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Livro Digital 
Aula 03 – Prosa, 
poesia e 
intertextualidade 
 
FUVEST – 2021 
 
 
 
 
Professora Celina Gil 
Prof. Celina Gil 
Aula 03 – FUVEST – 2021 
 
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Aula 03 - Prosa, poesia e intertextualidade 
www.estrategiavestibulares.com.br 
 
Sumário 
Apresentação .................................................................................................................................... 3 
1 – Prosa e Poesia .................................................................................................................. 3 
Prosa ................................................................................................................................................................................. 3 
Poesia................................................................................................................................................................................ 7 
2 - Intertextualidade............................................................................................................. 13 
Intertextualidade explícita .............................................................................................................................................. 13 
Intertextualidade implícita ............................................................................................................................................. 14 
2.1 – Citação .................................................................................................................................... 16 
Citação direta ................................................................................................................................................................. 16 
Citação indireta .............................................................................................................................................................. 16 
2.2 – Epígrafe .................................................................................................................................. 17 
2.3 – Paráfrase ................................................................................................................................ 18 
2.4 – Paródia ................................................................................................................................... 19 
3 – Exercícios ........................................................................................................................ 20 
5.1 – Lista de Questões .................................................................................................................... 21 
5.2 – Gabarito .................................................................................................................................. 50 
5.3 – Exercícios comentados ........................................................................................................... 51 
Considerações finais ............................................................................................................. 93 
 
 
Prof. Celina Gil 
Aula 03 – FUVEST – 2021 
 
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Aula 03 - Prosa, poesia e intertextualidade 
www.estrategiavestibulares.com.br 
 
Apresentação 
Caro aluno, 
Na aula de hoje, vamos nos debruçar sobre a interpretação do texto literário. 
Aula 03 – Prosa, poesia e intertextualidade - Prosa e Poesia 
- Comparação entre os gêneros textuais, verbais ou 
não; 
- Paródia, citação, paráfrase, epígrafe e hipertexto. 
 
Muitos dos conteúdos apresentados aqui são abordados de maneira mais profunda nas aulas 
de literatura. Nosso interesse aqui não é falar de literatura em si, mas sim de forma do texto 
literário. Vamos pensar sobre o que caracteriza um texto em prosa e um em poesia e suas principais 
formações. 
Além disso, vamos pensar sobre intertextualidade. É muito comum que o vestibular una 
textos de diferentes estilos e naturezas e peça que você relacione um com outro. Por isso, 
pensaremos nos diversos tipos de intertextualidade que podem ocorrer entre textos – inclusive os 
não literários. 
Vamos lá? 
1 – Prosa e Poesia 
 Pode-se dizer que uma obra literária pode ser interpretada segundo dois aspectos: forma e 
conteúdo. Quanto à forma, convém dividir os textos literários em prosa e poesia. 
Prosa 
 A prosa é o texto escrito em parágrafos. É um texto escrito sem necessariamente considerar 
divisões rítmicas ou sonoras. Ela pode ser dividida em dois grandes grupos: narrativa e 
demonstrativa. 
 
Prosa narrativa: textos históricos ou de ficção que se proponham a narrar fatos e acontecimentos. 
 Leia este trecho do conto “Pai contra mãe”, de Machado de Assis: 
“Cândido Neves, — em família, Candinho, — é a pessoa a quem se liga a história de uma 
fuga, cedeu à pobreza, quando adquiriu o ofício de pegar escravos fugidos. Tinha um 
defeito grave esse homem, não aguentava emprego nem ofício, carecia de estabilidade; 
é o que ele chamava caiporismo. Começou por querer aprender tipografia, mas viu cedo 
que era preciso algum tempo para compor bem, e ainda assim talvez não ganhasse o 
bastante; foi o que ele disse a si mesmo. O comércio chamou-lhe a atenção, era carreira 
Prof. Celina Gil 
Aula 03 – FUVEST – 2021 
 
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Aula 03 - Prosa, poesia e intertextualidade 
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boa. Com algum esforço entrou de caixeiro para um armarinho. A obrigação, porém, de 
atender e servir a todos feria-o na corda do orgulho, e ao cabo de cinco ou seis semanas 
estava na rua por sua vontade. Fiel de cartório, contínuo de uma repartição anexa ao 
Ministério do Império, carteiro e outros empregos foram deixados pouco depois de 
obtidos. 
Quando veio a paixão da moça Clara, não tinha ele mais que dívidas, ainda que poucas, 
porque morava com um primo, entalhador de ofício. Depois de várias tentativas para 
obter emprego, resolveu adotar o ofício do primo, de que aliás já tomara algumas lições. 
Não lhe custou apanhar outras, mas, querendo aprender depressa, aprendeu mal. Não 
fazia obras finas nem complicadas, apenas garras para sofás e relevos comuns para 
cadeiras. Queria ter em que trabalhar quando casasse, e o casamento não se demorou 
muito.” 
 
Prosa demonstrativa: textos ligados à oratória (como discursos) e didáticos (ensaios, tratados, 
diálogos, etc.). 
Leia este trecho do discurso proferido por Machado de Assis na ocasião da inauguração da estátua 
em homenagem a José de Alencar: 
“Hoje, senhores, assistimos ao início de outro monumento, este agora de vida, destinado 
a dar à cidade, à pátria e ao mundo a imagem daquele que um dia acompanhamos ao 
cemitério. Volveram anos; volveram coisas; mas a consciência humana diz-nos que, no 
meio das obras e dos tempos fugidios, subsiste a flor da poesia, ao passo que a 
consciência nacional nos mostra na pessoa do grande escritor o robusto e vivaz 
representante da literatura brasileira.“ 
 
 Na literatura, a preocupação está na prosa narrativa, de ficção. A chamada prosa literária é 
uma das mais importantes para o estudo dos vestibulares. Nela se encontram os contos, as novelas 
e os romances: 
 
 
Prosa literária
Conto: 
Histórias curtas, com apenas 
um conflito e poucas 
personagens. 
Novela:
Histórias de tamanho 
intermediário, com diversos 
conflitos que se seguem e 
muitas personagens. 
Romance:
História mais longa, com um 
conflito central e outros 
secundários que ocorrem em 
paralelo, complementando-
se. As personagens podem 
aparecer e desaparecer de 
acordo com a necessidade. 
Prof. Celina Gil 
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Aula 03 - Prosa, poesia e intertextualidade 
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 Por vezes, você pode encontrar o termo prosa poética. É um tipo de texto que apesar 
de ser organizado em parágrafos, tem maior cuidado com a sonoridade e o ritmo da 
escrita. Por isso, é chamado de poético. 
 Um expoente brasileiro da prosa poética é Guimarães Rosa. Sagarana é um de seus 
livros mais conhecidos e exigidosem muitos vestibulares. É um livro de contos. Que tal 
ler um deles para se acostumar com um ritmo de prosa diferente do comum? 
 
 Sobre o ritmo do texto em prosa, a principal questão a se analisar é a paragrafação. Cada tipo 
de texto pede um modo de organização de parágrafos. Em textos dissertativos, por exemplo, tende-
se a dividir os parágrafos por assuntos. Na prosa literária a organização não se dá necessariamente 
assim. Os autores trabalham a construção dos parágrafos de acordo com seu estilo pessoal e com o 
momento da narração. Pode-se dividir os parágrafos de acordo com seu tamanho ou conteúdo: 
 Tamanho: 
 
Curtos: 
Se focam apenas nas informações mais importantes, descritas de maneira sucinta. Textos infantis, 
por exemplo, costumam contar com esse tipo de parágrafo. 
Ex.: 
“André, o bom Andrezinho, menino querido e estimado por todos que o conheciam, achava-se 
desesperado, banhado em lágrimas, aflito, porque sabia que o seu extremoso pai estava nos 
paroxismos finais da vida” (Histórias da Avozinha, Figueiredo Pimentel) 
Médios: 
Apresenta as ideias com maior profundidade, sem cair na prolixidade. São compostos, 
normalmente, por mais de um período. É uma estrutura que prende mais facilmente a atenção 
do leitor. 
Ex.: 
“Isaura era filha de uma linda mulata, que fora por muito tempo a mucama favorita e a criada fiel 
da esposa do comendador. Este, que como homem libidinoso e sem escrúpulos olhava as escravas 
como um serralho à sua disposição, lançou olhos cobiçosos e ardentes de lascívia sobre a gentil 
mucama. Por muito tempo resistiu ela às suas brutais solicitações; mas por fim teve de ceder às 
ameaças e violências. Tão torpe e bárbaro procedimento não pôde por muito tempo ficar oculto 
aos olhos de sua virtuosa esposa, que com isso concebeu mortal desgosto.” (A escrava Isaura, 
Bernardo Guimarães). 
Longos: 
Alguns autores utilizam parágrafos longos para descrever minuciosamente alguma situação ou 
personagem. Outros autores formam períodos muito longos, com muitos conectivos, como 
escolha estética, podendo assumir diversos significados. 
Neste exemplo, o parágrafo é tão extenso que chega a ser o capítulo como um todo. 
Ex.: 
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“Quando o testamento foi aberto, Rubião quase caiu para trás. Adivinhais por quê. Era nomeado 
herdeiro universal do testador. Não cinco, nem dez, nem vinte contos, mas tudo, o capital inteiro, 
especificados os bens, casas na Corte, uma em Barbacena, escravos, apólices, ações do Banco do 
Brasil e de outras instituições, joias, dinheiro amoedado, livros, — tudo finalmente passava às 
mãos do Rubião, sem desvios, sem deixas a nenhuma pessoa, nem esmolas, nem dívidas. Uma só 
condição havia no testamento, a de guardar o herdeiro consigo o seu pobre cachorro Quincas 
Borba, nome que lhe deu por motivo da grande afeição que lhe tinha. Exigia do dito Rubião que o 
tratasse como se fosse a ele próprio testador, nada poupando em seu benefício, resguardando-o 
de moléstias, de fugas, de roubo ou de morte que lhe quisessem dar por maldade; cuidar 
finalmente como se cão não fosse, mas pessoa humana. Item, impunha-lhe a condição, quando 
morresse o cachorro, de lhe dar sepultura decente em terreno próprio, que cobriria de flores e 
plantas cheirosas; e mais desenterraria os ossos do dito cachorro, quando fosse tempo idôneo, e 
os recolheria a uma urna de madeira preciosa para depositá-los no lugar mais honrado da casa.” 
(Quincas Borba, Machado de Assis) 
 
 Conteúdo: 
Descritivos: Parágrafos com muitos adjetivos, cujo objetivo é detalhar algum personagem, local 
ou situação. 
Ex.: 
“É uma sala em quadro, toda ela de uma alvura deslumbrante, que realçavam o azul celeste do 
tapete de riço recamado de estrelas e a bela cor de ouro das cortinas e do estofo dos móveis. A 
um lado duas estatuetas de bronze dourado representando o amor e a castidade, sustentam uma 
cúpula oval de forma ligeira, donde se desdobram até o pavimento, bambolins de cassa finíssima.” 
(Senhora, José de Alencar) 
Dissertativos: Parágrafos que apresentam ideias e as defendem por meio de argumentos. 
Ex.: 
“Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar 
a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de 
uma é a condição da sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e 
comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas 
tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire 
forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se 
as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e 
morrem de inanição. A paz nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos 
extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, 
recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais 
demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o 
que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma 
ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.” 
(Quincas Borba, Machado de Assis) 
Narrativos: Parágrafos que efetivamente contam as ações das personagens e suas repercussões 
na história. 
Ex.: 
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“A coisa se deu assim. Depois do meu telegrama (lembram-se: o telegrama em que recusei 
duzentos mil-réis àquele pirata), a Gazeta entrou a difamar-me. A princípio foram mofinas cheias 
de rodeios, com muito vinagre, em seguida o ataque tornou-se claro e saíram dois artigos furiosos 
em que o nome mais doce que o Brito me chamava era assassino. Quando li essa infâmia, armei-
me de um rebenque e desci à cidade.” (São Bernardo, Graciliano Ramos) 
Poesia 
 Antes de entrar na estrutura da poesia em si, vamos observar os gêneros literários em que se 
divide a poesia. 
Gêneros 
 Os gêneros poéticos, também chamados de gêneros literários são divididos em três, de 
acordo com suas estruturas formais e de conteúdo: lírica, épica e dramática. 
 
 
 
 
• Poemas que falam sobre os sentimentos e estados de espírito, direcionados 
diretamente ao leitor. 
• As emoções e opiniões do eu-lírico são bastante evidentes. 
• Engloba a poesia satírica, ou seja, aquela que promove sentimentos de 
escárnio. 
Gênero lírico
• Poemas em que são narrados grandes feitos heroicos, reais ou mitológicos. 
• Os relatos são grandiosos e extensos, contando com muitas estrofes.
• Ilíada e Odisseia (Homero) e Os Lusíadas (Luís de Camões) são os poemas 
épicos mais conhecidos. 
Gênero épico
• Na poesia dramática não há a figura de um narrador, ou seja, as personagens 
são responsáveis por contar a própria história.
• Pode apresentar traços tanto épicos quanto líricos em seu conteúdo, porém 
sua característica mais marcante é não ter narrador.
• É percursora do texto teatral. 
Gênero dramático
Esta divisão foi cunhada em um período da 
história em que a poesia era a forma literária 
mais popular. Hoje em dia, pode-se 
considerar que texto em prosa também 
podem se enquadrar nessas categorias. 
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Aula 03 - Prosa, poesia e intertextualidade 
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 A poesia é um texto estruturado em versos, ou seja, em linhas encadeadas normalmente de 
tamanho pequeno. A poesia se preocupa a estética, combinando sons e significados das palavras 
com organizações sintáticas não necessariamente preocupadas com a norma culta. Quanto à poesia, 
para interpretá-la é preciso prestar a atençãoem: estrutura, métrica, composições e gêneros. 
 
Estrutura da poesia 
 Vamos partir do poema “Mar Português”, de Fernando Pessoa: 
Ó mar salgado, quanto do teu sal 
São lágrimas de Portugal! 
Por te cruzarmos, quantas mães choraram, 
Quantos filhos em vão rezaram! 
Quantas noivas ficaram por casar 
Para que fosses nosso, ó mar! 
 
Valeu a pena? Tudo vale a pena 
Se a alma não é pequena. 
Quem quer passar além do Bojador 
Tem que passar além da dor. 
Deus ao mar o perigo e o abismo deu, 
Mas nele é que espelhou o céu. 
 
Estes são os elementos básicos de um poema: 
 Verso: cada uma das linhas do poema. Pode ter regularidade de tamanho ou não. 
“Ó mar salgado, quanto do teu sal” 
 
 Estrofe: conjunto de versos, que pode se estruturar de maneira regular ou não. Cada linha 
pulada no poema representa uma mudança de estrofe 
“Ó mar salgado, quanto do teu sal 
São lágrimas de Portugal! 
Por te cruzarmos, quantas mães choraram, 
Quantos filhos em vão rezaram! 
Quantas noivas ficaram por casar 
Para que fosses nosso, ó mar!” 
 
 Rima: repetição fonética que ocorre em um intervalo. Identifica-se, principalmente, pelo som 
das últimas palavras dos versos. 
“Valeu a pena? Tudo vale a pena 
Se a alma não é pequena. 
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Quem quer passar além do Bojador 
Tem que passar além da dor. 
Deus ao mar o perigo e o abismo deu, 
Mas nele é que espelhou o céu.” 
ATENÇÃO: os esquemas de rimas costumam ser representados por letras, em que cada letra 
corresponde a um som. Assim, na estrofe transcrita acima, o esquema de rimas seria AABBCC, em 
que A = “ena”, B = “dor” e C = “eu”. 
 
 Eu lírico ou voz lírica ou sujeito lírico: a pessoa que se expressa no poema. Não confunda 
com o próprio poeta. Enquanto artista, um poeta pode falar sobre diversos assuntos e com 
diversos pontos de vista. Veja, por exemplo, dois poemas de heterônimos* de Fernando 
Pessoa: 
Álvaro de Campos 
 
“Acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do 
 [que as outras, 
Acordar da Rua do Ouro, 
Acordar do Rocio, às portas dos cafés, 
Acordar 
E no meio de tudo a gare, que nunca dorme, 
Como um coração que tem que pulsar através 
 [da vigília e do sono.” 
Alberto Caeiro 
 
“O meu olhar azul como o céu 
É calmo como a água ao sol. 
É assim, azul e calmo, 
Porque não interroga nem se espanta” 
*heterônimos: são autores fictícios, com personalidade e estilo próprios. Um mesmo poeta pode 
assumir diferentes personalidades e ter diversos heterônimos e cada um escrever de uma maneira. 
 
 Percebe-se aqui que quando assume a postura de Álvaro de Campos, o poeta escreve sobre 
a cidade, a velocidade e as questões da vida urbana. Quando escreve como Alberto Caeiro, fala sobre 
o campo, a natureza e a paz do campo. Apesar de ser o mesmo autor, o sujeito lírico de cada um 
dos poemas é diferente. 
 
Métrica 
 A métrica de um poema se dá pelo número de sílabas de um verso. Conta-se as sílabas até a 
última sílaba tônica, ou seja, a sílaba forte da última palavra do verso. Isso ocorre porque o que dá 
ritmo a um texto poético é o som das sílabas tônicas. 
Observe o exemplo: 
“Amor é fogo que arde sem se ver, 
é ferida que dói, e não se sente;” (Luís de Camões) 
 
A/ mor / é / fo/ go /que ar/ de / sem / se / ver, 
é / fe/ ri/ da / que / dói,/ e /não /se /sente; 
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 Esse trecho do poema de Camões mostra versos de dez sílabas. No segundo verso, percebe-
se que na palavra “sente”, “sen” é a sílaba tônica. Portanto, a contagem de sílabas vai até esse ponto. 
 Além disso, você reparou esse sinal no primeiro verso: ? 
 Esse sinal indica a elisão. Ela ocorre quando duas sílabas têm sons próximo e, quando lidas, 
acabam parecendo ser um só. Leia o primeiro verso em voz alta. O “que arde” acaba sendo lido 
“quiarde”, assim mesmo, tudo junto. Por isso, “que ar” conta como uma sílaba só. 
 
 
 Perceba a diferença de tamanho dos versos a partir do quadro abaixo: 
 
PRINCIPAIS MÉTRICAS EXEMPLOS 
Redondilha menor: 
verso de 5 sílabas 
poéticas 
“Não chores, meu filho; 
Não chores, que a vida 
É luta renhida: 
Viver é lutar. 
A vida é combate, 
Que os fracos abate, 
Que os fortes, os bravos 
Só pode exaltar.” 
(Gonçalves Dias) 
Redondilha maior: 
verso de 7 sílabas 
poéticas 
“Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá; 
As aves, que aqui gorjeiam, 
Não gorjeiam como lá.” 
(Gonçalves Dias) 
Decassílabo: verso com 
10 sílabas poéticas 
“Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro! 
Não levo da existência uma saudade! 
E tanta vida que meu peito enchia 
Morreu na minha triste mocidade!” 
(Álvares de Azevedo) 
Verso alexandrino ou 
dodecassílabo: verso 
com 12 sílabas 
poéticas. 
 
“Quando, em prônubo anseio, a abelha as asas solta 
E escala o espaço, — ardendo, exul do corcho céreo, 
Louca, se precipita a sussurrante escolta 
Dos noivos zonzos, voando ao nupcial mistério.” 
(Olavo Bilac) 
 
Veja um verso embaixo do outro para perceber a diferença de tamanho entre eles: 
5 sílabas: Não / cho/ res, / meu /filho 
7 sílabas: Mi/ nha / te/ rra /tem /pal/meiras 
10 sílabas: A/ deus,/ meus/ so/nhos,/ eu / pran/te/io e / morro! 
12 sílabas: Quan/ do, em / prô/ nu/bo na/se/io, a/ be/ lha as / a/ sas / solta 
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Quando os versos não são regulares, eles podem ser entendidos de duas maneiras: 
 Versos livres: versos sem métrica. 
“Começo a conhecer-me. Não existo. 
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram, 
Ou metade desse intervalo, porque também há vida… 
Sou isso, enfim…” 
(Álvaro de Campos) 
 Versos brancos: versos sem rimas. 
 “Da minha aldeia veio quanto da terra se pode ver no Universo... 
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer 
Porque eu sou do tamanho do que vejo 
E não, do tamanho da minha altura...” 
(Alberto Caeiro) 
 
Composições 
 A composição é a organização regular de um poema de acordo com o número de versos por 
estrofe. Apesar de haver inúmeras possibilidades de composição de um poema, estas são as 
principais formas para o estudo dos vestibulares: 
 Quadrilha ou quadra: poema formado por estrofes de quatro versos de sete sílabas cada 
uma. 
Por quem foi que me trocaram 
Por quem foi que me trocara 
Quando estava a olhar pra ti? 
Pousa a tua mão na minha 
E, sem me olhares, sorri. 
 
Sorri do teu pensamento 
Porque eu só quero pensar 
Que é de mim que ele está feito 
E que o tens para mo dar. 
 
Depois aperta-me a mão 
E vira os olhos a mim... 
Por quem foi que me trocaram 
Quando estás a olhar-me assim? 
(Fernando Pessoa) 
 
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 Soneto: poema de 14 versos, organizados em quatro estrofes. As duas primeira estrofes são 
quartetos (4 versos por estrofe) e as duas últimas estrofes são tercetos (três versos por 
estrofe). 
 
Pálida à luz da lâmpada sombria, 
sobre o leito de flores reclinada, 
como a lua por noite embalsamada, 
entre as nuvens do amor ela dormia! 
 
Era a virgem do mar, na escuma fria 
pela maré das águas embalada! 
Era um anjo entre nuvens d’alvorada 
que em sonhos se banhava e se esquecia! 
 
Era mais bela! O seio palpitando... 
Negros olhos as pálpebras abrindo... 
Formas nuas no leito resvalando... 
 
Não te rias de mim, meu anjo lindo! 
Por ti – as noites eu velei chorando, 
por ti – nos sonhos morrerei sorrindo! 
(Álvares de Azevedo) 
 
 
 Haicai: poema de três versos em que o 1º verso possui 5 sílabas poéticas, o 2º verso possui 7 
sílabas poéticas e o 3º verso possui 5 sílabas poéticas. 
 
O PoetaCaçador de estrelas. 
Chorou: seu olhar voltou 
com tantas! Vem vê-las! 
 
(Guilherme de Almeida) 
 
 
 
 
 
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2 - Intertextualidade 
 Entende-se por intertextualidade a relação entre dois ou mais textos, entendendo qual a 
natureza dessa relação. Algumas vezes a intertextualidade é mais evidente outras não. Pode 
também aparecer entre textos de diferentes naturezas, verbais e visuais. 
 Veja alguns exemplos para compreender melhor a ideia: 
Intertextualidade explícita 
 Observe essa imagem: 
 
 
 Ela faz referência explícita à famosa capa do álbum Abbey Road (1969), dos Beatles. Essa 
fotografia já foi recriada por diversos artistas e com diversos personagens. Aqui, colocamos alguns 
autores de língua portuguesa no lugar dos integrantes da banda. Temos, da esquerda para a direita, 
Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade. 
 
 
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Intertextualidade implícita 
 Observe a comparação entre esses dois poemas: 
Com licença poética 
(Adélia Prado) 
 
Quando nasci um anjo esbelto, 
desses que tocam trombeta, anunciou: 
vai carregar bandeira. 
Cargo muito pesado pra mulher, 
esta espécie ainda envergonhada. 
Aceito os subterfúgios que me cabem, 
sem precisar mentir. 
Não tão feia que não possa casar, 
acho o Rio de Janeiro uma beleza e 
ora sim, ora não, creio em parto sem dor. 
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina. 
Inauguro linhagens, fundo reinos 
— dor não é amargura. 
Minha tristeza não tem pedigree, 
já a minha vontade de alegria, 
sua raiz vai ao meu mil avô. 
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem. 
 
Mulher é desdobrável. Eu sou. 
Poema de Sete Faces 
(Carlos Drummond de Andrade) 
 
Quando nasci, um anjo torto 
Desses que vivem na sombra 
Disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida 
 
As casas espiam os homens 
Que correm atrás de mulheres 
A tarde talvez fosse azul 
Não houvesse tantos desejos 
 
O bonde passa cheio de pernas 
Pernas brancas pretas amarelas 
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu 
coração 
Porém meus olhos 
Não perguntam nada 
 
(...) 
 
 Perceba que, nesse caso, a referência é implícita, ou seja, depende de uma interpretação 
mais aprofundada para ser compreendida. Depende também de maior conhecimento por parte do 
leitor. Caso não conhecesse o poema de Drummond, o leitor poderia não compreender essa 
referência. 
 
Muitas vezes você encontrará as palavras alusão ou referência para se referir à ideia de 
intertextualidade. 
 
Lembre-se: 
Alusão: menção rápida ou vaga. 
Referência: menção ou ato de se reportar a algo. 
 
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 Muitas vezes, o mesmo autor pode produzir textos que trabalham com a intertextualidade. 
Um dos autores brasileiros que mais profundamente realiza esse diálogo entre obras de sua própria 
autoria é Machado de Assis. Em nossa aula, usaremos muitos exemplos do autor. 
 Veja esse trecho da obra Quincas Borba (1892): 
 
 
 
 
 
 
 
Memórias póstumas de Brás Cubas foi lançado em 1881. Ele 
reaproveita a personagem que dará nome ao romance de Quincas 
Borba, o filósofo. Isso atesta um procedimento comum em Machado de 
Assis: a intertextualidade com a própria obra. Sua intertextualidade 
tem muitas vezes a função de humilhar o leitor, de mostrar a ele o quão 
despreparado ele pode ser. 
No trecho acima, a ironia de Machado de Assis fica evidente: ele 
duvida que o leitor possa ter lido sua obra anterior e trata como se a 
leitura da obra anterior fosse um favor que o leitor faz a ele. 
 
 No audiovisual, é comum aparecer a intertextualidade de outros modos! Veja como: 
Crossover 
Quando personagens de séries ou filmes diferentes interagem entre si em uma obra 
específica. É uma produção pontual. 
Ex.: O filme Batman vs Superman - a origem da justiça se inspira em diversas revistas para 
criar o encontro entre os dois super-heróis. É diferente da Liga da Justiça, por exemplo, 
que apesar de unir vários heróis, é uma série de quadrinhos, não um especial. 
Spin off 
É uma obra derivada de outra. Costuma se concentrar especificamente em um 
personagem ou situação e se aprofundar nele. 
Ex.: As personagens dos Minions, do filme Meu malvado favorito, fizeram muito sucesso. 
Por isso, eles ganharam uma série de filmes só deles. 
[CAPÍTULO IV] 
ESTE QUINCAS BORBA, se acaso me fizeste o favor de ler as Memórias 
Póstumas de Brás Cubas, é aquele mesmo náufrago da existência, que 
ali aparece, mendigo, herdeiro inopinado, e inventor de uma filosofia. 
Aqui o tens agora em Barbacena. Logo que chegou, enamorou-se de 
uma viúva, senhora de condição mediana e parcos meios de vida, mas, 
tão acanhada que os suspiros no namorado ficavam sem eco. 
Chamava-se Maria da Piedade. Um irmão dela, que é o presente 
Rubião, fez todo o possível para casá-los. Piedade resistiu, um pleuris 
a levou. 
 
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2.1 – Citação 
 Um dos tipos de intertextualidade possíveis é a citação. A citação é o ato de referenciar a fala 
de outra pessoa. Ela pode ocorrer tanto de maneira direta quanto indireta. 
Citação direta 
 Ocorre quando o autor coloca as palavras de outro autor em seu texto assim como elas foram 
escritas e referencia a origem da citação. 
Ex.: 
 
 
 
 
 
 
Citação indireta 
 Ocorre quando o autor cita as palavras de outro autor, reescrevendo o texto original ou 
apenas citando as palavras sem referenciar a origem. 
Ex.: 
 
 
 
 
Essa canção é popularmente conhecida na França. Ela faz referência à personagem irmã Anne, 
do conto A Barba Azul, de Charles Perrault. O conto fala sobre um homem muito rico que, no 
entanto, por possuir uma barba azul, era desprezado pelas moças. Ele vivia em um palácio suntuoso, 
com tapeçarias, ouro, prata e espelhos diversos, capazes inclusive de distorcer a imagem de quem 
se vê neles. 
Anne é a irmã da mulher que acaba tendo que se casar com Barba Azul. Ela é uma irmã boa – 
diferente de muitas dos contos de fadas. Essa fala – que em português significa “Irmã Anne, irmã 
Anne, você não vê ninguém chegar?” – é proferida pela irmã quando precisa de ajuda, pois Barba 
CAPÍTULO XLVII 
Talvez o Rio de Janeiro para ela fosse Botafogo, e propriamente a casa 
de Natividade. O pai não apurou as causas da recusa; supô-las políticas, 
e achou novas forças para resistir às tentações de D. Cláudia: "Vai-te, 
Satanás; porque escrito está: Ao Senhor teu Deus adorarás, e a ele 
servirás". E seguiu-se como na Escritura: "Então o deixou o Diabo; e eis 
que chegaram os anjos e o serviram". 
(Esaú e Jacó, Machado de Assis) 
(...) Eu saía fora, a um lado e outro, a ver se descobria algum sinal de 
regresso. Soeur Anne, soeur Anne, ne vois-tu rien venir? Nada, coisa 
nenhuma; tal qual como na lenda francesa. Nada mais do que a poeira 
da estrada e o capinzal dos morros. 
(O espelho, Machado de Assis) 
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Azul está ameaçando matá-la. Anne fica no alto de uma torre, esperando ajuda e, de quando em 
quando, sua irmã a pergunta isso. 
O conto “O espelho”, de Machado de Assis, fala sobre um homem que, ao se encontrar 
sozinho em uma casa distanciada da sociedade, passa a questionar sua própria identidade, não 
sendo mais capaz de se reconhecer. No momento em que está ansiando pela chegada de alguém na 
casa, a personagem faz essa citação. 
2.2 – Epígrafe 
 Uma epígrafe é frase que vem no início de um livro, um capítulo, um conto etc.. Ela funcionacomo um tema do texto, ou seja, resume o sentido ou mensagem da obra como um todo. São 
citações diretas de outros autores. 
Ex.: 
 
 
 
 
 
 
 
 No início do conto “A hora e a vez de Augusto Matraga”, de Guimarães Rosa, há duas 
epígrafes: um trecho de uma canção antiga e um provérbio capiau*. Perceba que nenhum desses 
textos possui autor conhecido. São fruto de conhecimentos populares, sem autoria definida. Isso é 
um traço muito comum desse autor: o uso de referências ligadas ao popular. 
*capiau: regionalismo que significa caipira ou roceiro, muitas vezes 
com sentido pejorativo. 
 
 O conto relata a história de Nhô Augusto, um 
homem que vivia uma vida mundana, com bebida, brigas e 
saideiras. Ele era casado com Dona Dionóra, mas a traía de 
maneira contumaz. Cansada do tratamento que recebia, 
Dona Dionóra foge junto com a filha e encontra um novo 
companheiro. Essa passagem possivelmente se relaciona 
com a cantiga antiga utilizada como epígrafe do conto em 
que uma voz poética feminina anuncia sua partida. 
“Eu sou pobre, pobre, pobre, 
 vou-me embora, vou-me embora 
................................. 
Eu sou rica, rica, rica, vou-me embora, daqui!...” 
(Cantiga antiga) 
 
“Sapo não pula por boniteza, 
 mas porém por precisão.” 
(Provérbio capiau) 
(A hora e a vez de Augusto Matraga, Guimarães Rosa) 
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Já o provérbio capiau, pode ser interpretado à luz das mudanças de comportamento de Nhô 
Augusto. O sapo não pula porque é bonito, mas sim porque é necessário. Nhô Augusto, da mesma 
forma, não muda seu comportamento e se torna um homem virtuoso simplesmente porque era 
“bonito”, mas sim por necessidade: sua postura era uma das principais causas de suas adversidades. 
2.3 – Paráfrase 
 A paráfrase é uma reescrita do texto. Ocorre quando um autor reescreve, com suas próprias 
palavras, o texto de outro, mantendo o sentido original. Veja um exemplo a partir de um dos textos 
de apoio da redação da UNESP (2019): 
Texto Original Paráfrase 
Comprar por impulso e se livrar de bens que já 
não são atraentes, substituindo-os por outros 
mais vistosos, são nossas emoções mais 
estimulantes. Completude de consumidor 
significa completude na vida. 
(Zygmunt Bauman. A riqueza de poucos beneficia todos 
nós?, 2015. Adaptado.) 
Ser completo enquanto consumidor significa ser 
completo na vida. As sensações que mais nos 
estimulam vêm da compra por impulso e de 
livrar-nos de coisas menos atrativas, trocando-
as por outras mais interessantes. 
 
Observe as possíveis estratégias utilizadas aqui para criar a paráfrase: 
 Inversão da ordem das informações – inverter os períodos ou a ordem das orações ajuda a 
diferenciar os textos. 
 Sinônimos – trocar palavras por outras de sentido equivalente é um modo de reescrever sem 
perder o sentido original. Ex.: “atraente” é substituído por “atrativas” na paráfrase. Termos 
genéricos (como a palavra “interessante” que utilizamos na nossa paráfrase, por exemplo) 
também funcionam. 
 Troca de classes gramaticais – muitas vezes, o mesmo radical pode dar origem a palavras de 
diferentes classes gramaticais. O radical “estimul-“, por exemplo, gera as palavras 
“estimulantes” e “estimulam”, respectivamente, adjetivo e verbo. Veremos mais sobre 
estrutura e classes de palavra na nossa aula 04 de Gramática e Interpretação de Texto! 
 
 
 
Apenas mudar a ordem dos termos do texto não configura paráfrase. 
Você precisa reescrever com suas próprias palavras e, se for utilizar algo do texto 
original, cite o autor. 
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2.4 – Paródia 
Uma paródia acontece quando se faz uma releitura de uma obra, ou seja, uma 
reinterpretação de algo que já existe. Ela costuma assumir tom jocoso ou irônico e, frequentemente, 
parte de uma obra muito conhecida, de modo que a referência é rapidamente reconhecida. 
Veja esse poema consagrado de Gonçalves Dias. É seu poema mais conhecido de exaltação à 
pátria. Como muitos escritores que se encontravam longe do Brasil, sua terra natal se mostrava um 
espaço idealizado pela saudade. 
Canção do Exílio 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá; 
As aves, que aqui gorjeiam, 
Não gorjeiam como lá. 
 
Nosso céu tem mais estrelas, 
Nossas várzeas têm mais flores, 
Nossos bosques têm mais vida, 
Nossa vida mais amores. 
 
Em cismar – sozinho – à noite – 
Mais prazer encontro eu lá; 
Minha terra tem palmeiras; 
Onde canta o Sabiá. 
 
Minha terra tem primores, 
Que tais não encontro eu cá; 
Em cismar – sozinho – à noite – 
Mais prazer encontro eu lá; 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá. 
 
Não permita Deus que eu morra, 
Sem que eu volte para lá; 
Sem que eu desfrute os primores 
Que não encontro por cá; 
Sem qu'inda aviste as palmeiras, 
Onde canta o Sabiá. 
 
 Esse poema será revisitado muitas vezes ao longo do tempo, por diversos autores. 
Principalmente para os Modernistas, a primeira geração do Romantismo será fonte de inspiração. 
Veja trechos de diversas obras inspiradas na Canção do Exílio: 
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“ 
Minha terra tem macieiras da 
Califórnia 
onde cantam gaturamos de 
Veneza. 
” 
Murilo Mendes em Canção do 
Exílio 
“ 
Minha terra tem palmares 
Onde gorjeia o mar 
Os passarinhos daqui 
Não cantam como os de lá 
” 
Oswald de Andrade em Canto 
de Regresso à Pátria 
“ 
Minha terra não tem palmeiras... 
E em vez de um mero sabiá, 
Cantam aves invisíveis 
Nas palmeiras que não há. 
” 
Mario Quintana em Uma canção 
 
 
 Você sabia que lembrar desse poema pode te ajudar a guardar uma fórmula 
matemática? Leia a fórmula do Seno do arco soma A + B (𝑠𝑒𝑛(𝐴 + 𝐵) = 𝑠𝑒𝑛 𝐴 ∙ 𝑐𝑜𝑠 𝐵 +
𝑠𝑒𝑛 𝐵 ∙ 𝑐𝑜𝑠 𝐴 ) no ritmo da primeira estrofe do poema: 
 
Minha terra tem palmeiras 
Onde canta o sabiá 
seno A cosseno B 
seno B cosseno A 
O sinal que vai aqui 
É o mesmo que vai pra lá 
 
Obs.: o mesmo vale para a fórmula de subtração. 
3 – Exercícios 
 Antes de começar nossas questões, alguns avisos: 
 Há aqui exercícios de interpretação de texto, tanto em prosa quanto em poesia. Você deve 
se habituar a compreender textos em qualquer uma faz circunstâncias. 
 Há também questões interdisciplinares, que envolvem conhecimentos de outras disciplinas. 
Elas foram respondidas em conjunto com os professores das respectivas disciplinas. 
 
Vamos lá? 
 
 
 
 
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5.1 – Lista de Questões 
Texto para as questões 1 a 4 
Diáspora 
 
1Acalmou a tormenta 
Pereceram 
Os que a estes mares ontem se 
arriscaram 
E vivem os que por um amor tremeram 
5E dos céus os destinos esperaram 
 
Atravessamos o mar Egeu 
O barco cheio de fariseus 
Como os cubanos, sírios, ciganos 
Como romanos sem Coliseu 
10Atravessamos pro outro lado 
No Rio Vermelho do mar sagrado 
Os Center shoppings superlotados 
De retirantes refugiados 
 
You, where are you? 
15Where are you? 
Where are you? 
 
Onde está 
Meu irmão 
Sem Irmã 
20O meu filho sem pai 
Minha mãe 
Sem avó 
 
 
 
Dando a mão pra ninguém 
Sem lugar 
25Pra ficar 
Os meninos sem paz 
Onde estás 
Meu senhor 
Onde estás? 
30Onde estás? 
 
Deus 
Ó Deus onde estás 
Que não respondes 
Em que mundo 
35Em qu’estrela 
Tu t’escondes 
Embuçado nos céus 
Há dois mil anos te mandei meu grito 
Que embalde desde então corre o infinito 
40Onde estás, Senhor Deus 
 
ANTUNES, Arnaldo; BROWN, Carlinhos; MONTE, Marisa. 
Diáspora. In: Tribalistas. Rio de Janeiro: Phonomotor 
Records Universal Music, 2017. Disponível em: 
https://www.letras.mus.br/tribalistas/diaspora/. Acesso em: 08 
de set. de 2019.(UECE – 2020) 
É objetivo da letra da canção Diáspora 
A) denunciar a saga dos refugiados ao longo da história da humanidade. 
B) narrar a travessia dos mares por um grupo de turistas. 
C) descrever situações degradantes das travessias marítimas por turistas. 
D) apresentar a separação entre familiares de refugiados por motivos religiosos. 
 
 
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 (UECE – 2020) 
Observe a seguinte definição de diáspora, publicada em FERREIRA, A. B. H. Dicionário Aurélio 
escolar da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1988, p. 220: “Sf 1. A 
dispersão dos judeus no decorrer dos séculos. 2. P. ext. Dispersão de povos, por motivos políticos 
ou religiosos, em virtude de perseguição de grupos dominadores intolerantes”. Considerando a 
referida definição e a letra da canção, atente para as seguintes afirmações: 
I. A história narrada centra-se em questões religiosas, elegendo o mar Egeu como local de 
acontecimento para a separação dos povos. 
II. A história narrada vai além do texto bíblico para a compreensão do drama dos refugiados, a 
partir de diversas questões políticas e/ou religiosas. 
III. A questão dos refugiados é abordada a partir da inserção de outros lugares que, na 
contemporaneidade, também têm problemas políticos e/ou religiosos. 
 
Estão corretas as assertivas contidas em 
A) I e II apenas. 
B) I e III apenas. 
C) II e III apenas. 
D) I, II e III 
 
 (UECE – 2020) 
O fato de os autores da letra da canção Diáspora utilizarem o verbo em primeira pessoa do plural, 
na expressão “Atravessamos o mar Egeu” (linha 6), indica intenção de 
A) engajar o ouvinte/leitor na problemática dos refugiados. 
B) demarcar diferentes povos de diferentes lugares. 
C) naturalizar as experiências de sofrimento dos refugiados. 
D) acentuar o abandono de crianças retiradas de suas famílias. 
 
 (UECE - 2020) 
A textualidade marca-se por diversos fatores que se integram, a fim de instituir sentido ao conjunto 
de enunciados, transformando-os em um texto. Assim, na letra da canção Diáspora, há 
I. intertextualidade, porque podemos depreender a presença de outros textos, por exemplo, 
textos bíblicos (linhas 6-7; 10-11) e o poema Vozes d’África, de Castro Alves (linhas 31-40). 
II. coerência, porque há uma lógica interna no texto quando os autores relacionam a dispersão 
do povo judeu à saga dos imigrantes. 
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III. informatividade, porque as informações apresentam dados novos para a atualização da 
questão dada, a partir de um tema já apresentado inicialmente. 
Estão corretas as complementações contidas em 
A) I e II apenas. 
B) I e III apenas. 
C) II e III apenas. 
D) I, II e III. 
 
 (UNICAMP – 2020) 
Texto I 
Os idiomas e suas regras são coisas vivas, que vão se modificando de maneira dinâmica, de acordo 
com o momento em que a sociedade vive. Um exemplo disso é a adoção do termo “maratonar”, 
quando os telespectadores podem assistir a vários ou a todos os episódios de uma série de uma 
só vez. Contudo, ao que parece, a plataforma Netflix não quer mais estar associada à “maratona” 
de séries. A maior razão seria a tendência atual que as gigantes da tecnologia têm seguido para 
evitar o consumo excessivo e melhorar a saúde dos usuários. 
(Adaptado de Claudio Yuge, “Você notou? Netflix parece estar evitando o termo ‘maratonar’.” 
Disponível em https://www.tecmundo.com.br/ internet/133690-voce-notou-net flix-pareceevitando-
termo-maratonar.htm. Acessado em 01/06/2019.) 
 
Embora os dois textos tratem do termo “maratonar” a partir de perspectivas distintas, é possível 
afirmar que o Texto II retoma aspectos apresentados no Texto I porque 
a) esclarece o significado do neologismo “maratonar” como esforço físico exaustivo, derivado de 
“maratona”. 
b) deprecia a definição de “maratona” como ação contínua de superação de dificuldades e melhoria 
da saúde. 
c) reflete sobre o impacto que a falta de exercícios físicos e a permanência em casa provocam na 
saúde. 
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d) menospreza o uso do termo “maratonar” relacionado a um estilo de vida sedentário, antagônico 
a maratona. 
 
 (UNICAMP – 2020) 
Texto I 
Leia os versos iniciais da peça Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come (1966), de Oduvaldo 
Vianna Filho e Ferreira Gullar. Em formato de cordel, os versos são cantados por todos os atores. 
Se corres, bicho te pega, amô. 
Se ficas, ele te come. 
Ai, que bicho será esse, amô? 
Que tem braço e pé de homem? 
Com a mão direita ele rouba, amô, 
e com a esquerda ele entrega; 
janeiro te dá trabalho, amô, 
dezembro te desemprega; 
de dia ele grita "avante”, amô, 
de noite ele diz: "não vá": 
Será esse bicho um homem, amô, 
ou muitos homens será? 
(Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar, Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Rio 
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 3.) 
 
Texto II 
Observe a charge de Laerte que fez parte da mostra Maio na Paulista, em 2019. 
 
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Considerando a relação entre os textos I e II, conclui-se que a charge 
a) resgata a temática do cordel, rompendo com o impasse vivido pelos personagens. 
b) reafirma o dilema dos personagens da peça, parafraseando os versos iniciais do cordel. 
c) evidencia a tradição popular nordestina, utilizando a imagem para sofisticar os versos. 
d) confirma a força transformadora da versificação popular, reproduzindo-a em imagens. 
 
 (FUVEST – 2020) 
amora 
a palavra amora 
seria talvez menos doce 
e um pouco menos vermelha 
se não trouxesse em seu corpo 
(como um velado esplendor) 
a memória da palavra amor 
a palavra amargo 
seria talvez mais doce 
e um pouco menos acerba 
se não trouxesse em seu corpo 
(como uma sombra a espreitar) 
a memória da palavra amar 
Marco Catalão, Sob a face neutra. 
 
É correto afirmar que o poema 
a) aborda o tema da memória, considerada uma faculdade que torna o ser humano menos 
amargo e sombrio. 
b) enfoca a hesitação do eu lírico diante das palavras, o que vem expresso pela repetição da 
palavra “talvez”. 
c) apresenta natureza romântica, sendo as palavras “amora” e “amargo” metáforas do 
sentimento amoroso. 
d) possui reiterações sonoras que resultam em uma tensão inusitada entre os termos “amor” 
e “amar”. 
e) ressalta os significados das palavras tal como se verificam no seu uso mais corrente. 
 
TEXTO PARA AS QUESTÕES 8 e 9 
Uma planta é perturbada na sua sesta* pelo exército que a pisa. 
Mas mais frágil fica a bota. 
Gonçalo M. Tavares, 1: poemas. 
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*sesta: repouso após o almoço. 
 
 (FUVEST – 2020) 
Considerando que se trata de um texto literário, uma interpretação que seja capaz de captar a 
sua complexidade abordará o poema como 
a) uma defesa da natureza. 
b) um ataque às forças armadas. 
c) uma defesa dos direitos humanos. 
d) uma defesa da resistência civil. 
e) um ataque à passividade. 
 
 (FUVEST - 2020) 
O ditado popular que se relaciona melhor com o poema é: 
a) Para bom entendedor, meia palavra basta. 
b) Água mole em pedra dura tanto bate até que fura. 
c) Quem com ferro fere, com ferro será ferido. 
d) Um dia é da caça, o outro é do caçador. 
e) Uma andorinha só não faz verão. 
 
 (UEMA – 2020) 
O livro Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, foi publicado em 
folhetins no ano de 1853. Caracteriza-se por documentar os costumes, os comportamentos e 
os tipos sociaisda classe média da sociedade brasileira do tempo do rei D. João VI, ignorados 
pela literatura até então. É considerado um clássico da literatura brasileira do século XIX. 
 
O fragmento a seguir é parte do capítulo intitulado Estralada, no qual o personagem Leonardo 
Pataca, para vingar-se de um desafeto seu, contrata o valentão Chico-Juca. Leia-o para 
responder à questão. 
 
[…] 
— Isto passa de mais… varro… menos essa, senhor Chico-Juca; nada de graças pesadas com 
essa moça, que é cá coisa minha… 
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O Chico-Juca estava com efeito há mais de meia hora a dirigir graçolas das suas a uma moça 
que ele bem sabia que era coisa do rapaz que estava tocando; tanto fez que este, tendo 
percebido, proferiu aquelas palavras que acabamos de ouvir. 
— Você respinga?!… – respondeu-lhe o Chico-Juca dirigindo-se para ele. 
O rapaz, que não era peco, pôs-se em pé e replicou: 
— Tenho dito, nada de graças com ela!… 
[…] 
ALMEIDA, M. A. Memórias de um Sargento de Milícias. Porto Alegre: L&PM, 2015. 
 
A voz narrativa predominante no livro Memórias de um Sargento de Milícias é a 3ª. pessoa, o 
que pode criar um certo distanciamento do narrador em relação aos fatos narrados. No 
fragmento, nota-se que essa voz oscila, revelando um narrador que se coloca como 
testemunha da situação retratada, conforme o seguinte trecho: 
a) “— Tenho dito, nada de graças com ela!…” (5º.§) 
b) “[…] proferiu aquelas palavras que acabamos de ouvir.” (2º.§) 
c) “[…] nada de graças pesadas com essa moça, que é cá coisa minha…” (1º.§) 
d) “— Você respinga?!… respondeu-lhe o Chico-Juca dirigindo-se para ele.” (3º.§) 
e) “O rapaz, que não era peco, pôs-se em pé e replicou:” (4º.§) 
 
 (UEMA – 2020) 
O Último Poema encerra o livro Libertinagem, de Manuel Bandeira. 
 
O Último Poema 
Assim eu quereria o meu último poema 
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais 
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas 
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume 
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos 
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação. 
BANDEIRA, M. Libertinagem. 2 ed. São Paulo: Global, 2013 
 
O poema estabelece pelo título e pela posição que ocupa um valor metapoético, uma vez que 
o eu lírico 
a) transporta para a poesia a beleza da simplicidade. 
b) explicita seu dilema existencial. 
c) revela dramaticamente seus medos mais íntimos e secretos. 
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d) incorpora na poesia o academicismo parnasiano. 
e) expressa em versos seu desejo poético. 
 
 (MACKENZIE – 2019) 
Texto I 
 01 Não é fácil dissertar sobre a alimentação dos portugueses durante 02 a Idade Média. 
Escasseiam as fontes informativas: o primeiro livro 03 de receitas culinárias que se conhece não 
é anterior ao século XVI. 04 As descrições de banquetes, colhidas nas crônicas ou noutros textos 
05 narrativos, são em geral parcas em notícias concretas sobre os 06 alimentos consumidos. 
 07 De maneira geral, a alimentação medieval era pobre, se 08 comparada com os padrões 
modernos. A quantidade supria, quantas 09 vezes, a qualidade. A técnica culinária achava-se 
ainda numa fase 10 rudimentar, e as conquistas da cozinha romana haviam-se perdido. 11 A 
condimentação obedecia a princípios extremamente simples. 
 12 As duas refeições principais do dia eram o jantar e a ceia. 13 Jantava-se, nos fins do século 
XIV, por volta das dez horas da manhã; 14 mas nos séculos anteriores, essa hora teria de recuar 
para oito ou 15 nove. Ceava-se pelas seis ou sete horas da tarde. Como ideal de 16 frugalidade, 
aconselhava-se a ausência de qualquer outro repasto 17 durante o dia. É de supor, a partir de 
certa altura, a necessidade de 18 um “almoço” tomado pouco depois do levantar. 
 19 O jantar era a refeição mais forte do dia. O número de 20 pratos servidos andava, em 
média, pelos três, sem contar sopas, 21 acompanhamentos ou sobremesas. Isto, entenda-se, 
em relação ao 22 rei, à nobreza, e ao alto clero. Entre os menos privilegiados ou os 23 menos 
ricos, o número de pratos ao jantar podia descer para dois 24 ou até um. À ceia, baixava para 
dois a média das iguarias tomadas; 25 ou para um, nos outros casos indicados. 
Adaptado de A.H. de Oliveira Marques, A sociedade medieval portuguesa 
 
Texto II 
 01 Havia três estados ou estamentos na sociedade feudal: o clero, 02 a nobreza e o 
campesinato. Os dois primeiros eram privilegiados, 03 reservando-se as funções de ministrar os 
sacramentos religiosos, 04 governar e dar proteção. O terceiro estado, os camponeses, tinha 05 
obrigação de trabalhar para o sustento material de toda a sociedade. 
 06 Os camponeses produziam centeio, trigo, cevada etc. e cuidavam 07 das oliveiras e das 
vinhas. A técnica de produção era rudimentar, os 08 instrumentos de produção, inadequados, 
e a produção, relativamente 09 pequena. O espectro da fome geralmente rondava as choupanas 
dos 10 trabalhadores. 
Adaptado de Heródoto Barbeiro, História Geral 
 
Sobre os textos é correto afirmar que: 
a) uma linguagem objetiva (em tom didático e explicativo) contribui para a presença 
destacada da função referencial. 
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b) a presença em destaque de figuras de linguagem como metáfora e personificação contribui 
para as imagens simbólicas transmitidas. 
c) o uso de marcas de subjetividade realça a figura dos autores, que se colocam de modo 
explícito nas construções textuais. 
d) a reconstrução histórica elaborada é feita em tom de ironia, o que confere um efeito de 
sentido de humor aos posicionamentos adotados pelos autores. 
e) são escritos em linguagem jornalística moderna, com a presença de recursos 
argumentativos típicos dos usados nas novas tecnologias de comunicação. 
 
 (Insper - 2019) 
Texto I 
 Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. Meu pai, logo 
que teve aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as raias 
de um capricho juvenil. 
 – Dessa vez, disse ele, vais para Europa; vais cursar uma universidade, provavelmente 
Coimbra; quero-te para homem sério e não para arruador e gatuno. E como eu fizesse um gesto 
de espanto: — Gatuno, sim senhor; não é outra cousa um filho que me faz isto... 
(Machado de Assis, Memóri-as Póstumas de Brás Cubas) 
 
Texto II 
Ela deixou um bilhete, dizendo que ia sair fora 
Levou meu coração, alguns CDs e o meu livro mais da hora 
Mas eu não sei qual a razão, não entendi por que ela foi embora 
E eu fiquei pensando em como foi e qual vai ser agora 
 
É que pena, pra mim tava tão bom aqui 
Com a nega mais teimosa e a mais linda que eu já vi 
Dividindo o edredom e o filminho na TV 
Chocolate quente e meus olhar era só pro cê 
Mas cê não quis, eu era mó feliz e nem sabia 
Beijinho de caramelo que recheava meus dia 
(Luccas Carlos, Bilhete 2.0 [fragmento]. Em: https://www.letras.mus.br) 
Na passagem do Texto I – Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada 
menos. –, o autor faz uma associação insólita entre as expressões destacadas, o que causa certa 
estranheza ao leitor. No Texto II, esse mesmo recurso está presente na passagem: 
a) “Levou meu coração, alguns CDs e o meu livro mais da hora”, reforçando que as perdas 
também recaíram em bens materiais. 
b) “Dividindo o edredom e o filminho na TV”, marcando a relação de conforto e de proximidade 
que inspirava um amor aparentemente inabalável. 
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c) “E eu fiquei pensando em como foi e qual vai ser agora”, explicitandoa sensação de 
desolação e confusão pela perda da mulher amada. 
d) “Ela deixou um bilhete, dizendo que ia sair fora”, mostrando também o rompimento 
amoroso do casal, assim como no romance. 
e) “Beijinho de caramelo que recheava meus dia”, sugerindo o sentimento do casal como algo 
doce que nem o rompimento será capaz de descaracterizar. 
 
 (UEG - 2019) 
Leia o poema e a tirinha a seguir. 
 
MAR PORTUGUÊS 
 
1 Ó mar salgado, quanto do teu sal 
2 São lágrimas de Portugal! 
3 Por te cruzarmos, quantas mães choraram, 
4 Quantos filhos em vão rezaram! 
5 Quantas noivas ficaram por casar 
6 Para que fosses nosso, ó mar! 
 
7 Valeu a pena? Tudo vale a pena 
8 Se a alma não é pequena. 
9 Quem quer passar além do Bojador 
10 Tem que passar além da dor. 
11 Deus ao mar o perigo e o abismo deu, 
12 Mas nele é que espelhou o céu. 
PESSOA, Fernando. Mar Português. 
 In: Antologia Poética. Organização 
 Walmir Ayala. Rio de Janeiro: 
 Nova Fronteira, 2014. p. 15. 
 
 
Disponível em: <https://tirasdidaticas. 
 files.wordpress.com/2014/12/rato79. 
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 jpg?w=640&h=215> Acesso 
 em: 13 nov. 2018. 
 
O sentido da tirinha é construído a partir da relação que estabelece com os famosos versos de 
Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena” (linhas 7-8). O modo como 
esses dois textos se relacionam é chamado de 
a) paráfrase 
b) linearidade 
c) metalinguagem 
d) intencionalidade 
e) intertextualidade 
 
 (MACKENZIE – 2019) 
Soneto 
v.01 Um mancebo no jogo se descora, 
v.02 Outro bêbado passa noite e dia, 
v.03 Um tolo pela valsa viveria, 
v.04 Um passeia a cavalo, outro namora. 
 
v.05 Um outro que uma sina má devora 
v.06 Faz das vidas alheias zombaria, 
v.07 Outro toma rapé, um outro espia... 
v.08 Quantos moços perdidos vejo agora! 
 
v.09 Oh! Não proíbam pois ao meu retiro 
v.10 Do pensamento ao merencório luto 
v.11 A fumaça gentil por que suspiro. 
 
v.12 Numa fumaça o canto d´alma escuto... 
v.13 Um aroma balsâmico respiro, 
v.14 Oh! Deixai-me fumar o meu charuto! 
 
Mancebo: Rapaz 
Merencório: melancólico 
 
Assinale a alternativa correta. 
a) Os dois primeiros quartetos que compõem o soneto são marcados por uma aprofundada 
especulação filosófica. 
b) O eu lírico, no verso “Quantos moços perdidos vejo agora!”, se furta a fazer uma lamento 
moral sobre sua geração. 
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c) Nos dois tercetos finais do poema, está explícita a ideia de que o eu lírico se recolhe da 
vida a fim de pensar na mulher amada. 
d) Os versos foram compostos em um tom prosaico, imprimindo ao soneto um ar de crônica, 
perceptível em especial nos oito primeiros versos. 
e) Há no poema uma eletrizante positividade em relação às potencialidades da vida. 
 
Texto para as questões 16 e 17 
Das vantagens de ser bobo 
O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O 
bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não 
faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando.". 
1Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair 
por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia. 
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão 
sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os 
veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo 
nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, 2o bobo é um Dostoievski. 
Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um 
desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: 3ele disse que o aparelho 
era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e 
compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião 
deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia 
comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, 
e portanto estar tranquilo, enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. 
O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu. 
Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de 
quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a 
célebre frase: "Até tu, Brutus?". 
Bobo não reclama. Em compensação, como exclama! 
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido 
esperto não teria morrido na cruz. 
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo 
é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem 
passar por bobos. 4Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. 
5Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam 
que saibam que eles sabem. 
Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com 
tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não 
nascer em Minas! 
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Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível 
evitar o excesso de amor que o bobo provoca. É que só 6o bobo é capaz de excesso de amor. E 
só o amor faz o bobo. 
LISPECTOR, Clarice. Das vantagens de ser bobo. Disponível em: http://www.revistapazes.com/das-vantagens-de-ser-
bobo/. Acesso em 10 de maio de 2017. Originalmente publicado no Jornal do Brasil em 12 de setembro de 1970. 
 
 (IME - 2018) 
Considere o trecho abaixo, retirado do texto: 
 
Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam 
que saibam que eles sabem (referência 6). 
 
A autora discorre sobre a posse de um saber. A respeito desse saber, podemos afirmar que 
a) os bobos que se fazem de bobos estão praticando, na verdade, a sabedoria que os espertos 
deveriam ter. 
b) os bobos que aparentemente se fazem de bobos estão praticando, na verdade, a sabedoria 
dos espertos. 
c) os bobos, por serem naturalmente criativos, comprovam possuir a sabedoria necessária para 
vencer. 
d) os bobos, por serem naturalmente criativos, não permitem que ninguém desconfie de sua 
dissimulada esperteza, que nada mais é do que produto de sua criatividade; assim definimos 
sua estratégia para vencer na vida. 
e) os bobos acabam por se tornar espertos e, por isso, ganham as lutas da vida, já que não se 
importam que “saibam que eles sabem”. 
 
 (IME - 2018) 
Sobre as considerações a respeito de ser esperto vs. ser bobo encontradas no texto, assinale o 
par de análises que destoa das considerações feitas pela autora. 
a) Os espertos pretendem conquistar o mundo pela sagacidade; o bobo ganha o mundo por 
sua espontaneidade. 
b) Os espertos muitas vezes atingem seus objetivos; os bobos podem ser facilmente 
ludibriados. 
c) O esperto preocupa-se todo o tempo em entender o mundo para tirar proveito desse 
entendimento; ser bobo é sentir o mundo e tomar parte nele. 
d) Os sentimentos do esperto são mais intensos que os do bobo; o coração do bobo é pouco 
acessível. 
e) O esperto é prevenido; o bobo muitas vezes precisa lidar com complicações em que se mete 
por ser bobo. 
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 (UNESP - 2018) 
Examine a tira Hagar, o Horrível do cartunistaamericano Dik Browne (1917-1989). 
 
 (Hagar, o Horrível, vol 1, 2014.) 
 
O ensinamento ministrado por Hagar a seu filho poderia ser expresso do seguinte modo: 
a) “A fome é a companheira do homem ocioso.” 
b) “O estômago que raramente está vazio despreza alimentos vulgares.” 
c) “Nada é mais útil ao homem do que uma sábia desconfiança.” 
d) “Muitos homens querem uma coisa, mas não suas consequências.” 
e) “É impossível para um homem ser enganado por outra pessoa que não seja ele mesmo.” 
 
 (Insper - 2018) 
Texto 1 
 O jornal britânico The Guardian publicou nesta quarta-feira [19.07.2017] um longo artigo 
sobre a situação econômica do Brasil. 
 O texto começa contando a história de Miriam Gomes, que às 5 da manhã se dirigia a um 
projeto social que ela coordena em Cidade Nova, no Rio de Janeiro, onde a fila para receber 
uma cesta básica semanal já tem mais de cem metros de comprimento. Alguns haviam dormido 
na rua – aqueles do crescente exército de pessoas sem-teto do Rio, ou que viviam muito longe 
para chegar lá às 6:30 da manhã, quando poderiam começar a pegar uma bolsa de vegetais, 
frutas, arroz, feijão, macarrão, leite e biscoitos, e um pouco de chocolate. 
 Estas são algumas das vítimas de um problema que só piora em um país, uma vez louvado 
pela redução da pobreza, mas onde o número de pobres está subindo novamente, destaca o 
Guardian. O Brasil caiu em sua pior recessão por décadas, com 14 milhões de pessoas 
desempregadas, acrescenta. 
(http://www.jb.com.br. 19.07.2017. Adaptado) 
 
 
 
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Texto 2 
 No mês passado, 20 instituições da sociedade civil apresentaram o relatório Luz da Agenda 
2030 de Desenvolvimento Sustentável. O documento analisa o desempenho do Brasil para o 
cumprimento dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da Organização das Nações 
Unidas (ONU), mas trouxe alerta sobre o risco de o país voltar a constar no próximo Mapa da 
Fome. Esse levantamento – feito pela instituição da ONU que lida com a agricultura e a 
alimentação, a FAO – indica em quais nações mais de 5% da população ingerem diariamente 
menos calorias que o recomendado. 
 Só em 2014, o Brasil desapareceu do Mapa da Fome. Pela primeira vez, 3% dos brasileiros 
tinham que lidar com a falta de condições para satisfazer a necessidade vital por comida, e, 
assim, o mapa do país deixou de ganhar, no levantamento da FAO, a cor avermelhada. 
(http://www.correiobraziliense.com.br.09.08.2017. Adaptado) 
 
A leitura comparativa dos textos permite concluir que os dois tratam do tema 
a) da economia, mostrando que a recessão econômica tem mantido 3% da população sem 
condições de saciar sua necessidade vital por comida. 
b) da fome, ressaltando um possível retrocesso nas condições de pobreza no país, decorrente 
da situação econômica do Brasil. 
c) da redução da pobreza, enfatizando que, mesmo diante de um cenário de desemprego 
negativo, a maior parte da população não passa fome. 
d) do desemprego, explicitando a relação entre este e a fome, cenário sombrio que há décadas 
inclui o Brasil no Mapa da Fome da ONU. 
e) das mazelas do Rio de Janeiro, criticando o aumento de pessoas sem-teto na cidade e, 
consequentemente, a inserção do Brasil no Mapa da Fome. 
 
 (UERJ – 2018) 
NO MEIO DO CAMINHO 
 1 O homem ia andando e encontrou uma pedra no meio do caminho. Milhões de homens 
encontram 2 uma pedra no caminho e dela se esquecem. Um poeta, que talvez nunca tenha 
encontrado pedra 3 nenhuma, que fatalmente esqueceu muitas coisas, esqueceu caminhos que 
andou e pedras que não 4 encontrou, fez um poema dizendo que nunca esqueceria a pedra 
encontrada no meio do caminho. 
 5 Se a rosa é uma rosa, a pedra deveria ser uma pedra, mas nem sempre é. No meu primeiro 
dia de 6 escola, da qual seria expulso por não saber falar o mínimo que se espera de uma 
criança, minha tia e 7 madrinha, que nós chamávamos de Doneta, mas tinha outro nome do 
qual me esqueci, levou-me pela 8 mão em silêncio, e em silêncio ia eu, sem saber o que 
representava o primeiro dia de escola. 
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 9 Quando percebi o que seria aquilo – misturar-me a meninos estranhos e ferozes, ficar 
longe de casa e da 10 mão da minha tia e madrinha – entrei a espernear, aos berros – aos quais 
mais tarde renunciaria por inúteis. 
 11 Foi então que a tia e madrinha definiu a situação, dizendo com sabedoria: “São os 
abrolhos, meu filho”. 
 12 Sim, os abrolhos começaram e até hoje não acabaram. Não sei bem o que é um abrolho, 
mas deve 13 ser uma pedra no caminho da gente. A diferença mais substancial é que bastou 
uma pedra no meio do 14 caminho para que um poeta dela não se esquecesse. 
 15 Não sendo poeta, não me lembro de ter topado com pedra nenhuma no meio do 
caminho. Mas, 16 em matéria de abrolhos, sou douto. Mesmo não sabendo em que consiste 
um abrolho. 
 17 Como disse acima, tiraram-me daquele abrolho inicial porque não sabia falar. Aprendi a 
escrever 18 mal e porcamente, e os abrolhos vieram em legião. Faço força para esquecê-los, 
mas volta e meia 19 penso que seria melhor encontrar uma pedra no meio do caminho. 
CARLOS HEITOR CONY 
Folha de São Paulo, 05/05/2002. 
 
A crônica “No meio do caminho” faz referência a um poema de mesmo título, de Carlos 
Drummond de Andrade, cuja primeira estrofe se lê a seguir: 
No meio do caminho tinha uma pedra 
Tinha uma pedra no meio do caminho 
Tinha uma pedra 
No meio do caminho tinha uma pedra 
 
O tipo de relação intertextual que se estabelece entre a crônica e o poema pode ser definido 
como: 
a) plágio 
b) alusão 
c) citação 
d) paráfrase 
 
 (UFU - 2018) 
Texto I 
Nada mais lindo que um açude sangrando [...]. Não há como não se arrupiar todinho diante de 
tal fenômeno. Levo essa ideia da chuva para onde for, só a chuva nos importa [...]. A chuva é 
meu gol, minha Copa do Mundo, Deus gozando a glória, meu amor. 
SÁ, Xico. Chove no sertão e não tem 
 nada mais bonito. El País, 24 fev. 20- 
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18. Disponível em: <https://goo.gl/D2 
k4eA>. Acesso em: 27 abr. 2018. 
Texto II 
Oh! Deus, 
Perdoe esse pobre coitado, 
Que de joelhos rezou um bocado, 
Pedindo pra chuva cair, 
Cair sem parar. 
GORDURINHA; NELINHO. Súplica cea- 
rense. In: O RAPPA. 7 vezes. Álbum, 2008. 
 
Considere as seguintes afirmações. 
I. Em ambos os textos, a palavra Deus é um elemento do predicado. 
II. No texto I, a palavra Deus integra o predicativo do sujeito. 
III. No texto II, a palavra Deus exerce a mesma função sintática que a expressão “meu amor”, 
presente no texto I. 
IV. Em ambos os textos, a palavra Deus constitui um termo acessório da oração. 
São corretas as afirmações apresentadas em 
a) I e II. 
b) II e III. 
c) I e III. 
d) III e IV. 
 
 (UNESP - 2018) 
Leia o excerto do “Sermão do bom ladrão”, de Antônio Vieira (1608-1697). 
 
Navegava Alexandre [Magno] em uma poderosa armada pelo Mar Eritreu a conquistar a 
Índia; e como fosse trazido à sua presença um pirata, que por ali andava roubando os 
pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão mau ofício; porém ele, que não 
era medroso nem lerdo, respondeu assim: “Basta, Senhor, que eu, porque roubo em uma 
barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador?”. Assim é. O roubar 
pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar 
com muito, os Alexandres. Mas Sêneca, que sabia bem distinguir as qualidades, e interpretar 
as significações, a uns e outros, definiu com o mesmo nome: [...] Se o rei de Macedônia, ou 
qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata; o ladrão, o pirata e o rei, todos têm o mesmolugar, e merecem o mesmo nome. 
Quando li isto em Sêneca, não me admirei tanto de que um filósofo estoico se atrevesse a 
escrever uma tal sentença em Roma, reinando nela Nero; o que mais me admirou, e quase 
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envergonhou, foi que os nossos oradores evangélicos em tempo de príncipes católicos, ou para 
a emenda, ou para a cautela, não preguem a mesma doutrina. Saibam estes eloquentes mudos 
que mais ofendem os reis com o que calam que com o que disserem; porque a confiança com 
que isto se diz é sinal que lhes não toca, e que se não podem ofender; e a cautela com que se 
cala é argumento de que se ofenderão, porque lhes pode tocar. [...] 
Suponho, finalmente, que os ladrões de que falo não são aqueles miseráveis, a quem a 
pobreza e vileza de sua fortuna condenou a este gênero de vida, porque a mesma sua miséria 
ou escusa ou alivia o seu pecado [...]. O ladrão que furta para comer não vai nem leva ao 
Inferno: os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são os ladrões de maior calibre e de 
mais alta esfera [...]. Não são só ladrões, diz o santo [São Basílio Magno], os que cortam bolsas, 
ou espreitam os que se vão banhar, para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e 
dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e 
legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, 
já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes 
roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor, nem perigo: 
os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam. 
(Essencial, 2011.) 
 
Assinale a alternativa cuja citação se aproxima tematicamente do “Sermão do bom ladrão” de 
Antônio Vieira. 
a) “Rouba um prego, e serás enforcado como um malfeitor; rouba um reino, e tornar-te-ás 
duque.” (Chuang-Tzu, filósofo chinês, 369-286 a.C.) 
b) “Para quem vive segundo os verdadeiros princípios, a grande riqueza seria viver 
serenamente com pouco: o que é pouco nunca é escasso.” (Lucrécio, poeta latino, 98-55 a.C.) 
c) “O dinheiro que se possui é o instrumento da liberdade; aquele que se persegue é o 
instrumento da escravidão.” (Rousseau, filósofo francês, 1712-1778) 
d) “Que o ladrão e a ladra tenham a mão cortada; esta será a recompensa pelo que fizeram e 
a punição da parte de Deus; pois Deus é poderoso e sábio.” (Alcorão, livro sagrado islâmico, 
século VII) 
e) “Dizem que tudo o que é roubado tem mais valor.” (Tirso de Molina, dramaturgo espanhol, 
1584-1648) 
 
 (UNESP - 2017) 
Leia o soneto XLVI, de Cláudio Manuel da Costa (1729-1789). 
Não vês, Lise, brincar esse menino 
Com aquela avezinha? Estende o braço, 
Deixa-a fugir, mas apertando o laço, 
A condena outra vez ao seu destino. 
 
Nessa mesma figura, eu imagino, 
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Tens minha liberdade, pois ao passo 
Que cuido que estou livre do embaraço, 
Então me prende mais meu desatino. 
 
Em um contínuo giro o pensamento 
Tanto a precipitar-me se encaminha, 
Que não vejo onde pare o meu tormento. 
 
Mas fora menos mal esta ânsia minha, 
Se me faltasse a mim o entendimento, 
Como falta a razão a esta avezinha. 
(Domício Proença Filho (org.). A poesia dos inconfidentes, 1996.) 
 
No soneto, o menino e a avezinha, mencionados na primeira estrofe, são comparados, 
respectivamente, 
a) ao eu lírico e a Lise. 
b) a Lise e ao eu lírico. 
c) ao desatino e ao eu lírico. 
d) ao desatino e à liberdade. 
e) a Lise e à liberdade. 
 
 (PUC SP - 2017) 
De Caetano a Guimarães Rosa, veja as referências de Cármen Lúcia em seu discurso de posse 
POR LUMA POLETTI | 13/09/2016 10:00 
 
 Ao longo de seu discurso de posse, a ministra Cármen Lúcia, que assumiu a presidência do 
Supremo Tribunal Federal nesta segunda-feira (12), citou trechos de canções de Caetano 
Veloso, Titãs, além de versos de Cecília Meirelles, Carlos Drummond de Andrade, Paulo 
Mendes Campos e fez menção a Riobaldo, personagem de Grande Sertão: Veredas, clássico de 
Guimarães Rosa e uma das mais. 
 A escolha das referências musicais da ministra dá pistas sobre sua visão acerca do atual 
momento sociopolítico. Citando o cantor e compositor Caetano Veloso, presente na sessão – 
que interpretou em voz e violão o hino nacional – Cármen Lúcia concordou que “alguma coisa 
está fora da ordem”. 
“ Caetanos e não caetanos deste Brasil tão plural concluem em uníssono: alguma coisa está 
fora de ordem, fora da nova ordem mundial”, disse a ministra. “O que nos cumpre, a nós 
servidores públicos em especial, é questionar e achar resposta: de qual ordem está tudo 
fora…”, acrescentou. 
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 O cantor já se posicionou contra o governo do presidente Michel Temer, nos bastidores da 
cerimônia de abertura das Olimpíadas de 2016. 
 A nova presidente do STF também citou a música “Comida”, da banda Titãs. “Cumpre-nos 
dedicar-nos de forma intransigente e integral a dar cobro ao que nos é determinado pela 
Constituição da República e que de nós é esperado pelo cidadão brasileiro, o qual quer saúde, 
educação, trabalho, sossego para andar em paz por ruas, estradas do país e trilhas livres para 
poder sonhar além do mais. Que, como na fala do poeta da música popular brasileira, ninguém 
quer só comida, quer também diversão e arte”. 
 Um dos compositores da canção citada é Arnaldo Antunes, que também se posicionou 
contra o impeachment de Dilma Rousseff nas redes sociais. 
 
Versos 
 Cármen Lúcia também citou versos da escritora Cecília Meireles, ao dizer que “liberdade é 
um sonho que o mundo inteiro alimenta” – da obra Romanceiro da Inconfidência, lançada em 
1953. “Se, no verso de Cecília Meireles, a liberdade é um sonho, que o mundo inteiro alimenta, 
parece-me ser a Justiça um sentimento, que a humanidade inteira acalenta”, discursou a 
ministra. 
 Mais adiante em seu discurso, Cármen Lúcia fez menção a um personagem do livro Grande 
Sertão: Veredas, do escritor mineiro (tal como a ministra) Guimarães Rosa. “Riobaldo afirmava 
que 'natureza da gente não cabe em nenhuma certeza'. Mas parece-me que a natureza da 
gente não se aguenta em tantas incertezas. Especialmente quando o incerto é a Justiça que se 
pede e que se espera do Estado”, disse a nova presidente do STF. 
 Em seguida, outro escritor mineiro foi lembrado por Cármen Lúcia. “Em tempos cujo nome 
é tumulto escrito em pedra, como diria Drummond, os desafios são maiores. Ser difícil não 
significa ser impossível. De resto, não acho que para o ser humano exista, na vida, o 
impossível”, disse a ministra, em referência ao poema “Nosso tempo”, do escritor mineiro. 
 A sucessora de Ricardo Lewandowski concluiu o discurso citando um terceiro escritor 
mineiro: Paulo Mendes Campos. “O Judiciário brasileiro sabe dos seus compromissos e de suas 
responsabilidades. Em tempo de dores multiplicadas, há que se multiplicarem também as 
esperanças, à maneira da lição de Paulo Mendes Campos”, disse Cármen Lúcia, em referência 
ao “Poema Didático”, de Paulo Mendes Campos. 
Disponível em: http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/de-caetano-a-guimaraes-rosa-vejaas- referencias-de-
carmen-lucia-em-seu-discurso-de-posse/ . Acesso em: 26 set.2016. [Adaptado] 
 
Ao recuperar fragmentos das canções, dos versos e do romance, a ministra 
a) faz uso da metalinguagem para ilustrar suas ideias e referir-se à própria linguagem como 
recurso expressivo que sustenta suas teses. 
b) recorre à paráfrase para, com suas próprias palavras, destacar os procedimentos linguísticos 
dos quais os diversos autores mencionados fazem uso. 
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c) se vale da paródia para satirizar os pensamentos dos autores citados e diluir o conteúdo mais 
denso dos pensamentos retratados. 
d) estabelece a intertextualidade para manifestar traços de seu ponto de vista sobre diferentes 
aspectos da situação atual. 
 
 (FATEC - 2017) 
Incontentado 
Paixão sem grita, amor sem agonia, 
Que não oprime nem magoa o peito, 
Que nada mais do que possui queria, 
E com tão pouco vive satisfeito... 
 
Amor, que os exageros repudia, 
Misturado de estima e de respeito, 
E, tirando das mágoas alegria, 
Fica farto, ficando sem proveito... 
 
Viva sempre a paixão que me consome, 
Sem uma queixa, sem um só lamento! 
Arda sempre este amor que desanimas! 
 
Eu, eu tenha sempre, ao murmurar teu nome, 
O coração, malgrado o sofrimento, 
Como um rosal desabrochado em rimas. 
<https://tinyurl.com/nxwg9mp> Acesso em: 17.02.2017. 
 
O eu lírico do poema está em busca de um amor específico. 
Esse amor deve 
a) estar em chamas, a ponto de matar o eu lírico. 
b) conter beleza, mesmo que machuque o eu lírico. 
c) deixar o eu lírico calmo, sem atrapalhar a vida dele. 
d) ser completamente cordial, a reverenciar o eu lírico. 
e) transformar todas as mágoas do eu lírico em alegria. 
 
 (ITA - 2016) 
A adivinha é um gênero da oralidade popular que formula construções como: “O que é, o que 
é: tem escamas mas não é peixe, tem coroa mas não é rei? O abacaxi!. Ela consiste num jogo 
enigmático de perguntas que, por conter dualidades e oposições, leva o ouvinte a pensar. 
Considerando essa definição, leia o poema abaixo de Orides Fontela. 
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Adivinha 
 
O que é impalpável 
mas 
pesa 
 
o que é sem rosto 
mas 
fere 
 
o que é invisível 
mas 
dói. 
 
(Em: Teia. São Paulo: Geração Editorial, 1996.) 
 
Considere as seguintes afirmações: 
I. O poema mantém alguns traços formais da adivinha popular. 
II. Como a adivinha popular, a do poema possui uma única resposta, que é um elemento 
concreto. 
III. A adivinha do poema é uma reinvenção da adivinha popular. 
 
Está(ão) correta(s) apenas: 
a) I. 
b) I e II. 
c) I e III. 
d) II. 
e) II e III. 
 
 (UNESP - 2016) 
Leia o trecho inicial de um poema de Álvaro de Campos, heterônimo do escritor Fernando 
Pessoa (1888-1935). 
 
Esta velha angústia, 
Esta angústia que trago há séculos em mim, 
Transbordou da vasilha, 
Em lágrimas, em grandes imaginações, 
Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror, 
Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum. 
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Transbordou. 
Mal sei como conduzir-me na vida 
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma! 
Se ao menos endoidecesse deveras! 
Mas não: é este estar entre, 
Este quase, 
Este poder ser que..., 
Isto. 
 
Um internado num manicômio é, ao menos, alguém, 
Eu sou um internado num manicômio sem manicômio. 
Estou doido a frio, 
Estou lúcido e louco, 
Estou alheio a tudo e igual a todos: 
Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura 
Porque não são sonhos. 
Estou assim... 
 
Pobre velha casa da minha infância perdida! 
Quem te diria que eu me desacolhesse tanto! 
Que é do teu menino? Está maluco. 
Que é de quem dormia sossegado sob o teu teto provinciano? 
Está maluco. 
Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou. 
(Obra poética, 1965.) 
 
 “Pobre velha casa da minha infância perdida! / Quem te diria que eu me desacolhesse tanto! 
/ Que é do teu menino? Está maluco. / Que é de quem dormia sossegado sob o teu teto 
provinciano? / Está maluco. / Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou.” (4ª 
estrofe) 
 
O tom predominante nesta estrofe é de 
a) indiferença. 
b) ingenuidade. 
c) incerteza. 
d) acolhimento. 
e) desamparo. 
 
 
 
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 (ITA - 2014) 
Considere o poema abaixo, de Carlos Drummond de Andrade, à luz da reprodução da pintura 
de Edvard Munch a que ele se refere. 
 
O grito (Munch) 
 
A natureza grita, apavorante. 
Doem os ouvidos, dói o quadro. 
 
 
O texto de Drummond 
I. traduz a estreita relação entre a forma e o conteúdo da pintura. 
II. mostra como o desespero do homem retratado repercute no ambiente. 
III. contém o mesmo exagero dramático e aterrorizante da pintura. 
IV. interpreta poeticamente a pintura. 
 
Está(ão) correta(s) 
a) apenas I e II. 
b) apenas I, II e IV. 
c) apenas II, III e IV. 
d) apenas III e IV. 
e) todas. 
 
 (UFU - 2015) 
A Possêidon 
Dádivas colhi do mar e a Possêidon, meu canto. 
 
Se a terra adormece e estéril é seu repouso, 
Avanças, poderoso! O fundamento das coisas estremece, 
Rochedos fendem-se, crispa-se o arvoredo. Mais que os ventos, 
Impões o fluxo e a mudança. Lampejos da aurora se acendem 
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No poente. Move meu canto, move a Terra num bramido, 
Touro do Mar, e um novo reino instaura, dissolvendo 
Nas águas a impureza dos feitos. Acenda-se o olhar humano 
Em chama renovada e às almas de luz os corpos se reúnam! 
SILVA, Dora Ferreira. Hídrias. São Paulo: Odysseus, 2004.p.48. 
 
De acordo com a leitura do poema acima, assinale a alternativa correta. 
a) Possêidon, rei dos mares, cuja principal característica é a estagnação, com seu rugido 
estridente, instaura um novo reino na terra, lavando com suas águas impuras tanto as árvores 
como os rochedos. 
b) A expressão “Touro do mar” é metáfora da exuberância e da fertilidade deste deus das 
águas, que com seu caráter imutável, fecundava tanto a terra infrutífera como os oceanos 
estéreis. 
c) Ao retratar de forma irônica e paródica as habilidades desproporcionais de Possêidon, a 
poeta mantém o discurso jocoso que perpassa todos os outros poemas da obra Hídrias. 
d) O poema dialoga com o título da obra, Hídrias, ao enfocar Possêidon, violento rei das águas 
e dos oceanos, também conhecido como Netuno, o qual tinha o poder de provocar a 
instabilidade nos mares. 
 
 (UNITAU – 2015) 
Leia o trecho do poema-canção Aluga-se, de autoria de Raul Seixas e Cláudio Roberto Andrade 
de Azevedo. 
 
A solução pro nosso povo 
Eu vou dá 
Negócio bom assim 
Ninguém nunca viu 
Tá tudo pronto aqui 
É só vim pegar 
A solução é alugar o Brasil!... 
[...] 
Os estrangeiros, 
Eu sei que eles vão gostar 
Tem o Atlântico 
Tem vista pro mar 
A Amazônia 
É o jardim do quintal 
E o dólar deles 
Paga o nosso mingau... 
[...] 
Nós não vamos pagar nada 
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Lalalalá! 
Nós não vamos pagar nada 
É tudo free! 
Tá na hora agora é free 
Vamo embora 
Dá lugar pros gringo entrar 
Que esse imóvel tá prá alugar 
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!... 
 
Em relação à construção do sentido proposto pelos autores do poema-canção em análise, 
pode-se dizer que o texto 
a) se aproxima, ironicamente, da linguagem publicitária, a fim de tecer uma crítica à situação 
do país. 
b) propõe, lançando mão de linguagem denotativa, que os estrangeiros paguem o “mingau” 
dos brasileiros. 
c) sugere, utilizando o estrangeirismo free, que os brasileiros não paguem aluguel no país. 
d) exalta as belezas brasileiras, como a Amazônia e os mares, a fim de fazer propaganda do país 
para turistas gringos. 
e) critica a situação do povo brasileiro que não cuida das riquezas naturais do próprio país, e 
dá como solução o aluguel do Brasil aos gringos. 
 
Texto comum às questões 31, 32 e 33 
Considere a passagem de um romance de AutranDourado (1926- 2012). 
A gente Honório Cota 
Quando o coronel João Capistrano Honório Cota mandou erguer o sobrado, tinha pouco 
mais de trinta anos. Mas já era homem sério de velho, reservado, cumpridor. Cuidava muito 
dos trajes, da sua aparência medida. O jaquetão de casimira inglesa, o colete de linho 
atravessado pela grossa corrente de ouro do relógio; a calça é que era como a de todos na 
cidade — de brim, a não ser em certas ocasiões (batizado, morte, casamento — então era 
parelho mesmo, por igual), mas sempre muito bem passada, o vinco perfeito. Dava gosto ver: 
O passo vagaroso de quem não tem pressa — o mundo podia esperar por ele, o peito 
magro estufado, os gestos lentos, a voz pausada e grave, descia a rua da Igreja 
cumprimentando cerimoniosamente, nobremente, os que por ele passavam ou os que 
chegavam na janela muitas vezes só para vê-lo passar. 
Desde longe a gente adivinhava ele vindo: alto, magro, descarnado, como uma ave 
pernalta de grande porte. Sendo assim tão descomunal, podia ser desajeitado: não era, dava 
sempre a impressão de uma grande e ponderada figura. Não jogava as pernas para os lados 
nem as trazia abertas, esticava-as feito medisse os passos, quebrando os joelhos em reto. 
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Quando montado, indo para a sua Fazenda da Pedra Menina, no cavalo branco ajaezado 
de couro trabalhado e prata, aí então sim era a grande, imponente figura, que enchia as vistas. 
Parecia um daqueles cavaleiros antigos, fugidos do Amadis de Gaula ou do Palmeirim, quando 
iam para a guerra armados cavaleiros. 
(Ópera dos mortos, 1970.) 
 (UNESP - 2015) 
No primeiro parágrafo, com a frase “então era parelho mesmo, por igual”, o narrador faz 
referência ao fato de o coronel 
a) vestir em certos eventos sociais a calça também de casimira. 
b) ser par para qualquer desafio que lhe fizessem. 
c) usar também em certas ocasiões o jaquetão de brim. 
d) usar roupas iguais às de todos na cidade. 
e) demonstrar sua humildade por meio das roupas. 
 
 (UNESP - 2015) 
No terceiro parágrafo, a comparação do coronel com uma ave pernalta representa 
a) um recurso expressivo para ilustrar sua aparência e sua presença física. 
b) uma figura de retórica sem grande significado descritivo. 
c) uma imagem visual de seu temperamento amável, mas perigoso. 
d) uma imagem que busca representar sua impressionante beleza. 
e) um modo de chamar atenção para o ambiente rústico em que vivia. 
 
 (UNESP - 2015) 
Em seu conjunto, a descrição do coronel sugere uma figura que 
a) exibe um temperamento tímido e fechado. 
b) manifesta desprezo por tudo à sua volta. 
c) demonstra humildade em tudo o que fazia. 
d) revela nos gestos e comportamento segurança e poder. 
e) inspira certo receio aos habitantes da cidade. 
 
 (UFU - 2012) 
[...] No banheiro, a menina se levanta da privada, os olhos pregados no espelho de barbear do 
pai, guarnecido com moldura barata, como as de quadro de santo. Puxa o caixote, sobe em 
cima, desengancha o espelho da parede, deitando-se em seguida no chão de cimento. Acocora-
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se sobre o espelho como se sentasse num penico, a calcinha numa das mãos, e vê, sem 
compreender, o seu sexo emoldurado. Acaricia-os demoradamente com a ponta do dedo, os 
olhos sempre cheios de espanto. A menina sai do banheiro, anda pela casa em silêncio, não se 
atreve a entrar no quarto da mãe. Deixa a casa e vai pra rua, brincar com as crianças da vizinha 
da frente. 
NASSAR, Raduan. Menina a caminho. São Paulo: 
Companhia das Letras, 1997. p.49. 
 
Sobre o trecho acima, é correto afirmar que 
a) é uma narrativa cujo tema é a prostituição nas cidades interioranas, facilitada pelas poucas 
oportunidades de trabalho oferecidas aos adolescentes. 
b) é uma narrativa em que o tema é a busca e contato com uma possível percepção da 
realidade, no caso, o encontro da menina consigo mesma. 
c) é uma prosa poética que objetiva mostrar a importância de se criarem programas culturais 
para a educação de jovens marginalizados e sem assistência. 
d) apresenta o foco narrativo em primeira pessoa, intensificando, com esta escolha, o efeito 
de subjetividade da obra, marcadamente lírica e sugestiva. 
 
 (UNESP - 2011) 
Considere uma passagem do romance regionalista Vidas secas, de Graciliano Ramos (1892-
1953). 
Contas 
 Fabiano recebia na partilha a quarta parte dos bezerros e a terça dos cabritos. Mas como 
não tinha roça e apenas se limitava a semear na vazante uns punhados de feijão e milho, comia 
da feira, desfazia-se dos animais, não chegava a ferrar um bezerro ou assinar a orelha de um 
cabrito. 
 Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabeça. Forjara planos. Tolice, 
quem é do chão não se trepa. Consumidos os legumes, roídas as espigas de milho, recorria à 
gaveta do amo, cedia por preço baixo o produto das sortes. Resmungava, rezingava, numa 
aflição, tentando espichar os recursos minguados, engasgava-se, engolia em seco. Transigindo 
com outro, não seria roubado tão descaradamente. Mas receava ser expulso da fazenda. E 
rendia-se. Aceitava o cobre e ouvia conselhos. Era bom pensar no futuro, criar juízo. Ficava de 
boca aberta, vermelho, o pescoço inchando. De repente estourava: 
 – Conversa. Dinheiro anda num cavalo e ninguém pode viver sem comer. Quem é do chão 
não se trepa. 
 Pouco a pouco o ferro do proprietário queimava os bichos de Fabiano. E quando não tinha 
mais nada para vender, o sertanejo endividava-se. Ao chegar a partilha, estava encalacrado, e 
na hora das contas davam-lhe uma ninharia. 
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 Ora, daquela vez, como das outras, Fabiano ajustou o gado, arrependeu-se, enfim deixou a 
transação meio apalavrada e foi consultar a mulher. Sinha Vitória mandou os meninos para o 
barreiro, sentou-se na cozinha, concentrou-se, distribuiu no chão sementes de várias espécies, 
realizou somas e diminuições. No dia seguinte Fabiano voltou à cidade, mas ao fechar o negócio 
notou que as operações de Sinha Vitória, como de costume, diferiam das do patrão. Reclamou 
e obteve a explicação habitual: a diferença era proveniente de juros. 
 Não se conformou: devia haver engano. Ele era bruto, sim senhor, via-se perfeitamente que 
era bruto, mas a mulher tinha miolo. Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se 
descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando 
o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar 
carta de alforria! 
 O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que o vaqueiro fosse procurar serviço 
noutra fazenda. 
 Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem. Não era preciso barulho não. Se havia 
dito palavra à toa, pedia desculpa. Era bruto, não fora ensinado. Atrevimento não tinha, 
conhecia o seu lugar. Um cabra. Ia lá puxar questão com gente rica? Bruto, sim senhor, mas 
sabia respeitar os homens. Devia ser ignorância da mulher, provavelmente devia ser ignorância 
da mulher. Até estranhara as contas dela. Enfim, como não sabia ler (um bruto, sim senhor), 
acreditara na sua velha. Mas pedia desculpa e jurava não cair noutra. 
(Graciliano Ramos. Vidas secas. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1974.) 
 
Quem é do chão não se trepa. 
Fabiano emprega duas vezes este provérbio para retratar com certo determinismo sua 
situação, que ele considera impossível de ser mudada. Há outros que poderiam ser utilizados 
para retratar essa atitude de desânimo ante algo que parece irreversível. Na relação de 
provérbios abaixo, aponte aquele que não poderia substituir o empregado por Fabiano,em 
virtude de não corresponder àquilo que a personagem queria significar. 
 
a) Quem nasce na lama morre na bicharia. 
b) Quem semeia ventos colhe tempestades. 
c) Quem nasceu pra tostão não chega a milhão. 
d) Quem nasceu pra ser tatu morre cavando. 
e) Os paus, uns nasceram para santos, outros para tamancos. 
 
 
 
 
 
 
 
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5.2 – Gabarito 
1. A 
2. C 
3. A 
4. D 
5. D 
6. A 
7. D 
8. D 
9. B 
10. B 
11. E 
12. A 
13. A 
14. E 
15. D 
16. C 
17. D 
18. C 
19. B 
20. B 
21. B 
22. A 
23. B 
24. D 
25. B 
26. C 
27. E 
28. E 
29. D 
30. A 
31. A 
32. A 
33. D 
34. B 
35. B 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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5.3 – Exercícios comentados 
Texto para as questões 1 a 4 
Diáspora 
 
1Acalmou a tormenta 
Pereceram 
Os que a estes mares ontem se 
arriscaram 
E vivem os que por um amor tremeram 
5E dos céus os destinos esperaram 
 
Atravessamos o mar Egeu 
O barco cheio de fariseus 
Como os cubanos, sírios, ciganos 
Como romanos sem Coliseu 
10Atravessamos pro outro lado 
No Rio Vermelho do mar sagrado 
Os Center shoppings superlotados 
De retirantes refugiados 
 
You, where are you? 
15Where are you? 
Where are you? 
 
Onde está 
Meu irmão 
Sem Irmã 
20O meu filho sem pai 
Minha mãe 
Sem avó 
 
 
Dando a mão pra ninguém 
Sem lugar 
25Pra ficar 
Os meninos sem paz 
Onde estás 
Meu senhor 
Onde estás? 
30Onde estás? 
 
Deus 
Ó Deus onde estás 
Que não respondes 
Em que mundo 
35Em qu’estrela 
Tu t’escondes 
Embuçado nos céus 
Há dois mil anos te mandei meu grito 
Que embalde desde então corre o infinito 
40Onde estás, Senhor Deus 
 
ANTUNES, Arnaldo; BROWN, Carlinhos; MONTE, Marisa. 
Diáspora. In: Tribalistas. Rio de Janeiro: Phonomotor 
Records Universal Music, 2017. Disponível em: 
https://www.letras.mus.br/tribalistas/diaspora/. Acesso em: 08 
de set. de 2019. 
 
 (UECE – 2020) 
É objetivo da letra da canção Diáspora 
A) denunciar a saga dos refugiados ao longo da história da humanidade. 
B) narrar a travessia dos mares por um grupo de turistas. 
C) descrever situações degradantes das travessias marítimas por turistas. 
D) apresentar a separação entre familiares de refugiados por motivos religiosos. 
Comentários: 
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Essa música foi tema de abertura da novela das seis da emissora Rede Globo, “Órfãos da terra”, 
"Órfãos da Terra", de Thelma Guedes e Duca Rachid. 
 
Alternativa A está correta. Denunciar no sentido de tornar conhecido; difundir, propagar, anunciar 
(dicionário Houaiss). Trata-se de uma questão que vai desde as Escrituras Sagradas da Bíblia, com a 
qual a canção inclusive manifesta caráter de intertextualidade – diálogo – até a imigração na 
contemporaneidade, resultado de conflitos étnicos, raciais, geográficos, políticos. 
Alternativa B está incorreta. Pelo contrário, a situação de turismo, que evidencia lazer, 
planejamento, usufruto, é bem diferente da condição dos imigrantes, podendo ter sido eles 
expulsos, exilados, perseguidos, isto é, eles estão numa condição de vulnerabilidade social. 
Alternativa C está incorreta. Não são necessariamente degradantes. No caso da Bíblia, pode ganhar 
inclusive um tom épico, nobre, superior. Já na contemporaneidade, muitas vezes as condições de 
transporte são feitas precariamente e no improviso, haja vista a situação de fuga. 
Alternativa D está incorreta. A canção, embora aluda à Bíblia, não permite inferir que o motivo da 
separação das famílias seja estritamente religioso. 
Gabarito: A 
 (UECE – 2020) 
Observe a seguinte definição de diáspora, publicada em FERREIRA, A. B. H. Dicionário Aurélio 
escolar da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1988, p. 220: “Sf 1. A 
dispersão dos judeus no decorrer dos séculos. 2. P. ext. Dispersão de povos, por motivos políticos 
ou religiosos, em virtude de perseguição de grupos dominadores intolerantes”. Considerando a 
referida definição e a letra da canção, atente para as seguintes afirmações: 
I. A história narrada centra-se em questões religiosas, elegendo o mar Egeu como local de 
acontecimento para a separação dos povos. 
II. A história narrada vai além do texto bíblico para a compreensão do drama dos refugiados, a 
partir de diversas questões políticas e/ou religiosas. 
III. A questão dos refugiados é abordada a partir da inserção de outros lugares que, na 
contemporaneidade, também têm problemas políticos e/ou religiosos. 
 
Estão corretas as assertivas contidas em 
A) I e II apenas. 
B) I e III apenas. 
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C) II e III apenas. 
D) I, II e III 
Comentários 
Tipologia de questão em que primeiro é dado um verbete do dicionário e depois há uma exploração, 
desenvolvimento do mesmo. No caso, verbetes costumam usar abreviações, como “p. ext.” que quer 
dizer por extensão. 
Afirmação I: incorreta. Não são questões religiosas necessariamente. Atentem-se ao conectivo, a 
conjunção coordenada alternativa na definição do dicionário: “motivos políticos ou religiosos” 
(grifo meu). Ademais, para além do mar Egeu, há menção também ao Rio Vermelho. 
Afirmação II: correta. Drama porque as situações experienciadas muitas vezes envolvem tragédias, 
sofrimento e separações. 
Afirmação III: correta. No caso, esse lugar específico não é geográfico, mas sim simbólico: os 
shoppings centers, lugar no qual um refugiado poderia se ver obrigado a trabalhar, na tentativa de 
reinserção econômica no país ao qual vai chegar. 
Gabarito: C 
 (UECE – 2020) 
O fato de os autores da letra da canção Diáspora utilizarem o verbo em primeira pessoa do plural, 
na expressão “Atravessamos o mar Egeu” (linha 6), indica intenção de 
A) engajar o ouvinte/leitor na problemática dos refugiados. 
B) demarcar diferentes povos de diferentes lugares. 
C) naturalizar as experiências de sofrimento dos refugiados. 
D) acentuar o abandono de crianças retiradas de suas famílias. 
Comentários 
Alternativa A está correta. O chamado plural majestático ou plural da modéstia também pode ser 
usado para designar atitude respeitosa para com o interlocutor. Porém, o objetivo aqui é maior, no 
intuito da inclusão, como diz o ditado popular: “sentir-se na mesma pele” dos imigrantes, passar 
pelos mesmos dramas, mesmos sofrimentos. 
Alternativa B está incorreta. A finalidade não é a demarcação, até porque não sabemos as origens 
reais desses imigrantes. 
Alternativa C está incorreta. Cuidado: o sofrimento não é natural nem naturalizado, ele é causado 
por ações antrópicas (humanas). 
Alternativa D está incorreta. O fato de haver menção a algumas categorias familiares como irmão e 
irmã, filho, pai, mãe e avó, não é possível concluir com exatidão que o texto trate só de crianças. 
Embora haja o verso “Os meninos sem paz” (l. 26), isso não se remete diretamente ao verbo 
conjugado na 1ª pessoa do plural “atravessamos”. 
Gabarito: A 
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 (UECE - 2020) 
A textualidade marca-se por diversos fatores que se integram, a fim de instituir sentido ao conjunto 
de enunciados, transformando-os em um texto. Assim, na letra da canção Diáspora, há 
I. intertextualidade, porque podemos depreender a presença de outros textos, por exemplo, 
textos bíblicos (linhas 6-7; 10-11) e o poema Vozes d’África, de Castro Alves (linhas 31-40). 
II. coerência, porque há uma lógica interna no texto quando os autores relacionam a dispersão 
do povo judeu à saga dos imigrantes. 
III. informatividade,porque as informações apresentam dados novos para a atualização da 
questão dada, a partir de um tema já apresentado inicialmente. 
Estão corretas as complementações contidas em 
A) I e II apenas. 
B) I e III apenas. 
C) II e III apenas. 
D) I, II e III. 
Comentários 
Afirmação I: correta. Entende-se por intertextualidade a relação entre dois ou mais textos, 
entendendo qual a natureza dessa relação. Algumas vezes a intertextualidade é mais evidente outras 
não. Pode também aparecer entre textos de diferentes naturezas, verbais e visuais. Quanto a Castro 
Alves, membro da 3ª geração da poesia romântica brasileira, espia o que apresentamos no nosso 
material. 
Ocupante da cadeira de no 7 na Academia Brasileira 
de Letras, era considerado o poeta dos escravos e 
nasceu em 1847. Estudou Direito em Recife e São 
Paulo. Representou maturidade em relação à 
ingenuidade das gerações anteriores, como o 
idealismo indianista e amoroso e o nacionalismo 
ufanista. A crítica objetiva ao regime social prefigura 
o movimento posterior do Realismo. 
 Poesia: principais obras 
 Espumas flutuantes (1870); 
 A Cachoeira de Paulo Afonso (1876); 
 Os Escravos – O Navio Negreiro (1883); 
 Hinos do Equador (1921). 
Este poema em particular do poeta romântico 
começa com os seguintes versos: “Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?”. Vamos ver uma 
estrofe na íntegra, de modo a perceber as semelhanças com a canção. O resto se encontra no 
domínio público (https://tinyurl.com/rgkykao). 
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O contexto histórico é extremamente importante para 
compreender a obra e o seu pano de fundo por trás. Assim, é 
possível estabelecer uma ponte com o presente e ter a capacidade 
de atualizar essas obras, isto é, trazê-las para o nosso presente. 
Isso pode cair na redação. Nesse caso, a questão dos imigrantes. 
 
 
 
 
 
Deus! ó Deus! onde estás que não respondes? 
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes 
Embuçado nos céus? 
Há dois mil anos te mandei meu grito, 
Que embalde desde então corre o infinito... 
Onde estás, Senhor Deus?... 
 
Além disso, a alusão à Bíblia se verifica também na menção da abertura do mar por Moisés, episódio 
relatado no livro do Êxodo. 
Afirmação II: correta. Coerência interna de temas, como que para evidenciar que não se trata de um 
problema apenas da atualidade, mas sim milenar, histórico. 
Afirmação III: correta. Ao longo da canção vão sendo apresentadas mais informações acerca da 
condição das pessoas refugiadas, dialogando também com o conhecimento de mundo do aluno. 
 
 
 
 
 
 
Gabarito: D 
 (UNICAMP – 2020) 
Texto I 
Os idiomas e suas regras são coisas vivas, que vão se modificando de maneira dinâmica, de acordo 
com o momento em que a sociedade vive. Um exemplo disso é a adoção do termo “maratonar”, 
quando os telespectadores podem assistir a vários ou a todos os episódios de uma série de uma 
só vez. Contudo, ao que parece, a plataforma Netflix não quer mais estar associada à “maratona” 
de séries. A maior razão seria a tendência atual que as gigantes da tecnologia têm seguido para 
evitar o consumo excessivo e melhorar a saúde dos usuários. 
(Adaptado de Claudio Yuge, “Você notou? Netflix parece estar evitando o termo ‘maratonar’.” 
Disponível em https://www.tecmundo.com.br/ internet/133690-voce-notou-net flix-pareceevitando-
termo-maratonar.htm. Acessado em 01/06/2019.) 
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Embora os dois textos tratem do termo “maratonar” a partir de perspectivas distintas, é possível 
afirmar que o Texto II retoma aspectos apresentados no Texto I porque 
a) esclarece o significado do neologismo “maratonar” como esforço físico exaustivo, derivado de 
“maratona”. 
b) deprecia a definição de “maratona” como ação contínua de superação de dificuldades e melhoria 
da saúde. 
c) reflete sobre o impacto que a falta de exercícios físicos e a permanência em casa provocam na 
saúde. 
d) menospreza o uso do termo “maratonar” relacionado a um estilo de vida sedentário, antagônico 
a maratona. 
Comentário 
Alternativa A está incorreta. Somente o texto II define o termo maratonar como “esforço físico”; no 
texto I, o termo é definido como “assistir a vários ou a todos os episódios de uma série de uma só 
vez.” 
Alternativa B está incorreta. Essa ideia de “ação contínua de superação de dificuldades” não consta 
de nenhum dos textos. 
Alternativa C está incorreta. No texto II, a personagem não se refere à saúde. 
Alternativa D está correta. Tanto as empresas de tecnologia estão evitando o termo com intenção 
de “evitar o consumo excessivo e melhorar a saúde” (referência implícita a sedentarismo) quanto a 
fala da personagem transmite a mesma ideia de sedentarismo ao falar em “ficar o dia todo no sofá”. 
Gabarito: D 
 (UNICAMP – 2020) 
Texto I 
Leia os versos iniciais da peça Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come (1966), de Oduvaldo 
Vianna Filho e Ferreira Gullar. Em formato de cordel, os versos são cantados por todos os atores. 
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Se corres, bicho te pega, amô. 
Se ficas, ele te come. 
Ai, que bicho será esse, amô? 
Que tem braço e pé de homem? 
Com a mão direita ele rouba, amô, 
e com a esquerda ele entrega; 
janeiro te dá trabalho, amô, 
dezembro te desemprega; 
de dia ele grita "avante”, amô, 
de noite ele diz: "não vá": 
Será esse bicho um homem, amô, 
ou muitos homens será? 
(Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar, Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Rio 
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 3.) 
 
Texto II 
Observe a charge de Laerte que fez parte da mostra Maio na Paulista, em 2019. 
 
Considerando a relação entre os textos I e II, conclui-se que a charge 
a) resgata a temática do cordel, rompendo com o impasse vivido pelos personagens. 
b) reafirma o dilema dos personagens da peça, parafraseando os versos iniciais do cordel. 
c) evidencia a tradição popular nordestina, utilizando a imagem para sofisticar os versos. 
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d) confirma a força transformadora da versificação popular, reproduzindo-a em imagens. 
Comentários 
Alternativa A está correta. No cordel, os personagens discutem o impasse do ditado “se correr o 
bicho pega, se ficar o bicho come”, aplicando-o aos empregadores nos versos “janeiro te dá 
trabalho, amô,/ dezembro te desemprega;”; na charge o dilema se resolve quando os trabalhadores 
se reúnem e fazem o “bicho” correr. 
Alternativa B está incorreta. Há reafirmação da temática do cordel na charge, mas a alternativa 
desconsidera a resolução do embate na charge. 
Alternativa C está incorreta. A charge não foi feita para ilustrar o cordel. 
Alternativa D está incorreta. A versificação popular é uma forma de transmitir uma ideia; a ideia 
transforma, a forma encanta, logo não é a força transformadora do verso que leva a reprodução da 
imagem. 
Gabarito: A 
 (FUVEST – 2020) 
amora 
a palavra amora 
seria talvez menos doce 
e um pouco menos vermelha 
se não trouxesse em seu corpo 
(como um velado esplendor) 
a memória da palavra amor 
a palavra amargo 
seria talvez mais doce 
e um pouco menos acerba 
se não trouxesse em seu corpo 
(como uma sombra a espreitar) 
a memória da palavra amar 
Marco Catalão, Sob a face neutra. 
 
É correto afirmar que o poema 
a) aborda o tema da memória, considerada uma faculdade que torna o ser humano menos 
amargo e sombrio. 
b) enfoca a hesitação do eu lírico diante das palavras, o que vem expresso pela repetição da 
palavra “talvez”. 
c) apresenta natureza romântica, sendo as palavras “amora” e“amargo” metáforas do 
sentimento amoroso. 
d) possui reiterações sonoras que resultam em uma tensão inusitada entre os termos “amor” 
e “amar”. 
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e) ressalta os significados das palavras tal como se verificam no seu uso mais corrente. 
Comentários: 
Alternativa A está incorreta. O tema principal do poema não é memória, é o amor. 
Alternativa B está incorreta. O eu lírico não hesita diante da palavra, hesita diante dos efeitos 
sensoriais evocados pelas palavras. 
Alternativa C está incorreta. O poema manifesta uma perspectiva não-romântica, pois não idealiza 
o amor. Na primeira estrofe, o poeta fala da doçura do amor, enquanto, na segunda estrofe, destaca 
a amargura do amor. 
Alternativa D está correta. Há reiterações sonoras: a palavra “amora” contém “amor” e a palavra 
“amargo” contém o verbo “amar”. O amor da primeira estrofe é doce, a ação de amar da segunda 
estrofe é amarga. São opostos. O poema, implicitamente, defende a tese de que o amor como ideia 
é perfeito, mas no cotidiano, quando passa a ser ação, ele é amargo. 
Alternativa E está incorreta. As determinações atribuídas às palavras amor e a “amargo” são 
ressignificadas. 
Gabarito: D 
TEXTO PARA AS QUESTÕES 8 e 9 
Uma planta é perturbada na sua sesta* pelo exército que a pisa. 
Mas mais frágil fica a bota. 
Gonçalo M. Tavares, 1: poemas. 
 
*sesta: repouso após o almoço. 
 
 (FUVEST – 2020) 
Considerando que se trata de um texto literário, uma interpretação que seja capaz de captar a 
sua complexidade abordará o poema como 
a) uma defesa da natureza. 
b) um ataque às forças armadas. 
c) uma defesa dos direitos humanos. 
d) uma defesa da resistência civil. 
e) um ataque à passividade. 
Comentários: 
Alternativa A está incorreta. O texto é literário e deve ser entendido de forma metafórica e não 
literal. 
Alternativa B está incorreta. A frase não apresenta uma crítica às forças armadas, não revela qual o 
motivo pelo qual o exército pisa a planta, o que poderia ensejar algum tipo de crítica. 
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Alternativa C está incorreta. Se fosse “defesa dos direitos humanos”, o poema estaria expressando 
a ideia de que o exército seria alterado pela defesa de tais direitos, isso não faz sentido. 
Alternativa D está correta. A planta sofre a ação e deixa suas marcas na bota, há, portanto, uma 
resistência. Qual tipo de resistência? Isso pode ser deduzido pelo que se opõe ao militar, ou seja, 
pela resistência civil. 
Alternativa E está incorreta. O poema exalta a planta que, à primeira vista, apenas sofre a ação. 
Gabarito: D 
 (FUVEST - 2020) 
O ditado popular que se relaciona melhor com o poema é: 
a) Para bom entendedor, meia palavra basta. 
b) Água mole em pedra dura tanto bate até que fura. 
c) Quem com ferro fere, com ferro será ferido. 
d) Um dia é da caça, o outro é do caçador. 
e) Uma andorinha só não faz verão. 
Comentários: 
Alternativa A está incorreta. O poema gira em torno da ação do exército, o ditado faz referência ao 
processo de interpretação. 
Alternativa B está correta. O poder da bota é semelhante ao da dureza da pedra; a ação da planta 
que vai contaminando o poder militar é semelhante à ação da água que vai minando a dureza do 
rochedo. 
Alternativa C está incorreta. O ditado faz referência à reação violenta como resposta a outra do 
mesmo aspecto. Ora, a planta não reage com a mesma intensidade com que foi ferida. 
Alternativa D está incorreta. Esse ditado supõe que a resistência civil poderia agir da mesma maneira 
como o exército age; se as pessoas agirem com violência contra o exército, haveria uma rebelião e 
não resistência civil. 
Alternativa E está incorreta. Se essa ideia fosse aplicada ao poema, deveria significar que outras 
plantas deveriam se juntar a essa única que foi pisada, ideia que não está presente no texto. 
Gabarito: B 
 (UEMA – 2020) 
O livro Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, foi publicado em 
folhetins no ano de 1853. Caracteriza-se por documentar os costumes, os comportamentos e 
os tipos sociais da classe média da sociedade brasileira do tempo do rei D. João VI, ignorados 
pela literatura até então. É considerado um clássico da literatura brasileira do século XIX. 
 
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O fragmento a seguir é parte do capítulo intitulado Estralada, no qual o personagem Leonardo 
Pataca, para vingar-se de um desafeto seu, contrata o valentão Chico-Juca. Leia-o para 
responder à questão. 
 
[…] 
— Isto passa de mais… varro… menos essa, senhor Chico-Juca; nada de graças pesadas com 
essa moça, que é cá coisa minha… 
O Chico-Juca estava com efeito há mais de meia hora a dirigir graçolas das suas a uma moça 
que ele bem sabia que era coisa do rapaz que estava tocando; tanto fez que este, tendo 
percebido, proferiu aquelas palavras que acabamos de ouvir. 
— Você respinga?!… – respondeu-lhe o Chico-Juca dirigindo-se para ele. 
O rapaz, que não era peco, pôs-se em pé e replicou: 
— Tenho dito, nada de graças com ela!… 
[…] 
ALMEIDA, M. A. Memórias de um Sargento de Milícias. Porto Alegre: L&PM, 2015. 
 
A voz narrativa predominante no livro Memórias de um Sargento de Milícias é a 3ª. pessoa, o 
que pode criar um certo distanciamento do narrador em relação aos fatos narrados. No 
fragmento, nota-se que essa voz oscila, revelando um narrador que se coloca como 
testemunha da situação retratada, conforme o seguinte trecho: 
a) “— Tenho dito, nada de graças com ela!…” (5º.§) 
b) “[…] proferiu aquelas palavras que acabamos de ouvir.” (2º.§) 
c) “[…] nada de graças pesadas com essa moça, que é cá coisa minha…” (1º.§) 
d) “— Você respinga?!… respondeu-lhe o Chico-Juca dirigindo-se para ele.” (3º.§) 
e) “O rapaz, que não era peco, pôs-se em pé e replicou:” (4º.§) 
Comentários: 
Alternativa A: incorreta. Esse trecho constitui um discurso direto, no qual o narrador permite que o 
personagem expresse sua opinião. Não há elemento linguístico que indique a presença do narrador 
no fragmento. 
Alternativa B: correta. Ao se valer da primeira pessoa do plural em “acabamos de ouvir”, o narrador 
inclui o leitor e ele mesmo como espectadores da cena. 
Alternativa C: incorreta. Esse é um fragmento de discurso direto, a presença do eu em “é cá coisa 
minha” se aplica ao personagem e não ao narrador. 
Alternativa D: incorreta. Trata-se de discurso direto sem termo que permita localizar a presença do 
narrador. 
Alternativa E: incorreta. Trata-se de um fragmento objetivo sem marcação da presença do narrador. 
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Gabarito: B 
 (UEMA – 2020) 
O Último Poema encerra o livro Libertinagem, de Manuel Bandeira. 
 
O Último Poema 
Assim eu quereria o meu último poema 
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais 
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas 
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume 
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos 
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação. 
BANDEIRA, M. Libertinagem. 2 ed. São Paulo: Global, 2013 
 
O poema estabelece pelo título e pela posição que ocupa um valor metapoético, uma vez que 
o eu lírico 
a) transporta para a poesia a beleza da simplicidade. 
b) explicita seu dilema existencial. 
c) revela dramaticamente seus medos mais íntimos e secretos. 
d) incorpora na poesia o academicismo parnasiano. 
e) expressa em versos seu desejo poético. 
Comentários: 
“Metapoético” se refere a um poema que tematiza a escrita da própria poesia. 
Alternativa A está incorreta.É verdade que, nesse poema, o eu lírico “transporta para a poesia a 
beleza e simplicidade”, mas isso não se relaciona com o título, nem expressa um valor metapoético. 
Alternativa B está incorreta. No poema, ele exprime o que ele deseja para sua poesia, não explora 
seus dilemas existenciais. 
Alternativa C está incorreta. Não há referência a medos no poema. 
Alternativa D está incorreta. Se fosse parnasiano, o poeta deveria metrificar seu poema. Manuel 
Bandeira se vale do verso livre (sem métrica). 
Alternativa E está correta. O seu desejo poético aparece no primeiro verso “Assim eu quereria o meu 
último poema” e esse tema é metapoético. 
Gabarito: E 
 (MACKENZIE – 2019) 
Texto I 
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 01 Não é fácil dissertar sobre a alimentação dos portugueses durante 02 a Idade Média. 
Escasseiam as fontes informativas: o primeiro livro 03 de receitas culinárias que se conhece não 
é anterior ao século XVI. 04 As descrições de banquetes, colhidas nas crônicas ou noutros textos 
05 narrativos, são em geral parcas em notícias concretas sobre os 06 alimentos consumidos. 
 07 De maneira geral, a alimentação medieval era pobre, se 08 comparada com os padrões 
modernos. A quantidade supria, quantas 09 vezes, a qualidade. A técnica culinária achava-se 
ainda numa fase 10 rudimentar, e as conquistas da cozinha romana haviam-se perdido. 11 A 
condimentação obedecia a princípios extremamente simples. 
 12 As duas refeições principais do dia eram o jantar e a ceia. 13 Jantava-se, nos fins do século 
XIV, por volta das dez horas da manhã; 14 mas nos séculos anteriores, essa hora teria de recuar 
para oito ou 15 nove. Ceava-se pelas seis ou sete horas da tarde. Como ideal de 16 frugalidade, 
aconselhava-se a ausência de qualquer outro repasto 17 durante o dia. É de supor, a partir de 
certa altura, a necessidade de 18 um “almoço” tomado pouco depois do levantar. 
 19 O jantar era a refeição mais forte do dia. O número de 20 pratos servidos andava, em 
média, pelos três, sem contar sopas, 21 acompanhamentos ou sobremesas. Isto, entenda-se, 
em relação ao 22 rei, à nobreza, e ao alto clero. Entre os menos privilegiados ou os 23 menos 
ricos, o número de pratos ao jantar podia descer para dois 24 ou até um. À ceia, baixava para 
dois a média das iguarias tomadas; 25 ou para um, nos outros casos indicados. 
Adaptado de A.H. de Oliveira Marques, A sociedade medieval portuguesa 
 
Texto II 
 01 Havia três estados ou estamentos na sociedade feudal: o clero, 02 a nobreza e o 
campesinato. Os dois primeiros eram privilegiados, 03 reservando-se as funções de ministrar os 
sacramentos religiosos, 04 governar e dar proteção. O terceiro estado, os camponeses, tinha 05 
obrigação de trabalhar para o sustento material de toda a sociedade. 
 06 Os camponeses produziam centeio, trigo, cevada etc. e cuidavam 07 das oliveiras e das 
vinhas. A técnica de produção era rudimentar, os 08 instrumentos de produção, inadequados, 
e a produção, relativamente 09 pequena. O espectro da fome geralmente rondava as choupanas 
dos 10 trabalhadores. 
Adaptado de Heródoto Barbeiro, História Geral 
 
Sobre os textos é correto afirmar que: 
a) uma linguagem objetiva (em tom didático e explicativo) contribui para a presença 
destacada da função referencial. 
b) a presença em destaque de figuras de linguagem como metáfora e personificação contribui 
para as imagens simbólicas transmitidas. 
c) o uso de marcas de subjetividade realça a figura dos autores, que se colocam de modo 
explícito nas construções textuais. 
d) a reconstrução histórica elaborada é feita em tom de ironia, o que confere um efeito de 
sentido de humor aos posicionamentos adotados pelos autores. 
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e) são escritos em linguagem jornalística moderna, com a presença de recursos 
argumentativos típicos dos usados nas novas tecnologias de comunicação. 
Comentários: 
A alternativa A está correta, pois o objetivo do texto é a informação a ser passada, o que condiz com 
a função referencial. 
A alternativa B está incorreta, pois não há grande uso de figuras de linguagem, justamente por se 
tratar de um texto de maior cunho científico e objetivo didático. 
A alternativa C está incorreta, pois não há grandes marcas de subjetividade e os autores não se 
manifestam tão explicitamente no texto. 
A alternativa D está incorreta, pois a reconstrução histórica é feita de forma científica, não irônica, 
em que o foco está na obtenção de informações verossímeis acerca da Idade Média. 
A alternativa E está incorreta, pois os textos não trazem recursos argumentativos típicos da 
modernidade, o que pode ser entendido aqui como as mídias tecnológicas e o advento da internet. 
Tratam-se de textos didáticos, pertencentes a obras escritas. 
Gabarito: A 
 (Insper - 2019) 
Texto I 
 Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. Meu pai, logo 
que teve aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as raias 
de um capricho juvenil. 
 – Dessa vez, disse ele, vais para Europa; vais cursar uma universidade, provavelmente 
Coimbra; quero-te para homem sério e não para arruador e gatuno. E como eu fizesse um gesto 
de espanto: — Gatuno, sim senhor; não é outra cousa um filho que me faz isto... 
(Machado de Assis, Memóri-as Póstumas de Brás Cubas) 
 
Texto II 
Ela deixou um bilhete, dizendo que ia sair fora 
Levou meu coração, alguns CDs e o meu livro mais da hora 
Mas eu não sei qual a razão, não entendi por que ela foi embora 
E eu fiquei pensando em como foi e qual vai ser agora 
 
É que pena, pra mim tava tão bom aqui 
Com a nega mais teimosa e a mais linda que eu já vi 
Dividindo o edredom e o filminho na TV 
Chocolate quente e meus olhar era só pro cê 
Mas cê não quis, eu era mó feliz e nem sabia 
Beijinho de caramelo que recheava meus dia 
(Luccas Carlos, Bilhete 2.0 [fragmento]. Em: https://www.letras.mus.br) 
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Na passagem do Texto I – Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada 
menos. –, o autor faz uma associação insólita entre as expressões destacadas, o que causa certa 
estranheza ao leitor. No Texto II, esse mesmo recurso está presente na passagem: 
a) “Levou meu coração, alguns CDs e o meu livro mais da hora”, reforçando que as perdas 
também recaíram em bens materiais. 
b) “Dividindo o edredom e o filminho na TV”, marcando a relação de conforto e de proximidade 
que inspirava um amor aparentemente inabalável. 
c) “E eu fiquei pensando em como foi e qual vai ser agora”, explicitando a sensação de 
desolação e confusão pela perda da mulher amada. 
d) “Ela deixou um bilhete, dizendo que ia sair fora”, mostrando também o rompimento 
amoroso do casal, assim como no romance. 
e) “Beijinho de caramelo que recheava meus dia”, sugerindo o sentimento do casal como algo 
doce que nem o rompimento será capaz de descaracterizar. 
Comentários: 
A alternativa A está correta. A passagem de Memórias Póstumas indicada retrata a impressão do 
narrador de que Marcela é uma mulher interesseira e que ela só ficou junto a ele enquanto isso 
representou uma vantagem financeira. Assim, o término não foi só emocional, como também 
material. Em “Levou meu coração, alguns CDs e o meu livro mais da hora” fica claro que o narrador, 
após o término de seu relacionamento, também sofreu algumas perdas materiais, pois a ex-
namorada levou, além do coração, CDs e um livro. 
A alternativa B está incorreta. Neste trecho vê-se que o relacionamento parecia bom, mas acabou, 
não que houve perda material. 
A alternativa C está incorreta. O sentimento de desemparo com o término tem a ver com o 
emocional,não com o material nesse trecho. 
A alternativa D está incorreta. Nesse trecho, vê-se como a amada terminou o relacionamento, de 
maneira prosaica, através de um bilhete, mas não indica perdas materiais. 
A alternativa E está incorreta. Esse trecho mostra o modo como ele encarava aquele relacionamento, 
não as perdas que ele teve. 
Gabarito: A 
 (UEG - 2019) 
Leia o poema e a tirinha a seguir. 
 
MAR PORTUGUÊS 
 
1 Ó mar salgado, quanto do teu sal 
2 São lágrimas de Portugal! 
3 Por te cruzarmos, quantas mães choraram, 
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4 Quantos filhos em vão rezaram! 
5 Quantas noivas ficaram por casar 
6 Para que fosses nosso, ó mar! 
 
7 Valeu a pena? Tudo vale a pena 
8 Se a alma não é pequena. 
9 Quem quer passar além do Bojador 
10 Tem que passar além da dor. 
11 Deus ao mar o perigo e o abismo deu, 
12 Mas nele é que espelhou o céu. 
PESSOA, Fernando. Mar Português. 
 In: Antologia Poética. Organização 
 Walmir Ayala. Rio de Janeiro: 
 Nova Fronteira, 2014. p. 15. 
 
 
Disponível em: <https://tirasdidaticas. 
 files.wordpress.com/2014/12/rato79. 
 jpg?w=640&h=215> Acesso 
 em: 13 nov. 2018. 
 
O sentido da tirinha é construído a partir da relação que estabelece com os famosos versos de 
Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena” (linhas 7-8). O modo como 
esses dois textos se relacionam é chamado de 
a) paráfrase 
b) linearidade 
c) metalinguagem 
d) intencionalidade 
e) intertextualidade 
Comentários: A tirinha e o poema se relacionam a partir da frase “tudo vale a pena se a alma não é 
pequena”, que é modificada a partir da similaridade de som. Outra relação entre os dois textos 
está na figura do rato, que se parece visualmente com o poeta Fernando Pessoa. Assim, pode-se 
dizer que ocorre uma intertextualidade entre os dois textos. A alternativa correta é alternativa E. 
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A alternativa A está incorreta, pois uma paráfrase seria reescrever o texto com outras palavras, e 
aqui há uma modificação de sentido nas reescritas. 
A alternativa B está incorreta, pois linearidade seria uma característica de continuidade, o que não 
aparece aqui. 
A alternativa C está incorreta, pois metalinguagem ocorre quando um texto fala sobre o próprio 
ato de escrever, o que não ocorre aqui. 
A alternativa D está incorreta, pois intencionalidade é o ato de fazer algo de maneira deliberada e 
isso não é o que justifica a relação entre os dois textos. 
Gabarito: E 
 (MACKENZIE – 2019) 
Soneto 
v.01 Um mancebo no jogo se descora, 
v.02 Outro bêbado passa noite e dia, 
v.03 Um tolo pela valsa viveria, 
v.04 Um passeia a cavalo, outro namora. 
 
v.05 Um outro que uma sina má devora 
v.06 Faz das vidas alheias zombaria, 
v.07 Outro toma rapé, um outro espia... 
v.08 Quantos moços perdidos vejo agora! 
 
v.09 Oh! Não proíbam pois ao meu retiro 
v.10 Do pensamento ao merencório luto 
v.11 A fumaça gentil por que suspiro. 
 
v.12 Numa fumaça o canto d´alma escuto... 
v.13 Um aroma balsâmico respiro, 
v.14 Oh! Deixai-me fumar o meu charuto! 
 
Mancebo: Rapaz 
Merencório: melancólico 
 
Assinale a alternativa correta. 
a) Os dois primeiros quartetos que compõem o soneto são marcados por uma aprofundada 
especulação filosófica. 
b) O eu lírico, no verso “Quantos moços perdidos vejo agora!”, se furta a fazer uma lamento 
moral sobre sua geração. 
c) Nos dois tercetos finais do poema, está explícita a ideia de que o eu lírico se recolhe da 
vida a fim de pensar na mulher amada. 
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d) Os versos foram compostos em um tom prosaico, imprimindo ao soneto um ar de crônica, 
perceptível em especial nos oito primeiros versos. 
e) Há no poema uma eletrizante positividade em relação às potencialidades da vida. 
Comentários: 
A alternativa A está incorreta, pois a primeira e a segunda estrofes são basicamente descritivas. 
A alternativa B está incorreta, pois o lamento do eu lírico não é sobre a sua própria geração e sim 
sobre a geração que veio depois, composta pelos mais jovens que ele. 
A alternativa C está incorreta, pois nos tercetos finais a fuga do eu lírico é fumar em paz. Não há 
menção da mulher amada. 
A alternativa D está correta, pois os versos se complementam, o que possibilita uma leitura linear e 
próxima da crônica. Especialmente nos primeiros versos parece uma narrativa sequencial devido à 
forma que o poema foi construído. 
A alternativa E está incorreta, pois o poema tem um tom pessimista e desesperançoso em relação à 
geração mais jovem. 
Gabarito: D 
Texto para as questões 16 e 17 
Das vantagens de ser bobo 
O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O 
bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não 
faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando.". 
1Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair 
por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia. 
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão 
sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os 
veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo 
nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, 2o bobo é um Dostoievski. 
Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um 
desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: 3ele disse que o aparelho 
era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e 
compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião 
deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia 
comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, 
e portanto estar tranquilo, enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. 
O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu. 
Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de 
quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a 
célebre frase: "Até tu, Brutus?". 
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Bobo não reclama. Em compensação, como exclama! 
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido 
esperto não teria morrido na cruz. 
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo 
é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem 
passar por bobos. 4Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. 
5Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam 
que saibam que eles sabem. 
Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com 
tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não 
nascer em Minas! 
Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível 
evitar o excesso de amor que o bobo provoca. É que só 6o bobo é capaz de excesso de amor. E 
só o amor faz o bobo. 
LISPECTOR, Clarice. Das vantagens de ser bobo. Disponível em: http://www.revistapazes.com/das-vantagens-de-ser-
bobo/. Acesso em 10 de maio de 2017. Originalmente publicado no Jornal do Brasil em 12 de setembro de 1970. 
 
 (IME - 2018) 
Considere o trecho abaixo, retiradodo texto: 
 
Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam 
que saibam que eles sabem (referência 6). 
 
A autora discorre sobre a posse de um saber. A respeito desse saber, podemos afirmar que 
a) os bobos que se fazem de bobos estão praticando, na verdade, a sabedoria que os espertos 
deveriam ter. 
b) os bobos que aparentemente se fazem de bobos estão praticando, na verdade, a sabedoria 
dos espertos. 
c) os bobos, por serem naturalmente criativos, comprovam possuir a sabedoria necessária para 
vencer. 
d) os bobos, por serem naturalmente criativos, não permitem que ninguém desconfie de sua 
dissimulada esperteza, que nada mais é do que produto de sua criatividade; assim definimos 
sua estratégia para vencer na vida. 
e) os bobos acabam por se tornar espertos e, por isso, ganham as lutas da vida, já que não se 
importam que “saibam que eles sabem”. 
Comentários: A autora afirma que os bobos não agem pensando na opinião dos outros ou em 
comparar-se com os ditos “espertos”. Eles vivem o cotidiano de forma criativa e espontânea. A 
alternativa que melhor se adequa a essa ideia é alternativa C. 
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A alternativa A está incorreta, pois os bobos não “se fazem de bobos”, ou seja, seu comportamento 
não é fingido, mas sim espontâneo. 
A alternativa B está incorreta, pois, assim como em A, não há no texto a ideia de que o bobo 
dissimule seu comportamento. 
A alternativa D está incorreta, pois os bobos apenas vivem, sem planejar ou dissimular seus 
sentimentos e ações. 
A alternativa E está incorreta, pois os bobos não se tornam espertos a partir desse comportamento. 
A autora não tenta aproximar os comportamentos no texto, como se um pudesse virar o outro. 
Gabarito: C 
 (IME - 2018) 
Sobre as considerações a respeito de ser esperto vs. ser bobo encontradas no texto, assinale o 
par de análises que destoa das considerações feitas pela autora. 
a) Os espertos pretendem conquistar o mundo pela sagacidade; o bobo ganha o mundo por 
sua espontaneidade. 
b) Os espertos muitas vezes atingem seus objetivos; os bobos podem ser facilmente 
ludibriados. 
c) O esperto preocupa-se todo o tempo em entender o mundo para tirar proveito desse 
entendimento; ser bobo é sentir o mundo e tomar parte nele. 
d) Os sentimentos do esperto são mais intensos que os do bobo; o coração do bobo é pouco 
acessível. 
e) O esperto é prevenido; o bobo muitas vezes precisa lidar com complicações em que se mete 
por ser bobo. 
Comentários: No último parágrafo do texto, a autora faz referência à relação que o bobo tem com 
o amor em “o amor faz o bobo”. Por isso, não é possível dizer que o coração do bobo é pouco 
acessível. A alternativa que apresenta par de análises que destoa é alternativa D. 
A alternativa A não apresenta incorreções, pois essa é a relação estabelecida ao longo do texto: o 
esperto se esforça para vencer enquanto o bobo só age naturalmente. 
A alternativa B não apresenta incorreções, pois o texto afirma que os espertos tendem a conseguir 
o que querem pela audácia, enquanto os bobos, por confiarem demais, podem ser enganados. 
A alternativa C não apresenta incorreções, pois o texto afirma que o esperto está sempre elaborando 
esquemas, enquanto o bobo apenas vive no mundo. 
A alternativa E não apresenta incorreções, pois o texto afirma que os espertos planejam seus passos, 
enquanto o bobo faz as coisas espontaneamente. 
Gabarito: D 
 (UNESP - 2018) 
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Examine a tira Hagar, o Horrível do cartunista americano Dik Browne (1917-1989). 
 
 (Hagar, o Horrível, vol 1, 2014.) 
 
O ensinamento ministrado por Hagar a seu filho poderia ser expresso do seguinte modo: 
a) “A fome é a companheira do homem ocioso.” 
b) “O estômago que raramente está vazio despreza alimentos vulgares.” 
c) “Nada é mais útil ao homem do que uma sábia desconfiança.” 
d) “Muitos homens querem uma coisa, mas não suas consequências.” 
e) “É impossível para um homem ser enganado por outra pessoa que não seja ele mesmo.” 
Comentários: Esse exercício une interpretação de texto com ditos populares e frases de outros 
escritores. Hagar distrai o filho apontando a aranha no teto para roubar seu pedaço de bolo de 
chocolate. O filho, ingênuo, não percebe o ardil. A lição de Hagar ao filho, portanto, é de que ele não 
pode ser excessivamente confiante nos outros, pois isso pode ser prejudicial a ele. Assim, o dito que 
melhor resume o ensinamento de Hagar é “Nada é mais útil ao homem do que uma sábia 
desconfiança”. Portanto, a alternativa correta é alternativa C. 
A alternativa A está incorreta, pois o significado desse dito é que aquele que não se esforça (homem 
ocioso) não consegue nada que precisa (fome é sua companheira). 
A alternativa B está incorreta, pois o significado desse dito é que aquele que não passa necessidade 
(estômago que raramente está vazio) não dá valor às coisas e despreza aquilo que é comum. 
A alternativa D está incorreta, pois o significado desse dito é que muitas vezes as pessoas querem 
algo, mas não querem o esforço e trabalho envolvido em cuidar disso depois. O gosto está em 
ganhar, não em cultivar. 
A alternativa E está incorreta, pois o significado desse dito é que as pessoas tendem a identificar os 
problemas das situações, mas muitas vezes optam por ignorar e se “autoenganam”. 
Gabarito: C 
 (Insper - 2018) 
Texto 1 
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 O jornal britânico The Guardian publicou nesta quarta-feira [19.07.2017] um longo artigo 
sobre a situação econômica do Brasil. 
 O texto começa contando a história de Miriam Gomes, que às 5 da manhã se dirigia a um 
projeto social que ela coordena em Cidade Nova, no Rio de Janeiro, onde a fila para receber 
uma cesta básica semanal já tem mais de cem metros de comprimento. Alguns haviam dormido 
na rua – aqueles do crescente exército de pessoas sem-teto do Rio, ou que viviam muito longe 
para chegar lá às 6:30 da manhã, quando poderiam começar a pegar uma bolsa de vegetais, 
frutas, arroz, feijão, macarrão, leite e biscoitos, e um pouco de chocolate. 
 Estas são algumas das vítimas de um problema que só piora em um país, uma vez louvado 
pela redução da pobreza, mas onde o número de pobres está subindo novamente, destaca o 
Guardian. O Brasil caiu em sua pior recessão por décadas, com 14 milhões de pessoas 
desempregadas, acrescenta. 
(http://www.jb.com.br. 19.07.2017. Adaptado) 
 
Texto 2 
 No mês passado, 20 instituições da sociedade civil apresentaram o relatório Luz da Agenda 
2030 de Desenvolvimento Sustentável. O documento analisa o desempenho do Brasil para o 
cumprimento dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da Organização das Nações 
Unidas (ONU), mas trouxe alerta sobre o risco de o país voltar a constar no próximo Mapa da 
Fome. Esse levantamento – feito pela instituição da ONU que lida com a agricultura e a 
alimentação, a FAO – indica em quais nações mais de 5% da população ingerem diariamente 
menos calorias que o recomendado. 
 Só em 2014, o Brasil desapareceu do Mapa da Fome. Pela primeira vez, 3% dos brasileiros 
tinham que lidar com a falta de condições para satisfazer a necessidade vital por comida, e, 
assim, o mapa do país deixou de ganhar, no levantamento da FAO, a cor avermelhada. 
(http://www.correiobraziliense.com.br.09.08.2017. Adaptado) 
 
A leitura comparativa dos textos permite concluir que os dois tratam do tema 
a) da economia, mostrando que a recessão econômica tem mantido 3% da população sem 
condições de saciar sua necessidade vital por comida. 
b) da fome, ressaltando um possível retrocessonas condições de pobreza no país, decorrente 
da situação econômica do Brasil. 
c) da redução da pobreza, enfatizando que, mesmo diante de um cenário de desemprego 
negativo, a maior parte da população não passa fome. 
d) do desemprego, explicitando a relação entre este e a fome, cenário sombrio que há décadas 
inclui o Brasil no Mapa da Fome da ONU. 
e) das mazelas do Rio de Janeiro, criticando o aumento de pessoas sem-teto na cidade e, 
consequentemente, a inserção do Brasil no Mapa da Fome. 
Comentários: 
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A alternativa A está incorreta. O texto 2 aponta que apenas em 2014 o Brasil saiu do mapa da fome, 
pois alcançou apenas 3% da população sem acesso à alimentação. A recessão é um processo tratado 
como posterior pelo texto 1. 
A alternativa B está correta. Os dois textos tratam da fome. Enquanto o texto 1 aponta os efeitos da 
crise econômica sobre o acesso à alimentação por parte da população (em 2017), o texto 2 mostra 
que em 2014 a condição estava diferente: o Brasil tinha saído do mapa da fome. Cruzando os dois 
textos, fica claro que há um receio, principalmente no final do texto 1, de que o Brasil volta ao mapa 
da fome. 
A alternativa C está incorreta. A ação narrada no texto 1 aponta que a população está sofrendo os 
efeitos da fome no Brasil. 
A alternativa D está incorreta. O texto 2 aponta que o Brasil tinha saído do mapa da fome, ou seja, 
o cenário sombrio quanto à fome não era igual. Além disso, o texto 1 aponta para o aumento no 
número de desempregados. 
A alternativa E está incorreta. As situações narradas não se referem apenas ao Rio de Janeiro, mas a 
todo o Brasil. 
Gabarito: B 
 (UERJ – 2018) 
NO MEIO DO CAMINHO 
 1 O homem ia andando e encontrou uma pedra no meio do caminho. Milhões de homens 
encontram 2 uma pedra no caminho e dela se esquecem. Um poeta, que talvez nunca tenha 
encontrado pedra 3 nenhuma, que fatalmente esqueceu muitas coisas, esqueceu caminhos que 
andou e pedras que não 4 encontrou, fez um poema dizendo que nunca esqueceria a pedra 
encontrada no meio do caminho. 
 5 Se a rosa é uma rosa, a pedra deveria ser uma pedra, mas nem sempre é. No meu primeiro 
dia de 6 escola, da qual seria expulso por não saber falar o mínimo que se espera de uma 
criança, minha tia e 7 madrinha, que nós chamávamos de Doneta, mas tinha outro nome do 
qual me esqueci, levou-me pela 8 mão em silêncio, e em silêncio ia eu, sem saber o que 
representava o primeiro dia de escola. 
 9 Quando percebi o que seria aquilo – misturar-me a meninos estranhos e ferozes, ficar 
longe de casa e da 10 mão da minha tia e madrinha – entrei a espernear, aos berros – aos quais 
mais tarde renunciaria por inúteis. 
 11 Foi então que a tia e madrinha definiu a situação, dizendo com sabedoria: “São os 
abrolhos, meu filho”. 
 12 Sim, os abrolhos começaram e até hoje não acabaram. Não sei bem o que é um abrolho, 
mas deve 13 ser uma pedra no caminho da gente. A diferença mais substancial é que bastou 
uma pedra no meio do 14 caminho para que um poeta dela não se esquecesse. 
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 15 Não sendo poeta, não me lembro de ter topado com pedra nenhuma no meio do 
caminho. Mas, 16 em matéria de abrolhos, sou douto. Mesmo não sabendo em que consiste 
um abrolho. 
 17 Como disse acima, tiraram-me daquele abrolho inicial porque não sabia falar. Aprendi a 
escrever 18 mal e porcamente, e os abrolhos vieram em legião. Faço força para esquecê-los, 
mas volta e meia 19 penso que seria melhor encontrar uma pedra no meio do caminho. 
CARLOS HEITOR CONY 
Folha de São Paulo, 05/05/2002. 
 
A crônica “No meio do caminho” faz referência a um poema de mesmo título, de Carlos 
Drummond de Andrade, cuja primeira estrofe se lê a seguir: 
No meio do caminho tinha uma pedra 
Tinha uma pedra no meio do caminho 
Tinha uma pedra 
No meio do caminho tinha uma pedra 
 
O tipo de relação intertextual que se estabelece entre a crônica e o poema pode ser definido 
como: 
a) plágio 
b) alusão 
c) citação 
d) paráfrase 
Comentários: 
A alternativa A está incorreta. O plágio ocorre quando há a cópia não citada ou devidamente 
referida, que não ocorre aqui, já que o autor não alega que essas frases sejam de sua autoria. 
A alternativa B está correta. Uma alusão é uma menção rápida ou vaga, que é exatamente o que 
ocorre aqui. O autor menciona esses versos inicialmente para depois desdobrar o assunto dos 
obstáculos no caminho. 
A alternativa C está incorreta. O autor não cita a referência de autoria dos versos. 
A alternativa D está incorreta. O autor não reescreve com suas palavras os versos. 
Gabarito: B 
 (UFU - 2018) 
Texto I 
Nada mais lindo que um açude sangrando [...]. Não há como não se arrupiar todinho diante de 
tal fenômeno. Levo essa ideia da chuva para onde for, só a chuva nos importa [...]. A chuva é 
meu gol, minha Copa do Mundo, Deus gozando a glória, meu amor. 
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SÁ, Xico. Chove no sertão e não tem 
 nada mais bonito. El País, 24 fev. 20- 
18. Disponível em: <https://goo.gl/D2 
k4eA>. Acesso em: 27 abr. 2018. 
Texto II 
Oh! Deus, 
Perdoe esse pobre coitado, 
Que de joelhos rezou um bocado, 
Pedindo pra chuva cair, 
Cair sem parar. 
GORDURINHA; NELINHO. Súplica cea- 
rense. In: O RAPPA. 7 vezes. Álbum, 2008. 
 
Considere as seguintes afirmações. 
I. Em ambos os textos, a palavra Deus é um elemento do predicado. 
II. No texto I, a palavra Deus integra o predicativo do sujeito. 
III. No texto II, a palavra Deus exerce a mesma função sintática que a expressão “meu amor”, 
presente no texto I. 
IV. Em ambos os textos, a palavra Deus constitui um termo acessório da oração. 
São corretas as afirmações apresentadas em 
a) I e II. 
b) II e III. 
c) I e III. 
d) III e IV. 
Comentários: 
A alternativa I está incorreta, pois no segundo texto Deus é vocativo. 
A alternativa II está correta, pois a palavra Deus está na frase “ a chuva é Deus gozando glória”, em 
que “Deus gozando glória” é predicativo do sujeito. 
A alternativa III está correta, pois “Deus” e “meu amor” exercem a função de vocativo. 
A alternativa IV está incorreta, pois no primeiro texto, a palavra Deus integra o predicativo do sujeito. 
Gabarito: B 
 (UNESP - 2018) 
Leia o excerto do “Sermão do bom ladrão”, de Antônio Vieira (1608-1697). 
 
Navegava Alexandre [Magno] em uma poderosa armada pelo Mar Eritreu a conquistar a 
Índia; e como fosse trazido à sua presença um pirata, que por ali andava roubando os 
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pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão mau ofício; porém ele, que não 
era medroso nem lerdo, respondeu assim: “Basta, Senhor, que eu, porque roubo em uma 
barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador?”. Assim é. O roubar 
pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar 
com muito, os Alexandres. Mas Sêneca, que sabia bem distinguir as qualidades, e interpretar 
as significações, a uns e outros, definiu com o mesmo nome: [...] Se o rei de Macedônia, ou 
qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata; o ladrão, o pirata e o rei, todos têm o mesmo 
lugar, e merecem o mesmo nome. 
Quando li isto em Sêneca, não me admirei tanto de que um filósofo estoico se atrevesse a 
escrever uma tal sentença em Roma, reinando nela Nero; o que mais me admirou, e quase 
envergonhou, foi que os nossos oradores evangélicos em tempo de príncipes católicos, ou para 
a emenda, ou para a cautela, não preguem a mesma doutrina. Saibam estes eloquentes mudos 
quemais ofendem os reis com o que calam que com o que disserem; porque a confiança com 
que isto se diz é sinal que lhes não toca, e que se não podem ofender; e a cautela com que se 
cala é argumento de que se ofenderão, porque lhes pode tocar. [...] 
Suponho, finalmente, que os ladrões de que falo não são aqueles miseráveis, a quem a 
pobreza e vileza de sua fortuna condenou a este gênero de vida, porque a mesma sua miséria 
ou escusa ou alivia o seu pecado [...]. O ladrão que furta para comer não vai nem leva ao 
Inferno: os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são os ladrões de maior calibre e de 
mais alta esfera [...]. Não são só ladrões, diz o santo [São Basílio Magno], os que cortam bolsas, 
ou espreitam os que se vão banhar, para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e 
dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e 
legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, 
já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes 
roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor, nem perigo: 
os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam. 
(Essencial, 2011.) 
 
Assinale a alternativa cuja citação se aproxima tematicamente do “Sermão do bom ladrão” de 
Antônio Vieira. 
a) “Rouba um prego, e serás enforcado como um malfeitor; rouba um reino, e tornar-te-ás 
duque.” (Chuang-Tzu, filósofo chinês, 369-286 a.C.) 
b) “Para quem vive segundo os verdadeiros princípios, a grande riqueza seria viver 
serenamente com pouco: o que é pouco nunca é escasso.” (Lucrécio, poeta latino, 98-55 a.C.) 
c) “O dinheiro que se possui é o instrumento da liberdade; aquele que se persegue é o 
instrumento da escravidão.” (Rousseau, filósofo francês, 1712-1778) 
d) “Que o ladrão e a ladra tenham a mão cortada; esta será a recompensa pelo que fizeram e 
a punição da parte de Deus; pois Deus é poderoso e sábio.” (Alcorão, livro sagrado islâmico, 
século VII) 
e) “Dizem que tudo o que é roubado tem mais valor.” (Tirso de Molina, dramaturgo espanhol, 
1584-1648) 
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Comentários: Esse exercício une interpretação de texto com filosofia e frases de outros escritores. 
Um dos principais pontos do texto se encontra no primeiro parágrafo, no trecho “Assim é. O roubar 
pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com 
muito, os Alexandres.” A crítica está na diferença com que se tratam as pessoas dependendo de sua 
posição social: os mais pobres são tratados mais duramente em relação aos ricos. A justiça não é 
justa para todos, portanto. A alternativa que apresenta uma mensagem semelhante é “Rouba um 
prego, e serás enforcado como um malfeitor; rouba um reino, e tornar-te-ás duque”. Portanto, a 
alternativa correta é alternativa A. 
A alternativa B está incorreta, pois essa frase significa que deve-se viver sem ganância, entendendo 
que deve-se apenas buscar o essencial. 
A alternativa C está incorreta, pois essa frase significa que não se deve ficar constantemente em 
busca de dinheiro ou bens financeiros. O dinheiro que se ganha e usufrui possibilita coisas boas, mas 
aquele que se deseja infinitamente, impede que vivamos aquilo que já conseguimos. 
A alternativa D está incorreta, pois essa frase significa que aquele que roubou deve ser punido, sem 
fazer referência a quem deve ser mais ou menos punido por seu crime. 
A alternativa E está incorreta, pois essa frase significa que aquilo que é proibido tem um maior valor. 
Gabarito: A 
 (UNESP - 2017) 
Leia o soneto XLVI, de Cláudio Manuel da Costa (1729-1789). 
Não vês, Lise, brincar esse menino 
Com aquela avezinha? Estende o braço, 
Deixa-a fugir, mas apertando o laço, 
A condena outra vez ao seu destino. 
 
Nessa mesma figura, eu imagino, 
Tens minha liberdade, pois ao passo 
Que cuido que estou livre do embaraço, 
Então me prende mais meu desatino. 
 
Em um contínuo giro o pensamento 
Tanto a precipitar-me se encaminha, 
Que não vejo onde pare o meu tormento. 
 
Mas fora menos mal esta ânsia minha, 
Se me faltasse a mim o entendimento, 
Como falta a razão a esta avezinha. 
(Domício Proença Filho (org.). A poesia dos inconfidentes, 1996.) 
 
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No soneto, o menino e a avezinha, mencionados na primeira estrofe, são comparados, 
respectivamente, 
a) ao eu lírico e a Lise. 
b) a Lise e ao eu lírico. 
c) ao desatino e ao eu lírico. 
d) ao desatino e à liberdade. 
e) a Lise e à liberdade. 
Comentários: O eu lírico descreve a seguinte cena: um menino está brincando com uma pequena 
ave. A ave está presa por um laço – uma fita – e o menino finge deixá-la livre, apenas para puxá-la 
de volta novamente. Para o poeta, o destino da avezinha é ficar presa, porém sem sabê-lo. 
Assim também o poeta se sente em relação à Lise: a amada é dona de sua liberdade e mantém o eu 
lírico preso a ela. Por vezes, ele crê ter se libertado, porém ela o puxa de volta, mostrando que ainda 
é sua dona. 
Logo, Lise é como se fosse o menino e o eu lírico é como se fosse a avezinha. 
A alternativa correta é alternativa B. 
Gabarito: B 
 (PUC SP - 2017) 
De Caetano a Guimarães Rosa, veja as referências de Cármen Lúcia em seu discurso de posse 
POR LUMA POLETTI | 13/09/2016 10:00 
 Ao longo de seu discurso de posse, a ministra Cármen Lúcia, que assumiu a presidência do 
Supremo Tribunal Federal nesta segunda-feira (12), citou trechos de canções de Caetano 
Veloso, Titãs, além de versos de Cecília Meirelles, Carlos Drummond de Andrade, Paulo 
Mendes Campos e fez menção a Riobaldo, personagem de Grande Sertão: Veredas, clássico de 
Guimarães Rosa e uma das mais. 
 A escolha das referências musicais da ministra dá pistas sobre sua visão acerca do atual 
momento sociopolítico. Citando o cantor e compositor Caetano Veloso, presente na sessão – 
que interpretou em voz e violão o hino nacional – Cármen Lúcia concordou que “alguma coisa 
está fora da ordem”. 
“ Caetanos e não caetanos deste Brasil tão plural concluem em uníssono: alguma coisa está 
fora de ordem, fora da nova ordem mundial”, disse a ministra. “O que nos cumpre, a nós 
servidores públicos em especial, é questionar e achar resposta: de qual ordem está tudo 
fora…”, acrescentou. 
 O cantor já se posicionou contra o governo do presidente Michel Temer, nos bastidores da 
cerimônia de abertura das Olimpíadas de 2016. 
 A nova presidente do STF também citou a música “Comida”, da banda Titãs. “Cumpre-nos 
dedicar-nos de forma intransigente e integral a dar cobro ao que nos é determinado pela 
Constituição da República e que de nós é esperado pelo cidadão brasileiro, o qual quer saúde, 
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educação, trabalho, sossego para andar em paz por ruas, estradas do país e trilhas livres para 
poder sonhar além do mais. Que, como na fala do poeta da música popular brasileira, ninguém 
quer só comida, quer também diversão e arte”. 
 Um dos compositores da canção citada é Arnaldo Antunes, que também se posicionou 
contra o impeachment de Dilma Rousseff nas redes sociais. 
 
Versos 
 Cármen Lúcia também citou versos da escritora Cecília Meireles, ao dizer que “liberdade é 
um sonho que o mundo inteiro alimenta” – da obra Romanceiro da Inconfidência, lançada em 
1953. “Se, no verso de Cecília Meireles, a liberdade é um sonho, que o mundo inteiro alimenta, 
parece-me ser a Justiça um sentimento, que a humanidade inteira acalenta”, discursou a 
ministra. 
 Mais adiante em seu discurso, Cármen Lúcia fez menção a um personagem do livro Grande 
Sertão: Veredas, do escritor mineiro (tal como a ministra)Guimarães Rosa. “Riobaldo afirmava 
que 'natureza da gente não cabe em nenhuma certeza'. Mas parece-me que a natureza da 
gente não se aguenta em tantas incertezas. Especialmente quando o incerto é a Justiça que se 
pede e que se espera do Estado”, disse a nova presidente do STF. 
 Em seguida, outro escritor mineiro foi lembrado por Cármen Lúcia. “Em tempos cujo nome 
é tumulto escrito em pedra, como diria Drummond, os desafios são maiores. Ser difícil não 
significa ser impossível. De resto, não acho que para o ser humano exista, na vida, o 
impossível”, disse a ministra, em referência ao poema “Nosso tempo”, do escritor mineiro. 
 A sucessora de Ricardo Lewandowski concluiu o discurso citando um terceiro escritor 
mineiro: Paulo Mendes Campos. “O Judiciário brasileiro sabe dos seus compromissos e de suas 
responsabilidades. Em tempo de dores multiplicadas, há que se multiplicarem também as 
esperanças, à maneira da lição de Paulo Mendes Campos”, disse Cármen Lúcia, em referência 
ao “Poema Didático”, de Paulo Mendes Campos. 
Disponível em: http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/de-caetano-a-guimaraes-rosa-vejaas- referencias-de-
carmen-lucia-em-seu-discurso-de-posse/ . Acesso em: 26 set.2016. [Adaptado] 
 
Ao recuperar fragmentos das canções, dos versos e do romance, a ministra 
a) faz uso da metalinguagem para ilustrar suas ideias e referir-se à própria linguagem como 
recurso expressivo que sustenta suas teses. 
b) recorre à paráfrase para, com suas próprias palavras, destacar os procedimentos linguísticos 
dos quais os diversos autores mencionados fazem uso. 
c) se vale da paródia para satirizar os pensamentos dos autores citados e diluir o conteúdo mais 
denso dos pensamentos retratados. 
d) estabelece a intertextualidade para manifestar traços de seu ponto de vista sobre diferentes 
aspectos da situação atual. 
Comentários: 
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A alternativa A está incorreta. A ministra faz uso de referências literárias para se posicionar acerca 
de suas expectativas e compromissos para com o cargo, não para referir-se à própria linguagem. 
A alternativa B está incorreta. O importante não são os procedimentos linguísticos, mas sim as 
mensagens das referências. 
A alternativa C está incorreta. A ministra não satiriza a fala dos artistas, mas sim se vale delas para 
passar sua mensagem. 
A alternativa D está correta. A ministra fez uso de múltiplas referências literárias para manifestar 
suas posições acerca de seu cargo, do papel do judiciário, sobre o momento social brasileiro etc. 
Gabarito: D 
 (FATEC - 2017) 
Incontentado 
Paixão sem grita, amor sem agonia, 
Que não oprime nem magoa o peito, 
Que nada mais do que possui queria, 
E com tão pouco vive satisfeito... 
 
Amor, que os exageros repudia, 
Misturado de estima e de respeito, 
E, tirando das mágoas alegria, 
Fica farto, ficando sem proveito... 
 
Viva sempre a paixão que me consome, 
Sem uma queixa, sem um só lamento! 
Arda sempre este amor que desanimas! 
 
Eu, eu tenha sempre, ao murmurar teu nome, 
O coração, malgrado o sofrimento, 
Como um rosal desabrochado em rimas. 
<https://tinyurl.com/nxwg9mp> Acesso em: 17.02.2017. 
 
O eu lírico do poema está em busca de um amor específico. 
Esse amor deve 
a) estar em chamas, a ponto de matar o eu lírico. 
b) conter beleza, mesmo que machuque o eu lírico. 
c) deixar o eu lírico calmo, sem atrapalhar a vida dele. 
d) ser completamente cordial, a reverenciar o eu lírico. 
e) transformar todas as mágoas do eu lírico em alegria. 
Comentários: 
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A alternativa A está incorreta. A palavra “arder” está no sentido figurado no texto, não literal. O 
amor não vai matar o eu-lírico literalmente. 
A alternativa B está correta. Nos últimos versos lê-se “O coração, malgrado o sofrimento, / Como 
um rosal desabrochado em rimas”. “malgrado” significa “apesar de”, logo, pode-se compreender 
esses versos como o desejo do poeta de ter um coração cheio de rosas, de amor, ainda que sofra. O 
amor é belo mesmo que possa doer. 
A alternativa C está incorreta. O amor parece perturbar o eu-lírico, a ponto de o fazer “arder”. 
A alternativa D está incorreta. O amor defendido pelo eu-lírico não é o pacífico e satisfeito, mas sim 
o que agita e causa furor. 
A alternativa E está incorreta. O amor que o eu-lírico busca traz junto consigo mágoas, pois é forte 
e cheio de paixão. 
Gabarito: B 
 (ITA - 2016) 
A adivinha é um gênero da oralidade popular que formula construções como: “O que é, o que 
é: tem escamas mas não é peixe, tem coroa mas não é rei? O abacaxi!. Ela consiste num jogo 
enigmático de perguntas que, por conter dualidades e oposições, leva o ouvinte a pensar. 
Considerando essa definição, leia o poema abaixo de Orides Fontela. 
 
Adivinha 
 
O que é impalpável 
mas 
pesa 
 
o que é sem rosto 
mas 
fere 
 
o que é invisível 
mas 
dói. 
 
(Em: Teia. São Paulo: Geração Editorial, 1996.) 
 
Considere as seguintes afirmações: 
I. O poema mantém alguns traços formais da adivinha popular. 
II. Como a adivinha popular, a do poema possui uma única resposta, que é um elemento 
concreto. 
III. A adivinha do poema é uma reinvenção da adivinha popular. 
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Está(ão) correta(s) apenas: 
a) I. 
b) I e II. 
c) I e III. 
d) II. 
e) II e III. 
Comentários: 
O item I está correto, pois a escrita do poema lembra o jogo de adivinha de “o que é, o que é”. 
O item II está incorreto, pois não é possível afirmar que haja apenas uma resposta para as 
adivinhações. 
O item III está correto, pois há uma reimaginação lírica de uma adivinhação simples, normalmente 
ligada a uma explicação metafórica de um item concreto, como o abacaxi. 
Gabarito: C 
 (UNESP - 2016) 
Leia o trecho inicial de um poema de Álvaro de Campos, heterônimo do escritor Fernando 
Pessoa (1888-1935). 
 
Esta velha angústia, 
Esta angústia que trago há séculos em mim, 
Transbordou da vasilha, 
Em lágrimas, em grandes imaginações, 
Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror, 
Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum. 
 
Transbordou. 
Mal sei como conduzir-me na vida 
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma! 
Se ao menos endoidecesse deveras! 
Mas não: é este estar entre, 
Este quase, 
Este poder ser que..., 
Isto. 
 
Um internado num manicômio é, ao menos, alguém, 
Eu sou um internado num manicômio sem manicômio. 
Estou doido a frio, 
Estou lúcido e louco, 
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Estou alheio a tudo e igual a todos: 
Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura 
Porque não são sonhos. 
Estou assim... 
 
Pobre velha casa da minha infância perdida! 
Quem te diria que eu me desacolhesse tanto! 
Que é do teu menino? Está maluco. 
Que é de quem dormia sossegado sob o teu teto provinciano? 
Está maluco. 
Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou. 
(Obra poética, 1965.) 
 
 “Pobre velha casa da minha infância perdida! / Quem te diria que eu me desacolhesse tanto! 
/ Que é do teu menino? Está maluco. / Que é de quem dormia sossegado sob o teu teto 
provinciano? / Está maluco. / Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou.” (4ª 
estrofe) 
 
O tom predominante nesta estrofe é de 
a) indiferença. 
b) ingenuidade. 
c) incerteza. 
d) acolhimento. 
e) desamparo. 
Comentários: O trecho destacado fala sobre a infância perdida e sobre como a casa de sua infância 
já não é mais tão acolhedora quanto no passado. O poema é sobre angústia. Assim, a alternativa que 
melhor define o tom predominante é “desamparo”,alternativa E. 
A alternativa A está incorreta, pois para que houvesse indiferença, o eu lírico precisaria não ter 
grandes sentimentos sobre a casa e não é o caso aqui. 
A alternativa B está incorreta, pois a ingenuidade não aparece aqui, já que o eu lírico vê a casa de 
sua família com um olhar cru, sem ilusões. 
A alternativa C está incorreta, pois apesar de haver muitas interrogações, todas elas são respondidas 
e explicadas. 
A alternativa D está incorreta, pois a casa é vista como o oposto, como “desacolhedora”. 
Gabarito: E 
 (ITA - 2014) 
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Considere o poema abaixo, de Carlos Drummond de Andrade, à luz da reprodução da pintura 
de Edvard Munch a que ele se refere. 
 
O grito (Munch) 
 
A natureza grita, apavorante. 
Doem os ouvidos, dói o quadro. 
 
 
O texto de Drummond 
I. traduz a estreita relação entre a forma e o conteúdo da pintura. 
II. mostra como o desespero do homem retratado repercute no ambiente. 
III. contém o mesmo exagero dramático e aterrorizante da pintura. 
IV. interpreta poeticamente a pintura. 
 
Está(ão) correta(s) 
a) apenas I e II. 
b) apenas I, II e IV. 
c) apenas II, III e IV. 
d) apenas III e IV. 
e) todas. 
Comentários: 
A alternativa I está correta, pois o texto de Drummond analisa como a natureza ao redor (forma) 
influencia no sentimento do homem retratado (conteúdo), isto é, no sofrimento e horror que ele 
demonstra. 
A alternativa II está correta, pois, como mencionado em I a poesia analisa a influência do ambiente 
no sofrimento do homem. 
A alternativa III está correta, pois o quadro, de vanguarda expressionista, exagera nos sentimentos. 
Analogamente, o poema traz, em apenas 2 versos, o adjetivo apavorante e o verbo doer duas vezes. 
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A alternativa IV está correta, pois o poema traz uma clara intertextualidade (expressa inclusive no 
próprio título) com a obra de Munch. 
Gabarito: E 
 (UFU - 2015) 
A Possêidon 
Dádivas colhi do mar e a Possêidon, meu canto. 
 
Se a terra adormece e estéril é seu repouso, 
Avanças, poderoso! O fundamento das coisas estremece, 
Rochedos fendem-se, crispa-se o arvoredo. Mais que os ventos, 
Impões o fluxo e a mudança. Lampejos da aurora se acendem 
No poente. Move meu canto, move a Terra num bramido, 
Touro do Mar, e um novo reino instaura, dissolvendo 
Nas águas a impureza dos feitos. Acenda-se o olhar humano 
Em chama renovada e às almas de luz os corpos se reúnam! 
SILVA, Dora Ferreira. Hídrias. São Paulo: Odysseus, 2004.p.48. 
 
De acordo com a leitura do poema acima, assinale a alternativa correta. 
a) Possêidon, rei dos mares, cuja principal característica é a estagnação, com seu rugido 
estridente, instaura um novo reino na terra, lavando com suas águas impuras tanto as árvores 
como os rochedos. 
b) A expressão “Touro do mar” é metáfora da exuberância e da fertilidade deste deus das 
águas, que com seu caráter imutável, fecundava tanto a terra infrutífera como os oceanos 
estéreis. 
c) Ao retratar de forma irônica e paródica as habilidades desproporcionais de Possêidon, a 
poeta mantém o discurso jocoso que perpassa todos os outros poemas da obra Hídrias. 
d) O poema dialoga com o título da obra, Hídrias, ao enfocar Possêidon, violento rei das águas 
e dos oceanos, também conhecido como Netuno, o qual tinha o poder de provocar a 
instabilidade nos mares. 
Comentários: 
A alternativa A está incorreta, pois Poseidon não é estagnado, como mostra o trecho: “Impões o 
fluxo e a mudança”. 
A alternativa B está incorreta, pois o caráter imutável não representa Poseidon, de acordo com o 
mesmo trecho que refuta a alternativa A. 
A alternativa C está incorreta, pois não e possível afirmar nada sobre os demais poemas de Hídrias. 
A alternativa D está correta, pois Hídrias são antigos potes de carregar água e, portanto, relacionam-
se com Poseidon. 
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Gabarito: D 
 (UNITAU – 2015) 
Leia o trecho do poema-canção Aluga-se, de autoria de Raul Seixas e Cláudio Roberto Andrade 
de Azevedo. 
 
A solução pro nosso povo 
Eu vou dá 
Negócio bom assim 
Ninguém nunca viu 
Tá tudo pronto aqui 
É só vim pegar 
A solução é alugar o Brasil!... 
[...] 
Os estrangeiros, 
Eu sei que eles vão gostar 
Tem o Atlântico 
Tem vista pro mar 
A Amazônia 
É o jardim do quintal 
E o dólar deles 
Paga o nosso mingau... 
[...] 
Nós não vamos pagar nada 
Lalalalá! 
Nós não vamos pagar nada 
É tudo free! 
Tá na hora agora é free 
Vamo embora 
Dá lugar pros gringo entrar 
Que esse imóvel tá prá alugar 
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!... 
 
Em relação à construção do sentido proposto pelos autores do poema-canção em análise, 
pode-se dizer que o texto 
a) se aproxima, ironicamente, da linguagem publicitária, a fim de tecer uma crítica à situação 
do país. 
b) propõe, lançando mão de linguagem denotativa, que os estrangeiros paguem o “mingau” 
dos brasileiros. 
c) sugere, utilizando o estrangeirismo free, que os brasileiros não paguem aluguel no país. 
d) exalta as belezas brasileiras, como a Amazônia e os mares, a fim de fazer propaganda do país 
para turistas gringos. 
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e) critica a situação do povo brasileiro que não cuida das riquezas naturais do próprio país, e 
dá como solução o aluguel do Brasil aos gringos. 
Comentários: 
A alternativa A está correta. A letra da canção simula o discurso publicitário das promoções, muito 
característico da televisão e das grandes magazines, que anunciam seus produtos no estilo clássico 
do “o patrão ficou maluco”. Isso se comprova pelos trechos “Negócio bom assim / Ninguém nunca 
viu / Tá tudo pronto aqui”. Há também a propaganda imobiliária, como se fosse um corretor de 
imóveis falando: “Tem o Atlântico / Tem vista pro mar / A Amazônia / É o jardim do quintal”. 
A alternativa B está incorreta. A canção é escrita em linguagem denotativa, toda figurada, indicando 
metaforicamente a submissão aos estrangeiros em que o Brasil voluntariamente se coloca. 
A alternativa C está incorreta. A ideia de aluguel é metafórica aqui, não literal. Sugere que devíamos 
entregar o Brasil para os estrangeiros como metáfora para os interesses que outros países têm no 
Brasil. 
A alternativa D está incorreta. A música não é publicitária, portanto, não tem a intenção de fazer 
propagandas turísticas. 
A alternativa E está incorreta. A música aponta para os olhares estrangeiros voltados para o Brasil e 
critica a postura de nosso país diante desses interesses, muitas vezes submissa. Assim, o autor 
sugere que era melhor entregar logo o Brasil de graça para os estrangeiros. 
Gabarito: A 
Texto comum às questões 31, 32 e 33 
Considere a passagem de um romance de Autran Dourado (1926- 2012). 
A gente Honório Cota 
Quando o coronel João Capistrano Honório Cota mandou erguer o sobrado, tinha pouco 
mais de trinta anos. Mas já era homem sério de velho, reservado, cumpridor. Cuidava muito 
dos trajes, da sua aparência medida. O jaquetão de casimira inglesa, o colete de linho 
atravessado pela grossa corrente de ouro do relógio; a calça é que era como a de todos na 
cidade — de brim, a não ser em certas ocasiões (batizado, morte, casamento — então era 
parelho mesmo, por igual), mas sempre muito bem passada, o vinco perfeito. Dava gosto ver: 
O passo vagaroso de quem não tem pressa — o mundo podia esperar por ele, o peito 
magro estufado, os gestos lentos, a voz pausada e grave, descia a rua da Igreja 
cumprimentando cerimoniosamente, nobremente, os que por ele passavam ouos que 
chegavam na janela muitas vezes só para vê-lo passar. 
Desde longe a gente adivinhava ele vindo: alto, magro, descarnado, como uma ave 
pernalta de grande porte. Sendo assim tão descomunal, podia ser desajeitado: não era, dava 
sempre a impressão de uma grande e ponderada figura. Não jogava as pernas para os lados 
nem as trazia abertas, esticava-as feito medisse os passos, quebrando os joelhos em reto. 
Quando montado, indo para a sua Fazenda da Pedra Menina, no cavalo branco ajaezado 
de couro trabalhado e prata, aí então sim era a grande, imponente figura, que enchia as vistas. 
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Parecia um daqueles cavaleiros antigos, fugidos do Amadis de Gaula ou do Palmeirim, quando 
iam para a guerra armados cavaleiros. 
(Ópera dos mortos, 1970.) 
 (UNESP - 2015) 
No primeiro parágrafo, com a frase “então era parelho mesmo, por igual”, o narrador faz 
referência ao fato de o coronel 
a) vestir em certos eventos sociais a calça também de casimira. 
b) ser par para qualquer desafio que lhe fizessem. 
c) usar também em certas ocasiões o jaquetão de brim. 
d) usar roupas iguais às de todos na cidade. 
e) demonstrar sua humildade por meio das roupas. 
Comentários: O narrador descreve que que o coronel “Cuidava muito dos trajes, da sua aparência 
medida”. Que ele usava jaquetão de casimira inglesa, o colete de linho e corrente de ouro para o 
relógio. Ao mesmo tempo, ele também menciona que a calça eu usava era de brim – o famoso jeans 
– que todos usavam na cidade. Ele só usava outra calça, a que fazia conjunto com a jaqueta, em 
ocasiões especiais ou eventos festivos. “parelho” significa, nesse contexto, usar o terno completo 
(jaqueta e calça) que, nesse caso, é feito de casimira. Portanto, a alternativa correta é alternativa A. 
A alternativa B está incorreta, pois o trecho destacado não fala sobre desafios ou brigas, mas sim 
sobre o modo como o coronel se vestia no seu dia a dia e nas ocasiões festivas. 
A alternativa C está incorreta, pois o trecho destacado cria uma concessão à calça, não à jaqueta: o 
coronel usa jaqueta de casimira e calça de brim no dia a dia, mas em ocasiões especiais usa tanto a 
jaqueta quanto a calça de casimira. 
A alternativa D está incorreta, pois apenas a calça que o coronel utiliza é igual a te todos os outros. 
O restante de seus trajes é diferente do resto da população. 
A alternativa E está incorreta, pois o coronel não faz questão de parecer humilde, uma vez que se 
apresenta usando trajes mais finos do que o restante da população. 
Gabarito: A 
 (UNESP - 2015) 
No terceiro parágrafo, a comparação do coronel com uma ave pernalta representa 
a) um recurso expressivo para ilustrar sua aparência e sua presença física. 
b) uma figura de retórica sem grande significado descritivo. 
c) uma imagem visual de seu temperamento amável, mas perigoso. 
d) uma imagem que busca representar sua impressionante beleza. 
e) um modo de chamar atenção para o ambiente rústico em que vivia. 
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Comentários: O trecho em que essa comparação aparece é “Desde longe a gente adivinhava ele 
vindo: alto, magro, descarnado, como uma ave pernalta de grande porte”. 
Ainda que você não conhecesse a palavra “pernalta” seria possível presumir seu significado a partir 
da formação da palavra. Se ela é formada por “perna” e “alta”, possivelmente ela signifique algo 
como “que possui pernas longas”. 
“pernalta” é um nome vulgar para aves que possuem pernas longas, finas e sem penas, como os 
flamingos, as cegonhas e outros. Assim, fica claro que esse adjetivo se refere à aparência do coronel 
e ao modo como ele caminha ou se coloca fisicamente. A alternativa correta é alternativa A. 
A alternativa B está incorreta, pois esse adjetivo é usado para que o leitor compreenda como o 
coronel aparenta fisicamente. Tem, portanto, forte caráter descritivo, já que o leitor não possui 
nenhuma imagem do coronel e depende apenas da descrição do narrador para obter a informação. 
A alternativa C está incorreta, pois “pernalta” aparece no texto acompanhando outros adjetivos 
relacionados à aparência do coronel. Portanto, esse termo não poderia ser relacionado ao 
temperamento da personagem. 
A alternativa D está incorreta, pois não há referência a beleza em si, apenas à magreza (descarnado) 
e à altura. 
A alternativa E está incorreta, pois a descrição do seu físico não está necessariamente condicionada 
ao meio em que vive ou se encontra. 
Gabarito: A 
 (UNESP - 2015) 
Em seu conjunto, a descrição do coronel sugere uma figura que 
a) exibe um temperamento tímido e fechado. 
b) manifesta desprezo por tudo à sua volta. 
c) demonstra humildade em tudo o que fazia. 
d) revela nos gestos e comportamento segurança e poder. 
e) inspira certo receio aos habitantes da cidade. 
Comentários: O coronel é descrito como alguém que é sério e reservado, mas que impõe muito 
respeito na região. Apesar de alto e magro, não era um homem desengonçado, mas sim alguém com 
uma presença que transmitia segurança e “dava sempre a impressão de uma grande e ponderada 
figura”. Assim, a alternativa correta é alternativa D. 
A alternativa A está incorreta, pois não é possível encontrar em nenhuma passagem do texto 
referência a uma suposta timidez do coronel. 
A alternativa B está incorreta, pois na passagem “cumprimentando cerimoniosamente, nobremente, 
os que por ele passavam ou os que chegavam na janela muitas vezes só para vê-lo passar” fica claro 
que ele não despreza os outros. 
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A alternativa C está incorreta, pois na passagem “Quando montado, indo para a sua Fazenda da 
Pedra Menina, no cavalo branco ajaezado de couro trabalhado e prata, aí então sim era a grande, 
imponente figura, que enchia as vistas” fica claro que ele não era sempre um homem humilde. 
A alternativa E está incorreta, pois no texto fica mais evidente uma admiração do que um receio. 
Gabarito: D 
 (UFU - 2012) 
[...] No banheiro, a menina se levanta da privada, os olhos pregados no espelho de barbear do 
pai, guarnecido com moldura barata, como as de quadro de santo. Puxa o caixote, sobe em 
cima, desengancha o espelho da parede, deitando-se em seguida no chão de cimento. Acocora-
se sobre o espelho como se sentasse num penico, a calcinha numa das mãos, e vê, sem 
compreender, o seu sexo emoldurado. Acaricia-os demoradamente com a ponta do dedo, os 
olhos sempre cheios de espanto. A menina sai do banheiro, anda pela casa em silêncio, não se 
atreve a entrar no quarto da mãe. Deixa a casa e vai pra rua, brincar com as crianças da vizinha 
da frente. 
NASSAR, Raduan. Menina a caminho. São Paulo: 
Companhia das Letras, 1997. p.49. 
 
Sobre o trecho acima, é correto afirmar que 
a) é uma narrativa cujo tema é a prostituição nas cidades interioranas, facilitada pelas poucas 
oportunidades de trabalho oferecidas aos adolescentes. 
b) é uma narrativa em que o tema é a busca e contato com uma possível percepção da 
realidade, no caso, o encontro da menina consigo mesma. 
c) é uma prosa poética que objetiva mostrar a importância de se criarem programas culturais 
para a educação de jovens marginalizados e sem assistência. 
d) apresenta o foco narrativo em primeira pessoa, intensificando, com esta escolha, o efeito 
de subjetividade da obra, marcadamente lírica e sugestiva. 
Comentários: 
A alternativa A está incorreta, pois não há referência à prostituição no trecho. 
A alternativa B está correta, pois o trecho gira em torno de uma garota conhecendo a própria 
sexualidade. 
A alternativa C está incorreta, pois o trecho não se refere à criação de programas de educação de 
jovensmarginalizados. 
A alternativa D está incorreta, pois o trecho apresenta foco narrativo em terceira pessoa. 
Gabarito: B 
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Considere uma passagem do romance regionalista Vidas secas, de Graciliano Ramos (1892-
1953). 
Contas 
 Fabiano recebia na partilha a quarta parte dos bezerros e a terça dos cabritos. Mas como 
não tinha roça e apenas se limitava a semear na vazante uns punhados de feijão e milho, comia 
da feira, desfazia-se dos animais, não chegava a ferrar um bezerro ou assinar a orelha de um 
cabrito. 
 Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabeça. Forjara planos. Tolice, 
quem é do chão não se trepa. Consumidos os legumes, roídas as espigas de milho, recorria à 
gaveta do amo, cedia por preço baixo o produto das sortes. Resmungava, rezingava, numa 
aflição, tentando espichar os recursos minguados, engasgava-se, engolia em seco. Transigindo 
com outro, não seria roubado tão descaradamente. Mas receava ser expulso da fazenda. E 
rendia-se. Aceitava o cobre e ouvia conselhos. Era bom pensar no futuro, criar juízo. Ficava de 
boca aberta, vermelho, o pescoço inchando. De repente estourava: 
 – Conversa. Dinheiro anda num cavalo e ninguém pode viver sem comer. Quem é do chão 
não se trepa. 
 Pouco a pouco o ferro do proprietário queimava os bichos de Fabiano. E quando não tinha 
mais nada para vender, o sertanejo endividava-se. Ao chegar a partilha, estava encalacrado, e 
na hora das contas davam-lhe uma ninharia. 
 Ora, daquela vez, como das outras, Fabiano ajustou o gado, arrependeu-se, enfim deixou a 
transação meio apalavrada e foi consultar a mulher. Sinha Vitória mandou os meninos para o 
barreiro, sentou-se na cozinha, concentrou-se, distribuiu no chão sementes de várias espécies, 
realizou somas e diminuições. No dia seguinte Fabiano voltou à cidade, mas ao fechar o negócio 
notou que as operações de Sinha Vitória, como de costume, diferiam das do patrão. Reclamou 
e obteve a explicação habitual: a diferença era proveniente de juros. 
 Não se conformou: devia haver engano. Ele era bruto, sim senhor, via-se perfeitamente que 
era bruto, mas a mulher tinha miolo. Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se 
descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando 
o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar 
carta de alforria! 
 O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que o vaqueiro fosse procurar serviço 
noutra fazenda. 
 Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem. Não era preciso barulho não. Se havia 
dito palavra à toa, pedia desculpa. Era bruto, não fora ensinado. Atrevimento não tinha, 
conhecia o seu lugar. Um cabra. Ia lá puxar questão com gente rica? Bruto, sim senhor, mas 
sabia respeitar os homens. Devia ser ignorância da mulher, provavelmente devia ser ignorância 
da mulher. Até estranhara as contas dela. Enfim, como não sabia ler (um bruto, sim senhor), 
acreditara na sua velha. Mas pedia desculpa e jurava não cair noutra. 
(Graciliano Ramos. Vidas secas. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1974.) 
 
Quem é do chão não se trepa. 
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Fabiano emprega duas vezes este provérbio para retratar com certo determinismo sua 
situação, que ele considera impossível de ser mudada. Há outros que poderiam ser utilizados 
para retratar essa atitude de desânimo ante algo que parece irreversível. Na relação de 
provérbios abaixo, aponte aquele que não poderia substituir o empregado por Fabiano, em 
virtude de não corresponder àquilo que a personagem queria significar. 
 
a) Quem nasce na lama morre na bicharia. 
b) Quem semeia ventos colhe tempestades. 
c) Quem nasceu pra tostão não chega a milhão. 
d) Quem nasceu pra ser tatu morre cavando. 
e) Os paus, uns nasceram para santos, outros para tamancos. 
Comentários: A expressão “quem é do chão não se trepa” significa que as pessoas só conseguem 
ser aquilo que nasceram para ser, ou seja, que é impossível mudar sua própria natureza. 
A única alternativa que não apresenta esse sentido é a alternativa B: “Quem semeia ventos colhe 
tempestades”. Essa expressão significa que quem age de maneira má ou errônea, está criando 
condições para sofrer consequências nefastas no futuro. Não fala, portanto, sobre destino ou 
natureza. 
As demais alternativas versam sobre a ideia de que as condições de nascimento são determinantes 
para o resto da vida. 
Gabarito: B 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Considerações finais 
Na próxima aula, vamos adentrar nos estudos de Morfossintaxe. Veremos então: 
AULA 04 – Estrutura e classe de palavra 
Colocação pronominal e formas combinadas. 
- Estrutura e Formação de palavras; 
- Classes morfológicas; 
- Colocação pronominal; e 
- Crase e demais formas combinadas. 
 
Qualquer dúvida estou à disposição no fórum, e-mail ou Instagram! 
 Até lá, pratique bastante com os exercícios desta aula, para chegar sem dúvidas na próxima 
aula! Qualquer dúvida estou à disposição no fórum, e-mail ou Instagram! 
 
Prof.ª Celina Gil 
 /professora.celina.gil Professora Celina Gil @professoracelinagil 
 
 Versão Data Modificações 
1 02/02/2020 Primeira versão do texto.

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