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EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE: GÊNERO E SEXUALIDADE Autoria: Flaviana Aparecida de Mello Michele de Oliveira Cruz Indaial - 2022 UNIASSELVI-PÓS 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Impresso por: Reitor: Janes Fidelis Tomelin Diretor UNIASSELVI-PÓS: Tiago Lorenzo Stachon Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Tiago Lorenzo Stachon Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Jairo Martins Marcio Kisner Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI M527e Mello, Flaviana Aparecida de Educação para a diversidade: gênero e sexualidade. / Flaviana Apa- recida de Mello; Michele de Oliveira Cruz. – Indaial: UNIASSELVI, 2022. 124 p.; il. ISBN Digital 978-65-5646-501-2 1. Educação. – Brasil. I. Cruz, Michele de Oliveira. II. Centro Univer- sitário Leonardo da Vinci. CDD 370 Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS, CAMINHOS PARA UM DIÁLOGO ENTRE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL ............... 7 CAPÍTULO 2 CORPOS, SEXUALIDADE, GÊNERO: A NECESSIDADE DE UM OLHAR EDUCATIVO SEM PRECONCEITOS ............................... 47 CAPÍTULO 3 EDUCAR PARA O RESPEITO À DIVERSIDADE E O PAPEL DOS DOCENTES .................................................................................... 87 APRESENTAÇÃO A disciplina Educação para a diversidade: gênero e sexualidade apresenta-se enquanto uma temática fundamental para que possamos conhecer os conceitos balizares da educação e dos direitos humanos como fonte primordial para uma educação de respeito a diversidade de gênero e sexual. Além disso, conhecer sobre os significados socioculturais bem como as práticas de poder imputadas nas relações de gênero na sociedade e ainda conhecer sobre a construção e os conceitos da educação de modo plural que contribua para o respeito a diversidade e que imprima uma mudança no papel exercido pelos docentes no contexto educacional. Com a evolução dos estudos e pesquisas, presentemente temos a concepção de que a educação tem um papel muito mais do que simplesmente transmitir conteúdo para seus discentes, mas sim precisa contemplar a totalidade do conhecimento que envolve fatores biopsicossocial de cada ser humano. Podemos admitir que é no espaço educacional que muitas expressões da questão social se despontam, e assim se faz necessário ter o conhecimento e compreensão dos assuntos de ordem objetiva e subjetiva para poder atender as demandas dos discentes em sua totalidade, para além dos aspectos conteudistas. Nesse sentido, é fundamental que cada profissional que for atuar ou já atua no âmbito da educação, quer seja como docente e/ou qualquer outro cargo a exemplo: diretores, pedagogos, coordenação, assistentes sociais, psicólogos entre outros; necessitam compreender que a educação precisa partir de uma totalidade e estar atenta a todas as complexidades que tangenciam a vida em sociedade. Desse modo, ratificamos, portanto, a relevância de se apreciar toda a discussão que este livro se propõe, frente a realidade social de vida dos estudantes, seus familiares bem como do território em que elas vivenciam, no entanto, de modo crítico, reflexivo e criativo. Para isso, organizamos esta disciplina em três capítulos. No primeiro capítulo intitulado de: Educação e direitos humanos caminhos para um diálogo entre gênero e diversidade sexual, iniciamos com estudos sobre Direito a educação a partir da Constituição Federal de 1988 e sua relação com os direitos humanos e social em que você terá a oportunidade de aprender sobre a educação enquanto direito humano e social a partir da Constituição Federal de 1988 e como se desdobra o tratamento da diversidade no campo educacional, bem como, aprenderá a conhecer os conceitos balizares da educação e dos direitos humanos como fonte primordial para uma educação de respeito a diversidade de gênero e sexual, ao fim do capítulo finalizaremos estudando, Educação, Gênero e diversidade sexual. No segundo capítulo, nominado de: Corpos, sexualidade, gênero: a necessidade de um olhar educativo sem preconceitos, iniciamos os estudos a respeito, dos significados socioculturais de gênero e as práticas de poder, em seguida, vamos estudar a respeito a atenção básica de saúde e a sua política nacional de atenção básica: princípios e diretrizes. Em seguida estudaremos a desigualdade entre os gêneros uma construção social e histórica e a importância do feminismo como uma possibilidade de compreensão e libertação da sexualidade e dos corpos. No terceiro e último capítulo, intitulado de: Educar para o respeito a diversidade e o papel dos docentes, abordamos sobre as relações de gênero e sexualidade no contexto escolar. E, em seguida vamos estudar sobre as relações de gênero, a postura e o trabalho dos docentes na convivência escolar. Nosso desígnio é que seu curso seja um procedimento de constituição cotidiana ativado, e com criticidade, no sentido de você se tornar sujeito da edificação do próprio conhecimento, de você instrumentalizar-se para a mudança da realidade social contribuindo com o seu fazer profissional e conhecimento a ser adquirido, para a sociedade e para a educação ser mais justa, plural, diversa, equitativa e inclusiva. Portanto, faça anotações e registre, produza esquemas paralelos, que te auxiliem a abarcar e conhecer mais a respeito da disciplina: Educação para a diversidade: Gênero e sexualidade. Desejamos bons estudos! CAPÍTULO 1 EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS, CAMINHOS PARA UM DIÁLOGO ENTRE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Instruir-se para o cotidiano de trabalho no âmbito da educação compreendendo a educação como um direito social e humano a partir da Carta Magna de 1988. Aprender sobre o conceito de gênero e a respeito da sexualidade enquanto componente inerente a vida. Aprender sobre a importância de se trabalhar na perspectiva da educação com base nos direitos humanos a fi m de quebrar paradigmas em relação aos estudos de gênero e diversidade sexual. 8 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE 9 E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Este capítulo tem como objetivo conhecer os conceitos balizares da educação e dos direitos humanos como fonte primordial para uma educação de respeito a diversidade de gênero e sexual. Sendo assim, você aprenderá sobre a educação enquanto direito humano e social a partir da Constituição Federal de 1988 e como se desdobra o tratamento da diversidade no campo educacional e ainda irá aprender sobre a educação relacionada ao gênero e diversidade sexual como um direito humano. Você terá o ensejo de aprimorar-se para a intervenção profi ssional cotidiana no âmbito da educação tanto pública quanto privada, atualizando seus conhecimentos com assuntos pertinentes a evolução da sociedade. Promover a instrução para o cotidiano de trabalho no âmbito da educação, conhecendo os conceitos balizares da educação e dos direitos humanos como fonte primordial para uma educação de respeito a diversidade de gênero e sexual. Irá aprender sobre o conceito de gênero e a respeito da sexualidade enquanto componente inerente a vida, bem como sobre a importância de se trabalhar na perspectiva da educação com base nos direitos humanos a fi m de quebrar paradigmas em relação aos estudos de gênero e diversidade sexual. Junto a isso, buscamos contribuir para queno decorrer dos estudos, você possa analisar e, ainda, criar o seu próprio mapa conceitual sobre as informações que norteiam a prática na educação para a diversidade com foco no gênero e sexualidade, fazendo o exercício da relação teoria e prática. Portanto, sugere-se que você verifi que os assuntos aqui abordados e alinhe com a sua realidade profi ssional e/ou o que almeja desenvolver em sua prática quando estiver inserido em algum espaço sócio-ocupacional. Assim, compomos um conjunto de possibilidades de abordagem do tema proposto nesse capítulo, em que corrobora com os estudos a respeito da educação para a diversidade: Gênero e sexualidade. Fique atento e vamos juntos na busca pelo conhecimento e aprimoramento profi ssional. Bons estudos! 10 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE 2 DIREITO A EDUCAÇÃO A PARTIR DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E SUA RELAÇÃO COM OS DIREITOS HUMANOS E SOCIAL Para Santos e Thürler (2011), nesse cenário de imposições organizadas pela modernidade, é improvável atuar nas identidades sexuais e de gênero sem defi nirmos elos às leis elementares de base constitucionais, fundamentos primordiais e inseparáveis pertencentes a um verdadeiro Estado Democrático de Direito. A educação tem um papel na contemporaneidade que deve ser de extrapolar os conteúdos curriculares e desenvolver ações de orientação formação de cidadania, para que assim, possam se comprometer com a formação crítica, plural e que se desenvolva o respeito a diversidade. Compreendemos que tais preceitos representam a defesa da soberania, a cidadania, à dignidade da pessoa humana, e as convicções e valores sociais do trabalho e da livre ação e no pluralismo político e religioso. Representam os princípios fundamentais da República, elencamos os de edifi car uma sociedade livre, justa e solidária que promova o desenvolvimento nacional, que se comprometa em erradicar a pobreza e a marginalização, diminuir as desigualdades sociais regionais e locais, requerer o bem da coletividade, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e demais contornos de discriminação, direitos bem como obrigações estão listados na Constitucional Federal desde 1988, com os princípios de garantia da Declaração Universal dos Direitos Humanos e outras convenções que determinam direitos universalizados, podendo, assim, evidenciar o que destaca o texto-base da Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Nesse mesmo sentido, ao situar tais debates no âmbito dos direitos humanos, a BRASIL-SECAD/MEC (2007) pensa que a legitimidade da pluralidade de gênero, de identidade de gênero e da livre expressão afetiva e sexual extrapola os importantes aspectos referentes ao direito à saúde reprodutiva. Considera-se que compõem os direitos humanos e os direitos extensivos à saúde reprodutiva, quanto os direitos sexuais, sem que eles necessitem ser classifi cados um subconjunto daqueles, pois os extrapolam. 11 E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 Nesse sentido, pode-se entender que sistemas de teorias e políticas focadas, inicialmente, conforme destaca Louro (2004a e 2004b), para a multiplicidade e a sexualidade, dos gêneros e dos corpos possam ajudar para modifi car e tornar a educação num método mais prazeroso, mais efi caz e mais claro. A Constituição Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988, conhecida como Constituição Cidadã, se contorna enquanto uma referência histórica, ético, político e jurídico nos importantes avanços defi nidos, em que, moldam-se as condições basilares para afunilar os debates e na ampliação das mobilizações sociais, promovendo a adesão de medidas institucionais direcionadas em assegurar a edifi cação e manutenção de uma cultura em defesa dos direitos humanos e do respeito às diversidades, proclamando a heterogeneidade e a pluralidade como valores nacionais. Na nossa Carta Magna, em seu artigo 5º (1988): “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. Nesse compasso, consideramos que a orientação sexual e a identidade de gênero necessitam ser interpretadas como condicionantes e determinantes da vida das pessoas provenientes outros fatores como o de vulnerabilidade (BRASIL, 2008). Nessa perspectiva, a garantia desses direitos essenciais não alcançam , na prática social, muitas partes da população, em que há ainda pessoas em condições diversifi cadas de vulnerabilidade aos processos de exclusão social em face de determinantes como: a condição fi nanceira, regional, de idade, gênero, etnia, cor e ainda pessoas em situação de rua, em situação de encarceramento, privadas da sua liberdade pessoa com defi ciência físico-mental, idosos, crianças e adolescentes, homossexuais, travestis, transexuais, lésbicas, bissexuais etc. Diante disso, Bento (2004) contribui com esse discurso ao mencionar que as maneiras de ser, atuar, refl etir e sentir conjeturam de modo perspicaz, intricado e intenso os contextos da experiência social. Seguindo nesse raciocínio, não existem corpos livres de investimento e expectativas sociais. Diante de tal afi rmativa se entende que, é necessário, continuamente, o acolhimento e a vigilância de institutos, remédios constitucionais, com o objetivo de diminuírem tais distorções ainda cristalizadas em nosso convívio social. Discutir essas temáticas sem uma discussão quanto ao papel e a função social da educação escolar e acadêmica na sociedade contemporânea vai fi cando mais difícil, como defi ne Torres (2007), uma das funções sociais do colégio é organizar o cidadão para o exercício pleno da cidadania vivendo como profi ssional e habitante da cidade. 12 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE Diante disso, o Texto-Base da Conferência Nacional LGBT exprime que um Estado Democrático de Direito não deve aceitar práticas sociais e institucionais que condenam, rotulam e marginalizam os indivíduos e grupos por questões que envolvem o sexo, orientação sexual e/ou identidade de gênero (CARVALHO, s.d.) A prática sexual entre adultos do mesmo sexo é um direito de teor íntimo, isso diz respeito também a apresentação social do sentimento de pertencimento a um determinado gênero, não importa o sexo biológico (BRASIL, 2008). Assim, na inexistência da garantia de direitos humanos como esses, podemos nos perguntar ainda quanto ao papel e a função social da educação escolar na sociedade contemporânea (CARVALHO, s.d.). Conforme a compreensão que neste ambiente se defi niu ou deveria se defi nir em um rico espaço democrático, no qual acorresse discussão referentes as questões concernentes ao ser humano: Homem ou Mulher, que serviria muito para a progressão do pensamento crítico, de formação da cidadania plena, de cidadãos politizados e atores ativos e engajados com as mudanças e melhoria social. Nesse sentido, considerando Santos e Thürler (2011), podemos assegurar que o ambiente educacional escolar e acadêmico seria um espaço privilegiado de ascensão dos direitos basilares essenciais aos humanos e da diversidade. Essas declarações são reafi rmadas pelas colocações nos cadernos da SECAD/ MEC (BRASIL, 2007, p.22) se lê “os princípios constitucionais de liberdade e solidariedade podem ser estendidos para a igualdade de gênero”. A vontade de ultrapassar as discriminações que dizem respeito às construções histórico-culturais das diferenças de sexo, que permeiam as relações escolares, e assim também é nas questões que atravessam algumas decisões a serem defi nidas no âmbito da legislação educacional se mantém velada e o não esclarecimento mais detido e derivações destes princípios sob a ótica das relações de gênero pode ocasionar também mais discriminação (CARVALHO, s.d.). O desempenho do exercícioda plena cidadania é sinônimo da tradução de povo no seu sentido democrático, a totalidade homens e mulheres de cidadãos, e partindo desse princípio os seus direitos vem progressivamente sendo reivindicados por todos os indivíduos independente de classes sociais, direitos que foram defi nidos e impressos e elencados na Carta Maior de 1988. Diante disso, Soares (1998) afi rma que tanto quando nos referimos aos direitos dos cidadãos, como quando nos aludimos aos direitos humanos, com a premissa de que associamos direitos humanos à ideia central de democracia 13 E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 e os conceitos fundamentais envolvidas no assunto mais amplo da educação (CARVALHO, s.d.). É relevante evidenciar que nas sociedades democráticas no mundo contemporâneo e desenvolvido, o sentido, o estímulo, a prática, a defesa da promoção dos direitos humanos estão agrupadas à vida política no amplo deleite do exercício da cidadania, em que já se deparam agregados aos valores de um povo, de uma nação, de uma região. No entanto, é especialmente nos países que mais infringem os direitos humanos, nas sociedades em que a discriminação é mais acentuada, pelo preconceito e pelas mais diversas maneiras de racismo e intolerância, que a noção de direitos humanos parece ambígua e destorcida (CARVALHO, s.d.). Para Soares (1998), em nosso país a geração mais jovem, que passaram pelos anos de terror da ditadura militar normalmente terão escutado sobre movimento de defesa dos direitos humanos em favor das pessoas que estavam sendo perseguidos por suas posturas e convicções de militância política contrária ao regime constituído e imposto; assim como, os sujeitos que foram encarceradas, torturadas, assassinadas, refugiadas, banidas, violentadas. Após a parte mais cruel e repressora do regime militar, a concepção de que todos, não importando a posição social, são dignos das preocupações com as garantias e com a manutenção dos direitos fundamentais, não se efetivou como se esperava (CARVALHO, s.d.). Assim, a defesa e garantia dos Direitos Humanos (DH) passou a ser alcançada somente à defesa dos criminosos e apenados originários, em sua grande parte, a classes sociais populares. Diante disso, e deixou de possuir o interesse igualitário para segmentos da classe média que envolvia familiares e amigos daqueles presos políticos do período da ditadura. A partir daí, analisamos como já se defi ne uma parte da ambiguidade que permeia a ideia dos direitos humanos no Brasil, especialmente depois da defesa dos direitos das pessoas acuados pelo ditatura militar, se constituiria uma diferenciação intensa e cruel entre as classes sociais, entre intelectuais e iletrados, entre a classe média e a classe alta apartadas estavam as classes populares, abrangendo-se, notadamente, ampla parte da população negra. Cidadania e direitos à cidadania envolvem uma determinada ordem jurídico- política de um país, de um Estado, que diz respeito a uma Constituição que defi ne e afi ança quem é cidadão, quais serão seus direitos e deveres, ele terá em torno de diversas variáveis, por exemplo, a idade, o estado civil, a condição de sanidade 14 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE corporal e mental, a questão de estar ou não quitado com a justiça penal, dentre outras. Seguindo em conformidade com o Artigo 5°, II – “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. De acordo com Soares (1998), os direitos do cidadão e a adequada imagem de cidadania não são universais no sentido de que eles estão determinados e ligados a um particular e defi nida ordem política e normativa. Assim, esses, identifi camos cidadãos brasileiros, cidadãos norte-americanos e cidadãos argentinos, na compreensão que mudam os direitos e deveres dos cidadãos de um país para outro. A ideia da cidadania é predominantemente política, por não estar inteiramente vinculada a valores universais, mas a decisões políticas. SOARES (1998), mostra exemplos como: algum governante pode modifi car fortemente as prioridades quanto ao respeito dos deveres e aos direitos do cidadão; e mudar o código penal na questão de alterar sanções; pode alterar o código civil objetivando equiparar direitos entre os sexos, ele pode fazer com o código de família no sentido do respeito aos direitos e deveres dos cônjuges, na sociedade conjugal, e estender isso com os fi lhos, em relação um ao outro. Segundo Soares (1998), direitos de cidadania não são direitos universais, são direitos específi cos dos membros de um determinado país ou nação, de uma determinada ordem jurídico-política. Em muitas situações, os direitos do cidadão se ajustam com os direitos humanos, que são os mais amplos e envolvem quase a totalidade do ser indivíduo. Em sociedades democráticas é, normalmente, o que acontece e, de forma alguma, direitos ou deveres do cidadão podem ser utilizados para justifi car violação de direitos humanos fundamentais porque os Direitos Humanos são universais e naturais (CARVALHO, s.d.). Os direitos do cidadão não são direitos naturais, eles são formulados e defi nidos em normas, leis, em conformidade com preceitos constitucionais e devem, portanto, estar defi nidos num determinado ordenamento e distribuição jurídica no país ou nação. Os direitos humanos são universais no sentido do que aquilo que é compreendido como um direito humano no Brasil, também se espera que possua o mesmo teor de exigência, de respeitabilidade em termos de garantia em qualquer nação do mundo, porque esses direitos não se restringem a um membro de uma sociedade política especifi ca, a um representante de um Estado determinado, mas se reportam à pessoa humana na sua complexidade, universalidade, plenitude e integridade. 15 E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 Desse modo, são denominados de direitos naturais, exatamente porque englobam e dizem respeito à dignidade da natureza humana. São naturais, ainda pelo fato de antecederem a qualquer lei, e por essa razão não devem estar determinados numa lei, para serem exigidos, reconhecidos, protegidos e promovidos (CARVALHO, s.d.). A Constituição Federal de 1988 implementou um Estado democrático e de direito a partir das concepções da igualdade e liberdade. Um Estado constitucional democrático e de direito, traduz em seu âmago valores focados na soberania, cidadania, a dignidade da pessoa humana, os princípios sociais do trabalho e da livre iniciativa (TAVEIRA, et al. 2015). O artigo 1º de Taveira et al. (2015) considera que é a maior grande referência desse signifi cado. No artigo 3° estão defi nidos os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: a edifi cação de uma sociedade livre, justa e solidária, a defesa e a garantia do desenvolvimento nacional, extinção da pobreza e a marginalização, diminuição das desigualdades nacionais e locais e, elevação no nível de vida e do bem de todos, sem preconceitos de qualquer natureza; origem, raça, sexo, cor, idade e outras formas de discriminação. Os autores mencionados anteriormente dizem que, como forma de garantia constitucional, determinou-se a educação como direito social de todos, como uma ferramenta essencial na concretização da cidadania, objetivando uma sociedade mais justa e humanizada. Entretanto, a educação como direito de todos poderá se tornar realidade através de um importante pacto entre Estado e sociedade. Na Constituição Federal de 1988, a educação teve uma atenção especial, não somente se defi niu o direito à educação, de modo claro, determinou-se o seu papel nas áreas do ensino público. O direito à educação, podemos aqui mencionar em quais títulos e sessões se destacam: • Título II, Dos Direitos e Garantias Fundamentais, Capítulo II – Dos Direitos Sociais, artigo 6º; • Título VIII, Capítulo III, denominada Da Educação, Da Cultura e do Desporto,Seção I - Da Educação, artigos 205 a 214; • Capítulo VII, em seu artigo 227. O direito à educação nos moldes da garantia basilar e social é uma previsão clara, instituída no art. 6º: São reconhecidos como direitos sociais, a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desassistidos, em 16 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE concordância com a Constituição Federal. Os artigos 205 a 208 apresentam essa temática protetiva, indicando as devidas defi nições desse direito basilar e social à educação (TAVEIRA et al., 2015). Os artigos 205 a 208 são compreendidos como o centro da proteção do direito à educação, é responsabiliza um ator especial para sua concretização; o Estado, tanto pela sua garantia, como também pela sua efetividade (TAVEIRA et al., 2015). Assim, o referido artigo 205 da Constituição Federal (1988) preceitua que: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualifi cação para o trabalho. FIGURA 1 – EDUCAÇÃO ENQUANTO DIREITO E AO MESMO TEMPO DEVE SER UM DEVER DO ESTADO FONTE: A autora À medida que os artigos 209 a 211 são conhecidos como regras organizacionais, que oportunizam e defi nem atitudes e estruturas, seja para as instituições privadas e as governamentais. O art. 212 prevê que a participação das instâncias Federal, Estadual e Municipal, no que concerne à aplicação de receita no sistema de educação (TAVEIRA et al., 2015). 17 E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 De acordo com os autores CULAU et al. (2015) a educação é a porta para qualquer transformação social que se almeje alcançar dentro de um método democrático. Enquanto a educação em Direitos Humanos, por sua vez, é o que permite mover e conscientizar os indivíduos para a seriedade do respeito ao próximo. Educar em Direitos Humanos não é uma singela ocupação, é um aprendizado que faz parte de uma ação educacional. Para aquecer o debate, consulte o artigo a seguir: Modelos assistenciais: reformulando o pensamento e incorporando a proteção e a promoção da saúde. Disponível em: <https://educere.bruc.com.br/arquivo/ pdf2015/18221_7983.pdf>. Acesso em: 13 mar 2022. Converse com sua equipe de trabalho e seus colegas de turma sobre a relevância da compreensão a respeito dos direitos humanos para a prática profi ssional dos diversos profi ssionais que atuam na área da educação. Conforme observado no artigo 212 da Carta Maior, de 1988, a União concentrará, todos os anos, nunca menos de dezoito, aos entes federados, Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita decorrente de impostos, resultado advindo de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino. Já no artigo 213, defi ne fi nalidades e faz escolhas priorizando a distribuição dos recursos no âmbito da educação. Assim, determina: os recursos públicos serão encaminhados às escolas públicas, e pode ser direcionado a escolas comunitárias, confessionais ou fi lantrópicas, em conformidade com a em lei (TAVEIRA et al., 2015). Temos também o artigo 214. Este normatiza que a formação do plano nacional de educação e os propósitos sociais da educação, o que conserva relação imediata com o direito fundamental à educação, que incluem: 18 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE • eliminação do analfabetismo, ampliação para atingir a universalização do atendimento escolar, avanços continuados na qualidade do ensino, promoção de formação para o trabalho e organização para o âmbito humanístico bem como a tecnológica do estado brasileiro (TAVEIRA et al., 2015). Todos estes princípios segundo os autores anteriormente citados, dizem respeito a fi ança e a concretização do direito basal à educação. Em relação, ao do direito à educação, foi publicada a Lei n. 8.069, de 13/7/1990 que ordena quanto ao Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências (TAVEIRA et al., 2015). No referido Artigo 3º, constitui-se que a criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais relativos à pessoa humana, sem desvantagem da proteção integral de que versa esta Lei, garantindo-lhes, pela lei ou por outros recursos, todas as viabilidades e facilidades, no sentido de lhes possibilitar o desenvolvimento físico, mental, moral espiritual e social, e através de condições de liberdade e de dignidade (TAVEIRA et al., 2015). Assim, Taveira et al. (2015) verifi cam que a educação foi estimada como condição fundamental e estruturante da Carta de 1988, nessa mesma linha também o Estatuto da Criança e do Adolescente. Ainda, de lado com o direito à educação, com o propósito de expandir o rol de direitos para todas às crianças e ao adolescente, o artigo 54 do Estatuto reprisou com algumas baixas alterações redacionais, os termos do artigo 208 da Carta Magna. Nesse sentido, os mesmos autores supracitados aludem que o direito à educação se consolidou como uma garantia expressa não apenas na atual Constituição, mas ainda em leis infraconstitucionais. Está declarado, de modo igual, a garantia do direito à educação na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, foi infl uenciada nos fundamentos da liberdade, da solidariedade, no desenvolvimento de capacidade e habilidades para o trabalho e sem perder de vista a formação para a cidadania. Em se tratando de direito de todos à educação, a lei estabelece o dever e as obrigações do Estado para a sua efetivação: o Estado na lei é compromissado em assegurar o ensino fundamental obrigatório e gratuito a todos, incluindo também os indivíduos que não tiveram acesso disponível na idade própria; é extensivo e progressivamente a obrigatoriedade e a gratuidade ao ensino médio, e promover atendimento educacional particularizado (TAVEIRA et al., 2015). 19 E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 Caro estudante, para contribuir ainda mais com o seu conhecimento, deixamos como sugestão de leitura os seguintes livros: O referido livro promove uma refl exão a respeito dos conceitos e tendências presente no discurso contemporâneo do campo da educação baseada na perspectiva dos direitos humanos. FONTE: CASTILHO, R. Educação e Direitos Humanos. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. O referido livro aborda uma discussão a partir de pesquisadores dos seguintes países: Brasil, Cuba, México, Portugal e Venezuela, com a fi nalidade de entrelaçar diálogos e teorias que ambicionam o convívio democrático e humanizado, a partir dos direitos socialmente conquistados. FONTE: OLIVEIRA, M. et al. Educação e Direitos Humanos: campos de disputas e aproximações. Curitiba: Editora CRV, 2020. 20 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE Aos discentes com algum tipo de defi ciência e/ou transtornos, os referidos princípios, se apresentam nos artigos. 2º e 3º da LDB de 1996, na verdade retomam, ipsis litteris, os artigos 205 e 206 da Constituição de 1988 (SEVERINO, 2008). O direito à educação, vislumbrando o futuro, possui um percurso importante a ser feito, porque não é sufi ciente garantir esse direito, mas é primordial sobretudo, concretizá-lo, com permanência do estudante no espaço escolar, qualidade na educação e que essa constitua universal. Reforçando que através da educação que se conquista a cidadania (TAVEIRA et al., 2015). Para a realização de uma escola de qualidade é necessário pensá-la e situá- la no sentido de educação como direito social, com perspectiva de um cotidiano escolar que promova o respeito quanto as particularidades dos indivíduos, grupos etc., que edifi que um conjunto de dados que respeite a diversidade que promovam comunicação entre as diferençasraciais, culturais, étnicas, de gêneros e outros. Nessa perspectiva, é fundamental lutar contra ao etnocentrismo e buscar conservar valores fundamentais da sociedade (TAVEIRA et al., 2015). Na apreensão da escola como importante espaço sociocultural, de acordo com os autores Taveira et al. (2015), determinados conceitos-chave tratados por Bourdieu, como habitus e campo, são fundamentais na construção do entendimento de como os sujeitos, que fazem parte do espaço escolar, se movimentam e se interrelacionam e sofrem interposição do meio, mesmo que isso não esteja explicito para ele, vivenciando experiências que muitas vezes são provenientes de circunstâncias preconceituosas e discriminatórias. O habitus diz respeito a uma importante matriz promotora de comportamentos, visões de mundo e sistemas de categorização e de compreensão da realidade, essa se exprime e se incorpora aos indivíduos, ou mesmo que se apresente no grau da postura corporal (hexis) destes mesmos indivíduos (TAVEIRA et al., 2015). Assim, ainda conforme os mesmos autores citados, eles acrescentam ainda que o habitus é apreendido e gerado na sociedade e incorporado pelas pessoas, e atua como organizador de hábitos/costumes signifi cando às ações das pessoas no meio social. Já o conceito de campo é acrescido a o de habitus. Bourdieu (1999) compreende que o campo se traduz no espaço em que se relacionam os indivíduos e, grupos e estruturas sociais, em um espaço que se movimenta na dinâmica do cotidiano e dos acontecimentos, e, portanto, segue leis próprias, conduzido através das disputas ocorridas em seu interior, e que possui como mola impulsionadora a ambição em ser bem-sucedido no meio social e nas relações defi nidas entre os seus membros, constitua-se no coefi ciente dos agentes, constitua-se no coefi ciente das estruturas. 21 E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 Em suma, o campo é o espaço privilegiado em que as coisas se desenvolvem em sociedade, isso vai resultar em diferente tipo de luta pelo poder, que é guiado por normas diferentes, em que a tensão é uma constante. Conscientes da fundamental seriedade da escola como campo cultural, é legitimo refl etir na formação de habitus que possibilitam o desenvolvimento recíproco, em um espaço que para sedimentar a constituição e sustentação de condutas para o pleno desenvolvimento cidadão (TAVEIRA et al., 2015). Para a efetivação disto é necessário tratar no ambiente escolar de aspectos que proporcionem uma educação crítica, que leve o aluno não apenas a reproduzir pensamentos, mas a questioná-los, e ao mesmo tempo, valorizar o indivíduo em sua complexidade cultural e à diferença. Tal prática educativa propicia o enfrentamento à discriminação e ao preconceito correntes na sociedade e, portanto, também na escola. Quando os preconceitos não são questionados a escola acaba se pondo a serviço da representação de padrões de comportamento que reforçam os procedimentos discriminadores (TAVEIRA et al., 2015). Os mesmos autores citados anteriormente, acrescentam que a Declaração Universal sobre a diversidade cultural, em seu artigo 1º, atesta: a cultura contrai confi gurações distintas por meio do tempo e do espaço. Essa diversidade se desponta na personalidade e na pluralidade de identidades que caracterizam os grupos e as sociedades que compõem a humanidade. A diversidade cultural é a origem e o caminho de trocas, inovações e criatividades várias. É indispensável aos seres humanos, assim como a diversidade biológica é indispensável a natureza, constituindo um patrimônio comum da humanidade e, portanto, devendo ser respeitada e preservada em prol das gerações atuais e futuras (UNESCO, 2002). Diversos estudos ressaltam o fato de que o ambiente escolar se constitui como território de construção de identidades, conformações de relações sociais ou distinções, de administração de ideologias ou estereótipos. Por esse motivo, a escola se mostra também como local estratégico de articulação, um espaço para projetos que visam a transformação ao redor de uma educação que preserve a diversidade. Conforme a autora Gomes (2003), tal espaço deve ser percebido como local extraordinário para a suplantação de práticas racistas e demais preconceitos. É fundamental a percepção do ambiente escolar como um local de união, de confl uência de culturas, que proporcione um outro olhar, outra conduta, a fi m de reconhecer diferentes culturas que formam o universo que chamamos de escola. 22 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE É preciso também reinventar a escola, para que ela seja afi nal, um ambiente de socialização. Ambiente no qual alunos e professores, ao invés de negarem ou ocultarem os próprios problemas, possam discuti-los e a fi m de que, mesmo com os obstáculos existentes, possam ser desenvolvidas ações que valorizem o ser humano (MOREIRA; CANDAU, 2005). Para atingir este propósito, um ambiente no qual o horizonte utópico possa ser empregado como fomento para uma nova educação, na qual todos sejam tratados de modo igualitário em suas diferenças, a escola precisa superar-se. Segundo Candau (2008), sem horizonte imaginado, aversão, entusiasmo e a aspiração de uma sociedade justa e solidária, inclusiva, em que se pronunciem políticas de igualdade e de identidade, para a coletividade não há educação. A elaboração de novas posturas em relação a educação implica necessariamente na constituição de uma visão sensível ao diferente. É preciso renunciar ao feitio, monocultura e arraigado, que por vezes a educação ostenta. Para isso, são fundamentais os questionamentos que se fazem ante à realidade, sua desconstrução e a problematização da mesma (TAVEIRA et al., 2015). É importante destacarmos nessa discussão, o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (2006), fi rmado pelo Ministério da Educação e pela Secretaria Especial de Direitos Humanos, possui o entendimento de que a educação em direitos humanos ocorre simultaneamente à educação para a reconhecimento das diferenças. Todavia, diante de inúmeras incongruências e deturpações assimiladas culturalmente no percurso histórico, faz-se necessário à admissão dos preceitos de base dos direitos humanos na educação escolar, compreendendo induzir ao conhecimento dos estudantes os direitos e deveres o cidadão no amplo exercício da cidadania pode usufruir no estado brasileiro (CARVALHO, s.d.). É concentrado e claro, conforme Carvalho (s.d.), que a distância e o que está escrito nas leis e estabelecido pelo ordenamento jurídico e a prática social concreta. Um exemplo disso destacamos alguns exemplos na atualidade que foram noticiados nos meios midiáticos; não se aprova mais a escravidão, entretanto existe informação da existência do trabalho análogo ao regime de escravização em carvoarias, fazendas, centros urbanos entre outros. Nessa mesma direção, temos a não aceitação da questão do trabalho infantil e violência de muitos tipos contra crianças e adolescentes, contudo somos noticiados e tomamos conhecimento de crianças e adolescentes vivendo na rua e sendo exploradas no trabalho. Exemplos dessa natureza trazem aversão do 23 E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 acordo universal, em decorrência da exigência de determinados organismos internacionais no sentido de se impor requisitos e cláusulas sociais nos contratos comerciais, no sentido salvaguardar e resguardar a infância, contra a discriminação racial e contra o trabalho infantil. Dialogando com Soares (1998), defende-se que os direitos que são naturais e universais diferem de direitos que integram de uma agregação de direitos e deveres ligados às concepções de cidadão e cidadania. Os Direitos Humanos é que são universais; e universais são aqueles direitos comuns e inerentes a coletividade dos seres humanos sem distinção alguma de etnia (algum tempo atrás se falava raça, atualmenteo conceito de raça está ultrapassado), de nacionalidade, de cidadania política, de sexo, de classe social, e também de nível de escolaridade, de cor, de religião, de opção sexual, ou julgamento moral e de outras naturezas; são aqueles que decorrem do reconhecimento da dignidade intrínseca de todo ser humano (CARVALHO, s.d.). Esses direitos que necessitam ser reconhecidos, assumidos, protegidos, assegurados, sem ter em conta, qualquer tipo de distinção, como essas altivezes enfatiza-se a de julgamento moral. Além de consistir essenciais à natureza humana, apropriados e universais – na perspectiva de que são inerentes a todos (sendo defi nidos como naturais, eles são universais, pelo fato de se atribuir que a natureza humana seja única), os Direitos Humanos além disso são históricos (CARVALHO, s.d.). Portanto, eles são naturais e universais por estarem agregados à natureza humana, mas são históricos e diante disso mudaram no transcorrer da História, e assim mudaram num mesmo país e difere o seu reconhecimento em diferentes países, num mesmo tempo. Para Soares (1998), no sentido históricos, isso revela que os Direitos Humanos têm evolucionado ao longo do tempo e tendem ainda transformações porvindoura. Assim, os Direitos Humanos, no que concerne a respeito da orientação sexual, por exemplo, constituiriam intoleráveis há aproximadamente uns vinte anos. Mas atualmente eles já integram a cultura e isso diz respeito notadamente o núcleo daqueles direitos compreendidos basilares, isto é, ninguém poderá ser discriminado, exposto a vexame, abandonado da comunidade política e social em razão de sua orientação sexual (CARVALHO, s.d.). Carvalho (s.d.) ainda acrescenta aos nossos estudos que os Direitos Humanos além disso são indivisíveis e interdependentes, pois, na proporção que são incorporados ao rol dos direitos fundamentais da pessoa humana, esses direitos não podem mais esfacelados, por exemplo, possui o direito até esse 24 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE patamar aqui, daqui em diante é só para os homens, ou só para as mulheres, ou só brancos e ricos, ou apenas os intelectuais etc. A igualdade não se traduz em igualdade, homogeneidade. O direito à igualdade implica, e não é uma incoerência, o direito à diferença, sendo que essa não é sinônimo de desigualdade, bem como igualdade não é sinônimo de homogeneidade e de uniformidade (CARVALHO, s.d.). A diferença é uma associação horizontal, nós somos muito diferentes, essas diferenças vêm desde que nascemos homens ou mulheres; já é uma diferença notadamente fundamental, e não quer dizer que é uma desigualdade; será se essa diferença for interpretada no sentido de que os homens são superiores às mulheres, ou vice-versa (CARVALHO, s.d.). A igualdade se traduz em isonomia, que é a igualdade perante a lei, da justiça, frente as oportunidades na sociedade, se democraticamente acessível a todos, e no aspecto socioeconômico (SOARES, 1998). E a igualdade compreendida como o direito à diferença: todos somos de forma igual possuidores do direito à diversidade cultural, do direito de ter respeitada as origens e os saberes culturais e tradicionais, de livre escolha ou por contingência de nascimento (CARVALHO, s.d.). Conforme os autores Santos e Thürler (2011), é essencial a procura de atos que busquem compreender ao alongado da vida, como se origina a construção das identidades de gênero e sexual, possibilitando-lhe o pleno gozo pleno do Estado Democrático de Direito, ou seja, a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais relacionados ao trabalho e da livre iniciativa, o pluralismo político, e a garantia da oferta do bem estar social a coletividade, sem preconceitos de qualquer natureza, como; raça, sexo, cor, idade, segundo o que se prevê na Constituição Federal de 1988. O direito à educação não somente foi instituído na Carta Maior de 1988, mas além disso foi alçado à categoria de direito social e fundamental, e meios para seu amparo. Mediante a isso, para que essas fi anças sejam concretizadas é de suma importância o seu conhecimento profundo, e a sua justifi cação, pois é por essa via que a nação terá uma educação em todos os seus níveis do básico ao superior imperiosa de qualidade, que promova a prática da inclusão social e das relações étnico-raciais (TAVEIRA et al., 2015). Desse modo, a educação cooperará com uma grande participação política, social e econômica e especialmente para a o reconhecimento do direito à diversidade e a defesa contra todas as formas de discriminação e desigualdade social (TAVEIRA et al., 2015). 25 E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 Diante disso, a educação vai conjeturar na sociedade com poder mobilizador e concretizador, arrogando-se uma dimensão, que também pode constituir uma pedagogia para a inclusão social, de modo digno, em prol dos direitos e garantias do cidadão. Por fi m, consideramos que a escola possui essa importante função para a sociedade que concretiza na educação, igualdade e liberdade para todos, como garantia de cidadania, originários do Estado democrático e de direito (TAVEIRA et al., 2015). 1 – Analise a sentença a seguir e julgue como CERTO ou ERRADO: O direito à educação não somente foi instituído na Constituição Federal brasileira no ano de 1988, e podemos afi rmar que esse direito foi alçado à categoria de direito social e fundamental, e meios para seu amparo. ( ) CERTO ( ) ERRADO 2 – Analise a sentença a seguir e julgue como CERTO ou ERRADO: A escola deve se mostrar como um lócus estratégico de articulação, ou seja, um espaço para projetos que se destinam a preservar a educação de forma tradicional, conservadora, atendo-se tão somente ao repasse de conteúdos disciplinares. ( ) CERTO ( ) ERRADO 26 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE 2.1 EDUCAÇÃO, GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL A educação entendida como direito humano é assimilada como um direito social que compõe a segunda geração de direitos, defi nidos e afi rmados após o século XIX. Referências não faltam à relevância do direito à educação, no entanto poucas as refl exões que têm buscado se a aprofundar o conteúdo deste direito numa compreensão vasta, sem limitá-lo à escolarização, abordagem que formou a tendência quase exclusiva dos trabalhos que vêm sendo realizados (CANDAU, 2012). Candau (2012) menciona sobre a introdução do Relatório referente ao Direito à Educação, promovido pela Plataforma Brasileira de Direitos Humanos, Econômicos, Sociais e Culturais, em 2004 em que considera a Educação como Direito Humano que julga o ser humano na sua vocação ontológica de querer ser mais, se distinguindo dos outros seres vivos, procurando ultrapassar sua situação de existência no mundo. Segundo Candau (2012), a educação é um elemento essencial para a viabilização da realização dessa vocação humana. Não somente a educação escolar, mas a educação de forma ampla, a educação elaborada num sistema geral, que envolve a educação escolar, mas que não se basta nela, pelo fato do processo educativo se iniciar desde o nascimento e fi ndar apenas com a morte do indivíduo. Isto pode se dar espaço familiar, no meio social que o indivíduo vive, no trabalho, com seus amigos etc. O desenvolvimento educativo permeia a vida dos indivíduos. Os sistemas escolares integram este procedimento educativo pelos quais as aprendizagens basilares são desenvolvidas. Conhecimentos fundamentais são passados, preceitos, modos de procedimentos e aptidões são lecionados e aprendidos. Nas sociedades contemporâneas, o conhecimento escolar é praticamente um requisito para sobrevivência e bem-estar. As implicações do direito à educação, possuindo por referência como a família, os diversos espaços educativos informais, como as organizações da sociedade civil e os movimentos sociais, precisam ser aprofundados e de maneira satisfatória desenvolvidosna sociedade (CANDAU, 2012). É aceitável dizer que o desenvolvimento do direito à educação no nosso país, claramente um andamento acelerado nos últimos anos, pode ser compreendido por dois destaques: a ampliação da escolarização e a declaração da concepção de uma educação escolar comum a todos, baseada nos pressupostos da igualdade. 27 E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 No que se refere ao primeiro destaque, o direito à educação escolar, em princípio foi a ênfase posta no aumento dos anos de permanência obrigatória escolar, no sentido da universalização do ensino fundamental. Com este objetivo praticamente realizado de modo geral, passa-se também a viabilizar políticas de ampliação do acesso à educação em todos os seus níveis, do ensino básico ao ensino universitário (CANDAU, 2012). Essa expansão do sistema de ensino, segundo Candau (2012), evidencia e a presença dos diferentes grupos sociais e culturais que passaram a frequentar o espaço escolar e, desse modo, evidenciaram a heterogeneidade dos resultados, os elevados apontadores de subterfúgio e difi culdade no processo de ensino e aprendizagem, a distorção idade-série, especialmente de verifi cados sujeitos e grupos, trazendo para os debates as inquietações quanto a questão da qualidade da educação. No entanto, esta expressão, da mesma forma em que mostra um aparente consenso, também apresenta diferentes interpretações e oculta diferentes marcos conceituais e políticos de se conceber a educação, articulando-a com o modelo de sociedade e cidadania que se pretende construir. Temos nesse sentido uma expressão polissêmica, de um conceito socialmente construído e que necessita de continuada reformulação, que empreenda fortes polêmicas e debates entre os educadores e na sociedade em sua totalidade (CANDAU, 2012). Esta polissemia da frase qualidade da educação pode ser vista nos discursos que se sucedem sempre que sentem a necessidade de adicionar um novo adjetivo à palavra qualidade: cita-se; qualidade em série como, a qualidade humana, a qualidade social, qualidade cidadã, qualidade corporativa etc. O que está em questão é o confl ito entre os diversos modos de viabilizar as relações entre educação, escola e sociedade. A educação escolar não deve ser limitada a um produto que se comercializa na perspectiva do mercado; e muito menos ter como menção praticamente que total a obtenção de verifi cados conteúdos, por mais socialmente reconhecidos que se constituam (CANDAU, 2012). Deveria sim ter como meta principal a elaboração de uma cidadania participativa, a concepção de sujeitos de direito, a promoção e o desenvolvimento da vocação humana de toda a sociedade implicada nesse projeto. Este espraiamento na expansão do sistema escolar em relação as questões da qualidade deram abertura também ampliar o discurso sobre o tipo de educação que as escolas devem promover (CANDAU, 2012). 28 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE Formatado na perspectiva da igualdade, o direito à educação é sustentado procurando-se ofertar uma escola igual para todos. Diante disso, sistemas de extensa escala de avaliação escolar são instalados, municípios e estados defi nem currículos para todas as suas escolas, é elaborado material didático padronizado, cadernos de exercícios para todos os estudantes, entre outros aspectos, na atualidade, um currículo trivial em nível nacional está sendo elaborado. Diante disso, a igualdade é muitas vezes é apreendida como homogeneização e uniformização do sistema (CANDAU, 2012). Nesse sentido, notadamente a partir dos anos de 1990, esta prerrogativa vem perdendo forças, tem sido desestabilizada por diversas políticas, programas e ações pautadas no sentido do reconhecimento da diversidade, normalmente agenciadas em resposta a pressão dos movimentos sociais (CANDAU, 2012). Conforme Candau (2012), políticas de ato afi rmativo e inclusivo; os currículos escolares sendo elaborados com conteúdo sobre história dos povos tradicionais e originários das cultura afro-brasileira, africana e indígena entre outros, educação quilombola, educação no campo, educação intercultural indígena, formulação de materiais pedagógicos pra esse dialogo contra a homofobia, o sexismo, do racismo no espaço escolar, entre outros, esses são alguns exemplos do desenvolvimento desta perspectiva. Ações dessa envergadura surgem suscitando diversos estudos e debates com os professores e na sociedade. Assim as políticas de igualdade e de reconhecimento da diversidade no solo da educação escolar se mostram, estar em contraposição e, em outros momentos, se erguem através de movimentos justapostos, sem a necessária articulação (CANDAU, 2012). Todavia, é necessário que se encontra ativamente agindo o movimento da sociedade civil, que nos últimos anos vem construindo e implementando novos direitos, na defesa e no respeito às diferenças e pela diminuição das desigualdades. Quando estudamos e trabalhamos na concepção do viés educacional, enfatizando seus indicadores, as desigualdades se mostram evidentemente, no tratamento desigual direcionados às verifi cadas faixas etárias, relacionados a questão, de etnia/raça, e do mesmo modo relacionado a sexualidade e gênero e em alguns grupos vulneráveis e com pouca ou nenhuma força política, o rural, o urbano. É fundamental despontar que o aluno, pertence a uma raça/etnia, possui sua sexualidade, um lugar social em que ele está inserido naquele espaço, algo que vai além de sua condição de classe social (HADDAD; GRACIANO, 2006). 29 E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 Esse exercício torna cada vez mais urgente a promoção de desenvolvimento processos de educação no que se refere aos direitos humanos que contribuem com a construção de uma cultura dos direitos humanos no contexto social de modo geral, particularmente, nos processos educativos (CANDAU, 2012). Você sabe que também existe o conceito da sigla LGBTQIAP+? Ela signifi ca lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queers, intersexuais, assexuais, pansexuais e o sinal (+) aborda o espectro das identidades de gênero e sexualidade que as letras por mais que buscam dar visibilidade, não alcançam na totalidade. 2.2 DIALOGANDO SOBRE GÊNERO A temática da questão de gênero e de sexualidade se tornou assunto em muitas áreas no âmbito campo das humanidades. Uma das ilustres obras da antropologia a respeito do assunto é o livro: Sexo e temperamento, da antropóloga cultural Margaret Mead, publicado em 1935. Se aquelas notórias costumes impulsivos que de acordo com a tradição denominamos como essencialmente femininas; passividade, sensibilidade e disposição de ninar crianças; podem naturalmente ser erigidas como modelo masculino numa tribo, e na outra ser diferente em que as mulheres, como para grande parte dos homens, não nos resta mais princípios seguir tais aspectos de conduta como unidos ao sexo. Se compreende a importância das particularidades culturais na divisão do papel social nas sociedades, modifi cando por completo de uma sociedade para a outra. Mead (1979) também indagou quanto ao argumento em relação a ideia de que existe funções consideradas naturais em que os sexos; femininos e masculinos devem agir conforme seus aspectos simplesmente biológicos. Gênero, como conceito gramatical, é empregado na defi nição de homem e mulher, isto é, gênero masculino e feminino. De acordo com Ferreira (1986, p. 844), gênero é uma “categoria que designa, através de desinências, uma divisão dos nomes pautada em normas tais como sexo e associações psicológicas”. 30 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE Contudo, num aspecto social dentro dos princípios das ciências humanas e sociais, a defi nição de gênero tem se constituído sendo utilizada para distinguir socialmente os indivíduos. Esse conceito não é somete analítico, mas inclui tambémhistórica, no sentido de um contexto dominado e marcado predominantemente pelo masculino, no qual a mulher sempre esteve no lugar de retaguarda, compreendida como um gênero fragilizado, e o homem gênero de força e poder. Se gênero pode ser empregado para analisar as relações sociais defi nidas entre homens e mulheres, devemos entender que essas relações de gênero atravessam várias facetas, desde as construções e a atribuição de papéis masculinos e femininos, a construção de identidades, da sexualidade, da pluralidade de masculinidades e feminilidades, da hierarquia de gênero e, em decorrência dessas divisões muitas vezes, até a violência de gênero. As diferenças entre homens e mulheres se propagam na sociedade com base em concepções sobre o que é feminilidade e masculinidade. São disputas simbólicas, que defi nem respeito a dinâmica de reprodução social, nas organizações diversas como; na família, nas organizações religiosas, escolares, nos ambientes de trabalho e na vida política (MELLO, 2020, p. 11). Nessa perspectiva, compreender gênero é necessário ir além do termo feminino e masculino, mas sem se afastar da identidade do que é ser masculino ou feminino. Atualmente, a identifi cação engloba impasses e entraves sociais, políticos e morais, em que pessoas que não se reconhecem no sexo em que nasceram, sofram com os padrões sociais em relação à identidade. Algo anterior ao nascimento de uma criança, na ocasião do exame em decorrência do ultrassom, a família, inicia o processo para adaptar seu lugar na sociedade, e a partir de suas genitálias é que tudo se decidirá. Se for menina, sua normalmente cor será rosa - decoração, roupas e pertences serão basicamente dessa cor. Se for menino, o padrão será a cor azul. Com o crescimento e o desenvolvimento das crianças, essa diferenciação se mantém nas vestimentas. Entretanto, essa dicotomia se apresenta através dos brinquedos e das brincadeiras adquiridos/permitidos para um e para outro - no caso, para outra – que isso será delimitado e percebido de maneira mais enfática. O que é ser mulher? O que é ser homem? Um dos maiores subsídios do desenvolvimento teórico nessa temática foi a diferenciação entre gênero e sexualidade, anteriormente confundidos em grande parte das vezes. A historiadora Joan Scott (1995) foi uma das pioneiras quanto a 31 E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 fazer essa diferenciação entre gênero e o antigo projeto binário e biologista que fazia a separação entre sexos feminino e masculino. A autora defi ne que a diferenciação mais complexa de gênero ocorre na sociedade e ainda se articula com determinantes sociais como; classe social, papel na família, poder político, e demais fatores. A autora destaca a relevância da categoria gênero para o estudo histórico dos aspectos sociais. A identidade de gênero foi objeto de estudo de diversas estudiosas e pesquisadoras, especialmente as feministas, e pesquisadores também. Uma de importante destaque que contribuiu para a discussão na contemporaneidade foi Butler (2003). A partir de sua teoria queer, a autora desconstruiu ainda mais as ideias binárias relacionadas a gênero, envolvendo a atuação dos seres humanos, por exemplo, a maneira como se vestem, o comportamento etc. e, especialmente, se abarca, como elementos predominantes na constituição da identidade de gênero que há ampla diversidade. Abraçando o pensamento desenvolvido pela teoria queer, as diferentes classifi cações de gênero podem ser determinadas em: • Cisgênero: indivíduos que possuem o gênero que ajusta com o gênero cognominado ao indivíduo no nascimento. • Transgênero: esses indivíduos que possuem um gênero que não corresponde ao alcunhado no nascimento. • Intersexual: indivíduos que têm desde o nascimento ambas; genitálias feminina e masculina ou ambivalência cromossômica, impedindo a signifi cação antecedente por um gênero ou outro. • Gender-fl uid (gênero fl uido): indivíduos que não se reconhecem com tão somente um gênero, transitando entre eles. Assim, Butler (2003) chama atenção para a importância de distinguirmos entre gênero e sexualidade. A identidade de gênero tem a ver com ser homem cisgênero, mulher cisgênero, homem transgênero, mulher transgênero e pessoas com gênero fl uido. A separação defi nida pela sociedade do ser masculino e feminino, promoveu também a concepção de objetos, cores diferentes, para meninos e meninas, o mesmo com alguns comportamentos esperados para um e não para outro sexo para cada tipo de gênero, são concepções produzidas e reproduzidas pelo homem, atribuídas pela sociedade e todos as acompanham como um preceito, reforçado de geração em geração. 32 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE É a naturalização do gênero, como se para ser homem ou mulher bastasse nascer com uma ou outra genitália. Entretanto, será que é de tal modo tão singelo? A cisão entre o ser feminino e/ou masculino não é compreendida somente a partir determinismo biológico. Isso signifi ca que, tanto o homem e a mulher são resultados de uma dada realidade sociocultural. Foi evocando essas provocações problematizar que se oportunizou-se entender essas relações de poder defi nidas entre homens e mulheres que passou a existir o conceito de gênero. O termo adentrou a academia, na década de 1980, em um debate continuo com o movimento feminista e pesquisadoras de outras áreas: história, sociologia, antropologia, ciência política, entre outras. Portanto foi através dos estudos sobre mulheres que foi se estruturando o processo de desnaturalização do papel de submissão/inferioridade, que a mulher estava prometida socialmente, passou a se desestruturar. Foi nesse sentido que o conceito de gênero nasceu: refl etir e desconstruir a percepção de que as desigualdades e as convenções sociais fossem relacionadas unicamente ao determinismo biológico. Porque é a sociedade que, regulada na genitália, defi ne arquétipos e funções diferentes para homens e mulheres. Como asseverou Louro (2007), para que se compreenda o espaço e as relações de homens e mulheres numa sociedade, deve-se verifi car não especifi camente homens e mulheres, mas sim tudo que socialmente se construiu sobre eles. Verifi camos, nesse sentido, que as diferentes culturas, em diferentes momentos históricos de suas formações sociais, defi niram, e ainda estabelecem, procedimentos, funções e imputações para mulheres e homens. É fundamental observar que, se todas as sociedades determinassem comportamentos e referencias sociais a partir do sexo biológico de cada indivíduo, não teríamos as variadas maneiras de vivenciar a identidade de gênero, como é possível atualmente, apesar dos muitos preconceitos e homofobias existentes. O sexo é um elemento biológico, associado que corresponde ao nosso corpo físico nosso órgão genital, seios, sistema reprodutor etc., o gênero é uma construção sociocultural. Diante disso, cabe destacar que categoria gênero não é uma regra automaticamente imposta, sequer a localizamos escrita em um código de leis. Ela se formula no cotidiano, a partir de jogo continuado de poder e resistência. 33 E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 Essas associações estão em todas as áreas: educação, saúde, trabalho, política, religião, lazer na cultura de forma geral. É fundamental mencionar que o próprio conceito de gênero está no âmbito de um contexto sociocultural, resumidamente, ele é também uma construção e as pessoas estão condicionadas a essas construções e transformações. Existe, nesse sentido a diferença entre ser uma mulher em nosso país ou no Oriente. Essa altercação ainda pode ser relacionada ao tempo, isto é, existe uma diferença entre ser mulher no mundo contemporâneo e ter sido mulher no início do século XX. Primeiramente, gênero estava relacionado às discussões de/e para mulheres, visando a condição da mulhere no entendimento de como a categoria mulher era construída. A repercussão disso foi uma homogeneização das mulheres, na percepção de uma categoria excepcional, sem considerar outras diferenças importantes como classe, etnia/raça, geração e orientação sexual. 2.2.1 Diversidade sexual Em nossa sociedade atual, ocidental, educamos meninas e meninos de modo diferente, concedendo a cada um comportamento e desempenhos na sociedade que se entende como adequados a partir da genitália “descoberta” anteriormente ao nascimento de cada indivíduo. Assim, diferenças biológicas são empregadas na construção de diferenças sociais, muitas vezes, tidas como naturais. Por que há modelo padrões de desempenhos acatados corretos para meninas e meninos? Podemos observar que esses modelos padrões foram conferidos a partir do sexo biológico, podem infl uenciar comportamentos, profi ssões, cores de roupas, brincadeiras, e o mais que se refi ra a que se refi ra ao sexo biológico. Pensando nesse sentido, compreendemos que esse tipo de educação atrapalhou e tolheu homens e mulheres que enquanto crianças de brincar com que se sentiam atraídos e não lhes era permitido porque era considerado brincadeira de menino ou menina. Muitas pessoas se frustraram em não poder ter o poder de escolher a profi ssão que se identifi cava mais porque podia ser considerada profi ssão de homem ou profi ssão de mulher. 34 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE Dessa maneira, é importante destacar que essa construção cultural e educacional da defi nição de papeis a serem desempenhados a partir do sexo biológico, não tem relação alguma com o que pode ou não ser feito por homens e mulheres, diante disso entendemos que existem homens que são cozinheiros, e são ótimos nessa função e em contrapartida mulheres que exercem trabalhos na construção civil de excelente qualidade. Como também verifi camos que homens bailarinos que são nobilitados no mundo com um dos melhores bailarinos. Outro ponto importante é considerar que quando se fala em sexo, não estamos fazendo alusão de incitar e ensinar as crianças a fazerem sexo, pelo contrário, o objetivo é explicá-las no sentido biológico da funcionalidade dos seus corpos e suas diferenças. De maneira similar ao falar em sexualidade, necessitamos compreender que a sexualidade não signifi ca o ato sexual entre pessoas extrapola tudo isso; sexualidade é toda sensação de prazer que as pessoas sentem em ocasiões que bancam determinada atividade que lhes promovam, sensações agradáveis, leveza e prazer em estar fazendo. Isso se aplica por exemplo: uma pessoa que tem prazer em ler livros, e sentem bem fazendo leituras, esse é um claro exemplo que nesse ato implica o desenvolvimento sua sexualidade. Finalmente, quando nos reportamos sobre gênero, é compreender que foram papeis atribuídos socialmente e culturalmente por meio dos sexos, porém, devemos romper com esse modo infl exível de entender que homens e mulheres podem desde de sua infância brincar com qualquer brincadeira saudável, podem indicar a profi ssão que se sentem motivados e lhes desperta interesse, e também escolherem usar a cor de roupa que desejarem, visto que isso jamais irá interferir em sua sexualidade e também não no seu órgão biológico. 35 E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 Se você quiser conhecer mais sobre os assuntos abordados, vamos deixar a indicação de alguns livros que se articulam com o assunto tratado neste item: Esse livro se volta para um assunto cada vez mais fundamental no coloquial escolar: a sexualidade. Tema que já foi tabu ou fonte de polêmicas, em nossos dias tem reconhecida a sua centralidade nas relações sociais e na maneira como compreendemos a nós mesmos. Em um contexto de transformações profundas e ainda em curso, abordar a sexualidade é um desafi o tanto para pesquisadores quanto para profi ssionais da educação. De contorno sólido, contemporâneo e elucidado, esta obra introduz o leitor às discussões contemporâneas sobre sexualidade de maneira clara e didática. FONTE: TORRES, M. A. A diversidade sexual na educação e os direitos de cidadania LGBT na escola. 2.ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013. 36 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE Um livro didático e de referência que propõem uma refl exão acerca das questões de gênero e suas intersecções com temas relacionados à educação, sexualidade, currículo, feminismo no Semiárido Baiano. FONTE: RIOS, P.P. S; MENDES, A. M. Educação, Gênero e diversidade sexual: fabricação das diferenças no espaço escola. Curitiba: Editora CRV, 2018. A orientação sexual é a afi nidade afetuosa que direciona as relações amorosas e sexuais. Sendo assim, apresentamos alguns tipos de orientação sexual: • Homossexual: pessoas que sentem atração por pessoas do mesmo sexo. Conhecidos como gays, quando se referem a homens, e lésbicas, no caso das mulheres. • Bissexual: indivíduos que possui atração afetiva e sexual por indivíduos de ambos os sexos defi nidos. • Heterossexual: seres humanos que sentem atração afetiva e sexual por indivíduos do sexo oposto. • Pansexual: pessoas que sentem atração por outras pessoas independentemente do sexo ou gênero delas. • Assexual: pessoas que não desenvolvem fascínio sexual (o que não impede, essencialmente, que desenvolvam relações amorosas). Com a expansão da democratização nas sociedades de Estado, os movimentos sociais que lutam pelos direitos LGBTQIAP+ conseguiram conquistar um espaço signifi cativo na política mundial, determinando, por exemplo, a homofobia como crime, mesmo que no momento ainda é difícil proceder denúncias e de obter provas desses tipos de crimes. 3 – Analise a sentença e julgue como certa ou errada: O conceito de cisgênero se refere a indivíduos que possui o gênero que combina com o gênero designado ao sujeito a partir de seu nascimento. ( ) CERTO ( ) ERRADO 37 E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 4 – Analise a sentença e julgue como certa ou errada: A bissexualidade se refere a indivíduos que sentem atração por pessoas tão somente pertencente ao gênero masculino; ( ) CERTO ( ) ERRADO Mediante a isso, ponderamos que existem ainda diversas questões incluindo a sexualidade, gênero e diversidade provocam polêmicas e/ou implicam tabus da sociedade, requerendo atenção e cuidados no desenvolvimento de abordagens e análises, no sentido de a interpretar a pluralidade de sujeitos sociais e suas lutas por dignidade e direito à vida. FONTE: A autora FIGURA 2 – BREVE EXPLANAÇÃO SOBRE OS CONCEITOS GERAIS DE SEXO, GÊNERO E SEXUALIDADE É importante destacar que no Brasil, os discursos sobre a diversidade sexual e de gênero teve um impulso na década de 1990, na ocasião da publicação dos estudos realizados pela historiada Guacira Lopes Louro a respeito da exclusão das minorias de gênero na história da educação. Segundo Dinis (2008, p. 479). 38 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE A singularidade do trabalho de Louro está nos recursos metodológicos de suas análises, baseadas não mais no discurso marxista ou nas pedagogias da conscientização, mas nas teorias pós-estruturalistas, e a grande divulgação que teve a publicação de seu livro Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 5 – Analise a sentença e julgue como certa ou errada: Gênero: São papéis atribuídos aos sexos masculinos e feminino, determinados por um processo de educação e cultura moralista ( ) CERTO ( ) ERRADO 6 – Analise a sentença e julgue como certa ou errada: Sexualidade: é uma necessidade básica, porém deve ser separado de outros aspectos da vida. Sexualidade é sinônimo de relação sexual e se limita à ocorrência ou não de orgasmo por essa razão jamais deve ser estudado nas escolas. ( ) CERTO ( ) ERRADO É a partir daí a Educação tem refl etidoo tema numa concepção culturalista distante das questões biológicas referentes ao assunto (COSTA; BASSO, s.d). O tema diversidade sexual e de gênero segundo Costa e Basso (s.d.) fi cou fora dos debates na Educação por certo tempo e isto, conforme os pesquisadores: Larrosa (1994) e Walkerdine (1998) apud Diniz (2008), se deu pois a educação foi atingida por uma compreensão do sujeito com base em suposições originarias como da psicologia da aprendizagem e da psicologia do desenvolvimento, cheia de menções normativas e naturalizadas, legalizadas pela biologia, e especifi camente por uma estabelecida leitura darwinista da evolução, tornando o olhar concernente a diversidade consistir em ser ordenada e sistematizada em uma escala ordenada de incremento. 39 E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 Para Larrosa (1994, p. 40): O sujeito individual narrado pelas diferentes psicologias da educação ou da clínica, esse sujeito que se desenvolve de forma natural sua autoconsciência nas práticas pedagógicas, ou que recupera sua verdadeira consciência de si com a ajuda das práticas terapêuticas, não pode ser tomado como um dado não problemático. Mais ainda, não é algo que se possa analisar independentemente desses discursos e dessas práticas, posto que é aí, na articulação complexa de discursos e práticas (pedagógico e/ou terapêuticos, entre outros), que ele se constitui no que é. Contudo, conforme Vianna e Silva (2008), os conceitos de sexualidade devem ser ampliados, pois a construção das concepções de sexualidades aproxima-se de determinações inseridas nas relações sociais de gênero. Desta forma, esse temático passou tornou-se responsabilidade da área da saúde e da educação. Assim, na esfera escolar tornou-se responsabilidade, principalmente dos professores de Ciências (Ensino Fundamental – Séries Finais) e Biologia (Ensino Médio) (COSTA; BASSO, s.d.). No entanto, sabe-se que os assuntos referentes ao gênero precisam perpassar não apenas as discussões referente a sexualidade, prevenção e corpo, mas especialmente por discussões que digam respeito as questões sociais, políticos e históricos que envolvem a construção dos signifi cados internos e externos ao ambiente escolar para que, as interações sociais sejam expostas do preconceito que as circundam (COSTA; BASSO, s.d.). Sexo é um dado biológico, isto é, tudo aquilo relacionado ao nosso corpo físico (a genitália, os seios, o formato do corpo). A respeito de abordagens sobre diversidade sexual e de gênero, sugerimos consultar o site “Grupo de Pesquisa Sexualidade e Escola”, em que você irá encontrar teses, dissertações, livros em pdf, indicações diversas de material relacionado ao tema. Disponível em: <http://sexualidadeescola.furg.br/index.php>. Acesso em: 13 set. 2021. 40 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE Táticas de aversão não signifi cam necessariamente elevar o número de estudos e de referências à irradicação da homossexualidade na educação à mesma proporção de estudos e referências designadas às mulheres, mas oportuniza que a categoria gênero possa também defender na prática essa discussão, já que no aspecto teórico o comporta necessariamente (DINIS, 2008). É nesse sentido que os estudos culturais proporcionam uma importante contribuição, já que o debate não está na discordância singelos de conceitos como homem-mulher, masculino x feminino, heterossexual x homossexual, entretanto na fábrica de identidades elaborada pela educação ancorada em referências essencialistas e excludentes (DINIS, 2008). Ainda em conformidade com Dinis (2008), ponderar categorias como heterossexualidade e homossexualidade enquanto historicamente lançados, defi ne-se em uma tática de resistência às investidas de duras fronteiras no interior das práticas sexuais, oportunizando a construção de uma variação temática extensa. Ao assinalar a construção histórico e cultural das identidades sexuais e de gênero, o professor pode ajudar o educando a encontrar as limitações e as chances impostas a cada pessoa quando se expõe aos estereótipos que são designados a uma identidade sexual e de gênero. Isso segue especialmente na direção contraria à determinada abordagem da questão homossexual feita pela mídia na produção de uma suposta “naturalização” do sujeito homossexual. No intuito de se desvencilhar do discurso moralista, que a entendia a homossexualidade como falta de caráter, desencaminhamento no fator educativo familiar ou objeto de patologias hormonais, afi rmava-se muito que a ideia de que o sujeito nasce homossexual ou heterossexual, isentando-o do comportamento homossexual, porque não era uma questão de escolha, mas de determinação (DINIS, 2008). Existem alguns sites acadêmicos que reúne publicações de artigos acadêmicos de várias revistas eletrônicas acadêmicas, dentre eles deixamos como indicação o site da Scielo, sendo assim, segue a seguir o site para que possam acessar, e navegar. https://scielo.org/ 41 E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 Essa afi rmativa, ainda segundo Dinis (2008), tem incentivado mesmo algumas pesquisas biológicas que apostam na procura dos genes que determinam a orientação sexual. Esse debate tem constituído ainda propagado pelos meios de comunicação e pelas personagens homossexuais que atuam nas novelas, no cinema, na publicidade e nos programas voltados ao público jovem. No entanto, uma das precipitações desta naturalização das orientações sexuais diz respeito a relação com a diferença não avance no âmbito das políticas de tolerância, um respeito aos direitos do outro contando que esse outro se mantenha quieto no seu interminável espaço de si mesmo, deixando seguro os territórios demarcados de formas padronizadas de viver os comportamentos sexuais (DINIS, 2008). Você sabe qual a importância do movimento LGBTQIAP+ para a desconstrução de paradigmas e tabus em relação ao modo das pessoas serem, viverem se relacionarem, bem como promoção do respeito a diferença e diversidade? Para saber um pouco mais, leia a matéria que deixamos o link a seguir: FONTE: <https://www.politize.com.br/lgbt-historia-movimento/>. Acesso em: 15 set. 2021. Podemos afi rmar que o diverso não é exclusivamente um outro eu (homem, mulher, homossexual, heterossexual...) e com o qual devo estabelecer um exercício de vizinhança pautada na fi losofi a do politicamente correto. O outro é uma complexidade de tudo aquilo (humano, não-humano, visível, não visível) que me tira da pretensa harmonia que posso ter de uma identidade fi xa (um modo tradicional e padronizado de pensar, sentir, agir), estimulando-me com uma constante convocação para diversas formas de ser estar no mundo (DINIS, 2008). Um grande desafi o no exercício dinâmico da alteridade nos leva a um tratamento contrário mesmo às políticas de tolerância. Assim, debater a temática da diversidade sexual e de gênero não seria apenas uma condição isolada a grupos minoritários especiais e, por disso, algo a ser desprezado por um currículo que pretende atender a maioria heterossexual que frequenta o espaço escolar (DINIS, 2008). 42 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE Dinis (2008) complementa que esse é precisamente um desafi o primordial que necessita ser encarado pelos próprios educadores, isto é, antes de educar a respeito da sexualidade, quem sabe os próprios educadores devam ser educados. Se os educadores desejarem ser diligentes em seu trabalho com todos os jovens, eles necessitam iniciar a adquirir um espectro de seu fazer profi ssional mais universalizante da sexualidade em uma totalidade e da homossexualidade em particular (DINIS, 2008). Portanto, ao invés de analisar a questão da homossexualidade como objeto de interesse unicamente para os indivíduos que são homossexuais, é preciso analisar as maneiras como as alocuções predominantes da heterossexualidadeelaboram sua própria coleção de estupidezes tanto a respeito da homossexualidade como no mesmo compasso no que se refere a heterossexualidade (BRITZMAN, 1996). Contudo, problematizar novas políticas de inclusão das minorias sexuais e de gênero requer, por parte dos educadores, uma experimentação de novos modelos no uso da linguagem que possam provocar resistência a paradigmas sexistas ou homofóbicos. Esse é um passo de suma importância a ser dado em setores como; na linguagem científi ca, nos documentos ofi ciais, nos currículos escolares e nas instituições de formação docente (DINIS, 2008). ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Neste capítulo, procuramos explicitar a respeito de conhecimentos que são de suma importância para a compreensão dos estudantes que desejam atuar e/ ou que já atuam profi ssionalmente no campo da educação e que avaliam sobre a importância de estudar a respeito da educação para a diversidade pautado nos conhecimentos a partir dos estudos oriundos da categoria gênero. Como estudante, você também foi orientado a refl etir acerca da educação enquanto um direito fundamental e que se contorna como direito social e se revolve na perspectiva dos direitos humanos, tendo sido assim considerada desde a promulgação da Constituição Federal de 1988. Como discente você pode compreender a relevância do estudo para poder desconstruir ideias, juízos e concepções sobre a questão que tangencia o debate sobre sexo, sexualidade, gênero para que assim possa corroborar para uma educação que verdadeiramente respeita o próximo e assim, formar futuros cidadãos que serão mais respeitosos, tolerantes e não coadunarão com práticas e discursos que promovam o ódio, intolerância e violência. 43 E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 Por fi m, é imprescindível que cada qual busque a compreensão dos conceitos e explanações aqui apresentados, e faça uma refl exão crítica em seu cotidiano de trabalho afi m de verifi car as implicações de cada qual, infl uenciando na direção do desenvolvimento de sua prática docente, com vistas a uma educação mais acolhedora, inclusiva e de respeito a diversidade. REFERÊNCIAS BEAUVOIR, S. de. O Segundo Sexo, Tradução Sérgio Milliet, v. I, II. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. BENTO, B. Transexuais, corpos e próteses. Disponível em: https://medium.com/revistalabrys/transexuais-corpos-e- pr%C3%B3teses-1ae7e07b76cc. Acesso em: 8 set. 2021. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Centro Gráfi co, 1988. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB. 9394/1996. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/ arquivos/pdf/lei9394_ldbn1.pdf. Acesso em: 8 set. 2021. BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente - ECA. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069compilado.htm. Acesso em: 8 set. 2021. BRASIL. Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos. Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos; Ministério da Educação, 2006. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Ricardo Henriques. Gênero e Diversidade Sexual na Escola: Reconhecer Diferenças e Superar Preconceitos. Cadernos SECAD 4. Brasília: MEC, 2007. BRASIL. Secretaria Especial dos Direitos Humanos: Texto-Base da Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Direitos Humanos e Políticas Públicas: o caminho para garantir a cidadania de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais. 2008. BRITZMAN, D. O que é essa coisa chamada amor: identidade homossexual, educação e currículo. Porto Alegre: Educação & Realidade, 1996. 44 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. BUTLER, J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução de Renato Aguiar. Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 2003. CANDAU, V. M. (Org.). Reinventar a Escola. 6.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008a. CANDAU, V. M. Interculturalidade e Educação Escolar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. CANDAU, V. M. (Org.). Reinventar a Escola. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008b. CARVALHO, J. W. D. de. A educação como fonte mitigadora das diferenças entre gêneros e disseminadora dos direitos universais. s.d. Disponível em: https://monografi as.brasilescola.uol.com.br/educacao/a-educacao-como-fonte- minimizadora-das-diferencas-entre-generos.htm. Acesso em: 5 set. 2021. COSTA, R.; BASSO, R. A. A. A diversidade sexual e o respeito as diferenças: uma abordagem por meio do gênero textual da notícia. s.d. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov. br/portals/pde/arquivos/2297-8.pdf. Acesso em: 8 set. 2021. DINIS, N. F. Educação, Relações de Gênero e diversidade sexual. In: Educ. Soc., Campinas, vol. 29, n. 103, 2008. Disponível em: https://www.scielo.br/j/es/a/ nTn98Ch9xWZdqbcSFwXkykw/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 6 set. 2021. DINIZ. N. F. Educação, Relações de Gênero e Diversidade Sexual. Campinas: Educação e Sociedade, 2008. FERREIRA, A. B. de H. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 2.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. GOMES, N. L. Cultura negra e educação. Revista Brasileira de Educação. n.23, 2003. HADDAD, S. O direito à educação no Brasil; Relatoria Nacional para o Direito Humano à Educação. Curitiba: DhESC Brasil, 2004. HADDAD, S.; GRACIANO, M. A educação entre os direitos humanos. Campinas: Autores Associados; São Paulo: Ação Educativa, 2006. 45 E. E DIREITOS H., C. PARA UM D. ENTRE GÊNERO E D. S. Capítulo 1 LARROSA, J. Tecnologias do Eu e educação. In: SILVA, T.T. (Org.). O sujeito da educação: estudos foucaultianos. Petrópolis: Vozes, 1994. LOURO, G. L. Gênero, Sexualidade e Educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1997. LOURO. G. L. O corpo educado: pedagogia da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. LOURO, G. L. Gênero, sexualidade e educação. Petrópolis: Vozes, 2004a. LOURO, G. L. Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria querer. Belo Horizonte: Autêntica, 2004b. MEAD, M. Sexo e temperamento. São Paulo: Perspectiva, 1979. MELLO, F. A. de. A violência doméstica contra mulheres no Programa Casa Abrigo Regional ABC: questões para o serviço social. Dissertação de mestrado apresentada ao programa de pós-graduação strictu sensu da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – SP para obtenção do grau de mestra em serviço social. 2020 – São Paulo – SP. Disponível em: https://tede2.pucsp.br/handle/handle/23163. Acesso em: 3 set. 2021. MOREIRA, A. F. B.; CANDAU, V. M. Educação escolar e cultura(s): construindo caminhos. In: Educação como exercício de diversidade. Brasília: UNESCO, MEC, ANPED, 2005. SAFFIOTI, H. Contribuições Feministas Para o Estudo da Violência de Gênero. Cadernos Pagu (16). Campinas: Núcleo de Estudo de Gênero - Pagu, 2001. SAFFIOTI, Heleieth. Gênero, patriarcado, violência. 2ºed. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo,2015. SAFFIOTI, Heleieth. Violência de Gênero – Poder e impotência. Rio de Janeiro: Revinter. SANTOS, J. L. dos.; THÜRLER, D. Educação, Direitos Humanos e Cidadania: um diálogo na constituição das identidades sexuais e de gênero. In: V Colóquio Internacional “Educação e Contemporaneidade”. São Cristóvão: SE/Brasil, 2011. SCOTT, J. W. Gênero Uma Categoria Útil de Análise Histórica. Educação e Realidade. Porto Alegre, v.20, n.2, 1995. 46 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE SEVERINO, A. J. Os embates da cidadania: ensaio de uma abordagem fi losófi ca da nova LDB. In. BRZEZINKI, Iria (org.). LDB dez anos depois: reinterpretação sob diversos olhares. 2.ed. São Paulo: Cortez, 2008. SOARES, M. V. de M. B. Cidadania e Direitos Humanos. Cadernos de pesquisa USP, 1998. TAVEIRA, A. C. F. et. al. O direito à educação e o tratamento da diversidade na escola.In: novos direitos - Revista acadêmica do instituto de ciências jurídicas. v.2, n.1: jan. jun, 2015. TORRES, S. Uma função social da Escola. 2007. UNESCO. Declaração Universal sobre diversidade cultural. Disponível em: http://www.unesco.org/new/fi leadmin/MULTIMEDIA/HQ/CLT/diversity/ pdf/declaration_cultural_diversity_pt.pdf. Acesso em: 8 set. 2021. VIANNA, C.; SILVA, C. R. Gênero e Sexualidade: mapeando as igualdades e as diferenças entre os sexos e suas relações com a educação. Revista Educação. Especial Grandes Temas. São Paulo: Editora Segmento, 2008. CAPÍTULO 2 CORPOS, SEXUALIDADE, GÊNERO: A NECESSIDADE DE UM OLHAR EDUCATIVO SEM PRECONCEITOS A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Conhecer sobre os signifi cados socioculturais bem como as práticas de poder imputadas nas relações de gênero na sociedade. Estudar sobre a importância do feminismo para desmistifi cação do sistema patriarcal e do poder conferido por esse sistema ao gênero masculino, apreender a respeito da relevância do feminismo no sentido de entender a construção social e histórica de desigualdade entre os gêneros. Estudar como os corpos e a sexualidade se diferem e podem ser geradores de preconceitos na sociedade, compreendendo a educação como possibilidade de desconstrução das atitudes preconceituosas. Refl etirá sobre formas de dialogar sobre corpo, sexualidade e gênero de modo educativo, sem preconceitos e elucidativo com os estudantes. 48 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE 49 C., S., G.: A N. DE UM OLHAR E. SEM PRECONCEITOS Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Este capítulo tem como objetivo conhecer os signifi cados socioculturais a respeito do gênero e as práticas de poder conferida no intuito de estimular o diálogo, a refl exão sobre terminologias adequadas para a atualidade que promovem a desconstrução de ideais discriminatórias e pejorativas a respeito da sexualidade, dos corpos, identidade de gênero, orientação sexual. Você compreenderá a relevância do feminismo e suas vertentes no sentido de entender a construção social e histórica de desigualdade entre os gêneros, e as múltiplas desigualdades entre homens e mulheres e em especial sobre a toxidade social a qual o machismo submete a todos. Nosso intuito é provocar em você o desejo de aprimorar-se para a intervenção profi ssional e novas formas de dialogar sobre corpo, sexualidade e gênero de modo educativo, sem preconceitos, atualizando seus conhecimentos com assuntos pertinentes a evolução da sociedade. Contudo, buscamos contribuir para que no decorrer dos estudos, você possa analisar e, ainda, criar o seu próprio mapa conceitual sobre as informações que norteiam a prática na educação com olhar educativo e sem estereótipos para a temática: corpos, sexualidade, gênero. Desse modo, fazendo o exercício da relação teoria e prática. Sugerimos que você analise os assuntos aqui abordados e alinhe com a sua realidade profi ssional e/ou o que almeja desenvolver em sua prática cotidiana, não se restringindo a área profi ssional, mas englobando os conhecimentos em todas as áreas da vida, tornando-se de fato uma prática. Fique atento às sugestões de leitura, vídeos e artigos que complementam os estudos enriquecendo seu repertório profi ssional. Será um prazer aprender e compartilhar com você! Bons estudos! 50 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE 2 SIGNIFICADOS SOCIOCULTURAIS DE GÊNERO E AS PRÁTICAS DE PODER O termo gênero muitas vezes é utilizado de forma incorreta para fazer referência ao sexo biológico com o qual o indivíduo nasce: feminino/masculino e/ ou homem/mulher, além de errôneo é excludente ao intersexual que se refere a pessoas que nascem com a quantidade de cromossomos “específi cas” e não se desenvolvem ou se encaixam na descrição de gênero feminino/masculino. Para Guedes (1995), o gênero refere-se a tudo aquilo que foi defi nido no decorrer do tempo pela nossa sociedade, na qual se compreende como a função, comportamento esperado, ou papel do indivíduo com base em seu sexo biológico. Para a autora fatores socioculturais por vezes determinam a conceituação de “gênero” na qual pode cambiar de acordo com o momento histórico da sociedade. Essa mudança na conceituação se faz necessária e é de suma importância como debateremos no decorrer deste capítulo, em especial porque sabemos que a diversidade sexual é extremamente presente na sociedade pós-moderna e temos que dialogar e naturalizar este espaço de discussão. Queremos elucidar que ao mencionar sobre a “diversidade sexual” estar presente na sociedade pós-moderna reforçamos que a diversidade sempre existiu, apenas foi tão discriminada, criminalizada, ridicularizada, patologizada por séculos pela sociedade. Infelizmente, em diversos países do mundo, o tema não é debatido e ainda é tratado como tabu, patologia, crime e em alguns países passível de prisão e pena de morte. Se as sociedades são e serão sempre constituídas por sujeitos diferentes, que buscam ser politicamente iguais, suas múltiplas diferenças talvez possam ser motivo de trocas, negociações, solidariedades e disputas (CAPELLE et al. 2004 apud LOURO,1997b, p. 40). Sexo é um dado biológico, isto é, tudo aquilo relacionado ao nosso corpo físico (a genitália, os seios, o formato do corpo). 51 C., S., G.: A N. DE UM OLHAR E. SEM PRECONCEITOS Capítulo 2 É com as diferenças que somamos e crescemos. Note a importância de dialogar sobre o tema e levá-lo para as escolas? Há inúmeras razões para pensar o tema como relevante no diálogo e nas pautas escolares, promover debate, clarifi cação de conceitos, informação não é doutrinação política ou ideológica é a forma mais adequada de evitar discriminação, violência, abusos físicos, psicológicos, constrangimentos, doenças psicossomáticas, transtornos afetivos provocados pela exposição contínua a discriminação e inúmeras violências. Dialogar sobre identidade de gênero, diversidade e orientação sexual é garantir acesso aos direitos civis e humanos para todos. Nogueira (2015, s. p.), enumera sete motivos para debater sobre “gênero, sexualidade e identidade de gênero”, são elas: 1. O tema não é criação ideológica, eles existem e temos que conviver respeitosamente. Quanto mais informação menos discriminação, sofrimento e violação dos direitos humanos. 2. Violência contra a mulher está generalizada na sociedade e na escola também, mulheres são subjugadas, violentadas, discriminadas e o índice de feminicídio é alarmante no Brasil. De acordo Rede de Observatório da Segurança mostram que cinco estados brasileiros (SP, BA, CE, RJ e PE) registraram, juntos, 449 casos de feminicídio em 2019. No que se refere no ano de 2020 em médica 5 mulheres foram mortas por dia. O Brasil sancionou a Lei nº 13.104/2015, que introduz uma qualifi cadora que aumenta a pena para autores de crimes de homicídio praticado contra mulheres. A aplicação da qualifi cadora eleva a pena mínima deste crime de 6 para 12 anos e a máxima, de 20 para 30. 3. Assim como a violência contra a mulher a transfobia também mata. 4. Violência de gênero e preconceito resultam em evasão escolar. 5. Não discutir gênero vai contra diversos tratados internacionais assinados pelo Brasil 6. O machismo impacta o aprendizado e a autopercepção de meninos e meninas. Machismo é tóxico!!! 7. Intolerância não combina com religião, preconceito não tem relação com fé ou religiosidade. 52 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE 1– Analise a sentença a seguir e julgue como CERTO ou ERRADO: A diversidade sexual pode ser defi nida como um fenômeno coletivo inovador típico da sociedade atual, considerada pós- moderna? ( ) CERTO ( ) ERRADO Para frisar a importância desse diálogo e da preparação adequada dos docentes para abordar o tema, Nogueira (2015, s. p.), em seu artigointitulado de: “Por que a educação deve discutir gênero e sexualidade? Listamos 7 razões” publicado em 2015, relata alguns casos de violência de gênero e transfobia. Escolhemos dois trechos para apresentar para vocês são eles: ...Alex, 8 anos, morto em 2014 pelo próprio pai por gostar de lavar a louça e de dança do ventre. Franzino, Alex tomava surras constantes do pai que o mandava “andar que nem homem”. Não se sabe se Alex era homossexual, mas relatos de diversos familiares e vizinhos dão certeza de que seu pai era homofóbico. O irmão mais velho do garoto já havia sido rejeitado pelo pai, por não ser “másculo o sufi ciente”. Após um dos “corretivos”, o fígado de Alex se rompeu, ocasionando sua morte. A violência deste caso é ainda mais trágica se pensarmos como ela poderia ter sido evitada: Alex vivia com o pai no Rio de Janeiro, porque sua mãe havia decidido não o matricular na escola, com medo da reação dos outros estudantes ao jeito do fi lho. Ao sair de Mossoró (RN) para morar com o pai, a intolerância terminou por fazer mais uma vítima. Nogueira (2015, s. p.), cita outro caso: Em maio deste ano, uma menina de 12 anos foi estuprada dentro de uma escola na capital paulista por um menino de 14, com auxílio de dois outros meninos. Nas periferias dessa mesma capital, vídeos do Youtube e correntes de WhatsApp propagam as Top 10, um ranking no qual meninas são listadas e insultadas como “vadias, piranhas” e dezenas de outros adjetivos perversos. As afetadas por essa prática tentam muitas vezes o suicídio ou abandonam suas rotinas escolares. 53 C., S., G.: A N. DE UM OLHAR E. SEM PRECONCEITOS Capítulo 2 Infelizmente são apenas mais dois casos de violência de gênero proporcionadas pelo arcaico e primitivo signifi cado de gênero defi nido e institucionalizado socioculturalmente e ainda aceito pela maioria das pessoas que constituem a sociedade patriarcal, na qual possui profundas infl uências religiosas. A partir deste pensamento, queremos propor algumas refl exões: O estado não é constitucionalmente laico? A quem favorece a falta de diálogo e empatia? Machismo estrutural corrobora para que tais crimes perpetuem? Indicamos como pesquisa de dados e leitura teórica o “Manifesto pela igualdade de gênero na educação: por uma escola democrática, inclusiva e sem censuras”. O manifesto foi assinado por 113 pesquisadores e grupos de estudos e trata-se de repúdio à forma deliberadamente distorcida que o conceito de gênero tem sido tratado nas discussões públicas e denunciar a tentativa de grupos conservadores de instaurar um pânico social, banir a noção de “igualdade de gênero” do debate educacional e reifi car as desigualdades e violências sofridas por homens e mulheres no espaço escolar. Disponível em: <http://www.portal.abant.org.br/images/Noticias/Manifesto_Pela_ Igualdade_de_Genero_na_Educacao_Final.pdf>. Acesso em: 19 mar. 2022. Não estamos apenas falando sobre a dor do “outro” o que por si só já é relevante, mas sobre direitos humanos e sociais. Para além do Brasil há inúmeros pedidos de refúgio por parte de pessoas de nacionalidade africana por perseguição por sua orientação sexual, para além disso há inúmeros casos registrados, outros subnotifi cados, portanto não há precisão de números de crimes de transfobia e homofobia nacional e internacionalmente. Para se ter clareza em 72 países do mundo, é possível ser preso por ser homossexual, em 13 deles, as pessoas podem ser condenadas à pena de morte por causa da orientação sexual, estes 13 países mencionados países fi cam na Ásia (principalmente no Oriente Médio) e na África. 54 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE Dos 72 países no mundo em que a orientação sexual não seja heteronormativa, é considerada crime, queremos enfatizar os países em que a pena de morte é passível de acontecer por determinação da Lei que rege o país, tornando-os locais temerosos viver, São eles: 1- Sudão 2- Irã 3- Arábia Saudita 4- Iêmen 5- Mauritânia 6- Afeganistão 7- Paquistão 8- Catar 9- Emirados Árabes Unidos 10- Iraque 11- Síria 12- Nigéria 13- Somália 55 C., S., G.: A N. DE UM OLHAR E. SEM PRECONCEITOS Capítulo 2 FIGURA 1 – GRÁFICO DE PAÍSES QUE CRIMINALIZAM A HOMOSSEXUALIDADE FONTE: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/sites/default/fi les/ atoms/image/info_lgbt.png>. Acesso em: 19 mar. 2022. No que se refere ao Brasil, há 12 anos consecutivos (2008 a 2020) nosso país tem o degradante título de ser líder mundial em homicídio de pessoas transgênero, crime hediondo conhecido como transfobia. A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) esclarece: 56 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE FONTE: <https://www.adufop.org.br/post/brasil-segue-como-pa%C3%ADs-que-mais- mata-pessoas-trans-no-mundo-aponta-relat%C3%B3rio>. Acesso em:19 mar. 2022. FIGURA 2 – GRÁFICO DADOS ANTRA Embora o Brasil seja o país que comete mais crimes contra a população transgênero, estamos abrindo espaço para debates e avançando quanto sociedade na proteção, amparo dos direitos civis e humanos da comunidade LGBTQIAP+ (lésbicas, gays, transexuais, transgêneros, travestis, queer, intersexo, assexual, pansexual, + engloba toda a diversidade, não-binariedade). Segundo Ribeiro (s.d.): ...Em junho de 2019, em um julgamento histórico, na Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) nº 26, de relatoria do ministro Celso de Mello, o STF, por oito votos a três, decidiu em favor da criminalização da LGBTFOBIA, reconhecendo, assim, a prática da conduta contra pessoas LGBT+ como crime de racismo até o Congresso Nacional elaborar legislação específi ca sobre o tema. Desse modo, quem ofender, discriminar, agredir, ou tiver qualquer conduta agressiva embora com pessoas gays, lésbicas, bissexuais, travestis ou transgêneros poderá ser legalmente condenado em um a três anos de prisão, prevista na Lei nº 7.716/89, que defi ne os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. O crime de LGBTfobia é crime inafi ançável e imprescritível, assim como o crime de racismo. 57 C., S., G.: A N. DE UM OLHAR E. SEM PRECONCEITOS Capítulo 2 Direitos relativos à orientação sexual e à identidade de gênero são reconhecidos, hoje, nacional e internacionalmente, como essenciais para a dignidade e humanidade da pessoa humana, integrando o núcleo dos direitos à igualdade e à não- discriminação. Os referidos Princípios de Yogyakarta voltam- se a tutelar o indivíduo diante da violência, do assédio, da discriminação, da exclusão, da estigmatização e do preconceito dirigidos contra pessoas em todas as partes do mundo por causa de sua orientação sexual ou identidade de gênero. Esses grupos, por serem minoritários e, não raro, vítimas de preconceito e violência, demandam especial proteção do Estado. Nesse sentido, a criminalização de condutas discriminatórias não é só um passo importante, mas também obrigatório, eis que a Constituição contém claro mandado de criminalização neste sentido: conforme o art. 5º, XLI, “a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais (RIBEIRO, s.d.). 2– Analise a sentença a seguir e julgue como CERTO ou ERRADO: O Brasil pode ser considerado um país transfóbico, ou seja, um país em que há altos índices de criminalidade contra pessoas transexuais, tornando-se um local de risco a vida da população transexual? ( ) CERTO ( ) ERRADO Embora a conduta discriminatória seja passível de punição legal, ainda não há uma legislação específi ca para a comunidade LGBTQIAP+ todavia a criminalização é um passo importantíssimo no combate a violência e a proteção dessas pessoas. No Brasil há alguns direitos garantidos para a população transgênero, são eles: 1- Alteração do nome e do gênero no registro civil 2- Estabelecimento prisional compatível com a identidade de gênero 3- Tratamento social conforme à identidade de gênero 58EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE Francesca Batista (2019) explica sobre cada direito, antes nos propõe compreender quem é o transgênero para o STF (Supremo Tribunal Federal) corte de maior relevância do país, capaz de proferir decisões de efeitos vinculante e, sobretudo, do guardião da Constituição Federal. De acordo com a autora: Tratante do gênero como uma questão de identidade, “transgênero” é a terminologia mais genérica, na qual se enquadram o transexual e o travesti. Em comum, têm o fato de que ambos vivenciam um gênero em desconformidade com o seu sexo biológico (BATISTA, 2019 apud BARBOZA, 2012). Por muito tempo, houve dissenso doutrinário a respeito do ponto chave capaz de diferenciar, propriamente, o transexual do travesti. Já acreditou-se, por exemplo, que a ausência do desejo compulsivo por reversão sexual caracterizava o travesti (BATISTA, 2019 apud HOERI, 2001), enquanto a repulsa com relação à sua genitália identifi cava o transexual (BATISTA, 2019 apud CUNHA, 2015), ou que o elemento diferenciador entre um e outro seria a realização ou não da cirurgia de redesignação sexual. Em uma acepção mais moderna, aqui adotada, prefere-se não estabelecer enquadramentos prévios: cabe a cada pessoa exercer o seu direito de autodeterminação, de forma que, se não realizada, far-se-á uso do termo genérico, buscando sempre respeitar a condição de sujeito de direitos. Em resumo, o transexual/travesti é quem assim se defi ne (BATISTA, 2019). No decorrer do capítulo, abordaremos o conceito de cada termo da nomenclatura LGBTQIAP+ relacionada a diversidade sexual, com a fi nalidade de esclarecer seu signifi cado e orientar a forma correta dos termos evitando qualquer linguagem que gere constrangimentos ou denote preconceito as pessoas do movimento em questão. Caro estudante, Indicamos o site: https://76crimes.com/ este site divulga abusos contra LGBTQIAP+ em países em que a homossexualidade é crime. A página é mantida pelo jornalista americano Colin Stewart. Indicamos a leitura da entrevista com Colin Stewart; Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/ noticia/2017-06/site-divulga-abusos-contra-lgbts-em-paises-onde- homossexualidade-e-crime>. Acesso em: 19 mar. 2022. Durante a entrevista o fundador do site explica sobre o trabalho, faz denúncias, apresenta casos de violação aos direitos humanos, abusos e homicídios. 59 C., S., G.: A N. DE UM OLHAR E. SEM PRECONCEITOS Capítulo 2 Vale a pena a leitura! Vamos aprender mais com as diferentes fontes de informações disponíveis. Retomando os direitos das pessoas transgêneros e travestis de acordo com o STF, no que tange ao direito da Alteração do nome e do gênero no registro civil, Batista (2019, s. p.), elucida que a trajetória para conquistar esse direito é longa e se inicia em 1981, na época, a discussão se limitava, ainda, à (im)possibilidade de adequação do registro civil (quanto ao nome e ao sexo) dos transexuais submetidos à cirurgia de redesignação. Na oportunidade, a Suprema Corte decidiu, com base na premissa do determinismo biológico, pela improcedência dos pedidos. Deste modo se aos transexuais operados o direito não era reconhecido, aos não operados a ideia estava fora de cogitação. A luta pelo direito a alteração do registro civil segue e [...] com o avanço na maneira de pensar da sociedade, chegaram os anos 2000, o início de um novo século, em que a tese favorável à alteração do sexo e do prenome no registro civil do transexual operado ganhou força, mas não propriamente desvinculada de polêmicas: deveria constar, quando da retifi cação, o termo “transexual”? A maioria da doutrina sustenta (até os dias atuais) que não se deve fazer qualquer referência à transexualidade, nem mesmo sigilosa, ao se efetuar as mudanças registrais (FRANCESCA, 2019 apud DINIZ, 2001). A autora afi rma que o transexual não submetido à cirurgia de transgenitalização, independente das suas motivações seguia excluído da discussão sobre esse direito. Foi em 2018 que o direito foi reconhecido por unanimidade e, determinou-se que, para dele usufruir, o uso da via judicial não é obrigatório, bastando, portanto, mero pedido administrativo junto ao Cartório de Registro Civil. 1. O transgênero tem direito fundamental subjetivo à alteração de seu prenome e de sua classifi cação de gênero no registro civil, não se exigindo para tanto nada além da manifestação de vontade do indivíduo, o qual poderá exercer tal faculdade tanto pela via judicial como diretamente pela via administrativa. 2. Essa alteração deve ser averbada à margem do assento de nascimento, vedada a inclusão do termo “transgênero”. 3. Nas certidões do registro não constará nenhuma observação sobre a origem do ato, vedada a expedição de certidão de inteiro teor, salvo a requerimento do próprio interessado ou por determinação judicial. 60 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE 4. Efetuando-se o procedimento pela via judicial, caberá ao magistrado determinar, de ofício ou a requerimento do interessado, a expedição de mandados específi cos para a alteração dos demais registros nos órgãos públicos ou privados pertinentes, os quais deverão preservar o sigilo sobre a origem dos atos (BATISTA, 2019 apud BRASIL, 2018b). No que se refere ao direito ao estabelecimento prisional compatível com a identidade de gênero embora este tenha sido garantido, houveram preconceitos e discriminações por se compreender que as mulheres cisgênero poderiam estar expostas a algum risco em compartilhar o mesmo sistema prisional que mulheres transgênero. Demonstrando claramente a resistência da sociedade em repensar sobre signifi cados socioculturais de gênero internalizados, mas que precisam ser repensados com urgência. No que tange, especifi camente, à problemática levantada, Batista, (2019 apud ADREUCCI, 2018) esclarece: O combalido sistema penitenciário brasileiro [...] tem encontrado sérias difi culdades em se adaptar aos novos tempos, de diversidade sexual, em que as autoridades se veem premidas pelas circunstâncias e pelos novos paradigmas sociais relacionados à sexualidade que, desafi ando os postulados estabelecidos e os estereótipos ligados ao sexo, colocam em xeque a legislação penal positivada e obrigam os julgadores a visitar novas fronteiras, nem sempre fáceis de ser vislumbradas. Seguindo com os direitos das pessoas transgênero o tratamento social conforme à identidade de gênero perpassa a questão do direito legal e assim como o direito a coabitar ao sistema prisional compatível com a identidade de gênero esbarra na discriminação, hábitos e costumes preconceituosos do coletivo social. Infelizmente é comum ouvir histórias ou se deparar com notícias de que pessoas transgêneros foram impedidas de utilizar sanitários correspondentes a sua identidade. Em um desses momentos da história em meados do ano de 2014 em um shopping center uma mulher transgênero foi impedida de utilizar o sanitário feminino, passando por uma situação vexatória. O caso gerou uma discussão e um processo no qual ainda não foi julgado (até 2021), mas que ampliou o debate tão necessário sobre a validação dos direitos das pessoas transgênero e travestis e seu cumprimento legal, pois a discriminação provocada pelo não tratamento adequado a estas pessoas de acordo com sua identidade de gênero é recorrente em nosso país. De acordo com Batista (2019), a Procuradoria Geral da República declarou: 61 C., S., G.: A N. DE UM OLHAR E. SEM PRECONCEITOS Capítulo 2 É cabível a condenação de estabelecimento comercial a pagamento por dano moral, na hipótese de abordagem de transgênero que visa constranger a pessoa a utilizar banheiro do sexo oposto ao qual se dirigiu, por identifi cação psicossocial, uma vez que viola a dignidade da pessoa humana, bem como os direitos da personalidade que conferem aos transgêneros os direitos referentes à sua identidade, ao reconhecimento,à igualdade, à não discriminação e à segurança, previstos nos artigos 1º, III, e 5º, V e X, da Constituição Federal (CF), caracterizando combate à discriminação racial e de gênero (BRASIL, 2015). Devemos refl etir sobre a importância da legislação, dos debates escolares, da informação livre e, portanto, sem censuras, informações com base em pesquisas científi cas, na escuta das pessoas para proporcionar também um lugar de fala para as pessoas dessa comunidade, aliás da mesma comunidade em que estamos inseridos, mas que infelizmente segrega e marginaliza essas pessoas. Os desafi os são diários e inúmeros, incluindo a difi culdade em conseguir oportunidades de trabalho dignas. Para a mudança desse cenário é de suma importância o movimento LGBTQIAP+ para a desconstrução de paradigmas e tabus em relação ao modo das pessoas serem, viverem se relacionarem, bem como promoção do respeito a diferença e diversidade? Você sabe do que se trata o conceito “Lugar de fala”? “O lugar social não determina uma consciência discursiva sobre esse lugar. Porém, o lugar que ocupamos socialmente nos faz ter experiências distintas e outras perspectivas”. (PONCHIROLLI, 2020 s. p. apud RIBEIRO, 2017) 62 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE FIGURA 4 – ILUSTRAÇÃO SOBRE CONCEITO: LUGAR DE FALA FONTE: <https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/ mas-afi nal-o-que-e-lugar-de-fala/>. Acesso em: Para Ponchirolli (2020), pensar a ideia do lugar de fala tem como objetivo oferecer visibilidade a sujeitos cujos pensamentos foram desconsiderados durante muito tempo. Dessa forma, ao tratarmos de assuntos específi cos a um grupo, como racismo e machismo, pessoas negras e mulheres possuem, respectivamente, lugar de fala. Isto é, podem oferecer uma visão que pessoas brancas e homens podem não ter. Desse modo, o microfone é passado para as pessoas que realmente vivenciam aquela realidade. Cabe ressaltar que o lugar de fala não signifi ca a exclusão de outros grupos ou pessoas, não é sobre calar, ao contrário, é sobre proporcionar a diversos grupos e minorias um lugar de fala em que pode se expressar, ser escutado e ter sim suas questões, reivindicações e conhecimentos validados. É sobre ampliar o debate! 63 C., S., G.: A N. DE UM OLHAR E. SEM PRECONCEITOS Capítulo 2 Para saber um pouco mais leia a matéria que deixamos o link a seguir: FONTE: <https://www.politize.com.br/o-que-e-lugar- de-fala/>. Acesso em: 27 nov. 2021. Se você quiser conhecer mais sobre os assuntos abordados, vamos deixar a indicação de alguns livros que se articulam com o assunto tratado neste item: Com o objetivo de desmistifi car o conceito de lugar de fala, Djamila Ribeiro contextualiza o indivíduo tido como universal numa sociedade cisheteropatriarcal eurocentrada, para que seja possível identifi carmos as diversas vivências específi cas e, assim, diferenciar os discursos de acordo com a posição social de onde se fala. 64 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE Políticas públicas LGBT e construção democrática no Brasil é uma obra fundamental para os chamados Estudos LGBT, e auxiliará professores/as, estudantes e pesquisadores/as, além de ativistas e gestores/as interessados/as nas pesquisas sobre Gênero, Sexualidade e Direitos Humanos. Seu diferencial consiste no profundo debate acerca das políticas públicas de direitos humanos voltadas para lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais – analisando um caso concreto, notadamente o Centro de Referência LGBT de Pernambuco – em articulação com os recentes debates teóricos sobre a construção democrática e os projetos políticos em vigor no Brasil. Outro ponto forte do livro é a exploração das trajetórias individuais dos membros e ex-membros desse Centro de Referência que valorizam a experiência e revelam o desenvolvimento das políticas públicas LGBT vistas e vividas “de dentro” do Estado. Seus depoimentos revelam desafi os e limites, bem como avanços e potências, que produzem refl exões em torno dos direitos humanos, da cidadania, da democracia, da participação social e das lutas pela igualdade e justiça protagonizadas pelo Movimento LGBT brasileiro. O livro reúne história/s de vida de pessoas que mudaram o corpo, cirurgicamente ou não, para se tornarem reais. A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual sugerirá que as explicações para a emergência da experiência transexual devem ser buscadas nas articulações históricas e sociais que produzem os corpos-sexuados e que têm na heterossexualidade a matriz que confere inteligibilidade aos gêneros. 65 C., S., G.: A N. DE UM OLHAR E. SEM PRECONCEITOS Capítulo 2 2.1 CORPO E DIVERSIDADE Para iniciarmos os estudos sobre o tema vamos compreender e estudar cada conceito que compõe a sigla LGBTQIAP+. O intuito é elucidar sobre este movimento essencial que para além da luta pelos direitos civis e humanos estabelece um lugar de fala a comunidade e ganha espaços de representação social, infl uenciando e auxiliando pessoas que ainda vivem a margem da sociedade impostas pela discriminação, pela LGBTfobia, ou por falta de conhecimento de seus direitos e/ou em tantos casos, por medo da rejeição de familiares, medo da violência social lamentavelmente frequente. FIGURA 3 – ILUSTRAÇÃO SOBRE DIFERENÇAS SEXO, ORIENTAÇÃO SEXUAL E IDENTIDADE DE GÊNERO FONTE: <https://camaraligada.wordpress.com/2014/03/06/identidade-de- genero-todas-e-todos-temos-uma/>. Acesso em: 19 mar. 2022. A Figura 3 retrata uma tentativa de ilustrar a pluralidade do tema, no entanto ela não está completa, pois não aborda toda diversidade que há. Trata-se de uma visão limitada, embora não esteja incoerente, pois corresponde aos conceitos estudados. 66 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE Entretanto, antes de completá-la vamos compreender o contexto histórico em que o movimento LGBTQIAP+ se consolidou. A primeira nomenclatura foi “MHB” – Movimento Homossexual Brasileiro, com o surgimento do movimento lésbico passa a se chamar Movimento de Gays e Lésbicas. A partir dos anos 90, precisamente em 1990 surge a terminologia GLS que signifi cava – Gays, lésbicas e simpatizantes. É importante frisar que essa sigla foi pensada pelo movimento “Mercado gay” conhecido como “Pink Money”, no entanto ao iniciar o século XXI o movimento decide se desvincular do termo mercadológico e passa a se chamar GLBT. A primeira conferência nacional do movimento social ocorre em 2008 e a sigla L é realocada e passa a fi car na frente, o movimento passa a se chamar de LGBT. Atualmente, a sigla é LGBTQIAP+ como forma de representar e abranger a toda a diversidade sexual, pois todos são bem-vindos ao movimento social. FONTE: <https://img.elo7.com.br/product/zoom/28D4C8D/ bandeira-lgbt-arco-iris.jpg>. Acesso em 19 mar. 2022. FIGURA 4 – BANDEIRA “ARCO-ÍRIS”: SÍMBOLO DA CAUSA LBGTQIAP+ Você sabia que o criador da bandeira que simboliza a comunidade LGBTQIAP+ foi o norte americano Gilbert Baker? Baker era artista e design e criou a bandeira “arco-íris” em 1978 para o Dia de Liberdade Gay de San Francisco, na Califórnia. Para Baker o arco-íris transmitia a ideia de diversidade e inclusão, representando pela natureza a sexualidade que se trata de um direito humano. Cada cor representa um aspecto diferente da humanidade: 67 C., S., G.: A N. DE UM OLHAR E. SEM PRECONCEITOS Capítulo 2 Vermelho - vida Laranja - cura Amarelo - luz do sol Verde - natureza Turquesa - arte Anil - harmonia/serenidade Violeta - espírito humano Entendendo a sigla LGBTQIAP+ e seus conceitos: 1. L – Lésbicas – Representa mulheres que se relacionam e sentem desejo afetivos e sexuais por outras mulheres 2. G – Gays – Representa homens que se relacionam e sentem desejo afetivos e sexuais por outros homens. 3. B – Bissexuais – Representa pessoas que sentem atração sexual e se relacionam com amboshomens e mulheres. 4. T – Travestis e transexuais – Travesti é uma identidade de gênero, são pessoas que foram designadas homens ao nascer e que se reconhece na identidade feminina, porém não necessariamente se intitulam mulher, mas performam no feminino. Este termo é utilizado de forma mais marginalizada, sendo o uso das expressões “traveco/travecão/variáveis” inadequado, ofensivo e, portanto, preconceituoso. 5. Ao falar com uma pessoa travesti utilize sempre o artigo feminino (a) e seu nome, por exemplo: “A Valéria”, ou “A travesti Valéria”, ao invés de “O travesti Valéria” ou “O Valéria”. Transexual é uma identidade de gênero, são pessoas que não se reconhecem no gênero designado em seu nascimento. Há mulheres e homens trans. Não necessariamente é preciso fazer a cirurgia de redesignação sexual. Cabe ressaltar que nem todo homem ou mulher transexual deseja realizar a cirurgia. 6. Q – Queer – Representa pessoas que não se identifi cam com nenhuma das orientações ou identidade de gênero, vivenciam a sexualidade sem categorizar. 7. I – Intersexo – Representa pessoas que nascem com a genitália ambígua, os militantes do movimento social lutam para que as intervenções cirúrgicas não sejam realizadas na infância. Lutam pelo livre arbítrio do corpo. 8. A – Assexual – Representa pessoas que não desenvolvem fascínio sexual, tem relação afetiva sem a necessidade de manter relação sexual. Não sentem atração sexual. 68 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE 9. P – Pansexual – Representa pessoas que sentem atração sexual, romântica, ou emocional por pessoas de forma geral, distintos gêneros, homens, mulheres, não-binários, transexuais, bissexuais, gays, lésbicas, ou seja não importa a orientação sexual ou identidade de gênero. É relevante lembrar que o termo pansexual foi erroneamente vinculado a pessoas que sentem atração e/ou mantem relação sexual com plantas e árvores. 1. + Representa todas as pessoas não binárias e gêneros fl uidos é o representante simbólico da aceitação da diversidade. Há outros termos não incluídos na sigla, mas que certamente cabem ser valorizados como Drag Queens. Este termo refere-se a arte, sim! Drag Queens são pessoas que representam de forma artística uma personagem feminina, independente da orientação sexual ou identidade de gênero qualquer pessoa pode performar como Drag Queen. Drag – Arte performativa que usa símbolos mistos de gênero (drag queer), femininos (drag queen) e masculino (drag king) Croossdresser – Não há relação com Drag Queen ou identidade de gênero. É uma forma de se vestir que cruza estereótipos de gênero. Cisgênero – Pessoa que se reconhece como sendo do mesmo gênero designado ao nascer. Não é trans. Vale ressaltar que lésbicas, gays e bissexuais são Orientações Sexuais e não Identidade de Gênero. A cinemateca e as plataformas de streaming possuem conteúdo educativo, crítico, elucidativo e atualizado para tratar questões de orientação de gênero e identidade sexual? Segue a seguir sugestões de fi lmes, séries e documentários que abordam o tema de forma coerente, responsável e auxilia a ampliar a visão, ultrapassar paradigmas e a desconstruir preconceitos e estereotipias. São eles: 69 C., S., G.: A N. DE UM OLHAR E. SEM PRECONCEITOS Capítulo 2 1. XXY (Lucía Puezo, 2006) – Uma adolescente intersex com traços fenotípicos predominantemente femininos, entretanto, possui genitais masculinos. Seus confl itos de identidade permanecem sob controle até entrar na adolescência e interessar-se por um rapaz. Alex, inicia, então, um processo de busca por sua identidade e descobertas relacionadas a sua sexualidade. 2. Tomboy (Céline, Sciamma, 2012) – Uma criança de 10 anos não se identifi ca como menina, mas como menino e se apresenta aos novos colegas como Michael. Os pais, ainda que bastante afetuosos, não conseguem lidar com a complexidade da situação. 3. De gravata e unha vermelha (Miriam Chnaiderman, 2015) – documentário premiado da psicanalista brasileira Miriam Chnaiderman traz entrevistas com diversas personalidades que, em suas histórias de vida, colocaram em perspectiva o modelo de identifi cação binário homem/mulher, e questionaram os estereótipos construídos para cada um dos sexos. 4. A garota Dinamarquesa (Tom Hooper, 2015) – Inspirado na história da transexual pioneira Lilie Elbie o fi lme mostra todo o processo da construção da identidade a cirurgia de redesignação sexual. 5. Sex Education (Laurie Nunn) – série que aborda o tema sobre sexualidade, orientação sexual, identidade de gênero, violência de gênero, empatia, discriminação. 6. Pose (Ryan Murphy, Brad Falchuk, Steven Canals) – A série retrata a vida e difi culdades cotidianas da comunidade LGBTQIAP+ em Nova York na década de 80. 7. AJ and Queen (RulPaul Charles, Michael Patrick King) – A série aborda o Universo das Drag Queens, o glamour das apresentações, a cultural, os preconceitos, discriminação social, as difi culdades e a relação da drag queen Ruby Red com uma criança em situação de vulnerabilidade social. A cultura e a arte são ferramentas de comunicação essenciais para a promoção do debate saudável, disseminação de conhecimento, informações a fonte de refl exão. Esperamos que desfrutem das sugestões! 70 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE Pensar na orientação sexual e identidade de gênero é ampliar o olhar e compreender que os signifi cados de “gênero” são papéis atribuídos socialmente e culturalmente por meio dos sexos, porém, devemos romper com esse modo irredutível de entender que homens e mulheres podem desde de sua infância brincar com qualquer brincadeira saudável, podem indicar a profi ssão que se sentem motivados e lhes desperta interesse, e também escolherem usar a cor de roupa que desejarem, visto que isso jamais irá interferir em sua sexualidade. Você conhece a cantora brasileira mundialmente conhecida e Drag Queen Pablo Vittar? Se sim, então você vai gostar de assistir a entrevista dela no canal do Youtube Capricho no programa “Descomplica”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=dxfyiWfvqrQ>. Entrevista intitulada de “IDENTIDADE DE GÊNERO ft. Pabllo Vittar” – publicada no canal em: 14/06/2017 Caso você não conheça a Pabllo Vittar essa é uma ótima oportunidade de conhecer o trabalho e a representatividade e a importância que a artista tem no movimento LGBTQIAP+. Observem a história da construção do seu nome artístico que transita entre o ambiente escolar, na casa com seus familiares, amigos e como ela gosta de ser chamada, como se refere a sua identidade de gênero e a sua sexualidade. Sabemos o quanto a representatividade é importante para diversos grupos, em especial aqueles denominados como “minorias”, como é o caso do movimento social LGBTQIAP+ e os movimentos feministas. No que se refere a comunidade LGBTQIAP+ temos vários representantes no qual a luta, a fala e a representação social auxiliam no combate a discriminação, ajudam a validar sua importância e participação social, acolhimento, diminui a sensação de desamparo ao se perceber representada. A representatividade está relacionada a aspectos subjetivos, mas é importantíssima. 71 C., S., G.: A N. DE UM OLHAR E. SEM PRECONCEITOS Capítulo 2 No Brasil, temos diversos ativistas, políticos, artistas e celebridades que atuam em várias áreas do conhecimento que auxiliam no combate a homofobia e transfobia e lutam por direitos e igualdade para a comunidade LGBTQIAP+. Para se ter ideia a ativista Janaína Dutra, nascida em 30 de novembro de 1960, no distrito de Canindé, no Ceará. Aos 14 anos, passou a ser alvo de homofobia, aos 17 anos mudou-se para Fortaleza dedicou-se à defesa da comunidade LGBTQIAP+ e se tornou a primeira advogada travesti a se tornar Advogada com carteira da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Seu trabalho foi tão importante que o site Google a homenageou no dia 30/11/2021.data em que comemoraria 61 anos. Existem outras personalidades que merecem ser recordadas e ter sua trajetória homenageada, mas citaremos algumas para que pesquisem sobre a milit6ancia, causas em que atuam, contribuições ao movimento: Érika Hilton, Alina Durso, Ney Matogrosso, Laerte, Linn da Quebrada, Amanda Palha, Pabllo Vittar, Glenn Greenwald, Erica Malunguinho, Marta, Artur Santoro, Fabiano Contarato, Paulo Iotti, Ludmilla, entre outros. Quem você considera importante e acrescentaria na lista? Ainda que representativos e importantes o número de pessoas LGBTQIAP+ é muito baixo se comparado aos homens – cisgênero. Há muito o que conquistar! No dia 29 de janeiro de 2004 houve o lançamento da campanha “Travesti e Respeito”. Trata-se de um marco histórico na luta por reconhecimento de transexuais e travestis no Brasil. Desde então, no dia 29 de janeiro celebramos a existência, a resistência e a luta dessa comunidade. Dia 28 de junho é o dia Internacional do Orgulho LGBTQIAP+ nesta data comemora-se a resistência da repressão sexual imposta. A festa conhecida como Parada do Orgulho Gay que acontece em São Paulo atrai pessoas do mundo todo e em 2010 foi incluída no Guiness book como a maior do gênero no mundo. 72 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE 3 DESIGUALDADE ENTRE OS GÊNEROS UMA CONSTRUÇÃO SOCIAL E HISTÓRICA E A IMPORTÂNCIA DO FEMINISMO COMO UMA POSSIBILIDADE DE COMPREENSÃO E LIBERTAÇÃO DA SEXUALIDADE E DOS CORPOS Quando pensamos em desigualdade entre os gêneros qual a imagem que vem a sua mente? Se você imaginou uma cena em que um homem aparece em uma posição social de poder, ou em momentos de lazer e a imagem da mulher está associada a tarefas consideradas domésticas, ou a “cuidados” você também está infl uenciado pelas raízes culturais da sociedade patriarcal. Sabemos que a desigualdade entre os gêneros é uma construção social, ou melhor, uma imposição sócio-histórica na qual há privilégio de um gênero (em geral masculino) em detrimento de outros. As relações sociais tendem a privilegiar o homem. Isso ocorre porque durante séculos em especial XIX e XX os homens eram considerados os provedores das casas e administradores dos bens familiares. As mulheres dependiam fi nanceiramente dos homens e até o ano de 1962 no Brasil, necessitavam de autorização do pai ou do marido para poder trabalhar e essa autorização poderia ser revogada a qualquer momento. De acordo com este pensamento, naturalmente, os espaços públicos, políticos, sociais, cargos de liderança e posições de poder foram ocupados, por homens. Em contrapartida as mulheres passaram a ocupar espaços sociais privado-domésticos, ou profi ssões sempre atreladas ao “cuidar” como nas áreas da educação e na área da saúde, afi nal, frequentar uma Universidade no Brasil só se tornou possível em 1879 com o decreto de Lei nº 7.247/1879. Com o passar dos anos os homens foram defi nindo estruturas e culturas tipicamente masculinas dentro dos espaços sociais que ocupavam e as mulheres, da mesma forma, também foram defi nindo estruturas e culturas que melhor se adequavam a elas em seus espaços. 73 C., S., G.: A N. DE UM OLHAR E. SEM PRECONCEITOS Capítulo 2 Notamos que a desigualdade de gênero está marcada pelo modelo de sociedade patriarcal na qual as relações são marcadas por desigualdade de oportunidades, no qual o homem ocupa espaços e relações de poder e a mulher tem sua participação e liberdade limitadas e submissa ao universo masculino. Esse modelo social promove o patriarcado, embora na contemporaneidade o modelo patriarcal teoricamente não esteja governando, ainda assim ele se faz presente. O patriarcado está enraizado na sociedade é preocupante para todos, mas é difícil de ser revisto e superado porque proporciona aos homens uma série de privilégios, por exemplo: cargos políticos, gestão de liderança em grandes empresas, salários altos, estabilidade e segurança fi nanceira, liberdade de atuação em todas as áreas do saber, maior empregabilidade, liberdade sexual sem julgamentos ou imposições sociais, entre outros. O debate feminista sobre patriarcado coloca, no centro da discussão, o poder do homem sobre a mulher existente também nas sociedades capitalistas contemporâneas. Nos sistemas patriarcais, as mulheres estão em patamar de desigualdade tendo uma série de obrigações em relação aos homens, tais como manter relações conjugais mesmo contra sua vontade, além de um grande controle sobre sua sexualidade e sua vida reprodutiva (SILVA, 2020 apud AGUIAR, 2015). A partir do pensamento da autora podemos explorar como o patriarcado interfere diariamente na discriminação e violências as mulheres sofrem diariamente. O machismo é uma ramifi cação do patriarcado, um fruto que gera misoginia contra as mulheres que tem como premissa a desigualdade de gênero. O machismo mata e afeta diretamente a saúde mental. Homens e mulheres são ensinados desde a infância a uma série de comportamentos específi cos e tem as suas emoções conduzidas e sugestionadas pelos valores sociais impostos sobre como cada “gênero” deve ser, fazer, se comportar. No entanto, sabemos que a orientação sexual e a identidade de gênero não são determinadas pelo sexo biológico no qual a pessoa nasce. ...foca-se fundamentalmente nas emoções, trazendo evidências de que meninos e meninas são mais parecidos do que diferentes no que diz respeito ao tema. Os estudos apontam que a maneira como se expressam os sentimentos depende de múltiplas variáveis como idade, etnia, classe social, circunstância, gênero e crenças quanto à expressão de emoções. A grande questão parece ser a de que as mulheres, devido à forma com que são socializadas, expressam as emoções com maior frequência que os homens, mas não necessariamente as experienciam mais. Mediante processos sociais evidentes (diante das expectativas de papéis sociais diferentes para cada um dos gêneros), o que se observa é que a expressão de emoções distintas é aceitável para um 74 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE gênero, mas não para o outro (ex.: tristeza, medo e vergonha para mulheres e raiva e competitividade para homens). Dito de outra forma, meninos e meninas desenvolvem maneiras diferentes de expressão de suas emoções conforme o padrão de apoio social que recebem, mas não por razões biológicas. Esse modelo de socialização baseado no ideal feminino (de fragilidade e vulnerabilidade) e no ideal masculino (de potência e força) traz prejuízos sociais em práticas de gênero nem sempre evidentes ou intencionais, como no cuidado com a saúde, nas escolhas profi ssionais, no contexto de trabalho e nas atividades domésticas (FAVERO, 2010, p. 588). O pensamento machista parte da compreensão de uma supremacia masculina é a inferiorização feminina facilitando diversas formas de violência contra a mulher: física, verbal, fi nanceira, sexual e psicológica. O machismo está tão enraizado que mulheres também tem atitudes e comportamentos machistas, é preciso desconstruir. E qual o caminho para combater o machismo e conquistar a igualdade? O feminismo é um deles! Promover debates, participar ativamente da política para promoção de políticas públicas de saúde, educacionais, culturais e sociais que promovam a equidade entre as diversidades sexuais e de gêneros tende a ser um caminho efi caz no qual o movimento feminista tem conquistado muitos direitos. Da mesma forma que não há mulheres machistas, não é necessário ser homem cisgênero para ser feminista, o feminismo não é o oposto do machismo. O movimento feminista não tem como premissa a supremacia feminina, ou seja, não é sexista. O feminismo é um movimento social que luta por igualdade de direitos sociais, políticos e econômicos. É um movimento essencial no combate as violências, a discriminação e a desigualdade. O movimento feminista conquistou direitos sonhados, mas muitas vezes subestimados, ou ignoradospor gerações de pessoas que desconhecem sua importância e conquistas. 75 C., S., G.: A N. DE UM OLHAR E. SEM PRECONCEITOS Capítulo 2 Dentre as autoras feministas escolhemos seis principais que consideramos imprescindível conhecer seu trabalho. São elas: Simone de Beauvoir analisa a condição da mulher em todas as suas dimensões: sexual, psicológica, social e política. Uma obra fundamental, que inaugurou um novo modelo de pensamento sobre a mulher na sociedade. O livro tratando da escravidão e de seus efeitos, da forma pela qual a mulher negra foi desumanizada, nos dá a dimensão da impossibilidade de se pensar um projeto de nação que desconsidere a centralidade da questão racial, já que as sociedades escravocratas foram fundadas no racismo. Além disso, a autora mostra a necessidade da não hierarquização das opressões, ou seja, o quanto é preciso considerar a intersecção de raça, classe e gênero para possibilitar um novo modelo de sociedade. 76 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE ”Corpos que importam” é sobre pensar a hegemonia heterossexual na criação de matérias [matter] sexuais e políticas. Quais são as limitações pelas quais corpos são materializados como “sexuados”? Quem tem medo do feminismo negro? Reúne um longo ensaio autobiográfi co inédito e uma seleção de artigos publicados por Djamila Ribeiro no blog da revista Carta Capital, entre 2014 e 2017. Esperamos que apreciem os livros que indicamos, pois irá agregar conhecimento a valor a sua formação, ampliando sobre a história e importância do movimento feminista no mundo e no Brasil. Citando o Brasil você conhece as principais contribuições do movimento feminista que diminuem a desigualdade de gênero, combatem a violência e proporcionam oportunidades para as mulheres? 77 C., S., G.: A N. DE UM OLHAR E. SEM PRECONCEITOS Capítulo 2 1500 a 1822 – No Brasil colônia as mulheres buscavam o direito a vida, política, educação, direito ao divórcio e livre acesso ao mercado de trabalho. 1822 a 1899 – Somente no Império conquistaram o direito a educação. A participação na vida política continuava sendo um desafi o. 1889 a 1930 – No mesmo período passam a ser aceitas no serviço público, e voltam a ganhar força sua participação na política brasileira. Neste período as mulheres predominavam na indústria têxtil, mas buscavam a regularização do trabalho e salário igualitário em relação aos homens. 1910 – Criado o Partido Republicano feminino (PRF) que propunha promover a cooperação feminina para o progresso do país, combater a exploração relativa ao sexo e reivindicar o direito ao voto. 1928 – Foi legalizado o primeiro voto feminino e eleita a primeira mulher Prefeita. Ambas as conquistas foram anuladas. 1930 a 1945 – Sufrágio feminino conquistado. Direito de participar das eleições como eleitoras e candidatas. Em 1932 é eleita a primeira deputada Federal Brasileira. 1940 – Direito ao aborto seguro nas situações: Vida da gestante está em perigo e em caso de estupro. 1962 – Apesar das mulheres estarem no mercado de trabalho desde a República Velha, é somente em 1962 que as mulheres casadas passam a poder trabalhar sem precisar da aprovação do marido. Direito ao divórcio é conquistado somente na década seguinte. 1983 a 1985 – Década de 1980 no estado de São Paulo, foram implantadas as primeiras políticas públicas com recorte de gênero. O primeiro Conselho estadual da condição feminina, em 1983, e a primeira delegacia de polícia de defesa da mulher em 1985. 1998 – Com a Constituinte de 1988 diversas propostas de movimentos sociais. Incluindo temas relativos à família, saúde, trabalho, violência, discriminação, cultura e propriedade da terra foram incorporadas a Nova Constituição. 2003 – Secretaria de Políticas para as mulheres – órgão federal. Canal de denúncias de casos de violência contra a mulher 180. 78 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE 2006 – Criada a Lei Maria da Penha um marco no combate a violência contra a mulher. 2015 – Sancionada a Lei que torna qualifi cado o crime de feminicídio. Para além dos direitos conquistados, há inúmeros outros que cerceavam a liberdade das mulheres nos quais atualmente podem desfrutam livremente, direito de frequentar locais como sorveteria, bares nos quais eram considerados um ambiente tipicamente masculino, viajar sozinha e sem autorização do pai e/ ou marido, ter uma conta bancária individual, ser proprietária de bens e imóveis, entre outros. Sugerimos que sigam com as pesquisas sobre as conquistas do movimento feminista para as mulheres e tracem um paralelo com os privilégios dos homens cisgêneros. Refl itam sobre a importância da igualdade de oportunidades, social, política e salarial para todos nós. 3) Analise a sentença a seguir e julgue como CERTO ou ERRADO: Após aprender sobre patriarcado, machismo estrutural e feminismo podemos afi rmar que o feminismo signifi ca o “contrário do machismo”? ( ) CERTO ( ) ERRADO ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Neste capítulo, procuramos clarifi car sobre os signifi cados socioculturais a respeito do gênero e as práticas de poder conferidas. Tivemos o intuito de orientá- los a respeito da relevância do feminismo no sentido de entender a construção social e histórica de desigualdade entre os gêneros e o impacto que o machismo prejudicial que o machismo provoca, nas relações interpessoais, violência, educação e no sofrimento mental. 79 C., S., G.: A N. DE UM OLHAR E. SEM PRECONCEITOS Capítulo 2 Como docentes nossa intenção foi para além da orientação acadêmica, quisemos provocar refl exões sobre formas de dialogar sobre corpo, sexualidade e gênero de modo educativo, sem preconceitos e elucidativo com os estudantes, compreendendo que o respeito ao “outro” transcende as “regras de educação formal, moral ou bons costumes sociais” é um direito constitucional, social, humano. Cabe a todos nós promovermos debates que ampliem a inclusão de todos. “Pensar em pessoas como pessoas” caminhando para um olhar inclusivo sem necessidade de rótulos ou termos separatistas, apenas “Humanos” Como estudante, você também foi convocado a refl etir acerca da educação da identidade de gênero, pensar sobre a importância do feminismo para desmistifi cação do sistema patriarcal e do poder conferido por esse sistema ao gênero masculino, refl etindo sobre a relevância da desconstrução do discurso de ódio e do debate que acerca a sexualidade que resulta na violência, feminicídio, transfobia, homofobia e no machismo que é tóxico para todos. Por fi m, é imprescindível que cada qual refl ita sobre as próprias ações, conceitos e como pode colaborar de forma positiva para a mudança da sociedade em que todos atingem o mesmo direito de ser, trabalhar, amar, enfi m “existir”. É nas diferenças que crescemos e a diversidade soma, acrescenta e nos ensina e orienta a caminhos, refl exões e propostas diferentes do que estamos habituados de acordo com cada realidade socioeconômica cultural de cada indivíduo. Para fi nalizar este capítulo, deixamos uma poesia intitulada de “Diversidade” de autoria artista e poeta brasileiro Bráulio Bessa: Será mesmo que o respeito anda mesmo em desuso? Pra mim soa tão confuso Essa tal necessidade de alguém que é diferente Enfrentar um mar de gente, lutando por igualdade e talvez essa igualdade Essa tal pluralidade Seja a mais pura vontade de viver a liberdade De ser só o que se é De ser homem, ser mulher De ser quem você quiser De ser alguém de verdade Seja trans…seja transparente! Seja simplesmente gente Mesmo que alguém lhe julgue diferente! Mesmo que você mesmo se julgue diferente! Eu reforço: seja gente! 80 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE Urgente! Eu reforço: seja gente! Urgente! Há quem nasceu para julgar Há quem nasceu para amar E é tão simples entender em qual lado a gente está E o lado certo é amar Amar para respeitar!Amar para tolerar Amar para compreender Que ninguém tem o dever de ser igual a você Apenas seja! Enfrente essa peleja Contra uma sociedade que se acha no direito De lhe julgar com maldade Seja de verdade Afi nal, da sua alma Do seu corpo E da sua identidade é você e só você que possui autoridade. REFERÊNCIAS BATISTA, A. F. O transgênero segundo o STF. 2019. Disponível em: https://jus. com.br/artigos/73069/o-transgenero-segundo-o-stf. Acesso em: 20 mar. 2022. BEAUVOIR, S. de. O Segundo Sexo, Tradução Sérgio Milliet, v. I, II. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. BENTO, B. Transexuais, corpos e próteses. Disponível em: https://medium. com/revistalabrys/transexuais-corpos-e-pr%C3%B3teses-1ae7e07b76cc. Acesso em: 8 set. 2021. BESSA, B. Diversidade. 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Dissertação de mestrado apresentada ao programa de pós-graduação strictu sensu para a Faculdade de Ciências – Campus Bauru – UNESP apresentada em 19/02/2018 – sob orientação: Campos, Luciana Maria Lunardi. Disponível em: https:// repositorio.unesp.br/handle/11449/153377. Acesso em: 26 ou. 2021. TAVEIRA, A. C. F. et. al. O direito à educação e o tratamento da diversidade na escola. In: novos direitos - Revista acadêmica do instituto de ciências jurídicas. v.2, n.01. 2015. TORRES, S. Uma função social da Escola. Cadernos PDE. 2007. UNESCO. Declaração Universal sobre diversidade cultural. Disponível em: http://www.unesco.org/new/fi leadmin/MULTIMEDIA/HQ/CLT/diversity/ pdf/declaration_cultural_diversity_pt.pdf. Acesso em: 8 set. 2021. VIANNA, C.; SILVA, C. R. Gênero e Sexualidade: mapeando as igualdades e as diferenças entre os sexos e suas relações com a educação. Revista Educação. Especial Grandes Temas. 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E O PAPEL DOS DOCENTES Capítulo 3 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Este capítulo tem como objetivo discutir a construção e os conceitos da educação de modo plural que contribua para o respeito à diversidade e que imprima uma mudança no papel exercido pelos docentes no contexto educacional. Vamos propor refl exões sobre a importância social da tríade: escola, docentes e discentes na conscientização sobre a relevância social do da aceitação da diversidade humana. Compreender a diversidade como especifi cidade humana e o quanto que se deve ter respeito à diversidade. Entender a importância dos docentes, bem como sua postura para o desenvolvimento de práticas para com os discentes, que contemplem a diversidade como valor educacional contribuindo na construção de uma sociedade mais respeitosa e diversa. No decorrer dos estudos, esperamos que aprenda sobre a relevância de uma educação pautada na pluralidade e em respeito à diversidade. Para tal, recordaremos alguns conceitos estudados nos capítulos anteriores, que nos possibilitam aprofundar sobre a diversidade enquanto forma de especifi cidade do ser humano. Nosso intuito é que você reconheça a importância do papel dos docentes desenvolvendo práticas pedagógicas que se voltam para ações de respeito à diversidade com vistas a corroborar com uma sociedade mais respeitosa, diversa e tolerante. Com este propósito, queremos provocar em você o desejo de aprimorar-se para a intervenção profi ssional e novas formas de dialogar sobre corpo, sexualidade e gênero de modo educativo, sem preconceitos, atualizando seus conhecimentos com assuntos pertinentes a evolução da sociedade. Sugerimos que você analise os assuntos aqui abordados e alinhe com a sua realidade profi ssional e/ou o que almeja desenvolver em sua prática cotidiana, não se restringindo a área profi ssional, mas englobando os conhecimentos em todas as áreas da vida, tornando-se de fato uma prática. Fique atento às sugestões de leitura, vídeos e artigos que complementam os estudos enriquecendo seu repertório profi ssional. Será um prazer aprender e compartilhar com você! Bons estudos! 90 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE 2 AS RELAÇÕES DE GÊNERO E SEXUALIDADE NO CONTEXTO ESCOLAR Para discutir sobre as relações de gênero e sexualidade no contexto escolar, gostaríamos de retomar a conceituação do termo “gênero”, que muitas vezes é utilizado de forma incorreta para fazer referência ao sexo biológico com o qual o indivíduo nasce: feminino/masculino e/ou homem/mulher, além de errôneo é excludente ao intersexual que se refere a pessoas que nascem com a quantidade de cromossomos “específi cas” e não se desenvolvem ou se encaixam na descrição de gênero feminino/masculino. De acordo com nossos estudos, sabemos que gênero se refere a tudo aquilo que foi defi nido no decorrer do tempo pela nossa sociedade e que os fatores socioculturais por vezes determinam a conceituação de “gênero” pode ser alterada de acordo com o momento histórico da sociedade. Essa mudança na conceituação se faz necessária. É importante estar atento que sexo é um dado biológico, ou seja, tudo aquilo relacionado ao nosso corpo físico (a genitália, os seios, o formato do corpo). Para discutir sobre gênero dentro ou fora do contexto escolar é necessário ir além do termo “masculino e feminino” uma vez que gramaticalmente este conceito é utilizado para defi nir “homem e mulher”, portanto precisamos ter claro que “gênero” são papéis atribuídos socioculturalmente por meio dos sexos a partir de uma educação machista para defi nir papéis “feminino/masculino” pautado no sexo da pessoa. O impacto social e na saúde mental das pessoas que sofrem com a discriminação, preconceito, o discurso de ódio e a indiferença em especial as pessoas da comunidade LGBTQIAP+, assim como todos que não tem a sua individualidade e sexualidade respeitadas o quanto de sofrimento é vivenciado nessas situações, portanto o papel em se tornar um ambiente inclusivo, onde as individualidades dos alunos são respeitadas e valorizadas, para além de necessário é essencial. Para tal, compreender, debater e incluir o tema da diversidade é uma questão urgente e deve estar incluída na gestão. 91 EDUCAR PARA O R. À D. E O PAPEL DOS DOCENTES Capítulo 3 Na prática, como se faz? Por meio da representação de diferentes grupos no ambiente escolar, contribuindo para o ensino das diferenças, facilitando assim o trabalho em grupo, que geralmente pode ser considerado um momento de constrangimento e sofrimento ao aluno e deste modo, pode ser evitado. Em contrapartida facilita o trabalhodo professor/educador e há notável melhora no ambiente escolar. 1. Analise a sentença a seguir e julgue como CERTO ou ERRADO: Gênero se refere ao corpo físico do sujeito, sendo “feminino ou masculino”, “homem ou mulher”? ( ) CERTO. ( ) ERRADO. A importância da diversidade na escola vai além do debate sobre sexualidade e gênero, pensar em inclusão é pensar em diversidade e esse conceito é plural, é um “Universo em si” agrega diversas culturas, ideais, etnias, espiritualidade, nacionalidade, religiosidade, pessoas com ou sem defi ciência, classes sociais, homossexualidade, cisgêneros, heterossexualidade, transexualidade. São formas de existir no mundo. O conceito de diversidade envolve inúmeras confi gurações sociais e culturas. É preciso ressaltar que cada cultura tem características peculiares e que são manifestadas por meio de tradições, valores, comportamento, religião, culinária, linguagem, expressões artísticas, política, organização familiar etc., há uma imensa variedade cultural no Brasil e no mundo. Infelizmente, a intolerância à diversidade deixa vulnerável um grupo de pessoas, favorecendo, assim, situações de violência, de discriminação, ou exclusão e para combater e romper com este ciclo a escola tem um papel fundamental para evitar que isso ocorra ou que a violência se perpetue como algo natural e/ou banalizado. 92 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE A forma de evitar que isto aconteça é de fato ter contato com as diferentes formas de existir no mundo desde criança, quanto mais cedo o contato com a diversidade melhor e a escola tem papel fundamental, pois é um espaço de convivência e interação. Vamos refl etir sobre a diversidade com o poema de Ruth Rocha (s. d. apud FELIPO, 2021, s. p.): “Pessoas são diferentes” Pessoas São Diferentes São duas crianças lindas Mas são muito diferentes! Uma é toda desdentada, A outra é cheia de dentes… Uma anda descabelada, A outra é cheia de pentes! Uma delas usa óculos, E a outra só usa lentes. Uma gosta de gelados, A outra gosta de quentes. Uma tem cabelos longos, A outra corta eles rentes. Não queira que sejam iguais, Aliás, nem mesmo tentes! São duas crianças lindas, Mas são muito diferentes! Somos todos diferentes, o que precisamos é aceitar! Trabalhar a aceitação das diferenças e vê-las como características positivas e por que não complementares? 93 EDUCAR PARA O R. À D. E O PAPEL DOS DOCENTES Capítulo 3 2. Analise a sentença a seguir e julgue como CERTO ou ERRADO: Podemos pensar no conceito “diversidade” como sinônimo de representatividade da comunidade LBGTQIAP+ e todas as peculiaridades que englobam cada pessoa que se identifi ca com o termo. ( ) CERTO. ( ) ERRADO. De acordo com Bessa (2021, s. p.): Como prevê a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, da Unesco: “a difusão da cultura e a educação da humanidade para a justiça, a liberdade e a paz são indispensáveis à dignidade humana e constituem um dever sagrado que todas as nações devem cumprir com espírito de assistência mútua. Para que a escola exerça esse papel fundamental na aceitação da diversidade e assim o impacto social seja positivo, pensando nos relacionamentos interpessoais e o quanto o ciclo de violência diminuiu e consequentemente a saúde mental da sociedade de forma geral também é favorecida o educador exerce o papel de protagonista da história. Sim! O educador é o agente que faz a diferença, ele vai além da mediação, ele é exemplo e facilitador dos encontros frutíferos que surgem quando há respeito na convivência, mas especialmente nos impasses e difi culdades naturais que ocorrem durante o convívio entre pessoas diferentes. A educação carrega um papel transformador nas pessoas e consequentemente na sociedade e o educador é seu representante, é a força motriz que assume, compartilha, se dedica e realiza. Sem o professor não há escola não há educação e, portanto, não é possível transformação, crescimento, partilha, desenvolvimento social. Somente a partir dos processos educativos é possível construir uma nova sociedade com base no respeito e na valorização das diferenças. 94 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou a sua construção" (FREIRE, 2003, p. 47). A diversidade na educação é tão fundamental que, em 2018, o MEC (Ministério da Educação e Cultura) incluiu o tema da diversidade nos Parâmetros Curriculares Nacionais (p.143) e determina: Apresentar a diversidade do patrimônio etnocultural brasileiro; Ensinar o respeito para com pessoas de diferentes grupos étnicos que compõem a sociedade brasileira; Valorizar as diferentes culturas presentes na constituição do Brasil; Ensinar a empatia e a solidariedade com aqueles que sofrem discriminação; Repudiar relações discriminatórias baseadas em diferenças étnico-raciais, socioeconômicas, religiosas, entre outras. Exigir respeito e denunciar qualquer forma de discriminação; Valorizar o convívio entre pessoas diversas; Compreender a desigualdade social como um problema de todos e passível de mudanças. Bessa (2021) complementa e esclarece sobre a importância da diversidade nas escolas citando a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) em que consta: Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de confl itos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. Enfatizar a importância da diversidade, a qual tem o intuito de combater a evasão escolar vinculada à discriminação e o preconceito garantindo o acesso a educação à todos, no qual é um direito constitucional, porém, infelizmente que milhares de crianças não tem acesso a escola por questões atreladas a miséria social em que vivem. O que podemos fazer para mudar esse cenário deplorável? Como trabalhar no dia a dia o tema diversidade promovendo debates saudáveis e respeitosos? De que forma a escola e o professor podem abordar o tema extinguindo ideias preconcebidas discriminatórias e pejorativas? 95 EDUCAR PARA O R. À D. E O PAPEL DOS DOCENTES Capítulo 3 QUADRO 1 – FORMAS PRÁTICAS DE DIALOGAR SOBRE DIVERSIDADE FONTE: A autora Segundo Lacerda (2021), proporcionar debates com temas pré-defi nidos pelos próprios alunos é uma alternativa interessante, pois se escolheram o tema já demonstra interesse e dúvidas da parte deles, anseios e questionamentos nos quais sentem necessidade de falar e compreender. É importante que a mediação do debate seja feita por um educador, deste modo o espaço de discussão torna- se respeitoso e pode ser orientado de forma adequada. Promover diálogos valorizando as diferenças e características específi cas de cada grupo que engloba a diversidade é proporcionar um espaço de identifi cação e pertencimento, acolher também faz parte da inclusão da diversidade. O investimento em tecnologia facilita o acesso a mais informações, agregando mais conhecimento ao repertório educacional dos estudantes. Promover atividades culturais e integrativas como realizar feiras, eventos culturais e apresentações na escola abrindo o espaço a comunidade e aos familiares ajuda a diminuir o preconceito sobre a diversidade, torna o espaço democrático e contagia a comunidade e os familiares com informação de qualidade, além de reforçar os vínculos afetivos de forma geral entre estudante, família e comunidade. Gadotti (2000, p. 41 apud LACERDA, 2021, p. 15) questiona-se quando fala: “que tipo de educação necessitam os homens e as mulheres dos próximos 20 anos, para viver este mundo tão diverso?”. Certamente, necessitam de uma educação para a diversidade, necessitam de uma ética da diversidade e de uma cultura da diversidade. Uma escola queeduque para a pluralidade cultural, que perceba o outro como legítimo outro, o qual possui uma história, uma cultura, uma etnia e que perceba a turma de alunos como heterogênea, visto que cada aluno possui um diferencial, pois provém de lugares, culturas e famílias distintas, apresentando ritmos diferentes para aprender, o que caracteriza a pluralidade no espaço escolar. 96 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE O texto do parágrafo anterior parece óbvio, no entanto, praticar diariamente o respeito à diversidade é um trabalho difícil, não por falta de empatia ou conhecimento dos educadores, mas por conta de inúmeros fatores como investimento em recursos básicos na escola, desde materiais a carteiras, cadeiras, alimentação, superlotação nas salas de aulas. O professor percebe-se muitas vezes sobrecarregado, em especial nas escolas públicas brasileiras tendo não raramente que atuar em condições inóspitas. Diante deste cenário, trabalhar a diversidade não é apenas dialogar sobre o tema, mas requer um ambiente propício. Segundo Lacerda (2021), a escola de hoje precisa encontrar seu caminho para a diversidade, engajando as crianças no mundo das diferenças, preparando- os para ser legítimos cidadãos. Na sala de aula há alunos de diversas culturas, o que requer do professor um olhar diferenciado para seu planejamento, bem como para o currículo escolar, através de adaptações aos conteúdos e atividades desenvolvidas em sala de aula. Também é importante pesquisar a história dos alunos para que o conteúdo a ser estudado esteja de acordo com seus interesses e realidade” Para complementar a discussão sobre Diversidade proponho a leitura da poesia do cantor e compositor brasileiro Lenine: Diversidade - Lenine (2010 apud FELIPO, 2021, s. p.) Foi pra diferenciar Que deus criou a diferença Que irá nos aproximar Intuir o que ele pensa Se cada ser é só um E cada um com sua crença Tudo é raro, nada é comum Diversidade é a sentença Que seria do adeus Sem o retorno Que seria do nu Sem o adorno Que seria do sim Sem o talvez e o não Que seria de mim Sem a compreensão Que a vida é repleta E o olhar do poeta Percebe na sua presença O toque de deus A vela no breu A chama da diferença 97 EDUCAR PARA O R. À D. E O PAPEL DOS DOCENTES Capítulo 3 A humanidade caminha Atropelando os sinais A história vai repetindo Os erros que o homem trás O mundo segue girando Carente de amor e paz Se cada cabeça é um mundo Cada um é muito mais Que seria do caos Sem a paz Que seria da dor Sem o que lhe apraz Que seria do não Sem o talvez e o sim Que seria de mim… O que seria de nós Que a vida é repleta E o olhar do poeta Percebe na sua presença O toque de deus A vela no breu A chama da diferença É na igualdade ou na diferença que crescemos e aprendemos? 3. Analise a sentença a seguir e julgue como CERTO ou ERRADO: O diálogo pode ser utilizado pelo educador como uma ferramenta para o debate respeitoso e elucidativo sobre a diversidade cultural, tornando o ambiente escolar mais acolhedor. ( ) CERTO. ( ) ERRADO. A arte e a cultura são ferramentas de comunicação essenciais para a promoção do debate saudável, disseminação de conhecimento, informações e fonte de refl exão. A arte ocupa espaços no qual o poder público muitas vezes por descaso não quer ocupar, movimentos culturais, associações não governamentais têm sido aliadas na promoção e disseminação da arte, em especial nas periferias e regiões economicamente menos favorecidas das grandes cidades. O samba 98 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE que é considerado patrimônio cultural brasileiro, o funk, literatura de cordel, o rap, hip hop, o grafi te todas essas formas de expressar a vida, as dores, as alegrias é arte! Tem em comum o local em que nasceram, fruto da dor, do descaso a população são movimentos culturais valiosíssimos e que surgiram nas periferias e conquistaram um lugar de representatividade com muita difi culdade e resistência. Temos algumas sugestões de fi lmes que abordam o tema de forma elucidativa e convocam para o diálogo e podem ser utilizados no ambiente escolar. Esperamos que desfrute das sugestões, há muito mais para aprender! A cinemateca e as plataformas de streaming possuem conteúdo educativo, crítico, elucidativo e atualizado para tratar questões de orientação de gênero e identidade sexual? Segue abaixo sugestões de fi lmes e séries que abordam o tema de forma coerente, responsável e auxiliam a ampliar a visão, ultrapassar paradigmas e a desconstruir preconceitos e estereotipias. São eles: 1- Vestido de Laerte – Depois de assumir sua transgeneridade, a cartunista Laerte se transformou em uma das porta-vozes dos direitos LGBT. O curta acompanha a artista em seu périplo pela burocracia dos serviços públicos em busca de ter sua condição de gênero ofi cialmente reconhecida. 2- Eu não quero voltar sozinho – Leonardo é um adolescente cego que sofre bullying de seus colegas de escola. A chegada de um novo aluno, amplia seu círculo de amizades. 3- As melhores coisas do mundo – O fi lme retrata as experiências de um adolescente de 15 anos. Temas como bullying, preconceito, homossexualidade, além de um mergulho no universo dos adolescentes, estão presentes na trama. 4- Espelho torcido – Como lidar com a angústia de ter um corpo que não se encaixa nos padrões de beleza socialmente aceitos? Tendo essa questão em mente, esse curta de dois minutos contesta a defi nição de belo e tenta mostrar que a beleza é uma questão de ponto de vista FONTE: <https://novaescola.org.br/conteudo/1296/5-fi lmes-para- discutir-a-adolescencia>. Acesso em: 18 abr. 2022. 99 EDUCAR PARA O R. À D. E O PAPEL DOS DOCENTES Capítulo 3 Durante este capítulo, abordamos sobre a importância da diversidade cultural nas escolas para promover um ambiente democrático no qual todos devem se sentir seguros em ser quem se é. Notamos que o educador tem um papel fundamental na disseminação do conhecimento, na promoção dos vínculos e especialmente na desconstrução dos preconceitos o que interfere diretamente na diminuição da evasão escolar. O Brasil por sua extensão territorial é geografi camente considerado continental, portanto temos uma cultura diversifi cada em todos os aspectos o que é excelente e muito bonito, mas em contrapartida também implica em inúmeros desafi os no combate a violência provocada pelo discurso de ódio e intolerância, seja racial, religiosa, étnica, a comunidade LGBTQIAP+, mulheres, indígenas, imigrantes, refugiados, entre outras inúmeras formas de violência provocadas pela discriminação. Se concentrarmos nossos estudos na questão da intolerância à diversidade, em quais áreas o Brasil se destaca? Se pensar em intolerância qual grupo de pessoas costuma ser mais violentado no Brasil, você sabe dizer? O intuito é que você pesquise sobre o tema e aprenda ainda mais sobre a intolerância no Brasil e os crimes de ódio. A proposta é que a partir desta pesquisa pense novas possibilidades de intervenção e interrupção desse ciclo de violência. Vamos dar algumas dicas para facilitar seus estudos. Infelizmente os índices de crimes cometidos no Brasil em sua maioria são contra pessoas negras, homoafetivos e transexuais e mulheres o que denota que somos um país, racista, machista e homo/transfóbico. Conforme estudamos no Capítulo 2, o Brasil é o país que comete mais crimes contra a população transgênero. FIGURA 1 – GRÁFICO DADOS ANTRA FONTE: <https://www.colegiooswald.com.br/wp-content/uploads/2021/03/ mulher-trans-ou-travesti.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2022. 100 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE A partir dessa informação e focando na diversidade sexual e de gênero dentro da escola, notamos que o tema deve ser abordado e discutido com clareza e sem tabus para que os alunos se sintam seguros em se expressar, tirar suas dúvidas e o mais importante: desconstruir todo e qualquer indíciode ideias homofóbicas e/ou transfóbicas que possa estar estruturalmente integrada em suas ações e em seus discursos para que o ciclo de violência e exclusão seja interrompido. A seguir, neste capítulo abordaremos o tema sobre saúde mental, despatologização e tratamentos de conversão da sexualidade. Se você quiser conhecer mais sobre os assuntos abordados, vamos deixar a indicação de alguns livros que se articulam com o assunto tratado neste item: Malala cresceu entre os corredores da escola de seu pai, Ziauddin Yousafzai, e era uma das primeiras alunas da classe. Quando tinha dez anos viu sua cidade ser controlada por um grupo extremista chamado Talibã. Armados, eles vigiavam o vale noite e dia, e impuseram muitas regras. Proibiram a música e a dança, baniram as mulheres das ruas e determinaram que somente os meninos poderiam estudar. No entanto, Malala foi ensinada desde pequena a defender aquilo em que acreditava e lutou pelo direito de continuar estudando. Ela fez das palavras sua arma. Em 9 de outubro de 2012, quando voltava de ônibus da escola, sofreu um atentado a tiro. Poucos acreditaram que ela sobreviveria. Referência: CARRANCA, Adriana. Ilustradora: Bruna de Assis Brasil. Malala a Menina que queria ir para escola. (2015) Ed. Companhia das Letrinhas 101 EDUCAR PARA O R. À D. E O PAPEL DOS DOCENTES Capítulo 3 3 RELAÇÕES DE GÊNERO, A POSTURA E O TRABALHO DOS DOCENTES NA CONVIVÊNCIA ESCOLAR O educador, muitas vezes sem perceber, se torna um modelo e inspiração para o aluno, por esse motivo seu papel social e responsabilidades vão além do seu papel profi ssional. É preciso ter clareza, mas é igualmente importante ter preparo técnico e bom senso para fazer as intervenções necessárias de modo adequado quando há confl ito entre os estudantes. A postura do docente na convivência escolar é muito importante, pois tem alto impacto no comportamento dos alunos e consequentemente impacta positiva ou negativamente na convivência entre eles. Para começarmos a contextualizar o papel do educador nas questões de gênero, torna-se importante localizarmos a profi ssão professor na história, nas culturas ocidentais, além do seu caráter predominantemente feminino. Segundo Gabriel e Ribeiro (2019): As relações de gênero são produto de um processo que se inicia antes mesmo do nascimento e que se estende durante toda a nossa vida, reforçando a desigualdade existente entre homens e mulheres, assim como as responsabilidades atribuídas a cada um de acordo com a construção social de cada povo e época. O papel do homem e da mulher é construído culturalmente desde o momento em que o bebê está na barriga da mãe e os pais começam a montar o enxoval de acordo com o sexo da criança, se estendendo após o nascimento quando a sociedade descarrega todas as suas expectativas em relação a esse menino ou menina baseados em seu sexo biológico, e isso chega à escola. Historicamente esse papel é construído e há diferenças apenas com algumas variações culturais em que o representante simbólico “homem/mulher” tem suas relevâncias e papéis bem defi nidos, como os autores destacam, ainda no ventre materno já há uma construção ideológica vinculada ao imaginário coletivo de como será essa criança de acordo com seu gênero e assim são defi nidos suas possíveis “escolhas” como cores de roupas, tema do enxoval, cor e detalhes do quarto do bebê, planejamento de atividades e futuro da criança, como por exemplo: esportes para “meninos” e atividades mais voltadas para artes para as “meninas”, nota-se que essa construção está vinculada ao sexo biológico da criança. 102 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE Considerando a refl exão de papel social, Heilborn (1998, p. 395 apud SAYÃO, 2005, p. 64) lembra que: “[...] uma sequência de experiências vividas, as datas em que estas tiveram lugar e suas circunstâncias, os intervalos e seus desdobramentos [...]”. As trajetórias dos sujeitos revelaram múltiplas relações que foram lidas e interpretadas a partir do referencial teórico adotado por mim na condição de pesquisadora. Essas múltiplas relações envolveram sujeitos concretos, que possuem histórias de vida que ora são singulares, ora representam um contexto mais amplo de relações sociais. A instituição com sua história e dinâmica própria permeada pelas relações entre os diferentes protagonistas (professores e professoras, profi ssionais, famílias, crianças e outros) delineiam a “cultura da creche” ou a “cultura institucional”. Por mais que pareçam específi cas e pontuais, Bordieu (2001 apud SAYÃO, 2005, p. 65) destaca que: “as trajetórias não são individuais, estão em consonância com o meio social e podem signifi car ascensão ou não, conforme a continuidade ou descontinuidade entre o projeto que estava inscrito na trajetória dos pais e nas possibilidades futuras aí implicadas”. Conforme os autores mencionam, há uma “ilusão” no processo que se compreende de liberdade de escolhas, pois as escolhas e decisões dos sujeitos estão intrinsicamente ligadas ao meio social e ao planejamento futuro que os pais projetaram para seus fi lhos e estes não estão ilesos a essa interferência direta de seus familiares e das experiências adquiridas ao longo da vida. Confi rmando este pensamento, Velho (1999 apud SAYÃO, 2005, p. 65): Sugere que a reconstrução das trajetórias encontra seu sentido na busca da explicação acerca dos comportamentos, preferências e aspirações dos sujeitos. Para esse autor é insufi ciente a análise da posição do indivíduo, família ou grupo para tal explicação. É importante não só estar atento para o sentido da trajetória, seu ritmo, direção, e daí extrair consequências, mas também procurar perceber a própria trajetória como expressão de um projeto. Ou seja, a trajetória tem um poder explicativo, mas deve ser dimensionada e relativizada com a tentativa de perceber o que possibilitou essa direção particular e não outra. Com isso o autor admite a existência de processos sociais que condicionam e afetam as opções e escolhas. No entanto, resgato também a participação dos indivíduos que, de fato, interagem, intervêm e têm preferências que podem estar em sintonia com a cultura de uma época ou sociedade, mas não são plenamente determinados por ela. O autor refere-se à estereotipação dos gêneros na qual infelizmente ainda é alimentado pela sociedade e reproduzido de geração a geração, reforçando comportamentos e condutas limitantes para as crianças, jovens e adultos que 103 EDUCAR PARA O R. À D. E O PAPEL DOS DOCENTES Capítulo 3 muitas vezes sofrem por ter que assumir papéis e comportamentos pré-moldados que não correspondem com sua vontade de agir e priva-os de descobertas relevantes para sua formação pessoal e social. Em especial, no caso das crianças e dos adolescentes, visto que é um período em que há curiosidade e ânsia pela vida, pelo novo e é saudável. Esse anseio não signifi ca estar necessariamente atrelado a descobertas sexuais, de forma alguma, a estereotipação dos gêneros em todos os países e culturas ele gera sofrimento e impõe barreiras a um desenvolvimento saudável e dependendo da cultura religiosa e da realidade socioeconômica e cultural há uma interrupção da infância e uma iniciação na fase adulta precoce, algo extremamente invasivo e violento, por exemplo: meninas não podem estudar, meninos sim, meninas se casam a partir do primeiro ciclo menstrual, esportes como o halterofi lismo sempre visto como algo tipicamente masculino, balé como uma dança tipicamente feminina, sendo o menino criticado e tendo sua orientação sexual questionada ao demonstrar interesse pela dança. Brinquedos que ainda são atrelados ao gênero como espadas e armas para meninos, bonecas e maquiagem para meninas. São alguns exemplos clássicos de como há diferença de oportunidades vinculadas ao gênero abrindo precedentes para a violência psicológica. Tomando por conta que a própriainserção social dos papéis femininos e masculinos passam por uma construção histórica, não seria diferente e menos complexa a discussão do papel desses profi ssionais na formação de futuros cidadãos no que tangem temas de gênero. Além de localizar o papel social do educador a partir do entendimento das funções sociais de gênero, é importante salientar a complexidade de realizar tal papel em uma sociedade como a brasileira. Segundo Gabriel e Ribeiro (2019, p. 15): O papel ocupado pela escola brasileira é muito complexo. Preparar os educandos para se tornarem cidadãos críticos e participativos na sociedade exige que os professores se responsabilizem não somente em transmitir conteúdo, mas em tornar as escolas em espaços de transformação e de inserção social, que têm sido uns dos maiores desafi os da educação. Paulo Freire (2002) argumenta sobre o papel do professor ao ensinar o conteúdo: ... papel fundamental, ao falar com clareza sobre o objeto, é incitar o aluno a fi m de que ele, com os materiais que ofereço, produza a compreensão do objeto em vez de recebe-la, na íntegra, de mim. Ele precisa se apropriar da inteligência do conteúdo para que a verdadeira relação de comunicação entre mim, como professor, e ele, como aluno, se estabeleça. É por isso, repito, que ensinar não é transmitir conteúdo a ninguém, assim como aprender não é memorizar o perfi l do conteúdo transferido no discurso vertical do professor. Ensinar e aprender têm que ver com esforço metodicamente 104 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE do professor de desvelar a compreensão de algo e com o empenho igualmente crítico do aluno de ir entrando como sujeito em aprendizagem, no processo de desvelamento que o professor ou professora deve defl agrar. O espaço escolar é vivo, não isolado, portanto, deve estar em constante mutação pelo contato direto com a realidade. Isso nos leva a perceber que o ambiente escolar deveria ser um dos melhores lugares para pensarmos as relações humanas e a diversidade. O educador mais uma vez se faz essencial, porém são abundantes suas responsabilidades assim como seu valor. Devemos recordar que da mesma forma que a sociedade é mutável e o educador é um ser humano, um sujeito repleto de histórias e imerso na sua cultural e identidade familiar, há nele um Universo repleto de possibilidades, medos, anseios, sonhos, conquistas, desejos, sentimentos e emoções, portanto, devemos para além de valorizá-los e respeitá- los em sua diversidade e limitações quanto sujeitos. Gabriel e Ribeiro (2019 p. 12) ainda afi rmam que: Educar para a cidadania é um desafi o constante. Ao longo desta pesquisa foi possível discutir o papel da escola e dos profi ssionais da educação na construção dos estereótipos de gênero e suas contribuições para a legitimação dessas relações. Espera-se que os educadores reconheçam a sua importância para avançarmos no processo de transformação social. As escolas podem optar por desconstruir a reprodução de uma lógica binária de sobreposição de gêneros, ao invés de perpetuar a marginalização de quaisquer formas de expressão que não atendam ao que é culturalmente aceitável aos padrões pré-estabelecidos pela sociedade androcêntrica que vivemos. Segundo Lacerda (2021, p.1): A luta dos educadores pelos direitos e pelo reconhecimento das diferenças não pode ser dar de forma separada e isolada. É preciso que políticas governamentais apoiem os programas educacionais, bem como os meios de comunicação, os quais tem forte infl uência de persuasão. O professor não pode pensar que a inclusão, é exclusividade de defi cientes e que para esta acontecer basta adaptar o espaço físico e ter profi ssionais qualifi cados. Isto é preciso, mas não é o sufi ciente, porque uma escola com olhar voltado para a inclusão social, jamais irá pensar somente no defi ciente, mas sim em todo tipo de diferença que existe e que surge a cada dia. Além de oferecer espaço físico adequado, é necessário que a escola prepare as novas gerações para esta educação, voltada para a diversidade. Através desta perspectiva, acredita-se que irão se romper as barreiras negativas construídas ao longo do processo histórico, “o preconceito”. 105 EDUCAR PARA O R. À D. E O PAPEL DOS DOCENTES Capítulo 3 De fato, o educador não é um “super-herói” repleto de poderes no qual irá salvar os estudantes da ignorância que é uma das maiores colaboradoras para os crimes de ódio. Embora seu papel seja essencial e esse profi ssional seja de fato digno do título de Herói e mereça toda a reverência e aplausos em especial pela coragem de ser educador em um país em que há tantos empecilhos para a atuação e o investimento federal é irrisório, o professor não pode carregar consigo toda a responsabilidade. É necessário também que a população se faça mais participativa nas políticas públicas, na comunidade escolar, reivindique dos governantes mais investimentos na área e dê apoio aos profi ssionais da educação. É importante ressaltar que o papel do docente pode ser muito solitário. No início do ano, um professor de ensino fundamental depara-se com 20 a 25 crianças diferentes em tamanho, desenvolvimento físico, fi siologia, resistência ao cansaço, capacidades de atenção e de trabalho; em capacidade perceptiva, manual e gestual; em gostos e capacidades criativas; em personalidade, caráter, atitudes, opiniões, interesses, imagens de si, identidade pessoal, confi ança em si; em desenvolvimento intelectual; em modos e capacidades de relação e comunicação; em linguagem e cultura; em saberes e experiências aquisições escolares; em hábitos e modo de vida fora da escola; em experiências e aquisições escolares anteriores; em aparência física, postura, higiene corporal, vestimenta, corpulência, forma de se mover; em sexo, origem social, origem religiosa, nacional ou étnica; em sentimentos, projetos, vontades, energias do momento (PERRENOUD, 2001, p. 69 apud LACERDA, 2021, p. 12). Quais refl exões a citação de Perrenoud provocou em você? De que forma um professor pode articular esses temas? A arte tem sido uma aliada da educação há séculos e na pós-modernidade a utilização de fi lmes como recursos pedagógicos permite que os professores explorem conteúdos de diversos componentes curriculares de forma interdisciplinar, debatendo e vivenciando temas importantes de maneira particularmente interessante para os estudantes. Existem profi ssionais da área da educação que atuam diretamente no combate ao preconceito, discriminação focando na informação, acolhimento e proporcionando visibilidade e lugar de fala para a comunidade LGBQIAP+. O trabalho da professora Dayanna Louise trilha o caminho do debate sobre educação gênero e sexualidade atuando no ambiente escolar por meio de produções do cinema pernambucano e de outras regiões do Brasil. O trabalho é 106 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE lindo e muito interessante, o projeto chama-se “Andanças – Mostra de Cinema de Gênero e de Diversidade”. Sugerimos que assistam alguns documentários. São eles: 1. Palloma. 2. Maria Clara. 3. Somos. 4. O dia é transparente. 5. Sapacrew. 6. Mãe Dorinha. 7. Desyrrê. 8. Depois da tempestade – a LGBTfobia na escola. Todos os documentários podem ser assistidos pela internet. Seguindo o tema “Arte – educação”, em como a arte auxilia o processo de aprendizagem e transformação social, queremos compartilhar com você a poesia “Colorir”, de Virgínia Guitzel (s. d. apud FELIPO, 2021, s. p.), que além de poetisa, artista é travesti e militante. Colorir Faltará tinta No dia que o céu for livre Pra todos serem o que são Cobertos pelo sol, sem nenhum tipo de opressão Faltará nomes Pra descrever o mundo sem as misérias O que sentimos, o que nos tornamos O novo ser sem medo de viver Faltará a falta que nos entristece Que hoje enche o peito de vazio e fumaça Não faltará amor, não faltará sonhos O novo mundo se abrirá para ofuturo Onde o presente dominará o passado E nossos corações enfi m serão salvos O educador pode utilizar todos os recursos disponíveis incluindo apresentar aos alunos artistas que representam a diversidade sexual, cultura, racial, religiosa, enfi m a multiplicidade de opções que há dentro e fora deste contexto. 107 EDUCAR PARA O R. À D. E O PAPEL DOS DOCENTES Capítulo 3 É importante para os estudantes notarem profi ssionais e inúmeras possibilidades de atuação quanto pessoas. Desconstruir possíveis estereótipos sobre profi ssão e carreira relacionados a identidade de gênero, orientação sexual ou qualquer outra forma de diversidade. É importante para o aluno ler, ver, conhecer trabalhos de diferentes pessoas e artistas para que também possam se inspirar e como já mencionado desconstruir ideais e tabus que possam limitar toda e qualquer prospecção de futuro. Utilizem todos os recursos para motivar e inspirar os alunos! Acesse o link a seguir para ler a entrevista e matéria completa sobre o trabalho da professora Dayanna Louise e ter acesso aos 8 documentários que abordam o tema: educação, sexualidade e gênero na escola. FONTE: <https://www.futura.org.br/8-fi lmes-para-debater-genero- e-sexualidades-nas-escolas/>. Acesso em: 19 abr. 2022. Se você quiser conhecer mais sobre os assuntos abordados, vamos deixar a indicação de alguns livros que se articulam com o assunto tratado neste item: 108 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE O livro da autora Cláudia Vianna compila seus estudos desde o fi nal dos anos 1980 até o momento e nos convida a trilhar o processo de democratização da educação brasileira em sua interseção com a produção das políticas educacionais de gênero e diversidade sexual e seus desenlaces de lutas, danos e resistências. Discute os processos de produção e circulação das políticas educacionais de gênero e da diversidade sexual, evidencia-se como a temática passou a ser reconhecida nos planos, programas e projetos brasileiros. Embora seja um desafi o romper o tabu sobre o tema: sexualidade e educação, o autor Marco Antonio Torres, escreve de forma consistente, atualizada e esclarecida. O livro introduz o leitor às discussões contemporâneas sobre sexualidade de maneira clara e didática. Dentre as inovações da abordagem de Marco Antônio Torres, destaca-se a forma como ele opta por sublinhar o termo “heterossexismo” em relação à mais conhecida “homofobia”, ampliando as discussões sobre preconceito e discriminação na escola para além de manifestações isoladas de violência. Assim, contribui para que repensemos a sexualidade a partir das problemáticas do presente e do cotidiano, fornecendo apoio teórico, informação atualizada e dicas úteis para educadores sintonizados com os desafi os do presente e comprometidos com a construção de uma sociedade que reconheça o direito à diferença. 109 EDUCAR PARA O R. À D. E O PAPEL DOS DOCENTES Capítulo 3 Os autores deste livro nos convidam a pensar nas implicações que esse conceito tem na vida cotidiana das crianças, e como os arranjos de gênero podem muitas vezes restringir, excluir e criar desigualdade. Quando dizemos que certas tarefas são próprias de meninas e outras de meninos, estamos limitando as formas de aprendizagem e inclusive as experiências de vida de estudantes. Muitas vezes, esse tipo de defi nição atrapalha o entendimento sobre o que é estar no mundo, e isso pode virar um obstáculo no processo de construção de desejos, expressões e formas de sentir. A escola é, pois, o ambiente adequado para levantar essa discussão e para, através da educação, ajudar na construção de uma sociedade mais justa e democrática. 3.1 GENÊRO, SEXUALIDADE E SAÚDE MENTAL Você conhece esse slogan? FONTE: <http://aaspbrasil.blogspot.com/2017/09/nao-ha-cura-para- o-que-nao-e-doenca.html>. Acesso em: 19 abr. 2022. 110 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE No dia 15 de setembro de 2017, o juiz federal Waldemar Cláudio de Carvalho da Justiça Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal, proferiu uma decisão liminar em que acata parcialmente uma ação popular contra a Resolução 01/99 do Conselho Federal de Psicologia, que estabelece normas para atuação de psicólogos em relação à questão da orientação sexual. Na decisão, mantém-se a integralidade do texto da Resolução 01/99, mas determina-se que o CFP a intérprete de modo a não proibir que psicólogos façam atendimento buscando reorientação sexual. Obviamente, orientações sexuais não são patologias e, que, portanto, não podem ser “tratadas” ou “revertidas”. Essa decisão fi cou marcada como um retrocesso na área da saúde mental e tornou a população LGBTQIAP+ ainda mais exposta a violência psicológica e a situações confl itantes e vexatórias. Sem dúvida essa liminar favoreceu cenários para práticas e expressões desrespeitosas e discriminatórias com relação a diversidade sexual na qual faz parte da especifi cidade humana. A partir de então, o slogan foi criado e tornou-se uma campanha contra essa determinação judicial pois, de fato não há cura para o que não é doença. É importante lembrar que em 17 de maio de 1990, a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da lista internacional de doença e em 2019, durante a 72º Assembleia Mundial da Saúde ofi cializou a retirada da classifi cação da transexualidade como transtorno mental do CID 11 (Classifi cação Estatística Internacional de Doenças e Problemas de Saúde). Após 28 anos constando no CID como transtorno mental, a transexualidade muda da categoria de transtornos mentais para integrar o de “condições relacionadas à saúde sexual”, sendo classifi cada como “incongruência de gênero”. Portanto, o fato de existir pessoas e profi ssionais da área da saúde que pensam em intervenções psicoterapêuticas ou terapias complementares, medicamentosas entre outras com o intuito de realizar uma “conversão sexual”, ou a chamada terapia de reversão é assustador. De acordo com Garcia e Mattos (2019, p.54): No campo das terapias de reversão da orientação sexual, há uma clara tendência, independentemente da corrente a que os autores se fi liem, a considerar as homossexualidades como fruto de uma “falha ambiental”. Tal fato é decorrência da própria possibilidade de efi cácia do método de tratamento, uma vez que estas terapias teriam pouca resolutividade se a suposta causalidade das homossexualidades fosse genética e/ ou hormonal. Ainda como tendência geral, independentemente 111 EDUCAR PARA O R. À D. E O PAPEL DOS DOCENTES Capítulo 3 das correntes teóricas, o contexto familiar é tido como o principal vilão nesse processo de desenvolvimento das homossexualidades, uma vez que caberia à família a função do direcionamento heterossexual dos fi lhos. Há um movimento retrógrado geralmente infl uenciado por profi ssionais que vinculam a técnica a sua religiosidade ou religião de forma extremamente antiética e equivocada na qual insistem em vincular orientação sexual, identidade de gênero a transtornos mentais. Muitas vezes esses profi ssionais utilizam- se de argumentos com base na psicanálise de forma equivocada, pois não compreendem de fato a teoria e disseminam uma série de informações errôneas e preconceituosas. Garcia e Mattos (2019 apud HALDEMAN, 2002, p. 56) elucidam: Os grupos de “cura gay” de base religiosa têm sido denunciados sistematicamente como espaços de manipulação de pessoas emocionalmente vulneráveis (em função do próprio estigma associado às homossexualidades). Soma-se a esta crítica o fato de a própria proposta de “tratamento” envolver, por si só, um reforço dessa estigmatização. As críticas relacionadas à inefi cácia em relação ao que propõem e à violação dos direitos humanos dos pacientes, relatadas anteriormente acerca das terapias de reversão da orientação sexual, são também ressaltadas por autores que pesquisam estecampo. Segundo Garcia e Mattos (2019 apud Silva, 2007, p. 56), as “terapias de conversão” foram mais estimuladas na década de 1980 durante a epidemia de HIV/AIDS, em que pouco se conhecia sobre o vírus e a doença e os religiosos de forma geral atrelaram a epidemia a um “castigo divino” para os homossexuais. Deste modo o autor complementa: a partir da década de 1990, também nos Estados Unidos, membros do movimento de “ex-gays” passam a se articular com grupos políticos da extrema direita. Para estes grupos, se a homossexualidade era reversível, não haveria razão para se criarem leis contra a homofobia. No fi nal da década de 1990, estes grupos passaram a se utilizar da grande mídia para difundir campanhas relacionadas à factibilidade e desejabilidade do tratamento da homossexualidade (GARCIA; MATTOS, 2019 apud SILVA, 2007, p. 56). A terapia de conversão parece algo absurdo e distante, porém é acreditada e defendida em muitas partes do mundo. A biografi a Boy Erased, Uma Verdade Anulada (Intrínseca), que virou fi lme estrelado por Nicole Kidman relata os competentes religiosos envolvidos na história de uma família muito querida por 112 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE sua comunidade, um menino que admirava seu pai, porém perde sua identidade ao ser exposto por seu estuprador defl agrando a toda a comunidade a sua orientação homoafetiva. Narrando a dor de ser obrigado a abrir mão de algo que o defi ne por conta de valores morais, a história relata como as terapias de conversão atuam e quais suas consequências a quem foi exposto a pouca e a muitos anos de violência. Vale a pena assistir! Garcia e Mattos (2019 p.57), nos recordam que no Brasil: [...] a criação de grupos religiosos de “cura gay” antecede a proibição deste tipo de prática (feita pelo CFP, em 1999, como veremos a seguir). Macedo (2018), ao construir uma cuidadosa “linha do tempo” sobre o fenômeno mundial da “cura gay”, sinaliza a criação, em 1988, do Grupo de Amigos (GA), em São Gonçalo, RJ, e do Movimento pela Sexualidade Sadia (Moses), em 1997, assim como a implantação no Brasil, em 1998, do Exodus, maior organização mundial sobre o tema, como visto anteriormente. Reportagem da Revista Manchete, em abril de 2000, relatou a existência de mais de 20 grupos de terapias conversivas de base religiosa no Brasil, alguns deles funcionando há vários anos. A história nos mostra o quanto a desconstrução social dos gêneros e o lugar de poder da religiosidade precisam ser revisadas e discutidas pois o sofrimento humano provocado por tais práticas, a violência que perpassa gerações e se perpetua, somando apenas dor e desigualdades sociais em todos os níveis não é frutífera e benéfi ca para a humanidade, ao contrário, se mostra ceifadora de vidas e deixa uma impressão digital na alma de quem sofre com a discriminação e tem seus direitos humanos negados ou infringidos. Os valores sociais são mutáveis, defi nidos temporariamente e a história nos demonstra isso. É uma construção histórica que varia no tempo e de lugar para lugar, podem ser substituídos e revisados, transformados, tornando temas mais ou menos relevantes e quem domina o poder da comunicação infl uencia os demais podendo auxiliar na mudança histórica de valores que consequentemente orientam a educação dos sujeitos, sua socialização e resultam no novo “valor social” no qual vai infl uenciar e ditar as regras do novo modelo socio-histórico- cultural da época e assim sucessivamente. Combater as informações baseadas em ideias preconceituosas é um dever de todo cidadão. 113 EDUCAR PARA O R. À D. E O PAPEL DOS DOCENTES Capítulo 3 Cabe ressaltar que a homossexualidade não é um distúrbio, por este motivo não há cura e a diversidade das orientações sexuais e identidades de gênero revelam possibilidades, manifestações da existência humana e não transtornos e doenças que necessitam de cura. Na sociedade, existe uma grande inquietação em torno das relações afetivo-sexuais entre pessoas do mesmo sexo biológico e sobre os modos de expressão de pessoas que não se adéquam (em seu jeito de ser e se vestir) às exigências sociais de gênero determinadas para seu sexo. Geralmente, o que observamos são difi culdades de aceitação, estigmatização destes modos de vivência da sexualidade e da identidade, vistos como vergonhosos, anormais, antinaturais, pecaminosos e até patológicos. Diante disto, diversos modos de violência são perpetrados sobre a população que não segue a normativa da heterossexualidade. Estas violências vão desde o simples “olhar torto”, as piadinhas e diversos outros modos de humilhações, segregação, exclusão, até violências físicas e assassinatos cruelmente praticados. Essas inquietações podem ser atenuadas quando o contexto em que vivemos apresenta políticas de sensibilização da população à diversidade nos âmbitos da cultura, da saúde, da educação e da segurança pública. Infelizmente não é este o cenário que encontramos em diversos interiores do Brasil, com uma cultura conservadora, tradicionalista e rigidamente heteronormativa. Para os psicólogos, em sua prática profi ssional, a forma como cada um vive sua sexualidade faz parte da identidade do sujeito, a qual deve ser compreendida a partir das diferenças, não podendo assim a homossexualidade ser entendida como doença, distúrbio e ou perversão. Este é o modo como se posiciona o Conselho Federal de Psicologia, através da Resolução CFP 01/99, que determina que psicólogos não devem exercer qualquer ação que favoreça a compreensão das homossexualidades como doença e nem propor tratamentos de “mudança de orientação sexual”, visto que entendemos não se tratar de uma patologia, portanto, não ser passível de cura. Todos os esforços já empreendidos com a tentativa de “cura” de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros sempre trouxeram mais sofrimento e danos à saúde mental dos atendidos. Assim, não se pode curar aquele que não está doente. O que podemos fazer é buscar compreender que os sofrimentos vivenciados por essas pessoas são relativos ao preconceito e discriminação que vivem em sua família, escola, 114 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE instituições públicas e comunidade em geral. Portanto, o trabalho do psicólogo é permitir à pessoa conhecer a realidade de sua orientação sexual, contribuindo para o esclarecimento sobre as questões da sexualidade, bem como possibilitando o enfrentamento de preconceitos e discriminações. Conselho Regional de Psicologia – Subsede Vale do Paraíba e Litoral Norte Você tem alguma dúvida sobre o tema? Temos algumas indicações de vídeos para você. Você conhece o professor Dr. Christian Dunker? Se conhece sabe que ele é referência como professor, escritor na área da saúde mental: psicologia e psicanálise. Caso não o conheça essa é uma excelente oportunidade de conhecer seu trabalho e ampliar seus conhecimentos. Christian Ingo Lenz Dunker psicanalista brasileiro, professor titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, colunista e articulista, nas revistas Mente & Cérebro, Cult e Brasileiros, e também no blog Boitempo Editorial. Em 2012, obteve o Prêmio Jabuti na categoria Psicologia e Psicanálise, por seu livro “Estrutura e Constituição da Clínica Psicanalítica”. Em 2016 o livro “Mal- Estar, Sofrimento e Sintoma” foi classifi cado em segundo lugar, na categoria Psicologia, Psicanálise e Comportamento. Assista ao seu programa no canal do YouTube: Falando nisso” em que ele responde a pergunta: “Por que há tanto ódio à homossexualidade?”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=eGd2znmX8co>. Acesso em 24 abr. 2022. 115 EDUCAR PARA O R. À D. E O PAPEL DOS DOCENTES Capítulo 3 Agora que você já conhece o professor Dr. Christian Dunker: Assista ao seu programa no canal do YouTube: “Falando nisso” em que ele responde à pergunta: “Como apsicanálise vê a transexualidade?”. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=oN3eXkJlYac>. Acesso em 24 abr. 2022. Em seguida para complementar seus estudos assista ao vídeo: “Assexualidade e demissexualidade são patologias?”. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=6NiP6pHp9A4&t=2s>. Acesso em 24 abr. 2022. Leia a matéria completa sobre a criminalização na França do tratamento de conversão, equivocadamente conhecido como “cura gay” no qual a criminalização foi aprovada de forma unânime e a é prevista punição com multa e até prisão. A matéria está disponível no link: <https://www.cnnbrasil.com. br/internacional/franca-criminaliza-cura-gay-com-pena-que-pode- chegar-a-3-anos-de-cadeia/ >. Acesso em: 24 abr. 2022. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Neste capítulo, classifi camos sobre a construção e os conceitos da educação de modo plural que contribui para o respeito à diversidade na qual imprime uma mudança no papel exercido pelos docentes no contexto educacional. Como docentes nossa intenção foi além da orientação acadêmica, quisemos provocar refl exões sobre formas práticas de atuação no contexto escolar e social integrando as diversas possibilidades que a arte como recurso oferece. Para além de educar e conscientizar pode inspirar e motivar os estudantes a sonhar e almejar o que quer que desejem independente de rótulos sociais. 116 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE Como estudante, você também foi convidado a refl etir acerca do papel do educador, entender sua importância, como sua postura interfere no desenvolvimento de práticas que contemplem a diversidade como valor educacional contribuindo na construção de uma sociedade mais respeitosa, tolerante e diversa. Em contraponto, notando o quanto esse papel pode ser pesado e solitário diante de inúmeros desafi os, tabus que envolvem o tema, violência no ambiente escolar, falta de recursos básicos e investimento público na educação. Por fi m, queremos compartilhar a poesia “Pluralidade Cultural” na qual o cordelista Juarês Alencar Pereira (s. d. apud FELIPO, 2021, s. p.) que é autor de literatura de cordel, educador, historiador nos mostra divertida e delicadamente o quanto a diversidade agrega e enriquece a cultura e o país. Propomos que ao ler, refl ita sobre o estilo literário do autor, se há palavras ou expressões na qual desconhece, se houver, procure seu signifi cado e enriqueça o vocabulário, sempre recordando que o diferente agrega, além de refl etir sobre como pode ser interessante apenas aceitar as diferenças e estar aberto para aprender, olhar o “outro” não pelas suas escolhas, gosto, religião, expressão do amor, do afeto, da sexualidade, sotaque, etnia, identidade de gênero, orientação sexual, ou qualquer característica que diverge de você, mas sim olhar o “Outro” como alguém, lançar um olhar despretensioso de um ser humano para outro ser humano. Foi um prazer aprender com você! Pluralidade Cultural - Juarês Alencar Pereira (s. d. apud FELIPO, 2021, s. p.) O nosso país é exemplo Da grande diversidade Por sua rica cultura Sinal de brasilidade Com todas as diferenças Mostra a sua pluralidade. Terra dos muitos sotaques Cores e manifestações E com as várias etnias Preservando as tradições As diferenças existem Entre as várias regiões. Nordestino fala oxente Que é próprio da região O mineiro fala uai… Com muita satisfação O gaúcho já fala thê E numa forte expressão. Com todas as etnias Que presentes aqui estão O negro, branco e índio 117 EDUCAR PARA O R. À D. E O PAPEL DOS DOCENTES Capítulo 3 Formaram esta nação Os brasileiros são frutos Desta miscigenação. O Brasil é um grande palco De bela apresentação Do frevo, samba e forró Carnaval e folião Ciranda e Coco de roda Xote, xaxado e baião. É o país do futebol Do ritmo e religião Do regue e bumba meu boi Presentes no Maranhão Do alegre axé da Bahia Com toda a animação. Tem a festa do divino Que é muito popular Tem a folia de reis Maracatu pra dançar Além da bela catira E o belo boi bumbá. A nossa cultura é rica Pois tem forte tradição Na música e na poesia E também na religião Carnaval e futebol É verdadeira paixão. A cultura religiosa Demonstra a fé popular Romarias a padre Cícero Grande Sírio no Pará Procissão do fogaréu Faz Goiás iluminar. Terra das vaquejadas Das festas de apartação Famosas pegas de boi Que existem no sertão Vaqueiros e repentistas Fazem sua louvação. As festas de boiadeiros De cowboy e de peão Grande festa de rodeio Que causa admiração Com locutores famosos Que falam com emoção. Famosas festas juninas É uma grande tradição No nordeste brasileiro É a maior animação Fogueira e milho assado Quadrilha, forró e quentão. Lá pras banda da Amazônia Bem no meio da fl oresta Caprichoso e Garantido Fazem a maior festa Os turistas que lá vão Diz não ter outra como esta. Esse é o país da alegria É cheio de sonoridade Tem rimo de todo jeito Forte musicalidade Sendo um misto de beleza É sua própria identidade. Terra dos vários sabores Com culinária aprovada Pamonha e acarajé Pé de moleque, feijoada Baião de dois, tapioca Carne de sol, galinhada. Tem pato no tucupi E também no tacacá Tem churrasco com fartura 118 EDuCAÇÃo PArA A DiVErSiDADE: GÊNEro E SEXuALiDADE E o gostoso mungunzá O chimarrão lá no sul E na Bahia o vatapá. Nossa cultura é marcada Pelos afro-descendentes Um povo de muita garra E de coração valente Que migraram lá da África Para o nosso continente. Os nativos do Brasil Ameríndios brasileiros Foram quase exterminados Pelos brancos estrangeiros Relutaram e sobrevivem Povo forte e verdadeiro. Amamos esse Brasil ETA país arretado Expresso em alta voz Falo pra todo lado Não importa a região Nem tão pouco o Estado. Pode ser aqui no Norte Ou também lá no Nordeste Até no longínquo Sul Ou lá no rico Sudeste Em todo lugar é bom Inclusive o Centro-oeste. Em todo lugar é bom Dá gosto aqui viver Esse país é tão grande Tem riquezas pra valer E pra ele ser melhor Falta à corrupção varrer. Esse é um breve relato Da nossa pluralidade O Brasil é um país Que tem sua identidade Mostra em todos os ritmos A sua originalidade. REFERÊNCIAS ARAGUSUKU, H. A.; LARA, M. F. A. Uma Análise Histórica da Resolução n° 01/1999 do Conselho Federal de Psicologia: 20 Anos de Resistência à Patologização da Homossexualidade. 2019, v. 39. Disponível em: <https:// doi.org/10.1590/1982-3703003228652>. Acesso em: 2 fev. 2022. BATISTA, A. F. O transgênero segundo o STF. 2019. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/73069/o-transgenero- segundo-o-stf >. Acesso em: 24 abr. 2022. BEAUVOIR, S. de. O Segundo Sexo. Tradução Sérgio Milliet. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. BENTO, B. Transexuais, corpos e próteses. 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