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Biblioteca Melanie Klein 
 
15. O DESENVOLVIMENTO TEMPORÃO DA 
CONSCIÊNCIA NO MENINO (1933) 
 
Uma das mais importantes contribuições da investigação psicanalítica foi à descoberta 
dos processos mentais do que antecedem ao desenvolvimento da consciência do indivíduo. Em 
sua tarefa de sacar à superfície as tendências instintivas inconscientes, Freud reconheceu 
também a existência das forças que servem de defesa contra elas. 
Segundo seus achados, que a prática psicanalítica confirmou em cada caso, a 
consciência da pessoa é um precipitado ou representante de suas primeiras relações com os pais. 
Em certo modo, incorporou seus pais assim, pô-los em seu interior. E então eles se convertem 
numa parte diferenciada de sua eu -sua superego-, num agente que apresenta, contra o resto do 
eu, certas exigências, reproches, e que se opõe a seus impulsos instintivos. 
Freud demonstrou que o funcionamento desse superego não se limita à mente 
consciente, não é só o que se entende por consciência, senão que exerce também uma influência 
inconsciente e com freqüência sumamente opressiva, influência que constitui um importante 
fator, tanto nas doenças mentais como no desenvolvimento da personalidade normal. 
Esta nova descoberta fez que a investigação psicanalítica enfoque cada vez mais o 
estudo do superego e de suas origens. No curso de minhas análises de meninos pequenos, 
enquanto começava a adquirir conhecimento direto dos alicerces sobre os quais estava 
construída sua personalidade, topei-me com certos fatos que pareciam admitir uma ampliação, 
em determinadas direções, da teoria de Freud ao respeito. Não podia caber dúvida alguma de 
que um superego tinha estado em plena atividade, durante certo tempo, em meus pequenos 
pacientes de entre dois anos e nove meses, e quatro anos de idade, enquanto, segundo a 
concepção aceitada, o superego não começava a funcionar até que tinha desaparecido o 
complexo de Édipo, isto é, aproximadamente no quinto ano de vida. Mais ainda, meus dados 
demonstravam que este primeiro superego era incomensuravelmente mais rigoroso e cruel do 
que o do menino maior ou o do adulto, e que, literalmente, achatava o débil eu do menino 
pequeno. 
É verdade que no adulto encontramos em funções um superego mais severo do que 
foram em realidade os pais do sujeito, e que em modo algum é idêntico a estes1. Isto não 
obstante, se lhes aproxima mais ou menos. Mas no menino pequeno encontramos um superego 
de características altamente incríveis e fantásticas. E quanto menor é o menino, ou quanto mais 
profundo o plano mental em do que penetramos, tanto mais sucede isso. Chegamos a considerar 
que o temor do menino a ser devorado, ou cortado ou despedaçado, ou seu terror a ser rodeado e 
perseguido por figuras ameaçadoras, é um componente regular de sua vida mental; e sabemos 
que o lobo refeitório de homens, o dragão vomitador de fogo e todos os monstros malignos 
surgidos dos mitos e os contos de fadas florescem e exercem sua influência inconsciente na 
fantasia de cada menino, que se sente perseguido e ameaçado por essas formas adversas. Não 
me fica nenhuma dúvida, graças a minhas observações analíticas, de que as identidades que se 
ocultam por trás dessas figuras imaginárias, aterrorizadoras, são as dos pais do próprio menino, 
nem de que, de um ou outro modo, essas terríveis formas refletem características do pai e a mãe 
do menininho, por deformada e fantástica que possa parecer à semelhança. 
Se aceitarmos estes fatos das primeiras observações analíticas e admitimos que as 
coisas que o menino teme são esses monstros e animais selvagens que tem internalizado em si e 
que iguala a seus pais, vemo-nos arrastados às seguintes conclusões: 1) O superego do menino 
não coincide com o quadro apresentado por seus pais reais, senão que é criado com elementos 
imaginários deles, ou imagos, que incorporou assim. 2) Seu temor aos objetos reais -sua 
ansiedade fóbica- se baseia em seu temor a seu eu irrealista e aos objetos que são reais em si 
mesmos, mas que ele contempla sob uma luz fantástica devido à influência de sua superego. 
Isto nos traz ao problema que para mim é a central em toda a questão da formação do 
superego. Como se leva a cabo a criação, por parte do menino, de uma imagem tão fantástica de 
seus pais, uma imagem tão afastada da realidade A resposta se encontrará nos fatos descobertos 
nas análises infantis. Ao penetrar nas capas mais profundas da mente do menino e descobrir 
essas enormes quantidades de ansiedade -esses temores para objetos imaginários e esses terrores 
a ser atacado de todos os modos possíveis-, deixamos também ao nu uma quantidade 
correspondente de impulsos de agressão reprimidos , e podemos observar a relação causal que 
existe entre os temores do menino e suas tendências agressivas. 
1 Em "Symposium on Chid Analysis" (1927) foram apresentadas opiniões similares, 
baseadas na análise de adultos e vistas desde ângulos um tanto diferentes, por Ernest Jones, Joan 
Riviere, Edward Glover e Nina Searl. A opinião de Nina Searl também foi confirmada por sua 
experiência em análises infantis. 
Em seu livro Além do princípio do prazer, Freud formulou uma teoria segundo a qual, 
ao começo da vida no organismo humano, o instinto de agressão ou instinto de morte, é oposto e 
conteúdo pela libido ou instinto de vida, o Eros. A seguir se produz uma fusão dos dois 
instintos, que dá nascimento ao sadismo. A fim de evitar ser destruído por seu próprio instinto 
de morte, o organismo emprega sua libido narcisista ou de autoconservação para expulsar 
àquele para afora e dirigi-lo contra seus objetos. Freud considera que este processo é 
fundamental para as relações sádicas da pessoa com seus objetos. E eu diria, mais ainda, que 
paralelamente a esse desvio para afora do instinto de morte, contra os objetos, produz-se uma 
reação intrapsíquica de defesa contra a parte do instinto que não pôde ser exteriorizada de tal 
modo. Porque o perigo de ser destruído por é e instinto de agressão provoca, crio, uma 
excessiva tensão no eu, que é sentida por este como uma ansiedade 2, de maneira que se vê, no 
começo mesmo de seu desenvolvimento, ante a tarefa de mobilizar a libido contra seu instinto 
de morte. No entanto, só pode levar a cabo em forma imperfeita essa missão, já que, devido à 
fusão dos dois instintos, não pode já, como o sabemos, efetuar uma separação entre os mesmos. 
Produz-se uma divisão no isso, ou nos planos instintivos da psique, à qual uma parte dos 
impulsos instintivos é dirigida contra a outra. 
Esta medida defensiva por parte do eu, aparentemente a primeira constituição, a pedra 
fundamental do desenvolvimento do superego, cuja excessiva violência nessa primeira etapa 
ficaria assim explicada pelo fato de que é um produto de intensíssimos instintos destrutivos e de 
que contém, juntamente com certa proporção de impulsos libidinais, quantidades sumamente 
grandes de impulsos agressivos3. Este ponto de vista faz que resulte menos difícil entender por 
que o menino forma imagens monstruosas e fantásticas de seus pais. Porque percebe que sua 
ansiedade surge de seus instintos agressivos, como temor fazia um objeto externo, porque fez de 
dito objeto sua meta, de tal modo que parecem iniciar-se contra ele mesmo desde esse terreno 
4.Dessa maneira, desloca a fonte de sua ansiedade para afora e converte seus objetos em objetos 
perigosos; mas, em definitiva, esse perigo pertence a seus próprios instintos agressivos. Por esse 
motivo, seu temor para os objetos será sempre proporcionado ao grau de seus impulsos sádicos. 
No entanto, não se trata simplesmente de uma questão de converter uma quantidade dada de 
sadismo numa quantidade correspondente de ansiedade. A relação é também uma relação de 
conteúdo. O temor do menino para seu objeto e para os ataques imaginários que sofrerá deste se 
ajusta em todos os detalhes aos particulares impulsos agressivos e fantasias que experimenta 
com respeito a seu ambiente. Desse modo, cada meninocria imagos de seus pais que lhe são 
peculiares; ainda que em cada caso essas imagos serão de um caráter irreal e terrível. 
2 Esta tensão, é verdade, é sentida assim mesmo como uma tensão libidinal, já que os instintos 
destrutivo e libidinal se fundem; mas seu efeito de causar ansiedade é refreável, em minha 
opinião, a seus componentes destrutivos. 
3 Freud diz: "... que a severidade original do superego não representa -ou não representa em tão 
grande proporção- a severidade que foi experimentada ou antecipada do objeto, senão a 
agressividade do menino para dito objeto". O mal-estar na cultura. Ou.C., 21 
4 Acidentalmente, o menino tem motivos reais para temer a sua mãe, já que cobra cada vez mais 
consciência de do que ela tem o poder de conceder-lhe ou negar-lhe a satisfação de suas 
necessidades. 
Segundo minhas observações, a formação do superego começa ao mesmo tempo em 
que o menino efetua a primeira introjeção oral de seus objetos5. Já que as primeiras imagos que 
de tal modo forma são dotadas de todos os atributos do intenso sadismo correspondente a este 
estágio de seu desenvolvimento, e já que será projetado uma vez mais sobre objetos do mundo 
exterior, o menininho é dominado pelo temor de sofrer ataques inimaginavelmente cruéis, tanto 
de seus objetos reais como de seu superego. Sua ansiedade serve para aumentar seus impulsos 
sádicos, a destruir ditos objetos hostis a fim de escapar a suas investidas. O circulo vicioso que 
de tal modo fica estabelecido e no que a ansiedade do menino lhe impulsiona a destruir seu 
objeto, produz um aumento de sua própria ansiedade, coisa que, a sua vez, lança-lhe contra seu 
objeto e constitui um mecanismo psicológico que, em minha opinião, encontra-se no fundo das 
tendências anti-sociais e criminosas do indivíduo. Assim, devemos supor que a responsável da 
conduta das pessoas anti-sociais e criminosas é a excessiva severidade e a terminante crueldade 
do superego, e não a debilidade ou a falta de dita severidade, como se crê habitualmente. 
Numa etapa um tanto posterior do desenvolvimento, o temor ao superego fará que o 
eu se aparte do objeto provocador da ansiedade. Este mecanismo de defesa pode criar uma 
defeituosa ou menoscabada relação do menino com os objetos. 
Como o sabemos, quando aparece a etapa genital, os instintos sádicos do menino 
foram normalmente superados, e suas relações com os objetos adquiriram um caráter positivo. 
Tal avanço em seu desenvolvimento acompanha a alterações produzidas na natureza de seu 
superego e interatua com elas. Porque quanto mais se minora o sadismo do menino, tanto mais 
se retira para o fundo a influência de seus irreais e terríveis imagos, já que estas são produto de 
suas próprias tendências agressivas. E à medida que seus impulsos genitais crescem em energia, 
surgem imagos benéficas e úteis, baseadas em suas fixações -na etapa oral de sucção- em sua 
generosa e bondosa mãe, que se aproximam mais estreitamente aos objetos reais; e seu 
superego, que era uma força ameaçadora, despótica, que emitia ordens insensatas e 
contraditórias que o eu era totalmente incapaz de cumprir, começa a exercer um governo mais 
suave e mais persuasivo e a apresentar exigências possíveis de cumprir. Em rigor, transforma-se 
gradualmente em consciência moral, no verdadeiro sentido da palavra. 
5 Este ponto de vista está também baseado em minha crença de que as tendências edípicas do 
menino, assim mesmo começam muito antes do que se cria até agora, a saber, enquanto ainda se 
encontra em sua etapa de lactância, muito antes de que seus impulsos genitais tenham adquirido 
primazia. Em minha opinião, o menino incorpora seus objetos edípicos durante a etapa oral-
sádica, e nesse momento começa a desenvolver-se seu superego, em estreita relação com seus 
primeiros impulsos edípicos. 
Mais ainda: à medida que varia o caráter do superego, do mesmo modo varia seu 
efeito sobre o eu e sobre o mecanismo defensivo que este põe em movimento. Sabemos, por 
Freud, que a piedade é uma reação à crueldade Mas as reações dessa espécie não se estabelecem 
até que o menino adquiriu certo grau de relações positivas com os objetos; até que, em outras 
palavras, sua organização genital passa à frente. Se colocamos este fato junto aos concernentes à 
formação do superego, tais como eu os vejo, poderemos chegar às seguintes conclusões: 
enquanto a função do superego seja principalmente a de provocar ansiedade, estimulará os 
violentos mecanismos defensivos que descrevemos antes e cuja natureza é aética e anti social. 
Mas quanto diminui o sadismo do menino, e mudam as funções e o caráter do superego, 
provocando menos ansiedade e mais sentimento de culpabilidade, são ativados os mecanismos 
defensivos que formam a base de uma atitude moral e ética e o menino começa a sentir 
consideração para seus objetos e a responder aos sentimentos sociais 6. Numerosas análises de 
meninos de todas as idades confirmaram esta opinião. Na análise dos jogos podemos seguir o 
curso das fantasias de nossos pacientes, tais como estão representadas por seus jogos e 
passatempos, e estabelecer uma conexão entre ditas fantasias e sua ansiedade. Quando 
analisamos o conteúdo da ansiedade, vemos que as tendências agressivas e as fantasias que dão 
nascimento àquela surgem à superfície cada vez mais e crescem até atingir enormes proporções, 
tanto em quantidade como em intensidade. O eu do menino corre perigo de ser achatado pela 
força elementar dessas tendências e fantasias, e pela gigantesca extensão das mesmas, e sustenta 
uma perpétua luta para manter-se contra elas, com a ajuda de seus impulsos libidinais, já seja ou 
tornando-as inócuas. Este quadro exemplifica a tese de Freud sobre os instintos de vida (Eros) 
em combate contra os instintos de morte, ou instintos de agressão. 
6 Na análise de adultos, só atraíam o atendimento, em sua maior parte, estas últimas funções e 
atributos do superego. Em conseqüência, os analistas mostravam inclinação a considerá-los 
como constituintes do caráter específico do superego; e, em verdade, reconheciam o superego 
unicamente na medida em que aparecia com tal caráter. 
Mas também reconhecemos que existe a mais íntima união e interação entre as duas 
forças, em todo momento, de maneira que a análise poderá descobrir em todos seus detalhes as 
fantasias agressivas do menino -para assim diminuir o efeito das mesmas -, só na medida em 
que possa seguir também o curso das fantasias libidinais e descobrir suas primeiras fontes, e 
vice-versa. 
Em relação com o conteúdo e os objetivos reais dessas fantasias, sabemos, por Freud e 
Abraham, que em etapas primeiras, pré-genitalis, da organização libidinal, nas que tem lugar 
essa fusão de libido e instintos destrutivos, os impulsos sádicos do menino têm importância. 
Como o demonstra a análise de toda pessoa maior, na etapa oral-sádica que segue à oral de 
sucção, o menino passa por uma fase canibalística à que está associada uma pletora de fantasias 
canibalistas. Estas fantasias, ainda que ainda se concentrem em torno do fato de devorar o peito 
da mãe ou a mãe inteira, não estão interessadas somente na satisfação de um desejo primitivo de 
alimentação. Servem também para satisfazer os impulsos destruidores do menino. A fase sádica 
que segue a esta -a fase anal-sádica- se caracteriza por um interesse dominante nos processos 
excretores, nas fezes e o ânus; e também este interesse está estreitamente aliado a tendências 
destrutivas extraordinariamente fortes7 . Sabemos que a excreção das fezes simboliza uma 
enérgica expulsão do objeto incorporado, e que é acompanhada de sentimentos de hostilidade e 
crueldade e de desejos destrutivos de diferentes classes, nos que se atribui importância como 
objeto dessas atividades. No entanto, em minha opinião, as tendências anal-sádicas têm fins e 
objetos ainda mais profundos e profundamente reprimidos. Os dados que me foi possível reunir 
em primeiras análises demonstram que entre as tendências oral-sádicas seinsere uma etapa em 
que se fazem sentir tendências uretral-sádicas, e que as tendências anal e uretral são uma 
continuação direta das oral- sádicas, quanto a fim específico e objeto de ataque. Em suas 
fantasias oral-sádicas, o menino ataca o peito de sua mãe, e os meios que emprega são os dentes 
e as mandíbulas. Em suas fantasias uretral e anal trata de destruir o interior do corpo de sua mãe, 
e para este propósito emprega a urina e as fezes. Neste segundo grupo de fantasias, os 
excrementos são considerados como substâncias ardentes e corrosivas, como animais selvagens, 
armas de toda classe, etc.; e o menino entra numa fase em que dirige todos os instrumentos de 
seu sadismo para o único fim de destruir o corpo de sua mãe e o que esse corpo contém. 
7 Aparte de Freud, Jones, Abraham e Ferenczi foram os principais contribuintes a nosso 
conhecimento da influência que essa aliança exerceu sobre a formação do caráter e a neurose do 
indivíduo. 
No que consiste a sua eleição objetal, os impulsos oral-sádicos do menino são ainda o 
fator subjacente, de tal maneira que pensa em succionar e devorar o interior do corpo de sua 
mãe como se tratasse de um peito. Mas esses impulsos são ampliados pelas primeiras teorias 
sexuais do menino, que se desenvolvem durante essa fase. Já sabemos que quando acordaram 
seus instintos genitais começou a ter teorias inconscientes sobre a copula entre seus pais, o 
nascimento dos meninos, etc. Mas a análise temporã demonstrou que desenvolve tais teorias 
muito antes, em momentos em que seus impulsos genitais, ainda ocultos, têm muito que dizer 
na questão. Essas teorias dizem que, na copula, a mãe se incorpora continuamente o pênis do pai 
por via bucal, de maneira que seu corpo está colimado de muitíssimos pênis e meninos. E o 
menino deseja comer e destruir tudo isso. 
Em conseqüência, ao atacar o interior do corpo de sua mãe, o menino ataca uma 
grande quantidade de objetos e se embarca numa conduta grávida de acontecimentos. 
Primeiramente, a matriz representa ao mundo; e ao começo o menino se aproxima a esse mundo 
com desejos de atacá-lo e destruí-lo; portanto, está preparado desde um princípio para ver o 
mundo real, externo, como mais ou menos hostil para ele e povoado de objetos feitos para atacá-
lo 8. Sua convicção de que ao atacar de tal modo o corpo de sua mãe atacou também o corpo de 
seu pai e o de seus irmãos e irmãs, e, num sentido mais amplo, a todo mundo, constitui, em 
minha experiência, uma das causas subjacentes de seu sentimento de culpa e do 
desenvolvimento de seus sentimentos sociais e mo rales em general9. Porque quando a 
excessiva severidade do superego minorou um tanto, suas aparições no eu, devido àqueles 
ataques imaginários, produzem sentimentos de culpa que provocam fortes tendências, no 
menino, a pôr em prática o dano imaginário que inferiu a seus objetos. E então o conteúdo 
individual e os detalhes de suas fantasias destruidoras ajudam a determinar o desenvolvimento 
de suas sublimações, que, indiretamente, servem a suas tendências substitutivas10, ou para 
produzir desejos ainda mais diretos de ajudar a outras pessoas. A análise dos jogos demonstra 
que quando os instintos agressivos do menino se encontram em seu apogeu, este jamais se cansa 
de rasgar ou cortar, de romper, molhar e queimar toda classe de coisas, como papel, fósforos, 
caixas, brinquedos, tudo o qual representa a seus pais, irmãos e irmãs e o corpo e os peitos de 
sua mãe, e que esta fúria de destruição alterna com acessos de ansiedade e um sentimento de 
culpabilidade Mas quando, no curso da análise, a ansiedade vai diminuindo lentamente, suas 
tendências construtivas começam a adquirir predomínio 11 . Por exemplo, um menino que antes 
não fazia outra coisa que romper em pedaços bocados de madeira, começa a tentar converter 
esses pedaços num lápis. Toma porções de mina sacadas de lápis que cortou, insere-as numa 
fenda da madeira e depois costura um bocado de tela em torno da tosca madeira para dar-lhe um 
aspecto mais bonito. Que este lápis de fabricação caseira representa ao pênis de seu pai, que ele 
destruiu em sua fantasia, e o seu próprio, cuja destruição teme como medida retaliatória, torna-
se mais evidente pelo contexto geral do material do que o menininho apresenta e pelas 
associações que lhe atribui. 
8 A excessiva força dessas primeiras situações de ansiedade, em minha opinião, um fator 
fundamental para a produção de perturbações psicóticas. 
9 Devido à crença que o menino sustenta a respeito da onipotência dos pensamentos (vejam-se 
Freud, Totem e tabu; Ferenczi, "Estágios no desenvolvimento do sentido da realidade" ) -crença 
que data de uma anterior etapa de desenvolvimento -, confunde seus ataques imaginários com 
ataques reais; e as conseqüências disso ainda podem ver-se atuar na vida adulta. 
Quando no curso da análise, o menino começa a mostrar tendências construtivas mais 
enérgicas, em todas as formas possíveis, em seus jogos e sublimações -quando pinta ou escreve 
ou desenha coisas, em lugar de manchá-lo tudo com cinzas; quando costura ou desenha, 
enquanto antes cortava ou rasgava-, exibe também mudanças em suas relações com seu pai ou 
sua mãe, ou com seus irmãos e irmãs; e estas mudanças marcam o começo de uma relação 
melhorada com os objetos em general e um crescimentos do sentimento social. Que vias de 
sublimação se abrirá para o menino, quão potentes serão seus impulsos a oferecer compensações 
e daí formas assumirão estas, tudo isto fica determinado, não só pelo grau de tendências 
agressivas primárias, senão pela interação de uma quantidade de outros fatores que não temos 
espaço para analisar nestas páginas Mas nosso conhecimento da análise infantil nos permite 
dizer o seguinte: que a análise das capas mais profundas do superego conduz invariavelmente a 
um considerável melhoramento das relações do menino com os objetos, de sua capacidade para 
a sublimação e de seus poderes de adaptação social. Melhoramento que faz que o menino não só 
seja muito, mas feliz e mais são em si, senão também mais capaz de sentimentos sociais e 
éticos. 
10 Em meu articulo "Situações infantis de angústia refletidas numa obra de arte e no impulso 
criador”, afirmei que o sentido de culpabilidade da pessoa e seu desejo de consertar o objeto 
danado constituem um fator universal e fundamental no desenvolvimento de suas sublimações. 
Ela Sharpe, em seu trabalho "Certain aspects of sublimation and delusion", chegou à mesma 
conclusão. 
11 Na análise, a decomposição da ansiedade é efetuada gradual e paralelamente, de 
maneira que tanto ela como os instintos agressivos ficam liberados em proporções devidamente 
preparadas. 
Isto nos leva a considerar uma objeção sumamente notória que pode ser apresentada 
contra a análise infantil. Poderia perguntar-se: uma redução demasiado grande da severidade do 
superego -uma redução por embaixo de certo nível favorável -, não daria um resultado oposto, 
conduzindo à abolição, no menino, dos sentimentos éticos e sociais? A resposta a isto é, em 
primeiro lugar, que, até onde eu sei jamais se deu nos fatos uma diminuição tão grande; e um 
segundo lugar, que existem razões teóricas para crer que jamais poderá ocorrer. Pelo que faz à 
experiência real, sabemos que, ao analisar as fixações libidinais pré-genitais, só podemos 
converter em libido genital certa proporção das quantidades libidinais envolvidas, ainda em 
circunstâncias favoráveis, e que o resto -um resto não pouco importante- continua funcionando 
como libido pré-genital se como sadismo; ainda que, já que o plano genital estabeleceu mais 
firmemente sua supremacia, pode ser manejado pelo eu, ora recebendo satisfação, ora sendo 
conteúdo, ora sofrendo modificações ou sendo sublimado. Do mesmo modo, a análise não pode 
nunca eliminar o núcleo de sadismo que se formou sob a primazia dos planos genitais; mas pode 
mitigá-los aumentando a força do plano genital, de maneira que o eu, então mais potente, pode 
enfrentar ao superego, comoo faz com seus impulsos instintivos, numa forma mais satisfatória 
para o indivíduo mesmo e para o mundo que o rodeia. 
Até este momento nos ocupamos de estabelecer o fato de que os sentimentos sociais e 
morais de uma pessoa se desenvolvem a partir de um superego de características mais suaves, 
governado pelo plano genital. Agora devemos considerar o que se pode inferir disto. Quanto 
mais profundamente penetra a análise nos planos inferiores da mente do menino, tanto mais 
sucesso terá em suavizar a severidade do superego ao diminuir o funcionamento de seus 
constituintes sádicos, que surgem nas primeiras etapas do desenvolvimento. Ao fazê-lo, a 
análise prepara o terreno, não só para a consecução da adaptabilidade social do menino, senão 
também para o desenvolvimento de normas morais e éticas no adulto. Porque um 
desenvolvimento dessa classe depende de que o superego e a sexualidade cheguem 
satisfatoriamente a um plano genital, ao começo da expansão da vida sexual do menino12, de 
maneira que o superego tenha atingido o caráter e função dos que se deriva o sentimento de 
culpabilidade da pessoa -isto é , sua consciência -, na medida em que a pessoa seja socialmente 
valiosa. A experiência deixou demonstrada já, desde faz algum tempo, que a psicanálise, ainda 
que originariamente projetado por Freud como um método para curar doenças mentais, cumpre 
assim mesmo com um segundo propósito. Elimina as perturbações da formação do caráter, 
especialmente nos meninos e adolescentes, nos que consegue efetuar consideráveis alterações. 
Em rigor, podemos dizer que, depois de que foram analisados, todos os meninos mostram 
radicais mudanças de caráter também não podemos evitar a convicção, baseada na observação 
de fatos, de que a análise do caráter não é menos importante como medida terapêutica do que a 
análise da neurose. 
12 Isto é, quando se indica o período de latência, aproximadamente entre as idades de cinco e 
seis anos. 
Em vista destes fatos, não pode um deixar de perguntar-se se a psicanálise não estará 
destinada a ir além do indivíduo em sua esfera de operações para influir sobre a vida da 
humanidade em seu conjunto. As repetidas tentativas que se fizeram para melhorar à 
humanidade -em especial para fazê-la mais pacífica- fracassaram porque ninguém entendeu toda 
a profundidade e o vigor dos instintos de agressão inatos em cada indivíduo. Tais esforços não 
procuram outra coisa que estimular os impulsos positivos, os desejos bondosos de cada pessoa, 
negando ou suprimindo os impulsos agressivos. E, de tal modo, estiveram condenados ao 
fracasso desde o começo. Mas a psicanálise tem a sua disposição diferentes meios para encarar 
uma tarefa dessa classe. Não pode, é verdade, apagar por completo o instinto agressivo do 
homem, quanto tal instinto; mas si pode, diminuindo a ansiedade que acentua a esse instinto, 
quebrar o reforço mútuo que se produz continuamente entre seu ódio e seu temor. 
Quando em nosso trabalho analítico, vemos, a cada momento, como a decomposição 
da ansiedade infantil prematura não só minora os impulsos agressivos do menino, senão que 
conduz a um emprego e satisfação mais valiosos deles, desde o ponto de vista social; como o 
menino mostra um desejo continuamente crescente, profundamente arraigado, de ser amado e de 
amar, e de estar em paz com o mundo que o rodeia; e quanto mais prazer e benefícios, e daí 
diminuição da ansiedade, extrai da satisfação desse desejo, quando vemos tudo isto, estar-nos 
dispostos a crer que o que agora poderia parecer um estado de coisas utópico, chegará a dar-se 
na realidade, nos dias ainda longínquos em que -assim o espero - a análise infantil chegue a 
constituir uma parte da educação de cada pessoa, como o é agora a educação escolar. E quiçá 
então a atitude hostil que surge do temor, que se encontra em estado latente, com maior ou 
menor força, em todos os seres humanos, e que intensifica neles, multiplicando-os por cem, 
todos os impulsos de destruição, cederá seu lugar a sentimentos mais bondosos e confiados, e os 
homens poderão habitar o mundo, todos juntos, mais pacificamente, e com melhor boa vontade 
recíproca do que podem fazê-lo agora.

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