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Fichamento do livro: A surdez: um olhar sobre as diferenças Skliar, Carlos. (Org.). et al. A surdez: um olhar sobre as diferenças. 4. ed. Porto Alegre: Mediação, 2010. O texto está dividido em 10 (dez) capítulos e aborda diferentes idéias antropológicas, sociais e políticas sobre a surdez e o lugar dos surdos na sociedade, observando questões como projetos educativos e a ajuda de políticas públicas voltadas para a educação dos surdos. Capítulo 1 – Os Estudos Surdos em Educação: problematizando a normalidade Conforme Carlos Skliar, foram mais de cem anos de práticas de tentativa de correção, normalização e de violência institucional; instituições especiais que foram reguladas para controlar, separar e negar a existência da comunidade surda, da língua de sinais, das identidades surdas e das experiências visuais, que determina o conjunto de diferenças dos surdos em relação a qualquer outro grupo de sujeitos. As mudanças registradas nos últimos anos são as concepções sobre o sujeito surdo, as descrições em torno da sua língua, as definições sobre as políticas educacionais, a análise das relações de saberes e poderes entre adultos surdos e adultos ouvintes, etc. Entre as múltiplas contribuições temos a divulgação dos modelos denominados de concepções sociais, culturais e antropológicas da surdez que se constituem os elementos mais significativos. Os projetos pedagógicos ainda sugerem a existência de uma problemática educacional não revelada totalmente. O fato de que a educação dos surdos não se atualize em sua discussão educativa pode revelar que a pedagogia para surdos se constrói, implícita ou explicitamente, a partir das oposições normalidade/anormalidade, saúde/patologia, ouvinte/surdo, maioria/minoria, oralidade/gestualidade, etc. Por todas essas razões, uma nova perspectiva deveria desnudar as identidades dos surdos, na sua cidadania, no mundo do trabalho, na linguagem e deveria duvidar dos poderes e dos saberes, arraigados na prática educacional. A temática da surdez se configura como território de representações que não podem ser facilmente delimitadas ou distribuídas em “modelos sobre a surdez”. Trata-se de identificar os matizes, os espaços vazios, os interstícios, os territórios intermediários que não estão presentes nesses modelos, mas que transitam, flutuam entre eles como, por exemplo, as significações lingüísticas, históricas, políticas e pedagógicas. Wrigley nos propõe pensar a surdez não como uma questão de audiologia, mas a um nível epistemológico, ou seja, incluir representações sobre a surdez como deficiência auditiva e como construção visual nos obriga a conduzir a nossa reflexão numa dimensão especificamente política. O movimento de tensão e ruptura entre a educação de surdos e a educação especial é caracterizado a partir da visão onde a educação especial para surdos é vista como o espaço habitual onde se produzem e se reproduzem táticas e estratégias de naturalização dos surdos em ouvintes, e o local onde a surdez é disfarçada. E dessa forma, existem três razões que justificam a necessidade de um movimento de tensão e ruptura com a educação especial: a primeira coloca sob suspeita a idéia de que a educação especial seja contexto obrigatório para um debate significativo sobre a educação dos surdos; a segunda, discute o discurso hegemônico que supõe a existência de uma linha contínua de sujeitos deficientes, dentro da qual os surdos são forçados a existir; e a terceira, discute o não reconhecimento aos surdos dos múltiplos recortes de identidade, cultura, comunidade, e etnia. Os surdos são definidos somente a partir de supostos traços negativos, percebidos como exemplos de um desvio de normalidade. Assim, a necessidade de construir um território mais significativo para a educação dos surdos nos conduz a um conjunto de inquietações acerca de como narramos aos outros, de como os outros se narram a si mesmos, e de como essas narrações são colocadas de um modo estático nas políticas e nas práticas pedagógicas. A tensão e a ruptura com a educação especial só podem ser entendidas como estratégias para deslocar representações e não no seu sentido linear, literal. A possibilidade de incluir a análise da educação dos surdos dentre o de um contexto discursivo mais apropriado a situação lingüística, social, comunitária, cultural e das identidades dos sujeitos surdos não deve ser passiva e sim crítica. Se trata de produzir uma política de significações que gere outro mecanismo de participação dos próprios surdos no processo de transformação pedagógica. E isso nos remota a questão de falar dos surdos como totalidade, e mesmo ela não sendo nem positiva nem negativa, seria um equívoco conceber os surdos como um grupo homogêneo, uniforme, pois, existem vários grupos inseridos nas classes populares, como os surdos que não sabem que são surdos, as mulheres surdas, os surdos negros e por aí vai. E quanto ao ouvintismo, o que é? Trata-se de um conjunto de representações dos ouvintes, a partir do qual o surdo está obrigado a olhar-se e a narrar-se como se fosse ouvinte. A análise do ouvintismo e oralismo foi e é realizada, quase sempre, como se tratasse de um poder vertical, absoluto. Isso conduz a uma simplificação no entendimento da sua vigência atual e a uma leitura apenas superficial das suas estratégias explícitas. Quanto ao fracasso educacional dos surdos, está a atribuição aos surdos do fracasso, a culpabilização aos professores ouvintes e as limitações dos métodos de ensino, o que reforça a necessidade de purificá-los, de sistematizá-los ainda mais, de torná-los mais rigorosos e impiedosos com relação aos surdos. Porém, não há nenhuma razão que justifique uma medida do fracasso. O que se faz necessário é o surgimento de novas e variadas perspectivas qualitativas, ou seja, a educação dos surdos não fracassou, ela apenas não conseguiu os resultados previstos em função dos mecanismos e das relações de poderes e de saberes atuais. O olhar dos surdos sobre o fracasso se refere, sobretudo a uma questão ligada à falta de acesso à língua de sinais e a um processo demorado de identificações com outros surdos. O fato de que os surdos não possam ser ouvintes, não parece ser um obstáculo para as representações dominantes na educação dos surdos. Os surdos acabam sendo catalogados não apenas como não ouvintes, mas como autistas, psicóticos, deficientes mentais, afásicos e esquizofrênicos. Estes estereótipos sobre os surdos não podem ser considerados inocentes e permitem um controle social eficaz e determinam, exatamente, uma devastação psíquica sistemática nos surdos. A maioria deles vivem em desvantagem social, de desigualdade, e participam, limitadamente na vida da sociedade majoritária. E infelizmente, o uso da língua de sinais ainda constitui um fator de exclusão dessa sociedade. A utilização da língua de sinais por parte dos surdos é, por si, o fato que melhor sublinha esse conjunto de relações assimétricas de poder e evidencia aquilo que a maioria (minoria) ouvinte quer desterrar das escolas de surdos: a surdez. Os surdos criaram, desenvolveram e transmitiram, de geração em geração, uma língua, cuja modalidade de recepção e produção é visuogestual. A língua oral e a língua de sinais não constituem uma oposição, mas sim canais diferentes para transmissão e a recepção da capacidade mental da linguagem. A reflexão sobre o consenso das potencialidades educacionais dos surdos não deve se ser apressadamente interpretada sobre o modo como os surdos podem ser educados, na verdade, é uma tentativa, uma busca de um consenso, no sentido de gerar as sementes para um projeto político e educacional. Essas potencialidades estão sendo, virtual e definitivamente abandonadas pelos projetos de educação especial para surdos. E pôs a língua de sinais ao alcance de todos os surdos deve ser o principio de uma política lingüística, a partir da qual se pode sustentar um projeto educacional mais amplo. É um direito dos surdos e não uma concessão de alguns professores ou de algumas escolas. Assim, os estudos surdos podemser pensados como um território de investigação educacional e de proposições políticas que, através de um conjunto de concepções lingüísticas, culturais, comunitárias e de identidades, definem uma particular aproximação com o conhecimento e com os discursos sobre a surdez e sobre o mundo dos surdos. Capítulo 2 – O discurso moderno na educação dos surdos: práticas de controle do corpo e a expressão cultural amordaçada A produção acadêmica e os registros históricos disponíveis localizam na França, a partir da segunda metade do século XVIII, o ‘berço’ da educação institucional e pública de pessoas surdas no Ocidente. A instituição escolar imperial, cuja primeira proposta pedagógica data de 1760, funda-se nos moldes do antigo regime francês e passa por adoção pela Assembléia Nacional, em 1791, tornando-se o Instituto Nacional dos Jovens Surdos de Paris (INJS). O Instituto serve de centro irradiador de um ideário cientifico e modelo educacional para diversos países, contextualizado pelo projeto de uma instrução pública para todos. Em 1818 a ginástica é introduzida no Instituto Nacional de Paris e o currículo passa a incorporar o treinamento físico para fortificar os corpos, regular a formação moral e reprimir os desvios sexuais. A ginástica faz uso do canto, preparando a educação da voz e da fala. O sentido fisiológico, o ouvir, impõe-se como uma norma positiva. Para uma boa comunicação, falar e ouvir. Mas nem sempre aquele que ouve escuta. Podemos ouvir sem prestar atenção, sem uma compreensão do que está sendo dito, sem aceitarmos a posição do outro. No entanto, estamos ouvindo. É quase uma obrigação, constantemente solicitada pela direção das escolas, oferecer-se algum tipo de apresentação pública, realizada com o corpo discente das escolas especiais, levadas à comunidade escolar (pais, amigos, parentes, autoridades) nos intercâmbios institucionais. Se considerarmos as propostas pedagógicas contemporâneas que defendem uma educação direcionada para a autonomia do sujeito, para o uso da língua como construtora de um lócus cultural, então os procedimentos apresentados costumeiramente nas performances artísticas negam, com evidência, os princípios que norteiam essas propostas. Capítulo 3 – Identidades surdas A identidade particular com a qual vou me preocupar é a identidade surda. Ao focalizar a representação da identidade surda em estudos culturais, tenho de me afastar do conceito de corpo danificado para chegar a uma representação da alteridade cultural que simplesmente vai indicar a identidade surda. Não consigo assumir a lógica de que as culturas onde nascemos e passamos a viver parte de nossas vidas se constitui na fonte da identidade cultural. O caso dos surdos dentro da cultura ouvinte é um caso onde a identidade é reprimida, se rebela e se afirma em questão da original. A identidade original estabelece uma identidade de subordinação em vista da alteridade cultural, a mesma que se dá entre os outros grupos étnicos. Para Silva (1998, p.58), ‘a identidade cultural ou social é o conjunto dessas características pelas quais os grupos sociais se definem como grupos: aquilo que eles são, entretanto é inseparável daquilo que eles não são, daquelas características que os fazem diferentes de outros grupos. O discurso surdo inverte a ordem ouvintista, tem o peso da resistência. Rompe e contesta as práticas historicamente impostas pelo ouvintismo. E o discurso surdo continua na busca de poder e autonomia. O ouvintismo deriva de uma proximidade particular que se dá entre ouvintes e surdos, na qual o ouvinte sempre está em posição de superioridade. Uma segunda ideia é a de que não se pode entender o ouvintismo sem que este seja entendido como uma configuração do poder ouvinte. Em sua forma oposicional ao surdo, o ouvinte estabelece uma relação de poder, de dominação em graus variados, onde predomina a hegemonia através do discurso e do saber. Academicamente esta palavra – ouvintismo – designa o estudo do surdo do ponto de vista da deficiência, da clinicalização e da necessidade de normalização. As relações sociais onde se realizam as representações da alteridade surda são relações onde imperam poderes. No interior das relações sociais, sempre estão presentes relações de poder. Foucault ensinou a ver relações de poder como internas, comuns, misturadas na praticidade dos encontros. É interessante notar como os ouvintes tecem redes de poderes e como elas vêm disfarçadas sobre o discurso da fala, da integração e do colonialismo. A educação, ainda que já esteja saindo domínio do oralismo, tem que desaprender um grande número de preconceitos, entre eles o de querer ‘fazer do surdo um ouvinte’. A educação tem que caminhar no sentido da identidade do surdo, permitindo também a presença do professor surdo. Capítulo 4 – Os discursos sobre surdez, trabalho e educação e a formação do surdo trabalhador Ao se falar do surdo trabalhador, vão se construindo sujeitos que se entendem como tal. Os discursos sobre a surdez e os surdos não se apresentam de forma homogênea. Eles estão inscritos entre diversas formações discursivas, constituídas a partir de diferentes praticas ligadas aos campos da medicina, da pedagogia, da lingüística, entre outros. Desde a segunda metade do século passado, persistindo ate os dias atuais, a hegemonia de discursos ligando a surdez a questão médica, fez predominar uma abordagem clinica-terapêutica dentro dos projetos educacionais. A escola, desta forma, para alem do espaço pedagógico, se apresenta enquanto proposta clinica de atendimento aos alunos surdos. Percebem-se ainda os discursos que circulam pelas escolas de surdos, inspirando-se em Foucault, o que Sanchez chama de pedagogia ortopédica, muito mais que educar, se pretende corrigir. Praticas voltadas a fazer falar, a se adaptar ao uso de um aparelho auditivo, são exemplos de reabilitação que se estendem para alem do espaço da escola e chegam também aos locais de trabalho onde os surdos devem se adequar as exigências do mercado que busca a eficiência e a lucratividade, dentro de uma lógica de normalização dos sujeitos. Esses discursos estão ligados, de forma privilegiada, a uma lógica da deficiência a ser superada, ao sentido libertador do trabalho, levando o sujeito surdo a conquista da autonomia, como também a necessidade, inevitável segundo alguns discursos, de integração dos sujeitos surdos com uma “sociedade ouvinte”. As escolas de surdos vêm atuando de forma direta no que podemos chamar de formação de surdos trabalhadores. Essa formação não se resume a aquisição de conhecimentos considerados úteis e necessários ao exercício de uma profissão. Wrigley ao fazer uma genealogia das identidades surdas, se refere a educação de surdos centrada, quase que exclusivamente no treinamento comportamental a fim de produzir surdos aceitáveis para a sociedade “dos que ouvem”. O surgimento da escola moderna e o inicio da industrialização compartilham da organização dos saberes que vão dando sustentação a uma nova ordem nas relações sociais e econômicas. Nas escolas de surdos, podemos encontrar indícios de uma relação entre os objetivos das escolas e as necessidades emergentes de sujeitos preparados para ingressar nas fabricas. Um exemplo disso esta numa publicação do Instituto Nacional de Jovens Surdos de Paris. A presença da palavra profissão dentro do que era considerado sistema de ensino, pode demonstrar o quanto a questão do trabalho não era considerada como algo fora da escola, mas, fazendo parte do seu conjunto de objetivos. O que chama a atenção é o disciplinamento narrado, onde fica evidenciado que, para alem do aprendizado de um oficio, os jovens alunos surdos vinham sendo disciplinados a uma rotina que atendia ao ritmo das fabricas que surgiam na época. A realização desse tipo de programa é justificada como “parte integrante do processo de reabilitação, possibilitando a sua plena integração à sociedade”. É interessante pensar que, se a escola de surdos atende a crianças e jovens que ainda não foram inseridos no mercado de trabalho, é estranho,e até equivocado, falar em reabilitação, como se fosse necessário reparar algo ou alguém que já falhou. Essas oficinas, na grande maioria, são montadas a partir das possibilidades financeiras para sua manutenção, como também, através da escolha da direção das escolas sobre o que se entende por melhor profissão para os surdos. É interessante assinalar o quanto as escolhas realizadas pelas escolas, tanto nas oficinas quanto em cursos profissionalizantes, levam em conta o que os grupos de pessoas consideram adequado para surdos, por exemplo, a informática, o desenho, a marcenaria, pois consideram essas atividades que exigem atenção, concentração – atributos divulgados como próprios das pessoas surdas. Wrigley argumenta que surdez e pobreza se conectam de forma muito imediata. A promessa de que através da educação se conseguiria ascender a um lugar de trabalho alimentou diferentes projetos educacionais. Vivemos atualmente, uma transformação desse discurso integrador, onde a lógica do pleno emprego vem sendo substituída, nesses tempos neoliberais, pela lógica da “empregabilidade”, a partir do desenvolvimento das competências individuais. De acordo com Widell, nas primeiras décadas desse século “é graças à socialização dos surdos-mudos que a comunidade surda aprendeu a ascender socialmente no emprego. Era na associação que as soluções para problemas como afrontas, sindicatos, operários, etc. eram discutidos”. A preocupação com o trabalho esteve sempre associada com a possibilidade de independência, de autonomia das pessoas surdas. As ações reivindicatórias por leis que garantem o acesso ao trabalho são prioridades das associações. No Brasil, são conquistas desses movimentos a Lei de Reserva de Mercado e a Instrução Normativa n.5 de 30/08/91 do Ministério do Trabalho e da Previdência, que institui o programa de treinamento profissional junto às empresas. O autor comenta as incertezas entre os lideres surdos sobre as estratégias no uso de termos que os identificam como incapacitados. A questão das oposições binárias na educação dos surdos – normalidade/anormalidade, surdo/ouvinte, etc. – aparece, entretanto hoje como um dos fatores de risco mais nocivos na analise da realidade educacional relativa aos surdos e cujo enraizamento ideológico parece tão inevitável como insuperável. Muitas associações de surdos somam esforços com entidades representativas de pessoas portadoras de deficiência tais como cegos, paraplégicos, entre outros. Realizam ações conjuntas junto aos governos e aos empresários, procurando a garantia de seus direitos. O tema da surdez vem, ao longo da historia, sendo explicado, fundamentalmente, por médicos, lingüistas, psicólogos, a partir de uma lógica que o enquadra numa questão médica, terapêutica: surdez enquanto falta e deficiência. Capítulo 5 - A mulher surda e suas relações de gênero e sexualidade A autora com este tema pretende traçar contornos que possibilitem a todos os leitores, saber de que lugar permite-se, como ponto estratégico, focalizar olhares sobre o tema proposto. Esses lugares seriam os “Estudos Surdos” e dos “Estudos Culturais”. Uma nova paisagem pode ser encontrada dentro dos Estudos Culturais, que têm, como uma das tarefas, realizar o processo de desconstruir todo e qualquer marco centralizador, globalizante, homogêneo e permanentes. Outra tarefa é a de romper, também, com as narrativas que apontam para as oposições binárias, tais como, surdos/ouvintes, masculino/feminino. Ao acrescentar aos Estudos Culturais os Estudos Surdos e a questão de gênero, tomo esse viés para introduzir essa temática, ao mesmo tempo em que busco empreender a desconstrução das narrativas que ate então se referem à mulher surda. Os olhares pelos quais aponto a mulher surda vêm da transversalidade, no cruzamento de três eixos: os Estudos Surdos, os Estudos Culturais, e o de gênero e sexualidade. Assim, como não existe uma mulher surda, existem, ao mesmo tempo, varias mulheres surdas, que são diferentes que não são idênticas entre si, que podem ou não ser solidárias cúmplices ou opositoras. A mulher surda assim, visitada, no território dos Estudos Culturais, possibilita lançar um olhar conectando-a, também, ao lugar dos Estudos Surdos, que, enquanto campo de conhecimentos, focaliza a surdez como questão epistemológica e não mais como patologia. Estudiosos, como Wrigley e Davis, tratam a surdez como uma questão de epistemologia e não como patologia. Os surdos “são todos ouvidos”, mas estragados, inúteis, incapazes de ser alguma coisa mais que surdos. A surdez – o ouvido doente – é um todo que aprisiona. Este é o corpo e a identidade dos surdos na visão patologizante. O corpo constitui, então, o grande ponto de costura para introduzir a questão de gênero, vinculada à sexualidade da mulher surda. Situar a mulher surda nas relações de gênero e sexualidade numa abordagem pós estruturalista implica um desafio inédito para a área dos Estudos Surdos. Isto porque ainda não há publicações nesse sentido, principalmente no que se refere a tentativa de estabelecer uma rede interconectada com os Estudos Surdos e os Estudos Culturais. Essas indicações básicas sobre as formas possíveis de tratar a questão de gênero servem como elo aos Estudos Surdos e aos Estudos Culturais, pelo viés dos processos de identidade. A sexualidade esta vinculada ao processo de construção dos sujeitos generificados. Estes sujeitos ao se constituírem criam posturas, comportamentos, que os caracterizam e determinam os chamados “papéis sexuais”. Segundo Louro esses papéis seriam, basicamente, padrões ou regras arbitrarias que uma sociedade estabelece para seus membros e que definem seus comportamentos, suas roupas, seus modos de se relacionar ou de se portar. É interessante observar que os poucos trabalhos realizados com os indivíduos surdos, partem do eixo central – déficit lingüístico – que é associado à surdez e à sexualidade. Assim, o corpo do surdo é representado e se institui como um “órgão patológico” e esse corpo doente, deficiente, incapacitado, não devem ser pensados, celebrado, antes da sua normalização. A espera pelo dia da normalização produz sobre os surdos o olhar vigilante da família e dos profissionais. Assim, o corpo dos surdos é um corpo vigiado, espiado, controlado e administrado como corpo/órgão deformado, doente. A mulher emergente que busca se tornar visível, esta conectada ao silencio do corpo incapaz. Sendo assim a mulher emergente, a mulher surda e suas relações de gênero e sexualidade, exigira olhares que busquem perceber “como” os saberes sobre a “surdez” se constituiu na modernidade; perceber as coisas que são ditas em relação a ela, sobre ela; como ela é referida e se refere a si própria. Ate porque, não se nasce, mas se torna mulher. Capitulo 6 – Relações de poderes no espaço multicultural da escola para surdos As mudanças globais que vem ocorrendo, tem feito pesquisadores pensarem em novos parâmetros curriculares, nas identidades culturais, na escola e nas relações de poderes estabelecidas nos grupos sociais e educacionais e a integração de excluídos. A escola é alvo de muitos estudos e projetos nas áreas educativas, políticas e sociais envolvendo diferentes grupos econômicos, lingüísticos e culturais. A preocupação com o perfil da escola com o disciplinamento e a educação de excluídos das classes populares e outros grupos culturais é algo recente. Ainda se encontra dificuldades em trabalhar as diferenças entre grupos culturais existentes na escola moderna, não somente nas escolas, porém em qualquer instituição moderna que se deparar com o crescimento material gerado pela ciência e a tecnologia. E diante dessa crise seja ela de âmbito social, política, econômica ou cultural, a pesquisa educacional se vê obrigada a encontrar soluções para os problemas vividos no cotidiano. A escola não sabe trabalhar com a instabilidade, necessitando de referências para educar ou disciplinar os sujeitos desiguais. A escola diante da diversidade social ainda se encontra desorientada. Ainda submete esses grupos desiguaisa um mercado de conhecimentos escolares a preços inacessíveis. A autora questiona: como ensinar sem colonizar? Em resposta, qualquer projeto educativo que envolva culturas diferentes corre o risco da colonização. Contudo as diversidades têm entre si um sujeito comum, a linguagem. É através da linguagem que surgem as estratégias para que o pensamento da escola veja o sujeito como instrumento ou meio de produção, identificando os mecanismos para impor saberes, culturas, valores e identidades. Sob forte argumentação as políticas de democratização escolar falam que todos são iguais no espaço físico escolar, porem não é o que acontece, pois a discriminação e o fracasso escolar de alguns grupos culturais são evidentes. O estudo que a autora faz sobre as escolas de surdos não se limita somente as eles. As políticas educacionais, as relações de poderes desiguais, o despreparo de profissionais da educação, as praticas pedagógicas e outros relacionados à educação, também se encontram dificuldades a outros grupos. A nova LDB estimula a integração de surdos na escola regular, falando sobre o respeito às diferenças, recursos disponíveis para a aprendizagem, porem deixa a desejar sobre discussões abordando temas culturais e políticos. Ser surdo é ser um deficiente capaz de ser integrado pela fala a pessoas normais, claro sendo eles submetidos a treinamentos bons e necessários pela medicina. As representações realistas sobre normalização do surdo confortam os pais. Com a identidade desse sujeito surdo através da representação realista, buscam adaptar ao seu déficit auditivo e a superação da deficiência através de atividades compensatórias assim chamadas. Em uma escola onde a surdez é um fator comum, nunca teremos sujeitos iguais, pois cada um ali terá sua história, seu meio familiar, raça, sexo, identidades e outros fatores diferentes entre cada individuo. Sendo assim, o surdo passa a ser um sujeito cultural ao mesmo tempo produto de subjetividades e a escola seja em qualquer situação passa a ser vista como meio disciplinador de corpos, línguas e mentes. Embora existam barreiras no âmbito social, cultural, e políticos que dificultam a organização cultural dos surdos, eles ainda resistem a estas imposições através de sua organização em grupo que não aceitam essas condições cultural imposta pela escola Os surdos quando reunidos na escola entram em conflito com as diversidades de métodos e normalização impostos pela instituição. As identidades surdas, assim como qualquer outra identidade podem ser negociadas, pois são frutos de discursos e transitoriedade da linguagem. Segundo a autora, ela se arrisca provisoriamente em dizer que não existe uma identidade surda estável e unificada, pois se baseia em relatos. Numa perspectiva pós moderna pode se dizer que existem varias identidades surdas em construção, que se manifestam conforme as diferentes experiências e subjetividades. Vale salientar que a escola precisa se preocupar com outras identidades existentes em seu meio como de gênero, cor, raça e não somente a identidade surda. Podemos afirmar que o espaço escolar, sendo eles o corpo de educadores devem adotar o compromisso de questionar as relações que organizam as diferenças. Fazendo com que essa comunidade de exclusos percebam o poder que tem para que sejam inseridos com dignidade a sociedade. Capítulo 7 – Surdos: esse “outro” de que fala a mídia As diferenças é um fato natural e necessário para o funcionamento da vida coletiva. Os dispositivos de controle, utilizados para legitimar as diferenças, estão por todos os lados e quando nos damos conta já estamos pensando e agindo de acordo com eles. Aqui fazemos uma analise sobre as representações e imaginários constituídos sobre os surdo e a surdez a partir da mídia. Acreditando que essas concepções contribuíram para elaboração de políticas e práticas educacionais. O conceito de imaginário social é a união de símbolos a determinados significados impostos, criados, legitimados, sancionados socialmente. A constituição do imaginário social depende essencialmente da forma como ele é difundido e, neste sentido, a força dos meios de comunicação é essencial. Mas assim como a mídia, também as religiões, os mitos e a ideologia cumprem a função de constituir o imaginário de uma sociedade em uma determinada época. Sendo assim temos a possibilidade de perceber uma sociedade impregnada de situações de manipulação política legitimadas para assegurar o lugar de cada um. A manipulação política que sofremos sem nos dar conta é quase sempre percebida como um fato normal, que não tem porque ser questionado. Não pensamos, por exemplo, que as oportunidades sociais possuem uma relação direta com a condição sociocultural de cada um. Se for pobre como esperar que se dedique mais aos estudos e se aperfeiçoe como exige o mercado de trabalho? Se for surdo, como esperar que esteja apto a desempenha papes similares aos dos ouvintes, com tantas barreiras comunicativas e lingüísticas existentes? É a chamada reprodução do já vigente, a formar como se mantém a hegemonia. O sistema de ensino brasileiro, durante muito tempo negligenciou a subjetividades dos sujeitos e o universo simbólico que foi descartado por não poder ser objetivado e nem traduzido pela ciência. Mas hoje reconheceram que o imaginário construído sobre os sujeitos e sobre os grupos sociais relaciona-se diretamente á forma como se conduz seu tratamento e sua educação. O imaginário categoriza e classifica segundo as potencias e limites que interessam à maioria e não reconhecem este fato implica negar o valor das subjetividades nas praticas educacionais e sociais. Ao mesmo tempo, esta negação serve como garantia para a exclusão social e educacional de alguns. A mídia é responsável pela imagem social que temos sobre determinados grupos de sujeitos. Através dela as representações são reproduzidas de acordo com os interesses de quem esta no comando. Devemos observar criticamente a posição da mídia quando fala sobre determinados sujeitos ou grupos sociais; no caso dos surdos ocorre, em geral, uma homogeneização que consiste num tipo de enquadramento que lhes determina características comuns. A forma como os surdo são representados pela mídia ocorre de forma espiralada, não linear, isto é, como um processo descontinuo, com idas e vindas, avanços e retrocessos. Com isso fazendo as representações vão sendo criadas e legitimadas fazendo, por exemplo, com que a opinião pública ora se sensibilize pelos limites encontrados pelos surdo no mercado de trabalho, ora o subestime considerando-o capaz de realizar todo tipo de atividade. O que menos se percebe que tanto num caso como no outro o preconceito aparece em primeiro caso, seja subestimando a capacidade do surdo, seja superestimando-a. Os danos psíquicos e sociais causados na vida dos surdos, segundo as concepções da mídia, aparecem e são determinados pela perda biológica e não pela estrutura social. Pensar a educação dos surdos a partir dos imaginários e das representações construídas sobre a surdez e os próprios surdos, aparecem como uma forma de entender o tratamento social e educacional que comumente lhes é dado. Hoje, a partir de um novo paradigma, denominado ciência pós-moderna, sabemos que não há mais como negar a existência das várias faces que constituem. Mesmo que a surdez apareça como uma das faces significativas do sujeito surdo, a sua educação deve levar em conta questões como, raça, e etnia. E, ainda que quando a questão principal a ser discutida for a surdez, esta não deve ser vista como condição deficitária, biológica, e sim como uma como uma condição cultural e social, da qual participam sujeitos que se identificam entre si pelo pertencimento a ma comunidades social e culturalmente constituída. Capítulo 8 – A relação dialógica como pressuposto na aceitação das diferenças: o processo de formação das comunidades surdas Conforme o autor explicita no texto, há uma perspectiva do desenvolvimento de questões inquietantes, tais como, as possibilidades de promoção social dos sujeitossurdos através do diálogo, o qual se torna uma das condições para algum tipo de emancipação. Mas há dialogicidade nos Estudos Surdos? Segundo Ottmar Teske, o movimento surdo é regado de dialogicidade. O diálogo não pode se configurar num monólogo, o que ocorre facilmente entre os que ouvem e os surdos. A dialogicidade é o fruto da criação humana. É uma das categorias possíveis para se pensar o mundo da vida, movido pela própria curiosidade. A partir desta concepção é que os surdos podem olhar o mundo, ao invés de apenas vê-lo, e os ouvintes podem escutá-lo, ao invés de apenas ouvi-lo. A educação surda tem experimentado alguns avanços no que diz respeito aos novos rumos que serão sendo apresentados nesta área. A educação multicultural seria um veículo eficaz para as trocas sociais emancipatórias. Outro objetivo seria envolver os alunos em análises críticas paradigmáticas na explicação dos conflitos, valores e ações de diferentes organizações sociais. A reflexão radical e epistemológica junto aos surdos é fundamental. Muitos surdos do mundo ocidental possuem marcas ampliadas de suas lutas enquanto sujeitos reivindicadores de seus direitos, nos quais a livre expressão de suas idéias sempre esteve presente. A comunidade surda é um complexo de relações e interligações sociais, que diferem de outras comunidades onde existe a possibilidade de comunicação oral, pois as pessoas surdas necessitam da língua de sinais e das expressões visuais para realizarem uma comunicação satisfatória com outras pessoas. Os objetivos comuns das lideranças dessas comunidades é avançar no campo educacional, econômico e social e na sua vida cívica. Os surdos têm trabalhado diligentemente pela igualdade e este respeito em relação à cultura dos surdos é uma boa forma para que mais pessoas surdas possam ser ativas politicamente, possibilitando que a comunidade possa se expandir cada vez mais. Capítulo 9 – Cartografando Estudos Surdos: currículo e relações de poder Segundo a autora Márcia Lunardi, o discurso da surdez está sendo questionado e revisitado por novas discussões e tendências teóricas. Novos padrões teóricos de educação e escola de surdos vêm sendo discutidos, pois fazem uma tentativa de aproximar o tema da surdez com a perspectiva dos Estudos culturais. A partir disso, as alternativas teórico-pedagógicas vêm se alicerçando em um modelo socioantropológico de educação, na qual a comunidade surda e a língua de sinais exercem um papel fundamental na tentativa de uma reconstrução educativa, pensada através de uma reestruturação curricular. A idéia de relacionar os currículos com a organização dos conteúdos a serem ensinados aos estudantes é bastante atual, e ainda faz parte do corpo teórico dos currículos escolares. A educação de surdos, aproxima suas discussões e reflexões acerca do currículo, de suas relações com a cultura, com o poder, com a construção de identidades, na tentativa de problematizar os efeitos do fracasso escolar massivo de ideologia escolar dominante. Observar-se assim que o objetivo principal da educação dos surdos remete ao ensino da oralidade, onde as práticas educativas legitimam a existência de apenas dois aspectos envolvidos – a fala e a audição – negando e excluindo intencionalmente os outros sentidos e as outras possibilidades de comunicação dos surdos, no caso, a língua de sinais, que é uma língua visuogestual, que tem como emissora de suas mensagens as mãos e receptora os olhos. Portanto, conforme o texto, a definição de Estudos Surdos aproxima-se de um conjunto de concepções de ordem lingüística, multicultural e antropológica, pois são estas que apresentam uma relação com o conhecimento do mundo dos surdos. Capítulo 10 – O discurso surdo: a escuta dos sinais A importância dos estudos sobre argumentação no contexto da pós-modernidade faz-se necessária a partir das mudanças em direção a novos mapas políticos e culturais. A perspectiva pós-moderna de estudo da argumentação e do discurso tem se baseado nessas visões que oferecem uma nova interpretação da vida em sociedade e da construção de subjetividades. A questão da argumentação e do discurso passa a ser de extrema importância, pios envolve um movimento de luta com e sobre a linguagem. A característica pós-moderna não tem a preocupação de interpretar o discurso veiculado pela mídia, ou pelas instituições oficiais, no entanto, volta-se para um desejo de desconstrução textual, livrar-se da miragem dos “discursos verdadeiros”, invalidando todas as posições. Agora as portas estão se abrindo para o bilingüismo, mesmo o surdo ainda não o conhecendo profundamente. E apesar de o bilingüismo precisar de mais estudos, ele aumenta a visão dos surdos e faz com o surdo questione os porquês das coisas e no oralismo, os surdos cresciam fracos em sinais, a oralização era perfeita mas não conheciam profundamente as palavras, não que a interação não seja importante, mas com o bilingüismo há trocas e liberdade de expressão. O texto do surdo é argumentativo. Através de uma comunicação possível, o surdo igualmente constrói seus argumentos de modo a que confronte um público que entende de um jeito, e ele, nesse agir retórico visa a ultrapassar os obstáculos a que sua tese seja aceita. Os estudos sobre os discursos apontam possibilidades de análise que vão além da visão ilusória do falante. Existe uma representação social da deficiência, construída a partir de determinados diversos. Os surdos não querem ser chamados de “deficientes” não por negarem a surdez, mas por resolverem sua impossibilidade de apreender auditivamente o mundo por meio de uma leitura visual do mesmo. Toda a argumentação visa de fato, a uma mudança na cabeça dos ouvintes e, no que diz respeito aos surdos que lutam pelas mudanças que querem ver concretizadas em sua história. Para a argumentação, o alvo principal é o estudo da técnica de utilizar a linguagem ordinária para persuadir e convencer. Segundo a autora, o mergulho na linguagem persuasiva, dos próprios surdos, é de enorme importância, principalmente no contexto atual onde as mudanças na pedagogia para surdos estão suscitando questionamentos e debates. Considerando que o exercício da argumentação é sempre regulado pelos que detêm o poder, entende-se porque os surdos não tiveram devidamente considerados seus argumentos em favor da abordagem educacional que atende aos seus interesses. Analisando a proposta de abordagem educacional bilíngüe para a educação de surdos, observa-se um desconhecimento das implicações reais que precisam estar caracterizando uma alternativa educacional, com a qual se pretende mudar radicalmente a história dessa comunidade no Brasil e no mundo. A educação de surdos engloba muito mais do que a questão das línguas. E de acordo com o autor, o bilingüismo envolve aspectos relativos à identidade do surdo como eixo fundamental, à criação de condições lingüísticas e educacionais apropriadas para o desenvolvimento bilíngüe, à utilização educacional de temas culturais, à promoção do uso da primeira língua em todos os níveis escolares. O surdo não se beneficia com a inserção numa escola onde é impossível que ele adquira de modo natural a língua oficial da comunidade majoritária. E a escola inclusiva tem surgido como um paradigma. Devemos lutar pela escola inclusiva caso esta inclusão interesse ao grupo ao qual a proposta se dirija. A inclusão pressupõe o diálogo e não atitudes autoritárias de algum grupo; torna-se obvio que a opinião da comunidade surda sobre a questão é de extrema importância, e que eles têm plena condição de opinar sobre isso. Resta saber se eles têm sido chamados a discutir, se há conhecimentos do projeto surdo para a surdez. UNIVERSIDADE NILTON LINS LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA LINGUAGEM BRASILEIRA DE SINAIS - LIBRAS Fichamento de Resumo sobre o texto: Surdez: um olhar sobre as diferenças Manaus 2012 Alisson Sales Carvalho Jonathan da Costa Araújo Juliana de Melo Kelly Caroline Ferreira da Silva Marcos Antonio Abreu Veraldo Fichamento deResumo sobre o texto: Surdez: um olhar sobre as diferenças Trabalho de nota parcial apresentado à disciplina de Linguagem brasileira de sinais - LIBRAS, do curso de Licenciatura Plena em História, do 5º período, da Universidade Nilton Lins. Orientador (a): Marlene Mourão Manaus 2012