em destaque de figuras de linguagem como metáfora e personificação contribui 
para as imagens simbólicas transmitidas. 
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c) o uso de marcas de subjetividade realça a figura dos autores, que se colocam de modo 
explícito nas construções textuais. 
d) a reconstrução histórica elaborada é feita em tom de ironia, o que confere um efeito de 
sentido de humor aos posicionamentos adotados pelos autores. 
e) são escritos em linguagem jornalística moderna, com a presença de recursos 
argumentativos típicos dos usados nas novas tecnologias de comunicação. 
 
 (Insper - 2019) 
Texto I 
 Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. Meu pai, logo 
que teve aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as raias 
de um capricho juvenil. 
 – Dessa vez, disse ele, vais para Europa; vais cursar uma universidade, provavelmente 
Coimbra; quero-te para homem sério e não para arruador e gatuno. E como eu fizesse um gesto 
de espanto: — Gatuno, sim senhor; não é outra cousa um filho que me faz isto... 
(Machado de Assis, Memóri-as Póstumas de Brás Cubas) 
 
Texto II 
Ela deixou um bilhete, dizendo que ia sair fora 
Levou meu coração, alguns CDs e o meu livro mais da hora 
Mas eu não sei qual a razão, não entendi por que ela foi embora 
E eu fiquei pensando em como foi e qual vai ser agora 
 
É que pena, pra mim tava tão bom aqui 
Com a nega mais teimosa e a mais linda que eu já vi 
Dividindo o edredom e o filminho na TV 
Chocolate quente e meus olhar era só pro cê 
Mas cê não quis, eu era mó feliz e nem sabia 
Beijinho de caramelo que recheava meus dia 
(Luccas Carlos, Bilhete 2.0 [fragmento]. Em: https://www.letras.mus.br) 
Na passagem do Texto I – Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada 
menos. –, o autor faz uma associação insólita entre as expressões destacadas, o que causa certa 
estranheza ao leitor. No Texto II, esse mesmo recurso está presente na passagem: 
a) “Levou meu coração, alguns CDs e o meu livro mais da hora”, reforçando que as perdas 
também recaíram em bens materiais. 
b) “Dividindo o edredom e o filminho na TV”, marcando a relação de conforto e de proximidade 
que inspirava um amor aparentemente inabalável. 
c) “E eu fiquei pensando em como foi e qual vai ser agora”, explicitando a sensação de 
desolação e confusão pela perda da mulher amada. 
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d) “Ela deixou um bilhete, dizendo que ia sair fora”, mostrando também o rompimento 
amoroso do casal, assim como no romance. 
e) “Beijinho de caramelo que recheava meus dia”, sugerindo o sentimento do casal como algo 
doce que nem o rompimento será capaz de descaracterizar. 
 
 (UEG - 2019) 
Leia o poema e a tirinha a seguir. 
 
MAR PORTUGUÊS 
 
1 Ó mar salgado, quanto do teu sal 
2 São lágrimas de Portugal! 
3 Por te cruzarmos, quantas mães choraram, 
4 Quantos filhos em vão rezaram! 
5 Quantas noivas ficaram por casar 
6 Para que fosses nosso, ó mar! 
 
7 Valeu a pena? Tudo vale a pena 
8 Se a alma não é pequena. 
9 Quem quer passar além do Bojador 
10 Tem que passar além da dor. 
11 Deus ao mar o perigo e o abismo deu, 
12 Mas nele é que espelhou o céu. 
PESSOA, Fernando. Mar Português. In: Antologia Poética. Organização Walmir Ayala. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 
2014. p. 15. 
 
Disponível em: <https://tirasdidaticas.files.wordpress.com/2014/12/rato79.jpg?w=640&h=215> Acesso em: 13 nov. 2018. 
 
O sentido da tirinha é construído a partir da relação que estabelece com os famosos versos de 
Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena” (linhas 7-8). O modo como 
esses dois textos se relacionam é chamado de 
a) paráfrase 
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b) linearidade 
c) metalinguagem 
d) intencionalidade 
e) intertextualidade 
 
 (MACKENZIE – 2019) 
Soneto 
v.01 Um mancebo no jogo se descora, 
v.02 Outro bêbado passa noite e dia, 
v.03 Um tolo pela valsa viveria, 
v.04 Um passeia a cavalo, outro namora. 
 
v.05 Um outro que uma sina má devora 
v.06 Faz das vidas alheias zombaria, 
v.07 Outro toma rapé, um outro espia... 
v.08 Quantos moços perdidos vejo agora! 
 
v.09 Oh! Não proíbam pois ao meu retiro 
v.10 Do pensamento ao merencório luto 
v.11 A fumaça gentil por que suspiro. 
 
v.12 Numa fumaça o canto d´alma escuto... 
v.13 Um aroma balsâmico respiro, 
v.14 Oh! Deixai-me fumar o meu charuto! 
 
Mancebo: Rapaz 
Merencório: melancólico 
 
Assinale a alternativa correta. 
a)Os dois primeiros quartetos que compõem o soneto são marcados por uma aprofundada 
especulação filosófica. 
b) O eu lírico, no verso “Quantos moços perdidos vejo agora!”, se furta a fazer uma lamento 
moral sobre sua geração. 
c) Nos dois tercetos finais do poema, está explícita a ideia de que o eu lírico se recolhe da 
vida a fim de pensar na mulher amada. 
d) Os versos foram compostos em um tom prosaico, imprimindo ao soneto um ar de crônica, 
perceptível em especial nos oito primeiros versos. 
e) Há no poema uma eletrizante positividade em relação às potencialidades da vida. 
 
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3.3 – Gabarito 
1. C 
2. D 
3. A 
4. C 
5. B 
6. C 
7. B 
8. C 
9. C 
10. A 
11. C 
12. E 
13. A 
14. D 
15. A 
16. A 
17. C 
18. A 
19. D 
20. D 
21. A 
22. D 
23. D 
24. B 
25. B 
26. E 
27. A 
28. A 
29. E 
30. D 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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3.4 – Questões comentadas 
 (ENEM - 2019) 
Um amor desse 
Era 24 horas lado a lado 
Um radar na pele, aquele sentimento alucinado 
Coração batia acelerado 
 
Bastava um olhar pra eu entender 
Que era hora de me entregar pra você 
Palavras não faziam falta mais 
Ah, só de lembrar do seu perfume 
Que arrepio, que calafrio 
Que o meu corpo sente 
Nem que eu queira, eu te apago da minha mente 
 
Ah, esse amor 
Deixou marcas no meu corpo 
Ah, esse amor 
Só de pensar, eu grito, eu quase morro 
AZEVEDO, N.; LEÃO, W.; QUADROS, R. Coração pede socorro. 
Rio de Janeiro: Som Livre, 2018 (fragmento). 
 
Essa letra de canção foi composta especialmente para uma campanha de combate à violência 
contra as mulheres, buscando conscientizá-las acerca do limite entre relacionamento amoroso 
e relacionamento abusivo. Para tanto, a estratégia empregada na letra é a 
a) revelação da submissão da mulher à situação de violência, que muitas vezes a leva à morte. 
b) ênfase na necessidade de se ouvirem os apelos da mulher agredida, que continuamente 
pede socorro. 
c) exploração de situação de duplo sentido, que mostra que atos de dominação e violência 
não configuram amor. 
d) divulgação da importância de denunciar a violência doméstica, que atinge um grande 
número de mulheres no país. 
e) naturalização de situações opressivas, que fazem parte da vida de mulheres que vivem em 
uma sociedade patriarcal. 
Comentários: 
A alternativa A está incorreta, pois o “eu quase morro” está no sentido figurado, nãos literal. 
A alternativa B está incorreta, pois não fica claro na canção que a mulher que personifica o eu-lírico 
esteja pedindo socorro verdadeiramente. O título da canção indica que seu coração pede socorro, 
não que ela tenha verbalizado isso. 
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A alternativa C está correta, pois o texto parte de diversos estereótipos românticos e os ressignifica 
de modo a mostrar que essas expressões também podem indicar violências. Assim, fazendo um uso 
dúbio das expressões, fica claro que violência e amor não podem coexistir num relacionamento. 
A alternativa D está incorreta, pois ainda que a canção fale sobre o assunto, não sugere 
necessariamente a denúncia formal. 
A alternativa E está incorreta, pois a canção desnaturaliza as ações, não as naturaliza. Ao usar clichês 
românticos para falar de violência, mostra que é preciso não tratar a violência como algo natural. 
Gabarito: C 
 (ENEM - 2019) 
Menina 
A máquina de costura avançava decidida sobre o pano. Que bonita que a mãe era, com os 
alfinetes na boca. Gostava de olhá-la calada, estudando seus gestos, enquanto recortava 
retalhos de pano com a tesoura. Interrompia às vezes seu trabalho, era quando a mãe precisava 
da tesoura. Admirava o jeito decidido da mãe ao cortar pano, não hesitava nunca, nem errava. 
A mãe sabia tanto! Tita chamava-a de ( ) como quem diz ( ). Tentava não pensar as palavras, 
mas sabia que na mesma hora da tentativa tinha-as pensado. Oh, tudo era tão difícil. A mãe 
saberia o que ela queria perguntar-lhe intensamente agora quase com fome depressa depressa 
antes de morrer, tanto que não se conteve e — Mamãe, o que é desquitada? — atirou rápida 
com uma voz sem timbre. Tudo ficou suspenso, se alguém gritasse o mundo acabava ou Deus 
aparecia — sentia Ana Lúcia. Era muito forte aquele instante, forte demais para uma menina, 
a mãe parada com a tesoura no ar, tudo sem solução podendo desabar a qualquer 
pensamento, a máquina avançando desgovernada sobre o vestido de seda brilhante 
espalhando luz luz luz. 
ÂNGELO, I. Menina. In: A face horrível. 
São Paulo: Lazuli, 2017. 
 
Escrita na década de 1960, a narrativa põe em evidência uma dramaticidade centrada na 
a) insinuação da lacuna familiar gerada pela ausência da figura paterna. 
b) associação entre a angústia da menina e a reação intempestiva da mãe. 
c) relação conflituosa entre o trabalho doméstico e a emancipação feminina. 
d) representação de estigmas sociais modulados pela perspectiva da criança. 
e) expressão de dúvidas existenciais intensificadas pela percepção do abandono. 
Comentários: 
A alternativa A está incorreta, pois a lacuna que a menina não quer pensar não é a figura paterna, 
mas sim a condição que evoca um possível tom pejorativo. 
A alternativa B está incorreta, pois a mãe não tem uma reação intempestiva, pelo contrário, fica 
estática. 
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A alternativa C está incorreta, pois ainda que estejam costurando – ação comumente associada ao 
feminino e ao doméstico – não se pode dizer que haja uma relação de conflito ou uma expressão da 
emancipação feminina. 
A alternativa D está correta, pois o texto se centra na figura de uma criança se perguntando acerca 
do termo “desquitada”, um termo antigo para “divorciada”. Ela não entende bem o que significa, 
mas sente o peso da condição para a mulher naquele momento histórico. 
A alternativa E está incorreta, pois as dúvidas vêm do peso da palavra, não de uma sensação de 
abandono. 
Gabarito: D 
 (ENEM - 2019) 
Uma ouriça 
Se o de longe esboça lhe chegar perto, 
se fecha (convexo integral de esfera), 
se eriça (bélica e multiespinhenta): 
e, esfera e espinho, se ouriça à espera. 
Mas não passiva (como ouriço na loca); 
nem só defensiva (como se eriça o gato); 
sim agressiva (como jamais o ouriço), 
do agressivo capaz de bote, de salto 
(não do salto para trás, como o gato): 
daquele capaz de salto para o assalto. 
 
Se o de longe lhe chega em (de longe), 
de esfera aos espinhos, ela se desouriça. 
Reconverte: o metal hermético e armado 
na carne de antes (côncava e propícia), 
e as molas felinas (para o assalto), 
nas molas em espiral (para o abraço). 
MELO NETO, J. C. A educação pela pedra. 
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. 
 
Com apuro formal, o poema tece um conjunto semântico que metaforiza a atitude feminina de 
a) tenacidade transformada em brandura. 
b) obstinação traduzida em isolamento. 
c) inércia provocada pelo desejo platônico. 
d) irreverência cultivada de forma cautelosa. 
e) desconfiança consumada pela intolerância. 
Comentários: 
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A alternativa A está correta, pois a descrição da mulher no poema é de alguém que se desouriça ou 
seja, perde a sensação de ouriçar-se. Me metal, ela passa a carne e molas. Assim, de dureza ela passa 
à brandura. 
A alternativa B está incorreta, pois não há nada no poema que indique que ela se isole – tanto que 
o poeta fala em abraço. 
A alternativa C está incorreta, pois o sentimentoamoroso se realiza na medida em que há contato, 
como no abraço. 
A alternativa D está incorreta, pois ela não é descrita como cautelosa, tanto que é associada à 
agressividade na primeira estrofe. 
A alternativa E está incorreta, pois ela não é descrita como alguém munida de desconfiança, postura 
defensiva, mas sim agressividade. 
Gabarito: A 
 (ENEM - 2019) 
Blues da piedade 
Vamos pedir piedade 
Senhor, piedade 
Pra essa gente careta e covarde 
Vamos pedir piedade 
Senhor, piedade 
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem 
CAZUZA. Cazuza: o poeta não morreu. 
Rio de Janeiro: Universal Music, 2000 (fragmento). 
 
Todo gênero apresenta elementos constitutivos que condicionam seu uso em sociedade. A 
letra de canção identifica-se com o gênero ladainha, essencialmente, pela utilização da 
sequência textual 
a) expositiva, por discorrer sobre um dado tema. 
b) narrativa, por apresentar uma cadeia de ações. 
c) injuntiva, por chamar o interlocutor à participação. 
d) descritiva, por enumerar características de um personagem. 
e) argumentativa, por incitar o leitor a uma tomada de atitude. 
Comentários: 
A alternativa A está incorreta, pois não há aprofundamento sobre os temas, por exemplo sobre 
quem são as pessoas a quem se refere. 
A alternativa B está incorreta, pois não há enumeração de ações aqui, apenas um pedido direcionado 
a um interlocutor. 
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A alternativa C está correta, pois o eu-lírico pede a Deus (também chamado de Senhor, com letra 
maiúscula) que tenha piedade das pessoas “caretas e covardes”, ou seja, há um chamado ao 
interlocutor para que ele participe. 
A alternativa D está incorreta, pois o único momento descritivo é quando ele se refere às pessoas 
como caretas e covardes. 
A alternativa E está incorreta, pois não é um apelo direcionado ao leitor, para convencê-lo de nada, 
mas sim para Deus. 
Gabarito: C 
 (ENEM - 2019) 
Essa lua enlutada, esse desassossego 
A convulsão de dentro, ilharga 
Dentro da solidão, corpo morrendo 
Tudo isso te devo. E eram tão vastas 
As coisas planejadas, navios, 
Muralhas de marfim, palavras largas 
Consentimento sempre. E seria dezembro. 
Um cavalo de jade sob as águas 
Dupla transparência, fio suspenso 
Todas essas coisas na ponta dos teus dedos 
E tudo se desfez no pórtico do tempo 
Em lívido silêncio. Umas manhãs de vidro 
Vento, a alma esvaziada, um sol que não vejo 
 
Também isso te devo. 
HILST, H. Júbilo, memória, noviciado da paixão. 
São Paulo: Cia. das Letras, 2018. 
 
No poema, o eu lírico faz um inventário de estados passados espelhados no presente. Nesse 
processo, aflora o 
a) cuidado em apagar da memória os restos do amor. 
b) amadurecimento revestido de ironia e desapego. 
c) mosaico de alegrias formado seletivamente. 
d) desejo reprimido convertido em delírio. 
e) arrependimento dos erros cometidos. 
Comentários: 
A alternativa A está incorreta, pois ela não está tentando apagar os restos do amor, mas sim mostra 
como se sente em relação ao passado após esse amor. 
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A alternativa B está correta, pois no início do poema, o eu-lírico enumera fatos e elementos do 
passado, a partir do seu sentimento presente. Assim, o que antes era visto de modo negativo, agora 
já não o é, lidando assim de maneira irônica com o passado, gerando desapego: ela deve à pessoa a 
quem se refere - possivelmente um amor que acabou – esse novo modo de ver o passado. 
A alternativa C está incorreta, pois não há sentimento feliz ou alegre no poema. 
A alternativa D está incorreta, pois não se pode dizer que se trate de um desejo reprimido, ainda 
que haja um possível término amoroso. 
A alternativa E está incorreta, pois o eu-lírico não se arrepende, mas sim ressignifica seu passado a 
partir de experiências presentes. 
Gabarito: B 
 (ENEM - 2019) 
Ela nasceu lesma, vivia no meio das lesmas, mas não estava satisfeita com sua condição. Não 
passamos de criaturas desprezadas, queixava-se. Só somos conhecidas por nossa lentidão. O 
rastro que deixaremos na História será tão desprezível quanto a gosma que marca nossa 
passagem pelos pavimentos. 
A esta frustração correspondia um sonho: a lesma queria ser como aquele parente distante, o 
escargot. O simples nome já a deixava fascinada: um termo francês, elegante, sofisticado, um 
termo que as pessoas pronunciavam com respeito e até com admiração. Mas, lembravam as 
outras lesmas, os escargots são comidos, enquanto nós pelo menos temos chance de 
sobreviver. Este argumento não convencia a insatisfeita lesma, ao contrário: preferiria 
exatamente terminar sua vida desta maneira, numa mesa de toalha adamascada, entre 
talheres de prata e cálices de cristal. Assim como o mar é o único túmulo digno de um almirante 
batavo, respondia, a travessa de porcelana é a única lápide digna dos meus sonhos. 
SCLIAR, M. Sonho de lesma. In: ABREU, C. F. et al. A prosa do mundo. São Paulo: Global, 2009. 
 
Incorporando o devaneio da personagem, o narrador compõe uma alegoria que representa o 
anseio de 
a) rejeitar metas de superação de desafios. 
b) restaurar o estado de felicidade pregressa. 
c) materializar expectativas de natureza utópica. 
d) rivalizar com indivíduos de condição privilegiada. 
e) valorizar as experiências hedonistas do presente. 
Comentários: 
A alternativa A está incorreta, pois o texto não faz juízo de valor entre o que seria melhor: os sonhos 
utópicos ou a materialidade, concretude. Assim, não há rejeição a alguma postura. 
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A alternativa B está incorreta, pois a felicidade aqui é projetada, em uma situação pontual, não 
anterior, vivida. 
A alternativa C está correta, pois o texto aponta, de maneira metafórica, para aqueles que têm 
sonhos grandes, muitas vezes utópicos; e como muitas vezes, para esses pessoas, o sonho 
inalcançável é mais satisfatório do que o cotidiano mediano. Essa sensação é materializada na 
história da lesma. 
A alternativa D está incorreta, pois a condição privilegiada é algo almejado pela lesma, não algo 
criticado. 
A alternativa E está incorreta, pois as experiências hedonistas – aquelas que se relacionam com 
prazer – são idealizadas, logo, não são presentes. 
Gabarito: C 
 (ENEM - 2019) 
Canção 
No desequilíbrio dos mares, 
as proas giram sozinhas… 
Numa das naves que afundaram 
é que certamente tu vinhas. 
 
Eu te esperei todos os séculos 
sem desespero e sem desgosto, 
e morri de infinitas mortes 
guardando sempre o mesmo rosto. 
 
Quando as ondas te carregaram 
meus olhos, entre águas e areias, 
cegaram como os das estátuas, 
a tudo quanto existe alheias. 
 
Minhas mãos pararam sobre o ar 
e endureceram junto ao vento, 
e perderam a cor que tinham 
e a lembrança do movimento. 
 
E o sorriso que eu te levava 
desprendeu-se e caiu de mim: 
e só talvez ele ainda viva 
dentro destas águas sem fim. 
MEIRELES, C. In: SECCHIN, A. C. (Org.). Obra completa. 
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. 
 
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Na composição do poema, o tom elegíaco e solene manifesta uma concepção de lirismo 
fundada na 
a) contradição entre a vontade da espera pelo ser amado e o desejo de fuga. 
b) expressão do desencanto diante da impossibilidade da realização amorosa. 
c) associação de imagens díspares indicativas de esperança no amor futuro. 
e) recusa à aceitação da impermanência do sentimento pela pessoa amada. 
e) consciência da inutilidade do amor em relação à inevitabilidade da morte. 
Comentários: 
A alternativa A está incorreta, pois não há desejo de fugano poema. O eu-lírico espera por um amor 
que perdeu. 
A alternativa B está correta, pois o eu-lírico afirma ter perdido seu sorriso (na última estrofe) após a 
perda do seu amor – possivelmente devido a um naufrágio (Numa das naves que afundaram / é que 
certamente tu vinhas.) 
A alternativa C está incorreta, pois o eu-lírico perdeu a esperança no amor após a morte da figura 
amada. 
A alternativa D está incorreta, pois o amor aparentemente permanece vivo no eu-lírico, que nunca 
superou a morte de seu amor. 
A alternativa E está incorreta, pois em nenhum momento o eu-lírico indica achar que o amor seja 
inútil. 
Gabarito: B 
 (ENEM - 2018) 
Ela parecia pedir socorro contra o que de algum modo involuntariamente dissera. E ele com os 
olhos miúdos quis que ela não fugisse e falou: 
— Repita o que você disse, Lóri. 
— Não sei mais. 
— Mas eu sei, eu vou saber sempre. Você literalmente disse: um dia será o mundo com sua 
impersonalidade soberba versus a minha extrema individualidade de pessoa, mas seremos um 
só. 
— Sim. 
Lóri estava suavemente espantada. Então isso era a felicidade. De início se sentiu vazia. Depois 
seus olhos ficaram úmidos: era felicidade, mas como sou mortal, como o amor pelo mundo me 
transcende. O amor pela vida mortal a assassinava docemente, aos poucos. E o que é que eu 
faço? Que faço da felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda, que já está começando a 
me doer como uma angústia, como um grande silêncio de espaços? A quem dou minha 
felicidade, que já está começando a me rasgar um pouco e me assusta? Não, não quero ser 
feliz. Prefiro a mediocridade. Ah, milhares de pessoas não têm coragem de pelo menos 
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prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida que é sentir-se feliz e preferem a 
mediocridade. Ela se despediu de Ulisses quase correndo: ele era o perigo. 
LISPECTOR, C. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990. 
 
A obra de Clarice Lispector alcança forte expressividade em razão de determinadas soluções 
narrativas. No fragmento, o processo que leva a essa expressividade fundamenta-se no 
a) desencontro estabelecido no diálogo do par amoroso. 
b) exercício de análise filosófica conduzido pelo narrador. 
c) registro do processo de autoconhecimento da personagem. 
d) discurso fragmentado como reflexo de traumas psicológicos. 
e) afastamento da voz narrativa em relação aos dramas existenciais. 
Comentários: 
A alternativa A está incorreta, pois não há desencontro no diálogo. A personagem diz algo de que se 
arrepende e o interlocutor aponta ter ouvido o que ela disse – mesmo que ela não queira repetir. 
A alternativa B está incorreta, pois ainda que haja um verniz filosófico no texto, o que garante 
expressividade e o fato de que essa filosofia não é abstrata, mas percebida nas ações da personagem 
A alternativa C está correta, pois a personagem passa, nesse trecho, por um processo de reconhecer-
se feliz, de compreender a felicidade. 
A alternativa D está incorreta, pois o discurso fragmentado vem do fato de estarmos lendo um fluxo 
de pensamento da personagem, não a possíveis traumas. 
A alternativa E está incorreta, pois a voz narrativa está mergulhada em problemas existenciais – 
tanto que se indaga acerca da constituição da felicidade. 
Gabarito: C 
 (ENEM - 2018) 
A Casa de Vidro 
Houve protestos. 
Deram uma bola a cada criança e tempo para brincar. Elas aprenderam malabarismos incríveis 
e algumas viajavam pelo mundo exibindo sua alegre habilidade. (O problema é que muitos, a 
maioria, não tinham jeito e eram feios de noite, assustadores. Seria melhor prender essa gente 
– havia quem dissesse.) 
Houve protestos. 
Aumentaram o preço da carne, liberaram os preços dos cereais e abriram crédito a juros baixos 
para o agricultor. O dinheiro que sobrasse, bem, digamos, ora o dinheiro que sobrasse! 
Houve protestos. 
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Diminuíram os salários (infelizmente aumentou o número de assaltos) porque precisamos 
combater a inflação e, como se sabe, quando os sábados estão acima do índice de 
produtividade eles se tornam altamente inflacionários, de modo que. 
Houve protestos. 
Proibiram os protestos. 
E no lugar dos protestos nasceu o ódio. Então surgiu a Casa de Vidro, para acabar com aquele 
ódio. 
ÂNGELO, I. A casa de vidro. São 
Paulo: Círculo de Livro, 1985. 
 
Publicado em 1979, o texto compartilha com outras obras da literatura brasileira escritas no 
período as marcas do contexto em que foi produzido, como a 
a) referência à censura e à opressão para alegorizar a falta de liberdade de expressão 
característica da época. 
b) valorização de situações do cotidiano para atenuar os sentimentos de revolta em relação 
ao governo instituído. 
c) utilização de metáforas e ironias para expressar um olhar crítico em relação à situação 
social e política do país. 
d) tendência realista para documentar com verossimilhança o drama da população brasileira 
durante o Regime Militar. 
e) sobreposição das manifestações populares pelo discurso oficial para destacar o 
autoritarismo do momento histórico. 
Comentários: 
A alternativa A está incorreta, pois a censura e a opressão não são alegóricas. Elas de fato ocorriam. 
A alternativa B está incorreta, pois as situações cotidianas citadas também se relacionam com o 
sentimento de revolta. 
A alternativa C está correta, pois o texto é permeado por metáforas (como a referência às crianças 
que ganharam a bola para brincar, remetendo a aqueles que produziam discursos nem sempre 
aceitos por todos) e ironias (como em “infelizmente aumentou o número de assaltos”). 
A alternativa D está incorreta, pois não se pode dizer que seja uma tendência realista, já que o texto 
é permeado de metáforas e alegorias. 
A alternativa E está incorreta, pois não vemos necessariamente os discurso oficiais, mas sim temos 
a informação que os protestos foram proibidos. 
Gabarito: C 
 (ENEM - 2017) 
— Recusei a mão de minha filha, porque o senhor é... filho de uma escrava. 
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— Eu? 
— O senhor é um homem de cor!... Infelizmente esta é a verdade... 
Raimundo tornou-se lívido. Manoel prosseguiu, no fim de um silêncio: 
— Já vê o amigo que não é por mim que lhe recusei Ana Rosa, mas é por tudo! A família de 
minha mulher sempre foi muito escrupulosa a esse respeito, e como ela é toda a sociedade do 
Maranhão! Concordo que seja uma asneira; concordo que seja um prejuízo tolo! O senhor 
porém não imagina o que é por cá a prevenção contra os mulatos!... Nunca me perdoariam um 
tal casamento; além do que, para realizá-lo, teria que quebrar a promessa que fiz a minha 
sogra, de não dar a neta senão a um branco de lei, português ou descendente direto de 
portugueses! 
AZEVEDO, A. O mulato. São 
 Paulo: Escala, 2008. 
 
Influenciada pelo ideário cientificista no Naturalismo, a obra destaca o modo como o mulato 
era visto pela sociedade e fins do século XIX. Nesse trecho, Manoel traduz uma concepção em 
que a 
a) miscigenação racial desqualificava o indivíduo. 
b) condição econômica anulava os conflitos raciais. 
c) discriminação racial era condenada pela sociedade. 
d) escravidão negava o direito da negra à maternidade. 
e) união entre mestiços era um risco à hegemonia dos brancos. 
Comentários: 
A alternativa A está correta, pois a palavra “mulato” denota, de maneira pejorativa, uma pessoa com 
ascendência tanto branca quanto negra. Essa pessoa miscigenada era malvista socialmente. 
A alternativa B está incorreta, pois o que faz o homem negar a mão de sua filha não é a condição 
financeira – sequer citada no trecho – massim o tom da pele da personagem. 
A alternativa C está incorreta, pois as personagens apoiam o preconceito – haja vista a promessa 
feita à sogra sobre apenas casar a filha com um homem branco. 
A alternativa D está incorreta, pois pelas informações do texto não podemos afirmar isso. 
A alternativa E está incorreta, pois ainda que esse possa ser um dos frutos do preconceito – a ideia 
de que os direitos adquiridos pelas minorias seriam uma ameaça aos direitos das maiorias – não se 
pode dizer que nesse trecho haja essa ideia expressa. 
Gabarito: A 
 (ENEM - 2017) 
Dois parlamentos 
Nestes cemitérios gerais 
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não há morte pessoal. 
Nenhum morto se viu 
com modelo seu, especial. 
Vão todos com a morte padrão, 
em série fabricada. 
Morte que não se escolhe 
e aqui é fornecida de graça. 
Que acaba sempre por se impor 
sobre a que já medrasse. 
Vence a que, mais pessoal, 
alguém já trouxesse na carne. 
Mas afinal tem suas vantagens 
esta morte em série. 
Faz defuntos funcionais, 
próprios a uma terra sem vermes. 
MELO NETO, J. C. Serial e antes. Rio de 
Janeiro: Nova Fronteira, 1997 (fragmento). 
 
A lida do sertanejo com suas adversidades constitui um viés temático muito presente em João 
Cabral de Melo Neto. No fragmento em destaque, essa abordagem ressalta o(a) 
a) inutilidade de divisão social e hierárquica após a morte. 
b) aspecto desumano dos cemitérios da população carente. 
c) nivelamento do anonimato imposto pela miséria na morte. 
d) tom de ironia para com a fragilidade dos corpos e da terra. 
e) indiferença do sertanejo com a ausência de seus próximos. 
Comentários: 
A alternativa A está incorreta, pois não se fala especificamente em divisão social aqui. 
A alternativa B está incorreta, pois o que é desumano é o tratamento em vida, que faz com que a 
pessoa acaba em situações como a de uma morte “desimportante”, não o fato de que são enterrados 
num cemitério comum – que nesse caso é consequência da vida. 
A alternativa C está correta, pois o eu-lírico faz referência aos cemitérios gerais, ou seja, às valas 
comuns, como são chamados locais em que se enterram pessoas sem identificação. Essa é a “morte 
padrão” aqui. Essa morte novela todos a partir do anonimato, como se todos fossem iguais, apenas 
uma estatística, um número. 
A alternativa D está incorreta, pois não há tratamento irônico, mas sim lamentoso. 
A alternativa E está incorreta, pois não se pode dizer que haja indiferença com o próximo. Os 
cemitérios comuns não são necessariamente sinal de uma indiferença para com o morto. 
Gabarito: C 
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 (ENEM - 2017) 
Chamou-me o bragantino e levou-me pelos corredores e pátios até ao hospício propriamente. 
Aí é que percebi que ficava e onde, na seção, na de indigentes, aquela em que a imagem do 
que a Desgraça pode sobre a vida dos homens é mais formidável. O mobiliário, o vestuário das 
camas, as camas, tudo é de uma pobreza sem par. Sem fazer monopólio, os loucos são da 
proveniência mais diversa, originando-se em geral das camadas mais pobres da nossa gente 
pobre. São de imigrantes italianos, portugueses e outros mais exóticos, são os negros roceiros, 
que teimam em dormir pelos desvãos das janelas sobre uma esteira esmolambada e uma 
manta sórdida; são copeiros, cocheiros, moços de cavalariça, trabalhadores braçais. No meio 
disto, muitos com educação, mas que a falta de recursos e proteção atira naquela geena social. 
BARRETO, L. Diário do hospício e O cemitério dos vivos. São Paulo: 
Cosac & Naify, 2010. 
 
No relato de sua experiência no sanatório onde foi interno, Lima Barreto expõe uma realidade 
social e humana marcada pela exclusão. Em seu testemunho, essa reclusão demarca uma 
a) medida necessária de intervenção terapêutica. 
b) forma de punição indireta aos hábitos desregrados. 
c) compensação para as desgraças dos indivíduos. 
d) oportunidade de ressocialização em um novo ambiente. 
e) conveniência da invisibilidade a grupos vulneráveis e periféricos. 
Comentários: 
A alternativa A está incorreta, pois em nenhum momento vê-se uma defesa do local, mas sim uma 
sensação de abandono no local. 
A alternativa B está incorreta, pois não se pode afirmar com certeza, pelo trecho, quais as condições 
que levavam as pessoas a serem internadas – ainda que tenhamos relatos de que muitas vezes isso 
era relacionado com hábitos desviantes, ainda que não sinais de doenças psíquicas. 
A alternativa C está incorreta, pois o local é descrito como precário e abandonado, não podendo ser 
uma compensação. 
A alternativa D está incorreta, pois, assim como em C, o local é descrito como precário e 
abandonado, não sendo possível afirmar que houvesse tentativa de mudança ou ressocialização. O 
local parece mais um depósito de pessoas pela descrição no trecho. 
A alternativa E está correta, pois ao citar quem são os internos, ele aponta: “originando-se em geral 
das camadas mais pobres da nossa gente pobre”, “imigrantes italianos, portugueses e outros mais 
exóticos”, “negros roceiros” e “copeiros, cocheiros, moços de cavalariça, trabalhadores braçais”, 
grupos de maior vulnerabilidade. 
Gabarito: E 
 (ENEM - 2017) 
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Tenho visto criaturas que trabalham demais e não progridem. Conheço indivíduos preguiçosos 
que têm faro: quando a ocasião chega, desenroscam-se, abrem a boca e engolem tudo. 
Eu não sou preguiçoso. Fui feliz nas primeiras tentativas e obriguei a fortuna a ser-me favorável 
nas seguintes. 
Depois da morte do Mendonça, derrubei a cerca, naturalmente, e levei-a para além do ponto 
em que estava no tempo de Salustiano Padilha. Houve reclamações. 
— Minhas senhoras, Seu Mendonça pintou o diabo enquanto viveu. Mas agora é isto. E quem 
não gostar, paciência, vá à justiça. 
Como a justiça era cara, não foram à justiça. E eu, o caminho aplainado, invadi a terra do Fidélis, 
paralítico de um braço, e a dos Gama, que pandegavam no Recife, estudando direito. Respeitei 
o engenho do Dr. Magalhães, juiz. 
Violências miúdas passaram despercebidas. As questões mais sérias foram ganhas no foro, 
graças às chicanas de João Nogueira. 
Efetuei transações arriscadas, endividei-me, importei maquinismos e não prestei atenção aos 
que me censuravam por querer abarcar o mundo com as pernas. Iniciei a pomicultura e a 
avicultura. Para levar os meus produtos ao mercado, comecei uma estrada de rodagem. 
Azevedo Gondim compôs sobre ela dois artigos, chamou-me patriota, citou Ford e Delmiro 
Gouveia. Costa Brito também publicou uma nota na Gazeta, elogiando-me e elogiando o chefe 
político local. Em consequência mordeu-me cem mil réis. 
RAMOS, G. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 1990. 
 
O trecho, de São Bernardo, apresenta um relato de Paulo Honório, narrador-personagem, 
sobre a expansão de suas terras. De acordo com esse relato, o processo de prosperidade que 
beneficiou evidencia que ele 
a) revela-se um empreendedor capitalista pragmático que busca o êxito em suas realizações 
a qualquer custo, ignorando princípios éticos e valores humanitários. 
b) procura adequar sua atividade produtiva e função de empresário às regras do Estado 
democrático de direito, ajustando o interesse pessoal ao bem da sociedade. 
c) relata aos seus interlocutores fatos que lhe ocorreram em um passado distante, e enumera 
ações que põe em evidência as suas muitas virtudes de homem do campo. 
d) demonstra ser um homem honrado, patriota e audacioso, atributos ressaltados pela 
realização de ações que se ajustam ao princípio de que os fins justificam os meios. 
e) amplia o seu patrimônio graças ao esforço pessoal, contando com a sorte e a capacidadede iniciativa, sendo um exemplo de empreendedor com responsabilidade social. 
Comentários: 
A alternativa A está correta, pois a personagem de Paulo Honório deixa claro que é um homem que 
busca alcançar seus objetivos sem medir consequências: sua expansão de terra é feita por meio de 
grilagem, ou seja, tomada ilegal de um terreno pela base da força; a estrada que constrói é para seu 
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próprio bem – ter como escoar seus produtos – e os elogios que lhe tecem são comprados. Ele ignora 
valores éticos e humanitários em busca de um maior lucro financeiro. 
A alternativa B está incorreta, pois ele não se adequa às regras, mas sim as burla, cometendo crimes 
em busca de maior ganho financeiro. 
A alternativa C está incorreta, pois o que ele enumera aqui não são virtudes, mas comportamentos 
viciosos, de alguém que não apresenta escrúpulos. 
A alternativa D está incorreta, pois mesmo suas ações para o Estado – a construção da estrada – não 
são feitas pensando no bem comum, mas sim em si próprio. 
A alternativa E está incorreta, pois ele não possui responsabilidade social; atua pensando apenas em 
si próprio e não conta com a sorte: comete crimes ou faz ações de caráter duvidoso. 
Gabarito: A 
 (ENEM - 2017) 
A humana condição 
Custa o rico no céu 
(Afirma o povo e não erra). 
Porém muito mais difícil 
É um pobre ficar na terra 
QUINTANA, M. Melhores poemas. São Paulo: Global, 2003. 
 
Mário Quintana ficou conhecido por seus “quintanares”, nome que o poeta Manuel Bandeira 
deu a esses quartetos com pequenas observações sobre a vida. Nessa perspectiva, os versos 
do poema Da humana condição ressaltam 
a) a desvalorização da cultura popular. 
b) a falta de sentido da existência humana. 
c) a irreverência diante das crenças do povo. 
d) uma visão irônica das diferenças de classe. 
e) um olhar objetivo sobre as diferenças sociais. 
Comentários: 
A alternativa A está incorreta, pois o poeta afirma que a cultura popular está certa, não que deve 
ser desconsiderada. 
A alternativa B está incorreta, pois o poeta não entra em questões metafísicas acerca da existência 
humana, apenas menciona o céu e a terra como oposições aqui. 
A alternativa C está incorreta, pois o poeta dá valor às crenças populares, tanto que afirma que estão 
corretas. 
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A alternativa D está correta, pois o poema faz referência à passagem bíblica “Em verdade vos digo 
que um rico dificilmente entrará no reino dos céus. E ainda vos digo que é mais fácil passar um 
camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus” (Mt 19:22-24). A 
passagem condena a ganância ao dizer que o rico dificilmente entrará no reino dos céus. Ao mesmo 
tempo aponta para as dificuldades sofridas pelos pobres em vida, que faz com que seja difícil para 
eles manterem-se vivos, ou seja, na terra. 
A alternativa E está incorreta, pois o poeta não faz uso de um olhar objetivo, mas metafórico, ligado 
à religiosidade e ao simbolismo das ideias de “céu” e “terra”. 
Gabarito: D 
 (ENEM - 2017) 
O mundo revivido 
Sobre esta casa e as árvores que o tempo 
esqueceu de levar. Sobre o curral 
de pedra e paz e de outras vacas tristes 
chorando a lua e a noite sem bezerros. 
 
Sobre a parede larga deste açude 
onde outras cobras verdes se arrastavam, 
e pondo o sol nos seus olhos parados 
iam colhendo sua safra de sapos. 
 
Sob as constelações do sul que a noite 
armava e desarmava: as Três Marias, 
o Cruzeiro distante e o Sete-Estrelo. 
 
Sobre este mundo revivido em vão, 
a lembrança de primos, de cavalos, 
de silêncio perdido para sempre. 
DOBAL, H. A província deserta. Rio de Janeiro: Artenova, 1974. 
 
No processo de reconstituição do tempo vivido, o eu lírico projeta um conjunto de imagens 
cujo lirismo se fundamenta no 
a) inventário das memórias evocadas afetivamente. 
b) reflexo da saudade no desejo de voltar à infância. 
c) sentimento de inadequação com o presente vivido. 
d) ressentimento com as perdas materiais e humanas. 
e) lapso no fluxo temporal dos eventos trazidos à cena. 
Comentários: 
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A alternativa A está correta, pois o eu-lírico lista espaços, objetos e pessoas, criando um rol de 
lembranças que ele revive ao evocar em sua memória – ainda que tudo isso esteja perdido para ele. 
A alternativa B está incorreta, pois evocar memórias não significa necessariamente vontade voltar à 
infância. O texto parece ser apenas uma lembrança. 
A alternativa C está incorreta, pois olhar para o passado com saudade não significa que o presente 
seja ruim, mas sim que o passado era bom. 
A alternativa D está incorreta, pois não parece haver ressentimento, mas sim melancolia. 
A alternativa E está incorreta, pois não se pode afirmar que haja fluxo temporal, mas sim de 
pensamento. O tempo aqui é psicológico: as referências aparecem conforme são evocadas pelo eu-
lírico. 
Gabarito: A 
Texto para as questões 16 a 19 
Diáspora 
 
1Acalmou a tormenta 
Pereceram 
Os que a estes mares ontem se 
arriscaram 
E vivem os que por um amor tremeram 
5E dos céus os destinos esperaram 
 
Atravessamos o mar Egeu 
O barco cheio de fariseus 
Como os cubanos, sírios, ciganos 
Como romanos sem Coliseu 
10Atravessamos pro outro lado 
No Rio Vermelho do mar sagrado 
Os Center shoppings superlotados 
De retirantes refugiados 
 
You, where are you? 
15Where are you? 
Where are you? 
 
Onde está 
Meu irmão 
Sem Irmã 
20O meu filho sem pai 
Minha mãe 
Sem avó 
 
 
Dando a mão pra ninguém 
Sem lugar 
25Pra ficar 
Os meninos sem paz 
Onde estás 
Meu senhor 
Onde estás? 
30Onde estás? 
 
Deus 
Ó Deus onde estás 
Que não respondes 
Em que mundo 
35Em qu’estrela 
Tu t’escondes 
Embuçado nos céus 
Há dois mil anos te mandei meu grito 
Que embalde desde então corre o infinito 
40Onde estás, Senhor Deus 
 
ANTUNES, Arnaldo; BROWN, Carlinhos; MONTE, Marisa. 
Diáspora. In: Tribalistas. Rio de Janeiro: Phonomotor 
Records Universal Music, 2017. Disponível em: 
https://www.letras.mus.br/tribalistas/diaspora/. Acesso em: 08 
de set. de 2019. 
 
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 (UECE – 2020) 
É objetivo da letra da canção Diáspora 
A) denunciar a saga dos refugiados ao longo da história da humanidade. 
B) narrar a travessia dos mares por um grupo de turistas. 
C) descrever situações degradantes das travessias marítimas por turistas. 
D) apresentar a separação entre familiares de refugiados por motivos religiosos. 
Comentários: 
 
Essa música foi tema de abertura da novela das seis da emissora Rede Globo, “Órfãos da terra”, 
"Órfãos da Terra", de Thelma Guedes e Duca Rachid. 
 
Alternativa A está correta. Denunciar no sentido de tornar conhecido; difundir, propagar, anunciar 
(dicionário Houaiss). Trata-se de uma questão que vai desde as Escrituras Sagradas da Bíblia, com a 
qual a canção inclusive manifesta caráter de intertextualidade – diálogo – até a imigração na 
contemporaneidade, resultado de conflitos étnicos, raciais, geográficos, políticos. 
Alternativa B está incorreta. Pelo contrário, a situação de turismo, que evidencia lazer, 
planejamento, usufruto, é bem diferente da condição dos imigrantes, podendo ter sido eles 
expulsos, exilados, perseguidos, isto é, eles estão numa condição de vulnerabilidade social. 
Alternativa C está incorreta. Não são necessariamente degradantes. No caso da Bíblia, pode ganhar 
inclusive um tom épico, nobre, superior. Já na contemporaneidade, muitas vezes as condições de 
transporte são feitas precariamente e no improviso, haja vista a situação de fuga.Alternativa D está incorreta. A canção, embora aluda à Bíblia, não permite inferir que o motivo da 
separação das famílias seja estritamente religioso. 
Gabarito: A 
 (UECE – 2020) 
Observe a seguinte definição de diáspora, publicada em FERREIRA, A. B. H. Dicionário Aurélio 
escolar da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1988, p. 220: “Sf 1. A 
dispersão dos judeus no decorrer dos séculos. 2. P. ext. Dispersão de povos, por motivos políticos 
ou religiosos, em virtude de perseguição de grupos dominadores intolerantes”. Considerando a 
referida definição e a letra da canção, atente para as seguintes afirmações: 
I. A história narrada centra-se em questões religiosas, elegendo o mar Egeu como local de 
acontecimento para a separação dos povos. 
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II. A história narrada vai além do texto bíblico para a compreensão do drama dos refugiados, a 
partir de diversas questões políticas e/ou religiosas. 
III. A questão dos refugiados é abordada a partir da inserção de outros lugares que, na 
contemporaneidade, também têm problemas políticos e/ou religiosos. 
 
Estão corretas as assertivas contidas em 
A) I e II apenas. 
B) I e III apenas. 
C) II e III apenas. 
D) I, II e III 
Comentários 
Tipologia de questão em que primeiro é dado um verbete do dicionário e depois há uma exploração, 
desenvolvimento do mesmo. No caso, verbetes costumam usar abreviações, como “p. ext.” que quer 
dizer por extensão. 
Afirmação I: incorreta. Não são questões religiosas necessariamente. Atentem-se ao conectivo, a 
conjunção coordenada alternativa na definição do dicionário: “motivos políticos ou religiosos” 
(grifo meu). Ademais, para além do mar Egeu, há menção também ao Rio Vermelho. 
Afirmação II: correta. Drama porque as situações experienciadas muitas vezes envolvem tragédias, 
sofrimento e separações. 
Afirmação III: correta. No caso, esse lugar específico não é geográfico, mas sim simbólico: os 
shoppings centers, lugar no qual um refugiado poderia se ver obrigado a trabalhar, na tentativa de 
reinserção econômica no país ao qual vai chegar. 
Gabarito: C 
 (UECE – 2020) 
O fato de os autores da letra da canção Diáspora utilizarem o verbo em primeira pessoa do plural, 
na expressão “Atravessamos o mar Egeu” (linha 6), indica intenção de 
A) engajar o ouvinte/leitor na problemática dos refugiados. 
B) demarcar diferentes povos de diferentes lugares. 
C) naturalizar as experiências de sofrimento dos refugiados. 
D) acentuar o abandono de crianças retiradas de suas famílias. 
Comentários 
Alternativa A está correta. O chamado plural majestático ou plural da modéstia também pode ser 
usado para designar atitude respeitosa para com o interlocutor. Porém, o objetivo aqui é maior, no 
intuito da inclusão, como diz o ditado popular: “sentir-se na mesma pele” dos imigrantes, passar 
pelos mesmos dramas, mesmos sofrimentos. 
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Alternativa B está incorreta. A finalidade não é a demarcação, até porque não sabemos as origens 
reais desses imigrantes. 
Alternativa C está incorreta. Cuidado: o sofrimento não é natural nem naturalizado, ele é causado 
por ações antrópicas (humanas). 
Alternativa D está incorreta. O fato de haver menção a algumas categorias familiares como irmão e 
irmã, filho, pai, mãe e avó, não é possível concluir com exatidão que o texto trate só de crianças. 
Embora haja o verso “Os meninos sem paz” (l. 26), isso não se remete diretamente ao verbo 
conjugado na 1ª pessoa do plural “atravessamos”. 
Gabarito: A 
 (UECE - 2020) 
A textualidade marca-se por diversos fatores que se integram, a fim de instituir sentido ao conjunto 
de enunciados, transformando-os em um texto. Assim, na letra da canção Diáspora, há 
I. intertextualidade, porque podemos depreender a presença de outros textos, por exemplo, 
textos bíblicos (linhas 6-7; 10-11) e o poema Vozes d’África, de Castro Alves (linhas 31-40). 
II. coerência, porque há uma lógica interna no texto quando os autores relacionam a dispersão 
do povo judeu à saga dos imigrantes. 
III. informatividade, porque as informações apresentam dados novos para a atualização da 
questão dada, a partir de um tema já apresentado inicialmente. 
Estão corretas as complementações contidas em 
A) I e II apenas. 
B) I e III apenas. 
C) II e III apenas. 
D) I, II e III. 
Comentários 
Afirmação I: correta. Entende-se por intertextualidade a relação entre dois ou mais textos, 
entendendo qual a natureza dessa relação. Algumas vezes a intertextualidade é mais evidente outras 
não. Pode também aparecer entre textos de diferentes naturezas, verbais e visuais. Quanto a Castro 
Alves, membro da 3ª geração da poesia romântica brasileira, espia o que apresentamos no nosso 
material. 
Ocupante da cadeira de no 7 na Academia Brasileira de Letras, era considerado o poeta dos escravos 
e nasceu em 1847. Estudou Direito em Recife e São Paulo. Representou maturidade em relação à 
ingenuidade das gerações anteriores, como o idealismo indianista e amoroso e o nacionalismo 
ufanista. A crítica objetiva ao regime social prefigura o movimento posterior do Realismo. 
➢ Poesia: principais obras 
• Espumas flutuantes (1870); 
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O contexto histórico é extremamente importante para 
compreender a obra e o seu pano de fundo por trás. Assim, é 
possível estabelecer uma ponte com o presente e ter a capacidade 
de atualizar essas obras, isto é, trazê-las para o nosso presente. 
Isso pode cair na redação. Nesse caso, a questão dos imigrantes. 
 
 
 
 
• A Cachoeira de Paulo Afonso (1876); 
• Os Escravos – O Navio Negreiro (1883); 
• Hinos do Equador (1921). 
Este poema em particular do poeta romântico começa com os seguintes versos: “Deus! ó Deus! onde 
estás que não respondes?”. Vamos ver uma estrofe na íntegra, de modo a perceber as semelhanças 
com a canção. O resto se encontra no domínio público (https://tinyurl.com/rgkykao). 
 
Deus! ó Deus! onde estás que não respondes? 
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes 
Embuçado nos céus? 
Há dois mil anos te mandei meu grito, 
Que embalde desde então corre o infinito... 
Onde estás, Senhor Deus?... 
 
Além disso, a alusão à Bíblia se verifica também na menção da abertura do mar por Moisés, episódio 
relatado no livro do Êxodo. 
Afirmação II: correta. Coerência interna de temas, como que para evidenciar que não se trata de um 
problema apenas da atualidade, mas sim milenar, histórico. 
Afirmação III: correta. Ao longo da canção vão sendo apresentadas mais informações acerca da 
condição das pessoas refugiadas, dialogando também com o conhecimento de mundo do aluno. 
 
 
 
 
 
 
Gabarito: D 
 (UNICAMP – 2020) 
Texto I 
Os idiomas e suas regras são coisas vivas, que vão se modificando de maneira dinâmica, de acordo 
com o momento em que a sociedade vive. Um exemplo disso é a adoção do termo “maratonar”, 
quando os telespectadores podem assistir a vários ou a todos os episódios de uma série de uma 
só vez. Contudo, ao que parece, a plataforma Netflix não quer mais estar associada à “maratona” 
de séries. A maior razão seria a tendência atual que as gigantes da tecnologia têm seguido para 
evitar o consumo excessivo e melhorar a saúde dos usuários. 
(Adaptado de Claudio Yuge, “Você notou? Netflix parece estar evitando o termo ‘maratonar’.” 
Disponível em https://www.tecmundo.com.br/ internet/133690-voce-notou-net flix-pareceevitando-
termo-maratonar.htm. Acessado em 01/06/2019.) 
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Embora os dois textos tratem do termo “maratonar” a partirde perspectivas distintas, é possível 
afirmar que o Texto II retoma aspectos apresentados no Texto I porque 
a) esclarece o significado do neologismo “maratonar” como esforço físico exaustivo, derivado de 
“maratona”. 
b) deprecia a definição de “maratona” como ação contínua de superação de dificuldades e melhoria 
da saúde. 
c) reflete sobre o impacto que a falta de exercícios físicos e a permanência em casa provocam na 
saúde. 
d) menospreza o uso do termo “maratonar” relacionado a um estilo de vida sedentário, antagônico 
a maratona. 
Comentário 
Alternativa A está incorreta. Somente o texto II define o termo maratonar como “esforço físico”; no 
texto I, o termo é definido como “assistir a vários ou a todos os episódios de uma série de uma só 
vez.” 
Alternativa B está incorreta. Essa ideia de “ação contínua de superação de dificuldades” não consta 
de nenhum dos textos. 
Alternativa C está incorreta. No texto II, a personagem não se refere à saúde. 
Alternativa D está correta. Tanto as empresas de tecnologia estão evitando o termo com intenção 
de “evitar o consumo excessivo e melhorar a saúde” (referência implícita a sedentarismo) quanto a 
fala da personagem transmite a mesma ideia de sedentarismo ao falar em “ficar o dia todo no sofá”. 
Gabarito: D 
 (UNICAMP – 2020) 
Texto I 
Leia os versos iniciais da peça Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come (1966), de Oduvaldo 
Vianna Filho e Ferreira Gullar. Em formato de cordel, os versos são cantados por todos os atores. 
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Se corres, bicho te pega, amô. 
Se ficas, ele te come. 
Ai, que bicho será esse, amô? 
Que tem braço e pé de homem? 
Com a mão direita ele rouba, amô, 
e com a esquerda ele entrega; 
janeiro te dá trabalho, amô, 
dezembro te desemprega; 
de dia ele grita "avante”, amô, 
de noite ele diz: "não vá": 
Será esse bicho um homem, amô, 
ou muitos homens será? 
(Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar, Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Rio 
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 3.) 
 
Texto II 
Observe a charge de Laerte que fez parte da mostra Maio na Paulista, em 2019. 
 
Considerando a relação entre os textos I e II, conclui-se que a charge 
a) resgata a temática do cordel, rompendo com o impasse vivido pelos personagens. 
b) reafirma o dilema dos personagens da peça, parafraseando os versos iniciais do cordel. 
c) evidencia a tradição popular nordestina, utilizando a imagem para sofisticar os versos. 
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d) confirma a força transformadora da versificação popular, reproduzindo-a em imagens. 
Comentários 
Alternativa A está correta. No cordel, os personagens discutem o impasse do ditado “se correr o 
bicho pega, se ficar o bicho come”, aplicando-o aos empregadores nos versos “janeiro te dá 
trabalho, amô,/ dezembro te desemprega;”; na charge o dilema se resolve quando os trabalhadores 
se reúnem e fazem o “bicho” correr. 
Alternativa B está incorreta. Há reafirmação da temática do cordel na charge, mas a alternativa 
desconsidera a resolução do embate na charge. 
Alternativa C está incorreta. A charge não foi feita para ilustrar o cordel. 
Alternativa D está incorreta. A versificação popular é uma forma de transmitir uma ideia; a ideia 
transforma, a forma encanta, logo não é a força transformadora do verso que leva a reprodução da 
imagem. 
Gabarito: A 
 (FUVEST – 2020) 
amora 
a palavra amora 
seria talvez menos doce 
e um pouco menos vermelha 
se não trouxesse em seu corpo 
(como um velado esplendor) 
a memória da palavra amor 
a palavra amargo 
seria talvez mais doce 
e um pouco menos acerba 
se não trouxesse em seu corpo 
(como uma sombra a espreitar) 
a memória da palavra amar 
Marco Catalão, Sob a face neutra. 
 
É correto afirmar que o poema 
a) aborda o tema da memória, considerada uma faculdade que torna o ser humano menos 
amargo e sombrio. 
b) enfoca a hesitação do eu lírico diante das palavras, o que vem expresso pela repetição da 
palavra “talvez”. 
c) apresenta natureza romântica, sendo as palavras “amora” e “amargo” metáforas do 
sentimento amoroso. 
d) possui reiterações sonoras que resultam em uma tensão inusitada entre os termos “amor” 
e “amar”. 
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e) ressalta os significados das palavras tal como se verificam no seu uso mais corrente. 
Comentários: 
Alternativa A está incorreta. O tema principal do poema não é memória, é o amor. 
Alternativa B está incorreta. O eu lírico não hesita diante da palavra, hesita diante dos efeitos 
sensoriais evocados pelas palavras. 
Alternativa C está incorreta. O poema manifesta uma perspectiva não-romântica, pois não idealiza 
o amor. Na primeira estrofe, o poeta fala da doçura do amor, enquanto, na segunda estrofe, destaca 
a amargura do amor. 
Alternativa D está correta. Há reiterações sonoras: a palavra “amora” contém “amor” e a palavra 
“amargo” contém o verbo “amar”. O amor da primeira estrofe é doce, a ação de amar da segunda 
estrofe é amarga. São opostos. O poema, implicitamente, defende a tese de que o amor como ideia 
é perfeito, mas no cotidiano, quando passa a ser ação, ele é amargo. 
Alternativa E está incorreta. As determinações atribuídas às palavras amor e a “amargo” são 
ressignificadas. 
Gabarito: D 
TEXTO PARA AS QUESTÕES 23 e 24 
Uma planta é perturbada na sua sesta* pelo exército que a pisa. 
Mas mais frágil fica a bota. 
Gonçalo M. Tavares, 1: poemas. 
 
*sesta: repouso após o almoço. 
 
 (FUVEST – 2020) 
Considerando que se trata de um texto literário, uma interpretação que seja capaz de captar a 
sua complexidade abordará o poema como 
a) uma defesa da natureza. 
b) um ataque às forças armadas. 
c) uma defesa dos direitos humanos. 
d) uma defesa da resistência civil. 
e) um ataque à passividade. 
Comentários: 
Alternativa A está incorreta. O texto é literário e deve ser entendido de forma metafórica e não 
literal. 
Alternativa B está incorreta. A frase não apresenta uma crítica às forças armadas, não revela qual o 
motivo pelo qual o exército pisa a planta, o que poderia ensejar algum tipo de crítica. 
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Alternativa C está incorreta. Se fosse “defesa dos direitos humanos”, o poema estaria expressando 
a ideia de que o exército seria alterado pela defesa de tais direitos, isso não faz sentido. 
Alternativa D está correta. A planta sofre a ação e deixa suas marcas na bota, há, portanto, uma 
resistência. Qual tipo de resistência? Isso pode ser deduzido pelo que se opõe ao militar, ou seja, 
pela resistência civil. 
Alternativa E está incorreta. O poema exalta a planta que, à primeira vista, apenas sofre a ação. 
Gabarito: D 
 (FUVEST - 2020) 
O ditado popular que se relaciona melhor com o poema é: 
a) Para bom entendedor, meia palavra basta. 
b) Água mole em pedra dura tanto bate até que fura. 
c) Quem com ferro fere, com ferro será ferido. 
d) Um dia é da caça, o outro é do caçador. 
e) Uma andorinha só não faz verão. 
Comentários: 
Alternativa A está incorreta. O poema gira em torno da ação do exército, o ditado faz referência ao 
processo de interpretação. 
Alternativa B está correta. O poder da bota é semelhante ao da dureza da pedra; a ação da planta 
que vai contaminando o poder militar é semelhante à ação da água que vai minando a dureza do 
rochedo. 
Alternativa C está incorreta. O ditado faz referência à reação violenta como resposta a outra do 
mesmo aspecto. Ora, a planta não reage com a mesma intensidade com que foi ferida. 
Alternativa D está incorreta. Esse ditado supõe quea resistência civil poderia agir da mesma maneira 
como o exército age; se as pessoas agirem com violência contra o exército, haveria uma rebelião e 
não resistência civil. 
Alternativa E está incorreta. Se essa ideia fosse aplicada ao poema, deveria significar que outras 
plantas deveriam se juntar a essa única que foi pisada, ideia que não está presente no texto. 
Gabarito: B 
 (UEMA – 2020) 
O livro Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, foi publicado em 
folhetins no ano de 1853. Caracteriza-se por documentar os costumes, os comportamentos e 
os tipos sociais da classe média da sociedade brasileira do tempo do rei D. João VI, ignorados 
pela literatura até então. É considerado um clássico da literatura brasileira do século XIX. 
 
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O fragmento a seguir é parte do capítulo intitulado Estralada, no qual o personagem Leonardo 
Pataca, para vingar-se de um desafeto seu, contrata o valentão Chico-Juca. Leia-o para 
responder à questão. 
 
[…] 
— Isto passa de mais… varro… menos essa, senhor Chico-Juca; nada de graças pesadas com 
essa moça, que é cá coisa minha… 
O Chico-Juca estava com efeito há mais de meia hora a dirigir graçolas das suas a uma moça 
que ele bem sabia que era coisa do rapaz que estava tocando; tanto fez que este, tendo 
percebido, proferiu aquelas palavras que acabamos de ouvir. 
— Você respinga?!… – respondeu-lhe o Chico-Juca dirigindo-se para ele. 
O rapaz, que não era peco, pôs-se em pé e replicou: 
— Tenho dito, nada de graças com ela!… 
[…] 
ALMEIDA, M. A. Memórias de um Sargento de Milícias. Porto Alegre: L&PM, 2015. 
 
A voz narrativa predominante no livro Memórias de um Sargento de Milícias é a 3ª. pessoa, o 
que pode criar um certo distanciamento do narrador em relação aos fatos narrados. No 
fragmento, nota-se que essa voz oscila, revelando um narrador que se coloca como 
testemunha da situação retratada, conforme o seguinte trecho: 
a) “— Tenho dito, nada de graças com ela!…” (5º.§) 
b) “[…] proferiu aquelas palavras que acabamos de ouvir.” (2º.§) 
c) “[…] nada de graças pesadas com essa moça, que é cá coisa minha…” (1º.§) 
d) “— Você respinga?!… respondeu-lhe o Chico-Juca dirigindo-se para ele.” (3º.§) 
e) “O rapaz, que não era peco, pôs-se em pé e replicou:” (4º.§) 
Comentários: 
Alternativa A: incorreta. Esse trecho constitui um discurso direto, no qual o narrador permite que o 
personagem expresse sua opinião. Não há elemento linguístico que indique a presença do narrador 
no fragmento. 
Alternativa B: correta. Ao se valer da primeira pessoa do plural em “acabamos de ouvir”, o narrador 
inclui o leitor e ele mesmo como espectadores da cena. 
Alternativa C: incorreta. Esse é um fragmento de discurso direto, a presença do eu em “é cá coisa 
minha” se aplica ao personagem e não ao narrador. 
Alternativa D: incorreta. Trata-se de discurso direto sem termo que permita localizar a presença do 
narrador. 
Alternativa E: incorreta. Trata-se de um fragmento objetivo sem marcação da presença do narrador. 
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Gabarito: B 
 (UEMA – 2020) 
O Último Poema encerra o livro Libertinagem, de Manuel Bandeira. 
 
O Último Poema 
Assim eu quereria o meu último poema 
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais 
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas 
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume 
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos 
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação. 
BANDEIRA, M. Libertinagem. 2 ed. São Paulo: Global, 2013 
 
O poema estabelece pelo título e pela posição que ocupa um valor metapoético, uma vez que 
o eu lírico 
a) transporta para a poesia a beleza da simplicidade. 
b) explicita seu dilema existencial. 
c) revela dramaticamente seus medos mais íntimos e secretos. 
d) incorpora na poesia o academicismo parnasiano. 
e) expressa em versos seu desejo poético. 
Comentários: 
“Metapoético” se refere a um poema que tematiza a escrita da própria poesia. 
Alternativa A está incorreta. É verdade que, nesse poema, o eu lírico “transporta para a poesia a 
beleza e simplicidade”, mas isso não se relaciona com o título, nem expressa um valor metapoético. 
Alternativa B está incorreta. No poema, ele exprime o que ele deseja para sua poesia, não explora 
seus dilemas existenciais. 
Alternativa C está incorreta. Não há referência a medos no poema. 
Alternativa D está incorreta. Se fosse parnasiano, o poeta deveria metrificar seu poema. Manuel 
Bandeira se vale do verso livre (sem métrica). 
Alternativa E está correta. O seu desejo poético aparece no primeiro verso “Assim eu quereria o meu 
último poema” e esse tema é metapoético. 
Gabarito: E 
 (MACKENZIE – 2019) 
Texto I 
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 01 Não é fácil dissertar sobre a alimentação dos portugueses durante 02 a Idade Média. 
Escasseiam as fontes informativas: o primeiro livro 03 de receitas culinárias que se conhece não 
é anterior ao século XVI. 04 As descrições de banquetes, colhidas nas crônicas ou noutros textos 
05 narrativos, são em geral parcas em notícias concretas sobre os 06 alimentos consumidos. 
 07 De maneira geral, a alimentação medieval era pobre, se 08 comparada com os padrões 
modernos. A quantidade supria, quantas 09 vezes, a qualidade. A técnica culinária achava-se 
ainda numa fase 10 rudimentar, e as conquistas da cozinha romana haviam-se perdido. 11 A 
condimentação obedecia a princípios extremamente simples. 
 12 As duas refeições principais do dia eram o jantar e a ceia. 13 Jantava-se, nos fins do século 
XIV, por volta das dez horas da manhã; 14 mas nos séculos anteriores, essa hora teria de recuar 
para oito ou 15 nove. Ceava-se pelas seis ou sete horas da tarde. Como ideal de 16 frugalidade, 
aconselhava-se a ausência de qualquer outro repasto 17 durante o dia. É de supor, a partir de 
certa altura, a necessidade de 18 um “almoço” tomado pouco depois do levantar. 
 19 O jantar era a refeição mais forte do dia. O número de 20 pratos servidos andava, em 
média, pelos três, sem contar sopas, 21 acompanhamentos ou sobremesas. Isto, entenda-se, 
em relação ao 22 rei, à nobreza, e ao alto clero. Entre os menos privilegiados ou os 23 menos 
ricos, o número de pratos ao jantar podia descer para dois 24 ou até um. À ceia, baixava para 
dois a média das iguarias tomadas; 25 ou para um, nos outros casos indicados. 
Adaptado de A.H. de Oliveira Marques, A sociedade medieval portuguesa 
 
Texto II 
 01 Havia três estados ou estamentos na sociedade feudal: o clero, 02 a nobreza e o 
campesinato. Os dois primeiros eram privilegiados, 03 reservando-se as funções de ministrar os 
sacramentos religiosos, 04 governar e dar proteção. O terceiro estado, os camponeses, tinha 05 
obrigação de trabalhar para o sustento material de toda a sociedade. 
 06 Os camponeses produziam centeio, trigo, cevada etc. e cuidavam 07 das oliveiras e das 
vinhas. A técnica de produção era rudimentar, os 08 instrumentos de produção, inadequados, 
e a produção, relativamente 09 pequena. O espectro da fome geralmente rondava as choupanas 
dos 10 trabalhadores. 
Adaptado de Heródoto Barbeiro, História Geral 
 
Sobre os textos é correto afirmar que: 
a) uma linguagem objetiva (em tom didático e explicativo) contribui para a presença 
destacada da função referencial. 
b) a presença em destaque de figuras de linguagem como metáfora e personificação contribui 
para as imagens simbólicas transmitidas. 
c) o uso de marcas de subjetividade realça a figura dos autores, que se colocam de modo 
explícito nas construções textuais. 
d) a reconstrução histórica elaborada é feita em tom de ironia,o que confere um efeito de 
sentido de humor aos posicionamentos adotados pelos autores. 
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e) são escritos em linguagem jornalística moderna, com a presença de recursos 
argumentativos típicos dos usados nas novas tecnologias de comunicação. 
Comentários: 
A alternativa A está correta, pois o objetivo do texto é a informação a ser passada, o que condiz com 
a função referencial. 
A alternativa B está incorreta, pois não há grande uso de figuras de linguagem, justamente por se 
tratar de um texto de maior cunho científico e objetivo didático. 
A alternativa C está incorreta, pois não há grandes marcas de subjetividade e os autores não se 
manifestam tão explicitamente no texto. 
A alternativa D está incorreta, pois a reconstrução histórica é feita de forma científica, não irônica, 
em que o foco está na obtenção de informações verossímeis acerca da Idade Média. 
A alternativa E está incorreta, pois os textos não trazem recursos argumentativos típicos da 
modernidade, o que pode ser entendido aqui como as mídias tecnológicas e o advento da internet. 
Tratam-se de textos didáticos, pertencentes a obras escritas. 
Gabarito: A 
 (Insper - 2019) 
Texto I 
 Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. Meu pai, logo 
que teve aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as raias 
de um capricho juvenil. 
 – Dessa vez, disse ele, vais para Europa; vais cursar uma universidade, provavelmente 
Coimbra; quero-te para homem sério e não para arruador e gatuno. E como eu fizesse um gesto 
de espanto: — Gatuno, sim senhor; não é outra cousa um filho que me faz isto... 
(Machado de Assis, Memóri-as Póstumas de Brás Cubas) 
 
Texto II 
Ela deixou um bilhete, dizendo que ia sair fora 
Levou meu coração, alguns CDs e o meu livro mais da hora 
Mas eu não sei qual a razão, não entendi por que ela foi embora 
E eu fiquei pensando em como foi e qual vai ser agora 
 
É que pena, pra mim tava tão bom aqui 
Com a nega mais teimosa e a mais linda que eu já vi 
Dividindo o edredom e o filminho na TV 
Chocolate quente e meus olhar era só pro cê 
Mas cê não quis, eu era mó feliz e nem sabia 
Beijinho de caramelo que recheava meus dia 
(Luccas Carlos, Bilhete 2.0 [fragmento]. Em: https://www.letras.mus.br) 
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Na passagem do Texto I – Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada 
menos. –, o autor faz uma associação insólita entre as expressões destacadas, o que causa certa 
estranheza ao leitor. No Texto II, esse mesmo recurso está presente na passagem: 
a) “Levou meu coração, alguns CDs e o meu livro mais da hora”, reforçando que as perdas 
também recaíram em bens materiais. 
b) “Dividindo o edredom e o filminho na TV”, marcando a relação de conforto e de proximidade 
que inspirava um amor aparentemente inabalável. 
c) “E eu fiquei pensando em como foi e qual vai ser agora”, explicitando a sensação de 
desolação e confusão pela perda da mulher amada. 
d) “Ela deixou um bilhete, dizendo que ia sair fora”, mostrando também o rompimento 
amoroso do casal, assim como no romance. 
e) “Beijinho de caramelo que recheava meus dia”, sugerindo o sentimento do casal como algo 
doce que nem o rompimento será capaz de descaracterizar. 
Comentários: 
A alternativa A está correta. A passagem de Memórias Póstumas indicada retrata a impressão do 
narrador de que Marcela é uma mulher interesseira e que ela só ficou junto a ele enquanto isso 
representou uma vantagem financeira. Assim, o término não foi só emocional, como também 
material. Em “Levou meu coração, alguns CDs e o meu livro mais da hora” fica claro que o narrador, 
após o término de seu relacionamento, também sofreu algumas perdas materiais, pois a ex-
namorada levou, além do coração, CDs e um livro. 
A alternativa B está incorreta. Neste trecho vê-se que o relacionamento parecia bom, mas acabou, 
não que houve perda material. 
A alternativa C está incorreta. O sentimento de desemparo com o término tem a ver com o 
emocional, não com o material nesse trecho. 
A alternativa D está incorreta. Nesse trecho, vê-se como a amada terminou o relacionamento, de 
maneira prosaica, através de um bilhete, mas não indica perdas materiais. 
A alternativa E está incorreta. Esse trecho mostra o modo como ele encarava aquele relacionamento, 
não as perdas que ele teve. 
Gabarito: A 
 (UEG - 2019) 
Leia o poema e a tirinha a seguir. 
 
MAR PORTUGUÊS 
 
1 Ó mar salgado, quanto do teu sal 
2 São lágrimas de Portugal! 
3 Por te cruzarmos, quantas mães choraram, 
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4 Quantos filhos em vão rezaram! 
5 Quantas noivas ficaram por casar 
6 Para que fosses nosso, ó mar! 
 
7 Valeu a pena? Tudo vale a pena 
8 Se a alma não é pequena. 
9 Quem quer passar além do Bojador 
10 Tem que passar além da dor. 
11 Deus ao mar o perigo e o abismo deu, 
12 Mas nele é que espelhou o céu. 
PESSOA, Fernando. Mar Português. 
 In: Antologia Poética. Organização 
 Walmir Ayala. Rio de Janeiro: 
 Nova Fronteira, 2014. p. 15. 
 
 
Disponível em: <https://tirasdidaticas. 
 files.wordpress.com/2014/12/rato79. 
 jpg?w=640&h=215> Acesso 
 em: 13 nov. 2018. 
 
O sentido da tirinha é construído a partir da relação que estabelece com os famosos versos de 
Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena” (linhas 7-8). O modo como 
esses dois textos se relacionam é chamado de 
a) paráfrase 
b) linearidade 
c) metalinguagem 
d) intencionalidade 
e) intertextualidade 
Comentários: A tirinha e o poema se relacionam a partir da frase “tudo vale a pena se a alma não é 
pequena”, que é modificada a partir da similaridade de som. Outra relação entre os dois textos 
está na figura do rato, que se parece visualmente com o poeta Fernando Pessoa. Assim, pode-se 
dizer que ocorre uma intertextualidade entre os dois textos. A alternativa correta é alternativa E. 
Prof. Celina Gil 
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A alternativa A está incorreta, pois uma paráfrase seria reescrever o texto com outras palavras, e 
aqui há uma modificação de sentido nas reescritas. 
A alternativa B está incorreta, pois linearidade seria uma característica de continuidade, o que não 
aparece aqui. 
A alternativa C está incorreta, pois metalinguagem ocorre quando um texto fala sobre o próprio 
ato de escrever, o que não ocorre aqui. 
A alternativa D está incorreta, pois intencionalidade é o ato de fazer algo de maneira deliberada e 
isso não é o que justifica a relação entre os dois textos. 
Gabarito: E 
 (MACKENZIE – 2019) 
Soneto 
v.01 Um mancebo no jogo se descora, 
v.02 Outro bêbado passa noite e dia, 
v.03 Um tolo pela valsa viveria, 
v.04 Um passeia a cavalo, outro namora. 
 
v.05 Um outro que uma sina má devora 
v.06 Faz das vidas alheias zombaria, 
v.07 Outro toma rapé, um outro espia... 
v.08 Quantos moços perdidos vejo agora! 
 
v.09 Oh! Não proíbam pois ao meu retiro 
v.10 Do pensamento ao merencório luto 
v.11 A fumaça gentil por que suspiro. 
 
v.12 Numa fumaça o canto d´alma escuto... 
v.13 Um aroma balsâmico respiro, 
v.14 Oh! Deixai-me fumar o meu charuto! 
 
Mancebo: Rapaz 
Merencório: melancólico 
 
Assinale a alternativa correta. 
a) Os dois primeiros quartetos que compõem o soneto são marcados por uma aprofundada 
especulação filosófica. 
b) O eu lírico, no verso “Quantos moços perdidos vejo agora!”, se furta a fazer uma lamento 
moral sobre sua geração. 
c) Nos dois tercetos finais do poema, está explícita a ideia de que o eu lírico se recolhe da 
vida a fim de pensar namulher amada. 
Prof. Celina Gil 
Aula 09 – ENEM 2020 
 
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Aula 09 - Prosa, poesia e intertextualidade 
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d) Os versos foram compostos em um tom prosaico, imprimindo ao soneto um ar de crônica, 
perceptível em especial nos oito primeiros versos. 
e) Há no poema uma eletrizante positividade em relação às potencialidades da vida. 
Comentários: 
A alternativa A está incorreta, pois a primeira e a segunda estrofes são basicamente descritivas. 
A alternativa B está incorreta, pois o lamento do eu lírico não é sobre a sua própria geração e sim 
sobre a geração que veio depois, composta pelos mais jovens que ele. 
A alternativa C está incorreta, pois nos tercetos finais a fuga do eu lírico é fumar em paz. Não há 
menção da mulher amada. 
A alternativa D está correta, pois os versos se complementam, o que possibilita uma leitura linear e 
próxima da crônica. Especialmente nos primeiros versos parece uma narrativa sequencial devido à 
forma que o poema foi construído. 
A alternativa E está incorreta, pois o poema tem um tom pessimista e desesperançoso em relação à 
geração mais jovem. 
Gabarito: D 
Considerações finais 
Na próxima aula, veremos o texto jornalístico, ou gênero muito cobrado no ENEM. 
Qualquer dúvida estou à disposição no fórum, e-mail ou Instagram! 
 Até lá, pratique bastante com os exercícios desta aula, para chegar sem dúvidas na próxima 
aula! Qualquer dúvida estou à disposição no fórum ou Instagram! 
 
Prof.ª Celina Gil 
 /professora.celina.gil Professora Celina Gil @professoracelinagil 
 
 Versão Data Modificações 
1 28/04/2019 Primeira versão do texto.

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