Prévia do material em texto
FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL Física Geral e Experim ental Stéphanie Fonseca e Juliana Ikebe Otomo Stéphanie Fonseca e Juliana Ikebe Otomo GRUPO SER EDUCACIONAL gente criando o futuro Na disciplina de Física Geral e Experimental, abordaremos conteúdos relacionados à medição e metrologia, ao Sistema Internacional de Unidades (SI), vetores e mecânica básica. Esses conteúdos são fundamentais para a prática experimental das ciências e também para a indústria e pro� ssões técnicas. Muitos fenômenos físicos, como o mo- vimento de um corpo, são caracterizados por possuírem uma direção e sentido no es- paço e podem ser mais bem explicados como fenômenos vetoriais. Assim, compreen- der o que são vetores e saber trabalhar com eles é indispensável para o entendimento de campos da engenharia como o fenômeno de transporte. Além disso, a mecânica é a parte da física que estuda o movimento dos corpos. As equações que permitem calcular a velocidade e posição de um corpo em movimento, as leis de Newton que explicam a atuação das forças em um corpo e os fundamentos de energia e trabalho serão temas abordados nesta disciplina e constituem o arcabouço de conhecimento de um engenheiro. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL (Física do Movimento) CAPA_SER_ECPME_FIGEEXP.indd 1,3 08/05/20 13:09 © Ser Educacional 2020 Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro Recife-PE – CEP 50100-160 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © Shutterstock Presidente do Conselho de Administração Diretor-presidente Diretoria Executiva de Ensino Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Diretoria de Ensino a Distância Autoria Projeto Gráfico e Capa Janguiê Diniz Jânyo Diniz Adriano Azevedo Joaldo Diniz Enzo Moreira Stéphanie Fonseca Juliana Ikebe Otomo DP Content DADOS DO FORNECEDOR Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 2 08/05/20 11:17 Boxes ASSISTA Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple- mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. CITANDO Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. CONTEXTUALIZANDO Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstra-se a situação histórica do assunto. CURIOSIDADE Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado. DICA Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. EXEMPLIFICANDO Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto. EXPLICANDO Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada. SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 3 08/05/20 11:17 Unidade 1 - Medição e Sistema Internacional de Unidades Objetivos da unidade ........................................................................................................... 13 Medição ................................................................................................................................. 14 Grandezas ......................................................................................................................... 14 Definição de medição ..................................................................................................... 16 Instrumentos de medição .............................................................................................. 16 Exatidão e precisão ......................................................................................................... 17 Métodos e procedimentos de medição ....................................................................... 18 Algarismos significativos ............................................................................................... 21 Sistema Internacional de Unidades (SI) .......................................................................... 26 Unidades de base do SI .................................................................................................. 27 Unidades derivadas do SI .............................................................................................. 29 Múltiplos e submúltiplos decimais do SI ..................................................................... 31 Unidades fora do SI e conversão de unidades .......................................................... 32 Análise dimensional ........................................................................................................ 35 Sintetizando ........................................................................................................................... 39 Referências bibliográficas ................................................................................................. 40 Sumário SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 4 08/05/20 11:17 Sumário Unidade 2 - Metrologia e movimento retilíneo Objetivos da unidade ........................................................................................................... 42 Metrologia ............................................................................................................................. 43 Áreas da Metrologia ....................................................................................................... 43 Estatística aplicada à Metrologia ................................................................................. 44 Erro ..................................................................................................................................... 44 Desvios .............................................................................................................................. 45 Intervalo de confiança .................................................................................................... 48 Determinação do erro de escala .................................................................................. 50 Propagação de erros ...................................................................................................... 51 Movimento retilíneo............................................................................................................. 53 Sistema de referências, posição e deslocamento .................................................... 54 Velocidade média ............................................................................................................ 57 Velocidade instantânea .................................................................................................. 59 Aceleração ....................................................................................................................... 61 Relação entre os gráficos de x(t), vx(t) e ax(t) ............................................................. 64 Movimento uniforme e movimento uniformemente acelerado ............................... 65 Queda livre ........................................................................................................................ 69 Sintetizando ........................................................................................................................... 72 Referências bibliográficas ................................................................................................. 74 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 5 08/05/20 11:17 Sumário Unidade 3 - Cargas elétricas e forças elétricas Objetivos da unidade ...........................................................................................................76 Vetores .................................................................................................................................... 77 Soma e subtração de vetores ....................................................................................... 79 Componentes de vetores ............................................................................................... 82 Vetores unitários .............................................................................................................. 86 Multiplicação de vetores ............................................................................................... 87 Movimento em duas e três dimensões: vetor posição e velocidade e vetor aceleração..............................................................................................................92 Casos especiais: movimento de um projétil e movimento circular uniforme ................. 99 Sintetizando ......................................................................................................................... 106 Referências bibliográficas ............................................................................................... 107 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 6 08/05/20 11:17 Sumário Unidade 4 - Força e movimento, tipos de energia e conceito de trabalho Objetivos da unidade ......................................................................................................... 109 Força e movimento ............................................................................................................. 110 Leis de Newton .............................................................................................................. 113 Diagramas de corpo livre e aplicações ..................................................................... 116 Energia cinética e trabalho .............................................................................................. 119 Teorema do trabalho-energia ...................................................................................... 122 Trabalho e energia com forças variáveis .................................................................. 123 Potência .......................................................................................................................... 127 Energia potencial e conservação de energia ............................................................... 129 Conservação de energia .............................................................................................. 132 Forças conservativas e não conservativas .............................................................. 135 Diagrama de energia .................................................................................................... 137 Sintetizando ......................................................................................................................... 141 Referências bibliográficas ............................................................................................... 143 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 7 08/05/20 11:17 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 8 08/05/20 11:17 Na disciplina de Física Geral e Experimental, abordaremos conteúdos rela- cionados à medição e metrologia, ao Sistema Internacional de Unidades (SI), vetores e mecânica básica. Esses conteúdos são fundamentais para a práti- ca experimental das ciências e também para a indústria e profi ssões técnicas. Muitos fenômenos físicos, como o movimento de um corpo, são caracterizados por possuírem uma direção e sentido no espaço e podem ser mais bem ex- plicados como fenômenos vetoriais. Assim, compreender o que são vetores e saber trabalhar com eles é indispensável para o entendimento de campos da engenharia como o fenômeno de transporte. Além disso, a mecânica é a par- te da física que estuda o movimento dos corpos. As equações que permitem calcular a velocidade e posição de um corpo em movimento, as leis de Newton que explicam a atuação das forças em um corpo e os fundamentos de energia e trabalho serão temas abordados nesta disciplina e constituem o arcabouço de conhecimento de um engenheiro. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 9 Apresentação SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 9 08/05/20 11:17 Dedico esta produção aos professores que tive desde o ensino médio, no colégio técnico de Lorena, até a graduação na Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo. A professora Stéphanie Fonseca é mestre em Engenharia Química pela Universidade Federal de Santa Cata- rina (2015) e graduada em Engenharia Industrial Química pela Escola de En- genharia da Universidade de São Pau- lo (2009). Atuou profi ssionalmente em multinacionais da indústria química nas áreas de processo, projeto, saúde, segurança e meio ambiente. Exercitou a docência nas disciplinas de Estáti- ca, Termodinâmica e Fenômenos de Transporte, além de produzir conteú- dos para EAD. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3814286707387989/ FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 10 A autora SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 10 08/05/20 11:18 FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 11 Eu dedico este livro aos meus pais por me proporcionarem uma formação pessoal e acadêmica de qualidade, mesmo com todas as difi culdades. Dedico à minha orientadora acadêmica, sempre presente, me apoiando e me incentivando em minhas atividades. Por fi m, dedico ao meu marido pela compreensão e apoio. A professora Juliana Ikebe Otomo é doutora em Tecnologia Nuclear – ma- teriais pelo Instituto de Pesquisas Ener- géticas e Nucleares (IPEN) em 2015, mestra em Tecnologia Nuclear pela Universidade de São Paulo (2010) e gra- duada em Engenharia Ambiental (2007) pela Faculdade Oswaldo Cruz. Traba- lha, desde 2016, como professora do curso de Engenharia Civil, lecionando disciplinas de Hidráulica, Saneamento, Fenômenos de Transporte, Instalações Hidráulicas Prediais, Cinemática e Dinâ- mica, Cálculo Diferencial e Integral. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1635328092311925 A autora SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 11 08/05/20 11:18 MEDIÇÃO E SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES 1 UNIDADE SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 12 08/05/20 11:20 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Compreender o conceito e definição de medição; Compreender o que é uma grandeza; Conhecer os principais sistemas de medição e compreender seus fundamentos; Conhecer conceitos básicos sobre instrumentos de medição; Compreender os conceitos de exatidão e precisão; Compreender o que são algarismos significativos, saber como arredondá-los e como efetuar cálculos básicos com os mesmos; Conhecer os motivos e processo de criação do Sistema Internacional de Unidades (SI); Conhecer as unidades de base e compreender suas definições; Conhecer as principais unidades derivadas do SI; Saber como converter unidades de sistemas diferentes; Compreender o que é dimensão e saber analisar de forma dimensional uma equação. Medição Grandezas Definição de medição Instrumentos de medição Exatidão e precisão Métodos e procedimentos de medição Algarismos significativos Sistema Internacional de Unidades (SI) Unidades de base do SI Unidades derivadas do SI Múltiplos e submúltiplos decimais do SI Unidades fora do SI e conver- são de unidades Análise dimensional FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 13 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 13 08/05/20 11:20 Medição Medir é um dos pilares da física e da engenharia. De fato, os fenômenos físicos só podem ser estudados e descritos se for- mos capazes de medir as quantidades associadas a eles. Tome como exemplo um carrinho de fricção que se desloca em uma mesa entre os pontos A e B. Como você poderia descrever esse deslocamento? Você deve estar pensando que pode descrever o deslocamento do carrinho se me- dir a distância entre os pontos A e B, cronometrar o tempo do deslocamento e que também pode calcular a velocidade média do carrinho ao dividir a distân-cia pelo tempo. Pronto, você já tem uma descrição do movimento do carrinho a partir de duas medidas e um cálculo simples. Toda obra de engenharia, desde as pirâmides até as sondas espaciais, foi cons- truída com sucesso graças à capacidade humana de medir, isto é, de comparar uma determinada quantidade com outra que sirva como padrão de referência. Os primeiros padrões foram objetos naturais, como pedras e partes do corpo humano. O cúbito real egípcio, por exemplo, era a medida entre o cotovelo e a ponta do dedo médio do braço do faraó, e sua medida era de aproximadamente 524 mm. Como forma de padronizar tal medida, foi confeccionado um padrão em granito com o qual outras réguas e bastões eram padronizados. A efi cácia do em- prego do cúbito real egípcio e sua padronização foram tais que, embora a Grande Pirâmide de Gizé tenha sido construída por milhares de trabalhadores, os quatro lados de sua base possuem um erro médio percentual de apenas 0,05. A propósi- to, a média do comprimento dos quatro lados é de 230,364 m, o que indica que, originalmente, os lados da Grande Pirâmide mediam 440 cúbitos reais. Grandezas O volume de água em um reservatório, o comprimento de uma distância percorrida, a massa específi ca de uma substância, a velocidade de um automó- vel, a pressão atmosférica, a concentração de cloreto de sódio e glicose no soro fi siológico e a aceleração da gravidade são alguns exemplos de quantidades importantes para a atividade humana. Em física, chamamos estas quantidades de grandezas. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 14 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 14 08/05/20 11:20 Grandeza é a propriedade de um fenômeno, corpo ou substância que pode ser expressa quantitativamente sob a forma de um número e uma referência. Vamos compreender melhor esta defi nição por meio de alguns exemplos: 1) A duração da queda livre de uma maçã é uma propriedade defi nida pela grandeza chamada tempo, que pode ser expressa numericamente com ajuda de um cronômetro e por uma referência chamada segundo. A duração da queda da maçã durou 0,5 segundo. propriedade fenômeno referência número 2) A altura de um tanque de petróleo é uma propriedade de um corpo de- fi nida pela grandeza chamada comprimento. Ele pode ser expresso quanti- tativamente por um valor numérico e por uma referência que, neste caso, é a unidade de comprimento chamada metro. A altura de um tanque de petróleo é igual a dez metros. propriedade corpo referência número 3) O ponto de ebulição da água é uma propriedade física que pode ser ex- pressa sob a forma de um número e uma referência. A temperatura de ebulição da água é igual a 100 °C. propriedade substância referência número Nos exemplos anteriores, as referências são unidades de medida, mas tam- bém podem ser um procedimento de medição ou um material de referência. As grandezas podem ser classificadas conforme sua natureza. Calor, trabalho e energia cinética são grandezas da mesma natureza, a FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 15 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 15 08/05/20 11:20 energia. Para a física e engenharia, é bastante útil classificá-las como grandezas como de base e derivadas. As grandezas de base são escolhidas por convenção; em função delas são defi nidas as grandezas derivadas. Comprimento, massa e tempo são exem- plos de grandezas de base. Todas as grandezas derivadas são obtidas por meio de equações que relacionam as grandezas entre si. Exemplos: • A velocidade (v) é uma grandeza derivada obtida pela equação v = x/t, que relaciona duas grandezas de base: o comprimento do espaço percorrido x e o tempo t de duração do deslocamento; • A aceleração (a) é uma grandeza derivada obtida pela equação a = v/t, que relaciona uma grandeza derivada (v) com uma grandeza de base (t). Definição de medição Agora que você já conhece e entende o que são grandezas, já pode compreen- der a defi nição de medição. Se você defi nir o seu palmo como um padrão de referência para comprimento, poderá medir a largura de uma estante e verifi car se ela cabe em um espaço do seu escritório. Assim, podemos defi nir que medir é comparar uma grandeza com outra grandeza padrão de mesma natureza. Dentro do vocabulário técnico, cha- mamos a grandeza que desejamos medir de mensurando ou mensuranda. Já a medição relaciona-se com o método que utilizamos para medir uma gran- deza, e é defi nida como o processo de obtenção experimental de um ou mais va- lores que podem ser razoavelmente atribuídos a uma grandeza. Instrumentos de medição Para medirmos o valor de uma grandeza, dependemos de instrumentos de medição adequados. Exemplos: • Termômetro de infravermelho: utilizado para medir a temperatura de superfícies e corpos com base na radiação emitida por eles; • Termômetro de imersão: utilizado para medir a temperatura de subs- tâncias líquidas e viscosas; FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 16 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 16 08/05/20 11:20 • Transferidor: para medir ângulos; • Barômetro: para medir a pressão atmosférica; • Manômetro: para medir a pressão exercida por líquidos e gases; • Psicrômetro: mede a umidade relativa do ar; • Voltímetro: permite medir a diferença de potencial elétrico entre dois pontos de um circuito elétrico; • Amperímetro: permite medir a intensidade da corrente elétrica que atravessa um condutor; • Ohmímetro: mede a resistência elétrica de um componente ou circuito elétrico; • Densímetro: mede a densidade de um líquido. As características mais importantes de um instrumento de medição são sua faixa de medição, resolução, exatidão e precisão. A faixa de medição se refere à faixa de valores que o instrumento pode medir; por exemplo, um ter- mômetro pode ter uma faixa de me- dição entre 0 e 100 ºC. A resolução é outra característica importante e se refere à menor fração de uma di- mensão que o instrumento é capaz de medir. Uma régua comum, por exemplo, está graduada em centí- metros e milímetros, assim sua re- solução é de 0,1 mm. Exatidão e precisão A exatidão refl ete quanto o resultado de uma medição está próximo do va- lor real mensurado. A precisão refl ete quanto os valores dos resultados de uma medição estão próximos. Se você for brincar de lançar fl echas em um alvo, seu objetivo será acertar todas no centro do alvo; contudo, o resultado dependerá da sua habilidade ou falta dela. Você será preciso se acertar todas as fl echas próximas umas das outras e exato se acertar todas as fl echas no centro do alvo. Vamos entender melhor analisando a Figura 1: FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 17 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 17 08/05/20 11:21 Precisão: não Exatidão: não Precisão: sim Exatidão: não Precisão: não Exatidão: sim Precisão: sim Exatidão: sim A B C D Figura 1. Exemplo ilustrando os conceitos de precisão e exatidão. No caso A, as fl echas estão dispersas, demonstrando baixa precisão. A maior parte delas está distante do centro do alvo, o que mostra baixa exatidão. No caso B, as fl echas estão bem próximas umas das outras, demons- trando alta precisão, contudo, estão longe do centro do alvo, demonstrado baixa exatidão. No caso C, as fl echas estão dispersas, porém todas em torno do alvo, o que demonstra baixa precisão e boa exatidão, respectivamente. Já no caso D, todas as fl echas estão bem próximas umas das outras e no cen- tro do alvo. Temos, então, alta precisão e alta exatidão, concomitantemente. É importante saber que um instrumento de medição pode ter diferentes graus de exatidão ao longo de sua faixa de medição; e também é importante consultar esta informação na fi cha técnica do instrumento. Os instrumentos de medição podem ser classifi cados quanto a sua função, isto é, para que tipos de grandeza são usados; e quanto a sua exatidão. Um paquímetro é um instru- mento de medição de comprimento mais exato que uma régua, por exemplo. Métodos e procedimento de medição Os métodos de medição podem ser classifi cados de diversas formas.Adiante, abordaremos a classifi cação entre métodos diretos e indiretos. Método direto: é o mais simples dos métodos de medição, pois nele obte- mos o valor da variável de interesse diretamente, sem necessidade de cálculos posteriores. Temos alguns exemplos de medição direta a seguir. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 18 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 18 08/05/20 11:21 1) Usar um voltímetro para medir a diferença de potencial entre dois pontos de um circuito elétrico; 2) Usar uma balança de precisão para medir a massa de um reagente químico; 3) Usar um manômetro para medir a pressão interna em um reator químico; 4) Medir o diâmetro interno de uma rosca utilizando um paquímetro; 5) Medir o pé direito de uma sala utilizando uma trena. Você pode observar nos exemplos que os instrumentos de medição for- necem diretamente o valor da grandeza que precisamos medir. Basta que você verifique o valor no mostrador ou escala do instrumento. Método indireto: neste caso, medimos diretamente o valor de outras gran- dezas que se relacionam matematicamente com a grandeza de interesse. O re- sultado final é obtido por meio de cálculos. A seguir veremos alguns exemplos. 1) Para determinar o volume V de um tanque cilíndrico, você pode medir o diâmetro d e a altura y do tanque (duas medições diretas) e obter o volume por meio da equação que relaciona o volume de um cilindro ao seu diâmetro e altura: V = y ∙ π ∙ d 2 4 2) Para determinar a resistência R de um cabo metálico num circuito elé- trico, você pode medir a corrente elétrica I que percorre o cabo e a diferença de potencial V entre dois pontos do cabo utilizando um amperímetro e um voltímetro, respectivamente. De posse desses dois valores, você pode de- terminar o valor da resistência por meio da equação: R = I/I 3) Podemos medir a massa específica ρ de um líquido se medirmos sua massa m em uma balança e tomarmos o seu volume V em uma proveta, que é um tubo graduado, usado para realizar a medição direta do volume de líquidos. Utilizando a equação a seguir, você obtém o valor da massa específica: ρ = m/V A escolha do método de medição depende de diversos fatores: custo e disponibilidade dos instrumentos de medição, complexidade do método e nível de precisão desejado. Por exemplo, a massa específica de um líquido pode ser medida diretamen- te se utilizarmos um instrumento chamado densímetro, mas, na falta dele, FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 19 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 19 08/05/20 11:21 podemos proceder como no exemplo 3. Por outro lado, a massa específica ρ de uma solução está proporcionalmente relacionada com sua concentração c; as- sim, podemos utilizar o densímetro para medir indiretamente a concentração de uma solução. Esta forma é bastante utilizada para medir o teor de água no álcool hidratado. Já um procedimento de medição é uma descrição detalhada de como efe- tuar uma determinada medição, definindo, por exemplo, em quais princípios de medição o procedimento se baseia, qual é método de medição empregado, quais instrumentos devem ser utilizados, sob quais condições a medição deve ser realizada, quais cálculos devem ser efetuados, etc. Nas empresas e insti- tuições de pesquisa, esses procedimentos são padronizados e chamados de Procedimentos Operacionais Padrão, usualmente conhecidos como POP. EXPLICANDO O princípio de medição é o fenômeno físico que serve de base para uma medição. A absorção de energia de uma solução pode ser utilizada como princípio de medição da concentração de uma substância. O resultado de uma medição depende de diversos fatores: • Instrumentos de medição: devem estar devidamente calibrados. Sua exatidão, precisão, resolução e faixa de medição devem ser conhecidos e ade- quados para o processo de medição; • Rastreabilidade metrológica: o resultado da medição pode ser relacionado a uma referência por meio de uma cadeia ininter- rupta e documentada de calibrações. Padrões e instrumen- tos utilizados numa medição, bem como suas calibrações, devem possuir rastreabilidade metrológica; • Fator humano: o analista precisa compreender o método e o procedimento de medição, ser treinado e capacitado para utilizar os instru- mentos de medição, manusear amostras e analisar os resultados; • Condições ambientais: temperatura, umidade do ar, barulhos e cam- pos eletromagnéticos podem interferir no resultado obtido. O volume de uma substância, por exemplo, varia em função da temperatura por conta da dilatação. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 20 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 20 08/05/20 11:21 Sempre que você for efetuar uma medição, deve analisar a existência e grau de interferência desses fatores e, sempre que necessário, deve tomar medidas para eliminar ou diminuir a interferência deles. A amostra é outro fator de maior importância no resultado de uma medi- ção e, por isso, iremos explorar um pouco mais este conceito. Imagine que você trabalhe em uma indústria de tubos fl exíveis que produz 15.000 unidades de um modelo por mês. Como você faria para verifi car se estes tubos possuem a dimensão de comprimento em conformidade com a especifi cação? Obviamen- te, medir o comprimento de cada um seria inviável. Uma forma de responder ao problema é selecionar uma amostra, isto é, uma parte representativa do todo que, uma vez analisada e medida, possibilita atribuir os resultados encontrados ao todo. É importante que você saiba que a amostragem deve ser feita conforme critérios estabelecidos por normas. Algarismos significativos Devido a fatores como qualidade do instrumento de medição, calibração, corpo de provas, habilidade do profi ssional e número de medições realiza- das, o resultado de uma medição está dentro daquilo que chamamos de limite de incerteza. Imagine que você realizou um experimento para medir a concentra- ção de uma solução aquosa de cloreto de sódio. Após repetir a análise um determinado número de vezes, o valor mais provável obtido para a concentração foi 10,35 g/dm3, e a variação máxima no conjunto das me- dições foi de 0,2 g/dm3. A princípio, você expressaria o resultado final como c = (10,35 ± 0,2) g ∙ dm3. Nesse momento, você nota que a variação da medição afeta a primeira casa decimal do valor mais provável de con- centração, portanto, não faz sentido expressar o valor de concentração com duas casas decimais, pois já existe incerteza na primeira casa; desta forma, o quarto algarismo deixou de ser significativo. Como consequên- cia, o resultado da medição deve se expresso como c = (10,3 ± 0,2) g ∙ dm3, significando que a concentração pode ser algum valor entre 10,1 g/dm3 e 10,5 g/dm3. Em outras palavras, é possível dizer que os dois primeiros algarismos estão corretos, mas há dúvida sobre o terceiro. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 21 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 21 08/05/20 11:21 A partir dessas considerações, podemos dizer que algarismos significa- tivos de uma medição são aqueles que podem ser considerados corretos, a contar do primeiro diferente do zero, acrescido do último, que é considerado algarismo duvidoso. Em outras palavras, os algarismos significativos expres- sam o grau de certeza de uma medição. O último algarismo sempre será duvidoso. Veja a Figura 2, que mostra um termômetro cuja faixa de medição é entre 10 ºC e 80 ºC, com resolução de 5 ºC. A princípio, poderíamos dizer que o termômetro está marcando 65 ºC, contudo, não podemos afirmar com certeza que a altura da coluna de líquido está posicionada exatamente em 65 ºC. Por isso, o algarismo cinco apresenta uma incerteza, motivo pelo qual é chamado de algarismo significativo duvidoso. 80 ºC 70 ºC 60 ºC 50 ºC 40 ºC 30 ºC 20 ºC 10 ºC Figura 2. Termômetro graduado em graus Celsius. Notação científica Em trabalhos científicos, como teses e artigos, os valores numéricos das grandezas são escritos sob a forma de notação científica, que nada mais é que escrever um número referindo-se à potência dedez, conservando-se apenas um dígito diferente de zero à esquerda da vírgula. Vejamos alguns exemplos: a) 300 = 3,00 ∙ 102: três algarismos significativos; b) 10576 = 1,0576 ∙ 104: cinco algarismos significativos; FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 22 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 22 08/05/20 11:21 c) 0,00357 = 3,57 ∙ 10-3: três algarismos significativos; d) 1,001 = 1,001: quatro algarismos significativos. A notação científica permite a rápida visualização da quantidade de algaris- mos significativos e da ordem de grandeza (potência). Regras sobre algarismos significativos: 1) Os zeros não são significativos quando estão situados à esquerda do pri- meiro algarismo não nulo; 2) Os zeros à direita só devem ser escritos quando temos a certeza de que são significativos. Exemplos: a) 3,5400 ∙ 104: possui cinco algarismos significativos; b) 3503 m: possui cinco algarismos significativos; c) 0,0123 A: possui três algarismos significativos, os zeros à esquerda ser- vem apenas para indicar que o valor da grandeza é menos que a unidade; d) 220 V: possui três algarismos significativos. Regras de arredondamento Quando uma medida possui mais algarismos significativos do que necessi- tamos, devemos conservar apenas os algarismos de nosso interesse. Exemplo: a medição das dimensões de uma mureta resultou em 95,328 cm de altura e 200,541 cm de comprimento. Mas para os seus propósitos, apenas três algarismos significativos são suficientes. Como você deve reescrever os resultados? Você pode especular e sobrescrever a altura como 95,33 cm, arredon- dando para cima; ou 95,32 cm, arredondando para baixo. Devemos esco- lher a opção que esteja mais próxima do valor medido. Para isso, vamos analisar o erro associado a cada uma delas e escolher aquela que apresen- ta o menor erro. erro95,33 cm = (95,33 - 95,328) cm = 0,002 cm erro95,32 cm = (95,328 - 95,32) cm = 0,008 cm O menor erro ocorre quando arredondamos para cima, portanto, você de- verá reescrever a altura como 95,33 cm. Apliquemos o método anterior ao valor do comprimento: erro200,55 cm = (200,55 - 200,541) cm = 0,009 cm erro200,54 cm = (200,541 - 200,54) cm = 0,001cm FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 23 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 23 08/05/20 11:21 Como o menor erro ocorre quando arredondamos para baixo, o comprimen- to deve ser apresentado como 200,54 cm. No entanto, você não precisa calcular erros cada vez que tiver que arredon- dar um número, pois foram criadas regras de arredondamento com base nos fundamentos expostos nesse exemplo. Vejamos quais são estas regras. 1) Se o algarismo a ser conservado for seguido de algarismo inferior a cinco, permanece aquele a ser conservado e retiram-se os algarismos posteriores. Exemplos: a) Arredondando-se 2,311 à primeira casa decimal, tem-se 2,3. b) Arredondando-se 5,3113 à segunda casa decimal, tem-se 5,31. 2) Se o algarismo a ser conservado for seguido de algarismo superior ou igual a cinco, seguido de no mínimo um algarismo diferente de zero, deve ser somada uma unidade ao algarismo a ser conservado e retiram-se os posteriores. Exemplos: a) Arredondando-se 2,6677 à segunda casa decimal, tem-se 2,67; b) Arredondando-se 2,4501 à primeira casa decimal, tem-se 2,5. 3) Se o algarismo a ser conservado for ímpar, seguido de cinco e posterior- mente de zeros, deve ser somada uma unidade ao algarismo a ser conservado e retiram-se os posteriores. Exemplos: a) Arredondando-se 8,750 à primeira casa decimal, tem-se 8,8; b) Arredondando-se 21,33500 à segunda casa decimal, tem-se 21,34. 4) Se o algarismo a ser conservado for par, seguido de cinco e posteriormente de zero, permanece o algarismo a ser conservado e retiram-se os posteriores. Exemplos: a) Arredondando-se 2,4500 à primeira casa decimal, tem-se 2,4; b) Arredondando-se 10,62500 à segunda casa decimal, tem-se 10,62. Operações com algarismos significativos Ao efetuarmos cálculos devemos ter cuidado para que o resultado final con- tenha apenas algarismos significativos. Para isso, as seguintes regras devem ser seguidas: 1) Na soma e subtração as parcelas são somadas ou subtraídas normalmen- te. O resultado final deverá ter o mesmo número de casas decimais da parcela que possui o menor número de casas. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 24 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 24 08/05/20 11:21 Exemplos: a) (30,10 + 45,555 + 23,489) m = 99,144 m. Como a parcela 30,10 apresenta apenas duas casas decimais, o resultado final será 99,14 m. b) (25,051 – 1,8977) m = 23,1533 m. Aplicando a regra, o resultado final será 23,153 m. 2) Na multiplicação calculamos o produto, e o resultado final deve ter o mesmo número de algarismos significativos do fator que tiver o menor número de algaris- mos significativos. Exemplo: 23,4556m ∙ 1,75 m = 41,0473 m2. Como o segundo fator possui apenas três algarismos significativos, o resultado final será 41,0 m2. 3) Na divisão obtemos o quociente normalmente, verifica-se se o dividendo ou divisor possui o menor número de algarismos significativos, e o resultado final terá este mesmo número de algarismos significativos. Exemplos: a) 75,25 m / 1,2555 s = 59,93628037 m/s. Neste caso, o dividendo 75,25 possui apenas quatro algarismos significativos. O resultado final da divisão será 59,94. b) 2750 g / 2,25 cm3 = 1 222, 222 222 g/cm3. Repare que, nesse exemplo, o divisor possui três algarismos significativos; por isso, não podemos expressar o resultado como 1222 g /cm3. Quando isto acontece, o resultado deve ser escrito em forma de notação científica, assim: 1,22 ∙ 103 g/cm3. Ao calcular a raiz quadrada de um número de n algarismos significativos, o resultado terá n ou n + 1 algarismos significativos. Exemplos: c) 25,25 = 5,024937811.√ Aplicando a regra: 25,25 = 5,025.√ d) 10000 = 100,000.√ 4) Em cálculos longos que envolvem operações mistas, devem ser utilizados quantos dígitos forem possíveis em todo o conjunto de cálculos e, no final, arre- dondar o resultado de forma adequada. Isso pode ser feito com uma calculadora científica ou gráfica. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 25 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 25 08/05/20 11:21 Sistema Internacional de Unidades (SI) Por milênios, diferentes povos, culturas e países adotaram sistemas de unidades próprios. O sistema inglês de medidas, por exemplo, é comum dentro da engenha- ria até os dias atuais. Mas como você pode deduzir, um sistema internacional único promove o avanço tecnológico e benefi cia as transações comerciais entre países. O embrião daquilo que conhecemos como sistema métrico foi proposto por Ga- briel Mouton, um vicário de Lyon e renomado matemático e astrônomo. Ele propôs, como referência de comprimento, a medida linear de um arco de um minuto ao longo de um meridiano terrestre. Essa medida seria dividida de forma decimal. EXPLICANDO Um arco é um trecho entre dois pontos de uma curva. No caso de uma circunferência, um arco tem uma medida linear e uma medida angular. A medida angular pode ser em graus, sendo que cada grau pode ser subdi- vido em 60 minutos e cada minuto subdivido em 60 segundos. Assim, um arco de um minuto mede aproximadamente 0,0167º. A proposta de Mouton aguardou mais de um século até a criação da Assembleia Nacional durante a Revolução Francesa para que fosse discutida em âmbito político. Em abril de 1790, Charles-Maurice de Talleyrand trouxe o assunto para o debate e en- caminhou a discussão técnica para a Academia Francesa de Ciências. Por fi m, o metro foi defi nido como um décimo de milionésimo (1/10000000), do Polo Norte ao Equa- dor, pelo meridiano de Paris. As expedições realizadas entre 1792 e 1799 determina- ram este comprimento por meio da medição da distância entre as cidades de Dun- querque, na França, e Barcelona, na Espanha. As unidades de volume e massa foram padronizadas a partir dos múltiplos e submúltiplos do metro. O grama foi defi nido como a massa de água pura que ocupa um centímetro cúbico e o litro como o volume de águaque ocupa um decímetro cúbico. Foram criados dois padrões de platina, um para o metro e outro para o quilograma e, assim, em 22 de junho de 1979, foi criado o Exemplo: 4,00 1,345 + 1,234 + (3,78 ∙ 1,2) = 8,7. O resultado fi nal foi limitado pela última operação, que deve conter um nú- mero de apenas dois algarismos signifi cativos e uma casa decimal. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 26 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 26 08/05/20 11:21 Sistema Métrico Decimal, no qual as unidades de comprimento, massa e peso são interligadas e derivam de um padrão universal e invariável. A Convenção do Metro foi assinada em 20 de maio de 1875 por 17 países (incluindo o Brasil) e estabeleceu: • A criação do Bureau Internacional de Pesos e Medidas (BIPM); • O Comitê Internacional de Pesos e Medidas (CIPM), que supervisiona as ativi- dades do BIPM; • A Conferência Geral de Pesos e Medidas (CGPM), que atual- mente ocorre a cada quatro anos e reúne delegados de todos os estados membros da Convenção do Metro. Após a Convenção do Metro, foram construídos novos protótipos internacionais para o metro e o quilograma, e o segundo foi adotado como unidade de tempo. A partir de então, o sistema métrico foi revisado periodicamente, adotando e defi nindo novas grandezas e unidades. O Sistema Internacional de Unidades, tal como conhece- mos hoje, foi ofi cializado na 14ª CGPM, em 1975. Unidades de base do SI Um sistema de unidades precisa ser associado a um sistema de grandezas. As grandezas de base do SI são: comprimento, massa, tempo, corrente elétrica, tem- peratura termodinâmica, quantidade de substância e intensidade luminosa. As unidades de base do SI são defi nidas sob aprovação da CGPM e revisadas de modo a acompanharem o desenvolvimento da ciência. Atualmente, todas as defi nições são baseadas em constantes físicas imutáveis, como a velocidade da luz, período de emissão atômica e a constante de Planck. Vamos dedicar algum tempo para conhecer e compreender as defi nições das unidades de comprimento, massa e tempo, pois essas são as grandezas fundamentais da mecânica e comuns a todas as áreas da física. O segundo A defi nição do segundo é complexa e envolve noções e termos de física atômica e quântica: O segundo, símbolo “s”, é a unidade de tempo do SI. É defi nido ao fi xar- -se o valor numérico da frequência de transição hiperfi na ∆vCs do átomo de césio 133 em seu estado fundamental como sendo 9.192.631.770 quando expressa na unidade Hz, que é igual a s-1 (SOCIEDADE BRASILEI- FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 27 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 27 08/05/20 11:21 RA DE METROLOGIA, 2019, p. 9). Esta definição se baseia no fato de que os átomos emitem energia de maneira periódica, isto é, em intervalos de tempo constantes. Veja que, em termos mais simples, você pode compreender a definição de segundo como sendo baseada na duração do período de emissão atómica do césio 133: um segundo é igual à duração de 9.192.631.770 períodos de emissão atômica do átomo de césio 133. O metro A unidade de comprimento, o metro, já foi definida com base em uma barra de platina-irídio. Posteriormente, sua definição se baseou no comprimento de onda de uma radiação de criptônio 86. Em 1983, a 17º CGPM estabeleceu que o metro se define como o comprimento do trajeto percorrido pela luz no vácuo durante um intervalo de tempo de 1/299.792.458 de segundo (SOCIEDADE BRA- SILEIRA DE METROLOGIA, 2019, p. 10). Repare que, como consequência da definição do metro, a velocidade da luz no vácuo ficou determinada como c0 = 299792458 m/s. O quilograma O primeiro protótipo do quilograma é um artefato de platina-irídio que foi sancionado na 1º CGPM em 1889. Na 3ºCGPM foi estabelecida que o quilograma é a unidade de massa; ele é igual à massa do protótipo interna- cional do quilograma (SOCIEDADE BRASILEIRA DE METROLOGIA, 2019, p. 4). Apesar de todos os cuidados para preservar o protótipo do quilograma, ele sofre o acúmulo de impurezas em sua superfície. Por isso, antes de ser usado para calibrar outros padrões internacionais, precisa ser lavado con- forme uma metodologia específica. Em novembro de 2018, graças aos avanços da tecnologia, foi finalmente ofi- cializada a redefinição do quilograma com base em uma constante física: O quilograma, de símbolo kg, é a unidade de massa do SI. Ele é definido ao fixar-se o valor numérico da constante de Planck h como sendo 6,626070 15 ∙ 10−34 quando expressa na unidade J s, que é igual a kg m2 s-1, onde o metro e o segundo são definidos em termos de ce∆vCs (SOCIEDADE BRASILEIRA DE METROLOGIA, 2019, p. 7). Para cada grandeza de base é atribuída uma unidade de base, como FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 28 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 28 08/05/20 11:21 ASSISTA O vídeo Comunidade científi ca põe fi m ao padrão físico do quilograma, da agência EFE, aborda o fi m do uso do cilindro de platina-irídio como padrão de unidade de massa, bem como a redefi nição do quilograma com base na constante de Planck e o impacto positivo desta mudança para o avanço da ciência e tecnologia. você pode ver no Quadro 1. GRANDEZA DE BASE UNIDADE DE BASE DO SI Nome Símbolo Nome Símbolo Comprimento l, x, r, etc. Metro m Massa m Quilograma kg Tempo t Segundo s Corrente elétrica I, i Ampere A Temperatura termodinâmica T Kelvin K Quantidade de substância n Mol mol Intensidade luminosa Iv Candela cd ComprimentoComprimentoComprimentoComprimentoComprimento MassaMassa TempoTempo Corrente elétrica l, x, r, etc. Corrente elétrica l, x, r, etc. Corrente elétrica Temperatura termodinâmica l, x, r, etc. Corrente elétrica Temperatura termodinâmica m Corrente elétrica Temperatura termodinâmica Quantidade de Temperatura termodinâmica Quantidade de substância termodinâmica Quantidade de substância Intensidade luminosa Quantidade de substância Intensidade luminosa Quantidade de substância Intensidade luminosa Metro I, i Intensidade luminosa Metro Quilograma Intensidade luminosa Quilograma T Intensidade luminosa QuilogramaQuilograma SegundoSegundoSegundo Ampere m Ampere Iv Ampere Kelvin kg Kelvin Mol s Mol Candela A CandelaCandela molmol cd QUADRO 1. UNIDADES DE BASE DO SI Fonte: INMETRO, 2012a, p. 28. (Adaptado). Unidades derivadas do SI Assim como acontece com as grandezas, as unidades derivadas também são formadas pelos produtos das unidades de base. O Quadro 2 apresenta as principais unidades derivadas dentro do SI. Vamos ver? FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 29 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 29 08/05/20 11:21 GRANDEZA DERIVADA UNIDADE DERIVADA DO SI Nome Símbolo Nome Símbolo Área A Metro m2 Volume V Quilograma m3 Velocidade v Segundo m/s Aceleração a Ampere m/s2 Massa específi ca ρ Kelvin kg/m3 Campo magnético H Mol A/m Concentração de substância C Candela mol/m 3 ÁreaÁrea VolumeVolume Velocidade Volume Velocidade Aceleração Velocidade Aceleração Massa específi ca Aceleração Massa específi ca Campo magnético Aceleração Massa específi ca Campo magnético Massa específi ca Campo magnético Concentração de substância Massa específi ca Campo magnético Concentração de substância V Campo magnético Concentração de substância v Campo magnético Concentração de substânciade substância a ρ Metro H Metro QuilogramaQuilograma Segundo C Quilograma Segundo Quilograma Segundo AmpereAmpereAmpere KelvinKelvin Mol m2 Mol Candela m Candela m/s Candela m/s m/s kg/mkg/m3 A/mA/m mol/mmol/mmol/m3 Fonte: INMETRO, 2012a, p. 29. (Adaptado). Fonte: INMETRO, 2012a, p. 30. (Adaptado). O Quadro 3 apresenta algumas unidades que possuem nomes e símbolos especiais que simplifi cam a expressão de grandezas mais complexas como força e energia. QUADRO 2. UNIDADES DERIVADAS DO SI QUADRO 3. EXEMPLOS DE UNIDADES SI DERIVADAS QUE POSSUEM NOMES E SÍMBOLOS ESPECIAIS GRANDEZA DERIVADA UNIDADE SI DERIVADA Nome Símbolo Expressão utilizando outras unidadesdo SI Expressão em unidades de base do SI Ângulo plano Radiano rad 1 m/m Força Newton N m kg s-2 Pressão Pascal Pa N/m2 m-1 kg s-2 Energia, trabalho, quantidade de calor Joule J N m m2 kg s-2 Potência Watt W J/s m2 kg s-3 Diferença de potencial elétrico Volt V W/A m 2 kg s-3 A-1 Ângulo planoÂngulo planoÂngulo planoÂngulo plano ForçaForça Pressão Energia, trabalho, Pressão Energia, trabalho, Radiano Pressão Energia, trabalho, quantidade Radiano Energia, trabalho, quantidade de calor Radiano Newton Energia, trabalho, quantidade de calor Potência Newton Energia, trabalho, quantidade de calor Potência Diferença de Pascal Potência Diferença de potencial elétrico rad Pascal Diferença de potencial elétrico rad Joule Diferença de potencial elétrico N Joule Diferença de potencial elétrico Watt potencial elétrico Pa Watt 1 J Volt W N/mN/m2 V m/m N m m/m m kg s J/s m kg s-2 m kg s W/A kg s-2 W/A 2 kg skg s-2 m2 kg s kg skg s-3 A-1 FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 30 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 30 08/05/20 11:21 CURIOSIDADE A unidade de força recebe o nome de newton em homenagem ao físico Sir Isaac Newton, que foi pioneiro no estudo da mecânica. Já a unidade de energia recebe o nome de joule em homenagem ao físico inglês Ja- mes Joule, que demonstrou que a energia em forma de calor poderia ser transformada em trabalho mecânico, o que permitiu o desenvolvimento de máquinas térmicas. O Quadro 4 mostra alguns exemplos de unidades derivadas que possuem nomes formados por outras unidades, como a entropia, cuja unidade recebe o nome de joule por Kelvin. Fonte: INMETRO, 2012a, p. 31. (Adaptado). QUADRO 4. UNIDADES SI DERIVADAS CUJOS NOMES E SÍMBOLOS INCLUEM UNIDADES DERIVADAS COM NOMES E SÍMBOLOS ESPECIAIS GRANDEZA DERIVADA UNIDADE DE BASE DO SI Nome Símbolo Expressão em unidades de base do SI Viscosidade dinâmica Pascal segundo Pa s m-1 kg s-1 Momento de uma força Newton metro N m m2 kg s-2 Tensão superfi cial Newton por metro N/m kg s-2 Capacidade térmica, entropia Joule por Kelvin J/K m2 kg s-2 K-1 Campo elétrico Volt por metro V/m m kg s-3 A-1 Viscosidade dinâmicaViscosidade dinâmicaViscosidade dinâmica Momento de uma força Viscosidade dinâmica Momento de uma força Viscosidade dinâmica Momento de uma força Tensão superfi cial Viscosidade dinâmica Momento de uma força Tensão superfi cial Capacidade térmica, entropia Viscosidade dinâmica Momento de uma força Tensão superfi cial Capacidade térmica, entropia Momento de uma força Tensão superfi cial Capacidade térmica, entropia Momento de uma força Tensão superfi cial Capacidade térmica, entropia Tensão superfi cial Capacidade térmica, entropia Campo elétrico Pascal segundo Capacidade térmica, entropia Campo elétrico Pascal segundo Capacidade térmica, entropia Campo elétrico Pascal segundo Newton metro Capacidade térmica, entropia Campo elétrico Pascal segundo Newton metro Newton por metro Capacidade térmica, entropia Campo elétrico Pascal segundo Newton metro Newton por metro Newton metro Newton por metro Newton metro Newton por metro Joule por Kelvin Newton por metro Joule por Kelvin Pa s Newton por metro Joule por Kelvin Volt por metro Pa s Joule por Kelvin Volt por metro N m Joule por Kelvin Volt por metroVolt por metro N/m Volt por metro m-1 kg s kg s J/K kg s V/m kg s-2 V/m kg s m2 kg s K m kg sm kg s A-1 Múltiplos e submúltiplos decimais do SI Para facilitar a expressão de números muito pequenos ou muito gran- des, bem como para aumentar a precisão das medidas, foram criados múltiplos e submúltiplos para cada unidade do SI. Cada múltiplo e cada submúltiplo das unidades corresponde a uma potência de 10 chamada de fator, representado por um prefixo. Por exemplo, o prefixo quilo, simbo- FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 31 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 31 08/05/20 11:21 lizado pela letra k, corresponde ao fator 10³. Assim, um quilômetro é um metro multiplicado por 10³. O Quadro 5 mostra os múltiplos e submúlti- plos das unidades do SI: MÚLTIPLOS SUBMÚLTIPLOS Fator Nome do prefi xo Símbolo Fator Nome do prefi xo Símbolo 101 deca da 10-1 deci d 102 hecto h 10-2 centi c 103 kilo k 10-3 mili m 106 mega M 10-6 micro µ 109 giga G 10-9 nano n 1012 tera T 10-12 pico p 1015 peta P 10-15 femto f 1018 exa E 10-18 atto a 1021 zetta Z 10-21 zepto z 1024 yotta Y 10-24 yocto y 101 10 10103 10 deca 10 hecto 10 hecto kilo 1012 kilo 1015 mega 10 da mega gigagiga tera 1021 tera 10 k peta 10 M peta exa 10 exa zetta -2 G zetta 10-3 T yotta 10 P yotta deci 10 deci centi 10-9 E centi 10-12 Z mili 10 micro 10 d micro nano -18 nano 10-21 c pico 10 m femto -24 femto atto µ atto n zepto p zepto yoctoyocto a y Fonte: INMETRO, 2012a, p. 34. (Adaptado). QUADRO 5. MÚLTIPLOS E SUBMÚLTIPLOS DAS UNIDADES DO SI Unidades fora do SI e conversão de unidades Como você pode notar, uma das unidades mais comuns para volume é o litro, empregado no comércio e até mesmo no meio científico, como, por exemplo, para designar a concentração de uma solução em gramas por litro, g/l. Por essa razão, embora o SI seja um sistema universal, o CIPM reconhece que algumas unidades continuarão a ser usadas por muito tempo e aceita que algumas fora do SI sejam utilizadas em con- junto com aquelas do SI. Observe que, com exceção das unidades de tempo e ângulo, todas as outras unidades são múltiplos ou submúltiplos decimais das unidades SI correspondentes e, por isso, os prefixos do SI podem ser usados. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 32 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 32 08/05/20 11:24 Grandeza Nome da unidade Símbolo daunidade Valor em unidades do SI Tempo Minuto min 1 min = 60 s Hora h 1 h = 60 min = 3600 s Dia d 1 d = 24 h = 86400 s Ângulo plano Grau º 1º = (π/180) rad Minuto ′ 1′= (1/60)º = (π/10 800) rad Segundo ″ 1″= (1/60)’ = (π/648 000) rad Área Hectare ha 1 ha = 1 hm2 = 104 m2 Volume Litro l, L 1 l = 1 L = 1 dm3 = 103 cm3 = 10−3 m3 Massa Tonelada t 1 t = 103 kg TempoTempoTempo Ângulo plano Minuto Ângulo plano Minuto Ângulo plano Minuto Hora Ângulo plano Hora Ângulo plano Área Dia Área Volume Grau Volume Grau Minuto Volume Massa min Minuto Segundo Massa h Segundo Hectare Segundo HectareHectare Litro º Litro ToneladaToneladaTonelada 1 min = 60 s 1 h = 60 min = 3600 s 1 min = 60 s 1 h = 60 min = 3600 s ha 1 min = 60 s 1 h = 60 min = 3600 s 1 d = 24 h = 86400 s l, L 1 min = 60 s 1 h = 60 min = 3600 s 1 d = 24 h = 86400 s 1′= (1/60)º = (π/10 800) rad l, L 1 h = 60 min = 3600 s 1 d = 24 h = 86400 s 1º = (π/180) rad 1′= (1/60)º = (π/10 800) rad t 1 h = 60 min = 3600 s 1 d = 24 h = 86400 s 1º = (π/180) rad 1′= (1/60)º = (π/10 800) rad 1″= (1/60)’ = (π/648 000) rad 1 h = 60 min = 3600 s 1 d = 24 h = 86400 s 1º = (π/180) rad 1′= (1/60)º = (π/10 800) rad 1″= (1/60)’ = (π/648 000) rad 1 l = 1 L = 1 dm 1 d = 24 h = 86400 s 1º = (π/180) rad 1′= (1/60)º = (π/10 800) rad 1″= (1/60)’ = (π/648 000) rad 1 ha = 1 hm 1 l = 1 L = 1 dm 1′= (1/60)º = (π/10 800) rad 1″= (1/60)’ = (π/648 000) rad 1 ha = 1 hm 1 l = 1 L = 1 dm 1′= (1/60)º = (π/10 800) rad 1″= (1/60)’ = (π/648 000) rad 1 ha = 1 hm 1 l = 1 L = 1 dm 1′= (1/60)º = (π/10 800) rad 1″= (1/60)’ = (π/648 000) rad 1 ha = 1 hm2 = 10 1 l = 1 L = 1 dm 1″= (1/60)’ = (π/648 000) rad = 10 = 10 1 t = 10 1″= (1/60)’ = (π/648 000) rad m cm 1 t = 10 cm3 = 10 1 t = 103 kg = 10 kg m Nome da unidade Símbolo da unidade Valor em unidades do SI Bar bar 1 bar = 100.000 Pa Milímetro de mercúrio mmHg 1 mmHg = 133,322 Pa Psi Psi 1 Psi = 6.894,757 Pa Atmosfera atm 1 atm = 101.325 Pa Milímetro de mercúrioMilímetro de mercúrio Bar Milímetro de mercúrioMilímetro de mercúrioMilímetro de mercúrioMilímetro de mercúrio Psi Atmosfera Milímetro de mercúrio AtmosferaAtmosfera bar mmHgmmHgPsi atmatm 1 bar = 100.000 Pa1 bar = 100.000 Pa 1 mmHg = 133,322 Pa 1 bar = 100.000 Pa 1 mmHg = 133,322 Pa 1 bar = 100.000 Pa 1 mmHg = 133,322 Pa 1 Psi = 6.894,757 Pa 1 bar = 100.000 Pa 1 mmHg = 133,322 Pa 1 Psi = 6.894,757 Pa 1 atm = 101.325 Pa 1 bar = 100.000 Pa 1 mmHg = 133,322 Pa 1 Psi = 6.894,757 Pa 1 atm = 101.325 Pa 1 mmHg = 133,322 Pa 1 Psi = 6.894,757 Pa 1 atm = 101.325 Pa 1 mmHg = 133,322 Pa 1 Psi = 6.894,757 Pa 1 atm = 101.325 Pa 1 Psi = 6.894,757 Pa 1 atm = 101.325 Pa1 atm = 101.325 Pa Fonte: BIPM, 2019, p. 145. (Adaptado). Fonte: YOUNG; MUNSON; OKIISHI, 2004, p. 38. (Adaptado). QUADRO 6. ALGUMAS UNIDADES FORA DO SI CUJO USO COM UNIDADES SI É ACEITO QUADRO 7. UNIDADES DE PRESSÃO FORA DO SI E SEUS VALORES EM UNIDADES DO SI Em alguns meios técnicos e científi cos, o uso de algumas unidades históricas é considerado mais vantajoso para expressar certas grandezas. Um exemplo clássico é a pressão; embora sua unidade no SI seja o pascal (Pa), é muito comum encontrar equipamentos como bombas e instrumentos de medição com especifi cação em bar, mmHg (milímetros de mercúrio), Psi e atm. Aliás, o primeiro barômetro, instru- mento para medir a pressão atmosférica, foi criado pelo físico italiano Torricelli e era composto por um tubo de vidro contendo mercúrio mergulhado em um recipiente também preenchido com mercúrio. O nível de mercúrio no tubo varia proporcional- mente à mudança de magnitude da pressão atmosférica, daí o nome da unidade milímetros de mercúrio. O Quadro 7 mostra algumas unidades de pressão não per- tencentes ao SI e seu valor em Pascal. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 33 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 33 08/05/20 11:24 Antes da criação do SI, o CGS (centímetro, grama, segundo) era um sistema métrico amplamente utilizado, e algumas de suas unidades derivadas são em- pregadas até os dias de hoje. O Quadro 8 apresenta algumas unidades CGS e seus respectivos valores em unidades SI. Grandeza Nome daunidade Símbolo da unidade Valor em unidades do SI Energia erg erg 1 erg = 10-7 J Força dina dyn dyn = 10-5 N Viscosidade dinâmica poise P 1 P = 1 dyn s cm-2 = 0,1 Pa s Viscosidade cinemática stokes St 1 St = 1 cm2 s-1 = 10-4 m2 s-1 EnergiaEnergia Viscosidade dinâmica Energia Força Viscosidade dinâmica Viscosidade cinemática Força Viscosidade dinâmica Viscosidade cinemática Viscosidade dinâmica Viscosidade cinemática Viscosidade dinâmica Viscosidade cinemática Viscosidade dinâmica Viscosidade cinemática erg Viscosidade cinemática erg dina Viscosidade cinemática dina poisepoise stokes erg stokes erg dyn P St 1 erg = 101 erg = 10 dyn = 10 1 P = 1 dyn s cm 1 erg = 10 dyn = 10 1 P = 1 dyn s cm 1 St = 1 cm J dyn = 10 1 P = 1 dyn s cm 1 St = 1 cm N 1 P = 1 dyn s cm 1 St = 1 cm 1 P = 1 dyn s cm-2 = 0,1 Pa s 1 St = 1 cm2 = 0,1 Pa s = 10 = 0,1 Pa s = 10 = 0,1 Pa s m s-1 Fonte: INMETRO, 2012a, p. 41. (Adaptado). QUADRO 8. UNIDADES DO CGS E SEUS VALORES EM UNIDADES DO SI Sempre que necessário, você poderá converter unidades utilizando um fator de conversão, isto é, uma razão entre unidades. Exemplo: calcule o volume em decímetros cúbicos de uma caixa d’água de 1000 l. Consultando o Quadro 6, vemos que 1 l = 1 dm3. A partir desta igualdade, vamos escrever uma razão que será nosso fator de conversão: = = 1 1 l 1 dm3 1 dm3 1 l Qualquer grandeza permanece inalterada se multiplicada por um fator que seja igual à unidade. Vamos então multiplicar os 1000 l por um fator que cancele a unida- de l, deixando apenas a unidade dm3: = 1000 dm3(1000 l) 1 dm 3 1 l Exemplo: a polegada (in) e o pé (ft) são unidades inglesas de comprimento utili- zadas até os dias atuais. Dado que 1 in = 2,54 cm e 1 ft = 12 in, calcule o valor de 1 ft em metros. (1) 1 in = 2,54 cm (2) 1 ft = 12 in De (1) em (2): 1 ft = 12 (2,54 cm) = 30,48 cm 1 ft = 0,3048 m FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 34 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 34 08/05/20 11:25 Exemplo: qual é o valor de um Psi em milímetro de mercúrio? Consultando o Quadro 7, verifi camos que: (1) 1 Psi = 6894,757 Pa (2) 1 mm Hg = 133,322 Pa (3) 1 mm Hg = 1133,322 Pa Usando o fator de conversão encontrado em (3) na expressão (1): (4) 1 Psi = 6894,757 Pa 1 mm Hg 133,322 Pa 1 Psi = 51,715 mmHg Análise dimensional Cada grandeza possui um aspecto qualitativo relacionado à sua natureza. Este aspecto é denominado dimensão. Dentro do SI, considera-se que cada grandeza de base possui sua própria dimensão que é representada por um sím- bolo. O Quadro 9 mostra as grandezas de base e os símbolos de suas dimensões. Grandeza de base Símbolo da grandeza Símbolo da dimensão Comprimento l, x, r, etc. L Massa m M Tempo t T Corrente elétrica I, i I Temperatura termodinâmica T Θ Quantidade de substância n N Intensidade luminosa Iv J ComprimentoComprimentoComprimentoComprimento Massa Comprimento Massa Tempo Corrente elétrica Temperatura termodinâmica Tempo Corrente elétrica Temperatura termodinâmica Corrente elétrica Temperatura termodinâmica Quantidade de substância Corrente elétrica Temperatura termodinâmica Quantidade de substância Corrente elétrica Temperatura termodinâmica Quantidade de substância Intensidade luminosa Temperatura termodinâmica Quantidade de substância Intensidade luminosa l, x, r, etc. Temperatura termodinâmica Quantidade de substância Intensidade luminosa l, x, r, etc. Temperatura termodinâmica Quantidade de substância Intensidade luminosa l, x, r, etc. Temperatura termodinâmica Quantidade de substância Intensidade luminosa m Quantidade de substância Intensidade luminosa t I, iI, i T Iv L M I N J Fonte: INMETRO, 2012a, p. 17. (Adaptado). QUADRO 9. GRANDEZAS DE BASE E SUAS DIMENSÕES NO SI A exemplo das unidades, as dimensões de grandezas derivadas também são obtidas por meio de equações que descrevem os fenômenos que dese- jamos estudar; são produtos de potências das dimensões das grandezas de base. A dimensão de uma grandeza genérica Q pode ser escrita como: FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 35 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 35 08/05/20 11:25 dim(Q) = LαMβTγIδθϵNξJη Exemplo: vamos calcular a dimensão da energia potencial Epot de um corpo, dada pela equação Epot = m ∙ g ∙ x, sendo m a massa do corpo, g a aceleração da gravidade e x a altura corpo em relação ao nível do solo. (1) dim(Epot) = dim(m) ∙ dim(g) ∙ dim (x) (2) dim(m) = M (3) dim(g) = L T2 (4) dim(x) = L Substituindo (2), (3) e (4) em (1), temos: dim(Epot) = M ∙ L2 ∙ T-2 As equações que descrevem os fenômenos da física devem ser dimensio- nalmente homogêneas, isto é, ambos os lados da equação devem possuir a mesma dimensão. Lembre-se que, embora possamos multiplicar e dividir gran- dezas de diferentes dimensões, as operações de adição e subtração só podem ser realizadas entre grandezas de mesma dimensão. Exemplo: tomemos a equação v = v0 + at, que descreve a velocidade v de um corpo submetido a uma aceleração constante a em um instante t. O segun- do membro da equação apresenta uma soma entre a velocidade inicial v0 e o produto da aceleração a pelo tempo t. Vamos verificar se esta soma pode ser realizada analisando as dimensões de cada termo da equação: (1) dim(v) = dim(v0) + dim(a) dim(t) (2) dim(v) = dim(v0) = L T (3) dim(a) = L T2 dim(v) dim(t) = Substituindo (2) e (3) em (1): (4) L T L T =∙ + ∙ T L T2 (5) L T L T =∙ + L T O símbolo =∙ significa que a dimensão de um lado da equação é igual à di- mensão do outro lado. Observe que estamos tratando de dimensões, que são aspectos qualitativos de uma grandeza, e que, após o desenvolvimento, verifi- FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 36 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 36 08/05/20 11:25 ca-se que os dois termos da equação possuem a mesma dimensão, portanto, podem ser somados. Os dois membros da equação também possuem a mes- ma dimensão, logo a equação v = v0 +at é dimensionalmente homogênea. Este tipo de análise que realizamos nos dois exemplos anteriores se chama análise dimensional e possui muitas aplicações práticas na física e na engenharia, como encontrar equações que descrevam fenômenos re- gidos por muitas variáveis e verificar se uma equação deduzida por meio de métodos matemáticos é homogênea. Exemplo: dada a equação p V = n R T, sendo R uma constante, encontre a dimensão de R e sua unidade no SI. Estabelecendo a hipótese de que a equação dada descreve um fenômeno físico, ela tem que ser dimensionalmente homogênea, logo: dim(p) dim(V) dim(n) dim(T) (1) dim(R) = M L T-2 L2 (2) dim(p) = = M L-1 T-2 (3) dim(V) = L3 (4) dim(n) = N (5) dim(T) = θ Substituindo as Equações (2), (3), (4) e (5) na Equação (1), você chegará à Equação (6): M L-1 T-2 L3 N θ (6) dim(R) = Portanto, dim(R) = M L2 T-2 N-1 θ-1. Agora, para encontrarmos a unidade de R, basta substituirmos os símbolos das dimensões por suas respectivas unidades no SI. kg m2 s-2 mol K (7) Un(R) = , onde kg m s-2 =N Logo: N m mol K m2 m2 N m2 (8) Un(R) = ∙ , onde = Pa E: Pa m 3 mol K (9) Un(R) = Portanto, a unidade de R no SI é Pa m3 mol-1 K-1. (7) Un(R) = (8) Un(R) = (9) Un(R) = FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 37 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 37 08/05/20 11:25 Algumas grandezas são adimensionais, isto é, possuem apenas valor numé- rico. A unidade no SI para todas as grandezas adimensionais é o número um. Exemplo: a constante de atrito μ relaciona a força de atrito Fatrito e a força FN exercida pela superfície onde o corpo está em repouso por meio da equação: Fatrito = μ FN. M L T-2 M L T-2 dim(μ) = dim(Fatrito ) dim(FN) = = 1 Como você pode notar, μ é a razão entre duas forças. Como grandezas de mesma natureza possuem a mesma dimensão, μ é uma grandeza adi- mensional. Exemplo: o número de Reynolds é uma grandeza importante no estudo de escoamento de fluidos e é dado pela Equação (1), sendo ρ a massa especifica; η a viscosidade dinâmica; v a velocidade; e l o comprimento do tubo por onde o fluido escoa. ρ v l η (1) Re = Demonstre que Re é um número adimensional. dim(ρ) dim(v) dim(l) dim(η) (2) dim(Re)= (3) dim(ρ) = M L3 (4) dim(v) = L T (5) dim(l) = L (6) dim(η) = M TL Substituindo as igualdades (3), (4), (5) e (6) na igualdade (2), obtemos: (7) dim(Re) = = 1 M T-1 L-1 M L-3 L T-1 L (1) Re = (5) dim(l) = L (3) dim(ρ) = (6) dim(η) = (7) dim(Re) = FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 38 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 38 08/05/20 11:25 Sintetizando Comparar quantidades é uma habilidade inata do ser humano. Esta habilida- de permitiu o desenvolvimento da ciência e tecnologia. Dentro da engenharia e das ciências físicas chamamos as quantidades de interesse de grandezas. Uma grandeza é uma propriedade de um corpo, fenômeno ou substância que pode ser expressa quantitativamente e com relação a uma referência. A medição pode ser definida como um processo experimental dos valores de uma grandeza. Para isso, podemos utilizar instrumentos de medição, como balanças, réguas entre outros. A qualidade de uma medição é avaliada pela exatidão, proximidade do valor medido ao valor real, e pela precisão, proximidade dos valores obtidos entre si. Os métodos de medição são classificados em diretos, que envolvem uma gran- deza cujo valor é diretamente obtido pela leitura do instrumento de medição; e indiretos, que medem os valores de mais de uma grandeza; e, a partir de cálculos, tem-se o valor da grandeza de interesse. A exatidão e a precisão de uma medição são influenciadas por instrumentos de medição, rastreabilidade metrológica, fato- res humanos, condições ambientais e amostras. Algarismos significativos expressam o grau de certeza de uma medição; há re- gras para cálculos e normas para arredondamentos com algarismos significativos. O Sistema Internacional de Unidades (SI) é fruto de um processo histórico e políti- co para universalização de grandezas e unidades. Suas grandezas e unidades de base são tempo – segundo (s); comprimento – metro (m); massa – quilograma (kg); corrente elétrica – ampere (A); temperatura termodinâmica – Kelvin (K); quantida- de de substância – mol (mol); e intensidade luminosa – candela (cd). As grandezas e unidades derivadas são obtidas pelo produto entre as grandezas e unidades de base por meio de equações. Ainda hoje são utilizadas unidades não pertencentes ao SI e, quando necessário, conversões entre as unidades devem ser feitas mediante um fator de conversão. A dimensão de uma grandeza é um aspecto qualitativo da mesma, e toda equação que descreve um fenômeno físico deve ser dimensionalmente homogênea, sendo que a análise dimensional é a ferramenta que permite verificar a homogeneidade de uma equação. Caso tenha ficado em dúvida em algum ponto desta unidade, revise os tópicos e faça novas anotações. Bons estudos! FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 39 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 39 08/05/20 11:25 Referências bibliográficas ABNT. ABNT NBR 5891:2014 - regras de arredondamento a numeração decimal. Rio de Janeiro: ABNT, 2014. BIPM. The International System of Units (SI). Disponível em: <https://www. bipm.org/en/publications/si-brochure/>. Acesso em: 13 abr. 2020. CHISHOLM, L. J.; ZUPKO, R. Measurement System. Disponível em: <https:// www.britannica.com/science/measurement-system/The-English-and-United-S- tates-Customary-systems-of-weights-and-measures>. Acesso em: 13 abr. 2020. COMUNIDADE científica põe fim ao padrão físico do quilograma. Postado por EFE Brasil. (1min. 39s.). son. color. port. Disponível em: <https://www.youtu- be.com/watch?v=TGkYDYiuL3o>. Acesso em: 13 abr. 2020. HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física – mecânica. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016. INMETRO. Sistema Internacional de Unidades: SI. 8 ed. Duque de Caxias: IN- METRO, 2012a. Disponível em: <http://www.inmetro.gov.br/inovacao/publica- coes/si_versao_final.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2020. INMETRO. Vocabulário internacional de metrologia - conceitos fundamentais e gerais e termos associados. Duque de Caxias: INMETRO, 2012b. Disponível em: <http://www.inmetro.gov.br/inovacao/publicacoes/vim_2012.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2020. MENDES, A.; ROSÁRIO, P. P. N. Metrologia e incerteza de medição: conceitos e aplicações. 1. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2019. NPL. The metre is the SI unit of length. Disponível em: <https://www.npl.co.uk/ si-units/metre>. Acesso em: 13 abr. 2020 SOCIEDADE BRASILEIRA DE METROLOGIA. O novo Sistema Internacional de Unidades (SI). Disponível em: <http://metrologia.org.br/wpsite/wp-content/ uploads/2019/07/Cartilha_O_novo_SI_29.06.2029.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2020. YOUNG, D. F.; MUNSON, B. R.; OKIISHI, T. H. A brief introduction to fluid mechanics. 3. ed. Nova Jersey: John Wiley & Sons, 2004. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 40 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID1.indd 40 08/05/20 11:25 METROLOGIA E MOVIMENTO RETILÍNEO 2 UNIDADE SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 41 08/05/20 11:18 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Compreender a definição de Metrologia; Aplicar tratamento estatístico a resultados experimentais de medição; Calcular o erro estimado de medições diretas e indiretas; Compreender os conceitos de movimento retilíneo, velocidade e aceleração; Compreender os movimentos uniforme e uniformemente acelerado; Compreender o conceito de queda livre; Calcular posição, velocidade, aceleração e tempo de duração de um movimento; Interpretar os gráficos das funções de posição, velocidade e aceleração. Metrologia Áreas da Metrologia Estatística aplicada à Metrologia Erro Desvios Intervalo de confiança Determinação do erro de escala Propagação de erros Movimento retilíneo Sistema de referências, posi- ção e deslocamento Velocidade média Velocidade instantânea AceleraçãoRelação entre os gráficos de x(t), vx(t) e ax(t) Movimento uniforme e movi- mento uniformemente acelerado Queda livre FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 42 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 42 08/05/20 11:18 Metrologia A fabricação de diversos bens, como automóveis, aviões, máquinas indus- triais, e até mesmo edifícios é feita a partir de peças e matérias-primas de di- ferentes fornecedores. Contudo, é preciso assegurar que as peças se encai- xem umas nas outras, resultando em um produto confi ável e de qualidade. A Metrologia visa garantir a universalidade e qualidade das medidas. Para isso, os métodos, procedimentos, padrões e instrumentos de medição devem ser padronizados ao longo de toda a cadeia produtiva. De acordo com o Vocabu- lário internacional de Metrologia, “Metrologia é a ciência da medição e suas aplicações, e engloba todos os aspectos teóricos e práticos da medição, qualquer que seja a incerteza de medição” (INMETRO, 2012). Embora a Metrologia e a medição estejam intimamente ligadas, é fundamental que você perceba a diferença entre elas. A medição é um processo para se obter experimentalmente um valor numérico que possa ser atribuído a uma grandeza. Já a Metrologia é a ciência que fundamenta a medição e suas aplicações. Segundo o National Physical Laboratory (s.d.), a Metrologia está além da atividade de rea- lizar uma medição, ela trata da infraestrutura que assegura a confi abilidade dos resultados. A Metrologia abrange a exatidão, a precisão e a repetibi- lidade de uma medição, bem como a rastreabilidade ou compara- ção com um padrão ou entre diferentes sistemas de medidas. Áreas da Metrologia A Metrologia pode ser dividida em três principais áreas de atuação: Metro- logia Legal, Metrologia Científi ca e Industrial. A Metrologia Legal trata das exigências legais e obrigatórias referentes às medições. Conforme indicação do Inmetro (s.d.), sua principal função é pro- teger os consumidores, garantindo a segurança e a qualidade de produtos e serviços que envolvam medição. A Organização Internacional de Metrologia Legal (OIML, [s.d.]) defi ne a Metrologia Legal da seguinte forma: “A Metrologia Le- gal é a aplicação de requisitos legais para medidas e instrumentos de medição”. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 43 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 43 08/05/20 11:18 Segundo Bewoor e Kulkarni (2009), a Metrologia Científi ca lida com a orga- nização, o desenvolvimento e a manutenção de padrões de medida, enquanto a Metrologia Industrial tem o objetivo de garantir o funcionamento correto e adequado dos instrumentos de medição utilizados na indústria, nos processos produtivos, nos testes e no controle de qualidade. Estatística aplicada à Metrologia O objetivo das ciências experimentais é determinar o valor de quantidades físicas através de medições. Porém, toda medição envolve um certo grau de incerteza, por exemplo, a incerteza associada à escala de um instrumento de medição. É por causa da incerteza que, ao repetir a medição de uma grandeza n vezes, os resultados obtidos não serão necessariamente idênticos. A incer- teza associada a uma medida experimental é chamada de erro experimental. Quando medimos uma grandeza, desejamos encontrar seu valor real. Contudo, o valor real só poderia ser encontrado se houvesse um procedi- mento de medição perfeito. O que podemos fazer é esti- mar o valor mais provável de uma grandeza, manter a incerteza em níveis baixos e estimar o nível de confi ança do resultado. Por isso, os dados experimentais devem receber um tratamento estatístico adequado que permita avaliar sua confi abilidade. De modo genérico, o resultado de uma medida deve ser expresso da seguinte forma: Erro O erro absoluto E é defi nido como a diferença entre o valor medido xi e o valor real x de uma grandeza, e está relacionado com a exatidão de uma medida: M = (m ± ∆m) u (1) Onde resultado da medida M é expresso por um número m, por uma unida- de u e por uma indicação da confi abilidade da medida ∆m. E = xi - x (2) FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 44 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 44 08/05/20 11:18 Desvios Uma vez que os erros aleatórios não podem ser eliminados, as medidas experimentais costumam resultar em uma série de valores não idênticos entre si. Por isso, ao invés de buscarmos o valor real da grandeza, traça- mos uma nova meta: encontrar o valor mais provável da grandeza e qual a diferença entre esse valor e cada um dos valores medidos. O tratamento estatístico abordado nessa unidade considera que os er- ros aleatórios obedecem à distribuição normal ou gaussiana, cujos postu- lados são: EXPLICANDO Além de referir-se à diferença entre um valor medido e o valor verdadeiro de uma grandeza, o termo erro também denota a incerteza estimada asso- ciada a uma medida ou a um experimento. Os erros podem ser classifi cados em duas categorias principais: • Determinados ou sistemáticos: possuem um valor determinado e infl uem de forma uniforme no resultado da medida. Podem ser identifi cados e, por- tanto, eliminados ou computados no resultado. Os erros sistemáticos podem estar relacionados ao método experimental, às manipulações de materiais, aos instrumentos e sistemas de medição utilizados e, fi nalmente, com a habi- lidade do operador (BACCAN et al., 2001; PIACENTINI et al., 2013). Exemplos: um balão volumétrico dilatado devido ao calor do ambiente; um operador que, ao cronometrar a duração de um fenômeno, sempre atrase no tempo de resposta; um manômetro descalibrado que sempre indica um valor de pressão ligeiramente acima do verdadeiro; • Indeterminados ou aleatórios: são originários de perturbações estatísti- cas imprevisíveis e por isso afetam o valor da medida em qualquer sentido, para mais ou para menos. Não são regidos por nenhuma regra e por isso não podem ser evitados. Alguns autores mencionam o chamado “erro grosseiro”, que na verdade é um engano devido à falta de atenção ou preparo do operador. Ocorre, por exemplo, quando um operador se engana na leitura de uma escala. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 45 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 45 08/05/20 11:18 • A probabilidade P de que um erro ocorra por excesso ou por falta (para mais ou para menos) em uma medida é mesma: P(+∆x) = P(-∆x) (3) • A probabilidade de que o erro cometido em uma medida esteja entre -∞ e +∞ é igual a 1; • O valor mais provável de uma grandeza é a média aritmética x das diversas medidas da grandeza, conforme a Equação (4): x1 + x2 + ... + xn 1 n n = =x n i = 1 x1 (4) O valor médio x é o valor que melhor representa o valor real de uma grandeza. Como não se pode afirmar que o valor médio é o valor real de uma grandeza, não podemos dizer que a diferença entre o valor de uma medida qualquer xi e o valor médio x é igual ao erro da medida, e nesse caso, usamos um conceito estatístico chamado desvio, que é a estimativa do erro de uma medida. O desvio de uma medida (∆xi) é a diferença entre o valor medido xi de uma grandeza e o seu valor, mais provável x : ∆xi = xi - x (5) Devido aos erros aleatórios, ao realizar uma medição experimental, você costuma repetir a medição de uma grandeza n vezes, isto é, em répli- cas. Logo, é importante conhecer a dispersão do conjunto de dados. O des- vio médio e o desvio-padrão indicam a precisão dos dados experimentais. O desvio médio (δ) é definido pela média aritmética do valor absoluto dos desvios, onde μ é a média da população, conforme Equação (6): 1 n n i = 1 |xi - μ| (6)δ = O desvio-padrão (σ) é definido pela raiz da média dos quadrados dos des- vios, conforme a Equação (7): σ = 1 n n i = 1 (xi - μ) 2 (7) FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 46 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 46 08/05/20 11:18 EXPLICANDO População é o conjunto total de medidas de interesse e amostra é um subconjunto selecionado de medidas. A população pode ser finita e real, como um lote de parafusos cujas dimensões desejamos verificar.Em ou- tros casos, a população tem um caráter conceitual. Por exemplo, se você precisa medir a corrente elétrica em um circuito, a população é o conjunto de infinitas medições que poderiam ser realizadas. Na prática, efetuamos um número pequeno de réplicas de uma medição, por isso, não conhecemos o valor de μ, de modo que não podemos calcular o valor de δ e σ, por isso, o que fazemos é estimar seus valores. A estimativa do desvio médio d é definida pela Equação (8): 1 n n i = 1 |xi - x| (8)d = A estimativa do desvio-padrão é definida pela Equação (9): s = 1 n - 1 n i = 1 (xi - x) 2 (9) Os desvios também podem ser apresentados na forma de desvios relativos. As estimativas do desvio médio relativo e do desvio-padrão são dadas pelas seguintes relações, respectivamente: d/x e s/x . A precisão da média pode ser estimada com base no cálculo do seu desvio. O desvio médio da média é dado pela Equação (10): d x = x / n (10) O desvio-padrão médio da média é dado pela Equação (11): sx = s / n (11) A média de n medidas das Equações (9) e (10) é n vezes mais precisa do que uma medida individual pertencente ao conjunto de dados experimentais. Isto é, se você medir uma grandeza nove vezes, a média das nove medidas é três vezes mais precisa do que uma única medida. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 47 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 47 08/05/20 11:18 Exemplo Durante uma aula de Física Experimental, você fi cou encarregado de cronometrar o tempo que uma esfera leva para percorrer uma rampa inclinada. Você realizou este procedimento quatro vezes e obteve os seguintes resultados: 3,14 s; 3,15 s; 3,13 s e 3,14 s. Estime o desvio médio e o desvio-padrão para uma medida e para a média. Solução Primeiro, vamos organizar os dados das medidas conforme exposto na Tabela 1. A segunda coluna indica os valores de tempo registrados e sua última linha apresen- ta o valor médio t , que foi calculado conforme a Equação (4). Na terceira coluna es- tão os valores dos desvios e o somatório deles está na última linha. Na quarta coluna estão os valores dos quadrados dos desvios e seu somatório está na última linha. n ti (s) |ti - t |(s) (ti - t )2 (s2) 1 3,141 0,002 0,000004 2 3,142 0,003 0,000009 3 3,134 0,005 0,000025 4 3,140 0,001 0,000001 t = 3,139 ∑ = 0,011 ∑ = 0,000039 TABELA 1. DADOS DA MEDIÇÃO O desvio para uma medida é dado pelas Equações (8) e (9). 1 n n i = 1 |ti - t | = 0,003 s s = 1 n - 1 n i = 1 (t - t )2 = 0,004 s O desvio da média é calculado pelas Equações (10) e (11). d x s x= =n d n s = 0,001 s = 0,002 s Intervalo de confiança Conforme vimos, para um número pequeno de medidas experimentais, conhecemos os valores de x e s, que são estimativas da média da popu- d FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 48 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 48 08/05/20 11:18 lação μ e do desvio-padrão σ. Embora não possamos calcular a média da população μ, podemos determinar o intervalo de valores em torno de x , no qual é provável que μ esteja contido, com uma certa probabilidade. Este intervalo pode ser calculado através da Equação (12), onde t é o parâmetro t de Student, cujos valores podem ser encontrados na Tabela 2. IC μ = x ± t n s (12) O intervalo IC μ é chamado de intervalo de confiança da média e os limites de confiança da média são x - t n s x + t n s e , respectivamente. A probabilidade correspondente ao valor de t é chamada de nível de con- fiança da média. Por exemplo, a expressão “IC μ = (10,03 ± 0,11) u com 95% de confiança” significa que há uma probabilidade de 95% de que a média da população esteja contida no intervalo entre 9,92 u e 10,14 u. (n-1) 95% de probabilidade 99% de probabilidade 1 12,71 63,66 2 4,30 9,93 3 3,18 5,84 4 2,78 4,60 5 2,57 4,03 6 2,45 3,71 7 2,37 3,50 8 2,31 3,36 9 2,26 3,25 10 2,23 3,17 11 2,20 3,11 12 2,18 3,06 13 2,16 3,01 14 2,15 2,98 15 2,13 2,95 TABELA 2. VALORES DO PARÂMETRO T DE STUDENT EM FUNÇÃO DO NÚMERO DE DETERMINAÇÕES, PARA 95% E 99% DE PROBABILIDADE FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 49 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 49 08/05/20 11:18 (n-1) 95% de probabilidade 99% de probabilidade 16 2,12 2,92 17 2,11 2,90 18 2,10 2,88 19 2,09 2,86 ∞ 1,96 2,58 Fonte: BACCAN et al. (2001, p. 17). (Adaptado). Exemplo Para efetuar o teste de tensão de ruptura de um material, você preci- sa determinar a espessura da amostra. Após realizar três medições, você estima um valor médio de espessura igual a 2,01 mm e um desvio-padrão igual a 0,12 mm. Como você expressaria o resultado dessa medição com 99% de confiança? Solução s = 0,12 mm Como foram feitas três medições: n = 3 O resultado da medição com 99% de confi ança está dentro do intervalo IC μ = x ± t (s/ n ) de valores. Para n - 1 = 2 e 99% de confi ança, t = 9,93 (veja Tabela 2). Logo: IC μ = 2,01 mm ± 9,93(0,12 3 ) mm Portanto, a espessura = (2,01 ± 0,69) mm com 99% de confi ança. Determinação do erro de escala Uma vez que o erro de escala é inerente ao instrumento de medição, ele está presente em qualquer medida e é um erro determinado. Por isso, cada medida individual M deve ser apresentada da seguinte forma: M = (m ± ∆m) u (13) Onde m é o valor de uma medida individual, ∆m é o erro de escala e u a unidade. Existem instrumentos analógicos e não analógicos. As escalas dos ins- trumentos analógicos permitem que o operador avalie o algarismo duvi- doso – último algarismo – de uma medida. Já em um instrumento não ana- lógico, o algarismo duvidoso é mostrado, lido, mas não pode ser avaliado. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 50 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 50 08/05/20 11:18 Figura 1. Manômetro analógico. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 07/04/2020. Para instrumentos analógicos, o erro de escala Eesc é defi nido como meta- de da menor divisão da escala (MDE), conforme a expressão abaixo: Eesc = ±MDE/2 (14) A Figura 1 mostra um manômetro analógico com escalas em bar e psi. A MDE da escala em bar é igual a 0,2 bar, logo, Eesc = 0,1. Se assumirmos a leitu- ra da pressão p em bar como 6,4 bar, esta leitura deverá ser expressa como p = (6,4 ± 0,1) bar. Para os instrumentos não analógicos, o erro de escala é igual ao MDE, Eesc = MDE. Propagação de erros Como você já sabe, os valores de muitas grandezas físicas são obtidos através de medições indiretas. Con- tudo, ao relacionarmos os valores de duas ou mais medidas entre si, também estamos relacionando seus respectivos erros, isto é, os erros se propagam atra- vés das operações matemáticas efetuadas duran- te uma medição indireta. Assim, precisamos saber como calcular o erro do resultado de uma série de operações matemáticas. A Tabela 3 apresenta as equações para o cálculo de propagação de erros indeterminados: FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 51 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 51 08/05/20 11:18 Cálculo de R Erro indeterminado de R (SR) R = A + B - C sR = sA 2 + sB 2 + sC 2 R = AB/C sA sB sC A B C sR R = 2 2 2 + + R = Aα sR R = sA A a R = αA s = |∝|sA R = log∝A sA A sR = 1 ln∝ R = aAα Bβ sR R = sA A sB B α β 2 2 2 + TABELA 3. PROPAGAÇÃO DE ERROS INDETERMINADOS EM OPERAÇÕES MATEMÁTICAS Fonte: VUOLO (1996, p.117 ); BACCAN et al. (2001, p. 21). (Adaptado). Exemplo Você precisa calcular o volume de uma esfera a partir da medida de seu diâmetro. Qual será o desvio-padrão do volume? O volume V da esfera é dado pela expressão: V = d3 π 6 Consultando a Tabela 3, vemos que a expressão do volume é do tipo R = aAαBβ, e que o desvio-padrão de R é dado por: sR R = sA A sB B α β 2 2 2 + Onde: R = V, a = π/6, A = d, α = 3 e B = 1. Como B é uma constante, seu desvio- -padrão é nulo, logo: sv sv svv v = = = sd sd sd d d d 3 3 3V 2 2 Exemplo Calcule o resultado da expressão numérica: V = πr3 = π 4 4 d 3 3 2 d3 π 6 = 3 FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 52 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 52 08/05/20 11:18 [(12,3 ± 0,2) + (9,6 ± 0,2)](0,050 ± 0,01) (40,3 ± 0,20) Solução Calculando o resultadoda expressão sem o desvio-padrão, obtemos R = 0,0272. Agora, calculamos o resultado e o desvio-padrão da soma presente no numerador: 0,22 + 0,22 = 0,283Rsoma = 21,9 SRsoma = Reescrevendo a expressão, temos: (21,9 ± 0,283)(0,050 ± 0,01) (40,3 ± 0,20) A expressão foi reduzida a uma expressão do tipo R = AB C , cujo desvio é dado por: sR R = sA A sB sC B C 2 2 2 + + 0,283 0,01 0,2 21,9 0,050 40,3 2 2 2 sR = 0,0272 = 0,00545+ + Fazendo os arredondamentos necessários, o resultado da expressão com seu respectivo desvio-padrão é (0,027 ± 0,005). Movimento retilíneo O movimento é um dos fenômenos da natureza com os quais estamos mais familiarizados, afi nal, nós nos movemos a todo instante. Das partículas subatô- micas aos corpos celestes, a matéria move-se. Podemos até dizer que o desejo humano de compreender o movimento dos astros foi a semente para o desen- volvimento da Física. No século IV a.C., Aristóteles propôs que os planetas se moviam de forma uniforme e perfeita, presos a esferas. No século II d.C., Ptolo- meu sugeriu que a Terra era um ponto fi xo ao redor do qual os corpos celestes moviam-se em órbitas circulares. Este modelo geocêntrico vigorou por mais de um milênio, até o século XVII d.C., quando Johannes Kepler, baseando-se nos registros das observações realizadas pelo astrônomo Tycho Brahe, provou ma- FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 53 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 53 08/05/20 11:18 tematicamente que os planetas se movem em órbitas elípticas em torno do Sol, obedecendo às chamadas três leis de Kepler. Por fi m, Isaac Newton (séculos XVII e XVIII) propôs o modelo da gravitação universal, capaz de explicar a causa do movimento dos corpos celestes. Além disso, sua obra magna Princípios ma- temáticos da fi losofi a natural formaliza os princípios do que conhecemos como mecânica clássica, um ramo da Física que estuda o movimento. A esta altura, você deve ter constatado que, assim como o estudo do mo- vimento impulsionou o desenvolvimento da Física, estudar tal fenômeno é fundamental para que você possa compreender esta ciência. A maneira mais didática de se fazer isso é iniciar os estudos pela cinemática, o ramo da mecâ- nica que estuda e descreve o movimento sem se preocupar com suas causas. Começaremos pelo modelo mais simples: o movimento retilíneo, isto é, o deslocamento de um corpo entre dois pontos descrevendo uma linha reta. Se formos analisar o deslocamento de um vagão de trem, você pode se questionar qual parte do vagão está sobre os pontos de partida e de chegada. Para eliminar este fator de complicação, adotaremos uma simplifi - cação proposta por Galileu: o modelo de partícula, que consiste em idealizar os corpos como possuidores de dimensões tão mi- núsculas que podemos tratá-los como se fossem pontos. Sistema de referências, posição e deslocamento Você é capaz de perceber que algo se move, pois observa seu distanciamen- to em relação a um referencial, que pode ser você mesmo ou um outro objeto, portanto, podemos dizer que o movimento é relativo. Em outras palavras, para descrever o movimento de uma partícula, você precisará descrever a posição dessa partícula ao longo do tempo. Para isso, é necessário adotar um sistema de referências, que será o sistema de eixos cartesianos. A Figura 2 apresenta alguns exemplos de movimento retilíneo e sua representação no plano cartesiano. Também ilustra como os objetos cujo movimento desejamos estudar podem ser idealizados como partículas. No caso (a), um automóvel desloca-se horizontalmente em linha reta, e por isso sua posição, entre os instantes t = t1 e t = t2, varia apenas ao longo do eixo dos x, entre os pontos (x1,y1) e (x2, y1). No caso (b), uma bola desloca-se em FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 54 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 54 08/05/20 11:18 queda livre, de modo que sua posição entre os instantes t = t1 e t = t2, varia apenas ao logo do eixo dos y, entre os pontos (x1, y1) e (x1, y2). Já na situação (c), um carrinho desce uma rampa inclinada. Observe que, contanto que o movimento seja retilíneo, sempre podemos associá-lo a um único eixo do plano cartesiano, por isso, o movimento retilíneo também é chamado de movimento unidimensional. Neste caso, escolhemos o eixo x e entre os instantes t = t1 e t = t2, o carrinho desloca-se entre os pontos (x1, y1) e (x2, y1). P (x1,y1)t = t1 (b) y x t = t2 P (x1,y2) P (x1,y1) t = t1 (a) y x t = t2 P (x2,y1) (c) y x P (x 1 ,y1 ) t = t 1 t = t 2 P (x 2 ,y1 ) Figura 2. Representação gráfica do movimento retilíneo no plano cartesiano. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 55 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 55 08/05/20 11:18 É importante ressaltar que, para o estudo do movi- mento, distância percorrida e deslocamento têm signi- ficados diferentes: • A distância percorrida por um corpo ou objeto em movimento é o comprimento total do caminho descrito pelo corpo desde sua posição inicial até sua posição final; é uma quantidade escalar e é sempre indicada por um número positivo; • O deslocamento é a variação da posição de uma partícula, podendo ser positivo ou negativo, a depen- der do referencial adotado; se a variação de posição ocorre no sentido crescente do eixo de referência, tem-se deslocamen- to positivo; se a variação de posição ocorre no sentido decrescente do eixo de referência, tem-se deslocamento negativo. Exemplo Uma pessoa sai de uma loja e caminha 300 m à direita até chegar à pri- meira esquina, então, vira para o norte e caminha mais 100 m, chega a uma segunda esquina, vira à esquerda e caminha mais 400 m, quando chega à sua casa. a) Qual a distância total, Stotal, percorrida? b) Qual o deslocamento efetuado por esta pessoa em relação ao eixo dos x e ao eixo dos y? Solução a) Como a distância é o comprimento total do trajeto, basta somarmos as distâncias percorridas: Stotal = S1 + S2 + S3 = (300 + 100 + 400) m Stotal = 800 m b) Uma boa forma de visualizar o trajeto descrito é utilizando o sistema de coordenadas cartesianas. Vamos estabelecer os seguintes pontos: p1 - loja; p2 - primeira esquina; p3 - segunda esquina; p4 - casa. Cada ponto é uma posição ocu- pada pela pessoa durante seu trajeto. O Gráfico 1 mostra estes pontos marcados no plano cartesiano. O deslocamento em relação ao eixo x é dado por ∆x = xf - xi, onde xf e xi são as posições finais e iniciais, logo: ∆x = (-100 - 0) m, onde ∆x = -100 m. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 56 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 56 08/05/20 11:18 GRÁFICO 1. MARCAÇÃO DAS POSIÇÕES NO PLANO CARTESIANO p3 p2p1 p4 200 200 x y -200 -200 400 400 0 0 O deslocamento em relação ao eixo y é dado por ∆y = yf - yi, onde yf e yi são as posições fi nais e iniciais, logo: ∆y = (100 - 0) m, onde ∆y = 100 m. Até este momento, estamos discutindo o movimento utilizando apenas duas grandezas: comprimento e tempo. De fato, o movimento de uma partícula está totalmente descrito se forem conhecidas sua posição no espaço em todos os instantes do movimento. Na prática, podemos medir a posição de uma partícula em determinados instantes e, a partir desses dados, obter uma relação entre a posição x que a partícula ocupa no espaço e o tempo t. Essa relação é uma fun- ção matemática x(t) que relaciona a variável x dependente com a variável inde- pendente t, por exemplo: x(t) = t2ms-2 + 2 t ms-1 + 1 m, x = t3 e x(t) = t. Velocidade média Para o estudo do movimento, é fundamental que você compreenda a dife- rença entre velocidade escalar e velocidade vetorial. Se você dirigir por quatro horas e percorrer 360 km, sua velocidade escalar média será igual a 90 km/h. A grandeza que expressa o sentido com que usamos FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 57 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 57 08/05/20 11:18 o termo velocidade em nosso cotidiano é a velocidade escalar, que está relacio- nada com a distância percorrida, por isso depende do caminho e mede a rapidez com que um corpo se move. Comoa distância percorrida S é sempre uma gran- deza positiva, a velocidade escalar sempre será positiva. Matematicamente, a velocidade escalar média vmédia de uma partícula é dada pela Equação (15): vmédia = S ∆t (15) A equação acima pode ser lida da seguinte forma: “A velocidade escalar mé- dia vmédia é definida como a razão entre a distância percorrida S e o intervalo de tempo ∆t”. Repare que a velocidade escalar não fornece nenhuma informação sobre a direção e o sentido do movimento, isto é, se um corpo se move na ho- rizontal ou vertical, para cima ou para baixo, para a esquerda ou para a direita. Para isso, é preciso adotar o conceito de velocidade vetorial. Como estamos es- tudando o movimento em uma dimensão, consideraremos o movimento ape- nas na direção x, de modo que a velocidade vetorial média de uma partícula é definida como a razão entre seu deslocamento ∆x e o intervalo de tempo ∆t, conforme a Equação (16): vx,média = ∆x ∆t (16) A fim de simplificar, alguns autores chamam a velocidade vetorial média apenas de velocidade média e nós também utilizaremos esta simplificação. Como a velocidade vetorial está relacionada com o deslocamento ao longo de um eixo coordenado, ela fornece informação sobre a direção e sentido do movimento, e é independente do caminho percorrido pelo corpo. Como o des- locamento ∆x pode ser positivo ou negativo, vx,média também pode ser positiva ou negativa. Exemplo Um piloto de motocross passa sobre um morro cujo formato pode ser conside- rado como uma meia circunferência. A distância da base do morro é de 5,0 m e o tempo cronometrado para o trajeto é de 0,25 s. Calcule as velocidades médias vetorial e escalar de execução do trajeto. Solução Para o cálculo da velocidade vetorial média é importante apenas o deslocamen- to da moto ao longo do eixo x. Tomando xi = 0, xf = 5,0 m, ti = 0, tf = 0,25 s, tem-se que: FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 58 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 58 08/05/20 11:18 Logo, vx,média = 2,0 . 10 m s -1. Para calcular a velocidade escalar média é preciso conhecer a distância percorri- da, que neste caso, é metade do perímetro p de uma circunferência de diâmetro d, que é igual a 5 m. vx,média = xf - xi (5,0 - 0) m tf - ti (0,25 - 0) s = = = 7,9 m= p p1 2π πd 5,0 m 2 22 2 2 vmédia = S ∆t 7,9 m (0,25 - 0) s= Logo, vmédia = 3,2 . 10 2 m s-1. Velocidade instantânea Quando um objeto cai de uma superfície em direção ao chão, sua velocidade aumenta à medida que o ob- jeto se aproxima do solo por conta da aceleração da gravidade. Se você andar de bicicleta em um parque, sua velocidade irá variar durante o passeio. De fato, a velocidade de muitos dos movimentos com os quais lidamos no cotidiano não é constante. Mas, e se quisermos saber a velocidade de um corpo em um instante de tempo qualquer durante seu trajeto? Você pode responder que basta utilizar um instrumento medidor de velocidade, como um velocímetro. Embora esta seja uma solução prática, é preciso ter em mente que a própria defi nição de velocidade se baseia na defi nição de intervalo de tempo e não de instante. Considere uma partícula que se move, com rapidez variável, em um trajeto retilíneo sempre no sentido direito. A Figura 3 ilustra o deslocamento desta partícula e registra algumas de suas posições ao longo do tempo. A princípio, é fácil perceber que a velocidade média da partícula entre os instantes t = 0,00 s e t = 1,00 s é igual a 50 m/s. Porém, qual a velocidade da partícula no instante t = 0,30 s? Neste caso, tudo o que você pode dizer é que a partícula está na posição x(0,30 s) = 5,5 m, o que dá a impressão de que, neste instante, a partícula está parada. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 59 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 59 08/05/20 11:18 Figura 3. Deslocamento de uma partícula ao longo do tempo. Agora, observe que você tem informações sobre a posição da partícula en- tre os instantes 0,50 s e 0,55 s, cujo ∆t = 0,05 s (5 centésimos de segundo) pode ser considerado um intervalo de tempo bastante pequeno. A velocidade média da partícula entre esses instantes, que é igual a 40,0 m/s, é algo mais próxi- mo do que podemos considerar como velocidade instantânea. Intuitivamente, você percebe que, quanto menor for o intervalo de tempo utilizado para cal- cular a velocidade média de uma partícula, mais próximo se chega àquilo que podemos chamar de velocidade instantânea. Matematicamente, a velocidade instantânea vx é definida como o limite da razão ∆x/∆t quando ∆t tende a zero: vx(t) = lim ∆t ͢ 0 ∆x ∆t (17) Pelo cálculo, o limite acima é a derivada da função x(t) em relação a t e pode ser reescrito conforme a seguinte notação: vx(t) = dx dt (18) A equação vx(t) = dx/dt tem um significado muito importante: a função vx(t), que relaciona a velocidade vx com o tempo t é igual à derivada da função x(t) que relaciona a posição x de uma partícula com o tempo t. Geometricamente, a derivada em um ponto de uma curva representa o coeficiente angular da reta tangente à curva neste ponto. Por isso, assim como a inclinação de uma reta, a velocidade instantânea também pode ser positiva, negativa ou nula. Para um intervalo de tempo infinitesimal (muito próximo de zero), pode-se considerar que a distância percorrida por uma partícula é igual ao módulo do seu deslocamento. Em decorrência disso, qual a velocidade escalar instantâ- nea é o módulo da velocidade instantânea. Se uma partícula se move com velocidade constante vx(t) = ℂ, onde ℂ é uma constante, sua velocidade média e sua velocidade instantânea são iguais. 0,00 0,0 m 5,0 m 5,5 m 9,0 m 11 m 50 m 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70 0,80 0,90 1,00 t (s) FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 60 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 60 08/05/20 11:18 DICA Os conceitos de limite e derivadas são fundamentais para a Física. Muitas das equações que descrevem os fenômenos físicos são deduzidas com base nesses conceitos e em suas ferramentas. Como este é um curso de Física, apenas mostraremos a aplicação de limites e derivadas, cujas defi - nições e regras são facilmente encontradas em livros-texto de Cálculo I. Exemplo Uma partícula movimenta-se em linha reta e sua posição em função do tempo é descrita por x(t) = 10 (t) ms-1 - 5 (t)2 ms-2. Em qual instante a velocidade da partícula é nula? Solução Primeiro, você precisa determinar a derivada de x(t) em relação a t para obter vx (t). vx(t) = x(t) = (10 (t) ms -1 - 5(t)2 ms-2) d d dt dt vx(t) = 10ms -1 - 10 ms-2(t) Fazendo vx(t) = 0, tem-se: 10 ms -1 - 10 ms-2 (t) = 0 t = 1 s. Portanto, a velo- cidade é nula no instante t = 1 s. Exemplo O movimento de um objeto em função do tempo é descrito por: x(t) = 25 m + 5,0 t ms-1 + 0,5 (t - 2,0 s)3 ms-3 a) Qual é a equação da velocidade em função do tempo para este movimento? b) Encontre o valor da velocidade para os instantes t = 0 e t = 30 s. Solução a) Para encontrar a equação da velocidade em função do tempo, deve-se derivar x(t): vx(t) = x(t) = [25m + 5,0 t ms -1 + 0,5 (t - 2,0 s)3 ms-3] d d dt dt vx(t) = 5,0 ms -1 + 1,5(t - 2,0s)2ms-3 b) Para determinar a velocidade de um objeto em um instante qualquer, deve-se substituir o valor de t em vx(t): vx(0) = 5,0 ms -1 + 1,5(0 - 2,0 s)2 ms-3 = 1,1 . 101ms-1 vx(30 s) = 5,0 ms -1 + 1,5 (30 s - 2,0 s)2 ms-3 = 1,2 . 103 ms-1 Aceleração Em Física, dizemos que um objeto está acelerado quando sua velocidade varia ao longo do tempo, não importa se a variação da velocidade é negativa FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 61 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 61 08/05/20 11:18 ax,média = = ∆vx vx,f - vx,i ∆t tf - ti (19) A aceleração tem a dimensão de comprimento dividido por tempo ao qua- drado: dim(ax) = L T -2 e sua unidade no SI é o m s-2. De forma análoga à velocidade instantânea, a aceleração instantânea é definida como o limite da razão vx/∆t quando ∆t tende a zero: ax(t) = = ∆vx dvxlim ∆t → 0 ∆t dt (20) Observe que a aceleração instantâneaax(t) é a derivada da função vx(t), que por sua vez é a derivada da função x(t), portanto a aceleração é a derivada se- gunda da função x(t): ax(t) = = = dxd d2xdvx dtdt dt2dt (21) A aceleração também possui sinal, contudo, uma aceleração positiva não significa que a rapidez do objeto está necessariamente aumentando, assim como aceleração negativa não significa que a rapidez do objeto está necessa- riamente diminuindo. Para o movimento retilíneo: • se vx e ax possuem o mesmo sinal, o corpo ganha rapidez; • se vx e ax possuem sinais diferentes, o corpo perde rapidez. Se uma partícula se move com aceleração constante ax(t) = ℂ, onde ℂ é uma constante, sua aceleração média e sua aceleração instantânea são iguais. Exemplo A função x(t) = -10 m + 11 t ms-1 - t2 ms-2 descreve a posição de uma partícula que se move em linha reta, entre os instantes t = 1,0 s e t = 10 s. a) Quais são as funções da velocidade vx(t) e aceleração ax(t) para este movimento? b) Qual é a aceleração média para este movimento? c) Em quais intervalos de tempo a partícula ganha e perde rapidez? ou positiva, se o objeto se move com mais ou menos rapidez. Tomando um exemplo de atividade cotidiana, quer você pise no acelerador, quer você pise no freio de seu carro, em ambas situações você está provocando uma variação da velocidade do veículo e, portanto, está acelerando-o. A aceleração é a taxa de variação da velocidade com relação ao tempo. Portanto, a aceleração média de uma partícula pode ser definida como: FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 62 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 62 08/05/20 11:18 Solução a) Derivando-se x(t), encontra-se vx(t): vx(t) = x(t) = (-10 m + 11 t ms -1 - t2 ms-2)d d dt dt ax(t) = Vx(t) = (11 ms -1 - 2t ms-2)d d dt dt vx(t) = 11 ms -1 - 2 t ms-2; 1,0 s ≤ t ≤ 10 s ax(t) = 2 ms -1; 1,0 s ≤ t ≤ 10 s b) Analisando a função da aceleração em função do tempo ax(t) = -2 ms -1, percebe-se que a aceleração é constante em relação ao tempo. Como ax(t) = constante, então ax,média = ax (t) = -2 ms -1. c) Para sabermos em quais intervalos de tempo a partícula ganha e perde rapidez, precisamos comparar o sinal de vx com o sinal de ax no intervalo de tempo entre 1,0 s e 10 s. Uma forma de estudar o sinal de vx é fazer o gráfico de vx(t) = 11 ms -1 - 2t ms-2. Repare que vx(t) é uma função linear do tipo f(x) = ax + b. Para definir uma reta, são necessários apenas dois pontos, e como o movimento ocorre entre 1,0 e 10 s, vamos calcular as coordenadas para esses instantes: vx(1,0 s) = 11 ms -1 - 2(1,0)ms-2 = 9,0 m vx(1,0 s) = 11 ms -1 - 2(10) ms-2 = -9,0 m O Gráfico 2 mostra o traçado a partir dos pontos (1,0 s; 9,0 m) e (10 s; -9,0 m): GRÁFICO 2. GRÁFICO DOS PONTOS (1,0 S; 9,0 M) E (10 S; -9,0 M) Derivando-se vx (t), encontra-se aX (t): Analisando o Gráfico 2, percebe-se que a velocidade permanece positiva desde o início do movimento em t = 1,0 s até tornar-se nula em t = 5,5 s. Em seguida, as- 10 8 6 4 2 0 -2 -4 -6 -8 -10 t (segundos) v( t), (m et ro s) 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 63 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 63 08/05/20 11:18 Relação entre os gráficos de x(t), vx(t) e ax(t) Conforme já visto, o valor numérico da velocidade é dado pela inclinação das retas tangentes à curva x(t). Assim, quando x’(t) > 0 e vx (t) > 0, o movimento ocorre no sentido crescente de x; quando x’(t) < 0 e vx(t) < 0, o movimento ocorre no sentido decrescente de x. O valor numérico da aceleração, por sua vez, é dado pela inclinação das retas tan- gentes à curva vx (t). Portanto, quando v’x(t) > 0, ax(t) > 0; e quando vx’ < 0, ax(t) < 0. Contudo, é preciso lembrar que a aceleração é a derivada segunda de x(t). Leithold (1994) afi rma que, quando as derivadas segundas de uma função são positivas em um intervalo de tempo, a função é côncava para cima neste intervalo, e, quando as deri- vadas segundas de uma função são negativas em um intervalo de tempo, a função é côncava para baixo neste intervalo. Assim, Chaves e Sampaio (2019) concluem que quando a curva que descreve x(t) é côncava para cima, a aceleração é positiva (a > 0); e quando a curva que descreve x(t) é côncava para baixo, a aceleração é negativa (ax < 0). Essas relações podem ser visualizadas no Gráfi co 3, que mostra as curvas das funções x(t), vx(t) e ax(t), com auxílio da Tabela 4, que sumariza o comporta- mento das funções em diferentes intervalos de tempo. GRÁFICO 3. RELAÇÃO ENTRE OS GRÁFICOS DE x(t), vX(t) E aX(t) sume valores negativos até o fi nal do movimento no instante t = 10 s. Uma vez que ax (t) = -2 ms -1, isto é, ax é negativa durante todo movimento, tem-se que: Entre t = 1,0 s e t < 5,5 s, a partícula perde rapidez; Entre t > 5,5 s e t = 10 s, a partícula ganha rapidez. t, (s) t1 t2 t3 x, (m) vx, (m/s) αx, (m/s 2) 19 9 -1 -11 0 1 2 4 5 6 7 8 9 10 29 3 FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 64 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 64 08/05/20 11:18 TABELA 4. COMPORTAMENTO DE x(t), vX(t) E aX(t) EM DIFERENTES INTERVALOS DE TEMPO GRÁFICO 4. GRÁFICO DE VX(t) = CONSTANTE Intervalo de tempo x(t) vx(t) Concavidade de x(t) ax(t) Rapidez t0 e t1 cresce positivo para baixo negativa perde t1 e t2 decresce negativo para baixo negativa ganha t2 e t3 decresce negativo para cima positiva perde t3 e tf cresce positivo para cima positiva ganha Movimento uniforme e movimento uniformemente acelerado Agora que você já está familiarizado com as características do movimento unidimensional e com os conceitos de velocidade e aceleração, vamos estudar alguns casos especiais de movimento, que podem ser descritos por equações particulares conhecidas como equações cinemáticas. O primeiro caso é chamado de movimento uniforme (MU) e ocorre quan- do uma partícula se move com velocidade constante. Neste caso, a velocidade instantânea é igual à velocidade média: vx = vx,média = = ∆x xf - xi ∆t tf - ti xf = xi + vx (tf - ti) (22) VX t VX, 0 Área = (VX, 0) (tf - ti) ti tf FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 65 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 65 08/05/20 11:18 A Equação (22) diz que a posição de uma partícula é igual à soma de sua posição inicial x1 mais seu deslocamento vx (tf - ti). É válida para todo MU e pode ser escrita na forma de uma função: x(t) = xi + vx (t - ti ) (23) A Equação (23) pode ser representada graficamente, conforme o Gráfico 4. Repare que o deslocamento é igual à área sob a reta do gráfico de vx versus t. O segundo caso ocorre quando uma partícula se move com aceleração constante e recebe o nome de movimento uniformemente acelerado (MUA). Se a aceleração é constante: ax = ax,média = = ∆vx vx,f - vx,i ∆t tf - ti vx,f = vx,i + ax (tf - ti ) (24) Essa Equação é válida para todo MUA e diz que a velocidade da partícula em um determinado instante é igual à sua velocidade inicial somada ao incremen- to de velocidade dado pelo produto da aceleração pelo intervalo de tempo do deslocamento, e pode ser escrita na forma de uma função: vx(t) = vx,i + ax (t - ti ) (25) Agora, vamos encontrar uma equação válida para todo MUA que permita calcular a posição de uma partícula em função do tempo. De maneira análoga ao MU, no MUV o deslocamento é igual à área sob a curva que descreve vx(t), como ilustrado no Gráfico 5. GRÁFICO 5. GRÁFICO DE vX(t) PARA aX = CONSTANTE Área = (Vx,f + Vx, i)(tf - ti) vx vx, f vx, i vx(t) 2 ti tf t FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 66 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 66 08/05/20 11:18 No Gráfico 5, a área sob a curva entre os instantes ti e tf é de um trapézio, cuja área A é igual a A = (basemaior + basemenor)h/2. Onde basemaior = vx,f, basemenor = vx,i e a altura h = tf - ti. Assim, podemos calcular o deslocamento da partícula entre os instantes ti e tf: (26)xf - xi = (vx,f + vx,i )(tf - ti) 1 2 Substituindo a Equação (25) na Equação (26) podemos eliminar vx,f: xf - xi = [vx,i + vx,i + ax (tf - ti )](tf - ti) 1 2 xf - xi = vx,i(tf - ti ) + ax(tf - ti ) 2 1 2 Fazendo xf = x(t), ti = 0 e tf = t: (27)x(t) = xi + vx,it + axt 2 1 2 A Equação (27) permite determinar a posição de uma partícula em uma tra- jetória retilínea sob aceleração constante em um instante t. Ela também pode ser deduzida a partir do cálculo integral. Já vimos que a velocidade é a deri- vada do espaço em relação ao tempo, conforme definido pela equação. Assim, podemos obter o valor da área sob a curva vx(t) integrando a equação entre os instantes ti e tf , e entre as posições xi e xf, temos: (28) tf xf ti xi vx(t)dt = dx Como a velocidade varia em função do tempo, conforme a Equação (25), substituindo (25) em (28), tem-se: tf xf ti xi (vx,i + axt)dt = dx xf = xi + vx,i (tf - ti) + ax (tf - ti ) 21 2 Rearranjando a equação acima, fazendo xf = x(t), tf = t e ti = 0 chegamos na Equação (27): x(t) = xi + vx,it + axt 2 1 2 FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 67 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 67 08/05/20 11:18 EXPLICANDO Conforme explicado pelo cálculo integral, a área sob uma curva definida por uma função f(x) no intervalo entre x1 e x2 é igual à integral de f(x) no intervalo (x1 e x2). Assim, você pode calcular o deslocamento de qualquer movimento, contanto que você conheça a função da velocidade em função do tempo vx(t). É recomendável que você consulte bons livros de Cálculo 1 para compreender melhor o conceito de integral definida, bem como as principais regras de integração. Podemos também encontrar uma equação que relacione a velocidade com a posição. Para isso, trabalhamos a Equação (25), fazendo ti = 0 e isolando t: (29)t = vx,f - vx,i ax Substituindo a Equação (29) em (27), tem-se: x(t) = xi + vx,i + ax 1vx,f - vx,i vx,f - vx,i 2 2 ax ax Multiplicando ambos os membros da Equação acima por 2ax, obtém-se a equação: (30)2axx(t) = 2axxi + 2vx,fvx,i - 2vx,i 2 + vx,f 2 - 2vx,fvx,i + vx,i 2 Rearranjando a equação acima, chega-se a: 2ax [x(t) - xi ] = -vx,i 2 + vx,f 2 Fazendo x(t) - xi = ∆x, tem-se: (31)vx,f 2 = vx,i 2 + 2ax∆x A Equação (31) permite calcular a velocidade de um corpo em movimento retilíneo uniforme em função de sua posição no espaço. Exemplo Uma partícula se move com velocidade constante sobre uma linha reta. No instante t = 5,0 s, x = 10 m; 1 minuto depois, a partícula percorreu 120 metros. Qual é a equação que descreve o movimento desta partícula? Solução Se v é constante, vx = vx,médio, o movimento é uniforme e descrito pela se- guinte Equação cinemática: xf = xi + vx (tf - ti). xi = 10 m; ti = 5 s; x(f) = xi + 120 m = 130 m; tf = ti + 60 s = 65 s vx,média = vx,média = 2 ms -1 xf - xi (130 - 10) m tf - ti (65 - 5) s = FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 68 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 68 08/05/20 11:18 Substituindo os valores iniciais de x e t e de vx,média em (22), tem-se: xf = 10 m + 2 ms -1 (tf - 5) s Exemplo Você está dirigindo por uma estrada tranquila a 50 km/h, quando vê uma ár- vore caída atravessada na estrada a 25 m de distância. Você pisa no freio e o carro perde velocidade a uma taxa de 5,0 m/s2. Considerando que o seu tempo de res- posta é desprezível, você conseguirá parar o carro a tempo de evitar uma colisão? Solução A partir do enunciado, temos que vx,i = 50 km/h = 13,88 m/s; a = -5,0 m/s 2 e vx,f = 0. Para saber a distância que o carro percorrerá até atingir velocidade nula, vamos utilizar a equação que relaciona a velocidade com a posição: vx,f 2 = vx,i 2 + 2ax∆x 0 = (13,88 ms-1)2 + 2(-5 ms-1)∆x ∆x = 19 m Queda livre Um exemplo importante de movimento unidimensional é um corpo que sobe ou cai em linha reta, próximo à superfície da Terra. O astrônomo, físico e matemático, Galileu Galilei (1565-1642), formulou as leis que regem este fenômeno. Por meio de dados obtidos através de experimentos com corpos deslizando sobre planos incli- nados, Galileu pôde demonstrar que o deslocamento desses corpos era proporcio- nal ao quadrado do intervalo de tempo de duração do movimento. Veja, que essas observações estão em conformidade com a Equação cinemática (27). Chamamos de queda livre o modelo idealizado da queda de um corpo em um am- biente cuja resistência do ar é nula. De fato, se uma pena e uma bola de boliche forem abandonadas no vácuo, a partir da mesma altura yi, ambas atingirão o solo no mes- mo instante. Neste modelo, os corpos movimentam-se sob ação da força da gravidade cuja aceleração g é constante em relação ao tempo, e por esta razão o movimento pode ser descrito pelas Equações cinemáticas (25), (27) e (31). Embora o valor de g possa variar ligeira- mente de local para local devido a altitude e latitude, podemos considerar a magnitude de g = 9,81 ms-1 (CHAVES; SAMPAIO, 2019; HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2016). Como a que- da livre é um movimento que ocorre na vertical, a fi m de facilitar os estudos adotaremos como convenção que o deslocamento ocorre no eixo dos y, e que a aceleração da gravi- dade age para baixo de forma que ay = -g. A distância percorrida ∆x = 19 m < 22 m, logo, você evitará a colisão. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 69 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 69 08/05/20 11:18 Embora a resistência do ar tenha influência na queda dos corpos, em muitas situações ela pode ser considerada desprezível, portanto, o modelo de queda livre permite uma aproximação satisfatória da descrição da queda de um corpo para diversas situações. Exemplo Qual é a função que descreve o movimento de uma moeda abandonada em um poço? Solução O movimento de uma partícula é totalmente conhecido se soubermos a sua posição em cada instante do movimento. Logo, o movimento pode ser descrito pela Equação (27). Considerando que a moeda é lançada a partir do repouso, vy,i = 0, e fazendo yi = h, ti = 0, ay = -g, obtemos a função: y(t) = ht - gt2 1 2 Exemplo Explique graficamente o movimento de um corpo que é lançado para cima com velocidade inicial igual a vi e retorna à posição de partida. Solução O movimento de um corpo que é lançado verticalmente para cima é descri- to pela equação: y(t) = yi + vy,it + ayt 2 1 2 Como ay = -g, gt2 1 2 y(t) = yi + vy,it - A equação é uma função quadrática do tipo y = c + bx + ax2, e como tal, descreve uma parábola. Uma vez que a < 0, sabemos que a parábola possui a concavidade voltada para baixo. Portanto, o movi- mento de uma partícula lançada para cima com velo- cidade inicial igual vy,i, cujas posições inicial yi e final yf são ambas iguais a y entre os instante ti e tf, dado pela parábo- la ilustrada no Gráfico 6. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 70 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 70 08/05/20 11:18 GRÁFICO 6. PARÁBOLA DA FUNÇÃO QUADRÁTICA DO TIPO y = c + bx + ax2 t(h )máx t(h )máx ti y = yi = yf tf t y Ao analisar o esboço do Gráfico 6, você pode verificar que: • O movimento se inicia em t = ti a partir da posição yi = y; • Entre t = ti e t = thmáx, y(t) cresce, portanto, a velocidade é positiva, e como a aceleração é negativa, o corpo perde rapidez; • Em t = thmáx, a velocidade instantânea se torna nula e o corpo atinge sua altura máxima hmáx; • A partir de t = thmáx, o corpo inicia a queda; • Entre em t = thmáx e t = tf, y(t) decresce, portanto, a velocidade é negativa, e como a aceleração é negativa, o corpo ganha rapidez; • Em t = tf, o corpo retorna à sua posição inicial em yf = y. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 71 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 71 08/05/20 11:18 Sintetizando A Metrologia estuda a medição e suas aplicações, qualquer que seja a incer- teza de medição. A incerteza associada a uma medida experimental é chamada de erro experimental. Os erros podem ser classificados em determinados ou sistemáticos, cujas causas são identificáveis e elimináveis; e em indetermina- dos ou aleatórios, que não podem ser eliminados. Devido aos erros aleató- rios, não se pode calcular o valor real de uma grandeza e o erro absoluto. O que se faz é estimar o valor de uma grandeza e o erro associado àmedição. O valor mais provável de uma grandeza é a média aritmética x das diversas medidas da grandeza: x1 + x2 + ... + xn 1 n n = =x n i = 1 x1 . O erro estimado é dado pelos desvios médio e padrão. A estimativa do des- vio médio e do desvio padrão são respectivamente dadas por: 1 n i = 1 |xi - x |d = e s = 1 n - 1 n i = 1 (xi - x) 2. A precisão da média é estimada com base no cálculo do desvio da mé- dia, que é dado por d x = x / n , e do desvio-padrão da média, que é dado por s x = s / n . O intervalo de confiança da média IC μ é o interva- lo de valores em torno de x , no qual é provável que a média da população μ esteja contida com uma certa probabilidade, e é dado por: IC μ = x ± t n s . Os erros de medições indiretas são calculados através das equações de pro- pagação de erro, conforme a Tabela 3. O movimento retilíneo é o deslocamento de um corpo entre dois pontos descrevendo uma linha reta. A velocidade escalar média vmédia não fornece as in- formações sobre direção e sentido do movimento, e é definida como vmédia = S ∆t . A velocidade vetorial média fornece informação sobre a dire- ção e o sentido do movimento, podendo ser negativa ou positiva e é FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 72 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 72 08/05/20 11:18 definida como vmédia = ∆x ∆t . A velocidade instantânea vx é definida como o limite da razão ∆x ∆t quando ∆t tende a zero e é dada por vx(t) = dx dt . A aceleração média de uma partícula é dada por ∆vx ∆t ax,média = . A aceleração instantânea é definida como o limite da razão Vx ∆t quando ∆t tende a zero ax(t) = dVx dt . O movimento uniforme ocorre quando a partícula se move com velocidade constante e é descrito pela equação x(t) = xi + vx (t - ti ) . O movi- mento uniformemente acelerado ocorre quando a partícula se move com ace- leração constante e é descrito pelas equações cinemáticas: vx(t) = vx,i + ax (t - ti ); x(t) = xi + vx,i t + 1 2 ax t 2 e x(t) = xi + vx,i t + 1/2 ax t 2. A queda livre é o modelo idealiza- do da queda de um corpo em um ambiente cuja resistência do ar é nula e que é descrito pelas equações cinemáticas do movimento uniformemente acelerado. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 73 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 73 08/05/20 11:18 Referências bibliográficas BACCAN, N. et al. Química analítica quantitativa elementar. 3. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2001. BEWOOR, A. K.; KULKARNI, V. A. Metrology and measurement. 1. ed. Nova Delhi: Tata McGraw-Hill, 2009. CHAVES, A.; SAMPAIO, J. F. Física básica: mecânica. Rio de Janeiro: LTC, 2019. HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física. 10. ed. São Pau- lo: LTC, 2016, v. 1. INMETRO. Metrologia legal: introdução. Disponível em: <http://www.inmetro. gov.br/metlegal/index.asp>. Acesso em: 09 abr. 2020. ______. Vocabulário internacional de Metrologia: conceitos fundamentais e gerais e termos associados (VIM 2012). Duque de Caxias: INMETRO, 2012. Disponível em: <http://www.inmetro.gov.br/inovacao/publicacoes/vim_2012. pdf>. Acesso em: 09 abr. 2020. LEITHOLD, L. O cálculo com geometria analítica. 3. ed. São Paulo: HARBRA, 1994. NATIONAL PHYSICAL LABORATORY. What’s the difference between metrology and measurement? Disponível em: <https://www.npl.co.uk/resources/q-a/the- -difference-between-metrology-and-measurement>. Acesso em: 09 abr. 2020. OIML. What is legal metrology? Disponível em: <https://www.oiml.org/en/ about/legal-metrology>. Acesso em: 09 abr. 2020. PIACENTINI, J. J. et al. Introdução ao laboratório de Física. 5. ed. Florianópolis: Editora da UFSC, 2013. VUOLO, J. H. Fundamentos da teoria dos erros. 2. ed. São Paulo: Edgard Blu- cher, 1996. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 74 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID2.indd 74 08/05/20 11:18 CARGAS ELÉTRICAS E FORÇAS ELÉTRICAS 3 UNIDADE SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 75 08/05/20 11:18 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Reconhecer as grandezas vetoriais; Desenhar um vetor resultante; Compreender a regra do paralelogramo, a decomposição de vetores e os vetores unitários; Diferenciar e aplicar o produto escalar e vetorial; Compreender os vetores de velocidade média (v⃗m) e de velocidade instantânea (v⃗); Compreender os vetores de aceleração média (a⃗m) e de aceleração instantânea (a⃗); Compreender o movimento de um projétil e o movimento circular uniforme. Vetores Soma e subtração de vetores Componentes de vetores Vetores unitários Multiplicação de vetores Movimento em duas e três dimensões: vetor posição e veloci- dade e vetor aceleração Casos especiais: movimento de um projétil e movimento circular uniforme FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 76 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 76 08/05/20 11:18 Vetores No estudo da Física, tem-se como um dos objetivos descrever observações experimentais de forma quantitativa utilizando grandezas, como tempo, mas- sa, temperatura, pressão, entre outras. Por exemplo, a altura pode ser conside- rada uma grandeza de comprimento para descrever determinada pessoa; as- sim, a altura é compreensível quando defi nida por um número e uma unida- de, não sendo necessário especifi car que a direção é na vertical e o sentido para cima. Entretanto, o mesmo não ocorre quando se quer defi nir o movimento de um avião: ao defi nir sua velocida- de, a direção e o sentido nos quais o avião está voando permanecem des- conhecidos. Desta forma, as grandezas na Física podem ser classifi cadas em: • Grandezas escalares: são defi nidas por um valor numérico e por uma uni- dade. Exemplo: comprimento e temperatura; • Grandezas vetoriais: são defi nidas por um valor numérico defi nido como módulo, visto que não considera sinal negativo e positivo, por uma direção e por um sentido. Exemplo: velocidade e aceleração. As grandezas vetoriais, comumente, são denominadas de acordo com a grandeza que estão representando, como vetor deslocamento, vetor velocida- de, vetor aceleração, vetor força e assim por diante. Os vetores são representa- dos grafi camente por setas (→), colocadas de forma que demonstrem módulo (valor numérico para especifi car intensidade), direção (vertical, horizontal ou diagonal) e sentido (esquerda, direita, para cima, para baixo, sudeste, noroeste, entre outros). O nome do vetor será indicado por uma letra que simbolize a grandeza ve- torial que este representa com uma seta sobre ela, como, por exemplo, F⃗ para o vetor força, v⃗ para o vetor velocidade e a⃗ para o vetor aceleração. A Figura 1 apresenta alguns exemplos de representação gráfi ca dos vetores. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 77 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 77 08/05/20 11:18 Figura 1. Representação gráfica de vetores. Conforme pode ser observado na Figura 1, os vetores têm origem na base da seta e final na outra extremidade, onde se localiza a ponta da seta. A ex- tensão do vetor reflete seu módulo na unidade de medida da grandeza que o mesmo representa, e é expresso como módulo de X⃗, X ou|X⃗|. Por exemplo, em v = 4 m/s ou |a⃗| = 4 m/s2, as duas formas estão corretas. O vetor deslocamento simboliza que determinado corpo se encontrava ini- cialmente em x e, após se mover, sua posição final passou a ser em x1. Por se tratar de um deslocamento, a grandeza medida é o comprimento e a unidade correspondente pode ser milímetro, centímetro, metro, quilômetro, entre ou- tras. No exemplo da Figura 1, a unidade utilizada foi m, ou metro. Assim, dois vetores podem ser considerados iguais quando possuem o mesmo módulo e orientação, e devem ser representados com o mesmo tamanho, como ilustra a Figura 2. Além disso, ambos podem ser considerados vetores paralelos quando possuem a mesma orientação, mas módulos diferentes. Uma terceira possibilidade pode ocorrer quando dois vetores de módulos diferentes pos- suem a mesma direção, porém com sentidos opos- tos; nesse caso, ambos são considerados vetores antiparalelos. x x1A Direção: horizontal Sentido: da esquerda para a direita Módulo de A: 4 m Vetor deslocamento Direção: vertical Sentido: de cima para baixo Módulo de a: 4 m/s2 Vetor aceleração x x1 a Direção: horizontal Sentido: da esquerda para a direita Módulo de v: 4 m/s Vetor velocidade x x1 v FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 78 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 78 08/05/20 11:18 Soma e subtração de vetores O movimento de um corpo pode ser representado por mais de um vetor no caso de esse corpo se deslocar mais de uma vez antes de assumir uma posição fi nal. Tome como exemplo uma pessoa que sai de sua casa para ir ao shopping, e de lá decide ir à casa de uma amiga para em seguida se dirigir ao trabalho. A representação do deslocamento dessa pessoa pode ser expressa em vetores. A Figura 3 traz duas situações de deslocamento de uma pessoa ao longo do dia. Na primeira situação apresentada, obtém-se as seguintes informações: • O deslocamento da casa da pessoa até o shopping é representado por A⃗; • O deslocamento da casa da pessoa até a casa da amiga é representado por A⃗ + B⃗; • O deslocamento da casa da pessoa até o trabalho é representado por A⃗ + B⃗ + C⃗. Figura 2. Representação de vetores iguais, paralelos e antiparalelos. Diferenciação de trajetória e deslocamento. Fonte: TIPLER; MOSCA, 2009, p. 13. (Adaptado). Vetores iguais Vetores paralelos Vetores antiparalelos x x1 A x x1 A A Figura 2 ainda apresenta duas possibilidades de trajetória percorrida pelo corpo em questão. Quando se fala em deslocamento, não signifi ca que o corpo se moveu em linha reta, como representado pelo vetor, mas que inicialmente ele se encontrava na posição x e, independentemente da trajetória adotada, sua posição fi nal foi x1. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 79 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 79 08/05/20 11:18 Figura 3. Deslocamento de uma pessoa ao longo do dia em duas situações. A A B B Loja Loja R R C C Quando se utiliza mais de um vetor para demonstrar o movimento de uma pes- soa ou objeto, representando diferentes pontos de parada antes de assumir uma posição final, realiza-se a soma vetorial. O deslocamento total é definido como vetor resultante e pode ser denominado por R⃗. Na segunda situação da Figura 3, a pessoa foi ao shopping e em seguida se diri- giu ao trabalho, indo visitar a amiga somente após o expediente. Perceba que agora o deslocamento da casa da pessoa até o último local visitado alterou o vetor resul- tante em relação à situação apresentada anteriormente. Entretanto, a soma vetorial pode ser representada da mesma forma: A⃗ + B⃗ + C⃗. Todavia, evidentemente o vetor resultante do deslocamento da casa da pessoa até seu ponto final é diferente da segunda situação. A diferença entre as duas somas está na consideração do sinal negativo quando um vetor é antiparalelo a outro. Para melhor elucidar as duas situações, considere que o módulo de A⃗ é A, o mó- dulo de B⃗ é B e o módulo de C⃗ é C. Assim, a resultante do deslocamento da casa da pessoa até sua posição final na primeira situação será dada por R = A + B + C, e a resultante do deslocamento da casa da pessoa até sua posição final na segunda situação será dada por R = A + B - C. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 80 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 80 08/05/20 11:18 Nos exemplos anteriores, as somas vetoriais eram constituídas por vetores na mesma direção (horizontal). A Figura 4 mostra a soma vetorial de vetores em dife- rentes direções. Brasil Alemanha Austrália A B R Figura 4. Viagem de avião para a Austrália com escala na Alemanha. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 09/04/2020. (Adaptado). Imagine que uma pessoa esteja viajando do Brasil para a Austrália e fazendo uma escala na Alemanha. Ao traçar os vetores do deslocamento, tem-se para Brasil à Alemanha o vetor A⃗ e da Alemanha para a Austrália o vetor B⃗. Entretanto, deseja-se saber o deslocamento total da pessoa com partida no Brasil (posição inicial) e chega- da na Austrália (posição fi nal). Para obter o vetor resultante utiliza-se o método geo- métrico para somar os vetores. A origem do vetor B⃗ é posicionada na extremidade do vetor A⃗ e o vetor resultante ligará a origem do vetor A⃗ na extremidade do vetor B⃗, como ilustra a Figura 4. Para realizar a soma dos vetores não é preciso se preocupar com a ordem cor- reta, o mais importante é manter a orientação dos vetores. Ainda utilizando como exemplo a Figura 4, os vetores A⃗ e B⃗ podem ser posicionados de forma invertida, ou seja, a origem de A⃗ pode ser colocada na extremidade de B⃗ e a resultante será traçada a partir da origem de B⃗ até a extremidade de A⃗, permanecendo da mesma forma apresentada. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 81 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 81 08/05/20 11:20 Outro método que também pode ser utilizado para somar vetores é chamado de método do paralelogramo, em que as origens dos dois vetores que serão somados são colocadas juntas, uma reta é traçada paralelamente a cada vetor e a resultante liga a origem dos dois vetores ao ponto onde as retas paralelas se cruzam. A Figura 5 apresenta as possibilidades mencionadas para realizar a soma dos vetores. Figura 5. Método geométrico e método do paralelogramo para somar vetores. Fonte: TIPLER; MOSCA, 2009, p. 14. (Adaptado). A A A B B BR R R A soma dos módulos dos vetores não deve ser confundida com a soma vetorial. Para obter o módulo do vetor R⃗ através da soma dos módulos dos outros vetores, deve ser levado em consideração o sentido dos vetores, um em relação ao outro, além da utilização de equações do formato geométrico que os vetores assumirão. O formato mais comum será o triângulo retângulo, como é o caso do vetor R⃗ na Figura 5, que assume a posição de hipotenusa do triângulo retângulo formado pela soma dos vetores A⃗ e B⃗. Assim, o módulo do vetor R⃗ será obtido por R = (A2 + B2). Deve ser destacado ainda que, tanto para a soma de vetores quanto para a soma de módulo dos vetores, soma-se vetores e módulos de vetores que representam a mesma grandeza. A mesma regra vale para subtração. Componentes de vetores Com o método geométrico e o do paralelogramo pode- -se obter facilmente o vetor resultante; entretanto, só é possível utilizar esses métodos quando os vetores forem ortogonais, ou seja, formarem um ângulo de 90º entre si. Para situações em que isso não acontece, utiliza-se o método que decompõe o vetor em suas componentes. Devido a isso, ele é denominado método dos compo- nentes ou vetores componentes. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 82 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 82 08/05/20 11:20 Para definir os componentes de um vetor, utiliza-se um plano cartesiano em que a origem do vetor coincide com a origem do sistema de coordenadas. Desta maneira, é possível representar qualquer vetor nos planos x, y e z como a soma de um vetor paralelo ao eixo Ox e um vetor paralelo ao eixo Oy, deno- minados vetores componentes deste vetor. A Figura 6 apresenta de forma mais clara os vetores componentes de um vetor F⃗ em quatro orientações diferentes e seus respectivos componentes. Figura 6. Vetores componentes do vetor F⃗ . Fonte: YOUNG; FREEDMAN, 2008, p. 15. (Adaptado). Fx Fy F y y y y x x x x θ θ θ θ a) b) c) d) Componente Fx Fx Fx(-) Fx(-) Fx Componente Fy Fy Fy Fy(-) Fy(-) Vetor componente em y do vetor F Vetor componente em x do vetor F F F Fx Fx FxFy Fy Fy Conforme pode ser observado na Figura 6, a direção e o sentido do vetor componente serão coincidentes com a direção e o sentido do eixo das coor- denadas em que o mesmo se encontra. Já as componentes dos vetores F⃗x e F⃗y correspondem ao módulo que pode estar acompanhado ou não do sinal negativo, dependendo do quadrante no qual ele se encontra. Na Figura 6a, os vetores componentes F⃗x e F⃗y estão sobre os eixos Ox e Oy, que apontam para o sentido positivo de cada eixo. O módulo desses compo- nentes serão Fx e Fy. Em 6b, o vetor componenteF⃗x está sobre o eixo Ox com a seta apontando para o sentido negativo. Assim, este componente terá um sinal negativo acompanhando o módulo de F⃗x e o vetor componente F⃗y perma- nece no eixo Oy, apontando para o sentido positivo. Em 6c, ambos os vetores componentes, F⃗x e F⃗y, estão apontando para o sentido negativo dos eixos em que se encontram. Portanto, suas componen- tes terão um sinal negativo acompanhando o módulo dos vetores. Por fim, em 6d, o vetor componente F⃗x está sobre o eixo Ox com a seta apontando para o sentido positivo, ao passo que o vetor componente F⃗y está sobre o eixo Oy FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 83 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 83 08/05/20 11:20 com a seta apontando para o sentido negativo. Portanto, seu componente terá um sinal negativo, acompanhando o módulo do vetor F⃗y. Simbolicamente, a soma dos vetores componentes é escrita da mesma forma como apresentada anteriormente antes de utilizar o plano cartesiano: F⃗ = F⃗x + F⃗y. Por outro lado, para calcular os componentes Fx e Fy, é necessário conhecer a direção de um vetor mediante o ângulo θ que ele forma com o eixo Ox e utilizar as definições das funções trigonométricas. Adota-se, por con- venção, o sinal positivo para o ângulo que aumenta à medida que o giramos sobre seu próprio eixo no sentido anti-horário, e negativo quando o giramos no sentido horário. EXPLICANDO Considerando um triângulo retângulo, tem-se três arestas que recebem nomes específicos: cateto oposto, cateto adjacente e hipotenusa. O triângulo possui três ângulos (um em cada vértice) e, considerando o ângulo formado entre um dos catetos e a hipotenusa como referência (chamaremos de teta “θ”), as relações trigonométricas entre as medi- das do triângulo são descritas da seguinte forma: seno de θ é a relação entre o cateto oposto a θ e a hipotenusa; cosseno de θ é a relação entre o cateto adjacente a θ e a hipotenusa; e tangente de θ é a relação entre o cateto oposto a θ e o cateto adjacente a θ. As componentes Fx e Fy na Figura 6a podem ser obtidas pela seguinte relação da função trigonométrica: → Fx = cos θ · Fcos θ = Fx F → F⃗ y= sen θ · Fsen θ = Fy F Em algumas ocasiões, o ângulo em relação ao eixo Ox e o módulo do vetor F⃗ são desconhecidos; entretanto, os valores dos componentes Fx e Fy são forne- cidos. Nessa situação, calcula-se o ângulo para obter a direção do vetor e seu módulo com as seguintes relações: → θ = tan-1tan θ = Ay Ax ( )AyAx F = Fx 2 + Fy 2 FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 84 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 84 08/05/20 11:20 Exemplo 1: Um avião, após sua decolagem, é avistado a 215 km de distância, em um curso que faz um ângulo de 22º a leste do norte. Deseja-se saber a qual distân- cia a leste e a norte do aeroporto o avião se encontra no momento em que foi avistado. Resolução: Inicialmente, projeta-se as informações fornecidas em um plano cartesiano, em que as direções norte e leste são representadas respectivamente pela coor- denada y e x, como mostra a Figura 7. Figura 7. Localização do avião em relação ao aeroporto. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 09/04/2020. (Adaptado). y xFx Fy d 22° 68° A distância de 215 km é o módulo do vetor que representa o deslocamento do avião, que será designado por d⃗. Tendo a direção (ângulo de 22º entre norte e leste) e o módulo do vetor d⃗, utilizamos as relações da função trigonométrica para definir as componentes dx e dy: dx = sen 22° · 215 km = 80,5 km dy = cos 22° · 215 km = 199,3 km FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 85 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 85 08/05/20 11:20 As componentes podem ser calculadas com o ângulo de 68º (90º - 22º), con- siderando que dx será o cateto adjacente e dy o cateto oposto. Assim: dx = cos 68° · 215 km = 80,5 km dy = sen 68° · 215 km = 199,3 km Vetores unitários O vetor unitário é utilizado para especifi car uma orientação e apresenta mó- dulo 1, não possuindo dimensão nem unidade. Esses vetores são representados pelas letras î, ĵ e k ̂ com um “^” no lugar da seta, indicando que se trata de um vetor unitário. Cada vetor unitário corresponde a um eixo do plano cartesiano: î no eixo Ox, ĵ no eixo Oy e k ̂ no eixo Oz. Os vetores unitários especifi cam a posição de outros vetores e podem acompanhar a componente de um vetor. Por exemplo: em um vetor expresso como A⃗ = 3î + 5ĵ, fi ca evidente que a componente Ax corresponde a 3 e a com- ponente Ay corresponde a 5. Assim, quando se conhece os módulos dos vetores componentes é possível somar vetores. Considerando o vetor A⃗ e B⃗ represen- tados por suas componentes, a resultante dessa soma será obtida da seguinte forma: A⃗ = Ax î + Ay ĵ + Az k ̂ B⃗ = Bxî + By ĵ + Bz k ̂ R⃗ = A⃗ + B⃗ R⃗ = (Axî + Ay ĵ + Az k ̂) + (Bx î + By ĵ + Bz k ̂) R⃗ = (Ax+ Bx)î + (Ay + By)ĵ + (Az + Bz)k ̂ R⃗ = Rxî + Ry ĵ + Rz k ̂ O vetor unitário que corresponde ao eixo Oz deve ser inserido na soma quando os vetores a serem somados não estiverem no plano xy. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 86 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 86 08/05/20 11:21 Multiplicação de vetores A multiplicação com vetores pode ser entre um vetor e um escalar, entre dois vetores resultando em um escalar (produto escalar), utilizado para determinar o trabalho de uma força, e entre dois vetores resultando em um vetor (produ- to vetorial), utilizado para descrever torque, momento angular, campos e forças magnéticas. Ao multiplicar uma grandeza escalar por um vetor, isto resultará em um ve- tor com módulo igual ao produto do módulo do vetor com o valor numérico da grandeza escalar. Além disso, a direção do vetor resultante será a mesma que a do vetor inicial, e o sentido será o mesmo do vetor inicial se o escalar for positivo, mas terá sentido oposto se o escalar tiver sinal negativo. O produto escalar de dois vetores deve ser representado com um ponto en- tre os dois vetores (A⃗ · B⃗) e inicia-se posicionando a origem de A⃗ e de B⃗ no mesmo ponto. O ângulo formado entre os dois vetores é representado pela letra grega φ e pode variar entre 0º e 180º. Em seguida, projeta-se o vetor B⃗ em direção ao vetor A⃗ com uma linha perpendicular. Esta projeção será a componente de B⃗ na direção de A⃗ e é calculada pelo módulo de B⃗ pelo cos φ. O produto total será re- sultado da multiplicação do módulo de A⃗ pela componente de B⃗, como mostra a equação a seguir: A⃗ · B⃗ = A · B · cos φ Também é possível fazer a projeção do vetor A⃗ em direção ao vetor B⃗, resul- tando na componente de A⃗, que será obtida por A · cos φ. Consequentemente, o produto A⃗ · B⃗ será A · cos φ · B. O produto escalar pode ser positivo, negativo ou nulo. Se φ estiver entre 0º e 90º o produto escalar será positivo, se φ estiver entre 90º e 180º o produto esca- lar será negativo e se φ = 90º o produto escalar será nulo. O produto escalar entre dois vetores também pode ser obtido diretamente se forem conhecidos os componentes x, y e z de ambos. Seguindo o mesmo raciocínio descrito anteriormente para os vetores unitários, pode-se afi rmar que, como os vetores unitários são ortogonais, tem-se φ = 0º quando os vetores unitários forem iguais e φ = 90º quando forem diferentes. Além disso, o módulo dos vetores unitários é 1. Assim, tem-se: FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 87 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 87 08/05/20 11:21 î · î = ĵ · ĵ = k ̂ · k ̂ = 1 · 1 · cos 0° = 1 î · ĵ = î · k ̂ = ĵ · k ̂ = 1 · 1 · cos 90° = 0 A partir dos produtos dos vetores unitários, realiza-se o produto dos compo- nentes dos vetores A⃗ · B⃗, como descrito a seguir: A⃗ · B⃗ = (Axî + Ay ĵ + Az k ̂) · (Bx î + By ĵ + Bz k ̂) A⃗ · B⃗ = Axî · Bxî + Axî · By ĵ + Ax î · Bz k + Ay ĵ · Bx î + Ay ĵ · By ĵ + Ay ĵ · Bzk ̂ + Azk ̂ · Bxî + Az k ̂ · By ĵ + Azk ̂ · Bz k ̂ A⃗ · B⃗ = AxBxî · î + AxByî · ĵ + AxBz î · k ̂ + Ay Bx ĵ · î + AyBy ĵ · ĵ + AyBz ĵ · k ̂ + Az Bxk ̂ · î + Az Byk ̂ · ĵ + AzBzk ̂ · k ̂ A⃗ · B⃗ = AxBx + AyBy + AzBz Em situações em que não se conhece o ângulo entrevetores ou em relação ao eixo Ox, deve-se saber pelo menos os componentes de cada vetor, para que seja possível obter primeiro o produto escalar A⃗ · B⃗ para depois obter o ângulo φ. Exemplo 2: Imagine dois vetores A⃗ e B⃗, cujos módulos são 4,0 e 5,0, respectivamente. Qual será o produto escalar entre esses dois vetores? Resolução: Esse produto escalar pode ser obtido pelos dois métodos apresentados an- teriormente. O primeiro método utiliza o módulo de um dos vetores e o mul- tiplica pela componente do outro vetor. Para isso, define-se o ângulo entre os dois vetores: φ = 130° - 53° = 77° Módulo de A⃗ = 4,0 Componente de B⃗ = B · cos φ = 5,0 · cos 53° = 1,12 Produto escalar: A⃗ · B⃗ = A · B · cos φ = 4,0 · 1,12 = 4,50 O outro método utiliza os componentes x, y e z dos dois vetores, mas deve-se considerar o ângulo que o vetor forma com o eixo Ox e não com o outro vetor, como demonstrado a seguir: Componente de A⃗: Ax = A · cos 53° = 4,0 · cos 53° = 2,41 Ay = A · sen 53° = 4,0 · sen 53° = 3,19 Az = 0 FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 88 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 88 08/05/20 11:21 Componente de B⃗: Bx = B · cos 130° = 5,0 · cos 130° = -3,21 By = B · sen 130° = 5,0 · sen 130° = 3,83 Bz = 0 Produto escalar: A⃗ · B⃗ = AxBx + AyBy + AzBz = 2,41 · (-3,21) + 3,19 · 3,83 + 0 · 0 = 4,50 Exemplo 3: Tem-se dois vetores A⃗ e B⃗ , cujas componentes são: Ax = 2, Ay = 3, Az = 1, Bx = -4, By = 2 e Bz = -1. A partir desses dados, deseja-se determinar o ângulo entre os vetores A⃗ e B⃗. Resolução: Utilizando as duas equações desenvolvidas anteriormente: A⃗ · B⃗ = A · B · cos φ e A⃗ · B⃗ = AxBx + AyBy + AzBz Substituindo uma equação na outra e evidenciando cos φ: cos φ = Ax Bx + Ay By + Az Bz A · B Sendo que A e B são calculados por: = -0,175cos φ = 2 · (-4) + 3 · 2 + 1 · (-1) 3,74 · 4,58 A = Ax 2 + Ay 2 + Az 2 = 22 + 32 + 12 = 3,74 B = Bx 2 + By 2 + Bz 2 = (-4)2 + 22 + (-1)2 = 4,58 φ = cos-1 (-0,175) = 100° Para designar o produto vetorial entre dois vetores A⃗ e B⃗, utiliza-se A⃗ · B⃗, com um x entre os vetores no lugar do ponto como no produto escalar. Inicia-se a ope- ração posicionando a origem dos dois vetores no mesmo ponto, como no produto escalar, e desta união de vetores tem-se um terceiro vetor com direção ortogonal tanto ao vetor A⃗ quanto ao vetor B⃗, denomina- do de produto vetorial. O módulo do produto vetorial será dado pela multiplica- ção do módulo de A⃗ pela componente de B⃗ (A · B · sen φ). Na medição de φ, deve ser considerado o menor ângulo entre FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 89 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 89 08/05/20 11:21 os dois vetores e, assim, este ângulo estará compreendido entre 0º e 180º. Dessa forma, o módulo do produto vetorial nunca será negativo, assim como se os dois vetores forem paralelos ou antiparalelos o módulo do produto vetorial será zero. O sentido do produto vetorial será dado pela regra da mão direita, que de- pende do sentido de rotação do ângulo e da ordem dos fatores na multiplicação entre os vetores. Considerando a Figura 8, na operação A⃗ · B⃗ tem-se o ângulo de A⃗ para B⃗ e utilizando a mão direita com os quatro dedos dobrados (como se esti- vesse segurando uma barra), seguindo a direção do ângulo, o polegar da mesma mão está apontando para cima, indicando o sentido do produto vetorial. Por outro lado, se a multiplicação for B⃗ · A⃗, tem-se o ângulo partindo de B⃗ indo para A⃗ e, utilizando novamente a mão direita com os dedos dobrados, para fazer com que os dedos apontem no mesmo sentido do ângulo, o polegar da mesma mão deve ser apontado para baixo, indicando o sentido do produto vetorial, o que no plano cartesiano é indicado com um sinal negativo. Assim, diferentemen- te do produto escalar, o produto vetorial não é comutativo, ou seja, a ordem dos fatores (no caso vetores) altera o produto. Figura 8. Produto vetorial determinado pela regra da mão direita. Fonte: YOUNG; FREEDMAN, 2008, p. 23. (Adaptado). A · B A φ B B · A φ B A φ = 0º φ = 180º sen 0º = 0 sen 180º = 0 Portanto, C = 0 FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 90 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 90 08/05/20 11:21 Semelhante ao produto escalar, também é possível calcular o produto veto- rial utilizando as componentes dos vetores. Inicialmente, realiza-se o produto vetorial dos vetores unitários, utilizando as considerações da Figura 8. As possi- bilidades são: î · î, î · ĵ, î · k ̂, ĵ · î, ĵ · ĵ , ĵ · k ̂, k ̂ · î, k ̂ · ĵ e k ̂ · k ̂. Como o produto vetorial de vetores paralelos é zero, os produtos î · î, ĵ · ĵ e k ̂· k ̂são zero. Outras podem ser igualadas e simplificadas, tais como: î · ĵ = -ĵ · î = k ̂ ĵ · k ̂ = -k ̂ · ĵ = î k ̂ · î = -î · k ̂ = ĵ Montando a equação de A⃗ · B⃗ nos termos de seus componentes e vetores unitários, desenvolve-se a expressão do produto vetorial: A⃗ · B⃗ = A x î · Bxî + Axî · By ĵ + Axî · Bzk ̂ + Ay ĵ · Bxî + Ay ĵ · By ĵ + Ay ĵ · Bzk ̂ + Azk ̂ · Bxî + Azk ̂ · By ĵ + Azk ̂ · Bzk ̂ A⃗ · B⃗ = (AxBx )î · î + (AxBy )î · ĵ + (AxBz )î · k ̂ +(AyBx )ĵ · î + (AyBy )ĵ · ĵ + (AyBz )ĵ · k ̂ + (AzBx)k ̂ · î + (AzBy)k ̂ · ĵ + (AzBz)k ̂ · k ̂ A⃗ · B⃗ = (AyBz - ByAz )î + (AzBx- BzAx )ĵ + (AxBy- BxAy )k ̂ C⃗ = A⃗ · B⃗ Cx = AyBz - ByAz, Cy = AzBx - Bz Ax e Cz = AxBy - BxAy Observação: As componentes do produto vetorial com sinal negativo fo- ram invertidas somente para facilitar o entendimento, posto que, para produto vetorial, o sinal negativo indica troca de posição entre os vetores, o que não faz diferença na multiplicação com grandezas esca- lares. Por exemplo, BxAy gera o mesmo resultado que AyBx, entretanto ĵ · î não gera o mesmo vetor unitário que î · ĵ, como foi demonstrado. Exemplo 4: Um vetor A⃗ possui módulo de seis unidades e se encontra no eixo +Ox. Um segundo vetor, denominado B⃗, está no plano xy, formando um ângulo de 30º com o eixo +Ox. Deseja-se saber qual será o produto vetorial de A⃗ · B⃗. A⃗ · B⃗ = (Axî + Ayĵ + Azk ̂) · (Bxî + Byĵ + Bzk ̂) FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 91 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 91 08/05/20 11:21 Resolução: Para determinar o produto vetorial, pode-se utilizar o método que emprega a regra da mão direita ou o método que utiliza as componentes e os vetores unitários. Iniciando pelo método da regra da mão direita, temos: A⃗ · B⃗ = A · B · sen 30° = 6 · 4 · sen 30° = 12 O módulo do produto vetorial é 12 e, como o vetor A⃗ se encontra no eixo Ox, a direção do produto vetorial será ortogonal, que será o eixo Oz. Utilizando a regra da mão direita, fazendo com que os dedos sigam o mesmo sentido do ângulo de 30º que se direciona de A⃗ para B⃗, teremos o polegar da mão apontando para cima, sendo este o sentido do produto vetorial. Assim, podemos expressar A⃗ · B⃗ = 12k ̂. Utilizando o método das componentes e vetores unitários, de- fi nimos primeiro as componentes de A⃗ e B⃗: Ax= 6Ay = 0Az = 0 Bx = 4 · cos 30° = 2 3 By = 4 · sen 30° = 2Bz = 0 Por fi m, obtemos a componente de cada eixo: Cx = AyBz - ByAz = (0) · (0) - (0) · (2) = 0 Cy = AzBx - BzAx = (0) · (2 3) - (6) · (0) = 0 Cz = AxBy - BxAy = (6) · (2) - (0) · (2 3) = 0 Por meio dos dois métodos, temos que o produto vetorial C⃗ possui compo- nente somente no eixo Oz; portanto, o vetor se encontra exatamente em cima do eixo. Movimento em duas e três dimensões: vetor posição e velocidade e vetor aceleração Ao estudar o movimento em Física, geralmente são considerados os movimentos em uma linha reta. Todavia, sabe-se que na realidade os objetos ou corpos em geral podem realizar um movimen- to em diferentes direções. Para isso, o movimento pode ser descrito em duas ou três dimensões, utilizando as grande- zas vetoriais para deslocamento, velocidade e aceleração. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 92 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 92 08/05/20 11:21 Vetor posição e velocidade Para descrever o movimento de um corpo, é necessário descrever primei- ro sua posição, queutiliza as coordenadas cartesianas x, y e z, para situar um ponto no espaço, e então desenhar um vetor que vai da origem do sistema de coordenadas até o ponto descrito, como mostra a Figura 9. Se o movimento ocorre nos três eixos considera-se três dimensões, ao passo que o movimento que ocorre somente nos eixos x e y é caracterizado como um movimento em duas dimensões. Figura 9. Vetor deslocamento r⃗ no plano cartesiano (a) e vetor velocidade média (b). Fonte: YOUNG; FREEDMAN, 2008, p. 70. (Adaptado). a) y z r r = xî + yĵ + zk zk xî yĵ x b) y z x r1 Δr Δt P1 P2 vm = r2 Δr O vetor r⃗ na Figura 9a representa o deslocamento de uma partícula partin- do da origem até sua posição, conforme informações de suas componentes xî, yĵ e zk .̂ Considerando que inicialmente a partícula encontrava-se na posição P1, após um intervalo de tempo igual a ∆t a mesma partícula encontra-se na posi- ção P2, como mostra a Figura 9b. Conhecendo a posição da partícula nos dois momentos, também serão conhecidos os vetores de deslocamento, e assim é possível definir o vetor velocidade média com a seguinte equação: v⃗m = = r⃗2 - r⃗1 t2 - t1 ∆r⃗ ∆t O vetor velocidade média é resultado de uma multiplicação de uma gran- deza vetorial (∆r⃗ ) com o inverso de uma grandeza escalar (∆t), e dessa forma o vetor v⃗m terá a mesma orientação que o vetor deslocamento. Assim como é possível calcular o vetor velocidade média, também é possí- vel definir o vetor velocidade instantânea (v⃗ ) como o limite da velocidade média quando o intervalo de tempo tende a zero. Em outras palavras, pode-se dizer FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 93 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 93 08/05/20 11:21 que o vetor v⃗ é a derivada do vetor posição r⃗ em relação ao tempo. Uma vez que a variação do vetor deslocamento se decompõe nos eixos x, y e z, as com- ponentes da velocidade instantânea v⃗ podem ser calculadas da seguinte forma: vx = vy = vz = dx dt dy dt dz dt DICA O conceito de derivada está intimamente relacionado à taxa de variação instantânea de uma função. Aqui, será necessário utilizar a derivada para obter a equação da velocidade instantânea a partir das coordenadas de posição, apresentadas como função. Nesta situação específica, será necessário lembrar somente a regra do tombo, aplicada em funções com uma constante multiplicando uma função ou com soma e/ou subtração entre funções. A regra consiste em tombar o expoente da variável e mul- tiplicá-la pela constante que a acompanha, subtraindo uma unidade do expoente inicial que acompanhava a variável. Outra forma de calcular o vetor v⃗ é derivando a própria equação da veloci- dade instantânea, conforme descrito a seguir: v⃗ = = î + ĵ + k ̂ dr⃗ dt dy dt dx dt dz dt O módulo do vetor v⃗ é obtido pelo teorema de Pitágoras com as componentes de cada eixo: |v⃗ | = v = vx2 + vy2 + vz2 Quando o movimento ocorre em duas dimensões, o módulo é calculado pelo teorema de Pitágoras com as duas componentes informadas, e a direção do vetor v⃗ é dada pelo inverso da tangente da componente em y pela componente em x, como mostra a equação a seguir: v = vx 2 + vy 2 + vz 2 tan α = vy vx Exemplo 5: Um paraquedista saltou de um avião e, ao aterrissar, caminha até um abrigo. O módulo de aterrissagem é a origem do sistema de coordenadas e o caminho até o abrigo está no plano xy. Para fins de representação no plano cartesiano, o FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 94 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 94 08/05/20 11:21 paraquedista será representado por um ponto, sendo que suas componentes x e y variam com o tempo de acordo com as relações a seguir: x = 2,0 m - (0,25 m ⁄s2)t2 y = [(1,0 m ⁄s)t + (0,025 m ⁄s3)t3] Deseja-se saber as coordenadas do paraquedista e sua distância do local da aterrissagem no instante t = 2 s. Quais serão os vetores deslocamento e velocidade média no intervalo de tempo entre t = 0 s e t = 2,0 s? E qual será a velocidade instantânea em t = 2,0 s, utilizando componentes e também em ter- mos do módulo, direção e sentido? Resolução: A Figura 10 apresenta os vetores deslocamento e velocidade média a cada instante solicitado. Figura 10. Representação do movimento do paraquedista. Fonte: YOUNG; FREEDMAN, 2008, p. 71. (Adaptado). 2,5 2,0 2,0 α = 128º Trajetória do veículo robótico t = 1,0 s t = 0,0 s t = 2,0 s v2 v1 v0 r1 r0 r2 y (m) x (m) 1,5 1,5 1,0 1,0 0,5 0,50 Inicialmente, definimos o deslocamento no instante solicitado t = 2,0 s, tan- to no eixo x quanto no eixo y: x = 2,0 m - (0,25 m ⁄s2)(2,0)2 = 1,0 m y = (1,0 m ⁄s)(2,0) + (0,025 m ⁄s3)(2,0)3 = 2,2 m FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 95 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 95 08/05/20 11:21 Localizando as coordenadas x = 1,0 m e y = 2,2 m no plano cartesiano, desenhamos o vetor deslocamento r⃗1, partindo da origem até a localização do paraquedista nas coordena- das definidas. Conforme pode ser observado na Figura 10, o vetor r⃗2 nada mais é que a hipotenusa de um triângulo de lado 1,0 (eixo Ox) e lado 2,2 (eixo Oy). Portanto, o módulo do vetor, que representa a distância do local de aterrissagem no instante t = 2,0 s, pode ser obtido pelo teorema de Pitágoras: r = x2 + y2 = (1,0 m)2 + (2,2 m)2 = 2,4 m A segunda questão pede para determinar o vetor deslocamento e vetor ve- locidade média no intervalo 0 e 2 s. Podemos escrever o vetor posição r⃗ em função do tempo t: r⃗ = xî + yĵ = [2,0 m - (0,25 m ⁄s2)t2]î + [(1,0 m ⁄s)t + (0,025 m ⁄s3)t3]ĵ Para t = 0. r⃗ 0 = [2,0 m - (0,25 m⁄s 2)02]î + [(1,0 m⁄s)0 + (0,025 m⁄s3)03]ĵ = (2,0 m)î + (0 m)ĵ Para t = 2 s foi calculado que r⃗2 = (1,0 m)î + (2,2 m)ĵ. Calculando a variação do deslocamento ∆r⃗ : ∆r⃗ = r⃗ 2 - r⃗ 0 = [(1,0 m)î + (2,2 m)ĵ] - [(2,0 m)î + (0 m)ĵ] = (-1,0 m)î + (2,2 m)ĵ As coordenadas indicam que o paraquedista caminhou 1,0 m no sentido negativo do eixo Ox e 2,2 m no sentido positivo do eixo Oy. O vetor velocidade média será obtido por: v⃗m = = = (-0,5 m ⁄s)î + (1,1 m ⁄s)ĵ ∆r⃗ ∆t (-1,0 m)î + (2,2 m)ĵ 2,0 s - 0,0 s Representando pelos componentes da velocidade média, tem-se: vmx = -0,5 m⁄s e vmy = 1,1 m⁄s Por fim, as componentes da velocidade instantânea são as derivadas das coordenadas em relação ao tempo: vx = = (-0,25 m ⁄s 2)(2t) = (-0,50 m ⁄s2)t dx dt vy = = 1,0 m ⁄s + (0,025 m ⁄s 3)(3t2) = 1,0 m ⁄s + (0,075 m ⁄s3)t2 dy dt Assim, o vetor v⃗ pode ser escrito da seguinte maneira: v⃗ = vxî + vy ĵ = (-0,50 m⁄s2)tî + [1,0 m⁄s + (0,075 m⁄s3)t2]ĵ FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 96 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 96 08/05/20 11:21 Desta forma, no instante t = 2,0 s, as componentes da velocidade instantânea serão: vx = (-0,50 m ⁄s 2)(2,0 s) = -1,0 m ⁄s vy = 1,0 m ⁄s + (0,075 m ⁄s 3)(2,0 s)2 = 1,3 m ⁄s Mais uma vez, o módulo será obtido pelo teorema de Pitágoras, pois o vetor v⃗ forma um triângulo retângulo com suas componentes: v = vx 2 + vy 2 = (-1,0 m⁄s)2 + (1,3 m⁄s)2 = 1,6 m⁄s A direção do vetor pode ser obtida pelo inverso da tangente: tan α = = = -1,3 → α = tan-1 (-1,3) = -52° vy vx 1,3 m ⁄s -1,0 m ⁄s O resultado apresenta um ângulo negativo. Entretanto, como observado na Figura 10, devemos subtrair esse valor negativo de 180º para obter a angulação no sentido de Ox para Oy, resultando em 128º: α = 180° - 52° = 128° Vetor aceleração A aceleração representa a variação na velocidade de um corpo e, assim como a velocidade, é uma grandeza vetorial, pois possui módulo, direção e sentido. A de- finição para vetor aceleração média (a⃗m) é a relação entre a variação vetorial da ve- locidade instantânea v⃗ por um intervalo de tempo ∆t, conforme equação a seguir: a⃗m = = ∆v⃗ ∆t v⃗ 1 - v⃗ 2 t2 - t1 A direção e o sentido do vetor a⃗m será o mesmo do ∆v⃗. Analogamente à velocidade, para aceleração também tem-se o vetor acelera- ção instantânea, representado por a⃗ e definido como o limite da aceleração mé- dia quando dois pontos se aproximam e ∆v⃗ e ∆t tendem a zerosimultaneamente. Da mesma forma que a velocidade instantânea, a aceleração instantânea possui componentes nos três eixos do plano cartesiano e também pode ser expressa em termos de vetores unitários: a⃗ = î + ĵ + k ̂ dvy dt dvx dt dvz dt ax = ay = az = dvy dt dvx dt dvz dt a⃗ = lim ∆t→0 = ∆v⃗ ∆t dv⃗ dt FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 97 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 97 08/05/20 11:21 Exemplo 6: Considere o enunciado e os dados obtidos de velocidade instantânea em função do tempo e o vetor velocidade no Exemplo 5. Deseja-se saber os com- ponentes do vetor aceleração média no intervalo de tempo entre t = 0,0 s e t = 2,0 s e qual deve ser a aceleração instantânea no instante t = 2,0 s. Resolução: Revendo os dados obtidos no Exemplo 5, temos: vx = = (-0,50 m⁄s 2)t e vy = = 1,0 m ⁄s + (0,075 m ⁄s 3)t2 dy dt dx dt v⃗ = vxî + vy ĵ = (-0,50 m⁄s2)tî + [1,0 m⁄s + (0,075 m⁄s3)t2]ĵ Para calcular os componentes da aceleração média, precisamos calcular pri- meiro a velocidade nos instantes t = 0,0 s e t = 2,0 s, início e fim do intervalo de tempo estipulado: vx = (-0,50 m ⁄s 2)(0,0 s) = 0,0 m ⁄s e vy = 1,0 m ⁄s + (0,075 m ⁄s 3)(0,0 s)2 = 1,0 m ⁄s e vx = (-0,50 m ⁄s 2)(2,0 s) = -1,0 m ⁄s e vy = 1,0 m ⁄s + (0,075 m ⁄s 3)(2,0 s)2 = 1,3 m ⁄s Sabendo as componentes da velocidade em cada eixo nos dois instantes estipulados, calculamos as componentes da aceleração média: amx = = = -0,5 m⁄s 2 ∆vx ∆t -1,0 m ⁄s - 0,0 m ⁄s 2,0s - 0,0s amy = = = 0,15 m⁄s 2 ∆vy ∆t 1,3 m ⁄s - 1,0 m ⁄s 2,0s - 0,0s Por fim, calculamos as componentes da aceleração instantânea no instante t = 2,0 s pelas equações derivadas das componentes de velocidade: ax = = -0,50 m ⁄s 2 dvx dt ay = = (0,075 m⁄s 3)2t = (0,15 m⁄s3)(2,0 s) = 0,30 m⁄s2 dvy dt a⃗ = (-0,50 m⁄s2)î + (0,30 m⁄s2)ĵ O módulo da aceleração neste instante será obtido pelo teorema de Pitágoras: a = ax 2 + ay 2 = (-0,50 m⁄s2)2 + (0,30 m⁄s2)2 = 0,58 m⁄s2 FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 98 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 98 08/05/20 11:21 Figura 11. Representação do movimento do paraquedista. Fonte: YOUNG; FREEDMAN, 2008, p. 75. (Adaptado). 2,5 2,0 2,0 α = 128º β = 149º Trajetória do veículo robóticot = 1,0 s t = 0,0 s t = 2,0 s v1 v2 a2 a1 a0 y (m) x (m) 1,5 1,5 1,0 1,0 0,5 0,50 v0 Casos especiais: movimento de um projétil e movimento circular uniforme Este tópico apresentará os movimentos que utilizam as componentes do vetor ace- leração e do vetor velocidade para descrever o movimento de um corpo. O estudo des- ses movimentos é muito utilizado na Física para compreender situações do dia a dia. Movimento de um projétil Muitas vezes você deve ter visto uma pessoa chutando uma bola, que levanta voo por alguns segundos e volta ao chão. O movimento da bola nessa situação tem o mesmo princípio do movimento da água que é esguichada por uma fonte, uma pessoa saltando em distância, entre outros. Todos esses movimentos podem ser estudados como o movimento de um projétil ou movimento balístico. Este, por sua vez, é descrito como o movimento que ocorre quando um corpo é lançado no ar, cuja resistência pode ser desprezada e que sofre infl uência apenas da aceleração da gravidade para defi nir sua trajetória. A direção do vetor aceleração instantânea a⃗ é obtido pela tangente do ân- gulo formado em relação ao eixo Ox: tan β = = = -31° ay ax 0,30 m ⁄s2 -0,50 m ⁄s2 β = 180° - 31° = 149° FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 99 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 99 08/05/20 11:21 A Figura 12 mostra duas situações distintas em que o movimento pode ser analisado pelo movimento balístico. Figura 12. Movimento balístico. Fonte: YOUNG; FREEDMAN, 2008, p. 78. (Adaptado). Horizontalmente, o projétil exibe movimento de velocidade constante: sua aceleração horizontal é zero e, portanto, percorre distâncias x iguais em intervalos de tempo iguais. y v0y v0y v1y v3y v0x v0x v1x v2x v3x v3yv1x a0 v3xv1y x ay = -g No topo da trajetória, o projétil possui velocidade vertical igual a zero (vy = 0), mas sua aceleração vertical continua a ser -g. v3 v2 v1 v0 a a y O h x Linha de visada Trajetória φ v v0 O A bola chutada na Figura 12 tem movimento para o alto e para frente, ad- quirindo uma velocidade v⃗0 com um ângulo θ0 acima do plano horizontal. Con- sequentemente, possui componentes nos eixos Ox e Oy, calculadas utilizando relações trigonométricas (conforme demonstrado anteriormente na definição de componentes de vetores), como mostram as equações a seguir: v0x = v0 · cos θ0 v0y = v0 · sen θ0 FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 100 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 100 08/05/20 11:21 No movimento de projétil, a única aceleração atuante sobre o corpo é a ace- leração da gravidade, que tem direção na vertical e sentido para baixo. Portanto, no movimento de projéteis, a aceleração na horizontal é nula e a aceleração na vertical é a aceleração da gravidade. Devido ao fato de a aceleração da gravi- dade ser uma constante, as equações de cinemática podem ser utilizadas para determinar as componentes do vetor velocidade, como demonstrado a seguir. Observe que as componentes da velocidade são independentes uma da outra: vx = vox → pois na horizontal não há aceleração da gravidade; vy = voy - g · t → devido à aceleração, a velocidade varia em função do tempo. O deslocamento do corpo também pode ser determinado pelas equações da cinemática: y(t) = y0 + voy · t - g · t 2 1 2 x(t) = x0 + v0x · t O início do movimento do projétil pode ser considerado na origem do plano cartesiano, como mostra a Figura 12. No instante t = 0 a posição em Ox é zero, assim como em Oy, porém as componentes da velocidade dependerão do ângu- lo formado em relação ao eixo Ox. Dessa forma, as equações de deslocamento podem ser reescritas de seguinte maneira: y(t) = (v0 · sen θ0) · t - g · t 2 1 2 x(t) = (v0 · cos θ0) · t Assim é possível determinar a posição, nos eixos Ox e Oy, de um projétil a qualquer instante. Conhecendo as coordenadas da posição do projétil, podem ser obtidas outras informações, como: Distância da origem: r = x2 + y2 Velocidade escalar do projétil: v = vx 2 + vy 2 Direção e sentido da velocidade: tg α = vy vx Equação da trajetória: y = (tg θ0) x - gx2 2(v0 cos θ0 ) 2 Alcance horizontal: R = sen 2θ0 v0 2 g FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 101 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 101 08/05/20 11:21 As equações apresentadas podem ser utilizadas para todos os tipos de mo- vimento de projétil (movimento balístico) nos dois formatos apresentados na Figura 12, tendo a posição inicial coincidindo com a origem do plano cartesiano ou iniciando em uma certa altura em y, como é o caso do lançamento feito do avião. A equação da trajetória do projétil indica que a trajetória sempre forma uma parábola. Exemplo 7: Um jogador de beisebol, ao bater com um bastão em uma bola, faz com que a mesma seja lançada com uma velocidade inicial de v0 = 37,0 m/s e um ângulo inicial de α0 = 53,1º. Conside- rando a gravidade g = 9,81 m/s2, deseja-se saber a posição da bola e o módulo, a direção e o sentido de sua velo- cidade para o instante t = 2,0 s. Quanto tempo a bola deve levar para atingir uma altura máxima e qual será essa altura antes de voltar ao chão? E qual será a distância em relação à origem quando a bola atingir o chão? Resolução: Projetando o movimento descrito para a bola de beisebol, no gráfico da Fi- gura 12 temos que o vetor v⃗0 está fazendo um ângulo de 53,1º com o eixo Ox. Definindo as componentes v⃗0 temos: v0x = v0 · cos α0 = (37,0 m ⁄s) · cos 53,1° = 22,2 m ⁄s v0y= v0 · sen α0 = (37,0 m ⁄s) · sen 53,1° = 29,6 m ⁄s Sabendo a velocidade inicial em cada eixo, podemos utilizar: • Equação de posição para definir a posição da bola no instante t = 2,0 s; y(2) = (v0 · sen θ0) · t - g · t 2 = 1 2 y(2) = (29,6 m⁄s) · (2,0 s) - (9,81 m⁄s2 ) · (2,0 s)2 = 39,6 m 1 2 x(2) = (v0 · cos θ0) · t = (22,2 m⁄s)· (2,0 s) = 44,4 m • Equação da velocidade em função do tempo para definir a velocidade em t = 2,0 s; vx = vox = 22,2 m ⁄s vy = voy - g · t = 29,6 m ⁄s - (9,81 m ⁄s 2) · (2,0 s) = 10 m ⁄s FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 102 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 102 08/05/20 11:21 • Teorema de Pitágoras para definir o módulo do vetor velocidade; v = vx 2 + vy 2 = (22,2 m⁄s)2 - (10 m⁄s)2 = 24,3 m ⁄s • Relação trigonométrica para definir a direção do vetor velocidade. a = tan -1 = 24,2° em relação ao eixo Ox (10 m ⁄s) (22,2 m ⁄s) Para saber o tempo que a bola leva para atingir a altura máxima, deve- mos saber que, quando a bola atinge a altura máxima, a velocidade vy será igual a zero, e este será o instante em que a bola começará a descer. Para isso, usamos a equação da velocidade em função do tempo: vy = voy - g · t → t = = = 3,02 s -vy + voy g 0 + 29,6 m ⁄s 9,81 m ⁄s2 Definindo a posição y no instante t = 3,02 s teremos a altura máxima atingida: y(3,02) = (29,6 m⁄s) · (3,0 s) - (9,81 m⁄s2) · (3,02 s)2 = 44,7 m 1 2 Por fim, a distância horizontal percorrida pela bola a partir da origem pode ser calculada de duas formas – pela equação do alcance ou pela equação do deslocamento no eixo Ox: R = sen 2θ0 = sen(2 · 53,1°) = 134 m v0 2 g (37,0 m ⁄s)2 (9,81 m ⁄s2) Pela equação do deslocamento em x, o instante considerado será o de duas vezes o tempo de subida da bola. O tempo de subida é igual ao tempo de desci- da, posto que a aceleração é constante, sendo o tempo total de t = 6,04 s: x(6,04) = 0 + (22,2 m⁄s) · (6,04 s) = 134 m Movimento circular uniforme O movimento circular uniforme é definido como o movimento de uma partícula ao longo de uma circunferência com velocidade escalar constante. Um satélite movendo-se em órbita cir- cular ou um patinador descrevendo uma circunferên- cia em uma pista de gelo com velocidade constante são exemplos de movimento circular uniforme. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 103 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 103 08/05/20 11:21 ASSISTA O movimento circular traz parâmetros pouco comuns do nosso cotidiano, principalmente para os níveis básicos da faculdade. Algumas propriedades introdutórias sobre o movimento circular serão apresentadas no vídeo indicado com o intuito de complementar o conceito de aceleração centrípeta apresentada nesta unidade. Para tanto, o vídeo indicado traz de forma bastante didática alguns desses conceitos. Neste tipo de movimento, o vetor velocidade permanece tangente à circunferência e segue no mesmo sentido do movimento. O vetor acele- ração, por outro lado, permanece perpendicular ao vetor velocidade e o sentido aponta para o centro da circunferência, conhecida também como aceleração centrípeta. A Figura 13 apresenta uma partícula se movendo com velocidade esca- lar constante de um ponto P1 para o ponto P2 sobre uma circunferência e em determinado intervalo de tempo ∆t. Figura 13. Partícula p se movendo sobre uma circunferência. Fonte: TIPLER, 2009, p. 79. (Adaptado). v(t) v(t) Δv r(t) r(t + Δt) v(t + Δt) v(t + Δt) Δθ Δθ Δθ Δr A aceleração centrípeta é calculada pela seguinte equação: a = v2 r FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 104 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 104 08/05/20 11:21 em que r é o raio da circunferência e v a velocidade da partícula. O in- tervalo de tempo que a partícula leva para percorrer todo o comprimento da circunferência (2πr) com velocidade constante é denominado período (T ), sendo obtido pela seguinte equação: T = 2πr v Exemplo 8: Um satélite se move com velocidade constante em uma órbita circular em torno do centro e próxima à superfície da Terra. Considerando que a magnitude da aceleração deste satélite é g = 9,81 m/s2, qual deve ser sua velocidade e o tempo que leva para dar uma volta completa em torno do planeta? Resolução: Inicialmente, devemos levar em consideração que, devido à proximi- dade do satélite com a Terra, podemos considerar o raio da Terra como sendo o raio da órbita do satélite, que corresponde a 6370 km. Utilizando a equação da aceleração centrípeta temos: v = (9,81 m ⁄s2) · (6370 km) = 7,91 km ⁄s a = v2 r = 9,81 m⁄s2 v2 = (9,81 m ⁄s2) · (6370 km) Para definir o tempo, utilizamos a equação do período (T ): T = 2π(6370 km) 7,91 km ⁄s = 5060 s ou 84,3 min FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 105 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 105 08/05/20 11:21 Sintetizando Nessa unidade, estudamos como representar as grandezas da Física utili- zando vetores. Para que as grandezas vetoriais sejam realmente compreendi- das, não basta sabermos somente seu valor numérico e unidade da grandeza, como m/s e N (newtons); elas precisam ser indicadas de forma que sua orien- tação também seja informada. Para isso, é importante que os vetores sejam corretamente desenhados e posicionados, a fim de indicarem a intensidade, a direção e o sentido da grandeza que está sendo representada. Com os vetores, podemos realizar diversas operações como soma, subtra- ção e multiplicação, devendo obedecer às regras estabelecidas para cada ope- ração, diferentes das regras de aritmética e álgebra comum. A soma de vetores é realizada colocando a origem de um vetor na extremidade de outro, obtendo um novo vetor que representa o resultado da operação, e por isso recebe o nome de vetor resultante. Para subtrair um vetor de outro, ao colocar o sinal negativo à frente do vetor indicamos que o sentido do mesmo foi invertido e realizamos a operação como uma soma. Um vetor pode especificar a orientação da grandeza quando o representa- mos em seus componentes no eixo x, y ou z e até mesmo em termos de vetores unitários. Essa forma de representação facilita as operações de multiplicação entre vetores que podem resultar em um produto escalar, em que o vetor re- sultante terá uma nova orientação. As grandezas vetoriais apresentadas nessa unidade se referem à parte da Física que estudamos inicialmente sem utilizar vetores, pois consideramos o movimento em uma dimensão, ou seja, o movimento em linha reta. Com a uti- lização dos vetores para essas grandezas físicas, é possível avaliar essas gran- dezas em um movimento de duas e três dimensões. Por fim, são apresentados dois casos especiais, onde necessariamente se aplica o movimento em duas ou mais dimensões: o movimento balístico e o movimento circular. Ambos apresentam característica específicas de movi- mento em cada direção. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 106 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 106 08/05/20 11:21 Referências bibliográficas HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física - Eletromagne- tismo. 10. ed., v. 3. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 2016. MOVIMENTO Circular Uniforme – Aula 01. Postado por Física 2.0. (14min. 47s.). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=P28aPQvFhmE>. Acesso em: 27 mar. 2020. TIPLER, P. A.; MOSCA, G. Física para cientistas e engenheiros. 6. ed., v. 3. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 2009. YOUNG, H. D.; FREEDMAN, R. A. Física III Eletromagnetismo. 12. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2008. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 107 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID3.indd 107 08/05/20 11:21 FORÇA E MOVIMENTO, TIPOS DE ENERGIA E CONCEITO DE TRABALHO 4 UNIDADE SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 108 08/05/20 11:18 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Conhecer as principais forças de contato e suas interações; Compreender as forças pelas leis de Newton; Aprender a identificar as forças atuantes em qualquer objeto; Aprender a desenhar um diagrama de corpo livre; Compreender as interações entre as forças que resultam em movimento; Compreender o conceito de trabalho; Compreender o conceito de trabalho em termos de energia; Saber distinguir os diferentes tipos de energia; Compreender a dinâmica para conservação de energia; Aprender a interpretar um diagrama de energia potencial. Força e movimento Leis de Newton Diagramas de corpo livree aplicações Energia cinética e trabalho Teorema do trabalho-energia Trabalho e energia com forças variáveis Potência Energia potencial e conserva- ção de energia Conservação de energia Forças conservativas e não conservativas Diagrama de energia FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 109 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 109 08/05/20 11:18 Força e movimento Nesta unidade, serão apresentados os fatores envolvidos na causa e modi- fi cação do movimento de um objeto. Esta é a parte da Física conhecida como princípios da dinâmica. Eles foram apresentados por Isaac Newton em 1687 por meio de três leis que fi caram conhecidas como leis de Newton. Elas são fundamentais e foram baseadas não somente nas ideias e observações feitas por Newton, mas também na consulta de estudos realizados por seus anteces- sores, como Copérnico, Brahe, Kepler e Galileu Galilei. Basicamente, o que faz um corpo se mover é a ação de uma força sobre a massa desse corpo. A força é uma grandeza vetorial, portanto, devemos defi nir seu nome, módulo, direção e sentido. No Sistema Internacional de Unidades (SI), a unidade de força é o newton (N). Força é o termo empregado para estabelecer a interação entre dois objetos ou entre um objeto e o meio em que ele se encontra. Essa intera- ção pode ocorrer diretamente por meio do contato físico, sendo, então, dividida em força normal, força de atrito, força de tensão e força elásti- ca, mas também pode ocorrer sem que haja contato. Neste caso, elas são chamadas de força de longo alcance, como a força gravitacional, a força magnética e a força elétrica. N Força normal = N Força de atrito = Fat Força de tração = T NN Fat N Figura 1. Forças de contato. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 24/04/2020. Como uma grandeza vetorial, todos os diferentes tipos de força são defi ni- dos com um módulo e sua orientação. A força normal (N⃗) é gerada pela oposi- ção à força de compressão que um corpo exerce sobre uma superfície; dessa forma, ela é representada sempre perpendicularmente ao plano em que se encontra o objeto. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 110 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 110 08/05/20 11:18 A força tração (T⃗) é a força aplicada em cordas e fios. Quando puxamos um objeto por meio de uma corda, estamos, na verdade, transmitindo força ao longo dessa corda até a extremidade oposta. Podemos di- zer que cada pedaço dessa corda sofre uma tração, que pode ser representada por um par de forças iguais e contrárias que atuam no sentido do alongar da corda. A força de atrito (F⃗at) é gerada quando duas superfícies estão em contato e se deve à aspereza da superfície do corpo. Um corpo em repouso sobre uma superfície leve- mente inclinada mantém-se em repouso devido à força de atrito estática; para que o objeto entre em movimento, uma força maior que a força de atrito estática deve ser aplicada sobre ele. Por outro lado, um corpo que desliza sobre uma superfície continua com uma força de atrito atuante, isto é, a força de atrito dinâmica, que terá sentido oposto ao do movimento, fazendo com que o objeto entre novamente em repouso se a força que o fez se movimentar pare. Diferentes tipos de materiais possuem texturas distintas, o que afeta a facilidade com que um objeto desliza sobre uma superfície. Pode-se dizer, então, que existe uma constante de proporcionalidade chamada de coefi- ciente de atrito µ, o qual pode ser estático (µs) ou dinâmico (µk), e depen- de do material dos corpos em contato e do polimento das superfícies. A força de atrito estática e a dinâmica são proporcionais à intensidade da força normal (N⃗). A força elástica (F⃗el) é aquela exercida por uma mola sobre um corpo conec- tado a ela, como mostra a Figura 2. Esse tipo de força obedece à lei de Hooke, enunciada por Robert Hooke, que observou que a mola apresenta uma defor- mação elástica, ou seja, se retirada a força que a deforma, a mola retorna ao seu estado inicial. Se a força aplicada for duplicada, a deformação também irá dobrar, estabelecendo a relação: F⃗el = k ∙ x Sendo K a constante de deformação da mola e x a deformação sofrida, que pode ser de expansão ou compressão. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 111 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 111 08/05/20 11:18 O dinamômetro é um exemplo de aplicação da F⃗el, pois a intensidade da for- ça deformadora é proporcional à deformação causada, que é medida dentro de uma escala padronizada, indicando, assim, a força aplicada. Na maioria das vezes, um único objeto está sujeito à ação de mais de uma força ao mesmo tempo, sendo possível simplifi car o efeito produzido por qual- quer quantidade de forças a uma única resultante da soma vetorial de todas as forças. Assim, uma força pode ser substituída pelos seus componentes x e y. Desta forma, para representar o vetor soma de muitos vetores de força, a notação comumente utilizada faz uso do símbolo de somatória ∑F⃗. Os componentes de um vetor podem ser expressos da mesma forma: Rx = ∑Fx e Ry = ∑Fy Sendo que o módulo poderá ser obtido pelo teorema de Pitágoras: R = √Rx2 + Rx2 O ângulo entre R⃗ e o eixo Ox é obtido por: θ = tg -1 Ry ⁄ Rx, podendo estar pre- sente em qualquer dos quatro quadrantes do plano cartesiano. Lei de Hooke O x 2x 2F F Figura 2. Força elástica e deformação da mola. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 24/04/2020. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 112 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 112 08/05/20 11:19 A força resultante que age sobre um objeto pode ser nula (F⃗R = 0), mas isso não signifi ca que o objeto esteja sem movimento, ou seja, parado. Nessa situa- ção, um objeto é considerado em equilíbrio, que pode ser estático, quando o objeto de fato se encontra em repouso e, assim, o vetor velocidade também é zero (v⃗ = 0). Porém, o objeto também pode estar em equilíbrio dinâmico, ou seja, em movimento retilíneo uniforme, com o vetor velocidade constante (v⃗ = constante) e a força resultante zero (F⃗R = 0). As interações entre as forças exercidas sobre um objeto são esclarecidas pelas leis de Newton apresentadas a seguir como as leis fundamentais da dinâmica. Leis de Newton A primeira lei de Newton estabelece o princípio da inércia, que, apesar de ter sido primeiramente formulado por Galileu, posteriormente foi confi rmado por Newton como o primeiro princípio da dinâmica. O enunciado desta lei de- termina que todo corpo em repouso permanece em repouso e todo corpo em movimento permanece em movimento sem alteração de sua velocidade até que uma força externa o faça sair desse equilíbrio. Considere, por exemplo, um disco de hóquei sobre uma superfície muito lisa, comum nesse tipo de esporte, no início de uma partida. O disco permane- cerá parado sobre o chão a menos que um jogador o acerte com o taco. Supo- nha agora que um jogador irá acertar o disco com o taco em direção ao gol: o disco tenderá a seguir uma trajetória com velocidade constante a menos que outro jogador faça outra tacada. Na primeira si- tuação, o disco estava em equilíbrio estático; na segunda, ele se encontrava em equilíbrio dinâmico. Vale destacar que a comprovação do princípio da inér- cia depende do sistema referencial considerado, chama- do também de referencial inercial. Por exemplo, uma pessoa em pé dentro de um trem em movimento está parada em relação ao trem, mas em movimento em relação à Terra, com uma velocidade igual à do trem. Se este trem frear, a pessoa continua em movimento. Se o trem for considerado o referencial, não seria possível FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 113 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 113 08/05/20 11:20 explicar porque a pessoa iniciou o movimento quando o trem parou; pela lei da inércia, a pessoa deveria continuar parada, pois nenhuma força foi aplicada sobre ela. No entanto, quando o referencial é a Terra, a pessoa está em movi- mento; portanto, quando o trem freia, ela continua em movimento, pois a força foi aplicada sobre o trem. Considerandonovamente o exemplo do jogo de hóquei, imagine agora que um jogador do mesmo time complemente a jogada acertando o disco com mais força, fazendo com que ele adquira uma velocidade maior em direção ao gol. A soma das forças aplicadas pelos dois jogadores fornece uma força resultante que será diferente de zero, ou seja, o disco não se encontra mais em equilíbrio dinâmico. Pode-se dizer ainda que a orientação da força resultante será a mes- ma do vetor de aceleração a⃗ . Com esta explicação, estabelecemos a segunda lei de Newton ou princípio fundamental da dinâmica, que basicamente define que, quanto maior a força aplicada, maior será a aceleração de determinado corpo. Assim, o princípio da segunda lei estabelece uma relação entre força e ace- leração (variação da velocidade em um intervalo de tempo) que depende da massa do objeto, sendo demonstrada pela equação: F⃗ = m ∙ a⃗ [kg ∙ m s² = newton] Com essa equação, pode ser deduzido que uma mesma força aplicada sobre corpos de massas diferentes resultará em acelerações diferentes. Por exemplo, uma pessoa aplica uma força para empurrar um carrinho de super- mercado vazio e anda tranquilamente pelos corredores. Quando o carrinho es- tiver cheio, se a força for aplicada com a mesma intensidade, o carrinho andará mais lentamente, a não ser que a pessoa aplique uma força maior. O peso é a força mais conhecida e erroneamente empregada ao ser utili- zada para expressar a massa de um objeto. A força peso representa a força de atração gravitacional exercida pela Terra sobre todos os corpos em sua su- perfície. Assim, ela é um tipo especial de força, cuja aceleração sempre será a aceleração da gravidade (9,81 m/s²), representada por: P⃗ = m ∙ g⃗ Com direção perpendicular à superfície e sentido para o centro da Terra. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 114 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 114 08/05/20 11:20 Da interação das forças entre os corpos, Newton concluiu que quando dois corpos interagem entre si, um par de forças estabelece uma relação de ação mútua que um corpo exerce sobre o outro, definindo a terceira lei de Newton ou princípio da ação e reação, o qual enuncia que toda ação corresponde a uma reação com mesma intensidade e direção, mas sentido contrário ao da primei- ra. Apesar de as forças de ação e reação apresentarem a mesma intensidade, os efeitos produzidos irão depender da massa e das características do corpo, como apresentado na Figura 3. Figura 3. Princípio de ação e reação. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 24/04/2020. Observe que duas bolas de bilhar idênticas são lançadas uma contra a outra com a mesma força. Ao se chocarem, a bola A exerce uma força de ação sobre a bola B ao mesmo tempo que sofre uma força de reação pelo choque. Em con- sequência do choque, as duas bolas irão se movimentar em sentidos opostos com uma aceleração correspondente à força recebida. Por outro lado, se uma bola de bilhar e uma bola de boliche são empurradas com a mesma força uma em direção a outra, como mostra a Figura 3, no mo- mento em que as duas se chocam, a bola de bilhar adquire uma velocidade no sentido oposto ao de seu sentido inicial e a bola de boliche permanecerá prati- camente imóvel. A força tem a mesma intensidade, entretanto, a bola de bilhar possui massa menor que a bola de boliche, adquirindo uma aceleração maior. F2 F2 F1 F1 A B BA 8 8 F1 F2 F2 F1 a) b) FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 115 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 115 08/05/20 11:20 Diagramas de corpo livre e aplicações Os objetos estão sujeitos à ação de mais de um tipo de força – mesmo em repouso. Assim, para facilitar a identifi cação de forças que agem sobre um objeto ou conjunto de objetos, utiliza-se o diagrama de corpo livre, que se assemelha à representação dos vetores de força em um plano cartesiano, con- siderando o objeto na sua origem. Para ilustrar um diagrama de corpo livre, nada melhor que um exemplo de aplicação de diversas forças sobre um objeto. Vamos lá? Exemplo 1: uma criança brinca no chão de uma sala recentemente lustra- da com seu carrinho puxado por uma corda. Podemos considerar que prati- camente não há atrito entre o carrinho e o chão. A criança corre puxando o carrinho com uma força de 0,9 N, e a corda faz um ângulo 25º acima do chão. O conjunto carrinho e corda possui massa equivalente a 0,8 kg. Deseja-se de- terminar qual a aceleração do carrinho e a magnitude da força normal exercida pela superfície sobre ele. Resolução: inicialmente, esboçaremos um diagrama de corpo livre repre- sentando as forças atuantes no conjunto descrito, como mostra a Figura 4. F P Fy Fx θ = 25° N Diagrama de corpo livreF Figura 4. Representação do enunciado do exemplo e diagrama de corpo livre. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 24/04/2020. Existem três forças atuantes: a normal N⃗, que é perpendicular à superfície em que o carrinho se encontra; a força peso P⃗, apontando para o centro da Terra; e a força de tração T⃗, que pode ser decomposta nas componentes Fx e Fy. Em segui- da, avaliamos as forças que se encontram na mesma direção. Iniciando a avaliação das forças na vertical, temos a força P⃗ que se opõe à força N⃗ e a Fy, simultaneamente. A força resultante na direção vertical é zero, pois o carrinho está totalmente em contato com a superfície. Assim, podemos escrever: FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 116 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 116 08/05/20 11:21 P⃗ = N⃗ + Fy Definindo o módulo dessas forças, temos: Fy = sen25° ∙ F = sen25° ∙ 0,90 N = 0,38 N P = m ∙ g = 0,8 kg ∙ 9,81 m ⁄s² = 7,85 N P = N + Fy → N = 7,85 N - 0,38 N = 7,47 N A força N⃗ possui magnitude de 7,47 N. Analisando as forças na horizontal, temos somente a componente da força Fx. Fx = cos25° ∙ F = cos25° ∙ 0,9 N = 0,81 N Assim, a aceleração do carrinho será: Fx = m ∙ a → a = Fx m = 0,81 N 0,80 kg = 1,01 m ⁄s² Exemplo 2: um bloco de massa m1 = 11,2 kg sobre um plano inclinado de ân- gulo θ de 40º está preso por uma corda de massa desprezível, que passa por uma polia de massa e atrito desprezíveis a outro bloco de massa m2 = 3,2 kg. O coefi- ciente de atrito estático é µs = 0,56 e o coeficiente de atrito dinâmico é µk = 0,25. Deseja-se saber se o bloco sobre o plano inclinado está em repouso ou em movimento. Se considerarmos que o bloco A está em movimento, qual será o módulo e a orientação da aceleração a⃗ ? Resolução: inicialmente, vamos desenhar a descrição do enunciado e esbo- çar o diagrama de corpo livre dos blocos A e B, considerando que ambos estão em repouso, como mostra a Figura 5. Diagrama de corpo livre N T T Fat PA PB PAx PAy A A B B θ = 40º Figura 5. Representação do enunciado do exemplo e diagrama de corpo livre para os blocos A e B. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 117 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 117 08/05/20 11:21 Observe que a força de tração é aplicada sempre sobre a corda, a força que puxa o bloco A ladeira abaixo é a componente da força peso em x e a força de atrito pode ser colocada no mesmo sentido de P⃗Ax ou da T⃗, pois não sabemos para onde ela está direcionada. Assim, considerando as forças no bloco A, temos: -Fat - PA ∙ sen40° + T = 0 Considerando as forças no bloco B, temos somente forças no eixo Oy: PB - T = 0 Como os blocos A e B estão ligados pela mesma corda, a força de tensão é a mesma, assim, podemos igualar as duas equações da seguinte forma: -Fat - PA ∙ sen40° + PB = 0 -Fat - (mA ∙ g ∙ sen40°) + (mB ∙ g) = 0 -Fat - (11,20 kg ∙ 9,81 m ⁄s² ∙ sen40°) + (3,20 kg ∙ 9,81 m ⁄s²) = 0 -Fat - (70,62 N) + (31,39 N) = 0 Fat = - 39,23 N O sinal negativo da força de atrito indica que ela está no sentido contrário ao que foi inicialmente colocada, ou seja, a força de atrito não está no sentido de descida do bloco A, mas, sim, no sentido de subida. Como a força de atrito tem sentido oposto ao do movimento, isso significa que o bloco estaria se mo- vendo ladeira abaixo. Para saber se o bloco A está semovendo ou não, devemos calcular a força de atrito estática, que representa a intensidade da força necessária para tirar o bloco do repouso inicial. Temos assim: Fat,s = μs ∙ N = μs ∙ PA cos40° Fat,s = 0,56 ∙ (11,20 kg ∙ 9,81 m ⁄s² ∙ cos40°) = 47,13 N A força necessária para tirar o bloco A do repouso deve ser, no mínimo, maior que a força de atrito estático, ou seja, maior que 47,13 N. A componente em x da força peso do bloco A gera uma força de atrito de 39,23 N, que não é suficiente para movimentá-lo, portanto, o bloco está em repouso. Por outro lado, se considerarmos que o bloco A já se encontra em movimen- to, presumimos que a força de atrito estática já foi superada e, portanto, a for- FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 118 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 118 08/05/20 11:21 ça de atrito dinâmica é a que existe. Assim, as forças atuantes no bloco A são: a força de atrito dinâmica, a força de tensão da corda e a força componente em x do peso. Podemos escrever da seguinte forma: Fat,k - PA ∙ sen40° + T = mA ∙ a PB - T = mB ∙ a Isolando a segunda equação e substituindo na primeira, temos: T = -(mB ∙ a) + PB μk ∙ PA cos40° - PA ∙ sen40° + [-(mB ∙ a) + PB ] = mA ∙ a (mA ∙ a) + (mB ∙ a) = μk ∙ PA cos40° - PA ∙ sen40° + PB a ∙ (mA + mB ) = μk ∙ PA cos40° - PA ∙ sen40° + PB μk ∙ PA cos40° - PA ∙ sen40° + PB (mA + mB ) a = [0,25 ∙ (11,20 kg ∙ 9,81 m⁄s² ∙ cos40°)] - (11,20 kg ∙ 9,81 m⁄s² ∙ sen40°) + (3,20 kg ∙ 9,81 m⁄s²) (11,2 kg + 3,2 kg) a = a = -1,26 m ⁄s² Assim, concluímos que o módulo da aceleração é de 1,26 m/s² e que ela está na mesma direção e sentido da componente em x da força peso do bloco A. Energia cinética e trabalho As leis de Newton auxiliam na compreensão do movimento de um objeto. Vimos que a força é o produto entre a massa e a aceleração de um objeto, mas de onde vem essa força? Como a aceleração é gerada? A resposta para essa pergun- ta é energia. Por exemplo, uma pessoa que empurra uma caixa que está inicialmente em repouso aplica uma força sobre ela, mas, para que possa ter força para a ação, ela precisa de energia. Se essa mesma pessoa fi zer com que a caixa adquira uma aceleração maior, ela precisará aplicar uma força maior e, consequente- mente, terá um gasto de energia maior. A essa varia- ção de energia gasta dá-se o nome de trabalho. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 119 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 119 08/05/20 11:21 O termo trabalho representa nada mais do que a realização de uma ativi- dade que exija esforço tanto físico como mental. Na linguagem da Física, defi- ne-se trabalho (W) como a aplicação de uma ou mais forças sobre um objeto, o que resulta no seu deslocamento. Estabelecemos esta relação pela seguinte equação: W = F⃗ ∙ d⃗ = [N ∙ m = joule] Pode ser deduzido que quanto maior for a força ou o deslocamento (ou ambos, simultaneamente), maior será o trabalho. O trabalho é uma grandeza escalar resultante do produto de duas grandezas vetoriais; assim, para obter o produto escalar dessa multiplicação, deve-se utilizar W = F ∙ d ∙ cosφ. O trabalho será o mesmo independente da orientação da força e do deslocamento. Por outro lado, o trabalho pode ser positivo, negativo e até nulo depen- dendo da orientação da força com o deslocamento. Se a componente da força for aplicada na mesma direção e sentido que o deslocamento (φ entre zero e 90º), o W é positivo. Se a componente da força estiver na mesma di- reção, mas no sentido oposto ao do deslocamento (φ entre 90 e 180º), o W será negativo. Se a força for perpendicular ao deslocamento (φ = 90º), o W será nulo. Quando o trabalho é realizado pela aplicação de mais de uma força, pode ser obtido pela soma algébrica dos trabalhos resultantes de cada força ou ain- da pelo cálculo do trabalho da força resultante da soma vetorial. Vamos ver um exemplo para esclarecer melhor esse conceito. Exemplo 3: um fazendeiro engata uma carreta em seu trator carregada de madeira. Com o trator, o fazendeiro desloca a carreta por uma distância de 20 m em um caminho horizontal. O peso da carreta com as madeiras é de 14,7 kN (kilonewton = 10³ N). O trator exerce uma força constante de 5 kN, formando um ângulo de 36,9º acima da horizontal. Considerando ainda uma força de atrito de 3,5 kN que se opõe ao movimento, qual deve ser o trabalho que cada força realiza sobre a carreta e o trabalho total rea- lizado por todas as forças? Resolução: inicialmente, esboçamos a situação apresentada pelo enuncia- do para extrair o diagrama de corpo livre (Figura 6) e identificar as quatro for- ças atuantes: força peso (P⃗), força normal (N⃗), força do trator (F⃗T) e a força de atrito (F⃗at). O deslocamento é o mesmo para todas as forças: 20 m na horizontal. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 120 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 120 08/05/20 11:21 y N 180° FT = 5000 N Fat = 3500 N W = 14700 N φ = 36,9° d = 20 m x Figura 6. Trator carregando carreta de madeira e diagrama de corpo livre. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 24/04/2020. A força peso e a força normal são perpendiculares ao deslocamento. Dessa forma, os trabalhos WP e WN serão nulos. A força do trator forma um ângulo de 36,9º com o deslocamento, assim, o trabalho da força do trator WT será: WT = FT ∙ d ∙ cosφ = (5000 N) ∙ (20 m) ∙ cos36,9° = 79968,5 N ∙ m WT = 79968,5 J A força de atrito forma um ângulo de 180º com o deslocamento; assim, o trabalho da força de atrito Wat será: Wat = Fat ∙ d ∙ cosφ = (3500 N) ∙ (20 m) ∙ cos180° = -70000 N ∙ m Wat = -70000 J O trabalho total será a soma dos trabalhos de cada força: WTotal = WP + WN + WT + Wat = 0 + 0 + 79968,5 J - 70000 J WTotal = 9968,5 J ≅ 10 kJ Calculando o trabalho total pelo método da soma dos vetores, faremos ini- cialmente a soma dos vetores das forças atuantes, que são somente as forças na horizontal: a componente x da força do trator e a força de atrito: ∑Fx = FTx ∙ cosφ + (-Fat) = (5000 N) ∙ cos36,9° - 3500 N ∑Fx = 498,4 N WTotal = (∑F⃗) ∙ d⃗ = (∑Fx ) ∙ d = 498,4 N ∙ 20 m = 9968 N ∙ m WTotal = 9968 J ≅ 10 kJ FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 121 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 121 08/05/20 11:22 Teorema do trabalho-energia Ao considerar o trabalho em termos de energia, primeiramente deve ser apresentada sua defi nição. Energia cinética (K) é uma grandeza escalar que está relacionada com a velocidade de um objeto de massa m, ou seja, é a ener- gia associada ao movimento do objeto, portanto, quando um objeto se encon- tra em repouso, ele não possui energia cinética. Para compreender o trabalho utilizando o conceito de energia cinética, con- sidere um objeto de massa m sendo deslocado por uma força constante que, consequentemente, possui uma aceleração constante. Utilizando a equação da cinemática para relacionar o deslocamento com a aceleração, tem-se: vf² = vi² + 2ax ∆x ax = vf² - vi² 2∆x Substituindo essa equação na equação da força (F = m ∙ a): F = m ∙ = vf² - vi² m ∙ vf² - m ∙ vi² 2∆x 2∆x -∆x ∙ F = m ∙ vf² m ∙ vi² 2 2 Pela equação de trabalho apresentada anteriormente, sabe-se que força multiplicada por deslocamento é o próprio trabalho, assim: -W = m ∙ vf² m ∙ vi² 2 2 Isoladamente, avaliando os termos da energia cinética, observa-se que sua unidade também é o joule, como mostra a equação a seguir: K = kg ∙ = joulem ∙ v² =12 m² s² Desta forma, pode-se escrever por meio da equação a seguir que trabalho é a variação de energia cinética: W = Kf - K i = ∆K FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 122 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 122 08/05/20 11:24 Esta equação representa o teorema do trabalho-energia cinética, que in- forma se houve aumento da energia cinética, indicando aumento da velocida- de durante o deslocamento, o que resulta em trabalho positivo. Ou, ainda, se houve diminuição da energia cinética e, consequentemente, redução na veloci- dade, resultando em trabalho negativo. Por fi m, se não há variação de energia cinética, não há trabalho. Vale ressaltar que o teorema de trabalho-energiacinética foi deduzido considerando as forças constantes e, portanto, deve ser empregado somente em sistemas retilíneos uniformes. Outro ponto importante é que o teorema deve considerar um sistema de referência inercial, pois as interações entre as forças são justifi cadas pelas leis de Newton. Trabalho e energia com forças variáveis Muitas aplicações de força não são constantes, já que variam ao longo de um deslocamento, que, na maioria das vezes, não é retilíneo. Vamos compreen- der primeiro as situações mais simples. Imagine um ciclista pedalando por uma rua traçando um caminho retilíneo (ilustrado na Figura 7) com certa velocidade. Ao passar por um cruzamento, ele diminui a velocidade para prosseguir seu caminho com segurança e, em seguida, passa a aumentá-la. A variação de velocidade adotada pelo ciclista em função do tempo é representada grafi camente na Figura 7. Figura 7. Deslocamento de um ciclista e sua representação gráfi ca. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 24/04/2020. x2 - x1 Gráfi co da força em função da posição A altura de cada faixa representa a força média para esse intervalo b)a) c) F1x F2xF2xF1x Fx Fx x x1 x2 x FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 123 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 123 08/05/20 11:24 Para determinar o trabalho realizado pelo ciclista neste percurso, não seria possível aplicar a equação do trabalho apresentada anteriormente. Uma solu- ção é dividir o deslocamento total em intervalos menores, de modo a formar estreitos retângulos com uma das bases sobre o eixo x e a base superior na curva se assemelhando a uma reta e sendo considerada como força constante. Assim, o trabalho pode ser calculado para cada intervalo de deslocamento e o trabalho total será uma integral de Fx no intervalo de x1 a x2. W = x2 x1 ∫ Fxdx Note que, ao multiplicar Fx no eixo Oy pelo deslocamento no eixo Ox, tem-se a área do estreito retângulo formado; somando as áreas de todos os retângulos formados abaixo da cur- va se obtém o trabalho total. O método de segmentar o desloca- mento em pequenos intervalos para obter a área total por meio de uma integral também pode ser utilizado para deduzir o teorema de trabalho- -energia cinética para forças variáveis. Substituindo Fx dx em cada intervalo de segmento pela variação da energia cinética, tem-se que a variação total de energia cinética será o resultado da so- matória de todas as variações de energia cinética de x1 a x2. Em outras palavras, quando a força é variável, o trabalho será obtido por uma integral ou integra- ção gráfica, calculando as áreas das formas geométricas formadas sob a curva que representa a variação da força em função do deslocamento. Exemplo 4: um carro se desloca com velocidade constante por determinado trecho. Em seguida, reduz a velocidade, mantendo seu percurso. O Gráfico 1 re- presenta a variação da força em função do deslocamento do automóvel em ques- tão. Nessa situação, determine o trabalho realizado pela força sobre o carro en- quanto ele se move de x = 0 m para x = 6 m. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 124 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 124 08/05/20 11:25 GRÁFICO 1. VARIAÇÃO DE FORÇA EM FUNÇÃO DA POSIÇÃO 5,0 5,0 6,0 x, m Fx, N 4,0 4,0 3,0 3,0 2,0 A1 A2 2,0 1,0 1,0 Resolução: o trabalho realizado por uma força variável pode ser obtido ao se calcular a integral ou a área sob a curva que representa essa variação. O cálculo da área é mais prático; dessa forma, o trabalho total pode ser obtido ao se calcular a área de um retângulo e a de um triângulo e somar as duas ao final. As dimensões do retângulo são 4 m de base (eixo x) e 5 N de altura (no eixo y). O triângulo tem base de 2 m (no eixo x) e altura de 5 N (no eixo y). Aretângulo = b ∙ h = 4,0 m ∙ 5,0 N = 20,0 J = = 5,0 JAtriângulo = b ∙ h 2,0 m ∙ 5,0 N 2 2 Wtotal = Atotal = Aretângulo + Atriângulo = 20,0 J + 5,0 J Wtotal = 25,0 J O teorema trabalho-energia com força variável tem uma aplicação especí- fica quando se trata da força elástica. Conforme apresentado no início da uni- dade, a força elástica obedece a uma constante de deformação proporcional à força aplicada, sendo essa força dada pela equação Fel = k ∙ x. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 125 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 125 08/05/20 11:25 GRÁFICO 2. CÁLCULO DO TRABALHO REALIZADO PARA ESTICAR A MOLA EM UMA DEFORMAÇÃO X 0 x Kx Fx = Kx Fx, N x W = Kx22 1 O trabalho realizado pela força quando a deformação varia de zero ao valor máximo de x é dado por: W = x 0 ∫ Fxdx = x 0 ∫ Kxdx = 12 Kx² Esse mesmo resultado pode ser obtido ao se obter a área do triângulo que representa o trabalho total realizado pela força. Especificamente neste caso, a variação da força elástica resultou em um gráfico cuja área é a de um triângulo. Podemos concluir que, na deformação de uma mola, o trabalho total é propor- cional ao quadrado do alongamento total x. Ou seja, para esticar uma mola em 2 cm, deve ser realizado um trabalho quatro vezes maior do que o necessário para esticar a mola em 1 cm. Exemplo 5: uma mulher pesando 600 N está em pé sobre uma balança de mola contendo uma mola rígida, como mostra a Figura 8. No equilíbrio, a mola está 1 cm comprimida devido à ação do peso da mulher. Qual a constante elástica da mola e o trabalho realizado pela força de compres- são sobre a mola? FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 126 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 126 08/05/20 11:25 -1,0 cm +x Fx < 0 Figura 8. Trabalho realizado sobre a mola da balança. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 24/04/2020. Resolução: nesta situação, temos a força peso da mulher agindo cima para baixo sobre a mola e a força da mola sobre a mulher de baixo para cima. O peso da mulher está comprimindo a mola, cuja deformação é proporcional à força, então, é possível determinar a constante elástica da mola pela equação: Fel = k ∙ x → k = Fel x = -600 N -0,010 m = 6,0 · 104 N ⁄m Determinada a constante da mola, podemos identifi car o trabalho da mu- lher sobre a mola da balança: W = 1 2 kx2² - 1 2 kx1² = 1 2 (6,0 · 104 N ⁄m) ∙ (-0,01 m) - 12 kx1² W = 12 (6,0 · 10 4 N ⁄m) ∙ (-0,01 m)² - 1 2 (6,0 · 104 N ⁄m) ∙ (0)² = 3,0 J Potência Muitas vezes, conhecer apenas o trabalho realizado por uma força sobre um objeto não é sufi ciente, sendo necessário saber o tempo gasto para a rea- lização deste trabalho. Assim, quando se faz a relação entre trabalho e tem- po, tem-se o conceito de potência média, dado pela seguinte relação entre as grandezas escalares: FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 127 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 127 08/05/20 11:25 Pm = = watt ∆W ∆t J s Assim como a força que realiza o trabalho pode não ser constante em fun- ção do deslocamento, o trabalho também poderá sofrer uma variação ao longo do tempo. Nestas situações, calcula-se a potência instantânea P como o limite da razão entre trabalho e tempo, como mostra a equação a seguir: P = lim ∆t→0 =∆W dW∆t dt A potência pode ser medida utilizando a unidade kilowatt (10³ W) ou megawatt (106 W). Muitos equipamentos trazem a medida de potência na unidade inglesa hp, que significa horse-power ou cavalo-vapor, em portu- guês, e cuja equivalência é de 1 hp = 746 W ou 0,746 kW. EXPLICANDO Não confunda kilowatt (kW) com kilowatt-hora (kWh). O kW (ou W ou hp) é uma medida de potência, que mensura o trabalho realizado em um intervalo de tempo, enquanto o kWh é a unidade utilizada pelas con- cessionárias de energia elétrica como forma de informar o consumo de energia elétrica no mês. O kWh não é uma informação de potência do sistema elétrico: 1 kWh por exemplo, informa o trabalho total realizado por uma potência de 1 kW no período de uma hora. Em outras palavras, quando na conta de luz aparecer o consumo de 180 kWh/mês, deve-se entender que uma potência total de 180 kW foi utilizada durante as 720 horas que completam o mês. Outra forma de descrever a potência se faz em termos da força e da veloci- dade. Imagineum objeto sendo empurrado por uma força F⃗, fazendo com que ele tenha um deslocamento na horizontal ∆d⃗. Considerando que a componente x dessa força encontre-se tangente ao deslocamento, o trabalho realizado será: ∆W = Fx ∙ cosφ ∙ ∆d E a potência média será: Pm = = Fx ∙ cosφ = Fx ∙ cosφ ∙ vm ∆dFx ∙ cosφ ∙ ∆d ∆t∆t FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 128 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 128 08/05/20 11:25 Os termos à direita dessa equação representam o produto escalar da mul- tiplicação de dois vetores, que pode, então, ser reescrita da seguinte forma: P = F⃗ ∙ v⃗ Exemplo 6: em Chicago, acontece uma corrida nas escadas da Torre Sears, o edifício mais alto dos Estados Unidos, com 443 m. Uma participante de massa 50 kg sobe correndo as escadas, chegando ao topo em 15 min. Qual deverá ser a potência média em watts, kilowatts e horse-power? Resolução: inicialmente, consideramos o deslocamento na vertical, do tér- reo ao topo do prédio (de baixo para cima), que será de 443 m. Assim, teremos o trabalho realizado pela força peso da corredora atuando na mesma direção e sentido do deslocamento, de 0 a 443 m: W = P ∙ h = mg ∙ h = 50,0 kg ∙ 9,81 m ⁄s² ∙ 443 m W = 2,17 ∙ 105 J O trabalho será realizado em 15 min, que correspondem a 900 s. Assim, a potência média será calculada como: Pm = W ∆t = 2,17 · 105 J 900 s = 241 W = 0,241 kW Pm = 0,241 kW ∙ 1 hp 0,746 kW = 0,323 hp Outra forma de calculá-la é considerando os termos velocidade e força: vm = ∆d ∆t = 443 m 900 s =0,492 m ⁄s Pm = Fx ∙ cosφ ∙ vm = (50,0 kg ∙ 9,81 m ⁄s² ∙ cos0°) ∙ (0,492 m ⁄s) Pm = 241 W Energia potencial e conservação de energia Quando um objeto está em repouso, não possui energia cinética; quando ele se movimenta, resulta em uma variação de energia cinética. Você consegue imaginar de onde essa energia surgiu? Será que quando um objeto está em re- pouso ele não possui nenhum tipo de energia? A resposta para essas perguntas serão os conceitos principais estudados neste tópico. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 129 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 129 08/05/20 11:25 A energia de um objeto que se encontra em repouso é denominada energia potencial. A partir do momento que este objeto começa a se movimentar, a energia potencial se converte em energia cinética: este fenômeno é regido pela chamada lei da conservação de energia. Como o próprio nome já diz, a energia de um objeto em repouso indica seu potencial de transformar essa energia em mo- vimento (energia cinética). Considere uma bola de pingue-pongue sendo elevada a 1 m do chão. Ao soltá-la em direção ao solo, a bola adquire uma quantidade de energia cinética. Se essa mesma bola for elevada a uma altura maior, a energia cinética será ainda maior. Ou seja, quanto mais elevada estiver a bola, maior seu potencial em gerar energia cinética. Dessa forma, a energia potencial está relacionada não somente ao estado de repouso de um objeto, mas também à sua posição em relação ao solo. Quando falamos de um objeto de massa m parado a uma determinada altu- ra do solo, a única força que poderia fazê-lo se mover é a gravidade. Define-se que este objeto tem uma energia potencial gravitacional associada a ele e seu deslocamento ocorrerá na vertical. O teorema trabalho-energia pode ser apli- cado para esse tipo de energia também. Considerando que o deslocamento ocorre de uma altura inicial y1 para uma altura final y2 e a força atuante será o peso do próprio objeto, tem-se a seguinte equação: Wgrav = Fg ∙ d = mg ∙ (y1 - y2) = mgy1 - mgy2 Se y1 é maior que y2, o objeto cai de uma altura maior para uma altura menor e realiza trabalho positivo. O contrário pode ocorrer quando um objeto é joga- do para cima; assim, o trabalho é negativo. Ao termo mgy1 é dada a definição de energia potencial gravitacional (Ugrav) e, portanto, o teorema trabalho-ener- gia potencial resulta em: Wgrav = Ugrav-1 - Ugrav-2 = -(Ugrav-2) -Ugrav-1) = -∆Ugrav O sinal negativo do teorema é fundamental, pois se um objeto se move de baixo para cima, o y aumenta e, consequentemente, a energia potencial se eleva. Por outro lado, se o objeto se move de cima para baixo, a energia potencial diminui. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 130 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 130 08/05/20 11:25 Outro tipo de energia potencial é a elástica, na qual o trabalho realizado se deve a uma força elástica proveniente de uma mola ou um elástico, fazendo com que um objeto se desloque de um ponto a outro. Uma criança com um estilingue, por exemplo: ao esticar o elástico com uma pedra, a força aplicada realiza trabalho sobre o elástico, acumulando energia. Ao soltar o elástico, a energia cinética é transferida à pedra, que adquire velocidade. A energia potencial elástica pode ser generalizada para qualquer tipo de corpo que se deforma ao armazenar energia e tem a capacidade de voltar ao seu formato anterior à deformação. Em outras palavras, o corpo deve obedecer à lei de Hooke, sendo a deformação proporcional à força aplicada. Conforme já visto, o trabalho realizado por uma força elástica sobre uma mola que se move de x1 a x2 foi definida como: W = 12 kx2 2 - 12 kx1 2 Pela terceira lei de Newton, consideramos que a força aplicada na mola por um objeto é de mesma intensidade e sinal contrário à força aplicada pela mola em um objeto. Portanto, pode-se concluir que o trabalho realizado pela mola é: Wel = 1 2 kx1 2 - 12 kx2 2 Desta forma, a energia potencial elástica pode ser obtida por: Uel = 12 kx² Portanto, o trabalho da mola, em termos de variação da energia potencial elástica, será: Wel = Uel-1 - Uel-2 = -∆Uel Se a mola é esticada, x2 será maior que x1, portanto, o trabalho é negativo. Se houver compressão da mola, x2 < x1, então o trabalho será positivo. Vale ressaltar que a energia potencial elástica sempre será positiva e que, quando a mola não estiver deformada (comprimida ou alongada), x será zero. Aplicando o conceito de trabalho-energia, conforme o exemplo adotado do menino com o estilingue, tem-se: Wtotal = Wel , onde Wtotal = K2 - K1 Wtotal = Wel → K2 - K1 = Uel-1 - Uel-2 Uel-1 + K1 = K2 + Uel-2 FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 131 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 131 08/05/20 11:25 Essa equação representa que a energia mecânica total (E = K + Uel) se con- serva quando consideramos que a massa da mola é desprezível ou que sua massa é muito menor que a do objeto preso em sua extremidade, como no caso da mola de suspensão de um automóvel. CURIOSIDADE Os automóveis possuem um sistema de suspensão composto basicamente por molas e amortecedores ligados aos eixos das rodas, que trabalham em conjunto para que o motorista e outros passageiros não sintam as irre- gularidades do asfalto. As molas têm a função de se deformarem quando o automóvel passa por um buraco, lombada ou outra irregularidade no plano. Nessa deformação, ela armazena uma quantidade de energia potencial elástica que, em vez de ser transferida para o automóvel, é transferida para o amortecedor. O amortecedor, por sua vez, tem a função de converter essa energia recebida pela suspensão em energia térmica, ou seja, dissipando-a em forma de calor. Conservação de energia Sabendo a defi nição de energia potencial gravitacional e de energia cinéti- ca, será considerada a atuação dessas duas energias em conjunto. Imagine um objeto de massa m cuja força atuante é somente a força da gravidade. Ao cair, ele possui uma velocidade v1 a uma altura y1 e, alguns segundo depois, esse mesmo objeto possui uma velocidade v2 a uma altura y2. O teorema trabalho-e- nergia indica que o trabalho realizado sobre o corpo corresponde à variação da enérgica cinética (Wtotal = ∆K). Por outro lado, como a única força atuante é a gravidade sobre o objeto, também pode ser considerado que o trabalho corresponde à variação de ener- gia potencial: (W total = Wgrav = -∆Ugrav ) Desta forma, faz-se a seguinte relação: ∆K = -∆Ugrav → K2 - K1 = Ugrav-1 - Ugrav-2Ou ainda: K1 + Ugrav-1 = K2 + Ugrav-2 Dá-se o nome de energia mecânica total do sistema ao termo K + Ugrav. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 132 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 132 08/05/20 11:25 Assim, E1 = K1 + Ugrav-1 representa a energia mecânica total na altura y1 e E2 = K2 + Ugrav-2 representa a energia mecânica total na altura y2. Desta forma, tem-se que E1 = E2, ou seja, a quantidade de energia permanece constante de uma altura para outra. Nessas condições, pode ser considerado que, quando somente a força gravitacional realiza trabalho, a energia mecânica é conservada. Entenda que isso não quer dizer que a energia cinética e a potencial gravitacional se mantenham constantes em alturas diferentes: somente sua soma é constante. Por isso, pode ser usado o conceito de que a energia potencial é convertida em energia cinética ao passo que um objeto adquire movimento, ou que a energia ciné- tica se converte em energia potencial ao passo que um objeto entra em repouso. ASSISTA Para demonstrar que a energia não é criada nem destruída, mas, sim, transformada, o vídeo Quadro Experimento - Conservação de energia apresenta um experimento clássico sobre a conversão da energia poten- cial gravitacional em energia cinética. Ao inserirmos em um sistema outro tipo de força além da força gravitacional, o conceito de trabalho, em termos de energia cinética e potencial gravitacional, pode ser mantido, adicionando-se somente o trabalho realizado por essa outra força. Veja: Wtotal = WF + Wgrav → K2 - K1 = WF + (Ugrav-1 - Ugrav-2 ) K2 + Ugrav-2 = WF + (Ugrav-1 + K1 ) E2 = WF + E1 WF = E2 - E1 A equação descreve que o trabalho realizado por qualquer outra força que não seja a gravidade corresponde à variação da energia mecânica total. Exemplo 7: em um projeto de sistema de segurança para um elevador, colo- ca-se uma mola de amortecimento no fundo do poço do elevador para o caso de haver o rompimento do cabo. O sistema é dimensionado considerando que o elevador possui massa de 2000 kg e cai a uma velocidade de 4 m/s sobre a mola. Contando com uma braçadeira de segurança que exerce sobre o ele- vador uma força de atrito de 1700 N, a mola deve ser comprimida em 2 m, fazendo o elevador parar. Nessas condições, deve-se determinar qual será a constante elástica da mola para que os requisitos do projeto sejam atendidos. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 133 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 133 08/05/20 11:25 Resolução: primeiramente, identificam-se as energias. Temos energia ciné- tica (K), gravitacional (U), elástica (Uel) e a energia dissipada pela força de atrito que realiza trabalho negativo sobre o elevador (WFat), portanto, a energia me- cânica total não é conservada. Em seguida, consideramos a posição do elevador. Como ele se desloca na vertical, podemos tomar as posições no eixo y com a posição y1 na origem e a po- sição y2 a 2 m abaixo da origem, pois a mola estará comprimida, como mostrado na Figura 9. A equação geral que representa o sistema será a seguinte: K1 + U1 + Uel-1 + WFat = K2 + U2 + Uel-2 Figura 9. Representação de força de atrito e elástica atuantes para amortecer a queda de um elevador. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 27/04/2020. Avaliando separadamente cada tipo de energia, temos: • A energia cinética em y1, quando o elevador chega à mola com v1 = 4,0 m/s: K1 = 1 2 mv1 2 = 12 (2000 kg) (4,0 m ⁄s)² = 16000 J 2,0 m Ponto 1 Ponto 2 Início da queda P v1 = 4,0 m/s v2 = 0 Fat = 17000 N Final da queda FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 134 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 134 08/05/20 11:25 • A energia cinética em y2, quando o elevador deve ter v2 = 0 m/s, pois essa é a função da mola, portanto, K2 = 0. • A energia potencial gravitacional em y1 será zero, pois y1 está na origem: U1 = 0. • A energia potencial gravitacional em y2, pois a posição do elevador será -2 m, portanto: U2 = mgy2 = (2000 kg) ∙ (9,81 m ⁄s²) ∙ (-2,0 m) = -39240 J • A energia potencial elástica em y1 é zero, pois a mola não está deformada: Uel-1 = 0. • A energia potencial elástica em y2 será utilizada para determinar a constan- te elástica da mola (K): Uel-2 = 1 2 ky2 2 = 12 k(-2,0m)² = k(2,0m) Por fi m, outro termo da equação, que é o trabalho realizado pela força de atrito nos 2 m até o elevador parar, será: WFat = F ∙ d = -(17000 N)(2,0 m) = -34000 J Substituindo os termos defi nidos na equação geral, temos: K1 + U1 + Uel-1 + WFat = K 2 + U2 + Uel-2 16000 J + 0 + 0 - 34000 J = 0 - 39240 J + (2,0 m)K (2,0 m)K = 21240 K = 10620 N ⁄m Forças conservativas e não conservativas Na defi nição do conceito de energia mecânica, foi intro- duzido o termo energia conservada. Aprofundando este tema, considera-se que a força que gerou energia po- tencial que, posteriormente, foi convertida em energia cinética (o contrário também é válido), pode ser consi- derada uma força conservativa. Exemplos deste tipo de força são a força gravitacional e a força elástica. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 135 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 135 08/05/20 11:25 Uma característica essencial das forças conservativas é que o trabalho reali- zado por elas deve ser reversível: a energia potencial é convertida em energia cinética e vice-versa, sem que ocorram perdas de nenhum tipo. Além disso, o trabalho nessas condições é dado pela diferença entre o valor inicial e final da função energia potencial, independente da trajetória, podendo ser igual a zero caso o ponto inicial coincida com o ponto final. Em contrapartida, nem todas as forças podem ser consideradas conserva- tivas. Uma delas é a força de atrito, que atua em objetos que se movimentam sobre uma superfície. Ela sempre atuará no sentido contrário ao do movimen- to, realizando um trabalho negativo. Imagine uma moto rodando sobre uma rua: o motoqueiro faz uma frenagem brusca na qual a moto derrapa por alguns metros, a velocidade reduz e, consequentemente, a energia cinética também diminui. Nessa situação, a energia cinética foi perdida, não podendo ser recu- perada, portanto, a energia mecânica não é conservada. O atrito e a força de resistência ao escoamento de fluidos são considerados forças não conservativas e produzem uma perda ou dissipação de energia me- cânica, sendo, portanto, definidas como forças dissipativas. Elas normalmen- te são perdidas em forma de calor, podendo o objeto perder ou ganhar calor (pela diminuição e elevação da temperatura). O conceito de ganhar calor está mais relacionado às reações químicas. A quantidade de energia dissipada em forma de calor associada à mudança de temperatura do objeto denomina-se energia interna, que aumenta quan- do a temperatura do objeto se eleva e diminui quando a temperatura se reduz. Essa energia interna pode ser quantificada e considerada no montante total de energia em um sistema, possibilitando a aplicação da lei da conservação de energia. Para exemplificar, considere um bloco deslizando sobre uma superfí- cie rugosa. O trabalho realizado pela força de atrito sobre o bloco é negativo, enquanto a superfície e o bloco terão uma variação positiva da energia interna, pois ambos se aquecem (mesmo que sutilmente). Considere a relação a seguir: ∆Uint = -WFat Considerando a equação desenvolvida para relacionar a variação da ener- gia mecânica quando existe trabalho de uma força qualquer (WF = E2 - E1), esse é o trabalho realizado pela força de atrito: FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 136 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 136 08/05/20 11:25 ∆Uint = -E2 + E1 = -(K2 + Ugrav-2) + (Ugrav-1 +K1) ∆Uint = -K2 - Ugrav-2 + Ugrav-1 + K1 Ugrav-2 -Ugrav-1 + K2 - K1 + ∆Uint = 0 ∆U + ∆K + ∆Uint = 0 Assim, defi ne-se a forma geral da lei da conservação da energia, que deter- mina que em um sistema pode ocorrer variação de energia interna, potencial e cinética, mas sua somatória será sempre igual a zero. Esse conceito pode ser empregado em qualquer situação na natureza: a energia não se cria ou se des- trói, masapenas se transforma. Diagrama de energia O movimento de um objeto e as variações de energia podem ser ex- pressas em forma gráfica, com a energia potencial em função da posição do objeto no sistema, conhecida como diagrama de energia. Para faci- litar a interpretação gráfica, é considerado que o movimento ocorre em linha reta sobre o eixo x ; desta maneira, para construir a curva do grá- fico, basta definir a relação entre a energia potencial e a força que atua sobre a partícula. A energia potencial foi conceituada utilizando como referência a força da gravidade atuante em um objeto, considerando, assim, a energia poten- cial gravitacional. Porém, a energia potencial pode ser resultado da atua- ção de outra força que não a gravitacional ou a elástica, sendo denomina- da somente de energia potencial. Da mesma forma, o trabalho realizado é considerado como a aplicação de tal força sobre um objeto, resultando no seu deslocamento. Assim, para defi nir essa força a partir de uma dada energia potencial, po- de-se considerar: W = F(x) ∙ ∆x Empregando a mesma relação da energia potencial gravitacional: W = -∆U → F(x) ∙ ∆x = -∆U ∆U ∆x ∆U ∆x dU(x) dxF(x) = - = - lim = -∆x→0 FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 137 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 137 08/05/20 11:25 Para construir um diagrama de energia, é necessário utilizar a relação da energia potencial para um sistema no qual um objeto se move em linha reta devido à ação de uma força genérica que realiza trabalho sobre ele, como mos- tra o Gráfico 3. A energia em função da posição forma uma parábola, e a força pode ser determinada em vários pontos de inclinação desta curva. GRÁFICO 3. DIAGRAMA DE ENERGIA DE UMA FUNÇÃO DE ENERGIA POTENCIAL E FORÇA CORRESPONDENTE E3 U Ponto instávelPonto estável E2 xc xdxa xbx1 x2 x3 x4 x E1 E0 0 Em pontos específicos, como x1 e x3, a curva da energia potencial não possui inclinação; desta forma, a força será zero, considerando um ponto de equilíbrio estável. Se o objeto se mover para a direita desses pontos (tanto x1 quanto x3), a inclinação da curva será positiva e a força, negativa, ou seja, ela estará atuando no sentido contrário ao do deslocamento, empurrando o objeto para o ponto de equilíbrio estável. O mesmo ocorre se o objeto se des- locar para a esquerda: a inclinação da curva será negativa e a força atuante, positiva, empurrando o objeto novamente para o ponto de equilíbrio estável. Nesses casos, a força é chamada de restauradora, pois leva o objeto a reto- mar sua posição estável. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 138 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 138 08/05/20 11:25 Nos pontos x2 e x4, a curva da energia potencial também não possui inclinação, sendo estes pontos também considerados de equilíbrio. Entre- tanto, se o objeto se mover para a direita, a curva da energia potencial terá inclinação negativa e a força atuante será positiva e, portanto, estará empurrando o objeto para longe do ponto de equilíbrio. O mesmo ocorre se o objeto se deslocar para a esquerda: a curva de energia potencial terá inclinação positiva e a força será negativa, empurrando o objeto para lon- ge do ponto de equilíbrio. Assim, os pontos x2 e x4 correspondem a pontos de equilíbrio instável. Para entender melhor o comportamento do objeto nessa situação, será feita uma analogia com uma bolinha de gude. Na primeira situação, a bolinha é colocada na beirada de um recipiente de fundo redondo. Ela tende a ir para o fundo e parar, encontrando o equilíbrio estável. Agora, na segunda situa- ção, a bolinha é colocada no topo de uma superfície redonda. A bolinha tende a cair para um dos lados; o topo seria o equilíbrio instável. Além disso, no diagrama de energia, representa-se a quantidade total de energia (energia mecânica), assim, a variação da energia cinética a cada ponto pode ser obtida pela diferença entre a energia mecânica e a potencial. Assim, voltando ao Gráfico 3, a distância máxima que o objeto em repouso em x1 pode percorrer será limitada pela intersecção da curva de U com a reta de E1, pois não existe energia cinética negativa. Assim, o objeto pode se deslocar somente entre xa e xb. Esses pontos são chamados de pontos de inversão, pois o objeto atinge essa posição máxima, momentaneamente, e inverte o sentido do seu deslocamento. O mesmo é válido para um sistema de mola-bloco. Derivando a função da energia elástica, tem-se: Uel = 1 2 Kx 2 Fx = -Kx, A equação evidencia que a relação entre a energia potencial e a força atuante é verdadeira. Construindo um gráfico com a função da energia elástica e a força elástica, obtém-se o diagrama de energia apresentado no Gráfico 4. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 139 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 139 08/05/20 11:25 GRÁFICO 4. DIAGRAMA DE ENERGIA DE UMA FORÇA ELÁSTICA U = Kx212 U E = U + K K U -A A x 0 Considerando que a única força atuante no objeto é aquela que o move, então, temos que E = U + K. Nesse caso, E é constante, pois corresponde à energia mecânica conservada, enquanto a energia potencial e cinética varia em função de x, formando uma parábola. A distância vertical entre cada ponto da parábola com a linha horizontal, que representa E, corresponde a E – U, ou seja, corresponde à quantidade de energia cinética a cada ponto. Quando o objeto se encontra na posição x = 0, a força também será zero, indicando uma posição de equilíbrio. À medida que x aumenta (eixo positivo Ox), a inclinação da curva de energia se torna positiva e a força, negativa. Se a posição em x diminui (eixo negativo Ox), a curva de energia tem inclinação negativa e a força será positiva. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 140 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 140 08/05/20 11:25 Sintetizando Nesta unidade, foram apresentados os tipos de forças de contato que são responsáveis pelo estado de repouso ou o movimento de um objeto/corpo/par- tícula. As forças de contato estudadas foram: força normal, que deriva do con- tato do objeto com qualquer superfície; força de atrito, associada à rugosidade da superfície na qual o objeto se encontra; força de tensão, proveniente de um cabo preso ao objeto; e força elástica, caracterizada pela utilização de uma mola. A interação entre essas forças deve ser avaliada de acordo com a intensida- de e orientação, pois correspondem a grandezas vetoriais. Outra força funda- mental é a gravidade (não é uma força de contato), que está presente em todos os sistemas avaliados. Para aplicar essas forças e compreender o estado de um objeto, devem ser consideradas as três leis de Newton: a primeira sobre o princípio da inércia, a segunda sobre a variação da velocidade de um objeto pela aplicação de uma força e a terceira sobre ação e reação. Em qualquer situação, um corpo estará sujeito a mais de uma força. Mesmo quando ele se encontra em repouso, deve haver no mínimo duas forças que se equilibram e fazem com que este objeto permaneça em repouso. Para identifi- car de forma mais fácil todas as forças que atuam sobre um corpo, utiliza-se o diagrama de corpo livre. Com ele, é possível deduzir se o objeto está em repou- so ou em movimento e ainda qual a orientação desse movimento. Nesse tipo de gráfico, considera-se o objeto na origem de um plano cartesiano em que os vetores de força são colocados para encontrar uma resultante. O movimento é resultado da aplicação de uma força que faz com que um objeto se movimente por uma determinada distância, chegando ao conceito de trabalho. Considerando que a ação das forças sobre um objeto faz com que ele se mova, dizemos que o sistema possui energia. Des- ta forma, o trabalho pode ser expresso em termos de energia ou variação de energia. Essa variação pode ser de uma posição inicial a uma posição fi- nal e até de um tipo de energia para outra, obtendo uma equação geral de energia mecânica. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 141 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 141 08/05/20 11:25Algumas interações entre forças podem se converter em outro tipo de ener- gia que não a potencial e a cinética. Neste caso, é considerada como energia perdida em forma de calor, ou seja, energia térmica. Quando encontramos essa situação, devemos considerar a quantidade de energia perdida para manter a veracidade da equação. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 142 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 142 08/05/20 11:25 Referências bibliográficas BITS 6 – Quadro experimento: conservação de energia. Postado por Bits Ciência. (2min. 12s.). son. color. port. Disponível em: <https://www.youtube. com/watch?v=sG25MQn94jI>. Acesso em: 27 abr. 2020. HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de Física: eletromagnetis- mo. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016, v. 3. TIPLER, P. A.; MOSCA, G. Física para cientistas e engenheiros. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2009, v. 3. YOUNG, H. D.; FREEDMAN, R. A. Física III: eletromagnetismo. 12. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009. FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL 143 SER_ECPME_FIGEEXP_UNID4.indd 143 08/05/20 11:25